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EXTENSÃO DE NIASSA

Departamento de Ciências Naturais, Matemática e Estatística

Curso de Licenciatura em Ensino de Química & Biologia

Disciplina: QUÍMICA INORGÂNICA I

HIDROGÉNIO
O gás Hidrogénio, H2, foi o primeiro elemento produzido artificialmente e formalmente descrito por
T. Von Hohenheim (também conhecido como Paracelso, 1493 – 1541) por meio da reacção química
entre metais e ácidos fortes. Paracelso não tinha o conhecimento de que o gás inflamável produzido
por esta reacção química era constituído por um novo elemento químico. Em 1671, Robert Boyle
redescobriu e descreveu a reacção entre limalhas de Ferro e ácidos diluídos, o que resulta na
produção de gás Hidrogénio. Em 1766, Henry Cavendish foi o primeiro a reconhecer o gás
Hidrogénio como uma discreta substância, ao identificar o gás de uma reacção ácido-metal como "ar
inflamável" e descobrindo mais profundamente, em 1781, que o gás produz água quando queimado.
Em 1783, Antoine Lavoisier deu ao elemento o nome de Hidrogénio, quando ele e Laplace
reproduziram a descoberta de Cavendish, onde água é produzida quando Hidrogénio é queimado.
Lavoisier produziu Hidrogénio pelas suas experiências sobre conservação de massa fazendo reagir
um fluxo de vapor de metal por meio de um tubo de Ferro aquecido ao fogo. A oxidação anaeróbica
de Ferro pelos protões da Água a alta temperatura pode ser esquematicamente representada pelo
conjunto das seguintes reacções:
Fe(aq) + H2O(l) → FeO(s) + H2(g)
2Fe(s) + 3H2O(l) → Fe2O3(s) + 3H2(g)
3Fe(s) + 4H2O(l) → Fe3O4(s) + 4H2(g)

Muitos metais, tais como o Zircónio são submetidos a uma reacção semelhante com Água o que
conduz à produção de Hidrogénio.
O Hidrogénio foi liquefeito pela primeira vez por James Dewar, em 1898, ao usar resfriamento
regenerativo e sua invenção se aproxima muito daquilo que conhecemos como garrafa térmica nos
dias de hoje. Ele produziu Hidrogénio sólido no ano seguinte. O Deutério foi descoberto em
Dezembro de 1931 por Harold Urey, e o Trítio foi preparado em 1934 por Ernest Rutherford,
Marcus Oliphant, e Paul Harteck. A água pesada, que possui Deutério no lugar de Hidrogénio
regular na molécula de água, foi descoberta pela equipe de Urey em 1932.

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Ocorrência Natural
Hidrogênio é o elemento mais abundante no universo, compondo 75% da matéria normal por massa
e mais de 90% por número de átomos. Este elemento é encontrado em grande abundância em
estrelas e planetas gigantes de gás. Nuvens moleculares de H2 são associadas a formação de estrelas.
O elemento tem um papel vital em dar energia às estrelas através de cadeias protão-protão e do ciclo
CNO [(O ciclo CNO (Carbono-Nitrogênio-Oxigênio)] é uma das reacções de fusão pelas quais as
estrelas convertem Hidrogénio em Hélio) de fusão nuclear.
Pelo universo, o Hidrogénio é geralmente encontrado nos estados atómico e plasma, cujas
propriedades são bem diferentes das do Hidrogénio molecular. Como plasma, o electrão e o protão
de Hidrogénio não estão ligados, resultando em uma condutividade eléctrica elevada e alta
emissividade (produzindo a luz do Sol). As partículas carregadas são altamente influenciadas por
campos eléctricos e magnéticos. Por exemplo, no vento solar elas interagem com a magnetosfera da
Terra, fazendo surgir as correntes de Birkeland e a Aurora. O Hidrogénio é encontrado em estado
atómico neutro no meio interestelar.
Em condições normais de temperatura e pressão na Terra, o Hidrogénio existe como um gás
diatómico, H2. Entretanto, o gás de Hidrogénio é muito raro na atmosfera da Terra (1 ppm em
volume) devido à sua pequena densidade, o que o possibilita escapar da gravidade da Terra mais
facilmente que gases mais pesados. Entretanto, o Hidrogénio (na forma combinada quimicamente) é
o terceiro elemento mais abundante na superfície da Terra. A maior parte do Hidrogénio da Terra
está na forma de compostos químicos tais como hidrocarbonetos e Água.
O gás de Hidrogénio é produzido por algumas bactérias e algas, e é um componente natural do flato.
O Metano é uma fonte de Hidrogénio de crescente importância.

Propriedades
O gás Hidrogénio é altamente inflamável e queima em concentrações de 4% ou mais H2 no ar. A
entalpia de combustão para o Hidrogénio é − 286 kJ/mol; ele queima de acordo com a seguinte
equação:
2H2(g) + O2(g) → 2H2O(l) + 572 kJ (286 kJ/mol)

Quando misturado com Oxigénio por uma grande variedade de proporções, o Hidrogénio explode
por ignição. O Hidrogénio queima violentamente no ar, tendo ignição automaticamente na
temperatura de 560 °C. Chamas de Hidrogénio-Oxigénio puros queimam no alcance de cor
ultravioleta e são quase invisíveis a olho nu.
O H2 reage directamente com outros elementos oxidantes. Uma reacção violenta e espontânea pode
ocorrer em temperatura ambiente com Cloro e Flúor, formando os haletos de Hidrogénio
correspondentes: Cloreto de Hidrogénio e Fluoreto de Hidrogénio.

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Compostos de Hidrogénio
Apesar de Hidrogénio, em sua forma gasosa (H2), não reagir muito nas CNTP, em sua forma
atómica ele está combinado com a maioria dos elementos da Tabela Periódica, formando compostos
com diferentes propriedades químicas e físicas. Ele pode formar compostos com elementos mais
electronegativos, tais como os do grupo VIIA da Tabela Periódica (halogéneos: F, Cl, Br, I); nestes
compostos, o Hidrogénio é marcado por atrair para si uma carga parcial positiva. Quando unido a
Flúor, Oxigénio, ou Nitrogénio, o Hidrogénio pode participar na forma de forte ligação não-
covalente chamada ligação de Hidrogénio, que é essencial à estabilidade de muitas moléculas
biológicas. O Hidrogénio também forma compostos com elementos menos electronegativos, como
metais e semi-metais, nos quais gera uma carga parcial negativa. Estes compostos são geralmente
conhecidos como hidretos.

Quando o Hidrogénio se combina com o Carbono, ele pode formar uma infinidade de compostos.
Devido à marcante presença destes compostos nos organismos vivos, estes vieram a ser chamados de
compostos orgânicos e considerados os principais elementos C, H, O, N, P e S (os seis elementos
fundamentais para a vida na Terra). Na Química Inorgânica, hidretos podem também servir como
ligantes de ponte, responsáveis pelo elo entre dois centros metálicos em um composto de
coordenação. Esta função é particularmente comum em elementos do IIIG A, especialmente em
boranos (Hidretos de Boro) e complexos de Alumínio, assim como em carboranos agrupados.
Para químicos, o termo hidreto geralmente implica que o átomo de Hidrogénio adquiriu um carácter
negativo ou aniónico, H−. A existência do anião hidreto, sugerida por Gilbert N. Lewis em 1916 para
hidretos similares ao sal nos grupos I e II, foi demonstrada por Moers em 1920 com a electrólise de
hidreto de Lítio (LiH) derretido, que produziu uma quantidade de Hidrogénio estequiométrica no
ânodo. Para outros hidretos além dos metais de grupo I e II, o termo é bem enganoso, considerando a
electronegatividade de Hidrogénio baixa. Uma excepção nos hidretos do grupo II é BeH2, o qual é
polimérico. No hidreto de Alumínio e de Lítio, o anião, AlH4− carrega centros hidréticos firmemente
ligados ao Al (III).

Reacção Ácido-Base

A Oxidação de Hidrogénio, a fim de remover seu electrão, formalmente gera H+, não contendo
electrões e um núcleo, que é geralmente composto de um protão. É por isso que H+ é frequentemente
chamado de protão. Esta espécie é central à discussão de ácidos. Sob a teoria de Brønsted-Lowry,
ácidos são doadores de protões, enquanto bases são receptores de protões.
Um H+ puro não pode existir em solução devido a sua forte tendência de se ligar a átomos ou
moléculas com electrões. Entretanto, o termo protão é usado livremente para se referir ao Hidrogénio
de carga positiva. Para evitar a ficção conveniente do protão em solução, soluções ácidas aquáticas
são às vezes consideradas a conter o ião Hidrônio (H3O+).

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Produção
O gás H2 é produzido em laboratórios de Química e de Biologia, muitas vezes como sub-produto da
desidrogenação de substratos insaturados; e na natureza como meio de expelir equivalentes redutores
em reacções bioquímicas.

No Laboratório
No laboratório, o gás H2 é normalmente preparado pela reacção de ácidos com metais tais, como o
Zinco, por meio do aparelho de Kipp:
Zn(s) + 2H+(aq) → Zn2+(aq) + H2(g)
O Alumínio também pode produzir H2 após tratamento com bases:
2Al(s) + 6H2O(l) + 2OH-(aq) → 2Al(OH)4-(aq) + 3H2(g)
A electrólise da água é um método simples de produzir Hidrogénio. Uma corrente eléctrica de baixa
voltagem corre através da Água e Oxigénio gasoso forma-se no ânodo enquanto o Hidrogénio
gasoso forma-se no cátodo. Tipicamente, o cátodo é feito de Platina ou outro metal inerte
(geralmente Platina ou Grafite) quando se produz Hidrogénio para armazenamento. Se, contudo, o
gás destina-se a ser queimado no local, é desejável haver Oxigénio para assistir à combustão, e então
ambos os eléctrodos podem ser feitos de metais inertes (eléctrodos de Ferro devem ser evitados, uma
vez que eles consumiriam Oxigénio ao sofrerem oxidação). A eficiência máxima teórica
(electricidade usada versus valor energético de Hidrogénio produzido) está entre 80 e 94%.
2H2O(l) → 2H2(g) + O2(g)
Em 2007, descobriu-se que uma liga de Alumínio e Gálio em forma de pastilhas adicionada a Água
podia ser usada para gerar Hidrogénio. O processo também produz Alumina, mas o Gálio, que
previne a formação de uma película de óxido nas pastilhas, pode ser reutilizado. Isto tem potenciais
implicações importantes para a economia baseada no Hidrogénio, uma vez que ele pode ser
produzido no local e não precisa de ser transportado.

Na Indústria
O Hidrogénio, na indústria, pode ser preparado por meio de vários processos mas, economicamente,
o mais importante envolve a remoção de Hidrogénio dos hidrocarbonetos. Hidrogénio comercial
produzido em massa é normalmente produzido pela reformação catalítica de gás natural. À altas
temperaturas (700 - 1100 °C), o vapor de água reage com Metano para produzir Monóxido de
Carbono e H2.
CH4(g) + H2O(l) → CO(g) + 3H2(g)
Esta reacção é favorecida a baixas pressões mas é no entanto conduzida a altas pressões (20 atm)
uma vez que H2 a altas pressões é o produto melhor comercializado. A mistura produzida é
conhecida como gás de síntese porque é muitas vezes usado directamente para a produção de
Metanol e compostos relacionados. Outros hidrocarbonetos além de Metano podem ser usados para

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produzir gás de síntese com proporção de produtos variáveis. Uma das muitas complicações para
esta tecnologia altamente optimizada é a formação de Carbono:
CH4(g) → C(s) + 2H2(g)
Por consequência, a reformação catalítica faz-se tipicamente com excesso de H2O. O Hidrogénio
adicional pode ser recuperado do vapor usando Monóxido de Carbono através da reacção de
mudança do vapor de água, especialmente com um catalisador de Óxido de Ferro. Esta reacção é
também uma fonte industrial comum de Dióxido de Carbono:
CO(g) + H2O(l) → CO2(g) + H2(g)
Outros métodos importantes para a produção de H2 incluindo oxidação parcial de hidrocarbonetos:
2CH4(g) + O2(g) → 2CO(g) + 4H2(g)
E a reacção de carvão, que pode servir como prelúdio para a reacção de mudança descrito acima:
C(s) + H2O(l) → CO(g) + H2(g)
O Hidrogénio é por vezes produzido e consumido pelo mesmo processo industrial, sem ser separado.
No processo de Habber para a produção de Amoníaco, é gerado Hidrogénio a partir de gás natural. A
Electrólise de Salmoura para produzir Cloro também produz Hidrogénio como produto secundário.

Aplicações
Grandes quantidades de H2 são necessárias nas indústrias de Petróleo e Química. A maior aplicação
de H2 é para o processamento de combustíveis fósseis, e na produção de Amoníaco.
Os principais consumidores de H2 em uma fábrica petroquímica incluem hidro-desalquilação,
hidrodessulfurização, e hidrocraqueamento. O H2 também possui diversos usos importantes, é
utilizado como um agente hidrogenizante, particularmente no aumento do nível de saturação de
gorduras insaturadas e óleos (encontrado em itens como margarina), e na produção de Metanol. É
semelhantemente a fonte de Hidrogénio na manufactura de Ácido Clorídrico. O H2 também é usado
como um agente redutor de minérios metálicos.
Além de seu uso como um reagente, o H2 possui amplas aplicações na Física e Engenharia. É
utilizado como um gás de protecção nos métodos de soldagem como soldagem de Hidrogénio
atómico. É usado como cooler de geradores em usinas, por que tem a maior conductividade térmica
de qualquer gás. H2 líquido é usado em pesquisas criogênicas, incluindo estudos de
supercondutividade. Uma vez que o H2 é mais leve que o ar, foi certa vez vastamente usado como
um gás de levantamento em balões e dirigíveis.
Em aplicações mais recentes, o Hidrogénio é utilizado puro ou misturado com Nitrogénio (às vezes
chamado de forming gás) como um gás rastreador para detectar vazamentos. Aplicações podem ser
encontradas nas indústrias automotiva, química, de geração de energia, aeroespacial, e de
telecomunicações. O Hidrogénio é um aditivo alimentar autorizado que permite o teste de vazamento
de embalagens, entre outras propriedades antioxidantes.

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PERÓXIDO DE HIDROGÉNIO
O Peróxido de Hidrogénio que, em solução aquosa, é conhecido comercialmente como Água
Oxigenada, é um líquido claro de fórmula química H2O2. Foi descrito pela primeira vez por Louis
Jacques Thénard, numa reacção de Peróxido de Bário com Ácido Nítrico.
Trata-se de um líquido viscoso e poderoso oxidante. É incolor à temperatura ambiente e apresenta
característico sabor amargo. Quantidades pequenas de Peróxido de Hidrogénio gasoso ocorrem
naturalmente no ar. O Peróxido de Hidrogénio é instável e quando perturbado, rapidamente se
decompõe (através da enzima Catalase, presente em nosso corpo), de H2O2, em água (H2O) e
Oxigénio (O2) com libertação de calor. Deste modo, quando ele é transformado em Água e Oxigénio
pela catalase, acaba por matar bactérias e vírus anaeróbicos (que não sobrevivem à presença de
Oxigénio), pois liberta Oxigénio puro, tendo a função de Desinfectante Oxidante. Embora não seja
inflamável, é poderoso agente oxidante que pode sofrer combustão espontânea em contacto com
matéria orgânica ou alguns metais como o Cobre ou o Bronze.
Peróxido de Hidrogénio é encontrado em concentrações baixas (3 – 9%) em muitos produtos
domésticos para uso medicinal e como clareador da roupa e do cabelo.
Na indústria, Peróxido de Hidrogénio é usado em concentrações mais elevadas para clarear tecidos,
pasta de papel, e ainda como combustível para ajuste e correcção nas trajectórias e órbitas de
satélites artificiais no espaço. Na área médica é usado como desinfectante ou agente esterilizante em
autoclave de plasma.
Na área Química é usado como componente da espuma de borracha orgânica e outras substâncias
químicas. Noutras áreas como na investigação é usado para medir a actividade de algumas enzimas
como a catalase.
Peróxido de Hidrogénio actua ainda em diversos mecanismos de degradação de aminoácidos (em
associação com amino-oxidases), por conta de seu poder oxidante elevado. Tal composto ainda pode
actuar na fotossíntese (ciclo do Glioxilato), e na síntese de glicose a partir de fontes que não
contenham carbohidratos (gliconeogénese).
Observação: A Água Oxigenada vendida comercialmente é uma mistura de Água e Peróxido de
Hidrogénio, sendo que Peróxido de Hidrogénio representa entre 3 – 9% desta mistura. Apesar de ser
muitas vezes empregue dessa forma, Água Oxigenada não é sinónimo de Peróxido de Hidrogénio.

ELEMENTOS DO VIIG-A (HALOGÉNEOS)

A família dos halogéneos, também conhecida como elementos do VII Grupo A, é uma das mais
conhecidas famílias da T. P. Os elementos que compõe este grupo são: Flúor (F); Cloro (Cl); Bromo
(Br); Iodo (I); e Astato (At), dos quais os mais abundantes são Flúor e Cloro. O Astato não aparece
na natureza e todos os seus isótopos conhecidos são instáveis (são radioactivos).
Os halogéneos obtiveram este nome, que significa geradores de sais, pela capacidade que eles têm de
reagir com os metais formando sais típicos, como: NaCl, KI, CaBr2 entre outros.

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Ocorrência dos Halogéneos

Nenhum halogéneo ocorre na natureza em seu estado elementar, por causa da alta reactividade
destes elementos. Todos existem em moléculas diatómicas ou sob outras formas combinadas, que
apresentam grande estabilidade.

O elemento Flúor constitui, aproximadamente 0,006% da crosta terrestre e ocorre em compostos


com o Cálcio na Fluorite (CaF2), Fluorapatite Ca3(PO4)3F, Criolite (Na3AlF6) e no Fluoreto de
Hidrogénio (HF)n que ocorre até 0,03% nos gases vulcânicos. Uma série de compostos voláteis de
Flúor são também expelidos por diversas indústrias para a natureza, salientando-se a indústria de
Alumínio (poluição antropogénica de origem industrial). Além disso está presente, em pequenas
quantidades, na forma combinada, por exemplo na água do mar, nos ossos, nas unhas e nos dentes
dos animais.

O elemento Cloro forma cerca de 0.31% em peso da crosta terrestre e ocorre predominantemente
sob a forma de Cloreto de Sódio (NaCl) encontrado em grande quantidade na água do mar em média
3%, n oceano e nos lagos. Encontra-se também em Cloreto de Potássio (KCl) na forma de minerais
Silvinite (KCl) e Carnalite (MgCl2.KCl.6H2O).

O elemento Bromo ocorre em compostos como sais de K, Na e Mg [MgCl2KBr.6H2O]


(Bromocarnalite)]. Os Brometos de metais estão contidos na água do mar, na água de alguns lagos e
nas salmouras subterrâneas.

O Iodo encontra-se em quantidades muito pequenas na natureza, sendo encontrado principalmente


na água do mar, em organismos como algas. Existem certas algas que acumulam Iodo nos seus
tecidos. A cinza dessas algas serve de matéria-prima para obtenção de Iodo. As quantidades
consideráveis de Iodo estão contidas nas águas subterrâneas de perfuração. Ocorre na forma dos sais
de Potássio, Exemplo: Iodato de potássio (KIO3) e Periodato de potássio (KIO4). Ocorre sob a forma
de Iodato de Sódio (NaIO3) e na forma de Salitre-do-Chile, que é Nitrato de Sódio (NaNO3). Ocorre
também em organismos humanos na forma de Tireoxina (hormona produzida na glândula Tireóide),
e a ausência desse elemento causa o Bócio (papo inchado). Para remediar essa falta é obrigatório a
adição de Iodo no sal de cozinha.

Astato, halogéneo mais pesado, não se encontra na natureza, ele se obtêm por via de reacções
nucleares artificiais. As quantidades ínfimas são descobertas nos produtos da desintegração
radioactiva natural de Urânio e de Tório.

Características e Propriedades Gerais dos Halogéneos

A principal característica química dos halogéneos é seu poder em agir como agentes oxidantes,
característica essa que facilita o ganho de electrões que necessitam para se tornarem quimicamente
estáveis.

Todos os constituintes do VIIG-A possuem 7 electrões no seu último nível de energia, sendo que
necessitam de receber um electrão para atingir a sua estabilidade química. A variação das

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propriedades ao longo do grupo estão em correlação com a variação do nº atómico e com o aumento
das forças de Van Der Waals.

Na camada electrónica exterior, os átomos de halogéneos contém os sete electrões, dois na orbital s e
cinco nas orbitais p (ns2np5), por isso estes átomos facilmente captam um electrão, formando os iões
negativos monocarregados que possuem a estrutura electrónica dum gás nobre respectivo (ns2 np6).
Esta tendência à captação de electrões caracteriza os halogéneos como não metais típicos.

Todos os elementos do VIIG-A são muito tóxicos e possuem um cheiro muito forte. A aspiração
deles, mesmo nas quantidades pequenas leva a irritação das vias respiratórias e a inflamação das
mucosas, se as quantidades forem consideráveis podem levar a intoxicações graves. As moléculas
das substâncias simples, são formadas por átomos de halogéneos e são diatómicas: F2, Cl2, Br2, I2 e
At2.

Flúor: Apresenta-se como um gás amarelo-esverdeado, de odor irritante e propriedades tóxicas. É o


mais electronegativo e o mais reactivo de todos os elementos químicos. Sua extrema reactividade
que se traduz em forte tendência à formação de compostos, atribui-se à facilidade com que atrai
electrões e ao reduzido tamanho de seus átomos. Combina-se com todos os demais elementos
químicos, excepto o Hélio, o Árgon e Crípton. Flúor é capaz de atacar o vidro, metais e água entre
outros, por isso é um material de difícil armazenamento.

Cloro: À temperatura e pressão normal, é um gás de cor amarelado, de cheiro acre e penetrante, que
se aspirado em grandes quantidades pode causar asfixia e morte. Devido a sua acção corrosiva,
tóxica e irritante para o sistema respiratório e para os olhos, o gás Cloro foi utilizado durante a
primeira guerra mundial como arma química.

Bromo: À temperatura e pressão normal, é um líquido de cor castanho. Como os demais halogéneos,
o Bromo caracteriza-se por sua elevada capacidade de oxidação, responsável pela facilidade para
combinar com outros elementos e dissolver-se em numerosos compostos orgânicos, como Álcool,
Clorofórmio e Tetracloreto de Carbono. A propriedade oxidante do Bromo é também responsável
pela libertação de uma elevada quantidade de calor em reacções com determinados elementos, como
Fósforo e Alumínio, com risco de explosões.

Iodo: À temperatura ambiente, Iodo é um sólido altamente volátil, de aspecto e coloração cinzento
quase negra, com leve brilho metálico que sublima em condições normais formando um gás de
coloração violeta e odor irritante. Iodo é muito pouco solúvel na Água, mas altamente solúvel em
compostos como o Dissulfeto de Carbono, Tetracloreto de Carbono, Etanol e Clorofórmio,
produzindo soluções de coloração violeta. Em dissolução, na presença de Amido dá uma coloração
azul. Sua solubilidade em água aumenta se adicionarmos Iodeto devido a formação do Triodeto, I3.
As suas propriedades químicas são semelhantes as do Cloro, mas não reage de forma tão violenta. É
o menos reactivo e o menos electronegativo de todos os elementos do VII G – A.

Astato: É sólido na temperatura ambiente, e actualmente foram encontradas apenas 25g de Astatínio
na Natureza, por isso é o elemento mais raro do mundo. É um halogéneo, no entanto, não há muitos
estudos sobre este elemento e seus compostos, uma vez que seu isótopo mais estável possui meia

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vida de aproximadamente 7 horas. Este elemento é altamente radioactivo e é encontrado em minerais
de Urânio e Tório, porém em quantidades pouco significativas.

Nas moléculas Cl2, Br2 e I2 as ligações são mais fortes do que no F2, devido à hibridização de orbitais
p e d.

Obtenção dos Halogéneos

A obtenção dos halogéneos livres faz-se, geralmente por meio da oxidação dos seus iões.

1. Na Industria
Flúor obtém-se pela electrólise fundida duma mistura de KF, HF à temperatura de 80ºC - 90º C.
electrolise
2HF(g) H2(g) + F2(g)

Hidrogénio e Flúor mesmo no escuro reagem explosivamente.


Esta reacção ocorre no sistema de aço altamente resiste porque Ácido Fluorídrico (HF) ataca o vidro.

Cloro, Bromo e Iodo obtém-se pela electrólise fundida ou em solução aquosa das soluções dos seus
sais. Exemplo: água do mar. Os produtos deste processo são separados através do diafragma (H2 e
Cl2).
electrolise
2NaCl(s) + 2H2O(l) 2NaOH(s) + H2(g) + Cl2(g)

Também pode-se obter o Cloro, Bromo e Iodo pela oxidação dos respectivos halogéneos, como
mostra o exemplo seguinte: MgBr2(aq) + Cl2(g) → MgCl2(aq) + 2Br(l)

Isto é, o Cloro é capaz de oxidar o Br- e I-. Por seu turno o Bromo é capaz de oxidar o Iodo.

Cloro pode ser obtido pela oxidação de Cloreto de Hidrogénio com Oxigénio na presença de um
catalisador (CuCl2) a temperatura de 400ºC: 4HCl(g) + O2(g) → 2Cl2(g) + 2H2O(l)

Bromo é obtido industrialmente pela cloração directa da água do mar:


2Br –(aq) + Cl2(g) → 2Cl-(aq) + Br2(l)

Br2 é arrastado por corrente de ar e no caso de pequenas quantidades é recolhido em solução de


Carbonato de Sódio, que é aquecido, tendo-se:
3Br2(l) + 3CO32-(aq) → 5Br –(aq) + BrO3-(aq) + 3CO2(g)

Essa solução é então acidulada, obtendo-se o Br2:


5Br –(aq) + BrO3-(aq) + 6H+(aq) → 3Br2(l) + 3H2O(l)
Pode-se também passar a corrente de ar para arrastar Bromo que reage com Dióxido de Enxofre e
vapor de água: Br2(l) + SO2(g) + 2H2O(l) → 2HBr(conc.) + H2SO4(aq)

Obtêm-se uma solução concentrada de HBr, daí, pela acção de Cloro, desprende-se Bromo:
2HBr(conc.) + Cl2(g) → 2HCl(aq) + Br2(l)

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Iodo pode ser obtido por redução ou oxidação de Iodeto. Faz-se a redução com Dióxido de Enxofre
ou com ião Hidrogenossulfito:
2IO3-(aq) + 5HSO3-(aq) → I2(s) + 3HSO4-(aq) + 2SO42-(aq) + H2O(l)

A reacção se processa em dois estados:


1. IO3-(aq) + 3HSO3- (aq) → 3HSO4- (aq) + I-(aq)
2. 5I-(aq) + IO3-(aq) + 6H+(aq) → 3I2(s) + 3H2O(l)

Actualmente, o processo consiste em partir do Iodeto das águas dos poços petrolíferos, oxidando-se
o Iodeto com Nitrito, em presença de carvão, finalmente é dividido, para reter Iodo:
6I-(aq) + 2NO2-(aq) + 8H+(aq) → 3I2(s) + N2(g) + 4H2O(l)

A suspensão de Iodo e carvão é aquecida com álcalis (bases):


3I2(s) + 6OH-(aq) → 5I-(aq) + IO3-(aq) + 3H2O(l)
Após a filtração, o carvão é usado novamente e o filtrado é acidulado, desprendendo então Iodo:
5I-(aq) + IO3-(aq) + 6H+(aq) → 3I2(s) + 3H2O(l)

2. No Laboratório
Cloro, Bromo e Iodo podem ser preparados por oxidação de Cloreto, Brometo ou Iodeto em meio
ácido, usando-se como oxidante o ião Permanganato ou o Dióxido de Manganês:

MnO2(s) + 4HCl(aq) → MnCl2(aq) + Cl2(g) + 2H2O(l)


2KMnO4(s) + 16HCl(aq) → 2MnCl2(aq) + 2KCl(aq) + 5Cl2(g) + 8H2O(l)
MnO2(s) + 2Cl-(aq) + 4H+(aq) → Mn2+(aq) + Cl2(g) + 2H2O(l)

Também pode-se obter Cloro pela reacção da água de javel


KOCl(aq) + 2HCl(aq) → KCl(aq) + Cl2(g) + H2O(l)
Ca(OCl)2(aq) + 4HCl(aq) → CaCl2(aq) + 2Cl2(g) + 2H2O(l)

Obtenção de Astato pela radioactividade de Tório é:


232 𝛼 228 𝛽 228 𝛽 228 𝛼 224 𝛼 220 𝛼 216 𝛽 216
90Th 88Ra 89Ac 90Th 88Ra 86Rn 84Po 85At

Propriedades Químicas dos Halogéneos

A reacção de Flúor com o Hidrogénio, ocorre mesmo na ausência de luz ou chama ou a baixas
temperaturas (até - 200 ºC) e é explosiva. A entalpia de formação de Fluoreto de Hidrogénio é muito
negativa, - 273 kJmol-1, a mais baixa de todos os halogenetos de Hidrogénio, o que justifica a grande
quantidade de energia que é libertada nesta reacção:

F2(g) + H2(g) → 2HF(g) ; ∆H = - 273 kJmol-1


A reacção dos outros halogéneos com Hidrogénio ocorre na presença de luz ou sob altas
temperaturas, como no exemplo a seguir: H2(g) + Cl2(g) → 2HCl(g)

Compostos dos Halogéneos com Oxigénio

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Os halogéneos formam compostos oxigenados: óxidos, óxi-ácidos e sais dos oxi-ácidos. Dentre
estes, os sais de ácidos oxigenados são os compostos mais estáveis do que os próprios ácidos bem
como dos óxidos.

Óxidos de Flúor
Obtem-se deixando passar Flúor através da solução resfriada de NaOH a 2%.
2F2(g) + 2NaOH(aq) → 2NaF(s) + H2O(l) + OF2(g)

Óxidos de Cloro
Cl2O (Óxido Hipocloroso) – Instável, obtido a partir de Cloro sobre Óxido de Mercúrio I e
borbulhá-lo em Água.
2Cl2(g) + HgO(aq) → HgCl2(aq) + Cl2O(g)
Cl2O(g) + H2O(l) → 2HOCl(aq) (Ácido Hipocloroso)

Cl2O7 (Heptóxido de Dicloro)


2HClO4(aq) + P2O5(g) → 2HPO3(aq) + Cl2O7(g)
Cl2O7(g) + H2O(l) → 2HClO4(aq) (Ácido Perclórico)

Óxidos de Bromo e Iodo


Br2O e Br2O5 existem em solução aquosa sob forma dos seus ácidos HBrO (Ácido Hipobromoso) e
HBrO3 (Ácido Brómico).

I2O e I2O5 existem em solução aquosa sob forma dos seus ácidos HIO (Ácido Hipoiodoso) e HIO3
(Ácido Iódico).

Aplicação dos Halogéneos

Flúor: é utilizado para a preparação do UF6 (separação de isótopos), Preparação do SF6 (gás
protector), na produção de compostos orgânicos (Teflon), como aditivo das pastas dentífricas para
combate a cárie:
Ca5(PO4)3OH(aq) + F-(aq) → Ca5(PO4)3F(aq) + OH-(aq)
(hidroxiapatite) (fluorapatite)

Cloro: é usado na produção de Cloreto de Cal, obtenção de solventes orgânicos (Clorofórmio,


Tetracloreto de Carbono, Tricloroetileno). É usado na produção de Cloro benzol, Fosgênio (COCl2),
bem como materiais sintéticos como o PVC e o Cloropreno; para produzir insecticidas e pesticidas,
produtos de limpeza de piscinas, de branqueamento de fibras e vegetais (linho, algodão etc.), na
desinfecção de resíduos industriais, tratamento de água para consumo, fabricação de papel
(deixando-o mais branco), entre outras.

Bromo: é usado na produção de vários compostos como corantes, analgésicos, pesticidas,


medicamentos, papel fotográfico, filmes, desinfectantes, etc. Brometo de Etileno é usado em
combustíveis para evitar acumulação de Chumbo no interior dos cilindros. Brometo de Prata é
sensível à luz, utilizado em emulsões fotográficas. Alguns dos compostos de Bromo são usados no
tratamento contra epilepsia e como sedantes.

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Iodo: no corpo humano Iodo tem a importante tarefa de regular a glândula tireóide, apesar de estar
presente em pequenas quantidades nos tecidos animais. É usado em solução alcoólica como anti-
séptico no tratamento de ferimentos. Na indústria, Iodo é usado na produção de lâmpadas
catalisadores, medicamentos, lubrificantes, corantes, reagentes e produtos intermediários usados na
síntese de compostos orgânicos e em laboratórios de análise.

Iodeto de potássio, KI, é adicionado ao sal comum, NaCl (mistura denominada de sal iodado), para
prevenir o surgimento do bócio endémico, doença causada pela deficiência de Iodo na dieta
alimentar.

CALCOGÉNEOS – ELEMENTOS DO VIG-A

Calcogéneos são os elementos do VIG A: Oxigénio (O), Enxofre (S), Selénio (Se), Telúrio (Te) e
Polónio (Po).

Ocorrência dos Calcogéneos na natureza


Estes elementos ocorrem sob a forma combinada. Oxigénio é o elemento mais abundante na crosta
terrestre. No estado livre encontra-se no ar atmosférico, na forma de uma molécula diatómica. No
estado combinado faz parte da composição da água, minerais, rochas, e de todas as substâncias
constituintes dos organismos. Os minerais mais importantes são: Tetradimita (BiTe2S), Hessita
(Ag2Te), Calaverita (AuTe2), Altaíta (PbTe) e Sivanita (AgAuTe2). Polónio é raramente encontrado
por ser um elemento radioactivo.

Propriedades Gerais dos Calcogéneos


Os primeiros quatro elementos desse grupo são não-metais. São conhecidos como Calcogéneos ou
elementos formadores de minérios, pois inúmeros minérios são óxidos ou sulfuretos de metais.
Diversos produtos químicos contendo os elementos desse grupo têm importância económica. Por
exemplo H2SO4 é o produto mais importante na indústria química.

Os elementos apresentam a tendência normal de aumento de carácter metálico, ao se descer ao longo


do grupo. Isso se reflecte nas suas reacções, nas estruturas dos elementos e na crescente com a
tendência de formar iões M2+, com concomitante decréscimo da estabilidade dos iões M2-, e são
totalmente não-metais. O carácter não-metálico é menor no Se e no Te, Po é caracteristicamente
metálico, além de ser um elemento radioactivo com tempo de meia vida curto.
Oxigénio é um elemento muito importante na Química Inorgânica, visto que reage quase com todos
os demais elementos. O S, Se e Te, são moderadamente reactivos e queimam o ar formando
Dióxidos. Eles se combinam directamente com a maioria dos elementos, tanto metais como não-
metais, embora com menor facilidade que o Oxigénio.

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Polónio tem propriedades metálicas pois se dissolve em H2SO4, HF, HCl e HNO3, formando
soluções de Po (II), de coloração de rosa. Contudo, Po é fortemente radioactivo, e as partículas α
emitidas decompõem a Água.
Oxigénio apresenta diversas diferenças em relação aos demais elementos do grupo. Essas diferenças
estão relacionadas ao seu menor tamanho, sua maior electronegatividade e a falta de orbital d
adequadas para formar ligações. Oxigénio pode utilizar orbitais pπ para formar duplas ligações
fortes, os demais elementos também podem formar duplas ligações, mas se tornarem cada vez mais
fracas à medida que aumenta o número atómico dos mesmos.
Enxofre possui uma maior tendência de formar cadeias e ciclos do que os demais elementos do
grupo (veja as variedades alotrópicas). Enxofre forma extensos e incomuns compostos com
Nitrogénio que não encontram correspondência com os demais elementos.
Todos os compostos de Se, Te e Po são potencialmente tóxicos e devem ser manuseados com
cuidados. Os derivados orgânicos e compostos voláteis tais como H2Se e H2Te são 100 vezes mais
tóxicos que o HCN.

Configuração Electrónica e Estados de Oxidação


Todos os elementos do Grupo VI A têm a configuração electrónica de nsn2p4. Eles podem atingir a
configuração de gás nobre ou recebendo dois electrões, formando iões binegativos ou
compartilhando dois electrões, formando duas ligações covalentes. Oxigénio é o segundo elemento
mais electronegativo, perdendo apenas para o Flúor. A diferença de electronegatividade entre
Oxigénio e os metais é grande. Por isso a maioria dos óxidos metálicos são iónicos contendo ião O2-.

Os sulfetos, selenetos e teluretos se formam quando se combinam com os elementos menos


electronegativos dos elementos do Grupo IA, IIA e dos Lantanídeos. Estes compostos estão entre os
mais estáveis conhecidos. Geralmente, supõe se que estes compostos contenham iões S2- (Sulfeto),
Se2- (Seleneto) e Te2- (Telureto). Mas, a diferença de electronegatividade entre os elementos sugere
que eles se situem no limite, de 50% de carácter iónico e 50% de carácter covalente.

Esses elementos também podem formar compostos contendo duas ligações covalentes (pares
electrónicos), como em H2O, F2O, Cl2O, H2S e SCl2. Quando o átomo do calcogéneo é menos
electronegativo na molécula, (por exemplo, no SCl2, a electronegatividade de S = 2,5 e do Cl = 3,5),
S se encontra no estado de oxidação +2.
Alem disso os elementos de S, Se e Te podem estar no estado de oxidação de (+4 e +6), sendo que
estes são, mais estáveis do que o elemento no estado de oxidação (+2).

Diferença de Estados de Oxidação (+ 2, + 4 e + 6)


Oxigénio nunca apresenta valência superior a II, pois depois de formar duas ligações covalentes ele
atinge a configuração electrónica de um gás nobre, não havendo mais orbitais de baixa energia
disponíveis para formar outras ligações. Contudo, os elementos S, Se, Te e Po possuem orbitais d

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vazios que podem ser utilizados para formar ligações: esses elementos podem formar quatro ou seis
ligações ao desemparelhar seus electrões.

Métodos de Obtenção dos Calcogéneos


Na Técnica
Oxigénio é produzido pela destilação fraccionada do ar líquido. No caso do nosso país é produzido
na empresa Mogás localizado na cidade de Maputo no Bairro do Jardim e é transportado
principalmente no estado líquido.

Oxigénio também pode ser obtido pela Electrólise da água: Este método consiste em submeter à
água sob acção da corrente eléctrica; resultando a separação dos seus dois elementos constituintes,
Hidrogénio e Oxigénio: 2H2O(l) → 2H2(g) + O2(g). Este processo é muito dispendioso porque requer
o uso de altas quantidades de energia eléctrica.

No Laboratório
No laboratório pode ser obtido a partir:
Do aquecimento do Óxido do mercúrio: 2HgO(s) → 2Hg(l) + O2(g)
Da decomposição catalítica de Peróxido de Hidrogénio, usando MnO2 como catalisador: 2H2O2(l) →
2H2O(l) + O2(g)
Da decomposição térmica de alguns sais
2KNO3(s) → 2KNO2(s) + O2(g)
2KClO3(s) → 2KCl(s) + 3O2(g)
2KMnO4(s) → K2MnO4(s) + O2(g) + MnO2(s)

Nota: Oxigénio existente na atmosfera provém da fotossíntese, numa obtenção natural.

Reactividade
Reacções de Oxigénio

Oxigénio é muito reactivo, particularmente a temperaturas elevadas. As suas reacções são fortemente
exotérmicas. Com Nitrogénio ele não reage facilmente, se não em condições especiais, devido à alta
energia de dissociação da molécula de N2 (-945 kj/mol). Oxigénio é um forte oxidante, é
comburente, alimenta a combustão. É usado nas reacções de combustão como o carvão e os
hidrocarbonetos: C(s) + O2(g) →CO2(g);
C3H8(g) + 5O2(g) → 3CO2(g) + 4H2O(l)

Oxigénio + metal
Oxigénio reage a altas temperaturas com a maioria dos metais formando óxidos de diferentes tipos:
2Mg(s) + O2(g) → 2MgO(s) ; 4Fe(s) + 3O2(g) → 2Fe2O3(s)
Oxigénio + não metal
Oxigénio reage com ametais formando os respectivos óxidos: C(s) + O2(g) → CO2(g) ;

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P4(s) + 5O2(g) → 2P2O5(s)
Oxigénio + Compostos Hetero-atómicos

CH4(g) + 2O2(g) → CO2(g) + 2H2O(l) ; 2NH3(g) + 3O2(g) → 2NO(g) + 3H2O(l)

Reacções de Enxofre

Enxofre não reage com Água e com ácidos diluídos. Ácido Sulfúrico (H2SO4) e Nítrico quando
concentrado atacam Enxofre:
S(s) + 2H2SO4(c ) → 3SO2(s) + 2H2O(aq)
S(s) + 6HNO3(c) → H2SO4(aq) + NO2(g) + 2H2O(aq)
Os álcalis atacam Enxofre formando sulfetos: 2NaOH(aq) + 2S(s) → Na2S(aq) + H2S(g) + O2(g)

Reacções do Selénio e Telúrio

As reacções do Selénio e Telúrio são semelhantes às de Enxofre: Telúrio, quando queimado em


presença do ar, produz uma chama azul esverdeada e forma Dióxido de Telúrio (TeO2) como
produto.

Variedades Alotrópicas do Oxigénio

Oxigénio possui duas formas alotrópicas que diferem quanto à atomicidade (número de átomos do
elemento químico em uma molécula da substância).
As duas formas alotrópicas de Oxigénio são: Oxigénio (O2) e o Ozono (O3). O gás oxigénio é
inodoro e indispensável à vida, e o gás Ozono é de cheiro desagradável e altamente bactericida.

Alótropos Densidade g.cm-3 Fusão / oC Ebulição / oC Estabilidade


Gás Oxigénio 1,14 (a-183 oC) -218 oC -182,8 oC Mais estável
Gás Ozónio 1,71 (a-188 oC) -249,4 oC -111,3 oC Menos estável

O gás Ozono, por causa de suas propriedades bactericidas, é usado na purificação da Água para
consumo residencial e para tratamento de piscinas (no lugar de Cloro). É usado também na
desodorização de cinemas, velórios e lugares fechados sujeitos a aglomerações. Uma das razões da
sensação de frescos que se tem após uma tempestade deve-se à transformação de O2 em O3,
promovida pelos relâmpagos, que purificam o ar.

O ar que respiramos

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Respiramos desde que nascemos até ao momento em que morremos. É uma necessidade vital e constante, não
só para nós, mas para toda a vida na Terra. A má qualidade do ar afecta a todos e prejudica a nossa saúde e a
saúde do ambiente, originando perdas económicas.

A atmosfera é a massa gasosa que envolve o nosso planeta, tendo sido classificada em camadas
consoante as diferentes densidades dos gases. A camada mais fina e mais baixa (ao nível do solo) é
conhecida como a troposfera. É aqui onde as plantas e os animais vivem e que os padrões
meteorológicos ocorrem. A sua altitude atinge cerca de 7 km nos pólos e 17 km no equador.

Tal como o resto da atmosfera, a troposfera é dinâmico. Dependendo da altitude, o ar tem uma
densidade diferente e uma composição química diferente. O ar circula constantemente em redor do
globo, cruzando oceanos e vastas áreas de terra. Os ventos podem transportar pequenos organismos,
incluindo bactérias, vírus, sementes e espécies invasivas para novos locais.

Constituição do Ar
O ar seco é constituído por cerca de 78% de Azoto, 21% de Oxigénio e 1% de Árgon. Existe
igualmente vapor de água no ar, perfazendo entre 0,1% e 4% da troposfera. O ar mais quente contém
geralmente maior quantidade de vapor de água do que o ar mais frio.

O ar contém igualmente quantidades muito pequenas de outros gases, conhecidos como gases
residuais, incluindo Dióxido de Carbono e Metano. As concentrações desses gases pouco
importantes na atmosfera são geralmente medidas em partes por milhão (ppm). Por exemplo, as
concentrações de Dióxido de Carbono, um dos gases residuais mais proeminentes e abundantes na
atmosfera, foram estimadas em cerca de 391ppm, ou 0,0391%, em 2011.

Adicionalmente, existem milhares de outros gases e partículas (incluindo fuligem e metais) que são
lançados na atmosfera a partir de fontes naturais e antropogénicas. A composição do ar na troposfera
está em constante mudança. Algumas das substâncias contidas no ar são altamente reactivas, ou seja,
têm uma maior propensão para interagir com outras e formar novas substâncias. Quando algumas
dessas substâncias reagem com outras, podem formar poluentes nocivos para a nossa saúde e para o
ambiente. O calor – incluindo o do Sol – funciona geralmente como catalisador, facilitando ou
desencadeando reacções químicas.

Ozono (O3)
A camada de Ozono - Formação de Ozono
As moléculas de gás oxigénio, O2, possuem baixa densidade e tendem a subir para a estratosfera, até
cerca de 25 km acima da superfície do planeta. Nas condições da estratosfera Oxigénio é instável e
se decompõem pela acção dos raios ultravioletas do Sol, formando gás O3), mais estável nessas
condições.
Ozono é preparado pela passagem de Oxigénio molecular através de uma descarga eléctrica,
condensado o produto a 77K e purificado por destilação fraccionada e liquefacção:

O2(g) → O. + O.

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O2(g) + O. → O3(g)

O gás Ozono formado é mais denso, ele começa a descer, mas nas condições existentes nas camadas
mais baixas da atmosfera, ele é instável e se decompõe formando gás Oxigénio, num ciclo que se
repete indefinidamente: O. + O3(g) → O2(g) + O2(g)

A camada de Ozono filtra os raios ultravioletas do Sol, protegendo os seres vivos dessa radiação
electromagnética invisível aos nossos olhos, de frequência e energia alta bastante para causar danos
à vida. Nas últimas décadas, porém, os cientistas observaram que o equilíbrio dinâmico de formação
e decomposição do gás Ozono foi alterado.

Propriedades de Ozono
É um gás de cor azulada, cuja molécula possui três átomos de Oxigénio, tem como massa molecular
48 g/mol e é solúvel em Água. A sua solubilidade na Água é maior do que a do Oxigénio do ar. É
um gente oxidante muito forte e mais reactivo do que o Oxigénio. Oxida todos os metais excepto
Ouro e os metais do grupo de Platina e também a maioria dos não-metais: Ag(s) + O3(g) → Ag2O(s) +
O2(g).
Se introduzir no ar que contém Ozono um papelinho molhado pelas soluções de KI e amido este
torna-se azul. Esta reacção usa-se para identificar Ozono. Encontra-se na estratosfera entre 10 a 46
Km de altura. Em condições normais não é estável.

Ozono é perigoso porque em certos intervalos de concentração é violento e explosivo. Ozono é


utilizado na desinfecção, na purificação de água de esgoto, protecção dos raios ultravioletas.

Estrutura de Ozono – O3
Ozono é uma molécula diamagnética angular (ângulo de 116º45’) formada por três átomos de
Oxigénio. Tem a forma dum triângulo isóscele com o átomo central em estado de hibridização sp2.

Aplicações dos Calcogéneos


Oxigénio desempenha um papel muito importante na natureza, participando nos processos vitais
mais importantes (respiração), putrefacção e apodrecimento de animais e plantas mortas. É aplicado
para intensificar diferentes processos químicos (por exemplo, na produção de ácidos Sulfúrico e
Nítrico, em alto-forno). Emprega-se na medicina para facilitar a respiração.

Enxofre é usado em múltiplos processos industriais como, por exemplo: Produção de H2SO4 para
baterias, fabricação da pólvora, produção de sulfitos usados para branquear o papel e como
conservante de bebidas alcoólicas; Produção do Tiossulfato de Sódio utilizado em fotografia como
fixador porque dissolve Brometo de Prata; Produção de Sulfato de Magnésio com diversos usos
como laxante, esfoliante ou suplemento nutritivo para plantas. Aplica-se também na indústria da
borracha para a transformação de caucho (borracha natural). A borracha adquire propriedades

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valiosas apenas após ser misturado com Enxofre e aquecido até altas temperaturas. Enxofre é
também aplicado como fungicida, produção de insecticida (Enxofre flor), produção de fertilizantes
fosfatados, sulfureto de carbono e bálsamos sulfurosos.

Selénio tem aplicação como semicondutor, rectificador de foto celas. Em fotografia é empregue para
intensificar e incrementar as faixas de tonalidades das fotografias em branco e preto e a durabilidade
das imagens. Selénio é um antioxidante que ajuda a neutralizar os radicais livres, estimula o sistema
imunológico e intervém no funcionamento da glândula tiróide. É usado também como um micro
nutriente para todas as formas de vida. É encontrado no pão, nos cereais, nos pescados, nas carnes e
nos ovos.

Telúrio: A maior parte é usada em ligas com outros metais. É adicionado ao Chumbo para aumentar
a sua resistência mecânica, durabilidade e diminuir a acção corrosiva do Ácido Sulfúrico. Quando
adicionado ao aço inoxidável e Cobre torna estes materiais mais facilmente usináveis. Também é
usado em semicondutores, e como ingredientes em vidros.

Polónio é usado como gerador termoeléctrico em satélites artificiais e sondas espaciais. Pequenas
quantidades adicionadas às velas (eléctrodos de ignição de motores de combustão interna) melhoram
o desempenho destes dispositivos.

ENXOFRE

Ocorrência
Enxofre está amplamente distribuído em minérios de sulfetos, que incluem Galena (PbS), Cinábrio
(HgS), Pirita (FeS), e Esfalerita ou Blenda (ZnS). Como esses minérios são muito comuns, Enxofre
é um subproduto da extracção de vários metais, especialmente Cobre. Enxofre é também encontrado
em depósitos do elemento nativo (chamado de Pedra de Enxofre) formado pela acção de bactérias
sobre H2S.

Ocorre também na forma elementar em grandes quantidades em minas de Enxofre (Enxofre nativo).
No estado combinado ocorre em compostos (sulfuretos e sulfatos), a Galena (PbS), a Blenda (ZnS) e
o brilho de Cobre (Cu2S) que são minérios valiosos. Ocorre nos organismos vivos (proteínas a base
de Enxofre). No organismo humano são encontradas cerca de 100 mil diferentes tipos de proteínas,
presentes em músculos, ossos, pele, tecidos adiposos, cartilagens, tendões, cabelos, unhas, etc.

Obtenção
1. Na Técnica

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Enxofre pode ser obtido pelo Método de Frasch. O Método de Frasch é um método de fundição de
Enxofre na profundeza das minas e recolha a superfície por acção da pressão dado o baixo ponto de
fusão e a baixa densidade de Enxofre.

O método Frasch consiste em cavar poços, introduzindo-se nas rochas sedimentares três tubos
concêntricos. Pelo tubo externo é injectada água super-aquecida, destinada a fundir Enxofre em seu
depósito subterrâneo; no tubo de menor diâmetro injecta-se ar sobre forte pressão (ar comprimido)
para forçar Enxofre líquido a subir à superfície, através da tubulação intermediária.

Outro método é o Processo de Claus – por oxidação de Sulfeto de Hidrogénio ou Ustulação de


outros sulfetos e posterior Redução de SO2 com Coque. Ou seja é um método para remover Enxofre
na forma de H2S, no qual parte de H2S é primeiro oxidada a Dióxido de Enxofre:
2H2S(g) + 3O2(g) → 2SO2(g) + 2H2O(l)
SO2(g) + C(s) → S(l) + CO2(g)
SO2 é, então, usado para oxidar o restante de Sulfureto de Hidrogénio:
300o C, Al2 O3
2H2 S(g) + SO2(g) 3S(s) + 2H2 O(l)
2. No laboratório
Enxofre é obtido por reacções de comproporção entre compostos contendo o ião Sulfeto e iões
Sulfito, Sulfato com produção de Enxofre coloidal:
Na2SO3(s) + H2SO4(aq) → H2S2O3(aq) + Na2SO4(aq)
H2S2O3(aq) → H2O(l) + SO2(g) + S(coloidal)

Propriedades de Enxofre
É um ametal, sólido de coloração amarela, mole, frágil, leve, insolúvel em água e relativamente bem
solúvel em Dissulfureto de Carbono (CS2) e Benzeno (C6H6). Os átomos de Enxofre contêm 6
electrões na camada electrónica exterior, dois na orbital s e quatro na orbital p. O número de
electrões desemparelhados no átomo pode aumentar por via de transferência de electrões do subnível
s e p para o subnível d da camada exterior, neste caso Enxofre, além da valência II, também pode ter
IV e VI, logo, oss estados de oxidação comuns de enxofre são: - 2, + 4 e + 6.
As moléculas do Enxofre podem ser: de S2 até S12 em forma de cadeias (gasoso, líquido), S8 na
forma cíclica (sólido).

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Enxofre a pressões ordinárias forma cristais amarelos de densidade 2,07g/cm3 que fundem a
temperatura de 112.8 ºC. Pela evaporação dos líquidos onde é solúvel, forma cristais amarelos e
transparentes do sistema rômbico que tem a forma de octaédros e cristais no sistema monoclínico na
forma de agulhas cristalinas amarelo-escuras de densidade 1.96g/cm3. Estes cristais que se formam
fundem a 199,3 ºC e são somente estáveis a temperaturas acima de 96 ºC. À baixas temperaturas
transforma-se em octaedros do sistema rômbico.

Quando se aquece Enxofre até a ebulição ocorrem variações diferentes e interessantes: Aos 112,8 ºC
funde transformando-se num líquido amarelo muito móvel. Continuando o aquecimento o líquido
torna-se vermelho escuro e a 250 ºC torna-se muito viscoso (rompimento das estruturas anelares e
formação de estruturas lineares macromoleculares. Acima dos 300 ºC torna-se de novo móvel mas a
cor permanece vermelho-escura (rompimento das cadeias com o aquecimento). Aos 444,6 ºC
Enxofre entra em ebulição, formando vapores amarelo-alaranjados.

Ao arrefecer, gradualmente, todos os fenómenos se sucedem na ordem inversa. Nos vapores de


Enxofre o aumento de temperatura conduz a diminuição do número de átomos na molécula. Entre
800 – 1400 ºC, os vapores são compostos maioritariamente por moléculas S2 e a 1700 ºC por átomos
S.

Propriedades Químicas
Enxofre não reage com Água e com ácidos diluídos. Ácido Sulfúrico (H2SO4) e Nítrico quando
concentrado atacam Enxofre:
S(s) + 2H2SO4(c) → 3SO2(s) + 2H2O(l)
S(s) + 6HNO3(c) → H2SO4(aq) + NO2(g) + 2H2O(aq)

Os álcalis reagem com Enxofre formando sulfetos:


2NaOH (s) + S(s) → Na2S(aq) + H2O(l) + 1/2O2(g)

Algumas reacções de Enxofre:


2Na(s) + S(s) → Na2S(s) ; S(s)+ H2(g) → H2 S(g) ; S(s) + Cl2(g) S2 Cl2(s)

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Sulfureto de Hidrogénio (H2S)
Sulfeto de Hidrogénio é um gás em temperaturas e pressões normais. O baixo ponto de ebulição, (–
61 °C), quando comparado com o da Água, indica que deve haver pouquíssima ligação de
Hidrogénio no líquido. O H2S é uma molécula angular, com ângulo de ligação de 92°, menor que o
de H2O (105°). A diferença pode ser explicada devido à menor electronegatividade de Enxofre, no
qual os pares electrónicos estão mais afastados no H2S do que os do Oxigénio em H2O, e há uma
redução de repulsão par compartilhado – par compartilhado, decrescendo o ângulo de ligação no
H2S.

Sulfeto de Hidrogénio é um ácido diprótico fraco com K1 = 1,1 x 10-7 e K2 = 1,0 x 10-14. Observe o
valor baixo de K2 no H2S; isto significa que o ião sulfeto é muito hidrolisado, portanto, as soluções
dos sulfetos de metais alcalinos, todos muito solúveis, são extremamente básicas.

Ácido Sulfídrico ou Sulfeto de Hidrogénio, é um gás, com odor de ovos podres, em solução
aquosa. Ė Solúvel em Água e Etanol e pode ser preparado pela acção de ácidos minerais em sulfeto
metálico, geralmente Ácido Clorídrico com Sulfeto de Ferro (II). Numa solução ácida, Ácido
Sulfídrico é um agente redutor moderado. Este ácido tem um papel importante em análises
qualitativas tradicionais, onde se precipita metais com sulfetos insolúveis. É um composto corrosivo,
venenoso e gasoso encontrado no gás sintético do carvão, no gás natural e nos tipos de petróleo que
contem Enxofre.

Propriedades Químicas
Com bases fortes forma sais, os sulfetos.

Queima ao ar, quando nas condições adequadas, produzindo Dióxido de Enxofre e Água:
2H2S(g) + 3O2(g) → 2SO2(g) + 2H2O(l)

Quando a quantidade de Oxigénio não é suficiente para completar a reacção acima, forma-se
Enxofre livre, juntamente com Água: 2H2S(g) + O2(g) → 2S(s) + 2H2O(l)

Reage com diversos sais de metais pesados (Zinco, Cobre, Estanho, Ferro, Cobalto, Níquel, etc.)
formando os sulfetos insolúveis, quando em solução diluída:

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SnCl2(s) + H2S(g) → SnS(s) + 2HCl(aq); ZnSO4(s) + H2S(g) → ZnS(s) + H2SO4(aq)

É um forte redutor, do que pode se apresentar vários exemplos:


a) Reduz halogéneos, libertando Enxofre e formando o Ácido halogenídrico:
I2(s) + H2S(g) → 2HI(aq) + S(s) ; Br2(l) + H2S(g) → 2HBr(aq) + S(s)

b) Reduz Ácido Nítrico a Monóxido de Nitrogénio:


H2S(g) + 2HNO3(aq) → 2H2O(l) + SO2(g) + 2NO(g)

É um gás muito encontrado na indústria petroquímica. Determina-se que todas as actividades devem
ser paralisadas quando existir uma concentração maior que 8ppm (partículas por milhão) na
atmosfera local.

Produção
Sulfeto de Hidrogénio é mais comummente obtido por sua separação do gás amargo, o qual é gás
natural com alto conteúdo de H2S. Também pode ser produzido por reagir-se gás Hidrogénio com
Enxofre fundido a aproximadamente 450 ºC. Hidrocarbonetos podem substituir Hidrogénio neste
processo.

Baterias redutoras de sulfato geram energia usável sob condições de baixo Oxigénio usando sulfatos
(possuidores do elemento Enxofre) para oxidar compostos orgânicos ou Hidrogénio, isto produz
sulfeto de Hidrogénio como produto residual.
A preparação padrão em laboratório é lentamente aquecer Sulfeto Ferroso (FeS) com um ácido
forte num aparelho de Kipp: FeS(s) + 2HCl(aq) → FeCl2(s) + H2S(g)
Uma alternativa menos conhecida e mais conveniente é reagir Sulfeto de Alumínio com água:
Al2S3(s) + 6H2O(l) → 3H2S + 2Al(OH)3(aq)

Este gás é também produzido pelo aquecimento de Enxofre com compostos orgânicos sólidos e por
redução de compostos orgânicos sulfurados com Hidrogénio. H2S também é um subproduto de
algumas reacções e deve ser tomado cuidado quando a produção é provável pois a exposição pode
ser fatal.

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Ácido Sulfúrico
Ácido Sulfúrico (H2SO4), é um líquido oleoso, incolor e corrosivo, viscoso e oxidante, que ferve (e
se decompõe) em 300 ºC, aproximadamente, com uma densidade de 1,84 g/cm³. Ao diluir Ácido
Sulfúrico, não se deve adicionar Água, porque o calor libertado vaporiza rapidamente a água, a
medida que ela vai sendo adicionada.

É uma das substâncias mas utilizadas nas indústrias. O maior uso de Ácido Sulfúrico é na fabricação
de fertilizantes, como os Superfosfatos e Sulfato de Amónio. É ainda utilizado nas industrias
petroquímica, de papel de corantes e nas baterias de Chumbo (de automóveis).

Obtenção – por etapas:


1. Obtenção do SO2
S(s) + O2(g) → SO2(g)
4FeS2(s) +11O2(g) → 2Fe2O3(s) + 8SO2(g)

2. Oxidação de SO2 a SO3:


2SO2(g) + O2(g) → 2SO3(g)
Este processo necessita de um catalisador: V2O5 ou Pt.
Existem 2 processos usados para oxidar SO2.
 Processo das câmaras de Chumbo: usa-se NO2 como catalisador e o Ácido produzido é de
baixa concentração (60%).
 Processo de contacto: neste processo, a oxidação é catalisada pelo V2O5 ou Pt. É o processo
mais importante e moderno, produz Ácido Sulfúrico de alta concentração, sendo aquele que
apresenta maior rendimento.
H2SO4(aq) + SO3(g) → H2S2O7(aq) (Ácido Sulfúrico fumegante)
H2S2O7(aq) + H2O(l) → 2H2SO4(aq)

Propriedades
Ácido Sulfúrico tem três importantes propriedades químicas: é um ácido de Bronsted forte, é um
agente desidratante e é um agente oxidante. A poderosa propriedade desidratante de Ácido Sulfúrico
pode ser vista quando um pouco do Ácido concentrado é derramado sobre sacarose, C 12H22O11. Uma
massa espumosa, preta, de Carbono forma-se como resultado da extracção de H2O.

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Aplicações
Na indústria de petróleo, para remover impurezas da gasolina e óleos; Na fabricação de explosivos;
Como electrólito na bactéria de chumbo; Fabricação de outros ácidos; Na indústria de fertilizantes,
para converter o fosfato normal de cálcio insolúvel em fosfato ácido solúvel.

Ácido Peroxodissulfúrico (H2S2O8)


Durante a electrólise da solução de Ácido Sulfúrico a 50%, no cátodo descarrega-se o ião de
Hidrogénio e no ânodo o ião HSO4̄, este, perdendo a sua carga, une-se em pares e forma o Ácido
Peroxodissulfúrico (ou Per-sulfúrico): 2HSO4(aq)̄ → H2SO8(aq) + 2e-

Ácido Tiossulfúrico (H2S2O3)


Se se ferver a solução aquosa de Sulfito de Sódio com o Enxofre e, filtrando o excesso de Enxofre,
deixar resfriar-se a solução, a partir dela desprende-se os cristais incolores transparentes da
substância nova, cuja composição é exprimida pela formula Na2S2O3.5H2O essa substancia é o sal de
Sódio do Ácido Tiossulfúrico.

Tiossulfato de Sódio aplica-se na fotografia como agente de fixagem. Na indústria têxtil para a
remoção dos resíduos de Cloro após o branqueio de tecidos, na medicina e na veterinária.

Compostos de Enxofre com Halogéneos

Com halogéneos, formam compostos do tipo XY2, XY4, e XY6 (X= S, Se, Te, Po; e Y = F, Cl, Br,
I). A capacidade de formar compostos de números de coordenação elevados diminui na série dos
halogéneos de acordo com a sua capacidade oxidativa. Ao deixar passar Cloro através de Enxofre
fundido, forma-se Cloreto de Enxofre, que representa um líquido com ponto de ebulição de 137 ˚C.
A massa molecular dessa substancia, como mostra a densidade do seu vapor, corresponde a fórmula
S2Cl2.
A água o decompõe, formando Dióxido de Enxofre, Cloreto de Hidrogénio e Sulfureto de
Hidrogénio: S2Cl2(s) + 2H2O(l) → SO2(g) + H2S(g) + 2HCl(g)

São conhecidos mas dois compostos de Enxofre com Cloro (SCl2 e SCl4) que não tem importância
prática. Enxofre forma com Flúor, Fluoreto de Enxofre (VI) gasoso, SF6, e com Bromo forma
Brometo de Enxofre (I) S2Br2. Cloreto de Enxofre emprega se na vulcanização do caucho.

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SELÉNIO (Se)

Ocorrência
Selénio é pouco abundante na natureza. Encontra-se difundido pela crosta terrestre, quase sempre
sob a forma de selenetos, geralmente acompanhando sulfetos nos seguintes minerais:
Berzelianita: Cu4Se, Tiemanita (HgSe) e Naumanita (Ag2Se). Selénio livre é encontrado nos
resíduos de combustão de Pirite (FeS2), quando se prepara Ácido Sulfúrico.

Propriedades Físicas e Químicas de Selénio


Selénio à temperatura ambiente encontra-se no estado sólido. É um semi-condutor e quando exposto
a luz ocorre um aumento brusco da sua condutividade eléctrica. Selénio pode existir em várias
formas sólidas alotrópicas de cores variando entre o vermelho-escuro e o negro, das quais a forma
cristalina hexagonal é a mais estável nas condições normais. Nesta forma, Selénio tem propriedades
de semicondutor típico, mas as suas propriedades electrónicas de maior importância são a
fotocondutividade, a unipolaridade, e a acção fotovoltáica

Pode reagir com Cloro e Hidrogénio: Se(s) + Cl4(g) → SeCl4(s) ; Se(s) + H2(g) → H2Se(s)

Aplicações
Utiliza-se no fabrico de células fotovoltaicas. Além disso, Selénio e os seus compostos encontram
ainda largo uso nos processos de reprodução xerográfica, na indústria vidreira (Seleneto de Cádmio,
para produzir cor vermelho-rubi), como desgaseificante na indústria metalúrgica, como agente de
vulcanização, como oxidante em certas reacções e como catalisador, como semicondutor,
rectificador de foto-celas. Em fotografia é empregue para intensificar e incrementar as faixas de
tonalidades das fotografias em branco e preto e a durabilidade das imagens. Selénio é um
antioxidante que ajuda a neutralizar os radicais livres, estimula o sistema imunológico e intervém no
funcionamento da glândula tiróide. É usado também como um micronutriente para todas as formas
de vida. É encontrado no pão, nos cereais, nos pescados, nas carnes e nos ovos.

TELÚRIO (Te)

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Ocorrência
Telúrio no estado livre é raramente encontrado. Mais frequentemente encontra-se misturado ao
Enxofre. Sua ocorrência mais comum é sob a forma de Telureto. Seus minerais mais importantes
são: Tetradimita (BiTe2S), Hessita (Ag2Te), Calaverita (AuTe2), Altaíta (PbTe) e Sivanita
(AgAuTe2).
Encontra-se associado aos outros minérios de Ouro, Cobre e de Enxofre. O elemento ocorre em
pequenas quantidades em minerais como coloradoite (HgTe), ricaidite (Cu4Te3), Peptizite
(Ag3AuTe2) e Tetradimite (Bi2Te2S). Telúrio também se encontra no estado inactivo e na forma de
Dióxido (TeO2). Os principais depósitos de Telúrio situam-se no Canada, EUA e no Peru.

Obtenção de Telúrio
Para preparar Telúrio, dissolvem-se os sulfetos que o contém em Ácido Clorídrico e trata-se a
solução com SO2. Assim, se precipita Telúrio metálico, sob a forma de um pó negro.

Propriedades Físico-Químicas
Telúrio é cristalino, branco-prateado, e quando na forma pura apresenta um brilho metálico. É um
semi-metal (metalóide), frágil e facilmente pulverizável. Os compostos de Telúrio são venenosos.
Seres humanos expostos a atmosfera com 0.01 mg/m3 ou menos com Telúrio adquirem um hálito
desagradável e secura na boca. Intoxicações mais elevadas causam dores de cabeça, vertigens e
sonolência.

Telúrio, quando queimado em presença do ar, produz uma chama azul esverdeada e forma Dióxido
de Telúrio (TeO2) como produto. Algumas reacções de Telúrio:
Te(s) + O2(g) → TeO2(s) ; Te(s) + Cl2(g) → TeCl4(s) ; Te(s) + H2(g) → H2Te(s)

Quando aquecido, resultam vapores amarelos de Te2, muito venenosos. Dissolvendo-se Telúrio em
Ácido Nítrico, obtém-se Ácido Teluroso (H2TeO3), que, oxidado com Ácido Crómico, transforma-se
em Ácido Telúrico (H2TeO4).

Aplicações
Telúrio tem sido utilizado em metalurgia para melhorar as propriedades mecânicas dos aços e outras
ligas ferrosas. Também se utiliza para formar ligas com Cobre e Chumbo usadas em trabalhos de

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soldaduras em equipamentos químicos. Na indústria da borracha, utiliza-se Telúrio para melhorar as
propriedades desta e a sua resistência ao envelhecimento e ao calor.

Este elemento pode ainda ser usado como catalisador. Tal como alguns dos seus compostos binários,
Telúrio aplica-se no fabrico de dispositivos termoeléctricos, destinados a produção de electricidade e
refrigeração. Estas aplicações baseiam-se no efeito de seebeck, para a produção de corrente ao
aquecer uma junca de dois metais, e no efeito Peltie, que consiste numa transferência de calor
mediante a passagem de uma corrente através de uma junção metálica.

ELEMENTOS DO VG A – Família de Azoto ou Nitrogénio (N)

O VG-A é constituído por Nitrogénio (N), Fósforo (P), Arsénio (As), Antimónio (Sb) e Bismuto
(Bi). Estes elementos têm cinco electrões na última camada nos seus átomos. Nitrogénio e Fósforo
são ametais. Nos seus compostos dominam o carácter covalente. Fósforo e Arsénio formam
modificações não metálicas e metálicas. Antimónio e Bismuto apresentam carácter metálico. As
propriedades físicas e químicas deste grupo variam com o aumento do número atómico (Z).

Características Gerais
Todos os elementos desse grupo são sólidos com excepção do Nitrogénio que é um gás nas
condições ambientais. Nitrogénio e Fósforo são ametais, Arsénio e Antimónio são semi-metais e
Bismuto é metal, apesar de apresentar modesta condutibilidade eléctrica. Estes elementos
apresentam Nox - 3, + 3, e + 5. Destes elementos, Nitrogénio apresenta o Nox - 3 a +5. Com o
aumento do número atómico aumentam, paralelamente, deforma mais ou menos regular, as
densidades, os volumes atómicos, os pontos de fusão e de ebulição e os raios covalentes e
cristalinos.

A valência dos elementos do grupo vária de III a V, de acordo com as configurações específicas. Os
compostos de As, Sb e Bi têm carácter iónico com tendência deformar catiões, como no BiF3, onde
há formação do ião Bismuto, Bi3+, em solução aquosa, mas não forma Bi5+. Os óxidos de Nitrogénio
e de Fósforo são anidridos fortes dos ácidos. O Óxido de Antimónio (Sb2O3) é anidrido anfotérico
e Óxido de Bismuto (Bi2O3) é anidrido básico. Os sais de As são venenosos.

Devido a electronegatividade relativamente menor em relação aos elementos do VI e VII grupo


principal, a ligação dos elementos do VG-A com o Hidrogénio é menos polar. Portanto os
compostos desses elementos com Hidrogénio não formam os iões Hidrogénio na solução aquosa e
deste modo não possuem proprieaddes ácidas mas sim básicas. O raio atómico, a densidade, as
temperaturas de fusão e ebulição e a tendência de formar catiões crescem ao longo do grupo,

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enquanto a electronegatividade e as propriedades não metálicas decrescem ao longo do grupo. A
maioria dos compostos formados pelos elementos do grupo VA é covalente.

NITROGÉNIO ou AZOTO:

Ocorrência e Propriedades Físicas

Nitrogénio constitui a maior parte do ar atmosférico 75,5 a78,1%, aparece em compostos como
NaNO3 que é abundante na crosta de Chile e na forma de KNO3. Nas plantas e animais aparece em
forma de Aminoácidos, Proteínas e Cianetos. N2 é um gás incolor e inodoro, torna-se líquido incolor
a – 196 ˚C e se solidifica a – 210 ˚C, sem cheiro e pouco dissolvido em água. Ele é pouco mais leve
do que o ar: a massa de 1 litro do Azoto é igual a 1,25 g. Nitrogénio elementar existe na forma de
molécula diatómica, cuja ligação tem uma energia de dissociação de 946 kJ.mol-1.

Os animais, colocados na atmosfera do Azoto, morrem rapidamente, não devido a venenosidade de


Azoto mas por causa da ausência de Oxigénio.

Reactividade
Azoto forma uma molecular diatómica que é quimicamente pouco activo. A actividade reduzida de
Azoto explica-se pela grande estabilidade de suas moléculas. Na molécula de Azoto, os átomos são
ligados pela ligação tripla e a energia de dissociação dessa molécula é muito alta (946 kJ/mol),
verificando-se a dissociação após o aquecimento muito forte.

É inerte em condições ambientais, o que garante que Oxigénio (O2) disperso na atmosfera não
incendeie a vegetação do planeta. Derivando da estrutura electrónica pode-se prever as seguintes
formas de reacção para o Nitrogénio:

 Ganhar no máximo 3 electrões para atingir a estabilidade;


 Ceder no máximo 5 electrões para atingir a estabilidade;
 Compartilhar pares electrónicos para formar a molécula N2 com isso apresenta o com
comprimento de ligação mais baixo.

As reacções mais importantes do Nitrogénio são:

A síntese de Amoníaco:
Azoto reage com Hidrogénio a temperaturas e pressões altas na presença de catalisador. A altas
pressões e baixas temperaturas forma-se Amoníaco num processo reversível:

N2(g) + 3H2(g) ↔ 2NH3(g)

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T/ catalisador
A formação de Cianeto: Na2CO3(s) + 4C(s) + N2(g) 2NaCN(g) + 3CO(g)

A temperatura ambiente, Nitrogénio reage apenas com Lítio: 6Li(s) + N2(g) → 2Li3N(s)

Ao ser aquecido, reage com metais (Mg, Ca, Ti e outros): 3Mg(s) + N2(g → Mg3N2(g)

Azoto reage com Oxigénio à temperaturas elevadas. Da reacção directa com Oxigénio sob acção de
descargas eléctricas formam-se Óxidos do Nitrogénio, alguns dos quais derivam em Ácidos de
Nitrogénio.

Também forma Hidrazina (N2H4) pela acção de NaClO sobre Amoníaco; e Azoteto de Hidrogénio
(HN3) ou Ácido Hidrazóico pela acção de Ácido Nitroso sobre a solução aquosa de Hidrazina.

Métodos de Obtenção de Azoto


Na indústria:

 Por destilação fraccionada do ar atmosférico na qual se elimina Oxigénio da mistura. Na


mistura introduz-se Carbono: N2(g) + O2(g) + C(s) → CO2(g) + N2(g)

No laboratório:

 Aquecimento de Nitrato de Amónio: NH4NO3(s) → N2(g) + 2H2O(g) + 1/2O2(g)


 E pela decomposição térmica de alguns compostos de Nitrogénio.

Também N2, obtém-se da reacção de Cloreto de Amónio com Nitrito de Sódio, da oxidação de
Amónio e do aquecimento de Nitreto de Sódio.

NH4Cl(s) + NaNO2(s) → N2(g) + 2H2O(g) + NaCl(s)


2NH3(g) + 3CuO(s) → N2(g) + 3Cu(s) + 3H2O(g)
2NaN3(s) → 2Na(s) + 3N2(g)

Aplicações do Azoto
Azoto é aplicado na síntese de Amoníaco, substância a partir da qual se podem obter muitos
compostos (derivados) de Nitrogénio: inorgânicos e orgânicos. São exemplos desses compostos os
adubos azotados e os sais aplicados em produtos de limpeza, entre outros. Aplica-se também
Nitrogénio no preenchimento das lâmpadas eléctricas, na bombagem dos líquidos combústiveis e
algumas reacções químicas para criação do meio inerte.

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Na indústria alimentícia, é utilizado no estado gasoso para prevenir a oxidação e o aparecimento de
bolores nos alimentos. Na forma líquida é usado nos sistemas de refrigeração e de congelamento por
este processo manter a textura e o sabor natural dos alimentos.

As indústrias metalúrgicas e eléctricas recorrem ao Nitrogénio para prevenir a oxidação de certos


disperdícios. O carácter estável e a baixa reactividade de Nitrogénio gasoso recomendam o seu
emprego no fabrico de espumas de borracha e plásticos, na obtenção de aerossóis.

Na medicina, a substância também é largamente aproveitada, por seu rápido congelamento, como
conservante de sangue, sêmen, tecidos, órgãos, medula óssea, bactérias.

Compostos de Nitrogénio

1. Amoníaco (NH3)
É um gás incolor, com cheiro forte característico (cheiro de álcali volátil), tem pontos de fusão (-
77,8 ºC) e ebulição (- 33,4 ºC), é muito bem solúvel em Água, forma molécula dipolar com
características típicas de uma base. Amoníaco do ponto de vista químico, é relativamente activo,
actuando com muitas substâncias com propriedades de redução.

Amoníaco queima em Oxigénio formando Água e Nitrogénio ou Monóxido de Nitrogénio (NO)


quando a oxidação é completa;

4NH3(g) + 3O2(g) → 6H2O(g) + 2N2(g) ou 2NH3(g) + 5/2O2(g) → 3H2O(g) + 2NO (g)

Amoníaco pode entrar em reacções de adição. Esta capacidade característica explica-se pelo facto de
o átomo de Azoto no Amoníaco conservar um par electrónico não-partilhado (actuar como dador do
par electrónico). Com base nesse par ele pode participar na formação segundo o mecanismo dativo,
da quarta ligação covalente com outros átomos ou iões que possuem as propriedades de aceitador de
electrões. NH3(g) + H+(aq) → NH4+(aq)

A solução aquosa de Amoníaco é designada Hidróxido de Amónio (NH4OH).

Métodos de obtenção de Amoníaco


Na indústria

Processo Haber-Bosch: Obtém-se Amoníaco num forno de contacto, passando uma mistura de
Nitrogénio e Hidrogénio através de uma câmara de catalisadores, constituídos praticamente de
Óxidos de Ferro.

Usa-se uma temperatura de cerca de 500 oC sob uma pressão de 250 atm e na presença de um
catalisador. A reacção é reversível e é exotérmica. N2(g) + 3H2(g) ↔ 2NH3(g) + 92 kJ.

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Portanto a obtenção de quantidades suficientes de Amoníaco foi possível pela criação de condições
ideais para o efeito, como trabalhar sob altas pressões, a temperatura baixa e na presença de
catalisadores.

No laboratório

Amoníaco é obtido no laboratório pela reacção de sais de Amónio com bases, por exemplo Cloreto
de Amónio (NH4Cl) com Hidróxido de Cálcio [Ca(OH)2] ou Hidróxido de Potássio. 2NH4Cl(s) +
Ca(OH)2(s) → CaCl2(s) + 2H2O(g) + 2NH3(g)

Aplicações do Amoníaco
Devido ao facto de transformar-se facilmente em líquido, mesmo a pressões reduzidas, aplica-se nas
diferentes instalações frigoríficas. É também usado no fabrico de Ácido Nítrico, adubos (Sulfato de
Amónio, Nitrato de Amónio, Cloreto de Amónio, Ureia), explosivos, combustível para foguetes,
plásticos, etc.

2. Hidrazina (N2H4)
É um líquido incolor oleoso, fumegante quando exposto ao ar, e que possui odor semelhante ao da
Amónia, solúvel em água, com pontos de fusão (1,4 ºC) e ebulição (113,5 ºC). A Hidrazina e todos
os seus compostos são venenosos. É uma molécula com características típicas de uma base. É estável
por ser assimétrica na sua rotação devido aos 2 pares electrónicos não compartilhados. Por outro
lado os pares electrónicos não-partilhados condicionam a capacidade de Hidrazina participar em
reacções de adição.

Hidrazina queima com chama violeta e é explosiva se destilada na presença de ar, metais ou luz
ultravioleta, pois essas condições servem como catalisadores para sua combustão. O seu
armazenamento deve ser realizado em vidro vedado e em local fresco e escuro, pois assim Hidrazina
é estável. Forma sais com ácidos inorgânicos e é um solvente altamente polar capaz de dissolver
diversas substâncias inorgânicas e orgânicas. Além disso, é miscível em água e álcoois metílico,
etílico, propílico e isobutílico. É um potente agente redutor e um bom nucleófilo.

Obtenção de Hidrazina
Hidrazina obtém-se pela reacção do Hipoclorito de Sódio (NaClO) com a solução
concentrada de Amoníaco formando como produtos secundários Água e Cloreto de Sódio.

1a Etapa: NH3(c) + NaClO(s) → NH2Cl(aq)+ NaOH(s) (reacção rápida)

2a Etapa: NH3 + NH2Cl(g) + NaOH(s) → N2H4(l) + NaCl(s) + H2O(g) (reacção lenta)

Para se evitar que N2H4 reaja com NH2Cl usa-se a cola ou gelatina.

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Aplicações de Hidrazina
Hidrazina tem diversos usos na indústria, agricultura e na farmacologia, além de servir de matéria-
prima para um grande número de derivados que actuam como fertilizantes, pesticidas,
antioxidantes, fármacos entre outros. Este composto é também utilizado em reações de síntese
orgânica ainda como nucleófilo, por exemplo, e é ainda, um excelente agente redutor.

No decorrer da sua combustão no ar ou no Oxigénio liberta-se uma grande quantidade de calor (-


622 kJ/mol), por isso é aplicado como parte integrante do combustível para foguetes.

Nas indústrias é muito utilizada como anticorrosivo e agente desincrustante em águas de caldeiras e
águas de refrigeração de reactores, actuando como agente redutor. Por apresentar alta toxidade, não
é directamente utilizada no solo como pesticida ou fertilizante, porém, pode servir de matéria-prima
para a produção de diversos destes aditivos agrícolas, visto que sua decomposição gera Amónia e
esta, por sua vez, é utilizada na síntese de fertilizantes como ureia, fosfato, nitrato e sulfato de
amónio.

3. Hidroxilamina (NH2OH)
Hidroxilamina é um composto inorgânico de fórmula NH2OH. O material puro é um composto
cristalino instável e higroscópico. De qualquer forma, Hidroxilamina é quase sempre disponível e
usada em solução aquosa. É usada para preparar oximas , um importante grupo funcional. É também
um intermediário na nitrificação biológica. A oxidação de Amônia (NH3 ) é mediada pela enzima
Hidroxilamina Oxiredutase (HAO).

Obtenção de Hidroxilamina
NH2OH pode ser obtido de várias formas. A principal é pela síntese de Raschig : onde Nitrito de
Amônio aquoso é reduzido por HSO4− e SO2 a 0 °C para formar anião hidroxilamido-N,N-dissulfato:

NH4NO2(aq) + 2SO2(s) + NH3(aq) + H2O(l → 2NH4+ (aq)+ N(OH)(OSO2) 22−(aq)

Este anião é então hidrolisado para (NH3OH)2SO4 :

N(OH)(OSO2)22−(aq) + H2O(l) → NH(OH)(OSO2 )− (aq) + HSO4−(aq)

2NH(OH)(OSO2 )− (aq) + 2H2O(l) → (NH3OH)2SO4(aq) + SO42-(aq)

NH2OH sólido pode ser coletado pelo tratamento com amônia. Sulfato de Amônio (NH4)2SO4 um
co-produto insolúvel em amônia líquida, é removido por filtração; Amônia líquida é evaporada para
dar o produto desejado. A reação global é:

2NO2-(aq) + 4SO2(s) + 6H2O(l) + 6NH3(aq) → 4SO42-(aq) + 6NH4+(g) + 2NH2OH(s)

Reações da Hidroxilamina
Hidroxilamina reage com eletrófilos, tais como agentes alquilantes, os quais podem se ligar ao
Nitrogênio ou ao Oxigênio:

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R-X + NH2OH → R-ONH2 + HX; R-X + NH2OH → R-NHOH + HX

A reação de NH2OH com um aldeído ou uma cetona produz uma Oxima .

R2C= O + NHOH∙HCl , NaOH → R2C = NOH + NaCl + H2O

4. Azoteto de Hidrogénio (HN3)


Azoteto de Hidrogénio também chamado de Azida de Hidrogênio, HN3, é um líquido incolor,
volátil, e extremamente explosivo a temperatura e pressão ambiente. Azoteto de Hidrogénio é usado
primariamente para preservação de soluções padrão, e como um reagente.

Propriedades Químicas
É solúvel em água e a solução dissolve muitos metais (como Zinco e Ferro) com libertação de
Hidrogênio e formação de sais (azidas, formalmente também chamadas de azoimidas ou
hidrazoatos).

Todos os sais são explosivos e prontamente interagem com os iodetos de alquila. Nestas
propriedades mostra alguma analogia com os ácidos halogênicos, dado que forma sais pouco
solúveis em água de Chumbo, Prata e Mercúrio (II). Os sais metálicos todos cristalizam na forma
anidra e se decompõem sob aquecimento, deixando um resíduo do metal puro. É um ácido fraco
(pKa = 4,6 – 4,7).

Obtenção do Azoteto do Hidrogénio


É usualmente formado por acidificação de um sal azida tal com Azida de Sódio. Normalmente
soluções de Azida de Sódio em água contém traços de quantidades de Ácido Hidrazóico em
equilíbrio com o sal azida mas a introdução de um ácido mais forte pode converter as espécies
primárias a Ácido Hidrazóico. O ácido puro pode ser subsequentemente obtido por destilação
fracionada como um líquido incolor extremamente explosivo com um cheiro desagradável.

O Processo de sua obtenção é: N2H4(l) + HNO2(aq) → HN3(l) + 2H2O(l)

Toxicidade
Azoteto de Hidrogénio é volátil e altamente tóxico. Seu cheiro repulsivo e a dor de cabeça violenta
causada por aspirar seus vapores contribuem para fazer um envenenamento acidental impossível. O
composto age como um veneno não-cumulativo.

5. Óxidos de Nitrogénio
Nitrogénio combina-se com Oxigénio formando uma série de Óxidos; todos eles podem ser obtidos
a partir do Ácido Nítrico ou seus sais. É conveniente classificar os Óxidos de Azoto de maneira
tradicional em termos de estado de oxidação de Azoto.

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5.1. Monóxido de Dinitrogénio ou Óxido nitroso ou Protóxido de Azoto (N2O)
É um gás incolor, com cheiro fraco e sabor doce, pouco solúvel em água, termodinamicamente
instável, porém devido à grande estabilidade das ligações na molécula, as energias de activação de
reacções que decorrem com a participação dessa substância são
altas. Portanto a temperatura ambiente o óxido de Azoto (I) é estável. O monóxido de nitrogénio é
obtido pela decomposição térmica do nitrato de amónio:

NH4NO3(s) → N2O(g) + 2H2O(l)

Decompõe-se a altas temperaturas em Oxigénio e Azoto. Não reage nem com água, nem com ácidos
e nem com bases. Na atmosfera por acção dos raios ultravioleta decompõe-se formando NO e Azoto.

N2O existente na atmosfera resulta da acção desnitrificadora dos microrganismos no solo, que
reduzem nitratos e nitritos formando entre outros subprodutos N2O. Que difunde para a atmosfera.

Aplicações
A respiração em quantidades pequenas de N2O retira a sensibilidade por isso aplica-se como
anestesia misturado com Oxigénio. As grandes quantidades do Óxido de Azoto (I) actuam sobre o
sistema nervoso de modo excitável, por isso, anteriormente teve o nome de “gás hilariante”.

5.2. Monóxido de nitrogénio ou Óxido Azótico (NO)


É um gás incolor, dificilmente liquidificável, ferve a – 151,7 ºC) e solidifica-se a – 163,7 ºC), pouco
solúvel em água e termodinamicamente instável, porém não se decompõe a
temperatura ambiente visto que as suas moléculas são relativamente estáveis. Apenas a temperatura
acima de 1000 ºC, decompõe-se em Azoto e Oxigénio. Este composto, pertence aos óxidos
indiferentes visto que ele não forma ácido. Na atmosfera forma-se devido as descargas eléctricas
durante temporais e reage com Ozono e radicais oxigenados formando NO2, que por sua vez com a
água forma Ácido Nítrico. Por isso é um dos gases causadores das chuvas ácidas.

Obtenção de Monóxido de Nitrogénio (NO)

Na indústria é obtido pela:

1. Oxidação catalítica de Azoto com Oxigénio a altas temperaturas.

N2(g) + O2(g) → NO(g)

2. Oxidação catalítica de Amoníaco a altas temperaturas com formação de Água.

4NH3(g) + 5O2(g) → 4NO(g) + H2O(g) + 907 kJ

No Laboratório

Obtém-se pela reacção de Ácido Nítrico (30-35%) com o Cobre:

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3Cu(s) + 8HNO3(aq) → 3Cu(NO3)2(s) + 2NO(g) + 4H2O(g)

O NO possue uma dualidade oxidação-redução: oxida-se sob acção dos oxidantes fortes, por
exemplo em presença de Oxigénio do ar:

2NO(g) + O2(s) → 2NO2(g)

Ao mesmo tempo, a mistura dos volumes iguais de NO e H2 explode, ao ser aquecida:

2NO + 2H2 → 2NO2 + 2H2O + 665kJ

5.3. Trióxido de Dinitrogénio ou Anidrido Nitroso (N2O3)

É um líquido escuro-azulado, que a baixas temperaturas se decompõe-se em NO e NO2

5.4. Pentóxido de Dinitrogénio (N2O5)

Representa os cristais brancos, que a temperatura ambiente gradualmente se decompõem em NO2 e


O2. É obtido pela acção de Anidrido Fosfórico sobre Ácido Nítrico. N2O5 é um oxidante muito forte.
Muitas substâncias orgânicas ao entrar em contactar com ele inflamam-se. N2O5 é bem solúvel em
água com a formação de Ácido Nítrico.

5.5. Dióxido de Nitrogénio ( NO2)

É um gás de cor castanha, com cheiro forte e venenoso. A sua respiraçao provoca uma irritação forte
das vias respiratórias e pode levar ao envenenamento sério. Ele condensa facilmente num líquido
avermelhado (a 21 ºC), o qual ao ser resfriado gradualmente se torna
mais claro e a – 11,2 ºC congela-se, formando uma massa cristalina. Ao aquecer NO2 gasoso, a sua
cor intensifica-se até tornar-se quase negra. Essa alteração da cor com aumento da temperatura é
acompanhada pela variação da sua massa. NO2 é considerado o
anidrido de Ácido Nítrico. Dióxido de Nitrogénio é um oxidante muito enérgico. É o
principal responsável pela formação de chuvas ácidas a base de Azoto e contribui para a degradação
da camada de Ozono.

Ao dissolver-se na água, reage formando os ácidos Nítrico e Nitroso:

2NO2(g) + H2O(l) → HNO3(aq) + HNO2(aq)

HNO2 é muito instável e decompõe-se rapidamente: HNO2(aq) → HNO3(g) + 2NO(g) + H2O(g)

Por isso a reacção de Dióxido de Azoto com água, especialmente a quente, praticamente decorre
conforme a equação: 6NO2(g) + 2H2O(l) → 4HNO3(aq) + 2NO(g)

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Quando a atmosfera é rica em óxidos de Azoto ocorre a possibilidade de se formar o smog
fotoquímico que é um tipo de contaminaçao do ar. Smog designa, em termos genéricos, nevoeiro
contaminado por fumaças. O termo resulta da junção das palavras da língua inglesa
smoke (fumaça) e fog (nevoeiro). Na atmosfera é produzido naturalmente pela reacção com o Ozono,
Oxigénio e radicais oxidantes. NO2 obtém-se pela reacção de Ácido Nítrico com metais pesados (Cu,
Ag) e pela oxidação de NO, bem como pela decomposição
térmica de nitratos de metais pesados.

FÓSFORO

Fósforo na Natureza

Devido a sua alta reactividade, fósforo não é encontrado na natureza na sua forma livre. Encontra-se
na sua maior parte nas rochas e dissolve-se com água da chuva, sendo levado até os rios e mares. É
comum encontrá-lo na forma de fosfatos que constituem cerca de 0.10 % da crosta terrestre. Estima-
se que seja o 11º elemento mais abundante nas rochas vulcânicas sedimentares. Fósforo encontra-se
em quase todas as rochas vulcânicas, tendo estado presente nas erupções vulcânicas durante o
período de formação da Terra. A erosão dos depósitos de fosfatos vulcânicos pela água, e posterior
assimilação por plantas pré-históricas, introduziu o fósforo nos mecanismos biológicos. Com a morte
das plantas e animais este fósforo retorna ao solo e é absorvido por novas plantas.

Fósforo é um elemento essencial aos organismos vivos, presente em tecidos nervosos, destes e
ossos dos seres humanos. Boa parte de Fósforo de que precisamos é ingerida quando nos
alimentamos de peixe. Os nossos ossos armazenam cerca de 750 g de Fósforo sob forma de Fosfato
de Cálcio. A falta de Fósforo provoca o raquitismo em crianças e nos adultos tornando os seus ossos
quebradiços. Fosfato é retirado das rochas fosfóricas e utilizado em fertilizantes e no fabrico de
detergentes. O uso destes detergentes é a maior causa de poluição nos rios pelo Fósforo. Mesmo a
água tratada em esgotos, que volta aos rios, pode conter fosfatos.

Obtenção de Fósforo

A forma alotrópica branca pode ser obtida de várias maneiras. Uma delas é obtenção de Fósforo
Tricálcico a partir das rochas. Aquecido em um forno a 1450 ºC em presença de Sílica e Carbono o
fosfato é reduzido a Fósforo, que se liberta na forma de calor. Fósforo elementar é obtido
industrialmente pelo aquecimento das rochas contendo Fósforo com carbono (na forma de coque) e
Dióxido de Silício (areia) em fornos elétricos:

2Ca3(PO4)2 (s) + 6SiO2(s) + 10C(s) → 6CaSiO3(s) + 10CO(g) + P4(g) – 3084 kJ

Fósforo branco obtido na forma de vapor é então condensado em água, evitando-se a presença de ar
para que não inflame.

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Fósforo vermelho: A luz transforma Fósforo branco em vermelho. O calor (200 oC) transforma
quase completamente Fósforo branco em Fósforo vermelho. (a transformação não se dá
completamente devido a reversibilidade que é comum nas substâncias que apresentam formas
alotrópicas).

Processos Industriais de Obtenção de Fósforo

Aquece-se Fósforo branco em um vaso fechado até a temperatura de 240 oC. Fósforo branco é
conservado nessa temperatura sob camada de água durante 10 dias. Deixa-se então esfriar a massa
vermelha obtida e em seguida essa é moída e submetida a uma ebulição em solução de Soda que
destroi Fósforo branco não transformado em vermelho, convertendo em Hipofosfito de Sódio.

Usos industriais de Fósforo


Fósforo branco é usado como veneno para ratos. Fósforo vermelho é usado na fabricação de
fósforos universais (aqueles que acendem através de atrito sobre qualquer superfície, actualmente
em desuso, devido a falta de segurança). Fósforo tem mais utilidade na forma combinada como
Ácido Fosfórico.

Propriedades Físicas e Químicas


O fósforo apresenta três formas alotrópicas: branco, vermelho e negro. Fósforo branco apresenta
cheiro de alho, é incolor, fosforescente, mole, e muito solúvel em Sulfeto de Carbono. Em contacto
com o ar oxida-se rapidamente e é venenoso. Tem um ponto de fusão de 44 oC e uma densidade de
1,84 g/cm3. Inflama aos 60 oC e ferve a 287 oC. Resfriado apresenta o fenômeno de sobrefusão.
Fósforo vermelho é inodoro, de cor vermelha, não é fosforescente, apresenta-se duro e insolúvel no
Sulfeto de Carbono. Oxida-se lentamente quando exposto ao ar. Também não é venenoso. Tem um
ponto de fusão entre 500 – 600 oC e uma densidade de 2,2 g/cm3. Só se inflama ao ser aquecido a
260 oC. Acima de 287 oC seus vapores dão Fósforo branco por condensação brusca.

Propriedades químicas

Fósforo branco reage com Hidrogénio nascente, produzindo PH3 sob a acção de descargas elétricas
ou sob pressão: P4(s) + 6H2(g) → 4PH3(s)

Com o oxigênio, oxida-se lentamente, no ar húmido com fosforescência, produzindo Ozono, Ácido
Fosforoso e Ácido Fosfórico. Em ar seco forma P2O5 e não ocorre fosforescência. A fosforescência
ou quimiluminescência é devido a formação de Ozono. Com halogéneos, resulta em tri ou penta
haletos de Fósforo: 2P + 3X2 → 2PX3 ou PX5

Aquecido a 60oC arde com chama brilhante produzindo espessa fumaça branca de P2O5, liberando
369 kCal.

Compostos de Fósforo com Hidrogénio e Halogéneos

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Fósforo forma com Hidrogénio Fosforeto de Hidrogénio, ou Fosfina, PH3, gasoso. Pode ser obtido
fazendo reagir a quente Fósforo branco com as soluções alcalinas ou pela acção de Ácido Clorídrico
sobre Fosforeto de Cálcio: Ca3P2(s) + 6HCl(aq) → 3CaCl2(aq) + 2PH3(g).

Fósforo combina-se directamente com todos halogéneos libertando uma grande quantidade de calor.
Cloreto de Fósforo (III) ou Ticloreto de Fósforo, PCl3, obtêm-se ao fazer passar Cloro acima de
Fósforo fundido, ele representa um líquido que ferve a 75 ºC.

Sob acção da água PCl3 hidrolisa-se completamente formando Cloreto de Hidrogénio e o Ácido
Fosforoso, H3PO3; PCl3(l) + 3H2O(l) → H3PO3(aq) + 3HCl(aq).

Ao deixar passar Cloro através Tricloreto de Fósforo obtêm-se Cloreto de Fósforo (V) ou
Pentacloreto de Fósforo, PCl5, que nas condições comuns forma uma massa sólida branca.

Óxidos de Fósforo: Os óxidos mais importantes são: P2O3 e P2O5.

ARSÉNIO

O Arsénio (As) é um elemento químico semimetálico, tri ou pentavalente de cor cinzento-aço,


quebradiço e com brilho metálico. O nome arsénio deriva do grego arsenikon que significa amarelo-
ouro.

Analogamente ao Fósforo, Arsénio apresenta-se também em diversas modificações alotrópicas,


como arsénio cinzento (metálico) que é estável e se obtêm aquecendo Arsenamina, ou Arsénio
amarelo (não metálico), que é meta-estável e, ao ser arrefecido rapidamente, dá lugar a vapor de
Arsénio.
Arsénio encontra-se, por vezes, em estado puro, como Arsénio nativo. Este cristaliza no sistema
romboédrico, é geralmente macio e granular. Mais frequentemente, encontra-se na forma de
arsenietos metálicos, sulfuretos e como óxido de Arsénio.

Obtêm-se por aquecimento da Arsenopirite (Sulfureto de Ferro e Arsénio) ou de Pirite de Níquel,


Arsenida, (Sulfureto de Níquel e Arsénio). Aquecendo estes minérios na ausência de ar, Arsénio
separa-se da combinação por sublimação, sendo recolhido num recipiente frio.

Arsénio utiliza-se como aditivo de Chumbo nos graus de arma de caça, como raticida e insecticida,
para conservar peles e, no fabrico de vidro, como descorante. O composto mais conhecido é, sem
dúvida, Trióxido de Arsénio (As2O3) ou, simplesmente, Arsénio, o veneno clássico. Este composto
é, na verdade, altamente tóxico.

ANTIMÓNIO

Antimónio (Sb), também designado de Estíbio, é um elemento químico semi-metálico, tri ou penta
valente de cor branco-prateada, quebradiço e brilhante. Antimónio foi descoberto por alquimistas

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desconhecidos no século XVI. O nome Antimónio deriva do grego anti + monos que significa não
sozinho. Encontra-se sob a forma de sulfuretos, antimonietos metálicos e óxidos.

Apresenta-se em duas formas alotrópicas: como antimónio amarelo (não metálico) e como
antimónio cinzento (metálico).

Emprega-se na obtenção de ligas, particularmente com Chumbo e Estanho que, com Antimónio,
endurecem consideravelmente. Uma liga chumbo-antimónio é o metal tipográfico e uma liga
estanho-antimónio o metal britânia. Tanto as ligas de antimónio-chumbo como as de antimónio-
estanho utilizam-se como metal antifricção (metais dotados de movimento de deslizamento, quando
se quer diminuir o coeficiente de atrito para evitar o desgaste de um dos elementos acoplados.

Os compostos de Antimónio mais importantes são: os antimoniatos: sais do Ácido Antimónico, que
se obtêm fundindo uma mistura de óxido metálico com Pentóxido de antimónio (Sb2O5), de cor
laranja-avermelhada, utilizada para a vulcanização da borracha, à qual confere uma cor vermelha.

BISMUTO

Bismuto (Bi) é um elemento químico metálico, trivalente, de cor branco-prateada avermelhada,


quebradiço e com brilho intenso. Bismuto foi descoberto no século XVII por alquimistas
desconhecidos. Só foi reconhecido como elemento no seguimento das investigações de J. Pott, C.
Geoffroy e T. Bergman.

Bismuto permanece estável em contacto com o ar. Reage com halogéneos e com Enxofre com
aquecimento. O Bismuto encontra-se na natureza na forma de Bismutinite (mineral de cor cinzento-
chumbo que ocorre em jazigos filonianos de natureza hidrotermal – Bi2S3) e de ocre de Bismuto
(Bi2O3) e também na forma de sulfuretos duplos de Cobre e Bismuto, Chumbo e Bismuto e Prata e
Bismuto.

A obtenção do bismuto faz-se por redução com Carvão do minério contendo óxidos ou por
calcinação do minério que contenha sulfureto.

As ligas de Bismuto, Chumbo e Estanho são utilizadas em fusíveis, uma vez que tem pontos de
fusão muito baixos (ligas de Wood).

Outras ligas de Bismuto que se dilatam por arrefecimento usam-se no fabrico de moldes. Bismuto
também se encontra em ligas metálicas de antifricção. Os compostos orgânicos de bismuto são
quimio-terapêuticos. É ainda utilizado em catalisadores, cosméticos e pigmentos.

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ACTIVIDADES:

1. Entregar os trabalhos de pesquisa deixados durante as aulas (para os grupos que não
apresentaram): no dia 17 de Abril de 2020 na antiga delegação da UP – 15:00 horas.

2. Resolver exercícios e entregar no dia 20 de Abril de 2020 – 15:00 horas. A resolução deve
ser em grupos, os mesmos grupos de apresentação de trabalhos.

3. Preparar o 1º Teste que será realizado na primeira semana que retomarmos as aulas (serão
avaliados os tópicos deixados na aula).

4. Os estudantes que não têm grupos, podem se juntar aos grupos já existentes, desde que seja
um para cada grupo.

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