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https://youtu.

be/KpxiBkR67rg
Speaker1: [00:00:07] Bom pessoal, eu vou me apresentar inicialmente. Eu sei que
vocês tem aí as diretrizes da aula que a gente vai dar, que é o Estatuto da Criança e
Adolescente, mas pra quem não me conhece, é importante essa primeira
apresentação, apesar de ser uma aula EAD para que depois vocês consigam, através
dos canais que a faculdade disponibiliza, tirar algumas dúvidas e enfim a gente fazer
de tudo pra que ainda que seja um estudo EAD, mas a gente tem uma proximidade
com o aluno e consiga dividir e esclarecer algumas questões que possam aparecer
aqui na aula ou na leitura que vocês vão fazer do material que a gente já disponibilizou.
Bom, meu nome é Elson Araújo Capeto, eu sou professor aqui da faculdade desde
2004. Participei inclusive do plano inicial de divisão das matérias da faculdade lá em
2004, antes da primeira turma. Então sou um dos mais antigos aqui, tirando os
mantenedores, com certeza. E eu dei aula de com todas as matérias, eu dei aula de
constitucional, dei aula de Direito, direito administrativo, direito tributário e concentrei.
Agora, depois de bastante tempo, concentrei aqui nas matérias que fazem parte do
meu estudo de mestrado, que é o direito Coletivo, que envolve direito do idoso, Direito
da criança adolescente e o Direito do consumidor, que é a minha concentração de
mestrado. Então essa apresentação mais pra que vocês entendam o por que eu estou
dando aula pra vocês dessa matéria aqui. Então estou aqui na faculdade há bastante
tempo e a minha concentração é nesse tema que a gente vai discutir hoje na minha
carreira profissional, que eu também faço ou tem outras funções fora do magistério.

Speaker1: [00:01:46] Eu sou procurador público e sou. Hoje estou diante da OAB, sou
presidente da OAB e dentro dessas duas outras funções eu também acolho os alunos.
A gente está sempre conversando de algo que interesse para os alunos que pretendem
prestar concurso, alunos que têm alguma dúvida com relação a essa diferença do
direito público e do direito privado. E a gente está sempre ali para receber os alunos. E
na OAB também é a mesma coisa. A gente, aliás, estimula bastante o aluno a
participar da OAB. Existe uma comissão dentro da OAB para o aluno da faculdade. A
Comissão do Jovem Acadêmico em Direito é uma comissão específica para o aluno da
faculdade. Então vocês tem acesso livre pra OAB participar do que a OAB faz, inclusive
para vocês ir pegando o jeitão da advocacia. O que é o dia a dia do Direito? Então eu
convido todos vocês a participarem da comissão, me procurem lá na OAB, aqui na
faculdade ou na Procuradoria, enfim, me procurem que vai ser um prazer recebê los
para trabalhar nessas comissões lá. Bom, o nosso tema, pelo menos da aula de hoje, é
um tema bastante complexo, sob aspecto de novidade, mas é um tema bastante
simples sob aspecto de conteúdo. Eu digo complexo porque o Estatuto da Criança da
Adolescente e ele está fora daquele universo que vocês conhecem, do que se chama
de direito individual, né? Vocês aprenderam desde o primeiro ano da faculdade as
histórias do direito individual Caio Tício contra médio, acidentes de trânsito, ações
contratuais, enfim, que sempre envolviam indivíduos.

Speaker1: [00:03:20] Um indivíduo de um lado, outro indivíduo do outro. Isso é o


chamado direito individual, ou seja, um indivíduo indo ao Poder Judiciário, pleiteando
um direito que é exclusivamente dele contra um outro indivíduo. Esse direito individual
ele domina o direito, especialmente as academias, por conta da nossa origem, a
origem do nosso direito, pelo menos o direito romano. O direito romano estudava
exclusivamente essas relações individuais por conta da dinâmica econômica social que
existia na época do direito romano. Óbvio, né? E essa dinâmica teve uma série de
interferências, de dinâmicas diferentes, inclusive e expansões também, que é o que
aconteceu com a economia, com a relação econômica entre Estado e indivíduo, entre
fornecedores e indivíduo e entre indivíduos, coletividades de indivíduos e estados,
coletividades de indivíduos e fornecedor. Enfim, essa complexidade acaba integrando o
nosso estudo, que é o estudo do Estatuto da Criança do Adolescente, também o
estudo do Estatuto do Idoso. E por essa razão, a gente vai começar a nossa aula,
começar o nosso bate papo falando da ferramenta que é utilizada para defesa desses
direitos a ferramenta que o Direito utiliza para defender o direito da criança, o direito do
idoso e também é utilizada por uma série de outros direitos, né? Então, o primeiro
passo que a gente tem que dar aqui é entender que a gente está dentro de um
universo diferente do universo, do direito individual.

Speaker1: [00:04:53] É diferente. São universos paralelos que inclusive, às vezes se


esbarram, né? Mas é um universo diferente, aliás, até para fazer uma uma relação.
Bacana. Não é só você pegar o universo. O meta universo do Homem Aranha da
Marvel ou o universo de DC também, tendo Flash ou Flash reverso e tudo mais.
Nesses. Nessas diversões aí, nesses desenhos e filmes, você percebe que o Flash tem
uma vida com todas as relações dele o flash amarelo e o flash vermelho. Uma vida
com todas as relações dele. E às vezes essas vidas se cruzam e o direito individual
com o direito que a gente vai estudar hoje, que a gente chama de direito, meta
individual, meta além transindividual, ele vai além do indivíduo. São dois direitos que
eles caminham também paralelos e às vezes eles se cruzam. E nesses cruzamentos é
que vem a confusão, né? Pra quem gosta de filme, é uma confusão danada você
entender a história do Locke, a história do homem aranha, como pode ter três homens,
aranha, enfim, como pode ter dois flashes diferentes e um ter causado a existência do
outro. Aquela loucura total aqui. Essa loucura só aparece quando há um cruzamento.
Então o que eu quero dizer pra vocês? Que o direito individual que vocês conhecem
até hoje, tranquilo, vocês já estão dominando todos. Vocês provavelmente já estão no
quinto ano de direito, então estão a um passo pra se formarem.

Speaker1: [00:06:29] Mas vocês não tiveram contato com isso ainda. Então, talvez por
isso que nessa interseção do direito individual que vocês já dominam com o direito
meta individual que a gente vai começar a ver agora, tem alguma confusão. Mas
fiquem tranquilos que a complexidade é só essa trans individualidade, mas os termos,
as regras que a gente vai ver não são complexas, são simples. Aliás, são bem
interessantes. Então, dando esse primeiro passo que diferencia o universo que a gente
vai trabalhar, esse meta universo que é o ECA, o Estatuto do Idoso e tudo mais, a
gente pode começar a falar alguma coisa que envolva as ferramentas, os instrumentos
que vão ser utilizados para defender esse meta universo, esses direitos meta
individuais ou trans individuais. E esse vai ser o objetivo, pelo menos das nossas 3/1
aulas trabalhar em volta da tutela coletiva. Então, a tutela coletiva vocês conhecem lá
no direito individual, como o direito processual. Aqui a gente vai falar de tutela coletiva,
que é o processo civil, não individual, o processo civil coletivo. E a gente vai misturando
um pouco com o individual para que vocês consigam captar isso com clareza. Bom,
então, assim como o direito civil que vocês conhecem lá, o Direito tributário, enfim, uma
série de direitos que são individuais o direito da criança e do adolescente. Ele tem
características individuais, mas eles muitas das vezes tem características meta
individuais. Por esse motivo eu não consigo defender quando ele tem essas
características, metem individuais.

Speaker1: [00:08:09] Com o processo civil comum, eu tenho que utilizar o processo
coletivo. Legal esse processo coletivo. Então ele nasce depois do direito romano, ele
nasce depois do direito individual, bem depois, e por isso ele tem que ter alguns ajustes
para que a gente consiga de alguma maneira dar resultados ou trazer os efeitos que a
sociedade precisa na defesa desses direitos. Legal, mas tem um detalhe interessante.
O detalhe interessante é o seguinte o artigo que a gente vai ler que está até aqui na
lousa é o artigo 81 da Lei 8078. E esse artigo, o art. 81 da Lei 8078 e ele vem explicar
o seguinte O que que eu vou defender com a tutela coletiva e o que a tutela coletiva
pode proteger? Essa ideia de o que a tutela coletiva pode proteger está cristalizada no
artigo 81. Por que que eu estou dizendo isso? Pelo seguinte às vezes você lê na
doutrina um ou outro jurista. Não poderia nem dizer jurista, um ou outro escritor de livro
que fala que o artigo 81 tem por finalidade definir o que são os direitos meta individuais.
Não é verdade, não é verdade. Não está escrito isso no artigo. O que está escrito no
artigo é a defesa dos interesses e direitos dos consumidores. Leia-se qualquer direito
metaindividual poderá ser exercida no juízo individualmente, o direito individual ou a
título coletivo, que é o meta universo que a gente acabou de falar no começo aqui.

Speaker1: [00:09:40] Então, o artigo 81 está falando do instrumento, da ferramenta e


ele vem ainda e fala no parágrafo único que a defesa coletiva, ou seja, esse processo
de forma coletiva, vai ser exercida quando se tratar. Aí ele vem de forma indireta, ou
seja, ele não está definindo o que é direito difuso, direito coletivo, direito individual
homogêneo, que são os incisos que seguem Aqui ele não está. Ele não foi criado para
ter de fazer essas definições. Ele foi criado para dizer que a tutela coletiva vai proteger
esses direitos. Então a gente tem que tomar bastante cuidado com a finalidade de uma
lei trazer conceitos. Não é essa a finalidade da lei. Finalidade da lei não é trazer
conceitos, é criar disposições práticas para que eu utilize a lei da forma adequada.
Então, a conceituação, que não é o objetivo do artigo 81, aqui a conceituação é apenas
um instrumento que ela utiliza para que eu consiga utilizar tutela coletiva de uma
maneira adequada. E ela vem no artigo 81 e fala Vou dar um exemplo aqui, porque
depois a gente vai entrar mais detalhadamente no conceito de cada um direito aqui.
Mas inciso primeiro ela já fala em direito difuso, assim entendido para efeitos desse
código, o direito transindividual, ou seja, que transcende o indivíduo de natureza
indivisível e que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por uma
circunstância de fato. Então. Esse conceito do inciso primeiro não é o objetivo da lei.
Esse conceito do inciso primeiro é uma ferramenta para eu definir o que a tutela
coletiva pode abraçar.

Speaker1: [00:11:17] Então, a lei não quer definir ele difuso, ela acaba definindo de
forma indireta, porque o que ela quer é delimitar o instrumento de tutela coletiva, que é
o que a gente tá estudando agora. Aula que vem, a gente vai falar mais sobre o que é
cada direito e tudo mais. Mas essa ideia de que 81 tem essa finalidade é importante
pelo seguinte. Os autores que acabam dizendo que o artigo 81 fala traz aqui uma
conceituação. Eles cometem um erro e dizem o seguinte que o artigo 81 define quais
são os direitos individuais, que diz que esses três direitos que estão aqui são direitos
meta individuais. Não é verdade. Ou seja. O artigo 81 fala o que eu defendo com a
tutela coletiva. Por que que eu estou fazendo essa distinção? Porque a tutela coletiva
defende esses três direitos legal, direito difuso, coletivo, individual, homogêneo e
defende esses três direitos. Mas esses três direitos não são todos meta individuais.
Então, eu tenho uma ferramenta coletiva que defende direitos, meta individuais e
direitos individuais homogêneos. Calma, gente! Essa é uma daquelas interseções que
eu falei pra vocês que ia ser complicada, por isso eu vou jogar ela pra frente. Eu só
apresentei a questão aqui pra vocês e a gente vai jogar lá pra frente. O objetivo hoje é
entender o que é esse instrumento, pra que ele serve, por que ele existiu. Para que
depois a gente veja essas regrinhas aqui.

Speaker1: [00:12:42] Então fiquem tranquilos que a gente volta nisso aqui. Mas então,
por que que se fez um processo coletivo? Não tava muito bem lá com o processo
individual? Tava. Tava muito bem. Só que o que aconteceu e o universo se
desenvolveu. As relações sociais, econômicas, políticas, elas acabaram tomando um
volume que o direito individual ou o Poder Judiciário atuando individualmente, não dava
conta, né? Isso a gente faz um paralelo agora, não com o universo da Marvel em de
cima, mas faz um universo, um paralelo com o universo das Casas Bahia e do
Marceneiro. Você chegava no marceneiro e fala assim Olha, eu quero um armário legal
daqui dois anos eu faço pra você que eu tenho um monte de encomenda aqui. Você
fala putz, mais dois anos fala e eu tenho 20 encomendas, Eu consigo fazer um armário
por mês e você ficava sem armário. Até que surge um sistema massificado de
produção de industrialização, revolução industrial e lá se faz 1000 armários num dia e
você tem condições de chegar na loja. Você não quer armário, Tá bom, Estou levando
já o armário pra você. O armário tá aqui, pronto, Quero um carro. O carro está aqui.
Pronto, pode levar. Então é a massificação das relações econômicas que vêm a partir
da Revolução Industrial. Impõe que o direito também se transforme também seja feito
de forma massificada, né? Coisa que vocês não viram isso na faculdade até hoje,
porque as decisões, se vocês lembram bem uma decisão.
Speaker1: [00:14:10] Só serve para um caso. Se eu tiver um outro caso igualzinho,
outra decisão. Daí até vem a ideia de jurisprudência e um monte de decisão igual. Mas
eu vou ter que pegar essa jurisprudência, colocar na minha petição e ver se o juiz
aceita ela. E isso é um baita de um atraso. Eu vou dar um exemplo bem simples pra
vocês. Ainda envolvendo algo fora do ECA, depois a gente vai pro ECA de novo. Pra
vocês verem que essa é a razão do ECA você ter uma proteção coletiva. Imagina, eu já
sou cego por natureza. Por natureza Não, né? Vocês sabem que eu perdi. Perdi o olho
e vista direita quando eu tinha 18 anos e enxergo muito mal com a única que eu tenho.
E aí eu pego o meu fusquinha, tem um fusquinha meia nove que eu venho com ele pra
ir pra faculdade e aí eu tô com meu fusquinha meia nove, cego. Dirijo mal e se eu
dirigisse bem, ia ser piloto de Fórmula um, ia ser professor. Então entro no
estacionamento e dou uma ralada em dez carros que estão parados aqui na lateral.
Ralei dez carros ali, o carro do João, o carro da Jaqueline. E pra não perder o costume
de vocês, do Tício, do Médio e do Caio. Cinco carros eu ralei identificado, mais cinco
carros lá jogado. Enfim. Aí o João vem, entra com ação contra mim, porque eu não quis
pagar os danos do carro dele.

Speaker1: [00:15:29] Ele faz uma ação e ganha ação. São João ganhou a ação. Aí a
Jaqueline fala assim Pô, João ganhou uma ação daquele mesmo fato do Elson que
bateu no carro de todo mundo. Vou pegar a ação do João pra mim e vou pedir para o
juiz mandar o Celso me pagar. O juiz fala Não, Jaqueline, você não entrou com ação
contra o Edson. A Jaqueline vai falar assim, Mas juiz é o meu caso. Meu carro estava
do lado do carro do João. É a mesma coisa. Fala não, Você tem que entrar com uma
ação, provar que o Elson bateu em você. Mas, juiz, o senhor sabe que foi ele que
bateu? Não, o processo não serve. O processo só serve para o João. Você não estava
no processo do João. Você tem que entrar com outro processo. Esse é o direito
individual que vocês conhecem. E periga a Jaqueline entrar com ação e perder a ação
pra mim, porque pode ser que ela esqueça de fazer uma prova importante. O juiz fala
assim Jaqueline, você perdeu, né? E pode ser que o Caio Tício se juntem e façam uma
ação só. Continua sendo ação individual, em que pese ser um grupo pequeno. Ou seja,
o direito individual tem soluções arcaicas. É como você mandar alguém fazer um carro
para você manualmente, ele vai ter que soldar uma roda, criar peças, enfim, vai ficar 20
anos pra fazer um carro. E o processo? Também demora 20 anos para ser feito se ele
tiver sempre que ser utilizado de maneira individual.
Speaker1: [00:16:47] Vamos transportar um exemplo agora para o ECA. Imagina uma
cidade que resolve dar mais nessa época. A gente pode até falar bem disso, uma
cidade que resolve proibir as crianças de irem pra creche ou pra escola e aí uma mãe
vai entrar com uma ação. Se essa mãe entrar com uma ação e ganhar ação, só vale
para ela e todas as outras crianças da cidade que estão na mesma situação vão ter
que entrar com ação separada. Se eu estiver falando em direito individual, é em
processo individual. Agora olha que detalhe interessante. No carro, no caso do
acidente, eu não posso usar tutela coletiva. A gente vai ver depois por quê. Mas no
caso da criança e do adolescente que estão inseridos aqui no artigo 81, eu posso
utilizar uma ação para todas as crianças da cidade. Ou seja, se a gente vai ver depois
que tem um lance de legitimação, quem que pode entrar com essa ação? Quem que
não pode? Mas imagina que o cara que pode entrar com a ação entrou com ação e
ganhou. E as crianças nem sabiam da proibição ainda saiu a proibição lá por um
decreto, o legitimado, um caso. Aí vamos falar do Ministério Público. Entrou com ação,
ganhou ação. Quando as crianças ficarem sabendo que havia a proibição, os pais das
crianças, óbvio, ficarem sabendo que havia uma proibição para entrar, para ir para pra
creche. E já tem uma decisão judicial.

Speaker1: [00:18:04] E essa decisão vale para todo mundo. Qualquer criança pode
pegar essa decisão, levá la no Poder Judiciário, falou o juiz. Não deixaram entrar na
escola. O juiz vai determinar que entre na hora. Não vai precisar entrar com ação,
contratar advogado, fazer prova, nada disso. Então, percebam que essa já é uma
sentença. Casas Bahia Que é uma sentença que vale para uma infinidade de pessoas
que eu não sei nem quem são. Eu nem sei nem sei quantas crianças iam ficar sem
creche. Naquele ano, não tinha ainda aberto o período de matrícula, vamos dizer
assim. Então nem sei quem são as crianças. Eu sei que tem crianças na cidade e que
precisavam da creche e que o prefeito resolveu proibir. Então perceberam uma ação,
resolvem uma centena de processos sem que as pessoas tenham participado do
processo. Isso, essa pelo menos é a maior diferença entre o direito individual e o direito
coletivo. É isso que torna o ECA o Estatuto da Criança e do Adolescente um direito
importantíssimo. Por isso que a gente vê no quinto ano, porque ele é um pouco mais
avançado. Ele não é um direito que está aí todo dia na rua. A gente vê toda hora um
direito um pouco mais específico. Então, essa preocupação que eu confesso que ela
nasce com aspecto econômico, a gente vai ver quando ele fala de ECA, o ECA é uma
lei econômica, uma lei que não é uma lei que protege a criancinha, tadinha.
Speaker1: [00:19:21] É uma lei que protege o Estado como um ente econômico. Eu
produzo crianças e produzo adultos através das crianças, adultos, produtivos. Então
põe a criança numa escola pra receber ordens. Ter disciplina é pra que essa disciplina
torne a criança produtiva. Se a criança não for produtiva, essa criança não atender os
fins do estado. Então o ECA tem essa finalidade tornar aquela criança um adulto
produtivo. Então a gente percebe que estudando o direito, vendo as finalidades, que é
o que a gente está pensando hoje, hoje, A aula de hoje é pensar como tudo funciona. A
gente não é visto como com ingenuidade. O advogado não pode ser visto como
ingenuidade. É ingenuidade achar que o ECA é uma lei boazinha para cuidar da
criancinha e do cachorrinho. Não é nada disso, não. O ECA está querendo fazer com
que aquela criança que tem uma HD branca, limpa, sem nada, seja recepcionada com
um programa que a torne produtiva e obediente. Enfim. Então é legal a gente olhar por
esse lado, porque você consegue ler o direito de uma forma diferente. Então a criança
recebendo uma programação boa, ela vai se transformar num adulto produtivo legal.
Então, esse objetivo econômico está aqui presente também na tutela coletiva, porque
você vai economizar. Um juiz tomou uma decisão que serve pra 100 pessoas. E
também tem um aspecto econômico de tudo isso. Mas. Vocês que não tiveram ainda o
contato com isso, com o direito individual, quando ouvem falar em direito individual e
tutela coletiva, precisam pensar sempre no direito ambiental.

Speaker1: [00:21:03] Por quê? Porque o Brasil tem como tradição o direito romano
proteção individual. E a gente só começou a ver questão de que não tem uma defesa
do indivíduo a partir da defesa do meio ambiente, que aconteceu lá pelos idos de
85.985, com a Lei de Ação Civil Pública antes da Constituição de 88. Portanto, aquela
lei começou a defender, por exemplo, passarinhos, né? Então, tipo um prefeito, a
primeira ação dessa natureza foi um prefeito que mandou matar todas as rolinhas da
cidade e fez um churrasco de rolinha. E foi aqui em São Paulo, salvo engano, em
Embu-Guaçu, Embu-Guaçu ou Embu das Artes, alguma coisa assim. E quem é que vai
entrar com uma ação individualmente pra defender as rolinhas? Ninguém. Então é um
direito que está difuso, está espalhado. Ninguém sabe quem é o titular. E aí o
Ministério Público entrou com ação. O ex-prefeito foi condenado a pagar um direito, um
dinheiro para o fundo do meio ambiente, enfim, foi uma ação icônica e que demonstrou
como esse universo meta individual é interessante porque vai gerar defesas do Estado
para titulares de direito que nem nem sei quem são. Eu não sei quem ama os
passarinhos tem os que não amam e tem os que amam. Mas essa ação protegeu todo
mundo de forma indistinta e indistinta e protegeu uma rolinha que não pode pagar um
advogado, é óbvio. Então é interessante. A gente vê as peculiaridades do direito
individual a partir daí, mas ele começa lá em 85.

Speaker1: [00:22:36] Em 88, ele é reconhecido pela Constituição. Em 90 vem a lei,


que é essa lei que a gente tá estudando. 8078 vocês conhecem como Código de
Consumidor, mas ela tem uma parte lá que dá outras providências, que é a que a gente
está estudando agora e a lei de 90 e instrumentaliza melhor a ação civil pública. E a
gente vai ver que tem esses detalhes interessantes. A gente vai começar a ver a partir
de agora. Legal. Então percebi que tem um universo diferente, individual e individual.
Percebi que tem um aspecto econômico por trás da tutela coletiva. É, mas eu ainda
não consegui definir essas diferenças entre um direito individual em direito meta
individual. E vocês estudaram já o Código Civil e o Código de Processo Civil Código
Civil de 2002 e de Processo Civil de 2015. Mas os códigos que tinham antes disso
eram o Código Civil de 1916 e o Código de Processo Civil de 1973. Esses códigos
eram exclusivamente individuais. Eles não pensavam em momento algum em alguma
defesa coletiva. Por quê? Porque eles tinham ainda nessa visão de universo, eles
tinham duas dimensões a dimensão do fato e a dimensão da norma. Então um fato
acontece eu pego uma norma e aplico no fato Acabou o problema. E essa ideia
bidimensional de duas dimensões, fato e norma, era uma ideia para juiz estúpido. Não
estou agredindo ninguém, não, fiquem tranquilos. E eu vou explicar porque que é
porque juiz estúpido.

Speaker1: [00:24:12] Porque na época que se cria o Legislativo, eu vou falar lá de


Napoleão, o Napoleão. Ele queria comandar tudo. Então a inteligência de tudo estava
nele e ele era o Legislativo. Ele criava a lei e ele pegava os comandados dele e
transformava em pretores, que eram os juízes, e o pretor aplicava a norma. Então, qual
era a ideia? Napoleão criava Norma. Óbvio que isso não vem. Nasceu e Napoleão já
existia antes. A força do Legislativo, o poder do Legislativo desde a época do
cristianismo, enfim. Antes, quem cria a norma é o comandante, é o deus, é o chefe,
enfim. Mas Napoleão pescou essa ideia e viu que isso funcionava muito bem.
Começou a fazer isso. Então o pretor, que era o cara que aplicava a norma, era o cara
que não precisava pensar. Ele pegava o fato, se enquadrava com o nome e aplicava e
dava consequência da norma. Então, matar alguém, não pensar no direito penal não
precisa ser muito inteligente pra ver que o cara que deu dois tiros no outro e o outro
caiu, matou alguém. Então ele pegou a norma matar alguém e encaixou no fato. O cara
matou o outro aqui e aplica o direito, né? O direito de hoje ele não tem duas
dimensões. E aí o juiz tem que ser um cara genial, inteligente, porque o direito de hoje
tem o fato, tem o valor e a norma. Ele tem o fato, o valor moral, o valor econômico.

Speaker1: [00:25:36] O valor humano é a norma. Então, para o juiz aplicar uma norma
hoje, ele precisa entender os valores da humanidade. Ele precisa entender as
finalidades daquela lei. Ele não faz uma aplicação dura, especialmente nos direitos
individuais. Porque? Porque o juiz aqui é o protagonista. Hoje, o Poder Judiciário
protagoniza toda regra de aplicação de normas no direito público, no direito privado e
no direito individual. Então, hoje, para ser juiz é muito difícil, você tem que passar por
um concurso muito difícil, fazer a faculdade de Direito, terminar a faculdade de Direito,
três anos de experiência para depois passar num concurso de juiz para poder fazer a
aplicação tridimensional. É fato, valor é norma. Então o código de 16 é o código de 73
anteriores não tinham essa visão. Era uma visão só bidimensional. Já no Código de
Direito Civil, o Código Civil de 2002 é o Código de Processo Civil de 2015. Ele já tem
ferramentas ali, dispositivos para que o juiz consiga aplicar o valor nas decisões dele.
Então, hoje o juiz é o protagonista. Olha só pra dar um exemplo disso. Exemplo não é
uma demonstração de que o juiz é protagonista. Hoje, o povo que não sabe nada de
direito, que não fez faculdade, a faculdade de Direito é uma faculdade que muita gente
fez e tal, mas ainda assim, do povo brasileiro 7%, salvo engano meu, 7%, só que tem
nível superior. Desses 7%, 1% é de direito. Então é um universo muito pequeno de
pessoas que conhecem o direito.

Speaker1: [00:27:15] Só que se você pegar 100% do povo brasileiro, critica o STF
porque sabe tudo de direito, sabe como funciona o STF, sabe o que é uma Corte
Constitucional, que é um Tribunal Constitucional, sabe tudo. E aí critica, fala Ah, mas o
ministro tal falou mal do presidente e por questões pessoais eles acabam atacando a
instituição que não tem nada a ver. As instituições judiciais são excelentes. Óbvio que
tem pessoas dentro de uma ou de outra que pode cometer um outro engano, mas as
instituições são perfeitas. A lei é perfeita, inclusive a aplicação da lei, que é ruim
porque? Porque tem pessoas que não aplicam corretamente, às vezes cedem até
emoções públicas e tudo mais. Então, o Poder Judiciário virou protagonista, tanto é que
ele recebe hoje um volume de críticas muito grande, porque o povo se aproximou dele
por conta desse protagonismo. E é no Poder Judiciário que os direitos metem
individuais, vão ser protegidos de uma maneira mais eficiente e isso vai se dar através
das tutelas, das normas. Na coletiva, eu falei da Lei de Ação Civil Pública. A ação civil
pública é uma ferramenta de tutela coletiva. Mas tem outra ação de improbidade, que é
uma espécie de ação civil pública, ação popular, uma outra ação coletiva, mandado de
segurança coletivo, ação popular coletiva, mandado de injunção coletivo, enfim. Eu
tenho um universo bastante grande de instrumentos de tutela coletiva e todos eles são
utilizados para essa defesa desses direitos meta individuais aí.

Speaker1: [00:28:49] Isso é importante pra caramba. Acho que vocês tem que atentar
para a importância disso, porque no dia a dia de vocês, na advocacia principalmente,
vocês vão se deparar bastante com isso. E a visão, a inteligência da aplicação do
direito é um pouco diferente. Bom, é essa complexidade aí que a gente tem que
trabalhar e que o tribunal, o Poder Judiciário, de alguma maneira, tem um valor maior
na aplicação dele. Ela vem da época de Mauro Capeletti. Não é uma coisa de hoje. É
01h00 que vocês conhecem bem um escritor de processo civil muito relevante, que
trouxe uma série de doutrinas importantes para o processo civil individual, mas
vislumbrou a diferença do processo coletivo. E ele dizia o seguinte o direito individual e
o direito público estão em duas extremidades, onde existe um abismo no meio, que é
onde reside o direito individual. O direito que ele chamava de difuso, hoje difuso, é uma
espécie de direito mais individual. Mas ele dizia o seguinte o direito individual está aqui,
direito público está aqui e o direito difuso está num abismo lá embaixo, porque é muito
diferente. Na visão do Mauro Cappelletti, e essa grande diferença, na realidade, se
dava por conta das diferenças de alguns institutos, como legitimação, coisa julgada,
competência. Mas a gente vai ver que essa diferença grande, ela é grande nos efeitos,
mas ela é muito próxima na teoria que a gente precisa estudar aqui. Então acho que
essa visão de Mauro Cappelletti da diferença entre direitos difusos e direitos individuais
e direitos públicos, ela grita um pouco, mas a gente não vai ter muita dificuldade,
porque no Brasil, especialmente no Brasil, nós não temos um código de processo
coletivo.

Speaker1: [00:30:37] Nós utilizamos o Código Civil, Aliás, o Código de Processo Civil,
com as alterações que a gente está vendo hoje aqui, a partir de hoje aqui, que são as
alterações da Lei 8078 e as alterações da Lei 7347, que é a Lei de Ação Civil Pública.
Então são essas alterações, junto com o Código de Processo Civil Individual, que vão
dar o vetor aí do processo coletivo. Então, no Brasil a complexidade não é tão grande.
Ela, a complexidade maior da gente compreender tudo isso do que propriamente de a
gente aplicar. E a gente vai ver nas próximas aulas. Aí como que vai funcionar essas
ferramentas, como a gente vai trabalhar com elas. Mas hoje o importante é a gente
entender direito individual que vocês viram lá pra trás. É uma coisa direito, meta
individual é uma outra coisa diferente. Para defesa dos direitos meta individuais, eu
utilizo uma coisa que se chama tutela coletiva. Mas a tutela coletiva às vezes também
pode ser utilizada para o direito individual, mas a gente vai ver isso melhor nas
próximas aulas. Mas o importante era vocês perceberem essa distância entre um e
outro e que a gente precisa conhecer essas ferramentas. Bom, gente, nessa parte, é
por aqui que a gente para. Na próxima a gente faz uma revisão rápida e segue nesse
caminho aqui do artigo 81. Até mais!

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