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Processo Civil IV
Professor Eduardo de Mello e Souza
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2

[AULA 01] 15/08/2016 Responsável pela transcrição: Juliana A. Scheffer

1.1 Bibliografia, datas de prova, metodologia.

Fundamental livro base:


 Marinoni (livro 3) e
 Didier
O maior erro é estudar o Código artigo por artigo sem entender como
funciona o sistema.
Prova 01: 03/10
Prova 02: 05/12
Não quero que anotem (ele não deixa anotar – nem gravar). “Nem tudo na
vida vocês vão poder anotar.”
“Quero que vocês anotem na Lei.”
Professor vai disponibilizar textos ao longo do semestre para que façamos
leitura.
“Vocês precisam ler bastante.”

1.2 A crise no judiciário: a crise no ensino jurídico.

Como acidente de avião – nunca acontece por uma única causa. A crise do
judiciário tem esse mesmo aspecto – uma conjunção de fatores. (23min).
Todos os fatores se somam para formar essa crise.
Mello: “a crise do judiciário nasce na crise do ensino jurídico. O direito é
extremamente mal ensinado.” (24min).
Nós (Brasil) temos mais faculdades de direito do que o resto do mundo
somado. Há faculdade de direito no Rio de Janeiro que é dentro de um
estacionamento. “Isso não tem sentido.” Há um ano e meio que não houve mais
autorização do MEC para abertura de curso jurídico. (25 min).
Às vezes vocês acham que um professor dá uma aula boa. Mas se o
professor perguntar a vocês sobre aquele conteúdo ensinado, não vão recordar de
nada.
De modo geral, ensina-se processo civil pela ordem dos artigos. Ou vais
decorar, ou vais esquecer. Esta forma de ensino acontece em quase todas as
matérias dogmáticas, com raras e louváveis exceções.
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É comum chegar na 7ª, 8ª fase com uma p* de uma crise vocacional. Vocês
se sentem 80% advogados? Porque a UFSC vive, como as outras faculdades do
país, uma crise de ensino, de método. Pois é dada duas opções para os alunos:
decorar ou esquecer. (29 min)
Olhar pelo Código de Processo implica em você não enxergar processos.
Porque 90% das normas que a gente vê no CPC não são de processo, mas de
procedimento. (30 min15s)
O CPC fala de procedimento, em sua maioria. Ele fala pouco de processo
em si.
Os italianos são honestos neste sentido, pois falam em codice di procedura
(procedimento) civile; o francês, em Code de procédure (procedimento) Civile; os
alemães, em Zivilprozessordnung (ZPO)1.
Os códigos declaram receitas de bolo. Agora, onde está a teoria da ação?
Em que artigo encontramos quais são as ações?
Quantos efeitos tem uma apelação? São cinco efeitos. Mas isso não está
escrito no código.
Qual a diferença entre início de prova, prova, indício de prova?
Nada disso está escrito no CPC. Chegamos na 8ª fase sem compreender
isso.
Ao ler artigo por artigo estamos aprendendo procedimento.
Na China processo civil não é ensinado. Na Itália, nosso berço teórico,
processo civil todo é ensinado em um ano. Aqui, quantos semestre gastamos
aprendendo qualquer processo? Teoria do processo, processo civil I, II, III e IV,
processo administrativo I e II, processo constitucional, processo do trabalho I e II,
processo penal I e II. Quarenta por cento do teu ensino é processo – isso é uma
loucura!
Essa visão praxista do processo traz consequências: os alunos não
conseguem visualizar as teorias processuais.
Ex. “Samara, bateram no teu carro. Qual a ação que vais mover? A Samara
respondeu: ação indenizatória.” “Isis, procuram-te no escritório modelo. O cara deve
no banco. O salário dele cai e é descontado um empréstimo que ele fez, e está
desproporcional. Que ação tu moves? Resposta Isis: uma ação para rever as
cláusulas contratuais.” (54min)
Eduardo Mello: o que eu quero dizer é que vocês não visualizam o sistema.
A Samara vê o direito material (ação indenizatória), a Isis adota um olhar mais da
práxis, ela moveria uma “ação ordinária.” Esse é o grande problema. Vocês não
enxergam a ação declaratória, a constitutiva, a condenatória, a mandamental e a
executiva lato sensu.
Não é incomum o Mello ouvir: adorei tuas aulas, mas não vou fazer em
processos civil a prova da OAB, porque pode cair “qualquer coisa”. Mello: são só
cinco ações, que resolvem todos os problemas! O problema é que ninguém enxerga
a relação processual (56min).
Exemplo. “Código Civil de 1916. Art. 75. A todo direito corresponde uma
ação que a assegura”. Pela tradição romana, para cada direito, uma ação. “Quero

1
O google tradutor traduziu “Zivilprozessordnung” como Processo civil. :P
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canetiar, ação canetória, que bolsear, ação bolseatória.” Vemos mera receita de
bolo, bilateral, e eu dou a ela o nome que eu quiser dentro do direito material que eu
vou pleitear.
Esse sistema (nomear ação de acordo com o direito material) deu certo
enquanto 99% da população era analfabeta; enquanto 99% da população não
recorria ao judiciário. (1h04min)
Charles Dickens escreveu um romance chamado A Casa Soturna. No final
do livro, fecha-se com a seguinte frase: “nunca recorra ao judiciário.” Porque ele é
lento e não resolve teus problemas. ;)

[AULA 02] 16/08/2016 Responsável pela transcrição: Isis Regina de Paula

1.3 Processo não se confunde com procedimento nem com o direito material

Aula passada o Mello finalizou a aula com a seguinte frase “O processo civil
é uma relação autônoma do direito material”
Por que eu fiz essa pergunta? Porque na realidade talvez vocês não
tivessem se atentado sobre isso.
Rapidamente para quem não veio ontem e deve estar boiando. Ontem nós
conversamos rapidamente, sobre a base do processo civil que é a própria crise no
judiciário.
Na realidade o processo civil surgiu historicamente para debelar crises no
judiciário. Uma crise do século dezenove, que era outro tipo de crise, não era uma
crise por excesso de demanda, era uma crise por excesso de procedimentos. Uma
classe média nascendo através da revolução industrial, e um número de demandas
crescendo e o número de demandas esbarrou não no número de demandas em si,
não na questão estrutural em si, mas esbarrou no número de procedimentos.
Então o que acontecia? A gente tem uma crise do judiciário agora da
segunda metade do século vinte pra cá, que é uma crise mais sistêmica. É uma
crise que vocês escutam falar em jornal. (interrupção) Então o que acontece, temos
uma premissa de acesso ao judiciário que na realidade acaba sendo perversa,
porque inviabilizou o judiciário. O judiciário criou o judiciário de pequenas causas,
criou judiciário de grandes causas, criou vara do direito bancário, vara do quinto dos
infernos. Criou para receber mais, e mais, e mais demandas até ser indenizável.
E ai, eu perguntei para vocês o que vocês achavam da crise no judiciário. E
vocês me responderam o que? Um monte de bobagem. Ninguém atacou, um disse
que tinha que discriminar maconha. (interrupção).
O que acontece? Uns dizem que é excesso de recurso, outros dizem que é
excesso de processo, uns dizem que é uma permissibilidade do Estado no principio
constitucional do acesso à justiça.
A Constituição gerou muitos direitos, mas, as pessoas não enxergam
obrigações reflexas desses direitos, então o que acontece é que você tem sempre
uma retro alimentação. Quanto mais asfalto você cria, quanto mais você duplica

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estrada e rua, mais carros você tem na rua. Quanto mais acesso você gera a justiça,
mais acesso você tem. Você não pode reclamar.
Ai a gente viu que a crise do Judiciário é multifatorial, e uma coisa nós temos
que concordar na origem dessa crise, uma crise de ensino jurídico. Acho que foi ai
que comecei a aula propriamente dita. Existe um enorme pacto de mediocridade,
onde vocês são doutrinados a estudar leis, mais do que estudar leis, são
doutrinados a ler artigo por artigo, como se a lei fosse um plano de ensino. Lei não
doutrina ninguém, lei não ensina ninguém, a lei ou vocês decorram ou vocês
esquecem. É uma burrice! (Falou do vídeo no youtube dele que tem muita
repercussão sobre a parte geral do processo civil, e fez uma crítica sobre o ensino
das outras instituições)
É necessário saber quantos livros tem o processo civil, porque é como os
cômodos da nossa casa, é necessário entender as repartições do código de
processo civil. Quando eu pergunto quantos livros tem no processo civil, é porque
eu quero que vocês entendam o que é sistema. Já pensou se eu pergunto para
vocês aonde eu acho litisconsórcio? Você tem que compartimentalizar o seu ensino,
e para compartimentalizar o seu ensino você tem que entender o sistema, sendo
assim você não pode estudar artigo por artigo, porque se você estudar artigo por
artigo o teu ensino vira uma merda, você decorra, baixa na prova e esquece!
Semestre seguinte, decorra de novo, baixa na prova e esquece. E nem os
semestres da faculdade se comunicam um com o outro. Você nem lembra o que
estudou semestre passado. A crise nasce aqui. Existem promotores, juízes,
advogados saindo só com a letra da lei. Existe uma lógica no sistema, e o mais
incrível é por que vocês não enxergam esse sistema? Primeiro, porque o código que
vocês estudam artigo por artigo não é um código de processo, é um código de
procedimentos. O código está se preocupando com a higidez, com os prazos. Está
lá escrito, mandado tem que ser assinado, com quarenta e seis carimbos e tem que
ter uma certidão assim “certifico e o quinto dos infernos”, entendeu?
O código não é de processo. O processo está escondido por traz dede
vários dispositivos, mas, eles não são implícitos, se você ler só pelo artigo você não
entende.

Pediu para o Rodrigo Tissot ler o art. 19, CPC.

Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração:


I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica;
II - da autenticidade ou da falsidade de documento.

Toda a teoria da ação tá por traz disso é um inciso (I) perdido em um artigo.
Toda a teoria da ação, que é o sol do sistema solar esta por traz deste e apenas
deste dispositivo. São oito volumes do Pontes de Miranda por traz de um único
dispositivo. Passou desse artigo não se fala mais de teoria da ação. E se você ler
esse artigo você não entende o artigo, você decorra alguma coisa, uma coisa útil
para prova, e esquece, e assim vai. O principio inquisitivo, cooperação, e assim por
diante vocês simplesmente não tem o fio da meada, e ai vocês simplesmente
esquecem. E aí eu nós temos uma pergunta a ser feita, por que vocês não
conseguem enxergar o processo.

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Ontem eu fiz essa pergunta para a Samara, bateram no seu carro qual é a
ação? O sinal estava fechado, e continuou fechado após a batida, qual ação ela
moveu? Ação indenizatória.
Contrato bancário? Ação revisional.
O que a Samara e Isis pensaram? Direito material. O direito de rever um
contrato está no código civil, então o que acontece? Vocês enxergam direito
material, vocês leem o procedimento inicial, contestação, réplica, treplica, sabem
tudo de prazo de certidão, sabem tudo de mandado, mas não enxergam o processo.
E ai eu perguntei para vocês, por que, que é assim? Por que vocês adaptam tão
facilmente a isso? Por que até o advento do NCPC existia uma ação genérica. Qual
o nome da ação? Ordinária, né? Uma espécie de equivoco genético.
O Min. José Serra fez uma pesquisa se ele podia concorrer ou não com o
Lula em 2002, e uma das coisas que ele perguntou foi do genérico, que teve 96% de
aprovação, acontece que ele não viu o asterisco, dos 96% da aprovação do
genérico, 89% aprovavam o genérico porque até que enfim, criaram um único
remédio para todas as doenças. Então você tem caspa, frieira, toma um genérico e
você tem uma reposição molecular e você fica novo. A segunda conclusão desse
asterisco é que o único cigarro que matava era o Marlboro, não sei se vocês
lembram, mas em 2002 o caubói do Marlboro morreu. O caubói morreu de câncer no
pulmão.
Vocês ousam e vinculam o direito material, ação anulatória, ação
indenizatória, ação de perdas e danos e ai o que fica? Ação de perdas e danos
oriundos de acidente automobilístico terrestre. Vocês adoram botar um nome, e no
escritório modelo vocês ainda aprendem a serem cafonas, vocês colocam um
parágrafo e inventa uma letra times gothic alguma coisa, e colocam Ação ordinária
do quinto dos infernos. Vocês não se preocupam em serem ignorantes, vocês se
preocupam em serem ignorantes e cafonas ao mesmo tempo.
(Critica Deus Themis sexy)

Chegamos a uma conclusão, ou vocês se filiam ao procedimento e a ação


ordinária, e ai fica a minha frase “Ordinário é quem chama a ação de ordinário” Seja
ele ministro desembargador. Trata-se de ação ordinária, ordinário é você
desgraçado, porque ordinário é o procedimento. Era o procedimento, agora são
ações comuns, acabaram com as ações ordinárias e substituíram. Então agora é
“Vem por seu advogado propor a presente Ação comum em desfavor de cicrano de
tal, assim por diante”.
O que acontece? Por que vocês enxergam o procedimento, enxergam o
direito material e não enxergam o fucking processo? Porque ele está por traz do
CPC, ele não é lido no código. Não adianta ler o código, que vocês não vão
enxergar processo lá, vocês estão há quatro anos tendo aula de processo, mas
estão há quatro anos tendo aula de procedimento.

(Camila x Mello):
Quantas pessoas julgam em segundo grau?
- Três

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(Maria Rosa x Mello)


A ação da Samara é ação ordinária indenizatória. Maria Rosa, vamos falar
da sentença da ação da Samara, quantos capítulos vão ter?
- Três

(Vitória x Mello)
Quais seriam eles?
- Relatório, fundamentação e dispositivo.
Ela errou, porque ela não entendeu o ato procedimental. A sentença como
ato procedimental tem três elementos essenciais, o relatório, o fundamento e o
dispositivo. Ok? Mas uma sentença sobre o ponto de vista processual ela terá tantos
capítulos quantos os pedidos a serem enfrentados. Entendeu?
Tudo que vocês estudaram ate hoje, tem esse verso e esse reverso.

(Gilbert x Maria Rosa x Mello)


Gilbert, sobre o ponto de vista do direito material. O que a ação ordinária de
reconhecimento de paternidade, tem em comum com a ação reivindicatória de
propriedade imobiliária e com a ação indireta de inconstitucionalidade (direito de
família, das coisas, e direito constitucional). Sobre o ponto de vista do direito
material, o que elas têm em comum Maria Rosa?
- silêncio
Gente direito da família, coisas, constitucional, o que eles têm a ver com o
outro sobre o ponto de vista do direito material?
Nada. Não é óbvio?!
Sobre o ponto de vista processual o que elas têm em comum?
Todas elas são declaratórias. É uma questão de visualizar. Você visualiza o
fenômeno, mas você tem que ter uma ótica processual e a sua vida vai se 100%
mais leve. Se você continuar pensando procedimental e materialmente, sem ver o
processo você deve ter umas cinco mil ações, se você ver sobre a ótica do direito
processual são só cinco.

Rodrigo lê o art. 489, CPC para a Vitória ouvir:

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:


I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso,
com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais
ocorrências havidas no andamento do processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as
partes lhe submeterem.

Agora por traz desse dispositivo tem a capitulação, está escrito ali? Não.
Nós vimos teoria da ação, teoria da jurisdição, dois dos elementos mais importantes,

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sol e júpiter do sistema solar e vocês lendo artigo por artigo, passam batido, e
acham que capitulo é isso, e o que acontece?

(Camila x Mello)
Quantas pessoas julgam em segundo grau?
- Três
Quais são elas?
- Relator, Revisor, e o Vogal.

(Polliana x Gilbert x Mello)


Samara olha bem para mim. Quantos capítulos tem a sentença que julgou
totalmente procedente a tua ação ordinária de indenização por perdas e danos por
acidente automobilísticos terrestres?
- Eu sou a Polliana
Ok. Gilbert, quantos pedidos você fez querido?
- Condenar a pagar
Condenar a pagar o que? Quantos capítulos querido?

Os pedidos podem ser o quê?


Cumulados:
A+B
Cumulados podem ser simples ou sucessivos.
Cumulados sucessivos: A tem que ser procedente para apreciar B
Alternativos/ alternados a escolha do juiz A ou B
Subsidiários

Os pedidos serão ser dano material (abarca dano emergente/lucro


cessante), dano moral que pode ser estético e psíquico.

No exemplo da Samara, eu vou pedir dano emergente que é o amassado do


carro, lucro cessante o tempo que fiquei com o carro parado. O dano moral, vamos
usar o psíquico. Na minha ação vão ter três capítulos, então quantos capítulos tem a
sentença? Três, se faltar algum capitulo faz Embargos de declaração porque faltou
um capítulo na sentença.
Ação trabalhista, eu quero horas extras, indenização do vale alimentação, e
na sentença o juiz trabalhista tem que analisar um por um.

Olha a loucura se vocês não enxergarem bem o processo. O relator olhou


pros autos e viu é dois orçamentos de oficina autorizada nesse caso julgo
procedente, mas o lucro cessante eu não vi prova que me convenceu nego
provimento, e o dano moral o mero aborrecimento dos outros não implica dano
moral, só meu aborrecimento gera dano moral. (Juiz pensa assim)
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O revisor que não gosta do Relator, e eles são extremamente solipsistas,


fala olha uma vez eu bati meu carro e o dono da oficina falou para mim “Doutor, qual
o valor que você quer que eu coloque aqui?” então, esses dois orçamentos para
mim não valem nada, nego provimento. O lucro cessante, a gente deixa pode dar
provimento, mas deixa para a liquidação de sentença. Agora o dano moral eu
concordo com V. Exa. o aborrecimento dos outros não gera indenização, e mesmo
se tivesse faltou provas.
O vogal que é sempre um pinguim, não prestou atenção e negou provimento
ao dano material, mas deu provimento ao dano moral.

Gilbert, três pedidos para a condenação, ganhei? Viu como você estava
formulando errado a sua inicial.

(Bocejante x Ana P. x Mello)


Vocês bocejante, no CPC 73 tinham as medidas cautelares, no NCPC temos
as medidas antecedentes que podem ser cautelares ou antecipatórias, ok? Alguém
aqui trabalha na justiça?
- Eu, (Ana Paula).
Já trabalhou de estagiaria na assessoria?
- Sim
Prestem bem atenção. A Ana Paula tinha que fazer a minuta de uma
sentença. Ela estuda o processo, e faz uma puta de uma sentença. O Juiz assinou e
adorou. Deu a sentença e o juiz ratificou, e a sentença foi de total e absoluta
improcedência. Três dias depois já publicada, Ana olha o escaninho e vê que tem
outro processo e vê que tem uma medida cautelar, ou antecedente daquele
processo, que ela não fez. Deviam estar apensados ao outro processo, mas não
estavam. O Juiz pede para a Ana fazer outra minuta, como que você julga essa
cautelar? Se a ação foi julgada absurdamente improcedente? Qual é a minuta? O
que você faz com a medida acessória?
- Julga improcedente.
A tutela cautelar é autônoma! O acessório não segue o principal, parem de
pensar como direito material.
A medida provisória, ou a medida cautelar ou a tutela de urgência ela é
AUTÔNOMA.
A lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça. Lesão
ação principal. Ameaça tutela provisória. A CF por traz dessas duas palavras me
revela toda a teoria da autonomia das tutelas provisórias de urgência. Só que
ninguém enxerga porque vocês leem Brasília capital da união, União, Brasília. Até
hoje é assim que vocês enxergam as coisas. A partir de hoje vocês vão enxergar as
coisas tridimensionalmente. Porque vocês tem a mania de olhar para a regra e só
enxergar o procedimento ou o direito material.
Uma regra que diz a petição inicial indicará o endereçamento. Sob ponto de
vista procedimental é apenas aquele excelentíssimo senhor doutor. Sob ponto de
vista processual é o que? Competência

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A qualificação do autor e do réu. Sob ponto de vista procedimental é uma


mera qualificação, sob ponto de vista processual é legitimidade.
Para tudo que observarem no processo civil, e tiver focinho de
procedimento, orelha de procedimento, rabo de procedimento, vocês poderão
enxergar também o elemento processual que está por traz dele, é só uma questão
de olhar.

Até 1868, da Aurora da humanidade, a todo direito correspondia a uma ação


específica que o assegura-se. Qual o nome dessa teoria? Imanentista, o direito
processual é em relação ao direito material, ele é imanente, relacionável, derivada,
dependente do direito material. O direito processual é uma costela do direito
material.
Até o século dezenove tudo era direito material, o que é hoje um capítulo do
Código os Procedimentos Especiais. O que são os procedimentos especiais são as
ações oitocentistas, que ainda não foram engolfadas pelo processo civil.
O processo civil nasceu pequeno, e foi aos poucos sistematizando,
organizando e engolfando varias ações, mas nem todas, porque é um ramo jurídico
muito recente, é de 1960. É a teoria das exceções e defesas processuais do Von
Bullow, é a certidão de nascimento do processo civil. E
Von Bullow estabeleceu de forma clara a sistematização da seguinte forma
“nós temos que sistematizar estandardizar, a organização do judiciário, e para isso
eu preciso criar uma nova relação jurídica independente da material que nasce no
momento em que temos uma pretensão resistida”. O que gera o processo é o direito
material, mais especificamente uma pretensão resistida do outro. Livre disposição é
direito material, pretensão resistida gera o direito material nas ações oitocentistas ou
no direito processual propriamente dito.

Sistematização em três dimensões por Von Bullow:

1º dimensão – Procedimento - Comum

2º dimensão – Processo – Método ou meio físico

3º dimensão – Ação – Satisfação

Procedimento é apenas o caminho, é a sucessão de atos. O procedimento


comum tem o procedimento ordinário ou sumario (antigamente). Hoje ele é comum
ou especial (todo procedimento que corporifica costela de direito material. Ex.:
possessória, depósito, monitória, etc., ou aqueles procedimento que você não pode
tirar do judiciário e nem consegue encaixar e nunca conseguira encaixar no sistema
processual, ex.: inventário, a tendência desses procedimentos que não se encaixam
no sistema processual é de torna-los extrajudiciais como, por exemplo, usucapião,
inventário, separação, etc.). A tendência do processo é engolfar os procedimentos
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especiais, e aqueles que ele não conseguir engolfar a solução para eles é tirar do
código e deixar ele para a legislação extravagante ou extrajudicializar eles.
O procedimento comum se aplica a todas as causas de pedir. Rapidamente,
o que é causa de pedir. Causa de pedir é o ato ou fato eu gera o direito processual,
que gera o facultas exigendi. A causa de pedir tem como um dos seus elementos a
pretensão resistida.
Com o CPC 73, tinha outra modalidade que era o processo cautelar. Com o
NCPC o Processo cautelar, deixou de ser processo, e passou a ser um subsistema
de tutela vinculado ao processo de conhecimento. Agora o acessório segue o
principal, tem uma dose de autonomia (que vamos ver), mas, não tem mais aquela
autonomia que nunca vingou.
Apenas para vocês entenderam, começa no procedimento e termina na
Execução. Entretanto, nem sempre foi assim. Até o período pré-clássico romano,
todas as ações eram executivas, não existia cognição.
2001 Uma Odisseia no espaço – filme - Na primeira fase do filme os
hominídeos brigam com outros por causa de água. Acontece que, eles apanham
muito do outro grupo, e um monólito passa uma ideia para um desses hominídeos.
No dia seguinte a caminho do velho da água, passa por uma ossada de uma
preguiça e acha engraçado o fêmur dele, e não sei por que bate com o fêmur no
crânio da preguiça e quebra e acha aquilo engraçado, ele não sabe por que, mas a
informação foi dada pelo monólito. Na hora que o chefe da tribo se aproxima, ele
desfere um único golpe e liquida ele. Naquela euforia da vitória ele arremessa o
osso para cima que começa a girar e se transforma em uma plataforma espacial e o
filme começa.
O que eu estou querendo dizer com isso, o que isso tem a ver com o
processo? O que é de conhecimento desde sempre foi a Execução, as primeiras
legislações organizações foram delimitadas a regulamentar a execução, não havia o
conceito de cognição, esse foi um conceito muito moderno e civilizatório, vinculado a
inerentemente a religião por incrível que pareça.
O processo de execução foi o primeiro. O que faz um título ser executivo? O
devedor, não precisa de cognição. O que faz um título ser executivo é o reconhecido
de uma dívida pelo próprio devedor, não tem necessidade de cognição.

Frase para aula que vem: “Inconstitucionalidade da penhora antes do devido


processo legal”

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[AULA 03] 22-08-2016 Responsável pela transcrição: Juliana A. Scheffer

1.4 Procedimento, processo, ação

Professor sacrificou a higidez2 de um conceito, radicalizou, para que a gente


entenda, de uma vez por todas, que não podemos confundir processo nem como
procedimento, nem com o direito material que ele assegura.
Para isso, Mello trouxe um conceito oitocentista, para que a gente pare de
confundir conceitos. Então o professor disse: “processo civil é uma relação jurídica
autônoma e diferente do direito material, e que se materializa no mundo concreto
através do procedimento.” (07min30s).
Precisamos passar a observar o processo como uma relação jurídica com
regras próprias e principiologia própria. Ela tem regras que não se confundem
necessariamente com a relação de direito material que ela visa proteger.
Ex1: temos a mania de achar que a cautelar é um acessório que seguia o
principal. Acessório seguir o principal não se aplica ao processo, é regra do direito
das obrigações. Vocês aplicavam isso ao processo sabe deus por que!
De acordo com o século XVIII, qual a ação que resolve a posse? Ação
possessória. (10min20s). A cada direito, havia uma ação que o garantia. A
possessória ainda existe como procedimento especial. Portanto, ainda está
vinculada do século XVIII e ao direito material.
Estás cobrando um dinheiro de alguém. Esse alguém apenas contesta. E na
contestação diz que ele é na realidade o credor. Mas ele só contestou. O juiz na
sentença pode dar na sentença aquilo que ele tem direito no saldo? Não. Porque
não teve reconvenção. No processo civil não se aplicam as regras de direito
material. Por mais que haja um sinalagma dentro do processo a ser discutido, esse
sinalagma não contamina a relação processual (12min30s).
Na ação possessória isso é automático. Se há apenas contestação da ação:
pelo simples fatos de eles contestarem a ação, já há um sinalagma. Essa ação é
procedimento especial. Vinculado ao direito material.
São universos completamente diferentes.
Chegamos na tridimensionalidade do processo. Onde vocês visualizaram
graficamente que são três dimensões diferentes. E o que Von Bülow fez foi nada
mais nada menos do que a metodologia científica da época permitia. Toda a relação
com meio implica em meio físico, método e satisfação ou não.

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Estado de perfeita saúde; salubridade. Fonte: <http://www.priberam.pt/dlpo/higidez>.
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(in) (satisf)
Ação

Processo
(método)
Pode ser de
conhecimento, ou de
execução.
Procedimento
(meio físico)

Procedimentos Especiais

Tudo na vida tem três dimensões (meio, método, satisfação/insatisfação). O


problema é que vocês não observam. Von Bülow observou isso e criou as bases
dessa nova relação jurídica. Essa relação jurídica tem metodologia própria e
principiologia própria. (20mine53s).
Tudo aquilo que tem principiologia própria já é em si um sistema.
O tracejado que separa o procedimento comum e o especial (linha azul)
serve para quê?
Os procedimentos especiais estão vinculados ao direito material (civil). Mas
o procedimento comum vincula-se ao direito processual.
Todo processo civil está por trás do procedimento do código.
Um ramo processual autônomo é dotado de epistemologia (método) e
princípios. Como verifico que existe uma epistemologia neste caso? Porque existem
três situações envolvidas (procedimento, processo, ação), de acordo com o exposto
no quadro.
Quais os métodos de resolução de conflito? Processo de conhecimento e de
execução.
Não confunda o conjunto de elementos da epistemologia com a própria
epistemologia. Mello reclama que falamos em “ação ordinária” e “ação comum”:
estamos confundindo meio físico e meio abstrato. Estávamos confundindo as
dimensões (altura, largura e profundidade).
Quando falo em ação ordinária, digo ao meu interlocutor que “sou uma anta”,
confundo meio físico com abstrato, e causo confusão. (36min)
Não posso falar em ação de conhecimento, porque estou confundindo
satisfação com método. Não posso falar procedimento cognitivo. O procedimento
comum é o meio físico – inicial, contestação, tréplica...
O procedimento é uma dimensão da epistemologia.
Professor começou a explicar a execução antes do processo de
conhecimento. Por que ele fez isso? A execução nasceu primeiro. Os problemas

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eram resolvidos sem o Estado. Exemplo do irmão mais velho e do mais novo: saem
os pais, o irmão mais velho exerce força sobre o mais novo.
No Direito Romano, o pretor romano analisava a formalidade e verificava se
esse título estava ok. Então, autorizava o credor a executar pessoalmente o devedor
(em Roma a execução era pessoal, não patrimonial).
As primeiras regulações jurídicas surgiram voltadas para o procedimento da
execução.
Por exemplo, no “Mercador de Veneza”, de Shakespeare, o avarento
Shylock queria a aplicação da lei antiga: 6 libras de carne do devedor.
Execução não tem cognição. O que faz um título ser executivo,
historicamente falando? Pois quem assina o título já é o devedor.
Havia algumas situações previstas na lei romana que poderia haver certa
cognição quando havia dúvida quanto ao polo passivo. Se fores arrancar o braço de
alguém, que seja do devedor certo. Neste caso, o pretor romano abria uma exceptio.
Por isso, até hoje, uma exceção é uma defesa no nosso CPC.
Assim, o professor terminou a aula passada demonstrando a influência
romana dentro do processo de execução. Nós temos ecos do direito romano até
hoje na execução. Qual o primeiro ato de uma execução? O que o credor pede ao
juiz? Penhora. O que é penhora, senão a execução sem defesa?
Penhora é indisponibilidade. É constitucional? Dentro do Brasil, tem um CPC
que prevê numa execução ou cumprimento de sentença bens indisponibilizados
antes do devido processo legal. Essa norma é inconstitucional? (53min)

LIVRO II - DO PROCESSO DE EXECUÇÃO CPC. Art. 778.


CPC, Art. 778. Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei
confere título executivo.

“Execução forçada”. Execução é FORÇA.


O devido processo legal está previsto para o processo de conhecimento. Na
execução, a lógica é outra.
Assim, o primeiro processo a surgir foi o de execução. Com a queda do
Império Romano, com as invasões bárbaras: o direito comercial/empresarial
começou a integrar o Império Romano. Os bárbaros eram mais desenvolvidos no
direito empresarial. As feiras, os comércios, o conceito de título cambial são
bárbaros. Eles (bárbaros) eram extremamente desenvolvidos.
Desta interação (bárbaros e romanos) começaram a surgir
responsabilidades cambiárias, e aí a surgir a responsabilidade patrimonial.
O novo CPC se estrutura como? Parte geral com teoria. Parte especial que
segue nossa tônica tradicional: processo de conhecimento e processo de execução.
Quantos processos eu tenho que ter regulado? Só dois. Cognição e
execução.
Dentro do Livro I, que temos processo de conhecimento, em um capítulo
temos o procedimento comum, e no outro o procedimento especial. Ex. Onde acho
possessória? No procedimento especial. (01h04min)
Toda execução também tem um procedimento que lhe é comum. Quantas
ações executivas eu tenho? São cinco.
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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Pela ordem histórica, temos no processo de execução as seguintes ações:

1. Quantia certa conta solvente;


2. Quantia certa contra insolvente (insolvência civil);
3. Fazer ou não fazer;
4. Dar coisa certa ou coisa incerta;
5. Alimentos.

Da mesma forma como existe esta escada para o processo de


conhecimento, existe para o processo de execução. Podemos ver aquela escada
que o professor desenhou de modo tridimensional.
Há o procedimento comum do processo de conhecimento; e o procedimento
comum do processo de execução.
Do mesmo modo, cinco são as ações na execução, e cinco outras são as de
conhecimento.

Figura 1

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


15

Da mesma forma, não existe “execução comum”, ou “procedimento


executório” o que existe é uma ação executiva strictu sensu.
O terceiro andar desta escada trata da satisfação.
No Gênesis, a Bíblia diz algo que é processo civil puro. “No princípio havia o
verbo, e o verbo emanava de deus, e o verbo era deus.” Não existe deus sobre uma
figura humana, ainda, não existe céu, não existe nada. O que deus precisa ser para
começar alguma coisa? O verbo. Porque todo verbo corresponde a uma ação.
“Isto posto, vem requerer à Vossa Excelência se digne ordenar a citação do
réu, para querendo contestar o presente feito, julgando-se ao final procedente a
presente ação no sentido de... (???)” Qual é a palavra? Não é anular, não é cobrar,
não é indenizar. Porque isso é direito material! Precisas de poucos verbos:
- Declarar;
- Constituir;
-Condenar;
- Executar lato sensu;
- Mandamentar. (01h15min19s)

Se eu lembrar que estas ações podem ser combinadas: como faço isso?
Através de pedidos: (não tenho certeza sobre essa distribuição entre os tipos de
pedidos).
- Cumulados [simples (A + B) ou sucessivo (se A, então B)];
- Alternativos (A ou B);
- Subsidiários (se não A, então B);

Chega uma mulher no EMAJ com um menino no colo. O pai não quer
reconhecer a criança. Ela mora com o pai da criança há uns três anos. Ela não
aguenta mais o pai, e quer comer, e que a criança também coma.
Relação da mulher com o mentecapto. Quais os pedidos dela? 1. Declarar
que existe a união estável; 2. Cumulado sucessivamente com a desconstituição a
união estável; 3. Cumulado sucessivamente com alimentos e 4. Com partilha.
A criança: 1. Declaratória da paternidade; 2. Cumulada sucessivamente com
alimentos.

[AULA 04] 23/08/2016 Responsável pela transcrição: Polliana C. Morais

Professor pediu para ler os textos do Bullow e do Cândido...

Na última aula paramos no porque da nomenclatura das ações e dos verbos...


Eu provavelmente expliquei para vocês a relação entre o procedimento
comum e o especial. Expliquei o método do processo com duas soluções cognição e
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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execução e expliquei que execução sempre foi e sempre será força. Provavelmente
contei histórias do Direito Romano, da origem das coisas.... Entramos, então, no
conceito de ação ou insatisfação que é a finalidade desse sistema. Eu estava
explicando a tridimensionalidade da teoria do Von Bullow, como ele chegou à
conclusão de que era uma relação jurídica. Então, ele estabeleceu uma práxis
própria, uma práxis procedimento, um método próprio – os processos. Até o ano
passado havia uma terceira modalidade processual única no mundo que é no Brasil
que é o processo cautelar o qual deixou de existir enquanto processo ok? E agora
chegamos nas ações...
Assim como os outros dois elementos, as outras duas dimensões, ele
concebeu observando a práxis dos tribunais da época criou o procedimento comum
pra se contrapor ao procedimento especial, classificou, digamos assim, os
processos cognitivos e executivos, onde havia força e onde havia instrução, ok? Isso
para estabelecer dois métodos também uniformes. Lembre-se do conceito alemão
de sistematizar as coisas... E ele procurou ver o que havia em comum com as
ações. Ele constatou algo que vocês também constatam... A declaratividade está
presente em tudo. A declaratividade, inclusive, é tão óbvia que ela também é
dúplice. Como também são dúplices os procedimentos. Eu expliquei para vocês
ontem que uma ação possessória, que é um procedimento especial, com a simples
contestação já implica numa ação dúplice. Coisa que não acontece na relação
processual civil. Alguém ontem disse que tinha que haver reconvenção, lembram?
Então, no processo, a simples contestação não quer dizer que você vai ganhar
alguma coisa. O máximo que acontecerá é tudo ficar como está. Por isso, passivo e
ativo. Alguém quer mudar o status quo e alguém quer manter o status quo. O polo
passivo para construir algo para si tem que deixar de ser passivo e formular um
pedido expresso reconvencional. Já nos procedimentos especiais, como eles são
vinculados ao direito material há o sinalagma. Eles não formam o triângulo, eles
formam uma flecha com dois lados. Por exemplo, se eu quero essa Coca, e você diz
que ela sua, a sentença dará ela ou para você ou para mim. Ainda que originalmente
ela estivesse com você. Então, nos procedimentos especiais, pela vinculação ao
direito material, numa época pré Von Bullow, para eles existe o sinalagma. Aí vocês
podem usar a ideia de que o acessório segue o principal, o raciocínio da
correspecção de obrigações entre si. Na relação processual não se faz isso. O fato
de você contestar significa apenas que você não quer mudar uma situação. A
sentença de improcedência é uma sentença de status quo. Às vezes essa sentença
nem coisa julgada faz...
Ele deu o exemplo de alguém ser advogado da Phipasa e outra pessoa ser
advogada da fábrica da Fiat. Por algum motivo, alguém quer a bandeira da fiat em
Floripa e quer tirar a bandeira do outro. A Fiat mandará uma notificação para a
pessoa com o contrato original falando que ela quer romper o contrato. Desse modo,
a partir de 30 de agosto essa pessoa não receberá mais carro da fiat. Aí essa
pessoa exige do advogado da fábrica o fundo de comércio. Aí o advogado resolve
manter essa pessoa até conseguir fazer uma transição mais negociável. O que
ocorreu nesse caso? A pessoa foi notificada, constituída em mora, o prazo começou
a correr, mas, a partir do dia 30 a atitude entre as partes continua a mesma diante
do contrato. Ela continuou recebendo os carros da Fiat..., mas a outra pessoa que
queria a bandeira volta ao advogado da fábrica.
Então, o advogado resolve entregar isso para o Judiciário. Ele pega a
notificação, o contrato prorrogado por prazo indeterminado e vou mover uma
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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declaração de inexistência de relação jurídica e o juiz decidirá. A defesa na


contestação, para mostrar que não houve o rompimento do contrato, será
demonstrada pela práxis, e não por aquilo que está escrito (Art. 112/CC. Nas
declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que
ao sentido literal da linguagem.). A sentença é relativa ao status quo ante. No dia
seguinte, o advogado da fábrica manda outra notificação e no dia estipulado, corta-
se a entrega dos carros. Diante disso, a pessoa contesta e faz o pedido
reconvencional propondo caso a seja feita a rescisão, primeiro: ela tenha uma
dilação de prazo para se adequar à nova situação, segundo: uma condenação pelo
investimento que ela fez no fundo de comércio. Contou o caso da construção da
casa dele no qual o pedreiro disse: “demolir é fácil, molir que é difícil”. Isso é uma
característica da unidirecionalidade do processo. O processo é sempre do autor,
pelo autor e para o autor. Quem define a natureza da sentença é o autor porque é
ele quem forma o pedido o réu, na melhor das hipóteses, ele demole o autor, mas
ele não constrói nada para si se ele também não for autor. Não há sinalagma, típico
do procedimento especial. É uma relação triangular, mas sempre na mesma direção
do autor, pelo autor e para o autor.
Pediu para ler o art. 19/CPC

Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração:


I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica;
II - da autenticidade ou da falsidade de documento.

O primeiro código provincial, no final do século 19, era 5% processual e 95%


procedimental. O primeiro CPC unificado de 1939 era 50% processual e 50%
procedimental. Em 1973, Buzaid concebeu um código 75% processual e 25%
procedimental. O novo CPC ele é 90% processual e 10% procedimental. Essa
evolução ainda não acabou. A tendência é absorver os procedimentos especiais de
jurisdição contenciosa e voluntária. A ação declaratória foi mantida em todos os
códigos existentes, praticamente com a mesma redação. É necessário analisar o
processo na tridimensionalidade. Não devemos analisar pela literalidade dos artigos,
fora de um contexto.

Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha


ocorrido a violação do direito.

A primeira ação, sob o ponto de vista histórico, é a declaratória. Para que


ela serve está escrito no inciso I, do art. 19:

I - da existência, da inexistência de uma relação jurídica;

Exemplo do cara que é representante comercial da Lupo. Ele não vende


nada, mas presta serviços. Ele possui no seu escritório amostras grátis. Qual a
relação jurídica dele, com o Estado (ICMS) ou Município (ISS)? Ele terá inscrição
municipal. A indústria da Lupo tem inscrição estadual e não municipal. Um dia entra
um fiscal de tributos do Estado. Esse fiscal arbitra uma multa em um determinado
valor por acreditar que as amostras seriam vendidas. A ação que o representante
terá contra o Estado será declaratória da inexistência da relação jurídica.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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Declarar a existência ou a inexistência é algo muito radical, é preto e branco.


Quando eu tenho a relação jurídica e preciso atenuar ou aumentar a incidência de
algo. Ex: tenho o plano de saúde, mas ele não quer deferir a cirurgia de órtese ou
prótese. Não falo de branco ou preto, mas tons de cinza. A declaratória só serve
para o preto ou para o branco, existência ou inexistência da relação. Para que eu
possa intuir a segunda ação eu preciso aprofundar a utilização desse artigo. A outra
ação sai da costela da declaratória e é a constitutiva ou descontitutiva. Estou falando
do modo de ser da relação. Didier, no CPC, incluiu na declaratividade também os
tons de cinza (modo de ser da relação jurídica).

A terceira ação, pela ordem histórica, é a condenatória. A classificação é a


ternária (do CPC/73). As ações declaratórias e constitutivas são meramente
enunciativas para regular duas dimensões do direito material, quando eu tenho ou
não tenho uma relação jurídica e o alcance dessa relação. E, porque temos
execução devemos ter sentenças que tenham repercussão patrimonial. E como as
duas primeiras não têm essa repercussão patrimonial precisamos de uma terceira
que a possua.

Essa classificação ternária do código de 1973 parte de algumas premissas do


direito italiano da nula executio sine titulo. Isto é, não há execução sem título,
portanto seria necessário percorrer todo o rito processual para ao final ter um título o
qual seria utilizado para execução. Desse modo, não havia ações auto executivas, o
sistema não concebe esse tipo de ação. Em 1974, Pontes de Miranda analisa o
CPC/73 e vê que não havia, em tese, ações auto executivas. Mas o que é uma ação
possessória? O que é possível conseguir liminarmente nesse tipo de ação? Você
pode liminarmente receber o resultado da sentença mantendo ou não a posse. Por
isso esse tipo de ação estava separado dos demais no Livro IV, porque ele não
cabia na classificação ternária. Para Pontes de Miranda, a tendência é que o
processo civil vá engolfando cada vez mais os procedimentos especiais. O Livro III
do CPC/73, contém as medidas cautelares (art 888, VIII):

Art. 888. O juiz poderá ordenar ou autorizar, na pendência da ação principal


ou antes de sua propositura: Vlll - a interdição ou a demolição de prédio
para resguardar a saúde, a segurança ou outro interesse público.

Nesse artigo, quando há a previsão de demolição, Pontes de Miranda


concluiu que o sistema admite sim ações autoexecutórias. O nome das ações
executórias é força. Então, esse é o quarto tipo de ação. Para a evolução do sistema
de maneira a ele incluir a medida cautelar dentro do processo de conhecimento de
maneira a incluir os procedimentos especiais dentro do processo de conhecimento
você tem que conceber novas ações. Então, Pontes concebeu duas novas ações
executivas lato sensu (em contraposição das executivas stricto sensu do Livro II,
quais sejam: pagamento de quantia certa com devedor solvente, quantia certa com
devedor insolvente, obrigação de fazer ou não fazer, obrigação de dar coisa certa ou
incerta e alimentos) e a outra ação é a mandamental. A ação mandamental é aquela
na qual o juiz tira a força sobre o devedor e fazia valer o poder de magistrado (poder
de mando). Ex: Quando a Encol faliu, várias pessoas já haviam quitado os
apartamentos, mas a construtora não havia tirado a hipoteca. Nesses casos o juiz
dava a sentença a qual determinava a averbação dos imóveis. Estou dando o
resultado prático equivalente, estou usando força, estou mandando, portanto é um

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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caso típico de ação mandamental. Todas as medidas que recaem diretamente sobre
o devedor são executivas lato sensu. Quando tiro o devedor da minha alça de mira e
faço valer o poder do juiz temos ação mandamental.

[AULA 05] 29/08/2016 Responsável pela transcrição: João Pedro L. Bueno

Art. 19 do CPC único que trata da teoria da ação, tratando de uma única
ação e depois o CPC não trata mais dessa ação.
Ordem logica das ações: declaratória (declara a existência ou inexistência
de uma relação jurídica), constitutiva (possui eficácia declaratória, mas que difere
por demonstrar o alcance da relação jurídica)

Sumula 181 do STJ – é admissível ação declaratória visando a obter


certeza quando a exata interpretação de clausula contratual.

Isso não é existência ou inexistência, e sim modo de ser. Explica o art. 19. É
possível propor uma ação que eu chame de declaratória visando melhor definir o
que está disposto em contrato (relação jurídica) – anteriormente se utilizava de ação
constitutiva para tal medida.
STJ com essa sumula sacrifica um conceito para que se possam aceitar
mais ações - dentro da declaratividade, por ser a origem da ação constitutiva, temos
sim parcela de constitutividade.
Ação constitutiva é tida, assim, como uma ação “especial”, no sentido de que
“retorna” para sua origem (ação declaratória), não mantendo a mesma paridade de
classificação com as demais ações (é mais simples).
Ação declaratória e constitutiva não tem caráter condenatório – são
meramente enunciativas. Ex.: declaram paternidade.
A declaratividade não precisa de um livro II, de uma execução ou
cumprimento de sentença – a sentença vai para registro civil já determinando a
introdução do pai na certidão do bastardo. O mesmo ocorre quando declaro o modo
de ser de uma relação jurídica (ação constitutiva) - aqui eu faço uma hermenêutica
sobre a clausula, restringindo ou avançando no poder do que esta escrito na
clausula.
Sujeito é representante comercial, a que fazenda se vincula? Municipal pois
não circula mercadorias, apenas presta serviço (vincula apenas ao município). Não
tem inscrição estadual, e sim apenas municipal. Ocorre que está cheio de amostra
grátis, entra fiscal do estado e afirma que esta vendendo sem nota de circulação. A
ação que se deve ajuizar contra o estado é ação declaratória da inexistência da
relação jurídica em face do Estado. Completamente diferente seria o fiscal municipal
afirmar que está sonegando prestação de serviço – verifica que possui uma tirada de
material diversa à contida na inscrição municipal, autuando o prestador de serviço
por caixa 2. Nesse caso especifico, se o fiscal não assina a certidão de divida ativa,
a ação contra o município seria ação anulatória tendo em vista a falta de

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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pressuposto formal (titulo é nulo – modo de ser constitutivo negativo). Esse ato do
fisco pode ser realizado novamente, agora com a assinatura do fiscal.
Quando você declara uma intempestividade numa relação (problema
estritamente processual), temos nessa decisão natureza declaratória - independente
da ação que tenha sido ajuizada.
Uma ação constitutiva tem efeitos ex nunc a declaratória terá sempre efeitos
ex tunc – assim, essas ações tem que se manter de formas distintas. Quando regulo
uma relação, eu a regulo desse momento em diante. Quando declara a existência,
ela sempre existiu.
Constitutiva não pode ter efeito ex tunc – não há como afirmar que uma
relação jurídica é de uma certa forma antes de eu a interpretar. No máximo
retroagira a partir da citação.
Como a declaratória é de existência ou inexistência de relação jurídica tenho
que determinar se há ou não essa relação – em ambas as situações retroagirá.
Sumula 269 e 271 do STF –

“269 - O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.”


“271 - Concessão de mandado de segurança não produz efeitos
patrimoniais em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria”

O chefe da repartição está cortando verbas, horas extras, gratificação, etc.


Impetro MS, o qual terá efeitos validos apenas a partir da concessão do mesmo
retroativo a sua propositura. O resto devo buscar, de acordo com as súmulas acima.
MS tem caráter constitutivo negativo – desconstitui o caráter coator. Dinheiro de
volta é cumprimento de sentença, que será atingida apenas por ação declaratória.
Movo ação constitutiva estabelecendo o real alcance da relação, em seguida a
condenação ira retroagir. Um outro pedido deve ser feito para receber o que não foi
pago devidamente. A partir do MS a folha de pagamento deverá estar de acordo
com o determinado, no entanto, para se receber os valores anteriores deve-se
impetrar uma nova ação com novo pedido – pedido incompatível com MS. Ação de
cobrança do 269 é a ação condenatória (quando quero $$ temos ação
condenatória).
O dinheiro que não foi pago não será devolvido apenas com uma ação
declaratória (MS), pois, claramente apenas ira declarar o direito que será respeitado
a partir de então.
Efeito retroativo não será com ação declaratória pois não gera execução.
Tenho que mover condenatória.

Classificação ternária das ações:


 Modo de ser da relação jurídica – constitutiva.
 Inexistência ou existência da relação jurídica – declaratória pura.
 Quero $$ - condenatória.

Classificação ternária das ações: era uma solução, mas na primeira situação
em que houve acesso ao judiciário (redemocratização do Brasil e CF 88), tivemos
uma falência do processo civil que veio a se mostrar pouco usual.
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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Pontes de Miranda encarou essa situação com base na jurisdição alemã –


monista, em que tudo se resume a uma ordem, a sentença que se auto executa.
Sentença firma relação jurídica e já determina pagamento, etc. Na Alemanha, ao
longo do tempo, acabaram por se acostumar com tal situação, há criticas por poder
causar injustiças, no entanto, demonstrou alto caráter pedagógico – não se aciona o
judiciário por qualquer motivo, nem as partes abusam da relação jurídica firmada.
Pontes não negou ação ternaria, mas adicionou mais duas em que se
assegure autoexecutoriedade. Temos 3 cognitivas (conhecimento – condenatória,
declaratória e constitutiva) e 5 stricto sensu no livro II (execução – obrigação de
pagar quantia certa devedor solvente e quantia certa devedor insolvente; fazer ou
não fazer; entregar coisa certa ou incerta; e alimentos). Para se chegar nessas 5
tinha que ajuizar condenatória primeiro.
Na visão do Pontes, com mais duas ações, transformo a ternária em quinária
– fazer e não fazer e dar coisa certa ou incerta saem do livro II e vão para o
processo de conhecimento.
Se escrever na parede da faculdade e juiz determina que eu a pinte, caso eu
não cumpra, o juiz determina que seja pintado e transforma em obrigação de pagar
em quantia certa.
Com a escola de São Paulo, volta-se à classificação ternária: sem a
constitutiva (que virou declaratória) e sem condenatória (que virou mandamental) e a
executiva lato sensu.
Era ternária, não funcionou e acabou sendo alvo de criticas do Pontes – que
criticava principalmente as medidas cautelares que se mostravam fortemente
executivas (ex.: medida cautelar que determinava demolição de imóvel, e que,
semanas depois iria se discutir o mérito de tal decisão).
Temos, assim, as medidas cautelares divididas em dois pontos:
- Tutelas mais violentas – satisfativas urgentes: mais agressividade,
praticamente satisfação.
- Tutelas cautelares propriamente ditas: menos agressividade, mera
asseguração.

Essas duas cautelares se aproximam pelo poder geral de cautela do


magistrado ao observar as provas (PGC – Poder Geral de Cautela –
discricionariedade do magistrado diante do acervo probatório).

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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Pontes elaborou o sistema do somatório 15 – distribuiu as ações e as


eficácias:

5 ações com 5 eficácias

dec. Const. Cond Mand Exec. LS

Efic. 4
Declaratória

Efic. 8
Constitutiva

Efic. 1
Condenatória

Efic. 2
Mandamental

Efic. Exec.
Lato Senso

Somatório
(sempre dará
15)

A ação só terá o nome quando tiver valor superior a 8.

Ex.: ação revisional de contrato bancário (constitutiva negativa do contrato),


mas acho no meu calculo prévio que paguei demais (acrescento pedido cumulado
sucessivo de natureza condenatória). 1º pedido constitutivo negativo (efeito
declaratório baixo, mas presente – valor 4). Eminentemente desconstitutiva. Caráter
condenatório 1. Mandamental 2 (ex.: tirar nome do serasa).

Sentença de mérito (SM) é um provimento efetivo (PE) mais acertamento da


ação (AA). Toda vez que satisfaço, ainda que em medida cautelar, eu estou dentro
da sentença de mérito.

SM= PE + AA

No entender de Pontes temos todas as satisfações através de tutela –


reintegração de posse é um provimento efetivo.

Ações declaratórias, por exemplo, possuem alto AA e baixo PE (afinal são


meramente enunciativas).

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


23

[AULA 06] 30-08-2016 Responsável pela transcrição: Reinaldo D. Fernandes

As ações não podem ser olhadas com “cores sólidas”. Elas tem nuances,
tons, misturas entre si. Pontes de Miranda adentrou na teoria das técnicas de tutela
através desta análise “microscópica” da ação.
Do Tratado das Ações, Tomo I, de Pontes:

“A preocupação da ciência do direito até há pouco foi de


conceituar as ações e classificá-las como se cada uma delas tivesse
apenas uma eficácia. Uma fosse declarativa, outra constitutiva, outra
condenatória, outra mandamental e outra executiva.
O que nos cumpre, agora, é vermos o que as enche,
mostrarmos o que nelas prepondera, e lhes dar lugar em uma das
cinco classes e o que vem dentro delas em uma espectração de
efeitos.
Não só, por conseguinte, vemo-las por fora, com suas
características exteriores, mas também por dentro. Esta exploração
interior das ações é de riqueza prática extraordinária e não só de
alto alcance teórico e doutrinário: imaginai o histologista antes do
uso do microscópio e o histologista depois do uso do microscópio –
o de hoje vê o que de outrora não se via.”

Mello retoma o assunto da aula passada, falando sobre as técnicas de


tutela.
Carnelutti, no Studi di Diritto Processuale (1925-28), estabeleceu a
organização e a teoria das tutelas, a exemplo do que von Bülow havia feito, anos
antes, para a sistematização do processo civil.
Ele percebia que alguns processos, por sua natureza do direito
material, concebia determinadas tutelas. A exemplo disso, cita-se a ação
possessória, cuja decisão liminar tem grande efetividade auto-executiva.
Ainda observado os sistemas jurídicos à época, Carnelutti percebe, na
situação prática, que os capitães de embarcações, antes de embarcar levando
cargas, deixavam bens em garantia daqueles que eram transportados. A esse
instituto jurídico dava-se o nome arresto.
A ponderação entre ambas as medidas (o mandado de imissão na
posse em decisão liminar na ação possessória e o arresto de bens em garantia de
juízo) permite inferir que existem medidas de agressividade diferentes.
As diferentes medidas de agressividade das tutelas permitem a
classificação entre medidas cautelares e satisfativas, ligadas pelo Poder Geral de
Cautela (a discricionariedade atribuída ao magistrado diante do acervo probatório
que lhe era colocado para agredir mais ou menos em sua decisão).

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


24

O sistema de tutelas de Carnelutti se coaduna bem com a Teoria da


Ação Ternária. Quando Pontes de Miranda concebe as ações mandamentais e
executivas lato sensu (Teoria da Ação Quinária), uma parte das tutelas de Carnelutti
são trazidas para dentro do processo de conhecimento.
[MELLO DESENHA A TABELINHA ALEATÓRIA DA SOMA 15]
Para Pontes, a sentença de mérito é igual a um provimento efetivo
(elemento executivo) mais o acertamento da ação (elemento normativo).
Toda sentença de mérito em ação declaratória gera provimento efetivo
(elemento executivo). Por exemplo, na declaração de paternidade, está presente o
elemento executivo que gera o direito a pleitear alimentos.
Em outro exemplo, a ação declaratória de inexistência de relação
jurídica com um banco que envia cartão de crédito sem pedido do consumidor e,
inadvertidamente, o inscreve em órgãos de restrição ao crédito por inadimplemento
das anuidades, independe de formulação de pedido de obrigação de fazer
(correspondente à baixa do registro no SPC), vez que a carga de efetividade da
baixa já está inclusa na declaratividade.
O Mandado de Segurança em face de pagamento de salário de
servidor a menor, por sua vez, não gera efeitos retroativos em razão de ter carga de
eficácia predominantemente mandamental (interromper o ato coator praticado pela
Administração) e uma pequena carga de eficácia constitutiva (estabelece o direito ao
recebimento do valor integral), mas não carga condenatória.
Neste sentido, Súmulas 269 e 271 do STF:

SÚMULA 269
O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.
SÚMULA 271
Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em
relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial própria.

[DISCUSSÕES REDUNDANTES SOBRE A NATUREZA DAS AÇÕES


DE ALIMENTOS E RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE]
Carnelutti dizia que a tutela de urgência podia ser satisfativa ou
cautelar, ligadas pelo Poder Geral de Cautela (nível da prova apresentada ao juiz),
em uma relação jurídica à parte, um processo autônomo diferente do processo de
conhecimento, sem confundir-se com o processo de conhecimento.
Pontes não fez crítica destruidora ao Carnelutti, mas propôs alterações
ao sistema. Ele desconstruiu a ideia de que o processo cautelar deve
necessariamente circundar o processo de conhecimento, estabelecendo que, a
despeito da existência do processo cautelar (que efetivamente antecede ou circunda
o processo de conhecimento), existe a tutela satisfativa, que é inerente ao processo
de conhecimento (medidas antecipativas).
Com a morte de Alfredo Buzaid, iniciou-se a reforma do CPC/73,
incluindo as antecipações de tutela preconizadas por Pontes, incluindo no Livro do
Processo de Conhecimento as tutelas autoexecutivas. Foi necessária a crise do
modelo do Judiciário para que as alterações fossem aceitas pela corrente doutrinária
de Buzaid.
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
25

A aceitação da teoria de Pontes, entretanto, incluiu ressalvas não


previstas por Pontes:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou


parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,
existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da
alegação e: (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou
II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto
propósito protelatório do réu.

A terminologia utilizada na redação do artigo gerou incerteza doutrinária e


jurisprudencial, vez que a prova inequívoca e a mera verossimilhança da alegação
são diferentes quanto ao grau de convencimento do juízo.
A prova inequívoca é inerente à tutela satisfativa (juízo de certeza), em
razão da maior “agressividade” das medidas satisfativas. A verossimilhança é
inerente à tutela cautelar (juízo de plausibilidade do direito).
A reforma de 1994 diz que “uma coisa é uma coisa, e a outra coisa é a
mesma coisa, apesar de ser outra coisa”. Assim, ela aceita a existência de uma
tutela satisfativa e uma tutela cautelar, mas não aceita a separação teórica entre
ambas.
Até 2001, os problemas gerados por esta discussão doutrinária gerava
efeitos na jurisprudência do STJ. A Primeira Turma do STJ acreditava que a baixa
de registro em órgãos de proteção ao crédito deveria ser objeto de tutela cautelar,
ao passo que a Segunda perfilhava entendimento de que a matéria seria objeto de
tutela antecipada. A Terceira Turma entendia ser necessária uma tutela cautelar
antecipatória.
Esta crise jurisprudencial e de segurança jurídica culminou na “reforma da
refoma” de 2002 (Lei n. 10.444/2002):

Art. 273, § 7º: Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer


providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os
respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do
processo ajuizado. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

O artigo transcrito supra resultou na errônea interpretação doutrinária por


Cândido Rangel Dinamarco (adepto da dita Escola Paulista) do duplo sentido
vetorial.

[AULA 07] 05-09-2016 Responsável pela transcrição: Juliana A. Scheffer

Professor vai aproveitar o texto “A reforma da reforma”, de Cândido Rangel


Dinamarco.
Na aula passada, ele explicou a diferença entre a escola italiana (que
influenciou nossas codificações) e a escola alemã (Pontes de Miranda). Esta escola

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


26

vencedora começou a se perder a partir do momento em que Pontes de Miranda


começou a observar defeitos de projeto, de epistemologia da teoria italiana.
Ele fez críticas, para estabelecer, no que toca as tutelas, um pouco mais de
coerência.
Pontes percebeu que determinadas técnicas de tutela se encaixavam melhor
dentro da sentença de mérito, do que fora delas. A tutela tipicamente cautelar é
aquela que congela o tempo processual, e não afeta. A tutela antecipativa inverte o
tempo processual, que passa a correr contra quem não tem o direito.
Chegou-se então, com a morte de Buzaid, a necessidade de reformar o
código de processo. As críticas do Pontes eram voltadas para a celeridade, para
justiça tempestiva, do que aquele papai e mamãe clássico, da classificação ternária,
típica dos anos sessenta.
As revoluções de pensamento são importantes. E o Pontes propôs uma
revolução: vamos autoexecutar! Em 2004 isso seria positivado ao nível de principio
constitucional (justiça tempestiva, duração razoável do processo).
Em 1994 houve uma reforma do CPC de 73. A tutela antecipatória saiu do
livro 3 (processo cautelar) e veio par ao processo de conhecimento. Passei a ter
tutela de urgência no livro 3 (técnica do Buzaid: tudo tem que ser por processo
autônomo), e no livro 1 agora estavam as tutelas antecipatórias(as ações executivas
e mandamentais). Problema: quem estava na reforma em 94? Como eles
positivaram isso?
Art. 273, CPC de 1973.

“CPC de 73, Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar,


total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde
que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da
alegação e:” (19mine34s)

Se há prova inequívoca, é juízo de certeza! Então como misturar isso com


verossimilhança (caso em que eu acho que é)? Se eu tenho certeza, não preciso de
fumus boni iuris nem periculum em mora!
Eles estavam confundindo as técnicas de tutela em homenagem ao Buzaid,
em homenagem a suas raízes italianas (preponderantemente foi o pessoal da USP
que fez esta reforma de 1994).
Eles criaram, inclusive, um tal de “duplo sentido vetorial” (um absurdo,
segundo o Mello). De acordo com este “duplo sentido”, poderias utilizar antecipação
de tutela no processo cautelar, ou tutelas antecipatórias no processo de
conhecimento. Eles tentaram aproximar o inaproximável. São coisas diferentes!
Eles aceitaram a crítica do Pontes de Miranda, mas não acusaram o golpe.
Isso gerou muito problema. Porque não se faz ciência em direito utilizando o
jurisdicionado como camundongo do teu experimento. (22min40s)
As pessoas começaram a perder. Tu querias tirar teu nome do SERASA e
entravas com medida cautelar. Mas o juiz era de outra teoria, então indeferia
dizendo: “emende a inicial em cinco dias sob pena de indeferimento, pedindo a
tutela correta.”
(24min) O próprio Mello foi vítima disso, em Salvador, Bahia. Ele foi até
Salvador para conseguir uma tutela de urgência. Ele levou tudo pré-impresso, pagou
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
27

as custas, e colocou a peça na mão do juiz. Este pacientemente respondeu: “tutela


antecipatória é medida urgente, doutor; tutela urgente é tutela cautelar.” O Mello
desceu na sala da OAB, mudou o nome da fucking ação, e a transformou em
medida cautelar. O juiz: “agora sim, doutor.”
Deste modo, havia uma briga entre aqueles que adotavam a teoria A ou a
teoria B. E quem saia perdendo era o jurisdicionado. Mello escreveu artigo que
demonstrava que determinada turma do STJ só aceitava tutela antecipatória, e outra
só aceitava medida cautelar. Isso estava uma zona, e isso causa insegurança
jurídica. Fala-se em “jurisprudência lotérica.”(29min20s)
Essa insegurança jurídica foi avassaladora. Por que temos um código novo?
Para tentar acabar com jurisprudência lotérica, com a insegurança jurídica no direito
processual.
Eles confundiram os termos e geraram insegurança jurídica em 1994.
Já em 2002, eles resolveram dar um basta nisso. Positivou-se o parágrafo 7º
do art. 272 do CPC de 1973.

o
CPC de 1973, Art. 273, § 7 Se o autor, a título de antecipação de tutela,
requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes
os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental
do processo ajuizado.

Essa é uma norma contemplando o erro.


Quando o professor leu isso pela primeira vez, pensou em um sentido
vetorial apenas: onde eu posso mais, eu posso menos. Se eu posso antecipar os
efeitos da tutela, por que eu não posso assegurar o bem da vida?
Em momento nenhum ele imaginou que ele poderia pedir uma antecipação
de tutela numa medida cautelar (que é preparatória e sem profundidade cognitiva).
(36min)
Em momento nenhum o Mello imaginou que eu poderia pedir o implante de
um marca-passo numa medida cautelar, por exemplo.
O pessoal da USP entendeu que tinha corrigido o erro (§7º, art. 273,
CPC/73).
O livro A Reforma da Reforma, foi escrito pelo Candido Rangel Dinamarco
(2002). E ele escreveu especificamente sobre esta correção no Código de Processo
Civil. O Candido fez um texto tentando JUSTICAR A REFORMA DA REFORMA, o
que Mello entende que é um absurdo! Candido fala que pode usar medida cautelar
no lugar da de urgência, e vice-e-versa. Mello fica muito p* falando do texto. (46 min)
Vamos imaginar agora a seguinte imagem:

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


28

Figura 2 Espaço Cautelar vs Espaço Antecipatório

No universo do espaço civil, no espaço dos romulanos (Star Trek), tenho a


federação cautelar, com as estrelas: arresto, sequestro e indisponibilidade de bens.
Neste lado do universo, não se antecipa!
Já no outro lado, tenho várias estrelas: tutela satisfativa urgente: marca-
passo, remédio para hepatite, prótese.
No mostrador da nave no espaço 1 tem ações cond. Como principais.
No outro espaço temos ações: condenatórias + executiva lato sensu +
mandamentais.
Mas faltam ações aí: declarativas e constitutivas. A ação condenatória tens
que executar, a executiva lato sensu e a mandamental são auto executivas. Já a
declarativa e a constitutiva NUNCA EXECUTAM. A declaração tu mandas averbar,
não tem um momento em que requeres o cumprimento da sentença. A sentença
vale como escritura, como certidão de nascimento. Não tem execução!
Na nebulosa, encontramos a ação declaratória e a constitutiva.
Toda medida cautelar, num par de eixos x e y, sempre muito referível
(dependente de uma ação principal) e pouco satisfativa. À medida que a nave vai
navegando para a esquerda, em direção ao universo antecipatório, a referibilidade
diminui e a antecipação aumenta. Chegando à nebulosa, o “tutelômetro” aponta que
a ação é tão referível quanto satisfativa.
A “putaria” do Candido, no texto A Reforma da Reforma, é que ele utilizou
como regra uma situação específica, que só vale em um ponto muito restrito do
universo (na nebulosa), para afirma que está é uma regra geral. (55min)
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
29

Ex. Ação rescisória. O que é uma ação rescisória? É uma ação constitutiva
negativa. Ela é autoexecutiva? Não. Ela é condenatória? Não. Ela desconstitui coisa
julgada material sobre uma sentença julgada de mérito. Estas ajuizando a ação
rescisória e o cara está correndo a execução contra você. Qual a tutela de urgência
que eu devo pedir?
A ação rescisória está na “nebulosa.” No meio, é tudo ‘fifty, fifty.” A
suspensão da execução será antecipação do efeito da tutela rescisória ou é a
cautelar que vai garantir o fim útil da tutela rescisória? Resposta: “TANTO FAZ,
PORRA!” Por que eu estou onde no universo? Na nebulosa.
Se a ação for declaratória ou constitutiva, TANTO FAZ a técnica de tutela
que você for usar.
Ex. Quero “ação ordinária de reconhecimento de paternidade”, como vocês
aprendem na “espelunca” do EMAJ. Essa ação é declaratória. Qual a tutela que eu
vou pedir? “TANTO FAZ PORRA”.
Porque esta ação está na NEBULOSA!
Se a tua medida é antecipatória, qual é a tua ação?
Se eu peço adjudicação compulsória. Leandra pagou apartamento. Quando
termina de pagar, ela vai até a construtora para que eles deem baixa da hipoteca,
que está averbada na matrícula do imóvel, e escritura para mim para que eu averbe
no meu nome. Mas a construtora está quebrada. Qual a ação que a Leandra vai
mover em face da construtora? A obrigação de fazer se realiza através da ação
executiva lato sensu Juiz impõe astreintes. Esta ação é terrestre, não é romulando.
A astreinte é antecipatória. Estou antecipando os efeitos da tutela. Eu estou de
restringindo antecipadamente.
A construtora não cumpre. O que o juiz manda fazer? Converte a tua ação
em mandamental. E na sentença de mérito manda baixar a hipoteca e averbar no
nome da Leandra.
Não tem sentido eu pedir cautelar numa ação executiva lato sensu. Todas as
tutelas que orbitam neste tipo de ação serão antecipatórias.
Ex. pai do Mello foi atropelado por ônibus das Reunidas. Ele é arrimo de
família. Vou pedir dano moral: só consigo pedir tutela cautelar. Mas vou pedir
alimentos também: para alimentos cabe antecipatória.
Quais são os pedidos que a família vai fazer? 1. Alimentos; 2. Dano Moral; 3.
Dano material (bicicleta, dinheiro do enterro, etc). Tenho três pedidos. Quais me
trazem tutela antecipatória, quais cautelar?
1. Alimentos -> Antecipatória.
2. Dano moral -> Cautelar.
3. Dano material -> Antecipatória (quero deixar pago o enterro, por
exemplo).
Retrocedendo. Em 2002 veio a “Reforma da reforma’, do Candido. Ele só
consegue demonstrar suas afirmações nas ações declaratórias e constitutivas: em
que tanto faz o tipo de tutela que eu peço, porque elas nunca executam!
Ex2. O sócio desconfia que seu que o outro sócio, que é administrador, está
desviando dinheiro da empresa. O que fazer? Quais são os pedidos?

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


30

Ele quer dinheiro de volta e quer destituir o sócio da administração. Dois


pedidos, dois capítulos: condenatório e constitutivo.
Ex3. Teu vizinho faz barulho de rave depois das 22 horas. O que queres?
Que o barulho pare (obrigação de não fazer). Vou pedir astreintes. A ação recai
sobre o devedor (o vizinho): executiva lato sensu.
Ex4: a mãe do fulano está na UTI. O hospital só quer deixar ela na UTI por
vinte dias, porque é o que o plano de saúde cobre. Queres que ela continue
entubada lá. Qual a ação? A obrigação é de fazer. Ação executiva lato sensu.

[AULA 08] 12/09/2016 Responsável pela anotações: Hiury H. Santos

1.5 Formação do CPC de 2015

Com os textos passados até agora, o professor tentou nos familiarizar com a
escolástica: ver as linhas de pensamento entre os doutrinadores.
Professor disse para lermos o texto “A Reforma da Reforma”, do Candido,
para entender as contradições (texto 4).
Neste primeiro mês de aula temos que ter feito:
 A desconstrução, e entender que o processo é uma relação jurídica
autônoma;
 Professor fez com que tirássemos o procedimento da cabeça;
 Passou uma premissa histórica – de onde vieram as duas correntes
que tutelam as tutelas provisórias – Liebman e Buzaid (corrente
italiana) vs. Ovídio Batista, orientado por Pontes de Miranda (corrente
alemã).
 A antecipação de tutela é execução. Para Lamy, a cautelar também é
uma forma de execução. Podemos até entender isso, mas temos que
nos defender.
 Professor mostrou contradições geradas pelas premissas históricas
adotadas no Brasil. Falou da reforma de 1994 que trouxe uma loteria
jurisprudencial, e da reforma da reforma de 2002, que acabou
piorando o CPC de 73.
Na exposição de motivos do CPC de 1973, o professor Buzaid explica sobre
o Código que ele concebeu. No texto, ele se manifesta de modo contrário à reformas
nos códigos: pois estas criam um mosaico com as mais diferentes correntes,
causando contradição. [Buzaid foi Ministro da Justiça do Governo Médici, em plena
Ditadura. Professor disse que esta é uma mancha no currículo do Buzaid.]
Citação de entrada da exposição de motivos, do Chiovenda: “Convien
decidersi a una riforma fondamentale o rinunciare alla speranza di un serio
progresso” . O título que o Buzaid escolhe é “Revisão ou Código Novo?”
Segundo ele, Buzaid, a pior coisa que podemos fazer com o código é
reformar.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


31

“Exposição de Motivos do Código de Processo Civil de 1973. As palavras do


insigne mestre italiano, que servem de epígrafe a esta Exposição de
Motivos, constituem grave advertência ao legislador que aspira a reformar o
Código de Processo Civil. Foi sob a inspiração e também sob o temor desse
conselho que empreendemos a tarefa de redigir o projeto, a fim de pôr o
sistema processual civil brasileiro em consonância com o progresso
científico dos tempos atuais.

Ao iniciarmos os estudos depararam-se-nos duas sugestões: rever o Código


vigente ou elaborar Código novo. A primeira tinha a vantagem de não
interromper a continuidade legislativa. O plano de trabalho, bem que
compreendendo a quase-totalidade dos preceitos legais, cingir-se-ia a
manter tudo quanto estava conforme com os enunciados da ciência,
emendando o que fosse necessário, preenchendo lacunas e suprimindo o
supérfluo, que retarda o andamento dos feitos.

Mas a pouco e pouco nos convencemos de que era mais difícil corrigir o
Código velho que escrever um novo. A emenda ao Código atual requeria
um concerto de opiniões, precisamente nos pontos em que a fidelidade aos
princípios não tolera transigências. E quando a dissensão é insuperável, a
tendência é de resolvê-la mediante concessões, que não raro sacrificam a
verdade científica a meras razões de oportunidade. O grande mal das
reformas parciais é o de transformar o Código em mosaico, com coloridos
3
diversos que traduzem as mais variadas direções.”

Próxima aula: ler a exposição de motivos do CPC de 1973.


Buzaid dá um “tapa na cara” dos próprios alunos dele, que em 1994 e 2002
decidiram reformar o código criado pelo seu professor.
Ao reformar, encontraremos problemas como a reforma de 1994 do CPC.
Eles misturaram conceitos. Trouxeram o conceito do Pontes, mas sem dizer que ele
tinha vencido, tentaram disfarçar essa adesão.
As reformas transformam o código em um mosaico.

[História do cavalo e do camelo (27min34s)]


O CPC novo buscou realçar o caráter democrático. Porque o CPC de 39 e
de 1973 foram concebidos em períodos ditatoriais. Assim, foram feitas audiências
públicas em vinte e sete locais da federação. A audiência pública de Santa Catarina
foi feita em Florianópolis, e o professor Eduardo Mello foi convidado a falar, em
2009.
Tudo era gravado, e todas as sugestões foram anotadas. Antes do Mello,
várias pessoas com amplo conhecimento de processo civil falaram (juízes,
advogados, etc.). O professor falou pela UFSC, como último.
Ele disse que a audiência estava um “mercado persa”.
Quando o Mello chegou para falar, disse:

3
Encontrei a exposição de motivos no seguinte link:
http://www.feradvogados.com.br/leis/codigo_de_processo_civil.pdf

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


32

“Senador, eu respeito muito os que me antecederam, e não tenho nada a


acrescentar. Até porque se eu acrescentar, acabarei atrapalhando Vossa
Excelência. Mas tenho uma pergunta para o senhor, que vai nos aliviar ou nos
deixar meio tensos: Vossa Excelência sabe a diferença entre um cavalo e um
camelo? O senador entrou na brincadeira, e descreveu um camelo. Mello disse:
“Tudo errado. Camelo é um cavalo desenhado por uma comissão. Junta gente
diferente para desenhar um cavalo, e sai um cavalo.”
[Fim da história (36min)]

Trabalho feito a muitas mãos dá nisso: há grande risco de sair algo sem
coesão. Os trabalhos em equipe na faculdade e no ensino médio sempre saem
assim.
O código de 1973 está sendo substituído por outro porque ele está perdendo
a sua coerência sistêmica. Transformaram o CPC num mutante, e ninguém mais se
entende com ele. (38min30s)
Como exemplo, há o art. 273, §6º, CPC de 1973, também feito na reforma
da reforma (na aula passada falamos do §7º, e do “duplo sentido vetorial” que não
deveria existir).

o
CPC de 73, art. 273, § 6 A tutela antecipada também poderá ser concedida
quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se
incontroverso.

O que é a incontrovérsia do pedido? É a tutela voltada para a incontrovérsia


sem periculum in mora. Então, o que tens aí? Uma tutela de evidência. Ela já estava
positivada, mas até o CPC de 2015, ninguém tinha ouvido falar dela. Por quê?
Porque ela nunca foi eficaz. (41min14s)
Este parágrafo nunca foi eficaz, pois não mexeram no livro de cumprimento
de sentença e não incluíram outro título executivo que não fosse o judicial e o
extrajudicial. O que é esta tutela de evidência? Ela é execução. Só que se ela não
foi levada à condição de título executivo, não consigo executar. Eu ganho a tutela,
mas consigo executar? Não.
Esse é o problema de carro velho. Se não mexes em tudo harmonicamente,
o carro não funciona bem.
Faltou um dispositivo legal na época.
Voltando sobre a formação do NCPC.
Existiam duas formas de fazer um código novo. Um CPC voltado para o
código velho, ou um código novo digno desse nome.
Ex. Em que momento incide a multa prevista no 475-J do CPC de 1973?4
Em que momento o executado se torna inadimplente e deve sofre pena de 10%?
4
“CPC de 1973. Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada
em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de
multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614,
inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. (Incluído pela Lei nº 11.232, de
2005)”
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
33

Quinze dias a partir de que? De que os autos voltaram do STF, STJ ou TJ. Isto está
certo? Não. Está errado. A intenção do legislador era que fossem quinze dias a partir
do trânsito em julgado. A jurisprudência interpretou de modo diverso.
A execução não é espaço para contraditório e ampla defesa de modo
alargado. Execução é forçada. Em 1988 o José Carlos Barbosa Moreira avisou de
um problema do CRFB/1988: o conservadorismo dos juristas. Nós não gostamos de
leis novas, gostamos de leis que nós dominamos.
O que fazemos quando vem uma lei nova? Você interpreta a lei nova o mais
próximo possível da lei velha.
Por esses e outros motivos, a partir de 2002, o CPC de 1973 perdeu sua
congruência e as pessoas não estavam se entendendo: por razões escolásticas (sou
da escola A, você da B), por interpretação conservadora, etc.
Assim, as premissas do novo código são: (55min38s)
1) Não entrar em dividas escolásticas;
2) Simplificar a redação para evitar intepretação conservadora;
3) Ser o mais claro e objetivo possível.

O Ministro Luiz Fux fez uma interpretação mais conservadora do novo


código de processo civil. Nosso antigo CPC tinha cinco livros. Fux entendeu,
conservadoramente, que o CPC dele deveria ter cinco livros também, em razão da
familiaridade.
O código de 73 não era didático. Disposições que se referiam aos diferentes
processos não estavam na parte geral, mas espalhadas na parte especial do código.
Didier, buscando tornar o código de processo mais didático, propôs que o
CPC de 2015 fosse dividido em parte geral e especial. Na parte geral, que se aplica
e se refere a todo o processo, dividida em seis livros, temos:

1 Princípios;
2 O “sol do sistema” – Ação e Jurisdição (ex. competência, ação declaratória,
constitutiva, etc.);
3 Personagens – Sujeitos do processo (ex. litisconsórcio, interv. de terceiros, etc.);
4 Procedimento – Atos processuais (ex. NJ processual, carta precatória);
5 Tutela Antecipada – (que na versão final é chamada de Tutela Provisória) (ex.
antecipação de tutela, tutela de urgência, etc.);
6 Ordem lógica do processo – Formação, suspensão e extinção do processo (ex.
prejudicialidade externa).

Professor finalizou a aula com a compartimentalização do Novo Código de


Processo Civil. Amanhã disse que ia tratar de pontos fundamentais sobre a estrutura
do CPC.
Novo CPC tem duas partes. Parte geral tem seis livros, em uma ordem
lógica.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


34

PARTE GERAL PARTE ESPECIAL


Princípios Ação e Sujeitos Atos Tutela Formação, Processo de Processo Recursos Disposições
Jurisdição do processuais provisória suspensão Conhecimento de Transitórias
Processo e extinção Execução
(e (direito
do
procedimentos intertemporaal)
processo
especiais)

[AULA 09] 19-09-2016 Responsável pela transcrição: João F. G. Ramirez

PARTE GERAL
LIVRO I – Das Normas Processuais Civis (PRINCÍPIOS)
LIVRO II – Da Função Jurisdicional (AÇÃO E JURISDIÇÃO)
LIVRO III – Dos Sujeitos do Processo
LIVRO IV – Dos Atos Processuais
LIVRO V – Da Tutela Provisória
LIVRO VI – Da Formação, Da Suspensão e da Extinção do Processo

PARTE ESPECIAL
LIVRO I – Do Processo de Conhecimento e do Cumprimento de Sentença
LIVRO II – Do Processo de Execução
LIVRO III – Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais (RECURSOS)
LIVRO IV (Livro Complementar) – Disposições Finais e Transitórias

- O NCPC não alterou fundamentalmente a sequência de artigos. Ademais, o


número de artigos diminuiu, mas o número de dispositivos aumentou.
- Muitos artigos estavam dentro do livro de processo do conhecimento e foram
deslocados para a parte geral: harmonia do Código.
- SISTEMA: entender a lei dentro dela própria + olhar o sistema constitucional.
- Didier, no Livro I da Parte Geral, elencou vários princípios processuais: alguns que
estavam esparsos pelo CPC/73, outros advindos da CFRB/88 (inafastabilidade para lesão
ou ameaça, justificação e duração razoável do processo) e, ainda, 2 novos:

a) PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO - art. 4º, segunda parte –


solução integral de mérito. Esse princípio inverteu a ordem da contestação: as preliminares
são suscitadas ao final da peça, pois, de acordo com art. 282, §2º, quando puder decidir o
mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará
nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.

b) PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO – art. 6º – todos os sujeitos do processo devem


cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
Não se refere apenas às partes, mas a todos os sujeitos do processo (juiz, promotor, perito,
etc.).
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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b.1) SUBPRINCÍPIO DA NÃO-SURPRESA – o juiz não pode mais surpreender as


partes. Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida (exceções – tutelas provisórias de urgência e algumas tutelas provisórias de
evidência). Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar,
ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

- Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é


lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e
deveres processuais, antes ou durante o processo.

- DIREITO PROCESSUAL DE 4ª GERAÇÃO: extrajudicialização – 3 dimensões:


cooperação, mediação e arbitragem. Não precisar buscar o judiciário para resolver qualquer
problema.

[AULA 10] 26/09/2016 Responsável pela transcrição Eliza M. Silva

PARTE GERAL
LIVRO I – Das Normas Processuais Civis (PRINCÍPIOS)
LIVRO II – Da Função Jurisdicional (AÇÃO E JURISDIÇÃO)
LIVRO III – Dos Sujeitos do Processo
LIVRO IV – Dos Atos Processuais
LIVRO V – Da Tutela Provisória
LIVRO VI – Da Formação, Da Suspensão e da Extinção do Processo

PARTE ESPECIAL
LIVRO I – Do Processo de Conhecimento e do Cumprimento de Sentença
LIVRO II – Do Processo de Execução
LIVRO III – Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais (RECURSOS)
LIVRO IV (Livro Complementar) – Disposições Finais e Transitórias

Aula passada (“breve” recapitulação)

Nas aulas anteriores foi explicado sobre a evolução das tutelas então
chamadas de urgência até o novo CPC, fazendo uma breve recapitulação sobre a
estrutura do novo CPC (nova forma de compartimentalização do CPC - mais
importante das inovações). Essa estruturação é muito importante (se desmistificada -
porque são poucos artigos, mas que enumeram o necessário).
Na aula passada foram dadas as características essenciais do Novo CPC:

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


36

Livro I (Princípios)
Se resume na infra constitucionalização de 3 princípios constitucionais: 1)
Duração Razoável do Processo; 2) Justificação da Publicidade; e; 3) Inafastabilidade
do Poder Judiciário em razão da Lesão ou ameaça de direito.
Foi falado também sobre o princípio da cooperação (vai cair na prova):
Princípio Novo, onde a cooperação para o juiz é obrigatória, para as partes sendo
optativa. Por trás da cooperação, está a prevalência da conciliação e a mediação
(que estão muito atrasadas na cultura brasileira).

Livro II (Ação e Jurisdição - a natureza da ação determina a natureza da


jurisdição)

Foi explicado a Teoria da Ação, o art. 19 (que fala das ações declaratória e
constitutiva).
Natureza jurídica é exatamente a hereditariedade, ou seja, de onde vêm?
Qual é a raiz?
Por que nós enxergamos declaratividade em tudo? Porque enxergamos
cargas de eficácia.
Revisão do conceito previsto no art. 17 do Novo CPC: Condições da Ação.
Interesse processual e legitimidade. (a possibilidade jurídica do pedido foi tirada do
Novo Código porque esta condição nada mais é do que um exemplo de interesse de
agir)
Interesse de agir: necessidade/utilidade de mobilizar o judiciário para
resolução de conflitos.
Sentença de Mérito = Provimento Efetivo (todo universo de ameaça) +
Acertamento da Ação (toda a questão da lesão)
Com a equação de Pontes, se corta o mito da non executio sine titulo ( onde
só pode haver um P.E se houver um A.A), admitindo não só tutelas antecipatórias
como as próprias ações mandamentais e executivas lato sensu (que são ações auto
executivas e já existiam no Sistema Brasileiro como procedimentos especiais).
As condições da Ação são um dos grandes problemas que o Processo Civil
enfrentou.

Obs. Extinção da ação será sempre com mérito: Aqui o professor aponta que
embora as condições da ação tivessem um sentido formal, nelas sempre esteve
contida uma grande dose de mérito.

Ex.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


37

1) Ação de erro médico hospitalar onde é extinto o processo sem resolução do


mérito no despacho saneador em relação ao médico pelo fato de que o
hospital tem responsabilidade objetiva e o médico subjetiva (embora a ação
tenha sido extinta sem resolução de mérito, ninguém mais irá discutir a
legitimidade do médico figurar no polo passivo).
2) Ação com objeto impossível: Reintegração de posse na Antártida (pedido sem
sentido - a extinção sem resolução do mérito não implica em possibilidade de
novo ajuizamento da ação)

Detalhe da Teoria da Ação: A carga de eficácia meritória também existe nas


condições da ação.

Livro III (Sujeitos do Processo)

Exemplos de sujeitos do processo: Autor, Réu, Advogado, Juiz, Promotor,


Defensor, Perito, Advogado Público, Diretor de Secretaria, Oficial de Justiça.

Observar que os arts. 181, 184 e 187 tem praticamente a mesma redação,
que trata da responsabilização civil e regressiva quando da conduta dolosa ou
fraude no exercício das funções da Defensoria Pública, da Advocacia Pública e do
Ministério Público.
(isto é muito importante porque trata, por exemplo, da responsabilidade por
“invenção” de prova do MP)
Exemplo do Desembargador que, após julgar 5 ações de Improbidade
Administrativa, saiu da Sessão mais cedo apenas para acompanhar a tocha olímpica
em sua cidade (supostamente ainda em horário de cumprimento de suas obrigações
- implicando inclusive em minoração da qualidade do Julgamento haja vista este ter
se realizado às pressas).

[AULA 11] 27/09/2016 Responsável pela transcrição: Jessyka Z. Costa

LIVRO III SUJEITOS DO PROCESSO

Onde encontramos competência, peritos, litisconsórcio, intervenção de


terceiros: sujeitos do processo.

Diferença entre litisconsórcio (mesma sorte no litígio) e assistência: no CPC


73: os dois ficavam juntos e era correto que ficassem, menos a intervenção de
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
38

terceiros. Quanto ao direito material o litisconsórcio pode ser facultativo ou


necessário; quanto ao polo passivo ou ativo; e quanto ao tempo originário ou ulterior.
A assistência podia ser simples (subsidia, mas não sofre os efeitos da coisa julgada)
ou litisconsorcial (modalidade posterior, cuja regra é: vc recebe o processo na fase
que ele se encontra). Ainda podem ser simples ou unitário.

Artigo 47 (talvez maior erro) Buzaid induzia ao erro ao dizer que o unitário
era modalidade de litisconsórcio necessário, mas há também o facultativo. O que é o
unitário? É quando o juiz tiver que decidir de mesmo modo para todas as partes,
tanto no necessário quanto no facultativo. UNITÁRIO É QUALIDADE, NÃO É
ESPÉCIE.

CPC 73: art 47. Litisconsórcio necessário. (erro, porque se Buzaid permitisse
unitário e facultativo haveria na Ditadura transbordamento de coisa julgada para fluir
coisa subjetiva). Ex: mesmo não sindicalizado, em causas em que o sindicato
ganha, por força do litisconsórcio unitário, todos ganham.

Intervenção de terceiros: não era a intervenção do terceiro, era muito mais


que isso. Não era a simples adesão do terceiro à lide, mas implicava na subsistência
de duas lides, a subordinante e a subordinada.
Ex: denunciação da lide: A demanda contra B, e B regressa contra C. Lide A
contra B e C em litisconsórcio, mas tem lide entre B e C para ver quem vai pagar.
Subordinante (prejudicial): A contra B e C. Subordinada (prejudicada): B e C.

Didier o que fez? Evitar conflitos. No CPC/2015: a assistência sai do capítulo


junto, acabou o chamamento ao processo e virou tudo nomeação a autoria e juntou
amicus curie, desconsideração da pessoa jurídica e assistência. E a intervenção de
terceiros virou a intervenção do terceiro. O que foi um GRANDE erro. a Estácio de
Sá venceu a UFSC. O que é a mais completa simplificação.

O que é: intervenção de terceiros é intervenção do terceiro. Todas as


assistências viraram intervenção de terceiros. O QUE É UM GRANDE ERRO.
Qualquer um que venha a participar do processo, não sendo parte, será terceiro.

Parte Geral
Céu e a terra: princípios. Livro I.
Luz e sol: teoria da ação e jurisdição. Livro II.
Adão e Eva: sujeitos do processo. Livro III.
Relaciona Adão e Eva: atos processuais. Livro IV.
Pra salvar Adão: tutela provisória. Livro V.
Forma, suspende, extingue. Formação, suspensão e extinção do processo.
Livro VI.

Artigo 190 do CPC/2015: Esse artigo é muito importante.


Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
39

Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição,


é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento
para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus
ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o
processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade
das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente
nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou
em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

Artigo 139
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe:
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou
sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem
judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;

Esse artigo é teoria da Ação pura. Esse dispositivo (inciso IV) é o iceberg
que derrubou o Titanic. É extremamente perigoso, mas uma carta na
manga. Ex: penhora. O réu não tem bens a penhorar. O que faz? Tira o
passaporte, tira o cartão de crédito, tira os documentos, tira a CNH. Falhou
o bacenjud, o juiz pode fazer o que ele quiser dentro do processo.

Observação: ler artigo do Dierli do empório do Direito. Mercador de Veneza.


Não queria justiça, mas se vingar da parte. Dierli diz que esse inciso é
inconstitucional.
Disponível em: http://emporiododireito.com.br/tag/medidas-indutivas-inominadas/

Esse artigo é Direito Romano ao extremo (artigo 139).

Antes desse artigo, o juiz não poderia fazer isso, porque extinção de direito
não se faz por exegese.

Somos um país de miseráveis, mas todo o sistema processualista brasileiro


é calçado na capacidade financeira da parte.

Lei de Juizados Especiais. Art. 53, parágrafo 4º.

Art. 53. A execução de título executivo extrajudicial, no valor de até


quarenta salários mínimos, obedecerá ao disposto no Código de Processo
Civil, com as modificações introduzidas por esta Lei.
§ 4º Não encontrado o devedor ou inexistindo bens penhoráveis, o processo
será imediatamente extinto, devolvendo-se os documentos ao autor.

Isso é a declaração de falência do sistema porque no final de tudo, se não


tiver dinheiro, devolvem-se os documentos da parte. Ou seja, você recolhe
custas, gasta tempo e a única satisfação que o judiciário te dá é a imediata

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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devolução dos documentos e extinção do processo. Não gera nenhuma


pacificação social, mas ao contrário, gera inadimplência.

Pula o livro V. Vai pro livro VI.

LIVRO VI: formação, suspensão e extinção do processo.

Art 55.
Formação: hipoteca judiciária.
Suspensão: prejudicialidade externa. art 55 e art 313, inciso V.
Contestação é prejudicialidade interna.

Art. 313. Suspende-se o processo:


V - quando a sentença de mérito:
a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência
ou de inexistência de relação jurídica que constitua o objeto principal de
outro processo pendente;
b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou
a produção de certa prova, requisitada a outro juízo;

A conexão vai muito além de identidade de partes e objetos

Litispendência: tríplice identidade: parte, causa de pedir (objeto) e pedido.


Conexão: dupla identidade, o pedido não é o mesmo, mas as causas são
conexas, mas o destino básico é o mesmo.

Mas muitas vezes não há uma conexão, art 55 , parágrafo II.

Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for
comum o pedido ou a causa de pedir.
o
§ 2 Aplica-se o disposto no caput:
I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao
mesmo ato jurídico;
II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.

Extinção: princípio da não surpresa.

Art. 317. Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá
conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir o vício.

Livro I: princípios. Art 10.

Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em
fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
41

se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de


ofício.

Princípio da cooperação. Subprincípio: não surpresa.

Lembrem-se: NAO SEJAM MEDÍOCRES NEM BURROS. ENTENDAM AS


PALAVRAS CHAVES, LIGUEM UM PONTO AO OUTRO E PELO AMOR DE DEUS:
TENHAM CULTURA.

[AULA 12] 03/10/2016. Responsável pela transcrição: Cássio U. Bizatto.

Aula passada eu terminei com aquela enrolação de dar a estrutura do código


para vocês. Falei de formação, suspensão e extinção do processo. Falei de toda a
parte geral do código.
Qual é o grande problema da parte de recursos do Código? Qual é o defeito
de concepção do livro de recursos?
A parte recursal se divide em basicamente dois grandes elementos, digamos
assim, fundamentais. Você tem uma parte de teoria de precedentes e você tem os
recursos propriamente ditos.
O que ele explicou para vocês [o professor de recursos]? Que o Brasil
estabeleceu dos conceitos claros para a nova teoria recursal. A primeira: os
precedentes, como elemento de vinculação das decisões.
O que está escrito no art. 927 do CPC? [Pede para Guanabara ler]

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução
de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e
especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem
vinculados.

O que acontece? Criou-se uma nova teoria de precedentes dando um passo


importante numa situação de meio termo de vinculação de precedentes. O que me
parece muito importante é que os tribunais não estão obedecendo isso. Os tribunais
continuam com a tendência – por vício, o uso do cachimbo entorta a boca – de
decidir conforme eles querem de acordo com o caso concreto, esquecendo que
muitas vezes o tribunal tem súmula a respeito e eles mitigam a incidência da súmula
como se eles estivessem na vigência do CPC de 1973, onde se aplicava civil law, e
não common law.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


42

Então isso aqui é absolutamente revolucionário, por quê? Porque o art. 927,
o art. 926 e mais, os institutos que residem aqui dentro estabeleceram o quê?
Primeiro, assunção de competência. O que é assunção de competência? Existem
causas que tem demandas sociais apesar de não serem repetitivas. Existem causas
que envolvem uma questão tributária importante, uma questão arquitetônica
importante, uma questão cultural importante, mas que não são objeto de 3 mil
recursos. São objeto de um recurso só. Então o que o tribunal faz? Ele afeta a maior
instância dele possível naquele tribunal e decide aquilo ali em única e última
instância. Em última instância dentro do tribunal - pois sempre caberá recurso para
os tribunais superiores - para vincular os juízes, esses recalcitrantes que continuam
decidindo contra as súmulas.
A mesma coisa acontece quando a causa é de demanda social, mas é
repetitiva. Para isso, além da assunção de competência existe o IRDR. O que
acontece? Cria-se esse incidente no tribunal, julga-se uma, duas, três, quatro
causas escolhidas dentro da abrangência e da pertinência de argumentos que
envolvam os argumentos de cada um dos recursos e também julga para avaliar,
para enquadrar no primeiro grau de jurisdição.
A isso se soma controle concentrado de constitucionalidade, súmula
vinculante, súmula persuasiva e assim por diante. O objetivo disso é estabelecer
uma forma de engessamento, de segurança jurídica, já que os Códigos de Processo
Civil oscilam entre o desenvolvimento da jurisprudência e o fim da loteria
jurisprudencial. O CPC de 73 preconizava a multitude de decisões a serem
uniformizadas apenas quando chegassem nos 11 iluminados do STF. Esse sistema
de multitude, de liberdade gera insegurança jurídica. Cai na primeira vara, você
ganha; cai na segunda, você perde. A mesma causa!
A coisa virou uma bagunça tão longe que agora a tendência do pêndulo foi
de enrijecer, de desbastar o trabalho do magistrado, isto é, tirar do magistrado as
causas repetitivas, as causas já sumuladas, causas de repercussão social, etc. Eles
estimam que só com IRDR ia ser 30% a menos de trabalho para o magistrado. Em
compensação, os magistrados passam a estabelecer melhor a prestação
jurisdicional. Isso é um commom law, está no CPC inglês de 2007 mais ou menos
com essas palavras que o Guilherme leu, de forma que isso é um passo contrário ao
eu estava acontecendo.
Agora voltem no tempo. Onde vai melhorar a qualidade? No art. 489, § 1º.

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:


[...]
o
§ 1 Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de,
em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente


invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento.

[Professor faz considerações a respeito do artigo citado, dispensáveis de


transcrever]

Qual é o problema? Aumento de trabalho em virtude de uma diminuição de


trabalho. Só que qual chega primeiro? Quantas súmulas nosso tribunal fez nesse
ano de vacatio legis para se preparar para o advento do novo código? Nenhuma. É
esse tipo de análise que vocês devem ter quando vocês se debruçam sobre
processo civil. Isso aqui tem 96% de chance de dar errado. E aí, ao dar errado, os
juízes vão começar a deixar de fazer o trabalho como tem de ser feito porque eles
ainda não foram aliviados do trabalho como o código prometeu. Por isso eles
continuam decidindo como eles querem. Simples assim.
Mello x Fernanda
- Fernanda, me diz uma coisa. Nos livros da parte especial, onde ficam os
procedimentos especiais?
- ...
- Vou reformular a pergunta, quantos livros têm na porra da parte especial?
-4
- Quais são eles, na ordem absolutamente lógica, que até meu cachorro
labrador sabe?
- Não lembro
[Apenas perseguição]

Parte especial, livro I, qual é aquele processo que começa tudo? Processo
de conhecimento. Você vai começar a parte especial por que processo, pelos
recursos? Não tem sentido. Então qual é o primeiro processo? De conhecimento. E
qual é o segundo processo? Processo de execução. Aí depois sim, vem a teoria de
precedentes e os recursos. E o livro quarto é o direito intertemporal, é o livro
complementar.
Em qual desses quatro livros estão os procedimentos especiais. Onde pode
estar o cumprimento de sentença depois que ele deixou de ser processo de
execução e virou cumprimento de sentença. Até então ele era execução, não? Ele
era previsto num livro a parte... quando ele deixou de ser execução e virou
cumprimento de sentença ele veio para onde? Para o processo de conhecimento.
[Pergunta os tipos de execução. Basicamente bullying com a Fernanda,
dispensável de transcrever]
Mello x Lucas
- Lucas, rapidamente para mim. Execução por alimentos - no rito especial, 3
meses – eu posso pedir prisão em regime aberto? Qual é o regime?
- Fechado.
- Por quê?

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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- É o mais coercitivo.
- Perfeito, é um bom argumento. Porque é a forma mais coercitiva. O Araken
diz que se você for ameaçar alguém, você tem que ameaçar com tudo que tem, e
não ameaçar parcialmente.
Falei um pouco de livro I, falei um pouco de livro II, falei de recursos. Livro
complementar seria bom – já que vocês não tem aula comigo de juizados especiais
– que vocês dessem uma olhada nas normas que alteraram a lei de juizados
especiais. Três artigos das disposições complementares alteraram disposições da lei
de juizados especiais.
[Agora começa a tratar das tutelas provisórias]
Eu desconstruí o processo civil m* que vocês aprenderam e através de uma
narrativa histórica do desenvolvimento do processo civil eu reconstruí o processo
com a premissa da relação jurídica autônoma. Quando eu expliquei para vocês que
o processo era uma relação jurídica autônoma de direito público autônoma baseada
em regras próprias, às quais não se aplicam o direito material, eu estabeleci uma
exceção, que são aqueles procedimentos que vêm do século XIX e continuam
segregados no nosso código. Que procedimentos são esses? Os procedimentos
especiais. Então, a ação possessória e de depósito podem ser chamadas com esses
nomes, mas essas são exceções à regra do processo de conhecimento e do
processo de execução. O processo que se traduz através de um único tipo de
procedimento, que procedimento é esse? Procedimento comum. Ele corporifica
todos os tipos de cognição vinculados a processo.
Então, por que eu expliquei a teoria da ação? Porque a teoria da ação é
exatamente a teoria que demonstra a autonomia enquanto relação jurídica
autônoma, com suas regras básicas e tudo mais. Ao aprofundar a teoria da ação,
falando sobre ternária, quinária, monista, etc. nós começamos a entender que ação
é jurisdição, mas também é tutela. E aí eu expliquei que da costela da teoria da
ação, das cargas de eficácia da teoria da ação saem as tutelas e que essas tutelas –
de acordo com a escola com a qual vocês se familiarizam – podem ser satisfativas
ou puramente cautelares, cada uma com suas características. Então nós
conseguimos entender pelo menos a base da teoria processual. Quando eu terminei
a base da teoria geral eu expliquei a teoria geral aplicada ao CPC novo. Aí eu
expliquei para vocês como se divide o código novo. Eu expliquei para vocês que
essa era uma grande revolução didática no código e expliquei um a um esses livros
iniciais que demonstram essas teorias.
[Mello faz alusão a alguns temas estudados, cuja menção é dispensável,
depois segue.]

Então o que eu quero que vocês entendam? Eu tratei de tudo, menos uma
coisa. Do que eu não tratei? A razão de ser para nós estarmos aqui, muito de má
vontade, vocês principalmente, para aprender as chamadas tutelas de urgência.
A primeira coisa que me chama atenção nesse livro V,
Senhores, primeiro o nome. Por que eu não gosto do nome tutela provisória?
Se eu pudesse escolher o nome, eu escolheria o nome que foi a tônica...
[Pausa a aula para chamar atenção de um aluno. Depois, Mello explica que
o projeto de código foi alterado quando, ao passar pela Câmara, o ministro Fux
alterou o nome tutela antecipada – que havia sido colocado por Diddier – para tutela
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
45

provisória. Diddier pretendia acabar com as brigas escolásticas que geraram a


jurisprudência lotérica. Então, a tônica do Diddier foi eliminar palavras que
trouxessem problemas. Para exemplificar, pede a Reinaldo que leia a segunda parte
do art. 798 do CPC/73:]

Art. 798. Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código
regula no Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas
provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de
que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra
lesão grave e de difícil reparação.

Então, você tem aí a base de um conceito importante para tutela de


evidência e urgência, que é o poder geral de cautela. O que é esse poder? É a
discricionariedade do magistrado em dar uma cautelar, em avançar para uma
antecipação...
[Mello destaca a palavra provisórias inserta no dispositivo gerou muitos
problemas, ressaltando que para todos os processualistas significa antecipação de
tutela. Lembra o exemplo de Lopes da Costa (processualista mineiro), segundo o
qual provisória é aquela casa em que você mora até construir a casa definitiva – é
antecipação de tutela, ao contrário das medidas temporárias. Nesse sentido, Lopes
da costa dizia que temporários são os andaimes que estão construindo a casa nova,
que serão descartados ao final. Ovídio Baptista questionou a inclusão da expressão
“provisórias” no artigo. Pede para alguém ler o art. 297 do CPC/15, notando que
Diddier retirou a referida palavra da redação:]

Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas


para efetivação da tutela provisória.

Porém, o Fux inseriu a palavra no título, reascendendo a polêmica. Ao fazer


isso tira a uniformização e gera problema na classificação de novo.
Então, sob o ponto de vista processual a tutela provisória pode ser de
urgência ou de evidência. E a de urgência poderá ser cautelar ou antecipatória. A de
evidência apenas antecipatória.
A tutela de evidência já existia no antigo código. O que ela é? Nada mais é
do que a aquela tutela que pela sua demonstração cabal, pela demonstração cabal
do direito em súmula, em IRDR, em assunção de competência, de alguma forma
vincula o magistrado ou quando se tratar de matéria de fato e você tiver uma prova
de tal forma evidente. Qual é a prova evidente? Aquela emanada da parte contra a
qual você quer provar (p. ex., uma escritura da parte contrária declarando o direito).
Então, seja na questão de direito propriamente dito, seja numa questão de fato, eu
tenho um nível de inequivocidade, que se alguém contestar meu direito será abuso
do direito de defesa ou se aluguem contestar a minha prova será uma situação de
incontrovérsia. A tutela de evidência não requer perigo da demora, ao passo que na
tutela de urgência, além dos elementos tratados, por ser de urgência, eu tenho um
segundo elemento, qual seja, o periculum in mora.
Então o que o Diddier fez? A tutela antecipada/provisória se divide em com
periculum in mora e sem periculum in mora. É um critério. Para fugir da discussão se
é interna à sentença de mérito, se é externa à sentença de mérito; se é a teoria do

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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Pontes, se é a teoria do Buzaid; não entra mais nessa discussão. As tutelas –


ambas – se baseiam em direito, mas uma terá além do direito o perigo da demora, e
a outra não. Simples assim. Dentro daquele afã de simplificar as coisas. E aí sim – aí
ele não pode fugir – a de urgência seria antecipatória e a de evidência também seria
antecipatória. Mas quando o Fux tira o “antecipada” e volta a colocar “provisória” ele
ressuscita a briga.
E quando ao procedimento? Como é que era antes? Eu poderia pedir
incidentalmente ao processo... então, a tutela antecipatória ou cautelar poderia ser
pedida dentro do processo de conhecimento. Vocês moviam uma inicial e dentro
dessa inicial vocês pediam as tutelas de vocês. Como é o nome desse tipo de
tutela? Incidental. Ou ela poderia ser preparatória. Então as medidas poderiam ser
preparatórias, cautelares ou antecipatórias, ou incidentais. Vocês pediam uma
cautelar de alimentos, de separação de corpos, de arrolamento de bens, de
aproximação, tudo isso por cautelar... trinta dias depois o que vocês ajuizavam? O
divórcio, etc. Só que vocês nunca faziam isso. O que vocês faziam? A medida
incidental.
Como é que ficou o procedimento [no novo código]? Basicamente ele se
manteve, o que foi um erro. Então, quanto ao procedimento, elas podem ser
antecedentes (e não mais preparatórias) ou incidentes. E as antecedentes e
incidentes podem ser cautelares ou antecipatórias. Basicamente o semestre, se a
gente tivesse estudado pelo Damásio, se encerraria aqui. Mas tem alguns mistérios.
Peguem o código. Como se divide o livro V? Ele se divide em quantos títulos? Três.
Provavelmente... eu nem sei, vou dar um chute. Por quê? Sistema. A gente não
precisa decorar. O primeiro, título I, deve ser disposições gerais. Por quê? Porque
você tem que começar pelas disposições gerais. Qual é o nome da primeira parte do
código? Parte geral. Então, qual é o nome do primeiro título do livro V? Disposições
gerais. E imagino que, como existem duas técnicas de tutela, você deve ter um título
voltado pela tutela de urgência e um título voltado para a tutela de evidência. [...]
Vamos lá, o livro V tem três títulos: disposições gerais, tutela de urgência e
tutela de evidência. A tutela de urgência também tem três capítulos: disposições
gerais, da tutela antecipada requerida em caráter antecedente e da tutela cautelar
requerida em caráter antecedente. Simples assim.
Essas disposições gerais – as disposições gerais do título I – tratam
exatamente daquilo que eu falei agora. Art. 294, o que diz? [Manda Ana e Gil lerem
ao mesmo tempo:]

Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou


evidência.
Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada,
pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental.

O artigo começou regulamentando a nova classificação – urgência ou


evidência. Qual é o critério de diferenciação? Com e sem o quê? Periculum in mora.
No caput do dispositivo está o processo, no parágrafo o procedimento.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


47

[AULA 13] 04/10/2016 Responsável pela transcrição: Gabriela C. Nabozny

Eu cheguei a explicar pra você a o mapa? Quantos títulos, quantos


capítulos.. Provavelmente eu fiz uma crítica à palavra provisória, porque não tinha a
necessidade de colocá-la e reacender uma briga escolástica. Tanto é que eles
subtraíram do poder geral de cautela a palavra provisória - no CPC de 73 o juiz
poderia determinar as medidas provisórias que considerasse adequadas, mas o
Didier tirou isso porque para ele todas as tutelas são uma só: antecipada. Tudo era
antecipação, em maior e menor grau, e se liquida o assunto.

As tutelas provisórias podem ser de urgência ou evidência e o critério é com


ou sem periculum in mora. A tutela de urgência pode ser antecipatória ou cautelar. A
tutela de evidência, que é sem periculum in mora, só pode ser antecipatória.
Medidas podem ser antecedentes ou incidentes. A medida antecedente, por simetria
histórica, equivaleria à medida cautelar do livro III do antigo código. A crítica é que o
código prestigiou problemas escolásticos e procedimentos em desuso, dando uma
ênfase muito especial a esse procedimento - que já estava em desuso.

Três títulos em um livro, V: o primeiro é "disposições gerais", portanto, a


mesma lógica do Código, trata-se daquilo que vai se aplicar à tutela de urgência e
evidência, que são os títulos 2 e 3, sendo que o livro II também tem três capítulos.
Tutela de urgência antecipatória, tutela de urgência cautelar. O segundo capítulo é
um pouco mais complexo e o terceiro tem apenas dois artigos.

Logo no primeiro dispositivo, ele anuncia classificação por critérios e


procedimento. A tutela possessória pode fundamentar a de urgência ou evidência.

"Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou


evidência.
Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada,
pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental."

Ele esqueceu a tutela de evidência nesse parágrafo porque só pode ser


antecipatória e, portanto, só pode ser concedida no processo, então nem há que se
falar em "medida".

Art. 295. A tutela provisória requerida em caráter incidental independe do


pagamento de custas.

Independe do pagamento de custas - antes se movia a medida cautelar e,


em paralelo, o processo principal - havia uma repetição, inclusive dos documentos
que instruíam. A alteração desse artigo 295 é que se emenda o pedido de tutela e
segue no mesmo eixo cognitivo, não em um paralelo.
Ora, se não é necessário recolher custas na emenda da inicial da medida
antecedente, também quando tenho a ação e incidentalmente atravesso uma
petição e faço o requerimento da tutela de urgência, também não preciso de custas.
Nai e mais uma ação autônoma, com duas cognições, e uma ação que sempre terá
o mesmo eixo cognitivo. Então não faz sentido cobrar custas se o eixo e o
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mesmo,não há mais um paralelismo. Não importa se é antecedente ou incidental. E


todo esse universo está por trás do art. 965. Não há necessidade de repetir citação,
petição inicial, valor da causa - pois agora tudo está compilado no mesmo eixo.

É o mesmo eixo cognitivo - não faz sentido recolher custas. Não são mais
duas iniciais,duas sentenças e dois recursos. Mas um só. Buzaid previa isso porque
muitas vezes você teria que desapensar os autos por conta de recurso. Se julgava a
cautelas muito antes, então ela tinha que se desentranhar do principal e subir pro
Tribunal, por isso tinha essa redundância. Essa autonomia no final das contas nunca
colou.
Os 295 e 294 trazem essa racionalização procedimental, por estar no
mesmo eixo cognitivo e dispensar custas. O valor da causa do processo cautelar era
inestimável, então se cobrava sempre 500 reais, era incidental no que já se estava
discutindo, pois já era recolhida a carga tributária no processo principal e se
satisfazia a necessidade de tributar o processo.

Art. 296. A tutela provisória conserva sua eficácia na pendência do


processo, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou modificada.
Parágrafo único. Salvo decisão judicial em contrário, a tutela provisória
conservará a eficácia durante o período de suspensão do processo.

O 296 traz uma circunstância que também é uma repetição dos dois últimos
códigos. Se tivesse uma palavra chave para estabelecer para esse dispositivo, seria
autonomia da pretensão da tutela de urgência em relação à principal (que é o
pedido de mérito, ação única). Por isso ele fala bem claramente que conserva a
eficácia na pendência do processo. Pois não precisa ser no mesmo sentido da
sentença de mérito: pode dar uma tutela de indisponibilidade, mesmo julgando
improcedente a ação. A tutela não é um acessório que sempre seguirá o principal!
Deve-se entender essa possibilidade de autonomia. Conserva na pendência e não
na procedência do processo.
A Segunda parte do dispositivo também merece uma palavra chave, que é
algo que tinha mais importância no tempo que era paralelo mas agora não tem muito
sentido. Agora há a impossibilidade de coisa julgada material em tutela. Não
preclui a matéria que não consta na sentença. Não só é autônoma e
independentemente da sentença como vai guardando sua eficácia, só não pode
sobreviver a um único fenômeno: o trânsito em julgado, mas a revogabilidade é meio
que dogmática no mundo jurídico - em que "o acessório segue o principal". Mas não
há uma contradição, na possibilidade de haver recurso e no risco de dano iminente,
se mantém o aplicado antecipadamente.

No parágrafo único, "salvo decisão judicial em contrário, a tutela provisória


conservará a eficácia..", se achou por bem deixar claro a suspensão. Como em
ações conexas não reunidas a tempo - uma foi julgada e outra está em apelação,
suspende-se a segunda e, se a tutela de urgência está nesta segunda, mantém a
decisão da antecipação. No processo penal, não são previstas as tutelas de
urgência, então se utilizam do processo civil e essa suspensão das medidas
cautelares depois do trânsito em julgado seria benéfica ao réu (arresto, sequestro),
por isso às vezes há relutância dos magistrados.
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Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas


para efetivação da tutela provisória.

No 297, em que o juiz poderá determinar as medidas que considerar


adequadas, a palavra chave é "poder geral de cautela". Que é a discricionariedade
em dupla dimensão em aferir a prova e identificar a intensidade da tutela com seu
nível de conhecimento. Quanto maior, mais satisfativa e antecipatória. Quanto
menor, mais acautelatória pode ser a tutela. Se ele estiver no meio termo, se aplica
o parágrafo primeiro do art. 300. Caução real ou fidejussória. Não está muito
convencido e tem medo de que gere um prejuízo irreversível à parte. Exemplo:
apreender caminhões cheios de querosene que abastecem muitos aviões, também
poderia explodir (Dalçóquio). Poderia ser alegado ao juiz que toda cautelar guarda
simetria com a execução e, portanto, se aplica a ética da execução. A primeira coisa
a fazer é a contracautela, que é o réu que sofreu, buscar dentro do elemento geral
de cautela algo que satisfaça o credor, mas não interfira de forma gravosa.

Quem pede a cautela é o autor da medida, para assegurar que ela seja
cumprida rigorosamente como ele requereu. Contracautela é para substituir por
pena de menor gravosidade.

O poder geral de cautela, essa discricionariedade do magistrado, é sempre


sob prova. Toda decisão baseada em provas é parcial, juiz joga uma carga
psicanalista em cima de cada prova. É impossível haver esse tipo de julgamento
sem parcialidade. Carnelutti usa um problema que, adaptado para modernidade, é
assim: dois carros colidiram, um descendo uma rua e outro vindo pela outra.
Bateram à 90 graus e o primeiro motorista processa o outro, sendo que este pede
reconvenção. Duas testemunhas dão depoimentos diferentes. O julgamento é feito
de acordo com as informações inerentes às testemunhas, mas dispensáveis aos
processo. É o conceito psicanalítico do solipsismo. Sendo assim, seria quase
inevitável que o juiz tivesse que escolher um dos lados com base no que já viveu e
nas impressões que tem. Com esse conceito, ele estabeleceu critérios para isolar o
solipsismo.

A teoria da prova tem três dimensões: disponibilidade, hierarquia e ônus da


prova. A disponibilidade está em dois princípios processuais, que apesar de não
estarem no NCPC, não foram revogados. São os princípios inquisitivo e da livre
disposição e conhecimento motivados, que são inerentes à judicatura no sistema
jurídico brasileiro. No parágrafo primeiro do 489, esclarece que não foram revogados
neste Código, agora o magistrado precisa explicar porque elege um dos lados. A
primeira dimensão, então, é minimizar o solipsismo diante da análise das provas.

A segunda dimensão é a objetivação das provas, a realização delas. A prova


é demonstração cabal de fato pretérito na sua integralidade enquanto tempo, modo
e meio. E isso é muito raro, tanto é que quando se encontra uma prova, ela é
inequívoca numa pirâmide, a prova com esse conceito e, embaixo, tem-se o começo
de prova (demonstração de um ou dois desses elementos,que deve ser

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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complementado com outro começo de prova a fim de se ter uma prova - uma perícia
unilateral, um disco rígido) e, ainda abaixo, estão os indícios (caminho instrutório -
como na delação premiada). Esse sistema é razoavelmente objetivo.

A terceira dimensão é o ônus da prova. No código passado, essa terceira


dimensão era estática - cabia a quem alegava. O CDC, em alguns dispositivos,
permitia alguma dinamicidade. Arts. 333, 334. Agora, no novo código, há a
distribuição dinâmica das provas, que o ônus da prova cabe a quem pode provar.
Porque, muitas vezes se pode chegar no conceito de prova negativa (diabólica), de
ter que demonstrar que algo não existe. O juiz distribui a prova, há dinamicidade.
Esse sistema dinâmico permite distribuições e redistribuições.

Em síntese, a teoria da prova tem três dimensões: a mais abstrata, dita


psicanalítica, é a do livre convencimento, que hoje assume uma objetivação para
que se coloque o solipsismo sob proteção do art. 489, não pode levar em
consideração só uma prova. A segunda dimensão e a teoria do termômetro,
estabelecer o que é e o que não é prova. A terceira se baseia em presunções e
dinamicidade do ônus da prova. Tudo isso obedece ao elemento procedimental do
contraditório. Prova sem contraditório não é prova. É a dimensão procedimental,
sendo que as outras três dimensões são processuais. Todo esse universo é o poder
geral de cautela! Demonstrado nessas quatro dimensões.

[AULA 14] 18/10/2016 Responsável pela transcrição: Juliana A. Scheffer

Professor explicou ausência na aula anterior (pneu furado).


“A segunda prova é ISSO DAQUI (o artigo que ele passou).
Na última aula, ele falou sobre poder geral de cautela, e brevemente sobre
teoria da prova.
Ele explicou que qualquer tutela, seja de urgência seja de evidência, é
baseada no binômio prova vs. direito. Assim, tens que ter um nível de convicção
jurídica a respeito do direito que é tratado e além de tudo este direito tem que estar
respaldado por um nível de prova.
De acordo com o nível de prova vais adotar uma tutela diferente: menos
prova, mais acautelatória; mais prova, mais antecipatória.
Na aula passada, também se falou que não existe decisão baseada em fato
que não seja parcial. Todas as decisões são baseadas em parcialidade. Ainda que
vocês escondam de vocês mesmos, que vocês digam que são politicamente
corretos, que o Mello é uma mala: vocês são parciais. O segredo é reconhecer esta
parcialidade e minimizar os efeitos sobre vocês. Coisa esta que o Mello nunca viu
um magistrado fazer.
Mello disse que explicou, basicamente, as três dimensões do sistema
probatório.
A primeira dimensão trata-se da divisão do ônus probatório no CPC de 2015.
A divisão do ônus probatório no novo CPC é dinâmica. O que isso quer dizer? Que
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ela se contrapõe ao sistema estático do CPC anterior (o ônus da prova cabe a que
alega).
Depois do Código de Defesa do Consumidor houve algumas inversões,
baseadas em sistemas de presunções, típicas do direito processual civil. O sistema
de presunções típicas do sistema processual civil é baseado na busca das verdades
formais, em detrimento das verdades reais. O código é cheio de presunções formais,
como exemplo: a revelia.
Este sistema de presunções encontra algumas limitações no conceito de
prova negativa ou diabólica. O que é a prova negativa? Obrigar a outra parte a
provar a inexistência de algo. Só podes provar existência, a inexistência não
consegues provar.
O ônus da prova cabe a quem pode provar.
Esta era a primeira dimensão: sistema de ônus, sistema estático/dinâmico e
sistema de presunções.
Fechando isso, Mello recorda que já explicou a dosimetria da prova.
Normalmente ele desenha um termômetro para explicar isso. (15min40s)

Figura 3 - Termômetro das Provas

Prova é demonstração cabal de um fato pretérito nas suas três dimensões:


tempo, meio e modo.
Prova é muito rara. Professor diz que prova inequívoca é redundância (faz
crítica ao art. 273 do CPC de 273). Porque se tens prova com demonstração cabal
de tempo, meio e modo, é claro que ela é inequívoca. Mas como ninguém ensina
teoria da prova, vocês ficam achando que cada documento que o “vietcongue” traz
para vocês é uma prova, e não é.
Normalmente o que é prova? Documento emanado da parte contra a qual
você quer fazer a prova (um e-mail, carta, etc.) atestando integralmente o objeto da
lide. Isto é muito raro! O que normalmente se tem é a situação intermediária, o
começo de prova por escrito.

CPC, Art. 444. Nos casos em que a lei exigir prova escrita da obrigação, é
admissível a prova testemunhal quando houver começo de prova por
escrito, emanado da parte contra a qual se pretende produzir a prova.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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Então, tem-se meia prova mais meia prova. Completas o documento


emanado pela parte contrária (começo de prova) e associa com as testemunhas.
Abaixo disso, temos o indício de prova, que é o caminho instrutório.
Exemplo da delação premiada. Na delação, o próprio acusado diz que fez tal, tal e
tal coisa, com x, y e z. Ela é apenas indício de prova.
“Se tiver que fazer delação premiada, meus queridos, sejam os primeiros.”

A terceira dimensão é a liturgia probatória: qual a ordem de inquirição das


testemunhas, por que eu pergunto ao juiz e ele questiona a testemunha, por que as
testemunhas não podem se comunicar entre si, etc. Existe toda uma teoria por trás
dessa liturgia.
Dependendo de como o juiz toma o compromisso da testemunha, o
depoimento será alterado; há a influência também das falsas memórias.
Finalizando, são estas as três dimensões a respeito de provas:
1ª) ônus vs. presunções vs. teoria estática vs. teoria dinâmica;
2º) A gradação da prova;
3º) A liturgia da prova. (25min44s)

Tudo isso o Mello falou porque provavelmente estava falando do art. 297.
Quais as três letras a respeito deste artigo? PGC - Poder Geral de Cautela.
(27min29s)

Art. 297. O juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas


para efetivação da tutela provisória.

Mello disse que já explicou a questão histórica do assunto.


“Vai cair numa prova o porquê o ‘provisórias’ saiu do corpo do artigo 297.
Mas Fux colocou isso no título do livro, então, “durma-se com um barulho desse.”
LEIAM O TEXTO DO HUMBETO THEODORO JUNIOR, PORQUE CAI NA
PROVA.
Professor relembrou a estrutura do Livro V, já repassada em aulas
anteriores.
Há uma revolução no parágrafo único do art. 297.

CPC, Art. 297, Parágrafo único. A efetivação da tutela provisória observará


as normas referentes ao cumprimento provisório da sentença, no que
couber.

Vamos ler o art. 273, §6º do CPC de 1973:

o
CPC de 1973, Art. 273, § 6 A tutela antecipada também poderá ser
concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles,
mostrar-se incontroverso. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

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No art. 273, §6º, há a tutela de evidência. No CPC de 73, apesar de dizer


que pode executar em caso de tutela antecipada, não há previsão sobre como
realizar esta execução. Tutela antecipatória não é nem título judicial nem
extrajudicial: como não estava prevista entre os tipos de título, não tinha como
executar.
Ao lado do poder geral de cautela o legislador colocou esse terceiro gênero
(tercio genus) para a execução.
A tutela antecipatória pode sim ser objeto de execução provisória.
O Humberto Teodoro Junior diz que esse Livro V da parte geral teria
extinguido a autonomia do processo cautelar. Mas se posso executar, se posso
deferir, quer dizer que ela nem é tão provisória sim. O processo cautelar deixou de
existir como procedimento autônomo. Contudo, o fato de ser executável mostra que
a medida cautelar nem é tão provisória como parece.
No sistema antigo a cognição era paralela, agora, ocorre tudo dentro do
mesmo eixo cognitivo. Sob este ponto de vista, e apenas sob este ponto de vista,
perdeu-se autonomia do procedimento cautelar.
Quando você diz que a tutela pode ser definitiva, que ela se estabiliza, tens
uma situação de autonomia processual, e não procedimental.
Voltamos assim à primeira aula: processo e procedimento não se
confundem.
Essa visão procedimental tem que sair do corpo de vocês.

Vamos a leitura do art. 298 do CPC:

CPC, Art. 298. Na decisão que conceder, negar, modificar ou revogar a


tutela provisória, o juiz motivará seu convencimento de modo claro e
preciso. [FUNDAMENTAÇÃO]

Agora, observem o art. 489, §1º (um dos artigos cardeais do CPC de 2015):

o
CPC/2015, Art. 489, § 1 Não se considera fundamentada qualquer decisão
judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem
explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
[Tens que explicar como o direito se encaixa no caso concreto]
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo
concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
[Mello cita o princípio da precaução, que muitas vezes é utilizado para
qualquer coisa]
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de,
em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
[princípio da intermediação da prova pelo magistrado. Por que existe
isso? Porque o magistrado tem que entender a relação da pergunta
com a solução do litígio.]
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar
seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
[cotejo analítico: não basta citar, tens que explicar o que aquele
precedente tem a ver com o caso concreto]
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VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente


invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento.

Art. 299: trata de competência.

CPC, Art. 299. A tutela provisória será requerida ao juízo da causa e,


quando antecedente, ao juízo competente para conhecer do pedido
principal.

Ao juízo de que causa? Da causa de pedir. Como é uma medida


antecedente, eu ainda não ajuizei aquilo que se chamava de ação principal, e que
agora é o pedido principal.
No CPC velho, o art. 800 fala em ação principal: “as medidas cautelares
serão requeridas ao juiz da causa; e, quando preparatórias, ao juiz competente para
conhecer da ação principal.” Agora do é pedido principal.

CPC, Art. 299, Parágrafo único. Ressalvada disposição especial, na ação


de competência originária de tribunal e nos recursos a tutela provisória será
requerida ao órgão jurisdicional competente para apreciar o mérito.

Este parágrafo existe por quê? Existem recursos e ações que não começam
na primeira instância. Uma ação rescisória, normalmente é interposta no Tribunal.
Mas se a decisão que transitou em julgado é do tribunal superior, esta ação será
ajuizada no tribunal superior.
Há determinado momento do processo em que os recursos por lei não tem
efeito suspensivo, como o recurso especial e o extraordinário.
Se eu tenho ação de competência originária, e tenho recurso sem efeito
suspensivo, a quem dirijo meu pedido de tutela de urgência? O pedido de tutela de
urgência tem que observar a competência da ação de competência originária.
Existem recursos monofásicos e recursos bifásicos. NO agravo de
instrumento, a admissibilidade é exclusiva do tribunal para o qual se dirige
(monofásico). REsp e RE tem dois exames de admissibilidade (bifásicos).
A primeira fase é o elemento determinante para competência das medidas
de urgência. Se ele ainda não foi admitido a competência é de quem está por admitir
(indeferir ou deferir a tutela).
Ainda não houve exame de admissibilidade do REsp. A quem encaminho
minha medida incidental? Ao vice presidente do TJ, porque a competência ainda
está presa ao tribunal a quo.
Antes da admissibilidade do REsp, que é feita pelo Vice-Presidente do TJ,
para quem eu encaminho meu pedido? Ao Vice-Presidente. Porque a competência
ainda está atrelada ao tribunal a quo.
Ex: o acórdão acabou de decidir que a casa tem que ser demolida; ou
melhor, a acórdão decidiu que todos os porquinhos da Sadia que estão com o
cooperado têm que ser entregues imediatamente. O que tens que fazer como
advogado do cooperado? O recurso não tem efeito suspensivo.
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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--
STF acabou decidir e reafirmar que uma disposição expressa do art. 5º da
CRFB não é o que ela diz que é. “CRFB, Art. 5º, LVII - ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;”. Isto é
assustador.

--

Tutela de Urgência

E aí entramos na tutela de urgência. (01h33min)


Lembre-se que iremos tratar de duas tutelas: as de urgência, e as de
evidência.
Art. 301, CPC.

CPC, Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada
mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto
contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração
do direito.

O que é arresto? E onde está previsto isto? É uma medida cautelar


nominada. Estava previsto no código revogado. Onde está previsto sequestro? O
mesmo caso. O CPC fez referência a letra morta de lei. NÃO EXISTEM MAIS
CAUTELARES NOMINADAS.
Por que elas não existem mais? As assegurações de crédito (arresto,
sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem)
faziam parte de um corpo muito maior de cautelares nominadas, que visavam apoiar
um incipiente capitalismo brasileiro, determinado pelo Golpe de 64.

[Mello empolgado falando do golpe de 64, dispensável]


Quando João Goulart foi eleito, ele não foi eleito presidente. Ele era vice do
Jânio Quadros. Aos sete meses de governo, Jânio Quadros escreve uma carta
renunciando. Jânio achava que nos braços do povo ele retornaria a Brasília, com
mais poderes. Mas Jânio tinha cometido todos os erros possíveis com sete meses
de governo.
Havia uma polarização leste-oeste (comunismo vs. capitalismo).
Dentro deste contexto, “o idiota renuncia, e o outro maluco está na China.”
Sabendo que o que impediu o golpe no Brasil até agora foi o suicídio de Vargas.
Enquanto o Jango voltava, pessoas de mais sensatez negociavam com os militares.
O Brasil teve que passar por uma fase parlamentarista. Para piorar, quando
o Brasil voltou a ser presidencialista, e Jango se viu com o poder na mão, ele fez
várias reformas de base. Em março/64, houve o famoso Comício da Central–
realizado na Central do Brasil, que ficava do lado do Ministério da Guerra.
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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Não foi um comício, foi um “tapa da na cara.” Não deu muito tempo desse
comício, o general Olímpio Mourão Filho sai com suas tropas para o Rio de Janeiro.
Ele chega lá em 01 de abril de 1964.
Engraçado que as principais alegações da mídia golpista naquela época,
contra o João Goulart, eram as seguintes: “Corrupção na Petrobrás”.
Brizola foi para o Uruguai com o Jango - isso deu margem à legalidade do
golpe. Jango nunca explicou isso.
O Brasil não tinha um capitalismo. E todos os trabalhadores tinham
estabilidade no emprego. Isto entrevava a economia nacional. E o Jango estava
estatizando tudo.
Capital financeiro depende de empréstimo. E o brasileiro não fazia
empréstimo, porque os bancos viviam quebrando.
Foram adotadas medidas, que redundaram num CPC de 73, cheio de
tutelas, que não dava ao juiz alternativa diferente de: “tirar o dinheiro, tirar os bens,
ou prender o filho da mãe.”
Só muitos anos depois, adotando o Pacto de San José da Costa Rica,
proibiu-se a prisão do depositário infiel.
A prisão do depositário infiel é resultado desta política neo-capitalista dos
anos sessenta/setenta.
[Fim]

[AULA 15] 24/10/2016 Responsável pela transcrição: Maria Rosa M. Lohn

Continuando pente fino de artigo por artigo tutela provisória)

Explicou o contexto histórico na aula passada (AI5 etc) e inverteu o art. 301 com o
300 para contextualizar melhor.

O artigo 301 comete um equívoco técnico mas um acerto histórico:

Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada


mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto
contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração
do direito.

O erro técnico é dar nomes à cautelares que já não têm mais nomes. Não
existem mais procedimentos cautelares específicos, como existia no CPC/73.

Não existem mais porque, na opinião do professor, não havia mais sentido
em manter aquilo que se pode chamar de entulho autoritário.

Para dar uma ideia de como é entulho autoritário, o J. J. Calmon de Passos,


processualista baiano e precursor do Fredie Didier, comentando pela Forense

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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alguns artigos do CPC/73 sobre arresto, sequestro e busca e apreensão, recusou-se


a comentar alegando ser entulho autoritário, passando para a temática seguinte.
Isso como exemplo para se ter uma ideia de como era a situação que o
Brasil vivia durante a década de 60 que fez com que o professor Alfredo Buzaid
necessitasse criar instrumentos de recuperação de crédito que quase todos
redundavam, direta ou indiretamente, em de depósito infiel e ao redundar em
depósito infiel, redundavam em prisão do devedor.
Por isso foi explicado o conflito mundial da Guerra Fria - conflito leste-oeste,
capitalismo-comunismo - conflito já no final da década de 50 e início da década de
60, já havia um radicalismo muito grande.

[explica mais sobre contexto mundial da guerra fria e no Brasil. Segue algumas divagações
que se aproximam mais do Direito]

Buzaid foi chamado por Jânio Quadros, não pelos militares, como
normalmente se pensa.
(mas depois o prof disse que foi o Médici que nomeou Buzaid Ministro da
Justiça, tanto que há uma polêmica entrevista em que ele diz “não haver tortura no
Brasil”)

Um julgamento justo é sempre prospectivo, em que se analisa o que tinha


acontecido, a decisão que o autor tomou e com os elementos se ele tinha na época -
não o que se tem hoje -, ver se ele tomou a decisão correta.

A primeira atribuição de Buzaid no código não foi a de criar as cautelares


inominadas genéricas que serviam pra qualquer coisa e voltaram a exisitir agora,
mas que já existiam no código de 1939. A primeira atribuição foi criar o tipo de tutela
(ou vários tipos) que não desse saída ao magistrado senão apreender rapidamente
o bem que foi dado como garantia, ou, senão apreender ou não encontrar o bem,
prender o devedor.
Isso porque nessa época era complicado, já que nem sempre a magistratura
estava alinhada com o governo central, especialmente o primeiro grau, que era mais
próximo do povo.

Então o que fez o Buzaid? Quando falamos de que “poderá o juiz deferir as
tutelas provisórias que julgar adequadas”, alguém leu o antigo artigo 798 (Art. 798.
Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula no Capítulo
II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas,
quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause
ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação).
Então o mundo cautelar, no CPC/73, se dividia entre cautelares inominadas -
pra tudo - e cautelares nominadas - praquilo que ele precisava tutelar ao magistrado
de primeiro grau. Exemplo: artigo 813, do arresto cautelar:

Art. 813. O arresto tem lugar:


I - quando o devedor sem domicílio certo intenta ausentar-se ou alienar os
bens que possui, ou deixa de pagar a obrigação no prazo estipulado;

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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II - quando o devedor, que tem domicílio:


a) se ausenta ou tenta ausentar-se furtivamente;
b) caindo em insolvência, aliena ou tenta alienar bens que possui; contrai ou
tenta contrair dívidas extraordinárias; põe ou tenta pôr os seus bens em
nome de terceiros; ou comete outro qualquer artifício fraudulento, a fim de
frustrar a execução ou lesar credores;

Arresto vem do Francês arrêter que significa prender ou apreender, que é a


mesma origem de arest, do Inglês.
No Brasil há arresto como medida cautelar e também na execução. O
arresto legal é aquele que não necessita de procedimento próprio: o oficial de justiça
encontrando bens e não encontrando devedor arresta-lhe-á quantos bens forem
necessários para garantir pagamento da dívida.
Mas também existe o arresto cautelar, para todas as outras circunstâncias.
“O arresto tem lugar” - o que é lugar? Significa situação objetiva. O lugar em
que você mora, é objetivo. Então estamos falando de periculum in mora, não em
fumus bonis iuris, a situação objetiva que gera o arresto.
“Devedor sem domicílio certo ausenta-se ou aliena”, pra criar insolvência.
Qualquer tentativa de blindagem material.
“Ou deixa de pagar a obrigação no prazo estipulado”. Na verdade, é essa a
regra, se você não paga, sofre o arresto. Imagina isso hoje? Você não paga o
crediário do forno de microondas. Aparece dois oficiais de justiça pra levar embora o
microondas.
“Quando o devedor que tem domicílio, se ausenta ou tenta ausentar-se
furtivamente etc” - Não tem escapatória, com ou sem domicílio. Ou seja, cabe
arresto quando não paga ou quando comete qualquer artifício para criar insolvência.
Quando o arresto tem lugar? Sempre.

[divagações sobre capital social e queda da bolsa dos EUA]

Art. 814. Para a concessão do arresto é essencial:


I - prova literal da dívida líquida e certa; e
II - prova documental ou justificação de algum dos casos mencionados no
artigo antecedente.
Parágrafo único. Equipara-se à prova literal da dívida líquida e certa, para
efeito de concessão de arresto, a sentença líquida ou ilíquida, pendente de
recurso ou de homologação, condenando o devedor no pagamento de
dinheiro ou de prestação que em dinheiro possa converter-se.

“Essencial” - não é mais “tem lugar”, to falando em essência, to falando em


fumus bonis iuris, to falando de direito. Qual o título que viabiliza o direito,
esperamos que tenha algum formalismo, mas não, não tem.
“prova literal da dívida líquida e certa” - não precisa estar nem vencido! E já
cabe arresto!
“Equipara-se à prova literal da dívida líquida e certa, para efeito de
concessão de arresto, a sentença líquida ou ilíquida, pendente de recurso ou de
homologação” - já não estamos mais falando de título extrajudicial, mas de judicial,
não precisando nem líquida ou mesmo transitada em julgado.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


59

CPC/73. Art. 842. O mandado será cumprido por dois oficiais de justiça, um
dos quais o lerá ao morador, intimando-o a abrir as portas.
§ 1 Não atendidos, os oficiais de justiça arrombarão as portas externas,
o

bem como as internas e quaisquer móveis onde presumam que esteja


oculta a pessoa ou a coisa procurada.

Isso não foi considerado inconstitucional e é um exemplo do resquício do


AI5. O que mudou é que o Brasil assinou o Pacto de San José em que se proíbe
prisão por dívida, de forma que o STJ não mais aceitou esse tipo de prisão.

CPC/73. Art. 815. A justificação prévia, quando ao juiz parecer


indispensável, far-se-á em segredo e de plano, reduzindo-se a termo o
depoimento das testemunhas.

No caso do juiz não se convencer com o título, se fazia de plano e em


segredo, ou seja, prova sem contraditório.

CPC/73. Art. 816. O juiz concederá o arresto independentemente de


justificação prévia:
I - quando for requerido pela União, Estado ou Município, nos casos
previstos em lei;
II - se o credor prestar caução (art. 804).

Ou seja, se tentava “fugir” pela justificação, mas essa também não era
necessária, podendo o juiz abrir mão da justificação nos casos de imposto
(arrecadação) ou se o credor prestar caução. Qual é o único credor que a garantia é
a operação contábil? Banco. Ou seja, quando pedido pelo Estado ou pelos Bancos o
arresto cabe sempre sem necessidade do título.

[mais divagações sobre capitalismo, militares e criação de entidades estatais]

Qual é a diferença? Na verdade, não há muita diferença, porque todas


redundam na mesma finalidade: prender o devedor. Apenas a natureza do crédito
que redunda na diferenciação:
Arresto, se reporta a dívidas em dinheiro. Recai sobre todos os bens.
Sequestro, se refere à situações de reinvidicação de direitos, que redunda
em um direito. Por exemplo: a discussão da propriedade de uma casa, e essa
dicussão implica na medida cautelar de sequestro, não de arresto. Se refere a um
bem específico.

Essa diferença é importante, por exemplo, em ação penal, quando o juiz


entende que os bens advém de crime e o juiz manda arrestar - tornar indisponível
tantos bens para fazer jus a uma devolução de dinheiro advindo de corrupção - mas
também sequestra os bens que já se sabem adquiridos como fruto do crime já para
leiloar. Ou seja, o arresto é para os cofres públicos e o sequestro para bens
comprados.

Por que foram criadas essas modalidades? Para viabilizar a recuperação de


crédito a qualquer custo, mesmo contra a vontade do magistrado.
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
60

[AULA 16] 31/10/2016 Responsável pela transcrição: Isis Regina de Paula

Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada


mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto
contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração
do direito.

O erro do legislador no art. 301 é citar cautelares que não existem mais.
Porque arresto e sequestro não tem definição legal, não tem referência do CPC 73.
Como vou definir isso? Como o juiz vai aplicar? Como vocês vão explicar o
que é arresto, sequestro? Isso é uma letra morta. A crítica que eu faria ao Didier é
que ele quis realizar uma lista não taxativa de exemplos, a tutela de urgência de
natureza cautelar poderá ser feita mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens,
mais ou menos os mesmos termos do art. 799 do CPC 73, que tinha uma lista
exemplificativa de tutelas.
(Leu o art. 799) O que é isso? Uma lista exemplificativa, o Juiz pode fazer o
que ele quiser, tais como busca e apreensão de bens, caução, garantias e tudo
mais. Na verdade esse dispositivo se reporta ao CPC 39, e agora o CPC de 2016 se
reporta ao CPC de 73, que já se reportava ao CPC de 39, eu vou chamar isso de
SAUDOSISMO – uma nostalgia dos tempos da ditadura, porque não tem mais
sentido num ambiente democrático, um pais que assinou o pacto San José da Costa
Rica, não tem mais sentido aplicar arresto e sequestro, isso é uma recuperação de
cunho autoritário, não teria sentido lógico isso. Vejam se estamos em uma
democracia, deixa o Juiz julgar as medidas que ele julgar adequada, como diz o art.
297, CPC/2015. Então para que manter essas imposições de arresto e sequestro?
Por dois motivos, porque 90% de vocês adoram tentar fazer hermenêutica com base
na leitura de um artigo só.

Art. 799. No caso do artigo anterior, poderá o juiz, para evitar o dano,
autorizar ou vedar a prática de determinados atos, ordenar a guarda
judicial de pessoas e depósito de bens e impor a prestação de caução.

Eu pulei o art. 300, e expliquei o 301 na aula passada para poder contar a
historia da norma, e pulei de propósito.
O art. 300, é mais procedimental diz o seguinte “Art. 300. A tutela de
urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.” Eu queria explicar para vocês e já expliquei porque é redundante
quando expliquei do PODER GERAL DE CAUTELA (art. 297) que é uma
discricionariedade do Magistrado diante do acervo probatório que foi concedido, eu
fiz um breve arremedo de teoria da prova para vocês, eu expliquei rapidamente a
tridimensionalidade dessa prova. Expliquei quais são os princípios que orientam
essa prova, e que apesar de não constarem no CPC o Princípio da livre disposição e

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


61

o Princípio do livre conhecimento, eles continuam existindo, como eu sei? Porque eu


sinto a força, o fato de ter o art. 489, não significa que o Juiz virou um literalista.
O art. 300 fala literalmente do mesmo Poder Geral de Cautela do art. 297,
mas o que diferencia o art. 300 é que ele pede alguns requisitos como o fumus boni
iuris, e o periculum in mora, então nunca vai surgir do subjetivismo. O art. 300 é
cebola, apenas um conceito didático, foi feito para diferenciar a tutela de urgência
com a tutela de evidência, porque aqui temos que ter o fumus boni iuris, e o
periculum in mora, ou seja, quando tivermos probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.
O que é o fumus boni iuris? É o direito

§ 1 Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso,


o

exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a


outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a
parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

É a típica norma que apesar de estar escrita nunca foi utilizada, chama-se
CAUTELA OU CONTRACAUTELA (palavra chave). O PGC não se manifesta
apenas de forma externa, ele se manifesta internamente aos efeitos da tutela em si,
existe uma norma ética do CPC que diz que quando por várias formas você fazer
uma execução ela poderá ser feito pela forma menos gravosa ao devedor, isso não
é uma norma impositiva, é uma norma de hermenêutica e razoabilidade, por isso ela
é chamada de norma ética.
O Juiz vê que você tem o fumus boni iuris e o periculum in mora, mas o
Magistrado vê que isso vai prejudicar muito o devedor, então ele propõe que para o
deferimento da medida o credor deposite um bem real ou ofereça uma garantia
fidejussória.

§ 3 A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida


o

quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Esse dispositivo era o 273, §2º, CPC 73 eu já critiquei muito. O Juiz


literalista aquele que espreme o artigo, o que ele entende? Que toda vez que a
tutela for irreversível ele não vai conceder a tutela.

TUTELA CAUTELAR TUTELA ANTECIPADA


Temporária, Definitiva
Baseada em probabilidade do direito Baseada em juízo de certeza
Referível Satisfativa
Autônoma (independente do processo) Interna à sentença de mérito

O que o Código diz é quem tens que evitar de dar medidas irreversíveis,
mas então porque chamar as tutelas de antecipatórias, chama tudo de cautelar. Os
paulistas de dizer que havia plena fungibilidade de tutelas acabaram negando a
tutela antecipada a sua própria ambição. A ambição da tutela antecipada é ser um
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
62

provimento efetivo, que é irreversível, e satisfativa, por isso é necessário ter um juízo
de certeza na hora de conceder.

§ 2 A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após


o

justificação prévia.

A palavra chave para o §3º é MODULAÇÃO, e o que liga ele ao §1º é o


sistema, e para isso você também tem o §2º. No caput temos o fumus boni iuris e o
periculum in mora, no §1º você tem cautela e contracautela (pode indeferir a liminar
se a parte ré caucionar, ou pode deferir a liminar se a parte autora caucionar, esse
parágrafo se combina com o §3º em uma forma de MODULAÇÃO DE TUTELA, e o
§2 é justificação prévia (audiência de convencimento do magistrado, quando o
magistrado não se convenceu). O art. 300 com todos os referidos parágrafos forma
o deferimento do Poder Geral de Cautela e estabelecem Elementos de
Intensidade da medida para concessão da tutela de urgência.

Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte


responde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à
parte adversa, se:

I - a sentença lhe for desfavorável;


II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os
meios necessários para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias;
III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal;
IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do
autor.
Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a
medida tiver sido concedida, sempre que possível.

O art. 302 que diz a razão de ser da cautela e da contracautela. Dano


processual é Litigância de má fé (dano material) e ato atentatório a justiça (dano
processual), dois tipos de multa. Aqui a norma não distingue autor ou réu, aqui é a
parte que prejudicar a outra parte.
O parágrafo único permite uma sentença condenatória sem pedido em
expresso, existe uma condenação pelo dano processual sem que a parte tenha
requerido.

DO PROCEDIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM


CARÁTER ANTECEDENTE

O art. 303 e 304 o que eles tem de importante? Sabe a inovação que
ninguém pediu, mas quando surgiu causou um rebuliço, e depois de 30 dias sumiu?
Pokémon Go é a palavra chave para explicar esses dois artigos.

Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea à


propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da
tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a exposição

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao


resultado útil do processo.

Art. 304. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se
estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo
recurso.

O que o art. 303 quer fazer? Uma diferenciação procedimental, quando a


medida é incidental ou antecedente. A incidental é muito difícil de ser requerida,
geralmente é utilizada em alguns processos só. Geralmente a tutela é antecedente e
contemporânea.

[AULA 17] 01/11/2016 Responsável pela transcrição: Hiury H. Santos

Ontem, professor estava naquele pente-fino do CPC. Mas ele explicou que o
Código acabou ressuscitando mortos que já estavam enterrados.
Na década de oitenta, só existia o processo cautelar – um processo
autônomo apenas voltado para uma tutela.
Em 1994, esse conceito foi um pouco mitigado, no art. 273, com previsão da
tutela antecipatória. Pela primeira vez na processualística civil brasileira, houve uma
tutela que já existia dentro da ação principal.
Só que essa tutela não foi compreendida como algo fungível com a medida
cautelar. Então, para algumas situações você continua exigindo medidas cautelares.
Passávamos a ter um duplo sistema para casos de urgência (uma mais cautelar,
outra mais antecipatória).
Em 2002 veio o §7º do art. 273 do CPC de 1973. A partir de 2002 paramos
de ajuizar medidas cautelares. Porque havia dispositivo que permitia, não
importando qual fosse a medida, ajuizar o pedido dentro da ação principal.
A medida cautelar caiu em desuso. Até 15 de março de 2016 ainda era
possível ajuizar medida cautelar. Mas os advogados já entravam com a ação e
requeriam todas as tutelas de urgência, sem se preocupar se elas eram cautelares
ou antecipatórias.
Esse CPC ao invés de avançar, criou uma situação de ressureição. O
operador do direito já estava desacostumado com o instrumento, e o CPC ainda
troca-lhe o nome: chamou-o de medida antecedente.
A medida cautelar preparatória, que vocês nunca usaram, passou a ser a
regra, na cabeça do legislador. A sorte é que o legislador deixou que você pedisse a
tutela junto com o pedido principal.
Você tem a oportunidade de fazer tudo como antes.
Apesar de o professor estar ensinando a partir de hoje a estabilização de
tutelas, a utilidade desse procedimento é extremamente duvidosa.
Duas coisas ruins se somaram nesse capítulo das tutelas: ressuscitar o
procedimento em desuso, para viabilizar algo que foi importando e caiu de
paraquedas no sistema, que é o référé. (8min45s)

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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[Ficou narrando o Enigma de Kaspar Hauser, filme do alemão Werner Herzog]

CAPÍTULOII - DO PROCEDIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM


CARÁTER ANTECEDENTE – Art. 303 E 304.

“Art. 303 e 304: são interessantes para uma conversa de bar.”


Apesar de estes artigos serem os mais importantes e mais inovadores, eles
também são os mais inúteis.
Eles juntaram o pior de dois mundos – ressuscitaram um procedimento com
o qual vocês não estão acostumados com um elemento francês do século XVIII, a
estabilização (référé). E o que é pior: tudo isso num universo chamado tutela
provisória.

Art. 303, CPC


CPC, Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea à
propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao requerimento da
tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a exposição
da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao
resultado útil do processo.

O art. 303 trata-se de uma pequena petição inicial da antiga medida cautelar
(a volta dos mortos vivos).
o
Art. 303, § 1 Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste
artigo:
I - o autor deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua
argumentação, a juntada de novos documentos e a confirmação do pedido
de tutela final, em 15 (quinze) dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar;
(Não ajuízo nova ação, eu adito o pedido).

II - o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação ou de


mediação na forma do art. 334;

III - não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado


na forma do art. 335.
o o
§ 2 Não realizado o aditamento a que se refere o inciso I do § 1 deste
artigo, o processo será extinto sem resolução do mérito.

Eles ressuscitaram todos os ônus da década de setenta sem os bônus – não


trouxeram o rock progressivo, o Queen, o Deep Purple... Então, você ressuscitou
apenas a calça boca de sino e o umbigo de fora!
Não tem sentindo! “Olha, você faz só o pedido da tutela pela tutela, mas
cuidado! Se você perder o prazo extingue tudo e explode na tua cara!” Então, o que
vocês vão fazer para não se preocupar? Ajuizar tudo junto! Ficou tudo na mesma.

Art. 304: trata-se do référé.

CPC, Art. 304. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303,
torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o
respectivo recurso.
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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Primeira crítica: não se faz norma processual esperando que exceção vire
regra. Então para que vou fazer um dispositivo de lei inovador, mas que só é
aplicável em caso raríssimo (quando não se recorre da decisão que concede a
tutela). Não tem sentido isto!
O título do livro é tutela provisória. Até a hora que me concerne é provisória.
Aqui diz que se tu não recorreres, ela se estabiliza. Ocorre a estabilização da tutela
(référé).
O que é o référé?
As salas de référé na França: corredor com portas que aparecem pessoas
que querem medidas de cunho satisfatório (demolir, medicamento, cirurgia, órtese
ou prótese, etc.). Tu pedes a tutela pela tutela, reúne as provas, o juiz marca
audiência de justificação, analisa as provas na audiência, se achar necessário ele já
ouve as testemunhas que estão presentes, e dá uma decisão definitiva no sentido
de satisfação. Se a outra parte não conseguir um efeito suspensivo (não é não
interpor o recurso, como no art. 304) antes da pessoa fazer a cirurgia, por exemplo,
a tutela estará estabilizada.
Por uma questão histórica: não é se a parte não recorrer, é se mesmo
recorrendo eu conseguir implementar a condição.
Não tem sentido eu não ter conseguido o efeito suspensivo, e só porque eu
recorri formalmente, ter que brigar anos sobre uma prótese que já foi implantada.
Os franceses queriam acabar com discussões inúteis no judiciário. A
expressão “se a parte não recorrer”, na opinião do Mello, é substituída por “não obter
efeito suspensivo.”
Numa ação contra o Estado, o Estado sempre recorre, é obrigação legal.

A Ada Pelegrini Grinover já tinha tentando projeto de lei para instituir o référé
no CPC, em 1998.
O que acontece é que vocês vão continuar fazendo o que sempre fizeram,
por conta do “pode” do art. 303.

CPC, Art. 304. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303,
torna-se estável se da decisão que a conceder não for interposto o
respectivo recurso.
o
§ 1 No caso previsto no caput, o processo será extinto. [fato consumado,
não tem sentido discutir]
o
§ 2 Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever,
reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada nos termos do caput.
[cabe discussão sobre perdas e danos, em ação nova]
o
§ 3 A tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto não revista,
reformada ou invalidada por decisão de mérito proferida na ação de que
o
trata o § 2 . [quando vier a sentença de mérito, a tutela será revista,
reformada ou invalidade]
o
§ 4 Qualquer das partes poderá requerer o desarquivamento dos autos em
que foi concedida a medida, para instruir a petição inicial da ação a que se
o
refere o § 2 , prevento o juízo em que a tutela antecipada foi
concedida.[você desarquiva o référé para ação nova]
o
§ 5 O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, previsto no
o
§ 2 deste artigo, extingue-se após 2 (dois) anos, contados da ciência da
o
decisão que extinguiu o processo, nos termos do § 1 .
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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[A tutela é provisória, tenho que mover ação, tenho uma sentença de mérito,
e meu direito decai em dois anos. Ela tem cara de rescisória, focinho de
rescisória, pata de rescisória, rabo de rescisória, mas não é rescisória. ¬¬’ ]
o
§ 6 A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a
estabilidade dos respectivos efeitos só será afastada por decisão que a
revir, reformar ou invalidar, proferida em ação ajuizada por uma das partes,
o
nos termos do § 2 deste artigo. Por que não é coisa julgada? Porque
sentença de mérito é igual PE + AA. É o AA que dá definitividade.

SM = PE + AA
Sentença de mérito (SM) é um provimento efetivo (PE) mais acertamento da
ação (AA). Pontes quanto olhos as eficácias das ações, enxergou os elementos da
sentença de mérito: um elemento normativo, chamado de acertamento da ação, e
uma repercussão no mundo concreto, que Pontes chamou de provimento efetivo.

Art. 304, §3º e §6º: eles são redundantes.

o
CPC, Art. 304, § 3 A tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto
não revista, reformada ou invalidada por decisão de mérito proferida na
o
ação de que trata o § 2 . (...)
o
§ 6 A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a
estabilidade dos respectivos efeitos só será afastada por decisão que a
revir, reformar ou invalidar, proferida em ação ajuizada por uma das partes,
o
nos termos do § 2 deste artigo.

Dentro das tutelas de urgência, trataremos agora da tutela cautelar requerida


em caráter antecedente.

CAPÍTULO III - DO PROCEDIMENTO DA TUTELA CAUTELAR REQUERIDA EM


CARÁTER ANTECEDENTE

§1º, Art. 308, CPC.

o
CPC, Art. 308, § 1 O pedido principal pode ser formulado conjuntamente
com o pedido de tutela cautelar.

Não tem aquela papagaiada de fazer medida cautelar antecedente; de


qualquer modo vais ter que fazer o aditamento.

CPC, Art. 305. A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela
cautelar em caráter antecedente indicará a lide e seu fundamento, a
exposição sumária do direito que se objetiva assegurar e o perigo de dano
ou o risco ao resultado útil do processo.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


67

Parágrafo único. Caso entenda que o pedido a que se refere o caput tem
natureza antecipada, o juiz observará o disposto no art. 303. (fungibilidade
de tutelas)

Meu pedido foi chamado de cautelar, mas na realidade ele era antecipatório.
O juiz deve dar a liminar, e se a outra parte não conseguir efeito suspensivo, ele
extingue o processo, e a outra parte terá que ingressar com ação condenatória para
reaver valores perdidos.

Art. 306. O réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o
pedido e indicar as provas que pretende produzir.
Art. 307. Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor
presumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá
dentro de 5 (cinco) dias.(05 d pra decidir se vai dar ou não a tutela)
Parágrafo único. Contestado o pedido no prazo legal, observar-se-á o
procedimento comum.
Art. 308. Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser
formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será
apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela
cautelar, não dependendo do adiantamento de novas custas processuais.

Quantas vezes ele terá que contestar a ação? Eu peço a cautelar, ele
indefere a liminar, manda citar a Polli. A Polli contesta em 05 dias. Aí ele decide se
dá ou não dá. Depois em 30 dias o autor adita o pedido e intima-se a Polli para
contestar de novo. Move a funcking ação, pede dentro dela a tutela cautelar, e
“segue o jogo” (§1º do art. 308).
“Mudou-se, para que tudo fique exatamente igual.”

[AULA 18] 07/11/2016 Responsável pela transcrição: Polliana C. Morais

Recapitulando.... Estávamos falando de medidas cautelares. Há duas


críticas ao sistema de medidas cautelares. A primeira é procedimental, a segunda
processual.
1º Crítica: Procedimental - é o fato, se vocês observarem, se não me
engano, nos arts. 306 e cotejar com o 308. Veremos que a cautelar, diferentemente
da tutela antecipatória, implica num contraditório desnecessário. Ver os artigos:

Art. 306. O réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar o
pedido e indicar as provas que pretende produzir.
Art. 308. Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser
formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será
apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de tutela
cautelar, não dependendo do adiantamento de novas custas processuais.
§ 1o O pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o pedido de
tutela cautelar.
§ 2o A causa de pedir poderá ser aditada no momento de formulação do
pedido principal.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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§ 3o Apresentado o pedido principal, as partes serão intimadas para a


audiência de conciliação ou de mediação, na forma do art. 334, por seus
advogados ou pessoalmente, sem necessidade de nova citação do réu.
§ 4o Não havendo autocomposição, o prazo para contestação será contado
na forma do art. 335.

Não faz sentido você ser citado para contestar a cautelar se depois de 30
dias haverá uma emenda e você será citado para contestar a ação. São duas
contestações o que não existia na tutela antecipatória. Na tutela antecipatória você
não é citado para contestar. Se você recorrer e obtiver o efeito suspensivo não há
extinção do processo, há o prazo para emenda e aí começa o devido processo legal.
Na cautelar eu não sei o que deu na cabeça do Didier para ele fazer o juiz te
citar para contestar o pedido cautelar e depois, deferida ou indeferida, vai ser
emendado o pedido para em 30 dias para haver outra contestação. Isso não faz
sentido. Então, essa é a primeira crítica.
2ª crítica: é o que está no §1º do art. 308:

§ 1o O pedido principal pode ser formulado conjuntamente com o pedido de


tutela cautelar.

A boa intenção do Didier é que ao dar uma contestação para cada uma, ele
está prestigiando a autonomia do procedimento da tutela cautelar. Isso não faz mais
sentido. Uma vez que você adota procedimentalmente pelo mesmo eixo cognitivo.
Isto é, você não mais ajuíza em paralelo, você emenda a sua inicial da sua tutela de
urgência, seja ela qual for. Qual é o problema de uniformizar os procedimentos?
Quanto tempo demora para sair uma intimação? Quanto tempo demora para
sair um mandado? E aí o sujeito contesta a cautelar, adia, depois terá que contestar
de novo. Quanto tempo isso levará no processo? Não faz sentido. As intimações
demoram 1 mês para serem publicadas, mais o prazo.... Que bobagem é essa?
Essa discussão valia a pena na década de 80.
Feita essa crítica, entramos na parte final que é a tutela de evidência. Já
expliquei que a tutela de evidência não é novidade, ela já existia no CPC/73 no art.
273, §6º.
§ 6o A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais
dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso.

Incontroversa se dá quando você aceita parcial ou totalmente a pretensão


tutelada. Então você tem nas ações revisionais de contrato bancário, por exemplo,
“eu não devo 6 bilhões de reais, mas devo 1”. Então deposito esse 1 bilhão e o resto
será discutido. Essa é a parcela incontroversa, passível de execução.
Também pode haver tutela de evidência quando você abusa do seu direito
processual. O que é esse abuso? Isso no CPC/73 não tinha tanta lógica. Porque foi
só a partir de 2009 que as Supremas Cortes e as Cortes Superiores começaram a
estabelecer as chamadas Súmulas Vinculantes. É, em suma, abuso de direito
quando você se pronunciar contra algo que esteja no art. 927:

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
69

I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de


constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução
de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e
especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem
vinculados.
§ 1o Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489,
§ 1o, quando decidirem com fundamento neste artigo.
§ 2o A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em
julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências
públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam
contribuir para a rediscussão da tese.
§ 3o Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo
Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de
julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da
alteração no interesse social e no da segurança jurídica.
§ 4o A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada
ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a
necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os
princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia.
§ 5o Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por
questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede
mundial de computadores.

Portanto, são dois os requisitos para a tutela de evidência: parcela


incontroversa e abuso de direito de defesa.

Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da


demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo,
quando:
I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito
protelatório da parte;
II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas
documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos
ou em súmula vinculante;
III - se tratar de pedido reipersecutório (ENTREGA DE COISA) fundado em
prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será
decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de
multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos
constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de
gerar dúvida razoável.

Liminarmente significa sem ouvir a parte contrária. Essa é a expressão do


latim inaudita altera parte. O CPC não define o que é liminar. Não há, tecnicamente
falando, diferença entre a tutela provisória e a tutela final deferida. Elas são as
mesmas, a única diferença é que uma é liminarmente deferida e outra é ao final. O
référé, nada mais é que a tutela final, tutela pela tutela, sem acréscimos
condenatórios, sem outras cumulações de natureza diversa. Ele recebe críticas
porque eles dizem que o processo é extinto, que aquela concessão daquela tutela
não faz coisa julgada e que qualquer uma das partes tem dois anos, prazo de ação
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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rescisória, para tentar reverter ou ter o equivalente em perdas e danos. A crítica é


porque tem cheiro de sentença de mérito, orelha de sentença de mérito, tem tudo de
sentença de mérito, mas eles dizem que não é só porque ela foi liminarmente
deferida. Mas, se olharmos o resultado prático equivalente já conseguimos tudo que
queríamos. Então, porque não é sentença de mérito? É claro que é! Só que ela é
exclusivamente de provimento efetivo e não o acertamento da ação. Então, as ações
posteriores são meros acertamentos da ação. O provimento efetivo, a parte
executiva, a parte constritiva já foi quase que 100% deferida.
Se a tutela de evidência existia no CPC/73 por que não era usado?
Porque não estava no rol de títulos executivos. Essa foi uma situação sanada no
CPC/15. Apesar de ser um título executivo, eu só posso usar a execução provisória,
mas deveria ser definitiva.
O processo de conhecimento é dividido em três partes, Título I, Título II
e Título III. O Título I é o processo de conhecimento propriamente dito. O Título II é o
cumprimento da sentença do processo de conhecimento. O Título III são os
procedimentos especiais. Dentre esses procedimentos especiais destacarei alguns
que também trazem consigo tutelas de urgência ou podem trazer consigo tutelas de
urgência ou de evidência, tanto faz. Tutelas que denominaremos provisórias. Para
que vocês possam entender os procedimentos especiais é preciso que vocês antes
entendam por que eles estão segregados. Não era para estar mais segregados, mas
ainda estão. Ou era para eles terem sido extrajudicializados ou judicializados dentro
do procedimento previsto no Livro I. Há um ponto de contato do Título III tem que
você possa utilizar as técnicas de processo não só as tutelas provisórias, mas
qualquer regra de processo? Porque senão não haveria razão de eles estarem
segregados. Olharemos esses procedimentos especiais e veremos a lógica deles.

[AULA 19] 08/11/2016 Responsável pela transcrição: João F. G. Ramirez

Para poder analisar as tutelas esparsas no NCPC, é preciso compreender


um fenômeno que vinha acontecendo ao longo das codificações do século XX e
subitamente inverteu a mão nesse último código.

Procedimentos especiais: ações que consubstanciam uma visão pré-


processual.

O sol da processualística civil foi engolfando, aos poucos, os procedimentos


especiais.

Ocorre que o NCPC, invertendo a mão, manteve os procedimentos especiais


existentes, deixando de contribuir para aquele engolfamento.

No entanto, os procedimentos especiais deixaram de compor um livro


especial no diploma processual civil e passaram a fazer parte de um capítulo dentro
do processo de conhecimento. Obs.: esse capítulo, além de não ter uma teoria geral,
não tem uma organização.

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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Como podemos organizar esses procedimentos especiais para compreende-


los?

I) Primeira organização: o professor Mello indica 4 divisões:


1. procedimentos voltados à asseguração do crédito
2. procedimentos voltados à asseguração da posse e da propriedade
3. procedimentos voltados à asseguração de direitos exclusivamente
processuais
4. procedimentos voltados à asseguração da universalidade de bens

Todos os procedimentos podem ser englobados nessas divisões – em que


pese não estejam agrupados em ordem na legislação.

II) A segunda organização: necessidade de estabelecer o mínimo de ordem, o


mínimo de regras, pra compreende-los sistematicamente, sem ter que analisar um
por um.
Premissas para uma teoria geral:
1. Alteração/distinção das regras procedimentais – esse é um dos elementos
que impede o procedimento comum de engolfar os procedimentos especiais,
seja por terem tutelas específicas, seja por terem uma fase extrajudicial, seja
por terem duas sentenças, seja por terem prazos incompatíveis, etc.
2. Formam uma relação processual dúplice (actio duplex) – a duplicidade de
jurisdição/ação é uma característica de todo e qualquer procedimento
especial oitocentista, ainda vinculado a um direito material. Assim, ou o direito
é meu, ou é seu.
3. Possibilidade de encaixar todas as tutelas nos conceitos do livro 5 da parte
geral. Não existe uma única tutela que não possa ser enquadrada nos
procedimentos especiais.

[AULA 20] 21/11/2016 Responsáveis pela transcrição: Camila Luiza D. Corinhas e


João Pedro L. Bueno

Discussões sobre adiar/cancelar a prova, aula mesmo só começa aos 13min


Aula passa expliquei da “engronha” que são os procedimentos especiais.
Podemos estabelecer alguns conceitos.
Primeiro é geográfico. Localizar vocês no sistema. Fiz isso ao longo da
explicação do código. Falei que os procedimentos especiais estavam caminhando
para a extinção, mas na década de 90 eles começaram a ganhar mais vulto por
causa de alguns retrógrados. Isso impediu o processo comum de ir absorvendo os
procedimentos especiais. Expliquei também a origem dos procedimentos especiais,
conceitos do início do semestre foram retomados. O procedimento especial é manter
viva a teoria imanentista, do início do sec XIX, geminada ao direito. Ela diz que cada
direito tem uma ação que corresponde.
Dessa estrutura surge a teoria de Eduardo, nunca os procedimentos
especiais estarão em uma única teoria base para todos. Mas o primeiro elemento
dessa teoria é que consegue gerar uma aproximação pelo direito material
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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predominante. Asseguração em crédito, em posse e propriedade, em processo e em


universalidade de bens. Com esses elementos consegue agrupar. Vários
procedimentos conseguem se aproximar sob o ponto de vista de temática com esse
conceito.
Possessórias: 80% eram reivindicatórias, o sistema era feito para entrar com
a ação errada
Oposição, embargos de terceiros, reconstituição de autos, habilitação,
reconstituição de autos, tudo isso são aspectos processuais.
Universalidade de bens: inventário, insolvência civil, dissolução de
propriedade.
Quantia certa contra devedor solvente, contra devedor insolvente
(insolvência civil), discorre sobre a insolvência...
Dois princípios regem isso: juízo universal, par conditio creditorum
Condomínio também é uma universalidade de bens, não é pessoa jurídica, é
como acontece no inventário, no sistema falido.
Localizei geograficamente, agora entramos no que esse elementos tem em
comum. Qual o primeiro elemento da nossa conversa? A distinção de prazos e atos
processuais, isto é, poucas vezes encontrarão prazos em comum para contestar.
Prazo de contestação é diferente, alguns tem duas sentenças, então são situações
que não tem muito sentido para o processo civil. Mas é procedimental, não são
diferenças processuais, continuam submetidos ao processo mas com diferenças
procedimentais. Tem até atos procedimentais que são extrajudiciais, na consignação
em pagamento, por exemplo, pode abrir uma conta e comprovar ao credor
extrajudicialmente o pagamento.
Demarcatória. Aneróides, estacas firmemente cravadas. Isso é um absurdo
mas está no código. A regra geral é que são todos diferentes.
Procedimento é corpo, processo é alma.
Procedimentalmente há inúmeros dispositivos diferentes no código, mas que
processualmente chegam ao mesmo fim. Inventam muitas coisas
procedimentalmente para se chegar ao mesmo fim. Procedimento especial teria que
ter dois destinos: extra-código ou extrajudicializacao. Ex.: divorcio já se encaminha
para extrajudicializacão.
Principio da instrumentalidade no JEC não se restringe com a lei – quando
não houver expressa determinação legal reputam-se válidos as atos processuais
que alcançarem a finalidade almejada. Ex.: juiz de SJ sentenciou 55.000 ações
através de uma única portaria.
Procedimento comum: anda em qualquer estrada. Situação condenatória,
mandamental, declaratória, constitutiva, não importa, o procedimento será um só –
um carro só para tudo.
Actio duplex – é que como se referem a um só direito não são como
acontece no sistema organizado, processual, tudo organizado. Como só tenho um
direito, um só tipo de caminho, tenho apenas ida e volta – carro específico. Ou a
posse é minha ou é sua. Se contestar minha demarcação de posse, você quer a
marcação como você pleiteia.
Consignação em pagamento – ação do devedor contra credor a fim de quitar
dívida. Credor contestando, move contra o credor uma ação condenatória. Julgada
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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improcedente a ação de consignação em pagamento, tenho um titulo executivo para


o credor.

Tutelas
Inventário – o juiz reservará em poder do inventariante bens suficientes para
quitar dívidas. Na partilha, se surge um bastardo com uma ação ordinária de
reconhecimento de paternidade com reserva de quinhão hereditário. As tutelas em
procedimento especial são legais, assim a reserva não precisava ser pedida, pois o
juiz já deverá tomar essa medida. Reserva é cautelar.
Tutela de reintegração de possa é antecipatória (altamente satisfativa).
Tutela de demarcação de posse (evidência).
Sequencia de tutelas será dada nas próximas aulas.

[AULA 21] 22/11/2016 Responsável pela transcrição: Jessyka Z. Costa

Análise de tutelas de urgências

Titulo III do Livro 1 da Parte Especial, artigos 539 e SS. A teoria geral cai na
prova. Dentro da teoria geral há várias tutelas. O que o oficial de justiça quando não
encontra o devedor, mas encontra bens o que ele faz? Arresto. Ele recai sobre
tantos bens quantos bastem. Quando tem divida em dinheiro, mas não tem dinheiro,
o arresto recai sobre os bens. O seqüestro é específico, é um bem que está sendo
reivindicado. O arresto é sobre operações de crédito, o seqüestro é para operações
de reivindicação de propriedade. Ex: esse relógio X será seqüestrado, mas não
significa que ele não possa ser arrestado. Isso acontece tanto no processo civil
quanto no penal. No penal: ex de fazenda que servia para produção de drogas
ilícitas seqüestrada para desapropriação.
Todo o procedimento tem uma tutela legal provisória. TODOS, SEM
EXCEÇÃO.
Qual o primeiro procedimento disposto no titulo III do livro 1? É a
consignação em pagamento. Essa situação é quando você quer pagar uma dívida,
mas o credor não quer aquele bem. Ou seja, você força o recebimento do
pagamento. Nem precisaria ser um procedimento especial, porque qual a ação
moveria no processo de conhecimento? A ação seria declaratória. Características
peculiares: inciso I do artigo 539. Tutela legal: parágrafo primeiro do artigo 545. Que
tutela é essa que não precisa de periculum in mora e que já enseja a execução? É
uma tutela de evidência antecipatória. Terceiro elemento: parágrafo segundo, art
545, actio duplex (quando tem um só direito, quando é de um ou de outro, presente
no século XIX – teoria imanentista, art 75 do CC/1916). Numa ação de consignação
o credor está no pólo passivo, ou seja, é réu. Quando o réu pode executar ação,

Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2


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ações contrapostas (ações idênticas, mas contrapostas), o nome dessa ação é...
Temos que ler Pontes de Miranda.
Três conceitos: actio duplex, tutela de evidencia e procedimento extrajudicial
A ação de exigir contas era a velha e conhecida ação de prestação de
contas. Materialmente ela tem dupla legitimação: quem pode exigir e quem tem o
dever de prestar as contas podem ter a mesma iniciativa, com pequenas alterações
de procedimentos por isso temos uma incompatibilidade com procedimento comum.
O administrador da empresa pode pedir ação contra o sócio, mas o contrário
também é válido. Tem uma tutela de urgência ou pouco de evidência. actio duplex
Art 552. Isso não é reconvenção.

Art. 552. A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial.

Diferença entre reconvenção, pedido contraposto e actio duplex.


Reconvenção: sob o ponto de vista processual ela não perdeu seu pedido de ação.
Esse pedido tem que ser conexo ao pedido que foi movido. Pedido contraposto:
nasceu nos procedimentos sumários, ele guarda não só conexão, mas está ligado
ao mesmo fato, ou seja, vinculado a mesma causa de pedir junto ao fato que fez
surgir a demanda. Ela é menos ampla que a reconvenção. Actio duplex: é uma
conseqüência material com repercussão processual. Isto é, temos procedimento
cuja natureza é vinculada ao direito material a qual ele deseja proteger (teoria
imanentista), que a simples negação sem precisar formar pedido contraposto ou
reconvenção, a simples contestação já implica em pretensão pela natureza do
pedido.
Paragrafo único do art 553. Medida antecipatória. Sequestro. Outra medida:
destituir, que é antecipatória.

Art. 553. As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e


de qualquer outro administrador serão prestadas em apenso aos autos do
processo em que tiver sido nomeado.
Parágrafo único. Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar
o saldo e não o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os
bens sob sua guarda, glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito e
determinar as medidas executivas necessárias à recomposição do prejuízo.

As ações possessórias são a maior perda de tempo. Cada ação possessória


se refere a um momento, dentro da teoria imamentista; ameaça, turbação e esbulho.
A todo direito corresponde uma ação que o assegura. A propositura de uma ação
possessória não impede que o juiz analise a situação fática existente: isso é um
exemplo de incompatibilidade com processo civil.
Outro exemplo: art 556. Aqui ele não precisa de reconvenção. Demandar.
Verbo. Pode no processo civil? Até pode, na reconvenção.
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua
posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos
resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.
Art 559. Caução é uma medida cautelar. O juiz pode exigir ou substituir o
pedido. Cautela ou contracautela. Manutenção de posse é uma medida
Caderno Coletivo Direito Noturno 2016.2
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antecipatória. Agora, numa caução? Isso é uma tutela cautelar. Quando a medida é
menos ofensiva ela só pode ser cautelar. Divisão e demarcação de terras:
característica é que são arbitrárias.
Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente
mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de
sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5
(cinco) dias para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a
coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente
hipossuficiente.
Art. 587 e 597, parágrafo II. Eles têm a mesma redação, ambos são
homologatórios de um lado. Isso é uma arbitragem a moda antiga.
Art. 587. Assinado o auto pelo juiz e pelos peritos, será proferida a sentença
homologatória da demarcação.
Art. 597. Terminados os trabalhos e desenhados na planta os quinhões e as
servidões aparentes, o perito organizará o memorial descritivo.
Art. 707. Arbitragem. O juiz indicando quem vai ser o arbitro. E depois ele
homologa essa situação.
Art. 707. Quando inexistir consenso acerca da nomeação de um regulador
de avarias, o juiz de direito da comarca do primeiro porto onde o navio houver
chegado, provocado por qualquer parte interessada, nomeará um de notório
conhecimento.
Se esses artigos são meramente homologatórios, não há litígio. Não
deveria estar nem no código.

[AULA 22] 29/11/2016 Responsável pela transcrição: Eliza M. Silva

IMPORTANTE
A prova terá 5 questões (valendo 2 pontos cada uma) e será permitido o uso
do código.
I) Cairá uma única questão sobre a primeira parte da matéria: Explicar as
alterações procedimentais e de classificação das tutelas de urgência no NCPC;
II) A prova terá uma pergunta falando especificamente sobre o texto: “A
Autonomização e a estabilização da tutela de urgência no projeto de CPC”
(análise crítica);
III) A terceira questão versará sobre: arresto, sequestro, busca e apreensão,
etc. Poder geral de cautela: o que é e para que serve;
IV) Na quarta questão serão cobrados os elementos que cercam uma teoria
geral de procedimentos especiais (um deles em latim);
V) Será solicitada a enumeração de 3 procedimentos especiais com os
seguintes questionamentos: a) aonde tem actio duplex? b) aonde se encontra

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a tutela de urgência? c) diferença procedimental e natureza da tutela; (ele


cobrará os artigos referentes a essas questões)
Questão extra (optativa): Estrutura de uma petição inicial de uma medida
antecedente. Apenas a estrutura (quais são os capítulos formais desta ação).
Obs: Em resposta ao questionamenAula do dia 29/11
IMPORTANTE - O que cairá na P2:
to de uma aluna, o professor explicou que “tem que estruturar a petição.
Ex. endereçamento é para o juízo que é competente para apreciar o
pedido principal; qualificação é legitimidade; o fato é onde se descreve o
periculum in mora; o direito é onde se descreve o fumus boni iuris; tem
que ser feito um pedido de tutela de medida antecedente (não podendo
ser incidental) – o pedido da tutela pela tutela.
O professor pediu para os alunos que precisarem de nota escreverem na
própria prova a pontuação que precisam.

Exemplos para a prova:


1. Ação Monitória: É aquele tertium genus de ação que visa assegurar crédito.
Você tem a ação condenatória (pelo rito do procedimento comum), a executiva (pelo
rito do procedimento célere da execução) ou você tem o tertium genus (entre um e
outro – não é cognição total e nem é execução total).
O tertium genus (esse ser meio peixe meio boi) fica ali no meio e fica com esse
conflito/crise de identidade.
Ação Monitória (ação do Império), também conhecida por ação descendiária ou ação
de assinação de dez dias. Baseada em prova escrita inequívoca.
I ) Identificação da tutela:
Art. 700 - “A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base
em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor
capaz [...]”
Art. 701 - “Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de
mandado de pagamento [...]”
II) Identificação da Actio Duplex:
Art. 702
“§ 8 Rejeitados os embargos, constituir-se-á de pleno direito o título executivo
o

judicial, prosseguindo-se o processo em observância ao disposto no Título II do Livro


I da Parte Especial, no que for cabível.”

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“§ 11. O juiz condenará o réu que de má-fé opuser embargos à ação monitória ao
pagamento de multa de até dez por cento sobre o valor atribuído à causa, em favor
do autor.”

2. Interdito proibitório
I ) Identificação da tutela:
Art. 567
“O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse
poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante
mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso
transgrida o preceito.”
 em que se comine ao réu: aplicação de astreinte (obrigação de fazer ou não
fazer)
 Tutela antecipatória de urgência;
II) Identificação da Actio Duplex:
Art. 555
“É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de [...]”
Art. 556.
“É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse,
demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da
turbação ou do esbulho cometido pelo autor.”

3. Ações de Família
I ) Identificação da tutela:
“Art. 697. Não realizado o acordo, passarão a incidir, a partir de então, as normas
do procedimento comum, observado o art. 335.” (tutelas previstas no
procedimento comum)
“Art. 695. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências
referentes à tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à
audiência de mediação e conciliação, observado o disposto no art. 694.” (se não for
tomada nenhuma providência referente à tutela, poderá ser tomada no procedimento
comum, conforme art. 697).
II) Identificação da Actio Duplex:
Nas ações de família, qualquer um do casal poderá propor as ações de família.
Logo, se vislumbra a actio duplex.
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III) Elemento diferenciador:


“Art. 696. A audiência de mediação e conciliação poderá dividir-se em tantas
sessões quantas sejam necessárias para viabilizar a solução consensual, sem
prejuízo de providências jurisdicionais para evitar o perecimento do direito.”

4. Oposição: Quando A e B discutem o direito de C. C então irá opor-se à


discussão.
Até a promulgação do NCPC a oposição era apenas uma espécie de embargos de
terceiro.
“Art. 682. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que
controvertem autor e réu poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição
contra ambos.”
A oposição, logicamente, está contida nos Embargos de Terceiro, pois a única
diferença é que a oposição só poderá ser oferecida até a sentença, enquanto os
Embargos poderão ser oferecidos a qualquer tempo.
I ) Identificação da tutela: quando a ação é declaratória, todas as tutelas de
parecem. Neste caso, como a natureza da oposição é declaratória, a tutela seria
cautelar, na visão do professor.

5. Embargos de Terceiro:
“Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de
conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença e, no cumprimento de
sentença ou no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da adjudicação, da
alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas sempre antes da
assinatura da respectiva carta.”

6. Inventário:
Ação declaratória. Todas as tutelas se parecem.

7. Homologação de penhor legal: penhor legal é o penhor previsto em lei.


Ex. São pessoas cuja relação contratual já lhes dá um poder pignoratício. Ex.
estalajadeiros (hoteleiros), donos de restaurante, etc.
Só se pede a homologação do penhor que já foi realizado sem tutela jurisdicional.

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Diferença entre a natureza das tutelas:


Antecipatória: Plenamente satisfativa, quando a tutela antecipa o resultado.
Cautelar: Assecuratória (ex. dou o livro para alguém guardar e será decidido no
final com quem ficará) .

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