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A análise de conteúdo (AC) é um método utilizado para análise de textos dentro das

ciências sociais empíricas, que basicamente consiste em transformar dados qualitativos (os
textos) em quantitativos (dados estatísticos). Os principais objetivos dessa análise
elencados por Bauer são: representar um “mundo”, ou seja, uma realidade, em um símbolo;
e garantir que essa representação remeta ao seu contexto é resultado de diversos
atravessamentos. Essa representação é efetuada através de uma análise rigorosa baseada
na interpretação, que é uma forma investigativa de reconstrução no sentido do
conteúdo.Segundo Searle, a AC é essencialmente a inferência de significado pela palavra.
Sobre isso, Bauer elenca duas principais dimensões de interpretação: a sintaxe (o meio de
expressão) e a semântica (sentidos denotativo e conotativo), mas também podem ser
considerados outros aspectos de acordo com as especificidades dos temas. Contudo,
apesar da AC apresentar um fator subjetivo de interpretação, é estruturada sobre métodos
rigorosos.
O processo de elaboração deste tipo de pesquisa se inicia na seleção do material de
acordo com a teoria que dá início a pesquisa. No caso de existirem muitos textos, deve ser
recolhida uma amostra, de preferência randomizada. A próxima etapa consiste na
tabulação/categorização do material de análise. É possível adotar a utilização de juízes para
uma pesquisa menos enviesada. Esses juízes seriam preferencialmente especialistas no
tema escolhido e seriam responsáveis por elencar temas para a tabulação dentro do
material de estudo. Quando esse material é de grande volume, deve-se criar um referencial
de codificação, que consiste numa seleção teórica baseada no objeto da pesquisa. Cada
código se torna um representante numérico de um categoría específica. A construção desse
referencial deve ser minuciosa e deve perpassar por testes que assegurem sua
fidedignidade. A fidedignidade diz respeito a uma interpretação objetiva dos dados, que é
garantida pela concordância de dois ou mais intérpretes. Quanto maior a objetividade dessa
concordância, maior a fidedignidade da pesquisa. Junto a esse conceito, vem o de
validação, que está relacionado com o quanto o resultado representa o texto. Entretanto,
dentro de uma AC, não existe uma valor real e verdadeiro para o texto, uma vez que não
existe uma “realidade das coisas”, mas sim pontos de vista distintos a respeito dela. Assim,
a coerência interna costuma ser o suficiente para que uma AC seja reconhecida. Além
disso, depois de construir um arquivo com os dados estatísticos baseados na codificação, é
importante a formulação de um folheto que inclua o racional para o referencial de
codificação, a distribuição de frequência dos códigos, os processos de fidedignidade e
outros dados que forem pertinente. Fazendo isso, o pesquisador estará garantindo a
transparência de sua pesquisa diante do público, o que possibilita a verificação e
reprodução do estudo.
As principais vantagens da AC são a acessibilidade ao conteúdo, quando se trata de
analisar materiais textuais já produzidos, e o baixo custo da pesquisa, quando se compara a
outras. Já as desvantagens estão relacionadas normalmente ao grande volume de
conteúdo para ser estudado e codificado. Também existe o fator da inexatidão do intérprete
ao fazer interpretações fora de contexto. Por mais que existam computadores que auxiliam
na codificação, eles não excluem a necessidade de um intérprete humano para condução
do projeto. Portanto, levando em conta todos esses fatores, percebe-se que os objetivos de
uma análise de conteúdo se relacionam com múltiplos atravessamentos e, por isso mesmo,
seus pressupostos metodológicos são prolixos e devem ser conduzidos com bastante rigor
e seriedade.
Rebeca Lima Andrade

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