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joel 1

REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDITORA
CENTRO EDUCACIONAL SEM FRONTEIRAS

R454

Revista mais educação [recurso eletrônico] / [Editora chefe] Prof.ª


Mestre Fatima Ramalho Lefone - Vol. 5, n. 6 (Agosto 2022) -. São
Caetano do Sul: Editora Centro Educacional Sem Fronteiras, 2022

1291p.: il. color

Mensal
Modo de acesso: <https://www.revistamaiseducacao.com/sumario-
v5-n6-2022>
ISSN:2595-9611 (on-line)
DOI: https://doi.org/10.51778/2595-9611.v5i6
Data da publicação: 31/08/2022

1.Educação. 2. Pedagogia. I Ramalho Lefone, Fatima, ed. II. Título


CDU: 37
CDD: 370

Gustavo Moura – Bibliotecário CRB-8/9587

www.revistamaiseducacao.com
E-mail: artigo@revistamaiseducacao.com

Rua Manoel Coelho, nº 600, 3º andar sala 313|314 – Centro São Caetano do Sul – SP CEP: 09510-111 Tel.: (11) 95075-4417

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDITORIAL CONSELHO EDITORIAL


Rodrigo da Silva Gomes
A Esperança é a última que morre? Patrícia Regina de Moraes Barillari
Lindalva Freitas
Lucinéia Contiero
Frase dita por muitas pessoas, “a Esperança é a última que Jayson Magno da Silva
morre” reforça que devemos ter fé, perseverança, confiança que as Luiz Gonzaga Lapa Júnior
coisas serão resolvidas. A Esperança fortalece nossos desejos. Mário Cézar Amorim de Oliveira
Muitas outras coisas auxiliam com que alcancemos os nossos Marcos Serafim dos Santos
objetivos: atitude, competência, paixão, otimismo, inteligência, Humberto Lourenção
conhecimento, mas, a Esperança nos mantém motivados à agir para Marcus Vinicius de Melo Oliveira
alcançar propósitos. Eu diria que a Esperança nos desperta para Alex Rodolfo Carneiro
continuar a lutar e acreditar que dias melhores virão. Hercules Guimarães Honorato
Para além do campo subjetivo, encontramos “Esperança” em William Bezerra Figueiredo
diversos outros contextos como na Educação, por exemplo. Para Teresa da Glória Paulo
assegurar a cidadania de crianças, jovens, adultos e idosos mediante o Elias Rocha Gonçalves
acesso e a permanência com sucesso em espaços educativos, recordo Gabriel Gomes de Oliveira
a Pedagogia da Esperança de Paulo Freire.(2020). Seguindo Freire, as Jónata Ferreira de Moura
relações entre as pessoas devem envolver afetividade com laços de
EDITORA-CHEFE
solidariedade, confiança e esperança. Acreditar em um mundo
Fatima Ramalho Lefone
pacificado pelo diálogo reacende a chama de que com Educação
podemos abarcar nossos sonhos.
REVISÃO E NORMALIZAÇÃO
As dimensões de amorosidade e de esperança perpassam pelo DE TEXTOS
enfrentamento de situação de vida diversas tais como a morte e a Fatima Ramalho Lefone
esperança de cura no contexto de enfermidade. Em períodos de crise, Rodrigo da Silva Gomes
não é fácil manter a crença em tempos melhores. A crise da pandemia
de covid-19, que ainda não terminou, expôs um dos maiores cenários PROGRAMAÇÃO VISUAL E
de Esperança na vida, tanto aos pacientes que sobreviveram quanto DIAGRAMAÇÃO
aos familiares e amigos que sentiram a dor da perda. Contudo, a Fabíola Larissa Tavares
Esperança ajudou a moderar o impacto dos traumas.
De forma análoga, existem fortes laços entre saúde e PROJETO GRÁFICO
religiosidade. Há indícios que pela religiosidade encontramos fatores Mônica Magalnik
influenciadores na solução terapêutica trazendo resiliência e esperança
ao paciente, aumentando as taxas de cura. COPYRIGTH
Atualmente, a Esperança é uma condição de abertura e REVISTA MAIS EDUCAÇÃO
canalização de bons pensamentos na expectativa por tempos Editora Centro Educacional Sem
melhores. Assim, esperança é movimento ao horizonte, que transcende Fronteiras (Agosto, 2022) - SP
o mundo.
Nesse olhar e crença, a esperança não é a última que morre, a Publicação Mensal e
esperança não morre nunca. Brindemos a vida com todos os multidisciplinar vinculada a
obstáculos apresentados e desafios que, aparentemente, são obscuros Editora Centro Educacional Sem
à nossa existência. Fronteiras.
Na esperança por tempos melhores e boas leituras, convido Os artigos assinados são de
todos os leitores a “degustarem” cada texto apresentado na busca por responsabilidade exclusiva dos
conhecimento e aprendizagem. autores e não expressam,
necessariamente, a opinião do
Luiz Gonzaga Lapa Junior Conselho Editorial
É permitida a reprodução total ou
Prof. Mestre e Doutor em Educação pela Universidade de Brasília. Pós-
parcial dos artigos desta revista,
Doutorado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Integrante do:
desde que citada a fonte.
(i) Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Ecologia Humana Rua Manoel Coelho, nº 600, 3º
(GEPEAEH) pela Universidade de Brasília (UnB), (ii) Grupo de Estudos e andar sala 313|314 - Centro
Pesquisas em Psicologia Moral e Educação Integral (GEPPEI) da São Caetano do Sul – SP CEP:
Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), (iii) Laboratório de Estudo 09510-111
das Relações Humano-Ambientais (LERHA) pela Universidade de
Fortaleza (UNIFOR), e (iv) Grupo de Estudos em Formação de
Professores e Interdisciplinaridade (GEFOPI) da Universidade Estadual
de Goiás (UEG).
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113 A FÍSICA E A GRAMÁTICA: UMA


SUMÁRIO ABORDAGEM INTERDISIPLINAR ENTRE A
IMAGEM REAL E VIRTUAL (FÍSICA) COM OS
11 A ABORDAGEM DA FERMENTAÇÃO NO ADVÉRBIOS DE LUGAR CÁ E LÁ
ENSINO DE MICROBIOLOGIA: UM ESTUDO (GRAMÁTICA) TIRADO DE UMA NOTÍCIA
DE REVISÃO DE JORNAL CRIMINAL
Mayara Cristina Santos da Costa Marcello Lopes Neves Filho
Umberto Euzebio
123 A FUNÇÃO DO PROFESSOR E SUAS NOVAS
27 A AFETIVIDADE NA PRÁTICA PEDAGÓGICA CONFIGURAÇÕES: UMA LEITURA CRÍTICA
E NA FORMAÇÃO DOCENTE Idayany Araújo Cardoso de Almeida
Tatiana da Silva Eugênio Guenther Carlos de Almeida

38 A CIDADANIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 134 A HISTÓRIA DA ARTE NO MUNDO


Mayra Alecxandra Gomes de Sousa Maria Silvana Vilas Boas Costa

51 A CONSTITUIÇÃO DO PENSAMENTO NA 151 A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO


IDADE CLÁSSICA E NA RENASCENÇA SAUDÁVEL NA VIDA ESCOLAR
Idayany Araújo Cardoso de Almeida Clice Jarussi Correa de Castro
Guenther Carlos de Almeida
160 A IMPORTÂNCIA DA APRENDIZAGEM
61 A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO PARA JOVENS E ADULTOS
TRABALHO DOCENTE E SUA Rosangela da Rocha Lucas de Lemos
CONFIGURAÇÃO NA SOCIEDADE DO
CAPITAL: ENTRE CRISES E CONTRADIÇÕES 168 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA
Idayany Araujo Cardoso EDUCAÇÃO INFANTIL
Andréia Pereira
72 A EDUCAÇÃO DE ALUNOS COM
TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA: 180 A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO
UM ESTUDO COMPARATIVO TCHECO / PARA AS CRIANÇAS
POLONÊS Etelvina Alves Moreira
Aparecida Sassá Benedete
191 A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA DE
80 A EFETIVAÇÃO DA INCLUSÃO ESCOLAR E INTERVENÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO
OS DESAFIOS DA ESCOLA NESTE CENÁRIO DE GRUPOS OPERATIVOS NO PROCESSO
Marta Almeida de Oliveira DE FORMAÇÃO DO EDUCADOR
Antonio Carlos Icó
89 A ESCOLA QUE TEMOS X A QUE
PRECISAMOS TER! 206 A IMPORTÂNCIA DA SALA DE LEITURA NA
Elizabete Lima de Matos Pedrosa EDUCAÇÃO INFANTIL
Valéria Soares Passos Santos
99 A EVOLUÇÃO DA ESCRITA PARA
PERCUSSÃO NO SÉCULO XX 215 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA
Felipe Aparecido de Mello FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO
Jaqueline da Silva

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229 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA 342 A MUSICOTERAPIA NA TERCEIRA IDADE:


EDUCAÇÃO DE ARTES NA EDUCAÇÃO RESULTADOS DE UMA VIDA MAIS
INFANTIL SAUDÁVEL
Milene Paula da Silva Luiz Monteiro de Morais

238 A IMPORTÂNCIA DO LETRAMENTO NA 357 A PEDAGOGIA E A LUDICIDADE


EDUCAÇÃO COM ÊNFASE NA Evane Gessi Moro
APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA
ESCRITA NO PROCESSO DE 367 A PSICANÁLISE EM TEMPOS DE
ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL PANDEMIA: O NOVO CORONAVÍRUS E A
Cristiane Santos Silva Lahdo SAÚDE COLETIVA
Adelcio Machado Santos
252 A IMPORTÂNCIA DO OLHAR E ESCUTA DA
CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 382 A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO
Vanessa Porto Alves INFANTIL
Ester de Paula Oliveira
258 A IMPORTÂNCIA DO PROERD NO
PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM 395 A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO
Joyce Croxiatti de Oliveira INFANTIL
Angela Maria Spricido Pegoraro
265 A IMPORTÂNCIA DOS PAIS NA VIDA
ESCOLAR DOS FILHOS 410 A PSICOMOTRICIDADE NO PROCESSO DE
Erika Tatiana Garcia Oliveira Toledo APRENDIZAGEM E NAS AULAS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA
277 A INCLUSÃO SOCIAL NOS ANOS INICIAIS Adriana Guerra dos Santos Almeida
DO CICLO DE ALFABETIZAÇÃO
Solange Plaça 418 A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E O
DESENVOLVIMENTO AFETIVO E
300 A INFLUÊNCIA DO JUDÔ NO INTELECTUAL DA CRIANÇA
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA Luciani Guarizzo Jeremias
Juliana da Silva Macedo
435 A RELEVÂNCIA DO MATERIAL DIDÁTICO
311 A INTERAÇÃO DE ADULTOS BEBÊS E NA MUSICALIZAÇÃO INFANTIL: UMA
CRIANÇAS NA CONSTRUÇÃO DA ESCUTA ANÁLISE EXPLORATÓRIA
Rita Rejane de Souza de Carvalho Richard Weyder de Sá Fernandes
Eliton Perpetuo Rosa Pereira
319 A LITERATURA PRESENTE NO LIVRO Igor Viana Monteiro
CARTAS DE GRACILIANO RAMOS
Danyelle Galvão Sousa 451 A TERCEIRA IDADE NA EDUCAÇÃO
ONLINE: APRENDIZAGEM SEM SAIR DE
333 A MATEMÁTICA FINANCEIRA NO CASA
CONTEXTO ESCOLAR Luiz Monteiro de Morais
Anna Caroline Machado Guedes
Senicleide Gonçalves de Lima Campos

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460 A VIVÊNCIA DAS DIFERENTES LINGUAGENS 555 AS RELAÇÕES DAS EMPRESAS DE


NA EDUCAÇÃO INFANTIL COMO CAMINHO ECOTURISMO COM A SUSTENTABILIDADE
DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO EM MARACAJAÚ
Débora Cristina da Silva Beatriz Silva do Nascimento
Sabrina Emilly Chaves Elcias
471 ALFABETIZAÇÃO MIDIÁTICA E Luiza Maria Fontes Cortez
INFORMACIONAL EDUCOMUNICAÇÃO E Maria da Glória Fernandes do Nascimento
OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO Albino
SUSTENTÁVEL (ODS)
Rodrigo de Macedo França 572 AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO E SUA FUNCIONALIDADE
478 ALFABETIZAR E EDUCAR NO DIA A DIA ESCOLAR
Gabriely Gonçalves Silva Udemia Luiz Silva de Carvalho

491 ALGUNS PROCEDIMENTOS PARA O 585 ASPECTOS IMPORTANTES DO USO DE


ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO- REMINERALIZADORES DE SOLO NO BRASIL
BRASILEIRA Maylom Ruan Paixão da Silva
Silvia Maria Venancio da Silva Rosemery da Silva Nascimento
Adriane Marques de Souza
500 ALTERNATIVAS PARA O ENSINO-
APRENDIZAGEM PÓS-PANDEMIA 599 ATLETISMO NA ESCOLA
Sebastiana Aparecida Perilis Marco Antonio Chalita
Aryelle da Silva Santos Barreto
510 APRENDER COMPREENDER
COMPARTILHAR: A AVALIAÇÃO SOB 614 AVALIAÇÃO E REAVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
OLHARES DIFERENCIADOS NO DESENVOLVIMENTO DE UMA CRIANÇA
Cláudia Francisca de Souza Vieira NEUROATÍPICA NA PANDEMIA
Márcio Luiz Oliveira de Aquino
521 ARTEFATOS ÍNDIGENAS: UMA VISÃO
MINERALÓGICA E GEOLÓGICA 624 BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DO
Rosemery da Silva Nascimento ESPORTE EDUCACIONAL
Julio Richard Furtado Serra Idayany Araújo Cardoso de Almeida
Milena Monteiro Rosa Guenther Carlos de Almeida

534 AS CONSEQUÊNCIAS DA AUSÊNCIA 635 BRINCAR COM O QUE NÃO É BRINQUEDO


PATERNA NA VIDA DAS CRIANÇAS E Débora Aline Trajano Santos
ADOLESCENTES
Paula Dassie Moreno Marabesi 642 CAPACITISMO O ABORTO SOCIAL:
#ÉCAPACISTISMO QUANDO -
545 AS CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA MOVIMENTO EM PROL DA
PARA O DESENVOLVIMENTO CONCIENTIZAÇÃO A RESPEITO DO
EDUCACIONAL DOS ESTUDANTES CAPACITISMO NAS RELAÇÕES SOCIAIS
Alcione Santos Tamara de Jesus Figueira Cardoso

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649 CIÊNCIA TAMBÉM É COISA DE CRIANÇA: 748 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM


PERSPECTIVA EM RELAÇÃO AO FAZER LEITURA E ESCRITA
CIENTÍFICO NOS ANOS INICIAIS DO Claudia Silva Nascimento Mancini
ENSINO FUNDAMENTAL
Edilene Santana Pereira 766 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: UM
ESTUDO SOBRE O FRACASSO DAS
658 COMO O PROFESSOR IDENTIFICA AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA
ALTERAÇÕES QUE INTERFEREM NO ALFABETIZAÇÃO
PROCESSO DE LEITURA E ESCRITA EM José Claudio Pereira Martins
ESPECIAL A DPAC- DESORDEM DO
PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL 784 DISLEXIA NO ÂMBITO ESCOLAR
Sueli Rutkauskas Gomes Willian Messias dos Santos

676 CONCEITO DE ARTE EM EDUCAÇÃO 795 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ARTE E EDUCAÇÃO


INFANTIL Andréia Ana Aparecida Silva Leal
Sidneia Silvia Barasini
804 ENSINO DE FÍSICA E A INCLUSÃO DO
687 CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA NA ALUNO AUTISTA: METODOLOGIAS E
PSICOPEDAGOGIA RECURSOS APLICADOS A DIDÁTICA DO
Andréa Gomes Malta dos Santos ENSINO FUNDAMENTAL AO MÉDIO
Maria Alice do Nascimento Sousa
694 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA
PARA O PLANEJAMENTO COM CRIANÇAS 820 ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM TEMPOS
COM TRANSTORNO DO ESPECTRO DE PANDEMIA: UM RELATO DE
AUTISTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO REMOTO
Laís Konya EMERGENCIAL
Danyelle Galvão Sousa
709 CRIANÇAS SURDAS NO CENTRO DE
EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO DE 834 ESTÉTICA DA ARTE AFRICANA NA ARTE
SÃO PAULO: ANTECIPANDO REFLEXÕES OCIDENTAL
PARA OFERECER EDUCAÇÃO DE Fernanda Reginaldo da Cunha Costa
QUALIDADE
Janaina Helena da Mota 846 EXPERIENCIAS DE EVALUACIÓN DOCENTE
DURANTE LA PANDEMIA. VOCES DE
722 CURRÍCULO UNIVERSIDADE E PÓS- ACADÉMICAS EN EDUCACIÓN SUPERIOR
GRADUAÇÃO: OS IMPACTOS DA Cirila Cervera Delgado
REFORMA DO ENSINO SUPERIOR Mireya Martí Reyes
Idayany Araújo Cardoso de Almeida
859 IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO SÃO JOSÉ
731 DESAFIOS DA ALFABETIZAÇÃO NO ENSINO LIBERTO (BELÉM-PA) NO ENSINO EM
REMOTO NO CONTEXTO DA PANDEMIA MINERALOGIA E GEMOLOGIA
COVID-19 Adriane Marques de Souza
Melka Carolina Faria Catelan Rosemery da Silva Nascimento
Carla Priscila Trombone Garcia Carlos Andrei Pedroso da Silva
Emanoéli Cristina Sanches Marques
Elimeire Alves de Oliveira

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

870 IMPORTÂNCIA DOS LAÇOS AFETIVOS NO 964 O ENSINO DE HISTÓRIA E A TEMÁTICA


PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ÉTNICO RACIAL NAS ESCOLAS
COGNITIVO DO ALUNO Andreia de Araújo Vieira
Edite Gomes de Lima Marra
974 O HOMEM SUAS RELAÇÕES COM O
879 INCLUSÃO DE ALUNOS COM SÍNDROME OUTRO E O MEIO AMBIENTE
DE ASPERGER Alexandre Vicentini
Wanessa Calazans Francisco
991 O LÚDICO COMO INSTRUMENTO
886 INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS EM FACILITADOR DA APRENDIZAGEM
ALUNOS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT Jéssica Gomes Campos Fandim
DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)
NO CONTEXTO ESCOLAR 1002 O MOVIMENTO DIALÉTICO DO SILÊNCIO
Veridiana de Fátima Fialho Furtado NA PERSPECTIVA DA COMPREENSÃO DA
ANÁLISE DO DISCURSO
896 LEI Nº 10.639 DE 09 DE JANEIRO DE 2003- Antonio Carlos Icó
APORTES PARA A CONSTRUÇÃO DE UM
CURRÍCULO DECOLONIAL 1014 O PAPEL DO DIRETOR NO ÂMBITO
Angela Maria Leite Ferreira ESCOLAR
Liliane Lima da Silva Ribeiro
905 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO DA
GEOLOGIA DO ARQUIPÉLAGO DE 1021 O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA
FERNANDO DE NORONHA PE INSTITUIÇÃO AO ESCOLAR
Adriane Marques de Souza Denise Santos de Souza
Rosemery da Silva Nascimento
1033 O SUPERVISOR DE ENSINO E O
917 LÍNGUA PORTUGUESA E O PAPEL DA DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
ESCOLA NA FORMAÇÃO DO DOMÍNIO E PEDAGÓGICO
VALORIZAÇÃO DA LÍNGUA MATERNA NA Maria Cristina Teles de Oliveira
EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA
Eliane Camargo Moura 1040 O TRABALHO COMO PRINCÍPIO
EDUCATIVO
928 LUDICIDADE E MOTRICIDADE A CRIANÇA E Ângela Maria Gonçalves
O MOVIMENTO Edna Sousa Barbosa
Katia Cristina Alves
1048 O USO DE JOGOS DIDÁTICOS COMO
937 MÚSICA E EDUCAÇÃO INFANTIL: FERRAMENTA NO ENSINO DE QUÍMICA
INFLUÊNCIA E RESULTADO EXPRESSIVO EM TEMPOS DE PANDEMIA
Maria Elisa Portilho Rodrigues de Carvalho Micheline Soares Costa Oliveira
Kethelly Rayne Lima de Oliveira
950 O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A Rodrigo Nobre de Souza Borba
CONTRIBUIÇÃO DO PROFESSOR PARA O Yanna Julie da Silva Freitas
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA Tifanny Almeida Fernandes
Sandra Moreira Eduardo de Castro Campos

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1055 O USO DO PHOTOMATH COMO 1128 REFLETINDO SOBRE A EDUCAÇÃO


FERRAMENTA DE AUXÍLIO PARA O ENSINO INFANTIL
E APRENDIZAGEM DE EQUAÇÕES DO 2° Katia Regina Paduano Zanona
GRAU
Eleniuza Sampaio de Freitas de Oliveira 1147 RELATO DE EXPERIÊNCIA DA RESIDÊNCIA
Layla Raquel Barbosa Lino PEDAGÓGICA DE QUÍMICA NA ESCOLA DO
José Cirqueira Martins Júnior LICEU DO CONJUNTO CEARÁ DURANTE
TEMPOS DE PANDEMIA DO COVID-19
1070 PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES DA José Augusto Fernandes de Meneses
UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO Micheline Soares Costa Oliveira
ACARAÚ EM RELAÇÃO ÀS CONTRIBUIÇÕES Regis Evaristo de Pinho
DO PIBID COMO PROGRAMA DE
FORMAÇÃO DOCENTE 1161 RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: OS DESAFIOS
Ludimila Ferreira de Sousa Rodrigues DA INICIAÇÃO A DOCÊNCIA EM MEIO
Misserlandia Mota da Silva REMOTO
Ana Cristina de Sousa Carneiro Micheline Soares Costa Oliveira
Wyvaldy Freire Silva Éven de Lima Paiva
Elton Patrick Barbano Sara Alves Ribeiro da Silva
Márcia Malveira Cruz Feitosa
1085 PERCEPÇÕES SOBRE VIOLÊNCIA
FEMININA: O QUE A ESCOLA TEM COM 1168 RETINOPATIA DA PREMATURIDADE:
ISSO? É POSSÍVEL SUA CONTRIBUIÇÃO NA REVISÃO INTEGRATIVA
CONSCIENTIZAÇÃO E ERRADICAÇÃO DOS Herundino Neto Moura Moreira
ABUSOS? Flávia Nunes Vieira
Soraia Souza Cardoso Wanúbya do Nascimento Moraes Campelo
Moreira
1100 PRECISAMOS FALAR SOBRE GÊNERO COM Salma Saraty Malveira
OS ADOLESCENTES Heliana Helena de Moura Nunes
Edilamar Caonetto
1176 SAÚDE NA ESCOLA: AÇÕES DE
1112 PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E SUAS PROMOÇÃO DE SAÚDE E PREVENÇÃO DE
CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO EM DOENÇAS POR MEIO DO PROJETO DE
SE TRATANDO DE ALUNOS AUTISTAS EXTENSÃO ALÉM DOS MUROS EM
Lusia Lusilene de Oliveira Santos ESCOLAS DA REDE DE ENSINO PÚBLICO
DOS MUNICÍPIOS DE SANTA LUZIA E BELO
1119 REDES DE APOIO PARA A AMAMENTAÇÃO HORIZONTE
E DOAÇÃO DE LEITE MATERNO POR MEIO João Marcelo Guimarães de Abreu
DAS MÍDIAS DIGITAIS Nívea Vilar Cardoso Luciene Rodrigues Kattah
Aryanne Santana Tavares de Arruda Luísa Pettz Oliveira Hostt
Maria Emília Alencar de Medeiros Lucena Pedro Luca Amaral Ferreira
Giovanna Lima Figueiredo da Silva Rafaela Gatti Lopes
Joana Karollyne de Siqueira Mendes Rayssa Miranda de Oliveira Ferreira
Waleska Ferreira Xavier
Regina Lígia Wanderlei de Azevedo 1183 SE A EDUCAÇÃO VEM DE BERÇO A
Cristina Ruan Ferreira de Araújo EDUCAÇÃO AMBIENTAL DEVE COMEÇAR
Ana Janaina Jeanine Martins de Lemos NA EDUCAÇÃO INFANTIL!
Jordão
Adine Cordeiro Betioli

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

1192 SEXTING: EXPRESSÃO CONHECIDA OU 1275 IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO BILÍNGUE


VIVENCIADA NA ADOLESCÊNCIA? PARA SURDOS
Alexandre Jeremias Renata Catarina Silva Tenca
Érika Matos Pereira da Silva
Juliana da Silva de Almeida 1281 CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA
Gabriela Moitinho Custódio FAMÍLIA
Marta Delgado Martins Giovana Barbosa Almeida
Graciele Fagundes do Nascimento
Monalisa de Cássia Fogaça

1202 TRABALHO DOCENTE PRECARIZAÇÃO DO


TRABALHO E EDUCAÇÃO FÍSICA
Idayany Araújo Cardoso de Almeida

1217 TRAJETÓRIAS EM RECONSTRUÇÃO:


ASPECTOS HISTÓRICOS DO MUNICÍPIO DE
PRESIDENTE SARNEY–MA
Ana Paula Durans Lopes
Altemar Lima

1229 UMA LEITURA DISCURSIVA DO EROS


PLATÔNICO PRESENTE NO AMOR DO
CONTO A vela ao Diabo DA OBRA
TUTAMÉIA (1967) DE JOÃO GUIMARÃES
ROSA
Wanúbya do Nascimento Moraes Campelo
Moreira
Liliane Afonso de Oliveira

1245 USO DA METODOLOGIA DE


APRENDIZAGEM BASEADA EM
PROBLEMAS (ABP) NO CURSO DE
ARQUITETURA E URBANISMO
Maria Cláudia Lima da Cruz

1255 A AUTORIA DO GRAVADOR: UM DILEMA


DA ARTE NO SÉCULO XIX NO CONTEXTO
DOS ARTISTAS VIAJANTES
Angela Maria de Queiroz Campos Mello
Martins Pinto

1262 A MAGIA VISTA POR APULEIO E SUA


RELAÇÃO COM O LIVRO O ASNO DE OURO
Flávio Coutinho Gonçalves

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A ABORDAGEM DA FERMENTAÇÃO NO
ENSINO DE MICROBIOLOGIA: UM ESTUDO DE
REVISÃO
Mayara Cristina Santos da Costa 1
Umberto Euzebio 2

RESUMO: A microbiologia é a ciência que abrange conhecimento sobre os estudos de seres com
dimensões microscópica e suas atividades. Por meio do estudo da microbiologia é que
conseguimos observar e compreender os processos vitais e os pequeno detalhes, além de
compreender os benefícios e os malefícios desses micro-organismos. O ensino de ciências
preocupa-se em buscar forma que conecte o que é ensinado em microbiologia em sala de aula
ao cotidiano dos alunos, proporcionado um aprendizado que vá além dos modelos tradicionais.
O objetivo desse estudo é evidenciar na literatura como vem sendo abordada a fermentação no
ensino de microbiologia. A metodologia abordada é uma revisão narrativa da literatura. Para a
coleta de dados foi consultada base de dados do Google Acadêmico e Scielo. A partir da busca
dos artigos nas bases de dados evidenciadas, foram selecionados dez estudos para esta revisão.
Todos os trabalhos foram realizados no âmbito escolar envolvendo alunos e professores e
diversas abordagens didáticas foram apresentadas a fim de melhor compreensão sobre a
abordagem fermentação no ensino de microbiologia. As técnicas apontadas, bem como a forma
como o conhecimento foram expostos à comunidade escolar nos estudos apontados, são
fundamentais para a compreensão dos estudantes. As atividades práticas são de grande

1 Professora Licenciada em Ciências Biológicas (Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT,


Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas, Campus Vale do Teles Pires)
2 Professor Mestre e Doutor (Universidade de Brasília – UnB). Licenciado em Ciências e Biologia, Letras e

Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

relevância no ensino de Ciências e Biologia para a difusão do conhecimento científico, e os


benefícios são percebidas quando os alunos começam a compreender os processos de estudo e
oferecem novas ideias baseadas na experimentação.

Palavras-Chave: Ensino; Estratégias didáticas; Experimentação.

THE APPROACH TO FERMENTATION IN MICROBIOLOGY TEACHING:


A REVIEW STUDY
ABSTRACT: Microbiology is the science that encompasses knowledge about the studies of beings
with microscopic dimensions and their activities. It is through the study of microbiology that we
are able to observe and understand vital processes and small details, in addition to understanding
the benefits and harms of these microorganisms. Science teaching is concerned with finding a
way to connect what is taught in microbiology in the classroom to the daily lives of students,
providing learning that goes beyond traditional models. The objective of this study is to show in
the literature how fermentation has been approached in the teaching of microbiology. The
methodology addressed is a narrative review of the literature. For data collection, Google Scholar
and Scielo databases were consulted. From the search for articles in the evidenced databases,
ten studies were selected for this review. All works were carried out in the school environment
involving students and teachers and several didactic approaches were presented in order to
better understand the fermentation approach in microbiology teaching. The techniques
mentioned, as well as the way in which the knowledge was exposed to the school community in
the mentioned studies, are fundamental for the students' understanding. Practical activities are
of great relevance in Science and Biology teaching for the dissemination of scientific knowledge,
and the benefits are perceived when students begin to understand the study processes and offer
new ideas based on experimentation.

Keywords: Teaching; Didactic strategies; Experimentation.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO embora essa área seja bastante relevante,


constantemente esse ensino é conduzido de
A microbiologia é a ciência que abrange maneira desinteressada, pouco compreensiva
conhecimento sobre os estudos de seres com e exclusivamente teórica (MORESCO, et al.,
dimensões microscópica e suas atividades 2017; FARIA; BANDEIRA, 2009).
(RABELO, et al., 2020). Por meio do estudo da Como relacionar a temática saúde no ensino
microbiologia é que conseguimos estudar os de microbiologia, afim de auxiliar
organismos em detalhes e observar seus significativamente os educandos em seu
processos vitais durante o crescimento, desenvolvimento crítico e consciente a
reprodução, envelhecimento e morte (AVILA- respeito dos micro-organismos no seu
CAMPOS, 2016), além de compreender os cotidiano? Ensinar microbiologia com
benefícios e os malefícios desses micro- metodologias específicas pode promover o
organismos. O conhecimento básico sobre desenvolvimento crítico e a mudança de
microbiologia é importante pois essa área está hábitos e atitudes dos alunos.
diretamente ligada à saúde, a higiene pessoal e Nessa perspectiva, Cassanti, et al. (2008),
a processos relacionados ao funcionamento do afirmam que uma das questões que dificultam
meio ambiente. o aprendizado da Microbiologia, é a provável
O ensino de Ciências e Biologia deve ser falta de conexão entre o mundo microbiológico
pensado de modo que possibilite relacionar os e o cotidiano. Portanto, esse estudo justifica-se
conteúdos de microbiologia aprendidos em na importância de estabelecer um paralelo
sala de aula com o cotidiano dos alunos, entre ensino de microbiologia e saúde com o
oferecendo uma aprendizagem que transcenda cotidiano, para que este tema não seja algo
o modelo tradicional. Para um melhor apenas abstrato, atribuindo significados que
desenvolvimento do ensino-aprendizagem, é facilitem a compreensão dos conceitos
importante que a formação dos professores científicos.
seja mais científica e contextualizada para que Assim, o objetivo deste estudo é apresentar,
desenvolva estratégias e use tecnologias para a partir de base de dados bibliográficos, como
estimular os alunos a conhecer os micro- a temática fermentação vem sendo abordada
organismos e os fenômenos a eles vinculados no ensino de microbiologia.
(OLIVEIRA; MORBECK, 2019), assim como sua
relação com a vida cotidiana que proporciona
o despertar do aluno para a conscientização da
REVISÃO DE LITERATURA
utilização desta Ciência na vida das pessoas O ESTUDO DA
(KIMURA, et al., 2013). MICROBIOLOGIA
Cassanti, et al. (2008) enfatiza que na A microbiologia é entendida como a ciência
maioria das vezes, os microrganismos são que estuda os microrganismos e suas
abordados no currículo escolar como agentes atividades biológicas. Estes seres
causadores de doenças, mesmo que a minoria microscópicos são capazes de viver como uma
seja patogênica para o homem. Portanto, célula única ou em agrupamentos. Eles podem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ser encontrados em quase todos os lugares da compondo a microbiota natural estabelecendo


terra, inclusive em ambientes com condições relações benéficas com nosso organismo;
extrema, possuem uma vasta diversidade de alguns são utilizados no saneamento básico e
tamanho, forma, complexidade, habitat, ambiental; outros colaboram fortemente nos
funções e são representados pelas bactérias, ciclos naturais no planeta; operam na
fungos, protozoários, algas unicelulares e os fabricação de alimentos, fármacos e
vírus (MADIGAN, et al., 2016; MEDEIROS et al., cosméticos, além de participarem da cura de
2017). doenças quando utilizados na terapia gênica
O estudo da Microbiologia propicia aos (PRADO, TEODORO, KHOURI, 2004;
indivíduos a serem mais conscientes em JACOBUCCI, JACOBUCCI, 2009). Os
relação a aspectos inseridos no dia-dia, como microrganismos interagem conosco no dia a
higiene pessoal, meio ambiente e a saúde. Esta dia, sendo assim, o conhecimento do mundo
área do conhecimento por muito tempo foi microbiológico e a compreensão dos mesmos,
restrita às salas de aula do Ensino Superior ou associados à propagação de doenças
a laboratórios de pesquisa, e foi ganhando relevantes, aos benefícios à saúde, ao exercício
espaços dentro de salas de aulas da educação e manutenção da vida em padrões ecológicos,
básica (CASSANTI 2008). Contudo, a sua é realmente bem significativo (BARBOSA;
abordagem ainda é pouco explorada pelos OLIVEIRA, 2015).
professores tanto no Ensino Fundamental
quanto no Ensino Médio, sendo lecionada nas O ENSINO E APRENDIZAGEM
escolas de maneira totalmente teórica
(CÂNDIDO, et al., 2015). DA MICROBIOLOGIA
O conhecimento sobre microbiologia ajuda o O estudo dos microrganismos é um
estudante a descobrir a influência dos conteúdo do currículo do ensino fundamental
microrganismos em sua vida, bem como as e médio extremamente importante por
funções essenciais desses organismos no aproximar diversos temas relacionado à saúde
ambiente. É importante que os estudantes, humana, aos alimentos, a conservação do meio
independentemente de sua classe social, ambiente e também a manutenção do
relacionem esses microrganismos com a equilíbrio biológico. Todavia, é um assunto um
propagação de doenças, ciclagem de pouco complexo e os alunos podem ter
nutrientes, processos industriais, dentre outras dificuldade em compreendê-lo (DANTAS;
atividades (CASSANTI; ARAÚJO; URSI, 2008). RAMALHO, 2020).
Os micro-organismos, por serem conhecidos Os conceitos de micro-organismos
como causadores de doenças como AIDS, abordados nos livros didáticos estão mais
meningite, tuberculose, entre outras, são relacionados à saúde, com bastante ênfase aos
vistos de maneira errônea pela maioria das micro-organismos que causam doenças, sendo
pessoas como seres prejudiciais aos seres os outros processos pouco abordados (VILAS
humanos. Entretanto, existem micro- BOAS; MOREIRA, 2012). Para muitos alunos, os
organismos que vivem no corpo humano microrganismos estão associados a pequenos

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seres causadores de doenças e que são Para Pessoa, et al., (2012), o conteúdo
prejudiciais aos seres humanos e outros programático escolar está dissociado da
animais. Mesmo que grande parte dos realidade do aluno, ou seja, aquilo que é
microrganismos sejam benéficos e esteja disseminado em sala de aula nem sempre está
diretamente relacionado com o nosso correlacionado ao cotidiano. De acordo com
cotidiano, a menor parcela que apresenta Cassanti, et al. (2008), uma das prováveis
características patogênicas e são prejudiciais causas dessa negligência pelos professores é
em nossas vidas tem uma repercussão bem devido sobretudo à dificuldade na abordagem
maior sobre a concepção destes estudantes de estratégias de ensino-aprendizagem mais
(KIMURA, et al., 2013). dinâmicas e atraentes para os alunos. Além do
A escola como instituição de ensino é um mais, a estrutura escolar bem como a
instrumente de grande relevância que pode disponibilidade de materiais restringe em
colaborar na abordagem dos assuntos muito a ação do professor em relação as
relacionados à saúde. Neste cenário, os PCN práticas de microbiologia (SILVA, BASTOS,
consideram a saúde um tema transversal na 2012).
reforma educacional brasileira, de interesse É preciso que haja modificações na forma de
social que propicia ao aluno entender e cuidar apresentação dos conteúdos de microbiologia,
do próprio corpo, proporcionando um olhar pois a maioria dos alunos tem uma visão errada
crítico sobre a relação – hábitos e qualidade de e desconexa de situações do cotidiano. Nesse
vida (BRASIL, 1998). sentido, a adoção de metodologias de caráter
Sendo assim, é importante procurar investigativo, pode proporcionar um
identificar os conhecimentos prévios dos aprendizado mais significativo, pois, permite
alunos, visando desconstruir as ideias errôneas que o aluno busque resolver seus
sobre essa temática, e ao mesmo tempo inserir questionamentos por meio de vários meios
conceitos científicos, reformulando os saberes (SODRÉ NETO; VASCONCELOS, 2017). Freire
dos alunos, mediante estratégias que sejam (2000), afirma que quanto mais pusermos em
capazes de promover uma aprendizagem prática de forma metódica a nossa capacidade
satisfatória e significativa (AUSUBEL, 2003). de indagar, de comparar, de duvidar, de aferir,
Conforme Silveira, Oliveira e Araújo (2015), podemos tornar seres mais crítico e
as diversas concepções dos indivíduos aos conscientes.
fatores relacionados com a saúde e a O ensino de Microbiologia precisa de
prevenção das doenças estão intimamente atividades que deixem manifestar-se um
ligadas à cultura em que os estudantes estão universo novo, de organismos infinitamente
inseridos e por meio da qual elas interpretam o pequenos. Essas atividades também devem
mundo. Esse fato reforça a influência do proporcionar a mudança de hábitos e atitudes
cotidiano para o conhecimento científico daqueles que participam do processo de
assimilado pela estrutura cognitiva dos aprendizagem e compreensão dos conteúdos
estudantes (BRUM, 2014; BRUM; SILVA, 2015). abrangidos, como por exemplo as atividades
práticas que abrangem compreensão,

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interpretação e assimilação dos conteúdos fermentados, hidromel, mel de abelha


microbiológicos. Assim possibilita ao aluno fermentado, vinho, uva fermentado, iogurte e
desenvolver a capacidade de observar, queijo, leite fermentado estão entre os
interpretar, inferir, formular hipóteses, e fazer primeiros alimentos fermentados (GAVA, et al.,
predições e julgamentos críticos a partir da 2009).
análise de dados (BARBOSA; BARBOSA, 2010). A fermentação é um processo capaz de
Ferreira (2010), afirma que é importante produzir energia para alguns fungos e bactérias
investigar a concepção dos estudantes em que utiliza a molécula de glicose, que é
relação ao conteúdo de microbiologia e transformada por uma série de eventos
elaborar sugestões que possam tornar este químicos para produzir álcool etílico ou ácido
tema mais próximo do dia a dia dos alunos, lático, dependendo do microrganismo
bem como auxiliar os professores no utilizado. As empresas de alimentos o usam
aprimoramento do processo da aprendizagem para fazer pão, bebidas alcoólicas e laticínios.
de assuntos abstratos. Nesse contexto, Com isso, propor um vínculo entre
Zompero (2009), corrobora afirmando a fermentação e microrganismos incentiva os
relevância de se compreender como os alunos a estudar a temática, contribuindo para
indivíduos tecem relações entre os o processo de aprendizagem (PAGOTO, et al.,
microrganismos e a saúde humana, uma vez 2016).
que estas podem contribuir para Há quatro tipos de fermentação com uso nos
transformações nos currículos escolares, e alimentos: natural, alcoólica, lática e acética.
desenvolvimento de estratégias voltadas à Dentre os alimentos com benefícios da
Educação para Saúde. fermentação natural, se destaca o pão, na qual
Sendo assim, para se obter uma se utiliza a ação das leveduras como a
aprendizagem efetiva, é interessante que as Saccharomyces cerevisiae e bactérias
atividades práticas e experimentais sejam selvagens em sua produção do pão de
voltadas para o cotidiano do aluno abrangendo fermentação natural (SÍLVIA; FRÍSCIO, 2021).
situações por ele vivenciadas. Essa abordagem Na fermentação lática, temos a exemplo o
instiga o aluno a querer aprender, kefir, que é um leite fermentado por um
compreendendo a importância do aprendizado microbioma simbiótico de bactérias ácido-
e também a sua utilidade (MERAZZI; OAIGEN, láticas e leveduras de profunda complexidade,
2008). com propriedades probióticas (DIAS, et al.,
2020). Os grãos de kefir apesar de suas
FERMENTAÇÃO diferentes origens regionais mantém em sua
composição microbiológica a predominância
MICROBIOLÓGICA de microrganismos do gênero Lactococcus,
A fermentação de alimentos é um método Leuconostoc e Lactobacillus (BERNARDES,
consagrado pelo tempo de preservação de 2018).
certos alimentos que muitos desconhecem a Já na fermentação alcóolica, ocorre o
ciência por trás deles. Cerveja, grãos processo de transformação de açúcares

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fermentescíveis, como a glicose e frutose, em conhecimento científico e cotidiano (WARTHA,


etanol e dióxido de carbono (CO2). Essa et al., 2013; BRAIBANTE, et al., 2014).
transformação pode ser realizada Nesse contexto, o conhecimento científico
biologicamente por diferentes assume um papel de destaque, tendo o ensino
microrganismos, principalmente na ausência da Microbiologia grande relevância, pois os
de oxigênio. Os microrganismos presentes no estudantes adquirem conhecimentos que vão
fermento biológico, como as leveduras da além da saúde, visto que estão intimamente
espécie Saccharomyces cerevisiae, atuam ligados com o cotidiano das pessoas, como na
enzimaticamente sobre os glicídios (açúcares) alimentação. Contudo, a fermentação é um
produzindo etanol (álcool) e gás carbônico tema que apresenta dificuldade de
(SAKANAKA, et al., 2020; RECHOTNEK; entendimento por parte de diversos alunos no
PRICINOTTO, 2021). ensino básico (FERREIRA; BARROS, 2017), e faz-
Na fermentação acética, acontece o se necessário que professores busquem
processo utilizado comumente na produção de desenvolver atividades de ensino que
vinagres, nesta ocorre uma reação química favoreçam o entendimento da temática nos
corresponde à transformação do álcool em seus aspectos conceituais e procedimentais,
ácido acético por determinadas bactérias, portanto, é importante analisar de que
conferindo o gosto característico de vinagre maneira vem sendo abordado esse conteúdo
(SAKANAKA, et al., 2020). Essas bactérias no Ensino Fundamental e Ensino Médio.
acéticas pertencem à família
Pseudomonodaceae; aos gêneros Acetobacter MATERIAL E MÉTODOS
e Gluconobacter. As principais espécies de
O estudo é uma revisão narrativa da
bactérias acéticas são: Acetobacter aceti,
literatura a respeito das práticas de ensino de
Acetobacter pasteurianus, Acetobacter
microbiologia e suas relações com o cotidiano.
xylinum, Acetobacter schützenbachii e
A revisão narrativa é compreendida como um
Gluconobacter oxydans (EMBRAPA, 2006).
procedimento metodológico que visa à
Os microrganismos são ubíquos e exercem
descrição e detalhamento de um determinado
incontáveis influências na sociedade e em
tema (ROTHER, 2007), trazendo informações
nossos hábitos (MORESCO, et al., 2017). A
relevantes de modo exploratório e qualitativo.
produção científica e tecnológica se faz
A pesquisa foi realizada por um período de
presente em todos os setores da sociedade
três meses. A estratégia de busca foi realizada
contemporânea, e temas envolvendo
por meio dos descritores “ensino de
microorganismos são mais próximos da
microbiologia”, “fermentação” e “bactérias
vivência do estudante, por contemplar
benéficas” utilizando os operadores booleanos
aspectos de natureza social, econômica e
AND e OR para construção das estratégias de
tecnológica, e além disso, contribui não apenas
busca nas bases de dados do Google
como um fator de motivação para o seu
Acadêmico e Scielo.
envolvimento e estudo, mas também para
Foram considerados estudos com
estabelecer uma relação dialógica entre
abordagens didáticas realizadas no contexto

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escolar envolvendo alunos e professores sobre RESULTADOS E DISCUSSÃO


a técnica de fermentação no ensino de
A partir de artigos encontrados nas bases de
microbiologia a fermentação publicados nos
dados, foram selecionados doze deles
últimos 10 anos.
realizados no âmbito escolar envolvendo
A seleção das publicações foi considerada alunos e professores com diferentes
em três etapas: primeiramente por meio da abordagens didáticas para melhor
leitura prévia de títulos dos estudos compreensão sobre a fermentação no ensino
encontrados, em seguida, os artigos de microbiologia, sendo cinco desenvolvidos
previamente selecionados foram filtrados no ensino fundamental II e, sete no ensino
mediante a leitura de seus resumos, quando foi médio. A abordagem, na maioria das vezes, foi
avaliada a adequação quanto aos critérios de
por meio de experimentações em atividades de
inclusão, e por fim, feita a leitura na íntegra,
ensino de Ciências e Biologia.
foram selecionados artigos relacionados aos
Sendo assim, foi estruturado o Quadro 1
descritores citados e que apresentaram maior
disposto com características de análise
relevância sobre o objetivo desse estudo, com
segundo o título, autores/ano de publicação e
abordagens didáticas realizadas no contexto
objetivo.
escolar. Após essas etapas, chegou-se à
quantidade de 12 estudos incluídos nesta
revisão.

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A temática sobre bactérias é bastante degustação de iogurte. Os participantes


abordada nos anos finais do ensino receberam uma receita detalhada de como
fundamental, sobretudo no 7º ano no ensino produzir iogurte e leite fermentado caseiro.
de ciências, nesse sentido, alguns estudos Percebeu-se que o desenvolvimento deste
analisados apresentaram experimentação trabalho permitiu tanto a desmistificação de
utilizando bactérias fermentadoras (SIMCH; preceitos quanto o aprendizado científico de
GÜLLICH, 2016; BIANCHI, et al., 2018; assuntos que permeiam a Microbiologia.
RODRIGUES, et al., 2021). Simch e Güllich Ainda no ensino fundamental, dois estudos
(2016), relataram um experimento por meio da de experimentação foram realizados
construção de uma iogurteira, observando as (MORESCO et al., 2017; SILVA, et al., 2021).
reações que acontecem com a fermentação, Moresco, et al. (2017), realizaram uma oficina
desenvolvendo conceitos biológicos. A prática com atividades experimentais em turmas de 6º
da iogurteira foi satisfatória, e a partir de ano e 8º ano, incluindo a temática
questionamentos e a participação ativa dos fermentação, onde vários exemplos de
alunos, pode-se perceber que trazendo o utilização dos microrganismos na indústria
conteúdo mais próximo da realidade, neste alimentícia e farmacêutica foram discutidos, os
caso por meio de um experimento, é possível alunos tiveram êxito no aprendizado, sabendo
facilitar o aprendizado dos alunos. apontar os benefícios dos microrganismos e
Rodrigues, et al. (2021), também realizaram estabelecer conexões com suas experiências
prática experimental com a utilização das de vida.
bactérias do leite fermentado (Lactobacillus Silva, et al. (2021), investigaram o
sp), e este foi importante para que os discentes desenvolvimento de uma sequência de
passassem a compreender que os atividades com alunos do 9º ano, sobre a
microrganismos estão presentes em seu produção artesanal de iogurte e o estudo da
cotidiano e que somente uma pequena parcela fermentação do leite em uma visita à uma
desses trazem malefícios para o ser humano. fábrica. Os estudantes mostraram-se
Dessa forma foi possível constatar que os entusiasmado com o processo de fermentação,
participantes da atividade tiveram um novo e em análise do questionário sobre o conteúdo
olhar acerca das bactérias trabalhadas aplicado, foi possível verificar que os
anteriormente de forma teórica em uma sala estudantes continham informações muito
de aula convencional. importantes e que se encaminhavam para
Bianchi, et al. (2018), apresentaram uma imprimir um valor significativo nos saberes de
outra proposta que foi desenvolvida em aprendizagem dos alunos.
encontros, com atividades que envolviam No ensino médio, o ensino de microbiologia
conceitos gerais dos microrganismos. No é abordado sobretudo no 2º ano inserido na
estande da fermentação, os estudantes disciplina de biologia, como evidenciado por
abordaram a importância dos microrganismos alguns estudos aqui apontados (SANTOS;
na alimentação com práticas que foram COSTA, 2012; PAGOTO, et al., 2016; SILVA;
expostas no terceiro encontro, assim como a MACIEL, 2017; SOUZA, et al., 2022). Souza, et

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al. (2022), apresentaram propostas de práticas para demonstrar os processos fermentativos,


de ensino de microbiologia abordando a principalmente na obtenção do gás carbônico
temática fermentação de substratos por meio na fermentação alcoólica, e ainda para o
da ação de microrganismos, prática melhor entendimento dos processos químicos
relacionada a produção de alimentos como energéticos.
bebidas, queijos e panificação. O intuito é que Em uma outra perspectiva sobre o estudo
essas práticas levem os alunos a entender sobre fermentação alcoólica, Rechotnek e
sobre processos industriais para produção de Pricinotto (2020), desenvolveram uma
alimentos. atividade de experimentação investigativa
As atividades práticas permitem um maior referente a temática drogas, especificamente
contato entre o professor e os alunos, bebidas alcoólicas, buscando a conscientização
permitindo o planejamento colaborativo e a dos estudantes do Ensino Médio, articulando
utilização de metodologias de ensino que assim, a potencialidade da participação e a
podem levar a uma melhor compreensão dos criticidade dos estudantes. Foram realizados
processos em muitos casos (PALHETA; experimentos com sacarose e caldo de cana e
SAMPAIO, 2016). Nesse sentido, Silva e Maciel logo após, foi aplicado um questionário aos
(2017), utilizaram um jogo didático com o estudantes sobre os conceitos e suas relações
objetivo de identificar os conhecimentos sobre fermentação, química e drogas. Os
prévios dos estudantes sobre a Microbiologia. autores apontaram que a experimentação
Uma das categorias do jogo didático foi sobre o contribuiu para o processo de aprendizagem
reconhecimento a importância dos de conceitos referentes à fermentação
microrganismos na alimentação, saúde e na alcoólica, como também pôde auxiliar os
indústria. Após a aplicação do mesmo, os estudantes no desenvolvimento da
estudantes demostraram interesse nos temas participação tornando-os cidadãos mais ativos
abordados, e então, foi desenvolvida uma e atentos a realidade em que estão inseridos.
atividade prática, na qual os estudantes As aulas temáticas são estratégias eficientes
produziram iogurtes caseiros. Por meio deste para tornar o aprendizado contextualizado e
experimento os estudantes identificaram que interdisciplinar, facilitando a formulação de
existem bactérias que não são patogênicas, hipóteses dos estudantes e promovendo a
como por exemplo, as bactérias benéficas integração dos mesmos.
Streptococcus thermophilus e Lactobacilos Também utilizando o método por
bulgaricus que são as responsáveis por investigação, Santos e Costa (2012),
transformar o leite fervido em iogurte. abordaram por meio de atividades empíricas
Pagoto, et al. (2016), realizaram uma desmistificando a informação de que
sequência didática com dois experimentos: microrganismos são apenas agentes
fermentação alcoólica utilizando patogênicos ao focar ecologia e importância
Saccharomyces cerevisae (leveduras) e econômica de alguns desses seres, e
produção de iogurte caseiro utilizando sensibilizando quanto à importância da
Lactobacilo. Os experimentos contribuíram higienização correta dos alimentos ingeridos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

crus, concretizada pela aplicação de duas do estudante que fomente o seu processo
atividades experimentais baseadas na reflexivo.
problematização: “Agora eu vi, realmente A inclusão de metodologias alternativas e
existem!” e “Comer, comer para poder atividades experimentais podem ser opções
crescer”. A realização de atividade viáveis para superar os desafios de um ensino
experimental usando a abordagem do ensino “abstrato” e de uma aprendizagem pouco
por investigação se mostrou uma ferramenta significativa em Microbiologia. Com a utilização
motivadora, pois proporcionou aos alunos que dessas metodologias os estudantes podem
apenas comparece a sala de aula para receber refletir sobre a teoria ensinada em sala de aula
informações e processa-las da maneira que por meio de experimentações que muitas
querem, a participar efetivamente do seu vezes se assemelha com o seu cotidiano
próprio processo de aprendizagem por meio da (BARBOSA; BARBOSA, 2010).
descoberta, das novas ideias, da comprovação Vários conceitos em microbiologia são
e não apenas da teoria. abstratos, sendo assim, são considerados de
A exposição do aluno a um problema que difícil aprendizagem em biologia. Desta forma,
pode encontrar em seu cotidiano o motiva a atividades empíricas baseadas no método de
participar de seu próprio processo de investigação podem ajudar a desmistificar a
aprendizagem, além de orientá-lo a aplicar o informação de que microrganismos são apenas
que aprendeu em situações práticas, agentes patogênicos, e promover o
permitindo que ele desenvolva habilidades conhecimento da presença e utilidade de
específicos que lhes permitam continuar sua outras aplicações de microrganismos na vida
formação (MAGALHES, 2007). cotidiana (SANTOS; COSTA, 2012). Por isso, o
Em estudo, Palheta e Sampaio (2016), ensino de microbiologia de qualidade nas
aplicaram atividades práticas sobre escolas de ensino fundamental e médio é
microrganismos, onde puderam observar o importante, pois o acesso ao conhecimento
processo de fermentação (iogurte e pão). permitirá que os alunos respondam e
Observou-se o interesse e o envolvimentos dos compreendam melhor os problemas
alunos, confirmando a importância das aulas cotidianos, além de contribuir para o sucesso
práticas para o despertar dos estudantes em profissional no futuro.
assuntos abstratos como a fermentação. Nesse
sentido, Silva e Príscio (2020), também
proporam algumas atividades que contemplam
aspectos físico-químicos envolvidos na
produção do pão, estes autores discutem a
dimensão social, econômica e ecológica que
impactam na maneira como nos relacionamos
na atualidade, enfatizando a importância da
busca de um ensino que explore o diálogo com
diferentes áreas de conhecimento e a vivência

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível observar diversos tipos de modelos didáticos que podem ser utilizados para
melhor compreensão do ensino de microbiologia, sobretudo a temática fermentação. As técnicas
apontadas, bem como a forma como o conhecimento foram expostos à comunidade escolar nos
estudos apontados, são fundamentais para a absorção dos alunos.
As atividades práticas são de grande relevância no ensino de Ciências e Biologia para a
difusão do conhecimento científico, e os benefícios são percebidas quando os alunos começam a
compreender os processos de estudo e oferecem novas ideias baseadas na experimentação.
Como resultado, a prática científica em sala de aula é um instrumento essencial para a
compreensão do conhecimento científico.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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10.13140/RG.2.1.3627.0243

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A AFETIVIDADE NA PRÁTICA PEDAGÓGICA E


NA FORMAÇÃO DOCENTE
Tatiana da Silva Eugênio1

RESUMO: Apresenta-se reflexões abordando a dimensão afetiva no campo escolar: como é


vivenciada no cotidiano escolar e focalizada na formação docente. O objetivo geral tem a
intenção de articular um diálogo entre conhecimento e afeto como dimensões mutuamente
inseparáveis e, promover um espaço para essa discussão que parece, até então, ter pouco
destaque nos diversos campos de investigação da educação. Observa-se que a afetividade, na
prática pedagógica, vem como uma ferramenta que auxilia o professor a direcionar um cuidado
em suas atitudes para que não afete a criança de maneira negativa, prejudicando a sua
aprendizagem. Verifica-se, atualmente, o despreparo do professor em lidar com as emoções
dentro da sala de aula e como é preocupante, como esse profissional se posiciona diante de
situações extremamente afetivas como: a cólera (raiva), o medo e a alegria vivenciados no dia-a-
dia, na escola. O professor, parceiro e responsável pela administração dos conflitos, revelam-se
como alguém, potencialmente, necessário na formação da personalidade da criança. Este deve
permitir que a emoção se exprimisse para o que é essencial, entendendo como ela funciona para
não entrar no circuito perverso e, assim, dificultar o desenvolvimento emocional da criança.
Como ser humano, o docente é alvo de muitos problemas que acabam afetando a sua prática e,
consequentemente, a aprendizagem dos discentes, sendo que é por meio do afeto do professor
que a criança permanece na escola ou ocorre o afastamento desta.

Palavras-Chave: Emoção; Docente; Formação; Afetividade.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciada em Pedagogia.

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AFFECTIVITY IN PEDAGOGICAL PRACTICE AND TEACHER TRAINING


ABSTRACT: Reflections on the affective dimension in the school field are presented: how it is
experienced in everyday school life and focused on teacher training. The general objective is to
articulate a dialogue between knowledge and affection as mutually inseparable dimensions and
to promote a space for this discussion that seems, until then, to have little prominence in the
various fields of investigation of education. It is observed that affectivity, in pedagogical practice,
comes as a tool that helps the teacher to direct care in their attitudes so that it does not affect
the child in a negative way, harming their learning. There is currently a lack of preparation on the
part of the teacher to deal with emotions in the classroom and how worrying is how this
professional is positioned in the face of extremely affective situations such as: anger (anger), fear
and joy experienced in the classroom. everyday at school. The teacher, partner and responsible
for the administration of conflicts, reveal themselves as someone, potentially, necessary in the
formation of the child's personality. This must allow emotion to express itself for what is essential,
understanding how it works so as not to enter the perverse circuit and, thus, hinder the child's
emotional development. As a human being, the teacher is the target of many problems that end
up affecting their practice and, consequently, the students' learning, and it is through the
teacher's affection that the child stays in school or leaves it.

Keywords: Emotion; Teacher; Formation; Affectivity.

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INTRODUÇÃO do educando, não há como considerar a função


da escola apenas como detentora do
A matéria visa estabelecer uma conhecimento, mas, sim como formadora da
compreensão da afetividade na prática construção da afetividade infantil.
Pedagógica, analisando as atitudes do docente A valorização do profissional está associada
diante do fenômeno das emoções, como é ao domínio das áreas de conhecimento com as
vivenciada em sala de aula e como a temática quais ele lida. Há, ainda, um profundo desprezo
da afetividade é abordada nos cursos de por uma visão propriamente profissional que
formação de professores. valorize o tipo de conhecimento que se adquire
A afetividade é um conjunto de fenômenos na prática. Mas, existe o outro lado da questão
que envolvem os seres humanos durante toda que diz respeito à falta de identidade dos
vida. Fenômenos que se caracterizam pelos cursos de Pedagogia.
sentimentos, emoções e paixões, Eles foram criados com um triplo objetivo:
acompanhados sempre de prazer ou formar pesquisadores e pessoal qualificado
desprazer. para refletir sobre o sistema educacional;
A afetividade consiste na força de dois preparar professores aptos a lecionar as
elementos: o amor e o ódio, ambos matérias pedagógicas que faziam parte do
desempenham um papel fundamental no currículo das Escolas Normais; e capacitar o
desenvolvimento intelectual do homem e em pessoal especializado para a gestão do sistema
suas relações sociais. escolar como administradores, orientadores
A afetividade no campo educativo é vista ou supervisores escolares.
como um vínculo, laço que une professor e Tem-se insistido, que essas funções não
aluno, uma contribuição para romper limites e podem ser exercidas sem que o profissional
promover a aprendizagem. Sendo a criança um formado passe, ele próprio, por uma
ser dotado de afetividade e o professor experiência como professor, ou seja, que o
consciente do seu papel como mediador da educador tivesse a oportunidade de refletir
aprendizagem, precisa olhar e ouvir os apelos sobre sua prática atuando em sala.
da criança e ter o cuidado para não afetá-la, Consciente do papel do professor mediante
marcando-a, seja positivamente ou a aprendizagem, percebe-se a necessidade de
negativamente. percorrer caminhos, ainda, não trilhados na
Tomando por base as pesquisas do psicólogo vida humana: a dimensão afetiva. Buscando
francês Henri Wallon, discute-se a necessidade, compreender essa dimensão no âmbito
por parte da escola, em estudar as emoções na escolar, esta pesquisa sustenta que a ausência
prática pedagógica e na formação docente, de de uma educação que aborde a emoção na sala
maneira a trabalhar a afetividade do professor de aula traz prejuízos irremediáveis a ação
e do aluno, compreendendo-os em sua pedagógica.
totalidade. O professor que se dispõe a conhecer a
Se a responsabilidade do professor é relação antagônica entre emoção e
contribuir para a formação da personalidade desempenho cognitivo terá um importante

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

instrumento para atuar com desenvoltura em de afeto compromete a construção do


situações tipicamente emocionais, sem se conhecimento e influi no emocional da criança.
deixar dominar por elas. Os pais e os professores devem levar em conta
A parceria família e escola vêm contribuir de a dimensão afetiva durante a aprendizagem e
forma satisfatória quando ambas assumem o cuidarem da criança como um todo.
seu papel na afetividade e aprendizagem da É por meio do afeto que o professor constrói
criança. Para a relação ser duradoura, tem que o respeito e cria vínculos com o educando. Com
ser baseada em respeito. Preconceito, autoritarismo e castigos, ele acaba afetando a
portanto, não pode existir. Falar em família criança de maneira negativa e a mesma
desestruturada ou desajustada não faz sentido adquire o desejo de não querer ir mais à escola.
quando se analisa a realidade doméstica atual. É com carinho, ouvindo, olhando essa criança
A família é o primeiro grupo com o qual a com amor que se têm bons resultados.
criança convive e os seus membros são Segundo Wallon (1995), a criança por sua
exemplos para a vida. Assim, como os pais são vez é um ser dotado de afetividade. As
exemplos para a criança, o professor é o primeiras manifestações de afetividade da
espelho para esta em sala de aula. criança começam desde a gestação, quando
A falta de afeto tanto da família como do esta faz os movimentos de pedalada. Ele
profissional que atua em sala de aula influi no enfatiza que as relações entre a afetividade e a
emocional da criança e, consequentemente, inteligência são inseparáveis. Também ressalta
em sua aprendizagem. A família e a escola que as emoções são mais marcantes nas
desempenham papel importante na formação crianças de pouca idade, e que elas têm os pais
da criança. e o professor como referência.
A afetividade abrange toda atividade
AFETIVIDADE pessoal, desde a percepção corporal, interior e
exterior, até a explicação individual das
Afetividade é um conjunto de reações e
experiências, seja consciente ou inconsciente,
ações que se manifestam as emoções, sejam
na qual decorre o estado de humor e caráter de
estas prazerosas ou não. Na relação com o
cada um. A emoção é a maneira de expressar a
adulto, a criança demonstra sua afetividade de
afetividade que estabelecida pelas reações
modo positivo ou negativo, sendo que as
momentâneas e provisórias se distinguem em
emoções positivas correspondem ao amor e a
contentamento, ira, temor e aflição.
alegria, enquanto as emoções negativas se
relacionam a cólera (raiva) e ao medo. Esses
aspectos dependem muito da relação que o A AFETIVIDADE DOCENTE
adulto estabelece com a criança, seja no Ao longo da história, a relação professor e
âmbito escolar ou familiar. aluno vêm sendo discutida por diversos fatores
O afeto proporciona uma relação baseada de ordem social, política, humana e
na confiança, no respeito, na admiração, e que educacional. Para ter uma visão mais clara das
se eleva a autoestima. É nessa absorção que o regras que permitem a comunicabilidade e o
aluno reflete o prazer de estar na escola. A falta respeito entre eles, torna-se necessária uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

análise de cada um dos elementos: o professor processo. Desse modo, o professor deverá
e o aluno. saber lidar com as emoções dentro da sala de
As ações do professor são constituídas de aula, com alunos da creche e da pré-escola,
condicionantes positivos ou negativos como: onde se exigem muitas habilidades do
problemas familiares; baixos salários; professor, pois dali depende todo o
desmotivação; desentendimentos com a desenvolvimento da aprendizagem. Porém,
direção da escola ou colegas; dedicação; torna-se muito difícil atuar numa situação
responsabilidade. O modo pelo qual são emocional sem se deixar envolver-se por ela. O
resolvidos estes impasses afetarão afeto da professora resulta na permanência na
automaticamente a sua prática pedagógica. escola, como, também, pode influenciar no
Olhar a atuação docente por esse anglo, não afastamento desta.
é admitir que os alunos pudessem ser atingidos A criança da creche e da pré-escola tem uma
com o mau humor e os problemas do necessidade imperosa de apego às pessoas,
professor, mas, tornar o ensino mais humano. quando privada deste afeto, reduz a
Cuidar do profissional é, muitas vezes, a melhor disponibilidade para a atividade do
solução para o problema da “criança difícil”. As conhecimento, resultando negativamente na
reações sentimentais variam conforme cada aprendizagem da criança.
aluno podendo surgir atração ou repulsão É um desafio para o professor, uma vez que
como resultado do confronto entre eles (TIBA, os progressos da inteligência, que é de
2007). responsabilidade do docente, dependem
O professor deve conhecer seus alunos não muito do desenvolvimento da afetividade.
somente no cognitivo, mas, também, no Faz parte do trabalho docente na educação
emocional. Conhecer e entender a criança para infantil lidar com as emoções e suas
melhor trabalhar suas emoções é para o manifestações como: choros, gritos, mordidas,
profissional uma tarefa difícil quando não se risos, abraços e silêncios. É de suma
tem um preparo adequado para lidar com os importância o curso de professores
conflitos emocionais em sala de aula. contemplarem essas questões. De certo modo,
Verifica-se que as crianças precisam as formações não aprofundam os temas da
estabelecer com o professor uma relação afetividade e das emoções.
íntima e amigável. Elas vão para a escola com O que se valoriza no profissional da
expectativa de encontrar uma pessoa que as educação infantil é a competência intelectual e
amem e que lhes acolham; escute-as; ofertem- não a competência emocional, no entanto,
lhes carinho e o mais importante que lhes ambas precisam ser valorizadas. A
deem autonomia para que sejam elas mesmas. competência do professor em saber lidar com
As crianças devem sentir que podem contar as suas próprias emoções e as das crianças, em
com o professor. coletividade, é tão importante quanto o
A escola, por sua vez, assume um papel conhecimento teórico.
relevante no desenvolvimento infantil, e o
professor tem uma participação ímpar nesse

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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR Precisa-se de investimentos na formação


inicial, continuada e em exercício dos
DA EDUCAÇÃO INFANTIL profissionais da educação infantil. Muitos têm
A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da carência em sua formação, principalmente, em
Educação, Nº 9.394/96, estabelece no seu Art. saber lidar com as emoções em sala de aula.
62 que os professores da Educação Básica A EMOÇÃO NA SALA DE AULA
tenham nível superior, mas, permite que na Segundo Wallon, a emoção liga a vida
educação infantil e nas séries iniciais a orgânica à psíquica, ligando a aprendizagem ao
formação mínima seja em nível médio, desenvolvimento integral da pessoa. A ação da
segundo a modalidade normal. No entanto, há escola não se limita ao cumprimento da
instituições de educação infantil com instrução, mas, principalmente, a função de
professores despreparados e desqualificados desenvolver a personalidade da criança. “[...] A
dentro da sala de aula, lidando com as emoções emoção deve ser entendida como uma ponte
nas quais desconhecem a sua origem. que liga a vida orgânica à psíquica [...] É o elo
É preciso abrir os olhos para essa situação, necessário para a compreensão da pessoa
na qual o auxiliar não tem obrigação de como um ente completo” (WALLON, 1963, p.
elaborar planos e planejar aulas e atividades 12).
com as crianças, fazer pesquisa, buscar a A criança adquire um novo rumo, a partir do
fundamentação teórica, avaliar e registrar, que momento em que ela entra na escola. Ao
são instrumentos essenciais ao professor. Para ingressar na escola ela deixa a exclusividade do
isso é preciso uma formação sólida. berço familiar para viver em um novo ambiente
A pedagogia é o curso superior responsável com novas regras e outras pessoas. O seu
por capacitar professores que lecionam para universo começa a ser ampliado com novos
alunos de 0 a10 anos. Também, capacitando o amigos, aprende a conviver em grupo, sendo
gestor; o formador de professores em nível sua vida totalmente transformada e adaptada
médio normal; o coordenador; o supervisor; o aos interesses da escola.
orientador educacional [...], sem contar os A criança quando vai para a escola leva
trabalhos desenvolvidos em outros ambientes, consigo conhecimentos já construídos quanto
como em espaços culturais e empresas as experiências afetivas vivenciadas em casa. É
(CAVALCANTE, 2013). indiscutível que a escola possui um importante
O Brasil precisa rever o currículo do curso de significado para o desenvolvimento social e
Pedagogia, que em sua grade curricular não afetivo da criança. Por meio da socialização que
evidencia o estudo das emoções e outras a escola promove, ela assume um papel
especificidades das crianças da creche e pré- significativo na vida da criança.
escola. O problema está no currículo que A emoção está sempre presente na vida do
precisa ser reformulado e se adequar a indivíduo; mesmo em estados de serenidade
realidade da escola pública, trabalhar a ela se encontra como que latente. Convivendo
afetividade das crianças e do profissional em em estado de perfeita comunhão, quando uma
exercício. sobressai na atividade, é porque a outra se

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encontra eclipsada. A emoção é o colorido é demonstrar para o aluno que o seu


necessário para a vida do indivíduo, é a visita comportamento não o agradou.
inconveniente, a surpresa agradável ou Muitas vezes deixa aparecer em suas
desagradável, a expressão mais pura e atitudes, um surto de cólera, que os alunos o
desenfreada das preferências e dos desgostos percebam, acreditando resolver a situação por
do indivíduo que rebeldemente cede espaço meio da sua invulnerabilidade. Tal atitude o
para a realização do pensamento. envolve em um circuito perverso, tornando-os
A emoção pode ser imprevisível, pois ela espectadores do contágio da emoção. Esta, por
surge nos momentos de completa sua vez, para sobreviver precisa de
vulnerabilidade do indivíduo. Esta embora seja espectadores, de cúmplices.
absoluta, não é a única ação sobre o sujeito. A emoção quando tem como plateia a sala
Manter seu equilíbrio exige a redução do de aula, compromete a atuação do professor
estado emocional que, por sua vez, implica o em sua prática e a transmissão de
exercício de racionalizar, isto é, desencadear a conhecimentos, provocando desgaste físico no
ação da inteligência. professor e, consequentemente, prejudicando
A inteligência, por sua vez, costuma ceder a aprendizagem do aluno. Assim, a ocorrência
aos caprichos da emoção, pois sempre que esta do estado emocional do professor tem
se exprime, suprime a atividade intelectual e implicações nas atividades pedagógicas.
reduz para si todas as disponibilidades do
sujeito. A falta de clareza a respeito da ligação A FAMÍLIA E SUA INFLUÊNCIA
existente entre movimento e emoção
interfere, muitas vezes, na relação NA ESCOLA
professor/aluno. A família representa um papel singular no
O professor pode cometer o engano de desenvolvimento infantil, precedendo sua
interpretar expressões de alegria como capacidade de escolha. Constituem-se no
indisciplina. Esse erro o leva a agir com irritação primeiro grupo da criança no qual ela satisfaz
diante da simples presença de uma criança as suas necessidades básicas e obtém as
hipertônica, já que não se encontra preparado primeiras condutas sociais.
para lidar com suas necessidades posturais. O que distingue o meio familiar do escolar é
No caso do professor, ao não reconhecer os a natureza e a diversidade das relações que
possíveis indicadores de uma emoção, constituem a convivência em um ambiente
geralmente, entrega-se ao seu contágio e, menos estruturado e menos estável que a
consequentemente, acaba dominado por elas. família e a escola proporcionam na
As atitudes dos professores diante das participação em grupos, cuja integração inclui
emoções são as mais variadas, diante da cólera, regras, assume tarefas e, principalmente,
medo e alegria das crianças em sala de aula. reconhecem as suas capacidades e respeitar a
Uma atitude muito usada pelos professores si próprio mediante o outro.
para resolver os conflitos gerados pela emoção A escola pode tornar-se um meio propício
para a edificação do eu na medida em que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possibilita a criança experimentar relações família. Quando uma dessas bases se omite, há
simétricas com os mais variados grupos. O uma deformação ao ser que se pretende
meio social exerce um forte poder sobre a formar, é no seio da família que brota o amor e
criança, a sociabilidade, atinge os limites do que forma a personalidade da criança. Os pais
desenvolvimento da personalidade. em casa são modelos para os filhos, assim
A função da escola inicia quando termina a como na escola quem é o modelo é o professor.
da família e vice-versa. Suas responsabilidades Da mesma forma que surge a preocupação
são diferentes, cada instituição estabelece com a posição afetiva do aluno frente aos
relações especificas. colegas na sala de aula, deve preocupar-se com
A escola é vista como a continuação da a família, com a realidade da criança, como
família, pois, a necessidade de caracterizar a essa vive sua afetividade, como também a do
escola como um espaço de continuidade da mestre que atua em sala.
família, expressa-se na atitude da professora Para melhor concepção e aprofundamento
de assumir o papel caricaturado de mãe, como na questão Escola/Família, encontram-se
se a relação professor e aluno não pudesse ser pontos cruciais que requerem bastante
uma relação afetiva, e como se as relações de apreciação e desempenho. Essa relação
afeto implicassem, necessariamente, em uma permite uma visão ampla de um tema presente
interação de mãe-filho ou tia-sobrinho. no cotidiano de qualquer indivíduo levando em
Na escola a única relação que deve ter é a consideração toda uma abordagem da
relação professor-aluno, mas, na atuação do atualidade, assim como do meio social no qual
professor como um observador e mediador de o “ser” está inserido.
conflitos, o professor deve ser capaz de Diante de tantas diversidades no meio
identificar os entraves que se estabelecem social, no qual se vão deixando de lado os
entre o professor e o aluno, para melhor lidar valores, a ética e a cidadania, são de extrema
com a teia das relações que se criam na importância em uma atuação que venha a
apropriação do conhecimento. favorecer e resgatar objetivos e metodologias
A responsabilidade do conhecimento está na para um melhor desempenho do educando.
escola; Mesmo na escola as relações afetivas se Mas, é preciso lembrar que para este
evidenciam visto que a transmissão do desenvolvimento acontecer de forma
conhecimento se implica na interação de satisfatória é necessária uma parceria, ou seja,
pessoa para pessoa. O professor desconhece um compromisso da família em conjunto com
que o afeto assim como a inteligência evolui, a escola durante o processo ensino-
isto é, à medida que se desenvolvem aprendizagem.
cognitivamente, as necessidades afetivas da A família é concebida como um âmbito que
criança tornam-se mais exigentes. Passar afeto requer muita harmonia e dedicação por parte
não inclui apenas o contato físico, mas, o ouvir, dos pais na vida escolar do educando, laços
o conversar e o admirar a criança. maternos unidos na construção de uma
A função da escola vai muito além da vivência mais sólida e diversificada com os seus
instrução, ela é formadora juntamente com a filhos. Portanto, a mãe torna-se a primeira

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professora na vida da criança em tempo Sendo assim, torna-se quase impossível


integral, tornando, assim, um processo que privar as crianças ao mundo da TV. Este é um
mais a frente, facilmente a criança irá processo mais diversificado de aprendizagem
desenvolver suas habilidades na na vida do aluno. Evidencia-se com as
aprendizagem. indagações propostas nos referidos trabalhos
A relação entre pais e filhos é de que tanto a família como a escola são alicerces
fundamental importância para o que servirão de base na construção de um
desenvolvimento da aprendizagem. É a partir conhecimento mais sólido por parte da criança.
destes conceitos e desta relação que a criança Uma união que resultará em
implica seus valores como respeitar as pessoas, desenvolvimento na vida do educando, e que
regras e normas sociais. Não tendo a criança tanto a família como a escola conheçam a
está atribuição de princípios, as mesmas realidade que lhes são impostas para que
acarretarão em problemas de comportamento ambos, de forma recíproca, possam agir sobre
que prejudicará a sua aprendizagem. ela. Um dos principais fundamentos a
Além da problemática da falta de relação desenvoltura escola/família é o diálogo que
família e escola, a televisão tem sido um dos lhes é preponderado, enfim, um processo onde
principais instrumentos da atenção da criança. o conjunto acaba em uma aprendizagem.
Um dos meios de bastante abrangência em
todo contexto seja nacional ou internacional, a
TV vem a cada dia tornando-se muito
influenciadora na vida da criança ou do
adolescente. Muitos são os pontos negativos
quanto aos programas sem apropriação para
os menores. A perspectiva é que os programas
sejam salientados por um adulto para melhor
apreciação da criança.
Há uma diversificação muito grande quanto
aos programas educativos para crianças ou
adolescentes na fase de preparação para a
maturidade, programas esses que servirão
para orientação e prevenção.
Cabe ao papel dos pais estabelecerem
horários para as crianças assistir TV, para que
assim não venha a prejudicar na vida escolar do
aluno. A mesma autora acima citada diz que:
“[...] a televisão pode ser de extrema utilidade
para o desenvolvimento da capacidade
intelectual e do pensamento crítico”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É necessário que o professor esteja ciente de que o que move a sua prática é a afetividade
e que dela depende a aprendizagem do seu aluno.
A realidade da escola pública é totalmente obscura. São crianças que vivem na pobreza,
na prostituição, na droga. É impossível não se envolver com essa triste situação. O professor, por
sua vez, tenta ser flexível, muitas vezes se omite ou se estressa, sendo grosseiro, não entendendo
que as atitudes das crianças, provocadas pelas emoções, apontam um desconcerto gerado,
muitas vezes, por um desajuste familiar.
Família e professor são os principais formadores dos vínculos afetivos da criança, e que
tanto a escola, como a família são os responsáveis pela formação da personalidade. Sugere-se
que na grade curricular do curso de Pedagogia poderia ser incluído o estudo das emoções,
trabalhando a afetividade do professor para que esta repercuta positivamente na afetividade da
criança. Trabalhar a afetividade do profissional que atua em sala melhora a sua prática
pedagógica e influência no processo de aprendizagem da criança.
As emoções não são o julgamento que dela fazemos ou os comportamentos que ajudam
a gerar, mas, sim, o uso que fazemos delas, sendo plateia quando envolvidos por elas ou sendo
autores. Sob este prisma, conceber a pluralidade das emoções que estão à nossa disposição nos
permitirá conviver com elas e delas tirar todo o aprendizado para nossa vida, sabendo identificar
claramente o que nos incomoda e identificá-las quando estivermos em contato com a criança.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Paulo: Summus, 2003.

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Nacionais para a Educação Infantil n. 20. Brasília, 2010.

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CURY, Augusto. Treinando a emoção para ser feliz: nunca a autoestima foi tão cultivada no
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FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho
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GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 18.
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MARTURUANO, L. M. Escola x Família: uma relação necessária para o processo


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SABINO, Simone. O afeto na prática pedagógica e na formação docente: uma presença


silenciosa. São Paulo: Editoras Paulinas, 2012.

SABINO, Simone. Quem ama educa: formando cidadãos éticos. São Paulo: Integrare, 2012.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CIDADANIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Mayra Alecxandra Gomes de Sousa1

RESUMO: O presente artigo aborda a questão da cidadania dentro da Educação Infantil tendo em
vista uma educação mais democrática e autônoma, demonstrando seu processo histórico, a
função do educador na escola e da sociedade como parte desse processo visualizando a
integração da criança no contexto social, abrangendo sua realidade cultural e social partindo do
exercício da cidadania.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Cidadania; Sociedade.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Gestão Escolar; Especialização em Educação Especial
– Autismo.

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CITIZENSHIP IN CHILD EDUCATION


ABSTRACT: This article addresses the issue of citizenship within Early Childhood Education with a
view to a more democratic and autonomous education, demonstrating its historical process, the
role of the educator in the school and in society as part of this process, visualizing the integration
of the child in the social context, covering their cultural and social reality based on the exercise
of citizenship.

Keywords: Early Childhood Education; Citizenship; Society

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INTRODUÇÃO havia um comprometimento com educação


nos anos iniciais de vida. Isso acarretou a uma
Este artigo tem como objetivo analisar a reflexão sobre o desenvolvimento integral da
formação da cidadania na Educação Infantil ao criança como ser social, a qual faz parte da
longo da história. Pode-se observar e analisar sociedade e merece atenção no que se diz
como se inicia essa concepção na escola e na respeito a uma educação de qualidade que
sociedade. A partir do século XXI começa uma possa desenvolver aspectos físicos, psíquicos e
nova adaptação ao um modelo inovador no afetivos. Nesse sentido, surge uma
processo educativo, onde há preocupação de preocupação em estabelecer um projeto
formar cidadãos e não apenas um trato pedagógico específico para a Educação Infantil
assistencial, na qual a educação se tornou mais que proporcionasse abranger todos os
humanizada e funcional. processos a ser desenvolvidos na criança.
O processo de desenvolvimento da Pensando na formação da cidadania foram
cidadania conta com a colaboração de todas as criadas leis para assegurar os direitos infantis,
partes; a escola, a família e comunidade, cuja a não como benefícios, mas como direito de
finalidade é formar cidadãos conscientes, qualquer cidadão. Ao decorrer da história
analíticos, críticos e reflexivos sobre a muito tem se questionado em relação o que de
sociedade em que estão inseridos. Para que se fato é direito da criança e como se apropriar
construa uma identidade como cidadão, a dessas leis, pois nem todos têm acesso a essas
responsabilidade não deve ser centralizada informações ocasionando infrações a esses
apenas na escola, mas sim desenvolvida em direitos.
equipe; escola-comunidade para alcançar esse A função do educador como mediador do
objetivo comum. conhecimento é conscientizar a sociedade de
Partindo desse pressuposto o artigo aborda como utilizar e aplicar a legislação em favor da
a trajetória da Educação Infantil e seus criança para que seja preservado os direitos na
diferentes aspectos no decorrer dos anos, Educação Infantil e aspectos relacionados a
especificando o que a escola representou em infância.
cada mudança da sociedade.
O desenvolvimento escolar ocorreu
A HISTÓRIA DA CONSTRUÇÃO
decorrente da visão capitalista, em que
favorecia apenas as camadas economicamente SOCIAL DA CRIANÇA
elevadas, ou seja, para esse público a educação A concepção de Educação Infantil foi
era voltada para desenvolver aspectos desenvolvida no decorrer das transformações
cognitivos e afetivos dos alunos, já as camadas sociais, as quais tiveram grande impacto sobre
populares possuíam um atendimento apenas a construção social da criança.
assistencial, sem focar em um planejamento Segundo Aires (1978), ainda no século XIX e
pedagógico. início do século XX, a criança era vista e tratada
Nesse contexto, a criança não tinha sua como um adulto em miniatura, a infância se
devida importância dentro da sociedade, não definia em um período frágil que com o avanço

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

da idade, a criança passava a praticar promove o desenvolvimento integral da


atividades apropriadas somente aos adultos, criança, era restrito as classes menos
como o trabalho no campo e na cidade, favorecidas economicamente.
prejudicando-a no processo da formação de De acordo com Kuhlmann (1999), o que
sua própria identidade, visto que não passou diferenciava o atendimento à criança era a
por transformações naturais da infância, classe social. Desta maneira, surgem os jardins
seguindo direto à fase adulta. de infância voltados para as classes
Neste contexto surgem pesquisas que favorecidas, neste ângulo a educação prepara
denominam a criança como um ser a criança para novas etapas de seu
incompleto, o qual necessita de processos de desenvolvimento, proporcionando a
desenvolvimento para que seja competente. valorização em todos seus aspectos. Nas
O conceito que temos hoje das escolas de classes populares a educação ainda era tida
Educação Infantil foi construído a partir de uma como assistencialista, não possuía profissionais
longa história que se inicia no decorrer do qualificados para atender uma grande
século XX, após a inserção feminina no demanda de atendimento. As crianças eram
mercado de trabalho, na qual a mulher teve atendidas por mulheres da comunidade, sem
que suprir as necessidades do lar. nenhuma formação específica para atuar na
A expansão da Educação Infantil teve origem área educacional. Não havia uma
devido às necessidades de proteção às responsabilidade por parte governamental.
crianças, já que na época industrial, as famílias A partir do Manifesto dos Pioneiros da
pobres deixavam as crianças sozinhas, Educação (1935), o qual defendia uma escola
correndo diversos riscos, os quais acarretavam pública e gratuita e julgava a pré-escola como
a uma elevada taxa de mortalidade infantil. base do sistema escolar, são criados parques
Diante da preocupação de tais resultados, infantis e creches para atender as classes
membros religiosos, educadores e outros populares, houve também a disseminação dos
grupos sociais, se sensibilizaram com essas jardins de infância e a criação de cursos
crianças. Devido a essa precisão, surge no Brasil voltados para a formação de profissionais
a primeira expressão “guarda criança”, a qual destinados a educação da criança.
foi adotada para o atendimento aos cuidados Nesse sentido, a Lei de Diretrizes e Base para
básicos e proteção infantil. Portanto o ingresso a Educação Nacional, aprovada em 1961,
da mulher no trabalho fora de casa traz uma preconiza a inclusão dos jardins de infância no
nova visão voltada para criança, sendo sistema de ensino como classes de pré-
responsabilidade não só da família como primário.
também do Estado e sociedade. Devido a essa lei, surge o apoio do governo
Apesar dos novos paradigmas sobre a em relação às instituições filantrópicas e
Educação Infantil e os direitos da criança, as entidades comunitárias a custo baixo.
instituições ainda eram vista como um lugar No final do século XX, a infância é vista com
para o cuidar, aderindo ao tema outro olhar, a partir de estudos voltados para
assistencialista, já o processo educativo que essa área, a sociedade reconhece a criança

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

como um ser social que possuí direitos assim Atualmente, a formação inicial para as series
como todos inserido dentro dela. do ensino fundamental e da educação infantil
Nessa trajetória, surge uma preocupação começa a ocorrer no âmbito das universidades
mundial quanto a Educação Infantil, e são e instituições de ensino superior, conforme as
estabelecidos documentos que asseguram os novas diretrizes curriculares para os cursos de
direitos da infância, como a Declaração dos pedagogia ( VIEIRA , 2009).
Direitos da Criança (ONU 1969), a Convenção Para que ocorra uma educação de
dos Direitos da Criança (ONU 1989), e a qualidade, é necessário profissionais
Declaração Mundial sobre a Educação Para qualificados e aptos para atender as
Todos (UNESCO, 1990), promovendo a necessidades e atuar na realidade do público
educação como dever do estado para todos infantil.
desde o nascimento. De acordo com essa visão, tem se discutido
Partindo dessa perspectiva, inicia-se uma a respeito da formação dos educadores.
nova concepção de educação, voltada para a Atualmente para exercer a docência tanto na
formação integral da criança, ou seja, as educação infantil como no ensino fundamental
instituições escolares enfatizam tanto o termo é preciso a formação em nível superior em
cuidar como educar, sendo que a criança é curso de licenciatura e graduação em
acolhida em todos os sentidos, tanto nos Pedagogia, porém essa formação não ocorria
cuidados de alimentação, higienização e na educação infantil, muitos professores não
segurança, quanto no desenvolvimento possuíam curso superior, alguns só possuíam
cognitivo, físico e afetivo. ensino fundamental, outros com ensino médio
A pré-escola vai preparar a criança para as sem o Magistério.
fases seguintes de seu desenvolvimento Com o aumento e expansão de creches e
escolar estimulando-a em todos os aspectos. pré-escolas houve necessidade de mais
Ela poderá realizar o processo de alfabetização profissionais para atender uma grande
para auxiliar a diminuição do fracasso de demanda de criança, isso explica o grande
ensino aprendizagem nas séries seguintes. número de profissionais sem qualificações.
Com uma mudança baseada na concepção
A FORMAÇÃO DOS da criança como um sujeito social, surge a
necessidade de professores qualificados para
PROFESSORES NA EDUCAÇÃO uma educação plena, mais ainda há muito que
INFANTIL mudar.
O cenário da Educação Infantil vem sendo O docente com a responsabilidade de
destaque no que se diz respeito a uma desenvolver saberes e a formação global de
educação de qualidade, pois é por meio dela cidadãos, deve ter como prioridade uma
que é possível o desenvolvimento pleno da qualificação profissional adequada para
criança em seus diversos aspectos. exercer adequadamente seu papel, tendo em
vista que irá proporcionar ao seus alunos uma

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educação em excelência e um processo de educadores da rede pública paulista que


ensino aprendizagem favorável. contou com mudanças significativas tanto no
Ao se pensar em progresso educacional é ensino como no campo da gestão.
importante investir em programas de Devido ao aumento da procura do curso de
formação continuada para os educadores. graduação em Pedagogia, ocorre também
Nesse sentido, há políticas educacionais que aceleramento para essa formação que não
promovem a atualização profissional, com o atende as necessidades da realidade
intuito de propiciar incentivos e planos de educacional, deixando algumas lacunas nos
carreira não só para docentes que já atuam há requisitos básicos e necessários para a
alguns anos e os que são recém-formados, formação do docente.
principalmente pensando nos docentes da Provavelmente, para se incorporar a
rede pública, já que estes só possuíam o cidadania desde a Educação Infantil seja
Magistério. A partir da Lei 9394/96, da preciso essa corporeidade estar interiorizada
Legislação de Ensino, tornou-se necessário na formação do próprio docente para que ele
uma formação de nível superior para atuar na possa ensinar e promover o verdadeiro
Educação Infantil e Ensino Fundamental I, sem exercício da cidadania.
a qual não é aceitável a função de educador em A formação do cidadão tem um processo
qualquer instituição escolar. contínuo, no qual, não só a escola tem suas
Segundo Campos (2008), desde 2000, houve atribuições, mas a sociedade se faz necessária
um crescimento acelerado de cursos de nessa formação. Nos dias atuais a criança
Pedagogia e do Normal Superior no país e que vivencia a globalização interiorizando o
a maior desde últimos volta-se à docência na capitalismo em vários aspectos,
educação infantil. Já nos cursos de Pedagogia, principalmente a forma fútil dessa sociedade.
observou-se predomínio para a formação de A criança ao ver seus amigos usufruindo de
professores das séries iniciais do ensino um “produto” no qual circula na mídia,
fundamental. provavelmente, irá desejar possuir o mesmo
Esses estudos apontam a necessidade de objeto, para se adequar ao grupo que
investigar os currículos de formação para a pertence. Isso é comum, porém na sociedade
docência na educação infantil nas instituições atual, faz com que a criança se torne apenas
de ensino superior, possibilitando um uma consumidora e ao mesmo tempo
diagnóstico mais abrangente sobre a formação descartável com pensamentos e desejos fúteis,
oferecida (VIEIRA, 2009,p.43). ou seja, tudo que compra se joga fora.
Visando essa necessidade de mudança nos Essa postura tomada pela criança pode
padrões educacionais, surgiu em meados de torná-la seguidora de um modelo capitalista,
2001, O PEC (Programa de Educação preparando-a para gerar lucro.
Continuada) com objetivo de capacitar e Não é apenas a mídia que participa do
credenciar em Pedagogia até 2010. Esse processo educacional, em primeiro lugar a
programa foi organizado no Estado de São família que se encontra em profunda crise de
Paulo e teve grande relevância para valores e as creches e centros educacionais

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voltadas para a Educação Infantil, muitas vezes Como no Brasil o alto nível de analfabetismo
não possui uma estrutura adequada para uma vem se acentuando, essa desigualdade cresce
educação de qualidade que possa proporcionar aceleradamente, fazendo com que a sociedade
um bom desenvolvimento físico, intelectual e se cale, sendo que não possui subsídios para
social da criança. reivindicar seus direitos como cidadãos.
Desta forma, as escolas públicas, Para que se desenvolva um pensamento
provavelmente não apresentam uma educação crítico na população sabemos que é
de qualidade de forma global, devido a falta de importante a intervenção do professor nesse
recursos financeiros. Já as escolas particulares processo, sendo assim esse profissional deve
estruturam seus alunos como verdadeiros estar preparado para transmitir o verdadeiro
operários para o mercado de trabalho, sem significado da cidadania contribuindo para essa
visar o desenvolvimento total dos alunos, formação.
deixando de lado, os princípios éticos para a É imprescindível que a educação brasileira
formação de cidadãos conscientes. possua uma estrutura que possa atender as
A educação não é construída somente a necessidades básicas de uma educação de
partir da escola, mais também de organizações qualidade, portanto para que haja um bom
não governamentais que visam a identidade da resultado, é necessário ocorrer mudanças
criança e seu desenvolvimento individual. gerais na estrutura educacional, começando
Os avanços alcançados pela legislação até o pela docência.
momento, são importantes para que se É crescente a exigência de professores com
construa uma educação satisfatória para todos, formação cada vez mais elevada para que
não importando a demanda ou a situação possa ter autonomia e proporcionar um ensino
socioeconômica que se encontra os alunos, que possa abranger o desenvolvimento global
tendo em vista que a cada dia estaremos da criança, visto que ela deve ser vista como
chegando mais próximo a educação desejável. um sujeito social. Para que isso ocorra é preciso
Todos são responsáveis por uma educação que todas as instituições infantis, tanto
integral, ou seja, uma educação global que privadas como publicas estejam adequadas às
estabeleça todos os aspectos da criança, normas e critérios estabelecidos na legislação
respeitando-a em todos os processos de nacional, visando sempre o bem estar e o
desenvolvimento, preparando-a e não desenvolvimento pleno da criança.
relacionando-a ao mercado de trabalho como Antes a educação infantil era constituída por
um modelo capitalista, mas como um cidadão mulheres que fazem parte da comunidade, e as
completo, consciente e que luta pelos seus quais não possuíam escolaridade adequada
direitos. para exercerem a função de docente, isso
Como isso não ocorre, a população brasileira ocorria devido a grande demanda de creches e
não é reconhecida e respeitada como cidadãos pré-escolas que cresciam e necessitavam com
em comparação aos países mais evoluídos, ou urgência de pessoas para exercerem a função
seja, que lutam pelos seus direitos para uma de docente. Isso acarretava em uma série
sociedade mais justa.

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modificações que deveriam ser corrigidas para com a escola, favorecendo o trabalho
que melhorasse a qualidade de ensino. pedagógico que o professor tem a oferecer.
Ainda há uma preocupação em relação a
formação de docentes, pois existem cursos de A EDUCAÇÃO INFANTIL NO
curta duração e alguns na modalidade de EAD(
Educação a Distância), nos quais nem sempre SÉCULO XXI
cumpre sua função de proporcionar ao A Educação Infantil deve atuar diante dos
estudante o contato com a realidade das processos de desenvolvimento da criança. Por
escolas, ou seja, há uma ausência de prática e essa razão tem sido motivo de pesquisa de
reflexão sobre a mesma. A partir dessa como os pais, escola, e comunidade devem
realidade nas universidades ocorre o modelo proceder nesse aspecto; sendo que a base
tecnicista, cujos alunos apenas acumulam dessa educação é global.
conhecimentos para que possa atingir seu Em relação a educação das crianças, quem
objetivo: a nota, sem poder ter a oportunidade as educa? Somente a escola e os pais? Cabe aos
de reflexão e crítica em relação a Pedagogia em educadores saberem o que de fato ocorre
si. nesse processo educativo e quais as metas a
Muito tem mudado para adequar a serem traçadas para alcançar objetivos
formação dos docentes para atuar na comuns.
educação. O governo tem aberto Vivemos em uma sociedade com valores
oportunidades para professores de escolas capitalistas e que automaticamente são
públicas aperfeiçoar seus estudos, transmitidos por meio de gerações, isso é
proporcionando uma base para atender as perceptível por meio das escolas que já
necessidades da educação básica brasileira. preparam seus alunos para o mercado de
A questão da formação não pode ser uma trabalho, muitas delas acabam esquecendo de
atribuição só do governo ou das instituições valores mais importantes para o processo
escolares, mas dos próprios educadores que educativo, além da mídia que faz da criança
devem estar dispostos a transformar o cenário desde cedo um consumista, numa sociedade
educativo, estando prontos para buscar descartável e voltada para os interesses
conhecimentos, e isso depende de uma capitalistas.
educação continua. Os educadores devem se As escolas devem ser claras e objetivas
aperfeiçoar, favorecendo um ensino digno aos quanto a educação da criança e dirigir sua
seus educandos e que possam transformar a atenção para questões de cidadania, avaliando
qualidade da educação brasileira. a situação em que se encontra a sociedade
Além da importância da qualificação dos atual.
professores na educação infantil é necessário A Educação infantil é à base de todo o
que as escolas possuam uma boa estrutura que processo de desenvolvimento físico, psíquico,
conte com o apoio de recursos pedagógicos intelectual e social, porém muitas escolas não
para que haja um entrosamento do educador possuem estruturas que garantem um
desenvolvimento pleno, seja nas escolas

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públicas ou particulares, ainda há muito que se acordo com essa visão, o que é necessário para
fazer. que fazer nossas crianças exercer cidadania?
A uma preocupação em processos O conceito cidadania é muito discutido,
quantitativos em preenchimentos de currículos porém com uma ação política desvalorizada, na
e não com o desenvolvimento social e afetivo qual a criança inserida na sociedade, já
da criança. aprende valores atribuídos do capitalismo e
As instituições privadas exploram e vedem não agrega valores e princípios éticos que
uma imagem de desenvolvimento global da poderão ser úteis na sua vida como cidadão.
criança, porém o que geralmente acontece é Segundo Rosilda Martins, a cidadania é uma
uma exploração quantitativa dos alunos, ideia em expansão, porém com ação política
promovendo uma educação voltada para desvalorizada, ou seja, o cidadão não pode ser
sociedade burguesa, enquanto as instituições visto apenas como um contribuinte,
públicas possuem uma visão global, mas faltam consumidor, voltados aos interessantes
recursos estruturais e financeiros para atender capitalistas, mais ter uma educação como um
a grande demanda de alunos. instrumento social básico.
A função da escola é educar de forma Nesse sentido, a escola surge como um lugar
eficiente podendo formar cidadãos central da educação, que consolida a visão
conscientes que saibam se relacionar dentro da descentralizada do sistema, a qual deve
sociedade, para isso não basta a escola proporcionar uma qualidade desejável e
favorecer uma educação que compete apenas esperada no processo educativo, visando o
conteúdos programáticos sem visar uma comprometimento de todos envolvidos nesse
educação qualitativa na questão da cidadania. processo, começando por uma gestão mais
democrática que conte com o apoio de novos
ESCOLA: ESPAÇO PROJETO projetos pedagógicos e outros tipos de
currículos que possam contribuir para a
POLÍTICO PEDAGÓGICO formação de cidadãos.
Nos últimos anos, procura-se discutir qual é A escola tem suma importância nesse
a função da escola no processo político- processo, pois é por meio dela que começa a
pedagógico na educação no Brasil e quais os reversão do modelo tradicional. Esta deve
processos utilizados para se alcançar suas conscientizar os alunos para que sejam
metas e objetivos. participativos no que ocorre na sociedade e
Nesse sentido, a escola tem como maior saber seus direitos e deveres perante a mesma.
objetivo formar cidadãos críticos e reflexivos Para que possamos reverter esse quadro e
dentro da sociedade atual, porém não é só evoluirmos na construção da cidadania é
atribuição da escola, mas de todos que fazem preciso contar com o apoio de todos que fazem
parte dessa sociedade, o estado, a comunidade parte da educação, cada um fazendo sua parte
e principalmente as famílias que nem todas são e caminhando juntos para o exercício da
estruturadas para educar de forma correta. De cidadania e de uma educação de qualidade.

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NEOLIBERALISMO Á direitos, deveres e liberdade de expressão igual


para todos dentro de uma sociedade.
BRASILEIRA Isso fica bem claro ao comparamos, as
O Neoliberalismo no Brasil que ao longo dos camadas populares com as mais elitizadas, pois
anos, se desenvolveu em desigualdades e a a elite tem bases e vivências educacionais
cada governo foi apenas pensados em ideais quanto culturais que favorecem seu
próprios e nossos governantes quase nada pensamento crítico e reflexivo do que ocorre
fizeram para o bem da população e cada vez na sociedade atual. Já a camada popular não
mais destruir a capacidade do brasileiro lutar tem oportunidades similares as da elite, que
pelos seus direitos, fazendo que a cada instante por sua vez possuem uma educação de
houvesse um atraso cultural na população, em qualidade que intervém em seu
outras palavras o cidadão brasileiro desenvolvimento global.
provavelmente não é respeitado como Apesar de ultimamente o Brasil ter se
cidadão, não é visto de forma global, sendo desenvolvido no setor educacional, ainda há
assim o neoliberalismo no Brasil sempre muito que se fazer para conseguir alcançar
aconteceu de uma forma vulgar nada se uma educação de qualidade para todos os
comparando com a britânica. brasileiros, independentes de suas classes
Segundo Francisco de Oliveira o sociais. Infelizmente essa é a realidade
neoliberalismo no Brasil sempre foi avacalhado brasileira, visto que boa parte da nossa
e avacalhador, que já há um complexo de população ainda não possui um nível aceitável
inferioridade nos brasileiros. de escolaridade e de cultura.
Pode-se entender que nós brasileiros temos Como a população menos favorecida na
costume de ignorar nossas próprias maioria das vezes são analfabetos ou
experiências, posto que esse complexo de semianalfabetos são apenas preparados para a
inferioridade foi atribuído em nós por meio de mão-de-obra capitalista, não conseguem lutar
conceitos ideológicos inseridos em nossa pelas suas próprias causas sindicalistas, ou seja,
sociedade por um longo tempo. lutar por seus direitos como trabalhador e
Infelizmente o brasileiro não leva a sério ou cidadão, ficam a mercê da burguesia, dando o
às vezes pela ignorância relacionada ao exemplo de que não sabem o que é uma
assunto não dá a devida importância para seus democracia.
direitos como cidadão e sofre as consequências
de não faz valer o que lhe pertence, fazendo do
neoliberalismo como uma brincadeira, onde
CIDADANIA E EDUCAÇÃO
seus ideais não possuem relevância. A cidadania está sendo muito discutida e a
escola está cada vez mais inserida nesta
questão, já que é um local onde se aprende
EDUCAÇÃO E MASSIFICAÇÃO conceitos sociais para a formação de cidadãos
A população brasileira está longe de completos em todos os aspectos possíveis.
conhecer o verdadeiro significado da palavra
democracia, pois democracia se baseia em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Tendo a escola como um lugar de respeito


ao próximo e que executa noções de cidadania,
a sociedade em geral adota a mesma sendo a
única fonte de transmitir o que é cidadania.
No livro Cidadania e Educação, o autor
aborda esse tema e esclarece que a própria
sociedade como responsável pela falta da tão
sonhada cidadania.
A cidadania começa pela escola, é dever da
mesma ensinar a sociedade, já se deve aplicar
dentro da sala de aula em que muitas vezes
ocorre o preconceito, a discriminação até por
parte dos próprios educadores. Há uma
necessidade de buscar por ideais para
adequação aos alunos.
A escola deve ser um lugar que estimule a
criança a exercer cidadania e acima de tudo
prepara-las, porém isso não pode ser
atribuição da instituição escolar, mas da
sociedade em geral, começando pela família.
Afinal qual é o objetivo da escola senão formar
cidadãos? Todos nós sabemos que a escola se
enquadra , ajusta, desestimula atitudes
antissociais, ajuda a transformar o educando
num ser social. Ao passar valores específicos de
uma região ou de um país, passa também
comportamentos e permite ao aluno acesso ao
patrimônio cultural da humanidade. “E os
direitos e obrigações da cidadania são partes
intrigantes desse patrimônio” (PINSKY,2002).
O exercício da cidadania inicia-se pela
escola por meio da estimulação de saberes e
conceitos de direitos e deveres dentro da
sociedade, proporcionado um processo de
ensino que favorece a participação ativa dos
educandos no contexto social em que vivem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que não é possível estabelecer uma educação de qualidade, na qual forma o
exercício da cidadania se não houver a interferência do convívio social dos indivíduos: a escola,
família, igreja; o meio em que se encontra o indivíduo.
Conforme a política educacional há uma aparência de igualdade e oportunidade para
todos, porém isso não ocorre na realidade atual, pois as oportunidades são restritas as classes
menos favorecidas. Porventura, isso ocorre desde a Educação Infantil estendendo-se por todo o
processo educativo. Tanto o ensino privado como o público provavelmente estabelece uma visão
de formação para o mercado de trabalho, sem visar o aluno como um futuro cidadão crítico,
sendo imprescindível inseri-lo na sociedade de forma geral, abrangendo não apenas aspectos
intelectuais, mais também sociais.
O processo de formação da cidadania é uma atribuição do estado, porém a comunidade
também tem o seu papel, que não é somente cobrar seus direitos, mais exercer seus deveres,
tendo assim uma concepção pessoal e social.
Essa formação de cidadania se faz por meio de lutar contra as opressões sociais, como:
discriminações de qualquer gênero, desigualdades, opressão da liberdade de expressão.
Nessa busca pela qualidade de ensino, todos os departamentos têm seus papeis
estabelecidos, porém com a consciência de seus deveres e direitos perante a sociedade,
cumprindo-os de forma democrática e mantendo o espírito em equipe para se chegar a um
objetivo comum.
Nesse processo de luta, o educador tem suma importância, pois ele será intercessor que
mostrará aos alunos o seu devido valor, porém isso não acontece na prática, ficando apenas na
teoria. Os educadores transmitem conteúdos sem se importar com sua verdadeira função.
A formação do cidadão tem um processo contínuo, no qual, não só a escola tem suas
atribuições, mas a sociedade se faz necessária nessa formação. Nos dias atuais a criança vivencia
a globalização interiorizando o capitalismo em vários aspectos, principalmente a forma fútil dessa
sociedade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
FREIDMANN ADRIANA, A educação infantil no século XXI, Revista Pátio Educação Infantil,
ANO VI, N 18, NOV 2008/FEV 2009.

FREIRE, PAULO. Educação como Prática da Liberdade, 14 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1993.

MARTINS, BARON ROSILDA. Escola: Espaço Projeto Político Pedagógico. 7.Ed. São Paulo:
Papirus,2003.

OLIVEIRA, DE FRANCISCO. Pós-neoliberalismo. As Políticas sociais e o Estado


Democrático, 6.ed São Paulo Paz e Terra , 2003.

PINSKY, JAIME. Cidadania e Educação. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2002.

VIEIRA MARIA LÍVIA, A educação infantil, Revista Pátio Educação Infantil, ANO VII, Nº 19,
MAR/JUN 2009.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONSTITUIÇÃO DO PENSAMENTO NA IDADE


CLÁSSICA E NA RENASCENÇA
Idayany Araújo Cardoso de Almeida1
Guenther Carlos de Almeida2

RESUMO: Neste trabalho objetiva-se apresentar as condições históricas que permearam o


pensamento na idade clássica e no renascimento. Para tanto buscamos em Koyré (1982),
Foucault (1995), Bachelard (1996) e Ternes (2010) os elementos necessários para a classificação
destas formas de pensamento. A constituição da episteme da idade clássica se dá pela
representação, influenciando toda a renascença. Conclui-se que a forma representacional do
pensamento na idade clássica inaugura uma nova forma de pensamento no gênero humano.

Palavras-Chave: Epistemologia; História do Pensamento; Idade Clássica.

1 Professora de Educação Física no Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa. Graduada em Educação Física
e Mestra em Educação pela UFG.
2 Professor de Educação Física do IFG Campus Inhumas e orientador no Programa de Pós-graduação em Educação

Profissional e Tecnológica do IFG. Graduado em Educação Física pela UFG e Doutor em Educação pela PUC-Go.
Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Ciências.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE CONSTITUTION OF THOUGHT IN THE CLASSICAL AGE AND THE


RENAISSANCE
ABSTRACT: This work aims to present the historical conditions that permeated the thought in the
classical age and in the renaissance. In order to do so, we sought in Koyré (1982), Foucault (1995),
Bachelard (1996) and Ternes (2010) the necessary elements for the classification of these forms
of thought. The constitution of the episteme of the classical age takes place through
representation, influencing the entire renaissance. It is concluded that the representational form
of thought in the classical age inaugurates a new form of thought in the human race.

Keywords: Epistemology; History of Thought; Classic Age.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO da história do pensamento. E mais


especificamente: analisar o pensamento na
A ciência constituiu-se, nos dias atuais, em renascença como período histórico
uma forma de conhecimento muito aceita fundamental para o pensamento moderno; e
entre os diversos círculos sociais, incluindo no revelar os limites do pensamento
senso comum. Está posto, que o conhecimento representacional da idade clássica.
advindo de experiências científicas possuem Temos com problema do trabalho: Quais
maior veracidade e credibilidade do que os características e limites o pensamento na idade
demais. Somado a isso, seu ethos da clássica e da renascença revela para a
experimentação, validação, matematização, constituição das ciências e filosofia nesse
passa em alguma medida balizar os demais período histórico?
tipos de conhecimento. Este trabalho se justifica na compreensão da
Todavia como o pensamento era constituído modernidade e suas contradições,
antes do período moderno? Veremos quais são identificando as continuidades e rupturas com
as condições de possibilidade para que um o pensamento do período clássico e da
conhecimento da Idade Clássica emerja e renascença.
configure a experiência humana, consigo
mesmo e com o mundo.
A RENASCENÇA E SUAS
Buscamos analisar as relações entre o
renascimento e a Idade Clássica, mas não sob o FORMAS DE PENSAMENTO
paradigma comum que aponta uma Seria no mínimo impreciso apontar que a
continuidade de pensamento entre esses dois renascença foi período em que a episteme
períodos, ou ainda um progresso destes até a clássica foi gestada, e que ali se encontrava o
ciência moderna. início do pensamento científico.
Posteriormente, buscamos compreender os Koyré (1982), estudioso deste período,
elementos e características centrais da Idade aponta que havia no período em tela uma
Clássica, reproduzindo o percurso de Foucault discussão que se articulava em torno do novo
em “As palavras e as Coisas” para homem. Com inspiração humanística e
compreender, em alguns campos do ancorada em reviver ou renascer o humanismo
conhecimento, as característica e antigo, a renascença é um período onde
transformações do pensamento nesse período. predomina a erudição e a retórica. Nesse
Associado a esse processo discorreremos período as artes e as letras são os saberes que
muito brevemente sobre os limites do se hipertrofiam e desenvolvem.
pensamento por representações e os Ternes (2010), afirma que seria ingenuidade,
obstáculos que este impôs as demais formas de como alguns historiadores acreditam, aceitar
pensamento. que o saber da renascença baseado na
Em síntese, este trabalho tem como objetivo erudição e com forte apelo à magia seria base
geral analisar as formas de pensamento na para o nascimento da mecânica clássica ou de
idade clássica e renascença sob a perspectiva outras ciências.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O homem renascentista é o grande artista, o características que formavam a visão de


homem de letras. A reforma no pensamento mundo dessa época.
que a renascença empreende não é o de No que tange à organização do pensamento,
romper com as sistematizações vigentes e Koyré (1982), aponta que pouco se assemelha
construir o pensamento sobre novas a sistematização renascentista, da
sistematizações científicas. Antes a grande sistematização moderna. O autor aponta que
reforma na lógica é, nas palavras de Koyré pôde ser notado um grande número de
(1982, p.46), “[...] substituir a técnica da prova, catálogos que organizavam coleções de
característica da lógica clássica, por uma desenhos botânicos e sobre o corpo humano,
técnica da persuasão.” grandes enciclopédias, e grandes esforços de
Para que tal renascimento fosse possível, era tradução de obras literárias, científicas e
necessário que a cosmovisão aristotélica fosse matemáticas da antiguidade clássica. Todavia,
substituída. A física, a metafísica e a ontologia nas palavras de Koyré (1982, p.49), “[...] o que
de Aristóteles, que davam as condições de falta é a teoria da classificação, a possibilidade
possibilidade de existência do que se conhecia, de classificar de maneira razoável os fatos
dão lugar a uma magia e uma credulidade que reunidos: no fundo não se ultrapassa do
não possuíam limites, Koyré (1982). estágio do catálogo.”
Se a infinitude é uma qualidade que a Há no germe da Idade Clássica uma
renascença construiu, Koyré (1982), afirma que construção do pensamento sobre o próprio
o lema, ou a frase que expressa a mentalidade saber, há uma tentativa de construção de
desse período é “tudo é possível”. A formas de olhar não só aos objetos, mas para a
possibilidade enquanto elemento da existência ordem do próprio pensamento.
do real contraria uma lógica, estruturada e Ora, se a renascença, segundo Koyré, foi o
organizada, definida e com características período em que mais se consumiu e produziu
específicas hierarquicamente determinadas, conhecimento mágico e supersticioso, qual
como era presente na lógica Aristotélica. seria então a relação, ou contribuição deste
As duas faces da “moeda” na Renascença é período para o nascimento da episteme
a crença de que tudo é possível, a curiosidade clássica?
sem fronteiras, o espírito de aventura e a Havia um modus operandi no pensamento
acuidade da visão. Muito foi revelado, não só sistematizado pré-renascença que operava, e
no campo da geografia, mas também da levou às mais altas possibilidades sob o
botânica, por meio das grandes catalogações aristotelismo. Este de fato, foi apontado como
empreendidas neste período. Parte destas um dos principais obstáculos epistemológicos3 1

descobertas se deu graças a estas para a ciência. Assim, romper com essa forma
de compreender o mundo, ou essa visão de

3 Na concepção de Bachelard (1996), em sua obra “A de imperativo funcional, lentidões e conflitos. É ai que
formação do espírito científico” Obstáculo mostraremos causas de estagnação e até de regressão,
epistemológico é algo interno ao pensamento e não detectaremos causas de inércia às quais daremos o
externo, ou nas palavras do autor: “[...] é no âmago do nome de obstáculos epistemológicos.” (p. 17).
próprio ato de conhecer que aparecem, por uma espécie

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mundo aristotélica, seria de grande uma forma de organizar o pensamento que


importância ou até mesmo indispensável. Por precisou ser progressivamente superada para
isso reafirma Koyré (1982, p. 47), “a grande que fosse possível a constituição de novas
inimiga da Renascença, do ponto de vista formas de pensamento.
filosófico e científico, foi a síntese aristotélica, Foucault (1995), localiza na Idade Clássica
e pode dizer-se que sua grande obra foi a uma nova episteme frente à Renascença,
destruição desta síntese.” mostrando-nos, em que medida a
O que certamente precisa ser afastado do representação foi um limite à episteme
aristotelismo é o reino do sensível, ou de que o clássica.
real é a síntese dos sentidos humanos. Ou Já não se segue uma ordem de duplicação de
então de que Universo é finito, porque assim é representações ou de construção de
a capacidade humana de observar. A questão representações. Não é mais um sistema
da finitude configura-se como um elemento ordenativo que analisa, compõe e decompõe
central na análise dos estatutos científicos as representações a partir de suas identidades
aristotélicos. Corroborar com a infinitude do e diferenças. Parte-se para uma ordem de
Universo é elemento imprescindível para os pensamento que analisa movimentos internos
saltos qualitativos do pensamento. ao pensamento. Nas palavras de Foucault
Não estamos diante de um aprofundamento (1995, p.232)
ou continuidade da visão de mundo de [...] enfim e sobretudo, mostrará que o
Aristóteles, estamos frente a uma nova forma espaço geral do saber não é mais o da
de construir a visão sobre o que o mundo possa identidades e das diferenças, o das ordens não-
ser. Sendo infinito, a observação e quantitativas, o da caracterização universal, de
sistematização qualitativa do sensível não dá uma taxionomia geral, de uma máthêsis do não
conta das possibilidades que se avizinham no mensurável, mas um espaço feito de
pensamento. Assim, não só os instrumentos de organizações, isto é, de relações internas entre
observação do mundo precisam ser elementos, cujo conjunto assegura uma função
formulados para essa nova cosmovisão, como [...]
o próprio modo de ser do pensamento, carece Este autor irá demonstrar esse movimento
de revisão. A assunção da física e no interior de três empiricidades, as riquezas,
especialmente da matemática como os vivos e os signos.
linguagens, também passam a ser elemento As riquezas e a análise de suas operações
adicional para a existência do pensamento. passam por uma profunda transformação a
partir das ideias de Adam Smith. Foucault
O PENSAMENTO DA IDADE (1995) irá apontar que, antes da Economia
predominava a análise das riquezas e estas não
CLÁSSICA E OS LIMITES DA possuindo leis definidas, operavam suas
REPRESENTAÇÃO aplicações de valor sobre a troca e a
Apontados os elementos fulcrais da necessidade que se colocava frente aos
renascença, notamos que a representação é

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

objetos, como a alimentação, seu vestuário e se isto pode comprar aquilo, se o ouro vale
habitação dos sujeitos. duas vezes mais que a prata, não é mais porque
Para Foucault (1995), Adam Smith é quem os homens têm desejos comparáveis; não é
começa a estruturar o campo da análise das porque através de seu corpo eles
riquezas complexificando as análises a ele experimentam a mesma fome ou porque o
aplicadas. Smith estabelece como conceito coração de todos obedece às mesmas
fundamental o trabalho e seus seduções; é porque todos eles estão
desdobramentos (divisão do trabalho, tempo submetidos ao tempo, ao esforço, à fadiga e,
de trabalho, jornada de trabalho). Nas palavras indo ao extremo, à própria morte. Os homens
do autor: trocam porque experimentam necessidades e
Esse desfecho é de grande importância. desejos; mas podem trocar e ordenar essas
Certamente, Adam Smith analisa ainda, como trocas porque são submetidos ao tempo e à
seus predecessores, esse campo de grande fatalidade exterior.
positividades a que o século XVIII chamou de Ao lançar esta base, Smith funda uma
“riquezas”; e com isso, entendia também ele fecunda condição de pensamento que é
objetos de necessidade – os objetos portanto exterior à representação e se articula a outros
de uma certa forma de representação – elementos produtivos (acumulo de capitais,
representando-se a si próprios nos desenvolvimento da indústria e da divisão do
movimentos e nos processos da troca. Mas, no trabalho). A reflexão de Smith para Foucault
interior dessa reduplicação e para regular sua também abre caminhos de diálogo com uma
lei, as unidades e as medidas de troca, ele antropologia da essência do homem, e uma
formula um princípio de ordem que é economia política que possuiria base na
irredutível à analise da representação: traz à produção real.
luz o trabalho, isto é, o esforço e o tempo, essa No campo da Biologia, Foucault (1995), irá
jornada que, ao mesmo tempo talha e gasta a apontar que a história natural se modifica,
vida do homem. (FOUCAULT, 1995, p.239). quando assume elementos de classificação
Smith, segundo Foucault, realiza um diferentes dos princípios da representação
percurso em que se funda uma lei orientadora tradicional. É lançada mão da caracterização a
do pensamento de um determinado campo e partir da relação entre estrutura visível e
de suas análises. Muda-se então a forma de critérios de identidade. O autor irá defender
analisar as riquezas, passa-se a análise para um que a partir de Jussieu, Lamarck e Vicq d’Azyr,
campo mais profundo dentro da própria [...] a transformação da estrutura em caráter
produção, que seria o trabalho. Foucault (1995, vai basear-se num princípio estranho ao
p. 239), complementa: domínio do visível – um princípio interno
A equivalência dos objetos do desejo não é irredutível ao jogo das representações. Esse
mais estabelecida por intermédio de outros princípio (ao qual corresponde, na ordem da
objetos e de outros desejos, mas por uma economia, o trabalho) é a organização.
passagem ao que lhes é radicalmente (FOUCAULT, 1995, p. 241).
heterogêneo; se há uma ordem nas riquezas,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Esta organização, segundo Foucault (1995), empiricidade, é a desvinculação direta com a


aparece de quatro modos diferentes: como representação como forma de organização
forma de hierarquia de caracteres, não destes campos. Todavia há algo mais profundo.
extraindo o caráter da estrutura visível, e sim Todas elas caminharam para um processo de
na existência de funções essenciais; como organização com base em leis que permitiram
relação de funções, onde as relações de organizar o pensamento de maneira mais
importância são relações de subordinação complexa. Há um caminhar para formas de
funcional; considerando a noção de vida, análise mais irredutíveis e sistematizadas, com
analisando os caracteres que garantam a base em leis gerais. Outro aspecto importante
existência mesmo que estejam escondidos; e foi a consideração dos elementos internos de
pelo rompimento do paralelismo entre organização do pensamento.
classificação e nomenclatura. A partir desse acontecimento, o que valoriza
A relação entre orgânico e inorgânico então os objetos do desejo não são mais apenas os
passa a assumir uma grande importância, e a outros objetos que o desejo pode representar,
organização dos seres se dava mais sob mas um elemento irredutível a essa
aspectos de uma ordem interna aos seres e sob representação: o trabalho; o que permite
leis específicas de classificação, pelos critérios caracterizar um ser natural não são mais os
acima apresentados. elementos que se podem analisar sobre as
E por fim, Foucault (1995), lança mão da representações que dele e de outros se fazem,
análise da Linguagem. A mudança na mas certa relação interior a esse ser e a que se
representação da linguagem se manifestou de chama sua organização; o que permite definir
maneira mais tardia, e se manifestou pela uma língua não é a maneira como ela
passagem das análises da língua unicamente representa as representações, mas certa
pelas representações, para a análise pelas arquitetura interna, certa maneira de modificar
flexões. Como aponta Foucault (1995, p. 250): as próprias palavras segundo a postura
[...] a linguagem não é mais constituída gramatical que ocupam umas em relação às
somente de representações e de sons que, por outras: é seu sistema flexional. Em todos os
sua vez, as representam e se ordenam entre si casos, a relação da representação consigo
como exigem os liames do pensamento; é mesma e as relações de ordem que ela permite
ademais, constituída de elementos formais, determinar fora de toda medida quantitativa
agrupados em um sistema, e que impõem aos passam agora por condições exteriores à
sons, às sílabas, às raízes, um regime que não é própria representação na sua atualidade.
o da representação. Introduz-se assim na (FOUCAULT, 1995, p. 252).
análise da linguagem um elemento que lhe é Os caminhos apresentados revelam que as
irredutível (como se introduz o trabalho na mudanças apresentadas não extrapolaram os
análise da troca ou a organização na dos limites do pensamento clássico, nas palavras
caracteres). de Foucault (1995, p. 255)
O que podemos notar de comum, mesmo Não se deve esquecer que, se Smith, Jussieu,
que com as especificidades de cada e W. Jones se serviram das noções de trabalho,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de organização, e de sistema gramatical, não O homem não saberá o incalculável, isto é,


foi para contornar a visibilidade das coisas e não o preservará em sua verdade, a não ser no
escapar ao jogo da representação que questionamento criativo, em configurações
representa a si mesma; foi somente para aí que tiram sua força da reflexão autêntica. Elas
instaurar uma forma de ligação que fosse ao posicionam o homem do futuro numa posição
mesmo tempo analisável, constante e fundada. intermediária: ele pertence ao ser e, contudo,
Tratava-se sempre de encontrar a ordem geral permanece um estranho no meio do ente.
das identidades e das diferenças. A exigência epistemológica do incalculável é
As posteriores formas de pensamento, como que conduz o pensamento a estruturar a
a ciência moderna, só seriam possíveis se ciência moderna.
houvesse um novo salto qualitativo na direção
do rompimento com as formas de conhecer
representacionais. Heidegger (s/d) já afirmara
que o homem não romperia os limites da
representação, chegando ao que era tido ainda
como desconhecido ou incalculável, por outra
via senão a da razão. A representação mostra-
se como uma obliteração à racionalidade
moderna, e que seria preciso então romper
com essa a forma de pensamento,
Através desta sombra, a época moderna se
coloca em uma região inacessível à
representação e confere ao assim incalculável
a sua peculiaridade histórica e a sua
determinação particular. Esta sombra, porém,
aponta na direção de algo distinto, cujo
conhecimento é vedado aos contemporâneos.
O homem não poderá sequer uma vez
experimentar e refletir sobre o vedado
enquanto vaguear na simples negação da
época histórica. A fuga para a tradição, ao
misturar humildade e presunção, não
consegue nada além de fechar os olhos e
tornar-se cega para o instante histórico.
(HEIDEGGER, s/d, p. 10).
O incalculável se situa nas regiões onde a
representação não atinge, para a ciência
moderna o incalculável é caro, como vemos nas
palavras de Heidegger (s/d, p. 10):

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Idade Clássica revela em seu modo de ser representacional uma forma de saber nova.
Nas palavras de Ternes (s/d, p. 5):
Não estamos diante de um acontecimento circunstancial. Assistimos à constituição de
uma nova episteme. [...] O século XVII inaugura um modo de ser da cultura onde saber é
dar imagem ao mundo, haver-se, não com o mundo mas com sua suposta figura, sua
imagem.
Não signatária de outro período, mas com estatuto próprio, a Idade Clássica lança sobre o
conhecer bases diferentes que rompem com outras formas de pensamento, como o
aristotelismo.
Uma época que nas palavras de Ternes (s/d) elimina os excessos dos pensadores
renascentistas e lançam a organização do pensamento sob leis gerais como agenda do dia.
A compreensão do mundo como infinito e possível de exploração impulsiona uma
exploração organizada que se diferencia dos períodos anteriores.
Não como prelúdio da modernidade, mas como período fértil e singular, a Idade Clássica
lança no pensamento humano o pensar sob princípios e a refinação do quantitativo, da ordem e
da medida.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BACHELARD, Gastón. A formação do espírito científico: contribuições para uma
psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as Coisas. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
HEIDEGGER, Martin. A época das imagens de mundo. s/d. Tradução de Cláudia Drucker.
KOYRÉ, Alexandre. Estudos de história do pensamento científico. Rio de Janeiro: Ed.
Forense; Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1982.
TERNES, José. Uma época da imagem do mundo. s/d. Mimeo.
TERNES, José. Alexandre Koyré e a renascença. In. Salomon, Marlon (org.) Alexandre Koyré:
historiador do pensamento. Goiânia: Almeida & Clément Edições, 2010.

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A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO


DOCENTE E SUA CONFIGURAÇÃO NA
SOCIEDADE DO CAPITAL: ENTRE CRISES E
CONTRADIÇÕES
Idayany Araujo Cardoso1

RESUMO: Partindo de uma concepção crítica de Educação, esse artigo teve como principal
objetivo compreender e analisar o processo de constituição do trabalho docente e sua
configuração na sociedade do capital. Para tanto, foi realizada uma pesquisa teórico-bibliográfica
com base, principalmente, em Saviani (2011a e 2011b) e Hypolito (1997). Temos que o trabalho
docente sofre várias transformações até atingir sua atual consolidação, e que durante esse
processo várias crises e contradições perpassam a condição do professorado e trazem uma
configuração com base em características de desvalorização, desqualificação, precarização e
alienação. Dessa forma, vemos que é necessária maior articulação e reconhecimento dos
professores enquanto classe, a fim de lutar por melhores condições de trabalho, por mais
reconhecimento, valorização e autonomia profissional.

Palavras-Chave: Trabalho docente; Profissionalização; Sociedade do capital.

1Professora de Educação Física no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Goiás – Campus
Formosa.
Graduação: Ma. em Educação pela Universidade Federal de Goiás – REJ.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE HISTORICAL CONSTITUTION OF TEACHING WORK AND ITS


CONFIGURATION IN THE CAPITAL SOCIETY: BETWEEN CRISES AND
CONTRADICTIONS
ABSTRACT: Starting from a critical conception of Education, this article had as main objective to
understand and analyze the process of constitution of the teaching work and its configuration in
the capital society. Therefore, a theoretical-bibliographic research was carried out, based mainly
on Saviani (2011a and 2011b) and Hypolito (1997). We have that teaching work undergoes
several transformations until it reaches its current consolidation, and that during this process
several crises and contradictions permeate the condition of teaching and bring a configuration
based on characteristics of devaluation, disqualification, precariousness and alienation. In this
way, we see that greater articulation and recognition of teachers as a class is necessary, in order
to fight for better working conditions, for more recognition, appreciation and professional
autonomy.

Keywords: Teaching work; Professionalization; Capital society.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO assumem características próprias de um


sistema que visa o lucro e a mais valia2 em 1

Esse estudo objetivou compreender e detrimento da própria condição humana. O


analisar brevemente o processo de trabalho docente passa por processos de
constituição da profissionalização docente, desqualificação, desvalorização, precarização e
bem como essa profissão se configura na alienação em níveis inimagináveis. Por essas
sociedade do capital, levantando alguns condições faz-se necessário o debate em prol
delineamentos e contradições que permearam de justiça social e de melhores condições de
e ainda permeiam o trabalho docente. trabalho, para se criar resistência e envolver os
De maneira mais específica, os objetivos trabalhadores na luta, a fim de buscar
foram: analisar o trabalho em sentido transformações sistemáticas, principalmente
ontológico, ou seja, o trabalho enquanto na economia e na política.
fundante do ser humano e enquanto
protoforma de toda atividade humana;
O TRABALHO DOCENTE
compreender a concepção de educação e a
O trabalho docente, em sua atual
relação de trabalho docente enquanto
configuração, é produto de longo
trabalho educativo; entender a constituição e
desenvolvimento histórico. A profissão de
profissionalização do trabalho docente;
professor passou por severas transformações
analisar a configuração do trabalho docente na
até se legitimar em instituições formais
atual sociedade do capital.
reconhecidas para transmissão sistematizada
Com isso, levantou-se o seguinte problema
dos conhecimentos essenciais para a formação
de pesquisa: como se deu o processo de
da humanidade.
constituição da profissionalização docente e
Compreendemos o trabalho docente
como essa profissão se configura na sociedade
enquanto uma profissão inserida na sociedade
do capital?
contemporânea, contraditória e fragmentada,
Para tanto, realizou-se uma pesquisa de
e não como uma atividade estritamente
cunho teórico-bibliográfica buscando auxílio de
escolar e que estabelece relações somente
autores críticos da Educação, que em seus
com as dimensões pedagógicas da atividade
estudos trouxeram contribuições significativas
docente.
para se pensar o trabalho docente. Dentre eles
Nesta esteira, entendemos o trabalho
destacam-se Saviani (2011a e 2011b) e
docente como uma ação inserida no trabalho
Hypolito (1997).
educativo que contribui socialmente para a
É salutar justificar a importância desse
humanização dos estudantes. Esse processo é
estudo mencionando que o trabalho e, nesse
uma ação intencional que se dá pela
sentido, enquadra-se também o trabalho
disseminação do saber sistematizado e que
docente, sofre severas transformações e
possibilita, aos sujeitos que com ele se

2Compreende-se o lucro e a mais-valia com base na


perspectiva marxiana dos termos. Para mais detalhes
consultar o livro “O capital” volume I de Karl Marx.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

encontram, analisar a realidade sob o ponto de criação de formas de inserção das novas
vista da sistematização do conhecimento gerações no mundo humano. Assim, do
advindo do trabalho enquanto atividade trabalho surge a necessidade do trabalho
fundante do ser humano, (SAVIANI 2011b). educativo, que para Saviani (2011b), é:
Como afirmamos o trabalho pedagógico, e [...] o ato de produzir, direta e
com muitas mediações o trabalho docente, intencionalmente, em cada indivíduo singular,
deriva do trabalho como elemento fundante do a humanidade que é produzida histórica e
ser humano e da sociabilidade humana. coletivamente pelo conjunto dos homens.
[...] o trabalho é um processo entre o Assim, o objeto da educação diz respeito, de
homem e a Natureza, um processo em que o um lado, à identificação dos elementos
homem, por sua própria ação, media, regula e culturais que precisam ser assimilados pelos
controla seu metabolismo com a Natureza. Ele indivíduos da espécie humana para que eles se
mesmo se defronta com a matéria natural tornem humanos e, de outro lado e
como uma força natural. Ele põe em concomitantemente, à descoberta das formas
movimento as forças naturais pertencentes a mais adequadas para atingir esse objetivo,
sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e (p.13).
mão, a fim de apropriar-se da matéria natural É por meio do trabalho que nos tornamos
numa forma útil para sua própria vida. Ao seres humanos, por conseguinte é por meio do
atuar, por meio desse movimento sobre a trabalho que desenvolvemos e construímos
Natureza externa a ele e ao modifica-la, ele nossa história, pois tudo que não é advindo da
modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza é produzido historicamente pelos
natureza (MARX, 1988, p.142). seres humanos, inclusive a sua humanidade.
Sendo assim, partindo dessa concepção de O trabalho docente está articulado ao
trabalho em sentido ontológico, é possível trabalho educativo e se manifesta como uma
compreender que o desenvolvimento, produção histórica vinculada ao ensino formal
reprodução e manutenção da vida humana não que tem por princípio a necessidade de captar
se dão apenas por meios biológicos os elementos da cultura a serem apreendidos,
isoladamente, mas também a partir de assim como as formas mais adequadas de fazê-
complexas relações sociais que os seres lo. Segundo Facci (2004, p.242), o trabalho
humanos estabelecem uns com os outros, bem docente assume algumas características:
como com a natureza com a finalidade de 1) cabe ao professor transmitir
transformá-la para suprir suas necessidades. conhecimentos, ensinar os alunos de forma
Assim, homens e mulheres entram em contato que dirija a formação dos seus processos
com a natureza e a modificam. Nessa relação o psicológicos superiores;
ser humano também transforma a sua própria 2) os professores precisam atuar como
natureza, transforma a si mesmo. mediadores entre os conceitos científico e o
O processo de transformação acima citado aluno, partindo de conhecimentos teóricos que
desencadeia o desenvolvimento da auxiliem a prática, e utilizando a prática para
sociabilidade humana e a necessidade de aprofundar os conhecimentos teóricos;

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

3) cabe ao professor investir na zona de magistério se desenvolveu sob a lógica de


desenvolvimento próximo dos alunos, sacerdócio, ou seja, a concepção de atuação no
provocando o seu desenvolvimento intelectual ensino era compreendida como uma vocação.
e afetivo; Dessa forma o corpo docente era composto
4) para trabalhar com a zona de por membros de clero e as escolas eram
desenvolvimento próximo no ensino, na sala constituídas principalmente nas igrejas, nas
de aula, é necessário que o professor esteja catedrais e até mesmo em conventos.
sempre atento e seja capaz de perceber até Com o grande aumento da procura por
que ponto vai a capacidade de imitação do escolas pela população surge então a
aluno, estar atento para o limiar inferior e necessidade de ampliar o quadro de
superior da zona de desenvolvimento próximo. vocacionados para atenderem a essa
Nessa relação o professor é o sujeito social demanda, pois somente o clero não
responsável, dentro da educação escolar, por conseguiria desempenhar essa função. Com
fazer com que os elementos historicamente isso houve a necessidade de se convocar
produzidos e acumulados culturalmente pela colaboradores leigos para desenvolverem esse
humanidade, manifestos na ciência, filosofia, papel, e para tanto eles deveriam realizar um
na arte e na cultura corporal se tornem juramento de fidelidade aos princípios
acessíveis às condições sócio-históricas e religiosos da igreja. Por esse motivo surge o
psicológicas dos alunos. nome “professor” que segundo Hypolito
Associados a estes elementos fundamentais (1997), se originava devido aos vocacionados
compreendemos que o trabalho docente, em professarem a sua fé e lealdade aos princípios
sua estrutura atual, é produto do religiosos de sua doutrina. Esses vocacionados
desenvolvimento de um longo e contraditório se doavam ao ensinamento e aos alunos, mas
processo histórico que conforma sua sem perderem o foco de perpetuar os ideais
manifestação atual. A profissão de professor políticos-religiosos, conservadores e de caráter
passou por vários processos distintos até autoritário da Igreja.
atingir sua consolidação. Esse processo se deu Devido ao grande crescimento populacional
pela legitimação da docência em instituições da época, a Igreja abre espaço para as camadas
reconhecidas para o ensino sistematizado de populares da sociedade terem acesso ao
conteúdos essenciais para o desenvolvimento ensino, com o ideal de promover e manter a
da humanidade. influência religiosa em grande parte da
sociedade. Uma das manifestações dessa
CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO influência era a promoção da leitura dos textos
religiosos, para que estas ficassem enraizadas
TRABALHO DOCENTE no intelecto dessas pessoas, auxiliando na
Segundo Hypolito (1997) a constituição modelação de caráter e condutas condizentes
histórica do trabalho docente, que se iniciou na com as doutrinas religiosas.
Europa no século XVI, se deu a partir de visões A sociedade entra em um momento
religiosas da Igreja. O entendimento sobre marcado por grandes transformações com o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

advento da industrialização, do iluminismo, Esse movimento de prestígio social,


liberalismo, dentre outros. No meio de tantas autonomia e controle do seu trabalho (embora,
transformações, ocorrem mudanças também dentro dos moldes religiosos) se davam
na forma de organização do processo de principalmente pela proximidade com o
trabalho. Sendo assim, segundo Hypolito público atendido, pois o próprio professor é
(1997), o ideário liberal defendia um ensino membro da comunidade e é responsável por
que fosse laico e público para toda sociedade, uma relação muito íntima com pais e
com isso, toda estrutura educacional educandos. Os pais depositavam muita
conhecida até então entra em crise, pois a confiança nos professores para
formação docente não deveria mais ser a partir desempenharem esse papel e isso refletia
de vocação e profissão de fé, mas deveria diretamente na profissão e em suas
desenvolver-se em parâmetros técnico- características de autonomia.
profissionais. A segunda contradição apontada por
Nesse momento, o trabalho docente torna- Hypolito (1997), está relacionada às
se permeado por contradições. Assim, características do trabalho docente que serão
elencaremos duas contradições para serem incentivadas pelo Estado, pois vai se retomar as
analisadas: qualidades presentes no ideário religioso,
Com a ocorrência da profissionalização o relacionando a docência à vocação. Vemos que
trabalho docente perde o prestigio social; o ideário e a hegemonia religiosa eram muito
A volta da vocação incentivada pelo Estado. fortes para serem rompidos de maneira
A primeira contradição está na configuração abrupta. Mesmo que o objetivo do Estado
do trabalho docente que sai dos moldes fosse uma educação pública e laica, a
paroquiais e se desenvolve nos moldes de uma sociedade mostrava seu interesse sociocultural
sociedade capitalista, urbana e industrial, em em se ter uma educação nos moldes
que, os professores detinham certo prestígio, conservadores, de forma que os pais pudessem
reconhecimento social, maior autonomia e escolher quem ensinaria seus filhos e a partir
controle sobre seu trabalho, mas que com o da perspectiva que lhes fosse mais coerente.
processo de profissionalização do seu trabalho Nesse momento a profissão docente entra
essas características vão se esvaindo e, em um aspecto de crise, pois não havia como
[...] à medida que a categoria profissional conciliar a tentativa de profissionalização
aumenta quantitativamente, tornando-se desses trabalhadores se os mesmos
assalariada, empregada pelo Estado e tendo continuassem próximos à comunidade,
sua profissão regulamentada, reduz-se seu atendendo todas as suas necessidades, a todo
prestigio social, sua autonomia, e o controle o momento. Esses professores passaram a ter
sobre seu próprio trabalho; reduz-se também, interesse na profissionalização e
o controle que a comunidade pode exercer consequentemente vão se afastando do
sobre a educação de seus filhos (HIPOLITO, ideário religioso proposto pela Igreja e utilizado
1997, p.21). durante um tempo pelo Estado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Com isso, os profissionais da educação A CONFIGURAÇÃO DO


passaram a incorporar a proposta de profissão
do Estado e vão criando uma distância das TRABALHO DOCENTE NA
comunidades para as quais eles prestavam SOCIEDADE DO CAPITAL
serviço. Essa adaptação ao modelo proposto No contexto da sociedade capitalista e sobre
pelo Estado foi uma das formas de a égide da reestruturação produtiva4 , a escola
2

consolidação do movimento liberal de passa a ser base de difusão dos ideais das novas
educação que consequentemente procura exigências de formação de trabalhadores para
atender as necessidades de perpetuação do o mercado de trabalho, “a educação passa a ser
capitalismo. O interesse do Estado estava em entendida como um investimento em capital
retirar os professores daquele local onde a humano individual que habilita as pessoas para
atividade docente teve início, no seio da a competição pelos empregos disponíveis”
comunidade, mas sem que fossem subtraídas (SAVIANI, 2011a, p.430).
desses profissionais as características de Saviani (2011a), salienta que nessa nova
dedicação e honra que eram próprios dos configuração da sociedade capitalista a
docentes. palavra-chave é: exclusão. Essa exclusão
Os docentes vão buscar a nova situação de aparece em dois momentos, primeiro com as
trabalho – assalariamento e formação pelo vagas de emprego limitadas, pois grande parte
Estado – até mesmo porque ficará cada vez da população se qualifica e amplia o grau de
mais difícil de realizar seu oficio de ensinar escolaridade, mas isso não é garantia de
sendo um trabalhador “autônomo”, pois o emprego. Segundo com a crescente
sistema escolar a partir daí vai se automação no processo de produção,
complexificando e exigindo profissionalização ocorrendo maior valorização do trabalho
(HYPOLITO, 1997, p. 25). morto em detrimento da mão de obra
Se isso, por um lado, significaria algo positivo “conduzindo à exclusão deliberada de
no sentido de certa garantia de seguridade trabalhadores” (p. 431).
trabalhista, de outro, os docentes entram de Dessa forma, com esse ideal de educação, o
vez na lógica alienada do trabalho assalariado3 . 1

trabalho docente enfrenta uma dupla


Nesse sentido, é salutar nos desdobrarmos deformação. Primeiro refere-se ao fato de o
sobre a configuração do trabalho docente na professor também ser um trabalhador que
sociedade capitalista hodierna e sua relação precisa competir por um emprego, sendo
com a escola contemporânea. assim, o que mais se adequar às formas
exigidas conseguirá sobreviver da força do seu
trabalho. Segundo, está relacionado ao ato do

3 Para melhor compreensão das transformações sofridas que se consolidou o modelo flexível de trabalho, alinhado
no mundo do trabalho, consultar Ricardo Antunes em ao modo de produção capitalista, que, por sua vez,
“Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e controla os meios de produção e distribuição, retirando
negação do trabalho”. do Estado o controle sobre o mercado, mas incidindo
4 Compreende-se reestruturação produtiva enquanto um influência sobre as políticas públicas que favorecem a
processo que se desenvolve no âmbito econômico em promulgação de seus interesses.

67
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trabalho docente que consistirá na formação determinada finalidade. E com a


dos estudantes conforme a demanda imposta ressignificação do termo “aprender a
por essa nova configuração do mundo do aprender” é possível denominar esse
trabalho. movimento de neoescolanovismo5 (SAVIANI,1

Com essa crescente valorização da 2011a).


competição pelo emprego e com a vantagem Facci (2004), nos mostra a face ideológica
da “qualificação” para se conseguir esse direcionada a atuação do professor
emprego, o “mérito” e a “competência” têm provenientes do avanço do “aprender a
sido enfatizados e têm sido buscados pelos que aprender”. A autora afirma que esse avanço
aspiram uma vaga no tão concorrido mercado produz um falso entendimento de valorização
de trabalho. Essa busca, no entanto é realizada do trabalho docente, uma vez que colocam
de forma autônoma, assim o lema “aprender a este sujeito como “animador” da
aprender” se destaca enquanto princípio aprendizagem autônoma dos alunos. Por outro
educativo. lado, a autora mostra que a valorização do
O termo “aprender a aprender” nos remete trabalho docente acontece no reconhecimento
a pedagogia da Escola Nova na qual há o do protagonismo deste na seleção dos
deslocamento do [...] eixo do processo currículos e das pedagogias próprias para a
educativo do aspecto lógico para o psicológico; efetivação da aprendizagem.
dos conteúdos para os métodos; do professor Nessa esteira, o trabalho do professor sofre
para o aluno; do esforço para o interesse; da alterações, perde a identidade com o papel de
disciplina para a espontaneidade [...] (SAVIANI, ensinar e assume o papel de auxiliar das
2011a, p. 431). Trata-se da capacidade de pretensões dos alunos, de assistente das
realizar a busca pelo conhecimento de forma escolhas de aprendizagem dos próprios
independente. educandos. Dessa forma, esgotam-se as
No entanto na nova conjuntura política e exigências do rigor teórico, conceitual e
social o lema “aprender a aprender” é histórico dos conhecimentos e passa-se a
praticado com outras intenções, agora o valorizar os aspectos práticos (pragmáticos)
objetivo é de atender as necessidades de dos saberes e das informações.
constantes buscas de atualizações que o Frente a essa realidade do trabalho docente
mercado impõe e cobra daqueles que nos deparados com a chamada “pedagogia das
procuram emprego ou daqueles que tentam se competências” que é o braço direito da
manter nos empregos. Assim é possível inferir “pedagogia do aprender a aprender”. O
que o importante não é o ensino e a objetivo desse movimento é “dotar os
aprendizagem dos conhecimentos, mas sim a indivíduos de comportamentos flexíveis que
assimilação de informações úteis para uma lhes permitam ajustar-se às condições de uma

5
Com base nas limitações de um artigo, nos restringimos e suas variantes (neoescolanovismo, neoconstrutivismo
a observar as características do trabalho docente e neotecnicismo) e seus impactos na educação, bem
somente sobre o aspecto do movimento como no trabalho docente.
neoescolanovista. Mas Saviani (2011a) se dedica no
capítulo XIV de sua obra, a falar sobre o neoprodutivismo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sociedade em que as próprias necessidades de maneira mais flexível. Sendo assim, esta
sobrevivência não estão garantidas” (SAVIANI, interferência será analisada do ponto de vista
2011a, p. 437). Dessa forma as conquistas e as das formas de contratação e das formas de
derrotas tornam-se responsabilidade apenas remuneração dos professores.
dos sujeitos de maneira individual, mesmo Os professores no contexto da sociedade
sabendo que os acontecimentos são um capitalista brasileira estão à mercê de uma
complexo de determinações de vários grande diversidade de formas de contratação
elementos, e que por vezes, o esforço do para desenvolver sua função. Segundo Krein
sujeito representa uma parcela ínfima no (2007, p.34), as formas de flexibilização dos
resultado desses acontecimentos. contratos de trabalho se manifestam de cinco
Assim, com a disseminação da ideologia das maneiras, “1) na facilidade de romper o
competências, com a flexibilização dos contrato de emprego; 2) na ampliação dos
processos de trabalho próprios da nova contratos por tempo determinado; 3) no
configuração do mundo do trabalho e com a avanço da relação de emprego disfarçada; 4)
dispersão do neoliberalismo, nos deparamos na terceirização; 5) na informalidade” .
com um Estado manipulado pela gestão Esse cenário revela como o empregador
administrativa empresarial cujo objetivo está possui facilidades e privilégios em gerenciar o
no resultado e não nos processos. E com esse emprego dos funcionários da sua empresa
deslocamento do foco para o resultado, o conforme suas necessidades e demandas da
discurso da eficiência e produtividade estará economia. Essa facilidade é unilateral, o
audível nas escolas, nas políticas públicas trabalhador não possui meios legais de
educacionais, nos sistemas educacionais contrapartida, de entrar em um acordo quanto
públicos e privados, nos sistemas de a sua forma de contrato ou de condições de
regulamentação trabalhistas, entre tantos trabalho. O trabalhador pode recorrer somente
outros. o que lhe é cedido pela Consolidação das Leis
Com a intervenção neoliberal e a inserção do do Trabalho (CLT)6 .1

Brasil na globalização financeira houve a Com tudo que foi exposto até aqui, é
privatização de empresas estatais, redução e perceptível a necessidade urgente de
redefinição dos atributos do Estado, entre transformações no mundo do trabalho para
outros (KREIN, 2007). Isso abriu precedência garantir condições mais humanas de trabalho,
para grande interferência da administração em especial do trabalho docente. Um dos
empresarial na esfera pública, o que influencia meios de revolução é a união entre os
diretamente o trabalho dos professores do trabalhadores, o reconhecimento dos
setor público e também facilita para o trabalhadores enquanto classe e uma
empregador do setor privado gerenciar a organização sistemática no entrave entre
relação de trabalho de seus funcionários de capital e trabalho.

6 Haja vista que a CLT é uma luta constante entre capital persistem e são fortemente endossadas pelo discurso da
e trabalho, muito já foi conquistado pela classe flexibilização em prol da elevação da economia do país
trabalhadora, mas algumas disparidades ainda frente a outras economias.

69
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A constituição do trabalho docente é um marco importante para compreendermos os
condicionantes históricos que perpassam essa profissão, pois isso possibilita o desvelamento de
algumas contradições que estão enraizadas e que se arrastam até a configuração atual do
trabalho dos professores.
Nas últimas décadas, o trabalho de maneira geral sofreu várias transformações advindas
pela crise estrutural do capital e da reestruturação produtiva. Essas transformações
proporcionaram algumas características negativas ao mundo do trabalho: individualização,
flexibilização de contratos e salários, privatizações dos setores públicos e facilidades de
exploração por parte do setor privado.
Essas transformações e novas demandas do mundo do trabalho, da era da acumulação
flexível chegam ao chão da escola. A escola se torna um ambiente propicio para a disseminação
dos ideais neoliberais contribuindo para a formação de sujeitos que atendam as necessidades do
mercado, ou seja, pessoas que consigam autonomamente buscar conhecimentos que sejam úteis
e aplicáveis nas empresas, além de disseminar a ideologia das competências do mérito individual.
Nesse viés, o trabalho docente se defronta com as novas exigências do novo mundo do
trabalho. O trabalho do professor é desvalorizado e precarizado, pois esse passa a ser o único
responsável pelos processos e resultados do sistema educacional. Assim, temos que os processos
de alienação e controle do trabalho docente asseveram a fragmentação dos processos
educativos, conformando-os em práticas de acomodação à lógica burguesa neoliberal.
Todavia percebemos que os movimentos da sociedade civil organizada, o movimento
estudantil e dos professores produzem a resistência possível às políticas de desvalorização e
desqualificação da Educação e caminham na direção da luta contra o esvaziamento do sentido
do trabalho e em prol de um trabalho mais autônomo, reconhecido e valorizado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
FACCI, M. G. D. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um estudo crítico-
comparativo da teoria do professor reflexivo, do construtivismo e da psicologia vygotskyana.
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Paulo: Papirus, 1997.

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Campinas, Campinas, SP. 2007ª

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2011a.

SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas, SP: Autores


Associados, 2011b.

71
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A EDUCAÇÃO DE ALUNOS COM


TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA: UM
ESTUDO COMPARATIVO TCHECO / POLONÊS
Aparecida Sassá Benedete1

RESUMO: Os Transtornos Do Espectro Do Autismo (TEA), são uma área amplamente discutida e
atual na vanguarda do interesse de profissionais de diversas áreas científicas. O presente artigo
aborda o tema do ponto de vista da educação especial e foca na área de educação de alunos com
espectro autista a partir de um levantamento bibliográfico realizado a partir de publicações
acadêmicas e científicas.

Palavras-Chave: Transtornos Do Espectro Do Autismo (TEA); Consciência; Comportamento;


Comunicação; Educação; Abordagem Individual.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCATION OF STUDENTS WITH AUTISM SPECTRUM DISORDERS: A


COMPARATIVE CZECH / POLISH STUDY
ABSTRACT: Autism Spectrum Disorders (ASD) are a widely discussed and current area at the
forefront of interest to professionals from various scientific areas. This article addresses the issue
from the point of view of special education and focuses on the area of education of students with
autistic spectrum from a bibliographic survey carried out from academic and scientific
publications.

Keywords: Autism Spectrum Disorders (ASD); Conscience; Behavior; Communication; Education;


Individual Approach.

73
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO torna ainda mais controverso o fato de que


concluam essa etapa de sua formação
Os problemas enfrentados pelos alunos com educacional.
TEA continuam sendo atuais e amplamente A evasão prematura restringe ainda mais as
discutidos, relacionados à gravidade dessa chances de uma colocação profissional desses
deficiência específica e seus efeitos em toda a indivíduos, contribuindo para um importante
personalidade humana, resultando em grandes processo de exclusão social (HOWLIN, 2009).
limitações em várias atividades socialmente De acordo com Howlin (2009), as possíveis
significativas, uma delas sendo a educação. Os causas do aumento da taxa de evasão entre
educadores dispõem de uma gama de métodos alunos com transtornos do espectro autista no
conservadores e alternativos à escolha na ensino médio incluem, especialmente a pouca
educação, ficando a cargo deles escolher a consciência do e compreensão do espectro
abordagem que será utilizada em suas salas de autista por parte dos professores e a
aula (THOROVÁ, 2006). As abordagens de consequente não adaptação do ambiente
intervenção e as suas combinações são escolar para que tenha condições de lidar com
relativamente mais utilizadas nos níveis pré- as necessidades de alunos com qualquer tipo
escolar e no ensino fundamental, no entanto, a de deficiências.
educação continuada torna-se cada vez mais
complicada e o leque de opções mais restrito.
O SISTEMA EDUCACIONAL
As características da adolescência em
pessoas com transtornos do espectro autista e PARA ESTUDANTES COM TEA NA
a questão da terapia e formação profissional de REPÚBLICA TCHECA
pessoas com TEA são tratadas As possibilidades de educar alunos autistas
profissionalmente por especialistas como na República Checa são regulamentadas pela
Valenti, et al. (2010); Freeman, Robinson, Lei n.º 472/2011 Coll. (ZÁKON,2004,p. 561)
Smith (2010); Hendricks, Wehman (2009); relativa ao ensino pré-escolar, primário,
Camarena, Sarigiani (2009); Kurth, secundário, superior profissional e outros, bem
Mastergeorge (2010) e outros. como pelo Decreto n.º 147/2011 Coll.
Conforme observado por Howlin (2009) e (VYHLÁŠKA,2005,p. 73), relativo à educação de
Wlazlo (2009), uma grande proporção de crianças, estudantes e alunos com
alunos com TEA não avança para os níveis de necessidades educativas especiais e crianças,
educação após completar o ensino estudantes e estudantes extraordinariamente
fundamental, sendo muitas vezes a educação sobredotados, e Decreto n.º 116/2011 Coll.
domiciliar (que é uma realidade em países da (VYHLÁŠKA,2005,p. 72), relativo a serviços de
Europa) a única opção. No entanto, não é consultoria em escolas e estabelecimentos de
incomum que alunos com transtornos do consultoria educacional.
espectro do autismo sejam aprovados no Os alunos com TEA são elegíveis para o mais
exame de admissão e realmente comecem alto nível de apoio, o que exige o uso de
seus estudos em uma escola secundária, o que métodos, técnicas, formas e meios

74
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educacionais especiais, auxílios Escolas especiais e salas de aula


compensatórios, reabilitadores e de (segregação) são estabelecidas para alunos
aprendizagem, livros didáticos e materiais com deficiência mental, auditiva e visual e para
metodológicos especiais, a inclusão de objetos alunos com mobilidade limitada. O objetivo é
de cuidados educacionais especiais , a promover o desenvolvimento complexo dos
prestação de serviços educativos e alunos, prepará-los para suas respectivas
psicológicos, a disponibilização de auxiliares de ocupações e integrá-los à sociedade
professores, salas de aula ou grupos de estudo (WYCZESANY, 2002). As escolas ou salas de
com um número inferior de alunos ou aula de integração (integração) aplicam um
adaptações semelhantes ao modo de ensino processo educacional comum para alunos com
respeitando as necessidades educativas diferentes possibilidades de desenvolvimento.
especiais dos alunos. A integração requer a adaptação não apenas
O decreto define ainda as formas de do local de trabalho específico, mas também
educação dos alunos com deficiência: do ambiente social que o cerca (WYCZESANY,
“integração individual, integração em grupo, 2002). A inclusão (educação em escolas
dentro de uma escola estabelecida para alunos regulares) é considerada a forma mais elevada
com deficiência e uma combinação de todas as e completa de integração. O processo de
formas acima”. formação de alunos com deficiência ocorre nas
A integração individual significa educar os escolas regulares. O processo educacional
alunos em escolas regulares ou, onde os alunos dificilmente difere do modelo regular, com
requerem atenção especial, em escolas métodos padronizados aplicados (GAJDZICA,
especiais voltadas para alunos com outros 2008).
tipos de deficiência. A integração em grupo Isso implica que os alunos com TEA também
significa educar os alunos em uma sala de aula, se beneficiam de uma ampla gama de opções
seção ou grupo de estudo dedicado a alunos para completar sua frequência escolar
com deficiência dentro de uma escola regular obrigatória e avançar para níveis educacionais
ou uma escola especial destinada a alunos com adicionais. A experiência prática mostra que o
outros tipos de deficiência, (§ 3, processo educacional para este grupo-alvo
VYHLÁŠKA,2011,p. 147). específico ocorre predominantemente em
centros educacionais e terapêuticos especiais.
O SISTEMA EDUCACIONAL Conforme observado por Wlazlo (2009), a
situação na Polônia continua evoluindo e a
PARA ESTUDANTES COM TEA NA oferta de oportunidades educacionais para
POLÔNIA alunos com TEA está se expandindo.
O sistema educacional polonês para alunos Comparando os resultados de pesquisas
com TEA pode ser dividido em três tipos - realizadas em 2004 e 2007/2008, Wlazlo infere
segregação (escolas especiais), integração que estão sendo feitas adições ao leque de
(escolas de integração) e inclusão (escolas oportunidades de estudo disponíveis para
regulares). pessoas com transtornos do espectro do

75
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

autismo com idade superior a dezesseis anos.


Esta conclusão, no entanto, não pode ser
aplicada de forma geral, uma vez que a
pesquisa realizada em 2007/2008 se refere
apenas a uma única região. Ainda assim, os
dados implicam uma tendência positiva na área
considerada.

76
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa se concentrou em uma das principais áreas da educação de alunos
com TEA - a saber, a conscientização dos professores sobre o TEA. O nível de conscientização é
identificado como um dos pilares da interação eficiente e da educação dos alunos. A adequada
capacidade profissional dos professores na área em causa e o seu conhecimento das
necessidades fundamentais dos alunos com TEA não se resumem à mera lista de vários métodos
de intervenção, modificações no ambiente da sala de aula e regime diário. Para os professores,
serve (espero) principalmente para abrir um caminho para seus alunos como tais, suas
personalidades, individualidades e seus corações. Naturalmente, a capacidade profissional não
abrirá esse caminho por si só; a personalidade dos professores, bem como seu grau de empatia
e habilidades de ensino também têm papéis importantes a desempenhar. No entanto, estamos
convictos de que um aumento do nível de conhecimento do TEA e da formação de professores
nesta área contribuirá para um maior interesse pela área e, por inferência, para um maior
interesse pelos próprios alunos. Ao obter uma imagem clara de alunos específicos, suas
características e necessidades, recomendamos prudência na seleção dos métodos de intervenção
e na abordagem geral dos mesmos.
Em conexão com o que foi dito acima, é recomendável aumentar a conscientização sobre
TEA entre os professores como parte dos estudos universitários. Estamos cientes da ampla gama
de assuntos abordados pela educação especial, da quantidade de informações e do viés dos
professores universitários em relação a determinados temas de interesse específico para eles.
Ainda assim, gostaríamos de recomendar que o TEA seja incluído entre os tópicos de
aprendizagem, não apenas como uma questão teórica, mas principalmente na prática como parte
da instrução da vida real. Recomendamos ainda que o tema seja discutido não apenas como parte
dos estudos de psicologia ou fonoaudiologia, mas já na introdução inicial à educação especial
(especialmente para futuros professores que não são formados em educação especial e que, no
que se refere à educação especial, só terá informações deste curso introdutório específico).
Tendo em vista o contínuo desenvolvimento da educação especial e a quantidade de novas
informações, e considerando a já mencionada abrangência de temas abrangidos pela educação
especial e a consequente impossibilidade de cobrir todos os seus aspectos de forma abrangente
e detalhada, recomenda-se que o nível de consciência do TEA entre os professores pode ser
aumentado pelo auto-estudo. Inúmeras fontes literárias estão disponíveis, assim como cursos
especializados, oficinas, conferências e palestras. Estes oferecem uma oportunidade para reunir
conhecimentos teóricos e trocar experiências práticas com especialistas na área. Em nossa
opinião, esse método de mesclar teoria e prática por meio da cooperação de professores com
organizações ASD é ao mesmo tempo a maneira ideal de conhecer seus alunos e contribuir para
seu desenvolvimento (URBANOVSKÁ, 2013).

77
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ADREON, D., Stella, J. (2001) Transition to Middle and High School: Increasing the Success
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CAMARENA, P. M., Sarigiani, P. A. (2009) Postsecondary Educational Aspirations of High-


Functioning Adolescents With Autism Spectrum Disorders and Their Parents. Focus on
Autism & Other Developmental Disabilities.

ČADILOVÁ, V., ŽAMPACHOVÁ, Z. (2007). Especificidades da educação, educação e apoio


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DECRETO 72/2005 Col. Sobre a prestação de serviços de aconselhamento em escolas e centros


de aconselhamento escolar, conforme alterado pelo Decreto 116/2011 Coll. Sistema de
informação jurídica CODEXIS.
DECRETO 73/2005 Col. Sobre a educação de crianças, alunos e alunos com necessidades
educativas especiais e crianças, alunos e alunos excepcionalmente sobredotados, alterado pelo
Decreto 147/2011 Coll. Sistema de informação jurídica CODEXIS.

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GAJDZICA, Z. (2008). Questões comuns e específicas de educação e reabilitação de


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médio: não a fronteira final. Jornal de Admissão da Faculdade.

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HENDRICKS, D.R., Wehman, P. (2009). Transição da escola para a idade adulta para jovens
com transtornos do espectro do autismo: revisão e recomendações. Foco no autismo e
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HOWLIN, P. (2009). Autismo em Adolescentes e Adultos: Um Caminho para a


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Serviços para Adolescentes com Autismo: Impacto da Idade e do Ambiente Educacional.
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LEI 561/2004 Col. Sobre educação pré-escolar, elementar, secundária, profissional superior e
outras, conforme alterada pela Lei 472/2011 Coll. Sistema de informação jurídica CODEXIS.

MULLER, E., Schuler. A., Burton, B.A., Yates, G.B. (2003). Atender às necessidades de apoio
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78
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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Adolescente com Autismo. Boletim de Deficiências do Desenvolvimento.

THOROVÁ, K. (2006). Transtornos do espectro do autismo. Praga: Portal.

TOBIAS, A. (2009). Apoio a alunos com transtorno do espectro autista (TEA) no ensino
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VALENTI, M. et ai. (2010). Intervenção intensiva para crianças e adolescentes com autismo
em um ambiente comunitário na Itália: um estudo longitudinal de grupo único. Psiquiatria
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Krajowe Towarzystwo autyzmu.

WYCZESANY, J. (2002). Pedagogia do Deficiente Mental. Cracóvia: Impulso.

79
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A EFETIVAÇÃO DA INCLUSÃO ESCOLAR E OS


DESAFIOS DA ESCOLA NESTE CENÁRIO
Marta Almeida de Oliveira1

RESUMO: Este artigo aborda o tema A Efetivação da Inclusão Escolar e os Desafios da Escola neste
cenário. Partindo do tema proposto temos como objetivos para esta pesquisa abordar os
principais conceitos que abordam as práticas inclusivas na escola e como a inclusão escolar é
efetivada nos contextos de aprendizagem. Podemos conceituar a educação especial como a
modalidade de ensino que promove o desenvolvimento das potencialidades das pessoas com
deficiência e abrange os variados níveis de ensino, é um sistema próprio para atender este
público. A educação inclusiva pode ser conceituada por um processo educativo no qual todos
aprendem juntos independente de suas deficiências ou limitações, sejam elas de qualquer
ordem, física, mental, auditiva ou visual. O tema inclusão escolar abrange diversos conceitos, não
apenas relacionados as deficiências, temos a inclusão relacionada a todas as diferenças que
encontramos na escola, sejam elas culturais, sociais, religiosas, etc. A escola é o local em que a
heterogeneidade dos sujeitos se faz presente e é preciso considerar ações e práticas que
considerem estas diferenças e que promova uma educação de qualidade para todos.

Palavras-Chave: Inclusão Escolar; Aprendizagem; Equidade; Integração Escolar.

1
Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Formação Docente.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE EFFECTIVENESS OF SCHOOL INCLUSION AND SCHOOL


CHALLENGES IN THIS SCENARIO
ABSTRACT: This article addresses the topic The Effectiveness of School Inclusion and the
Challenges of School in this scenario. Starting from the proposed theme, we have as objectives
for this research to approach the main concepts that approach the inclusive practices in the
school and how the school inclusion is effected in the learning contexts. We can conceptualize
special education as a teaching modality that promotes the development of the potential of
people with disabilities and covers the various levels of education, it is a system designed to serve
this audience. Inclusive education can be conceptualized as an educational process in which
everyone learns together regardless of their disabilities or limitations, whether physical, mental,
auditory or visual. The theme school inclusion covers several concepts, not only related to
disabilities, we have inclusion related to all the differences we find in school, be they cultural,
social, religious, etc. The school is the place where the heterogeneity of the subjects is present
and it is necessary to consider actions and practices that consider these differences and that
promote quality education for all.

Keywords: School Inclusion; Learning; Equity; School Integration.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO pode ser conceituada por um processo


educativo no qual todos aprendem juntos
Este artigo aborda o tema A Efetivação da independente de suas deficiências ou
Inclusão Escolar e os Desafios da Escola neste limitações, sejam elas de qualquer ordem,
cenário. Partindo do tema proposto temos física, mental, auditiva ou visual.
como objetivos para esta pesquisa abordar os
principais conceitos que abordam as práticas
A EFETIVAÇÃO DA INCLUSÃO
inclusivas na escola e como a inclusão escolar é
efetivada nos contextos de aprendizagem. O ESCOLAR E OS DESAFIOS DA
tema inclusão escolar abrange diversos ESCOLA NESTE CENÁRIO
conceitos, não apenas relacionados as O conceito de inclusão, apesar de estar
deficiências, temos a inclusão relacionada a profundamente vinculado as deficiências das
todas as diferenças que encontramos na crianças, ampliou-se nos debates e nas
escola, sejam elas culturais, sociais, religiosas, políticas educacionais. A concepção de
etc. A escola é o local em que a diversidade e singularidade das pessoas mostra
heterogeneidade dos sujeitos se faz presente e que cada bebê e cada criança devem ser vistos
é preciso considerar ações e práticas que como uma pessoa diferente das demais, com
considerem estas diferenças e que promova interesses e necessidades próprias e que
uma educação de qualidade para todos. precisa de uma intervenção pedagógica
Para atender aos objetivos iniciais traçamos construída a partir das suas características e de
um breve histórico dos conceitos de inclusão e seu grupo de colegas. Se uma Unidade Escolar
integração escolar para abordar as práticas consegue incorporar em suas práticas o
significativas que devem ser desenvolvidas na respeito à alteridade humana, certamente
escola, considerando tais conceitos e conseguirá atender as necessidades de todos
atendendo aos pressupostos da legislação em os bebês e crianças (SÃO PAULO, 2019, p. 33).
vigor. A relevância deste tema está no fato de O indivíduo para estar incluído em um grupo
que cada vez mais as crianças chegam à escola deve pertencer a ele e ser respeitado em suas
com diferentes bagagens, anseios e especificidades e diferenças. Para incluir é
dificuldades e o espaço escolar deve estar preciso respeitar e valorizar as singularidades,
preparado para atender as especificidades dos considerando a diferença como elemento
alunos, sejam estas relacionadas a alguma constituinte do sujeito e das relações que ele
deficiência, a dificuldades de aprendizagens ou estabelece nos espaços de convivência e a
a outros fatores. escola é parte integrante destes espaços. É
Podemos conceituar a educação especial preciso pensar em uma nova escola que atenda
como a modalidade de ensino que promove o aos princípios de acessibilidade e pensar em
desenvolvimento das potencialidades das recursos humanos adequados que contribuam
pessoas com deficiência e abrange os variados para a democratização do ensino e do acesso
níveis de ensino, é um sistema próprio para aos bens culturais e materiais que estão
atender este público. A educação inclusiva disponíveis em nossa sociedade. A inclusão

82
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escolar ainda é um desafio para muitas escolas, organizações mundiais se engajam nos
já que envolve desde questões estruturais até movimentos em defesa da efetivação da
a formação profissional da equipe. No contexto inclusão nos mais variados contextos. A luta
de uma educação realmente inclusiva, contra a segregação e a exclusão se fortalece
recomenda-se que o ponto de partida seja após a Conferência Mundial de Educação para
considerar as singularidades dos sujeitos e Todos e em 1994, como resultado da
focar em suas potencialidades. Conferência Mundial sobre Necessidades
Sassaki (1997), enfatiza que as pessoas com Educacionais Especiais, realizada na cidade
deficiência também possuem outras espanhola de Salamanca, a Declaração de
necessidades como qualquer outra pessoa, Salamanca mencionou ações que tinham como
mas além disso são obrigadas a transpor objetivo propiciar a inclusão de alunos com
diferentes barreiras para que a sua vida em necessidades educacionais especiais no ensino
sociedade seja efetivada. As necessidades regular. No Brasil, a incorporação de tais
podem resultar de diversas condições, como a diretrizes determinou mudanças no sistema
deficiência mental, física, múltipla, visual ou educacional, após a promulgação da Lei de
auditiva. Além destas condições temos o Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
autismo, a superdotação e as dificuldades de LDBEN nº 9.394/96.
aprendizagem, que podem ser agravadas por A partir de um acesso mais amplo e com o
situações que ocorrem em seu meio social, que aumento do número de matriculas na escola
excluem estas pessoas dos acessos aos cria-se uma nova demanda educacional que
recursos básicos de uma vivência em traz para o contexto educacional as diferenças
sociedade. e as especificidades, confrontando-se com os
Examinadas no contexto da ação simbólica, conceitos de homogeneidade que até então
as escolas devem ser estudadas como eram perpetuados na escola. Neste novo
transmissoras de códigos culturais que contexto surgem os sentimentos de rejeição e
denunciam as percepções humanas, bem como oposição as ideias relacionadas a inclusão
a forma de compreensão sobre a deficiência escolar, advindas da falta de informação e de
em nosso sistema cultural. Essa observação conhecimento. Se torna essencial conscientizar
deve ser levada em consideração, pelo a sociedade sobre o fato de que todos “têm
pesquisador educacional, ao examinar como direitos iguais à educação”, independente de
aqueles que representam a escola – diretores, suas características físicas ou especificidades,
professores, funcionários técnico- todos tem o direito de aprender e cada um
administrativos, orientadores, funcionários, aprende a sua maneira, no seu tempo e de
pais e alunos – codificam as próprias imagens maneira singular.
do eu, as imagens do outro, as imagens de No verdadeiro significado de inclusão social,
igualdade e de diferença (FERREIRA, 2007, p. segundo Sassaki (1997), é a sociedade que
546). deve se modificar para que a inclusão de todos
A partir dos anos de 1990 os debates sobre seja efetivada, ela precisa atender as
inclusão escolar se intensificam e várias necessidades das pessoas para que elas

83
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possam ter acesso aos bens e meios sociais e em um sistema regular de ensino. As escolas
culturais. A inclusão social contribui para a inclusivas devem estar preparadas para
construção de uma nova sociedade, atender às diferenças e singularidades.
equiparando e igualando as oportunidades, em Sassaki (1997), afirma que a inclusão é um
todas as esferas sociais: educação, saúde, ideal e para que a sociedade seja acessível e
transporte, segurança e lazer, dentre outros todos os indivíduos tenham igualdade de
aspectos. oportunidades, é preciso uma mudança das
Nas últimas décadas, o discurso sobre a concepções e práticas sociais. As ações
inserção social de TODOS parece ter invadido precisam ser pensadas no sentido da garantia
os recantos da sociedade em geral. de direitos, cumprindo as legislações e
Transformou-se em verdadeiro modismo e garantindo o acesso aos direitos a todos. O
lugar comum falar/ defender e pregar a desejo por uma sociedade acessível não é
inclusão. Não é mais aceitável deixar de pensar simples, é um processo contínuo que envolve
na participação real de TODOS, ou seja, a modificações em todas as ações e nas pessoas,
autêntica e corajosa inclusão daqueles que, garantindo igualdade de oportunidades.
erroneamente, figuram nas estatísticas como No Brasil o aluno com deficiência é
se já estivessem inseridos nos contextos matriculado na escola regular e caso seja
educacionais, culturais, políticos, econômicos e necessário terá direito a um atendimento
sociais. É preciso deixar de pensar a educação educacional especializado fora da escola
numa perspectiva simplista e reducionista, regular. o atendimento ao aluno com
para compreendê-la sob uma ótica em que o deficiência está matriculado na escola regular,
acesso à instituição escolar e a permanência mas dependendo da sua necessidade pode
nela se façam dentro de condições viáveis e precisar frequentar também uma escola
satisfatórias para TODO e qualquer aluno, especial para ter atendimento educacional
constituindo-se em direito espontâneo e especializado. Este atendimento não substitui
natural, uma responsabilidade social e política o atendimento da escola comum. Essa parceria
do Estado e de cada cidadão (FERREIRA, 2007, entre a escola regular e as escolas especiais
p. 548). está previsto pelo MEC na Política Nacional de
Só haverá uma mudança concreta no Educação Especial.
sistema educacional quando a ideia de Para que se possa conceber a escola
diversidade se tornar algo natural e inerente ao inclusiva, é necessário continua trilhando um
processo educacional e a educação se tornar longo e árduo caminho. É imprescindível que a
efetivamente um direito de todos os sujeitos. instituição
Os princípios para um educação inclusiva é educacional fique mais atenta a interesses,
uma educação voltada para a cidadania, que características, dificuldades e resistências
reconhece e valoriza as diferenças e é livre de apresentadas pelos alunos no dia-a-dia da
preconceitos. O processo de inclusão exige instituição e no decorrer do processo de
uma mudança de posturas, práticas e aprendizagem. Dessa forma, o ambiente
paradigmas, no qual os alunos são atendidos escolar precisa se construir como um espaço

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aberto, acolhedor, preparado e disposto a terá as condições necessárias de saber se os


atender às peculiaridades de cada um recursos de acessibilidade propostos
(FERREIRA, 2007, p. 551). promovem a participação do aluno nas
No Brasil, a regulamentação mais recente atividades escolares. O plano deve ser revisado
que direciona a organização dos sistemas e atualizado constantemente para atender o
educacionais é o Plano Nacional de Educação aluno da melhor maneira.
(PNE 2011-2020). Esse documento estabelece Sassaki (1997), afirma que a inclusão pauta-
a educação especial como uma modalidade de se em princípios até então considerados
ensino que transcorre todos os segmentos da incomuns como:
escolarização, é responsável pelo AEE e Aceitação e celebração das diferenças
disponibiliza os serviços e recursos próprios do individuais; • Valorização de cada pessoa –
atendimento educacional especializado. O direito de pertencer; • Convivência dentro da
PNE, Programa Nacional de Educação, diversidade humana representada por origem
considera público alvo da Educação especial na nacional, crença religiosa, gênero, idade, raça e
perspectiva da Educação inclusiva, os alunos deficiência; • Aprendizagem através da
com deficiência (intelectual, física, auditiva, cooperação – solidariedade humanitária; •
visual e múltipla), altas habilidades Cidadania com qualidade de vida (FERREIRA,
(superdotação) e TEA (Transtorno do Espectro 2007, p. 555, apud, SASSAKI, 1997, p. 17).
do Autismo). Podemos destacar os 3 maiores desafios da
De acordo com a Resolução de № 436/2012, Educação Inclusiva:
no Artigo 9˚, o professor de AEE tem a função 1 - Fortalecimento da formação dos
de “identificar, elaborar, produzir e organizar professores para compreender a inclusão,
serviços, recursos pedagógicos e de respeitar os direitos dos alunos e os deveres da
acessibilidade que atenuem as barreiras para a escola, estabelecendo metas a serem
plena participação dos alunos, considerando alcançadas, compreendendo a importância da
suas necessidades específicas. O professor diversidade e da efetiva inclusão; 2 - Criar uma
responsável pelo AEE desenvolve um trabalho rede de apoio compreendendo os alunos,
abrangendo as várias instâncias da escola, professores, gestores, famílias e profissionais
unindo a equipe escolar em prol de um especializados para atuar conjuntamente em
atendimento efetivo no processo de ensino e prol da efetiva aprendizagem; 3 -
aprendizagem. O professor do AEE deve Reestruturação dos espaços com a eliminação
conhecer o aluno e as suas especificidades para das barreiras arquitetônicas e barreiras
elaborar o plano de ensino articulando as pedagógicas, com propostas curriculares
informações com os professores e com os diferenciadas voltadas para o atendimento as
familiares para um atendimento adequado. especificidades em todos os seus aspectos.
Neste plano deve conter as estratégias Na educação especial somente alunos com
funcionais para potencializar os aspectos deficiência são atendidos e na educação
cognitivos, emocionais, motores e sociais. No inclusiva todos os alunos são atendidos
processo de execução do plano o professor independente de suas especificidades.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Mantoan (2003), chamou de cidadania global,


plena, livre de preconceitos e que reconhece e
valoriza as diferenças. A inclusão promove a
singularidade e a diversidade. A ideia da
inclusão é mais do que somente garantir o
acesso à entrada de alunos e alunas nas
instituições de ensino. O objetivo é eliminar
obstáculos que limitam a aprendizagem e a
participação discente no processo educativo.
Os professores devem estar em constante
formação quando pensamos em uma educação
inclusiva, é preciso uma formação continuada
e em muitos casos, formação específica para
atender adequadamente os alunos com
deficiência. O professor, além da formação
especifica deve estar preparado para lidar com
as diferenças, singularidades e a diversidade de
todos os alunos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola precisa criar espaços inclusivos em que todos os estudantes possam aprender
independente de suas características, individualidades ou diferenças, a escola deve garantir a
aprendizagem efetiva para todos, sem distinção. As ações educativas devem ser pautadas no
objetivo de proporcionar aos estudantes oportunidades iguais e a garantia de sucesso escolar
com a permanência e a efetiva aprendizagem destes sujeitos.
Só haverá uma mudança concreta no sistema educacional quando a ideia de diversidade
se tornar algo natural e inerente ao processo educacional e a educação se tornar efetivamente
um direito de todos os sujeitos. Os princípios para uma educação inclusiva é uma educação
voltada para a cidadania, que reconhece e valoriza as diferenças e é livre de preconceitos. O
processo de inclusão exige uma mudança de posturas, práticas e paradigmas, no qual os alunos
são atendidos em um sistema regular de ensino. As escolas inclusivas devem estar preparadas
para atender às diferenças e singularidades.
Para incluir de maneira efetiva, não basta garantir a matrícula na escola e manter esse
aluno lá, é preciso tornar a escola um ambiente propício para a aprendizagem, torna-se
necessário considerar não só as questões político pedagógicas, mas também as relevantes
vivências e as práticas pedagógicas inclusivas, enfatizando o papel dos educadores, visto que ele
é o mediador responsável pela construção do conhecimento, interação e socialização dos
estudantes.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Política Nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva.
Brasília, Ministério da Educação e Cultura, 2008. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2022.

FERREIRA. Maria Elisa C. O enigma da inclusão: das intenções às práticas pedagógicas.


Educação e Pesquisa, São Paulo, v.33, 2007.

RODRIGUES, L. O que é Educação Inclusiva? Um Passo a Passo para a Inclusão Escolar.


Disponível em: <https://institutoitard.com.br/> Acesso em: 20 jun. 2022.

MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna,
2003.

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da


Cidade: Educação Infantil. São Paulo. SME. COPED. 2019.

SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA,
1997.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A ESCOLA QUE TEMOS X A QUE PRECISAMOS


TER!
Elizabete Lima de Matos Pedrosa1

RESUMO: A história da educação brasileira transpassa momentos muito peculiares, seguindo a


própria construção política e os interesses do status quo, mantendo-se estagnada frente as
mudanças mundiais, desconsiderando as necessidades de sua sociedade. Cabe a escola, mais que
transmitir os conhecimentos cientificamente construídos ao longo da história do próprio homem,
assumir a responsabilidade da formação do aluno em um cidadão crítico, criativo, inovador, capaz
de tomar para si esse conhecimento e, de acordo com seu contexto social, reproduzir os saberes
necessários para sua própria evolução e desenvolvimento, modificando sua realidade de acordo
com suas necessidades, seus desejos e em prol do coletivo. Cabe a escola romper com o
paradigma de instituição de formação social para a manutenção do status quo, onde o homem
deve estar apto ao mercado de trabalho e a continuar a história de seus antecessores. A
verdadeira escola transformadora deve ser capaz de tornar seu aluno em um cidadão crítico,
pensante e transformador, capaz de reconhecer seu papel na mudança que deseja.

Palavras-Chave: Educação; Transformação; Sociedade; Cidadania.

1Professora
de Educação Infantil na Rede Municipal da Cidade de São Paulo.
Graduação: Licenciatura Plena em Pedagogia; Especialização em Arte; Especialização em Educação Infantil.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE SCHOOL WE HAVE X THE SCHOOL WE NEED TO HAVE!


ABSTRACT: The history of Brazilian education goes through very peculiar moments, following its
own political construction and the interests of the status quo, remaining stagnant in the face of
world changes, disregarding the needs of its society. It is up to the school, more than transmitting
the scientifically constructed knowledge throughout the history of man himself, to assume
responsibility for the formation of the student in a critical, creative, innovative citizen, capable of
taking this knowledge for himself and, according to his social context. , reproduce the knowledge
necessary for their own evolution and development, modifying their reality according to their
needs, desires and for the benefit of the collective. It is up to the school to break with the
paradigm of an institution of social formation to maintain the status quo, where man must be
able to enter the job market and continue the history of his predecessors. The true transformative
school must be able to turn its student into a critical, thinking and transforming citizen, capable
of recognizing their role in the change they want.

Keywords: Education; Transformation; Society; Citizenship.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO desenvolvimento do aluno, as


responsabilidades sociais na escola e,
A escola é um espaço de grandes especialmente, dos processos de educação que
expectativas para todos os envolvidos: os pais temos, frente à educação que precisamos ter
esperam que os filhos aprendam a ler e para acompanhar as mudanças do mundo e da
escrever, dominem os conhecimentos própria sociedade.
científicos, se tornem mais “inteligentes” e
possam ter um bom emprego no futuro; o
PERFIL DA EDUCAÇÃO
aluno deseja algo parecido aos pais, deseja ser
capaz de entender o que lhe é ensinado e a BRASILEIRA: CONTEXTO
‘crescer’ como cidadão; a escola espera ser HISTÓRICO
capaz de atender as necessidades do seu aluno Ao traçarmos o perfil histórico das
e ajudá-lo a se desenvolver, como cidadão e mudanças ocorridas na educação brasileira e
como profissional. Mas o mundo mudou, a os processos que envolvem as diretrizes
sociedade mudou e a educação está correndo educacionais em nosso país, percebemos um
atrás dessas mudanças, tentando acompanhar forte viés político, fortemente marcado pela
tanta transformação, tanta mudança e toda a ideia de educação para o mercado de trabalho,
tecnologia que está à disposição do homem e numa educação fortemente marcada pela
que é sem dúvida os dos fatores dessas capacitação do indivíduo para a formação de
transformações todas. mão-de-obra qualificada. Este processo passa a
Esse contexto de transformações motivaram ser rompido com o movimento Escola Nova,
inúmeras pesquisas e projetos que visam por iniciativa de professores e intelectuais
redirecionar os caminhos da educação, a forma influenciados pelo movimento de renovação
como é compreendida e seu papel frente ao do ensino ocorrido na Europa, na primeira
jovem dessa sociedade contemporânea que metade do século XX. O escolanovismo, como
tem a informação à palma das mãos disponível foi denominado, surge da visão do filósofo e
24 horas e em tempo praticamente real, o que pedagogo John Dewey (1859/1952), que
sem dúvida faz com que a escola necessite compreende a responsabilidade da educação
oferecer algo ao menos um pouco animador, frente à formação social do indivíduo. Para
para concorrer em pé de igualdade. Sem Dewey a educação é uma necessidade social,
dúvida, este é um dos tópicos mais sensíveis que deve ser constantemente aperfeiçoada
que a educação trata atualmente, pois é uma para que o indivíduo possa dar prosseguimento
das queixas mais recorrentes: a escola é chata, às suas ideias e a próprio conhecimento.
a escola não é interessante; eu aprendo mais (HAMSE, s.d)
na Internet que na escola!, a escola Esta nova visão acerca dos objetivos da
(especialmente a pública) parou no tempo. educação enquanto instrumento de inserção
Diante deste contexto, por meio de breve social embasa o movimento de reconstrução
revisão bibliográfica, percebemos questões nacional e promoção social, culminando no
ligadas à educação, desde os processos de Movimento da Escola Nova ocorrido em 1932,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

comandado por educadores e intelectuais, superior ao capital empresarial, produtividade)


onde é apresentado um Plano de Reconstrução segundo o discurso neoliberal para a educação
Nacional conhecido como Manifesto dos (TORRES, apud, SANTOS, 2005, p.172).
Pioneiros da educação Nova, marco O conceito de educação para a cidadania ou
revolucionário da educação brasileira. escola cidadã surge em decorrência das bases
Após o término do período conhecido como traçadas na LDB 9394/96, seguido da
Ditadura, onde o país fora governado pelos formulação da elaboração dos Parâmetros
militares, o sistema educacional sofre ajustes e Curriculares Nacionais, em meados de 1998,
adaptações, com constantes renovações dos como uma coleção de livros que traziam
modelos e diretrizes pedagógicas que vão, orientações para a formulação das grades
gradativamente, renovando os modelos de curriculares, conteúdos e disciplinas que as
ensino e os projetos que embasam a educação instituições de ensino públicas e privadas
nacional. Nesse cenário surge a Lei de deveriam observar como orientação do
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, trabalho docente e das propostas a serem
aprovado em 1996, primeiro passo para a abordadas em cada ciclo.
modernização do sistema educacional como Mas é pelas mãos de educador Paulo Freire
concebido atualmente. que o termo escola cidadã realmente encontra
O Brasil passa a integrar grandes sentido. Para o autor cidadania "tem que ver
movimentos pela educação como a com a condição de cidadão, quer dizer, com o
Conferência Mundial sobre Educação (Jomtien, uso dos direitos e o direito de ter deveres de
Tailândia, março de 1990), onde são cidadão" (1993, p. 23). Segundo esse preceito,
formuladas as diretrizes para a educação, a escola cidadã defende a educação
destacando-se que o baixo desempenho da permanente do indivíduo, de acordo com sua
escola pública brasileira (elevada evasão, alto realidade e com o meio em que está inserido,
índice de reprovação e ineficiência na respeitando assim sua história, sua cultura,
utilização de recursos) comprometem os aliadas às transformações do mundo em que
desafios da sociedade contemporânea. São vivemos todos. Uma escola feita pelo Estado,
apontados como aspectos principais para a Família e Educadores, em prol do aluno,
condução da política educacional a redução do refletindo um movimento educacional
analfabetismo, ênfase na educação básica (oito caracterizado pela democratização da
anos), descentralização das ações educação em termos de acesso e permanência,
administrativas e incentivo às parcerias com o pela participação na gestão e escolha
setor privado, procurando assim romper o ciclo democrática dos dirigentes educacionais, por
de educação quantitativa (privilegia a lógica de uma concepção interdisciplinar do currículo e
mercado) voltada a atender às necessidades de da avaliação e pela democratização do próprio
capital (qualidade total, modernização da Estado. (FREIRE, 1993)
escola, competitividade do mercado, A Escola cidadã é aquela que se assume
tecnologias da informática e comunicação como um centro de direitos e de deveres. O
aplicadas à educação, abertura do ensino que a caracteriza é a formação para a

92
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cidadania. A Escola cidadã, então, é a escola levados ao aluno de modo que tais saberem
que viabiliza a cidadania de quem está nela e lhes permita compreender seu papel nessa
de quem vem a ela. Ela não pode ser uma engenhosa engrenagem social.
escola cidadã em si e para si. Ela é cidadã na As demandas a que o sistema de ensino e
medida mesma em que se exercita na seus alunos estão expostos mantem-se em
construção da cidadania de quem usa o seu constante modificação, como a própria
espaço. A Escola Cidadã é uma escola coerente sociedade mundial. Se antes o papel da
com a liberdade. É coerente com seu discurso educação se resumia a ensinar aos alunos os
formado, libertador. É toda escola que preceitos dos conhecimentos científicos
brigando para ser ela mesma, luta para que os construídos, hoje as mudanças ocorrem numa
educandos - educadores também sejam eles velocidade avassaladora, decorrentes das
mesmos. E, como ninguém pode ser só, a tecnologias da informação baseadas na
Escola Cidadã é uma escola de comunidade, de Internet e nas descobertas que ela viabiliza.
companheirismo. É uma escola de produção Como cita Schleicher apud Fadel “se antes os
comum do saber e da liberdade. É uma escola professores acreditavam que seus
que vive a experiência tensa da democracia ensinamentos eram para a vida toda”, hoje a
(FREIRE, 1996, p.38). escola precisa preparar o aluno para as
constantes transformações, para usar as
O PAPEL DA ESCOLA DE tecnologias que ainda estão porvir e os
problemas que o mundo ainda pode (ou não)
ONTEM E DE HOJE vir a enfrentar (2015, p.11).
Um dos paradigmas da educação moderna Se os conhecimentos avançados de
está centrado nos objetivos traçados, que determinada disciplina são importantes, as
devem atender as expectativas e necessidades pessoas com capacidade criativa e inovadora,
dos alunos, em conformidade com sua que em geral apresentam habilidades
formação cultural, respeitando sua história e especializadas em um campo do conhecimento
saberes adquiridos informalmente, mas que ou em uma prática, o que lhes facilita o
compõem a individualidade de cada pessoa. processo de aprendizagem continuada, são
Nesse sentido, a escola deve atentar-se para mais destacadas no processo de
que os projetos político-pedagógicos estejam desenvolvimento. Para a instituição, o sucesso
realmente em conformidade com a não está em reproduzir conhecimentos, mas
comunidade a que a instituição atende, sim em adequar esses conhecimentos
respeitando assim as peculiaridades e seus cientificamente construídos em situações
alunos. novas e atuais. E para o aluno, não basta
Para que a educação faça sentido para o demonstrar que compreendeu o que lhe foi
aluno, o projeto delimitado democraticamente transmitido, mas sim o que ele consegue
pelos colegiados que compõem a instituição transformar a partir do quer aprendeu.
devem atender as determinações legais que Em outras palavras, o mundo agora
especificam os parâmetros curriculares, sendo recompensa as pessoas não pelo seu

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conhecimento – os mecanismos de busca entrevistados; 72% disseram que aprendem


sabem tudo – mas, sim pelo que elas podem coisas produtivas para a vida e 62% que a
fazer com o que sabem, como se comportam escola oferece um ambiente favorável para
no mundo e como se adaptam. Como este é o aprender.
grande diferencial hoje, a educação está cada Quando perguntados o que eles desejam na
vez mais ligada à criatividade, ao pensamento escola, 36% desejam realizar atividades
crítico, à comunicação e colaboração; a práticas; 27% querem usar mais tecnologia
educação está ligada ao conhecimento dentro da escola; 25% querem ter algumas
moderno, incluindo a capacidade de disciplinas obrigatórias e ter a opção de
reconhecer e explorar o potencial das novas escolher outras; 16% esperam que a escola
tecnologias, e, por último, mas não menos desenvolva suas habilidades de
importante, também está ligada às qualidades relacionamento; 10% querem ter acesso a
do caráter, que ajudam as pessoas realizadas a conteúdo de política, cidadania e direitos
viverem e trabalharem juntas e a construírem humanos; 41% acreditam que atividades que
uma humanidade sustentável (SCHLEICHER, reúna pais, alunos e professores são essenciais
apud, FADEL, 2015, p.12). na escola ideal.
Em pesquisa realizada com cerca 132 mil E para a ESCOLA IDEAL, 51% acreditam que
jovens brasileiros de várias regiões do país com a tecnologia não pode ser somente a do
idades de 13 a 21 anos matriculados em laboratório de informática, 44% querem áreas
instituições de ensino públicas e privadas, verdes, 42% melhores quadras e equipamentos
buscou-se entender o que eles esperam da esportivos, 36% acessibilidade, 31% melhores
escola, quais são seus desejos e aspirações em espaços físicos para serem aproveitados, 30%
relação à educação no Brasil. A pesquisa querem arquitetura sustentável: iluminação
realizada pelo Porvir.org em parceria com o natural e reaproveitamento da água e 19%
Instituto Inspirare tinha como objetivo querem um prédio que garanta a privacidade
compreender como esses alunos de todos.
compreendem a escola em que estudam e qual A pesquisa buscou apresentar aos alunos
seria seu modelo de escola ideal . Os resultados grande variedade de proposições, procurando
dizem muito de como está a educação estabelecer os vínculos entre afetividade e
brasileira. aprendizagem. Os resultados demonstram que
No que diz respeito ao modelo educacional os alunos esperam da escola e dos professores
atual: apenas 1 a cada 10 alunos se disse uma maior reciprocidade nas relações,
satisfeito com a aula e com os materiais esperam que o professor seja capaz de ensinar
pedagógicos utilizados; 8 em cada 10 com clareza, usando linguagem acessível,
acreditam que as relações dos alunos com a aplicando tecnologias e atividades
equipe escolar precisam ser melhores; 5 em diferenciadas e motivando os alunos a
cada 10 não considera a estrutura da escola correlacionar o que aprendem à vida cotidiana.
adequada. Porém, ainda assim a maioria dos Assim, entre a escola que temos e que
estudantes disse que gosta da escola: 70% dos queremos, podemos resumir do seguinte

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

modo: A escola costuma dar maior ênfase aos


conteúdos e aquisição de conhecimentos
cientificamente construídos, quantificando o
aprendizado, mas deveria proporcionar a
busca pelo conhecimento diversificado, por
meio da pesquisa como forma de chegar ao
objetivo da aprendizagem. Nesse processo, o
professor ao invés de transmissor de
conhecimentos adota a postura de agente
mediador, facilitador da aprendizagem. Na
escola que temos, o conhecimento se dá por
transferência do professor que sabe tudo para
o aluno que deve aprender, desconsiderando-
se sua capacidade de apreender por si só
(PORVIR.ORG, 2019).
Neste modelo tradicional de instituição, a
escola assume um papel autoritário, que
recompensa a disciplina, a ordem e a
obediência, desestimulando a iniciativa, a
criatividade, a individualidade, a autonomia e a
investigação. É preciso abandonar esse modelo
de desenvolvimento do raciocínio lógico e da
memorização em detrimento de uma escola
que potencialize a relação entre as pessoas, a
diversidade, a integração, a troca e as relações
interpessoais capazes de ampliar os processos
culturais, as aprendizagens e o
desenvolvimento do aluno (PORVIR.ORG,
2019).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na escola tradicional, a escola como conhecemos, sempre privilegiou o aluno capaz de
reproduzir o conhecimento como fora recebido, como p professor lhe transmitiu, ou seja, a
educação por memorização. Quanto maior a capacidade do aluno em reproduzir, nas provas,
atividades, trabalhos, etc., o que o professor ensinou e como o professor ensinou, “maior” seria
sua nota e melhor seria seu aproveitamento. Nesse modelo de escola, o aluno inovador,
questionador, crítico, encontrava grandes dificuldades e até mesmo alguns problemas, uma vez
que sua postura questionadora poderia ser interpretada como ‘indisciplina’.
Hoje a educação procura motivar seu aluno a correlacionar o que lhe foi ensinado à sua
realidade ou à sociedade, procurando extrapolar o conhecimento adquirido, demonstrando
assim pensamento crítico, criatividade e colaboração. A educação moderna percebe como
diferencial positivo a capacidade de inovação, de reconhecer e explorar as novas tecnologias em
prol do desenvolvimento cognitivo e social, em prol da construção de uma sociedade sustentável.
Não se concebe mais uma instituição de ensino fechada em seus objetivos,
desconsiderando sua comunidade, seu aluno e as mudanças do mundo moderno, onde os
projetos e planejamentos se mantém fragmentados em currículos isolados em uma única
disciplina, sem compreender que o conhecimento se constrói de modo coletivo. Citando
Scheleicher (2015), ‘o mundo também não está mais dividido em especialistas e generalistas. Os
especialistas têm habilidades profundas, um escopo limitado e seu conhecimento é reconhecido
pelos colegas, mas não valorizado fora de sua área. Por outro lado, os generalistas têm escopo
amplo, mas habilidades superficiais’. Merece destaque quem consegue associar ambas as
habilidades (generalista e especialista), pois apresenta maior versatilidade para aplicar
habilidades profundas em um escopo de situações e experiências que se expande
progressivamente, ganhando novas competências, construindo relações e assumindo novos
papéis.
Este modelo de educação, que privilegia a integração e interação entre o ensino, a
comunidade, a escola e o aluno, permite ao aluno se adaptar, aprender e crescer
constantemente, num mundo de transformações e mudanças contínuas. Esse indivíduo constrói
suas aprendizagens de modo coletivo, integrando seus saberes aos saberes do outro, aprendendo
a se posicionar frente às transformações do mundo moderno e as novas tecnologias, que são
construídas coletivamente. As grandes transformações e inovações, em geral, não é um esforço
isolado, de um único indivíduo, mas sim produto de um esforço coletivo, resultado de como nos
mobilizamos, compartilhamos e conectamos o conhecimento em prol de algo maior.
Nesse sentido, cabe às escolas prepararem seus estudantes para esse mundo coletivo, de
trocas culturais, de diversidade, perspectivas e valores coletivos. Não se concebe mais uma
educação conteudista, centrada e segmentada em conhecimentos cientificamente construídos
ao longo da história, imutáveis e estáticos. O conhecimento se transforma, como a sociedade se
transformou. É essencial, então, que as instituições de ensino e os sistemas de educação revejam
seus conceitos de educação crítica para uma escola realmente cidadã, que permita ao aluno
apoderar-se dos conhecimentos ali transmitidos em consonância com suas próprias raízes, com
sua própria cultura, com esse mundo moderno e transformado, com as tecnologias e toda a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

diversidade social, como forma de reformular os padrões, valorizar a importante mistura de


conhecimento moderno e tradicional, transformando o aluno, o conhecimento, suas habilidades
e sua capacidade de incidir na sociedade em que está inserido.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL, Secretaria de Educação; Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos
parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília :
MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Constituição. República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Lei n. 9394, de 20/12/96, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.


Diário Oficial da União, n. 248, 1996.

FADEL, C.; BIALIK, M.; TRILLING, B.; Educação em quatro dimensões. Universidade de
Stanford: Instituto Airton Senna, 2015.

FREIRE, P.; Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Editora Paz e Terra, 1996.

FREIRE, P.; Política e Educação. São Paulo, Ed. Cortez, 1993.

HAMSE, A.; Escola nova e o movimento de renovação do ensino. Barretos: UNIFEB, s.d.
Disponível em: <https://educador.brasilescola.uol.com.br/gestao-educacional/escola-nova.htm>
Data de Acesso: 30/07/2022.

PORVIR.ORG; Qual é a escola que os alunos desejam? Disponível em: <


https://educacao.imaginie.com.br/a-escola-que-os-alunos-desejam/> Data de Acesso:
30/07/2022.

PORVIR.ORG; Resultado da pesquisa. Disponível em:


<https://porvir.org/nossaescolarelatorio/> Data de Acesso: 30/07/2022.

SOARES, Renato V. A educação na Constituição de 1988. Tese de Doutorado: Vitória, UFES,


1990.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A EVOLUÇÃO DA ESCRITA PARA PERCUSSÃO


NO SÉCULO XX
Felipe Aparecido de Mello1

RESUMO: Este artigo intenta remontar as diversas transformações ocorridas na escrita musical
no século XX, enfatizando principalmente o repertório para percussão musical de forma geral.
Evidentemente que uma plêiade de compositores configuram forte destaque neste âmbito e,
neste sentido, faz-se necessário mencionar compositores que foram basilares, entre eles: Igor
Stravinsky, Arnold Schoenberg, Béla Bartók, Paul Hindemith, Carl Orff, Aaron Copland, Darius
Milhaud, Olivier Messiaen, Dmitri Schostakovich, Karlheins Stockhausen, Edgar Varèse, Pierre
Schaeffer, Iannis Xenakis, Pierre Boulez, bem como figuras brasileiras e latino-americanas
contidas nos nomes de Amadeo Roldán, José Ardével, Carlos Chávez, Alberto Ginastera, Hans-
Joachim Koellreutter, Marlos Nobre, Willy Corrêa de Oliveira, Rogério Duprat, Gilberto Mendes,
Flo Menezes, Ney Rosauro, entre inúmeros outros. Em detrimento do reduzido espaço deste
texto apenas alguns destes nomes serão apresentados, bem como os respectivos excertos
composicionais, mesmo porque, esta investigação objetiva exemplificar mudanças pontuais
ocorridas no repertório para percussão no século XX, abstendo-se do estado da arte que um texto
de maior porte poderia melhor desenvolver sobre este assunto.

Palavras-Chave: Escrita musical; Música para percussão; Século XX.

1
Professor de Música/Piano no Conservatório Municipal de Socorro -SP (CMS).
Graduação: Performance musical em piano (UNESP). Atualmente: Doutorando em Performa nce Musical pela
UNESP (Orientado pelo Prof. Dr. Nahim Marun Filho e coorientado pelo Prof. Dr. Arthur Rinaldi Ferreira).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE EVOLUTION OF PERCUSSION WRITING IN THE 20TH CENTURY


ABSTRACT: This article attempts to retrace the various transformations that occurred in musical
writing in the 20th century, emphasizing mainly the repertoire for musical percussion in general.
Evidently, a plethora of composers stand out in this field and, in this sense, it is necessary to
mention composers who were fundamental, among them: Igor Stravinsky, Arnold Schoenberg,
Béla Bartók, Paul Hindemith, Carl Orff, Aaron Copland, Darius Milhaud, Olivier Messiaen, Dmitri
Schostakovich, Karlheins Stockhausen, Edgar Varèse, Pierre Schaeffer, Iannis Xenakis, Pierre
Boulez, as well as Brazilian and Latin American figures contained in the names of Amadeo Roldán,
José Ardével, Carlos Chávez, Alberto Ginastera, Hans-Joachim Koellreutter, Marlos Nobre, Willy
Corrêa de Oliveira, Rogério Duprat, Gilberto Mendes, Flo Menezes, Ney Rosauro, among
countless others. To the detriment of the limited space of this text, only some of these names
will be presented, as well as the respective compositional excerpts, even because, this
investigation aims to exemplify specific changes that occurred in the repertoire for percussion in
the 20th century, abstaining from the state of the art that a text by larger size could better
develop on this subject.

Keywords: Musical writing. Music for percussion. 20th century.

100
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO os instrumentos de percussão com maior


robustez. Na sequência exporemos algumas
O século XX foi movido por grandes obras em particular – para percussão ou que
transformações em diversos âmbitos contenham a percussão como elemento
simultaneamente. Na esfera musical não seria essencial –, a fim de exemplificar algumas das
diferente e a escrita musical inovou-se mudanças decorridas na escrita musical de um
paulatinamente em momentos específicos modo geral e para percussão no século XX.
deste período, forte exemplo disso constata-se
no período entre as duas grandes guerras
1 COMPOSITORES COM
mundiais na primeira metade do século XX,
onde a maior parte das composições carregam PECULIAR ESCRITA MUSICAL
uma natureza continuadamente experimental. PARA PERCUSSÃO NO SÉCULO
As linhas de tendências na música da primeira
metade do século XX constituem-se por quatro
XX
forças principais: “desenvolvimento de estilos É válido salientar que muitas das
musicais que utilizavam elementos das características da escrita para percussão no
linguagens populares nacionais; movimentos século XX já estavam, de certo modo,
neoclássicos; transformação da linguagem no sedimentando-se na segunda metade do
dodecafonismo de Schoenberg, Berg e Webern século anterior. A função prática da percussão,
e reação contrária a esta abordagem anteriormente desenvolvida como mero
excessivamente sistemática” (GROUT; elemento de acompanhamento e de base em
PALISCA, 2007, p. 697). No pós-segunda guerra uma orquestra, cedeu lugar para as inovações
as novas técnicas composicionais insurgem timbrísticas, para a diversidade e para o
uma nova onda de compositores, resultantes aumento do número de instrumentos
também do Movimento Futurista em Paris no empregados. Este fator não significou, neste
ano de 1948 (Musique Concrète) e dos Cursos contexto, o aumento do volume sonoro, mas
de verão da Nova Música em Darmstadt – faz- sim da variedade timbrística que acompanhou
se importante citar os nomes de Milhaud, Cage também a dos outros instrumentos da
e Schaeffer –, desenvolvendo-se técnicas orquestra – como, por exemplo, nas obras
composicionais que, a reboque, influíram orquestrais e de câmara de Claude Debussy –,
novos mecanismos e instrumentações nas ocorrendo sobretudo, nas últimas décadas do
criações musicais, sobretudo para a escrita século XIX (GROUT; PALISCA, 2007, p. 684).
musical da percussão. Estas novas tendências Quando se pensa nas inovações sobre a
encontraram uma aceitação muito natural escrita musical no início do século XX é
entre os percussionistas e, nesta perspectiva, inevitável não mencionar Igor Stravinsky.
uma gama muito particular de obras foram Apesar da escrita notacionalmente tradicional,
destinadas exclusivamente para a percussão sua obra Sagração da Primavera demonstrou
no século XX, ou tiveram como suporte uma nova forma de utilizar os elementos
formações que, de um modo geral, incluiriam percussivos na orquestra e, a partir da década
de 1920 “ele evitou os instrumentos de cordas

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devido às suas nuanças expressivas, preferindo padrões rítmicos aliados ao balé. Por sinal,
a articulação límpida dos sopros, percussão, uma das características marcantes da Sagração
piano e até pianola” (GROVE, 1994, p. 911). constitui-se por “suas pulsações propulsoras,
Stravinsky compôs um grande número de que marcaram uma mudança crucial na
obras para balés, demonstrando uma forte natureza da música ocidental” (GROVE, 1994,
característica rítmica em sua personalidade p. 911).
composicional, que inovou no emprego dos

Béla Bartók foi outro exemplo de compositor (1936), o compositor utiliza violinos, violas,
que utilizou a percussão de maneira peculiar, violoncelos, contrabaixo e harpa, bem como
embora sua escrita também fosse instrumentos de percussão compreendidos
notacionalmente tradicional. Em sua obra pelo xilofone, caixa, pratos, tam-tam, bumbo,
Música para Cordas, Percussão e Celesta tímpanos e celesta. A obra também inclui um

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piano, que pode ser classificado como um movimentos. O primeiro e o terceiro


instrumento de percussão ou de cordas. Bartók movimento são lentos, o segundo e o quarto,
divide as cordas em dois grupos que devem ser rápidos. Todos os movimentos estão escritos
colocados antifonicamente em lados opostos sem armadura de clave. Abaixo, um exemplo
do palco, utilizando efeitos antifonais, do tímpano “encabeçando” a grade orquestral
particularmente no segundo e quarto como instrumento solístico.

Outra importante obra de Bartók onde a com esteiras, caixa sem esteiras, triângulo,
percussão desenvolve um papel de tam-tam, prato suspenso e par de pratos, e o
proeminência encontra-se na Sonata para dois segundo designado a tocar xilofone, bumbo,
pianos e percussão Sz.110, composta no ano de caixa com esteiras, caixa sem esteiras,
1937. Nesta obra, além dos dois pianos, utiliza- triângulo, tam-tam, prato suspenso e par de
se também dois percussionistas, sendo o pratos.
primeiro designado a tocar três tímpanos, caixa

103
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

2 ALGUMAS OBRAS percussão. Sua música voltava-se para


unidades de tempo preenchidas por ostinatos,
REFERENCIAIS E ESPECÍFIAS utilizando-se também de recursos eletrônicos.
PARA PERCUSSÃO NO SÉCULO Foi o criador do piano preparado, transferindo
para este instrumento maior função percussiva
XX
e rítmica. Entre suas obras para piano
John Cage é considerado um dos nomes de
preparado encontram-se Piano preparado
maior destaque em termos de inovação da
Bacchanale (1940), The Perilous Night (1944),
escrita para a percussão no século XX, tendo
Sonatas e Interlúdios (1948), entre outras.
sido aluno de Henry Cowell e Arnold
Algumas obras de destaque para percussão
Schoenberg. Suas composições se distinguem
encontram-se nos títulos First, Second, Third
pela “não intencionalidade” e por obras
Construction (1939, 1940, 1941), Credo in Us
indeterminadas, além de obras voltadas para o
(1942) e Imaginary Landscape nº2 (1942)
teatro de performance musical. Em 1938
(GROVE, 1994, p. 155).
fundou em Seatle uma orquestra para

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No que se refere a solos para percussão e dado às teorias ou aos sistemas, mas
orquestra na primeira metade do século XX, infinitamente receptivo aos mais diversos tipos
Darius Milhaud compôs o Concerto para de estímulos, que nele se convertem
percussão op.109 (1929), protagonizando a espontaneamente em expressão musical” (p.
percussão como instrumento solístico. Milhaud 713). Abaixo, um exemplo de excerto da grade
é descrito em Grout / Palisca (2007), como “um do Concerto para percussão Op.109
artista clássico pelo temperamento, pouco

Acerca do repertório sinfônico escrito percussionistas, foi uma das primeiras


estritamente para percussão, Edgar Varèse nos composições apresentadas em salas de
fornece um importante exemplo de escrita concertos somente para percussão. Ionisation
para percussão sinfônica em sua obra apresenta a expansão e variação das células
Ionisation (1929-1931). Estabelecida para treze rítmicas, e o título refere-se à ionização de

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moléculas, baseando-se no manuseio e no grande complexidade de planos interligados


contraste mais sensível de diferentes tipos de de ritmos e timbres, ao final ocorre o
sons percussivos. Existem aqueles com relaxamento da tensão com a desaceleração do
afinação indefinida, como bumbo, caixa, blocos ritmo, a entrada dos sinos e a ampliação dos
de madeira e pratos; aqueles de tom musical silêncios entre os sons. Transcorre-se ainda
relativamente definido, como piano e sinos; os sugestões de sons característicos da vida
de campo em movimento contínuo, como as urbana moderna. Na sequência, um exemplo
sirenes e o rugido do leão. É um exemplo de do início des ta obra:
“construção espacial”, construindo uma

Desde então despontou-se uma plêiade de grupos de percussão que datam de 1959 a
obras para os mais diversos grupos 1964. Iannis Xenakis compreende outro
percussivos, especialmente após a primeira compositor que escreveu um número razoável
metade do século XX. Karlheins Stockhausen, de obras para grupo de percussionistas. Sua
por exemplo, dedicou muitas obras somente obra Persephassa for Six Percussionists (1969),
para grupos de percussão, compreendidas hoje foi encomendada em conjunto pelo Office de
em um livro com seu trabalho completo para Radiodiffusion Télévision Française (ORTF) e

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pelo Shiraz-Persepolis Festival of Arts particularmente em suas obras de meados do


(presidido pela Imperatriz do Irã), realizada no final da década de 1960. É evidente o impacto
histórico local de Persépolis. O título é um dos dramático de se utilizar o espaço da
nomes variantes da deusa Perséfone / performance desta maneira, onde em muitas
Proserpina, e também se refere aos nomes passagens ao longo desta obra as acentuações
“Perseu”, “Perceval” e “Persépolis”. Foi ou ritmos imitativos são transferidos em torno
apresentado em sua estréia por Les do conjunto. Os percussionistas usam uma
Percussions de Strasbourg (França). ampla gama de instrumentos e efeitos sonoros
Persephassa alcança muito de seu efeito ao ter durante a peça, incluindo sirenes, maracas e
os seis percussionistas distribuídos pela pedras, além de um arsenal de tambores,
plateia. O tratamento do espaço como blocos de madeira (simantras), pratos e
parâmetro musical é uma das preocupações gongos.
mais importantes da música de Xenakis,

No final do século XX Pierre Boulez compõe movimentos (os movimentos são chamados
a obra Sur Incises. Boulez escreveu Sur Incises “Momento I” e “Momento II”) para três pianos,
alguns anos depois e dedicou a Paul Sacher em três harpas e três partes de percussão, que
seu aniversário de 90 anos. A obra foi lançada usam uma variedade de instrumentos de
em 30 de agosto de 1998 pelo Ensemble percussão afinados: vibrafone, marimba,
InterContemporain, regida por David glockenspiel, tambores de aço, sinos tubulares
Robertson no Usher Hall de Edimburgo. Esta e crotais. Aqui, os sons do piano em Incises são
peça dura cerca de quarenta minutos, sendo divididos em partes tocadas pelas harpas e
premiada com o Grawemeyer Award for Music percussão, e são distribuídos pelo espaço,
Composition, concedido pela Universidade de separando os três grupos na área de atuação.
Louisville. Baseada no material de Incises (para Esse tipo de “retrabalho” de uma peça anterior
piano – 1994), Sur Incises é um trabalho de dois é característico de Boulez.

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Como mencionado inicialmente, seria compositor deve ser mencionado: Hans-


impraticável neste texto descrever todos os Joachim Koellreutter. “Nascido na Alemanha,
compositores e principais impactos sobre a chega ao Brasil em 1937, sua produtiva
escrita para percussão no século XX, faz-se a atividade pedagógica deixava claro os seus
menção do minimalismo que poderia ainda ser compromissos com as conquistas técnicas da
desenvolvido. Neste período, a percussão e a então música contemporânea” (STUANI, 2013).
escrita musical foram exploradas sobremaneira Koellreutter teve forte influência sobre a nova
nas mais variadas esferas e, neste sentido, esta geração de compositores da década de 1960.
tendência não seria diferente também no Faz-se a menção aos alunos que se destacaram
Brasil, como veremos brevemente a seguir. como compositores da escrita moderna para
percussão, entre eles Gilberto Mendes,
3 COMPOSITORES Rogério Duprat e Willy Corrêa de Oliveira. Na
busca pela renovação / inovação, a
BRASILEIROS E NOVAS experimentação se estabelece como um
TENDÊNCIAS DA ESCRITA PARA processo constantemente aplicado pelos
movimentos vanguardistas. O uso de
PERCUSSÃO NO SÉCULO XX instruções prévias nas denominadas bulas
Ao se investigar inovações e tendências
torna-se uma das principais tendências na
composicionais no Brasil no século XX um
segunda metade do século XX, podendo ou não

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se usar a grafia tradicional, inclusive para o que contém sete páginas, sendo que cinco são
repertório voltado à percussão. Abaixo, segue de instruções em formato de bula para a sua
uma obra de Gilberto Mendes – Brillium C9 –, execução (notação roteiro).

Nesta peça o instrumentista deve, depois de realizam”). Outra referência à percussão nas
um período de silêncio, tocar uma citação de instruções: “O percussionista seleciona 12 sons
um tema popular conhecido, mas não diferentes para substituir as 12 notas do
necessariamente o tema completo, apenas quadro”. Também: “o mesmo executante pode
fragmentos. O compositor também dá gravar em fita magnética uma ou duas outras
liberdade aos intérpretes de realizar a qualquer execuções e utilizá-las como acompanhamento
momento um improviso – “total ou para a execução ao vivo” (STUANI, 2013).
unicamente rítmico” –, e fazer variações de Segue-se outro exemplo de notação com
fragmentação e montagem (apenas deve caráter composicional aleatório:
“ouvir o que os outros instrumentistas

Abaixo, mais uma exemplificação em


formato de bula, instruindo como se deve tocar
o berimbau.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A aleatoriedade e a improvisação se formato de bula. Na sequência, um exemplo de


desenvolvem com muita naturalidade na obra para bateria e piano em escrita
escrita musical dos vanguardistas na segunda tradicional, contendo trechos de improvisos
metade do século XX, mesclando a notação que remetem para um formato musical
tradicional com a escrita (instruções) em híbrido.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este texto intentou aferir algumas das características que, de certo modo, marcaram as
principais mudanças na grafia musical para percussão no decorrer do Século XX. Diante disso,
compositores e obras que não necessariamente empregaram mudanças diretas foram também
investigados, com a finalidade de melhor entender os processos das mudanças e pensamentos
musicais que nortearam o início do século XX. No mesmo sentido, obras com caráter orquestral
e de câmara tiveram um maior destaque, pois as mudanças estruturais na escrita musical dos
formatos amplos se refletem, via de regra, na escrita específica de uma esfera instrumental,
fomentando subsídios que corroboram também para o desenvolvimento de reflexões pontuais e
pormenorizadas.

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REFERÊNCIAS
GROVE. Dicionário Grove de música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

GROUT, Donald J.; PALISCA, Claude V. História da Música Ocidental. Lisboa: Gradiva, 2007.

NASCIMENTO, Guilherme; ZILLE, Antonio B.; CANESSO, Roger. A Música dos Séculos 20 e
21. Barbacena: EdUEMG, 2014.

STUANI, Ricardo de A. A escrita para percussão dos compositores do grupo música


nova. Porto Alegre: SEFiM/UFRGS, 2013.

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A FÍSICA E A GRAMÁTICA: UMA ABORDAGEM


INTERDISIPLINAR ENTRE A IMAGEM REAL E
VIRTUAL (FÍSICA) COM OS ADVÉRBIOS DE
LUGAR CÁ E LÁ (GRAMÁTICA) TIRADO DE UMA
NOTÍCIA DE JORNAL CRIMINAL
Marcello Lopes Neves Filho 1

RESUMO: Este artigo tem por objetivo, o de fazer uma abordagem disciplinar entre a Física no
que se refere à imagem real e virtual e à Gramática da Língua Portuguesa em relação aos
advérbios de lugar lá e cá baseados em uma notícia de jornal criminal.

Palavras-Chave: Interdisciplinaridade; Física; Gramática da Língua Portuguesa.

1
Professor de Língua Portuguesa, Eletivas e Relações Sociais e Tecnológicas à Literatura
na Rede Estadual de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São.

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PHYSICS AND GRAMMAR: AN INTERDISIPLINARY APPROACH


BETWEEN REAL AND VIRTUAL IMAGE (PHYSICS) WITH ADVERBS OF
PLACE HERE AND LA (GRAMMAR) TAKEN FROM A CRIMINAL
NEWSPAPER
ABSTRACT: This article aims to make a disciplinary approach between Physics with regard to the
real and virtual image and the Grammar of the Portuguese Language in relation to adverbs of
place there and here based on a criminal newspaper article.

Keywords: Interdisciplinarity; Physics; Portuguese Grammar.

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INTRODUÇÃO No final, mostraremos a


interdisciplinaridade mais aprofundada
Segundo Moraes (2018, p. 20), a teoricamente além dos conceitos do advérbio
interdisciplinaridade tem sido uma exigência de lugar (Gramática da Língua Portuguesa),
não somente do ponto de vista da legislação, imagem real e virtual (Física) com a prática de
como também da reorganização curricular. Na análise na notícia de jornal.
legislação tem sido contemplada desde a
promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
ÓPTICA
Educação Nacional (BRASIL, 1996),
Na visão de Dias (2020, p. 1), a óptica é a
posteriormente em documentos oficiais como,
área da Física que se dedica ao estudo de
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL.
fenômenos associados à luz.
1998), Parâmetros Curriculares Nacionais do
Ainda sob os estudos relacionados à óptica
Ensino Médio (BRASIL, 1999), Diretrizes
por esta crítica (2018, p. 1), estes começaram a
Curriculares Nacionais do Ensino Médio
se desenvolver por volta do século XVI, com os
(BRASIL, 1998), Orientações curriculares
estudos de Galileu Galilei. Mais tarde esse
Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2006).
campo recebeu contribuições de outros
Diante desses documentos, a proposta para o
cientistas como René Descartes, Christiaan
ensino médio tem sido buscar dar significado
Huygens e Isaac Newton.
ao conhecimento escolar, mediante a
Ficando (2018, p. 1), a óptica utiliza algumas
interdisciplinaridade e a contextualização.
fórmulas e conceitos que são essenciais para a
Assim, o PCNEM (1999) aponta uma crítica à
compreensão dos fundamentos da óptica.
forma como ocorria ou ocorre o Ensino Médio,
Concluímos pelo estudo desta pesquisadora
descontextualizado, compartimentado e
que a óptica estuda a visão, isto é, a claridade.
baseado no acúmulo de informações.
Dando continuidade (2018, p. 20; 21), os
PCNEM (1999): ADVÉRBIO
Os objetivos do Ensino Médio em cada área Para Cegalla (2020, p. 259), advérbio é uma
do conhecimento devem envolver, de forma palavra que modifica o sentido do verbo, do
combinada, o desenvolvimento de adjetivo e do próprio advérbio.
conhecimentos práticos, contextualizados, que Na oração, o advérbio recebe a função
respondam às necessidades da vida sintática de adjunto adverbial.
contemporânea, e o desenvolvimento de A maioria dos advérbios modifica o verbo, ao
conhecimentos mais amplos e abstratos, que qual acrescentam uma circunstância Só os de
correspondam a uma cultura geral e a uma intensidade é que podem também modificar
visão de mundo (BRASIL, 1999, p. 207). adjetivos e advérbios.
Quanto à metodologia, refere-se apenas a Chegamos à conclusão por este estudioso de
um trabalho teórico em que será feita a que o advérbio é um complemento ao verbo,
discussão ao adjetivo além do próprio advérbio.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

IMAGEM REAL E VIRTUAL comum que lentes côncavas (de bordas


grossas), espelhos planos ou convexos e, até
"Chamamos de imagem real por Hellebrock
mesmo, espelhos côncavos (em casos
(2022, p. 1), toda imagem produzida por um
especiais) conjuguem esse tipo de imagem.
feixe de luz que convergir sobre algum ponto
após ter sido refratada por uma lente convexa "Diferentemente das imagens reais, nas
(de bordas finas) ou após ter sido refletida por imagens virtuais não há o cruzamento dos raios
um espelho, como acontece nos espelhos de luz, mas sim de seus prolongamentos. Esse
esféricos côncavos ou parabólicos.” cruzamento ocorre no “interior” dos espelhos
ou ainda atrás das lentes. Além disso, todas as
Portanto, todas as imagens reais formam-se
imagens virtuais apresentam a mesma
pelo cruzamento de raios de luz. Dessa forma,
orientação que seus objetos, diferentemente
esse tipo de imagem pode ser projetada sobre
das imagens reais, que são invertidas. Saiba
algum anteparo, como uma parede branca.
mais sobre cruzamento dos prolongamentos
Assim, na prática, uma lente convexa, como
dos raios de luz "
uma lupa, é capaz de projetar uma imagem do
Sol com facilidade. Observe a figura abaixo:" "Imagens virtuais também nos provocam a
sensação de serem produzidas no fundo dos
espelhos ou das lentes. Você já percebeu que,
ao olhar para um espelho plano, seu reflexo
não está em sua superfície, mas sim na mesma
distância em que você se encontra do
espelho.? Observe a figura:"

Fonte :Imagem Google free

"Observe a figura acima, nela podemos ver


um espelho côncavo usado para concentrar os
raios de luz solar em uma panela, a fim de
aquecê-la. Se você olhar atentamente para a
imagem formada nesse espelho, verá que ela
está de ponta cabeça, ou seja, invertida em Fonte :Imagem Google free
relação ao cenário. Forma-se, portanto, uma
imagem real." "Na imagem acima, temos um exemplo de
Dando continuidade ao registro deste imagem virtual formada por um espelho plano.
ensaísta (2022, p. 1), imagens virtuais são Um objeto que se aproximar do retrovisor de
aquelas produzidas por algum sistema óptico um automóvel estará mais próximo do que
capaz de “espalhar” os raios de luz em direções aparenta estar."
opostas, “distanciando-os” uns dos outros. É

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Podemos finalizar esta parte afirmando que posição das três pessoas gramaticais e como
a imagem real é aquela que aparece por inteira elas podem ocorrer na oração, conforme
sem corte, ao passo que a virtual já corta como apresentado por Nunes (1942). Verifiquemos:
é o caso da segunda, isto é, vemos com o 1ª pessoa: eu, nós……. aqui, cá
espelho refletido atrás. 2ª pessoa: tu, você, vós, vocês……. lá, aí
3ª pessoa: ele, eles etc. lá ali (BECHARA,
OS ADVÉRBIOS DE LUGAR CÁ E 2005, p, 81)
Essa abordagem pode ser melhor
LÁ compreendida nos exemplos apresentados
Segundo Infante (1999, p.344), “[…] em pelo próprio gramático a seguir:
Jesus e Souza (2019, p. 4), a classe gramatical Eu cá desejo que você passe.
dos advérbios tem sido objeto de muitos Você lá sabe como vai proceder.
estudos e discussões entre linguistas e
gramáticos”. Para o autor, isso ocorre porque
muitas palavras tradicionalmente classificadas
REPORTAGEM CASO ESCOLA
como advérbios vêm sendo segundo ele, BASE: A MENTIRA QUE ABALOU
aproximada de outras classes gramaticais. Para O BRASIL EM 1994
demonstrar o quanto alguns advérbios sofrem
Entenda como a mídia serviu de juiz, júri e
transformações, o gramático traz como
carrasco num caso em que os donos de uma
exemplo a partícula lá e aqui, que segundo o
escola foram acusados de molestar e praticar
autor, assemelham-se em muitos aspectos aos
orgia com crianças
pronomes.
Vinícius Buono Publicado em 11/06/2020,
Bechara (2005), em Jesus e Souza (2019, p.
ÀS 10H15 - Atualizado às 10H16
4), por seu turno, traz alguns exemplos do que
Era o início do ano de 1994. Março,
ele denominou como advérbios de base
precisamente. O Brasil ainda era tricampeão
pronominal, ou seja, aqueles que
mundial de futebol e Ayrton Senna ainda voava
desempenham, na oração, papéis sintáticos ou
baixo nos circuitos da Fórmula 1.
particularidades próprias de nomes e
Em São Paulo, o ano letivo havia acabado de
pronomes, por exemplo:
começar para a escola de Educação Infantil
Aqui é ótimo para saúde.
Base, no bairro da Aclimação, em São Paulo.
O locativo aqui, nessa proposta de análise, é
Tudo corria normalmente até o dia em que
considerado como uma partícula de base
Lúcia Eiko Tanoue e Cléa Parente de Carvalho
pronominal, com o valor de “esse lugar” e
notaram comportamentos estranhos em seus
funciona como sujeito em sentenças como (1).
filhos, estudantes da instituição, e se dirigiram
Considerado pelas gramáticas tradicionais
à delegacia para prestar queixa contra seis
como advérbios de lugar, os advérbios aqui, cá,
pessoas relacionadas ao colégio.
ali, lá são classificados por Bechara (2005),
De acordo com as mães, os donos da escola,
como advérbios demonstrativos e, segundo o
Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada,
autor, essa classe gramatical determinam a
a professora Paula Milhim Alvarenga e seu

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esposo, Maurício Monteiro Alvarenga — o


motorista da Kombi que levava as crianças para
a escola — faziam orgias com as crianças de
quatro anos de idade no apartamento de Saulo
e Mara Nunes, pais de um dos alunos.
O delegado incumbido da investigação,
Edélcio Lemos, enviou os filhos de Lúcia e Cléa
ao Instituto Médico Legal e conseguiu um
mandado de busca e apreensão ao
apartamento onde, supostamente, as crianças
eram abusadas. Fonte : Notícias Populares; Créditos:
Quando nada foi encontrado, as mães, Jusbrasil
indignadas, foram à Rede Globo. Foi a partir daí A manchete do Notícias Populares dava
que o caso da Escola Base explodiu e virou pouca margem à interpretação / Créditos:
referência. No mesmo dia, o laudo do IML foi Jusbrasil
analisado pelo delegado. Era inconclusivo, mas Com o tempo, Lemos foi afastado da
dizia que as crianças apresentavam lesões que investigação, e os delegados substitutos ainda
podiam ser de atos sexuais. Foi o suficiente encontraram, por denúncia anônima, Richard
para o delegado, que deu declarações dúbias à Herrod Pedicini, um fotógrafo americano que
imprensa. Os acusados já eram, aos olhos do morava nas redondezas da escola e, segundo a
povo, culpados antes de qualquer julgamento. denúncia, vendia fotos das crianças
Como nenhum grande evento estava molestadas.
ocupando as manchetes na época, a mídia deu A filha de Cléa foi levada ao apartamento do
uma enorme atenção ao caso. Os veículos rapaz para fazer reconhecimento e quis brincar
investigavam o delegado e vice-versa, e o que com uma abelhinha de pelúcia que estava no
se seguiu foi uma série de notícias recheadas chão. Foi o suficiente para que fosse decretada
de informações cuja veracidade não havia sido a prisão preventiva do fotógrafo, enquanto a
comprovada. A manchete do tablóide paulista mídia já anunciava seu envolvimento com o
Notícias Populares, “Kombi era motel na caso. “Alunos da Escola Base reconhecem a
escolinha do sexo”, apesar do sensacionalismo casa do americano” era o principal assunto das
que lhes era peculiar, traduz com maestria a manchetes.
forma como a imprensa estava lidando com o Invariavelmente, as provas da inocência
caso. começaram a aparecer. Quando a prisão
preventiva de Saulo e Mara foi decretada, os
advogados do casal finalmente tiveram acesso
ao laudo do IML e viram o quão inconclusivo
era, com a própria mãe de um dos meninos
admitindo que ele sofria de constipação
intestinal, uma das probabilidades apontadas
pelo laudo. A partir daí, apareceram

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

depoimentos de outras pessoas como pelos holofotes, estava sendo ouvida pelos
funcionários do colégio e pais de outros alunos veículos da mídia.
em defesa dos acusados. Toda a história lançou uma luz nos poderes
Em junho, três meses depois, os suspeitos e responsabilidades da imprensa, e a discussão
foram inocentados pelo delegado Gérson de acerca da destruição de reputações se tornou
Carvalho, um dos que assumiram a mais séria do que jamais foi. Com o advento da
investigação. No entanto, o estrago já estava Internet, onde nunca foi tão fácil manchar a
feito. Os danos psicológicos e morais aos imagem de alguém por qualquer coisa, o
acusados eram enormes, além, é claro, dos ocorrido na Escola Base serve como um bom
materiais. Os inúmeros gastos com o processo paradigma do que fazer e, principalmente, do
deixaram as finanças de todos completamente que não fazer nesse tipo de situação.
arruinadas.
Os meios de comunicação foram acusados ANÁLISE
de não retratar a verdade de fato, declarando,
Ao lermos esta notícia, podemos dizer que
apenas, que as investigações foram encerradas
foi uma violência enorme feita com a
por falta de provas, sem necessariamente dizer
professora, o motorista e os donos da
que os acusados eram inocentes. Diversos
Escolinha de Base, esta localizada, no bairro da
processos foram movidos contra o Estado e a
Aclimação em São Paulo.
mídia. Maria e Icushiro faleceram sem receber
Nós podemos enxergar a que ponto chega
todo o dinheiro que lhes era devido, ela de
imaginação do ser humano em termos de
câncer em 2007 e ele de infarto em 2014.
maldade. Duas mães que foram à delegacia dar
Paula nunca mais conseguiu trabalhar como
queixa porque notaram comportamento
professora, pois ficou marcada como
estranho nos filhos e tiveram certeza de que as
abusadora de crianças. Ela e o marido,
crianças estavam sofrendo de abusos sexuais
Maurício, se divorciaram em virtude das
pelos que trabalhavam na Escolinha de Base.
dívidas e da paranoia incontrolável que o rapaz
O pior é que não satisfeitas com o lado de
desenvolveu após o caso. Saulo e Mara, como
que não comprovava a tese de acusação, estas
os outros, também enfrentaram problemas
mães, foram à televisão, na Rede Globo, a fim
financeiros. Richard, mesmo após a conclusão,
de denunciar o caso, uma vez que quiseram
passou anos angariando recursos para mostrar
que o caso fosse verdadeiro.
que ele era, de fato, inocente.
É certo que a equipe de jornalismo da
O caso da Escola Base se tornou objeto de
emissora, assim como o fotógrafo que passou
estudo em diversos campos e cursos como
as fotos para o jornal Notícias Populares vai dar
jornalismo, psicologia e direito. A cobertura da
a notícia, visto que é fonte de informação,
imprensa foi completamente parcial e
audiência, ou melhor, um comércio.
monofônica, com os envolvidos sendo
O tempo faz com que a verdade seja
crucificados sem nenhum direito de resposta e
revelada decerto. Por isto, com o empenho do
apenas a voz do delegado, que se deixou levar
advogado do estabelecimento escolar além do
afastamento do delegado que atendeu as mães

119
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dos casos, o laudo feito pelo Instituto de com o espelho e não a virtual, revelamos,
Medicina Legal se mostrou ilógico, isto é, não aquela atrás do espelho. Acrescentamos mais
havia prova alguma sobre este crime. revelando que o que acontece cá, ensinamos,
Foi comprovada, de fato, a inocência de na nossa frente e em nossa direção pode não
todos os acusados, porém tiveram suas vidas ser a mesma que acontece lá, por exemplo,
destruídas tendo depressão, perdendo as seja atrás de nós, seja em outro local.
finanças, a professora e o motorista se
divorciando por dívidas, esta profissional da
educação sem emprego e os donos da escola
com a perda de todos os investimentos, uma
vez que tiveram de gastar para provar que não
eram culpados.
Esta e outras acusações a pessoas inocente
nos fizeram perceber o quanto existem
pessoas muito más capazes de agir sem pensar
como foi o caso destas mães. Além do mais,
com todos, pode acontecer o mesmo
profissionalmente, ou seja, por colegas de
trabalho, clientes, funcionários, daí para mais
ou pessoalmente por familiares, amigos.
Na verdade, estas mães deveriam como
punição não só ir à televisão pedir desculpas a
todos como também ora pagar danos morais e
materiais a todos, ora prestar serviços à
comunidade.
Agora, o porquê de uma delas sofrer de
intestino preso, ter um estresse ao ponto de
destruir vidas, nada justifica. Por isto, a pena
desta deveria ser ainda maior.
Chegamos à conclusão fazendo a afirmação
de que nunca devemos criar situações
maldosas a respeitos dos outros apesar não
gostar das pessoas, na medida em que da
mesma forma que estas mães destruíram
vidas, nós podemos tanto fazer semelhante
quanto receber.
Nós podemos estar certos de que nós
devemos nos basear pela imagem real,
mostramos, aquela que está na nossa frente

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir este artigo, revemos nossos objetivos expostos na introdução. Confiamos tê-
los alcançado na proporção em que investigamos a importância de se ensinar a
interdisciplinaridade entre a Física e a Gramática da Língua Portuguesa. Confiamos tê-los
alcançados, já que foi mostrado no final a relação da imagem real e virtual na Física com os
advérbios de lugar: cá e lá da Gramática da Língua Portuguesa.
Verifica-se o quanto é importante a disciplina de Física em se tratando do assunto imagem
real e virtual. Também a Gramática da Língua Portuguesa quanto aos advérbios de lugar, no caso,
lá e cá.
Fizemos esta análise não apenas com o objetivo de ficar na teoria, bem como,
compreender que a as disciplinas de Física e Gramática da Língua Portuguesa são importantes
para a prática diária, ou melhor, para refletirmos por meio das notícias de jornais tão bem.
Sabemos que a imagem real em Física é aquela que vemos perto de nós, ou seja, à frente
do espelho, enquanto a virtual, atrás do espelho. Já o os advérbios de lugar para o gramático
Bechara, são demonstrativos, uma vez que revelam os acontecimentos.
Estamos certos de que é possível ensinar Física e Gramática da Língua Portuguesa de modo
interdisciplinar, todavia o assunto não se esgota neste artigo, tendo em vista que é necessário
mais pesquisas e o estudo em outros textos.
Contudo aqui, acreditamos ter dado uma boa contribuição para o estudo da Física com a
Gramática da Língua Portuguesa em relação ao tema interdisciplinaridade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. - São Paulo -
SP: Companhia Editora Nacional - 2020.

DIAS, Fabiana. Área da física que estuda os fenômenos relacionados à luz. Publicado em
20/07/2020. Disponível em: << https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/fisica/optica >>.
Acessado em 22/07/2022.

HELERBROCK, Rafael. "Diferenças entre imagens reais e virtuais"; Brasil Escola. Disponível
em: https://brasilescola.uol.com.br/fisica/diferencas-entre-imagens-reais-virtuais.htm. Acesso
em 24 de julho de 2022.

JESUS, Mirian Valverde & Souza Valéria Viana. Funcionalidade da Categoria Gramatical
Advérbio: Um olhar na Tradição Gramatical e na Tradição Linguística. Id on Line Rev. Mult.
Psic. V.13, N. 44, p. 683-699, 2019 - ISSN 1981-1179. Disponível em: <<
https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/viewFile/1649/2420>>. Acessado em 22/07/2022.

MORAES, Renato Pereira de. Concepções de “Interdisciplinaridade e Educação no Campo”


de Professores de Ciências da Natureza e Matemática do Ensino Médio do Campo do
Município de Rio Verde - GO. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal de Goiás - Regional Catalão, para obtenção do título de
Mestre em Educação. Universidade Federal de Goiás, Unidade Acadêmica Especial de
Educação Catalão, Programa de Pós-Graduação em Educação, Catalão, 2018. Disponível em:
<<. https://repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/8354/5/Disserta%c3%a7%c3%a3o%20-
%20Renato%20Pereira%20de%20Moraes%20-%202018.pdf >>. Acessado em 22/07/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A FUNÇÃO DO PROFESSOR E SUAS NOVAS


CONFIGURAÇÕES: UMA LEITURA CRÍTICA
Idayany Araújo Cardoso de Almeida1
Guenther Carlos de Almeida2

RESUMO: Este trabalho em como objetivo analisar a função do professor em Gramsci (2011),
Roldão (2007) e Facci (2004). Para tanto recorreu-se às categorias fundamentais destes autores,
assim como aos autores que os fundamentam. Recorreu-se ao pensamento materialista dialético
para organizar as categorias do trabalho. Identificou-se que o professor deve ser compreendido
como um intelectual orgânico à classe trabalhadora, um sujeito que constitua sua
profissionalidade articulada às demandas latentes pela qualidade da educação brasileira, e por
fim um trabalhador que possui um conhecimento científico e pedagógico sólido sendo sujeito e
não mero espectador do trabalho educativo.

Palavras-Chave: Função do Professor; Intelectual Orgânico; Profissionalidade Docente.

1 Professora de Educação Física no Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa. Graduada em Educação Física
e Mestra em Educação pela UFG.
2 Professor de Educação Física do IFG Campus Inhumas e orientador no Programa de Pós-graduação em Educação

Profissional e Tecnológica do IFG. Graduado em Educação Física pela UFG e Doutor em Educação pela PUC-Go.
Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Ciências.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE TEACHER'S ROLE AND ITS NEW CONFIGURATIONS: A CRITICAL


READING
ABSTRACT: This work aims to analyze the role of the teacher in Gramsci (2011), Roldão (2007)
and Facci (2004). In order to do so, we used the fundamental categories of these authors, as well
as the authors that support them. Dialectical materialist thinking was used to organize the
categories of work. It was identified that the teacher must be understood as an organic
intellectual to the working class, a subject that constitutes his/her professionalism articulated to
the latent demands for the quality of Brazilian education, and finally a worker who has a solid
scientific and pedagogical knowledge, being a subject and not mere spectator of the educational
work.

Keywords: Teacher Role; Organic Intellectual; Teaching Professionality.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO coincidência entre a altera [cão] das


circunstâncias e a atividade ou
A função docente, bem como as automodificação humanas só pode ser
compreensões sobre essa atividade apreendida e racionalmente entendida como
acompanham as mudanças nas bases prática revolucionária (MARX e ENGELS, 2009,
estruturais da sociedade e da educação. Longe p.120).
de ser uma compreensão mecânica desta Sob essa perspectiva compreendemos que o
relação, teorias pedagógicas endereçam educador necessita ser educado
questões à sociedade e vice versa. Porém, nem constantemente, caracterizando-o como um
sempre esta relação é harmônica, em certa trabalhador intelectual e que deve ser
medida ela é ambígua, contraditória, comprometido com a humanização dos
multifacetada e representante das relações de sujeitos por meio do trabalho educativo e com
força e poder de grupos ou pessoas que a construção da hegemonia da classe
possuem a hegemonia. trabalhadora.
Incidindo, não só sobre a função docente, Dessa maneira, o objetivo deste artigo é
mas também sobre a formação de professores compreender a função do professor frente às
estão diversas concepções: tradicionais, novas, demandas da sociedade contemporânea,
críticas, reflexivas, intelectuais, pragmáticas, tendo em vista seu lugar na mediação
abertas, emancipatórias, por competências, pedagógica.
etc. Tais nomenclaturas e concepções revelam Tendo isso em vista organizamos o presente
a flexibilidade, contradição e transformação trabalho da seguinte maneira: faremos
que o capital tem protagonizado, bem como as inicialmente uma caracterização da função do
resistências a ele postas, especialmente nos professor tendo como apoio as concepções as
séculos XX e XXI. ideias de Gramsci (2011), Roldão (2007) e Facci
Torna-se imperativo revelar os nexos (2004).
constitutivos do discurso presente em tais O objetivo geral desse trabalho foi analisar a
concepções, a fim de, compreendermos o função do professor em Gramsci (2011),
movimento realizado em direção aos Roldão (2007) e Facci (2004). E mais
professores caracterizando lhes, imprimindo- especificamente: caracterizar o professor
lhes funções e delimitando suas ações. como trabalhador e intelectual da classe
Inequivocamente, Marx aponta em suas trabalhadora; Identificar as características da
teses sobre Feuerbach, 3ª tese: profissionalidade do professor; e por fim
A doutrina materialista sobre a modificação Reconhecer o conhecimento próprio da
das circunstâncias e da educação esquece que atividade docente.
as circunstâncias são modificadas pelos Elegeu-se como pergunta central: Como
homens e que o próprio educador tem que ser Gramsci (2011), Roldão (2007) e Facci (2004),
educado. Ela tem, por isso, de dividir a caracterizam a função do professor.
sociedade em duas partes – a primeira das Esse trabalho se justifica em um momento
quais está colocada acima da sociedade. A em que o professor tem sido alvo de ações

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

midiáticas que o responsabilizam pelos condições materiais da sua produção (MARX e


problemas da escola brasileira, ao mesmo ENGELS, 2009, p. 24).
tempo em que teorias pedagógicas Novas formas de se produzir a existência
pragmáticas esvaziam o docente de saberem humana demandam novas formas de se educar
científicos e pedagógicos para legar a ele o próprio homem.
saberes pragmáticos do cotidiano escolar. Não se configura algo original afirmar que o
Conclui-se que a função docente é carregada papel, e até mesmo o lugar, do professor na
de atividades e saberes intelectuais, educação hodierna passa por um profundo
profissionalidades e conhecimentos sem os processo de questionamento e mudança.
quais o docente não atua e não se identifica Reflexivo, competente, pesquisador, crítico,
com a maioria da população brasileira com etc. são alguns dos predicados que diversas
quem ele trabalha os trabalhadores e seus correntes da formação de professores lançam
filhos. sobre o trabalhador professor e sobre
consequentemente sua ação, seu trabalho.
A FUNÇÃO DO PROFESSOR Frente a esta gama de concepções iremos
apresentar três autores, Gramsci (2011),
As mudanças contemporâneas ensejam
Roldão (2007) e Facci (2004), que localizam não
diversas alterações nos mais diversos campos
só a educação, mas também a função deste
da economia, da política, da sociabilidade e
trabalhador doravante denominado Professor.
também da cultura humana. O campo da
Estes autores buscam em suas perspectivas
economia em especial, é grande centralizador
qualificar o trabalho deste profissional e sua
da produção de bens que garantem a
ação frente às contradições postas à docência
subsistência dos homens.
atualmente.
O modo como os homens produzem os seus
• O professor como intelectual
meios de subsistência depende, em primeiro
lugar da natureza dos próprios meios de Iniciaremos com os apontamentos
subsistência encontrados e a reproduzir. Esse realizados por Gramsci (2011), em seu 12º
caderno do cárcere, que trata, mais
modo da produção não deve ser considerado
especificamente, da história dos intelectuais e
no seu mero aspecto de reprodução da
existência física dos indivíduos. Trata-se já, isto sua concepção de escola delineando a função
sim, de uma forma determinada da atividade deste agente social chamado professor. Ao
desses indivíduos, de uma forma determinada delimitar suas reflexões sobre a escola a
de exteriorizarem a sua vida, de um educação e os intelectuais, o autor dá
significativas informações sobre o docente e
determinado modo de vida dos mesmos. Como
seu papel não só na escola, mas também na
exteriorizam a sua vida, assim os indivíduos o
sociedade.
são. Aquilo que eles são coincide, portanto,
com sua produção, como que produzem e Gramsci (2011), irá caracterizar que todos
também com o como produzem. Aquilo que os somos intelectuais, não há algum trabalhador,
indivíduos são depende, portanto, das por mais manual que seja seu trabalho, que
não seja intelectual. Porém, o autor nos alerta

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que nem todos recebemos o reconhecimento riqueza intelectual já existente, tradicional,


social e a função de sermos intelectuais. acumulada, (GRAMSCI, 2011, p.21).
A principal função dos intelectuais, em Apesar de não apresentar tal posição, é
especial os tradicionais, é dar coesão ao possível fazer um alinhamento deste
sistema simbólico de “consenso” que os grupos apontamento do autor com a função exercida
hegemônicos necessitam para permanecerem por grande parte dos docentes do nosso país,
hegemônicos, frente aos grupos não em especial os que atuam na educação básica.
hegemônicos, “Os intelectuais são os Normalmente estes atuam apenas como
“prepostos” do grupo dominante para o administradores da cultura produzida por
exercício das funções subalternas da outrem, assumindo uma posição de
hegemonia social e do governo político [...]" intelectuais de segundo escalão.
(GRAMSCI, 2011, p. 21). Gramsci (2011), ao analisar a dinâmica do
A relação entre os intelectuais e o mundo da diversos intelectuais de tipo urbano e rural, irá
produção não é imediata, como ocorre no caso localizar os professores em um grupo de
dos grupos fundamentais, mas é intelectuais que coloca a massa de
“mediatizada”, em diversos graus, por todo o trabalhadores, em especial os camponeses,
tecido social, pelo conjunto das com as mediações que produzem a hegemonia.
superestruturas, do qual os intelectuais são O autor afirma que este grupo possui um
precisamente os “funcionários”. padrão de vida médio superior, pouco acima
Ao apontar tais questões o autor irá localizar dos camponeses e são por esses trabalhadores
que a categoria de intelectuais que formam o compreendidos como possibilidade de
grupo acima descrito não é homogênea nem elevação sócio- cultural e econômica.
possuem o mesmo grau de poder dentro da Em linhas gerais e sintéticas percebemos
dinâmica da cultura e do estado. Há para o que para este autor a função de professor
autor uma divisão do trabalho intelectual que assume linhas específicas, mas também
está localizada não na característica da função, assume linhas gerais que se entrelaçam com a
se é mais ou menos intelectual, mas sim, em função da escola. Igualmente de maneira geral,
uma diferença qualitativa na dinâmica Gramsci (2011), compreende a escola como
produção e administração das atividades unitária, ou seja, que não separa a vida laboral
intelectuais. Nas palavras do autor: da ciência, nem que se dedica somente à
[...] a atividade intelectual deve ser dimensão do trabalho ou somente à dimensão
diferenciada em graus do ponto de vista do conhecimento científico. Antes tal escola se
intrínseco, graus que, nos momentos de dedicaria a uma formação global que
extrema exposição, dão lugar a uma autêntica compreenderia as atividades laborais, políticas,
diferença qualitativa: no mais alto grau, devem científicas e morais como uma unidade
ser postos os criadores das várias ciências, da formadora da vida social.
filosofia, da arte, etc.; no mais baixo, os mais Dessa maneira o autor indica que esta escola
modestos “administradores” e divulgadores da deva ensinar os alunos integralmente de dia e
de noite a vida social, que os alunos recebam a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

atenção dos professores e dos alunos mais cultura que ele representa e o tipo de
avançados, que se já responsabilidade dos mais sociedade e cultura representado pelos alunos;
velhos e do estado conformar os sujeitos, e que e é também consciente de sua tarefa, que
ainda nesta fase da escola sejam ensinados: a consiste em acelerar e disciplinar a formação
autonomia, a curiosidade científica, a criação e da criança conforme o tipo superior em luta
inovação, ou seja, a autonomia em todos os com o tipo inferior (GRAMSCI, 2011, p. 44).
campos da vida. O professor é sujeito no processo de ensino
Compreendendo tais aspectos, podemos e aprendizagem responsável por acelerar, por
afirmar que para este autor o professor frente sua mediação didático-pedagógica, a
à aprendizagem “exerce apenas uma função de aprendizagem dos alunos, porém, esta
guia amigável (GRAMSCI, 2011, p.40)”. Não aceleração se dá com base nos conhecimentos
porque Gramsci compreende o trabalho do historicamente produzidos em um estreito
professor como esvaziado ou com sentido de nexo com a vida social, revelando os nexos
animação dos alunos, mas porque o autor constitutivos da vida promovendo no aluno
compreende que a autonomia dos alunos deve uma aprendizagem que leve à autonomia.
ser construída de modo que envolva os Tal concepção de função docente e de
discentes com interesse e autonomia nas formação dos alunos é imprescindível na
atividades de formação. formação de novos intelectuais, especialmente
Sendo assim para este autor o professor é os que organicamente estão comprometidos
responsável por conduzir, daí a ideia de guia, e com uma contra hegemonia em direção a uma
a construir as possibilidades dos alunos se hegemonia das classes subalternas.
apropriarem dos conhecimentos da vida social, O modo de ser do novo intelectual não pode
que envolvem não só conhecimentos mais consistir na eloquência, motor exterior e
científicos, mas, que toma estes como base momentâneo dos afetos e das paixões, mas
para construir os conhecimentos laborais, numa inserção ativa na vida prática, como
morais e políticos. À semelhança desta ideia, construtor, organizador, “persuasor
Gramsci irá afirmar que o corpo docente deve permanente”, já que não apenas orador puro –
ser uma vanguarda no sentido de desenvolver mas superior ao espírito matemático abstrato;
esse modelo de educação completa e da técnica-trabalho, chega à técnica-ciência e à
complexa, articulando a instrução concepção humanista histórica, sem a qual
(conhecimentos científicos historicamente permanece “especialista” e não se torna
produzidos) e a própria vida. “dirigente” (especialista+político) (GRAMSCI,
Em síntese utilizaremos as palavras do autor 2011, p.53).
para apontar a função docente: Finalizamos nossas interpretações da função
Por isso, pode-se dizer que, na escola, o nexo docente em Gramsci apontando uma fala do
instrução-educação somente pode ser autor que expressa a necessidade imperativa
representado pelo trabalho vivo do professor, da identidade de professores com a classe
na medida em que o professor é consciente dos trabalhadora:
contrastes entre o tipo de sociedade e de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• O Professor como profissional (2007). A função docente demonstra dessa


Partimos então para as reflexões da maneira que esteve historicamente imbricada
nossa segunda autora, Maria do Céu Roldão com o conhecimento e a relação que o
(2007), em seu texto, Função Docente: professor estabelece com ele frente aos
natureza e construção do conhecimento alunos.
profissional. Neste a autora apresenta sua Estas mudanças paradigmáticas têm
posição sobre a função docente localizando-a ensejado diversas investigações sobre a função
historicamente na tensão entre práticas que e conhecimento docente. Tais investigações
conformaram não só o fazer docente, mas centram-se hora no conhecimento que os
também o papel que o professor deveria professores dever ter para atuar, hora nos
desempenhar na sociedade. Tal papel é conhecimentos que eles têm ao atuar. Em meio
centrado em uma ação que parece inequívoca, a um denso debate com tais autores sobre o
porém, que carrega uma série de obscuridades conhecimento do professor, o lugar deste na
e concepções muitas vezes turvas, esta ação é função docente e a condição de
a ação de ensinar. Este possivelmente seja o profissionalidade docente, a autora sintetiza
ponto fulcral de grande parte das perspectivas desta maneira o que é o professor e sua
de ensino frente à função do professor. função:
A função docente por mais que possa O professor profissional – como o médico ou
parecer óbvia, carrega em si ambivalências e o engenheiro nos seus campos específicos – é
dualidades próprias da condição dialética e aquele que ensina não apenas porque sabe,
dinâmica da história. Neste movimento, mas porque sabe ensinar. E saber ensinar é ser
ensinar pode ser concebido como transferir um especialista essa complexa capacidade de
saber a alguém, ou “fazer com que outros se mediar e transformar o saber conteudinal (isto
apropriem de um saber”, Roldão (2007). Esta é, que se pretende ver adquirido, nas suas
mesma autora aponta, que tais concepções de múltiplas variantes) – seja qual for a sua
ensino, transmissivo e ensino ativo, precisam natureza ou nível – curricular pela
ser compreendidas em seu contexto sócio incorporação dos processos de aceder a, e usar
histórico afim de que possamos identificar o conhecimento, pelo ajuste ao conhecimento
quais as demandas sócio históricas atuais que do sujeito e do seu contexto, para adequar-lhe
delineiam a função docente. os procedimentos, de modo que a alquimia da
O ensino transmissivo, muito comum nos apropriação ocorra no aprendente – processo
tempos de institucionalização e universalização mediado por um sólido saber científico em
da escola, perde espaço a partir do momento todos os campos envolvidos e um domínio
em que diversos meios ampliam o acesso à técnico-didáctico rigoroso do professor,
informação. Tal movimento obriga o informado por uma contínua postura meta-
deslocamento da função de transmissão de um analítica, de questionamento intelectual da sua
conhecimento, um saber, para a ação de dupla acção, de interpretação permanente e
transitividade e de mediação, ou seja, fazer realimentação contínua (ROLDÃO, 2007,
aprender alguma coisa a alguém, Roldão p.101).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A função docente desta maneira é de forma Em um cuidadoso percurso Facci (2004),


criativa e transformadora possibilitar o ensino aponta que os seres humanos possui uma
e a aprendizagem ancorada em saberes sólidos natureza biológica que os informa suas
e científicos, que serão mediados e características de espécie, tal natureza é dada
transformados pelo professor visando à pelas informações contidas e transmitidas
aprendizagem do aluno, contando, como a geneticamente. A autora afirma que tais
autora aponta, com um sólido domínio de informações não são capazes de produzir no
saberes científicos e técnico-didáticos homem a sua humanidade. Tal processo de
resignificados por uma postura analítica de transformação seria possível pelo acúmulo de
questionamento sobre inclusive a própria técnicas, instrumentos e símbolos que o
prática. homem obteve na transformação da natureza
• O professor como detentor de um em benefício próprio. É pelo trabalho, ação de
conhecimento e sujeito no processo de ensino transformar a natureza em benefício da sua
Nosso terceiro apontamento sobre a função existência, que o homem produz sua
do professor é proveniente de Marilda humanidade. Esta categoria ontológica e
Gonçalves Dias Facci, em seu livro Valorização atividade fundante do homem produz uma
ou esvaziamento do trabalho do professor, em série de instrumentos, e signos que passam a
que a autora irá apresentar como concepções regular as relações dos homens, já não mais
do professor reflexivo e construtivistas naturais, agora mediadas pela organização
esvaziaram o professor de sua função. social.
Para tanto a autora irá buscar nos Facci (2004), irá apontar que o acúmulo de
apontamentos de Vygotsky e seus técnicas, instrumentos e signos são uma
colaboradores, a relação existente entre herança cultural que os homens constroem por
professor e alunos na formação da meio do trabalho. É pela apropriação desta
aprendizagem humana. cultura que é possível que a humanidade seja
Fazendo um apanhado geral sobre a teoria completada em cada indivíduo.
de Vygotsky, partindo da construção Dessa maneira a autora compreende
sociocultural das funções psicológicas apoiada em Leontiev, que a capacidade mais
superiores, construção esta fruto do trabalho elevada de pensamento e consciência (Funções
humano, passando pelo núcleo do pensamento Psicológicas Superiores) se dá pela apropriação
abstrato e da capacidade mais apurada do dos bens culturais e materiais produzidos pela
pensamento humano que é a operação de humanidade. Tais apropriações modificam a
conceitos, até chegar ao papel da escola e do forma de estruturação psíquica dos homens e
professor na produção da humanidade nos permitem outro nível de desenvolvimento do
sujeitos, a autora constrói um sólido caminho psiquismo humano.
apontando a real necessidade do sujeito Facci (2004), irá afirmar que as funções
professor no processo de ensino- psicológicas superiores são possíveis pela
aprendizagem. utilização de mediadores,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A forma como o homem foi interagindo na psicológicas destes, levando-os a fazer


sociedade e com a natureza conduziu a correlações com os conhecimentos já
necessidade de criar mediadores - os adquiridos, e também promovendo a
instrumentos e os signos -, cuja utilização necessidade de apropriação permanente de
caracteriza o funcionamento dos processos conhecimentos cada vez mais desenvolvidos e
psicológicos superiores. Por meio da mediação ricos (FACCI, 2004, p.210).
é que estas funções se desenvolvem (p.204). Não como um elemento secundário na
Não entraremos em toda caracterização que aprendizagem dos alunos, na construção de
a autora faz das funções psicológicas sua humanização, sob esta perspectiva o
superiores, cabe-nos compreender que a professor ganha significativa importância no
formação de tais funções é produto de ações processo de ensino-aprendizagem.
socioculturais e históricas dos homens. Compreendido aqui como um sujeito detentor
Assim, Facci (2004), irá defender a ideia de de um conhecimento, não só específico de uma
que a formação de funções psicológicas disciplina científica, mas também conhecedor
superiores, por exemplo, em uma criança, só é dos processos de construção das funções
possível com a intervenção de um sujeito que psicológicas superiores, da humanidade nos
possua maior conhecimento sobre um sujeitos o professor deve ser o adulto da
determinado assunto do que a própria criança, relação com o aluno.
na maioria dos casos um adulto. A autora Motivador da aprendizagem, não pela
compreende a escola como um lugar de animação, mas pela identificação das zonas de
contradições, mas que também é um espaço desenvolvimento atual e próximo do aluno, o
privilegiado para a organização do professor deve construir os caminhos para a
conhecimento e de sua apropriação, por meio elevação do desenvolvimento dos alunos,
da relação entre ensino-aprendizagem. enriquecendo-os com conhecimentos mais
Como síntese desse processo a autora elevados que sejam capazes de coloca-los em
afirma que: um novo patamar de humanização. Processo
O professor domina determinados este que deve ser ancorado no mais alto nível
conhecimentos que o aluno não tem e deve de conhecimento produzido pela humanidade.
transmiti-los aos estudantes; ele deve ter
autoridade profissional e produzir, de forma
deliberada, a aprendizagem como resultado do
ensino (FACCI, 2004, p.243).
Nesse sentido a autora afirma que o
professor assume função significativa no
processo de humanização dos sujeitos. Para a
autora,
O professor, neste aspecto constitui como
mediador entre os conhecimentos científicos e
os alunos, fazendo movimentar as funções

131
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como podemos perceber o professor, sua função e características na sociedade manifesta
uma dinâmica contraditória em que determinados momentos ela é caracterizado como agente
das transformações e em determinados momentos apenas um espectador de luxo.
Compreendemos que a ação do professor no processo educacional, com maior ou menor
protagonismo, é fruto das dinâmicas contraditórias de classe e da busca por uma hegemonia. Tais
contradições ganham tamanho corpo que em alguns momentos convence até mesmo os
professores a em determinados momentos assumirem uma postura subalterna.
É necessário perceber que os professores constituem uma categoria de intelectuais que
não é completamente homogênea. Percebemos o movimento de professores que estão em um
nível mais elevado no processo educacional, pensando e dirigindo as ações e em contrapartida
um número muito maior do que os primeiros executando e administrando os conhecimentos
organizados pelos primeiros.
O professor, em especial deve estar para além das concepções que esvaziam sua ação. O
professor como intelectual deve comprometer-se com a humanização dos homens por meio da
apropriação dos conhecimentos mais ricos e desenvolvidos que historicamente formam
produzidos pela humanidade.
Para que o movimento acima seja possível de maneira plena é necessário que o professor
seja reconhecido como um intelectual que se articule organicamente com sua classe. É também
necessário que ele seja dotado de um conhecimento refinado, não só da especificidade da
disciplina que ele escolheu para ensinar, mas também, possua um domínio técnico-didático
rigoroso, com uma postura meta-analítica que articule os saberes que possui com saberes amplos
sobre a ação docente e o lugar da educação na sociedade contemporânea, e que seja alimentado
e realimentado de um questionamento intelectual da sua ação, de interpretação permanente.
Assim, o professor é um intelectual que possui um conhecimento compósito e
heterogêneo, que deve estar comprometido com o desenvolvimento dos alunos em direção à
riqueza humana produzida historicamente de modo a desenvolver as funções psicológicas
superiores dos sujeitos.

132
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
FACCI, M. G. D. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor?: um estudo crítico
comparativo da teoria do professor reflexivo, do construtivismo e da psicologia vygotskiana.
Campinas: Autores Associados, 2004.

GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. vol. 2. 6. edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,


2011.

MARX, K. e ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Expressão Popular, 2009.

ROLDÃO, M. C. Função Docente: natureza e construção do conhecimento profissional. Revista


Brasileira de Educação, v.12, n.34, jan./abr. 2007.

133
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A HISTÓRIA DA ARTE NO MUNDO


Maria Silvana Vilas Boas Costa1

RESUMO: O presente artigo tem como tema a história da arte no mundo. O método adotado na
formulação deste trabalho, encontra-se em concordância com a proposta de estudo, a qual
encontra-se adequada por meio dos objetivos a serem alcançados. O desenvolvimento da ciência
tem como base o alcance de resultados que permite validar hipóteses sobre determinado
acontecimento ou fato, presente na sociedade ou não Assim, o objetivo geral deste trabalho
buscará apresentar a história da arte e sua influência no mundo. Os objetivos específicos
buscarão apresentar o surgimento da arte, destacar a história da arte moderna ao longo dos
anos e períodos marcantes da humanidade e também apresentar a influência exercida pela arte
na sociedade. Por fim, o presente trabalho deixa o tema em aberto, propondo que no futuro se
realize uma nova pesquisa, com a finalidade de contextualizar os temas aqui abordados.
Juntamente com esta nova pesquisa, sugere-se a realização de um estudo de caso, para o qual
propõe-se uma análise entre os tipos de arte e seu atual impacto social.

Palavras-Chave: Arte; Cultura; Arte moderna.

1Professora na Rede Municipal e Estadual de Educação.


Graduação: Licenciatura em Letras; Especialização em Educação Especial e Inclusão; Especialização em AEE e
Sala de Recursos Multifuncionais.

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THE HISTORY OF ART IN THE WORLD


ABSTRACT: This article has as its theme the history of art in the world. The method adopted in
the formulation of this work is in accordance with the study proposal, which is adequate through
the objectives to be achieved. The development of science is based on the achievement of results
that allows validating hypotheses about a certain event or fact, present in society or not. Thus,
the general objective of this work will seek to present the history of art and its influence in the
world. The specific objectives will seek to present the emergence of art, highlight the history of
modern art over the years and remarkable periods of humanity and also present the influence
exerted by art on society. Finally, the present work leaves the topic open, proposing that in the
future a new research is carried out, with the purpose of contextualizing the topics discussed
here. Along with this new research, it is suggested to carry out a case study, for which an analysis
between the types of art and its current social impact is proposed.

Keywords: Art; Culture; Modern Art.

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INTRODUÇÃO Jackson Pollock. ” Embora a arte


representacional ainda exista hoje, ela não é
A definição de arte é debatida há séculos mais a única medida de valor (CANÁRIO, 2006).
entre os filósofos. ”O que é arte?” é a questão A expressão tornou-se importante durante o
mais básica da filosofia da estética, que movimento romântico, com obras expressando
realmente significa: "Como determinamos o um sentimento definido, como no sublime ou
que é definido como arte?" Isso implica dois dramático. A resposta do público foi
subtextos: a natureza essencial da arte e sua importante, pois a obra de arte pretendia
importância social (ou falta dela). A definição evocar uma resposta emocional. Essa definição
de arte geralmente cai em três categorias: é verdadeira hoje, pois os artistas procuram se
representação, expressão e forma conectar e evocar respostas de seus
(CAUQUELIN, 2005). espectadores (SYLVESTER, 2006).
O termo "arte" está relacionado à palavra Immanuel Kant (1724-1804), foi um dos mais
latina "ars" que significa arte, habilidade ou influentes dos primeiros teóricos no final do
artesanato. O primeiro uso conhecido da século XVIII. Ele acreditava que a arte não
palavra vem de manuscritos do século XIII. No deveria ter um conceito, mas deveria ser
entanto, a palavra arte e suas muitas variantes julgada apenas por suas qualidades formais,
(artem, eart etc.) provavelmente existiram porque o conteúdo de uma obra de arte não é
desde a fundação de Roma (SYLVESTER, 2006). de interesse estético. As qualidades formais se
Platão primeiro desenvolveu a ideia de arte tornaram particularmente importantes
como "mimese", que, em grego, significa cópia quando a arte se tornou mais abstrata no
ou imitação. Por essa razão, o significado século 20, e os princípios da arte e do design
primário da arte foi, durante séculos, definido (equilíbrio, ritmo, harmonia, unidade) foram
como a representação ou replicação de algo usados para definir e avaliar a arte (SYLVESTER,
que é belo ou significativo. Até 2006).
aproximadamente o final do século XVIII, uma Já a arte moderna é a resposta do mundo
obra de arte era avaliada com base na criativo às práticas e perspectivas racionalistas
fidelidade com que replicava seu assunto das novas vidas e ideias fornecidas pelos
(HOLM, 2005). avanços tecnológicos da era industrial que
Essa definição de "boa arte" teve um fizeram com que a sociedade contemporânea
impacto profundo nos artistas modernos e se manifestasse de novas maneiras em
contemporâneos; como escreve Gordon comparação com o passado (CANÁRIO, 2006).
Graham: “Isso leva as pessoas a valorizarem Os artistas trabalharam para representar sua
retratos muito realistas, como os dos grandes experiência da novidade da vida moderna de
mestres - Michelangelo, Rubens, Velásquez maneiras apropriadamente inovadoras.
etc. - e a levantar questões sobre o valor da Embora a arte moderna como termo se aplique
arte 'moderna'. distorções cubistas de Picasso, a um grande número de gêneros artísticos que
as figuras surrealistas de Jan Miro, os resumos abrangem mais de um século, esteticamente
de Kandinsky ou as pinturas de 'ação' de falando, a arte moderna é caracterizada pela

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intenção do artista de retratar um assunto A metodologia que foi adotada na


como ele existe no mundo, de acordo com sua formulação do trabalho foi baseada em
perspectiva única. É tipificado por uma rejeição pesquisas bibliográficas, por meio de consultas
de estilos e valores aceitos ou tradicionais a livros, revistas, pesquisa de manuais,
(SYLVESTER, 2006). tratados, artigos publicados na internet. A
Dentro deste assunto, o presente trabalho pesquisa bibliográfica procura explicar e
buscará responder a arte e sua evolução discutir um tema com base em referências
influenciam a construção da sociedade? teóricas publicadas em livros, revistas,
Assim, o objetivo geral deste trabalho periódicos e outros. Busca também, conhecer
buscará apresentar a história da arte e sua e analisar conteúdos científicos sobre
influência no mundo. Os objetivos específicos determinado tema.
buscarão apresentar o surgimento da arte, Para o estudo, foram aplicados os critérios
destacar a história da arte moderna ao longo de citações, pesquisas relacionadas ao tema,
dos anos e períodos marcantes da humanidade artigos que apresentam o tema em questão,
e também apresentar a influência exercida pela artigos que não apresentam o tema, teses,
arte na sociedade. dissertações além de textos, artigos e citações
Justifica-se a presente pesquisa como um traduzidas.
meio de contribuir para o ambiente acadêmico,
contextualizando e enriquecendo a temática COLETA DE DADOS
referente a história da arte no mundo no
A coleta de dados foi desenvolvida seguindo
mundo atual. Justifica-se também está
as seguintes premissas: Leitura exploratória de
pesquisa, como um meio de simplificar tal
todo o material selecionado, seja leitura
temática em seu ambiente social, buscando
objetiva ou uma leitura rápida, a fim de se
apresentar um material conciso e de fácil
verificar se a obra, documento e material
assimilação por leitores leigos que buscam um
complementar é de interesse para a presente
conhecimento mais profundo no tema.
pesquisa.
Além deste modelo de leitura, foi adotado o
METODOLOGIA modelo de leitura seletiva o qual consiste em
O método adotado na formulação da uma leitura com uma maior profundidade,
presente pesquisa, encontra-se em buscando o material consistente para o
concordância com a proposta de estudo, a qual trabalho. Por fim, foi realizado o registro das
está adequada por meio dos objetivos a serem informações extraídas das fontes, sendo
alcançados. A pesquisa é de fundamental especificadas no trabalho, com nome e ano de
importância para a evolução dos publicação.
conhecimentos em determinado campo de
estudo, ou seja, por meio da pesquisa pode-se
ampliar os horizontes de conhecimento sobre
determinado tema.

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ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE de boneca da fertilidade. A visão de longa data


de que o comportamento humano moderno,
RESULTADOS incluindo a arte, só começou quando o Homo
Nesta última etapa, foi realizada uma leitura sapiens migrou da África para a Europa cerca
analítica de todo o material, tendo por de 45.000 anos antes do presente é baseada na
finalidade a ciência de ordená-lo e sumariar as ideia de que houve uma rápida mudança
informações pesquisadas e elaboradas. Neste evolutiva no cérebro humano e, portanto,
processo, foram consideradas as informações cognição neste momento, que é conhecida
que possibilitassem obter a resposta do como a 'Revolução Paleolítica Superior'
problema de pesquisa, por meio dos objetivos (CAUQUELIN, 2005).
gerais e específicos.
ARTE PRÉ-HISTÓRICA (40.000–
SURGIMENTO DA ARTE
A arte, em suas várias formas, é praticada
4.000 AC)
As origens da história da arte podem ser
por quase todas as culturas humanas e pode
rastreadas até a era pré-histórica, antes que os
ser considerada uma das características
registros escritos fossem mantidos. Os
definidoras da espécie humana. Em todas as
artefatos mais antigos vêm do Paleolítico, ou
sociedades de hoje, as artes visuais estão
Idade da Pedra Antiga, na forma de entalhes,
intimamente ligadas à música, dança, ritual
gravuras, imagens pictóricas, esculturas e
(marcando marcos da vida, morte, religião e
arranjos de pedra. A arte desse período
política) e linguagem (poesia, música e
dependia do uso de pigmentos naturais e
contação de histórias). Vocalização,
esculturas em pedra para criar representações
movimento ritualizado e exibição visual fazem
de objetos, animais e rituais que governavam a
parte do namoro animal e da competição de
existência de uma civilização. Um dos
dominação, bem como do ritual e da
exemplos mais famosos é o das pinturas
comunicação humanos, portanto, é provável
rupestres do Paleolítico encontradas nas
que as raízes da música, dança e decoração
cavernas complexas de Lascaux, na França.
corporal estejam profundamente enraizadas
Embora descobertos em 1940, estima-se que
na história evolutiva do reino animal. No
tenham até 20.000 anos de idade e
entanto, com a evolução da cognição humana,
representam animais de grande porte e a
eles foram implantados de novas maneiras,
vegetação da área (NEUWBERY, 2005).
com um significado simbólico complexo sendo
anexado a eles (ARGAN, 2001).
Muito já foi escrito sobre a origem ou ARTE ANTIGA (4.000 AC-400
'nascimento' da arte. A maioria desses artigos DC)
e livros estão principalmente ou inteiramente
A arte antiga foi produzida por civilizações
preocupados com a arte das cavernas
avançadas, o que neste caso se refere àquelas
europeias do Paleolítico Superior e artefatos
com uma linguagem escrita estabelecida. Essas
3D, como as estatuetas de 'Vênus' em formato
civilizações incluíam a Mesopotâmia, Egito ,

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Grécia e as das Américas. O meio de uma obra parisiense e exemplo proeminente da


de arte desse período varia dependendo da arquitetura gótica (BARROS, 2003).
civilização que a produziu, mas a maioria da
arte servia a propósitos semelhantes: contar ARTE DA RENASCENÇA
histórias, decorar objetos utilitários como
tigelas e armas, exibir imagens religiosas e (1400-1600)
simbólicas e demonstrar status social. Muitas Este estilo de pintura, escultura e arte
obras retratam histórias de governantes, decorativa foi caracterizado por um foco na
deuses e deusas. Uma das obras mais famosas natureza e no individualismo , o pensamento
da antiga Mesopotâmia é o Código de do homem como independente e
Hamurabi . Criada por volta de 1792 a.C., a autossuficiente. Embora esses ideais
peça traz um conjunto de leis babilônicas estivessem presentes no final do período
esculpidas em pedra, adornadas por uma medieval, eles floresceram nos séculos 15 e 16,
imagem do rei Hammurabi - o sexto rei da paralelamente a mudanças sociais e
Babilônia - e do deus mesopotâmico Shabash econômicas como a secularização (MAMMÌ,
(ARGAN, 2001). 2012).
A Renascença atingiu seu apogeu em
Florença, Itália, em grande parte devido aos
ARTE MEDIEVAL (500–1400) Medici, uma rica família de comerciantes que
A Idade Média, muitas vezes referida como
apoiava inflexivelmente as artes e o
a "Idade das Trevas", marcou um período de
humanismo , uma variedade de crenças e
deterioração econômica e cultural após a
filosofias que enfatizam o reino humano. O
queda do Império Romano em 476 DC. Muitas
designer italiano Filippo Brunelleschi e o
das obras de arte produzidas nos primeiros
escultor Donatello foram os principais
anos do período refletem essa escuridão,
inovadores durante esse período (NEUWBERY,
caracterizada por imagens grotescas e cenários
2005).
brutais. A arte produzida nessa época era
A Alta Renascença, que durou de 1490 a
centrada na Igreja. Com o passar do primeiro
1527, produziu artistas influentes como Da
milênio, surgiram igrejas mais sofisticadas e
Vinci, Michelangelo e Rafael, cada um dos quais
elaboradamente decoradas; janelas e silhuetas
trouxe poder criativo e ideais de expressão
foram adornadas com temas bíblicos e cenas
emocional. A arte em toda a Renascença foi
da mitologia clássica (BENJAMIN, 2012).
caracterizada pelo realismo, atenção aos
Este período também foi responsável pelo
detalhes e estudo preciso da anatomia
surgimento do manuscrito iluminado e do
humana. Os artistas usaram perspectiva linear
estilo de arquitetura gótica . Os exemplos
e criaram profundidade por meio de
definitivos de arte influente desse período
iluminação e sombras intensas. A arte
incluem as catacumbas em Roma, Hagia Sophia
começou a mudar estilisticamente logo após o
em Istambul, os Evangelhos de Lindisfarne , um
Alto Renascimento, quando os choques entre a
dos exemplos mais conhecidos do manuscrito
iluminado, e Notre Dame, uma catedral

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fé cristã e o humanismo deram lugar ao combinadas com paletas de cores ricas (RUPP,
maneirismo (ARGAN, 2001). 2010).

MANEIRISMO (1527-1580) ROCOCÓ (1699-1780)


Os artistas maneiristas surgiram dos ideais Rococó se originou em Paris, abrangendo
de Michelangelo, Rafael e outros artistas da arte decorativa, pintura, arquitetura e
Renascença tardia, mas seu foco no estilo e na escultura. A estética ofereceu um estilo mais
técnica superou o significado do assunto. suave de arte decorativa em comparação com
Frequentemente, as figuras tinham membros a exuberância do Barroco. O Rococó é
alongados e graciosos, cabeças pequenas, caracterizado pela leveza e elegância, com foco
feições estilizadas e detalhes exagerados. Isso no uso de formas naturais, design assimétrico
gerou composições mais complexas e e cores sutis (MAMMÌ, 2012).
estilizadas, em vez de depender dos ideais Pintores como Antoine Watteau e François
clássicos de composição harmoniosa e Boucher usaram tratamentos leves, pinceladas
perspectiva linear usados por seus ricas e cores frescas. O estilo rococó também
predecessores renascentistas (SILVA, 2006). se traduziu facilmente em prata, porcelana e
Alguns dos artistas maneiristas mais móveis franceses . Muitas cadeiras e armários
famosos incluem Giorgio Vasari , Francesco apresentavam formas curvas, desenhos florais
Salviati, Domenico Beccafumi e Bronzino, que e um uso expressivo de dourado (RUPP, 2010).
é amplamente considerado o pintor maneirista
mais importante de Florença durante sua NEOCLASSICISMO (1750-1850)
época (MAMMÌ, 2012).
Como o próprio nome sugere, o período
neoclássico baseou-se em elementos da
BARROCO (1600-1750) antiguidade clássica. Ruínas arqueológicas de
O período barroco que se seguiu ao antigas civilizações em Atenas e Nápoles que
maneirismo produziu artes visuais e foram descobertas na época reacenderam a
arquitetura ornamentadas e exageradas. Foi paixão por todas as coisas do passado, e os
caracterizado pela grandeza e riqueza, artistas se esforçaram para recriar as grandes
pontuado por um interesse em ampliar o obras da arte antiga. Isso se traduziu em um
intelecto humano e descoberta global. Os interesse renovado pelos ideais clássicos de
artistas barrocos eram estilisticamente harmonia, simplicidade e proporção
complexos (BENJAMIN, 2012). (CAUQUELIN, 2005).
As pinturas barrocas eram caracterizadas Os artistas neoclássicos foram influenciados
pelo drama, como pode ser visto nas obras por elementos clássicos; em particular, um
icônicas do pintor italiano Caravaggio e do foco no idealismo. Inevitavelmente, eles
pintor holandês Rembrandt . Os pintores também incluíram representações modernas e
usaram um contraste intenso entre claro e historicamente relevantes em suas obras. Por
escuro e tinham composições enérgicas exemplo, o escultor italiano Antonio Canova

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utilizou elementos clássicos em suas esculturas novo interesse em capturar com precisão a
de mármore, mas evitou a artificialidade fria vida cotidiana. Essa atenção à precisão é
que era representada em muitas dessas evidente na arte produzida durante o
primeiras criações (ARGAN, 2001). movimento, que apresentava representações
detalhadas e realistas do assunto. Um dos
ROMANTISMO (1780-1850) líderes mais influentes do movimento realista é
Gustave Courbet , um artista francês
O romantismo incorpora uma ampla gama
comprometido em pintar apenas o que
de disciplinas, da pintura à música e literatura.
pudesse ver fisicamente (SILVA, 2006).
Os ideais presentes em cada uma dessas
formas de arte rejeitam a ordem, a harmonia e
a racionalidade, que eram adotadas tanto na ART NOUVEAU (1890–1910)
arte clássica quanto no neoclassicismo. Em vez Art Nouveau , que se traduz como “Nova
disso, os artistas românticos enfatizaram o Arte”, tentou criar um movimento
individual e a imaginação. Outro ideal inteiramente autêntico, livre de qualquer
romântico definidor era a apreciação da imitação de estilos que o precedeu. Este
natureza, com muitos se voltando para a movimento influenciou fortemente as artes
pintura ao ar livre, que tirou os artistas de aplicadas, gráficos e ilustração. Concentrou-se
interiores escuros e permitiu que pintassem do no mundo natural, caracterizado por linhas e
lado de fora. Os artistas também se curvas longas e sinuosas (HOLM, 2005).
concentraram na paixão, emoção e sensação Artistas influentes da Art Nouveau
acima do intelecto e da razão (NEUWBERY, trabalharam em uma variedade de mídias,
2005). incluindo arquitetura, design gráfico e de
Pintores românticos proeminentes incluem interiores, joalheria e pintura. O designer
Henry Fuseli, que criou pinturas estranhas e gráfico tchecoslovaco Alphonse Mucha é mais
macabras que exploraram os recessos conhecido por seus pôsteres teatrais da atriz
sombrios da psicologia humana, e William francesa Sarah Bernhardt. O arquiteto e
Blake , cujos misteriosos poemas e imagens escultor espanhol Antoni Gaudi foi além do
transmitiam visões místicas e seu foco em linhas para criar construções curvas e
desapontamento com as restrições sociais coloridas como a da Basílica da Sagrada Família
(STANGOS, 2000). em Barcelona (CAUQUELIN, 2005).

REALISMO (1848-1900) IMPRESSIONISMO (1865-1885)


Sem dúvida, o primeiro movimento de arte Os pintores impressionistas procuraram
moderna, o realismo, começou na França na capturar a impressão imediata de um
década de 1840. O realismo foi resultado de determinado momento. Isso era caracterizado
vários eventos: o movimento anti-romântico por pinceladas curtas e rápidas e uma sensação
na Alemanha, a ascensão do jornalismo e o de esboço inacabado. Artistas impressionistas
advento da fotografia. Cada um inspirou um usaram a vida moderna como tema, pintando

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situações como salões de dança e regatas em caracterizado pelo uso expressivo de cores
veleiros, em vez de eventos históricos e intensas, linhas e pinceladas, um senso ousado
mitológicos (ARGAN, 2001). de design de superfície e composição plana
Claude Monet, um artista francês que (MAMMÌ, 2012).
liderou a ideia de expressar as percepções de Como visto em muitas das obras do próprio
alguém diante da natureza, é virtualmente Matisse, a separação da cor de seu propósito
sinônimo do movimento impressionista. Suas descritivo e representacional foi um dos
obras notáveis incluem The Water Lily Pond elementos centrais que moldaram esse
(1899), Woman with a Parasol (1875) e movimento. O fauvismo foi um importante
Impression, Sunrise (1872), de onde deriva o precursor do cubismo e do expressionismo
nome do próprio movimento. (NEUWBERY, 2005).

PÓS-IMPRESSIONISMO EXPRESSIONISMO (1905-1920)


(1885-1910) O expressionismo surgiu como uma resposta
a visões de mundo cada vez mais conflitantes e
Os pintores pós-impressionistas
à perda de espiritualidade. A arte
trabalharam de forma independente, e não
expressionista procurou desenhar dentro do
como um grupo, mas cada pintor pós-
artista, usando uma distorção da forma e cores
impressionista influente tinha ideais
fortes para exibir ansiedades e emoções cruas.
semelhantes. Eles se concentraram em visões
Os pintores expressionistas, em busca de
subjetivas e significados pessoais simbólicos,
autenticidade, buscaram inspiração além da
ao invés de observações do mundo exterior.
arte ocidental e frequentaram museus
Isso costumava ser alcançado por meio de
etnográficos para revisitar as tradições
formas abstratas (BARROS, 2003).
folclóricas nativas e a arte tribal (SILVA, 2006).
Pintores pós-impressionistas incluem
As raízes do expressionismo podem ser
Georges Seurat, conhecido por sua técnica de
encontradas em Vincent van Gogh, Edvard
pontilhismo que usava pequenos pontos
Munch e James Ensor . Grupos proeminentes,
distintos para formar uma imagem. Vincent
incluindo Die Brücke (The Bridge) e Der Blaue
van Gogh também é considerado um pintor
Reiter (The Blue Rider), foram formados para
pós-impressionista, em busca de expressão
que os artistas pudessem publicar obras e
pessoal por meio de sua arte, muitas vezes por
expressar seus ideais coletivamente
meio de pinceladas ásperas e tons escuros
(STANGOS, 2000).
(BENJAMIN, 2012).

FAUVISMO (1900–1935) CUBISMO (1907-1914)


O cubismo foi estabelecido por Pablo Picasso
Liderado por Henri Matisse , o fauvismo se
e Georges Braque , que rejeitaram o conceito
baseou em exemplos de Vincent van Gogh e
de que a arte deveria copiar a natureza. Eles se
George Seurat. Como o primeiro movimento
afastaram das técnicas e perspectivas
de vanguarda do século 20, esse estilo foi

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tradicionais; em vez disso, eles criaram objetos espontaneidade e a improvisação para criar
radicalmente fragmentados por meio da obras de arte abstratas. Isso incluía obras em
abstração . Muitas obras dos pintores cubistas escala colossal cujo tamanho não podia mais
são marcadas por superfícies planas e ser acomodado por um cavalete. Em vez disso,
bidimensionais, formas geométricas ou as telas seriam colocadas diretamente no chão
“cubos” de objetos e vários pontos de (BENJAMIN, 2012).
observação. Frequentemente, seus assuntos Os célebres pintores expressionistas
nem eram discerníveis (BARROS, 2003). abstratos incluem Jackson Pollock , conhecido
por seu estilo único de pintura gota a gota, e
SURREALISMO (1916-1950) Mark Rothko , cujas pinturas empregam
grandes blocos de cor para transmitir um senso
O surrealismo emergiu do movimento de
de espiritualidade (NEUWBERY, 2005).
arte Dada em 1916, exibindo obras de arte que
desafiavam a razão. Os surrealistas
denunciaram a mentalidade racionalista. Eles OP ART
atribuíram a culpa desse processo de (DÉCADA DE 1950 A 1960)
pensamento a eventos como a Primeira Guerra
Aumentado por avanços na ciência e
Mundial e acreditaram que ele reprimia os
tecnologia, bem como um interesse em efeitos
pensamentos imaginativos. Os surrealistas
ópticos e ilusões, o movimento Op art
foram influenciados por Karl Marx e teorias
(abreviação de arte “óptica”) foi lançado com
desenvolvidas por Sigmund Freud, que
Le Mouvement , uma exposição coletiva na
explorou a psicanálise e o poder da imaginação
Galerie Denise Rene em 1955. Artistas ativos
(HOLM, 2005).
neste estilo usou formas, cores e padrões para
Artistas surrealistas influentes como
criar imagens que pareciam estar em
Salvador Dalí usaram a mente inconsciente
movimento ou desfocadas, geralmente
para retratar revelações encontradas na rua e
produzidas em preto e branco para o contraste
na vida cotidiana. As pinturas de Dalí, em
máximo. Esses padrões abstratos pretendiam
particular, combinam sonhos vívidos e bizarros
confundir e excitar os olhos (SILVA, 2006).
com precisão histórica (CAUQUELIN, 2005).
A artista inglesa Bridget Riley é uma das mais
proeminentes praticantes da Op Art. Seu
EXPRESSIONISMO ABSTRATO trabalho artístico de 1964, Blaze, apresenta
(1940-1950) linhas em zigue-zague em preto e branco que
criam a ilusão de um decote circular
Moldado pelo legado do Surrealismo, o
(CAUQUELIN, 2005).
Expressionismo Abstrato surgiu em Nova York
após a Segunda Guerra Mundial. Muitas vezes
é chamada de Escola de Nova York ou pintura
de ação . Esses pintores e escultores abstratos
romperam com o que era considerado
convencional e, em vez disso, usaram a

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POP ART necessidades da vida: abrigo, calor e comida


(MAMMÌ, 2012).
(DÉCADA DE 1950 A 1960)
A pop art é um dos desenvolvimentos
artísticos mais reconhecidos do século XX. O
MINIMALISMO
movimento se afastou dos métodos usados no (ANOS 1960-1970)
expressionismo abstrato e, em vez disso, usou O movimento minimalista surgiu em Nova
objetos cotidianos e mundanos para criar obras York quando um grupo de jovens artistas
de arte inovadoras que desafiaram o começou a questionar as obras
consumismo e a mídia de massa. Esta exageradamente expressivas de artistas
introdução a imagens identificáveis foi uma expressionistas abstratos. Em vez disso, a arte
mudança na direção do modernismo minimalista se concentra no anonimato,
(STANGOS, 2000). chamando a atenção para a materialidade das
Artistas pop como Andy Warhol e Roy obras. Os artistas incentivaram os
Lichtenstein buscaram estabelecer a ideia de espectadores a se concentrarem precisamente
que a arte pode derivar de qualquer fonte e no que estava diante deles, em vez de traçar
não há hierarquia de cultura para interromper paralelos com realidades externas e
isso. Talvez a obra de arte mais famosa da pensamentos emotivos por meio do uso de
cultura pop seja a produção das Latas de sopa formas purificadas, ordem, simplicidade e
Campbell de Warhol (BARROS, 2003). harmonia (BENJAMIN, 2012).
O artista americano Frank Stella foi um dos
ARTE POVERA primeiros a adotar o minimalismo, produzindo
pinturas não representativas, como pode ser
(DÉCADA DE 1960) visto em suas Black Paintings concluídas entre
Traduzindo literalmente para “arte pobre”, 1958 e 1960. Cada uma apresenta um padrão
Arte Povera desafiou sistemas modernistas e de listras retilíneas de largura uniforme
contemporâneos ao infundir materiais comuns impressas em tinta preta metálica (STANGOS,
em criações. Os artistas usaram solo, pedras, 2000).
papel, corda e outros elementos de terra para
evocar um sentimento pré-industrial. Como
resultado, muitas das obras notáveis durante
ARTE CONCEITUAL
esse movimento são esculturais (HOLM, 2005). (ANOS 1960-1970)
O artista italiano Mario Merz, em conjunto A arte conceitual rejeitou completamente os
com outros artistas italianos, como Giovanni movimentos artísticos anteriores, e os artistas
Anselmo e Alighiero Boetti , criou obras valorizaram as ideias sobre os componentes
antielitistas com base em materiais da vida visuais, criando arte a partir de performances,
cotidiana. Seu Giap's Igloo de 1968 , um dos efêmeras e outras formas. A Poesia Ativa da
que logo se tornaria sua série de iglus artista performática polonesa Ewa Partum
assinatura, focava em suas ocupações com as consistia em espalhar letras únicas do alfabeto
por várias paisagens. O artista americano

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Joseph Kosuth explorou a produção e o papel O primeiro artista moderno de respeito foi
da linguagem na arte, como visto em One and Gustave Courbet, que em meados da década d
Three Chairs , de 1965 . Nele, ele representa século 19 procurou desenvolver seu próprio
uma cadeira de três maneiras diferentes para estilo distinto. Isso foi alcançado em grande
representar diferentes significados do mesmo parte com sua pintura de 1849-1850, Enterro
objeto. Como esse tipo de arte focava em em Ornans, que escandalizou o mundo da arte
ideias e conceitos, não havia estilo ou forma francesa ao retratar o funeral de um homem
distinta (NEUWBERY, 2005). comum de uma aldeia camponesa
(NEUWBERY, 2005).
ARTE CONTEMPORÂNEA A Academia arrepiou-se com a imagem de
trabalhadores agrícolas sujos em torno de uma
(1970-PRESENTE) cova aberta, pois apenas mitos clássicos ou
A década de 1970 marcou o início da arte cenas históricas serviam de objeto para uma
contemporânea, que se estende até os dias pintura tão grande. Inicialmente, Courbet foi
atuais. Este período é dominado por várias excluído por seu trabalho, mas ele acabou
escolas e movimentos menores que surgiram provando ser altamente influente para as
(SILVA, 2006). gerações subsequentes de artistas modernos.
TEMAS E CONCEITOS DE ARTE MODERNA Esse padrão geral de rejeição e influência
posterior foi repetido por centenas de artistas
• Artistas Modernos na era moderna (RUPP, 2010).
A história da arte moderna é a história dos
principais artistas e suas realizações. Os artistas
MOVIMENTOS DE ARTE
modernos têm se esforçado para expressar
suas visões do mundo ao seu redor usando MODERNA
meios visuais. Embora alguns tenham A disciplina da história da arte tende a
vinculado seu trabalho a movimentos ou ideias classificar os indivíduos em unidades de
anteriores, o objetivo geral de cada artista na artistas afins e historicamente conectados,
era moderna era avançar sua prática para uma designados como os diferentes movimentos e
posição de pura originalidade (STANGOS, "escolas". Essa abordagem simples de
2012). estabelecer categorias é particularmente
Certos artistas se estabeleceram como adequada, pois se aplica a movimentos
pensadores independentes, aventurando-se centralizados com um objetivo singular, como
além do que constituíam formas aceitáveis de impressionismo, futurismo e surrealismo
"alta arte" na época, endossadas pelas (TEBOLA, 2000).
academias estatais tradicionais e pelos Por exemplo, quando Claude Monet exibiu
patrocinadores de classe alta das artes visuais. sua pintura Impression, Sunrise (1872), como
Esses inovadores descreviam assuntos que parte de uma exposição coletiva em 1874, a
muitos consideravam indecentes, controversos pintura e a exposição como um todo foram mal
ou até mesmo feios (CANÁRIO, 2006). recebidas. No entanto, Monet e seus colegas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

artistas foram motivados e unidos pelas A VANGUARDA E A


críticas. Os impressionistas estabeleceram,
assim, um precedente para futuros artistas de PROGRESSÃO DA ARTE
mente independente que procuravam se MODERNA
agrupar com base em uma abordagem objetiva Avant-garde é um termo que deriva da
e estética singular (RUPP, 2010). "vanguarda" francesa, a divisão principal que
Essa prática de agrupar artistas em entra em batalha, literalmente adianta a
movimentos nem sempre é totalmente precisa guarda, e sua designação na arte moderna é
ou apropriada, pois muitos movimentos ou muito parecida com o seu nome militar. De um
escolas consistem em artistas e modos de modo geral, a maioria dos artistas modernos
representação artística amplamente diversos. bem-sucedidos e criativos eram vanguardistas
Por exemplo, Vincent van Gogh, Paul Gauguin, (SILVA, 2006).
Georges Seurat e Paul Cézanne são Seu objetivo na era moderna era promover
considerados os principais artistas do pós- as práticas e ideias da arte e desafiar
impressionismo, um movimento chamado continuamente o que constituía uma forma
assim por causa dos desvios dos artistas em artística aceitável, a fim de transmitir com mais
relação aos motivos impressionistas, bem precisão a experiência do artista na vida
como a sua posição cronológica na história moderna. Os artistas modernos examinavam
(BERTOLETTI, 2010). continuamente o passado e o valorizavam em
Ao contrário de seus antecessores, no relação ao moderno (STANGOS, 2012).
entanto, os pós-impressionistas não
representavam um movimento coeso de
artistas que se uniam sob uma única bandeira
ARTE MODERNA,
ideológica. Além disso, pode-se argumentar CONTEMPORÂNEA E
que alguns artistas não se encaixam em PÓS-MODERNA
nenhum movimento ou categoria em particular De um modo geral, a arte contemporânea é
(STANGOS, 2000). definida como qualquer forma de arte em
Exemplos principais incluem nomes como qualquer meio produzido nos dias de hoje. No
Auguste Rodin, Amadeo Modigliani e Marc entanto, no mundo da arte, o termo designa
Chagall. Apesar dessas complicações, a arte que foi feita durante e após a era pós-arte
designação imperfeita dos movimentos pop da década de 1960 (RUPP, 2010).
permite que a vasta história da arte moderna O início do conceitualismo no final dos anos
seja dividida em segmentos menores, 1960 marca o momento decisivo em que a arte
separados por fatores contextuais que auxiliam moderna deu lugar à arte contemporânea. A
no exame de artistas e obras individuais arte contemporânea é um amplo
(STANGOS, 2012). delineamento cronológico que abrange uma
vasta gama de movimentos como arte da terra,
arte performática, neoexpressionismo e arte
digital. Não é um período ou estilo claramente

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

designado, mas marca o fim da periodização do percepção das pessoas. A forma como a arte é
modernismo (ARGAN, 2001). percebida mudou muito ao longo dos anos,
Pós-modernismo é a reação ou uma assim como a aceitação de um certo tipo de
resistência contra os projetos do modernismo, arte. De muitas maneiras, a arte pode afetar e
e começou com a ruptura de representação aprimorar o eu e ser um mediador, trazendo
que ocorreu no final da década de 1960. O mudanças maiores, sejam elas positivas ou
modernismo tornou-se a nova tradição negativas. Por isso às vezes torna-se necessário
encontrada em todas as instituições contra as ver que o que sai como arte não é uma
quais se rebelou inicialmente. Os artistas pós- indignação (PEREIRA, 2010).
modernos procuraram exceder os limites Algumas das maneiras pelas quais a arte
estabelecidos pelo modernismo, influencia a sociedade:
desconstruindo a grande narrativa do i. O conhecimento visual do ambiente por
modernismo, a fim de explorar códigos meio de pinturas e outras formas de arte visual,
culturais, política e ideologia social dentro de como a arte de rua (e outras formas), tenta
seu contexto imediato (SILVA, 2006). realçar o eu interior e questionar, às vezes as
É esse engajamento teórico com as diferenças entre uma e outra. Pede respeito a
ideologias do mundo circundante que diferença e reconhecê-la com graça (GIDDENS,
diferencia a arte pós-moderna da arte 2002).
moderna, além de designá-la como uma faceta ii. As esculturas e as obras de arte
única da arte contemporânea. Os recursos tridimensionais dão uma sensação da presença
frequentemente associados à arte pós- de algo que se pode notar, mas a expressão
moderna são o uso de novas mídias e disso pode ser difícil. As esculturas geralmente
tecnologias, como o vídeo, bem como a técnica retratam as escolhas, os sentimentos internos
de bricolagem e colagem, a colisão de arte e e muito mais. Os vários materiais usados nas
kitsch, e a apropriação de estilos anteriores esculturas têm significados diferentes,
dentro de um novo contexto. Alguns variando com os seus usos. O tipo de material
movimentos comumente citados como pós- que está na obra de arte também ajuda a
modernos são: Arte conceitual, arte feminista, entender o pensamento mais profundo por
arte de instalação e arte performática trás dela (GIDDENS, 2002).
(BARROS, 2003). iii. Obras de arte tradicionais como
Madhubani e muitas outras nos contam e nos
INFLUÊNCIA DA ARTE NA ensinam sobre as várias comunidades que
existem e praticam as obras de arte. Sua arte é
SOCIEDADE sua identidade. Representa sua cultura, etnia e
A arte evolui de acordo com o contexto ao ética, o que é extremamente importante,
redor e também desempenha um papel principalmente nos tempos de hoje, em que se
importante na elevação progressiva da está perdendo o contato com as tradições, por
sociedade. Muitos movimentos artísticos isso deve-se atenta ao que se passou ou o que
durante diferentes épocas, mudaram a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

deve ser preservado, e contar as histórias que humanas ou as relações homem-natureza são
devem ser contadas (GIDDENS, 2002). os pilares do conhecimento e da inspiração
Assim, se refere a cantores que se lançaram (PEREIRA, 2010).
pelo site do YouTube , atores de stand-up Na sociedade moderna, esse domínio se
comedy, escritores que trabalham em serviços funde com a tecnologia, criando obras-primas
que auxiliam nas atribuições de enfermagem, que, há pouco tempo, ultrapassaram os limites
expressando sua criatividade por meio de do pensamento humano. Os filmes artísticos e
artigos, artistas gráficos que têm a a arte digital melhor demonstram essa
oportunidade de expor os seus trabalhos em suposição por meio dos efeitos especiais que,
plataformas online e também, por último mas antes, não poderiam ter transposto a realidade
não menos importante, fotógrafos que gozam tão bem como hoje. Além disso, é possível ver
de notoriedade pelo rápido acesso do grande como, graças ao acesso à Internet, se
público às suas obras (PEREIRA, 2010). possibilitou apreciar, visualizar e compartilhar
i. Artforms também são os principais com os outros a beleza da criação (GIDDENS,
responsáveis por criar consciência sobre 2002).
questões sociais e envolver o público para Além do mais, os artistas podem construir
reuni-los por uma causa social. As Artes sua reputação e obter seus salários por meio da
Gráficas e Digitais, quando utilizadas para tecnologia. Muitas pessoas criativas e
confecção de cartazes ou propaganda, buscam talentosas foram descobertas no ambiente
apresentar um pensamento, disponibilizando- online e muitas delas continuam a melhorar
o para interpretação aberta (GIDDENS, 2002). seu histórico por meio de documentação
A arte, embora aberta, também influencia rápida e eficaz que a evolução criou.
de certa forma e proporciona uma ampla gama
de pensamentos e um meio por excelência
para trazer mudanças, lentamente, mas com as
raízes.
Com o tempo, a sociedade desfrutou de
várias áreas de evolução cultural, como
pintura, gráfica, escultura, arquitetura, teatro,
dança, cinema, música, literatura, mas com o
desenvolvimento da tecnologia a apresentação
e a forma como esses elementos foram
mostrados também foram modificados .
Simultaneamente ao início do Modernismo,
surgiram outros tipos de arte: fotografia,
videoarte, arte midiática.
Assim, chegou ao ponto em que a arte
apresenta a beleza em todas as suas formas, e
onde o homem, a natureza e as relações

148
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como tema a história da arte no mundo. O método adotado na
formulação deste trabalho, encontra-se em concordância com a proposta de estudo, a qual
encontra-se adequada por meio dos objetivos a serem alcançados. O desenvolvimento da ciência
tem como base o alcance de resultados que permite validar hipóteses sobre determinado
acontecimento ou fato, presente na sociedade ou não.
Por meio desta pesquisa, pode-se entender e compreender a importância e relevância que
a arte tem para a sociedade, não somente como provedora de entretenimento e distrações, mas
como uma ferramenta de fornecer e desenvolver cultura e valor intelectual. Como visto neste
trabalho a arte moderna vem se desdobrando ao longo dos anos trazendo novos conceitos e
novas formas de expressão, seja elas visuais, auditivas e intelectuais.
A arte influencia a sociedade mudando opiniões, incutindo valores e traduzindo
experiências por meio do espaço e do tempo. A pesquisa mostrou que a arte afeta o sentido
fundamental do eu. Pintura, escultura, música, literatura e outras artes são frequentemente
consideradas como o repositório da memória coletiva de uma sociedade. A arte preserva o que
os registros históricos baseados em fatos não podem: como é a sensação de existir em um
determinado lugar em um determinado momento.
Pode-se concluir também que a arte moderna é extremamente essencial para o futuro da
sociedade, pois por meio dela, muitas culturas vem se definindo e se caracterizando de uma
forma única, e indivisível. A arte moderna tem em sí uma grande representatividade o que ao
longo dos anos vem se firmando com características peculiares e definitivas.
Por fim, o presente trabalho deixa o tema em aberto, propondo que no futuro se realize
uma nova pesquisa, com a finalidade de contextualizar os temas aqui abordados. Juntamente
com esta nova pesquisa, sugere-se a realização de um estudo de caso, para o qual propõe-se uma
análise entre os tipos de arte e seu atual impacto social.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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ARSLAN, Luciana Mourão & IAVELBERG, Rosa - Ensino de Arte. Editora: Thomson Pioneira,
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(Org.). Benjamin e a obra de arte: técnica, imagem, percepção. Rio de Janeiro: Contraponto,
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BERTOLETTI, Andrea. Tecnologias digitais e o ensino da arte: algumas reflexões. V.


Florianópolis: UDESC, 2010.

CANÁRIO, Rui- A escola tem futuro? Das promessas às incertezas. Porto


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do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - ênfase em História, teoria
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SCHILICHTA, Consuelo A.B. Duarte. Artes Visuais e Música. IESDE/BR 2004.208p 84 IESDE
BRASIL S.A Homem Cultura e Sociedade_ Curitiba, 2003 110 p

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STANGOS, Nikos, Conceitos da Arte Moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

SYLVESTER, David- Sobre a Arte Moderna. São Paulo, Editora: Cosac Naify, 2006;

TEBOLA, L.M. Arte, Cultura, Educação e Trabalho. Brasília, 2000. Federação Nacional das APAES

150
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO
SAUDÁVEL NA VIDA ESCOLAR
Clice Jarussi Correa de Castro1

RESUMO: O presente artigo foi elaborado a partir de uma eletiva de nutrição; desenvolvida na
escola, onde por meio do mesmo, foi transmitido a importância sobre a alimentação saudável e
balanceada na escola, trazendo a conscientização que se alimentar de forma saudável é essencial
para garantir qualidade de vida. O engajamento dos alunos foi satisfatório, espera-se ampliar e
estimular a conscientização e a responsabilidade nutricional para toda unidade escolar. Pois
sabemos que a alimentação saudável na escola, não pode ser vista apenas como um programa
de suplementação alimentar, mas também como um importante instrumento de educação,
auxiliando no resgate de hábitos alimentares saudáveis, trazendo a conscientização aos alunos a
importância de se alimentar bem no seu dia a dia, tendo como objetivo central um projeto de
vida a promoção da saúde e a prevenção de doenças.

Palavras-Chave: Conscientização; Nutrição; Saúde;Qualidade de vida.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

151
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF HEALTHY EATING IN SCHOOL LIFE


ABSTRACT: This article is based on a nutrition elective; developed at school, where through it,
the importance of healthy and balanced eating at school was transmitted, bringing awareness
that eating healthy is essential to ensure quality of life. The students' engagement was
satisfactory, it is expected to expand and stimulate nutritional awareness and responsibility for
the entire school unit. Because we know that healthy eating at school cannot be seen only as a
food supplementation program, but also as an important educational tool, helping to rescue
healthy eating habits, bringing awareness to students of the importance of eating well at school.
their day-to-day activities, with the main objective of a life project, health promotion and disease
prevention.

Keywords: Awareness; Nutrition; Health; Quality of life.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Objetiva-se promover o interesse e


incentivos à alimentação saudável, construir
A educação nutricional escolar constitui uma possibilidades do trabalho em equipe de
área de conhecimento eminentemente educadores, educando e familiares,
interdisciplinar, em razão dos diversos fatores providenciando palestras sobre o tema,
interligados e necessários ao diagnóstico e à fazendo com que o resultado esperado da
intervenção que pressupõe. Historicamente, a educação alimentar não fique apenas no
Alimentação saudável é um assunto que vem ambiente escolar, mas sim que principalmente
ganhando bastante espaço no ambiente se torne um hábito diário para todos os alunos
escolar; pois se sabe que por meio dos e seus responsáveis.
conhecimentos benéficos e importantes da Desenvolver ações pedagógicas
alimentação saudável a um grande ganho na interdisciplinar com as disciplinas de Ciências,
influência no aprendizado da criança ou seja do Educação Física, Língua Portuguesa, História e
aluno. Matemática.
Com objetivo de mudar a situação da Objetiva-se ainda despertar por meio da
alimentação escolar, projetos tentam agregar eletiva em nutrição, o desejo e a autonomia,
aos alunos na montagem do prato e ensinam a aumentando o engajamento dos discentes,
importância de experimentar novos sabores. fazendo os mesmos a conduzir o seu processo
Outro argumento importante sobre a de aprendizado em alimentação saudável, por
alimentação saudável na escola é poder passar meio de trabalhos práticos para si, no seu dia a
ao aluno, que quando se aprende a comer dia, levando e motivando seus colegas e
direito, se reduz o risco de desenvolver várias familiares a terem novos hábitos por meio da
doenças como: doenças cardíacas, obesidades, educação alimentar adequada.
diabetes, entre outros problemas... Experimentando novos alimentos, como mais:
Não podemos esquecer das doenças frutas, legumes e verduras, além de proteínas
autoimunes, que podem ou não se desenvolver de origem animal. Abrindo o leque para novos
de acordo com estilo de vida. Então podemos cardápios, novos sabores e dando a
dizer, que a criança ou aluno que tiver hábitos oportunidade de colocar a mão na massa;
ruins, a saúde vai cobrar lá na frente, ficando praticando na realização de receitas propostas,
mais difícil gostar ou acostumar a comer aumentando assim o desejo para o despertar
alimentos que não teve costume ou não foi de novas receitas, de alimentos que antes
oferecido quando criança! nunca forem experimentados.
Por isso, a importância do papel dos pais e A alimentação saudável na vida escolar é
da escola, para ensinar a importância da uma extensão da aprendizagem!
alimentação saudável, pois um corpo bem Para tanto, além de orientação, a formação
nutrido evita, atraso no desenvolvimento dos hábitos alimentares saudáveis deve buscar
psicomotor e corpóreo, evitando também o o diálogo com os valores culturais, sociais e
atraso intelectual. afetivos, além dos emocionais e
comportamentais a cada proposta de

153
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mudança, somando ao desenvolvimento 3) Ambientes saudáveis: é necessário


integral dos alunos. assegurar condições adequadas do espaço
Sendo assim, no processo interdisciplinar físico escolar, a fim de promover bem-estar às
não se ensina nem se aprende: vive-se, exerce- pessoas, buscar assegurar aos alunos
se. A responsabilidade individual é a marca do habilidades para a vida, dotando-os de
projeto interdisciplinar, mas essa capacidade para analisar os fenômenos
responsabilidade está imbuída do comunitários e estimular a prática de atividade
envolvimento – envolvimento esse que diz física na escola (PNAE,2014).
respeito ao projeto em si, as pessoas e às Para o desenvolvimento deste projeto foi
instituições a ele pertencentes (FAZENDA, utilizado um diagnóstico situacional, incluindo
2005, p.17). reunião com as partes envolvidas. Trabalhos
A proposta aqui ofertada tem o intuito de com eletivas, trabalhos na teoria e na prática,
conscientizar o aluno que com a prática da como elaboração de cardápios e realização de
alimentação saudável e bons hábitos, a fase pratos saudável como individual e em grupo e
adulta se tornara mais benéficas. E que uma na coletividade, agregando ideias e incentivos
alimentação rica em legumes, verduras, frutas, para uma vida mais saudável.
proteínas e gorduras boas, e pobre em Sendo assim, o trabalho proposto teve
açúcares e alimentos industrializados, ajuda a relevância a importância da escola em
manter uma qualidade de vida e a longevidade, incentivar a prática da alimentação saudável de
e ainda diminui o risco de doenças. seus alunos, orientando os seus familiares para
A importância de ter uma boa alimentação juntos terem um estilo e uma saúde melhor, já
ajuda a prevenir qualquer tipo de distúrbio que é na escola que as crianças passam a maior
alimentar no futuro, dificuldade no parte do seu dia.
aprendizado, dificuldade de concentração
retardando a vida escolar do aluno. DESENVOLVIMENTO DAS
Segundo o PNAE, 2014 (Programa Nacional
de Alimentação Escolar), a promoção de saúde ETAPAS
na escola se divide em três áreas de atuação: DETALHAMNETO/ETAPAS
1) Educação em saúde: pode ser efetivado Disciplina: Ciências Conteúdos
por meio de inclusão do tema ao currículo, o - Origem dos alimentos
desenvolvimento de materiais educativos e a - Alimentos de origem vegetal
capacitação de docentes; - Alimentos de origem animal
2) Serviços de saúde e alimentação: - Alimentos ricos em proteínas
serviços de saúde baseados nos aspectos - Alimentos ricos em lipídios.
preventivos, com execução de exames
periódicos para os escolares; o fornecimento Atividades
da merenda escolar e a formação de hortas Estimular os alunos a buscarem uma
escolares; alimentação saudável. Sendo assim, alguns

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

projetos podem ser desenvolvidos. Algumas


atividades a serem desenvolvidas: - Disciplina: História Conteúdos
- Criação de horta escolar; - Resgate Histórico, Cultural e
- Pesquisas escolares sobre o tema; Bibliográfico
- Oficinas de receitas culinárias;
- Palestras com nutricionistas; - Atividades
- Criação de textos, músicas e exposições - Realizar levantamento de como povos
sobre o tema. antigos de diversas culturas se alimentavam e
investigar de como eram preparados os
Disciplina Educação Física Conteúdos alimentos, se eram saudáveis e como era a
- Jogos saúde desses povos antigamente.
- Atividades Físicas - Trazer como pesquisas, fotos de pratos
antigos, que se realizam também nos dias de
Atividades hoje.
- Despertar e conscientizar os alunos
sobre a importância de se alimentarem de - Disciplina: Matemática Conteúdos
forma correta, fazendo os alunos a - Operações fundamentais a serem
participarem de jogos, proporcionando aulas desenvolvidas, unidade de medida, cálculo do
interativas utilizando site de jogos, onde os IMC.
mesmos participaram de quatro jogos: Fome - Atividades
de Quê; Pirâmide Alimentar; Palavras cruzadas - Realizar pirâmide alimentar de modo a
e Jogo dos alimentos. Os jogos contribuíram de pesquisar de 6 refeições ao dia, a quantidade
forma lúdicas, trazendo também as de calorias a serem ingeridas, totalizando 2000
informações sobre a alimentação saudável. kcal, quantas porções a serem consumidas em
- Aquecimento corporal, alongamentos, cada refeição.
corridas, ajudam a promover a redução do
excesso de gordura e o aumento de massa A INTERDISCIPLINARIDADE
magra, além de diminuir os riscos de doenças e
Interdisciplinaridade é um conceito que
obesidade.
busca a intersecção entre conteúdos de duas
- Disciplina: Língua ou mais disciplinas para permitir que o aluno
- Portuguesa Conteúdos elabore uma visão mais ampla a respeito
- Gramática, Interpretação e Produção de dessas temáticas.
Texto A prática interdisciplinar procura romper
com padrões tradicionais que priorizam a
- Atividades construção do conhecimento de maneira
- Produção escrita e oral; Confecção de fragmentada, revelando pontos em comum e
cartazes; criação de folder favorecendo análises críticas a respeito das
diversas abordagens para um mesmo assunto.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo Kleiman (1999), “o currículo do (Matemática, Língua Portuguesa, História,


ensino fundamental e médio têm passado por Ciências Naturais, Geografia, Arte e Educação
séries de mudanças radicais, significativas e Física) possui singularidades e estas precisam
polêmicas.”, onde são enviadas para as escolas ser respeitadas: como é o caso de Ciências
os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) – Naturais e Saúde Física ou entre História,
documento que deve ser esmiuçado a fim de Geografia e Pluralidade Cultural, que
que novas diretrizes e bases sejam articuladas apresentam afinidades, representadas por
no âmbito escolar e atendam às novas áreas e temas. “Sobretudo pela influência dos
disposições curriculares propostas. A trabalhos de grandes pensadores modernos
interdisciplinaridade é uma destas teorias como Galileu, Bacon, Descartes, Newton,
propostas pelo PCN que aponta para a Darwin e outros, as ciências foram sendo
complexidade do real e a necessidade de se divididas e por isso, especializando-se.
considerar o conjunto de relações entre os seus Organizadas, de modo geral, sob a influência
diferentes e contraditórios aspectos – das correntes de pensamento naturalista e
questionando a fragmentação entre os mecanicista, buscavam, já a partir da
diferentes campos de conhecimentos e a visão Renascença, construir uma concepção mais
compartimentada (disciplinar) da realidade cientifica de mundo”.
sobre a qual a escola se constituiu Com o propósito de oferecer, também, uma
historicamente. percepção que inclua o todo, mostrando a
O principal objetivo da interdisciplinaridade importância de atender ao diálogo entre as
é conferir ferramentas para enriquecer a visão disciplinas, autores como Kapp, Piaget,
de mundo dos alunos. Vygotsky e Gusdorf (1994), aderiram ao
A partir dessa abordagem, indivíduos de movimento de apoio à interdisciplinaridade.
todas as idades compreendem que um mesmo
fato ou tema pode ser observado e estudado a AVALIAÇÃO
partir de diferentes pontos de vista. Essa base
A avaliação será contínua, sendo feita desde
se torna um pilar para a construção do
o início, por meio dos trabalhos propostos de
pensamento crítico que, em vez de assumir
maneira processual e formativa, diante dos
qualquer mensagem como verdadeira, é capaz
conhecimentos prévios; durante o processo
de questionar as informações, apurar sua
para verificar os avanços e ao final por meio das
veracidade e aceitar que pode existir mais de
apresentações de trabalhos e presença em sala
uma resposta para uma mesma pergunta. Ou
de aula. Avaliação também se dará por meio de
seja, a interdisciplinaridade auxilia na
seminários e debates na sala de aula, entrega e
formação de cidadãos bem-informados e
análise das atividades propostas, criatividade,
empáticos, pois desfia as pessoas a se
coletividade e cooperação.
colocarem no lugar umas das outras para
A perspectiva compreendida para avaliação,
entender o que está por trás de uma crença.
serão diversificada e complementares, tais
No que diz respeito à interdisciplinaridade,
como; participação ativa de cada aluno na
os PCN (Brasil, 2000) afirma que cada área
discussão das diversas situações; atividades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

extraclasse; trabalhos em grupo, duplas ou


individuais, apresentação das atividades
desenvolvidas pela turma como forma de
conscientização de uma vida saudável dentro e
fora da escola. Transportando os conceitos
apreendidos para seu dia a dia, adotando
hábitos alimentares saudáveis para sua vida e
de sua família.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A alimentação saudável na escola vai muito além de apenas citar que essa questão é
importante para o dia a dia.
A importância da alimentação saudável na vida escolar é um assunto que merece atenção
e precisa cada vez mais recorrente no ambiente escolar, pois além de contribuir para o processo
de aprendizagem, ela também pode ajudar na melhora da qualidade de vida, por exemplo.
A definição desse projeto pedagógico é voltar-se para as possibilidades de ações de
mudanças diárias na alimentação, para uma qualidade de vida melhor.
Espera-se também, que diante deste trabalho desenvolvido na escola, os alunos tenham
uma aprendizagem significativa, na qual, conforme Moreira (1999), a nova informação ancora-se
em conceitos ou proposições relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz.
É possível após o desenvolver deste projeto que o aluno, os pais e a comunidade escolar
poderão reformular hábitos que irão requerer deles, transformações do conhecimento adquirido
durante o desenvolvimento do projeto.
Segundo Moreira, (p.123), “a criança constitui com o meio uma totalidade. À medida que
esse meio se modifica, no caso quando a escola entra em cena na vida da criança, novas
estimulações passam a exigir-lhes novas condutas, tirando-as do estado de equilíbrio cognitivo a
que estavam acostumadas. O resultado feito das novas solicitações, pelo ambiente escolar para
a criança, deve ser o de levá - las a formar novos padrões de condutas cognitivas”.

158
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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aprende na escola. Grupo de Pesquisa em Alimentação, Cultura e Educação.

COUTINHO, Maria da Cunha & Moreira, Mércia. Psicologia da Educação: um estudo dos
processos psicológicos de desenvolvimento e aprendizagem, voltado para a educação.

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Práticas Interdisciplinares na Escola. 10 ed., São Paulo: Cortez, 2005.

FAZENDA, Ivani (Org.). Práticas Interdisciplinares na escola. 10 ed., São Paulo: Cortez, 2005.
FAZENDA, Ivani C. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: efetividade ou
ideologia. São Paulo: Loyola, 1979.

KLEIMAN, Ângela; MORAES, Silva E. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos


projetos da escola. Campinas: Mercado de Letras, 1999.

LENOIR, Y. Didática e interdisciplinaridade: uma complementaridade necessária e


incontornável. In: FAZENDA, I. C. A. (Org.). Didática e interdisciplinaridade. 5 ed. Campinas,
SP: Papirus, 1998.

PNAE, Programa Nacional de Alimentação Escolar. Alimentação saudável na escola:

159
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA APRENDIZAGEM PARA


JOVENS E ADULTOS
Rosangela da Rocha Lucas de Lemos1

RESUMO: O objetivo desse artigo é enfatizar a importância do ensino para a Educação de Jovens
e adultos, mostrando algumas mudanças que aconteceram no decorrer da história desse tipo de
ensino, pois a trajetória da Educação de Jovens e Adultos está relacionada com a própria história
de vida dessas pessoas. Essa modalidade de ensino exige um olhar diferenciado para esses
alunos, no sentido de garantir-lhes o conhecimento e a valorização da cultura. Esse campo de
ensino é amplo e possui interfaces diversas com temas correlatos. Sabe-se que esse segmento de
ensino ficou muito tempo sem a atenção dos governantes e depois de muitos anos de evolução
e conquistas, percebe-se que a sua implantação em forma de lei tornou-se real. Para isso
estudou-se autores como: Freire (1980); Gadotti (2013); Mota (2009), entre outros.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Jovens e Adultos; Afetividade; Escola.

1Professora de Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia PUC - SP.

160
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF LEARNING FOR YOUTH AND ADULTS


ABSTRACT: The purpose of this article is to emphasize the importance of teaching for Youth and
Adult Education, showing some changes that have taken place in the course of the history of this
type of education, since the trajectory of Youth and Adult Education is related to the life history
of these people. This teaching modality requires a different look for these students, in the sense
of guaranteeing them the knowledge and appreciation of the culture. This teaching field is broad
and has different interfaces with related topics. It is known that this segment of education has
been without the attention of the government for a long time and after many years of evolution
and achievements, it is clear that its implementation in the form of a law has become real. For
this, authors such as: Freire (1980), were studied; Gadotti (2013); Mota (2009), among others.

Keywords: Learning; Youth and Adults; Affectivity; School.

161
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO consiga ser reparadora, equalizadora e


qualificadora.
Em nossa sociedade, a Educação de Jovens e
Adultos serviu como mão de obra de baixo
UM POUCO DA HISTÓRIA DA
custo para o desenvolvimento industrial do
país, pois era necessário formar pessoas aptas EJA
a trabalharem, mesmo que essas pessoas A história da Educação de Jovens e Adultos
tivessem um mínimo de capacidade. acompanha o desenvolvimento da educação
No final do século XX começa a Educação de que está relacionado aos modelos econômicos
Jovens e Adultos começa a ser vista mais como e políticos de cada período.
uma formação do sujeito, inserindo-o na Estudando a história da educação brasileira,
sociedade, para que ele consiga atuar social e observamos que durante o período do Brasil
politicamente, refletindo sobre o seu papel no Colônia, as escolas privilegiavam as classes
mundo e levando-o a reivindicar seu espaço em ricas da sociedade, e a classe com baixo poder
nossa sociedade dividida por classes sociais. aquisitivo não conseguia ter acesso ao ensino.
A partir daí, as camadas populares de nossa Durante esse período, a educação ficou por
sociedade lutaram e ainda lutam pelo direito à conta dos Jesuítas que se dedicavam a pregar a
educação. fé da igreja católica e trabalhavam com a
Para Soares (2002, p. 8): educação das crianças indígenas, porém os
São numerosas e crescentes as iniciativas adultos também tiveram direito de participar
municipais que surgem a todo tempo dessa ação cultural e educacional.
instituindo o atendimento ao público jovem e Com o decorrer do tempo, a educação
adultos. Ao lado dessas iniciativas, somam-se passou a ser responsabilidade do Estado, assim
as experiências de grupos populares e de em lugar das escolas jesuíticas, iniciou-se uma
organizações não governamentais que sempre série de aulas de Latim, Grego, Filosofia e
atuaram no campo do EJA, principalmente nos Retórica. Essas aulas não tinham sequência e
espaços em que a ação do Estado não chega ou eram destinadas especialmente aos filhos dos
não se faz presente. colonizadores portugueses, e a população
A Educação de Jovens e Adultos representa negra e indígena era excluída desse tipo de
um direito negado que, após muitos esforços ensino.
sociais passou a ser assumida, pela Muitas foram as reformas educacionais
Constituição Federal de 1988, no art. 208, ocorridas no decorrer da história da educação
ganhando espaço na esfera política e sendo no Brasil, no entanto nada para melhorar a
reconhecida como parte da Educação Básica. educação para jovens e adultos acontecia de
Porém, a Educação de Jovens e Adultos que fato, pois a elite é quem possuía a cidadania e
temos no momento, ainda é uma educação porque a responsabilidade na proposta da
que não atingiu seu maior objetivo que é educação básica não foi colocada em prática,
propiciar aos alunos das camadas populares dessa forma, o ensino limitava-se às classes
uma educação de qualidade, crítica e que ricas da sociedade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Um novo olhar às políticas públicas voltadas tampouco uma enfermidade, mas uma das
para a Educação de Jovens e Adultos aconteceu expressões concretas de uma realidade social
em meados da década de 50 e 60. Essa nova injusta (FREIRE, 1981, p. 83).
visão a respeito do analfabetismo considerou a Com isso, Freire (1981), conseguiu mostrar
pessoa não alfabetizada como incapaz, mas na que o adulto não era a razão do
visão de Freire (1981), as pessoas analfabetas subdesenvolvimento do país, e o governo
não deveriam ser consideradas ignorantes e atribuiu a ele a missão de elaborar e
incapazes de aprender, porque os educadores desenvolver um Programa Nacional de
acreditavam que o desenvolvimento da Alfabetização em parceria com o Ministério da
educação precisava acontecer de acordo com a Educação.
necessidade daquelas pessoas. No entanto, ele não conseguiu colocar em
Scortegagna e Oliveira (2006, p. 05), prática devido ao golpe militar, porque o
afirmam que: governo desse período começou a ver as
Freire, trazendo este novo espírito da época propostas de Freire (1981) como ameaçadoras,
acabou por se tornar um marco teórico na pois o objetivo do programa era a
Educação de Adultos, desenvolvendo uma transformação social. E, esse fato levou-o à
metodologia própria de trabalho, que unia pela prisão e ao exílio.
primeira vez a especificidade dessa Educação Segundo Freire (1981, p. 15-16):
em relação a quem educar, para que e como O golpe de Estado (1964) não só deteve todo
educar, a partir do princípio de que a educação este esforço que fizemos no campo da
era um ato político, podendo servir tanto para educação de adultos e da cultura popular, mas
a submissão como para a libertação do povo. também me levou à prisão por cerca de 70 dias
A partir da década de 60, aconteceu uma (com muitos outros, comprometidos no
grande mobilização social em relação à mesmo esforço). Fui submetido durante quatro
Educação de Adultos. Esse período foi marcado dias a interrogatórios [...]. Livrei-me,
por movimentos de Educação Popular, refugiando-me na Embaixada da Bolívia em
contando com o apoio da igreja, estudantes e setembro de 1964. Na maior parte dos
intelectuais. E, a visão de Paulo Freire foi interrogatórios a que fui submetido, o que se
utilizada na conscientização do sujeito perante queria provar, além de minha “ignorância
sua realidade. absoluta” [...] era o perigo que eu
Frente a esse cenário, foi possível identificar representava.
o fim desses movimentos por razões políticas, Nesse período, a preocupação do governo
pois os programas baseados na pedagogia de era criar programas assistencialistas e
Paulo Freire reconheciam o analfabetismo conservadores em relação à alfabetização de
como consequência de uma sociedade adultos, criando-se então por volta de 1967 o
estruturada na desigualdade social. Movimento Brasileiro de Alfabetização que se
Sendo assim, para: “a concepção crítica, o denominava (MOBRAL). Este foi um projeto do
analfabetismo nem é uma “chaga”, nem uma governo militar e seu objetivo era erradicar o
“erva daninha” a ser erradicada, nem analfabetismo, porém a única preocupação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desse projeto era ensinar os adultos a ler, No decorrer do tempo, em meados de 1996
escrever e fazer cálculos, sem formá-los para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
uma sociedade crítica. Nacional nº 9. 394/96(LDBEN), prevê que a
Para Motta (2009, p. 15): pessoa que não teve acesso ao ensino
O trabalho pedagógico no MOBRAL, não fundamental e médio, terá o ensino gratuito,
tinha um caráter crítico e problematizador, sua oferecido pelos sistemas de ensino,
orientação, supervisão e produção de adequando-os às condições dos alunos, como
materiais, era toda centralizada. Assim, este já mencionado na Constituição de 1988.
programa criou analfabetos funcionais, ou seja,
pessoas que muitas vezes aprenderam CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS
somente a assinar o nome, e que não
apresentam condições de participar de PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E
atividades de leitura e escrita no contexto ADULTOS
social em que vivem. Analisando a educação de forma mais
Após a Lei 5.692/71 (LDBEN), esse ensino foi humanitária, a concepção de Paulo Freire, na
organizado em cursos e exames e foi década de 60 era relacionada a uma Educação
reconhecido como um direito. De início era Libertadora, porque tinha como foco a
visto apenas para comprovação de emancipação do sujeito diante de sua condição
escolaridade para se conseguir um trabalho, de opressão, para que o mesmo pudesse ser
mas devido à procura tornou-se um meio de preparado para transformar essa realidade.
ensino necessário. Freire (1987), em suas propostas
Após a Nova República (1985), o MOBRAL foi educacionais sempre priorizava o respeito ao
extinto dando lugar à Fundação Educar que educando, o diálogo e a sua criatividade. E, sua
trabalhava em parceria com os municípios. pedagogia estava pautada em dois princípios
Para Souza (2012, p. 53): que eram: a política e o diálogo.
Os princípios metodológicos das ações Para ele a educação deveria ser vista sobre
implementadas pela Fundação Educar as dimensões de ação e reflexão da atuação do
deveriam ser balizados na consideração do homem em relação a sua realidade,
educando como sujeito do seu processo apresentando uma educação
educativo, participando ativamente das problematizadora, na qual a medida em que o
situações de aprendizagem, na realidade diálogo acontecia ia interferindo no
pessoal e social do educando [...]. pensamento crítico do aluno.
No entanto, após a aprovação da O diálogo é uma característica da educação
Constituição de 1988, o artigo 208, inciso I diz libertadora, por meio dele, educador e
que: “o acesso ao ensino fundamental gratuito, educando tornam-se sujeitos do processo
inclusive àqueles que a ele não tiveram acesso educacional.
na idade própria” (BRASIL, 1988, Artigo 8, Segundo Freire (1997), o educando precisa
inciso I). aprender coisas da sua própria realidade,
porque para ele se o educador apenas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

transmitir conteúdos e informações isoladas


teremos tão somente a “educação bancária”. E,
essa educação faz com que o aluno apenas aja
de forma mecânica e não de forma reflexiva.
Ele, prioriza a ampliação da visão de mundo e
essa só acontece quando a educação é
transmitida por meio do diálogo.
Pelandré (1998), afirma que, quando jovem
acreditava que o tempo não tinha grande
importância, o que importava era a curiosidade
em aprender e o compromisso de ensinar, que
ele chamava de crítica ou de dialética da
prática educativa, porque preferia dizer que
era um método de conhecer e não de ensinar.
E, para ensinar esse tipo de público esses
autores e, em especial Paulo Freire,
enfatizaram a necessidade de uma educação
baseada também na afetividade, visto que a
grande maioria do público da Educação de
Jovens e Adultos não tem uma boa autoestima.
A autoestima é de suma importância na vida
dessas pessoas, pois estão há muito tempo fora
da escola e muitos sentem-se envergonhados
por saberem que possuem dificuldades de
aprendizagem. Muitas vezes iniciam na
Educação de Jovens e Adultos, mas acabam
desistindo.
Brandão (1991), define a autoestima como
sendo a confiança que a pessoa tem na sua
capacidade de pensar, na sua habilidade de se
dar conta dos desafios que a vida lhe propõe e
no direito de vencer e ser feliz, sem esquecer
de seus sonhos e suas aspirações, porque
somos influenciados pela motivação que faz
toda diferença. Para ele a criança motivada
consegue melhorar sua capacidade de
aprender e o adulto é da mesma forma, quanto
mais motivado, mais vai conseguir aprender e
tornar-se um ser crítico e reflexivo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse artigo apresentou um pouco a história da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, e a
influência de alguns estudiosos da área.
Com isso foi possível perceber a longa caminhada que a EJA ainda tem pela frente, pois
até o presente momento nossos governantes não dão o devido valor a esse tipo de ensino,
mesmo ele constando das legislações vigentes.
No entanto, o educador precisa enxergar esse público com outros olhos e ajudá-los a
realizar o sonho de uma educação de qualidade, tratando-os com o respeito que merecem e
proporcionando a eles a possibilidade desse aprendizado.
Ao analisarmos esse artigo, ainda foi possível perceber que a história da Educação de
Jovens e Adultos apresentou mudanças ao longo do tempo e que as pessoas que procuram esse
tipo de ensino têm dificuldades em se manterem até o final de cada ciclo, pois apresentam
problemas de autoestima, não confiam em si mesmas, assim é preciso que o educador as ajude
a elevarem essa autoestima, mostrando que elas são capazes de aprender e fazer a diferença em
nossa sociedade.
Dessa forma, o bom relacionamento e uma boa motivação farão com que, tanto educador
como educando, consigam criar e produzir maiores e melhores conhecimentos, tornando esse
tipo de aprendizado mais prazeroso e alcançando resultados significativos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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educadores. São Paulo, 7ª ed., 1991.

BRASIL. Constituição Federal de 1988, artigo 208, inciso I. Disponível em:


http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-208-da-constituiçao-federal-de-1988.
Acesso em 21 de março de 2022.

BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Lei de Diretrizes e Bases : fixa as Diretrizes
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BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9.394, de 20 de dezembro de


1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em:
02/02/2022.

FREIRE, Paulo. Conscientização: Teoria e Prática da Libertação: uma introdução ao


Pensamento de Paulo Freire. 3ª ed., São Paulo: Morais, 1980, p. 15-16.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 10ª ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, p. 13.

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GADOTTI, Moacir. Alfabetizar e Politizar: Angicos, 50 anos depois. Revista de Informação do
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MOTA, Rosangela da Silva. Aprendizagem do Adulto e Correspondentes Metodologias.


Trabalho de conclusão de curso (especialização em Educação de Jovens e Adultos).
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PELANDRE, Nilcea Lemos. Efeitos a longo prazo do método de alfabetização Paulo Freire.
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Graduação em Letras/Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina.

SCORTEGAGNA, Paola Andressa; OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva. Educação de Jovens e


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SOARES, Leôncio José Gomes. Educação de Jovens e Adultos: Diretrizes curriculares


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buenosaires.net/ppfh/documentos/teses/mauroroque.pdf. Acesso em: 21 de março de 2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA EDUCAÇÃO


INFANTIL
Andréia Pereira1

RESUMO: Este artigo tem como objetivo mostrar a importância da leitura na educação infantil e
os incentivos que os educadores devem propor às crianças desde os primeiros anos de vida no
ambiente escolar para promover a formação de futuros leitores cidadãos. Na educação infantil,
as crianças precisam de estímulos para desenvolver sua imaginação, linguagem e fantasia por
meio de livros. A leitura é inspirada pela criatividade e imaginação e os professores que usam
livros infantis proporcionam às crianças o desenvolvimento em todos os aspectos sejam eles
emocional, social, sensorial, cognitivos e crítico.

Palavras-Chave: Educação infantil; Literatura; Leitura; Livros.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF READING IN CHILD EDUCATION


ABSTRACT: This article aims to show the importance of reading in early childhood education and
the incentives that educators should propose to children from the first years of life in the school
environment to promote the formation of future citizen readers. In early childhood education,
children need stimuli to develop their imagination, language and fantasy through books. Reading
is inspired by creativity and imagination and teachers who use children's books provide children
with development in all aspects be they emotional, social, sensory, cognitive and critical.

Keywords: Early childhood education; Literature; Reading; Books..

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Esse artigo trata-se de uma pesquisa


bibliográfica, e para ser construído foram
O artigo presente trata da importância da utilizados e artigos disponibilizados na
leitura na educação infantil, essa prática passa internet.
pela estimulação para se tornar hábito, pois a Portanto, este trabalho pretende adentrar
leitura na infância é um caminho que leva as nesse mundo de fantasias e descobertas na
crianças a estimularem a imaginação, emoções arte de ler histórias na educação infantil,
e sentimentos de forma prazerosa e visando observar e conhecer novas estratégias
significativa. para motivar as crianças à leitura.
Esse hábito despertado pela leitura auxilia a
criança em seu processo de desenvolvimento
A IMPORTÂNCIA DO ATO DE
do ensino aprendizado, e também desperta a
importância da formação do seu senso crítico LER
e identidade perante a sociedade. O ato de aprender a ler, escrever e
A aquisição da leitura torna-se cada vez mais alfabetizar-se é antes de qualquer coisa,
indispensável para a plena participação social, aprender a ler o mundo e ter compreensão do
devido ao atual contexto, imerso em inúmeras seu contexto.
informações e conhecimentos, que estão a Na educação infantil, enfatiza-se a
todo o momento em transformação. importância das atividades orais que permitam
A leitura na educação infantil tem papel à criança brincar com a língua, com as cantigas,
extremamente relevante, pois é nessa fase, parlendas, trava línguas entre outras, elas
que as crianças estão desenvolvendo o seu aprendem também dentre as demais
imaginário, cabe ao professor nesse cenário, brincadeiras como nas atividades de
aperfeiçoar as formas de contar histórias identificação de sons, jogando, nas
mostrando sempre as figuras contidas nos brincadeiras de faz-de-conta, assistindo um
livros ou algo para estimular a fantasia das teatro, recitações de rimas, elas aprendem ao
crianças, a leitura precisa ser de curta duração, identificar seus próprios nomes, entre outras,
para que eles não percam o interesse, essa estes estímulos são cruciais para o
leitura precisa ser com o vocabulário de fácil desenvolvimento.
compreensão e adequado para o nível de O aprendizado da língua é também visual,
entendimento das crianças, pois nessa fase pois o contato com a leitura e as práticas de
elas são mais visuais do que auditivas. contação de histórias e manuseio de livros, leva
A literatura oral ou a escrita é a principal as crianças a ingressarem no primeiro ano, e se
forma pela qual recebemos a herança da o trabalho pedagógico com a criança for de
tradição que nos cabe transformar onde excelência e com muitos estímulos, levará
convivemos, são nas leituras que existe a apenas alguns meses para ela se alfabetizar.
transformação da mentalidade que se faz Atualmente, um dos grandes desafios
urgente e necessária. enfrentados na área da educação infantil é o
de conseguir adaptar à sala de aula com valores

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e prática pedagógica que atenda às processos históricos sociais e políticos foram


necessidades das crianças que já estão vivendo vividos dentro e fora do país.
o processo de aquisição de leitura e escrita. Esse percurso da construção da educação
É muito importante reforçar que o professor infantil contribuiu para a consolidação do
deve selecionar diferentes tipos de textos direito à educação, por meio da Constituição
literários ou não, que projeta a vida Federal de 1988, visa ao pleno
contemporânea do local onde os alunos estão desenvolvimento da pessoa, seu preparo para
inseridos, bem como de outros lugares e o exercício da cidadania e sua qualificação para
tempos, os diversos pontos de vistas, o trabalho (BRASIL, 1998, Art. 205).
estimulando discussões, reflexões e confrontos A educação infantil é também conhecida
entre os alunos. como a primeira etapa da Educação Básica,
O desenvolvimento intelectual da educação oferecida em creches e pré-escolas para
infantil representa um fator político-social crianças de 0 a 5 anos de idade, com essa
básico para o alcance do progresso de conquista a formação de professores passa a
aspiração de toda a sociedade, assim a ter projetos para formação destes
construção do conhecimento, como elemento profissionais.
principal, se efetivará pelo hábito da leitura, O Plano Nacional de Educação de 2001
uma vez inserida e enfatizada no contexto (PNE), visou para a carreira dos professores,
escolar. um curso para essa formação, para unir a teoria
Afinal, é principalmente da leitura que os e a prática, a formação teórica nos conteúdos
alunos poderão encontrar respostas aos seus científicos ensinados para os professores,
questionamentos, dúvidas e indagações, que ampliou os conhecimentos nas áreas culturais
os concede aos caminhos por onde permeiam e nas atividades direcionadas para cada idade,
na construção do seu conhecimento, e não em esses conhecimentos científicos são capazes de
uma metodologia tradicional. orientar ações mediadoras do
Assim, ler é produzir sentido, é fazer o desenvolvimento integral da criança na tenra
exercício pleno do letramento, é estar idade.
contextualizado no texto, interpretando-o e A formação dos professores traz para a
atribuindo-lhe algum significado. Portanto educação infantil, um ensino mais pleno e com
torna-se importante a criação de situações êxito no desenvolvimento integral da criança.
para que o exercício da leitura e escrita Segundo a autora afirma que,
produza reações, interações, construção de É preciso pensar em currículos e práticas de
subjetividade e conhecimento, não servindo formação profissional
apenas como uma atividade meramente de visando garantir condições adequadas à
cópia ou de decodificação dos sinais gráficos, promoção do desenvolvimento infantil,
cujo processo aliena o aluno do contexto em apontar os momentos de formação em serviço
que está inserido (NUNES, 2020, p. 55). como instrumentos necessários ao
A educação infantil é marcada por avanços, aperfeiçoamento e atualização profissional
impasses e retrocessos, sua construção e (CAMPOS, 2008, p.127).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As crianças aprendem e se desenvolvem a significativas para as crianças, para que ocorra


partir de situações educativas mediadoras, o aprendizado e o desenvolvimento infantil,
quando bem orientadas as crianças podem esse conhecimento adquirido pelas atividades,
alcançar estágios de desenvolvimentos mais que tem significado concreto para a vida das
elevados, pois um educador preparado crianças, e simultaneamente a aquisição de
desenvolve atividades corretas para cada novos conhecimentos.
idade. Cabe ao professor individualizar as situações
(...) organizar e estruturar corretamente a de aprendizagem oferecidas às crianças,
atividade de assimilação das crianças, considerando suas capacidades afetivas,
formulando objetivos e partir das ações que emocionais, sociais, cognitivas assim como os
deve realizar no marco das matérias de estudo conhecimentos que possuem dos mais
e das funções que estas desempenham no diferentes assuntos e suas origens
perfil profissional e no currículo, selecionando socioculturais diversas. Isso significa que o
os conteúdos que assegurem a formação dos professor deve planejar e oferecer uma gama
conhecimentos e características da variada de experiências que responda,
personalidade necessárias para a realização simultaneamente, às demandas do grupo e as
dos diferentes tipos de atividade, organização individualidades de cada criança (BRASIL,
do processo de aprendizagem com base nos 1998, p.32).
componentes funcionais da atividade: Deve-se sempre levar em consideração que
orientação, execução e controle (LIBÂNEO, as crianças são diferentes entre si, pois cada
2004, p. 121). uma tem seu ritmo de aprendizado, por isso a
É por meio das atividades que o sujeito entra formação de professores é muito importante,
em contato com o outro e com os objetos do pois são nesses momentos que o professor
mundo, a quando a atividade é compreendida deve estar preparado para propiciar às
traz para a criança o desenvolvimento crianças uma educação baseada na condição
psicológico despertando as mudanças de cada um, e a leitura é uma atividade
essenciais da personalidade e no acolhedora que fazem todos se desenvolverem
desenvolvimento infantil. de maneira igualitária, pois é nesse momento,
A atividade principal é a atividade da qual que todos de uma forma ou de outra, se
dependem, de forma íntima, as principais desenvolvem diante da imaginação criada por
mudanças psicológicas na personalidade cada um, durante a leitura que estará sendo
infantil, observadas em certo período de direcionada a elas (crianças).
desenvolvimento. É precisamente no A leitura é uma atividade básica na formação
brinquedo que a criança, no período pré- cultural do ser humano, atende as diversas
escolar, por exemplo, assimila as funções finalidades, entre elas o sendo crítico aguçado
sociais das pessoas e os padrões apropriados e uma maior percepção das diversas leituras
de comportamento (LEONTIEV, 1978, p. 64). intelectual e do mundo, permitindo assim
Para alcançar os objetivos os professores analisar toda e qualquer leitura.
precisam organizar atividades que sejam

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A leitura destinada para a educação infantil, interpretação, enfim, ler é considerar aquilo
precisa ser mais visual, mas sempre deixar eles que envolve o leitor.
cientes que nem todos os livros são compostos Aprender a ler significa também aprender a
somente de imagens, e que também há muitos ler o mundo, dar sentido a ele e a si próprio, a
livros com escritas para serem decodificadas, o função do educador não seria precisamente a
ato de ler traz consigo uma infinidade de de ensinar a ler, mas a de criar condições para
possibilidades, tais como imagens, fotos, sons que as crianças possam realizar sua própria
e palavras para serem interpretados. aprendizagem, conforme seus próprios
O simples fato de uma criança folhear um interesses, necessidades e fantasias que são
livro ou revista, observar suas figuras, sentir a exigidos naquele momento.
textura das folhas, selecionar exemplares por Portanto, para criar condições de leitura não
tamanhos ou por quaisquer itens que chamem implica apenas para alfabetizar e de ter acesso
a sua atenção, indica interesse pelo universo da aos livros, e sim em entender, pois somente o
leitura que pode ser incentivado por seus sentido de algo escrito, ou de uma imagem de
cuidadores, por meio de leituras diárias. um quadro, uma paisagem, sons, imagens que
Permitir sempre para as crianças o manuseio irão trazer uma situação real ou imaginária,
de livros, revista e jornais, pois cada um deles para o que foi lido e interpretado venha dar
traz em sua leitura muitas sensações dentre sentido e o desenvolvimento preciso para uma
elas a emoção e a razão, que fazem parte das formação de um bom leitor.
nossas vidas o tempo todo, sendo assim o ato
de ler também nos possibilita a desenvolver e A LEITURA E A AQUISIÇÃO DA
nos ensina a lidar com cada um deles, por meio
destes sentimentos já vividos dentro de um LINGUAGEM ORAL
livro que foi lido. A oralidade é entendida como uma atividade
O processo de ler é complexo, assim como verbal presente em todas as situações verbais
em outras tarefas cognitivas, resolver do mundo, a linguagem oral é um instrumento
problemas trazer à mente uma informação fundamental para que as crianças possam ser
necessária, aplicar algum conhecimento a uma inseridas em diversas práticas sociais, além de
situação nova, o engajamento de muitos se comunicar com o próximo e com o mundo.
fatores (percepção, atenção, memória) é De acordo com o Referencial Curricular
essencial se querem fazer sentido Nacional para a Educação Infantil.
texto(KLEIMAN, 2001, p. 10). Em algumas práticas, se considera o
Para entender o conceito de leitura, não aprendizado da linguagem oral, como um
basta procurar no dicionário o significado da processo natural, que ocorre em função da
palavra, pois ler envolver uma série de práticas maturação biológica prescinde-se nesse caso
e experiências, suas necessidades de leitura, de ações educativas planejadas com a intenção
seus gestos, suas habilidades, as maneiras de de favorecer essa aprendizagem (BRASIL, 1998,
ler, instrumentos, apropriação e processos de p.119).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Essa interação acontece desde o ventre por meio da oralidade, é uma habilidade que só
materno e vai se tornando mais forte quando é adquirida pelo âmbito social, e a criança
ela nasce e começa a dialogar com sua nasce com a capacidade para desenvolvê-la por
genitora, e a transformação interior começa a meio de sua figura materna, tornando-a uma
se desenvolver possibilitando ao bebê um novo das principais fontes de colaboração nesse
rumo na forma do seu pensamento, pois desde processo.
muito cedo os bebês emitem sons A aquisição da língua não é um processo
articuladores que permitem sua participação apenas natural, para se aprender a falar é
na comunicação com o adulto, pois as preciso primeiramente compreender a
situações vividas em seu meio fazem com que linguagem e a mediação de um adulto. Sendo
eles possam entender e ganhar experiências assim,
em sua comunicação, podendo assim (...) o papel do adulto é essencial na
aperfeiçoá-las dia após dia. mediação dos discursos infantis,
A criança vai construindo significados e então ao conversar o professor encontra ali
adquirindo experiência de forma gradual, seja um sujeito com características próprias de
ela por palavras, reconhecimento de algo ou de pensamento o professor faz-se entender e as
objetos, sua comunicação é se levantar de crianças pensam o mundo com os seus
onde está ou fazendo gestos ou barulho com a recursos com o que lhes são próprios
boca que permite ao adulto entender o que ele (AUGUSTO, 2011, p.60).
está falando. Entre o pensamento e a fala ocorrem
Após várias experiências em diversas mudanças ao longo da vida de todos os seres
situações, de interação com outras pessoas as humanos, pois os pensamentos podem ser
crianças vão tornando-se capazes de distanciar fixos, mas a fala não ao decorrer da vida a fala
se da realidade e criar símbolos para substituir vai cada vez mais se sofisticando ao longo de
outras realidades, por exemplo, utilizar uma suas experiências vividas.
boneca como se fosse um bebê, tais aquisições A aquisição da linguagem na vida de
possibilitam a criança novas formas de qualquer um é algo marcante no
trabalhar com símbolos, até que pode usar desenvolvimento do homem, a linguagem é
signos para representar o objeto ou a situação algo praticamente típico do humano e essa
(OLIVEIRA, MELLO e VITÓRIA, 2011, p.49). mesma linguagem que transforma o mundo
A criança é um ser tão único, que ao ver que em suas relações, faz com que as crianças as
a comunicação leva há ter o contato com o utilizem para auxiliá-las em relações de difíceis
outro, que ela acaba criando maneiras situações e até mesmo em seu mundo de faz
diferenciadas para conseguir o que ela deseja, de conta.
pois o processo da construção de símbolos para Já quando ingressam na escola a oralidade
a comunicação esta intrinsicamente associada assume um importante papel no ensino
à aquisição da linguagem. educativo, essas ações educativas tornam esse
A linguagem oral é um sistema pelo qual o processo mais eficaz ao propiciarem situações
homem expressa seus sentimentos e ideias dinâmicas envolventes, por meio das quais as

174
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

crianças podem explorar e desenvolver seu estruturas envolvendo pensamentos mais


instrumento comunicativo e social. complexos, vocabulário adequado, formas
Deste modo, o professor deverá sempre corretas são atributos que qualquer criança
criar situações para promover e incentivar a deveria apresentar ao término da escola
participação das crianças por meio de primária (ARAÚJO, 1965, p. 204).
atividades de conversa, discussões, poesia, É uma busca de objetivos para serem
dramatização, teatro, uso de fantoches, leitura alcançados com o crescimento e ajustamentos
e reeconto de histórias, entrevistas, músicas, para cada perfil das crianças, e isso sempre é
entre outras, todas estas atividades possível alcançar quando se é definido
possibilitam que as crianças possam se estratégias ricas e variadas, possibilitando uma
comunicar e interagir com os demais. vivência e um desenvolvimento prazeroso.
É fundamental que estas atividades sejam A linguagem não é inata, os bebês nascem
aplicadas de tal maneira que as crianças com a capacidade de desenvolve - las com a
possam transmitir das situações vividas convivência de um adulto, inicialmente a
durante as atividades para a vida, pois assim comunicação com o mundo é por balbucio,
elas saberão como lidar com os choro e risos que são expressões para a sua
acontecimentos. comunicação com o mundo exterior os bebês
É de grande valia o professor acompanhar o também se utilizam de gestos para expressar
desenvolvimento da linguagem oral da criança, algo que são entendidos pelos seus
pois com esse acompanhamento linguístico é cuidadores, e nesse processo interativo que as
mais fácil acompanhar se há progressos e crianças dão início a sua linguagem.
avanços, e quando o sujeito chegar à escola (...) o desenvolvimento da criança está
ficará mais fácil para o outro educador saber diretamente relacionado com a diversidade e
se ela tem algum tipo de dificuldade, e poderá qualidade de experiências que ela tem a
dar início a atividades e se preparar para ajudá- oportunidade de vivenciar. Estas
lo nesse processo da fala, e não deixar nunca experiências dependem da
que os demais percebam seu atraso na fala, constituição do contexto em que a criança
para não ocorrer críticas e risos da parte dos vive, principalmente do que lhe é tornado
amigos, pois isso pode traumatizar e acarretar acessível pela ação mediadora dos adultos que
atrasos em seu desenvolvimento. se ocupam dela (LIMA, 2003, p. 26).
Por isso é fundamental que o professor A possibilidade de comunicação vai
tenha registros destes avanços, pois ele pode gradativamente se aperfeiçoando com as
se planejar melhor para que o objetivo seja situações do dia-a-dia que a cada dia vão
alcançado. ficando cada vez mais elaboradas, os adultos
(...) um bom diagnóstico e a avaliação precisam ter a rotina de conversar com a
sistematizadas feita pela criança a todo o momento seja ela na
professora são necessários para melhores alimentação, troca de fraldas, banho entre
formas, mais clareza, mais concisão e mais outros momentos de cuidado, e durante o dia
perfeição de linguagem. Maturidade de todo procurar cantar, conversar, ensinar, ler

175
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

entre outras práticas que favoreça o desafiada a participar a todo o momento de


desenvolvimento da oralidade. forma espontânea e prazerosa.
Para Vygotsky, (1991, p. 103), ao longo da O profissional que atua com as crianças
evolução do pensamento e da fala tem início desempenham um importante papel da
uma conexão entre ambos, que depois se aquisição da linguagem, pois são por meio das
modifica e se desenvolve, nessa complexidade atividades propostas que as crianças ampliam
do desenvolvimento da linguagem cabe aos seu vocabulário, ideias e estruturação de
profissionais e responsáveis pelos pequenos pensamentos para a comunicação.
estimular e se expressarem a todo o momento Esta ampliação de repertório linguístico da
para que haja o desenvolvimento. criança acontecerá quando o professor criar
Vivenciar situações que envolvem ações de atividades, de situações como dar um
comunicação real no âmbito educacional é recado ou de buscar informações, e repassar o
muito importante, promover atividades ou que entendeu para os demais do grupo,
situações que as crianças possam se comunicar oportunizando ao aluno a desenvolver sua
ou solicitar algo para alguém, ou também os linguagem iniciando de forma comum e
educadores podem preparar ambientes criativa, deixando a atividade fluir com a
aconchegantes para leituras e contação de participação de todos. Essa oralidade
histórias ou estimular as crianças contar algum espontânea possibilitará o desenvolvimento
fato que os deixou curioso ou muito marcante das competências de ler e escrever.
na roda de conversa, essa prática pode A escola possibilita a criança a ter o contato
ocasionar diálogo entre as crianças. com a diversidade de uso das falas,
Conversar é construir significados estimulando-as ao exercício contínuo da
coletivamente. É criar um hábito, uma rotina, linguagem que a levará ao aperfeiçoamento da
uma regularidade. Para a conversa ser ato de escrita para sua função social, sendo assim
linguagem, deve haver busca troca, interação, vencendo a timidez e criando habilidades para
alternância (falar/ouvir, perguntar/responder), conviver em sociedade e sem medo de ser
construção de algo novo. Para isso, é expressar, pois cada um tem o seu papel no
necessário estabelecer parceria na construção mundo.
do diálogo, provocar as crianças para a entrada Trabalhar com textos orais é extremamente
na conversa, tornando-a interessante e importante, pois a criança terá uma bagagem
contextualizando todos os pensamentos que se desse conhecimento que ela levará para toda
organizam enquanto elas falam e escutam sua vida escolar, o ato de ler histórias ajuda
(CURITIBA, 2008, p. 27). muito o desenvolvimento da oralidade dos
Essa prática é apresentada como uma pequenos, pois esse ato beneficia as crianças
partilha de confronto de ideias, que ocasiona fazendo que elas se expressem melhor
liberdade de expressão e crescimento melhorando assim sua comunicação.
individual de cada sujeito de uma forma Elas (crianças) ouvem e recontam o que
especial, pois nesse espaço a criança é ouviram e enriquecem sua linguagem
estimulando a imaginação.

176
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para Augusto (2011), há três fases de contação de histórias que a criança desenvolve
desenvolvimento que são: a criatividade, imaginação e adquire cultura,
Na primeira fase, a presença do adulto é conhecimento de valores, além de favorecer
fundamental no momento de contar histórias e familiaridade com o mundo da escrita.
no jogo de contar, na primeira situação a Sendo assim, a leitura é uma construção
criança assume um papel de ouvinte e na efetiva, seja do significado estabelecido pelo
segunda ela se apoia no discurso do adulto e texto ou do sentido criado pelas
através de perguntas feitas pelo adulto vai particularidades individuais de cada leitor, a
dando significado a fala e compondo uma pro sua própria prática é fundamental para o
narrativa. Na segunda fase, a criança se separa desenvolvimento cognitivo e discursivo, pois
da fala do adulto e através de memorização e além de ler o indivíduo aumenta internamente
conhecimento ela relata experiências pessoais seu vocabulário intelectual, formando dentro
e na terceira fase, acriança passa a narrar de si uma biblioteca interna, é isso é muito
autonomamente reconhecendo-se como gratificante para quem está em processo de
próprio locutor. Partindo dessa perspectiva evolução, pois é fundamental que o professor
podemos entender que o papel do professor é sempre traga para a sala de aula, leituras e
fundamental para assegurar a construção da assuntos novos para os pequenos, isso
narrativa, podendo organizar situações que despertará o interesse e aptidão pela
promova as primeiras pro narrativas apreciação de obras literárias, trazendo
(AUGUSTO, 2011, p.50). condições para o crescimento individual do
O professor pode usar ferramentas para leitor, porque a cada dia o mundo da
melhorar ainda mais esse desenvolvimento alfabetização nos desafia e se posiciona de
com o uso de fantoches e caixas de histórias, maneira crítica e transformadora.
porque estas ferramentas ajudam a
socialização e a comunicação entre as crianças
e professores, essa atividade geralmente são
feita em rodas de conversa proporcionando
ainda mais o desenvolvimento.
As crianças podem ampliar suas capacidades
comunicativas, como a fluência para falar,
perguntar, expor suas ideias, dúvidas e
descobertas, ampliando assim seu vocabulário
e valorizando atividades em grupo como forma
de aprendizagem (BRASIL, 1998, p.138).
A contação de histórias proporciona para as
crianças desde cedo à capacidade de ouvir e de
aprendizagem, promovendo assim a pronuncia
das palavras de forma correta e por seguinte
uma comunicação melhor, é por meio da

177
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que a importância da leitura está diretamente relacionada ao
desenvolvimento da criança desde o início da educação infantil, sendo importante ressaltar que
ela (leitura) deve fazer parte do cotidiano infantil, e também fazer parte dos ambientes escolares,
por meio de cartazes, figuras representativas de expressões, cantinhos de leitura na sala, e de
espaços de leitura em outras áreas da escola.
É necessário e importante que as crianças comecem a despertar o gosto pela leitura na
educação infantil, pois os profissionais frente a educação das crianças, tem a responsabilidade
de proporcionar para as mesmas uma tática e um espaço adequado para o aprendizado.
A leitura iniciada nessa modalidade de ensino deve ser considerada para enriquecer o
potencial linguístico, promovendo a oportunidade mais eficaz de educação, assim
desenvolvendo a linguagem e o desempenho intelectual dos pequenos, aumentando e
auxiliando cada vez mais a formulação de perguntas e respostas sugeridas.
Essa prática de leitura deve ser constantemente trabalhada por meio das atividades
pedagógicas e devem estar presentes cotidianamente na vida das crianças.
Este trabalho apresenta os importantes fatores que motivam a formação de excelentes
leitores, pois a prática da leitura diária, desempenha um papel fundamental na sociedade pois,
ela (leitura) amplia continuamente seus horizontes de conhecimento.
Contudo, as histórias são essenciais para o desenvolvimento das crianças, pois uma leitura
com feita com propósito de ensino aprendizagem, pode atrair leitores de todas as idades, até
mesmo o nosso público alvo aqui estudado.

178
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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de Janeiro: Editora Nacional de Direito, 1965.

AUGUSTO, Silvana de Oliveira. A linguagem oral e as crianças: possibilidades de trabalho


na educação infantil. Educação Infantil: diferentes formas de linguagem expressivas e
comunicativas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, v. 1, p. 52-64.

BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, MEC/SEF, 1998.
vol. I, vol. II
CAMPOS, M. M. Educar crianças pequenas: em busca de um novo perfil de professor.
Retratos da Escola, v. 2, n. 2/3, p. 121-131.

CURITIBA, Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal da Educação. Caderno Pedagógico


Oralidade. Curitiba, 2008.

KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. 8ª ed. Campinas/ São Paulo: Pontes/
Editora da Unicamp, 2001.

LEONTIEV, A. N. O Desenvolvimento do Psiquismo. Lisboa: Horizonte Universitário, 1978.

LIMA, E. S. A criança pequena e suas linguagens. São Paulo: Sobradinho, 2003.

LIBÂNEO, J. C. A aprendizagem escolar e a formação de professores na perspectiva da


psicologia histórico-cultural e da teoria da atividade. Educar em Revista, Editora UTFPR, n.
24, p. 113-147, 2004.

NUNES, Izonete. Et al. A Importância do incentivo à leitura na visão dos professores -


Escola Walt Disney. REFAF 2020 – Revista Eletrônica Multidisciplinar.

OLIVEIRA, Zilma de Moraes; MELLO, Ana Maria; VITÓRIA, Telma; FERREIRA, Maria Clotilde
Rossetti. Creches: Crianças, Faz de Conta & cia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

VYGOTSKY, L. S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade pré escolar. In:


VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e
Aprendizagem. São Paulo: Ícone/EDUSP, 1988. p.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO PARA


AS CRIANÇAS
Etelvina Alves Moreira1

RESUMO: O presente artigo pretende refletir sobre a importância da musicalização para as


crianças. A música como ferramenta de ensino e aprendizagem para as crianças é um assunto
que deve estar no planejamento pedagógico, considerando que a musicalização agrega, como
outras práticas de ensino, num aprendizado significativo, uma vez que unifica a ludicidade,
criatividade, espontaneidade, entre tantos outros segmentos que estão presentes nas práticas
docentes e de ensino. A musicalização pode favorecer o desenvolvimento psicomotor, cognitivo
e socioafetivo das crianças. O ser humano já no ventre da mãe começa a escutar diversos tipos
de sons, então a musicalização é fundamental para as crianças desde pequenas.

Palavras-Chave: Musicalização; Crianças; Importância.

1Professora na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Alfabetização e Letramento.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF MUSICALIZATION FOR CHILDREN


ABSTRACT: This article intends to reflect on the importance of musicalization for children. Music
as a teaching and learning tool for children is a subject that should be in the pedagogical planning,
considering that musicalization adds, like other teaching practices, to a meaningful learning, since
it unifies playfulness, creativity, spontaneity, among many others. other segments that are
present in teaching and teaching practices. Musicalization can favor the psychomotor, cognitive
and socio-affective development of children. The human being already in the mother's womb
begins to hear different types of sounds, so musicalization is fundamental for children from a
young age.

Keywords: Musicalization; Children; Importance.

181
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO introduzida, maior será o seu desenvolvimento


no processo ensino aprendizagem.
A musicalização faz parte das nossas vidas A musicalização desperta na criança a
em todos os momentos. A sociedade tem o capacidade de conviver e socializar-se de um
costume de ver essa forma de arte como uma modo interessante e ativo, fazendo da música
maneira de diversão considerando como um um elemento ao qual desde cedo no contexto
lazer. Há a necessidade de se incorporar, na escolar das crianças ajuda de maneira lúdica e
educação das crianças de expressões diversas, prazerosa o aprendizado.
criação, invenção, que é justamente o que se No princípio, podemos supor, era o silêncio.
constrói com a arte, estimula as crianças a Havia silêncio porque não havia movimento e,
pensarem e se expressarem de maneira livre. portanto, nenhuma vibração podia agitar o ar –
A educação infantil é a fase onde se se inicia um fenômeno de fundamental importância na
a construção do saber, do fazer, do inventar, do produção do som. A criação do mundo, seja
apreciar, base para a construção da vida. Por qual for a forma como ocorreu, deve ter sido
isso que se defende a introdução da arte no acompanhada de movimento e, portanto, de
âmbito educacional. som (KARÓLY, 1990, p.5).
A musicalização apresenta uma grande Portanto, o Mundo que nos cerca está
influência na formação da criança, repleto de música e para que os bebês estejam
contribuindo para que suas emoções sejam em constante desenvolvimento é fundamental
expressadas de forma significativa. que a presença da música faça parte do seu
O trabalho com a musicalização deve ser cotidiano.
bem planejado e as atividades propostas pelo De acordo com Snyders (1999, p. 14):
professor devem favorecer o desenvolvimento A música está presente em diversas
integrado das capacidades criativas das situações da vida humana. Existe música para
crianças, devendo considerar a percepção, a adormecer, música para dançar, para chorar os
imaginação, proporcionando grandes mortos, para conclamar o povo a lutar, o que
descobertas. remonta a sua função ritualística. Presente na
A criança é um ser curioso e apto a explorar vida diária de alguns povos, ainda hoje é tocada
sempre. Neste sentido, no contexto escolar, ela e dançada por todos, seguindo costumes que
precisa vivenciar situações que estimulem e respeitam as festividades e os momentos
despertem ainda mais a sua curiosidade, para próprios a cada manifestação musical. Nesses
que possa revelar as suas características, contextos, as crianças entram em contato com
externar as suas dificuldades, os seus a cultura musical desde muito cedo e assim
sentimentos e os seus talentos e expressões começam a aprender suas tradições musicais.
próprias. Percebe-se que a música faz parte do nosso
As crianças começam a ouvir ainda dentro cotidiano e quando estimulada desde bebês
da barriga de suas mães e quanto mais música desenvolve aspectos cognitivos, fundamentais
ele ouvir, melhor será o seu desenvolvimento no contexto social.
intelectual, quanto mais cedo a música for

182
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

“A música é uma linguagem criada pelo espírito humano, com qualquer forma de
homem para expressar suas ideias e seus inspiração artística.
sentimentos, por isso está tão próxima de A educação musical tem grandes defensores
todos nós” (CRAIDY; KAERCHER, 2001, p. 130). desde a Grécia Antiga, dependendo da forma
Segundo Cage (1985, p. 5): como a música foi considerada nos diferentes
A música não é só uma técnica de compor períodos históricos e sociedades, sua defesa
sons (e silêncios), mas um meio de refletir e de adquiriu diversos perfis.
abrir a cabeça do ouvinte para o mundo... Com Platão em A república livro III e Aristóteles,
sua recusa a qualquer predeterminação em na Política Livro VIII, foram muito claros em
música, propõe o imprevisível como lema, um suas considerações a respeito da música como
exercício de liberdade que ele gostaria de ver fator crucial na formação do cidadão e do
estendido à própria vida, pois ‘tudo o que homem liberal, respectivamente.
fazemos’ (todos os sons, ruídos e não-sons Já a comunidade cristã, da Idade Média até
incluídos) ‘é música’. o período Barroco encontrou na música a
Portanto, tudo o que fazemos gera música, possibilidade de comunicar-se com o divino,
devido aos sons que escutamos e produzimos para os românticos do século XIX, a música era
em nosso cotidiano. forma de compreender o mundo por meio de
De acordo com Brito (2003, p. 45): suas alianças com a filosofia, os mistérios da
O termo musicalização infantil adquire uma alma e do universo podiam ser perscrutados.
conotação específica, caracterizando o Nos séculos XX e XXI, inúmeros ramos das
processo de educação musical por meio de um ciências humanas e exatas tem estudado com
conjunto de atividades lúdicas, em que as afinco a relação entre a música, sociedade e
noções básicas de ritmo, melodia, compasso, indivíduo e as mediações que a música opera
métrica, som, tonalidade, leitura e escrita entre os mundos internos e externos.
musicais são apresentadas à criança por meio A música é considerada por Shafer como
de canções, jogos, pequenas danças, exercícios uma prática cultural e humana, atualmente
de movimento, relaxamento e prática em não se conhece nenhuma civilização que não
pequenos conjuntos instrumentais. possua manifestações musicais próprias.
Portanto, a musicalização infantil é realizada Embora nem sempre seja feita com esse
por meio de brincadeiras e jogos nos quais são objetivo, a música pode ser considerada como
desenvolvidos conhecimentos amplos que uma forma de arte, considerada por muitos
fazem uso das músicas e tornam o processo como sua principal função.
ensino aprendizagem significativo. Segundo Shafer, 1991:
Sendo a música uma disciplina complexa,
O CONTEXTO HISTÓRICO DA que abrange teoria e prática de execução, deve
ser ensinada por pessoas qualificadas para isso.
MÚSICA Sem concessões. Não permitiríamos que
Segundo Becker (2003), a palavra Mousikos, alguém que tivesse frequentado um curso de
do grego musical, referia-se ao vínculo do verão em Física ensinasse a matéria em nossas

183
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escolas. Por que haveríamos de tolerar essa para o ensino de Educação Artística: I grau São
situação com respeito à Música? Por acaso ela Paulo, 1991).
está menos vinculada a atos complexos de Essas transformações abrangeram os
discernimento? Não. (SHAFER, 1991, p. 303). currículos dos cursos superiores em música,
Para esse autor, as escolas deveriam ter que passaram a ter duas modalidades:
profissionais habilitados para ensinar música, licenciatura em educação artística (habilitação
disciplina a qual já esta vinculada em alguns em música, artes plásticas, artes cênicas ou
componentes curriculares dentro do Estado de desenho) e bacharelada em música
São Paulo. (habilitação em instrumento, canto, regência
O compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos e/ ou composição).
tem seu nome gravado na história brasileira Por meio das brincadeiras de explorar como:
não somente por ter sido um grande brincar com os objetos sonoros que estão ao
compositor, mas também porque tinha um seu alcance, experimentar as possibilidades da
sonho de fazer o Brasil cantar. sua voz e imitar o que ouve, a criança começa
Ele foi o idealizador do movimento Canto a dar significado aos sons que antes estavam
orfeônico, que fez do ensino da música uma isolados, agrupando-os de forma que
disciplina obrigatória nas escolas de ensino comecem a fazer sentido para ela.
formal a partir da década de 1930, e que Nas aulas de música em grupo são
permaneceu nas escolas mesmo após as trabalhados aspectos como, por exemplo, o
mudanças de nomenclatura para Educação respeito pelos colegas, a cooperação que as
Musical, em 1961. atividades realizadas em coletivo exigem e a
A educação musical transformou-se em união da turma na busca de alcançar objetivos
disciplina curricular até o início da década de que sejam comuns a todos, como por exemplo,
1970, quando, com a LDB 5692/71, o Conselho cantar e dançar em roda ao mesmo tempo.
Federal de Educação instituiu o curso de Dessa maneira, fortalecemos a ideia de que
licenciatura em educação artística (Parecer nº este conteúdo específico deve ter seu lugar
1284/73), alterando o currículo do curso de reservado nas grades curriculares escolares.
educação musical. Sobre a educação musical nas escolas da
Esse currículo passou a compor-se de quatro educação básica e nas universidades, Loureiro
áreas artísticas distintas: música, artes (2004) coloca:
plásticas, artes cênicas e desenho. Assim, a A educação musical que hoje é praticada em
educação artística foi instituída como atividade nossas escolas mostra se como um complexo
obrigatória no currículo escolar do 1º e 2º heterogêneo onde encontramos a convivência
graus (ensino fundamental e médio), em de diversas práticas e discursos. Evidencia-se,
substituições às disciplinas artes industriais, entretanto, o distanciamento da prática,
música e desenho, e passando a ser um presente nas salas de aulas, e a teoria,
componente da área de comunicação e produzida e circunscrita à academia
expressão, a qual trabalharia as linguagens (LOUREIRO, 2004, p. 65).
plástica, musical e cênica (Proposta Curricular

184
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A autora afirma ainda que a prática seja bem música enquanto linguagem expressiva torna-
diferente do proposto pelas leis. Segundo a se essencial para a formação do homem, uma
autora, além da falta de infraestrutura, o vez que favorece o desenvolvimento da
professor não possui o conhecimento sensibilidade estética e artística, bem como o
necessário e acaba transmitindo-o de acordo potencial criativo do sujeito, proporcionando,
com sua própria percepção sem os portanto o fazer, o apreciar e o interpretar na
embasamentos técnicos e científicos devidos, música.
logo, ensina conforme aprendeu, priorizando e Vivenciar a música ludicamente possibilita à
considerando apenas o seu próprio criança, em especial ao bebê, se envolver e
conhecimento, ignorando a música apreciada participar do fazer musical em um estado de
pelos alunos e suas vivências. entrega e inteireza, no qual a experimentação
Os conteúdos por sua vez terminam sendo e apropriação se fazem perante a experiência
fragmentados, desatualizados, abstratos, musical.
direcionando o seu ensino a uma educação O papel do educador enquanto mediador do
imposta, deixando de lado a educação musical conhecimento se faz necessário no sentido
de qualidade da escola. que, ao interagir com a criança em
A música, segundo autora, é um desenvolvimento, ele estará estimulando a
aprendizado que se desenvolve com produção de aberturas nas zonas de
conhecimento adquirido historicamente. desenvolvimento proximal desses sujeitos,
Assim, ao priorizarmos o ensino dos conceitos portanto, a distância entre o nível de
musicais em diferentes atividades, estamos desenvolvimento real e potencial, e essa
estimulando o estudo da música à criança, interação propicia a aprendizagem que por sua
proporcionando a ela produtos historicamente vez promove o desenvolvimento.
acumulados e importantes para sua formação, Segundo Vygotsky (1989, p. 101):
porém não de maneiras artificiais por (...) um aspecto essencial do aprendizado é
memorização compulsiva ou repetitiva, mas, o fato de ele criar a zona de desenvolvimento
sim, sistematizados, com experiências proximal; ou seja, o aprendizado desperta
mediadas e agradáveis. vários processos internos de desenvolvimento,
O momento atual vem trazendo, no campo que são capazes de operar somente quando a
musical, inúmeras novidades, com produções criança interage com pessoas em seu ambiente
nos mais variados estilos, exigindo dos e quando em cooperação com seus
professores e profissionais da música outra companheiros. Uma vez internalizados, esses
maneira de perceber, experimentar e ouvir. processos tornam-se parte das aquisições do
desenvolvimento independente da criança.
A MÚSICA E O LÚDICO Para que essa aprendizagem venha
acontecer de maneira efetiva deve-se
A música se faz presente por meio do espaço
conhecer, reconhecer e respeitar as
escolar, configurando-se como linguagem
especificidades de cada aluno, possibilitando
expressiva do sujeito em processo de
meios desse aluno vencer suas barreiras e
construção do conhecimento. Dessa maneira, a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

limitações no processo do fazer musical, de habilidades sociais, sensoriais, afetivas e


forma a favorecer a participação de todos. musicais.
Os métodos de educação musical como Para Garcia (2005):
propostas de ensino constituem uma fonte A contribuição da música no crescimento
para pensar e realizar a prática pedagógico- geral do educando pode configurar-se como
musical, de modo que venha atender as agente de desenvolvimento sensorial e
necessidades do cotidiano da sala de aula. emocional, como estímulo mental e como
Como nos diz Penna (2012, p.21): forma de sensibilização, além de proporcionar
Em lugar de se prender a um determinado gratificação e êxito.
“padrão” musical, faz-se necessário encarar a A autora ressalta que esses aspectos
música em sua diversidade e dinamismo, pois entrelaçados fundem a mente, o corpo e as
sendo uma linguagem cultural e emoções numa experiência importante ao
historicamente construída, a música é viva e desenvolvimento dos processos cognitivos.
está em constante movimento. Desse modo, pode se perceber o quanto o
Portanto, uma aula de música na ludicidade ensino da música torna-se importante para o
torna-se uma ação significativa para a criança, desenvolvimento como um todo do sujeito,
na medida em que proporciona a articulação quando trabalhada de maneira correta na
entre o novo confronto com a realidade, ludicidade, a música é capaz de envolver o
oportunizando situações de auto expressão e sujeito em um estado interno de plenitude no
de desenvolvimento. Para tanto, é qual a vivência da experiência propicia a
fundamental que as experiências e vivências criação e ampliação do conhecimento.
culturais das crianças em relação à música
sejam consideradas no fazer musical. Nesse LUDICIDADE E MÚSICA:
processo, o aspecto social do ser humano
estará em desenvolvimento, isto é, sua MUSICALIZAÇÃO
interação com o outro, condição necessária O acesso à educação musical por muito
para o desenvolvimento das capacidades do tempo foi algo restrito, nem todos tinham a
sujeito de forma plena. Portanto: oportunidade de estudar música, seja por falta
A vivência musical é um processo biológico, de aptidão, recursos financeiros ou até mesmo
psicológico, social, afetivo, cultural e espiritual, de condições favoráveis de ensino. O que nos
e deve se manifestar a partir do prazer, na permite entender a educação musical, tão
realização pelo desejo em conhecer, na fundamental para a formação integral do ser
integração com o outro, na curiosidade e na humano, como um privilégio para poucos.
criação (MOSCA, 2006, p.46). É pertinente ressaltar que a educação
Pode-se concluir que a música, devido a suas musical como componente curricular não tem
características intrínsecas, contribui para o a pretensão de formar músico profissional, e
desenvolvimento das estruturas cognitivas, sim “desenvolver a sensibilidade estética e
linguísticas e psicomotoras do sujeito, como artística, assim como a imaginação e o
também favorece o desenvolvimento de potencial criativo” (SOARES, 2006, p.10).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Portanto, todos possuem a capacidade de processos de assimilação e acomodação. Cada


aprender a expressar-se por meio da música. indivíduo, porém, imprime características
Para tanto, é necessário oportunizar situações peculiares em sua cognição, conforme
propícias à construção do conhecimento em interesses ou necessidades de sua vida
música, permitindo o acesso de todos à cotidiana.
educação. A música é uma linguagem que comunica
O educador acredita que o lúdico vem para sensações, sentidos e passa por organização de
a educação como uma ferramenta motivadora som e silêncio. Está presente nas mais diversas
com fins pedagógicos. E essa motivação tem situações, assim como o lúdico, por isso a
ligação direta com o atrativo porque “se adapta importância de caminharem juntos. A
melhor à realidade, à faixa etária e à fase de afetividade, a cognição e a estética são partes
desenvolvimento em que as crianças estão.” integrantes da música e do lúdico.
(JÔNIO, 2015, p. 15).
Qualquer atividade lúdica provoca estímulos
nas pessoas, explorando seus sentidos vitais,
operatórios e psicomotores, propiciando o
desenvolvimento completo das suas funções
cognitivas.
Macedo, Petty e Passos defendem que:
O brincar é agradável por si mesmo, aqui e
agora. Na perspectiva da criança, brinca-se
pelo prazer de brincar, e não porque suas
consequências sejam eventualmente positivas
ou preparadoras de alguma outra coisa.
(MACEDO, PETTY & PASSOS, 2005).
A primeira infância se caracteriza pelo
momento em que os processos cognitivos
estão sendo construídos, com
aperfeiçoamentos gradativos.
Segundo Beyer (1996, p. 9):
O ato de pensar compreende várias etapas
no processo. Estas vão desde a percepção, que
passa pela organização mental do indivíduo,
elaborando as ideias de forma a possibilitar
uma expressão do material captado e
elaborado. Segundo uma perspectiva
piagetiana, a organização mental dos
fenômenos externos e internos relaciona-se à
constante busca de equilíbrio entre os

187
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que se refere o lúdico, uma prática pedagógica pauta na ludicidade configura-se como
uma aula que permite a vivência e a reflexão a partir do vivido. Nesse sentido, a ação lúdica
propicia uma experiência plena para o sujeito, seja brincando, jogando ou agindo ludicamente,
ele estará inteiro e completo nesse momento, e são as próprias atividades lúdicas que o conduz
para esse estado de consciência. Portanto, a ludicidade na educação representa um instrumento
potencial para a construção do conhecimento, uma vez que possibilita um aprendizado no qual
o construir, o interagir e o vivenciar são apreciados. Trazendo essas concepções para o universo
da educação musical, a ludicidade torna-se um instrumento de fundamental importância para o
ensino da música, porque nos oportuniza vivenciar a música em sua plenitude. E nessa vivência
musical experienciamos diferentes maneiras do fazer, interpretar e apreciar musical.
Podemos concluir que a ludicidade tem configurado importante instrumento de
aprendizagem na educação musical, uma vez que a vivência oportuniza o conhecer pelo fazer. E
nesse fazer a aprendizagem se processa a partir das relações e na troca de experiências gerando
conhecimento.
A brincadeira é uma ação natural da vida infantil, no momento em que brinca a criança
trabalha com diversos aspectos como, físico, motor, emocional, social e cognitivo, se constituindo
um importante elemento no processo de desenvolvimento e aprendizagem. Portanto podemos
ressaltar que o lúdico como uma dimensão significativa a ser explorada pelos profissionais que
atuam na educação.
Apresentar novas situações as crianças a partir de uma visão de mundo a que elas já estão
habituadas, aproxima o conteúdo que se deseja trabalhar com realidade das crianças tornando a
ação de aprender prazerosa por estar interligada com a brincadeira.
É importante destacar que a aprendizagem proporcionada pelo lúdico não acontece
somente nos momentos em que este está aliado a atividades educacionais, no momento em que
a crianças brinca de forma livre e natural, sem a influência ou direcionamento do profissional de
educação ou de um adulto também existem inúmeras aprendizagens proporcionadas pela
brincadeira.
É preciso resgatar brincadeiras e músicas na ludicidade para haver uma maior interação
entre educando e educador para uma qualidade no ensino e aprendizagem.

188
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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190
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA DE
INTERVENÇÃO PSICOSSOCIAL POR MEIO DE
GRUPOS OPERATIVOS NO PROCESSO DE
FORMAÇÃO DO EDUCADOR
Antonio Carlos Icó1

RESUMO: Neste artigo inicialmente são apresentadas algumas considerações sobre o processo
educativo. Em seguida alguns dos referenciais teóricos que norteiam o processo de Intervenção
Psicossocial tomando como base autores dos campos de conhecimento da Psicologia
(intervenção psicossocial) e da Educação (espaços educativos, interpretação e compreensão e
formação do educador). Procura-se demonstrar brevemente a maneira como a resolução dos
conflitos e das situações-problema e suas decorrências pedagógicas podem ser utilizadas para a
obtenção de aprendizagens. Finalmente, apresenta-se a proposição de criação de um novo
componente curricular, a ser incluído no curso de Pedagogia, com a oferta aberta às demais
licenciaturas e ao bacharelado em Psicologia do DEDC I.

Palavras-Chave: Intervenção Psicossocial; Grupos Operativos; Formação do Educador.

1Professor da UNEB; MD Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC/UNEB).


Graduações: Administração (UFBA) e Psicologia (UFBA).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF THE PRACTICE OF PSYCHOSOCIAL


INTERVENTION THROUGH OPERATIVE GROUPS IN THE EDUCATOR'S
TRAINING PROCESS
ABSTRACT: Initially, this article presents some considerations about the educational process.
Then some of the theoretical references that guide the process of Psychosocial Intervention
based on authors from the fields of knowledge of Psychology (psychosocial intervention) and
Education (educational spaces, interpretation and understanding and teacher training). It seeks
to briefly demonstrate how the resolution of conflicts and problem situations and their
pedagogical consequences can be used to obtain learning. Finally, we present the proposal to
create a new curricular component, to be included in the Pedagogy course, with the offer open
to other degrees and to the bachelor degree in Psychology of DEDC I.

Keywords: Psychosocial Intervention; Operating Groups; Educator Training.

192
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO contempladas do ponto de vista formal ou


curricular, pois pouco se pensa
Compreendendo o processo educativo de academicamente sobre isto ou tampouco se
maneira mais ampla, para além do âmbito constroem formulações teóricas sobre tais
formal, observa-se que as instituições assuntos (ANDRÉ, SIMÕES, CARVALHO,
formadoras podem ser consideradas contextos BRZEZINSKI, 1999).
de socialização e de múltiplas relações entre os Por isto, esta proposição materializa a
diversos campos do conhecimento, pois, neles, concepção de um novo componente curricular,
quase sempre, estão presentes relações resultante de vivências desde o trajeto escolar,
institucionais, sociais e interpessoais que que marcaram a construção profissional do
permitem o desenvolvimento de vivências, autor (psicólogo e educador), por
partilhas, afetividades e emoções. Tais relações possibilitarem situações de aprendizagem que
não deveriam passar despercebidas, mas, na podem levar a uma compreensão mais ampla
realidade, não têm sido foco da merecida da convivência social e escolar e a mudanças de
atenção, pois, esses espaços educativos atitudes. Assim, considera-se necessário
tendem por assumir práticas exclusivas de explorar e sistematizar experiências
transmissão de conhecimentos ou, no máximo, (particularmente de graduandos do
da promoção da autoestima. Departamento de Educação – DEDC I) ante as
As situações-problema existentes, sejam situações-problema, que, orientadas
explícitas ou latentes, a exemplo de conflitos pedagogicamente, revelem contribuições
decorrentes dessas relações, implicam a significativas para o aprofundamento da
necessidade de uma intervenção pedagógica – formação dos futuros educadores.
para que não venham intensificar-se e A Resolução CNE/CP nº. 02/2015 estabelece
acarretarem dilemas – maiores –, bem como a que os processos educacionais devem ser
de desenvolver processos educativos que desenvolvidos mediante o incentivo da
possibilitem aproveitar o potencial criativo de colaboração entre as instituições educacionais
tais situações, com o objetivo de obter e as comunidades locais, assim como da
aprendizagem e melhoria das relações articulação entre a formação teórica e a prática
interpessoais aí estabelecidas. Isto no sentido do exercício profissional, como, aliás, está
de transformar o espaço institucional em um posto nas Diretrizes Curriculares Nacionais
ambiente mais criativo, produtivo, agradável e para a formação inicial em nível superior.
prazeroso, que proporcione a melhoria da Neste artigo comunica-se os estudos que
capacidade profissional, mas também a melhor vêm sendo direcionados para se atingir o
qualidade de vida dos seus integrantes. objetivo geral de aprofundar o conhecimento
Porém, muitas dessas situações, em geral, do processo de ensino e aprendizagem dos
são conduzidas com base nos saberes da conteúdos dos cursos de licenciatura e de
prática, por meio de improvisações cotidianas, psicologia aplicando-os ao estudo da sua
repercutindo apenas indiretamente na própria realidade, bem como do contexto em
formação do educador, não sendo seu entorno, enquanto campos de observação

193
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e prática. Para o alcance desse objetivo macro, contenta em receber o saber, como se ele fosse
alguns objetivos específicos vêm sendo trazido do exterior pelos que detêm os seus
desenvolvidos, tais como: demonstrar a segredos formais. A noção de experiência
intervenção psicossocial, por meio de grupos mobiliza uma pedagogia interactiva e dialógica
operativos, como uma forma producente de (DOMINICÉ, 1990, pp. 149-150, apud, NÓVOA,
enfrentamento das situações-problema; 1990).
relatar experiências de resolução de conflitos Além da dimensão pedagógica, trata-se de
vividas enquanto educador, desenvolvidas em mobilizar a experiência também no aspecto
salas de aula do DEDC I; identificar o potencial conceitual de produção de saberes. Por isso, é
criativo obtido durante a elaboração de fatores fundamental a criação de redes de
emocionais por meio de processos de autoformação participada, que permitam
intervenção psicossocial e suas repercussões compreender o sujeito na sua totalidade,
para o desenvolvimento cognitivo dos assumindo a formação como um processo
estudantes; articular a Educação superior à interativo e dialético. A troca de experiências e
Educação básica por meio da colaboração com a partilha de saberes consolidam espaços de
ações de intervenção psicossocial, orientando formação mútua, nos quais os professores são
graduandos do DEDC I. inseridos no desenvolvimento simultâneo dos
António Nóvoa (1992), afirma que a papéis de formador e de formando. O processo
formação docente se constrói por meio de um dialógico é importante para consolidar os
trabalho de reflexividade crítica sobre as saberes que emergem da prática profissional
práticas e de (re)construção permanente de docente. Mas a criação de redes coletivas de
uma identidade pessoal. Reside aí a trabalho constitui, também, um fator
importância de se investir na dimensão pessoal primordial de socialização e de afirmação de
dos professores, imprimindo um estatuto ao valores próprios da profissão, desenvolvendo
saber das experiências adquiridas nos uma nova cultura entre os professores que
percursos educativos, pois “a formação vai e passa pela produção de saberes e de valores
vem, avança e recua, construindo-se num que corporificam um exercício autónomo da
processo de relação ao saber e ao profissão docente. “Práticas de formação
conhecimento que se encontra no cerne da contínua referenciadas nas dimensões
identidade pessoal”. Ele defende a necessidade coletivas contribuem para a emancipação
de investir na práxis enquanto espaço de profissional e para a consolidação de uma
produção do saber, concedendo uma atenção profissão que é autônoma na produção dos
especial à vida dos professores: seus saberes e dos seus valores'' (NÓVOA,
Devolver à experiência o lugar que merece 1992).
na aprendizagem dos conhecimentos Seguindo o encadeamento enunciado
necessários à existência (pessoal, social e reverbera-se na crença de que a intervenção
profissional) passa pela constatação de que o psicossocial representa uma forma
sujeito constrói o seu saber activamente ao significativamente producente de
longo do seu percurso de vida. Ninguém se enfrentamento das situações-problema, haja

194
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

vista as possibilidades que oferece, tanto no educador, inclusive a experiência da antiga


sentido de transformação das referidas FAEEBA/UNEB, e os espaços educativos).
situações, como principalmente no de ampliar Desta forma, os “diálogos” estabelecidos de
a capacidade e competência profissional dos forma livre entre esses autores constituem-se
mencionados graduandos. Demonstrar a no referencial de discussão para fins de atingir
efetividade pedagógica e transformadora a proposta principal de pesquisar e apresentar
desse recurso do campo da psicologia a efetividade da intervenção psicossocial no
representa um dos objetivos específicos aqui enfrentamento das situações-problema
postulados. visando uma ação pedagógica transformadora,
Por fim, com base nas experiências obtidas assim como, fundamentar o que mais adiante
ao longo do percurso compreende-se que o será demonstrado, quanto à importância da
processo de intervenção psicossocial deve articulação entre a Educação superior com a
integrar a formação básica, para a Educação básica por meio de ações
compreensão teórica e a prática profissional, colaborativas de intervenção psicossocial,
de futuros licenciados e psicólogos do DEDC I orientando graduandos do DEDC I.
da UNEB, como um componente curricular, na Aqui considera-se o processo de intervenção
forma de seminário temático, visando ao psicossocial, sobretudo, como uma prática da
preparo e à qualificação desses estudantes psicologia social que surge com a finalidade de
para o exercício profissional em prol do trabalhar os conflitos, problemas e demandas
desenvolvimento da consciência cidadã e da em uma instituição, como uma forma de
sociedade. orientação esclarecedora, propondo aos
sujeitos inseridos em tais relações, alternativas
A INTERVENÇÃO para identificar e equacionar os problemas.
Enrique Pichon-Rivière (1988), a considera
PSICOSSOCIAL EM ESPAÇOS como uma articulação com os grupos, uma
EDUCATIVOS: UM DESAFIO abordagem social e um importante elemento
psicológico facilitador da operatividade, pois,
PARA O EDUCADOR com base na ação de um mediador é possível
Aqui busca-se estabelecer alguns dos
operar nas relações conflitantes e assim causar
referenciais teóricos que guiam a análise do
mudanças qualitativas nas relações e
objeto desta proposição que são: a síntese do
capacidade produtiva dos grupos. Enquanto
pensamento dos autores desse campo de
Michel Thiollent (1985), considera que a
conhecimento da Psicologia tomados como
intervenção psicossocial é uma estratégia
base (intervenção psicossocial); discorrer
social, cuja finalidade é o acompanhamento
brevemente sobre o papel pedagógico da
das decisões da ação institucional.
interpretação enquanto elemento
Pode-se afirmar que a intervenção
intermediador dos campos do conhecimento
psicossocial, portanto, não se limita a buscar
da Psicologia e da Educação; a síntese do
uma forma de ação, mas também potencializar
pensamento dos autores do campo de
as relações dos sujeitos envolvidos, o
conhecimento da Educação (a formação do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conhecimento e a consciência das pessoas e instâncias conservam seu poder intacto e que a
grupos observados. O orientador que estiver estrutura da organização, além dos arranjos
presente na intervenção psicossocial se menores concebidos, acaba totalmente
tornará um contribuinte efetivo para a reforçada (LÈVY; DUBOST, 2001, p.177).
resolução dos problemas, uma vez que se A intervenção psicossocial potencializa o
propuser a: analisar as demandas do coletivo ambiente institucional, tornando as relações
observado; colocar-se em prol da resolução interpessoais mais confortáveis; por sua vez,
dos conflitos e transpor as barreiras existentes quando tais mudanças passam a ocorrer na
no grupo, sob o qual desenvolve a sua estrutura relacional de um grupo, este mantém
intervenção. Assim, irá propiciar um caráter o equilíbrio na sua maneira de se relacionar e
conscientizador da sua ação, articulando em exercer suas atividades (MOSCOVICI,
constantemente as atividades interventivas no 1980). Ao se aplicar as dinâmicas de
grupo e ao conhecimento que desta se intervenção, incentiva-se a desenvolver no
apreende. grupo uma esperança, referente ao resgate da
René Lourau (2004), ressalta a importância harmonia das relações interpessoais, da
do potencial producente da intervenção solução dos problemas enfrentados e da
psicossocial, porém, sem esquecer que, potencialização da sua capacidade operativa.
enquanto análise institucional, ela não tem o Isto tende a levar os integrantes a desenvolver
objetivo de fazer milagres. Nesta prática o um sentimento de confiança nos membros do
orientador deve ir ao encontro da raiz do grupo e com o orientador.
problema para conduzir o que está sendo Mesmo ao se explicitar e acentuar as
apresentado. Para tanto, deve estar contradições, o fato de recupera-las em um
psicologicamente preparado para efetivar a discurso único leva a crer na possibilidade de
intervenção e assim estabelecer uma ultrapassá-las ou, no mínimo, articulá-las; o
homeostase dos conflitos e problemas, e levantamento inscreve-se necessariamente no
desencadear uma harmonia nas relações projeto de dar um sentido; é a função das
interpessoais entre os sujeitos envolvidos. representações, que não se reconhecem como
A utilização da intervenção psicossocial, um discurso, mas se apresentam como um
como mediadora dos conflitos e problemas não saber sobre – ou sentido cuja função principal
solucionados no cotidiano, é uma prática que: é a de fundamentar, legitimamente, ações ou
[...] dá força para que sejam escutadas e decisões – saber para (LÉVY; DUBOST, 2001, p.
consideradas as dimensões sócio–emocionais e 189), a que denominaram de (2001, p. 191)
os interesses não reconhecidos [...] crê que, “desenvolvimento de uma relação normativa e
permitindo a expressão do reprimido, ajuda as pedagógica”.
categorias vítimas da repressão. De fato, mais Relações são estabelecidas principalmente
tarde [...] descobrirá ainda que essa expressão por meio dos relatos orais, uma vez que por
e o trabalho que a acompanha apenas meio da escuta e partilha das situações, se
excepcionalmente conduzem a mudanças de analisa, se interpreta e acaba por se
estrutura que, mesmo nesse caso, as mais altas compreender os conflitos interpessoais e as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

situações-problema, alcançando-se soluções dos obstáculos de forma transparente, sincera,


proveitosas para as mesmas. Dessa forma, sem discriminação, porém cuidadosa. Fazendo
essas experiências demonstram o quão isto, o coordenador implicado, ou seja,
importante é o processo de intervenção comprometido por estar inserido em seu
psicossocial. Independentemente do método ambiente de observação por meio de um
utilizado para a sua realização, segue com o seu processo de imersão, consegue literalmente
objetivo: a busca da raiz dos conflitos e das transformar o seu espaço de estudo em um
situações-problema, bem como a resolução contexto de relações transparentes,
e/ou pacificação dos mesmos. A resolução dos espontâneas, criativas e produtivas e como
conflitos e problemas intergrupais só acontece veremos a seguir, que contribuem para a
quando os indivíduos falam, escutam e aprendizagem dos diversos atores.
interpretam as situações, dando sentido para
as mesmas. Os grupos que enfrentam seus A INTERPRETAÇÃO E A
conflitos de frente, expondo-os para o coletivo
de modo a buscar as soluções, têm uma maior COMPREENSÃO
facilidade de encontrar as saídas, pois praticam A interpretação é abordada a seguir
a análise dos problemas e constituem desta concentrando-se na sua acepção enquanto
forma um laço forte nas construções das dispositivo analítico do campo pedagógico.
relações sociais. Neste âmbito, o elemento central é o
Assim, a proposta apresentada tem o conhecimento, pois este medeia todas as suas
sentido de proporcionar a compreensão do relações sociais, sejam as internas aos espaços
que acontece nas relações interpessoais entre educativos, quanto àquelas que gravitam no
os sujeitos, proporcionando uma empatia que seu entorno. O próprio conhecimento,
ocorre nas duas direções de forma simultânea. enquanto elemento mediador possui
Sendo assim, o objetivo aqui é desenvolver diferentes facetas e interpretações, inclusive as
processos educativos que contribuam para o epistemológicas. Entretanto, quando a
aumento das relações de empatia, atuante no instituição educativa o toma como objeto de
processo de intervenção psicossocial, trabalho, costuma organizá-lo como um
favorecendo a espontaneidade e a criatividade padrão burocrático, uniformizando condutas e
dos sujeitos envolvidos, que se realizam no relações. Alternativamente, precisa-se adotá-la
grupo, espaço essencial desses processos, como uma estratégia de intervenção, que
potencializando o surgimento de insights em compreenda e interprete os acontecimentos
função das demandas do coletivo e refletindo- em prol da qualidade dos processos formativos
se na melhoria do desempenho operativo, no dos sujeitos da produção do conhecimento.
nosso caso o acadêmico; isso termina por Adentrar-se-á no campo da educação com a
ocorrer a partir do encontro com o grupo. perspectiva interpretativa que significa, em
Em suma, considera-se que as mudanças essência, interrogar como determinadas
acontecem quando os grupos em processo de vivências psicológicas, por si mesmas,
intervenção psicossocial vivenciam as causas

197
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

interferem na aprendizagem, seja para facilitá- O CONTEXTO DA FORMAÇÃO


la ou bloqueá-la.
Nesse caso a interpretação é vista sob a ótica DO EDUCADOR
de Nadia Fialho (2015, p. 38): Para melhor compreender o contexto da
[...] uma estratégia de intervenção, uma formação do educador, se estabelecerá como
forma de tornar operativa a atuação docente ponto de partida, algumas das concepções de
no processo de formação, de explicitar como os autores, que de diversas formas,
sujeitos se situam perante suas aprendizagens, compreendem a educação numa perspectiva
que vínculos constroem com o (s) de qualidade, referenciada como prática social,
conhecimento (s), com seus colegas, seu (s) portanto, constitutiva e constituinte das
professor (es), a instituição; a interpretação é, relações sociais mais amplas, com base em
nesse caso, uma operação de intervenção no embates e processos em disputa que traduzem
âmbito do concreto pedagógico. distintas concepções de homem, mundo e
Então, nessa perspectiva pedagógica, sociedade (DOURADO, 2007).
interpretar equivale a adotar uma nova e De antemão, adota-se a crença no
imprescindível atitude de direcionar um olhar significado especial que tem a Educação em
diferenciado para a sala de aula, observando e função dos seus objetivos estarem
gestando outra capacidade de leitura e de intimamente entrelaçados aos desafios de
escuta perante os eventos que nela acontecem influenciar processos que resultem em
e sobre suas diferentes linguagens. Porém, transformação e inclusão social, em uma
essa atitude não deveria ter como lastro os perspectiva dialética, mutuamente
cambaleantes pilares da ciência positivista. contribuindo e alimentando-se da ampliação
Esse novo olhar para a sala de aula e para as do acesso e permanência nos espaços
relações de ensino e aprendizagem deve educacionais, descobrindo e construindo
assumir uma postura de vanguarda, cuja instrumentos e formas que vislumbrem
transformação começa mesmo no ato de alcançar a melhoria da qualidade de vida e,
observar e, por meio da própria observação, porque não, a busca da felicidade.
compreender que o observador faz parte da A formação do educador, enquanto um
cena que se observa, assim como o contexto campo de conhecimento na área da Educação,
observado resulta da ação do observador. está estritamente ligada à situação da
Mesmo em uma abordagem dessa natureza, instituição universitária. É importante abrir a
não é possível a apreensão da totalidade, mas discussão a respeito, com as reflexões de Fialho
é preciso ter consciência de que os sujeitos são (2012), ressaltando alguns dos seus
imprescindíveis, pois não há apropriação da comentários sobre o documento da
realidade que ocorra em separado da Conferência Nacional de Educação (CONAE,
experiência. Em última instância, o próprio ato 2010), que orienta a construção do Sistema
de conhecer é condição sine qua non ao Nacional Articulado de Educação no Brasil. De
processo de produção do conhecimento. início, destaca o papel do Estado na garantia do
direito à educação de qualidade: organização e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

regulação da educação nacional, no que se Portanto, a Bahia de 2009 estava aquém do


refere à democratização do acesso, que o Brasil havia apresentado cerca de dez
permanência e sucesso escolar; formação e anos antes, quanto aos indicadores da taxa
valorização dos profissionais da educação; líquida. Assim, o acesso e a permanência na
justiça social, educação e trabalho: Inclusão, educação superior pública, inclusiva,
Diversidade e Igualdade. No âmbito desse universitária, de qualidade ficaram
princípio, Fialho (2005), chama a atenção sobre amplamente comprometidos. Somente uma
o acesso à educação superior pública na Bahia postura em favor desse compromisso
que foi mantido e ampliado pelas forneceria alguma possibilidade de reversão de
universidades estaduais. Foram elas – e são um panorama educacional profundamente
elas – que têm sustentado expressiva oferta cristalizado no Brasil, sobretudo na Bahia, em
pública da educação superior no Estado. decorrência de inúmeros desacertos e
Prosseguindo, a expansão da educação equívocos desencadeados, no passado, por
superior após a promulgação da Lei de uma política cruel, desordenada e pequena.
Diretrizes e Bases da Educação – LDB (Lei nº. De acordo com Fialho (2012), a maneira
4024/1961), e Reforma Universitária de 1968 como transcorreu a trajetória das
não aconteceu na Bahia, cuja oferta do nível universidades estaduais no país – instituições
superior só veio ser superada com a públicas de educação superior – demonstra
implantação do sistema estadual de Educação que elas se encontram diante de situações
Superior, concomitante à expansão do setor desafiadoras de grande complexidade:
privado, estando ausente o setor federal. situações que parecem silenciadas, não fossem
Franco; Fialho; Pires (2006, p.91), constatam os efeitos que produzem, os quais permitem,
que na Bahia, institucionalizou-se um sistema ao menos, localizar alguns dos seus mais graves
estadual de educação superior marcado pela impactos, principalmente na formação do
ausência da União, correspondendo-lhe: a educador, cada vez mais distanciada da
criação e implantação das suas quatro realidade da escola pública. Mas, é possível
universidades. Os dados de 2009 demonstram também vislumbrar caminhos: o regime de
um desordenado panorama da educação colaboração é, sem dúvida, item prioritário na
superior pública que tende a cristalizar-se ordem do dia para a construção do sistema
ainda mais na Bahia, onde menos de 10% dos nacional de educação e o fortalecimento da
jovens em idade própria têm acesso à comunidade acadêmica e científica do Brasil,
educação superior (matrículas públicas e com participação plena das universidades
privadas somadas). No país, a taxa de estaduais. Necessita, porém, de uma gestão
escolarização líquida na faixa etária de 18 a 24 pública que proporcione uma aproximação de
anos na educação superior, passou de 9,8% em maior alcance, amplitude e compromisso das
2002 para 14,4% em 2009, conforme divulgado instâncias governamentais de modo a
pelo Balanço da Gestão da Educação 2003– incorporar as boas experiências, ainda
2010 (BRASIL, 2010). pontuais, como práticas cotidianas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Chama atenção a sua defesa em relação à professores de nível superior nas redes
expansão da universidade pública, da públicas de ensino ainda não são totalmente
democratização do acesso e sua ampliação, conhecidos; [...]muitas foram as mudanças – e
assim como da permanência dos estudantes, muitas outras ainda precisam ocorrer – na
por ser um direito público subjetivo, social, educação pública; crianças e jovens oriundos
originário e imprescritível, que tanto diz dos segmentos populares começaram, muito
respeito à juventude baiana – sobretudo aos recentemente, a ter a oportunidade de acesso
jovens que não podem pagar pelo ensino à escola pública; é crescente o grau de
privado – assim como à educação básica, à exposição de alunos e professores às situações
formação de professores, à pesquisa e à de risco social; ainda é grande a distância entre
formação de pesquisadores, ao a universidade e a escola e, portanto, entre
desenvolvimento da ciência e da tecnologia, educação superior e educação básica; as
enfim, a tudo que implica instalação de bases políticas de educação e de formação de
de natureza acadêmica, cultural, científica, professores não acompanharam – e ainda não
informacional, técnica e tecnológica. acompanham – essas transformações.
Concentra-se a atenção no papel que Tal cenário ainda se conserva, afetando da
algumas das universidades estaduais da Bahia mesma forma a formação dos educadores. A
tiveram para a ampliação do acesso à busca de soluções para resolver algumas das
educação. Não pode ser esquecido o fato de carências apontadas, pelas quais passam as
que as suas origens ocorreram por meio das universidades estaduais e as escolas públicas
antigas faculdades de formação de da educação básica, pode vir de e para ambas,
professores. Posteriormente tais instituições desde que estejam direcionadas para ações
vieram a ampliar a sua oferta para diversas integradas.
áreas do conhecimento e tornaram-se
reconhecidas pelos seus alcances. Porém, A EXPERIÊNCIA DA
mesmo hoje, respondem por parte significativa
da formação de um profissional que ainda é FAEEBA/UNEB
profundamente desvalorizado no Brasil, mas é Nadia Fialho e Ivan Novaes (2009),
tão importante para o país conseguir melhorar estudando os diversos movimentos que podem
os seus indicadores de desenvolvimento ser gerados em uma instituição universitária,
humano, por meio dos cursos de licenciatura e propõem um resgate da identidade
pedagogia para a educação básica. institucional da Faculdade de Educação do
Fialho (2012, p. 88) afirma que: Estado da Bahia (FAEEBA), apesar de o fato da
Para melhor compreender esse cenário - sua criação ter ocorrido por meio de um
mesmo reconhecendo o alto investimento que processo institucional autoritário – durante o
o país tem feito, nos últimos anos na educação ano de 1983, ainda na vigência da Ditadura
básica - para compreender melhor esse cenário Militar, tendo sido transfigurada, também de
é bom lembrar que: [...] Os impactos, na forma autoritária, por meio de uma Lei
educação básica, com a incorporação de Delegada, no ano de 1997, para Departamento

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de Educação –, sempre mereceu destaque, [...] é fundamental pensar política s de


haja vista a sua atuação, desde o início, ter Estado para a educação nacional, em que, de
desempenhado um papel de articulação desta maneira articulada, níveis (educação básica e
Universidade Estadual com os demais níveis de superior), etapas e modalidades, em sintonia
ensino, colocando em prática a concepção com os marcos legais e ordenamentos jurídicos
articuladora das relações entre educação (Constituição Federal de 1988, PNE/2001,
superior, educação básica e sistemas de LDB/1996, dentre outros), expressem a
ensino. Ressalta-se o caráter das suas ações, efetivação do direito social à educação, com
inclusive a dimensão pedagógica do seu qualidade para todos.
processo de gestão, que permitiu a agregação Tal perspectiva implica, ainda, a garantia de
do compromisso social, assumido na tríade interfaces das políticas educacionais com
ensino (formação de pessoas) pesquisa outras políticas sociais. Há de se considerar o
(produção do conhecimento sobre a realidade) momento histórico do Brasil, que avança na
e extensão (ação). Com base nessas promoção do desenvolvimento com inclusão
afirmações, pode-se acentuar o grande social e inserção soberana do País no cenário
potencial que essa instituição tem para global, assinalando ainda a importância de
enfrentar os seus desafios criando cuidar das articulações, por exemplo, entre
possibilidades de crescimento e políticas de Estado e educação nacional,
transformação. educação básica e educação superior, marcos
Porém, ao longo do tempo, ao invés do legais e ordenamentos jurídicos, direito social à
aprofundamento e ampliação desse processo, educação com qualidade e para todos, políticas
ocorreu a dispersão de tais experiências, educacionais e políticas sociais.
contribuindo para o aumento da dicotomia Prosseguindo, defende-se a necessidade
entre a teoria e a prática presente nas relações premente de resgatar e incrementar o
de ensino e aprendizagem, e ao invés de desenvolvimento de ações organizadas e
estabelecer uma relação sistêmica de sistemicamente articuladas entre a
permanente parceria entre o ensino superior universidade estadual (DEDC I da UNEB) e a
nas universidades estaduais (DEDC I da UNEB) educação básica desse ambiente,
e a escola da Educação Básica, na realidade, particularmente com as escolas públicas do
esta tem encontrado distante do que acontece entorno da região do Cabula, objetivando a
nos ambientes universitários. Nos diversos melhoria da qualidade da formação dos
meios de produção do conhecimento, egressos desta instituição e do ensino nessas
ultimamente, tem sido crescente as escolas, para, a partir daí, possibilitar o
preocupações com o distanciamento histórico aumento do acesso ao ensino universitário
existente entre os distintos níveis público (UNEB) dessa comunidade local,
educacionais: educação básica, graduação e cumprindo a vocação histórica presente na sua
pós-graduação. cultura organizacional.
A própria CONAE (2010, p. 6), defende que: Dentre as inúmeras formas e possibilidades
de estabelecimento do regime de colaboração

201
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

entre as instituições educativas do nível tarefa educacional, as instituições escolares


superior e da educação básica coloca-se o de são também efervescentes ambientes de
responder às necessidades inerentes às socialização, que constantemente se deparam
relações de convivência na escola por meio de com a necessidade de desenvolver os
uma abordagem psicopedagógica, processos educacionais em sintonia com as
particularmente por meio de processos de demandas do mundo contemporâneo e na
intervenção psicossocial, a serem perspectiva das mudanças que definirão o seu
desenvolvidos nas escolas da educação básica, futuro, pois conforme a máxima freireana, “a
haja vista o seu momento atual de tensões e educação é uma forma de intervenção no
conflitos, que em última instância refletem o mundo” (FREIRE, 1996, p. 110).
contexto das relações sociais em que se vive na Sendo assim, como compreender esse
atualidade. ambiente, que é a Escola Básica, senão como
Acredita-se que a Formação em Intervenção um microcosmo da sociedade geral, pois, nela
Psicossocial deveria ser adotada de maneira estão inseridos elementos de todas as
regular no DEDC I da UNEB, com um enfoque categorias que existem na sociedade?
inter, multi e transdisciplinar, objetivando Muitos estudiosos que analisam a Escola
alcançar um efeito multiplicador, por meio da enquanto organização estabelecem como
constituição de equipes multidisciplinares de consenso o reconhecimento de que a mesma
professores e estudantes do referido DEDC I, se constitui como um espaço de socialização,
que pudessem atuar em processos de pedagogicamente orientado, cuja finalidade é
intervenção nas escolas públicas, no sentido de a formação humana. Diferentemente de outros
obter a melhoria da qualidade das relações de espaços socializantes (como a família, por
ensino e aprendizagem e teoria e prática, exemplo) a escola propicia uma convivência
mediante o enfrentamento das situações- entre pares (se considerarmos os
problema, propiciando também, senão a agrupamentos por faixa etária) e ao mesmo
solução, ao menos, o alívio das tensões tempo entre diferentes, seja pela condição
psicológicas próprias das relações sociais social, étnica, de gênero e/ou outras. É uma
presentes nessas escolas. instituição social de grande capilaridade, pois,
ESPAÇOS EDUCATIVOS a princípio, destinada a todos e com a exigência
A realização de processos de intervenção de frequência diária. Essas características (para
psicossocial ocorre em determinados não nos alongarmos na natureza dessa
ambientes, o que demanda estabelecer uma instituição) nos leva a afirmar que escola e
breve compreensão do que seja ambiente e, sociedade mantém estreita relação de
como se estar tratando de educação, visitar interdependência, configurando-se como, já
algumas concepções sobre a escola. Dourado dito, um microcosmo. Isso significa que o
(2007), considera que o ambiente escolar, por entendimento das relações intraescolares não
ser heterogêneo e complexo, ao ser pode prescindir da abordagem política,
pesquisado, deve ser observado em seus particularmente das políticas públicas para a
diversos aspectos. Contexto diretor da grande educação.

202
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A escola vive atualmente uma tensão entre instituindo instâncias colegiadas, permitindo a
as ditas demandas do mercado e as exigências pais e estudantes a opinarem, e até decidirem,
formativas da infância e da juventude. Por um sobre o seu funcionamento. Portanto, não mais
lado, o mercado de trabalho requer a restrita às elites e distante dos centros
preparação imediata para seus processos urbanos, a escola acolheu também os
seletivos e, por outro lado, a crise de valores da problemas sociais como a maior
sociedade ocidental impõe uma educação para vulnerabilidade das crianças à violência
a convivência respeitosa, que adote o diálogo doméstica e das ruas, dos adolescentes e
como procedimento na resolução de conflitos. jovens à droga e dos próprios adultos à
Tal pressão amplia a complexidade da violência urbana como um todo.
convivência na escola não só como espaço Mesmo com esse processo de
formativo da infância, da adolescência e de democratização, Arroyo (1997), aponta a
jovens e adultos, mas também como campo da permanência de uma cultura excludente,
prática de profissionais em formação, isto é, os tributária das formas de organização
graduandos das licenciaturas. pedagógica (currículo seriado, conteúdos
É de conhecimento público que, no Brasil, a desvinculados das necessidades dos
democratização do acesso à educação, educandos, práticas de avaliação internas e
particularmente na década de 1990, abriu as externas à escola etc.) que cria sérios
portas da escola para as classes populares e, obstáculos à permanência dos educandos na
além disso, expandiu as redes públicas na escola, truncando seus percursos escolares,
maioria das cidades brasileiras. Isso significou resultando nas repetências múltiplas e evasão
não só uma diversidade de educandos como e abandono. Sem dúvida, esse é um elemento
também entre o próprio professorado, dando à de conflito para o ambiente educativo, tanto
escola, particularmente à pública, uma nova no que diz respeito às relações intraescolares,
composição, cuja consequência imediata foi a como à própria implantação de políticas
presença de diferenciados interesses sociais e públicas.
visões de mundo. Também a difusão da
informação pelos meios de comunicação e
mídias sociais influencia a cultura escolar,
questionando os currículos formais,
geralmente distantes da realidade dos seus
educandos.
Para a compreensão da escola como
ambiente de socialização, cabe destacar um
elemento que a modificou radicalmente que
foram as políticas públicas – de gestão
compartilhada e de constituição do controle
social dos serviços públicos – que imprimiram
um modelo de gestão democrática na escola,

203
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que a discussão sobre essas políticas se articula a processos mais amplos do que
a dinâmica intraescolar, espaços onde ocorrem exemplos de um cenário que enfeixa variáveis de
alta complexidade que precisam ser estudadas continuadamente. Mas, em tal percurso, não se
pode negligenciar a real importância do papel social da escola e dos processos relativos à
organização, cultura e gestão intrínsecos a ela. Portanto, é fundamental não perder de vista que
o processo educativo pode desempenhar os papéis de mediador e de mediado pelo contexto
sociocultural, pelas condições em que se efetiva a relação de ensino e aprendizagem, pelos
aspectos organizacionais e, em consequência, pela dinâmica com que se constrói o projeto
político-pedagógico e se materializam os processos de gestão da educação básica (DOURADO,
2007).
Assim, é necessário se refletir e compreender sobre a importância do ato de educar em
sua amplitude geral, bem como adotar uma atitude proativa para uma educação democrática e
de qualidade, desenvolvendo ações educativas que tenham em vista a formação de valores para
uma convivência pautada na alteridade, no respeito à diversidade e à pluralidade, postura já
consagrada pelas lutas e conquistas de Direitos Humanos que a prática educativa deve incluir no
seu cotidiano escolar.
Ante tal realidade considera-se necessário que ações de intervenção psicossocial
aconteçam de forma mais sistematizada e regular no âmbito desse espaço educacional (DEDC I
da UNEB) e sejam voltadas a incentivar que os futuros educadores e psicólogos possam vir a
desempenhar o seu papel de agentes inovadores, por meio de uma ação pedagógica
transformadora, contribuindo para tornarem as comunidades escolares (e a sociedade em geral)
mais saudáveis, produtivas, justas e solidárias. Uma condição facilitadora para os futuros
profissionais do DEDC I cumprirem tal papel é aprender a desenvolver tais processos de
intervenção. Para isto precisariam estar habilitados, o que demanda ser colocado nos currículos,
inicialmente na forma de seminários temáticos direcionados aos alunos dos cursos de licenciatura
e de psicologia.

204
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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FIALHO, Nadia Hage. Interpretação: dispositivo analítico do campo pedagógico. In: MASIP,
Fernando Juan Garcia; FIALHO, Nadia Hage (Orgs.). A Interpretação Pedagógica: Os fazeres
pedagógicos em instituições de ensino superior do México e do Brasil. Salvador: Eduneb, 2015.
p. 24 - 46.

205
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA SALA DE LEITURA NA


EDUCAÇÃO INFANTIL
Valéria Soares Passos Santos1

RESUMO: Este artigo traz uma revisão bibliográfica que aborda o tema: A importância da sala de
leitura na educação infantil. Temos como objetivos para este estudo abordar os importância da
leitura e contação de história desde bebês nos centros de educação infantil (CEIs), o qual se faz
um momento prazeroso que contribui para aprendizagem e desenvolvimento infantil e para o
processo de ensino na infância. Diante destes objetivos busca-se definir a importância do
ambiente lúdico, por meio de um ambiente acolhedor da sala de leitura, a qual se transformará
em um espaço de aprendizagem na infância para uma melhora na apreensão de conceitos e
desenvolvimento de todos os aspectos importantes nesta fase. A justificativa para este estudo se
pauta na importância do tema nos contextos escolares, visto que a educação infantil é a primeira
etapa de escolarização das crianças. No contexto da Educação Infantil as atividades lúdicas leitora
e de contação de história devem ser frequente promovendo um aprendizado mais eficaz e
oportunizando as crianças experiências de aprendizagem significativas, que contribuam para a
aquisição de conhecimentos e para o desenvolvimento de habilidades especificas.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Leitura; Contação de história; Educação Infantil.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Neuropsicopedagogia.

206
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF THE READING ROOM IN CHILD EDUCATION


ABSTRACT: This article brings a bibliographic review that addresses the topic: The importance of
the reading room in early childhood education. We aim for this study to address the importance
of reading and storytelling from babies in early childhood education centers (CEIs), which is a
pleasant moment that contributes to child learning and development and to the teaching process
in childhood. In view of these objectives, we seek to define the importance of the playful
environment, through a welcoming environment of the reading room, which will become a space
for learning in childhood for an improvement in the understanding of concepts and development
of all important aspects in this area. phase. The justification for this study is based on the
importance of the theme in school contexts, since early childhood education is the first stage of
children's schooling. In the context of Early Childhood Education, playful reading and storytelling
activities should be frequent, promoting more effective learning and providing children with
meaningful learning experiences that contribute to the acquisition of knowledge and the
development of specific skills.

Keywords: Learning; Reading; Story telling; Child education.

207
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO sem sair do lugar apenas por folhear páginas de


livros de diversos gêneros. Esses são os
Este artigo apresenta uma revisão momentos de diversão, além de dar a
bibliográfica que aborda o tema: A Importância possibilidade de que a criança aprenda
da Sala de Leitura na Educação Infantil. Temos enquanto são lhe proporcionados estes
como objetivos para este estudo abordar os momentos magníficos.
principais aspectos sobre os conceitos de um As culturas infantis precisam ser respeitadas
ambiente aconchegante que deve ser a sala de e consideradas nas propostas que são
leitura, como meio dos livros, leitura e desenvolvidas no ambiente escolar. Pensar
contação de histórias podemos proporcionar numa ação educativa que considere as relações
aos bebês e crianças momentos de entre a escola, o lazer e o processo educativo é
aprendizados prazerosos que estimulam o pensar numa escola diferenciada onde os
processo de desenvolvimento integral, seja adultos intervêm, contudo respeitam os
cognitivo, afetivo e social. A justificativa para direitos das crianças, é trilhar um caminho
este estudo se pauta na importância do tema diferente onde as atividades lúdicas são
nos contextos escolares, visto que a educação encaradas como atividades educativas e
infantil é a primeira etapa de escolarização das propiciam uma construção social por meio
crianças. desses recursos lúdicos.
O ato de ler e contar histórias ou
simplesmente o fato de ter o contato com o os
A SALA DE LEITURA COMO UM
livros por folheá-los, ou somente tocá-los
proporciona uma abertura para novos ESPAÇO ACOLHEDOR
horizontes e novos aprendizados, as crianças A organização dos ambientes, os usos dos
aprendem compartilhando o que sabem em tempos, a seleção e oferta de materiais
uma troca de experiências com as demais articulados às experiências de aprendizagens
crianças e com os adultos. propostas aos bebês e crianças refletem
Um livro se torna mais bonito e vivo quando concepções de educação e cuidado presentes
é explorado, e para os bebês e crianças isto se no cotidiano das Unidades Educacionais.
chama diversão se constitui o elemento mais Espaços não são estruturas neutras,
aparente do brincar. Ler é brincar. A partir possuem dimensão simbólica nos quais se
dessa referência, a criança constrói a sua desenvolvem múltiplas habilidades e
percepção sobre as aprendizagens, sensações. Os ambientes traduzem a
compreendendo a sua presença neste cenário compreensão que se tem da infância, do papel
e que faz parte deste universo. As culturas da educação e do educador revelada na
infantis devem ser respeitadas e priorizadas e experiência e nas relações que se dão num
se manifestam por meio das brincadeiras e dos ambiente de liberdade e de respeito às
jogos e do acesso aos livros, leitura, e contação potencialidades infantis (SÃO PAULO, 2016, p.
de história que devem ser momentos mágicos 49)
que estimulem a imaginação e nos faça viajar

208
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O Espaço Sala de Leitura, que infelizmente Dimensão 6 – Ambientes Educativos: tempos,


não são todas as Unidade de Educação Infantil espaços e materiais.
que possuem, é um espaço privilegiado e sem Conforme este documento cita:
deve proporcionar aos bebês e crianças Espaços, ambientes, tempos e mobiliários
escolhas, oportunidades de aprendizagens são elementos ativos no contexto da
lúdicas que façam com que elas degustem dos aprendizagem social, afetiva, cognitiva dos
livros e tenham acesso a todo tipo de gênero, bebes e crianças e garantia de educação e
assim terão experiências maravilhosas de cuidado num contexto agradável.
aprendizagens significativas, não devemos Considerando que bebês e crianças aprendem
deixar apenas os livros das estantes, no através das suas próprias experiências e
entanto devemos nos preocupar em descobertas, a integração destes elementos
proporcionar uma ambiente significativo que deve destinar ao estabelecimento de
respeite aos bebês e crianças e que seja um encorajamento de ações intencionais, de
espaço diversificado com materiais adequados, resolução de problemas, de participação e
que leve em conta o conceito de infância. organização na composição dos ambientes e
Os livro indicadores de qualidade, é um espaços para escolhas de decisões num
projeto da PMSP, que busca todos os anos exercício de autonomia e criatividade (SÃO
gerar ações e fazer uma auto avaliação das PAULO, 2016, p. 49).
unidades de Educação Infantil, visando Notamos neste trecho como deve ser
melhoria em vários aspectos em conjunto com acolhedor os espaços da infância, em especial
a comunidade, os pais, responsáveis e a própria as salas de leitura devem ser aconchegantes,
comunidade escolar. São nove dimensões ambientes os quais façam com que estes bebês
adotadas para serem analisadas, questionadas e crianças desejem voltar, para desfrutar dos
e para que apontem ações que visam a livros, das leituras e contação de histórias,
melhoria e qualidade de tais instituições de devemos priorizar atividades que favoreçam a
ensino, ações efetivas e necessárias para uma aprendizagem das múltiplas linguagens da
mudança de qualidade. educação infantil e possibilitem vivências
Sabemos que por mais que todos os anos agradáveis e acolhedoras e colaborem pra o
sejam feitas estas analises, sempre haverá desenvolvimento integral da primeira infância.
necessidade de mudança, pois o cenário muda, Devemos em nos preocupar com um
a melhora para um ensino de qualidade se faz ambiente acolhedor, aconchegante, colocar
necessário constantemente. Se buscamos tapetes, almofadas, livros de diversos gêneros,
qualidade na Educação, é necessário avaliar, fantoches diversos, baú de histórias, dedoches,
agir e reconstruir para uma ação educativa carrinho de livros, teatro de sombras entre
qualitativa que gere mudanças significativas no outros.
ambiente de ensino. As crianças pequenas são muito curiosas e
Como neste artigo estamos tratando do observadoras, na maioria das vezes enxergam
espaço Sala de Leitura, vamos destacar a o que, para os adultos, passa despercebido.
Não podemos deixar que essa percepção

209
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aguçada se perca. Ao contrario, precisamos de transformadora. E de acordo com Fonseca este


intencionalidade para o trabalho com imagens ambiente é o coração da escola.
e cada vez mais abri espaço para observá-las, Estes espaços podem ser comparados como
falar sobre as sensações e sentimentos que o “coração” de uma instituição educativa, se
elas nos causam, conhecer o trabalho dos pensarmos que na sala de leitura ou biblioteca
ilustradores, compreender seus traçados e estão os livros e recursos para promover
suas técnicas (FONSECA, 2012, p. 94). conhecimento sobre as mais diversas áreas. Se
Nos professores devemos conhecer, ler a a olharmos como um local dinâmico, onde
história antes de apresentar a crianças, por isso podemos conversar sobre o que foi lido, indicar
a necessidade de um ambiente acolhedor seja leituras, apresentar novos e antigos escritores,
dentro de uma Sala de Leitura, ou em qualquer pesquisar, ouvir leituras em voz alta,
outro espaço da unidade escolar. declamações e histórias, divulgar as
Bebês e crianças precisam de espaços e manifestações culturais da região, ela se torna
materiais diversificados para experimentar, um organismo vivo, que pulsa dentro da escola.
explorar e expressar aquilo que vão É com este olhar que a sala de leitura ou
aprendendo dentro e fora da U.E. quanto mais biblioteca cumprirá seu papel (FONSECA, 2012,
diversificados, ricos em possiblidades de p. 107).
tateio, bonitos, organizados e acessíveis forem
o espaço e os materiais presentes na U.E, tanto LEITURA NA EDUCAÇÃO
na área interna quanto na área externa, mais
possibilidade de experimentação e de INFANTIL NA PRÁTICA
expressão os bebês e crianças terão em sua A Educação Infantil foi organizada
experiência, pois quanto mais exploram o oficialmente no início dos anos 1980, por meio
mundo ao seu redor, mais tem o que expressar do III Plano Setorial de Educação, Cultura e
por meio da fala, do corpo, do desenho, do faz Desporto, que procurou programar uma
de conta, da experimentação. O espaço bem educação que atendesse com qualidade,
organizado promove a atividade autônoma, já partindo do princípio do direito da criança e da
que não precisam esperar as orientações dos mãe a um atendimento educacional e de
adultos para iniciar uma atividade podendo cuidado de qualidade. Empresas privadas laicas
escolher com autonomia o que fazer (SÃO e também religiosas, investiram no setor. Foi
PAULO, 2019, p. 109). por meio da Constituição de 1988 e da Lei de
O espaço Sala de Leitura deve proporcionar Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996),
um rico aprendizado a nossas crianças e bebês, que avançamos as discussões sobre a Educação
devemos estimulá-los, incentivá-los e criar um Infantil.
comportamento leitor desde bebês, é a Com a criação deste documento, a Educação
Unidade Escolar que tem uma sala própria para Infantil passou por um imenso processo de
isso deve torna-lo mais agradável possível, e é revisão e transformou as concepções sobre
privilegiada tendo em visto que são espaços educação de crianças em ambientes coletivos e
que contribuem um ato educativo de qualidade de seleção que ofereciam fortalecimento das

210
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

práticas e que serviam como base mediadora importante que as crianças de meu grupo
da aprendizagem e do desenvolvimento das aprendam? O que elas sabem e o que podem
crianças pequenas em geral. saber ainda mais? Quais aspectos precisamos
A proposição de uma Base Nacional Comum aprofundar? Como organizar o tempo da
Curricular para creches e pré-escolas leitura na Educação Infantil? (FONSECA, 2012,
fundamenta-se, também, nas Diretrizes p, 40,41).
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, Para o professor de educação infantil, não é
publicadas inicialmente em 1999 e revistas e uma tarefa fácil, exige preparação,
ampliadas em 2009. O documento, de caráter planejamento, e observação dos seus
mandatório, afirma que o currículo da educandos para que haja uma qualidade na
Educação Infantil emerge a partir da leitura e riqueza nos conteúdos das linguagens.
“articulação dos saberes e das experiências Devemos nos preocupar em envolver nossos
das crianças com o conjunto de conhecimentos bebês e crianças neste momento mágico de
já sistematizados pela humanidade, ou seja, os contar história, ou lê-las, ou simplesmente
patrimônios cultural, artístico, ambiental, apresentar um livro e deixar que eles passem
científico e tecnológico (BRASIL, 2009, p. 6). as páginas, mas para todos estes momentos
Como a educação infantil é a primeira etapa práticos deve-se haver um engajamento e
da educação básica, devemos nos preocupar comprometimento por parte do educador.
em formar leitores, devemos quais professores O professor de Educação infantil tem um
articular os saberes por meio da leitura, tendo papel importantíssimo nessa fase da vida da
em vista que por meio de um livro, uma criança, em relação aos seus primeiros
contação de história, as múltiplas linguagens contatos com a leitura e a formação de hábitos
da infância estarão sendo trabalhadas. leitores. Ele tem uma grande responsabilidade
Para a criança pequena é muito importante e precisa se preparar com compromisso e
garantir uma rotina que lhe dará segurança e a profissionalismo (FONSECA, 2012, p.36).
apoiará na construção de noções de tempo. No CEI (Centro de Educação Infantil) o
Garantir boas situações de leitura significa educar e o cuidar estão entrelaçados. E educar
promover situações previamente planejadas na primeira infância é interagir, agir com o
que a auxiliarão a criar o hábito de ler, a outro. A leitura e a escolha feita pela própria
construir uma postura de leitor e aprender criança proporcionam interações e reflexões
comportamentos leitores tão determinantes pedagógicas riquíssimas proporcionando aos
para que a leitura aconteça de forma eficaz e bebês e crianças autonomia, e
com sentido. Mas é preciso cuidado para não desenvolvimento cognitivo, afetivo e social.
cairmos numa rotina monótona e A leitura na Educação Infantil tem um papel
desmotivadora. Assim como as outras, as fundamental na vida de uma pessoa. Nessa
atividades de leitura não precisam acontecer fase, a criança descobre o mundo que a cerca e
sempre da mesma forma e no mesmo lugar. As observa com cuidado e curiosidade tudo e
propostas precisam ser organizadas de acordo todos que estão a sua volta. Então, o que
com a intencionalidade educativa. O que é podemos fazer para aproximar as crianças dos

211
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

livros? Para que ler se torne um hábito


prazeroso para elas? Para “contaminá-las” com
o vírus da leitura? (FONSECA, 2012, p. 14).
Devemos contaminar nossos bebês e
crianças com este vírus maravilhoso que é ler,
então vamos nós professores nos engajar para
que na prática isso ocorro e de modo
prazeroso, vamos aguçar a curiosidade de
nossos educandos, alimentar nossas crianças
com diversos gêneros literários para que
quando adultos o ato de ler seja magnífico.
...É uma tarefa não fácil, pois precisamos
abrir mão de nossos gostos pessoais, de nossas
escolhas e nos manter absolutamente abertos
para outras leituras, que nem pareçam
prazerosas. Não podemos ensinar apenas
aquilo que gostamos, o que criticamos, o que
não nos agrada. Nossos alunos precisam ter
contato com todo tipo de texto e seus gostos
podem ser bastante distintos dos nossos. Além
disso, é tarefa do professor oferecer uma
grande diversidade de opções na qual os
alunos se sintam livres e, ao mesmo tempo
tentados (FONSECA, 2012, p. 14).
Com a leitura inserida no cotidiano da
educação infantil, com os espaços leitores de
qualidade, utilizando-se das Salas de Leitura
que é um espaço maravilhoso, vamos criar
boas práticas e organizar atividades
permanentes que enriqueçam nosso trabalho e
contribuam para o desenvolvimento das
múltiplas linguagens da infância.

212
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo dos conceitos abordados nesta pesquisa é possível afirmar que é papel da escola
reconhecer a importância da atividade lúdica leitora como um facilitador da aprendizagem da
criança. A ludicidade é um instrumento favorável no processo de ensino aprendizagem e com as
atividades lúdicas leitoras a criança se comunica e se relaciona com os demais, compreendendo
sobre o mundo que a cerca e sobre qual a melhor maneira de se inserir nele. A atividade d ler é
o brincar em que a criança adquire conhecimentos e aprende com o contato com os diferentes
objetos e materiais que o ambiente proporciona a ela.
No contexto da Educação Infantil as atividades com os livros, leitura ou contação de
histórias devem ser frequentes, promovendo um aprendizado mais eficaz e oportunizando as
crianças experiências de aprendizagem significativas, que contribuam para a aquisição de
conhecimentos e para o desenvolvimento de habilidades especificas. Com base nos autores
pesquisados podemos afirmar que a leitura é um dos pilares da aprendizagem na infância,
fundamental para o desenvolvimento infantil. Enquanto tem contato com os livros ou as histórias
a criança cria hipóteses e elabora estratégias para chegar ao objetivo, resolvendo os conflitos
estabelecidos dentro dos espaços leitores são constituídas interações tão necessárias na
educação infantil. Com isso, a leitura e o espaço Sala de Leitura são valorizados no espaço
educativo da criança na educação infantil.
É de fundamental importância proporcionar a criança a convivência em um ambiente
repleto de materiais e situações diferentes, deixando que ela construa e elabore seus próprios
conhecimentos, à medida em que os assuntos são apresentados pelo professor. O professor deve
planejar as suas intervenções pautando-se na aprendizagem lúdica e criativa, que são os grandes
motivadores e elementos fundamentais na aprendizagem infantil, contribuindo para a
construção de novos conceitos nas aprendizagens.
LER É BRINCAR, LER É PRAZEROSO, vamos dar este brincar, este prazer para nossas
crianças. A unidade de educação infantil que tem uma sala de leitura deve aproveitar o máximo
as suas possibilidades infinitas, quem não as tem crie espaços leitores que proporcionem estes
momentos de aprendizados que garantem as múltiplas linguagens da educação infantil.

213
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Paulistana. São Paulo: SME/DOT,2016.

214
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA FORMAÇÃO


DO INDIVÍDUO
Jaqueline da Silva1

RESUMO: O artigo descreve o quanto o brincar é imprescindível para a constituição de um sujeito


pleno e saudável e tem como objetivo, relacionar o lúdico o desenvolvimento sócio/cultural,
cognitivo e pessoal da criança, ou seja, como um todo, concebendo assim, o brincar como um
instrumento para construção do conhecimento do aluno.

Palavras-Chave: Educação; Brincar; Aprendizagem.

1Professora de Ensino Fundamental e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Artes Plásticas; Especialização em Docência na Educação Infantil e Anos Iniciais.

215
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF PLAYING IN INDIVIDUAL EDUCATION


ABSTRACT: The article describes how playing is essential for the constitution of a full and healthy
subject and aims to relate the playful to the socio/cultural, cognitive and personal development
of the child, that is, as a whole, conceiving, thus, playing as a tool for building student knowledge.

Keywords: Education; To play; Learning.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO objetivo, relacionar o lúdico o


desenvolvimento sócio/cultural, cognitivo e
Para que as crianças possam exercer sua pessoal da criança, ou seja, como um todo,
capacidade de criar é necessário que haja concebendo assim, o brincar como um
riqueza e diversidade nas experiências que lhes instrumento para construção do conhecimento
são oferecidas tanto nas instituições escolares, do aluno. Diante do exposto surgem algumas
como em casa, sejam elas voltadas às questões importantes para análise desse
brincadeiras ou as aprendizagens que ocorrem contexto: Como o brincar estar a serviço da
por meio de uma intervenção direta. De acordo aprendizagem na educação infantil? De que
com os estudos feitos é notável que o brincar forma, o brincar propicia a constituição do
está intrinsecamente ligado ao processo sujeito pleno e saudável? De acordo com os
educativo das instituições escolares, estudos feitos, será que as escolas concebem o
entendendo que esta é uma das atividades brincar como uma das atividades mais
mais importantes no desenvolvimento da importantes no desenvolvimento da criança?
criança. Apesar de todas as propostas Assim sendo o referido artigo está estruturado
existentes no âmbito da educação nas séries no seguinte formato: primeiramente, discutir-
iniciais percebe-se que os resultados escolares se-á a como o brincar vem sendo concebido ao
no ensino fundamental continuam longo de seus princípios até a
insatisfatórios, explicitando assim a contemporaneidade, na sequência será feito
necessidade de mudanças educacionais, a uma breve descrição dos aspectos históricos
exemplo de um maior investimento na sobre a infância e o brincar, salientando a
formação de professores e gestores escolares importância do brincar nesta fase e por fim,
no sentido do brincar, pois o brincar é uma tecer-se-á sobre as diversas funções que a
linguagem intrínseca da criança, este recurso atividade lúdica propicia para o
auxilia não só na aprendizagem, mas também desenvolvimento psíquico pleno e saudável, na
no desenvolvimento sócio/cultural, pessoal e visão de alguns autores.
cognitivo na vida do ser humano. Neste
contexto, o docente torna-se um dos principais
O BRINCAR E A INFÂNCIA
protagonistas desta mudança, surgindo,
De acordo com os estudos feitos é notável
portanto, o desafio da construção de um perfil
que o brincar está ligado ao processo educativo
profissional. É indispensável que o educador
das instituições escolares, entendendo que
das séries iniciais, tenha formação e
esta é uma das atividades mais importantes no
capacitação sobre a Psicologia do Brinquedo
desenvolvimento da criança. O brincar e o jogar
para contribuir de fato, na formação de
são atos indispensáveis à saúde física,
cidadãos bem resolvidos, criativos, ousados e
emocional e intelectual e sempre estiveram
preparados para enfrentar a realidade.
presentes em qualquer povo, desde os mais
Este estudo bibliográfico descreve o quanto
remotos tempos. Como relata Vygotsky (1987),
o brincar é imprescindível para a constituição
aprendizagem e desenvolvimento estão
de um sujeito pleno e saudável e tem como
estritamente relacionados, sendo que as

217
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

crianças se inter-relacionam com o meio objeto brincadeira, é uma linguagem infantil, que
e social, internalizando assim o conhecimento mantém um vínculo essencial que articula a
advindo do processo de construção. Por meio imitação do real e o imaginário. No ato de
do brincar e o jogar, a criança desenvolve a brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os
linguagem, o pensamento, a socialização, a espaços valem e significam outra coisa. Ao
iniciativa e a autoestima, preparando-se para brincar as crianças recriam e repensam os
ser um cidadão capaz de enfrentar desafios e acontecimentos vivenciado por eles, sabendo
participar na construção de um mundo melhor. que estão brincando. A brincadeira favorece a
Apesar de todas as propostas existentes no autoestima das crianças, auxiliando-as na
âmbito da educação, observa-se que nas séries formação de sua personalidade saudável e a
iniciais os resultados escolares do ensino superar progressivamente suas aquisições de
fundamental continuam insatisfatórios, forma criativa, transformando seus
ficando claro há necessidade de mudanças conhecimentos anteriores em conceitos gerais
educacionais bem como um maior com os quais brincam.
investimento na formação de professores e
gestores escolares a respeito da essência do INFÂNCIA
brincar, pois este auxilia não só a
O sentimento, ideia e a representação de
aprendizagem, mas também o
infância, todos esses fenômenos psicossociais
desenvolvimento sócio/cultural, cognitivo e
surgiram na civilização muito vagarosamente e
pessoal. Neste contexto, o docente torna-se
ligado a motivos extraordinários. Essa visão de
um dos principais protagonistas desta
infância, como um período característico de
mudança, surgindo assim o desafio da
cada um, é uma construção definida na
construção de um perfil profissional. O
atualidade. Todo o ser humano nasce e será
educador precisa ter uma formação e
criança até um determinado tempo,
capacitação sobre a Psicologia do Brinquedo
independentemente de qualquer situação.
para contribuir de fato, na formação de futuros
Contudo, está concepção nem sempre foi vista
cidadãos bem resolvidos, criativa, ousada e
dessa maneira, e por muito tempo se
preparada para enfrentar a realidade. Ainda
questionou qual era o tempo da infância e
que seja um assunto já discutido na formação
quem era a criança. Esse conceito de infância
dos profissionais de educação por muito
foi sendo paulatinamente e historicamente
tempo, é preciso considerar o seguinte:
construído, por muito tempo, não foi
O brincar é a linguagem central e inerente da
respeitada como um ser em desenvolvimento,
infância. Não existe uma criança que não saiba
com características e necessidades próprias, e
brincar, isso faz parte do desenvolvimento
sim como um adulto em miniatura. A origem
dela. É na qual ela expressa sua subjetividade,
dessa palavra vem do latim, do verbo fari =
cria hipóteses, aprende a negociar, e exercita a
falar, na qual fan = falante e in constitui a
capacidade criativa. O ato de brincar
negação do verbo. Portanto, infans refere-se
representa o gesto primordial de exploração do
ao indivíduo que ainda não é capaz de falar.
mundo e do conhecimento do outro. A
Aqui a infância se contrapõe à vida adulta, pois

218
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

os comportamentos considerados racionais ou nuclear gerada dentro dos padrões do modelo


providos da razão seriam encontrados apenas de família conservadora, símbolo da
no indivíduo adulto, identificando, assim, o continuidade parental e patriarcal que marca a
adulto como o homem que pensa, raciocina e relação pai, mãe e criança.
age, com capacidade para alterar o mundo que A preocupação da família com a educação da
o cerca; tal capacidade não seria possível às criança fez com que mudanças ocorressem e os
crianças. pais começassem, então, a encarregar-se de
No século XII ao século XVIII, aconteceram seus filhos. Houve ainda, a necessidade da
muitas mudanças históricas, a infância tomou imposição de regras e normas na nova
diferentes conotações dentro da sociedade em educação e a formação de uma criança mais
todos os aspectos, sejam eles sociais, culturais, bem doutrinada, atendendo à nova sociedade
políticos e econômicos. A criança era vista que emergia. Tal concepção de indivíduo que
como substituível, como ser produtivo que aparece, faz com que a criança seja alvo do
tinha uma função utilitária para a sociedade, controle familiar ou do grupo social em que ela
pois a partir dos sete anos de idade era inserida está inserida. Com as modificações nas
na vida adulta e tornava-se útil na economia relações sociais que se estabelece na Idade
familiar, realizando tarefas, imitando seus pais Moderna, a criança passa a ter um papel
e suas mães, acompanhando-os em seus central nas preocupações da família e da
ofícios e cumprindo, assim, seu papel perante sociedade. A nova percepção e organização
a coletividade. As famílias eram numerosas e social fizeram com que os laços entre adultos e
por isso a afetividade entre eles, praticamente crianças, pais e filhos, fossem fortalecidos. A
inexistente. Segundo historiadores esses foram partir deste momento, a criança começa a ser
séculos de altos índices de infanticídio. As vista como indivíduo social, dentro da
crianças eram jogadas fora e substituídas por coletividade, e a família tem grande
outras sem sentimentos. A partir do século XVII preocupação com sua saúde e sua educação.
houve grandes interferências dos poderes Tais elementos são fatores indispensáveis para
públicos e da igreja em não aceita o infanticídio a mudança de toda a relação social. Com esse
como normal. No século XVIII passou-se a olha para a criança surgem as primeiras
responsabilizar-se a família pela educação ou a instituições educacionais, sugerindo que os
institucionalização da criança, como, adultos compreenderam a particularidade da
concebiam os filhos como frutos da infância e a importância, tanto moral como
possibilidade da ascensão social. “Pais social e metódica, de as crianças frequentarem
enxergam por meio de seus filhos a instituições especiais, adaptadas a tais
possibilidade da administração dos bens finalidades. Com isso a criança passa a ter um
familiares e, consequentemente, a ampliação papel central nas preocupações da família na
das posses”. Desse contexto moral é que a sociedade. Neste período Rousseau promove
educação das crianças passa a ser construída, uma revolução na pedagogia, centrando os
por meio do posicionamento de moralistas e interesses pedagógicos no aluno e não mais no
educadores e, com o surgimento da família professor. Afirma que a criança não é um

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

adulto em miniatura e destaca ainda que a estas réplicas foram dando lugar ao brinquedo,
criança é um ser com características próprias objeto que despertava interesse nas crianças.
em suas ideias e interesses. Formulou No manusear desses objetos foi se
princípios educacionais que permanecem até descobrindo, aos poucos, o mundo da
nossos dias, principalmente quando afirmava brincadeira, ou seja, o mundo do brincar.
que a verdadeira finalidade da educação era Depois das crianças os adultos passaram a
ensinar a criança a viver e a aprender a exercer perceber que esses objetos poderiam servir
a liberdade. para decorar estantes, agora estes passam a
ter uma nova função. Os brinquedos surgiram
COMO O BRINCAR VEM SENDO das mãos dos entalhadores de madeira, dos
produtores de vela, dos caldeireiros e artesãos
CONCEBIDO AO LONGO DE SEUS entre outros. De acordo com Porto (2005,
PRIMÓRDIOS ATÉ A p.172), “eram objetos de culto doméstico ou
funerário, ex-votos de devotos e de peregrinos.
CONTEMPORANEIDADE Objetos familiares eram reduzidos e
Estudiosos como Bandeira e Freire (2006),
depositados nos túmulos”. Percebe-se aqui
abordam o brincar como expressão da cultura
que não eram mais só as crianças que os
infantil e inserção da criança no universo
utilizavam.
cultural do seu grupo. Destacam ainda a
importância dos jogos e brincadeiras nas
atividades de simbolização, criação e ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE
representação do real constituindo-se como A INFÂNCIA E O BRINCAR,
instrumento de aprendizagem. A fim de
entender este princípio é primordial
SALIENTANDO A IMPORTÂNCIA
compreender a dimensão histórica e cultural DO BRINCAR NESTA FASE
do brinquedo. Os termos criança, infância,
brincadeiras e brinquedo são construções
• A INFÂNCIA NA ANTIGUIDADE
sociais. Tais construções sociais são
CLÁSSICA – ROMANOS
representações criadas pela sociedade para
Os meninos das classes privilegiadas
adaptar-se a determinadas situações.
aprendiam a ler e a escrever em latim e grego
Na história da sociedade ocidental, a criança
com seus preceptores, isto é, com professores
e o brinquedo possuíam diferentes
particulares. Em relação aos meninos das
representações (PORTO, 2005). No século XI,
classes menos abastadas, isso mudava de
havia pequenas miniaturas de objetos
figura. O abandono de crianças, tão comum nos
utilizados pelos adultos, que serviam como
dias de hoje, também existia na Roma Antiga, e
enfeites de estantes ou eram postos nas
as causas eram variadas. Abandonados,
sepulturas de familiares ou amigos falecidos
meninos e meninas estavam destinados à
como uma forma de amuleto. As fábricas
prostituição ou à vida de gladiadores, treinados
produziam estatuetas de crianças, também
para enfrentar leões, tigres e outros animais
destinadas a fins religiosos. Na Idade Média,

220
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

perigosos. Ricos e pobres abandonavam os passava a ocupar um lugar de desprezo, eram


filhos na Roma antiga. A legislação da Roma considerado fruto do pecado de seus pais, anjo
imperial tentou condenar essa prática, e o mau, peças do inimigo já que não tinham juízo,
imperador Constantino, desde 315 – cabeça vazia, oficina do diabo, o infanticídio
reconhecendo a importância do fator era muito comum.
econômico na prática do abandono por pais Sem o estabelecimento das diferenças entre
extremamente pobres -, procurou fazer adultos e crianças, restava para ela o
funcionar um sistema de assistência aos pais, aprendizado das tarefas do dia a dia. Para tal,
para evitar que vendessem ou expusessem eram criadas por outras famílias, para que
seus filhos. morassem, iniciassem suas vidas e, nesse novo
Os romanos tinham certo cuidado com as ambiente, aprendessem um ofício. Para a
crianças, a prova é que encontraram alguns época, formar uma pessoa responsável era
brinquedos deste tempo; entre os romanos as formar alguém para servir, ou seja, as crianças
crianças eram separadas para não ouvir, ver aprendiam o que deviam saber ajudando os
coisas desagradáveis, eram protegidas dos adultos, por intermédio do trabalho.
segredos dos adultos inclusive do sexo, havia
um espaço em que as crianças se separavam • A INFÂNCIA NA MODERNIDADE
com seus pares para se preparem para ser É a partir da Idade Moderna que as crianças
gente grande, para aprender ler e escrever. começam, ainda que de forma lenta, a serem
Quintiliano (35 a 95 D.C.) foi o primeiro escritor vistas como um ser social e passam a assumir
a ser contrário aos castigos físicos exaustivos, papel relevante dentro das famílias e na
que os períodos escolares deveriam ser própria sociedade. Isso porque, a criança
interrompidos pelos recreios e somente em também era vista como produtiva e tinha
374 da era cristã é que aconteceu a 1ª lei função utilitária para a sociedade, não apenas
proibindo o infanticídio. no trabalho, mas ajudando nas tarefas de casa,
imitando pais e mães.
• A INFÂNCIA NA IDADE MÉDIA Depois da imprensa inventada por
Depois da queda romana, o estado não mais Gutemberg, o conhecimento passou a ser
cuida da educação das crianças. A educação difundido para muitos, os crimes passaram a
agora é restrita aos padres, as freiras, havendo ser repercutido com mais velocidade, a partir
um prejuízo muito grande da leitura e escrita daí volta surgir a infância, não era mais a
consistindo no analfabetismo, a pobreza toma oralidade, que dava status, mas sim a leitura e
conta. A oralidade passa a ser predominante, a escrita. Tinha que saber ler e escrever para
portanto, só quem a utilizava era gente grande, ser gente grande. Os idosos que não eram
ocupando grande destaque, agora tudo que o alfabetizados eram considerados como
adulto fazia as crianças presenciavam como se crianças.
fossem pequenos adultos e não mais crianças,
respeitando o seu modo de ser, não havia mais
infância, mas miniaturas de adultos. A criança

221
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• A INFÂNCIA NO ILUMINISMO marcadores sócios históricos para que


Com o movimento denominado Iluminismo, houvesse infância:
as preocupações com a infância se 1. Invenção da imprensa tipográfica;
intensificaram e estavam centradas em 2. Revolução industrialização – as
transformar a criança em “homem dotado de máquinas (relógio) regem a vida, passa a
razão.” Pode-se dizer que foi com Rousseau exploração da mão de obra infantil e a surgir às
(1995 apud DORNELLES, 2005), um dos grandes primeiras leis para defender a mão de obra
filósofos do Iluminismo francês, que a infantil;
concepção de criança adquiriu definitivamente 3. Advento da Psicologia – a ciência passa a
estatuto de sujeito infantil. Este pensador defender o modo de pensar, viver e sentir da
considerava a criança como a origem do adulto. criança que é diferente do adulto.
Educar, para ele, implicava em “[...] fazer com
que as crianças internalizem um conjunto de • A INFÂNCIA NA CONTEMPORANEIDADE
regras a fim de que, a partir da internalização A infância é mais uma categoria social em
dessas normas, possam se tornar autônomas” transição na contemporaneidade. A noção de
(ROUSSEAU, 1995 apud DORNELLES, 2005, infância clássica inaugurada por Ariès afirma a
p.35), produzindo, assim, sujeitos dóceis e existência de um mundo inocente e frágil
úteis, sem que seja necessário o uso de uma relacionado às crianças, e segundo esta ideia,
educação arbitrária. Localiza-se, neste período, alguns autores postulam que a infância estaria
a necessidade de disciplinar as crianças, tanto desaparecendo. Entre eles, Postman é um dos
em suas famílias, quanto nas instituições. mais famosos a defender a ideia de que a
A família passou a ser considerada um mudança nos meios de comunicação alterou
instrumento privilegiado de governo da profundamente a divisão entre o mundo
população e a ela foi atribuído o controle das infantil e o do adulto, apontando para o fim da
crianças. A escola foi criada como instituição na infância. Certamente que esse cenário não é o
qual a aprendizagem, como uma forma de único responsável pelas transformações na
educação, foi substituída por um aparelho de família contemporânea.
aprender (DORNELLES, 2005, p.14), ou seja, Muitos autores analisam que a família
passa a se considerar válida apenas a passou de uma estrutura fixa e nuclear,
aprendizagem que a escola proporciona. embasada em ideais religiosos e morais, para a
Há uma separação rigorosa do que é próprio atual, múltipla e em transformação. Zanetti e
para criança e o que é para adultos, inclusive na Gomes apontam que na gênese dessas
escola, muita coisa era proibido para criança. transformações está o papel exercido pela
Em 1963 a criança era tida como uma tabua ciência, que contrariou a autoridade da igreja e
rasa, na qual não considerada nem boa nem tomou seu lugar no centro da vida coletiva, de
mal, depende da educação que recebe. O maneira que o social se tornou o protagonista
estado e os pais são altamente responsáveis da educação das crianças, antes de posse
pela educação das crianças. Três principais exclusiva dos pais. Para Roudinesco, A família
contemporânea assemelha-se a uma rede

222
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

assexuada, fraterna, sem hierarquia nem avanço de suas capacidades. Desta forma
autoridade, na qual cada um se sente adquire maturação que lhe servirá de base,
autônomo ou funcionalizado. Isso porque a para a vida adulta. As atividades lúdicas fazem
família é o primeiro grupo de indivíduos que parte do desenvolvimento das crianças, uma
oferece à criança as condições necessárias de, vez que o brincar possibilita situações de
ao longo de seu desenvolvimento, ir acessando aprendizagem, de maneira que aconteça de
o social maior. A estrutura familiar é forma natural, prazerosa e sugestiva, pois não
classicamente a responsável pelo surgimento podemos falar de infância sem relacionar com
da infância enquanto um conceito e uma ludicidade.
preocupação social. A família está em A brincadeira seja ela de que tipo for, é um
transformação, portanto, está também a meio natural de a criança expressar-se e a
infância. oportunidade de mostrar seus sentimentos e
É o áudio visual que está a se impor como o fantasias. Crianças que brincam, demonstram
lugar do saber, a tecnologia tem seus adeptos ter saúde emocional e ao brincarem,
fiéis ao consumismo. Na verdade, agora a desenvolvem a capacidade de criatividade, do
Infância é concebida como diferente de ser prazer, do controle de impulsos, da expressão
criança, ou seja, ela é aquilo que lhe de desejos ou de seus medos. Isso ocorre tanto
possibilitamos que lhes oferecemos; Criança é a nível consciente como inconsciente, de
apenas uma ordem biológica. acordo com cada faixa etária. A criança sempre
brinca. Observa-se, frequentemente, a
AS DIVERSAS FUNÇÕES QUE A atividade lúdica presente enquanto comem,
enquanto realizam atividades de higiene e o
ATIVIDADE LÚDICA PROPICIA quanto relutam em parar de brincar, para
PARA O DESENVOLVIMENTO realizar outras atividades ou até mesmo para
dormir. O mundo lúdico é o elo entre a
PSÍQUICO SAUDÁVEL E realidade interna do sujeito e a realidade
CONSEQUENTEMENTE A externa, compartilhado com outras pessoas. A
CONSTITUIÇÃO DE UM SUJEITO função do brincar é proporcionar à criança que
ela transforme a passividade em atividade,
PLENO E SAUDÁVEL, NA VISÃO transferindo a experiência desagradável para a
DE ALGUNS AUTORES brincadeira, reproduzindo ou modificando a
O processo de escolarização iniciado na situação, elaborando-a em sua mente. Freud
educação infantil precisa ser de modo lúdico, o coloca que todas as brincadeiras infantis são
qual estimula a autonomia e promove o influenciadas por um desejo que domina a
desenvolvimento integral da criança. Segundo criança o tempo todo: o desejo de crescer!
Nunes (1997), o desenvolvimento das crianças Quando a criança brinca, ela entra num
ocorre desde o nascimento por meio da mundo de “faz-de-conta”, num mundo no qual
interação com o meio em que vive tudo pode acontecer. Tem a permissão para
possibilitando às crianças a aprendizagem e o imaginar ser quem não é, estar em lugares e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

até mesmo planetas diferentes, satisfazer seus dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do
desejos, ilusoriamente, viver o inesperado e ponto de vista da construção da pessoa quanto
divertir-se. Desta forma, a brincadeira torna-se do conhecimento.
um cenário imaginário sem censura, tudo tem Esses aspectos se apresentam na formação
vida, fala e tem vontade própria. É nesse da pessoa a partir de estágios, quais sejam:
mundo, que coloca seu corpo em cena, como Impulsividade motora, impulso emocional,
representante de papéis e vivem personagens sensório-motor ou projetor, personalismo,
de todos os tipos, tais como: médico, categorial e estágio da adolescência. E é por
bombeiro, professor, pai, mãe. A criança meio deles que cada um vai se constituindo
constrói representações e encena versões, a como sujeito social. Individualizando-se,
partir de suas experiências (ALVES & diferenciando-se e constituindo sua
SOMMERHALDER, 2006). O jogo e suas ações, personalidade, denominado pelo autor de
bem como o comportamento das crianças, são caráter, maneira habitual de expressão da
seus meios de expressão. O simbólico é pessoa na sua totalidade. O teórico Wallon
utilizado como forma de representação do acredita que estes ciclos fecham a construção
mundo interno e inconsciente. Nessa do caráter da pessoa. Piaget comparou o jogo
experiência, o equilíbrio entre o mundo da com o sonho e afirmou que o conteúdo e o
fantasia e o mundo real irá permitir à criança simbolismo tanto de um, quanto de outro, são
fazer uma ligação entre o que é real e o que é muito próximos. O brinquedo simbólico possui
brincadeira. função lúdica, essencial para a criança
É importante identificarmos em qual fase do conseguir assimilar o real, transformando e
desenvolvimento a criança se encontra para adaptando a experiência real ao que lhe é
relacionarmos ao tipo de atividade lúdica desejado, buscando satisfazer-se por meio da
envolvida – a fase do desenvolvimento brincadeira (GOLSE, 1988). A criança que teve
perpassa por seis estágios, segundo Wallon, os uma infância bem resolvida, inevitavelmente
quais veremos no decorrer deste trabalho. A será um adulto saudável e maduro, possuem
inteligência é apenas um dos fatores equilíbrio entre internalização e
envolvidos nesse processo, que depende, externalização, capaz de suportar por algum
também, da afetividade e do movimento. Para período esta adversidade, sendo produtivo,
Wallon, as emoções têm papel preponderante mesmo estando sozinho, pelo fato de existir,
no desenvolvimento da pessoa, pois é por meio internamente “alguém” que lhe propicie a
delas que o sujeito expressa os seus desejos e sensação de não estar só durante sua
suas vontades, possibilitando um vínculo com atividade. Winnicott, citado em Grolnick
o meio social. Wallon concebe o (1993), refere que o homem (adulto) precisa
desenvolvimento como um processo brincar. O autor ainda fala da importância do
descontínuo, permeado por conflitos e mundo “ilusório”, o quanto se faz uma
rupturas, e ao mesmo tempo, capaz de necessidade humana pensar que tudo está
interagir três aspectos centrais como a bem, o jogo das brincadeiras sentimentais, a
afetividade, a inteligência e o ato motor. A ilusão da infinidade do ser, se tudo isso não

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fosse enfrentado com certo tom de brincadeira importante ao referir-se sobre o brincar. Ele
ilusória, seria muito difícil lidar com as atribui um caráter de produção ao brincar, um
angústias existenciais. Como curiosidade, cita o caráter com prática significante, enquanto o
significado da palavra “ilusão”, originária do brinquedo tem para ele, um significado de
latim ludere, tendo como o significado produto desta atividade. Rodulfo (1990),
“brincar”. Esse inter jogo do brincar na infância classificou o brincar em 3 funções, ao longo do
prepara o homem para o sério, conforme primeiro ano de vida:
Winnicott (GROLNICK, 1988). Auxilia a definir e (1) Função do brincar por meio do fazer
a redefinir os limites entre o eu e os outros, superfície – Por exemplo: quando o bebê se
ajuda na obtenção de um senso de identidade lambuza com a “papinha”, ele está, na
pessoal e corporal. Com o passar dos anos, as realidade, brincando de construir seu próprio
brincadeiras e os jogos, dão lugar aos corpo, estando totalmente voltado a si mesmo;
passatempos, que, por sua vez, dão lugar a (2) Função do brincar por meio da relação
outra finalidade, ao trabalho. entre continente e conteúdo – Modalidade do
Freud também acrescenta que o adulto buraco, brincadeiras de inclusões de alguns
deixa de brincar, não porque abandonou as objetos em outros, como por exemplo, quando
gratificações oriundas de tal fonte, mas sim o bebê se interessa em brincar com caixas ou
que estas só são abandonadas à medida que foi sacolas, bolsas;
encontrado um substituto à altura, pois um (3) Função do brincar por meio da prática do
homem nunca renuncia a uma gratificação desaparecimento e do aparecimento.
obtida na realidade. Só a trocando por outra: Simbolização do início do processo de
deixa de brincar e em seu lugar fantasia. Esse separação, como por exemplo, os jogos de
vínculo idêntico ao brinquedo é experimentado esconde-esconde etc.
pelo adulto na prática do trabalho, segundo O autor propõe que as funções do brincar
Rodulfo (1990). O desejo pelo saber intelectual, descritas acima, sejam mais arcaicas e estão
a curiosidade infantil, é transformado em presentes no desenvolvimento infantil. Pontua
prática significante do trabalho. Rodulfo (1990, que no brincar, a criança precisa poder sujar-se
p. 158), refere-se: “… as formações de desejo, e desmontar um brinquedo para poder
longamente desdobradas e desenvolvidas no conhecê-lo, desvendar seus segredos e
campo do brincar infantil e adolescente, apropriar-se dele. A constante tarefa de
passam, cedem grande parte de sua força e de construção e reconstrução da realidade interna
seu poder intrínseco para trabalhá-lo, como e externa é experimentada pelo brincante,
atividade central da existência adulta, desde muito cedo, antes mesmo do proposto
outorgando-lhe assim uma base decisiva… Sem por Freud, em 1920. Atualmente, brinquedos e
esta base, o trabalho ou não pode se constituir, jogos fazem parte de uma nova era, a de um
ou se pseudo-constituir, como uma fachada mundo tecnológico e moderno, que produz
talvez socialmente muito produtiva, mas brinquedos que falam, anda, choram, realizam
subjetivamente vazia de significação”. O movimentos e são vistos como tentadores e
mesmo autor, ainda coloca uma questão quase mágicos, aos olhos de uma criança. São

225
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esses brinquedos que vem tomando conta do


lugar dos brinquedos artesanais, das bonecas
de pano, dos carrinhos de madeira, das pernas-
de-pau, das pipas etc., e consequentemente
usurpando a possibilidade de se colocar no
lugar do outro, a troca de experiência, o
diálogo, o respeito… e porque não dizer, do
calor humano.
Vivemos na época do imediatismo, da
globalização, da informatização e da rapidez
dos meios de comunicação. Ao depararmos
com novas modalidades de brincadeiras e não
mais aos jogos tradicionais e folclóricos, é
preciso estar atento, cuidar de nossas crianças
e ajudá-las a selecionar atividades, filmes,
programas de TV, delimitar o tempo de
Internet, os jogos no computador e dos
brinquedos eletrônicos. Impedindo ou
amenizando a formação de indivíduos frios,
calculistas, egoístas. É imprescindível que um
adulto esteja por perto, incentivando-os para
uma vida saudável, sem fazer por eles, mas
mostrando-se disponível e amoroso, ao longo
da trajetória de seu desenvolvimento.

226
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O olhar para as diferentes infâncias encontradas em nossas escolas hoje nos remete a
ampliar os estudos na Educação Infantil, a fim se sabermos tratá-las em suas especificidades
cognitivas e sociais e adotarmos o brincar e suas teorias, vindo desde os tempos de Sigmund
Freud em 1909 até a atualidade. O brincar passou a ser compreendido não mais como um simples
ato de diversão da infância. Tornou-se atividade importante pelo papel estruturante, na vida do
sujeito pensante e produtivo no meio social e como função subjetiva, simbólica e vital para um
desenvolvimento saudável do sujeito. Nesse mundo tumultuado e estressante em que vivemos
a infância é quase sempre uma cópia da vida adulta por intermédio de vários fatores de
sobrevivência recebe uma carga de responsabilidade muito superior à sua capacidade, fazendo-
a abandonar atividades prazerosas na infância e cumprem os deveres próprios dos adultos. A
criança que não brinca pode se transformar em um adulto triste e traumatizado, incapaz de lidar
com problemas emocionais. Vale ressaltar, que o lúdico não é uma única alternativa na formação
do sujeito, mas torna-se um auxiliar indispensável nos resultados deste processo. Segundo Piaget,
a criança inicia o seu desenvolvimento desde o período intrauterino e vai até os 16 anos. Já a
construção do conhecimento se dá a partir de etapas encadeadas e com ritmo os crescentes.
Como a cada dia as crianças estão mais cedo nas escolas, cabe as instituições analisar se não
estão queimando etapas fundamentais na formação destes futuros cidadãos.
Vemos que a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade, mas
principalmente na infância, na qual ela deve ser vivenciada, não apenas como diversão, mas com
objetivo de desenvolver as potencialidades da criança, visto que o conhecimento é construído
pelas relações interpessoais e trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a formação
integral da criança. Portanto, a introdução de jogos e atividades lúdicas no cotidiano escolar é
muito importante, devido à influência que eles exercem frente aos alunos, pois quando eles estão
envolvidos emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e dinâmico o processo de ensino e
aprendizagem. Na qual conclui-se que o aspecto lúdico voltado para as crianças facilita a
aprendizagem e o desenvolvimento integral nos aspectos físico, social, cultural, afetivo e
cognitivo. Enfim, desenvolve o indivíduo como um todo, sendo assim, a educação infantil deve
considerar o lúdico como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar no desenvolvimento e na
aprendizagem da criança.

227
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALVES, F. D. & SOMMERHALDER, A. O Brincar: linguagem da infância, linguagem do
infantil. Rio Claro: Motriz, v. 12, n° 2, mai/ago 2006, p. 125-132.

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WINNICOTT, D.W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1971.

228
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA EDUCAÇÃO


DE ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Milene Paula da Silva1

RESUMO: O intuito deste artigo é esclarecer como se deu no contexto da Educação Infantil o
Ensino de Artes Virtuais e também sua importância em sala de aula, dentro das práticas
pedagógicas e planejamento escolar. A histórica da Educação Infantil desde seu início, até os dias
de hoje como está escrito na LDB 9394/96. Apresenta as artes visuais como linguagem do
cotidiano escolar onde se mostra o papel da arte no desenvolvimento da criança e questiona o
desempenho do docente no trabalho com as artes visuais na Educação Infantil. Ainda são
esclarecidos, pelo olhar do docente desse nível de educação, seus anseios, angústias e
perspectivas para mudar a realidade, onde muitos tem pouca consideração para com essa
disciplina, tão importante para o desenvolvimento infantil.

Palavras-Chave: Ensino da Arte - Visual; Prática - Pedagógica; Educação- Infantil;


Desenvolvimento - Infantil.

1
Professora de Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em História; Especialização em Letramento; Especialização
em Educação Infantil; Especialização em Educação Inclusiva; Especialização em Ensino Fundamental I.

229
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF TEACHING ARTS EDUCATION IN CHILD


EDUCATION
ABSTRACT: The purpose of this article is to clarify how the Teaching of Virtual Arts took place in
the context of Early Childhood Education and also its importance in the classroom, within
pedagogical practices and school planning. The history of Early Childhood Education from its
beginnings to the present day as written in LDB 9394/96. It presents the visual arts as a language
of everyday school life where the role of art in the development of the child is shown and
questions the performance of the teacher in working with the visual arts in Early Childhood
Education. It is still clarified, by the look of the teacher of this level of education, their anxieties,
anxieties and perspectives to change the reality, where many have little consideration for this
discipline, so important for child development.

Keywords: Teaching of Art - Visual; Practice - Pedagogical; Child education; Child development.

230
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO CONJUNTURA HISTÓRICA DO


As artes exprimem, transmitem e atribuem ENSINO DA ARTE
sentido a sensações, percepções, sentimentos, Para entendermos e admitirmos melhor a
pensamentos e realidade por meio da responsabilidade como docente da disciplina
composição de linhas, formas, pontos, tanto de Artes é fundamental sabermos como a arte
bidimensional como tridimensional, além do vem sendo ensinada, as suas relações e
volume, espaço, cor e luz na pintura, no afinidades com a educação escolar e com o
desenho, na escultura, na gravura, na processo histórico-social. A partir dessas
arquitetura, nos brinquedos, bordados, etc. O informações podemos distinguir na construção
movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, histórica e explicarmos como estamos agindo e
o contraste, a continuidade, a proximidade e a como queremos construir essa história.
semelhança são qualidades e características da Deste modo, os saberes educacionais
criação artística. A conexão entre os aspectos empregados em aula vinculam-se a uma
sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e pedagogia, um preceito de educação escolar.
cognitivos, assim como a promoção de Ao mesmo, as nossas práticas e teorias
interação e comunicação social, atribuem educativas estão repletas de intuições
caráter significativo às Artes Visuais (RCNEI, ideológicas e filosóficas que influenciam tal
1998, p.84). pedagogia. É evidente que isto advém com o
Neste sentido, as instituições de Ensino de ensino escolar de arte, ou seja, a compreensão
Educação Infantil precisam oferecer ambientes de mundo precisa fundamentar as relações que
favoráveis, em que a criança possa se se constrói entre as aulas de arte e as
manifestar de forma espontânea e prazerosa, mudanças que acreditamos ser de notoriedade
uma vez que, por meio do trabalho com a arte, na sociedade.
a criança pode exteriorizar seus sentimentos,
suas emoções. O ENSINO DE ARTES NA
Em relação às Artes, é por meio delas que as
crianças desenvolvem e ampliam o
ESCOLA
conhecimento em diversas produções Entendemos que o Ensino das Artes Visuais
artísticas e, sendo assim, deve ser instigada por é uma disciplina curricular tão importante
meio de atividades lúdicas que ampliem e quanto às demais e não podem ser vistas tão
expandam a livre expressão da criança. Do somente como um entretenimento em nossas
mesmo modo, a importância das Artes Visuais Escolas de Educação Infantil. Para isso é
na Educação Infantil propende não à seriedade imprescindível que nossos educadores sejam
da beleza estética, mas a capacidade e aptidão capacitados, habilitados, licenciados e
da criança de produzir e criar de acordo com preparados para formarem, nos alunos, o
suas habilidades e seu olhar de mundo. conhecimento de mundo por meio das Artes
Visuais.
Além disso, as escolas infantis precisam
manusear com as crianças diversos objetos e

231
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

materiais, explorando e indagando suas bom ressaltar que cada criança é única, com
qualidades, características e possibilidades de identidade própria e um ritmo singular de
manuseio para adentrar em contato com as desenvolvimento. Portanto, além de levar em
mais variadas formas de expressão artística. consideração o processo de amadurecimento
Sabe-se, também, que a criança recebe da criança de modo geral e suas qualidades
influência da arte desde cedo, sejam por meio individuais, é evidente sugerir e recomendar
de imagens e atos de produções artísticas que situações que a estimulem à conquista
assistem na TV, notam em computadores, lentamente da autonomia e da individualidade
observam em gibis, rótulos, obras de arte, em seus mais variados contextos.
vídeo, trabalhos artísticos de outras crianças,
etc. A ARTE NA CONJUNTURA
Assim sendo, a criança chega à escola com
um amplo histórico e repertório a respeito de ATUAL
arte. De tal modo que os educadores, como Percebe-se que muitos assuntos atrelados à
mediadores irão perceber esse conhecimento Arte na Contemporaneidade geral estão em
por meio de novas experiências. A arte define discussões, ainda mais no que se refere ao
em cada ser humana o cognitivo e a ensino. É proposto por Bastos (2005), que o
afetividade, visto que é por meio dela que se ensino da Arte Contemporânea precisa se
propaga o que experimentamos ou sentimos; o ajustar pela prática educativa empenhada com
que pensamos, como estamos e como anda a liberdade e a consciência. De acordo com a
nosso relacionamento com as pessoas ao nosso autora: “uma visão ampla e inclusiva do mundo
redor e com toda a sociedade. considera várias formas de arte, desafiando
limites convencionais, inspirando uma
valorização artística mais ampla e a
A IMPORTÂNCIA DAS ARTES possibilidade de maior participação social”
NA INFÂNCIA (BASTOS, 2005, p. 229).
O ensino com as crianças da Educação Compreende-se que os recursos de
Infantil deve-se levar em consideração o linguagem aproveitados nas Artes Visuais são
processo de aprendizagem que se desempenha distintos. Assim, se apreciarmos uma obra
conforme as etapas de desenvolvimento e artística, discernimos a superfície, a linha, as
formação da criança, logo, trabalhar com as formas, as cores, as transparências, as texturas,
Artes Visuais induz a diferentes facetas da os volumes, o movimento, a técnica. Logo, ao
personalidade, que são construídos na infância considerarmos cada um desses elementos,
e, a arte, pode ajudar na organização desta Prosser (2012, p.47), espera que poderemos
construção envolvendo a imaginação, a auferir subsídios necessários sobre o autor, sua
criação, todavia, a criança não aceita esses visão de mundo e sua época.
recursos, sendo de responsabilidade do
profissional da educação nortear os educandos
para uma melhor construção. Entretanto, é

232
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ARTE VISUAL E SUA área, já que, não sendo habilitados, prejudicam


e anulam o gosto do trabalho em Artes.
IMPORTÂNCIA Precisa-se trabalhar Educação em Arte como
A Arte promove o desenvolvimento de processo de conhecimento dos alunos. Assim,
competências, habilidades e conhecimentos a disciplina de Artística se faz imprescindível e
necessários a diversas áreas de estudo, indispensável no processo de ensino e
entretanto, não é isso que justifica a sua aprendizagem, pois trabalhar a Arte é uma
inserção no currículo escolar, mas seu valor maneira de trabalhar a história e a crítica às
intrínseco como construção humana, como questões sociais. Então, buscar a Arte nas
patrimônio comum a ser apropriado por todos escolas é contribuir e colaborar para a
(IAVELBERG, 2003, p.43). formação e o desenvolvimento de pessoas
Avaliando e apreciando a arte o aluno torna- críticas, participativas, criativas, ou seja, é
se suscetível de entender sua realidade colaborar com a democracia.
cotidiana mais vivamente, distinguindo e Segundo Eisner (2008):
reconhecendo objetos e formas que estão a Há quatro coisas principais que as pessoas
sua volta. Solicitando todos os sentidos, como fazem com a arte. Elas a fazem. Elas as veem.
portas de entrada para uma percepção mais Elas entendem o lugar da arte por meio dos
significativa e expressiva. Este trabalho realça a tempos. Elas fazem julgamentos sobre suas
importância e a seriedade de uma educação de qualidades. Além disso, [...] as artes envolvem
qualidade, em que o professor deve criar um aspectos estéticos que estão relacionados à
espaço de construção e de descoberta, educação da visão, ao saboreio das imagens, à
encorajando as crianças a expandir e leitura do mundo em termos de cores, formas
aperfeiçoas a sua criatividade. e espaço; e propiciam ao sujeito construir a sua
Nos RCNEI (1998), o significado de criança interpretação do mundo, pensar sobre as artes
está disposto como sendo: e por meio das artes (EISNER, 2008, p.85).
a criança como todo ser humano, é um Entende-se que o Ensino da Arte no Brasil
sujeito social e histórico e faz parte de uma sempre foi um assunto polêmico e o seu
organização familiar que está inserida em uma reconhecimento dentro do currículo foi
sociedade, com uma determinada cultura, em constantemente reconhecida, entretanto, sem
um determinado momento histórico. É desenvolver e expandir meios para o seu
profundamente marcada pelo meio social em efetivo e essencial aproveitamento em sala de
que se desenvolve, mas também o marca aula, apenas polarizada em atividades artísticas
(BRASIL, 1998, p.21). direcionadas para desenhos, trabalhos
Deste modo, a criança ao constituir manuais e artes aplicadas. Assim, uma criança
interações com as pessoas e o meio em que pode criar e recriar seu mundo e a si mesmo,
vive ela estará construindo o seu dentro e fora do universo escolar, num natural
conhecimento e expandindo suas suposições inconformismo com o pronto, o instituído. Para
sobre o mundo. Todo e qualquer professor das viver a inventividade como um potencial
séries iniciais, deveriam se qualificar nesta humano é preciso e evidente viver a

233
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

capacidade da crítica, a atitude e o estilo de


pensar o mundo e refletir sobre tal
pensamento como um processo em construção
do qual se é mais espectador, se é autor do
processo. Devendo levar em conta que a Arte é
uma interpretação da vida e ela vincula-se a
fatores sociais, políticos, religiosos e simbólicos
excedendo o prático, ou seja, a Arte está
densamente relacionada a uma época, lugar,
estrutura social e a personalidade do ser
humano.

234
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista todo o exposto e a reflexão proposta pelo presente trabalho, a respeito
de: Artes Visuais na Educação Infantil concedeu-nos a compreensão da importância e a
magnitude da arte para o desenvolvimento e a formação infantil. Seguindo a concepção histórica
da Educação Infantil, em seus primeiros passos até as atuais conquistas concebida por meio da
LDB 9394/96, que estabeleceu esta como a principal etapa da Educação Básica, além disso,
compreendeu-se que este é um período fundamental para a conquista de mundo na criança de
0 a 6 anos.
Graças a vários estudos, esta compreensão foi plausível, pois evidenciaram o sucessivo
interesse em resgatar o status da infância e todas as distinções que lhe são essenciais como: as
brincadeiras, a criatividade, as linguagens que lhe são próprias. Tal relevância manifestou-se
visível e concreta na legislação que regulamenta a Educação Infantil hoje, no Brasil, e que faz
parte de um procedimento sócio histórico no qual o ensino infantil está inserido, a Constituição
Federal de 1988, a LDB 9394/96 e o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil – RCNEI,
de 1998.
Bem como, o amparo legal de diversos pesquisadores que focalizam em seus trabalhos o
reconhecimento da Educação Infantil para o desenvolvimento e a formação da criança. Visto que
a Educação Infantil assegura o desenvolvimento infantil, a partir do instante que se valoriza e
expande os conhecimentos da criança, permitindo-lhes a composição e a estrutura de sua
autonomia, criatividade e cidadania. Nesta conjuntura, o Ensino de Artes nesta etapa inicial da
Educação Básica é fundamental e indispensável, pois suscita os meios da expressão humana.
Na acepção de engrandecer a arte na Educação Infantil, o RCNEI (1998) privilegia e
favorece este enfoque, admitindo e consentindo que o ensino da arte permita o desenvolvimento
e a evolução do conhecimento da criança, suas habilidades, competências, aptidões e a
descoberta de suas competências, o que por si só já esclarece a presença da arte no contexto e
na conjuntura da educação.
Como em qualquer outra especificidade, o trabalho com as artes visuais consente que a
criança se comunique, exponha seus sentimentos, seus pensamentos, à medida que uma forma
de linguagem, que pode ser compreendida, essencialmente por meio do desenho infantil, já que
é por meio dele que a criança idealiza seu espaço, sua realidade, ou seja, o desenho é o jeito de
expressar da criança.
Assim, se desenvolve por meio da arte a ampliação entre os aspectos sensíveis, intuitivos,
estéticos e cognitivos a ascensão da interação e comunicação com o mundo e a sociedade
procurando, por meio destes a composição de diálogo, solidariedade, a justiça, o respeito mútuo,
a valorização do ser humano, a paz e cuidados com a natureza, é o desígnio essencial e
fundamental na Educação de Artes na Educação Infantil.
Logo, a arte fomenta o desenvolvimento do conhecimento de mundo que possuem. Além
do manuseio de diversos objetos e materiais, a exploração e a sondagem de suas peculiaridades
e características, propriedades e possibilidades de manuseio e ao entrar em contato com as
diferentes formas de expressão artística, como ainda o uso de diferentes materiais gráficos,

235
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

plásticos, naturais e descartáveis acerca de diversas superfícies pode expandir suas possibilidades
de manifestação, expressão e comunicação das crianças.
Considera-se que o ensino de artes visuais na contemporaneidade deve adequar-se as
novas formas socioculturais de se fazer e abranger as representações visuais na nossa sociedade.
É evidente que o conceito acerca do que é entendido como arte foi democratizado e modificado,
assim como nossa forma de vida e nossa mentalidade, a partir da influência e concepção de uma
nova realidade midiatizada. Ainda, o processo de ensino-aprendizagem também mudou, visto
que, além de contarmos com novos meios que a tecnologia põe ao nosso alcance e que
incorporamos as nossas aulas, o ensino para compreensão das representações culturais de
caráter visual é um dos maiores desafios da arte na educação contemporânea.

236
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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VIGOTSKI, L. S. A Formação Social da Mente. 7ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 56.

237
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO LETRAMENTO NA
EDUCAÇÃO, COM ÊNFASE NA APRENDIZAGEM
DA LEITURA E DA ESCRITA NO PROCESSO DE
ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Cristiane Santos Silva Lahdo 1

RESUMO: A instrução de escrita durante o processo de alfabetização exige mudanças radicais


devido à necessidade de eliminar os padrões tradicionais de ensino, onde não há espaço para a
escrita do aluno, pois as atividades que prevalecem são a cópia, ditado e repetição de
apartamentos promovendo uma escrita mecânica que se limita à transcrição de letras, sílabas e
palavras isoladas. Nesse sentido, a pesquisa apresentada objetivou formular princípios didáticos
para o ensino da escrita durante a alfabetização. O intuito desse trabalho é analisar a importância
da prática de leitura para o desenvolvimento humano nas séries iniciais, mostrando que os
desafios para que isso ocorra e por fim propor uma solução eficaz que é o uso das atividades
recreativas com fins pedagógicos para o desenvolvimento dos alunos no processo de
alfabetização.

Palavras-Chave: Alfabetização; Didática das Escrituras; Princípios pedagógicos.

1Professora de Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Campo Grande-
MS.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia, com Habilitação em Educação Infantil, Séries Iniciais e Inspeção Escolar.
Pós-graduação: Especialização em Psicopedagogia, Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica. Mestranda em
Educação.

238
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF LITERACY IN EDUCATION, WITH EMPHASIS


ON LEARNING TO READ AND WRITE IN THE LITERACY PROCESS IN
EARLY CHILDHOOD EDUCATION
ABSTRACT: Writing instruction during the literacy process requires radical changes due to the
need to eliminate traditional teaching patterns, where there is no space for student writing, as
the prevailing activities are copying, dictation and repetition of flats promoting writing.
mechanics that is limited to the transcription of letters, syllables and isolated words. In this sense,
the research presented aimed to formulate didactic principles for the teaching of writing during
literacy. The purpose of this work is to analyze the importance of reading practice for human
development in the early grades, showing that the challenges for this to occur and finally
proposing an effective solution that is the use of recreational activities for pedagogical purposes
for the development of students in the literacy process.

Keywords: Literacy; Didactics of the Scriptures; Pedagogical principles.

239
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO tradicionais comumente conhecidos como


fonéticos, alfabeticamente, silábicos e/ou
Para começar, é importante dizer que o global, onde não há espaço para escrita, pois as
ensino da linguagem escrita nos primeiros atividades prevalecentes são cópia, ditado e
graus de escolaridade requer mudanças repetição de apartamentos promovendo um
radicais, devido às deficiências na leitura e roteiro mecânico que se limita à transcrição de
escrita que os alunos apresentam no final da letras, sílabas e palavras isoladas.
primeira etapa da educação básica. O ensino de No entanto, a partir de uma concepção
alfabetização é frequentemente discutido no atualizada de alfabetização, esta é uma
contexto de uma crise. Os níveis de competência cultural que nos permite usar a
alfabetização no contexto estudantil estão em leitura e escrita como uma fonte de recreação,
declínio ou pelo menos inadequados para a uma ferramenta de comunicação e uma
sociedade contemporânea. A evidência ferramenta de aprendizagem, o que nos dá a
avançada é tipicamente anedótica, com base oportunidade de descobrir o pensamento dos
em exemplos de gramática, ortografia ou outros, compreender a divergência, expandir,
expressão precária ou em uma comparação confrontar e comunicar a nossa visão do
com um "passado superior" recordado. mundo e da vida (BRASLAVSKY, 2005).
Este debate sobre "padrões de Pelo contrário, vale dizer que as abordagens
alfabetização" é, por vezes, mais afiado por um teóricas atuais para o ensino da linguagem
senso de urgência sobre a competitividade do escrita colocam uma ênfase especial na escrita,
mercado de trabalho no contexto brasileiro, onde os alunos, mesmo sem saber ler e
bem como a sua capacidade de resposta para escrever convencionalmente, são incentivados
as habilidades dos indivíduos e da a expressar seus pensamentos e ideias e
competitividade internacional desencadeada reconstruir seus usando seus próprios códigos
pela globalização. de escrita. Além disso, a abordagem
De fato, os resultados dos testes aplicados comunicativa funcional, um modelo teórico e
pelo sistema nacional de avaliação da didático que sustenta o ensino da linguagem no
aprendizagem e o primeiro estudo país promove o desenho e a implementação de
comparativo internacional em linguagem e estratégias que aprimorem e desenvolvam a
matemática realizados em estudantes de 13 competência oral comunicativa e escrito em
países da América Latina nos terceiros e alunos, que inclui o domínio das quatro
quartos anos do ensino fundamental, atividades básicas da linguagem: ouvir, falar,
demonstram que o nível de realização na ler e escrever (LOMAS, 1999).
leitura e escrita estão abaixo do ideal (UNESCO, A antítese entre o que acontece diariamente
2001). na sala de aula para iniciar as crianças na
Tal problema exige a necessidade de cultura escrita e os avanços teóricos atuais no
eliminar os padrões tradicionais de ensino que campo da escrita foi a motivação para
prevaleceram no campo da alfabetização desenvolver esse estudo, que tem o intuito de
inicial, dominado, até agora, por métodos

240
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

formular princípios de ensino para ensinando importante que antes de começar a trabalhar
escrita durante a alfabetização inicial. por meio de histórias, o professor revise quais
Ao estudar certas disciplinas no curso em histórias pode ter tanto na sala de aula quanto
questão, foi percebido que a maior na biblioteca escolar.
problemática no que se refere a aprendizagem Para que este recurso tenha sucesso, ele
nas primeiras séries do ensino fundamental, deve ser elaborado detalhadamente e com
estava focado na grande adversidade antecedência, antecipando o conteúdo que
relacionada a alfabetização, em especial nas será discutido e com que consideração, o
atividades que envolvem a leitura e a escrita. tempo que o tratamento de cada tema irá
Foi visto também que os problemas de ocupar levando em conta sua dificuldade e as
repetência dos pequenos educandos, acabam atividades anteriores, intercaladas,
ainda diminuindo o interesse dos mesmos em subsequentes ou complementares que podem
aprender a ler e a escrever, em decorrência da ser realizadas.
enorme evasão escolar nas séries em que o
projeto enfoca. A CONCEPÇÃO DA ESCRITA
Seguindo as ideias de grandes pensadores
Durante vários anos, os pesquisadores que
amplamente citados em todo seu conteúdo,
têm estudado o processo de escrita
esse projeto de ensino propõe aos seus
concordaram que constitui um sistema de
leitores, um entendimento profundo sobre as
representação da linguagem utilizada para a
questões impostas pelos educandos no
expressão, registro, comunicação e
processo de alfabetização no que se diz
aprendizagem, porque permite conscientizar-
respeito à leitura e à escrita, com um estudo de
se de seus conhecimentos, bem como
grandes teóricos e uma análise intensa sobre o
organizá-lo e confrontá-lo, favorecendo a
assunto.
autorreflexão e a produção do conhecimento.
Objetiva-se expor a questão que envolve o
Assim, a importância de privilegiar
processo de alfabetização no contexto escolar
atividades de produção escritas sobre aqueles
e analisar como está o papel do professor
que se concentram na cópia e repetição
diante desse desafio, além de trabalhar a
mecânica de letras isoladas, palavras e frases,
questão do papel da alfabetização escolar;
desde a primeira forma de criatividade,
tratar do papel do professor no contexto de
expressão, comunicação e atitudes
alfabetização; denotar o panorama atual do
fundamentais na formação do ser e do cidadão
letramento no mundo e no Brasil.
que a nossa sociedade atual exige.
Da mesma forma, de acordo com estudos de
METODOLOGIA "gênese textual" (pesquisa que reconstrói o
O trabalho segue a linha de pesquisa processo que as pessoas que escrevem durante
bibliográfica, onde pesquisou-se em diversas a escrita de seu trabalho seguem) a escrita é
fontes, os assuntos pertinentes ao processo de um processo trabalhoso envolvendo três tipos
construção do hábito de leitura no cotidiano de operações planejamento, textualização e
escolar. Nesse processo, considera-se revisão. Esses procedimentos são dados de

241
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

forma recursiva e variável, dependendo do a conscientização dos seguintes aspectos


sujeito que escreve, da intenção comunicativa (FREIRE, 1983):
e do tipo de texto (GADOTTI, 2003). • A intenção de comunicar: Qual é o
As operações de planeamento estão propósito da escrita e a quem é abordada;
envolvidas no processo de definição da • As características dos diferentes textos:
finalidade do texto: a quem é endereçada, com como o texto deve a ser escrito deve ser
que intenção, que é a reação que eu espero do estruturado e organizado;
leitor e inclua outros tópicos tais como a • Conteúdo e consistência: o que eu vou
concepção, a organização e o ajuste das ideias. dizer e como eu organizo ideias para que o
As operações de textualização referem-se às leitor entenda o que eu quero expressar, gravar
próprias atividades de redação: a pessoa que ou comunicar;
escreve deve organizar um discurso coerente • Os aspectos convencionais da linguagem
evitando ambiguidades e acomodando escrita: o estabelecimento do princípio
adequadamente as declarações de acordo com alfabético do nosso sistema de escrita, a
a intenção de comunicação. ortografia (uma vez que a criança atinge o nível
As operações de revisão referem-se à alfabético em suas produções escritas).
correção de texto para edição e leitura por Portanto, avaliar as diferentes formas de
outros. Neles, há atividades de leitura crítica e representação linguística que as crianças usam
releitura pelo autor (detecção de pontos que antes de aprender a escrever
necessitam de modificação) e atividades de convencionalmente, um processo construtivo
retificação. Estas ações destinam-se a que tem sido amplamente descrito por Ferreiro
identificar as possíveis barreiras de e Teberoski (2000).
entendimento com as quais o leitor pode
encontrar e refazer todo o texto ou parte dele A IMPORTÂNCIA DO HÁBITO
antes de sua edição e/ou publicação.
Nesse aspecto, Paulo Freire denota o DA LEITURA NO PROCESSO DE
seguinte: APRENDIZAGEM
A alfabetização e a pós-alfabetização A leitura e a escrita são elementos
envolvem esforços no sentido de uma imprescindíveis e até determinantes para a
compreensão correta do que é a palavra sobrevivência de todos em um mundo
escrita, linguagem e suas relações com o globalizado. No entanto, ainda existe uma
contexto do orador e aquele que lê e escreve, resistência frente a isso, sendo que não levam
portanto, a compreensão da relação entre esses valores a sério. Justifica-se os ainda
"leitura" do mundo e lendo a palavra (FREIRE, elevados índices de analfabetismo no Brasil
1983, p. 22). com o fato da carência de entendimento, de
Como pode-se ver, aprender a escrever compreensão e interpretação daquilo que
envolve mais do que aprender a desenhar leem e por isso acabam encarando essa
letras e combiná-los uns com os outros para questão como um terrível desafio.
formar sílabas e palavras. Isso porque envolve

242
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Paulo Freire, um importante educador pensantes, que, ao fim e ao cabo, é a principal


brasileiro reconhecido mundialmente por suas finalidade da educação? Para o educador Paulo
obras destaca o seguinte fato sobre a leitura e Freire, a resposta sem margem de dúvida seria
interpretação textual: um não (GADOTTI, 2003 p. 113).
Para a real aprendizagem da leitura não Mergulhando ainda sobre esse assunto da
basta apenas que o indivíduo saiba ler a leitura e escrita, Antônio Joaquim Severino,
seguinte frase 'Eva viu a uva' e não saber professor de filosofia na USP, também
analisar o teor escrito da mesma. É evidência em suas obras acadêmicas, a
fundamental que ocorra uma compreensão de importância da leitura e escrita para a
qual a posição que Eva ocupa no seu contexto construção do saber.
étnico e social, sobre quem trabalha para Sobre esse assunto ele afirma:
produzir essa referida uva e também quem Aprender a ler é antes de tudo, aprender
lucra com esse trabalho. Isso sim é uma leitura interpretar o mundo, compreender o seu
(FREIRE, 1996 p.81). contexto, não se limitando apenas a uma
Ao analisar esse pensamento de Paulo Freire manipulação mecanizada de palavras ou
pode-se afirmar que a leitura não pode se frases, e sim abrangendo em uma relação
resumir em falar aquilo que está escrito, o dinâmica que vincula a linguagem com a
leitor deve compreender todo o contexto que realidade que o mesmo as vive. Afinal, a
engloba o pensamento daquela frase, além de aprendizagem da leitura é um ato de educação
indagar sobre ela, dar um ponto de vista sobre e isso é um ato profundamente político
a mesma, para que ocorra a real interpretação (SEVERINO,1994 p. 31).
textual. Segundo linha de raciocínio defendida pelo
Um professor da USP e diretor do Instituto autor, torna-se evidente o fato de que não é
Paulo Freire, em seu livro ‘Histórias das Ideias possível pensar a educação desvinculada aos
Pedagógicas’, Moacir Gadotti levanta o princípios básicos como a leitura e escrita, pois
seguinte ponto na análise de Freire: as mesas são ferramentas indispensáveis e
Ao imaginar em uma sala de aula repleta de chaves de acesso para um conhecimento mais
alunos no processo de alfabetização. No início aprofundado sobre o mundo. Ao compreender
da aula, o professor escreve no quadro a a sua importância, fica mais fácil entender são
seguinte frase ‘Eva viu a uva’ e solicita que os por meio delas que os educandos terão uma
alunos a repitam. A ideia, explicita pelo infinda gama de possibilidades para obter
educador, é que a repetição do som do ‘ve’ na conhecimentos de quaisquer áreas, além da
frase auxilie os educandos a uma associação informação, do lazer, de cultura e integração
sonora com o símbolo usado no alfabeto latino no meio social, possibilitando transformações
para representá-lo, que no caso é a letra V. de caráter social e coletivo, a leitura e a escrita
Simples, certo? Mas será que a repetição de são valores relevantes para que o homem
frases sem aplicação em algum contexto é adquira a cidadania, e ferramentas para
suficiente para, além de alfabetizar, iniciar o colaborar com a transformação do mundo.
processo de formação de indivíduos críticos e Sem esses valores indispensáveis, eles se

243
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tornam pessoas incapazes de exercer de forma o aluno não consegue por exemplo: executar
plena essa cidadania. uma pesquisa, elaborar um pequeno resumo,
Esse projeto vem com a intenção de detectar e tomar nota de uma ideia principal
oportunizar aos alunos das séries iniciais do que esteja subtendida ou até mesmo explicita
ensino fundamental, as devidas condições de dentro do texto, realizar analises críticas sobre
interação ao mundo letrado. É valido frisar o algum tema, além de não possuir argumentos
grande prazer que a leitura propicia aos para defender seus posicionamentos em
leitores, o habito da leitura propicia um diversos contextos.
transporte a um universo desconhecido, Partindo dessa vertente, existe a convicção
universo esse que é capaz de introjetar os que este projeto contará com a participação
valores de vida inseridos no cotidiano vivido em sua totalidade dos professores,
pelo leitor. independente da disciplina que eles lecionem.
A escrita por sua vez, não se resumo em A equipe docente presente nas escolas estão
pegar uma caneta ou lápis e desenvolver em plena consciência de que o aluno dever ter
simples traços, a escrita é a constatação dos o domínio sobre a língua oral e escrita, afim de
valores da leitura com intuito oposto, já que a ter a sua individualidade e força em seus
leitura propicia uma assimilação e ela, uma posicionamentos.
projeção desses conhecimentos. A escrita A forma de como é observado o mundo se
expressa em palavras, a identidade pessoal em modifica quando o indivíduo adquire o hábito
forma de grafia. e apreço pela leitura, pois ela quando é
Para tanto, não é necessário apenas haja o praticada de forma completa, a mesma é capaz
fato do indivíduo deter tais condições para que fazer uma releitura pessoal ou comum sobre a
o ato de ler e escrever venha se tornar uma realidade, derrubando assim dilemas,
realidade concreta em sua rotina, é preciso que quebrando os pensamentos do senso comum,
ocorra um entendimento do impacto causado agregando valores internos ao coletivo,
na concepção do mundo como um todo. Então, revelando enfim uma visão crítica sobre o que
para ocorrer a efetuação de fato, é mister o estipula o mundo.
papel escola em ser uma instituição A análise do mundo não surge apenas com o
comprometida por despertar no aluno o hábito da leitura de textos prontos, esse
interesse e o prazer pela leitura e pela escrita. processo de conhecimento crítico do mundo
Sendo que ela seja um exemplo de leitor e como cita Paulo Freire (1996 p.51), “procede a
escritor, isto é, que todos os sujeitos leitura da palavra”. Portanto, antes mesmo de
envolvidos no espaço escolar tenham isso alguém comece a ler uma palavra, já existe
como prática no seu cotidiano, para que uma leitura particular sobre o mundo que irá
possam estimular aqueles que ainda não têm basear a reprodução mental dessas palavras.
tal hábito. Para o escritor Weisz, ao falar sobre o
É público e notório que, o hábito da leitura conhecimento afirma:
depende de outros elos no processo de O conhecimento não é algo externo que
formação educacional. Sem dominar a leitura, deve necessariamente ser consumido, posto

244
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

automaticamente para dentro por parte de seu A percepção do entendimento da leitura é


aprendiz, mas sim algo que deve sofrer um uma atividade de caráter construtivo, tendo
processo de produção, construído pelo como embasamento os conhecimentos prévios
aprendiz dentro do seu ritmo de absorção de dos educandos, advindos de suas experiências
informações, enquanto é sujeito e não objeto internas ou externas.
do processo de aprendizagem (WEISZ, 1988 p. Ferreira (2001), sobre esse assunto afirma:
35). Faz necessário criar um ambiente
Analisando o pensamento inserido acima, alfabetizador havendo um "conto ou área de
supõe que é necessário, além da leitura de leitura" onde se encontrem não só livros bem
textos, uma sensibilização pedagógica para que editados e ilustrados, como qualquer tipo de
se instigue aos educandos a formarem sua material que contenha a escrita (jornais,
opinião e construir seus argumentos afim de revistas, dicionários, folhetos, embalagens e
destruir o senso comum e não ser facilmente rótulos comerciais, receitas, embalagens de
influenciado por outras opiniões. medicamentos etc.). Quanto mais variados
Já para Vygotsky (1988, p.131), "a esse material, mais adequado para realizar
compreensão da língua escrita é efetuada diversas atividades de exploração,
primeiramente por meio da língua falada", classificação, busca de semelhanças e
sendo que após o processo de leitura textual, o diferenças para que o professor, ao lê-los em
mesmo pode ser amplamente discutido entre voz alta, dê informações sobre "o que se pode
os alunos, com a intervenção do professor, esperar de um texto" em função de
para depois haja uma reescrita do texto por categorização do objeto que vincula. Insisto: no
parte dos alunos, só que dessa vez baseado em meio rural, mais em qualquer lugar onde
suas ideias, pois segundo Smith (1989, p.21). realize uma ação alfabetizadora (FERREIRA,
"O aprendizado pode ser considerado a 2001, p. 124-125).
modificação daquilo que já sabemos, como Seguindo nessa direção, eles apontam em
uma sequência de nossas interações com o suas análises que deve ser criado um ambiente
mundo que nos rodeia". devidamente adequado, onde o processo de
Para Marcushi (2001), ao analisar tais alfabetização contribua de forma significativa
princípios afirma o seguinte: para que as crianças tenham oportunidades de
O indivíduo insere no texto os construir seus conhecimentos acerca da leitura
conhecimentos que construído pelo mesmo, e da escrita.
além de propor as suas ideias e Também é importante destacar sobre a
argumentações, fazendo uso constante do formação pedagógica do professor, pois ele é
procedimento a qual introjetou-se, sendo essencial para colaborar de forma mais eficaz
formado através desse processo o indivíduo na formação cognitiva de seus alunos. O
letrado, que participou de um processo de professor deve propor várias vertentes de
aprendizagem social e histórica da leitura da raciocínio para uma informação comum, afim
escrita em contextos formais para uso de que se possa extrair várias discussões que
utilitário. (MARCUSHI, 2001. p.21) possibilitem deixar a aula mais enriquecedora.

245
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Seguir esses processos de aprendizagem são escrevem e nove outros que não apresentam
essenciais para que se concretize a sua função problemas de aprendizagem, têm escritas
de educador. O pedagogo deve estar ilegíveis do ponto de vista do adulto.
preparado para os desafios constantes na Para as crianças que possuem algum tipo de
educação para que o mesmo possa contribuir dificuldade (rendimento escolar baixo, notas
com sua formação acadêmica para um futuro ruins, etc.), é adequado que identifique, dentro
melhor. do contexto da leitura, onde estão localizadas
a matriz do pobre para que ocorra a realização
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO de tarefas e a compreensão dos conteúdos até
então não dominados, facilitando assim as
DO SISTEMA DE ESCRITA SOBRE fases do desenvolvimento de alfabetização.
A CRIANÇA Vygotsky (1988), denota o seguinte:
A compreensão do princípio alfabético do É necessário construir um forte espaço,
nosso sistema de escrita pela criança é uma meios e tempo hábil para que os alunos
aprendizagem complexa, cujo avanço e pratiquem a leitura na sala de aula e ao mesmo
desenvolvimento tem uma relação muito tempo é um desafio e um compromisso,
estreita com o ambiente sociocultural onde a considerando que em nome da educação
criança cresceu. Na verdade, todos os pré- formal as crianças são monopolizadas cada vez
escolares e alunos da primeira série têm mais cedo para atividades pouco criativas que
notado as grandes diferenças que existem não os tornam tão inteligentes quando
entre as crianças que tiveram contato com a deveriam (VYGOTSKY, 1988 p. 58-59).
cultura escrita (eles têm livros navegados, lê- A atividade da leitura pode resgatar o prazer
los textos, são cercados por pessoas que leem de sonhar, de imaginar sem limites, além de
ou escrevem e falam sobre o que você lê...) e aprender com liberdade e prazer quaisquer
aqueles que, vindos de domicílios conteúdos de formação acadêmica. São
extremamente desfavorecidos, entram na incontáveis os fatores limitantes que
escola com poucas experiências com a possibilitem a concretização desse objetivo
linguagem escrita, mesmo que vivamos em um geral: o medo e despreparo do professor, bem
mundo jurídico. como a estrutura conservadora e arcaica da
Para Ferreiro (2001), tal situação surge instituição escolar.
porque a mera presença de escrita no Sobre esse aspecto, Oliveira (1997), aponta:
ambiente não garante a consciência da criança O aspecto mais importante dessa
sobre o significado dos sinais gráficos; semelhança é a consideração da escrita como
interrelação de uma pessoa que lê e/ou um sistema de representação da realidade, e
escreve com e/ou para a criança é necessária. do processo de alfabetização como o domínio
Por esta razão, a evolução no processo de progressivo desse sistema que começa muito
aquisição de linguagem escrita pode ser tão antes do processo escolar de alfabetização e
díspares entre as crianças da mesma idade, e não como uma habilidade mecânica de
nós nos reunimos com quatro anos que leem e

246
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

correspondência letra/som (OLIVEIRA, 1997, p. avanços significativos por escrito no final da


68). primeira etapa da educação básica.
Para ajudar os alunos a avançar neste As observações e análises foram registradas
processo de construção do sistema de escrita, ao longo de um quarto ao longo de dois
é necessária uma interação diária com textos períodos escolares diferentes e suas
reais e a prática diária de produção escrita, o informações foram concluídas com a análise
que lhes permitirá aprender a ler e escrever, dos cadernos dos alunos e revisão de suas
resolvendo em conjunto para os problemas produções escritas. Os dados obtidos por meio
que enfrentam na tentativa de escrever e dessas três técnicas: análise documental,
construir o significado de um texto que eles observação e análise de evidências físicas
ainda não sabem como escrever permitiram obter elementos teóricos e
convencionalmente. metodológicos que serviram de referência
No entanto, para que isso seja possível, é fundamental para a formulação de princípios
necessário que os textos utilizados na classe didáticos que resolver o problema identificado.
não sejam projetados exclusivamente para
aprender a ler e escrever: eles devem, pelo RESULTADOS E DISCUSSÕES
contrário, ser textos reais a serem usados no
De acordo com a análise coletadas para a
contexto de uma situação comunicativa.
construção desse trabalho, concluiu-se que
Finaliza-se aqui que a fase da alfabetização é
apresentam dificuldades nos aspectos básicos,
o processo pelo qual o aluno adquire as
como a localização de informações explícitas
informações, as habilidades, as atitudes e
em um texto, reconhecendo a sequência de
valores a partir de seu contato com a realidade,
ações, formando novas palavras usando
o meio onde vive e contato com as pessoas. Ela
prefixos e colocando corretamente a vírgula
é importante e fundamental para seu
em uma frase simples.
desenvolvimento cognitivo. Deve ser
Da mesma forma, nos resultados do
trabalhada desde os primeiros anos escolares e
primeiro estudo comparativo internacional
de forma intensa e motivante.
sobre linguagem, matemática e fatores
associados para o terceiro e quarto anos da
MATERIAL E MÉTODOS educação básica, conduzido pela UNESCO em
Para atingir os objetivos acima 1997 para uma amostra de 1200 estudantes da
mencionados, começamos a partir de uma américa latina, tiveram as seguintes
revisão documental das avaliações linguísticas deficiências detectadas na leitura: no nível
realizadas no país para alunos de primeira fase literal primário, no modo paráfrase literal e
da educação básica e publicadas nos últimos leitura inferencial (UNESCO, 2001).
nove anos. Também foi analisado as obras de Embora o relatório não forneça informações
grandes pensadores que tiveram vivencia em sobre o desempenho dos alunos por escrito,
salas de aula na educação infantil e dada a estreita relação entre a leitura e a
fundamental I, cujos alunos apresentam produção escrita e considerando as queixas
contínuas dos professores do fundamental I

247
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sobre dificuldades por escrito apresentadas desenvolvida como processos inter-


por seus alunos, podemos inferir que os relacionados: as crianças podem coletar
resultados neste tópico são igualmente enigmas, ditar-lhes ao seu professor para
deficientes. escrever, e lê-los para outras crianças.
A revisão documental realizada e a análise Simultaneamente, outras formas de expressão
das experiências descritas nos permitem artística devem ser incentivadas, como
formular os seguintes princípios didáticos para desenho, música, dança, teatro.
o desenvolvimento da escrita durante a b) promover a leitura
alfabetização inicial: A leitura livre e guiada de vários textos com
a) incentivar a expressão oral diferentes intenções comunicativas permite à
Considerando que a escrita é um ato de criança apropriar-se da estrutura da linguagem
expressão do pensamento e um instrumento escrita, fornecendo elementos para a escrita.
de comunicação e que a criança de uma idade Assim, na sala de aula podemos ler: textos
jovem aprende a usar a linguagem oral para científicos e jornalísticos onde as informações
esses fins, é essencial para o desenvolvimento sobre as questões levantadas ou o projeto de
da escrita para incentivar a criança a participar sala de aula trabalhada é pesquisado e
em diferentes situações orais, formais e não expandido: fotos, brochuras, biografias,
formais, que incentivam a conversação, a relatório de experiência, notas de enciclopédia,
pergunta, a descrição, a narrativa, a histórias Notícias, entrevistas; textos
argumentação, a discussão, a explicação. A expressivos, literários e humorísticos tais como
este respeito, as seguintes atividades podem canções, histórias, enigmas, poesia, jogos,
ser realizadas: coletar e aprender textos de lendas, fábulas, coplas, Provérbios, tiras
folclore popular: provérbios, enigmas, mitos, cômicas; textos instrucionais ou prescritivos,
lendas, canções, contos folclóricos, como receitas de cozinha, instruções de jogo,
apresentação de fantoches e peças de teatro, experimentos ou trabalho; textos publicitários,
participando exposições, avaliar a sua atitude e como propagandas, cartazes, propaganda;
que de seus pares, ter uma opinião sobre uma textos epistolares: cartas, chamadas,
situação. comunicados, dentre outros.
Vale dizer que cada um existe com o objetivo c) promover a escrita
de promover o diálogo, a escuta, a Nesse tópico, a intenção de comunicar e a
argumentação e a emissão de julgamentos apropriação, em uso, da correspondência
críticos, prestando atenção à estrutura das alfabética do nosso sistema de escrita. Estes
sentenças e ao léxico de cada situação dois aspectos são desenvolvidos por meio da
comunicativa, sem subestimar a linguagem participação em atos reais de escrita que
familiar do aluno. Nesse sentido, é importante respondem a diferentes intenções de
ressaltar que essas atividades não são um pré- comunicação: narrar, descrever, explicar,
requisito para o início da escrita das crianças, convencer ou influenciar a conduta dos outros.
como atividades básicas de linguagem: falar, Aqui estão algumas atividades que podem
escutar, ler e escrever pode e deve ser ser feitas para promover a escrita: 1) escrever

248
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

textos em coletivo; 2) escrever textos em


pequenos grupos; 3) escrever textos
individualmente com o apoio do professor.
d) incentivar a reflexão sobre a linguagem
escrita
O processo de alfabetização para crianças
deve desenvolver ações que os levem a fazer
uso da leitura e da escrita em diversas
situações e contextos comunicativos do
cotidiano, para os quais espaços de reflexão
sobre linguagem escrita que nos permite tomar
conhecimento dos seguintes aspectos
Tradicionalmente, a escola tem tentado este
aprendizado por meio do uso exclusivo de
métodos amplamente conhecidos de iniciação
à leitura e escrita. No entanto, a reflexão sobre
o sistema alfabético do nosso sistema de
escrita pode ser dada a partir de textos escritos
em contextos funcionais e significativos para as
crianças: quando escrevem, inquirir e
perguntar sobre como eles são escritos certas
palavras e hipóteses são levantadas que
mudam à medida que comparam a sua escrita
com a de seus pares e do professor.
Portanto, os princípios pedagógicos aqui
estabelecidos promovem a dominância
conceitual e processual de três aspectos
fundamentais: as funções do escrito, as formas
de organização dos diferentes tipos de textos e
a conscientização da correspondência em
ordem alfabética do nosso sistema de escrita.

249
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aprendizado da linguagem escrita envolve um longo processo que envolve estratégias
de expressão de diferentes maneiras, tentando levar à elaboração de um texto. Nesse sentido, a
importância da expressão escrita nas crianças deve ser enfatizada, incentivando a escrita livre
com um propósito definitivo, o que garante que a criança se sinta interessada no momento da
escrita.
Foi visto que a escrita envolve o desenvolvimento de processos cognitivos, portanto, os
momentos de produção devem ser constituídos em espaços de criação e recreação onde o
processo de construção da linguagem escrita em crianças é respeitado e permitido falar sobre o
que eles vão escrever, planejar e revisar seus escritos.
Para isso, os estudantes devem reconhecer a utilidade que a escrita trará, e isto é
conseguido quando o ensino funcional da língua escrita e na sala de aula é promovido, lido e
escrito para finalidades sociais diferentes. Nessa lógica, a abordagem funcional comunicativa tem
como objetivo garantir que os alunos descubram, por escrito, uma forma de se expressar e se
comunicar com os outros, portanto, os espaços coletivos de produção escrita devem ser
promovidos: em pares, em pequenos grupos e em plenário guiado p ou o professor.
É importante que as crianças tenham a oportunidade de percorrer os diferentes gêneros
textuais: expressivo, folclore popular, literário, jornalístico, informação científica, instrucional,
epistolário, bem-humorado, publicitário para que eles estão perto de sua realidade e descobrir a
importância de cada um deles.
A aprendizagem e o ensino da linguagem escrita devem basear-se em contextos
significativos para a criança, onde a criança pode recriar seus pensamentos, opiniões e ideias por
meio de diferentes formas de expressão: oral, escrita, artística.
Por fim, os filhos da educação precoce e da primeira classe podem ter a oportunidade de
escrever, mesmo que não sejam alfabetizados, pois é precisamente a participação em atos
coletivos de leitura e escrita, o que lhes permitirá avançar em um processo de construção do
sistema de escrita e o uso funcional da linguagem escrita.

250
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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escola. Fundo de cultura económica. Argentina. Ed. Chirimbote, 2005.

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KLEIMAN, A (org). Os Significados do Letramento, Campinas. Ed. Mercado das Letras, 1995.

LOMAS, Carlos. Como ensinar a fazer as coisas com palavras: Teoria e prática da educação
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histórico. São Paulo. Ed. Scipione, 1997.

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aprender a ler. Porto Alegre. Ed. Art Med, 1989.

VYGOTSKY, L, L. - Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo, SP. Ed. Icone,


1988.

251
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO OLHAR E ESCUTA DA


CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Vanessa Porto Alves1

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo pesquisar sobre uma ferramenta importante para
o professor da Educação Infantil, que é o olhar sensível e a escuta atenta das crianças, pois é a
partir das observações que temos elementos fundamentais que norteiam nossa prática em sala
de aula, buscando refletir, replanejar nossas ações, considerando o que as crianças trazem para
nós, valorizando suas escolhas e dando voz ao protagonismo infantil. Dessa forma, analisaremos
sobre esse processo tão essencial, assim como também conheceremos a concepção de criança e
que ao longo dos anos essa concepção passou-se por transformações, garantindo os direitos dos
mesmos, levando-se em consideração seus pensamentos, suas vozes.

Palavras-Chave: Protagonismo infantil; Olhar sensível; Escuta atenta.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagoga; Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional.

252
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF CHILD LOOKING AND LISTENING IN CHILD


EDUCATION
ABSTRACT: This article aims to research on an important tool for the Early Childhood teacher,
which is the sensitive look and attentive listening of children, since it is from the observations
that we have fundamental elements that guide our practice in the classroom, seeking to reflect,
replan our actions, considering what children bring to us, valuing their choices and giving voice
to children's protagonism. In this way, we will analyze this essential process, as well as know the
conception of a child and that over the years this conception has undergone transformations,
guaranteeing their rights, taking into account their thoughts, their voices.

Keywords: Child protagonism; Sensitive look; Listen carefully.

253
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO própria cultura, linguagem, história,


expressões, afeto, socialização, imaginário,
É desde bem cedo que as crianças possuem ludicidade.
maneiras de expressar-se e comunicar-se para Assim ao considerarmos os espaços que
atendimento de suas necessidades, e sabemos compõem as escolas de Educação Infantil
que muitas são as linguagens das crianças, tais observamos também que os mesmos devem
como choro, balbucios, movimentos corporais, ser significativos, oportunizando contextos
olhares, entre outros aspectos. Dessa forma investigativos para vivências e novas
como levar em consideração as falas das descobertas pelas crianças, assim como o
crianças? Como ter um olhar e escuta sensível professor deve ter um olhar e uma escuta
para considerar suas necessidades e também sensível sobre a criança, compreendendo suas
refletirmos em nossas práticas pedagógicas necessidades e potencialidades, valorizando
realizadas com os mesmos? suas singularidades, os contextos sociais e
Essas questões nos fazem refletir sobre a culturais na qual estão envolvidos.
importância do olhar sensível e a escuta atenta Sendo assim, o professor se torna um
, na qual deve estar presente diariamente no explorador da sensibilidade das crianças,
nosso trabalho com as crianças. possibilitando que elas se expressem, e
A escuta desempenha um forte papel social enriqueçam suas experiências e também
e por essa razão deu-se origem a esse trabalho, aumentem suas possibilidades de
que reconhece e valoriza a voz das crianças, entendimento da realidade que as cerca, de
compreendendo seus processos e valorizando modo que a vivacidade, a ampliação e o
suas individualidades, seus tempos. enriquecimento dessas experiências sensíveis,
O olhar além de ser a base de respeito por ampliem as suas redes de entendimento e de
cada criança considera também as várias significação do mundo. Envolve, portanto, uma
linguagens das mesmas, respeitando seu habilidade técnica, mas também relacional
tempo e os seus olhares sobre o mundo em si. com resposta responsável, ética e
comprometida com os sujeitos e com o
A ESCUTA E O OLHAR SENSÍVEL entorno (KRAMER; NUNES; CARVALHO, 2016).
Ao pensarmos no contexto da Educação A observação do professor deve ser algo
Infantil analisamos o quanto podemos sensível, de investigação, na qual é por meio
observar um lugar potencializador de desse olhar sensível que o professor tem
aprendizagens significativas para as crianças. elementos para reflexão sobre sua prática
Dessa forma, o trabalho com as crianças possui pedagógica, oportunizando espaço que as
uma dinâmica que deve-se levar em crianças tenham voz em suas ações,
consideração o afeto como uma das formas de descobertas, valorizando o protagonismo
acolhimento das crianças, assegurando que as infantil.
mesmas sejam protagonistas de suas ações. De acordo com Falk (2011), o papel do
São por meio destes aspectos, que a criança professor é fundamental nesse processo de
como sujeito em desenvolvimento constrói sua desenvolvimento da criança, na construção de

254
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sua identidade, pois é nessa relação de ao seu desenvolvimento. Por essas razões, os
afetividade que a interação e a aprendizagem espaços das escolas de Educação Infantil são de
tornam-se significativas, oportunizando extrema importância pois eles devem
liberdade as crianças para suas criações e promover contextos investigativos para que as
brincadeiras. crianças possam se descobrir enquanto
Os espaços só são ambientes sujeitos de direitos, valorizando todas as
potencializadores quando são explorados pelas linguagens tanto verbais como não verbais.
diversas experiências, vivências, interações nas Assim, consideramos que a dimensão se amplia
relações, na qual os limites são transformáveis do sentido individual de suas práticas para o
por quem o habita a partir das experiências sentido social de suas práticas (SANTOS, 2012
compartilhadas. p. 10,11).
A escuta e o olhar do professor devem
PROTAGONISMO INFANTIL promover pesquisas, investigações no sentido
de que possa refletir sobre sua prática
O protagonismo infantil é algo que vem
pedagógica, assim como ampliarmos nossos
sendo construído ao longo da história da
olhares em relação as políticas públicas. É
infância. Ao considerarmos que antigamente a
portanto, dessa maneira, que os espaços das
criança era vista como um adulto em
escolas passam a ser voltados para infância,
miniatura, podemos analisar esse percurso de
respeitando e valorizando a individualidade de
mudança que ocorreu no decorrer do tempo,
cada criança, pois as mesmas são construtoras
na qual a criança passou a ser considerada
de conhecimentos, autonomia e competências.
como um sujeito de direitos.
Atualmente, diante de tantas
transformações, a criança é um sujeito que tem
voz, e por vez o protagonismo infantil é
essencial e ganhou visibilidade na Educação.
Dessa forma, saber o que as crianças pensam e
sentem é um dos aspectos importantes da
pesquisa educacional. Sendo assim, escutar a
voz das crianças nas escolas vai além do
processo de compreender suas vivências,
escolhas, mas é uma condição política, da qual
se estabelece um diálogo intergeracional de
partilha de poderes(SARMENTO; SOARES;
TOMÁS, s/d, p. 3).
Consideramos que a criança possui várias
formas de expressar-se, comunicar-se, de
compreender e que essas formas estão sempre
entrelaçadas em suas vivências e experiências,
formando um único conjunto que está ligado

255
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, por isso é essencial que estudos
sejam voltados para a primeira infância, com o objetivo de se compreender melhor o
desenvolvimento das crianças, assim como, professores refletirem sobre suas práticas
pedagógicas.
Ao refletirmos sobre essas questões, considero que a escuta e olhar sensível para as ações
e vozes dos mesmos são elementos fundamentais que garantem o protagonismo infantil, pois o
professor a partir disso, consegue rever , replanejar e criar contextos investigativos que
promovam a descoberta, as diversas experiências e a aprendizagem significativa, oportunizando
o brincar livre e a autonomia de escolha das crianças. Por essas razões as escolas de Educação
Infantil precisam ser esse espaço de escuta, de liberdade, valorizando as vozes das crianças.
Escutar as crianças tem a ver com o adulto se conectar as suas realidades, pensamentos,
necessidades e interesses, com o intuito de conhecê-las e compreender como se expressam com
o mundo.

256
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
FALK, Judit. Educar os três primeiros anos: a experiência de Lóczy. São Paulo: Araraquara
– SP. Editora Junqueira&Marin. 2011, p. 53 – 62.

KRAMER, Sonia. Formação e Responsabilidade: escutando Mikhail Bakhtin e Martin Bubber. In:
KRAMER, Sonia; NUNES, Maria Fernanda; CARVALHO, Maria Cristina (orgs.). Educação
Infantil: Formação e Responsabilidade. Campinas, SP: Papirus, 2016, p. 309 – 329.

SARMENTO, M.; SOARES, N.; TOMÁS, C. Participação social e cidadania activa das
crianças. Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho. s/d. Disponível em:
http://paralapraca.org.br/wpcontent/uploads/Participa%C3%A7%C3%A3o-social-e-
cidadaniaativa-dascriancas.pdf. Data de Acesso:20/07/2022.

SANTOS, Núbia Schaper. As ideias fora do lugar das ideias:: notas sobre a transição das
creches públicas da assistência para a educação no município de Juiz de Fora. In:
ARAGÃO, Maria Darcilene (Org.). Trajetórias de Pesquisas em creches e escolas de Educação
Infantil. Juiz de Fora: Ufjf, 2014. p. 127-144.

257
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO PROERD NO PROCESSO


DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Joyce Croxiatti de Oliveira1

RESUMO: A fim de fortalecer as características preventivas referentes ao uso indevido de drogas,


além de demonstrar aos alunos como se deve melhorar a qualidade de vida e saúde este artigo
verifica a importância de integralizar o Estado, família e sociedade a partir do Ensino e
Aprendizagem. Deste modo, o presente artigo analisa a importância de disciplinar o
desenvolvimento do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) e
espera contribuir para maior crescimento e conhecimento da sociedade. Essa análise será
realizada por meio de pesquisa de cunho bibliográfico, pretende-se discutir a importância do
PROERD como disciplina no Processo de Ensino e Aprendizagem para conhecimento e facilitação
da prevenção ao uso indevido de drogas. Conclui-se que, apesar, de todo o progresso já
conquistado por esse programa na sociedade, tanto o professor quanto o aluno devem conhecer
de forma mais detalhada a importância do PROERD, visto que esse programa tem apresentado
grande expectativa de prevenção ao uso indevido de drogas a partir do conhecimento instituído
nas escolas por meio do processo de ensino e aprendizagem.

Palavras-Chave: PROERD; Drogas; Segurança; Educação; Alunos.

1Professora do Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciada e Bacharelada em Pedagogia pelo Centro Superior de Ensino de Maringá – UniCesumar;
Pós-graduada em Docência no Ensino Superior; EaD e as Novas Tecnologias Educacionais pelo Centro
Universitário de Maringá- UniCesumar e Educação Especial, pelo Instituto Paranaense de Ensino.

258
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF PROERD IN THE TEACHING AND LEARNING


PROCESS
ABSTRACT: In order to strengthen the preventive characteristics regarding the misuse of drugs,
in addition to demonstrating to students how to improve the quality of life and health, this article
verifies the importance of integrating the State, family and society through Teaching and
Learning. Thus, this article analyzes the importance of disciplining the development of the
Educational Program for Resistance to Drugs and Violence (PROERD) and hopes to contribute to
greater growth and knowledge of society. This analysis will be carried out through bibliographic
research, it is intended to discuss the importance of PROERD as a discipline in the Teaching and
Learning Process for knowledge and facilitation of the prevention of drug misuse. It is concluded
that, despite all the progress already achieved by this program in society, both the teacher and
the student must know in more detail the importance of PROERD, since this program has
presented great expectations of preventing the misuse of drugs from the knowledge established
in schools through the teaching and learning process.

Keywords: PROERD; drugs; Safety; Education; Students.

259
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Dessa forma, optou-se por realizar uma


pesquisa bibliográfica a fim de atingir o
A evolução na sociedade é um fato objetivo desse trabalho, na qual a metodologia
constante. É natural presenciar os alunos se para sua realização baseia-se em
agrupando em busca de novas amizades, troca levantamentos bibliográficos em artigos e
de experiências, disseminação de ideias, novos livros que abordam o tema. Pretende-se
aprendizados, bem como a busca de soluções investigar e analisar o Programa Educacional de
para os diversos assuntos e suas Resistência às Drogas e à Violência (PROERD)
complexidades que podem surgir a cada dia. no Ensino e Aprendizagem, além de
Pode-se dizer que, o aluno na maioria das demonstrar como esse programa educacional
vezes, é capaz de ultrapassar os diversos pode facilitar a interação entre os assuntos de
obstáculos do dia a dia para, então, concluir prevenção ao uso de drogas entre os alunos,
suas invenções e inovações a fim de atingir suas escola, família e segurança.
expectativas.
A partir dessa perspectiva, vale lembrar que,
1. A IMPLANTAÇÃO DO
a maneira em que o jovem evolui na busca de
novos conhecimentos e curiosidades existe a PROGRAMA EDUCACIONAL DE
necessidade que o sistema educacional RESISTÊNCIA ÀS DROGAS E À
acompanhe com maior proximidade essa
evolução e esteja focado nos principais
VIOLÊNCIA (PROERD) NO BRASIL
resultados dessas atitudes. Para tanto, o O Programa Educacional de Resistência às
sistema de ensino precisa investir em novas Drogas e à Violência (PROERD) trata-se de um
metodologias de ensino voltadas às programa educacional instituído no Brasil em
habilidades de inteligência da informação e da meados do ano de 1.992, cuja base principal
comunicação, pois são ferramentas está pautada no Programa Educacional dos
necessárias para a contribuição de melhorias Estados Unidos da América conhecido como
no processo de ensino e aprendizagem. DARE (Drug Abuse Resistance Education),
Assim, pretende-se, com o desenvolvimento desenvolvido em Los Angeles/EUA no ano de
desse artigo, demonstrar aos alunos que 1.983.
existem necessidade e importância de novas O PROERD, inicialmente, no Brasil, foi
aprendizagens, conhecimentos e informações instituído em 1.992 na Polícia Militar do Estado
sobre programas educacionais que do Rio de Janeiro. No ano de 1.993 foi
apresentem compartilhamento fundamentado implantado no Estado de São Paulo por meio
na base da sociedade, compreendendo, como da Polícia Militar do Estado de São Paulo, e,
característica principal, a disseminação de desde o ano de 2.002 encontra-se em atividade
prevenção ao uso e abuso de drogas, bem em todas as unidades federativas do país. No
como o incentivo a expansão da cultura estado de São Paulo é aplicado em,
pacificadora abrangendo todas as classes aproximadamente, 400 municípios. Esse
sociais. programa também é aplicado, atualmente, em
mais de 44 países.

260
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O PROERD também é estudado há, educação, ao lazer, à profissionalização, à


aproximadamente, 25 anos pela Universidade cultura, á dignidade, ao respeito, á liberdade e
Estadual da Pennsylvania com participações de à convivência familiar e comunitária, além de
pesquisadores do Kansas, Universidade colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
Estadual Iowa, bem como pesquisadores do discriminação, exploração, violência, crueldade
Departamento de Medicina da Universidade do e opressão (BRASIL, 1988c).
Texas. A partir desses estudos de pesquisas foi O dever do Estado é garantir, valorizar e
acrescentado um novo ajuste no currículo do defender a saúde da criança e do adolescente,
Programa PROERD. Esse ajuste no currículo por meio de diversas modalidades de trabalho,
ficou conhecido como “Caindo na Real”. incluindo-se o trabalho preventivo. No artigo
Esse novo currículo, após algumas 144, V, parágrafo 1º, inciso II, da Constituição
adaptações nacionais, em 2.015 passa a ser Federal, está prevista a competência na área de
implementado no Estado de São Paulo, e, por segurança pública, cabendo às polícias
meio de suas adaptações torna maior a militares, dentre outras ações, prevenir e
capacidade de fazer com que o aluno passe a reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e
tomar decisões seguras e responsáveis, drogas afins. Neste caso, coube ao Estado de
habilidades que vão além das drogas e São Paulo, por meio da Segurança Pública,
violências, bem como atuar em todos os representada pela Polícia Militar, bem como
aspectos da vida. outras esferas do Estado, garantir o direito a
uma vida plena para a criança e ao adolescente.
2. O PROERD COMO UMA A Polícia Militar do Estado de São Paulo –
PMESP está inserida nesse cenário como uma
FERRAMENTA DE instituição pública responsável pelo
RESPONSABILIDADE SOCIAL E DE fornecimento de serviços de segurança à
população. É a principal responsável por
SEGURANÇA elaborar o material específico para cada
Opta-se por utilizar o Programa Educacional
currículo PROERD, bem como os materiais
de Resistência às Drogas e à Violência
específicos que são direcionados para os pais e
(PROERD) no Ensino e Aprendizagem como
instrutores, sempre visando uma abordagem
objeto de análise, com a finalidade de
atualizada do problema drogas e violência.
demonstrar o quanto pode ser relevante,
O programa é aplicado com estratégias
produtivo e necessário o uso dessa ferramenta
preventivas que reforçam os fatores de
educacional de prevenção primária do uso de
proteção, tendo em vista que para o policial
drogas fundamentada na excelência dos
militar exercer a função de docente PROERD
trabalhos ligados à escola, família e segurança.
deverá estar enquadrado em diferentes
De acordo com a Constituição Federal de
aspectos, como por exemplo, ser voluntário,
1988, em seu artigo 227, preconiza que:
dedicar-se plenamente ao trabalho preventivo,
É dever da família, da sociedade e do Estado
ter trabalhado no mínimo 02 (dois) anos em
assegurar à criança e ao adolescente, com
atividades de policiamento ostensivo, não ser
absoluta prioridade, o direito à vida, á saúde, á

261
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fumante e nem fazer uso de bebidas alcoólicas,


além de estar no bom comportamento dentro
da instituição PMESP.
De acordo com as instruções de ensino da
Polícia Militar do Estado de São Paulo o
PROERD pode ser aplicado para crianças e
adolescentes das Escolas Estaduais, Municipais
e Particulares. Sua aplicação de acordo com
ajustes na instituição escolar pode ocorrer para
os alunos de 04 e 05 anos de idade na Educação
Infantil, para as idades de 06 a 09 anos serão
atendidos aos alunos do 1º ao 4º ano do Ensino
Fundamental. Para os alunos com a idade de 10
anos será abrangido o 5º ano da Educação
Fundamental, e, entre 12 e 13 anos de idade
serão atendidos aos alunos do 6º e 7º anos da
Educação Fundamental.
Segundo Nogueira 2010, o policial militar,
juntamente com o professor em sala de aula,
envolvidos no currículo do PROERD, deve
orientar e responder adequadamente os
alunos a fim de que todos os questionamentos
sejam resolvidos a tempo, de maneira clara e
apropriada. Cabe ressaltar que o principal
objetivo do PROERD é tornar evidente o
diálogo e a integração entre os alunos, escola,
família e segurança como veículos de
transformação capaz de proporcionar
conhecimento de prevenção ao uso de drogas,
bem como maior respeito às culturas
populares e a formação social.

262
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, pode-se analisar que, atualmente, o Programa Educacional de Resistência
às Drogas e à Violência (PROERD) é considerado uma realidade no processo de ensino e
aprendizagem. A importância de sua aplicação é relevante, pois se percebe no ambiente escolar
que por meio da aplicação do PROERD pode facilitar ao aluno novas formas de aprendizagem,
entre outras ações, prevenir e reprimir ao tráfico ilícito de entorpecentes e drogas. Percebe-se
que, o aluno ao obter essas informações por meio de discussões realizadas em sala de aula, lhe
permitirá, cada vez mais, disseminar essa interatividade e conhecimento.
Dessa forma, a importância da aplicação do PROERD no ensino e aprendizagem facilitará,
de forma clara, a construção de uma relação mais próxima entre alunos, escola, família e
segurança, capaz de estabelecer um relacionamento de amizade, respeito, harmonia e
aprendizagem. Diante disso, conclui-se que o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à
Violência pode ser considerado uma ferramenta de disseminação de prevenção ao uso e abuso
de drogas, a fim de proporcionar uma interação em benefício contextual da crítica e construção
do conhecimento.

263
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Disponível em <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em
03 jul. 2022;

BRASIL.Lei nº 17.171, de 11 de outubro de 2019. Determina que todas as escolas públicas do


ensino fundamental e médio do Estado apresentem aos seus alunos, ao menos uma vez no ano
letivo, o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência – PROERD, e fixa outras
providências. Disponível em: <https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2019/lei-17171-
11.10.2019.html> Acesso em: 07 jul. 2022.

NOGUEIRA, Adriana Nunes. O currículo do Programa Educacional de Resistência às


Drogas e à Violência – PROERD da Polícia Militar do Estado de São Paulo: exercício de
cidadania – São Paulo - Dissertação de mestrado, Educação. PUC – São Paulo – (2010).
Disponível em:
<https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/10214/1/Adriana%20Nunes%20Nogueira.pdf> Acesso
em 08 jul. 2022.

PREVINA. Núcleo de pesquisa em prevenção ao uso de álcool e outras drogas.


Disponível no site: <https://www.previna.info/> Acesso em 11/07/2022.

264
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DOS PAIS NA VIDA ESCOLAR


DOS FILHOS
Erika Tatiana Garcia Oliveira Toledo1

RESUMO: A participação dos pais é decisiva no processo de construção da personalidade da


criança, devem compreender que a sua trajetória no processo de aprendizagem e os benefícios
que a sua participação trás no desempenho escolar de seus filhos. Este artigo pretende analisar
a participação dos pais na vida escolar dos filhos, sendo essencial sua participação neste processo
junto a escola, uma vez que somente em decorrência do trabalho conjunto possibilitará a
formação de cidadãos críticos, já que, a família deve ser parceira da escola, contribuindo no
processo de ensino- aprendizagem e assim colaborar para uma educação de qualidade. O
objetivo geral consistiu-se em refletir sobre a importância da participação dos pais no processo
de ensino-aprendizagem dos alunos.

Palavras-Chave: Alunos; Educação, Escola, Pais; Interação.

1
Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Bacharel em Educação Física; Especialização em Docência no Ensino Superior.

265
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF PARENTS IN THE SCHOOL LIFE OF THEIR


CHILDREN
ABSTRACT: Parents' participation is decisive in the process of building the child's personality, they
must understand their trajectory in the learning process and the benefits that their participation
brings in their children's school performance. This article intends to analyze the participation of
parents in their children's school life, being essential their participation in this process with the
school, since only as a result of joint work will enable the formation of critical citizens, since the
family must be a partner of the school , contributing to the teaching-learning process and thus
contributing to quality education. The general objective was to reflect on the importance of
parents' participation in the students' teaching-learning process.

Keywords: Students; Education, School, Parents; Interaction.

266
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO observando que a família é detentora de suas


responsabilidades, tais como transmissão de
Este artigo tem como objetivo abordar a valores éticos, morais e humanos. É de suma
importância da participação dos pais na importância a participação da família no
educação de seus filhos no âmbito escolar. acompanhamento dos filhos nas atividades
Inúmeras famílias mantém a ideia de que a escolares no processo de educação construído
educação de seus filhos acontecerá quase que em casa.
totalmente na escola. Todavia, torna-se cada Atualmente o envolvimento e a participação
vez mais presente o entendimento de que o da família no ambiente escolar e considerado
processo educacional da criança precisar ser um elemento para o desenvolvimento das
um caminho feito em conjunto, sendo com a escolas, e para a segurança dos alunos em sua
participação integrada da instituição de ensino vida escolar, uma vez que a convivência e o
e da família se ajudando. relacionamento familiar são fatores
A família é o primeiro agente de socialização, fundamentais para o desenvolvimento
e com ela são transmitidos e construídos individual, a inserção da criança no ambiente
normas, princípios e valores. A Educação é o escolar, o relacionamento com professores e
processo de formação do sujeito, e a familiares, convivência com colegas, tudo isso
escolarização é uma parte desse processo. A é fator decisivo para seu desenvolvimento
escola precisa ser uma aliada das famílias na social.
educação das crianças. Para atingir o sucesso A doutrina assinala como a dinâmica familiar
esperado é fundamental a construção de uma pode refletir nos comportamentos da criança
relação de corresponsabilidade e parceria no âmbito educacional, como também, no seu
entre essas duas instituições. desempenho escolar (SOARES, 2000). Sendo
A escola pela magnitude da sua dimensão crucial que existam conexões afetivas e
social ultrapassa o conhecimento social emocionais entre a família, afinal o amor e
adquirido e visa a socialização de seus alunos, envolvimento da família são fundamentais
devendo prepara-los para as futuras ações em para o desenvolvimento saudável da criança
sociedade e com sua família. nos aspectos cognitivos, afetivo, emocionais,
O que precisa se observar, que a escola e a comportamentais e sociais.
família possuem responsabilidades e papeis Ainda existem inúmeros pais creem que a
diferentes, contudo se complementam no função da escola é educar seus filhos,
processo da educação das crianças. A criança transmitindo valores étnicos e morais, todavia,
inicia o processo de aprendizagem muito antes a escola tem função de ensinar e não educar e
de ingressar na escola. Ao descobrir e explorar se cada uma das partes desempenharem seu
seu corpo, o espaço em que vive, e a começar respectivo papel sem colocar no outro sua
a observar o mundo ao seu redor. própria atribuição, a sociedade caminhará
É necessário que se tenha em mente que rumo a tão aguardada educação de qualidade.
a escola precisa ser vista como uma das fases Nota-se, que os alunos de pais presentes na
para formação pessoal da criança e não a única, vida escolar dos filhos, são os que mais

267
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conseguem se desenvolver na vida, seja Educação Escolar se tornou o modo de


escolar, familiar e social. educação predominante tendo como função
A criança que tem a família envolvida de garantir a aprendizagem de todos os seus
forma direta na rotina escolar tem um melhor alunos.
desempenho acadêmico. Afinal, quando os A família é considerada o primeiro agente de
pais são presentes cobram mais de seus filhos, educação do indivíduo e tem o papel de
despertando um melhor comportamento em construir vínculos afetivos e de confiança para
sala de aula ou na realização das atividades que dessa forma haja uma potencialização na
escolares, contribuindo para obtenção de dinâmica familiar e contribua na educação dos
notas mais altas. Assim, a participação dos pais filhos frente ao âmbito educacional (SOARES,
na escola auxilia efetivamente na construção 2000).
da cidadania de seus filhos. Na escola a criança aprende, sem dúvida
alguma, porém não é só lá que isso acontece. A
A PRESENÇA DOS PAIS NA escola é um espaço privilegiado para se
aprender. No entanto na escola se aprende de
VIDA ESCOLAR DIS FILHOS uma forma diferente do que se aprende em seu
O direito à educação é um dos direitos mais seio familiar.
básicos de todo ser humano, sendo Ademais, é na família onde as primeiras
fundamental para que as crianças e habilidades e estratégias, que futuramente
adolescentes cresçam e se tornem adultos poderão ser usadas no ambiente escolar, são
capazes de exercer sua cidadania, produzirem desenvolvidas, visto que são aprendidas de
e contribuírem ativamente para a sociedade. modo informal na relação casual com os pais
Para que os anos escolares sejam ainda mais (SZYMANSKI, 2004).
benéficos e completos, o apoio dos pais é A LDB 9394/96 se posiciona de forma muito
essencial. Com a participação da família na vida clara, ao falar que a educação não se trata
escolar do filho, ele recebe todo o somente da educação formal, e vai além,
acompanhamento necessário e relaciona acredita que a formação dos seus principais
muito melhor o que aprende em casa e com as valores é por meio da família, uma vez é a
lições da sala de aula. Ademais é uma família que irá acompanhar a criança por todo
oportunidade de estreitar laços com os percurso longitudinal de sua vida, abrangendo
professores dos alunos. o processo de socialização. Desta forma se
A participação da família na escola é tida em torna cristalino a importância da família ser
todas as etapas da construção do participativa com a escola tornando possível
conhecimento visando a aprendizagem se estreitar a relação entre escola e família, assim
desenvolva com qualidade. A família e a escola oportunizando conhecer o ambiente sócio
são duas instituições fundamentais para a cultural em que a criança estar introduzida.
formação de uma pessoa, uma vez que antes A Educação se estabelece de forma integral
da escola a educação se dá em sua família e na englobando a participação da família e da
comunidade em que vive. Na modernidade, a escola, sendo a escola considerada o segundo

268
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

agente de socialização que constrói oportunidades educativas e dos recursos


juntamente com o aluno, a aquisição de pedagógicos.
conhecimentos diante dos conteúdos das Com todas as legislações vigentes, pais e
disciplinas trabalhadas em sala de aula, professores precisam buscar ferramentas para
habilidades, potencialidades, aptidões a partir facilitar a atuação em conjunto, buscando
das ferramentas de ensino introduzidas pelo sempre o melhor para a criança, fazendo com
educador no contexto escolar (SOARES, 2000). que a jornada do conhecimento seja a mais
A educação deve estar pautada na prazerosa e acessível possível. Para tanto, cada
apropriação dos conhecimentos. Quando a escola, em conjunto com os pais, deve
família for consciente do papel da escola, encontrar formas peculiares de
sabendo quais são seus objetivos para com seu relacionamento que sejam compatíveis com a
filho, sem dúvida ela estará mais disposta a realidade de pais, professores, alunos e
fazer a parceria necessária para que haja uma direção, a fim de tornar este espaço físico e
educação de qualidade. psicológico um fator de crescimento e de real
Sabendo da relevância da família no envolvimento entre todos os segmentos.
processo de aprendizagem da criança, foram A doutrina assinala como a dinâmica familiar
criadas inúmeras leis para assegurar o direito a pode refletir nos comportamentos da criança
educação, seguem algumas: no âmbito educacional, como também, no seu
• Estatuto da Criança e do Adolescente (LEI desempenho escolar (SOARES, 2000). Sendo
nº 8.069/90), em seu artigo 4º estabelece crucial que existam conexões afetivas e
como dever da família, da comunidade e do emocionais entre a família, afinal o amor e
poder público assegurar, com absoluta envolvimento da família são fundamentais
prioridade, a efetivação dos direitos referentes para o desenvolvimento saudável da criança
à vida, saúde, alimentação, educação, cultura, nos aspectos cognitivos, afetivo, emocionais,
esporte, lazer, convivência familiar e comportamentais e sociais.
comunitária da criança e do adolescente. E no Ainda existem inúmeros pais que acreditam
seu artigo 55 diz que é obrigação dos pais ou que a função da escola é educar seus filhos,
responsáveis matricular e acompanhar seus transmitindo valores étnicos e morais, todavia,
filhos na rede regular de ensino; a escola tem função de ensinar e não educar e
• Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei se cada uma das partes desempenharem seu
nº 9394/96), nos artigos 1º, 2º, 6º e 12 que respectivo papel sem colocar no outro sua
estabelecem a educação como dever da própria atribuição, a sociedade caminhará
Família e do Estado; rumo a tão aguardada educação de qualidade.
• Plano Nacional de Educação (Lei nº Nota-se, que os alunos de pais presentes na
10172/2007), que define como uma das vida escolar são os que mais conseguem se
prioridades a implantação de Conselhos desenvolver mais na vida.
Escolares e outras formas de participação A criança que tem a família envolvida de
familiar para enriquecimento das maneiras direta na rotina escolar tem um
melhor desempenho acadêmico. Afinal,

269
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quando os pais são presentes cobram mais de resultados, constitui em entrar no universo da
seus filhos despertando neles o bom criança, escutar, prestigiar, discutir, valorizar,
comportamento em sala de aula, + realização fazendo com que ela se motive muito mais.
das atividades escolares, contribuindo para A participação dos pais no ambiente escolar
obtenção de notas mais altas. Assim, a é fundamental tanto para os alunos quanto
participação dos pais na escola auxilia para a escola. Além de permitir aos pais
efetivamente na construção da cidadania de avaliarem o ambiente escolar do qual seus
seus filhos. filhos estão inseridos, bem como a
Os pais que participam ativamente da vida preocupação que a escola tem para com a
de seus filhos, inclusive, no cotidiano escolar da educação do corpo discente (ANDRADE, 2005).
criança, faz com que os alunos se esforcem e Quando se fala em envolvimento na rotina
participem com mais afinco nas atividades escolar dos filhos vai muito além de
escolares, pelo fato de se sentirem mais simplesmente perguntar como foi o dia, o que
apoiados. foi aprendido, com quem brincou e a
A criança ao sentir que existe uma relação verificação se o dever de casa foi realizado. Os
reciproca entre a escola e sua família, de que pais que são comprometidos com a rotina
todos estão trabalhando juntos para seu pleno escola, não se limitam a comparecer apenas
desenvolvimento, acaba se tornando natural a nas reuniões periódicas.
sua acolhida, amada e valorizada, o que lhe A criança sente que há uma relação cordial
permite desenvolver uma boa autoestima e de preocupação com ela que une a família e a
segurança para tomar decisões, se engajar em escola, cria-se uma base e, assim, fica mais fácil
atividades e enfrentar os desafios do mundo. adquirir confiança para lidar com os desafios
O aluno que é oriundo de uma família que do mundo. Sendo assim, as crianças sentem
prioriza e valoriza a escola e mantém com esta mais vontade de estudar para as provas, uma
um relacionamento cujo interesse é o ensino- vez que seus pais esperam esse resultado
aprendizagem, apresenta melhor deles. Isso também contribui para o exercício
desenvolvimento sócio-cognitivo e aprende da disciplina desde cedo, pois as crianças
mais. percebem que os compromissos escolares
Ao estarem mais integrados nesta rotina precisam ser cumpridos.
escolar, transmite a compreensão do qual A importância da participação dos pais na
importante é a participação dos pais na vida vida escolar dos filhos é um assunto
escolar dos filhos não se restringe a cobrar indispensável para pensar o desenvolvimento
resultados. das crianças. Afinal de contas, o núcleo familiar
Vale ressaltar, quando há participação e e o ambiente escolar são os principais espaços
predisposição dos pais, eles também se vêm de convivência na infância, onde são
como referências para os filhos, contribuindo inaugurados os afetos e criados os primeiros
assim, de diversas formas para se envolverem laços de solidariedade.
neste processo de acompanhamento. A Quando a família busca saber mais sobre a
participação na vida escolar vai além do cobrar relação dos filhos com os professores e com a

270
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escola em si, via de regra está disposto a ajudar primeiro deles passa pelo fato de que se cria
o professor a vencer os desafios em sala de um nível maior de intimidade e afeição das
aula, adotando medidas complementares em crianças. Elas passam a ter mais confiança nos
casa, visando auxiliar seu filho a superar os adultos que atuam na escola e se sentem
obstáculos, seja de nota, matéria ou qualquer protegidas, mesmo em um local estranho.
outro. Sendo assim, nota-se o quanto a influência da
Diversos estudos apontam que muitas escola e da família na vida da criança é enorme,
famílias transferem a responsabilidade de e essa parceria deveria estar fortemente
educar os filhos para a escola. E se percebe atrelada no intuito de contribuir na construção
uma fragilização da escola frente ao seu do desenvolvimento da criança.
cumprimento de funções, uma vez que, a
mesma não consegue atingir seus objetivos RESPONSABILIDADE NA
sem um envolvimento da família dos alunos.
Tendo em vista a ideia arcaica ainda existente EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS
de que a escola é responsável somente pela A educação é intrínseca a construção do
educação formal enquanto a família se sujeito e da sociedade, complementar da vida
responsabiliza apenas pela educação informal social, econômica, política, cultural.
(LOPES, 2010). Durante todo o período escolar, o ambiente
Vale ressaltar que no ambiente escolar, as familiar pode possibilitar experiências de
atitudes da família devem ser complementares aprendizagem com mais ou com menos
as da escola, uma vez que a função de educar estímulos, variando a maneira como se
não é cumprida quando a família se mantém desenvolvem. Simples hábitos no dia a dia, que
afastada e não contribui para a participação podem ir desde a forma de como se guarda
deste contexto relacionado à educação de seus objetos, ou como cuidar da higiene, até a
filhos, sendo que para que exista e funcione maneira como os pais respondem a perguntas,
está parceria efetiva da família com a escola, é constroem posturas que implicam diretamente
crucial que a família participe do processo a relação da criança, funda com o saber, em
educativo contribuindo assim, para sua outras palavras, a criança pode ter um
evolução educacional. comportamento ativo ou passivo mediante a
Compete a família manter o diálogo com as experiência de aprender.
crianças sempre aberto e permeável, mesmo A criança quando chega à escola, se vê
usando da tecnologia. Vive-se tempos de novos diante de um ambiente novo, ambiente este
desafios, mas que podem converter-se em que irá ampliar o seu conhecimento de mundo,
mais um ganho de entrosamento da alterando algumas certezas e a coloca em
comunicação, em vez de abrir um abismo intensa relação com seus amigos. Desta forma,
intransponível de silêncio, riscos à saúde e a escola se transforma em um espaço de
ruídos desencontrados. domínio das crianças, de que os pais são
A participação ativa dos pais na vida escolar ativamente convidados a participar. Por esta
dos filhos proporciona inúmeros benefícios. O razão, a partir do início da vida escolar de seus

271
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

filhos, os pais necessitam, cotidianamente, Mediante um trabalho em conjunto a escola


ratificar o interesse e valoriza a cultura que precisa buscar a parceria da família,
constitui esta nova esfera social. proporcionando um ambiente para que a
A escola tem o dever de proporcionar família participe do processo educacional de
situações que estimulem a descoberta e a uma maneira mais consciente do seu papel.
indagação, levando o aluno a construir uma Papel este que não é o de submissão ao que é
postura investigativa e ativa diante do determinado pela escola, seu papel é
conhecimento. Essa atitude acompanhará por contribuir para que o processo de
todo o seu processo escolar e profissional, aprendizagem de consiga atingir o
dando a ele as competências necessárias para desenvolvimento esperado.
compreender e atuar diante dos desafios que a O papel central no desenvolvimento da
vida lhe impõe, a importância da participação criança, onde compete a família transmitir os
dos pais na escolha é indiscutível, e isso vale primeiros valores, e tudo o que for referente à
tanto para quesitos comportamentais como cultura da qual se encontram, é como se a
para intelectuais. família, à grosso modo, selecionasse ou
A educação deve estar centrada na controlasse as relações que a criança estará
apropriação dos conhecimentos. Se a família tendo, orientando-a para que aos poucos ela vá
for consciente do papel da escola, sabendo desenvolvendo e construindo seus próprios
quais são seus objetivos para com seu filho, modos (LOPES, 2008).
sem dúvida ela estará mais disposta a fazer a A participação dos pais na educação dos
parceria necessária para que haja uma filhos é crucial para o bom desempenho de seu
educação de qualidade. filho. Casa e escola são espaços que se
A escola nunca educará de forma individual, complementam e transformam toda a vida do
sendo que a responsabilidade educacional da indivíduo em um período completo de
família jamais terminará. Uma vez escolhida a aprendizagem. A presença dos pais no
escola, a relação com ela apenas começa. É ambiente escolar é importante tanto para os
preciso manter o diálogo entre escola, pais e alunos, quanto para a escola.
filhos. Sendo assim, quanto mais os pais e a escola
Sendo assim, quando se mantem uma boa estivem envolvidos, se tornado verdadeiros
relação entre a família e a escola deve estar parceiros, ainda mais ambos se sentirão
presente em qualquer trabalho educativo que dispostos a colaborarem na educação escolar
tenha como principal alvo, o aluno. A escola de seus filhos, pois quando os pais são mais
precisará também exercer sua função participativos, há uma maior competência para
educativa junto aos pais, discutindo, o desenvolvimento de diversas habilidades por
informando, orientando sobre os mais variados parte dos alunos.
assuntos, para que em reciprocidade, escola e A participação dos pais na educação dos
família possam proporcionar um bom filhos deve se proceder da forma constante e
desempenho escolar e social dos alunos. consciente, sendo integrada ao processo
educacional, participando ativamente das

272
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

atividades da escola. Pais presentes é sinônimo controle escolar dos filhos uma vez que facilita
de aluno mais motivado. a comunicação entre escola e responsáveis.
Todavia, o envolvimento presencial dos pais
O PAPEL DA TECNOLOGIA NA continua sendo crucial para garantir que eles
sejam parte ativa na educação das crianças,
APROXIMAÇÃO ENTRE FAMILIA seja para conversar com os professores ou a
E ESCOLA participação em eventos especiais escolares.
Num passado não tão distante, os pais não A tecnologia tem como uma das principais
tinham um acesso tão direto a escola, e os pais funções agilizar o acompanhamento das
que desejavam participar mais ativamente da atividades escolares feitas pelos filhos,
vida escolar dos filhos faziam com que o simplificando a comunicação entre pais e
momento de entrada e saída dos alunos na de professores e mantendo os pais bem
possibilidade conversar com professores, e informados sobre o que acontece na escola.
ainda de saber de outros pais sobre o que Com base nestes importantes dados, os pais
estava acontecendo na sala de aula de seu podem aumentar seu envolvimento na vida
filho. escolar dos alunos.
Com o avanço da tecnologia, a sua utilização
proporciona grande aproximação, facilitando COMO A ESCOLA PODE
muito a vida de todos os envolvidos no
processo de ensino-aprendizagem. Quando os
APROXIMAR A FAMÍLIA DA
pais têm mais informações sobre o rendimento ESCOLA
escolar dos filhos, podem ajudá-los a melhorar A escola tem o dever de buscar a parceria
o desempenho escolar. com as famílias por meio de encontros,
Os pais estão cada vez mais conectados e eventos, palestras, confraternizações, festas e
esperam que a escola também acompanhe as comemorações, onde os alunos, professores,
tendências e inovações que as ferramentas pais e toda comunidade escolar deve manter
digitais têm proporcionado nos últimos anos. uma interação com atividades reflexivas, com o
Site oficial, redes sociais com informações propósito de estreitar o relacionamento entre
atualizadas e atendimento telefônico todos.
humanizado são algumas ações mínimas que É essencial que todos os funcionários da
podem fazer toda a diferença em uma escola. escola estejam aptos a receber os familiares
É público e notório, a sensação de segurança dos alunos, e entendem a particularidade cada
e de controle que a tecnologia promove neste família. É importante que os pais se sentam
processo de aproximação. A facilidade e confortáveis para sanar dúvidas, conhecer a
agilidade para comunicar-se é outro ponto equipe de professores e a estrutura da escola.
chave para o relacionamento entre pais e É dessa forma que é possível criar um laço de
escola. confiança mútua, Para os pais que trabalham
Com toda tecnologia existente, ela se torna comparecer em reuniões nem sempre é
muito eficiente para os pais aumentarem o possível, mas a escola que que acolhe essa

273
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

família consegue resolver a situação com o uso


da tecnologia.
As reuniões presenciais continuam sendo
uma ótima ferramenta para unir os
profissionais da escola e os familiares para
discutir questões relacionadas ao
desenvolvimento dos alunos, além de existir a
possibilidade de conscientizá-los do quão
importante seu apoio para o desenvolvimento
escolar de seus filhos, e de estarem também a
par de seu desenvolvimento e comportamento
e de como poderão auxiliá-los nas atividades
propostas É importante que as datas das
reuniões sejam comunicadas com
antecedência, de modo que todos consigam se
programar da melhor forma para marcar
presença.
Vale destacar, que limitar o contato da
escola com as famílias às reuniões, não é o
caminho. A organização de eventos festivos e
educacionais contribui para esse tipo de
aproximação tão importante, a escola precisa
criar eventos para que todos participem.
Convidar os pais para uma conversa sobre suas
profissões pode ser uma forma interessante de
integrar a vida pessoal dos alunos à vida
escolar.

274
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É de suma importância à participação da família no processo de educação junto a escola,
pois por meio do trabalho conjunto possibilitará a formação de cidadãos críticos, reflexivos e
dotados de potencialidades e habilidades, para que dessa forma proporcione a escola o
cumprimento de sua função básica e social. Considera-se como relevante que família e escola
caminhem de mãos dadas para conseguirem atingir o objetivo de formar cidadãos dotados de
opiniões+.
Vale ressaltar que, tanto a família quanto a escola tem funções complementares, todavia
com objetivos diferentes, afinal à família cabe estruturar o sujeito para que o mesmo consiga se
identificar, encontrar seu próprio eu e sua autonomia por meio do grupo de pessoas em que vive,
com sua organização, normas e valores. A escola tem como uma de suas funções desenvolver o
aprendizado.
Junto à família, a criança vivencia experiências e inicia seu processo de aprendizagem e
desenvolvimento, principalmente quanto à ética e à moral. A escola proporcionará uma
ampliação desse conhecimento prévio, mesclando com a aquisição dos conteúdos das disciplinas
dispostos, contribuindo para sua formação global, ao longo da sua permanência como aluno.
A criança cuja família se envolve de forma direta no cotidiano escolar tem um melhor
desempenho acadêmico. Visto que, quando os pais são presentes cobram mais de seus filhos
despertando neles o bom comportamento em sala de aula, e a realização das atividades
escolares, contribuindo para obtenção de notas mais altas. Sendo assim, quando a participação
dos pais na escola auxilia na construção da cidadania de seus filhos.

275
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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São Paulo: Átomo, 2003.

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Cadernos de pesquisa, São Paulo: Átomo, 2000.

CARVALHO, M. E. P. Modos de educação, gênero e relações escola– família. Cadernos de


pesquisa, São Paulo: Átomo, 2004.

CHECHIA, V. A.; Andrade, A. D. S. O desempenho escolar dos filhos na percepção de pais


de alunos com sucesso e insucesso escolar. Estudos de Psicologia, São Paulo: Átomo, 2005.

M. A.; POLONIA, A. D. C. A família e a escola como contextos de desenvolvimento humano.


Paidéia, 2007.

FILHO, L. M. F. Para entender a relação escola-família: uma contribuição da história da


educação. São Paulo, 2000.

GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. (6ª. ed.). São Paulo: Atlas, 2011.

LOPES, R.C. A. A importância da participação dos pais na vida escolar dos filhos. s/d. São
Paulo,2010.

MACEDO, D. M. M. A. Interação família-criança: possibilidades de negociação na co-


construção da escrita. São Paulo, 2012.

SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. 2000. Universidade Federal


de Minas Gerais, Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita.

SZYMANSKI, H. Práticas educativas familiares: a família como foco de atenção


psicoeducacional. Revista Estudos de Psicologia, 2004.

276
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A INCLUSÃO SOCIAL NOS ANOS INICIAIS DO


CICLO DE ALFABETIZAÇÃO
Solange Plaça1

RESUMO: Todos os textos aqui reunidos reconstroem e analisam experiências pedagógicas, que
colocam essas questões e, que tentam encontrar saídas para a construção da escola possível para
todos, sem exclusão. Compreender a escolarização como um requisito necessário ao exercício
pleno da cidadania significa atribuir-lhe o status de direito. Assim, o que há pouco tempo era um
privilégio, transformou-se em direito e uma parcela considerável da população que sequer
sonhava com a sala de aula, hoje, nela está. Tal modificação fez surgir novas demandas, quase
sempre em forma de dificuldades e deficiências da sociedade, do sistema, dos professores, da
comunidade, dos conteúdos, das metodologias e outras. Como seres pensantes, os educadores
precisam explicitar suas concepções educacionais, filosóficas e ideológicas, pois, em grande
parte, são elas que fundamentam e explicam seu comportamento durante a aula, suas opções
metodológicas e o sistema de avaliação que adotam. Para isso, na escola, devemos sem medo,
manifestar nossos conhecimentos, dar a conhecer os fundamentos e os valores nos quais
baseamos nossa prática, confrontá-los com os dos outros agentes educativos, para que, juntos,
reorganizemos nossas ideias e estruturemos ações coletivas.

Palavras-Chave: Construção da Escola; Exclusão; Concepções Educacionais; Concepções


Filosóficas; Concepções Ideológicas.

1 Professora de Educação Infantil e Fundamental na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia; Especialização em Educação
Inclusiva; Especialização em Educação Especial- Deficiência Auditiva.

277
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SOCIAL INCLUSION IN THE EARLY YEARS OF THE LITERACY CYCLE


ABSTRACT: All the texts gathered here reconstruct and analyze pedagogical experiences that
pose these questions and that try to find ways to build a school that is possible for everyone,
without exclusion. Understanding schooling as a necessary requirement for the full exercise of
citizenship means attributing the status of right to it. Thus, what not long ago was a privilege,
became a right and a considerable portion of the population that did not even dream of the
classroom, today, is in it. This change gave rise to new demands, almost always in the form of
difficulties and deficiencies in society, the system, teachers, the community, content,
methodologies and others. As thinking beings, educators need to explain their educational,
philosophical and ideological conceptions, since, to a large extent, they are the basis and explain
their behavior during the class, their methodological options and the evaluation system they
adopt. For this, at school, we must fearlessly express our knowledge, make known the
foundations and values on which we base our practice, confront them with those of other
educational agents, so that, together, we can reorganize our ideas and structure collective
actions.

Keywords: School Construction; Exclusion; Educational Conceptions; Philosophical Conceptions;


Ideological Concepts.

278
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Este trabalho é fruto de vivência profissional


e tem por finalidade apresentar alternativas
Com objetivo de aprimorar nossos para as escolas que buscam soluções para os
conhecimentos em relação à inclusão, nos alunos que não conseguem acompanhar as
aprofundamos em pesquisas desenvolvidas habilidades esperadas para que esses
por vários autores, em levantamento consigam viver de uma forma mais adequada
bibliográfico. Assim podemos trabalhar melhor no meio social propiciando uma evolução
como educadoras e conscientizarmos outros pessoal.
das necessidades de mudança na educação. O grupo deve refletir a respeito do homem
Há muito que a inclusão escolar deixou de que se pretende formar. A educação deve
ser um evento esporádico e particular no significar o auxílio aos indivíduos para que
cotidiano das escolas brasileiras para se pensem sobre a vida que levam e ao mesmo
tornarem, talvez, um dos maiores obstáculos tempo permitir uma visão do todo cultural para
pedagógicos dos dias atuais. que o ser humano reflita e não aceite
Essa questão vai e volta na história do passivamente as normas ditadas pela elite.
pensamento educacional, porque é uma tarefa O intuito com este estudo da Inclusão Social,
política extremamente complicada, fruto de é repensar a nossa prática e ao mesmo tempo
longas lutas. propiciar às demais educadoras a
A escola, família e sociedade precisam estar oportunidade de renovarem-se e refletirem
unidas para um melhor desenvolvimento por meio de vários textos bibliográficos.
cultural, nesta relação desenvolver um Entretanto, observa-se a exclusão social, ou
trabalho junto a esses usando fundamentos da seja, grupos excluídos por meio das reflexões
psicopedagogia. da História das Ideias Pedagógicas e as lutas
A Psicopedagogia Institucional deve exercer pela independência e expansão da educação
o seu papel de acompanhar o aprendiz nos popular.
processos envolvidos na aquisição e
elaboração de conhecimentos, estudando,
INCLUSÃO SOCIAL E UM
condições para que isto ocorra, localizando
dificuldades e problemas que levam a paradas OLHAR NA ESCOLA
nesse processo e propondo caminhos para que O estreitamento entre os direitos à
o aprendiz possa superá-los e alcançar a diferença e à igualdade como desafio de uma
aprendizagem significativa. Educação Inclusiva. Surgiu na segunda metade
O nosso desafio, porém é o de transformar da década de 80 incrementou-se nos anos 90 e
pensamentos precários que ainda não tiveram adentra o século 21. A ideia fundamental é a de
a oportunidade de um conhecimento além de adaptar o sistema escolar às necessidades dos
“broncas” e “apreensões” sem, no entanto, alunos. A inclusão propõe um único sistema
entender qual a melhor forma de uma educacional de qualidade para todos os alunos,
convivência dentro de um ambiente com ou sem deficiência e com ou sem outros
educacional. tipos de condição atípica. A inclusão baseia-se

279
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

em princípios fincados na valorização da perante a lei, sem distinção de qualquer


diversidade humana, pela importância dada ao natureza, garantindo se aos brasileiros e aos
enriquecimento de todas as pessoas. estrangeiros, residentes no País, a
Afirmando o direito de pertencer e não ficar de inviolabilidade do direito á vida, á liberdade, a
fora e o igual valor das minorias em igualdade, á segurança e á propriedade”., na lei
comparação com a maioria. Trata-se não só de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no
educação inclusiva mas, de inclusão social artigo 58, que terá vaga na rede regular de
(STAINBACK, 1999). ensino, para educandos portadores de
Ao tratarmos a questão da inclusão social necessidades especiais, no inciso 1. “Haverá
das pessoas com necessidades especiais com quando necessário, serviços de apoio
referência aos direitos e à cidadania, nos especializados, na escola regular, para atender
deparamos com a discussão e um dilema sobre a peculiaridade da clientela da educação
os direitos à diferença e à igualdade. especial”.
Embora o objetivo da inclusão seja criar uma A Declaração de Salamanca ( UNESCO,
comunidade em que todas as crianças 1994), nos encaminha à discussão quando
trabalhem e aprendam juntas e desenvolvem coloca como princípio a inclusão,
repertório de ajuda mútua e apoio dos colegas, reconhecendo a necessidade de se caminhar
o objetivo da inclusão não é de esquecer as rumo à uma escola que inclua todos os alunos,
diferenças individuais entre elas. Entretanto, a celebrando a diferença, na luta pela igualdade.
alternativa não é inserir os alunos em grupos Toda pessoa tem o direito às suas
heterogêneos e ignorar suas diferenças singularidades que a tornam a pessoa que é. Da
individuais. Este é o medo expressado por mesma forma, o direito à igualdade deve-lhe
muitos que se opõem á inclusão, que as ser garantido, não sendo condenada a " deixar
necessidades individuais dos alunos percam-se de estar" ou "deixar de pertencer" a qualquer
no processo. Precisamos encontrar maneiras processo, ou grupo, por procedimentos de
de desenvolver comunidades escolares segregação e/ou exclusão. No latim se
inclusivas que reconheçam as diferenças. emprega como sinônimas as expressões
Os riscos sociais de se colocar ênfase sobre a "morrer" e "deixar de estar entre os homens"
diferença ou sobre a igualdade são bastante (inter homines esse desinere). Desta forma
sérios. Estas ênfases não estão isentas de sérias entendemos que excluir é condenar à morte e
implicações sociais. Elas fazem com que incluir é processo essencial à vida humana e à
saíamos, inadvertidamente, do campo da vida em sociedade. Segundo Aranha (2001),
inclusão e passemos a reforçar, a despeito de dos segmentos da população que,
nossas intenções, práticas e discursos reiteradamente, tem sido alvo de exclusão, é o
excludentes. composto pelos educandos que apresentam
Assim, aplicando a lei Constituição Federal necessidades educacionais especiais. Com a
do Brasil assume como fundamental, dentre nova demanda por uma Educação Inclusiva, a
outros, o princípio da igualdade, quando reza escola tem diante de si um grande desafio pois,
no caput de seu art.5, que “todos são iguais historicamente, esteve a serviço das maiorias,

280
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

preocupada com a homogeneização dos portadores. De que adianta uma escola


processos e pessoas, reproduzindo e adaptada se ela não acolhe a todos, pelo
reforçando a filosofia de que o mundo foi feito contrário, expulsa, exclui aquele que mais
para os ditos "mais aptos". O desafio que precisa dela.
demanda essa escola inclusiva, expressa a Os desafios da Inclusão na visão da autora
necessidade de mudanças efetivas na filosofia Doralentain (1999):
e estrutura do sistema de ensino brasileiro, · Acreditar na inclusão colocando em
visando garantir a todos sua igualdade de práticos princípios da pedagogia do sucesso;
direitos . Não podemos negar que o foco por · Investir na Formação Inicial e continuada
uma sociedade inclusiva, não pode ser perdido dos professores;
de vista. Não é só a escola que deve preocupar- · Ampliar a visão e mudar suas estratégias
se e transformar-se para incluir a todos com e ensino e aprendizagem;
qualidade. A sociedade inclusiva deve ser · Capacitar-se para utilizar novas formas
buscada pois, nela não se quer apenas "abrir de avaliação escolar;
espaço para o deficiente " ou "aceitá-lo", num · Estar atenta à acessibilidade, com
gesto de solidariedade. Na sociedade inclusiva qualidade;
somos apenas – e isto é suficiente- cidadãos · O papel do professor é ensinar a todos
responsáveis pela qualidade de vida do nosso os alunos;
semelhante, por mais diferente que ele seja ou · Currículo adequadamente adaptado;
nos pareça ser. · Métodos instrucionais diversificados ;
Tendo como paradigma as considerações de · Colaboração entre professores e outros
Stainback (1999), em seu livro Inclusão, “Um profissionais;
guia para educadores” relacionaremos alguns · Inclusão do aluno na vida social da
desafios que ao nosso ver, a escola de hoje tem escola.
diante de si rumo à uma escola que garanta os Diante do que à autora apresentou nós
direitos à diferença e à igualdade de todos os acreditamos que todos os educandos,
alunos, acolhendo-os como pessoas e portadores ou não, conseguem desenvolver
cidadãos. habilidades, pois possuem capacidade de
Não bastam modificações nos prédios com aprender. Respeitar o direito que todas as
instalações de rampas e espaços destinados pessoas tem à educação e entender que os
aos portadores de necessidades educativas portadores de necessidades educativas
especiais, como banheiros ou mesas especiais devem ser incluídos em escolas
apropriadas. Estas modificações são essenciais comuns da comunidade, sem dificultá-las o
e devemos lutar por elas, mais entendemos acesso à escola com manobras, negando-lhes
que a escola precisa além disso. Precisa retirar seus direitos, aceitando todos os estudantes
seus entraves filosófico-metodológicos que igualmente, respeitando suas diferenças
podem ser até mais nocivos que a falta de individuais.
corrimãos em escadas ou outra qualquer Tendo como base os dez desafios da
medida que vise facilitar a acessibilidade dos Doralentain (1999), é importante fornecer

281
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

informações sobre recursos externos à escola e social da escola, ajudando da mesma forma
intermediar a conexão com pessoas e que os alunos não-deficientes . Quanto mais
entidades que possam ajudar o trabalho do presentes estiverem esses componentes,
educador visando o desenvolvimento do aluno, maiores serão as chances de que a escola
treinando e preparando apropriadamente os incluirá crianças e jovens portadores de
mesmos por meio de serviços de apoio deficiência.
disponíveis nas localidades. Observando o Estatuto da criança e do
Nós educadores devemos utilizarmos das adolescente lei 8069/90 artigo 20 e a Lei de
experiências de vida do próprio aluno como Diretrizes e Bases artigo 40 III, artigo 58, 10, 20
fator motivador da aprendizagem do mesmo. e 30 e o artigo 59, a atuação do psicopedagogo,
Com isso adotar uma abordagem centrado no para construção de uma escola inclusiva
aluno. Estar mais interessada naquilo que o deverá ter como ponto básico um novo
aluno deseja aprender do que rótulos, laudos paradigma educacional que preconiza uma
ou estereótipos sobre ele. Estimular outras escola que garante a igualdade de
pessoas importantes na vida do aluno a se oportunidade, trabalhando com as diferenças
envolverem com o processo educativo. um dos outros e temos que no meio social criar
Diante da frase da autora acima, precisamos condições para que se promova a participação
adotar uma abordagem de avaliação, cujos de qualquer pessoa em qualquer instância
resultados propicie reflexão sobre todo o social, assim sendo ensinar a respeitar e
processo e possa servir de ajuda na solução de compreender as diferenças de cada um. E, é
problemas e dificuldades encontradas no neste sentido, que o psicopedagogo pode
processo por professores e alunos. Precisamos favorecer a mudança de atitudes e paradigmas
estar atentas e preparadas para indicar que são fundamentais para construção de uma
recursos adequados a cada necessidade dos escola inclusiva, que não faça distinções entre
alunos e buscar auxílio junto aos órgãos deficientes e normais, que apresente uma
competentes que possam contribuir para o proposta educacional que garanta e favoreça
exercício da cidadania. condições de aprendizagem a todos num só
Refletindo sobre os desafios citados da contexto, proporcionando uma educação
autora percebemos a importância e a diferenciada e dando respostas educativas ao
responsabilidade do educador em educar os aluno durante todo processo de escolarização,
cidadãos, buscando sempre enquanto se isto se fizer necessário, ou seja, oferecer
profissional formação para estar preparado uma educação permanente, que atenda as
para desempenhar seu papel da melhor forma dificuldades de cada aluno.
possível. Dessa maneira o psicopedagogo pode
Precisamos saber que os alunos são parte colaborar com algumas alterações e
importante do mundo, devendo ser incluídos adaptações que devem ser feitas pela escola,
nos relacionamentos e interações sociais. pelo professor ou por aqueles que sejam
Assim como os demais alunos, aqueles com responsáveis pelo processo educativo, para
deficiência também precisam participar da vida possibilitar ao aluno condições que o

282
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento da aquisição de EDUCAÇÃO ESPECIAL GOVERNO DO ESTADO


conhecimentos ocorra, ainda deve-se verificar DE SÃO PAULO, SECRETARIA DO ESTADO DE
e identificar do que o aluno necessita para o EDUCAÇÃO 2001), citam em suas obras as:
estabelecimento do processo de ensino. Lidar Adaptações curriculares não-significativas:
com as diferenças e com o processo de inclusão são modificações que se realizam nos
significa que a escola modifica – se para diferentes elementos da programação, porém,
receber e manter o aluno no processo não afetam praticamente os elementos básicos
educativo. Sendo assim, considera-se que um do currículo, supõem leves alterações, afetam
aluno apresenta necessidade educacional o geral e a metodologia. Tratam-se ajustes
especial quando tem dificuldades maiores que pouco significativos em seu conteúdo, nas
o resto dos alunos para atingir as formas de ensinar, na avaliação ou recursos
aprendizagens determinadas no currículo utilizados, os quais poderão ser priorizados ou
correspondente a sua idade, para compensar modificados, porém não afetam os objetivos e
estas dificuldades, é necessário adaptações conteúdos considerados básicos.
curriculares em uma ou várias áreas do Adaptações curriculares muito significativas:
currículo, alterações arquitetônicos, desta ao contrário, são modificações individuais que
maneira garantindo seu acesso à escola. Essas se efetuam substancialmente nos elementos
adaptações que permitirão, a incorporação das básicos do currículo, nos objetivos, conteúdos
particularidades de cada aluno, devem estar e critérios de avaliação para responder á
previstas e planejadas no Projeto Pedagógico necessidade de cada alunos supõem a
de cada escola, pois não é possível falar em modificação. Algumas vezes, a eliminação de
inclusão sem ajustes específicos de cada conteúdos e objetivos considerados nucleares
unidade escolar. (ECA - ; 8069/09 E LEI 9394/96 ou básicos de cada área, comprometem a
QUE ESTABELECE AS DIRETRIZES E BASES DA superação dos objetivos de ciclo e devem ser
EDUCAÇÃO NACIONAL). propostas para alunos com dificuldades graves
Embora, o currículo tenha que garantir a de aprendizagem e ser utilizados em caráter
referência nacional, a escola possui autonomia excepcional. Afinal, a existência de currículos
para dar respostas educacionais ao seu abertos e flexíveis é uma condição
alunado, respostas que podem ser as mais fundamental para que se possa responder ás
variadas como variadas são as diferenças diferentes necessidades dos alunos e dos
existentes dentro das regiões do país, dos contextos socioeducacionais em que se
estados, dos municípios e dos bairros. Ainda, desenvolve o processo de ensino-
cabe a escola entender e respeitar que todos aprendizagem. A resposta ás necessidades
os alunos possuem suas idiossincrasias, ou seja, especiais dos alunos deve ser baseada no
assumir que o grupo social é formado de currículo comum, realizando-se ajustes e
indivíduos diferentes na sua particularidade. adaptações precisas, como via básica para que
A adaptações também diferem quanto ao seja assegurada a igualdade de oportunidades
tipo: (ARANHA, M.S.F. INCLUSÃO SOCIAL E (SÃO PAULO, 2001,s.p).
MUNICIPALIZAÇÃO IN. NOVAS DIRETRIZES DA

283
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Percebemos em relação a implantação de Crianças não devem ser desvalorizadas ou


uma adaptação curricular que temos de discriminadas por terem sido excluídas ou
estabelecer as possibilidades reais do aluno e, eliminadas devida ás suas incapacidades ou
as condições de sua aprendizagem, portanto, dificuldades de aprendizagem;
faz-se necessário empreender um processo Adultos deficientes descrevendo-se como
avaliativo o qual conduza ao delineamento das sobreviventes da escola especial, estão
ações pedagógicas, necessárias para atender as solicitando um fim para segregação;
necessidades dos alunos. Dentro deste Não há legitima para separar as crianças
processo de avaliação pedagógica deverá para educa-la. Permanecer juntas é vantajoso
indicar caminhos para a ação educacional benefício para todas elas. Elas não necessitam
prevendo adaptações a serem empreendidas ser protegidas uma das outras boas educação;
na escola, na sala de aula, e se necessário, Pesquisas mostram que as crianças são
adaptações individuais. melhores academicamente e socialmente com
Observamos ainda por meio de experiências sistemas integrados;
e vivências do cotidiano que a organização dos Não há ensino ou cuidado na escola
dados, deve se realizar a elaboração de um segregada que não possa ter lugar na escola
documento de adaptação curricular, no qual comum;
ficarão estabelecidas ações gerais a serem Compromisso apoio para educação inclusiva
realizadas, nas diversas instâncias no uso mais eficiente dos recursos
educacionais, para acompanhamento e educacionais é indispensável BOM SENSO
contínua avaliação pela equipe escolar, uma SOCIAL;
vez que a necessidade educativa tem caráter Segregação ensina criança e a serem
dinâmico e pode estar se modificando temerosas, ignorantes e desenvolverem
continuamente. preconceitos;
Contudo as ações gerais a serem Todas as crianças necessitam de uma
empreendidas, seja pela escola , ou na sala de educação que auxilie a desenvolver relações e
aula indicam as necessidades educacionais prepare-as para a vida e para estar no que é
específicas de um determinado aluno. Sem coerente;
dúvida, além destes indicadores, o professor Somente a inclusão tem a força para reduzir
deverá ter registros, acerca das necessidades o medo e construir relação, respeito e
referentes a cada área dos componentes compreensão (VALENÇA, 2003, S.P).
curriculares e diretrizes avaliativos para Analisando e refletindo sobre as discussões
acompanhar o processo de desenvolvimento na palestra, nós percebemos e acreditamos na
do nível curricular e educacional do aluno. necessidade de mudanças sociais reais, que
O Centro para estudos em Educação venham a contribuir para o bom desempenho
Inclusiva do Reino Unido apresenta 10 razões da nossa sociedade, por meio do desempenho
para a Inclusão acontecer: de todos que acreditam na educação e querem
Todas as crianças têm o direito a aprender um caminho mais justo para todos. Sendo
juntas; assim o psicopedagogo é mais um que pode e

284
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

deve auxiliar no encaminhamento de um vinculados ao órgãos responsáveis pela


Projeto Educacional que visa a Inclusão. educação.
Segundo Gaviolli, Flávia Ranoya e Renata
Ablamonte (1990), do Projeto de Inclusão EXCLUSÃO SOCIAL
escolar de alunos portadores de necessidades
Na pobreza não somos todos iguais como
especiais no ensino regular de 1.Grau decorre
destaca principal conclusão para Connell - R.
da possibilidade de se conseguir progressos
W. (In: GENTILI, 1995) . Este autor, já destacava
significativos dos deficientes em geral, quando
os idosos, as minorias, os trabalhadores rurais
o processo de escolarização se adequar á
e os subempregados industriais constituindo
diversidade do alunado e quando a escola
diferentes “subculturas da pobreza”.
assume que as dificuldades experimentadas
Connell (1955), focaliza neste ensaio, a
por alguns alunos são resultantes do modo
pobreza que resulta da disparidade nas
como o ensino é ministrado a aprendizagem é
economias de alta renda da América do Norte,
concebida e avaliada. Dentro desse processo
da Europa Ocidental, das Austrália e do Japão.
de construção de projetos é preciso rever
Desde 1964, tem sido feitas estatísticas oficiais
práticas a fim de perceber que ao incluir o
sobre as pessoas nessa situação, usando-se
aluno com deficiência na escola regular,
uma conservadora “linha de pobreza”, baseada
estamos exigindo desta instituição novos
em cálculos, feitos pelo governo dos Estados
posicionamentos diante dos processos de
Unidos computaram 14 milhões de crianças
ensino e de aprendizagem, à luz de concepções
pobres em 1991, isto é, uma criança em cada
e práticas pedagógicas mais evoluídas. A
cinco (DEPARTAMENTO DO CENSO DOS
inclusão é, pois, um motivo para que a que a
ESTADOS UNIDOS, 1992). Extrapolando para os
escola se modernize e os professores
países capitalistas “industrializados” como um
aperfeiçoem suas práticas e assim sendo a
todo, poderíamos estimar que eles têm cerca
inclusão escolar de pessoas deficientes torna-
de 35 milhões de crianças atingidas pela
se uma conseqüência natural de todo um
pobreza.
esforço de atualização e de reestruturação das
A educação compensatória é dirigida para
condições atuais do ensino básico.
essas crianças, embora nem todas sejam
Acreditamos que as propostas educacionais, as
alcançadas e evidentemente nem todos os
novas leis que regem a inclusão social são de
fundos sejam destinados aos pobres (
grande valia para diminuir o preconceito e as
narrativas úteis sobre a educação
distâncias entre as pessoas. Essa nova
compensatória foram escritas por JEFFEY,
perspectiva deverá ser tratada com muita
1978; SILVER e SILVER, 1991).
seriedade, propiciando ao professor não só
No século XVIII aos pobres remonta às
uma mudança educacional, mas também uma
escolas de caridade e no século XIX às escolas
nova postura social. Não há possibilidade de
populares, mas os modernos programam
realizar um bom trabalho sem apoio da
datam basicamente dos anos 60 e tem história
sociedade e principalmente o que estão
específica.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No início do século XX, os sistemas O autor acima, relata que é tradicional a


educacionais eram, em sua maioria, nítida e crença de que o indivíduo pobre não é como o
deliberadamente estratificados; segregados restante de nós. Tal crença afetou os
por raça, gênero e classe social dividido entre programas de educação compensatória,
escolas acadêmicas e técnicas, públicas e sobretudo por meio da tese da “cultura da
privadas, protestantes e católicas. Uma série pobreza”, na qual a reprodução da pobreza de
de movimentos sociais envolveu-se na lista uma geração para outra era atribuída às
para desagregar escolas, para estabelecer uma adaptações culturais do indivíduo pobre às
escola secundária abrangente e para abrir as suas circunstâncias.
universidades para grupos excluídos (GENTILLI, Tendo em vista, as pesquisas sobre atitudes,
1955). por exemplo, produzem pouca evidência de
O direito à educação materializado na que pobres não tem o mesmo interesse das
Declaração dos Direitos da Criança pelas outras pessoas para com a educação ou as
Nações Unidas em 1959 foi aceito crianças (para um exemplo recente, focalizado
internacionalmente (com notáveis exceções no caso da Inglaterra, veja se Heath, 1992).
como a África do Sul) como significando O teórico afirma ainda que a hierarquia de
igualdade de acesso para todos. No entanto instituições de ensino culmina nas
esse acesso representou apenas uma meia universidades, elas próprias produtoras de
vitória. As instituições formalmente pesquisa sobre educação. A ideologia
igualitárias, crianças proletárias, pobres e dominante nos estudos educacionais é
pertencentes a minorias étnicas continuavam a positivista. O relatório Coleman foi um
ter desempenho inferior. monumento da pesquisa tecnocrática. A
Assim, o fracasso do acesso igualitário foi chamadas “escolas eficazes” e os movimentos
transferido das instituições para as famílias a nacionais de testes dão continuidade à
quem elas serviam. Famílias e crianças convicção de que a pesquisa quantitativa
transformaram-se em portadoras de um déficit gerará uma política pública de forma mais ou
para o qual as instituições deveriam oferecer menos automática. A estrutura de
uma compensação. Uma onda de otimismo financiamento da educação dos sistemas
sobre o poder da escola e sobre a intervenção federais, onde unidades locais fornecem
na primeira infância acompanhou o financiamentos do tipo “feijão-com-arroz”,
nascimento da educação compensatória. enquanto unidades hierarquicamente
A imagem de uma minoria em desvantagem superiores financiam inovações estruturais,
está embutida na ideia da educação encorajam ainda mais uma visão de reforma
compensatória por meio da linha de pobreza educacional baseada no conhecimento
pela qual os grupos-alvo são identificados. O especializado externo.
processo sempre envolve o traçado de uma Segue ainda relatando que como
linha divisória, em algum ponto para separar as conseqüência, as discussões sobre políticas
pessoas em situação de desvantagem daquelas educacionais e pobreza tem sido
em situação de vantagem (GENTILLI, 1955). frequentemente conduzidas sem os dois

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

grupos mais aptos a compreender as questões ensino. Elas são também minúsculas decisões
envolvidas: as próprias pessoas pobres e os/as jurídicas, com status, que culminam em grande
professores/as de suas escolas. Um exemplo é e legitimadas decisões sobre as vidas das
a conferência de 1986, instaurada pela pessoas, o avanço na escola, a seleção para um
Secretaria de Educação dos Estados Unidos, nível mais alto de instrução, as expectativas de
para os programas Chapter, inteiramente emprego.
composta por acadêmicos administradores e Sendo o papel do poder institucional em
analistas políticos. (GENTILLI, 1951). moldar a interação professor x aluno tem
Não há grandes surpresas na pesquisa sobre aparecido claramente nas etnografias* que
pobreza e educação e não há portas secretas tem sido feitas em escolas. Esse papel foi
que levem à solução. Se há um mistério, é do nitidamente retratado no estudo de Corrigan
tipo que Sartre denominou “mistério à plena (1979), sobre a luta pelo controle em duas
luz do dia”, um desconhecimento criado pelo escolas de uma área industrial decadente da
modo como estruturamos e utilizamos nossos Inglaterra. Os pobres são precisamente os de
conhecimentos. Estudos descritivos de menos recursos.
crianças pobres realizados por psicólogos, A primeira necessidade é deslocar a
sociólogos e educadores certamente elaboração tecnocrática de políticas públicas e
continuarão a ser feitos temperados por colocar em seu lugar um pensamento
declarações ocasionais de biólogos, dizendo estratégico. Os intelectuais profissionais
terem encontrado o gene responsável pelo podem ajudar a circular, orientar, criticar e
fracasso escolar. Entretanto, esse tipo de melhorar esse pensamento.
pesquisa não é mais decisiva. O que Assumir uma visão educacional sobre as
precisamos, sobretudo é re-pensar o padrão relações entre pobreza e educação nos leva,
que estrutura a formulação de políticas assim, além do objetivo de “compensação”, em
públicas e o modo como a questão tem sido direção à meta da reorganização do conteúdo
configurada. Isso deveria começar com o tema cultural da educação como um todo. Mas ela
que surge insistentemente quando as pessoas pode ajudar a colocar as iniciativas locais na
pobres falam sobre educação: a questão do perspectiva pauta mais ampla que elas
poder, à política do currículo e à natureza do implicam.
trabalho do professor . Os alunos também trabalham e não apenas
Gentilli (1995), comenta que os educadores num sentido meramente metafórico.
sentem-se desconfortáveis com a linguagem Democratizar significa expandir a possibilidade
do poder; falar em “desvantagens” é mais fácil. de ação daquelas pessoas que são
Mas as escolas são instituições literalmente normalmente esmagadas pela ação de outras
poderosas. As escolas públicas exercem o ou imobilizadas pelas atuais estruturas. O bom
poder tanto por meio da obrigatoriedade de ensino realiza isso de um modo local e
frequenta-la quanto por meio das decisões imediato, tal como devidamente vivenciado na
específicas que tomam. As notas escolares, por educação de adultos: dirigida ao
exemplo, não são meros pontos de apoio do

287
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fortalecimento do poder (empowerment) quanto aos ajustes desencadeados, se forme


descrito por Gentilli (1995). uma quase unanimidade em torno do jargão
Em primeiro lugar, os professores, devem composto de termos tais como: enxugamento,
estar centralmente envolvidos com o projeto crise, recessão, medidas duras, privatização,
de estratégias de reforma. (GIROUX 1988), já desregulamentação, e outras de significado
tinha chamado nossa atenção para a ideia de quase sempre sombrio. Uma breve passada por
que os professores são intelectuais. Existe trabalhos baseados em pesquisas e
certamente capacidade para o pensamento levantamento empíricos sobre o tema, mostra
estratégico deles que trabalham com as a força de tal enfoque.
crianças pobres (GADOTTI, 1998). A princípio Gadotti (1998), as fontes
A segunda inferência é que uma agenda de principais do quadro educacional caótico a que
reforma deve ocupar-se da configuração desta chegamos residem no estado, em sua
força de trabalho: o recrutamento, o burocracia, seu modelo de intervenção
treinamento, o aperfeiçoamento em serviço e padronizador e centralizado. Porém, surgem
os planos de carreira dos professores das também como empecilhos ao
escolas carentes. Expandir sistematicamente desenvolvimento educacional: os políticos e
sua capacidade de treinamento, sua seus partidos e os grupos profissionais
capacidade para circular informação, para organizados (as corporações). E deixar de ser
produzir conhecimento especializado, constitui presa fácil dos políticos de plantão e suas
uma reforma relativamente barata, com insaciáveis clientelas, dos partidos e suas
efeitos potencialmente amplos. ideologias intransigentes e redentoras, das
Na verdade, denúncias e anseios: por corporações e seus interesses estreitos e
reformas no sistema escolar, nada tem de imediatistas, dos intelectuais e educadores, e
novo. A novidade vem da rejeição de seus modismos doutrinários e pedagógicos.
abordagens que tinham como princípio o Conceito neoliberal, que imediatamente nos
caráter público do ensino, como único caminho dá a ideia de que se trata do retorno às teses
de fato democrático e solução ampla para os do liberalismo econômico-social que
grandes problemas educacionais do país. fundamentou a doutrina da emergência da
Enquanto alguns insistem em apontar a sociedade capitalista, carrega consigo brutais
continuidade de mecanismos e grupos no falseamentos. O mais geral, do qual emanam
poder herdados: do período autoritário como os demais, é de que se trata de uma volta a algo
fonte principal da degeneração das máquinas que deu certo no passado e que foi sendo
de políticas sociais, outros passaram a desviado. E, o que deu certo no passado? O
considerar este discurso anacrônico e mercado como o instrumento eficaz para
desgastado, passando a assinalar o próprio regular os interesses e as relações sociais de
modelo de gestão estatal como incorrigível. forma “livre, equilibrada e justa”. A tese básica
Com este pano de fundo, constrói-se de Hayek (1987), não é outra, senão, a de que
paulatinamente uma vigorosa hegemonia* que o princípio e a busca da igualdade social levam
faz com que, mesmo para autores reticentes à servidão. Não é casual que esta tese,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

defendida no início dos anos 40, seja hoje a conservadores como Margaret Thatcher, na
base teórico-ideológica do neoliberalismo. Inglaterra, Ronald Reagan, nos Estados Unidos
A luta histórica dos trabalhadores para ou Brian Mubrony no Canadá, a primeira
libertar-se da condição de “mercadoria força experiência de neoliberalismo econômico na
de trabalho” perversamente torna-se hoje uma América Latina está associada com a política
disputa dos trabalhadores para manter o econômica implementada no Chile depois da
emprego, ainda que sob condições alienadas. queda de Allende. Mais recentemente, o
Há que se atentar, todavia, para uma nova capitalismo popular de mercado propugnado
qualidade da contradição. O capitalismo, pelo governo de Carlos Saúl Menem na
mesmo no Brasil, experimentou, nestes Argentina ou o modelo do Salinismo no México
últimos 50 anos, um imenso avanço em suas representam, com as peculiaridades dos casos
forças produtivas. Dilatou-se a capacidade de argentinos e mexicanos, um modelo neoliberal.
produção. O que está intacta, e é preciso O autor acima informa que o elemento
remover, é a apropriação social deste imenso central para entender o desenvolvimento do
avanço. neoliberalismo é globalização do capitalismo. O
Ao nível material a forma de manutenção do fenômeno da globalização está na base das
privilégio de poucos demanda a exclusão de transformações do capitalismo que consistem
muitos. Até mesmo no primeiro mundo surge em alterar os princípios de funcionamento de
um terceiro mundo de subclasses. Neste um capitalismo de pequenos proprietários, ou
sentido, no plano da luta contra hegemonia, as sua ampliação em termos de imperialismo
organizações políticas e sindicais que se como fase superior do capitalismo.
articulam com os interesses da classe Neoliberais e neo-conservadores tem
trabalhadora necessitam entender, cada vez argumentado que o estado e o mercado são
mais, que o conhecimento científico e a dois sistemas sociais diametralmente opostos,
informação crítica são algo fundamental para e ambos são considerados claras opções para o
suas lutas. A nova realidade histórica demanda desempenho de serviços específicos.
conhecimentos calcados na epistemologia do Consideram por uma série de razões, que os
conhecimento crítico. (GADOTTI, 1998) mercados são mais versáteis e eficazes que as
Gentilli (1985), comenta que a escola estruturas burocráticas do estado. Os
pública, unitária, numa perspectiva de mercados respondem mais rapidamente às
formação unilateral e politécnica, levando em mudanças em tecnologia e em demanda social
conta as múltiplas necessidades do ser humano que o estado.
é o horizonte adequado, ao nosso ver, do papel Juntamente com estas preferências de
da educação na alternativa democrática ao política, encontra-se o fato de que o
neoliberalismo. Sendo o neoliberalismo, ou pensamento neoliberal vincula a privatização
estado neoliberal, são termos empregados de empresas públicas à solução do problema
para designar um novo tipo de estado que da dívida externa. Afinal, em certas versões do
surgiu na região nas últimas duas décadas. ideário neoliberal em economia, são as
Vinculado às experiências de governos neo- empresas estatais as “responsáveis” pela

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

criação do problema da dívida externa latino- tornando esses países cada vez mais
americana e mais importante, sua privatização dependentes e mantendo-os subdesenvolvidos.
pode ajudar a resolver o problema. Contudo, o O autor acima relata como na América
processo de privatização não está isento de Latina o desenvolvimento da teoria
conflitos e contradições (GENTILLI, 1985). educacional é variado e diferenciado, é difícil
Gentilli (1985), pesquisou os sistemas estabelecer um marco com um. Entretanto,
escolares antigos que sempre foram sistemas pode-se afirmar que, após os movimentos de
de educação de uma elite. A ampliação do independência do século passado e o advento
sistema é uma simples ampliação quantitativa, da República, todos os países passaram pela
sem a reconstrução, que se impõe, da escola e visão otimista da construção democrática via
dos seus objetivos. Por isso mesmo, a escola já educação.
não poderia ser a escola dominantemente de Ainda desse autor, pode-se dizer que, no
instrução de antigamente, mas fazer às vezes período de 1930 a 1960, predominou na
da casa, da família, da classe social e por fim da América Latina a teoria da modernização
escola, propriamente dita, oferecendo à desenvolvimentista. A partir da década de 60,
criança oportunidades completas de vida, com as lutas de libertação, surge a teoria da
compreendendo atividades de estudos, de independência, que negava a teoria anterior.
trabalho, de vida social de recreação e jogos. Era uma educação denunciatória, de crítica
Para esta escola, precisava-se, assim, de um radical à escola, do aparato ideológico e
novo currículo, um novo programa e um novo desigualdades sociais.
professor. A escola popular para uma O mesmo informa que essa teoria foi
sociedade subdesenvolvida e com acentuada dominante na primeira metade da década de
estratificação social, longe de poder ser mais 70 com a forte presença do autoritarismo do
simples, faz-se a mais complexa e a mais difícil Estado e dos militares. Foi uma época em que
das escolas. predominou o desencanto com a escola: o que
Tendo como base algumas reflexões da importava era mudar a sociedade. Em
História das Ideias Pedagógicas de Gadotti, conseqüência surgiram muitas iniciativas não
(1998), os países do terceiro mundo escolares.
construíram uma teoria pedagógica original, no Gadotti (1998), acrescenta que a década de
processo de lutas pela sua emancipação. Hoje, 80 não apresenta teorias ou paradigmas
esse pensamento tem influência não apenas pedagógicos dominantes. Trata-se de uma era
nos países de origem, mas também em muitos de crises e perplexidade, a um crescente
educadores do chamado “Primeiro Mundo”. desenvolvimento da pós-graduação em
Gadotti (1998), comenta que a África e a educação e um aumento de organizações não-
América Latina não podem ser compreendidas governamentais, que se constituem no marco
sem a Europa. A Europa colonizou os dois teórico-prático da década.
continentes dividindo territórios segundo seus Também as lutas pela independência que
interesses econômicos, políticos e ideológicos, destruíram o regime colonial não apenas
apontavam para um novo modelo econômico

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

político, mas também para uma nova primórdios. Os jesuítas nos legaram um ensino
valorização da cultura nativa e a expansão da de caráter verbal, retórico, livresco,
educação popular. memorização e repetitivo, que estimulava a
Ainda nesta perspectiva, na maioria dos competição por meio de prêmios e castigos.
países latino-americanos e africanos que não Discriminatórios e preconceituosos, os jesuítas
revolucionaram suas estruturas econômicas dedicaram-se à formação das elites coloniais e
políticas, persistem problemas educacionais difundiram nas classes populares a religião e
dramáticos entre eles, a alta taxa de dependências do paternalismo, características
analfabetismo, a falta de escolas e professores marcantes de nossa cultura ainda hoje. Era
qualificados, a inexistência de uma formação uma educação que reproduzia uma sociedade
para o trabalho, as altas taxas de evasão e perversa, dividida entre, analfabetos e
repetência e o descaso dos governos pela sabichões, os “doutores”.
educação e cultura. Saviani (1984), relata que a Educação foi
Desta forma, a pedagogia originária do interesse constante também do movimento
“Terceiro Mundo” é principalmente política, anarquista no Brasil no início deste século. Para
portanto, não especulativa, mas prática, os anarquistas, a educação não era o único,
visando a ação, entre os homens. E o que Paulo nem o principal agente desencadeador do
Freire chama de “pedagogia do oprimido” e processo revolucionário. Entretanto, se não
Enrique Dissel, outro grande filósofo da ocorressem mudanças profundas na
educação latino-americana, chama de mentalidade das pessoas (em grande parte
“pedagogia da libertação”. promovida pela educação), a revolução social
Assim, quase até o final do século XIX, nosso desejada jamais alcançou êxito.
pensamento pedagógico reproduzia o Também esse posicionamento dos
pensamento religioso medieval. Foi graças ao anarquistas em relação à educação derivava do
pensamento iluminista trazido da Europa por princípio da liberdade: os libertários eram
intelectuais e estudantes de formação laica contra a opressão e a coerção. O ensino
positivista, liberal, que a teoria da educação libertário ministrado pelas escolas modernas
brasileira pôde dar alguns passos, embora encerrou-se pelo menos na capital de São
tímidos. A criação da Associação Brasileira de Paulo e em São Caetano, em 1919. Aquele ano
Educação (ABE), em 1924, foi fruto do projeto foi marcado por fortes tensões entre os
liberal da educação que tinha, entre outros anarquistas e as autoridades, especialmente
componentes, um grande otimismo porque circulavam informações de que estava
pedagógico: reconstruir a sociedade por meio sendo urdida no Rio de Janeiro, com a
da educação. Reformas importantes, realizadas participação de anarquistas, uma conspiração
por intelectuais na década de 20, visando à derrubada do governo.
impulsionaram o debate educacional, Outro grande acontecimento da década de
superando gradativamente a educação jesuíta 30 para a teoria educacional foi a fundação, em
tradicional, conservadora, que dominava o 1938, do Instituto Nacional de Estudos
pensamento pedagógico brasileiro desde os Pedagógicos (INEP).

291
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Em 1944 o INEP inicia a publicação da movimento da educação pública popular,


Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, que sustentada pelos partidos políticos mais
se constitui, desde então, num precioso engajados na luta pela educação do povo. Esse
testemunho da história da educação no Brasil, novo movimento acredita que só o Estado
fonte de informação e formação para os pode dar conta do nosso atraso educacional,
educadores brasileiros de hoje. mas sem dispensar o engajamento da
Luzuriaga (1980), pesquisou que os católicos sociedade organizada. Preconiza uma
e os liberais representam grupos diferentes, reorganização político-administrativa
porém não antagônicos. Os primeiros embasada projeto ético-político progressista,
desejavam imprimir em educação um a partir da participação ativa e deliberativa da
conteúdo espiritual e os segundos, um cunho sociedade civil.
mais democrático. Contudo, os dois grupos A contribuição maior de Paulo Freire (1970),
tinham pontos em comum. Representavam deu-se no campo da alfabetização de jovens e
apenas facções da classe dominante e portanto adultos, mas sua teoria pedagógica envolve
não questionavam o sistema econômico que muitos outros aspectos, como a pesquisa
dava origem aos privilégios e à falta de uma participante e os métodos de ensinar.
escola para o povo. No início da década de 90, o discurso
Em 1948, o ministro Clemente Mariani pedagógico foi enriquecido pela discursão da
enviou ao Congresso um projeto de lei de educação como da educação como cultura.
Diretrizes e Bases da Fundação Nacional, que Temas como diversidade cultural, diferenças
só seria sancionado depois de muitas disputas éticas e de gênero (mulher e educação)
e alterações, em 1961, constituindo-se na começaram a ganhar espaço no pensamento
primeira lei geral da educação brasileira em pedagógico brasileiro universal.
vigor até a Constituição de 1988. Nossa preocupação aqui é a de questionar a
Gadotti (1998), afirma que depois da elitização da educação como detentora do
ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945), abre- poder.
se um período de redemocratização no país A cultura, as condições de vida da população
que é brutalmente interrompido com o golpe são também fatores a serem analisados, pois o
militar de 1964. Nesse curto espaço de tempo, distanciamento das camadas sociais foi e tem
em que as liberdades democráticas foram sido até os dias de
respeitadas, o movimento educacional pegou hoje gritante. É preciso tomar providências e
novo impulso, distinguindo-se por dois grandes medidas políticas urgentes as quais amenizem
movimentos: o movimento por uma educação o estigma que a criança pobre tem acesso à
popular e o movimento em defesa da educação escola pública de baixa qualidade e criança
pública, o primeiro predominante no setor da com melhor nível social tem mais acesso e
educação informal e na educação de jovens e oportunidades do que as demais, tentando
adultos, e o segundo mais concentrado na esclarecer para sim desestabilizar tais
educação escolar formal. Essa unidade passou diferenças educacionais (FREIRE, 1970).
a ser mais concreta a partir de 1988, com o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INCLUSÃO X EXCLUSÃO civilização desde os mais remotos tempos de


que se tem registro. Problemas dessa forma
Um dos grandes equívocos dos docentes na
básica de comunicação tem propendido a
atualidade é caracterizar um aluno com
facilitar muito pouco as relações entre pessoas
dificuldade de aprendizagem como portador
por parte do indivíduo e prejudicado sua
de necessidades especiais (déficit intelectual).
capacidade de colaborar, o máximo possível,
Segue relação de algumas necessidades
com sua comunidade. A história cultural dos
especificas mencionadas pelos livros A criança
distúrbios da fala registra a existência de
problema de Josepph Roucek (1973), e
muitos indivíduos prejudicados por essa
Necessidades Especiais. Coll (1994) :
anomalia que foram forçados a sofrer uma
a) - A criança desatenta: Quando os pais ou
variedade de penalidades que lhes foram
professor declaram que a criança é desatenta,
impostas pela sociedade. Desde uma herança
estão, provavelmente, referindo-se a um dos
de séculos de crueldades, rejeições e
seguintes pontos: a criança não presta atenção,
abandono, a pessoa prejudicada na fala tem
é descuidada, não é observadora, é distraída ou
sido tratada progressivamente como um
é negligente. O que está sendo descrito é, na
transtorno, um objeto de gracejo, um
essência, um modo de conduta sem
recipiente de pseudo-piedade e, finalmente,
preocupação significativa para orientação
um problema.
teórica que explique os aspectos específicos da
Sob alguns aspectos, essas primitivas
falta de atenção.
reações às anomalias no modo de expressar-se
Tentativas para compreender os fenômenos
ainda persistem. O menino ou a menina
da falta de atenção ou de condutas a ela
prejudicados na fala é, muitas vezes,
relacionadas – como a distração, a
atormentados pelas outras crianças no recreio
hiperatividade, não poder concentrar-se e a
da escola e, periodicamente, sofrem, em
inibição – levam, geralmente, a várias
diversos graus, rejeição, zombaria e piedade
hipóteses. Podemos salientar, no tópico da
infligidas pelos adultos. Comediantes da
falta de atenção, que ela é: 1) relacionada,
televisão continuam a servir-se de defeitos na
primariamente, a distúrbios, clínicos tais como
fala como recurso para graça, e nós ainda
neurose, lesão cerebral, perturbação do
continuamos a cantar canções como a de
caráter ou autismo. 2) conduta natural que
encontrar “a bela K-K-K-Katy à porta da Co-
ocorre em vários períodos do
coco-cozinha”. Muitos pais continuam a
desenvolvimento, desde os anos pré- escolares
contribuir para os problemas dos filhos no
até às primeiras fases da adolescência e ligada
modo de expressarem-se, devido à falta de
a períodos de tensão durante esse intervalo; 3)
conhecimento e compreensão do
consequências de condições sociais; 4)
desenvolvimento, deles em relação à fala. O pai
relacionada a fatores de saúde e 5) relacionada
que classifica o filho como “gago”, por causa de
a recursos intelectuais.
hesitações normais na fala, ou que exige que
b) - Criança com dificuldade no modo de
uma criança de três anos de idade pronuncie
expressar-se: Perturbações na fala e no modo
corretamente palavras polissilábicas,
de expressar-se tem feito parte de nossa

293
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

consideravelmente além do nível do conhecimento cada vez maior da maneira pela


desenvolvimento de sua linguagem, está qual as pessoas aprendem; maior
lançando as bases de uma possível perturbação compreensão dos processos envolvidos no
na fala. Com um fundamento de insegurança e pensamento criador e crítico; crescente
rejeição ao modo de expressar-se, a criança conhecimento da própria língua;
poderá reagir a suas hesitações normais ou desenvolvimento e aprimoramento das
dificuldades de sons como se fossem técnicas de ensinar e da metodologia da
revoltantemente desagradáveis e como se linguagem. Experiência com o ensino da
sentisse possuidora de uma anormalidade escrita, como faceta unificada e consequente
totalmente inaceitável ao pai e que da arte da linguagem, indica claramente que tal
constituísse possível ameaça a todas as suas ensino deve visar a um único objetivo:
relações com a família e com os companheiros utilização da expressão escrita como veículo
de folguedos. para a comunicação de ideias e pensamentos.
c) A criança que escreve mal: Seja como Se aceita a comunicação eficiente como
componente da tríade “leitura, escrita e objetivo principal da expressão escrita, segue-
aritmética”, do passado, seja como arte da se que tal comunicação requer um
linguagem integral na “arte da comunicação”, transmitente, um modo de expressão e um
do presente, a importância de expressar por receptor. A palavra escrita é o meio simbólico
escrito o que vem ao pensamento foi, há pelo qual é tirada uma reação de um depende
muito, reconhecida. Encarada historicamente, tanto da capacidade de o receptor sintetizar e
a escrita, com sua forte ênfase sobre as artes avaliar suas próprias impressões como,
discretas como a gramática e a grafia, foi também, da consciência crítica que ele traz às
considerada um dos recursos para a “disciplina ideias e pensamentos transmitidos pelo
mental”. As necessidades linguísticas da transmitente. É necessário que as palavras que
sociedade, bem como as complexidades simbolizam os pensamentos sejam precisas e
individuais da população, contribuíram para a escritas de tal maneira que o receptoras possa
compreensão cada vez maior de que o escopo reconhecer e interpretar. Tanto o transmitente
da linguagem essencial, nas áreas de como o receptor devem trazer à escrita um
comunicação do falar, ouvir, ler e escrever, tem acervo comum de conhecimentos e artes para
muitos níveis entre si relacionados e fins permitir a compreensão e a aceitação da
correlatos. A preocupação com a escrita comunicação.
envolve o crescimento da capacidade para Durante muitos anos, o ensino da escrita
comunicação eficaz e lógica por meio da preocupava-se principalmente com a
linguagem, pois a capacidade de comunicação capacidade do aluno para exprimir-se com
do homem afeta não afeta não apenas seu forma e estilo corretos. Pouca consideração era
êxito pessoal na vida como, também, o destino dada ao fato de terem as palavras, que ele tão
do mundo. Esse amplo escopo do programa cuidadosamente escolhia, o poder de
relacionado à expressão escrita desenvolveu- comunicar o que precisava ser dito; ou ao fato
se partindo de uma variedades de fonte: de terem as palavras, que ele tão

294
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cuidadosamente escolhia, poder de comunicar A capacidade para exprimir ideias com


o que precisava ser dito; ou ao fato de a pessoa precisão e clareza, e de comunicá-las de
que ia ler compreender ou não o que estava maneira que todo o seu significado seja
sendo enunciado. A noção, cada vez maior, da compreendido pelo leitor, são os componentes
necessidade de melhorar a comunicação levou, essenciais de quem escreve com eficiência.
virtualmente, à exclusão da forma e do estilo; Aprender a escrever não é simples
se a criança “escrevia” expressões sobre seus habilidade mecânica. É um complexo de
sentimentos, não só era desnecessário fatores interdependentes que incluem os de
preocupar-se com a proficiência como, ordem física, psicológica e educacional.
também, se temia que tal preocupação Dificuldade para escrever geralmente resulta
pudesse destruir a originalidade e a de uma variedade de causas tão entrelaçadas
criatividade. Infelizmente foi se tornando cada que, muitas vezes, desafiam uma identificação
vez mais difícil reconhecer nas palavras as belas isolada.
impressões; e os pensamentos que estavam d) - A criança que lê mal: A leitura é a
sendo expressos; isso aumentava a frustração terceira de uma série de quatro fases que uma
da pessoa que lia e diminua a comunicação, criança precisa dominar quando aprende a usar
até que se evidenciou que, havia muito, era a língua. Aprende antes de ouvir e depois falar.
necessário rever os resultados da expressão A interpretação da leitura envolve habilidades
escrita. adicionais e compreensão: conhecimento da
A criancinha aprende primeiro a ouvir, reação ponderada ao uso ou aplicação das
depois a falar. O vocabulário, o modo de falar e ideias lidas. Nem é a leitura uma habilidade
a pronúncia são condicionados pelo ambiente; generalizada que, uma vez desenvolvida no
a criança desenvolve o modo de falar ao nível elementar, pode ser usada e aplicada em
adaptar-se à linguagem de sua gente. Maiores campos especializados. Conceitos específicos
experiências, dentro e fora da escola, de leitura tem que ser desenvolvidos em várias
proporcionam um acervo para as atividades áreas das atividades humanas.
verbais: conversação, capacidade para contar e) - A criança agressiva: Na psicologia,
histórias, representações, comentários em poucas teorias existem que se tenham
grupo e composições. Atividades dessa desenvolvido até a um nível que abranja as
natureza fornecem estrutura para a melhoria inúmeras diferenças bem como as
da comunicação oral na classe, bem como para semelhanças da conduta teórica. É sempre
o ensino, na formação do vocabulário e em seu difícil considerar nosso próprio papel na
uso correto. É nessa fase que os erros espécie de conduta que nos desperta
habituais, na maneira de escrever e na ansiedade. Esta, geralmente, afasta o indivíduo
pontuação, poder formar-se como resultado da causa que a criou.
de ouvir, constantemente, formas incorretas. A agressividade nos seres humanos é
Deve-se tomar cuidado para que a considerada impulso instintivo. Está presente
sensibilidade aos erros seja criada a essa altura. na forma mais alta de vida bem como nas
formas inferiores, porquanto não há

295
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

descontinuidade básica na evolução dos


organismos vivos.
Nosso propósito aqui é o de esclarecer as
diferenças existentes entre alunos co m
problemas de aprendizagem e portadores de
necessidades especiais. (com déficit
intelectuais). É preciso tomar extremo cuidado
para não rotular o aluno e tratá-lo de forma
incorreta.
A Psicopedagogia previne justamente esses
equívocos e é o que nós, como futuros
profissionais dessa área, pretendemos analisar.
Há uma grande intenção de enfocarmos esse
tópico, pois os próprios pais as vezes
ridicularizam seus filhos e os colegas de sala
também, levando o aluno a ter uma baixa
autoestima e a sentir-se incapaz. A
interpretação da leitura envolve habilidades
adicionais e compreensão: conhecimento da
reação ponderada ao uso ou aplicação das
ideias lidas. Nem é a leitura uma habilidade
generalizada que, uma vez desenvolvida no
nível elementar, pode ser usada e aplicada em
campos especializados. Conceitos específicos
de leitura tem que ser desenvolvidos em várias
áreas das atividades humanas.

296
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola possível, sem dúvida, depende de seus profissionais; sem a sua competência,
crédito e trabalho, nada será possível. Entretanto, isso não pode encobrir a indecência e descaso
do Estado para com os direitos elementares do cidadão a saúde, saneamento, água, moradia,
segurança, transporte e instrução.
Sendo que o cidadão é excluído exatamente desse algo mais que uma experiência de
escola vivida lentamente dá aos filhos do não trabalhadores manuais, dos não operários: é lhes
negado o cultivo do ser pensante, racional, que eles são; questionar, indagar os porquês.
A nova pedagogia criativa, que informa as relações nos colégios frequentados pelos filhos
das camadas médias e das elites, não chegou às escolas do povo onde não há nem espaço nem
tempo material para o criativo. O futuro operário é excluído da oportunidade que aos nossos
filhos é dada: viver na infância, na adolescência e na juventude a experiência escolar sócio cultural
mais marcante. Devido aos filhos da classe operária, terão que ser trabalhadores produtivos, para
que os adolescentes das camadas médias e das elites, tenham uma vida cada vez mais longa, ou
ao menos possam vegetar, divertir-se, gozar a vida, gastar o tempo improdutivamente,
despreocupadamente. A diferença entre escolarização de crianças pobres e ricas também é fato
antigo e não só sistema brasileiro. Sempre houve.
A perspectiva, há longo prazo, é a criação de uma proposta curricular definida pelos
participantes desse processo. Nessa medida não se tem um modelo a priori, mas espera-se que
a construção de uma tal proposta ligue-se estreitamente às características da população e da
região.
Tem que haver interação de ação com a sociedade, família e escola.

297
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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299
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A INFLUÊNCIA DO JUDÔ NO
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Juliana da Silva Macedo1

RESUMO: O judô como ponte entre a indisciplina e o processo de ensino aprendizagem, para
crianças tem como objetivo de identificar as características presentes no esporte e analisar se
podem contribuir na mediação de conflitos ou evitar que ocorra dentro do ambiente de
aprendizagem. A metodologia adotada trata-se de uma revisão narrativa de literatura, baseada
em materiais encontrados nas seguintes bases de dados: livros, materiais didáticos e revisões
sistemáticas de artigos científicos e sites específicos da área. O levantamento bibliográfico foi
realizado no segundo semestre de 2018. O trabalho visa apresentar modelos de ações e projetos,
que possam favorecer o ambiente de sala de aula, tornando um ambiente harmonioso onde
realmente seja um local de aprendizagem, troca de experiências e um crescimento como cidadão.
E verificar evidências nas práticas esportivas, características presentes no esporte que possam
ser relacionadas com aspectos existentes em sala de aula no momento do estudo. O esporte por
meio de seus princípios pode de forma sistemática ser alinhado e contribuir na formação e
solidificação dos valores. Aprendizagem por meio dos jogos proporciona experiências marcantes,
mas principalmente desenvolve a concentração, dedicação, foco, persistência e motivação.

Palavras-Chave: Judô; Crianças; Disciplina.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Artes Visuais; Especialização em Ludopedagogia.

300
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE INFLUENCE OF JUDO ON CHILD DEVELOPMENT


ABSTRACT: Judo as a bridge between indiscipline and the teaching-learning process for children
aims to identify the characteristics present in the sport and analyze whether they can contribute
to the mediation of conflicts or prevent them from occurring within the learning environment.
The methodology adopted is a narrative literature review, based on materials found in the
following databases: books, teaching materials and systematic reviews of scientific articles and
specific sites in the area. The bibliographic survey was carried out in the second half of 2018. The
work aims to present models of actions and projects that can favor the classroom environment,
making a harmonious environment where it really is a place of learning, exchange of experiences
and growth as citizen. And verify evidence in sports practices, characteristics present in the sport
that can be related to aspects existing in the classroom at the time of the study. Sport through its
principles can be systematically aligned and contribute to the formation and solidification of
values. Learning through games provides remarkable experiences, but mainly develops
concentration, dedication, focus, persistence and motivation.

Keywords: Judo; Children; Subject.

301
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO presentes nos esportes que podem contribuir


para disciplina e contribuir para uma
O tema deste trabalho foi O esporte como participação efetiva durante as aulas; verificar
ponte entre a indisciplina e o processo de compatibilidade do esporte e o ensino
ensino aprendizagem, para os alunos do ensino aprendizado.
fundamental II. Teve como problema de Diante do exposto, atividades propostas
pesquisa indagar se o esporte apresenta com cunho lúdico e esportiva pode contribuir
características suficientes que venha contribuir no despertar do envolvimento de uma
diretamente na redução da indisciplina dentro atividade. Conforme as caraterísticas do
da sala de aula e visa contribuir com os esporte, não do rendimento, alto nível..., mas
profissionais da área de educação que sim do lúdico, prazer, cooperação,
trabalham diretamente ou não com os alunos. cumplicidade. Entrelaçando com a pratica
Possibilitando o despertar dos profissionais onde se espera a atenção no jogo, a busca pela
para utilizar a metodologia no processo de superação de um movimento ainda não
ensino aprendizagem. A principal finalidade executado, a concentração e determinação
deste trabalho é identificar indícios que ao que deve se fazer presente no “atleta”.
esporte escolar pode contribuir de forma Direcionar os aspectos supracitado para o
significativa na formação do aluno, aluno a mesma motivação ou empenho de uma
melhorando suas atitudes e comportamento, partida de seu esporte favorito, levando à sala
assim, diminuindo a indisciplina. de aula todo o querer aprender e superar.
A justificativa para escolha do tema está A metodologicamente utilizada neste
relacionada a indisciplina tema bastante trabalho é a revisão de literatura, foi
polêmico nos dias atuais, defendido por muitos fundamentada por meio das informações de
como um dos pontos principais nos baixos vários autores envolvidos com o tema.
índices de desenvolvimentos dos alunos em Elaborados por meio de livros e artigos
sala de aula. A 11 anos na educação vejo a científicos, obtidos em sites específicos, ex:
importância de aprofundar o assunto. O google acadêmicos, revista digital e livros
assunto em destaque ou palavras-chave será direcionados ao tema. A pesquisa visa verificar
(indisciplina, esporte e ensino aprendizagem). evidências nas práticas esportivas,
O objetivo geral da pesquisa foi identificar as características presentes no esporte que
características presentes no esporte e analisar possam ser relacionadas com aspectos
se podem contribuir na mediação de conflitos existentes em sala de aula no momento do
ou evitar que ocorra dentro do ambiente de estudo, sendo assim, o trabalho contribui com
aprendizagem. Os específicos basearam em todos os profissionais ligados a educação.
citar as principais causas de indisciplina no
âmbito escolar; destacar a importância do
A INDISCIPLINA
professor facilitador no ensino aprendizado;
A indisciplina é um dos problemas mais
analisar a importância de mediar conflitos no
complicados no âmbito da educação nos dias
âmbito escolar; pesquisar as caraterísticas
atuais e por sua vez tema muito polêmico

302
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

defendido por muitos como um dos pontos momento que acham não ser mais necessário
principais nos baixos índices de os estudos. Face bastante complicada.
desenvolvimentos dos alunos em sala de aula. A faixa etária a discorrer será alunos do
Trabalhar com essa problemática tem sido um ensino fundamental II, refere-se grande parte
enigma a ser decifrado para os docentes. da fase da adolescência. Período de
Inicialmente é fundamental compreender o grandessíssimas mudanças na vida dos alunos.
que seria a indisciplina em sala de aula, e assim, E lidar com essa fase de mudança de forma
pode-se nortear as ações. harmoniosa é algo que requer bastante estudo,
A indisciplina nas escolas segundo Garcia, paciência e reflexão.
(1999, p. 102), está relacionada: Segundo (VALDECI, 2015), durante essa fase
Como a incongruência entre os critérios e de mudança o aluno:
expectativas assumidos pela escola (que Parte para a construção de sua identidade,
supostamente refletem o pensamento da através da busca de valores e objetos pessoais
comunidade escolar) em termos de mais permanentes. Nesse sentido, aumenta-se
comportamento, atitudes, socialização, a necessidade de vivências e atitudes de
relacionamentos e desenvolvimento cognitivo tendências grupais, a necessidade de
e aquilo que demonstram os estudantes. intelectualizar e fantasiar, uma vez que seu
As várias formas de apresentar as causas das desenvolvimento cognitivo já permite criar
indisciplinas: o aluno desrespeitador, sem hipóteses. Observa-se uma capacidade de
limite e desinteressado. Esse conjunto de senso crítico e, por isso, podem ocorrer crises
fatores geram atitudes de diferem de um religiosas, atitudes sociais reivindicatórias e
padrão seguido por séculos na educação, condutas contraditórias.
também conhecido como educação Em alguns casos as atitudes reivindicatórias
tradicional. são entendidas como indisciplinas, pois foge
Foi apresentado que vários fatores ou dos padrões desenvolvidos por partes de
incongruência, afetam ou interferem o muitos. A educação dos dias atuais requer um
desenvolvimento cognitivo. A escola tem um padrão de aluno diferente “o aluno
papel importante neste processo, pois, em protagonista”, assim, o mesmo será
alguns casos é o primeiro contato de muitos questionador.
estudantes com a definição dos limites e ou
conduta ilibada. • A incivilidade
Segundo Içami Tiba (1996), “em termos de É um conceito que representa a indisciplina
sabedoria, quanto mais se sabe, mais se quer de forma mais sucinta, tipo as grosserias, as
aprender.” Diante do exposto, o grande desafio desordens, as ofensas verbais.
para o professor facilitador é motivar o aluno a Segundo Charlot (2002, p. 437), as
busca do conhecimento, pois mais que o incivilidades se referem a condutas que se
mesmo entenda não ser necessário. contrapõe às regras da boa convivência. As
Os pais ainda enfrentam essa questão, os incivilidades não rompem, necessariamente,
filhos, alunos, chegam a um determinado com acordos, regras e esquemas pedagógicos.

303
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Questões que para muitos alunos são vistas de aprendizagem e sim diminuição das
forma normal e utilizam a expressão “nada a eventualidades.
ver”.
A geração atual dos estudantes do grupo em INFLUÊNCIA DO JUDÔ NO
estudo conhecido com geração Z (nascidos
entre os anos de 1990 até 2010), os nativos DESENVOLVIMENTO DAS
digitais. A educação tradicional dificilmente vai CRIANÇAS
envolve-los de uma forma satisfatória levando O esporte é uma ferramenta poderosa que
os mesmos a aprendizagem. utilizada da maneira correta contribuir na
Essa grande problemática das escolas na formação do indivíduo. Vai além da prática
atualidade escolar: fazer com que os alunos sadia e prazerosa, ajuda a desenvolver senso
permaneçam na escola e que progridam crítico, criatividade e competências.
quantitativa e qualitativamente nos estudos Entre várias opções ou alternativas para
tem sido os dos grandes desafios dos pais e minimizar os problemas de indisciplina no meio
educadores. escolar destaco o esporte educacional.
O educando requer limites. Para Está na constituição Federal o esporte
(Freire,1995), limite é a mediação da disciplina, educacional como sendo aquele:
não há liberdade sem disciplina, está por sua Praticado nos sistemas de ensino e em
vez não pode ser confundida com formas assistemáticas de educação, evitando-
autoritarismo caso aconteça estaríamos se a seletividade, a hipercompetitividade de
retrocedendo. seus praticantes, com a finalidade de alcançar
o desenvolvimento integral do indivíduo e a
MEDIAR CONFLITOS NO sua formação para o exercício da cidadania e a
prática do lazer (BRASIL, 1988, Art. 3º, I).
ÂMBITO ESCOLAR No ano de 1995 com a criação do Ministério
O conflito sempre vai existir, na escola ou
Extraordinário dos Esporte e do INDESP
não, está implícito na sociedade, pois, o
(Instituto Nacional do Desenvolvimento do
conflito se origina da diferença de interesses. E
Esporte) foi elaborado um documento com os
na escola o educador entre outras ações, tem a
princípios fundamentais do esporte
oportunidade de contribuir neste quesito
educacional, que são:
importante, a formação do cidadão.
Princípio da Totalidade: a prática esportiva
O papel do professor mediador é por meio
educacional deve fortalecer a unidade do
da sua ação pedagógica ensinar os
homem consigo, com o outro e com o mundo,
conhecimentos, lembrando, ensinar não é
tendo como elementos indissociáveis a
simplesmente transferir conhecimento é a
emoção a sensação, o pensamento e a
mediação das situações na relação cognitiva.
intuição. Nesse princípio, os praticantes do
Manter um ambiente de harmonia é
esporte educacional deverão fortalecer o
fundamental para desenvolver de
conhecimento, a autoestima e a auto
superação, tudo isso desenvolvido dentro de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

um ambiente de respeito e preservação das A magia do esporte está nas condições e


individualidades. Princípio da Co-Educação: o possibilidades possíveis de crescimento
esporte educacional integra situações emocional e física, não “no ganhar e perder”,
heterogêneas de sexo, idade, nível mas, em sua essência. O percurso de uma
socioeconômico, condições físicas, etc. das competição, de um jogo, as emoções,
pessoas envolvidas nas práticas esportivas. frustrações, até a conquista de um resultado
Princípio da Emancipação: também está é a magia. Sim, o esporte é o que fazemos
introduzido nas atividades esportivas dele.
educacionais, busca levar os participantes a O jogo proporcionar momentos com
situações estimulantes de desenvolvimento da inúmeras possibilidades de emoções, onde o
independência, autonomia e liberdade. praticante tem a oportunidade de começar a
Princípio da Participação: estão todas as ações lidar e conviver com as frustações, com o
que levam os protagonistas do esporte ganhar e perder, respeito, tolerância,
educacional a interferir na realidade através da paciência, etc.
participação. Esse princípio compromissa os Até um dos pontos analisados por muitos
praticantes no campo social do esporte pelas profissionais da área como desvantagens do
vivências que essa participação oferece. esporte pode ser utilizado como vantagem,
Princípio da Cooperação: ao registrar situações “esporte competitivo”.
de individualismo, promove ações conjuntas Uma das funções do professor é preparar
para a realização de objetivos comuns durante seus alunos para o futuro, contribuindo para a
a prática do esporte educacional." Princípio do formação de um cidadão. Conforme previsto
Regionalismo: remete os praticantes do na LDB (Lei nº 9.394/1996, art. 32.), O ensino
esporte educacional a situações de respeito, fundamental obrigatório... terá por objetivo a
proteção e valorização das raízes e heranças formação básica do cidadão, mediante: III – o
culturais. desenvolvimento da capacidade de
Partindo desses princípios por meio do aprendizagem, tendo em vista a aquisição de
esporte educacional pode-se estabelecer conhecimentos e habilidades e a formação de
objetivos e desenvolver atividades que atitudes e valores.
permitam solidificar valores e princípios. As atitudes e valores são posto à prova nas
Belbenoit (1991), ele apresenta algumas atividades esportivas. Onde por meio de
considerações de sobre o desporto: planejamento e organização o professor pode
O desporto não possui nenhuma virtude de forma educativa juntamente com os alunos
mágica. Ele não é em si mesmo nem analisar e desenvolver um crescimento
socializante nem anti-socializante. É conforme: conjunto de atitudes de respeito, cooperação
ele é aquilo que se fizer dele. A prática de judô sem deixar a vontade de “vencer”, passar por
ou râguebi pode formar tanto patifes como cimas dos princípios éticos e sociais.
homens perfeitos preocupados com o “fair- A imagem supra apresenta uma situação de
play”. Betti (1991, p. 54) cobrança de pênalti no final de um jogo. As
questões emocionais e físicas que envolve a

305
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

situação problema é muito complexa e o no desenvolvimento dos alunos, segundo


jogador deve estar preparado para enfrentá-la (GONZALEZ, 2017).
com naturalidade. Porém, se a vida esportiva a vontade de vencer; a dedicação para
lhe preparou para tal momento a cobrança não treinar e tornar-se cada vez melhor; o foco para
será tão complexa... tomar decisões rapidamente; a persistência
Características presentes nos atletas e que diante de suas limitações; a humildade.
podem e devem ser atreladas de forma positiva

Para Ausubel (1988), “os alunos precisam buscando compreender e interagir com os
estar predispostos para que aconteça uma mesmos.
aprendizagem significativa”, (apud, Brito, O docente necessita encontrar o ponto de
2012). Brito (2012), evidência dois tipos de equilíbrio e motivação nos estudantes dos dias
aprendizagem: atuais, pois em grande parte, os mesmos não
a aprendizagem superficial ... ocorrendo a têm gana pelo conhecimento ou ainda não
memorização, necessária para os momentos sentiram a paixão pelo saber pedagógico.
avaliativos, sem levar em conta a reflexão e a Sempre levando em conto os conhecimentos
importância da compreensão do conteúdo; e a prévios dos discentes.
aprendizagem profunda acontece quando os A oportunidade de proporcionar
educandos buscam entender o significado do experiências e emoções por meio dos jogos em
que estudam fazendo relação com os situações adversas com o auxílio do lúdico é
conhecimentos adquiridos anteriormente, fantástica.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo Ortega (1990), “Jogar não é estudar


nem trabalhar, mas jogando, a criança aprende
a conhecer e a compreender o mundo social
que a acerca” (apud, GÓMEZ, 2005, p.10).
A primazia da iniciação esportiva escolar,
não está nas habilidades específicas e sim na
amplitude de possibilidades de estímulos para
o desenvolvimento e crescimento físico,
fisiológico, desenvolvimento motor,
aprendizagem motora, desenvolvimento
cognitivo e afetivo-social (CAPITANIO, 2003).
As experiências vividas nos jogos,
exploração de seus limites, a integração das
sensações o desenvolvimento das habilidades
motoras e até mesmo a possibilidade dos
enfrentamentos, chegar no limite, muitas
vezes físico e mental (não literal), mas são
momentos importantes para um crescimento e
enriquecimento psicológico e motor.
Tani, et. al. (1988), enfatiza:
a importância da relação entre movimento e
cognição, pois as primeiras respostas de uma
criança recém nascida são motoras. A criança
adquire suas primeiras experiências sensoriais
através de explorações que, por sua vez
dependem do movimento. As experiências
motoras que se iniciam na infância são de
fundamental importância para o
desenvolvimento cognitivo: a integração das
sensações provenientes de movimentos
resulta na percepção, e toda aprendizagem
simbólica posterior depende da organização
destas percepções em forma de estruturas
cognitivas.

307
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A discussão inicial do trabalho passa pela questão da indisciplina em sala de aula, sendo
um problema para a real aprendizagem do aluno. Assim, abordamos o esporte com o objetivo de
identificar as características presentes, com potencial para diminuir tais problemas, sendo uma
ponte entre a indisciplina e a aprendizagem do aluno.
Esse fato se confirma quando consideramos o número de obras e autores que aprofundam
as discussões sobre a indisciplina no meio escolar.
A indisciplina está presente na escola e na sala de aula, entretanto, o professor pode
utilizar as situações para o desenvolvimento e aprendizagem do aluno. A compreensão sobre a
indisciplina é um divisor de águas, só assim, pode-se direcionar ações para o trabalho.
Inicialmente apresentei a indisciplina como um fator relevante e problemático para o
desenvolvimento do aluno, sendo um problema para o processo de ensino aprendizagem, a
indisciplina não é, e não será algo lindo, entretanto ela pode ser utilizada de maneira positiva
para a formação do aluno cidadão, retomando uma das missões do professor, “formar cidadãos”,
trabalhando princípios e valores.
Entre os objetivos do trabalho eles foram se completando no decorrer do trabalho, as
características presentes no esporte, contribuição na mediação de conflitos. Evitar que os
conflitos ocorram dentro do ambiente de aprendizagem é um fato que diante da pesquisa analiso
que diferentemente do início da pesquisa, “eles acontecem e podem acontecer”, o importante é
como vamos aproveitar a oportunidade para aprendizagem do aluno.
O esporte por meio de seus princípios pode de forma sistemática ser alinhado e contribuir
na formação e solidificação dos valores. Aprendizagem por meio dos jogos proporciona
experiências marcantes, mas principalmente desenvolve a concentração, dedicação, foco,
persistência e motivação.
O que apresentamos até agora não nos permite afirmar as principais causas de indisciplina
no âmbito escolar, porém, a importância do professor mediador, no processo ensino aprendizado
é fundamental, o supracitado apresenta características que contribui na mediação dos conflitos,
pois os mesmos irão acontecera, a questão foco é, como lidar com esses conflitos ou indisciplina
de forma a contribuir na formação do aluno.
O esporte é sim uma ferramenta que pode ser utilizada de forma a contribuir em pontos
chaves para o momento da aprendizagem, ex: assimilação de um conteúdo (concentração,
dedicação, persistência etc.). Aprender a respeitar as regras do jogo é aprender a respeitar as
regras da vida.

308
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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a Dezembro): Acesso em: 03 de junho de 2022. Disponível em:
<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=27503910> ISSN 1413-2478.

SITE. Princípios Fundamentais do Esporte Educacional. [19 de julho 2008]. Disponível em:
<http://criandocriancas.blogspot.com/2008/07/princpios-fundamentais-do-esporte.html>. Acesso
em: 03 de junho de 2022.

TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa / Içami Tiba. — São Paulo: Editora Gente, 1996
— 1a ed.

310
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A INTERAÇÃO DE ADULTOS, BEBÊS E


CRIANÇAS NA CONSTRUÇÃO DA ESCUTA
Rita Rejane de Souza de Carvalho1

RESUMO: O presente artigo destaca a importância da interação entre bebês, crianças e adultos
na construção da escuta na educação infantil ,fazendo com que a criança se enxergue como
sujeito participativo e protagonista da sua própria história, sendo oferecido ambientes que lhes
proporcionem tais experiências, por meio de espaços adequados, professores capacitados ,
sensibilidade ao ouvir a criança, nas rodas de conversas, rodas de histórias, brincadeiras e
interações com crianças de diversas faixas etárias , pois a atitude da escuta cria um sentimento
de segurança e de pertencimento favorecendo assim o seu bem estar na EU

Palavras-Chave: Educação Infantil; Interação; Escuta; Percepção.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE INTERACTION OF ADULTS, BABIES AND CHILDREN IN THE


CONSTRUCTION OF LISTENING
ABSTRACT: This article highlights the importance of the interaction between babies, children and
adults in the construction of listening in early childhood education, making the child see himself
as a participatory subject and protagonist of his own story, being offered environments that
provide them with such experiences, through adequate spaces, trained teachers, sensitivity when
listening to the child, in conversation circles, story circles, games and interactions with children
of different age groups, as the attitude of listening creates a feeling of security and belonging,
thus favoring their well-being in the UE.

Keywords: Early Childhood Education; Interaction; Listening; Perception.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO AS INTERAÇÕES COMO


Aprender a observar e a escutar os bebês e MODOS DE SER E ESTAR NO
as crianças é o desafio da(O) professora(or) que MUNDO.
compreende a educação como um processo no da Infância Paulistana (SÃO PAULO,2015a),
qual as demandas de bebês e crianças, seus afirmam que o processo de aprendizagem
interesses e suas necessidades geram acontece como resultado de uma construção
processos coletivos de ampliação e pessoal dos bebês e das crianças, em interação
aprofundamento das experiências corporais, ativa com as outras crianças de mesma idade e
sociais, culturais e científicas. Viver de idades diferentes, com os adultos e com os
coletivamente na UE propicia para as infâncias elementos da cultura com os quais entram em
a expansão de seus territórios, possibilitando a contato.
percepção de outros modos de viver, pensar, As concepções que orientam a proposição
agir, relacionar-se, isto é, ensina a ver do ponto deste currículo integrador afirmam o processo
de vista do outro. A função de uma cidade de aprendizagem como uma construção
educadora, é possibilitar que os bebês e as pessoal intermediada pela relação com o meio
crianças possam ultrapassar os muros das sócio-histórico-cultural e em interação entre
escolas e ampliar os seus repertórios de vida pares, com os adultos e com os elementos da
social, de espaços culturais, de relação com a cultura com os quais interage, processo em que
cidade. É direito dos bebês e das crianças poder reconstrói para si as capacidades presentes
se deslocar e aprender com a vida comunitária, nessas interações (SÃO PAULO,2015a, p.35).
ampliando seus territórios. Pesquisas têm mostrado que é nessa
Sabemos que a UE se empenha para interação com os outros e com a cultura que
adotar uma atitude permanente de escuta cada bebê e criança reconstrói para si as
quando as produções infantis realizadas sem a qualidades humanas presentes nessas
mão da professora(or) para “melhorá-las “são interações - como a percepção, a memória, a
valorizadas e tem um lugar de destaque nas fala, o pensamento, a imaginação, os valores,
paredes na altura das crianças. Essa atitude os sentimentos, a autodisciplina e a sua própria
permanente de escuta é também o elemento identidade - à medida que se relaciona com as
fundamental para criação de vínculos entre pessoas e os hábitos e costumes, com a língua
educadores, bebês e crianças, pois a atitude de e as outras linguagens, com o conhecimento
escuta, cria um sentimento de segurança e de acumulado; à medida que se relaciona com os
pertencimento que favorece o seu bem estar objetos. O Currículo na Educação Infantil se
na UE. baseia nas interações e na brincadeira
(MUKHINA,1996; PRESTES; TUNES.2018), na
cultura humana, nas práticas sociais dos
territórios, e se fortalece na relação de todos
os adultos da Unidade Educacional com as
famílias/responsáveis e com as crianças.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As interações e as brincadeiras devem relação de educar, colocar limites e estabelecer


compor o currículo e possibilitar a realização de pontes seguras entre as crianças e o mundo?
projetos pedagógicos que envolvam as diversas Escutar a crianças tem a ver com postura e
linguagens presentes nas experiências, sem mudança de atitude daquele que escuta; tem a
separá-las, pois não é de modo fragmentado ver com compreender que cada criança
que os bebês e as crianças aprendem, mas apresenta um repertório próprio, 'interesses,
enquanto vivenciam uma situação de forma necessidades e potenciais únicos. Abrir-se para
integral. Enquanto contamos ou lemos uma entender então que nós adultos, podemos
história, as crianças ouvem, mas também aprender e nos surpreendermos com elas.
imaginam, pensam, comparam, observam o Precisamos aceitá-las e descobri-las no seu
nosso tom de voz, a maneira como nos âmago, sem a pretensão de corrigir ou
relacionamos, como tratamos as outras necessariamente ensinar-lhes alguma coisa.
crianças, como cuidamos dos livros. Também O que muda é que quando nos
percebem o nosso interesse e entusiasmo. comunicamos ou interagimos com as crianças
costumamos estabelecer relações “não
O QUE É ESCUTA INFANTIL? simétricas”. Conseguir se colocar no lugar da
Dar voz, considerar, perceber, observar, criança, “na altura” da criança, estar junto nos
seus universos, nas suas brincadeiras, nas suas
favorecer a autonomia: Todos esses verbos
imaginações, são algumas pistas no processo
estão relacionados ao que se convencionou
chamar de escuta infantil. E todos eles fazem de escutá-las. Mas, para tal, precisamos partir
parte de uma mesma preocupação, a de da premissa que criança tem direito a ter
reconhecer a criança como indivíduo pleno, espaço e tempo livre para experimentar,
capaz e dotado de subjetividades que fazem descobrir o outro e descobrir-se a si mesma.
dela um legítimo ator social; ou seja, a criança A importância da escuta de bebês e crianças
é um sujeito de direitos. passa por conhecê-los na sua essência,
compreender quais são seus canais expressivos
O grande desafio, então, é do adulto. Como
mais potentes (e únicos para cada uma). Para
considerar todos esses fatores nos mais
diversos ambientes sociais- em casa, na família alguns, é a expressão corporal, o gesto, o
e na escola? A educação das novas gerações movimento; para outras é a diversidade de
está diretamente ligada a sensibilidade de expressões plásticas; para outras ainda, é a
perceber esses elementos como chaves de expressão musical; para outras a palavra oral
uma relação saudável e plena com as crianças. ou escrita; para todas elas, é a brincadeira e a
possibilidade de serem desafiadas e de dar
Porém é comum que alguns pais, cuidadores e
vazão a livre imaginação
professores confundam o conceito de escutar
as crianças com a permissividade,
desconsiderando a importância dessa escuta
antes de praticá-las.
Como ouvir o que os pequenos têm a dizer e
ainda assim manter o papel do adulto nessa

314
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AS INTERAÇÕES NA trata da atitude que ajuda a criar a segurança


dos pequenos.
CONSTRUÇÃO DA ESCUTA Os bebês já acostumaram a estar no CEI.
INFANTIL Tem confiança nos adultos que a acolhem,
A dimensão 2 dos Indique EI/RME-SP cuidam e educam. Já se despedem dos
(participação, escuta e autoria de bebês e familiares e ficam bem na UE. Enquanto estão
crianças) é fundamental para dar suporte aos explorando os objetos em atividade autônoma
educadores para compreender o que é escutar e descobrindo o que a professora colocou ao
as crianças nas suas mais distintas formas de se seu redor, é hora de começar a alimentação.
expressar. Ao escutá-las, é possível dialogar Ela se aproxima de um bebê e o avisa que vai
com a proposta curricular e propiciar tirá-lo de sua atividade e levá-lo por um tempo
interações que fortaleçam a autoria das curto. O bebê percebe o tom de voz e está se
crianças e a sua participação. acostumando ao fato de que, quando a
Nesse sentido sabemos que escutamos os professora interrompe a sua atividade, é o
bebês e crianças quando os observamos, momento da troca, da alimentação, ou do
quando registramos o que vamos aprendendo sono. Enquanto prepara o bebê para a
com eles e sobre eles, isto é, escutamos os alimentação, a professora fala com ele e o
bebês e crianças quando buscamos entender convida a participar (SÃO PAULO,2015a, p.53).
as suas particularidades, conversando com eles Nota -se na cena descrita acima, que o bebê
e com suas famílias /responsáveis. Escutamos já aceita com facilidade a intervenção e os
os pequenos quando consideramos as suas cuidados da educadora prestando atenção
iniciativas, quando os acolhemos e naquilo que ela faz e diz. Este bebê parece
respeitamos os seus sentimentos (os bebês e compreender bem os convites feitos e não
crianças que chegam tristes, os que chegam resiste a eles, entende-os com clareza,
chorando e também os que chegam alegres, respondendo bem aos estímulos e interações.
curiosos, os mais calados, e os Isso sinaliza que este bebê está aberto para
“perguntadeiros” ). Também “damos colo aprender e se envolver com as atividades
“para quem precisa e espaço para crescer para propostas
quem chega sem nenhuma aparente demanda. A pedagogia da escuta ficou mundialmente
A escuta também se concretiza quando reconhecida pelo pedagogo e educador Loris
chamamos bebês e crianças a participar de Malaguzzi, de Régio Emília, localizada na Itália,
seus cuidados e da vida diária da UE. A escuta fundador da ideia esse educador criou um
acontece sempre que as professoras(es) fazem princípio de ensino que valoriza o processo
boas perguntas para os bebês e as crianças e educativo cultural, cujo objetivo é fazer com
esperam algumas manifestações deles. que as crianças compartilhem seus
Sentir-se seguro e confiar nos adultos da UE conhecimentos e saberes, sua criatividade e
é essencial para o crescimento cultural e imaginação por meio de múltiplas linguagens a
emocional de bebês e crianças. A cena a seguir saber: canto, dança, desenho, interpretação e
pintura.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Com isso, percebe-se que o quanto é


importante valorizar a escola como espaço
democrático e social. Por isso, a pedagogia da
escuta, possibilita que as crianças
compartilhem seus saberes, sentimentos e
inquietações.
O educador precisa ser sensível ao ouvir a
criança percebendo suas linguagens, códigos e
símbolos que elas utilizam para se
expressarem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossas observações, levaram em consideração as pesquisas feitas nos livros acadêmicos,
artigos, e também na nossa vivência pedagógica, considerando muito válido esse contato com o
mundo das interações e da escuta e em que contexto elas estão inseridas.
Reflete-se o quanto é importante as interações e a escuta na educação infantil,
principalmente na pré-escola, pois ela amplia as experiências e as vivências dentro das unidades
educacionais, promovendo o protagonismo infantil, a reflexão, sensibilidade no ouvir, trocas de
vivências, descobertas e hipóteses. Acredita-se que os educadores podem promover essas
interações e essa escuta por meio do oferecimento de espaços propício, seguro e acolhedor para
essas vivências, sempre priorizando o lúdico, a escuta, e o protagonismo da criança.

317
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
FRIEDMAN, Adrianna. A Voz e a Vez das Crianças. Ed. Panda Educação.
RIBEIRO, Bruna. Pedagogia das miudezas: saberes necessários a uma pedagogia que
escuta.
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da
cidade : Educação Infantil. – São Paulo : SME / COPED, 2019

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A LITERATURA PRESENTE NO LIVRO CARTAS


DE GRACILIANO RAMOS
Danyelle Galvão Sousa 1

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo conhecer a literatura presente nas cartas pessoais
do escritor alagoano Graciliano Ramos, principalmente, no livro que é o objeto de nossa pesquisa
Cartas, refletindo a partir das cartas apresentadas no citado livro como se deu a construções de
São Bernardo. Mediante a uma metodologia qualitativa e bibliográfica, analisamos as cartas sob
o crivo de teóricos como Cândido (1955), Bosi (2017), Silva & Gomes (2017) e Moraes (1954),
discutindo a respeito da linguagem, escrita concisa e o teor psicológico dos personagens e sua
importância na construção do estilo de Graciliano. Percebendo ainda como se deu o início da vida
do autor como literato, a contragosto de seu pai e os enfrentamentos na sua vida que
contribuíram para a constituição do escritor Graciliano Ramos.

Palavras-Chave: Literatura; Cartas; Memórias.

1 Graduanda em Letras: Português pela Universidade Federal de Campina Grande.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE LITERATURE PRESENT IN THE BOOK LETTERS BY GRACILIANO


RAMOS
ABSTRACT: This article aims to know the literature present in the personal letters of the Alagoan
writer Graciliano Ramos, mainly in the book that is the object of our research Cartas, reflecting
from the letters presented in the aforementioned book how the constructions of São Bernardo
occurred. Through a qualitative and bibliographic methodology, we analyzed the letters under
the scrutiny of theorists such as Cândido (1955), Bosi (2017), Silva & Gomes (2017) and Moraes
(1954), discussing about language, concise writing and the content psychological character and
its importance in the construction of Graciliano's style. Also realizing how the author's life as a
writer began, against his father's displeasure and the confrontations in his life that contributed
to the constitution of the writer Graciliano Ramos.

Keywords: Literature; Cards; Memoirs.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO irreversível, já que a obra, assim como a


Literatura, permite diversas possibilidades.
Este artigo tem como tema o estudo da Este trabalho encontra-se dividido em:
Literatura presente no livro Cartas de Introdução no qual se encontra a o tema
Graciliano Ramos e, a partir dessa pesquisa, pesquisado, objetivos e a motivação para a
compreender como se deu o processo de execução desse artigo, como também a
construção da obra do autor, São Bernardo. necessidade de se pesquisar o gênero cartas no
O livro Cartas nos permite uma visão mais âmbito acadêmico; desenvolvimento : A
íntima do autor Graciliano Ramos, formação do escritor, no qual podemos
considerando que são correspondências conhecer desde suas primeiras apreciações
íntimas, já que se trata de cartas pessoais, por pela Literatura e o ontem; A construção da
meio das quais podemos adentrar no universo obra São Bernardo, no qual constatamos a
do escritor e compreender sua maneira de percepção que o escritor Graciliano Ramos que
fazer literatura. é citada no livro Cartas, na qual se encontra a
Pretende-se com esta pesquisa conhecer a análise do corpus da nossa pesquisa e
Literatura presente nas cartas pessoais Considerações Finais.
destinadas à Heloísa Ramos e seus familiares.
Partindo da formação do escritor Graciliano,
A FORMAÇÃO DO ESCRITOR
registra-se a compreensão que Graciliano tinha
Graciliano Ramos nasceu em 27 de outubro
de São Bernardo.
de 1892 na cidade de Quebrângulo, Alagoas.
A metodologia de pesquisa é qualitativa,
Foi um grande romancista, contista, jornalista,
partindo de um estudo bibliográfico, formado
cronista, político e memorialista brasileiro.
por autores que pesquisaram Graciliano
Graciliano pertenceu a uma grande família.
Ramos. Para isso, a pesquisa baseia-se no
Viveu parte de sua infância em Buíque,
estudo dos autores Moraes (1993), Bosi (2017)
Pernambuco, e em Viçosa, Alagoas. Estudou
e Monteiro (1959), entre outros que
em Maceió, porém, não chegou a fazer curso
produziram trabalhos apropriados ao assunto.
superior.
Para desenvolver esse método, analisamos as
Casou com Maria Augusta de Barros em
cartas que traduzem fatos passados da vida do
1915, com quem teve 4 filhos e ficou casado
autor e situações que contribuíram para a
cinco anos, ela faleceu em 1920. Ainda em
construção de suas obras nos permitindo a
1915 acontecem dois fatos importantes na sua
possibilidade de fazer algumas inferências.
vida: seu casamento e assume a loja de tecidos
O método escolhido permite a liberdade na
fundada pelo pai, onde aproveita o tempo livre,
análise, possibilitando posições que não
entre um cliente e outro, para ler e escrever.
atribuem a uma única vertente, mas, a uma
Neste período de formação, passou a
resposta que corresponderá ao objeto. As
acompanhar a cena estética que se desenvolvia
referências sobre a obra destacam algumas
no Brasil no eixo Rio-São Paulo, informava-se
características que serão aqui apresentadas, no
das notícias do Brasil e do mundo por meio dos
entanto, não se trata de uma leitura
grandes jornais do Sudeste que assinava,

321
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

comprava livros pelo correio na célebre Livraria trabalhava na loja de tecidos do pai, a Loja
Garnier, orientado pelos catálogos que recebia Sincera. Ali trabalhava no balcão e fazia a
do Mercure de France, a mais completa revista escrita comercial da casa,” (FACIOLI, 1987).
literária do seu tempo. Nesta época, Graciliano mantinha contato com
Conheceu Heloísa Leite de Medeiros em sua família por meio de cartas. Além dos pais,
1928, com quem casou em Maceió em 16 de ele escrevia também a um amigo de infância
fevereiro; com ela teve mais 4 filhos e foi sua que se chamava Joaquim Pinto da Mota Lima
companheira até sua morte. Trabalhou como Filho. Anos mais tarde, ele também
jornalista no Rio de Janeiro, voltou para o correspondeu-se com Heloísa Ramos, que veio
Nordeste em 1915, morou em Palmeira dos a ser sua segunda esposa. Graciliano adorava
Índios, casou-se em 1928, foi prefeito durante escrever.
dois anos, publicou seu primeiro romance Eu não te escrevo somente por gosto de
Caetés em 1933, trabalhou na imprensa oficial escrever: escrevo-te para pedir uma
e publicou São Bernardo em 1934. Foi preso em informação, duas informações quero dizer,
Maceió em março de 1936; sua prisão serviu de sobre assuntos que muito me interessam.
inspiração para Memórias do Cárcere em 1953, Rodolfo escreveu-me há dias uma carta. Não
obra publicada postumamente, onde ele narra tratei de respondê-la logo, perdi-a, estou agora
experiências que vivenciou enquanto esteve sem saber o endereço do ex-futuro membro da
preso acusado de ser comunista. Academia Brasileira de Letras. (Falo assim
Após a prisão associou-se ao partido porque ele abandonou covardemente aquela
comunista. Em 1951 foi eleito presidente da obra monumental que estávamos a escrever,
Associação Brasileira de Escritores. Viajou para com o pseudônimo de M. Soares). (RAMOS,
países socialistas e dessa experiência escreveu 1992, p.17)
Viagem, outra publicação póstuma. Em 1952 Como podemos ver na citação de Graciliano
adoeceu gravemente e em 1953 faleceu vítima quando se refere à carta do amigo J. Pinto, o
de câncer de pulmão. autor gosta de escrever, contudo, também é
Na obra de Graciliano Ramos, nunca por meio do amigo que ele podia saber a
sabemos onde começa a Literatura e onde respeito das coisas que o interessavam e,
termina a experiência, pois, as duas se dentre os diversos assuntos, o que mais o
misturam indubitavelmente. No livro Cartas, interessava era Literatura.
obra póstuma, vimos o quanto a Literatura está
presente e circunda a vida do escritor, assim A CONSTRUÇÃO DE SÃO
como nas cartas pessoais destinadas à Heloísa
Ramos e alguns familiares. BERNARDO E O LIVRO CARTAS
Aos 18 anos, Graciliano Ramos, o aspirante a Em suas cartas à Heloísa Ramos, Graciliano
escritor, vai para Palmeira dos Índios, cuidar de descreve alguns traços de algumas de suas
uma casa comercial de seu pai, Sebastião obras, entre elas São Bernardo e Angústia, duas
Ramos, enquanto sua família se muda de suas grandes obras. A partir disso,
definitivamente de Viçosa. “Graciliano, pretendemos registrar a compreensão que

322
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Graciliano Ramos tinha de São Bernardo e se a O realismo de Graciliano não é orgânico nem
obra corresponde às informações prévias nas espontâneo. É crítico. O “herói” é sempre um
cartas. problema: não aceita o mundo, nem os outros,
No trecho acima, de acordo com (BOSI, nem a si mesmo. Sofrendo pelas distâncias que
2017), podemos Mas é em São Bernardo que o o separam da placenta familiar ou grupal,
foco narrativo em primeira pessoa mostrará a introjeta o conflito numa conduta de extrema
sua verdadeira força na medida em que seria dureza que é a sua única máscara possível
capaz de configurar o nível de consciência de (BOSI, 2017, p.429).
um homem que, tendo conquistado a duras A partir do que nos demonstra Bosi (2017),
penas um lugar ao sol, absorveu na sua longa podemos perceber que o “herói” de Graciliano
jornada toda a agressividade latente em um tem inúmeras questões, são personagens
sistema de competição (BOSI, 2017, p. 430). cheios de camadas, profundos e que trazem
Perceber - se que todo o contexto que consigo conflitos interiores. O estilo de escrita
circundava o narrador/personagem teve forte de Graciliano é um modo muito preciso, o
influência sobre o mesmo e foram decisivos no entendimento é claro. Ele era conhecido como
decorrer da obra, por isso, é importante um escritor “econômico em suas palavras”
entendermos todo o contexto que envolve o usando as que eram indispensáveis e
narrador. considerava que quanto mais enxuto, melhor
seria seu texto. Como menciona Monteiro
O AUTOR MODERNISTA (1959), a respeito da autenticidade de sua
obra:
Graciliano é um dos autores brasileiros
A obra de Graciliano Ramos é, sem dúvida,
pertencentes à segunda fase do movimento
uma confissão. Não de “fatos” da sua vida, mas
modernista, também conhecida como
do seu íntimo ser. É um diário transposto da
regionalista, porém, essa é mais uma de suas
sua própria angústia, e da sua imensa
vertentes, pois há outras, igualmente
descrença nos homens, do seu imenso
importantes, que se passam na geografia
desconsolo de viver, da sua sempre desiludida
urbana. Suas obras contemplam os problemas
sede de justiça. E por isso, sendo o mais puro
sociais da região Nordeste. Com caráter e
estilista de todos os seus contemporâneos, ele
opiniões muito fortes, seus temas são sempre
foi ao mesmo tempo o mesmo literato, o mais
voltados para as causas sociais; trouxe em sua
alheio a tudo quanto fosse fazer cada vez com
obra críticas ao sofrimento vivido pelo povo
mais autenticidade a sua confissão. No que não
nordestino. Seus personagens, em sua maioria,
há mistério nenhum: o estilo é nele a própria
são redondos e trazem à tona toda
exigência da verdade; a secura, a nitidez, a
subjetividade humana, traços psicológicos e a
crueza, são o caminho para a unidade, e não a
maneira como esses seres humanos se
procura dum efeito, duma beleza: não são um
relacionam. As análises psicológicas são
realce, mas a condição do integral
profundas. Há conflitos entre a classe
desnudamento da vida, como ele a via (
trabalhadora e as classes privilegiadas.
MONTEIRO, 1959, p. 275).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A tão original quanto São Bernardo. Assim, Paulo, e de como foi reconhecido como escritor
São Bernardo, conhecido como um dos diante de alguns leitores.
melhores romances produzido pelo autor A carta pessoal é um gênero textual usado
retrata a história do homem que, a princípio para construir diálogo entre pessoas íntimas e
seria vitorioso, mas trata-se de um herói traz consigo algumas marcas de personalidade;
problemático2 , que se deixa levar pela ambição
1 por meio dela podemos ver o grau de relação
e desejo de ascensão social. A maestria de que existe entre os interlocutores. “No que diz
Graciliano é tamanha ao ponto de ser respeito aos traços característicos da carta
reconhecida por teóricos como Candido pessoal, geralmente é uma tradição
(2006), ao mencionar como podemos perceber comunicativa carregada de subjetividade e que
de acordo com Monteiro (2017), a vida nem traduz a expressão pessoal do emissor,” (SILVA
sempre é composta de beleza, mas de dores, & GOMES, 2017, p.213).
situações difíceis, angústia, pesares e O livro Cartas é uma obra póstuma,
descrença. E todas essas esferas que compõem publicada 27 anos após a morte de Graciliano,
a subjetividade humana estão expostas e onde encontramos cartas destinadas a Heloísa
acessíveis na obra de Graciliano, o mais nítida Ramos e a outras pessoas próximas ao escritor,
possível. Muitas dessas questões trazidas pelo tais como os pais Maria Amélia Ferro Ramos e
autor não são fáceis de se colocar à vista, mas Sebastião Ramos de Oliveira; as irmãs Leonor,
muito indagantes quando analisadas Otacília e Marili; Luís Augusto de Medeiros seu
minuciosamente. cunhado; os filhos Júnio, Clara, Ricardo Ramos
e Luiza; e o amigo Joaquim Pinto da Mota Lima
CARTAS Filho.
Embora a carta seja um gênero em desuso Graciliano, sempre contrário à intromissão
hoje, era a maneira mais comum de se de seu espaço pessoal, dizia que seus inéditos
só deveriam ser publicados 20 anos após a sua
comunicar na época em que foi escrita. Ela traz
morte e por meio de suas correspondências
consigo muita significância aos aspectos que o
podemos conhecer alguns acontecimentos na
autor se relaciona e como eram na maneira
com que o autor se utilizava da linguagem. vida do autor. São 112 cartas, a primeira escrita
em 14 de novembro de 1910 e a última em 1º
As cartas de Graciliano, em especial as que
de maio de 1952. Em sua maioria, as cartas são
foram enviadas a sua esposa Heloísa Ramos,
escritas para sua esposa Heloísa Ramos, para a
são muito interessantes porque nelas o autor
qual escreveu 58 cartas. As correspondências
falava de suas produções, de suas aspirações e
enviadas desde quando foi prefeito, em
compartilhava seus gostos, as expectativas de
Palmeira dos Índios, no agreste de Alagoas, e
outros autores e de sua ida para o Rio e São
outras enviadas durante uma viagem que fez à

2 Luckács o herói é o ser humano com suas fraquezas,


A partir do realismo, vemos mais presente na literatura
a figura do herói problemático que predomina a partir do manias e incertezas em um mundo em que ele se sente
século XIX. De acordo com o teórico húngaro Georg deslocado.

324
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

União Soviética, Tchecoslováquia, França e A FAZENDA SÃO BERNARDO


Portugal.
Em suas cartas, Graciliano sempre
Os temas mais relevantes nas cartas são
compartilhava trechos acerca de sua literatura
traços do escritor que assim como nas suas
e nas cartas traçava algumas marcas, como
obras traz a sua literatura de maneira tão clara. quando compartilhava com Heloísa Ramos os
O processo de escrita das obras coincide com o detalhes da fazenda São Bernardo como no
período em que Graciliano escreveu as cartas e seguinte trecho: “Continuo a consertar as
nelas compartilhava, em especial à Heloísa cercas do S. Bernardo. Creio que está ficando
Ramos, os personagens, o espaço físico e uma propriedade muito bonita. E se Deus não
alguns traços psicológicos dos mesmos. mandar o contrário, qualquer dia terei que
A carta, hoje, não possui mais a apresentá-la ao respeitável público. O último
representatividade comunicativa que possuía capítulo, com algumas emendas que fiz, parece
no passado, devido à substituição por formas que está bom,” (RAMOS, 1992, p.123).
de comunicação mais rápidas, como o e-mail, Graciliano era muito exigente com sua escrita e
por exemplo. Apesar disso, ela é considerada São Bernardo de fato, é uma obra apreciável,
um dos gêneros fundamentais às investigações que o firmou como um dos maiores
linguísticas, sobretudo na perspectiva histórica romancistas brasileiros.
da língua e do texto, uma vez que guarda as Isto aqui está um horror. Está medonho. A
marcas das condições de produção de
gente emburra com uma rapidez
diferentes sincronias passadas. Ao longo da extraordinária. Felizmente não saio. Leio
história, diversas relações têm sido pouco. Mas tenho o manuscrito para emendar.
estabelecidas através da carta e diversas Sempre dá para ir matando o tempo. Encontrei
finalidades são a elas atribuídas (...) a carta muitas coisas boas da língua do nordeste, que
pode assumir o papel de um tratado de ciência,
nunca foram publicadas, e meti tudo no livro.
de um relato histórico-geográfico, de uma obra
Julgo que produzirão bom efeito. O pior é que
literária (...). (SILVA & GOMES, 2017, p. 208)
há umas frases cabeludíssimas que não podem
Como podemos constatar a partir de Silva & ser lidas por meninas educadas em convento.
Gomes (2017), a carta possuía uma Cada palavrão do tamanho de um bonde.
representatividade, era a forma de se manter o Desconfio que o padre Macedo vai falar mal de
mais próximo e informado possível. É por meio mim, na igreja, se o livro for publicado. É um
de uma investigação mais aprofundada das caso sério. Faz receio. O que me tranquiliza é
cartas que podemos compreender e ele nunca ter lido nada. Quando você saiu
aprofundar nosso conhecimento histórico e daqui havia no romance algumas passagens
linguístico presentes de acordo com cada meio acanalhadas. Agora que não há aqui em
época. Nas cartas analisadas para esta pesquisa casa nenhuma senhora para levar-me ao bom
vamos compreender quais os contextos que caminho, imagine o que não tenho arrumado
envolveram o escritor e o que percorria sua na prosa de seu Paulo Honório. Creio que está
vida durante as construções de duas de suas um tipo bem arranjado. E o último capítulo
obras. agrada-me. Quando o li depois dos consertos,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

espantei-me. Realmente suponho que sou um por isso, o autor tenha se dedicado a uma obra
sujeito de muito talento. Veja como ando besta que:
(RAMOS, 1992, p.128). Como certos poetas que praticaram
Graciliano valorizava a linguagem nordestina minuciosamente as formas fixas, antes de
e relatava nas cartas que tudo o que cultivarem o verso livre com tal maestria que
encontrava ia parar no livro, possivelmente, o ele parece ter sido sempre a sua via única e
fato de enaltecer a linguagem tornava sua obra preferencial, o romancista profundo e doloroso
um tanto quanto genuína e verossímil. Isso o de São Bernardo e Angústia ainda é aqui
envaidece, pois, ele tinha consciência de que praticante, aliás magistral, de fórmulas
sua obra era genial. convencionais da técnica do romance
Podemos perceber o quanto Graciliano se (CANDIDO, 2006, p. 19).
dedicou a obra São Bernardo e como o Paulo Honório, um homem determinado a
agradava o último capítulo, o qual trazia se tornar fazendeiro, decide, depois da morte
melancolia e tristeza para seu personagem de sua esposa Madalena, escrever um livro
Paulo Honório. O autor sempre fazia referência contando sua trajetória, que de homem guia de
a Paulo Honório como se fosse um ser real e cego tornou-se proprietário da fazenda São
sabia o tamanho da importância de seu Bernardo. São Bernardo é um romance narrado
personagem como podemos observar na em primeira pessoa, fascinante e com alguns
seguinte fala: “Quem sabe daqui a trezentos questionamentos. Seu narrador, Paulo
anos eu não serei um clássico? Os idiotas que Honório, refere-se a suas personagens como
estudarem gramática lerão S. Bernardo, coisas. A personalidade mesquinha e
cochilando, e procurarão nos monólogos de dominadora do narrador é impressa na obra de
seu Paulo Honório exemplos de boa tal modo que podemos analisá-lo por meio de
linguagem” (RAMOS, 1992, p.135). seu sentimento de posse; Paulo Honório não
Em uma de suas cartas o autor recebe uma media esforços para conquistar o que queria.
remessa do volume Menino de Engenho de O que é certo é que, a respeito de letras, sou
José Lins do Rêgo e o classifica como excelente, versado em estatística, pecuária, agricultura,
dizendo ainda que “O S. Bernardo está acuado” escrituração mercantil, conhecimentos inúteis
a partir da avaliação generosa para com o livro neste gênero. Recorrendo a eles, arrisco-me a
do autor paraibano. Graciliano era modesto. usar expressões técnicas, desconhecidas do
Onde seu pai Sebastião Ramos leu duas vezes público, e a ser tido por pedante. Saindo daí, a
Menino de Engenho e o fato de seu pai ter lido minha ignorância é completa. E não vou, está
duas vezes a obra, talvez o tenha feito sentir-se claro, aos cinquenta anos, munir-me de noções
obrigado ao capricho com que elaborou o São que não obtive na mocidade (RAMOS, 2012, p.
Bernardo. 8)
Como podemos perceber no livro Cartas, A história tem um narrador/personagem
Graciliano sentia-se incomodado com a falta de que se descreve como grande conhecedor em
intelectualidade das pessoas, provavelmente outras áreas que não na escrita e com um tanto
de falta de modéstia. Um aspecto bastante

326
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

intrigante é o fato de uma obra tão bem feita aquela que ele tanto amou. Podemos observar
ser narrada por um homem semianalfabeto, tais aspectos a partir do que menciona Bosi
por isso, podemos perceber alguns traços de (2017), quando afirma:
inverossimilhança. Um romance escrito em Mas é em São Bernardo que o foco narrativo
primeira pessoa naturalmente dá margem para em primeira pessoa mostrará a sua verdadeira
que o autor tenha liberdade para criar, sendo força na medida em que seria capaz de
assim, vemos que a história está sendo contada configurar o nível de consciência de um
pela perspectiva de Paulo Honório, por isso, homem que, tendo conquistado a duras penas
que temos apenas um ponto de vista e quem um lugar ao sol, absorveu na sua longa jornada
escreve sua própria história escreve o que toda a agressividade latente em um sistema de
quiser e como quiser. competição. Paulo Honório cresceu e afirmou-
Um romance escrito com uma profundidade se no clima da posse, mas a sua união com a
emocional e elaborado com tanto requinte professorinha idealista da cidade vem a ser o
literário é ao mesmo tempo uma construção único, e decisivo malogro daquela posição de
expressada por um personagem com tamanha propriedade estendida a um ser humano (BOSI,
aspereza e grosseria, como é Paulo Honório. 2017, p. 430).
“Abandonei a empresa, mas um dia destes ouvi Como podemos observar, Paulo Honório
novo pio de coruja - e iniciei a composição de ficou no plano de ter em contraponto com
repente, valendo-me dos meus próprios Madalena que era do ser, esse contraste
recursos e sem indagar se isto me traz qualquer começa a causar rachaduras que fugiam do
vantagem, direta ou indireta,” (RAMOS, 2012, controle do protagonista. O escritor traz à tona
p. 7). particularidades de Paulo Honório como a sua
Outro ponto relevante na obra é o fato de desumanidade e endurecimento. “O S.
que há dois tipos de tempos, na qual o tempo Bernardo está muito transformado, Ló. Seu
psicológico se sobrepõe ao cronológico, ou Paulo Honório, magnífico, você vai ver. O diabo
seja, todos os conflitos que se passam na é que as folhas estão cheias e não há mais lugar
cabeça de Paulo Honório se evidenciam na para fazer emendas. Se eu morresse hoje
medida em que avançam seus monólogos, ninguém poderia ler aquilo. [...] Agora vou
elementos estes que demonstram como esta tomar um banho e meter-me no S. Bernardo.”
obra é um romance muito bem construído. (RAMOS, 1992, p.138). A obra já estava cheia,
No romance podemos perceber que Paulo como Graciliano era sucinto nas palavras,
Honório escreveu seu próprio relato de vida preocupava-se sempre em simplificar, em
com a intenção de compreender o motivo que deixar o mais compacto possível. Como estava
teria levado Madalena a cometer o suicídio, trabalhando menos, o tempo livre ajudava-o a
enquanto relata, reflete e é tão somente nessa dedicar-se mais a São Bernardo.
sua busca que o narrador/personagem se As expectativas depositadas em Paulo
encontra embebido em uma angústia. Paulo Honório foram muitas. Graciliano sabia quando
Honório mesmo com toda sua frieza e ambição, o construiu, que seu personagem era um
cai em si e vê o quanto sua ganância o tirou exemplo perfeito do homem grosso, cru,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

violento e cascudo. Durante o período em que e da metalinguagem dos narradores, ela define
escrevia o romance, o escritor viveu um a si mesma; por outro contribui para a
período difícil, estava doente e desempregado, definição da totalidade social, -que se projeta
talvez essas dificuldades tenham contribuído nas formas de representação e da qual é parte
para traçar um perfil com tanta dureza e ativa (ABDALA Jr., 1981, p.398)
brutalidade. Tudo muito bem compacto como Para Graciliano a escrita foge de qualquer
era o estilo de Graciliano. Essa ligação pode ser modelo estereotipado. Em suas cartas diz que
percebida nas palavras do próprio autor ao “Agora está sendo traduzido para brasileiro,
mencionar sobre seus dias difíceis: um brasileiro encrencado, muito diferente do
A verdade é que meus negócios andavam que aparece nos livros da gente da cidade, um
encrencadíssimos. É possível que esse sujeito brasileiro matuto, com uma quantidade
reflita alguma tendência que no autor existisse enorme de expressões inéditas, belezas que eu
para matar alguém, ato que na realidade não mesmo nem suspeitava que existissem.”
poderia praticar um cidadão criado na ordem, (RAMOS, 1992, p.135). Graciliano buscou
acostumado a ver o pai, homem sisudo e meio- trazer uma linguagem genuína que traduzisse
termo, pagar o imposto regularmente.[...] Até de forma mais autêntica possível a linguagem
o capítulo XVIII tudo correu sem transtorno. nordestina - e como laboratório usou
Um dia de fevereiro, ao entrar em casa, senti expressões usadas pelo velho Sebastião (seu
arrepios. À noite, com febre, fiz o capítulo XIX , pai), Chico (comerciante e chefe político em
uma confusão que mais tarde, quando me Palmeira dos Índios), Otávio (fazendeiro e
restabeleci, conservei. A doença prendeu-me à político) e José Leite (fazendeiro), no qual por
cama uns três ou quatro meses. Viagem a meio da enunciação do sujeito, não estaria
Maceió, exames, diagnósticos equívocos, junta apenas a linguagem, mas todos os valores e os
médica, entrada no hospital, operação, estereótipos onde predomina a ideologia
quarenta e tantos dias com tubo de borracha a dominante.
atravessar-me a barriga, delírios úteis na Acabei agora a tarefa diária do São
fabricação de um romance e de alguns contos, Bernardo. Os trabalhadores do eito descansam
convalescência morosa (RAMOS, 1979, p.77). às seis horas. Eu estou aqui desde oito da
Graciliano tinha um nível muito preciso e manhã, e já é meia-noite. Como amanhã temos
intencional da linguagem de sua obra, era uma correio, fico aqui à mesa alguns minutos mais,
forma de pensar a realidade e isso tornou-se conversando com você. Amanhã não terei
uma marca da organização da sua escrita em tempo para nada, porque essa gente do São
sua literatura. Conseguimos observar tal Bernardo exige todas as horas que Deus dá.
característica a partir do que expõe Abdala Jr. Depois de tudo pronto, acontecerá o que
(1981), no trecho que segue: aconteceu ao Caetés. Haverá no mundo um
Com o procedimento, a escrita de Graciliano sujeito mais besta do que eu? Em todo o caso
Ramos procura transformar-se em um fato antes esta ocupação de condenado que os
social ativo pelo desempenho de uma dupla fuxicos da política de Palmeira. Estou trancado.
função histórica: por um lado, através da práxis

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Isto para você deve ser agradável. (RAMOS, alguns fantasmas que me perseguiam?”
1992, p.136) (RAMOS, 1949, p.2).
A linguagem de Graciliano é feita para um Ló: No último capítulo do S. Bernardo o
leitor crítico, pois considera as condições nosso amigo Paulo Honório escreve uma carta
socioculturais brasileiras. Para um leitor que a certo sujeito de Minas, sobre um negócio
dialoga e compreende a interação do sujeito confuso de porcos e gado zebu, se não estou
com o seu próprio meio. De acordo com a obra enganado. Ou só de porcos: parece que no livro
podemos perceber que Paulo Honório admite não se fala em gado zebu. Só vendo. Pois eu
ser um homem egoísta e brutal, que quando agora acabo de escrever duas cartas a dois
chega a lembrar de Madalena chega a se ferir sujeitos de Minas, sobre o mencionado Paulo
nos lábios e nas mãos, podemos identificar em Honório. Não tratei de porcos - só literatura
suas características descritas “Devo ter um (RAMOS, 1992, p.146).
coração miúdo, lacunas no cérebro, nervos O escritor aborda na obra questões sobre
diferentes dos nervos dos outros homens. E um consciências de classe e trabalho escravo,
nariz enorme, uma boca enorme, dedos colocando em sua obra um pouco do que o
enormes.” (RAMOS, 2012, p.144). Tais cercava, pois tudo o que se encontrava em seu
características são justificadas em entorno servia de inspiração. Em uma das
consequência de sua profissão. Como em São cartas ele diz ser um “literato horrível”, e que
Bernardo tudo é seco, brutal e duro, a obra é não sabe ser outra coisa e atribui sua inclinação
capaz de traduzir com precisão toda sondagem para tal o fato dos pais terem o feito ler José de
psicológica por meio dos elementos que Alencar quando mais jovem. Com isso,
compõem a narrativa. podemos perceber que o autor tinha a
O narrador é tomado por um desejo literatura impregnada desde cedo.
dominador que é alimentado pelo ciúme Para Graciliano, existiam em Maceió apenas
desenfreado e que traz consigo um desejo 4 tipos de pessoas: os políticos, os fazendeiros,
incontrolável “Aperto as mãos de tal forma que os que plantam algodão e os que fabricam
me firo com as unhas, e quando caio em mim açúcar, sendo ele diferente dos demais. O
estou mordendo os beiços a ponto de tirar escritor se encontrava mal em outras
sangue.” (RAMOS, 2012, p.143). profissões, mas nunca desistiu de escrever “hei
O processo de construção de São Bernardo de fazer sempre romances” (RAMOS, 1992,
durou oito anos; somente em 1932, Paulo p.147), nem evitou polêmicas entre outros
Honório ganhou forma, o perfil estava escritores.
devidamente traçado, é possível visualizá-lo São Bernardo provocaria uma polêmica
sentado no alpendre da São Bernardo, o entre Jorge Amado e Augusto Frederico
alagoano rústico, amigo de pessoas influentes, Schmidt, que havia escrito uma resenha no
tais como “funcionários da polícia e fidalgos Diário de Notícias com senões ao livro. Jorge
estrangeiros” (RAMOS, 1949, p.2). O escritor sairia em defesa de Graciliano no Boletim de
chega até mesmo a refletir o que teria induzido Ariel, atribuindo a má vontade de Schmidt a
a escrever tal romance, “Teria querido matar “motivos de política literária”. Que eram

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

basicamente três, segundo o escritor baiano: em relação à obra São Bernardo se dão tanto
Schmidt se incompatibilizara com Graciliano ao esmero em sua construção, quanto à
pelos problemas surgidos com Caetés; consciência que Graciliano tinha da grandeza
procurara atingir a concorrência de outra da obra, tanto que podemos reconhecer como
editora; e criticara um livro que não havia lido, São Bernardo é pesquisada bem como também
“como velho costume seu”. Schmidt evitaria a é referência entre as maiores obras da época.
tréplica (MORAES, 1993, p.93).
Com base no que foi apresentado, podemos
perceber que em suas cartas, Graciliano
construiu com exatidão os personagens de São
Bernardo e detalhou as minúcias da fazenda
São Bernardo.
Meticuloso numas coisas, esquemático
noutras; apurado no estilo, sumário na
psicologia - manifesta certa frieza de quem não
empenhou realmente as forças. A despeito da
naturalidade habilmente composta, não
evitamos o sentimento de presenciar uma
laboriosa ginástica intelectual em que o autor
se exercita na descrição, narração, diálogo,
notação de atos e costumes; daí a sua
importância como subsídio para compreender
a evolução da obra de Graciliano Ramos a partir
dessas receitas artesanais (CANDIDO, 2006,
p.19).
Vimos o quanto o autor apreciava Literatura
e esperava a mesma apreciação das pessoas,
Graciliano tinha uma escrita bastante apurada
e se dedicava muito a sua literatura. Como
podemos ver na construção da linguagem de
Paulo Honório e no seu perfil psicológico, os
traços de inverossimilhança em seu relato, na
sua alienação para com Madalena os detalhes
tão apurados que despertam um leitor atento
e perspicaz. Com tamanho detalhes podemos
perceber movimentos que favoreciam o
personagem e que seu relato trouxe
justificativas para um ato tão brutal. Logo,
compreendemos que as expectativas do autor

330
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo pesquisar a Literatura inerente nas cartas do escritor
Graciliano Ramos e como se deu a construção de, São Bernardo, de acordo com os registros no
livro Cartas, que apresenta as correspondências pessoais do
escritor à sua esposa Heloísa Medeiros e alguns de seus familiares.
O amor pela Literatura que acompanhou o escritor Graciliano Ramos foi um traço muito
marcante desde cedo. A apreciação pelos sonetos, até mesmo dos versos franceses, ainda que
não tivesse sua apreciação, seu estudo de gramática e o trabalho enfadonho com troca de
palavras no Jornal da Manhã e no Século, aperfeiçoaram e contribuíram positivamente para a sua
trajetória como escritor.
Seu despertar pela Literatura era visceral, como podemos perceber na carta enviada a sua
irmã Marili sofre seu conto Mariana:
Arte é sangue, é carne. Além disso não há nada. As nossas personagens são pedaços de
nós mesmos, só podemos expor o que somos. E você não é Mariana, não é da classe dela.
Fique na sua classe, apresente-se como é, nua, sem ocultar nada. Arte é isso. A técnica é
necessária, é claro. Mas se lhe faltar técnica, seja ao menos sincera. Diga o que é, mostre
o que é. Você tem experiência e está na idade de começar. A literatura é uma horrível
profissão, em que só podemos principiar tarde; indispensável muita observação.
Precocidade em literatura é impossível: isto não é música, não temos gênios de dez anos
(RAMOS, 1992, p. 213).
No trecho acima podemos perceber como pensava o escritor e como se fez na sua
Literatura, a partir da sua verdade a respeito das coisas que o cercavam, pois, Literatura sendo
sangue e carne, é também vida e para escrevê-la é necessário estudo profundo, partindo sempre
das verdades de cada um, trazendo à tona sua particularidade.
Por meio das cartas podemos conhecer o outro lado do escritor, suas dificuldades e todas
as adversidades que viveu em meio à suas obras. Entretanto, ao mesmo tempo, percebemos seu
compromisso sério com as produções literárias, pois mesmo com predileção à prosa, Graciliano
se dedicava também a outros gêneros os quais exigiam muito mais trabalho. Suas leituras eram
constantes e o escritor estava sempre produzindo e incentivando também aqueles que o
cercavam, a produzir.
Como podemos inferir a construção de São Bernardo por meio do livro Cartas,
possivelmente foram inspirações em experiências vivenciadas, trazendo tudo com muita verdade
e exatidão. Sua especialidade era o drama psicológico vivido pelos seus personagens, esses eram
redondos e cheios de subjetividade. Graciliano emerge as minúcias, as particularidades e, como
pano de fundo, dramas sociais, diferenças, as insatisfações da vida, dentre outros.
Um fato singular no gênio alagoano é que talvez seja o maior “homem de letras” nascido
no sertão nordestino, pois a cultura sertaneja permeia a maior parte de sua obra, com seus
dramas, valores e tragédias.
Os resultados apresentados foram satisfatórios, pois nos fizeram compreender os
processos que se deram na construção dos personagens sob as temáticas e pressões envolvidas
nas narrativas. A ótica das obras por meio das cartas nos mostram um escritor meticuloso e
inclinado a mostrar toda a verdade de maneira crua, não para embater mas para se fazer ecoar.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ABDALA Jr, B. A escrita neo-realista: análise sócio estilística; análise sócio estilística dos
romances de Carlos de Oliveira e Graciliano Ramos. São Paulo: Ática, 1981.

BOSI, A. História concisa da Literatura Brasileira. 52. ed. São Paulo: Cultrix, 2017.

BOSI, A. (org.) Graciliano Ramos. [Coleção Escritores Brasileiros – Antologia e estudos]. São
Paulo: Ática, 1987.

CANDIDO, A. Ficção e confissão: ensaios sobre Graciliano Ramos. Rio de Janeiro: Ouro
sobre o azul, 2006.

FACIOLI, Valentim. Um homem bruto da terra. In: GARBUGLIO, José C.; BOSI, Alfredo &
FACIOLI, Valentim. Graciliano Ramos. São Paulo: Ática, 1987.

LUKÁCS, G. A teoria do romance: um ensaio histórico-filosófico sobre as formas da grande


épica. Trad. José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Duas cidades: 34, 2000.

MONTEIRO, A.C. A confissão de Graciliano. Diário de Notícias, Rio de Janeiro: Suplemento


Literário, 1959.

MORAES, D. de. O velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos. 2. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1993.

RAMOS, G. Cartas. 7. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992.

RAMOS, G. São Bernardo. 4. ed. Rio de Janeiro: BestBolso, 2012.

RAMOS, M. Graciliano Ramos. Maceió: Indústria Gráfica Alagoana, 1979.

SILVA, A. G. da & GOMES, V. S. Os subgêneros da carta pessoal em correspondências


pernambucanas da primeira metade do século XX. In: ATAÍDE, Cleber. et al. Gelne 40 anos.
São Paulo: Blucher, 2017.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MATEMÁTICA FINANCEIRA NO CONTEXTO


ESCOLAR
Anna Caroline Machado Guedes 1
Senicleide Gonçalves de Lima Campos2

RESUMO: Esta pesquisa refere-se a relevância do ensino da matemática financeira como


metodologia ativa no sistema educacional da rede pública de ensino, uma vez que a mesma está
inserida em nosso dia a dia e se usada como metodologia ativa, auxilia o indivíduo a conhecer
como funciona sua moeda e ajuda a reduzir custos e potencializar lucros. O ensino da
Matemática Financeira em sala de aula, desperta no aluno um conhecimento por meio da
interação e análise crítica das operações financeiras de que faz uso diariamente e o emancipa
dentro de um sistema onde a vantagem e o lucro estão constantemente presentes nas tomadas
de decisões. O professor possibilita um ensino efetivo e eficaz, e torna o aluno um sujeito
participativo e ativo no seu processo de construção do conhecimento e de cidadania. Ao analisar
e resolver situações-problema que envolvam porcentagens, taxa de juros, finanças pessoais e
investimentos, que são norteadores do surgimento da Matemática Financeira, o indivíduo
converge por meio da lógica, para sua independência financeira. Entendemos que este estudo é
importante do ponto de vista de sua utilização prática e da formação matemática e cidadã. O
ideal é que, a curto prazo, elas tenham impacto e conscientizem, não só alunos, como também
seus pais e consequentemente, a comunidade.

Palavras-Chave: Educação; Matemática financeira; Investimentos; Finanças.

1 Licenciada em Letras; Licenciada em Pedagogia; Pós-graduada em Gestão Escolar e Docência no Ensino


Superior.
2 Licenciada em Matemática; Bacharel em Direito; Licenciada em Pedagogia; Especialização em Docência do

Ensino Superior; Especialista em Administração da Educação; Especialista em Metodologia do Ensino da


Matemática.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

FINANCIAL MATHEMATICS IN THE SCHOOL CONTEXT


ABSTRACT: This research refers to the relevance of teaching financial mathematics as an active
methodology in the educational system of the public school system, since it is inserted in our
daily lives and if used as an active methodology, it helps the individual to know how it works. your
currency and helps reduce costs and maximize profits. The teaching of Financial Mathematics in
the classroom, awakens in the student a knowledge through the interaction and critical analysis
of the financial operations that he makes daily use and emancipates him within a system where
advantage and profit are constantly present in decision making. The teacher enables effective
and efficient teaching, and makes the student a participatory and active subject in the process of
building knowledge and citizenship. When analyzing and solving problem situations that involve
percentages, interest rates, personal finances and investments, which are guiding the emergence
of Financial Mathematics, the individual converges through logic, towards his financial
independence. We understand that this study is important from the point of view of its practical
use and of mathematical and citizen training. The ideal is that, in the short term, they have an
impact and raise awareness, not only students, but also their parents and, consequently, the
community.

Keywords: Education; Financial math; investments; Finance.

334
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO possibilitar uma maior interação entre os


alunos durante as aulas. A matemática
Acredita-se que a construção do financeira em sala de aula representa também,
conhecimento é feita pelo próprio aluno e o uma possibilidade de reduzir as atividades em
professor, por sua vez, tem o papel de folhas que muitas vezes são enfadonhas e
facilitador desse processo. O ensino da repetitivas.
matemática financeira é uma alternativa para Considerando o exposto anteriormente, o
os professores que, ao refletirem sobre sua objetivo desta pesquisa é fornecer subsídios
prática, se deparam com a necessidade de aos professores para planejar suas aulas de
contextualizar as metodologias utilizadas em modo a possibilitar aos alunos uma motivação
suas aulas com a realidade cotidiana do para aprendizagem por meio de didáticas
alunado. ativas e motivadoras, por meio de interações
Este trabalho consiste em abordar o ensino em sala de aula.
da matemática financeira no processo de São constantes os relatos de professores
ensino e aprendizagem, levando em conta que que se dizem preocupados com o desempenho
esse conhecimento propicia condições de dos alunos na disciplina de Matemática. Muitos
despertar o interesse dos alunos para um atribuem as dificuldades dos alunos à
assunto que diz respeito a todos nós. Mostrará indisciplina, à desmotivação e ao desinteresse
também que, propor práticas e intervenções dos pais nos assuntos escolares. Em
novas e diferenciadas, considerando a contrapartida, os governos, muitas vezes,
organização do trabalho e as necessidades dos investem na especialização dos professores
alunos, essa é uma ação prevista nas para que estes melhorem seu desempenho e,
metodologias ativas, ou seja, todos os alunos consequentemente, ministram aulas mais
devem participar de maneira crítica no seu eficientes possibilitando, assim, uma melhor
processo de aprendizagem, por meio de uma aprendizagem para os alunos.
abordagem prática do ensino da Matemática. Diante destes fatos, se faz necessária uma
A matemática financeira deve ser busca constante, por parte dos educadores, de
incorporada à sala de aula por ser parte de uma metodologias que propiciem o
metodologia que está inserida no cotidiano dos desenvolvimento do aluno na Matemática de
alunos e ao alcance dos professores, a qual não maneira contextualizada à realidade e
necessita de grandes investimentos. Os prazerosa, possibilitando uma aprendizagem
professores podem se utilizar da construção de efetiva e significativa.
gráficos, podendo introduzir os conceitos de Considerando essa necessidade, o presente
porcentagem e desconto assim que o aluno já estudo se justifica pela necessidade de se
tenha conhecimento das frações e números incorporar na rotina dos alunos, atividades
racionais na forma decimal. com material concreto e pedagógico, o que
Possibilita desenvolver habilidades na vem ao encontro dos interesses dos
Matemática de maneira a construir uma professores de melhorar a aprendizagem e de
aprendizagem efetiva e eficiente, além de possibilitar um envolvimento maior dos alunos

335
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

nas aulas e, consequentemente, reduzir os de decisões mais coerentes com a realidade e


problemas de indisciplina na sala de aula, o orçamento disponível. Nos contextos
tendo em vista que, muitas vezes, o financeiros são muito comuns as expressões:
desinteresse que pode levar à falta de lucro, desconto, prejuízo, rendimento, juros,
concentração dos alunos não está ligado ao entre outras.
conteúdo ensinado, mas sim à forma de A matemática financeira está presente
abordagem. desde uma simples compra na farmácia até em
Ao pagar uma dívida ou impostos ou ao investimentos nas bolsas. O objetivo de
adquirir um bem, o cidadão tem diversas educar-se financeiramente vai de encontro
opções de pagamento, mas ainda apresenta com o desejo de melhor qualidade de vida.
dúvidas ao decidir o que é melhor: comprar à Quando uma conta de água vem cara,
vista ou a prazo. Para analisar criticamente o tomamos a decisão de verificar se tem algum
que influencia sua tomada de decisão, a pessoa vazamento na casa ou de rever os gastos e
precisa ter conhecimento de conceitos como: economizar; quando queremos contratar um
taxa de juros, prazo, carência e outros tantos. plano de internet, analisamos o preço e os
Pensando dessa forma é necessário introduzir benefícios oferecidos por diferentes serviços
e trabalhar conteúdos sobre matemática antes de realizarmos a compra. Desse modo, a
financeira no ensino fundamental e médio matemática financeira está em grande parte de
(RIGONATO, 2022, s.p). nossas vidas (RODRIGUES e OLIVEIRA,
2022,s.p).
O SURGIMENTO DA
MATEMÁTICA FINANCEIRA E POR QUE ENSINAR
SUA RELAÇÃO COM O MATEMÁTICA FINANCEIRA NAS
COTIDIANO ESCOLAS?
É incerto o surgimento da matemática Ao ensinar Educação Financeira nas escolas,
financeira, porém seu desenvolvimento é preciso entender a importância e o efeito
desse tema para as crianças, jovens e futuros
acompanha o surgimento e desenvolvimento
das civilizações. A partir das primeiras relações adultos. Educação financeira é muito mais do
comerciais até a atualidade, o domínio da que matemática. Na verdade, é necessário
matemática financeira tem sido de criar ou ressignificar a relação com o dinheiro,
fundamental importância para estabelecermos além de entender como as temáticas do
nossas relações financeiras, sendo uma consumo consciente, história do sistema
ferramenta para escolhas nesse sentido. monetário brasileiro e outros assuntos
importantes se relacionam com o dia a dia das
É necessário estar o tempo todo escolhendo
pessoas.
entre um ou outro serviço, levando sempre em
Ensinar essa relação com o dinheiro, desde
consideração a relação custo-benefício. Nesse
cenário, dessa realidade, a matemática tenra idade se faz tão importante devido a
financeira é uma grande chave para a escolha facilidade de assimilação e aprendizagem que é

336
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

constatado nessa faixa etária. Dessa forma, a O mercado de trabalho busca, atualmente,
infância é o momento ideal para começar a profissionais capacitados que possuam
desenvolver pessoas responsáveis e habilidades para um bom desenvolvimento de
conscientes com o presente e o futuro quando seu negócio. A parte financeira é, de fato, a
o assunto é finanças. base de todo o processo e, quando o
Porém será este o único motivo para profissional tem uma visão de resolução de
aprender este tema nas escolas? Ou há outras problemas por meios de dados, aplica ele tem
questões envolvidas nessa temática? Quando lugar de destaque. Já quando o profissional não
se fala em educação financeira, talvez algumas possui essa visão o bom desenvolvimento do
pessoas possam pensar que apenas conceitos empreendimento pode ser interrompido,
básicos de matemática são suficientes para como comentam Rossetti Junior e Schimiguel
ensinar este tema. Nessa direção percebemos (2011, p. 01):
também a relevância de trabalhar a educação Conhecer as operações com o dinheiro tem
financeira como um tema transdisciplinar, que sido um obstáculo enfrentado pelos jovens ao
necessita de outros componentes curriculares ingressar no mercado de trabalho. Essas
para abordar os mais diversos conceitos, sejam dificuldades educacionais criam barreiras para
eles teóricos ou práticos. a plena inserção da juventude no mundo do
De acordo com (OCDE, 2005): trabalho, diante das exigências de empresas
[…] o processo pelo qual [...].
consumidores/investidores financeiros Assim, o professor deve ser um facilitador no
aprimoram sua compreensão sobre produtos, processo ensino aprendizagem, despertando
conceitos e riscos financeiros e, por meio de no aluno a necessidade do conhecimento,
informação, instrução e/ou aconselhamento desenvolvendo atividades que levem a
objetivo, desenvolvem as habilidades e a dominar o conhecimento de matemática
confiança para se tornarem mais conscientes financeira, ao mesmo tempo em que os
de riscos e oportunidades financeiras, a fazer vinculem ao seu cotidiano e às profissões,
escolhas informadas, a saber onde buscar fazendo-o consciente dos efeitos do sistema
ajuda, e a tomar outras medidas efetivas para financeiro no seu dia a dia. Desta maneira, é
melhorar seu bem-estar financeiro. essencial que as práticas pedagógicas e os
Os conhecimentos relativos à Matemática conteúdos didáticos estejam em consonância
Financeira são essenciais para o cotidiano da com as novas exigências da atualidade e
maioria das pessoas. Diariamente, estas mercado de trabalho.
pessoas necessitam decidir entre comprar a De acordo com as Diretrizes Curriculares de
prazo ou à vista, dentre diversas possibilidades Matemática para a Educação Básica (2008, p.
de financiamento e, muitas ainda necessitam 61):
decidir qual a melhor forma de renegociar É importante que o aluno do Ensino Médio
dívidas. Estas situações compõem um contexto compreenda a matemática financeira aplicada
vivenciado pela maioria das pessoas aos diversos ramos da atividade humana e sua
influência nas decisões de ordem pessoal e

337
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

social. Tal importância relaciona-se ao trato repertório para práticas que possam compor
com dívidas, com crediários à interpretação de eletivas e projetos, metodologias que
desconto, à compreensão dos reajustes aproximem o aluno da vivência do seu dia a dia.
salariais, à escolha de aplicações financeiras, No ensino da matemática financeira, a
entre outras. metodologia tradicional com aulas expositivas
Segundo Libâneo (1994), o processo ensino centradas no professor, ainda é muito
aprendizagem se dá pela troca de saberes. Por frequente. No entanto, estratégias que
sua vez, o bom professor respeita o motivem o aluno a uma participação ativa
conhecimento prévio de seus alunos, suas promovem a aprendizagem significativa, além
experiências de vida, sua maturidade e utiliza de desenvolver o senso crítico
essa relação de socialização para construir o Finanças Pessoais
conhecimento. ● Calcular recibos e despesas;
Libâneo (1994), considera o processo ensino ● Avaliar a relação pessoal com o dinheiro;
aprendizagem como uma troca de ● Definir prioridades;
conhecimento entre aluno e professor, onde o ● Planejar para alcançar uma meta;
professor não é o dono do saber e o aluno não ● Elaborar um planejamento financeiro a
precisa apenas aprender, mas onde os saberes partir dos tópicos supramencionados.
do professor e do aluno se completam para a
construção da aprendizagem. O professor não Matemática Financeira
pode “caminhar” à frente de seus alunos, ● Realizar operações matemáticas como
indicando caminhos e resultados prontos, mas frações e porcentagens;
deve oferecer a eles, atividades interessantes, ● Estudar funções e expoentes e suas
partindo do real e de preferência do relações com educação financeira;
manipulável e dos conhecimentos que eles já ● Realizar cálculos de taxas e tributos,
dominam, facilitando a descoberta, comparações de rentabilidade de diferentes
favorecendo a própria construção do saber. aplicações financeiras e entender o regime de
capitalização composta (juros compostos);
APLICANDO METODOLOGIAS ● Objetivo: compreender a relação
harmônica entre dinheiro e consumo.
ATIVAS – ABORDAGENS DA
MATEMÁTICA FINANCEIRA Os resultados foram muito satisfatórios.
Acreditamos que a Educação Financeira se Aspectos comportamentais, sociais e
efetiva quando o estudante tem oportunidades financeiros estiveram presentes nos discursos
de refletir de forma crítica sobre a realidade. O dos estudantes, mostrando como acreditavam
professor deve contribuir de forma a trazer que tais fatores influenciaram ou poderiam
abordagens investigativas, convergindo para influenciar na tomada de decisão no interior da
uma prática na qual o aluno tem papel ativo na atividade, ou seja, no conjunto de suas ações.
produção de conhecimento, sendo instigado a Os sujeitos da pesquisa produziram
fazer questionamentos. Uma sugestão de

338
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conhecimentos e significados para analisar


uma situação financeira.
As noções de valor do dinheiro e fator de
atualização foram mobilizadas pelos
estudantes para constituírem como objetos o
valor presente de cada prestação para
determinar se o valor informado estava de
acordo com o desconto necessário para a taxa
de juros aplicada. Questões como
planejamento financeiro, endividamento,
consumo consciente, guardar dinheiro para
situações emergenciais emergiram dos
discursos dos alunos nessa situação,
apontando mais uma vez para uma conexão
entre aspectos matemáticos e não
matemáticos no processo de tomada de
decisão em situações financeiras.

339
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que a aprendizagem de matemática financeira tem como objetivo formar
cidadãos que saibam analisar criticamente as operações financeiras de que faz uso diariamente,
tendo o poder de optar e decidir pelo que lhe pareça melhor diante das tomadas de decisões,
interpretando e refletindo sobre as opções que o mercado oferece. É de extrema importância
tentar contextualizar a matemática com assuntos que fazem parte da experiência dos alunos ou
assuntos que possam estar relacionados com o nosso dia a dia e que de alguma maneira possam
tornar-se conhecimento ou até mesmo despertar a curiosidade. Por fim, com base nas
observações realizadas nas reflexões dos professores, e por meio de estudo feito, a matemática
financeira deve ser trabalhada de forma contextualizada, procurando trazer a vivência do aluno
para a sala de aula.

340
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

LIBANEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Recomendação


sobre os Princípios e as Boas Práticas de Educação e Conscientização Financeira.
Julho,2005. Disponível em: https://www.oecd.org/daf/fin/financial-education/pdf.Data de Acesso:
20/07/2022.

RIGONATO, Marcelo. O ensino da matemática financeira para a formação de um cidadão


consciente. Brasil Escola, 2022. Disponível em:
https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/o-ensino-matematica-financeira-
para-formacao-um-cidadao-.htm Data de Acesso: 20/07/2022.

RODRIGUES E OLIVEIRA, Raul. Mundo e Educação. Acesso em 22.03. Disponível


em: https://mundoeducacao.uol.com.br/matematica/matematica-financeira.htm Data de Acesso:
20/07/2022.

ROSETTI JUNIOR, Hélio; SCHIMIGUEL, Juliano. Educação Matemática Financeira: uma


análise comparativa dos modelos matemáticos em bibliografia adorada no ensino médio.
II Encontro Goiano de Educação Matemática. Anais do II Encontro Goiano de Educação
Matemática, Goiás, 2009.

341
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MUSICOTERAPIA NA TERCEIRA IDADE:


RESULTADOS DE UMA VIDA MAIS SAUDÁVEL
Luiz Monteiro de Morais1

RESUMO: O presente artigo na área da neurociência que buscou estudar os efeitos da


musicoterapia em pacientes da terceira idade na faixa-etária de 60 a 70 anos, para as literaturas
a musicoterapia já é utilizada desde a antiguidade nas intervenções patológicas. Visando
apresentar a qualidade de vida que a prática proporciona aos idosos que aceitam ser
acompanhado por um musicoterapeuta possibilitando melhoras na qualidade de vida. Conhecida
como uma ciência jovem no Brasil, para tanto ao se unir com os principais elementos da música,
tais como: harmonia, melodia, ritmo, os resultados são os melhores possíveis fazendo com que
os paciente/clientes despertem novos olhares e maneiras de enxergar o mundo. Esperamos que
está temática pesquisada venha a somar cada vez mais com o meio acadêmico incentivando os a
novas pesquisas e obtendo bons resultados no campo da musicoterapia podendo contribuir com
as gerações vindouras da terceira idade.

Palavras-Chave: Idoso; Qualidade; Vida.

1
Professor de Arte e Música - Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esportes (SEE).
Graduação: Música.
Psicólogo - Assistência Social e Direitos Humanos – SASDH/Rio Branco-AC.
Graduação: Psicologia

342
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MUSIC THERAPY IN THE ELDERLY: RESULTS OF A HEALTHIER LIFE


ABSTRACT: The present article in the area of neuroscience that sought to study the effects of
music therapy in elderly male patients aged between 60 and 70 years, for the literature, music
therapy has been used since antiquity in pathological interventions. Aiming to present the quality
of life that the practice provides to the elderly who accept to be accompanied by a music
therapist, enabling improvements in the quality of life. Known as a young science in Brazil, for
this reason, by joining with the main elements of music, such as: harmony, melody, rhythm, the
results are the best possible, making patients/clients awaken new perspectives and ways of
seeing the world. We hope that this researched theme will add more and more to the academic
environment, encouraging them to further research and obtaining good results in the field of
music therapy, being able to contribute to future generations of the elderly.

Keywords: Elderly; Quality; Life

343
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Para melhor compreensão, o trabalho está


organizado em oito (8) momentos Interligados
O presente artigo investiga as práticas da entre si. São eles:
musicoterapia como intervenção que No primeiro, a introdução, no segundo, o
proporcionam a qualidade de vida e bem-esta desenvolvimento, no terceiro, uma breve
das pessoas idosas que procuram ser atendida história da musicoterapia, no quarto, música,
em consultórios de um profissional graduado musicoterapia e idoso, no quinto, a
em musicoterapia tendo como objetivos musicoterapia na qualidade de vida, no sexto,
melhora na qualidade de vida e saúde, já que o apoio familiar no processo de
essa população vem obtendo crescimento acompanhamento do paciente, no sétimo, a
populacional significativamente em nosso país. conclusão e oitavo, as referências.
Seu objeto de estudo teve como alvo a
geração da terceira idade na faixa–etária de 60
DESENVOLVIMENTO
a 70 anos na cidade de Rio Branco, no Ac, onde
Envelhecer, para muitos, marca o período de
constatou que música é capaz de possibilitar o
diminuição da capacidade funcional, de realizar
bem-esta e qualidade de vida dessas pessoas
atividades diária, ou seja, fazer compras, tomar
que após se submeterem a realizações de
remédios, utilizar meios de transporte públicos
práticas de sessões de musicoterapias.
e realizações de trabalhos domésticos, ao logo
A musicoterapia pode contribuir para uma
do tempo, nota-se que a não realização dessas
melhor qualidade de vida do idoso, pois esta, é
atividades vão sendo gradativamente
capaz de elevar a autoestima, independência,
comprometidas até gerar dependência
melhorar relações interpessoais,
completa.
restabelecimento da melhoria, entre outros
Estudos nacionais registarão em 2018, que
benefícios (NERI, 2001).
39,2% dos idosos com idade acima de 75 anos
O tema escolhido em questão é de suma
apresentam declínio na capacidade de realizar
importância para a geração da terceira idade e
certas tarefas domésticas, o que pode ser
também faz um paralelo da grande
reflexo da alta taxa de prevalência de doenças
importância para com a sociedade tendo como
crônicas entre os idosos. 69,5% dos idosos têm
abordagem qualitativa em seus objetivos
diagnóstico de pelo menos uma doença crônica
possuindo caráter exploratório e
e 77% dos brasileiros relataram que os maiores
intervencionista.
temores relacionados à velhice eram os
A investigação intervencionista é aquela
problemas de saúde, a preocupação financeira
capaz de, ao mesmo tempo em que realiza um
e a degradação da aparência física, do nível de
estudo, intervir na realidade estudada
responsabilidade e da energia.
buscando não apenas identificar e explicar a
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
realidade, mas de interferir de forma direta na
Estatística (IBGE), em 2025, o país ocupará o 6o
resolução de problemas (MORESI, 2003).
lugar no mundo em quantidade de idosos, e
estima-se que até 2055, o número de pessoas

344
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com mais de 60 anos superará o de brasileiros níveis, sobretudo no trabalho com pacientes
com idade inferior a 30 anos. com problemas na comunicação e linguagem
Com o grande crescimento populacional, ou verbal (GOLD, VORACEK & WIGRAM, 2004;
seja, levando em conta o número de mulheres KIM, WIGRAM & GOLD, 2009).
que estão grávidas em maternidades e Autores pontuam que a musicoterapia
hospitais do país esse número de pessoas criativa pode auxiliar à regulação emocional e a
crescerá bastante podendo ter previsões estados de maior agitação e, ao mesmo tempo,
estimativas para o ano de 2025, quando o promover a comunicação. (BRUSCIA, 1999;
Brasil será a 6ª população mais idosa do NORDOFF & ROBBINS, 1977; TREVARTHEN,
mundo, estudos do (IBGE, 2010) (DEBERT, 2001)
2004; NERI, 2004), ainda que: Algumas Para (MOSSLER, et al., 2011; TREURNICHT, et
pesquisas abordam a questão do aumento al., 2011), as atividades mais utilizadas em
populacional dos idosos ressaltando que a musicoterapia incluem cantar, tocar
população idosa é a de maior crescimento hoje instrumentos musicais, compor, improvisar
no país. com a voz ou com os instrumentos, ouvir
Já que no tocante da população idosa a música e realizar jogos musicais.
estimativa e de 20 milhões de idosos; isso A partir da música, ele poderá cantar suas
equivale a 10,5% da população, dados bem dores e amores, suas perdas e ganhos,
significativos no quantitativo da sociedade. reconhecendo-se em seu fazer musical. Dessa
Berquó (1996) expõe que ao final do século forma, elabora conteúdos internos, afetivos e
a população idosa chegará a 8.658.000 e que 1 emocionais, num processo contínuo de
em cada 20 brasileiros terá 65anos ou mais, e estruturação e ordenação, mas, ao mesmo
que em 2020 este número crescerá para tempo, de maleabilidade e descobertas
16.224.000. E assim, 1 em cada 13 pessoas (SOUZA, 2002, p. 876).
pertencerá à população idosa (BERQUÓ, 1996, A audição musical pode proporcionar
p.56). momentos de descontração, relaxamento e,
Por muitas vezes se questionam por estarem consequentemente, pode ter efeitos
velhos e que não podem mais servir para a terapêuticos. Todas as atividades que
sociedade, esses idosos tendem ao isolamento envolvem música podem vir a ter efeitos
dos familiares, amigos e as vezes adquirindo terapêuticos, porém apenas a musicoterapia
problemas de saúde, como já citado acima, como ciência e técnica tem objetivos
todavia que a intervenção em musicoterapia terapêuticos explícitos, sendo esta a única área
poderá contribuir nesses processos de do conhecimento que utiliza a música com
empatia, motivação e comunicação, o finalidades terapêuticas. de acordo com
indivíduo perceberá melhoras na definição elaborada em 1996 pela Federação
ressocialização e mudanças habito diário. Mundial de Musicoterapia, que:
Em musicoterapia, a interação musical "Musicoterapia é a utilização da música e/ou
funciona como um veículo de comunicação não de seus elementos (som, ritmo, melodia e
verbal e revela um enorme potencial em vários harmonia), por um musicoterapeuta

345
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

qualificado, com um cliente ou grupo, em um podendo improvisar sozinho, com o terapeuta


processo destinado a facilitar e promover ou com um grupo.
comunicação, relacionamento, aprendizado, O musicoterapeuta guia o paciente para que
mobilização, expressão, organização e outros este possa ter uma estrutura, uma base para se
objetivos terapêuticos relevantes, a fim de auto expressar, estabelecer um canal de
atender às necessidades físicas, mentais, comunicação entre paciente e terapeuta,
sociais e cognitivas. A Musicoterapia busca estimular a criatividade, a liberdade de
desenvolver potenciais e/ou restaurar funções expressão, a capacidade lúdica e as relações
do indivíduo para que ele ou ela alcance uma interpessoais.
melhor organização intra e/ou interpessoal e, A Recriação visa promover a expressão
consequentemente, uma melhor qualidade de espontânea do paciente, não se levando em
vida, através de prevenção, reabilitação ou conta aspectos estéticos, abrindo portas para
tratamento” (WFMT,1996, p. 4) jogos e atividades musicais, dança, expressão
Segundo Bruscia (1997), a musicoterapia é vocal e instrumental.
um processo sistemático de intervenção onde Os objetivos desta técnica consistem em
o terapeuta auxilia o cliente a chegar a níveis desenvolver e promover a identificação e
de saúde por meio das experiências musicais e empatia do paciente com os outros, melhorar
das relações que se estabelecem por meio as habilidades interativas e expressar
delas como forças dinâmicas de conteúdos internos por meio de músicas e/ou
transformação. Atualmente, cada vez mais tem sons. Na técnica da Composição, o
vindo a ser utilizada com êxito em várias musicoterapeuta auxilia o paciente a escrever
instituições pelos seus reconhecidos efeitos letras de músicas, canções, pecas
positivos que promovem o relaxamento ou instrumentais e outros tipos de produção
ação, criando uma atmosfera de alegria, sonora, encarregando-se dos aspectos técnicos
confiança e boa disposição. e procurando se adequar ao paciente. Os
Bruscia (2000), ressalta ainda que: o que objetivos desta técnica são desenvolver
torna as intervenções da Musicoterapia habilidades de planejamento, de organização,
singulares é que elas envolvem tanto a música de solucionar problemas e de autoexpressão.
quanto o terapeuta agindo, ambos, como A audição ou musicoterapia receptiva e uma
parceiros em seu processo. experiência na qual o paciente ouve a música e
Kenneth Bruscia (2000), descreveu as responde a ela de forma silenciosa. Esta técnica
técnicas em musicoterapias e as denominou busca promover a receptividade, o
como métodos e são utilizadas em diversos relaxamento e a evocação de respostas
países. São elas: Improvisação, Recriação, corporais, além de estimular, explorar ideias e
Composição e Audição ou Musicoterapia pensamentos, facilitar a memória, evocar
Receptiva. A improvisação consiste no uso pelo fantasias e experiências afetivas e desenvolver
paciente, de qualquer meio musical habilidades áudio-motoras.
(instrumentos musicais em geral) ou não O ritmo estimula respostas imediatas e
musical (sons) para produzir a sua música, espontâneas, atuando na atenção e na

346
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

coordenação de movimentos. O UMA BREVE HISTÓRIA DA


musicoterapeuta procura criar relações
significativas com o cliente por meio da partilha MUSICOTERAPIA
musical. É no processo desta partilha que se Estudos apontam quer as primeiras noções
identifica o “mundo interior” do cliente de musicoterapia encontradas na história da
expressos por meio dos elementos musicais humanidade é referente ao seu uso enquanto
(tempo, batimento, padrões rítmicos, mecanismo de fortalecimento da mente, ou
dinâmicas, tom e melodia) e no seu seja, poder profilático da música que potência
comportamento não-musical. o restabelecimento do equilíbrio natural do
A musicalização é uma forma peculiar de organismo humano. (cf. RUUD, 1990, p. 16)
comunicação e através do canto o indivíduo Por várias incógnitas referentes a essas
pode elevar sua autoestima, assegurar maior questões para entendermos um pouco da
autoconfiança e socializar-se. Além dos musicoterapia e sua origem, e preferível que
diversos benefícios nas instâncias psíquicas e saibamos e temos conhecimentos prévios da
sociais de indivíduos idosos, o canto música e seus efeitos que podem provocar no
proporciona também pequenas melhoras do corpo humano, É difícil pensar como seria o
ponto de vista biológico. Aprimora a mundo sem a música e seus elementos, ou
capacidade respiratória, o controle da seja, a harmonia, melodia e o ritmo, como já foi
musculatura das cordas vocais e, através do mencionado em outro tópico deste artigo
ritmo, ocasiona uma melhora nos movimentos estudo revelam que a música já estava
corporais (SOUZA, 2002, p. 879). presente no universo desde a antiguidade e em
Souza (2002), afirma que o contato musical todas as civilizações utilizavam-se dela para
é benéfico ao sujeito idoso, uma vez que a vários acontecimentos que foi visível na pré-
música atua diretamente nas áreas cognitivas e história A.C.
límbicas, influenciando a evocação da memória Desde a pré-história a música vem sendo
e o aprimoramento de consciência rítmica, utilizada como forma de se comunicar entre os
além de abordar a emotividade. homens. Ainda hoje essa comunicação é muito
Segundo os autores (ALDRIDGE, et al.,1995; importante, e enquanto expressão humana
ALVIN, 1967; TREVARTHEN, 2001). Em surge associada a ritos religiosos, práticas
musicoterapia, a relação terapêutica procura divinas, festas populares, entre outros (cf.
recriar esta estrutura e sincronização. É na FREGTMAN, 1989, p. 34).
relação que a musicoterapia ocorre e a Segundo Leinig (1977, p. 13), pontua que
mudança acontece, tendo a música como Davi tocava harpa para o Rei Saul se libertar de
mediador. sua depressão e dos ataques de raiva,
comprovando desde então, uma forma de
terapia musical para aliviar as crises
existenciais e de ansiedade.
Na segunda metade do século XX, nos EUA,
músicos passaram a usar recursos musicais

347
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com o intuito de proporcionar uma melhor psicológica dando origem a musicoterapia, em


recuperação dos soldados atingidos pela outras palavras, tratamento por meio da
guerra. música.
Para (WATSON e DRURY, 1987, p. 89), por Corrobora A Comissão de Prática Clínica da
volta dos anos 40 do século passado, a Federação Mundial de Musicoterapia (RUUD,
musicoterapia foi aplicada aos soldados vindos apud, BRUSCIA 2000, p. 286), Musicoterapia é:
da segunda guerra mundial por condição das a utilização da música e/ou dos elementos
distintas maleitas adquiridas em campo de musicais (som, ritmo, melodia e harmonia)
batalha. Em finais dos anos 60, surgem novos pelo musicoterapeuta e pelo cliente ou grupo,
estilos musicais e, com eles, propósitos bem em um processo estruturado para facilitar e
distintos por meio da sua audição e execução. promover a comunicação, o relacionamento, a
“A música New Age baseia-se na ideia de que aprendizagem, a mobilização, a expressão e a
podemos criar música para alterar nosso organização (física, emocional, mental, social e
estado de espírito e expandir nossa cognitiva) para desenvolver potenciais e
consciência. desenvolver ou recuperar funções do indivíduo
Essa experiência teve uma significativa de forma que ele possa alcançar melhor
influência sobre a percepção dos benefícios integração intra e interpessoal e,
que a música pode causar. A partir dos consequentemente, uma melhor qualidade de
resultados observados, ocorreu o avanço de vida.
pesquisas relacionadas sobre a influência da Segundo algumas literaturas a
música na saúde. musicoterapia ainda é uma ciência jovem no
Já então se sabia dos benefícios que a Brasil, porém muito importante para
musicoterapia trazia ao bem-estar do humanidade, todavia que se fizermos uma
indivíduo, de uma forma plena e permanente. pesquisa e perguntássemos para algumas
Percebia-se a saúde como um estado de pessoas se as mesmas conhecessem sobre a
equilíbrio entre corpo e mente e a música, prática da musicoterapia, certamente muitas
desempenhando a música uma fonte de delas iram responder que não conhecem e nem
harmonia na natureza humana (cf. SOUSA, sabe o que seria, talvez a conclusão de resposta
2005, p. 122). seria alguma coisa relacionada com a música
Com a grande evolução do mundo e vendo o pois o nome já traz uma possível indicação,
que a música era capaz de expressar os agora se mudássemos a pergunta e
sentimentos, alegria, bem estar, interação perguntássemos sobre música, muitas pessoas
social e diversos tratamentos de patologias iriam responder que sim, pois a música
entre as pessoas, os estudos foram mais além funciona como uma expressão universal e todo
e obtiveram melhores resultados e foi ser humano já teve algum tipo de experiência
observado o crescimento em vários aspectos, musical de alguma forma, seja ela ouvida,
não só no modo de ouvir, dançar e prazer para cantada, entoada, ou de batuque.
algumas pessoas, possibilitando assim uma Corrobora Costa (1989) que: A
junção da música com possíveis elementos da musicoterapia é uma ciência jovem, que surgiu

348
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

em meados do século XX nos Estados Unidos A MÚSICA, MUSICOTERAPIA E


para o tratamento de neuróticos de guerra.
Paralelamente, começou a ser utilizada na O IDOSO
Argentina devido a uma epidemia de Falar da música é realmente fascinante, e
poliomielite, na qual os sobreviventes ainda sabendo que ela pode nos ajudar em
apresentaram quadros depressivos profundos. diversos problemas emocionais, pode
A partir daí a musicoterapia difundiu-se por fortalecer a interação social e tantos outros
todo o mundo e propagou-se por várias áreas casos que ela pode contribuir na melhora e
de atuação. No Brasil, ela chegou ao final da bem-estar do dia-dia das pessoas, Além de ser
década de 60 notória a elevação da autoestima, alegria,
Para Zanini (2003, p.4), cantar é uma forma esperança e interação social dos idosos.
de comunicação própria de cada pessoa e A música configura-se como a mais social
contribui para a estruturação do ser humano, das manifestações humanas, pois ao se colocar
colabora na construção cultural e desenvolve como um ponto de partida comum às pessoas,
habilidades aprendidas. proporciona a possibilidade de reunir
Cantar envolve atividade corporal e vivência elementos afetivamente semelhantes e com
musical, promove uma profunda percepção do eles construir analogias, colaborando na
corpo e coloca o indivíduo em contato com reorganização afetiva e cognitiva das pessoas
suas emoções. Sabe-se que a música demanda que participam de um mesmo fato sonoro
bastante empenho mental por estimular os (CUNHA, 2007).
dois hemisférios cerebrais, e que sua prática Mas o que tem haver a música e
promove a melhora do raciocínio e da musicoterapia? Acredito que neste tópico não
concentração, ativa a memória, além de terá muita novidade sobre a relação que elas
aproximar o indivíduo do seu universo têm, no decorrer deste trabalho verás não só a
subjetivo (SACKS, 2007,p.67) relação, mas também seus efeitos benéficos ou
Salienta ainda Bois (1994), a prática da voz maléficos que vai depender muito da utilização
cantada e exercícios de técnicas vocais de cada pessoa, no caso as pessoas que usam
direcionados a pessoas idosas demonstram em atendimento com um profissional para
que cantar também é uma alternativa para obter melhoras na qualidade de vida quando
estimular o funcionamento do corpo e da trabalhadas juntas para fins terapêuticos.
mente. Estimula a memória, e quando Observa-se a palavra ‘musicoterapia’,
acionada dentro de um contexto de origina-se duas palavras: músico e terapia.
significados, responde melhor. Sobre terapia, Bruscia (2000), afirma que “sua
Ela necessita de um motivo ou um chamado definição é um esforço de promover a saúde”
que a desperte no presente para que as e, portanto, o tipo específico de ajuda que o
lembranças do passado sejam evocadas e terapeuta profissional oferece ao cliente está
surjam sempre de forma atualizada intimamente e principalmente relacionado à
saúde.

349
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Neste sentido, o trabalho de um profissional O conceito de música varia de cultura para


musicoterapeuta são definidos e delimitados cultura com uma linguagem universal, mas com
por aqueles aspectos da saúde do muitos dialetos.
cliente/paciente que podem ser trabalhados Cada cultura tem sua maneira de tocar, de
por meio da música. cantar, de organizar os sons. Por tanto, a
A utilização da musicoterapia vem ganhando música pode ser uma forma viável de
cada vez mais espaço ao longo do tempo, pelo comunicação entre os seres humanos.
fato de possibilitar conforto, facilitar a
interação, como também diminuir a dor e A MÚSICOTERAPIA NA
ansiedade (BERGOLD, et al, 2006).
Mas agora voltando um pouco e fazendo QUALIDADE E BEM-ESTA NA
reflexões sobre o conceito de música para VIDA DOS IDOSOS
entendermos melhor essa junção, e notório Pontua Sales, et al (2009), a música promove
que dificilmente uma pessoa não sabe ao certo bem-estar para os pacientes e seus cuidadores.
o que é música, estou mencionando sobre o A participação dos pacientes na escolha do
conceito, assunto já falado um pouco em outro repertório resulta em satisfação pessoal.
tópico, mas aqui vamos ver realmente com O idoso tem opiniões formadas e conceitos
mais clareza e embasamento cientifico o termo cristalizados. Ele, muitas vezes, não acredita no
música. poder vital de suas potencialidades e
Para algumas pessoas é a arte de expressar capacidades, que podem ser desenvolvidas
os sentimentos por meio dos tempos, para nesta etapa de sua vida. Por vezes, o idoso
outra e a arte de combinar os sons, então como acredita que sua vida não terá mais
no olhar de várias pessoas e até mesmo transformação. [...] A partir da música, ele
professores de música, então, devido ser de poderá cantar suas dores e amores, suas
fácil acesso e perceptível ao ouvido humano perdas e ganhos, reconhecendo-se em seu
com mais frequência nota-se que não e tão fazer musical.
difícil originar um conceito. Oliveira et al, (2012 p.89), apud, Padilha
Priolli (1989, p. 6), corrobora que: Música é (2008), enfatizam que a influência musical em
a arte dos sons, combinado de acordo com as um paciente idoso é um fator significativo para
variações da altura, proporcionados segundo a proporcionar a este uma melhor qualidade de
sua duração e ordenados sob as leis da vida, pois a música pode melhorar o
estética. desenvolvimento motor e cognitivo, é
Nota-se que, para as pessoas que tem uma responsável por facilitar a expressão de
intimidade maior com a música o sentimentos, é considerada uma forma de
entendimento pode ser mais livre, ou seja, a comunicação que permite maior interação
compreensão pode ser bem mais absorvida na social e também é capaz de estimular o
aprendizagem, claro que depende muito da indivíduo a refletir sobre sua vida.
pessoa e de sua maneira de olhar como um Dessa forma, elabora conteúdo internos,
todo. afetivos e emocionais, num processo contínuo

350
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de estruturação e ordenação, mas, ao mesmo prática só pode ser feita por um


tempo, de maleabilidade e descobertas musicoterapeuta, profissional que utiliza de
(SOUZA, 2002, p. 876). Os idosos convivem com maneira correta, cientifica e com ética na
as limitações de sua saúde, contudo elas não os profissão, por tanto o cliente em tratamento
impossibilitam de exercer seu papel de sujeito merece um olhar especial com ênfase na
socialmente ativo. melhora e possibilidade de visão de futuro que
Segundo Vieira (1996), alguns fatores irá ser construído com as orientações de um
favoráveis como aceitar mudanças, prevenir profissional.
doenças, estabelecer relações sociais e Segundo autores e estudiosos, a
familiares positivas e consistentes, manter um musicoterapia possibilita vários benefícios que
senso de humor elevado, ter autonomia e um estimulam na melhor qualidade de vida diário.
efetivo suporte social contribuem para a Citando alguns deles que são:
promoção do bem-estar geral do idoso e, • Cria e aperfeiçoa canais de comunicação
consequentemente, influenciam diretamente (com o mundo e com o outro);
numa melhor qualidade de vida. • Estimula a coordenação motora;
Souza (2007, p. 139), define qualidade de • Proporciona alegria e bem-estar geral;
vida como sendo “a medida do grau de • Melhora a qualidade de vida;
satisfação das pessoas com os aspectos físicos, • Possibilita a integração social;
emocionais, bem-estar social, estilo de vida, • Estimula o bom humor e aumenta a
moradia e situação econômica”. A autora disposição;
acrescenta que a qualidade de vida “envolve • Diminui os níveis de ansiedade e de
sistemas de valores, expectativas e estresse;
perspectivas pessoais que variam de acordo • Colabora no tratamento de depressão e
com a cultura e o grupo e podem ser definidos síndrome do pânico;
como a sensação de bem-estar”. • Favorece a expressão de sentimentos;
Ainda Souza (2002, p. 872), pontua que a • Melhora a autoestima;
musicoterapia com pessoas idosas estimula • Dentre outros.
auxiliando no resgate da identidade sonora, E notório que com tatos fatores científicos a
tendo como consequência a elevação da música utilizada para fins terapêuticos pode
autoestima e autoconfiança podendo ser ajudar em vario tipos problemas sintomáticos
estimulado em instâncias psíquicas onde e ainda é uma arte e também pode ser usada
muitas vezes a palavra não pode alcançar a na pratica da arterapia em tratamentos
partir do prazer de cantar, tocar, improvisar, psicológicos junto ao um profissional da
criar e recriar musicalmente, o redescobrir das psicologia.
canções que fizeram e fazem parte da sua vida No que concerne à música utilizada para fins
sonoro-musical. terapêuticos, percebe-se a junção ou a
As intervenções em musicoterapias utilização da música como instrumento de
cresceram muito, e a cada dia vez sendo aceita terapia visto que “a própria musicoterapia é
entre os idosos, mas vale lembrar que, essa híbrida, pois se baseia tanto na arte, por meio

351
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

da música, quanto na ciência, com os um processo histórico de vida, mesmo sem


fundamentos terapêuticos da utilização desta” habitar o mesmo espaço físico (PATRÍCIO,
(BERGOLD; ALVIM, 2009, p. 534). 1994).
Diante de todo os estudos sobre a temática Salienta-se que nesse momento a pessoa
nota-se que a música como instrumento de precisa de apoio, carinho e incentivo para
terapia tem um fator importantíssimo na vida frequentar as sessões de atendimentos, tais
dos idosos e baseia-se tanto na arte como na como a locomoção, algum membro da família
ciência, possibilita equilíbrios e motivações as levar o idoso a lugares onde tem apresentações
pessoas que as tem como aliada, então, cante, musicais, concertos ou até mesmo possibilitar
dance, toque um instrumento musical essa compras de alguns instrumentos musicais de
ação lhe fará mais feliz, saudável de corpo e harmonia ou percussão se precisar, não para
mente. essa pessoa idosa (A) se tornar um musico
profissional na arte da música, mas para ajudar
APOIO FAMÍLIAR NO no processo de Inclusão, controle, afeição e
motivação a prosseguir com os atendimentos.
PROCESSO DO Sobre a motivação:
ACOMPANHAMENTO DO Motivação é um estado psicológico no qual
o indivíduo tem disposição para realizar uma
PACIENTE
ação, seja no trabalho, seja em qualquer esfera
A família tem um papel fundamental de
de sua vida. Na raiz latina da palavra, movere,
apoio ao processo da pessoa idosa que está
encontra-se uma de suas características-chave,
sendo acompanhada por um musicoterapeuta.
o movimento, a dinâmica, ou seja, motivação
Corroboram alguns autores que, a família
não é algo implantado no indivíduo de forma
configura-se como um grupo de indivíduos
permanente, mas sim um processo contínuo
vinculados entre si por laços consanguíneos,
em que fatores de diversas naturezas atuam, a
consensuais, jurídicos ou afetivos, que
partir da concretização dos desejos das
constituem complexas redes de parentesco e
pessoas, do cumprimento de suas metas e do
de apoio atualizadas de forma episódica, por
atendimento de suas expectativas
meio de intercâmbios, cooperação e
(FUCCIAMATO, et al., 2007, p. 88)
solidariedade, com limites que variam de
A capacidade da música para modificar,
cultura, região e classe social (SALLES, 2002;
afetar ou induzir estados de humor também
SEGALEN, 1999; TUIRÁN, 2002).
pode fornecer uma forte motivação para
Observa-se que ao longo do tempo esse
discutir comportamentos problemáticos e
conceito tem se modificado. Nas correntes
levar a família a considerar opções mais
modernas realçam se mais os sentimentos,
positivas.
destacam-se os afetos em detrimento dos
A produção musical constitui-se uma
aspectos biológicos (DIAS, 2011).
metáfora do funcionamento familiar: a escolha
A família passa a ser compreendida como
dos instrumentos musicais, como cada pessoa
um sistema interpessoal formado por pessoas
segura e toca os instrumentos, os sons
que interagem por variados motivos, dentro de

352
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

produzidos, fornecem informações sobre os necessidade de inclusão; ou seja, além do


padrões interacionais da família em questão – senso de pertencimento ao grupo, a pessoa se
papéis, alianças, fronteiras, disputas de poder, sente amparada por outras em termos
entre outros. psicológicos (BERGAMINI, 1988, p. 87).
Os instrumentos musicais materializam a Para o autor esses momentos significam
experiência psíquica interior da família muito na vida dessas pessoas, é o momento
possibilitando a todos verem, ouvirem e que acontece a inclusão no grupo ou
compreenderem, com o auxílio do sociedade, o controle é quando a pessoa passa
musicoterapeuta, o que ocorre musicalmente por todo o processo de adaptação no grupo e o
(HIBBEN, 1992). momento da afeição é quando o indivíduo se
Segundo Maximiano (2006), a motivação é sente acolhido por todos e consegue imaginar
Constituída por fatores (ou motivos) que realmente está amparado e foi criado os
internos, como as constituintes psicológicas de laços de confianças.
comportamento específicas de cada pessoa, e
por fatores externos, caso das recompensas e
punições oferecidas pela organização ou
grupo. Para ser motivado dentro de um grupo
social, o indivíduo precisa ser atendido em Três
necessidades interpessoais (SCHUTZ, 1966,
apud BERGAMINI, 1988, p. 84-89).
A Motivação envolve diretamente os
fenômenos emocionais, biológicos e sociais
dos indivíduos, possibilitando em gerenciar e
direcionar mantendo os comportamentos
cumprindo assim seus objetivos traçados e
superando obstáculos e conquistando
cumprimentos das ações podendo variar de
indivíduo para indivíduo.
Inclusão, controle e afeição.
Ao ser incluída, a pessoa passa a estabelecer
e manter um relacionamento estável com
outras pessoas, realizando trocas materiais e
simbólicas, que influem em seu autoconceito e
desenvolvem sua sociabilidade. A necessidade
de controle, por sua vez, consiste em
influenciar o comportamento das outras
pessoas, o que faz o indivíduo sentir-se
importante naquele grupo social. A afeição,
finalmente, é um prolongamento da

353
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas fundamentações teóricas e as experiências práticas estudadas e discutidas,
Conclui-se que este trabalho é de grande relevância para o campo da musicoterapia e a sociedade
da terceira idade, para tanto a música é uma forma importante de promover uma melhor
qualidade de vida quando utilizada na forma de terapia, com o acompanhamento de um
musicoterapeuta com capacidade e competência profissional no desenvolvimento de terapias
possibilizando, potencializando e minimizando os sintomas estressante do dia- a dia, depressão,
ansiedade e outros tipos de doenças afins para com os idosos conduzindo assim para uma vida
mais alegre e sem ausência patológicas.
A música atua diretamente no sistema límbico e de forma agradável melhorando as
relações interpessoais, intrapessoais e nas relações sociais dos idosos, fazendo com que eles se
sintam bem com os outros e consigo mesmo, e ainda a elevação da autoestima podendo pensar
em novas possibilidades de futuro, desafios, e autocuidado em restabelecer seu bem-estar.
Isto pelo fato desta possuir a capacidade de reavivar um potencial anteriormente perdido
durante o processo de envelhecimento, todavia que a música ativa a memória do passado
juntando-se com a do presente e futuro fazendo com que elas invoquem lembranças de vivencias
com seus colegas no tempo de mocidade promovendo a este um envelhecimento com
lembranças e de interação social produzindo assim uma vida com mais entretenimento.
A música revela ainda uma grande capacidade evocativa e associativa e um enorme
potencial como meio de auto expressão podendo funcionar como uma ferramenta para
desenvolver a identidade e a comunicação com o outro.
Corroboram Nordoff & Robbins (1977), as experiências musicais permitem um variado
leque de vivências ativas e integrativas, na sua forma e estrutura, nas relações com o tempo e
ritmo, fundamentais na música, e na organização extramusical para organização da rotina diária.
Tourinho ressalta ainda que:
Para os idosos, lembrar do tempo “antigo” muitas vezes é lembrar das machinhas de
carnaval, algumas de cunho político, samba, canções românticas, boleros, tangos, poucas,
maxixe, baiões, chorinhos, valsas, cantos patriotas, comedias musicais, hinos, parodias e repentes
(TOURINHO, 2000, p.44)
Músicas de épocas antigas são fundamentais na vida dessas pessoas que viviam rodeados
de amigos e parentes e que hoje fazem muita falta a presença de algumas pessoas que não se
encontram mais presente na vida desses idosos.
Diante de todo o estudo feito com provas alcançadas e comprovadas, pode-se confirmar
que a musicoterapia é eficaz como um coadjuvante no tratamento em idosos, isto pelo fato desta
possuir a capacidade de reavivar um potencial anteriormente perdido durante o processo de
envelhecimento

354
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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356
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A PEDAGOGIA E A LUDICIDADE
Evane Gessi Moro 1

RESUMO: A sala de aula deve ser um local onde se busque constantemente a eficácia no processo
educativo por meio de momentos em que os jogos e as brincadeiras possam estar inseridos para
auxiliar na construção de conhecimentos de maneira eficaz e contagiante. A capacidade para
imaginar, fazer planos, apropriar-se de novos conhecimentos, surge, nas crianças, por meio dos
jogos e das brincadeiras. Por intermédio do brincar, a criança atua, mesmo que simbolicamente
nas diferentes situações vividas pelo ser humano, reelaborando sentimentos, conhecimentos,
significados e atitudes, podendo, assim, preparar-se para a vida e seus diversos desafios, sem ter
diretamente vivenciado as situações em si. Os jogos e brincadeiras são características inerentes
ao ser humano, conseguindo construir sua personalidade por meio da autonomia que esses
recursos oferecem, e o desenvolvimento integral da criança.

Palavras-Chave: Brincadeiras; Conhecimentos; Jogos.

1
Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo; Professora de Educação Básica II na Rede
Estadual de São Paulo.
Graduação : Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PEDAGOGY AND LUDICITY


ABSTRACT: The classroom should be a place where efficiency is constantly sought in the
educational process through moments in which games and games can be inserted to help in the
construction of knowledge in an effective and contagious way. The ability to imagine, make plans,
appropriate new knowledge, arises in children through games and play. Through play, the child
acts, even if symbolically, in the different situations experienced by human beings, reworking
feelings, knowledge, meanings and attitudes, thus being able to prepare for life and its various
challenges, without having directly experienced the situations. in itself. Games and games are
inherent characteristics of human beings, managing to build their personality through the
autonomy that these resources offer, and the integral development of the child.

Keywords: Games; Knowledge; Games.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO apropriação de signos sociais e das


transformações significativas da consciência
Os benefícios didáticos dos jogos e das infantil.
brincadeiras são procedimentos altamente A aprendizagem estimulada por meio da
importantes, mais que um passatempo, é o ludicidade torna-se significativa, possibilitando
meio fundamental para promover a a ampliação do saber e da socialização. A
aprendizagem. oportunidade de aprender de forma lúdica
Considerando que a finalidade básica da estimula os alunos a se tornarem seres críticos
educação é o desenvolvimento integral da e ativos acerca da realidade do seu cotidiano,
criança, promovendo satisfação e despertando uma maior consciência de si
autoconfiança, o processo de ensino mesmo e do outro.
aprendizagem deve ser dinâmico. A ludicidade envolve uma capacidade de
Segundo Kishimoto (1994, p.01): ação por iniciativa própria, portanto os jogos e
Para a criança, o brincar é a atividade as brincadeiras são caracterizados por atitude,
principal do dia-a-dia. É importante porque dá que corresponde a uma reação de estímulos
a ela o poder de tomar decisões, expressar externos, inerentes ao ser humano.
sentimentos e valores, conhecer a si, aos A aprendizagem significativa não se faz
outros e o mundo, de repetir ações prazerosas, apenas copiando do quadro ou prestando
de partilhar, expressar sua individualidade e atenção ao professor, mas sim por meio do
identidade por meio de diferentes linguagens, lúdico. Os jogos e as brincadeiras permitem
de usar o corpo, os sentidos, os movimentos, que a criança tenha mais liberdade de pensar e
solucionar problemas e criar. de criar para se desenvolver com criatividade e
Neste sentido os jogos e as brincadeiras são autonomia.
ferramentas lúdicas que auxiliam no processo O brincar é considerado ação que induz ao
de desenvolvimento da aprendizagem e da prazer, exercendo o poder criativo do
construção da identidade assim como o imaginário humano construindo um universo,
interesse por novos conhecimentos de forma do qual o criador ocupa o lugar central, por
dinâmica e prazerosa. meio de simbologias originais inspiradas no
Os jogos e brincadeira levam as crianças a universo de quem brinca e, é nesta ação que a
contraírem diversas experiências, propiciam a criança se desenvolve como ser criativo.
interação com o outro, organizam seu
pensamento, tomam decisões, ampliam o
A SALA DE AULA E A
pensamento abstrato e procuram maneiras
diversificadas de jogar, produzindo ORGANIZAÇÃO
conhecimentos. A escola trabalha com o conhecimento de
Os jogos e as brincadeiras auxiliam o uma forma bastante específica e o espaço onde
desenvolvimento motor, o desenvolvimento esse trabalho efetivamente acontece é a sala
da linguagem, da percepção, da representação, de aula.
da memória, do equilíbrio afetivo, da

359
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Pensar a organização da sala de aula é informação em diferentes situações, de


pensar a relação de professores e alunos com o diversas formas, do que tentar esgotá-la de
conhecimento. A sala assumirá feições uma única vez.
diferentes conforme essa relação for De acordo com Madalena Freire (1983, p.
concebida: vão variar o uso do espaço e do 43):
tempo, a organização das atividades e do A rotina é entendida como a expressão do
material, e mesmo o tipo de relações pulsar do coração (com diferentes batidas
interpessoais. É importante ter clareza do que rítmicas) vivo do grupo. Rotina entendida como
se entende por conhecimento e aprendizagem, cadência sequenciada de atividades
para poder planejar bem as situações de diferenciadas, que se desenvolvem num ritmo
ensino, selecionando atividades e materiais próprio, em cada grupo.
adequados, rejeitando práticas incompatíveis O contato pessoal dá ao professor a
com os objetivos. oportunidade de conhecer melhor cada aluno,
O professor que reconhece a importância da seu momento de desenvolvimento, suas
interação no processo de conhecimento dificuldades e dúvidas. Esse conhecimento é de
garante ocasiões para troca de informações, fundamental importância para alimentar
ideias, opiniões. A sala de aula, portanto, é decisões nos futuros planejamentos. Para
entendida como espaço privilegiado de alunos que não estejam acompanhando o
interação do grupo formado pelos alunos e seu trabalho da classe, é mais proveitoso dedicar
professor, todos diferentes entre si, os alguns momentos de sua atenção para a
conhecimentos e as experiências de cada um necessidade específica para compreender o
serão contribuições para o crescimento dos que está acontecendo na classe e conseguir
outros, de todos. avançar no projeto.
Na sala de aula, ocorrem naturalmente A ação pedagógica estruturada em trabalhos
ocasiões de interação espontânea entre os em grupos, cria situações que favorecem o
alunos. No entanto, é função do educador desenvolvimento da sociabilidade, da
prever formas e momentos específicos de cooperação e do respeito mútuo entre os
interação, de acordo com os objetivos que alunos, garantindo aprendizagens
pretende atingir. Momentos coletivos com a significativas. Organizar agrupamentos em sala
classe são importantes em várias situações, não se restringe apenas ao aspecto visual de
como no planejamento das atividades, na reunir a sala em diferentes arranjos. O principal
introdução de um assunto novo, na objetivo é favorecer a troca, o intercâmbio e o
sistematização dos conteúdos trabalhados, na trabalho cooperativo entre os parceiros,
avaliação das atividades desenvolvidas. Ao contemplando a diversidade que apresentam.
proporcionar esses momentos, é preciso A diversidade entre os alunos confere
considerar a faixa etária dos alunos. Crianças heterogeneidade e riqueza do grupo. Ao
pequenas não conseguem se manter atentas observar qualquer grupo considerado
por longos períodos. Assim, é mais interessante “homogêneo”, podemos constatar que, os
variar as atividades e repetir uma mesma alunos têm mais diferenças do que

360
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

semelhanças. Se ao contrário de reduzir as estar reunidos em duplas ou em grupos todo o


diferenças, o professor aproveitar a variedade tempo. O importante é que eles se sintam
de respostas dos alunos, promovendo trocas livres para movimentar na sala, sentando ao
entre eles, estará garantindo uma lado de colegas para receber ou oferecer ajuda
aprendizagem mais efetiva para todos. na realização das tarefas.
Para trabalhar em grupo, os alunos devem
ser incentivados a discutir a tarefa e a buscar BRINQUEDOS HEURÍSTICOS E
em conjunto as formas de realizá-la. O trabalho
costuma ser mais produtivo quando os AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA
participantes assumem diferentes tarefas para EDUCAÇÃO INFANTIL
sua execução. O termo brinquedo heurístico foi criado por
A adoção de uma rotina diária de trabalho Elinor Goldschmied (1910-2009), na década de
favorece a organização de atividades, dá maior 1980:
segurança aos alunos, estimulando o Simplificando, consiste em oferecer a um
desenvolvimento gradativo de sua autonomia. grupo de crianças, por um período definido em
Organizar o dia por meio de uma lista de um ambiente controlado, um grande número
atividades tomando como referência à de objetos e receptáculos com os quais eles
programação semanal da classe é uma forma jogam livremente sem intervenção adulta (p.
bastante eficiente para que os alunos 128).
trabalhem de acordo com seu próprio ritmo, A ideia é apresentar as crianças um número
tomando decisões e assumindo certas de materiais naturais que podem ser
responsabilidades, sem sentir necessidade de encontrados dentro e ao redor da cesta. Então
consultar o professor sobre o que fazer, a cada a criança tem a oportunidade de explorar todos
vez que terminam uma tarefa. os itens da cesta, enquanto o adulto
A criação de uma rotina exige o simplesmente observa.
estabelecimento de normas facilitadoras. As análises com crianças pequenas em
Priorizar a interação social no processo de ambientes coletivos são carregadas de
conhecimento não é incompatível com a minúcias e desafios, ocupando cada vez mais
rotina: os alunos precisam saber quais são as espaço significativo no âmbito acadêmico. Para
atividades programadas, o que devem fazer, que se possa constituir e aprimorar as
como devem fazer, como se organizarão no concepções de infância, é necessário investigar
espaço, onde podem encontrar o material suas peculiaridades e buscar a qualificação dos
necessário. O cuidado principal com as rotinas profissionais que atuam na primeira etapa da
e regras estão em usá-las sem sufocar a educação básica.
interação, as trocas e a criatividade. A sala de Estando firmes, os bebês podem alcançar
aula viva e produtiva pode não ser silenciosa, objetos, trazer para perto de si e pesquisar as
mas sempre será disciplinada. diversas sensações.
Propiciar um ambiente favorável às Por meio dos momentos de brincadeiras, as
interações não significa, que os alunos devam crianças podem atuar de forma criativa e

361
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

utilizar a imaginação construindo narrativas universo infantil que favorece o prazer do


lúdicas carregadas de significados. Para que o movimento de forma espontânea,
brincar seja de qualidade, é importante estabelecendo uma relação causal entre a
garantir tempo e espaço qualificado e aprendizagem e as condições de adaptação ao
diversificado. meio ambiente social. Nessa perspectiva, a
O espaço, portanto, pode e deve ser aprendizagem social e de expressão corporal se
considerado um parceiro pedagógico. efetiva por meio do brincar, cuja representação
As coisas mudaram muito em um curto auxilia no desenvolvimento motor, na medida
período nestes dias modernos. Em um esforço em que o processo envolve o indivíduo como
grande para inventar os brinquedos um todo, pois abrange diferentes domínios que
educacionais mais incríveis para as crianças, caracterizam seu comportamento: cognitivo,
cores plásticas e brilhantes assumiram o afetivo e motor.
controle. Segundo Goldschmied e Jackson (2006, p.
Para que se ocorra a aprendizagem 113):
significativa por meio dos brinquedos Um bebê segura os dedos do seu pai ou da
heurísticos é fundamental que as crianças mãe, manipula o seio da sua mãe, enlaçando
tenham autonomia para brincar livremente. seus dedos no cabelo dela ou na barba do pai,
Com o brincar heurístico, os adultos podem agarrando brincos colares ou óculos. O foco de
auxiliar as crianças quando elas realmente bebê está na cuidadora mais próxima,
precisam. O ideal é que os adultos não digam o vivenciando o calor familiar, o cheiro, a tensão
que as crianças devem fazer e permitir a superficial da pele, as vibrações da voz e do
exploração de diversos materiais. Pode-se riso, e tudo mais que contribui para criar o
observar a curiosidade da criança, cuidado e as trocas cotidianas.
possibilitando a ela o acesso ao material, À medida que o bebê se desenvolve
mantendo sempre a atenção e a serenidade. cognitivamente, as mudanças ocorridas afetam
Alguns exemplos de brinquedos heurísticos: o comportamento em todas as áreas. Os
• Objetos de papel / papelão: caixas de conceitos não se desenvolvem
ovos, notebook, tubos de papelão resistentes; independentemente um do outro. O
• Objetos de madeira, pequena tigela comportamento sugere que a criança já tem
virada, colheres, anéis de cortina, porta-copos, noção de constância da forma dos objetos. Os
pulseira, bloco, guardanapos, passador; objetos não sofrem mudanças na forma
• Objetos de couro, têxteis, borracha; quando mudam de perspectiva. Desde que
Brinquedo pequeno de malha, saco de feijão, todas as ações ocorrem no espaço, a criança
pedaço de flanela, folha de veludo, sacos de deve ter também um conceito funcional de
ervas, bolsa de lavanda, chaveiro de couro, espaço e das relações entre os objetos. Cada
fitas coloridas, bolsa de couro. uma dessas capacidades surge mais ou menos
O ato de brincar apresenta uma visão na mesma época e tem o mesmo caminho de
integrada do corpo e do movimento como desenvolvimento. Todos os seus esquemas são
reflexo da ordem psíquica e simbólica do

362
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

elaborados à medida que a criança assimila e selecionadas e programadas no currículo.


faz acomodações. Podem ter união com um fato que desperte o
A educação e o cuidado na primeira infância interesse da classe, ou por um assunto que se
estão preocupados em garantir que as crianças revele oportuno.
tenham resultados satisfatórios. Pesquisas O professor tem que levantar hipóteses,
sobre ensino, aprendizagem e resultados dando dicas para que o aluno consiga concluir
mostram que a pedagogia de qualidade é o seu pensamento sozinho, claro que da sua
identificada como uma alavanca fundamental forma, pois só assim ele vai conseguir construir
para melhorar os resultados das crianças. o seu próprio conhecimento e se apropriar
Evidência de pesquisa sólida, discutido mais daquilo que ele mais deseja e gosta.
adiante, mostra o que os educadores podem A família tem grande importância nesse
fazer para proporcionar às crianças fortes processo na articulação de ambientes
bases para aprendizado e desenvolvimento adequados para proporcionar as condições
contínuos em todos os aspectos da vida. para a criança brincar com uma maior
O professor que entende a educação como diversidade de experiências para auxiliar no
prática social, transformadora e democrática desenvolvimento da inteligência e a usar
trabalha com seus alunos na direção da plenamente o seu corpo.
ampliação do conhecimento, vinculando Com a evolução das brincadeiras a criança
conteúdos de ensino à realidade, escolhendo começa a se expressar fisicamente de forma
procedimentos que assegurem a mais eficaz, favorecendo a criança construir
aprendizagem efetiva. uma imagem positiva de si própria, tornando-
Os interesses que as crianças manifestam no se uma criança mais agradável, preparada criar
cotidiano dão vida ao currículo. Conciliar esses vínculos e obter cooperação dos outros com o
interesses com os objetivos das atividades uso da expressão corporal.
planejadas é um grande desafio; fazer que cada O intelecto se constrói a partir da atividade
situação de ensino seja uma experiência nova, física e o desenvolvimento das funções
é o que dá, ao trabalho de cada professor, um motoras (movimento) não pode ser separado
sabor original e único. do desenvolvimento intelectual (memória,
Não é possível então, padronizar práticas atenção, raciocínio) nem da afetividade
pedagógicas. Mas sempre é interessante (emoções e sentimentos). Portanto, para que o
refletir sobre elas. Os procedimentos adotados ato de brincar se processe adequadamente é
em uma determinada situação costumam indispensável o domínio de habilidades
revelar caminhos que são frutos da criatividade psicomotoras por meio de um
do professor e mostram maneiras originais de acompanhamento especial da família e de
desencadear a aprendizagem, compatíveis com outros profissionais que devem dar suporte à
a concepção de educação que o professor família para realizar ações de planejamento de
adote. como desenvolver as brincadeiras com a
As situações de aprendizagem são criança.
desencadeadas a partir de questões já

363
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O brincar precisa ser amplamente entendido • Desenvolvimento da capacidade de


como uma ferramenta onde favorecer a interagir com outras crianças, com adultos e
brincadeira, não significa simplesmente deixar com o meio ambiente, para adquirir novos
que as crianças brinquem sem que seja feita conhecimentos, habilidades, atitudes e
nenhuma intervenção. comportamentos; incentivar a exploração,
As maneiras de mediação que os professores exercícios, testes e experimentos, como
podem utilizar no ambiente da educação são experiências de aprendizado autônomas.
amplas, basta que ele reconheça o valor e a • A descoberta, por cada criança, de sua
utilidade dos objetos, dos ambientes, da sua própria identidade e autonomia e o
ajuda e orientação, e principalmente da sua desenvolvimento de uma auto imagem
organização, para assim alcançar seu objetivo positiva.
pedagógico, no brincar dos educandos. • Apoiar a criança na aquisição de
A criança, na fase inicial de sua vida poderá conhecimentos, habilidades, habilidades e
apresentar necessidades especiais, a partir de atitudes necessárias para sua entrada na escola
experiências que favoreçam a criança uma e ao longo da vida.
intervenção real no mundo exterior, para Todas as atividades com crianças pequenas
modificar por meio do brincar. devem respeitar o direito da criança de brincar
Pensar a organização do Brincar na - vista como uma forma de atividade, método,
Educação Infantil é pensar a relação de procedimento e meio de alcançar abordagens
professores e crianças com o conhecimento. O educacionais em idades precoces, bem como
Brincar Heurístico assumirá feições diferentes um método de estimular a capacidade e a
conforme essa relação for concebida: vai variar criatividade da criança, como um direito dele e
o uso do espaço e do tempo, bem como as como uma abertura à liberdade de escolha, de
relações interpessoais. acordo com suas próprias necessidades.
A educação infantil garante o
desenvolvimento livre, integral e harmonioso
da personalidade da criança, de acordo com
seu ritmo e necessidades. A educação
oferecida deve garantir a estimulação
diferenciada das crianças, visando o
desenvolvimento intelectual, emocional, social
e físico de cada criança e visando alcançar os
seguintes resultados da educação infantil:
• O desenvolvimento livre, integral e
harmonioso da personalidade da criança, de
acordo com seu próprio ritmo e necessidades
gerais, apoiando seu treinamento autônomo e
criativo.

364
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A brincadeira é essencial para o desenvolvimento, pois contribui para o bem-estar
cognitivo, físico, social e emocional das crianças e jovens.
O jogo também oferece uma oportunidade ideal para os pais se envolverem plenamente
com os filhos. Apesar dos benefícios derivados das brincadeiras para crianças e pais, o tempo
para brincadeiras gratuitas foi acentuadamente reduzido para algumas crianças.
No entanto, mesmo as crianças que têm a sorte de ter recursos disponíveis abundantes e
que vivem em paz relativa podem não estar recebendo todos os benefícios da brincadeira.
O brincar permite que as crianças usem sua criatividade enquanto desenvolvem sua
imaginação, destreza e força física, cognitiva e emocional. Brincar é importante para o
desenvolvimento saudável do cérebro.
É por meio da brincadeira que crianças em tenra idade se envolvem e interagem no mundo
ao seu redor. O brincar permite que as crianças criem e explorem um mundo que possam
dominar, conquistando seus medos enquanto praticam papéis adultos, às vezes em conjunto com
outras crianças ou cuidadores adultos.
À medida que dominam seu mundo, o brincar ajuda as crianças a desenvolver novas
competências que levam ao aumento da confiança e à resiliência de que precisam para enfrentar
os desafios futuros.
A trajetória de desenvolvimento das crianças é mediada criticamente por relacionamentos
afetivos apropriados com cuidadores amorosos e consistentes, à medida que eles se relacionam
com as crianças por meio do brincar.

365
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010.

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BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nª 9394, de 20 de dezembro de


1996. Brasília, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil. Brasília, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brinquedos, brincadeiras e


materiais para bebês: manual de orientação pedagógica: módulo 2. Brasília: MEC/SEB, 2012b.
40p. (Brinquedos e Brincadeiras nas Creches; v. 2).

FREIRE, Madelena. A paixão de conhecer o mundo. São Paulo: editora Paz e Terra, 2002.

GESELL, Arnold. A criança dos 0 aos 5 anos. São Paulo, 1997.

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Beverly; FONTENELLE, Don H. Pais perfeitos. Blumenau: Editora Eko, 1997.

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2006.

JENSEN, J.R., Uma Perspectiva de Sensoriamento Remoto. 1996. Nova Jercey.

KISHIMOTO, Tisuko (Org.). Jogos tradicionais infantis. 1998.

KISHIMOTO, Tisuko (Org.). O brincar e suas teorias. 1998.

KRAMER, Sonia. A política do pré-escolar no Brasil – a arte do disfarce. Rio de Janeiro:


Editora Dois Pontos, 1987.

SZYMANSKI, Heloísa. A relação família/escola – Desafios e perspectivas. Brasília: Editora


Plano, 2001.

TIBA, Içami. Anjos caídos. São Paulo: Editora Gente, 2002.

366
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A PSICANÁLISE EM TEMPOS DE PANDEMIA: O


NOVO CORONAVÍRUS E A SAÚDE COLETIVA
Adelcio Machado Santos 1

RESUMO: Sobreviver é a prioridade quando falamos de uma pandemia. Normas de caráter


extremo acarretam mudanças nos cenários mundiais, estejam eles ligados ao setor econômico,
social, cultural e ambiental e, conforme se expandem o número de doentes, aumentam os
critérios de isolamento social e econômico e as situações de maior sensibilidade mental e/ou
vulnerabilidade. A pandemia do novo Coronavírus gera inúmeros impactos negativos, e, no
âmbito da saúde os prejuízos foram maiores e muito mais sentidos. A saúde física e mental da
população foi extremamente prejudicada, a dor, a angústia, a fobia, o luto e o desamparo se
fazem muito presente. Surgem inúmeros pedidos de atenções sobre os aspectos psicológicos,
oriundos das incertezas que dela decorrem. Isolamento social, trabalho home office, uso de
máscaras, fechamento do comércio, de escolas, em decorrência do medo que assola toda a
comunidade, em especial, daqueles que trabalham de forma permanente na linha de frente no
combate da enfermidade. Os serviços ligados aos setores da psicanálise foram essenciais para
dar um pouco de conforto, buscando melhor forma de atender e preservar a saúde integral dos
indivíduos, ocupando-se com a promoção e a prevenção em saúde mental e pública. Assim,
busca-se nesse estudo, por meio da revisão de literatura, fazer um debate teórico entre diversos
autores sobre conceitos de saúde pública e psicanálise, com vistas a levantar indagações e
reflexões sobre os problemas enfrentados na atual sociedade brasileira. Como forma de

1Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC). Pós-Doutor em Gestão do Conhecimento (UFSC).


Docente, pesquisador e orientador no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Sociedade da
Universidade Alto Vale Rio do Peixe (Uniarp). https://orcid.org.0000-0003396-972X.

367
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pesquisa, foi utilizada a revisão sistemática da literatura, a partir de fontes secundárias publicadas
sobre os temas.

Palavras-Chave: Psicanálise; Pandemia; Saúde Coletiva.

PSYCHOANALYSIS IN PANDEMIC TIMES: THE NEW CORONAVIRUS


AND PUBLIC HEALTH
ABSTRACT: Survival is the priority when we talk about a pandemic. Extreme regulations bring
about changes in the world scenarios, whether they are linked to the economic, social, cultural,
or environmental sector, and as the number of patients expands, the criteria for social and
economic isolation and the situations of greater mental sensitivity and/or vulnerability increase.
The pandemic of the new Coronavirus generates countless negative impacts, and, in the health
sphere, the damage has been greater and much more felt. The physical and mental health of the
population was extremely damaged; pain, anguish, phobia, mourning, and helplessness are very
present. Numerous requests for attention to the psychological aspects have arisen, stemming
from the uncertainties that arise from it. Social isolation, home office work, the use of masks, the
closing of shops and schools, as a result of the fear that grips the whole community, especially
those who work permanently in the front line in the fight against the disease. The services
connected to the psychoanalysis sectors were essential to give a little bit of comfort, searching
for a better way to attend and preserve the integral health of the individuals, dealing with the
promotion and prevention in mental and public health. Thus, it is sought in this study, through
literature review, to make a theoretical debate among several authors about concepts of public
health and psychoanalysis, in order to raise questions and reflections about the problems faced
in the current Brazilian society. As a form of research, a systematic literature review was used,
based on secondary sources published on the themes.

Keywords: Psychoanalysis; Pandemic; Public Health.

368
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO país. Porém, a saúde coletiva da população,


não apenas nos aspectos físicos, mas também,
Algumas concepções alinhadas a qualidade nos aspectos psicológicos, foram fortemente
da saúde pública e coletiva, dependerão, abalados. (DUARTE, et al., 2020). As políticas
exclusivamente, das políticas públicas sociais e públicas, em decorrência da urgência da
econômicas de cada país. O embate sobre COVID-19 foram intermeadas, de acordo com
esses temas repercutem de forma global em cada aspecto que ia se desenhando e com
todos os seguimentos da sociedade, buscando muitas incertezas sobre o seu enfrentamento.
alternativas viáveis de viver harmoniosamente Notícias e métodos viáveis para o controle da
em comunidade. doença iam se alternando, não havendo um
Inúmeras são as políticas públicas consenso sobre os meios mais assertivos para
implantadas em todas as áreas, estejam elas o combate e a eliminação do novo coronavírus,
associadas no âmbito social, econômico, considerado de alto contágio.
ambiental, educacional e de saúde. Projetos Diante de tantas incertezas e informações
ligados aos seus processos de trabalhos, de contraditórias sobre o surgimento e o
produtos e de serviços ofertados a toda a tratamento viável para a cura da doença,
coletividade vão se modificando, se ajustando procura-se resposta para a seguinte indagação:
de acordo com a realidade vivenciada e em Até que ponto a psicanálise é essencial para
cada tempo histórico. Em tempos de colaborar no enfrentamento e tratamento de
pandemia, essas são mudanças são possíveis distúrbios decorrentes do cenário
extremamente severas, necessárias e pandêmico, levando em conta as sequelas
emergenciais, a ponto de colocar imposições deixadas em torno das repercussões ocorridas
sociais de restrições de direitos a todos os nesse momento histórico, nas relações
cidadãos (AQUINO, et al., 2020). humanas e na sociedade como um todo?
A par desse novo contexto, com medidas tão Assim, busca-se com o estudo discutir temas
extremas, a população sofre grande impacto e conceitos ligados a saúde da população em
em sua vida social. Mudanças de hábitos foram tempos de pandemia (novo Coronavírus),
essenciais por conta do avanço do novo tendo como objetivo principal, fazer uma
Coronavírus, que, ao passar dos dias, foram se análise conceitual sobre a importância da
confirmando novos casos e novas variantes, psicanálise para o enfrentamento de novas
com um número alarmante de mortes e de doenças mentais, apresentando métodos
internações, de forma repentina, que afetam viáveis e necessários para a sua cura.
as famílias com muita dor e desespero, As justificativas se findam na promoção e
(PASSARINHO, 2021). articulação de todos os trabalhos efetivados
A sociedade foi se conscientizando e pelos profissionais da área da psicanálise, nos
entendendo que é preciso mudar os hábitos de aspectos sociais e ambientais, buscando a
consumo, a maneira de viver em grupos e os promoção da qualidade de vida, propondo a
modos de se aperfeiçoar nos ambientes criação de um diálogo entre os profissionais e
culturais, sociais, econômicos e políticos de seu os pacientes para o desenvolvimento de

369
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

propostas terapêuticas viáveis em prol da sua A maneira como os indivíduos convivem em


saúde mental. sociedade foi se modificando à medida que a
Como forma de pesquisa, utilizou-se como pandemia avança pelo mundo. Processos de
método, a pesquisa de revisão sistemática da trabalhos ganham novos formatos, criando-se
literatura, que tem como escopo reunir as o mecanismo via home office, para não ser
trabalho publicados sobre o tema, com assolado pelos aspectos econômicos e
protocolo construído que serve de base para a financeiros. Para limitar a disseminação da
construção do artigo. Assim, para a realização doença, a área educacional adota o sistema de
da revisão sistemática pontuou-se como aulas remotas ou aulas on-line. As atividades se
pontos percorridos: identificar, selecionar, tornam cada vez mais individuais e solitárias.
avaliar e sintetizar. (GALVÃO; RICARTE, 2020). Durante o avanço e auge da doença, a vida
social se ressume ao confinamento nas
PSICANÁLISE residências, (SANTANA; SALES, 2020; SOUZA,
2021).
No decorrer da história, o homem procura
As emoções e o medo tomam conta dos
mecanismos de melhorias voltados ao
indivíduos por conta da COVID-19, a busca por
aperfeiçoamento da qualidade de vida,
tratamentos eficazes no combate da doença
incluindo bem-estar físico e mental para si e
foram uma constante, e, ao passar dos tempos,
seus pares (PESSANO, 2020).
a sociedade foi surpreendida com o surgimento
A psicanálise é conhecida por utilizar de
de novas variantes, algumas consideradas mais
métodos de investigações ligados a mente dos
letais, necessitando de novas intervenções e
indivíduos, com base nas suas vivências e
mais restrições, (AQUINO, et al., 2020).
modos de se comportar em sociedade. Criada
A angústia e o temor foram aumentando,
por Freud, é um reputado campo de estudos
assim como o sofrimento mental. Lidar com
resolutivos de problemas e conflitos pessoais,
essas questões, para algumas pessoas, se torna
onde as variedades dos seus métodos
algo impossível e temoroso. Em especial, para
psicanalíticos engloba um emaranhado de
aqueles trabalhadores que ficam na linha de
incidências, tal a variedade de fatos e
frente no combate desta pandemia e aqueles
ocorrências que ela pretende abordar (SILVA;
que precisam sair de casa para trabalhar e
MACEDO, 2016).
trazer o sustento da família. (SCHMIDT, et al.,
Em tempos de pandemia da COVID-19, a
2020). Por esse motivo, a psicanálise tem um
estrutura psíquica de cada indivíduo se torna
papel significativo nessa Nova Ordem Mundial.
uma bomba relógio. A dor, o sofrimento pela
É nesse sentido, que Badiou (2008, p. 41),
perda de um ente querido foi algo
afirma: “o sujeito é cada vez convocado como
inimaginável, atingindo uma parcela grande da
pensamento num ponto do procedimento em
sociedade mundial, que, na maioria dos casos,
que o universo se constitui”.
sequer conseguiu se despedir de seus
Dessa maneira, podemos considerar que a
familiares por conta do alto contágio que a
Psicanálise é considerada uma ciência
doença possui.
conjectural:

370
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

“Exercendo-se a técnica da Psicanálise na capacitados, a lidarem com situações


relação do sujeito com o significante, o que ela relacionadas a ansiedade, traumas e
conquistou de conhecimentos só é situável ao sofrimentos. O suporte técnico concedido
se ordenar ao seu redor. Isso lhe confere seu pode ajudá-lo a encontrar novas formas de
lugar no grupo que se afirma como ordem das compreender o mundo.
ciências conjecturais” (LACAN, 1998, p. 475). Assim, diante do caos que se instala no
Segundo Botelho (2017), o inconsciente é o mundo, por conta da COVID-19, lidar com o
agente causador que rebela as intenções e corpo e mente na busca do equilíbrio é o
vontades dos indivíduos e essa descoberta foi caminho mais seguro para suportar tanta dor e
concretizada nos estudos apresentados por sofrimento. Sabemos, que estamos em uma
Freud. O autor, vai além, quando assim pela saúde jornada mental, por isso, devemos
discorre: “Apesar das transformações sociais, tomar não cuidados além do corpo físico. Vale
culturais e tecnológicas dos últimos 120 anos, a pena, ficar de olho nas emoções, também.
o método psicanalítico criado por Freud para
lidar com o mal-estar inerente à condição POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE
humana segue atual”.
Há de se revelar que as medidas restritivas COLETIVA NO BRASIL
de direitos impostas aos cidadãos é algo As políticas públicas, se efetivam com a
temido. O confinamento pode despertar implantação de ações sociais que visam
alguns sintomas que estavam escondidos e ao resguardar as garantias dos direitos sociais
criar um isolamento mais severo, poderá torná- delimitados em nosso ordenamento Jurídico. A
los mais efetivos, com consequências severas. nossa Constituição Federal, é clara ao delimitar
É neste aspecto que a psicanálise vem ao com a maior efetividade essas garantias em seu
encontro desse processo, auxiliando os Capítulo II, in verbis:
indivíduos a lidarem com essas questões.
Sobre a Teoria da Psicanálise, Freud, (1996, “CAPÍTULO II
p. 26), dispõe: DOS DIREITOS SOCIAIS
“[...] a teoria da psicanálise é uma tentativa Art. 6º São direitos sociais a educação, a
de explicar dois fatos surpreendentes e saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
inesperados que se observam sempre que se transporte, o lazer, a segurança, a previdência
tenta remontar os sintomas de um neurótico a social, a proteção à maternidade e à infância, a
suas fontes no passado: a transferência e a assistência aos desamparados, na forma desta
resistência. Qualquer linha de investigação que Constituição” (BRASIL, 2020).
reconheça esses dois fatos e os tome como Ela adquire status relevante e indispensável
ponto de partida de seu trabalho tem o direito para o desenvolvimento de uma sociedade, a
de chamar-se psicanálise, mesmo que chegue a partir da efetivação de mudanças significativas
resultados diferentes dos meus”. em seu contexto histórico, buscando a inserção
A verdade é que a psicoterapia ampara os social e a qualidade de vida dos cidadãos.
indivíduos, por meio da ajuda de profissionais Também, abrange seguimentos ligados aos

371
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

serviços essenciais de uma coletividade, como “Art. 198. As ações e serviços públicos de
educação, saúde, trabalho, lazer, assistência saúde integram uma rede regionalizada e
social, meio ambiente, cultura, moradia e hierarquizada e constituem um sistema único,
transporte. Por ser tratar de uma política de organizado de acordo com as seguintes
Estado, todas as atividades são diretrizes:
regulamentadas por normas e dispositivos I - Descentralização, com direção única
constitucionais, relacionadas às tarefas de em cada esfera de governo;
interesse público, (COUTO; ARANTES, 2006). II - Atendimento integral, com prioridade
Em tempos de pandemia, a responsabilidade para as atividades preventivas, sem prejuízo
social dos gestores públicos aumenta. O papel dos serviços assistenciais;
para o cumprimento de ações voltadas a III - Participação da comunidade.
coletividade é fundamental para a garantia da § 1º. O sistema único de saúde será
promoção, progresso e desenvolvimento do financiado, nos termos do art. 195, com
seu país, e, acima de tudo, preservar a recursos do orçamento da seguridade social,
qualidade de vida preterida por todos os da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
cidadãos. Municípios, além de outras fontes. (Parágrafo
No que diz respeito a saúde coletiva, a nossa único renumerado para § 1º pela Emenda
Constituição Federativa, na Sessão II, é clara ao Constitucional nº 29, de 2000) § 2º A União, os
delimitar que, cabe ao Estado essa Estados, o Distrito Federal e os Municípios
prerrogativa: aplicarão, anualmente, em ações e serviços
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever públicos de saúde recursos mínimos derivados
do Estado, garantido mediante políticas sociais da aplicação de percentuais calculados sobre:
e econômicas que visem à redução do risco de (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de
doença e de outros agravos e ao acesso 2000)” (BRASIL, 2020).
universal e igualitário às ações e serviços para A aproximação e discussão das práticas em
sua promoção, proteção e recuperação. saúde coletiva se manifestam no cotidiano da
Art. 197. São de relevância pública as ações nossa sociedade, criando-se espaços para
e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público inovações de processos de trabalhos e
dispor, nos termos da lei, sobre sua métodos eficientes voltados para tratamentos
regulamentação, fiscalização e controle, e diagnósticos de doenças e promoção de
devendo sua execução ser feita diretamente ou saúde. No caso da Pandemia de Covid-19, o
através de terceiros e, também, por pessoa comando é efetividade pela Organização
física ou jurídica de direito privado” (BRASIL, Mundial de Saúde (OMS), que delimita
2020). orientações sobre os processos de trabalhos e
O mesmo diploma dispõe a divisão de modelos de gestão de saúde para a
tarefas e obrigações com todos os entes sobrevivência da população. (SANTOS, et al.,
federativos: 2020).
O modelo de gestão de Saúde Pública
adotado no Brasil, segundo Canesi (1995), foi

372
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenhado ao longo da história. A Saúde às garantias constitucionais, que, em tempos


Pública assumiu diversas formas e modelos de difíceis, afetam diretamente a camada mais
abordagens, de acordo com as necessidades de pobre da sociedade, como foi o caso da Covid-
cada época. Porém, para o autor, na década de 19, que assola o mundo inteiro com regras de
70 ela se fortaleceu. confinamentos e modelos de comportamentos
Nas lições defendidas por Frenk (1992), ao sociais diversos daquele que a população em
tratar do tema Saúde Pública, o autor tempos atuais desconhecia, (MOON; ROSSI,
corrobora a tese de se tratar de novas práticas 2020).
de gestão ligada a área da saúde, tendo sua A regra do distanciamento social, ocorrido
base sustentada em evidências científicas, por até mesmo entre membros da própria família,
meio de estudos delimitados nas áreas das altera os padrões de comportamento social, e,
ciências biológicas, sociais e comportamentais, o fechamento de escolas, fábricas, parques,
com foco nas áreas de aplicação populacional, academia, as mudanças dos métodos e da
problemas e programas sociais. logística de trabalho e de diversão, afeta
O conceito de saúde defendido pela diretamente a saúde física e/ou mental de toda
Organização Mundial de Saúde (OMS) é a população. (MAGALHÃES, 2020).
firmado como sendo a “situação de perfeito
bem-estar físico, mental e social” da pessoa. O A PSICANÁLISE EM TEMPOS DE
conceito é considerado ultrapassado,
primeiramente, por visar uma perfeição PANDEMIA: O NOVO
inatingível, atentando-se as próprias CORONAVÍRUS E A SAÚDE
características da personalidade, (OMS, 2004).
COLETIVA
A respeito do tema, ainda traçamos a ideia
Lidar com os nossos sentimentos, muitas
defendida por Mioto (2013), que defende que
vezes, é uma tarefa difícil. Em tempo de
todas as ações sociais devem ser tratadas com
pandemia, os impactos decorrentes dela
bons olhos pelos gestores públicos e, também
mexem com a vida psíquica dos indivíduos.
pelos gestores da área privada. A
Vivemos um período difícil. Uma ameaça
implementação de projetos sociais,
invisível que ataca o planeta, provocando
fomentados por meios de programas
mortes, angústia e desespero. Mudanças
complementares, devem estar diretamente
bruscas, com restrições de direitos individuais,
correlacionados aos meios sociais, políticos,
é uma norma a ser seguido por todos os
culturais e econômicos, via ações voltadas para
indivíduos mundo afora. Enquanto, a ciência
cada setor específico da sociedade.
não consegue achar uma resposta para a cura
Assim, denota-se que a saúde coletiva, não
da COVID-19 ou frear a sua disseminação, os
deve delimitar suas ações apenas no combate
desafios e a expectativa por um mundo melhor
das doenças, mas, também na busca de
se prospera.
melhorias na qualidade de vida dos indivíduos.
Por conta da doença, o isolamento social é
Verdade seja, é que, o que se preserva no
uma determinação geral para toda a
contexto politico e social é a efetividade ligada
população, um novo formato de convívio social

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

acontece com o uso das tecnologia da Para Machado; Fellet, (2019), nos tempos
informação, regras duras e a implantação de atuais, os indivíduos perderam a capacidade de
restrições de alguns direitos sociais aumenta a sonhar, se compararmos com outras épocas da
dinâmica do estresse social e do sofrimento história. Para eles, os sonhos era considerado
mental. A dinâmica familiar é fortemente um instrumento social importante, que
abalada, (LIMA, 2020). orientava os governantes da Grécia, do Egito,
Somando a tudo isso, o problema da Índia e da China, para concretizar as ações.
econômico, a falta de informações concretas, Porém, nos dias de hoje, essa perda de
estruturas precárias no âmbito da saúde na objetividade causa prejuízos sérios à
Atenção Secundária corrobora para o aumento humanidade.
da tensão entre os indivíduos. As mortes de Verdade seja, é que o mundo não estava
entes queridos em um curto espaço de tempo, preparado para receber uma carga tão grande
as dificuldades de se despedir de forma digna, de problemas com a pandemia de Covid-19. Os
colabora para o aumento do estresse e a hospitais, as clínicas, os Centros de Saúde,
sociedade, como um todo, entra em colapso, entre outros, ficam lotados, os médicos
(ALVES, 2022). atordoados, a enfermagem sobrecarregada e a
Para Kallas (2020), a pandemia é um população desassistida. Em lugares onde o
traumatismo mundial, e, por atingir um sistema de saúde é mais precário, o problema
número infinito de indivíduos, as crises de se tornou crônico, sem perspectiva de solução.
transtorno se propagaram rapidamente sem A crise de pânico fica evidenciada entre os
haver um controle efetivo de seus casos. O cidadãos. Porém, ao resolução dos problemas
trauma do sujeito é individual, ou seja, cada um depende, exclusivamente, de políticas públicas
vai responder de acordo com o seu estado viáveis e disponíveis para atender toda a
psíquico, (MORAIS; SALLES, 1997). Assim, o seu população.
tratamento vai ao encontro das teorias Segundo Mitchell, et al. (2009), os
pregadas pela psicanalítica e defendidas por atendimentos realizados pelos profissionais
Freud (1895; 1876), por meio da neurose de ligados a Atenção Básica precisam ser
angústia, obsessões e as fobias em, que é o realizados com a maior cautela, quando se
que fundamenta as crises do transtorno de trata de problemas ligados a saúde mental. Isso
pânico, (CAROPRESO; AGUIAR, 2015). porque, é preciso fazer um diagnóstico mais
Quem nunca se sentiu tenso ou muito robusto, e, se possível por profissionais
agitado por conta de um evento importante, habilitados. Segundo eles, é na fase da
um acontecimento inesperado? A aceitação ansiedade, como, também, em períodos de
pela perda muitas vezes é traumática. O depressão que há um grande risco de emitir
excesso de expectativas, quando não se identificação desacertada, ou seja, um “falso
concretiza, frustra. A ansiedade assola, porém positivo”.
quando ela se torna excessiva, ela pode se Para Gusso (2010), é preciso ficar atento aos
transformar em doença. sintomas somáticos e psíquicos existentes na
atualidade. A preocupação se formaliza

374
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quando há sintomas frequentes do medo de Ademais, as ações passam a ser focadas mais
adoecer, de que algo inesperado ou negativo na promoção da saúde do que na intervenção
venha ocorrer com os seus entes queridos, de curativa e de reabilitação. Por isso, é primordial
não conseguir atingir as suas metas, tanto que os gestores públicos tenham noção dos
financeira como, também profissional. No sistemas de crenças e da construção social,
curso da doença (transtorno), a mudança do para então, buscar soluções viáveis para a
foco se concretiza, em especial, os indivíduos implementação de novas políticas públicas. Por
com carga maior, os que vivem sozinhos ou os fatos e situações antepassadas é que foi
que estão mais fragilizados. possível, dentre do seu alcance, construir
Diante de tantas calamidades, após o alternativas de combate ao novo coronavírus
período de pandemia da COVID-19, o processo e/ou outras situações, (MADEIRA, et al., 2020).
de reconstrução é lento e difícil. Para isso, é Outrossim, há de se considerar que, em
preciso nos unirmos e buscarmos soluções momentos de crise, em, especial, de grandes
rápidas e viáveis que corroborem para proporções, os dados e a atenção dada à todas
mudanças positivas e para o melhoramento da as evidências são primordiais para o alcance de
vida dos cidadãos. Nos tempos atuais, a sua eliminação, priorizando, nesse patamar
participação da população tem sido mais quais são os problemas e quais as soluções
intensificada, com a confirmação de suas vagas imediatas. Além do mais, os problemas ligados
em diversos conselhos (municipal, estadual e a saúde mental dos cidadãos merece ser
federal) e em todos os seguimentos da tratado com prioridade e com maior
sociedade. efetividade por parte dos gestores públicos.
Por conta disso, as ações passam a apregoar Verdade seja, a pandemia da COVID-19
maior efetividade em todos os aspectos ligados trouxe várias incertezas para o mundo e novos
as ações sociais, sejam elas implementadas na desafios para a convivência humana, que ainda
busca da promoção da saúde, da qualidade e está sendo superada. Porém, revela-se, de
aperfeiçoamento da educação, de projetos antemão, que o mundo terá novas
sociais, e assim por diante. possibilidades de repensar os rumos e as
Por conta de tantos problemas sociais já prioridades do futuro próximo e longínquo do
existente no Brasil e também no mundo todo, planeta e de sua população.
e, agora com mais essa carga advinda da Ademais, há de se considerar que nada está
COVID-19, as ações públicas e privadas se posto sobre quais rumos prevalecerão, pois,
tornam essenciais para o enfrentamento de ainda é muito cedo para que possamos afirmar
demandas que dificultam o caminhar do com previsão o que ainda nos espera. É claro
progresso das nações. Nas últimas décadas, a que as perguntas ainda são inúmeras. Ninguém
construção de políticas públicas de saúde vai pode ter pretensão de esgotá-las.
ao encontro da valorização e da participação
popular, o controle social e o protagonismo das
comunidades, (DIAS; AMARANTE, 2022).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao delimitarmos o tema e o objeto de estudo, optamos por utilizar a revisão sistemática
da literatura para busca de materiais publicados sobre as consequências do novo coronavírus na
saúde mental e na saúde coletiva. Verificou-se que diversos traumas, tanto físico, como, também
psicológicos afetam os cidadãos. Por conta das normas extremas impostas as sociedades,
principalmente em relação ao isolamento social em todo o mundo, o cidadão e a sociedade
adoeceram, e, a saúde está abalada.
Normas de caráter extremo imposta as sociedades mudaram os cenários nacionais e
mundiais, e os setores da economia e da saúde foram impactados diretamente. Conforme, se
expandia os casos de doentes pela COVID-19, a sensibilidade e a sensação de incertezas, aliada
ao processo de vulnerabilidade, causou uma desordem mundial.
Verdade seja, é que a pandemia do novo coronavírus trouxe inúmeros impactos negativos
em todos os setores da sociedade. A dor, a angústia, a fobia e o desamparo, além da incerteza
financeira, se fazem presente na vida dos cidadãos. Por conta disso, o diagnóstico precoce, o
tratamento rápido e seguro, e o amparo social e econômico, fornecidos aos indivíduos doentes,
se tornou o meio “viável para a cura de todas as doenças” vivenciadas atualmente pela sociedade.
Os trabalhos efetivados pelos profissionais ligados a área da saúde foram essenciais, e os
da área da psicanálise buscam dar um pouco de conforto para transitar no meio de tantas
incertezas, buscando uma melhor forma de atender e preservar a saúde mental e física dos
indivíduos, ocupando-se com a promoção e a prevenção em saúde mental e coletiva.
Verdade seja, é que os problemas ligados a mente, como a ansiedade, depressão, entre
outros, possuem causas multifatoriais e podem aparecer em qualquer fase da vida, da infância à
velhice. Os motivos vão depender da história de vida de cada paciente.
Dessa forma, é essencial que os cuidados com a saúde mental sejam implementados em
todo o ciclo vital, assim como a devida assistência a todos os indivíduos em sofrimento, buscando-
se meios viáveis para tratamento, ofertando um caminho seguro para a cura, definindo-se
prioridades e metas a serem alcançadas.
Ao ensejo de nossas conclusões, o que se verifica-se é que a nova concepção do sistema
de saúde, descentralizado e administrado democraticamente e com a participação da sociedade
organizada, prevê mudanças significativas nas relações de poder político e na distribuição de
responsabilidades quando da elaboração e implantação das políticas públicas entre o Estado e a
sociedade.
Em tempos de pandemia, todo o progresso social é fundamental para a construção de um
mundo melhor. Nesse ensejo, é primordial que essas práticas sejam executadas pelos gestores
públicos e/ou privados, otimizando de forma ordenada e efetiva os recursos disponíveis, em
busca de resultados de qualidade na prestação dos serviços e maximização dos benefícios sociais
em prol da coletividade.
Diversas são as facetas da proposição da integralidade, que vão além de assistência direta.
O cuidar de si e o cuidar do outro se torna elementar, quando estamos em um momento social
difícil, porém, é preciso que as políticas públicas de saúde sejam efetivadas e que colaborem para
o bem-estar físico e mental da população.

376
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Por tais razões, é que advogamos pelo zelo e comprometimento de todos os órgãos
envolvidos, buscando garantir sempre, como princípio básico, o direito à vida e a sua dignidade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Ester de Paula Oliveira1

RESUMO: Na fase da educação infantil, as habilidades psicomotoras desempenham um papel


fundamental, na medida em que auxiliam a criança a organizar mentalmente o mundo exterior
por meio de seus corpos. Seu desenvolvimento intelectual, afetivo e social é influenciado pela
facilitação de sua relação com o meio ambiente em diferentes cenários, contextos e situações.
Inúmeros autores confirmam que, desde cedo, as estruturas anátomo-fisiológicas e afetivo-
intelectuais se desenvolvem juntas, pois estão associadas de tal forma que constituem realmente
uma unidade única. As habilidades psicomotoras e seu desenvolvimento precoce ajudam as
crianças a dominar seu corpo por meio do equilíbrio e do movimento, preparando-as para as
necessidades motoras do ambiente e da vida cotidiana. Por outro lado, a nível cognitivo, permite-
lhes melhorar a sua capacidade de atenção e concentração, bem como memorizar e estimular o
desenvolvimento da sua criatividade. Da mesma forma, a nível social, permite-lhes interagir com
os outros com mais frequência, ajudando-os a sair do seu ambiente habitual.

Palavras-Chave: Capacidade; Concentração; Habilidades Psicomotoras.

1Professora na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Neuropsicopedagogia; Especialização em Educação e
Artes Visuais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSYCHOMOTRICITY IN CHILD EDUCATION


ABSTRACT: In early childhood education, psychomotor skills play a key role, as they help children
to mentally organize the outside world through their bodies. Their intellectual, affective and
social development is influenced by the facilitation of their relationship with the environment in
different scenarios, contexts and situations. Numerous authors confirm that, from an early age,
the anatomical-physiological and affective-intellectual structures develop together, as they are
associated in such a way that they truly constitute a single unit. Psychomotor skills and their early
development help children master their bodies through balance and movement, preparing them
for the motor needs of the environment and everyday life. On the other hand, at a cognitive level,
it allows them to improve their attention and concentration, as well as memorize and stimulate
the development of their creativity. Likewise, on a social level, it allows them to interact with
others more often, helping them to get out of their usual environment.

Keywords: Capacity; Concentration; Psychomotor Skills.

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INTRODUÇÃO cérebro, neurologistas e psiquiatras passaram


a estudar o corpo para esclarecer fatores
A literatura científica estabelece que a patológicos, ou então, um modelo dicotômico
educação infantil estabelece as bases do foi declarado errôneo e uma concepção de
desenvolvimento pessoal e social da criança, caráter unitário e global, portanto, a natureza
pois é nessa fase que se integra a humana seria uma realidade única na qual
aprendizagem que serve de base para o dimensões como psíquica e física poderiam ser
alcance de competências consideradas básicas diferenciadas. Da mesma forma, os pioneiros
para o desenvolvimento da pessoa. A da neurologia, psiquiatria e neuropsiquiatria
competência é entendida como a capacidade como Krishaber, Van Monakow, Bonnier,
da criança de colocar em prática, de forma Mayer Gross e Nielsen estudaram os processos
integrada, em diferentes contextos e situações, psicológicos e sua conexão com a dinâmica do
tanto conhecimentos teóricos como corpo (SEPÚLVEDA, 2012). Além disso, eles
habilidades ou conhecimentos práticos, bem estão interessados em mudanças nos sistemas
como atitudes pessoais adquiridas. O conceito do corpo como resultado de danos ou lesões
de competência abrange mais do que apenas cerebrais.
saber fazer ou como aplicar, pois inclui No início do século XX, o médico francês
também saber ser. As competências básicas Ernest Dufre introduziu o estudo
são, portanto, os conhecimentos, habilidades e termopsicomotor da fraqueza motora em
atitudes de que todos os indivíduos pacientes com transtornos mentais associados
necessitam, tanto para sua realização e ao retardo mental, para unificar o corpo e a
desenvolvimento pessoal, quanto para sua mente. Assim, o conceito de psicomotricidade
inserção na sociedade. foi posteriormente desenvolvido por autores
O desenvolvimento das habilidades como Guillemain, Wallon e Ajuriaguerra
psicomotoras na infância possibilita à criança (MALDONADO, 2018).
organizar o mundo exterior por meio de seu Na educação, destaca-se a influência de
corpo, contribuindo para seu desenvolvimento pesquisadores como: Piaget, Lapierre,
intelectual, afetivo e social. Aucouturier, Defontaine e Wallon (HERON, et
A psicomotricidade tem um papel al., 2018). Da mesma forma, este último refere-
importante no desenvolvimento das crianças se ao sistema corporal como composição e não
na Educação Infantil e é uma necessidade do como unidade biológico-psíquica, não como
processo educativo desta idade. dispositivo de construção para o
Ao longo da história, a concepção das desenvolvimento da personalidade da criança.
habilidades motoras do corpo sofreu inúmeras Nessa linha, a educação psicomotora visa o
mudanças. Assim, para o filósofo René desenvolvimento harmônico do indivíduo
Descartes, o corpo foi concebido como um (HERON, et al., 2018), pois a reabilitação busca
pedaço de espaço visível separado do sujeito eliminar ou reduzir hábitos que interferem no
pensante (HERON, et al., 2018). Portanto, no desenvolvimento psicomotor, acadêmico ou
século XIX, para compreender a estrutura do social do indivíduo. Assim, a psicomotricidade

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

é uma troca constante entre o desejo do corpo matriciais e habilidades que serão de vital
de manter o equilíbrio e criar novas importância para o seu cotidiano.
experiências, buscando restaurar ou manter a
capacidade do indivíduo de se adaptar melhor HABILIDADES PSICOMOTORAS
ao meio em que vive.
A Habilidade Psicomotora é muito
Cabe esclarecer que a psicomotricidade
importante para o desenvolvimento das
sugere coordenação ou equilíbrio diante da
crianças de modo que devem ser abordadas
realidade, para justificar a melhora do
em todos os níveis da educação básica,
desenvolvimento psicomotor em crianças. Há
especialmente na Educação Infantil.
um evidente impacto positivo da educação
Na Educação Infantil deve ser praticada
física no perfil psicomotor das crianças e suas
movimentos do corpo e mental, integrando as
interações com o mundo ao seu redor.
interações físicas, emocionais e cognitivas por
A atividade motora e o movimento adaptam
meio de atividades que são projetadas para o
o ser humano à realidade, desempenhando
exercícios, assim para que eles ganhem
desde cedo um papel fundamental na vida
confiança, autonomia própria iniciativa, que irá
afetiva e social. É na fase infantil que ocorre a
permitir às crianças a desenvolverem suas
maioria das mudanças que permitem que as
guerrerenses personalidades, para ser uma
crianças explorem o mundo ao seu redor. Esta
projeção ativa, intencional. É claro que
interação no espaço-tempo é adquirida por
reconhecer é uma tarefa que ocupa análise e
meio de um desenvolvimento psicomotor
dedicação na prática docente e acaba sendo
adequado que permite à criança responder aos
benéfica nos alunos.
diferentes desafios que lhe são apresentados.
Para um bom desenvolvimento psicomotor
No entanto, existem diferentes parâmetros
é importante integrar os pais sejam envolvidos
que compõem o perfil psicomotor da criança,
e incentivar seus filhos cedo, isso vai ajudar a
que deve ser amadurecido e adquirido nos
fortalecer o desenvolvimento pessoal e sua
momentos correspondentes e adequados do
educação, aumentando a psicomotricidade. A
processo. Promovê-los por meio da atividade
maturação psicomotora da criança é mais
física, favorecendo o desenvolvimento da
importante.
criança, dá-lhe a oportunidade de desenvolver
Através dos exercícios propostos e sugeriu
as suas competências, o que lhe permitirá
que visam ajudar os pais e educadores para
resolver situações mais complexas em fases
obter e melhor primeira maturação
posteriores, proporcionando autonomia e
psicomotora da criança, maior domínio de
benefícios não só a nível emocional, mas
habilidades motoras e uma melhor
também a nível académico. Assim, o
compreensão do corpo e do mundo ao seu
desenvolvimento motor contribui para
redor; fenômeno , de maneira muito mais lenta
estruturas de aprendizagem e esquemas de
e imperfeita (CUENCA, 1986, p. 12).
maturação, no qual as funções da criança
Toda prática humana na vida cotidiana
podem atingir determinados hábitos,
precisa ser reconhecida de seus esforços e de
habilidades, conhecimentos em operações
sua capacidade, isso os faz sentir carinho e

385
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

segurança, o contexto educacional não está entrave em seu entendimento, frente a


isento dessa necessidade, qualquer atividade administração do tempo e em oposição ao
projetada e praticada pelo professor não deve trabalho.
ser apenas reconhecida, se não rotulado e Ao se deparar com o modo de produção
avaliado, tomando todos os esforços que o vigente, bem como com sua proposta de a
aluno pratica no processo de ensino- carga excessiva de trabalho, passou a enaltecer
aprendizagem como um impulso para a valorização do não-trabalho, que se
continuar e dados ou evidências que permitem transformava em tempo livre para os
ao professor conhecer as características operários, na qual vivenciarias as práticas de
pessoais dos alunos, assim, como um todo, lazer segundo Rolim (1989, p.51).
corrigir deficiências , avaliar e avaliar os Na perspectiva psicossociológica, em que o
sucessos nas atividades de aprendizagem no lazer é bem delimitado como tempo livre,
desenvolvimento psicomotor como quando há liberdade para administração do
conhecimentos, habilidades e atitudes que descanso (repousando, divertindo-se),
exemplificam os alunos na prática de seus podendo desenvolver intencionalmente as
estudos. formas e os conteúdos do ócio (ROLIM, 1989).
É preciso destacar que alguns estudiosos se
O LAZER E SUAS DIFERENTES opõem a essa divisão proposta pelo referido
autor, posto que ele subdivide e fragmenta o
FORMAS PARA COLOCABORAR fenômeno, no entanto, para nós, sua
COM A PSCIMOTRICIDADE categorização foi um importante caminho para
Convém repetirmos a complexidade do pensarmos nosso trabalho.
fenômeno lazer, considerando sua ligação com No entanto, uma das referências
as formas e organização do trabalho em obrigatórias para compreensão e conceituação
diferentes sociedades, como uma temática do lazer é Dumazedier (1973). Segundo
desafiadora. (REQUIXA, 1977), um dos conceitos de lazer
Dessa maneira, ao logo dos anos, não se mais importante que foi construído e
apresentava um conceito específico que proveniente de Joffre Dumazedier, em sua
envolvesse sua total dimensão, tornando -se obra Vers une civilizationduloisir?
um grande desafio ao longo da história. Dumazedier (1973), inaugura uma teoria
Muitos foram os esforços a busca de mais geral, do que propriamente uma teoria do
compreensão sobre lazer, os autores partiam lazer, denomina-a como – a “Teoria da
de seu referencial teórico, cada um com sua Decisão”, nela ele articulava três tipos de
definição a respeito do que é lazer, o que por pensamento: o pensamento axiológico; o
sua vez colaborava para a complexidade na pensamento teleológico instrumental; e o
conceituação de lazer. pensamento probabilístico.
Observando a epistemologia da palavra Dito de modo mais simples, o pensamento
lazer, não se tem clareza de sua definição, axiológico é o pensamento do que é desejável;
entende, poder-se fazer”, a palavra apresenta o pensamento teleológico instrumental é o

386
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pensamento do que é possível; e o social. Para este autor, o lazer está


pensamento probabilístico é o pensamento do intrinsecamente relacionado com o
que é provável, antes e depois da intervenção, contentamento, o que é relevante que se faça
isto é, o pensamento probabilístico examina as de livre vontade, ou seja, com autonomia.
necessidades prováveis a satisfazer e quais os Os benefícios citados por Pedro (2005),
resultados prováveis a obter (DUMAZEDIER, também são descritos por Dumazedier (1973,
1973). p.30): "[...] a ação positiva do lazer sobre o
Numa perspectiva sociológica, o autor indivíduo, é de realçar os benefícios para a
define lazer como: mente, para o físico, para a formação
[...] um conjunto de ocupações às quais o profissional e para a sua sociabilidade".
indivíduo pode entregar-se de livre vontade, Portanto, o lazer precisa ser considerado
seja para repousar, seja para divertir-se, como um desenvolvimento integral, que
recrear-se e entreter-se, ou ainda para promova crescimento pessoal e social do
desenvolver sua informação ou formação indivíduo, visto como tempo livre, para distrair-
desinteressada, sua participação social se prazerosamente, levado em conta as
voluntária ou sua livre capacidade criadora, necessidades do seu uso com como
após livrar-se ou desembaraçar-se das desenvolvedor psicossocial.
obrigações profissionais, familiares e Já, para Marcellino (1987 e 2006), existem
sociais(IBIDEM, 1973, p.34) outras possibilidades de lazer além do
Contudo, para Andrade (2001), o lazer é descanso e divertimento, trata-se do
caracterizado como “um conjunto de fatos e desenvolvimento pessoal e social que o lazer,
circunstâncias [...] que apresentam como ou seja, como o teatro, turismo, festa etc. O
isentos das pressões e das tensões, podem autor sinaliza para a existência de uma
afetar as atividades humanas individuais e perspectiva formativa por meio do lazer,
grupais” [...] (p.21). o fenômeno caracteriza-se, transcendendo os limites do descanso.
para esse autor, como uma atividade essencial Segundo ele, nas diferentes práticas do lazer,
à vida humana, com efeitos de equilíbrio, estão presentes oportunidades excepcionais,
saúde e produtividade. podendo ser um ambiente fecundo de reflexão
Ressalta ainda que “[...] não há lazer que se sobre as pessoas (e valores) e as diferentes
realize, produtivamente, em corpos exaustos realidades nas quais as mesmas estão
e/ou mentes tumultuadas por distúrbios na inseridas.
formação estrutural ou por quaisquer outros Em uma perspectiva formativa, por meio do
tipos de desvirtuamentos conhecidos e lazer, não se é pensado como descanso, o que
desconhecidos” (ANDRADE, 2001, p.22). proporcionou sua valorização.
Para, Pedro (2005), lazer denota uma Marcellino (1987 e 2006), advoga a respeito
escolha livre, com uma autogestão do tempo dos benefícios oriundos das práticas de lazer:
livre, desde que haja uma satisfação pessoal, ¬¬
podendo melhorar a qualidade de vida,
nomeadamente o bem-estar físico, mental e

387
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Assim, a admissão da importância do lazer O ideal seria que cada pessoa praticasse
na vida moderna significa considerá-lo como atividades que abrangessem os vários grupos
um tempo privilegiado para a vivência de de interesses, dessa forma, exercitar, no tempo
valores que contribuam para mudanças de disponível, o corpo, a imaginação, o raciocínio,
ordem moral e cultural. Mudanças necessárias a habilidade manual, o contato com outros
para implementação de uma ordem social. [...] costumes e o relacionamento social, quando,
a busca do prazer no lazer, o que não impede onde, com quem e da maneira que quisesse.
sua caracterização como um dos canais de No entanto, o que se verifica é que as pessoas
atuação, no plano cultural, tendo objetivos não geralmente restringem suas atividades de lazer
meramente reformistas, mas que signifiquem a um campo específico de interesses. E
mudanças radicais no plano social geralmente o fazem não por opção, mas por
(MARCELINO, 1987, p. 40-41). não terem tomado contato com outros
O autor defende o lazer enquanto conteúdos. (p.18-19)
mecanismo de transformação cultural, que Visando a ampliação de satisfação pessoal
gerou mudanças na organização social, nesta ligada ao lazer, pode-se incluir habilidades
perspectiva, Marcelino (1987), advoga por uma esportivas, onde o indivíduo tem a
formação, por meio do lazer, observando nele, possibilidade de conhecer suas capacidades,
um campo fecundo para as mudanças sociais. trabalhando suas emoções, resolução de
Valeremos da compreensão que observa problemas, por meio, do esporte, o qual
Marcelino (1987), concebendo por meio do sucesso e fracasso são experiências
lazer um espaço de formação humana, bem importantes, pois:
como, um ambiente adequado para as O sucesso transmite uma sensação de
mudanças sociais, ou nas palavras do autor, satisfação pessoal pela conquista adquirida e
como necessidade básica do homem. serve como ponto inicial para novas
Haag (1981), falando sobre o esporte e o realizações, e o fracasso tem o seu valor na
tempo livre, considera que ambos são qualidade de incentivo para uma nova
fenômenos ou formas de manifestação de tentativa de êxito. (ZILLIO, 1994, apud,
nossa vida cotidiana sobre as quais se discute BENETTI, et al, 2005).
muito, mas que são mal interpretados. Para Diante disso, interagir e lidar com as
esclarecer a relação entre o esporte e o tempo situações que envolvem aspectos sociais e
livre, analisa o que entendemos por esporte: "a pessoas, situações que envolvem
palavra provém do verbo latino 'deportare', determinação, disciplina, autoconfiança,
distrair-se, e logo se substantivou em francês e coragem, entusiasmo e entre outros fatores,
inglês na forma 'desport' ou 'sport', o que torna-se possível com a pratica de atividades
significa diversão" (p. 91). físicas.
Segundo Marcellino (2006), para que o lazer Dessa forma, torna-se relevante que as
possa ser um mecanismo de transformação pessoas usufruam de diversas atividades e dos
cultural, consequentemente agisse como um diferentes conteúdos do lazer, para que haja
meio de mudanças sociais: vivências e experiências, se expandindo assim,

388
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o campo de interesses. Todavia, sabemos que, virtudes e valores, importante crescimento


para que exista expansão e se desfrute tanto da individual e coletivo, as relações sociais
diversidade quanto da qualidade do lazer, é estimula aprendizagem humana, na qual a
preciso de uma educação formal e informal amizade se constrói com um simples olhares e
que possibilite tais vivências e formação, pois sorrisos respeitosos, enaltecendo a igualdade
os limites formativos e a pouca oferta de de direitos e deveres, sendo humildes durante
experiência com os conteúdos empobrecem a todo o processo compreendendo e tentando
educação para e pelo lazer, como bem entender o próximo e respeitá-lo como
observou Pereira (1993)”. cidadão da sociedade.
Cabe destacar que, segundo Libâneo (2007), De mãos dadas à Psicomotricidade, está
que educação não formal, “são aquelas também a brincadeira que auxilia na ampliação
atividades com caráter de intencionalidade, de benefícios, corpo e mente, prazerosamente
porém com baixo grau de estruturação e envolve os participantes, proporcionando
sistematização, implicando certamente trocas de valores, inconscientemente,
relações pedagógicas, mas não formalizadas” despertando no brincante que aprende e leva
(p.89). alguns aprendizados para a vida, repassando e
Marcelino (1987), considerando que o lazer passando a aqueles valores significativos a vida
deverá atender as pessoas nos diferentes coletiva e individual.
segmentos da vida, e portanto, é necessário Nesse sentido, faz-se necessário pensarmos
que as pessoas conheçam seus conteúdos, para em políticas públicas que possam colaborar
que os mesmo possam atender seus interesses. para a formação humana da população, sendo
Buscando uma contribuição na construção importante para que conheçam os conteúdos
de uma sociedade humana e digna, como fruto componentes da Psicomotricidade, para que
de uma mistura de princípios, a fim de este não seja somente uma ocupação da
incentivar o lazer , rompendo com os mente, dedicando-se a aliená-la. Antes que
princípios culturais, instituído pela estigma desenvolva o caráter social e crítico.
social, as pessoas podem se desenvolver em
um ambiente de lazer, considerado um espaço O CORPO, O MOVIMENTO E A
de formação humana.
O tempo dedicado ao prazer estabelece um PSICOMOTRICIDADE
vínculo significante entre os indivíduos, a O desenvolvimento motor é um processo
diversão sem pressões externas, acalma, sequencial contínuo pelo qual os humanos
alegra, proporcionando auto estima, adquirem progressivamente um número
compaixão, a medida que se estabelece significativo de habilidades motoras. O
dialogo, se abre um leque de opções, comportamento motor começa com
oportunidades de auto conhecer, dividir habilidades simples e desorganizadas e evolui
experiências e aprender com outras, socializa- para um nível de movimento que envolve
se faz crescer-se como pessoa, boa, padrões complexos e organizados.
responsável, autônoma, além de desenvolver

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os movimentos fundamentais são na prevenção de possíveis distúrbios em


habilidades motoras gerais comumente crianças prematuras.
exigidas na vida diária das crianças e A psicomotricidade cessa no corpo e no
dominadas durante a infância. O estágio do movimento, para tomá-los como objetos de
movimento fundamental ocorre dos dois aos seu estudo e intervenção. E precisamente a
sete anos de idade e segue-se aos movimentos finalidade ou orientação de dita intervenção
rudimentares do período neonatal. interpreta o corpo e suas ações de uma
De fato, a prática de habilidades motoras é maneira diferente.
um fator muito importante par a o De forma analítica, podemos considerar
desenvolvimento da integração da percepção diferentes dimensões corporais, bem como
com a ação e, portanto, da coordenação diferentes eixos de interpretação do
motora. Se no período da infância a criança não movimento. Cada um deles (dimensões e
tiver oportunidade de prática, instrução e eixos) irá sublinhar ou privilegiar algum
encorajamento, ela não vai adquirir os aspecto dessa globalidade, tão reivindicada
mecanismos básicos para a execução de pelas habilidades psicomotoras, histórica e
tarefas como, por exemplo, identificar os internacionalmente.
estímulos relevantes para a ação eficiente, Existem elementos essenciais das
identificar a estrutura temporal da tarefa e habilidades psicomotoras (como esquema e
organizar padrão motor adequado para imagem corporal) que chamam a atenção do
execução da tarefa com êxito (PELLEGRINI, et ponto de vista psicomotor. Da mesma forma
al., 2017. p. 188). que o fazem se colocar diante do corpo e do
Os movimentos fundamentais incluem movimento das pessoas sobre quem ele
exploração, controle de movimentos discretos, intervém.
seriais e contínuos e teste das habilidades Se o movimento e o corpo são um veículo
motoras do corpo. Também estão incluídos os para a expressão da personalidade,
movimentos locomotores (correr e pular), desenvolvimento, conflitos, etc., eles também
habilidades manipulativas (arremessar e pegar) são uma ferramenta que o psicomotor deve
e habilidades de estabilidade, que envolvem usar com sabedoria. Por isso, devemos nos
equilíbrio e coordenação deter na consideração das habilidades físicas e
Alguns aspectos podem afetar motoras do psicomotor que ele vai utilizar de
negativamente o desenvolvimento infantil, acordo com seus objetivos de intervenção.
incluindo prematuridade, baixo peso ao nascer Por fim, observar o corpo e o movimento,
e fatores ambientais. Déficits perceptivos, apreciar suas nuances e interpretar suas ações
motores e de atenção, bem como transtornos passa a ser a leitura do psicomotor sobre a
comportamentais, estão frequentemente experiência dos sujeitos e seu progresso na
associados ao nascimento prematuro. Assim, a evolução ou recuperação de suas
intervenção precoce e o acompanhamento do possibilidades.
desenvolvimento servem como instrumentos A consciência corporal como nos afirma
Piaget (1994, p. 97):

390
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

É algo que se desenvolve naturalmente na movimentos, procurando adaptá-los ao espaço


infância, se essa tiver permissão de conhecer vivido.
seu corpo, o que implica experimentar os A criança brinca com o seu corpo, arrasta,
movimentos, utilizá-los com desenvoltura e ter rola, atira um objeto, enche e esvazia, se
a sensação de domínio deste corpo. esconde, cai, equilibra, salta, corre, constrói,
A educação pelo movimento surge nesse destrói, rabisca, desenha, escreve, fantasia.
contexto sobre forma de concepção Araújo (1992), afirma que: “dada à
pedagógica trazendo o corpo racionalmente importância da ação psicomotora sobre a
organizado em torno do seu eixo e servindo de organização da personalidade da criança, é
referência a toda organização espaço-temporal indispensável um trabalho educativo que
que permita explorar o mundo. Uma atividade venha promover um melhor desenvolvimento
motora exploradora e inteligente, organizando de suas potencialidades”.
sistematicamente o espaço e o tempo e O desenvolvimento do esquema corporal se
permitindo a estruturação do espaço gráfico. dá a partir da experiência vivida pelo indivíduo
A educação pelo movimento deve ser com base na disponibilidade e conhecimento
utilizada para que as crianças adquiram a que tem de seu próprio corpo e sua relação
noção do seu esquema corporal e outras com o mundo que o cerca.
noções indispensáveis do seu desenvolvimento Segundo Le Boulch (1985):
seguindo as etapas. O esquema corporal ou imagem do corpo
Todas as formas de representação simbólica pode ser considerado como uma intuição de
na faixa etária da educação infantil permitem conjunto ou um conhecimento imediato que
que a criança comece a colocar sua marca no temos do nosso corpo em posição estática ou
mundo, demonstrando sua singularidade em em movimento, na relação de suas diferentes
ascensão. partes entre si e, sobretudo na relação com o
Sempre nos dizem que é preciso fortificar o espaço e objetos que nos circundam.
corpo, que é preciso suar e transpirar. Assim, O mundo da criança pequena é carregado de
para ficar em forma, montamos numa bicicleta, racionalidade e de afetividade.
nos penduramos num espaldar, corremos até O movimento é o meio de expressão
perdemos o fôlego no jogging, empunhamos fundamental das crianças na Educação Infantil,
halteres. Que tristeza! Nossos músculos isto porque o espaço entre a emoção e ação é
merecem muito mais do que essa menor quanto mais jovem for à criança.
domesticação forçada. O que é preciso fazer é, Ao movimentarem-se, as crianças
primeiro abrir os olhos e nos esforçamos para expressam sentimentos, emoções e
olhar nosso corpo, a fim de compreendermos pensamentos, ampliando as possibilidades do
como ele funciona (BERTHERAT, 2010, p. 2) uso significativo de gestos e posturas corporais.
À medida que a criança se movimenta, mais O movimento para a criança pequena
livremente, é capaz de perceber a si próprio e significa muito mais do que mexer partes do
as coisas no espaço em relação a si, podendo corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se
se orientar nesse espaço e avaliar seus expressa e se comunica por meio dos gestos e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

das mímicas faciais e interage utilizando


fortemente o apoio do corpo.
Henri Wallon, filósofo francês conhecido por
suas pesquisas a respeito da psicologia do
desenvolvimento, coloca o movimento como o
elemento inicial da comunicação e do
desenvolvimento do ser humano, o que lhe
confere importância primordial no trabalho
educativo (MANTOVANI, 2009, p. 31 e 32).
De acordo com Wallon (1975), “o
movimento antes de estabelecer relação com o
meio físico primeiro atua sobre o meio
humano, atingindo as pessoas por meio de seu
teor expressivo”.
O cuidado do corpo de crianças pequenas faz
parte da necessidade que todas elas têm de
serem educadas em suas especificidades. É por
meio do movimento corporal que meninos e
meninas se expressam, estudam, aprendem e
se comunicam.

392
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicomotricidade possibilita o ajustamento pragmático (aprendizagem de técnicas
profissionais, manuais, intelectualidade), o ajustamento social (comunicação interpessoal), o
ajustamento estético (técnicas de expressão corporal) e o ajustamento educacional.
Além disso, foi associada a ideia de que o domínio do corpo é a primeira condição para o
domínio do comportamento.
Portanto, a relação entre o psiquismo e a motricidade é necessária para que o indivíduo
se adapte com sucesso ao ambiente próximo.
Por fim, para compreender profundamente o termo psicomotricidade, é importante
conhecer seus aspectos evolutivos, como se constrói o corpo e como se desenvolve o gesto
gráfico.
As crianças precisam valorizar todos esses aspectos quando são pequenas, pois vão criar a
base que vai marcar suas vidas. Além disso, se as crianças se acostumarem com a prática de
esportes, provavelmente terão uma vida saudável e por meio do esporte irão diminuir o estresse,
ter um comportamento melhor, etc.
A psicomotricidade é entendida como a intervenção educacional ou terapêutica que visa
desenvolver as habilidades motoras, expressivas e criativas da criança por meio do corpo, e utiliza
o movimento para alcançá-lo.
Esta disciplina leva em consideração diferentes indicadores para a compreensão do
processo de desenvolvimento humano: coordenação (expressão e controle das habilidades
motoras voluntárias), função tônica, postura e equilíbrio, controle emocional, lateralidade,
orientação espaço-temporal, esquema corporal, organização rítmica, práxis, habilidades
grafomotoras, relacionamento com objetos e comunicação.

393
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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394
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Angela Maria Spricido Pegoraro 1

RESUMO: O presente artigo aborda o tema da psicomotricidade na Educação Infantil e seu


objetivo geral é analisar a importância da psicomotricidade para o desenvolvimento da criança
no âmbito da Educação Infantil. Cumprindo com esse objetivo, o estudo apresenta diversos
conceitos importantes sobre a psicomotricidade, o desenvolvimento psicomotor infantil; discorre
sobre jogos motores e abordagens da psicomotricidade no planejamento de atividades na
Educação Infantil. Na realização do estudo realizou-se uma pesquisa de base bibliográfica e com
uma abordagem qualitativa dos dados obtidos, conclui que a psicomotricidade é um fenômeno
que se refere intrinsecamente à aprendizagem e sua importância é fundamental na Educação
Infantil porque favorece a tomada de consciência da criança em relação a si mesma, sua
identidade, sua relação com a escola e a aprendizagem e seu papel como sujeitos sociais em
permanente construção e desenvolvimento.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Desenvolvimento; Consciência; Aprendizagem.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSYCHOMOTRICITY IN CHILD EDUCATION


ABSTRACT: This article addresses the issue of psychomotricity in Early Childhood Education and
its general objective is to analyze the importance of psychomotricity for the development of
children in Early Childhood Education. Fulfilling this objective, the study presents several
important concepts about psychomotricity, child psychomotor development; discusses motor
games and psychomotricity approaches in planning activities in Early Childhood Education. In
carrying out the study, a bibliographic research was carried out and with a qualitative approach
to the data obtained, it was concluded that psychomotricity is a phenomenon that intrinsically
refers to learning and its importance is fundamental in Early Childhood Education because it
favors the child's awareness in relation to themselves, their identity, their relationship with the
school and learning and their role as social subjects in permanent construction and development.

Keywords: Early Childhood Education; Development; Conscience; Learning.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO objetivos específicos são: apresentar os


conceitos importantes sobre a
O termo psicomotricidade, em uma visão psicomotricidade e o desenvolvimento
geral e no aspecto global da pessoa, integra as psicomotor infantil; discorrer sobre os jogos
interações cognitivas, emocionais, simbólicas e motores na Educação Infantil e compreender
sensório-motoras, a capacidade de ser e de se as abordagens da psicomotricidade no
expressar do indivíduo, desempenhando um planejamento de atividades na Educação
papel fundamental no desenvolvimento Infantil.
harmônico da personalidade da criança. A metodologia do estudo é a pesquisa
No contexto da Educação Infantil, adquire bibliográfica em livros, revistas, sites
uma relevância especial, tornando específica a especializados e demais fontes pertinentes ao
função que a escola possui para a excelência do tema. A abordagem dos dados coletados é
desenvolvimento psicomotor da criança. Nesse qualitativa, buscando as informações
sentido, o presente estudo aborda o tema da relacionadas ao problema de pesquisa e
psicomotricidade na Educação Infantil. O adequadas aos objetivos propostos.
problema de pesquisa é: Qual a importância
dos estímulos psicomotores para o
A EDUCAÇÃO INFANTIL E O
desenvolvimento da criança na Educação
Infantil? DESENVOLVIMENTO DA
A justificativa para a escolha do tema é a PSICOMOTRICIDADE INFANTIL
constatação de que a Educação Infantil é a O movimento corporal é essencial na
etapa na qual, por excelência, se busca o integração motora, sendo a base da
desenvolvimento motor e psicológico psicomotricidade no desenvolvimento humano
harmônico da criança, permitindo assim que e ferramenta que capta informações sobre o
ela amadureça, potencialize as suas que se desenvolve no entorno.
potencialidades para aprender e para se Nesse sentido, Freitas (2015), afirma que
desenvolver. cada pessoa conhece a si mesma por meio das
Também se considera que o tema é vivências individuais e pelos movimentos
importante porque na Educação Infantil é realizados ou adquiridos, pela convivência com
essencial desenvolver na criança atitudes os outros, sempre e quando se repetem regras
positivas e valores individuais e sociais e se resolvem problemas cotidianos. O
importantes e os estímulos psicomotores movimento em si capacita para uma
contribuem para essa questão, diversidade de deslocamentos dos diversos
proporcionando experiências que originam segmentos corporais, envolvendo diferentes
atitudes positivas e desenvolvimento físico, partes do corpo.
social, afetivo e cognitivo. Para Edwards, et al. (2016), a
Objetiva-se analisar a importância da psicomotricidade trata o movimento como o
psicomotricidade para o desenvolvimento da fator de desencadeia os aspectos socioafetivos
criança no âmbito da Educação Infantil. Os do indivíduo, partindo do conhecimento do eu

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

interior para descobrir o exterior por meio do desenvolvimento de seus padrões motores, em
movimento, não apenas em sua dimensão constante aperfeiçoamento.
neurofisiológica, mas também – e ao mesmo No mesmo sentido, Garcia (2015), assinala
tempo – como inteligência e atividade. Dividem que a função tônica do corpo é a função
o movimento em dois tipos: primitiva e fundamental da comunicação e do
1) Voluntário, que se baseia em uma intercâmbio, sendo, sobretudo, diálogo, pois o
intenção e nos processos cognitivos, sensoriais corpo da criança manifesta suas emoções,
e perceptivos. Dentre estes existem também estabelece um diálogo com o mundo que a
movimentos automáticos, que podem ser circunda. Para que haja esse diálogo, deve
baseados na atenção e que se automatizam, haver um acordo entre pessoas,
como caminhar, andar de bicicleta, etc. disponibilidade corporal por parte do adulto
b) Involuntário, baseado nas funções para responder à criança, conectando o tônico-
corporais orgânicas, como a respiração, a afetivo. Assim, sobre o tônus muscular vão se
pulsação e os reflexos. construindo e integrando todas as
Ainda, conforme Freitas (2015), a competências do indivíduo.
importância de conhecer os padrões de Afirma também Garcia (2015), que o corpo é
movimento e sua utilidade dentro da uma estrutura diferenciada em quatro níveis
psicomotricidade advém do fato de que o organizativos (instrumental, cognitivo, tônico-
movimento do ser humano segue uma emocional e fantasmático) que, a partir de
evolução genética determinada. unidades psicomotoras simples, mais
Os processos de movimento se apresentam profundas, pouco visíveis e compreensíveis
em todas as crianças e se manifestam quase imediatamente, evoluem harmonicamente
nos mesmos tempos, ainda que apresentem para formas expressivo-funcionais mais
variações conforme a cultura e o entorno. Estes complexas, maduras e mensuráveis.
processos se apresentam de forma sequencial, No plano afetivo, se fundamenta na
conforme a maturação neurológica, baseada motricidade muito particular de cada
nas duas leis do desenvolvimento citadas por indivíduo, que se encontra fundada sobre a
Freitas (2015): função tônica e no plano social em um nível
a) Cefalocaudal: o controle progressivo do conforme a todos e codificado por todos da
corpo vai da cabeça aos pés, ou seja, desde o mesma forma dentro do contexto no qual se
controle cefálico até o controle muscular. movem os indivíduos de um mesmo entorno
b) Proximodistal: controle do tronco e do sociocultural. (GARCIA, 2015).
corpo até os braços e pernas, ou seja, o Acrescenta Garcia (2015), que a
controle motor progride gradualmente sobre psicomotricidade ajudará a criança a
os músculos, partido do centro do corpo para desenvolver seu esquema corporal, mantendo
os membros. a consciência, as relações entre os diferentes
A partir das mudanças corporais, a criança aspectos e níveis do eu, sendo que o esquema
reconhecerá seu corpo em relação aos objetos, corporal é fundamental para o
pessoas e espaço, devendo-se atentar para o desenvolvimento da personalidade infantil.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Assim sendo, a psicomotricidade torna a A finalidade do desenvolvimento motor é


criança capaz de reconhecer e nomear as alcançar o domínio e o controle do próprio
partes do seu corpo e de controlá-las, além de corpo, até obter do mesmo todas as suas
desenvolver a lateralidade. possibilidades de ação. Esse desenvolvimento,
Quanto à consideração da pessoa como uma conforme Oliveira (2013), se manifesta por
unidade entre mente e corpo, comenta Garcia meio da função motora, que se constitui por
(2015), que esta é a questão a partir da qual se movimentos orientados para as relações com o
compreende a complexidade do indivíduo, mundo que circunda a criança e que exercem
havendo dois fatores que a determinam: o um papel essencial em todo o seu progresso e
orgânico e o sociocultural. O fator orgânico aperfeiçoamento, desde os movimentos
implica em que a genética marca a pessoa reflexos primários até chegar à coordenação
desde o nascimento nos aspectos motores e dos grandes grupos musculares que intervêm
psíquicos e com base nessa premissa existe a nos mecanismos de controle postural,
possibilidade de prever o surgimento das equilíbrio e deslocamentos.
etapas do seu desenvolvimento neuromotor e A melhoria motora está sujeita às quatro leis
neuropsicológico. do desenvolvimento, citadas por Oliveira
Ainda, segundo Freitas (2013), os fatores (2013): Lei céfalo-caudal; Lei próximo-distal;
sociais e culturais marcam a pessoa desde Lei do geral ao específico e Lei do
criança na forma de aprender e se relacionar desenvolvimento de flexores-extensores.
consigo mesmo e com o exterior. Esses O desenvolvimento, por sua vez, apresenta
processos são dependentes entre si e sua uma série de características que o
interação marca o desenvolvimento singularizam, de tal forma que tanto o
psicomotor da criança. desenvolvimento como o aperfeiçoamento
Para Freitas (2013), que a parte cognitiva do motor dependem da maturação e da
indivíduo se modela segundo os aspectos aprendizagem, já que para que se produza uma
genéricos e sociais, em um contínuo aprendizagem na coordenação de movimentos
desenvolvimento motor. O espaço psicomotor é necessário que o sistema nervoso e o sistema
se encontra entre as capacidades potenciais e muscular alcancem um determinado nível de
reais do indivíduo, dependendo da parte maturação, (OLIVEIRA, 2013).
cognitiva, sempre em constante modelação, Com efeito, como observa Fonseca (2016, p.
em consonância com padrões tanto de ordem 56), o desenvolvimento psicomotor tratado
interna quanto externa. cientificamente e praticado nas sessões de
No mesmo sentido, Freitas (2013), comenta aprendizagem busca fazer com que as crianças
que o desenvolvimento motor da criança de 0 sejam capazes de controlar suas condutas e
a 5 anos não pode ser compreendido como habilidades motoras. Portanto, o progresso
sendo algo que a condiciona, mas como algo motor está na metade do caminho entre a
que a criança produz por meio do seu desejo de maturação física e a relacional, “com uma
agir sobre o entorno e de tornar-se cada vez porta aberta à interação e à estimulação,
mais competente. implicando um componente externo à criança

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

(ação) e outro interno (representação do corpo (1981), Ajuriaguerra (1978), Le Boulch (1981),
e suas possibilidades de movimento).” Vayer (1973), Fonseca (1984, 1988 e 1996),
Dentro do âmbito do desenvolvimento Cratty (1990), Gallahue e McClenaghan (1958)
motor, a Educação Infantil, como assinala e de Lapierre e Auconuturier (1955), sobre os
Kuhlmann Júnior (2015), se propõe a facilitar e diversos âmbitos da conduta infantil
garantir os benefícios que possibilitam a contribuíram para explicar como, por meio da
maturação referente ao controle do corpo, motricidade, se conformam a personalidade e
desde a manutenção da postura e os os modos de conduta infantis.
movimentos amplos e locomotores até os Estes mesmos estudos, de acordo com
movimentos precisos que permitem diversas Kuhlmann Júnior (2015) manifestam também
modificações de ação. Ainda, desenvolver a que a conduta humana é constituída por uma
motricidade permite que se desenvolva o série de âmbitos ou domínios, nenhum dos
processo de representação do corpo e das quais pode ser contemplado separadamente,
coordenadas espaço-temporais em que se mas somente em interação com os demais:
desenvolve a ação. a) o domínio afetivo, relativo aos afetos
Piaget (2013), sustenta que mediante a sentimentos e emoções;
atividade corporal, a criança pensa, aprende, b) o domínio social, que considera o efeito
cria e enfrenta seus problemas, o que leva a da sociedade, sua relação com o ambiente,
compreender que a etapa da Educação Infantil com seus colegas e com os adultos, instituições
é um período de globalidade irrepetível e que e grupos no desenvolvimento da
deve ser aproveitado para a educação personalidade, processo pelo qual cada criança
psicomotora. vai se convertendo em um adulto na
Sobre essa educação Thong (2011), sociedade;
manifesta: c) o domínio cognoscitivo, relacionado com
A educação psicomotora corresponde a uma o conhecimento, os processos de pensamento
ação pedagógica e psicológica que utiliza a e a linguagem;
ação corporal com a finalidade de melhorar ou d) o domínio psicomotor, que se refere aos
normalizar o comportamento geral da criança, movimentos corporais, sua conscientização e
facilitando o desenvolvimento de todos os controle.
aspectos da sua personalidade (THONG, 2011,
p. 84). O JOGO MOTOR NA
Relativamente ao desenvolvimento
psicológico, Kuhlmann Júnior (2015), observa EDUCAÇÃO INFANTIL
que os estudos sobre o desenvolvimento O objetivo da Educação Infantil, conforme a
humano demonstram a grande importância Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
que adquire a motricidade na construção da – LDB –, é promover o desenvolvimento
personalidade da criança. Os trabalhos de integral da criança até seis anos de idade em
Piaget (1968, 1969), Wallon (1980), Gesell seus aspectos físico, psicológico, intelectual e
(1958), Freud (1968), Bruner (1979), Guilmain

400
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

social, complementado a ação da família e da e solicitar ajuda quando necessário, num


comunidade. (BRASIL, 1996). sentido de cooperar, ser solidária e respeitar.
Compreende-se, observando esse objetivo, Os conteúdos atitudinais são relativos a
que desenvolver a criança de forma integral valores, regras e atitudes, que devem ser
corresponde a proporcionar estímulos que compreendidos, aprendidos, planejados,
favoreçam o desenvolvimento pleno das suas interiorizados de forma inconsciente. A
habilidades (físicas, afetivas, intelectuais, socialização da criança é o fundamento desses
sociais e morais) e que aquilo que é ensinado e conteúdos, desenvolvida através de uma
a forma pela qual é ensinado por meio da prática pedagógica e educativa nas quais
motricidade durante a Educação Infantil valores, ações e regras permeiam o trabalho
contribui amplamente para o alcance dessa em sala de aula, o relacionamento entre
finalidade. colegas e com o professor, a organização do
O RCNEI acrescenta a consideração do espaço da sala e da própria escola. (BRASIL,
direito fundamental das crianças a viverem 2001, p. 13-14).
experiências prazerosas na escola e, dessa Ainda, como observa Freitas (2015), as áreas
forma, a seleção dos conteúdos e dos objetivos de experiência nas quais se estrutura a
deve levar em conta tanto as necessidades das Educação Infantil são concebidas com um
crianças como as experiências que são critério de globalidade e de mútua
oferecidas pelo seu entorno: dependência, dirigindo-se no sentido de
A proposição de conteúdos através desse desenvolver a criança e organizando-se em
documento é feita em uma perspectiva torno dos fatores:
conceitual, em uma perspectiva procedimental a) Fatores perceptivo-motores: percepção
e em uma perspectiva atitudinal. Os conteúdos do próprio corpo; percepção espacial como a
conceituais são aqueles que se referem à situação, a direção ou a orientação; percepção
capacidade operativa com símbolos, ideias, temporal, como a duração ou o ritmo;
imagens e representações, ou seja, destinados conhecimento do entorno físico e
a fazer com que a criança atribua sentido à desenvolvimento no meio social. O corpo
realidade através das experiências e vivências solicitado pelos fatores perceptivo-motores é o
que lhe são proporcionadas, aproximando-a de corpo consciente, vinculado à motricidade
conhecimentos que virá a desenvolver voluntária, à representação mental, um corpo
posteriormente. comprometido a pensar, decidir e agir, ávido
Os conteúdos procedimentais envolvem o por conhecer.
desenvolvimento de ferramentas culturais que A percepção é um processo cognitivo muito
possibilitem realizar ações e tomar decisões. valorizado na escola, já que um dos aspectos
Isso implica em aprender a manipular de forma fundamentais da percepção é a significação. A
correta objetos com os quais a criança tem percepção implica interpretar a informação e
contato, desenvolver a independência na construir objetos dotados de significado
execução de tarefas corriqueiras, manifestar retomando os próprios conhecimento, agindo
suas dúvidas, colaborar com os colegas, auxiliar

401
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sobre eles para construir e expressar novas perspectiva globalizadora e interdisciplinar.


aprendizagens. Trabalhar a motricidade por meio das diversas
b) Fatores físico-motores: corpo áreas ou âmbitos de experiências contempla a
instrumental, físico, locomotor, adquirindo ideia de globalidade e interdependência
padrões motores e habilidades motoras necessária nesta etapa inicial de escolarização
básicas na medida em que a motricidade da criança.
evolui. Esses fatores se referem aquisição do A ideia é influir em todos os âmbitos da
domino e do controle do corpo, favorecem o conduta da criança por meio da interrelação
equilíbrio e a prática de movimentos naturais, dos conteúdos motores – para contribuir para
potencializando o desenvolvimento da a melhoria de sua educação integral e global
condição física, enriquecendo o como ser humano, com foco na aquisição de
comportamento motor, buscando a eficácia uma série de conteúdos, tais como: o
corporal. desenvolvimento do equilíbrio; lateralidade;
O corpo solicitado pelos fatores físico- coordenação de movimentos; relaxamento e
motores é o corpo instrumental, locomotor, respiração; organização espaço-temporal e
físico, que coloca em funcionamento vários rítmica; comunicação gestual postural e tônica;
eixos de movimentos, de músculos, de relação da criança com os objetos, com os
articulações, de reações motoras. Também é o colegas e com os adultos; desenvolvimento
corpo que vai adquirindo padrões motores na afetivo e relacional; socialização por meio do
medida em que a motricidade evolui, movimento corporal; aquisição de valores
manifestando sua realidade física por meio de sociais e individuais; expressão corporal, que
movimentos, posturas, atitudes, etc. – é o supõe controlar e expressar a motricidade
corpo de um ser global interessado em saber voluntária e seu contexto relacional,
fazer. manifestando seus desejos, temores e
c) Fatores afetivo-relacionais: criatividade, emoções.
confiança, tensões, pulsões, afetos, rejeições, Reforçando essa ideia, também Sousa
alegrias, tristezas, capacidade de socialização. (2013), explicita que a Educação Infantil se
Quando se permite à criança a expressão concentra no desenvolvimento psicomotor da
global, ela pode refletir seus estados de ânimo, criança e por essa razão é que trabalha as
suas tensões e seus conflitos. O ambiente físico diferentes aprendizagens escolares ao utilizar
no qual ocorrem as aulas na Educação Infantil as possibilidades expressivas, criativas e
é um contexto propício para a observação dos vivenciais do corpo em seu conjunto. Quando
comportamentos mais genuínos da criança e, se trata de desenvolver a psicomotricidade na
da mesma forma de como ocorrem as suas faixa etária das crianças nessa modalidade de
relações entre si e com os demais membros da ensino se fala em um tratamento global e
escola. integrado no qual o corpo aparece e é
No mesmo sentido observa Zabalza (2011), contemplado considerando-se todas as suas
que para desenvolver a motricidade na dimensões motoras que, quando bem
Educação Infantil é importante seguir uma articuladas, auxiliam a criança desde a mais

402
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tenra infância a adquirir maior consciência de Educação Infantil, que as situações de


si mesma, dos demais e do entorno no qual se aprendizagem devem ser integradas com
desenvolve. elementos lúdicos, sendo o jogo a forma mais
O jogo motor ocupa um lugar central em natural da criança aprender, visto que é a
relação ao desenvolvimento psicomotor da primeira atividade criadora infantil: a
criança por meio da educação psicomotora, no imaginação que nasce e se desenvolve no jogo
âmbito da Educação Infantil, articulado com a desenvolve a criatividade. Sua prática também
didática e baseado nas experiências, em é importante para desenvolver habilidades
atividades lúdicas para abordar os diferentes sociais e afetivas da personalidade da criança e
conteúdos motores. para fomentar a aquisição de atitudes, valores
Para Kishimoto (2010), o jogo é instrumento e normas, sendo o meio ideal para a aquisição
lúdico de desenvolvimento motor, mas, de habilidades corporais, como a percepção
sobretudo, um contexto no qual se observam auditiva, a orientação espacial, a percepção de
as condutas motoras significativas cuja análise formas espaciais, a expressão corporal, a
e manipulação constituem a verdadeira motricidade, etc.
essência da educação psicomotora que neste O jogo motor, conforme ensina Bruner
nível educativo se confundem com a educação (1979, apud, MOREIRA, 2011), é o principal
em geral. meio para alcançar benefícios motores, já que
Conforme Chateau (2011), a conduta nele se conciliam ação, pensamento e
motora integra elementos cognitivos, afetivos linguagem.
e motores e revela a criança como ela é, Para Piaget (2013), o jogo concentra ação,
demonstrando suas extraordinárias símbolo e regra e, complementarmente,
potencialidades de perfeição, as quais integração, permitindo construir de forma
paulatinamente atualizará por meio do integral funções importantes como o tônus, o
processo ensino-aprendizagem. O jogo é o equilíbrio, a lateralidade e as condutas
instrumento e finalidade desse perceptivo-motoras e adaptar-se ao meio físico
aperfeiçoamento. e social.
Ainda, Chateau (2011), afirma que o jogo é a Fundamentalmente, como sugere Cabral
ação essencial para que a criança se desenvolva (2014), quando as crianças realizam atividades
e, por esse caráter de fundamentalidade para nas quais de proponham ambientes motores
que ela se socialize, por ser reflexo de sua vida nos quais podem jogar com liberdade criativa,
interior, origina o prazer, a satisfação consigo quando o professor atua como animador e
mesma, contendo todas as possibilidades de estimulador de situações motoras abertas à
transição entre a imaginação criadora e o fazer exploração e ao descobrimento, são
construtivo, estabelecendo, como preconiza estimulados comportamentos sensório-
Piaget, a continuidade entre o jogo e o motores, aprimoram-se as habilidades
trabalho. motoras, potencializa-se o componente
Cabral (2014), assinala, relativamente ao cognitivo e facilita-se os comportamentos
desenvolvimento da psicomotricidade na afetivos e relacionais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A PSICOMOTRICIDADE NO Conforme Lovisaro (2011), cada espaço e


cada material reúnem uma série de condições
PLANEJAMENTO DAS peculiares e, além disso, cada material tem
ATIVIDADES NA EDUCAÇÃO características próprias e que impulsionam
reações motoras nas crianças. Por isso, é
INFANTIL
preciso atentar para o fato de que esses
O planejamento de atividades psicomotoras
materiais devem favorecer determinados
na Educação Infantil tem como objetivo
comportamentos, estabelecendo-se dinâmicas
principal, de acordo com Lovisaro (2011),
educativas diversas que trabalhem não apenas
valorizar os efeitos dos estímulos provenientes
os aspectos que compõem o âmbito motor,
da circunstância ambiental (o entorno físico e
mas também o cognitivo, afetivo e social-
social) sobre o desenvolvimento infantil.
relacional.
Em relação aos espaços e materiais, sugere
Afirma a autora:
Lovisaro (2011), que se aproveite o âmbito da
A manipulação intencional de ambientes de
sala de aula, do pátio, do ginásio, etc., dotando
aprendizagem através da organização de
esse espaço dos materiais necessários até
espaços e materiais pode envolver as crianças
convertê-lo em um espaço acolhedor,
em condutas motoras concretas que
suficientemente amplo para o tipo de
respondam aos objetivos propostos. Da mesma
movimentos programados, com música,
forma que a ação, a experimentação, o jogo e
materiais variados e atrativos, seguro,
a interação das crianças com seus colegas e
iluminado e ventilado.
com o professor, em um ambiente
Falkenbach (2012), observa que é
descontraído e afetuoso, são fatores e recursos
importante selecionar tanto os espaços quanto
que cumprem um papel essencial para que se
os materiais, planejar a ação educativa
possa produzir seu crescimento pessoal.
obedecendo a uma intenção educacional
(LOVISARO, 2011, p. 27).
concreta. Em qualquer caso, a atividade
Para Falkenbach (2012), o próprio corpo da
motora da criança se apresentará em seu corpo
criança é um meio ou recurso e um marco de
global, já que se o objetivo é o
referência ao longo de toda a etapa da
desenvolvimento total e harmônico da sua
Educação Infantil pois permite à criança ter
personalidade, devem ser colocados ao seu
suas próprias vivências e utilizá-lo como
alcance todos os meios necessários para
recurso próprio no conhecimento da sua
atender a essa globalidade. O ambiente ou
corporalidade como fonte produtora de
entorno de aprendizagem aberto a diferentes
sensações ou para sua própria identificação
possibilidades permitirá graus de autonomia
pessoal ou autoestima.
adaptados às diferentes capacidades e ritmos
Basei (2008), sugere que é conveniente
de cada criança e, por sua vez, permitirá
contar com materiais pregados no teto –
também que ao longo da aula se desenvolvam
cordas, escadas de cordas, barras, treliças nas
várias atividades, também adaptadas às
paredes para trabalhar os giros, os reflexos de
diferentes possibilidades das crianças.
quedas de certas alturas, o controle tônico

404
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

postural, o equilíbrio, a coordenação dinâmica no pátio, etc. para estruturar as práticas com
geral e a coordenação visomotora. Outros os materiais apropriados. Em cada um desses
materiais importantes são os quebra-cabeças, espaços o professor adotará um critério
bolas, aros, bolas, objetos de diferentes metodológico particular, de acordo com as
formas, texturas e cores que servirão para o circunstâncias ambientais e bastante flexível.
trabalho corporal e ajudarão a potencializar a Em relação à estrutura das aulas, Gonçalves
caminhada, a corrida, desenvolver a orientação (2013), se refere a uma organização do espaço,
e estruturação espacial, a coordenação de do tempo e das normas, ou seja, uma
movimentos, o equilíbrio, o tônus, a postura, o organização que integra, acolhe e explica as
relaxamento, a respiração, etc. interrelações que se produzem entre as
Enfatiza Basei (2008), que são múltiplos os crianças, o professor e o conteúdo de ensino-
materiais que podem ser utilizados e sua aprendizagem. O modelo proposto pela autora
seleção se relaciona como o tipo de atividades contempla:
a serem desenvolvidas, da metodologia a) Momento inicial ou momento de
empregada e dos objetivos e conteúdos encontro, em que se dará informações sobre as
programados. Deste modo, as propostas de orientações e normas relativas ao espaço de
ação dependem da criatividade do professor, jogo, apresentando-se os motivos, canções,
da disponibilidade da escola e da organização e contos, o material a ser utilizado,
distribuição dos materiais. acompanhado de uma história ambiental de
Seguindo estas premissas se torna possível caráter motivacional para cativar a atenção das
elaborar propostas de ação que situem a crianças e despertar o desejo de participar.
criança, a partir de sua globalidade, como o b) Momento do jogo ativo ou da atividade
centro de toda a atenção do processo motora, que constituirá a parte fundamental
educacional, por meio de métodos baseados na qual as crianças, sozinhas ou em
na ação e na experimentação e em situações de colaboração com os colegas e com a ajuda do
aprendizagem e de descoberta utilizando, professor, desenvolverão seu próprio
conforme propõe Basei (2008): programa de aprendizagem, satisfazendo sua
a) O jogo e a interação motora entre os necessidade de movimento e sua curiosidade
colegas e os adultos como o principal recurso para enfrentar pequenos riscos e dificuldades,
didático. tomando decisões e provando sua
b) A organização do espaço e dos materiais responsabilidade.
como a principal estratégia de intervenção Os jogos e as vivências se estruturam em um
didática. clima de liberdade, confiança e segurança no
No entendimento de Lovisaro (2011), o qual o professor dirige as atividades.
professor deve conjugar as características do c) Momento de relaxamento, interiorização,
meio escolar com suas próprias intenções verbalização, em que o professor propõe às
educativas e, sem afastar-se do contexto crianças que identifiquem suas próprias
educativo, da escola, utilizar, planejar e criar vivências, as expressem e sejam capazes de
determinados espaços de ação em sala de aula, compreender as vivências dos colegas.

405
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Outro modelo é proposto por Lovisaro


(2011), consistindo em:
a) Fase de preparação da sala.
b) Fase de acolhimento, na qual o professor
oferece as diversas possibilidades para que as
crianças escolham entre os recursos, materiais
e espaços disponíveis.
c) Fase de impulsividade, que serve para o
desbloqueio tônico.
d) Fase de atividade motora espontânea,
onde se desenvolvem as capacidades corporais
para resolver diversas situações motoras.
e) Fase de jogo simbólico e de construção.
f) Fase de análise, na qual são trabalhados os
conceitos abordados, com as cores ou as
formas.
g) Fase de representação e linguagem, na
qual serão interiorizados os conceitos
vivenciados.

406
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo realizado discorreu sobre o tema da psicomotricidade na Educação Infantil e
cumpriu com o objetivo principal de analisar a importância da psicomotricidade para o
desenvolvimento da criança no âmbito da Educação Infantil. Também buscou destacar a
importância dos estímulos psicomotores na Educação Infantil a partir da compreensão dos
conceitos e fatores articulados com o desenvolvimento psicomotor da criança, da definição da
importância do jogo na Educação Infantil e da sugestão de métodos de trabalho na Educação
Infantil para favorecer o desenvolvimento psicomotor das crianças.
Relativamente aos conceitos e práticas psicomotoras, conclui que o impacto da educação
psicomotora sobre o desenvolvimento das crianças, tanto em nível físico como psicológico,
neurológico, afetivo e intelectual é bastante significativo.
Especificamente em relação à Educação Infantil, a psicomotricidade proporciona o
conhecimento, o domínio e a harmonização da criança tanto com o próprio corpo como com o
meio, facilitando seu desenvolvimento integral e os processos cognitivos necessários, em uma
abordagem interdisciplinar do processo ensino-aprendizagem.
Quanto à importância do desenvolvimento psicomotor para a criança, é possível concluir
que a psicomotricidade é essencial em todas as fases da vida, integrando, a partir do movimento,
do jogo, do movimento e da ludicidade, os movimentos corporais, a personalidade em formação
e a capacidade para aprender. Favorece, dessa forma, uma formação integral, em todos os níveis,
ressaltando-se a cognição, aspectos socioemocionais e cognitivos.
Em relação ao papel da escola e, especificamente, dos professores quanto à educação
psicomotora na Educação Infantil, as conclusões indicam que conscientizar-se sobre a
importância da psicomotricidade corresponde a compreender seu papel como responsáveis pela
formação integral e global das crianças. Os professores são, portanto, responsáveis por estimular
as crianças a se desenvolverem, buscando sempre novas práticas, novas informações, novos
meios para contribuírem para o seu desenvolvimento psicomotor.
No âmbito da Educação Infantil, é essencial que se perceba e se reflita sobre a importância
da psicomotricidade e de sua influência sobre o processo de amadurecimento e de
desenvolvimento físico, psicológico, cognitivo e afetivo da criança, garantindo dessa forma que
ela vivencie movimentos, supere suas limitações, realize experiências ricas que a levem a
desenvolver-se cada vez mais.
A busca de técnicas, ferramentas e mecanismos específicos, adequados e/ou adaptados à
realidade dos alunos (idade, desenvolvimento, características pessoais e grupais) e à estrutura da
escola é um dever do professor da Educação Infantil, enriquecendo assim sua ação docente.
Da mesma forma, finalmente, é possível concluir que o jogo, as atividades lúdicas, auxiliam
a criança a tomar consciência de seu corpo e das suas potencialidades, desenvolvendo-se integral
e globalmente, favorecendo aprendizagens significativas.
Finalmente, é possível afirmar que a psicomotricidade é um fenômeno que se refere
intrinsecamente à aprendizagem e sua importância é fundamental na Educação Infantil porque
favorece a tomada de consciência da criança em relação a si mesma, sua identidade, sua relação
com a escola e a aprendizagem e seu papel como sujeitos sociais em permanente construção e
desenvolvimento.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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e suas contribuições no desenvolvimento da criança. Revista Iberoamericana de
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LOVISARO, Martha. Psicomotricidade aplicada à escola: guia prático de prevenção das


dificuldades de aprendizagem. 2 ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.

MOREIRA, Marco Antônio. Teorias de Aprendizagem. 3 ed. São Paulo: EPU, 2011.

OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque


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PIAGET, Jean. O Nascimento da Inteligência na Criança. 6 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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http://sinop.unemat.br/projetos/revista/index.php/eventos/article/viewFile/1274/904. Data de
Acesso: 20/07/2022.

THONG, Tran. Estádios e conceito de estágio de desenvolvimento da criança na


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ZABALZA, Miguel. Qualidade em educação infantil. Tradução de Beatriz Affonso Neves.


Edição Eletrônica. Porto Alegre: Artmed, 2011.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A PSICOMOTRICIDADE NO PROCESSO DE
APRENDIZAGEM E NAS AULAS DE EDUCAÇÃO
FÍSICA
Adriana Guerra dos Santos Almeida1

RESUMO: Este artigo apesenta reflexões sobre a importância da psicomotricidade no processo


de aprendizagem da criança, incluindo as aulas de Educação Física. Há teóricos que nos mostram
que a psicomotricidade não é apenas um conjunto de exercícios para serem feitos pela criança,
mas sim é uma forma de desenvolvimento dela, pois ela aprende a se expressar e se
autoconhecer por meio dos exercícios físicos, tendo domínio sobre seu corpo. A psicomotricidade
nas aulas de Educação Física, educa o movimento e trabalha as funções de inteligência da criança.
A psicomotricidade é uma ciência neuro funcional que considera o indivíduo como um corpo
único e indivisível, auxiliando no desenvolvimento do aspecto cognitivo, motor e afetivo. Para
que esse trabalho se concretizasse estudamos autores como: Fonseca (1987); Castro (2008);
Falcão e Barreto (2009); Rossi (2012), entre outros.

Palavras-Chave: Psicomotricidade; Aprendizagem; Educadores; Exercícios Físico; Alunos.

1Professor de Educação Infantil.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia – Faculdade Anhembi Morumbi.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSYCHOMOTRICITY IN THE LEARNING PROCESS AND IN PHYSICAL


EDUCATION CLASSES
ABSTRACT: This article presents reflections on the importance of psychomotricity in the child's
learning process, including Physical Education classes. There are theorists who show us that
psychomotricity is not just a set of exercises to be done by the child, but it is a way of developing
it, as it learns to express itself and to know itself through physical exercises, having control over
its body. . Psychomotricity in Physical Education classes educates movement and works on the
child's intelligence functions. Psychomotricity is a neurofunctional science that considers the
individual as a single and indivisible body, helping in the development of the cognitive, motor and
affective aspects. For this work to materialize, we studied authors such as: Fonseca (1987); Castro
(2008); Falcão and Barreto (2009); Rossi (2012), among others.

Keywords: Psychomotricity; Learning; Educators; Physical Exercises; Students.

411
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO É através da experiência que são realizados


os ajustes psicomotores. Os ajustes
A psicomotricidade pode ser definida como psicomotores referem-se à evolução e
a ciência da saúde e da educação que visa o adequação dos esquemas que favorecem a
desenvolvimento integral do indivíduo, por percepção do próprio corpo e o controle mais
meio da consciência motora, cognitiva e eficiente dos movimentos.
afetiva, a qual proporciona a conscientização Sabemos que a psicomotricidade trabalha
do corpo por meio do movimento. de forma terapêutica, e, por meio do corpo
Ela ganhou espaço muito importante nas mostra reações emocionais, afetivas,
aulas de educação física, com o propósito de psicológicas e psíquicas. Ela ajuda a reelaborar
desenvolver o aprendizado da criança sem conceitos e vivências que se tornaram barreiras
separar corpo e mente, e sim, integrando-os. para o desenvolvimento do indivíduo.
O profissional da Educação Física na O professor sempre foi visto como o
Educação Infantil tem a função de mediador da direcionador de seu aluno, e na escola seu
aprendizagem e precisa garantir que a criança papel é o de conduzir e estimular a
se desenvolva integralmente, observando a aprendizagem, no entanto, a tecnologia
amplitude de alternativas da linguagem presente na atualidade, está sendo um grande
corporal e as possibilidades da criança de obstáculo na vida da criança, pois ela passa
descobrir o mundo a sua volta. muito tempo com a TV, o computador, o
Sabemos ainda que a psicomotricidade é celular, e o brincar, que é a forma de descobrir
concebida como a integração superior da e de aprender coisas novas está sendo
motricidade, fruto de uma relação entre a esquecido.
criança e o meio, pois é preciso que toda Fonseca (1987, p. 21), afirma que:
criança se envolva em todas as etapas de seu [...] a ausência de espaço e a privação de
desenvolvimento. movimento é uma verdadeira talidomida da
A atividade psicomotora precisa prever a atual sociedade, continuando na família
formação de base para o desenvolvimento (urbanização) e na escola. A não-aceitação da
motor, afetivo e psicológico, por meio de necessidade de movimento e da experiência
atividades lúdicas, jogos e a conscientização de corporal da criança põe em causa as atividades
seu corpo. instrumentais que organizam o cérebro.
Hoje, é possível perceber que a criança é
PSICOMOTRICIDADE NA capaz de passar horas sozinha, em frente a um
computador ou televisão, porém não consegue
ESCOLA brincar de pular corda, ou de pique esconde
No início, a escola para a criança significa um com seus coleguinhas. Não consegue subir
novo mundo, no qual ela irá vivenciar numa árvore, mas tem habilidade sensacional
experiências cognitivas num mundo abstrato. com o controle do vídeo game. E, dessa forma,
Para Le Boulch (2004, p. 58): suas atividades acabam sendo solitárias e não

412
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

há estimulação motora adequada para sua Araújo e Silva (2013), afirmam que a
idade. psicomotricidade está fundamentada na ação
A criança de hoje não corre, não percebe os que o indivíduo pratica no meio em que vive,
movimentos que seu próprio corpo é capaz de interagindo com a motricidade e o psiquismo.
fazer, não domina seu corpo e se sente E, dessa forma proporciona a ele a
insegura em relação ao mundo. conscientização do seu corpo por meio do
Essa falta de habilidade repercutirá em seu movimento.
desenvolvimento emocional, cognitivo e social. Para Falcão e Barreto (2009), o corpo
E, para melhorar as habilidades será preciso humano foi valorizado em relação ao porte
fundamentos sólidos que sustentem a prática físico e músculos desde os tempos antigos. E,
educativa e uma pedagogia vinculada a essa cultura surgiu na Grécia com o homem
atividades coerentes ao desenvolvimento grego se apresentando nos estádios. Eles dizem
psicológico. que a psicomotricidade no Brasil surgiu por
A educação psicomotora precisa estar volta da década de 50, evidenciando
incluída em um projeto de educação que tratamentos terapêuticos para crianças com
considere o conhecimento em relação à vida e problemas de distúrbios de aprendizagem.
proporcione a descoberta do mundo exterior, No início foi introduzida nas escolas
do mundo objetivo e também a descoberta do especiais como recurso pedagógico que iria
mundo interior, do autoconhecimento e da corrigir distúrbios, auxiliando em algumas
auto-organização. falhas das crianças excepcionais.
A atividade psicomotora contribui para o Segundo Castro (2008), a psicomotricidade
desenvolvimento motor e intelectual da passou a ganhar campo nas aulas de Educação
criança e por isso deve fazer parte do dia a dia Física, visando o desenvolvimento do aluno, e
na escola, principalmente nas aulas de foi articulada com o ato de aprender. Sendo
Educação Física, pois por meio dela o assim, buscou a formação e o desenvolvimento
conhecimento fica cada vez melhor, porque integral da criança, sem separar corpo e mente,
incentiva a criança nas brincadeiras, mas realizando uma integração com o lado
enriquecendo cada vez mais o processo de afetivo, psicomotor e cognitivo.
aprendizagem. Na visão de Gava (2010), a Educação Física
É preciso valorizar cada atitude que a criança foi inserida na Educação Infantil para trabalhar
demonstrar em relação ao seu corpo e o aspecto psicomotor das crianças por meio de
respeitar cada uma delas, fazendo-as entender atividades que trabalhariam o lado motor,
que precisam se respeitar umas as outras. proporcionando que a alfabetização fosse mais
Conforme Rossi (2012), a psicomotricidade prazerosa e desse suporte cognitivo a essas
faz parte das atividades que desenvolvem a crianças.
motricidade da criança, contribuindo para que A psicomotricidade durante as aulas de
a criança tenha consciência motora, domínio Educação Física na educação infantil ajuda a
do seu corpo, possibilitando que ela se evitar problemas como a falta de
expresse por meio dele.

413
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

concentração, estimulando a prática de condições de materiais existentes nas unidades


movimentos em todas as etapas da vida. escolares.
Esse tipo de atividade precisa ser
PSICOMOTRICIDADE E A desenvolvido conforme o desenvolvimento
psicomotor com movimentos naturais,
APRENDIZAGEM verificando as aptidões perceptivas e físicas, as
Saber ler e escrever é uma capacidade habilidades motoras, a comunicação verbal e a
indispensável para o indivíduo, pois ele precisa higiene.
se adaptar e interagir com o meio social no qual Movimentos como andar, marchar, correr,
vive. A leitura e a escrita são de suma saltar, saltitar, arremessar, lançar, rolar,
importância para que ele se integre com o chutar, segurar, pegar, transportar entre
ambiente. outros, são atividades naturais da criança.
Para Oliveira (1997), a repetição de Essas aptidões auxiliam a criança a
exercícios é vista como uma crítica, pois repetir interpretar o significado dos estímulos orais,
traços à direita, à esquerda, bolinhas etc., são visuais, táteis, auditivos, corporais e de
exercícios que não levam a criança ao coordenação, fazendo-a tomar consciência de
aprendizado, pois são desprovidos de um seu corpo e como ele se move no espaço.
contexto, enquanto exercícios feitos com o As aptidões físicas caracterizam o
corpo têm significados concretos, porque funcionamento do vigor orgânico, por meio das
permitem a conscientização desses qualidades físicas de resistência, de força, de
movimentos, a postura e o desenvolvimento flexibilidade, de agilidade e de velocidade. E, as
mental são muito maiores. aptidões motoras são marcadas pelo
A educação pelo movimento facilita e desenvolvimento da competência e do ajuste
reforça a aprendizagem escolar, pois é muito do corpo humano com as atividades
importante o movimento como elemento de solicitadas.
construção da personalidade e do As habilidades motoras, geralmente,
desenvolvimento motor da criança. correspondem aos processos de coordenação
Para Melcherts (1996, p. 72): motora mais elaborados de acordo com os
As conceituações básicas, finalidades, esportes individuais e coletivos desenvolvidos
objetivos gerais, princípios, características nas aulas de Educação Física.
essenciais, necessidades bio-psicofisiológicas
da criança, conteúdos progmáticos e
fundamentos básicos que devem ser
DIFICULDADE EM APRENDER
considerados no processo ensino- Para que a aprendizagem ocorra são
aprendizagem da Educação Física em nível pré- precisos estímulos apropriados e uma condição
escolar e escolar, são subsídios suficientes para interior que é a vontade de aprender, pois a
desenvolver atividades dessa disciplina, desde aprendizagem reflete os processos de
que observadas as características e assimilação e conservação do conhecimento.
peculiaridades da clientela-alvo, bem como as Toda aprendizagem parte de uma
experiência anterior, e é dessa memória que irá

414
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

surgir a noção de controle da ação. Dessa


memória, temos a base do raciocínio que
armazena e preserva a informação, tornando
possível combinar, organizar e integrar essa
memória com novas informações.
Fonseca (2001), afirma que toda
aprendizagem simbólica ou não envolve uma
estrutura complexa que reúne uma
organização articulada e integrada que exige
atenção e vigilância.
Para ele a aprendizagem é uma função do
cérebro que resulta em operações complexas
neurofisiológicas e neuropsicológicas que se
combinam entre si, integrando quatro
componentes cognitivos essenciais: o input
(informação dos sentidos); cognição (processo
de atenção) e a retroalimentação (repetir,
organizar etc.).
Sendo assim, a aprendizagem exige um
conjunto mínimo de requisitos e sem eles os
problemas de aprendizagem podem se tornar
frequentes, criando obstáculos que podem se
prolongar pelo resto da vida, interferindo no
aprender a falar, ler, escrever e raciocinar.
Para Nielsen (1999, p. 64), dificuldade de
aprendizagem significa: “...uma perturbação
que interfere com a capacidade para guardar,
reter, processar ou produzir informação”.
E, dessa forma, as dificuldades de
aprendizagem podem ser vistas como
desordens neurológicas, interferindo na
recepção, integração ou expressão da
informação, sendo ainda caracterizadas por
uma discrepância entre o potencial e a vida
escolar da criança.

415
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que a cada dia mais precisamos nos aperfeiçoar em nossa área de
conhecimento, buscando novos saberes e formas de ensinar, pois nossas crianças estão
diferentes dia após dia.
A psicomotricidade é de suma importância para as crianças, porque estimula o raciocínio
e seu desenvolvimento.
Os movimentos são manifestações de vida do ser humano, pois enquanto ainda está no
útero da mulher, a criança já se movimenta, e esses movimentos vão estruturando e
influenciando no seu comportamento e de acordo com a importância dada às atividades motoras,
o desenvolvimento torna-se melhor a cada dia, lembrando que há atividades diferentes para cada
fase da criança.
Sendo assim, a psicomotricidade deve ser vista como uma atividade que o profissional da
educação deve desenvolver e ter o apoio da equipe pedagógica, e de toda comunidade escolar,
porque ela ajuda no desenvolvimento motor e intelectual das crianças.

416
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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CECIERJ, 2013.

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humanista. Revista digital. Buenos Aires, n. 124, 2008.

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Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente. Volta Redonda, v.2, nº
2, 2009.

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Desenvolvimento Humano” – Porto Alegre: Artes Médicas, 1987, p. 21.

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considerações sobre sua importância. Revista Digital. Buenos Aires, n. 144, 2010.

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psicopedagógico. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 58.

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abordagem psicomotora. 5ª ed. Porto Alegre: Edita, 1996, p. 72.
NIELSEN, L. Necessidades Educativas Especiais: Um guia para professores. Porto: Porto
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OLIVEIRA, Gislene Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque


psicopedagógico. Petrópolis: Vozes, 1997.

ROSSI, S.F. Considerações sobre a Psicomotricidade na Educação Infantil. Revista Vozes


dos Vales. São Paulo, n. 1, 2012.

417
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E O
DESENVOLVIMENTO AFETIVO E INTELECTUAL
DA CRIANÇA
Luciani Guarizzo Jeremias1

RESUMO: O artigo trata da importância do desenvolvimento da afetividade paralelamente ao


desenvolvimento cognitivo nas escolas mostrando, por meio das teorias de Piaget, Vygotsky e
Wallon (1992), como estão intimamente relacionados. Oferece contribuições para que o
professor desenvolva a dimensão afetiva de seus alunos e discute a necessidade de atenção a
essa dimensão na relação que estabelece com os educandos.

Palavras-Chave: Afetividade; Desenvolvimento Afetivo; Relação Professor-Aluno.

1Professora de Ensino Fundamental na Rede Municipal de Amparo – SP.


Graduação: Licenciatura Plena de Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE TEACHER-STUDENT RELATIONSHIP AND THE CHILD'S AFFECTIVE


AND INTELLECTUAL DEVELOPMENT
ABSTRACT: The article deals with the importance of developing affectivity in parallel with
cognitive development in schools, showing, through the theories of Piaget, Vygotsky and Wallon
(1992), how they are closely related. It offers contributions for the teacher to develop the
affective dimension of his students and discusses the need to pay attention to this dimension in
the relationship he establishes with the students.

Keywords: Affectivity; Affective Development; Teacher-Student Relationship.

419
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO garantindo o acesso das crianças ao


conhecimento científico e organizado, não
No dia a dia de nosso sistema educacional, a podemos nos esquecer que as relações que
presença da dicotomia entre afetividade e ocorrem no contexto escolar em todas suas
cognição pode ser percebida nas práticas dimensões, também são marcadas pela
educativas desenvolvidas, por meio do afetividade que, segundo CABRAL E NICK
destaque dado pelo sistema educativo ao (1999) é um termo utilizado para designar e
desenvolvimento do intelecto e à dimensão resumir não só os afetos em sua definição mais
racional, pública e científica, relegando os estrita, mas também os sentimentos ligeiros ou
aspectos emocionais e afetivos da vida matizes sentimentais de agrado ou desagrado.
cotidiana dos educandos a um segundo plano. Na realidade do dia a dia, a criança traz como
Segundo Arantes (2000), a História da bagagem para o ambiente escolar, tanto os
Educação mostra que, desde que a escola conhecimentos a respeito do mundo que já
adquiriu tal contorno, houve um prejuízo na construiu a partir de suas vivências cotidianas,
dimensão afetiva da ação pedagógica – o que como também seus sentimentos, emoções,
se tornou ainda mais acentuado na chamada desejos e expectativas. Dessa forma, aspectos
era pós-moderna. afetivos e cognitivos se fazem presentes,
A educação tradicional, os currículos quando educadores e educandos estão
escolares e os objetivos do ensino, ao interagindo entre si e com os objetos do
proporem um trabalho pedagógico de conhecimento.
abordagem puramente cognitiva dos diversos Alves (1993), reforça que o prazer em
conteúdos, acabam por priorizar apenas um aprender é fundamental para o processo de
dos aspectos constituintes do psiquismo ensino aprendizagem. A qualidade das relações
humano. Não consideram a importância e a interpessoais e das intervenções pedagógicas
influência exercida pelos aspectos afetivos nos que ocorrem na sala de aula são essenciais para
processos de aprendizagem e construção de conferir um sentido afetivo para os objetos de
conhecimentos. Dificilmente é oferecida aos conhecimento a partir das experiências vividas,
alunos, a oportunidade de vivenciar um interferindo na aprendizagem.
processo educativo que integre aspectos Nas escolas em geral, alunos experimentam
afetivos e cognitivos do raciocínio para diversos afetos: o prazer de conseguir realizar
promover o progresso no campo das relações algo pela primeira vez, tristeza ao saber da
interpessoais, proporcionando a aprendizagem doença de um amigo, raiva ao discutir com
da cooperação, do trabalho coletivo, e da colegas. Ainda, podem gostar ou não de seus
construção de estratégias adequadas para a professores, sentir-se felizes quando seus
solução conjunta de problemas e conflitos. companheiros de sala os aceitam e culpados
Embora a escola seja imprescindível para quando não estudam o suficiente. Além disso,
desenvolver modalidades de pensamento é por meio da escola que a criança amplia seu
específicas e possibilitar a apropriação da contato com o mundo, adquirindo novos
experiência culturalmente acumulada, amigos, aprendendo a conviver em grupo, a

420
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

resolver conflitos resultantes do convívio social de vida inclui a saúde mental, cuidar-se e cuidar
e a construir regras de convivência. Isso ocorre do próximo é como fonte de prazer, por isso a
por meio de relações concretas, numa rede afetividade tem grande importância no
complexa de interações, em que a afetividade desenvolvimento humano, pois é diretamente
se faz presente. por meio dela que nos comunicamos com as
Assim sendo, parece ser de essencial nossas emoções.
importância a aceitação da presença da É na família que o ser humano aprende a
afetividade que invade a sala de aula e se lidar com os sentimentos, pois o grupo familiar
articula com os processos cognitivos. Ao está unido pelo amor e nele também
vislumbrar outras formas de explicação do acontecem discussões, momentos de raiva, de
processo de ensino e aprendizagem além dos tristeza, de perdão de entendimento. O
puramente racionais, os professores poderão indivíduo vivencia o ódio e o amor e aprende a
obter elementos que lhes permitirão subsidiar perdoar e amar, preparando-se para conviver
uma prática comprometida com o adequadamente em uma sociedade, de forma
desenvolvimento das crianças, articulando sociável.
ações que considerem a complexidade do A afetividade já se inicia nos primeiros anos
funcionamento psíquico de seus alunos. de vida, e os quatro primeiros anos da criança
Daí o apelo por parte dos educadores no são particularmente fundamentais para a
sentido de humanizar o conhecimento (e os estruturação das funções cerebrais. Um bebê
próprios mestres) com o intuito de se que passa deitado, sem estimulação física e
desenvolver, paralelamente ao aspecto mental, certamente apresentará sérias
cognitivo, também o afetivo. anomalias em sua evolução. As aptidões
Portanto, verifica-se que pensar e sentir são emocionais devem ser aprendidas e
ações indissociáveis. Esta é a ideia que será aprimoradas desde cedo, basta ensiná-las.
defendida e posta em discussão ao longo desse Há autores que consideram oportuno
trabalho, tendo como preocupação central relacionar inteligência racional e emocional. O
transpô-la para o campo educacional. E isto autor abaixo assim se expressa:
será feito expondo algumas reflexões acerca do é pertinente dizer que existem dois tipos
papel da afetividade na construção de diferentes de inteligência: racional e
conhecimentos. emocional. Nosso desempenho na vida é
determinado pelas duas, não é apenas o
AFETIVIDADE quociente de inteligência, mas a inteligência
emocional também conta. Na verdade, o
Quando há uma relação entre indivíduos,
intelecto não pode dar o melhor de si sem a
surgem vários sentimentos: amor, medo da
inteligência emocional (GOLEMAN, 1995, p.
perda, ciúmes, saudade, raiva, inveja; essa
42).
mistura de sentimentos gera a afetividade. Um
Os pais são os primeiros e mais importantes
indivíduo saudável mentalmente sabe
professores do cérebro e é por isso que a
organizar e lidar com todos esses sentimentos
carência emocional nos primeiros anos de vida
de forma tranquila e equilibrada. A qualidade

421
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

da criança, trás conseqüências desastrosas calcular e conviver com outras pessoas de


para o desenvolvimento cognitivo, forma sociável. Mas como se deve educar os
apresentando déficits na aprendizagem, sentimentos? Tal pergunta surge toda vez que
transtornos de comportamento, atitudes de se depara com situações que exigem muito
violência, falta de atenção, desinteresse e mais do que teorias. Quantas vezes os
fracassos escolares, conforme relato de vários indivíduos se encontram em posições que
educadores que tratam do assunto em seus determinam atitudes rápidas, sem os deixar
estudos. consultar seus conceitos e ideais. Apenas uma
O índice de violência e indisciplina nas palavra ou uma atitude mudam um cenário. É
escolas tem aumentado constantemente nos nessa fração de segundos que o ser humano
últimos anos, fator que preocupa tantas demonstra seu grau de inteligência emocional.
autoridades educacionais, quanto professores, A aprendizagem está intimamente ligada à
diretores e familiares. Observa-se certa afetividade, pois, sem afetividade, não há
insensibilidade, falta de humanidade e motivação e sem motivação, não há
desrespeito nas atitudes e ações que muitas conhecimento. "A afetividade não se restringe
crianças e adolescentes apresentam, tanto na às emoções e aos sentimentos, mas engloba
escola, quanto fora desta. A impressão que também as tendências e a vontade" (PIAGET,
temos é que a humanidade está doente, que o apud, ARANTES, 2003, p.57).
ser humano não consegue controlar mais suas A afetividade, do ponto de vista popular, é
emoções. uma explosão de sentimentos que dão força,
Os céticos se perguntam por que é vontade, interesse, ou que trazem o desprazer,
necessário ensinar as crianças a lidar com as a apatia, a falta de interesse em buscar uma
suas emoções. Perguntam: "As emoções não nova adaptação ou aceitação de nova
ocorrem naturalmente às crianças?" A resposta mudança. Nesse sentido os sentimentos
e "não", não mais. interferem diretamente na construção da
Muitos cientistas acreditam que as emoções inteligência e no desenvolvimento da
humanas evoluíram principalmente como um aprendizagem.
mecanismo de sobrevivência. O medo protege A concretização da afetividade na sala de
o indivíduo do mal e diz para evitar o perigo. A aula acontece quando o professor olha o aluno
raiva o ajuda a superar barreiras para se como indivíduo único, com suas características
conseguir o que quer. Fica-se feliz na próprias, reconhecendo suas capacidades e
companhia do outro. Ao buscar contato com limitações. O professor deve considerar a
seres humanos encontra proteção dentro de história de vida de cada aluno, dando
um grupo, bem como a oportunidade de oportunidade para interagir e conviver
associar-se com companheiros e assegurar a conforme seus conceitos de vida. Sendo assim,
sobrevivência da espécie (SHAPIRO, 1998, p. estará melhorando a vivência e as relações
19). sociais.
Educar as emoções é tão importante quanto O fracasso escolar está diretamente
ir para a escola, aprender a ler, escrever, relacionado com questões familiares e sociais.

422
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Perdeu-se o referencial do que é educar e de (Paris) no ano acadêmico de 1953-1954, “Les


quem é esta responsabilidade. Acredita-se que relations entre l’intelligence el l’affectivité dans
educar é apenas aprende a ler, escrever e le développement de l’enfant”, o autor
memorizar conteúdos básicos de um currículo advertiu sobre o fato de que, apesar de
ultrapassado e com informações e diferentes em sua natureza, a afetividade e a
conhecimentos sem contextualização. Qual o cognição são inseparáveis, indissociados em
espaço que a escola usa para discutir princípios todas as ações simbólicas e sensório-motoras.
morais, sociais, culturais, tecnológico? Qual Ele postulou que toda ação e pensamento
família dedica tempo suficiente para ensinar comportam um aspecto cognitivo,
seus filhos a viver as complexidades e as representado pelas estruturas mentais, e um
ambiguidades da vida? aspecto afetivo, representado por uma
Tais pressupostos nos levam a defender energética, que é a afetividade.
propostas de uma educação em valores em Wadsworth (1997, apud, PIAGET, 1963a),
que a dimensão afetiva, e também cognitiva, a afirma em todo seu trabalho que, no sentido
biológica e a sociocultural, assim como o mais amplo, as mudanças cognitivas resultam
universo físico, interpessoal e sociocultural das de um processo de desenvolvimento.
relações humanas, devem fazer parte no Basicamente, a hipótese geral de Piaget é que
planejamento curricular e nos projetos o desenvolvimento cognitivo é um processo
político-pedagógicos das escolas. Com isso, coerente de sucessivas mudanças qualitativas
como bem expressa o autor abaixo: das estruturas cognitivas (esquemas),
pretende-se atingir os objetivos de uma derivando cada estrutura e sua respectiva
formação para a cidadania, visando a que mudança, lógica e inevitavelmente, da
alunos e alunas desenvolvam competências estrutura precedente.
para a diversidade e o conflito de ideias, com De um modo geral, Piaget (1973), resumiu os
as influências da cultura e com os sentimentos estágios do desenvolvimento cognitivo da
e as emoções presentes nas relações que seguinte forma:
estabelecem consigo mesmos e com o mundo. 1. O estágio da inteligência sensório-
(ARANTES, 2003, p. 167). motora (0-2 anos). Durante este estágio, o
comportamento é basicamente motor. A
AFETIVIDADE SOB A criança ainda não representa eventos
internamente e não “pensa” conceitualmente;
PERSPECTIVA DE PIAGET apesar disso, o desenvolvimento cognitivo é
Um primeiro autor que pode ser citado constatado à medida que os esquemas são
como tendo questionado as teorias que construídos.
tratavam a afetividade e a cognição como 2. O estágio do pensamento pré-
aspectos funcionais separados foi o biólogo e operacional (2-7 anos). Este estágio é
epistemólogo suíço Jean Piaget (1986-1980). caracterizado pelo desenvolvimento da
Em um trabalho publicado a partir de um curso linguagem e outras formas de representação e
que ministrou na Universidade de Sorbone pelo rápido desenvolvimento conceitual. O

423
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

raciocínio, neste estágio, é pré-lógico ou Na teoria de Piaget, o desenvolvimento


semilógico. intelectual é considerado como tendo dois
3. O estágio das operações concretas (7-11 componentes: um cognitivo e outro afetivo.
anos). Durante estes anos, a criança Até agora, basicamente, o trabalho explorou
desenvolve a capacidade de aplicar o brevemente os aspectos do desenvolvimento
pensamento lógico a problemas concretos, no que se ocupam em descrever como as
presente. estruturas do conhecimento (esquemas) se
4. O estágio das operações formais (11-15 desenvolvem.
anos ou mais). Neste estágio, as estruturas O aspecto afetivo tem uma profunda
cognitivas da criança alcançam seu nível mais influência sobre o desenvolvimento
elevado de desenvolvimento, e as crianças intelectual. Ele pode acelerar ou diminuir o
tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a ritmo de desenvolvimento. Ele determina
todas as classes de problemas. sobre que conteúdos a atividade intelectual se
O desenvolvimento é concebido como um concentrará. De acordo com PIAGET (1981), o
fluxo contínuo de modo cumulativo, em que aspecto afetivo, em si, não pode modificar as
cada nova etapa é construída sobre as etapas estruturas cognitivas (esquemas), mas pode
anteriores, integrando-as a elas. influenciar quais estruturas modificar. Piaget
Em relação à proposta teórica de Piaget (1981, p. 6), escreve:
sobre o continuum do desenvolvimento ...embora a questão afetiva cause o
cognitivo a partir dos quatro estágios do comportamento, embora ela acompanhe
desenvolvimento (sensório-motor; pré- constantemente o funcionamento da
operatório; operatório-concreto e operatório- inteligência e embora ela acelere ou freie o
formal), o autor também propõe a existência ritmo de desenvolvimento, ela, em si mesmo,
de quatro grandes fatores que estão no entanto, não pode gerar estruturas de
relacionados ao desenvolvimento cognitivo, a comportamento e não pode modificar as
saber, maturação, experiência afetiva, estruturas em cujo funcionamento ela
interação social e um progresso geral de intervém.
equilíbrio (PIAGET, 1961). Ele considerou cada Piaget argumenta ainda, que todo
um desses fatores e suas interações como comportamento apresenta ambos os aspectos:
condições necessárias para o desenvolvimento o afetivo e o cognitivo. Não há comportamento
cognitivo, e nenhum deles sozinho como cognitivo puro, como não há comportamento
suficiente para assegurá-lo. afetivo puro. Por exemplo, o indivíduo que
Dos quatro fatores propostos por Piaget, gosta de matemática faz rápidos progressos.
somente o fator experiência afetiva será Por outro lado, a pessoa que não gosta, não faz
discutido nesse trabalho, uma vez que o rápidos progressos. Em cada caso, o
propósito do presente estudo é analisar como comportamento é influenciado pela
a afetividade contribui para o desenvolvimento afetividade. Piaget (1981, p.2), afirma que:
na educação do ser humano. é impossível encontrar um comportamento
oriundo apenas da afetividade, sem nenhum

424
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

elemento cognitivo. É, igualmente, impossível por meio da interação com outros que a criança
encontrar um comportamento composto incorpora os instrumentos culturais.
somente de elementos cognitivos. Vygotsky (1994), ao destacar a importância
Nessa perspectiva, Piaget (1981), define que das interações sociais, traz a ideia da mediação
não existem estados afetivos sem elementos e da internalização como aspectos
cognitivos, assim como não existem fundamentais para a aprendizagem,
comportamentos puramente cognitivos. defendendo que a construção do
Quando discute os papéis da assimilação e da conhecimento ocorre a partir de um intenso
acomodação cognitiva, afirma que esses processo de interação entre as pessoas.
processos de adaptação também possuem um Portanto, é a partir de sua interação na cultura
lado afetivo: na assimilação, o aspecto afetivo que a criança, por meio da interação social com
é o interesse em assimilar o objeto (o aspecto as pessoas que a rodeiam, vai se
cognitivo é a compreensão); enquanto na desenvolvendo. Apropriando-se das práticas
acomodação a afetividade está presente no culturalmente estabelecidas, ela vai evoluindo
interesse pelo objeto novo (o aspecto cognitivo das formas elementares para as formas mais
está no ajuste dos esquemas de pensamento abstratas, que a ajudarão a conhecer e
ao fenômeno). controlar a realidade. Nesse sentido, Vygotsky
Em síntese, o papel da afetividade para destaca a importância do outro não só no
Piaget é funcional na inteligência. Ela é fonte de processo de construção do conhecimento, mas
energia de que a cognição se utiliza para seu também de constituição do próprio sujeito e de
funcionamento. Ele explica esse processo por suas formas de agir.
meio de uma metáfora, afirmando que a Segundo o autor, o processo de
afetividade seria como a gasolina, que ativa o internalização envolve uma série de
motor de um carro, mas não modifica sua transformações que colocam em relação ao
estrutura. Ou seja, existe uma relação social e o individual. Vygotsky (1994, p.75),
intrínseca entre a gasolina e o motor (ou entre afirma que:
a afetividade e a cognição) porque o todas as funções no desenvolvimento da
funcionamento do motor, comparado com as criança aparecem duas vezes: primeiro, no
estruturas mentais, não é possível sem o nível social, e, depois no nível individual;
combustível, que é a afetividade. primeiro entre as pessoas (interpsicológica), e,
depois, no interior da criança
AFETIVIDADE SOB A (intrapsicológica).
Partindo desse pressuposto, o papel do
PERSPECTIVA DE VYGOTSKY outro no processo de aprendizagem torna-se
Com uma maior divulgação das ideias de fundamental. Consequentemente, a mediação
Vygotsky, vem se configurando uma visão e a qualidade das interações sociais ganham
essencialmente social para o processo de destaque.
aprendizagem. Numa perspectiva histórico- A relação que caracteriza o ensinar e o
cultural, o enfoque está nas relações sociais. É aprender transcorre a partir de vínculos entre

425
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

as pessoas e inicia-se no âmbito familiar. A envolvidos, no plano externo (interpessoal).


base desta relação vincular é afetiva, pois é por Por meio da mediação, elas vão se
meio de uma forma de comunicação emocional internalizando (intrapessoal), ganham
que o bebê mobiliza o adulto, garantindo assim autonomia e passam a fazer parte da história
os cuidados que necessita. Portanto, é o individual. Essas experiências também são
vínculo afetivo estabelecido entre o adulto e a afetivas, os indivíduos internalizam as
criança que sustenta a etapa inicial do processo experiências afetivas com relação a um objeto
de aprendizagem. Da mesma forma, é a partir específico.
da relação com o outro, por meio do vínculo Para Vygotsky (1996), a compreensão do
afetivo que, nos anos inicias, a criança vai pensamento humano só é possível quando se
tendo acesso ao mundo simbólico e, assim, considera sua base afetivo-volitiva, uma vez
conquistando avanços significativos no âmbito que as dimensões do afeto e da cognição estão
cognitivo. Nesse sentido, para a criança, torna- desde cedo relacionadas íntima e
se importante e fundamental o papel do dialeticamente. Por sua vez, a vida emocional
vínculo afetivo, que inicialmente apresenta-se está conectada a outros processos psicológicos
na relação pai-mãe-filho e, muitas vezes, e ao desenvolvimento da consciência de um
irmão(s). No decorrer do desenvolvimento, os modo geral
vínculos afetivos vão ampliando-se e a figura De acordo com Vygotsky (1996), o papel da
do professor surge com grande importância na afetividade na configuração da consciência só
relação de ensino e aprendizagem, na época pode ser examinado por meio da conexão
escolar. dialética estabelecida com as demais funções.
Fernández (1991, p47 e 52), coloca que: Nessa conexão, o repertório cultural, as
Para aprender, necessitam-se dois inúmeras experiências e interações com outras
personagens (ensinante e aprendente) e um pessoas representam fatores imprescindíveis
vínculo que se estabelece entre ambos. (...). para a compreensão dos processos envolvidos.
Não aprendemos de qualquer um, aprendemos Por esse prisma, o sujeito (de acordo com a
daquele a quem outorgamos confiança e psicologia histórico-cultural) é produto do
direito de ensinar. desenvolvimento de processos físicos e
Toda aprendizagem está impregnada de mentais, cognitivos e afetivos, internos
afetividade, já que ocorre a partir das (história anterior do indivíduo) e externos
interações sociais, num processo vincular. (situações sociais).
Pensando, especificamente, na aprendizagem Segundo Vygotsky (1996), no decorrer do
escolar, a trama que se tece entre alunos, desenvolvimento, as emoções vão se
professores, conteúdo escolar, livros, escrita, transformando, isto é, vão se afastando da
etc. não acontece puramente no campo origem biológica e se constituindo como
cognitivo. Existe uma base afetiva permeando fenômeno histórico-cultural. Essas mudanças
essas relações. qualitativas que ocorrem com as emoções ao
As experiências vividas em sala de aula longo do desenvolvimento dizem respeito ao
ocorrem, inicialmente, entre os indivíduos aumento de controle do homem sobre si

426
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mesmo. A razão, o intelecto (desenvolvido de uma operação cognitiva e,


graças ao crescente domínio de instrumentos concomitantemente, de uma manifestação
culturais), tem a capacidade de controlar os afetiva.
impulsos e as emoções mais primitivas (auto- É importante salientar que, segundo Oliveira
regulação do comportamento). No entanto, (1992, p. 80):
não se trata de uma razão opressora, mas sim A cultura não é pensada por Vygotsky como
de uma razão a serviço da vida afetiva, um sistema estático ao qual o indivíduo se
constituindo-se como um instrumento de submete, mas como uma espécie de ‘palco de
elaboração e refinamento dos sentimentos. negociações’ em que seus membros estão em
É importante assinalar que Vygotsky (1989), constante processo de criação e de
chama a atenção para o papel da linguagem reinterpretação de informações, conceitos e
nessas mudanças qualitativas dos sentimentos, significados. Ao tomar posse do cultural, o
uma vez que os modos de pensar e de sentir indivíduo o torna seu, passando a utilizá-lo
são carregados de conceitos culturalmente como instrumento pessoal de pensamento e
aprendidos. Para o autor, a origem da vida ação no mundo.
afetiva social é mediada pelos significados De acordo com Vygotsky (1989, p. 130).
construídos no contexto cultural em que o Para compreender a fala do outrem não
sujeito se insere. Cada sujeito elabora e lida de basta entender as suas palavras – temos que
modo singular com as mesmas determinações compreender o seu pensamento. Mas nem
e influências sociais. Assim, o homem aprende mesmo isso é suficiente – também é preciso
a pensar, a agir, a falar e a sentir de acordo com que conheçamos a sua motivação.
sua cultura. No próprio significado da palavra, portanto,
Vygotsky adota uma abordagem unificadora tão central para Vygotsky, encontra-se uma
entre as dimensões cognitiva e afetiva do concretização de sua perspectiva integradora
funcionamento psicológico (VYGOTSKY, 1989). dos aspectos cognitivos e afetivos do
O fato de o homem nomear os sentimentos faz funcionamento psicológico humano.
com que estes sejam percebidos de maneira Produto e expressão da cultura, a linguagem
diferenciada, já que para identificá-los é configura-se, na teoria de Vygotsky, como um
preciso escolher o conceito (a palavra) que lugar de constituição e expressão dos modos
exprima os traços característicos que de vida culturalmente elaborados. A linguagem
distinguem um determinado sentimento. Por forneceria, pois, os conceitos e as formas de
exemplo: o sentimento de medo é diferente do organização do real. Em suma, um modo de
sentimento da raiva. Nomeá-los implica compreender o mundo, se compreender
reconhecer as peculiaridades de um e de outro. diante e a partir dele e de se relacionar com ele.
Assim, os sentimentos mantêm relação com o Ainda, verifica-se que Vygotsky explicita
pensamento por serem conceitos, e estes claramente sua abordagem unificadora entre
foram aprendidos e impostos pelo meio. Daí as dimensões cognitiva e afetiva do
ser cultural chamar um determinado funcionamento psicológico. Afirma ele que a
sentimento de, por exemplo, ciúme. Trata-se forma de pensar, que junto com o sistema de

427
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conceito que nos foi imposta pelo meio que Atribui às emoções um papel de primeira
nos rodeia, inclui também nossos sentimentos. grandeza na formação da vida psíquica,
Não sentimos simplesmente: o sentimento é funcionando como uma liga entre o social e o
percebido por nós sob a forma de ciúme, orgânico. As relações da criança com o mundo
cólera, ultraje, ofensa. Se dissermos que exterior são, desde o início, relações de
desprezamos alguém, o fato de nomear os sociabilidade, visto que, ao nascer, segundo
sentimentos faz com que estes variem, já que Wallon (1971, p. 262), não tem
mantêm certa relação com nossos meios de ação sobre as coisas circundantes,
pensamentos. razão por que a satisfação das suas
necessidades e desejos tem de ser realizada
AFETIVIDADE SOB A por intermédio das pessoas adultas que a
rodeiam. Por isso, os primeiros sistemas de
PERSPECTIVA DE WALLON reação que se organizam sob a influência do
Assim como Piaget e Vygotsky, WALLON ambiente, as emoções, tendem a realizar, por
(1986) mostra, em seus escritos, compartilhar meio de manifestações consoantes e
da ideia de que emoção e razão estão, contagiosas, uma fusão de sensibilidade entre
intrinsecamente, conectadas. o indivíduo e o seu entourage.
Na perspectiva genética de Henri Wallon, Baseando-se em fundamentos darwinistas,
inteligência e afetividade estão integradas: a Wallon (1978), encontrou argumentos que
evolução da afetividade depende das enfatizam a origem do homem como um ser
construções realizadas no plano da emocional. Analisando aspectos como prole
inteligência, assim como a evolução da reduzida em comparação com outros
inteligência depende das construções afetivas. mamíferos e o prolongado período de
No entanto, o autor admite que, ao longo do dependência entre o bebê e seus pais, destaca
desenvolvimento humano, existem fases em a importância da proximidade do outro para o
que predominam o afetivo e fases em que desenvolvimento humano. Nesse sentido,
predominam a inteligência. defende que a emoção é o primeiro e mais
Wallon (1972, apud, DE LA TAILLE, OLIVEIRA forte vínculo entre os indivíduos.
e DANTAS, 1992), dedicou grande parte de sua Wallon (1978), entende que a primeira
vida ao estudo das emoções e da afetividade. relação do ser humano ao nascer é com o
Identificou as primeiras manifestações afetivas ambiente social, ou seja, com as pessoas ao seu
do ser humano, suas características e a grande redor. As manifestações iniciais do bebê
complexidade que sofrem no decorrer do assumem um caráter de comunicação entre ele
desenvolvimento, assim como suas múltiplas e o outro, sendo vistas como o meio de
relações com outras atividades psíquicas. sobrevivência típico da espécie humana. De
Afirma que a afetividade desempenha um acordo com Wallon (1978, p. 201):
papel fundamental na constituição e Os únicos atos úteis que a criança pode
funcionamento da inteligência, determinando fazer, consistem no fato de, pelos seus gritos,
os interesses e necessidades individuais. pelas suas atitudes, pelas suas gesticulações,

428
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

chamar a mãe em seu auxílio.(...) Portanto, os construção da afetividade e a organização


primeiros gestos (...) não são gestos que lhe dessas funções.
permitirão apropriar-se dos objetos do mundo Com este objetivo, Ferreira sugere que a
exterior ou evitá-los, são gestos dirigidos às educação deve, inicialmente, se concentrar na
pessoas, de expressão. avaliação de quatro pontos: (1) como a criança
A afetividade, por sua vez, tem uma procura resolver suas dificuldades, (2) seu nível
concepção mais ampla, envolvendo uma gama de autoestima, (3) características de seu humor
maior de manifestações, englobando e (4) posturas da criança diante do adulto
sentimentos (origem psicológica) e emoções resultantes de sua relação com a família, tais
(origem biológica). A afetividade corresponde a como nível de autonomia, relação com figuras
um período mais tardio na evolução da criança, de autoridade e relação com estruturas de
quando surgem os elementos simbólicos. poder.
Segundo Wallon (1978), é com o aparecimento Além de indicar estratégias para avaliar
destes que ocorre a transformação das estes pontos, a mesma autora sugere
emoções em sentimentos. A possibilidade de atividades para desenvolver a afetividade no
representação, que consequentemente processo educacional, considerando três
implica na transferência para o plano mental, âmbitos que devem ser alvos de trabalho
confere aos sentimentos certa durabilidade e pedagógico:
moderação. - no âmbito emocional – identificar os
Considerando que o processo de sentimentos, expressar os sentimentos, avaliar
aprendizagem ocorre em decorrência de sua intensidade, adiar a satisfação, controlar os
interações sucessivas entre as pessoas, a partir impulsos, reduzir a tensão. - no âmbito
de uma relação vincular, é, portanto, por meio cognitivo – saber a diferença entre sentimento
do outro que o indivíduo adquire novas formas e ação, ler e interpretar indícios sociais,
de pensar e agir e, dessa forma apropria-se (ou compreender a perspectiva dos outros, usar
constrói) novos conhecimentos. etapas para resolver problemas, criar
expectativas realistas sobre si, compreender
O DESENVOLVIMENTO DA normas de comportamento. - no âmbito
comportamental – comportamentos não
AFETIVIDADE NA ESCOLA verbais: comunicar-se com os olhos, com
Quando a criança atinge a idade escolar as gestos, com expressão facial; comportamentos
funções neurossensório-motoras e as demais verbais: fazer pedidos claros, resistir a
funções cerebrais (sensação, percepção e influências negativas, ouvir os outros,
emoção) estão ainda confusas e, por isso, a responder eficientemente a críticas (FERREIRA,
discriminação entre seu eu e sua experiência 2001, p. 70).
não se realiza apenas na dimensão cognitiva. De La Taille, Oliveira e Dantas (1992),
Por isso, Ferreira (2001), explica que é também destacam a importância do
necessária a ação mediadora da educação, que desenvolvimento da afetividade no processo
deve tomar como sua função promover a educativo ao afirmarem que ele deve incluir a

429
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

oportunidade para a manipulação da realidade ajudando-os, assim, a se tornarem seres


e a estimulação da função simbólica, depois da humanos melhor formados em todos os
construção de si mesmo – o que, segundo eles, sentidos.
exige espaço para todo tipo de manifestação
expressiva, plástica, verbal, dramática, escrita,
direta ou indireta mediante personagens
susceptíveis de provocar identificação.
Antunes (1996), reforça que os professores
precisam estar comprometidos com mudanças
em suas ideias e posturas tradicionais, as quais
trazem ranços de práticas escolares que
apenas depositam informações nos alunos,
desconsiderando a afetividade no processo
ensino-aprendizagem.
Entretanto, para Sisto, Oliveira e Fini (2000),
a falta de motivação do professor geralmente
se reflete em sua resistência em aceitar
inovações tecnológicas e em assumir novos
papéis. Para essa autora, a formação, ou a falta
de formação adequada, os baixos salários, a
desvalorização social do professor, as
condições materiais em que se vê compelido a
trabalhar, a falta de um sistema adequado de
reforços pelo empenho em concretizar um
bom trabalho, a diversidade dos alunos, a falta
de uma boa administração do tempo,
planejamentos deficientes, a sobrecarga de
trabalho (em número de alunos, de turmas e
até de escolas em que atua), a falta de
envolvimento dos alunos entre outras variáveis
a que estão sujeitos, conduzem à apresentação
de respostas de manutenção da situação atual,
de falta de iniciativa, de desinteresse pela
mudança e não-engajamento efetivo em
qualquer inovação.
Com tudo isto posto e apesar das
dificuldades mencionadas, espera-se que os
educadores se sensibilizem para a necessidade
de desenvolver a afetividade de seus alunos,

430
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O currículo das escolas atuais prioriza o desenvolvimento cognitivo. A emoção humana
nunca foi vista como um conhecimento a ser explorado e desenvolvido nas crianças e nos jovens.
Por isso, reclama-se uma educação mais humanista.
É preciso que o professor se desprenda de velhas concepções sobre as quais os conteúdos
são trabalhados na escola e siga em direção a uma concepção que possa construir uma sociedade
mais justa, democrática e solidária.
Para discorrer sobre a dimensão afetiva no campo da educação, vislumbra-se a
possibilidade de reflexão sob duas perspectivas diferentes, inter-relacionadas e complementares:
a do desejo, aqui entendida apenas em sua dimensão motivacional, de interesse; e a dos
sentimentos e afetos como objetos de conhecimento. Mesmo reconhecendo a importância da
motivação e dos interesses como uma dimensão essencial da afetividade na vida psíquica e para
a educação, no fundo tal perspectiva costuma ficar presa a uma visão dicotômica que reduz o
papel dos sentimentos e emoções a uma energética.
Acredita-se poder avançar as discussões que apontam para a articulação das relações
intrínsecas entre cognição e afetividade, no campo da educação, se incorporarmos no cotidiano
de nossas escolas o estudo sistematizado dos afetos e sentimentos, encarados como objetos de
conhecimento. Defende-se a ideia de que tais conteúdos relacionados à vida pessoal e à vida
privada das pessoas podem ser introduzidos no trabalho educativo, perpassando os conteúdos
de matemática, de língua, de ciências, etc. Assim, o princípio proposto é de que tais conteúdos
sejam trabalhados na forma de projetos que incorporem da maneira transversal e interdisciplinar
os conteúdos tradicionais da escola e aqueles relacionados à dimensão afetiva.
Acrescenta-se que as escolas deveriam entender mais de seres humanos e de amor do que
de conteúdos e técnicas educativas. Por isso, acredita-se que a educação deve ser pensada não
por meio de suas diversas disciplinas, mas, principalmente, como meio de promover a própria
vida.
Estas ideias reforçam a necessidade dos professores incrementarem a dimensão afetiva
de sua ação pedagógica e, nesse sentido, o presente trabalho pretendeu oferecer algumas
contribuições para sua formação. Espera-se que possam ser úteis para subsidiar sua reflexão e
sua prática docente.
É preciso integrar o que amamos com o que pensamos e trabalhar razão e sentimentos;
elevar estes últimos à categoria de objetos de conhecimento, dando-lhes existência cognitiva,
ampliando assim seu campo de ação. Trabalhar pensamentos e sentimentos – dimensões estas
indissociáveis – requer dos profissionais da educação a disponibilidade para se aventurarem por
novos campos de conhecimento e da ciência para darem conta, minimamente, de realizarem as
articulações que a temática solicita. Eis uma nova e difícil empreitada que exige coragem para
enfrentar o desafio posto: buscar novas teorias e abrir mão de verdades há muito estabelecidas
em nossa mente. Desafio salutar para o avanço da educação. De mais a mais, a recusa a este
trabalho contribuirá para a consolidação do “analfabetismo emocional” na sociedade
contemporânea.

431
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Com tudo isso, a intenção deste trabalho foi o de ilustrar como a afetividade dentro do
contexto educacional pode e deve ser levada em consideração. Assim, sem abrir mão dos
conteúdos tradicionais da escola, a professora deve trabalhar conteúdos de natureza afetiva,
entendendo-os como objetos de conhecimentos para a vida dos estudantes, da mesma forma
que a matemática e a língua são vistas como objetos de conhecimento a serem aprendidos.
Resumindo, com esse tipo de proposta educacional, a escola precisa entender que da mesma
forma que os estudantes aprendem a somar, a conhecer a natureza e a se apropriar da escrita, é
fundamental para suas vidas que conheçam a si mesmos e a seus colegas.
Trabalhando dessa maneira a educação atinge o duplo objetivo de preparar alunos e
alunas para a vida cotidiana, ao mesmo tempo em que não fragmenta a dimensão cognitiva e
afetiva no trabalho com as disciplinas curriculares.

432
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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434
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A RELEVÂNCIA DO MATERIAL DIDÁTICO NA


MUSICALIZAÇÃO INFANTIL: UMA ANÁLISE
EXPLORATÓRIA
Richard Weyder de Sá Fernandes1
Eliton Perpetuo Rosa Pereira2
Igor Viana Monteiro3

RESUMO: Constitui o objetivo geral deste trabalho compreender a relevância do material


didático na educação musical infantil. Inicialmente são citados alguns pensadores da pedagogia
musical, suas contribuições na educação musical infantil e seus objetivos pedagógico-musicais
incluindo uma discussão sobre como os materiais didáticos podem influenciar o
ensino/aprendizado da criança e o seu desenvolvimento. Em termos metodológicos, o estudo
caracteriza-se como bibliográfico-documental, de alcance exploratório e de abordagem
qualitativa com ênfase na análise de conteúdo de cinco materiais didáticos. Os materiais didáticos
selecionados são livros de musicalização, publicados em língua portuguesa, nos quais foram
identificados indicadores ligados aos aspectos essenciais de um material didático voltado para
musicalização infantil. Ao analisar os materiais foi possível observar algumas características
relevantes como: a contextualização cultural, o papel da experiência lúdica, das pedagogias ativas
e criativas, incluindo-se o aspecto da integração de conhecimentos. Relativo à produção do

1
Educador Musical e Contrabaixista, possui Licenciatura em Música pelo Instituto Federal de Goiás - Campus
Goiânia.
2 Coordenador do Projeto "Orquestra de Violinos Cajuzinhos do Cerrado", Coordenador da disciplina de música

junto a Secretaria de Educação e Cultura do Município de Senador Canedo. Licenciado em Música pela
Universidade Federal da Paraíba (2013).
3 Professor do Instituto Federal de Goiás (Brasil) atuando na Licenciatura em Música e no Mestrado em Artes.

Possui Doutorado em Educação e Mestrado em Música.

435
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

material didático, destacam-se as características visuais, musicais e pedagógicas, como


fundamentais na constituição de um material de qualidade.

Palavras-Chave: Material didático; Educação musical; Musicalização infantil.

THE RELEVANCE OF TEACHING MATERIAL IN CHILDREN'S


MUSICALIZATION: AN EXPLORATORY ANALYSIS
ABSTRACT: It is the general objective of this work to understand the relevance of didactic material
in children's musical education. Initially, some thinkers of musical pedagogy are mentioned, their
contributions to children's musical education and their pedagogical-musical objectives, including
a discussion on how didactic materials can influence children's teaching/learning and their
development. In methodological terms, the study is characterized as bibliographic-documentary,
with an exploratory scope and a qualitative approach, with emphasis on the content analysis of
five teaching materials. The teaching materials selected are music education books, published in
Portuguese, in which indicators related to essential aspects of a teaching material aimed at
children's music were identified. When analyzing the materials, it was possible to observe some
relevant characteristics such as: cultural contextualization, the role of the playful experience, of
active and creative pedagogies, including the aspect of knowledge integration. Regarding the
production of didactic material, the visual, musical and pedagogical characteristics stand out, as
fundamental in the constitution of a quality material.

Keywords: Teaching material; Musical education; Children's musicalization;

436
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO entretanto, por meio dessa pesquisa é possível


observar a falta de investigações
O material didático4 se constitui uma
1

especificamente focadas no estudo de


ferramenta imprescindível que contribui para materiais voltados para o processo de
todo o processo didático a ser realizado em musicalização infantil, principalmente
aula. Dessa forma, esta pesquisa implica tanto considerando o acesso cultural com base em
no planejamento, quanto na prática dos canções que elucidam a identidade cultura
educadores musicais que buscam estimular o brasileira5 . Assim, a escolha do material
2

desenvolvimento infantil, auxiliando didático deve ser dar com base em critérios
professores no trabalho de seleção de pedagógicos, ou seja, deve complementar o
materiais didáticos, considerando critérios ensino e a aprendizagem, considerando o
específicos da área. Nesse sentido, o material contexto de vida dos estudantes no processo
didático precisa estabelecer uma relação com educativo musical.
os estudantes, mas também com os O objetivo geral desta pesquisa é
professores. compreender a relevância do material didático
Para os professores, a formação sobre a para musicalização infantil. Entre os objetivos
utilização do material didático realiza-se na específicos lista-se: Conhecer temáticas ligadas
sala de aula, in loco, e o professor percebe o à produção de material didático para
seu aprimoramento profissional em relação a musicalização infantil; Levantar material
esta utilização. Ao selecionar, planejar, utilizar didático para musicalização infantil publicados
o material didático que conhece muito bem, em língua portuguesa que apresentem
independente de ser um material visto como diferentes propostas e abordagens
tradicional ou um material mais sofisticado e pedagógicas; Levantar os principais
moderno, o professor sente-se realizado como indicadores que revelam os aspectos essenciais
profissional quando percebe que o material de um material didático para musicalização
selecionado e utilizado por ele deu certo; ou infantil; Realizar uma análise exploratória de
seja, conseguiu facilitar a aprendizagem do materiais didáticos voltados para a
aluno e principalmente estimulá-lo para a musicalização infantil.
aquisição do conhecimento. (FISCARELLI, 2007, O estudo caracteriza-se como sendo de
p. 8). abordagem qualitativa, de alcance exploratório
Sabe-se que atualmente existe um vasto com uso de uma metodologia de análise de
número de materiais didáticos voltados para conteúdo. A seguir, serão apresentados alguns
facilitar o trabalho pedagógico docente, temas ligados à musicalização infantil, com

4
De acordo com Loyola e Pimentel, (2017, p. 101): 5 De acordo com Teodoro (1987, p. 46) “A soma das
“Entende-se por material didático todos os objetos identidades individuais forma, dentro de um contexto
elaborados com a intenção de proporcionar determinado, a identidade cultural de um grupo étnico ou
aprendizagens. Podem ser nos mais diversos formatos, de uma sociedade. Ela se transmite pela cultura, pelo
como livros impressos, softwares, jogos, audiovisuais ou ensino, pela educação. Daí a necessidade de o sistema
outras formas digitais ou não”. educacional levar em conta as diversidades que
compõem uma mesma cultura a fim de não criar
problemas de ordem psicológica nos educandos”.

437
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

foco nos fundamentos trazidos pelos métodos todos, e não apenas àqueles supostamente
ativos de ensino de música, principalmente em dotados de um “dom” inato (PENNA, 2011, p.
Kodály e Orff. Posteriormente serão abordadas 17).
questões ligadas ao acesso aos materiais Alguns desses educadores trouxeram
didáticos pelos educadores e aspectos ligados propostas para a prática pedagógica na
à constituição e à qualidade desses materiais. educação infantil em decorrência das
Posteriormente será realizada uma análise transformações artísticas da época, nas quais a
exploratória de cinco materiais selecionados educação infantil começou a ter um valor
(publicados em português no Brasil), e significativo (FONTERRADA, 2008). Partindo
apresentadas algumas considerações sobre as desse ponto de vista, novas concepções
características que os educadores musicais pedagógicas voltadas para a educação infantil
devem considerar em relação ao uso de emergiram, sustentando a ideia de um ensino
materiais pedagógicos no ensino de música. transformador. Paz (2013), explica que o
educador musical deve estar atento para
A MUSICALIZAÇÃO INFANTIL E trabalhar de forma adequada a metodologia de
ensino de música adotada.
OS MÉTODOS ATIVOS Nesse sentido, é necessário destacar os
Segundo Fonterrada (2008), o século XX educadores musicais que abriram nossas
apresentou um olhar inovador e transformador perspectivas para o ensino de música,
para as questões relativas ao ensino musical, incluindo a criação de obras e materiais
destacando-se pedagogos da música “pela pedagógicos específicos, como Kodály e Orff.
pertinência de suas propostas e por sua Zoltán Kodály6 foi um músico e educador
1

penetração no Brasil, tornando-se, com isso, húngaro que trabalhou na reconstrução da


mais significativos entre nós. São eles: Emile cultura musical de seu país, com apoio de Belá
Jaques-Dalcroze, Edgar Willems, Zoltán Kodály, Vikár (1859-1945) e Belá Bartók (1881-1945).
Carl Orff e Shinichi Suzuky” (FONTERRADA, Sua principal contribuição está relacionada à
2008 p.121-122). De acordo com Figueiredo sua pesquisa sobre cultura, identidade e
(2012), essas inovações podem ser autenticidade musical, recuperando aspectos
denominadas de métodos ativos, o que das características históricas e sociais de seu
também é explicado por Penna (2011). país.
Cada um desses músicos-pedagogos, no seu O seu trabalho teve tanta importância que
contexto histórico e social específico, tem foram publicadas mais de cem mil canções ao
ajudado a renovar o ensino de música, a longo de sessenta anos. Com destaque para a
questionar os modelos tradicionais e coleção de livros didáticos em educação
“conservatoriais”, procurando ampliar o musical que “forneceu suporte para a aplicação
alcance da educação musical ao defender a do método em uma ampla rede de escolas
ideia de que a música pode ser ensinada a estatais”. (FONTERRADA, 2008, p. 153).

6
Kecskemét, 16 de dezembro de 1882 — Budapeste, 6
de março de 1967.

438
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De modo semelhante, o compositor Desse modo, sua proposta, no âmbito da


humanista e educador, Carl Orff7 , teve grande
1 linguagem, dança e música, abrangeu
relevância na pedagogia musical, em especial diferentes formas de expressão. “A brincadeira
com a criação do ‘Método Orff’ de ensino e a improvisação levam a um design holístico
musical. O trabalho educativo de Orff tinha por em um processo de trabalho que permite aos
tese que: “a música começa nas pessoas, participantes um alto grau de liberdade
envolvendo a estimulação e a produção criativa.” (BOMFIM, 2012, p. 83). Para
musical elementar” (ORFF.DE, 2022, s/p - Fonterrada (2008), na abordagem de Orff há
tradução nossa). Orff propôs a ideia de música uma integração das linguagens artísticas,
elementar partindo de uma reforma cultural e valendo-se do ritmo, movimento e
buscando a valorização dos aspectos instintivos improvisação. Orff-Schulwerk8 (ou método
2

no fazer artístico. É possível ver em seu Orff) foi um material pedagógico elaborado
trabalho, traços das transformações culturais para o ensino da música para crianças, criado
que despertavam na época e observar a por Orff e Gunild Keetmann, publicado entre
importância do ritmo, do movimento e da 1950 de 1954 em cinco volumes9 . O termo3

dança com os pioneiros: Duncan, Jaques- Schulwerk em alemão significa tarefa ou obra
Dalcroze, Laban e Wigman. Bomfim (2012), escolar. Esse material é composto por
explica essas relações: composições e instrumentos musicais10 4

A partir da união da fala, da dança e do especialmente elaborados.


movimento, formulou o conceito de música Assim, seu trabalho na área da educação
elemental, que serviria de base para a musical obteve grande importância e o mesmo
educação musical da primeira infância. É permanece presente ao redor do mundo
importante notar que essa educação deveria colaborando para a educação musical.
estar vinculada aos estágios evolutivos
humanos. Para Orff, o ritmo é a base para a
melodia, e ambos estão relacionados com o
corpo: o ritmo com o movimento, e a melodia
com a fala. (BOMFIM, 2012, p. 83).

7
Munique, 10 de julho de 1895 — Munique, 29 de março Reco-reco; Pandeireta; Maracas; Guizeira; Clavas;
de 1982. Tamborim; Prato Suspenso; Bongós; Caixa de Rufo;
8 Fonte: https://www.orff.de/en/orff-schulwerkr/ Windchime; Temple-block; Timbales e Congas.
9 Carl Orff, Gunild Keetmann: Musik für Kinder. Instrumentos por Famílias: Madeiras: Xilofone Baixo;
Volumes 1–5. Schott Musik International, Mainz 1950. Xilofone Contralto; Xilofone Soprano; Castanholas;
10 Instrumentos de Altura Definida: Flauta de bisel; Caixa Chinesa; Reco-reco; Maracas; Clavas; Temple-
Xilofone Baixo; Xilofone Contralto; Xilofone Soprano; block. Peles: Bombo;Tamborim; Pandeireta com pele;
Metalofone Baixo; Metalofone Contralto; Metalofone Caixa de Rufo; Timbales Congas; Bongós. Metal:
Soprano; Jogo de Sinos Soprano e Jogo de Sinos Metalofone Baixo; Metalofone Contralto; Metalofone
Contralto. Instrumentos de Altura Indefinida: Bombo; Soprano; Jogo de Sinos Soprano e Jogo de Sinos
Pratos; Gongo; Castanholas; Triângulo; Caixa Chinesa; Contralto; Triângulo; Pandeireta sem pele; Guizeira;
Windchime; Gongo; Pratos.

439
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O PAPEL DO MATERIAL ferramenta que auxilia o processo de


aprendizado, mas também como despertador
DIDÁTICO NA MUSICALIZAÇÃO de uma participação mais ativa dos alunos. “Os
O Material didático ou livro didático11 é um 1

materiais didáticos quebram o excesso de


recurso que está presente praticamente em verbalismo e concretizam o assunto abordado
todas as escolas nos dias de hoje, atuando pelo professor, facilitando a aprendizagem do
como transmissor e reprodutor de ideias e aluno” (FISCARELLI, 2007, p. 4).
concepções de saberes, caracterizando-se em Não obstante, os professores possuem um
um forte elemento do processo educativo. O papel fundamental na contextualização do
material didático (livro) de música além de ser ensino-aprendizado. Eichler e Del Pino (2010)
um conector do conhecimento musical, está apresentam várias considerações sobre o uso
intimamente ligado à formação musical da de material didático, considerando que esse
criança, sendo também norteador de uso parte da relação pedagógica, que é
conteúdos. essencial para a apropriação do conhecimento.
A importância dos conteúdos de música Dessa forma, o professor, de modo crítico e
inseridos no contexto educacional, no reflexivo, deve buscar uma melhor utilização
componente curricular Arte, deve ser do material didático em sala de aula.
compreendida não só em termos históricos, Tanto para o processo de elaboração,
mas também sob o prisma da dinâmica quanto para o adequado uso dos materiais
editorial, a partir das relações desse material didáticos atualmente disponíveis, é necessário
com as práticas peculiares da escola e do que o educador musical também tenha
processo de ensino/aprendizagem. Essa conhecimento dos direitos autorais envolvidos.
importância é referendada, entre outras O direito autoral pode ser definido como um
condições, pelo debate em torno da sua conjunto de prerrogativas estabelecidas por lei
incumbência na democratização de saberes moral e patrimonial à pessoa física ou jurídica,
socialmente autenticados e pertinentes a área sobre obras intelectuais, tangíveis ou
de Arte, pelo debate em relação à atribuição do intangíveis. (BRASIL, 1998; DIREITO AUTORAL,
professor como mediador do processo de 2021). Incluem-se nesse contexto, os direitos
ensino, pela compreensão acerca de sua patrimoniais e morais. Nos direito patrimonial,
produção e comercialização e, a lei determina o direito exclusivo em que o
consequentemente, pelas inclinações autor tem de utilizar da obra por ele criada
econômicas, além dos investimentos (BRASIL, 2002). Já o direito moral, está
governamentais na avaliação desse material. vinculado à personalidade do autor, é
(SOUZA, 2018 p. 23-24). perpétuo, inalienável e irrenunciável, ou seja,
Tendo em vista a utilização de material não pode ser cedido, transferido ou
didático para musicalização, este tem se renunciado (ABRAMUS, 2022).
caracterizado não apenas como uma

11
No Brasil, o livro didático segue normas contempladas isso, é usada aqui a terminologia ‘material didático’, que
pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Por se amplia em relação ao livro didático em específico.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No Brasil, a lei que determina e regula os (...) considera-se que o material didático,
direitos autorais é a Lei nº 9.610, de 19 de impresso ou digital, é o conteúdo base do
fevereiro de 1998 (BRASIL, 1998), que garante curso, no qual o professor, auxiliado por uma
a proteção do direito autoral. Para uma obra equipe multidisciplinar, o organiza de acordo
estar em domínio público, por exemplo, o com a proposta pedagógica, de modo a
artigo 41 da Lei 9.610 de 1998 estabelece a potencializar a transformação da informação
proteção aos direitos patrimoniais, em que em conhecimento, ou seja, de modo a permitir
estipula o prazo de 70 anos após o falecimento a construção do conhecimento (SILVA, 2013, p.
do autor, não se aplicando aos direitos morais, 67).
pois são inalienáveis e irrenunciáveis. Para que se compreenda os aspectos
É necessário que a elaboração e utilização de relacionados à qualidade de um material
materiais didáticos pelo educador musical didático, é necessário analisar como se dá o seu
perpasse uma consciência sobre os limites e processo de construção. Assim, deve-se seguir
possibilidades de uso de recursos culturais, cinco fatores: professor conteudista, designer
com direitos autorais resguardados ou com instrucional, revisor de texto, diagramador e
livre acesso por meio do domínio público12 . É 1 comissão editorial. (SILVA e CASTRO, 2009).
importante ressaltar que essa questão Nesse sentido, o material didático precisa
perpassa a didática, principalmente tendo em considerar esses fatores na sua produção,
conta questões relacionadas ao currículo. sendo de fundamental importância a qualidade
Maier e Wolffenbüttel (2021), esclarecem essa do conteúdo apresentado e a forma como este
questão no contexto da educação musical. conteúdo se estrutura.
Levando em consideração os direitos de Vale ressaltar que, na parte da elaboração
aprendizagem e os campos de experiência para do material didático para musicalização,
a construção do currículo da Educação Infantil, existem autores que incluem o áudio em seu
os professores devem articular os saberes dos material, adicionando elementos audiovisuais
educandos com os conhecimentos culturais, para a realização do trabalho, sendo um
sociais e artísticos da sociedade, buscando o elemento que destaca a exploração sonora.
desenvolvimento integral dos mesmos. (MAIER A exploração sonora como criação de
e WOLFFENBÜTTEL, 2021, p. 4). sonoridades, maneiras de tocar e de
O material didático na educação musical estabelecer relações com o sonoro e o musical
possibilita uma vasta possibilidade de trabalho é parte de outras ferramentas pedagógicas dos
nos diversos aspectos da música. No contexto processos criativos. Embora a exploração
da educação básica, Silva (2013), destaca a sonora tenha importância por si só, pelas
relação intrínseca entre o planejamento, o razões já apresentadas aqui, ela integra
currículo e o material a ser utilizado. também a improvisação, e abre caminhos para
a criação musical em seu sentido mais

12
Condição jurídica na qual a obra não possui o obra em domínio público é livre e gratuita. Nesse sentido,
elemento do direito de propriedade, de modo que não domínio público é o antônimo do Direito autoral. (GUEIROS
há restrição de uso. Do ponto de vista econômico, uma JR, 2005).

441
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

difundido: o da composição. Além disso, importante ressaltar que a análise de conteúdo


possibilita descobrir modos de execução também possui diversas ferramentas
musical e sonoridades para arranjos musicais. metodológicas em um contínuo processo de
(RIBEIRO, 2018, p.46). aperfeiçoamento.
A partir desse processo, se torna Análise de Conteúdo, assenta-se nos
fundamental a criatividade/improvisação, pressupostos de uma concepção crítica e
como um “elemento de grande importância dinâmica da linguagem. Linguagem, aqui
para o contexto musical da educação por se entendida, como uma construção real de toda
aproximar da produção musical da infância e a sociedade e como expressão da existência
por envolver questões extramusicais de humana que, em diferentes momentos
desenvolvimento e relações humanas.” históricos, elabora e desenvolve
(RIBEIRO, 2018, p.46). representações sociais no dinamismo
Portanto, o material didático utilizado pelo interacional que se estabelece entre
professor e pelo aluno, tem por finalidade linguagem, pensamento e ação. (FRANCO,
facilitar o aprendizado, dinamizar a aula, 2012, p. 13).
buscar a atenção e motivação dos alunos, Assim, adotou-se a análise de material
trazer foco para o estudo, despertar o interesse didático com foco na educação musical infantil,
pela aula e, assim, colaborar para a construção em que se destaca a análise orientada aos
do conhecimento. objetivos do trabalho.

ANÁLISE DE MATERIAIS • Critério técnicos, visuais, musicais e


pedagógicos
DIDÁTICOS DE MUSICALIZAÇÃO Em relação a análise dos materiais utilizados
Com o objetivo de realizar uma análise nesta pesquisa, a preocupação foi de
exploratória de materiais didáticos (livros) selecionar materiais que se diferem,
voltados para a musicalização infantil, adotou- visualmente, musicalmente e
se, como metodologia de pesquisa, a análise de pedagogicamente no seu conteúdo. Para que o
conteúdo (FRANCO, 2012), que vem sendo material didático tenha características
utilizada para descrever, analisar e interpretar relevantes na sua estrutura, deve-se considerar
determinados conteúdos, constituídos em uma proposta que dialoga em todo o seu
diversas formas de documentos, textos, contexto. Nos aspectos visuais é necessário
artigos, livros, revistas, filmes, vídeos, atentar para figuras, formas e cores que
fotografias, entre outros. A análise de despertam o interesse dos alunos(as).
conteúdo, possui ferramentas como as (WEISSHAAR e JAKIMIU, 2017).
descrições sistemáticas, qualitativas ou Igualmente importantes são as
quantitativas, que ajudam “a reinterpretar as características musicais no processo de
mensagens e a atingir uma compreensão de construção do material didático, pois em
seus significados num nível que vai além de muitos casos se faz necessário o
uma leitura comum” (MORAES, 1999, p. 7). É acompanhamento musical, o qual se

442
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estabelece como apoio significativo na parte na parte sonora do material relação de


melódica e rítmica da música, trabalhando a contexto com as atividades de musicalização.
memorização dos sons, das músicas e das Brito (2019), refere-se a uma limitação de
letras. Observou-se também, que fica a critério tendências pedagógicas que enfatizam o
a utilização da partitura, demonstrando os repertório de materiais publicados. “Nesse
aspectos gráficos musicais, mas os materiais sentido é importante integrar aspectos e
geralmente se fazem acompanhar do recurso valores próprios à música contemporânea,
do Compact Disc (CD) ou links da internet para bem como às produções musicais de outras
conteúdos audiovisuais. culturas.” (BRITO, 2019, p. 59). Assim, é
No que tange aos critérios para a elaboração importante que o ensino de música integre
musical, é relevante compreender o papel aspectos exploratórios e criativos musicais.
ativo do aluno em relação ao conteúdo musical
exposto, seja ouvindo a música ou executando • Análise de materiais didáticos em forma
uma partitura tradicional ou alternativa. Pino e de livros selecionados
Joly (2016, p. 12), explicam que “é preciso O quadro 01 apresenta uma análise
adaptar e criar. O professor precisa ser criativo preliminar dos materiais didáticos
e pensar nas potencialidades e limites de cada selecionados, o qual descreve as três
um de seus alunos”. categorias (Pedagógica, Visual, Musical) usadas
Na parte da pedagogia musical e no para descrever os aspectos relevantes sobre
processo de elaboração do material didático, a cada um dos cinco materiais: Annunziato
criança constitui parte importante na (2002), Marques e Ribeiro (2018), Jeandot
construção do conhecimento. Kodály e Orff (2008), Kater (2011), Nicolau (2015). O critério
desenvolveram trabalhos na educação infantil usado para seleção desses materiais, foi a
em que utilizaram objetos e ferramentas para disponibilidade no mercado editorial brasileiro,
o ensino musical de forma contextualizada ao impresso em português, e também a
mundo da criança. Kodály e Orff buscaram, diversidade de propostas que cada um deles
pela vivência musical, um ensino musical a apresenta, possibilitando o acesso a diferentes
partir da prática, antes do estudo da teoria. pedagogias voltadas para a musicalização.
Enfatizavam a cultura, trabalhando com jogos
infantis cantados na língua materna e
conforme os costumes locais. (SILVA, 2011). Na
proposta pedagógica de Orff, verifica-se a
utilização de cantigas infantis e brincadeiras
próprias do universo infantil, que corroboram
para a utilização de materiais que consideram
a realidade em que vivem (MATEIRO; ILARI,
2011).
Outro ponto importante é a utilização de
repertórios musicais que, de fato, transmitem

443
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

444
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O material didático (livro) ‘Jogando Com os do que está sendo visualmente exposto. Em
Sons e Brincando Com a Música’, de cada atividade do material didático (livro), fica
Annunziato (2002), apresenta a musicalização aberta a possibilidade de o professor utilizar a
infantil por meio de jogos e brincadeiras, criação com elaboração de materiais didáticos
utilizando como parte do material didático próprios, como exemplificado acima, na
(livro) um conjunto de recortes e CD. Trabalha segunda canção do livro. Posteriormente, foi
a criatividade usando sons de instrumentos lançado pelas autoras, o ‘Guia Prático
musicais, corpo, animais, natureza, cidade. Na Brincadeiras, Partituras e Cifras’13 , um guia
1

parte das brincadeiras desenvolve canções do para trabalhar o material didático (livro) ‘Festa
repertório folclórico, utilizando o corpo como na Lagoa’ (MARQUES e RIBEIRO, 2018),
instrumento rítmico. O material didático (livro) trazendo ideias e conteúdos para cada
possui um conjunto de 32 cartelas para serem atividade.
recortadas e trabalhadas com cada atividade O material didático (livro) ‘Explorando o
descrita. Relativo à questão visual, as cartelas universo da música’ de Nicole Jeandot (2008),
possuem figuras coloridas e ilustrações explora de forma significativa a criação de
próprias para a exploração sonora. No final do instrumentos musicais e jogos envolvendo
música. Sobre os conceitos pedagógicos, a
recorte o autor utiliza de figuras que se
autora afirma que, nesse momento, o
encaixam para a criação de ‘jogo da memória’.
professor não deve dar ênfase de forma
O material didático (livro) ‘Festa na Lagoa’ exagerada a cada conceito musical (ritmo,
de Marques e Ribeiro (2018), perpassa com melodia, harmonia) e que a atividade deve ser
apresentação do ‘Senhor Sapo’ convidando os desenvolvida conforme o contexto escolar do
animais da floresta e do mar para sua festa. Ao estudante. Nas atividades propostas, há
todo são nove canções que são trabalhadas diversas possibilidades para se trabalhar os
com a combinação de uma história com cada conceitos de timbre, melodia, ritmo e
personagem (animal, árvore, pescador) que se harmonia, de modo que, o professor poderá
desenvolve, despertando a fantasia e a fazer o uso do corpo e dos instrumentos
criados pelos alunos. Há atividades com
imaginação da criança. Observam-se imagens e
canções populares e partituras não
figuras da natureza com bastante destaque, convencionais e reconhecimentos de ritmos e
onde há a exploração sonora para identificação

13
Disponível em: https://lp.caixolamusical.com.br/festa-
na-lagoa-livro-digital/ Acesso em: jan. de 2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

instrumentos musicais característicos de cada movimentação corporal com as crianças em


região do Brasil. roda. O material didático (livro) estimula os
O material didático (livro) ‘Erumavez...’ de jogos sonoro-musicais, memória, brincadeiras
Carlos Kater apresenta uma proposta com ou sem instrumentos, histórias, lendas,
interdisciplinar relacionada ao tema central criação e improvisação de canções. Relativo à
(escuta, percepção, memória) em que o autor parte musical encontram-se atividades que
aborda a música, meio ambiente, biologia, trabalham ostinatos, células rítmicas, pulso,
entomologia, geografia, ecologia e outras áreas dinâmica, andamento, timbre, percussão
do conhecimento afins. É possível observar corporal, reconhecimento sonoro, boca chiusa,
dois objetivos centrais, a aproximação com a audição ativa, harmonia, melodia, oitava,
natureza e animais e o trabalho de pausa e uso de instrumentos Orff.
reconhecimento sonoro, escuta de diversos
sons produzidos por animais. O trabalho com o RESULTADOS
material didático (livreto) de apoio, que Identificamos que, de forma geral, cada
acompanha o material didático principal (livro) material didático se relaciona a outras
de Kater (2011), sugere que o professor metodologias de outros autores do campo
construa sua aula dependendo da quantidade pedagógico musical, além dos citados nesse
de alunos, para poder indicar quais alunos estudo como sendo os principais. Assim, é
devem responder as perguntas que podem possível indicar uma síntese das principais
surgir no decorrer da leitura do material características dos materiais didáticos:
didático (livro). O material audiovisual (CD) que
• Foco na ‘música elementar’, nos
faz parte do encarte (livro e livreto) é
conceitos básicos e no papel ativo do
indispensável nessa abordagem pedagógica.
estudante;
O material didático (livro) ‘Fazendo música
• Contextualização com a faixa etária e
com crianças’ de Nicolau (2015), tem por
com a cultura do estudante;
objetivo desenvolver habilidades musicais em
• Utilizar brincadeiras, jogos e atividades
reconhecer timbres e sons variados, aprender
lúdicas no processo pedagógico musical;
novos repertórios de dentro e fora do Brasil. Há
foco no cantar e, também, busca refletir sobre • As concepções pedagógicos ativas e
o Curso de Musicalização Infantil da UFPR, com criativas são essenciais na musicalização;
“ênfase no resgate do folclore e da cultura • Integrar conhecimentos de diversas
popular do Brasil e nas teorias recentes do áreas e de várias linguagens artísticas;
multiculturalismo e do desenvolvimento • Considerar aspectos da diagramação e
musical infantil” (NICOLAU, 2015, p. 8). No uso de imagens e cores adequadas;
aspecto visual, observam-se diversas cores ao • Usar exemplos sonoros ou audiovisuais;
longo de cada unidade, figuras infantis e • Realizar adaptações das atividades
desenhos característicos de cada atividade. Na propostas considerando o contexto
maior parte possui uma partitura referente a educativo;
música com a indicação da faixa do CD. Na
parte pedagógica, há atividades com canções
de domínio público (Escravos de Jó),
desenvolvendo a percussão corporal, também
a canção ‘História da Serpente’ que trabalha a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível verificar que a elaboração e uso do material didático para a educação infantil
apresenta significativa relevância na construção dos planejamentos pedagógicos em música.
Percebeu-se que os materiais pedagógicos devem considerar as pedagogias de pensadores
e pedagogos musicais, os quais são relevantes nos objetivos e desafios que a educação infantil
solicita atualmente. Por outro lado, é possível considerar, a partir das análises realizadas, que o
material didático não é uma receita rígida a ser seguida, mas uma sistematização de propostas
pedagógicas que podem servir de inspiração no trabalho docente em música.
Ademais, constatou-se a relevância da utilização de ferramentas apropriadas as quais
podem ser utilizadas pelo educador na construção do conhecimento musical, bem como auxiliar
no desenvolvimento musical da criança. É possível concluir que o material didático deve ser parte
integrante no ensino/aprendizagem do aluno, contribuindo para que o professor possa utilizá-lo
acessando criticamente novas fontes, fundamentos, objetivos e metodologias.

447
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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450
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A TERCEIRA IDADE NA EDUCAÇÃO ONLINE:


APRENDIZAGEM SEM SAIR DE CASA
Luiz Monteiro de Morais1

RESUMO: O presente artigo foi realizado na área da educação online com os idosos, buscando
entender o que fazem a optarem por essa forma de estudo e se é gratificante para eles
aprenderem na comodidade de seus lares os conteúdos de seus cursos favoritos em plataformas
digitais e manuseios das ferramentas que para muitos não conhecem suas finalidades na
contribuição de um ensino de qualidade. Todavia que o mundo da internet, sem dúvidas está
muito avançado, hoje com um simples clique podemos fazer compras, jogar, aprender a tocar um
instrumento musical e até mesmo estudar, coisas que a tempos atrás tudo era mais difícil, todos
esses avanços tecnológicos possibilitaram melhores ganhos de tempo, a educação a distância é
um grande exemplo dessa evolução da tecnologia que a cada dia vem aumentando os números
de pessoas interessadas nessa modalidade devido as facilidades, comodidades e preços mais
acessíveis, tendo o mesmo reconhecimento de um certificado ou diploma presencial expedido
pelas instituições de ensino. Para tanto, essa forma de ensino já é desenvolvida em outros países
por sua flexibilidade, qualitativa e metodológica respeitando o tempo e aprendizagem, inclusive
a dos idosos.

Palavras-Chave: Educação; Online; Terceira Idade.

1
Professor de Arte e Música - Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esportes (SEE).
Graduação: Música.
Psicólogo - Assistência Social e Direitos Humanos – SASDH/Rio Branco-AC.
Graduação: Psicologia .

451
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE THIRD AGE IN ONLINE EDUCATION: LEARNING WITHOUT


LEAVING HOME
ABSTRACT: The present work was carried out with the elderly, to understand what they make
the choice to study and for them to learn at the convenience of their parents and students who
seek their courses in education and seeking the form of their courses in education and seeking
ways of children's education. Tools that do not know their purpose in contributing to quality
education. However, the world of the internet is undoubtedly very advanced, today with a simple
click we can make purchases, play games, learn to play a musical instrument and even study,
things that a while ago everything was more difficult, all these technological advances made it
possible even Gains in time, the technology education that is every day is increasing the numbers
of people at a distance or the degree in person, the facilities and more affordable prices and the
same recognition to a degree in person. issued by educational institutions. To this end, it is being
used in developed countries due to its flexibility, qualitative and methodological aspects of the
years of age and learning, inclusive.

Keywords: Education; Online; Third Age.

452
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O trabalho é de suma importância e tem


como objetivos oportunizar que os idosos
O presente trabalho buscou investigar os aprendam a ler, ter uma profissão, ou até
motivos de aprendizagem online na terceira mesmos suas receitas de bolos favoritos e
idade na faixa-etária entre 60 a 70 anos, ainda, promovendo encontro, lazer, diversão,
todavia que essa modalidade de ensino vem se saúde e bem-estar e tendo a certeza que nesta
tornando uma forma de aprender com fase da vida ainda pode aprender com as
bastante eficácia, com certificados e diplomas evoluções tecnológicas.
com o mesmo valor do presencial e com toda a
comodidade de seus lares, ou seja, obtendo o
A TERCEIRA IDADE NA
conhecimento sem sair de casa, com toda essa
facilidade hoje só não estuda quem não quer. DESCOBERTA DA
Para a realização desta pesquisa utilizou-se a APRENDIZAGEM DIGITAL
entrevista via internet com os idosos, tendo A sociedade a cada dia vem se
como abordagem qualitativa, seu objeto de desenvolvendo nos seus aspectos culturais,
estudos foi com os idosos na faixa-etária de 60 sociais e tecnológicos, e com esses grandes
a 70 anos, a metodologia algo aproximado a avanços observa-se que a procura por novas
um estudo de caso, O trabalho traz uma breve descobertas tecnológicas aumentaram
revisão bibliografia sobre A terceira idade na bastante entre as pessoas que a cada hora se
educação online: aprendizagem sem sair de tornam novos internautas das plataformas de
casa. estudos e redes sociais, com toda essa
Quando comecei a frequentar as aulas da evolução no Brasil e no mundo as formas de
pós que se reuníamos uma vez por mês no polo educação em “EAD” cresceram chegando a
presencial a professora sempre enfatizava oportunizar todos os públicos que queiram
sobre as disciplinas online, inclusive teve aproveitar as oportunidades de ensino dessa
disciplinas nessa modalidade com resoluções modalidade, dentre eles se destacam a geração
de questões e fóruns para debatermos sobre da terceira idade que vem crescendo segundo
variados assuntos dentro da temática, foi estudos e levantamentos.
então que me dei conta que realmente estava Estima-se que em 2025, a cada cinco
me aprofundando em uma nova forma de brasileiros um terá 60 anos e o Brasil será
conhecimento, ou seja, “Era Digital” comecei a considerado o sexto país mais velho do mundo,
pensar como seria essas experiências na estando atrás da China, Índia, Comunidade dos
geração da terceira idade pois sabemos que o Estados Independentes (ex-URSS), Estados
Brasil tem milhares pessoas analfabetas e uma Unidos e Japão (BRASIL, 1999, p.1).
boa parte dessas pessoas são os idosos que Para alguns idosos que na sua juventude não
devido suas dificuldade de locomoção e saúde puderam estudar ou concluir seus estudos por
não podem saíres de suas próprias casas para serem os mantenedores dos seus lares, hoje
estudarem, vários fatores contribuem para estão tendo novas oportunidades de estudar,
essa problemática. interagir, fazer novas amizades com pessoas do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mundo inteiro apenas com alguns cliques e o e erro, por conexões “escondidas”. As
conhecimento estará nas telas dos conexões não são lineares, “linkando-se” por
computadores, celulares e outros meios hipertextos, textos, interconectados, mas
eletrônicos como fóruns, bate papo ocultos, com inúmeras possibilidades
descontraído e ainda a certeza que estão diferentes de navegação. [...] Na Internet
rodeados de pessoas virtuais e que essas também desenvolvemos formas novas de
aprendizagens estão sendo compartilhadas comunicação, principalmente a escrita.
entres eles, sabendo que sempre estamos Os estudos nessa modalidade, além de ser
precisando de alguém para nos ensinar, de eficácia tem um preço acessível e em muitas
aprender sozinho o caminho poder ser mais instituições de ensino os cursos são totalmente
demorado. gratuitos um fator muito importante na vida de
Alguns idosos já estão seguindo os mais quem quer estugar, ou seja, uma motivação
jovens no uso das novas tecnologias. Estão para os idosos que muitas vezes seus salários
aposentando a antiga máquina de escrever e não dá de custear os gastos devidos ter que
substituindo-a pelo computador, pois “quem comprar remédios para manter seus
não navegar pela internet vai ficar para trás”. tratamentos em dias pois sua aposentadoria
(MATTOS,1999, p.6) não possibilita muita ajuda devido salários
Realmente essa afirmação já está sendo baixos e em virtude disso muitos idosos
visível na nossa sociedade, o mundo da ocasionam a baixa autoestima e problemas
internet já cativa milhares de pessoas, é nessa psicológicos de difícil solução.
perspectiva que os idosos estão ficando
atualizado virtualmente O IDOSO, A CORAGEM E
O fato de a criançada estar tão familiarizada
com a tecnologia, estimula nos avós o desejo RESISTÊNCIA QUANTO A NOVA
de aprender. Mas, outras vezes, a diferença de FORMA DE APRENDIZAGEM
interesses os leva a encarar o computador
ONLINE
como coisa de garotada, ou algo que exige uma
Com a evolução do mundo moderno as
destreza manual que eles não têm mais (apud,
maquinas tiveram crescimentos tecnológicos e
CABRAL, 1999, p.1).
em diversos formas e diversificações na
A Internet e suas tecnologias vem a somar e
sociedade, o homem a cada dia tem novas
motivar muitos os idosos, fazendo com que
conquistas, desafios e adaptações tecnológicas
eles aprendam, a estudar, se relacionar com
a cumprir para possibilitar mudanças
amigos e esquecendo a solidão criem novas
adequadas para atingir o bem-estar na vida de
redes de amizades.
si próprio e das demais pessoas que os
Moran (1998, p.128), comenta que:
rodeiam, incluindo-se aqui também a
[...] a Internet ajuda a desenvolver a
tecnologia da Internet, e não temer a novidade
intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a
e receio do desconhecido conhecido como
ritmos diferentes. A intuição, porque as
luddita.
informações vão sendo descobertas por acerto

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo Ferreira (1999, p.1238), a palavra coisas”. E por outro lado pessoas que querem
“luddita” significa “indivíduo que se opõe à usar do lado negativo. O ambiente virtual é de
industrialização intensa ou a novas suma importância e tem um poder muito forte
tecnologias”, é notório que no início que uma na vida das pessoas e dos idosos que estão
pessoa idosa queira fazer uso de um descobrindo essa ferramenta e nova formula
computador seja ele de mesa ou notebook do ambiente virtual.
sinta um pouco de receio pois no seu tempo o O idoso tem opiniões formadas e conceitos
equipamento que usava para escrever era a cristalizados. Ele, muitas vezes, não acredita no
máquina de datilografia que para a sua época poder vital de suas potencialidades e
já era uma evolução bem admirável e não capacidades, que podem ser desenvolvidas
precisava de tanto periféricos ou acessório nesta etapa de sua vida. Por vezes, o idoso
como hoje, hoje quando se liga um acredita que sua vida não terá mais
computador tem que levar em conta o tempo transformação. (SOUZA, 2002, p. 876).
de processamento de espera, da máquina, Boa parte dos idosos sente medo até para
teclado, mouse, caixas de som, e observar se ligar o computador. Mas isso só acontece
estão todos conectados perfeitamente e com o quando não se tem conhecimento desta
provedor de internet. ferramenta. A partir do momento em que o
Londres, no mês de abril de 1993, alguns indivíduo começa a ter noção de como ligar,
historiadores se reuniram no Museu de como manuseá-la, como jogar paciência, como
Ciência, para refletir sobre o problema da enviar mensagens a amigos e parentes, ele
resistência em relação ao desenvolvimento passa a perder o medo, adquirindo confiança
tecnológico. Pontuaram que: nos seus passos e o computador torna-se seu
[...] resistência a certos fenômenos aliado, contribui para estimular a mente,
tecnológicos é similar à ‘dor aguda’ no ser desenvolvendo a capacidade de memória,
humano, exercendo um papel funcional, estimulando o poder de concentração.
monitorando o corpo, um tipo de feedback, Segundo Maciel, (1995. p.12-13), com o uso
sendo indicativa de que não está bem da Internet, o idoso estará exercitando a
[concluíram que] a resistência deve ser vista memória, observando as imagens que estão
não como algo negativo, mas como uma ‘força’ disponibilizadas nos sites, os textos de
positiva, ajudando a dar forma à tecnologia interesse pessoal dentre outros, com isso, ele
(LITTO, 2000, p.2). pode aumentar a sua capacidade de retenção.
Para Cabral (1995, p.227), afirma que o
medo é um [...] “estado emocional de agitação QUANTO AO USO DEMASIADO
inspirado pela presença, real ou pressentida,
de um perigo concreto”. A internet está para E OS PROBLEMAS DE SAÚDE
quase todas as pessoas e que seu uso pode ser QUE PODE OCASIONAR NO
usado positivamente, ou seja, para as pessoas
que querem realmente fazem dela a sua forma
IDOSO
Assim como a possibilidade de conquistar
de aprender, estudar, interagir, entreter e “ns
novos amigos, efetuar compras, verificar o

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saldo bancário, estudar online, o internauta Um ponto positivo e que dentro da


viaja pelo o mundo em ambiente virtual, um normalidade de uso e visando a qualidade de
outro fator que pode afetar o estado de saúde saúde os idosos, os mesmos aprendem a usar
e o uso excessivo que pode ocasionar computadores quando são ensinados por
problemas de saúde, ou seja, e importante que professores, também idosos, com quem se
a pessoas saiba dosar seu tempo de uso para identificam (HOW..., 1999, p. 3).
não comprometer seu estado de saúde, Com as orientações necessárias de um
estudiosos afirmam que o uso prolongado do professor, e muitas vezes de amigos mais
computador, pode ser prejudicial à saúde, se o experiente, familiares, geralmente netos que
indivíduo passar horas à frente do estão a todo vapor em descobrimento virtual,
equipamento, poderá ter dores na cabeça, nas o idoso descobre que pode navegar e conhecer
costas e nos músculos do pescoço e acarretar e aprender sem sair de casa e se deslancha para
outros aspectos de problemas de ordens físicas o mundo das navegações.
ou mentais
O usuário do computador tem que ‘focar e CONDIÇÕES E MOTIVAÇÕES
reforçar’ para manter as imagens bem
definidas, resultando em tensão dos músculos AO ACESSO DOS IDOSOS
do olho, olhos secos e doloridos, sensibilidade PLUGADO COM A INTERNET
à luz, lacrimejamento, fadiga, dores de cabeça, As tecnologias a cada dia se modernizam e
dores lombares e espasmos musculares dispõem de condições que atraem muitas
(SÍNDROME, 2000, p.1). pessoas, inclusive a geração da terceira idade
Outras doenças vão aparecendo conforme o possibilitando motivações para uma navegação
uso compulsivamente da máquina e posições saudável, pois para essa geração o que vem a
inadequadas, os problemas de visões começam motivar os idosos procurarem sites e o que
a ser aparente, e a aquisição de doenças que procurar, para sempre aumentar o desejo de
atingem os músculos, tendões e nervos dos está online e não off-line.
membros superiores como: dedos, mãos, A Motivação envolve diretamente os
punhos, antebraço, braços, ombros e pescoço, fenômenos emocionais, biológicos e sociais
a famosa (L.E.R.), esta doença provoca dos indivíduos, possibilitando em gerenciar e
[...] inflamações devido as atividades de direcionar mantendo os comportamentos
trabalho que exigem movimentos manuais cumprindo assim seus objetivos traçados e
repetitivos, contínuos, rápidos com ou sem uso superando obstáculos e conquistando
de força, por longos períodos, como postura ou cumprimentos das ações podendo variar de
equipamentos inadequados aliados ao estresse indivíduo para indivíduo.
e fatores emocionais, provocando dor, fadiga, E importante sabermos que:
queda de performance de trabalho e Motivação é um estado psicológico no qual
incapacidade funcional (temporária ou crônica) o indivíduo tem disposição para realizar uma
(LER..., 2000, p.1) ação, seja no trabalho, seja em qualquer esfera
de sua vida. Na raiz latina da palavra, movere,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

encontra-se uma de suas características-chave,


o movimento, a dinâmica, ou seja, motivação
não é algo implantado no indivíduo de forma
permanente, mas sim um processo contínuo
em que fatores de diversas naturezas atuam, a
partir da concretização dos desejos das
pessoas, do cumprimento de suas metas e do
atendimento de suas expectativas
(FUCCIAMATO, et al., 2007, p. 88).
Segundo Vygotsky (1984), o pensamento é
gerado pela motivação, ou seja, pelos desejos,
necessidades, interesses e emoções do
indivíduo.
Corrobora Morris (1994), idosos que utilizam
o computador sentem-se menos excluídos na
sociedade que se torna cada vez mais
tecnológica.
De acordo com White, et. al. (1999), as TIC
ajudam o idoso a melhorar sua conexão com o
mundo externo.
Nos Estados Unidos os Médicos geriatras
indicam aos seus pacientes a usarem o
computador e da Internet, pois esta atividade
movimenta os músculos, os ossos e a mente
(GLATZER,1997, p.1).
Os idosos que estiverem sempre ativos e
exercitando seus braços e a memória, pode
funcionar como uma forma de prevenção para
essa faixa etária.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou estudar e investigar a terceira idade na educação online:
aprendizagem sem sair de casa, Conclui-se então que os idosos estão a cada dia a procura de
novos conhecimentos, desafios e em busca de novas aprendizagens para suprirem os tempos
perdidos que ficaram parado sem adquirirem conhecimento, e nessa forma de aprendizagem via
online eles descobrem que ainda são capazes de aprender de forma lúdica e pedagógica os
segredos do saber por meio do campo virtual e ainda podem interagir com os amigos, buscando
cada vez mais ampliar o ciclo de amizades entre eles com as ferramentas modernas e plataforma
que pareciam impossível o manuseio, desvendando e quebrando os paradigmas e medo do novo,
possibilitando o bem-estar, a qualidade de vida e a certeza que as novas descobertas digitais
sempre vão estar presente no seu aprender virtual.
Para os idosos aprender nessa modalidade é de suma importância, mediante que nessa
idade a locomoção e a saúde para alguns estão debilitadas não ajudam de forma eficaz, e os
cursos desta natureza só vem a nos da possibilidade para saímos do anonimato e clicando
estamos conhecendo uma nova forma de aprender.
Esperamos que este artigo científico fomente outras pesquisas relacionadas a educação
online no Brasil e no mundo capacitando e motivando cada vez mais os indivíduos da terceira
idade nesta nova Era da aprendizagem a distância.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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perspectivas para a gestão de recursos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A VIVÊNCIA DAS DIFERENTES LINGUAGENS NA


EDUCAÇÃO INFANTIL COMO CAMINHO DE
APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO
Débora Cristina da Silva1

RESUMO: O presente artigo é tem como base o interesse sobre os percursos de aprendizagem e
desenvolvimento na Educação Infantil, levando em consideração as especificidades dessa fase
primordial que compõem a educação básica. Inicialmente, apresento de forma panorâmica as
características da Educação Infantil em São Paulo. Em seguida, trago o papel da escola como
espaço de interações sociais que mescla as funções de acolhimento, promoção de igualdade e
ampliação de conhecimentos e experiências que também se dão atrás da vivência de diferentes
linguagens.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Linguagens; Aprendizagem; Desenvolvimento.

1Coordenadora Pedagógica na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE EXPERIENCE OF DIFFERENT LANGUAGES IN CHILD EDUCATION


AS A PATH OF LEARNING AND DEVELOPMENT
ABSTRACT: The present article is based on the interest in the paths of learning and development
in Early Childhood Education, taking into account the specificities of this primordial phase that
make up basic education. Initially, I present in a panoramic way the characteristics of Early
Childhood Education in São Paulo. Then, I bring the role of the school as a space for social
interactions that mixes the functions of reception, promotion of equality and expansion of
knowledge and experiences that also take place behind the experience of different languages.

Keywords: Early Childhood Education; Languages; Learning; Development.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Nesse mesmo artigo da DCNEI apresenta a


tripla função da educação infantil: função
Com mais de 100 a história da Educação social, função política e função pedagógica.
Infantil no Brasil está fortemente relacionada O objetivo central desse artigo é explanar
aos auxílios dados às famílias mais carentes sobre a importância das três funções da
subsidiados por instituições filantrópicas ou Educação infantil e como a sua garantia no
pelo Estado. cotidiano dos espaços de educação formal
Com a promulgação da Constituição Federal pode auxiliar bebês e crianças nos seus
Brasileira no ano de 1988 e que apresenta processos de aprendizagens de diferentes e
como seus desdobramentos a criação do diversas linguagens que poderão ser
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a passaportes para o desenvolvimento de
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira sujeitos ativos, autônomos e sadios.
(LDB) em 13 de julho de 1990 inaugura-se uma Esse objetivo será dividido em quatro
nova visão sobre a Educação Infantil que grandes questões e que aqui aparecerão como
engloba o atendimento a crianças desde o seu objetivos específicos.
nascimento até os três anos de idade em 1. A educação como um processo social;
creches e dos quatro a 5 anos nas escolas de 2. Funções da educação- ampliando
educação infantil e os demais anos panoramas;
correspondem ao ensino fundamental e ensino 3. Apropriação de linguagens – modos de
médio. ser e estar no mundo.
É importante destacar que no Brasil são A contribuição que este artigo pretende dar
consideradas crianças as pessoas de 0 a 12 é a de refletir sobre a importância da educação
anos de acordo com o ECA (BRASIL, 1990) infantil como território de aquisição de saber e
Com sua definição como primeira parte da construção de identidades que juntamente
educação básica brasileira, a educação infantil com a família é local que toda criança deve
tornou-se essencial ao processo educacional sentir-se segura e estimulada a ser, aprender e
de todas as crianças e sendo assim deve ser expandir sem ser tolhida por sua classe social,
oferecida de forma gratuita por instituições cor, credo ou gênero.
governamentais preparadas especialmente
para atender as particularidades dessa faixa
etária.
A EDUCAÇÃO COMO UM
Outro documento que é de sua importância PROCESSO SOCIAL
para a educação infantil è a Diretrizes Depois dos espaços familiares será na escola
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil que muitos bebês e crianças iniciarão suas
– DCNEI (BRASAIL 2010) que no seu artigo interações sociais, suas descobertas individuais
sétimo afirma que este nível educacional e terão condições de apropriar-se de formas de
exerce uma tripla função na sociedade agir e de formando um auto conceito positivo
brasileira. em relação a si mesma que leva a sua
construção como sujeito histórico. É também

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

na convivência com os diversos que, ao longo FUNÇÕES DA EDUCAÇÃO


do tempo, reafirmarão suas características e
singularidades com autoria e protagonismo. INFANTIL – AMPLIANDO
Nesses novos territórios aprenderão a trocar PANORAMAS
experiências com outras crianças e com adultos Bebês e crianças pequenas solicitam uma
que trarão para os mesmos espaços diferentes pedagogia das relações, com intencionalidades
formas de ser e de manifestar-se. Na carregadas de afetividades e voltadas para a
diversidade de formas, bebê e crianças construção de experiências individuais
experimentarão novas aprendizagens, cotidianas nos espaços coletivos.
desenvolvimentos, exercitam a ação coletiva e No entanto para que esses processos
da autonomia. aconteçam em suas totalidades é preciso que
A escola pública tem como objetivo principal todos os profissionais envolvidos no cotidiano
oferecer às novas gerações oportunidades para das unidades escolares dêem atenção a
encontrar pessoas e conhecimentos que lhes organização de espaços e vivências
possibilitem experiências, que provoquem e significativas, pense tempos que potencializem
gerem acontecimentos, intercâmbios, uma rotina proveitosa e sem tempos de
conseguindo constituir modos de ser e de espera, ofereçam materiais para a criações
participar da vida social. Ao interagir nas artísticas de forma que cada bebê e criança se
brincadeiras, explorações e investigações, os sinta convidado a descobrir o mundo.
bebês e crianças vivenciam experiências e Nessa perspectiva, é possível sinalizar três
aprendem as estratégias de convivência que funções fundamentais e inseparáveis para
foram constituídas historicamente nas unidades escolares de educação infantil como
diferentes culturas, interagindo com os bem destaca Barbosa, 2009, p.9, que quando
distintos saberes e os conhecimentos (SÃO bem articuladas entre elas podem promover a
PAULO, 2019,p.31). garantia de bem-estar as crianças, suas famílias
Escolas de educação infantil devem ser e profissionais que atuam nesses espaços.
espaços de ampliação de experiências pessoais
e desenvolvimento de todas as dimensões
humanas, é um lugar seguro para bebês e
FUNÇÃO SOCIAL – CUIDAR E
crianças identificarem seus desejos e EDUCAR
sentimentos construindo suas identidades Com a Constituição Federal de 1988 a
subjetivas frente ao mundo, fazer escolhas, educação de crianças de 0 a 6 anos em creches
testar aproximações e saber-se acolhido em e Pré- escola passou a ser um direito de todo
seus erros e frustrações. cidadão e um dever do Estado. Desde então
uma das premissas fundamentais dessa etapa
inicial da educação básica brasileira tornou-se
o cuidar e educar como práticas indissociáveis.
No entanto, longo tem sido o caminho para
a eliminação do pensamento que por muito

463
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tempo esteve presente nas práticas desenvolvimento e crescimento. É urgente


educacionais para as infâncias, que em suas ensinar a criança, com práticas de escuta
práticas mantinha viva a dicotomia entre o atenta, que sua fala, seu modo de pensar e
cuidar e o educar. Durante longo período o que expressar-se é importe e faz a diferença. Seus
era preconizado pela Lei magna do país não saberes sobre si, o outro e o mundo que a cerca
conseguia entrar nos espaços formais de são valiosos e encontram acolhimento na
educação infantil. coletividade do espaço da educação infantil.
Essa realidade só tomou outro corpo com a Para cuidar é preciso antes de tudo estar
criação de leis estatuais e principalmente comprometido com o outro, com sua
municipais como desdobramento das singularidade, ser solidário com suas
orientações da Constituição Federal/ LDB necessidades, confiando em suas capacidades.
9394/96, que possibilitaram que e hoje, cada Disso depende a construção de um vínculo
vez mais, entende-se que é necessário integrar entre quem cuida e quem é cuidado
os dois conceitos em uma meta só de forma a (BRASIL,1998, p.25).
não dar valor a uma e menosprezar a outra.
O desenvolvimento pleno de uma criança FUNÇÃO POLÍTICA –
envolve tanto cuidados na dimensão afetiva
como os relacionados ao aspecto biológico PROMOVER IGUALDADES
(alimentação, higiene, práticas de saúde). É A educação pública e de qualidade é um
preciso que os adultos que estão em constante dever do Estado, um direito de todos
contato com as crianças e nos diferentes brasileiros, e como tal é instrumento de
tempos das unidades de educação infantil, transformação. Para, além disso, é
saibam interpretar as diferentes manifestações possibilidade de igualdade de oportunidade e
tanto afetivas (tristeza, medos, alegrias, da construção de uma sociedade justa,
ansiedade etc) como as de ordem biológica democrática e equânime.
como a dor, por exemplo. O enfoque da equidade procura centrar a
Da mesma forma, e dando a mesma atenção nas populações mais vulneráveis. É
importância, deve-se oferecer as crianças uma estratégia para atingir a igualdade, a partir
condições para aprendizagens que ocorram em do reconhecimento da diversidade. O enfoque
brincadeiras, no contato com a natureza, com da equidade procura reduzir as brechas que
brinquedos não estruturados e com os impedem direitos fundamentais para
socialmente construídos, com elementos da conseguir um desenvolvimento integral.
nossa cultura e aqueles saberes adquiridos Milhões de pessoas têm seus direitos negados
pela humanidade ao longo dos tempos. por questões socioeconômicas, físicas,
Destacamos que é preciso que professores e intelectuais, de gênero, étnico-raciais, de
demais educadores tenham presente a idade, religiosas, ou por terem nascido em um
necessidade de ajudar bebês e crianças a território específico (SÃO PAULO, 2019, p.33).
identificar suas necessidades dando atenção A escola deve garantir que todos possam
como pessoa que é e que está em pleno ter o seu lugar como sujeito, cidadão e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendente igualmente assegurado relacionada somente ao intelecto com base em


independentemente de suas origens, uma visão fragmentada da criança e sua
diferenças e diversidades. unidade. Todos nós adultos e ou crianças e
Os espaços de educação infantil formal bebês aprendemos com todo nosso corpo,
dever ter o compromisso de construir práticas cognição e afetos.
pedagógicas que promovam respeito e Quando a criança brinca na areia ela está
estimulem a igualdade na diversidade e aprendendo sobre texturas, dimensões, cores
experiência da multiplicidade de formas de ser etc. e isso acontece porque todo seu corpo
e estar auxiliando com que as crianças cresçam experimenta o estar em contato com a areia.
e se desenvolvam com segurança, empatia e Brincar, cantar, dançar interagir, fazer de
plenitude de ser. conta e tantas outras atividades fazem parte do
universo infantil de muitas crianças. Porém nos
FUNÇÃO PEDAGÓGICA – espaços de educação infantil essas e outras
atividades podem ser potencializadas quando
A AMPLIAÇÃO DE organizadas em propostas, tempos, espaço e
CONHECIMENTOS E com o uso de materiais diversos, afinal todos
esses elementos servirão de recursos para as
REPERTÓRIOS crianças agirem e aprenderem.
Nesse projeto de formação, estarão
As vivências experienciadas por bebês e
envolvidas as vivências das diferentes práticas
crianças nas unidades de educação infantil
sociais, como conversar, brincar, cantar,
devem dar ferramentas para que elas
desenhar, investigar, pesquisar e outras que
construção hipóteses sobre o que acontece a
configuram o que é ser humano. Também
sua volta e consigo mesma e para isso quando
estarão presentes todas as linguagens culturais
mais diversas, amplas e significativas forem as
possíveis e serão acolhidas as múltiplas
situações vividas por ela maiores e mais
linguagens.....Os conhecimentos técnicos,
robustas serão essas hipóteses.
científicos, sociais serão ofertados no sentido
Para que isso aconteça é preciso pensar a
de aprimorar e construir modos de pensar que
construção de um currículo que garanta
não são cotidianos, mas que produzem efeitos
práticas estimuladoras, tempos e espaços que
nas formas de interpretar e agir no mundo
acolham essas crianças e suas muitas
(SÃO PAULO, 2019, p.37).
descobertas, um planejamento que deve ser
As escolas de educação infantil devem ser
constantemente visitado para que se adapte se
espaços de ampliação de experiências pessoais
for preciso e principalmente que se pense uma
e desenvolvimento de todas as dimensões
rotina de formação para os professores que os
humanas. Isso implica oferta de diferentes
permitam tão construir hipóteses, ampliar
experiências a partir de linguagens diversas,
conhecimentos e não perder a capacidade de
como também nos questionarmos sobre como
encantamento.
entendemos o processo de aprender e qual o
papel do professor nele. Não é mais aceitável
que ainda se pense aprendizagem como prática

465
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

APROPRIAÇÃO DE podem aparecer como forma de expressão


relacionada a instrumentos. As linguagens
LINGUAGENS – MODOS DE SER E ocorrem no encontro de corpo que
ESTAR NO MUNDO simultaneamente age, observa, interpreta e
A criança é ser social que nasce com pensa num mundo imerso em linguagens.
capacidades afetivas, emocionais e cognitivas, Para que essa possibilidade de organização
que tem desejo de estar próxima as pessoas e seja significativa e transformadora é preciso
é capaz de interagir e aprender com elas de pensar a partir da construção de um olhar de
forma que possa compreender a influenciar observação de cada criança e dos grupos
seu ambiente. atendidos pela unidade escolar.
Para se desenvolver, as crianças, necessitam A efetivação dessa mudança de paradigma
aprender com os outros, por meio dos vínculos só acontecerá com o treino do olhar que leva a
que cria com os seus pares logo que nascem. As desconstrução de antigas máximas
aprendizagens acontecem na interação com as pedagógicas que tem o adulto como detentor
outras pessoas, sejam outras crianças ou de todo saber e centro para pensar tempos,
adultos espaços e interações.
A aquisição dessas linguagens acontece de É preciso também praticar uma escuta
modo simultâneo e múltiplo. Exemplo disso é atenta que promova, junto com a observação,
quando uma criança brinca de roda e nessa processos longos e significativos capazes de
brincadeira ela explora movimentos, sons, reconhecer que bebês e crianças são capazes
palavras e sensações. de propor e criar respeitando os processos das
Aqui é importante destacar que as unidades crianças de forma individual e coletiva.
de educação infantil não podem ser lugar de ...o grande desafio hoje é garantir que a
controle de crianças, de submissão dos corpos, criança seja ouvida que os adultos que lidam
das mentes e das emoções. Se isso ocorre é com elas busquem compreender suas
porque nesse território conhecimentos, manifestações, suas falas, seus sentimentos,
saberes e aprendizagens ocupam lugares que desejam conhecer suas hipóteses sobre a
secundários. vida, sobre o mundo ao seu redor, enfim, o
No cotidiano escolar, muitas coisas ocorrem grande desafio é desenvolver uma escuta
que nem sempre estavam contemplados no profunda em relação a criança, de forma que
currículo e dão vida ao que podemos chamar isto seja o norte do trabalho desenvolvido nas
de currículo oculto. É preciso que professores e unidades( ABREU, 2010, p.83).
demais funcionários sejam sensíveis e atentos No caminho da construção de olhar/escuta
aos temas trazidos pelas crianças. Uma das cuidadosos o hábito do registro e a criação de
melhoras formas de responder demandas das uma documentação pedagógica por parte do
crianças é a criação de projetos como indica professor auxiliará no acompanhamento
Barbosa (2009, p.55). processual das crianças, a avaliação das
Outra possibilidade de organização práticas propostas a turma, tempos de
curricular é o trabalho com linguagens que

466
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

duração, espaços para realização, materiais


oferecidos etc.
Essa documentação pedagógica criará um
movimento de pensar, propor e planejar que
de forma espiral propõem aos professores
planejar e executar ações, refletir sobre seus
efeitos e novamente planejar e executar novas
ações que nascem da observação/escuta de
suas práticas.

467
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste artigo foi realizar uma explanação a cerca da aprendizagem e
desenvolvimento na Educação Infantil, levando em consideração as especificidades dessa fase
primordial que compõem a educação básica brasileira e a sua fundamental importância como
território de aprendizagem, de crescimento e respeito as singularidades de bebês e crianças.
Refletiu-se acerca da impossibilidade de separação das ações de cuidar e educar que são
pilares de práticas pedagógicas significativas, que as unidades de educação infantil devem ter por
princípio a promoção da igualdade na diversidade de ser e que são espaços seguros de
aprendizagens e experimentações para crianças por ela atendidas.
Pretendeu-se também apresentar, de forma sucinta, a apropriação de usar as linguagens
pela criança como instrumentos que possibilitam a ampliação de formas de ser e estar no mundo
e que para isso é necessária a criação de um currículo construído com base em um olhar atento
aos saberes trazidos pelas crianças e suas formas de manifestá-los.
Após percorremos as reflexões trazidas nesse artigo concluímos que para a vivência das
diferentes linguagens na Educação Infantil como caminho de aprendizagem e desenvolvimento
ocorra de forma a criar significados nos processos de crescimento e aprendizagem de bebês e
crianças atendidas pelas unidades escolares faz-se necessário que as vozes e ações dessas
crianças sejam sempre ouvidas e observadas no cotidiano desses territórios de saberes e porque
são essas vozes individuais e coletivas que nortearam a construção de práticas significativas.
Para que isso ocorra é preciso que as crianças deixem de ser entendidas no seu potencial
de vir a ser e sejam vistas como sujeitos históricos plenos, potentes e produtores de saberes e
cultura no agora.
Dessa forma é urgente que todas as crianças possam participar da vida coletiva dos seus
territórios, ter direito e respeito as suas individualidades de gênero, cor, credo, grupo social etc.
Que possam brincar, fantasiar, criar hipóteses e assim viver intensamente aprendizagens
significativas e transformadoras nessa etapa da vida humana.

468
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ABREU, Luci. C; BRUNO, Elaine.B.G; MONÇÃO, Maria Ap. G. Os saberes necessários ao
coordenador pedagógico de educação infantil: reflexão, desafios e perspectivas. In:
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ações. Revista Internacional de debates da Administração & Amp; Públicas - RIDAP, 5(1), 1–20.
Recuperado de https://periodicos.unifesp.br/index.php/RIDAP/article/view/12179 Data de
Acesso: 20/07/2022.

BARBOSA, M. C. S. Por amor e por força. Rotinas da Educação Infantil. São Paulo. Artmed,
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DF, 16 jul. 1990.

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BRASIL. Lei n. 10.639 de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de


1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial
da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras
providências.

BRASIL. Lei n. 11.645 de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de


1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

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reflexão sobre as orientações curriculares. Projeto de cooperação técnica MEC e UFRGS
para construção de orientações curriculares para a educação Infantil. Brasília. MEC/Secretaria
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ROSEMBERG, F. A criança pequena e o direito à creche no contexto dos debates sobre


infância e relações raciais. In: Maria Aparecida Silva Bento (Org.). Educação infantil, igualdade
racial e diversidade: aspectos políticos, jurídicos, conceituais. São Paulo, SP: Centro de Estudos
das Relações de Trabalho e Desigualdades - CEERT, 2012.

469
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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SÃO PAULO. SME. Estatuto do Magistério Municipal. 1992.

SÃO PAULO. SME. Tempos e espaços para a infância e suas linguagens nos CEIs, Creches
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de São Paulo - Caderno Temático de Formação 2. 2004.

SÃO PAULO. SME. Orientações curriculares: expectativas didáticas para educação


infantil. Prefeitura do Município de São Paulo. São Paulo. 2007.

VENAS, R. F. A Transformação da Coordenação Pedagógica ao longo das décadas de


1980 e 1990. VI Colóquio Internacional Educação e Contemporaneidade. 2012. Disponível em
< file:///C:/Users/casa/Desktop/Artigo/A%20hist%20da%20CP.pdf >. Data de Acesso:
20/07/2022.

470
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALFABETIZAÇÃO MIDIÁTICA E
INFORMACIONAL, EDUCOMUNICAÇÃO E
OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL (ODS)
Rodrigo de Macedo França1

RESUMO: Baseados nas transformações culturais, sociais, tecnológicas e midiáticas, somos


convidados a acompanhar essas transformações de forma prática, buscando agregar
conhecimentos e responder as demandas surgidas no processo. É mais do que necessário essa
relação de comunicação prática, levando em consideração que as informações correm no piscar
dos olhos, em uma velocidade incomensurável - nelas implícitas concepções, opiniões, ideias,
verdades e inverdades (fake News) que podem ou não nos ajudar na construção pessoal, social e
cultural, tendo em vista, a compreensão da necessidade do desenvolvimento do pensamento
crítico, concreto de diversificado nos contextos diários. Dessa forma, trazer uma reflexão sobre a
Educominicação nos ajudará a construir conhecimentos e ferramentas capazes produzir artes e
culturas de forma dinâmica, democrática e expressiva. Compreender para além, do Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável que amplia os horizontes dessa narrativa e traça metas de
desenvolvimento mundial, tendo com uma das vertentes, a relações e comunicações sociais, bem
como, a tecnologia e sua constante transformação.

Palavras-Chave: Educominicação; ODS; Alfabetização Midiática.

1Professor de Educação Infantil e Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciando em História; Especialização em Alfabetização e
Letramento; Especialização em Educação de Jovens e Adultos.

471
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MEDIA AND INFORMATION LITERACY, EDUCATION AND


SUSTAINABLE DEVELOPMENT GOALS (SDGs)
ABSTRACT: Based on cultural, social, technological and media transformations, we are invited to
follow these transformations in a practical way, seeking to add knowledge and respond to the
demands that arise in the process. This relationship of practical communication is more than
necessary, taking into account that information flows in the blink of an eye, at an immeasurable
speed - in them implicit conceptions, opinions, ideas, truths and untruths (fake News) that may
or may not help us in personal, social and cultural construction, with a view to understanding the
need to develop critical, concrete and diversified thinking in daily contexts. In this way, bringing
a reflection on Education will help us to build knowledge and tools capable of producing arts and
cultures in a dynamic, democratic and expressive way. Understanding beyond the Sustainable
Development Goals that expands the horizons of this narrative and outlines global development
goals, having as one of the aspects, social relations and communications, as well as technology
and its constant transformation.

Keywords: Education; SDGs; Media Literacy.

472
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO papel pedagógico deve ser disseminado e


construído incansavelmente nas práticas
Quando tratamos de uma reflexão, escolares e nos contextos sociais, para formar
precisamos compreender que ela é composta e informar cidadãos participativos e
de conhecimentos prévios de quem a expressa, promotores da igualdade e justiça em suas
dos construídos no decorrer de sua história de atuações presentes e futuras.
vida e acadêmica, da sua visão de mundo e do O fato de “ler o mundo” não faz do sujeito
contexto que o rodeia e principalmente, da sua um ser melhor ou pior que o outro, mas o faz
consciência crítica e liberdade de expressão – ser mais perceptível às demandas sociais, aos
numa vida de aprendizado onde não há erros embates políticos-históricos, às relações
ou acertos e sim, tentativas. humanas e do meio ambiente, e
Partimos do princípio de que não existe uma principalmente, se tornar protagonista da
verdade absoluta, e sim, verdades, que se própria história, cidadão conhecedor de seus
configuram de acordo com as concepções, direitos e deveres.
ideologias, relações interpessoais e vivências
do contexto histórico-social e cultural
ALFABETIZAÇÃO MIDIÁTICA E
estabelecida entre os sujeitos. Nessa questão,
se faz mais que necessário a construção do ser INFORMACIONAL,
pensante e crítico constante, que por sua vez, EDUCOMUNICAÇÃO E
tem a função social de receber informações,
analisá-las com seus diversos fundamentos e
OBJETIVOS DO
valores e avaliá-las em ações práticas que DESENVOLVIMENTO
conduzirão sua eficácia a veracidade, nisso SUSTENTÁVEL (ODS)
consiste, compreender a cultura do
Para traçar um paralelo reflexivo sobre a
pensamento crítico – construídos e
questão da Educomunicação, elencarei alguns
reconstruído a cada passo, pois somos seres
questionamentos que impulsionarão o olhar
em desenvolvimento e aprendemos com os
para situações cotidianas que firmarão a
erros e experiências vividas.
compreensão de algo real e palpável, ainda
A escola e concomitantemente o
mais no que diz respeito as relações sociais,
professor/família, tem papel importante e
bem como, a dinâmica que o mundo vive tendo
fundamental na construção do ser crítico, em
a tecnologia como base e tão rica
sua concretude e leitura de mundo, capaz de
funcionalidade.
enxergar de maneira “clara” ou se quer um
Com seria uma ação educomunicativa, com
pouco “esclarecida” – tendo em vista a
ênfase na Alfabetização Midiática e
maturidade nas relações e concepções sociais
Informacional, voltada para a formação de
– os diversos fatores existentes no processo.
pessoas conscientes dos Objetivos do
Leitura essa, que trará conhecimentos e
Desenvolvimento Sustentável?
compreensão do mundo antes mesmo da
palavra em sua função de leitura e escrita. Esse

473
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Partindo do pressuposto que estamos periféricos (comunidades) ou de alto padrão,


vivendo a era do “novo normal”, conceito enfim, deverá atender a todos numa mesma
adotado para expressar a busca da perspectiva, igualdade e equidade.
normalidade dentro de uma esfera complexa, Tratar de alfabetização midiática hoje é fazer
diante de uma grandiosa pandemia - covid-19, um paralelo reflexivo das condições atuais de
onde esse novo normal seria uma proposta de vida humana e social; é olhar para a realidade
padrão social que possa garantir a mundial e fazer uma leitura crítica da relação
sobrevivência de todos, tanta na esfera da do homem com a natureza e pontuar as
saúde, como nas relações interpessoais e consequências arcadas por nós, a parti de
tecnológicas, tendo em vista, que hoje temos nossas práticas contra a natureza e seus
de encarar a situação atual como uma recursos. Isso nos levará a compreender os
“normalidade”, que logo será necessária e Objetivos do Desenvolvimento Sustentável,
condicional para melhor forma de viver, tanto que por sua vez, busca numa manobra
pelo uso das máscaras, diversas formas de humanizadora, recolocar o mundo nos trilhos
proteção contra doenças existente e que da garantia do bem-estar humano, da
poderão surgir, bem como, a tecnologia preservação do meio ambiente e da garantia
aplicadas e práticas como fonte constante para de vida saudável para os próximos 10 anos,
as inúmeras relações estabelecidas, tendo em vista o compromisso assumido pelos
principalmente no quesito de formação e países membros da ONU em 2015, com
informação. Sendo assim, a escola tem papel projeção do cumprimento dos ODS até 2030.
fundamental nesse processo, pois já carrega Baseado nessas questões, a escola deve
em sua essência as diretrizes de ensino e integrar as propostas de alfabetização
aprendizagem tradicional (oral e escrito), midiática dentro de seu currículo com mais
normativo, curricular e pedagógico, como terá veemência e tornar prático o uso das diversas
de ampliá-las mesmas, dando mais visibilidade tecnologias nas unidades e sistemas escolares,
ao processo de ensino e aprendizagem por bem como, preparar os profissionais com mais
meio da tecnologia, das redes midiáticas e suas eficácia para garantir o processo de ensino a
relações, respondendo assim, as demandas aprendizagem crítica nesse “novo normal”.
sociais do contexto histórico atual. O que seria essa ação (oficina, palestra,
O processo da ampliação do conceito de programa de rádio, jornal etc)? Em que
ensino e aprendizagem com base tecnológica e contexto essa ação seria desenvolvida (aula,
midiática é um grande desafio a se encarar, disciplina, projeto interdisciplinar, outro)? Com
principalmente na pós-pandemia, onde isso qual(is) objetivo(s)?
fará parte marcante do sistema e deverá Antes de tudo, é necessário revisitar o PPP
adentrar todos os lugares, regiões e espaços, (Plano Político Pedagógico) da Escola e
produzindo a cultura midiática e dando reavaliar todas as suas características,
recursos para seu acesso, manipulação e integrando a alfabetização tecnológica
garantia, independentemente da classe social, midiática em seus conteúdos e práticas,
condições econômicas e de moradia, espaços tornando-a constante pauta de formação e

474
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

informação para total preparo dos gestores, informação, que no piscar dos olhos podemos
docentes, discentes e apoios; realizar viajar nos universos e estabelecer relações
constantes oficinas, cursos e palestras, dentro antes inimagináveis. Esse processo é tão atual
e fora na escola, num diálogo aberto sobre as e para muitos não mais novidade, pois a
mídias para a consciência critica de seu uso e tecnologia já produzia essa sensação e já
necessidade educacional; realizar chegava, mesmo que ao longe de nossas mãos,
planejamento de atividades e projetos, dentro aos nossos olhos e ouvidos por meio de
da proposta curricular, com a integração da televisão, internet, rádios e outros sistemas.
tecnologia e suas funções, partindo da Educar os alunos, de todos os segmentos e
realidade dos alunos e das informações idades nessa perspectiva é dar a eles o direito
recebidas nos diversos meios de comunicação, de gozar do hoje e fazer parte no processo
desenvolvendo uma leitura críticas dos evolutivo e transformador do mundo. Educar
portadores e suas informações. na tecnologia midiática é fazer jus à leitura de
Desta aqui a necessidade, no retorno às mundo, que tanto Paulo Freire (1996), nos
atividades presenciais escolares, dialogar com levou a refletir, e o nosso mundo hoje, se
os alunos numa conversa franca, a conecta, se faz e refaz na cibercultura.
responsabilidade e compromisso de cada um
nessa nova fase humana social, pois se os
envolvidos não tiverem consciência e
compreensão da realidade histórica, pouco
fará para que as mudanças necessárias sejam
eficazes nos contextos sociais.
Por que essa ação pode ser chamada de
educomunicativa?
O conceito de educação é para além do bem
ou mal, bom ou mau, é um processo formativo,
que por sua vez, busca a transformação
pessoal, social e cultural, mas dependerá de
quem, como e onde ela se estabelece, pois
temos a consciência que cada um é
protagonista de sua própria história e tem a
autonomia escrevê-la positiva ou
negativamente. Trazer a alfabetização
midiática para dentro da escola como processo
formativo e informativos, implícito nos
currículos, documentos e diretrizes
educacionais, é construir uma cultura e prática
transformadora, inovadora e evolutiva, tendo
em vista que, a humanidade corre à luz da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Elaborando um compilado das questões levantadas e suas respectivas reflexões, trago os
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável como uma conclusão desse pequeno artigo, mas
grande e desafiador da consciência crítica para uma leitura de mundo mais humana, mais
protetora e naturalizada, não no sentido da normalidade humana, mas sim, no cuidado com a
natureza que nos rodeia e nos grande a vida.
Acredito que seria ousado de minha parte mensurar alguns ODS que seriam contemplados
nesse processo, mesmo acreditando que com um trabalho integrado com a alfabetização
midiática, trilharemos o caminho para as conquistas almejadas pelos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável. Acredito ainda, que um trabalho com a construção da consciência
e leitura crítica, da formação para responder às demandas sociais e da contextualização do ensino
e aprendizado, podemos gerar um nova sociedade, de fato, preocupada com as questões
ambientais, humanas e sustentáveis, transformando suas relações com o meio e com a natureza
em práticas produtivas e conscientes, garantindo assim, a participação ativa social, a
democratização de direitos e deveres, a real distribuição de renda e a preservação do meio
ambiente e da vida. Com isso, acredito que podemos chegar as parcialidades das ODS - um nível
de erradicação da pobreza humana, à melhores condições de vida, trabalho, saúde, segurança,
uma educação de qualidade e para todos, a igualdade, fraternidade, equidade e inclusão.
Podemos ser utópicos em imaginar a ressignificação da humanidade, dos países em 10
anos (2030), com todos os objetivos traçados como metas para a garantia de vida e bem-estar de
todos, mas, devemos ser realistas que isso é um desafio incomensurável, que há muitos
interesses políticos e capitalistas nesse processo e que para chegar a esse nível seria preciso um
“novo dilúvio”, a extinção do ser humano. Mesmo diante das certezas e incertezas, das verdades
e inverdades, devemos nos movimentar para mudar o “mundo” que está a nossa volta: nossas
próprias concepções, nosso lar, a escola, o bairro, a cidade... ou seja, o que está ao nosso alcance
– plantando boas sementes para que uma geração futura possa colher bons frutos.

476
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BARRO, Jussara de. Educomunicação. Disponível em: Educomunicação - Educador Brasil
Escola (uol.com.br). Acesso: 27 de julho de 2022.

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Educação. 2007. Disponível em: Alfabetizacoes: desafios da nova midia | Demo | Ensaio:
Avaliação e Políticas Públicas em Educação (cesgranrio.org.br). Acesso: 27 de julho de 2022.

ODS. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Disponível em: Objetivos de


Desenvolvimento Sustentável | As Nações Unidas no Brasil. Acesso em: 27 de julho de 2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALFABETIZAR E EDUCAR
Gabriely Gonçalves Silva1

RESUMO: Por intermédio da presença do dramatizador envolve os seguintes recursos memória,


imaginação, emoção, espontaneidade, além de instrumentos musicais e a própria música que
atuam juntos na significação do conto durante a ação do dramatizar no momento de contação
de histórias. Com este objetivo de contribuir para a ampliação da arte de dramatizar histórias,
conquistando mais dramatizadores e ouvintes. E seguindo este contexto, foi possível demostrar
que o teatro, como mais uma estratégia na formação de leitores garantindo-se, com isso, o
enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a constituição de
sujeitos críticos e reflexivos, além de que continuam a transmitir a cultura dos povos e desta
maneira perpetuando-se, e não deixando morrer esta grande riqueza cultural. A arte como
cultura trabalha o conhecimento da história, dos artistas que contribuem para a transformação
do teatro. É muito importante que a criança desde a educação infantil tenha conhecimento da
arte e desenvolva teatros em seu dia a dia com práticas pedagógicas. Não se conhece um país
sem conhecer sua história e a sua arte. Além disso, os teatros alargam a possibilidade de
interculturalidade, ou seja, de trabalhar diferentes códigos culturais. A escola deve trabalhar com
diversos códigos, não só com o europeu e o norte-americano branco, mas com o indígena, o
africano e o asiático. Ao tomar contato com essas diferenças, o aluno flexibiliza suas percepções
visuais e quebra preconceitos.

Palavras-Chave: Arte; Educação; Teatro; Escola, Contação de histórias.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo. Graduada: Licenciatura
em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LITERACY AND EDUCATE


ABSTRACT: Through the presence of the dramatist, the following resources are involved:
memory, imagination, emotion, spontaneity, in addition to musical instruments and the music
itself that work together in the meaning of the tale during the action of dramatizing at the time
of storytelling. With this objective of contributing to the expansion of the art of dramatizing
stories, conquering more dramatists and listeners. And following this context, it was possible to
demonstrate that the theater, as another strategy in the formation of readers, guaranteeing, with
this, the enrichment of the educational process from a perspective that values the constitution
of critical and reflective subjects, in addition to continuing to transmitting the culture of the
peoples and thus perpetuating itself, and not letting this great cultural wealth die. Art as culture
works on the knowledge of history, of the artists who contribute to the transformation of theater.
It is very important that the child from early childhood education has knowledge of art and
develops theaters in their daily lives with pedagogical practices. You don't know a country
without knowing its history and art. In addition, theaters expand the possibility of interculturality,
that is, of working with different cultural codes. The school must work with different codes, not
only with the European and the white North American, but with the indigenous, the African and
the Asian. When making contact with these differences, the student makes his visual perceptions
flexible and breaks prejudices.

Keywords: Art; Education; Theater; School, Storytelling.

479
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO e manifesta seus sentimentos, se sentindo


cada vez mais segura para interagir. Toda
Esse tema foi desenvolvido porque há muito teoria necessita, primeiro, de uma
tempo discute-se a questão da arte e do teatro conceituação.
e contação de histórias como processo de O teatro é de grande valia para que
desenvolvimento na educação, e sua finalidade possamos preparar nossas crianças no caminho
no universo lúdico, até onde esse contexto desse futuro que exigira flexibilidade,
influencia o desenvolvimento psicomotor do dinamismo e agilidade no pensar, no agir, no
aluno. Por fim, iremos identificar a entender e na arte de refletir e analisar.
contribuição da arte como, ferramenta de Voltada para a educação na escola Uma
estimulação no processo de aprendizagem e transcrição literal de arte no Brasil é o que é
desenvolvimento integral do aluno na apontado por Barbosa (1991), em que: Nas
educação, sendo assim, determinar os últimas décadas do século XX, no Brasil,
objetivos precisos para que o processo educadores ligados a Arte têm empreendido o
pedagógico aconteça eficazmente, como movimento de resgate de sua valorização
agente facilitador e enriquecedor, profissional e da valorização da Arte como um
respeitando o desenvolvimento da criança em conhecimento que deve estar presente nos
suas especificidades. currículos em todos os níveis de ensino.
Abrir espaço para as crianças na busca por Articulam, assim, diretrizes diferentes para a
conhecimento, incentivando a criatividade presença desse conhecimento na escola. Essas
lúdica das crianças, fazendo uma análise diretrizes emergem como fruto da luta em
efetiva na ampliação dos aspectos cultural, defesa da presença da Arte no currículo e de
social e artístico. mudanças conceituais no seu ensino. Mudança
Atuar de forma disciplinadora tendo o teatro e valorização conceitual no intuito de devolver
como mecanismo de condução para expressar – Arte à educação é favorecer a todos o acesso
a criatividade e a ludicidade das crianças. aos códigos artísticos e às possibilidades de
Por meio da pergunta: Como o ensino de expressão desses códigos. O objetivo daqueles
artes foi contextualizado na década de 80? que acreditam nesses pressupostos conceituais
Quais conflitos têm na contemporaneidade a é contribuir para a difusão da Arte na escola,
respeito do trabalho com reeleitura? Obtemos garantindo a possibilidade igualitária de acesso
a reflexão que a criança necessita ao seu conhecimento. É preciso levar a Arte,
experimentar, vivenciar e brincar para adquirir que está circunscrita a um mundo socialmente
conhecimentos que futuramente lhe ajudará a limitado a se expandir, tornando-se patrimônio
desenvolver de maneira mais eficiente um cultural da maioria.
aprendizado formal. Por meio da arte o aluno
acaba explorando o mundo a sua volta
livremente, pois é a partir daí que ela constrói
seu aprendizado, e é nesse espaço que a
criança acaba criando um mundo de fantasias

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OBJETIVOS DO ENSINO DE “recebendo” passivamente, mas produzindo e


reproduzindo cultura .
ARTES E DO TEATRO, COM SUA Neste sentido, podemos dizer que os
IMPORTÂNCIA NA EDUCAÇÃO profissionais dramatizadores de história
desenvolvem um trabalho que não é somente
DESDE A DÉCADA DE 80
o dramatizar a história é o de envolver-se com
Dê acordo com os Parâmetros Curriculares
a história. Não existem regras pode ser feito
Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa, a leitura
por meio de cenários, figurinos, objetos,
de histórias é um momento em que a criança
músicas, gestos ou se utilizando somente da
pode conhecer a forma de viver, pensar,
própria voz.
agir e o universo de valores, costumes e
Acreditamos assim que uma das maneiras de
comportamentos de outras culturas situadas
desenvolver o hábito e o prazer da leitura é
em outros tempos e lugares que não o seu.
colocando-os em contato com a Contação e
Vemos nos PCN como a leitura pode ser
leitura de histórias para as crianças.
prazerosa e envolver o seu ouvinte, e o levar a
O hábito de ouvir histórias desde cedo ajuda
lugares aonde ele nunca imaginou poder estar,
na formação de identidades; no momento da
o poder da história esta em quem a conta e a
contação, estabelece-se uma relação de troca
maneira como ela é contada.
entre dramatizador e ouvintes, o que faz com
O principal objetivo deste artigo é
que toda a bagagem cultural e afetiva destes
demonstrar a importância dos dramatizadores
ouvintes venha à tona, assim, levando-os a ser
de história mesmo fora do contexto da escola,
quem são. Dramatizar histórias é uma arte
mostrando as varias maneira de se dramatizar
porque traz significações ao propor um diálogo
uma história. Acreditamos que ela deve ser
entre as diferentes dimensões do ser.
muito bem contada, para poder envolver seus
Percebemos que cultivar o hábito da leitura
ouvintes e desta maneira pode atingir
desde cedo nas crianças para que se tornem
objetivos, desenvolvendo o raciocínio das
adultos leitores. Os dramatizadores de história
crianças e ajudando na sua identidade, dentre
incentivam este hábito da leitura até mesmo
outros aspectos.
no público jovem e adulto, pois trás, por meio
De acordo com Jorge (2003), é fundamental
dos seus contos, culturas, ensinamentos,
que a criança possa vivenciar a palavra e a
aprendizagens.
escutar em todas as suas possibilidades,
Antigamente, as pessoas reuniam-se ao
explorando diferentes linguagens, capturando-
redor da fogueira pra dialogar e dramatizar os
as e apropriando-se do mundo que a cerca,
acontecimentos. Era uma maneira de poderem
para que este se desvele diante dela e se torne
guardar suas tradições e sua língua, e assim era
fonte de interesse vivo e permanente, fonte de
passado o conhecimento dos mais velhos para
curiosidade, de espantos de desejos e
os mais jovens. Nesta roda informal, era
descobertas, numa dinâmica em que ela se
transmitido os conhecimentos de geração para
socialize e se manifeste de forma ativa, criativa,
geração, as crenças, mitos, os costumes e
participativa em qualquer situação, não apenas

481
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

valores a serem guardados, no entanto, na Um ponto especial a ser levantado neste


cultura urbana, tem se perdido esta tradição. tópico é a expressividade do homem pela arte.
Desde os primórdios as histórias fazem parte Não fugindo a esta situação positiva, por volta
da vida das pessoas por meio delas são da década de 80, novas abordagens foram
contados fatos culturais, familiares, sociais. introduzidas no ensino da Arte no Brasil. A
Esta prática vem se reproduzindo por meio de imagem ganhou um lugar de destaque na sala
muito tempo mesmo sendo de maneira não de aula, o que representa uma das tendências
intencional, mesmo assim alguns estudos da Arte contemporânea e uma novidade para o
mostram a importância deste fato, pois as ensino da época. As imagens produzidas tanto
crianças começam seu desenvolvimento da pela cultura artística (pintores, escultores)
linguagem neste período mais como as produzidas pela mídia (propaganda de
significativamente quando ouvem histórias TV e publicitária gráfica, clipe musical, internet)
desde pequenos. É nesta fase também que as passaram a ser utilizadas pelos professores e
crianças necessitam de conviver com alguns alunos da educação básica.
fatos da vida, como nascimento, separação e Uma transcrição literal sobre sua definição é
até mesmo a morte e as histórias neste debruçarmo-nos sobre a seguinte situação: a
momento são utilizadas como uma ferramenta música não é tarefa fácil porque apesar de ser
para que se possam superar estes momentos e intuitivamente conhecida por qualquer pessoa,
ver que estes fatos fazem parte da vida de é difícil encontrar um conceito que abarque
todos nos e que é necessário que aprenda a se todos os significados dessa prática. Mais do
conviver com eles. que qualquer outra manifestação humana, a
As primeiras lembranças das pessoas são o música contém e manipula o som e o organiza
ver, o sentir e ouvir, e dramatizar histórias no tempo. Talvez por essa razão ela esteja
desde cedo para as crianças é cultivar uma sempre fugindo a qualquer definição, pois ao
interação aproximar os indivíduos envolvidos buscá-la, a música já se modificou, já evoluiu. E
criando um relacionamento de afetividade esse jogo do tempo é simultaneamente físico e
entre quem conta e quem ouve desta forma as emocional.
pessoas ficam felizes e ao mesmo tempo fica O teatro é uma forma de o ser humano
mais fácil de entender as diferenças e nos fazer expressar suas emoções, sua história e sua
mais flexíveis para resolver algumas situações. cultura por meio de alguns valores estéticos,
O exercício de dramatizar histórias ensina a como beleza, harmonia, equilíbrio. A arte pode
quem conta e a quem ouve, possibilitando ser representada por meio de várias formas,
debater vários assuntos do dia a dia das em especial na música, na escultura, na
crianças além de aspectos relacionados á pintura, no cinema, na dança, entre outras.
ensinar cidadania, além de desenvolver o seu
imaginário que tanto encanta a todos. Diante
disso temos a parte lúdica, despertando a arte,
o interesse pela escrita, oralidade e leitura.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Figura 3: dança indígenas, típicas do norte e do


centro-oeste4.3

Figura 1 –Balé clássico ,cultura de dança2 1

Figura 4 Xaxado, dança típica da região nordeste5 . 4

A música sempre esteve presente ao longo


da história da humanidade, e viva dentro do
teatro. Tão antiga quanto o Homem, a música
primitiva era usada para exteriorização de
alegria, prazer, amor, dor, religiosidade e os
anseios da alma.
Figura 2 - Danças gaúchas, típicas do sul do Brasil32
A música tornou-se um objeto de estudo
muito importante para os educadores e demais
envolvido com o processo educativo, pois além
de oferecer um grande leque de possibilidades

2 Fonte: danças e movimentos 4


Fonte: danças e movimentos
www.google.com.br/search?q=estilos+de+danças&sour www.google.com.br/search?q=estilos+de+danças&sour
ce).Data de Acesso: 20/07/2022. ce). Data de Acesso: 20/07/2022.
3 Fonte: danças e movimentos 5
www.google.com.br/search?q=estilos+de+danças&sour Fonte: danças e movimentos
ce) . Data de Acesso: 20/07/2022. www.google.com.br/search?q=estilos+de+danças&sour
ce. Data de Acesso: 20/07/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e abrangências, tornou-se uma disciplina excesso de sol, muito frio, muito calor, muito
obrigatória na rede regular de ensino. iluminado, pouco iluminado… tudo isso poderá
Nos dias atuais a música pode ser dificultar o trabalho do “dramatizador”.
considerada uma das artes que mais Procure o ambiente e o momento ideais para
influenciaram e influenciam na sociedade. dramatizar suas histórias.
Tudo o que acontece ao nosso redor, nos afeta Como em qualquer área, é importante que o
diretamente ou indiretamente, pois vivemos “dramatizador” busque aperfeiçoamento
num conjunto de pessoas que compartilham contínuo. Algumas universidades, como, por
propósitos, gostos, preocupações e costumes, exemplo, a Faculdade Paulista de Artes,
e que interagem entre si constituindo uma possuem cursos de especialização em
comunidade. “contação de histórias”.
Segundo Silva ( 1966), nas últimas décadas
do século XX, assistimos a um acentuado RESULTADOS E DICUSSÃO
movimento de mudanças nas organizações
Considerando o conceito de arte e arte-
sociais, consequente e interdependente dos
educação, discutido até agora e de seus
movimentos de mudanças políticas,
elementos até aqui pontuados, listamos
econômicas, cientificas e culturais.
algumas potencialidades do uso da arte como
O teatro é uma forma de criação de
estratégia ou metodologia na abordagem de
linguagens, seja ela visual, musical, cênica, da
conteúdos de disciplinas diversas. Desenvolver
dança, ou cinematográfica, essas formas de
atividades socioeducativas e pedagógicas que
linguagens refletem o ser e estar no mundo,
tenham foco na construção de um espaço de
todas são representações imaginarias de
convivência fraterna, fortalecendo por meio do
determinadas culturas e se renovam no
teatro os vínculos familiares, desenvolvendo o
exercício de criar ao longo dos tempos. Ao
aumento da confiança e autoestima nas
desenvolver-se na linguagem da arte o
crianças.
aprendiz apropria-se do conhecimento da
Por meio de dinâmicas, exercícios e jogos
própria arte. Essa apropriação converte-se em
teatrais, podemos fortalecer o crescimento
competências simbólicas por que instiga esse
intelectual, social e humano de cada criança. O
aprendiz a ampliar seu modo singular de
conceito faz alusão aos métodos que permitem
perceber, sentir, pensar, imaginar e se
obter certos objetivos. Com base nisso,
expressar, aumentando suas possibilidades de
fazemos aos educadores que pretendem valer-
produção de leitura de mundo, da natureza e
se da arte no processo de
da cultura e também seus modos de atuação
ensino/aprendizagem a seguinte pergunta:
sobre eles.
qual é o seu objetivo? Se, como foi dito, na obra
O ambiente, mesmo que simples, deve ser
de arte não há certo e errado e ela mesma cria
favorável à “contação de história”. Pode ser ao
as regras enquanto se constrói o que vai
ar livre ou em locais fechados, porém é
orientar as escolhas do educador serão seus
necessário estar livre de qualquer distração ou
objetivos.
desconforto. Ruídos, pessoas transitando,

484
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Diante desta questão, um novo desafio se aprender, ora como atividade livre, ora
apresenta: o de reunir forças e esforços dos orientada.
trabalhadores da educação e demais As concepções froebeliana de educação,
segmentos sociais para reverter este quadro de homem e sociedade estão intimamente
penumbra, vindo de longas décadas, de modo vinculadas ao aprender. Assim, a atividade livre
que possam com eles estabelecer vínculos e espontânea, é responsável pelo
fecundos, promissores, educativos. Por certo desenvolvimento físico, moral, cognitivo, os
que esta é uma tarefa coletiva, dos educadores dons ou objetos que subsidiam atividades.
e educadoras em especial, mas não somente Entende também que o aluno necessita de
deles, posto que a formação das novas orientação para o seu desenvolvimento,
gerações humanas é uma tarefa da sociedade, perspicácia do educador levando-o a
em seu conjunto. Por último, além de se compreender que a educação é um ato
diferenciarem na forma e intensidade em que institucional que requer orientação.
se apresentam na vasta realidade das escolas e Ao participar da arte o aluno também
grupos de professores do educação infantil no adquire a capacidade da simbolização
Brasil, estes desafios não existiram sempre e permitindo que ele possa vencer realidades
podem deixar de existir. São realidades angustiantes e domar medos instintivos. O
históricas e por isso podem ser superadas. aprender é um impulso natural da do
Buscar os caminhos das soluções, criá-las e educando, que aliado à aprendizagem tornar-
recriá-las, coletivamente, refazendo as bases se mais fácil à obtenção do aprender devido à
das interações entre adultos, adolescentes e espontaneidade das atividades por meio de
jovens no interior da escola e no presente, é uma forma intensa e total.
um desafio que se sobrepõe aos demais. Essa Compreender o universo da arte é
junção de esforços parece ser o mais promissor indispensável para o bom desenvolvimento do
horizonte para que os educadores em geral e trabalho pedagógico efetivado pelo professor
os professores/as do educação infantil, em que é o mediador destas ações. A arte é
especial, possam enfrentar o nosso essencial, pois possibilita ao aluno uma
compromisso primeiro, que constitui o sentido aprendizagem por meio das vivências, por
e finalidade maior do ofício de mestre: o meio das quais podem experimentar sensações
desafio humano, político, ético e estético de e explorar as possibilidades de movimentos do
trabalhar na formação das novas gerações seu corpo e do espaço adquirindo um saber
humanas, dos nossos adolescentes e jovens. globalizado a partir de situações concretas.
Para que sejam seres verdadeiramente A arte é um instrumento que possibilita que
humanos, que auxiliem na construção de um os alunos aprendam a relacionar-se com o
outro mundo, possível. mundo, promove o desenvolvimento da
A teoria froebeliana, ao considerar a arte linguagem e da concentração
como uma atividade espontânea, concebe consequentemente gera uma motivação a
suporte para o ensino e permite a variação do novos conhecimentos. O eixo da arte é o
desenvolver, sendo um dos meios para o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

crescimento, e por ser um meio dinâmico, a alegre, ou seja, participando de atividades mais
arte oportuniza o surgimento de descontraídas o aluno se sente feliz e motivado
comportamentos, padrões e normas e ao mesmo tempo adquire o seu
espontâneas. Caracteriza-se por ser natural, conhecimento de forma prazerosa. As regras
viabilizando para o aluno uma exploração do de um teatro são feitas para que o aluno
mundo exterior e interior. adquira valores que possam ser usados
O educando da Educação infantil deve ser durante toda a sua vida, é por isso que ao fazer
compreendido como um ser em plena as atividades o educador deve pensar quais são
aprendizagem, é importante que as escolas e os objetivos daquele jogo para aquela faixa
os educadores, incentivem a prática do jogo, etária e para a realidade a que pertence aquele
como forma de aperfeiçoar esse aluno.
desenvolvimento. Os teatros são essenciais para o
A dramatização e o teatro possibilitam o desenvolvimento de construção, estimulando
aluno sonhar e fantasiar revela angústias, todos os sentidos tais como: psicomotor,
conflitos e medos aliviando tensões e cognitivo, social e emocional, desenvolvendo a
frustrações são importantes para que se capacidade de pensar, refletir, abstrair,
trabalhem diferentes tipos de sentimentos e a organizar, realizar e avaliar.
forma de lidarmos com eles. Quando o aluno dramatiza, ela libera e
A personalidade humana é um processo de realiza suas energias e tem o poder de
construção progressivo, onde se realiza a transformar uma realidade proporcionando
integração de duas funções principais: a condições de liberação de fantasia. De acordo
afetividade, vinculada à sensibilidade interna e com Wajskop (2001), o teatro pode ser um
orientada pelo social e a inteligência, vinculada espaço privilegiado de interação e confronto
às sensibilidades externas, orientada para o de diferentes pessoas e personalidades com
mundo físico, para a construção do objeto. pontos de vistas diferentes. Nesta vivência
Conforme Antunes (2004), a aprendizagem é criam autonomia e cooperação
tão importante quanto o desenvolvimento compreendendo e agindo na realidade de
social e o jogo constituem uma ferramenta forma ativa e construtiva. Ao definirem papéis
pedagógica ao mesmo tempo promotora do a serem representados nas peças de teatros, os
desenvolvimento cognitivo e o do social. O alunos têm possibilidades de levantar
teatro pode ser um instrumento da alegria, um hipóteses, resolver problemas e a partir daí
aluno que dramatiza, antes de tudo o faz construir sistemas de representação, de modo
porque se diverte mas dessa diversão emerge mais amplo, no qual não teriam acesso no seu
a aprendizagem e a maneira como o professor cotidiano.
após o teatro, trabalhar suas regras pode Uma dificuldade que essa concepção de
ensinar-lhes esquemas de relações ensinamento apresenta ,é de como diferenciar
interpessoais e de convívio ético. as artes e seus significados,porém cabe á nós
Trabalhar com teatros é fazer com que o professoras usarmos nossa visão de
aluno aprenda de forma prática, interativa e observação e distimguir a prática das

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

habilidades que cada aluno traz de bagagem. da inteligência, marcado pelo domínio da
Ainda, de acordo com as pesquisadoras o assimilação sobre a acomodação, tendo como
indivíduo no processo de aprendizagem passa função consolidar a experiência vivida. A
por fases distintas, ampliando a sua reflexão intervenção do professor é fundamental no
sobre o seu sistema até chegar ao seu domínio, processo de ensino aprendizagem, além da
vivendo o lúdico. interação social ser importante para a
Por meio do lúdico o aluno aprende a aquisição do conhecimento.
ganhar, perder, conviver, esperar sua vez, lidar A arte é um estímulo natural e influência no
com as frustrações, conhecer e explorar o processo de desenvolvimento dos esquemas
mundo. As atividades lúdicas têm papel mentais. Seus benefícios permitem a
indispensável na estruturação do psiquismo da integração de várias ações como: a afetiva, a
criança, é no ato de brincar que a criança social motora, a cognitiva, a social e a afetiva.
desfruta elementos da realidade e fantasia, ela Existem algumas considerações sobre a função
começa a perceber a diferença do real e do lúdica e educativa do teatro. A função lúdica do
imaginário. É por meio do teatro que ela teatro promove prazer, diversão e até mesmo
desenvolve não só a imaginação, mas também desprazer, quando escolhido voluntariamente,
fundamenta afetos, elabora conflitos, explora com função educativa o brinquedo ensina
ansiedades à medida que assume múltiplos qualquer coisa que complete ao indivíduo em
papéis despertando competências cognitivas e seu saber, seus conhecimentos e sua
interativas. apreensão do mundo.
Almeida (2008), afirma que a dramatização Em nossa prática docente, precisamos
contribui de forma prazerosa para o propiciar situações de aprendizagem que
desenvolvimento global dos alunos, para levem ao desenvolvimento de habilidades e de
inteligência, para a efetividade, motricidade e conteúdos que possam responder ás
também sociabilidade. Por meio do lúdico o necessidades dos alunos ao meio social que
aluno estrutura e constrói seu mundo interior habitam. Trabalhar a arte com os educandos da
e exterior. As atividades lúdicas podem ser Educação infantil não é difícil, basta entrar em
consideradas como meio pelo qual a criança seu mundo, mas o que se torna difícil é ter um
efetua suas primeiras grandes realizações. Por olhar pedagógico e voltado para o mundo que
meio do prazer ela expressa a si própria suas insere o aluno, isto implica entendê-lo como
emoções e fantasias. produção humana e compreender a forma que
Os educandos expressam emoções, ele assume sob determinada organização social
sentimentos e pensamentos, ampliando a e qual função cumpre. Por esta razão, o ensino
capacidade do uso significativo de gestos e da arte, nem mesmo no período inicial de sua
posturas corporais. aprendizagem, se reduz ao mero domínio do
A função da arte é ao mesmo tempo, código (desenhos e garatujas e interpretações
construir uma maneira de acomodar a conflitos do faz de conta ) ,pois este é apenas um
e frustrações da vida real. Para Piaget (1990), o instrumento de realização de determinadas
brincar retrata uma etapa do desenvolvimento funções ,e como tal não esgota todas as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possibilidades sociais da arte ,a proposta de


ensinar pressupõe o desenvolvimento da
prática como forma de produção de sentido .
O professor acompanha a adequação do
conhecimento e a socialização para que seja
preservada a cultura, reconhecendo também a
variação de posição da linguagem em diversas
situações de interação pela escrita, levando em
consideração as diferentes línguagens,
trabalhando também o teatro e todas suas
formas de dramatizações.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor de Artes e de teatro deve estimular o aluno, a não limitar-se a aprender, mas
também a construir seu próprio conceito objetivando despertar o senso crítico no aluno por meio
do debate e diálogo aberto. Devemos ter em mente a necessidade de formar cidadãos capazes
de liderar de serem críticos e além de tudo ter conhecimento, ter argumento sólido. Se
aprofundar no conhecimento sobre o conteúdo a qual irá aplicar, buscar a compreensão cada
vez. Mais nas pesquisas ler livros ter total domínio sobre o assunto em questão. É de
responsabilidade de o professor prover uma aula onde cause nos alunos, a curiosidade interesse
de conhecer, criar participar questionar e ser observador. Além disso, o trabalho com
argumentação é considerado fator relevante para o exercício de cidadania. Sabemos que a
prática de selecionarmos argumentos pode ajudar no desenvolvimento do senso critico. Para isso
é necessário que o professor possua conhecimento, referencial teórico sobre o assunto para usar
a metodologia adequada.
A arte de dramatizar história traz muitos aspectos música, expressão corporal, teatro e
poesia são mais do que simplesmente alguém projetando sua voz diante de uma plateia, mas as
palavras ditas e projetas tem um valor força e emoção que informa e atingi seus ouvintes,
trazendo lembranças e recordações boas ou ruins.
Este trabalho se justifica, pois, as crianças quando começam a descobrir o mundo a
dramatização de histórias chama sua atenção, e faz com que tenham a curiosidade, para
conhecer um acervo cada vez maior de palavras, desta forma, inclusive possibilita o despertar
para um mundo literário é a descoberta dos livros e da leitura e de diferentes aprendizagens.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia Arruda. História da Educação e da Arte. Geral e Brasil. São Paulo:
Moderna, 2006.

ARIÉS, Philippe. História Social Arte. Rio de Janeiro. LTC, 1978.

ARROYO, M.G. O significado da infância. Brasília: MEC/SEF/DPE/COEDI, 1994. p.88.

PIAGET, Jean. A criança em idade pré-escolar. São Paulo: Ática, 1994. p.100.

SILVA, Leda Maria Giuffrida. A expressão musical para as crianças da pré- escola. Caderno
Ideias. Campinas, vol.10, 1992.

SILVA, A.B.H. Arte Infantil. Curitiba: Positivo, 1996. p 350. MARTINS, A.J.F. Infância cultura e
pedagogia. Porto Alegre: Criarp, 2006- p.120.

VISCONTI, M.; BIAGIONI, M.Z.; GOMES, N.R. Guia para educação e prática musical em
escolas. 1ª edição. São Paulo,1996.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALGUNS PROCEDIMENTOS PARA O ENSINO DE


HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA
Silvia Maria Venancio da Silva 1

RESUMO: A importância do estudo de algumas estratégias para o ensino de História e Cultura


Afro-Brasileira é fundamental, pois ainda se nota muita falta de conhecimento e preconceito em
relação à posição do negro e do índio na sociedade. Entretanto, há uma notável diferença entre
o que é legal e o que é real. Apesar de alguns direitos garantidos, a discriminação se dá
diariamente em situações reais e, muitas vezes nada sutis, condenando estes cidadãos a um a
posição de exclusão. Assim, as leis 10.639/03 e 11.645/08 são um importante passo na ampliação
da forma como enxergar-se a formação de o país. É necessário para tirar os negros e indígenas
de sua posição de minorias escravizadas para conhecer mais amplamente suas contribuições nas
áreas social, econômica e política. Além disso, devem contribuir para um entendimento mais
amplo da complexa dinâmica da história das relações raciais e das ideias sobre raça e cor. O
trabalho a ser feito com os alunos deve incluir fontes originais (cartas, documentos, fotografias e
artefatos) que sirvam como instrumentos para uma compreensão mais autêntica de cada
fenômeno em sua totalidade e para o reconhecimento de negros e indígenas como sujeitos
históricos.

Palavras-Chave: História; Cultura Afro-Brasileira; Aprendizagem.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo e Rede Estadual de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Letras; Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Língua Espanhola.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SOME PROCEDURES FOR TEACHING AFRO-BRAZILIAN HISTORY AND


CULTURE
ABSTRACT: The importance of studying some strategies for teaching Afro-Brazilian History and
Culture is fundamental, as there is still a lack of knowledge and prejudice in relation to the
position of blacks and indigenous people in society. However, there is a notable difference
between what is legal and what is real. Despite some guaranteed rights, discrimination occurs
daily in real and often not subtle situations, condemning these citizens to a position of exclusion.
Thus, laws 10,639/03 and 11,645/08 are an important step in expanding the way in which the
formation of the country is seen. It is necessary to remove blacks and indigenous people from
their position as enslaved minorities to more fully understand their contributions in the social,
economic and political areas. In addition, they should contribute to a broader understanding of
the complex dynamics of the history of race relations and ideas about race and color. The work
to be done with students must include original sources (letters, documents, photographs and
artifacts) that serve as instruments for a more authentic understanding of each phenomenon in
its entirety and for the recognition of blacks and indigenous people as historical subjects.

Keywords: History; Afro-Brazilian Culture; Learning.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O que existe no Brasil é uma espécie de


polarização entre duas ideias principais com
Lei 10.639/03 e 11.645/08 que tornou relação a nossa história nacional, de um lado,
obrigatório, em todas as escolas do Brasil, o narrativa predominante da integração racial e
ensino de história da África e de história e da não existência das diferenças – Afirma que
cultura afro-brasileira, e, o ensino de história e somos uma sociedade miscigenada
cultura indígena, se tornaram instrumentos originalmente composta por indígenas,
importantes de combate ao racismo no Brasil. brancos e negros que se misturaram para dar
“Racismo é um problema que envolve toda origem ao “Brasileiro” e que nossos problemas
sociedade e principalmente educadores” sociais não devem ser confundidos com
(p.28). racismo (p.31). De outro, a ideia de que somos
Hoje em dia, ainda nos deparamos com uma sociedade multicultural, com suas sub-
casos de racismo no Brasil e no mundo. Assim, identidades essencializadas e atemporais, pois
para tentar sanar este problema, várias ações a ênfase na miscigenação neutralizaria as
ocorrem, para sua erradicação. Caso Britânico, diferenças culturais, por vezes subordinando
na tentativa de combater o racismo contra uma cultura a outra, onde a saída seria pensar
negros, indianos descentes de imigrantes nas em termos de um modelo multicultural com
escolas, passa por convencer alunos e diversas subculturas e sub-identidades.
educadores de que as minorias étnicas são Podemos reforçar essa necessidade de
genuinamente britânicas, “todos os britânicos, relacionar o combate ao racismo com o ensino
no final das contas, descendem de imigrantes, da história das relações raciais, para isso,
e que até mesmo a batalha que inaugura a enfatizar o caráter sensível das questões
narrativa da história nacional, a conquista da ligadas “Raça” só podem ser apreendidos com
Inglaterra pelos normandos, em 1066, estaria referência a história; é vital também,
marcada por essa caraterística – afinal, foram reconhecer identidades racializadas são
os normandos, que falavam outra língua e produto da história; e devemos reiterar, que
traziam outros costumes, que se tornaram concepções de racismo e manifestações estão
soberanos na ilha.” (p.30). em constantes mudanças. Em relações das
Já no Brasil, não existe a necessidade de condições históricas e políticas e específicas; e
convencer alunos e professores que nossa não esquecer uma constatação: não há uma
descendência, seria de negros, indígenas e única diferença do racismo; uma única história
brancos. Nossa narrativa da identidade e nem uma única causa; “sua natureza mutante
Nacional, é consolidada a partir de 1930, e múltipla e situacional em diferentes tempos e
afirma o caráter multiétnico, uma mistura das lugares significa que é impossível encontrar
três raças da nossa sociedade. E que nossos uma intervenção ideal e bem-sucedida que se
problemas sociais e injustiças derivam dos dirija as raízes e a reprodução do racismo”
contrastes sociais, herança da escravidão, e (p.35).
não do racismo propriamente dito (p.31). Neste processo o que ajuda é compreender
a dinâmica complexa e variável da história das

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

relações raciais e das ideias sobre raça e cor. Baptiste Debret – livros didáticos, filmes
Então, entendamos: “Raça é uma construção (Escravos apanhando no pelourinho,
social que só pode ser apreendida tendo em palmatória, castigos). E levar em conta,
vista as relações concretas que ocorrem nas imagens e experiências que mostrem africanos
sociedades em diferentes contextos históricos e seus descendentes como sujeitos históricos,
e também espaços e situações no presente” mesmo que escravizados. Utilizando as
(p.35). gravuras de Moritz Rugendas, por exemplo,
para quebrar este paradigma.
QUESTÕES CONTROVERSAS Ensino de História das relações raciais deve
buscar a ênfase na diversidade como
Muitas vezes são evitados os temas
contraponto à homogeneização – nesse caso a
controversos, porque envolvem uma injustiça
homogeneização da “vítima” ou do sujeito
real, ocorrida a determinados grupos sociais, e
“passivo” – recursos as fontes. Trata-se de
por ser uma história contestada, seu
evitar confinar o estudo – da história das
conhecimento é difícil e constrangedor (p.35).
relações raciais a nichos no currículo limitando-
São temas sensíveis: Religião/Irlanda Norte,
o a momentos do ano letivo – 13 de maio; 20
Imigração em países da Europa Ocidental,
de novembro.
Racismo, Holocausto, Escravidão, Tráfico de
Figura 1
escravos.
Tomemos como exemplo, para lidar com o
ensino da história das relações raciais, o
Holocausto, para isto é “Necessário contrapor
a ideia de homogeneização do judeu como
vítima”, predominante em livros didáticos e na
história pública (mídia, filmes etc.), à ideia da
diversidade de experiências, antes da Segunda
Guerra Mundial”. (p.36) Só assim,
permitiremos “aos alunos conhecer diferentes
trajetórias, organizações familiares, formas de
sociabilidade e de relação ou não com a religião Fonte: Google Imagem
– ajudam a mostrar a complexidade das
Figura 2:
imagens cristalizadas de judeus esquálidos nos
campos de concentração” (p.36). Utilizando
fontes/recursos: documentos escritos;
fotografias; entrevistas, para concretizar os
acontecimentos diante dos alunos.
Da mesma maneira, que se coloca em xeque
a homogeneização em torno do “o judeu”
podemos tomar em relação à “o negro” ou do
“o escravo”, para isto, é necessário contrapor
às imagens recorrentes do “escravo” como
vítima, veiculadas em obras como a de Jean Fonte: Google Imagem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ESTRATÉGIAS DE TRABALHO escravizados. Como também, identificar como


as línguas e manifestações culturais desses
COM RELAÇÕES RACIAIS povos são parte daquilo que vivemos hoje. Para
Uma sugestão de Alberti, seria trabalhar isto poderíamos utilizar como fontes: mapas,
com o tema a “Escravidão do Africano/Tráfico dicionários, documentários, visitas a
Transatlântico”. Mas como tratar tais Temas de Comunidades Quilombolas.
forma adequada, com respeito aos É um trabalho riquíssimo, e com muitas
alunos/Vítimas sem traumas, sem deixar, nuances a serem trabalhadas. A autora,
contudo, de abordar as atrocidades e abusos também sugere as outras propostas para
cometidos? (p.39). serem tratadas em sala de aula com os alunos:
Precisamos fornecer elementos para que os Diferentes formas de resistência a escravidão;
alunos considerem a escravidão no seu Quilombos na formação do território nacional;
contexto histórico e não como contraponto ao Transição do trabalho escravo/livre no Brasil;
que hoje chamamos de trabalho livre. Ordenamento jurídico da Escravidão; Incentivo
Ao problematizar a realidade histórica à imigração europeia em detrimento a
estudada: “Que tipo de trabalho havia na proibição de Africanos/Asiáticos; Política de
Europa antes do século XIX”; “O que era o branqueamento da população Brasileira;
sistema de servidão por contrato”; “Qual era Presença do negro no movimento operário
situação de mulheres crianças e operários nas Brasileiro – início do século XX; Movimento
fábricas e indústria de Carvoarias?”; “O que era artístico e culturais dos negros – Teatro/
ser escravo na antiguidade?”, o que levaria o Imprensa; Movimentos sociais Negros.
aluno a reflexão. Para isto, escolher fontes:
atraentes e efetivas, para que se possa discutir
e chegar a conclusões.
Procurar desvincular “trabalho não livre” ou
escravo “de negro”. Enfatizar que não somente
os negros foram escravizados e tinham
péssimas condições de vida; também, não dar
ênfase aos castigos corporais, como sendo
exclusivamente dos negros; assim como, não
entrar em detalhes sobre o uso dos
instrumentos de tortura e enfatizar que esses
instrumentos de humilhação, não eram usados
exclusivamente nos negros.
Outro tema, que poderia ser utilizado, seria
o da “Diáspora africana”. Trabalhar com os
alunos a diversidade de reinos, religiões,
organizações políticas, atividades econômicas
dos povos; de onde vinham os africanos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma identidade negra positiva deve ser construída como resposta ao racismo e não como
resultado da “sobrevivência” de práticas culturais africanas. Alberti é enfática na importância de
relacionar o racismo ao ensino da história das relações étnico-raciais e entende como raça “uma
construção social que só pode ser aprendida tendo em vista as relações concretas que ocorrem
nas sociedades, em diferentes contextos históricos e também espaços e situações no presente”
(ALBERTI, p.35).
Alberti denomina temas considerados controversos como o racismo de “questões
sensíveis” e para lidar com elas a ênfase deve estar na “diversidade de experiências” e não na
homogeneização do negro no papel de vítima passiva. Propõe a contraposição de imagens e
experiências que mostrem “os africanos e seus descendentes como sujeitos históricos, mesmo
que escravizados” (ALBERTI, p.36), às imagens do escravo como vítima. Como exemplo, o
trabalho com biografias pode ser fundamental na iniciativa de partir do particular para o geral,
pois a narrativa tem uma função pedagógica fundamental. Outro ponto defendido pela autora é
o respeito tanto às vítimas como aos alunos, evitando restringir o estudo da história das relações
raciais a pequenos espaços no currículo escolar. É inevitável tratar da escravidão de africanos e
do tráfico transatlântico, mas é importante abordar o tema de maneira adequada. Para a autora
(p.39 - 40), não podemos deixar de falar sobre as atrocidades cometidas, mas também não
podemos falar apenas delas. E precisamos sempre considerar que a sala de aula é composta de
alunos e alunas de diferentes raças ou cores, e que o que nela falamos e é discutido pode incidir
sobre as relações que os alunos estabelecem dentro e fora da escola.
A autora propõe que a escravidão seja apresentada dentro do contexto histórico do qual
fez parte e não como contraponto ao que se entende por trabalho livre na atualidade, evitando
reforçar o estereótipo superior – inferior entre brancos e negros. Houve outros contextos com
diferentes formas de trabalho, como a escravidão na Roma Antiga ou a servidão feudal na Europa
Medieval, em que as relações de trabalho desiguais não estavam baseadas na cor da pele. Sobre
os castigos, Alberti também ressalta a necessidade de apresentar outras situações de vítimas, de
contextos diversos. É fundamental contextualizar a escravidão indígena e a opção pela mão de
obra africana, assim como tratar da diáspora africana, abordando a diversidade de línguas, reinos,
religiões, atividades econômicas, dentre outros aspectos dos povos que foram trazidos ao Brasil.
A lei 10639/03 proporcionou uma transformação importante e necessária na educação
brasileira, resultando num processo de revisão de conteúdos e posicionamentos sobre a história
do negro e sua cultura presentes nos livros didáticos. Novas estratégias pedagógicas foram
elaboradas visando o trabalho com estes conteúdos pelos professores e as equipes pedagógicas
das escolas, proporcionando um incentivo na construção de propostas para projetos
enfatizando esta temática em sala de aula.
Todas estas mudanças de comportamento correspondem a uma mudança também no
modo de ver e trabalhar com as questões étnico-raciais na escola, propiciando o conhecimento
sobre a presença africana na história do nosso país de uma maneira mais ampla e sem
deturpações ou omissões que possam contribuir para posturas preconceituosas e baseadas na
discriminação e no preconceito étnico e racial. Assim, todas as escolas da rede pública e particular

496
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

do país, em todas as séries e modalidades de ensino tiveram que repensar seus planejamentos
e projetos pedagógicos para inserir estas discussões, adequando se a uma lei que representa
a implementação de políticas de combate ao racismo e a discriminação do negro na sociedade
brasileira.
Segundo Alberti (p.39), os professores devem trabalhar estes conteúdos, para dar “a
ênfase na diversidade como contraponto à homogeneização – nesse caso, a homogeneização da
‘vítima’ ou do sujeito ‘passivo’ – e o recurso a fontes efetivas”.
Trata-se de pensar em práticas pedagógicas que contribuam para mudar uma visão
repassada durante décadas em que os negros eram retratados em seus sofrimentos durante a
escravidão, representados pelas imagens de Debret e Rugendas, presentes nos livros didáticos,
sem nenhuma leitura crítica. É a história de povos que vieram para o Brasil como escravos e que
aqui foram submetidos a todos os tipos de exploração e castigos, utilizados como mão de obra
na economia açucareira. A presença das várias lutas contra o regime da escravidão, as suas
múltiplas formas de resistências, as histórias destes povos antes mesmo de virem para o Brasil
eram silenciadas nos trabalhados em sala de aula, ficando uma enorme lacuna sobre estes
povos que muito contribuíram para a nossa história, reforçando destarte a visão de exclusão,
inferiorização e negação destes povos, de sua história e de suas visões de mundo, reforçando
assim, a institucionalização da discriminação e do preconceito em relação aos povos africanos e
seus descendentes na diáspora.
Neste sentido, torna-se necessário que existam práticas pedagógicas voltadas à
valorização e divulgação da história e cultura dos povos africanos, contribuindo para que
este conhecimento chegue às salas de aula, levando para milhares de alunos
afrodescendentes a história daqueles que contribuíram de forma significativa para a construção
do nosso país, pois somente assim estaremos contribuindo para que estas crianças e jovens, que
vítimas da discriminação e do racismo ainda presente nas reproduções pedagógicas, tenham
a história de seus ancestrais representada de forma positiva, visando o seu reconhecimento
enquanto grupos com suas histórias, seus costumes e tradições representativas para
a formação cultural do país.
Ao analisar as leis 10.639/03 e 11.645/08, Alberti (p.27), ressalta que, estes instrumentos
“são importantes para o combate ao racismo no Brasil”. Isto porque, o racismo tem a ideia de
superioridade de uma raça ou cor em detrimento de outra, e só se realiza porque uma delas se
sente superior, enquanto, a outra se sente inferior, estabelecendo assim, uma constante
realimentação, entre superior-inferior.
Neste processo é importante ressaltar todo o movimento voltado à elaboração de material
de apoio aos professores, algo que foi destacado nas diretrizes curriculares.
Diversos foram os livros, cartilhas, documentários, desenvolvidos para servir de apoio
pedagógico no trabalho com as questões étnico-raciais, tanto por iniciativas do governo federal
quanto por particulares. Editoras estiveram voltadas exclusivamente para as produções
abordando estas temáticas, o que colocou no mercado editorial uma diversidade considerável de
materiais voltados para todas as idades. Desta forma, as instituições de educação públicas e
particulares de ensino dispõem de uma diversidade de materiais que podem servir como suporte
para o trabalho dos professores. Para Alberti (p.39), “trata-se de evitar confinar o estudo da

497
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

história das relações raciais a nichos no currículo – limitá-la, por exemplo, ao período da
escravidão, ou a momentos do ano letivo em torno do 13 de maio ou do 20 de novembro”.
Sendo assim, a preparação dos professores para trabalhar dentro do que propõe a lei
10639/03 é fundamental, o que necessita de capacitação por meio de cursos de aperfeiçoamento
e especializações voltadas a esta finalidade. Fato que aconteceu por meio da realização de cursos
de aperfeiçoamento pedagógico em várias partes do país, visando à preparação destes
profissionais, quer sejam de forma presencial ou a distância, objetivando capacitar professores e
demais profissionais da educação para trabalharem com a História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana, apresentando recursos, possibilidades e caminhos para promover discussões sobre
estas questões. São práticas que muitos contribuem para levar para as escolas debates e
reflexões sobre assuntos relativos à diversidade cultural afro-brasileira.
É importante ressaltar que mesmo com a presença de materiais de apoio e as diretrizes
curriculares que orientam a sua prática pedagógica, ainda se encontre a atuação de professores
de forma isolada, sem um comprometimento da escola como um todo.
São práticas que dependem muito do professor, quando este se dedica a desenvolver as
suas atividades contando com o apoio dos demais colegas, tendo desta maneira a possibilidade
de desenvolver uma atividade interdisciplinar. Entretanto, encontramos ainda profissionais que
de forma compromissada e solitária promovem o desenvolvimento destas atividades, não tendo
a colaboração nem das instâncias educacionais nem dos colegas.
Infelizmente, esta é uma realidade que ainda é possível se encontrar em diversas escolas
espalhadas pelo país, o que nos leva a pensar na importância da Lei 11.645 “porque a sociedade
como um todo, os alunos de diferentes raças e cores, seus pais, seus irmãos, seus amigos e seus
futuros filhos se beneficiarão se tivermos oportunidade de explorar a diversidade e desafiar o
racismo” Alberti (p.55), e é no processo de formação dos profissionais que atuam nas salas de
aula, e que possuem uma grande responsabilidade, pois as suas ações levam ao desenvolvimento
do sentimento de pertencimento étnico-racial de crianças e jovens, assim como, a valorização de
suas manifestações culturais e identitárias.

498
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena. Algumas estratégias para o ensino de História e cultura afro-brasileira.
In. PEREIRA, Amilcar Araujo; MONTEIRO, Ana Maria. Ensino de história e culturas afro-
brasileiras e indígenas. Rio de Janeiro: Palas, 2013.

BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Educação das


Relações Étnico-Raciais e Para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Brasília, outubro de 2004.

BRASIL, Ministério da Educação. Educação Antirracista; caminhos abertos pela Lei Federal
10639/03. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALTERNATIVAS PARA O ENSINO-


APRENDIZAGEM PÓS-PANDEMIA
Sebastiana Aparecida Perilis1

RESUMO: O artigo visa compreender e discutir por meio de algumas reflexões sobre a
importância do processo de relacionamento entre educador e discente para o procedimento de
ensino-aprendizagem na volta às aulas presenciais pós- pandemia. Com este olhar discutem-se
atitudes e bom senso com sabedoria nas relações professor-aluno em diferentes dimensões do
processo ensino-aprendizagem, onde se espera desenvolver o trabalho em sala de aula a partir
de estratégias dialéticas, isto é, diálogo. Note-se que a cobrança da Secretaria de Educação está
sob o professor, o agente mediador do conhecimento e também a responsabilidade de buscar
soluções para conciliar a situação, e trazer o aluno para sua rotina de estudo. Com a perspectiva
de que retome ao compromisso de sujeito ativo e recíproco no processo de ensino e
aprendizagem. Assim, resgatar a compreensão da necessidade dos estudos para a formação
intelectual e possíveis contribuições para a sua emancipação pessoal e solidária com competência
em seus afazeres individuais e coletivos. Portanto, compreender o processo de ensino com o
objetivo de construção do conhecimento científico. Assim, conta-se com estudiosos da área,
como Freire (2001), Gadotti (1989), Jorge (1981), Libâneo (1996), Bueno (2003), Alves (1989) e
Perilis (2017; 2021).

Palavras-Chave: Aprendizagem; Relação professor-aluno; Diálogo.

1
Professora de História - Rede Estadual PR.
Graduação História, Pedagogia e Letras Espanhol pela UEPG PR; Mestrado em Educação pela UNESPAR
Jacarezinho; Doutoranda em Educação pela FLORIDA ASSEMBLY OF GOD UNIVERSITY Theology & Sciences
Institute of Florida USA INC.

500
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALTERNATIVES FOR POST-PANDEMIC TEACHING AND LEARNING


ABSTRACT: The article aims to understand and discuss through some reflections on the
importance of the relationship process between educator and student for the teaching-learning
procedure in the return to face-to-face classes after the pandemic. With this view, attitudes and
common sense are discussed with wisdom in teacher-student relationships in different
dimensions of the teaching-learning process, where it is expected to develop in the classroom
from dialectical strategies, that is, dialogue. It is noted that the demands of the Department of
Education are under the teacher, the mediating agent of knowledge and also the responsibility
to seek solutions to reconcile the situation, and bring the student to their study routine. With the
perspective of returning to the commitment of an active and reciprocal subject in the teaching
and learning process. Thus, rescuing the understanding of the need for their studies for
intellectual formation and possible contributions to their personal emancipation would be in
solidarity with competence in their individual and collective tasks. Therefore, understand the
teaching process with the objective of building scientific knowledge. Thus, there are scholars in
the area such as Freire (2001), Gadotti (1989), Jorge (1981), Libâneo (1996), Bueno (2003), Alves
(1989) and Perilis (2017; 2021).

Keywords: Learning; Teacher-student relationship; Dialogue.

501
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO consistiu em constatar os benefícios do diálogo


para a compreensão e a interação dos alunos
Neste estudo o fundamento norteador de em busca de resgatar a prática de ouvir,
discussão consiste em relatar o respeitar autoridade e colegas. Sabe-se que há
comportamento dos alunos ao retorno das diversas dificuldades em relação a indisciplina,
aulas presenciais uma vez superada a no entanto o propósito deste artigo foi
pandemia de Covid-19, momento em que os constatar a tolerância, o diálogo como meios
alunos estão recomeçando a rotina de estudos estratégicos para superar este momento que
e sua volta à sala de aula. O estudo foi realizado alunos e docentes estão vivendo em sala de
por meio da observação do desempenho e do aula, principalmente na transição do estudo
comportamento dos alunos do nono ano de remoto para o retorno à aula presencial, onde
uma escola pública do Estado do Paraná, em ambos se encontram em readaptação ao
especial na relação espaço-tempo do exercício ambiente escolar. O afastamento da sala de
docente da pesquisadora no decurso da atual aula presencial e a suspensão das atividades
pandemia e no enfrentamento ao Covid-19. presenciais, vieram acentuar as diferenças,
Cabe ainda salientar a demarcação laboral e a desafios e os impactos socioemocionais na
profissionalidade de aproximadamente vinte e aprendizagem.
sete anos de efetivo trabalho na área da Foram muitos os reflexos da falta do apoio
disciplina de história com o nono ano do Ensino escolar presencial, somado ao impacto das
Fundamental. circunstâncias do meio doméstico, posto que
No período comprometido pela pandemia nem todos os alunos dispunham de acesso à
com retorno às aulas no sistema híbrido e internet, faltava preparo e disponibilidades das
atualmente presencial, o presente estudo se famílias para dar suporte pedagógico e até
instaurou para apresentar o entendimento da mesmo emocional aos alunos. Não bastasse
importância do papel do professor como isso, muitos pais tiveram que sair para o
mediador de uma metodologia ativa por meio trabalho e os filhos foram obrigados a dar
do diálogo. O enfoque esteve na possibilidade conta de suas tarefas escolares sozinhos. O
de superar a realidade vivenciada em sala de retorno dos estudantes para o ensino
aula no contexto conflituoso por parte dos presencial exigirá, portanto, uma especial
discentes ao retornarem às aulas, pois que se atenção pois os alunos se encontram sem
encontravam indisciplinados, desmotivados e autonomia, indisciplinados e sem
sem perspectivas diante do desafio dos compromisso para conduzir os seus estudos.
estudos. Os alunos estão carentes da interação física, do
Acredita-se na alternativa do diálogo e no convívio com o meio e a mediação do
bom senso entre educador e alunos como professor, desprovidos de qualificações
instrumental favorável para a retomada da necessárias para a apreensão dos conteúdos
rotina de estudos, das obrigações e do em diferentes contextos. Também vale
comprometimento com a aprendizagem. lembrar as preocupações dos professores em
Portanto, o objetivo básico do trabalho tempo de pandemia, como afirmou Perilis:

502
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As dificuldades e os desafios diante do novo mesmos valores e da educação esperada.


cenário caótico exigiram formas inéditas de Enfim, torna-se explícita a percepção de que o
atuação e estratégicas inovadoras de ensino. O retorno à escola presencial exige respeito,
período requereu, portanto, certa responsabilidade e exercício de respeito
compreensão das especificidades tecnológicas coletivo. Como metodologia de ação sugere-se
do processo de ensino-aprendizagem por parte a perspectiva de Paulo Freire (1995), visando e
do corpo docente, o qual se manteve ativo e fortalecendo o diálogo com uma função de
priorizou a aprendizagem dos alunos neste educar e humanizar.
contexto histórico de mudanças rápidas. As A importância do processo de interação
mudanças impostas no sistema de ensino e na entre o professor e aluno para o
rotina dos alunos elevaram sobremaneira a desenvolvimento do ensino e aprendizagem,
preocupação com a possibilidade de está fundamentada na presença de um grande
defasagem na aprendizagem e, também, com o e profundo elo entre os termos “ensinar” e
bem-estar dos discentes no contexto familiar “aprender”, com tudo o que cada um
(PERILIS, 2021, p.74). representa. O professor José Carlos Libâneo
Nesse sentido, são fundamentais a prática (1996) descreve uma didática específica como
transformadora por meio do conhecimento e fundamentação teórica plausível ao trabalho
habilidade do professor para conduzir relações aqui proposto. O exercício do educador focado
interpessoais e pedagógicas com os alunos e, na atitude e na ação de compreender todos os
ao mesmo tempo, construir estratégias de desafios que perpassam o trabalho docente e a
adequação ao momento histórico de volta à busca do diálogo com os devidos ajustes de
escola pós-pandemia, quando se encontrará conteúdo. Igualmente deve-se manter atento
um cenário diferenciado e desgastado pelas ao alerta mencionado por Freire (1995), o de
condições psicológicas e de aprendizagem que o contexto vivenciado pela escola
desfavoráveis. Sendo assim, o professor contemporânea muitas vezes proporciona
necessitará de uma força transformadora que exclusão, desarticulação com a sociedade,
vá muito além do âmbito de sala de aula, isto principalmente em tempo de volta as aulas
é, que alcance as vivências relacionais dos pós-pandemia.
alunos em seus lares e também suas próprias Toda ação pedagógica necessita estar
condições de saúde física e emocional. É, pois, voltada para estratégias que priorizem o
exatamente nessas experiências e vivências diálogo com uma educação libertadora das
diárias onde é possível perceber a intolerância, sequelas de pandemia. Isso significa dizer de
a falta de limites, a ansiedade, o desestímulo um processo inovador com a valorização do
frente aos estudos, sem contar as várias diálogo, da leitura, da escrita e em toda a rotina
ocorrências disciplinares afrouxadas no espaço de estudo. Educar por meio da organização e
familiar e, assim, caberá ao professor a reorganização permanente de significados no
necessidade do bom senso e, ainda, a contexto da realidade vivenciada no momento
necessidade de ser tolerante com esses alunos atual. A ação do educador deve ser elaborada
que não espelham nem compartilham dos na convicção de que a realidade está

503
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

subordinada a sua análise, no entanto sua ação teórica importante para a fundamentação e
e reflexão podem mudá-la, relativizá-la, alterá- formação intelectual do educador. Portanto,
la. Pleiteia-se uma forma de trabalho do oportuniza uma teoria rica em conhecimento
professor visando a realidade do aluno e com para a atuação consciente do professor, com a
base em um suporte técnico metodológico perspectiva clara de sua função no ensino-
apropriado. Nesse sentido, buscou-se aprendizagem. Consideram-se ainda os
fundamentar os fatores de concepção de ensinamentos de Vygotsky (1992), sobre a
aprendizagem elaborada por Paulo Freire que interação professor e aluno, onde as
proporciona a compreensão do ensino- dificuldades dos alunos serão vias de alerta
aprendizagem na sala de aula. Para Freire para que o ensino e a aprendizagem
(1995, p.21), “ensinar não é transferir aconteçam por meio do diálogo e com
conhecimento, mas criar as possibilidades para retomadas como estratégia mediada pelo
a sua produção ou a construção”. O trabalho professor. Partindo do acima exposto e com
pedagógico em sala de aula deve enfatizar a base na pedagogia dialógica de Freire (2001),
construção do conhecimento, abolindo a Libâneo (1996) e Vygotsky (1992), o presente
estratégia voltada somente para a transmissão trabalho buscará demostrar o quanto há de
de conteúdos e incentivando uma prática reciprocidade na relação professor/aluno, e
voltada para o diálogo e consequentemente o suas inferências na prática do diálogo no
reconhecimento do aluno como sujeito de sua contexto de sala de aula.
aprendizagem.
Para Libâneo (1996), a didática é de suma NOVOS DESAFIOS PARA A
importância para o trabalho do professor em
sala de aula, pois constitui um âmbito de EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA
participação transversal, estabelecendo Os inúmeros desafios enfrentados pelos
vínculos com outras disciplinas, motivando os professores diante do trabalho pedagógico em
alunos para a observação e efetivação da ação momento de pós-pandemia, e ainda a busca de
educativa do docente. A disciplina conduz ao estratégias que venham auxiliar na preparação
procedimento de busca do conhecimento das de suas aulas sem desmerecer as propostas
áreas curriculares e o debate sobre a essência curriculares, são o enfoque maior do estudo
dos exercícios de estudo, das ações de em questão. Ademais, atenta-se para as
aprendizagem e das inter-relações entre os devidas condições do trabalho pedagógico que
vários processos intermediários na postura proporcionem efetiva aprendizagem, ou seja,
educativa. "A didática se caracteriza como uma metodologia centrada na reflexão, no
meditação entre as bases teórico-científicas da diálogo e que leve o discente a compreender o
educação escolar e a prática docente” processo de aprendizagem de forma a
(LIBÂNEO, 1996, p.28). Assim, o autor propõe o recuperar o tempo fora da escola, nos estudos
ensino da didática, com a compreensão em que online. Nesse sentido, com base nos
a mesma não é somente um conto de métodos ensinamentos de Freire (2001), ao priorizar a
e técnicas de ensino, e sim, uma referência educação como exercício de liberdade

504
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

apontando como pressuposto a relacionamento interdisciplinar, a organização


conscientização, propaga-se a liberdade da coletividade e o trabalho com o
fundamental na atuação livre e crítica dos conhecimento. Enfatiza-se o desenvolvimento
alunos. Dessa forma, acredita-se em uma do conhecimento, mas ainda se pontua a
metodologia por meio do diálogo, bom senso importância da habilidade do educador em
de tolerância por parte do educador para desenvolver o relacionamento interpessoal de
superar as dificuldades encontradas em sala de qualidade para que o trabalho não se torne
aula presencial pós-pandemia. O objetivo comprometido. Assim, o professor terá
maior consiste em buscar um processo possibilidade de interagir com os alunos e
pedagógico agregado à realidade, com estipular um vínculo interpessoal com a prática
estratégias que promovam a autonomia dos disciplinar sem autoritarismo, mas por meio do
discentes, oportunizando o diálogo, a exercício do comprimento das regras e deveres
horizontalidade da relação, promovendo a em sala de aula. Vale mencionar um possível
elaboração de saberes e habilidades, descontentamento em relação à aquisição do
instituindo autêntico sentido de troca. Neste conhecimento e a necessidade da preocupação
contexto de grande responsabilidade do com o querer e o agir e se expressar do aluno
docente, é notória a contribuição de para sanar as deficiências da aprendizagem.
Vasconcellos (2010), ao alertar para a Com efeito, todo processo deve dar atenção ao
necessidade do resgate da condição de sujeito querer do aluno, estimulando a voz do aluno
do professor, sua autonomia, o valor de si para que se efetive o conhecimento por meio
próprio e de seu trabalho. O autor se refere da análise realizada pelo aprendiz sobre o
também a superação dos problemas do objeto e a conclusão de sua síntese. Nesse
“entorno” das condições vivenciadas pelo contexto, o professor poderá atuar
educador. Neste tempo de retorno às aulas promovendo uma problematização pelo
presenciais pós-pandemia, principalmente no diálogo. Em relação ao educador, Vasconcellos
estado do Paraná, com grande defasagem e (2010), explica a diferença entre o professor
desvalorização de salários, condições de instrucionista e o mediador: o professor
trabalho precário em sala de aula, quantidades instrucionista tem meramente o papel de
de alunos, falta de recursos financeiros, carga transmissão de informação e o mediador é
horária excessiva, questões familiares e a aquele que realiza a prática por meio da
política educacional autoritária da Secretaria intervenção do conhecimento. Cabe um alerta
de Educação, no conjunto representam um para a necessária atitude do educador em
imenso desafio. relação à indisciplina, sem autoritarismo e com
Sendo assim, percebe-se a possibilidade de medidas educativas que perpassem os pontos
que alguma coisa possa ser feita no ambiente essenciais previstos: acolhimento, provocação,
da classe, um complexo mundo, a alma da subsídio e interação. Compreende-se que é
escola onde as coisas acontecem, como esse o cenário com que os professores se
esclarece Vasconcellos (2010). Portanto, três deparam, e esses são os grandes desafios para
fatores constituem esse conjunto: o o exercício da docência no sistema educacional

505
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contemporâneo. Na realidade presente, com caráter socioeducativo. De acordo com Freire


suas dimensões específicas, a questão da (2001), Gadotti (1989) e Jorge (1981), sobre a
indisciplina não deverá ser abordada de essência dialógica do relacionamento
maneira unilateral, mas ser fruto de uma professor-aluno, o sentido e a valia da
construção coletiva, preservando a liberdade, a comunicação no processo educativo libertário
autonomia do aluno e o seu exercício crítico e são imprescindíveis, pois o diálogo é um
questionador, visando superar os paradigmas quesito existencial, impossível de existir fora da
de uma educação autoritária e promovendo a comunicação plena. Um diálogo libertador
função social do ensino, ouvir os alunos e os conforme menciona Freire (2001),
professores. fundamentado no amor, na humildade, na fé e
É notório que, em um cenário de retorno dos na confiança entre indivíduos, promove a
alunos para as aulas presenciais pós-pandemia, educação libertadora. O amor como
o desafio maior será superar a necessidade de necessidade fundamental aos indivíduos tem
aderir à ideia de que ensinar não é transferir sim um espaço no discurso pedagógico. É fator
conhecimento apenas, mas criar possibilidades principal e estratégico no perfil do educador de
para sua própria construção (FREIRE, 2001; caráter humanista, cuja atuação se canaliza na
BUENO, 2003). Assim, portanto, deve-se realidade escolar visando promover mudanças
proceder no novo contexto de sala de aula, efetivas nos estudantes.
ocasião em que os alunos não estão dispostos O disposto acima se justifica como
a escutar, a executar as tarefas ou até mesmo ferramenta a ser posta em ação na sala de aula,
a permanecerem sentados. O professor de para o enfrentamento de dificuldades por
caráter mediador irá se posicionar com vezes desesperadoras em que se encontram os
autoridade em sala de aula, com diálogo e professores, frente ao contexto da volta às
respeito, mas sem autoritarismo. Com aulas presenciais e a conjuntura existente. Sem
ponderação, deve-se promover por meio de desmerecer a experiência frustrante com as
atividades escolares a noção de que cada aluno aulas online e, sobretudo, a condição com que
é o sujeito na execução de suas tarefas, por encontram os alunos após longo período fora
exemplo, realizar uma pesquisa e apresentar do ambiente presencial da sala de aula. Nesse
para os demais colegas da classe. É sentido, Freire (2001), alerta para a
fundamental mostrar a importância de responsabilidade para com o discente que
acreditar naquilo que se faz, ter compromisso deverá ser enxergado como pessoa e vítima de
e dedicação diante do que foi escolhido e um processo político, econômico e
merece ser desenvolvido. Deve-se sobretudo discriminatório sobremaneira para com os
apostar na competência das pesquisas e dos menos favorecidos. Cabe assim ao professor
estudos já realizados, pois eles apontam para o buscar caminhos de interação por meio do
fato de que o educador tem a tarefa de desafiar diálogo, visando superar essa fase de
o educando, com quem se comunica, a retrocesso na educação do mundo e,
compreender na integridade o que vem sendo principalmente, em países pobres como o
comunicado em aula, fortalecendo também o Brasil. O professor deve ser sempre um

506
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

intermediário humanizador, um profissional


que considera a interioridade e as relações que
os estudantes estabelecem. Ao utilizar o
diálogo, ele transforma a educação em seu
processo de humanização (BUENO, 2003).
Assim, o educador é um mediador de
esperanças, é fundador de mundos, pastor de
projetos (ALVES, 1989).
Diante do exposto resta ao educador o bom
senso, a tolerância e a prática do diálogo,
entendendo que o diálogo é a ponte de
esclarecimento aos discentes, algo que talvez
não exista em seus lares. Nesse sentido, afirma
Freire:
A relação dialógica rompe as práticas
educacionais e culturas domesticadoras,
substituindo-as por um trabalho cultural
humanizado. A prática educativa desenvolveu-
se não pela subordinação, mas por meio do
diálogo, da comunicação e solidariedade
autêntica entre educador e educando (FREIRE,
2001, p.135).
Conforme a discussão promovida no
decorrer do presente estudo acadêmico, pode-
se compreender o quanto se faz necessária a
compreensão de que os estudantes são
responsáveis pelos seus conhecimentos. Eles
são seres sociais, detentores de uma história, a
qual precisa ser levada em consideração devido
às consequências de suas experiências,
diferenças, no ambiente escolar. Cada aluno é
fruto de suas construções sociais, históricas e
culturais. Por isso, o educador por meio de
estratégias mediadoras, fazendo uso do
diálogo, deverá conduzir seus alunos nesse
novo contexto escolar de retorno à rotina de
estudo presencial.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após ter recorrido ao caminho da leitura, das expectativas teóricas e da discussão
acadêmica, convém relatar o comportamento dos alunos no retorno às aulas presenciais pós-
pandemia e à rotina dos estudos, salientando a importância da reconstrução do desenvolvimento
afetivo e do diálogo no ambiente escolar em busca de alternativas. É fundamental se referir ao
relacionamento da comunidade escolar, principalmente entre os alunos e professores, onde se
deu a busca de possibilidades de vínculos afetivos sólidos. Toda relação dentro do ambiente
escolar deve respeitar os fatores emocionais e a sensibilidade de cada pessoa, seja aluno ou
professor, pois são pontos relevantes no convívio em sala de aula e principalmente na
recuperação da aprendizagem. Assim se tem a compreensão de que professores e alunos estão
intensamente envolvidos, enfrentando os obstáculos do aprendizado. Mesmo diante das
condições em que se encontram os alunos – muitas vezes agressivos, descompromissados, sem
perspectivas e apáticos – mesmo em tais condições, os professores devem procurar manter o
equilíbrio e a mediação em busca da aprendizagem.
Nesse sentido, percebe-se a possibilidade de um retorno à rotina de estudo e à
normalidade no processo de aprendizagem com a execução do papel do educador e o
reconhecimento da necessidade de buscar o diálogo, o bom senso, a tolerância e o compromisso
com uma educação de qualidade que referencia os desafios deste momento histórico tão
complicado, na sala de aula e no processo de ensinar. Espera-se que a comunidade escolar e os
professores, por meio de suas estratégias, venham a integrar com os estudantes a
conscientização da necessidade do suporte da família para o efetivo retorno ao processo de
ensino-aprendizagem. Segundo Perilis (2017), a educação no mundo contemporâneo necessita
de transformações significativas para o ensino e a aprendizagem. Assim, será possível estabelecer
um rumo objetivo à sociedade do conhecimento, de forma democrática, interativa, voltada para
o diálogo com atividades de reflexão, compreensão, discussão, conduzindo os alunos ao retorno
de seus estudos, superando a defasagem e contando com a responsabilidade de todos,
estudantes e familiares.

508
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1989.
BUENO, Silvia Maria Villela. Pedagogia e saúde da esperança. Revista Expressão Feedback,
Ribeirão Preto, ano 6, n.70, p.6-10, jun. 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia? Saberes Necessários à prática educativa. 15.
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. São Paulo:
Cortez/Autores Associados, 1987.
JORGE, J. Simões. Sem ódio nem violência: a perspectiva da libertação segundo Paulo Freire.
São Paulo: Loyola, 1981.
LIBÂNEO, José Carlos. Prática educativa, pedagogia e didática. São Paulo: Cortez, 1996.
PERILIS, Sebastiana. Educação: Leituras e abordagens contemporâneas. Juiz de Fora (MG):
Garcia, 2017.
PERILIS, Sebastiana. A leitura como instrumento de construção da autonomia dos alunos
pertencentes ao sexto ano do ensino fundamental. Ponta Grossa: UEPG, 2021.
VASCONCELLOS, Celso. Construção do conhecimento em sala de aula. São Paulo: Libertad,
2010.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

509
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

APRENDER, COMPREENDER, COMPARTILHAR:


A AVALIAÇÃO SOB OLHARES DIFERENCIADOS
Cláudia Francisca de Souza Vieira1

RESUMO: O artigo apresenta concepções relativa a avaliação medidora. Enfatiza-se a importância


de um olhar diferenciado para o processo avaliativo.

Palavras-Chave: Avaliação; Educação; Mediação.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia;Especialização em Psicomotricidade; Especialização em Psicopedagogia
Clínica e Institucional.

510
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LEARN, UNDERSTAND, SHARE: EVALUATION UNDER


DIFFERENTIATED VIEWS
ABSTRACT: The article presents concepts related to measuring evaluation. The importance of a
differentiated look at the evaluation process is emphasized.

Keywords: Evaluation; Education; Mediation.

511
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO desperdiça um tempo e no fim não vale à pena,


mas o fato é, que a mudança é muito difícil em
O artigo aborda as questões relativas a qualquer situação, não só profissional e além
avaliação, especialmente a avaliação de ser muito difícil exige-se uma sensibilidade
mediadora. de entendimento, onde possamos ver ideias
Nesta perspectiva enfatiza-se que a diferentes e formamos nossas próprias
avaliação é parte integrante do processo de opinião.
aprendizagem , e não um momento estanque O espírito competitivo que existe nos alunos
da aprendizagem. na hora da avaliação é o mesmo expressado
Objetiva-se apresentar conceitos sobre a pelo professor, acabando com a finalidade
avaliação mediadora de forma que possibilite a desta prática, que é entender que somos
reflexão a respeito. diferentes por isso ambos podem aproveitar
A temática justifica-se em virtude de sua essa diversidade para aprender uns com os
relevância no campo educacional. outros, mas ao invés de construir, a avaliação é
usada para classificar e medir o saber, por meio
AVALIAÇÃO MEDIADORA: de notas, certo e errado, não levando em conta
o que foi desenvolvido nas aulas.
UMA POSTURA DE VIDA Com isso a autora coloca que e muito
Sabe-se que no curso de formação de complicado criticar o professor, precisa-se
professores, raramente expõe suas ideias, saber sobre o assunto, pois envolve toda uma
relato de suas práticas ou análise teoricamente prática no trabalho por ele desenvolvido, sua
de suas vivências em sala de aula, competência quanto profissional sua
normalmente cumpri a parte burocrática, dedicação ao longo da vida. Sendo assim:
quando necessita formalizar em um relatório, a Dado o envolvimento afetivo que o
tarefa acaba sendo cumprida por professor acaba tendo com sua prática
coordenadores e supervisores. Dentre todos os profissional, é inevitável que o fracasso de seus
profissionais, o professor é sempre o mais alunos acabe por atingi-lo em sua autoestima,
resistente em discutir para inovar as práticas colocando em questão sua própria
exercidas, achando que são muitos competência. Na medida em que não consegue
competentes no que fazem não havendo a articular este fato à falta de assistência técnica,
necessidade de ser aperfeiçoar, principalmente à instabilidade funcional, aos baixos salários, à
em se tratando de avaliação. ausência de recursos didáticos, e a própria má
O professor sente muito medo em expressar qualidade de sua formação, ele tem apenas as
suas opiniões em avaliação, porque sua forma alternativas supostamente responsáveis. E o
de avaliar é sempre a mesma, medir se está que mais diretamente ganha visibilidade para
“certo ou errado”, passando a criticar os ele é a situação de carência dos alunos com os
profissionais que tentam fazer diferente, não quais se defronta a cada dia em sala de aula
aceitando que muitos deles não sabem fazer de (MELLO, 1985, P.85)
outra forma, ou porque não acredita, ou por
dar muito trabalho, muito deles falam que se

512
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Sabe-se que os professores não investem em mediadores, o acompanhamento é papel do


curso de formação, e quando isso acontece à professor. Há mais de um sentido para a
área de avaliação não é a mais preferida muita expressão acompanhar. O dicionário Aurélio
acreditam que avaliar é uma obrigação imposta aponta algumas definições interessantes: fazer
pelo sistema, portanto não havendo muito que companhia; seguir a mesma direção de;
pensar sobre o assunto, a não ser que o aluno participar dos mesmos sentimentos; observar a
faz a prova o professor dá a nota e a tarefa está marcha, a evolução; entender, unir-se a. Assim
cumprida. É imprescindível uma boa base acompanhar tanto pode significar “estar junto
teórica no assunto, quando começou a haver de, ou ao lado de”, entender, observar a
pesquisas, achou-se necessário uma mudança, evolução, participar de.
os profissionais focaram o lado da avaliação Na perspectiva mediadora da avaliação, ao
aperfeiçoando como elaborar uma prova onde contrário, acompanhar-se para entender,
possa atribuir medida e notas para os alunos de observar a evolução, refazer o processo junto,
forma que o saber só que possui é o professor, propor-lhe novos desafios, sendo assim, os
como classificar um aluno partindo do relatórios descritivos tornam-se essenciais à
pressuposto de sua maior ou menor nota tirada prática avaliativa.
nessas avaliações elaborada, equivocando-se Dentre as diretrizes legais do ensino
totalmente no que diz respeito a essa prática fundamental de nove anos, insere-se o sistema
que é de verificação por meio de um processo de progressão continuada nos dois primeiros
de ensino aprendizagem acabando com o anos e o acompanhamento dos alunos por
significado dessa prática. ”Para educadores e meio de relatórios descritivos
educandos, para a sociedade a avaliação na acompanhamento escolar. Há, entretanto,
escola é obrigação: penosa, um mal muita resistência de professores e pais sobre a
necessário” (HOFFMANN, 1995, p.132). validade dos relatórios em avaliação,
preferindo, a maioria, o sistema classificatório
RELATÓRIOS DE AVALIAÇÃO: de atribuição de notas por considerá-lo um
registro mais fiel e preciso sobre as
COMPREENDER E aprendizagens dos alunos. Falsa verdade: a
COMPARTILHAR HISTÓRIA força do conservadorismo limita a reflexão
Sabe-se que relatório de avaliação, ao cobre o significado de determinadas práticas
contrário do sistema de notas e conceitos, (HOFFMANN, 1996, p. 89).
permitem a todos conhecer e refletir sobre Com isso a observação do cotidiano é o
caminhos diferentes e singulares percorridos primeiro passo para o acompanhamento, mas
pelos estudantes de todas as idades. Ao ela não pode vir desacompanhada de
mesmo tempo relatam o interior das salas de anotações, registros, descrições de qualidade,
aulas, revelam concepções e juízos de valor dos fazendo um acompanhamento constante da
professores, favorecendo a melhoria da ação evolução do aluno o professor consegue ter
educativa nas escolas e a melhor aprendizagem parâmetros de desenvolvimento,
do aluno. Com base em pressupostos reconstruindo as práticas, buscando

513
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estratégias especificas, diferenciadas nas várias seus avanços, suas resistências, suas
dimensões do aprender. dificuldades e possibilitar uma tomada de
Para isto é preciso fazer muitas anotações, decisão sobre o que fazer para superar os
arquivar exemplares de textos, de trabalhos e obstáculos. A avaliação deve ser continua para
tarefas, reunirem-se um conjunto de dados que possa cumprir sua função de auxílio ao
evolutivos e complementares acerca dos processo de aprendizagem. A avaliação que a
processos individuais que favoreçam decisões escola adota como processo, quando o
pedagogias eficientes. De posse destas professor acompanha a construção do
memórias construídas estabelece-se o diálogo conhecimento do educando; avalia na hora que
efetivo entre professores e alunos, entre os precisa ser avaliado para ajudar o aluno a
próprios professores e com as famílias, construir seu conhecimento, verifica os vários
compartilhando histórias significativas de estágios do desenvolvimento dos alunos e não
aprendizagens. os julgando apenas num determinado
Segundo autora, a elaboração de registros e momento. Avaliar o processo e não apenas o
relatórios descritivos em avaliação não produto, ou melhor, avaliar o produto no
favorece apenas o acompanhamento dos processo. (VASCONCELOS, 1999, p. 198)
alunos. Estudos realizados (HOFFMANN, Com isso, os boletins de notas ou conceitos,
1998;2005), comprovam que o exercício de fichas e pareceres classificatórios impedem
observar, anotar e refletir ao longo do que educadores tenham oportunidade de falar
cotidiano escolar transforma o fazer sobres suas diferentes formas de agir e intervir
pedagógico do professor e de toda a escola no que diz respeito ao acompanhamento
superando a visão comparativa e classificatória individual dos alunos, sendo muito importante
da avaliação, evoluindo em termos de uma para a melhoria da ação docente.
postura investigativa e mediadora das Passamos agora ao contraponto deste tipo
aprendizagens. Quando os registros de de avaliação, ao ter por compromisso a
avaliação são de caráter classificatório e elaboração de relatórios individuais, em
burocráticos, a tarefa do professor pode se primeiro lugar cada educador passa a ter de
resumir em corrigir tarefas dos alunos, calcular observar continuamente todos os alunos, ao
notas e atribuir-lhes pontos por atitudes, ou registrar manifestações de cada um, reúne
observar os alunos de tempos em tempos. informações significativas sobre a evolução do
Onde torna uma avaliação arbitrária e seu próprio trabalho. O que escreve, como
superficial em relação à aprendizagem escreve e sobre quem escreve é o reflexo
individual, não revelando aos professores o daquilo que faz, de como faz, de como pensa
que ele conhece de fato de cada aluno, as notas sobre o aluno,sobre o currículo e questões
pouco esclarecem sobre o processo vivido, atitudinais. Ao ter que descrever com palavras
escondendo e padronizando as diferenças. uma situação de ensino ou sobre o aluno, o
Avaliação é um processo abrangente da professor protagoniza um primeiro momento
existência humana, que implica uma reflexão importante, que seria pensar o que é
crítica sobre a prática, no sentido de captar importante destacar e relatar e sobre

514
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

expressões mais adequadas a utilizar de AVALIAÇÃO COMO MEDIAÇÃO


anotações, mesmo que breve, permitindo
Segundo a autora, as respostas das crianças
perceber pelo vocabulário escolhido, as
e jovens oferecem imensas alternativas de
posturas pedagógicas escolhidas.
análise, muitas vezes são contrárias das que
Sendo assim a interpretação desse conjunto responderia um adulto. Hoffmann relata que,
de anotações e informações sobre o aluno será certa vez uma aluna respondeu que
o percurso percorrido pelo estudante, com ”desmatamento” seria tornar vivo novamente
uma análise o professor poderá então refletir e interpretando a palavra “desmatar”, sua
posicionar-se criticamente a respeito de suas interpretação tem certa coerência, se
próprias intervenções em relação a cada um. relacionar com outras palavras que seria
Ao elaborar relatórios de avaliação individuais
“desarrumar, despentear”, que fazem parte do
o professor irá retomar e ressignificar dados
dia-a-dia e apresenta o significado de
sobre a sua continuidade de sua ação em contrário.
relação a cada estudante e de forma
A resposta dessa aluna representa um ato
intencional.
inteligente, na medida em que ela desafia
Quando dois ou mais professores relatam definir um termo que lhe era desconhecido,
sobre um único aluno, por exemplo, apontam buscando obter relações com palavras
aspectos diferentes de sua aprendizagem, similares. Neste sentido o professor deve estar
trazem visões distintas acerca de suas atitudes
a frente desse erro de forma construtiva. “A
em sala de aula. Tal diversidade é crianças e o jovem aprimoram sua forma de
extremamente natural e saudável e deve ser pensar o mundo na medida em que se depara
perseguida pelas escolas, ao invés de temidas, com novas situações, novos desafios e formula
uma vez que cada professor estará revelando o e reformula suas hipóteses” (HOFFMANN,
que vê, como pensa e age, ou seja, suas
2004, p.57).
concepções pedagógicas e formas de
Com isso, o professor deve partir do
relacionamento com os alunos – constituindo,
pressuposto que ao invés de fazer uma
no conjunto de tais relatórios, um relatório fiel
avaliação colocando certo ou errado, passaria
e consistente do que verdadeiramente
para uma concepção no sentido mais
acontece no ambiente escolar (HOFFMANN,
investigativo e reflexivo sobre as
2010, p.98).
manifestações do aluno.
Com isso, a autora relata que produzir
O que a autora pretende introduzir seria
relatórios de avaliação provoca naturalmente
(HOFFMANN, 2004, p.57). “a perspectiva da
muitas inquietações nos professores, e
ação avaliativa como uma das mediações pela
justamente por isso é altamente relevantes em
qual se encorajaria a reorganização do saber”,
termos da qualificação docente.
onde o professor e o aluno interagem juntos
para a construção do conhecimento,
reorganizando as ideias já existentes e
buscando as que não foram construídas ainda.
Não é o que acontece nos dias de hoje, ao invés

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de uma ação educativa desafiadora onde O fazer do aluno é uma etapa altamente
venha a contribuir, elucidar, fornecer a traça de significativa na sua construção do
ideias a reorganização das frases, os conhecimento, mas a sua compreensão das
professores desconsideram essas formas de hipóteses situa-se no terreno das contradições
interagir passando a desenvolver por e de suas ultrapassagens.
momentos estanques, sem elos e O que a autora quer dizer é que caberia
continuidade, desconectados em termos de observar se o educador é consciente da
progressão na construção do conhecimento. provocação necessária ao processo de
Não quer dizer que uma ação avaliativa compreender, pois a ação avaliativa mediadora
mediadora seja uma formula mágica, onde as é um processo complexo onde visa
crianças desenvolvem tudo que pensam, que a exclusivamente o entendimento, onde tais
construção é algo fácil de fazer basta ter boa processos mediadores têm por objetivo
vontade, muito pelo contrário, quando se fala encorajar e orientar os alunos a produzir um
que construir é mediar estão falando que isso conhecimento de qualidade, aprofundando às
se da num processo dia-a-dia, um passo após o quentões propostas, pela oportunidade de
outro, aos poucos, mas de forma continua, novas vivencias, leituras ou qualquer outro tipo
sempre tendo apoio de outras ideias, e para de procedimento que venha enriquecer o
que seja feito uma avaliação de forma tempo de estudo.
mediadora é preciso de fato negar a pratica Por isso, não tem sentido fazer com que a
atual quanto ao seu caráter de terminalidade, criança repita várias vezes a mesma tarefa,
de obstrução, de constatação de erros e porque ela não vai aprender, pois essa prática
acertos. não fará com que o aluno compreenda o que
O fazer e o compreender para a criança é a está sendo proposto, não entendendo não
mesma coisa, então o professor deve ter o bom aprende, com isso não haverá interesse
senso em saber que isso não é o real. A também em aprofundar no que está fazendo já
compreensão segundo Piaget, inclui o que se torna um trabalho árduo de mais para
movimento que se estabelece de tomadas de eles. Hoffmann (2004), “compreender não
consciência elementares, em direção a significa repetir ou memorizar, mas descobrir
conceituações superiores. as razões das coisas, numa compreensão
Fazer compreender em ação uma dada progressiva nas noções”.
situação em grau suficiente para atingir os fins Repetir simplesmente, fazer muitas tarefas,
propostos, e compreender é conseguir não é suficiente para a compreensão do
dominar, em pensamento, as mesmas educando, é necessária a tomada de
situações até poder rever os problemas por ela consciência sobre o que ele executa, não
levantados, em relação ao porquê e ao como significando a compreensão por apenas
das ligações constatadas e, por outro lado, memorizar ou repetir tarefas, mas descobrir as
utilizadas na ação (PIAGET, 1978, p.176). razões das coisas. As condições concretas da
prática avaliativa atual, autoritária e coercitiva,
determinam continuamente situações de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sucesso ou fracasso escolar com base em


exigências de memorização e reprodução de
dados pelo aluno. O cotidiano escolar
desmente um discurso inovador de considerar
a criança e o jovem a partir de suas
possibilidades reais. A avaliação assume a
função comparativa e classificatória, negando
as relações dinâmicas necessárias à construção
do conhecimento e solidificando lagunas de
aprendizagem.

517
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se fundamental um olhar apurado para os processos de avaliação.
A aprendizagem é um processo e não um momento estaque, nesta perspectiva os
docentes precisam rever suas práticas, possibilitando que os aspectos mediadores e qualitativos
sejam parte integrante do processo de construção do conhecimento.

518
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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520
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ARTEFATOS ÍNDIGENAS: UMA VISÃO


MINERALÓGICA E GEOLÓGICA
Rosemery da Silva Nascimento1
Julio Richard Furtado Serra2
Milena Monteiro Rosa3

RESUMO: O presente trabalho trata dos resultados de pesquisa bibliográfica sobre lâminas de
machados entalhados em rochas produzidos por indígenas ao longo da história no território
nacional. A pesquisa levantou dados referentes às técnicas de produção (lascamento,
picoteamento, polimento), tipo de material geológico (rochas) utilizados para a confecção desses
materiais líticos, assim como os tipos de classificações das lâminas e modelos que predominam
em estados pertencentes à região amazônica, e as outras regiões e estados do Brasil. O objetivo
do levantamento bibliográfico em questão é reunir dados de diferentes artigos científicos a fim
de expor sobre a dinâmica de produção das lâminas ou machados indígenas, com suas
classificações e locais de proveniência. Os métodos aplicados na elaboração desse trabalho
basearam-se em levantamento bibliográfico realizado em artigos científicos de origem nacional
e internacional. Com a pesquisa, foi possível obter informações de registros arqueológicos
pertencentes aos sítios localizados em diversos estados brasileiros, tais como os modelos
confeccionados, as rochas (em geral basaltos, riolitos, diorito, granito, sienito, andesito,
microgabro e gabro, além de metabasaltos, metandesitos, arenito e siltito) utilizadas para a
confecção e os locais com predominância de determinados exemplares. É válido ressaltar que a

1
Tutora do PET Geologia UFPA. Professora efetiva associada Nível IV no curso de bacharelado em Geologia da UFPA. Bacharel
em Geologia; Mestre em Geologia e Geoquímica; Doutora em Geociências.
2
Bolsista do PET Geologia UFPA. Graduando de Bacharelado em Geologia/UFPA.
3
Bolsista do PET Geologia UFPA. Graduanda de Bacharelado em Geologia/UFPA.

521
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

forma geométrica em que a lâmina era produzida e a rocha a qual era escolhida tinham por
objetivo realizar determinadas funções no cotidiano das comunidades.

Palavras-Chave: Lâmina de machado; Rocha; Mineralogia.

INDIGENOUS ARTIFACTS: A MINERALOGICAL AND GEOLOGICAL


VIEW
ABSTRACT: The present work deals with the results of a bibliographic research on ax blades
carved in rocks produced by indigenous people throughout history in the national territory. The
research peaks for the type of data used for geological references, manufacturing of lithic
materials, as well as geological reference models, classification of materials belonging to blades,
and other regions and states of Brazil. The objective of the bibliographic survey in question is to
gather data from different scientific articles for export on the production of indigenous blades or
axes, with their classifications and places of origin. The methods applied in the elaboration of this
work were based on a bibliographic survey of scientific articles of national and international
origin. With the research, it was possible to obtain information from archaeological records
belonging to sites located in several Brazilian states, such as the models made, the rocks (in
general basalts, rhyolites, diorite, granite, syenite, andesite, microgabbro and gabbro, in addition
to metabasalts , metandestones, sandstone and siltstone) used for the manufacture and the
places with predominance of certain specimens.. It is valid to stand out that it is a geometric
shape in which the blade was produced and the rock which was chosen in order to perform
functions in the daily lives of communities.

Keywords: Ax blade; Rock; Mineralogy.

522
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO REFERENCIAL TEÓRICO-


O presente trabalho de pesquisa apresenta METODOLÓGICO
os resultados do levantamento bibliográfico A metodologia adotada para a elaboração
sobre registros arqueológicos de lâminas de deste artigo envolve fundamentalmente o
machados entalhados em rochas encontrados levantamento bibliográfico em trabalhos de
em diferentes regiões do território brasileiro. pesquisas na literatura nacional e
Este levantamento bibliográfico é parte internacional. Estes trabalhos de pesquisa
integrante do projeto de Iniciação Científica do consistem em artigos de periódicos científicos,
Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso resumos de eventos, monografias, dissertação,
de Geologia - Universidade Federal do Pará, e teses e websites e a partir da leitura deles, foi
tem por objetivo apresentar de forma possível realizar uma coleta de dados e
sistemática os resultados da pesquisa em informações que abrangem dados
artigos científicos, a fim de permitir avançar no arqueológicos com informações acerca das
conhecimento sobre a dinâmica de produção técnicas de confecção, matérias-primas
de lâminas machados entalhados em rochas, utilizadas, classificação e descrição de
escolha do material para a confecção e suas machados.
respectivas proveniências territoriais. Os estudos de material lítico associados a
A maioria das referências bibliográficas aqui ocupações de grupos ceramistas na região
apresentadas aborda os artefatos líticos e amazônica são raros. Desta forma, serão
lâminas de machados sob o ponto de vista também descritos neste trabalho dados de
arqueológico, sendo raros os trabalhos de registros arqueológicos de lâminas de
pesquisa que detalham a mineralogia e a machados e machadinhas encontrados em
classificação das rochas entalhadas na forma diferentes lugares do território brasileiro.
de lâmina de machado. Estas rochas são Contudo, o levantamento bibliográfico tem
descritas, de modo geral, neste trabalho como ênfase nos artefatos amazônicos, na tentativa
rochas magmáticas (basalto, riolito, diorito, de relatar os locais que apresentam os sítios
granito, sienito, andesito, microgabro e gabro), arqueológicos na região, além de avançar no
com variações para rochas metamórficas entendimento do processo de fabricação
(metabasaltos, metandesito) e sedimentares desses artefatos e dos materiais geológicos
(arenito, siltito). Desta forma, o presente (rochas) de confecção.
trabalho destaca que há um campo de trabalho
da geologia que envolve mineralogia e ASPECTOS GERAIS DE
classificação de rochas que interagi com a
museologia e arqueologia.
ARTEFATOS LÍTICOS E LÂMINAS
DE MACHADOS
De acordo com Scatamacchia, Demartini e
Bustamante (1996), em se tratando de
artefatos líticos, os mais numerosos são as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

lâminas de machado, que têm o seu uso trabalhadas à mão livre, enquanto o
definido como utilitário. Na classe de artefatos lascamento bipolar é uma técnica empregada
líticos, o que caracteriza uma lâmina de sobre bigorna (superfície de apoio, nos
machado é a sua parte cortante, ou seja, o seu primórdios da história com utilização de
gume, embora outros elementos como a rochas, como quartzito) a matérias de média
forma, o tamanho e o peso também possam qualidade (PROUS; SOUZA e LIMA, 2012).
auxiliar na sua identificação.
A maioria destes objetos era encabada, mas
alguns poderiam ter sido segurados na mão.
Desta forma, todas estas lâminas apresentam
uma parte proximal (cuja extremidade oposta
ao gume é denominada talão) muitas vezes
destinada a preensão; uma parte ativa distal e
uma zona mesial neutra, mas que, de fato, atua Figura 1. Aspecto geral da pré-forma lascada em
pela própria massa e pode ser também arenito, com início de polimento e picoteamento,
utilizada para a fixação no cabo (PROUS, et al., proveniente do sítio Sapucaí de Perdões (MG). Fonte:
2003). Prous et al., (2003).
Nas lâminas de machado, as formas básicas
de encabamento encontradas na coleção,
podem ter sido adotadas por motivos
operacionais, mas observando este tipo de
artefato, podemos afirmar que a forma de
acabamento constitui um atributo opcional, à
medida que a função essencial do machado,
que é cortar, continua independente da sua
maneira de estar encabado (SCATAMACCHIA;
DEMARTINI e BUSTAMANTE, 1996).
A técnica de produção é uma das formas de
classificação das lâminas de machado. Bueno e
Pereira (2007), relatam que além do material Figura 2. Em a), tem-se uma lâmina retangular em
utilizado ou apropriado de forma bruta fase de picoteamento, com vestígios de lascamento
mencionado no documento, foi identificada ainda visíveis. Em b), observa-se a pré-forma
também a presença de vestígios líticos completamente picoteada, pronta para o polimento
transformados por meio da utilização das final. As peças foram entalhadas em gabros e dioritos,
e são provenientes de Monte Alegre (PA). Fonte: Prous
técnicas de lascamento unipolar e bipolar,
et al., (2003).
picoteamento, polimento ou, em alguns casos,
A técnica do lascamento costumava ser uma
uma combinação destes (Figuras 1 e 2). O
fase inicial para retirar rapidamente e com
lascamento unipolar é uma técnica empregada
pouco custo, o máximo de matéria excedente.
em matérias-primas de boa qualidade
O picoteamento (Figura 3) é uma fase

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

obrigatória, preparatória ao polimento, e que


apresentava a função de produzir a pré-forma
de artefatos, enquanto o polimento (Figura 4)
era a técnica responsável pelo acabamento das
peças (Paula, Lima e Santos, 2014). Era comum
também ocorrer um picoteamento posterior
ao polimento, e neste caso, parece ser uma
finalização de cunho estético para demarcar
melhor, visualmente, o limite entre as duas
Figura 4: Imagem representativa da técnica de
superfícies polida e picoteada, que se polimento com auxílio de um polidor manual para
interpenetravam depois do polimento da finalização do gume. Fonte: Prous et al., 2003.
lâmina. A superfície rugosa criada pelo
picoteamento também facilita a retenção no Segundo Prous, et al (2003), as lâminas
cabo. (Prous et al., 2003). podem ser classificadas em categorias de
acordo com a sua forma, sendo estas lâminas
triangulares (Figura 5), lâminas retangulares
(Figura 6), lâminas trapezoidais (Figura 6),
lâminas elipsoidais (Figura 7 e 8), lâminas
codiformes (são totalmente lascadas
bifacialmente) e lâminas semilunares (cujo
papel parece ter sido mais simbólico que
efetivo) (Figura 9).

Figura 3: Imagem representativa da técnica de


picoteamento com auxílio de um
batedor para remoção de irregularidades. Fonte:
Prous et al., 2003.

Para Souza (2008), a descrição de uma peça


é feita considerando a espécie padrão de um
referido tipo, com observação das formas
medidas, técnicas utilizadas, evidências de uso, Figura 5: Lâminas de machado triangulares
além de uma descrição das partes que os provenientes de Minas Gerais, entalhadas em gabros.
autores definem como: talão (parte proximal), Fonte: Prous et al., 2003.
corpo (parte mesial, e eventualmente, um
pouco da parte distal) e gume (parte distal mais
finamente polida).

525
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Figura 8: À esquerda, lâmina de machado elipsoidal


do estado do Acre entalhada em diorito. À direita,
lâmina de machado semilunar proveniente do
Município de Santa Izabel do Pará confeccionada em
gabro-diabásio. Fonte: acervo do MUGEO-IG-UFPA.

Figura 6: À esquerda, lâmina de machado


trapezoidal, e à direita, lâmina de machado retangular.
Ambas são provenientes de Minas Gerais e foram
confeccionadas em gabros. Fonte: PROUS et al., 2003.

Figura 9: Lâmina de machado semilunar. O


machado é proveniente do Município de Monte Alegre
(PA) e o autor descreve que foi entalhado em gabros,
dioritos e/ou metabasaltos. Fonte: PROUS et al., 2003.

Segundo Prous, et al., (2003), ao detalharem


a descrição morfológica na coleção da
Amazônia de artefatos líticos encontrados na
região amazônica, subdividem em dois
conjuntos. O primeiro se refere à porção centro
Figura 7: Lâmina de machado que remete à forma
elipsoidal e é proveniente de Jacaréacanga, PA. A ocidental da Amazônia, onde o corpo da lâmina
machadinha foi entalhada em diorito. Fonte: acervo do apresenta uma forma geral trapezoidal (figura
MUGEO-IG-UFPA. 3), com o gume ocupando o lado menor. A
parte proximal apresenta um sulco, facilitando
o encaixe com o cabo; a fixação era por
cimentação. Além disso, as peças apresentam
também orelhas/ombros (cuja utilidade era

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como suporte para o encabamento das peças), lâminas de machado no Mato Grosso,
e essa particularidade é observada também em predominam largamente as que apresentam
registros casuais localizados em Pernambuco. sulco de encabamento, embora em algumas
O segundo conjunto ficaria na Amazônia peças esteja ausente. Os gumes variam de
oriental, a forma mais comum parece ser formato semicircular a retilíneo (PARDI, 1995).
retangular curta, em razão do uso longo e das
constantes reformas, em regiões onde as COLEÇÕES NA REGIÃO
matérias-primas são raras e o trabalho da
madeira, constante (PROUS, et al., 2003). AMAZÔNICA E EM OUTROS
No documento de Bueno e Pereira (2007), ESTADOS BRASILEIROS
foram relatadas as lâminas de machado que Na Bacia Amazônica, objetos líticos limitam-
predominam no sítio Domingos, em Canãa dos se a uns poucos fragmentos de lâminas de
Carajás (PA). Um ponto importante e que pode machado, polidas ou mais raramente
ser explorado envolve a produção de lâminas picoteadas de basalto ou granito, alguns
de machado com diferentes formas e afiadores e polidores de arenito ferruginoso
diferentes cadeias operatórias. Há as de (HILBERT e HILBERT, 1980). Moraes (2006), em
formato retangular, produzidas por seu estudo, analisou o material de dois sítios
picoteamento e polimento, mas há também arqueológicos (Lago do Limão e Pilão) no
lâminas com ombro (ou orelha) finamente estado do Amazonas, município de Iranduba, e
polidas. Além destas, há ainda lâminas de descreve que os registros de lâminas de
contorno trapezoidal, e ao mesmo tempo, há machado nestes sítios foram confeccionados
lâminas que foram feitas para serem utilizadas em basalto.
(as quais apresentam um acabamento menos Bueno e Pereira (2007), mencionam em seu
refinado) e lâminas que não parecem ter sido trabalho os poucos machados polidos
confeccionadas para utilização (as quais estão encontrados na coleção no sítio Domingos, em
fina e cuidadosamente polidas, sem nenhuma Canaã dos Carajás, onde a maioria foi
evidência de uso). confeccionada em granito. A coleção situada
No Sítio Domingos, em Canãa dos Carajás em Santarém (PA) recorda que a matéria prima
(PA), os fragmentos que apresentam essas utilizada na confecção desses artefatos era
marcas de utilização circunstancial e aqueles basalto, quartzo, esteatita (Scatamacchia;
que permanecem em estado bruto Demartini; Bustamante, 1996). Na chamada
apresentam, geralmente, sinais de queima. Amazônia internacional, foram relatados
Alguns fragmentos foram produzidos por alguns registros na Guiana Francesa. O material
lascamento unipolar e, em outra área de lítico da Guiana Francesa é constituído
escavação, foi encontrado um grande principalmente por quartzo. A pedra do
fragmento intensamente lascado pela técnica martelo é uma forte indicação de uma oficina
bipolar que pode representar o vestígio de uma lítica de vários locais de prensagem de quartzo
etapa de produção de artefatos polidos, como neste platô (VAN DEN BEL, 2007).
os machados (BUENO e PEREIRA, 2007). Nas

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Além destes, foram publicados também os 2014).Além dos registros no Rio Tapajós, nota-
registros na bacia sedimentar do Rio Tapajós, se a ocorrência de sítios ou ocorrências
margem direita de sua foz com o Rio arqueológicas sob as atuais comunidades
Amazonas, onde se encontra o sítio em análise. próximas ao rio (ROCHA, et al., 2014).
O fato de ter suas nascentes no escudo A coleção antiga de Minas Gerais conta com
cristalino do Brasil central torna as praias do cerca de 90% das lâminas confeccionadas de
baixo curso do Rio Tapajós fontes de variadas rochas verdes, ricas em olivina; são
ocorrências líticas em forma de seixos, principalmente gabro, doleritas, diorito e
nódulos, placas e em alguns casos anfibolitos. Estas rochas contêm minerais
afloramentos, que serviram tanto como fonte variados, particularmente, plagioclásios que
de extração de matéria prima como para facilitam sua alteração e sua desagregação, sob
oficinas com polidores fixos para a produção de polimento e picoteamento. Em compensação,
artefatos de pedra (MORAES LIMA; SANTOS, sua heterogeneidade impede a boa
2014). propagação das ondas de choque, aumentando
Os principais materiais disponíveis em curta sua tenacidade e tornando-as pouco aptas ao
distância são os óxidos de ferro (hematitas e lascamento. As peças de hematita e de
derivados) que podem ser encontrados no sillimanita formam, respectivamente 7% e 2%
próprio local do sítio. Rochas sedimentares da amostra. A hematita é um sesquióxido de
como os arenitos (principalmente os mais ferro cujos seixos podem ser coletados nos rios
friáveis) podem ser também obtidos com nascidos nas serras que dominam Belo
facilidade. Arenitos, argilitos e siltitos em Horizonte. Foram, durante a pré-história,
diferentes estágios de metamorfização levados tanto para Lagoa Santa e a Serra do
aparecem em forma de pequenas plaquetas e Cipó, ao norte, quanto para o baixo curso do
seixos nas praias do Tapajós. Silexitos são bem Rio Doce, a leste. Algumas poucas lâminas de
raros, podem ocorrer localmente em pequenos hematita foram encontradas até na Bahia e na
nódulos, principalmente porções de óxidos de região de Xingó, em Sergipe.
ferro silicificados, mas maiores concentrações Presta-se pouco ao picoteamento e
puderam ser observadas somente nas fragmenta-se em plaquetas com o choque; isto
imediações do atual município de Itaituba, área torna também seu lascamento arriscado, onde
das últimas cachoeiras do baixo curso do Rio as lascas ultrapassam frequentemente o
Tapajós. Quartzos e quartzitos formam a base tamanho desejado, inutilizando as pré-formas.
sedimentar da região, porém os seixos desta A silimanita, por sua vez, é um silicato de
matéria prima são de proporções reduzidas. alumínio de estrutura fibrosa. Extremamente
Basaltos e granitos certamente foram resistente, ela pode apresentar, uma vez
adquiridos a distâncias maiores. Finalmente, polida, um aspecto multicolorido parecido com
no caso das rochas verdes (serpentinitas, o da ágata (PROUS, et al., 2003).
jadeítas e amazonitas) na bacia do Tapajós As escavações da UFMG evidenciaram a
ainda não foram identificadas fontes de utilização também do sílex (utilizado no alto
matéria prima (MORAES; LIMA; SANTOS, médio São Francisco, exclusivamente para

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lâminas lascadas sem polimento nem Evita-se o picoteamento (que poderia


picoteamento) e da silexita (uma única lâmina, quebrar a peça de sílex) passando diretamente
proveniente de Santana do Riacho), mas para o polimento, que é facilitado pela
nenhuma peça feita de sílica amorfa aparece heterogeneidade e pelo tamanho dos minerais.
nas coleções antigas. Não foi encontrado Quanto às rochas verdes, os artesãos que
machados de granito, gnaisse ou quartzito, dispõem dessas rochas investem menos no
matérias por vezes mencionadas no Nordeste e lascamento (esta técnica não permite
no norte do Brasil. Os machados semilunares, aproximar-se muito da forma definitiva com
cujo papel parece ter sido mais simbólico que este tipo de matéria-prima), mas podem
efetivo, apresentam eventualmente matérias trabalhar mais tranquilamente por meio do
selecionadas seja por sua facilidade de serem picoteamento demorado, porém pouco
polidas (xisto), seja pelo aspecto visual arriscado. O polimento final das partes mesial
(anfibolitos, cujos elementos maiores claros e proximal pode ser bem rápido. O gume, por
destacam-se sobre a matriz escura, produzindo sua vez, não pode ser picoteado até se chegar
efeitos interessantes), embora fossem menos muito perto da forma desejada, sem risco de
resistentes que gabro e diorito (PROUS, et al., quebrar - o que obriga a trabalhar por muito
2003). Além desses, encontra-se no Brasil a tempo esta parte por polimento. Nota-se, além
utilização de outros materiais para a destes materiais, outras opções adotadas para
confecção, como acontece em sítios a confecção no Brasil.
meridionais (sul do país), onde o basalto é Em sítios meridionais, o basalto é frequente,
frequente (PROUS, et al., 2003). e é interessante mencionar que alguns basaltos
As rochas escolhidas para a confecção das apresentam estrutura microlítica (em que se
lâminas de machado apresentam destacam, à vista desarmada, cristais de olivina
particularidades em relação às técnicas, o que e augita numa pasta escura que forma a maior
configura na escolha da matéria-prima. A parte da rocha), e isso o torna duro de se
influência das matérias-primas diabásio, trabalhar. Por este motivo, os artesãos
diorito, gabro e anfibolitos são rochas bastante parecem ter procurado ao máximo seixos com
tenazes (semi-resistentes) que, portanto, forma natural, a mais parecida com o produto,
respondem mal ao lascamento. Em limitando-se a polir o gume. Em certas regiões
compensação, são desgastadas pelo de Minas Gerais (Rio Doce, Lagoa Santa)
picoteamento com razoável facilidade e encontram-se lâminas de hematita, matéria
quebram menos sob o choque que o sílex. que responde um pouco melhor ao
Desta forma, os fabricantes de lâminas de sílex lascamento, mas necessita uma abordagem
costumam, na pré-história tanto quanto na especial - e de sillimanita também mais difícil
experimentação, elaborar as pré-formas o de ser polida que as rochas verdes. No norte do
máximo possível por meio do lascamento, que mesmo estado, o sílex foi por vezes utilizado,
retira rapidamente e com pouco esforço físico mas apenas lascado, evitando-se o trabalho de
uma grande quantidade de matéria. picoteá-lo (riscos de quebra) e o desgaste do
polimento. Na Amazônia, madeira silicificada,

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granito e arenito foram também utilizados e idade neoproterozóica/cambriana, é uma


preparados da mesma forma que as rochas associação de rochas ígneas e metaígneas de
verdes (PROUS, et al., 2003). afinidade toleítica e cálcio-alcalina. As litologias
Nas localidades da região Sul do Brasil, os aflorantes, constituintes do maciço, foram
registros encontram-se essencialmente em divididas em dois conjuntos informalmente
basalto. Conforme Gehlen, Brandli e Gonçalves designados, domínios I e II. As rochas do
(2007), a Bacia do Paraná, localizada no sul do Domínio I são cumulados gabróicos, troctolitos
Brasil, corresponde a grandes Platôs e anortositos, sem deformação ou
continentais provenientes de enormes metamorfismo. O Domínio II é constituído por
derrames basálticos que originaram o basalto charnockitos, diorito, gabros e granitos,
da região. Além da presença de basalto nos levemente deformados (VIEIRA, 1997). Diante
estados do Paraná e em Santa Catarina, é do exposto, é possível concluir que a matéria
válido exemplificar que no estado do Rio utilizada para a confecção dos machados era
Grande do Sul, a bacia do Paraná cobre cerca realmente da região de Minas Gerais, visto que
de 40% do estado, e a exemplo de pedreiras de afloram gabros e dioritos.
basalto tem-se a região das Missões, que
compreendem 25 municípios a noroeste do
estado. Conclui-se que as lâminas de machado
encontradas em sítios arqueológicos no sul do
Brasil foram confeccionadas a partir do basalto
existente na região.
No estado de Minas Gerais, é possível
destacar um maior número de machados
confeccionados em rochas ricas em olivina,
como gabro e diorito. O Gabro é uma rocha
plutônica (intrusiva) de cor escura com textura
fanerítica e granulação grossa. É uma rocha
com composição equivalente à dos basaltos
(GILL, 2014), e por esta maneira, o equivalente
plutônico dos mesmos. Diorito é uma rocha
ígnea intrusiva de granulação grossa, sendo
uma rocha com quantidades intermédias de
sílica (entre 52% e 65%, aproximadamente),
conferindo-lhe uma acidez intermediária. É
constituída por piroxênios e anfibólios
(principalmente hornblendas) como minerais
essenciais, no grupo dos minerais
ferromagnesianos, e plagioclásios mais sódicos
(Gill, 2014). O Maciço Lagoa Preta (MG/ES), de

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudos mineralógicos e petrográficos que tratam sobre as rochas usadas nos entalhes de
artefatos líticos e lâminas de machados são escassos na literatura nas áreas de conhecimento da
arqueologia e geociências, em especial nos registros localizados em sítios arqueológicos na região
amazônica. Por outro lado, podemos dizer que artefatos arqueológicos da temática proveniente
de outros estados brasileiros estão registrados detalhadamente em uma bibliografia mais ampla.
Mesmo considerando as condições mencionadas acima, ainda assim foi possível reunir um
conjunto de dados com registros de descrição de machados entalhados em rochas em diferentes
sítios arqueológicos, destacando a importância de uma pesquisa persistente, a fim de agrupar
dados que enriqueçam o conhecimento científico acerca dos tipos de entalhe e das diferentes
rochas usados na confecção de artefatos líticos e lâminas de machados arqueológicos.
Na região amazônica é possível observar que os materiais mais frequentemente utilizados
para a confecção dos machados são essencialmente basaltos e granitos. O basalto é uma rocha
ígnea eruptiva (magmática) constituída por minerais máficos (minerais de cor negra), sendo
estes, em geral, silicatos de magnésio e ferro, apresentando baixo teor de sílica. Segundo a
nomenclatura e classificação usada por Gill (2014), basalto é uma rocha de granulação fina,
coloração escura, matriz afanítica, frequentemente com textura porfirítica, contendo fenocristais
de olivina, piroxênios com alto teor de cálcio (augita e/ou pigeonita) e plagioclásios cálcicos
(frequentemente labradorita). O basalto é similar, em composição, a rochas ígneas máficas como
o diabásio, o gabro e o andesito. Por sua vez o granito, é um tipo comum de rocha ígnea intrusiva
(plutônica) de granulação média a grossa, composta essencialmente pelos minerais quartzo, mica
(em geral biotita), plagioclásio e feldspato alcalino. No Brasil, a Plataforma Sul-Americana
consiste em terrenos pré-cambrianos do embasamento granito-gnáissico, possivelmente as
lâminas de machado de Canaã dos Carajás no Pará, por exemplo, tenham sido entalhadas em
matéria-prima da área.
Segundo Thomaz-Filho, Mizusaki e Antonioli (2008), os dois grandes episódios magmáticos
do Triássico e do Jurássico que deu início a quebra continental entre os continentes Sul-
Americano e Africano, estão muito bem representados nas bacias paleozoicas do Solimões, que
abrange o estado do Amazonas, e na do Amazonas, presente nos estados do Amazonas e Pará. O
magmatismo da região foi de caráter básico intrusivo (diques e soleiras de diabásio) e extrusivo
(derrames de basalto). Sendo assim, fica possível concluir que os machados entalhados em
basalto nos sítios arqueológicos do Amazonas e de algumas regiões do Pará, podem ter sido
confeccionados por meio de matéria presente na área.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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SOUZA, Gustavo Neves. O Material Lítico Polido do interior de Minas Gerais e São Paulo:
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AS CONSEQUÊNCIAS DA AUSÊNCIA PATERNA


NA VIDA DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Paula Dassie Moreno Marabesi 1

RESUMO: É importante ressaltar que: desde os primórdios a relação social foi sendo construída
pelos vínculos afetivos que foram sendo estabelecidos para que ocorresse a manutenção e
sobrevivência da vida humana. Na construção social surgem papéis sociais delegados a cada
membro do grupo familiar, cujo objetivo é a sobrevivência da prole e a perpetuação da espécie.
Dessa forma, os pais têm papel importante na formação do indivíduo. A criança consegue contar
com pais afetivos que lhe proporcionem apoio, conforto e proteção, esta é capaz de desenvolver
estruturas psíquicas hábeis e seguras para enfrentar as dificuldades da vida. Enquanto o inverso
ocorre, quando a criança vive a privação paterna, seja física ou afetiva, podendo ter problemas
no seu desenvolvimento. Sendo assim, o objetivo desse artigo é o de orientar pais, professores,
gestores, ou seja, a sociedade como um todo sobre os problemas psicológicos, tais como a falta
de educação, rebeldia, delinquência, como a procura por drogas, gravidez precoce para as
meninas e entrada no crime, tráfico de drogas para os meninos, além da violência e agressividade
que esses jovens cometem devido à ausência paterna. Afinal, as pessoas apenas devolvem para
o mundo, o que elas recebem. Concluindo, a literatura indica que a participação efetiva do pai na
vida de um filho promove segurança, autoestima, independência e estabilidade emocional.

Palavras-Chave: Pai; Adolescente; Afeto; Escola; Família.

1Professora de Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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THE CONSEQUENCES OF PATERNAL ABSENCE IN THE LIVES OF


CHILDREN AND ADOLESCENTS
ABSTRACT: It is important to emphasize that: since the beginning, the social relationship was
being built by the affective bonds that were being established so that the maintenance and
survival of human life could occur. In the social construction, social roles arise delegated to each
member of the family group, whose objective is the survival of the offspring and the perpetuation
of the species. In this way, parents play an important role in the formation of the individual. The
child can count on affective parents who provide support, comfort and protection, he is able to
develop skillful and safe psychic structures to face the difficulties of life. While the opposite
occurs, when the child experiences paternal deprivation, whether physical or affective, they may
have problems in their development. Therefore, the objective of this article is to guide parents,
teachers, managers, that is, society as a whole, about psychological problems, such as lack of
education, rebellion, delinquency, such as the search for drugs, early pregnancy to girls and entry
into crime, drug trafficking for boys, in addition to the violence and aggression that these young
people commit due to their father's absence. After all, people just give back to the world what
they get. In conclusion, the literature indicates that the father's effective participation in a child's
life promotes security, self-esteem, independence and emotional stability.

Keywords: Father; Adolescent; Affection; School; Family.

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INTRODUÇÃO estabelecidos transferiram funções onde cada


membro deste grupo tem responsabilidades a
Desde os primórdios a relação social foi serem cumpridas. O homem dentro deste
sendo construída pelos vínculos afetivos que grupo familiar, a princípio, tinha a função de
foram sendo estabelecidos para que ocorresse mantenedor, provedor do alimento e da
a manutenção e sobrevivência da vida humana. proteção do grupo familiar, ao passo que a
Sendo assim, não existiria vida humana se os mulher tinha como função gerar e cuidar da
mesmos vivessem isolados, sem laços afetivos, prole por ela concebida (PEREIRA; OLIVEIRA;
pois o bicho homem é uma raça que nasce NUNES, 2017, p. 02).
dependente do outro para sobrevivência, é Costa (1997), expõe uma posição paterna
dentro desta realidade, da fragilidade da raça através de três funções: Dar proteção à mãe no
humana que foi se constituindo a família período gestacional e após o nascimento da
(PEREIRA; OLIVEIRA; NUNES, 2017, p. 02). criança, auxiliar na separação na relação
Sabe-se que historicamente, até ao fim do mãe/criança, e promover recursos para que a
século passado, o pai desempenhava criança desenvolva a habilidade de
especialmente uma função educadora e diferenciação intergeracionais, tornando-se
disciplinadora, segundo códigos modelo de identificação para o menino, e de
frequentemente rígidos e repressivos. E, a parceiro para a menina. Fabrino (2012), afirma
interação entre pai e filho era reduzida, que a criança que possui uma família que
principalmente nos primeiros anos de vida, proporciona afetividade nas relações e,
bem como a sua participação nos cuidados segurança no desenvolvimento cognitivo,
diários à criança (BENCZIK, 2011, p. 68). emocional e físico tenderá a se tornar um
Segundo Freud, é a castração que se adulto seguro e com condições pertinentes
transmite de pai para filho. Esta castração é para experienciar as vivências do dia a dia.
essencialmente simbólica, concebida na Costa (1997), ainda diz que a mãe é
articulação significante. Quando se fala em responsável pelo nascimento biológico, porém
Édipo, é o pai, já morto, que funciona como um é a figura paterna que proporciona condições
operador estrutural que interdita o gozo ao necessárias para o nascimento psicológico
filho, ao mesmo tempo estabelecendo um (COSTA; OLIVEIRA, 2018, p. 48).
modo de gozar. Também, é a morte, como algo Tais mudanças culturais que foram
impossível de se conhecer, como real, como ocorrendo na vida do ser humano começaram
impossível, que funciona como ponto de a trazer para esse grupo familiar outras funções
interdição, situando o gozo total, pleno, que até então não lhes eram impostas com
absoluto, de saída, como impossível (SILVA; tanta cobrança como acontece nos dias de
ALTOÉ, 2018, p. 05). hoje. Através do surgimento da psicologia e os
Assim, da construção social surgem papeis estudos das relações humanas, passou-se a
sociais delegados a cada membro deste grupo, perceber as construções psíquicas que surgem
cujo objetivo é a sobrevivência da prole e a dentro das relações familiares, em que foi
perpetuação da espécie. Os papeis descoberto como a relação da mãe com criança

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pode afetar nas escolhas desta criança no que muitas vezes fazem isso com medo de
decorrer da sua vida adulta (PEREIRA; provocarem possíveis danos aos filhos com
OLIVEIRA; NUNES, 2017, p. 02). atitudes restritivas, no entanto acabam
Foi por meio do surgimento das ciências levando a uma educação sem disciplina
humanas, em que o ser humano passou a (CALDANA, 1998, p. 89, p. 02, apud,AURELIANO
entender que a constituição da família vai et al, 2014).
muito além dos cuidados físicos e da provisão Em contrapartida, o abandono afetivo
do alimento, ou seja, existe uma psique paterno pode causar ao filho um dano
envolvida nestas relações que é desenvolvida psicológico profundo e irreversível, o que,
na relação com os genitores. E a partir da talvez, poderá influenciar negativamente na
observação destes fatores passou-se a buscar sua identidade. É muito importante a formação
compreender como os papeis desenvolvidos de cidadãos capazes de construir uma
dentro deste grupo familiar influenciam no sociedade melhor, baseada em valores, em que
desenvolvimento psicológico dos filhos e qual a seja priorizado sempre o princípio da dignidade
importância disto na vida em sociedade humana e da solidariedade (WEISHAUPT;
(PEREIRA; OLIVEIRA; NUNES, 2017, p. 03). SARTORI, 2014, p. 18).
A família é o grupo natural onde à criança Eizirik e Bergmann (2004), afirmam que a
encontra condições para o seu ausência paterna tem potencial para gerar
desenvolvimento, onde os pais desempenham conflitos no desenvolvimento psicológico e
o seu papel, assegurando-lhe proteção e cognitivo da criança, bem como influenciar o
estímulo, que se transmite a linguagem, se estabelecimento de transtornos de
aprende o simbólico e os valores essenciais da comportamento. Desde as últimas décadas, a
cultura. Trentin (2011) afirma que os pais têm ausência paterna tem sido estudada com
papel importante na formação do indivíduo, ênfase na infância, e suas consequências para
bem como de seu caráter, dos seus valores, o desenvolvimento infantil (BENCZIK, 2011;
sendo que os pais são a referência da criança, CIA, WILLIAMS & AIELLO, 2005; EIZIRIK &
além das pessoas com quem se identificará. BERGMANN, 2004). Os problemas
Isso porque, as crianças são “viajantes recém- comportamentais decorrentes da ausência
chegados a um país estranho”, do qual nada paterna já se apresentam na pré-escola e
sabem. Por isso, as Crianças e adolescentes podem se manter ao longo da vida escolar,
necessitam, assim, de uma base familiar sólida revelando resultados negativos que incluem
(TRAPP; ANDRADE, 2017, p. 46). baixo desempenho escolar, aumento de
No passado, avós e pais foram reprimidos ausência nas aulas, risco aumentado de
pelos seus pais em função de uma educação envolvimento com drogas, relacionamento
autoritária, onde com um simples olhar as frágil com os pares, depressão, ansiedade,
crianças já sabiam o que eles queriam lhes labilidade emocional e a externalização de
dizer. Porém nos dias de hoje, os pais estão comportamentos-problemas (CIA, WILLIAMS &
tendo dificuldades em estabelecer limites e em AIELLO, 2005, apud, DAMIANI; COLOSSI, 2015,
colocar determinadas regras em seus lares, em p. 87).

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Segundo a Organização Mundial da Saúde privação variam de acordo com o grau da


(OMS), os limites cronológicos da adolescência mesma, gerando nas adolescentes sequelas
costumam ocorrer entre 10 e 19 anos prejudiciais, em graus variáveis, como carência,
enquanto pela Organização das Nações Unidas angústia, sentimentos vingativos, e
(ONU) entre 15 e 24 anos. Estes parâmetros consequentemente, depressão e culpa (REIS;
são usados mais para propósitos estatísticos e SILVA, 2021, p. 02).
políticos, e para definir o termo jovens adultos, É importante salientar a importância da
que integram a faixa etária de 20 a 24 anos de figura paterna no desenvolvimento da criança
idade (WHO, 1986; BRASIL, 2007, apud, REIS; e na interação entre pai e filho. Por isso, a
SILVA, 2021, p. 01). presença paterna é um dos fatores decisivos
Dizemos que o adolescente vive em crises, o para o desenvolvimento cognitivo social,
que de acordo com autor Matheus (2007), o facilitando a capacidade de aprendizagem e a
termo adolescente vem da expressão integração da criança na sociedade. Assim,
“adolescere”, cujo significado é condizente Benczik (2011), em seu texto comenta que as
com desenvolver ou crescer. Entretanto, esta teorias psicológicas e as pesquisas cientificas
mesma expressão possui outro significado, o afirmam e fundamentam o papel da figura
de adoecer, ao qual, em razão disso, têm-se a paterna no desenvolvimento e no psiquismo
ideia de crise, que define a adolescência. As infantil. O pai representa a possibilidade de o
crises e conflitos vividos constantemente pelos equilíbrio pensado como regulador da
adolescentes, podem estar relacionadas e capacidade da criança investir no mundo real.
influenciadas pela ausência paterna, no Já a ausência ou abandono paterno é
desenvolvimento emocional, cognitivo e extremamente prejudicial ao desenvolvimento
comportamental do indivíduo jovem, e que psíquico da criança (TRAPP; ANDRADE, 2017, p.
consequentemente, pode gerar notáveis 46).
mudanças em suas atitudes e personalidade. A Os estudos da Psicanálise mostram que: a
ansiedade, depressão, traumas e relação dos indivíduos com seus pais, durante
comportamentos agressivos são importantes a infância, fornece a estrutura das outras
exemplos, que leva o adolescente à conflitos relações que serão estabelecidas ao longo da
internos, no qual atinge não só a ele, mas vida. Os autores Pellegrino (1987), citado por
também o seu meio social (REIS; SILVA, 2021, Nascimento, et al (2012), afirmam que o pai é
p. 02). o primeiro e fundamental representante da lei
Ao corroborar com este contexto, Lebovici da cultura. No entanto, a figura paterna teve
(1987), relata que só existe satisfação e uma seu poder sobre os demais membros da família
percepção de segurança, quando diluído em decorrência de inúmeros fatores
aparentemente tudo está bem. Porém, se históricos. É necessário reconhecer que a
existe raiva, ciúme e ansiedade, este vínculo ausência ou mesmo o abandono do genitor do
acaba se tornando ameaçado. E caso ocorra sexo masculino traz consequências para o
uma ruptura dos laços afetivos, ocorre desenvolvimento dos indivíduos (TRAPP;
depressão e dor. Assim, os efeitos nocivos da ANDRADE, 2017, p. 46).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Corneau citado por. Benczik (2011), em seu DESENVOLVIMENTO


texto cita que a presença do pai é que poderá
Segundo o Estatuto da Criança e do
facilitar a criança a passagem do mundo da
Adolescente (ECA) mostra a adolescência como
família para o da sociedade. Será permitido o
um período que decorre entre doze e dezoito
acesso a agressividade, a afirmação de si, a
anos de idade (BRASIL, 1990). Devido à sua
capacidade de se defender e de explorar o
complexidade, essa fase não se limita ao tempo
ambiente. Esse mesmo autor acredita que as
e cronologia que a determina. Para Cerqueira-
crianças que sentem os pais mais próximos e
Santos, Melo-Neto e Koller (2014) há maior
presente sentem-se mais seguras em seus
relação da adolescência com uma fase social e
estudos, na escolha de uma profissão ou na
psicológica, do que a associação com a ideia de
tomada de iniciativas pessoais, ao contrário da
idades numéricas, sendo assim, podemos dizer
criança que tem sentimento de abandono.
que a diversidade da adolescência precisa ser
Segundo Santos & Angoneze (2016): Para um
compreendida (REIS; SILVA, 2021, p. 04).
crescimento e desenvolvimento saudável do
Desordens geradas no desenvolvimento
filho, a presença e a atuação da família em suas
psicológico e cognitivo do adolescente, como
vidas mostram-se indispensáveis. Então, a
transtornos emocionais e distúrbios agressivos
socialização da criança inicia e tem
são evidenciados no comportamento do
fundamento na família, por isso a importância
mesmo (EIZIRIK;BERGAMANN, 2004). Estudos
da presença dos pais, a criança cresce por meio
têm associado essa ausência do pai com a
da interação com os companheiros, ou seja, os
criminalidade e o desenvolvimento de jovens
pais e continua a se expandir na adolescência e
infratores, pesquisas têm comprovado o
juventude, para culminar na vida adulta
quanto a ausência do genitor, ou uma relação
(TRAPP; ANDRADE, 2017, p. 47).
de pouco afeto entre pai e filho, pode ser
Devido a todas essas questões relacionadas
considerada um fator de risco para o
a ausência do pai durante a infância e
desenvolvimento do indivíduo, estando
adolescência, o objetivo desse artigo é o de
relacionada, de certo modo, a maior propensão
orientar pais, professores, gestores, ou seja, a
para o envolvimento com a delinquência
sociedade como um todo sobre os problemas
(SGANZERLA; LEVANDOWSKI, 2010, apud, REIS;
psicológicos, tais como a falta de educação,
SILVA, 2021, p. 06).
rebeldia, delinquência, como a procura por
Segundo a literatura mostra que a
drogas, gravidez precoce para as meninas e
participação efetiva do pai na vida de um filho
entrada no crime, tráfico de drogas para os
promove segurança, autoestima, autonomia e
meninos, além da violência e agressividade que
estabilidade emocional. Sendo assim, já na
esses jovens cometem. Afinal, as pessoas
década de 80, Lebovici (1987), destacou que se
apenas devolvem para o mundo, o que elas
a criança consegue contar com pais afetivos
recebem.
que lhe proporcionem apoio, conforto e
proteção, esta é capaz de desenvolver
estruturas psíquicas hábeis e seguras para
enfrentar as dificuldades da vida. Esse mesmo

539
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

autor (1987), aponta para as consequências da do pai, ela pode desenvolver sentimentos de
situação inversa, em que a criança vive a vulnerabilidade. Por isso, a mãe ou o
privação paterna, seja física ou afetiva, responsável não conseguir dinheiro suficiente
podendo ter problemas no seu para sustentar a família, o filho do sexo
desenvolvimento, constituindo, assim, um masculino pode desenvolver problemas com
fator de risco para o seu desenvolvimento. Por relação à instabilidade financeira, contudo, a
essa razão, o núcleo de confiança dessa criança adolescente do sexo feminino tenderá a ficar
ficaria esvaziado, prejudicando, assim as fascinada por pessoas ricas. Os sentimentos de
relações com seus pares (DAMIANI; COLOSSI, indecisão podem se estender a outras áreas da
2015, p. 88). vida desse adolescente, e consequentemente,
Benczik (2011), referindo a teoria este pode desenvolver transtornos de
psicanalítica, destaca o papel estruturante do ansiedade (REIS; SILVA, 2021, p. 06).
pai, a partir da instauração da conflitiva edípica Para a Psicanálise ainda, a relação dos
e posteriormente, na adolescência, quando se indivíduos com seus pais, durante a infância,
dá a maturação das questões sexuais. O autor fornece a estrutura das outras relações que
ainda ressalta que as crianças que têm o pai serão estabelecidas ao longo da vida.
presente expressam autoestima superior Pellegrino (1987), citado por Nascimento et al
àquelas que têm pai ausente e que a presença (2012) afirma que o pai é o primeiro e
positiva da figura paterna ajuda a afastar uma fundamental representante da lei da cultura.
série de transtornos psicológicos (2011). Na Dessa forma, a figura paterna teve seu poder
mesma direção, Fantinato e cia (2011), referem sobre os demais membros da família diluído
que quanto maior a participação dos pais nas em decorrência de inúmeros fatores históricos.
atividades escolares, culturais e de lazer dos É preciso reconhecer que a ausência ou mesmo
filhos, maior o desempenho acadêmico das o abandono do genitor do sexo masculino traz
crianças. A frequência da participação paterna consequências para o desenvolvimento dos
também pode ser correlacionada com o sujeitos (TRAPP; ANDRADE, 2017, p. 46).
repertório de habilidades sociais das crianças. ...todo pai verdadeiro é um pai que assume
Por outro lado, a ausência dos pais nas adotar seu filho, independentemente de ser ou
atividades está ligada ao índice de problemas não o pai biológico. Assim, não se pode nunca
de comportamento (DAMIANI; COLOSSI, 2015, atribuir a função paterna à mera paternidade
p. 88 e 89). genética, nem mesmo quando esta é atestada
Ferrari (1999, apud, DAMIANI; COLOSSI, pelos mais sofisticados exames de laboratório
2015, p. 93), evidencia que o adolescente que (2010 p. 18 PEREIRA; OLIVEIRA; NUNES, 2017,
cresce com a ausência do pai, tende a ser p. 07).
agressivo e inseguro, pois na maioria das Gomes, Dezam e Barbieri (2014), apud
culturas, o pai é aquele quem promove a Winnicott relatam em sua pesquisa que o pai é
proteção e os recursos necessários para a vida um fator importante desde o momento em que
do indivíduo jovem. Quando uma a mãe descobre sua gravidez, de acordo com os
criança/adolescente é criada sem a presença autores a presença do pai tem o seu valor antes

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mesmo do processo do complexo de Édipo, a convivência social. Esta falta pode se


presença do pai auxilia em todo o processo de manifestar em inúmeras maneiras, entre elas,
desenvolvimento da criança, pois o pai serve de está uma maior tendência maior para o
suporte para que a mãe possa centralizar-se envolvimento com a delinquência. Isso coloca
nos cuidados para com o filho gerado, esse pai em evidencia a dificuldade de internalização de
oferece a mãe o que Winnicott chama de um pai comum, que é capaz de representar à
“holding”, ele é um lugar de amparo, segurança aproximação moral do indivíduo. No passado,
onde a mãe passa a ter como alvo os cuidados a falta do pai foi estudada com ênfase na
para com o filho nos primeiros meses do infância e suas consequências para o
recém-nascido (PEREIRA;OLIVEIRA; NUNES, desenvolvimento do adolescente (REIS; SILVA,
2017, p. 08). 2021, p. 06).
Para Muza, crianças que não convivem com Os problemas comportamentais resultantes
o pai acabam tendo problemas de identificação da ausência paterna, sendo que estes se
sexual, além de apresentar dificuldades de manifestam no início da vida escolar e podem
reconhecer limites e de aprender regras de se manter ao longo dela, ocasionando também
convivência social. Isso mostraria a dificuldade o risco ao consumo de drogas, aumento da
de internalização de um pai simbólico, capaz de ausência nas aulas, acarretando resultados
representar a instância moral do sujeito. Tal negativos como o baixo desempenho escolar,
falta pode se manifestar de inúmeras relacionamento frágil com os pais, ansiedade,
maneiras, entre elas uma maior propensão depressão, instabilidade emocional e expressar
para o envolvimento com a delinquência. seus comportamentos e problemas (CIA;
Mason e colaboradores abordaram os WILLIAMS; AIELLO, 2005, apud, REIS; SILVA,
problemas de comportamento associados ao 2021, p. 06).
efeito dos pares e ao papel moderador da Existem muitos casos em que a ausência do
ausência paterna e da relação mãe-filho. O pai é devido a uma morte repentina, em acordo
comportamento dos pares e a ausência com Mota (2008), que ressalta que no início o
paterna vêm sendo associados com maiores jovem tende a vivenciar descrença, negação e
índices de distúrbios do comportamento em choque, evita lamentar a morte ou expressar
adolescentes. Pesquisas demonstram que a emoções e mesmo que sinta necessidade de se
ausência do pai em geral tem impacto negativo envolver na cerimônia do funeral, e de
em crianças e adolescentes, sendo que estes conversar sobre sua perda, há momentos em
estariam em maior risco para apresentar que opta pela privacidade, o que deve ser
problemas de comportamento (BENCZIK, 2011, compreendido e prezado (REIS; SILVA, 2021, p.
p. 70). 06).
De acordo com Muza (1998), os Shin revisou os efeitos da ausência paterna
adolescentes que não são acompanhados pelo no desenvolvimento cognitivo das crianças e
pai acabam tendo questões relacionadas a concluiu que, em famílias sem a presença do
orientação sexual, tais como dificuldades de pai ou nas quais os pais apresentavam pouca
distinguir limites e de aprender regras de interação com seus filhos, havia maior

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

associação com desempenhos pobres em


testes cognitivos das crianças. Montgomery
observou que crianças com ausência do pai
biológico têm duas vezes mais probabilidade
de repetir o ano escolar, e que as crianças que
apresentam comportamento violento nas
escolas têm 11 vezes mais chance de não
conviver na companhia do pai biológico do que
crianças que não têm comportamento
violento.
Essas crianças, principalmente meninos,
evidenciam maiores dificuldades nas provas
finais e uma média mais baixa de leitura. Além
do papel crucial que o pai exerce na
triangulação pai-mãe-filho, Muza cita que o
papel paterno é crucial também para o
desenvolvimento dos filhos na entrada na
adolescência, quando a maturação genital
obriga a criança a definir o seu papel na
procriação (BENCZIK, 2011, p. 70).
O pensamento de que a morte não tem
sentido é incessante, podendo causar uma
sensação de confusão mental, tristeza, culpa,
desamparo, rejeição e negação da morte,
levando os jovens a agressividade,
comportamento antissocial de risco, ideação
suicida, uso de álcool ou de drogas, troca de
amigos, perda da esperança ou da autoestima,
falta de religião e depressão, deixando-os por
fim, vulneráveis e cheios de sentimentos novos
e assustadores até mesmo para eles. Diante
desse fato, a responsabilidade da figura
paterna é substituída por uma pessoa próxima
ou membro familiar, que em muitos casos é a
mãe (MOTA, 2008, apud, REIS; SILVA, 2021, p.
06).

542
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando nos referirmos em ausência do pai, especialmente durante o desenvolvimento de
um filho é um assunto extremamente importante e complexo, e que desperta interesse na
atualidade, especialmente, porque às famílias vêm passando por inúmeras modificações em que
se nota, cada vez mais, a ausência do pai. A partir dos estudos realizados sabe-se que o bom
desenvolvimento dos filhos será facilitado pela participação de ambos os pais em sua vida, em
que oferece apoio e segurança, independente da configuração familiar que se estabeleça.
Sendo assim, na atualidade a figura do pai possui além de seu papel de autoridade, é
aquele que fornece carinho, e que também tem participado de forma mais ativa na vida das
crianças, pois brinca com elas, atua na educação e formação das mesmas.
Sabe-se que a ausência do pai tem impacto direto no crescimento do adolescente,
trazendo dessa forma, várias consequências para o psicológico desses jovens envolvendo tantos
os campos cognitivos, emocionais quanto comportamentais e sociais, que estão enfraquecidos,
no qual muitas vezes a mãe ou algum outro um membro próximo é que acaba tendo que suprir
essa falta.
É importante salientar que a educação, para ser equilibrada, precisa dos dois progenitores.
A presença do pai na família é diferente e complementar à da mãe. Por isso, a falta de um modelo
na educação, masculino ou feminino, expressa quase sempre um desequilíbrio naquele que é
educado, ou seja, o filho. Foi observado, que que os filhos precisam de segurança, apoio e de
valores que cabe naturalmente ao pai transmitir para esses filhos.
Contudo, se os pais participarem fortemente na educação dos filhos, vão trazer um modelo
de crescimento saudável e harmonioso, com todas as condições para que esses jovens sejam
lançados na vida adulta, de forma mais estruturada e feliz.
Devido aos inúmeros malefícios, seria fundamental o acompanhamento dos profissionais
ligados as áreas da psicologia ou psicanálise em casos, em que pode ser feita uma contribuição
junto ou não, com a família a fim de promover uma vivência mais tranquila.
É importante ressaltar que a delinquência, bem como alguns casos de homossexualidade
masculina e feminina, bem como a misoginia, dependências emocionais, repetição de
comportamentos patológicos podem ser decorrentes da falta do pai ou da função paterna.
Concluindo, a literatura indica que a participação efetiva do pai na vida de um filho
promove segurança, autoestima, independência e estabilidade emocional.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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na educação dos filhos na atualidade. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, n.189,
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BENCZIK, E.B.P. A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev.


Psicopedagogia, v. 28, n. 85, p. 67-75, 2011.

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desenvolvimento infantil. Centro Universitário UNIFAFIB. Psicologia - Saberes & Práticas, n.2,
v.1, 46-52, 2018.

DAMIANI, C.C; COLOSSI, P.M. A Ausência Física e Afetiva do Pai na Percepção dos Filhos
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PEREIRA, V.S; OLIVEIRA, T. F.R; NUNES, M. V. A importância do pai na formação psíquica


dos filhos. Disponível em: https://www.inesul.edu.br › revista › arquivos › ar >. Data de Acesso:
20/07/2022.

REIS, L. D; SILVA, Y. V. N. Os impactos da ausência paterna e afetiva do pai na percepção


dos filhos adultos. Trabalho de Conclusão de Curso – TCC (Curso de Pedagogia), Centro
Superior UNA de Catalão – UNACAT. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br ›
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SILVA, M. M; ALTOÉ, S. O pai: uma questão sempre atual para a psicanálise. Revista Ágora -
Estudos em Teoria Psicanalítica ARTIGO Ágora, v. 21, n.3, 2018.

TRAPP, E. H. H; ANDRADE, R. S. As consequências da ausência paterna na vida emocional


dos filhos. Revista Ciência Contemporânea, v. 2, n.1, p. 45 – 53, 2015.

WEISHAUPT, G. C; SARTORI; SARTORI, G. L. Z. Consequências do abandono afetivo paterno


e a (in) efetividade da indenização. Perspectiva, Erechim, v. 38, n.142, p. 17-28, 2014.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AS CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA


O DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DOS
ESTUDANTES
Alcione Santos 1

RESUMO: A Neurociência, até então disseminada como um ramo da Biologia, nos dias atuais tem
contribuído de forma interdisciplinar para as questões relacionadas ao processo de ensino e
aprendizagem na área educacional. Particularmente, no ensino, esta área é capaz de contribuir
com elementos reflexivos, críticos e práticos na construção ou reconstrução de concepções e
metodologias, ressignificando o aprendizado dos estudantes. Infelizmente, desde que a educação
se tornou universal, a ponto de se ter salas extremamente lotadas, também houve um aumento
significativo dos estudantes com dificuldades e distúrbios de aprendizagem, mesmo que ainda
não tenham sido diagnosticados. Portanto, é necessário fornecer o suporte necessário para
superar essas dificuldades e nesse sentido que funciona a Neuropsicopedagogia. Assim, o
presente artigo teve por objetivo discutir sobre as contribuições das diversas ramificações da
Neurociência no processo de aprendizagem dos estudantes. A pesquisa caracterizou-se como
qualitativa, com base em artigos, dissertações, entre outros documentos pertinentes ao tema.
Os resultados encontrados indicaram que a Neurociência aplicada em sala de aula funciona como
um excelente recurso para compreender como ocorre o desenvolvimento e a aprendizagem dos
estudantes.

Palavras-Chave: Neurociência; Neuroeducação; Aprendizagem; Dificuldades de Aprendizagem.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Letras; Licenciatura em Pedagogia; Bacharel em Direito.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE CONTRIBUTIONS OF NEUROSCIENCE TO THE EDUCATIONAL


DEVELOPMENT OF STUDENTS
ABSTRACT: Neuroscience, until then disseminated as a branch of Biology, nowadays has
contributed in an interdisciplinary way to issues related to the teaching and learning process in
the educational area. Particularly in teaching, this area is capable of contributing with reflective,
critical and practical elements in the construction or reconstruction of conceptions and
methodologies, giving new meaning to student learning. Unfortunately, since education became
universal, to the point of having extremely crowded classrooms, there has also been a significant
increase in students with learning difficulties and disorders, even if they have not yet been
diagnosed. Therefore, it is necessary to provide the necessary support to overcome these
difficulties and in this sense that Neuropsychopedagogy works. Thus, this article aimed to discuss
the contributions of the different ramifications of Neuroscience in the students' learning process.
The research was characterized as qualitative, based on articles, dissertations, among other
documents relevant to the topic. The results found indicated that Neuroscience applied in the
classroom works as an excellent resource to understand how the development and learning of
students occurs.

Keywords: Neuroscience; Neuroeducation; Learning; Learning difficulties.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO aprovação automática, mas, que em


determinadas situações, como é o caso das
No Brasil, as reformas educacionais avaliações externas, demonstram dificuldades
propostas por diferentes pesquisadores para executar determinados procedimentos,
trouxeram o movimento conhecido como indicando inclusive déficits cognitivos.
Escola Nova a fim de reconstruir a Educação Enquanto hipótese, algumas das questões
como um todo. O movimento trazia como que podem envolver essa situação são a falta
princípio a reconstrução educacional da construção da autoestima ao longo do
garantindo o direito de todos à Educação desenvolvimento da criança/adolescente, o
descentralizando o sistema escolar; trazendo que afeta diretamente a sua aprendizagem.
responsabilidade para o Estado; aplicando Além disso, a falta de diagnóstico dificulta as
diferentes metodologias voltadas à tomadas de decisão e consequentemente as
aprendizagem e utilizando inclusive recursos intervenções necessárias. Ainda, os
da área da Neurociência na Educação. A neuropsicopedagogos têm observado um
aprendizagem ocorre desde o nascimento, mas aumento significativo de crianças e jovens em
ao se ingressar na escola, começa-se uma fase escolar que possuem dificuldades de
aprendizagem mais sistematizada, pois, aprendizagem, por diferentes motivos sejam
existem regras a serem seguidas e eles de origem orgânica ou social e cognitiva.
conhecimentos novos que até então a criança Desta forma, o objetivo geral do presente
não conhecia. artigo é discutir sobre as principais as
Ao se deparar com novas experiências, o contribuições das diversas ramificações da
Sistema Nervoso muda o nível de estrutura e Neurociência no processo de aprendizagem
função, onde essa capacidade de se adaptar e dos estudantes; e como objetivos específicos,
se moldar é chamada de neuroplasticidade. A discutir sobre os distúrbios que podem ocorrer
compreensão desses fenômenos pode não só acompanhados de danos físicos, sensoriais,
promover o desenvolvimento da área médica, intelectuais, entre outros acarretando em mau
mas, também promover o desenvolvimento de desempenho escolar, e que muitas vezes não
outras áreas como a Educação, pois são identificados.
compreender o princípio de funcionamento do Como justificativa, tem-se que a
cérebro e os métodos de aprendizagem podem Neurociência na Educação traz inúmeras
contribuir com o trabalho em sala de aula, possibilidades para o entendimento e o
principalmente com relação as dificuldades de desenvolvimento dos processos cognitivos
aprendizagem. relacionados a aprendizagem, Assim, apesar de
Quanto a problemática, tem-se que embora ser um assunto vasto é preciso contribuir com
a sociedade contemporânea tenha progredido mais estudos voltados para a Neurociência e
de inúmeras maneiras, no caso do Brasil suas contribuições na área educacional.
infelizmente, ainda o que se encontra é um A metodologia utilizada foi do tipo
ensino muitas vezes inadequado, onde boa qualitativa, a fim de realizar levantamento
parte dos estudantes passam de ano a partir da bibliográfico documental a respeito do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contexto evidenciado. A discussão sobre o Guerra (2011), relatam que os neurônios


tema foi realizada a partir de revisão normalmente estabelecem sinapses com
bibliográfica a respeito do assunto. milhares de outros neurônios, recebendo ao
Quanto a estrutura do trabalho, o mesmo mesmo tempo diferentes informações
encontra-se dividido em três capítulos. O provenientes de outras células. A plasticidade
primeiro: A Neurociência e a sua ramificação não está presente apenas no desenvolvimento
par a Neuroeducação, envolve a discussão da do cérebro ou como resposta a uma dada
aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo experiência, mas pode ocorrer também devido
do ponto de vista da plasticidade neural; o a uma lesão cerebral, tentando assim
segundo: Problemas de aprendizagem, discute reorganizar o SNC.
sobre as dificuldades dos estudantes, bem Ou seja:
como daqueles que ainda não foram O cérebro em desenvolvimento é plástico,
diagnosticados; e o terceiro: Contribuições da ou seja, capaz de reorganização de padrões e
Neuropsicopedagogia, a fim de compreender sistemas de conexões sinápticas com vista à
os processos que envolvem a Psicologia e a readequação do crescimento do organismo às
Educação. novas capacidades intelectuais e
comportamentais da criança (PINHEIRO, 2007,
A NEUROCIÊNCIA E A SUA p. 44).
No caso da Neurociência, esta compreende
RAMIFICAÇÃO PARA A que se a lesão acontecer ao longo da infância,
NEUROEDUCAÇÃO o cérebro lesionado apresenta uma maior
A Biologia engloba o estudo de diferentes capacidade regenerativa devido a plasticidade
estruturas e seus respectivos funcionamentos, e neste caso os neurônios podem acabar se
incluindo o Sistema Nervoso Central (SNC). adaptando, assumindo outras funções que não
Lent (2010), explica que os neurônios são a eram suas, regenerando células e criando
principal unidade morfofuncional desse novas conexões. Os neurônios em
sistema. Os neurônios produzem e transmitem desenvolvimento apresentam maior
impulsos elétricos em milésimos de segundo capacidade de se adaptar do que os já
recebendo, processando e executando amadurecidos, e, portanto, apresentam uma
informações e respostas codificando tudo, maior plasticidade.
dentro e fora do organismo. Boni e Welter (2016), relacionam a
Para cada experiência, o cérebro vai se plasticidade neural com esta área em questão,
modificando, devido as interações humanas visando a aplicação no campo educacional,
com o ambiente provocando mudanças pedagógico e interdisciplinar, observando que
cerebrais constantes, o que é chamado de o estudante é um ser único e mutável ao
plasticidade neural (RELVAS, 2011). mesmo tempo, de acordo com as experiências
O período que compreende a maior vivenciadas.
plasticidade do cérebro é durante a infância, Desta forma: “Neurociência é uma ciência
continuando pelo resto da vida. Cosenza e nova, que trata do desenvolvimento químico,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estrutural e funcional, patológico do sistema É preciso ressaltar que os neurocientistas


nervoso. As pesquisas científicas começaram esclarecem que a Neurociência não representa
no início do século XIX” (RELVAS, 2011, p. 22). uma pedagogia nova, e nem propõe soluções
O desenvolvimento da Neurociência se dá efetivas para as dificuldades de aprendizagem.
por meio de um conjunto de ações que Ela pode ser aplicada a fim de colaborar na
investigam o funcionamento do Sistema fundamentação de práticas pedagógicas que
Nervoso, e particularmente, de como a resultem na aprendizagem propondo
atividade cerebral se relaciona com a conduta intervenções no ensino.
e a aprendizagem (MORALES, 2009). O professor deve se preocupar com
Ou seja, esta área é responsável pelo estudo estratégias pedagógicas que respeitem o
referente ao funcionamento cerebral, das funcionamento cerebral, já que esta área
ligações neuronais e da plasticidade neural, oferece uma abordagem mais científica no
promovendo a compreensão desses processo de ensino e aprendizagem, baseado
fenômenos. Trazendo para a Educação, esta na compreensão dos processos cognitivos
visa as capacidades relacionadas ao processo envolvidos (SANTOS e VASCONCELOS, 2014).
de ensino e aprendizagem, abrangendo como
o desenvolvimento do estudante ocorre. FALANDO SOBRE OS
Oliveira (2015), dá o nome a esse processo
de Neuroeducação. Esta visa compreender os PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM
processos relacionados à aprendizagem, Dentre as inúmeras ramificações da
possibilitando ao docente organizar suas aulas Neurociência, a Neuropsicopedagogia significa:
com ações que promovam a reorganização das Um novo campo de intervenção e
sinapses e o funcionamento dos sistemas sem especialização, onde o conhecimento
necessariamente trabalhar individualmente. ultrapassa fronteiras e cria, com isso, novas
Conhecendo o funcionamento do cérebro é possibilidades de aprender sobre o aprender,
possível desenvolver estratégias que ampliando olhares e oportunizando novas
provoquem a mobilização dos estudantes para formas de inter-relacionar informações,
que os mesmos se tornem protagonistas do conhecimentos e saberes (BEAUCLAIR, 2014, p.
próprio conhecimento. 28).
A aplicação da Neurociência na área A aprendizagem não se dá somente por
educacional traz inúmeras possibilidades para meio da escola, uma vez que ela se inicia por
o desenvolvimento e os processos cognitivos meio da instituição familiar. O apoio dos pais e
envolvidos nesse processo. Assim, se propõe a responsáveis é primordial para que o
união da Biologia, da Neurociência, do estudante desenvolva suas capacidades
desenvolvimento e da Educação, como base cognitivas, contribuindo para o
para o desenvolvimento de pesquisas desenvolvimento da sua autonomia. A
educacionais, integrando investigação e prática contribuição do neuropsicopedagogo é
(FISCHER, 2009). fundamental durante a fase escolar a fim de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contribuir para a superação das dificuldades de facilitando as intervenções necessárias. O


aprendizagem (MALUF, 2005). trabalho em equipe pode contribuir para o
O National Joint Commitee of Learning desenvolvimento pleno desses estudantes,
Disabilities (NJCLD), traz como definição para diminuindo ou mesmo sanando as dificuldades
os distúrbios de aprendizagem um conjunto de enfrentadas ao longo desse processo
transtornos que se manifestam a partir de (PINHEIRO, 2007).
problemas no desenvolvimento, podendo O neuropsicopedagogo precisa orientar o
aparecer a qualquer momento da vida. Os professor no desenvolvimento de atividades
distúrbios geralmente estão ligados a algum que se adequem aos estudantes. É preciso
caráter orgânico e neurológico, como fatores clareza e objetividade, principalmente para
genéticos, cerebrais e cognitivos (SISTO, 2007). aqueles que precisam de atenção especial,
Esses distúrbios podem ocorrer pois, sabe-se que muitos apresentam
acompanhados de danos físicos, intelectuais e distúrbios de aprendizagem, mas, que não
sensoriais, entre outras questões que podem foram diagnosticados ainda.
acarretar em um mau desempenho escolar. Sabe-se que os estudantes compreendem
Por isso, é tão importante a aplicação da determinado assunto quando são colocados
Neurociência para auxiliar esses estudantes. frente a situações que precisem da sua
Por meio da Neuropsicopedagogia os atuação, como escutar, ler, observar,
professores podem compreender melhor o comparar, classificar seja de forma concreta ou
desenvolvimento dos estudantes, a fim de abstrata. Para que eles aprendam é preciso que
superar possíveis limitações e melhorar a sua interação ocorra frente ao objeto de
forma com que devem ser estimulados. Esses conhecimento, por isso, considerar os aspectos
profissionais têm observado um aumento discutidos é essencial para contribuir com o
significativo de crianças e jovens em fase desenvolvimento da estrutura cognitiva dos
escolar que possuem dificuldades de estudantes (COSENZA e GUERRA, 2011).
aprendizagem, necessitando um trabalho Ou seja, conhecer os processos relacionados
conjunto entre o profissional, os professores e à aprendizagem, neste caso, é essencial para
a família melhorando a qualidade do processo desenvolver um bom trabalho em sala de aula
educacional (BOSSA, 2011). por meio de ações que promovam a
É preciso enfatizar que neste caso, segundo reorganização das sinapses e o funcionamento
a Neurociência, esse tipo de prática deve cerebral. Conhecendo o seu funcionamento é
instigar a memória de longo prazo, possível desenvolver diferentes estratégias
estimulando as sinapses, em detrimento da que provoquem a mobilização desses
memória de curto prazo que logo cai no estudantes quanto a aprendizagem (OLIVEIRA,
esquecimento. 2015).
Esse profissional pode trabalhar com Essa área é responsável por estudar o
diferentes ferramentas a fim de atingir seus funcionamento cerebral, suas ligações
objetivos como atividades, testes e avaliações neuronais e a plasticidade neural, promovendo
que podem contribuir com o diagnóstico, a compreensão desses fenômenos. Voltada

550
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para a Educação, é possível percorrer as Oferecer condições à participação no meio


capacidades relacionadas ao processo de social em que se vive; partir do que o aluno
ensino-aprendizagem, abrangendo aspectos dispõe e atender às suas necessidades para
como o respeito ao desenvolvimento humano, aprender pensando elaborando e decidindo;
a família, a sociedade e o contexto social no Avaliar possibilidades e dificuldades do
qual o estudante vive. aprendiz: o que compreende e o que não
compreende; habilidades e operações nas
CONTRIBUIÇÕES DA áreas de conhecimento; recursos que
propiciam organização e elaboração do
NEUROPSICOPEDAGOGIA ensinado; recursos para desenvolver
A Neuropsicopedagogia é um ramo da habilidades e operações; Fundamentar e
Psicologia que está voltada para a área da ilustrar a importância de: atender as
Educação, trazendo como objetivo principal necessidades e ensinar a partir do que o aluno
auxiliar os estudantes que apresentam conhece e tem possibilidades; oferecer
distúrbios de aprendizagem. Essa área busca condições para o aluno elaborar e decidir;
por respostas diretamente ligadas aos conflitos avaliar continuamente, propiciando ao aluno
de aprendizagem, utilizando técnicas que oportunidades de refazer atividades e
podem ser trabalhadas de forma individual e compreender o que e onde errou. Opor-se a:
em grupo, fazendo com que o estudante pseudo-escolarização; ausência de avaliação,
retome a vontade em aprender; e observando que elimina o elaborar, o aprender, o pensar;
quais são os fatores que podem contribuir ou promoção automática, que desrespeita o ser
não para o processo de ensino e aprendizagem humano e desacredita em seu potencial
(BOSSA, 2011). (MASINI e SHIRAHIGE, 2003, p. 5-6).
O desenvolvimento da Neurociência e de Piaget já discutia que os professores devem
outros campos trouxe contribuições criar situações em que os estudantes possam
importantes para a reforma educacional. A adquirir diferentes habilidades e habilidades,
plasticidade cerebral e as milhares de conexões sempre respeitando seu desenvolvimento
sinápticas que produzem memórias de curto e cognitivo, uma vez que o conhecimento é bem
longo prazo dependem de aprendizados recebido pelos mesmos se for uma extensão de
diferentes pelo qual o cérebro passa ao longo suas construções espontâneas. Existem
do tempo. Essas conexões cerebrais têm a diferentes tipos de aprendizagem que se
capacidade de aprimorar o aprendizado, correlacionam com uma ampla variedade de
expandir os processos cognitivos e alcançar atividades existentes (NUNES e SILVEIRA,
uma transformação e adaptação permanentes. 2015).
Em outras palavras, todas essas Na concepção de Piaget, a criança e o
contribuições são necessárias para entender adolescente são responsáveis pelo seu próprio
como o aprendizado acontece: conhecimento, cabendo ao professor respeitar
o seu desenvolvimento espontâneo e cada
tempo, individualmente. A aprendizagem deve

551
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ser vista como a lógica do seu raciocínio. Piaget eliminar possíveis problemas que os
valoriza a compreensão do processo de estudantes tenham e no que diz respeito ao
resolução de um determinado problema e não conhecimento, por meio de práticas educativas
os resultados obtidos, e por isso prioriza os que promovam o processo de humanização e
aspectos qualitativos da inteligência e a forma aquisição de habilidades de pensamento
como cada estudante dá sentido à realidade ao crítico.
seu redor (NUNES e SILVEIRA, 2015).
Ainda segundo os autores, já para Vygotsky,
a cultura tem um significado abrangente para a
formação da consciência humana e a
capacidade de aprender dos alunos. Para ele, o
estudante vai descobrindo o conteúdo
gradativamente, agregando suas experiências
culturais, hábitos, signos linguísticos e também
diferentes habilidades e habilidades de
raciocínio lógico nas mais diversas situações. A
aquisição do conhecimento é construída
socialmente em função das oportunidades
oferecidas em um determinado contexto
cultural e da intenção da atividade.
A criação do ramo da Neuropsicopedagogia
dentro da Psicologia serviu para compreender
os processos que envolvem esta e a Educação.
Assim, surgiram pesquisas experimentais
relacionadas à aprendizagem; o estudo e
medição das diferenças entre indivíduos e a
psicologia infantil:
Aprendizagem é o resultado da estimulação
do ambiente sobre o indivíduo já maturo, que
se expressa, diante de uma situação-problema,
sob a forma de uma mudança de
comportamento em função da experiência;
envolve os hábitos que formamos os aspectos
de nossa vida afetiva e a assimilação de valores
culturais, além dos fenômenos que ocorrem na
escola (JOSÉ e COELHO, 2006, s/p.).

Assim, o papel do neuropsicopedagogo


envolve ações para ajudar os professores a

552
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo teve por objetivo discutir as contribuições da Neurociência no
desenvolvimento educacional dos estudantes, bem como abordar as dificuldades apresentadas
no processo de ensino e aprendizagem, principalmente dos estudantes que não foram
diagnosticados até então.
Dentre outras questões, a função do neuropsicopedagogo é direcionar ações a fim de
auxiliar os professores a diminuir ou mesmo eliminar possíveis problemas que envolvem os
estudantes e o conhecimento, por meio de práticas educativas que favoreçam os processos de
humanização e de apropriação da capacidade de pensamento crítico.
Alguns professores acreditam que esse profissional tem obrigação de solucionar todos os
problemas existentes na escola como as dificuldades de aprendizagem, a indisciplina, o
desestímulo da equipe docente, entre outras questões, mas, isso não é possível.
Isso porque deve-se ficar claro que esse profissional não possui soluções ou respostas
prontas, mas traz ideias, percepções e avalia, a fim de auxiliar o trabalho docente, principalmente
em se tratando de estudantes que não foram diagnosticados ainda, já que escolhas erradas fazem
com que a aprendizagem desse estudante fique prejudicada.
Assim, um trabalho em conjunto, onde ocorra a parceria de todos os membros da escola:
gestão, professores, família, comunidade e estudantes é fundamental para contribuir para a
aprendizagem, trazendo melhores resultados e autonomia para os estudantes.

553
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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554
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AS RELAÇÕES DAS EMPRESAS DE


ECOTURISMO COM A SUSTENTABILIDADE EM
MARACAJAÚ
Beatriz Silva do Nascimento1
Sabrina Emilly Chaves Elcias2
Luiza Maria Fontes Cortez3
Maria da Glória Fernandes do Nascimento Albino4

RESUMO: O Rio Grande do Norte tem sido uma região turística bastante procurada no Brasil por
sua beleza natural e vultosas praias em um litoral com mais de 400 Km. Por ser responsável por
uma das principais receitas do estado, as práticas turísticas preservacionistas são necessárias
para a manutenção da atividade sem riscos de provocar prejuízos ambientais frequentes que
impossibilitem a sua manutenção. Na perspectiva de empreender uma aproximação da
problemática que envolve a sobrevivência dos Parrachos na região de Maracajaú sob pressão
contínua do turismo, o presente artigo, visa analisar de forma qualitativa, a promoção das
atividades turísticas veiculadas na internet, em relação aos serviços oferecidos pelas empresas
que atuam na região. Os dados foram coletados por meio de consultas aos sites das empresas
que realizam atividades turísticas na praia de Maracajaú, a partir dos comentários realizados

1 Aluna do Ensino Médio Integrado – Técnico em Controle Ambiental na Rede Federal de Ensino.
Graduação: Ensino Médio.
2Aluna do Ensino Médio Integrado – Técnico em Controle Ambiental na Rede Federal de Ensino.

Graduação: Ensino Médio.


3 Aluna do Ensino Médio Integrado – Técnico em Controle Ambiental na Rede Federal de Ensino.

Graduação: Ensino Médio.


4 Professora de Biologia na Rede Federal de Ensino.

Graduação: Doutora em Educação.

555
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pelos turistas nas plataformas digitais. A análise se baseou nas prerrogativas do ecoturismo de
acordo com os documentos oficiais brasileiros, por exemplo as Diretrizes para Políticas Nacionais,
demonstrando que frente ao turismo praticado pelas empresas, mesmo aquela que autodeclara
praticar ecoturismo, é repleta de lacunas informacionais e estruturais acerca das práticas
sustentáveis nas quais se ampara o ecoturismo. Os resultados indicam a necessidade de trabalhos
que relacionem a manutenção das atividades turísticas realizadas na região e a sobrevivência
desse ambiente.

Palavras-Chave: Turismo; Ecoturismo; Educação ambiental.

THE RELATIONSHIPS OF ECOTOURISM COMPANIES


WITH SUSTAINABILITY IN MARACAJAÚ
ABSTRACT: Rio Grande do Norte has been a popular tourist region in Brazil for its natural beauty
and vast beaches on a coastline of more than 400 km. As it is responsible for one of the main
revenues of the state, preservationist tourist practices are necessary for the maintenance of the
activity without risks of causing frequent environmental damages that make its maintenance
impossible. In the perspective of undertaking an approach to the problem that involves the
survival of Parrachos in the region of Maracajaú under continuous pressure from tourism, this
article aims to qualitatively analyze the promotion of tourist activities broadcast on the internet,
in relation to the services offered by companies that operate in the region. Data were collected
through consultations on the websites of companies that carry out tourist activities on Maracajaú
beach, based on comments made by tourists on digital platforms. The analysis was based on the
prerogatives of ecotourism according to official Brazilian documents, for example the Guidelines
for National Policies, demonstrating that in the face of tourism practiced by companies, even
those that self-declare as practicing ecotourism, are full of informational and structural gaps
about the practices sustainable developments on which ecotourism is based. The results indicate
the need for works that relate the maintenance of tourist activities carried out in the region and
the survival of this environment.

Keywords: Tourism; Ecotourism; Environmental education.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO visa conciliar o desenvolvimento com


sustentabilidade” (BEZERRA, G. S. 2010, p.8
As atividades turísticas nas regiões apud FROESE, V. F. 2009).
litorâneas, desde sua origem, foram Segundo as Diretrizes para uma Política
estabelecidas tendo em vista os aspectos Nacional de Ecoturismo (1994), essas
econômicos e paisagísticos. O homem atividades ganharam representatividade a
contemporâneo, no intuito de conseguir o partir do ano de 1980, justamente no período
descanso e o lazer, buscou usufruir de espaços após a criação do IBAMA (Instituto Brasileiro do
desvinculados do cotidiano, gerando assim, Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
uma visibilidade em certas localidades que Renováveis), por meio da promulgação da Lei
ganharam destaque por proporcionar o que de n° 7735 de 22 de fevereiro de 1989. A
tantos procuravam — atividades prazerosas. parceria entre o IBAMA e a EMBRATUR
Segundo Medeiros & Morais (2013), quando a (Agência Brasileira de Promoção Internacional
atividade turística é realizada em ambientes do Turismo), permitiu a organização
naturais, é preciso elaborar planos e projetos sistemática e a administração das práticas que
com muita cautela, organização e em um estavam sendo originadas para a utilização dos
âmbito multidisciplinar. Para os autores, vale recursos naturais da melhor forma possível.
ressaltar o acompanhamento em relação às leis Na esteira das atividades turísticas em áreas
ambientais para construir um planejamento naturais, o Rio Grande do Norte tem sido uma
viável que visa à obtenção de um região bastante procurada no Brasil por possuir
desenvolvimento sustentável. Toda essa vasta beleza natural e vultosas praias. O que
preocupação se justifica à medida que, a provoca a necessidade de práticas turísticas
história prova que as relações homem e preservacionistas que possam, então, manter a
natureza quando não são bem dirigidas, atividade sem riscos de provocar prejuízos
provocam uma massiva exploração e ambientais que impossibilitem a sua
devastação, muitas vezes realizadas em nome manutenção. Para tanto, é preciso, cada vez
do turismo. mais, a adesão de empresas a esse novo
Uma maneira de utilização do meio natural discernimento – o ecoturismo.
para o lazer sem provocar destruição Na proposição de um turismo voltado às
ambiental é o ecoturismo, que surge como belezas do litoral norteriograndense, observa-
uma possibilidade para as atividades turísticas se a intensificação das atividades turísticas em
realizadas em ambientes naturais. De acordo toda extensão da área Maracajaú no município
com Sachs apud Camargo, F.C. & Coelho. S.C.A de Maxaranguape a 41,3 km da capital do
(2021), em cada planejamento particular deve estado do RN que faz parte da Área de
ser levado em consideração as dimensões de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais –
sustentabilidade, sendo elas a social, APARC (IDEMA, 2022). Essa região, segundo
econômica, ecológica, espacial e cultural. “Esse plano de manejo do IDEMA para a área, tem
padrão de turismo nasce de um momento de uma grande importância econômica e social
reflexão da sociedade contemporânea, que para a região, que depende diretamente dos

557
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

recursos fornecidos pelos ecossistemas recifais na internet, em relação aos serviços oferecidos
(pesca) e apresenta um grande potencial pelas empresas que atuam na região de
turístico para a visitação dos recifes de corais Maracajaú por meio dos comentários deixados
por meio de lanchas e catamarãs. pelos turistas que realizaram o passeio.
Vale destacar que os ambientes
denominados parrachos vem sendo tema de TURISMO
muitos trabalhos devido às ocorrências de
Por meio dos avanços nas civilizações, ao
branqueamento, provocado por poluição e
longo do tempo, a história é marcada pelos
aumento da temperatura do mar.
deslocamentos de indivíduos levados pela
Adentrando na esfera das atividades
necessidade de colonizar novas terras e pelas
desenvolvidas nessas localidades consultamos,
relações comerciais. Em um dado momento da
os documentos oficiais produzidos pelo IDEMA
antiguidade houve a curiosidade em desbravar
para o manejo da área (IDEMA,2022) e autores
novos horizontes, com outros intuitos,
como, Silva (2009) e Oliveira (2007), que em
começando assim as grandes jornadas das
seus estudos já explicitavam os impactos das
viagens de lazer. Na Idade Antiga, a China e o
práticas turísticas sobre os animais em
Egito, realizavam viagens de prazer, de
ambientes naturais. Essa preocupação,
aventura ou de descanso que eram comuns
elucidada na primeira década do século,
entre os reis, faraós e seus cortesãos (SILVA, O.
evidencia a importância de investigações
V. & KEMP, S. R. A. 2008). Nas Civilizações
acerca das atuações das empresas na área de
Clássicas, esse acontecimento também possuía
Maracajaú. Muitos questionamentos
representatividade e diante das famílias com
necessitam ser feitos e respondidos, dentre
alto poder aquisitivo, estava a alcance essa
eles: qual a denominação das atividades
dinâmica de viajar para outras regiões com a
praticadas na localidade: turismo ou
finalidade de se divertir em seu tempo livre.
ecoturismo? A divulgação para realização de
O turismo que conhecemos atualmente
sua atividade apresenta alguma preocupação surgiu a partir da 1° revolução industrial no
com o ambiente e qual a importância da século XIX. Todavia, seus primeiros indícios
preservação desse ecossistema? As empresas começaram em séculos anteriores, como o
que estão em atividade na localidade denominado Grand Tour15 na região da Itália,
1

demonstram de alguma forma que suas nos anos de 1613. Baseava-se em uma
atividades turísticas são baseadas no contato programação fundamentada nos movimentos
com a natureza de forma sustentável? de espírito iluminista, grandes passeios que
Esses questionamentos são a base para a contribuíram para o desenvolvimento e
produção do presente artigo, que tem como conhecimento, trazendo consigo
objetivo analisar de forma qualitativa a transformações em relação aos contrastes e
promoção das atividades turísticas veiculadas assimetrias da Europa (BATISTA, J. 2021). As

5GrandTour: Possuía o significado de “volta ao mundo


conhecido”. Denominado na sociedade da época como
uma “viagem de estudo”.

558
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

viagens eram motivadas pela busca por cultura ECOTURISMO


no entorno, direcionada a um público com Na década de 1960, discussões sobre
elevado status social. políticas ambientais começaram a ser
No Brasil, o protótipo do turismo desenvolvidas, visto que a natureza passava a
evidenciado na década de 1950 foi realçado ser destruída em prol do progresso econômico.
nos anos de 1970, quando começou a ganhar Ao que parece, a criação do excedente, ou seja,
maior visibilidade. Evidentemente, a sua ter mais do que se é necessário para viver, fez
relevância só lhe foi atribuída por possuir com que o homem pensasse que dominava a
direcionamentos às dimensões econômicas. natureza, prevalecendo o ter sobre o ser
Restringindo, portanto, o turismo a (SILVA, C. B. 2009, p 15).
simplesmente uma movimentação de capitais; Muitas das discussões relacionadas à áreas
o que de acordo com Tatiana Roberta de Souza litorâneas, visavam a criação de áreas de
(2010) seria a “indústria do turismo”, ou seja, proteções ambientais, (APA) as quais seriam
os exíguos negócios turísticos. Nota-se que, substanciais para as populações marinhas
apesar de funcionar como uma atividade de nativas (SILVA, G. C. 2014). Segundo Silva, C. B.
lazer, as atividades turísticas foram delimitadas (2009), a criação desses primeiros parques de
somente como algo a ser vendido e até mesmo proteção possuía o objetivo de evitar que as
uma mercadoria a ser consumida, buscando ações do homem interferissem no meio
propiciar a prosperidade de um mercado. ambiente, todavia com o passar do tempo, esse
Nessa perspectiva, Pereiro & Fernandes (2018), projeto de banimento trouxe consigo
definem o turismo como: preocupações relativas ao afastamento do
O movimento provisório de pessoas, por homem da natureza. As unidades de
períodos inferiores a um ano, para destinos conservação, instituídas pela Lei n. 9.985/00,
fora do lugar de residência e de trabalho, as trazem consigo a oportunidade de
atividades empreendidas durante a estada e as aproximação entre a natureza e o ser humano,
facilidades criadas para satisfazer as favorecendo assim o desenvolvimento de uma
necessidades dos turistas (MATHIESON e percepção de pertencimento ao meio natural.
WALL, 1982, apud, PEREIRO & FERNANDES, Sendo uma boa alternativa, o ecoturismo
2018). surge como um modo de beneficiar a natureza,
Seguindo essa lógica proposta por Pereiro & o visitante e a comunidade humana local, além
Fernandes (2018), fica claro o viés de que de ser uma opção efetiva que busca sensibilizar
muitas designações sobre as atividades sobre a importância de se preservar a
turísticas ainda compreendem somente uma geobiodiversidade (PEDRINI, et al. 2010, apud,
perspectiva econômica e de lazer que FILGUEIRA-DA-SILVA, et al., 2020).
raramente prioriza o cuidado com o ambiente O ecoturismo assenta-se no tripé:
e a educação ambiental. interpretação, conservação e sustentabilidade
(MTUR, 2008). No qual reporta-se a
compreensão das relações existentes com a
natureza, o comprometimento com a mesma e
o exercício da educação ambiental. Tem como
objetivo o baixo impacto ambiental, que se

559
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

caracteriza por assegurar a sustentabilidade conceito sociológico de ética, multifacetado


econômica e ecológica (MENDONÇA; NEIMAN, sobre o viés político e social, unindo em suas
2002, apud, FILGUEIRA-DA-SILVA, et al, 2020, p diretrizes conotações de racionalidade, valores
11). É considerado um segmento das atividades morais, práticas de sustentabilidade, justiça e
turísticas, porém com o diferencial de buscar conservação, ou seja, a ética ambiental surge
medidas paliativas para a sua esfera atual, como a união entre a sustentabilidade, o
entretanto, é caracterizado por ser de massa, cuidado com meio ambiente e o corpo social.
ou até mesmo como o turismo de sol e praia, Segundo Carneiro (2015), seguindo a linha de
onde um grande número de pessoas visita ao raciocínio weberiana, para construir e instituir
mesmo tempo, uma área relativamente fixamente a teoria e a prática para a ética, é
pequena (BUTLER, 2006, apud, CALADO J. F, imprescindível a consolidação de bases sólidas
2018, p 20). Nesse sentido, “é contraditório à na sociedade visando uma gradativa
concepção em que o prefixo eco está sendo recolonização mental, ou seja, uma nova
utilizado como um selo de comprometimento estruturação cultural, intelectual e coletiva,
com as causas ambientais, com o sentido oposta aos ideais capitalistas, consumistas e de
moralizante, fugindo, às vezes, do real fetichização do ambiente e seus subprodutos.
compromisso e sentido do conceito,” (SILVA, C. [...] O homem centrado no tudo ou no
B. 2009, p. 19) planeta como sua morada, permite o
surgimento de uma ética que estuda também
ÉTICA SUSTENTÁVEL o comportamento do homem em relação à
natureza global; com ela o ser humano passa a
Ética, palavra de origem grega Ethos, cuja
entender melhor sua atuação e
etimologia remete à “modo de ser” e
responsabilidade para com os demais seres
“costume”, adveio como ciência da moral e
vivos. [...] (RIBEIRO, A. S., apud, PEREIRA, P. H.
seus estudos fundamentam-se nos
S., 2006).
comportamentos humanos dentro de uma
comunidade (AGNOL, 2014). Segundo BOFF Logo, por possuir esse caráter constituído de
(1999), essa palavra de origem grega, também hábitos e costumes, os quais são moldados e
possui como variação original, o conceito de vivenciados pela sociedade, possui semelhança
“toca do animal” ou “casa humana” que nada com a lei: o de constituir esse princípio de
mais é, que um espaço delimitado em que o serem seguidas ordenadamente e de visarem
homem usufrui e preserva-o para habitar. A uma vivência justa, pacífica e cordial (SCAIN, E.
partir dessa percepção, evidencia-se que essa 2014). Nesse contexto, a legislação de número
morada a qual o autor se refere, não trata 225 da constituição Federal de 1988, urge a
apenas de um estado ou país, mas sim da casa necessidade de formalizar a ideia de que todos
humana comum – a Terra -, em que todos possuem o direito de apropinquar-se6 desse1

devem preservá-la para poderem beneficiar-se meio ambiente e também do imprescindível


da mesma. dever de resguardá-lo eticamente. Visto que, o
ambiente é um direito de todos e deve ser
Nesse entendimento, o conceito de Ética
preservado.
ambiental emerge heterogeneamente ao

6
Apropinquar-se: Tornar próximo.

560
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL promoção de uma conscientização ambiental.


A palavra educação provém da palavra Segundo Neves (2015), às práticas da educação
educar, originada do latim na qual refere-se ao ambiental informal podem ir fomentando uma
ensino e instrução (BARBOSA-LIMA, M. C., et participação mais ativa da população,
al., 2006, p. 236), que em significado mais tornando-a corresponsável na fiscalização e no
simplório, trata-se do educar alguém sobre controle dos agentes de degradação
algo. No contexto ambiental para Celso ambiental. Nesse caso, os guias têm a
Marcatto (2002), a educação diz respeito a uma possibilidade de atingir um público amplo e
das ferramentas existentes para a diverso, quando instruem turistas e os próprios
sensibilização e capacitação da população em moradores da região.
geral sobre os problemas ambientais. Para o Visto que de acordo com o Ministério do
autor, essa sensibilização é um processo de Turismo, cabe ao guia turístico propiciar o
formação dinâmico, permanente e sucesso das relações turista-visitante tanto
participativo. No entanto, a construção de uma entre as pessoas, quanto com o local visitado,
sociedade comprometida com a auxiliando na comunicação, na transmissão de
sustentabilidade, em todas as esferas parece informação e na criação de um ambiente
ser algo utópico mediante as revoluções propício ao sucesso experiencial e de proteção
industriais ocorridas. ao local de visita.
Por conseguinte, pautas sobre educação
ambiental surgem em defesa da sociedade e do PARRACHOS DE MARACAJAÚ
meio ambiente. Onde as pessoas envolvidas A região de Maracajaú é localizada no
passam a ser agentes transformadores, município de Maxaranguape, no Rio Grande do
participando ativamente da busca de Norte (Figuras 1 e 2).
alternativas para a redução de impactos
ambientais e para o controle social do uso dos Fig. 1 Localização da Área de Proteção Ambiental
recursos naturais (MARCATTO C. 2002, p. 14). dos Recifes de Corais71
Essa didática pode ser dividida em dois
públicos alvos, por meio da: educação formal,
direcionada a estudantes presentes em
ambientes acadêmicos como escolas e
universidades, e educação informal, que seria
voltado aqueles que compõem o corpo social
em suas diversas ramificações, incluindo aí as
atividades turísticas.
Nessa perspectiva, os guias turísticos podem
ser considerados atores com papel crucial na

7
Fonte: QUEIROZ, Eduardo Vitarelli de. Seleção de um <https://docplayer.com.br/58321421-Caracterizacao-
projeto de pesquisa. In: Eduardo Vitarelli. Caracterização dos-sedimentos-superficiais-de-fundo-do-complexo-
dos Sedimentos Superficiais de Fundo do Complexo recifal-de-maracajau-rn-brasil.htmll>.Data de Acesso:
Recifal de Maracajaú. Rio Grande do Norte: Eduardo 20/07/2022.
Vitarelli, 2008, p. 21. Disponível em:

561
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Fig. 2 (A) Mapa da costa do Rio Grande do Norte com Na cidade de Maracajaú- RN, as visitações
destaque para a APARC. turísticas demonstram proeminência
(B) Complexo recifal de Maracajaú com diferentes
tipos de fundo e Área de Uso Turístico Intensivo8
1
significativa quando se refere ao
desenvolvimento local. Sua desenvoltura
coadjuva substancialmente na geração de
empregos, consciência ambiental e lucro
(BUCKLEY; UVINHA, 2011, apud, MAGALHÃES,
BRUNO de MEDEIROS, 2015). Contudo, essa
desenvoltura turística alavancada pelos
passeios aos parrachos, tem potencializado
diversas atitudes antrópicas que tributam para
a degradação e a geração de consequências ao
Segundo o IBGE (2020), a sua extensão é de meio ambiente: seja pela conturbação da
cerca de 132,129 km², com uma população biocenose, por meio de toque, alimentação
estimada em 12.714 habitantes (IBGE, 2021). inadequada e maus tratos aos seres do
Uma curiosidade histórica, refere-se à origem ambiente aquático ou pela ressuspensão de
indígena do seu nome, o qual significa “lugar sedimentos, tráfego, ancoragem de
onde o gato maracajá bebe água” (VIANA, embarcações, poluição da água com resíduos
Gilvan (2014). Entre suas características - além como tinta, óleo de motor e até protetor solar
dos parrachos- suas belezas naturais abrangem (AUGUSTOWSKI & FRANCINE JR, 2002; LAMB,
dunas, águas cristalinas e uma diversidade de et al., 2014; DOWNS, et al., 2015; GIGLIO, et al.,
peixes (figura 3). 2017, apud, CALADO, 2018). Tais
Fig. 3 Plataforma flutuante no mar de Maracajaú consequências ainda podem gerar alterações
20199
2
nos padrões das comunidades recifais (ORAMS,
2002; PEDRINI, et al., 2007; DANOVARO, et al.,
2008, apud, CALADO, 2018). Sendo assim,
observa-se o afloramento de diferentes
estudos, nos quais, se diligenciam a mensurar
os impactos causados e como reduzi-los.
Essa comunidade recifal faz parte da Área de
Proteção Ambiental Estadual dos Recifes de
Corais (APARC), que corresponde à região
marinha que contempla a faixa costeira dos

8 Fonte: SOUZA, Izabel Maria Matos de. Avaliação da Rio Grande do Norte: Michele e Célio via instagram,
cobertura e branqueamento de corais nos recifes de 2019. Disponível em:
Maracajaú/RN. 2012. 62 f. Dissertação (Mestrado em <https://bagagemparadois.com.br/parrachos-maracajau-
Bioecologia Aquática) - Universidade Federal do Rio natal-rn/>. Data de Acesso: 20/07/2022.
Grande do Norte, Natal, 2012.
9
Fonte: PLATAFORMA Flutuante no Mar de Maracajaú.
Maracajaú, o paraíso pertinho de Natal- RN.

562
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Municípios de Maxaranguape, Touros e Rio do drasticamente a temperatura do ambiente


Fogo. Foi originada no estado em 2001, aquático e os corais, por sua vez, respondem à
possuindo como alguns de seus desígnios: a situação de estresse a qual estão sendo
implementação e efetivação das práticas de submetidos. Esses acontecimentos, ao longo
preservação dos recifes coralíneos, do tempo, fizeram com que a sociedade se
conservação da integridade do habitat e debruçasse sobre a problemática pela qual está
coordenação das atividades econômicas de estritamente ligada. A partir disso, segundo
pescaria e turismo que se sucedem na região Silva (2009), os indivíduos precisam saber e
(IDEMA, 2012). Nessa área de plataformas conhecer principalmente a respeito da “real
rasas, situadas na porção nordeste do estado dimensão das variáveis ambientais e seus
do RN, encontram-se várias linhas de recifes, efeitos sobre o ambiente como um todo”.
desde arenitos de praia até recifes profundos
(FEITOSA, et al, 2002, apud, FERREIRA & MATERIAL E MÉTODOS
MAIDA, 2006, p. 38). As dimensões da parte
Para a elaboração dessa pesquisa foi usado
costeira apresenta 9 Km de comprimento por 2
o método qualitativo, que para Ghedin &
Km de largura, o crescimento coralíneo-algal se
Franco (2011), permite a compreensão do
desenvolve sobre uma base arenítica, cuja
cotidiano como possibilidade de vivências
principal espécie de coral construtora é
únicas, impregnadas de sentido, realçando a
Siderastrea Stellata (FERREIRA & MAIDA, apud,
esfera do intersubjetivo, da interação e da
CALADO, J.F. 2018). Contudo, apesar de seu
comunicação. Os materiais utilizados foram
caráter substancial para o controle e cuidado
obtidos exclusivamente na internet, ou seja,
acerca da fauna e flora, a mesma foi somente
digitalmente. Isso devido a situação que então
implementada no estado devido ao decreto de
vivenciávamos em 2021, situação de pandemia
nº 15.476 de 6 de junho 2001 (Rio Grande do
da COVID-19.
Norte, 2001), que apresentou como tese
O estudo foi dividido em três etapas inter
medidas para efetivação de práticas e
consecutivas, o que auxiliou a compreensão de
instituições ambientais. Evitando assim, a
forma abrangente do objeto de estudo. A
utilização inadequada de tais recifes.
primeira etapa se relacionou ao levantamento
A região também enfrenta ameaças, assim
de informações e pesquisas, para a obtenção
como as outras partes do globo que possuem
de dados significativos, objetivando a melhor
recifes de corais, a partir dos eventos de
percepção do fenômeno em seu contexto.
branqueamento. Considerando que o planeta é
Foram usados na pesquisa artigos, revistas e
composto por 97% de água salgada, a partir do
documentos específicos em bases científicas
momento em que o oceano começa a adoecer,
como Scopus e Google Scholar. Realizamos
a vida marinha e o planeta deixam de ser
assim uma divisão dos assuntos em tópicos e
saudáveis e entram em colapso, visto que, tudo
seleção das informações mais pertinentes para
é completamente interligado. As águas dos
a elaboração desse trabalho, buscando denotar
oceanos conseguem reter grande parcela de
elementos importantes para a compressão e a
calor, absorvido ao ponto de aumentar
relevância de tal temática.

563
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Na segunda etapa, por conseguinte, uma atividade turista que tem como objeto de
procuramos em bases convencionais como o trabalho o contato com espaços de
Youtube, blogs e websites, informações a preservação ambiental.
respeito das agências de turismo da região de
Maracajaú. Com o auxílio dessas fontes Tabela 1
midiáticas nesse processo inicial buscamos Método Estabelecidos para a Busca de Informações
observar a presença de elementos que sobre as Empresas
1° Critério Compromisso com a sustentabilidade
descrevessem uma preocupação com o
descritos em seus
ambiente marinho nos portais das empresas. O websites;
objetivo principal era encontra o 2° Critério Incentivo a educação ambiental
protagonismo, a missão e os valores de cada aparente em suas publicações midiáticas;
uma delas. Em meio as dúvidas referentes a 3° Critério Princípios em concordância com a
efetivação na prestação dos serviços APARC;
consultamos sites direcionados a avaliação dos 4° Critério Consulta de avaliações, principalmente
na forma de comentários observando as
turistas. Além disso, mediante as páginas
características/ descrição das atividades
dedicadas a cada uma das empresas, e suas desenvolvidas;
respectivas ponderações, na barra de pesquisa
foram utilizadas palavras-chave como turismo,
ecoturismo, Maracajaú, parrachos,
sustentabilidade e educação ambiental, com o RESULTADOS E DISCUSSÕES
intuito de verificar comentários sobre esses Os resultados obtidos pela coleta realizada
eixos temáticos. Como também, no mesmo em sites, documentos oficiais e redes sociais,
espaço consultamos as descrições de originou discussões que foram organizadas de
satisfação divididas em: excelente, muito bom, forma objetiva, sem mencionar os nomes ou o
razoável, ruim e horrível. Os critérios pré- CNPJ das empresas a fim de preservar os
estabelecidos para a busca era analisar o nomes das agências que atuam na região de
causo10 apresentado no comentário e como o
1
Maracajaú e que utilizam como divulgação dos
mesmo poderia ser classificada dentro de um seus serviços na internet.
caráter aplausível ou inaceitável segundo o O processo de instauração empresarial na
plano de manejo desses ambientes. área teve seu início no ano de 1994,
A terceira etapa foi direcionada à transpassando por uma série de desafios, uma
organização do roteiro da pesquisa, análise dos vez que a localidade era de difícil acesso por
dados coletados referentes as avaliações que não ter infraestrutura urbana. Suas principais
não condiz com os princípios da cartilha das atrações eram os recifes coralíneos e as
empresas e da APARC. Utilizávamos como práticas de turismo náutico e subaquático. A
critério de busca relatos que apresentassem as primeira empresa estabelecida na região,
maneiras com as quais foram infringidas, ou apresenta até os dias atuais, segundo
seja, transgredida e desrespeitas, as normas de informações em seu site, o conceito de que sua

10
Causo: Relato curto de um acontecimento.

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missão é de ser uma referência na qualidade e na região, limitando e estabelecendo


na excelência dos serviços prestados ao cliente, atividades turísticas, assim como possibilitando
pautado pela ética na relação com uma maior visibilidade para o ambiente. Dessa
colaboradores, parceiros e no uso sustentável maneira, fica evidente que, ao menos
dos recursos naturais. Tendo participado do inicialmente, essas empresas afirmaram
mapeamento da área dos parrachos para a comprometer-se com os cuidados referentes à
criação da unidade de conservação nos anos de preservação e manutenção do ecossistema
2000 e 2001, conjuntamente com a marinho e dos ambientes recifais.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, A terceira empresa a exercer atividades na
vinculada ao Instituto de Defesa do Meio região afirma haver um compromisso íntegro
Ambiente (IDEMA). tanto com a ética, em suas relações entre
Uma outra empresa de turismo, que já clientes, fornecedores e colaboradores, quanto
estava presente no mercado desde 1993, em com a sustentabilidade local.
2019 passou a atender mais de 200 empresas Consultando a opinião dos turistas por meio
entre hotéis, pousadas, restaurantes e de sites virtuais, é notória uma boa avaliação
agências. Seu compromisso, segundo informa das atividades ali desenvolvidas. Todavia,
o site, desde os primórdios é trabalhar com os existem particularidades relacionadas ao
sonhos dos turistas, propiciando os melhores compromisso com a unidade de conservação
passeios turísticos e exercendo o compromisso presente, uma vez que relativizam os cuidados
de encantar os clientes tanto com a cultura e o debate sobre a sua importância.
regional, quanto com suas belezas naturais. Encontram-se muitos comentários que
Algo relevante dentre sua atuação no mercado revelam adversidades dos seus catálogos
foi a busca de contribuir, teoricamente, com empresariais disponíveis nos sites. Expressos
um turismo sustentável para a região de na contrariedade apresentada nas propostas
Maracajaú e para o município de de sustentabilidade e qualidade de serviço
Maxaranguape, preceituando, uma taxa de expostas no site, e as retratadas pelos
manutenção ambiental que é supostamente visitantes. Como também, relacionados a falta
direcionada para a preservação local, em que de desenvoltura no requisito da educação
varia de uma média de R $2,50 por pessoa. ambiental direcionada aos turistas e aos
Outras contribuições com o decorrer do prestadores de serviços turísticos. Dentre eles,
tempo, foram o surgimento de diferentes diversas são as avaliações relevantes sobre as
atividades acrescidas pela empresa, agências estabelecidas na região, sendo
incrementando-as com passeios de buggy e encontrados comentários referentes ao
van, oferecendo em seu catálogos passeios de descuido com o próprio ambiente marinho e a
quadriciclo e mergulho livre ou com cilindro. segurança dos turistas referentes a todas as
Concomitantemente, com a aparecimento empresas.
dessas empresas, foi estabelecida a Área de
Proteção Ambiental dos Recifes de Corais
(APARC), propiciando mudanças significativas

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Tabela 2
Avaliações relevantes Em determinada empresa, as reclamações
Comentário 1 dos clientes expressam somente uma
Lá superou minhas expectativas e é insatisfação com o serviço oferecido, mas pode
perfeito, uma vista maravilhosa,
ser um indício de que a empresa não pratica a
profissionais muito legais. O único
problema é a falta de banheiro no local atividade turística em consonância com a
em alto mar (SALUSTIANO, R. Via preocupação conservacionista. Ela declara que
TripAdvisor, 2019) seus principais serviços se consagram como de
Comentário 2 Transporte de lancha foi muito “turismo de aventura e ecológico”, mas não
perigoso. Passageiros sem coletes,
apesar de ter na lancha, pois havia
especifica a promoção de uma perspectiva
pressa de chegar e não foram sustentável.
distribuídos. Somente quem exigiu Alguns visitantes mencionam a
recebeu. Velocidade excessiva possibilidade, de uma experiência pessoal de
causando medo na maioria dos
passageiros. Molhou todo mundo de
ter um contato mais profundo com a vida
tanta água que voava a cada batida da aquática, onde muitos turistas optam pelo
lancha na água. Mesmo com contato direto com esses animais e os
reclamações sobre velocidade o alimentam (OLIVEIRA, DANILO G. R. de, 2007).
condutor não reduziu o ritmo. A praia
No entanto, a problemática se evidencia, ao
de Maracajaú é linda. A estrutura de
recepção é muito bonita e agradável. observar que afim de obter mais alimentos dos
Mas o passeio atrasou em 1h e 30 min visitantes, muitos seres vivos aquáticos findam
do combinado e a questão do translado adquirindo comportamentos agressivos em
da lancha até os corais fazem com que
busca dessa comida (ORAMS, 2002, apud,
não recomende esse passeio a
cardíacos, pessoas com medo de lancha OLIVEIRA, DANILO G. R. de, 2007). Ainda nessa
e com crianças pequenas (BIBIANA, B. perspectiva, tal prática mencionada foi
Via TripAdvisor, 2020) constatada ter sido realizada pela visitante Lelê
Comentário 3 O *** juntou dois barcos cada um com a Bordo, entrevistadora teen da Band no mês
dezenas de pessoas que se encontraram
no local de mergulho, ficando de setembro de 2020, em que indica ter
impossível estarmos à vontade para nutrido os peixes nesse território turístico,
mergulhar. Quase não tínhamos espaço onde a atitude não é a mais adequada se vista
pra ficar de tanta gente que estava no na ótica sustentável.
mar (SANTOS, W. via TripAdvisor, 2020)
Por meio de análise e interpretação,
Comentário 4 [...] A única coisa que não gostei, é que
a lesma do mar é levemente encontramos contrariedade entre a
pressionada para soltar tinta para expectativa e a realidade das atividades
aparecer nas fotos, (assim como o polvo desenvolvidas nos parrachos. Foi possível
faz), e ela solta como mecanismo de
identificar que as empresas parecem não
defesa. Apesar de o animal não ser
machucado, é um estresse para ele. estarem preocupadas efetivamente com o
Acredito que essa ação deveria ser ambiente ou não estão cientes das
repensada (RIBEIRO, N. Via TripAdvisor, regulamentações quanto ao turismo realizado
2021)
em suas respectivas unidades de conservação.

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A denominação da atividade realizada como


sendo turismo e não turismo ecológico ou
ecoturismo e o fato de não ter sido encontrado
nos sites de divulgação informações
pertinentes sobre o protagonista das
atividades turísticas desenvolvidas — os
parrachos —, podem ser indícios de uma
atividade realizada sem a preocupação
conservacionista. Essa aparente
despreocupação com as práticas realizadas
indica que o foco principal é realizar uma
atividade midiática, que pode afetar
diretamente a fauna da região, ao atrair os
peixes com petiscos na busca de um
enquadramento forçado em fotos.
A continuidade do processo assim realizado
a longo prazo pode afetar, e até danificar de
forma irreversível os recifes com as tribulações
causadas pelo fluxo intenso de pessoas e pela
capacidade reduzida nos transportes, exigindo
assim uma locomoção excessiva sobre as
águas. Tendo em vista somente a dimensão
econômica e esquecendo a dimensão
ambiental, buscam agilizar ao máximo esse
percurso, sem mensurar os impactos que
podem acarretar à esfera marinha.

567
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O turismo realizado na região costeira do Rio Grande do Norte gera impactos sobre a
economia local. Destarte, a manutenção de um turismo alijado da perspectiva conservacionista
pode gerar alguns aspectos negativos como mudanças irreversíveis no ambiente natural que
inviabilizem a continuidade dessa prática que entremeia ambiente, economia e lazer. Nesse
sentido, torna- se necessário a conciliação entre a sustentabilidade com o desenvolvimento
econômico. Para tanto, as empresas de turismo devem contribuir para a manutenção das
unidades de conservação e para a formação de uma consciência sustentável em relação ao
ambiente, dando destaque à prática promotoras de educação e sustentabilidade. Nesse sentido,
os momentos de atividades relacionadas, no caso específico aos Parrachos, devem ser planejados
consoante a visão ecoturística, seguindo os princípios da educação ambiental e valorizando a
cultura local para que seja possível ocorrer a diminuição dos impactos negativos da atividade. A
pesquisa deixou como legado mais questionamentos e a proposição de continuidade do trabalho.
Perguntas como: A degradação tem preço? É válido em termo de sustentabilidade, que o turista
“pague” para hipoteticamente recuperar os danos provocados por ele? Existe educação
ambiental direcionada aos turistas? Essas e outras inquietações são inquirições possíveis e
merecem ser investigadas mais a fundo. Conclui-se, portanto, que, frente ao turismo praticado
pelas empresas, mesmo aquela que autodeclara praticar ecoturismo, é repleto de lacunas
informacionais e estruturais acerca das práticas sustentáveis nas quais se ampara o ecoturismo.

568
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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571
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO E SUA FUNCIONALIDADE NO
DIA A DIA ESCOLAR
Udemia Luiz Silva de Carvalho1

RESUMO: O presente escrito tem por finalidade discorrer sobre a importância da tecnologia da
informação e comunicação (TICs) no contexto escolar. A indagação que objetivou este estudo
veio de como a tecnologia pode ser utilizada como agente colaborador no dia a dia escolar.
Levamos em consideração a popularização do uso da internet, como sendo a porta de entrada
para a inserção das TICs, como material didático tecnológico, proporcionando um aprendizado
sem limitações aos alunos, pois permite que haja maior interação na relação professor e aluno,
uma vez que a interligação dessa interação tem como assistente a tecnologia que está
amplamente enraizada ao cotidiano do aluno, seja por meio de aparelhos de última geração ou
não. E é no seio desta nova relação que brota uma nova perspectiva de estudo, dando ao aluno
e também ao professor, a possibilidade de novos olhares sobre perspectivas educacionais já
existentes.

Palavras-Chave: Tecnologia da Informação e Comunicação; Aprendizagem; Inserção; Perspectiva.

1Professora de Educação Infantil na Rede Pública Municipal de São Paulo.


Graduação: Bacharel em Ciências Jurídicas e Licenciatura em Pedagogia; Especialização em: Ética , Valores e
Cidadania, Docência em Ensino Superior, Direitos Humanos.

572
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INFORMATION AND COMMUNICATION TECHNOLOGIES AND THEIR


FUNCTIONALITY IN SCHOOL DAILY
ABSTRACT: The purpose of this writing is to discuss the importance of information and
communication technology (ICTs) in the school context. The question that aimed at this study
came from how technology can be used as a collaborating agent in everyday school life. We take
into account the popularization of the use of the internet, as the gateway to the insertion of ICTs,
as technological didactic material, providing a learning without limitations to students, as it allows
for greater interaction in the teacher and student relationship, since the interconnection of this
interaction is assisted by technology that is largely rooted in the student's daily life, whether
through state-of-the-art devices or not. And it is within this new relationship that a new
perspective of study emerges, giving the student and also the teacher the possibility of new
perspectives on existing educational perspectives.

Keywords: Information and Communication Technology; LEARNING; Insertion; Perspective.

573
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO complexos para a utilização pedagógica, mas


enxergando-a como parceira na prática
Entendendo a Escola como o espaço pedagógica integradora, em que a Escola
privilegiado da Educação, onde as assegura que a formação do aluno seja crítica,
aprendizagens devem ser significativas e úteis consciente e capaz de lhe dar competências
aos educandos, não se pode negar que sua para realizar as leituras multissociais nos
função maior é atuar competentemente na diversos campos de convivência.
formação integral do cidadão. Neste aspecto, discorremos sobre os
Ela deve buscar dialogar com a sociedade. O conceitos fundamentadores da tecnologia da
avanço acelerado das Tecnologias de informação e comunicação, compreendendo
Informação e Comunicação em nossa de forma efetiva seu significado; trataremos
sociedade, altamente competitiva, impõe um sobre a visualização da tecnologia da
comportamento frenético no que se refere a informação e comunicação (TICs) como sendo
amplitude da comunicação global. um auxiliar educacional, apresentamos os
O contexto social atual não permite que a aspectos da inserção da TICs no contexto
Escola esteja aquém do desenvolvimento escolar e os benefícios que possam ser
tecnológico; giz, lousa, livros didáticos e a boa adquiridos com essa inserção na rotina
intenção metodológica do professor, não programática educacional, no abordaremos as
bastam para assegurar que os conteúdos sejam novas formas de ensino que puderam ser
assimilados, não garantem a atração e descritas com o surgimento da TICs no
identidade dos educandos, que estão envoltos contexto escolar e, por fim, discorremos sobre
numa dinâmica de fast forward da informação as considerações que foram adquiridas no
e uso. decorrer da pesquisa sobre a perspectivas do
Compreendemos que as aprendizagens não uso das TICs .
se restringem a tomada de conhecimento Pontuamos que o amparo deste trabalho foi
superficial de conteúdos sistematizados realizado por meio de pesquisa literária de
estabelecidos nos currículos. O saber especialistas, periódicos e sites que possuem
significativo adquirido pelo educando passa domínio concreto sobre o assunto.
pelo viés de uma pratica pedagógica
mediadora capaz de responder as demandas
TECNOLOGIAS DA
pessoais e sociais do mercado.
Nesse prisma, a escolha do tema “AS INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO E SUA FUNCIONALIDADE NO • Conceitos
DIA A DIA ESCOLAR” visa alargar o olhar para A compreensão do termo Tecnologias da
as Tecnologias da Informação e Comunicação, Informação e Comunicação (TIC) pode ser
desmistificando-as como a salvadora da definida de maneira individualizada, o que não
Educação que padece pela falta de qualidade e impõe uma ideia ou visão fragmentada das
modernidade, ou ainda, como instrumentos mesmas, posto que não fragiliza a

574
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

integralidade e a relação existente entres os No campo semântico doutrinário,


conceitos que compõe o termo. recebemos a colaboração de ilustres mestres e
Inicialmente, para conceituar o termo estudiosos.
Tecnologia, Informação e Comunicação, Sancho (2001), classifica as tecnologias em
socorremos a definição do Dicionário do materiais (Física, Química, Biologia etc.), sociais
Aurélio on-line: (Psicologia, Sociologia, Economia etc.),
Tecnologia- “Ciência cujo objeto é a conceituais (Informática) e teorias de sistemas
aplicação do conhecimento técnico e científico (teoria de autômatos, teoria da informação
para fins industriais e comerciais. 2 - Conjunto etc.).
dos termos técnicos de uma arte ou de uma Para Moran (2003), as tecnologias são ―[...]
ciência.3 - Tratado das artes em geral.4 - alta os meios, os apoios, as ferramentas que
tecnologia: o mesmo que tecnologia de ponta. utilizamos para que os alunos aprendam.
5 - tecnologia de ponta: a de última geração, a Kenski (2003), define tecnologia como:
mais avançada. O conjunto de conhecimentos e princípios
Informação - derivação fem. sing. De científicos que se aplicam ao planejamento, à
Informar, Dar informações a ou a respeito de.2 construção e à utilização de um equipamento
- Avisar.3 - Dar parecer sobre.4 - Dar forma a. 5 em um determinado tipo de atividade, [...] as
- Ato ou efeito de informar. Comunicação ferramentas e as técnicas que correspondem
derivação fem. sing. De Comunicar Pôr em aos usos que lhes destinamos, em cada época.
comunicação. 2 - Participar, fazer saber.3 - (KENSKI, 2003, p. 41)
Pegar, transmitir.4 - Estar em comunicação.5 - A epistemologia da palavra Tecnologia
Corresponder-se.6 - Propagar-se.7 - Transmitir- contribui para uma melhor compreensão do
se. (DICIONÁRIO DO AURÉLIO, 2017) seu campo de atuação e influencia o status
social, apontando-nos que:
Podemos inferir, a partir dos conceitos O termo tecnologia, de origem grega, é
supra, que os mesmos se comungam fazendo formado por tekne (“arte, técnica ou ofício”) e
com que as Tecnologias da Informação e por logos (“conjunto de saberes”). É utilizado
Comunicação, se constituam como um para definir os conhecimentos que permitem
conjunto de recursos tecnológicos, utilizados fabricar objetos e modificar o meio ambiente,
de forma integrada, com um objetivo comum com vista a satisfazer as necessidades
ou seja, podemos dizer que as Tecnologias da humanas.
Informação e Comunicação (TICs) são Em contrapartida, a tecnologia da
tecnologias para comunicar determinada Informação ao juízo do senso comum pode ter
informação. uma visão frágil e superficial no que se refere
Observa-se, pois, que os conceitos sobre a ao peso e importância da informação no campo
palavra Tecnologia auxiliam na compreensão cognitivo, se compreendida apenas como
de seus possíveis significados, fomentando a veiculadora de uma informação, isto por quê:
visão crítica a respeito do assunto.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Convém destacar que, embora A integração econômica e cultural entre os


erradamente, é usada a palavra tecnologia países, conhecida como Globalização, só foi
como sinônimo de tecnologias da informação, possível a partir da criação e popularização de
que são aquelas que permitem o tratamento e diversas tecnologias que adquiriram um papel
a difusão de informação por meios artificiais e fundamental, tanto para o desenvolvimento da
que incluem tudo o que esteja relacionado com economia mundial quanto para a sociedade
os computadores 2. 1 que se tornou cada vez mais dependente da
No cenário da sociedade pós-moderna, é tecnologia. As redes de comunicação nesse
inegável que as TICs integram a vida, sendo mundo globalizado, cada vez mais rápidas e
diariamente utilizadas das mais diversas eficientes, permitiram a comunicação e o
formas. Elas se tornaram instrumentos acesso rápido a qualquer parte do globo de
imprescindíveis para a realização de algumas forma instantânea. Contribuindo assim, para:
tarefas, no mercado como um todo, basta O desenvolvimento do comércio
olharmos para as organizações das indústrias, internacional, visto que a interligação entre as
comércios, área da saúde, setores de bolsas de valores, dos bancos e das grandes
investimentos, administração, lazer, educação, corretoras de diversos países por meio de uma
entre outros. vasta rede de computadores, aumenta a
O incansável desejo do ser humano que velocidade das transações e possibilita aos
abarca a dicotomia da superação das mazelas investidores movimentar instantaneamente
causadas pelas deficiências nos suas aplicações financeiras;
relacionamentos entre pares numa esfera O crescimento de empresas multinacionais,
micro ou macrossocial, e reafirmação do poder que podem ser controladas de qualquer lugar
e domínio sobre os menos favorecidos, faz com do mundo;
que a busca pelo conhecimento e recursos A circulação de capitais que pode ser
facilitadores seja sempre prioridade. realizada de qualquer lugar do mundo, com o
A cada período que compõe a história num uso de computadores e smartphones;
esforço quase que nato do homem, tem-se a A circulação de informações, que
criação de novas maneiras de enxergar suas atualmente acontece instantaneamente;
demandas, novos pensamentos, novas A comunicação em massa, na qual as
criações, novas tecnologias. pessoas podem se comunicar
Nota–se com isso, um liame entre o instantaneamente com qualquer pessoa do
conhecimento, o poder e as tecnologias e o que mundo;
nos afirma Kenski, 2003. A transformação da paisagem que vai sendo
Por meio da internet, freneticamente são alterada para incorporar as diversas redes de
criados novos sistemas de comunicação e comunicação por satélite artificial, de cabos de
informação, formando uma rede. fibra óptica, de antenas para celulares etc.

2
Fonte: Conceito de tecnologia - O que é, Definição e http://conceito.de/tecnologia#ixzz4boSm82Wy, Data de
Significado Disponível em: Acesso: 20/07/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As TICs são as tecnologias que associam a Entretenimento, Segurança e muitos outros. As


informação e a comunicação, necessárias para tecnologias invadem as nossas vidas, ampliam
o processamento de dados, em particular, por a nossa memória, garantem novas
meio do uso de computadores eletrônicos e possibilidades de bem-estar e fragilizam as
softwares, para converter, armazenar, capacidades naturais do ser humano (KENSKI,
proteger, processar, transmitir e recuperar 2003).
informações, de forma ampla e contínua. Por meio da internet, novos sistemas de
Se expandirmos um pouco o conceito de comunicação e informação foram criados,
tecnologia, de modo que inclua não só formando uma verdadeira rede. Criações como
instrumentos, equipamentos e produtos o e-mail, o chat, os fóruns, a agenda de grupo
tangíveis (tecnologia hard), e virmos à on-line, comunidades virtuais, webcam, entre
tecnologia como tudo aquilo que o ser humano outros, revolucionaram os relacionamentos
inventa para tornar sua vida mais fácil ou humanos. Por meio do trabalho colaborativo,
agradável, a fala humana, o alfabeto, a escrita, profissionais distantes geograficamente
os números, a matemática, a notação musical, trabalham em equipe. O intercâmbio de
as diferentes formas de fazer arte (inclusive informações gera novos conhecimentos e
literária) etc., tudo isso é tecnologia (tecnologia competências entre os profissionais.
soft), ou seja, Tecnologia de Informação e Novas formas de integração das TICs são
Comunicação. Essas ― técnicas são parte da criadas. Uma das áreas mais favorecidas com as
cultura, não da natureza: elas precisaram ser TICs é a da educação. Na educação presencial,
inventadas pelo ser humano, em algum as TICs são vistas como potencializadoras dos
momento de sua história, para tornar sua vida processos de ensino-aprendizagem. Além
mais fácil ou agradável. disso, a tecnologia traz a possibilidade de maior
Como afirma Lévy (1993), a linguagem oral, desenvolvimento – aprendizagem –
a escrita e a linguagem digital (dos comunicação entre as pessoas com
computadores) são exemplos de tecnologias necessidades educacionais especiais.
da inteligência. As TICs representam, ainda, um avanço na
E Kenski (2003), vem dizer que - articuladas educação à distância. Com a criação de
às tecnologias da inteligência, temos as TICs ambientes virtuais de aprendizagem, os alunos
que, por meio de seus suportes (jornal, rádio, têm a possibilidade de se relacionarem,
televisão), realizam o acesso, a veiculação das trocando informações e experiências. Os
informações e todas as demais formas de ação professores e/ou tutores têm a possibilidade
comunicativa, em todo o mundo. de motivarem trabalhos em grupos, debates,
Hoje, as TICs são essenciais para o fóruns, dentre outras formas de tornar a
desenvolvimento de vários setores da aprendizagem mais significativa. Nesse
economia e da sociedade. Elas são aplicadas sentido, a gestão do próprio conhecimento
intensivamente nos setores de Educação e depende da infraestrutura e da vontade de
Saúde, Agricultura e Pecuária, Aeronáutica e cada indivíduo.
Espaço, Indústria e Comércio, Transporte,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As Tecnologias de Informação e Porém, quando pensamos na tecnologia de


Comunicação abrangem o uso do computador, informação e comunicação logo pensamos no
celular, internet, mp3, câmera digital, mas são processo primário, o de se comunicar,
utilizadas, num primeiro momento, de forma entretanto, essa terminologia nos reporta ao
separada, porém caminham na direção da produzir, transmitir, armazenar e usar as
convergência, da integração, dos diversas informações, isto é, se torna um
equipamentos multifuncionais que agregam conceito muito mais amplo.
valor (MORAN, 2003). Tecnologia é uma palavra de origem grega,
composta de Techné (Arte) e Logos (Discurso
TECNOLOGIA DA de Conhecimento), é um termo que envolve o
conhecimento técnico e científico e a aplicação
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO deste conhecimento por meio de sua
– TIC transformação utilizada a partir de um
Ao ouvirmos falar de tecnologia logo conhecimento, já que a tecnologia pode ser
imaginamos computadores de última geração, vista como uma atividade que forma ou
drones, tablets entre outros. Mas se formos modifica a cultura. Contudo, as TICs podem ser
analisar o significado dessa terminologia, conhecidas como o conjunto de recursos
perceberemos que tecnologia é todo o tecnológicos, ou seja, as ferramentas utilizadas
processo evolutivo que busca auxiliar e no processo ensino-aprendizagem, disposta
compreender um processo criativo com como facilitadora no processo de comunicação
elementos subjetivos e objetivos sobre algo. e no alcance almejado pelo professor ao
Encontramos nos periódicos uma divisão sobre conteúdo transmitido ao aluno. As TICs têm
tecnologia (citadas anteriormente) em que a desenvolvido um papel importante no
tecnologia hard está profundamente ligada às cotidiano dos alunos, uma vez que o processo
questões de equipamentos e manutenções e a tecnológico está cada dia mais impregnado em
tecnologia soft que está intimamente ligada suas ações por meio de jogos eletrônicos, redes
pelas ações humanas. Então neste prisma, não sociais, tutoriais e outras plataformas que são
seria absurdo pensarmos que o dispostas de forma lúdica pela internet. “Os
desenvolvimento humano consiste num vínculos entre conhecimento, poder e
processo tecnológico, que a alfabetização tecnologias estão presentes em todas as
constitui um processo tecnológico, que a épocas e em todos os tipos de relações sociais.”
escrita é um processo tecnológico, isso porque, (KENSKI, 2003).
todos esses descritos anteriormente são Trazer as TICs para o contexto escolar pode
etapas evolutivas que se iniciam no formato de fato contribuir para uma evolução
básico por assim dizer e vão adquirindo satisfatória no processo de aprendizagem,
patamares evolutivos, conforme as entretanto, para que isso ocorra se faz
metodologias são administradas e necessário que neste processo, o docente não
interiorizadas no processo de aprendizagem e tenha em suas ações o medo de inovar, é de
desenvolvimento. suma importância que o docente traga consigo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a flexibilidade no incluir essas tecnologias em mesmo um Mozart teria se tornado o grande


suas aulas, para que dessa forma tenha maior gênio que foi sem seu pai que era um
visibilidade na receptividade do aluno. Outro verdadeiro mestre. [...] A nova tecnologia [...] é
aspecto importante é ter entendimento sobre uma tecnologia de aprendizagem, e não de
o que está sendo transmitido, propiciar ao ensino. [...]. Não resta dúvida que grandes
ambiente práticas desafiadoras que mudanças irão ocorrer nas escolas e na
enriquecerão a aprendizagem do aluno, educação — a sociedade instruída irá exigi-las
contudo, não deve trazer consigo a e as novas teorias e tecnologias de
responsabilidade de saber de todas as aprendizagem acabarão por efetivá-las
interfases, uma vez que dentro desta inclusão, (DRUCKER, apud, CHAVES, 1998, p. 57).
o professor também é aprendiz e essa O processo ensino–aprendizagem tem que
colocação pode trazer ao aluno a valorização dispor de uma relação concreta entre o que é
de uma postura em que o mesmo também ensinado e o que é vivenciado pelo aluno, com
pode expressar os seus entendimentos, os seus a finalidade de transmitir significado ao que lhe
conhecimentos. Fato é que para as crianças e é transmitido, ocorrendo assim à assimilação
adolescentes, navegar nos campos dos conteúdos. Desta forma, inserir o uso das
tecnológicos são, sem sombra de dúvidas, um TICs no contexto escolar possibilita o
ambiente agradável e de fácil manuseio, por desenvolvimento dessa correlação entre a
estarem inseridos, desde o nascimento, neste modernidade e o que é trazido pelo aluno, uma
contexto. vez que permite ao indivíduo reagir, interagir e
E essa inclusão no contexto escolar pode compartilhar o aprendizado, seja ele feito por
facilitar o desenvolvimento da criança, que meio de jogos ou até mesmo em uma
possui dificuldade de aprendizagem, ou plataforma on-line (bate-papo com o tutor)
também despertar naqueles alunos já que traz ao aluno a possibilidade de sanar suas
estruturados, uma motivação maior. dúvidas no período de estudo, em tempo real,
Nós sabemos que diferentes pessoas não tendo a necessidade de aguardar a
aprendem de maneira diferente; sabemos que, próxima aula para que tal dúvida seja diluída.
na realidade, o [estilo de] aprendizado é tão Todavia, visualizamos que não somente os
pessoal quanto uma impressão digital. [...] computadores podem ser entendidos como
Cada um tem uma velocidade diferente, um ferramenta, como também podemos utilizar
ritmo diferente, um grau de atenção diferente. materiais, tais como: revistas, jornais, músicas
Se lhe for imposto um ritmo, uma velocidade, e câmeras fotográficas como sendo
ou um grau de atenção estranho, haverá pouco instrumentos que fazem com que essas
ou nenhum aprendizado. Haverá apenas comunicações diferenciadas com os conteúdos
cansaço e resistência. [...] pessoas diferentes apresentados, sejam vivenciadas pelos alunos
aprendem matérias diferentes de maneira de forma integral e produtiva para seu
diferente. Um professor é necessário para aprendizado.
identificar os pontos fortes do aluno e para
direcionar um talento à sua realização. Nem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A UTILIZAÇÃO DAS TICs NO declarados em Pareceres e Resoluções da


Câmara de Educação Básica do Conselho
CONTEXTO ESCOLAR Nacional de Educação (CNE) a respeito das
Esse repensar pedagógico na inclusão da TIC Diretrizes Curriculares Nacionais para a
no cotidiano da sala de aula vem sendo uma Educação Infantil, o Ensino Fundamental e
constante positiva, pois, demonstra a Médio, deverão preparar professores capazes
preocupação do docente em propiciar ao aluno de: [...] V – utilizar linguagens tecnológicas em
um desenvolvimento amplo e ao mesmo educação, disponibilizando, na sociedade de
tempo singular. Pois, permite ao discente comunicação e informação, o acesso
adquirir informações, utilizar-se de democrático a diversos valores e
ferramentas e, até mesmo, obter uma conhecimentos (RESOLUÇÃO 2/1999)
interação diferenciada dos alunos. O professor precisará aprender a planejar e
Claro que a inclusão das TICs não é uma a utilizar essas ferramentas de forma
tarefa de fácil inserção, uma vez que, para tal integrada, dando aos alunos maiores
ação, são imprescindíveis muitos outros possibilidades interdisciplinares de
componentes, e por vezes, as dificuldades aprendizado.
estruturais atrasam os passos necessários para As TIC’s podem contribuir com o professor
essa implantação, entretanto, o pouco que se neste seu caminho criativo de buscar maneiras
tem disposto aos alunos como prática mais atrativas de trabalhar com seus alunos.
inovadora em sala de aula, tem contribuído Mas as TIC’s não são a solução de todos os
para que a revolução no processo ensino- problemas do professor, pelo contrário, se
aprendizagem seja efetivada de forma utilizadas sem um planejamento adequado,
satisfatória. tornam-se instrumentos para a repetição de
Na Lei de Diretrizes e Bases, encontramos modelos tradicionais (JORDÃO, 2013,p.34).
no artigo 35, inciso IV, diz que ― “é necessário As TICs como potencializadoras do processo
à compreensão dos fundamentos científico- de aprendizagem, estabelecem uma educação
tecnológicos dos processos produtivos que prepara o aluno para enfrentar as novas
relacionando a teoria com a prática, no ensino situações do dia a dia, permitindo que aja uma
de cada disciplina”. renovação constante dos conteúdos
A Resolução n° 2, de 19/04/99, da Câmara de apresentados ao aluno.
Educação Básica (CEB), que institui as Diretrizes Por isso, faz-se necessário que a escola, de
Curriculares Nacionais para a Formação de forma geral, tem que se reinventar, o professor
Docentes da Educação Infantil e dos Anos tem que se apropriar do uso desses novos
Iniciais do Ensino Fundamental, em nível meios tecnológicos, (FREIRE 1996, p.88) afirma
médio, na modalidade Normal, dispõe que: que “um dos saberes necessários à prática
Artigo 2° - Nos diversos sistemas de ensino, educativa é o que adverte da necessária
as propostas pedagógicas das escolas de promoção da curiosidade espontânea para a
formação de docentes, inspiradas nos curiosidade epistemológica”.
princípios éticos, políticos e estéticos, já

580
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

NOVAS FORMAS DE A implementação das TICs tem ainda um


longo percurso para ser efetivamente
APRENDIZADO integrado nas práticas educacionais que vão
O uso dessas tecnologias propicia a desde a inclusão desses suportes tecnológicos
dinamização e ampliação das habilidades em todo o currículo e a capacitação dos
cognitivas, devido à diversidade de contatos, docentes para a incorporação dessa prática ao
meios que são dispostos ao aluno com o intuito conteúdo programático.
de proporcionar um ambiente acolhedor com Para (IMBÉRNOM 2010, p.36):
vistas a motivá-lo no processo de Para que o uso das TICs signifique uma
aprendizagem. transformação educativa que se transforme
A utilização das TICs tem eclodido em melhora, muitas coisas terão que mudar.
significativamente com os novos meios de Muitas estão nas mãos dos próprios
ensinar em que ambos os atores desse seio professores, que terão que redesenhar seu
educacional, posto que ofertem a troca papel e sua responsabilidade na escola atual.
constante de conhecimentos e, também, traz Mas outras tantas escapam de seu controle e
vivências formativas de cidadania, tornando-os se inscrevem na esfera da direção da escola, da
mais antenados com as novidades e cobranças administração e da própria sociedade.
do seu tempo, podendo, desta forma, O espaço educativo deve ser construído em
contribuir para o desenvolvimento individual e um ambiente onde a troca de saberes seja
coletivo dentro da sociedade. pauta na construção de reflexões, Mayer
O processo de utilização das TICs na (2001), em seus escritos, aduz sobre a
educação tem permitido tornar indissociável, o necessidade do envolvimento ativo do docente
trânsito entre educação/aprendizado e a no processo cognitivo para construção da
comunicação tecnológica, pois, esse caminhar representação mental coerente. Isso inclui
tem que ocorrer no mesmo sentido para um prestar atenção, organizar a nova informação e
resultado satisfatório, isto é, a troca de integrá-la no conhecimento existente.
experiência entre aluno e professor tem que A interação das TICs no contexto escolar nos
ser linear obviamente este processo não se dá permite visualizar o envolvimento dinâmico no
com facilidade, uma vez que para alguns processo de assimilação dos conteúdos, é o
professores, a capacitação tecnológica está aprender a aprender. Transpor as TICs para os
defasada e para alguns alunos esse contato conteúdos programáticos e não somente as
com a internet é restrito, ou até mesmo, a atividades extracurriculares é que exprime
relação interpessoal esteja comprometida, exatamente essa interação entre professor –
contudo, visualizamos que a utilização de aluno, Silva (2003), dispõe que o professor em
algumas técnicas de informação e sala de aula é mais que um instrutor, treinador,
comunicação (TICs) viabiliza esse parceiro, conselheiro, guia, facilitador,
envolvimento, facilitando a compreensão dos colaborador. É formulador de problema,
alunos sobre conteúdos, até então, provocador de situações, arquiteto de
considerados complexos. percurso.

581
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Concordamos que mudar a rotina é algo Utilizar-se das TICs no cotidiano escolar é
difícil para o docente, porém, esse desafio possibilitar ao aluno um espaço, onde ele
lançado aos professores permite a inclusão de consegue se visualizar com agente
uma nova ferramenta que auxiliará no participativo, é redesenhar a função do aluno
processo de aprendizagem ofertado ao aluno, no contexto escolar e torná-lo autor do
provocando um pensamento crítico, criativo e aprender, e segundo Valdenice “[..] eles
interativo sobre as práticas. produzem conteúdo, mandam recado e essa
Segundo Vieira [...] a implantação da percepção de que precisam de espaço para se
informática como auxiliar do processo de colocarem sem censura é importante[..]”
construção do conhecimento implica Visualizem o quão colaborativo será a escola
mudanças na escola que vão além da formação com a integração entre as tecnologias,
do professor. É necessário que todos os vivências sociais e as trocas interpessoais, esse
segmentos da escola – alunos, professores, tripé dispõe de aprendizagem sem fronteiras,
administradores e comunidades de pais – pois praticando esse caminho conseguimos
estejam preparados e suportem as mudanças como educadores trabalhar com os alunos os
educacionais necessárias para a formação de campos necessários para o desenvolvimento, e
um novo profissional. Nesse sentido, a trabalhar as múltiplas inteligências.
informática é um dos elementos que deverão A educação fundamental é feita pela vida,
fazer parte da mudança, porém essa mudança pela reelaboração mental-emocional das
é mais profunda do que simplesmente montar experiências pessoais, pela forma de viver,
laboratórios de computadores na escola e pelas atitudes básicas da vida e de nós
formar professores para utilização dos mesmos’. Assim, o uso das TIC na escola auxilia
mesmos. (VIEIRA, 2011, p. 4). na promoção social da cultura, das normas e
Seguindo esse raciocínio, os educadores tradições do grupo, ao mesmo tempo, é
precisam dispor de propostas atraentes que desenvolvido um processo pessoal que envolve
envolvam os alunos no conteúdo apresentado, estilo, aptidão, motivação. A exploração das
mas não é somente manter o aluno em sala de imagens, sons e movimentos simultâneos
aula, é propiciar atividades motivadoras e ensejam aos alunos e professores
desafiadoras, que façam com que o oportunidades de interação e produção de
aprendizado seja contínuo. Valdenice Minatel, saberes (MORAN, 2012, p.13).
coordenador de tecnologia educacional do A inserção das TICs no contexto educacional
colégio Dante Alighieri, destaca esse fator em vai literalmente muito além de meios
sua entrevista publicada na revista Magistério, tecnológicos em conteúdos já trabalhados, é
aduz que manter os alunos longe dos preciso desenvolver um caminho para que
escapismos é uma tarefa singular, por acreditar permita que ocorra um processo dinâmico,
que “se você não conseguir trazer uma crítico e desafiador contínuo, fazendo com que
proposta que o envolva realmente, para haja a troca entre professor e o aluno.
manter o engajamento, o aluno não vai
conseguir prestar atenção [...]”.

582
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do tema nos permitiu realizar pesquisas que proporcionaram visualizar
questões na literatura e em periódicos uma característica unânime, que é a importância de uma
implantação consciente e sólida das TICs no contexto escolar, pois esta implantação permite ao
aluno e ao professor uma troca constante e sadia do aprender.
Favorecer meios para que o aluno se sinta valorizado e importante é uma ferramenta
comumente utilizada pelo professor, mas quando se consegue conciliar esse reforço positivo com
a valorização de algo que o aluno obtém o conhecimento, permite a ele se libertar da máscara
que, por muitas vezes, o impede de buscar por seu desenvolvimento.
Essa é a vantagem em proporcionar um ambiente criativo e desafiador no contexto
escolar, traz para o aluno e, também ao professor novos saberes, novas reflexões, novas práticas.
Essa relação positiva entre tecnologia e educação contribui para uma evolução pedagógica
em que a interação professor x aluno é consistente, diferenciada e diversificada, pois, permite
que ambos coloquem seus conteúdos à disposição do aprender a aprender, é a junção das
inteligências na construção de um novo aprendizado.
As TICs dispõem, sobretudo, de plataformas dinâmicas que facilitam o aprendizado do
aluno, facilitando a assimilação e interiorização dos conteúdos curriculares apresentados.
Conforme as TICs são inseridas no contexto escolar, mais próxima de nossa realidade está
à concretização de meios tecnológicos no auxílio constante das práticas educacionais.
Contudo, pontuamos que o mais importante foi dado, uma vez que novas perspectivas no
setor da educação fora redimensionado com o uso de novos meios que possibilitem a integração
do aluno ao conteúdo programático apresentado.
Derradeiramente, visualizamos tratar-se de um longo percurso a ser trilhado até
chegarmos a uma amplitude tecnológica no contexto escolar, mas, sobretudo, podemos contar
atualmente com diversas possibilidades que viabilizam ao professor um desempenho maior em
sua atividade docente.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996(coleção Leitura)

IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a


incerteza. 7. Ed. São Paulo: Cortez, 2010.

KENSKI, V.M. Educação e Tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas. Editora


Papirus, 2012.141p.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência – O futuro do pensamento na era da informática.


São Paulo. Editora 34. Tradução de Carlos Irineu da Costa. 2004

MORAN, José Manuel, MASSETTO, Marcos T., BEHRENS Marilda Aparecida. Novas
tecnologias e mediações pedagógicas. Campinas, SP. Papirus, 2012.

SANCHO, J. M.; HERNANDEZ, F. et al. (Org). Tecnologias para transformar a educação.


Porto Alegre: Artmed, 2006.

SILVA, Marco (2001). Sala de aula interativa: a educação presencial e a distância em


sintonia com a era digital e com a cidadania. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA
COMUNICAÇÃO, 24., 2001, Campo Grande. Anais do XXIV Congresso Brasileiro da
Comunicação, Campo Grande: CBC, set. 2001.
SITE. Ato ou efeito de informar. Disponível em: https://dicionariodoaurelio.com/informacao.
Data de Acesso: 20/07/2022.

SITE. Conceito de tecnologia - O que é, Definição e Significado. Disponível em:


https://conceito.de/tecnologia . Data de Acesso: 20/07/2022.

SITE. Tic’s na educação: a utilização das tecnologias da informação e comunicação na


aprendizagem do Aluno Disponível em :
http://periodicos.pucminas.br/index.php/pedagogiacao/article/view/11019/8864 Data de Acesso:
20/07/2022.

SOUSA ,Robson Pequeno de; MOTA Filomena M.C.da S. C.; GOMES, Ana. Tecnologias
Digitais na Educação . Disponível em : https://static.scielo.org/scielobooks/6pdyn/pdf/sousa-
9788578791247.pdf. Data de Acesso: 20/07/2022.

VIEIRA, Rosângela Souza. O papel das tecnologias da informação e comunicação na


educação: um estudo sobre a percepção do professor/aluno. Formoso - BA: Universidade
Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), 2011. v. 10, p.66-72

584
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ASPECTOS IMPORTANTES DO USO DE


REMINERALIZADORES DE SOLO NO BRASIL
Maylom Ruan Paixão da Silva1
Rosemery da Silva Nascimento2
Adriane Marques de Souza3

RESUMO: A agricultura é um dos setores que mais cresce no Brasil, diante disso o consumo por
fertilizantes convencionais vem aumentando paralelamente, onde a maior parte desses insumos
agrícolas são importados e acabam pesando na balança comercial. Além disso, a grande
geodiversidade que o país possui, em termos de rochas, vem consolidando técnicas como
rochagem/remineralização, como alternativa viável na busca de soluções para problemas dentro
do setor agrícola, sendo uma opção no fornecimento de nutrientes para o solo, com possibilidade
de substituir em parte os fertilizantes convencionais no Brasil. O objetivo principal do trabalho é
essencialmente o levantamento bibliográfico acerca das normas especificas dos
remineralizadores (IN MAPA 05 e 06/2016) que considera até 25% de quartzo, sendo o limite
máximo para adequação dos remineralizador. Contudo, a opção de um blend (mistura) com
outras rochas, é uma alternativa para materias classificados como resíduo na área de exploração
mineral, a fim de que sejam considerados como material com potencial para uso agrícola em
culturas como feijão, milho e/ou mandioca.

Palavras-Chave: Remineralizadores; Agromineral; Mineralogia.

1 Geólogo/ Colaborador Voluntário do PET-Geologia-UFPA.


2 Profa. Dra. Associada nível 4 da UFPA/Tutora do PET-Geologia-UFPA.
3 Discente do curso de graduação em Geologia-UFPA/Bolsista do PET Geologia-UFPA

585
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

IMPORTANT ASPECTS OF THE USE OF SOIL REMINERALIZERS IN


BRAZIL
ABSTRACT: Agriculture is one of the fastest growing sectors in Brazil, so the consumption of
conventional fertilizers has been increasing in parallel, where most of these agricultural inputs
are imported and end up weighing on the trade balance. In addition, the great geodiversity that
the country has, in terms of rocks, has been consolidating techniques such as rock
rocking/remineralization, as a viable alternative in the search for solutions to problems within
the agricultural sector, being an option in the supply of nutrients to the soil, with possibility of
partially replacing conventional fertilizers in Brazil. The main objective of the work is essentially
the bibliographic survey about the specific norms of remineralizers (IN MAPA 05 and 06/2016)
that considers up to 25% of quartz, being the maximum limit for the adequacy of remineralizers.
However, the option of a blend (mixture) with other rocks is an alternative for materials classified
as waste in the mineral exploration area, so that they are considered as material with potential
for agricultural use in crops such as beans, corn and/or manioc.

Keywords: Remineralizers; Agromineral; Mineralogy.

586
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO no fornecimento de nutrientes para o solo.


Para confirmar, se a rocha silicática ou de outra
O Brasil é um grande produtor no setor composição se enquadra como um
agrícola, por consequência precisa de um alto remineralizador, é essencial o estudo
consumo de fertilizantes convencionais, detalhado, no que diz respeito a composição
principalmente formulados em NPK mineralógica e química, assim como, a
(nitrogênio, fósforo e potássio) que são na granulação/granulometria, texturas e
maioria das vezes importados e representam processos de alterações naturais e/ou
peso importante na economia do país laboratoriais.
(Nascimento & Lapido-Loureiro, 2004). Devido O presente trabalho de levantamento
ao elevado preço destes produtos no mercado bibliográfico tem como objetivo principal o
internacional e por serem facilmente lixiviados levantamento bibliográfico acerca do
por água meteórica e/ou irrigação, o setor conhecimento do uso da técnica de
agrícola vem procurando novas alternativas rochagem/remineralização e seus benefícios
que possa diminuir o consumo de fertilizantes para o setor agrícola, bem como mostrar
convencionais e melhorar ainda mais o possíveis culturas/plantios onde pode ser
fornecimento de macro e micronutrientes para aplicado o pó de rocha em ensaios
o sistema solo-planta. agronômicos.
A rochagem/remineralização foi uma das
alternativas implementadas no Brasil, pois
HISTÓRICO DA GEO CULTURA,
representa uma prática de baixo custo
financeiro que utiliza rochas moídas ROCHAGEM E/OU
adicionadas diretamente ao solo como fonte REMINALIZAÇÃO DO SOLO NO
de nutrientes, possibilitando a produtividade
por um período curto ou mais longo devido a
BRASIL
lenta solubilidade dos minerais. Esta tecnologia A produção agrícola cresceu muito nos
foi iniciada no país com o uso de rochas últimos anos, de forma rápida e efetiva,
carbonáticas, utilizado para modificar o pH do principalmente no uso de fertilizantes
solo (calagem) (WIETHOLTER, 2000). convencionais, assim como nos defensivos
Atualmente, umas das novas implementações agrícolas ou transgênicos. Cerca de 71% dos
é o uso de rochas silicáticas que apresentam fertilizantes utilizados no Brasil são oriundos de
grande potencial como remineralizador, Lei fontes de importação, compostas,
12.890, de 10 de dezembro de 2013 dos principalmente, de Nitrogênio, Fósforo e
fertilizantes do Brasil (BRASIL, 2013). Potássio (NPK), de elevada concentração e alta
Essa nova diversidade de remineralizadores solubilidade (RODRIGUES, 2009). A Tabela 1
possibilitou o uso de diferentes litotipos no mostra a quantidade de fertilizantes
setor agrícola, mas o conhecimento importados, a produção nacional de
mineralógico é de grande importância para fertilizantes e a quantidade de exportações de
avaliar se o pó de rochas silicáticas é adequado fertilizantes formulados a base de NPK.

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No Brasil os preços dos fertilizantes passam Diante da oscilação econômica do Brasil e sua
por variações devido a constante oscilação do dependência na importação de insumos
dólar e do elevado custo de transporte. Assim, agrícolas, a remineralização dos solos tornou-
a carência de recursos em determinados se uma opção viável como alternativa na
setores rurais, formados por pequenos produção rural no uso de NPK, pois o Brasil é
agricultores, provocou o início das pesquisas na um país que apresenta uma grande variedade
busca por alternativas mais viáveis para o setor de unidades litológicas que justifica viabilizar o
agrícola, incluindo técnicas de rochagem uso de diferentes tipos de pó de rocha em
(LAPIDO-LOUREIRO, NASCIMENTO & RIBEIRO, diversas regiões (MARTINS & THEODORO,
2009). 2010).

Diversos estudos e ações de pesquisa com doutorado em 2000 na UnB, cujo tema foi “a
rochas adequadas para a remineralização estão fertilização da Terra pela Terra: Uma
em desenvolvimento no Brasil, essa linha de Alternativa de Sustentabilidade para o
pesquisa no país iniciou na década de 1950, em Pequeno Produtor Rural”. Em seus trabalhos
Minas Gerais, pelos pesquisadores Josué de pesquisa, a Professora Suzi H. Theodoro
Guimarães e Vlademir Ilchenko. demonstra que a tecnologia de rochagem é
Posteriormente, a partir de 1970, o Professor uma prática que induz a fertilização da terra
Othon Leonardos iniciou os primeiros com a própria terra, viabilizando o equilíbrio de
trabalhos neste tema na Universidade de todo o agroecossistema. As pesquisas iniciadas
Brasília (UnB) e assim as pesquisas ganharam e desenvolvidas na UnB corroboram para que
maior proporção devido a necessidade de essa tecnologia fosse difundida pelo Brasil nos
fornecimento de K e outros nutrientes para o últimos anos, tornando-se importante para o
agronegócio e alternativas para a obtenção de Brasil, um país que é detentor de uma imensa
fertilizantes (RESENDE, et al., 2006c). geodiversidade.
A continuação dos trabalhos do Professor A partir destes estudos iniciais, a linha de
Othon Leonardos foi dada pela Professora Suzi pesquisa sobre rochagem aumentou
Huff Theodoro que dedicou sua pesquisa ao consideravelmente. No ano de 2003 foi criado
tema rochagem e defendeu sua tese de uma rede interinstitucional de pesquisa,

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nomeada de Rede Agri-Rocha, coordenado resíduos da mineração, reduz problemas


pela Embrapa, com o objetivo de avançar nos ambientais causados pelo uso indiscriminado
estudos e conhecimentos sobre o tema. O de fertilizantes químicos, produz alimentos de
principal foco da Rede Agri-Rocha é melhor qualidade e reduz os custos do
desenvolver atividades e experimentos em agronegócio (SILVEIRA, 2016).
rochas das mais diversas regiões do país, De acordo com Theodoro, et al. (2010), a
ampliando a possibilidade e a viabilidade moagem da rocha é o marco inicial para
econômica desses corpos rochosos como facilitar a disponibilização dos nutrientes. A
fontes de K, principalmente (RESENDE, et al. diminuição das partículas causa o aumento da
2006c). superfície de ação dos agentes intempéricos
Segundo Leonardos, et al. (1976), a (físicos, químicos e biológicos), aumentando a
rochagem inicia do princípio de diferenciação solubilidade mineral. Os autores enfatizam que
de fontes de nutrientes, criando novas o uso do pó de rocha nos solos intemperizados
alternativas de suprimento, adicionando o pó facilita sua remineralização, isto se deve a
de rochas e/ou minerais ao solo, podendo ser grande quantidade de macro e micronutrientes
considerada como um tipo de remineralização. que foram perdidos pelos solos ao longo dos
O pó de rocha tem o objetivo de rejuvenescer processos intempéricos ou antrópicos
solos pobres ou lixiviados, enquadrando-se, (THEODORO, et al. 2013).
basicamente, na busca do equilíbrio da A solubilidade é definida como relação
fertilidade do solo, na produtividade direta entre a liberação de nutrientes e
sustentável e conservação dos recursos velocidade do intemperismo. Este processo
naturais. pode ser acelerado por meio de rápidas
As pesquisas realizadas por Theodoro, et al. mudanças físicas que aumente a superfície de
(2000, 2009), que tratam da utilização de pó de contato dos minerais (moagem) e mudanças
rocha em determinadas culturas, demonstram químicas, como por exemplo, variação térmica
que existe uma expressiva economia dos e acidulação dos minerais (VAN STRAATEN,
custos, cerca de 60% a 70%, comparado com os 2006). Além disso, o processo de formações e
fertilizantes convencionais. Dessa forma, cristalização das rochas, podemos dizer que
entende-se que o Brasil possui uma imensa quanto maior é a sua temperatura de
disponibilidade de fontes de extração de formação, mais fácil será a sua alteração ou
rochas (basaltos, kamafugitos, carbonatitos, desgaste (intemperismo). Este fator é
fonolitos, serpentinitos, xistos, filitos, margas e considerado fundamental, pois as rochas mais
alguns tipos de granitos e gnaisses, etc.) que ricas em nutrientes são as mais propicias ao
podem impactar no uso de rochas moídas para intemperismo (Figura 1) (THEODORA, 2020).
o manejo da fertilidade do solo.
O uso do pó da rocha pretende reverter o
uso excessivo de fertilizantes solúveis, além de
apresentar grande potencial de
sustentabilidade, permite o aproveitamento de

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Da mesma forma, Melamed, et al. (2007), consequentemente, desenvolve uma maior


afirma que o intemperismo além de promover resistência das plantas a fatores climáticos
o aumento da capacidade de troca de cátions (RESENDE, et al. 2006a). Podemos dizer que a
(CTC), devido à formação de novos minerais de técnica de rochagem tem a possibilidade de
argila durante seu processo de alteração, acaba interação de dois grandes setores econômico
disponibilizando macro e micronutrientes para no Brasil, a mineração e a agricultura, que,
o solo, diferentes dos fertilizantes químicos tradicionalmente, não têm ligação e que são
solúveis fornecedores de NPK. considerados, de forma geral, como agentes de
As diversas rochas utilizadas para o uso da degradação ambiental (THEODORO, et al.
rochagem são em sua maioria de natureza 2013).
silicáticas e apresentam ampla distribuição Existe uma grande viabilidade agronômica e
pelo território nacional. Entre estas rochas, econômica na técnica de rochagem ou
existe grande interesse naquelas que remineralização dos solos, pode reduzir a
apresentam minerais do tipo flogopita, biotita ocorrência da agricultura migratória e ser uma
ou feldspatóides, considerando a presença do excelente alternativa para os pequenos
elemento K em sua composição química, além produtores, por serem técnicas mais acessíveis
de outros macronutrientes como Ca, alguns e de menor custo (THEODORO & LEONARDOS,
micronutrientes como Cu e Zn e também por 2006). Mas para que o uso do pó de rocha seja
estas rochas apresentarem maior solubilidade possível, é de fundamental importância que o
(MARTINS, et al. 2008). local de aplicação seja próximo da fonte dos
Existem estudos que mostram os benefícios agrominerais. Theodoro & Rocha (2005),
com o uso de minerais na remineralização, sugerem que a distância, do local de aplicação
como a retenção de água no solo e o aumento e origem, não deve ultrapassar dos 500 km,
da produção de matéria orgânica, que

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pois isto comprometeria a viabilidade


econômica da rochagem.
Além disso, a técnica de rochagem avançou
em termo jurídicos no Brasil com a publicação
da lei de remineralizadores de solo, n° 12.890
de 10 de dezembro de 2013. Nesta legislação
foram incluídos os remineralizadores como
uma categoria de insumo agrícola, sendo uma
alternativa de fertilização de solos para os
produtores rurais, diminuindo a dependência
de importação desses insumos. Ademais, foi
publicada em 14 de março de 2016 a Instrução
Normativa n° 5 do MAPA que define
parâmetros de análise e de qualidade de
remineralizadores de solo a serem registrados
no Brasil.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil apresenta uma grande geodiversidade em termos de rochas por todo seu
território nacional, sendo um grande produtor de recursos minerais, muitos deles sendo
empregados no setor agrícola como insumos, ajudando na remineralização do solo e
aumentando o desenvolvimento do plantio. Neste sentido, a procura por rochas adequadas para
ser usadas como remineralizadores tornou-se uma alternativa viável para esse mercado
promissor.
Nos últimos anos, a rochagem ou remineralização dos solos vem tomando espaço e se
consolidando como uma tecnologia alternativa ou de suporte na agricultura, em especial na de
pequena escala ou familiar. Porém esta técnica necessita a princípio do entendimento da
mineralogia da rocha utilizada, ou seja, do conhecimento da associação mineral, composição
química, aspectos texturais, granulação/granulometria e a da morfologia dos cristais que
compõem a rocha. A técnica atua de forma direta nos solos agrícolas, onde o pó da rocha é
aplicado como fertilizantes de liberação rápida ou lenta de nutrientes para o solo e plantas. Este
processo pode ser acelerado por meio de alterações físicas e químicas que ocorre durante o
intemperismo nas rochas ou por técnicas de diluição realizadas em laboratórios.
A recomendação do presente trabalho é que seja realizados análise litoquímica na rocha,
para saber primeiramente se a soma de bases (K2O + MgO + CaO) é superior ou igual a 9%, se
enquadrando dentro do critério proposto para os remineralizadores de solo (IN MAPA 05 e
06/2016), e também para detectar a presença de elementos tóxicos ou potencialmente tóxicos
(EPT) para as plantas ou inapropriadas para o consumo. É de fundamental importância fazer
ensaios agronômicos em diferentes tipos de solos e culturas/plantios que são adequadas para a
região, ou até utilizar as que foram sugeridas neste trabalho.
Sabe-se que a remineralização é essencial para observar na prática os benefícios
nutricionais que esta tecnologia pode proporcionar para o solo e consequentemente para as
plantas, sendo uma técnica menos poluente e favorável para a vida humana e animal. Nos últimos
anos a rochagem tem demonstrado ser relevante para o desenvolvimento do setor agrícola, no
que diz respeito à aplicação de recursos financeiros e na preocupação com o meio ambiente. O
manejo adequado do solo com essa prática pode trazer resultados equiparados e/ou superiores
dos fertilizantes convencionais que tem elevado valor financeiro e são rapidamente lixiviados,
trazendo prejuízos muita das vezes irreversíveis para o meio ambiente.

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598
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ATLETISMO NA ESCOLA
Marco Antonio Chalita1
Aryelle da Silva Santos Barreto2

RESUMO: O Atletismo é um conteúdo clássico no currículo da Educação Física escolar, e sempre


foi observado com grande importância para as crianças que estão na idade escolar, entretanto
parece ser pouco difundido e trabalhado na escola. O presente estudo objetivou analisar a
realidade escolar da prática docente do Atletismo em escolas da rede municipal de Maceió no
Estado de Alagoas. Estudo de natureza qualitativa. Participaram da pesquisa vinte e dois os
professores de Educação Física escolar, que atuam no Ensino Fundamental. O instrumento
utilizado foi o questionário. Para análise dos dados foi utilizada a análise interpretativa. Concluiu-
se que os professores participantes percebem a importância do Atletismo nas aulas de Educação
Física escolar, e com todas as dificuldades apresentadas na realidade de Maceió-Alagoas, o
esporte é difundido e adaptado no contexto escolar.

Palavras-Chave: Educação; Educação Física escolar; Atletismo.

1 Professor de Educação Física na Universidade Federal de Alagoas (UFAL-AL). Graduado em Educação Física
pela Universidade Tiradentes (SE); Especialização e Mestrado em Educação Física e Cultura pela Universidade
Gama Filho (RJ); Doutor em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto (Portugal).
2 Professora de Educação Física escolar. Graduada em Licenciatura em Educação Física pela Universidade Federal

de Alagoas (UFAL-AL)

599
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ATHLETICS AT SCHOOL
ABSTRACT: Athletics is a classic content in the school on Physical Education curriculum, and it has
always been observed with great importance for children who are of school age, however it
seems to be little disseminated and worked in school. The present study aimed to analyze the
school reality of the teaching practice of athletics in schools in the city of Maceió in the State of
Alagoas. It was a qualitative study. Twenty-two Physical Education teachers who work in
Elementary School participated in this research. The instrument used was the questionnaire. For
data analysis, an interpretive analysis was used. It was concluded that the participating teachers
perceive the importance of athletics in school physical education classes, and with all the
difficulties presented in the reality of Maceió-Alagoas, the sport is widespread and adapted in the
school context.

Keywords: Education; School Physical Education; Athletics.

600
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO trabalho com o Atletismo compõe um processo


de ensino-aprendizagem para as formas
O Atletismo é um conteúdo clássico no esportivas de caminhar, correr, saltar e
currículo da Educação Física, parece ser pouco arremessar. Representa a passagem dessas
difundido e trabalhado nas aulas de Educação atividades básicas de estágio de padrões gerais
Física escolar. Originado na Grécia antiga, este para o de formas amplas dos respectivos
esporte é considerado um conteúdo clássico movimentos padrões, no Atletismo.
que segundo Netto & Pimentel (2007, p.4), Meinel (1984), afirma que o
afirmam que “são aqueles que não perdem sua desenvolvimento em diversos aspectos é um
atualidade para participação, compreensão e processo básico na vida do ser humano. Um
interpretação do mundo universal e particular exemplo são os animais, que no aspecto motor,
onde os indivíduos estão situados”. aprendem a movimentar-se conforme o meio
É uma modalidade desportiva que tem um em que vivem por meio da observação de seus
relativo destaque nos jogos olímpicos. companheiros e permanece com aquele
Entretanto, no Brasil o conhecimento sobre padrão a vida toda. O ser humano, quando
Atletismo não se firmou como um desporto de criança tem seus movimentos naturais,
relevância, sendo visto em época de Jogos observando os mais velhos, porém, tais
Olímpicos pela mídia. movimentos podem sofrer alteração quando
Ainda que esse seja o mais comum, existem este é direcionado a uma prática específica
outras possibilidades de conhecimento dessa como uma modalidade desportiva. Ainda
modalidade que merecem ser revistas. Ou seja, segundo o autor, na iniciação ao Atletismo
para além dessa perspectiva competitiva e como um desporto escolar deverá ocorrer
restrita a grandes eventos mundiais, é preciso como conhecimento e direcionamento dos
que se explore o lado educacional do movimentos corporais, auxiliando no processo
Atletismo. (MATTHIESEN, 2005, p. 15) de aquisição das habilidades de base e
Consequentemente, ao elencar os contribuir para o crescimento e
conteúdos para o currículo da escola é desenvolvimento. Portanto, à aprendizagem
importante incluir o Atletismo, pelas motora para crianças em fase escolar,
particularidades e na atividade/ação que este principalmente os movimentos essenciais ao
esporte possui. O Atletismo sempre foi ser humano, são de relevância para a vida dos
observado com grande importância para as alunos.
crianças que estão na fase escolar. Devido à Matthiesen (2014) e Gomes (2008),
dificuldade que as crianças apresentam para se enfatizam que muitos professores não têm um
movimentar de forma coordenada as conhecimento considerável sobre o Atletismo,
habilidades do arremessar, saltar e até mesmo como consequência disso o professor exclui o
correr. No processo de aprendizagem motora, conteúdo das aulas de Educação Física escolar.
é necessário entender o desenvolvimento da E quando adotado, a didática abordada não é a
criança no sentido de expressar a sua ideal para a formação dos alunos em idade
habilidade nos movimentos coordenativos. O escolar.

601
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Marques e Iora (2009), apontam que o A autora Matthiesen (2014, p.23) afirma:
Atletismo é pouco trabalhado na Educação Independentemente da idade, as crianças e
Física escolar, e quando é explorado se limita a os jovens deverão conhecer conceitos,
poucas modalidades como as corridas e, às procedimentos e atitudes que os auxiliem a
vezes, os saltos. E outros importantes mergulhar profundamente no universo do
elementos acabam sendo esquecidos, além de Atletismo, de modo que o conhecimento
que o Atletismo é trabalhado com o objetivo de adquirido possa orientá-los na implementação
superar o adversário, por meio de de ações futuras, tais como: a) praticá-lo ao
metodologias que visam o rendimento. Isso faz longo da vida, executando, de forma
com que o esse esporte deixe de ser consciente, cada um dos movimentos
transmitido como prática pedagógica específicos de suas provas; b) acompanhá-lo
pertencente da cultura corporal. nas transmissões provenientes dos meios de
Diante do exposto o presente estudo comunicação, conhecendo os movimentos
objetivou analisar a realidade escolar da executados por grandes atletas e
prática docente do Atletismo em escolas da reconhecendo-se na execução dos mesmos; c)
rede municipal da cidade de Maceió, no estado a compreendê-lo como atividade física
de Alagoas. promotora de inúmeros benefícios para a
qualidade de vida e para o lazer.
ATLETISMO NO CURRICULO DA Possibilitando aos alunos o
conhecimento do que saber, como saber fazer
EDUCAÇÃO FÍSICA e como o Atletismo ajuda a ser, praticando-o
A BNCC (2017), afirma que a Educação Física ao longo da vida de forma consciente e segura,
é o componente curricular que tematiza as compreendendo como atividade proporciona
práticas corporais em suas diversas formas de qualidade de vida.
codificação e significação social, entendidas As aulas das práticas corporais devem ser
como manifestações das possibilidades abordadas como fenômeno cultural dinâmico,
expressivas dos sujeitos, produzidas por pluridimensional, diversificado, singular e
diversos grupos sociais no decorrer da história. contraditório, isso possibilitará aos alunos um
O Atletismo é uma modalidade indicada conjunto de conhecimentos que permitam
para o ensino, pela sua simplicidade, seja pelo ampliar sua consciência a respeito dos
entendimento da dinâmica da prática corporal movimentos e dos recursos para cuidar de si,
deste esporte, seja pelo pouco material que desenvolvendo autonomia para utilização da
necessita, facilitando assim o trabalho e cultura corporal de movimento em diversas
entendimento dos alunos. Portanto, para além finalidades humanas, favorecendo sua
do que se conhece do Atletismo em termos participação de forma confiante e autoral na
competitivos, deve-se explorá-lo como sociedade (BNCC,2017).
conhecimento a ser veiculado pela Educação No campo escolar o ensino de uma
Física, abrangendo não apenas procedimentos, modalidade esportiva em aulas de Educação
mas conceitos e atitudes. Física faz parte da rotina, entretanto, muitos

602
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

professores têm como objetivo ensinar (2006), como um esporte pouco atrativo e sem
durante as aulas o movimento técnico, graça, desmotivando os professores a incluir
preocupando-se apenas com o “saber fazer” este conteúdo em seus planos de aula. Para
quando não, com o “saber fazer” bem. Isso, Nascimento (2010, p. 99), a “[...] aceitação do
infelizmente, faz com que outras possibilidades Atletismo por parte do aluno não deve ser algo
de desenvolvimento do conteúdo sejam imposto, mas visto como ampliação dos
deixadas em segundo plano. conhecimentos e algo que traga benefícios
Segundo Oro (1984), o professor de tanto de forma individual quanto coletiva”. De
Educação Física tem no ensino do Atletismo um acordo com Oro (1983), o Atletismo no Brasil
processo facilitador para o desenvolvimento precisa levar em conta essa cultura trazida pelo
do andar, correr, saltar e arremessar, indivíduo e deve ser capaz de se mostrar
elementos básicos do trabalho da Educação interessante e motivador, inserindo-se nessa
Física que estão englobados no Atletismo. perspectiva sociocultural. Rabelo e Fernandes
Neste sentido além de conhecer e vivenciar um (2010), apontam que outros fatores
esporte, também é uma oportunidade de limitadores para desenvolver as atividades
contribuir no desenvolvimento do aluno em desse esporte nas aulas foram a falta de
diversos aspectos, seja motor, cultural e social. materiais e espaços físicos.
Para Matthiesen (2014), apesar da
relevância da modalidade na Educação Física METODOLOGIA
escolar e mesmo sendo um dos esportes mais
Este estudo é de natureza qualitativa, que de
tradicionais no campo esportivo, e ainda sendo
acordo com Minayo (2010), pesquisas desse
um dos conteúdos clássicos da Educação Física
cunho trabalham com fenômenos que não
é muito pouco ensinado nas escolas.
podem ser quantificados. Buscando uma maior
Santos e Matthiesen (2013), corroboram aproximação com a experiência e os
apontando que o Atletismo no Brasil
fenômenos levando em consideração a
demonstra, por meio de sua História, marcas
realidade do grupo pesquisado. A pesquisa
da indiferença/negligência das escolas em
classifica-se como descritiva, pois busca dar voz
relação ao seu ensino e a sua difusão enquanto aos sujeitos da pesquisa e, por meio disto,
manifestação cultural da sociedade. Ainda Oro descrever sua realidade.
(1984), afirma que os brasileiros preferem
O grupo estudado foram vinte e dois (22)
modalidades esportivas coletivas com bola, ou
professores de Educação Física, que atuam na
seja, uma questão de cunho cultural, sendo
Rede Municipal de Educação de Maceió-
consequência da mídia, do mundo dos
Alagoas do Fundamental I e II. Sendo do sexo
negócios, dos periódicos especializados, nos
masculino, dezesseis (16), e do sexo feminino,
quais transformaram o esporte em um
seis (6). O professor com menor experiencia
fenômeno social massivo e exercem, portanto,
atua na área há um (01) ano, e professor com
um papel social.
maior experiência atua há quarenta e um (41)
Diante da situação sociocultural, o Atletismo anos.
é visto pelos alunos, de acordo com Miranda

603
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O Instrumento para coleta de dados segundo Gil (2008) tem como objetivo da
utilizado foi o questionário, em forma de procura do sentido mais amplo das respostas.
questões abertas, realizado por meio do
“Google Forms”. Segundo Gil (2008), o RESULTADOS E DISCUSSÃO
questionário pode ser definido como a técnica
Colaboraram para o presente estudo 22
de investigação composta por um conjunto de
professores de Educação Física escolar da
questões que são submetidas a pessoas com o
cidade de Maceió no Estado de Alagoas, sobre
propósito de obter informações sobre
o tempo de formação profissional dos mesmos,
conhecimentos, crenças, sentimentos, valores,
variou entre seis (06) meses o que tinha menos
interesses, expectativas etc.
tempo e o de maior tempo de trabalho na
O procedimento para coleta de dados se
profissão foi de trinta e oito (38) anos. Em
iniciou por meio do envio da carta de
relação ao tempo que atuam na área escolar, o
autorização à Secretaria Municipal de
menor foi entre um (01) ano e seis (06) meses,
Educação – SEMED com a solicitação da
enquanto o maior foi de quarenta e um (41)
autorização da pesquisa nas escolas da rede de
anos. De acordo com os questionários, 96% dos
ensino. O que foi atendido com a carta
professores, ou seja, vinte e um (21)
resposta da Secretária de Educação. A partir da
colaboradores alegaram satisfação com sua
autorização foi enviado o questionário para os
atuação profissional, tanto com os alunos
professores de Educação Física escolar por e-
quanto com outros colegas de trabalho
mail. Os professores que optaram por
Atuo há aproximadamente um ano e meio
responder o questionário, inicialmente tinham
como professor de Educação Física da rede
disponível para leitura o Termo de
estadual de ensino, estou bastante satisfeito
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
com minha atuação, pois tenho conseguido
Deixando clara a livre opção por participar ou
mudar alguns pré-conceitos estabelecidos
não, e também para contato com o
historicamente na EDF, e que ainda são
pesquisador para quaisquer dúvidas. Logo em
replicados por parte dos alunos e da gestão.
seguida tiveram o acesso ao questionário para
(PROFESSOR 8)
responder.
7 anos. Estou nesta instituição desde antes
Este estudo seguiu todos os procedimentos
da conclusão do curso. Me sinto satisfeito com
éticos de pesquisa e foi autorizado pelo Comitê
a atuação e isso se dá pelo feedback dos alunos
de Ética e Pesquisa – CEP da Universidade
e a percepção da evolução dos mesmos nos
Federal de Alagoas – UFAL por meio do parecer
aspectos motor, cognitiva, desportivo, social e
consubstanciado número: 4.314.145, e com o
etc. (PROFESSOR 13)
Certificado de Apresentação de Apreciação
12 anos. Sim, pois apesar das dificuldades
Ética – CAAE sob o número:
enfrentadas com relação a local adequado,
36621120.0.0000.5013.
falta de equipamentos e adequação dos
Para o procedimento de análise dos dados
horários de aulas. Procuro sempre fazer o
foi utilizada a análise interpretativa que
melhor. (PROFESSOR 4)

604
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Há 41 anos. Sim, porque amo o que faço e Fundamental – anos iniciais e finais (BRASIL,
acho que a Educação Física é para todos. 2017). Esse documento apresenta o propósito
(PROFESSOR 18) de determinar os conhecimentos essenciais
Um estudo de Nascimento (2016), realizado que o estudante deva ter acesso e se apropriar
em Santa Catarina, com uma amostra durante a escolaridade nas diversas disciplinas
composta por setenta e três (73) curriculares. A abordagem do esporte no
colaboradores, afirma que professores de ambiente escolar apresenta-se significativa,
Educação Física da rede municipal estão, em pois seu desenvolvimento e a disseminação são
sua maioria, satisfeitos com a qualidade de vida contínuos e crescentes.
no trabalho. A importância do esporte correlacionado a
Em relação às modalidades esportivas educação é importante pois é por meio desta
tratadas pelos professores nas aulas união que se pode abordar sobre práticas
constatou-se uma maior evidência para as saudáveis que além da aquisição de
quatro modalidades tradicionais – conhecimento dos alunos sobre como é
basquetebol, handebol, voleibol e futebol. relevante praticar esportes, se pode ainda pôr
Como podemos perceber na fala dos em práticas algumas das ações esportivas,
respondentes abaixo proporcionando aos alunos momentos de
Sim, esportes coletivos (futebol, futsal, diversão e aprendizado. A partir destas
voleibol, handebol e basquete) e esportes experiências os mesmos despertam para
individuais (Atletismo e judô) (PROFESSOR 4) entender o quanto é prazeroso e significativo o
Sim, mas de uma forma contextualizada, esporte para uma vida equilibrada. Podemos
visto que trabalho com turmas de ensino perceber nas falas relacionadas a seguir:
médio e acredito que assim possam O esporte se bem ministrado pelos
compreender de forma mais ampla esse professores podem ensinar valores éticos,
fenômeno. Badminton, futsal, Atletismo, posturas de cidadania, cuidados com a saúde
handebol e basquete, principalmente. física e mental. (PROFESSOR 1)
(PROFESSOR 10) De grande importância por quê por meio
[...]Futebol, natação, handebol, basquete, o deles trabalhamos o respeito as regras, ao
Atletismo entre outros, Sempre busco trazer próximo, a ludicidade, a promoção da Saúde, e
novidades, ou seja, modalidades esportivas a consciência dos efeitos nocivos das drogas ao
que não são muito praticadas por nossa cultura desenvolvimento manutenção das capacidades
brasileira. (PROFESSOR 11) físicas (PROFESSOR 6)
Com o infantil, trabalho a dança, ginástica e A meu ver esse é o principal meio de
Atletismo e com fundamental l trabalho, além desenvolvimento integral do aluno por meio da
desses, o voleibol, handebol e basquete. Educação Física, desde que trabalhado de
(PROFESSOR 17) forma lúdica e sem promoção de exclusão.
A Base Nacional Comum Curricular aborda o (Professor 9)
conteúdo esporte, pertencente ao Desenvolvimento corporal e na formação
componente Educação Física durante o Ensino social do aluno. (PROFESSOR 21)

605
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O esporte é toda atividade destinada ao fundamental na aquisição de hábitos saudáveis


aperfeiçoamento físico e mental do homem na vida das crianças que pode influenciar na
tanto pela prática livre dos exercícios, como vida adulta destas pessoas.
por meio de competições. Consideram-se Quando questionados como é
também como esportes todas as atividades trabalhado o esporte nas aulas, os professores
recreativas que exigem certa dose de esforço informaram que aplicam de forma gradual,
físico ou de habilidades individuais ou coletivas ensinam sobre a história, os fundamentos, as
(BRASIL, 2017). O esporte é um excelente técnicas, e em seguida o jogo em si. Em relação
facilitador para a melhoria da saúde física e às metodologias utilizadas pelos professores,
mental. Isso acontece independente de observou que a maioria dos professores utiliza
quaisquer fatores como: status econômico, de métodos tradicionais: método global – o
cultural ou diferença de idade. Considerando- jogo em si; e o método parcial - os
se a necessidade de realizar práticas esportivas fundamentos separados. Acredita-se que tais
tanto na infância quanto na adolescência a formas de se ensinar o esporte são mais
Educação Física no ambiente escolar é uma difundidas e, talvez, tenha sido dessa forma
excelente ferramenta motivadora na área de que os próprios professores aprenderam
aprendizagem dos alunos. A Educação Física determinadas práticas esportivas em sua
escolar oferece oportunidades para todos os graduação. O que se pode confirmar adiante
alunos buscarem o conhecimento e o com as falas dos professores
desenvolvimento, oportunizando atividades O esporte é trabalho de forma sistemática,
físicas agradáveis aumentando a possibilidade com ensino de técnicas, táticas e a importância
de influenciar nas futuras decisões abordando de aprender diversas habilidades no contexto
temas sobre a mudança de hábitos que esportivo, sem separação de meninos e
melhorem a prática de atividades físicas meninas e com objetivo de que todos possam
melhore a nutrição, além de proporcionar o vivenciar o maior número de movimentos
lazer de várias pessoas também serve como um possíveis, no intuito de conscientizar aos
meio de se prevenir de doenças e usá-lo como alunos que eles são capazes de fazer
um combate a essas doenças que vem determinados movimentos. Todas as
dominando o mundo todo. abordagens baseadas no ensino do esporte
O esporte escolar contribui com vários educacional. (PROFESSOR 1)
aspectos do desenvolvimento, inclusive com a Primeiro, partir do que os alunos conhecem;
questão do trabalho em grupo, quando não há focar no estímulo e na importância na prática
exclusão, podendo também trabalhar a para o lazer e estímulo; considerar as
cooperação e o companheirismo. A prática de dificuldades que terão preconceitos,
atividades físicas e esportivas é reconhecida deficiências, potencialidades, é outras coisas
como relevante para o ser humano e para a considerando barreiras que são várias.
sociedade em geral. Entende-se que a escola, (PROFESSOR 5)
por meio da disciplina de Educação Física e de
outras disciplinas, exerce um papel

606
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Acompanhando todas as orientações da condicionados, nos quais não existe divisão em


bncc em relação a quais esportes trabalhar e elementos técnicos, mas sim em unidades
em que anos, levando em consideração as funcionais, por meio das quais o aluno
habilidades os referidos anos, mas visando compreende o jogo por meio de uma
sempre a inclusão e não o lado competitivo das complexidade crescente, desta forma as
modalidades (PROFESSOR 6) técnicas surgem por meio das táticas
Categorizado os processos sócio-históricos, orientadas e provocadas, dando sentido ao
fundamentos e regras. (PROFESSOR 7) jogo. Também há o conceito recreativo do jogo
Inicialmente o contexto histórico da esportivo onde se utilizam os métodos citados
modalidade, atividades pré desportivas com anteriormente, o jogar é utilizado desde o
entendimento das regras e ações especificas e princípio, mas a construção do jogo é feita
por fim adaptações dos jogos pra uma boa passo a passo.
realização da atividade, e pôr fim a modalidade Dietrich, et al (1984), analisou que os
propriamente dita. (PROFESSOR 12) mesmos aprendem jogando livremente,
Inicia como atividade lúdica até a iniciação construindo seu próprio jogo de acordo as
aos esportes. (PROFESSOR 22) capacidades sociais de sua faixa etária. Há uma
Dietrich, et al (1984), explicita duas conexão racional entre os pequenos jogos e os
metodologias tradicionais utilizadas para o grandes jogos. Não existe uma situação
ensino dos esportes coletivos: a global e a específica para a aplicação dos elementos
parcial. O método global defende que o jogo se técnicos, porém ocorrem intervenções em uma
aprende jogando. Os elementos da modalidade situação adequada, com isso estas táticas são
são aprendidos desde o início como aparecem representadas por formas simples e minijogos
no jogo, dando oportunidade para que os esportivos.
alunos vivenciem situações reais. Neste Com relação a como o Atletismo é ensinado,
método é colocado que só jogando pode-se alguns professores responderam que da
aprender um jogo, há ainda a questão de que mesma forma que os outros esportes, mas de
este método é uma alternativa para quem não um jeito mais lúdico, como vemos abaixo:
têm um planejamento bem estruturado. Sim. Conhecendo e vivenciando de forma
Já o método parcial ou analítico-sintético é lúdica. (PROFESSOR 4)
ensinado por meio da fragmentação do jogo Sim. De forma lúdica e pré-desportiva.
em elementos técnicos, táticos e de (PROFESSOR 13)
treinamento, buscando um melhor Sim, por meio de jogos, estafetas.
condicionamento motor. Este método Adaptando ao espaço que tenho para as
possibilita um treino motor correto e profundo, atividades. (PROFESSOR 18)
dividindo o processo em etapas, facilitando a Sim. Atividades com jogo e brincadeiras.
aprendizagem para os alunos e não excluindo (PROFESSOR 21)
os menos habilidosos. Marques e Iora (2009), afirmam que a
Segundo Garganta (1995), uma forma de modalidade esportiva do Atletismo é pouco
ensino dos esportes coletivos são os jogos vivenciado na escola, sendo que em muitas o

607
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

trabalho é visto somente pelo rendimento Na iniciação deste esporte como um


técnico, deixando de lado a criatividade e a desporto de base, entende-se que o processo
construção de novas possibilidades de de aprendizagem nas escolas deverá ocorrer
movimentos que poderiam ser utilizadas no como conhecimento e direcionamento dos
contexto pedagógico das aulas. Alguns movimentos corporais, auxiliando no processo
professores relatam as abordagens do de aquisição das qualidades físicas de base e
Atletismo nas aulas, como podemos perceber contribuindo para o desenvolvimento e
nos relatos a seguir: crescimento. O desenvolvimento do indivíduo
Nos 6 anos nas cidades que trabalho, como precisa ser trabalhado desde as séries iniciais,
dito antes, junto a teoria com a prática. Falo mas é na fase do ensino fundamental que o
sobre a história, regras, tipos de provas, como corpo das crianças está mais preparado para
é dividido, entre outros (PROFESSOR 2) receber estímulos capazes de colaborar no
Sim apesar das dificuldades em ter que desenvolvimento de capacidades físicas.
improvisar com relação a espaço e material, Matthiesen (2005), acredita que para as
ficando muitas vezes, apenas uma vaga noção crianças se aproximarem do Atletismo seria
na prática do que realmente são as provas e necessário que o professor de Educação Física
arremessos saltos e corridas. Para usar imensos trabalhasse as atividades recreativas inserindo
eu improviso bolas mais pesadas como o nelas o conhecimento geral sobre a
arremesso de peso cabos de vassoura como modalidade. Corroborando Pieri e Huber
arremessos de dardo. Para o arremesso de (2013), enfatizam que o Atletismo deve ser
disco uso pedaços planos de madeira. Já o trabalhado na escola de forma lúdica, fazendo
arremesso de martelo eu apenas explico como com que as crianças conheçam e adquiram
é a prova. Para o salto em distância como não gosto pela modalidade, de forma que
temos caixa de areia saltamos do jeito que dá contribuirá para a aquisição de habilidades que
no espaço em cimentado que temos já o salto são fundamentais para o desenvolvimento das
em altura usamos cordas elásticas para saltar o crianças.
mais alto que conseguem e cair em pé já que Na escola, o professor ao ensinar o
não temos colchão. Nas corridas trabalhamos Atletismo, deve proporcionar aos alunos o
as noções de saída baixa e saída alta e os conhecimento dos movimentos próprios das
revezamentos de bastões. Todos esses diferentes provas do Atletismo; como também
conteúdos também trabalhamos vendo vídeos a capacidade de entender e analisar de forma
de todas essas modalidades (PROFESSOR 6). crítica as diferentes reproduções desse
Sim! Trabalho o Atletismo na forma de esporte. O ensino do Atletismo escolar deve
conhecimento ao esporte e as práticas ocorrer de forma lúdica, por meio de
colocando as técnicas das provas (PROFESSOR brincadeiras, possibilitando a participação de
7). todos, independentemente de seu atual
Trabalho as corridas, lançamentos, saltos e estágio de desenvolvimento motor.
outros, muitas vezes com materiais recicláveis. O Atletismo quando relacionado à iniciação,
(PROFESSOR 17) pode se transformar em um excelente recurso

608
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ao desenvolvimento psicomotor de uma há muito tempo vem sendo colocado em


criança. Não podemos desvincular o Atletismo segundo plano.
da realidade social em que as crianças estão Houve apenas um professor neste estudo
inseridas, uma vez que isto é de grande que não aplica Atletismo em suas aulas, apesar
importância para o seu desenvolvimento de considerar importante. Sendo uma
pleno. Ao perguntar aos professores a modalidade esportiva fundamental para o
importância do Atletismo nas aulas, foi visto desenvolvimento motor de um indivíduo,
que é de grande relevância: percebe-se a precária utilização dentro das
Sim. Por toda diversidade de provas e poder aulas de Educação Física nas escolas,
de inclusão social, riqueza de movimentos dificultando seu aprendizado e diminuindo a
coordenativos, combinações entre diversas possibilidade de sua colaboração no
ações motoras e mentais. Além disso é o desenvolvimento das crianças. E quando
esporte base para os demais. (PROFESSORA 1) perguntado para esse colaborador sobre a
Pois além de ser de baixo custo a aplicação, importância desse esporte, ele respondeu:
é um esporte super inclusivo, todos tem o seu Sim, com certeza, para os alunos demostrar
espaço de acordo com sua individualidade. suas habilidades em diferentes modalidades.
Onde todos poderão superar seus limites (PROFESSOR 14)
individuais. (PROFESSOR 4) Apesar do conhecimento sobre a
Sim, a depender da estrutura da escolar, é importância desse esporte, o professor não
fundamental que o Atletismo seja aplica para seus alunos e ainda ser incluído nos
desenvolvido em todas as suas provas e conteúdos da Educação Física há grande
modalidades, visto que esse esporte pode resistência por parte dos profissionais em
proporcionar ao aluno inúmeros benefícios ensinar essa modalidade esportiva. Neste
para a vida. (PROFESSOR 9) contexto Kunz (1998), enfatiza que o ensino do
Sim. Porque desenvolve no aluno Atletismo na escola tem dificuldades pelo
habilidades coordenativas, motoras, cognitivas motivo de que as crianças têm a preferência de
e uma aptidão por uma vida ativa. jogar e brincar com bola do que atividades de
(PROFESSORA 17) correr, saltar ou arremessar.
De acordo com Nascimento (2010), o Para Sedorko e Distefano (2012), o Atletismo
Atletismo no currículo escolar deve ser para o é pouco praticado nas escolas com a
aluno ter a oportunidade de vivenciar, justificação de falta de espaços adequados e
descobrir e conhecer, brincar com diferentes materiais, bem como à falta de interesse por
formas de habilidades corporais, explorar e parte dos alunos, assim os professores não
resolver situações, criar e recriar, procurar trabalham este conteúdo nas aulas, e
atingir sua autonomia , sendo o Atletismo um predominam os esportes tradicionais que
meio para isso. Apesar da relevância na fazem o uso da bola. Outra problemática da
Educação Física escolar e mesmo sendo um dos aplicação do Atletismo na escola citado pelos
esportes mais tradicionais no campo esportivo, mesmos autores é o fato de as universidades
o Atletismo de acordo com Matthiesen (2012), não ensinarem o esporte para os acadêmicos

609
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mostrando as possibilidades de abordagem


dentro das escolas, o que contribui para o
professor excluir esse conteúdo de suas aulas.
Muitos estudos mostram que as escolas da
atualidade não possuem estrutura e materiais
para o ensino da modalidade do Atletismo,
tornando sua prática cada vez menos
frequente. Porém, isso não impede que os
profissionais de Educação Física façam com que
as crianças aprendam esse esporte.
Independente do espaço físico e da falta de
materiais oficiais, o Atletismo pode ser
desenvolvido na escola, pois o que importa são
as vivências das provas dessa modalidade e o
direcionamento que é dado ao ensino de cada
uma delas. Assim, o professor deve realizar
adaptações do espaço físico de acordo com a
realidade de cada escola, a construção de
materiais alternativos para suprir a falta dos
oficiais, possibilitando o conhecimento dessa
modalidade esportiva. E ainda é preciso e
possível incentivar os profissionais de
Educação Física. Pois, como ressalta
Matthiesen (2014), para que o Atletismo seja
contemplado nas aulas de Educação Física
escolar é preciso superar as inúmeras barreiras
existentes.

610
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar dos conflitos entre os estudos já realizados e o resultado dessa pesquisa sobre o
trabalho com o Atletismo nas escolas, observa-se que os professores que contribuíram com essa
pesquisa se utilizam do Atletismo, e entendem que é de grande importância para as crianças em
sua fase de desenvolvimento, consequentemente sendo aplicado em sua maioria nas aulas de
Educação Física escolar, apesar de muitas dificuldades, o esporte é trabalhado, com suas devidas
adaptações.
Desta maneira foi possível entender que os professores se utilizam do Atletismo como um
conteúdo do currículo e entendem que é importante trabalhá-lo nas aulas de Educação Física
escolar, considerando os aspectos sociais e cognitivos, além de proporcionar um bom repertório
motor para as crianças.

611
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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2012. Disponível em: < https://www.efdeportes.com/efd178/Atletismo-na-educacao-fisica-
escolar.htm >. Data de Acesso:20/07/2022.

613
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AVALIAÇÃO E REAVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO


DESENVOLVIMENTO DE UMA CRIANÇA
NEUROATÍPICA NA PANDEMIA
Márcio Luiz Oliveira de Aquino1

RESUMO: Poder averiguar se ocorreu ou não prejuízo no desenvolvimento humano como um


todo em alunos neuroatípicos no período da pandemia na cidade de Campo Grande, MS foi o
nosso intuito. Por trabalharmos em uma secretaria Municipal de Educação fazendo parte de uma
equipe técnica especializada, que acompanha alunos neuroatípicos detectamos essa
problemática. O mesmo iniciou-se com um questionamento quanto ao acompanhamento
pedagogico dessa clientela diante das aulas online e cadernos de atividades elaborados vinculado
as limitações e especificidades de cada neuroatípicos que eram enviados para as famílias
realizarem com o aluno, se esse acompanhamento realmente aconteceria. Como forma de
diagnosticar essa problemática, foi realizado uma avalição psicológica e uma outra reavaliação
no período de 12 meses em uma criança de 10 anos e 2 meses em um consultório psicológico
adequado para essa finalidade. As avaliações passaram por todas as etapas seguindo as normas
adotadas e exigidas pelo Conselho ao qual o profissional encontra-se ligado. Conclui-se diante
dos resultados que infelizmente detectou-se prejuízo significativo.

Palavras-Chave: Avaliação; Pandemia; Neuroatípico; Prejuízo

1Professor Especialista em Educação Especial; Psicólogo; Psicoterapeuta; Psicodramatista.


Graduação: Mestrando em Ciências da Educação; Especialização em Neuropsicopedagogia; Especialização em
Análise Comportamental Aplicada.

614
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSYCHOLOGICAL ASSESSMENT AND REASSESSMENT IN THE


DEVELOPMENT OF A NEUROATYPIC CHILD IN THE PANDEMIC
ABSTRACT: Being able to find out whether or not there was damage to human development as a
whole in neuroatypical students during the pandemic period in the city of Campo Grande, MS
was our intention. As we work in a Municipal Department of Education as part of a specialized
technical team that monitors neuroatypical students, we detected this problem. The same began
with a questioning about the pedagogical follow-up of this clientele in the face of online classes
and activity notebooks elaborated linked to the limitations and specificities of each neuroatypical
that were sent to the families to carry out with the student, if this follow-up would really happen.
As a way of diagnosing this problem, a psychological assessment and another reassessment were
carried out in a period of 12 months in a child aged 10 years and 2 months in a psychological clinic
suitable for this purpose. The evaluations went through all the steps following the rules adopted
and required by the Council to which the professional is connected. In view of the results, it is
concluded that Unfortunately, significant damage was detected.

Keywords: Evaluation; Pandemic; Neuroatypical; Loss

615
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO também avaliação psicológica, a familia dessa


criança entrou em contato com o profissional
Esse resultado foi obtido de uma pesquisa de para ser avaliada diante da queixa da escola em
cunho exploratório embasada em bibliografia e dificuldade pedagógica.
estudo de caso em que foram analisados os A avaliação aconteceu bem no início do
dados de forma qualitativa. O resultado período pandêmico da covid 19 e um ano
encontra-se vinculado ao desenvolvimento depois com é de praxe ocorreu a reavaliação.
humano envolvendo a área de psicologia Com os dados que foram obtidos da avaliação
clínica assim como também na área e reavaliação num período de 12 meses,
educacional pelo fato de ter sido encaminhado percebemos que os mesmos acabavam por
pela escola com encaminhamento da mesma responder o nosso questionamento inicial se
para a família tomar providencias no caso estaria ocorrendo o acompanhamento
avaliação para amenizar o prejuízo detectado pedagógico e o desenvolvimento integral de
para assim a escola buscar ferramentas que um aluno neuroatípico diante da pandemia.
possam desenvolver as potencialidades e A pesquisa acabou resultando de uma
habilidades especificas do neuroatípico. avaliação psicológica em uma criança de 10
Acreditamos e consideramos relevante anos e 2 meses, cursando o quarto ano ensino
buscar uma resposta que elucide o problema fundamental, de família de classe com baixo
que será apresentado adiante e isso nos levou poder aquisitivo, no grupo de vulnerabilidade
a realização desta pesquisa. social, com pouca escolarização e pais
O objetivo principal é verificar se ocorreu um separados, em um consultório particular,
prejuízo no desenvolvimento humano como envolvendo anamnese e aplicação de testes
um todo em um aluno neuroatípico no período como WISC IV, testes projetivos House Treee
de pandemia. Personal - HTP, Teste de memória auditiva
Como objetivo secundário vamos comprovar RAVLT, e atividades complementares de teste
o prejuízo fazendo comparações dos torre de Londres, torre de Ranoi e cubos corsi.
resultados obtidos.
O local onde se deu a avaliação seria em uma
SURGE A PANDEMIA
sala de um consultório particular de psicologia,
Pois bem no ano de 2020 surge o vírus
sala está adequada, arejada, iluminada sem
SARS3- COVID 19, a princípio o mundo estava
distratores2 envolvendo ética e sigilo.
2

encarando como uma epidemia ( que acaba


1

A avaliação ocorreu no período da pandemia


sendo tratado com isolamento, observação e
do covid 19 entre os anos de 2020 a 2022,
controle epidemiológico até radicar
como temos duas formações acadêmicas a
totalmente) iniciou-se na cidade de Wuhan
psicologia e a pedagogia e atuarmos em
com 12 milhões de habitantes que se
consultório fazendo psicoterapia assim como

2 3
Que ou aquilo que distrai ou serve para distrair. Síndrome respiratória aguda grave.
Disponível em: https://dicionario.priberam.org/
Acessado em: 29-07-2022.

616
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

encontrava isolado do resto do país a China, contato com a professora ou mesmo com seus
entretanto infelizmente não era e se pares, isto é, a interação social de uma maneira
transformou em uma pandemia que seria o geral, a proposta lançada não iria resolver o
corona vírus envolvendo o mundo todo. prejuízo educacional, pelo contrário iria
Consequência disso a Organização Mundial aprofundar.
de Saúde-OMS aponta a necessidade de No entanto era a única solução diante de
medidas de biossegurança, o uso do álcool gel, uma realidade atípica nunca antes imaginada
da máscara facial e do isolamento pois o que estamos vivendo, isto é , a educação
contágio ocorria por meio do ar em forma de remota acabou sendo adotada como uma
gotículas envolvendo a aglomeração. solução emergencial neste momento de
Diante disso, no dia 16 de março o Ministério pandemia sendo muito melhor colocá-la em
da Saúde traçou e lançou o plano de prática do que ter um ano totalmente perdido
contingente, alertando os estados e municípios para a educação, em que as aulas pela internet,
sobre o número de casos, em que se até então opcional, foram imprescindíveis para
aumentassem seria recomendado o uso das amenizar o prejuízo da pandemia.
medidas da biossegurança e também o As aulas online que foram implementadas
cancelamento de qualquer evento que no início da pandemia, mais para não perder
aglomerasse um grande número de pessoas, contato que para a continuidade do
intensificação das limpezas e a adoção pedagógico.
obrigatório do álcool gel e da máscara, De uma forma geral, temos que entender o
cancelamento de viagens, a suspensão de aulas tempo, o ritmo e a necessidade de um aluno
e a doção do teletrabalho para as empresas ( que precisa aprender por meio do meio digital
MANDETA, 2021). assim como também reinventar.
Com isso as aulas foram suspensas e Assim que foi decretado o isolamento, os
substituídas por aulas online, pois estávamos professores retornaram ao trabalho online,
nos deparando com uma pandemia de desenvolvendo suas atividades pedagógicas a
proporções inimagináveis, no entanto tudo partir das plataformas estabelecidas pelas
ocorreu às pressas, em toque de caixa sem redes de ensino.
preparo e adequação alguma pois o tempo era Os planejamentos tiveram que ser refeitos e
escasso. readequados às novas metodologias de ensino,
Mas, como ficou a educação para o aluno os professores tiveram que aprender a nova
neuroatípico? O que foi feito para amenizar o metodologia de trabalho no caso a informática.
prejuízo pedagógico que ele teria nesse Os alunos tiveram que se adaptar e ainda
isolamento? haver uma inserção dos mesmos por meio da
É notório, que o ensino à distância era aprendizagem on-line. Esse processo foi
ineficiente para o processo de ensino- ocorrendo gradualmente, apresentando novos
aprendizagem na educação básica etapa da recursos, entretanto não havendo sobrecarga
alfabetização e principalmente para o aluno sensorial em vídeo aulas para assim manter o
neuroatípico pelo fato da necessidade do foco e atenção do aluno, desativar o som

617
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

excessivo de barulhos e estímulos visuais que No entanto nesse período da pandemia as


pode levar a uma sobrecarga sensorial e críticas foram surgindo como por exemplo: as
cognitiva para o aluno processar tudo o que aulas online não eram pensadas para os
está acontecendo, procurar sempre deficientes, a criança não era preparada para
estabelecer rotinas nas aulas on-line. estar disponível cognitivamente no formato
E isso fica evidenciado na fala de Monteiro ( desse tipo de aula online e havia a falta de um
2022, p.22), menciona que o “ensino remoto projeto de educação inclusiva envolvendo essa
foi uma solução temporária emergencial para área de informática com o deficiente.
continuar as atividades pedagógicas por meio E isso fica muito claro na fala de Jesus e Sá (
do acesso a internet”. 2021, p.67), “de uma forma geral, tiveram os
Isso foi sendo evidenciado ao longo da atendimentos terapêuticos, educativos
pandemia e o isolamento social em que criança especializados e de serviços à comunidade
não conseguiam permanecer na frente da tela suspensos sem previsibilidade de retomada
devido as questões distratores, ou ainda por presencial ou com alternativas durante o
não estar tendo funcionalidade do aluno com período”.
deficiência. Neta (2021, p 2), também relata esse
Utilização para os alunos com deficiência, de assunto e vai mais longe mencionando o temos
conteúdos e recursos visuais demonstrando o como “uma das possíveis causas do medo de
início e fim das aulas para ser proveitoso, não se buscar atendimento que seria evitar o
fornecer instruções de maneira visual, usando sistema de saúde devido a aglomeração”.
imagens, objetos ou animação para processar Apesar da bibliografia ainda ser escassa e
as informações de uma forma mais eficiente e isso ser constatado por Jesus e Sá que nos
menos estressante. descreve :
Santos (2019, p.111), nos coloca “passos Em síntese, é possível observar um cenário
fundamentais para se iniciar a transformação que carece de dados estatísticos e discussões
do espaço escolar e da sala de aula; avaliação midiáticas e acadêmicas com debates e
dos alunos, planejamento das atividades e dos propostas plausíveis para entender a real
grupos, planejamento do espaço de gravidade relacionada a discriminação do
aprendizagem, integração da equipe escolar e víruse a exposição das pessoas em situação de
a implementação”. deficiência (JESUS e SÁ, 2021, p.68)
Porém, Monteiro (2022, p.71), faz uma Podemos detectar os prejuízos e a conclusão
reflexão mais aprofundada quando relata que de tudo ao nosso redor, encontra-se diante da
“é tempo de repensar novos saberes, inventar reflexão que fazemos mais detalhado na
estratégias e remodelar a inclusão que outra metodologia, ocorreu prejuízo sim no
pensávamos ser eficaz”. desenvolvimento da pessoa neuroatípica como
Em outras palavras, aproveitar a crise para um todo e principalmente no pedagógico.
nos reinventarmos, pois o que era tido como
normal antes hoje não mais é.

618
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

619
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DISCUSSÃO Outras questões também foram detectadas


como por exemplo: muito estresse, e
desentendimento e total falta de paciência
Estarmos passando por um momento
(como já mencionado anteriormente)
delicado que seria a pandemia da covid 19 e as
consequência do isolamento social que afetou
consequências para evitar o seu contágio, que
o aspecto emocional e social, falta de
seria o isolamento social obrigatório. Isso
adaptações ou inadequação de materiais às
acabou agravando o aspecto do ensino e o
deficiências especifica do aluno; as aulas
quadro pedagógico pois as escolas acabaram
online não eram pensadas para os deficientes.
interrompendo suas atividades assim como
A criança não era preparada para estar
diferentes seguimentos da sociedade.
disponível cognitivamente no formato desse
Apesar de haver um cenário de insegurança,
tipo de aula, onde não se levava o tempo de
inconstância e com poucos dados concretos,
atenção e concentração, falta um projeto de
como é evidenciado na fala de Jesus e Sá (
educação inclusiva envolvendo a área de
2021).
informática com o deficiente, total
Em síntese, é possível observar um cenário
desinteresse da família e do aluno pela aula
que carece de dados estatísticos e discussões
online.
midiáticas e acadêmicas com debates e
Diante desse panorama apresentado
propostas plausíveis para entender a real
podemos concluir que todos os educandos sem
gravidade relacionada a disseminação do vírus
exceção foram e estão sendo prejudicados.
e a exposição das pessoas em situação de
Comparando essas informações com a
deficiência ( JESUS e SÁ 2021, P 68).
pequena amostra apresentada nas tabelas
Pois bem, com o fechamento das escolas
apresentada nesse estudo, podemos inferir
uma preocupação se instalou, como iria ficar a
que a criança foi avaliada num primeiro
esfera educacional e o pedagógico dos alunos,
momento apontando uma deficiência
com isso deu-se início as aulas online que seria
intelectual leve F 70 ( QI 69) com limitações que
a única solução cabível no momento,
poderiam ser amenizadas com as intervenções
entretanto consequências negativas foram
clínicas adequadas e necessárias orientadas
percebidas como: as aulas online era um
pelos profissionais sugeridos no final da
desafio grande para os estudantes pois os pais
avaliação.
( que tinham um mínimo de poder aquisitivo
No entanto após 12 meses que seria o prazo
para adquirir um aparelho tecnológico ou
estipulado de validade da avaliação psicológica
mesmo um nível de escolarização para ajudar
que por triste coincidência teve início o
nas tarefas escolares) faltava paciência em
isolamento social determinado pela
auxiliar e os professores ( tímidos e retraídos
Organização Mundial de Saúde – OMS e o
com dificuldade em falar diante de uma
fechamento das escolas assim como a
câmera), ou mesmo despreparo no uso de
interrupção de atendimentos clínicos para
tecnologia, tiveram que auxiliar no novo
evitar a contaminação e contágio.
modelo de ensino, ambos se aliaram com o
objetivo do pedagógico do aluno.

620
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Não bastando só isso a família com poder


aquisitivo baixo como apontado na tabela 1
teriam que recorrer as instituições públicas
especializadas ( ONGs) que pudessem dar o
devido tratamento a esse público-alvo, mas
essas instituições também interromperam seus
serviços.
Passando-se 12 meses uma nova reavaliação
foi realizada e o resultado que até então seria
F 70 deficiência intelectual leve ( QI 69) havia
evoluído para F71 deficiência intelectual
moderada (QI 49), isto é, ocorreu uma
regressão significativa.

621
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da única saída possível no momento ter sido as aulas online e ter tido prejuízo
pedagógicos incalculáveis para os deficientes, fica notório que o ser humano nasceu pertencente
ao um grupo social e por meio dele aprende, na interação se constrói assim como o seu
conhecimento.
Se desenvolver e se criar, desenvolve uma estrutura de linguagem verbal e também não
verbal que envolve sentimentos , sensibilidade e ações/operações que se interligam ao cognitivo
e intelectual sem contar que o próprio ser humano nasce pertencendo a um contexto histórico,
social e cultural.
Sabemos e compreendemos que o próprio ser humano está intimamente ligado a
necessidade produzida e superada por ele próprio surgindo assim sempre novas necessidades,
no entanto a necessidade da interação sempre se apresentará operante pelo fato da modelagem
e compartilhamento.
Diante disso e com a retomada das aulas presenciais no tempo certo e com os devidos
cuidados e recomendações, as intervenções, adequações e alterações necessárias ocorreram
para amenizar os prejuízos pedagógicos que a pandemia ocasionou.

622
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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1991.

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Tempo de Pandemia COVID 19: A Invisibilidade dos Invisíveis Centro Universitário Christus
Brasil 2021.

623
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DO


ESPORTE EDUCACIONAL
Idayany Araújo Cardoso de Almeida1
Guenther Carlos de Almeida2

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar o Esporte educacional em seus limites e
possibilidades na formação cidadã dos brasileiros e como objetivos específicos buscam-se:
analisar o conceito de esporte e suas mediações com a sociedade contemporânea; e revelar os
valores sociais que potencialmente compõe o esporte educacional. Para tanto se recorreu a uma
análise teórica. Conclui-se que o desenvolvimento do esporte educacional passa por uma maior
valorização e apoio de políticas públicas, sendo assim possível a essa prática cultural desenvolver
todas suas potencialidades formativas.

Palavras-Chave: Esporte Educacional; Conceito de Esporte; Valores Esportivos.

1 Professora de Educação Física no Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa. Graduada em Educação Física
e Mestra em Educação pela UFG.
2 Professor de Educação Física do IFG Campus Inhumas e orientador no Programa de Pós-graduação em Educação

Profissional e Tecnológica do IFG. Graduado em Educação Física pela UFG e Doutor em Educação pela PUC-Go.
Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Ciências.

624
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

BRIEF CONSIDERATIONS ABOUT EDUCATIONAL SPORT


ABSTRACT: This work has as general objective to analyze the educational sport in its limits and
possibilities in the citizen formation of the Brazilians and as specific objectives it seeks to: analyze
the concept of sport and its mediations with the contemporary society; and reveal the social
values that potentially make up educational sport. For that, a theoretical analysis was used. It is
concluded that the development of educational sport goes through a greater appreciation and
support of public policies, making it possible for this cultural practice to develop all its formative
potential.

Keywords: Educational Sport; Sport Concept; Sporting Values

625
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO estadual, ocupadas por políticos e ex-atletas,


promoveram a prática esportiva e o
A Constituição Federal Brasileira de 1988 investimento em diversas modalidades,
(CF/88), dispõe em seu artigo 217 que é dever privilegiando o esporte de alto rendimento, em
do Estado fomentar práticas desportivas detrimento do esporte educacional,
formais e não formais, concede autonomia das contrariando o que o artigo 217, da CF/88
entidades desportivas dirigentes e associações, prevê.
quanto a sua organização e funcionamento, Com relação ao esporte educacional, O
bem como, prioriza a destinação de recursos Ministério da Educação e do Desporto, por
públicos para a promoção do esporte meio da Secretaria de Ensino Fundamental,
educacional e, em casos específicos, para a do inspirado no modelo educacional espanhol,
esporte de alto rendimento. mobilizou a partir de 1994 um grupo de
Em 1995, foi criado o Ministério pesquisadores e professores no sentido de
Extraordinário do Esporte, mas ainda cabia à elaborar os Parâmetros Curriculares Nacionais
Secretaria de Desportos, vinculada ao MEC, o (PCNs). Em 1997, foram lançados os
apoio técnico e administrativo. Em março de documentos referentes aos 1º e 2º ciclos (1ª a
1995, a secretaria é transformada no Instituto 4ª séries do Ensino Fundamental) e no ano de
Nacional de Desenvolvimento do Desporto3 1

1998 os relativos aos 3º e 4º ciclos (5ª a 8ª.


(INDESP), sendo desvinculado do MEC e séries), incluindo um documento específico
subordinado ao novo ministério. Em 1998, por para a área da Educação Física. Em 1999, foram
meio da medida provisória n° 1.794-8, o publicados os PCNs do Ensino Médio por uma
ministério englobou o tema de turismo e equipe diferente daquela que compôs a do
passou a ser chamado Ministério do Esporte e Ensino Fundamental, e a supervisão ficou sob a
Turismo. O INDESP continuou vinculado ao responsabilidade da Secretaria de Ensino
ministério. Até que em 2003 foi criada uma Médio, do Ministério da Educação e do
pasta exclusiva para o esporte com a criação do Desporto.
Ministério do Esporte. Nos dias atuais, apesar de uma grande
Portanto, após quinze anos da promulgação valorização midiática e sua localização no
da carta constitucional foi criado um ministério futuro do esporte no país, o esporte
voltado exclusivamente para o esporte. Os educacional tem sofrido diversas incertezas. A
prazos amplos demonstram a falta de um primeira delas é a inexistência de um
pronto reconhecimento da importância do Ministério do Esporte. Essa pasta que outrora
esporte para o país. No entanto, a implantação fomentava o esporte educacional4 hoje é uma
2

de políticas para o setor não dependeu da Secretaria especial que não fomenta o esporte
criação de ampla máquina burocrática. na medida do tamanho do Brasil. Outra
Secretarias esporádicas nos âmbitos federal e incerteza é a ausência que a Educação Física

3 4
Por influência do português lusitano a palavra desporto A expressão desse processo era o Programa Segundo
foi utilizada durante um período no Brasil. Neste texto Tempo e o programa Mais Educação.
Desporto e Esporte são sinônimos.

626
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

chegou a ter nas versões da Reforma do Ensino para nossa tarefa de debater os aspectos
Médio discutidas no Congresso Nacional, não sociais do esporte.
tratando esta como disciplina obrigatória nos Iniciamos o debate com a visão de Melo
currículos deste nível das escolas brasileiras. (2004), expressa no Dicionário Crítico do Lazer.
Diante desse cenário, este trabalho tem por Para ele o esporte é uma manifestação cultural
objetivo geral Analisar o Esporte educacional moderna, com similaridades técnicas de jogos
em seus limites e possibilidades na formação populares ingleses (e/ou até de outros povos),
cidadã dos brasileiros. Como objetivos mas com sentido e significados diferentes
específicos buscam-se: analisar o conceito de daqueles, sobretudo no que tange a vocação
esporte e suas mediações com a sociedade para os negócios, sendo hoje um potente
contemporânea; e revelar os valores sociais elemento de identidade nacional que pelo
que potencialmente compõe o esporte valor econômico e potencial de adequação aos
educacional. novos valores culturais é apontado como um
Elegeu-se como problema: Qual conceito e dos maiores negócios. Tem por características
valores caracterizam o esporte educacional: básicas:
Este trabalho se justifica na medida em que a. Organização em formas de clubes,
o esporte educacional passa por momentos de federações, confederações, e outras entidades
incerteza na política pública brasileira tendo locais, nacionais e internacionais;
descontinuidades de programas e ações de b. Possui um calendário próprio, já não mais
fomento à sua existência na escola. Ademais sendo praticada estritamente de acordo com
recoloca com base na literatura da área da outros tempos sociais;
Educação Física as potencialidades do esporte c. Envolve um corpo técnico especializado
na formação cidadã brasileira. cada vez maior (treinadores, preparadores
físicos, dirigentes, gestores, psicólogos,
CONCEITO DE ESPORTE médicos, dentre muitos outros).
d. Gera um enorme mercado ao seu redor,
Conceituar o esporte no Brasil ainda é uma
que extrapola até mesmo o que, a princípio,
tarefa árdua uma vez que não há consenso
poderia ser considerado específico da prática
entre ciência, Estado e mercado. Numa
desportiva (idem, p.80).
tentativa de embasar uma análise da tríplice
manifestação do esporte no Brasil, com ênfase Os estudos quanto à sua origem teriam duas
no esporte educacional, procuramos, neste tendências não antagônicas: jogos praticados
texto, confrontar os pensamentos de dois por diversos povos; outra como fenômeno
pesquisadores de renome da linha crítica ao moderno surgido como uma negação dos jogos
esporte, a saber: Melo (2004), e Bracht (2005), populares pelas elites. Essa última tendência
indica que a partir de uma aliança entre Estado,
ás legislações pertinentes aos dois campos
envolvidos no conceito: Esporte e Educação. Poder Jurídico e Religião o esporte é usado
Certos de que não esgotaremos o assunto, como estratégia de controle corporal e
esclarecemos se tratar, apenas de um norte preparação de lideranças nas escolas públicas
inglesas do início do século XVIII sendo sinal de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

status e distinção de classes, e que apesar das práticas corporais da aristocracia e da


similaridades técnicas com as práticas burguesia carregadas de novos conceitos
corporais pré-modernas tem seu sentido e ideológicos e evoluindo segundo uma lógica
significado diferentes, restando às massas o capitalista. Tem por características básicas:
consumo passivo do esporte. • A competição;
Nesse processo, compreende-se que o • O rendimento físico-técnico,
Esporte, no século XIX, incorporou o exercício • A busca pelo record;
físico à medida que cresceram as preocupações • A racionalização;
com a saúde e, reforçando seu sentido e seu • A cientificização do treinamento
significado originalmente construídos pela (BRACHT, 2005, p.10).
ação da imprensa que desde o início percebeu Porém, por se tratar de uma prática
a vocação para os negócios, Melo (2004, p.81). educacional (em sentido lato), segundo o autor
Sendo uma das práticas culturais mais acima citado, pode-se diferenciar apenas pelo
difundidas no século XX, hoje é tratado como: sentido e códigos em:
elemento de identidade nacional; atividade Esporte de alto rendimento ou espetáculo
com valor econômico; e atividade cultural com por se “manifestar como uma mercadoria
potencialidades de formação de novos valores, veiculada pelos meios de comunicação de
formando comportamentos, hábitos e massa”. É determinado pelas leis de mercado –
costumes. É apontado pelos economistas como profissionalização de dirigentes esportivos e da
um dos maiores negócios, sobretudo como administração empresarial dos clubes
uma das principais formas de lazer consumido (empresas) esportivos (esportivas) sendo,
passivamente por meio das mídias que ainda, balizador do esporte lazer, fomentado
praticado, havendo uma rápida pela socialização de seus valores no esporte
profissionalização de sua administração. escolar e consumido como lazer, (idem, p.11);
Enfim o esporte não se trata, como nunca se Esporte de lazer – realizado por meios de
tratou, de uma ingênua diversão. É uma práticas do esporte com códigos e sentido
manifestação cultural poderosa, influente, que diferentes do alto rendimento, porém, não
envolve emocionalmente um grande número homogêneo encontram-se formas que são
de pessoas e que hoje se apresenta como uma imediatamente derivadas do esporte de
eficaz forma de negócios, capaz de mexer com rendimento ou espetáculo e que a ele muito se
sonhos e difundir ideias, comportamentos, assemelham, como outras que dele divergem
atitudes (MELO, 2004, p.84). quanto a aspectos meramente formais, mas
Nesse sentido Bracht (2005), indica que o também, quanto ao sentido interno das ações,
esporte, é uma prática corporal de movimento (BRACHT, 2005, p.11).
da modernidade que surgiu nas escolas O esporte, então, foi organizado
públicas inglesas do início do século XVIII, acompanhando os processos de secularização
sendo a evolução, não linear, de jogos e racionalização da sociedade capitalista
populares que, esvaziados das funções evoluindo concomitantemente aos processos
originais: colheita e religião somam-se às de modernização – industrialização,

628
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

urbanização, tecnologização de transportes e pessoas e comunidades do País e estas com as


comunicação, aumento do tempo livre e de outras nações.
burocratização. Parágrafo único. O desporto de rendimento
Expandiu utilizando a orientação para o pode ser organizado e praticado:
rendimento e a competição; da cientifização do I - de modo profissional, caracterizado pela
treinamento; da organização burocrática; da remuneração pactuada em contrato formal de
especialização de papéis; da pedagogização; e, trabalho entre o atleta e a entidade de prática
sobretudo, do nacionalismo reforçado pelo desportiva;
Movimento Olímpico, (BRACHT, 2005, p.97). II - de modo não profissional, identificado
Este contexto histórico consolida nos países, pela liberdade de prática e pela inexistência de
e também no Brasil, o esporte como contrato de trabalho, sendo permitido o
importante prática social. No marco legal do recebimento de incentivos materiais e de
Brasil este é regulamentado pela Lei 9615/98, patrocínio.
conhecida como Lei Pelé, que institui normas Este artigo reafirma o que preconiza o art.
gerais sobre o esporte, abrangendo práticas 217 da Constituição Federal de 1988 acerca do
formais e não formais. O artigo 3º define três esporte educacional e de (alto) rendimento. E
manifestações desportivas: educacional, acrescenta, ainda, o conceito de esporte
participação e rendimento que são participação como forma de regulamentar o
conceituados da seguinte maneira: parágrafo 3º previsto pela Carta Magna,
Art. 3o O desporto pode ser reconhecido em conforme transcrito abaixo:
qualquer das seguintes manifestações: Art. 217. É dever do Estado fomentar
I - desporto educacional, praticado nos práticas desportivas formais e não formais,
sistemas de ensino e em formas assistemáticas como direito de cada um, observados:
de educação, evitando-se a seletividade, a II - a destinação de recursos públicos para a
hipercompetitividade de seus praticantes, com promoção prioritária do desporto educacional
a finalidade de alcançar o desenvolvimento e, em casos específicos, para a do desporto de
integral do indivíduo e a sua formação para o alto rendimento;
exercício da cidadania e a prática do lazer; III - o tratamento diferenciado para o
II - desporto de participação, de modo desporto profissional e o não profissional;
voluntário, compreendendo as modalidades § 3º - O Poder Público incentivará o lazer,
desportivas praticadas com a finalidade de como forma de promoção social.
contribuir para a integração dos praticantes na Como podemos observar, o esporte
plenitude da vida social, na promoção da saúde educacional deverá ter a prioridade dos
e educação e na preservação do meio recursos públicos por foca da Carta Magna,
ambiente; reafirmada pela “Lei Pelé”. Porém, antes desta,
III - desporto de rendimento, praticado a Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da
segundo normas gerais desta Lei e regras de Educação) já havia versado sobre o tema
prática desportiva, nacionais e internacionais, dispondo no item IV do seu art. 27 que a
com a finalidade de obter resultados e integrar promoção do esporte educacional será diretriz

629
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

da educação básica, em que a Educação Física suas “intenções educativas”. Sendo esses os
é colocada como componente obrigatório, referenciais para o diálogo entre ensino e a
como se vê abaixo: aprendizagem que estão embasados em dois
Art. 27. Os conteúdos curriculares da itens definidos nas páginas 73 e 74 do
educação básica observarão, ainda, as documento:
seguintes diretrizes: I. Atitudinal – normas, valores e atitudes.
I - a difusão de valores fundamentais ao II. Conceitual – fatos, princípios e conceitos;
interesse social, aos direitos e deveres dos e Procedimental – ligados ao fazer;
cidadãos, de respeito ao bem comum e à Entendendo que:
ordem democrática; Normas – são padrões ou regras de
II - consideração das condições de comportamento socialmente construídos para
escolaridade dos alunos em cada organizar determinadas situações; forma
estabelecimento; pactuada de concretizar valores
III - orientação para o trabalho; compartilhados por um coletivo indicando o
IV - promoção do desporto educacional e que é permitido ou não.
apoio às práticas desportivas não formais. Valores – são princípios éticos e as ideias que
Afunilando nossa análise, chegamos ao permitem que se possa emitir um juízo sobre
conceito de esporte difundido pelos as condutas e seu sentido.
Parâmetros Curriculares Nacionais que Atitudes – se refletem a coerência entre o
formam a base do planejamento do ensino do comportamento e o discurso do sujeito sendo
Brasil como: as formas subjetivas de objetivar valores e
práticas em que são adotadas regras de posicionar-se em diferentes contextos.
caráter oficial e competitivo, organizadas em Conceitos e princípios – são generalizações,
federações regionais, nacionais e deduções, informações e sistematizações
internacionais que regulamentam a atuação relativas ao ambiente sociocultural.
amadora e profissional. Envolvem condições Procedimentais – expressam um saber-fazer
espaciais e de equipamentos sofisticados como que envolve tomada de decisões, realização de
campos, piscinas, bicicletas, pistas, ringues, ações de ordenadamente (não aleatória) para
ginásios etc. A divulgação pela mídia favorece a atingir uma meta.
sua apreciação por um diverso contingente de Perguntamos, então, como conceituar o
grupos sociais e culturais. Por exemplo, os esporte, sobretudo, no ambiente educacional?
Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo de Futebol Será necessário dividir o conceito em duas ou
ou determinadas lutas de boxe profissional são três vertentes ou o esporte é apenas uma
vistos e discutidos por um grande número de “ferramenta” que pode ser utilizada para um
apreciadores e torcedores (BRASIL, 1998, fim de lazer, educação e trabalho?
p.70). Em que pese à ideia de um conceito único
Ou seja, é uma visão em que o esporte tem para o esporte chocar-se com a ciência, na
um único conceito e o que vai modificar visão de Bracht (2005), (que divide em dois:
quando desenvolvido no meio educacional são alto rendimento e lazer) e do Estado refletido

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pela divisão dupla da Constituição Federal em nacionais e internacionais, o calendário próprio


educacional e alto rendimento e ainda na “Lei e o corpo técnico especializado. É um grande
Pelé” que divide em três: educacional, negócio de projeção internacional e potencial
participação e rendimento, o fato é que, os integrador por meio do nacionalismo e
sistemas de ensino brasileiros, “responsáveis extrapola os aspectos técnicos englobando
pelo esporte educacional” tem por base um várias áreas. Por ter uma capacidade de
conceito único conforme anunciado nos utilizar-se de várias linguagens se constitui em
Parâmetros Curriculares Nacionais. uma poderosa ferramenta de divulgação de
Este conceito dos PCNs, aliás, se aproxima valores podendo promover saúde, educação
mais das características apontadas pelos dois ou promoção social.
pesquisadores analisados do que pelo
preconizado no item I do art. 3º da Lei 9615/98 VALORES SOCIAIS
em que se busca que o esporte educacional
• Igualdade e Justiça
seja praticado em formas assistemáticas,
Segundo Damatta (1994), ao discorrer sobre
evitando a seletividade, a
o esporte e mais especificamente o futebol
hipercompetitividade e, com a finalidade de
afirma que este produz uma possibilidade de
desenvolvimento integral e formação para o
Igualdade e justiça próprias das sociedades
exercício da cidadania e a prática do lazer. Ou
modernas. Esta igualdade e justiça, segundo
seja, a competição, o rendimento físico-
este autor, estariam centradas na possibilidade
técnico, a busca pelo record, a racionalização a
de alternância de vencedores e perdedores e
organização e entidades nacionais e
no fato de o esporte ter regras universais, fato
internacionais, o calendário próprio e o corpo
este que não possibilita des/vantagem entre
técnico especializado, são as características
determinados jogadores, pela sua classe social,
básicas do esporte.
credo religioso, raça, orientação sexual, etc.
Há, ainda, contradições na “Lei Pelé” e,
Damatta (1994) ainda afirma “Que a aliança
quando nos aprofundarmos na análise desta, a
entre talento e desempenho pode conduzir à
administração do esporte educacional de fato
vitória inconteste. E, melhor, que as regras
é realizada, sim, por uma organização
valem para todos. Para os times campeões e
específica, de direito privado, o Comitê
para os times comuns, [...]”, (p.17).
Olímpico Brasileiro, que nada tem haver com
• Sucesso/Fracasso
os sistemas de educação de Estados,
Ainda em relação à alternância entre
Municípios e Distrito Federal.
vencedores e perdedores, assumindo esta
Portanto, conceituaremos o esporte como
incerteza em relação ao resultado, o binômio
sendo uma manifestação cultural originária na
vitória/derrota possui uma imensa capacidade
modernidade com a transformação de sentido
de promover a compreensão dos sentimentos
e significados de jogos populares antigos e que
de sucesso e fracasso. Quando bem
tem por características básicas a competição, o
trabalhados, este par pode de maneira eficaz
rendimento físico-técnico, a busca pelo record,
ensinar aos praticantes do esporte o valor da
a racionalização a organização e entidades
vitória e o valor da derrota, tanto para o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sucesso quanto para o fracasso, no jogo e contribui não só com a formação de sujeitos
também na vida. para o lazer, alto rendimento ou saúde, mas
A aceitação do sucesso e do fracasso mostra- também para compreenderem e saberem
se como imperativo na formação humana, jogar o jogo da vida, tendo na escola lugar
principalmente em escolares, na formação privilegiado para a formação cidadã.
para a cidadania e de homens e mulheres que
compreendam e cooperem para o bem
comum, seja no seu sucesso ou no fracasso.
• Cooperação e Trabalho em equipe
Expresso pela coletividade necessária em
alguns esportes em equipe, podemos perceber
nestes por meio da tática e dos sistemas de
jogo que o trabalho em equipe é fundamental
para o desenvolvimento destes. Apesar de
algumas modalidades, como o futebol,
especialmente no caso brasileiro, sofrerem de
um individualismo exacerbado, os aspectos do
esporte que necessitam da participação de
vários jogadores são mantidos na maior parte
do tempo de jogo.
Ao tratar da dicotomia
individualidade/coletividade no futebol, Daólio
(1998), afirma que a rica interação entre jogo
coletivo e jogo individual pode ser a
característica mais marcante para que o Brasil
seja destaque neste esporte. Esta ação coletiva
presente em todos os esportes coletivos, em
que um jogador depende do desempenho do
outro para que o time avance em direção à
meta, produz nos praticantes do esporte uma
percepção de trabalho coletivo ou em equipe,
colocando a individualidade a serviço de um
objetivo em comum.
Dessa forma podemos perceber que não só
os últimos, mas, também os valores
anteriormente apontados compõem um
quadro de valores presentes nessa sociedade
em que vivemos aos quais todos estão sujeitos
à sua sociabilidade. Dessa maneira o esporte

632
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Esporte como elemento das sociedades modernas apresenta-se como prática cultural
imerso em uma dualidade. Em alguns contextos possui um potencial de reprodução de elementos
restritos como distração social e recomposição de forças de trabalho urbano degradante.
Todavia, também possui um potencial formativo para a cidadania singular. As características
fundamentais do esporte educacional revelam seu potencial de síntese entre conhecimentos
acadêmicos e culturais, ao mesmo tempo em que desenvolve capacidades, normas, atitudes e
valores.
Enquanto prática sociocultural o esporte educacional é vetor de formação de valores
fundamentais para a sociabilidade contemporânea como justiça, cooperação e igualdade.
Todavia, para se desenvolver com todo potencial, o esporte educacional necessita de
valorização e apoio para acontecer nas escolas brasileiras. Tanto no que tange a criação e
implementação de políticas públicas para esse fim na escola pública, quanto no reconhecimento
do potencial formativo do esporte nos currículos escolares.

633
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRACHT, Valter. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. 3. ed. Ijuí, Ed. Ijuí, 2005.

BRASIL. Constituição da república Federativa do Brasil. 1988.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: Ministério da


Educação/Secretaria de Educação Fundamental, 1998.

DAMATTA, Roberto. Antropologia do Óbvio notas em torno do significado social do futebol


brasileiro. Revista da USP. n. 22, 1994.

DAÓLIO, Jocimar. As contradições do futebol brasileiro. LECTURAS EDUCACION FISICA


Y DEPORTES, Buenos Aires, Ano 3, n. 10, maio de 1998. Disponível em:
<http://www.efdeportes.com/efd10/daolio1.htm>. Acesso em: 30 de julho de 2022.

MELO, Vitor Andrade. Esporte. In: GOMES, Christianne Luce. (org.). Dicionário crítico do
lazer. Belo Horizonte, Autêntica, 2004.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

BRINCAR COM O QUE NÃO É BRINQUEDO


Débora Aline Trajano Santos1

RESUMO: Este artigo tem por objetivo refletir sobre a importância do brincar com qualidade
dentro de um espaço planejado e organizado, tendo em vista que os espaços investigativos
propõem diferentes descobertas e diversas aprendizagens. O trabalho é apresentado em três
partes. A primeira constitui-se de uma reflexão sobre o direito ao brincar garantido por lei e sua
importância no desenvolvimento infantil. A segunda refere-se à qualidade dos brinquedos
industrializados diante das diversas materialidades e objetos do cotidiano que podemos oferecer
às crianças e bebês dentro de um contexto provocador. A terceira aborda a importância dos
espaços brincantes organizados em forma de cantos ou “cantinhos”, bem como a necessidade de
se planejar espaços convidativos e não normalizadores. Ao final do trabalho foi elaborado
reflexões acerca da mediação do educador ou do adulto, destacando a participação ativa por
meio de uma escuta ativa e sensível de todo o processo, rompendo com toda observação passiva.

Palavras-Chave: Brincar; Brinquedos industrializados; Objetos instigantes e provocadores.

1
Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Letras; Especialização em Ensino Lúdico.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PLAY WITH WHAT IS NOT TOY


ABSTRACT: This article aims to reflect on the importance of playing with quality within a planned
and organized space, given that investigative spaces propose different discoveries and diverse
learning. The work is presented in three parts. The first consists of a reflection on the right to play
guaranteed by law and its importance in child development. The second refers to the quality of
industrialized toys in view of the different materialities and everyday objects that we can offer
children and babies within a provocative context. The third addresses the importance of playful
spaces organized in the form of corners or “corners”, as well as the need to plan inviting and non-
normalizing spaces. At the end of the work, reflections on the mediation of the educator or the
adult were elaborated, highlighting the active participation through an active and sensitive
listening of the whole process, breaking with all passive observation.

Keywords: Play; Industrialized toys; Provocative and provocative objects.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO interações com uma variedade de materiais,


oferecendo diferentes sensações, descobertas,
Há muito tempo têm se abordado o tema experiências e investigação.
“brincar na educação infantil” e sem dúvida o
brincar é a atividade mais importante para a
A CRIANÇA TEM O DIREITO DE
criança. Quando a criança brinca, está
expressando o que percebe do mundo. É BRINCAR
durante o brincar que a criança conhece mais Será que a sociedade em que vivemos tem
sobre si e o mundo ao seu redor. Brincar traz claro o entendimento de que o brincar é um
felicidade, gera prazer e uma criança que não direito da criança? Infelizmente não. Quantos
brinca, com certeza há algo de errado. de nós educadores consideramos o brincar
O tema “brincar com o que não é brinquedo” como um passa tempo qualquer sem nenhuma
vem de encontro à necessidade de refletirmos intencionalidade ou planejamento. Quantos de
sobre a qualidade dos brinquedos nós profissionais da educação infantil já
industrializados, aos mais simples objetos que falamos a seguinte frase: “hoje as crianças não
oferecemos aos nossos bebês e crianças, tendo fizeram nenhuma atividade, só brincaram”.
em vista que o mais importante é o brincar livre Precisamos de forma urgente entender
dentro de um espaço rico de objetos e sobre a importância do brincar e mais do que
materialidades. isso, compreender que o brincar é um direito
A pesquisa se desenvolveu baseada na da criança garantido por lei. Desde 1948, esse
observação e reflexões de minha prática direito é garantido pela Declaração Anual dos
escolar desde o ano de 2002, permitindo-me Direitos Humanos que estabelece em seu
ressaltar algumas reflexões a esse tema, dentre artigo 24 “o direito ao repouso e ao lazer”. O
ele, podemos destacar: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em
• Muitos educadores não seu artigo 16, estabelece o direito a “brincar,
compreenderam a importância do brincar praticar esportes e divertir-se”.
como um direito garantido da criança, sendo No século passado, o brincar era quase que
essa a função principal da escola; inexistente. As crianças eram vistas como mini
• Alguns brinquedos podem cercear a adultos e por isso eram treinadas a realizarem
capacidade da criança de exploração e as mesmas tarefas dos pais e dos adultos ao
descobertas. redor. De lá para cá, o brincar e a infância
• Muitos educadores oferecem uma passou por positivas modificações e
diversidade de materiais com uma atualmente consideramos que crianças e bebês
intencionalidade de aquietar o corpo da são sujeitos de direitos, são cidadãos, seres
criança. potentes, ativos, capazes de compartilhar a
Diante disso, este artigo tem por objetivo vida junto com os adultos e por isso tem o
provocar uma reflexão sobre o brincar livre e direito de viver intensamente suas infâncias
investigativo, utilizando-se de espaços brincando.
planejados e pensados, oportunizando

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

[...] Nas brincadeiras as crianças podem Os brinquedos não estruturados como:


desenvolver algumas capacidades importantes sucatas, elementos da natureza, utensílios de
como a atenção, a imitação, a memória, a cozinha (peneira, funil, colheres, copos, potes
imaginação. Amadurecem também algumas de diversos tamanhos, canos, carretéis,
capacidades de socialização, por meio da panelas, tampas, gravetos, caixas de diferentes
interação e da utilização e experimentação de tamanhos, tecidos, bolinhas, cabides e tantos
regras e papéis sociais. (REFERENCIAL outros), provocam a imaginação. Em um dia, o
CURRUCULAR, 1998, p.22) mesmo material pode se transformar em
Mais do que nunca, o brincar precisa ser diferentes brinquedos de acordo com a
visto como um direito essencial ao imaginação da criança.
desenvolvimento infantil e essa a principal Os brinquedos prontos são limitados e
tarefa da escola. muitas vezes não despertam a criatividade,
tendo em vista, que brincar com materiais que
BRINQUEDOS consideramos “lixo”, vai na contramão de um
modelo de educação que enxerga o brincar
INDUSTRIALIZADOS como um simples “passatempo” ou até mesmo
Quem nunca passou pela experiência de uma simples estratégia para aquisição de
presentear uma criança com um brinquedo conteúdos curriculares.
caríssimo e depois de um tempo observar que
a mesma não se interessou nem um pouco pelo
brinquedo em si, pelo contrário, a diversão se
ESPAÇOS BRINCANTES
deu por meio da embalagem como, por Refletir sobre os espaços que esse brincar
passa a existir, é tão necessário quanto pensar
exemplo, a caixa.
sobre as possibilidades que os diferentes
Segundo Walter Benjamim (2002), quanto
objetos e materialidades oferecem aos nossos
mais atraentes forem os brinquedos, mais
bebês e crianças.
distantes estarão de seu valor como
instrumentos de brincar, quanto Quantos de nós na infância,
ilimitadamente a imitação anuncia-se neles, transformávamos espaços simples como o
tanto mais se desviam da brincadeira viva. quintal de casa em espaços brincantes? Você
certamente já teve a experiência de montar
Os brinquedos industrializados não
“cabaninhas” com lençóis, tecidos ou outros
oferecem muitas possibilidades de descoberta,
objetos.
pois o brinquedo em si já faz tudo. Sem dúvida,
os materiais mais simples dão mais Os espaços constituem um importante
possibilidades de interação e descoberta do elemento dentro da temática do brincar, pois é
que os brinquedos industrializados. Nesse nesse lugar que a imaginação entra em cena e
sentido, outros objetos nas mãos das crianças tudo acontece. Nesse sentido, é importante
destacar o trabalho com os cantos
se transformam em brinquedos que instigam a
pensar e criar. diversificados ou “cantinhos”, onde os espaços
brincantes são organizados intencionalmente,
compostos por cantos temáticos e uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

diversidade de objetos, materiais e brinquedos


onde as crianças juntamente com outras
crianças criam e desenvolvem diversas
brincadeiras.
Cunha(1994, p. 17-18), lista os mais
frequentes “cantinhos”:
1 – Canto do faz de conta: um espaço com
mobílias infantis de dormitório, com berço,
caminha, guarda-roupas, roupas de bonecas,
bonecas e etc. O supermercado com carrinho
de feira e coisas para comprar. O hospital com
uniforme de enfermeira e etc.
2 – Canto da leitura: com tapetes e
almofadas para acolher a criança que quer ler
livro deitada no chão.
3 – Canto das Invenções: um lugar onde elas
deverão “inventar” coisas, construir jogos de
construção ou com material de sucata.
4 – Oficina: de construção de brinquedos e
de restauração de brinquedos quebrados.
Como podemos observar, os cantos
propõem uma série de atividades que podem
ser realizadas pelas crianças de forma
autônoma e quando se oferece mais de um
canto, dá-se a oportunidade da criança fazer
escolhas e ficar o tempo que ela quiser naquele
cantinho.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em “Os brinquedos e as brincadeiras na creche”, Kishimoto (2010), lista as condições para
acontecer o brincar: aceitação do brincar como um direito da criança; compreensão da
importância do brincar para a criança, vista como um ser que precisa de atenção e carinho, que
tem iniciativas, saberes, interesses e necessidades; criação de ambientes educativos
especialmente planejados, que ofereçam oportunidades de qualidade para brincadeiras e
interações, e o desenvolvimento da dimensão brincalhona da professora.
Já sabemos da importância do brincar para o desenvolvimento da criança e é dever do
educador preparar espaços de qualidade, dispondo de uma diversidade de materiais
estruturados e não estruturados.
Destaco a importância do educador como mediador, pois, mais que oferecer diferentes
brinquedos ou materiais é entender que o material pelo material não tem sentido nenhum, é
necessário mediação, observação atenta por parte do adulto, escuta atenta e olhar sensível para
o brincar dos bebês e crianças. Não é somente disponibilizar os materiais e deixar que eles
manipulem, mas é proporcionar o brincar livre, porém com a presença ativa do adulto sem
necessariamente ter uma intervenção direta. Nesse sentido, falamos de um adulto brincante,
adulto atento às aprendizagens que os bebês e crianças estão construindo no momento.
Sabemos que são os desafios que levam as crianças ao desenvolvimento, nesse sentido, o
brincar livre e investigativo com objetos e materiais provocativos e instigantes, acentua nossos
bebês e crianças como sujeitos de sua própria história que criam e recriam seu contexto. Sujeitos
ativos em seu processo de desenvolvimento.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/90. São Paulo, Atlas, 1991.

BRASIL. Referencial Curricular para a Educação Infantil, Brasília: MEC/SEF, 1998.

BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre o brinquedo, a criança e a educação, SP, Ed. 34, 2002.

CUNHA, N. Brinquedoteca um Mergulho no Brincar. São Paulo: Maltese, 1994.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948.
Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos>.
Acesso em 30. Julho. 2022.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedos: construindo espaços para brincadeiras de faz


de conta. Revista do Professor, Porto Alegre, v.12, n.48, p.9-, out/dez.,1996.

641
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CAPACITISMO O ABORTO SOCIAL:


#ÉCAPACISTISMO QUANDO - MOVIMENTO EM
PROL DA CONCIENTIZAÇÃO A RESPEITO DO
CAPACITISMO NAS RELAÇÕES SOCIAIS
Tamara de Jesus Figueira Cardoso1

RESUMO: Este estudo aborda uma discussão sobre capacitismo nas relações sociais e tem por
objetivo refletir a respeito de situações preconceituosas que pessoas com deficiências são
expostas em seu cotidiano, a partir das falas (reais) mobilizadas pelo movimento
#ÉCapacistismoQuando . Além disso, fazer paralelos com os históricos das lutas das pessoas com
deficiências em serem vistas além de suas deficiências.

Palavras-Chave: Capacitismo; Deficiências; Conscientização.

1Professora de Ensino Fundamental na Rede municipal de São Paulo e de Educação Infantil na Rede Municipal
Guarulhos.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia pela Faculdade Anhanguera.

642
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CAPACITISM SOCIAL ABORTION: #CAPACISTISM WHEN - A


MOVEMENT FOR AWARENESS ABOUT CAPACITISM IN SOCIAL
RELATIONS
ABSTRACT: This study addresses a discussion about capacitism in social relationships and aims to
reflect about the prejudiced situations that people with disabilities are exposed to in their daily
lives, based on the (real) speeches mobilized by the #ItsCapacitisnWhen movement. Also, draw
parallels with the histories of the struggles of people with disabilities to be seen beyond their
disabilities.

Keywords: Capacitism; Disabilities; Awareness.

643
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Essa situação ocorreu em João Pessoa em


agosto de 2019. Segundo reportagem da
A maior parte dos estudos a respeito de revista Carta Capital, alguns moradores
pessoas com deficiências, são em torno das estavam insatisfeitos com o Projeto “Praia
patologias e acessibilidades, necessárias, mas Acessível”, onde deficientes participavam de
deixam a margem o lado humanizado das atividades com músicas e esportes na orla da
questões que cercam os PCD’s. Assim o praia, e por ser considerada uma região nobre,
objetivo deste trabalho é refletir as situações a presença dessas pessoas “não estaria
cotidianas que contribuem para disseminação trazendo um quadro belo para a vizinhança
dos ideais capacitistas nas relações sociais. (CARTA CAPITAL, 2019).”
Como objetivos específicos, analisar as falas As pessoas com deficiências (PCD’s) sempre
mobilizadas pelo movimento tiveram a margem da sociedade. Em Roma, na
#ÉCapacitismoQuando e fazer paralelos com os antiguidade, quando as crianças nasciam com
contextos históricos e esforços para garantir a anomalias eram mortas ao nascer ou deixadas
promoção da justiça e equidade das pessoas a margem do rio Tibre, onde pessoas pobres as
com deficiências. resgatavam e criavam para que pedissem
Este trabalho se justifica pela necessidade esmolas
em falar sobre o capacitismo velado nas ações Já na era dos Césares, pessoas com
cotidianas e fomentar a conscientização nas deficiências eram exploradas em circos ou em
relações sociais. A problemática em questão é tarefas que chegavam a ser humilhantes. Na
a precariedade de debates a cerca do Grécia antiga as crianças nasciam realizavam
capacitismo nas situações do cotidiano, ao festas e quando não acontecia, por conta de
qual, atravanca as tomadas de consciência e nascerem deficientes (inúteis aos padrões da
habilidades para mudar os aspectos época) eram sacrificadas pelo próprio pai,
atitudinais. Diante da necessidade em escondidos ou abandonados à própria sorte.
compreender a realidade das pessoas com Em Esparta os bebês passavam por uma
deficiências, além das questões orgânicas, o inspeção e, se passassem, ficavam até os sete
trabalho iniciou com as falas fomentadas pelo anos com a família e após o Estado se tornava
movimento e apoiou-se em estudos, reflexões, tutor para transformá-los em guerreiros e caso
pesquisas, teses, dissertações que abordava de fossem considerados fracos ou nascessem
modo humanitário as questões sobre pessoas deficientes e eram lançados a morte nas
com deficiências. montanhas Aphothetai (SILVA, 1987, apud,
CORREA, 2010).
A BUSCA POR UM LUGAR NA Na idade média, as pessoas com deficiências
passaram a serem considerados como filhos de
SOCIEDADE Deus, ter alma e não poderiam ser mortos ou
” #ÉCapacitismoQuando: o deficiente não abandonados, mas eram considerados como
pode ir a praia pq ele tira a beleza dela” sinais da ira de Deus ou possuídos pelo
(TWITTER,2019) demônio (CORREIA,2010). Pautados pelos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ideais Cristãos os deficientes tinham direito a Guerra Mundial (1939-1945), que passaram a
um teto, comida, mas eram submetidos a discutir sobre:
segregação e castigos, pois, segundo o clero as Foi a partir da Segunda Guerra Mundial que
punições eram consideradas caridade na o direito necessita se preocupar com grupos
medida em que salvava do demônio a alma e sociais específicos, nesse caso surgem os
livraria a sociedade das condutas antissociais e mutilados da guerra, pessoas que foram para a
inconvenientes dos deficientes (CORREIA, guerra sem nenhuma deficiência e voltam às
2010). suas casas com algum tipo de mutilação que
Esse compilado, demonstra como os impedem a fruição normal de suas atividades
deficientes são vistos pela sociedade ao longo de vida diária (TAHAN, 2012, p.21 apud
da história e a situação ocorrida em 2019 CORRENT,2016).
demonstra que, algumas, mentalidades não No entanto, essas questões ganharam forças
mudaram. em 1971 quando foi publicado pela ONU a
Declaração dos Direitos de Pessoas Com
A ACESSIBILIDADE É MUITO Deficiência Mental e em 1975 a Declaração dos
Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiências
MAIS QUE AJEITAR AS COISAS que englobava todas as deficiências. No
#ÉCapacitismoQuando o surdo passa no entanto, na época, as concepções, ainda, eram
concurso e não pode assumir pq “o médico pautadas nos ideais de que as deficiências
alegou que a surdez em si seria um impeditivo tinham cunho patológicos e pessoas com
para eu exercer o magistério”. Ele recorreu e deficiências deveriam ser tratadas para se
acabou conseguindo assumir a vaga. Ensinou adequarem à sociedade. Os movimentos para
geografia a estudantes surdos por quatro anos que as pessoas com deficiências fossem vistas
(TWITTER, 2018). como parte integrante da sociedade
Sobre definições de acessibilidade: continuaram e com a publicação da Declaração
I - acessibilidade: possibilidade e condição de Salamanca (1994) e a Convenção Sobre os
de alcance para utilização, com segurança e Direitos Da Pessoa Com Deficiência (2006),
autonomia, de espaços, mobiliários, foram marcos que reafirmaram os direitos
equipamentos urbanos, edificações, humanos, das pessoas com deficiências
transportes, informação e comunicação, (GUGEL,2007).
inclusive seus sistemas e tecnologias, bem Mesmo com todos os esforços quando se
como de outros serviços e instalações abertos fala de acessibilidade o imaginário remete a
ao público, de uso público ou privados de uso pessoas com deficiências versus condições
coletivo, tanto na zona urbana como na rural, para atendê-las, mas no recorte deste estudo a
por pessoa com deficiência ou com mobilidade acessibilidade é compreendida como algo a
reduzida (BRASIL, LEI 10.098). mais que barreiras arquitetônicas /ou físicas. A
Ao longo da história, houve engajamentos chamada acessibilidade atitudinal. Esta não é
para garantir direitos as pessoas com percebida, muitas das vezes, enraizadas no
deficiências, porém, apenas, após a segunda inconsciente.

645
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A palestrante Camila Araújo Alves em seu


projeto: E se experimentássemos mais? Um
manual não técnico de acessibilidade em
espaços culturais, traz seus anseios para
compor seu trabalho:
Logo no início do meu mestrado fui tomada
por uma angústia daquelas que nos disparam o
coração, nos gelam a mão e nos sufocam o
peito. Achei que não pudesse dar conta de
todos esses lugares, que inevitavelmente me
faziam revisitar diariamente a minha própria
experiência com a deficiência (ALVES, p. 36,
2016).
A acessibilidade em si, é importante, no
entanto não resolve as problemáticas
vivenciadas/sentidas por pessoas com
deficiências em seu cotidiano. A falta de
acessibilidade atitudinal promove a sensação
de que pessoas com deficiências não são
pertencentes e fomenta a exclusão e,
consequentemente, as pessoas com
deficiências opta por se isolar. Não adianta
organizar os espaços, propor projetos se as
atitudes não se transformam.

646
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
#ÉCapacitismoQuando você acha que a deficiência tá na pessoa e não no meio
(TWITTER,2016)

Revendo a história das pessoas com deficiências, houve avanços. Mas, ainda, no século
XXI, presenciamos atitudes análogas a idade média. Algumas são por falta de conhecimento,
convivências, porém, outras é por puro preconceito. Atualmente, não é moralmente aceitável
eliminar os nascidos deficientes, enjeitá-los, fazê-los de bobos da corte, a olhos nus. Mas é
perceptível a batalha que as pessoas com deficiências tendem a travar para ter seus direitos
garantidos e aceitos pela sociedade em relação a conscientização, no sentido intrínseco.
Por conta das condutas sociais emitem pareceres, leis para enumerar necessidades e
direitos das pessoas com deficiências, porém, no campo da ética, não houve conscientização de
que as pessoas com deficiências querem ser vistas além de seus estigmas. Essa organização social
que fomenta a exclusão deve ser repensada no âmbito da ideia de pessoas com deficiências lutam
para serem reconhecidas como pessoas de direitos e que querem garantias e não
assistencialismo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALVES, Camila Araújo. E se experimentássemos mais? Um manual não técnico de
acessibilidade em espaços culturais. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense,
Instituto de Psicologia. – 2016.

BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios


básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez.
2000. Disponível em: L10098 (planalto.gov.br). Acesso em : 27/07/2022.

CORRENT, Nikolas. Da antiguidade a contemporaneidade: a deficiência e suas


concepções. Artigo Educação Especial e Inclusiva pela Faculdade de Educação São Luís
(FESL) – (2016).

GUGEL, Maria Aparecida. Pessoas com Deficiência e o Direito ao Trabalho. Florianópolis.


Obra jurídica, 2007.

PUTTI,ALEXANDRE. Em João Pessoa, moradores querem proibir deficientes de irem à


praia. Revista Carta Capital. Brasil. Publicado em 22 de agosto de 2019. Disponível em: Em
João Pessoa, moradores querem proibir deficientes de irem à praia – Carta Capital. Acesso
em:25/07/2022.

TALISSA, Monteiro. Por trás da #ÉCapacitismoQuando. Revista Veja. Brasil. Publicado em 05


de dezembro de 2016. Disponível em: Por trás da #ÉCapacitismoQuando | VEJA (abril.com.br) .
Acesso em: 25/07/2022.

TWITTER. CARDOSO, Bia. #ÉCapacitismoQuando.Brasília. 21 de setembro de 2018. Acesso


em 25/07/2022.

TWITTER. MAPURUNGA, Alexandre. # #ÉCapacitismoQuando. Fortaleza. 01de dezembro de


2016. Acesso em 25/07/2022.

TWITTER. Profissional, Reclamador. #ÉCapacitismoQuando.João Pessoa. 22 de agosto de


2019. Acesso em 25/07/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CIÊNCIA TAMBÉM É COISA DE CRIANÇA:


PERSPECTIVA EM RELAÇÃO AO FAZER
CIENTÍFICO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Edilene Santana Pereira1

RESUMO: O estudo apresenta a ciência como coisa de criança, porque entende-se que a criança
possui curiosidade, está o tempo todo perguntando, observando e explorando as possibilidades
para as suas descobertas de mundo, aspectos esses que aproximam a criança da posição de um
cientista que o profissional que faz ciência, constrói conhecimentos por meio de um método
científico, observando e realizando pesquisas nas diversas áreas de conhecimento.

Palavras-Chave: Educação; Ciências; Aprendizagem.

1Professora de Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SCIENCE IS ALSO A CHILD'S THING: PERSPECTIVE IN RELATION TO


SCIENTIFIC DOING IN THE EARLY YEARS OF ELEMENTARY SCHOOL
ABSTRACT: The study presents science as a child's thing, because it is understood that the child
is curious, he is all the time asking, observing and exploring the possibilities for his discoveries
about the world, aspects that bring the child closer to the position of a scientist who the
professional who does science, builds knowledge through a scientific method, observing and
carrying out research in the various areas of knowledge.

Keywords: Education; Sciences; Learning.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO É frequente as crianças apresentarem


diferenças de comportamento e forma de
A escolha do tema se justifica, porque na pensar, conforme a sua idade e origem
escola que atende os Anos Iniciais do Ensino socioeconômica. Estas peculiaridades infantis
Fundamental, observou-se que os professores não podem ser encaradas por nós como
nas aulas de ciências fazem a mediação do obstáculos que devemos contornar ou ignorar.
conteúdo científico se utilizando do livro Pelo contrário, são manifestações próprias de
didático e folhas impressas com exercícios, as seus mundos que devem merecer a mais
aulas são expositivas, pois a maioria das cuidadosa atenção, principalmente no
escolas públicas não possuem laboratório de ambiente escolar (FRANCALANZA, 1986, p. 61).
ciência, fazendo assim uma abordagem da As crianças interagem com os mais diversos
ciência junto às crianças, por meio da leitura de espaços e contextos sociais, ao qual analisa e
conteúdos para responder questionários que internaliza informações transmitidas pelos
servem para estudar para os trabalhos e provas adultos e a partir daí vão construindo o
avaliativas para compor a média final, ficando conhecimento científico de acordo com suas
ausente das salas de aula o fazer científico vivências.
prático, aquele que aproveita a curiosidade, as Nesse sentido já entram na escola com
indagações, as observações e explorações das conhecimentos, muitas vezes equivocados
crianças para a descoberta do mundo e a sobre a ciência e sua real função, aspecto que
construção do conhecimento. pode e tende aa prejudicar o letramento
científico, principalmente porque encontram
A VISÃO DAS CRIANÇAS SOBRE em seus professores metodologias e
conteúdos que tornam as aulas cansativas e a
AS AULAS DE CIÊNCIAS tendência é a falta de interesse pelo
A visão das crianças sobre as aulas de conhecimento científico.
ciências nas escolas públicas, demonstra ser De acordo com Marques e Marandino
desconcertante diante de modelos de ensino (2018), no decorrer da história, as crianças
com aulas expositivas, com leituras de foram:
conteúdos nos livros didáticos e a Marginalizadas nos estudos sociológicos,
obrigatoriedade de responder os assumindo uma posição subordinada na
questionários, que também são utilizados para sociedade, concebidas exclusivamente como
decorar para obter notas ou conceitos para vir-a-ser adultos em potencial. Perspectivas
compor as médias nas avaliações finais, que as teóricas interpretativas e construtivistas
colocam em situações ou ideias transmitidas lançam luzes para a infância como construção
pelos adultos. social, considerando que as crianças, assim
Segundo Fracalanza (1986), ao observar as como os adultos, são participantes ativos na
crianças em situações de ensino sobre ciência, construção social da infância e na reprodução
se percebe que: interpretativa de sua cultura compartilhada
(MARQUES e MARANDINO, 2018, p. 04).
Compreendeu-se que quando as crianças
apresentam não gostarem de ciências, apesar

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de serem curiosas, investigativas e estarem influência de forma direta a visão das crianças
fazendo perguntas o tempo, esse não gostar inseridas nesses contextos sociais.
está vinculado a condição socioeconômica, O que se percebeu com essa discussão foi
mas principalmente em como a sociedade e os um triste cenário, pois muitas vezes as crianças
professores a veem. também replicam a visão dos adultos sobre os
A escola então, reflete a concepção de cientistas, que são considerados como loucos,
criança, como adulto em miniatura, porém as geralmente homens, vestidos com seu jaleco
crianças expressam interesses que muitas branco e cabelos bagunçados, manuseando
vezes são vistos como teimosia, porém essa frascos de vidros. Ficando como missão da
visão ultrapassada de criança está sendo escola desmistificar essa imagem construída
refletida graças perspectivas teóricas que só afasta as crianças do universo científico.
interpretativas e construtivistas que trazem Para investigar a visão das crianças sobre o
uma nova visão, reconhecendo as crianças conhecimento científico, foi elaborada uma
como ativas. sondagem para observar este cenário, a partir
As crianças se preocupam com a natureza, de uma simples tarefa, porém cheia de
com a preservação do meio ambiente, porém é significado, da disciplina de comunicação e
preciso possibilitar o estudo de ciência de divulgação da ciência que consistia em solicitar
forma prática, para que elas possam perceber que um grupo de crianças desenhassem um
os conteúdos e não apenas para cientista.
posteriormente ter a obrigatoriedade de A imagem a seguir apresenta o desenho da
responder questões. criança Sophia, que faz parte do segundo ano
Fracalanza (1986, p. 61) reflete sobre a visão dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. No
das crianças tendo como base uma situação desenho da criança é possível observar um
típica de aula expositiva nos Anos Inicias do homem com um grande jaleco preto, com
Ensino Fundamental e questiona “como olhos arregalados e cabelos para cima (FIGURA
reagem os alunos à mensagem emitida pela 1).
professora na sua exposição? Conseguem FIGURA 1 – O CIENTISTA NA VISÃO DA SOPHIA
entendê-la plenamente? A compreensão do
assunto é homogênea em toda a classe?”.
As crianças são diferentes, possuem visões
diferentes, trazem consigo conhecimentos
prévios sobre ciência diversificados, nesse
sentido as situações de aprendizagens não
podem ser iguais para todos, porque os
interesses e as curiosidades das crianças são
diferentes.
No decorrer do curso de Especialização
Ciência e Tecnologia se oportunizou a
discussão de diversos temas, entre eles como é
construída a imagem de cientistas pela mídia e Fonte: Arquivo pessoal da autora.
em nossa sociedade aspecto relevante, porque

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A imagem a seguir apresenta o desenho da FIGURA 3 – O CIENTISTA NA VISÃO DA ANA


criança Lucas, que faz parte do segundo ano
dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. No
desenho dele é possível observar um homem
com idade avançada, com experimentos
científicos práticos e cabelos brancos que
significa experiente para essa profissão
(FIGURA 2).

FIGURA 2 – O CIENTISTA NA VISÃO DO LUCAS

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

As crianças estão demonstrando por meio


dos seus desenhos suas visões em relação as
pessoas da área de química, atuando em suas
profissões, pois estas são as imagens mais
veiculada pelos meios de comunicação e nos
desenhos infantis.
Observou-se que raramente, é apresentado
Fonte: Arquivo pessoal da autora. para as crianças que físico, ambientalista, entre
outros cientistas que realizam um trabalho
A imagem a seguir apresenta o desenho da totalmente específico em uma determinada
criança Ana, que faz parte do segundo ano dos área do conhecimento são cientistas.
Anos Iniciais do Ensino Fundamental. No Diante desse cenário, foi possível observar
desenho dela é possível observar uma mulher que a maioria da população, assim como
de meia idade, loira e vestida de jaleco branco, também as crianças desconhecem a
demostrando estar feliz, com experimentos diversidade de atividades e especialistas, que
científicos práticos e um caderno de anotações existem no campo da ciência.
sobre a mesa (FIGURA 3). Ao observar os desenhos das crianças e suas
visões, identificou-se que o público alvo na
cabeça das pessoas e das crianças, quando
falam sobre os cientistas, em sua maioria são
homens, aparência de pessoas exóticas, mais
velhas, sempre vestidas com jaleco branco e
fazendo experimentos científicos. Percebeu-se
que para as crianças esses fazeres não são para
elas e sim do outro.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nesse sentido, a escola precisa realizar um são gênios e que, portanto, se dedicar à ciência
trabalho de identificação e divulgação é algo que deve complexo. Aqueles que tem
científica em todos os campos de atuação para essa visão mal sabem que ciência é, em
desmistificar essa imagem criada nas cabeças primeiro lugar, observação. Todo cientista
das crianças, principalmente que ciência não é precisa ter disposição para observar e
coisa de mulher ou criança. Recentemente, entender, nos mínimos detalhes, aquilo que
assistiu-se a uma palestra que fala sobre lhe chamou a atenção.
ciência para crianças abordando alguns Cachapuz (2011), escreve que o movimento
personagens infantis que são cientistas. ciência para todos baseava-se em duas ideias,
Segundo Cachapuz (2011), existe a a saber:
necessidade de uma educação científica para Na primeira ideia, que denomina tese
todos: pragmática, considera que, dado que as
As propostas atuais favoráveis a uma sociedades estão cada vez mais influenciadas
alfabetização científica para todos os cidadãos, pelas ideias e produtos de ciência e, sobretudo
vão além da tradicional importância concedida de tecnologia, os futuros cidadãos
– mais verbal do que real – à educação desenvolver-se-ão melhor se adquirirem uma
científica e tecnológica, para tornar possível o base de conhecimentos científicos. A segunda
desenvolvimento futuro. Essa educação ideia, ou tese democrática, supõe que a
científica converteu-se, na opinião dos alfabetização científica permite aos cidadãos
especialistas, numa exigência urgente, num participar nas decisões que as sociedades
fator essencial do desenvolvimento das devem adoptar em torno a problemas sócio
pessoas e dos povos (CACHAPUZ, 2011, p. 17). científicos e sócio tecnológicos cada vez mais
Outro ponto muito disseminado nos complexos (CACHAPUZ, 2011, p. 22).
desenhos que representam a visão das crianças Deste modo, faz-se necessário pensar,
é que todo cientista é doido ou tem aparência porque não aproveitar a curiosidade das
de doido. Observou-se que esta mesma crianças para despertar e trazer assuntos
imagem é criada quando o assunto é professor científicos para sala de aula, observando o solo
universitário, provocando nas pessoas uma do jardim da escola, a vegetação presente e os
rejeição por tal profissão ou pessoas tipos de animais presentes naquele ambiente.
relacionadas a esse ofício, que trabalham Um exemplo claro disso é conduzir a turma de
muito tempo em laboratórios fechados que crianças a observar a metamorfose de uma
não viajam e que não tem tempo de lazer, pois borboleta, levando junto com elas as etapas a
estão sempre em pesquisa. serem seguidas, observadas e registradas, os
Em outras palavras, é um trabalho de tipos de árvores que atraem as lagartas,
formiguinha e que deve começar na base que é pensando se todas as lagartas viram
formação de futuros professores e nas escolas borboletas.
que atendem ao público infantil. É possível envolver as crianças, pois as
Algumas pessoas acham que ciência é mesmas elaboram muitas perguntas, cabendo
sinônimo de coisas difíceis, que todos cientistas ao professor auxiliá-los a organizar os registros

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

em planilhas para não perder o fio da meada e sem compreender os conceitos e aplicabilidade
deixar tudo registrado sobre sua pesquisa, do que é estudado. Assim, as Ciências
descobrindo os resultados obtidos. experimentais são desenvolvidas sem relação
Lorenzetti (2021, p. 06), afirma que o ensino com as experiências e, como resultados,
de ciências nos Anos Iniciais do Ensino poucos alunos se sentem atraídos por elas
Fundamental deve “contribuir não somente .
para que o aluno compreenda os conceitos
científicos, mas também para que perceba que
aquilo que é ensinado na escola faz parte do
seu cotidiano”.
É importante reconhecer que o modo como
a escola conduz o processo de ensino e
aprendizagem, pode estimular o espírito
investigativo dos estudantes, despertando nele
o encantamento pela ciência ou ao contrário,
pode inibir o exercício da curiosidade dos
alunos, fazendo com que eles se percam à
medida que são promovidos para outras séries.
Poucas vezes a escola, segundo Carvalho (1996,
p. 38), “contribui para que o gosto pelas
ciências diminua ou até mesmo se transforme
em aversão”.
Esta situação nos conduz à urgência de
democratizar as ciências para as crianças,
começando por investir seriamente em ações
de educação desde o início da escolarização,
para que todos tenham as mesmas
possibilidades no mundo da cultura
contemporânea.
Para a Organização das Nações Unidas para
a Educação Ciência e Cultura – UNESCO (2005,
p. 02), é imprescindível que as escolas
“desenvolvam em seus alunos o gosto pelo
universo científico, aguçando a curiosidade e o
interesse em conhecer os grandes cientistas
que fizeram história”. Portanto, compreendeu-
se que nas escolas públicas, o ensino de
Ciências tem sido tradicionalmente livresco e
descontextualizado, levando o aluno a decorar,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a elaboração desse estudo foi possível compreender a visão que as crianças têm sobre
a área de ciências, a partir da escuta do professor, em uma simples atividade ao qual envolveu
artes e ciência de forma interdisciplinar, as crianças expressaram por meio do desenho, seus
conhecimentos científicos. Nesse sentido, a partir deles foi possível compreender que o modelo
de cientistas que acreditam, estar longe da sua realidade social, econômica e do real
conhecimento científico, pois expressaram na maioria das vezes homens, com idades medianas,
com aspectos de pessoas “loucas”, jalecos brancos, entre outras características, mas observando
com atenção, essas pessoas se utilizam de experimento específicos para as pesquisas científicas,
porém essa visão é aprendida em desenhos infantis nas mídias, pois na escola ficam presos em
livros didáticos ou cópia de textos, respondendo questionários que servem para estudar para as
provas no final do bimestre.
A maneira como são abordados os assuntos de ciências dentro da sala de aula,
contribuindo com uma desconstruindo o mito da visão das crianças sobre o conhecimento
científico e contribuindo com uma formação sólida em ciências.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
CACHAPUZ, A. A necessária renovação do ensino das ciências. São Paulo: Cortez, 2011.

CARVALHO, R. B. Árvore no chão ou enxofre no ar? Rio de Janeiro: Revista Ciência Hoje, v.
20, n. 120, maio 1996.

FRACALANZA, H. O ensino de ciências no primeiro grau. São Paulo: Atual, 1986.

LORENZETTI, L. Alfabetização Científica Contexto das Séries Iniciais. Ensaio. Pesquisa em


Educação em Ciências. V.3, n. 1, jan/jun. Belo Horizonte, 2001. Acessado em: 02 de set de 2021.
Disponível em:
https://www.scielo.br/j/epec/a/N36pNx6vryxdGmDLf76NDH/?format=pdf&lang=pt . Data de
Acesso: 20/07/2022.

MARQUES, A. C. T. L. MARANDINO, M. Alfabetização científica, criança e espaços de


educação não formal: diálogos possíveis. Scielo Brasil: Educação e Pesquisa. n. 44, 2018.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/ep/a/C3jHPnH8nQ47vp6fQ7mrdDb/?lan=pt Data de
Acesso: 20/07/2022.

UNESCO. Ciência na Escola: Um Direito de Todos. Brasília: 2005. Disponível


em:https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000140099?1=null&queryId=340f1cc7-b428-
4425-95d2-cd411ae396e3 Data de Acesso: 20/07/2022..

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

COMO O PROFESSOR IDENTIFICA AS


ALTERAÇÕES QUE INTERFEREM NO PROCESSO
DE LEITURA E ESCRITA EM ESPECIAL A DPAC-
DESORDEM DO PROCESSAMENTO AUDITIVO
CENTRAL
Sueli Rutkauskas Gomes 1

RESUMO: O presente estudo de caráter informativo tem como objetivo orientar o professor
sobre como identificar as alterações que interferem neste processo, em especial a DPAC -
Desordem do Processamento Auditivo Central.

Palavras-Chave: Leitura; Escrita; Desordem do Processamento Auditivo Central.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental na Rede Municipal de Santo André e Governo do Estado
de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Alfabetização e Letramento.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

HOW THE TEACHER IDENTIFIES CHANGES THAT INTERFERE WITH


THE READING AND WRITING PROCESS, SPECIALLY A DPAC- CENTRAL
AUDITORY PROCESSING DISORDER
ABSTRACT: This informative study aims to guide the teacher on how to identify the alterations
that interfere in this process, especially the CAPD - Central Auditory Processing Disorder.

Keywords: Reading; writing; Central Auditory Processing Disorder.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO professor sobre como identificar as alterações


que interferem neste processo, em especial a
Ao longo do histórico da humanidade ler e DPAC (Desordem do Processamento Auditivo
escrever desempenhou um importante papel Central).
político e social na formação das sociedades, Para atingir o objetivo proposto nesta
exercendo uma função de dominação em pesquisa optou-se por uma pesquisa
relação àqueles não letrados. quantitativa e descritiva. Para coleta de dados
Este trabalho parte da ideia que o professor usou-se como critério investigar 3 salas das 4ª
deve ser reflexivo a ponto de não rotular os séries do ensino fundamental, em uma escola
alunos, e sim identificar quais são suas da rede pública municipal da periferia da
dificuldades no aprendizado da leitura e cidade de São Paulo, onde os dados foram
escrita. Algumas peculiaridades como: coletados por meio de escrita sob ditado e
dificuldade em produzir e compreender textos; testes específicos para tal identificação, e com
disgrafias; inversões de letras; são frequentes ajuda de uma profissional na área de
em sala de aula e erroneamente analisados. fonoaudiologia, será possível o diagnóstico
Quando a criança entra na escola criam- preciso.
se expectativas com relação ao seu A partir deste diagnóstico, as crianças
desempenho com a leitura e a escrita. serão encaminhadas para o órgão competente
Entretanto, nem todas as crianças como a UBS (Unidade Básica de Saúde) mais
conseguem participar deste processo de modo próximo da instituição escolar para
prazeroso, sendo que muitas causas que procedimentos de exames e condutas
impedem este processo poderiam ser terapêuticas, se necessário.
precocemente observados pelo professor.
Um profissional capacitado e em constante
DESORDEM DO
atualização do conhecimento, será capaz de
identificar as situações de dificuldades no PROCESSAMENTO AUDITIVO
aprendizado dos seus alunos. Existem CENTRAL
inúmeras alterações diagnosticadas por • Definição do Processamento Auditivo
profissionais. Dentre as alterações encontradas Central (PAC)
dentro da sala de aula, pouco se sabe a respeito A audiologia obteve grandes avanços após a
da DPAC (Desordem do Processamento 2º Guerra Mundial nos EUA, e no Brasil foi a
Auditivo Central). partir da década de 60. Entretanto, algumas
Por ser um tema desconhecido pela maioria queixas auditivas não eram esclarecidas, como
dos professores, e um dos grandes causadores no caso de pessoas ouvirem bem e não terem
de desinteresse dos alunos, precisa ter um compreensão da fala. O estudo do
olhar diferenciado tanto dos professores como Processamento Auditivo Central iniciou-se para
dos seus familiares.
O presente estudo de caráter
informativo tem como objetivo orientar o

660
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esclarecer estes casos. (Revista eletrônica sons e os transforma em sinais que o cérebro
CEFAC) 2. 1 entende.
Com o avanço da tecnologia, hoje é possível Sistema Auditivo Central formado pelo
a avaliação do Sistema Nervoso Central (SNC), tronco cerebral e o cérebro que interpreta a
que é o sistema que controla o nosso corpo. informação errada pelas orelhas.
O SNC recebe as informações trazidas pelo Sua definição se dá:
Sistema Nervoso Periférico (SNP), integra e [...] PAC é o conjunto de habilidades
processa tais informações e elabora uma específicas que a criança precisa para
resposta adequada, reenviando-a através dos interpretar o que ouve. Estas habilidades são
nervos para que o corpo se comporte de governadas pelos centros auditivos do tronco
acordo com a situação em que se encontra 3 . 2 cerebral e do cérebro, e podem ser agrupadas
O Sistema Nervoso Periférico é formado em cinco áreas gerais descritas a seguir:
pelos nervos que partem do sistema central e 1 - Habilidades de atenção:
tem a função de trazer e de levar impulsos ao Relaciona-se “como a criança presta atenção
SNC, que por sua vez são chamados à fala e os sons do seu ambiente. São
respectivamente de aferentes e eferentes. importantes quando ela precisa se concentrar
Uma das habilidades do SNC é o em um estímulo determinado ignorando o
Processamento Auditivo (PA) da informação. ruído de fundo, ou seja, a conexão que ela faz
O PAC como qualquer outro com o mundo.
comportamento humano é uma área muito 2 – Habilidades de discriminação:
complexa. [...] Capacidade do cérebro em “ouvir” as
Os distúrbios do PAC são deficiências reais diferenças entre os sons falados, como
que tem efeitos negativos no desenvolvimento perceber as diferenças entre os sons [...].
da criança, estes efeitos variam de leves a 3 – Habilidades de Associação:
severos e podem aparecer em qualquer área [...] Capacidade do cérebro em associar [...]
do desenvolvimento da criança, incluindo um som que chega à outra informação de
atividades escolares, de comunicação ou sócio- acordo com as regras de linguagem. [...]
emocionais. capacidade para receber partes da informação
auditiva, analisá-las e dar-lhes um sentido, um
• O que é o PAC significado.
O sistema auditivo pode ser dividido em 4 – Habilidades de Integração:
2 partes principais: [...] Capacidade de ouvir conjuntos de sons e
Sistema Auditivo Periférico que inclui uni-los com outras informações sensoriais,
orelhas externa média e interna mais o nervo para dar significado a uma mensagem ou
auditivo, formando o conjunto que detecta os tarefa. [...] requer regras de linguagem, mas o

2 A relevância da pesquisa científica na audiologia 3 Sistema nervoso central e o estado de coma


brasileira. Revista CEFAC vol.11 supl.1 São Paulo 2009. <http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/sistema-
Disponível em <http://www.scielo.br>. Data de Acesso: nervoso-central-estado-coma-540186.shtml>.Data de
30/06/2022.. Acesso: 30/06/2022..

661
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

foco maior é a captação da ideia geral. Reflete habilidades auditivas realizadas pelo SNC que
os quão bem conectados [...] estão os centros são necessárias para a interpretação das
sensoriais da criança. informações auditivas. É ouvir e entender o
5 – Habilidades de organização: que ouviu” (RACHMAN) 6 3

O quanto o sujeito [...] é capaz de seguir a


sequência, organizar e recordar aquilo que DEFINIÇÃO DA DESORDEM DO
ouve. [...] O quanto conseguimos prestar
atenção, descriminar, associar, integrar e PROCESSAMENTO AUDITIVO
organizar o que ouvimos. CENTRAL (DPAC)
É importante [...] termos boas habilidades de A disfunção auditiva central ou Desordem
PA para sermos capaz de nós comunicarmos do Processamento Auditivo Central (DPAC) é
com os outros, para aprender uma nova um distúrbio da audição, onde o sujeito tem a
informação e para realizar tarefas em nossa dificuldade de detectar, analisar e interpretar
vida diária [...]4 .
1

padrões sonoros. O sujeito não tem problemas


O Processamento Auditivo é o processo de de perda auditiva, pelo contrário a audição é
“decodificação e interpretação das ondas normal, porém não compreende o que ouve.
sonoras, desde a orelha externa, até o córtex (Pereira, 1996:44)
auditivo”. A orelha externa capta o som do Esta dificuldade se dá em algumas
meio ambiente pela orelha esquerda que passa habilidades auditivas7 , são elas:
4

pela orelha média, orelha interna e chega até o Localização Sonora: É a habilidade de
córtex para que a informação sonora seja identificar o local de origem da fonte sonora.
processada. Hoje já é lei em muitas cidades do Atenção Seletiva: É a habilidade em focar
Brasil o “teste da orelhinha” neonatal. Este um determinado estímulo sonoro em meio a
teste é realizado nas crianças antes dos 3 outros sons competitivos auditivos ou visuais.
primeiros meses de idade. Se detectado algum Sensação Sonora: É própria do indivíduo e
sinal de surdez, a criança começa a usar depende dos estímulos sonoros por ele
aparelho a partir dos 6 meses de idade para recebido.
estimular o desenvolvimento das habilidades Discriminação Sonora: É a habilidade de
auditivas e de linguagem (DREOSSI, 2007) 5 2

detectar diferenças entre os padrões de


A definição do Processamento Auditivo estímulos sonoros, detectando diferenças
Central “compreende um conjunto de (frequência, intensidade e duração do som).

4 Fonte: <
6 RACHMAN, Elza Maria Bulcão e Vasquez, Virginia C. T.
http://sare.unianhanguera.edu.br/index.php/anuic/article
/view/556/496 > Data de Acesso: 30/06/2022.. Processamento Auditivo Central. Disponível em:
5 DREOSSI, Raquel Cecília Fischer; Momensohn-Santos <http://www.comportamentoinfantil.com/artigos/processament
e Teresa. O ruído e sua interferência sobre estudantes oauditivocentral. htm> Data de Acesso: 30/06/2022..
7 OLIVEIRA, Dra. Patrícia Mello de, fonoaudióloga. Artigos para
em uma sala de aula: revisão de literatura. Disponível
leigos. Desordem do processamento auditivo central: já ouviu
em falar? Disponível em: < http://www.otosul.com.br/art05.htm >
<http://www.scielo.br/pdf/pfono/v17n2/v17n2a13.pdf> Data de Acesso: 30/06/2022..
Data de Acesso: 30/06/2022.. .

662
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Memória: É a habilidade que permite MANIFESTAÇÕES DA DPAC


armazenar, arquivar informações acústicas
“Os indivíduos com desordem do
para, quando necessário, recuperá-las.
processamento auditivo central podem
Compreensão: É a habilidade de entender o
apresentar uma ou mais das seguintes
significado da informação auditiva. Processo manifestações comportamentais”. São elas:
comportamental aprendido.
1. Quanto à Comunicação Oral:
Reconhecimento: É a habilidade de
Problemas de produção de fala envolvendo
identificar um evento sonoro já conhecido.
os sons /r/ e /l/ principalmente;
Separação Binaural: É a habilidade para
Problemas de linguagem expressiva
escutar com uma orelha e ignorar a outra.
envolvendo regras da língua (estrutura
Fechamento: É a habilidade para perceber o gramatical);
todo quando partes são omitidas.
Dificuldade de compreender em ambiente
Exemplificando algumas destas habilidades, ruidoso;
temos a atenção seletiva que é o sujeito com
Dificuldade de compreender palavras com
dificuldade de se concentrar e manter o foco da
duplo sentido (piada).
atenção no ambiente que ele está inserido. A
capacidade de discriminação dos sons verbais,
2. Quanto à Comunicação Escrita:
isto é, se dois estímulos são diferentes ou
Problemas de escrita quanto às inversões de
iguais. Na memória auditiva o sujeito tem
letras, orientação direita/ esquerda;
dificuldade em armazenar e recuperar o que foi
Disgrafias;
informado, muitas vezes lembra só do que
Dificuldade de compreender o que lê.
interessa, o resto é descartado
automaticamente. O sujeito com DPAC tem a
3. Quanto ao Comportamento Social:
dificuldade de reconhecer e identificar um
Distraídos;
estímulo sonoro que já foi apresentado
Agitados/ hiperativos/ muito quietos;
anteriormente. Dentre outras habilidades
Desajustados (ou brincam com crianças
auditivas.
mais novas ou adultos mais tolerantes);
Quando duas habilidades encontram-se
Tendência ao isolamento (sentem-se
prejudicadas podemos ter o diagnóstico de
frustrados ao notarem suas falhas, na escola ou
DPAC.
no lar).
Para um diagnóstico preciso, primeiro o
sujeito deve realizar uma audiometria tonal e
4. Quanto ao Desempenho Escolar:
vocal para descartar a hipótese de deficiência
Inferior em leitura, gramática, ortografia,
da audição em diferentes graus e tipos. Realizar
matemática;
provas e testes para provável identificação do
O desempenho escolar pode ser melhorado
DPAC, e também realizar o exame de avaliação
ou agravado dependendo de fatores tais como:
PAC para identificar qual etapa que o sujeito
Posição do aluno na sala de aula;
tem mais dificuldades.
Tamanho da classe;
Nível de ruído ambiental;

663
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Fala do professor quanto ao nível de Para que seja possível identificar a alteração
intensidade e clareza de voz. do PA pode-se realizar um conjunto de testes
comportamentais especiais, utilizando sons
5. Quanto à audição: complexos apresentados por meio de fones ou
É muito difícil o sujeito vir procurar de alto-falantes ligados a um áudio metro
atendimento por uma queixa relativa a instalado em uma cabine acústica. Esses sons
problemas auditivos. Em geral, eles têm uma completos estão gravados em CD ou fita
impressão de que às vezes ouvem bem ou cassete (PEREIRA & SCHOCHAT, 1997, p.81).
compreendem bem e às vezes não. Quando
perguntados sobre a atenção e a interferência Por este motivo, testes especiais de
do ambiente podem referir: habilidades auditivas são cada vez mais
Atenção ao som prejudicada; comuns, quando se avaliam as habilidades das
Dificuldade em escutar em ambiente crianças. A DPAC pode ser a causa ou coexistir
ruidoso. (PEREIRA, 1996:49-50) a tão dificuldades.
Algumas destas manifestações estão muito Antes da avaliação do PAC deve ser feita
presentes em salas de aulas, como por uma avaliação audiológica básica. A avaliação
exemplo, a troca de letras envolvendo os sons de testes para avaliação do PAC é feito segundo
”R” e “L”; a linguagem expressiva; letras a faixa etária e o desenvolvimento do
espelhadas; disgrafias; e referente ao indivíduo.
comportamento também tem alunos Baseado nestas manifestações o professor
distraídos, muito agitados ou quietos, e outros deve ficar atento em relação ao desempenho
que chegam até ficarem isolados. escolar dos seus alunos, não os taxando de
Caso a criança apresente algumas ou mesmo incompetente, e sim de ajudá-los.
todas as características, isto não significa que Faremos aqui uma breve definição de outros
ela tem uma DPAC. distúrbios que tem algumas das mesmas
Existem outros distúrbios que podem ter características da DPAC, que é a: Dislexia,
características similares. A habilidade para Distúrbio de Leitura e Escrita (DLE) e
realizar a maioria das atividades requer mais Transtorno de Déficit de Atenção e
que tão somente boas habilidades auditivas. Hiperatividade (TDAH).
Todas estas atividades de alguma maneira
dependem de um bom PA, entretanto podem DISLEXIA
causar um baixo rendimento na leitura e A dislexia é um distúrbio, é uma patologia,
escrita, em ambientes com ruídos. que não tem cura mais pode ser amenizada
com terapias, sua definição se dá8 1

8
Fonte: Disponivel em :
http://www.dislexia.com.br/oquee.html Data de Acesso:
30/06/2022.

664
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

é uma específica dificuldade de aprendizado 8 - sua letra pode ser mal grafada e, até,
da Linguagem: em Leitura, Soletração, Escrita, ininteligível; pode borrar ou ligar as palavras
em Linguagem Expressiva ou Receptiva, em entre si;
Razão e Cálculo Matemáticos, como na 9 - pode omitir, acrescentar, trocar ou
Linguagem Corporal e Social. Não tem como inverter a ordem e direção de letras e sílabas;
causa falta de interesse, de motivação, de 10 - esquece aquilo que aprendera muito
esforço ou de vontade, como nada tem a ver bem, em poucas horas, dias ou semanas;
com acuidade visual ou auditiva como causa 11 - é mais fácil, ou só é capaz de bem
primária. Dificuldades no aprendizado da transmitir o que sabe através de exames orais;
leitura, em diferentes graus, é característica 12 - ao contrário, pode ser mais fácil
evidenciada em cerca de 80% dos disléxicos. escrever o que sabe do que falar aquilo que
A dislexia já foi comprovada que é genética sabe;
e hereditária. A melhor idade para se 13 - tem grande imaginação e criatividade;
diagnosticar é a partir dos cinco anos e meio. 14 - desliga-se facilmente, entrando "no
Muitos disléxicos se evadem da escola por mundo da lua";
terem sérios problemas de ensino- 15 - tem dor de barriga na hora de ir para a
aprendizagem, principalmente na leitura e escola e pode ter febre alta em dias de prova;
escrita. 16 - porque se liga em tudo, não consegue
Podemos identificar a partir dos sete anos de concentrar a atenção em um só estímulo;
idade os sintomas e sinais de uma criança 17 - baixa auto-imagem e autoestima; não
quando9 : 1
gosta de ir para a escola;
18 - esquiva-se de ler, especialmente em voz
1 - pode ser extremamente lento ao fazer alta;
seus deveres; 19 - perde-se facilmente no espaço e no
2 - ao contrário, seus deveres podem ser feitos tempo; sempre perde e esquece seus
rapidamente e com muitos erros; pertences;
3 - cópia com letra bonita, mas tem pobre 20 - tem mudanças bruscas de humor;
compreensão do texto ou não lê o que escreve; 21 - é impulsivo e interrompe os demais para
4 - a fluência em leitura é inadequada para a falar;
idade; 22 - não consegue falar se outra pessoa
5 - inventa, acrescenta ou omite palavras ao estiver falando ao mesmo tempo em que ele
ler e ao escrever; fala;
6 - só faz leitura silenciosa; 23 - é muito tímido e desligado; sob pressão,
7 - ao contrário, só entende o que lê, quando pode falar o oposto do que desejaria;
lê em voz alta para poder ouvir o som da 24 - tem dificuldades visuais, embora um
palavra; exame não revele problemas com seus olhos;

9
Fonte: Disponível:
http://www.dislexia.com.br/sintomas.htm Data de
Acesso: 30/06/2022.

665
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

25 - embora alguns sejam atletas, outros mal 43 - tolerância muito alta ou muito baixa à
conseguem chutar, jogar ou apanhar uma bola; dor;
26 - confunde direita - esquerda, em cima - 44 - forte senso de justiça;
embaixo; na frente atrás; 45 - muito sensível e emocional, busca
27 - é comum apresentar lateralidade cruzada; sempre a perfeição que lhe é difícil atingir;
muitos são canhotos e outros ambidestros; 46 - dificuldades para andar de bicicleta,
28 - dificuldade para ler as horas, para para abotoar, para amarrar o cordão dos
sequências como dia, mês e estação do ano; sapatos;
29 - dificuldade em aritmética básica e/ou 47 - manter o equilíbrio e exercícios físicos é
em matemática mais avançada; extremamente difícil para muitos disléxicos;
30 - depende do uso dos dedos para contar, 48 - com muito barulho, o disléxico se sente
de truques e objetos para calcular; confuso, desliga e age como se estivesse
31 - sabe contar, mas tem dificuldades em distraído;
contar objetos e lidar com dinheiro; 49 - sua escrita pode ser extremamente
32 - é capaz de cálculos aritméticos, mas não lenta, laboriosa, ilegível, sem domínio do
resolve problemas matemáticos ou algébricos; espaço na página;
33 - embora resolva cálculo algébrico 50 - cerca de 80% dos disléxicos têm
mentalmente, não elabora cálculo aritmético; dificuldades em soletração e em leitura.
34 - tem excelente memória de longo prazo, A criança quando apresentar alguns destes
lembrando experiências, filmes, lugares e sintomas, os pais/ ou responsáveis devem ficar
faces; atentos, pois ao persistirem por muito tempo a
35 - boa memória longa, mas pobre criança tem uma grande chance de ser um
memória imediata, curta e de médio prazo; disléxico.
36 - pode ter pobre memória visual, mas
excelente memória e acuidade auditivas; TRANSTORNO DO DÉFICIT DE
37 - pensa através de imagem e sentimento,
não com o som de palavras; ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE
38 - é extremamente desordenado, seus (TDAH)
cadernos e livros são borrados e amassados; Em todo este capítulo estamos vendo várias
39 - não tem atraso e dificuldades desordens, a primeira vista pode até ser
suficientes para que seja percebido e ajudado assustador descobrir que convivemos com
na escola; várias crianças que tem ou podem ter algo não
40 - pode estar sempre brincando, tentando diagnosticado. Mas na verdade o que deveria
ser aceito nem que seja como "palhaço" ; assustar é o fato de ser não fácil identificar
41 - frustra-se facilmente com a escola, com estes problemas. Sobre TDAH mesmo,
a leitura, com a matemática, com a escrita; poderíamos colocar tantos ou mais sintomas
42 - tem pré-disposição a alergias e a do que temos na Dislexia, mas eles seriam tão
doenças infecciosas; semelhantes que pareceria repetição. Ao invés
de falar todos os sintomas vamos então tentar

666
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mostrar a diferença que nem sempre é clara, A definição de distúrbio de leitura e escrita
11
entre Dislexia e TDAH. Mesmo para os médicos é caracterizado pela dificuldade na aquisição
2

ainda há uma dificuldade na identificação, a e/ou desenvolvimento da linguagem escrita.


maioria se baseia nos critérios do Manual Geralmente são crianças que apresentam
Diagnóstico e Estatístico (DSM-IV) ou no déficits tanto na decodificação fonológica
Código Internacional de Doenças (CID10). quanto de compreensão da linguagem oral
A criança disléxica apresenta os sintomas já e/ou escrita.
no período de alfabetização, pois as Suas manifestações se dão na “[...]
dificuldades com a leitura e com a escrita se linguagem tais como vocabulário pobre, uso
destacam. A mesma criança pode ser disléxica inadequado da gramática e dificuldades no
e ter TDAH. As principais características do processamento fonológico”. Também tem
TDAH são a hiperatividade, desatenção e a dificuldades em reconhecer as:
impulsividade, coisas que na dislexia não se vê. [...] palavras e de compreensão na leitura,
TDAH é a classificação clínica para problemas podem demonstrar dificuldades em manter a
de atenção, impulsividade e hiperatividade, atenção e narrar fatos e acontecimentos, e
mais frequentes e severos do que tipicamente problemas de compreensão do discurso, com
observado em crianças com o mesmo nível de freqüência, apresentam uma relação de
desenvolvimento. sofrimento com a escrita, desinteresse pelas
Uma “vantagem” do TDAH é que para isso atividades de leitura e escrita,
existe remédio e o mesmo pode dar resultados desconhecimento acerca de suas funções,
que pareçam milagrosos. frustrações e inseguranças geradas pelos erros
Uma melhor definição para o TDAH é 10 1 que cometem enquanto leitor e escritor.12 3

O Transtorno do Déficit de Atenção com As crianças com distúrbio auditivo ou visual


Hiperatividade (sem TDAH) é um transtorno normalmente têm dificuldades em decodificar
neurobiológico, de causas genéticas, que e compreender um texto, elas ficam tão
aparece na infância e frequentemente ansiosas que não querem ler, pois sabem que
acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele não poderão desfrutar de uma análise mais
se caracteriza por sintomas de desatenção, crítica. Conforme Morais (1986,p.17), “mas,
inquietude e impulsividade. Ele é chamado às para ler, não basta apenas realizar a de
vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). codificação dos símbolos impressos, é
DISTÚRBIO DE LEITURA E ESCRITA (DLE) necessário que exista também a compreensão
Quando há um distúrbio de leitura não e análise crítica do material lido”.
necessariamente a criança não escuta, e sim há O professor tem o papel fundamental que é
uma dificuldade em compreender os sons, identificar as crianças com dificuldades de
sendo assim ela não entende o que lê. aprendizagem e junto com a família e

10 12
Fonte: www.tdah.org.br/oque01.php Data de Acesso: Idem ao 10.
30/06/2022.
11 Fonte:
http://www.falemelhor.com.br/reabilitacao/disturbio-
leitura-escrita.php Data de Acesso: 30/06/2022.

667
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

profissionais da área procurar ajuda. “O Recuperação do Ciclo), nesta sala tem 5 alunos
diagnóstico precoce do distúrbio de do sexo feminino e 13 do sexo masculino
aprendizagem é um ponto fundamental para a totalizando 18 alunos entre 9 e 11 anos.
superação das dificuldades escolares” Os testes foram aplicados em duas etapas, a
(MORAIS, 1986:24). primeira era individual com cinco exercícios e a
Alterações visuais podem afetar inclusive, a outra coletiva, que era o ditado.
aprendizagem da leitura e as dificuldades na O primeiro exercício a ser aplicado era a
discriminação auditiva, e da mesma maneira, “Discriminação de Sons”, anexo (3). A criança
podem comprometer o começo da tinha que falar se o som era igual ou diferente,
aprendizagem da leitura. A criança aprende por para isso foram dadas 3 chances para o treino.
meio de seus Sistemas Receptores, a audição e Após o treino não podíamos mais repetir as
a visão, na medida em que erros nestes palavras. Este teste tem 19 sequências de
receptores são os principais canais para a palavras, eles tinham que acertar 14
aprendizagem simbólica. A partir disto sequências, então o resultado por sala ficou
entendemos que a saúde é um dos fatores assim:
importantes para a aprendizagem, o começo
das dificuldades escolares pode ser qualquer Gráfico 4 – Discriminação dos sons 4ªA
problema mínimo de saúde. Discriminação de Sons 4ª A

Também a escrita é afetada por alterações 19 19


20 1817 16 1818
191918
15
18 19191919 1818 1917 1919 17181818 19
Total de 19

ou distúrbios da visão e/ou audição. O 15


palavras

10
importante é saber diferenciar o que é um 5
0
problema de saúde e o que é apenas uma 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27

dificuldade do aluno. Número do aluno

Quantidade de acertos

ANÁLISE DE RESULTADOS O gráfico 4 corresponde ao percentual de


acertos, e os alunos desta sala atingiram 100%
• Caracterização dos sujeitos
do total da média.
No total seriam 89 alunos convidados a
participarem do protocolo de investigação,
Gráfico 5 – Discriminação dos sons 4ªB
sendo que 38 do sexo feminino e 51 do sexo
Discriminação de Sons 4ª B
masculino. Os sujeitos de pesquisa da 4ª série 19 18 19 19 19 19 18 18 19 18 19 19 19 19 19 18 18 19 19
20 17 18 17
A são 15 alunos do sexo feminino e 21 do sexo
Totol de 19
palavras

15
8
10
masculino totalizando 36 alunos entre 9 e 11 5
0
anos, sendo que um deles já tem 12 anos. Na 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23

4ª série B tem um total de 35 alunos, 18 do Número do aluno

sexo feminino e 17 do sexo masculino, nesta 1


15
2
16
3
17
4
18
5
19
6
20
7
21
8
22
9
23
10 11 12 13 14

sala a idade varia entre 9 e 10 anos. A sala da


O gráfico 5 corresponde ao percentual de
4ª série C é uma sala diferenciada, ela é
acertos, dos alunos desta sala, só 95% atingiu o
denominada pela prefeitura do estado de São
resultado esperado.
Paulo como sala do PIC (Programa de

668
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Gráfico 6 – Discriminação dos sons 4ªC Gráfico 7 – Teste de rima 4ªA


Discriminação de Sons 4ª C Teste de Rima 4ª A
19 19 19 19
Total de 19 plavras

20 18 18 18 18 17 18 18
16 30

sequências
Total de 20
18 1918 20 18
15
20 14 16 1617
9 11131310 11 12 1311 1312 11 1414
10 8 10 7 9 7
10
5 0
0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Número do aluno
Número do aluno
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

O gráfico 6 corresponde ao percentual de O gráfico 7 corresponde ao percentual de


acertos, dos alunos desta sala, só 95% crianças da 4ªA que participaram deste teste
atingiram resultados esperado. correspondendo a 40,7% de acertos.
No geral todos foram muito bem neste teste.
Como podemos verificar nos gráficos 4, 5 e 6, Gráfico 8 – Teste de rima 4ªB
cada coluna representa um indivíduo e está Teste de Rima 4ªB
com seus respectivos pontos. As colunas de cor 20
19 19 19
17 18 16 17
15
sequências
Total de 20

14 14 13
azul são os indivíduos que alcançaram a 15 12
10
9
11 11 10 12
6
12

4 3 2 3
pontuação necessária para este teste. As 5
0
colunas que estão com cor amarelo não 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Número do aluno
alcançaram a pontuação necessária na
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
aplicação deste teste. 15 16 17 18 19 20 21 22 23

O segundo teste aplicado foi o da “Rima” O gráfico 8 corresponde ao percentual de


anexo (4, exercício número 2). A rima é a crianças da 4ªB que participaram deste teste
repetição de um mesmo som no final de duas correspondendo a 43,4% de acertos.
palavras, isto é, que terminam do mesmo jeito.
Então para este teste foram faladas 3 palavras Gráfico 9 – Teste de rima 4ª C
e o indivíduo tinha que falar as duas palavras Teste de Rima 4ª C
que rimavam. Para isso foram dadas três
20
chances para o treino e após o treino também 14 15
sequências
Total de 20

15 11 12
10 10 10
8
não podíamos mais repetir o teste. Eles tinham 10
5
6
4
7

que acertar no mínimo 14 sequências, e os 0


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
resultados foram conforme os gráficos abaixo: Número do aluno

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

O gráfico 9 corresponde ao percentual de


crianças da 4ªC que participaram deste teste
correspondendo a 18,1% de acertos.
O terceiro teste aplicado foi o de “Repetição
de Palavras”, anexo (4, exercício número 3).
Tínhamos que falar uma sequência de palavras
e ao terminar de falar a criança tinha que falar

669
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esta sequência. No total foram sete Gráfico 12 – Repetição de palavras 4ªC


sequências, sendo que a primeira sequência Repetição de palavras 4ªC

tinha duas palavras, a segunda e terceira 6 5

sequências
4 4 4

Total de 7
sequência tinha 3 palavras, a quarta e a quinta 4 3 3 3 3 3

tinham quatro palavras e a sexta e sétima 2 1 1

0
tinham 5 palavras, os resultados podemos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

conferir nos gráficos abaixo: Número do aluno

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Gráfico 10 – Repetição de palavras 4ªA O gráfico 12 corresponde ao percentual de


Repetição de palavras 4ª A crianças da 4ªC que participaram deste teste
8 6
correspondendo a 9% de acertos.
sequências
Total de 7

6 5 5 5
4
4
3 3
4
2 2
4 4
3
2 2
4 4
2
4
3 3
4 4 4 4
3
4
O quarto teste aplicado nos indivíduos foi o
2
0 teste de “Aliteração”, anexo (5, exercício
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27
Número do aluno
número 4). Neste teste tínhamos que falar 3
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
palavras, duas delas começam do mesmo jeito,
15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 e o indivíduo deve dizer as duas palavras que
O gráfico 10 corresponde ao percentual de têm o mesmo som, a mesma letra no começo.
crianças da 4ªA que participaram deste teste Para isso foi dado um (treino) com três
correspondendo a 14,8% de acertos. sequências, e a partir desta sequência não
podíamos mais repetir caso o indivíduo não
Gráfico 11– Repetição de palavras 4ªB entendesse. Eles tinham que acertar 7
Repetição de palavras 4ª B sequências de um total de 10. O resultado
8 6
deste teste ficou conforme mostras nos
sequências
Total de 7

5 5 5
6
4 2
4 4
2
4
2
4
2
4 4
3
2
3 3
2
3
2
gráficos 13, 14 e 15, vejam:
2 1 1
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Gráfico 13 – Teste de aliteração 4ªA
Número do aluno
Teste de Aliteração 4ª A
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
15 16 17 18 19 20 21 22 23
15
sequências
Total de 10

10 10
10 8 7 7 8 8 8 9 8 7 7 7 8
6 7
O gráfico 11 corresponde ao percentual de 5 3
5 5 4 5 5
3
6 5 5 4

crianças da 4ªB que participaram deste teste 0


1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27
correspondendo a 17,3% de acertos. Número do aluno

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

O gráfico 13 corresponde ao percentual de


crianças que participaram da pesquisa e
realizaram este teste correspondendo a 55,5%
de acerto da sala da 4ª A.

670
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Gráfico 14 – Teste de aliteração 4ªB um indivíduo o fez. Então o resultado final


Teste de Aliteração 4ª B deste teste ficou conforme os gráficos 16, 17 e
10 8 8 9 9 8 9 18 como podem conferir.
sequências
Total de 10

7 7 7 7 7 7 7
6 6 6
5 5 5 5 5
5 3 3

0 Gráfico 16 – Teste de leitura de palavras 4ªA


1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Número do aluno Teste de Leitura de palavras 4ª A

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 80 69 70 69697067 666866 67

Total de 70 palavras
6563 6567 65 62 6365 66
15 16 17 18 19 20 21 22 23 60 60 58 58 58
60 53 54 54

O gráfico 14 corresponde ao percentual de 40

crianças que participaram da pesquisa e 20

realizaram este teste correspondendo a 56,5% 0


1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27
de acerto da sala da 4ª B. Número do aluno

A média da 4ª A e da 4ª B praticamente foi à Quantidade de acertos

mesma porcentagem de acertos. O gráfico 16 corresponde ao percentual de


crianças da 4ª A que participaram do teste de
leitura correspondendo a 100% de acerto.
Gráfico 15 – Teste de aliteração 4ªC
Teste de Aliteração 4ª C Gráfico 17 – Teste de leitura de palavras 4ªB
8 7
6 6 6 Teste de Leitura de palavras 4ª B
sequências
total de 10

6 5 5 5 5
4 3
2 80 66 68 66 68 69 65 66 65 69 69 6968 70 6867 67
2 1 64 60 62 63 6767
Total de 70

60 53
palavras

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 40
Número do aluno 20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Número do aluno
O gráfico 14 corresponde ao percentual de
Quantidade de acertos
crianças que participaram da pesquisa e
realizaram este teste correspondendo a 9,% de O gráfico 17 corresponde ao percentual de
acerto da sala da 4ªC. crianças da 4ª B que participaram do teste de
O teste de “Leitura de Palavras” anexo (5, leitura correspondendo a 100% de acerto, isto
exercício número 5), foi o quinto teste aplicado é, não estão abaixo da média estipulada que é
nos indivíduos. Eles tinham que lerem as de 70% de acerto.
palavras em voz alta para que possamos Gráfico 18 – Teste de leitura de palavras 4ªC
identificar sua habilidade de leitura. Eram 70 Teste de Leitura de palavras 4ª c

palavras entre dissílabas e trissílabas, como 80


61 57 56 59
Total de 70

60 53
palavras

todos os testes o percentual de acerto é de 40


37 33
43

16
70%, então neste caso eles tinham que ler 20 2 1
0
corretamente 49 palavras. Não tinha ordem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

para começar a ler, podia começar pela Número do aluno

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
horizontal, vertical ou aleatoriamente, como

671
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O gráfico 18 corresponde ao percentual de Gráfico 19 – Escrita sob ditado 4ªA


crianças da 4ª C que participaram do teste de Escrita sob ditado 4ª A

leitura correspondendo a 45,4% de acerto. 40 33


37
32 30 30
36
29 30 32 32
27 28 25 28 27

Total de 40
30 24 24 26
Podemos observar que as salas da 4ª A e 4ª

palavras
18 21 21 20 21
20 15 15 13
11
B nenhuma criança ficou abaixo da média de 10
0
leitura, que neste caso são de 49 palavras. 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27
Número do aluno
Porém estes indivíduos estão na média, mas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

não atingiram as 70 palavras, a dificuldades de 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

alguns se dão em trocar o “D” por “T”/ “P” por O gráfico 19 corresponde ao percentual de
“B”/ “A” por “E”/ “F por “V”/ além de lerem as crianças da 4ª A que participaram da escrita
palavras com dígrafos erradas. sob ditado correspondendo a 44,4% que
Referente à “Escrita sob ditado” anexo (6), obtiveram resultado satisfatório.
esta foi a sexta atividade aplicada nos Gráfico 20 – Escrita sob ditado 4ªB
indivíduos, sendo a única atividade aplicada Escrita sob ditado 4ª B

coletivamente, e dentro da própria sala de aula 40 29 29 29 29 32 33 31 28 31 28 25 30


34
30 33 33 31 29 31
Total de 40
palavras
30 24 23 22
onde o aluno estuda. Esta atividade tem 40 20 13
10
palavras. São palavras conhecidas do nosso 0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
vocabulário, e algumas inventadas, isto é, que Número do aluno

não existem. Eles tinham que escrever as 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

palavras do jeito que eles entendessem. Para a 15 16 17 18 19 20 21 22 23

escrita foi distribuído uma “Folha de resposta” O gráfico 20 corresponde ao percentual de


anexo (7), já numerada de 1 a 40, com os crianças da 4ª B que participaram da escrita
devidos espaços a serem preenchidos. sob ditado correspondendo a 78,2% que
Para a correção do ditado foram usados obtiveram resultado satisfatório.
alguns critérios para verificar onde os sujeitos
têm mais dificuldades de escrita. Foi observado Gráfico 21 – Escrita sob ditado 4ªC
se a criança omite sons, isto é, omite letras ao Escrita sob ditado 4ª C

escrever, se ela troca as letras, se faz 20


19 19
15 15
Total de 40

13
desaglutinação, se acrescenta, ou até mesmo 15 12 12
palavras

10 7
5
inverte as letras. Analisando os gráficos 19, 20 5
4
1

e 21, obtemos os seguintes resultados. 0


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Número do aluno

Quantidade de acertos

O gráfico 21 corresponde ao percentual de


crianças da 4ª C que participaram da escrita sob
ditado correspondendo a 100% que não
obtiveram resultado satisfatório.
Na sala da 4ªC tem muitas crianças com
dificuldades de aprendizado. No dia do ditado,

672
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

exatamente na hora em que aplicávamos, o diagnosticadas pela fonoaudióloga são as


ruído externo estava muito alto, pois estavam denominadas 5; 10 e17.
ensaiando para a dança da festa junina, então
vejo que esta sala foi um pouco prejudicada em Gráfico 24 – Visão do Professor 4ª C
relação a este teste.

Gráfico 22 – Visão do Professor 4ª A

O gráfico 24 corresponde ao percentual de


crianças da 4ª C que foram identificadas pelo
O gráfico 22 corresponde ao percentual de professor correspondendo a 36,3% com
crianças da 4ª A que foram identificadas pelo dificuldades de aprendizagem. O percentual de
professor correspondendo a 11,1% com crianças diagnosticadas corresponde a 45,4%
dificuldades de aprendizagem. O percentual de do total de alunos da sala.
crianças diagnosticadas corresponde a 25,9% As crianças identificadas pelo professor da
do total de alunos da sala. 4ª C também é inferior em relação às
As crianças identificadas pelo professor da diagnosticadas pela fonoaudióloga. As crianças
4ª A é inferior as crianças diagnosticada que foram identificadas pela professora são as
clinicamente, além de ter uma que não é a denominadas pelo número 4; 5; 9 e 10 e as
mesma. As crianças que o professor identificou diagnosticadas pela fonoaudióloga são as
são as denominadas 23; 24 e 26, e as denominadas 2; 4; 5; 9 e 10.
diagnosticadas pela fonoaudióloga são as Vale relembrar que esta sala é uma sala
denominadas 5; 8; 11; 21; 24; 26 e 27. diferenciada, a sala do PIC, então tem alguns
Gráfico 23 – Visão do Professor 4ª B alunos repetentes, e destes identificados e
diagnosticados, dois deles foram retidos o ano
passado, que são eles os denominados de
número 5 e 10.

O gráfico 23 corresponde ao percentual de


crianças da 4ª B que foram identificadas pelo
professor correspondendo a 4,3% com
dificuldades de aprendizagem. O percentual de
crianças diagnosticadas corresponde a 13% do
total de alunos da sala.
A identificação do professor da 4ª B é
inferior as crianças diagnosticadas
clinicamente. A criança que o professor
identificou é a denominada 5 e as crianças

673
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Algumas desordens podem prejudicar as crianças no processo alfabetização, a dislexia, o
TDAH, o DLE e a DPAC, conhecemos cada uma para facilitar a identificação.
Ao analisarmos clinicamente todos os candidatos que realizaram os testes específicos para
um suposto diagnóstico de DPAC podemos constatar que os alunos da 4ª A denominados como
5; 8; 11; 21; 24; 26 e 27, bem como os alunos da 4ª B denominados como 4; 10 e 17, e os alunos
da 4ª C denominados como 2; 4; 5; 9 e 10 são candidatos a um acompanhamento para realização
do exame de Processamento Auditivo.
Lembramos que a sala da 4ª C é a sala do PIC, por todos já terem algum tipo de dificuldade
de aprendizagem, eles necessitam de uma investigação maior.
Concluímos que nesta escola os professores tem um olhar parcialmente diferenciado, pois
algumas das crianças que foram diagnosticadas, também foram percebidas pelos professores,
porém algumas delas os professores não a reconhecem com dificuldades.

674
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALARCÃO, Isabel. Professores Reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2007.

CAPELLINI, Simone Aparecida. Ian Smythe. Protocolo de Avaliação de Habilidades


Cognitivo – Linguísticas. São Paulo: Book Toy

DAUDEN, Ana Tereza Brant de Carvalho. A criança e o outro na construção da linguagem


escrita. São Paulo: Pancast, 1994.

FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler - Em artigos que se completam. 38º ed. São
Paulo: Cortez, 1999.

FERREIRO, Emília. Alfabetização em processo. 19ºed. São Paulo: Cortez, 2009.

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre a alfabetização. São Paulo: Cortez, 1995.

FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed,
1999

MORAIS, Antonio Manuel Pamplona. Distúrbios da Aprendizagem: uma abordagem


psicopedagógica. São Paulo: Edicon, 1986

PEREIRA, Liliane D. Identificação de Desordem do Processamento Auditivo Central


Através de Observação Comportamental: Organização de Procedimentos Padronizados.
In: SCHOCHAT, Eliane (Org.). Processamento Auditivo (Série Atualidades em Fonoaudiologia,
v.2). São Paulo: Lovise, 1996.

PEREIRA, Liliane Desgualdo; SCHOCHAT, Eliane (Org.) Processamento Auditivo Central –


Manual de Avaliação. São Paulo: Lovise, 1997

SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Educação. Letra e Vida. Programa de Formação de


Professores Alfabetizadores. Coletânea de Textos. Módulo 1. São Paulo:2003

675
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONCEITO DE ARTE EM EDUCAÇÃO INFANTIL


Sidneia Silvia Barasini 1

RESUMO: A pesquisa surgiu a partir da necessidade de aprofundar os estudos sobre o ensino de


Artes Visuais na Educação Infantil. Por meio de uma pesquisa bibliográfica com as obras dos
autores como Vygotsky (2006), Kramer (1996), Barbosa (1991), PCN: Arte (1998), dentre outros,
foram feito um aprofundamento sobre estas indagações. Buscando assim, encontrar reposta que
possam auxiliar o professor no ensino da arte para esse público tão pequeno e com uma
gigantesca capacidade de aprender, produzir e transformar objetos dando forma ao imaginário,
para que possa ser mais bem atendido. Veremos no decorrer da pesquisa as evidências que
poderá nortear o caminho do profissional que trabalha com a educação infantil.

Palavras-Chave: Artes Visuais; Educação Infantil; Vivência Estética.

1
Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Formação Continuada de Diretores; Especialização em
Ensino Lúdico.

676
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CHILD EDUCATION ART CONCEPT


ABSTRACT: The research arose from the need to deepen studies on the teaching of Visual Arts in
Early Childhood Education. Through a bibliographical research with the works of authors such as
Vygotsky (2006), Kramer (1996), Barbosa (1991), PCN: Arte (1998) among others, a deepening of
these inquiries was made. Seeking to find an answer that can help the teacher in teaching art to
such a small audience and with a gigantic ability to learn, produce and transform objects giving
shape to the imagination, so that it can be better served. We will see in the course of the research
the evidence that can guide the path of the professional who works with early childhood
education.

Keywords: Visual Arts; Child education; Aesthetic Experience.

677
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO 1. CONCEITO DE ARTE EM


Na realização desta pesquisa foram EDUCAÇÃO INFANTIL
utilizados como proposta metodológica a Em relação à arte na educação infantil, trago
pesquisa bibliográfica, buscando informações e uma das referências, Barbosa (1991), quando
comprovações do assunto abordado. O afima a arte não é apenas básico, mas
principal objetivo da arte na educação infantil fundamental na educação de um país que se
é formar o ser criativo e reflexivo que possa desenvolve. Arte não é enfeite. Arte é
relacionar-se como pessoa na sociedade. cognição, é profissão, é uma forma diferente
Cada vez mais a conduta infantil é marcada da palavra para interpretar o mundo, a
pelas citações e imagens emprestadas das mais realidade, o imaginário e é conteúdo. Como
diversas fontes. O imaginário faz parte da vida conteúdo, arte representa o melhor trabalho
contemporânea e está em todo lugar. A criança do ser humano.
é submetida a uma bagagem cultural implícita Conforme a autora, a arte na educação
que permeia a sociedade. Os desenhos oportuniza e amplia o conhecimento, sendo
animados, histórias em quadrinhos, fundamental no desenvolvimento de um país.
propagandas, embalagens são representações Ao expressar-se por meio da arte, a criança
que se tornam quase realidades. manifesta seus desejos, expressa seus
Os professores devem perceber que a arte sentimentos, expõem, enfim, sua
engloba todo um contexto social. Uma nova personalidade. Livre de julgamentos, seu
perspectiva e uma forma metodológica a ser subconsciente encontra espaços para se
empregada nas aulas. Há uma falta de conhecer, relacionar, crescer dentro de um
consciência sobre os sentidos que os contexto que antecede e norteia sua conduta.
conteúdos e vivências artísticas podem assumir É nesse sentido que a autora acima afirma e dá
na escola. Valorizar a arte na educação infantil sentido que devemos abranger a importância
seria enfatizar as atividades de apreciação de da arte na educação infantil, a valorização do
obras de artes propiciando uma alfabetização espaço da arte dentro da unidade escolar,
visual. sendo fundamental e significativo no
Por isso, esta pesquisa visa investigar as desenvolvimento do ser humano partindo da
práticas pedagógicas e como a arte, pode base a infância.
interferir na compreensão e no A vivência estética na vida da criança é a
desenvolvimento infantil. base de compreensão da arte por meio de suas
A arte hoje não é vista como componente descobertas, da sua imaginação dentro do
curricular, sob o olhar do aluno é dada como fazer artístico a criança aprimora seus
uma recreação. Sobre este assunto esta pensamentos e seu repertório sobre a arte,
pesquisa pretende esclarecer. passando a ter um sentido mais significativo.
Segundo Ivone Richter (2003), a estética é
vista como área do conhecimento, com ênfase
na apreciação e compreensão da arte. Essa

678
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

visão perante a arte é desenvolvida com mais que a criança encontra para sua futura criação
amplitude na infância, onde cabem ao advém do que ela vê e ouve, acumulando
professor da educação infantil trabalhar essa matérias que usara para construir sua fantasia.
experiência em sala, esse lado da criatividade e Vygotsky em seu livro La imaginación y El
a imaginação da criança. arte em La infância, relata o desenvolvimento
Sentir, perceber, fantasiar, imaginar e da imaginação criadora, sendo que a partir do
representar faz parte do universo infantil e momento que a criança absorve os primeiros
acompanha o ser humano por toda vida. contatos matérias fundamentais para o seu
Consequentemente ao compreender e aprendizado, ela passa a desenvolver o
encaminhar os cursos de arte para o processo de associação, construindo fazendo a
desenvolvimento dos processos de percepção combinação das imagens internas
e imaginação da criança estará ajudando na relacionando com as externas. Desta forma,
melhoria de sua expressão e participação no Vygotsky (1994), busca compreender como os
ambiente cultural em que vive. processos criativos se desenvolvem.
Por meio da imaginação e a criatividade, as Adorno (1998), afirma que por meio da arte
experiências e os conhecimentos adquiridos e pode se obter algum elemento de verdade,
vivenciados na infância passam a ser visto que, a arte representa realidade histórica
fundamental para interagirem com o mundo social de modo não imediato, Adorno entende
em que vivem. Por meio da imaginação o a arte como um fenômeno histórico social
homem constrói seu mundo, sua filosofia, sua conferindo a história como conteúdo
ciência, sua arte, sua religião. Na filosofia e na inseparável da obra de arte, por isso, para ele ‘’
ciência a imaginação se autodisciplina, criando Analisar as obras artísticas equivale a perceber
normas para que a razão possa produzir de a história imanente nelas armazenadas’’.
maneira mais eficaz. A arte cotem em seu cerne o elemento de
Duarte afirma que a imaginação e arte são navegação, a arte por si só ilusória se distingue
primordialmente a concretização dos da razão que se pretende real, mas em muitos
sentimentos para criar e compreender o momentos acabar por iludir os sujeitos a sua
universo não acessível aos símbolos linguísticos volta. Vale destacar que para Adorno a arte não
e ao pensamento conceitual, Duarte (1995), é uma alternativa ao pensamento racial e nem
afirma que por meio da arte somos levados a o lugar onde se deve chegar pelo abandono da
conhecer nossas experiências vividas, que razão.
escapam a linearidade da linguagem, com isso O autor compreende a arte como categoria
podemos dizer que a arte, por meio da do saber o que permite ao sujeito realizar por
imaginação nos permite o autoconhecimento meio dela um critica razão instrumental como
em todas as fases da vida. forma restrita de acesso ao conhecimento.
Conforme Vygotsky (1982), as percepções Nesse sentido, para a teoria critica, a arte é a
internas e externas são o começo de um manifestação crítica do conhecimento.
processo que serve de base para nossa Conforme Adorno (1998), a definição do
experiência criativa. O primeiro ponto de apoio que é arte depende da relação da manifestação

679
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cultural com seu momento histórico ‘’ visto que o individuo em sua trajetória de vida
representações culturais, metamorfoseiam se se apropria de conhecimentos históricos
ao longo da história, quando o não tinham sido produzidos por outros homens formando sua
e muitas obras de arte deixam de o ser ‘’ própria subjetividade.
Adorno (1970), não sendo passível de A vida humana é essencialidade e não mera
determinação eterna , a arte por tanto, não se casualidade, convivência. Se o homem, na
define pelo que ela é , a arte se define a partir própria base de sua existência, é para os outros
do seu outro , a sociedade. que são seus semelhantes, e se unicamente por
Por sua vez, Benjamin (1983), considera que ele é o que é então a sua definição ultima não
o objetivo artístico transporta consigo a é a de indivisibilidade e unicidade primaria,
inscrição de um passado móvel porque adquire mas outro sim, a de uma participação e
significações diferentes no momento da comunicação necessária com os outros.
recepção. A função social da arte modifica-se Mesmo antes de ser individuo o homem é um
de acordo com as condições sociais mudando dos semelhantes, relaciona- se com os outros
também o modo que os indivíduos se antes de se referir explicitamente ao seu eu
relacionam com as obras. Ainda segundo o (HORKHEIMER & ADORNO, 1973).
autor, no princípio de sua história a obra de De acordo com os autores, o indivíduo
arte possui um uso ritualístico, já na Grécia e forma-se em relação com os outros e com o
Idade Média as obras adquiriram o valor de meio, ou seja, pela convivência. Diferente dos
culto e, por fim, na modernidade, o que se outros animais a ontogênese do homem não é
observa é o valor referente à exposição das determinada pela natureza da espécie, mas
obras. pela condição humana que por sua vez, diz
As mudanças relativas à função social da arte respeito a tudo que possibilita a ele
decorrem das transformações ocorridas nas individualizar-se. Por isso, é função social da
condições sociais, tais modificações escola na sociedade contemporânea, além da
possibilitam agregar ou subtrair diferentes transmissão de conhecimento, proporcionar
valores as obras de arte, influenciando assim momentos que permitam a individualização do
tanto momento de produção como receptação sujeito, de modo a auxiliar na formação sua
das obras. personalidade.
O homem ao se objetivar por meio da arte O desenvolvimento não precisaria ocorrer
imprime a realidade aspectos de sua de modo evolutivo e crescente, mas pelo
subjetividade e é igualmente afetado por exercício da adaptação e antecipação de
aquela, tal como de acordo com Benjamin, possibilidades proporcionadas por
ocorre ao narrador durante a narração ‘’ nela experiências e interações com as quais a
ficam impressas as marcas do narrador como criança se depara. Nesse sentido o
os vestígios das mãos do oleiro no vaso de desenvolvimento ocorre num vai e vem
argila. ’’ (BENJAMIN, 1974). A subjetividade dinâmico, simultâneo, desafiador e articulado
humana deve ser entendida como um de modo dialético. Todo esse processo
elemento social e não meramente individual, acontece de maneira articulada entre avanços

680
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e retrocessos, em um movimento complexo de Conforme Adorno (1985), a indústria


ir e vir. cultural não visa à democratização da arte
Com base nesse conceito de inserindo as massas nas áreas de que antes
desenvolvimento, apresente pesquise entende estavam excluído, o que realmente acontece é
que educação infantil possui especificidades a socialização de uma cultura degradada e
em relação a outras etapas de ensino, visto que padronizada imposta as massas. O processo de
lida com crianças pequenas que estão num massificação cultural não expressa conteúdos
processo ainda que inicial de aquisição de culturais como um procedimento civilizatório,
conhecimento e desenvolvimento de suas uma vez que não tem por alvo o indivíduo.
potencialidades leva-se em consideração que O alvo da indústria cultural é redução da
as ações das crianças correspondem a certos obra de arte a um objeto de consumo ou, de
padrões relacionados a seu estágio de acordo com o pensamento Maxciano a arte
desenvolvimento. incorpora um valor de troca como qualquer
A arte pode então, ser uma atividade que outra mercadoria. Vale destacara que a arte
possibilita o processo de individualização como mercadoria não é um fator novo em si, o
(distinção eu outro) do homem. Segundo os que é novo, de acordo com os autores é a
autores da teoria critica a arte expressa redução da arte ao seu caráter estritamente de
conteúdos culturais que auxiliam as valor de troca. Os produtos da indústria
experiências formativas do homem e por isso, cultural não são obras de arte transformadas
possui uma função educativa. posteriormente em mercadorias, são na
Tal compreensão deriva do caráter de não realidade, desde o início de sua produção
identidade e de não imediato da arte com a mercadorias.
realidade, uma vez que estes elementos A indústria cultural, mediante o processo de
exigem do elemento esforço (atenção, produção e reprodução do sistema social,
memória, imaginação, associação de ideias) produz um embrutecimento e
para a compreensão da obra isto é , a relação consequentemente a regressão dos sentidos
estabelecida com a obra de arte requer níveis dos indivíduos. A massificação cultural além de
de apropriação de sua lógica interna e a da lei impor aos indivíduos uma cultura degrada, os
formal que a produziu, por isso os autores obriga a se relacionar com a própria cultura de
criticam a visão, muito difundida de que a arte modo superficial. A forma com que as obras de
é contemplativa e passiva . arte têm sido dispostas ao público favorece
As obras de arte proporcionam um espaço predominantemente ao consumo das
para imaginação do expectador, podendo manifestações culturais, sem que suas
tornar- se assim, uma forma de resistência à qualidades específicas sejam compreendidas
racionalização extrema. Por meio do esforço (ADORNO, 1986).
estimula-se o pensamento próprio e a Do que se expôs, a formação das crianças
consciência de si e do outras premissas fica justificada, pois ‘’ conforme os
fundamentais para a formação de um indivíduo ensinamentos da psicologia profunda, todo
crítico e por tanto autônomo. caráter, inclusive daqueles que mais tarde

681
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

praticam crimes, forma-se na primeira infância.


A educação que tem por objetivo evitar a
repetição precisa se concentrar na primeira
infância ‘’ (ADORNO 2000). Para isso,
Adorno(2000), aponta alternativas para que a
educação não exerça somente a função de
adaptação , discutindo o modo com que esta
pode contribuir para a formação de indivíduos
emancipados e não somente adaptados .
Em um plano geral, a atenção dada a
educação para a emancipação decorre da
autonomia como um pressuposto da sociedade
moderna, isto é, da liberdade como premissa
da ação consciente do sujeito. A autonomia,
segundo o mesmo autor, é a possibilidade de
que cada indivíduo decida servir se do
entendimento, sem a orientação de outra
pessoa, uma vez que o outro já está
internalizado. Nesse sentido a emancipação é a
expressão da consciência individual, fruto da
diferenciação entre o eu e o outro. Tal processo
não é definitivo, mas uma categoria dinâmica
em constante formação, que realiza
movimentos complexos de ir e vir.

682
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Adaptar a criança ao convívio social é função de instituições tais como a família e a escola;
o questionamento a ser feito é se a escola somente cumpre esta função ou desempenha também
outras funções, de modo a proporcionar a emancipação dos sujeitos envolvidos no processo de
ensino aprendizagem.
Compreende que formar as pessoas para o convívio social significa adaptar os sujeitos e
possibilitar a contraposição á mera adaptação. Assim, a educação, adaptar e promover situações
educativas que favoreçam a formação da autonomia, efetiva sua finalidade.
Para finalizar, os conceitos extraídos do referencial teórico contribuem para esta pesquisa
na medida em que apontam para a atual função social da escola e da arte e para as possibilidades
e dificuldades de realizar a formação por meio da arte nos tempos atuais.
A orientação oficial referentes ás praticas educativas, ás finalidades da educação infantil e
da arte na formação dos sujeitos tornam-se um elemento importante nesta constelação, qual
seja, a relação da arte e a educação, uma vez que permitem a compreensão dos interesses e
definição dos poderes públicos no que se refere a formação dos indivíduos.

683
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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686
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA NA
PSICOPEDAGOGIA
Andréa Gomes Malta dos Santos1

RESUMO: Este artigo visa apresentar reflexões sobre a importância da linguística como
instrumento lúdico, por meio da visão de teóricos mais antigos e modernos que se debruçaram
sobre o tema educação e ludicidade e que nos trouxeram luz sobre a educação das crianças, as
brincadeiras e de jogos além da contação de histórias e do faz de conta como instrumento de
educação no ensino fundamental, conectando áreas importantes do cérebro relacionadas a
distintas competências ou conjuntos de habilidades.

Palavras-Chave: Linguística; Linguagem; Educação Infantil.

1
Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação:Licenciatura em Letras Português e Inglês; Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Gestão
Escolar; Especialização em Educação Especial e Inclusiva.

687
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTRIBUTIONS OF LINGUISTIC IN PSYCHOPEDAGOGY


ABSTRACT: This article aims to present reflections on the importance of linguistics as a playful
instrument, through the view of older and modern theorists who have focused on the topic of
education and playfulness and who have brought us light on the education of children, games
and games beyond of storytelling and make-believe as an education tool in elementary school,
connecting important areas of the brain related to different competencies or skill sets.

Keywords: Linguistics; Language; Child education.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO também trata do assunto dizendo que “...a


história aquieta, serena, prende a atenção,
O presente artigo discute a importância do informa, socializa, educa com a citação de
lúdico com estratégia pedagógica lúdica por Coelho (1997), afirma que “... a história é
acreditarmos ser a contação de histórias de importante alimento da imaginação; permite a
suma importância para o desenvolvimento da auto identificação, favorecendo a aceitação de
criança o significado da palavra lúdico é situações desagradáveis, ajuda a resolver
relativo a jogos, brinquedos e divertimentos e conflitos, acenando com a esperança”.
que a atividade lúdica é todo e qualquer Segundo o Referencial Curricular Nacional
movimento que tem como objetivo produzir para Educação Infantil Vol. III (1998, p. 153),
prazer quando da sua execução, ou seja, “...deve-se ter uma roda da história na sala de
divertir o praticante. aula pois é ouvindo histórias que a criança
Assim, etimologicamente, o termo lúdico desperta o interesse pela leitura e aprende
vem do latim Ludus, que significa jogo, palavras novas, a contação de história é
divertimento e gracejo é processo inerente ao fundamental no desenvolvimento da criança.
desenvolvimento humano, e de suma Por isso, estamos trazendo a luz as ideias de
importância para o desenvolvimento psíquico, importantes teóricos sobre o assunto “educar
social e cultural da criança nas brincadeiras as por meio do lúdico”, abordando as ideias de
crianças transformam os conhecimentos que já Froebel, Piaget e Vygotsky dentre outros que
possuíam anteriormente em conceitos gerais viveu entre os anos de 1782 e 1852, foi um dos
com os quais brinca por exemplo, que nos fala primeiros educadores a considerar o início da
da importância da criança ouvir muitas infância como uma fase decisiva na formação
histórias dizendo que “...esta ação é que das pessoas, e como professor fundou sua
formará o bom leitor”. com todas essas teorias, escola em 1816 na cidade alemã Griesheim ele
me pergunto: será que as nossas escolas usam quem deu origem ao nome “jardim da
a contação de história como objeto lúdico? infância”, pois acreditava que as crianças são
O objeto de estudo é a abordagem lúdica por como plantas em formação e precisam de
meio da contação de histórias, tem como cuidados especiais desenhava círculos, esferas,
objetivo discutir a estratégia pedagógica lúdica cubos para estimular o aprendizado das
por meio das ideias de grandes teóricos da crianças tudo era feito de material macio e as
educação como Froebel, Piaget e Vygotsky e brincadeiras eram acompanhadas de danças e
inserir a contação de histórias dentro dessa músicas
estratégica pedagógica baseando-nos nas Modesto e Rubio (2014; p. 8),afirmam:
ideias desses e de outros autores que discutem Fröebel foi o primeiro pedagogo a incluir o
o tema amplamente. jogo no sistema educativo por acreditar que as
Por meio da linguagem para transmitir crianças aprendem através do brincar e que
conhecimentos, estimular a imaginação e sua personalidade pode ser aperfeiçoada e
também para trazer valores morais, e enriquecida pelo brinquedo (MODESTO E
desenvolver o interesse pela leitura”. que RUBIO, 2014).

689
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Piaget afirma que há 4 estágios básicos de descreve: “...ao lançar-se numa atividade
desenvolvimento que, segundo Oliveira (2001; desconhecida (o jogo ou brincadeira), o aluno
p. 5-6) são: entrará em conflito; mas logo ao tomar
Sensório-Motor (0-24 meses): Esse conhecimento e compreender melhor as
período inicia com um egocentrismo ideias, este estará assimilando o novo
inconsciente e integral, até que os progressos conhecimento”.
da inteligência sensório-motora levem à
construção de um universo objetivo, onde o METODOLOGIA
bebê irá explorar seu próprio corpo, conhecer
Algumas alternativas mais adequadas que o
os seus vários componentes, sentir emoções,
professor pode desenvolver na sua prática
estimular o ambiente social e ser por ele
pedagógica, focando na utilização de
estimulado, dessa forma irá desenvolver a base
tecnologias assistivas que é de extrema
do seu autoconceito.
relevância, ao levarmos em consideração os
a criança está trabalhando ativamente no
desafios encontrados em sala de aula com a
sentido de formar uma noção de eu depois a
inclusão dos alunos com necessidades
criança inicia alguns reflexos que pelo
especiais. será que os professores estão
exercício, se transforma em esquemas
preparados para trabalhar com este aluno, o
sensoriais- motores.
que é autismo, como podemos desenvolver
II-Pré-operacional (2-7 anos): Nesse período,
atividades que auxiliará este aluno no seu
a partir da linguagem a criança inicia a processo de ensino aprendizagem, onde
capacidade de representar uma coisa por estudos realizados sobre o autismo acumulou-
outra, ou seja, formar esquemas simbólicos. No se conhecimentos teóricos e práticos sobre
momento da aparição da linguagem, a criança esta síndrome que permite um novo olhar
se acha às voltas, não apenas com o universo sobre ela as contribuições dessa ciência para as
físico como antes, mas com dois mundos
práticas pedagógicas, tentando ligar suas
novos: o mundo social e o das representações
correspondências e relações com a
interiores.
aprendizagem e descobertas a Neurociência
Durante esse período a criança continua sobre o brincar podem ampliar a utilização
bastante egocêntrica, devido à ausência de desse recurso nas práticas escolares desta
esquemas conceituais e de lógica, a criança forma torna-se, novas práticas e informações
mistura a realidade com fantasia, tornando um aprendidas mais duradouras e permanentes na
pensamento lúdico o egocentrismo é memória dos aprendizes, o estudo do
caracterizado como uma visão da realidade desenvolvimento humano e os recentes
que parte do próprio eu, isto é, a criança se resultados da neurociência irão corroborar e
confunde com objetos e pessoas nessa fase a reforçar nossas considerações sobre o brincar
criança desenvolve noções a respeito de para a aprendizagem encontramos nas escolas
objetos que serão utilizados na próxima fase, de ensino regular alunos com Autismo.
para formar, a criança está sujeita a vários As causas da não aprendizagem têm
erros para compreender o pensamento assim o
despontado na lista dos principais problemas

690
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

enfrentados, um número significativo de


crianças Especiais, são identificadas ainda na
educação infantil, e se não houver uma
intervenção eficaz, essas dificuldades se
estenderão para o ensino fundamental e,
possivelmente, por toda vida estudantil da
criança é provável encontrar um número
considerável de pesquisadores que dedicaram
seus estudos à reflexão da importância do
lúdico (brincadeiras e jogos) para o
desenvolvimento da criança conscientes disso
iniciaram por fundamentar as ideias nos
estudos de Vygotsky (1930/1987), e seus
seguidores, para compor o texto a seguir
devido sua inegável contribuição para o tema
que queremos desenvolver.
Segundo Vygotsky (1930/1987), concede ao
brinquedo um papel potencialmente criador de
possibilidades de atuações, ou seja, aquilo que
a criança é capaz de fazer com a ajuda de um
par mais competente. o rigor a respeito das
regras muitas vezes não é atendido no dia-a-
dia, no entanto, temos no brinquedo uma
imensa capacidade de influência dos
envolvidos nas ações do brincar a inclusão
escolar de alunos portadores de necessidades
especiais tem se mostrado ainda mais presente
dentro do dia-a-dia das escolas brasileiras,
estudos estão sendo realizados para que a
educação especial possa ser ainda mais,
efetivada e realizada com sucesso dentro do
cotidiano escolar a Política Nacional de
Educação Especial.

691
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades linguísticas constitui uma das opções mais relevantes para o
desenvolvimento cognitivo e psicossocial da criança, visa considerar as múltiplas diversidades e
possibilidades que as brincadeiras e os jogos oferecem às crianças quanto ao seu
desenvolvimento de linguagem e a reconstituição da atividade adulta e imitação, ambas calcadas
na realidade de forma que auxilia a criança a dominar a realidade e mediação pela linguagem,
aprendizagem de regras, desenvolvimento do autocontrole e criação de interações voluntárias.
A formação de planos e motivações volitivas (traços essenciais para o desenvolvimento da
consciência e das formas superiores de pensamento), desenvolvimento da autonomia, do
raciocínio e da capacidade de fazer inferências e observações, gerando a construção do próprio
conhecimento, motivação e prazer a Psicologia e da Pedagogia, as evidências neurocientíficas
comprovam o aumento das conexões entre as células cerebrais.
Um ambiente saudável torna-se compatível com a realidade da criança, tornando a
aquisição das informações, em sua forma lúdica, mais permanente e a aprendizagem mais célere
quando a criança brincar, o papel da escola, torna-se, portanto, indispensável entender o brincar
na escola, com todas suas atividades lúdicas, como um mecanismo técnico, pedagógico e
profissional de se alcançar as mais importantes condições da evolução e integração do educando
,o respeito as regras, organização com o material, o meio onde ela está inserida e o educador por
fim, para os professores e educadores, as mediações, com o emprego dos estudos da Psicologia,
da Educação,
A tarefa de educar dentro da modernidade tem exigido de seus educadores cada vez mais
esforços para atender a demanda que lhe é proposta, desde uma boa preparação teórica, ou seja,
sua formação, até a incessante busca de atualização profissional e dedicação ao seu trabalho as
práticas educativas com vistas à identificação dos problemas de aprendizagem escolar.

692
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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693
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA PARA


O PLANEJAMENTO COM CRIANÇAS COM
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Laís Konya1

RESUMO: A Psicopedagogia tem auxiliado muitos alunos e professores no decorrer dos últimos
anos. Tem sido objeto de estudo de muitos professores que compartilham das mesmas angústias
que eu já tive. Como lidar com alunos que possuem dificuldade em compreender determinados
conteúdos? Quais estratégias utilizar? Qual é o momento certo de informar a família de que será
necessário buscar profissionais capacitados para auxiliar a criança a enfrentar aquelas
dificuldades? Diante desses questionamentos, este trabalho tem como objetivo investigar de que
modo a Psicopedagogia pode contribuir para o trabalho educacional com crianças com TEA. Com
sintomas particulares muitas vezes bem definidos, como ecolalias na fala ou ausência total dela,
pouca ou nenhuma socialização com outras crianças, interesses bastante restritos tanto na
alimentação tanto com brinquedos e brincadeiras, agressividade, entre outros, essas crianças
estão cada vez mais presentes dentro da Unidade Escolar em que eu leciono e representam para
mim um grande desafio. Exploramos as principais leis e documentos oficiais que englobam a
questão das deficiências e dos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista, e mais
especificamente o trabalho com crianças no transtorno do espectro autistas na Prefeitura do
Município de São Paulo. Ressaltamos neste trabalho a importância de um planejamento
curricular que contemple a diversidade (Pacheco, 2006), onde é importante que cada aluno,
independentemente de ter uma deficiência ou não, possa ter um plano de ensino individualizado,

1Professora na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Didática para Educação Bilíngue e Psicopedagogia.

694
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de acordo com suas necessidades. Como metodologia, foi utilizado o estudo de caso
considerando o contexto de uma escola municipal de Educação Infantil de São Paulo. Abordamos
aqui também a questão da comunicação da pessoa com TEA, e as diferentes maneiras em que
esse transtorno pode interferir na comunicação do indivíduo, assim como as principais
contribuições da psicopedagogia para um planejamento adequado. Ainda com relação a
comunicação, ressaltamos aqui a importância do trabalho com as PECS - Picture Exchange
Communication System ou Sistema de Comunicação por Troca de Figuras.

Palavras-Chave: Psicopedagogia; TEA; Transtorno do Espectro Autista; Sistema de Comunicação


por Troca de Figuras; Inclusão; Planejamento; Plano de ensino individualizado.

CONTRIBUTIONS OF PSYCHOPEDAGOGY TO PLANNING WITH


CHILDREN WITH AUTISM SPECTRUM DISORDER IN CHILD
EDUCATION
ABSTRACT: Psychopedagogy has helped many students and teachers over the last few years. It
has been the object of study of many teachers who share the same anxieties that I once had. How
to deal with students who have difficulty understanding certain contents? What strategies to
use? When is the right time to inform the family that it will be necessary to seek trained
professionals to help the child face those difficulties? Faced with these questions, this work aims
to investigate how Psychopedagogy can contribute to educational work with children with ASD.
With particular symptoms that are often well defined, such as echolalia in speech or total absence
of speech, little or no socialization with other children, very restricted interests both in food and
with toys and games, aggression, among others, these children are increasingly present in of the
School Unit where I teach and represent a great challenge for me. We explore the main laws and
official documents that encompass the issue of disabilities and the rights of the person with
autism spectrum disorder, and more specifically the work with children with autism spectrum
disorder in the City Hall of the Municipality of São Paulo. We emphasize in this work the
importance of a curriculum planning that contemplates diversity (Pacheco, 2006), where it is
important that each student, regardless of having a disability or not, can have an individualized
teaching plan, according to their needs. As a methodology, the case study was used considering
the context of a municipal school for Early Childhood Education in São Paulo. We also address the
issue of communication of the person with ASD, and the different ways in which this disorder can
interfere with the individual's communication, as well as the main contributions of
psychopedagogy for adequate planning. Still with regard to communication, we emphasize here
the importance of working with PECS - Picture Exchange Communication System or Picture
Exchange Communication System.

Keywords: Psychopedagogy; TEA; Autism Spectrum Disorder; Picture Exchange Communication


System; Inclusion; Planning; Individualized teaching plan.

695
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO No primeiro capítulo abordaremos o


conceito de transtorno do espectro autista de
Atuo na área da educação há treze anos e acordo com as teorias de Leo Kanner e Maria
posso dizer que os seis últimos foram muito Cristina Machado Kupfer, as principais leis
desafiadores. Foi a concretização de um sonho relacionadas ao autismo e sobre crianças com
antigo, de ingressar no cargo de professora de deficiência em geral e também
uma escola pública no Município de São Paulo, especificamente sobre a Prefeitura do
e foi também onde pude conhecer, de fato, a Município de São Paulo e como ela se organiza
realidade da educação da maioria dos para atender esse público. Também
Brasileiros. trataremos sobre a importância de um
De todos os encantamentos e dificuldades planejamento curricular que leve em conta a
que tive durante esse percurso, a inclusão de diversidade e as especificidades de cada
crianças com deficiência sempre foi um dos criança, independente de terem uma
meus maiores questionamentos. O grande deficiência ou não.
número de crianças dentro de uma sala de
aula, a falta de profissionais capacitados para
A ORIGEM DO TERMO “TEA -
nos orientar, o desconhecimento sobre as
características das crianças com deficiência e TRANSTORNO DO ESPECTRO
suas limitações me fazia indagar muito sobre as AUTISTA”
melhores atividades a serem propostas e como Desde 1938, Kanner, um psiquiatra
incluir todas as crianças nelas. austríaco, passou a reconhecer dentro do
Neste percurso, as crianças com TEA - grupo maior das psicoses infantis uma nova
Transtorno do Espectro Autista, foram as que categoria, segundo ele, cujas crianças tinham
mais me chamaram atenção, principalmente as características de uma síndrome. As que
pela quantidade delas que a escola em que eu nela se enquadravam eram incapazes de
atuo atende. Com características bem estabelecer relações, os que tinham linguagem
peculiares e ao mesmo tempo muito diferentes não a usavam para comunicar-se, possuíam
entre si, essas crianças geralmente interagem uma excelente capacidade de memorização
muito pouco com as outras, não verbalizam e decorada, reagiam com horror a ruídos fortes
têm interesses muito restritos. ou objetos em movimento, tendiam a
Partindo desse contexto, meu objetivo com repetição, mas eram dotados de boas
este trabalho, além de conceituar brevemente potencialidades cognitivas (KUPFER, 2000,
o transtorno do espectro autista, e de é s/p).
investigar de que maneira o psicopedagogo A essa síndrome, Kanner deu o nome de
pode contribuir para a inclusão de crianças com Autismo Infantil Precoce, empregando um
TEA na escola e como realizar um termo utilizado por Bleuler, um psiquiatra
planejamento curricular pensando em crianças suíço, em 1911, para designar um dos sintomas
autistas. da esquizofrenia. As observações dele se
espalharam pelo mundo e o autismo ganhou

696
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

rapidamente as revistas, o cinema e também a Dra. Maria Cristina Kupfer, professora titular
literatura. A criança autista atiçava a do Instituto de Psicologia da USP e fundadora
curiosidade das pessoas. O psiquiatra não da Associação Lugar de Vida - Centro de
apenas causou fascínio pela sua teoria, como Educação Terapêutica, em vídeo publicado em
também gerou muito repúdio, principalmente meados de 2012, diz que os psicanalistas
das mães das crianças autistas. Ele mencionava entendem o que os autistas têm a dizer. Eles
em seus escritos, que “as mães das crianças estão no mundo à maneira delas. Não são
pareciam frias e distantes, insinuando que crianças deficientes. São crianças que
talvez isso pudesse relacionar-se também com enfrentam problemas na relação com os
os problemas de contato daquelas crianças” outros. Não tem a ver com o afeto dos pais. A
(KUPFER, 2000, s/p). Em 1946, Kanner recuou e questão está no desenvolvimento psíquico,
escreveu o livro “Em defesa das mães”. relacionado às trocas de prazer e desprazer
Após outros estudos, ficou claro o que ele (trânsito libidinal) . As crianças autistas sofrem
queria dizer em relação à função materna. Não uma desregulação nesse trânsito libidinal e não
eram as mães que eram frias e distantes e que sabem o que fazer quando sentem
por isso não desempenhavam seu papel de prazer/desprazer. Também menciona que há
mãe corretamente. Eram os bebês que não diversas formas de autismo.
podiam absorver essas informações por De acordo com Wing e Potter (apud, MOTA
questões psíquicas, relacionadas à sua saúde 2015, p. 14), no estudo original de Kanner
mental. publicado em 1943, o autismo era considerado
A lei 12.764 de 27 de Dezembro de 2012, que raro, com uma prevalência em torno de duas a
institui a Política Nacional de Proteção dos quatro por dez mil crianças. Estudos realizados
Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro a partir da década de 1990 relataram aumentos
Autista, caracteriza a pessoa com TEA como anuais na prevalência de autismo em crianças”.
aquela com deficiência persistente e Recentemente, têm sido relatadas
clinicamente significativa da comunicação e da prevalências de autismo de sessenta por dez
interação sociais, manifestada por deficiência mil, e até maiores, utilizando um critério
marcada de comunicação verbal e não verbal diagnóstico expandido. Os índices do Centers
usada para interação social; ausência de for Disease Control and Prevention (CDC, 2009)
reciprocidade social; falência em desenvolver e apontam prevalência de 1 caso em cada 110
manter relações apropriadas ao seu nível de crianças e, em dados mais recentes, 1 caso em
desenvolvimento; padrões restritivos e cada 68 crianças, sendo aproximadamente 1
repetitivos de comportamentos, interesses e em cada 42 meninos e 1 em cada 189 meninas.
atividades, manifestados por comportamentos
motores ou verbais estereotipados ou por
comportamentos sensoriais incomuns;
excessiva aderência a rotinas e padrões de
comportamento ritualizados; interesses
restritos e fixos.

697
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LEIS DE PROTEÇÃO DOS com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em
DIREITOS DA PESSOA COM igualdade de condições com as demais pessoas
TRANSTORNO DO ESPECTRO (BRASIL, 2015).
Podemos considerar que as crianças com
AUTISTA
TEA estão incluídas nessa definição, e com essa
Com esse aumento expressivo de
lei, passa a ser dever do Estado, da família, da
diagnósticos, políticas públicas foram criadas
comunidade escolar e da sociedade assegurar
para garantir que as pessoas com TEA tenham
educação de qualidade à pessoa com
os mesmos direitos que todos os cidadãos do
deficiência, colocando-a salvo de toda forma
país. Desta maneira, as crianças e adolescentes
de violência, negligência e discriminação.
autistas possuem todos os direitos previstos no
Importante lembrar, ainda, a Resolução 4,
Estatuto da Criança e Adolescente (Lei
de outubro de 2009, que institui as Diretrizes
8.069/90) e os maiores de 60 anos são
Operacionais para o Atendimento Educacional
protegidos pelo Estatuto do Idoso (Lei
Especializado (AEE) na Educação Básica, que
10.741/2003). No ano de 2012, a Lei Berenice
garante o atendimento especializado de forma
Piana criou uma Política Nacional de Proteção
complementar ou suplementar à escola. Na
dos Direitos da Pessoa com Transtorno do
prática, isso significa que o atendimento
Espectro Autista, que determina os direitos dos
especializado não deve substituir a escola, mas
autistas, como diagnóstico precoce,
sim ser oferecido de forma complementar.
tratamento, terapias e medicamento pelo
Todos os alunos com deficiência, transtornos
Sistema único de Saúde, acesso à educação e à
globais do desenvolvimento e altas
proteção social, ao trabalho e a serviços que
habilidades/superdotação devem ser
propiciem a igualdade de oportunidades. A
matriculados nas classes comuns do ensino
partir dessa lei, a pessoa com transtorno do
regular e no Atendimento Educacional
espectro autista é considerada pessoa com
Especializado (AEE), que deverá ser ofertado
deficiência, para todos os efeitos legais, o que
em salas de recursos multifuncionais ou em
permitiu abrigar as pessoas com TEA nas leis
centros de Atendimento Educacional
específicas de pessoas com deficiência.
Especializado da rede pública ou de instituições
Em 6 de Julho de 2015 é instituída a Lei
comunitárias, confessionais ou filantrópicas
Brasileira de Inclusão da Pessoa com
sem fins lucrativos. “O AEE tem como função
Deficiência “destinada a assegurar e a
complementar ou suplementar a formação dos
promover, em condições de igualdade, o
alunos por meio da disponibilização de
exercício dos direitos e das liberdades
serviços, recursos de acessibilidade e
fundamentais por pessoa com deficiência,
estratégias que eliminem as barreiras para sua
visando à sua inclusão social e cidadania”
plena participação na sociedade e
(BRASIL, 2015), considerando pessoa com
desenvolvimento de sua aprendizagem”
deficiência aquela que tem impedimento de
(BRASIL, Resolução Nº, de 2 de Outubro de
longo prazo de natureza física, mental,
2009).
intelectual ou sensorial, o qual, em interação

698
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O TRABALHO COM CRIANÇAS Aos PAEE, professores de atendimento


educacional especializado, compete identificar
NO TRANSTORNO DO ESPECTRO as barreiras que impedem a participação plena
AUTISTA NA PREFEITURA DO dos estudantes público alvo da educação
especial, nos diferentes tempos e espaços
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
educativos, bem como a necessidade de
estratégias e recursos pedagógicos e de
Na Prefeitura do Município de São Paulo,
acessibilidade, considerando as especificidades
onde é meu contexto de atuação, existe o
deste público.
CEFAI - Centro de Formação e
Já aos PAAI, professor de apoio e
Acompanhamento à Inclusão, que é oferecido
acompanhamento à inclusão, compete realizar
pela Secretaria Municipal de Educação e
trabalho de orientação, de formação
vinculado à Diretoria Regional de Educação. Ele
continuada e de acompanhamento pedagógico
é responsável por desenvolver ações de
para as unidades educacionais, ficando
formação e projetos, produzir materiais,
responsável pela organização do AEE, por meio
orientar e supervisionar as Salas de Apoio e
de trabalho itinerante e mediante atuação
Acompanhamento à Inclusão - SAAI, amém de
conjunta com os profissionais da Diretoria
dispor de acervo bibliográfico e de
Regional de Educação (DRE) e da unidade
disponibilizar equipamentos específicos para
educacional.
alunos com necessidades educacionais
Algumas escolas também contam com o
especiais. São treze unidades do CEFAI
AVE, auxiliar de vida escolar, profissional com
vinculadas às Diretorias Regionais de
formação em nível médio, contratado por
Educação.
empresa conveniada com a Secretaria
O CEFAI é composto por um coordenador
Municipal de Educação para oferecer suporte
(integrante da carreira do Magistério
intensivo aos educandos e educandas com
Municipal, nomeado como Assistente Técnico
deficiência que não tenham autonomia para as
de Educação I) e professores de Apoio e
atividades de alimentação, higiene e
Acompanhamento à Inclusão - PAAIs,
locomoção.
designados pelo Secretário Municipal de
O CEFAI também possui estagiários,
Educação, dentre os professores da carreira do
estudantes do curso de Licenciatura em
Magistério Municipal. As SRMs, ou Salas de
Pedagogia, contratado por empresa
Recursos Multifuncionais, são destinadas à
conveniada com a Secretaria Municipal de
oferta do atendimento educacional
Educação, para apoiar, no desenvolvimento do
especializado, no contraturno escolar, em
planejamento pedagógico e atividades
caráter complementar ou suplementar para
pedagógicas, os professores das salas de aula
educandos e educandas público-alvo da
que tenham matriculado educandos e
educação especial, desde que identificada a
educandas considerados público-alvo da
necessidade deste serviço, após avaliação
Educação Inclusiva.
pedagógica/estudo de caso.

699
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Na prática, a inclusão de crianças com TEA alunos com deficiência. Na verdade, todos os
nas escolas da Prefeitura do Município de São alunos têm algumas necessidades especiais e,
Paulo é um grande desafio. O grande número portanto, precisam de um currículo pessoal
de crianças dentro de cada sala de aula (até 35 que varia em extensão, dependendo da
crianças de 4 e 5 anos na Educação Infantil, que situação do aluno. É responsabilidade da escola
é onde eu atuo), a falta de um professor ajustar seu trabalho de todas as formas
assistente dentro de sala para auxiliar, a falta possíveis para atender às necessidades dessa
de formação e conhecimento sobre as criança em relação aos aspectos cognitivos e
especificidades de cada criança corroboram sociais.
para muitas dúvidas e incertezas sobre como Independentemente se todos os alunos
planejar e como agir com essas crianças. possuem um PEI - Plano de Ensino
No próximo tópico, abordarei sobre o Individualizado ou apenas alguns, esses planos
planejamento curricular para crianças com precisam levar em conta as necessidades
transtorno do espectro autista. globais dos alunos, explicar como suas
necessidades especiais serão atendidas,
PLANEJAMENTO CURRICULAR identificar os objetivos dos planos e explicar
como o resultado será avaliado. A criação de
QUE CONTEMPLA A um PEI oferece uma oportunidade importante
DIVERSIDADE para a colaboração de professores, pais,
O currículo escolar é uma declaração da alunos, especialistas e administradores para
política da escola, baseada no Currículo melhorias educacionais. É importante que ele
Nacional, e aborda questões como objetivos, esteja em conexão com o currículo da turma. A
implementação e avaliação. Também descreve implementação de um plano que leve em conta
as circunstâncias necessárias para atingir esses a necessidade particular uma criança pode
objetivos estabelecidos. Em outras palavras, envolver todos os aspectos educacionais,
Um currículo é um tipo de plano detalhado desde o trabalho escolar inteiro até as
para os alunos, para suas famílias e para seus mudanças dentro de uma sala de aula.
professores, mostrando-lhes o que se encontra É importante ressaltar a participação dos
à frente em relação ao trabalho escolar. Um pais, pois eles conhecem melhor a criança e é
currículo deve refletir o fato de que os alunos difícil tomar decisões importantes sobre
são diferentes uns dos outros e tem questões acadêmicas e sociais sem consultá-
necessidades diferentes. O currículo precisa los em todas as etapas. Os pais também podem
enfatizar o crescimento emocional, assim criar um vínculo entre o trabalho escolar e a
como as habilidades sociais e de comunicação vida doméstica.
de todos os alunos, além de seus objetivos Esses planos devem contemplar medidas a
acadêmicos (PACHECO, 2006, p.99) curto, médio e longo prazo e que sejam
Como mencionado acima por Pacheco, também constantemente revisitados conforme
consideramos que cada aluno tenha uma as crianças vão progredindo ou não em direção
necessidade educacional diferente, e não só os aos objetivos estabelecidos.

700
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OS DIFERENTES ASPECTOS DA comunicação costuma chamar bastante


atenção. No entanto, o desafio se mostra ainda
COMUNICAÇÃO DA PESSOA maior em crianças que não se comunicam
COM TEA verbalmente. Neste caso, uma comunicação
Ao começar a falar as primeiras palavras, a alternativa feita com o uso de imagens é a
criança não pratica essa habilidade com a melhor opção.
finalidade de interagir socialmente, muito Para se ensinar essa comunicação por meio
menos de acordo com o contexto. O transtorno de imagens é necessário apresentar figuras
do espectro autista provoca um desvio no aquilo que está no cotidiano da criança. Repetir
desenvolvimento da fala, causando a regressão o nome da figura escolhida é essencial e este
em aspectos ligados à organização e à intenção trabalho exige paciência e compreensão,
social da fala. De acordo com estudos, esses principalmente para o fato de que a criança
apresentados pelo Instituto Neurosaber, com autismo tem o seu próprio tempo. Ao
existem 3 tipos de distúrbios que o TEA causa longo desse processo, a criança mostra seus
durante o desenvolvimento da fala ou da resultados e a quantidade de imagens pode
linguagem da criança: o atraso, a dissociação e aumentar.
o desvio (INSTITUTO NEUROSABER, 2019).
No atraso, a progressão da fala se dá mais CONTRIBUIÇÕES DA
lentamente do que o esperado para a criança
naquela determinada idade. Na dissociação, o
PSICOPEDAGOGIA PARA OS
atraso da fala se manifesta de forma mais CASOS DE TEA
intensa, principalmente quando comparado ao O sistema de comunicação por troca de
desenvolvimento da criança em geral. O desvio figuras, ou PECS, é um sistema desenvolvido
é de todos o problema mais grave, pois ele nos EUA por Andy Bondy e Lori Frost (1985) e
demonstra uma aquisição totalmente irregular implementado pela primeira vez com alunos de
da linguagem onde não se faz uso dela pré-escola diagnosticados com autismo no
adequadamente para se comunicar. O autismo Programa de Autismo de Delaware com o
está incluído nessa categoria. principal objetivo de ensinar comunicação
As crianças com autismo também podem funcional. O protocolo de ensino do PECS é
apresentar o que os especialistas chamam de baseado no livro de B.F. Skinner
prosódia monótona ou ausência de prosódia. “Comportamento Verbal”. Estratégias
Essa forma de comunicação no TEA é específicas de estímulo e reforço que levarão a
caracterizada pela adoção de um ritmo que é comunicação independente são usadas em
sempre igual, independente do contexto da todo o protocolo. O PECS consiste em seis fases
conversa. A fala das crianças também podem e começa ensinando um indivíduo a dar uma
ser marcadas por excesso de formalismo e por única figura de um item ou ação desejada a um
um forte apelo intelectual. “parceiro de comunicação” que
Quando a criança com TEA apresenta imediatamente honre a troca como um pedido.
ecolalias e outras situações vistas acima, essa O sistema prossegue ensinando outras figuras,

701
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e juntando-as para formar frases, inclusive as Neste contexto de pandemia do COVID-19, a


mais avançadas. (Pyramid Educational escola precisou seguir uma série de protocolos
Consultants, Sistema de Comunicação por de segurança para evitar contágios. Dentre
troca de figuras) elas, a aferição diária de temperatura das
crianças antes de entrarem na escola, a higiene
CAMPO DE PESQUISA – das mãos com bastante frequência, o uso de
tapetes sanitizantes nas portas das salas de
ASPECTOS METODOLÓGICOS aula, o incentivo ao uso de sacolas plásticas
Após pesquisa teórica, apresenta-se, nesta que pudessem ser higienizadas ao invés de
etapa, o relato de uma experiência vivida no mochilas de tecido e também a diminuição do
contexto em que atuo como professora e como número de crianças dentro das salas de aula. A
fui utilizando de algumas ferramentas para escola que passou o ano de 2020 praticamente
auxiliar na adaptação e integração à rotina inteiro funcionando apenas remotamente,
escolar de um aluno com transtorno do após o projeto de lei Lei 5594/20, que incluiu a
espectro autista. educação como um serviço essencial, abriu
Esta pesquisa foi realizada em uma Escola suas portas em Fevereiro de 2021 para receber,
Municipal de Educação Infantil, em uma turma primeiramente, apenas 30% dos alunos de
do Infantil 1 (crianças de 4 e 5 anos), durante o cada sala (e os outros 70% faziam em casa as
segundo semestre do ano de 2021. Os atividades que eram postadas no Google Sala
instrumentos utilizados foram: questionário de Aula). Já em Agosto de 2021, permitiu-se
enviado as professoras da unidade, observação que todas as crianças frequentassem as aulas
das crianças, conversa com a Coordenadora presenciais, porém em esquema de rodízio.
Pedagógica da unidade escolar e com a AVE - Todas as turmas foram divididas em dois
Auxiliar de Vida Escolar, notas em diário de grupos e cada grupo podia frequentar as aulas
campo, análise do Projeto Político Pedagógico por uma semana, intercalando com o outro
- PPP da escola e conversa com a terapeuta grupo. Sendo assim, o máximo de crianças por
ocupacional do CEFAI que acompanha o turma que podiam frequentar a escola
desenvolvimento desse aluno na escola. presencialmente por dia era de 16 crianças e a
participação nas aulas presenciais ainda é
VISÃO GERAL DA INSTITUIÇÃO facultativa.
Atualmente atuo como professora em uma
Escola Municipal de Educação Infantil ANÁLISE DE DADOS
localizada na Zona Oeste do Estado de São
Paulo. A EMEI é composta por quatro salas de • O aluno Pedro
aula, funciona em dois períodos (manhã e A sala do Infantil I em que atuo no período
tarde) e atende crianças de quatro e cinco da tarde é composta por 35 crianças e dentre
anos. Temos atualmente por volta de 280 elas o aluno que chamarei de Pedro neste
alunos matriculados, distribuídos em 8 turmas estudo. Pedro tem 4 anos e têm muitas
(4 turmas de Infantil I e 4 turmas de Infantil II). características de uma criança com transtorno

702
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

do espectro autista. Ele ainda não possui laudo, demonstra desconforto e nem avisa quando
mas está sendo acompanhado por médicos e faz suas necessidades. Sua adaptação à rotina
fazendo exames para que se possa chegar a um escolar foi tranquila. Ele gosta bastante de
diagnóstico, isto é, está em processo de explorar os espaços da nossa escola. Ele não
avaliação. Para os fins desse estudo, considera- consegue permanecer no mesmo espaço que o
se que ele tem uma hipótese diagnóstica de restante do grupo por muito tempo e acaba
Transtorno do Espectro Autista. Ele começou a sempre indo para outros lugares. Neste
frequentar as aulas presenciais em Setembro momento, o papel da AVE - Auxiliar de Vida
deste ano. Devido a ser muito seletivo na Escolar, é trazê-lo de volta ao grupo.
questão da alimentação (ele apenas toma leite
sem lactose, iogurte e algumas bolachas • Rotina Escolar
específicas), a família demorou para decidir por Durante os primeiros dias de aula, deixamos
enviá-lo para a escola, já que a sua presença Pedro à vontade para explorar os espaços da
ainda é facultativa devido a pandemia do escola. Sempre com o auxílio da AVE - Auxiliar
COVID-19. Pela experiência anterior que eles de Vida Escolar, ele circulou um pouco pelas
tiveram quando o Pedro frequentava a creche, outras salas de aula da escola, pelo parque,
ele passava muitas horas na escola sem comer pela secretaria, sempre muito atento a tudo
absolutamente nada e a família estava que estava ao seu redor.
bastante preocupada que ele pudesse ficar Passado o período de adaptação, que foi
longos períodos sem comer também na EMEI. bastante tranquilo (ele chorou na despedida da
Desde o início desse ano, entretanto, família apenas no primeiro dia), passamos a
mantivemos conversas frequentes com os pais adotar algumas estratégias para conseguir que
dele, para saber um pouco sobre o seu Pedro ficasse mais tempo junto a sua turma.
desenvolvimento. Nessas conversas, os Observamos o grande apego que ele tem por
familiares relataram a dificuldade de realizar um caminhãozinho de madeira da nossa
com ele as atividades que são propostas para escola, e fazer com que esse brinquedo fosse o
todo o Infantil I e que são publicadas ponto de referência dele. Por exemplo, nos
diariamente na plataforma Google Sala de momentos em que era esperado que as
Aula, pois elas eram muito “complexas” para o crianças sentassem em roda, colocávamos o
Pedro. Em Setembro, quando finalmente caminhãozinho no chão, e demos a orientação:
pudemos conhecê-lo pessoalmente, “Senta perto do caminhão, Pedro”. E assim
observamos que ele é uma criança bastante sucessivamente, nos outros espaços da escola
carinhosa. Gosta de abraçar as pessoas e gosta também. Esta foi a primeira estratégia que
de estar perto de outras crianças também. construímos para que Pedro passasse a se
Brinca muito com bola, se interessa por integrar mais com sua turma de referência.
manusear objetos coloridos, folhear livros e Suas fugas da sala de aula, entretanto, são
revistas e de brincar com água. Fala algumas bastante frequentes.
poucas palavras, como avião, bola, trem, tchau Pedro é uma criança muito observadora e
e alguns números. Faz uso de fraldas e não que gosta muito dos números. Ele se encanta

703
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com as letras do alfabeto móvel e fica feliz colocamos em um local de fácil alcance para ele
quando encontra números lá misturados. (canto inferior da lousa da sala), afixado com
Muitas vezes ele fala o nome do número que um pedaço de velcro. O objetivo era o de
encontra. Certa vez, as crianças da sala dele mostrar a figura para ele cada vez que ele
estavam todas na área externa da escola procurasse por uma bola, ensinando-o a
brincando, além de outros brinquedos, com “trocar” a figura por uma bola de verdade, e
caminhões-baú de madeira (que são um dos por consequência, ensinando para ele uma
brinquedos preferidos dele na escola). Neste maneira de se comunicar.
dia, ele observou que todos os caminhões eram O primeiro contato com a figura da bola
numerados na parte de baixo (por questão de impressa trouxe bastante euforia. Pedro
organização da escola, numeramos os repetiu a palavra “bola” muitas vezes ao ver a
brinquedos para guardar junto com as crianças imagem e gostou de carregá-la consigo o dia
e perceber quando um caminhão ficou todo. Foi necessário alguns dias para que ele se
perdido). Instantaneamente, Pedro pegou desprendesse da figura, para que pudéssemos
todos os carrinhos que estavam dentro da caixa começar a incentivá-lo a se comunicar por
e começou a colocá-los na ordem numérica, meio dela. Acreditamos que a comunicação por
lado a lado. Porém como as outras crianças meio de figuras é um processo, por isso
estavam utilizando alguns dos carrinhos, ele continuamos a insistir diariamente nessa
não conseguia terminar sua sequência questão, mas até o momento da escrita deste
numérica, o que o deixou bastante trabalho ainda não conseguimos nenhum
desestabilizado. Pedro então, começou a avanço.
correr e a levantar o carrinho de todas as O fato de Pedro faltar bastante à escola,
crianças, para procurar pelos números que ele faltas essas quase sempre justificadas por idas
precisava para completar sua sequência. As ao médico e também doenças, influenciam no
crianças, claro, não queriam emprestar o seu desenvolvimento escolar. Sentimos que
carrinho para ele naquele momento, o que quando ele se ausenta da escola por um longo
gerou um desconforto grande para ele. período, ele fica mais propenso a fugas da sala
De tudo que pudemos observar de Pedro de aula, e fica mais sensível quando precisa
neste tempo, o que mais nos chama a atenção deixar os brinquedos na sala para ir se
é que ele não se utiliza da linguagem para alimentar, ou quando precisa trocar a fralda,
comunicação. Apesar de falar algumas por exemplo.
palavras, ele não as utiliza para nos mostrar o
que quer. Por exemplo, ele sabe falar a palavra REFLEXÃO E PROPOSTA DE
“bola”, mas ele não nos diz “bola” quando quer
uma para brincar. Sendo esse seu brinquedo INTERVENÇÃO
preferido, optamos por iniciar o trabalho de Como vimos no Campo Conceitual, o
comunicação por troca de figuras (PECS) com a trabalho de inclusão do aluno Pedro na escola
foto de uma bola. Fizemos a impressão de uma é uma questão de direitos, como mencionado
foto real de uma das bolas da escola e nas lei 12.764 de 27 de Dezembro de 2012 e

704
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

também no Estatuto da Criança e do isso a importância de trabalhar com essa parte


Adolescente (Lei 8.069/90). Como se trata de do desenvolvimento do aluno Pedro e de todos
uma Escola Municipal, a DRE - Diretoria os outros com transtorno do espectro autista.
Regional de Educação apresenta um conjunto A professora Flávia, por exemplo, menciona na
de dispositivos destinados a garantir que a entrevista que fez um curso no PINEL, um
presença de Pedro no contexto escolar hospital psiquiátrico localizado no bairro de
aconteça de modo efetivo e para atender suas Pirituba, em São Paulo, onde acompanhou por
necessidades/demandas. No caso do aluno um dia o tratamento que o aluno realizava e
Pedro, podemos perceber o quão importante é desenvolveram juntos algumas PECS para o uso
a presença da AVE - Auxiliar de Vida Escolar, já do banheiro.
que o aluno utiliza fraldas, não tem muita Após esta pesquisa, então, elaboramos uma
autonomia nos momentos de alimentação e proposta de intervenção que auxilia na
também não consegue permanecer por muito acolhida, na socialização e no desenvolvimento
tempo junto a sua turma, indo para outros do aluno com TEA dentro do ambiente escolar.
espaços onde ele precisa ser acompanhado por Como se trata de uma proposta, é importante
um adulto, e também a importância do CEFAI, lembrar que ela é flexível, até porque a criança
que está por trás desse trabalho, trazendo está em fase de desenvolvimento.
orientações à escola e à própria AVE de como 1º passo: a entrevista com a família da
fazer intervenções positivas para/com o aluno. criança é extremamente importante e quando
Como professora da rede, posso afirmar que possível deve ser feita antes do início das aulas.
estamos na direção certa para que essa Elaboramos um roteiro simples que pode
inclusão ocorra de maneira adequada, porém ajudar nessa conversa:
ainda falta muita formação para os
profissionais envolvidos e também uma 1.Como foi a gravidez? Houve alguma
disponibilidade maior de pessoas capacitadas intercorrência?
para auxiliar a criança no dia-a-dia, como 2.
também mencionado por 4 das 12 professoras Com quanto tempo a criança andou/falou?
entrevistadas, 4 professoras também 3.Quais os primeiros comportamentos da
mencionaram que a quantidade de crianças criança que chamaram a atenção da família?
por sala (atualmente 35) é um dificultador em 4.A criança faz algum tipo de
salas onde temos alunos com deficiência. acompanhamento médico/terapia? Com
Em relação à comunicação, sabemos que as qual frequência?
possibilidades que a Psicopedagogia nos 5.Qual a rotina da criança em casa? Qual
oferece para ampliar o repertório dos alunos horário ela dorme/acorda e com o que ela
são essenciais, como por exemplo as PECS, brinca?
desenvolvidas por Any Bondy e Lori Frost 6.Do que a criança se alimenta? Quais são
(1985) nos EUA em 1995. A questão da suas preferências? Quais alimentos ela
comunicação social é uma das características recusa?
que compõem o diagnóstico de autismo, e por

705
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

7.A criança possui algum objeto de apego? 5º passo: auxiliar a criança no processo de
(ex: chupeta, paninho, brinquedo que não construção da rotina. É importante apresentar
fica sem) fotos que contenham qual será a rotina do dia.
8.Quais são os interesses da criança? Assiste O aluno com TEA aos poucos compreende que
televisão? Quais os desenhos favoritos? há um horário certo para brincar no parque,
9.Qual a relação da criança com os sons? Ela para comer, para trocar a fralda, para lavar as
se incomoda com barulhos? Quais sons que mãos, para desenhar, entre outros.
ela gosta de ouvir? 6º passo: para alunos com TEA, é muito
10.Geralmente, do que gosta de brincar e importante incentivar a comunicação verbal, já
como brinca? que a maior parte deles apresenta algum tipo
11.A criança utiliza da linguagem para se de distúrbio na fala. É o momento de entender
comunicar? Se não, como ela se comunica? quais as necessidades imediatas da criança, e
Fonte: A autora escolher uma figura que possa ser o ponto de
partida para o trabalho com as PECS.
2º passo: após conversar com a família, e 7º passo: para que o trabalho com as PECS e
sabendo um pouco mais sobre a criança, é todo o trabalho desenvolvido dentro da
importante preparar a sala de aula para Unidade Escolar seja efetivo, é importante que
recebê-la, retirando do alcance objetos que a família esteja sempre acompanhando esse
possam ser perigosos (para a maior parte dos processo, para isso, converse com a família
alunos com TEA, um simples frasco de com bastante frequência para alinhar o que
sabonete líquido ou álcool gel já representa está sendo feito na escola com o que está
perigo). sendo feito em casa.
3º passo: preparar uma caixa com
brinquedos e materiais diversos que possam
ser manipulados pelo aluno. É importante
selecionar alguns brinquedos parecidos com o
que ele gosta de brincar em casa (daí a
importância da entrevista inicial com as
famílias). O aluno Pedro gostava muito de
trens, e por isso, colocamos na sua caixa alguns
carrinhos, trenzinhos e outros brinquedos que
ele poderia vir a se identificar. O objetivo dessa
caixa é que ela seja um apoio para os primeiros
dias na adaptação desse aluno na escola.
4º passo: durante a adaptação, permitir que
a criança conheça e explore os espaços da
escola. Olhar e escuta atenta são essenciais
para perceber as necessidades da criança.

706
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ano de 2021, assim como o ano de 2020, foi um ano de muitos desafios para todos nós,
e também para a área da Educação. Os profissionais precisaram aprender formas diferentes de
ensinar e a modalidade presencial, tão essencial para a aprendizagem significativa, só pode ser
retomada, ainda assim com ressalvas, no final do mês de Outubro. Precisei mencionar isso aqui,
pois obviamente isso impactou e muito o desenvolvimento dessa pesquisa. Como planejar para
alunos que você não conhece? Como planejar atividades para que as famílias façam com as
crianças, sem saber o grau de instrução dessas famílias e os recursos (tecnológicos ou não) que
elas possuem em casa?
A pandemia do COVID-19 claramente ampliou ainda mais as desigualdades no nosso País.
De um lado, tivemos alunos de escolas particulares, tendo aulas por meio de chamadas de vídeo
diariamente e de outro, alunos de escolas públicas que muitas vezes não tinham nem telefone
em casa. Acompanhar o desenvolvimento desses estudantes no decorrer do ano foi muito difícil.
Foram poucos aqueles que de fato acessaram a plataforma do Google Sala de Aula e fizeram as
atividades propostas diariamente. Fica muito claro que para um aluno com TEA, realizar essas
atividades foi muito mais difícil. Complexo também para nós professores, que sem conhecer a
criança, tivemos que realizar um planejamento comum a todos, sem considerar as
especificidades de cada criança.
O aluno do nosso estudo de caso começou a frequentar as aulas presenciais somente no
mês de Setembro, porque infelizmente, os critérios que foram estabelecidos pela SME não
permitiam que todas as crianças frequentassem a escola. Na Educação Infantil, não houve a
possibilidade de rodízio de estudantes. Sendo assim, os 30% dos alunos que frequentaram as
aulas de fevereiro a agosto, foram os mesmos. Os outros 70% ficaram no ensino remoto grande
parte do ano, grupo este que nosso aluno Pedro fez parte.
Tivemos então apenas 4 meses de trabalho efetivo e presencial com ele em sala de aula,
o que com certeza não foi o suficiente para desenvolver todo o trabalho que queríamos. O
trabalho com as PECS, por exemplo, não evoluiu tanto quando poderia se tivesse sido
implementado desde o mês de Fevereiro. Mas de maneira geral, conseguimos ver um avanço
muito grande em termos comportamentais. A cada dia que passa, percebemos que Pedro
entende mais a rotina escolar, interage mais com as crianças e também fala mais - mesmo que
por meio da repetição daquilo que falamos (ecolalias). Para nós isso já é um ganho muito grande.
Com certeza todo esse trabalho que desenvolvemos até agora será ampliado no próximo ano.
O objetivo principal dessa pesquisa era o de entender quais ferramentas da
psicopedagogia poderiam ser utilizadas para auxiliar no planejamento curricular de crianças com
TEA. Acredito que além disso, pudemos compreender a importância de um planejamento
curricular individualizado, que leve em consideração as necessidades individuais de cada criança,
tendo elas alguma deficiência ou não. Esse assunto poderia ter sido inclusive mais explorado no
decorrer deste trabalho.
Com certeza o curso de Psicopedagogia me forneceu mais ferramentas para trabalhar com
meus alunos no dia-a-dia, o que era meu objetivo com este curso. Me sinto mais preparada para
lidar com crianças com dificuldade de aprendizagem e com certeza me sinto mais confiante em
tentar outras estratégias para que a criança consiga aprender e também tenho mais
conhecimento para poder conversar com os familiares da criança a respeito.

707
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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é PECS?. Disponível em: https://pecs-brazil.com/sistema-de-comunicacao-por-troca-de-figuras-
pecs/. Data de Acesso: 20/07/2022.

BRASIL. Presidência da República - Casa Civil. Constituição (2012). Lei nº 12.764, de 27 de


dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa Com
Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3º do Art. 98 da Lei Nº 8.112, de 11 de Dezembro
de 1990. Brasília, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12764.htm. Data de Acesso: 20/07/2022.

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Behavior Checklist (CBCL): Evidências de sensibilidade. 2015. Tese (Doutorado em
Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano) - Instituto de Psicologia, Universidade de São
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20/07/2022.

PACHECO, José; EGGERTSDÓTTIR, Rósa; MARINÓSSON, Gretar L.. Caminhos para a


Inclusão: um guia para o aprimoramento da equipe docente. São Paulo: Artmed, 2006. 234
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SITE. Autismo e Realidade (org.). Convivendo com TEA: leis e direitos. Disponível em:
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SITE. Os diferentes aspectos da comunicação da pessoa com TEA. Disponível em:


https://institutoneurosaber.com.br/os-diferentes-aspectos-da-comunicacao-da-pessoa-com-tea-
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708
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CRIANÇAS SURDAS NO CENTRO DE


EDUCAÇÃO INFANTIL DO MUNICÍPIO DE SÃO
PAULO: ANTECIPANDO REFLEXÕES PARA
OFERECER EDUCAÇÃO DE QUALIDADE
Janaina Helena da Mota1

RESUMO: Este artigo caracteriza-se, fundamentalmente, pela investigação bibliográfica de um


autor Sacks (2010), preocupados com a educação inclusiva em especial a educação de surdos e
com atitudes primordiais: educar, entender, compreender, desvelar para se conhecer mais o ser
humano. A criança surda necessita ser exposta a Língua Brasileira de Sinais o mais cedo possível,
facilitando sua interação com o mundo, pois ela é diferente da criança ouvinte que tem acesso
ao mundo por meio da audição, ela poderá comunicar-se por meio da Língua de Sinais que é uma
língua viso-espacial. Este trabalho tem como objetivo responder as perguntas: Como ensinar uma
criança surda em um Centro de Educação Infantil - CEI junto com crianças ouvintes? Quais os
parâmetros e orientações devem ser seguidos pelo professor de sala regular com o aluno surdo?
O professor deverá ter domínio em Língua de Sinais ou necessitará de ajuda? Inclusive,
identificam os Surdos como aqueles que interagem com o mundo por meio de experiências
visuais, manifestando sua cultura, principalmente, pelo uso da Língua Brasileira de Sinais- Libras.
Também, o professor na Educação Infantil tem um papel de extrema importância, como
mediador no processo de aprendizagem de ambas.

Palavras-Chave: Libras; Educação inclusiva; Educação bilíngues.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Pós-graduação em Educação de Surdos, Mackenzie.
Este artigo é uma releitura do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Programa de Pós-Graduação Lato
Sensu do Centro de Educação, Filosofia e Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

709
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DEAF CHILDREN IN THE CHILD EDUCATION CENTER OF THE


MUNICIPALITY OF SÃO PAULO: ANTICIPATING REFLECTIONS TO
OFFER QUALITY EDUCATION
ABSTRACT: This article is fundamentally characterized by the bibliographic research of an author
Sacks (2010), concerned with inclusive education, especially the education of the deaf and with
primordial attitudes: to educate, to understand, to understand, to unveil to know more about the
human being. The deaf child needs to be exposed to Brazilian Sign Language as soon as possible,
facilitating their interaction with the world, because they are different from the hearing child who
has access to the world through hearing, they will be able to communicate through Sign Language
that it is a visuospatial language. This work aims to answer the questions: How to teach a deaf
child in a Child Education Center - CEI together with hearing children? What parameters and
guidelines must be followed by the regular classroom teacher with the deaf student? Does the
teacher need to be proficient in Sign Language or will he or she need help? They even identify
the Deaf as those who interact with the world through visual experiences, expressing their
culture, mainly through the use of the Brazilian Sign Language - Libras. Also, the teacher in Early
Childhood Education has an extremely important role, as a mediator in the learning process of
both.

Keywords: Libras; Inclusive education; Bilingual education.

710
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Educação Especial com ênfase em Surdez., já


tinha iniciado um curso de Libras na FENEIS
Este tema foi pensado a partir das (Federação Nacional de Educação e Interação
perguntas; como ensinar uma criança surda em dos Surdos), pois desde muito jovem me
um Centro de Educação Infantil – CEI junto com interessava pela língua, e via na mídia pessoas
crianças ouvintes? Quais os parâmetros e falarem sobre língua de sinais, assim a partir
orientações devem ser seguidos pelo professor disto, veio o gosto por aprendê-la. A criança
de sala regular com o aluno surdo? O professor surda necessita ser exposta a Língua Brasileira
deverá ter domínio em Língua de Sinais ou de Sinais o mais cedo possível, possibilitando
necessitará de ajuda? Estas questões me sua interação com o mundo, pois diferente da
angustiavam, mesmo não tendo aluno surdo criança ouvinte que tem acesso ao mundo por
no grupo. Mas como a inclusão é inevitável, meio da audição, a criança surda se comunicará
antes mesmo que aconteça, já há em mim uma por essa língua viso espacial. Para que as
preocupação em me antecipar ao futuro, pois aquisições de língua/linguagem não sejam
as crianças já estão começando a chegar à prejudicadas, lembrando-se que a grande
escola mais cedo, e temos as políticas de maioria das crianças surdas são filhas de pais
inclusão do município de São Paulo. Estas ouvintes e chegam à escola sem língua,
inquietudes, tornam-se mais pertinentes, devemos nos preocupar com, como ela terá
quando temos alunos surdos e alunos ouvintes acesso a Libras, sendo que preferencialmente
dividindo o mesmo espaço social e o professor deverá ser surdo, pois ele terá a
educacional, uma vez que neste trabalho língua de sinais como língua nativa
tomamos como premissa a necessidade do conseguindo transmitir às crianças surdas sua
aluno surdo em ter como primeira língua a cultura, possibilitando-lhes uma auto imagem
Língua Brasileira de Sinais - Libras, o que torna positiva , assim como sua interação com outras
sua inclusão mais intrigante. pessoas surdas e ouvintes.
Sendo assim, sabendo que o momento que Na questão do professor como mediador da
antecipo, o ingresso de uma criança surda em aquisição da Libras pela criança surda na
sala de aula, poderá ocorrer a qualquer Educação Infantil, e para pautar este capítulo
momento, já disponibilizo para as crianças iremos utilizar como referência teórica o texto
ouvintes, às quais assisto, algumas referências de Sacks (2010), como também o documento
da Libras, fazendo o alfabeto digital como municipal Orientações Curriculares e
forma de brincar com as mãos, vendo vídeos da Proposição de Expectativas de Aprendizagem
Turma da Mônica, que apresentam versão em para Educação Infantil e Ensino Fundamental:
Libras com Intérprete, e da dupla, Palavra Libras, São Paulo: SME / DOT, (2008). Em
Cantada, que tem em seu vídeo uma música seguida, apresentaremos nossas
que se chama “Falando pelos cotovelos”, na considerações finais, procurando visualizar
qual algumas palavras são apresentadas em uma interação no espaço escolar, na qual os
Libras. Além disso, antes de fazer a pós- ouvintes aprendam com os surdos e os surdos
graduação, Formação de Professores em

711
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendam com os ouvintes e na convivência lá você é o diferente, porque é o ouvinte, não


respeitem uns aos outros. sinalizador e todos nessa ilha, tanto surdos
A língua de sinais é a língua materna do como ouvintes, se comunicam por sinais.
surdo, assim como a língua oficial de seus pais, A vivência de Sacks nos mostra que em
quando ouvintes, é a língua portuguesa então contexto linguístico favorável o
a criança surda poderá ter a língua de sinais desenvolvimento das pessoas surdas é igual ao
como primeira língua, assim como poderá vir a de qualquer ouvinte. É isso que precisamos
ter como segunda língua a portuguesa na fazer com que os pais de crianças surdas
modalidade escrita. Desta forma o surdo se entendam. O quanto é importante que
torna bilíngue, pois no bilinguismo o objetivo aprendam a língua de sinais, como se fossem
principal é que o ensino da criança surda seja surdos, para transmiti-la ao filho. A aquisição
equivalente ao da criança ouvinte, neste caso da Libras possibilita à criança surda maior
sendo a Libras como L1 adquirida por interação rapidez e naturalidade na exposição de seus
é que serve como base para a aprendizagem da sentimentos, desejos e necessidades, desde a
língua portuguesa como L2 que é aprendida de mais tenra idade. Na citação de Sacks (2010),
forma sistemática. podemos verificar a importância do contato
Portanto, é esta língua que dará ao surdo a com a língua de sinais desde bebê:
condição de organizar seu pensamento, seu A língua deve ser introduzida e adquirida o
jeito de agir e suas particularidades. mais cedo possível, senão seu
A Libras é uma língua de modalidade desenvolvimento pode ser permanentemente
gestual-visual que utiliza, como canal os retardado e prejudicado, com todos os
movimentos gestuais e expressões faciais que problemas ligados à capacidade de
são percebidos pela visão; diferentemente da “proporcionar” mencionados por Hughlings -
língua portuguesa, que é uma língua de Jackson. [...]. As crianças surdas precisam ser
modalidade oral-auditiva, que utiliza, como postas em contato primeiro com pessoas
canal ou meio de comunicação, sons fluentes na língua de sinais, sejam seus pais,
articulados que são percebidos pela audição. professores ou outros. Assim que a
comunicação por sinais for aprendida, ela se
A AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE tornará fluente aos três anos de idade (SACKS,
2010, p.38).
SINAIS POR CRIANÇAS SURDAS Portanto Sacks (2010), no diz que as crianças
FILHAS DE PAIS OUVINTES NA surdas filhas de pais surdos, são um referencial
importante para que percebamos que sendo
EDUCAÇÃO INFANTIL. elas expostas desde o nascimento diretamente
O neurologista americano Oliver Sacks
a língua de sinais, têm como língua nativa a de
escreveu sobre isso em seu livro Vendo Vozes
seus pais. Isso significa que, desde pequenas
(2010), descrevendo uma ilha nos Estados
são expostas ao input de uma língua natural.
Unidos, a ilha de Martha's Vineyard, no estado
de Massachusetts, onde a maioria dos
habitantes é surda. Ele diz que quando se chega

712
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Deste modo, temos vários períodos de ouvintes sem prejuízo de aprendizagem e


desenvolvimento da linguagem, sendo eles; interação.
Período pré-linguístico: Balbucios – vai Assim fica garantida a aquisição da
aproximadamente de 0 a 12 meses, nesta fase linguagem e a aquisição de valores, culturas e
as crianças surdas assim como a criança padrões sociais que perpassam o uso da língua,
ouvinte apresentam balbucio manual assim é importante essa interação com grupos
(brincadeiras com as mãos) como a produção que usam tal língua para constituir sua
manual dominante do período. O balbucio linguagem e sua identidade emocional e social.
segundo, as pesquisas de Petitto e Marantette Para exemplificar, esta aquisição da língua de
(1991), apud, Pereira (2012), que estudaram sinais e as consequências de seu atraso Sacks
crianças surdas e ouvintes do nascimento até (2010), demonstra em sua obra, alguns
por volta dos 14 meses de idade e verificaram exemplos de histórias de crianças que tiveram
que tanto as crianças surdas como as ouvintes acesso à língua de sinais após o pré-linguístico.
apresentavam balbucio oral e manual até um Além de explicar de como se deu a
determinado estágio e depois desenvolvem o comunicação e a estrutura linguística e
balbucio de uma das modalidades. As cognitiva.
vocalizações são interrompidas nas crianças Dois anos atrás, na Brasefield School for the
surdas, assim como as produções manuais são Deaf, conheci Joseph, um menino de onze anos
interrompidas nas crianças ouvintes. que acabara de ingressar na escola pela
De acordo com Quadros (2008), esses sons, primeira vez [..]Joseph estava então apenas
que os linguistas denominam “balbucio”, começando a aprender um pouquinho da
apresentam uma organização progressiva. língua de sinais, começando a ter alguma
Inicia-se com vogais anteriores e consoantes comunicação com os outros. Isso
guturais e, somente por volta dos seis meses, o manifestamente o deleitava; ele queria ficar na
padrão silábico do balbucio passa a ter uma escola o dia inteiro, a noite inteira, o fim de
organização CV – consoante vogal - e a criança semana inteiro, o tempo todo. [...]Para Joseph,
passa a usar sílabas duplicadas e a articular o início de uma comunicação, de uma língua,
consoantes anteriores /p, /m, /b//. começara naquele período, e ele estava
Independentemente do ambiente e das línguas tremendamente excitado com isso. A escola
com que os bebês estejam em contato, todas descobrira que não era apenas de uma
as crianças produzem o balbucio, ou seja, ele é instrução formal que ele precisava, mas de
um comportamento interno. brincar com a língua, de jogos de linguagem,
Quando a criança surda tem o contato com como uma criancinha aprendendo a língua pela
a língua de sinais desde a Educação Infantil ou primeira vez (SACKS, 2010, p.42- 45).
ainda bebê, espera-se que ela já se comunique Podemos verificar pelo exemplo acima, que
por meio de sinais, expressões faciais e quando a criança surda filha de pais ouvintes
corporais. Nesta fase ela já será capaz de não tem contato com a língua de sinais desde o
participar de brincadeiras e atividades da seu nascimento, a aquisição de uma língua fica
rotina do CEI, junto com os companheiros impossibilitada, podendo gerar graves

713
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

consequências no decorrer de sua vida, sendo Se essa criança entra na escola/creche e tivesse
que quando é feita uma interferência, logo nos professoras e colegas que soubessem Libras?
primeiros anos de vida essa situação pode ser Um dos recursos que podemos utilizar para
revertida. Ainda Sacks (2010), nos mostra no chegarmos a uma resposta é recorrer às leis
depoimento da Srª Sarah Elizabeth, mãe de que possam garantir que essa aquisição da
Charlotte, uma menina de quatro anos, que diz língua de sinais seja acessível à criança surda a
respeito à visão dos pais ouvintes sobre o partir do primeiro ano de vida, proporcionando
processo de aquisição de língua de sinais e os condições para formação de professores e
desafios que eles tiveram de enfrentar e intérpretes de libras que receberam esses
aprender. alunos nas unidades escolares.
Ouvimos o diagnóstico da surdez profunda
de nossa filha Charlote, quando ela estava com O PROFESSOR COMO
dez meses de vida. [...] Começamos as aulas de
língua de sinais estudando em casa o Inglês MEDIADOR DO CONHECIMENTO
Exato em Sinais (Signed Exact English, SEE), E AQUISIÇÃO DA LIBRAS PELA
uma réplica precisa em sinais do inglês falado,
CRIANÇA SURDA NA EDUCAÇÃO
que a nosso ver nos ajudaria a transmitir nossa
língua, literatura e cultura inglesas à nossa INFANTIL
filha. [...] Depois de um ano, decidamos passar Segundo as Orientações Curriculares e
da rigidez do SEE para o inglês em Sinais proposição de expectativas de aprendizagem
(Signed English), uma língua franca que mistura para Educação Infantil e Ensino Fundamental:
o vocabulário da Linguagem Americana de Libras (2008), a criança surda se apoia primeiro
Sinais, que é mais visualmente descritiva, com na visão para reconhecer as pessoas e aos
a sintaxe do inglês, que é familiar [...] agora locais. Para isso, é importante que a criança
estamos passando para a Linguagem surda aprenda a prestar atenção ao rosto do
Americana de Sinais, estudando-a com uma professor e das pessoas que convivem com ela,
mulher surda que é usuária nativa dessa mantendo sempre a comunicação visual, pois é
linguagem, consegue comunicar-se por sinais por meio dela que a criança irá compreender e
sem hesitação e é capaz de codificar essa usar as expressões faciais e corporais, além
linguagem para nós, ouvintes (SACKS, 2010, disso, por meio do acompanhamento com o
p.64-65). olhar a criança aprende a distinguir a
Podemos observar que o atraso no localização de objetos ou das pessoas.
desenvolvimento de uma criança surda que E, no mesmo documento, temos escrito que
não teve acesso à língua de sinais no período o professor precisa conhecer as necessidades
pré-linguístico pode acarretar atraso também das crianças nos planos afetivo, cognitivo e
no desenvolvimento afetivo e social. E motor, além de promover o seu
passamos a um novo questionamento, mas se desenvolvimento em todos os níveis. Com o
a criança surda, filha de pais ouvintes, tivesse objetivo de desenvolver a pessoa, e não apenas
acesso à língua de sinais desde o nascimento? o desenvolvimento cognitivo. O professor na

714
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Educação Infantil tem um papel de extrema pais, professores ou outros. Assim que a
importância, pois deverá responder as comunicação por sinais for aprendida - e ela
necessidades especificas das crianças ouvintes pode ser fluente aos três anos de idade - tudo
e surdas e atuar como mediador no processo então pode decorrer: livre intercurso de
de aprendizagem de ambas. pensamento, livre fluxo de informações,
Ele deve ver a criança surda como alguém aprendizado da leitura e escrita e, talvez, da
que é diferente por não poder ouvir, ou seja, fala. “Não há indícios de que o uso de uma
ela não é menos capaz se comparada com as língua de sinais iniba a aquisição da fala. De
crianças ouvintes. Se observarmos dessa fato, provavelmente ocorra o inverso” (SACKS,
forma, seremos capazes de olhar para a criança 2010, p.38).
surda e vê-la de forma ativa e com um modo O papel do professor é de mediador,
próprio de significar o mundo por meio da partindo do pressuposto que todo o
língua de sinais. aprendizado é necessariamente mediado. Por
O professor terá um papel de suma isso, o professor deve ser ativo, pois o primeiro
importância na vida dessas crianças surdas na contato da criança com as atividades,
Educação Infantil, pois deverá interagir com habilidades ou informações devem ter a
elas a todo o momento, não apenas acolhendo participação do adulto. Acima de tudo, o
com carinho, mas também conversando com professor precisa: Acreditar que elas podem
elas na hora do banho, da alimentação, das aprender e que sua vivência na Educação
brincadeiras de roda e todas as outras Infantil lhes será benéfica; portanto é preciso
atividades pertinentes a sua idade, sempre preparar cuidadosamente as atividades que
levando em consideração todas as propõe.
possibilidades de comunicação por meio de As crianças surdas tem um grande potencial
sinais, expressões faciais e corporais. Ele será principalmente nas atividades visuais;
responsável por responder e fazer perguntas Organizar atividades diversificadas em
que possam esclarecer dúvida e ensinar regras sequências que possibilitem a retomada de
sociais de seu grupo social. passos já dados; Estabelecer rotinas diárias e
O uso da língua de sinais deve ser constante, regras claras para melhor orientar as crianças;
ainda que as crianças ainda não tenham Estimular sua participação em atividades que
domínio da língua, por estarem iniciando a sua envolvam diferentes linguagens e habilidades,
aquisição. Dentro do ambiente da sala de aula, como linguagem corporal, trabalhos manuais,
tanto os alunos ouvintes como os alunos desenho etc., e promover-lhe variadas formas
surdos, terão o mesmo direcionamento nas de contato com o meio externo; dar-lhes
atividades, porém os alunos surdos terão o oportunidade de ter condições instrucionais
contato com a Libras como primeira língua e os diversificadas: trabalho em grupo, aprendizado
alunos ouvintes terão o aprendizado da Libras cooperativo, uso de tecnologias, diferentes
como segunda língua. As crianças surdas metodologias e diferentes estilos de
precisam ser postas em contato primeiro com aprendizagem. O uso de recursos visuais, como
pessoas fluentes na língua de sinais, sejam seus apoio às produções escritas, pode ajudar as

715
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

crianças surdas, principalmente no início da madeira e com outros materiais. O professor


aprendizagem da Língua Portuguesa escrita; deve lembrar que todos os contos e histórias
garantir o tempo que as crianças surdas infantis devem ser contados na Língua
necessitam para realizar cada atividade, Brasileira de Sinais, para a criança surda. O
recorrendo a metodologias de ensino flexíveis professor deve apresentar filmes na Língua
e individualizadas, (SME/DOT, 2008, p.46). Brasileira de Sinais, ou com tradução, se forem
Também segundo as Orientações de curta duração. A dramatização é um recurso
Curriculares e Proposição de Expectativas de muito rico para as crianças surdas, pois
Aprendizagem para Educação Infantil e Ensino possibilita a compreensão de história, de uma
Fundamental: Libras (2008), nos fala que o situação ou de uma explicação, assim como o
ensino deve se antecipar ao que o aluno não uso da expressão corporal e facial, na
sabe, nem é capaz de aprender, porque, na representação dos personagens, bem como na
relação entre aprendizagem e expressão de sentimentos (SME/DOT, 2008,
desenvolvimento, a aprendizagem vem antes p.57-58)
do desenvolvimento. Mas, o professor terá também que ensinar
É, a isto que se refere à zona de as crianças ouvintes a LIBRAS, juntamente com
desenvolvimento proximal, que seria a o intérprete, pois terá na sala crianças surdas e
distância entre o desenvolvimento real de uma ouvintes, sendo assim, o professor precisará da
criança e aquilo que tem a aprender, ou seja, o ajuda do instrutor de Libras (instrutor
potencial que é demonstrado pela sua educacional) ou intérprete, que possa falar em
capacidade de desenvolver uma competência Libras enquanto ela fala com as crianças
com a ajuda do adulto, do professor, como ouvintes, pois não poderá falar nas duas
mediador. E o professor deve identificar essas línguas simultaneamente. De acordo com a
duas capacidades e trabalhar o percurso de legislação municipal no comunicado n° 567, de
cada criança entre estas duas dimensões, ou 30/03/2012, o intérprete terá a função de
seja, as habilidades que os alunos já têm e ministrar oficinas de ensino de libras como
aquelas que eles poderão adquirir. Portanto as primeira língua para o surdo e ministrar para os
Orientações Curriculares dão alguns exemplos, professores, alunos familiares e comunidade
como: escolar ouvintes, oficinas de ensino de Libras
Ainda na Educação Infantil, a criança surda como segunda língua.
pode, com o apoio dos adultos, assumir papéis, Nas Orientações Curriculares: Numa
ao reproduzir situações cotidianas no faz de educação bilíngue, [...] “ a Língua Portuguesa é
conta mediado por objetos e indumentárias, considerada a segunda língua dos alunos
ou imitar as ações de um personagem de uma surdos, o que significa que seu aprendizado vai
história lida (imitar o lobo da história, caminhar se basear nas habilidades linguísticas
como os sete anões). Ela pode aprender a adquiridas na Língua Brasileira de Sinais.”
construir, com o auxílio do professor, (SME/DOT,2008, p.22).
brinquedos com sucatas, a partir de modelos, Sendo assim, precisamos também oferecer
casas ou castelos com areia, com tocos de um currículo que contemple as diferenças que

716
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a surdez necessita, para os alunos surdos deve estar focado no desenvolvimento de


possam se identificar com a cultura de sua habilidades sensoriais, motoras e linguísticas
comunidade e não somente com a cultura dos que possam ser estruturadas adequadamente
ouvintes. para a aquisição da Língua de Sinais. Para este
Na visão da na concepção teórica conhecida currículo, os objetivos de aprendizagem e
com Bilinguismo, defendida por Pickersgill e desenvolvimento para a Educação Infantil e os
Slomsky, que define o bilinguismo, a escola objetos de conhecimento foram organizados
Bilingue para surdos como uma abordagem em um único eixo denominado Bases
educacional que tem por base a língua de Precursoras para a Aquisição da Língua de
instrução da criança Surda deve ser a Língua de Sinais (CURRÍCULO DA CIDADE SP- Libras-2019-
Sinais e a Língua da Comunidade ouvinte deve p104).
ser usada como segunda Língua. Ambas devem A atuação da cidade de São Paulo, entre os
e precisam ser consideradas e desenvolver anos de 1988 e 1999, foram criadas mais cinco
competências nas duas línguas. escolas para atender à demanda do município,
No currículo da Cidade de SP (2019), na naquela época denominadas EMEE – Escola
documentação pedagógica do currículo Municipal de Educação Especial: EMEE Anne
bilingue está escrito: Sullivan, na zona sul; EMEE Neusa Basseto, na
A comunicação deve ser garantida na Língua zona leste; EMEE Madre Lucie Bray e EMEE
de Sinais em todos os ambientes e situações Professor Mário Pereira Bicudo, na zona norte
em que os bebês e crianças surdas estão em e EMEE Vera Lúcia Aparecida Ribeiro, na zona
interação com seus pares, com os educadores oeste. Essas EMEEs passaram por um período
ou com outros adultos surdos ou ouvintes. O de mudanças na abordagem linguística
estímulo contínuo na Libras aliado ao domínio adotada pelo sistema educacional que
do conhecimento sobre os direitos das pessoas preconizava, inicialmente, a oralização dos
surdas, por parte do educador, poderá estudantes surdos e, posteriormente,
proporcionar um ambiente favorável à passaram a fazer uso da modalidade viso
aquisição e desenvolvimento da língua e espacial para a comunicação e educação da
integração social. Este Currículo propõe, com pessoa Surda, dando ênfase à Libras
base em estudos como os de Harris (1995), Após a incorporação das contribuições pela
Masataka (2003), Holzrichter e Meier (2000), equipe técnica do NTC/DIEE e seus assessores,
Karnopp e Quadros (2001), Lichtig et al. (2003), o Documento teve sua versão finalizada e
Barbosa (2007), Morgan (2007), entre outros, disponibilizada em formato impresso, digital e
que dentro das proposições apresentadas para em Libras, para ser implementado pelas
a Educação Infantil, as habilidades linguísticas EMEBS, Unidades Polo Bilíngue para Surdos e
necessárias para que bebês e crianças surdas Salas de Recursos Multifuncionais que
possam se comunicar em Língua de Sinais atendem alunos surdos matriculados em
sejam cuidadosamente observadas e Unidades Educacionais da RME. As ações de
estimuladas no ambiente educacional. O implementação contaram com orientações
processo educacional na Educação Infantil didáticas, materiais curriculares e formação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

continuada. É importante ressaltar que o


Documento apresenta imagens dos sinais e
links dos Cadernos de Apoio e Aprendizagem –
Libras do 1º ao 5º ano, publicados em 2012 e
republicados em 2015 pela SME, que ilustram
alguns objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento.
Porém a documentação pedagógica de 2019
nos traz a Base Precursora da Aquisição da
Língua de Sinais com três objetos de
conhecimento: Visualidade; a questão do
olhar, o olho no olho de quem sinaliza,
Organização Linguístico-Motora; a questão dos
parâmetros em Libras e da gramática da Libras
e pôr fim a Compreensão e Interação.
Para tanto, a base primeira será a
construção de ambiente comunicativo propício
à aquisição da Libras, assegurando a
organização dos tempos e espaços que
privilegiam as relações dos bebês e das
crianças surdas, com interlocutores bilíngues,
para que se constituam e se reconheçam como
usuários da Língua de Sinais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos, que além de nos conscientizar que precisamos trabalhar com afinco a fim de
oferecer uma educação de qualidade para nossas crianças, em uma sala de aula que tenha um
aluno surdo, é de grande importância a presença de um professor bilíngue e de um instrutor
surdo, que será o modelo que usuário da Libras, possibilitando que às crianças, tanto às ouvintes
como às surdas, tenham contato com essa língua.
A escolha de um só autor neste artigo foi juntamente por causa do titulo: “ Vendo vozes:
uma aventura ao mundo dos surdos,” de Sacks. Pois relata a fala do pensamento do Surdos numa
modalidade visu-espacial aonde as mãos tem a função da fala, os olhos a do ouvido, e todo este
processo faz parte do pensamento, do processo neural, sendo assim entramos na questão atual
da neurociência e da neurolinguística.
Outra questão que me chamou atenção no livro que Sacks nos diz de uma aventura ao
mundo dos Surdos. Porém sendo professora Bilingue já alguns anos e atuando percebo que estou
em dois mundos que descreverei.
Portanto, é possível dizer que há dois mundos, dois mundos que crescem, dois mundos
distintos linguisticamente e culturalmente. Mundos com identidades diferentes, mas, quais são
estes mundos?
Um destes mundos gosta de conversar de perto, gosta de música. O outro também gosta
de conversar, e como! No entanto, esta conversa pode acontecer mesmo quando um está longe
do outro, sem gritos ou vozes altas, pois, esse outro universo possui um campo de visão, você
pode ver vozes.
Quando entro neste mundo onde posso ver vozes estou deixando um mundo,
aparentemente, e entrando em outro, para acessar este outro lugar é preciso atravessar uma
ponte: E eu vou lá, atravesso, buscando fazer parte daquilo tudo, quebrando assim minha
barreira de comunicação.
Sim a barreira é minha, pois sendo ouvinte tenho uma dificuldade, uma barreira, causada
por um transtorno de aprendizagem, que deixa a minha escrita e fala, diferente das demais
pessoas.
Por essa razão me coloquei a procurar como romper o trauma e descobri, ou seja,
encontrei uma forma de comunicação que me faz refletir sobre o que é comunicação, ela me traz
alegria quando estou dialogando. Este mundo em que entro, por meio desta ponte, me faz pensar
que este meu novo lugar é melhor do que o outro.
Mas, então, eu percebi que a ponte liga estes mundos, mesmo tão distantes, com tantas
barreiras podem eles estar juntos, espero que no futuro estejam cada vez mais perto. Que as
crianças aprendam desde pequenas a unir os mundos.
Atuando em uma escola polo de Libras aonde as duas línguas vão inevitavelmente se
cruzarem e fazer uma ponte, percebi que ao brincar com as crianças ouvintes no parque de
repente percebo que elas pararam de conversar e olhavam para as minhas mãos, pois estava
conversando com uma professora surda e foi a primeira vez que elas me viram sinalizando, neste
momento percebi a ponte, a ligação entre os mundos.

719
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Tambem quando coloco um vídeo de música onde tem a janela de Libras as crianças
ouvintes além de cantar a música começam a imitar a intérprete ou então a observar a expressão
facial. Sem perceberam a tão importante da ponte entre os mundos.
Enfatizando que não são sós os surdos que precisam saber o português na forma oral ou
escrita, mas os ouvintes precisam aprender Libras para saberem se comunicar com um surdo, a
Libras também estimulará no cérebro do ouvinte áreas não estimuladas pela língua oral. Ao
trabalhar no pólo do município de São Paulo, pude perceber que as crianças ouvintes começaram
a se interessar em aprender a Libras para conversar com os colegas surdos, pois estão na mesma
escola. Só que os surdos ficam numa sala com surdos onde têm aquisição da Libras, mas vão aos
eventos da escola com as crianças ouvintes das outras salas e nestes eventos têm intérpretes.
Assim os ouvintes aprendem com os surdos e os surdos aprendem com os ouvintes e na
convivência respeitam uns aos outros. Desta forma, concluímos que podem ser nas estruturas
educacionais que se formarão os cidadãos surdos com igualdade de condições sociais e
intelectuais para participarem ativamente da sociedade brasileira de forma digna, sendo
respeitadas as questões biculturais e a identidade surda, e por consequência as comunidades
surdas.

720
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
PEREIRA, M. C. da C. Língua, Linguagem e Educação de Surdos. In. : Curso de formação de
professores em educação especial com ênfase em surdez. São Paulo: UPM, 2012. (acesso
restrito)

QUADROS, R. M & FINGER, I. Teorias de aquisição de linguagem. Florianópolis: Editora da


UFSC, 2008. SACKS, O. Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos Surdos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.

SÃO PAULO (Município SP). Orientações curriculares e proposição de expectativas de


aprendizagem para Educação Infantil e Ensino Fundamental: Libras .São Paulo: SME / DOT,
2008.

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo


da cidade : Educação Especial : Língua Brasileira de Sinais. – São Paulo : SME / COPED,
2019.

721
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CURRÍCULO, UNIVERSIDADE E PÓS-


GRADUAÇÃO: OS IMPACTOS DA REFORMA DO
ENSINO SUPERIOR
Idayany Araújo Cardoso de Almeida1

RESUMO: Esse estudo teve como objetivo levantar breves reflexões sobre o currículo e sua
relação com a universidade após a reforma do ensino superior no Brasil na década de 1990, e
seus reflexos na pós-graduação stricto sensu. Para tanto, recorreu-se a uma investigação
bibliográfica, cujos principais colaboradores foram: Arroyo (2013), Apple (1979), Saviani (2011),
Minto (2006) e Bianchetti, Valle e Pereira (2015). Foi possível verificar que a ideologia neoliberal,
em prol do desenvolvimento capitalista, influencia nas estruturas reguladoras da universidade e
da pós-graduação, reorganizando o currículo destas com o intuito de promover o crescimento
econômico em detrimento da qualidade educacional.

Palavras-Chave: Currículo; Reforma do Ensino Superior; Pós-graduação.

1Professora de Educação Física no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Goiás – Campus
Formosa.
Graduação: Ma. em Educação pela Universidade Federal de Goiás – REJ.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CURRICULUM, UNIVERSITY AND GRADUATION: THE IMPACTS OF


HIGHER EDUCATION REFORM
ABSTRACT: This study aimed to raise brief reflections on the curriculum and its relationship with
the university after the reform of higher education in Brazil in the 1990s, and its effects on stricto
sensu graduate studies. For that, a bibliographic investigation was used, whose main
collaborators were: Arroyo (2013), Apple (1979), Saviani (2011), Minto (2006) and Bianchetti,
Valle and Pereira (2015). It was possible to verify that the neoliberal ideology, in favor of capitalist
development, influences the regulatory structures of the university and postgraduate courses,
reorganizing their curriculum in order to promote economic growth to the detriment of
educational quality.

Keywords: Curriculum; Higher Education Reform; Postgraduate studies.

723
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Esse estudo se justifica pela sua necessidade


social de se (re)pensar a estruturação do
Com o longo processo da reestruturação currículo da pós-graduação e o papel das
produtiva e com o capitalismo vivendo uma entidades financiadoras com o intuito de
longa crise estrutural, o Estado e a sociedade organizar os cursos de mestrado e doutorado
sofrem severas transformações2 . Essas 1

de acordo com o tempo e espaço necessário e


transformações, no entanto, tem um objetivo específico de cada campo do conhecimento,
central – a perpetuação e acumulação de possibilitando retornar à essência da função
capital. No entanto, essa acumulação não se dá social da universidade e da pós-graduação, ou
de maneira ingênua e por decisão democrática seja, um espaço democrático para a elaboração
da sociedade, mas desenvolve-se uma e desenvolvimento da ciência e da cultura.
ideologia neoliberal, uma ideologia capitalista Para isso, foi realizado e o levantamento de
que se insere nas diversas esferas da vida algumas proposições que colaboram para a
social. reflexão sobre a reformulação do currículo da
Uma dessas esferas é a Educação. Nesse pós-graduação no Brasil.
sentido, o objetivo desse estudo foi analisar e
compreender o currículo e sua interface com a
REFORMA DO ENSINO
educação e sociedade, bem como nas reformas
do ensino superior e seus reflexos na pós- SUPERIOR: A DECADÊNCIA DA
graduação stricto sensu. UNIVERSIDADE
De maneira mais específica objetivou-se Compreendemos a universidade como
analisar a concepção de currículo, educação e sendo uma instituição social, um espaço de
sociedade na atual estrutura sócio-economica; elaboração dos organismos da cultura,
Compreender a reforma do ensino superior e estabelecendo relações com o trabalho
suas consequências para a universidade intelectual, o trabalho profissional e as esferas
brasileira; Desdobrar sobre os impactos sociais. É um espaço de circulação e elaboração
gerados na pós-graduação brasileira pós de conhecimentos científicos e artísticos dos
reforma do ensino superior. vários campos do conhecimento, tendo como
Com isso, o problema desse estudo se pilar uma tríade: ensino, pesquisa e extensão 3 . 2

resume na seguinte questão: como se No entanto,


estrutura o currículo na sua relação com a
universidade após a reforma do ensino Herdamos de nossa história uma
superior no Brasil na década de 1990, e seus universidade aquém daquela que muitos
reflexos na pós-graduação stricto sensu?

2Compreende-se reestruturação produtiva enquanto um influência sobre as políticas públicas que favorecem a
processo que se desenvolve no âmbito econômico em promulgação de seus interesses.
que se consolidou o modelo flexível de trabalho, alinhado 3 Compreende-se que a universidade não é o único lugar

ao modo de produção capitalista, que, por sua vez, para o desenvolvimento do ensino superior conforme as
controla os meios de produção e distribuição, retirando características apresentadas, no entanto, para este
do Estado o controle sobre o mercado, mas incidindo momento, a universidade será utilizada como foco
dessas reflexões análises.

724
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ousaram esperar. Uma história que não possuem contratos de gestão com o Estado,
permite ilusões, mas que nos oferece um (CHAUÍ, 1999).
ensino superior adequado aos moldes de uma Dentre as reformas do Estado, temos a
sociedade também repelida em suas reforma do ensino superior, que não é algo
possibilidades, despojadas de muitas das mais inovador na história do Brasil, mas foi nesse
elementares realizações sociais historicamente período que as modificações se tornaram mais
possíveis, até mesmo nas sociedades latentes e consolidadas. Essa reforma adquiriu
comandadas pelo capital (MINTO, 2006, características próprias do ethos do
p.275). capitalismo neoliberal que se desenvolveu a
Com a crise estrutural do capital (crise de 68- partir de fragmentações e concepções elitista
73), a sociedade capitalista sofre um período de sociedade.
de grande recessão, principalmente pela baixa Um dos principais eixos da reforma do
taxa de crescimento econômico e o aumento ensino superior é a legislação. Na década de
da taxa de inflação. Com o desemprego a nível 1990, a articulação de dois ministérios é
estrutural e a inflação desequilibrada foram importante para a regulamentação da
necessárias grandes alterações nos meios de educação superior – o já extinto MARE
produção para garantir a manutenção do (Ministério da Administração Federal e
capital. Esse período entre crises e transições Reforma do Estado) e o MEC (Ministério da
foi o momento oportuno para a intervenção Educação). Minto (2006), nos mostra que a
dos neoliberais com seus ideais de controle do reestruturação da Lei de Diretrizes e Base da
Estado. Educação Nacional (LDB) – Lei 9.394, de
No Brasil, esse movimento se tornou mais dezesseis de dezembro de 1996, é um dos
consolidado com o governo de Fernando principais instrumentos da reforma do ensino
Henrique Cardoso na presidência da República superior. Isso se dá de forma velada, não há
(1995-2002), e assim a década de 1990 fica grandes propostas de alterações, no entanto a
marcada pela Reforma do Estado. Essa reforma principal preocupação está no caráter “fluido”
se caracteriza pela modernização das da LDB, ou seja, propostas que de tão vagas,
atividades exercidas pelo Estado que foram abrem possibilidades para várias
reorganizadas e distribuídas por setores. Um interpretações, que abrem lacunas propositais
setor em especial nos chama a atenção: Setor para os interesses econômicos, algo ensejado
dos Serviços Não-Exclusivos do Estado. Trata- pela Reforma do Estado.
se aqui de serviços que podem ser realizados Com base nas reformulações da LDB/1996,
por empresas não-estatais, sem qualquer tipo destacamos dois pontos problemáticos a
de política de legislação que oriente esses serem discutidos: a autonomia do ensino
serviços. No entanto, nos chama a atenção superior e a ruptura com as características da
alguns serviços que estão submetidos a essa universidade.
prática: educação, saúde, cultura e utilidades Segundo Minto (2006), um dos pilares da
públicas conhecidas como “organizações reforma do ensino superior estava em
sociais”, que são prestadores de serviço que proporcionar maior autonomia às Instituições

725
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de Ensino Superior (IES). Todavia, essa com os interesses do mercado de trabalho. Nas
autonomia está alicerçada “na capacidade de palavras de Gramsci (2011), “as academias são
as IES públicas serem autossuficientes em o símbolo, ridicularizado frequentemente com
relação ao financiamento (por meio de fontes razão, da separação existente entre a alta
“alternativas”, sobretudo do setor privado) e, cultura e a vida, entre os intelectuais e o povo”
dessa forma, cada vez mais independentes do (p. 40).
aporte de recursos estatais”4 (p. 163). É
1 Portanto, Minto (2006), assevera que as
possível notar a despreocupação em legislar medidas da reforma traziam o discurso de
sobre a seguridade curricular, didática, “eficiência” e “produtividade” para as
científica, cultural, artística e o caráter Instituições de Ensino Superior (IES). Ou seja, a
indissociável do ensino pesquisa e extensão reforma propulsiona para uma formação
nas IES. concernente aos interesses do mercado de
O segundo ponto de destaque está trabalho. Submete-se o processo educativo ao
relacionado ao esvaziamento do sentido das processo produtivo, numa perspectiva
universidades. Conforme o artigo 52 da LDB, fragmentada, flexibilizada, precarizada e
parágrafo único: “É facultada a criação de alienada5. É visível nas universidades o que o
2

universidades especializadas por campo do Gramsci (2011), chamou de “cemitérios da


saber”. Isso fere a possibilidade de diálogo cultura” (p. 41), ou seja, produz-se a cultura,
entre os vários campos do conhecimento, mas ela não chega à sociedade civil.
paradoxalmente retira da universidade sua
característica de prover o trânsito de discentes PÓS-GRADUAÇÃO BRASILEIRA:
e docentes pelos diversos laboratórios,
produções, grupos de estudos e pesquisas que REAÇÕES À REFORMA DO
as universidades proporcionam. ENSINO SUPERIOR
Essa lógica de buscar a divisão das Compreendemos a pós-graduação stricto
universidades por campo do saber reforça o sensu enquanto um espaço democrático para a
ideal produtivista e tecnicista, próprio da elaboração e desenvolvimento da ciência e da
ideologia dominante hodierna. Abre a cultura “pura”, ou seja, voltadas a suprir as
possibilidade para reorganizar as diretrizes necessidades humanas dos mais variados tipos.
curriculares dos cursos enxugando ao máximo No entanto, esse ideal está cada vez mais
as disciplinas, com o intuito de acelerar a distante de uma materialização, dado os
formação e oferecer somente o conhecimento interesses político-econômicos que permeiam
técnico específico necessário para qualificação e modificam a natureza da pós-graduação
da mão-de-obra. Não possibilita estabelecer brasileira.
relações com a sociedade, apenas relações

4 Essa afirmação é com base no art. 54 da LDB de 1996. percorre quatro momentos inseparáveis, em que ocorre
5 Considera-se aqui alienação numa concepção o estranhamento sobre o processo de produção, sobre o
marxiana, tomando-a como sinônimo de estranhamento, produto produzido, sobre o gênero humano e sobre a
conforme se encontra nos Manuscritos econômico- humanidade de maneira geral.
filosóficos de Karl Marx. O processo de estranhamento

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A reforma do ensino superior baseada nos desdobra em produtivismo, pois a produção é


princípios do mercado capitalista neoliberal critério de financiamento.
atinge, consequentemente, a pós-graduação Para Sacardo (2012), essa lógica do
stricto sensu6 e toda esfera da produção
1 produtivismo alavanca severos impactos para a
científica brasileira. A concentração dos formação dos pesquisadores, o que nos leva
esforços do Estado na reformulação da pós- para o segundo aspecto da discussão: o tempo
graduação se dá por acreditar que a ciência e médio de titulação. O produtivismo
tecnologia impulsionariam o desenvolvimento desenfreado levanta a necessidade de grande
econômico do país, mas “a consequência é que quantidade de material científico para rápida
toda autonomia da produção cientifica e divulgação, dessa forma os artigos para
cultural conquistada a custo e de forma submissão em periódicos (de preferencia
bastante lenta vai por água abaixo sob o eletrônicos e na língua inglesa), apresentam
império do racionalismo de mercado” em poucas laudas somente os resultado das
(BIANCHETTI, VALLE, PEREIRA 2015, p 47). pesquisas, fragmentando todo o conhecimento
Dessa forma, é possível destacar os reflexos elaborado.
dessa reforma em dois aspectos que serão Um dos resultados disso é a diminuição do
brevemente discutidos: o produtivismo na Pós- TMT para todos os PPGSS, independentes do
graduação e sua relação com o tempo médio campo do conhecimento em que se insere,
de titulação (TMT). independente das necessidades e
A regulação da pós-graduação se dá especificidades de cada um. Assim, a formação
concomitantemente à reforma do ensino dos pesquisadores se encontra
superior, e essa regulação passa a “informar e desconfigurada, fragmentada, precarizada,
a confirmar o financiamento” (BIANCHETTI, longe de uma formação integral do sujeito
VALLE, PEREIRA 2015, p 58). É a partir da social. “O que se observa é uma
regulação que acontece o estímulo ao profissionalização acadêmica voltada tanto a
financiamento das pesquisas, e este especialização quanto à produção, em larga
financiamento está atrelado à quantidade de escala, de conhecimentos específicos,
produções realizadas pelos Programas de Pós- mormente os passiveis de aplicação (ver o
Graduação Stricto Sensu (PPGSS). crescente estímulo à inovação e ao
Com isso, o índice de competitividade desenvolvimento de patentes) [...]”
aumenta de forma significante, que pela (BIANCHETTI, VALLE, PEREIRA 2015, p 59).
“busca de índices classificatórios que justificam Sendo assim, com tudo que foi discutido,
triagens, financiamentos, auxílios, bolsas, cabe levantar algumas proposições para a
acaba criando situações em que a competição defesa de reformulações dos currículos de pós-
se instaura entre e intra áreas, nos programas graduação, para isso utilizamos das
e entre pesquisadores” (BIANCHETTI, VALLE, contribuições de Chauí (2001), principalmente
PEREIRA 2015, p 58). Essa competitividade se em relação aos prazos que são definidos por

6 O foco de análise desse artigo está na pós-graduação sobre os desdobramentos para a pós-graduação latu
stricto sensu, por esse motivo não nos debruçaremos sensu.

727
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

agências de financiamento externo, que


exigem da organização universitária os critérios
empresariais. Faz-se necessário reavaliar os
critérios de financiamento para elevar o nível
da qualidade das produções científicas em
detrimento do produtivismo.
Necessita-se também, reformular os
períodos de duração dos cursos de mestrados
e doutorados conforme as necessidades e
especificidades de cada campo do
conhecimento, pois numa lógica de aceleração
da qualificação da mão de obra trabalhadora,
se diminuiu o tempo de formação na pós-
graduação de forma homogênea. O tempo de
formação deve ser respeitado conforme as
necessidades da formação. Os vários campos
do conhecimento e suas especificidades se
distinguem, no entanto as normatizações são
as mesmas para todos, o que fere a
cientificidade de alguns campos.
Por fim, é salutar ressaltar a importância da
continuidade dos estudos sobre universidade e
pós-graduação, com o intuito de desvelar quais
são os interesses por trás das normatizações
implacáveis do currículo e levantar
possibilidades de superação dessas estruturas
em prol de uma Educação capaz de contribuir
para uma formação integral dos acadêmicos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a exposição realizada, vemos que o currículo se configura como a instituição de
ensino em funcionamento, e sua compreensão ultrapassa os limites da seleção de conteúdos e
perpassa à noção que se tem sobre educação, formação humana e sociedade. Porém, dentro na
estrutura da sociedade capitalista, o currículo assume características de produção e reprodução
do modo de produção hodierno.
Nesse sentido, com a intervenção neoliberal e a inserção do Brasil na globalização
financeira houve a privatização de empresas estatais, redução e redefinição dos atributos do
Estado, entre outros (KREIN, 2007). Isso abriu precedência para grande interferência da
administração empresarial nas universidades via legislação, normatizações, além da inseminação
da ideologia de mercado.
Tem-se então a universidade e a pós-graduação que caminham conforme os moldes
neoliberais, ou seja, sobre a égide de uma era “modernizadora” e “racionalizadora”, cujas
principais características são as de privatização, flexibilização e terceirização. A ciência se esvai
de suas finalidades de contribuições sociais para atender as demandas do mercado econômico.
Em vista desses elementos, levanta-se a necessidade de se pensar a reestruturação do
currículo da pós-graduação, redefinir o papel das entidades financiadoras, repensar a
organização dos cursos de mestrado e doutorado conforme o tempo e espaços de acordo com a
necessidade e especificidade de cada campo do conhecimento, com o intuito de possibilitar o
retorno à essência da função social da universidade e da pós-graduação.

729
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
APPLE, M. Ideologia e currículo. São Paulo: Editora brasiliense. 1979.

ARROYO, M. Currículo, território em disputa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

BIANCHETTI, L. VALLE, I. PEREIRA, G. O fim dos intelectuais acadêmicos? Induções da


CAPES e desafios às associações científicas. SP: Autores Associados, 2015.

BRASIL, Lei de diretrizes e Bases. Lei 9.394/96, 20 de dezembro de 1996.

CHAUÍ, M. de S. Escritos sobre a universidade. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

CHAUÍ, M. de S. A universidade operacional. Folha de S. Paulo, São Paulo, 9 de maio de


1999.

GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Vol. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

KREIN, J. D. Tendências recentes nas relações de emprego no Brasil: 1990-2005. 2007. 329
f. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) – Instituto de Economia da Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, SP. 2007.

MARX, K. O capital: crítica da economia política. Volume I. 3 ed. São Paulo: Nova Cultura, 1988.

MINTO, L. W. As reformas do ensino superior no Brasil: o público e o privado em questão.


Campinas, SP: Autores Associados, 2006.

SACARDO, Michele Silva. Estudo bibliométrico e epistemológico da produção científica em


Educação Física na Região Centro-Oeste do Brasil. Tese (Doutorado em Educação e
Ciências Humanas) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos,
SP, 2012.

SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas, SP: Autores


Associados, 2011.

730
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DESAFIOS DA ALFABETIZAÇÃO NO ENSINO


REMOTO NO CONTEXTO DA PANDEMIA
COVID-19
Melka Carolina Faria Catelan1
Carla Priscila Trombone Garcia2
Emanoéli Cristina Sanches Marques3
Elimeire Alves de Oliveira4

RESUMO: Em 2020, o mundo inteiro se deparou com um vírus mortal o Covid-19, que trouxe
consigo uma grande propagação de contágio, gerando caos em toda a população. No Brasil, para
conter a disseminação desse vírus, medidas preventivas foram tomadas por governos Estaduais
e Municipais, sendo uma delas fechamento das escolas. Assim para que alunos não tivessem seu
aprendizado interrompido, professores e alunos tiveram que aprender a navegar e se adaptar ao
Ensino Remoto. Desta forma o presente estudo teve como objetivo investigar e compreender
quais foram esses desafios que alunos e professores da alfabetização enfrentaram, quais
caminhos foram percorridos para driblar essa nova maneira de se ensinar e aprender. Para tanto,

1 Licenciada em Matemática (UNESP). Licenciada em Pedagogia ( CESC) Mestre em Matemática (UNESP);


Docente e Coordenadora dos Estágios da Faculdade FUTURA- GRUPO EDUCACIONAL FAVENI. Professora da
Rede Pública do Estado de São Paulo.
2 Licenciada em Pedagogia pela Faculdade FUTURA- GRUPO EDUCACIONAL FAVENI
3 Licenciada em Pedagogia pela Faculdade FUTURA- GRUPO EDUCACIONAL FAVENI, Professora da Rede

Municipal de Paulo de Faria- SP


4Professora e Coordenadora do Curso de Pedagogia na Faculdade FUTURA- GRUPO EDUCACIONAL FAVENI.

Graduada em Direito (UNIFEV). Graduada em Pedagogia (Faculdade de Antônio Augusto Reis Neves). Graduada
em Letras (UNIFEV) Especialista em Gestão Escolar (UNICAMP). Mestre em Ensino e Processos Formativos
(UNESP).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a mesma pautou-se em pesquisa bibliográfica e também uma pesquisa de campo numa rede
municipal do noroeste paulista.

Palavras-Chave: Alfabetização; Letramento.; Ensino Remoto; Pandemia Covid19.

LITERACY CHALLENGES IN REMOTE EDUCATION IN THE CONTEXT OF


THE COVID-19 PANDEMIC
ABSTRACT: In 2020, the whole world was faced with a deadly virus the Covid-19, which brought
with it a great spread of contagion, causing chaos in the entire population. In Brazil, to contain
the spread of this virus, preventive measures were taken by State and Municipal governments,
one of them being the closing of schools. So that students did not have their learning interrupted,
teachers and students had to learn to navigate and adapt to Remote Learning. In this way, the
present study aimed to investigate and understand what these challenges were that students and
literacy teachers faced, what paths were taken to circumvent this new way of teaching and
learning. Therefore, it was based on bibliographic research and also a field research in a municipal
network in the northwest of São Paulo.

Keywords: Literacy; Literacy; Emergency Remote Education; Pandemic.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO para regulamentar a educação nesse período,


de modo a garantir o direito de aprendizado de
Em dezembro de 2019, foram identificados todos os alunos, conforme o disposto na
em Wuhan, uma província de Hubei, na China, Constituição Federal de 1988, que reza em seu
os primeiros casos de uma pneumonia com artigo 205, “A educação, direito de todos e
causas até então desconhecidas, inicialmente dever do Estado e da família, será promovida e
chamada 2019-nCoV, pela Organização incentivada com a colaboração da sociedade
Mundial da Saúde (OMS) e que posteriormente [...]” (BRASIL, 1988).
recebeu a sigla inglesa SARS-CoV-2 (Severe Para o cumprimento desta garantia
Acute Respiratory Syndrome Coronavírus) constitucional, o Conselho Nacional de
(Ministério da Saúde, 2020). Educação - CNE, em abril de 2020, editou a
Essa doença se disseminou rapidamente Medida Provisória nº 934, na qual instituiu
pela China e em seguida se alastrou para vários normas que abrangeram todos os níveis da
países do mundo e em 11 de março do mesmo Educação Básica e da Educação Superior,
ano teve seu status elevado para pandemia e, autorizando os sistemas de ensino a utilizar
segundo o Relatório Situacional do Ministério meios digitais para a realização de atividades
da Saúde, do Centro de Operações de não presenciais, para o cumprimento dos dias
Emergências em Saúde Pública Doença pelo letivos e para preservar ao máximo a
Coronavírus 2019 (COE-COVID19), no dia 02 de aprendizagem dos alunos, diante de um
abril de 2020 o Brasil já se destacava como o cenário inusitado.
terceiro país das Américas, com o maior Muitos vivenciaram esse momento de
número de casos e de óbitos, sendo o estado suspensão das aulas presenciais, que foram
de São Paulo o epicentro da doença. substituídas pelas aulas remotas, ofertadas de
Por conta desta situação pandêmica, várias formas, utilizando-se de plataformas
diversas medidas restritivas tiveram que ser digitais, de canais televisivos, envio de tarefas
tomadas para conter o avanço da doença, aos alunos, dentre outras possíveis, de modo a
sobretudo no âmbito educacional. Conforme evitar o contato físico entre alunos e
levantamento da UNESCO (2020), em cerca de professores. A mudança foi drástica, num dia
190 países mais de 160 milhões de crianças e os professores conviviam e ensinavam numa
adolescentes foram impedidas de frequentar sala cheia de alunos, e em outro havia apenas
as escolas. Assim, muitas escolas brasileiras uma tela com o desafio de ensinar e aprender
também fecharam suas portas, visando à num novo modelo de ensino, organizado de
proteção dos alunos e de suas famílias, diferentes maneiras, tendo o amparo no Art.
configurando uma mudança repentina no 23, da Lei de Diretrizes e Base da Educação
processo educacional, onde instituições de Nacional (LDB) de nº 9394/96, quando dispõe
ensino, professores, pais e alunos tiveram que que a educação básica pode ser organizada e
se adaptar a esse novo cenário desafiador. diversas formas, “[...] sempre que o interesse
Diante dessa situação, o Conselho Nacional do processo de aprendizagem assim o
de Educação (CNE) teve que emitir normas recomendar (BRASIL, 1996).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No caso, o sistema educacional brasileiro se evidenciar e entender os desafios da


organizou de diversas formas, numa amplitude alfabetização no ensino remoto, investigar
antes não vista, e uma dessas formas foi o quais foram os maiores desafios que os
ensino remoto, que embora já existisse, não professores, alunos e família encontraram,
era adotado como modelo de ensino em nível quais formas foram buscadas para superá-los.
nacional na educação básica. Este estudo se trata-se de uma pesquisa
Diante de tantas mudanças repentinas, o exploratória, bibliográfica e de campo. A
processo ensino aprendizagem precisou passar pesquisa bibliográfica será realizada pelo
pelas adaptações do ensino remoto, em levantamento e leitura de livros, de
particular a alfabetização, que por si só já é um documentos de legislação, além de artigos
grande desafio no ensino presencial, obtidos nos sites acadêmicos Google
Professores tiveram que encontrar novas Acadêmico e Scielo, nos quais foram feitas a
maneiras de alfabetizar, mas nem todos alunos busca por materiais científicos, com os
possuíam os meios necessários para o ensino descritores “alfabetização”, “ensino remoto” e
remoto, o que evidenciou ainda mais a extensa pandemia Covid19, sendo selecionados para
desigualdade social, principalmente no que referenciar o presente estudo aqueles que
tange ao acesso às tecnologias utilizadas nas respondiam os objetivos propostos.
aulas e nas atividades propostas aos alunos.
O fato é que em 2020, o processo de se DESENVOLVIMENTO
alfabetizar se tornou muito mais complexo,
1.1. Alfabetização
pois, como já dizia Antônio Nóvoa (2013),
Alfabetizar é um processo de aprendizagem
“nada substitui um bom professor”. Esta frase
que exige atenção, pois é nela que o aluno vai
de tornou marcante, pois este período mostrou
desenvolver as habilidades de leitura, escrita e
para a sociedade, sobretudos aos pais e alunos,
interpretação de textos e é por meio dela que
o quanto um bom professor é essencial na
utilizará essas habilidades para interagir no
educação da criança.
meio em que está inserida, pois segundo
Se, para muitos a alfabetização já era um
Teixeira (1956, p 23), “ler, escrever, contar e
desafio a ser enfrentado, com o ensino remoto
desenhar serão, por certo, técnicas a ser
isso se tornou mais perceptível. Portanto, este
ensinadas, mas como técnicas sociais, no seu
trabalho tem como justificativa fazer uma
contexto real, como habilidades, sem as quais
reflexão a respeito do processo de
não se pode hoje viver. [...]”.
alfabetização no contexto pandêmico, tendo o
No processo alfabetização e letramento
objetivo geral pesquisa de investigar os
inicialmente as crianças visualizam as letras
desafios dos processos de alfabetização
apenas como figuras, e posteriormente
enfrentados pelos professores neste período,
conseguem diferenciar essas figuras como
e, para tanto, os objetivos específicos são:
letras e nomeando-as.
compreender a importância dos processos de
As crianças representam mentalmente as
alfabetização para o desenvolvimento de
letras e números na escrita como objetos com
crianças no Ensino Fundamental Anos Iniciais;
certas características visuais, e não como

734
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

símbolos que substituem significados. Essas eficaz da língua escrita, nas práticas sociais de
representações como objetos são suficientes leitura e da escrita.
para a produção e o reconhecimento de letras Assim, a autora demonstra que a
e números na escrita. Elas permitem à criança alfabetização e o letramento devem ser
até mesmo reconhecer algumas palavras que processos síncronos, interligados e
são “lidas”, e recordar informação numérica correlativos, sempre sendo um dependente do
familiar, como sua idade. Nesta etapa de outro no processo de conhecimento da criança
representação [de letras e números], as na fase de alfabetização, pois alfabetizar
notações têm significado nelas mesmas, como letrando, ou se letrar alfabetizando é um dos
objetos, e não em termos daquilo que caminhos para transcender algumas das
significam (BIALYSTOK, apud, SOARES, 2021, p. dificuldades enfrentadas na etapa inicial da
211). escolarização.
Com isso, a criança aos poucos vai Segundo Ferreiro e Teberosky (1985, p. 213),
decifrando e distinguindo as representações o letramento só estará completo quando a
das letras e dos números, dando significado criança "compreendeu que cada um dos
para esses símbolos, descobrindo assim o caracteres da escrita corresponde a valores
código alfabético. Inicialmente, é importante sonoros menores que a sílaba, e realiza
que o aluno saiba diferenciar as formas de sistematicamente uma análise sonora dos
escrita, distinguindo-as das formas gráficas, fonemas das palavras que vai escrever”.
que tenha a percepção dos padrões, tais como, Para Soares (2021, p. 64), uma alfabetização
começa-se a escrever da esquerda para direita, bem-sucedida não depende exclusivamente de
e cima para baixo, e, posteriormente aprender único método, mas que esta deve ser
a escrever seu próprio nome e nomes daqueles construída por aqueles que compreendem os
que a rodeiam, a memorização e identificação processos cognitivos e linguísticos da
das letras do alfabeto. alfabetização e baseando-se nas atividades que
Soares (2020, p.68), explica que a estimulam e orientam a aprendizagem da
alfabetização e o letramento contêm muitas criança, que consigam identificar e interpretar
facetas, e que quando ignorada uma e quais as dificuldades que elas possuem, para
priorizada a outra, faz-se um descaminho no fazer uma intervenção adequada.
ensino e na aprendizagem da língua escrita, [...] aprender o sistema de escrita é apenas
mesmo na sua etapa inicial. Para que o um fio na teia de conhecimentos pragmáticos e
processo de ensino e aprendizagem tenha gramaticais que as crianças precisam dominar
êxito é necessário que a prática docente adote a fim de tornarem-se competentes no uso da
o uso de várias metodologias, compreendendo língua escrita, mas é uma aprendizagem
o processo da alfabetização como uma imperativa, e promove as outras (TOLCHINSKY,
articulação na aquisição do sistema da escrita, apud, SOARES, 2021, p. 334).
sendo um processo claro, coerente e metódico; Soares (2003, p.38 ), nos mostra quão
já o processo de letramento é assimilado com importante são os processos de alfabetizar e
o desenvolvimento das capacidades em um uso letrar na vida da criança, pois “fazer o uso da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

leitura e da escrita transformam o indivíduo, reduzindo-a somente a um par de olhos, um


levam o indivíduo a um outro estado ou par de ouvido, a mãos que pegam o lápis para
condição sob vários aspectos: social, cultural, escrever, a um ser que emite sons, atrás disso
cognitivo, linguístico, entre outros.”. Mas, com está um ser que pensa, que constrói suas
as escolas fechadas, o aluno ficou muito próprias interpretações, assim entende-se que
limitado a vários desses aspectos, ensejando cada criança aprende da sua maneira em seu
aos professores a necessidade de encontrar próprio tempo, e cabe ao professor usar
novos meios para ajudar o aluno a buscar seu métodos que auxiliem a criança no seu
próprio conhecimento. processo de alfabetização e letramento.
Cabe ressaltar que:
1.2. Desafios da Alfabetização [...]os processos de ensinar e de aprender a
Alfabetização é uma etapa de desafios e leitura e a escrita na fase inicial de
descobertas para a criança. Para Ferreiro escolarização de crianças se apresentam como
(2011) escrever não significa simplesmente um momento de passagem para um mundo
converter o que se ouve em formas gráficas e novo [...]o mundo público da cultura letrada,
ler não é o mesmo que reproduzir pela boca o que instaura novas formas de relação dos
que se é visualizado. sujeitos entre si, com a natureza, com a história
Também Rojo (2016), explicita que, e com o próprio Estado; um mundo novo que
[...] aprender a escrever, alfabetizar-se, é instaura, enfim, novos modos e conteúdos de
mais do que aprender a grafar sons; ou mesmo pensar, sentir, querer e agir, (MORTATTI, 2006,
mais do que aprender a simbolizar p.3)
graficamente um universo sonoro já por si Magda (1999), nos explica que não é
mesmo simbólico. Aqui, aprender a escrever é somente ensinar a ler e escrever, é incorporar
aprender novos modos do discurso (gêneros); a leitura e escrita nas práticas sociais, e não
novos modos de se relacionar com somente envolver as crianças nessas práticas,
interlocutores, muitas vezes virtuais; novos mas também os adultos, mas para que isso
modos de se relacionar com temas e aconteça é necessário dar condições para o uso
significados; novos motivos para comunicar em do letramento, que significa que tem que haver
novas situações. Aprender a escrever é, aqui uma oportunidade verdadeira e concreta em
sim, construir uma nova inserção cultural escolarizar a população, pois as condições
(ROJO, apud, SFORNI, 2016, p.7). sociais, culturais e econômicas interferem
Os desafios da alfabetização e letramento nesse processo.
são muitos. Não é tão fácil como se parece. Não Assim, a importância de o aluno estar em um
é simplesmente ensinar as letras e seus espaço em que se tenha acesso ao mundo
respectivos sons, juntá-las até que se decifre o letrado, quando ele não vivencia isso no seu dia
código alfabético. Alfabetizar e letrar são a dia, acaba se tornando mais difícil seu
processos complexos e exigentes para o aluno. processo de alfabetização e letramento, sendo
Para Ferreiro (2011), às vezes, tem-se uma de suma relevância entender e proporcionar
ideia errada de como a criança aprende, diversas possibilidades para que ele consiga

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

descobrir esse mundo, pois é por meio de livros envolvida no momento em que está
e revistas que se consegue explorar a acontecendo a alfabetização, mais condições
alfabetização/letramento. Oferecer esse terá o professor de encaminhar de forma
contato é abrir várias portas de um universo produtiva o processo de aprendizagem
em que ele estará se inserindo e vivenciando a (BLANCO, et al, apud, CAGLIARI, 1998, p. 89).
escrita e leitura nas suas práticas sociais, A criança chega na escola, trazendo sua
estimulando sua criatividade e imaginação e bagagem de conhecimento, que são adquiridos
permitindo que ele revele suas capacidades por meio dos estímulos recebidos em seus
cognitivas e intelectuais, amplie seu ambientes e espaços de aprendizagens, como
vocabulário, melhore sua escrita e desenvolva os familiares, os sociais e na sala de aula surge
seu senso crítico. Desta forma, ao proporcionar o contato com o professor, que tem um
ao aluno esse acesso, se torna mais fácil importante papel, sendo ele um mediador do
enfrentar os desafios da alfabetização e do conhecimento, para ajuda-lo o aluno na
letramento. construção e desenvolvimento do seu próprio
conhecimento, incorporando informações e
1.3. Desafios dos Professores explicações propícias para auxiliá-lo no
Alfabetizadores caminho de aprendizagem.
O papel do professor, segundo Silva (2021), Ao introduzir aos alunos atividades e
é ajudar o aluno a se tornar um cidadão trabalhos que os ajudem nessa tarefa, que não
completo, pois todos passarão pela educação sejam somente conteúdos programados, mas
básica, e é nela que o aluno será também trabalhos e atividades que surjam por
alfabetizado/letrado, cabendo ao professor a iniciativa dos próprios alunos, o professor
tarefa do professor de ser o mediador do conseguirá verificar onde o aluno está com
conhecimento, criando um ambiente e dificuldade, e, a partir daí iniciar a tarefa de
situações que despertem a curiosidade do professor mediador, na qual ele poderá auxiliar
aluno, incitando-o a crescer. seu aluno a avançar em seus conhecimentos e
Entende-se que a tarefa do professor estudos, alfabetizando e letrando, além de
alfabetizador deve ser a de analisar, avaliar a contribuir na sua formação de cidadão
necessidade de sua turma ou de um aluno em consciente, crítico e democrático.
especial, e verificar quais métodos ou unidades Kramer (1986, p. 249), afirma que nas
são apropriados para conseguir atingir o práticas das escolas e das salas de aula, o
objetivo final, que é alfabetizar e letrar seu professor alfabetizador se depara com diversos
aluno. desafios e dilemas, mas a maior dificuldade não
[...] quanto mais ciente estiver o professor está entre escolher entre os dois pólos de uma
de como se dá o processo de aquisição de dicotomia e, sim em ter que dar conta dos dois
conhecimento, de como uma criança se situa (conteúdo e método, produto e processo,
em termos de desenvolvimento emocional, de fatores de várias naturezas) pois eles
como vem desenvolvendo a sua interação envolvem-se de formas relacionados no ato
social, da natureza da realidade linguística pedagógico.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Muitas vezes, o professor precisa se Para se entender sobre o Ensino Remoto,


desdobrar para dar conta de atender as Coscarelli, et al (2020), nos explica a
diferentes necessidades dos alunos, além de diferenciação entre o Ensino a Distância (EaD) -
todo o processo burocrático escolar. Desta e Ensino Remoto Emergencial (ERE). O ensino
forma, pode-se afirmar que alfabetizar EaD são cursos planejados, em um Ambiente
equivale à uma maratona e não apenas a uma Virtual de Aprendizagem (AVA), com previsão
corrida de 100 metros rasos, pois exige esforço, te tempo, professores preparados e
fôlego e paciência para cruzar a linha de capacitados para lidar com a demanda do curso
chegada, mesmo com todas as barreiras e em questão, planejamento onde e quando
empecilhos que encontram no caminho, o acontecerá as aulas síncronas e assíncronas. Já
aluno sempre deve ser a prioridade, e cabe ao o ERE ocorreu numa situação inusitada, não
professor ter que criar ambiente e condições planejada, em que, em decorrência da
para garantir o seu aprendizado, enfrentando pandemia de Covid-19, as aulas presenciais
todos esses desafios e dificuldades. precisaram ser suspensas, criando-se assim
Segundo Santos et al (2016), alfabetizar, é novas formas de para se comunicar com os
um processo que vai além de simplesmente alunos.
codificar e decodificar o código alfabético, e Algumas escolas e comunidades, no Brasil,
que cabe ao professor alfabetizador identificar puderem contar com a ajuda de computadores
o momento correto de agir e fazer para dar continuidade ao ensino. Segundo
intervenções pontuais e necessárias, para que pesquisa realizada pelo Núcleo de Informação
o aluno progrida no seu aprendizado, e, sem e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). (2021),
essa conexão direta com o professor na sala de para superar esses desafios, das escolas que
aula, o processo se tornou mais complexo e foram entrevistadas 91% afirmaram que
desafiador. utilizaram grupos no Facebook e WhatsApp
como formas de comunicação com pais e
1.4. Desafios da Alfabetização no Ensino alunos. Quanto às aulas síncrona, foi levantado
Remoto nessa mesma pesquisa, que 58% delas se
O ensino a distância é conhecido de longa valeram de plataformas para videoconferência,
data. Alves (2011), pontua que as primeiras 79% de aulas gravadas e 93% mandaram
experiências com esse tipo de ensino foram materiais impressos de apoio os estudantes.
registradas em 1923 com ensino por No entanto, conforme dados da UNICEF,
correspondência. Ou seja, há muito os com a opção das aulas on-line, muitas crianças
professores já utilizam o ensino a distância. e jovens não tiveram aulas por falta de acesso
Mas, diferentemente desse tipo de ensino, à internet, pois dentre os estados brasileiros
atualmente o ensino remoto foi transformado que utilizaram o ensino remoto, somente 15%
num meio importante na interação com o ofereceram dispositivos aos alunos, e menos
aluno, por vezes de forma síncrona e por de 10% financiaram o acesso à internet. “Como
algumas outras vezes de forma assíncrona. consequência, 3,7 milhões de estudantes
matriculados não tiveram acesso a atividades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escolares e não conseguiram estudar em casa.” Os pais e responsáveis dos alunos há


(INSTITUTO ALICERCE, 2022). tempos estão se conscientizando do seu
Desta forma, verifica-se que o ensino importante papel no processo de
remoto trouxe prejuízos ao processo de aprendizagem do aluno, mas os mesmos antes
aprendizagem, visto ser um evento inesperado, eram como que coadjuvantes numa peça
justamente no início de ano letivo em que principal e com o ensino remoto tiveram que
todas as atividades haviam sido planejadas assumir um papel mais protagonista nesse
para acontecerem presencialmente, sem processo.
tempo para idealizar a contento novas ações O espaço que os pais identificam como
junto aos alunos, pais e responsáveis, os quais contribuidor da família para o sucesso na
se prepararam para enviar seus filhos para alfabetização, seu engajamento e sua
escola; no entanto os alunos foram obrigados responsabilidade nesse processo determinarão
a estudar em suas casas, onde muitas famílias em grande parte suas condutas no cotidiano
não tinham estrutura nem física e nem com os filhos, permitindo a esses adultos a
pedagógica para assimilar essa modalidade de identificação de situações promissoras para a
ensino, da forma que veio a ocorrer. aprendizagem da leitura e da escrita da criança
Segundo Macedo (2021), durante a (DI NUCCI, 1997).
pandemia a educação no Brasil mostrou, mais Assim, com a ajuda dos professores,
do que nunca, ser um privilégio ter direito à pais/responsáveis aprenderam a auxiliar os
educação, e coube aos professores e pais alunos a navegarem por esse processo do
encontrarem soluções criativas para conseguir ensino remoto, sendo o suporte essencial para
manter a conexão com o aluno que não tinha que eles obtivessem sucesso em sua
acesso aos equipamentos digitais e à internet. aprendizagem.
Desta forma, o apoio familiar foi uma
ferramenta de extrema necessidade para 2 PROCEDIMENTOS
auxílio do aluno nesse processo, como Collello
(2021, p.7), expõe: METODOLÓGICOS
Se a necessidade de apoio familiar no ensino O método utilizado na presente pesquisa,
remoto parece óbvia, a constituição dessa quanto aos procedimentos técnicos utilizados,
postura é muito mais complexa do que se pode trata-se de uma combinação de duas
imaginar, razão pela qual muitos pais ficaram abordagens, a qualitativa e a quantitativa. A
desorientados. Alguns ajudam quando podem, pesquisa qualitativa foi elaborada a partir de
por vezes, delegando a tarefa a irmãos mais fonte bibliográfica, pelo levantamento de
velhos. Outros tentam assumir o papel de artigos e materiais científicos já produzidos e
professor, o que justifica, em muitos casos, que estão disponibilizados em livros e na
sentimento de culpa pelas limitações internet, no site Google Acadêmico com a
metodológicas e pedagógicas, reconhecidas busca dos descritores Alfabetização e
até mesmo pelas crianças [...] Letramento; Ensino Remoto Emergencial; e
Pandemia. Já, a pesquisa quantitativa foi

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

realizada por meio de uma pesquisa de campo 3 RESULTADOS


realizada em toda Rede Municipal de Ensino
Fundamental Anos Iniciais num município do
3.1 Questões para os pais ou responsáveis:
noroeste paulista. Gráfico 01 – Em sua residência há conexão de
Devido, ao período de pandemia do vírus internet?
Covid-19, o presente estudo adaptou-se aos
protocolos de distanciamento social exigidos
pelo Governo Estadual e Municipal, utilizando-
se sempre dos protocolos exigidos e
recomendado pela– Organização Mundial de
Saúde (OMS), garantindo dessa maneira a
preservação da saúde de todos os envolvidos
nesse estudo. Assim, com o auxílio da gestão e Fonte: Autores: 2021
um Termo de Consentimento Esclarecido, foi Como se pode verificar, a maioria dos pais
utilizada a ferramenta do Google Forms para possuíam internet com wi-fi. Se somados os
envio das questões disponibilizadas para os 66,2 que responderam que possuem a rede
professores e familiares dos alunos, móvel e mais os que utilizam o wi-fi do celular
possibilitando, assim, a tabulação dos dados, (29,6%), 95,8% dos respondentes tem acesso à
com a demonstração de resultados, por meio internet, sendo que apenas 3,8% dos
de gráficos. entrevistados afirmaram que não possuíam
A pesquisa de campo foi realizada em dois nenhum tipo de acesso à internet.
questionários, um para os professores e outro Gráfico 02- Em sua opinião, como pai/responsável
direcionado aos familiares dos alunos. Cada do aluno, como está sendo o processo do ensino
questionário possuía quatro questões, remoto?
envolvendo o tema do presente estudo, com o
intuito de entender, compreender, avaliar, e
evidenciar quais foram os desafios e
dificuldades que eles tiverem frente ao cenário
do ensino remoto.
Ao todo, 825 pais/responsáveis dos alunos
e 38 professores, do 1º ao 3º Ano do Ensino
Fundamental Anos Iniciais, responderam a Fonte: Autores: 2021
pesquisa, a seguir apresentada. Foi possível observar que a maior parte
(37,2%) dos pais/responsáveis acreditam que o
ensino remoto foi bom em contraposição aos
34,9% que acreditam ter sido regular. Dos
entrevistados, 10,8%, consideraram ótimo,
10,7% ruim e 6,4 afirmaram que não houve
nenhum aproveitamento.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo extrai-se do gráfico, houve um procuraram ajuda e 71,9% disseram que


porcentual grande de alunos que conseguiram obtiveram a ajuda necessária para
acessar as atividades propostas no ensino esclarecimentos de suas dúvidas; 13,9%
remoto utilizando computador, notebook, afirmaram que não tiveram dúvidas; 12% que
tablets, smartphone ou televisão; não podendo não buscou ajuda e ainda houve 2,1% que
desconsiderar os alunos que não tiveram responderam que não conseguiram ajuda.
nenhum tipo de aparelho para interagir com os Pesquisa para Professores Alfabetizadores.
Gráfico 05 –Você professor recebeu alguma
professores(1,3%) e os que realizaram apenas preparação para trabalhar com o ensino remoto?
as atividades impressas pela instituição
escolar, que foi de 16,5%, porcentagem alta se
considerar que é bem maior da levantada a
respeito dos que possuem a tecnologia para
acessar remotamente as atividades.

Gráfico 04– Você, pai/responsável do aluno,


procurou o professor em algum momento para
esclarecer dúvidas no decorrer das atividades? Fonte: Autores: 2021

Conforme extar-se das respostas, verifica-se


que 55,3% dos professores, receberam
preparação suficiente para trabalharem com o
Ensino Remoto; 34,2% afirmou que essa
formação foi insuficiente e ainda houve 10,5%
que responderam que não tiveram nenhuma
preparação.
Conforme os respondentes,
pais/responsáveis, quando tiveram
dificuldades sobre as tarefas passadas,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo apurado com o corpo docente, que afirmaram não ter tido aproveitamento
44%7 respondeu que as maiores dificuldades nenhum.
encontradas entre os alunos foi que eles não Gráfico 8- Você professor fez alguma
possíam aparelhos para o acesso à internet; e sondagem para avaliar o nível de aprendizado
na mesma proporção (44,7%) respondeu que dos alunos, durante o ensino remoto?
não possui acesso à rede de internet. Ainda
houve um porcentual muito grande que
apontou a falta de tempo dos pais/
responsáveis para auxiliar os alunos em suas
atividades;73,7% da falta de paciência dos pais
e também da falta de estudos destes para
prestar auxilio nas atividades propostas.
Gráfico 07- Em sua opinião como está sendo
Ensino Remoto para os alunos da Alfabetização? E mesmo diante das adversidades, 44,7%
dos professores responderam que fizeram a
sondagem e que acreditam que pelo menos
50% dos alunos estavam sendo alfabetizados;
seguidos de 26,3% dos professores que
afirmaram que conseguiram realizar diversas
sondagens com seus alunos, tendo a percepção
de que a maioria estava sendo alfabetizada. Já
Como se pode verificar nos resultados
21,1% responderam que fizeram sondagens
acima, os desafios de se alfabetizar foram
para avaliar se os mesmos estavam sendo
enfrentados de forma razoável, já que 84,2%
alfabetizados e que perceberam que seus
acreditam o ensino remoto teve-se um
alunos não estavam sendo alfabetizados; e
aproveitamento razoável e ,13.2%
7,9% dos professores não conseguiram realizar
consideraram ótimo, em contraposição a 2.2%

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

qualquer tipo de sondagem, devido ao ensino ensinar remotamente, praticamente na


remoto. mesma proporção os demais afirmaram que
não se estavam suficientemente preparados
4 DISCUSSÕES ou que não haviam recebido nenhuma
preparação. Aliada a essa dificuldade, os
Conforme análise das repostas dos pais e ou
docentes apontaram como maiores
responsáveis entrevistados, verificou-se que o
dificuldades a falta de acesso à internet, a falta
ensino remoto, embora implantado às pressas
de tempo, a falta de paciência e falta de
para cumprir uma exigência legal e a
conhecimento dos pais para auxiliar seus
necessidade dos alunos, foi considerado
alunos nas atividades. Ainda assim, a grande
positivo, o que denota a correlação entre o
maioria dos entrevistados entendeu como
número de famílias que têm acesso à
razoável o ensino remoto ofertado na
equipamentos e à internet. Também as
pandemia.
respostas deixaram claro que, mesmo aqueles
que não acessaram as aulas, por não possuir
equipamentos como fazê-lo ou até mesmo por
opção, tiveram acesso às atividades impressas.
Além disso, a grande maioria desses pais ou
responsáveis afirmaram que tiveram o apoio
necessário para esclarecer as dúvidas surgidas,
o demonstra como o engajamento familiar no
processo de aprendizagem dos alunos
contribui para situações promissoras na
alfabetização, conforme apontado por Nucci
(1997), corroborando a percepção positiva dos
envolvidos em relação a essa modalidade de
ensino.
Ressalte-se que essa percepção está
relacionada sobre o processo em que se deram
as aulas, pois os resultados dessas ações
demandam, ainda, um estudo mais apurado ao
longo dos próximos anos.
Além disso, é importante considerar que
muitas famílias, diante do medo do retorno à
escola por conta do risco de contágio,
preferiram manter o ensino remoto, conforme
pesquisas veiculadas (CAFARDO, 2020)
Em relação aos docentes, houve um
dissenso quanto ao preparo, pois enquanto
50% responderam que se encontravam aptos a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que alfabetizar é realmente trabalho árduo, que envolve muitas facetas,
requer a participação e engajamento entre o professor e o aluno, porém com o início de uma
pandemia ensejou proporções gigantescas, onde foi implementando o ensino remoto, como uma
modalidade nova de ensino e aprendizagem para a maioria dos professores, pais/responsáveis,
com um único objetivo, garantir ao aluno seu direito de aprender.
Mesmo com todas as dificuldades e empecilhos dessa nova modalidade de ensino,
segundo a presente pesquisa, os professores conseguiram manter um bom nível de interação
com os alunos, onde foram percebidos alguns resultados por meio de sondagens, que
demonstraram que, mesmo que os alunos não estavam sendo alfabetizados no mesmo ritmo que
o ensino presencial, estavam aprendendo.
Embora em meio a tantas dificuldades, o que se conclui é que, seja de forma remota ou
presencial, a educação não pode nunca parar, pois os prejuízos para as crianças podem ser tornar
irrecuperáveis, principalmente no processo de alfabetização, tendo em vista que a escrita,
conforme Ferreiro, faz parte da existência humana, social e cultural, cabendo aos educadores
fazer sua parte nesse processo, para torná-los o mais indolor possível para seus alunos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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2021.

747
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM
LEITURA E ESCRITA
Claudia Silva Nascimento Mancini1

RESUMO: O artigo aborda o tema Dificuldades de Aprendizagem. Assim, por meio de estudo
introdutório buscou-se compreender as dificuldades de aprendizagem que envolve os alunos e
como as práticas pedagógicas acontecem na escola. Dessa forma, apresenta-se reflexões de
pesquisadores, diferentes perspectivas, discussões das questões relacionadas a aprendizagem e
a não aprendizagem, concepções de aprendizagem do fazer pedagógico e caminhos para o
desenvolvimento do estudante.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Saber; Inclusão-exclusão; Dificuldades de aprendizagem.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo; Professora de Ensino Fundamental na Rede
Municipal de Diadema.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes visuais; Especialização em Psicopedagoga;
Especialização em Psicomotricidade; Especialização em Musicalização.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LEARNING DIFFICULTIES IN READING AND WRITING


ABSTRACT: The article addresses the topic of Learning Disabilities. Thus, through an introductory
study, we sought to understand the learning difficulties that involve students and how
pedagogical practices take place at school. In this way, reflections by researchers, different
perspectives, discussions of issues related to learning and non-learning, learning conceptions of
pedagogical practice and paths for student development are presented.

Keywords: Learning; Know; Inclusion-Exclusion; Learning difficulties.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO educação de qualidade, percebe-se que nossos


objetivos estão longe de serem alcançados.
O objetivo dessa pesquisa é compreender Com isso, percebe-se também que mesmo
por que tantos alunos têm dificuldades de os alunos considerados alfabetizados, tem
aprendizagem em escrita e leitura, e entender dificuldade em compreender o que lê e com
as suas diferentes causas o que acaba levando- isso o papel social da escrita acaba não sendo
os a baixa autoestima. Pretende-se ainda compreendido, prejudicando assim a formação
abordar a questão do desenvolvimento e do indivíduo enquanto cidadão detentor de
também um pouco da história dos métodos de seus direitos.
aprendizagem da escrita e da leitura no Diante desta situação chaga-se a conclusão
decorrer dos tempos. Para a realização da de que somente as formações iniciais do
pesquisa foram utilizados os conhecimentos de magistério e da pedagogia não darão conta da
alguns teóricos da educação os quais diversidade de alunos presente nas escolas,
possibilitaram um novo olhar frente ao salas lotadas, alunos com problemas diversos e
processo de elaboração do conhecimento da com níveis de conhecimentos diferentes,
escrita e da leitura e também o importante culturas diferentes, entre outros trazendo
papel que a escrita e leitura exerce na vida do assim muitos desafios para o professor.
cidadão. Acredita-se que há a necessidade de uma
Foram utilizados também os conhecimentos reformulação na formação inicial, para que seja
da Psicopedagogia, pois, ao ter como proposta proporcionada ao docente uma visão mais
compreender o indivíduo nos seus diversos ampla do futuro e da realidade do
aspectos como o social, emocional, cognitivo e ensino/aprendizagem, pois a sociedade passa
cultural se faz muito importante nesta pesquisa por constantes mudanças e os interesses e
uma vez que a mesma se propõe a estudar a necessidades do cidadão também acaba se
aprendizagem e a não aprendizagem e suas modificando e a escola deve estar preparada
possíveis causas a fim de melhorar o para esses novos anseios e objetivos.
desenvolvimento do sujeito acometido por Sendo assim, fomos buscar um novo
essas dificuldades. caminho na formação continuada, e por meio
Sou professora da rede municipal de ensino da mesma buscar novos conhecimentos que
e durante minha trajetória na educação, por possa nos possibilitar um trabalho mais
muitas vezes nos deparamos com uma prazeroso e eficiente frente à diversidade
aprendizagem deficitária, em que os alunos apresentada na sala de aula, e para com isso
apresentam-se desinteressados e podermos proporcionar aos alunos um ensino
desmotivados. de qualidade. Durante o curso muitas
Esta pesquisa procura buscar resposta para duvidadas foram levantadas, e o interesse por
essa realidade presente nas escolas e que situações que muitas vezes passavam
sempre nos incomoda, pois por mais que despercebidas vieram à tona. O curso trouxe
busquemos trabalhar as novas práticas e também a possibilidade de um maior
buscar formações para dar aos alunos uma entendimento de como os alunos aprendem e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dos fatores que podem dificultar essa que seja oportunizado a eles demonstrar suas
aprendizagem, da importância do professor no potencialidades, pois, a escola muitas vezes
processo de ensino/aprendizagem do aluno e tem valorizado apenas o conhecimento verbal
na formação do cidadão bem como a e matemático, deixando ouros conhecimentos
importância da aprendizagem significativa na importantes para a sociedade de lado.
formação social do indivíduo. Uma pessoa acuada, jamais demonstrará
Como já foi mencionada anteriormente, a suas potencialidades, sendo assim tornar o
psicopedagogia ao ter como proposta ambiente escolar acolhedor, aceitar a criança
conhecer o indivíduo em seus diversos com suas diferenças, e oferecer meios para que
aspectos e buscar conhecer as possíveis causas a mesma se desenvolva é uma garantia de que
das dificuldades de aprendizagem faz-se muito o trabalho na sala de aula dará certo.
importante nesta pesquisa, a fim de nos Portanto, diversificar as situações de
possibilitar um olhar à frente dos processos de aprendizagem e adaptá-las as especificidades
aquisição do conhecimento. dos alunos é tentar responder ao problema da
A Constituição brasileira assegura a todos os heterogeneidade das aprendizagens, muitas
cidadãos uma educação de qualidade, mas o vezes chamadas de dificuldades de
que se percebe é que um grande número de aprendizagem.
pessoas apenas decodificam palavras. A escola Segundo Antunes (2008, p. 32):
muitas vezes não leva em consideração as Aprender é um processo que se inicia a partir
experiências dos alunos e suas possibilidades do confronto entre a realidade objetiva e os
de mundo, buscando assim uma produção em diferentes significados que cada pessoa
série que apenas evidencia a diferença entre as constrói acerca dessa realidade, considerando
crianças, porém acredita-se que a as experiências individuais e as regras sociais
problemática que envolve as dificuldades de existentes.
aprendizagem estão para além da escola, A aprendizagem não é referente somente a
envolvendo também a família que é uma conteúdos, mas o respeito ao próximo, a
estrutura essencial na vida da criança, pois, sua compreensão, o trabalho em grupo, o convívio
aprendizagem é resultado do meio e das com os demais e dessa forma faz-se necessário
relações estabelecidas com a família. que os profissionais da educação busquem
Outra perspectiva a ser considerada é a do meios que motive os alunos a estarem na
próprio aluno, que vivencia experiências desde escola, que lhe ofereça um ambiente onde eles
o seu nascimento e ao ingressar-se na escola queiram estar, e participe ativamente das
traz experiências que não podem ser atividades para que os mesmos tenham
desprezadas, pois, as mesmas irão realmente uma educação de qualidade e que
proporcionar em seu desenvolvimento possam desenvolver-se plenamente.
esquemas de ações e habilidades mentais que
irão possibilitar o aprendizado.
Vale considerar que é muito importante a
valorização dos muitos saberes dos alunos e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

NOVOS PARADIGMAS DA experimental, estruturada, porém flexível, com


tarefas que supunha uma interação entre o
ESCRITA E DA LEITURA sujeito e o objeto do conhecimento, que no
Tratando ainda do processo de aquisição da caso é a leitura e a escrita.
leitura e da escrita de acordo com as autoras Com o termino da pesquisa as autoras
Emília Ferrero e Teberosky (1986), a escrita e a descreveram a produção da escrita da criança
leitura são ensinadas tradicionalmente de em níveis, já que este aspecto reflete como a
forma mecânica, como transcrição de sons e criança elabora suas hipóteses em diferentes
decodificação de símbolos e a aprendizagem é momentos. Os níveis foram divididos em:
restrita a aquisição dessa técnica. Da criança é Nível 1 – Ao escrever a criança reproduz
exigido prontidão para alfabetização entendida traços típicos de escrita: tem como referência
como habilidades entre elas orientação a escrita de imprensa, realiza grafismos
espacial, coordenação visomotora e separados entre si, com combinação de linhas
discriminação visual e auditiva, no entanto as retas e curvas ou utilizando somente a linha
autoras questionam essa posição já que não reta ou curva e se identifica como forma básica
consideram essas habilidades condições para de escrita.
que a alfabetização possa ocorrer, pois as Nesse nível há a tentativa de
mesmas limitam apenas em treinamento correspondência figurativa entre o objeto
perceptivo-motor. referido e a escrita, ou seja, objetos maiores
As autoras acima citadas partem do com maior número de letras e objetos menores
pressuposto de que a criança já procura com menor número de letras. Neste nível pode
compreender a natureza da escrita e da leitura ocorrer também ainda que somente em alguns
mesmo antes de chegar à escola formulando momentos a indiferenciação entre escrever e
suas hipóteses, e que muitas vezes sob a desenhar.
perspectiva do adulto é considerada como Quando a criança opta por escrever o
erro, mas que pode refletir a maneira como a modelo imprensa evidenciam-se duas
criança entende a escrita naquele momento. hipóteses sobre a qual ela trabalha: as grafias
Dessa forma o referencial piagetiano adotado: devem ser variadas e sua quantidade é
a noção de “erros construtivos” reflete uma constante.
ação do sujeito e são fundamentais para a Nível 2 - A exigência colocada pela criança
obtenção da resposta correta no futuro, refere-se à hipótese de que deve ocorrer uma
diferente dos erros por falta de atenção ou de diferença nas escritas para que elas possam
memória. atribuir significados diferentes. Como a criança
A pesquisa das autoras direcionadas a exige uma quantidade mínima e variada de
compreender os erros das crianças, considera- grafismos, e muitas vezes ela não conhece uma
os como reveladores de sua concepção e grande variedade de formas gráficas ela acaba
hipótese sobre a escrita. Para investigar o realizando alterações na sequência das letras.
processo de aquisição da língua escrita as A própria criança pode adquirir certas
mesmas propuseram uma situação formas fixas de escrita devido a influencias

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

externas e culturais, ela é capaz de reproduzir “SANA” para Susana, evidenciando o conflito
modelos de escrita. Nesse nível a criança pode desse nível.
reproduzir a escrita de “ARON” para Nível 5 – É caracterizado pela escrita
representar sapo e “AONR” para representar alfabética. A criança já compreende que cada
pato. uma das letras corresponde a valores sonoros
Grossi (1991), denomina estes dois níveis menores que a sílaba e realiza
acima como “pré-silábico”, denominação sistematicamente uma análise sonora dos
muito utilizada por seguidores de Emília fonemas que irá escrever.
Ferrero. Ferrero e Teberosky (1986), mostram uma
Nível 3 - É quando surge à hipótese silábica, criança que procura compreender a natureza
e para dar um valor sonoro a cada letra da da língua escrita, antes mesmo de ingressar na
escrita, a criança atribui a cada letra o valor de escola, para isso propõe problemas, levanta
uma sílaba, como por exemplo, “ACI” para hipóteses e busca regularidade e sentido na
representar planta. língua. No entanto, por vezes as escolas
Neste nível há uma mudança qualitativa considera que a aprendizagem da escrita e
muito importante em relação aos níveis um e leitura depende de uma técnica de decifração
dois, pois é quando a criança consegue superar de códigos e transição de sons e com isso acaba
a correspondência entre a expressão oral e negando a essas crianças esse processo, e por
escrita, correspondendo assim partes da este motivo, para se conseguir sucesso a
expressão oral com partes do texto. Ela criança deve chegar à escola em nível mais
trabalha também com a hipótese de que a avançado, ou seja, alfabético o que lhe permite
escrita representa partes sonoras da fala pela compreender o que é proposto, pois os
primeira vez. métodos partem de pressupostos de
Dois conflitos importantes surgem para o correspondência alfabética fonema-grafema.
desenvolvimento do processo de aquisição da Enquanto isso as crianças que estão no nível
escrita. O primeiro é a necessidade de conciliar alfabético, ou seja, ainda não compreendem o
a exigência da variedade de caracteres às que é proposto a leitura e a escrita passa a se
escritas que resultam iguais devido ao valor constituir algo sem significado me sentido e
sonoro e o segundo conflito se refere à dessa forma as deficiências dos métodos e da
quantidade mínima de caracteres e a hipótese maneira de compreender todo o processo são
silábica. colocados como incapacidade da criança em
Nível 4 – Devidos aos conflitos citados a aprender, sendo assim a criança
criança deixa a hipótese silábica e sente a responsabilizada pelo seu fracasso.
necessidade de fazer uma análise que Para as autoras, as “dificuldades de
ultrapasse essa correspondência, é onde aprendizagem” devem ser reavaliadas, e
ocorre a transição da hipótese silábica para a procurar analisar se as mesmas estão se
hipótese alfabética: como exemplo de escrita constituindo em dificuldades metodológicas
desse nível tem-se “MEIO” para menino, ou uma vez que desconsidera o processo da
criança admitindo apenas o certo e o errado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Dessa forma, o próprio sentido do erro deve que o governo precisa investir de forma
ser reconsiderado, o mesmo pode assumir profunda na formação dos profissionais da
outro significado, e passar a ser percebido educação, entre as medidas que seriam
como instrumento para se levantar hipóteses e necessárias estão a implementação de
superar conflitos da criança. superiores mais eficazes, pois o que se tem
Como já foi mencionada, no contexto muito atualmente são profissionais
histórico escolar a língua escrita é a um só desqualificados e que não tem condições de
tempo meio e meta de aprendizagem e nessa oferecer um ensino de qualidade aos alunos e
condição de eixo privilegiado do trabalho os mesmos acabam deparando com o fracasso
pedagógico é que se constitui num exemplo escolar.
importante para a compreensão das relações Nota-se que muitos professores tem em
entre escola e vida, entre o ensino e a realidade assimilar conceitos sobre o que ensinar e
dos alunos. porque ensinar, utilizando praticas
Alfabetizar não é um luxo, é um direito”. É pedagógicas ineficientes, o que acaba
preciso garantir esse direito às crianças. Mas distanciando professor e aluno, conhecimento
isso não é o mesmo que pretender que essas e vida, e nesse processo o resultado acaba
crianças saibam desenhar letras, ou que sendo a exclusão escolar e social.
saibam pronunciar palavras que não Independente das metas da educação a
entendem. Isto não é estar alfabetizado língua escrita continua sendo um produto
Queremos é dar-lhes o direito de se estável e completo em si mesmo, um processo
apropriarem da língua escrita em toda a sua cognitivo dos alunos e das práticas sociais do
complexidade. letramento. Contudo, não se pode acreditar
Dar-lhes o direito de saber ler criticamente a que o professor hoje reproduz a mesma
palavra escrita pelos outros e o direito de, didática de ontem e embora a reprodução de
escrevendo seus próprios textos, colocar suas novas metodologias e de novas posturas seja
próprias palavras... um desafio desejável no nosso sistema
“Se alfabetização não é concebida dessa educativo, o professor tem sido afetado pelo
maneira, não vale a pena lutar pela discurso construtivista dos últimos anos, e no
alfabetização (FERREIRO, 1989,p.43). confronto entre professores recém-formados e
Mesmo sendo assegurado pela constituição professores alfabetizadores, Sarraf (2003),
o direito a todos os cidadãos a uma boa colheu indícios de que os professores hoje,
educação, percebe-se o grande número de estão mais sensíveis a necessidade de ampliar
analfabetos que esses direitos não são a quantidade e qualidade de textos em sala de
cumpridos devidamente, dessa forma para se aula, ele admite com maior facilidade
ter uma educação de qualidade e ideal, e para dinamizar as práticas de ensino e se dispõe com
que a mesma se torne real a qual é maior frequência a interagir com os alunos. Por
apresentada em muitos projetos educacionais outro lado a inconsistência dos paradigmas
e até mesmo na Constituição, acredita-se que capazes de transformar o ensino e a falta de
seja necessário uma política educacional, em segurança do professor faz com que ele

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dificilmente abra mão de controlar o processo As relações entre professor e aluno muitas
a partir de etapas diretivas, pré-determinadas. vezes são deixadas em segundo plano, sendo
Em estudo (COLELLO e SILVA In SILVA e prioridade a busca pelo melhor método, e
LOPES-ROSSI, 2003), revela que a perpetuação dessa forma o princípio do ensinar bem não se
dos tradicionais princípios pedagógicos encontra centrado no sujeito aprendiz. Ainda
consagram os grandes vícios do ensino hoje, grande parte do fracasso escolar é
descritos em sete tendências básicas que são: atribuído a escola, pois a desconsideração das
“lições ineficientes”, “escrita artificial”, diferenças individuais e culturais, se volta para
“tarefas mecânicas”, “escrita o grupo de alunos do universo escolar, com isso
descontextualizada”, “leitura e escrita sem os mecanismos de incompreensão e
significado”, “lições tarefeiras” e “tarefas abandono, os índices de evasão escolar, a
repetitivas”. Com isso as poucas oportunidades repetência e os problemas de comportamento
que a escola oferece de viver eventos e aprendizagem se refletem nos índices de
significativos de leitura e escrita, inibem as analfabetismo.
razões para aprender e muitas vezes acabam Estudos apontam também para a questão
produzindo o analfabeto de resistência. familiar, sendo a família uma das principais
Pela insistência de exercícios estéreis, ao causas do fracasso escolar, educadores
longo dos anos escolares o aluno corre o risco afirmam que os pais não sabem mais como
de rejeitar de antemão o conhecimento, odiar educar seus filhos e acabam delegando essa
a escola e se conformar com a formação responsabilidade a profissionais como
mínima, correndo o risco também de se excluir professores, psicólogos entre outros e por não
sendo assim marginalizado pelo sistema. assumir essa função os problemas de
Dessa forma a língua escrita acaba sendo aprendizagem acabam surgindo.
mais um conteúdo distante da vida em função A escola enquanto espaço de transmissão do
das metodologias ultrapassadas, mas muito conhecimento e da cultura acaba tendo um
utilizadas nas salas de aulas. No cotidiano peso bem maior na sociedade, pois além dos
escolar a alfabetização se dá pela segmentação conteúdos que precisa dar conta ela precisa
das etapas de aprendizagem, em um processo ainda se preocupar com a disciplina e a
acumulativo de conhecimento e a progressão é educação (familiar) da criança.
pensada na lógica do fácil para o difícil na A escola procura educar as crianças e se
sequência: as letras, as silabas, as palavras, as organiza em torno das mesmas com normas e
sentenças, as normas ortográficas, os textos e disciplinas na ideia de um ser racional e que por
as regras gramaticais e sintáticas. Com tudo meio de uma educação para o futuro será
isso o controle da aprendizagem é garantido transformada em homem ideal. Deseja-se um
pela apresentação e reprodução de modelos, e ser perfeito e promete reparar o fracasso
ainda pretende-se gerenciar a aplicação da social, ideal que não se pode alcançar e com
língua escrita pela distinção entre o tempo de isso marca as crianças esperadas pelas escolas
aprender e o tempo de fazer uso dessa de hoje.
aprendizagem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Com base neste olhar, dito ser normal, se dá banalizando os conteúdos próprios da língua e
a produção de uma infância inadaptada e artificializando os modos de aprendizagem a
dentro da concepção de infância normal, escola se fecha para as novas concepções de
surgem as crianças indisciplinadas e com ensino que buscam a democratização e
dificuldades de aprendizagem não sendo qualidade do mesmo.
reconhecidas em suas diferenças, e com isso Por meio da trajetória histórica realizada foi
são excluídas e deixam de ser consideradas possível perceber avanços e impasses da
semelhantes as outras crianças. Dessa forma, a leitura e da escrita. Este percurso é importante
criança que faz fracassar o ideal de educação, para que possamos entender o presente,
acaba sendo excluída e se tornando um estudar o passado no sentido de se conhecer
incomodo no ambiente escolar. um pouco da história e entender o porquê do
Assim, o desafio de humanizar a educação é fracasso que hoje é comum no dia-a-dia das
tão desejado quanto a capacitação docente, escolas.
onde espera-se ajustar a proposta pedagógica
a especificidade do aluno. Não se pode AS DIFICULDADES DE
também desconsiderar a relação entre
professor e aluno, que pela compreensão e APRENDIZAGEM E SUAS
dialogo, tornam-se parceiros no processo PRINCIPAIS CAUSAS
educativo o que justifica a aula como encontro A Psicopedagogia ao se propõe a
de diálogo e recepção ativa entre ambos. compreender o ato de conhecer, de aprender
O conhecimento (PCN, 2000), depende da e consequentemente de ensinar, utiliza-se de
mediação significativa que o professor é capaz várias áreas do conhecimento como
de fazer entre o mundo e o aluno, a sintonia psicanálise, psicologia social, psicologia
entre vida e aprendizagem. Para Quintás genética e linguística. Propõe-se também a
(apud, MADUREIRA, 2003), a fertilidade do atuar nos casos de distúrbios de aprendizagem,
encontro pedagógico é responsável pelo contemplando noções de patologias e
conhecimento dos interlocutores com a etiologias. A atuação psicopedagógica está
realidade, um processo que, longe de ser um relacionada com o problema escolar e de
acumulo de informações compulsório ou aprendizagem e pode atuar de forma individual
automático, nasce do interesse e do ou grupal com o intuito de se não sanar ao
compromisso, levando à descoberta e à menos amenizar esses problemas.
possibilidade de recriação dos sentidos. É comum dentro das escolas ouvirmos falar
Os encontros nas escolas podem gerar sobre crianças que apresentam dificuldades na
experiências transformadoras do sujeito e do aprendizagem, porém, é preciso ressaltar que
objeto em estudo, com a mediação docente, os vários são os fatores que interferem na
textos podem ser transformados em fontes de aprendizagem da criança, eles tanto podem ser
ideias, melhorando a compreensão do positivos como negativos.
indivíduo sobre o mundo. Contudo, Para o desenvolvimento pleno do potencial
desconsiderando-se a realidade do aluno, do ser humano, faz se necessário que ele tenha

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ambiente apropriado, que lhe ofereça emocional, fazendo com que a capacidade de
oportunidades de aprendizagem, aprendizado e desenvolvimento cognitivo do
desenvolvimento e interação com o mundo indivíduo seja afetado. Visando, então
que o cerca, garantindo-lhe assim a favorecer a apropriação do conhecimento pelo
apropriação de conhecimentos, iniciativas e homem, ao longo de sua evolução, a ação
interesses. Dessa forma, pode-se considerar psicopedagógica consiste num processo de
que o indivíduo no decorrer de sua vida aprendizagem e de aplicação de conceitos
desenvolve capacidades e habilidades, e teóricos que lhes deem novos significados,
mesmo o desenvolvimento sendo possível gerando assim práticas consistentes que
cada pessoa desenvolve-se com características respeite a singularidade de cada um.
únicas. Sabe-se que as dificuldades de
A psicopedagogia resgata uma visão mais aprendizagem são causadas por diversos
ampla do processo de aprendizagem e dos fatores, entre eles os fatores orgânicos que é o
problemas decorrentes dele. funcionamento adequado dos órgãos, fatores
As dificuldades de aprendizagem, de acordo psicológicos que é a alteração
com Antunes (1999), envolvem alunos comuns, comportamental, depressão, a falta de
ou seja, aparentemente sem danos de estímulos, os fatores pedagógicos que são os
natureza médica ou psicológica que transtornos como: coordenação motora
necessitam de práticas educativas especiais. afetada, pouca visão, pouca audição e
Apresentam dificuldades de aprendizagem problemas de linguagem e os fatores
crianças que não rendem de acordo com seu familiares, pois a família exerce um papel
nível escolar em uma ou mais áreas. fundamental na aprendizagem e
Segundo Antunes (2008, p.30): 23 desenvolvimento da criança, sendo assim de
Ensinar quer dizer ajudar e apoiar os alunos modo geral as crianças afetadas por tais
a confrontar uma informação significativa e dificuldades, normalmente é decidido pelo
relevante no âmbito da relação que ambiente na qual ela vive, dessa forma, tanto o
estabelecem com uma dada realidade, ambiente escolar quanto o ambiente
capacitando-o para reconstruir os significados doméstico podem afetar o desenvolvimento
atribuídos a essa realidade e a essa relação. intelectual da criança e o seu potencial de
Silva (1997), define como dificuldades de aprendizagem, já que para o desenvolvimento
aprendizagem, todas e quaisquer variáveis que pleno do potencial da criança faz-se necessário
bloqueiam ou dificultam o processo natural da que ela tenha um ambiente apropriado que lhe
aprendizagem. ofereça oportunidades de aprendizagem e
Dessa forma tudo que vem a influenciar ou desenvolvimento. Portanto as condições
atrapalhar a aprendizagem do aluno pode ser desses ambientes podem fazer a diferença no
problemas de aprendizagem. Essas tipo de aprendizado da criança e para que a
dificuldades podem ser significativa na leitura, mesma tenha uma aprendizagem ativa ela
escrita, na fala, raciocínio, e pode ocorrer deve estar inserida em um ambiente que lhe
também paralelemente a distúrbio social e garanta a apropriação de conhecimentos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Observa-se que crianças que não tem meio vai inscrever o conhecimento pela
estímulos no ambiente ao qual vive tem mais experiência auditiva, visual, tátil, gustativa e
obstáculos mesmo não tendo deficiência, tanto olfativa, e que alguns destes são intrínsecos aos
na aprendizagem quanto sobre si mesma do alunos e outros externos a eles.
que crianças que recebe incentivos positivos no Segundo Furtado (2007, p. 03):
decorrer de sua vida. Pois, enquanto ser Quando a aprendizagem não se desenvolve
humano pode se considerar que o mesmo ao conforme o esperado para a criança, para os
longo de sua vida desenvolve capacidades e pais e para a escola ocorre a "dificuldade de
habilidades, e mesmo o desenvolvimento aprendizagem". E antes que a "bola de neve"
sendo possível, cada um desenvolve-se com se desenvolva é necessário a identificação do
características únicas e que por meio da problema, esforço, compreensão, colaboração
interação com o meio irão se diferenciando. e flexibilização de todas as partes envolvidas no
Entender, aceitar e respeitar a diferença é processo: criança, pais, professores e
algo que almejamos. Mas quando falamos de orientadores.
diversidade sabemos quão difícil é isso no dia a Dificuldades de aprendizagem é um estudo
dia em sala de aula. abrangente que necessita de pesquisa, estudo
Às vezes escutamos frases como: Faltou boa e aproximação entre os diferentes especialistas
vontade dessa professora... Ela foi insensível às e profissionais da saúde e da educação.
dificuldades dele. Mas quem a esteve quatro Agregar esforços, buscando a prática reflexiva,
horas de seu dia, cinco dias da semana em uma a pesquisa e a seriedade dos profissionais,
sala de aula com mais de trinta alunos sabe que tornou-se um desafio para a educação.
não basta boa vontade ou sensibilidade. Esses A dificuldade de aprendizagem é um termo
fatores são fundamentais, mas não resolvem as muito debatido no ambiente escolar, pois
dificuldades do dia-a-dia. quando o aluno tem uma autoestima elevada e
As crianças com dificuldades de consegue desenvolver suas atividades com
aprendizagem possuem um “obstáculo êxito ela é elogiada, por outro lado ao perceber
invisível”, pois se apresentam normais em que a criança não está correspondendo ao
vários aspectos, exceto pelas suas limitações esperado em sua aprendizagem e
no progresso da escola. (WALLACE & desenvolvimento de algum modo procura-se
MCLOUGHLIN, apud, OLIVEIRA, 2003, p. 117). descobrir a causa e muitas vezes arrumar uma
Ao analisar o ambiente escolar percebe-se resposta mesmo que seja negativa e as crianças
que muitas crianças são identificadas com acabam sendo rotuladas com vários termos
problemas de aprendizagem quando estas não como preguiçosas, lerdas ou sem interesse.
correspondem às expectativas do professor, Contudo, é muito importante saber que as
vários fatores podem gerar barreiras na dificuldades de aprendizagens podem ter
aprendizagem. Segundo Reggo, (1995), esta muitos fatores envolvidos, desde um problema
expressão foi utilizada pelo empirista Jonh orgânico, falta de estimulo, familiar, emocional
Locke para expressar a ideia de que nascemos e que a identificação do mesmo é necessária
como folhas de papel em branco nas quais o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para que se desenvolva um trabalho entanto há, de forma geral, um consenso em


educacional a fim de ajudar esses alunos. relação ao aluno que apresenta problemas de
Segundo Libâneo (2008, p. 29): aprendizagem ao longo de sua escolarização de
O processo de ensino é uma atividade forma significativamente maior do que a
conjunta de professores e alunos, organizado maioria dos alunos de sua idade. Isso pode
sob a direção do professor, com a finalidade de ocorrer de forma temporária ou definitiva,
prover as condições e meios pelos quais os exigindo uma atenção mais específica, maiores
alunos assimilam atividades conhecimentos, recursos educacionais do que necessário para
habilidades, atitudes e convicções. os demais alunos. Quando se mencionam
O ser humano nasce potencialmente problemas de aprendizagem em razão de
inclinado a aprender, necessitando de necessidades especiais. Mas, exige também
estímulos externos e internos (motivação, uma resposta educativa diferenciada da escola,
necessidade) para o aprendizado. Há quando se fala em maiores recursos
aprendizados que podem ser considerados educacional (necessidade educativa), (a
natos, como o ato de aprender a falar, a andar, definição apresentadas por Jiménez (apud,
necessitando que ele passe pelo processo de BATISTA), 1997, p.10), é:
maturação física, psicológica e social. Na Partindo da premissa que todos os alunos
maioria dos casos a aprendizagem se dá no precisam, ao longo da sua escolaridade, de
meio social e temporal em que o indivíduo diversas ajudas pedagógicas de tipo humano,
convive; sua conduta muda, normalmente, por técnico ou material, com o objetivo de
esses fatores, e por predisposições genéticas. assegurar a consecução dos fins gerais da
Quando as competências, habilidades, educação, as necessidades educativas
conhecimentos, comportamentos e valores especiais são previstas para aqueles alunos
são adquiridos ou modificados por meio do que, para, além disso, e de forma
resultado de estudos, experiências, formação, complementar, possuam necessidades de
observação e raciocínio têm o processo de outros tipos de ajuda menos usuais. Dizer que
aprendizagem. um determinado aluno apresenta
A criança com dificuldades de aprendizagem necessidades educativas especiais é uma forma
não tem que carregar um estigma que exclua de dizer que, para conseguir atingir os fins da
da escola e do direito de aprender. Elas são educação, ele precisa usufruir determinados
pessoas e necessitam que a sociedade lhes serviços ou ajudas pedagógicas. Desta forma,
assegure: respeito à sua individualidade; uma necessidade educativa define-se tendo
reconhecimento de suas possibilidades e em conta aquilo que é essencial para a
competências para não deixa-las fracassarem. consecução dos objetivos da educação.
Quando a dessemelhança no ritmo de Diante das dificuldades de aprendizagem o
aprendizagem escolar é grande, estamos papel inicial do psicopedagogo é o de fazer uma
falando em necessidades educativas especiais. análise a fim de diagnosticar o problema e suas
Muitos autores procuram definir as causas. Ele irá levantar hipóteses por meio dos
dificuldades específicas de aprendizagem. No sintomas que o indivíduo apresenta ouvir as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

queixas de todos os envolvidos como: escola, como a disgrafia, a discalculia, a dislexia,


familiares e o próprio sujeito. O psicopedagogo dislalia, disortografia, entre outras.
procura compreender o indivíduo no aspecto A dislexia é um transtorno de aprendizagem,
neurofisiológico, afetivo, cognitivo e social a a criança pensa diferente e a dificuldade
fim de ajudá-lo a superar as dificuldades que o aparece na leitura, não é resultado de má
impeçam seu desenvolvimento. alfabetização ou de desmotivação ou condição
Percebe-se que os problemas de sócia econômica, mas sim a dificuldade na
aprendizagem envolvem vários fatores como, decodificação das palavras, o dislexo tem
orgânicos, cognitivos, emocionais e ambientais dificuldade em associar o som à letra. Com isso
e que os mesmos estão relacionados ao ele acaba tendo dificuldade na língua escrita,
indivíduo, família e escola. Como a origem da ao escrever, na ortografia e apresenta lentidão
aprendizagem está ligada a ação por meio do na aprendizagem da leitura.
corpo, é necessário primeiramente que se A disgrafia a criança apresenta uma
verifique se todas essas funções estão integras, desorganização das letras com espaços
para posteriormente considerar os aspectos irregulares entre as letras, desorganização o
cognitivos que proporciona a possibilidade de espaço ocupado, escrita com traços imprecisos
conhecimento e aprendizagem do sujeito na ou incontrolados, há falta de pressão ou com
interação com o meio. Os fatores motivacionais pressão demais o que causa cansaço e lentidão
também são muito importantes na construção na hora da escrita e há também dificuldade de
do conhecimento e do significado daquilo que leitura e entendimento da mesma.
se aprende, formando assim uma rede de inter- Na disortografia a criança troca os fonemas
relação do que já se conhece com aquilo que se na escrita ou faz junção ou separação indevida
aprende. Assim também o fator emocional irá das palavras, omite letras e faz confusão de
interferir na construção do conhecimento, sílabas, adição de letras na palavra, letras
pois, a dificuldade em lidar com problemas duplas, fragmentação das palavras.
relacionais do dia-a-dia e com as frustrações Discalculia a criança tem dificuldade em
pode desencadear transtornos como, por entender cálculos e números, não sabe usar os
exemplo, a depressão infantil e a psicose. sinais das operações e não os identifica.
Tanto família como escola é responsável Dislalia é a dificuldade na emissão da fala,
pela aprendizagem e pela não aprendizagem tem pronuncia inadequada da fala.
do indivíduo, pois as mesmas são matrizes de As dificuldades em escrita e leitura ainda
desenvolvimento e equilíbrio do sujeito e com podem aparecer quanto ao reconhecimento
a parceria entre família, escola e indivíduo irá das palavras, trocando letras, omitindo silabas,
aparecer novas possibilidades de repetindo letras ou silabas, invertendo letras,
desenvolvimento e aprendizagem para que os repetindo letras ou silabas, fragmentando
objetivos sejam alcançados. palavras, leitura repetida na mesma linha,
Os problemas de aprendizagem em escrita e olhar dirigido para outro lado enquanto lê,
leitura podem aparecer para além das causas omitindo repetindo palavras.
apresentadas e pode ser de caráter específico

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Quanto à compreensão da leitura a criança Segundo Kauark e Silva (2008, p. 269):


tem dificuldade em reproduzir o que leu, A metodologia da escola deve ser adequada,
demonstrando que não compreendeu, envolvendo seus alunos. E no momento em
necessitando assim de ajuda para reproduzir que surgir algum problema com algum aluno é
detalhes. importante que haja uma mobilização por
Na interpretação ela pode apresentar parte da escola, a fim de que solucionem a
dificuldade para determinara a ideia central do possível dificuldade. A escola deve esforçar-se
texto, não consegue estabelecer sequência, para a aprendizagem ser significativa para o
não estabelece sequência entre tempo e aluno. Com isso todos ganham: a escola, a
espaço. família e, principalmente, a criança.
A escrita é ação e representação simbólica O aluno com dificuldades de aprendizagem
somente em relação com o simbolizado. precisa de motivação, uma aula para alunos
Significado que se adquire com a com tais necessidades deve ser desenvolvida
aprendizagem. A expressão escrita se realiza com atividades que os motive a estar ali
através de um plano que varia de acordo com interagindo e aprendendo com as experiências
cada idioma. É uma atividade convencional e e com as outras crianças e professores, para
codificada, que se aprende. (AJURIAGUERRA, isso se faz necessário à formação continuada
apud, DROUET, 2002, p. 156). dos professores e o mesmo deve estar sempre
Embora, as dificuldades de aprendizagem atento às mudanças dos alunos, sabendo
sejam causadas por diversos fatores, e que coletar informações e mudar suas práticas
pode levar o aluno ao fracasso escolar, quando estas não forem eficientes, pois o
subentende-se que a escola muitas vezes não professor tem o papel de ajudar seu aluno e
soube lidar com o problema, e o aluno acaba se procurar motivá-lo a fim de que ele possa
tornando desmotivado e incapaz de superar desenvolver suas atividades com êxito e que
esta dificuldade, daí a importância do possam se tornar um cidadão critico, o mesmo
diagnóstico e da ajuda do professor para que deve proporcionar um ambiente saudável e
ele se sinta encorajado e disposto a superar acolhedor onde o aluno se sinta confortável.
essa barreira. Como educar não significa apenas transmitir
Determinar metodologia de aprendizagem o legado cultural às novas gerações, mas
que motive o aluno, embora complexa, é um também ajudar o aluno a aprender o aprender,
processo essencial para que o aluno consiga se despertar vocações, proporcionar condições
integrar e com isso melhorar seu desempenho. para que cada um alcance o máximo de sua
Sabemos que no atual sistema de ensino, as potencialidade e, finalmente, permitir que
salas lotadas e com vários problemas não é fácil cada um conheça suas finalidades e tenha
para o professor, mas ainda assim o mesmo competências para mobilizar meios para
deve estar atento e procurar identificar as concretizá-las, chega-se ao sentido estrutural
dificuldades que irão surgir e procurar adaptar da questão: o que significa educar. Em síntese:
suas aulas, aperfeiçoar e transformá-lo em um aprender a conhecer, fazer, viver junto e
momento prazeroso. aprender a ser (ANTUNES, 2008, p. 45).

761
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O professor deve ser um facilitador no


processo ensino/aprendizagem, pois se
acredita que muitos alunos têm dificuldades de
aprendizagem por falta de estímulos e neste
sentido o professor tem o papel de
proporcionar um ambiente agradável, onde o
aluno não sinta medo de expor suas dúvidas e
de interagir com o grupo envolvendo com as
atividades e trabalhando em grupo a fim de se
ter uma educação com mais qualidade.
Segundo Libâneo (2008, p. 47):
A característica mais importante da
atividade profissional do professor é a
mediação entre o aluno e a sociedade, entre as
condições de origem do aluno e sua destinação
social na sociedade, papel que cumpre
provendo as condições e os meios
(conhecimentos, métodos, organização do
ensino) que assegurem o encontro do aluno
com as matérias de estudo. Para isso, planeja,
desenvolve suas aulas e avalia o processo de
ensino.
A família também tem um papel muito
importante na vida da criança com dificuldades
de aprendizagem, principalmente os pais que
devem apoiar e observar a fim de identificar o
que está ocasionando tais dificuldades e
procurar ajuda de um profissional
especializado e junto procurar estratégias para
que o aluno tenha uma aprendizagem eficaz
alcançando assim seus objetivos.
O psicopedagogo tem o papel de direcionar
a família e o professor e procura identificar
qual a melhor maneira de se não solucionar o
problema ao menos minimizá-lo, criando
estratégias para que o aluno se posicione de
forma positiva em ralação a aprendizagem.

762
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Psicopedagogia é muito importante no processo de aprendizagem, pois tem como
proposta compreender o ato de conhecer, de aprender e consequentemente de ensinar. Ao
compreender que a aprendizagem é muito relevante para que o indivíduo viva plenamente na
sociedade, exercendo seus direitos de cidadão, cabem ao poder público, as escolas e aos
profissionais da educação, que busquem novos conhecimentos, invista na formação continuada
e atualize suas práticas pedagógicas do modo que os alunos aprendam de maneira prazerosa
atingindo assim os objetivos que é a aprendizagem significativa e plena.
Faz-se necessário um esforço entre escola, psicopedagogo e família que exerce um papel
fundamental na formação do indivíduo, para que juntos possam ajudar alunos com dificuldades
de aprendizagem a sanar ou minimizar esses problemas a fim de que os mesmos possam se
desenvolver. No entanto, para se conseguir que as crianças encontre nas escolas um lugar de
reflexão, precisa-se trabalhar com o objetivo de que os profissionais da educação e professores,
por meio de espaços solidários entre eles consigam algo de autonomia como pessoa e autoria do
pensamento. Para favorecer espaço de autoria de pensamento e facilitar a aprendizagem os
professores e psicopedagogos devem favorecer espaços onde se possa pensar e sentir prazer
nesse pensar.
Sabe-se que a implantação de uma pedagogia inadequada, pode trazer muitos problemas
de aprendizagem, dessa forma faz-se necessário a reciclagem e aperfeiçoamento dos professores
no sentido de atualizar a sua prática, pois o mesmo tem um papel muito importante no processo
de aprendizagem dos alunos.
A criança com dificuldades de aprendizagem necessita de mais apoio e atenção e juntos
escola, professor, psicopedagogo e família devem procurar estratégias de aprendizagem que
favoreça o aluno em seu aprendizado, tornando-o assim mais eficaz.
São muitas as variáveis que leva o aluno a dificuldade de aprendizagem, elas tanto podem
ser de origem orgânica, emocional, psicológica, social constituindo assim um desafio de
diagnóstico e educação, mas em muitos casos o professor acaba rotulando o aluno de preguiçoso
ou desinteressado escondendo dessa forma sua prática docente inadequada e a falta de
conhecimento, não conseguindo enxergar que tais alunos podem ter um ou mais problema de
aprendizagem.
Segundo Alícia Feràndez (1991, p.39):
Se pensarmos no problema de aprendizagem como só derivado do organismo ou só da
inteligência, para a sua cura não haverá necessidade de recorrer à família. Se ao contrário,
as patologias no aprender surgissem na criança somente a punir da sua função
equilibradora do sistema familiar, não necessitaríamos, para seu diagnóstico e cura
recorrer ao sujeito separadamente da sua família (...)
De modo geral muitas crianças com problemas de aprendizagem acabam desenvolvendo
uma autoestima negativa, devido ao seu baixo rendimento escolar, o que acaba fazendo com que
as mesmas sejam vistas por professores e até mesmo pela família como um fracasso. Portanto,
essas crianças necessitam de apoio dos pais, do professor que deve ter um olhar mais observador
e procurar compreender essas crianças, respeitando seus limites e suas especificidades para que
as mesmas possam se sentir parte do grupo e com isso ter uma aprendizagem mais eficiente.

763
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Psicopedagógico. Vozes, 2003.

764
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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VYGOTSKY, L. S. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem: São Paulo. Ed. Cone,


1988.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: UM
ESTUDO SOBRE O FRACASSO DAS PRÁTICAS
PEDAGÓGICAS NA ALFABETIZAÇÃO
José Claudio Pereira Martins1

RESUMO: Existem diversas abordagens para tratar das dificuldades de aprendizagem no âmbito
escolar, no entanto, o presente estudo visa compreender o fracasso escolar vinculado às
dificuldades de aprendizagem no processo de alfabetização e letramento. No entanto, tais
dificuldades analisadas possuem uma criticidade no que diz respeito às práticas pedagógicas que
na maioria das vezes são superficiais e generalistas, ou seja, não utilizam de metodologias de
ensino que contemplam o aluno real, visto que desconsideram o contexto social em que estão
inseridos, bem como as peculiaridades de cada um na construção de conhecimento. Dessa forma,
o presente estudo visa analisar o processo de alfabetização e letramento, bem como os motivos
reais das dificuldades dos educandos neste processo, além das modificações necessárias para
que ocorra de maneira efetiva. O trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisas bibliográficas
qualitativas, analisando as ideias dos autores e fazendo um comparativa entre suas concepções.

Palavras-Chave: Dificuldades de aprendizagem; Alfabetização e Letramento. Fracasso Escolar.

1Professor de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicologia da Educação.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LEARNING DIFFICULTIES: A STUDY ON THE FAILURE OF


PEDAGOGICAL PRACTICES IN LITERACY
ABSTRACT: There are several approaches to address learning difficulties in the school
environment, however, the present study aims to understand school failure linked to learning
difficulties in the literacy and literacy process. However, such difficulties analyzed have a
criticality with regard to pedagogical practices that are most often superficial and general, that
is, they do not use teaching methodologies that contemplate the real student, since they
disregard the social context in which they are. inserted, as well as the peculiarities of each one in
the construction of knowledge. Thus, the present study aims to analyze the literacy and literacy
process, as well as the real reasons for the students' difficulties in this process, in addition to the
necessary modifications for it to occur effectively. The work was developed through qualitative
bibliographic research, analyzing the authors' ideas and making a comparison between their
conceptions.

Keywords: Learning difficulties; Literacy and Literacy. School Failure.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Para isso, se faz necessário compreender o


processo de alfabetização e letramento, bem
Dentre as diversas dificuldades existentes no como as práticas de ensino consideradas
campo de aprendizagem, nota-se a maior adequadas por estudiosos da área, para buscar
frequência e intensidade na aquisição e quais são as causas que dificultam a aquisição
desenvolvimento da leitura e escrita. Dessa do conhecimento do aluno, além das
forma, muito se discute sobre as causas, modificações necessárias para que o processo
atribuindo muito à distúrbios de aprendizagem ocorra de maneira efetiva.
do próprio aluno, sem analisar o contexto A relevância do estudo se justifica pela
educacional. necessidade de analisar o processo, sem
No entanto, a proposta do presente trabalho atribuir a culpa do fracasso escolar ao aluno,
é fazer uma abordagem reversa: analisar quais muitas vezes rotulado com distúrbios sem a
são as práticas de alfabetização e letramento real existência. Assim, explorando o campo da
para então compreender as dificuldades dos alfabetização e letramento, pode-se pensar em
alunos no processo. propostas efetivas de intervenção que visem
A mola propulsora para o desenvolvimento capacitar os alunos na prática de leitura e
do estudo foi a observação de muitas práticas escrita, bem como realizar intervenções
de ensino inadequadas e o cenário atual de adequadas no caso daqueles alunos que de
fracasso escolar, analisando como afetam fato possuem algum tipo de deficiência no
diretamente no desenvolvimento do aluno, processo.
mesmo que este não apresente nenhum A hipótese é que o fracasso escolar esteja
distúrbio intelectual ou deficiência que intimamente relacionado as metodologias de
justifique a dificuldade no processo. ensino superficiais e ineficientes que não
Dessa forma, ainda que o campo das exploram adequadamente as capacidades
deficiências seja muito vasto e necessita de mentais do aluno, nem oferecem o suporte
estudos para contemplar práticas de ensino necessário que precisam em cada fase do
que deem o suporte necessário para o bom processo. Dessa forma, as dificuldades são
desenvolvimento dos alunos, a ideia é pensar inevitáveis, visto que o trabalho é realizado de
nas dificuldades comuns que os alunos, sem maneira inadequada, no entanto, caso
exceção, possuem, quando são trabalhados de aconteça uma intervenção efetiva, esse quadro
maneira superficial pelas escolas e poderá ser revertido e será possível a
profissionais de ensino, implicando em promoção de alfabetização e letramento
diversas dificuldades no processo, bem como efetiva para todos os alunos. Assim, considera-
em outras disciplinas, visto que a se o professor como peça chave no processo,
compreensão, capacidade de interpretação, por isso a necessidade de pesquisar e formar
estabelecimento de relações e domínio da profissionais aptos para uma intervenção
língua, afetam diretmente qualquer campo de efetiva.
desenvolvimento do aluno. Para a execução dos objetivos propostos, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica

768
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

qualitativa, e as fontes de pesquisa foram livros deficiências de aprendizagem, visto que


e artigos científicos disponíveis nas bases de problemas comuns de aprendizagem podem
dados Scielo e Google Acadêmico. ser resolvidos com paciência, dedicação,
Os conteúdos pesquisados foram: atenção individual e metodologias de ensino
Alfabetização e letramento, dificuldades de voltadas à sanar as dúvidas especificar. No
aprendizagem, fracasso escolar e entanto, a deficiência já é muito mais complexa
analfabetismo, e posteriormente foi realizada e precisa de um trabalho multidisciplinar para
uma análise comparativa entre as ideias dos driblar as dificuldades. De qualquer forma, é
autores. importante ressaltar o trabalho do professor
como de suma importância para o sucesso da
AS DIFICULDADES DE aprendizagem, visto que em ambos os casos,
utilizar de metodologias de ensino
APRENDIZAGEM COMO diferenciadas podem contribuir no
RESPOSTA À PRÁTICAS DE desenvolvimento do aluno (SCOZ, 1994).
Os estudos de Miranda (2000), mostram que
ENSINO INEFICIENTES 20% das crianças apresentam dificuldades na
Em algum momento da vida, todos já
aprendizagem escolar, e de imediato, é muito
sentiram dificuldade em adquirir um novo
comum atribuir as causas das dificuldades à
conhecimento, e isto não implica
própria criança, o que tende a prejudicar ainda
necessariamente em uma deficiência de
mais o processo, no entanto, sabe-se que são
aprendizagem.
muitos os fatores que influenciam na
Sentir dificuldade indica que todo educando
construção de conhecimento.
tem seus pontos fortes e fracos, ou seja, alguns
Conforme afirma Domingos (2007, p. 1) ‘’o
tem capacidade de assimilar o que é
educador, a escola e a família, envolvem
transmitido, adquirindo conhecimento, apenas
aspectos socioculturais importantes para o
ouvindo. Já outros, são mais visuais e
aprender de uma criança’’.
aprendem melhor lendo, e por fim, outros
O autor ainda complementa:
conseguem aprender melhor na prática.
O método da escola pode dificultar a
Tais diferenças de aprendizagem já são
aprendizagem de uma criança com percepção
reconhecidas na literatura, sendo subdivididas
visual quando se utiliza apenas de recursos
em aluno auditivo, visual e sinestésico,
visuais para ensinar frases e textos. Neste caso
respectivamente. No entanto, na escola todos
outros métodos são mais indicados e o
esses alunos são misturados em um mesmo
problema não está no aluno em si’.
ambiente, e os professores esperam que estes
Assim, é válido ressaltar que o professor
alunos o mesmo aprendizado insistindo em
deve ter a capacidade de identificar qual é o
uma metodologia de ensino ‘’padronizada’
melhor método a ser utilizado com a criança.
(SCOZ, 1994).
E conforme o rendimento escolar da criança,
No entanto, cabe ressaltar que há uma
deve-se pensar nos diversos níveis de
grande diferença entre as dificuldades de
dificuldades e as intervenções pedagógicas
aprendizagem, foto deste estudo, e as

769
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para auxiliá-lo. Dessa forma, espera-se sempre a educação, dentre estes processos estão os
uma evolução individual, e caso ele chegue ao métodos sintéticos e os globais (CARVALHO,
final do ano letivo com as mesmas dificuldades, 2005; SEBRA E DIAS, 2011).
é importante ser avaliada cuidadosamente, No método sintético o aprendiz cria uma
considerando um atendimento especializado. relação entre o som e a escrita e o aprendizado
No entanto, a ferramenta inicial é sempre se dá letra por letra, sílaba por sílaba e palavra
considerar as práticas de ensino ineficientes por palavra, o que descontextualiza sua escrita
que geram o fracasso escolar tão evidente no e leitura. Já o método global é o contrário do
mundo contemporâneo. sintético, o aprendiz compreende o sentido de
Percebe-se que este fracasso já se inicia na um texto, de forma globalizada (o conjunto, o
fase de alfabetização, que acaba por prejudicar todo), para depois aprender as sílabas, por
outras disciplinas de formação do aluno, visto exemplo (CARVALHO, 2005; SEBRA E DIAS,
que são interligadas e exigem capacidade de 2011).
raciocínio, formulação de ideias, interpretação, Porém, cada um destes processos possui
entre outros. E por isto necessita de urgente métodos diferentes para a aprendizagem do
intervenção pra possibilitar práticas de ensino alfabetizando. O método sintético, pode se dar
mais eficientes neste processo. por meio da soletração, soletra-se cada letra e
realiza a junção da consoante e vogal para
A ALFABETIZAÇÃO decodificar a palavra, considerado repetitivo;
do fônico, reconhece o som das letras,
Seguindo a visão interacionista, em que o
consoante mais vogal, pronunciando a sílaba;
homem está em constante construção e
ou do silábico, diferente do fônico a criança
interagindo com o meio, a alfabetização e o
tem conhecimento primeiro da sílaba para
letramento devem caminhar juntos, ou seja,
formar a palavra (CARVALHO, 2005; SEBRA E
interagir entre si para a construção do
DIAS, 2011).
conhecimento seja viável.
Já os métodos globais por conto, inicia com
A alfabetização, nada mais é do que a
leituras de texto para familiarizar-se com
transformação da decodificação (sinais
palavras e depois as sílabas, método
gráficos) ou da codificação (sons da fala
trabalhoso para os educadores; ou ideovisual,
gráfica), para assim a criança conseguir
apresentado o desenho, o aprendiz relaciona
construir hipóteses sobre o funcionamento da
este com a palavra; ou palavração, aprendizado
escrita. Porém, somente com o aprendizado da
das letras por meio de uma palavra retirada de
leitura e escrita a criança não consegue utilizar
um texto, que separada em sílabas formam as
em situações sociais, cotidianas. Para isto, o
palavras; ou setenciação, frases divididas em
letramento deve fazer parte da alfabetização
palavras e por fim em sílabas (CARVALHO,
para auxiliar na aprendizagem do aluno
2005; SEBRA E DIAS, 2011).
(CARVALHO, 2005).
Independentemente do método para a
A alfabetização é um processo diversificado,
alfabetização, o educador deve tomar
por possuir diferentes métodos para que
consciência, qualquer ‘deslize’ marcará o
ocorra, e está sempre na busca do melhor para

770
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendiz por toda sua vida, refletindo a demorado ou apresentará dificuldades para
dificuldade para com a leitura e escrita, para aquisição de novos conhecimentos.
não tornar o processo um ato mecânico e sim a Por isso, é necessário observar, diagnosticar
construção do aprendizado. e estimular toda e qualquer potencialidade,
por estes ainda não trabalhadas, pois todo ser
humano é um ser inacabado.
ALFABETIZAÇÃO NA Segundo Piaget (2002), o homem é um ser
CONCEPÇÃO DE JEAN PIAGET geneticamente social; é um sujeito ativo que
O desenvolvimento cognitivo sofre influência de seu meio social, pois
especificamente caracteriza-se pelo constrói o seu conhecimento a partir das
aperfeiçoamento, amadurecimento das hipóteses que levanta.
potencialidades do que lhe permitirá construir Todo ser nasce com a capacidade de se
seu conhecimento (PIAGET, 2002, p.1). adaptar e estabelecer trocas com o meio: social
O desenvolvimento cognitivo de uma e físico. Para manter o equilíbrio do
criança depende unicamente que as conhecimento já adquirido. Quando este
potencialidades sejam desenvolvidas, isto é, os equilíbrio é rompido por um novo conflito a ele
fatores internos, como a maturação e fatores apresentado, por meio do sujeito ou do
externos, como os objetos que lhe são ambiente físico – social, para equilibrar-se
apresentados para o seu desenvolvimento vão- novamente é preciso que ele se adapte,
lhe favorecer, uma vez que a cada novo conflito portanto, torna-se necessário que o indivíduo
a criança acomoda esse conhecimento e tenta assimile e acomode este conflito (PIAGET,
somá-lo com um já adquirido, possibilitando 2002).
assim a aquisição de outro (PIAGET, 2002). Quando o desequilíbrio ocorre, é preciso
Nesse processo de conflito e assimilação a acomodar, este novo conhecimento e o
criança deve ser estimulada, pois em cada próprio indivíduo estabelecem mudanças para
estágio desde bebê à idade de alfabetizar-se, que o problema venha ser solucionado,
esta passa por período que apresentam fases: apresentando resistência à mudança ele vai
coordenação motora, cálculos mentais, utilizar-se de tudo o que sabe para evitar que
abstração de imagens ou sons (PIAGET, 2002). isso ocorra. Ao passo que o indivíduo modifica-
Se todas essas potencialidades forem se para resolver o conflito em questão e
desenvolvidas e bem trabalhadas, estas acomoda o novo conhecimento adapta-se e
crianças apresentarão facilidades em sua reequilibra, portanto para que ocorra
aprendizagem, mas caso ocorra em alguns adaptação (aprendizagem) é preciso a
destes períodos defasagem, falta de assimilação e acomodação (PIAGET, 2002).
estimulação ou a não assimilação de alguns “O indivíduo é um ser geneticamente social”
conhecimentos para um novo período, PIAGET (2002, p.14). Se o indivíduo sofrer
certamente o desenvolvimento cognitivo influência no seu ambiente social e físico, ele
dentro da aprendizagem será um pouco mais também dependerá de sua maturação
progressiva orgânica, que o permitirá

771
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estabelecer relações lógicas e mentais, à discutia como fazer com que estas crianças
medida que agirá sobre os estímulos, desta entendessem tal esquema (FERREIRO, 1996).
forma a maturação orgânica estará preparada Ao termos conhecimento que a criança
juntamente com as estruturas mentais para passa por estágio de maturação (genético) e
que a busca das respostas dos conflitos estímulos externos para o seu
gerados pela interação sujeito-meio e objeto desenvolvimento e a cada nova descoberta
ocorra, ou seja, o desenvolvimento procede de colocam-se em conflito, o que já se sabe
“dentro para fora”, então, os fatores genéticos podemos refletir e pensar que as dificuldades
preponderam-se sobre os fatores sociais e por eles apresentadas, podem ser apenas um
ambientais é a partir dessa etapa que ocorrerá novo conflito, para um novo avanço e uma
o desequilíbrio e equilíbrio, decorrentes para nova concepção em seu nível de conhecimento
que o desenvolvimento ocorra. e aquisição dos mesmos.
“A Alfabetização não pode ser a simples
O PROCESSO DE aprendizagem de uma técnica de codificar”.
(FERREIRO, 1996, p.71). De acordo com a
ALFABETIZAÇÃO NA autora, a alfabetização vai além de conhecer e
CONCEPÇÃO DE EMÍLIA repetir (letras), a escrita é muito mais
complexa para as crianças em fase de
FERREIRO
alfabetização tende a reinventar o sistema de
Saber ter constituído alguma concepção que
escrita, não que a criança vai inventar novas
explica certo conjunto de fenômenos ou de
letras, mas para servir-se disto como um
objetos da realidade (FERREIRO, 1996, p. 72).
sistema elas têm que compreender o processo
Emília Ferreiro discípula de Jean Piaget, em
de construção da escrita e suas regras de
seus estudos e pesquisas na “Psicogêneses”,
produção.
mostra que as crianças de acordo com os níveis
Por isso, o educador deve ser: pesquisador,
de maturação e conhecimento prévio por ela
mediador e orientador para facilitar a
adquirida desenvolvem, em seu processo de
alfabetização, pois as crianças gostam de
aprendizagem níveis de concepção e
aprender coisas novas, então devemos
entendimentos diferenciados o que chamamos
estimulá-la com atividades que despertam a
de níveis de escrita são eles: pré-silábico,
sua curiosidade e não manter o tradicional com
silábico com valor, silábico sem valor, silábico
atividades reducionistas como a cópia (sem
alfabético e alfabético.
intervenções).
Dentro deste processo a criança apresenta
A escrita é um objeto cultural com uma
sua dificuldade e seu conhecimento de escrita,
função social, não apenas um produto escolar,
algum tempo atrás, acreditava-se que a criança
não usamos a escrita apenas para escrevermos
formava sua concepção de escrita por meio de
textos acadêmicos e outros, mas usamos
repetições de leitura e grafia de letras e sílaba
também: para comunicar-se (cartas); para
(decorar) e as que não entendiam ou não
resgatar um conhecimento caso tenhamos
acompanhavam essa sequência eram
consideradas problemáticas, mas não se

772
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esquecido (receita); para dar uma informação • Pré Silábico


(lista telefônica) (FERREIRO, 1996). A criança nesta fase possui uma escrita
A criança mesmo antes de entrar na escola linear (sem quantidade e qualidade), utiliza-se
já convive com um mundo letrado, por meio da das letras de seu nome ou as que já conhecem,
TV, cartazes, embalagens. E para compreender e muitas vezes, as crianças nesta fase para
esse mundo letrado, ela vai descobrindo as realizar a escrita usa todo espaço da folha ou
propriedades desse sistema por meio de um da linha e a leitura de sua escrita é global.
processo construtivo.
As primeiras indicações de escrita (que não
são cópia), e sim palavras que a criança
escreve, tal como acha que poderia ou deveria
escrever, desta forma ela não aprende apenas
quando é submetida ao ensino sistemático,
porque a criança ignora que deve pedir • Silábico sem valor
permissão para começar a aprender. A criança passa a reconhecer que para
Ao longo do processo a criança constrói escrever ela deve utilizar-se de uma letra para
hipóteses, constrói estratégias novas e cada sílaba, mas não cita a letra que
interpreta dados novos em um processo corresponde ao som, sua leitura passa a ser por
construtivo. letras.
Dentro deste processo, segundo Ferreiro
(1996), ela cria hipótese de escrita que vão
sendo ajustadas a cada novo avanço, neste
ponto de vista construtivo a escrita infantil
segue uma linha de evolução, partindo da
reprodução das formas dos objetos, em um
outro momento a criança não reproduz a • Silábico com valor sonoro
forma nem a ordenação espacial e Nesta fase a criança passa a reconhecer que
precocemente aparecem formas nós escrevemos o que falamos e a escrita
convencionais das letras, a criança esforça-se representa o som à escrita também é feita por
para usar o que já recebe da sociedade. letra, mas identificando o som.
Quando nesta evolução a criança começa Dentro desta fase podemos observar que
realizar suas primeiras escritas (precocemente) está se utiliza mais das vogais em sua escrita
ela estabelece diferenciação entre o (silábico com valor sonoro nas vogais).
quantitativo e o qualitativo, para escrever algo
ou ler é necessário letras diferentes e o mínimo
de três letras.
O passo seguinte é a busca da diferença
entre suas hipóteses são elas:

773
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Já outra se utiliza apenas das consoantes


(silábico com valor sonoro nas consoantes).

2.6 IMPLICAÇÕES
Mesmo a criança não tendo o conhecimento
do que é uma vogal ou consoante, ela passa PEDAGÓGICAS
adquirir este conhecimento por meio da A leitura e a escrita têm sido consideradas
sonorização. como objeto de uma instrução sistemática:
algo que deve ser ensinado e cuja
• Silábico alfabético “aprendizagem supõe o exercício de uma série
O período é considerado o final do processo de habilidades”, então as atividades de
de alfabetização, pois a criança já possui quase interpretação (leitura) e de produção (escrita),
total conhecimento da escrita e do seu sistema. começam antes da escolarização como
Quando a criança chega a este estágio e esta atividade própria da idade da pré-escola.
reconhece que quando escrevemos utilizamos Esta aprendizagem insere-se num sistema
sílabas que estas representam o som, a de concepções pré-elaboradas e não pode ser
quantidade de letras e que cada sílaba é reduzida ao exercício de um conjunto de
montada por consoante mais vogal. técnicas perceptivo motoras.
A leitura deixa de ser por letras e passa a ser Desta forma, ocorre um processo de
por sílabas ou uniforme. Ao citarmos que aquisição da linguagem escrita que precede e
“possui quase total conhecimento”, porque excede os limites escolares.
ainda existem os erros ortográficos e pequenas
trocas. OS PROCESSOS DE LEITURA E
ESCRITA NA CONCEPÇÃO DE
TELMA WEISS
O que está escrito e o que se pode ler
(WEISS,1996, p.108). Segundo Telma Weiss
(1996) que utiliza às pesquisas de níveis de
• Alfabético escrita de Emília Ferreiro, levantou em seus
Neste estágio a criança domina total estudos e pesquisas e questiona. É possível ler
conhecimento da escrita e seu sistema. sem saber escrever?
Não apresentando dificuldades ortográficas Sim, segundo a autora, assim como a criança
(que sejam preocupantes) e as trocas não cria concepções e interpretações para o
aparecem mais e a leitura é uniforme e processo de escrita, existe as estratégias de
continua. leitura que são: decodificar, inferir, antecipar,
selecionar e checar.

774
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O professor ao propor a leitura de um texto isso da decifração ou do conhecimento das


conhecido como: parlendas, poesias, músicas letras esta relação se dá ao contato que com a
ele está estimulando o aluno a pôr em jogo escrita ” (WEISS,1996).
tudo o que ele sabe de leitura e estimulá-lo a Compreende-se, então que a evolução da
novos conflitos. ideias que as crianças fazem sobre escrita e
É necessário pôr em prática todas essas leitura é muito importante, são informações
estratégias, para que estas possam chegar a que nos leva a investigar é ultrapassar
leitura convencional, desta forma estabelecer limitações que outrora achávamos correta em
diagnósticos mensais de escrita e leitura para nosso olhar de alfabetizado e considerar o
que o avanço neste processo sejam alcançados ponto de vista do aluno ” (WEISS,1996).
por ambos ” (WEISS,1996) Para tanto considerar as estratégias de
Como sabemos, as crianças constroem leitura que são:
hipóteses sobre como se escreve e nas Decodificar: reconhecimento de algumas
investigações sobre a aquisição da escrita letras na palavra dentro de um contexto ou
refere ao que poderíamos chamar hipóteses de fora por meio de sons;
leitura, isto é, as ideias que as crianças Inferir: Deduz por meio da decodificação
constroem sobre o que está ou não grafado em das letras e conclui o que está escrito;
um texto escrito e o que se pode ler ou não Antecipar: quando o aluno não lê
nele. convencionalmente ele adianta-se na leitura
Quando as letras se tornam objetos pelo que já conhece, seja dentro de um texto
substitutos, as crianças costumam pensar que ou em uma lista de palavras de mesmo campo
qualquer coisa que esteja escrita perto de uma semântico (ex: lista apenas de frutas ou de
figura, exemplo: imaginam que se em uma animais);
caixa de remédio ou quem sabe “pílulas”. Selecionar: por meio de sons das letras esta
Por meio dessas atribuições o aluno começa estratégia pedir o aluno separar, escolher o
a fazer junções dando significado a sua leitura, som da letra da palavra que quer ler;
quando ocorre esse processo a criança e capaz Checar: após passar por todas essas
de ler um texto a partir de conhecimentos estratégias o aluno verifica-se realmente o som
prévios podendo identificar a tipologia do texto das letras encontra-se realmente naquela
por meio da estrutura textual e utilizando suas palavra e conclui sua leitura.
estratégicas de leitura. O ato de ler vai além de decodificar simples
Assim como a escrita é seu sistema é um letras mais exige assim como a escrita,
processo longo que vai construindo o estimular, mostrar conflitos e desafios para
conhecimento até finalizar, a leitura também que as crianças possam buscar respostas
exige das crianças a aquisição e construção de dentro e seu conhecimento suporte para a
conhecimento necessário para que possa haver construção do conhecimento novos neste
evolução até chegar à leitura convencional, não processo.
esquecendo que a correspondência que existe
do falado e o escrito, não dependendo para

775
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A ORTOGRAFIA EM SALA DE ao longo da história, por uma questão de


tradição de uso (SILVA, et al, 2007).
AULA No caso da língua portuguesa, a norma
A norma ortográfica é um termo utilizado ortográfica possui uma organização que busca
para designar uma norma necessária para diferenciar aquilo que pode ser aprendido por
superar limitações da notação alfabética, meio da compreensão e memorização, que
sendo então, um objeto de conhecimento em neste caso, se faz necessário devido as regras
si e também uma convenção social (SILVA, et existentes. E de qualquer maneira, o educador
al, 2007). deve buscar estratégias que contribuam para
Levando em consideração que a ortografia um aprendizado efetivo e de maneira mais
das palavras de determinada língua é uma prazerosa (SILVA, et al, 2007).
convenção social, ao longo da história, é No processo de alfabetização, o indivíduo
possível verificar diversas mudanças, e grafias passa por etapas parecidas com a evolução
que eram consideradas adequadas há cerca de história da grafia, ou seja, primeiro há uma
cem anos atrás, atualmente já não são mais assimilação, para posteriormente, ocorrer a
aceitas. Com isso, nota-se uma certa normatização da sua escrita. Com isso, precisa
dificuldade para fixar todas essas mudanças, entender que há um repertório fixo a ser
culminando em pequenas diferenças em seguido, podendo usar somente letras que já
algumas palavras como por exemplo as são usadas por quem sabe ler e escrever,
encontradas no português do Brasil e de sequência de letras, combinações, ou seja, há o
Portugal (SILVA, et al, 2007). cumprimento da norma ortográfica,
Por conta disso, as palavras não possuem obedecendo um sistema de escrita (SILVA, et
pronúncia única, e se não houvesse uma al, 2007).
intervenção da norma ortográfica, o leitor teria É válido ressaltar que nesse processo, é
inúmeras dificuldades para realizar a leitura preciso compreender aspectos regulares e
visto que os vocabulários não seriam irregulares da nossa ortografia, sendo o
facilmente identificados, tampouco, primeiro determinado por certas regras e
memorizados. aprendidos por compreensão (como exemplo a
Nota-se que desde a antiguidade há uma utilização de RR para marcar o som forte da
disputa em relação as opções de notação palavra ‘’ Carro’’). Já o segundo, precisa ser
alfabética, que buscam estabelecer critérios de memorizado, pois não há uma explicação, se
fixação da escrita. Sendo assim, existia uma não a etimológica, para escrever determinada
tendência para preservação do princípio palavra (como exemplo, variações entre S, C, Z,
fonético, que é caracterizado pela semelhança X, XC) (SILVA, et al, 2007).
entre grafia e pronúncia, e o princípio Sendo assim, é necessário que o professor
etimológico, que busca preservar a grafia tome conhecimento detalhado de todo o
original quando a palavra é de outro idioma. processo da ortografia para proporcionar
Neste caso, ambos princípios foram adotados atividades adequadas à compreensão e/ou

776
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

memorização, onde o aluno consiga construir o No entanto, esse diagnóstico detalhado


conhecimento. mostra que alguns alunos precisam de atenção
Para que o aprendizado ocorra de maneira especial, então o trabalho neste caso, precisa
efetiva, se faz necessário um planejamento da ser feito de maneira mais detalhada
ortografia, que consiste em uma organização trabalhando as dificuldades do indivíduo e não
prévia daquilo que será ensinado. Este, por sua da sala de aula. E por meio destas observações,
vez, é feito por meio do planejamento de é possível promover uma ação conjunta dos
atividades mais eficazes, baseando-se naquilo profissionais de ensino para encontrar
que já é conhecido e no que o aluno ainda estratégicas didáticas, formas de proporcionar
precisa conhecer, identificando as principais uma aprendizagem efetiva e metas de ensino,
conquistas, dificuldades, e com isso, modificando os métodos antigos e limitados da
proporcionando um método de ensino que ortografia.
atenda plenamente as necessidades daquela Ainda no âmbito do ensino da ortografia, é
turma. válido ressaltar que há duas teorias acerca do
Este planejamento consiste em um assunto. Uma, baseia-se no método
diagnóstico para acompanhar o aprendizado e tradicional, e a outra, na reflexão sobre a
evolução do aluno, servindo como base para a escrita (SILVA, et al, 2007).
realização de atividades em sala, e também A primeira, é caracterizada pela
como um estudo na formação continuada dos memorização, treino e inúmeras cópias até que
professores. No diagnóstico, além de observar o aluno decore determinada palavra.
aquilo que o aluno sabe e a forma como evolui, Certamente, este método é o mais conhecido,
também se faz necessário fazer um onde o aluno realiza várias atividades ditadas e
mapeamento, ou seja, acompanhar de forma após escrever repetidas vezes, ao mostrar que
organizada o processo de aprendizagem e o decorou a forma correta da ortografia, é
registrar periodicamente, resultando em um recompensado de alguma maneira pela
acompanhamento cuidadoso da evolução professora. Caso erre, como tarefa, tem que
deste processo (SILVA, et al, 2007). escrever mais vezes, até chegar na escrita
Na prática, esse diagnóstico pode ser adequada. Este método, ainda que muito
realizado por meio de atividades simples como antigo, continua sendo utilizado por alguns
a produção de textos espontâneos, ou seja, um professores, que por sua vez, também
texto feito pelo próprio aluno em fases aprenderam a escrever dessa maneira. Nele, há
diferentes do ano letivo, verificando a forma uma concepção que a maneira adequada de se
como ele evolui na escrita e também na chegar no aprendizado é repetindo e
exposição de suas ideias. Além disso, outra memorizando a forma correta de realizar a
maneira é por meio de ditados, que revelam a escrita (SILVA, et al, 2007).
forma como o aluno escreve certas palavras, e Porém, este método de ensino, proporciona
com isso, usar de instrumento para mapear o uma maneira completamente mecânica de
conhecimento ortográfico de todos os alunos aprendizado, onde o aluno é incentivado a
da classe. adotar uma postura passiva diante do

777
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizado. Os alunos não são estimulados a regularidades e irregularidades, este processo


refletirem sobre a ortografia e isso faz com que ocorrerá de maneira mais tranquila e eficaz
esse método não seja tão eficaz, visto que para o aluno. As crianças que escrevem melhor
corriqueiramente, os alunos escrevem de são justamente as que compreenderam as
maneira errada (SILVA, et al, 2007). diferenças existentes em cada uma delas
Por conta desse modelo mecanicista de (SILVA, et al, 2007).
aprendizagem, atualmente, há uma forte Além disso, é válido ressaltar que não há um
tendência de professores que acreditam não momento certo para ensiná-los sobre a
ser necessário ensinar a ortografia, e que com ortografia. Obviamente, esse processo deve
o tempo, o próprio aluno tendo contato com ocorrer somente quando os alunos
textos, aprenderá de forma espontânea. No entenderem sobre o sistema da escrita
entanto, é necessário achar um consenso entre alfabética. Porém, na medida que surgirem
esses dois extremos, pois a escola tem o papel dúvidas mais avançadas, o professor não
de ensinar o aluno, porém, o ideal é que o deverá omitir as respostas, ainda que elas não
proporcione as ferramentas necessárias para consigam entender exatamente todo o
que ele construa o conhecimento, excluindo processo. No entanto, para que o processo de
então, a possibilidade do aprendizado ocorrer ensino aprendizagem ocorra verdadeiramente,
de maneira mecanicista (SILVA, et al, 2007). é interessante o professor achar um equilíbrio
Dessa forma, o ensino pode ser feito por entre sanar as dúvidas momentâneas e
meio de outro método citado anteriormente, o encontrar o momento adequado para
da reflexão sobre e escrita. Este, trata o especificar tais normas da língua ortografia,
processo de uma forma ativa, fazendo o aluno partindo da ideia de que o aluno precisa ter
refletir sobre a maneira como se escreve mais autonomia para assimilá-las.
corretamente cada palavra. Neste caso, é papel Com isso, os professores encontram um
do professor diferenciar as regularidades e grande desafio entre propiciar um meio
irregularidades da escrita, para que o aluno adequado para que os alunos reflitam,
compreenda as regras da ortografia, e também discutam e relatem seus conhecimentos sobre
entenda que há casos em que ele precisa de as normas, e o ‘’ aprender a escrever’’ se torna
fato partir para a memorização direta. No caso muito mais complexo do que simplesmente
das regularidades, a partir do momento em decorar as palavras corretamente. Somente
que o aluno cria consciência das regras para a dessa maneira o aprendizado estará ocorrendo
escrita, ele conseguirá reproduzir com de uma maneira efetiva, porque o aluno está
segurança até mesmo palavras que não sejam de fato adquirindo conhecimento por meio da
usadas em seu cotidiano (SILVA, et al, 2007). reflexão.
Certamente, em ambas as formas de escrita, O ensino da ortografia não acontece por
o aluno em algum momento encontrará meio de uma sequência artificial, e sim por
dificuldades para reproduzir um texto, porém sequências didáticas que estimulam o aluno a
quando o professor se dedica a ensinar pensar, compreender e assimilar os princípios
separadamente as diferenças entre

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ortográficos, e assim fazer o uso adequado Sabe-se que nem sempre o considerado
destes. melhor dicionário, é o melhor material para ser
Sendo assim, uma sequência didática eficaz utilizado na educação. Isto ocorre porque é
considera as hipóteses do aluno, ou seja, aquilo necessário considerar o público alvo que possui
que já é conhecido pelo para então propor peculiaridades em sua linguagem. Para essa
novos aprendizados; o desenvolvimento da escolha, alguns critérios devem ser adotados,
habilidade metacognitiva, que proporciona tais como: a representatividade do
discussão sobre acertos e erros, gerando uma vocabulário, incluindo termos utilizados para o
reflexão sobre a maneira como as palavras são público alvo destinado; qualidade das
escritas; o favorecimento da interação, que definições, com linguagem simples e precisa;
permite um saber compartilhado, e por fim, o apresentação de exemplos; cuidado com grafia
professor como mediador capacitado a e também informação adequada sobre as
interferir. Uma vez capacitado para tal, ele palavras registradas. Com isso, esta ferramenta
consegue propor questionamentos, de ensino se torna mais adequada para ser
desestabilizando as hipóteses dos alunos e usada em sala e muito mais fácil de ser
também os orientando por meio de apresentada ao aluno, fazendo com que ele se
ferramentas necessárias para a construção do sinta familiarizado.
conhecimento. Para isso, nota-se que também Para isso, também se faz necessário a
se faz necessário uma formação adequada do atuação do professor, insistindo no uso, não
professor para mediar este processo. somente na língua portuguesa, como em todas
Além disso, uma ferramenta valiosíssima no as disciplinas, fornecendo atividades que o
processo de aprendizagem da escrita é o utilizem, além de explicar como a consulta a
dicionário. Este, ajuda a tirar dúvidas na escrita esta ferramenta deve ser realizada,
das palavras, significados, origem, caráter desmistificando possíveis receios provenientes
regional, entre outros, proporcionando uma dos alunos por falta de convívio com o
melhor compreensão do vocabulário. dicionário.
No entanto, para muitos, o dicionário ainda
é visto como um grande livro de consulta a ser UMA ABORDAGEM
usado ocasionalmente, e geralmente em aulas
de português. Além de ter uma função muito PEDAGÓGICA EFICIENTE
maior que essa, como visto anteriormente, o O processo de ensino aprendizagem se torna
dicionário deve ser uma ferramenta utilizada mais efetivo quando considera as
constantemente em aulas de todas as peculiaridades do aluno, bem como a questão
disciplinas para que o aluno se familiarize com social nas práticas pedagógicas, e no caso da
ele. Porém, para que isso aconteça da melhor alfabetização, não deveria ser diferente, visto
forma possível, é necessário analisar qual o que desvalorizar a fala do aluno em prol da
tipo de dicionário que a instituição de ensino língua padrão, é uma prática completamente
está recebendo. excludente e não agrega conhecimento, só

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dissemina a negação da diversidade cultural leitura, não é apenas um ato de decodificação


existente (ROJO, 2009). e sim de cognição, compreensão, envolvendo
Além disso, cabe analisar também as uma série de conhecimentos. Aqui, é válido
metodologias utilizadas para este processo, ressaltar que há uma interação entre o leitor e
que como visto anteriormente, o autor.
superficialmente aparenta ser simples, mas as Já no que diz respeito as habilidades de
cartilhas utilizadas e a maneira como o escrita, há uma série de competências a serem
professor tem mediado este processo, mostra trabalhadas e desenvolvidas ao longo da
que as práticas precisam ser reavaliadas, pois educação básica, e até mesmo da vida. No
percebe-se uma evasão na alfabetização. E entanto, tratando-se da educação regular, os
infelizmente, tem se tornado comum elementos norteadores são: noção do dom
encontrar alunos saindo da educação básica para o aluno que se desenvolve bem na escrita,
com dificuldades em elaborar um simples uso do texto literário como modelo padrão,
texto. Dessa forma, a quantidade de alfabeto desenvolvimento de temas, avaliação de
funcional, mostra que as metodologias correção gramatical e de texto, além da
precisam ser urgentemente revistas. utilização de mecanismos textuais na forma de
Outro fator importante a citar, é que essa regras ou rotinas (ROJO, 2009).
geração de ‘’ mal alfabetizados’’ está entrando No entanto, vale ressaltar que o perfil do
na sala de aula com a função de lecionar, alunado e professorado tem sofrido mudanças
tornando a aprendizagem ainda mais constantes, e atualmente há uma dificuldade
superficial, sendo que nem estes foram das escolas em se adequar a essa nova
alfabetizados e capacitados adequadamente. realidade. Porém, essa adequação que deve
Aqui, cabe avaliar a maneira como as considerar as peculiaridades do público em que
faculdades tem formado os profissionais da se trabalha, é extremamente necessária para
educação. efetivar a qualidade de ensino.
Assim, o aprendizado de todo o processo Dessa forma, pensando na linguagem
envolve uma série de competências e escrita, as propostas pedagógicas não deve se
habilidades a serem desenvolvidas ligadas a apegar apenas a uma modalidade de texto, e
leitura e escrita. Dessa forma, a literatura sim explorar a diversidade de textos em sala de
trabalha com níveis de alfabetismo, que aula, contemplando a heterogeneidade
envolve desde a capacidade simples do presente no contexto escolar.
alfabetizado em decodificar palavras e localizar Outro fator importante a ser considerado na
informações, até a plena compreensão de um elaboração das práticas pedagógicas, é a
texto (ROJO, 2009). globalização, que trouxe consigo, novas
No âmbito da leitura, as capacidades tecnologias, e estas deve ser incorporadas no
envolvidas são as mais diversas, tais como: contexto escolar, preparando-o para fazer uso
ativação, reconhecimento e resgate do das mais diferentes tecnologias referentes às
conhecimento armazenado na memória, áreas de atuação (ROJO, 2009).
capacidade lógica, interação, entre outros. A

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Considerando o mundo contemporâneo, de indivíduos pensantes e críticos, que façam uma


forma a contempla-lo nas práticas leitura do mundo e que transformem seu
pedagógicas, surge o termo letramento próprio mundo, abrindo novos caminhos
múltiplo ou multiletramento, que insere o (ROJO, 2009).
contexto social dos professores, alunos e toda Assim, cabe ressaltar os professores e a
a comunidade, colocando-os em contato com problemática citada anteriormente dos ‘’mal
os letramentos valorizados e universais. alfabetizados’’ que estão chegando em sala de
Dessa forma, trabalhar a leitura e escrita no aula, munidos de uma formação inadequada
contexto escolar é muito mais complexo do pelas diversas faculdades de licenciatura
que trabalhar a alfabetização/alfabetismo. O existente.
trabalho adequado, envolve os letramentos Por fim, sabe-se que o processo de
múltiplos, englobando a leitura da escola e da alfabetização e letramento na perspectiva
vida, considerando os mais diversos usos de crítica, só poderá ser conduzido por um
linguagem, tais como a verbal, corporal, profissional que atue dentro de fora do
plástica e das línguas, ao ouvir, ler e escreve, ambiente escolar como um cidadão crítico, e
mas sem deixar de incorporar e potencializar o veja a educação como um processo político,
multiculturalismo e o uso de todo avanço na revolucionário, que visa emancipar o homem.
sociedade, inclusive o tecnológico, afim de Com isso, cabe ressaltar a importância da
favorecer e compatibilizar as práticas formação continuada destes profissionais para
educativas com o mundo contemporâneo. que atinjam o nível necessário para de fato
Com isso, certamente o aluno se sentirá atuarem em sala de aula, e assim, promover a
contemplado e representado, e o processo de mudança que o sistema de ensino tanto
ensino aprendizagem ocorrerá com muito mais precisa.
facilidade e leveza, visto que o aluno Além disso, em casos específicos onde as
conseguirá ver realidade e associar o dificuldades de aprendizagem envolvem uma
aprendido com o mundo cotidiano – o que é problemática mais complexa, é necessário um
essencial para que ele mantenha-se firme na trabalho multidisciplinar, envolvendo outros
escola e a veja como um caminho necessário profissionais, bem como os da área da saúde,
para o seu desenvolvimento. para fazer acompanhamento adequado do
Neste contexto, cabe citar Paulo Freire e sua paciente. No entanto, percebe-se que ter uma
concepção a respeito deste processo, que proposta pedagógica inovadora e direcionada
critica os métodos tradicionais de ensino, e às dificuldades do aluno, é capaz de alfabetizar
talvez isso justifique o grande fracasso e a e letrar com sucesso, considerando que as
geração de mal alfabetizados que observamos metodologias tradicionais de ensino
por meio da leitura da obra. Para ele, tais envolvendo cópias são muito genéricas e
métodos, não realizam o ‘’ todo’’ de uma superficiais, não atendendo a proposta do
alfabetização, ou seja, formam apenas perfil do aluno considerando ‘’ comum’’ para
decodificadores. Dessa forma, muito mais que escola, quem dirá o aluno com qualquer tipo de
formar um indivíduo que escreva dificuldade no processo.
adequadamente e promova avanço nos mais
diversos índices citados, é preciso formar

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento de trabalhos e pesquisas tem fortalecido educadores de todas as áreas
e nos permitido refletir sobre as práticas pedagógicas.
O trabalho a ser desenvolvido com os alunos deve ser de puro compromisso do educador,
pois ele será o mediador e incentivador de todo conhecimento. É possível sanar as dificuldades
dos alunos, por meio de diferentes recursos, para que os alunos percebam as diversas maneiras
de aprendizagem relacionando todo conhecimento com o seu cotidiano, melhorando assim seus
aspectos cognitivos, sociais facilitando a aquisição no processo de escrita e leitura em seu
contexto intelectual.
Esta pesquisa foi de suma importância para compararmos tais autores e suas metodologias
e entender um pouco mais sobre esse dom que é ser alfabetizador.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 2000.

783
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DISLEXIA NO ÂMBITO ESCOLAR


Willian Messias dos Santos1

RESUMO: O presente artigo aborda a Dislexia na Educação Escolar e o tema foi escolhido para
observar como se dá a inclusão da criança com dislexia nos anos iniciais de alfabetização, mostrar
como é sua socialização e interação num todo dentro do âmbito escolar. Para tanto a autora
Campbell (2009), contribuiu de maneira significativa para a realização deste artigo. Sendo assim,
cabe ressaltar que nesse processo de aprendizagem da criança com dislexia a família tem um
papel de suma importância para que o avanço seja mais significativo e concreto.

Palavras-Chave: Dislexia; Aprendizagem; Família; Participação.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura de Educação Física; Especialização em Gestão Escolar; Especialização em Gestão
Pública.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DYSLEXIA IN SCHOOL
ABSTRACT: This article addresses Dyslexia in School Education and the theme was chosen to
observe how the inclusion of children with dyslexia in the early years of literacy takes place, to
show how their socialization and interaction is in a whole within the school environment. For
that, the author Campbell (2009) contributed significantly to the realization of this article.
Therefore, it is worth mentioning that in this learning process of the child with dyslexia, the family
has a very important role in order for the progress to be more significant and concrete.

Keywords: Dyslexia; Learning; Family; Participation.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO apresenta maiores dificuldades. Foi destacado


também, a importância de se ter a parceria
Sabe-se que a Dislexia é um transtorno de entre a família e a escola para o sucesso do
aprendizagem e se caracteriza pela dificuldade aluno disléxico.
na leitura e escrita, a criança com dislexia Objetiva-se estudar o papel do professor na
possui certa defasagem em seu processo de identificação da dislexia no âmbito escolar;
aprendizagem. Para tanto, esse aluno terá que bem como pesquisar sobre o que é dislexia;
ter uma atenção maior por parte do verificar como os professores identificam a
profissional e a participação efetiva dos pais. dislexia em sala da aula; conhecer as causas e
Vale destacar, que o objetivo deste artigo é as consequências da dislexia para a
refletir, mesmo a criança tendo esse distúrbio aprendizagem; verificar a ação do professor
“Dislexia”, todos devem ter ciência do como mediador na construção da
progresso do aluno, mas é necessário que o aprendizagem do aluno disléxico.
aluno em questão seja tratado com carinho, Utiliza-se para o levantamento de dados
nunca colocado em situação constrangedora, pesquisa bibliográfica, tendo como foco
para que assim sua autoestima não venha cair. principal a ação pedagógica do professor no
Portanto, é de suma importância saber lidar sentido de auxiliar a construção da
com este aluno. aprendizagem do aluno disléxico.
Outro objetivo abordado será de
conscientizar os educadores da grande
CONCEITO DE DISLEXIA
importância de estarem devidamente
A dislexia é um transtorno de aprendizagem
preparados e formados para receberem o
na área de leitura, escrita e soletração, é o
aluno com dislexia, e atendê-lo com a melhor
distúrbio de maior incidência em salas de aula
qualidade possível. Pois percebe que nos dias
e, de acordo com as estatísticas disponíveis,
atuais, professores vão para a sala de aula
10% a 15% da população mundial sofre desse
despreparados para lidarem com certos
distúrbio, ou seja, entre 3 e 4 estudantes em
conflitos, ou até mesmo ao receberem alunos
uma classe com 30 alunos , afirma a autora
com distúrbios, e assim o educando acabando
Campbell (2009, p. 80).
ficando excluído e não tendo um ensino de
Dados da Associação Brasileira de Dislexia
qualidade como está assegurado na Lei de
(ABD), indicam que, em média, 40% dos casos
Diretrizes e Bases nº 9394/96.
diagnosticados na faixa mais crítica, entre 10 e
Assim sendo, ressalta-se o conceito de
12 anos, são de grau severo, 40% são de grau
dislexia, explicando como se dá esse distúrbio
moderado e 20% de grau leve.
e expondo também as características.
A dislexia não é resultado de má
Apresenta-se a interação entre a família e a
alfabetização, desatenção, desmotivação,
escola; a grande importância que a família tem
condição socioeconômica ou baixa inteligência
e a influência na vida de seu filho, pois sem sua
e, sim, uma condição hereditária com
participação a criança não terá sucesso na vida
alterações genéticas, apresentando ainda
escolar; uma vez que já por ter esse distúrbio
alterações no padrão neurológico e, por esses

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

múltiplos fatores, a dislexia deve ser aparentar o contrário. Para tanto, se faz
diagnosticada por uma equipe multidisciplinar necessário que o professor tenha um olhar
(CAMPBELL, 2009, p.80). diferenciado e com mais atenção para esse
Portanto, nota-se que a dislexia não se aluno, para que sejam exploradas a partir de
resulta de uma alfabetização defasada, mas suas maiores habilidades e se iniciar o processo
sim de fatores genéticos. Em virtude disso para de alfabetização. Vale ressaltar que só é
que não haja confusões com diagnosticados ou possível ser diagnosticado com Dislexia entre
até mesmo a escolar/professor ser culpado os anos iniciais de alfabetização, antes não é
pelo não aprender do aluno, é de grande possível, pois é no período da alfabetização
relevância que se tenha um acompanhamento que o professor irá observar tais dificuldades
e ser diagnosticados por toda a equipe no aluno.
multidisciplinar. Santos (1986), salienta que as dificuldades
As dificuldades de aprendizagem são apresentadas pelos disléxicos, são
decorrentes de aspectos naturais ou ocorridos consideradas pela maioria dos autores como
por alterações estruturais, mentais, inespecíficas, que podem ser apresentadas por
emocionais ou neurológicas que repercutem crianças normais no início da alfabetização.
nos processos de aquisição, construção e A dislexia não tem cura e depois de
desenvolvimento das funções cognitivas e são diagnosticado é de extrema importância que o
passíveis de mudanças por meio de recursos de aluno saiba e tenha ciência do que tenha, para
adequação ambiental, afirma a autora que assim possa trabalhar de acordo com suas
Campbell (2009, p.79) necessidades e utilizar os materiais adequados
Mediante a afirmação da autora, fica notório para que seu concretize seu aprendizado.
que a educação não é um processo simples e A autora Campbell (2009), evidencia
existem vários fatores englobando o processo algumas características que podem ser
de aprendizagem que são os próprios alunos, apresentadas pelo aluno, na qual mediante à
família, escola, os recursos que são tal comportamento será pertinente uma
disponibilizados na Instituição e o professor. avaliação com educadores e coordenadores
Assim sendo, para que ocorra essa pedagógicos e será recomendado aos pais um
aprendizagem no aluno, é necessário que o encaminhamento a um especialista:
professor esteja devidamente preparado e
capacitado para que não comprometa o • Dificuldades visuais e de coordenação
avanço do aluno e claro que se houver motora;
afetividade entre ambos o progresso será ainda • Pobreza no conhecimento de rimas e de
maior. vocabulário;
Campbell (2009), destaca que estudantes • Dificuldade na leitura e na escrita e na
diagnosticados com dislexia não conseguem cópia do livro ou do quadro;
decorar coisas nem ler ou escrever textos • Bom desempenho em provas orais;
longos, mas cerca de 80% dos disléxicos têm • Dificuldade em nomear objetos e
inteligência acima da média, apesar de pessoas;

787
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Troca de letras na escrita; Não resta dúvida de que a situação de bem


• Dificuldade em manusear mapas e estar das crianças e dos adolescentes encontra-
dicionários; se diretamente relacionada à possibilidade de
• Confusão entre direita e esquerda; manterem um vínculo familiar estável. Nesta
• Dificuldade em Matemática, desenho perspectiva, a presente coletânea percebe a
geométrico e em decorar sequências; convivência familiar como um espaço essencial
• Desatenção, dispersão, desorganização de seu desenvolvimento e como direito
geral e atrasos na entrega de tarefas; inalienável (KALOUSTIAN, 2000, p.9).
• Problemas de conduta: retração, timidez Percebe-se a grande importância de uma
excessiva e depressão. família ativa e participativa na vida de uma
Apresentando as características descritas, a criança, pois o mesmo desde a tenra idade irá
criança deve ser encaminhada à uma Equipe adquirir princípios de amor, honestidade,
Multidisciplinar, que será feito um diagnóstico respeito ao próximo e solidariedade dentro do
preciso, na qual, trará grandes benefícios ao âmbito familiar. Portanto, a família não pode
educando, pois a partir de suas dificuldades o deixar de cumprir com seu papel, para que
educador irá iniciar seu trabalho e sempre com assim a criança possa viver em sociedade
o apoio da família. independente de suas limitações.
Em se tratando do aluno diagnosticado com
dislexia, se faz necessária uma participação dos
pais ainda mais efetiva, tanto no seio familiar,
A INTERAÇÃO ENTRE A quanto no processo escolar, pois o mesmo irá
FAMÍLIA E A ESCOLA requerer um cuidado e atenção maior. É
relevante pontuar, a importância da criança
• A importância da família saber sobre sua dificuldade, pois em certas
Para melhor definir o papel a família, foram ocasiões passam por constrangimento em
utilizados os autores, Ferrari e Kaloustian público devido suas dificuldades em ler e
(1994), o que definem que a família é escrever
indispensável para garantia da sobrevivência e Quanto aos pais, a primeira coisa que devem
desenvolvimento da proteção integral, dos saber é que, se a dislexia de seu filho apresenta
filhos e demais membros, independentemente bom prognóstico, nem por isso a recuperação
do arranjo familiar, ou da forma que vêm se será obtida de imediato e por trabalho tão
estruturando. É a família que propicia os somente do reeducador. Boas condições do
aportes afetivos e, sobretudo recursos ao ambiente familiar tais como: relações
desenvolvimento e bem estar dos seus harmoniosas entre os diversos membros;
componentes. A família, portanto desempenha disciplina do disléxico no trabalho, na
um papel decisivo na Educação formal ou recreação, no regime de sono, quanto a
informal, nesse agrupamento são absorvidos alimentação; formação, nele, de atitudes
valores éticos e humanitários, na qual se necessárias ao equilíbrio emocional e ao
aprofundam espaço de solidariedade.

788
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ajustamento social, são importantes para o bem claro o papel da família e escola em todo
êxito da reeducação (SANTOS, 1986, p.122). o processo de ensino aprendizagem da criança.
Considerando a afirmação que a autora Para tanto, primeiramente, a criança
Santos (1986), percebe-se que a família será o disléxica deve ser bem acolhida no seio familiar
protagonista, pois tem o papel indispensável para que não se sinta rejeitado e assim
em todo o processo do aluno com dislexia. Mas comprometendo seu aprendizado. Santos
infelizmente, mesmo estando em pleno século (1986), também ressalta a importância das
XXI, ainda existe certa resistência dos pais em crianças estarem suficientemente esclarecidas
aceitarem crianças com alguma deficiência, de que são tão inteligente quanto seus irmãos,
pois o que os pais almejam são “Os filhos amigos e colegas e de que suas dificuldades na
considerados normais”. E em certos casos, aprendizagem de leitura/escrita e, talvez,
também, os mesmos alegam não ter tempo em também de outras matérias, é reconhecida
dar a devida atenção e cuidado aos filhos, como não decorrente de preguiça ou
devido à vida rotineira e de muito trabalho, e desinteresse em aprender, como se lhes possa
assim diminuindo cada vez mais a participação ter repetido muitas vezes.
dos pais na vida escolar dos filhos. Fazendo conexão entre o aprendizado da
Maldonado (2002), afirma que “pais e filhos criança disléxica e a participação efetiva da
precisam crescer juntos: a cada etapa do família Frank (2003), salienta que alunos
desenvolvimento é preciso fazer ajustes na disléxicos têm grandes chances de viverem
maneira de lidar com as situações que com medo. Assim sendo, para que o mesmo
surgem”. Portanto, é necessário que tenha tenha um desenvolvimento positivo é
maior participação dos pais na vida escolar dos necessário que a família, professores e amigos
filhos desde a educação infantil, na qual tudo tenham bem claro as dificuldades
começa, e assim em cada etapa de apresentadas pela criança, e sempre ajudando-
escolarização, para que haja o pleno o e apoiando, para que não seja colado em
desenvolvimento do aluno. situação de medo, ou até mesmo rotulado.
Cabe destacar a extrema importância de ser
FAMÍLIA E ESCOLA, COMO trabalhado com o aluno disléxico a questão da
Autonomia, tanto no âmbito familiar quanto na
PARCEIRAS PARA O SUCESSO DO Instituição Escolar, pois em alguns casos são
ALUNO COM DISLEXIA muito dependentes para coisas simples como
A relação entre a família e a escola na “vestir uma roupa, ou organizar seus próprios
maioria das vezes acaba em conflitos, mesmo materiais escolares” e pais/escola as vezes por
ambas as partes tendo em mente que o foco não terem o preparo adequado ou até mesmo
central é a educação de qualidade do educando paciência acabam fazendo tudo pela criança; e
desde cedo, independentemente de sua não desenvolvendo a autonomia para que o
deficiência e limitação. Portanto, para que não mesmo possa se sentir valorizado por coisas
haja tal conflito, se faz necessário que se tenha simples.

789
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Em se tratando da escola, o professor deve todo esse processo). Com isso o professor
ressignificar seu papel, estar em constante deverá facilitar a aprendizagem e assim terá
formação e atualizado, para que ao receber o que elaborar trabalhos voltados para o visual,
aluno com dislexia possa estar totalmente auditivo e oral.
preparado para lidar com todas as situações Nesta perspectiva, o educador para atingir
que apresentar, e assim sempre criando e de maneira positiva o aluno, é interessante que
inovando caminhos para o processo de ensino realize trabalhos em grupos sempre o incluindo
aprendizagem dos alunos. em todas as atividades propostas, nunca
No aspecto de desenvolvimento, o aluno deixando seu aluno com dificuldade de lado,
disléxico apresenta dificuldades na leitura, quando necessário for adaptar as atividades de
escrita, fala e escuta, pois em certos casos, não acordo com a necessidade da criança. Vele
consegue assimilar ou se concentrar para ressaltar, a importância de todos os alunos da
desenvolver tal habilidade, mediante essa classe estarem ciente sobre o que é a Dislexia.
situação cabe ao educador, buscar estratégias Campbell (2009), ainda nos afirma que:
pertinentes às necessidades da criança no O professor deve recorrer a diversas
momento; pois o aluno com dislexia tem atividades e técnicas de ensino e descobrir qual
capacidade de aprender e se desenvolver assim delas melhor se adapta a cada estudante e a
como outra criança considerada “NORMAL”, cada situação, dando um tempo maior para o
porém esse processo se dará em longo prazo. estudante disléxico fazer o mesmo trabalho
O educador deve estar atento para nunca que os demais (CAMPBELL, 2009, p.83).
expor esse aluno, e deixá-lo em situação Tânia Freitas (2011), em seu artigo científico
vexatório, para que o mesmo não se sinta aponta alguns aspectos como facilitadores que
incapaz e ficando isolado. podem ser introduzidos pelo educador sendo
Conhecer como se processa a aprendizagem utilizados como um norte no processo
de seus alunos e quais as dificuldades que acadêmico e também como ferramenta, assim
podem apresentar em cada um dos aspectos auxiliando os alunos disléxicos:
cognitivos é de suma importância para • Perceber e estimular as habilidades de seus
possibilitar ao professor uma melhor alunos, como forma de dar-lhe segurança,
interferência no processo de aprendizagem, melhorar autoestima, sempre auxiliando
pois algumas dificuldades recomendam a quando necessário, para que os alunos se
intervenção profissional diferenciada, sintam confortáveis em solicitar ou tirar
enquanto outra requer apenas que o estímulo dúvidas com o professor;
adequado seja oferecido para que seja • Desenvolver o prazer pela leitura, sempre
superada (CAMPBELL, 2009, p.71). levando em consideração os interesses dos
Sabe-se, que este aluno, terá maiores alunos e sua faixa etária;
dificuldades em seu processo de ensino • Trabalhar com atividades que ampliem o
aprendizagem e autoestima baixa, por não vocabulário, assim como atividades que
aprender no mesmo ritmo que seus colegas de estimulem os alunos a escrever;
classe (fator esse que também influencia em

790
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Explorar seu mundo imaginário e suas MARCOS LEGAIS DA CRIANÇA


habilidades práticas e criativas.
• Elogiar sempre que merecido suas
COM DEFICIÊNCIA
produções e manifestações criativas ou de Todos os alunos têm leis que os amparam e
ajuda em sala de aula; alunos portadores de deficiência também
• Permitir e incentivar espaço para que possuem as leis. Para tanto, temos a Lei de
outras habilidades do disléxico possa se Diretrizes e Bases (LDB), que pontua em seu
destacar: esportes, manipulação de artigo 2º que a educação é dever da família e
tecnologia, desenhos, arte em geral, teatro, do Estado, inspirada nos princípios de
música, dentre outros. liberdade e nos ideais de solidariedade
humana, e tem por finalidade o pleno
• É importa colocar o disléxico sentado nas
primeiras carteiras e garantir sempre que desenvolvimento do educando, seu preparo
ele compreendeu a tarefa solicitada; para o exercício da cidadania e sua qualidade
para o trabalho.
• Estimular a organização e disciplina para o
Para tanto, tanto a família quanto a
trabalho;
Instituição Escolar tem o dever de garantir e
• Incentivar técnicas de estudo, como leitura
favorecer o desenvolvimento do aluno e
seletiva, sínteses e mapas mentais ou
sempre como já foi mencionado ao longo do
conceituais;
Artigo, da relevância do trabalho com parceria,
• Dar tempo adequado dependendo do
para um trabalho mais eficaz, para com o aluno
trabalho a ser realizado;
disléxico.
• Não exigir do disléxico leitura em voz alta.
No artigo 3º da LDB, dispõem que: O ensino
será ministrado com base nos seguintes
Mediante aos aspectos destacados pela
princípios:
autora acima, nota-se o grande papel que o
I igualdade de condições para o acesso e
professor tem e deve exercer tendo um aluno
permanência na escola;
com esse distúrbio, mas para que tudo isso
II liberdade de aprender, ensinar, pesquisar
ocorra com êxito, não podemos deixar de citar
e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o
o papel que a família também deve exercer em
saber;
todo esse processo.
III pluralismo de ideias e de concepções
Campbell (2009), ainda ressalta que a
pedagógicas;
aprendizagem se influência pela inteligência e
IV respeito a liberdade a apreço à tolerância;
pela motivação, na qual, o estímulo e o impulso
Nessa perspectiva, fica notório o papel
são essenciais para o processo de novas
fundamental em que a escola e família devem
informações que serão absorvidas pelo aluno.
exercer para que o aluno disléxico se sinta bem
Para tanto, a criança irá apresentar suas
acolhido e tendo interesse e prazer em
próprias estratégias no momento de
aprender, apesar das dificuldades que irá
aprendizagem e cabe ao educador respeitar o
enfrentar devido seu distúrbio.
mesmo.

791
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No Capítulo V da LDB, em seu artigo 59,


destaca que os sistemas de ensino assegurarão
aos educandos com deficiência: currículos,
métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específica, para atender às suas
necessidades; e professores com
especialização adequada, para atendimento
especializado, bem como professores do
ensino regular capacitados para a integração
desses educandos nas classes comuns.

LEI N 8.069, DE 13 DE JULHO


DE 1990 ESTATUTO DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE (ECA)
O ECA (1990), em seu Artigo 53 afirma que:
A criança e o adolescente tem o direito à
educação, visando ao pleno desenvolvimento
de sua pessoa, preparo para o exercício pleno
da cidadania e qualificação para o trabalho,
assegurando-se lhes:
I igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola;
II direito de ser respeitado por seus
educadores;
III direito de contestar critérios avaliativos,
podendo recorrer às instâncias escolares
superiores;
Sendo assim para que esses direitos
mencionados sejam garantidos, se faz
necessário o olhar diferenciado para este
aluno, buscando aulas atrativas e que motivem
o mesmo, uma vez que os alunos com esse
distúrbio (Dislexia) são desmotivados.

792
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando as grandes transformações da nova sociedade, bem como o avanço na área
tecnológica e as estruturas familiares; vale ressaltar que a função primordial da escola sempre
permanecerá a mesma, com o objetivo primordial favorecer o desenvolvimento acadêmico e
social dos educandos, independentemente de suas limitações e condições mediante tal limitação
do aluno. O educador e toda Equipe Escolar terá como função trabalhar de acordo com as
possibilidades e necessidades.
Em se tratando do aluno disléxico, o educador deve sempre elaborar atividades em que o
mesmo possa realizar e sempre interagindo e participando juntamente com os demais alunos da
sala.
Para tanto, para que ocorra o cumprimento desta função, a escola precisa mudar e essa
mudança deve garantir a interação entre todos da escola e tendo acima de tudo uma parceria
com a família, para que o trabalho aconteça de maneira significativa e prazerosa ao educando.
Sendo assim, a Instituição Regular de Ensino, deve ter bem claro, que a inclusão tem de
ser compreendida como uma política de interação entre todos os alunos e assim conscientizando
o educador para a grande importância e necessidade de estarem em constantes formações para
que estejam devidamente preparados para receberem estes alunos; pois o mesmo estando
preparado irá conseguir realizar um trabalho de qualidade e eficaz.

793
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Federal Nº8069, de 13 de julho de 1990. ECA – Estatuto da Criança e do
Adolescente. Brasília, 1990.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.


Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Dispõe sobre as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Brasília, DF: MEC, 1996.

CAMPBELL, Selma Inês. Múltiplas faces da Inclusão. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009.

FREITAS, Tânia. Orientações para o trabalho com disléxico em sala de aula. Disponível
em:http://www.uemg.br/openjournal/index.php/anaisbarbacena/article/viewFile/1579/931 . Data
de Acesso: 20/07/2022.

KALOUSTIAN, Silvio Manoug. Família Brasileira, a base de tudo. 4.ed. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNICEF, 2000.

MALDONADO, M. T. Comunicação entre Pais e Filhos: a linguagem do senhor. São Paulo:


Saraiva,2002.

SANTOS, Cacilda Cuba. Dislexia Específica de Evolução. São Paulo: SARVIER, 1986.

794
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO INCLUSIVA, ARTE E EDUCAÇÃO


Andréia Ana Aparecida Silva Leal1

RESUMO: O presente artigo tem o objetivo de elencar as diversas contribuições da arte na


educação inclusiva, na socialização e no pleno exercício da cidadania aos estudantes com
necessidades especiais. O ensino da Arte possibilita que por seu intermédio, todas as dimensões
da aprendizagem possam ser consideradas envolvendo as relações estudantes e meio no
processo inclusivo e interativo. Dessa forma, arte e educação complementam-se na medida em
que uma colabora para o desenvolvimento das aprendizagens em um processo de inter-relações
constantes culminando em uma educação estética.

Palavras-Chave: Educação; Inclusão; Arte.

1
Professor de Arte na Rede Pública da Cidade de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Arte pela Universidade Metropolitana de Santos.
.

795
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INCLUSIVE EDUCATION, ART AND EDUCATION


ABSTRACT: This article aims to list the various contributions of art in inclusive education,
socialization and the full exercise of citizenship for students with special needs. The teaching of
Art makes it possible that through it, all dimensions of learning can be considered, involving
student and environment relationships in the inclusive and interactive process. In this way, art
and education complement each other to the extent that one collaborates for the development
of learning in a process of constant interrelations culminating in an aesthetic education.

Keywords: Education; Inclusion; Art.

796
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO possibilidade de expressão para o


indivíduo/aluno com necessidade especial. As
O profissional “Professor” é formado para linguagens artísticas, dança, música, teatro e
transpor o conhecimento específico de um artes plásticas ajudam a desenvolver o discurso
determinado ramo do saber para um público do indivíduo/aluno com necessidade especial.
amplo. A educação especial atualmente depara-se
As variáveis são muitas (idade, nível com uma crise de identidade. Não existe
cognitivo, classe social, infraestrutura homogeneidade no tratamento metodológico
disponível, etc) e as opções de ação, tanto no que diz respeito aos alunos, quanto no
igualmente variadas (metodologias de ensino, que tange às atribuições da instituição escolar
formas de avaliação, planejamento, currículo, dita especial. Beyer (2010), aponta como causa
tipos de aula, etc). Educar é muito complexo, do problema o fato de que o reposicionamento
demanda olhares de diversas perspectivas para do portador de deficiência no mercado de
que se obtenha o objetivo desejado. trabalho e em outros setores sociais é um
No entanto, no que tange a educação imperativo, “há pressões sociais no sentido da
pública podemos verificar como o professor abertura de espaços, para que as pessoas com
precisa transpor ainda mais obstáculos, mas deficiência saiam de redutos segregados... e
isso tudo serve para que o profissional lance coloquem-se nos espaços comuns da
mão de tudo que estiver ao seu alcance para sociedade, isto é, nas escolas regulares”
que possa cumprir o currículo determinado (BEYER, 2010, p.11).
para o ano, seja anos iniciais ou finais. Nesse contexto, a utilidade e o sentido da
Por fim, mesmo com os entraves educação especial passam a ser questionáveis,
econômicos de falta de investimento na o profissional da educação se encontra em
educação, a presença do professor (tutor) é meio de situações cujos aspectos dificultam
indispensável. Sua presença se faz necessária sua prática. Tal questionamento nos revela
pela interlocução com o aluno, desenvolvendo uma transformação dos conceitos referentes à
o pensamento crítico e obtenção de pedagogia e didática relacionados aos
competências e habilidades necessárias para o métodos de ensino da educação especial. A
pleno exercício da cidadania. educação especial deixa de ser restrita e
Em um passado recente na história da limitada a alguns espaços e passa a atuar em
educação brasileira, a distinção entre o meio a escolas regulares. Portanto, o
atendimento de alunos “normais” e portadores movimento atual vai na contramão histórica e
de necessidades especiais era nítido: havia um descentraliza a educação especial. Não é mais
rompimento metodológico e cultural entre as o educando que procura o atendimento, mas
escolas regulares e instituições de ensino sim os docentes que atendem o portador de
especial. Tanto social quanto deficiência e necessidades especiais em toda
educacionalmente, cada uma das parcelas sorte de instituições de ensino.
supracitadas pertencia a um segmento restrito, De acordo com Oliveira (2009), a política de
o uso da arte vem de encontro com a inclusão de alunos portadores de deficiências

797
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

no ensino regular ocorre paulatinamente vivem. Entender o contexto de determinada


desde 1993 e tem como documentação basilar obra e do artista, agregar conhecimentos e
a Política Nacional de Educação Especial (1994) experiências, auxilia na competência motora,
publicado pelo Ministério da Educação e criativa e crítica. Estimular atividades que
Cultura, bem como a Declaração de Salamanca estimulem e propiciem a experiência com arte:
(1994), resultado parcial de um encontro exposições, galerias de arte, teatro,
internacional entre líderes e ONGs, o qual apresentação de dança, etc.
abrange a inclusão de alunos especiais No período da educação infantil sabemos da
afirmando o direito de educação para os importância da introdução das brincadeiras.
mesmos. A declaração ainda ressalta o dever Pela diversidade de formas de conceber o
das instituições para poder suprir as brincar, alguns tendem a focalizá-lo como
necessidades dos portadores de qualquer característico dos processos imitativos da
deficiência, o que nos faz argumentar sobre criança, dando maior destaque apenas ao
uma nova transvaloração sobre a educação período posterior aos dois anos de idade. O
especial em seu contexto sociocultural. Isso foi período anterior é visto como preparatório
um impulso para o avanço na Educação para o aparecimento do lúdico. Mas, temos
Inclusiva. Outra base do ensino da Arte é o clareza de que a opção pelo brincar desde o
Teatro, que humaniza e nos aproxima como início da educação infantil é o que garante a
forma de se comunicar por meio da Arte, cidadania da criança e ações pedagógicas de
principalmente nos alunos com necessidade maior qualidade. O brinquedo exerce uma
especial. poderosa influência sobre o
A Arte é fundamental, dentro dos pilares o comportamento da criança e a formação do
teatro é fundamental para a inclusão dos adulto que ajuda a delinear a personalidade
alunos portadores de necessidades especiais, das crianças, ela forma o caráter e
bem como a música, dança, artes plásticas. personalidade delas e por meio das
O Teatro desenvolve no aluno brincadeiras que moldamos tais traços de
(principalmente aquele que não se comunica personalidade e caráter, podendo fomentar
convencionalmente) a habilidade de se um comportamento pacífico ou
expressar e se comunicar por esse meio. O agressivo/violento dependendo da ênfase
objetivo maior do teatro não é o show em si é adotadas nessas brincadeiras.
a formação do aluno enquanto indivíduo e o Para a criança, brincar é a atividade principal
desenvolvimento para a comunicação mesmo do dia-a-dia, um momento de prazer que às
que não seja a convencional. vezes parece interminável. É importante
porque dá a ela o poder de tomar decisões,
O ENSINO ARTE expressar sentimentos e valores, conhecer a si,
aos outros e o mundo, de repetir ações
O ensino da arte deve contemplar: FAZER,
prazerosas, de partilhar, expressar sua
PENSAR e REFLETIR. A importância do ensino
individualidade, identidade, formando assim a
da arte se faz no momento de proporcionar a
personalidade/caráter por meio de diferentes
interação da criança com o mundo em que

798
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

linguagens, de usar o corpo, os sentidos, os quanto os da filosofia e psicologia (do


movimentos, a música, os brinquedos, os jogos desenvolvimento da infância e da
na tentativa de solucionar problemas, criar ou adolescência) da sociologia (geral, da
somente o prazer, a alegria desse momento. educação, da infância), da história (geral, das
Ao brincar, a criança experimenta o poder de ciências da profissão docente, da educação
explorar o mundo dos objetos/brinquedos, das moderna e contemporânea) da cultura (
pessoas, da natureza e da cultura, para corporal, brasileira, do brincar) na qual está
compreendê-lo e expressá-lo por meio de inserida na Ludicidade, da didática (geral e
variadas linguagens. A seleção de brinquedos específica), saberes específicos (Currículo,
utilizados nessa faixa do desenvolvimento Avaliação, Gestão de Sala de Aula, Inclusão de
infantil também demandam atenção alunos com necessidades especiais
(indicação de idade e selo do Inmetro), pois intelectuais, libras e superdotação) da área de
envolvem diversos aspectos que merecem base de cada disciplina.
atenção e cuidado, levando em conta sempre o
que queremos estimular na criança, seja um LUDICIDADE
espírito pacífico ou violento? Outras
Resgatar as brincadeiras infantis como tema
características do brinquedo é ser durável,
para o trabalho lúdico com as crianças.
atraente, adequado a diversos usos; garantir a
Destaca-se o artista Ivan Cruz que ressalta e
segurança (verificar o selo do Inmetro) e
aborda tais brincadeiras em suas obras.
ampliar oportunidades para o brincar; atender
Um pouco sobre o artista:
à diversidade racial, não induzir a preconceitos
Ivan Cruz pintou seus primeiros quadros
de gênero, classe social e etnia; não estimular
com temas de sua infância, mais precisamente
a violência; incluir diversidade de materiais e
suas brincadeiras. Daí o primeiro quadro da
tipos de brinquedos tecnológicos,
série BRINCADEIRAS DE CRIANÇA, nasceu na
industrializados, artesanais e produzidos pelas
Praça Porto Roça – Cabo Frio/RJ, com o título:
crianças.
“ Crianças na Praça”. Passou a retratar em suas
O plano da imaginação, o lúdico que
telas: crianças pulando corda, jogando bola de
desperta o brincar, se destaca pela mobilização
gude, pulando amarelinha, soltando pipa,
desses vários significados. Por fim, sua
pulando carniça e muito mais. De 1990 até
importância dos jogos, brinquedos e
hoje, Ivan Cruz pintou mais de 500 quadros,
brincadeiras se relaciona com a cultura da
retratando mais de 100 brincadeiras distintas,
infância, que coloca a brincadeira como
e chamou essa série de “Brincadeiras de
ferramenta para a criança se expressar,
Criança” que cresceu de tal forma sua
aprender e se desenvolver na escola e na vida.
expressão e repercussão que se transformou
A socialização do ensino presencial na escola
em um projeto, pois passou a em suas
faz parte hoje de um passado mítico e feliz,
exposições não só os quadros, mas os
porém educar não é uma tarefa intuitiva, ao
brinquedos retratados, oficinas de brinquedos,
contrário, requer enorme preparo e estudo.
contadores de história, além de uma
Entram em cena conhecimentos tão variados

799
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ambientação com músicas da época, como atividades que se adaptam a cada faixa etária.
cantigas de roda. Na educação infantil é a forma mais fácil e
Apropria das obras para o trabalho em sala assertiva de promover a alfabetização, inclusão
de aula, brincadeiras de criança como ponto e ampliação de repertório lúdico. A tarefa de
de partida para a reflexão das artes e ensinar é um desafio. Logo inserir a música
criatividade no processo de criação das também é, pois com tantas opções e incentivos
atividades desenvolvidas em sala . dos meios de comunicação necessita-se ter
O artista Ivan Cruz brinca com a proposta de senso crítico e postura ética para que este
resgatar as brincadeiras no ambiente escolar papel tão importante da educação aconteça na
abordando as demais linguagens da arte: prática com qualidade e eficiência. Nesse
DANÇA, TEATRO e MÚSICA. sentido, pode-se notar que o ensino com a
Construção dos brinquedos com os alunos música na educação infantil tem papel
em sala de aula passa a ser uma proposta de fundamental na formação do ser humano. De
contextualização quanto à história de cada acordo com o Referencial Curricular Nacional
brinquedo, descobrir a origem de cada um. A da Educação Infantil, as escolas de educação
grande diversidade existente na nossa infantil além de oferecer um ensino de
literatura infantil também deve ser utilizada de qualidade, precisam desenvolver algumas
forma a enriquecer ainda mais esse trabalho. habilidades na criança, levando em
consideração que nos primeiros anos de vida
MUSICALIDADE E O PROCESSO do indivíduo requer atenção especial, pois é
onde acontece a construção de um cidadão
EDUCATIVO participativo, crítico e consciente de seu papel
Sabe-se que a música é muito presente em na sociedade e na vida. A música tem como
diversas culturas, essa versatilidade confere à objetivo incentivar a criatividade de forma
música infinitas possibilidades no campo da lúdica informal, já que para as crianças é
Educação, mais precisamente no contexto do oferecido pouco espaço para criar e a música é
ensino e aprendizagem ela é utilizada nas um caminho muito fértil para tal prática e
aulas, principalmente como meio de inclusão realização de atividades que incentivem a
pelo lúdico. A importância da música para a ludicidade e criação. Nesse sentido, a prática
Educação Infantil é como ferramenta da música dentro das escolas, principalmente
imprescindível na atuação do professor, com na educação infantil é considerada além de ser
vistas ao desenvolvimento do educando em uma aprendizagem significativa, um olhar
termos de psicomotricidade, ludicidade, reflexivo para as práticas educacionais com
motivação para a leitura e escrita, sonoridade, aprendizagens sempre valorizando a
ritmo, ampliação de vocabulário, a linguagem diversidade do aluno e seu espaço de vivência.
como um todo. constata-se a relevância da Sabemos que a educação sozinha não
música em sala de aula como promotora do transforma conhecimentos em aprendizagens,
desenvolvimento infantil sem precedentes, é preciso o envolvimento da comunidade
possibilitando uma gama de opções de escolar; gestão, professores, alunos e família. A

800
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

formação dos professores se faz necessária, Avaliamos tudo à nossa volta com intenção
assim como momentos de estudo e de melhorar a partir das experiências
planejamento das aulas para melhor prática e negativas constantemente de forma coerente
assim um resultado satisfatório, desenvolver e devemos descartar que o erro provoca
melhores ações sempre com o objetivo de usar somente prejuízos.
a musicalidade para ensinar. Uma A Avaliação leva a alternativas de conduta,
aprendizagem de qualidade se faz com uma alteração nos planos de ensino, mudanças nas
prática reflexiva. As primeiras aprendizagens se formas de avaliação diante de situações novas
dão nos primeiros anos de vida do ser humano, e inusitadas para entender melhor a criança, o
portanto as mais marcantes que levará os jovem, sempre no intuito de evitar rótulos
alunos ao incentivo de aprender mais, classificatórios e excludentes tão usados até
conhecer o novo, produzir frutos. bem pouco tempo.

CURRÍCULO E AVALIAÇÃO
Avaliar é uma prática que envolve as
aprendizagens dos alunos, mas também avalia
a prática do professor, a fim de melhorar o
processo, a forma e a prática pedagógica desse
docente. Antes de 1960, tínhamos uma
Avaliação Liberal, a Escola Nova, tecnicista,
classificatória, centrada no acúmulo de
informações do aluno onde selecionava os
melhores, que media o quanto o aluno
conseguia armazenar sobre determinado
assunto. Com isso excluía um número
considerável de alunos que não se encaixavam
nesse ranking, simplesmente porque
aprendiam diferente do modelo tido como
ideal. O fracasso escolar era somente do aluno.
Depois de 1960, chega a Avaliação Pós-
Moderna, uma discussão da nova concepção
pedagógica, Pedagogia Progressista,
aprendizagem significativa em processos
diferentes de concepção de ensino: Concepção
Tradicional, Concepção Escolanovista,
Concepção Tecnicista, Concepção Pós-
moderna e suas tendências de avaliação:
Concepção Classificatória, Concepção
Diagnóstica, Concepção Formativa.

801
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação inclusiva garante o acesso, a participação e a aprendizagem global de todos os
estudantes da escola contribuindo para a construção de uma nova cultura de valorização das
diferenças. Essa educação perpassa todos os níveis, etapas e demais modalidades de ensino,
oferecendo aos estudantes recursos e estratégias de acessibilidade ao ambiente e aos
conhecimentos escolares.
Por meio da arte é possível desenvolver áreas do conhecimento como a percepção visual,
auditiva, a expressão corporal, a intuição, a imaginação, o pensamento analógico, concreto, a
reflexão, permitindo o desenvolvimento da criatividade sendo também uma forma de interação,
comunicação e socialização.
Na arte temos uma grande aliada, utilizando seus recursos lúdicos e musicais para a
inclusão desses estudantes, proporcionando espaços de conhecimento e convivência e ajudando
no desenvolvimento global, na socialização com seus pares e demais grupos sociais que integram,
contribuindo de forma significativa .

802
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
3°. Volume. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996,
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música
na educação básica.

BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação musical: bases psicológicas e ação preventiva.
São Paulo: Átomo, 2003.

BRITO, Teca de Alencar. Música na educação infantil: propostas para a formação.

ANDRÉ, Marli (Org.). O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. São
Paulo: Papirus, 2001.

MAZZOTTI, Tarso Bonilha. OLIVEIRA, Renato José. Ciência da Educação. Rio de Janeiro:
Editora DP & A, 2002.

ANDE, Edna. LEMOS, Sueli. Brincadeiras de Criança com Ivan Cruz. Rio de Janeiro: Editora
Edebe, 2007.

803
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ENSINO DE FÍSICA E A INCLUSÃO DO ALUNO


AUTISTA: METODOLOGIAS E RECURSOS
APLICADOS A DIDÁTICA DO ENSINO
FUNDAMENTAL AO MÉDIO
Maria Alice do Nascimento Sousa1
Fátima Leticia da Silva Gomes2

RESUMO: A educação inclusiva é hoje um tema bastante necessário e discutido, felizmente;


pesquisas têm sido realizadas no intuito de desenvolver metodologias para equiparar o ensino,
ou seja, oferecer um tratamento especial a quem necessitar, para que todos tenham acesso a
uma educação de qualidade. Esta pesquisa tem como objetivo realizar uma revisão integrativa
de estudos acerca da inclusão do aluno com (Transtorno do Espectro Autista) TEA na
aprendizagem de Física. Este estudo foi construído por meio de pesquisa bibliográfica e
integrativa. A pesquisa integrativa é um método que tem como finalidade sintetizar os resultados
obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática e abrangente. Os
resultados das pesquisas mostram que o aluno com TEA apresenta mais dificuldade na
aprendizagem de física quando é utilizada metodologias tradicionais, sendo necessário que se
criem alternativas diversificadas que facilite a aprendizagem, fazendo com que este possa
aprender a medida que se interessa pela aula, que há algo que lhe chama a atenção e que facilita
seu processo de aprendizagem.

Palavras-Chave: Educação Inclusiva; TEA; Ensino de Física.

1Estudante no Instituto Federal do Piauí. Graduação: Licenciatura em Física.


2Professora de Educação Especial do Instituto Federal do Piauí. Graduação: L i c e n c i a t u r a e m Pedagogia;
Mestre em Educação Especial.

804
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PHYSICS TEACHING AND THE INCLUSION OF AUTISTIC STUDENTS:


METHODOLOGIES AND RESOURCES APPLIED TO EDUCATIONAL TO
HIGH SCHOOL TEACHING
ABSTRACT: Inclusive education is today a very necessary and discussed topic, fortunately;
Research has been carried out in order to develop methodologies to equalize teaching, that is, to
offer special treatment to those who need it, so that everyone has access to quality education.
This research aims to carry out an integrative review of studies about the inclusion of students
with ASD (Autism Spectrum Disorder) in Physics learning. This study was built through
bibliographic and integrative research. Integrative research is a method that aims to synthesize
the results obtained in research on a topic or issue, in a systematic and comprehensive way.
Research results show that students with ASD have more difficulty in learning physics when
traditional methodologies are used, making it necessary to create diversified alternatives that
facilitate learning, making it possible for them to learn as they become interested in the class,
which there is something that catches your attention and that facilitates your learning process.

Keywords: Inclusive Education; TEA; Physics Teaching.

805
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO pelo menos, com a menor desigualdade


possível.
A educação inclusiva constitui-se em um No Brasil, as primeiras ações voltadas para
tema que precisa ser debatido, levando em pessoas com deficiência se deu nos moldes
consideração que é preciso possibilitar a todos europeus, ainda na República. Os sujeitos
os alunos a oportunidade de aprender, sendo considerados com alguma “anormalidade” na
necessário que metodologias diversificadas literatura médica e legislação educacional
sejam criadas, estratégias sejam traçadas para foram restringidos ao acesso à educação ou
que os alunos com deficiência e transtornos quaisquer instrução. O Decreto-Lei n° 7970 de
possam participar ativamente das aulas e, 1927 de Minas Gerais instituía a dispensa de
assim, aprender, possibilitando um ensino de crianças às aulas por
qualidade. motivos como: “incapacidades físicas ou
Todavia, nem sempre foi dessa forma. Em mentais” e indigentes, “enquanto não se
cada época da história, pessoas com algum tipo fornecer, pelos meios de assistência [...], o
de deficiência, recebiam tratamento vestuário indispensável à decência e à higiene”
preconceituoso. Elas eram consideradas como (KASSAR, 2011, p. 43).
sendo amaldiçoadas pelos deuses e incapazes, Do mesmo modo, em São Paulo, ao
assim eram excluídas da sociedade e em normatizar a Educação Especial, entendeu que
civilizações mais antigas e algumas culturas, seu alunado era composto por: “débeis
eram mortas. A partir do século XIX tais físicos”, “débeis mentais”, “doentes
concepções começaram a mudar, entretanto, a contagiosos”, “cegos”, “surdos-mudos” e os
passos lentos, pois as pessoas com deficiência “delinquentes” (BRASIL, 1933 apud KASSAR,
ainda não tinham uma participação ativa 2011, p. 43). A formação de um grupo visto
dentro da sociedade (KASSAR, 2011). como “anormal” tinha com proposito a
As políticas públicas voltadas para pessoas segregação deste em escolas regulares ou a
com deficiência são bastante recentes no criação de centros de ensino especializados,
Brasil. Estas são vistas como uma forma entretanto, este último não se deu de forma
contemporânea de exercício de poder das rápida.
sociedades democráticas, a qual apresenta Desde então aconteceram avanços que
uma complexa relação da sociedade com o puderam abrir maior espaço nas escolas para o
Estado (KASSAR, 2011). público que esteve segregado deste espaço por
Diante disso, é possível afirmar que as um longo periodo histórico. Nesse contexto,
políticas públicas voltadas para esse público abre-se espaço para tratar do Transtorno do
tendem a amadurecer e se fortalecer a partir Espectro Autista, TEA, que se refere a um
da concretização da Constituição de 1988. Tais conjunto de condições que se caracterizam por
políticas, nos últimos anos têm ganhado novos algum grau de comprometimento no
contornos graças às ações de diversos setores comportamento social, na comunicação e na
sociais a qual buscam a constituição de uma linguagem, assim como o interesse em algumas
sociedade verdadeiramente igualitária, ou, atividades, as quais realizam de forma

806
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

repetitiva. Sendo necessário que as escolas REFERENCIAL TEÓRICO


tenham as condições adequadas para
desenvolver as capacidades deste público, A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO
empreendendo metodologias significativas BRASIL: BREVES
para sua aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES
Destarte, este estudo define como objetivo
A educação inclusiva faz parte de um
geral realizar uma revisão integrativa de
processo histórico que busca oferecer um
estudos acerca da inclusão do aluno com TEA
ensino de qualidade a pessoas com algum tipo
no ensino de Física. De modo específico este
de necessidade especial. Trata-se de um
estudo visa: Conhecer o percurso histórico da
movimento amplo que visa garantir o direito
Educação Inclusiva no Brasil; Analisar o
desta parcela da sociedade a permanecerem
percurso histórico de aprendizado do aluno
na escola, baseando-se em princípios de
autista e o ensino de Física na Educação Básica;
igualdade e justiça, possibilitando a estes
Averiguar recursos e metodologias utilizadas
sujeitos participação e aprendizado uma vez
no ensino fundamental e médio para inclusão
que coletividade auxilia no desenvolvimento
do aluno autista no ensino de Física.
da autonomia e independência do educando.
Apesar dos avanços no tratamento dado a
As limitações que podem surgir nesse contexto
pessoas com algum tipo de necessidade
são superadas a partir do relacionamento com
especial ter se dado de forma crescente no
pares, o que auxilia não apenas a pessoa que
país, não apenas se tratando da educação, mas
necessita de um cuidado diferente, mas a
em diversos segmentos sociais, e, embora haja
formação humana daqueles que os auxiliam,
um amplo debate em favor da existência de
assim, ambos os lados adquirem vantagens.
políticas públicas com o intuito de equiparar as
Todavia, pensar dessa forma nem sempre foi
necessidades de cada indivíduo, há ainda a
possível, na realidade. Embora muito já tenha
precisão de melhorias no ensino e outros
sido feito, pensar na inclusão é um fato
campos sociais. Portanto, o trabalho se justifica
bastante recente, principalmente ao tratar de
por discutir a
autismo, uma vez que somente em 1993, de
inclusão do aluno com TEA no ensino de
acordo com o portal da Universidade de São
Física, destacando recursos e metodologias
Paulo – USP, ele foi considerado um transtorno
que podem ser utilizados para que este possa
e em 2 de abril de 2008 foi decretado o dia do
fazer parte da aula e realmente aprender, de
autismo pela Organização das Nações Unidas –
modo que não frequente apenas a escola, mas
ONU, ou seja, no que se refere ao autismo e a
que se desenvolva e possa ter atenção nas
inclusão de pessoas com este tipo de
aulas de Física.
especificidade é algo bastante recente.
O isolamento de pessoas com algum tipo de
deficiência nunca foi algo atípico na sociedade
brasileira, nem tampouco no restante do
mundo, estes sempre foram excluídos do
convívio social, ficando relegadas a “cuidados”

807
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de instituições isoladas ou segregados dentro verdadeiro retrocesso no que se refere à


das casas de seus familiares. Educação Inclusiva porque, conforme tal
A Constituição de 1988, por meio do art. 204 documento há a instituição da Política Nacional
institui que o ensino a este público seja de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e
realizado preferencialmente na rede regular de com Aprendizado ao Longo da Vida. Para
ensino (BORGES, 2021). especialista na área a proposta representa um
Mais adiante com a Lei de Diretrizes e Bases risco e retrocesso na inclusão de acrianças e
da Educação LDB 9394/96 em seu art. 58 jovens com deficiência, caso a política
entendeu a Educação Especial como uma substitua a Política Nacional de Educação
modalidade de ensino ofertado especialmente Especial na Perspectiva Inclusiva, criada em
nos centros regulares para pessoas com 2008. O Decreto visa estimular a matricula de
deficiência, transtornos globais e altas alunos em locais especializados o que, em tese,
habilidades e superdotação. Além disso, a promove a segregação de estudantes.
própria CF garante a todos os cidadãos o direito No que se refere ao público, a Política, em
à escola, respeitando os direitos ser art. 5° tem como alvo pessoas que
constitucionais como respeito às diferenças, demandam a oferta de serviços e recursos da
cobertura e universalidade. No art. 205 da LDB, Educação Especial que, ao longo da vida e de
expressa que a educação deve promover o diferentes etapas do ensino, em espaços
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo urbanos ou rurais, em contextos diversos
para o exercício da cidadania e a sua careçam de um atendimento especial. O
qualificação para o trabalho (BRASIL,2020). exemplo a seguir diz respeito a um pequeno
Ademais, no art. 206, elege como princípio recorte para situar o espectro autista como
da igualdade de acesso, sendo parte do público atendido nesta perspectiva
responsabilidade do Estado, tal garantia será inclusiva. Como definido pela Lei nº 12.764, de
efetivado quando há o acesso aos mais 27 de dezembro de 2012, os autistas são
elevados níveis de ensino, pesquisa, criação incluídos como pessoas com transtornos
artista, em conformidade com a capacidade de globais de desenvolvimento (BRASIL, 2012).
cada um. Diante disso, firma-se o compromisso A Educação Inclusiva antes da apresentação
para com os cidadãos brasileiros para com a do Decreto de 2020 era vista como uma forma
educação. Como apresentado acima, o de transformar a escola como um espaço para
entendimento da LDB para com a Educação todos, e não um local de segregação. Ainda
Especial é de que esta modalidade deve assim, a LDB e o Estatuto da Criança e
atender praticamente aos mesmos objetivos Adolescente ECA reportam a este tipo de
da educação em geral, todavia, o ensino como forma de reforçar a educação
entendimento deve ser feito em conformidade como direitos de todos os cidadãos, pautando-
com as limitações individuais dos que dela se na igualdade de acesso e permanência.
precisar. Diante disso, Borges (2021), escreve:
Não obstante, em 2020 foi apresentado o
Decreto 10.502 de 30 de setembro de 2020, um

808
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A Lei 12.764 /12 Institui a Política Nacional integrada, à dificuldade no contato visual e
de Proteção dos Direitos da Pessoa com linguagem corporal, ou déficits na
Transtorno do Espectro Autista, (BRASIL,2012), compreensão e uso gestos a ausência total de
e de acordo com a nota técnica expressões faciais e comunicação não verbal.
24/2012/MEC/SECADI/DPEE: O §2º, do art. 1º 3) Déficits para desenvolver, manter e
da Lei nº 12.764/2012, a pessoa com compreender relacionamentos, variando, por
transtorno do espectro autista é considerada exemplo, de dificuldade em ajustar o
pessoa com deficiência. Conforme a CDPD comportamento para se adequar a contextos
(ONU/2006): “Pessoas com deficiência são sociais diversos a dificuldade em compartilhar
aquelas que tem impedimentos de longo prazo brincadeiras imaginativas, ou em fazer amigos,
de natureza física, mental, intelectual ou e à ausência de interesse por pares (BORGES,
sensorial, os quais, em interação com diversas 2021, p. 38-39).
barreiras, podem obstruir sua participação Ser autista não significa que a criança não
plena e efetiva na sociedade em igualdade de conseguirá desenvolver a maioria das ações e
condições com as demais pessoas (BORGES, atividades, mas se trata de um distúrbio que
2021, p. 41). varia de grau, do mais leve ao mais severo,
Desse modo, é dever do Estado oferecer marcado com comprometimento na
condições para o educando desenvolver suas socialização, comunicação e cognição,
habilidades de forma plena, de acordo com dificuldade na imaginação, assim, a pessoa com
suas capacidades. Borges (2021), ao citar DSM- este espectro apresenta essa tríade de
5 (Manual de diagnóstico e Estatística dos dificuldades, todavia, não é um Ser
Transtornos Mentais, 5ª Edição), publicação impossibilitado, logo, cabe à sociedade e o
oficial da Associação Americana de Psiquiatria Estado, principalmente, oferecer meios para
(APA, 2013) define o autismo como uma única que o mesmo desenvolva suas capacidades de
desordem no espectro, a qual é caracterizado forma plena.
por um conjunto de sintomas em que podem O Transtorno possui três níveis de
prejudicar ou causar algum impacto nas áreas funcionalidades de acordo com o DSM-5, o TEA
de comunicação, comportamento e (Transtorno do Espectro Autista); o Severo
flexibilidade e sensibilidade sensorial. Diante (Nível 3); Moderado (Nível 2) e Leve (Nível 1),
disso, alguns dos critérios utilizados para em cada um dos nível há a necessidade de um
identificar o referido espectro segundo o DMS- tratamento adequado no que se refere à
5 são: comunicação e questões comportamentais, o
1) Déficits na reciprocidade suporte varia de acordo com a severidade,
socioemocional, variando, por exemplo, de assim, à medida que o sujeito caminha dentro
abordagem social anormal e dificuldade para de espectro ele pode desenvolver níveis de
estabelecer uma conversa normal a funcionalidade em que as dificuldades são
compartilhamento reduzido de interesses, diminuídas, o que possibilita um melhor
emoções ou afeto, e dificuldade para iniciar ou desempenhos das funções. A tabela a seguir
responder a interações sociais. apresenta os níveis de funcionalidade do
2) Déficits nos comportamentos Transtorno do Espectro Autista.
comunicativos não verbais usados para
interação social, variando, por exemplo, de
comunicação verbal e não verbal pouco

809
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Diante dos níveis de funcionalidade, cabe a sobre a síndrome, nos anos 1943 e 1944,
escola oferecer subsídio para o aluno respectivamente. Ambos acreditavam que
desenvolver suas habilidades, respeitando as desde o nascimento havia características de
limitações de cada um, para isso, faz-se preciso transtorno que dava origem a problemas
respeitar questões relacionadas ao modo como característicos do autismo.
pessoas com autismo veem o mundo, Considerando a temática em estudo, torna-
portanto, é de suma importância conhecer o se importante conceituar o autismo que na
sujeito, sua realidade e seus anseio para a visão de Orrú (2012, p.32), é uma "síndrome
partir disso, desenvolver estratégias comportamental com etiologias múltiplas e
pedagógicas que contribua no seu curso de um distúrbio de desenvolvimento"
aprendizado. Vygotsky (1988, p. 28), afirma que acometia crianças com idade inferior a três
que a educação dessas crianças “deveria se anos, predominantemente aos quatro anos a
basear na organização especial de suas funções cada dez mil nascidos. Tem como característica
e em suas características mais positivas, ao sintomática a tendência ao isolamento. Assim,
invés de se basear em seus aspectos mais acredita-se que o autismo pode configurar-se
deficitários”. como um distúrbio neurológico podendo
apresentar anomalias comportamentais em
CONSIDERAÇÕES SOBRE O maior e menor grau.
O autismo é uma síndrome representada
AUTISMO por um distúrbio difuso do desenvolvimento e
Todas as abordagens sobre o autismo comprometimento de várias funções. Por ser
infantil são retomadas aos pioneiros Leo semelhante a outros distúrbios, o autismo
Kanner e Hans Asperge. Cada um dos também reúne as características de diversos
pesquisadores publicou os primeiros trabalhos

810
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

transtornos psiquiátricos, e seus sintomas e comunicação. Essas funções são


variam bastante, assim como a gravidade dos comprometidas pelo autismo.
mesmos, suas comorbidades apresentam A frequência em meninos é bem maior que
heterogeneidade e não há nenhuma indicação nas meninas, chegando em proporção a 4:1 e
clara acerca de sua neuropatologia (SOUSA; ainda podendo atingir 8:1 nos casos de autismo
SANTOS, 2014). sem incidência intelectual ( KENDEL; et al,
Contudo, com os avanços das pesquisas o 2014).
autismo foi descrito como disfunção Atualmente sabe-se que o TEA envolve
neurológica, levando para questão biológica e características comuns que são observadas
que se manifesta antes dos três anos de idade. quando se faz o diagnóstico do transtorno, as
Sabe-se que a síndrome afeta o funcionamento caraterísticas variam bastante de acordo com
cerebral, mas uma causa defendida por vários os indivíduos, mas normalmente trazem
pesquisadores de uma etiologia multifatorial e prejuízos a interação social, a comunicação
que pode manifestar-se de formas diferentes verbal e também não verbal e interesses
de autismo, caracterizada por uma tríade de restritos ou circunscritos como os
anomalias comportamentais que: comportamentos estereotipados (KENDEL, et,
Estas manifestações comportamentais, al 2014).
passou a considerar-se que as mesmas devem Assim, embora seja considerado um
de algum modo estar presentes desde transtorno que não existem marcadores
nascimento até aos 36 meses de idade biológicos, em última análise, é provável que
aproximadamente, persistentes e tenha um forte componente genético,
desenvolvendo-se de modos diferentes ao evidenciando para uma classe de transtorno
longo do tempo de vida, atendendo a que o com múltiplas etiologias, que incluem fatores
autismo pode coexistir com a debilidade genéticos associados a fatores ambientais.
mental, é diferente dela ( SOUSA; SANTOS,
2014). ENSINO DE FÍSICA NA
Nas definições atuais, segundo Cosenza e
Guerra (2011), o autismo é um transtorno ATUALIDADE
neurológico que tem origem genética Em se tratando do Ensino de Física na
poligênica que pode afetar muitos órgãos, no atualidade, percebe-se que este tem aparecido
entanto, com predomínio na alteração do nos debates relacionado a uma série de
funcionamento do sistema nervoso central e cálculos e direcionado pelo livro escolar, se
com uma particularidade em algumas distanciando da realidade do aluno, não
estruturas cerebrais, tais como o córtex conseguindo alcançar sua atenção, mostrando-
cerebral, o cerebelo e áreas do sistema libido se desinteressante para o mesmo (ROSA;
parece estar prejudicadas. Vale ressaltar que as ROSA, 2005).
funções encefálicas em seres humanos são O ensino de Física nos dias atuais parece
bem definidas e organizadas: consciência social estar cada vez mais fácil de trabalhar. Isso se
deve a existência de recursos, como por

811
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

exemplo o livro- didático para os alunos do didático, aqueles que conseguem entrar no
ensino médio, pois eles possibilitam o mesmo e compreendê-lo, se dão bem, tiram
acompanhamento por parte dos alunos à boas notas e aqueles que não conseguem
explicação do professor. No entanto, o livro acompanhar o jogo, acabam por enfrentar
didático aparece como um recurso que não dificuldades. Existe, assim, uma necessidade de
possibilita o entendimento completo do aluno, aprimorar o Ensino de Física e construir
sendo que muitos estudiosos, dentre eles alternativas didático- metodológicas que
Carneiro (2007), defendem o uso do levem a situações de aprendizagem,
laboratório e consequentemente de atividades empreendendo um Ensino de Física
práticas que possam melhor instruir os alunos contextualizado, onde o aluno possa vivenciar
ao aprendizado da Física. a Física em sua realidade, uma situação que já
Sobre o ensino de Física no nível médio está presente nos discursos de professores e
Oliveira (2011), salienta que o mesmo vem se educadores, mas que precisa ser posta em
caracterizando, grande parte das vezes, por prática (CARVALHO, et al, 2010).
aulas teóricas e descritivas, bem distantes do Para Sousa (2013), a atualidade apresenta
que os alunos vivenciam, configurando, desse inúmeros problemas ao ensino e consequente
modo, um modelo de ensino tradicional, aprendizagem de Física, como a limitação ao
visando o simples repasse de conteúdo. uso do livro-didático e a falta de laboratórios
Praticamente, as aulas são baseadas apenas no para o ensino-aprendizagem de Física. Uma das
livro didático e no quadro de acrílico, “com maiores preocupações que se referem ao
ênfase na linguagem matemática desprovida ensino de Física nos dias atuais é a
de um embasamento experimental, preocupação de fazer com que o aluno se
desvinculando os conteúdos de suas possíveis identifique com o objeto de estudo, quando o
relações com os fatos do cotidiano, deixando aluno gosta do que está aprendendo a
de lado os aspectos fenomenológicos” aprendizagem ocorre de maneira tranquila.
(OLIVEIRA, 2011, p.24) Destarte, o ensino de Física acontecendo
Assim, embora a existência dos recursos desta forma dificulta a aprendizagem dos
tecnológicos tenha apresentado diversas alunos, à medida que estes não sentem
possibilidades para todos os âmbitos da interesse pela disciplina e cunham esta como
sociedade, inclusive para a educação, ressalta- difícil, em se tratando de inclusão em um
se, que o ensino de Física pouco tem se ensino de Física com estas características é
aproveitado de seus benefícios e continua preciso abrir uma discussão a parte, pois os
acontecendo, na maioria, das escolas de forma alunos com transtornos e deficiências tem
tradicional, baseado em teorias e cálculos, maior dificuldade em aprender mediante
seguindo o livro didático. metodologias tradicionais de ensino.
Os alunos já notam o Ensino de Física
atrelado ao repasse sistemático de conteúdos
e as práticas dos professores de aplicar sempre
avaliações. Trata-se de uma espécie de jogo

812
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PERSPECTIVAS DE INCLUSÃO diversificadas sejam postas em prática e


favoreçam a inclusão em sala de aula.
DO ALUNO AUTISTA NO ENSINO
DE FÍSICA METODOLOGIA
Todos os alunos devem ter a oportunidade Para a realização do estudo foi desenvolvida
de aprender, independentemente de alguma uma revisão integrativa da literatura, de
necessidade especifica que possa apresentar, a abordagem qualitativa, de caráter exploratório
escola deve ser um espaço de aprendizagem e descritivo.
para todos e isso requer que as metodologias Dessa forma, a revisão integrativa permite
empregadas possam incluir a todos, buscando um estudo amplo e a combinação de dados
formas de desenvolver as suas capacidades, tanto de literatura teórica, quanto estudos
respeitando seus limites. empíricos, ela atende a um leque diverso de
Nesse cenário, o professor apresenta-se propósitos e permite um estudo bastante
como peça fundamental para que ocorra a aprofundado.
inclusão do aluno TEA no ensino de Física, A pesquisa adotou como critérios de
porém, a ele não deve ser relegada toda a inclusão Estudo científicos completos, artigos
responsabilidade, pois é importante que o disponibilizados em português e artigos
estado elabore políticas públicas para atender publicados entre 2017 e 2021. Como critérios
esses alunos, assim como os coordenadores e de exclusão definiu-se artigos duplicados.
gestores precisam atuar significativamente artigos que não tenham seu texto completo,
para que a inclusão ocorra. Contudo, um plano estudos anteriores a 2017 e artigos em língua
de aula adaptado para que os alunos possam estrangeira. As buscas foram realizadas no ano
compreender o tema abordado, Google Acadêmico utilizando como
proporcionando um ensino significativo, assim descritores: autismo, TEA, ensino de Física,
como elaborando materiais didáticos que metodologias. Mediante ao fato de existirem
sejam voltados para necessidades específicas, poucos artigos que tratavam da inclusão de
conhecendo o aluno o professor poderá fazer alunos
as adaptações necessárias (SILVA, 2021). TEA no ensino de Física, o estudo
Assim, para que o aluno com TEA seja considerou, também, produções acadêmicas,
incluído no ensino de Física devem ocorrer monografias, teses e dissertações.
adaptações neste ensino, de modo que Os textos foram selecionados após a leitura
materiais didáticos sejam elaborados do título e do resumo, considerando o
pensando em sua inserção, que os conteúdos interesse da pesquisa e os critérios de inclusão
sejam adaptados e que possam fazer com que e exclusão. Finalizando a seleção foram
aconteçam interações entre os alunos, filtrados os dados dos artigos dos últimos cinco
acontecendo, também, atividades lúdicas, anos e construída uma tabela para sistematizar
experimentos e uso de recursos tecnológicos, os dados, apresentando autor e ano de
dentre outros, fazendo com que metodologias publicação, título do artigo, tipo de estudo,
metodologia utilizada e seus resultados.

813
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

814
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Mediante os resultados expressos na tabela Fontes, et al (2019), averiguou o potencial


é possível notar, primeiramente, que existe pedagógico do Smartphone como ferramenta
uma carência de pesquisas, estudos científicos auxiliar ao ensino de física, de modo que
que abordem a inclusão do aluno autista no utilizando o aparelho em aula notou que o
ensino de Física. A pesquisa realizada no aplicativo é eficiente para que se aprenda física
Google Acadêmico pelos descritores autismo, e com sua utilização o aluno autista presente
TEA, ensino de Física, metodologias, na aula acompanhou e participou desta,
resultaram em 36 estudos, contudo, realizando comprovando a inclusão digital.
sua filtragem notou-se que apenas 4 deles se O estudo de Amâncio (2017), procurou
tratavam de fato do Ensino de Física, sendo os trazer uma proposta de inclusão para o aluno
32 artigos restantes acerca da disciplina de autista no ensino de Física, sugerindo uma
Educação Física. Dois estudos tratavam de metodologia com uso de recursos para que o
artigos científicos e dois de trabalhos de ensino de Física fosse bem recebido e o
conclusão de curso. conteúdo aprendido pelos alunos autistas,
considerando que o ensino tradicional não é

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

capaz de prender a atenção dos alunos TEA e combinados com outras imagens para
fazer com que eles aprendam. Assim, mostrou indicação de algo.
em seu estudo como entender os aspectos Os estudos mostram que o aluno autista terá
físicos por meio de equações, utilizando em dificuldade de aprender Física e realmente ser
forma de rotina, utilizando recursos como incluso neste estudo se for apenas tradicional,
carrinho de brinquedo, régua e cronometro. sendo necessário que se criem alternativas que
Com as aulas ministradas de forma mais o leve a aprendizagem, fazendo com que este
dinâmica o aluno TEA participou da aula possa aprender a medida que se interessa pela
ativamente. aula, que há algo que lhe chama a atenção e
Corrêa (2020), trouxe a proposta de um que facilita seu processo de aprendizagem.
plano pedagógico para ensinar física buscando
realizar um estudo com hiperfoco do aluno,
trazendo assim uma interdisciplinaridade, que
conecte a matéria de maior interesse com a
Física, mostrando que é preciso inovar para
que os alunos tenham interesse no estudo de
Física e aprendam, pois fugindo do ensino
tradicional. Seu plano de ensino seguiu
perguntas iniciais sobre o conteúdo, instigando
os alunos a pensar, oferecendo exemplos da
realidade que vivenciam e com uma linguagem
que entendam com facilidade.
Dias, Souza e Cruz (2018), escolheram um
tema de Física específico apara trabalhar com a
inclusão do aluno autista, mostrando que é
preciso construir diferentes abordagens para
que os alunos autistas possam aprender Física,
mostrou, assim, sistemas de comunicação para
que seja possível o aluno autista ser incluído no
ensino de Física, como sistema PIC (Pictogram
Ideogram Communication), que tem como
objetivo permitir a comunicação de indivíduos
com déficit na comunicação e são formados
por símbolos que representam objetos ou
conceitos e o sistema de Símbolos de
Comunicação Pictórica (PCS), muito usado para
mediar à comunicação de indivíduos com
autismo e com paralisia cerebral, composto por
desenhos simples e que podem estar

816
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo realizou uma revisão integrativa acerca da educação inclusiva no ensino
de Física, procurando observar metodologias e recursos que são utilizados para que seja possível
incluir os alunos autistas nas aulas. Assim, observou-se que muitos avanços têm ocorrido na
educação, possibilitando a inclusão de crianças com transtornos e deficiências, contudo, muitas
mudanças ainda precisam acontecer para que seja possível de fato haver inclusão, pois os alunos
precisam aprender, se desenvolverem e não apenas estarem matriculados na escola.
Destarte, quando se trata da inclusão do aluno autista no ensino de Física, destaca-se que
o professor precisa adaptar o seu modo de ensinar para incluir os alunos autistas em suas aulas,
recorrer a um plano de aula e a recursos diferenciados, ocorrendo adaptações, utilizando
metodologias adequadas, de modo que as tecnologias se mostram uma alternativa viável para a
inclusão.
Na realização da revisão integrativa notou-se que poucos estudos são realizados a respeito
da temática, havendo uma carência na produção cientifica sobre o tema, os estudos mostraram
que usar tecnologias digitais como o Smartphone é um caminho para a inclusão do aluno autista
no ensino de Física, bem como é essencial fugir do método tradicional de ensino, pois é preciso
empreender estratégias de ensino que levem a inclusão.
Assim, mostra-se necessário que sejam construídas novas pesquisas sobre o tema, que
venham a enriquecer esse campo de pesquisa ainda carente, mostrando formas de promover um
ensino de fato inclusivista.

817
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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Fontes, 1988.

819
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM TEMPOS DE


PANDEMIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DE
ESTÁGIO REMOTO EMERGENCIAL
Danyelle Galvão Sousa 1

RESUMO: Este trabalho apresenta um relato da experiência do estágio de Língua Portuguesa no


9º. ano do Ensino Fundamental de uma escola pública da Paraíba em contexto de ensino remoto
emergencial. Dada a natureza deste trabalho, um relato, do ponto de vista metodológico, ele se
aproxima de um estudo de caso. Fundamenta as discussões a concepção de formação de
professores em uma perspectiva reflexiva e dialógica (FLORES, 2010), e de estágio curricular
obrigatório nas licenciaturas como um espaço de interação, de letramento e de pesquisa
(PIMENTA; LIMA, 2005). Por meio da descrição das atividades, é possível perceber que, nesse
contexto de ensino remoto emergencial, aumentaram as exigências aos professores tanto em
serviço quanto em formação inicial, os quais, assim como os alunos, tiveram que se reinventar,
sobretudo no que diz respeito ao uso de recursos das novas tecnologias digitais de informação e
comunicação e, consequentemente, às novas formas de interação que emergem com o uso
desses recursos. Com isso, podemos concluir a importância da aquisição das tecnologias digitais
e a contribuição profissional e os impactos dessa nova realidade para professores.

Palavras-Chave: Estágio supervisionado; Língua Portuguesa; Ensino Fundamental; Ensino


Remoto.

1 Graduanda em Letras: Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Campina Grande.


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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SUPERVISED INTERNSHIP IN PANDEMIC TIMES: A REPORT OF


EMERGENCY REMOTE INTERNSHIP EXPERIENCE
ABSTRACT: This work presents an account of the experience of the Portuguese Language
internship in the 9th. year of Elementary School at a public school in Paraíba in the context of
emergency remote teaching. Given the nature of this work, a report, from a methodological point
of view, it approaches a case study. The discussions are based on the conception of teacher
training in a reflective and dialogic perspective (FLORES, 2010), and of mandatory curricular
internship in the degrees as a space for interaction, literacy and research (PIMENTA; LIMA, 2005).
Through the description of the activities, it is possible to perceive that, in this context of
emergency remote teaching, the demands on teachers both in service and in initial training have
increased, who, like the students, had to reinvent themselves, especially with regard to to the
use of resources of the new digital information and communication technologies and,
consequently, to the new forms of interaction that emerge with the use of these resources. With
this, we can conclude the importance of acquiring digital technologies and the professional
contribution and impacts of this new reality for teachers.

Keywords: Supervised internship; Portuguese language; Elementary School; Remote Teaching.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO pandêmico, mas também em relação ao uso


das NTDIC na educação. O ensino superior
Diante do contexto de pandemia causada também precisou se adaptar. Muitas viram no
pelo vírus da Covid-19 que assolou todo o ensino remoto emergencial uma possibilidade
mundo, vimos, repetidas vezes, professores de não interromper o calendário letivo.
exercendo seu trabalho das mais variadas Diversos cursos, entre eles as licenciaturas,
formas, tendo que se adaptarem a uma deram continuidade às suas atividades
realidade nunca imaginada e/ou pressentida: o virtualmente.
processo de ensino e aprendizagem na Um dos pontos altos na formação de um
Educação Básica (EB) completamente mediado graduando em Licenciaturas, sendo ela de
pelas novas tecnologias digitais de informação qualquer área, é o estágio supervisionado
e comunicação (NTDIC). O que antes era uma obrigatório. Esse é o momento chave e divisor
alternativa que parecia irrealizável, muito de águas em que nós, ainda como graduandos,
criticada inclusive pela ausência da vamos (re)conhecer a realidade do contexto
sociabilidade que ocorre presencialmente, e de escolar, esfera que será nosso lugar de trabalho
difícil aplicabilidade, tendo em vista as por muito tempo. O estágio, é, portanto, um
desigualdades sociais da população, que espaço no qual o graduando tem a
impossibilitam o acesso universal aos possibilidade de refletir sobre sua prática
equipamentos necessários, tornou-se uma profissional, bem como sobre os resultados
possibilidade para o contexto pandêmico, pois advindos ao longo do seu processo formativo,
melhor responderia às especificidades, podendo vivenciar situações, tanto em sala de
sobretudo no que diz respeito ao aula, quanto em diferentes espaços na escola
distanciamento social. A educação escolar teve (PIMENTA; LIMA, 2005). Assim, também o
que se reinventar abruptamente. As salas de estágio supervisionado nesse contexto
aulas, com o uso de aplicativos específicos, pandêmico propiciou o surgimento de novos
passaram a ser virtuais, possibilitando que os debates, reflexões e possibilidades para o
alunos e professores relacionassem-se por ensino como um todo, pois o ensino remoto foi
meio dos quadrinhos que apareciam na tela do realizado em diferentes espaços além da
computador, celular ou tablet. Dessa forma, os escola.
tradicionais e estáticos quadros negros foram Partindo disso, foi decidido, a partir do
substituídos pelos digitais e interativos (como currículo estadual da Paraíba, juntamente com
o Jamboard, por exemplo). Essas foram apenas a professora regente da turma do 9º ano,
algumas das ferramentas digitais utilizadas nas supervisora, e o professor da universidade,
aulas virtuais. Com isso, o formato antes orientador, que as ações no transcurso do
conhecido, de aula presencial, modificou-se Estágio Supervisionado de Língua no Ensino
totalmente. Fundamental teriam como objetivo inicial
Não apenas a EB teve que encontrar formas estudar orações subordinadas substantivas em
de continuar suas atividades mesmo com as gêneros jornalísticos, cujo eixo temático fosse
dificuldades inerentes não só ao contexto economia. Apesar do pequeno número de
encontros virtuais, o meu objetivo como

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

professora estagiária era possibilitar que os Nesta seção, o objetivo é apresentar os


conteúdos fossem aprendidos pelos alunos no conceitos-chave que foram utilizados para
prazo previsto. sustentar a prática docente no estágio e para
Diante do exposto, o presente trabalho é um fundamentar a reflexão sobre as aulas
relato reflexivo referente à experiência de ministradas em contexto de ensino remoto. A
estágio supervisionado obrigatório em Língua fundamentação teórica se construirá da
Portuguesa nos anos finais do Ensino seguinte maneira: inicialmente são abordados
Fundamental, um componente curricular conceitos importantes para a formação inicial
obrigatório do curso de Letras de uma de professores e, posteriormente, sobre
universidade pública da Paraíba. Nesse relato, concepções de estágio.
pretendo apresentar e discutir os objetivos, as De acordo com as ideias de Santos (2019), é
impressões, as dificuldades, as implicações e os sabido que, de modo geral, o processo
resultados decorrentes da experiência em um formativo inicial de um docente ocorre por um
contexto de estágio na modalidade de ensino transcurso de disciplinarização conteudista de
remoto durante o Regime Acadêmico saberes que inicialmente são necessários para
Extraordinário do período 2020.3. A atividade que o professor possa cumprir seu ofício de
de estágio foi realizada em uma turma de 14 modo eficiente. Contudo, conforme a autora,
alunos assíduos do 9° ano do Ensino muitas vezes, esses saberes repassados pelas
Fundamental de uma escola pública que fica na instituições formadoras não atendem a todas
cidade de Campina Grande – PB. as especificidades existentes no ofício, uma vez
Assim, após essa breve introdução há uma que há uma relação unilateral entre
seção com a fundamentação teórica, onde são universidade e escola, que permanece fixada
apresentados conceitos que fundamentam há muito tempo, a qual mostra-nos uma
este relato no que diz respeito à formação realidade do ofício docente distante e por
inicial de professores do ensino fundamental. muitas vezes idealista (NÓVOA2 , 1999 apud
1

Em seguida, há outra seção em que é descrita SANTOS, 2019). Para a autora, nem as
a metodologia das atividades elaboradas, pesquisas teóricas feitas na universidade nem
como também os conteúdos abordados para a as práticas docentes educacionais passam de
realidade apresentada no ensino remoto. seus respectivos muros: ambos criam excessos
Posteriormente, há a análise acerca dos efeitos de discursos que contrapõem a pobreza de
e implicações do estágio e a formação docente suas práticas (SANTOS, 2019).
no período pandêmico. Por fim, há a seção de Apoiando-se nos estudos de Flores (2010),
considerações finais. Santos (2019) também apresenta que, por
2 A FORMAÇÃO INICIAL DE resultado dessa relação divorciada (e por vezes
contraditória) da escola com a universidade, o
PROFESSORES: FUNDAMENTOS processo de preparação de futuros professores
TEÓRICOS revela-se de forma fragmentada e descontínua
(em vez de integrada e continuada), o qual

2 jan./jun.,1999. Disponível em:


NÓVOA, A. Os professores na virada do milênio: do
excesso dos discursos à pobreza das práticas. Revista http://www.scielo.br/pdf/ep/v25n1/v25n1a02.pdf. Data
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.25, n.1, p.11-20, de Acesso: 30/07/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

devia ser dado o lugar a uma formação que vise profissão a partir das observações, imitações,
promover uma efectiva interacção das diversas reproduções e podendo até, às vezes, atuar na
componentes, a teorização das práticas re-elaboração dos modelos existentes tidos
formativas e a meta-análise reflexiva do futuro como bons; e a prática como
professor sobre o seu próprio processo instrumentalização da técnica, na qual o
formativo (ROLDÃO3 , 2001, apud, SANTOS,
1 docente em seu contexto formativo de estágio
2019). desenvolve técnicas e habilidades específicas
Portanto, Santos (2019), conclui que é de modo mecânico, reduzindo o estágio a uma
percebido pelas literaturas a necessidade de experiência de como fazer, quais técnicas
uma formação inicial que oportunize ao empregar em sala de aula e qual o mais
graduando em construção uma base reflexiva e adequado “manejo” de classe, ou seja,
dialógica com a escola, onde o licenciando habilidades instrumentais e limitadas para a
possa ter condições de preparo acadêmico de fazer docente.Para as autoras Pimenta e Lima
responder às exigências e aos desafios (2005), o estágio sempre foi visto apenas como
complexos que diariamente os professores nas a parte prática dos cursos de formação de
escolas enfrentam (FLORES4 , 2010, apud,
2 profissionais em geral, estando sempre em
SANTOS, 2019). posição de contraposição à teoria.
As portas abertas e proporcionadas pelo Assim, para Pimenta e Lima (2005), essas
estágio permitiu uma ampla visão do contexto habilidades a serem observadas e/ou
remoto e pode proporcionar aos alunos, adquiridas em contexto de estágio eram
dentro de suas possibilidades, um bom insuficientes e escassas, pois o estágio,
desempenho, isso faz lembrar as palavras de enquanto prática como imitação de modelos
Lima (2001) quando afirma: não valoriza a construção intelectual do
Para isso, o estágio não deve ser professor em formação e não desenvolve uma
burocratizado, mas abrir possibilidade de identidade profissional de análise crítica e
mudança. Juntamente com a comunidade fundamentada, teoricamente, na realidade
escolar, os estagiários fazem leitura da social onde o ensino se insere. Já o conceito de
realidade, à luz de elementos teóricos e, estágio enquanto instrumentalização da
finalmente apresentam propostas de atuação, técnica gera um distanciamento do trabalho
para fazerem do estágio um processo contínuo concreto e abstrato que ocorre na escola pelo
(LIMA, 2001, p. 58). fato de que a formação conteudista de algumas
Até então, segundo as autoras, o estágio era instituições é feita de modo fragmentado e
visto como o momento de se aprender a sem relação entre as teorias apresentadas,
prática docente e essa prática ocorria por dois bem como há a crença de que as técnicas e
viés: a prática como imitação de modelos no metodologias podem deter o poder de resolver
qual o professor em formação aprende a

3 4
ROLDÃO, Maria C. A formação como projecto: do FLORES, Maria Assunção. Algumas reflexões em torno
plano mosaico ao currículo como projecto de formação. da formação inicial de professores. Educação, vol. 33,
Revista de Formação de Professores, Inafop (Instituto n. 3, 2010, p. 182-188. Disponível em:
Nacional de Acreditação da Formação de Professores), http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/ar
v. 1, 2001. ticle/viewFile/8074/5715. Data de Acesso: 30/07/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

os problemas existentes no contexto foram ministradas 10 aulas na disciplina de


educacional. Língua Portuguesa do 9º. ano, nas quais foram
A partir dos anos 1990, conforme Pimenta e abordados conteúdos como: orações
Lima (2005), o estágio ganhou uma nova subordinadas substantivas e textos jornalístico,
concepção, por meio da qual era possível dentre eles escolhemos o gênero reportagem
perceber duas perspectivas que superaram a que estavam em sincronia com o que estava
tensa dicotomia teoria e prática. O estágio previsto no planejamento da professora da
passa a ser visto em dois vieses: como atividade turma que, por conseguinte, estava alinhado à
teórica que permite ao estagiário conhecer e se proposta curricular do estado e à BNCC.
aproximar da realidade e como como Quanto ao perfil da turma, eram cerca de
pesquisa.. A primeira perspectiva do estágio, 120 (cento e vinte) alunos matriculados,
enquanto atividade teórica, volta-se para a porém nem todos participavam das aulas on-
reflexão do contexto educacional vista como line, pois muitos não tinham os aparelhos
instrumentalizadora da práxis docente e como eletrônicos nem acesso à internet. No entanto,
atividade de transformação da realidade. Na os poucos que assistiam interagiram
segunda, enquanto pesquisa, o estágio está ativamente; muito embora que com suas
voltado para a análise que busca explicações e câmeras desligadas. Devido à baixa qualidade
novos conhecimentos em relação ao ensino da rede, para que o sinal permanecesse ativo
(PIMENTA; LIMA, 2005), e é mediante a essas e eles continuassem na aula, não era possível
duas perspectivas de estágio que esse estágio manter a câmera ligada. Com isso, era um
contemplado neste relato foi realizado. grande desafio ministrar aulas nesse contexto!
O conteúdo das aulas foi planejado em
3 ESTÁGIO EM ENSINO conjunto entre a professora regente e a
estagiária, a qual se mostrou sempre solícita,
REMOTO EMERGENCIAL: E contou também com o auxílio do professor da
AGORA? universidade, o qual exerce o papel de
Nesta seção, apresento a descrição orientador. Isto posto, foi planejado o estudo
metodológica das atividades elaboradas e das orações subordinadas substantivas em
aplicadas no estágio em contexto de ensino gêneros jornalísticos, cujo eixo temático fosse
remoto emergencial para uma turma do 9º ano economia.
do Ensino Fundamental de uma escola pública Na sequência, há um quadro com um trecho
da Paraíba. A carga horária total do estágio, de um plano de ensino feito para o estágio.
que é de 120 horas, foi assim distribuída: 20 Como podemos observar, abaixo, temos o
horas para a observação da prática docente; 30 quadro com os conteúdos abordados com o
horas para planejamento da regência e cronograma de aulas. Os objetivos, assim como
elaboração das atividades; 10 horas de também a metodologia utilizada foi
regência, contemplando atividades síncronas e previamente estabelecidos.
assíncronas; 30 horas para a avaliação e
reflexão sobre o estágio e 30 horas para a
elaboração do relatório. Do dia 22 de setembro
de 2020 ao dia 27 de outubro do mesmo ano,

825
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As aulas síncronas foram realizadas por Point para a explanação em aulas expositivo-
meio da sala virtual do meet. Nesse contexto, dialogadas com momentos de discussão para
além da interação oral, era possível os alunos tirarem suas dúvidas. A seguir, há um
compartilhar a tela com apresentação e exemplo de slide utilizado em uma das aulas.
discussão dos conteúdos. Foram utilizados
slides no Power

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Tendo em vista que o tempo deveria ser que os alunos pudessem interagir e
muito bem aproveitado, mas considerando compreender os conteúdos apresentados.
também as distrações e interrupções seja de Houve também atividades dirigidas para
meios externos ou na rede, os slides das aulas resolução de forma assíncrona, como a do
eram bem chamativos com cores distintas para exemplo a seguir.

827
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

828
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Essa atividade foi concebida para que os comprometimento. A falta de interação (e de


alunos pudessem compreender a proximidade com os colegas de classe nas aulas
funcionalidade das orações subordinadas mediadas por telas (de computador, tablet ou
substantivas. Pensei em questões que fizessem celular) trouxe impactos para aprendizagem,
os alunos refletirem sobre a língua a partir do alguns negativos, pois proximidade e a troca de
gênero para depois estudar os casos com as saberes que ocorrem de forma presencial
devidas classificações. favorecem o aprendizado.
Um fator importante que é preciso levar em Os professores, por sua vez, tiveram que se
consideração nas decisões deste estágio foi a desdobrar para desenvolver habilidades
complexidade preestabelecida por causa do tecnológicas exigidas para o novo formato de
cenário do ensino remoto. A participação dos aulas, para alguns, um pouco exaustivas,
alunos, por exemplo, foi parcial por conta da porém, necessárias e urgentes. Isso me faz
ausência de recursos tecnológicos. Além disso, refletir sobre as palavras de Franco (2012):
alguns alunos vivenciaram momentos O ensino, atividade característica do
delicados de ordem emocional e psicológica professor, é uma prática social complexa,
em decorrência da pandemia. carregada de conflitos de valor e que exige
opções éticas e políticas. Ser professor requer
4 A PANDEMIA, O ESTÁGIO E A saberes e conhecimentos científicos,
pedagógicos, educacionais, sensibilidade da
FORMAÇÃO DOCENTE: experiência, indagação teórica e criatividade
REFLEXÕES SOBRE OS EFEITOS E para fazer frente às situações únicas,
ambíguas, incertas, conflituosas e, por vezes,
IMPLICAÇÕES
violentas, das situações de ensino, nos
A pandemia trouxe grandes impactos para a
contextos escolares e não escolares. É da
vida docente, pois o ensino remoto
natureza da atividade docente proceder à
emergencial foi uma experiência única que
mediação reflexiva e crítica entre as
transformou a educação de uma forma muito
transformações sociais concretas e a formação
rápida. Uma mudança de paradigma brusca e
humana dos alunos, questionando os modos
que para um país como o Brasil, com realidades
de pensar, sentir, agir e de produzir e distribuir
econômicas tão distintas, tornou-se ainda mais
conhecimentos na sociedade (FRANCO, 2012,
difícil de ser administrada. Infelizmente, coube
p. 15).
aos docentes tentar nivelar essas
Se antes, em tempos “normais”, o estágio já
desigualdades e se adaptar a elas.
se mostrava como um momento complexo
Com isso, pensar o ensino nessa nova
para a formação docente, em tempos de
perspectiva com o uso das NTDICs foi um
pandemia e ensino remoto emergencial, as
grande desafio para os profissionais da
dificuldades só aumentaram. Viver essa
educação. O ensino remoto emergencial
experiência altamente complexa, nunca vivida
demandou mais autonomia e
nem imaginada, foi um grande desafio. Não
responsabilidades dos alunos acerca de seu
havia nada pronto, ninguém para se espelhar,
próprio saber, além de mais atenção e mais

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

nenhum exemplo! Só apenas a boa e velha que a falta de prática de ambos e as


intuição e vontade de fazer dar certo. interrupções que causam certos incômodos,
Mesmo com as dificuldades, depois de contudo é preciso pensar a prática também nos
passar por esse estágio e entender a sua espaços virtuais para que as telas não afetem
importância para a formação, foi possível de maneira negativa essas relações, o que me
observar e apreender os desafios da carreira recorda as palavras de Kong (2004), ao afirmar
docente, bem como compreender os limites e que o que é vivenciado em sala de aula por
infinitos, as habilidades e competências diante alunos que transpassam momentos difíceis não
da da identidade enquanto profissional é desfeito quando se é estabelecido relações
docente, sendo assim, um acontecimento não afetuosas.
apenas profissional como também pessoal. O Tendo em vista que nós professores
Estágio Supervisionado, além de uma aliança precisamos sempre nos manter com uma
entre os conteúdos de ordem teórica e os prática reflexiva, visando o melhor
conteúdos de ordem prática (PIMENTA; LIMA aproveitamento das atividades realizadas por
2005), é um momento de reconhecimento meio de um currículo flexível, foi necessário
constante de sua identidade enquanto planejar todo o conteúdo das aulas do estágio,
profissional da área docente; é o momento em bem como a metodologia que iria utilizar
que o graduando veste a capa do que é considerando o pedido dos próprios alunos de
realmente ser professor. redução no número de atividades, pois eles se
Um ponto a ser destacado como importante sentiram sobrecarregados e isso dificultava na
foi a liberdade para a seleção dos materiais interação no momento do encontro virtual.
apresentados em sala de aula, os quais, em Outro desafio grande para o acontecimento
conjunto com o planejamento, trouxe para o das aulas virtuais é a internet. Os alunos
estágio em si a segurança necessária tendo em receberam do Governo do Estado internet para
vista o contexto de aulas remotas, pois, acompanhar as aulas, contudo, nem todos
conforme afirma Menegolla e Sant’Anna podiam ligar as câmeras, pois havia uma
(2014), p.17 “prever é perceber, claramente, o redução nos dados móveis, ou seja, não era
que é possível fazer para se poder resolver uma internet potente, tinha limitações. As
situações, a partir das intenções teóricas, a fim câmeras desligadas foram uma constante no
de se chegar a um agir concreto.” contexto de aulas remotas, o que faz refletir
A inibição dos alunos quanto ao uso dessas sobre o limite da “invasão” da vida escolar na
NTDIC também é um ponto que deve ser vida domiciliar dos alunos. Como se trata de
considerado. É preciso deixar previamente algo novo para todos nós, professores e alunos,
acordado com os alunos algumas regras de uso até onde podemos intervir? Qual o limite?
do espaço virtual para que se possa usar o Nesse sentido, é preciso pensar o quanto a
tempo proveitosamente, considerando que o interação se faz importante, como também o
ele fica ainda menor no espaço virtual. As telas quanto o uso da tecnologia trouxe novos
favorecem um certo distanciamento nas desafios para alunos e professores.
relações professor/aluno levando em conta

830
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Se, por um lado, os professores precisavam


entender um pouco melhor dessa dinâmica
entre tecnologia e ensino para facilitar
aspectos didáticos, por outro, os alunos
também tiveram que se colocar como
protagonistas e autônomos na construção de
conhecimentos. O ensino remoto requer um
aluno mais ativo e participativo, pois as
interações vão contribuir de forma crescente
para a aprendizagem.
Nesse sentido e com toda essa
complexidade, observa-se como de extrema
importância o papel do professor orientador na
essencialidade de trazer ao estagiário a
segurança e a assertividade na preparação das
aulas, o qual, no caso dessa experiência, se
mostrou muito solícito e acompanhou as aulas
trazendo segurança, comprometimento e
reflexão. Igualmente importante, é a relação
com a professora supervisora, pois o diálogo
entre a parte em formação e a parte já em
serviço numa realidade complexa apresenta-se
como basilar na resolução positiva, apesar dos
entraves e dos obstáculos.
Como o tempo disponibilizado para
realização das atividades era curto,
acreditamos que os objetivos podem não ter
sido plenamente atingidos, mas ter passado
por essa experiência de vivenciar o ensino
nestes termos muito colaborou para a minha
formação enquanto professora, pois, a partir
desse cenário desencadeado pela pandemia do
coronavírus, foi possível refletir sobre a
formação enquanto profissional, adaptando e
moldar a prática docente de acordo com essa
atípica realidade e de acordo com a demanda
da turma, entendendo assim o que é dito por
Franco (2012), citado no início desta seção.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não existe professor sem aluno e nem aluno sem professor, pois, quem forma se forma e
reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado (FREIRE, 1996).

A experiência de Estágio Supervisionado configura-se para o licenciando como o


momento crucial para a sua construção profissional no qual o desafio é enorme. É de consenso
de muitos teóricos que tratam do estágio como objeto de pesquisa que a importância desse
componente curricular está na sua vocação para relacionar a teoria e a prática. No entanto, foi
possível verificar nessa experiência vivenciada de estágio que a importância deve-se também à
aquisição da nova realidade profissional e à formação de uma identidade: é o momento em que
o licenciando descobre o seu “eu” professor, formado pela junção de todos os aportes teóricos e
metodológicos assimilados em contexto cátedro e suas vivências, crenças e ideologias adquiridas
em contexto de vida social.
Realizar um estágio sob as condições e restrições da pandemia não foi fácil. Cada
planejamento e cada preparação pré-aula mostravam um monstro. Todavia, ao fim de todas as
aulas, ele era vencido. É de conhecimento de todos que a carreira docente ainda é muito
desvalorizada e que seu lugar na sociedade ainda é à margem, no entanto, toda a esperança que
se tem de poder contribuir para a formação de pessoas na prática deste ofício não reduz nem
muito menos anula, mas fundamenta todos os percalços. Saber que, em um momento tão
conturbado, foi possível influenciar positivamente na vida de alguém faz valer a pena.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
FLORES, M. A. Algumas reflexões em torno da formação inicial de professores. Educação,
vol. 33, n. 3, 2010, p. 182-188. Disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/viewFile/8074/5715.
Data de Acesso: 30/07/2022.

FRANCO, M. A. do R. S. Pedagogia e prática docente. São Paulo: Cortez, 2012.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25ª ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2002.

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aluno. Caruaru. Foco Editora,2004.

MENEGOLLA, M.; SANT´ANNA; I. M. Por que planejar? Como planejar? Currículo - área-
aula. 22.ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2014.

NÓVOA, A. Os professores na virada do milênio: do excesso dos discursos à pobreza das


práticas. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v.25, n.1, p.11-20, jan./jun.,1999. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v25n1/v25n1a02.pdf Data de Acesso: 30/07/2022.

PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e Docência. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
ROCHA, L. C. de A. Gramática: nunca mais. Belo Horizonte: UFMG, 2002.

ROLDÃO, M. C. A formação como projecto: do plano mosaico ao currículo como projecto


de formação. Revista de Formação de Professores, Inafop (Instituto Nacional de Acreditação
da Formação de Professores), v. 1, 2001.

SANTOS, M. C. S. Os efeitos dos componentes curriculares de correção de textos na


formação inicial de uma professora de língua portuguesa. 2019. 173 f. Monografia
(Graduação em Letras – Licenciatura em Língua Portuguesa). Unidade Acadêmica de Letras,
Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande-PB, 2019.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ESTÉTICA DA ARTE AFRICANA NA ARTE


OCIDENTAL
Fernanda Reginaldo da Cunha Costa1

RESUMO: Para entender a atual participação da educação no gosto da arte africana, é prudente
questionar sua história e identificar os diferentes estratos conceituais: educação pelo ideal da
antiguidade, educação de uma elite no Renascimento, educação para todos por meio de uma
"arte social" do século XIX, educação do indivíduo hoje. É ainda o diálogo conflituoso entre a arte
criada no continente africano e apropriada sem o menor respeito por colonizadores europeus o
que gera preconceitos, hábitos e valores vigentes na educação e no exercício do ‘belo’. A fim de
compreender a realidade da beleza na Grécia e Roma antigas, a educação de uma elite no
Renascimento, numa educação massiva por meio de uma arte social do século XIX e uma arte
que reverbera durante séculos com seus contornos ritualísticos destoantes dos moldes
europeizados diante de uma educação do indivíduo hoje. O diálogo conflituoso entre a tradição
elitista e o “exótico” forma o pano de fundo para nossa reflexão nesse modesto trabalho que
busca ainda trazer à tona observações sobre os preconceitos e valores atualmente em ação na
educação e no exercício do gosto.

Palavras-Chave: Arte; África; Estética; História; Educação

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal São Paulo.


Graduação: Licenciatura de Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AESTHETICS OF AFRICAN ART IN WESTERN ART


ABSTRACT: To understand the current participation of education in the taste of African art, it is
prudent to question its history and identify the different conceptual strata: education for the
ideal of antiquity, education of an elite in the Renaissance, education for all through a century
"social art" XIX, education of the individual today. It is still the conflicting dialogue between art
created on the African continent and appropriated without the slightest respect by European
settlers that generates prejudices, habits and values prevailing in the education and exercise of
the 'beautiful'. In order to understand the reality of beauty in ancient Greece and Rome, the
education of an elite in the Renaissance, a massive education through nineteenth-century social
art and an art that reverberates for centuries with its ritualistic outpouring of Europeanized forms
before an education of the individual today. The conflicting dialogue between the elitist and the
“exotic” traditions forms the background for our reflection in this modest work that still seeks to
bring to light observations about the prejudices and values currently at work in education and
the exercise of taste.

Keywords: Art; Africa; Aesthetics; Story; Education.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO o mundo de hoje. Abrange muitos gêneros


artísticos – escultura, pintura, fotografia,
A arte africana sempre teve uma história. cinema, colagens, performances corporais e
Mesmo antes da penetração colonialista arte conceitual.
escravagista e imperialista no interior do O presente trabalho tem a modesta intenção
continente no século XVI e consequentemente de lançar luzes aos vínculos que a arte africana
no XIX, artistas e artesãos africanos já haviam legou aos diversos países do mundo que
chegado a um acordo acerca do que conheciam entraram em contato com seu teor. Muitas
de outras partes do mundo. No decorrer do manifestações artísticas reconhecidas e
século XX, expressão artística que se renomadas são percebidas enquanto criações
encontrará na África não é baseada apenas na desvinculadas de seu caráter e matriz
arte mais antiga do continente, nem formativa.
puramente reproduzida, o que foi criado nos O processo de colonização que espoliou o
centros do mundo da arte moderna, é a mais continente africano abriu para o mundo para
pura significação ritualística e estética das muito além da barbárie europeia ávida de
atividades culturais dos povos e grupos sociais lucros e territórios, ele também mostrou o
que compõem as multifaces artísticas nas suas quanto as instâncias culturais são ricas e
mais diversas manifestações. multifacetadas.
A atual distinção entre arte africana antiga e Buscamos aqui vincular relações entre
contemporânea deve-se, em grande parte, à alguns segmentos artísticos e a arte africana,
imagem que se faz, por um lado, de tradições queremos também ressaltar que o trabalho em
imutáveis e, por outro lado, a uma obra de arte si apresenta algumas limitações quanto as
que alcançou a modernidade ocidental na variedades artísticas africanas, nos valemos em
África, fruto muitas vezes de interpretações maior quantidade da questão das máscaras
arraigadas numa perspectiva estética africanas, entretanto arte africana não se limita
europeizada. De fato, a arte contemporânea do apenas às máscaras. A música, a dança, os
continente não coloca tradição e modernidade tecidos – forma de representação vital –, as
entre os dois polos opostos entre si, mas nos indumentárias e as histórias compõem um
propõem uma visão mais ampla das gigantesco universo cultural que pode ser
transformações legadas das invasões ao explorado e analisado.
continente, bem como as novas formas que Com relação ao ensino de das artes de
foram impostas por meio de ações – em muitas matrizes africanas podemos usar como fulcro a
vezes – violentas. A arte africana Lei 10.639/03, que determina a
contemporânea refere-se tanto a tendências obrigatoriedade do ensino da História da África
mais antigas como locais, ancestralidade, e Cultura Afro-Brasileira, o que permite que
religiosidade, bem como a regionalizações e tanto professores quanto alunos enveredem
hibridismos culturais, traços da globalização. É, por âmbitos de representatividade e
portanto, independente e evidência o resistência. A Lei faz com que compreendamos
engajamento criativo dos povos da África com que o processo de reconhecimento da cultura

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

africana vai além das explicações dadas pelo Industrial somado ao crescimento da
fatalismo racista de o negro não possuía população do continente europeu, levou à
cultura ou que houve submissão por parte dos "partilha do bolo continental" entre as
que aqui forma escravizados. potências ocidentais no Congresso de Berlim
Os povos africanos criaram objetos de arte, em 1885.
usando diferentes elementos da natureza. Ao final do século XIX os objetos trazidos
Entre esculturas de marfim, máscaras pelos conquistadores têm apenas um interesse
esculpidas em madeira e ornamentos em ouro científico por uma vocação enciclopédica e
e bronze. Os temas retratados nas obras de educacional sobre os impérios coloniais. Eles
arte referem-se à vida cotidiana, à religião e são encontrados principalmente em museus e
aos aspectos naturais da região povoada. galerias. Então no começo do XX intelectuais e
Assim, eles esculpiram e pintaram mitos, artistas notam o interesse estético e artístico
animais da floresta, cenas de tradições, desses objetos "exóticos".
personagens e cotidianos. Paul Guillaume, colecionador e negociante
A arte africana é um reflexo fiel das ricas de arte, amigo do poeta Apollinaire, abre a
histórias, mitos, crenças e filosofias dos primeira galeria onde apresenta a arte africana
habitantes deste grande continente. A riqueza que compra aos administradores coloniais,
desta arte vem fornecendo matérias-primas e militares e missionários.
inspiração para muitos movimentos artísticos Em 1917, o escritor Guillaume Apollinaire
contemporâneos na América e na Europa. publicou “À propos de l’art nègre”, na
Durante o século XX, artistas contemporâneos apresentação de um álbum com 24 fotografias
admiraram a importância da abstração e do de esculturas africanas, editado por Paul
naturalismo na arte africana. Guillaume. No ano seguinte, o pintor e poeta
Desse modo apresentamos a essa distinta tcheco Josef Càpek publicou “Escultura negra”,
instituição o resultado de nossa pesquisa, que, com outras contribuições pontuais,
esperamos que contemple os atributos compõe o conjunto de textos do período de
esperados para o curso de Graduação em Artes “descoberta” da arte da África, de acordo com
Visuais. a divisão proposta por
Jack Flam e Miriam Deutch na história
BREVE PANORAMA DA ARTE documental que organizaram do ‘primitivismo’
no século 20 (CONDURU, 2015. p, 120)
AFRICANA NOS SÉCULOS XIX E Enquanto isso, o nascimento do cubismo,
XX liderado por Picasso e Braque, que são
Do século XV ao século XIX período de amantes da arte Africana, torna-se para uma
assentamentos costeiros de postos de fonte de inspiração artística para ambos. Na
comércio, ligados ao tráfico de escravos, década de 1930, missões científicas surgem. O
seguido do fim da intensificação da colonização de Marcel Griaule, no país Dogon, visa, desta
interna do continente Africano para encontrar vez, coletar objetos e informações de
as matérias-primas necessárias à Revolução "diferentes culturas " para uma reconstrução

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

etnográfica dessas sociedades. Entre as duas raramente foram concebidos como objetos
guerras, colecionar objetos da arte africana se decorativos, mesmo que a vontade de
torna moda. Após a independência, os combinar o útil com o belo seja inegável.
comerciantes, inescrupulosos, foram ao local Assim como o dito ser primitivo estava
na África, "para estocar". preso a uma condição pretérita atemporal, a
Na década de 30, uma renomada missão arte da África não tinha história, situando-se
colonial francesa, que atravessou a África (em em um vácuo temporal – ausência de história,
seus múltiplos sentidos) de oeste a leste, de funções e sentidos sociais que,
partindo de Dakar e chegando a Djibuti, levava coerentemente, levaram artistas e escritores a
um grupo de pesquisadores de diversas se concentrar em questões formais,
disciplinas. A missão Dakar-Djibuti foi alvo de desconsiderando aspectos simbólicos e
intenso debate e objeto de uma lei votada pela funcionais das obras; apropriações artísticas e
Assembléia Nacional em 31 de março de 1931. reflexões críticas abstratas e formalistas que se
Seu objetivo fundamental, plenamente estenderam a publicações, exposições, usos
cumprido, era “enriquecer as coleções da domésticos (CONDURU, 2015, p, 122).
nação de objetos exóticos”. Marcel Griaule Eles sempre tiveram um significado
(1948), seu idealizador, havia passado um ano espiritual, social ou político, a fim de preservar
na Etiópia e considerava o trabalho de campo o equilíbrio e o bom funcionamento da
como continuação de uma tradição de sociedade. Estas obras de arte tradicionais
aventura e exploração. Para ele, a ausência de estavam ligadas a práticas específicas e
interesses etnológicos na exploração da terra conhecimentos de extrema variedade, dada a
teria favorecido a incompreensão mútua entre diversidade de grupos étnicos no vasto
os povos (BARROS, 2004. p, 22). continente africano. Esses objetos tinham
Então, na década de 1980, um começo de múltiplas funções: eram usados em ritos de
legislação surgiu para proteger esses objetos iniciação (transição para a idade adulta, a
culturais e tentar limitar seu desaparecimento transmissão de conhecimento esotérico a um
do continente africano. É por isso que hoje as sujeito em particular ou a um grupo de
raridades, as obras de arte Africana estão na indivíduos), que atuavam enquanto elemento
sua maioria em coleções particulares ou de intervenção durante os serviços
museus. (homenagem aos antepassados, garantindo a
Como podemos definir uma obra de arte fertilidade das mulheres, a fertilidade da terra,
africana? Como apreendemos um objeto de etc.), nos funerais, e tantos outros.
arte africana? Um objeto "belo" deve acima de tudo ser
Algumas ideias para entender a arte africana capaz de curar e proteger os indivíduos e as
são mais que necessárias, apesar do poder comunidades. O escultor teve que respeitar as
estético que pode ser sentido diante de uma formas tradicionais, respeitar o pedido do
máscara africana, o objeto em si é definido patrocinador e o do adivinho. Ele não assinou
pelo papel ritualístico a ele atribuído e para o suas obras, porque nas sociedades africanas, o
qual foi esculpido. Os objetos da Arte Africana coletivo tem precedência sobre o indivíduo e o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

importante é sua capacidade de respeitar a estes objetos são introduzidos em coleções


tradição e sua predisposição para deixar os europeias e exóticas. Mas esse movimento,
espíritos guiarem sua mão. que começou em Paris em 1906, insistiu em
Muitas tribos esculpem imagens dos esculturas (máscaras e estátuas) para
antepassados, e uma vez estas concluídas, inspiração. Essa mania se espalha rapidamente
acreditam que a alma do morto passa a residir para a Europa e se internacionaliza por volta de
nelas. Outras vezes, a estatueta passa a ter 1920.
significado de um próprio fetiche, que recebe No entanto, apesar de séculos de contatos
oferendas, é polvilhado de farinha, ou banhado existentes o conhecimento dos objetos
com o sangue de um animal propiciatório africanos só aparece no século XX. Portanto, é
(RAMOS, 1949, p.193). uma interpretação desses objetos de acordo
Portanto, o que caracteriza uma obra-prima com ideologias e percepções europeias que se
da Arte Africana para colecionadores e desenvolve principalmente a partir do XVIII
curadores é como o objeto que se aprecia pode para o século XIX. As peças adquiridas pelos
ser indexado, o quanto é raro e em bom europeus na África passam então por três
estado. A raridade aferida ao objeto não é grandes fases de apropriação e interpretação:
necessariamente embebida de ser como fora primeiro como curiosidade (século XV - XVIII),
concebida no momento de sua criação, o que segundo como objetos etnográficos
cria um reducionismo conceitual com relação posteriores (século XIX) e por fim como obras
ao caráter ritualístico, mas a toda singularidade de arte (do século XX). Mas ao longo dessas
do objeto com relação aos demais, o que o três fases, apenas uma noção essencial é usada
torna único, monetizável e empobrecido de para qualificar esses objetos e as culturas às
significado. quais eles pertencem, o "primitivismo".
Mas não deveria a definição de Arte Africana Na Europa do século XIX, na esteira dos
agrupar todos os objetos criados por artistas estudos etnológicos, o termo “primitivo”
africanos? designava a produção que, de algum modo,
E o que importa não é a transmissão de permanecia isolada e/ou independente da
culturas pela reprodução de uma arte cultura ocidental dominante, como a arte das
tradicional que combina os elementos de uma crianças e dos doentes mentais; a arte popular
cultura passada ou ainda está viva? e folclórica; a arte da pré-história; e também a
arte produzida alhures, como a africana, a pré-
ARTE EUROPEIA E ARTE colombiana, a indígena, a dos habitantes das
ilhas do Pacífico, entre outras. Em suma,
AFRICANA NO SÉCULO XX considerava-se primitiva toda manifestação
Como elencado anteriormente, por volta de artística portadora de valores estranhos ou
1907, artistas começaram a colecionar diversos dos vigentes nas sociedades
esculturas da África. Esta atração por objetos ocidentais economicamente avançadas
africanos não é nova, desde o século XV, (CAVALCANTE, 2017. p, 4).
existem contatos entre a Europa e a África e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O primitivismo é uma tendência artística na egípcias, oceânicas e mesmo bretãs, ele renova
arte moderna nas artes visuais e literatura que as fontes de arte buscando inspiração e
começou no século XIX e continua até o início desenvolvendo uma nova perspectiva sobre
do século XX. Expressa uma rejeição dos objetos não europeus. Ele até mesmo empurra
valores burgueses representados pela a abordagem para expatriados nas ilhas do
industrialização desenfreada e devastadora Pacífico, como o Taiti. Ele está cansado da
nos níveis social e cultural. Em termos sociedade e do estilo artístico de seu tempo.
artísticos, os cânones antigos e oficiais são O idealismo de Gauguin teve o mérito de
questionados, até rejeitados para favorecer trazer ao ocidente testemunhos de um mundo
uma expressividade interna sem passar pelo que sua civilização lutava para suplantar. Se
aprendizado acadêmico. Muitos artistas se Gauguin era um idealista não era porém, um
voltam para as chamadas sociedades colecionador de coisas exóticas. Ele penetrou
"primitivas" da África e da Oceania, atraídas fundo naquela realidade e teve a coragem de
por seus modos de vida, próximas à natureza e enfrentar os colonizadores, mesmo sabendo
por suas artes. Eles tiram dela concepções que pagaria por isso (BARROS, 2011, p, 42).
formais para interpretar sua própria Essas máscaras, todos esses objetos que os
sensibilidade. Eles também veem homens executaram em um projeto sagrado e
autenticidade e espontaneidade, dois valores mágico, para servirem como intermediários
que parecem ter sido rejeitados pelo modo de entre eles e as forças de um desconhecido e
vida burguês materialista, que vem ganhando hostil, que os cercava, tentando assim superar
cada vez mais importância no século XIX. Os o medo dando-lhes cor e forma. E então
artistas se familiarizam com as "artes percebe-se que esse era o próprio significado
primitivas" nos museus e com os comerciantes da pintura. Não é um processo estético; é uma
etnográficos. forma de magia interposta entre o universo e
Em face do público ocidental, os objetos nós; uma maneira de tomar o poder, impondo
africanos estão gradualmente se movendo da uma forma aos terrores e aos desejos.
esfera dos objetos etnográficos para o campo Outros artistas europeus então também
dos objetos artísticos, o primitivismo descreve interessados em artes africanas e do mesmo
um fato ocidental e não implica diálogo direto modo em encontrar inspiração em sua
no pesquisa estética encontrarão na Alemanha,
Ocidente e os “outros ". No contexto da arte França e outros países europeus essa
moderna, refere-se a uma atração por pessoas tendência que é internacional e assume
fora da cultura ocidental, percebida por meio diferentes formas, dependendo das correntes
da lente deformadora das concepções e artistas do século XX.
"primitivas" ocidentais geradas no final do Mas o que os artistas veem nos objetos
século XIX, mas sem nenhum estudo africanos é sempre uma busca do "primitivo", a
aprofundado vem sendo feito até então. energia essencial e instintiva da vida, sem se
O precursor dessa abordagem artística é interessar pelas culturas que estão na origem
Paul Gauguin. Inspirado pelas artes orientais,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desses objetos, eles admiram o exótico curiosidades a troféus coloniais, depois objetos
contido. etnográficos e obras de arte. Nos anos 1910 a
A abordagem das artes africanas no século 1930, uma mania muito clara para as artes
XX é essencialmente um processo emocional, africanas é sentida, pelas publicações sobre o
porque vem de uma busca por artistas para se assunto, as exposições e a ascensão das
livrar de uma tradição acadêmica e do gosto da coleções públicas e privadas. Tudo isso ajuda a
burguesia. Eles são inspirados pelas artes transmitir uma nova imagem das artes
africanas baseadas em seus sentimentos africanas, como obras de arte.
pessoais, o que eles evocam em relação à sua Apesar deste entusiasmo pelas artes
experiência, individualmente. Por isso, cada africanas neste momento, os artistas
artista observa, inspira e interpreta o que vê surrealistas continuam cautelosos com esta
em relação ao que procura em sua arte. Essa tendência devido à aparente facilidade com
influência das artes africanas sobre os artistas que a cultura convencional europeia absorveu
do século XX é, portanto, variável, incompleta a África. Eles criticam principalmente a
e relaciona-se tanto à expressão formal – expansão colonial e a apropriação do "Outro"
formas esquemáticas, geométricas e (territórios, objetos, cultura). No entanto, eles
distorcidas da realidade, quanto à vitalidade não escapam dessa fascinação primitivista em
supostamente instintiva dos criadores relação aos objetos não-europeus, e africanos
africanos. em particular. Eles também coletam objetos e
Quando a obra africana fez a sua “aparição” os usam em suas criações, envolvendo-os em
no cenário artístico ocidental nos primeiros sua interpretação e em seu design estético.
anos do século XX, “descoberta” por artistas
como Picasso e Matisse, vários artistas e A MEMÓRIA NEOCOLONIAL E
movimentos, como o expressionismo, intuíram
o seu impulso criador, sinalizado por novos O MERCADO DE OBRAS DE ARTE
traçados, cores e signos que remetessem a essa Desde os anos 1960-1970, o início do
fonte criadora, e pontuaram uma nova período pós-colonial, os países anteriormente
organização de imagem (AJZENBERG & colonizados pelo Ocidente tendem a se
MUNANGA, 2009, p. 192). emancipar de sua história colonial e a
O objeto africano é um apoio, até mesmo reconstruir uma identidade. Este é um período
um pretexto, para transmitir uma mensagem em que a identidade é confundida com
crítica. O conhecimento profundo dessas artes identificação ou semelhança.
não é considerado aqui apenas adorno ou Muitos artistas negros, em seus países de
indumentária. No entanto, esses artistas origem ou na diáspora, estão trabalhando para
questionam a questão da identidade em seu liderar uma reflexão artística e teórica sobre o
tempo, incluindo as artes africanas. De fato, assunto da arte e memória. Da diáspora,
identidades, memória e história vem sendo
como mencionado acima, as artes africanas
trabalhadas em áreas de contato intercultural
passaram por diferentes status sob o olhar
ou culturas transnacionais, eles carregam uma
ocidental desde os primeiros contatos; de
identidade cultural dual, misturando o que eles

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

usam na arte. O valor dos artistas diaspóricos testemunha a história e identidade afro-
não é a mera construção de novas identidades americana. É como se a complexidade da
próprias, mas eles também expõem e escravidão e seu posicionamento dentro da
desconstroem essas identidades preexistentes. modernidade devessem ser ativamente
Esses são os artistas da nova geração que reprimidos, de modo que seja possível adquirir
participam ativamente de tendências uma clara orientação para a tradição e, assim,
multiculturais e globais. A maioria deles para a condição atual dos negros. Os negros
exterioriza visualmente suas histórias e não hão de se esquecer a experiência da
experiências pessoais para lidar com tópicos escravidão que aparece como uma aberração
cruciais que podem atingir um público mais na grande narrativa da história africana, pelo
amplo. Eles podem tender para um tipo de menos para colocá-la de volta ao centro de seu
cidadão flexível, uma identidade transnacional pensamento e associá-lo a uma ideia mística e
e global: A cidadania flexível nos leva a ver o implacavelmente positiva da África.
mundo na rubrica de um projeto de Por meio das obras as noções de gênero,
descolonização que é uma lição vital do pós- história, memória e cultura estão no centro das
colonialismo. Se o status dos artistas na questões atuais e crucial. A história está
diáspora lhes oferece espaço para reflexão, constantemente se repetindo, os eventos do
também pode ser um fardo pesado, porque as passado afetam as novas gerações sempre em
instituições culturais e o mercado de arte apuros de identidade. Os artistas da diáspora
muitas vezes esperam que eles apresentem lutam contra os estereótipos e o esquecimento
suas origens e autenticidade cultural. expondo suas experiências pessoais, mas
A África é o ponto de origem e reflete na também indo além deles para alcançar um
representação, a história e o lugar do povo espaço crítico livre de toda pressão e de uma
preto, nisso eles tomam uma parte ativa no identidade transnacional. Eles produzem
pensamento, ecoando a aproximação para trabalhos fortes, chocantes ou chocantes para
Negritude; uma maneira de viver a história na atingir a consciência do espectador. O que é
história: a história de uma comunidade cuja fundamental, em que tudo o mais é construído
experiência aparece, em de fato, singular com e pode ser construído: o núcleo duro e
suas deportações de populações, suas irredutível; que dá um homem, uma cultura,
transferências de homens de um continente uma civilização por sua própria vez é seu estilo
para outro, memórias de crenças distantes, e sua singularidade irredutível. Uma identidade
seus remanescentes de culturas assassinadas. não arcaica não devora a si, mas devora o
A história da escravidão, do tráfico de mundo, isto é, faz com que as mãos de tudo
escravos e do povo afro-americano está isso possa melhor reavaliar o passado e, mais
também no centro das discussões numa ainda, preparar o futuro. Porque, finalmente,
reflexão sobre discriminação racial, como medir o caminho percorrido se não
desigualdade de gênero, enquanto soubermos de onde viemos ou para onde
constantemente a escava em sua própria queremos ir, como medir a distância percorrida
história, o sul-americano e o tráfico de negros se não soubermos essas prerrogativas.
africanos. Ao ressuscitar o passado, reabrem
cicatrizes e abala memórias. A escravidão

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil está intimamente ligado à África, a pegada cultural dos africanos é tão dinâmica
que gerou a alegação de que o Brasil poderia ser melhor percebido como uma nação Africana. Se
olharmos para a história, o evento proeminente que selou o encontro entre o Brasil e a África
ocorreu com o tráfico de escravos transatlântico desenvolvido pelos colonizadores portugueses
a partir do século XVI. O empreendimento escravista deportou quase 40% do número total de
africanos embarcados para cruzar o Atlântico.
A partir dessa premissa, devemos lançar luz sobre os vínculos culturais entre o Brasil e o
continente africano, a relevância do fato de que o tráfico de escravos e suas implicações
socioculturais de longo prazo constituem um dos elementos interpretativos úteis para o
estabelecimento de relações modernas entre o Brasil e a África. Buscamos aqui a partir desses
estudos, por meio da pesquisa bibliográfica delinear um cenário onde por meio do estudo da arte
africana fazer uma ligação com as artes consagradas e reconhecidas, bem como ocorreram as
ligações a partir do século XX.
A aquisição de objetos culturais africanos durante a colonização promoveu o
desenvolvimento da pesquisa científica, tanto etnologicamente quanto em termos de história da
arte. Existe em paralelo uma busca promocional por esses objetos, então considerados como
obras de arte. Ambas as abordagens usam o conceito de "primitivo" para interpretar objetos
observados e apresentados. A análise estética desses itens é fortemente influenciada por
paradigmas e conceitos da antropologia das culturas africanas, que propõe preservar culturas e
objetos.
O desenvolvimento da mitologia, religião, língua, arte e costumes numa relação entre as
artes e as mentalidades foram fundamentais para um desenvolvimento técnico. Assim, a arte
identificada como ‘primitiva’ carrega esse termo pois os indivíduos que permaneceram até
recentemente em um nível técnico inicial que usando ferramentas, mas não máquinas.
A apreciação e estudo da forma de objetos culturais africanos é altamente dependente de
preceitos evolutivos e do valor estético ocidental, caracterizado por uma preferência pela
escultura figurativa.
O estudo das artes africanas, concentrou-se principalmente na escultura figurativa. Essa
escolha arbitrária emana da concepção ocidental da criação artística clássica. As primeiras
classificações consistem, assim, numa ordem de criações de áreas culturais. Ao entrar em contato
com a Europa alimentou o cubismo que se tornou uma expressão de escala mundial por meio de
Pablo Picasso.
Como já especificado as artes de matrizes africanas no cenário educacional brasileiro tem
uma importante função no que tange aspectos relativos a preservação da memória, as formas de
resistência, ao combate das interpretações rasas e ao graus de simbolismo das obras.
Acreditamos que pelas limitações apresentadas esse trabalho pode posteriormente lograr uma
amplitude que abarque alguns outros elementos fundamentais relativos a arte africana e sua
aplicação na cultura mundial.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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845
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EXPERIENCIAS DE EVALUACIÓN DOCENTE


DURANTE LA PANDEMIA. VOCES DE
ACADÉMICAS EN EDUCACIÓN SUPERIOR
Cirila Cervera Delgado1
Mireya Martí Reyes2

RESUMO: La pandemia de la Covid-19 provocada por el virus SARS-CoV-2 y el subsecuente


confinamiento, han modificado todos los sistemas sociales, incluyendo el educativo, en todos los
niveles y modalidades. Dentro de la literatura que ha venido dando cuenta de lo ocurrido en la
educación superior, un espacio significativo lo ocupan los procesos de enseñanza y aprendizaje y
el impacto en sus principales autores: estudiantes y profesores/as. Como suele suceder aun en la
“normalidad”, la evaluación es un tema postergado, que apenas comienza a ser tratado y cuyos
resultados, igualmente, se comienzan a analizar. Nos referimos a la evaluación de los
aprendizajes, porque, sobre la evaluación docente, es francamente escasa la producción. En este
escenario, nos enfocamos en la evaluación del desempeño docente desde una perspectiva de
género, indagando en cómo las académicas de educación superior vivieron los procesos de
evaluación y los resultados esperados y obtenidos. Los resultados permiten afirmar que las
profesoras de educación superior modificaron la realización de las funciones esenciales que
normativamente tienen asignadas: investigación, docencia y extensión. La evaluación de que son

1 Profesora-investigadora del Departamento de Educación de la Universidad de Guanajuato, México. Integrante del


Cuerpo Académico Consolidado “Educación en la Cultura, la Historia y el Arte”; pertenece al Sistema Nacional de
Investigadores y cuenta con el Perfil Prodep de Tipo Superior.
Doctora em Historia por la Universidad Autónoma de Zacatecas.
2 Profesora-investigadora y Directora del Departamento de Educación de la Universidad de Guanajuato, México.

Líder del Cuerpo Académico Consolidado “Educación en la Cultura, la Historia y el Arte”. Pertenece al Sistema
Nacional de Investigadores y cuenta con el Perfil Prodep de Tipo Superior.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

objeto se desarrolló como en la anterior normalidad y los resultados, invariablemente, denotan


los efectos directos y colaterales de la pandemia y el confinamiento.

Palavras-Chave: Pandemia; Género; Educación superior; Evaluación docente; Funciones


sustantivas.

EXPERIENCES OF TEACHING EVALUATION DURING THE PANDEMIC.


VOCES OF ACADEMICS IN HIGHER EDUCATION
ABSTRACT: The impact of the Covid-19 pandemic caused by the SARS-CoV-2 virus has modified
all social systems, not leaving the educational process safe. Within the literature that has been
giving an account of what happened in higher education, a significant space is occupied by the
virtualization of teaching and, among the actors, the students. As is often the case, the evaluation
of students and, even more, that of teachers, which we identify as teacher evaluation, remains
pending, as a topic that begins to be treated and whose results, likewise, are barely being
assimilated by the teachers themselves. Expert voices agree that the pandemic did not create the
global polycritic situation, but it did widen the inequality gaps in all areas, including,
fundamentally for the issue at hand, gender inequality. Specialists have denounced how women
have suffered more the consequences of this health emergency, because, during the
confinement, they changed their routine, hours of stay in their homes and dedication to study
and work. In this scenario, we designed an investigation about teacher evaluation from a gender
perspective. We can affirm that the professors of higher education modified the performance of
the essential functions that they are normatively assigned: research, teaching and extension. And
that, just as education did not stop, neither did the processes of evaluating its performance; so,
they relate how they have lived this process, their expectations, and proposals, which we recover
as part of the findings.

Keywords: Pandemic; Gender; Higher education; Teacher evaluation; Substantive functions.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUCCIÓN pudieron pasar por una, dos o las tres


evaluaciones en el mismo lapso. Saber cómo
A raíz de la transformación del sistema vivieron ese proceso de evaluación en relación
educativo -en todos los aspectos imaginables- con el género y qué propuestas de mejora
que trajo consigo la pandemia y el visualizan las académicas, es el objetivo de este
confinamiento, hemos discutido y reflexionado trabajo.
acerca de los escenarios emergentes y de la Cabe destacar que los resultados tanto el
actuación de los principales autores ESDEPED como el SNI otorgan recursos
educativos, mediante la formulación de económicos; el Prodep sólo eventualmente lo
proyectos de investigación que nos permitan hace, pero, como suele ser vinculante con otros
aprehender y comprender este segmento de la sistemas de evaluación y convocatorias, a la
realidad. Así, hemos indagado en el estado de larga, tener esta distinción (o no), se traduce en
salud física y emocional de la comunidad una compensación o gratificación. Esta relación
universitaria y hemos puesto especial atención afecta también a las mujeres, quienes,
a lo que ocurre con el proceso educativo, desde históricamente, han percibido menos ingresos
el cambio brusco de la presencialidad a una por igual trabajo realizado o, en otra lectura,
interacción mediada a través de distintos deben dedicar más tiempo a sus labores para,
dispositivos tecnológicos. al menos, igualar los niveles de percepción
Por otro lado, el estudio de múltiples monetaria de los hombres en puestos
trabajos publicados, nos llevan a concluir que similares.
la evaluación es un tema poco explorado aún, Dentro del contexto descrito, es
aunque abundan las indagaciones referentes a fundamental abordar la evaluación docente
valorar aprendizajes, es decir, se centran en los con perspectiva de género, para evidenciar las
estudiantes, no en la evaluación del circunstancias a las que se enfrentaron las
desempeño docente. mujeres académicas en el transcurso de la crisis
En México, las profesoras y los profesores sanitaria por la pandemia, los retos y desafíos
pasan por distintos mecanismos de evaluación, desencadenados en el proceso de evaluación y
que incluye ejercicios de autoevaluación, las condicionantes que limitan a las académicas
evaluación por parte de los estudiantes y en su desarrollo intelectual y profesional
evaluación por pares. La evaluación docente a durante el confinamiento.
la que hacemos referencia en esta En concordancia con lo anterior,
investigación corresponde a la externa: formulamos las siguientes preguntas de
Sistema Nacional de Investigadores (SNI) y investigación:
Programa para el Desarrollo Profesional ¿De qué manera académicas vivieron la
Docente (Prodep); e interna o institucional, evaluación docente en la pandemia?
representada por el Programa de Estímulos al ¿Cómo perciben que intervino el género en
Desempeño del Personal Docente (ESDEPED). estos procesos evaluativos y en los resultados
Cabe mencionar que, dados los criterios de obtenidos?
cada una de las convocatorias, las académicas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Por ende, pretendemos dar cuenta de estos constituyen determinantes en la educación


objetivos: pospandemia.
A. Evidenciar la brecha de género respecto La brecha digital es sólo una, tal vez, la más
a los procesos y resultados de evaluación visible en este episodio pandémico, pero quizás
docente en educación superior. no la más grave, porque la pobreza se agudizó
B. Describir el sentido que tuvo la y se hicieron más notorias la inequidad en las
evaluación docente durante la pandemia para condiciones entre el campo y la ciudad, ricos y
las académicas. pobres, hombres y mujeres, por citar sólo
C. Analizar las experiencias de profesoras algunos contrastes. En palabas de De Sousa, la
de educación superior en torno a los procesos pandemia empeoró la situación de los ya
de evaluación externa que vivieron durante la marginados:
pandemia por SARS-CoV-2 Son los grupos que tienen en común una
Para su logro, desarrollamos una vulnerabilidad especial que precede a la
investigación de corte descriptivo con dos fases cuarentena y se agrava con ella. Tales grupos
fundamentales: la primera de análisis componen lo que denomino «el sur». En mi
documental, de la literatura existente sobre el opinión, el sur no designa un espacio
tema de los efectos de la pandemia en la geográfico, sino un espacio- tiempo político,
educación superior, con énfasis en la social y cultural. Es una metáfora del
evaluación docente. La segunda fase considera sufrimiento humano injusto causado por la
una aproximación a docentes de instituciones explotación capitalista, la discriminación racial
de educación superior, mediante una y la discriminación sexual. (2020, p. 45).
entrevista temática semiestructurada. En el sector educativo, las consecuencias de
la pandemia y el confinamiento también han
UNA REVISIÓN DEL TEMA EN sido analizadas desde todos los ángulos. El
texto Impacto del COVID-19 en la educación-
LA LITERATURA información del Panorama de la Educación
La cruel pedagogía del virus, de Boaventura (Education at a Glance) publicado en 2020,
de Sousa Santos (2020), describe, con todo describe las consecuencias desde todas las
realismo y crudeza, el escenario mundial áreas: movilidad, economía, sector salud,
increíblemente triste y desigual que no vino a tiempo, eficiencia, cómo y cuándo regresar a la
crear el virus, pero sí a desvelarlo. El autor presencialidad, entre otras.
analiza el impacto global que trastocó todos los Imanol Ordorika, en su artículo “Pandemia y
órdenes de la vida, en el nivel individual y educación superior” (2020), menciona algunas
colectivo. Por su parte, Acuña (2021), asevera problemáticas que tuvieron consecuencia a
que la pobreza, la condición femenina, la nivel mundial, y dentro de ellas, destaca dos: la
ubicación en el espacio rural o urbano, la afectación en el proceso de enseñanza-
disponibilidad y conocimiento de tecnologías aprendizaje y una gran disminución en las
de la información y la comunicación, actividades de investigación. Además, subraya
las dificultades que han tenido las Instituciones

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de Educación Superior (IES) por la reducción de Con el confinamiento se generó una


financiamiento público y la cancelación de sobrecarga de actividades domésticas y
fideicomisos para el apoyo a la investigación. cuidado que desempeñan las mujeres. El libro
Si bien las Instituciones de Educación de Bas (2020), llamado La educación superior
Superior (IES) siguen cumpliendo con su en Iberoamérica en tiempo de pandemia,
función formativa y sus académicos y evidencia que el nivel superior ha sufrido
académicas continúan ejecutando sus consecuencias del confinamiento; acentúa las
funciones sustantivas mediante la modalidad condiciones de género, plantea las situaciones
virtual, en las que se vieron inmiscuidas las mujeres y,
pretender su universalización como por lo tanto, fueron afectadas en su día a día.
respuesta institucional, así como la Puntualiza un incremento considerable de
homologación de las diferencias en el uso del violencia económica, en parejas, explotación,
tiempo entre hombres y mujeres docentes, abuso sexual, entre otras. De igual forma,
deja fuera de toda consideración la diversidad expone las exigencias y retos a los cuales la
y especificidad local. Ello podría explicar que el docencia tuvo que buscar la respuesta más
malestar docente entre mujeres siga creciendo eficiente para continuar con la labor de la
a la sombra de los estereotipos de armonía manera óptima.
familiar que predominan por estos días en los Por último, el trabajo de Lury Soledad Reyes
medios y ante la irrelevancia de los sistemas de Pérez, Carmen Gloria Burdiles Cisternas, Jessica
salud, cuyo foco es la pandemia (FLORES- Carolina Jerez Yáñez y Ana Zazo Moratolla,
SEQUERA, 2020, p. 107). “Universidades generizadas y mercantilizadas.
Infante, Peláez y Giraldo (2021), basándose Implicancias para las mujeres trabajadoras en
en una encuesta realizada entre 12,158 tiempos de pandemia” (2021), con base en la
universitarios, concluyen que las mujeres metodología cualitativa, constata la presencia
manifiestan mayores efectos diferenciales en de estructuras patriarcales que ratifican las
todo, especialmente en su salud mental y física, relaciones tradicionales de género, un agobio y
y que las estudiantes jóvenes están sufriendo sobrecarga que afecta a todas. Finalmente, se
mayores efectos que los varones. Concluyen propone a las universidades la elaboración de
que: políticas sensibles al género, para mitigar las
En las universidades, al igual que en la consecuencias de la pandemia en las
población general, las respuestas a las trabajadoras.
pandemias están mediadas por la dimensión De manera inicial, es evidente que la
social que requiere tomar en cuenta las documentación revisada evidencia que el tema
diferencias por género, con el fin de disminuir referente a los procesos educativos y el SARS-
la inequidad de los efectos de las pandemias CoV-2 se investigaron desde diversas
entre las mujeres y los varones, especialmente perspectivas e, incluso, de manera minuciosa,
en universidades públicas en países del tercer no obstante; al momento de que se hace un
mundo. (p. 190). análisis desde una perspectiva de género,
resulta evidente que aún hay áreas de

850
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

oportunidad y vacíos investigativos para hombres y mujeres. El Consejo Económico


importantes. y Social de las Naciones Unidas (ECOSOC, 1997,
Estos antecedentes ratifican las condiciones citado en Organización Internacional del
de desigualdad de las mujeres en la educación Trabajo [OIT], 2017) afirma que, transversalizar
superior, particularmente de las académicas, el género tiene sus alcances:
quienes siguen experimentando las Transversalizar la perspectiva de género es
consecuencias del suelo pegajoso, el proceso de valorar las implicaciones que
desempeñan dobles y triples jornadas tiene para los hombres y para las mujeres
laborales, y vieron cómo incrementaba su cualquier acción que se planifique, ya se trate
carga de trabajo doméstico durante el de legislación, políticas o programas, en todas
confinamiento total o parcial. Se acentuó, las áreas y en todos los niveles. Es una
asimismo, su condición de cuidadoras de niñas, estrategia para conseguir que las
niños, adultos mayores y enfermos. La vida preocupaciones y experiencias de las mujeres,
académica no se detuvo para ellas, debiendo al igual que las de los hombres, sean parte
cumplir con sus actividades y funciones integrante en la elaboración, puesta en
sustantivas: docencia, investigación y gestión, marcha, control y evaluación de las políticas y
para referirnos a ellas en términos comunes. A de los programas en todas las esferas políticas,
la par, la evaluación del desempeño docente económicas y sociales, de manera que las
también siguió su curso, a pesar de la mujeres y los hombres puedan beneficiarse de
semiparálisis del mundo: los sistemas de ellos igualmente y no se perpetúe la
evaluación se mantuvieron prácticamente desigualdad. El objetivo final de la integración
igual que en la anterior normalidad. La es conseguir la igualdad de los géneros.
experiencia de quienes vivieron estos procesos Integrar la perspectiva de género a la
la recogemos un poco más adelante. evaluación docente implica mecanismos
distintos, de acuerdo con la condición de ser
APUNTES TEÓRICO- mujer o ser hombre, de modo que se vayan
abatiendo las desigualdades que,
CONCEPTUALES históricamente, les afectan a ellas, porque las
Las investigaciones centradas en la funciones o roles de género son asignaciones
perspectiva de género posibilitan un punto de procedentes de elementos culturales y
partida con intención de reducir las sociales, tal como lo afirman Infante et al: “Las
desigualdades que afectan a las mujeres construcciones sociales, como las normas y los
académicas, en este caso, en sistemas de patrones culturales que imponen los roles que
educación superior. Las brechas de mujeres y varones desempeñan en la sociedad,
desigualdad se ampliaron durante el están siendo factores determinantes de los
confinamiento por la pandemia, modificando impactos diferenciados por género en los
todas sus actividades profesionales, que, efectos de la epidemia de Covid-19” (2020, p.
obviamente, son susceptibles de evaluación 171).
interna y externa y con mecanismos iguales

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Continuar como siempre, es decir, con la su papel en el ámbito profesional, académico e


aplicación de una evaluación estándar, investigativo y dedicarse, más que antes, al
desencadena la existencia, permanencia y cuidado de los otros y de su hogar. Así, las
ampliación de la brecha de género, concepto académicas hubieron de multiplicarse para
que indica disparidad creada y perpetuada por cumplir con sus responsabilidades
estereotipos asignados a las mujeres dentro de profesionales y destinar aún más tiempo a las
la sociedad y que sobrepasan al campo actividades domésticas, dado que se
académico, impactando negativamente en el encontraban en casa durante el confinamiento.
desarrollo profesional de las docentes, que se Esta particularidad, sin duda, influyó en su
hace patente en los procesos y resultados de la desempeño, concretado en los resultados de la
evaluación de la que son objetos. Un sistema evaluación.
de evaluación del profesorado con perspectiva
de género revelaría la necesidad de valorar el ENFOQUE METODOLÓGICO
desempeño docente en condiciones de
Abordar la investigación desde una
vulnerabilidad y complicaciones emergentes,
perspectiva de género, permite interpretar y
como lo ha sido la época pandémica.
conocer las limitaciones que las académicas
Asistimos a una dinámica para el
enfrentaron durante la pandemia de la Covid-
sostenimiento de la vida, en donde las mujeres
19, en la evaluación docente que mide el
son las protagonistas de las acciones de
desempeño de las mismas. Desde la teoría de
cuidados y reproducción, raíces que tienen un
género, la transversalización de la información
origen histórico y que, con el transcurrir de los
posibilita el análisis por razón de género y la
años, no ha disminuido:
forma en cómo se ven afectadas sus labores
Con el desarrollo social y los espacios de
académicas por el solo hecho de ser mujeres en
emancipación genérica de las mujeres, ellas no
una sociedad en donde se les impone y asignan
restan actividades, no se ven desembarazadas
roles que las limitan.
de obligaciones y deberes, por el contrario,
Así mismo, esta ruta metodológica permite
suman actividades, horas de trabajo,
comprender la estructura dominante dentro
responsabilidades. Muchas de ellas son
del sistema educativo como limitación para el
contradictorias entre sí y aparecen el doble
desempeño de las mujeres en lo académico y
trabajo o sobre-trabajo [plustrabajo), las
producción de conocimiento, pero sobre todo
dobles jornadas, los dobles espacios.
en la afectación dentro de la evaluación
(LAGARDE, 2005, p. 130).
docente que realizan el Sistema Nacional de
La sobrecarga de actividades provoca
Investigadores (SNI) y el Programa para el
tensiones en la vida personal y laboral de las
Desarrollo Profesional Docente (Prodep) e
mujeres, situación agravada durante la
interna o institucional: Programa de Estímulos
pandemia Covid-19, justamente por la
al Desempeño del Personal Docente
economía del cuidado, que recae en ellas. El
(ESDEPED), entre otros dispositivos destinados
enlace del espacio público con el privado, para
a evaluar los resultados del desempeño del
las profesoras académicas representó sostener
profesorado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EXPERIENCIAS DE importante. Además, en esta facultad sólo


existes si eres SNI; si no, ni siquiera te invitan a
EVALUACIÓN DOCENTE dar cursos en posgrado […] En la beca al
DURANTE LA PANDEMIA DESDE desempeño no me fue tan bien, bajé dos
niveles. Los estudiantes no me evaluaron
LAS VOCES DE LAS MUJERES
positivamente, dejé de hacer actividades
ACADÉMICAS mientras entendía cómo podía trabajar desde
Las entrevistadas realizan actividades de la casa, en donde no tengo laboratorio para mis
docencia en pregrado y posgrado; son asesoras investigaciones y, además, aquí atiendo a mi
de trabajos de titulación y tutoras. También familia: dos hijos adolescentes, mi esposo y mi
realizan investigación en proyectos suegra. Tuve familiares cercanos enfermos por
individuales y colectivos y participan en Covid y eso me afectó mucho emocionalmente,
actividades de difusión y extensión como así es que, con resignación acepté el resultado.
seminarios, congresos, foros, colectivos, etc. Su A pregunta expresa, añade:
carga es de tiempo completo en sus respectivas Las mujeres siempre hemos tenido que
instituciones, en donde tienen desde cuatro esforzarnos más, se nos exige más, se nos pide
hasta más de 30 años laborando. Se les demostrar… a los hombres no tanto. En este
entrevistó por medios virtuales durante los periodo, las mujeres estaremos pagando el
meses de octubre y noviembre de 2021. La precio de la pandemia más caro que ellos. Nos
selección de la muestra fue por cercanía y hemos ocupado de más quehaceres, además
conveniencia. Para respetar su anonimato, se del laboral; tuvimos que renunciar a cumplir
les identifica con un nombre ficticio, aunque con ciertos parámetros… puede ser que el
con sus datos generales. aspecto emocional también nos afecte más. No
Ameyali tiene 28 trabajando en esa sé cuánto, pero estoy segura de que el precio
universidad. Hace 22 años recibió su será alto para nosotras.
nombramiento como profesora investigadora. Citlalmina describe que el proceso más
En este periodo ha participado en las complicado fue para la renovación del Perfil
evaluaciones del Sistema Nacional de Prodep, puesto que:
Investigadores (SNI) (cuyos resultados se No hubo indicaciones claras. Yo nunca
emitieron en octubre de 2020), de Estímulos al entendí qué podía enviar en formato digital y
Desempeño Docente 2020 (de su universidad) qué no. Me confundí con correos masivos que
y para renovar el Perfil Prodep, en 2021. no me tocaban, ¿o sí? Estamos en noviembre y
Ameyali relata: no han salido los resultados. Por lo que toca
La solicitud para el SNI la tuve tiempo, pero estrictamente a mí, pospuse la publicación de
me faltó ingresar algunas evidencias, porque un libro y un artículo que me hubieran contado,
algunas oficinas se cerraron justo en esos pues tuve que dedicar buen parte de mi tiempo
momentos. Pasé angustia esperando el a cuidar a mi mamá, quien estuvo enferma de
resultado, porque, además del Covid. Yo también me contagié, pero salí
reconocimiento, implica un ingreso económico pronto.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Citlalmina hace evidentes varios rasgos de procurar las medidas de seguridad, todas las
género, pues se sintió relegada, en posibles… No estoy obligada a ello, pero son mi
comparación con sus colegas varones. Agrega: razón de vida. Así es que, ante la gravedad de
El coordinador del posgrado me avisó que esta pandemia, fueron mi prioridad, por
habría una reunión virtual para designar encima de los resultados de la evaluación.
directores de tesis a los estudiantes de nuevo En ese mismo sentido va el testimonio de
ingreso. Dos compañeras más y yo no pudimos Neli, quien dio a luz durante la pandemia y pasó
conectarnos a la reunión virtual por fallas en la por una etapa de depresión posparto:
electricidad. Por mensaje de WhatsApp le pedí Creí que estaba deprimida al saber que los
que me dejara a dos estudiantes que yo había contagios subían y subían… pero me di cuenta
entrevistado y que mostraban buena de que me estaba deprimiendo por haber sido
trayectoria. Pero no sucedió… a las tres que mamá. Tengo un esposo de primera, que me
faltamos nos dejaron a los aspirantes que apoya mucho y en todo, pero el pobre no podía
obtuvieron la menor puntuación, lo que nos con mi estado de ánimo. Además, como
implicará, tal vez, mayores esfuerzos. No es acababa de obtener mi base en la institución,
equitativo, porque dos maestros que tampoco no podía darme permiso de tomarme más allá
estuvieron, supe, sí les asignaron a los de los meses que me correspondían por
estudiantes que ellos eligieron. Sí puede hacer licencia de maternidad. Entonces, como podía,
un sesgo de género que nos impactará cuando cuidaba de mi nena (aparecía en todas mis
nos evalúen. clases y reuniones virtuales), trataba de hacer
Meztli tiene más de 30 años trabajando el quehacer de la casa, al menos la comida… y
como investigadora y docente. Confiesa que la hasta allí llegaba. El día se me iba muy rápido y
pandemia es lo peor que le ha pasado como no alcanzaba para hacer todas las actividades:
persona y profesionista. Ha sufrido el preparar las clases, revisar los trabajos y las
fallecimiento de uno de sus hermanos por tesis, atender reuniones y tutorías… era
Covid y la enfermedad grave de otros dos. Esos bastante.
episodios la angustiaron, al grado de pedir Neli recuerda el proceso de evaluación en el
apoyo psicológico profesional. Admite que, SNI. Previsora, comenzó a organizar su
como pudo, dio cumplimiento a las expediente antes de que diera a luz, aun así,
evaluaciones que le correspondían. cuenta que le fue complicado, causándole
Es la primera vez, entre tantas, que no cierto nivel se angustia y mucha incertidumbre:
quería participar en la promoción. Yo nunca he La convocatoria del SNI siempre trae
sido negligente, pero la situación me rebasaba cambios en relación con las anteriores.
física y emocionalmente. Sucedió cuando había Además, aspiraba a pasar del nivel C al 1, como
mucha angustia e incertidumbre. Perdí el SNI, y me correspondía. Estaba segura de que mi
no tuve ánimos ni tiempo para apelar en el producción me iba a dar para eso, pero no
periodo de reconsideraciones… no me estaba segura de haberlo documentado bien.
arrepiento. Como cabeza de mi familia, mi Por ejemplo, no supe cómo dar cuenta de los
preocupación se centró en protegerla, en procesos de titulación de mis asesorados,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

porque es lo que te evalúan. Entonces pedí pagar esa formación […] Esta perspectiva
constancias de nombramientos (no sólo las de podría ser gradual.
titulación) y no me las mandaron de la El espacio sólo nos permite asentar las
Secretaría Académica. Tampoco pude coincidencias de Ameyali, Citlalmina, Neli y
conseguir los avales académicos de algunos Meztli con otras mujeres académicas
capítulos… era difícil, porque las oficinas entrevistadas en otras ocasiones. Durante el
estaban cerradas. Entonces, te quedas con tu confinamiento total o parcial se han
angustia. […] Luego, los resultados no salían y incrementado sus quehaceres domésticos y su
no salían. Al fin, me fueron positivos, pero qué papel de cuidadoras. Su dedicación profesional
feo hubiera sentido si no. sigue estando entre sus prioridades, pero han
Meztli responde a nuestra pregunta dirigida pagado altos precios por ello, incluso,
acerca del enfoque de género en la evaluación renuncias a proyectos que les hubieran traído
del desempeño docente: mejores resultados en sus procesos de
El sistema de evaluación, como el educativo, evaluación docente, tanto en sus instituciones
está planeado y dirigido por hombres. Mira los (estímulos al desempeño docente) como en las
comités que nos evalúan… no tengo el dato, externas: Sistema Nacional de Investigadores y
pero te aseguro que, en su mayoría, se Perfil Prodep.
conforman por hombres. Casi aseguraría que Entre las sugerencias que hacen a los
hay algunos en donde no haya ninguna mujer, sistemas y mecanismos de evaluación están las
como creo, en ninguno de ellos habría sólo consideraciones por maternidad o cuidado de
mujeres. Entonces, no nos sorprenda que la niños, personas mayores o enfermos. No piden
racionalidad de evaluación tenga un tinte que se les hagan concesiones, sólo, atender la
masculino […] Que yo sepa, no ha habido situación por género en relación con la
consideraciones especiales para las mujeres en trayectoria, por ejemplo: otorgar el nivel
la evaluación, entonces, nos queda continuar promedio de los últimos años para el que se
pugnando por una evaluación con enfoque de evalúa si se ha pasado por alguna de estas
género. circunstancias o dar continuidad al
Ante esta situación, Ameyali propone: reconocimiento o estímulo. Esas medidas son
Profundizar más en el contexto de cada justas, vistas con la lente del género.
persona, porque no va a ser lo mismo las
capacidades y oportunidades que yo tengo de
poder ir, por ejemplo, a un congreso y de
formarme y de pagar yo también ciertas
cuestiones; no es lo mismo la situación que va
a tener otra persona, por ejemplo, un hombre
soltero de treinta años, o de hablémoslo, así, ya
hombres adultos que tienen, de cierta forma,
mayor poder económico o adquisitivo para

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MODO DE CONCLUSIONES

Los relatos de las entrevistadas, sus contextos y experiencias de vida como mujeres son
diferentes. Como académicas comparten la realización de las llamadas funciones sustantivas,
esto es, docencia, investigación y difusión-extensión, aunque en el marco de las distintas
normativas institucionales.
En todos los casos ejercen sus roles como mujeres: atienden y cuidan de una familia y un
hogar y laboran en una universidad. Si bien este doble turno es costumbre en ellas, la pandemia
y el confinamiento trastocó esos roles, llegando a imbricarse ambos campos: el trabajo
profesional se desempeñó en el espacio doméstico y familiar; paralelamente, las actividades
virtuales atingentes a la profesión se combinaban con quehaceres domésticos, como atender
alguna tarea o la demanda de hijos y otros familiares dependientes, confirmando a Flores-
Sequera (2020), y ratifica los datos que adelantaban organismos internacionales, entre ellos, el
Observatorio de Igualdad de Género de América Latina y el Caribe Cepal-Naciones Unidas, para
el 2020.
Parece un hecho común que ciertas actividades académicas se modificaron o pospusieron,
como el desarrollo de investigaciones y estancias y la preparación de obras para publicación. Este
hallazgo tiene su completa concordancia con lo que indican instancias como el Instituto
Internacional para la Educación Superior en América Latina y el Caribe (IESALC, 2021). Por
supuesto que el impacto de la pandemia y el confinamiento fue global, pero en este caso, esta
repercusión se ha notado más en las mujeres investigadoras, ya que sus resultados de
investigación se han desplomado durante el confinamiento, mientras que los de los hombres han
aumentado (IESALC, 2021, p. 45). Sabiendo ello, extraña que los criterios de evaluación del
desempeño docente no aprecien ni consideren esas diferencias a la hora de hacer la valoración.
Probablemente, la perspectiva de género incluya una revisión del origen patriarcal de
prácticamente todos los sistemas de poder, en donde prevalece una cúpula constituida por
hombres, quienes, a la larga, imponen su punto de vista. No sorprende que los dispositivos de
evaluación docente sea una creación más de esta cultura patriarcal que es necesario revisar y
reconstruir.
Con este trabajo, quisimos aportar algunas líneas sobre la problemática en la evaluación
que atañe particularmente a las académicas, con el fin de empezar a delinear propuestas para
sistemas de evaluación docente con enfoque de género, partiendo, es verdad, de la emergencia
sanitaria y sus efectos, pero que pueda ser duradera y eficaz en el abatimiento de las
desigualdades mujeres-hombres en las instituciones de educación superior, que deben retomar
su vocación humanista y atender las condiciones de las personas, por encima de los resultados
mensurables; sistemas que, al estar centrados en una tradición forjada por hombres, es necesario
añadirles una perspectiva basada en la igualdad de género.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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de Acesso: 20/07/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO SÃO JOSÉ LIBERTO


(BELÉM-PA) NO ENSINO EM MINERALOGIA E
GEMOLOGIA
Adriane Marques de Souza1
Rosemery da Silva Nascimento2
Carlos Andrei Pedroso da Silva3

RESUMO: O Espaço São José Liberto (Polo Joalheiro) é parte integrante do circuito turístico da
cidade de Belém do Pará (Brasil), une diversas vertentes educacionais, apresentando temas que
vai do conhecimento histórico da cidade de Belém, passando para temas geológico, mineralógico,
gemológico e antropológico. O Espaço São José Liberto possui um importante acervo gemológico
e oferece regularmente atividades de oficinas práticas para o público em geral abordando o tema
Gemas. Assim, este trabalho visa destacar o Espaço São José Liberto não só como museu que
aborda a diversidade e riqueza gemológica do estado do Pará, mas também como um espaço que
oferece atividades práticas em gemologia. Esta atividade, em especial, representa um bom
exemplo de como a interação do espaço com a comunidade em geral é exitosa, mesmo quando
aborda um tema específico como a gemologia, outro aspecto importante destacado neste
trabalho é a importância da riqueza do espaço no contexto histórico e econômico para o estado
do Pará que tem desempenhado no cenário nacional uma vocação natural para a prospecção
mineral.

Palavras-Chave: Museu de Geociências; Gemas; Minerais.

1 Discente do curso de graduação em Geologia-UFPA/Bolsista do PET Geologia-UFPA


2 Profa. Dra. Associada nível 4 da UFPA/Tutora do PET-Geologia-UFPA
3 Discente do curso de graduação em Geologia-UFPA/Bolsista do PET Geologia-UFPA

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

IMPORTANCE OF THE SÃO JOSÉ LIBERTO SPACE (BELÉM-PA) IN


EDUCATION IN MINERALOGY AND GEMOLOGY
ABSTRACT: Espaço São José Liberto (Polo Joalheiro) is an integral part of the tourist circuit of the
city of Belém do Pará (Brazil), unites several educational aspects, presenting themes that range
from historical knowledge of the city of Belém, passing to geological, mineralogical, gemological
themes. and anthropological. Espaço São José Liberto has an important gemological collection
and regularly offers practical workshop activities for the general public on the topic of Gems.
Thus, this work aims to highlight Espaço São José Liberto not only as a museum that addresses
the gemological diversity and richness of the state of Pará, but also as a space that offers practical
activities in gemology. This activity, in particular, represents a good example of how the
interaction of space with the community in general is successful, even when it addresses a specific
topic such as gemology, another important aspect highlighted in this work is the importance of
the richness of space in the historical context. and economic for the state of Pará, which has
played a natural vocation for mineral prospecting on the national scene.

Keywords: Geosciences Museum; gems; Minerals.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO principais gemas e minerais da região


amazônica e a sua aplicabilidade pelos povos
O espaço cultural, arquitetônico e indígenas que habitaram as adjacências de
gemológico São José Liberto, também Belém.
conhecido como Polo Joalheiro (Figura 1),
abriga um acervo fascinante de minerais e joias ESPAÇO SÃO JOSÉ LIBERTO
que se relacionam intimamente com a história
O Espaço São José Liberto foi construído no
de Belém e preservam os vestígios de
século XVIII por missionários franciscanos para
momentos importantes da cidade. O referido
funcionar como convento e assim se manteve
espaço está localizado na cidade de Belém, no
por alguns anos, em seguida tornou-se
estado do Pará, construído em 1749 pelos
depósito de pólvora e quartel na passagem
frades capuchos de Nossa Senhora da Piedade,
para o século XIX. Ao longo do século XIX, o
como Convento de São José, para promover as
espaço já teve função de olaria, a qual teve
missões no Brasil. Em 2002, deu lugar ao
grande relevância na construção civil local da
espaço São José Liberto que abriga: a Capela
época, e função de hospital, sendo responsável
São José; uma ourivesaria; um polo joalheiro, a
por receber pessoas feridas de batalhas da
Casa do Artesão, o Museu de Gemas do Pará, o
Cabanagem ou enfermos da epidemia de
anfiteatro Coliseu das Artes; o Memorial da
varíola em um período de condições médicas
Cela e o Jardim da Liberdade. Na segunda
precárias. Em 1840, tornou-se uma cadeia
metade do século XX foi ampliado, ganhando
pública e em exposição no próprio museu é
mais um prédio, anexo à primeira construção,
retratada uma memória que remete a
feita em pedra, areia de praia e grude de peixe.
sofrimento e de práticas que ferem os direitos
Em virtude do acervo mineralógico deste lugar,
humanos, levando até o seu fechamento após
é usual a visitação de instituições de ensino.
a rebelião ocorrida em fevereiro de 1998 por
Estas visitas são agendadas na coordenação do
reinvindicação de superlotação.
Polo Joalheiro e tem o intuito de demonstrar as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A visitação ao espaço de São José Liberto, composição sulfatada e carbonática. A figura 2


em geral, inicia pela Capela, onde outrora apresenta a disposição das estruturas que
servia como local de privação para presos compõem a Capela. O cristo centralizado é
políticos e civis em meados da década de 80, simboliza a vertente religiosa deixada pelos
com estrutura constituída basicamente de frades Capuchos.
greis (crosta laterítica) do Pará e cimento de

Em seguida a visita passa para o Museu de Konduri, que habitavam o Baixo Amazonas até
Gemas, onde repousam os mais preciosos a chegada do colonizador europeu, como
minerais de região amazônica, reunidos em amuletos, símbolos de poder, e ainda como
uma exposição única. No primeiro momento material para compra e troca de objetos
observou-se uma amostra de um cristal de valiosos. Há muitas lendas e mitos sobre eles,
quartzo pegmatítico (SiO2), o qual alcança sempre envolvidos com as índias Amazonas,
aproximadamente 1 (um) metro cúbico de extintas ou lendárias. A figura 4 apresenta um
volume, densidade (d= 2,65) e peso estimado Muiraquitã constituído por talco
em 2650 quilogramas (Figura 3). Em seguida, a (Mg3SiO10(OH)2) e pirofilita (Si4O10) Al2
segunda sala do Museu de Gemas, onde se (OH)2 associados.
destaca os muiraquitãs. Os muiraquitãs ou
muyrakytãs (do tupi) são artefatos talhados em
pedra, usualmente jade, representando
animais, especialmente sapos, mas também
podem ser entalhados animais como
tartarugas ou serpentes. Estes artefatos teriam
sido usados pelos povos indígenas Tapajós e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Além dos Muiraquitãs, ainda estão (Ca,Na)2(Mg,Fe)5(Si,Al)8O22(OH)2, bem como


presentes no museu espécimes de minerais tal troncos fossilizados (psarônios) com
como: quartzo (SiO2) com intercrescimento de intercalações de calcedônia e artefatos
turmalina negra (schorlitta - indígenas como: pontas de flechas constituídas
Na(Fe,Mn)3Al6B3Si6O27(OH,F) (Figura 5), por sílex e peças da cerâmica Marajoara
quartzo fumê, quartzo hialino, tremolita (Figuras 6, 7 e 8).
(Ca2Mg5Si8O22(OH)2) – Actinolita

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LABORATÓRIO GEMOLÓGICO para a produção de joias da loja incubadora do


Programa Polo Joalheiro do Pará. O laboratório
O local possui equipamentos para avaliação
assegura, por meio da avaliação gemológica, a
de gemas comercializadas no Espaço São José
qualidade da produção joalheira do ESJL. O
Liberto (Figura 9). Trata-se de um serviço que
funcionamento do local tem o apoio da
agrega valor ao produto e segurança ao
Secretaria de Cultura do Estado – SECULT.
consumidor, um instrumento que dá suporte

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No Espaço São José Liberto há também uma gemas ou materiais alternativos. Dentre estes
exposição de coleções de joias e carving processos, aponta-se alguns benefícios como:
confeccionados no próprio espaço, destacando o resgate de materiais descartados de forma
algumas das principais técnicas de lapidação indevida no meio ambiente, a reutilização de
utilizadas pelos seus lapidadores. O conjunto insumos gerados durante a produção de peças,
como um todo está em harmonia estética com a possibilidade de aumento de vida útil por
o ambiente. meio da manutenção e reparos e a criação de
um novo ciclo de vida para produtos com
TÉCNICAS SUSTENTÁVEIS PARA algum defeito ou que se apresentem fora das
tendências de mercado. Neste contexto chama
CONFECÇÃO DE JOIAS a atenção o processo de incrustação paraense
As peças apresentadas no Espaço São José (Figura 10), a qual foi aperfeiçoada pelos
Liberto ou simplesmente Polo Joalheiro do profissionais que compõe o programa do
Pará, são conhecidas por sua criatividade Espaço São José Liberto, consiste na utilização
estética e conceitual, mantendo o objetivo de do pó de pedra para esmaltação.
desenvolver produtos com respeito à natureza. Normalmente, esse tipo de técnica é usado
Duarte (2016), evidencia algumas práticas com peças em prata e trazem um diferencial
sustentáveis utilizadas nas peças, seja nos estético harmônico com outros produtos
processos produtivos com uso de metais, comercializados no espaço.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Outro diferencial do Polo Joalheiro do Pará é


o manuseio de materiais alternativos, como de
insumos vegetais, buscando usar técnicas
manuais e respeitando suas origens e
limitações operacionais. Alguns desses
materiais se destacam por ser uma matéria
prima regional e de grande representatividade
cultural para Região Amazônica, como o ouriço
da castanha do Pará, semente de açaí e jarina.
Essa preocupação com o meio ambiente é
um diferencial no mercado atual, segundo
Duarte (2016), pois refletem diretamente na
redução de custos de produção para o
empresário e no produto para o consumidor,
potencializando a competitividade em seu
nicho de consumo. Além disso, enriquece a
experiência de compra do consumidor
agregado à boa imagem passada pela empresa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Espaço São José Liberto agregar um importante valor cultural para a sociedade paraense,
pois ressalta a importância da atuação dos profissionais inseridos nos ramos de comercio de
minerais, museu, joias e lapidação. A oficina de gemas ofertada no Espaço São José Liberto é um
bom exemplo desta integração. O reconhecimento gemológico exige o conhecimento dos tipos
de minerais, tipos de lapidação e técnicas de beneficiamento de uma peça. Na oficina de
lapidação destaca-se especialmente as técnicas desenvolvidas no mercado local e que agrega
identidade às joias e artesanatos paraenses, como a incrustação paraense e uso de matéria prima
local. Além da oficina de lapidação, há outros eventos abertos ao público em geral, como é o caso
de lançamentos de livros de autores da região ou de exposição de artesãos locais, que exaltam a
cultura do estado e transmitem a comunidade a importância da preservação deste espaço.
As visitas técnicas ao Polo Joalheiro representam a consolidação dos conhecimentos
mineralógicos e conceitos referentes a Gemologia, o qual são de importância, em especial, para
estudantes de graduação em geologia e áreas afins. O Espaço São José Liberto é local de raro em
nossa sociedade e deve ser preservado, a fim de salvaguardar as relíquias, tanto de minerais
como artefatos indígenas da nossa região, buscando sempre aumentar sua coleção para que
cresça o número de espécimes e agregue valor ao espaço.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Brasileiro de Geologia. 2012.

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Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Belo Horizonte. 2016.

FIUZA, Luciane. Exposição ‘Joias de Nazaré 2015’ segue até o dia 31 de outubro. Site Rede
Pará. Belém, 08 de outubro de 2015. Disponível em:
https://redepara.com.br/Noticia/117834/exposicao-joias-de-nazare-2015-segue-ate-o-dia-31-de-
outubro

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Espaço São José Liberto. Belém, 28 de setembro de 2018. Disponível em:
http://espacosaojoseliberto.blogspot.com/2012/09/livro-sobre-joias-artesanais-do-para.html.
Acesso em: 08 fev. 2022.

IGAMA. Festival do Chocolate tem desfile de joias do Espaço São José Liberto. Blog Espaço
São José Liberto. Belém, 13 de setembro de 2019. Disponível em:
http://espacosaojoseliberto.blogspot.com/2013/09/desfile-do-joias-do-espaco-sao-jose.html.
Acesso em: 08 fev. 2022.

KETTLE, W. O. Espaço São José Liberto como “patrimônio difícil”: desafio para o ensino
de História. Dossiê Revista História Hoje, vol. 10, nº 19, p. 77-101. Belém-PA, 2021.

TEIXEIRA, A. G. A identidade amazônica nas joias paraenses. Complexitas - Rev. Fil. Tem.,
Belém- PA, v. 4, n. 1 , p. 9-17, jan./jun. 2019.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

IMPORTÂNCIA DOS LAÇOS AFETIVOS NO


PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
DO ALUNO
Edite Gomes de Lima Marra1

RESUMO: A escola não pode mais ser pensada nos moldes de décadas passadas, onde se
esperava que o aluno permanecesse imóvel em sua carteira, se pronunciando apenas quando
solicitado pelo professor. Da mesma forma, não há como conceber um professor que seja incapaz
de se aproximar do aluno com respeito, gentileza, empatia e afeto. É sabido que a relação
professor-aluno é um fator de grande importância no processo de desenvolvimento e
aprendizagem da criança, capaz de derrubar barreiras e dificuldades que a criança carregue, de
suas vivencias conturbadas. Na educação infantil essa relação afetiva é ainda mais importante,
pois auxilia na composição das relações sócioemocionais do aluno, que incidirão em sua
formação e desenvolvimento.

Palavras-Chave: Gentileza; Afeto; Respeito; Autoconfiança.

1Professorade Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

IMPORTANCE OF AFFECTIVE LINKS IN THE STUDENT'S COGNITIVE


DEVELOPMENT PROCESS
ABSTRACT: The school can no longer be thought of in the mold of past decades, where the
student was expected to remain motionless in his desk, speaking only when requested by the
teacher. Likewise, there is no way to conceive of a teacher who is incapable of approaching the
student with respect, kindness, empathy, and affection. It is known that the teacher-student
relationship is an especially principal factor in the child's development and learning process,
capable of breaking down barriers and difficulties that the child carries, from their troubled
experiences. In early childhood education, this affective relationship is even more important, as
it helps in the composition of the student's socio-emotional relationships, which will affect their
formation and development.

Keywords: Kindness; Affection; Respect; Self-confidence.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO aprendizagens, por esse motivo a afetividade é


considerada a energia que move as ações,
A educação infantil compõe importante (SILVA & SCHNEIDER, 2007).
etapa de desenvolvimento da criança, É por meio das condutas socioafetivas que a
especialmente no que diz respeito aos criança desenvolve sua personalidade e dá
aspectos sociais e emocionais, pois essa etapa início ao processo de desenvolvimento de
escolar está diretamente relacionada à valores, conceitos, posturas, que demonstra
capacidade de socialização, interação, troca, suas dúvidas, angustias e medos, que expressa
fatores intrínsecos ao processo de sua alegria e sua empolgação. Parte do
desenvolvimento da criança e que incidem comportamento que a criança apresenta na
diretamente em sua capacidade de aprender. A escola é decorrente de sua interação com
criança expressa seus sentimentos e colegas e professores, pois nesta fase da
necessidades por meio de suas emoções, pois infância ela já passa a exercer sua autonomia,
ainda não tem domínio e compreensão exata especialmente em função do domínio da
para exprimi-las por meio de palavras, por isso linguagem como forma de comunicação.
as emoções são tão importantes na etapa da (RODRIGUES, 2003)
educação infantil. Por aprender por observação e convivência,
Os vínculos que a criança estabelece com os grande parte do comportamento que a criança
adultos permitem que exerça com maior apresenta tem relação direta com o que meio
confiança as propostas que lhes são em que ela vive, por suas relações familiares e
apresentadas e os desafios que encontra. De por influência do meio em que está inserida. E
acordo com Dressler e Willis (1998), é por meio é esse comportamento que ela vai reproduzir
da socialização que se perpetua a cultura, em suas relações. Por esse motivo é tão
definindo a socialização como o processo pelo importante que as relações de afeto e respeito
qual o indivíduo aprende e adota os padrões e façam parte do cotidiano infantil, desde os
normas de comportamento tidos como primeiros meses de vida.
apropriados em sua cultura. Por isso o fator
afetivo e as relações interpessoais carregam
grande simbologia para o desenvolvimento
A CRIANÇA É O QUE ELA
infantil. VIVÊNCIA
Todo indivíduo é dotado de desejos, A criança é o que ela vive, pois na primeira
vontades e sentimentos próprios que infância, tanto os pais quanto os professores
começam a se desenvolver desde o nascimento são exemplos importantes na formação e
e ao longo da infância vão sendo modificados desenvolvimento da criança. A educação
por meio de sua interação com o meio em que passada em casa irá refletir na escola com os
vive e por influência das pessoas que o cercam. colegas e professores, pois uma criança que
Por meio das brincadeiras e da socialização a tem um bom exemplo no âmbito familiar, terá
criança se expõe para novas situações, que grandes chances apresentar bom
incidem em sua capacidade de assimilar novas desenvolvimento sócioafetivo, motor e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

emocional. Por isso a presença e professores, nessa fase a criança tem seu
acompanhamento da família se mostra valioso próprio pensamento e se torna mais
para a formação inicial de valores e para o independente em função de seu
desenvolvimento da personalidade da criança. desenvolvimento da linguagem, embora a
Crianças criadas longe dos pais, tendem a ligação e a influência do convívio com os pais e
apresentar um comportamento carente, familiares ainda seja forte. (RODRIGUES, 2003,
desenvolvendo grande insegurança e por vezes p.41).
agressividade. Como citado por Parolin (2007), Em seus estudos acerca do desenvolvimento
a família é o primeiro núcleo de convivência (e infantil, Wallon correlaciona a socialização
o mais importante) do qual a criança faz parte. como fator intrínseco nesse processo, como
Esta convivência tende a refletir diretamente citado por Pereira (2012): “Ele, Wallon, aponta
na personalidade da criança e, dependendo de que há grande participação do outro na
como ocorre essa vivência familiar, pode ser a formação da criança, além do que participa
grande referência, que fará parte do também a cultura, pois a linguagem tem
desenvolvimento infantil. Para a autora, essa precedência em relação à produção de
convivência pode ser agradável ou conhecimento, o que significa dizer que o
insustentável, o que se reflete na relação que a universo simbólico estrutura e organiza a
criança mantem fora do convívio familiar. relação da criança com a realidade” (2012, p.
A grande arte da família é manter-se família, 280). Para a autora, isso nos mostra que [...] “o
seja ela composta por pai, mãe e filhos; por conhecimento se dá a partir do sujeito em sua
mãe e filhos; por padrasto, mãe e filhos; por ação no mundo e confere a esse processo
avó, mãe e filhos/ netos; por avô, mãe e filhos sujeito-mundo uma dialeticidade ímpar nas
ou outras composições. É continuar teorizações sobre como conhecê-lo” (2012,
promovendo o desenvolvimento, a mudança e p.280), levando-nos a considerar que a
permanecer sendo família (PAROLIN, 2007, p. aprendizagem, então, decorre da relação entre
38). os sujeitos e por sua interação.
Estar atendo às condutas que a criança Nesse processo de crescimento, portanto,
apresenta na escola são um bom referencial de família e escola, pais e professores devem
como é sua vivência em família e de como ela compreender que a afetividade é constituída a
lida com as relações afetivas (sentimentos, partir das relações que a criança estabelece
emoções, solidariedade, cooperação, com outros sujeitos, sendo determinante para
motivação entre outros), pois na escola a sua própria formação (PEREIRA, 2012). Sendo,
criança irá reproduzir as relações de poder que então, um lugar de domínio coletivo, a escola
sofre em família, pois a conduta socioafetiva, é deve priorizar as relações de troca e de
uma forma da criança desenvolver a sua socialização, especialmente na educação
própria personalidade e aprender a tomar infantil, de modo a possibilitar que o
decisões sem necessitar de ajuda. Grande desenvolvimento da criança seja favorecida e
parte do comportamento da criança na escola ocorra num ambiente agradável e estimulante.
é da sua interação com os colegas e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A ESCOLA ENQUANTO ESPAÇO • Formação do ‘eu’: Descobrir ou


reconhecer o “eu” depende da relação com
AFETIVO outra ou outras pessoas. As relações de
Considerando-se a Educação Infantil como a dependências, negações, imitações,
base de conhecimento da criança e espaço de manipulações e sedução para o convencimento
grande importância para o desenvolvimento de e interação com o outro, fazem parte das
fases posteriores de sua vida escolar, descobertas e da separação entre o que é a
questiona-se a importância das práticas vontade do meio social e o modo pelo qual
pedagógicas coerentes com o bom cada pessoa percebe a si mesma no mundo.
desenvolvimento do processo de ensino- Na contramão dessas colocações, temos
aprendizagem na educação infantil. Da mesma vivenciado nas instituições escolares uma
forma, as questões relacionadas ao sociedade marcada pela individualidade, pelo
desenvolcimento emocional e social da criança abandono, pela ausência familiar, pela
precisam estar contemplados nos processos de descaracterização dos laços familiares e
planejamento e práticas prdagógicas, pois afetivos, onde a família se coloca na posição de
compoem a base do aprendizado e provedor, preocupado com a manutenção
desenvolvimento infantil nessa etapa da financeira familiar, em ‘por comida na mesa’,
educação escolar. como comumente se costuma dizer, e com isso
Tomando por base a teoria Walloniana a criança fica a cargo de cuidadores, de irmãos
sobre o desenvolvimento da criança, ancorada mais velhos ou de familiares idosos, que na
em quatro propostas: a Afetividade, as maioria das vezes são incapazes de atender
Emoções, o Movimento e a Formação do ‘eu’, suas necessidades, de dar a atenção e o afeto
destacamos os seguintes aspectos: de que necessitam. E aí cabe à escola prover
• Afetividade: É a maneira de identificar e essa falta!
demonstrar durante o desenvolvimento Muitas famílias delegam à escola toda a
desejos, vontades, satisfações e insatisfações, educação dos filhos, desde o ensino das
as transformações biológicas disciplinas específicas até a educação de
(neurovegetativas para Wallon) têm profunda valores, a formação do caráter, além da
relação com a personalidade da criança; carência afetiva que muitas crianças trazem de
• Emoções: De origem orgânica, as casa, esperando que o professor supra essa
emoções são o meio pelo qual cada pessoa se necessidade. Por outro lado, algumas “famílias
comunica consigo mesma para se conhecer. É sentem-se desautorizadas pelo professor, que
extremamente importante para a relação entre toma para si tarefas que são da competência da
as pessoas e o meio; família (SZYMANSK, 2003, p.74).
• Movimento: É a maneira pela qual Numa sociedade extremamente
crianças expressam sentimentos/emoções, por tecnológica, os momentos de proximidade
isto se mover para a criança é um instrumento familiar muitas vezes são reduzidos e restritos,
de aprendizado, socialização e comunicação mesmo nos momentos de reunião de todos,
consigo, com o meio e com outras pessoas; como aos finais de semana e nos horários de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

alimentação. Percebemos uma sociedade cada com muito carinho, o nome daquela professora
vez mais individualizada, solitária e carente de que passou por sua vida e marcou um ano?
afeto e de contato. A diminuição dos espaços Quem não se lembra do empenho daquele
de lazer e encontro com os amigos, o excesso professor em trazer aulas interessantes, em
de atividades como cursos e outras obrigações tornar a matemática mais interessante, em
formativas para as crianças e os jovens, a auxiliar a cada aluno em suas dificuldades?
diminuição de tempo de convívio com os pais Todos temos ao menos um nome para lembrar
(que realizam jornadas de trabalho cada vez e, sem dúvida, nos ajudou a passar por esse
maiores) e a virtualização das relações com o processo de desenvolvimento com mais alegria
uso das novas tecnologias são alguns dos e leveza.
principais motivadores dessa carência afetiva. É essa educação que faz a diferença no
Essa sociedade moderna e contemporânea desenvolvimento do aluno e lhe permite
tem dado sinais de graves problemas sociais e superar suas dificuldades, que traz a educação
emocionais que se refletem desde a dificuldade para mais perto do aluno, pois valoriza seu
em se relacionar como na própria dificuldade empenho, não sua dificuldade, estimula sua
de aprendizagem das crianças e jovens. dedicação e reconhece que, mesmo errando, o
Percebemos jovens mais retraídos e isolados, aluno está no caminho certo. Nesse sentido,
alguns presos num universo perigoso e que, veja o que coloca Moran:
infelizmente, traz estatísticas cruéis para o Avançamos mais pela educação positiva do
suicídio juvenil. Muitas vezes o ambiente que pela repressiva. É importante não começar
escolar é um importante ponto de encontro pelos problemas, pelos erros, não começar
presencial para os alunos, onde as trocas e pelo negativo, pelos limites. E sim pelo
atividades possíveis a partir desse encontro positivo, pelo incentivo, pela esperança, pelo
devem ser valorizadas ao máximo, de modo a apoio na capacidade de aprender e de mudar
resgatar não apenas a afetividade, mas (2007, p.33)
sobretudo o espaço de interação, de conversa Aos poucos o professor foi percebendo que
e de socialização. Valorizados ou não, o fato é se aproximar do aluno oferecia muitas
que os afetos são parte inerente de qualquer vantagens, seja pela confiança que gera na
interação humana – dentro ou fora da sala de relação professor/aluno, seja na capacidade de
aula, auxiliando desde a formação emocional e reconhecer o aluno e suas necessidades, seja
social do indivíduo como ampliando suas pela condição de compreender as fragilidades
capacidades cognitivas. que esse aluno carrega e com isso acessá-lo
Nesse sentido, o professor é um elo com maior facilidade, enfim, torna o fazer
essencial para que a criança se sinta acolhida e pedagógico muito mais simples, transforma o
bem recepcionada à escola, buscando atender trabalho com as regras, a disciplina, a
suas necessidades e estreitar os laços com a construção dos saberes mais acessível.
criança (e sua família), de modo a favorecer seu Conforme destaca, Tiba, o tratamento
desenvolvimento e compreender suas respeitoso favorece o desenvolvimento da
necessidades. Quem não guarda na memória, autoestima, o elogio eleva esse sentimento,

875
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

[...] é por isso que os alunos vão cada vez


melhor naquilo que fazem bem. Em
contrapartida, tudo que diminui a autoestima é
abandonado; portando o indivíduo tende a
piorar naquilo que vai mal,” (1996, p.187). E é
nesse lugar que o desenvolvimento é
favorecido, por meio desse estreitamento de
confiança, de cuidado e gentileza que a escola
e o professor conseguem se aproximar do
aluno e transformar o desenvolvimento
socioemocional numa ferramenta importante
para o crescimento do aluno.

876
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As relações interpessoais são uma importante ferramenta para que o indivíduo seja capaz
de superar suas dificuldades, sua timidez, sua falta de confiança. A interação social entre aluno e
professor se mostra essencial para esse aluno que não se percebe como ser capaz, que encontra
dificuldade nas coisas mais simples e se diminui cada vez mais frente aos desafios. Usando o
professor consegue transformar sua relação com o aluno numa atitude de respeito e gentileza,
ele se mostra mais confiante em se permitir tentar, descobrindo aos poucos como superar
dificuldades e como se desafiar.
A relação professor-aluno, pautada nessa situação de afeto, permite que a escola seja um
ambiente agradável, onde o aluno se sente pronto para as explorações e para desafias suas
habilidades e competências.
Podemos afirmar que por meio das relações de afeto entre professor e aluno, viabilizam a
superação de suas dificuldades, e ajudam-no a desarmando-se, passando assim a oferecer menor
resistência, maior dedicação, aceitando com tranquilidade as normas e regras educacionais e de
convivência, o que favorece seu desenvolvimento e aprendizagem, tornando a escola um lugar
agradável.

877
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
DRESLER, D.; WILLIS, W. M. Sociologia: o estudo da interação humana. Rio de Janeiro:
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TIBA, I.; Disciplina, limite na medida certa. 1ª edição. São Paulo: Editora gente, 1996.

878
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INCLUSÃO DE ALUNOS COM SÍNDROME DE


ASPERGER
Wanessa Calazans Francisco1

RESUMO: Este artigo discute o processo de inclusão e aprendizagem de alunos com síndrome de
Asperger (SA). Traz uma síntese do que é, sintomas, causas e etc. O que pode ser feito dentro do
ambiente escolar para que o indivíduo portador, consiga aprender oportunizando o
desenvolvimento das capacidades de cada um. O estudo tem como objetivo investigar as
possibilidades de inclusão da criança com S.A na escola regular, verificar as formas de
atendimento nas políticas educacionais inclusivas, discutir as possibilidades e os limites da
educação destas crianças e ainda possíveis técnicas para aprendizagem. A S.A integra o grupo dos
Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGDs), é resultante de uma desordem genética e
apresenta semelhanças com o autismo. A família tem um papel relevante e indispensável junto a
medicina e a escola quando se trata de observar e diagnosticar a criança no campo social,
estabelecendo tratamento específico. No entanto, da mesma forma que é importante a
identificação da síndrome, trabalhar com a criança com esse diagnóstico dentro da escola tem
sido um desafio. Há a necessidade de profissionais especializados para acompanhar a criança com
Asperger. Como resultado, aponta-se que a inclusão é viável desde que atenda às necessidades
da criança com S.A e promova o acesso desta ao conhecimento, ou seja, possibilite a
aprendizagem de conteúdos socialmente valorizados para todos os alunos da mesma faixa etária.
Desse modo, a criança será incluída e poderá apresentar resultados positivos em seu
desenvolvimento educacional e social.

Palavras-Chave: Inclusão; Ensino; Aprendizagem.

1Professora de Ensino Infantil e Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicanálise dos Contos de Fadas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INCLUSION OF STUDENTS WITH ASPERGER'S SYNDROME


ABSTRACT: This article discusses the inclusion and learning process of students with Asperger
syndrome (AS). It brings a synthesis of what it is, symptoms, causes and etc. What can be done
within the school environment so that the carrier individual can learn by providing the
development of each one's capabilities. The study aims to investigate the possibilities of inclusion
of children with S.A in regular schools, verify the forms of attendance in inclusive educational
policies, discuss the possibilities and limits of the education of these children and even possible
techniques for learning. SA is part of the Global Developmental Disorders (GDDs) group, is the
result of a genetic disorder and has similarities with autism. The family has a relevant and
indispensable role in medicine and schools when it comes to observing and diagnosing the child
in the social field, establishing specific treatment. However, just as it is important to identify the
syndrome, working with the child with this diagnosis within the school has been a challenge.
There is a need for specialized professionals to accompany the child with Asperger's. As a result,
it is pointed out that inclusion is viable as long as it meets the needs of children with S.A and
promotes their access to knowledge, that is, it enables the learning of socially valued content for
all students of the same age group. In this way, the child will be included and will be able to
present positive results in their educational and social development.

Keywords: Inclusion; Teaching; Learning.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Em maio de 2013, no entanto, foi lançada a


quinta edição do Manual Diagnóstico e
O desenvolvimento do trabalho pedagógico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V),
cotidiano é fator essencial para a inclusão dos que trouxe algumas mudanças importantes,
alunos com síndrome de Asperger. Para isso, é entre elas novos diagnósticos e alterações de
preciso embasamento teórico e também que a nomes de doenças e condições que já existiam.
prática seja adequada, pois é assim que se A Síndrome de Asperger, assim como o
formará um indivíduo que se integre na autismo, foi incorporada a um novo termo
sociedade. Este trabalho tem que ter como médico e englobador, chamado de Transtorno
ponto de partida uma inovação e mudança de do Espectro do Autismo (TEA). Com essa nova
postura para que haja realmente a inclusão definição, a síndrome passa a ser considerada,
destes alunos. Essa mudança leva a todos que portanto, uma forma mais branda de autismo.
pertencem a comunidade escolar uma Dessa forma, os pacientes são
transformação cultural e social, porém ela deve diagnosticados apenas em graus de
ser continuada, sempre aperfeiçoada. Cada comprometimento, dessa forma o diagnóstico
aluno é único, um sistema em que a fica mais completo.
massificação dos conteúdos e indivíduos não O Transtorno do Espectro Autista é definido
funciona mais. O sucesso para a inclusão pela presença de “Déficits persistentes na
efetiva é a adequação do trabalho pedagógico comunicação social e na interação social em
para a diversidade dos alunos. múltiplos contextos, atualmente ou por
Alarcão (2003),que o papel da escola é: história prévia”, de acordo com o DSM-V.
[...] dinamizar comunidades educativas e Como a Síndrome de Asperger só foi
acompanhar, incentivando, iniciativas nesse reconhecida recentemente como um
sentido; privilegiar culturas de formação transtorno do espectro autista, o número exato
centradas na identificação e resolução de de pessoas portadoras da doença ainda não é
problemas específicos da escola, numa atitude exato. Estimativas mostram que a ocorrência
de aprendizagem experiencial e, do transtorno pode ser mais comum do que se
preferencialmente, no contexto de acreditava: uma entre 250 crianças
metodologias de investigação - ação; aparentemente são diagnosticadas com a
(ALARCÃO, 2003 p. 150). síndrome. Outros números dos Estados Unidos
mostram que a incidência da doença pode ser
O QUE É SÍNDROME DE bem menor (uma em cada dez mil crianças,
aproximadamente).
ASPERGER
A Síndrome de Asperger é um transtorno
neurobiológico enquadrado dentro da CAUSAS
categoria de transtornos globais do A causa exata da Síndrome de Asperger,
desenvolvimento. Ela foi considerada, por assim como do Transtorno do Espectro do
muitos anos, uma condição distinta, porém Autismo, ainda não é conhecida. Os cientistas,
próxima e bastante relacionada ao autismo. por outro lado, acreditam que uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

anormalidade no cérebro das crianças vestir obrigatoriamente em uma ordem


portadoras seja a causa mais provável. específica, por exemplo.
Outras doenças, como depressão e
transtorno bipolar, também podem estar • Dificuldades de comunicação
relacionados à Síndrome de Asperger e ao As pessoas com este transtorno costumam
Transtorno do Espectro Autista. não fazer contato visual ao falar com alguém.
Ao contrário do que algumas pessoas Elas podem ter problemas ao usar expressões
costumam pensar, a Síndrome de Asperger não faciais e ao gesticular, bem como podem
é causada pela privação emocional ou por uma apresentar dificuldade para compreender a
forma específica que os pais educam seus linguagem corporal e a linguagem dentro de
filhos. um determinado contexto e costumam ser
muito literais no uso da língua.
SINTOMAS
• Poucos interesses
Os sintomas da Síndrome de Asperger
podem variar de pessoa para pessoa, e variam A criança com Síndrome de Asperger pode
também de intensidade e gravidade. Os sinais desenvolver um interesse intenso e quase
mais comuns incluem: obsessivo em algumas atividades e áreas, tais
como prática de esportes, clima ou até mesmo
mapas.
• Problemas com habilidades sociais
Crianças com Síndrome de Asperger
geralmente têm dificuldade para interagir com • Problemas de coordenação
outras pessoas e muitas vezes comportam-se Os movimentos de crianças com Síndrome
de forma estranha em situações sociais. de Asperger pode parecer desajeitado ou
Portadores desse distúrbio geralmente constrangedor.
não fazem amigos facilmente, pois têm
dificuldade para iniciar e manter uma conversa. • Habilidosos ou talentosos
Muitas crianças com Síndrome de Asperger
• Comportamentos excêntricos ou são excepcionalmente inteligentes, talentosas
repetitivos e especializados em uma determinada área,
Crianças com essa condição podem como a música ou a matemática.
desenvolver um tipo de comportamento
anormal, que envolve movimentos repetitivos DIAGNÓSTICO E EXAMES
e estranhos, como torcer mão ou os dedos.
Os diagnósticos em psiquiatra, em grande
parte, seguem as recomendações presentes no
• Práticas e rituais incomuns
Manual Diagnóstico e Estatístico de
Uma criança com Síndrome de Asperger
Transtornos Mentais (DSM, na sigla em inglês).
pode desenvolver rituais que ele ou ela se
De acordo com a última versão publicada, em
recuse terminantemente a alterar, como se
que autismo e Asperger se englobam em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Transtorno do Espectro Autista, agora só há problemáticos", pois não seguem ordens e


dois grupos de sintomas necessários para que nem instruções, gostam de fazer as atividades
o psiquiatra, em conjunto com um pediatra, no próprio ritmo e sem interferência dos
possa realizar o diagnóstico. Antes havia três. docentes. Assim sendo, os trabalhos
Agora, os sintomas de interação e pedagógicos tem que ser voltados para as
comunicação social foram agrupados em um só capacidades e interesses destes alunos.
grupo. Confira: Quanto mais se puder trabalhar utilizando
materiais concretos e reais, melhor,
• Déficits de comunicação/interação construindo assim significados reais. Há a
social necessidade de se compreender as
Déficit na reciprocidade das interações dificuldades cognitivas e comportamentais
sociais, déficits nos comportamentos não destes alunos para que a proposta pedagógica
verbais, dificuldade de desenvolver e manter não o desestimule. Não existe uma fórmula
conversas, diálogos e relacionamentos. mágica para acolher, ensinar e preparar estes
alunos, o que tem que existir é preparo teórico,
• Presença de um padrão repetitivo e materiais diversos e estar ciente das
restritivo de atividades, interesses e especificidades de cada um. Para Vygotsky
comportamentos (2000), em consonância com Orrú (2010):
Estereotipias (ecolalia, por exemplo), A linguagem não é apenas o ato de
insistência em uma atividade específica, comunicar, mas uma ferramenta do
adesão estrita a rotinas, interesses restritos e pensamento que encontra sua unidade com o
incomuns, hiper-reatividade ou hipo- próprio pensamento no significado das
reatividade a estímulos sensoriais. palavras. Assim, o trabalho com o significado
Além disso, uma das dúvidas que ainda traz consigo a realização do processo de
permeia a mudança acontecida no DSM é a generalização durante a busca da apropriação
conduta frente aos pacientes já diagnosticados de conhecimentos por parte do aluno. (
de acordo com os critérios anteriores, ou seja, VYGOSTSKY, apud. ORRÚ, 2010, p. 09).
se as pessoas anteriormente diagnosticadas
com Síndrome de Asperger devem ser
reclassificadas ou se o diagnóstico será
mantido.

TRABALHO PEDAGÓCICO COM


ALUNOS COM SÍNDROME DE
ASPERGER
Os alunos com síndrome de Asperger
apresentam características muito peculiares,
nas escolas eles são taxados como "alunos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de inclusão escolar impõe desafios para todos, principalmente para os
professores. Estes desafios desestabilizam, porém fazem pensar em novas possibilidades. O
aluno está na escola para aprender, ele não pode ser negligenciado e se for, causa mais
dificuldades ainda em sala de aula. É natural criar uma expectativa frente ao aluno "de inclusão",
mas tem que se objetivar na aprendizagem do aluno. Encontrar a melhor maneira para que o
aluno com síndrome de Asperger aprenda demanda um percurso de tentativas e erros.
A família, a equipe escolar e os agentes da saúde precisam trabalhar em consonância para
que estes alunos se desenvolvam.
As pessoas com esta síndrome, muitas vezes, são estigmatizadas como alunos problemas,
preguiçosos e indisciplinados, porém o comportamento é apenas manifestação do doença. A
escola como espaço democrático não pode apenas rotular, tem que oportunizar a aprendizagem
para todos.
Benczik e Bromberg (2003, p. 209), afirma que na escola deve-se:
1) Estabelecer uma rotina diária clara, com períodos de descanso definidos. Usar reforços
visuais e auditivos para definir e manter essas regras e expectativas, como calendários,
cartazes e músicas. As instruções devem ser dadas de forma direta, clara e curta. 2)
Estabelecer consequências razoáveis e realistas para o não cumprimento de tarefas e das
regras combinadas [...] 3) Focalizar mais o processo (compreensão de um conceito) que o
produto (concluir 50 exercícios. Certificar-se que as atividades são estimuladoras e que os
alunos compreendem a relevância da lição. 4) Adotar uma atitude positiva, como elogios
e recompensa para comportamento adequados.
Cabe aos professores adequarem os espaços e os currículos para todos os alunos. Cada
um tem aspectos diferentes. Em pleno século XXI, não há espaço para uma escola arcaica e
obsoleta que pensa em alunos homogêneos, a inclusão põe em cheque o pensamento que todos
são iguais e desafia a um novo posicionamento sobre como cada um aprende.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1998.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS EM
ALUNOS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) NO
CONTEXTO ESCOLAR
Veridiana de Fátima Fialho Furtado1

RESUMO: O que é relevante evidenciar nessa pesquisa de alunos com Transtorno do Déficit de
Atenção com Hiperatividade (TDAH) é a seguinte situação de saber como a psicopedagogia
poderá intervir de modo significativo nas dificuldades de aprendizagem dos alunos
diagnosticados com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, produzindo um trabalho
significativo e bem elaborado fazendo com que as dificuldades possam ser suplantadas e estes
possuam um progresso cognitivo, moral ,afetivo, e físico satisfatório. Este estudo utilizou uma
pesquisa bibliográfica, tendo assim, uma visão panorâmica deste fenômeno e fundamentando o
mesmo. Também salienta alguns desacertos praticados por alguns educadores que confundem o
excesso de energia dos discentes com o TDAH e devido a este fato acabam criando estereótipos
nos discentes tornando a autoestima desses afetada e consequentemente criam ou agravam as
dificuldades de aprendizagem desses discentes. Outra descoberta com este estudo, é que as
intervenções psicopedagógicas, e primordial para o desenvolvimento desses alunos, e
trabalhando juntamente com o professor e a família, esse trabalho melhorara significativamente
a aquisição da aprendizagem de alunos com TDAH.

1
Professora do Ensino e Fundamental I
Graduação em Geografia pela Fundação Universidade do Tocantins (FUT) - Palmas - TO (2003); Graduação em
Pedagogia pela Faculdade Integrada de Araguatins (FAIARA) - Araguatins (2014); Pós-Graduação em Gestão
Escolar pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Palmas (2008).

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Palavras-Chave: Psicopedagogia; TDAH; Aquisição da Aprendizagem; Intervenções.

PSYCHOPEDAGOGIC INTERVENTIONS IN STUDENTS WITH


ATTENTION DEFICIT HYPERACTIVITY DISORDER (ADHD) IN THE
SCHOOL CONTEXT
ABSTRACT: What is relevant to highlight in this research of students with attention deficit
hyperactivity disorder (ADHD) is the following situation of knowing how psychopedagogy can
significantly intervene in the learning difficulties of students diagnosed with attention deficit
hyperactivity disorder, producing a significant and well-designed work so that the difficulties can
be overcome and they have a satisfactory cognitive, moral, affective, and physical progress. This
study used a bibliographic research, thus having a panoramic view of this phenomenon and
substantiating it. It also highlights some mistakes made by some educators who confuse the
excess energy of the students with ADHD and due to this fact end up creating stereotypes in the
students, affecting their self-esteem and consequently creating or aggravating the learning
difficulties of these students. Another discovery of this study is that psychopedagogical
interventions are primordial for the development of these students, and working together with
the teacher and the family, this work will significantly improve the learning acquisition of students
with ADHD.

Keywords: Psychopedagogy; ADHD; Acquisition of Learning; Interventions

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO escolar, com o comprometimento na


realização das atividades e pela inquietação em
Nota-se que a ocorrência do Transtorno do sala de aula (APA, 2017).
Déficit de Atenção/Hiperatividade em crianças Para Gustavo e Bressan (2014) o (TDAH), é o
em idade escolar ocasiona graves inferências, transtorno mental mais comum na infância,
ou seja, implicações, não só para o seu caracterizado por sintomas de
processo de evolução, mas, também, para a desatenção/desorganização, hiperatividade e
práxis do profissional (especialmente da área impulsividade. Considerado como um
de educação) envolto no atendimento desta transtorno neurocomportamental, ou seja, a
criança num contexto social enigmático como partir de uma disfunção cerebral o indivíduo
é a sala de aula. passa a apresentar problemas de
Este trabalho tem o intuito de evidenciar as comportamento, sendo identificável quando a
dificuldades de aprendizagem de alunos com criança começa a necessitar de mais
TDAH, mostrando as causas que levam a concentração e autocontrole. Isso costuma
desatenção, memorização e a impulsividade, o acontecer ao fim da pré-escola, por volta dos 5
qual tem sido uns dos fatores que tem levado anos.
aos alunos terem um baixo rendimento Segundo Silva (2014), o TDAH se caracteriza
escolar, levando muitas vezes a reprovação. por três sintomas básicos: desatenção,
Por meio da intervenção psicopedagógica, impulsividade e hiperatividade física e mental,
apresentando métodos e técnicas que irão tem sua manifestação ainda na infância, e, em
contribuir para amenizar ou sanar as causas cerca de 70% dos casos, o tratamento continua
que levam ao insucesso nessa perspectiva. na vida adulta. É acometido em ambos os
Assim, a psicopedagogia ajudará professores sexos, e independente de grau de escolaridade,
para trabalhar estratégias ou intervenções situação socioeconômica ou nível cultural,
contextualizas na realidade dos alunos com resultando em sérios prejuízos na qualidade de
TDAH, contribuindo assim, tanto com o vida das pessoas acometidas, caso não sejam
processo de aprendizagem quanto a inclusão diagnosticadas e orientadas precocemente.
desses alunos, O TDAH tem paulatinamente ganhado um
lugar de destaque quando se considera a
NOÇÕES GERAIS SOBRE TDAH prevalência dos quadros psicopatológicos da
TDAH é um transtorno de etiologia infância e adolescência na atualidade. Nas
multifatorial, “considerando a conjugação de últimas décadas foram realizadas inúmeras
fatores genéticos, ambiente familiar e história investigações cientificas que tomam como
gestacional” (NARDI et al., 2015, p. 28). objeto a sua prevalência (HORA, SILVA,
Afetando globalmente cerca de 7,2% das RAMOS, PONTES, & NOBRE, 2015; POLANCZYK,
crianças, é caracterizado pelo desenvolvimento WILLCUT, SALUM, KIELING, & ROHDE, 2014;
em níveis inadequados de desatenção, de RIVERA, 2016).
impulsividade e de hiperatividade. Sua Pesquisas do campo médico apontam que o
identificação ocorre principalmente em idade diagnóstico de TDAH apresentou um

888
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

expressivo crescimento desde a última década, desenvolvimento de forte influência


tornando-se o mais frequente dos transtornos neurobiológica, com etiologia multifuncional.
psiquiátricos tratados em jovens (POLANCZYK, Sua prevalência mundial é cerca de 5,29% em
et al., 2014; RIVERA, 2016). crianças e adolescentes. É caracterizado por
Dados epidemiológicos apontam para desatenção, tendência à distração,
prevalência mundial de 4 a 10% entre crianças. impulsividade e excessiva atividade motora em
Uma revisão sistemática sobre o tema, graus inadequados à sua etapa de
realizada a partir de 102 estudos de desenvolvimento. Costuma surgir na infância,
prevalência em todo mundo, estima uma de forma que é comum persistência na idade
prevalência de 5,29% entre menores de 18 adulta (SCHMIDEK, et al, 2018).
anos e de 6,48% entre crianças em idade É mais frequente no sexo masculino,
escolar (ROHDE, et al., 2004). Um estudo consistindo na combinação de fatores
coordenado pelo Instituto Glia, com 5.961 genéticos, sociais, culturais, além de alterações
jovens de 18 Estados do país, aponta na estrutura e/ou funcionamento cerebral.
prevalência de 4,4% entre crianças e Fatores ambientais como família muito
adolescentes brasileiros de 4 a 18 anos numerosa, criminalidade dos pais, classe social
(POLANCZYK, et al., 2010). Trata-se do primeiro baixa, severo desentendimento familiar,
estudo epidemiológico sobre TDAH feito no exposição a tabagismo e álcool durante a
Brasil com essa abrangência. gravidez, e outras intercorrências gestacionais,
Polanczyk, Arruda, Querido e Bigal (2015), como toxemia, eclampsia, tempo de duração
num estudo com 1830 crianças de 5 a 13 anos do parto, estresse fetal, baixo peso ao nascer e
de idade, consideram que a prevalência má saúde materna estão relacionadas como
brasileira para TDAH gira em torno de 5,1%, possíveis fatores causais do distúrbio (CASTRO;
não diferindo dos dados encontrados LIMA, 2018)
mundialmente. Os desdobramentos dessa
epidemia diagnóstica afetam a criança nos INTERVENÇÕES
mais diversos âmbitos, como no escolar, em
que se instala a demanda de que tenha seu PSICOPEDAGÓGICAS EM
corpo e comportamentos disciplinados em ALUNOS COM TDAH
nome do bom aproveitamento escolar, muitas Psicopedagogia é uma ciência nova, sua área
vezes ocultando impasses que dizem respeito à de atuação está ligada entre a Psicologia e
própria instituição de ensino; e no familiar, em Pedagogia, retrata inúmeras particularidades,
que pais balizados por um saber médico, que não tendo, ainda, modelos operacionais,
aponta para a etiologia orgânica do TDAH, determinados, buscando sua própria
percebem-se pouco implicados com os identidade, entretanto, uma área diferenciada
sintomas dos filhos, optando por um de conhecimento, linha de pesquisa Educação
tratamento medicamentoso. em Psicologia e atividades preventivas e
O transtorno de déficit de atenção e terapêuticas esses motivos os psicopedagogos
hiperatividade (TDAH) é um distúrbio do que trabalham em instituições escolares terem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dúvidas de como direcionar suas atividades ciência que ajuda a compreender o


com a comunidade escolar, privilegiando por procedimento psicopedagógico.
diversas vezes a adoção de uma ação A psicopedagogia pode ser entendida como
unicamente terapêutica especifica com a ligação entre a Psicopedagogia e Pedagogia,
discentes que indaga a problemáticas na a princípio as suposições constituídas nos
aprendizagem já instaladas, em prejuízo de países de língua Francesa. A expressão
uma ação preventiva, institucional, aspirando ‘’Psicopedagogia’’ nestes países é utilizada no
refrear os novos distúrbios de aprendizagem. lugar da Psicologia da Educação como ciência
De acordo com Bossa (2007, p. 19): que auxilia no entendimento do processo
Intuito de procurar um método a ser psicopedagógico.
trabalhado pelo psicopedagogo em sua Historicamente constata-se que a
atuação, em complexidade do ser humano, em psicopedagogia nasceu na fronteira entre a
uma dada patologia, diversas causas dentro da Pedagogia e a Psicologia, pormenorizando
problemáticas dos distúrbios de aprendizagem, maior atenção (KIGUEL 1987).’’ Surge outras
através da propagação do conhecimento de propagações sobre o processo de um método
diversas especificidades somente poderia ser diagnostico do psicopedagogo institucional na
‘’tratadas’’ diante do olhar da qual a psicopedagogia nasce no intuito de
interdisciplinaridade, ou seja, com a ação de explicar o fracasso escolar, por outro lado não
muitos profissionais em diversas áreas .Dentro fosse a psicologia e pedagogia.
da atual conjuntura da institucionalidade Tendo como objeto os alunos com TDAH, a
como seria isto, seria isto dentro da nossa psicopedagogia tem muito a contribuir não só
realidade com professores e relacionados ao conteúdo
Objetivando pesquisar sobre as administrado, mas também dando suporte aos
metodologias utilizadas pelo psicopedagogo pais ou responsáveis, que tem muita
dentro dos diversos distúrbios de dificuldade de lidar com seus filhos em relação
aprendizagem, buscando a compreensão e as suas características comportamentais, e isso
processos para serem utilizados para cada interfere de modo singular em seu processo de
particularidade, tão somente tratados por uma aprendizagem.
equipe interdisciplinar de diversas áreas do Uma das intervenções psicopedagógicas em
conhecimento. alunos com TDAH se baseia na relação
Segundo Bossa (1994, p.24): professor e alunos, como afirma Martins (2011,
A Psicopedagogia tem se propagado com a p. 2), “trabalha com as questões de vínculo nas
união entre a Pedagogia e a Psicopedagogia e relações entre professor e aluno e orienta o
pode ser compreendida a princípios os educador na escolha de procedimentos que
pressupostos teóricos, estabelecidos em países integrem o afetivo e o cognitivo nas atividades
de língua Francesa. O termo “Psicopedagogia” a serem desenvolvidas”. É importante que o
nestes países é usado no lugar da Psicologia da psicopedagogo trabalhe diretamente com o
Educação, e está ligada a educação como professor que atua com esses alunos, onde
este profissional ajudará os docentes para

890
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

saber lidar com esse transtorno, utilizando agressividade por meio de atividades lúdicas.
estratégias que possam favorecer essa Para Vygotsky (2004), cabe ao professor
interação professor/aluno, e estimular a atenção da criança com TDAH, para
consequentemente, o processo de que a mesma não se distraia com qualquer
aprendizagem. novo estímulo do ambiente e possibilitando
Neste contexto, Weiss (2012, p. 18), que a criança fixe atenção por um tempo
esclarece sobre a atuação do psicopedagogo suficiente, para no máximo aproveitamento
em alunos com TDAH: duma atividade lúdica e assim possibilitando
Possibilitará a intervenção e o apoio uma melhor interação com colegas.
permanente para possíveis mudanças de Na atividade lúdica proposta pelo
conduta do aluno-paciente, dentro do respeito psicopedagogo aos professores pode
a suas características pessoais. Com a criança contribuir para que os alunos despertem o
ou o adolescente é realizada uma intervenção senso comunitário ou coletivo, explorar a
direta, e com a família e a escola acontece uma psicomotricidade, que por meio do movimento
troca permanente com a orientação possível. conheça seus limites e possibilidades na
A autora esclarece que a intervenção dimensão do corpo, podem pela brincadeira
psicopedagógica tem que proporcionar um respeitar o outro como um ser diferente que
apoio diante do comportamento do aluno com possui sentimentos e diferentes opiniões, e
TDAH, ou seja, compreendendo e respeitando isso consequentemente melhorará a relação
as suas características peculiares e pessoais, professor/aluno, família/aluno, e o processo de
para que a intervenção seja direta não só com ensino e aprendizagem. Essas brincadeiras
os professores, mas também com a família, podem ir desde um jogo de futebol, jogo de
proporcionando uma troca de experiência que memória, jogos de trilha, domino, queimada e
favoreça o melhor atendimento a esses alunos. tantos outros, favorecendo todas as dimensões
Para Benczik (2000, p. 92), considera desses alunos como o cognitivo, psicomotor,
importante como intervenção do emocional e social.
psicopedagogo em alunos com TDAH a
dimensão lúdica como afirma: PROCEDIMENTOS
O profissional pode focalizar dificuldades
específicas da criança, em termos de METODOLÓGICOS
habilidades sociais, criando um espaço e O artigo se concentrou em uma abordagem
situações para desenvolvê-las, por meio da bibliográfica, para assim, fundamentar a
interação com a criança por intermédio de pesquisa, dando assim, um maior
qualquer atividade lúdica. esclarecimento do objeto de estudo por meio
O Psicopedagogo pode propor para o grupo dos teóricos e estudiosos. Para Severino (2016,
de professores que atendem alunos com TDAH p. 122), considera a pesquisa bibliográfica:
que observem e atuem nas dificuldades [...] registro disponível, decorrente de
especificas desses alunos, como a desatenção, pesquisas anteriores, em documentos
a impulsividade, o descontrole emocional, a impressos, como livros, artigos, teses etc.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Utilizam-se dados de categorias teóricas já perpassa pela pesquisa e questão teórica, de


trabalhadas por outros pesquisadores e modo especial, no apoio empírico existente na
devidamente registrados. Os textos tornam-se literatura de pesquisa nas áreas de educação e
fontes dos temas a serem pesquisados. O psicologia, bem como na declaração de posição
pesquisador trabalha a partir de contribuições sobre estudantes com problemas de atenção, e
dos autores dos estudos analíticos constantes de psicólogos escolares.
dos textos Cunha et al (2012) e para Meira (2012),
Esta abordagem possibilitou compreender a mostram que o ideal seria a aplicação de
importância do psicopedagogo como mediador atividades mais curtas e concretas, com
entre professor/aluno com TDAH e família, metodologias mais ativas. Mattos (2015),
mostrando que a intervenção proposta pelo também defendeu a utilização de atividades e
psicopedagogo aos professores contribuirá explicações mais curtas e simples, com poucos
com a família em sua relação com o seu filho. detalhes para não torná-las cansativas.
Acrescentou ainda que as instruções dadas
DISCUSSÃO DOS DADOS pelo professor ao ministrarem suas aulas
devem ser sempre claras e objetivas, de
BIBLIOGRÁFICOS preferência olhando nos olhos do aluno com
Sabe-se que a psicopedagogia tem um olhar dificuldades.
diferenciado, buscando a compreensão do A psicopedagogia acredita que é importante
aspecto psicológico para direcionar a trabalha a questão do comportamento desses
aprendizagem escolar trabalhando as alunos, que é latente a Déficit de Atenção,
dificuldades especificas. Por isso, é Impulsividade e Hiperatividade. Nesse
fundamental no seio da escola esse profissional contexto, Bromberg (2007, p. 11), considera:
como mediador e incentivador de métodos, “o controle do comportamento é uma
técnicas, intervenções para que os professores intervenção importante para crianças com
possam aplicar nesses alunos com TDAH, TDAH. [...] As estratégias incluem o uso do
proporcionando assim, tanto a sua reforço positivo e o ensino de habilidade para
aprendizagem quanto a inclusão. resolução de problemas e melhor
Barkley (2002), considera como começo de comunicação”
intervenção compreender que o “TDAH deve Também é importante trabalhar com esses
ser visto como uma séria preocupação alunos com TDAH o trabalho em grupo, diante
persistirá ao longo do tempo e estará associada do lúdico, colaborando no desenvolvimento
a um comportamento de difícil manejo em sala emocional, verbal e cognitivo dessas crianças.
de aula”. (BARKLEY, 2002, p. 127). As crianças Diante disso, Rohde e Tramontina (2000, p. 68)
com TDAH estarão propensas as dificuldades esclarecem:
acadêmicas e social em sala de aula, mas não Rotinas diárias consistentes e ambiente
em todas situações e durante todos os anos do escolar previsível ajudam essas crianças a
processo de escolarização. Diante disso, os manter o controle emocional. Estratégias de
autores mostram que a compreensão do TDAH ensino ativo, que incorporem a atividade física

892
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com o processo de aprendizagem, são


fundamentais. As tarefas propostas não devem
ser demasiadamente longas e necessitam ser
explicadas passo a passo. É importante que o
aluno com TDAH receba o máximo possível de
atendimento individualizado. Ele deve ser
colocado na primeira fila da sala de aula,
próximo à professora e longe da janela, ou seja,
em local onde ele tenha menor probabilidade
de distrair-se.
Du Paul e Storner (2007), consideram
intervenções para problemas de Atenção de
crianças com TDAH, onde orientam os
profissionais que os profissionais envolvidos
assumam um enfoque contínuo e sistemático
para criação, implementação e avaliação de
ajustes para uso em sala de aula que combine
abordagens tanto preventivas como
remediadoras para lidar com os problemas
apresentados e que envolva múltiplos agentes
de intervenção.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos professores ainda desconhecem um pouco a relevância do psicopedagogo, uma
vez que esse ao estar presente no âmbito escolar pode auxiliar e muito esses profissionais na
rotina de sala de aula, devido ao fato dos mesmos possuírem conhecimentos peculiares sobre
problemas de aprendizagem que causa danos a aquisição de conhecimento. Além disso,
evidencia-se aqui a relevância da intervenção psicopedagógica em alunos com TDAH para que as
mesmas possam aprenderem a enfrentar as dificuldades que as impede de ter um bom
desempenho social e intelectual.
Este profissional é de relevância importância como mediador e incentivador dos
professores, dos alunos e pais, organizando por meio de formação permanente ações que podem
contribuir a atuação do professor em sala de aula e também fora dela. Por isso, as intervenções
psicopedagógicas como as atividades lúdicas são fundamentos nesse processo, não só para sanar
ou diminuir as dificuldades de aprendizagem, mas também o convívio desses alunos com
professores, os colegas e com a família.

894
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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pais, professores e profissionais da saúde. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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SEVERINO, A.J. Metodologia do Trabalho Científico. 24.ed. São Paulo: Cortez, 2016.
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déficit de atenção/hiperatividade. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

WEISS, M. L. L. Psicopedagogia Clínica: Uma visão diagnóstica dos problemas de


aprendizagem escolar. 14. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2012.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LEI Nº 10.639, DE 09 DE JANEIRO DE 2003-


APORTES PARA A CONSTRUÇÃO DE UM
CURRÍCULO DECOLONIAL
Angela Maria Leite Ferreira1

RESUMO: O presente estudo tem como objetivo principal analisar a relação existente entre o
currículo decolonial e colonialidade que foi amplamente difundida em todos as esferas da
sociedade, principalmente na educação, a fim de entender e expor como a educação
decolonizadora, emancipatória e intercultural é importante para combater preconceitos e
violências, bem como exaltar culturas que são essenciais para a formação da história e cultura
brasileira. Para isso, foi utilizado o método de levantamento bibliográfico, expondo a opinião de
diversos pensadores da área das ciências humanas. Desta forma, conclui-se que o currículo
decolonial contribui na formação de cidadãos conscientes de seus direitos e no combate da
desigualdade racial e social, de forma que todos tenham seus direitos assegurados e respeitados,
usufruindo de liberdade e equidade.

Palavras-Chave: Educação; Currículo decolonial; Colonialidade; Cultura afro-brasileira e indígena;


Pedagogia decolonial.

1 Professora de Atendimento Educacional Especializado pela Rede Municipal de São Paulo e Professora dos Anos
Iniciais pela Rede Estadual do Estado de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia, Especialização em Gestão do Currículo; Especialização em Especialização
em Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Pós-graduanda em Deficiência Visual e Auditiva e
Surdocegueira; Mestranda em Educação Especial.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LAW No. 10.639, OF JANUARY 9, 2003- CONTRIBUTIONS TO THE


CONSTRUCTION OF A DECOLONIAL CURRICULUM
ABSTRACT: The main objective of this study is to analyze the relationship between the decolonial
curriculum and coloniality that was widely spread in all spheres of society, especially in education,
in order to understand and expose how decolonizing, emancipatory and intercultural education
is important to combat prejudices and violence, as well as exalting cultures that are essential for
the formation of Brazilian history and culture. For this, the method of bibliographic survey was
used, exposing the opinion of several thinkers in the area of human sciences. In this way, it is
concluded that the decolonial curriculum contributes to the formation of citizens aware of their
rights and to the fight against racial and social inequality, so that everyone has their rights
guaranteed and respected, enjoying freedom and equity.

Keywords: Education; Decolonial curriculum; Coloniality; Afro-Brazilian and Indigenous culture;


Decolonial pedagogy.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO considerando, por exemplo, que muitas


pessoas associam religiões de matriz africana
A colonialidade é apresentada por Mignolo com práticas ruins por meio de falas
(2005) como a “constitutiva da modernidade” preconceituosas, intolerantes e racistas.
(apud. WALSH, OLIVEIRA & CANDAU, 2018, p. A Lei nº 7.716, de 1989, pune qualquer crime
3). Sendo assim, a colonialidade se estabelece “resultantes de discriminação ou preconceito
como uma característica da modernidade de raça, cor, etnia, religião ou procedência
construída pelo mundo ocidental europeu, de nacional” (Art. 1), sendo que qualquer prática
forma que seus conhecimentos, produções, ou fala citada acima é configurada como crime.
cultura e história foram impostos sobre os A Lei nº 12.288, de 2010, implementa o
colonizados, mesmo que eles já possuíssem sua Estatuto da Igualdade Racial, para “[...] garantir
própria sociedade e costumes. Segundo Walsh, à população negra a efetivação da igualdade de
Oliveira & Candau (2018), como os oportunidades, a defesa dos direitos étnicos
pensamentos pautados no eurocentrismo se individuais, coletivos e difusos e o combate à
tornaram “verdades universais”, as demais discriminação e às demais formas de
culturas e pensamentos foram silenciadas ao intolerância étnica” (Art. 1), de forma que
longo dos séculos, de forma bem violenta. nenhuma distinção e/ou preconceito seja
Como afirma Maldonado-Torres, (2007), a tolerado, já que é assegurado por lei.
colonialidade significa: Para romper com o estigma da
“[...] um padrão de poder que emergiu como universalidade e superioridade da cultura
resultado do colonialismo moderno, porém, ao europeia, é necessário ensinar sobre a cultura
invés de estar limitado a uma relação formal de afro-brasileira e indígena, decolonizando-as,
poder entre os povos ou nações, refere-se à de forma que os conteúdos sejam
forma como o trabalho, o conhecimento, a desconstruídos para serem reconstruídos
autoridade e as relações intersubjetivas se novamente, desta vez sem
articulam entre si através do mercado incitar o ódio e a violência contra essas
capitalista mundial e da ideia de raça.” culturas.
(MALDONADO-TORRES, 2007, apud. WALSH, Para isso ocorrer, a implementação da
OLIVEIRA & CANDAU, 2018, p. 4). pedagogia decolonial é essencial. A pedagogia
decolonial trata-se de uma “intervenção
Desta forma, nota-se que mesmo que o política e pedagógica” (WALSH, OLIVEIRA &
colonialismo tenha acabado, a colonialidade CANDAU, 2018), cuja finalidade é manifestar-
ainda se sobressai e continua dominando todas se sobre os conhecimentos ocidentalizados,
as esferas da sociedade, principalmente na reformulando a forma de ensinar as ciências
educação, criando discriminações e humanas, exatas e da natureza para romper
desigualdades sociais. Por conta disso, com os “[...] padrões de poder, enraizados na
as culturas africana e indígena foram racialização, no conhecimento eurocêntrico e
completamente marginalizadas, sendo mal na inferiorização de alguns seres como menos
vistas até os dias de hoje no Brasil, humanos” (WALSH, 2009, apud., WALSH,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OLIVEIRA & CANDAU, 2018, p. 5). Portanto, a SOBRE A LEI 11.645 DE 2008 E PRÁTICA
prática pedagógica deve ser politizada e A Lei 11.645/08, foi sancionada em 2008,
pensada para incorporar conteúdos alterando a Lei de Diretrizes e Bases da
relacionados com história e cultura da Educação - Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
população brasileira em todo o currículo, 1996 -, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de
englobando a história da África e cultura negra janeiro de 2003, incluindo ao currículo oficial
e indígena brasileira, entre outros aspectos, das escolas públicas e particulares da educação
como social, econômico e político, como é básica a obrigatoriedade do ensino do tema
assegurado pelo Art. 26, da lei federal 11.645 “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e
de 2008, que incluiu a cultura indígena, que Indígena”, em que no Art. 26-A, ressalta a
atribui como ensino obrigatório da cultura importância do ensino voltado para a
afro-brasileira e indígena para todas as escolas diversidade cultural e étnico-racial:
no Brasil, tanto no ensino fundamental, quanto Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino
no ensino médio. fundamental e de ensino médio, públicos e
O currículo decolonial deve ser efetivo na privados, torna-se obrigatório o estudo da
educação brasileira, e, por isso, é preciso história e cultura afro-brasileira e indígena.
associá-lo com pedagogia decolonial, que deve § 1º O conteúdo programático a que se
ser politizada, de forma que possua um caráter refere este artigo incluirá diversos aspectos da
emancipatório. Com isso, o currículo deve história e da cultura que caracterizam a
abranger história e cultura africana e indígena formação da população brasileira, a partir
brasileira em todas as disciplinas, não somente desses dois grupos étnicos, tais como o estudo
em história. da história da África e dos africanos, a luta dos
Para alterar isso, a área da educação e negros e dos povos indígenas no Brasil, a
pedagogia devem modificar a forma como o cultura negra e indígena brasileira e o negro e
currículo é transmitido, bem como oferecer o índio na formação da sociedade nacional,
formações para que docentes saibam como resgatando as suas contribuições nas áreas
abordá-lo, conseguindo efetivamente diminuir social, econômica e política, pertinentes à
o abismo social presente no país, história do Brasil.
transformando e integrando os indivíduos § 2º Os conteúdos referentes à história e
historicamente marginalizados pela cultura afro-brasileira e dos povos indígenas
colonialidade de volta para o foco, devolvendo- brasileiros serão ministrados no âmbito de
os sua importância, sendo eles “[...] povos todo o currículo escolar, em especial nas áreas
indígenas e afrodescendentes, quilombolas, de educação artística e de literatura e história
diversidades de sexo-gênero e outros brasileiras (BRASIL, 2016).
marcadores das diferenças contrapostas às A aprovação da lei é o efeito de uma história
lógicas educativas hegemônicas” (WALSH, de lutas do movimento negro e indígena
OLIVEIRA & CANDAU, 2018). brasileiro, evidenciando o progresso de direitos
sociais educacionais, em que utiliza recurso

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

político-pedagógico para o combate de “[...] abordagens multidisciplinares de temas


práticas racistas no ensino e nas relações relacionados à história e cultura afro-brasileira
sociais (ALMEIDA & SANCHEZ, 2017, apud e africana, com vista à ampliação do foco dos
CURY, 200, p.32; GOMES & JESUS, 2013), “[...] currículos escolares para a diversidade cultural,
seja na política educacional mais ampla, na racial e social; ao conhecimento e valorização
organização e funcionamento da educação da história dos povos africanos e da cultura
escolar, nos currículos da formação inicial e afro-brasileira e africana; à democratização do
continuada de professores, nas práticas acesso às
pedagógicas e nas relações sociais na escola.” informações acerca da história e da cultura
GOMES & JESUS, 2013). Tendo em brasileira, objetivando a afirmação identitária
consideração a diversidade, ampliando a do afro-brasileiro; à inserção nos estudos da
representatividade da cultura africana, afro- história e na cultura brasileira da contribuição
brasileira e indígena, visando uma dos afro-brasileiros e dos africanos, conferindo
transformação cultural e pedagógica, maior diversidade à nossa tradição e
reduzindo a reorganizando valores, significados e
discriminação e seus efeitos persistentes. representações culturais, [...]”(SILVA, 2007,
A educação das relações étnico-raciais, tem p.46).
como uma de suas características a adoção de Para o desenvolvimento pleno e efetivo da
práticas educacionais voltadas para o ensino da Lei 10639/03 e suas Diretrizes Curriculares
cultura e história africana, afro-brasileira e Nacionais, não sendo apenas pensado na
indígena, voltadas para o ensino fundamental, escolarização, como para o prepara para as
médio e para o superior. No ensino relações sociais pautadas na tolerância e
fundamental e médio, a lei propõe um respeito a diversidade étnico-racial e a
currículo de combate ao racismo, que valorize pluralidade étnica (GOMES & JESUS, 2013;
e incentive o conhecimento acerca da história, SILVA, 2007), se faz necessário pensar em
cultura e identidade da população africana, práticas pedagógicas, como a pedagogia
negra e indígena brasileira, por meio do acesso decolonial.
à produção de conhecimentos de todas as
áreas, possibilitando a adoção de estratégias CONCEITUAÇÃO DECOLONIAL
pedagógicas que permitem valorizar a
diversidade e superar a desigualdade étnico- E A PEDAGOGIA DECOLONIAL
racial (SILVA, 2007). Enquanto no ensino O decolonial visa a liberdade epistemológica
superior, as estratégias são voltadas para a de povos subalternizados ao colonialismo,
formação do corpo docente capacitado para ocidentalismo e o eurocentrismo, unindo
ministrar cultura, política, economia e educação, a fim de
disciplinas de todas as áreas do romper pensamentos coloniais, opressões e
conhecimento relacionando os temas dominações, resgatando, reconstruindo e
propostos pela lei (SILVA, 2007). construindo epistemologias invisibilizadas e
Segundo Silva (2007), é importante: violadas pelo (neo)colonialismo (REIS &

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ANDRADE, 2018; OLIVEIRA & CANDAU, 2010). conhecimentos ocidentais/colonizadores e


Sendo a resistência e luta dos povos e a conhecimentos subalternizados:
construção acadêmica, que culminou na A interculturalidade crítica (...) é uma
visibilidade dos saberes (REIS & ANDRADE, construção de e a partir das pessoas que
2018; DIAS & ABREU, 2019). sofreram uma experiência histórica de
Segundo Reis & Andrade (2018), para que o submissão e subalternização. Uma proposta e
decolonial seja emancipatório é preciso que um projeto político que também poderia
utilize os meios e formas utilizadas pelo expandir-se e abarcar uma aliança com pessoas
colonizador: que também buscam construir alternativas à
“Para tanto será necessário o uso de globalização neoliberal e à racionalidade
recursos parecidos com aqueles utilizados ocidental, e que lutam tanto pela
pelos europeus. Os franceses, por exemplo, transformação social como pela criação de
adentrando em África, estimularam a condições de poder, saber e ser muito
construção de escolas e inseriram elementos diferentes. Pensada desta maneira, a
da sua cultura nos seus currículos justificando interculturalidade crítica não é um processo ou
o “acesso” dos autóctones à civilização. projeto étnico, nem um projeto da diferença
Similarmente, a fim de se colocar em prática o em si. (...), é um projeto de existência, de vida.
projeto decolonial, tornar-se-á necessário (OLIVEIRA & CANDAU, 2010, apud, WALSH,
utilizar os aparatos educacionais, políticos e 2007, p. 8)
curriculares a fim de se proporcionar o direito No ensino, a interculturalidade crítica e a
à voz aos sujeitos subalternos, constituindo-os pedagogia decolonial compõem as instituições,
como seres epistemologicamente situados na estruturas e ações hegemônicas dos saberes
práxis reflexiva da condição subalterna. Para pautados no monocultural e monorracional,
tanto, tornar-se-á necessário um currículo que mantêm a colonialidade, baseada na
educacional cuja pluriversalidade configure perspectiva de transformação estrutural e
orientação teórico-metodológica na produção sócio-histórica com caráter de educação
dos conhecimentos.” (REIS & ANDRADE, 2018, positiva, não sendo apenas denunciativa,
p.29). sendo uma pedagogia com política cultural,
Oliveira & Candau (2010, apud, WALSH, não se resumindo apenas processos de ensino
2001, 2005, 2007), incorpora a conteudista, valorizando, incentivando e
interculturalidade crítica a pedagogia construindo novas condições de vida (OLIVEIRA
decolonial, como um “projeto social, cultural, & CANDAU, 2010 apud, WALSH, 2001, 2005,
educacional, político, ético e epistêmico em 2007).
direção à decolonização e à transformação.”
Que fornece um giro epistêmico questionando PERSPECTIVA DE UM
a colonialidade do poder, do saber e do ser,
possibilitando assim, a criação de um espaço CURRÍCULO DECOLONIAL
epistemológico igualitário e crítico, orientando O currículo escolar é determinado pelo
pensamentos e ações acerca de colonizador que estabelece os conhecimentos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e saberes com objetivo de colonizar o ser, o Para obter um currículo decolonial é


saber e o poder (MUNSBERG, et al., 2019 apud necessária uma educação intercultural,
SILVA, 2015). Organizado para cumprir visando o combate da desigualdade racial
requisitos colonizadores tornando o promovendo a equidade, liberdade e
conhecimento eurocêntrico universal, visibilidade, selecionando conteúdos que
trazendo para a escola e as pessoas que a abrange todas as etnias, para ocorra a
compõe a ideia de natural, valorizando e decolonização do saber, currículo e escola
tornando este conhecimento utilitário em (MUNSBERG, et al., 2019). Porém, é necessário
relação aos subalternizados (MUNSBERG, et assegurar que essas mudanças no currículo
al., 2019), sendo esse processo educativo: sejam efetivas, tendo em vista que mesmo que
[...] uma violenta assepsia epistêmica e os conteúdos decoloniais sejam obrigatórios e
cultural da sociedade. O OUTRO é instituído assegurados por leis, a realidade é muito
enquanto o antimodelo que não possui as distinta. Segundo Müller & Ferreira (2018,
condições de ser, de produzir e de viver apud., WALSH, OLIVEIRA & CANDAU, 2018, p.
civilizadamente sem a ajuda (favor) DAQUELE 8), os materiais didáticos são elaborados
que É. O OUTRO vive a condição de pautados nos parâmetros eurocêntricos,
empréstimo, ao não ser e não ter, somente colocando a população africana ou afro-
cabendo-lhe reconhecer-se como o NÃO-SER e brasileira "[...] como sujeitos subalternos na
obedecer ÀQUELE que É. (MUNSBERG, et al., história.” (WALSH, OLIVEIRA & CANDAU, 2018),
2019, apud, SILVA, 2014, p. 206). negligenciando e omitindo as culturas que
Desta forma, Munsberg, et al. (2019 apud foram importantes para formar a cultura
SILVA, 2015), entende o currículo decolonial brasileira.
como: Observa-se continuamente que os livros
[...] a luta pela educação das relações étnico- didáticos infantis e até mesmo provas
raciais que tem se intensificado nos últimos permanecem reproduzindo preconceitos
anos; a luta dos indígenas e dos povos do advindos da colonialidade, colocando o
campo por uma educação específica e europeu como branco salvador e as
diferenciada, entre outras. [...] a escola é populações colonizadas como submissos e
território de Diferenças Coloniais, mais do que dependentes da cultura ocidental (WALSH,
de diferenças culturais. Ou seja, a questão da OLIVEIRA & CANDAU, 2018). Entretanto,
Colonialidade sobre o currículo e a avaliação acreditar que apenas alterar o currículo e os
escolar não é meramente a presença ou não de conteúdos abordados contribuirá para uma
determinadas culturas no currículo, mas as educação decolonial é ilusão. Os docentes e
lógicas estruturantes que os organizam e todo o corpo pedagógico devem estar
materializam. Assim, a Diferença Colonial na preparados para ministrar corretamente todos
escola, no currículo e na avaliação expressa o os tópicos necessários, sem expressar, mesmo
conflito entre cosmovisões que em tensão se que inconscientemente, preconceitos e
reconfiguram historicamente. (MUNSBERG, et violências. Portanto, capacitá-los é
al., 2019 apud SILVA, 2015, p. 56). imprescindível.

902
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando-se em consideração esses aspectos, a experiência colonial e a presença da
colonialidade fizeram com que africanos e indígenas tivessem sua história e cultura negada e
dominada, colocadas como subalternas ao ocidentalismo e o eurocentrismo.
Repensar a epistemologia da colonialidade se torna fundamental para alcançar a
emancipação por meio do processo decolonial, sendo um projeto político, questionando e
refletindo sobre a hegemonia monocultural e monorracional, propondo a decolonização do
poder, do saber e do ser. O processo decolonial permitiu a criação da pedagogia decolonial
pautada na interculturalidade crítica que possibilita a construção de um espaço epistemológico
igualitário e crítico e de uma educação positiva, transpondo e visibilizando conhecimentos
subalternizados.
Por fim, para a pedagogia decolonial ser efetiva necessita pensar e repensar os currículos,
que não se reduz apenas a um documento, mas sim um referencial a escola e aos que a constitui.
Repensar com base na nova legislação que permitiu uma maior visibilidade a outras histórias e
culturas diferentes da eurocêntrica colocando em debate o ensino decolonial, promovendo um
ensino intercultural e étnico-racial, valorizando a diversidade.
Além da capacitação do corpo docente e pedagógico para serem ministradas efetivamente
os conteúdos pensados, rompendo com os preconceitos.

903
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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10.639/2003 – competências, habilidades e pesquisas para a transformação social.
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SILVA. 2010. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
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Data de Acesso: 20/07/2022.

904
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO DA
GEOLOGIA DO ARQUIPÉLAGO DE FERNANDO
DE NORONHA, PE
Adriane Marques de Souza1
Rosemery da Silva Nascimento2

RESUMO: Lorem ipsum dolor sit amet. Et optio natus et voluptatem dolorem ut enim molestiae.
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aliquam sed officiis Quis rem reprehenderit dolorem cum eaque ducimus.

Palavras-Chave: Magmatismo alcalino; Evolução geológica; Formação Remédios; Formação


Quixaba.

1 Discente do curso de graduação em Geologia-UFPA/Bolsista do PET Geologia-UFPA.


2 Profa. Dra. Associada nível 4 da UFPA/Tutora do PET-Geologia-UFPA.

905
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

BIBLIOGRAPHIC SURVEY OF THE GEOLOGY OF THE ARCHIPELAGO


OF FERNANDO DE NORONHA, PE
ABSTRACT: The Fernando de Noronha Archipelago is located in the South Equatorial Atlantic and
is currently a territory belonging to the state of Pernambuco. The 21 islands and islets are
tectonically arranged with an E-W orientation and their petrogenesis is directly linked to the
events caused by continental drift and continental rotation. Cartographic and geological studies
of the area were more effective at the end of the 19th century, with geochemical and
geochronological studies complementing the descriptions and mappings carried out in the
previous century. In addition, from these researches it was possible to determine the occurrence
of mineral deposits with economic viability, even so, currently, the main economic source of the
region is related to tourism. The tourist activity is related to the great geological and marine
preservation of the region, since it is an environmental protection region and is being managed
by the Chico Mendes Institute for Biodiversity Conservation-ICMBio.

Keywords: Alkaline magmatism; Geological evolution; Training Remedies; Quixaba training.

906
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO eventos magmáticos do Cenozoico que


moldaram a superfície do arquipélago.
O presente trabalho apresenta o resultado
1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA
do levantamento bibliográfico de dados
O arquipélago situa-se no Atlântico Sul
geológicos da região do Arquipélago de
equatorial a 350 km de Natal (RN). Pertencente
Fernando de Noronha realizado como
ao estado de Pernambuco, ocupa uma área
atividade de iniciação científica (on-line),
com cerca de 26 km2, sendo a ilha principal
durante o período da pandemia de COVID-19,
responsável por 91% da área do arquipélago e
por estudante de graduação do curso de
o restante é dividido em 20 ilhotas localizadas
geologia da UFPA, dentro do Programa de
no entorno desta porção maior. As ilhas,
Educação Tutorial-PET-GEOLOGIA-UFPA. Os
ilhotas ou rochedos que constituem o
dados apresentados foram baseados nos
arquipélago são: Fernando de Noronha, Rata,
estudos de cartografia geológica já realizados
do Meio, Rasa, Sela Gineta, São José, Cuscuz,
na região, destacando a evolução do
ilha de Fora ou Viuvinha, Chapéu do Nordeste,
conhecimento geológico desta importante
Conceição ou Morro de Fora, Dois Irmãos,
área de ocorrência de magmatismo que
Morro da Viúva, Morro do Leão, Chapéu do
pertence ao território nacional. Quanto a
Sueste, Cabeluda, ilha dos Ovos e Frade. O
geologia da área, foram pesquisados de forma
conjunto de ilhas está colocado sob orientação
on-line em periódicos eletrônicos em websites,
tectônica, de E-W, determinando um
aspectos fisiográficos, características
alinhamento dos montes vulcânicos
petrográficas das unidades já estabelecidas,
submarinos. Alguns destes montes estão
assim como em escala regional a geologia
submersos atualmente, por conta da atuação
estrutural e como se deu a colocação desses
da erosão são apresentados atualmente como
montes vulcânicos submarinos. Estas pesquisas
guyots, achando-se a menos de 100 m de
revelaram que o arquipélago de Fernando de
profundidade. (ALMEIDA, 2006) (Figura 1).
Noronha emergiu da crosta oceânica e foi
moldado ao longo do tempo por agentes
exógenos. As ilhas localizadas próximo ao
litoral brasileiro são de importância na
evolução do conhecimento a respeito do
arcabouço tectônico da crosta oceânica do
Atlântico Sul. Desse modo, o trabalho faz um
apanhado bibliográfico dos aspectos
geológicos e históricos do Arquipélago de
Fernando de Noronha, dando um destaque
especial às formações geológicas Remédios e
Quixaba que representam os principais

907
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

2 EVOLUÇÃO DO ESTUDO DA maior de suas ilhotas (ilha Rata). Após realizar


três viagens a Fernando de Noronha, Almeida
ÁREA (1955), foi responsável pela publicação de
No fim do século XIX foram iniciados os mapa geológico em escala de 1:15.000, assim
estudos petrográficos em rochas vulcânicas, como estudos geomorfológicos, petrográficos,
sendo fundamental a coleta de algumas históricos, geoquímico e petrogenéticos. De
amostras nas primeiras expedições mandadas acordo com Almeida (2006), este trabalho
ao arquipélago. Segundo Almeida (2002), nas ganha destaque por incluir e relacionar as
descrições mais especificas sobre a geologia da rochas vulcânicas da porção continental do
área, destaca-se as realizadas por Branner Ceará com a cadeia de rochas vulcânicas que
(1988, 1989, 1890), assim como, Smith e Burri ocorrem em Fernando de Noronha. Há ouros
(1933), que coloca observações a respeito dos trabalhos publicados, enfatizando geoquímica
calcarenitos, dunas e praias do arquipélago. Os e geocronologia das amostras coletadas, como
estudos na área perderam interesse até a os de Ulbrich, et al. (1994) e Cordani (1970).
metade do século XX, mas em 1948 o Neles foram determinadas, para as feições
Departamento Nacional da Produção Mineral mais antigas, datas de aproximadamente 30
(DNPM) publicou resultados quanto as suas Ma.
investigações de fosfatos e calcarenitos na

908
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo Almeida (2006), o arcabouço 3 CONTEXTO GEOLÓGICO


tectônico do sistema de falhas e fraturas
As rochas expostas no Arquipélago de
desenvolvidos em litosfera oceânica, em
Fernando de Noronha apresentam idades
tectônica transcorrente de orientação E-W,
miocênica e pliocênica. São denominadas por
descritos por Costa, et al. (2002). Estes dados
duas formações principais: Remédios e
foram utilizados para determinarem a
Quixaba, as duas caracterizam dois ciclos
extensão da Zona de fratura Fernando de
vulcânicos que se diferenciam, principalmente,
Noronha à margem continental. Desse modo, a
quanto a sua geoquímica. Sobreposto a esses
construção e evolução dos estudos da região
eventos, estas rochas são expostas aos
foram em grande parte consolidados no início
processos sedimentares, permitindo a
do século XXI.
formação de depósitos litorâneos, marinhos e
Atualmente, o Geoparque compreende a
eólicos, e estão presentes até hoje.
uma área que abrange territórios do Parque
De acordo com Wildner & Ferreira (2011), a
Nacional Marinho de Fernando de Noronha e
Formação Remédios é a mais antiga, tratando-
da Área de Proteção Ambiental (APA) de
se de magmatitos intrusivos em piroclastos,
Fernando de Noronha- Rocas - São Pedro e São
sendo as rochas piroclásticas aflorantes apenas
Paulo, administrado pelo Instituto Chico
na ilha principal e suportando as maiores
Mendes de Conservação da Biodiversidade-
elevações da ilha. Estas rochas apresentam
ICMBio. Existem algumas porções que já foram
variados tamanhos, podendo acumular-se em
permitidas a mineração de fosfato biogênico,
camadas irregulares de tufos, brechas e
porém atualmente a principal atividade
conglomerados, com aproximadamente 100 m
econômica do arquipélago gira em torno do
de espessura. Quanto a sua composição,
turismo, bastante incorporado junto as
destacam-se variações de rochas fonoliticas,
condições de preservação ambiental,
traquíticas e essexíticas, resultado de eventos
acompanhado do setor de serviços maior parte
explosivos que antecederam e acompanharam
da população local (WILDNER & FERREIRA,
a intrusão dos corpos fonolíticos e traquíticos.
2011).
(Figura 2).

909
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Grandes corpos independentes de vulcânicos que foram recobertos por derrames


composição fonolítica são encontrados na ilha da Formação Quixaba (Figura 4).
principal e ocupam o espaço em variadas A Formação Quixaba descrita por Almeida
formas, como: domos, plugs e até diques com (1955), como um empilhamento de lava
metros de espessura. Todas as rochas dessa ankaratrítica alternados com piroclastos de
formação têm consolidação endógena, componentes da própria lava. É aflorante nos
podendo estar expostas por conta da erosão dois planaltos da ilha principal, chegando a
realizada antes que se processassem as uma altura de até 180 m acima do nível do mar,
efusões ankaratríticas. De composição podem ser vistos horizontes ou com inclinação
traquítica, destaca-se uma pequena estrutura de até 30º para sul, sentido do escoamento da
dômica na praia do leão, mesmo que seja mais lava. A formação constitui algumas ilhas
comum encontrar essa composição sob forma também, com destaque a ilha Rata por conta
de grandes diques. de sua maior extensão entre as ilhotas
Os diques têm orientação preferencial entre adjacentes.
NW e NE, podendo apresentar diversas Almeida (2002), supõe a ocorrência do
composições, como: monchiquitos, furchitos, primeiro basanito da Formação Quixaba em
camptonitos e outros tipos raros de rochas pequenas ilhas, como: São José, Cuscuz, de
lamprofíricas sódicas, assim como de Fora e Chapéu do Nordeste. Tem inclinação
ankaratrito, augitito, álcali-traquito, para NE e lhe foi atribuído o nome de Formação
limburgito, sanaíto, olivina teschenito, essexito São José, caracteriza-se pela sua abundância e
pórfiro, olivina-nefelinito, basanito, gauteíto. dimensões dos xenólitos de dunitos e, para
Segundo Almeida (2002), as rochas Lopes e Ulbrich (2006), também há xenólitos
fortemente melanocráticas, em que feldspatos de lherzolito e harzburgito. A idade deste
são muito escassos, são as mais recentes da basanito foi determinada por Cordani (1970) e
Formação Remédios. As quais devem ter está colocada como anterior a Formação
existido no alto do edifício vulcânico, mas Quixaba, porém pode ter ocorrido
foram destruídos pela erosão que precedeu os contaminação com xenólitos de olivinito
derrames ankaratríticos. Para o estudo de mantélico, mantendo sua correlação
rochas muito profundas no edifício vulcânico, é geoquímica e petrográficas entre as unidades.
dada atenção aos xenólitos e ejetólitos. A partir A partir das datações de Cordani (1970) pelo
do método K-Ar, Cordani (1970), realizou método K-Ar, foi obtida a idade mais provável
datações em rochas desta unidade, obtendo a para o basanito da Formação São José, está de
idade mais antiga de 12,3 Ma a partir de um 9,5 Ma. Mesmo que haja um grande erro em
álcali-basalto. Há cerca de 9 Ma ocorreram as duas amostras, de 8,1 e 21,9 Ma, visto que
intrusões dos grandes corpos fonolíticos. Após houve a perda de Argônio por aquecimento.
a colocação destes corpos, ocorreu um Almeida (2002), levanta a possibilidade de
momento que marca na coluna estratigráfica pertencimento a Formação Remédios,
um hiato erosivo, o qual é evidenciado fechando o primeiro ciclo vulcânico exposto na
principalmente nos topos dos edifícios ilha que data o Mioceno Superior. No fim do

910
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Plioceno o vulcanismo finalizou e passou a disso, o platô é ladeado por dois planaltos de
predominar a erosão e o intemperismo. altitude de até 200 m e apresenta um relevo
suavizado, ambos são constituídos por rochas
3.1 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS piroclásticas alternadas com derrames de lava
ultrabásica nefelinitica (Formação Quixaba). Na
A ilha vulcânica principal do arquipélago
costa pode ser observado um relevo em talude
apresenta em sua região central um baixo platô
moderado em ou elevadas falésias, os vales são
como resultado de uma superfície de erosão,
bastante influenciados pela estrutura
esta porção está de 30 a 45 m acima do nível
geológica e têm origem nos morros fonolíticos.
do mar. Sobre este platô, destacam-se morros
(Figura 3).
de rochas fonoliticas, dos quais o mais alto é o
Morro do Pico com 321 m sobre o mar. Além

As condições climáticas da ilha estão 3.2 GEOQUÍMICA


dispostas em duas estações bem definidas,
A província magmática de Fernando de
sendo a chuvosa de fevereiro a julho, muito
Noronha representa uma das províncias mais
semelhante à Rio Grande do Norte.
alcalinas entre as ilhas vulcânicas oceânicas do
Persistentes ventos alísios sopram de ENE,
mundo (ALMEIDA, 2002), caracterizando-se
fundamentais na interpretação das formas de
por se fortemente sódico alcalino, subsaturado
relevo existente atualmente nas ilhas. A
em sílica, grande amplitude de diferenciação,
vegetação foi bastante prejudicada e o
com teor de sílica entre 34,4% (melilita
revestimento vegetal atual constitui-se em
ankaratrito) e 60,8% (álcali traquito). Horota &
pequeno porte, arbórea ou arbustivas, assim
Wildner (2011), caracterizaram
como grande ocupação de áreas de macega,
petrograficamente as amostras para, em
ervas e gramíneas.
seguida, fazer as devidas análises geoquímicas
das amostras coletadas na região. A Formação
Remédios está composta de fonolitos, tefritos

911
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fonolíticos e traquitos. Os fonolitos se 3.3 GEOLOGIA ESTRUTURAL


caracterizam por apresentarem caráter
Estes montes vulcânicos que emergem no
porfirítico com fenocristais idiomórficos
Oceano Atlântico, formando um arquipélago,
imersos em matriz vítrea, onde encontram-se
compões a Cadeia de Fernando de Noronha,
cristalitos de piroxênio sódico aegirina,
orientada a E-W. Este alinhamento existe por
aegirina-augita, imersos em uma nuvem
conta de uma fratura na litosfera oceânica,
holocristalina de plagioclásio, conferindo uma
fratura essa que é parte do arcabouço
coloração esverdeada à rocha. Os fenocristais
tectônico desenvolvido pela Dorsal Meso-
ocorrem em proporções variadas de nefelina,
Atlântica. Não apenas essas fraturas
feldspato alcalino, piroxênio sódico e
determinam a formação deste monte
anfibólios, sendo esses dois últimos mais raros.
submarino, é preciso que haja a ação de um
Não é possível a classificação modal desses
hotspot ou pluma mantélica, a qual segue
fonolitos, pois mais de 50% da rocha constitui-
orientada em seu vulcanismo em zonas de
se de matriz afanítica, sendo assim
fraqueza delimitadas na crosta (Figura 4).
caracterizados geoquimicamente. Os tefritos
O alinhamento dos corpos é observado mais
fonolíticos, assim como os traquitos,
perto do continente na unidade que é
apresentam granulação mais grossas que os
denominada como guyot do Ceará, sendo o
fonolitos, e apresentam fenocristais bem
corpo mais antigo e com bastante desgaste
desenvolvidos de feldspato alcalino (sanidina),
erosivo. Além do guyot do Ceará, está
nefelina, com quantidades subordinadas de
orientado em E-W, o arquipélago de Fernando
fenocristais de piroxênio sódico e anfibólio
de Noronha, Atol das Rocas e o denominado
titanífero vermelho acastanhado, definido
ato fundo Drina (Almeida, 2006). Como são
como caersutita. Estes fenocristais estão
encontradas em continente rochas da mesma
imersos em matriz de plagioclásio e/ou
natureza que as presentes nestes montes
sanidina, representando termos de textura
vulcânicos, do tipo fonólito e datada por
lamprofírica. A Formação Quixaba constitui-se
Cordani (1970), com cerca de 30 Ma, foi
de derrames ankaratritos, nefelinitos, nefelina
sugerido que esta zona de fraqueza afetou a
basanitos e olivina nefelinitos. Os ankaratritos
borda da crosta continental.
em análise petrográfica apresentam textura
holocristalina porfirítica onde os diminutos
fenocristais de titanoaugita, perovskita e
opacos estão imersos em matriz constituída de
nefelina. Os nefelinitos, nefelina basanitos e
olivina nefelinitos são rochas de granulação
grossa com cristais de piroxênio de grão grosso
em matriz composta por nefelina, onde, em
algumas amostras, ocorrem a presença de
cavidades miarolíticas preenchidas por zeolitas
fibrosas. (HOROTA & WILDNER, 2011).

912
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

3.4 EVOLUÇÃO CRUSTAL formador de vulcões, os quais em superfície


representam ilhas oceânicas.
De acordo com Almeida (2006), o
surgimento do Oceano Atlântico ocorreu por Assim se deu o surgimento do arquipélago
conta da ruptura do supercontinente de Fernando de Noronha, o qual pertence a
Gondwana, oceano que passa a separar dois outras ilhas implantados no assoalho oceânico
continentes: América do Sul e África. A e considerado como território brasileiro, como:
ilha da Trindade, arquipélagos de São Pedro e
divergência entre as duas placas permitiu o
desenvolvimento da Dorsal Meso-Atlântica, São Paulo, etc. As zonas de fratura têm
sendo recorrente a formação de uma crosta orientação E-W e foram reativadas no Eoceno
oceânica nova. O arcabouço tectônico da Médio, o qual permitiu o extravasamento do
região é bastante marcado em função do vale magma. O arquipélago em questão divide a sua
de rifte, o qual é seccionado por falhas zona de fratura com o guyot do Ceará, o qual o
transformantes e zonas de fratura, tratando-se vulcanismo inativo permite a erosão do topo e
de zonas de fraqueza na litosfera oceânica. torna-se submerso, e com o atol das Rocas,
este que já não afloram vulcânicas e são
Estas porções podem ser reativadas quando
em atividade sobre um hotspot ou uma pluma recobertos por calcários biogênicos (ALMEIDA,
mantélica, atuando como condutos de magma 2006).

913
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No Pleistoceno, com o cessar do vulcanismo


e as grandes variações climáticas, as quais
permitiam pulsos glaciais e oscilações no nível
do mar, restaram as feições erosivas na
plataforma insular (ALMEIDA, 2006). Os corpos
rochosos mais resistentes a ação erosiva
foram, sobretudo fonólitos, ankaratritos e
basanitos. Uma grande exposição da
plataforma ocorreu no último estádio glacial e
grande regressão do mar, este evento
propiciou a deposição de uma extensa faixa
arenosa, a qual esteve moldada a partir da ação
dos ventos alísios de SE, desenvolvendo um
campo de dunas. Como essa areia é de origem
biogênica e ao consolidar-se originou os
calcarenitos da Formação Caracas. Por fim, o
nível do mar voltou a subir, adotando as feições
que podem ser observadas atualmente em
suas praias, falésias, recifes de algas e dunas.

914
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os dados da literatura especializada (ALMEIDA, 1955; ULBRICH, et al. 1994;
CORDANI, 1970; ALMEIDA, 2002; ALMEIDA, 2006; HOROTA & WILDNER 2011; WILDNER &
FERREIRA, 2011, entre outros), no arquipélago de Fernando de Noronha ocorrem as mais diversas
feições geológicas moldadas com o tempo geológico em um edifício vulcânico que emergiu no
Oceano Atlântico. Esta estrutura surgiu a partir do encontro de um hotspot ou pluma mantélica
com a Zona de Fratura de Fernando Noronha, evento este que está registrado em rochas de idade
de aproximadamente 40 Ma na borda continental, mais precisamente, no estado do Ceará.
Porém em litosfera oceânica, a Cadeia de Fernando de Noronha pode ser datada com 30 Ma na
unidade conhecida como guyot do Ceará e tem continuidade com o atol das Rocas e, em seguida,
o arquipélago de Fernando de Noronha. Este monte tem caráter geoquímico
predominantemente alcalino, sendo a Formação Remédios ocupa maior parte do complexo
vulcânico, mesmo que tenha sido afetada por um hiato erosivo do topo. Posteriormente, esta
formação foi recoberta pela Formação Quixaba, a qual se caracteriza como derrames básico-
ultrabásico (ALMEIDA, 2006). Atualmente, esta região é administrada pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade-ICMBio e trata-se de uma área de proteção
ambiental. Por isso, a principal fonte econômica da região vem a partir do turismo, o qual
evidencia a riqueza geológica e marinha que foi mantida ao longo do tempo.

915
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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916
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LÍNGUA PORTUGUESA E O PAPEL DA ESCOLA


NA FORMAÇÃO DO DOMÍNIO E VALORIZAÇÃO
DA LÍNGUA MATERNA NA EXPRESSÃO ORAL E
ESCRITA
Eliane Camargo Moura1

RESUMO: Esta pesquisa apresentará reflexões sobre o ensino da norma-padrão destacando


questões relacionadas à escolarização no Brasil e a formação científico-pedagógica dos docentes
de Língua Portuguesa bem como sua prática de ensino, baseada sobretudo, na transmissão de
regras definidas pelas gramáticas normativas distinta das que caracterizam estruturalmente o
vernáculo brasileiro.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Língua Portuguesa; Expressão.

1
Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Letras Português e Inglês: Especialização em Arte, Educação e Terapia.

917
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PORTUGUESE LANGUAGE AND THE ROLE OF THE SCHOOL IN THE


FORMATION OF DOMAIN AND VALUATION OF THE MOTHER
LANGUAGE IN ORAL AND WRITTEN EXPRESSION
ABSTRACT: This research will present reflections on the teaching of the standard norm,
highlighting issues related to schooling in Brazil and the scientific-pedagogical training of
Portuguese language teachers as well as their teaching practice, based mainly on the transmission
of rules defined by normative grammars distinct from those that structurally characterize the
Brazilian vernacular.

Keywords: Learning; Portuguese language; Expression.

918
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O FRACASSO NA
A ideia central deste trabalho volta-se para a APRENDIZAGEM DE UMA
discussão do ensino da Língua Portuguesa e o LÍNGUA MATERNA
papel da escola na formação de alunos capazes Segundo Ribeiro (2003), a aquisição da
de dominar e valorizar sua língua materna na língua materna é natural aos seres humanos;
expressão oral e escrita em situações formais. ela acontece de forma rápida, espontânea e
Tendo em vista que muitos alunos natural, inconscientemente. Assim, qualquer
manifestam insegurança e inferioridade criança, sem problemas neurológicos graves,
lingüística, este trabalho buscará mostrar a aprende a usar uma língua, sem que seja
importância da autoestima e motivação no necessário um ensino explícito; é suficiente
ensino de uma língua materna estar exposta aos dados de sua comunidade
Com base nessas ideias, questionamos os lingüística. Esse conhecimento adquirido pela
motivos que levam o indivíduo a afirmar sua criança permite um uso linguístico criativo por
incapacidade em dominar sua língua materna e capacitá-la a compreender e produzir
colocá-la em prática na linguagem oral e sentenças familiares e novas.
escrita. Se o uso oral da língua materna, em
Procuramos também avaliar como a situações do cotidiano (informais) independe
autoestima pode interferir no processo ensino de escolarização, o mesmo não pode ser dito
aprendizagem e romper com a insegurança e a em relação ao uso da escrita e da fala em
síndrome de inferioridade que o indivíduo cria situações formais. Identifica-se como objetivo
ao relacionar-se com sua língua materna. da escola a transmissão da norma - padrão da
Em diversos estudos, observamos que uma qual o aluno se servira para alcançar prestígio
das preocupações constantes dos sociocultural. É também a norma veiculada
pesquisadores da área de Língua Portuguesa é pelos meios de comunicação de massa de uma
encontrar meios que viabilizem a preparação classe social mais privilegiada.
do educador à prática de um ensino inovador e Nasce então o desafio da escola em relação
motivador, capaz de formar alunos conscientes ao ensino da língua materna: formar alunos
de seus potenciais lingüísticos; sendo assim, capazes de usar fluente e apropriadamente a
procuramos expor estratégias que auxiliam o língua padrão nas situações que as exige.
educador ao êxito de um ensino motivador que Para alcançar tal objetivo, é necessário
predispõe o aluno a buscar o conhecimento analisarmos e refletimos sobre o papel do
com satisfação e segurança. professor na transmissão do ensino da língua
materna dentro dos parâmetros da norma –
padrão.
Os direcionamentos propostos nos PCN,
quanto ao que se espera do ensino de língua
portuguesa, mostram a necessidade de
profissionais com a qualificação superior para

919
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

atuar nas diferentes séries do Ensino de regras nas combinações desses sinais. Ao
Fundamental e Médio. segundo de sistemas é o que chamamos de
( ... ) “em uma sociedade como a gramática. Não há língua sem gramática
brasileira, marcada por intensa movimentação (LUFT,2002, p.11).
de pessoas e intercâmbio cultural, o que se As instituições de ensino fundamentam uma
identifica é um intenso fenômeno de mescla noção distorcida de ensinar língua materna,
lingüística, isto é, em um mesmo espaço social noções falsas de língua e gramática, em que se
convivem mescladas diferenças de variedades privilegia classificar, analisar termos
lingüística, geralmente associadas a diferentes indecifráveis, decorar regras e suas exceções
valores sociais(BRASIL, 1997,p.29). para estabelecer o certo e o errado de uma
Ainda enfocando a variedade lingüística, os gramática prescritiva.
PCN propõem que “o ponto de partida do O resultado é que milhares de alunos (e
ensino é sempre o conhecimento prévio do milhares de pessoas), por acharem a língua
aluno” ( p.4 ). portuguesa um universo esotérico ( ... ) julgam-
Compreender tal variação observada na se impedidos de entrar nesse universo
falta de uma variedade de alunos requer a justamente porque têm a convicção de que não
atenção de docentes com um amplo dominam a própria língua (... ) que falam desde
conhecimento das possibilidades estruturais os 2, 3 anos de idade(SIMKA, 2000, p.58).
dos sistemas fonológicos, morfológicos, A formação inadequada dos professores
sintáticos e semânticos da língua portuguesa. geram alunos que consequentemente se
Os organizadores dos PCN desconhecem o sentirão inseguros de colocar em prática a
fato (ou fingem desconhecer) que na realidade língua-padrão a qual considera difícil, pois está
o ensino fundamental I (as 4 primeiras séries) lhe foi imposta de maneira opressora,
ocorrem com profissionais sem formação repressiva e alienada, sem condições de refletir
lingüística, portanto não estão preparados que de certa maneira ele já a domina, pois
para lidar com a variação lingüística que os convive com a língua materna desde o seu
cercam. Mas o problema não para por aí. nascimento.
Professores universitários despreparados Na tentativa do bom uso da língua materna,
“formam” professores de ensino médio e a disciplina “língua portuguesa” passa a ser
fundamental despreparados, que por sua vez detestada pelos alunos que se julgam
“formam” professores das séries iniciais incapazes de dominá-la e colocá-la em prática
despreparados, formando um círculo vicioso. ao redigirem textos ou ao discursarem.
Como resultado de tal banalidade, tem-se a Um ensino gramaticalista abafa os talentos
crise no ensino da língua materna. naturais, incute insegurança na linguagem,
Essa crise está fundamentada num ensino de gera aversão ao estudo do idioma, medo à
regras gramaticais e no uso da descrição do expressão e autêntica de si mesmo(
sistema da língua para seu bom uso. LUFT,2000, p.21)
Uma língua é um duplo sistema :sistema de Neste sentido, o modelo de língua
sinais ( vocábulos, expressões, etc.) e sistema portuguesa acaba fazendo o que Sérgio Simka

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

chama de “Síndrome de inferioridade em ascensão cultural que preocupados com


lingüística”: o sentimento de incapacidade sua colocação na pirâmide social dos “cultos”
perante o próprio instrumento de acabam fazendo uma avaliação incorreta dos
comunicação. dados lingüísticos que chamaram sua atenção,
A síndrome de inferioridade lingüística é corrigindo coisas onde não há nada a corrigir.
inculcada nos educandos por meio do Essa preocupação em expressar-se bem tem o
reconhecimento da existência de uma seu lado benéfico, leva o falante em contato
linguagem “legítima” (a variante padrão), e por com o que chamamos de Português Padrão.
meio da consequente internalização de O grande gramático Luft nos dá um bom
convicções e ideias a respeito da língua que, exemplo de hipercorreção:
tomadas como convicções suas e ideias suas, Caboclo, quando pega de ficar instruído,
acabam convencendo-os da própria sabe que deve melhorar sua linguagem.
inferioridade lingüística. Aprende que, entre mais coisas, não deve falar
Instaura-se, em conseqüência, um processo paia, véia, reio, mio, oio e baruio. Deve-se dizer
alienante, em que os educandos ficam palha, velha, relho, milho, olho e barulho. Pois
neutralizados em sua capacidade de lá um dia o jeca-tatu vai à cidade falar com
aprenderem, objetivamente de dominação de doutor. Claro, não se esqueceu de miorar, aliás,
classes a que se encontram sujeitados, como melhorar a linguagem. O doutor logo viu o
também se transformam em repetidores, esforço: não só o jeca aprimorou o velho e o
inclusive após a cessação do período de barulho, mas ainda as telhas de aranha e as
escolarização, de uma concepção de língua que arelhas da pralha. Isto é que se chama exceder-
os convence de sua própria inferioridade. se. Saltou no cavalo tão bem, que caiu no outro
Tal crença acaba trazendo prejuízos imensos lado.”
à prática lingüística, como bloqueio da Os caos do ensino da língua portuguesa com
criatividade, a inibição da linguagem e, como base na norma-padrão traz evidências de que a
não bastasse, uma sensação de incapacidade e escola não está atingindo seu objetivo
insegurança, Simka p. 57-58, 2000. fundamental:
Os alunos que arriscam combater a Ser capaz de levar crianças com uma
insegurança que sentem ao pôr em prática a variedade de origem diferente a acenderem à
norma-padrão da língua portuguesa acabam língua padrão de modo a serem capazes de
cometendo casos de hipercorreção e poucos usá-la fluente e apropriadamente nas situações
casos de escrita culta. que o exigem (DUARTE, 1998,p.12).
Evidentemente, os casos de hipercorreção
mais frequentes estão relacionados aos usos A AUTOESTIMA NO PROCESSO
de construções gramaticais consideradas
cultas, mas que não refletem as características ENSINO-APRENDIZAGEM
sintáticas do português brasileiro. Atualmente, é comum encontrar, dentro das
Ribeiro afirma que as hipercorreções são salas de aula, alunos com defasagem no
mais encontradas na linguagem dos indivíduos rendimento escolar ou com sérias dificuldades

921
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

em administrar a linguagem oral e escrita de refere à maneira como o educando é tratada


sua língua materna. pelo professor no âmbito escolar e como o
Essa defasagem ocorre, segundo Simka mesmo tratará as demais pessoas.
(2000), devido à síndrome de incapacidade É irônico afirmar que, após vários anos de
lingüística, na qual o aluno se auto avalia como escolarização, os alunos se formam e admitem
incapaz de obter êxito em tudo que se diz não dominar a língua materna porque a associa
respeito à linguagem escrita e oral da norma ao ensino da gramática. O fato de não pôr em
padrão. prática a norma-padrão acaba levando o aluno
A baixa autoestima está relacionada a a internalizar o fracasso de seu domínio e
experiências desastrosas do passado. Quando prática.
uma pessoa importante de nosso convívio Para romper com o mito de incapacidade, é
social faz-nos sentir incapaz, começamos a necessário nutrir a auto-estima linguística
duvidarmos de nossos potenciais e quanto dentro de cada aluno e essa é a tarefa que
mais tempo a crítica se estender, mais cabe ao professor desenvolver.
duvidamos, até acreditarmos que não Podemos definir, em termos gerais, a
conseguimos fazer nada direito. Aceitamos a autoestima lingüística como a quantidade de
crença de que somos incapazes, por isso amor, de respeito e de aprovação que
inferiores. dedicamos a nós mesmos, como também o
Dessa forma, professor deve projetar grau de confiança em nossa capacidade de
confiança na competência e criar um pensar e enfrentar os desafios básicos da nossa
relacionamento harmonioso com seus alunos vida, a auto-estima linguística (Aelin) pode ser
para cativá-los e atraí-los a um ensino entendida como a autoconfiança intelectual,
motivador. ou seja, o sentimento de competência pessoal,
Para muitos alunos, a escola é um cárcere confiança nas ideias, na capacidade de pensar
forçado imposto, onde ficam nas mãos de e criar e na capacidade de saber a língua
professores desmotivados e carentes de portuguesa, somada ao autorespeito, que se
autoestima, e consequentemente, rígidos, define como o sentimento de valor pessoal,
punitivos, sádicos ou mesmo despreparados isto é, de si mesmo como pessoa merecedora
para cumprir seu papel adequadamente. São de sucesso, de felicidade, respeito, amizade e
professores que não transmite confiança e amor (SIMKA,2003, p.50).
carisma, por isso são rejeitados pelos alunos e Desenvolver a auto-estima lingüística é
em troca humilham na primeira oportunidade desenvolver a convicção de que sabemos
o deslize que estes cometem ao usar a norma- português, de que somos capazes e
padrão de sua língua materna. competentes de colocar em prática nossa
Se o principal objetivo do sistema língua materna. Porém, desenvolver a auto-
educacional é um dos fatores que influenciam estima lingüística implica em mudanças de
a autoestima do educando, e se a própria pensamento e postura que giram em torno de
autoestima do professor é outro, o terceiro duas questões vitais: a maneira de julgar a si
fator é o ambiente em sala de aula. Isso se

922
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mesmo e a maneira de pensar a língua A IMPORTÂNCIA DA


portuguesa.
Ao conceber a auto-estima lingüística como MOTIVAÇÃO NO ENSINO DE
nova linha de pensamento, o indivíduo UMA LÍNGUA
provocará uma mudança interior, rompendo Atualmente a preocupação no ensino de
com a Síndrome de Inferioridade Lingüística, e uma língua tem sido a de criar situações que
passará a acreditar na sua capacidade de criar. motivem o aluno a “querer aprender”. O termo
Segundo Simka (2003), ao romper com motivação aparece como um objeto altamente
Síndrome de Inferioridade Lingüística o complexo, aplicável a qualquer atividade
indivíduo passa a: humana. Etmológicamente a palavra vem do
• perder o medo de errar, pois terá verbo latino movere, cujo tempo supino
coragem de realizar tarefas não convencionais motum e o substantivo motivum, do latino
até acertar, as quais antes se julgava incapaz; tardio, deram origem ao nosso termo
• dedicar-se mais a qualquer experiência semanticamente aproximado , que é motivo.
sem se moldar ou temer o convencional; Segundo Boruchovitch, genericamente a
• desenvolver o pensamento divergente, motivação, ou motivo, é aquilo que move uma
pois não é por meio do pensamento pessoa ou que a põe em ação ou a faz mudar o
convencional que inovamos ou descobrimos curso. A motivação tem sido entendida como
algo; um fator psicológico, ou conjunto de fatores,
• esquecer o que em psicologia se chama ora como um processo.
“princípio da realidade”, que reprime o A gíria possui um termo bastante
comportamento das pessoas, inserindo-as num apropriado para a significação de motivação:
“determinado” esquema. Daí a repressão “estar a fim”, isto é, querer , ter prazer e
“oficial” contra as pessoas criativas; disposição em buscar algo.
• transcender os padrões vigentes. Todo indivíduo dispõe de recursos pessoais
Acreditando nisso, o indivíduo verificará que são talentos, conhecimentos e habilidades
que possui ideias e que o problema não reside que certamente podem ser investidos numa
na falta delas e sim num bloqueio. Sendo assim, atividade. Esse investimento pessoal recairá
irá considerar a escrita como um processo que sobre o que se está fazendo e será mantido
possui etapas, cuja atividade exige empenho, enquanto os fatores motivacionais estiverem
trabalho. Desse modo, vai deixar de atribuir ao sendo desenvolvidos.
ato de escrever um dom que poucos dominam No contexto escolar os fatores motivacionais
quanto a um ato espontâneo executado sem recaem sobre a meta de realização e a teoria
menores mistérios ou dificuldades. do reforço acompanhados da persistência.
Ao observar que a inferioridade não passa Os efeitos da motivação do aluno consistem
de um bloqueio, um trauma adquirido ao longo em ele envolver-se ativamente nas tarefas. Tal
da vida escolar, o indivíduo passará a acreditar envolvimento consiste na aplicação de esforço
em si mesmo e nos seus potenciais, que no processo de aprender e com a persistência
certamente estão adormecidos. exigida por cada tarefa. Como conseqüência,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

denomina-se desmotivado o aluno que não Para haver uma mudança positiva no ensino-
investir seus recursos pessoais, ou seja, que aprendizagem da Língua Portuguesa é
não aplicar esforço, fazendo o mínimo, ou se necessário criar condições por meio de
desistir facilmente quando as tarefas lhe estratégias que visam consolidar nos
parecerem um pouco mais exigentes. educandos o componente crítico, a fim de que
Boruchovitch e Bzuneck (2001), reportando- tenham um ponto de vista sobre o assunto e
se à literatura mais recente, lembram que a saibam defendê-lo, quer oralmente, quer por
motivação positiva na escola implica em escrito.
qualidade do envolvimento, ou seja, o Para a concretização dessa mudança faz-se
investimento pessoal deve ser da mais alta necessário a utilização de recursos e
qualidade possível. Não basta, portanto, que o estratégias que motivem o educando e o
aluno aplique algum esforço, porém exige-se conscientize da importância da linguagem oral
que enfrente tarefas desafiadoras que, por sua e escrita no ensino da língua materna.
natureza, cobram maior empenho e Deve-se também explicitar as implicações
perseverança. Mais ainda, a qualidade do políticas, ideológicas, sociais, culturais e
investimento pessoal implica no emprego de econômicas do ensino da variedade padrão
estratégias de aprendizagens cognitivas que que, às vezes por serem mal explicitadas
estimulem a criatividade e o pensamento acabam contribuindo para que se adquira uma
crítico. visão distorcida do problema.
Nesse processo de estimular e motivar o Já que o objetivo específico do ensino de
educando, o papel do professor é de suma Língua Portuguesa na escola é ensinar a
importância, pois é ele o condutor do ensino variedade padrão, é necessário que o educador
que pode seguir rumo ao fracasso ou sucesso. conscientize seus educandos a respeito dessa
Para que o ensino de uma língua siga rumo variedade lingüística. O educador deve insistir
ao sucesso faz-se necessário, que as aulas de no fato que, por se tratar de uma forma de
Língua Portuguesa passe por uma profunda “prestígio”, a norma-padrão é instrumento
transformação gerando a conscientização de fundamental de acesso não só à cultura como
sua função dentro do currículo escolar. também à participação política no contexto
Essa transformação implica a reflexão crítica social, à qual todos devemos usar para garantir
sobre a linguagem, sobre o ato pedagógico acesso privilegiado dentro de uma sociedade.
compromissado com a realidade e sobre a O educador há que insistir no fato de que,
conscientização da dominação simbólica, ao em virtude das implicações políticas,
lado da conscientização da classe. Esses ideológicas, sociais e econômicas, a variedade
componentes precisam expandir-se para além padrão possui uma valorização social em
da sala de aula e atingir todos os segmentos contraste com as outras variedades
sociais, para que se efetive o processo contra linguísticas.
ideológico de rompimento da dominação O educador pode conscientizar seus
simbólica (SIMKA,2000, p.84). educandos sobre os valores sociais
responsáveis pela atitude de preconceito

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contra aqueles que falam “diferente” da


variedade padrão, mostrando que o domínio
da variedade padrão se faz necessário numa
sociedade como a nossa. E que essa variedade
lingüística usada pelos seguimentos sociais
populares são consideradas “erros”,
“transgressões” e seus usuários, acabam sendo
estigmatizados e ridicularizados.
Sendo assim os falantes não usuários da
norma-padrão ao se verem rejeitados em sua
linguagem, em expressão sentem-se
inferiorizados lingüística e culturalmente
criando dentro de si a síndrome de
inferioridade lingüística.
O educador, estará então conscientizando o
educando a utilizar a norma-padrão de maior
prestígio, para seu próprio benefício e dessa
forma a Língua Portuguesa passará constituir
uma disciplina ligada a realidade, pois os
conteúdos estarão vinculados à prática do
educando.
O ensino deixa de ter aquele caráter
repetitivo, mecânico, verbalista, retórico,
ideológico, enciclopédico, angustiante, que
não leva o educando a produzir conhecimento,
mas apenas a reproduzir. O educando deve ver
utilidade naquilo que está aprendendo, de
modo que possa operacionalizar esse
conhecimento em seu dia-a-dia, aplicando-o a
situações concretas (Simka,2000,90).
Nesse sentido, o educando, ao avaliar a
existência de uma ponte entre a disciplina e a
realidade, reconhecerá o valor da
aprendizagem e terá assim, motivo para
colocar em prática a variedade padrão
resgatando o prestígio da Língua Portuguesa no
âmbito escolar, cujo ensino vem desagradando
há muito tempo a educadores e educandos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o exposto, considera-se que o uso oral de uma língua materna em
situações do cotidiano independe de escolarização, porém o mesmo não pode ser dito em relação
ao uso da escrita e da fala em situações formais.
O contato do indivíduo com sua língua materna inicia-se desde os primeiros anos de vida
e mesmo após anos de escolarização o aluno afirma não dominar a língua portuguesa.
Identifica-se como o papel da escola a transmissão da norma culta da língua, da qual o
indivíduo se servirá para alcançar prestígio sociocultural dentro da sociedade. Infelizmente, as
instituições de ensino ficam longe de atingir esse objetivo porque ensinam língua materna com
base na “aprendizagem” de regras definidas pela gramática normativa, em grande parte distinta
da prática que caracteriza o vernáculo dos alunos.
É comum encontrar, dentro das salas de aula, alunos com defasagem no rendimento
escolar ou com sérias dificuldades em administrar a linguagem oral e escrita de sua língua
materna. Essa defasagem ocorre por falta de motivação e auto- estima por parte do aluno que
se autoavalia como incapaz de obter êxito em tudo que se diz respeito à linguagem oral e escrita
da norma-padrão.
Um aluno inseguro de seus potenciais dificilmente apresentará um bom rendimento
escolar, detendo-se completamente em limites inferiores ao qual poderia superar.
Sendo o amor próprio de suma importância para alcançar o sucesso na vida escolar e
profissional, a auto-estima é vital para o desenvolvimento e crescimento de qualquer ser
humano.
Para formar alunos conscientes de seus potenciais lingüísticos, é necessário utilizar
situações que incentivem o aluno a pôr em prática conhecimentos adquiridos ao longo de sua
vida escolar e a motivação certamente é o caminho mais certo para formar alunos seguros de
seus potenciais, pois ela predispõe o aluno a buscar sucesso em tudo que faz, criando nesse aluno
a satisfação pessoal.
Essa satisfação gera a segurança necessária para o aluno deixar de acreditar no mito que
o ato de escrever é um dom que poucos possuem.
Nesse processo de motivar e estimular o aluno a “querer aprender”, o papel do professor
é de suma importância, pois ele é o mediador do processo um ensino que pode seguir rumo ao
fracasso ou sucesso.

926
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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SOARES, Magda. Linguagem e escola – uma perspectiva social. São Paulo, Ática, 1996.

927
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LUDICIDADE E MOTRICIDADE, A CRIANÇA E O


MOVIMENTO
Katia Cristina Alves1

RESUMO: A educação deve ser um processo envolvente e que desperte interesse e satisfação das
crianças. Quando pensamos em corpo e movimento no contexto escolar, precisamos analisar o
tipo de trabalho que se pretende realizar, a proposta pedagógica adequada à fase infantil, pois
essas práticas devem ser voltadas cada vez mais a realidade das crianças. A importância da
ludicidade no contexto escolar está relacionada ao seu bom desenvolvimento, pois desenvolver
um bom trabalho com o lúdico é sem dúvidas um processo de construção de conhecimento e
desenvolvimento, já que as conquistas são inúmeras nos aspectos da criatividade, imaginação e
concentração, assim como na aquisição de ritmo e sensibilidade, além disso, favorece a
socialização e o respeito ao outro e suas diferenças, contribuindo ainda, para uma real
consciência de seu corpo e do movimento.

Palavras-Chave: Ludicidade; Educação; Movimento.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LUDICITY AND MOTRICITY, THE CHILD AND THE MOVEMENT


ABSTRACT: Education should be an engaging process that arouses children's interest and
satisfaction. When we think about body and movement in the school context, we need to analyze
the type of work that is intended to be carried out, the pedagogical proposal suitable for the
childhood phase, as these practices must be increasingly focused on the reality of children. The
importance of playfulness in the school context is related to its good development, because
developing a good work with play is undoubtedly a process of building knowledge and
development, since the achievements are numerous in the aspects of creativity, imagination and
concentration, as well as as in the acquisition of rhythm and sensitivity, in addition, it favors
socialization and respect for others and their differences, also contributing to a real awareness
of their body and movement.

Keywords: Playfulness; Education; Movement.

929
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO conhecimentos é preciso tratá-la com proteção


e atenção, mas ao mesmo tempo dar
A motricidade quando envolvida com liberdade. A criança precisa se sentir
aprendizagem, emerge resultados muito respeitada, valorizada, saber que estão dando
positivos, pois é por meio dos movimentos que voz a ela no cotidiano e nas brincadeiras, assim
as crianças se desenvolvem cognitivamente, se constroem os laços afetivos. Para Baptista
pois o corpo é um transporte para a realização (2016), na brincadeira, imaginação e realidade
de uma ação e consequentemente para a interagem na produção de novas
aquisição de conhecimento e sem dúvidas para possibilidades de ação.
a socialização. Em sua ação educativa a Nesta perspectiva, o objetivo da pesquisa é
motricidade, tem como objetivo atingir a noção apresentar a importância da ludicidade na
do corpo como espaço temporal, ou seja, o educação.
“eu” compreendido aqui como unidade
psicossomática.
A CRIANÇA E O MOVIMENTO
O problema abordado nesta pesquisa está
Um dos principais objetivos da prática
atrelado ao fato de que essa conquista é
motora é educar a criança a se movimentar
fundamental ao processo de aprendizagem,
durante todas as fases da sua vida,
pois busca conhecimento de corpo em suas
contribuindo assim para sua formação do
múltiplas facetas como a perceptiva conceitual
esquema corporal. Por meio da motricidade é
e simbólica. Estes constituem um esquema
que podemos acompanhar e entender as fases
representacional ao qual são indispensáveis a
do desenvolvimento infantil auxiliando, se
integração e a expressão de qualquer
preciso, na otimização de um melhor
movimento ou gesto intencional.
desempenho das crianças, com estímulos e
Justifica-se abordagem desse tema, pois o
exercícios corporais adequados.
brincar, desde que somos concebidos, faz parte
Como acrescenta Alves (2007, p.48), “a
de nossa existência e de nossa cultura. Nos
partir do momento que o indivíduo descobre,
primeiros anos de vida, a brincadeira é uma
utiliza e controla seu corpo, o esquema
atividade lúdica, que aparece como algo
corporal é estruturado e passa a ter
fundamental na formação da estrutura, de
consciência dele e suas possibilidades, na
nossos conhecimentos.
relação com o meio ambiente em que vive”.
De acordo com São Paulo (2006), “brincar é
Assim, o trabalho com a psicomotricidade
uma atividade essencialmente humana”, com a
favorece o desenvolvimento intelectual, motor
brincadeira, a criança se comunica com o
e psicológico e afetivo, colaborando assim na
mundo e explora seu pensamento podendo
formação corporal.
também desenvolver o movimento, a
Para Coste (1989), a finalidade da ação
cognição, a afetividade, o conhecimento do
pedagógica é o desenvolvimento motor e
próprio corpo e a aprendizagem da interação
mental da criança. Está tem a principal
com os outros. Para que a criança adquira
finalidade de estimular a criança a dominar seu
confiança no ambiente e construa novos
próprio corpo e aos poucos de acordo com seu

930
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tempo, ir adquirindo uma desenvoltura, pois jogos são extremamente benéficos ao


segundo ele, em qualquer que seja o desenvolvimento infantil, contudo, muitas
movimento, sempre existirá um condicionante vezes todas as suas potencialidades não são
afetivo, e este é que determina um devidamente exploradas.
comportamento com intencionalidade. De acordo com São Paulo (2006), brincar
Continua ele, dizendo que é uma ação motriz, para criança compreende corpo e mente,
por menor que seja, regula o surgimento e o imaginação.
desenvolvimento da formação mental. Conclui Brincar, para criança, é uma atividade
a esse respeito afirmando que é pelo aspecto imaginativa e interpretativa que compreende o
motor que uma criança inicia os primeiros corpo e a mente e revela experiências que
contatos com a linguagem social. envolvem os sentidos de modo a favorecer que
Os primeiros estudos sobre o o mundo ganhe sentido e significados próprios
desenvolvimento motor foram conduzidos por para a criança (SÃO PAULO, 2006, p.45).
estudiosos como Arnold Gesell (1928) e Myrtle As crianças que participam de atividades
Megraw (1935). Foram sendo realizadas a lúdicas adquirem novos conhecimentos e
partir de uma visão maturacional, com desenvolvem em suas habilidades de forma
argumentos de ação psicomotora ser natural que permite o interesse em aprender e
considerada como função dos processos garantir o envolvimento e a curiosidade.
biológicos inatos e que estes resultam nas Portanto, o brincar acaba sendo uma maneira
conquistas de novas habilidades motoras na de a criança mostrar o que está aprendendo e
fase infantil. como está se desenvolvendo.
A motricidade quando envolvida com O lúdico auxilia no trabalho do professor,
aprendizagem, emerge resultados muito pois mostra que se pode educar com
positivos. É fundamental no âmbito do criatividade e responsabilidade, mostra muitas
desenvolvimento integral da criança, sendo maneiras de se trabalhar com a criança
base para as aprendizagens. conforme a realidade dela.
Para Negrine (1995, p.15), a aprendizagem Percebemos o quanto a brincadeira
da criança deve ser estimulada e acontecer de interfere diretamente no aprendizado e
forma interessante e curiosa. “Devendo desenvolvimento das crianças, influenciando-
estimular, de tal forma, toda uma atitude as até a idade adulta. O brincar é interação com
relacionada ao corpo, respeitando as o outro, com os objetos e com o meio. Para
diferenças individuais”. Friedman, (2000), “o tempo de brincar, para a
criança, não é o tempo dos relógios, não é o
A IMPORTÂNCIA DA tempo planejado, não é o tempo consciente. É
simplesmente um tempo especial e precioso”.
LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO A brincadeira é uma atividade
Considerando o desenvolvimento infantil e importantíssima para o desenvolvimento
os estudos realizados na área pedagógica, é infantil, já que estimula e proporciona
possível constatar que as brincadeiras e os situações que favorecem o comportamento

931
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

das crianças, coerente com os níveis de psicossocial, além daquilo que sozinha ela
desenvolvimento aos já atingidos por elas, e poderia fazer. E ainda segundo o RCNEI.
aos níveis necessários para a atuação da Brincar é uma das atividades fundamentais
realidade. para o desenvolvimento da identidade e da
As brincadeiras são importantes para o autonomia. O fato de a criança, desde muito
desenvolvimento infantil por permitir à criança cedo, poder se comunicar por meio de gestos,
explorar diversas possibilidades de sons e mais tarde representar determinado
entretenimento, como por exemplo, papel na brincadeira faz com que ela
construções, faz-de-conta e as brincadeiras desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras
tradicionais as crianças podem desenvolver algumas
Para brincar é preciso que as crianças capacidades importantes, tais como a atenção,
tenham certa independência para escolher a imitação, a memória, a imaginação.
seus companheiros e os papéis que irão Amadurecem também algumas capacidades de
assumir no interior de um determinado tema e socialização, por meio da interação e da
enredo, cujos desenvolvimentos dependem utilização e experimentação de regras e papéis
unicamente da vontade de quem brinca. Pela sociais (BRASIL, 1998, p.22).
oportunidade de vivenciar brincadeiras O processo de desenvolvimento e
imaginativas e criadas por elas mesmas, as aprendizagem da criança ocorre em etapas,
crianças podem acionar seus pensamentos que não são distinguíveis pela faixa etária, mas
para a resolução de problemas que lhe são sim pelas habilidades, capacidades e limitações
importantes e significativos. Propiciando a apresentadas por ela. Na escola ou em casa é
brincadeira, portanto, cria-se um espaço no necessário estar em constante
qual as crianças podem experimentar o mundo acompanhamento deste processo, à medida
e internalizar uma compreensão particular. que, a criança requer do adulto orientação e ao
Sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos mesmo tempo, requer liberdade para poder se
conhecimentos (BRASIL, 1998, p. 28). desenvolver e conseguir ultrapassar as
Para a criança o lúdico é essencial, cabe a barreiras inerentes a este processo.
eles terem todas as oportunidades de A criança quando brinca está se
usufruírem as possibilidades inerentes a tais desenvolvendo com mais qualidade pois está
recursos. Até o desenho livre é considerado aprendendo a formar conceitos a relacionar
atividade lúdica, pois ele proporciona ao aluno ideias, a estabelecer relações lógicas. Está se
criar, imaginar, dar asas a sua imaginação sem conhecendo tanto física como afetivamente,
interferência do adulto. Brincando ela trabalha por isso suas relações interpessoais são tão
com sua autoestima, e possui mais suporte importantes, tão apreciadas e tão cultivadas.
para superar desafios pois o lúdico traz mais Uma das funções básicas do brincar é
leveza e descompromisso no enfrentamento permitir que a criança assuma papéis e aceite
de situações conflitantes. as regras próprias da brincadeira, executando
Um dos papéis da brincadeira para a criança imaginariamente, tarefas para as quais ainda
é proporcionar-lhe um desenvolvimento

932
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

não está apta ou não sente como agradáveis na Segundo Brougère (2006, p.105), a
realidade. brincadeira é uma confrontação com uma
Quando brinca, a criança desenvolve sua cultura. “A criança não brinca com as
coordenação motora, suas habilidades visuais substâncias materiais e imateriais que lhe são
e auditivas e raciocínio criativo. Ilustrando a propostas. Ela brinca com o que tem a mão e
isso, a citação a seguir traz que: com o que tem na cabeça”.
Para que ocorram aprendizagens Levando-se em conta a importância do
significativas é importante, ao mesmo tempo, brincar para o desenvolvimento infantil,
que a criança se mostre correspondente em Vygotsky (1998), afirma que o brincar reside no
relação as atividades lúdicas propostas, que fato da atividade contribuir para a mudança da
esteja motivada para relacionar o que está relação da criança com o objeto.
aprendendo com o que já sabe. A criança Para Brougère (1990, p. 90), a brincadeira é
estabelece relações entre as novas uma ação lúdica, é uma associação entre uma
informações e os seus esquemas de ação e uma ficção, ela não pode ser limitada ao
conhecimento. Essa atividade é de natureza agir, o que a criança faz tem sentido, é a lógica
interna, se dá no nível do pensamento da própria do faz de conta.
criança a partir das informações que ela já Ao brincar a criança está firmando valores e
construiu (MALUF, 2009, p. 43). sentimentos morais e éticos, percebendo o que
Airton Negrine (1995), descreve a educação é certo e errado, formando sua personalidade.
psicomotora como uma técnica, pois segundo Ela, por meio da brincadeira, internaliza os
ele é por meio de exercícios jogos e conhecimentos de sua cultura, aprendendo a
brincadeiras adequadas a cada idade, que se conhecer os outros com quem convive e
possibilita levar a criança ao desenvolvimento conhece a si mesma
mais amplo e global de ser. Considerando que a criança desenvolve-se
A aprendizagem da criança deve ser por meio das interações que estabelece com o
estimulada e acontecer de forma interessante seu meio social, a brincadeira não é concebida
e curiosa, precisa acontecer pela interação, como algo inato da criança, e sim como uma
mantendo assim o gosto da descoberta e da atividade na qual as crianças são introduzidas
alegria contidas nas atividades. constituindo-se em um modo de assimilar e
A brincadeira é vista como atividade recriar a experiência sócio-cultural dos adultos.
principal da infância, que além de oferecer o É por meio das brincadeiras que a criança
lúdico e o prazer, estimula a aprendizagem e o tem oportunidade de estabelecer um canal de
desenvolvimento físico, cognitivo, criativo, comunicação com o adulto e com outras
social e a linguagem das crianças. crianças, de uma forma prazerosa tirando
Promover o desenvolvimento global das dúvidas e desenvolvendo uma relação de
crianças, incentivar a interação entre os pares, confiança consigo mesma e com os outros.
a resolução de conflitos e a formação de um Segundo Brougère (2006), as crianças
cidadão crítico e reflexivo, também fazem modificam, transformam e renegociam as
parte do discurso do ato de brincar. regras da brincadeira com seus parceiros,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

construindo um universo de faz de conta que Vygotsky (1994), concluiu por meio de suas
gira em torno das decisões das próprias pesquisas que as brincadeiras infantis são
crianças. promotoras de desenvolvimento das funções
O papel do educador nesta atividade, ainda psicológicas tipicamente humanas, e que a
segundo Gilles Brougère é a observação, capacidade para envolver-se em determinadas
porque é preciso respeitá-la bastante para brincadeiras, demanda certo nível de
poder se desenvolver dentro de sua própria desenvolvimento.
lógica, quando é interessante intervir. Para
Vygotsky, a brincadeira é a imaginação da
criança agindo sobre o mundo.
Brincando a criança experimenta
comportamentos além dos de sua idade,
demonstrando seu grau de compreensão
acerca das regras e dos valores da cultura onde
está inserida, sendo um fator muito importante
para o desenvolvimento (VYGOTSKY, 1994,
p.115).
A brincadeira nasce da necessidade de um
desejo não possível de ser realizado
imediatamente.
Para Vygotsky, o brincar tem sua origem na
situação imaginária criada pela criança, em que
desejos irrealizáveis podem ser realizados, com
a função de reduzir a tensão e, ao mesmo
tempo, para construir uma maneira de
acomodação a conflitos e frustrações da vida
real (BOMTEMPO, 2007, p. 64).
É baseado no fato da criança, ao brincar, ter
a capacidade de modificar a realidade que
Vygotsky considera que a brincadeira cria uma
”zona de desenvolvimento proximal”.
A zona de desenvolvimento proximal é a
distância entre o nível de desenvolvimento
real, que se costuma determinar através da
solução independente de problemas, e o nível
de desenvolvimento potencial, determinado
através da solução de problemas sob
orientação com companheiros mais capazes
(VYGOTSKY, 1994, p.112).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esse estudo, crê-se na possibilidade de ter uma visão mais ampla sobre a importância
do lúdico no desenvolvimento e aprendizado das crianças. Espera-se contribuir com o próprio
trabalho pedagógico realizado diariamente e com o trabalho realizado nas instituições.
As contribuições são muitas quando tratamos sobre a motricidade, principalmente com as
práticas pedagógicas, pois tem fins educativos, ou seja, o desenvolvimento do movimento, as
questões da liberdade de expressão e do mundo simbólico. Também trabalha as questões de
sociabilização e de relação afetiva com as demais crianças. Esse reconhecimento de si e do outro
é de grande valia, o tempo o ritmo o relacionamento sócio afetivo faz com que essas crianças se
relacionem melhor.
Brincando de forma recreativa a criança desenvolve suas aptidões perceptivas como meio
de ajustamento do seu comportamento psicomotor. Essas atividades precisam levar em
consideração seus níveis de maturação, para que a criança desenvolva o controle mental de sua
expressão. Diante disso, podemos afirmar que por meio das brincadeiras é desenvolvido o lado
do saber perder, saber ganhar de ter responsabilidade de ter limites, respeitar regra,
compreender o compartilhar e o dividir entre outros.

935
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALVES, F. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. 3. ed. Rio de Janeiro: Walk, 2007.

BAPTISTA, Amanda da Motta. Ludicidade, continuidade e significatividade nos campos de


experiência. Revista Pátio Educação Infantil. N° 49. Ano XIV outubro/Dezembro 2016.

BOMTEMPO, Edda. A brincadeira de faz-de-conta: lugar do simbolismo, da representação,


do imaginário. In: KISHIMOTO, Tizuko Morchida (Org). Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a
Educação. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros referencial-curricular-nacional-


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BROUGÈRE, Gilles. Brinquedos e companhia. São Paulo: Cortez, 2006

COSTE, Jean-Claude. A psicomotricidade. 4ª Ed. Trad. Álvaro Cabral, Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 1989.

FRIEDMAN, Adriana et al. O direito de brincar: a brinquedoteca. São Paulo:

MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Brincar: prazer e aprendizado. 5 ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2009.

NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil: psicomotricidade:


alternativas pedagógicas. Porto Alegre: Prodil, 1995.

SÃO PAULO (SP), Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Tempos
e espaços para a infância e suas linguagens nos CEIs, creches e EMEIs da cidade de São
Paulo / Secretaria Municipal de Educação. - São Paulo: SME / DOT, 2006.

VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MÚSICA E EDUCAÇÃO INFANTIL: INFLUÊNCIA


E RESULTADO EXPRESSIVO
Maria Elisa Portilho Rodrigues de Carvalho1

RESUMO: Este artigo objetiva abordar como o ensino de música pode contribuir ao
desenvolvimento de uma das linguagens de expressão dos educandos na educação infantil. No
universo educativo infantil, a música deve aparecer como meio expressivo, como um
acontecimento capaz de envolver a criança por inteiro, contribuindo para promoção de seu
desenvolvimento global. Ressaltamos também a ressignificação de uma prática pedagógica
musical que tenha um olhar não apenas à dimensão cognitiva da criança, mas também a sua
dimensão afetiva. O aspecto lúdico da música entre as crianças auxilia a percepção, estimula a
memória e a inteligência por conceber um universo que conjuga seus sentimentos, ideias, valores
culturais e facilita a comunicação da criança consigo mesmo e com o meio em que ela vive.

Palavras-Chave: Ensino; Educação Musical; Educação Infantil; Formação.

1Professora de Educação Infantil da Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MUSIC AND CHILD EDUCATION: INFLUENCE AND EXPRESSIVE


RESULT
ABSTRACT: This article aims to address how the teaching of music can contribute to the
development of one of the languages of expression of learners in early childhood education. In
the children's educational universe, music must appear as an expressive medium, as an event
capable of involving the whole child, contributing to the promotion of its overall development.
We also emphasize the re-signification of a musical pedagogical practice that looks not only at
the cognitive dimension of the child, but also at the affective dimension. The ludic aspect of music
among children helps the perception, stimulates memory and intelligence by conceiving a
universe that combines their feelings, ideas, and cultural values and facilitates the child's
communication with himself and the environment in which he lives.

Keywords: Sign language; Inclusion; Bilingual education; Deaf people.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO conteúdos, todos traduzidos em canções. Essas


canções costumam ser acompanhadas por
É inquestionável a importância da música na gestos corporais, imitados pelas crianças de
educação e sua influência no desenvolvimento forma mecânica e estereotipada (FERREIRA, et
da criança é confirmada por inúmeras al, 2007). A Educação Infantil no seu dia a dia
pesquisas desenvolvidas em diferentes países e vivencia muitas atividades musicais, pois desde
épocas, particularmente nas décadas finais do a chegada da criança na creche ou na escola
século XX e, principalmente, no Brasil no início infantil esta é recebida com músicas que
do século XXI. alegram o ambiente e faz com que a criança
Na atualidade, muitos educadores têm possa desejar permanecer na sala de
manifestado sua preocupação com a aula.(CHIARELLI; BARRETO, 2005).
observância da Lei de Diretrizes e Bases da A música possui vários significados e
Educação Nacional nº 9394/96, da Lei nº representações no cotidiano das pessoas e se
11.769/08 de inclusão da música na educação utilizada de forma adequada pode ser um
básica do nosso país e com a construção agente facilitador em diversos contextos que
significativa de uma educação musical envolvam o raciocínio e a aprendizagem. Sabe-
adequada à realidade brasileira e às se que a música tem um papel relevante na
necessidades e características da criança, educação infantil. O envolvimento da criança
principalmente, da Educação Infantil. com o universo sonoro começa ainda antes do
Segundo Rosa (1990), a criança desenvolve nascimento (GÓES, 2009).
os sentidos desde que nasce, por isso um dos Na Educação Infantil, o contato com pessoas
papéis da escola é proporcionar situações em diferente do meio familiar possibilita que ela
que ela possa explorar e desenvolver em todos estabeleça novas relações e adquira novos
os sentidos harmonicamente. conhecimentos.
Pacheco (1991) e Ponso (2008), defendem a Ponso (2008) descreve a utilização da música
escola como lugar de aprendizagem no universo literário, por meio de poemas,
significativa e apresentam o recurso musical parlendas, lendas, fábulas, quadrinha, trava-
como um símbolo valoroso no aprendizado dos língua, provérbios, advinha e histórias infantis.
alunos de anos iniciais do ensino fundamental, No momento do desenho, da alfabetização, da
que conhecem este recurso auditivo, mas não escrita, da leitura, da fala, do desenvolvimento
o utiliza de forma racional e sistematizada. motor, dos conhecimentos de novos saberes, a
A música no contexto da Educação Infantil música será um recurso sonoro que irá
vem, ao longo de sua história, atendendo a contribuir na construção do conhecimento da
vários objetivos. Tem sido em muitos casos, criança por meio das vibrações e da
suporte para atender a vários propósitos, como aplicabilidade que linguagem musical permite
a formação de hábitos, atitudes e produzir.
comportamentos, a realização de Ouvir música, aprender uma canção, brincar
comemorações relativas ao calendário de de roda, realizar brinquedos rítmicos, são
eventos do ano letivo, a memorização de atividades que despertam, estimulam e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolve o gosto pela atividade musical conceitos, no desenvolvimento da autoestima


(BRASIL, 1998). e na interação com o outro.
Distintas áreas do conhecimento podem ser Não só um instrumento de alfabetização, a
estimuladas com a prática da musicalização. música é um excelente instrumento de
Pois, ela atende diferentes aspectos do cidadania, e projetos que envolvem músicas,
desenvolvimento humano: físico, mental, integração social e esporte, especialmente com
social, emocional e espiritual, podendo a crianças e adolescentes carentes ou de rua,
música ser considerada um agente facilitador espalham-se pelo país e são cada vez mais
do processo educacional (SOUSA; VIVALDO, populares pela sua eficácia (GÓES, 2009).
2010). Segundo Martins (1985, p.47), educar
A música está presente em todas as culturas musicalmente é propiciar à criança uma
e pode ser utilizada como fator determinante compreensão progressiva da linguagem
nos desenvolvimentos motor, linguístico e musical, por meio de experimento e
afetivo de todos os indivíduos (MARTINS, convivências orientadas. O conhecimento é
2004). construído a partir da interação da criança com
Os diferentes aspectos que a envolvem, o meio ambiente, e o ritmo é parte primordial
além de promoverem comunicação social e do mundo que o cerca.
integração, tornam a linguagem musical uma Desde o século passado, a música está
importante forma de expressão humana e, por incluída na prática escolar com diferentes
isso, deve ser parte do contexto educacional, tendências e enfoques. Mas, a prática da
principalmente na educação infantil (UNESCO, educação musical nunca esteve presente na
2005). totalidade do sistema de ensino por várias
Por meio da música o educador tem uma razões como. A música é uma forma de
forma privilegiada de alcançar seus objetivos, conhecimento que possibilita modos de
podendo explorar e desenvolver características percepção e expressão únicas e não pode ser
no aluno. O indivíduo com a educação musical substituída por outra forma de conhecimento.
cresce emocionalmente, afetivamente e Os recursos pedagógicos são elementos
cognitivamente, desenvolve coordenação práticos para operacionalizar o ensino.
motora, acuidade visual e auditiva, bem como Podemos citar os recursos naturais,
memória e atenção, e ainda criatividade e audiovisuais, visuais, auditivos e estruturais
capacidade de comunicação (LIMA, 2010). como componentes auxiliadores do momento
Ao inserir-se a música na prática diária do de ensino/aprendizagem. A música é um
ambiente educativo, a mesma pode tornar-se recurso auditivo, que pode contribuir com a
um importante elemento auxiliador no proposta de ensino do professor, de maneira
processo de aprendizagem da escrita e da interativa às disciplinas (GÓES, 2009).
leitura criando o gosto pelos diversos assuntos Se o contexto for significativo, a música
estudados, desenvolvendo a coordenação como qualquer outro recurso pedagógico, tem
motora, o ritmo, auxiliando na formação de consequências importantes em seu

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento motor e afetivo (GÓES, (SCAGNOLATO, 2009). É importantíssima,


2009). porém faz-se necessário ressaltar que deve ser
A linguagem musical deve estar presente no direcionada, para não ser apenas uma aula de
contexto educativo, envolvendo atividades e curtição (LIMA, 2010).
situações desafiadoras e significativas que As atividades de musicalização também
favoreçam a exploração, a descoberta e a favorecem a inclusão de crianças portadoras de
apropriação de conhecimento. A ludicidade necessidades especiais. Pelo seu caráter lúdico
evidenciada nas atividades de sala de aula ou e de livre expressão, não apresentam pressões
até de Educação Física possibilita que o nem cobranças de resultados, são uma forma
professor oportunize a criança um programa de aliviar e relaxar a criança, auxiliando na
de atividades motoras (FERREIRA, et al, 2007), desinibição, contribuindo para o envolvimento
Do ponto de vista pedagógico, as músicas social, despertando noções de respeito e
são consideradas completas: brincando com consideração pelo outro, e abrindo espaço
músicas as crianças exercitam naturalmente o para outras aprendizagens (CHIARELLI;
seu corpo, desenvolvem o raciocínio e a BARRETO, 2005).
memória, estimulam o gosto pelo canto (GÓES, Bréscia (2003), afirma que:
2009). Crianças mentalmente deficientes e autistas
A presença da música na educação auxilia a geralmente reagem à música, quando tudo o
percepção, estimula a memória e a mais falhou. A música é um veículo expressivo
inteligência, relacionando-se ainda com para o alívio da tensão emocional, superando
habilidades linguísticas e lógico-matemáticas dificuldades de fala e de linguagem. A terapia
ao desenvolver procedimentos que ajudam o musical foi usada para melhorar a coordenação
educando a se reconhecer e a se orientar motora nos casos de paralisia cerebral e
melhor no mundo. Além disso, a música distrofia muscular. Também é usada para
também vem sendo utilizada como fator de ensinar controle de respiração e da dicção nos
bem estar no trabalho e em diversas atividades casos em que existe distúrbio da fala.
terapêuticas, como elemento auxiliar na As aulas em que se utilizam desse recurso
manutenção e recuperação da saúde devem ser feitas de forma a introduzir a magia
(CHIARELLI; BARRETO, 2005). dos sons, permitindo as crianças a criação e a
Sendo assim, crianças que recebem execução de atividades musicais de maneira
estímulos musicais adequados, aprendem a lúdica e prazerosa. Nessas aulas os alunos
escrever mais facilmente, tem maior equilíbrio podem construir instrumentos musicais com
emocional, pois se sabe que a música está materiais sucateados, desenvolvendo a
inserida no cotidiano da criança desde o ventre coordenação motora enquanto se
materno (GÓES, 2009). descontraem cantando e se divertindo, além
As atividades musicais nas escolas devem de ampliarem o vocabulário a música permite
partir do que as crianças já conhecem desta o convívio social (SOUSA; VIVALDO, 2010)
forma, se desenvolve dentro das condições e Outros estudos apontam também que,
possibilidades de trabalho de cada professor. mesmo se o contato com a música for feito por

941
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

apreciação, isto é, não tocando um uma série de esquemas cognitivos


instrumento, mas simplesmente ouvindo com relacionados à música por meio da
atenção e propriedade, os estímulos cerebrais enculturação. Esses esquemas englobam
também são bastante intensos (NOGUEIRA, características como padrões rítmicos,
2004). melódicos e harmônicos, estrutura e forma
Visando uma aprendizagem significativa e musical, tempo e compasso, textura musical,
de acordo com as necessidades impostas pela entre outros (BEYER, 2012).
sociedade nos dias de hoje, se torna cada vez É sabido que as metodologias do ensino da
mais necessária a ludicidade no ambiente música têm se desenvolvido
educacional de nossos alunos, pois ela é capaz significativamente, pois inúmeros estudos,
de tornar o aprendizado prazeroso e experimentos e relatos são apresentados à
estimulante (SOUSA; VIVALDO, 2010). comunidade científica e geral, dando conta do
As atividades desenvolvidas em aulas de quão ainda é convidativa a questão da relação
musicalização, em geral podem auxiliar no criança-música, seja para pesquisar numa
desenvolvimento do cérebro, cabendo ao abordagem educativa, lúdica, recreativa, ou
educador pesquisar, planejar, diagnosticar e até mesmo terapêutica (BRITO, 2003).
ajudar o aluno a desenvolver a inteligência Atualmente não há dúvida de que quanto
musical e construir seu conhecimento mais rica em informações, quanto mais
vivenciando as diversas formas de “fazer diversas forem as atividades musicais, mais
música” (MARTINS, 2004). possibilidades de leituras e expressões se
É uma linguagem cujo conhecimento se ofertarão às crianças. Contudo, também é fato
constrói e não um produto pronto e acabado. de que todas essas experiências devam ser
Então a musicalização na escola é essencial. mediadas por quem tenha bagagem vivencial e
Traz alegria, descontração, entusiasmo, tudo o conceitual sobre a música, isto é, por pessoas
que se precisa para o trabalho escolar (LIMA, especializadas em crianças e música.
2010). De acordo com Brito (2003), não existe
A música no cotidiano escolar pode não nenhum receituário capaz de abarcar todas as
somente ajudar as crianças no aprendizado, possíveis realidades das crianças, pode-se sim,
mas também nos casos de crianças que tenham estabelecer algumas referências básicas para
problemas de relacionamento ou inibição, para que se trabalhem as canções com as crianças,
isso é preciso aliar música e movimento respeitando suas faixas etárias, suas culturas,
(SOUSA; VIVALDO, 2010). suas capacidades cognitivas e porque não suas
preferências. Todo o trabalho musical deve
NOVAS ABORDAGENS E favorecer ao enriquecimento do repertório de
informações da criança, de forma a privilegiar
METODOLOGIA AO ENSINO DE seu senso estético e o seu desenvolvimento
MÚSICA biopsicossocial-espiritual.
Mesmo que não tenha feito um estudo Em relação às formas e conteúdos musicais,
formal da música, um indivíduo desenvolve de acordo com Gardner (1997), é preciso

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

entender que primeiramente a música é uma Jeandot (1990), alerta para a conduta que
atividade de execução, isto é, a criança imita, deve adotar ao trabalhar a música com a
reproduz e produz com base em suas criança:
possibilidades motoras e no que herdou de seu (...) devemos seguir em relação à música, o
sistema cultural, para depois, com maior mesmo procedimento que adotamos com a
habilidade e domínio dos códigos musicais de linguagem falada, ou seja, devemos expor a
sua cultura lançar-se às apreciações e criança à linguagem musical e dialogar com ela
execuções mais acuradas. sobre e por meio da música (JEANDOT, 1990,
Sejam músicos, educadores musicais, ou p.20).
musicoterapeutas, parece não haver dúvida Seguindo a linha discursiva de Snyders
entre os especialistas de que a canção seja o (1992), é preciso reforçar a ideia de que
mais indicado meio para se trabalhar com a desenvolver atividades musicais com crianças é
criança, pois ela é uma experiência plena em ajudá-las na construção de significações por
que se vivenciam os mais variados aspectos, meio da música. Por isto, além de reproduzir,
que vão da própria música até aspectos imitar, improvisar e criar, a experiência com a
linguísticos e culturais. música permite viver situações de
Brito (2003), sustenta a ideia de que a aprendizagem, de identificação cultural, de
canção é um acontecimento pleno de liberação e identificação de sentimentos, e a
significações e diz que, canção, como já dito anteriormente, configura-
A canção é um gênero musical que funde se como o principal veículo-meio para esta
música e poesia. Cantando, as crianças imitam experiência, pois é ao mesmo tempo uma
o que ouvem, desenvolvendo sua expressão atividade que contempla tanto os códigos da
musical, desde que essa atividade seja música e das expressões corporais (não verbal),
realizada num ambiente de orientação e bem como o universo da palavra, da linguagem
estímulo ao canto, à escuta, à interpretação. (verbal).
(...) É certo que música é gesto, movimento, Considerando que é por meio da linguagem
ação (BRITO, 2003, p.93). que a criança tem acesso à cultura de sua
Cada criança, ou cada grupo de criança é comunidade, a música e a linguagem figuram
único e imprevisível em suas reações com a lado a lado na experimentação dos sons que
música. As educadoras musicais Cristina Lemos constituem a paisagem sonora do ambiente
e Solange Gomes defendem que, infantil; compartilham, inclusive, propriedades
As crianças devem ter contato com canções acústicas e podem ser consideradas duas
de ninar, de brincar, de brincadeiras de roda, formas de comunicação.
que fazem parte da diversidade cultural Neste sentido, a experiência ativa no mundo
impressa por tantos povos que formaram sonoro, ouvindo ou cantando, dançando,
nosso país (LEMOS, 2005,p.33). produzindo sons vocalmente ou tocando
instrumentos, pode propiciar às crianças
situações enriquecedoras, organizando suas
experiências e mediando sua interação com o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

meio, de modo a promover um Segundo Bellochio (2000):


desenvolvimento verbal sadio. As professoras possuem vivências musicais.
Amado (1999), debruça-se sobre as Penso com urgência na necessidade de
diferentes formas de desenvolver as redimensionar estas experiências no sentido
capacidades musicais das crianças e estudou de que além de pura vivência musical possam
diferentes métodos e pedagogias concluindo constituir-se em elementos de reflexão e
que no início do século XX foi sendo dada mais construção de significados para a
importância a metodologias mais centradas na potencialização do conhecimento musical no
criança valorizando a sua atenção, fases de sentido mais amplo (BELLOCHIO, 2000,p.33).
desenvolvimento, interesses e necessidades, O professor deve estar atento a esse ponto
pois segundo o autor “a criança é capaz de dos vínculos que a criança tem e procurar
sentir um enorme prazer em viver a música mantê-los em seu planejamento de trabalho.
mesmo sem conhecer os seus códigos, e “A música pode se tornar um espaço a partir do
também é capaz de criar.” qual os primeiros vínculos são criados e
Segundo Bueno (2011), importante também mantidos” (MAFFIOLETTI, apud, CRAYDY, 2001,
é considerar a postura do professor, pois ela é p.130).
muito importante para incluir a música na Além disso, quando o professor trabalha
educação infantil, apesar da maioria dos com a linguagem musical, ele estimula também
professores não terem uma formação a memória verbal e escrita, visto que uma
específica em música, se o professor buscar canção pode ser um relatório de uma leitura, e
conhecimentos e alternativas, tendo a postura as notas ensejam o mesmo significado das
de criar um ambiente agradável, terá palavras. A criança amplia seu repertório de
compreensão de que a música é importante palavras e sua visão de mundo, não com
para a formação da criança, bem como a repetições monótonas, mas com
linguagem musical deve ser trabalhada conhecimentos que fazem parte de sua vida e
livremente para as crianças se expressarem por meio da apropriação de bens culturais
conforme cada fase, fornecendo objetos e produzidos socialmente. Sokolov (1969), deixa
materiais diversos para as criações e claro que memorizamos melhor o que tem
desenvolvimento, assim, estará fazendo um significado importante para a nossa vida, e
belo trabalho buscando o novo e o melhor, também aquilo que está associado aos nossos
tanto para os alunos, como para ele, professor. interesses e necessidades.
Integrar a música à educação infantil implica
que o professor deva assumir uma postura de
disponibilidade em relação a essa linguagem.
Considerando-se que a maioria dos professores
de educação infantil não tem uma formação
específica em música, sugere-se que cada
profissional faça um contínuo trabalho pessoal
consigo mesmo (BRASIL, 1998, p.67).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Infantil é uma etapa em que o educando encontra-se na fase de
conhecimentos e descobertas essenciais no processo de desenvolvimento. Assim, a área
cognitiva, afetiva, social, linguística e psicomotora são muito trabalhadas com a utilização da
música.
A música é uma linguagem que comunica sensações, sentidos e passa por organização de
som e silêncio. Está presente nas mais diversas situações. A afetividade a cognição e a estética
são partes integrantes dela. A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de
expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e
relacionamento expressivo entre o som e o silêncio.
Uma das causas dos grandes desafios enfrentados por educadores para realizarem um
trabalho com música coerente e diferenciado com crianças pequenas são, certamente, as
limitações quanto aos conhecimentos e saberes específicos.
Espera-se que o profissional que vai trabalhar com crianças deve possuir competência
polivalente para trabalhar com conteúdos de natureza diversa que abrangem desde trabalhar
com conteúdos de natureza diversa que abrangem desde cuidados básicos e essenciais, como
alimentação, higiene e saúde, até o domínio de conhecimento, das quais a música é uma delas.
A escola, sendo o ponto de encontro de todas as culturas e estando aberta
incondicionalmente a todas as formas de expressão, precisa0, repensar suas práticas para que o
papel da música na Educação Infantil contribua para a construção de uma sociedade em que
prevaleça o respeito à criatividade e ao processo artístico. Nesse contexto, o papel da música na
pré-escola apresenta-se como elemento fundamental na formação integral da criança, objetivo
fundamental da educação da primeira infância.
Assim, a música no contexto da Educação Infantil, se for trabalhada de forma lúdica e
dinâmica, com professores comprometidos, traz experiências gratificantes para as crianças e
constitui um elemento inestimável para a sua formação e desenvolvimento, permitindo-lhes a
sua apropriação sem reservas, porque a música não deve ser um privilégio de alguns, mas de
todo ser humano. Nessa perspectiva, a formação de professores em educação musical, bem
como as pesquisas na pós-graduação sobre essa área tem muito a contribuir para a adequada
presença da música na escola básica, uma vez que não basta a lei é preciso ações coletivas sua
real efetivação.
No entanto, necessário é que se articulem a música em sua totalidade com as vivências e
experiências da criança, em seu cotidiano, a fim de promover a aprendizagem, o
desenvolvimento social, afetivo e cognitivo da criança.
Se atualmente, são raras as escolas que se propõem a realizar um trabalho bem orientado
e metodologicamente estruturado para o ensino da música, também é rara a presença do
professor especializado para dispor-se a um trabalho dinâmico e de qualidade. Esses parecem ser
os maiores obstáculos para a inclusão da música na educação infantil. Todavia, ainda precisamos
fortalecer a prática docente dos profissionais que já atuam no universo das escolas e, nesse
sentido, a formação continuada, pensada de forma abrangente, deve ser considerada como uma
ação fundamental.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

É preciso, em nome do resgate da alegria escolar, tomarmos consciência das verdadeiras


carências pedagógicas no domínio do ensino musical e projetar um plano estratégico,
transparente e inovador, que tenha objetivos claros e bem definidos que possam ser efetivados
no cotidiano da vida escolar.

946
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A


CONTRIBUIÇÃO DO PROFESSOR PARA O
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Sandra Moreira1

RESUMO: Os educadores da primeira infância sabem que o brincar é um componente crítico do


desenvolvimento infantil saudável. Por meio da brincadeira, as crianças exploram seu mundo,
experimentam novos papéis, resolvem problemas e se expressam. Um tipo de brincadeira que é
especialmente importante para o desenvolvimento desde a primeira infância até o final do
período da primeira infância é a brincadeira não estruturada e dirigida a crianças. As brincadeiras
dirigidas às crianças são semelhantes as brincadeiras gratuitas, mas incluem mais envolvimento
de adultos. Esse tipo de brincadeira pode ser facilitada por um adulto, mas ainda está totalmente
sob a direção e controle da criança. Em um ambiente da primeira infância cada vez mais centrado
no acadêmico e baseado nas habilidades, esse tipo de brincadeira pode estar em declínio, pois
muitos programas se concentram em atividades mais estruturadas destinadas a aprimorar as
habilidades iniciais de alfabetização e a capacidade de raciocinar e aplicar conceitos numéricos
simples. Esse trabalho de conclusão de curso vem buscar reflexões a respeito do brincar na
Educação Infantil e as intervenções do professor para o desenvolvimento infantil.

Palavras-Chave: Brincadeira; Educadores; Primeira Infância.

1Professora
na Prefeitura Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PLAYING IN CHILD EDUCATION AND THE TEACHER'S CONTRIBUTION


TO CHILD DEVELOPMENT
ABSTRACT: Early childhood educators know that play is a critical component of healthy child
development. Through play, children explore their world, try out new roles, solve problems and
express themselves. One type of play that is especially important for development from infancy
to the end of the early childhood period is unstructured, child-directed play. Play aimed at
children is similar to free play but includes more adult involvement. This type of play can be
facilitated by an adult, but it is still entirely under the child's direction and control. In an
increasingly academic-centric and skills-based early childhood environment, this type of play may
be on the wane as many programs focus on more structured activities aimed at improving early
literacy skills and the ability to reason and apply. simple numerical concepts. This course
conclusion work seeks to reflect on playing in Early Childhood Education and the teacher's
interventions for child development.

Keywords: Joke; Educators; Early Childhood.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO por meio das brincadeiras que fazem parte do


seu cotidiano.
O brincar é necessário em todas as fases da Esta pesquisa tem como finalidade
vida, mas na infância ele é ainda mais essencial, demonstrar a relevância do brincar lúdico na
não é apenas um entretenimento, mas, Educação Infantil, pois é um dos fatores que
também, aprendizagem. A criança, ao brincar, ajudam as crianças no desenvolvimento motor,
expressa sua linguagem por meio de gestos e psicológico e afetivo.
atitudes, as quais estão repletas de Não é à toa que tudo que é vivido em sua
significados, e cabe ao professor nesse infância ficará guardado em seu subconsciente,
momento tentar enxergar o que a criança está deflorando sentimentos que acompanhará ela
tentando transmitir, visto que ela investe seus em sua jornada de vida, pensando por esse
sentimentos nessa atividade. lado podemos dizer que esses sentimentos
Por isso a brincadeira deve ser encarada serão explorados por meio de brincadeiras na
como algo sério e que é fundamental para o infância, influenciarão em como serão
desenvolvimento infantil. A criança usa o enquanto pais, se tiver uma infância rica de
brinquedo para demonstrar suas emoções, sentimentos bons, terão consequentemente
construindo um mundo a seu modo e melhores valores para passar aos seus filhos.
questionando o Universo dos adultos, além de Muitos que se tornarão bons pais ou não, são
ser um meio de pôr para fora os medos, as por vivências e experiências de sua infância.
angústias, alguns sentimentos e os problemas O brincar lúdico prepara para futuras
que a criança enfrenta em seu cotidiano, seja atividades de trabalho, evoca atenção,
por estar descobrindo algo até referente ao seu concentração, estimula a autoestima e ajuda a
corpo como também em relação aos seus desenvolver relações de confiança consigo e
sentimentos pessoais de como se sente em com os outros.
relação às pessoas ao seu redor (MELO & Segundo Campos (1986), a ludicidade
VALLE, 2005). poderia ser a ponte facilitadora da
Por meio de brinquedos e brincadeiras, ela aprendizagem se o professor pudesse pensar e
revive de maneira ativa tudo o que sofreu de questionar-se sobre a sua forma de ensinar,
maneira passiva, expondo assim seus relacionando a utilização do lúdico como fator
sentimentos que, muitas vezes ficam motivador de qualquer tipo de aula.
guardados no seu subconsciente. Todos esses benefícios do brincar devem ser
Haetinger (2004), afirma que as atividades reforçados no meio escolar, a brincadeira
lúdicas são aquelas que promovem a facilita o aprendizado e ativa a criatividade,
imaginação e principalmente as contribuindo diretamente para a construção
transformações do sujeito em relação ao seu do conhecimento, a aprendizagem por meio do
objeto de aprendizagem, dessa forma, a lúdico, passa a ser mais fácil e mais prazerosa
criança aprende a brincar e interpretar a partir para a criança, facilitando diretamente o
de um conjunto de vivências e referências, e trabalho do professor.

952
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os professores devem estar atentos para contentamento, descanso externo e interno,


esse mecanismo lúdico e aperfeiçoar uma paz com o mundo. A criança que brinca
contextualização para as brincadeiras. Por sempre, com determinação auto ativa,
meio da análise do brincar, os professores perseverando, esquecendo sua fadiga física,
poderão compreender a carência intelectual de pode certamente tornar-se um homem
cada criança, os seus níveis de progresso, a sua determinado, capaz de auto sacrifício para a
organização e, a partir daí, preparar ações promoção do seu bem e de outros. Como
pedagógicas que auxiliem em sua evolução sempre indicamos o brincar em qualquer
diária. tempo não é trivial, é altamente sério e de
Conforme Cordazzo (2007), o brincar é a profunda significação (FROEBEL, 1912, apud,
atividade dominante na infância e vem sendo KISHIMOTO, 2008, p. 68) .
explorado no campo científico, com o intuito O brincar é compreendido pela autora como
de caracterizar as suas singularidades, uma atividade que estabelece uma relação
identificar as suas relações com o séria consigo e com o outro e que
desenvolvimento e com a saúde da criança e, independentemente da idade nos faz viver e
entre outros objetivos, interceder nos meios de reviver momentos de interação, incorporando
educação e de aquisição de aprendizagem das suas referências e reinventando novos saberes.
crianças. A importância da brincadeira em todas as
Como podemos ver, o brincar é fases da vida torna a criança um ser ativo e
característico da infância, e traz inúmeras capaz, pois são nesses momentos de diversão
vantagens para a construção do intelecto da que esquece um pouco do mundo real e entra
criança, proporcionando a habilitação de uma no mundo da fantasia.
série de experiências que irão contribuir para o A justificativa desta pesquisa construiu-se
desenvolvimento futuro. Dessa forma, o depois de ter trabalhado com a Educação
brincar e a aprendizagem devem caminhar de Infantil e ver em diversas situações que alguns
mãos dadas, para que o ensino seja uma professores não tinham o interesse em deixar
experiência gratificante. as crianças brincarem mesmo que em sala de
O brincar mesmo para um adulto é a forma aula com material pedagógico. Nas escolas
natural de extravasar, é brincando entre si que privadas em que atuei o importante era a
homens, mulheres e crianças descarregam realização de atividades escritas, o parque era
seus sentimentos relativos a como foi seu dia. uma coisa rara, em algumas escolas nem parte
Brincar alivia o estresse, traz paz de espirito e da carga horária era cumprida, e quando os
suavidade emocional, gerando benefícios que professores levavam as crianças, não era
vão da mente ao corpo. aplicada nenhuma atividade pedagógica, era
A brincadeira é a atividade espiritual mais mais para descansar da correria diária. Essas
pura do homem neste estágio e, ao mesmo são práticas diárias que passam pelo cotidiano
tempo, típica da vida humana enquanto um do professor, mas não deveriam passar
todo – da vida natural interna no homem e de despercebido por aqueles que atuam por
todas as coisas. Ela da alegria, liberdade, prazer. Devido essas situações, surgiu o

953
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

interesse de realizar esta pesquisa sobre a baseando-se em autores que decorrem sobre o
brincadeira lúdica na formação escolar inicial. tema. Relata-se sobre a relevância de respeitar
A problematização desse trabalho o brincar na Educação Infantil, bem como a
constatou-se pela observação que existem necessidade de o professor trabalhar com
alguns professores que não valorizam o lúdico brincadeiras e materiais diversos. Procura-se
para o desenvolvimento das crianças na refletir a respeito da ludicidade e da
Educação Infantil. psicomotricidade, bem como a relevância de se
Como solução hipotética ao problema trabalhar com atividades que auxiliam para o
levantado, sugere-se que haja um desenvolvimento Psico Físico e Social da
engajamento dos professores em demonstrar criança.
os resultados cognitivos, motores, sociais e
afetivos por meio de acompanhamento de O PAPEL DO BRINCAR LÚDICO
evolução de cada criança, por meio da
utilização da ludicidade como ferramenta NA EDUCAÇÃO INFANTIL
pedagógica; demonstrar que brincar faz parte Conforme Hridiomas (2018), a palavra
da infância da criança e que podemos extrair brincar é proveniente do latim vinculum, que
muito desses momentos, que para os quer dizer laço algema, e é decorrente do
pequenos são íntimos, único e muito verbo vincire, que significa prender, seduzir,
esclarecedor. encantar. Vinculum tornou-se brinco e gerou o
O objetivo geral dessa pesquisa será mostrar verbo brincar, sinônimo de divertir-se.
a relevância do brincar lúdico na educação Brincar, portanto, não é só diversão,
infantil como ferramenta para a aprendizagem. representa também uma atividade de ligação
Os objetivos específicos serão demonstrar ou vínculo com algo em si mesmo e com o
os benefícios cognitivos, motores, sociais e outro, que fortalece o aprendizado e o
afetivos do brincar lúdico, desenvolvidos na desenvolvimento, motor, cognitivo e afetivo.
escola; estimular as linguagens corporais, “A palavra lúdico vem do latim ludus e significa
musicais, e orais das crianças em situações brincar. A atividade lúdica surgiu como nova
lúdicas para que aprendam a se comunicar. forma de abordar os conhecimentos de
A metodologia desse trabalho será diferentes formas e também uma atividade
bibliográfica qualitativa investigando livros, que favorece a interdisciplinaridade.”
artigos, site, documentos e revistas que (SANTOS, 2012, p.3).
fundamentam o brincar lúdico na educação De acordo com Santos (2012), o lúdico
infantil como coadjuvante no trabalho do refere-se a uma extensão humana que recorda
professor. os sentimentos de liberdade e espontaneidade
Nesta direção, caminhará esta pesquisa da atividade. Envolve atividades simples,
respondendo aos objetivos e abrindo novos tranquilas e isenta de toda e qualquer tipo de
saberes sobre o aprender brincando. aplicação ou escolha alheia. É livre de cobrança
Reflete-se a respeito do papel lúdico na e julgamento.
Educação Infantil, relatando fatos históricos,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Ao falar em brincar, muitos pensam que é só afetivos. É no brincar e apenas no brincar, que
diversão, mas brincar é coisa séria. Ao brincar a criança libera sua criatividade, aprende novos
com alguém a criança estabelece seu próprio conceitos, encontra saídas para diversos
modo de entreter-se, e vivencia a aceitação ou sentimentos e dificuldades, que possam estar
não de ideias de outras pessoas. Assim sentindo e não conseguem expressarem por
preparando o caminho para um viver desconhecerem tais sentimentos, além de
compartilhado, e um relacionar-se com o outro adquirirem informações para terem um
e com a vida. Ou seja, brincar é comunicação e crescimento saudável.
expressão, interligando pensamento e ação, Ao incluir o brincar na Educação Infantil,
um ato espontâneo, uma atividade muitos acreditam que a criança vai à escola só
exploratória que ajuda as crianças no seu para brincar e que brincar não é importante,
aperfeiçoamento físico, mental, emocional e porém é por meio dessa brincadeira que a
social, é um meio de aprender a viver e não criança aprende e é também por meio do olhar
apenas um passatempo. “[...] As crianças e os atencioso e crítico do professor que se
animais brincam porque gostam de brincar, e é consegue direcionar o trabalho, desenvolver
precisamente em tal fato que reside a sua habilidades, tratar os conflitos e fazer a
liberdade. ” (HUIZINGA, 1980, apud, MALUF, socialização com o grupo.
2003, p. 17) . Conforme Machado (2001), no brincar a
Independente da cultura local é comum os criança lida com sua realidade interior e sua
adultos desestimularem as crianças de brincar, tradução livre da realidade exterior: é também
porém por se tratar de uma necessidade o que o adulto faz quando está filosofando,
natural, essa proibição pode acarretar em um escrevendo lendo poesia e praticando sua
atraso do amadurecimento da criança, ela religião.
pode se tornar uma criança reclusa em seus
próprios sentimentos, tendo dificuldade de OS PROFESSORES E O
socializar com outras crianças e até mesmo
com adultos, além de criar uma visão PROCESSO DE BRINCAR
exacerbada da vida dos adultos e seus Todo professor deveria ver no brincar, o
problemas do cotidiano. espaço de criação cultural que permiti o
Conforme Maluf (2003), toda criança que indivíduo criar, explorar e ter uma relação
brinca vive uma infância feliz, além de tornar- aberta e positiva com o grupo.
se um adulto muito mais equilibrado física e Brincar é um dos mecanismos que garante
emocionalmente, conseguirá superar com mais ao indivíduo expor sua imaginação e trazer
facilidade problemas que possam surgir no seu algumas situações de sua realidade. Por isso, se
dia-a-dia. torna uma atividade que não se limita ao real.
Uma criança que não vivencia sua infância É uma cultura rica, complexa e diversificada,
por completa, não goza de estímulos para que consegue um excelente resultado ao fazer
enfrentar a vida e acaba criando bloqueios a integração com o lúdico, valorizando sua
referentes a diversos aspectos sociais e liberdade e desejo de expressão da natureza

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

infantil. “[...] Brincar é viver criativamente no Ao trabalhar atividades e brincadeiras


mundo. Ter prazer em brincar é ter prazer em lúdicas a criança aceita a existência do outro,
viver” (MACHADO, 2001, p.23). constrói conhecimento, estabelece relações e
A existência de diversas brincadeiras e a desenvolve-se integralmente. O brincar na
busca em incluí-las na Educação Infantil infância contribui na construção do processo
possibilita desenvolver e ao mesmo tempo de ensino e aprendizagem da criança e tem
formar crianças para sua realidade social e o como objetivo proporcionar várias formas de
lugar que elas ocupam na sociedade. incentivar a criança a aprender de forma
A criança se desenvolve pela experiência prazerosa, significativa e envolvente. Na
social e nas interações que é estabelecida pelos educação infantil os jogos e brincadeiras
adultos desde cedo, dessa forma podemos tornam-se aliados e auxilia no
dizer que a brincadeira é uma atividade desenvolvimento de capacidades importantes.
humana na qual as crianças são introduzidas ao Conforme Ujiie (2008), o brinquedo é
cotidiano adulto, constituindo-se em um modo compreendido como qualquer objeto sobre o
de assimilar e recriar a experiência sócio qual se debruça a ação da atividade lúdica do
cultural dos adultos. brincar por meio da espontaneidade,
Brincar é um aprendizado de vida que leva imaginação, fantasia e criatividade do
as crianças para esse ou aquele caminho para brincante.
traçar seu próprio percurso ou para tê-lo O brincar incita a inteligência, e faz com que
traçado pelos pais, professores, tios, o indivíduo liberte sua imaginação e aumente a
namorados, vizinhos. Tudo depende de como criatividade e ludicidade permitindo o exercício
as crianças brincam e qual a atitude dos adultos da concentração, da atenção e do
ao redor em relação a essas brincadeiras comprometimento, não só nas atividades da
(MACHADO, 2001). brincadeira como em qualquer atividade que
Nessa concepção, a brincadeira encontra um irá executar, proporcionando assim um
papel importante na escolaridade e as crianças encorajamento para futuras atividades tanto
vão se desenvolvendo e conhecendo o mundo, no âmbito social como no âmbito intelectual.
que se constrói por meio da troca social e de Desse modo os jogos e brincadeiras, melhoram
diferentes histórias de vida das pessoas ao seu a conduta no processo de ensino e
redor. aprendizagem além da autoestima.
O brincar pode ser visto como um recurso Dessa forma, deve-se pensar em brinquedos
mediador no processo de ensino e brincadeiras em que a criança pode assumir
aprendizagem, tornando-o mais fácil. O brincar outros papéis, e fingir ações que tenham um
enriquece a dinâmica das relações sociais na significado diferente do que lhe é atribuído no
sala de aula. Possibilita um fortalecimento da seu cotidiano. “[...] ao crescer a criança vai para
relação entre o ser que ensina e o ser que frente e para trás nessas fases, e é por meio de
aprende (ROLLOF, 2010, p.05). suas brincadeiras que ela se permite ser um
bebê novamente ou ser mais amadurecida do
que realmente é” (MACHADO,2001, p.47).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Deve-se entender também que a criança partilhar brincadeiras, construir sua


precisa de orientação para seu identidade, explorar o mundo dos objetos, das
desenvolvimento, a percepção do professor pessoas, da natureza e da cultura na
para levar em consideração que a criança tem perspectiva de compreendê-la, usar o corpo, os
inúmeras formas de se apropriar de diversos sentidos, os movimentos e as várias
tipos de conhecimentos diante daquela linguagens. Enfim, sua importância se relaciona
brincadeira específica. Sobretudo, com a cultura da infância que coloca a
reconhecendo a importância do olhar adulto brincadeira como a ferramenta para a criança
sobre as brincadeiras infantis, não podemos se expressar, aprender e se desenvolver.
diminuir a significância do brincar livre e (KISHIMOTO, 2010, apud, BRÀS,2018, p. s/p) .
espontâneo, sendo que este também auxilia na Percebe-se que a brincadeira aponta
evolução social, afetivo e cognitivo da criança. importantes meios que intervém no sucesso e
Ao enxergarmos os benefícios dos dois no constante desenvolvimento da criança,
aspectos tanto a brincadeira livre ou transmitindo para o imaginário uma situação
espontânea quanto aquelas em que há a vivida na realidade. Dessa forma, a brincadeira
participação do adulto vemos que ambas deve ser adotada como uma cultura lúdica
devem estar no dia a dia na educação das infantil, para que as crianças possam
crianças. compartilhar suas brincadeiras, seus jogos e
A brincadeira é a prova evidente e constante histórias para estimular a curiosidade das
da capacidade criadora, que quer dizer crianças. Quando coibimos a criança de brincar
vivência, de modo que, os adultos contribuem, além de fecharmos a porta de sua liberdade,
nesse ponto, pelo reconhecimento do grande fechamos também a porta de seus
lugar que cabe à brincadeira e pelo ensino de sentimentos, que se não conseguirem expor
brincadeiras tradicionais, mas sem obstruir quando criança acabará expondo quando
nem adulterar a iniciativa própria da criança adultos, muitos adultos sofrem por não ter
(BRAS, 2018, p.53). vivido sua infância por completo, acarretando
As crianças brincam, jogam e tomam em pais irresponsáveis ou que tem dificuldades
decisões desafiando as possibilidades, de em concentrar seus esforços na
explorar a força e questionar o mundo sem se responsabilidade de cuidar da sua família. Por
afastar da imaginação e razão, essa prática de isso estimular a brincadeira na educação
busca, de troca e de convívio é que atribuímos infantil se torna primordial.
o nome de educação. A infância é vista como a Se o professor identificar a dinâmica da
idade das brincadeiras, por intermédio delas as atividade que propor e aplicar a característica
crianças realizam suas vontades, preferências e adequada à criança encontra uma porta para
necessidades da maneira de trabalhar, refletir extravasar tudo que vive no dia a dia, mesmo
e descobrir o mundo a qual está inserida. se abrir para um diálogo sobre algo que a
Brincar é uma ação cotidiana para a criança incomoda, que poderá ser sentimental, física
que a impele a tomar decisões, expressar ou outra questão sobre o mundo em que vive.
sentimentos e valores, conhecer a si e ao outro, Tirar das crianças essa porta pode ser

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

catastrófico, ela pode se fechar mesmo em e seus influenciadores, que podem ser amigos
casa e demorar dias, meses talvez anos para se próximos, pais, tios, primos entre outros. Por
abrir novamente. isso devemos estar atentos a tudo que a
Ademais, a brincadeira trará para dentro da criança faz, e aprender a linguagem própria
sala de aula uma relação de convivência mais para ajudarmos a descobrir esse mundo
próxima das crianças facilitando o dia-a-dia do intenso e complexo que está surgindo a cada
professor e suas atividades futuras poderão ser dia com novas surpresas.
mais proveitosas, uma vez que a união trará Por meio dos jogos e das brincadeiras, a
mais respeito das crianças para com o criança projeta-se nas atividades dos adultos
professor. Há também de se ressaltar os procurando ser coerente com os papéis
benefícios que cada tipo de brincadeira trará assumidos, servindo como um instrumento
para cada criança seja ele cognitivo, afetivo, para:
motor além dos psicológicos. Dentro das (...) conhecer o mundo físico e seus
brincadeiras cada criança irá descobrir seu fenômenos, os objetos (e seus usos sociais) e,
mundo como um todo e perceber que não há finalmente, entender os diferentes modos de
tanta diferença do seu mundo para o mundo de comportamento humano, os papéis que
seu amigo. Aquelas pequenas, mas desempenham como se relacionam e os
importantes diferenças que quando se tem tal hábitos culturais (REGO, 1994, p. 114).
liberdade expressão e atenção à criança expõe Portanto, no contexto escolar,
para seus pais ou seu parente mais próximo. principalmente no período pré-escolar, as
A imagem de infância é reconstituída pelo práticas pedagógicas deveriam ter seus
adulto, por meio de um duplo processo: de um objetivos delineados a partir da zona de
lado, ela está associada a todo um contexto de desenvolvimento proximal, o que significa
valores e aspirações da sociedade, e, de outro, voltar-se para as possibilidades de crescimento
depende de percepções próprias do adulto, da criança.
que incorporam memorias de seu tempo de Enquanto a criança entra no que há demais
criança. Assim, se a imagem de infância reflete emocionante no ato de brincar com o outro, ou
o contexto atual, ela é carregada, também, de consigo mesma, toma consciência de sua
uma visão idealizada do passado do adulto, que autoimagem e conhece um outro ser que não
contempla sua própria infância. A infância seja ela própria.
expressa no brinquedo contém o mundo real, Para Vygotsky (1989, p. 87), a “brincadeira
com seus valores, modo de pensar e agir e o no desenvolvimento infantil é um importante
imaginário do criador do objeto (KISHIMOTO, suporte para a mente, contribuindo com as
1995, p.50). diferentes formas de pensar e realizar suas
Como podemos ver tudo que vivemos em ações simbolicamente”. Assim a criança se
nossa infância tem influência no que somos e diverte, raciocina e aprende de maneira
como pensamos a formação do caráter, da simples e descontraída sem perceber cobrança
personalidade e sua posição no âmbito social da sua aprendizagem.
da criança dar-se a pela sua vivência na infância

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo Piaget (1987, p. 6), “brincando a dos jogos e brincadeiras, que muitas vezes
criança é capaz de assimilar o mundo exterior acrescentam ao currículo escolar uma maior
às suas próprias necessidades, mesmo sem se energia de situações que ampliam as
adaptar às realidades que estão a sua volta”. possibilidades de a criança aprender e
Para esses pensadores do desenvolvimento construir o conhecimento.
infantil o brincar não é simplesmente um Os jogos e brincadeiras são características
passatempo, mas sim, uma forma de contribuir inerentes ao ser humano, neles homem
na formação e no desenvolvimento consegue construir sua personalidade
psicossocial da criança, ajudando-a adquirir utilizando a autonomia que esses recursos
comportamentos que lhe servirão de base para oferecem, objetivando o desenvolvimento
o desenvolvimento das suas atividades na vida integral da criança, por meio de lazer,
adulta, sejam elas físicas ou intelectuais, expressão de sentimentos, afeto e emoção,
educadores devem ter essas mesma visão do respeitando o desenvolvimento e ritmo de
brincar, para a partir desse pressuposto cada um.
construir sua prática pedagógica com A presença dos jogos e das brincadeiras no
princípios que considerem a verdadeira função desenvolvimento da criança é fundamental
da ludicidade como ferramenta de para o seu processo de ensino aprendizagem,
ensino/aprendizagem. tornando as aulas mais alegres, dinâmicas e
Nos jogos, ao assumir suas funções, a criança atrativas, possibilitando à criança a ampliação
se desenvolve emocional e intelectual, pois de conhecimentos, levando a um aprendizado
brincando ela age de modos diferentes de sua significativo.
idade e de seu comportamento habitual. Segundo Vygotsky (2007):
Trazendo para sua vivencia situações que O brinquedo cria uma zona de
ocorrem a sua volta com adultos ou não, que desenvolvimento proximal da criança. No
para si se concretiza por meio do faz de conta. brinquedo, a criança sempre se comporta além
Ao brincar de ensinar com um quadro de giz do comportamento habitual da sua idade, além
e seus amigos como se fossem os estudantes, a do seu comportamento diário; no brinquedo é
criança cria neste jogo regras de conduta, como se ela fosse maior do que é na realidade.
passando a exigir por meio do brincar, respeito Como no foco de lente de aumento, o
e conduta em sala de aula, que são atitudes brinquedo contém todas as tendências do
esperadas delas mesmas em seu dia a dia, desenvolvimento sob forma condensada,
conduzindo ao aprendizado e socialização. sendo, ele mesmo, uma grande fonte de
Os jogos e as brincadeiras trazem o mundo desenvolvimento (VYGOTSKY, 2007, p.122).
para a realidade da criança, possibilitando o Por meio da brincadeira a criança pode se
desenvolvimento de sua inteligência, sua propor desafios para além de seu
sensibilidade, habilidades e criatividade. comportamento diário, levantando hipóteses e
A verdadeira aprendizagem não se faz saídas para situações que a realidade lhe
apenas copiando do quadro ou prestando impõe.
atenção ao professor, mas também por meio

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O desenvolvimento ocorre do social para o


individual e as etapas passam a ser
compreendidas, levando-se em conta os
aspectos históricos e sociais.
Durante as situações vivenciadas pelas
crianças, os jogos e as brincadeiras devem
sempre fazer parte dessa vivência, pois as
crianças começam a conhecer como funciona a
realidade, composta por regras e valores, de
uma forma divertida e prazerosa, conduzindo o
trabalho pedagógico para métodos mais
satisfatórios de aprendizagem.
Durante a minha docência com a Educação
Infantil e séries iniciais percebi o quanto os
jogos e as brincadeiras influenciam na
alfabetização e os alunos com algumas
dificuldades logo obtém melhorias e a
aprendizagem se torna significativa.
Segundo Maluf (2009, p.13):
Os primeiros anos de vida são decisivos na
formação da criança, pois se trata de um
período em que ela está construindo sua
identidade e grande parte de sua estrutura
física, afetiva e intelectual. Sobretudo nesta
fase, deve-se adotar várias estratégias, entre
elas as atividades lúdicas, que são capazes de
intervir positivamente no desenvolvimento da
criança, suprindo suas necessidades
biopsicossociais, assegurando-lhe condições
adequadas para desenvolver suas
competências.
Portanto, os professores devem planejar as
atividades lúdicas para trabalhar em suas aulas,
e fazer o seu planejamento de acordo com
essas atividades.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde pequena a criança já tem a necessidade de brincar, é uma interação da criança por
mais que seja uma criança que não tenha condições de comprar brinquedos prontos, ela cria de
acordo com a imaginação seu próprio brinquedo.
Neste artigo foram abordadas reflexões a respeito do Brincar de uma forma Lúdica na
Educação Infantil e seus aspectos relevantes, baseando-se em autores que corroboram com esse
tema.
Para dar continuidade à essas reflexões discorremos sobre a necessidade de respeitar o
brincar na Educação Infantil e como o Brincar contribui para o desenvolvimento da criança.
Encontramos a necessidade de abordar reflexões à respeito da ludicidade e da
psicomotricidade, dos quais são elementos fundamentais para o processo de ensino
aprendizagem e desenvolvimento da criança.
Verificamos que, muitos estudos comprovaram a importância do brincar no
desenvolvimento infantil. Eles mostram que o brincar é essencial para o desenvolvimento
saudável das crianças, independentemente da idade.
As crianças aprendem sobre o mundo brincando, descobrem como resolver problemas e
interagir com os outros, aprendem a expressar seus pensamentos e sentimentos, bem como
resolver conflitos.

961
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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963
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O ENSINO DE HISTÓRIA E A TEMÁTICA ÉTNICO


RACIAL NAS ESCOLAS
Andreia de Araújo Vieira 1

RESUMO: Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica que aborda o tema: O Ensino de
História e a Temática da História Africana nas escolas. Temos como objetivos para este estudo
apresentar os principais conceitos sobre o ensino de história e as temáticas voltadas ao ensino
de história africana nas escolas. Abordar nos contextos escolares temáticas que trazem um pouco
da história de outros povos, é de suma importância para uma aprendizagem significativa, o
conhecimento sobre a história e a cultura de outros povos auxilia no combate a discriminação e
no reconhecimento de outros povos. O resgate da identidade e valorização das etnias também é
papel da escola na atualidade, revisitar a história valorizando a cultura e arte africana é de
fundamental importância para a valorização social dos sujeitos. A educação compõe um dos
princípios ativos de transformação social, e por ser papel da escola desenvolver cada indivíduo
de maneira integral, deve estimular em suas práticas, a formação de valores e atitudes, que
respeitem as diferenças e as características próprias dos povos.

Palavras-Chave: Ensino de História; História Africana; Aprendizagem; Diversidade.

1Professorade Educação Infantil.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialista em Alfabetização e Educação Matemática.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TEACHING HISTORY AND RACIAL ETHNIC THEMATIC IN SCHOOLS


ABSTRACT: This article presents a bibliographic review that addresses the topic: Teaching History
and the Theme of African History in schools. We aim for this study to present the main concepts
about the teaching of history and the themes related to the teaching of African history in schools.
Addressing thematic school contexts that bring a little of the history of other peoples is of
paramount importance for meaningful learning, knowledge about the history and culture of other
peoples helps in combating discrimination and recognizing other peoples. The rescue of identity
and appreciation of ethnicities is also the role of the school today, revisiting history valuing
African culture and art is of fundamental importance for the social appreciation of the subjects.
Education is one of the active principles of social transformation, and as it is the role of the school
to develop each individual in an integral way, it must stimulate, in its practices, the formation of
values and attitudes that respect the differences and characteristics of peoples.

Keywords: Teaching History; African History; Learning; Diversity.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO implementação de políticas públicas e


conteúdos curriculares mais condizentes com a
Este artigo apresenta uma revisão realidade de nossa sociedade. A formação e a
bibliográfica que aborda o tema: O Ensino de conscientização dos professores é um dos
História e a Temática da História Africana nas principais alicerces para que tais políticas de
escolas. Temos como objetivos para este afirmação sejam colocadas em prática na
estudo apresentar os principais conceitos escola e a construção de práticas antirracistas
sobre o ensino de história e as temáticas e não discriminatórias, de apreço a tolerância e
voltadas ao ensino de história africana nas respeito as diferenças.
escolas. Abordar nos contextos escolares
temáticas que trazem um pouco da história de
O ENSINO DE HISTÓRIA E A
outros povos, é de suma importância para uma
aprendizagem significativa, o conhecimento TEMÁTICA ÉTNICO RACIAL NAS
sobre a história e a cultura de outros povos ESCOLAS
auxilia no combate a discriminação e no De acordo com os Parâmetros Curriculares
reconhecimento de outros povos. Nacionais da disciplina de História (PCN,
Diante da realidade das escolas brasileiras, é BRASIL, 1997, p.19), “[...] a escola elementar
possível observar que as diferenças entre destinava-se a fornecer conhecimentos
negros e brancos é presente em todos os políticos rudimentares e uma formação moral
sentidos, configurando o racismo estrutural cristã à população”. Observa-se como a
que permeia a sociedade como um todo, seja educação na época, vinculava o ensino
na garantia da igualdade de direitos, no acesso religioso como forma de estreitar laços
e permanência na escola, no mercado de políticos com o Estado. As transformações
trabalho ou no acesso as universidades. É sociais interferiram nas mudanças do ensino de
preciso uma revisão nas formas de História ao longo do tempo, bem como as
implementação das políticas públicas transformações políticas e educacionais
específicas para a população negra no Brasil, acontecidas no Brasil.
gerando discussões sobre os diferentes A partir da Lei nº. 5.692/71 os currículos
campos da desigualdade, de ordem social, escolares passam a contar com a disciplina de
educacional ou cultural. Tais políticas são Educação Moral e Cívica, que se tornou
conhecidas como políticas afirmativas e devem obrigatória nas escolas do Brasil, com um viés
ser reconhecidas e colocadas em prática de político, cujo temas eram de interesse do
maneira efetiva. regime militar da época. Fonseca (2005, p.21),
Hoje, no Brasil, temos legislações especificas afirma que [...] dessa forma, o ensino de
que abordam as temáticas relacionadas a história foi sutilmente vinculado aos
educação das relações étnico-raciais, o que já é “princípios” norteadores da educação moral e
um grande avanço no cenário educacional. As cívica. [...]. As principais características das
mudanças que ocorreram nos últimos anos disciplinas abordadas eram as homenagens aos
foram significativas no que diz respeito a hinos, aos heróis da pátria e aos símbolos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Percebe-se então a substituição do modo valorizando a história local dos povos e os seus
religioso, disseminado até então por uma modos de vida. O Plano Municipal de Educação
disciplina de caráter cívico (a antiga educação em sua proposta de ensino de história para os
moral e cívica), no qual o Estado é quem anos iniciais destaca que os alunos devem ser
conduz os sujeitos a processos civilizatórios capazes de compreender os acontecimentos
baseados em estereótipos e em um ser ideal de históricos e as relações de poder que se
cidadão a ser seguido. Os heróis e marcos estabelecem na sociedade, que acabam por
históricos eram baseados em uma visão única contribuir para a formação das estruturas
nacional e patriota, baseando o ensino nessa sociais, econômicas e políticas que se
vertente como uma verdade absoluta. estabelecem nas relações e nos meios sociais.
No final dos anos de 1980 a disciplina de Diante da realidade das escolas brasileiras, é
História passa por mudanças e dentre elas possível observar que as diferenças entre
podemos destacar a extinção da matéria de negros e brancos é presente em todos os
Estudos Sociais e a separação da Geografia, que sentidos, configurando o racismo estrutural
anteriormente foram criados no regime militar. que permeia a sociedade como um todo, seja
A história passa a ter características e na garantia da igualdade de direitos, no acesso
conteúdos próprios, com objetivos bem e permanência na escola, no mercado de
definidos, estando presentes nos currículos trabalho ou no acesso as universidades. É
desde os primeiros anos de escolarização no preciso uma revisão nas formas de
ensino fundamental. implementação das políticas públicas
A História passou a ocupar no currículo um específicas para a população negra no Brasil,
duplo papel: o civilizatório e o patriótico, gerando discussões sobre os diferentes
formando, ao lado da Geografia e da Língua campos da desigualdade, de ordem social,
Pátria, o tripé da nacionalidade, cuja missão na educacional ou cultural. Tais políticas são
escola elementar seria o de modelar um novo conhecidas como políticas afirmativas e devem
tipo de trabalhador: o cidadão patriótico. ser reconhecidas e colocadas em prática de
(BRASIL, 1997, p. 20). maneira efetiva.
Com a substituição por Estudos Sociais os O Brasil foi um dos últimos países a abolir a
conteúdos de História e Geografia foram escravidão e todo o processo foi muito
esvaziados ou diluídos, ganhando contornos conturbado gerando uma série de
ideológicos de um ufanismo nacionalista consequências para o povo negro, que não
destinado a justificar o projeto nacional tiveram condições, nem estrutura para iniciar
organizado pelo governo militar implantado no uma nova vida em liberdade, migrando para as
País a partir de 1964. (BRASIL, 1997, p. 26). áreas periféricas e sendo excluídos da
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), sociedade, fato este que reflete até os dias
de 1997 tratam do ensino de História para os atuais. À população negra sempre foi relegado
anos iniciais destacando a importância de um espaços inferiores de poder e de
trabalho que leve em consideração a realidade reconhecimento, gerando uma sociedade
vivenciada pelo aluno fora do contexto escolar,

967
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

racista com a perpetuação de práticas contexto. São cada vez maiores as exigências,
discriminatórias e preconceituosas. tanto do mercado de trabalho como das
A Lei nº 10.639 foi responsável pelas demandas sociais e os alunos estão inseridos
alterações nos artigos 26-A e 79-B da LDBEN, nestes sistemas e levam para o contexto
determinando a obrigatoriedade de estudos escolar tais demandas. O professor deve ser
relacionados à História e Cultura Afro-brasileira capaz de contribuir para que este aluno
nos diferentes níveis de ensino da educação construa a sua identidade em uma perspectiva
básica, além disso estabeleceu que os de valorização da diversidade e apreço a
currículos escolares devem abordar a história tolerância. É possível perceber uma grande
dos povos africanos e da África e a cultura lacuna dos conhecimentos voltados a este
negra no Brasil, bem como as lutas destes tema nas escolas, o que acarreta grandes
povos, buscando o resgate das contribuições problemas em relação a aceitação e o respeito
destes povos nas mais diversas áreas de nossa a diversidade e cultura de outros povos
sociedade, contribuindo para o processo de É desafio e função da escola o papel de uma
mudança dos olhares da sociedade sobre estes educação democrática em que os sujeitos de
povos. É preciso construir uma nova história, direito se reconheçam como tal, valorizando o
com novas abordagens sociais e culturais, que respeito à diversidade e legitimidade de cada
abordem os conteúdos relacionados a esta etnia enquanto grupo que contribui para a
temática de uma maneira não estereotipada, formação de nosso povo. É necessário que a
buscando o reconhecimento destes povos. escola se reconheça enquanto lugar de direito,
O ensino de História e Cultura Afro-Brasileira que deve acolher sujeitos plurais, oriundos de
e Africana, a educação das relações étnico- gêneros, regiões, condições sociais, gerações e
raciais, se desenvolvem no cotidiano das etnias distintas. A escola constitui-se como
escolas, nos diferentes níveis e modalidades de espaço privilegiado de relações, em que são
ensino, como conteúdo de disciplinas constituídos vínculos e construídos os valores
particularmente Educação Artística, Literatura que levamos para nossas vidas.
e História do Brasil, sem prejuízo das demais As ações afirmativas constituem-se em
em atividades curriculares ou não, trabalhos políticas de combate ao racismo e à
em salas de aula, nos laboratórios de ciências e discriminação racial mediante a promoção
de informática, na utilização de sala de leitura, ativa da igualdade de oportunidades para
biblioteca, brinquedoteca, áreas de recreação, todos, criando meios para que as pessoas
quadra de esportes e outros ambientes pertencentes a grupos socialmente
escolares (BRASIL, 2004, p. 21). discriminados possam competir em mesmas
Silva (2010), enfatiza que nesse sentido, os condições na sociedade (MUNANGA & GOMES,
novos educadores vão se deparar cada vez 2006, p. 186).
mais com contextos escolares desafiadores e O resgate da identidade e valorização das
diante destes novos paradigmas somente a etnias também é papel da escola na atualidade,
formação constante e efetiva irá contribuir revisitar a história valorizando a cultura e arte
para o sucesso deste profissional neste africana é de fundamental importância para a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

valorização social dos sujeitos. A educação cultura e identidade dos descendentes de


compõe um dos princípios ativos de africanos (BRASIL/ CNE, 2004, p.11).
transformação social, e por ser papel da escola Silva (2010), afirma que a sociedade
desenvolver cada indivíduo de maneira brasileira é pluriétnica e pluricultural, neste
integral, deve estimular em suas práticas, a sentido, alunos, professores e funcionários das
formação de valores e atitudes, que respeitem unidades escolares e de estabelecimentos de
as diferenças e as características próprias dos ensino, são sujeitos sociais que se relacionam
povos, a escola é fundamental no processo de entre si, convivendo em sociedade e que
formação da sociedade e contribui para o pertencem a variados grupos étnico-raciais e
exercício da cidadania. grupos sociais distintos. O contexto da
O conhecimento e a abordagem correta diversidade é composto por tais sujeitos, com
destes temas é fundamental para que o ensino as suas histórias de vida, as suas identidades,
seja significativo, é preciso reconhecer a crenças e valores que se entrecruzam nos
herança herdada pela cultura indígena e ambientes escolares, em suas semelhanças e
africana, propondo diferentes rumos para as particularidades.
aprendizagens e para o ensino. O O estudo da história e cultura africana e dos
desconhecimento leva ao preconceito e a afrodescendentes poderá viabilizar a formação
melhor forma de valorizar uma cultura é com o dos estudantes como cidadãos conscientes,
conhecimento sobre as reais contribuições capazes de respeitar e conviver com as
destes povos para a construção de nossa diferenças e com a pluralidade cultural que faz
sociedade. parte de nossa sociedade. Pensando no
[...] o direito dos negros, assim como de ambiente escolar, temos a diversidade
todos os cidadãos brasileiros, cursarem cada presente em todos os contextos, assim como
um dos níveis de ensino, em escolas em nossa sociedade, é necessário pensar nos
devidamente instaladas e equipadas, currículos e nos conteúdos que são ali
orientados por professores qualificados para o propagados e nas maneiras como são
ensino de diferentes áreas de conhecimentos; abordadas as diferentes temáticas
com formação para lidar com as tensas relacionadas ao tema étnico racial. Os
relações produzidas pelo racismo e conteúdos relacionados a cultura e história
discriminações, sensíveis e capazes de conduzir africana devem contribuir para uma
a reeducação das relações entre diferentes aprendizagem significativa, difundindo a
grupos étnico-raciais entre eles descendentes valorização e o respeito as diferenças.
de africanos, de europeus, de asiáticos, e povos É fundamental propiciar o desenvolvimento
indígenas. Estas condições materiais das de atitudes de respeito, amizade e valorização
escolas e de formação de professores são da diversidade. É importante oportunizar
indispensáveis para uma educação de situações em que as crianças possam
qualidade para todos, assim como é o manifestar seus sentimentos, trabalhando com
reconhecimento e valorização da história, as emoções, com a afetividade, com o
pertencimento ao grupo e erradicação de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ações preconceituosas e racistas. Quando raciais e históricas que se perpetuam em nossa


pensamos no currículo do Ensino Fundamental, sociedade. Tais mudanças de paradigmas,
faz-se necessário assumirmos nosso comportamentos e ações interferem
compromisso, enquanto educadores e diretamente nas ações reproduzidas nos
cidadãos, de desmistificar paradigmas que contextos escolares e na produção de materiais
distorcem a história africana e as nossas adequados para a pesquisa e produção
origens. Os educadores devem estar acadêmica.
preparados para realizar um trabalho no qual a A Lei 10.639/2003, que inclui na LDB o
cultura africana e afro-brasileira tenham a ensino obrigatório da História e Cultura Afro-
valorização necessária, no sentido da formação Brasileira surgiu de inúmeras discussões e lutas
da identidade do povo brasileiro. pela igualdade racial e criminalização da
[...] É importante destacar que não se trata discriminação; propor estratégias e ações que
de mudar um foco etnocêntrico viabilizem a inclusão dessa temática no ensino
marcadamente de raiz europeia por um básico. Promover projetos e planos de ensino
africano, mas de ampliar o foco dos currículos que contemplem a temática afro, requer
escolares para a diversidade cultural, racial, pesquisa, formação dos professores e
social e econômica brasileira. Nesta empenho social.
perspectiva, cabe às escolas incluir no contexto Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais
dos estudos e atividades, que proporciona para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
diariamente, também as contribuições para o Ensino de História e Cultura Afro-
histórico-culturais dos povos indígenas e dos Brasileira e Africana (2004):
descendentes de asiáticos, além das de raiz • É preciso reconhecer as diferenças para
africana e europeia. É preciso ter clareza que o que haja igualdade de direitos.
Art. 26A acrescido à Lei 9.394/1996 provoca • Valorizar a História, Cultura e Identidade
bem mais do que inclusão de novos conteúdos, da população negra.
exige que se repensem relações étnico-raciais, • Divulgar e respeitar os processos
sociais, pedagógicas, os procedimentos de históricos de resistência negra.
ensino, as condições oferecidas para a • Mudar os discursos, raciocínios e
aprendizagem e os objetivos tácitos e explícitos posturas.
da educação oferecida pelas escolas (BRASIL, • Questionar as relações étnico-raciais
2004, p. 8). fundadas em preconceitos e estereótipos.
Silva (2010, p. 2), afirma que é preciso • Quebra os paradigmas que veiculam um
entender que independente do pertencimento falso sentimento de superioridade das pessoas
racial, o processo de formação inicial e de brancas e de inferioridade das pessoas negras.
formação continuada dos professores deve ter • Exigir a adoção de políticas educacionais
em seus programas questões voltadas a e estratégias pedagógicas de valorização da
adoção de políticas afirmativas que estão diversidade.
vigentes no Brasil. É preciso pensar em alguma A inserção do estudo de história e cultura
maneira de diminuir as desigualdades sócio africana e afro-brasileira surgiu a partir das

970
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

reivindicações do movimento negro que


culminou com a promulgação da Lei 10639/03.
A escravidão no Brasil é marcada por lutas e os
quilombos representam um símbolo da
organização, luta e libertação desses povos. O
movimento negro sempre buscou a igualdade
entre todos e um lugar na sociedade. A luta
pelo reconhecimento e valorização da cultura
africana não despreza a valorização dos demais
grupos étnicos que formam a população
brasileira, como por exemplo, os europeus,
asiáticos e indígenas.
Tais povos formaram a sociedade brasileira
e contribuíram para o desenvolvimento do
nosso país, buscar a valorização de tais culturas
e destes povos tem como objetivo eliminar os
diferentes fatores de exclusão que se
perpetuam durante anos. Com o ensino
cultural busca-se a valorização das histórias
desses povos e a diminuição do preconceito,
que ainda é latente em nossa sociedade.

971
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil é um país formado com as contribuições de diferentes culturas e de diferentes
povos, é preciso que a educação escolar reconhece essa diversidade cultural e que o currículo
seja voltado para a realidade do nosso povo. É preciso estudar a história de nosso país
considerando as diferentes contribuições e as matrizes culturais que construíram a identidade do
nosso país. O respeito e a valorização são fundamentais para que se compreenda os processos
históricos e se reconheça a importância da cultura africana e indígena para a formação de nossa
sociedade.
A inserção no currículo escolar, dos conteúdos da história africana e indígena foi um
grande passo para que a abordagem e os conteúdos fossem revistos e analisados, despindo os
estereótipos que são reproduzidos por anos e que contribuem para a perpetuação da hegemonia
eurocêntrica nos currículos. A abordagem desta temática em sala de aula contribui para o
reconhecimento da importância do negro na formação de nossa sociedade e para a propagação
de tais conhecimentos.
O professor é o responsável em contribuir no combate as ações de preconceito e
discriminação que ocorrem no ambiente escolar e para minimizar e combater estas práticas é
necessário que a sua prática seja voltada a uma educação para a diversidade e antirracista. Para
tanto, deve abordar o assunto em suas propostas de trabalho, trabalhando o reconhecimento e
valorização da cultura e herança do povo negro, além da abordagem das contribuições em todos
os setores da sociedade.

972
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília:
MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.

BRASIL. Lei N º 10.639, de 9 de janeiro de 2003. D.O.U. de 10/01/ 2003. Altera a Lei nº
9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir no currículo
oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.
Brasília, 2003.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais Para A Educação Das Relações Étnico Raciais
E Para O Ensino De História E Cultura Afro-Brasileira E Africana. Conselho Nacional de
Educação. Opinião técnica nº. CNE/CP 003/2004 Colegiado: CP aprovado em 03/10/2004.
MEC/UNESCO.

MUNANGA, Kabengele; GOMES, Nilma Lino. O negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global,
2006.

SILVA, Priscila Kelly de Alencar. et al. História e Cultura afro-brasileira-Brasileira: caminhos


pedagógicos abertos pela lei federal nº 10639/03 no combate ao preconceito racial. 2010.
Disponível em:
<http://www.prac.ufpb.br/anais/xenex_xienid/xi_enid/prolicen/ANAIS/Area4/4CEDHPPLIC05.pd
f> . Acesso em 10 jun. 2022.

973
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O HOMEM SUAS RELAÇÕES COM O OUTRO E


O MEIO AMBIENTE
Alexandre Vicentini1

RESUMO: Este artigo discorre a respeito de diversas definições e soluções para uma educação
ambiental efetiva. Buscando a modificação de valores e atitudes do homem em sua relação com
o meio. O comprometimento da qualidade de vida e o fim da degradação do meio ambiente
relacionado à ação humana. Sendo importante conhecer o meio em que faz parte. Esta relação
ente o homem com o meio ambiente é assunto que deve ser tratado pela escola, pois, cabe a ela
despertar nos cidadãos atitudes responsáveis de defesa para uma melhor qualidade de vida. Em
decorrência disto, o Ministério da Educação, incluiu nos Parâmetros curriculares Nacional, o
estudo do Meio Ambiente e saúde, objetivando o acesso às diferentes representações dos
recursos ambientais. É dentro desse contexto de compreensão e percepção da relação
sociedade/natureza que buscamos rever inicialmente as próprias relações sociais por meio de
caminhos encontrados nesta pesquisa.

Palavras-Chave: Gestão ambiental; Qualidade de vida; Valores.

1
Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de Ensino de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Ciências.

974
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MAN, HIS RELATIONSHIPS WITH OTHERS AND THE ENVIRONMENT


ABSTRACT: This article discusses different definitions and solutions for effective environmental
education. Seeking the modification of values and attitudes of man in his relationship with the
environment. The compromise of the quality of life and the end of the degradation of the
environment related to human action. It is important to know the environment in which you are
part. This relationship between man and the environment is a matter that must be addressed by
the school, because it is up to it to awaken in citizens responsible attitudes of defense for a better
quality of life. As a result, the Ministry of Education included in the National curricular
parameters, the study of the Environment and health, aiming at access to different
representations of environmental resources. It is within this context of understanding and
perception of the society/nature relationship that we initially sought to review the social
relationships themselves through the paths found in this research.

Keywords: Environmental management; Quality of life; Values.

975
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO pontas da cadeia, a produção (envolve comprar


menos e melhor) e a destinação (envolve
A necessidade de transformar as ações transformar o lixo em novas coisas). Reciclar,
humanas predatórias em ações sustentáveis é Reduzir, Reutilizar e, apesar hoje em dia serem
urgente e fundamental para garantir a vida na atitudes voluntárias de algumas pessoas, já dão
terra. A questão ambiental está em alta por vistas de serem as atitudes inevitáveis a se
uma razão simples: necessidade de seguir no futuro. A falta de material para se
sobrevivência. Quanto mais o tema for produzir, a grande poluição do ar e da água, a
abordado, maiores são as chances de despertar falta de energia e outros fatores nos estão
a consciência pela preservação. levando a um caminho que a muito já havíamos
O avanço dos conhecimentos científicos e esquecido, o de que tudo um dia poderia
tecnológicos tem produzido mudanças na chegar ao fim, por maior que seja sua
sociedade, principalmente àquelas quantidade.
relacionadas à reciclagem e desperdícios. Conhecer e analisar a Educação Ambiental
Nesse tempo, em que se buscam soluções para para a formação de cidadãos críticos,
o combate a fome, ao aquecimento global e participativos e conscientes de seu papel na
aos prejuízos que ocorre ao mau preservação do meio ambiente e propor
aproveitamento de materiais orgânicos e soluções para as problemáticas ambientais
outros; discutem-se também os fatores que encontradas. Outros objetivos hão de ser
contribuem para o enfraquecimento da saúde levados em conta são eles:
humana e o desrespeito para com o meio • Demonstrar as diversas manifestações
ambiente, causados principalmente pelo mundiais e locais a respeito do Meio Ambiente;
aumento da temperatura na atmosfera. A • Conhecer as principais formas de manter
quantificação de aspectos envolvidos em um desenvolvimento sustentável;
problemas ambientais favorece uma visão mais • Conhecer os 3 rs da Sustentabilidade;
clara, possibilitando tomar decisões e fazer • Analisar que atividades são
intervenções necessárias, visa diminuir o desenvolvidas na Educação para despertar a
agravamento do aquecimento global. Nesse conscientização crítica na preservação do meio
contexto, a orientação adequada para que este ambiente;
problema minimize, não é uma ação somente Temos na questão ambiental algo que está
para o bem estar e a saúde da criança e do se tornando cada vez mais necessária para toda
adolescente, mas do Planeta. a humanidade, pois o futuro depende da
A notabilidade dos três R's tanto para relação entre a natureza e o tipo de uso que a
termos em mente quanto para exercitarmos. A humanidade faz dos recursos naturais
ideia é reduzir ao máximo a produção de lixo disponíveis, desenvolvendo no indivíduo
para evitar, além da degradação do ambiente princípios de participação, responsabilidade e
pela extração dos materiais, evitar a solidariedade. À medida que a mesma
degradação também pelo depósito do lixo aumenta sua capacidade de intervir na
gerado. Para isto devemos atacar as duas natureza para satisfação de importância e

976
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

carências crescentes de acordo com o tempo e globalmente sem colocar em perigo os


espaço, surgem tensões e conflitos devido a ecossistemas do Planeta. O cerne do conceito
industrialização crescente e a consequente também pode ser descrito como o de assegurar
transformação do mundo em centro de qualidade de vida e criar as condições
produção, distribuição e consumo trazendo necessárias para a felicidade e o bem estar de
rapidamente consequências indesejáveis. todas as pessoas.
Neste ínterim a educação ambiente se instala Sabemos que o desenvolvimento atual
para que se possa cultivar um trouxe muitas melhorias, como a alta
desenvolvimento sustentável para população tecnologia, tanto na cidade quanto no campo,
mundial. porém, trouxe muitas consequências, como o
Devido a isso, partiu a necessidade de aquecimento global, a poluição ambiental, o
contribuir de forma responsável e planejada na desmatamento, entre outras. O
formação do cidadão, para tentar suprir as desenvolvimento sustentável não deve ser
diferenças determinantes da degradação do visto como uma revolução, ou seja, uma
meio onde se insere o homem por meio desta medida brusca que exige rápida adaptação e
pesquisa. O que se pretende debater no sim uma medida evolutiva que progrida de
contexto é o papel da conscientização do forma mais lenta a fim de integrar o progresso
cidadão ambientalmente responsável e que ao meio ambiente para que se consiga em
possam ou não contribuir para a crise em que parceria desenvolver sem degradar.
vive o ambiente hoje. Para que isso ocorra, é necessário que a
população se conscientize e trabalhe em
CONCEITO DE conjunto, criando um sistema social eficiente
que não permita o mau uso dos recursos
SUSTENTABILIDADE naturais. Toda atividade que envolve e aglutina
A etimologia da palavra "sustentável" é pessoas tem uma regra clara: para ser
proveniente do latim sustentare, que significa sustentável, precisa ser economicamente
sustentar; cuidar, defender; favorecer, viável, socialmente justa, culturalmente aceita
conservar,. Segundo o Dicionário Aurélio, e ecologicamente correta.
sustentabilidade é a qualidade que algo tem A sustentabilidade nada mais é do que uma
em se manter mais ou menos constante, ou conciliação entre a sociedade, crescimento
estável, por um longo período. econômico e preservação ambiental. Preservar
Em 1987, o Relatório de Brundtland é sinônimo de sustentabilidade.
comenta sobre o uso sustentável dos recursos Atualmente esta palavra tem sido muito
naturais que deve "suprir as necessidades da citada em todos os debates que ocorrem pelo
geração presente sem afetar a possibilidade mundo. Muitas conferências, em nível
das gerações futuras de suprir as suas". internacional, vêm acontecendo.
Uma das principais questões da Os sérios problemas ambi¬entais que
sustentabilidade é como o desenvolvimento afetavam o mundo foram a causa da
social e econômico podem ser alcançados convocação pela Assembleia Geral da

977
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Organização das Nações Unidas (ONU), em c) Examinar estratégias nacionais e


1968, da Co¬n¬fe¬¬rência das Nações Uni¬das internacionais para incorporação de critérios
sobre o Meio Ambiente Hu¬¬ma¬no, que veio ambientais ao processo de desenvolvimento;
a se realizar em junho de 1972 em d) estabelecer um sistema de cooperação
Esto¬co¬lmo. Foi marcada por uma vi¬são internacional para prever ameaças ambientais
antropocêntrica de mu¬ndo, em que o homem e prestar socorro em casos emergenciais;
era tido co¬mo o centro de toda a atividade e) Reavaliar o sistema de organismos da
realizada no planeta. ONU, eventualmente criando novas
A Conferência contou com representantes instituições para implementar as decisões da
de 113 países, 250 organizações-não- conferência.
governamentais e dos organismos da ONU. A A Conferência ficou conhecida como
Conferência produziu a Declaração sobre o “Cúpula da Terra” (Earth Summit), e realizou-se
Meio Ambiente Humano, uma declaração de no Rio de Janeiro entre 3 e 14 de junho de
princípios de comportamento e 1992, contando com a presença de 172 países,
responsabilidade que deveriam governar as representados por aproximadamente 10.000
decisões concernentes a questões ambientais. participantes, incluindo 116 chefes de Estado.
Outro resultado formal foi um Plano de Ação O destaque ficou para a Agenda 21. Esse
que convocava todos os países, os organismos acordo é um abrangente plano de ação
das Nações Unidas, bem como todas as implementado pelos governos, agências de
organizações internacionais a cooperarem na desenvolvimento, organizações das Nações
busca de soluções para uma série de Unidas e grupos setoriais independentes em
problemas ambientais. cada área onde a atividade humana afeta o
Em 1988, a Assembleia Geral das Nações meio ambiente.
Unidas aprovou uma Resolução determinando Como produto dessa Conferência foram
à realização, até 1992, de uma Conferência assinados 5 (cinco) documentos, que seguem:
sobre o meio ambiente e desenvolvimento que 1) Declaração do Rio Sobre Meio Ambiente
pudesse avaliar como os países haviam e Desenvolvimento.
promovido a Proteção ambie¬ntal desde a 2) Agenda 21.
Conferência de Estocolmo de 1972. Na sessão 3) Princípios para Administração sustentável
que aprovou essa resolução o Brasil ofereceu- das florestas.
se para sediar o encontro em 1992. Dentre os 4) Convenção da Biodiversidade.
objetivos principais dessa conferência, 5) Convenção sobre Mudança Climática.
destacaram-se os seguintes: A Conferência das Nações Unidas sobre
a) Examinar a situação ambiental mundial Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, foi
desde 1972 e suas relações com o estilo de realizada de 13 a 22 de junho de 2012, na
desenvolvimento vigente; cidade do Rio de Janeiro. A Rio+20 foi assim
b) Estabelecer mecanismos de transferência conhecida porque marcou os vinte anos de
de tecnologias não-poluentes aos países realização da Conferência das Nações Unidas
subdesenvolvidos. sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-

978
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

92) e contribuiu para definir a agenda do quer dizer que seja fácil de fazer. O fato é que
desenvolvimento sustentável para as próximas para isto é necessário conscientização e
décadas. A proposta brasileira de sediar a vontade. Os especialistas, corporações e
Rio+20 foi aprovada pela Assembléia-Geral das governos já têm informações de que estamos
Nações Unidas, em sua 64ª Sessão, em 2009. utilizando muito mais recursos que a terra
O objetivo da Conferência foi a renovação pode repor. Além disto, uma grande parte do
do compromisso político com o que compramos são coisas inúteis, adquiridas
desenvolvimento sustentável, por meio da muitas vezes por impulso ou pela
avaliação do progresso e das lacunas na propaganda/moda e que irão parar no lixo
implementação das decisões adotadas pelas rapidamente.
principais cúpulas sobre o assunto e do Segundo os economistas, o consumo é
tratamento de temas novos e emergentes. A maravilhoso, pois traz a aceleração e expansão
Conferência teve dois temas principais: da economia, o que é bom para o país. Porém
as análises econômicas não estão levando em
• A economia verde no contexto do conta por quanto tempo uma expansão
desenvolvimento sustentável e da erradicação desenfreada do consumo se sustentará e quais
da pobreza; e serão os malefícios no final das contas
• A estrutura institucional para o enquanto mantivermos os mesmos métodos
desenvolvimento sustentável. produtivos.
De 20 a 22 de junho, ocorreram o Segmento Para que se tenha um consumo consciente,
de Alto Nível da Conferência, para o qual foi é interessante o uso dos três R's. Os três R’s
confirmada a presença de diversos Chefes de são: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Um estímulo
Estado e de Governo dos países-membros das para que as pessoas possam refletir em relação
Nações Unidas. Desse modo, inerentes ao a tudo o que consomem. É um passo essencial
debate ambiental, que surge em meio a um para a criação de novas atitudes sociais e para
processo de intensa acumulação capitalista, prevenir os impactos negativos do consumismo
são estabelecidos importantes conceitos ilimitado.
relacionados ao tema, discutidos aqui, como Reduzir é diminuir a quantidade de tudo que
eco-desenvolvimento e desenvolvimento pode virar resíduo. Seja adquirindo produtos
sustentável. que possam ser reutilizados ou comprando
somente o necessário. O importante é saber
AÇÕES RELACIONADAS A que a diminuição da quantidade de coisas que
SUSTENTABILIDADE você joga fora irá aliviar a pressão dos
Diversas são as ações as quais podemos ter depósitos de lixo e os impactos que isso gera ao
um ambiente sustentável, a partir daqui meio ambiente.
listaremos algumas ações: São danos como a emissão de diversos gases
Coisas muito simples podem ser feitas para tóxicos na atmosfera, como a dioxina,
diminuir o impacto ao meio ambiente resultante da incineração do lixo, os gases
proveniente de nossas ações, mas simples não metano e sulfuroso, resultantes da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

decomposição do lixo, além da contaminação não é exclusiva dos materiais e embalagens. A


do solo, de rios, córregos e lençóis freáticos água é outro elemento que deve ser
pelo chorume. Os depósitos a céu aberto reutilizado. A água que sobra da lavagem das
podem ainda favorecer a aparição de doenças roupas, por exemplo, pode ser utilizada para
como leptospirose, febre tifóide, doenças de lavar o quintal, a água da lavagem dos vegetais
pele, dengue, malária, febre amarela, entre pode ser reaproveitada para regar o jardim ou
outras. os vasos de plantas e a coleta da água da chuva
Tida por muitos como o R mais importante, também pode ser usada para lavar o carro,
a redução do lixo é a base de todo o processo, quintal e regar as plantas. Apenas lembre-se de
as próximas etapas acontecerão com os tampar bem os recipientes a fim de evitar
resíduos que conseguirem passar por ela e o criadouros para o mosquito da dengue.
objetivo maior é que passe a menor O reaproveitamento dos alimentos pode se
quantidade possível. Falar então em reduzir dar pela utilização das sobras para se fazer
significa rever o que é importante para o nosso adubo orgânico ou mesmo utilizar partes que
consumo, sua quantidade e o que é muitas antes eram jogaras fora, como as cascas de
vezes apenas uma maneira de nos impor na batata, banana, talos de legumes e etc. em
sociedade como status. Reduzir será uma das receitas inusitadas e diferenciadas.
tarefas mais difíceis dos três R's.. Reciclar é a solução para aquilo que não
Reutilizar é, portanto, a segunda alternativa pode ser reutilizado e mesmo dependendo do
para diminuir a quantidade de lixo que chega tipo de material a reciclarem ainda não é a
aos depósitos todos os dias. Segundo dados do solução, mas reciclar envolve uma rede um
IBGE, o Brasil produz cerca de 230 mil pouco maior, pois para isto precisamos
toneladas de lixo por dia. O Instituto Akatu primeiro de postos de coleta que destinem
lançou um desafio perguntando “quanto corretamente o material, depois precisamos da
tempo seria preciso para encher de lixo 16.400 conscientização das pessoas para recolherem,
caminhões enfileirados de São Paulo ao Rio de separarem e levarem até os postos o lixo que
Janeiro”. A resposta é 72 horas. Portanto, pode ser reciclável.
encontrar outra serventia para aquilo que O termo reciclagem, tecnicamente falando,
aparentemente não serve mais é, além de um não correspondem ao uso que fazemos dessa
estímulo à criatividade, uma excelente forma palavra, pois, reciclar é transformar algo usado
de ajudar o mundo. em algo igual, só que novo. Por exemplo: uma
Reutilizar significa dar um novo uso para as lata de alumínio, pós consumo, é
coisas, evitando que estas virem lixo. Reutilizar transformada, por meio de processo industrial,
os potes de margarida como recipientes para em uma lata nova. Quando transformarmos
congelar alimentos, utilizar canecas rachadas uma coisa em outra coisa, ocorre a reutilização.
como míni vasos, fazer sacolas utilizando O que cada um de nós pode fazer é
garrafas PET, aproveitar os dois lados das praticar os dois primeiros Rs: reduzir e
folhas de papel são algumas ideias da reutilizar.
reutilização de materiais. Mas a reutilização

980
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Quanto à reciclagem, o que devemos fazer é O Desenvolvimento Sustentável possui


separar o lixo que produzimos e pesquisar as basicamente duas vertentes:
alternativas de destinação ecologicamente • Uma que privilegia o aspecto econômico
corretas. Pode ser encaminhar o lixo para uma e as relações que as atividades econômicas
cooperativa de catadores ou até para uma tem com o consumo crescente de energia e
instituição filantrópica que receba material recursos naturais e
reciclável para acumular e comercializar. Dessa • Outra que considera os aspectos
forma, a opção é aproveitar a sua matéria- econômicos, sociais e ambientais,
prima e fabricar outro. Ele pode ser idêntico ao estabelecendo desafios importantes para
anterior ou apenas possuir algumas muitas áreas do conhecimento, implicando em
propriedades suas somadas a outras matérias mudanças nos padrões de consumo e do nível
primas. Por conta disso, a reciclagem é apenas de conscientização..
a última opção, já que além da necessidade de Segundo Sachs, o conceito de
extração de novas matérias primas, a sustentabilidade comporta sete aspectos ou
fabricação desse novo produto acarreta dimensões principais, a saber:
energia, distribuição aos pontos de venda e um Sustentabilidade Social - melhoria da
novo descarte. qualidade de vida da população, equidade na
distribuição de renda e de diminuição das
DESENVOLVIMENTO diferenças sociais, com participação e
organização popular;
SUSTENTÁVEL Sustentabilidade Econômica - públicos e
Define-se por Desenvolvimento Sustentável privados, regularização do fluxo desses
um modelo econômico, político, social, cultural investimentos, compatibilidade entre padrões
e ambiental equilibrado, que satisfaça as de produção e consumo, equilíbrio de balanço
necessidades das gerações atuais, sem de pagamento, acesso à ciência e tecnologia;
comprometer a capacidade das gerações Sustentabilidade Ecológica - o uso dos
futuras de satisfazer suas próprias recursos naturais deve minimizar danos aos
necessidades. Esta concepção começa a se sistemas de sustentação da vida: redução dos
formar e difundir junto com o questionamento resíduos tóxicos e da poluição, reciclagem de
do estilo de desenvolvimento adotado, quando materiais e energia, conservação, tecnologias
se constata que este é ecologicamente limpas e de maior eficiência e regras para uma
predatório na utilização dos recursos naturais, adequada proteção ambiental;
socialmente perverso com geração de pobreza Sustentabilidade Cultural - respeito aos
e extrema desigualdade social, politicamente diferentes valores entre os povos e incentivo a
injusto com concentração e abuso de poder, processos de mudança que acolham as
culturalmente alienado em relação aos seus especificidades locais;
próprios valores e eticamente censurável no Sustentabilidade Espacial - equilíbrio entre o
respeito aos direitos humanos e aos das demais rural e o urbano, equilíbrio de migrações,
espécies. desconcentração das metrópoles, adoção de

981
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

práticas agrícolas mais inteligentes e não Na referida Lei, a promoção da Educação


agressivas à saúde e ao ambiente, manejo Ambiental é colocada como obrigação legal de
sustentado das florestas e industrialização responsabilidade de todos os setores da
descentralizada; sociedade, do ensino formal e do informal.
Sustentabilidade Política - no caso do Brasil, Consequentemente, determina que os
a evolução da democracia representativa para sistemas de ensino têm obrigação legal de
sistemas descentralizados e participativos, promover oficialmente a prática da Educação
construção de espaços públicos comunitários, Ambiental. O texto dos PCNs, reitera que o
maior autonomia dos governos locais e ensino de Educação Ambiental deve considerar
descentralização da gestão de recursos; as esferas local e global, favorecendo tanto a
Sustentabilidade Ambiental - conservação compreensão dos problemas ambientais em
geográfica, equilíbrio de ecossistemas, termos macros (político, econômico, social e
erradicação da pobreza e da exclusão, respeito cultural) como em termos regionais. Desse
aos direitos humanos e integração social. modo, os conteúdos de Educação Ambiental, a
Abarca todas as dimensões anteriores por meio partir de uma relação de transversalidade, de
de processos complexos. modo a impregnar a prática educativa exigindo
do educador uma pré-adaptação dos
EDUCAÇÃO AMBIENTAL conteúdos abordados na sua disciplina, o que
condiz com resoluções do Conselho Federal de
A Educação Ambiental não foi incorporada
Educação, de conferências nacionais e
oficialmente pelos sistemas de ensino como
internacionais, que reconhecem a Educação
política pública, da mesma forma como
ambiental como uma temática a ser inserida no
ocorreu no âmbito do Sistema Nacional de
currículo de modo diferenciado, não se
Meio Ambiente, este sistema de ensino foi
configurando como uma nova disciplina.
paulatinamente absorvendo a prática da
A opção pelo trabalho com o tema “Meio
Educação Ambiental em parceria com os
Ambiente”, traz a necessidade de aquisição de
órgãos governamentais e não governamentais
conhecimento e informação por parte da
dedicados ao meio ambiente.
escola para que possa desenvolver um trabalho
No entanto, a Educação ambiental amplia
adequado junto aos alunos. Isso não significa
cada vez mais seu espaço nos sistemas de
dizer que os educadores deverão “saber tudo”
ensino, mesmo que timidamente, em
para que possam desenvolver um trabalho
decorrência da importância dada a temática
junto dos alunos, mas que deverão se dispor a
ambiental pela sociedade, ao destaque que os
aprender sobre o assunto e, mais do que isso,
temas transversais adquiriram com a
transmitir aos seus alunos a noção de que o
publicação dos Parâmetros Curriculares
processo de construção e de produção do
Nacionais (PCNs), que incluem o meio
conhecimento é constante.
ambiente como um dos temas transversais, e a
Para isso, é importante que os educandos
promulgação da Lei 9.795/99, que institui a
atribuam significados, ou seja, aquilo que
Política Nacional de Educação Ambiental
aprenderam sobre o meio ambiente. São esses
(PNEA).

982
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

os resultados da ligação que o aluno estabelece ambiente e se conscientize de que o ser


entre o que aprende e a sua realidade humano é natureza e não apenas parte dela.
cotidiana, dando a possibilidade de estabelecer É bem provável que esse trabalho, assim
ligações entre o que aprende e o que já como diversos conceitos não sejam de domínio
conhece, e também utilizar o conhecimento nem do próprio educador, já que esses
em outras situações. Neste sentido, a assuntos são, de certa forma, novos na escola.
instituições de ensino devem se organizar de A priori fica a cargo do educador o seu
forma a proporcionar oportunidades para que interesse e o direito de procurar ajuda na
o aluno possa utilizar o conhecimento sobre o comunidade, na direção da escola, nos livros,
meio ambiente. Para tanto o educador tem com colegas, etc., discutindo com os
como tarefa importante, favorecer ao educandos as informações obtidas e
educando o reconhecimento de fatores que mostrando-lhes, assim que o conhecimento é
produzam real bem-estar e ajudá-lo a permanente e contínuo, e que um dos
desenvolver um espírito de crítica às induções, atributos mais importantes da espécie humana
ao consumismo e o senso de responsabilidade é a curiosidade, a eterna condição de aprendiz.
e solidariedade no uso dos bens comuns e O desenvolvimento do tema “Meio
recursos naturais, de modo a respeitar o Ambiente” exige clareza sobre as prioridades a
ambiente e as pessoas de sua comunidade. serem eleitas. Para tanto, é necessário levar
Observa-se, no entanto, que o convívio escolar em consideração o contexto social, econômico,
será um fator determinante para a cultural e ambiental no qual se insere a escola.
aprendizagem de valores e atitudes. A realidade de uma escola em região
Considerando a escola como um dos ambientes metropolitana, por exemplo, implica
mais imediatos do educando, a compreensão exigências diferentes daquelas de uma escola
das questões ambientais e as atitudes em da zona rural. Os elementos da cultura local,
relação a elas se darão a partir do próprio sua história e seus costumes irão determinar
cotidiano da vida escolar do educando. diferenças no trabalho em cada escola.
A aprendizagem de procedimentos A convivência democrática, as promoções
adequados e acessíveis é indispensável para o de atividades que vise o bem estar da
desenvolvimento das capacidades ligadas à comunidade escolar com a participação dos
participação, à responsabilidade e à educandos são fatores fundamentais na
solidariedade. Além desses procedimentos, o construção da identidade desses educandos
educador poderá identificar outros como cidadãos. Assim a grande tarefa da escola
procedimentos importantes de serem é proporcionar um ambiente escolar saudável
trabalhados com os educandos diante de seus e coerente com aquilo que ela pretende, para
interesses e necessidades, como afirma que possa, de fato, contribuir para a formação
Guimarães (1994,p.30), em Educação de cidadãos conscientes de suas
Ambiental é preciso que o educador trabalhe responsabilidades com o meio ambiente e
intensamente a integração entre ser humano e capazes de atitudes de proteção e melhoria em
relação a ele.

983
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Por outro lado, cabe à escola também disciplinas realizam atividades comuns sobre
garantir meios para que os alunos possam por um mesmo tema, (1996,p. 39).
em prática sua capacidade de contribuição. O Tendo em vista a complexidade de
fornecimento de informações, a explicação da compreensão do objeto que envolve a
regras e normas da escola, a promoção de Educação Ambiental, busca-se encontrar o
atividades que possibilitem uma participação ponto de partida para o caminho mais indicado
concreta dos educandos, são condições para a à compreensão de fatos e situações
construção de um ambiente democrático. provocadas pela própria determinação
A escola como uma instituição social com antropocêntrica.
poder e possibilidade de intervenção na No entanto, a Educação Ambiental deve
realidade, deve estar conectada com as estar atenta à origem dos problemas, ou seja,
questões mais amplas da sociedade, deve promover a compreensão do atual
incorporando-as à sua prática. Algumas modelo de desenvolvimento e as questões que
questões bem palpáveis, no entanto, poderiam estão enraizadas neste, sustentando a
ser pensadas e analisadas no âmbito escolar, desigualdade social, impacto ambiental e a
num belo exercício de cidadania, levando os desqualificação da Educação no que refere à
educadores e educandos à uma participação formação de valores e princípios éticos ao ser
maior na comunidade onde vivem e atuam de humano. Para tanto o ambiente está em
acordo com o padrão referencial de currículo. processo contínuo e dinâmico de
Então caberá ao educador transformar cada transformação resultante dos fenômenos
uma das questões em trabalho. naturais. Para formular uma proposta de
As diferentes disciplinas do currículo escolar Educação Ambiental, é preciso que esta
podem extrair de cada questão seus interesses contemple tais transformações,
particulares, a partir de um raciocínio que é Quanto a metodologia de ensino deve
comum a todas. Educadores de várias recorrer ao conflito cognitivo, visando a
disciplinas poderão trabalhar juntos, cada qual reconstrução conceitual. O simples transplante
explorando seu enfoque e sua potencialidade de procedimentos “tradicionais” seria uma
acadêmica. Para que se tenha apenas uma contradição e uma visão equivocada da
ideia, sempre que se lida com problemas Educação Ambiental. Portanto é que devemos
ambientais, os enfoques podem (e devem) ser estar em sintonia com os pressupostos da
múltiplos e cada educador, em sua disciplina Educação Ambiental, como
pode ter uma abordagem diferente do mesmo interdisciplinaridade, visão holística,
problema, no que refere REIGOTA: participação, contextualização e conceito
A Educação ambiental está muito ligada ao pluridimensional do meio ambiente,
método interdisciplinar. Esse método, no promovendo assim melhor qualidade de vida e
entanto, é compreendido e aplicado das mais repensando a relação entre a sociedade e a
diversas formas Normalmente, ele é natureza.
empregado quando professores de diferentes Aqui se evidencia o papel da educação
orientada para o ambiental. É nesse ponto

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dilemático que se inscreve o espaço demonstração bem eficiente dos seus próprios
privilegiado de uma educação comprometida, conhecimentos desarticulados com a realidade
entendida como intervenção político- ambiental.
pedagógica que tem como ideário e afirmação Na mesma ética, essa discussão tem
de uma sociedade de direitos, ambientalmente envolvido educadores, especialistas e
justa. Em contrapartida a escola vem lideranças ambientalistas de várias partes do
restringindo sua prática de Educação Brasil nos últimos anos. Os que defendem a
Ambiental a projetos temáticos desarticulados Educação Ambiental como disciplina, que
do currículo e das possibilidades de diálogo da passe a integrar o currículo escolar,
área de conhecimento com a temática. Muitas argumentam que como matéria específica, as
vezes são campanhas isoladas ou ações temáticas ambientais teriam um espaço
efêmeras em datas comemorativas, iniciativas próprio para serem trabalhadas. Por outro
de alguns educadores interessados, que lado, aqueles que sugerem a Educação
acabam por desenvolvê-las de forma Ambiental como uma articulação
extracurricular, ou então são projetos interdisciplinar, afirmam que uma matéria
descontextualizados ou que se concentram em isolada não teria sua importância devida, uma
aspectos puramente ecológicos, deixando de vez que não estaria entre as disciplinas
lado os fatores culturais, políticos, econômicos considerada essencial nas escolas.
e sociais que são parte integrante da temática Para tanto, é válido ressaltar que da
ambiental. natureza não fazem parte apenas as plantas, os
Poucas vezes são pensados a partir das animais das matas e as espécies aquáticas dos
potencialidades das regiões em que a escola rios. Do meio natural também fazem parte,
está inserida. Observa-se que alguns dentre outros, os insetos e microorganismos, o
educadores sem qualificação alguma em ar e as águas dos canais pluviais do ambiente
relação ao meio ambiente, organizam-se a urbano e o próprio homem. Em razão disso, a
favor de uma ordem geral, e de um bem Educação Ambiental não pode ficar restrita às
público, dizem que não sabem por onde “quatro paredes” das escolas. Assim
começar e, pela natureza de suas disciplinas, educadores e educandos devem levar as
pelo que adquiriram em suas escolas de temáticas ambientais para o conhecimento da
formação, não se acham capacitados porque comunidade e procurar interferir na solução de
lhes falta um conhecimento básico da situação. problemas ecológicos locais. Porém a alienação
Preocupados em vencer um programa é um dos fatores que resulta no afastamento
tradicional, são capazes de escorregar na da natureza, não como totalidade fixa e
frente da escola em dia chuvoso, sem imutável, mas como realidade que se modifica
aproveitar a chance de discutir as razões da ao longo da história. Logo a “desarmonia”
formação daquele barro todo, sem qualquer vivenciada no mundo contemporâneo é o
vegetação que proteja o solo e evite a erosão. resultado de relações sociais determinadas no
Outros, ainda ocupados em elaborar provas capitalismo e não um problema de ordem
bem difíceis, o que não deixa de ser uma psicológica ou existencial.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para tanto Loureiro (1997), destaca que, no ações emergenciais que busquem uma
Brasil, a produção acadêmica crítica se mudança efetiva de atitude do homem com
apresenta marginal. Todavia, partimos do relação ao seu meio. Pensa-se que a Educação
pressuposto que é necessário o seu resgate, no Ambiental faz parte do contexto amplo da
conjunto dos movimentos que constituem o própria Educação, devendo ser abordada e
ambientalismo, para buscar e evidenciar as trabalhada em suas multifacetas em todos os
contradições entre capitalismo e níveis de ensino, em todas as disciplinas com
ambientalismo, e orientar seus esforços para a diferentes abordagens quanto a sua
definição de estratégias que atuem no sentido abrangência e complexidade, envolvendo
da democratização e modificação da estrutura técnicos e profissionais ligados a diferentes
social vigente. No entanto, cabe acrescentar áreas de conhecimento. Assim, sua dinâmica e
que a generalização da humanidade como metodologia deverá valer-se de pressupostos
perversa, possibilita uso ideológico da questão teóricos da própria educação, priorizando uma
ambiental, tirando o foco de análise da relação dialógica, contextualizada com os
estrutura das sociedades e colocando a problemas sociais emergentes das regiões,
responsabilidade exclusivamente no indivíduo construída a partir da realidade de cada grupo
e numa tendência humana instintiva de social.
destruição. É por isso, ressalta Loureiro (2000), Para tanto, pesquisa participante,
que os programas ambientais com planejamento cooperativo,
componentes educativos e de ação interdisciplinaridade e avaliação continuada
comunitária, governamentais ou não- são as palavras chave do desenvolvimento de
governamentais, tendem a trabalhar atividades de Educação Ambiental,
exclusivamente o aspecto comportamental e estabelecendo relações entre o conhecimento
moral. Contudo, o processo educativo tem um acadêmico e a cultura popular, entre a teoria e
papel preponderante nessa mudança, mas, a prática, entre o ambiental e o social,
infelizmente, alguns países, que possuem o buscando inserir na própria cultura as ideias de
uma nova relação homem/natureza. Observa-
potencial de mudanças, são os que mais
se então que, esta parece ser a linha de
sofrem consequências da debilidade de um
demarcação entre a Educação Geral e a
sistema de ensino pouco consistente, pois está
Educação Ambiental, a saber, a ênfase no
voltado para o conhecimento e para a
relacionamento do homem com o meio
transformação das contradições da sociedade ambiente global do qual é parte integrante. Se
mundial. esta avaliação é verdadeira, a Educação
O mesmo acontece com relação a Educação Ambiental terá de se preocupar, com a
Ambiental visto que, desenvolve-se de maneira transmissão e assimilação de conhecimentos
formal nas escolas, ou por meio de campanhas adequados acerca do meio ambiente, com o
com o uso dos meios de comunicação de desenvolvimento de valores sociais, com o
massa, ela representa um aspecto não estímulo para a ação responsável de cada
atendido pela Educação, que necessita, pelos cidadão, mas com vistas à mobilização social
resultados alarmantes diagnosticados, de necessária para controlar o poder político e o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

poder econômico, o primeiro, muitas vezes capacidade de fundamentar suas escolhas, a


permissivo, e o segundo, quase sempre entender e superar suas limitações e
interessado apenas no lucro a curto prazo e a possibilidades de ações e, principalmente, a
qualquer preço. compreender que atitudes isoladas e
Dentro deste quadro de referência, parece individualistas não se sustentam.
ficar mais fácil decidir sobre o que pode ser No entanto, pensa-se que uma consciência
objeto da Educação Ambiental, sem correr o voltada para a defesa da qualidade de vida e
risco de aplicar tal rótulo a qualquer tipo de preservação do meio ambiente poderá atuar
atividade. Isto significa dizer que um assunto de forma significativa para uma mudança de
ou uma atividade qualquer, a construção de comportamento para a amenização dessas
estradas por exemplo, passam a ser diferenças e desequilíbrios gerados por essa
preocupação da Educação Ambiental, não em realidade. Considera-se, portanto que, em
primeiro lugar, porque ela estreita o caminho nenhum momento pretende-se, durante a
entre as pessoas, mas porque pode causar explanação desta pesquisa, considerar o
impacto ao meio ambiente. Contudo, Kennedy, assunto como definitivo ou completo. A ideia
apud, Dias (1999,p.128), refere que, as forças predominante foi mostrar caminhos, por meio
das mudanças que ocorrerão em breve no dos descaminhos no qual permeiam a
mundo serão tão complexas, profundas e Educação Ambiental. Caberá aos educadores
interativas que exigirão a reeducação da incentivar em seus educandos a pesquisa de
humanidade. cada assunto e a busca de soluções original e
Vê-se, assim, que a Educação Ambiental que viável em cada caso. A Educação Ambiental
se preconiza nesta pesquisa não pode ser trabalhada de maneira correta nas escolas e
imposto ao cidadão, como numa prática de com a noção de que não deva ficar restrita
cooptação da sociedade para que se adapte à apenas ao ambiente escolar, poderá contribuir
vontade dos órgãos do Estado ou do poder em muito para recuperar e preservar os
econômico, mas deve realizar-se com a recursos naturais e melhorar a qualidade de
participação democrática da população. Não se vida da população.
trata, portanto, de uma educação para a As portas do século XXI infelizmente ainda
sociedade, mas com a comunidade, até porque são registrados casos de abandono por parte
na situação ensino/aprendizagem da sociedade civil e politicamente organizada,
adequadamente estruturada, a pessoa é quando o foco é a valorização da qualidade de
sujeito e não objeto da ação educativa. vida. O que nos coloca a pensar é que,
Para tanto, a Educação Ambiental é uma diferentemente do contexto histórico,
opção de vida, e desta forma, não há como apontando as questões ambientais hoje
pensar em meio ambiente desvinculada de possuímos leis, decretos, seminários enfim,
valores tais como; cooperação, solidariedade, várias ações que, ainda que no papel, nos
respeito mútuo, responsabilidade individual e levam a pensar sobre a relação entre o cuidado
coletiva, participação, comprometimento, a da preservação do meio ambiente como
coletividade. Ao estimular estes valores, a estímulo a qualidade de vida da população
escola deverá propiciar condições para o mundial.
educando aguçar o espírito crítico, a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabemos que ao longo do tempo o papel de professor foi se modificando e este passa a
ser também um aprendiz quando também ensina. A ação de ensinar e aprender são essenciais
para o desenvolvimento e perpetuação da natureza humana. Muitos teóricos denotam o
significado de papel é muito mais amplo e enfatiza que a todo o instante estamos
desempenhando diversos papéis; de pai, filho, esposo (a), vizinho, esportista, torcedor,
professor, aluno, entre outros. Apesar de sermos sempre a mesma pessoa, em cada situação há
uma característica, uma forma de ser que nos diferencia das demais. Embora haja algo de
constante nas pessoas em diferentes situações, a forma de ser no papel de pai, não é a mesma
quando se desempenha o papel de filho, e o mesmo ocorre com o papel de professor, que difere
do papel de aluno ou, ainda, quando se assiste ao seu esporte favorito, e assim por diante.
Antigamente ser professor se resumia em deter todo o conhecimento, autoridade, e uma
figura que representava segurança para as crianças, mas isso acontecia porque as crianças viviam
em lares estruturados, mesmo que sem o amor que deveriam receber sabiam que aquele
ambiente era um lugar seguro para eles. No entanto, o que acontece hoje? Encontramos uma
desestrutura muito grande onde as crianças perderam o referencial que tinham antes (Pai e
Mãe), a estrutura familiar foi modificada, não havendo, mas um lar, mas um lugar onde podem
ficar. Muitas vezes os pais nem veem os filhos apesar de dividirem o mesmo teto. O afeto, o
carinho, o diálogo está ausente neste relacionamento entre pais e filhos. Raros são hoje, os pais
que conseguem apesar de toda correria de suas vidas dedicarem um tempo de amor e atenção
para com seus filhos. Estes pais merecem os “Parabéns” por ainda conseguirem desempenhar
bem o seu papel. Mas sabemos que esta não é a realidade da grande maioria das crianças e
adolescentes de hoje que começam a fazer parte do mundo sem terem a base inicial que
deveriam ter adquirido em casa, com seus genitores.
É duro pensar nessa situação, mas esta é a realidade que vivemos no momento. Pais que
não conseguem fazer seu papel compram seus filhos com o que a mídia determina ser bom.
Tornam os filhos consumistas sem limite de tudo sem avaliarem o que estão disponibilizando
para eles. Basta observar os desenhos infantis de hoje, os heróis que as crianças admiram e vivem
consumindo produtos que tem esses personagens. Os pais não percebem que nas pequenas
atitudes estão contribuindo para formação da personalidade de seus filhos e não são produtos
que substituirão o carinho e a atenção que a criança precisa. Nós educadores, nunca
substituiremos os pais e nem devemos assumir o papel deles. Mas cabe a nós contribuímos de
maneira adequada, com a parcela que nos cabe, na formação da personalidade desta criança,
lembrando sempre que eles aprendem pelo exemplo e não pelo que falam para fazerem. Dessa
forma, agindo com atenção e carinho, começarão a observar mais as nossas atitudes e quem sabe
procurarão seguir um caminho mais digno e certo em suas vidas.
Na formação dos professores/alfabetizadores de jovens e adultos e o consequente reflexo
na administração de sua própria formação continuada e os objetivos específicos; analisar as
políticas governamentais que anunciam oportunizar, às professoras, acompanhamento técnico e
materiais, possibilitando-lhes condições reais de administrarem sua própria formação; identificar

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a dimensão das políticas públicas educacionais brasileiras em consonância com a política


econômica e social do modelo de política neoliberal na formação dos professores.
Diante disso, cabe ao professor independentemente do nível de ensino refletir sobre tão
complexa e importante à tarefa de promover o uso comunicativo dos textos, e de todo o resto;
reflexão, compreensão, automatização, enfim, da promoção de experiências educadoras de
natureza distintas, invariavelmente segmentadas para os conteúdos observáveis e em
conformidade com o planejamento. Atingir os objetivos propostos nos planejamentos de ensino
não é uma tarefa fácil, porém não é impossível, e dói saber que estamos diante de uma corrente
de analfabetos. Em nossas escolas temos professores cada vez mais escravos da filosofia da
"pedagogia do exemplo" ao contrário. Estamos incoerentemente tentando montar um quebra-
cabeça faltando peças. Resta um compromisso maior de todos os educadores no sentido de
restabelecer um redirecionamento para o entendimento da condução realista ao enfocar que o
domínio da linguagem e escrita não são facilmente canalizáveis e, portanto, precisamos enfrentar
esta barreira. Nessa perspectiva, e fundamental que o professor tenha domínio do objeto de
conhecimento, das habilidades didáticas e conheça o sujeito da aprendizagem.
Considerando os tipos de saberes necessários ao professor, é fundamental refletir com
estes sobre as estratégias didáticas, procurando estabelecer conexões com os saberes a serem
ensinados e os saberes sobre os processos didáticos que permitem uma adequada intervenção
entre o sujeito que aprende e o que é objeto de seu conhecimento (Guia do formador, Mod. II,
PROFA, p. 26).
Em suma o ensino da leitura e da escrita deve ser entendido como prática de um sujeito
agindo sobre o mundo para transformá-lo e, para, por meio da sua ação, afirmar a sua liberdade
e fugir à alienação.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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ambiente. Ed Edgard Blücher Ltda.

BRASIL. Consumo Sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/


MEC/ IDEC, 2005. 160 p.

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DIAS, Genebaldo Freire. Elementos para Capacitação em Educação Ambiental. Ilhéus-BA :


Editus, 1999.

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Química/USP-S.

LOUREIRO, Carlos Frederico B (org) et al. Sociedade e Meio Ambiente: A educação


ambiental em debate. São Paulo: Cortez, 2000.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond,


2000.

SÃO PAULO (Estado) . Secretaria do Meio Ambiente / Agricultura sustentável. Kamiyama,


Araci. - - São Paulo: SMA, 2011.

SCARLATO, F e Pontin, J. A. Do nicho ao Lixo: ambiente, sociedade e educação. São Paulo:


Editora Atual, 1992, 74 p.

SOBRAL, Helena Ribeira. O Meio Ambiente e a Cidade de São Paulo. São Paulo, Ed. Makron
Books, 1996.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO FACILITADOR


DA APRENDIZAGEM
Jéssica Gomes Campos Fandim1

RESUMO: O presente artigo objetiva o debate sobre a relevância do lúdico no processo de ensino-
aprendizagem, de modo especial nos anos iniciais do Ensino Fundamental, como forma de
promover o desenvolvimento do educando, proporcionando-o uma aprendizagem significativa,
prazerosa e atrativa. Ressalta-se como por meio do lúdico, há uma eficácia no desenvolvimento
das condicionantes cognitivas e motoras da criança nos mais diversos estágios de sua vida
cotidiana e principalmente escolar.

Palavras-Chave: Educação; Lúdico; Instrumento.

1Professora de Educação Infantil e Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PLAYING AS A FACILITATING INSTRUMENT OF LEARNING


ABSTRACT: This article aims to debate the relevance of play in the teaching-learning process,
especially in the early years of Elementary School, as a way of promoting the student's
development, providing him with a meaningful, pleasant and attractive learning experience. It is
emphasized how, through play, there is an effectiveness in the development of the child's
cognitive and motor conditions in the most diverse stages of their daily life and especially at
school.

Keywords: Education; Ludic; Instrument.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO pesquisa utiliza alguns dos recursos


estruturados no método do estado do
Os primeiros anos da infância são conhecimento, similar aos recursos do estado
fundamentais para o desenvolvimento da da arte, porém de menor amplitude.
criança. São a base para sua estrutura A escolha deste tema foi baseada nos
emocional, física e intelectual. A criança que questionamentos existentes acerca das escolas
tem um bom alicerce, um bom de Educação infantil. Muitos pais questionam o
desenvolvimento nesta fase, de forma integral verdadeiro valor desta fase da criança na
e saudável, adquire novos conhecimentos e se escola, por vezes exigindo da criança um
adapta a diferentes ambientes com mais conteúdo e uma carga que não fazem parte
facilidade. Nesta fase, na qual a criança deve destes anos iniciais, pensamentos distorcidos
receber diferentes estímulo, o brincar é um dos do que, exatamente, leva a criança a se
mais relevantes. E é na Educação infantil, desenvolver e aprender nesta fase, na qual o
primeira etapa da Educação Básica, que a “brincar” é simplesmente se distrair, sem que
criança pode reproduzir por meio desta haja ali um retorno para o seu aprendizado. O
importante forma de comunicação, o seu trabalho justifica-se tendo como referência o
cotidiano. fato de a educação infantil representar uma
Neste texto, propõe-se discutir o “brincar” etapa fundamental na formação do indivíduo
na Educação Infantil, sua importância para o na sociedade contemporânea, não apenas
aprendizado e desenvolvimento da criança, e acerca das habilidades sociais necessárias para
os benefícios físicos e psicológicos que o o convívio no dia a dia, como na formação da
brincar traz nos primeiros anos da infância. própria identidade da criança no futuro.
Para a realização deste trabalho foi utilizada a Contudo, a escola em geral e, em especial a
pesquisa bibliográfica, baseada na reflexão de educação infantil, tem sido um espaço no qual
leitura de revistas, artigos, livros e sites. os responsáveis legais deixam a criança e
O objetivo da pesquisa é realizar um possam se dedicar as atividades profissionais.
levantamento bibliográfico por meio do Isto é, a escola tem sido encarada por muitas
método do estado do conhecimento sobre as famílias como um lugar para cuidar da criança.
produções que tratam do tema do brincar na De fato, faz parte do currículo da educação
educação infantil enquanto uma forma de infantil a realização de atividades e práticas
promover o ensino e a aprendizagem. que envolvem o cuidado com o corpo, com a
Atualmente a brincadeira ainda não é vista higiene, com o lixo, com a relação com a
pelos pais como uma forma efetiva de natureza. Neste sentido que o uso do lúdico e
aprendizagem, sendo compreendida como um da brincadeira como formas de promover o
mero passatempo para a criança. A pesquisa se ensino e a aprendizagem deve ser valorizadas,
justifica, neste sentido, justamente por buscar pois possibilitam que a criança aprenda de
resgatar nos artigos científicos os trabalhos forma prazerosa. Por isso, o projeto busca fazer
que evidenciam a importância e eficácia desta um levantamento bibliográfico acerca das
forma de promover o ensino. Para isso, a publicações mais recentes que se dedicam ao

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estudo do uso do lúdico e da brincadeira na resolução de conflitos, desenvolvendo sua


educação infantil. Diante do cenário no qual a socialização no ambiente escolar.
educação infantil é vista como um espaço para
passar o tempo e não de aprendizagem, é • Qual a importância do brincar para o
necessário resgatar os estudos acadêmicos e aprendizado na educação infantil?
científicos que transpõem este sentido e A partir de um levantamento bibliográfico
colocam em evidência a efetividade destes inicial é possível destacar que o brincar e as
métodos no processo de ensino e brincadeiras possibilitam exercitar todos os
aprendizagem na educação infantil. direitos da criança e estabelecer contato com
os campos de experiência, numa relação
DESENVOLVIMENTO estreita entre os jogos, a ludicidade e o
aprendizado. Para que isto seja possível, é
A complexidade relacionada à ludicidade e a
importante que pais, educadores e a
brincadeira nos leva a concluir que para
compreendermos o significado do brinquedo e sociedade, de uma maneira geral, se
a amplitude de como a criança se manifesta no conscientizem da importância da ludicidade na
brincar, resulta das relações construídas na infância e que o brincar não é somente um
escola, na família e na sociedade, visto que lazer, mas um aprendizado.
estas questões complexas são fundamentais Quando falamos sobre a brincadeira dentro
para resolver determinadas situações da escola, principalmente na Educação Infantil,
geradoras de problemas advindas do ambiente é importante ressaltar que esta atividade seja
no qual a criança está inserida. Por outro lado feita com qualidade, em local e espaço
também possibilita ao educador conhecer mais adequado e planejado, com materiais e
sobre a personalidade da criança, observar é brinquedos, cujo propósito seja o de estimular
um ato de saber para definir objetivos de as crianças. Por isso, cabe ao educador um
aprendizagem em seu planejamento olhar atento à criança e dar a ela as propostas
pedagógico, por meio do lúdico. e estímulos que necessita para desenvolver
suas habilidades. Por isto as escolas de
Na educação Infantil, é preciso promover a
participação do aluno, ampliando repertório Educação Infantil devem dar atenção máxima a
para o desenvolvimento da sensibilidade e da estes momentos.
criatividade, potenciando sua vivência cultural Segundo Ferreiro (2000), escrever e ler são
e artística. Estas formas de interação, por meio ações verbais de comunicação, que pode
do lúdico e da brincadeira, torna o aluno mais acarretar mudanças relacionadas ao cultural e
comunicativo, ampliando e enriquecendo seu ao sistema alfabético que auxilia nas
vocabulário, além de desempenhar um papel diferentes organizações da língua falada e
ativo na interação e convivência com os demais escrita e que acarreta uma viabilidade
colegas, desenvolvendo a característica física, sociocultural, dentro disso lembra, Tfouni
emocional, afetiva e cognitiva, bem como (2010), que na atualidade a alfabetização e
aprender a lidar com suas frustrações e na muito mais, e vai além do ler e escrever,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Existem duas formas segundo as quais potencialidades sejam estimuladas. Sabemos,


comumente se entende a alfabetização: ou no entanto, que para atender todas as
como um processo de aquisição individual de necessidades, específicas desta fase, com
habilidades requeridas para a leitura e escrita, propostas definidas e organizadas,
ou como um processo de representação de contemplando cada faixa etária, não é fácil, por
objetos diversos de naturezas diferentes isso a importância de um ambiente acolhedor
(TFOUNI, 2010, p.16). e seguro, em que a criança se sinta confortável
Dante (1998, p. 49), informa que as e confiante.
“atividades lúdicas podem contribuir Sabe-se que ao brincar a criança está
significativamente para o processo de inserida num contexto, no qual existe um
construção do conhecimento da criança. Vários colega, um ambiente, materiais ou brinquedos
estudos a esse respeito vêm provar que o jogo que estimulem a criatividade e um mediador
é uma fonte de prazer e descoberta para a que esteja com ela neste momento, para que a
criança. ” (DANTE 1998. p. 46.). A contribuição mesma absorva o máximo de aprendizado
do lúdico na Educação Infantil é parte possível. Para que isso seja possível, a escola
fundamental na vida da criança, e esta etapa deve ter os recursos adequados que
não deve ser vista apenas como diversão, mas possibilitem ao professor estimular esta
também de relevância no processo ensino- criança, a qual ele possa incentivar e dar
aprendizagem. As brincadeiras, os jogos, os possibilidades para que ela explore suas
brinquedos, devem estar disponíveis e se fazer habilidades e potencialidades. Para tanto, a
presentes como recursos didáticos utilizados criança depende do ambiente, das suas
no processo educacional da Educação Infantil. interações e do apoio que recebe da escola, do
O educador, ao proporcionar o envolvimento educador e da família.
da criança em brincadeiras, possibilita o As Escolas de Educação Infantil devem
processo de inclusão, de socialização e garantir essa integralidade, criando
desenvolvimento sociocultural. oportunidades para que as crianças sejam
É por meio da brincadeira que a criança capazes de expressar seus sentimentos,
aprende a se relacionar no meio onde vive, desejos, frustrações e de se desenvolver em
aprende a respeitar as regras, tem noção de todos os aspectos. E o professor tem papel
espaço, desperta o raciocínio e aprende a fundamental neste processo, em estimular e
resolver problemas. Para Piaget (1998), o despertar o interesse da criança. Ao explorar o
lúdico na Educação Infantil é fundamental para universo infantil, ele passa a entender melhor
o desenvolvimento e aprendizagem da criança. seus alunos e consegue criar e desenvolver
Em que uma atividade proporcionada a criança novas formas de tornar o aprendizado mais
onde ela se divertida e sinta prazer, irá divertido.
desenvolver sua criatividade conhecimento Para uma Educação Infantil de qualidade, é
enquanto aprende brincando. importante que o educador tenha garantido
Nesta fase a criança, deve ser atendida de boas condições de trabalho, os quais sejam:
forma integral, de maneira que todas as suas espaços para explorar diferentes atividades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

juntamente com a criança, ter à mão materiais desenvolvimento harmónico das crianças.
que estimulem o aprendizado, bem como (TEIXEIRA, 2003, p. 234).
possibilitem a criação de atividades que A utilização de brincadeiras e jogos como
estimulem a imaginação e o desenvolvimento prática pedagógica é utilizada diariamente por
da criança. professores da Educação infantil que acreditam
Para a criança a brincadeira é uma das que a ludicidade é extremamente importante
principais maneiras de se expressar. Há pouco para o desenvolvimento e aprendizado das
tempo uma criança brincando era vista como crianças. Que são excelentes recursos para o
se estivesse em um mundo à parte, só seu. Já desenvolvimento de habilidades sociais,
hoje, depois de muitos estudos sabe-se que é cognitivas, afetivas e motoras e são
por meio das brincadeiras que se constituem considerados instrumentos importantes que
como indivíduos. Segundo Oliveira (1997), motivam o desenvolvimento da linguagem
quando a criança brinca e joga, está escrita, oral, do raciocínio lógico entre outras.
desenvolvendo a sua capacidade de As crianças, por meio do universo lúdico, se
representar e de simbolizar o mundo, os expressam com maior facilidade, passando a
objetos, a cultura e o afeto das pessoas que respeitar, ouvir o outro e discordar de opiniões.
convivem com ela. Por isso que os jogos, as Passam a exercer sua liderança. Sendo assim,
brincadeiras e o lúdico passaram a ser vistos tendo oportunidade de brincar, elas estarão
como um processo de grande importância na mais preparadas para lidar com diversos tipos
primeira infância e fundamental no de situações e emoções, dentro do ambiente
desenvolvimento e aprendizagem da criança escolar. Discussões sobre a importância do
na Educação Infantil. brincar, da ludicidade, das brincadeiras, dos
O brincar e valorizar o “brincar” é jogos vem ganhando destaque nos debates a
fundamental para o desenvolvimento da respeito do desenvolvimento e do aprendizado
criança, pois no “brincar” ela se constrói como na infância.
sujeito histórico e de direitos, nas interações e
brincadeiras que vivencia e constrói sua CONTRIBUIÇÕES DA
identidade pessoal e coletiva, imagina,
fantasia, observa experimenta, questiona. É PSICOLOGIA PARA
nesta perspectiva que a Educação infantil deve COMPREENSÃO DA
basear suas práticas pedagógicas.
APRENDIZAGEM INFANTIL
As brincadeiras são fundamentais na vida da
Piaget (1974), demonstrou interesse real e
criança, porque são nessas atividades que ela
genuíno no comportamento das crianças. Ao
constrói seus valores, socializa-se(…), cria, seu
prestarmos atenção nas crianças podemos
mundo, desperta vontade, adquire consciência
reaprender com elas a observar as coisas com
e sai em busca do outro pela necessidade que
um olhar mais atento. Para Piaget as crianças
tem de companheiros. Portanto, não permitir
são naturalmente curiosas, inventivas e
as brincadeiras será uma violência para o
criativas e com elas podemos resgatar o nosso

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

lado "criança", sempre em busca de novas simbólica, ela se baseia em regras de


aventuras! comportamento condizentes com a situação
E é por meio do brincar, atividade vivida onde ela irá interiorizar valores, modo de
fundamental no desenvolvimento da sua agir, regras de conduta, modo de pensar do seu
identidade e autonomia, que a criança irá grupo social. E isto passará a orientar o seu
expressar suas ideias e preferências, irá comportamento e irá auxiliar no seu
interagir com o outro, desenvolvendo sua desenvolvimento cognitivo:
imaginação, sua memória e atenção. Sabemos No brinquedo, a criança sempre se
que as atividades lúdicas são de grande comporta além do comportamento habitual de
importância para o desenvolvimento das sua idade, além de seu comportamento diário,
crianças. Por meio dos jogos desenvolvem o no brinquedo é como se ela fosse maior do que
pensamento a concentração e a linguagem. na realidade. Como no foco de uma lente de
Piaget (1974), deixa claro em suas obras que aumento, o brinquedo contém todas as
para ele os jogos não apenas possibilitam que tendências do desenvolvimento sob forma
a criança se distraia e gaste energia, mas condensada, sendo ele mesmo, uma grande
também contribui significativamente para o fonte de desenvolvimento. (VYGOTSKY, 1999,
desenvolvimento intelectual. Para Piaget p. 134-135).
(1974, p. 54), “a brincadeira estimula o De acordo com Vygotsky (1987, p. 35):
desenvolvimento cognitivo, mas este só O brincar é uma atividade humana criadora,
acontece a medida que a criança exercita as na qual imaginação, fantasia e realidade
habilidades adquiridas”. Segundo Kishimoto interagem na produção de novas
(1996, p. 126), na teoria de Piaget, “a possibilidades de interpretação, de expressão e
brincadeira é uma maneira da criança se de ação pelas crianças, assim como de novas
expressar livremente de maneira espontânea e formas de construir relações sociais com
prazerosa onde a partir daí a criança se outros sujeitos, crianças e adultos.
desenvolve constrói conhecimentos”. Neste Para Wallon mesmo o “brincar”, fazendo
mesmo sentido, nos termos de Piaget “a parte da natureza da criança, ele precisa estar
brincadeira é o trabalho da infância. ” (PIAGET, inserido em um contexto social, onde o
p. 94) brinquedo é somente um objeto simbólico que
Vimos então que, segundo Piaget não só terá funcionalidade quando a criança o
podemos dissociar o “brincar”, do “se utilizar nas brincadeiras. E que o aprendizado
desenvolver e do aprender na infância”. Já para não tem que ficar atrelado a conteúdo. A
Vygotsky (1999), a brincadeira tem grande criança precisa para aprender de movimento,
influência no desenvolvimento infantil. Tanto afeto e que o mediador a deixe livre para que
pela necessidade de ação da criança como para ao explorar possa fazer suas próprias
satisfazer suas impossibilidades de executar descobertas. Dessa forma, “o ambiente social
determinadas ações. Para Vygotsky mesmo da criança co-determina sua existência e
envolvendo situações imaginárias, a fornece o primeiro meio de satisfação das suas
brincadeira não é apenas uma atividade necessidades” (WALLON, 2001, p. 141)

997
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A intervenção pedagógica provoca avanços


que não ocorreriam espontaneamente, a
importância da intervenção deliberada de um
indivíduo sobre outros como forma de
promover desenvolvimento articula-se com
um postulado básico de Vygotsky: a
aprendizagem é fundamental para o
desenvolvimento desde o nascimento da
criança. A aprendizagem desperta processos
internos de desenvolvimento que só podem
ocorrer quando o indivíduo interage com
outras pessoas (OLIVEIRA, 1993, p. 33).
E esta mediação, não parte somente da
interferência direta do professor, mas de um
ambiente organizado que estimule a
criatividade, o pensar. Objetos, brinquedos e
jogos que lhe possibilitem desenvolver suas
habilidades.
...não é suficiente disponibilizar às crianças
brinquedos e jogos; é fundamental organizar o
cenário ludo-educativo e estabelecer
modalidades interativas que extraiam os
melhores proveitos da brincadeira para o
desenvolvimento cognitivo (PIMENTEL, 2007,
p. 235)
Citando a Educação Infantil falamos do
ambiente social em que a criança está inserida,
percebe-se a importância do mediador na
escola. E do pensar no “brincar” dentro deste
contexto. Para que esta brincadeira seja de
qualidade, ela precisa ser pensada e organizada
com responsabilidade pelo mediador, para que
a criança absorva todo o aprendizado que esta
atividade oferece de uma maneira integral.

998
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no que foi apresentado, conclui-se que é importante o educador trabalhar o
lúdico em sala de aula, visando ser uma aprendizagem prazerosa para a criança, facilitando o
desenvolvimento e aprendizagem de toda criança, sendo necessária a compreensão dos aspectos
da brincadeira e as diferentes expressões lúdicas em suas principais características. No brincar a
criança constrói o seu conhecimento por meio da ação e dos objetos dos quais ela possui contato,
ela necessita construir e estabelecer significados aos objetos, esta construção acontece no
mundo real onde ela imagina e cria suas fantasias, sendo ela em um mundo imaginário,
fantasiando a realidade e interagindo com a cultura a qual está inserida, construindo a sua
realidade e desenvolvendo seus aspectos cognitivos, sociais e emocionais. Um processo
complexo que para a criança acaba se tornando simples e espontâneo.
A brincadeira possibilita ações coordenadas para o desenvolvimento e aprendizagem da
criança, ao experimentar novas habilidades, a criança é desafiada a agir de acordo com suas
funções psicológicas, favorecendo o pensamento e resolução de conflitos que podem surgir no
decorrer da brincadeira. A criança assume funções das quais não estão em seu convívio rotineiro,
desenvolvendo novas habilidades e operando mediante conhecimentos adquiridos durante a
aprendizagem.
O professor é o mediador da ludicidade e deve conhecer as expressões lúdicas e os
importantes aspectos da brincadeira na construção do conhecimento como forma de
aprendizado a fim de assimilar a realidade com o mundo social, superando obstáculos da vida
real. Dessa forma, o educador proporciona uma nova forma de interação da criança com o mundo
adulto, desenvolvendo competências e habilidades de forma mais prazerosa e espontânea,
facilitando o processo de ensino, organizando o tempo e espaço e compreendendo como as
funções lúdicas da brincadeira influenciam o processo de aprendizagem e assim possam garantir
que a ludicidade se constitua como um fator essencial para a integração dos aspectos físicos,
cognitivos, afetivos, emocionais e sociais, e também para o desenvolvimento da aprendizagem.

999
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1001
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O MOVIMENTO DIALÉTICO DO SILÊNCIO NA


PERSPECTIVA DA COMPREENSÃO DA ANÁLISE
DO DISCURSO
Antonio Carlos Icó 1

RESUMO: O presente artigo se propõe a apresentar de maneira introdutória alguns dos


complexos conceitos da Análise do Discurso – AD, exaltando o significado do silêncio em termos
da construção discursiva pelo sujeito. Recorre-se como referência principal à concepção de Eni
Puccinelli Orlandi (2007), um movimento dialético em relação à compreensão do silêncio:
enquanto discurso autônomo; presente nas formações discursivas; em formato de linguagem
singular, relativo ao seu modo de organização subjetiva; deveras importante para o processo de
desenvolvimento da AD.

Palavras-Chave: Formações Discursivas; Interdiscurso; Silêncio.

1Professor da UNEB; MD Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC/UNEB).


Graduações: Administração (UFBA) e Psicologia (UFBA)

1002
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE DIALECTIC MOVEMENT OF SILENCE IN THE PERSPECTIVE OF


UNDERSTANDING DISCOURSE ANALYSIS
ABSTRACT: This article proposes to present in an introductory way some of the complex concepts
of Discourse Analysis – AD, extolling the meaning of silence in terms of the discursive construction
by the subject. The main reference is to the conception of Eni Puccinelli Orlandi (2007), a
dialectical movement in relation to the understanding of silence: as an autonomous discourse;
present in discursive formations; in a singular language format, related to its subjective
organization mode; very important for the AD development process.

Keywords: Discursive Formations; Interdiscourse; Silence.

1003
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO sujeitos que se comunicam – interlocutores.


Dessa forma, torna-se necessário estabelecer a
Neste artigo, considera-se a Análise do diferenciação entre a importância do discurso
Discurso enquanto campo do conhecimento da e a do texto para a análise do discurso: este
linguagem que investiga a produção dos último a expressão da língua, enquanto o
sentidos que acontecem entre a língua, o primeiro é a agregação constituída pelos
sujeito e a história. Segue-se o raciocínio de princípios, valores e significados, subjacentes
que um dos objetivos primordiais da AD é ao texto. Assim, pode-se dizer que o discurso é
compreender as ideologias presentes no uma das possibilidades de sentido de um texto.
interior do discurso, analisando Então, pode-se considerar que o discurso é o
qualitativamente as informações textuais de espaço onde encontram-se as possibilidades
determinadas produções. Para isso, observa-se de identificação das relações entre o texto e o
a necessidade de incluir a conceituação de contexto que o produziu.
discurso, aqui tomado a partir da perspectiva No desenvolvimento de um processo de
de Eni Orlandi (2003, p.15) Análise do Discurso, o analista deve
[...] como palavra em movimento, prática de preliminarmente, se colocar atento à visão de
linguagem: com o estudo do discurso observa- discurso que intenciona utilizar, fator de
se o homem falando. fundamental importância, pois será o lastro
Na análise do discurso, procura-se sobre os quais seguirão os caminhos da sua
compreender a língua fazendo sentido, análise. Diversas são as concepções discursivas.
enquanto trabalho simbólico, parte do Grosso modo, de um lado existem os discursos
trabalho social geral, constitutivo do homem e que apresentam aparências referentes às
da sua história. convenções “naturais”, porém, na realidade,
Por este tipo de estudo se pode conhecer seguem as convenções das colonizações
melhor aquilo que faz do homem um ser ideológicas, que tanto podem vir de
especial com sua capacidade de significar e determinadas preconcepções, como de
significar-se. A Análise do Discurso concebe a mentalidades filosóficas de certos discursos
linguagem como mediação necessária entre o políticos Fernandes, (2007). Nesse sentido,
homem e a realidade natural e social. Essa pode-se presumir a existência de um
mediação, que é o discurso, torna possível direcionamento político na manipulação do
tanto a permanência e a continuidade quanto discurso. De outro lado, existe a concepção dos
o deslocamento e a transformação do homem discursos como se fossem mosaicos nos quais
e da realidade em que ele vive. O trabalho ocorrem diversas trocas entre produtores e
simbólico do discurso está na base da produção intérpretes. Nessa perspectiva, os sujeitos
da existência humana. envolvidos produzem sínteses negociadas no
Compreendendo também o que é comum próprio processo de produção discursiva.
entre as diversas abordagens examinadas, em Intencionando desenvolver um método de
síntese, pode-se dizer que discurso é a investigação que proporcione a elaboração de
resultante de sentidos que ocorre entre novos pensamentos, Paul Michel Foucault

1004
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

(2008), estruturou o seu trabalho baseado em significa que o discurso funciona como uma
uma espécie de arqueologia sobre os saberes espécie de construção da realidade. No
filosóficos, literários e da análise do discurso, entanto, a realidade material, para além do
que pode ser compreendida como uma discurso, também existe, mas não pode ser
reflexão sobre o percurso civilizatório, por absorvida integralmente de maneira crua pela
meio do qual seja possível gestar reflexões totalidade da observação física do olhar
originais que abram possibilidades de reflexão humano. Ela precisa ser coberta com algum
sobre o processo científico em geral. Porém, tipo de simbolismo, de conjunto de signos,
sem a necessidade de se fixar nas estruturas conseguindo-se dessa forma organizar e definir
universais preexistentes no conhecimento ou as coisas que existem.
ações morais, pois o que importa são as O discurso é constituído historicamente, na
articulações que se estabelecem entre os medida em que não nasce de um vazio, de um
pensamentos, dizeres e ações, característicos vácuo a partir da vontade das pessoas, pois isso
de certos espaços e tempos, haja vista que os é o que menos importa. Na realidade, é o
acontecimentos discursivos são históricos. discurso que fornece os enunciados para
Nesse sentido, considera que o discurso não integrar os desejos e as possibilidades de se ter
deve ser entendido tão somente como um um objetivo dentro de um dado discurso outro
mero conjunto de palavras, não pode ser e se ter a chance de se falar uma coisa e não
confundido com a sua retórica, com aquilo que outra, tudo dependendo da posição que os
é simplesmente expresso pela fala de alguém, sujeitos ocupam no interior do discurso.
não é apenas um conjunto de coisas ditas. Para Neste prisma, no discurso estão presentes
a compreensão do discurso é primordial não se dois elementos constitutivos: O primeiro no
atribuir uma significação mecânica às palavras sentido de elaborar o conhecimento a
e às coisas em si, mas considerar que a sua realidade em conjunto com a realidade
constituição ocorre a partir de um contexto em material vista para além do discurso. É nele que
que se pode organizar o que é lógico de ser se desenvolve o conhecimento, a possibilidade
dito, sejam verdades ou mentiras, o que pode de se construir algo não sabido, definir o que é
ser validado cientificamente ou não, o que é verdadeiro ou não, dizer o que é ciência ou não.
passível de ser mencionado em determinadas O segundo elemento diz respeito às relações
situações por cada sujeito participante. que são estabelecidas entre os diferentes
Dessa forma, é necessário compreender o sujeitos, definindo o que pode ou não ser dito
discurso enquanto um sistema, similar a uma por cada um deles, na medida em que os
estrutura, em que acontecem no seu interior dispersa e os localiza em diferentes posições
dispersões de enunciados. Porém dando diferentes relações para cada tipo de
concomitantemente esse sistema é dirigido sujeito inserido no discurso. O que significa que
por posicionamentos hierarquizados que em determinado contexto alguém terá um
podem possibilitar o surgimento de alguns conjunto de enunciados que pode falar com o
enunciados e o desaparecimento de outros, outro e este terá o seu conjunto de enunciados
definindo as ausências e as presenças. Isso que pode falar com o primeiro. Portanto, não

1005
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

chega a ser uma relação livre, mas sim sujeito. Porém, a AD é muito mais complexa,
decorrente da posição em que ambos se pois diversos outros aspectos precisam ser
encontram ocupando naquele espaço e tempo. levados em consideração no momento em que
[...] as continuidades irrefletidas pelas quais se elabora a análise discursiva. Para isto, os
se organizam, de antemão os discursos que se campos do conhecimento de outras ciências
pretende analisar: renunciar a dois temas que como a Antropologia, a Filosofia, a Psicologia, a
estão ligados um ao outro e que se opõem. Um Sociologia, aspectos culturais, dentre outros,
quer que jamais seja possível assinalar, na contribuem para que a AD tenha a
ordem do discurso, a irrupção de um possibilidade de desenvolver suas análises.
acontecimento verdadeiro; que além de A AD pode ser utilizada para se compreender
qualquer começo aparente há sempre uma uma grande variedade de tipos de discurso,
origem secreta - tão secreta e tão originária sejam políticos; religiosos; até mesmo os
que dela jamais poderemos nos reapoderar lúdicos e as situações inusitadas. Se concentra
inteiramente. Desta forma, seríamos nos processos de sentido que ocorrem no
fatalmente reconduzidos, através da interior dos diversos tipos de comunicação
ingenuidade das cronologias, a um ponto como as mensagens veiculadas, os canais de
indefinidamente recuado, jamais presente em comunicação, os espectadores e o contexto
qualquer história; ele mesmo não passaria de social em que ocorrem as produções. Na
seu próprio vazio; e a partir dele, todos os conjuntura atual, marcada por um contexto
começos jamais poderiam deixar de ser global tão impregnado de mensagens e
recomeço ou ocultação. [..] todo discurso comunicações repletas de diversidades e
manifesto repousaria secretamente sobre um contradições, fazer uma Análise do Discurso de
já-dito; e que este já-dito não seria boa qualidade tornou-se uma atividade
simplesmente uma frase já pronunciada, um deveras importante.
texto já escrito, mas um "jamais-dito", um O objetivo essencial da AD é demonstrar as
discurso sem corpo, uma voz tão silenciosa relações entre a Linguagem, a História e a
quanto um sopro, uma escrita que não é senão Sociedade, recorrendo aos efeitos do sentido.
o vazio de seu próprio rastro. Supõe-se, assim, Porém esses sentidos não são encontrados
que tudo que o discurso formula já se encontra facilmente naquilo que é dito, tornando-se
articulado nesse meio-silêncio que lhe é prévio, necessário direcionar a atenção para o não
que continua a correr obstinadamente sob ele, dito. Em movimento dialético, assume a
mas que ele recobre e faz calar. O discurso vanguarda, enquanto elemento principal a ser
manifesto não passaria, afinal de contas, da estudado, o Interdiscurso, o espaço em que
presença repressiva do que ele diz; e esse não- podem ser reconhecidos outros significados
dito seria um vazio minando, do interior, tudo nos discursos de um sujeito, pela presença de
que se diz (FOUCAULT, 2008 p 27-28). diferentes discursos, oriundos de outros
Dessa forma, a escolha de uma palavra por momentos na história e de diversos espaços
alguém que se comunica pode indicar o sociais. Assim, revela-se como as identidades
contexto sócio ideológico empregado por este se estruturam pelas relações com outras

1006
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

identidades e denota-se que os discursos existentes preponderam a francesa e a Anglo


nascem de uma espécie de rede entrelaçada no Saxã.
interior de uma formação discursiva. Essas A primeira defende que os discursos são
referem-se ao que se pode dizer somente em constituídos pelas ideologias dominantes,
certo contexto social, ao se realizarem a partir aliando-se à História para contextualizar de
de condições de produção específicas, que forma as Memórias Discursivas formam as
definidas historicamente. Trata-se de explicitar hegemonias (PÊCHAUX, 2008).
que cada enunciado tem o seu lugar de A segunda, que também passou a ser
aparição e as estratégias que o engendram conhecida como Análise Crítica do Discurso e
derivam de um mesmo jogo de relações tem como um dos maiores expoentes Norman
(MAINGUENEAU, 2008). Fairclough (2012), possui a ideia de que os
Sírio Possenti (2003), esclarece que discursos são representações do mundo e
Maingueneau (1987), já concebia um “campo demonstram um conhecimento socialmente
discursivo” enquanto conjunto de formações construído. Nessa concepção o discurso é um
discursivas que: disputam espaços; recurso utilizado pelos sujeitos para
estabelecem seus limites recíprocos em estabelecerem relações, de diferentes formas,
segmentos preestabelecidos do universo como complemento, dominação, competição e
discursivo, por meio de embates abertos, em diversas outras. Dos discursos também podem
aliança, na forma de neutralidade aparente e decorrer múltiplas representações, tanto em
discursos dotados da mesma função social, termos mais gerais, quanto específicos.
mas divergem sobre a maneira como deve ser No Brasil também existem fundamentações
preenchida. Esse contorno em “campos” não que contribuíram sobremaneira para a
define zonas insulares nem demarcações compreensão da Análise do Discurso: a
nítidas, mas é apenas uma abstração que deve Professora Eni Orlandi; o linguista Círio
proporcionar a abertura de redes de trocas Possanti; mestre da linguística José Luiz Fiorin,
diversas. É no interior do campo discursivo que dentre outros. A partir dessas contribuições
um discurso se constitui, podendo ser descrito iniciou-se o aprofundamento do estudo das
sob o formato de operações regulares sobre relações dentro da AD.
formações discursivas já existentes. Isso não Um discurso pode ser analisado em
quer dizer que todos os discursos desse campo diferentes níveis, estabelecendo-se as relações
se constituam da mesma forma, nem é possível entre a Linguagem, a Sociedade e a História:
estabelecer previamente as peculiaridades das desde as conexões semânticas, demonstrando
relações entre as diversas formações os sentidos que existem entre as Relações
discursivas de um campo. Discursivas; pode-se estudar as relações
retóricas, observando os elementos
VERTENTES DA AD pertinentes à Comunicação; finalmente, pode-
A vertente escolhida influência se estudar as relações intencionais, verificando
significativamente a AD. Dentre as vertentes quais são as relações que se encontram
subjacentes a alguns discursos. É fundamental

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estar atento ao fato de que essas diversas as informações sobre esse objeto. A AD é
relações se conectam, de tal forma que se pode desenvolvida em três etapas:
iniciar por uma relação intencional, porém A primeira diz respeito ao questionamento
chegando-se a relações retóricas, ou a partir de sobre as situações que proporcionariam uma
estudo desmembrá-las para relações boa análise do discurso e a obtenção e/ou
semânticas ou intencionais, tudo ao critério do produção de informações, constituindo-se
analista. dessa maneira o corpus de pesquisa,
compreendido como o conjunto de sequências
A UTILIZAÇÃO DE CONCEITOS discursivas que deverão estar em consonância
com os objetivos estabelecidos. Nesse
A AD pode também recorrer a conceitos
direcionamento, torna-se necessário que o
específicos da área, a exemplo das formações
analista desenvolva a construção de um objeto
imaginárias, que, de acordo com Pecheaut
discursivo para realizar a sua análise, mas que
(2008), são os espaços que existem no interior
não assuma o formato de um produto acabado.
dos processos discursivos, em que se pode
A sua elaboração acontece a partir de uma
identificar a imagem que os interlocutores têm
espécie de metamorfose do corpus bruto em
sobre um elemento. Assim, a partir de uma
objeto teórico de análise, reconhecendo-se as
determinada notícia, pode-se questionar quais
vozes não ditas, mas que se fazem presentes no
são as formações imaginárias oriundas de
discurso.
diferentes grupos no interior do discurso, ou de
A segunda refere-se ao processo de leitura e
que forma esses discursos se relacionam a
análise propriamente dita das informações
partir dessas formações imaginárias e com isso
obtidas, que deve estar alinhada com a
pode-se pensar quais são os diferentes tipos de
epistemologia qualitativa e interpretativa,
análise. Com isso pode-se também indagar
quando o analista passará a investigar as
quais são as diferentes etapas para se fazer
diferentes relações entre as formações
uma boa análise do discurso. Diante das
discursivas no interior do objeto discursivo. A
diversas perspectivas que se apresentam,
maneira como ele fará isto dependerá da
pode-se tentar identificar algumas
fundamentação teórica que foi desenvolvida
possibilidades de caminhos a serem seguidos.
por ele.
Finalmente, considerando: a forma como o
DESENVOLVIMENTO DA pesquisador enxerga o mundo; aquele texto
ANÁLISE DO DISCURSO que está analisando; o significado lhe atribui e
De uma maneira geral, os processos de como essa significação é construída; quais os
Análise do Discurso costumam se desenvolver processos de produção; os elementos
de maneira mais concentrada no aspecto veladamente envolvidos. Baseado nisso,
crítico do seu objeto de estudo. Normalmente deverá refletir e tecer considerações
o pesquisador já tem uma teoria prévia e a demonstrando os resultados que a sua análise
utiliza como uma espécie de lente para analisar encontrou, ponderando sobre os efeitos das
relações discursivas e influências de sentido na

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sociedade, procurando comentar o que não reconhecimento da materialidade linguístico-


está manifesto, mas que se encontra de forma histórica proporcionam a consecução de um
subjetivamente implícita. dispositivo analítico do discurso fundamentado
na noção de efeito metafórico, como justifica
O MOVIMENTO DIALÉTICO DO ser o mecanismo parafrásico.
Ressalvando-se a distinção do aspecto físico
SILÊNCIO FUNDADOR do silencio enquanto oposto de ruído, sem o
Conforme afirma Pêcheux (2008), as silencio nada significaria, a autora estabelece
descrições, enunciados, discursos, sejam de como ponto de partida o fato de que O. Ducrot,
objetos, de acontecimentos, de arranjos (1972), não se referia ao silêncio, mencionava
discursivo-textuais, desde o momento em que o dizer e o não dizer, aludindo ao implícito, ao
são consistentemente apreendidos ao fato de pressuposto. Mas ele tratava o não dito como
que a metalinguagem é algo inexistente, derivado do dito: haveria, o dizer, em primeiro
encontram-se imanentes às ambiguidades da plano, e em segundo, a partir do dito, poder-
linguagem, pois: se-ia inferir aquilo que não é dito, mas pode
[...]todo enunciado é intrinsecamente fazer parte da maneira de significar.
suscetível de tornar-se outro, diferente de si Orlandi (2007), propõe uma espécie de
mesmo, se deslocar discursivamente de seu inversão ondular desse ordenamento e
sentido para derivar para um outro (a não ser enquanto corolário, considera que o silencio é
que a proibição da interpretação própria ao fundante, ou seja, a relação do sujeito com o
logicamente estável se exerça sobre ele sentido é primordialmente uma relação dele
explicitamente). Todo enunciado, toda com o silêncio e dessa relação se pensa o
sequência de enunciados é, pois, silêncio como simbólico, histórico, o silencio
lingüisticamente descritível como uma série pensado das relações entre sujeitos e sentidos.
(lexicosintaticamente determinada) de pontos Pensado dessa maneira, o silêncio é
de deriva possíveis, oferecendo lugar a fundamental, por isso o chama de fundante,
interpretação. É nesse espaço que pretende para que haja a produção de sentidos. Então,
trabalhar a análise de discurso (PECHEUX. as relações do sujeito com o silencio são
2008, p.53). constitutivas, pois se constituem na eminência
Eni Puccinelli Orlandi (2007), corrobora essa do dizer. Aprofundando, defende que a
ideia, afirmando serem esses enunciados problemática do surgimento da linguagem está
constituídos por pontos de deriva que relacionada com a interação estabelecida entre
possibilitam o deslocamento, levando a que os o sujeito e o silencio, pois, o ser humano pensa
sentidos, brotando em abundância, possam e é a partir dessa sua relação com o silencio que
tornarem-se outros. Nesse escopo, a descobre que é fundante de sentido. Ao intuir
interpretação é constitutiva do sentido e da isso é quando ele se propôs a falar, dando
linguagem, pois é ela que possibilita a origem à linguagem.
significação ao deslize. Esse caráter de não Nesse sentido, torna-se necessário retirar a
transparência da linguagem, acrescido ao significação negativa do silencio que em geral

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

passou a ter na cultura ocidental, em que uma incontornáveis, porque para dizer uma coisa
pessoa em silencio não estaria pensando nada. não se pode dizer outra. Isso difere de censura,
Na civilização ocidental as relações com o é uma política do silêncio. Recorre ao exemplo
silencio não são fáceis, mas isso é justamente da chegada dos portugueses ao Brasil:
decorrente de fatores culturais. Então, deve-se disseram que os índios eram selvagens, mas
procurar retirar esse sentido negativo em poderiam ter dito apenas que eram homens,
relação ao silêncio. Isso em princípio, porque mas ao chamá-los de selvagens, dividiram:
na realidade, há formas diferentes de silêncio. considerando esse ser diferente do ser humano
Além do silencio fundador, é importante civilizado europeu. É sempre assim, porque não
também se observar a política do silencio nas se pode falar de todas as perspectivas. Sempre
duas categorias em que se subdivide: o que se fala sobre algo se deixa de falar sobre
constitutivo e o silencio local, que significa outras coisas. Às vezes se recorre até a essas
exatamente a censura. outras coisas, mas sempre sobrará algo que
Essa censura ocorre em relação ao que se não poderá ser dito ao dizer. Não existe um
poderia dizer, mas na verdade não se pode dizer total em ninguém, todos são constituídos
porque há um poder de palavra, uma figura de ideologicamente. Portanto, no próprio interior
autoridade que impede que se diga. Por isso dos sujeitos existem as divisões de sentido que
que ela denomina de local, porque é bem os afetam, eles se identificam com alguns
discernível, quer dizer, é o dizível que não se aspectos, mas não se identificam com outros.
pode dizer. Então, em um governo ditatorial, Isso é o Silencio Constitutivo: quando se diz
por exemplo não se pode mencionar que se algo não se está dizendo outra coisa que
rata de uma ditadura. Isso é a primeira medida poderia ser dita. Algumas vezes até se tem
da censura. Dessa forma, a censura é uma consciência disso e outras não.
política de compelir os sujeitos ao Afirmando que o silêncio está contido na
silenciamento, porque, nessa maneira de se relação do sujeito com as formações
trabalhar, a chamar de política significa discursivas, a autora considera que esse
imprimir a noção de divisão. Quando se divide, envereda por diversos parâmetros de sentidos.
se incide na linguagem a política, ou o político, Nesse processo da permanência contínua
quando se tem divisões. Então o político produzido pela relação com o interdiscurso e a
significa: a divisão de sentidos; a divisão dos memória dos sentidos, cabe ao sujeito elaborar
sujeitos entre eles e a divisão do sujeito nele a diferenciação, pois o silêncio permite que ele
mesmo, que é o movimento do político em se torne independente do dizer, seguindo por
relação à linguagem. E nesse caso, que ela diferentes caminhos, porém, sem
chama a política do silencio, impõe-se essa desvencilhar-se dos seus sentidos primários.
divisão: entre aquilo que é permitido dizer e o No silêncio é que se realiza a experiência
que não é. Enfim, isso é a censura. sensível da polaridade sujeito/sentido. Uma
Essa autora considera que esse aspecto é forma de integração que vai além da relação
constitutivo, pois é intrínseco o seu caráter dada pelo efeito do enumerável, do
político, ao estabelecer divisões, segmentável, do linguístico. O silêncio é

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contínuo e esse seu caráter, essa sua


continuidade é que permitem ao sujeito se
mover nas significações, percorrer sentidos.
O silêncio é a condição de possibilidade de o
dizer vir a ser outro. No silêncio o sentido ecoa
no sujeito. É esse processo que lhe torna
possível perpassar as diferenças dos distintos
processos de identificação sem, no entanto,
perder sua unidade, e de um sujeito que diz.
Senão, atravessado por múltiplos discursos (e é
essa sua realidade), ele se desmancharia em
sua dispersão. É isso que significa dizer que,
assim como o sentido é errático, o sujeito é
itinerante: ele perpassa e é perpassado pela
diferença; habita e é habitado por muitos
discursos, muitas formações discursivas. O que
o mantêm em sua "identidade" não são, como
já dissemos, os elementos diversos de seus
conteúdos, de suas experiências diferentes de
sentidos, nem sua configuração: é o seu estar
no silêncio. Porque antes de ser palavra o
sentido já foi silêncio. Dito de outro modo,
todo sentido posto em palavras já se dispôs
antes em silêncio (ORLANDI, 2007 p 154).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, há algo de peculiar a se observar sobre o silenciamento: onde há censura há de
surgir a sua contrapartida – a resistência; onde há silêncio impositivo aos sentidos sempre resta
a alternativa do redirecionamento, pois não são estáticos, buscam as mudanças de percurso; mas
de alguma maneira é possível se abrir espaços e seguir conquistando, fazendo acontecer. Assim
é a evolução histórica: ela vai se constituindo e se transformando, propriamente porque, há algo
que se repete, mas também existem movimentos que transpõem barreiras e novos caminhos vão
surgindo, processos vão transcorrendo. Os próprios sujeitos, quando censuram os sentidos em si
mesmos, podem se deparar com reações adversas, mas também há a possibilidade de
acompanhar os movimentos de sentido, rompendo com certos entraves e num salto de
qualidade, se redirecionarem para novos objetos ou atribuir novas relações de sentidos, novos
significados ao mesmo objeto simbólico, pois sempre é possível sublimar.

1012
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Rabelais. São Paulo-Brasília: Hucitec-Ed. UnB, 2008.
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UFPR.

1013
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O PAPEL DO DIRETOR NO ÂMBITO ESCOLAR


Liliane Lima da Silva Ribeiro1

RESUMO: Este artigo demostra a importância do papel do diretor no âmbito escolar. E como
dentro de uma perspectiva democrática, a importância do trabalho em equipe. O trabalho mostra
como o diretor deve liderar a equipe escolar, devendo ter uma boa relação com os professores,
funcionários e com a comunidade, mostrando-se positivo e confiante no desenvolvimento dos
trabalhos, atuando como mediador, compartilhando suas ideias sabendo ouvir, sendo aberto e
flexível à contribuição de todos para que os profissionais da escola e a comunidade se sintam
valorizados, reconhecidos e todos os envolvidos no processo educativo devem ser sujeitos ativos
nas ações e decisões da escola, pois só assim conseguem enfrentar e solucionar as dificuldades e
juntos alcançam o objetivo da escola que é um ensino de qualidade.

Palavras-Chave: Âmbito escolar; Diretor; Ensino; Desenvolvimento.

1Professora de Educação Infantil e Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE ROLE OF THE DIRECTOR IN THE SCHOOL SCOPE


ABSTRACT: This article demonstrates the importance of the principal's role in the school
environment. And as within a democratic perspective, the importance of teamwork. The work
shows how the principal must lead the school team, having a good relationship with teachers,
employees and the community, showing positive and confident in the development of the work,
acting as a mediator, sharing his ideas, knowing how to listen, being open and flexible to
everyone's contribution so that school professionals and the community feel valued, recognized
and all those involved in the educational process must be active subjects in the actions and
decisions of the school, because only then can they face and solve difficulties and together
achieve the objective of the school which is a quality education.

Keywords: School context; Director; Teaching; Development.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A GESTÃO ESCOLAR


Quando se fala de Gestão Escolar,
Quando falamos do papel do diretor no
primeiramente se deve entender que a Escola
âmbito escolar, é primordial citarmos também
é uma instituição prestadora de serviços, o qual
a atuação de toda equipe escolar e a
o aluno deve ser o maior favorecido. E,
importância de todos nesse processo a cerca
partindo desse princípio, concluímos que todas
de uma gestão democrática, conforme exigida
as ações e propostas devem girar em torno
no seu Projeto Político Pedagógico, na
desse aluno, onde o produto final será o
Constituição Federal, assim como na Lei de
melhor desenvolvimento humano, social e
Diretrizes e Bases da Educação Nacional
cognitivo que uma escola pode proporcionar
(LDBEN) nº 9.394/96. Além disso, se
ao indivíduo. E, isso só será possível, entre
refletirmos sobre a realidade dentro da escola,
outras coisas, com sua participação, de forma
será que é possível essa democratização?
democrática.
Como o diretor deve desempenhar sua função?
Formalmente, a gestão democrática consta
Conforme estipulado em lei, o diretor deve
na legislação (LDB), e é um dos princípios
desenvolver uma gestão democrática no
constitucionais do ensino público, segundo Art.
âmbito escolar, ou seja, uma gestão
206º da Constituição Federal de 1988, sendo
participativa e colaborativa, e, para isso, as
contemplado na maioria dos Projetos Políticos
propostas precisam ser construídas e
Pedagógicos das escolas, e essas sinalizações
reconstruídas por todos inseridos no ambiente
são decisivas nas mudanças das políticas
escolar, inclusive pais e funcionários de todos
educacionais. Porém, para que as políticas de
os setores.
democratização da escola e da gestão sejam
Dessa forma, cabe ao diretor, garantir que
efetivadas, é preciso ter claro que uma lei ou
todos envolvidos na instituição, tenham
uma norma somente será sustentada se ela
consciência da importância do trabalho em
estiver na intencionalidade das ações, na
conjunto, mesmo que haja condições ou
consciência e na prática dos envolvidos.
circunstâncias que não favoreçam tais ações.
Além disso o diretor de uma instituição de
Levando em consideração, nesse trabalho, o
ensino, deve estar envolvido com os interesses
papel do diretor no contexto democrático,
da comunidade, buscando atender seus
pude observar que uma boa gestão é
interesses e necessidades, e com isso fazer com
estabelecida por meio de integração e
que a escola cumpra seu papel transformador
socialização e não apenas, por ser algo
na sociedade.
imposto, decretado. Dessa forma, esse artigo
A administração não é um processo
tem como objetivo, evidenciar por meio de
desligado da atividade educacional, mas, ao
uma elaborada pesquisa bibliográfica, qual o
contrário, acha-se inexplicavelmente envolvido
papel do diretor escolar, e quais desafios que
nela, de tal forma que o diretor precisa estar
permeiam essa função. Sendo necessário,
sempre atento às consequências educativas de
analisar, práticas, postura e pretensões.
suas decisões e atos. Quando desempenha sua
função, ou decide alguma coisa, o diretor é

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

antes de tudo um educador, preocupado com do poder por parte daqueles que se supõe
o bem-estar dos alunos, e não apenas um serem os mais diretamente interessados na
administrador em busca de eficiência (DIAS, qualidade de ensino. ”
apud, MENESES, 1998, p. 274). Para que haja uma gestão de fato
Para que, o diretor possa ter maior acesso à democrática, é preciso que equipe escolar e
família e comunidade, se faz necessário, criar comunidade tenham ciência dos seus papeis na
mecanismos que possam trazer esses organização e funcionamento da escola, e
indivíduos para além dos portões e reuniões também da sua importância na participação
mensais. É preciso ter um novo olhar, com nos projetos, sendo direta ou indiretamente.
relação aos processos no âmbito escolar, onde É nesse contexto que o papel do Diretor se
se vê normalmente uma pequena participação faz mais importante como líder de todo o
da comunidade, onde isso deveria ser mais processo, pois ainda em uma gestão
abrangente tendo em vista uma gestão necessariamente democrática, é ele quem
democrática. deve estar à frente, coordenando e instruindo
O Projeto Político pedagógico precisa ser todas as ações sem deixar de lado sua
pensado coletivamente, pois somente a autoridade e função burocrática. A função do
decisão coletiva poderá ser capaz de diretor é muito complexa, abrangendo os
possibilitar que uma situação seja modificada aspectos de autoridade escolar: o de educador
visando o interesse de todos. Assim, o trabalho e o de administrador, (DIAS, apud, MENESES,
que é pensado e organizado em conjunto 1998).
garante o princípio democrático dentro da A direção é um dos fatores mais importantes
instituição. para a normalidade dos trabalhos e
A administração Escolar não é realizada pelo consecução dos objetivos da escola. O diretor
esforço de uma única pessoa, mas sim com cumpre sua função na medida que orienta,
esforço de um grupo, em que a última palavra estimula e facilita o desempenho de
deve ser dada pelo diretor que no topo dessa professores, funcionários e alunos. A
hierarquia, é aceito como representante da lei administração, porém, não é privilégio de uma
e da ordem, sendo responsável pelo controle e pessoa, mas função que se reparte entre todos
supervisão das atividades desenvolvidas em os participantes do empreendimento sob
uma escola”. (PARO,2006, p.38) liderança do diretor. Só o esforço em conjunto
É importante que a gestão escolar seja e harmônico pode levar a escola a alcançar
organizada, e reflita a intencionalidade da ação seus objetivos (BREJON, 1986, p.211)
educativa individual e coletiva dos envolvidos. O diretor Escolar deve apoiar todas as ações
Contudo, é primordial a participação da e células inseridas no Projeto Político
comunidade, superando as barreiras (que são Pedagógico da Escola, efetuando ações
muitas), e ampliando essa participação. desenvolvendo, competências que venham a
Segundo Paro (2005, p. 17), “é neste contexto apoiar as equipes de trabalhos.
que ganha maior importância a participação da Sendo assim, o diretor deve garantir o bom
comunidade na escola, no sentido, de partilha funcionamento da escola sem deixar de incluir

1017
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

equipe e comunidade nesse processo. Para Não é possível falar das estratégias para se
tanto, é fundamental que se tenha clareza em transformar o sistema de autoridade no
relação à participação: [...] No âmbito da interior da escola, em direção a uma efetiva
unidade escolar, esta constatação aponta para participação de seus diversos setores, sem
a necessidade da comunidade participar levar em conta a dupla contradição que vive o
efetivamente da gestão da escola de modo a diretor da escola hoje. Esse diretor, por um
que esta ganhe autonomia[...]. Não basta, lado, é considerado a autoridade máxima no
entretanto, ter presente a necessidade de interior da escola, e isso, pretensamente, lhe
participação da população na escola. É preciso daria um grande poder e autonomia; mas, por
verificar em que condições essa participação outro lado, ele acaba se constituindo, de fato,
pode tornar-se realidade (PARO, 2005, p.40). em virtude de sua condição de responsável
Obviamente que tudo o que foi citado, na último pelo cumprimento da Lei e da Ordem na
pratica, passa por muitos obstáculos, antes de escola, em mero preposto do Estado. Esta é a
se chegar à uma gestão democrática e primeira contradição. A segunda advém do fato
eficiente. Pois, o diretor deve sempre valorizar de que, por um lado, ele deve deter uma
a escola e o aluno, demonstrando preocupação competência técnica e um conhecimento dos
e interesse, e, em paralelo, valorizar sua equipe princípios e métodos necessários a uma
e comunidade. Deve saber administrar os moderna e adequada administração dos
conflitos existentes durante o processo, pois recursos da escola, mas, por outro lado, sua
são pessoas de diferentes opiniões e culturas. falta de autonomia em relação aos escalões
Alguns nem mesmo nunca frequentou uma superiores e a precariedade das condições
escola, como poderá se envolver ou até mesmo concretas em que se desenvolvem as
opinar e entender o universo administrativo da atividades no interior da escola tornam uma
mesma? Essa é uma das barreiras mais comum quimera a utilização dos belos métodos e
a se derrubar em meio a Gestão Escolar, ainda técnicas adquiridas [...]. (PARO, 2005. p.11.).
assim cabe ao gestor possibilitar abertura para Portanto, a função e a atuação do diretor no
participação assim como cabe aos envolvidos âmbito escolar são árduas e divergentes. Além
uma participação mais efetiva. das deliberações do Estado, que tem por
Então, é essencial que o Diretor evidencie obrigação trabalhar conforme responsável pela
seus objetivos com clareza em sua gestão e instituição, deve também, ter conhecimento
tenha consideração no aspecto individual e técnico, o que nem sempre é garantido na sua
coletivo, fazendo isso juntamente com a escola formação. Mas uma coisa é certa, o diretor
isto é uma estrutura pratica e baseada no deve ser o mediador para que na soma dos
trabalho geral predominando sempre, o esforços, possa, com a comunidade,
aspecto social diretor como articulador, estabelecer e ampliar práticas e ações
mediador e facilitador neste processo, porque, compartilhadas, que contribuam para as
em relação ao processo hierárquico e a relação decisões coletivas que fortaleçam a
de autoridade segundo Paro, é: “O que nós participação efetiva da comunidade. Apenas
temos hoje é um sistema hierárquico que assim, poderemos confirmar a fictícia gestão
pretensamente coloca todo o poder nas mãos escolar democrática.
do diretor.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel da escola é a de formar cidadãos capacitados, ativos e competentes para viverem
em sociedade, e também aptos a vida profissional, para tanto deve oferecer ensino de qualidade,
que acontecerá somente com a participação de todos, comunidade e escola em prol do aluno.
Logo, cabe ao diretor servir e liderar, compartilhar acertos e insucessos, ajudar, acolher,
admitir críticas e opiniões, desenvolver ambiente que envolva prazerosamente toda a instituição
e acima de tudo ter amor e empenho para fazer do seu trabalho não uma obrigação penosa, mas
uma realização prazerosa voltada para a educação dos alunos, da sua equipe e da sua
comunidade, valorizando sempre o conhecimento e a realização pessoal e coletiva de todos.
Portanto ser um diretor escolar não é somente uma profissão de grande responsabilidade.
Ser um bom diretor acarreta também em ser original e visionário. Além de liderar sua equipe
sabendo orquestra-la no sentido que todos se responsabilizem pelas ações sendo o primeiro a
dar o exemplo, tornando cada um de sua equipe, primordial para o seu trabalho, motivando para
que todos os envolvidos acreditem na sua importância individual e profissional para uma
administração com qualidade. Assim, se considera que o diretor escolar pode favorecer uma
gestão participativa e democrática, participar da convivência diária, compartilhar erros e acertos.
Obviamente, o diretor tem total liberdade para trabalhar e está ciente de que deve seguir
leis e ordens de outros órgãos, mas que os procedimentos burocráticos em excesso podem,
eventualmente, atrapalhar as tomadas de decisão.
Contudo, é essencial que o diretor tenha atenção em todos os setores a fim de garantir o
envolvimento da comunidade escolar e local na administração escolar.
Então, se pode concluir que ainda existem muitos obstáculos a serem superados, para que
o diretor exerça seu papel de forma eficiente e democrática. Um desses obstáculos é a falta de
parceria da equipe escolar: pais, alunos e comunidade nas ações e decisões da escola. Porém o
diretor deve usar de suas competências e habilidades, para conscientizar a comunidade, interna
e externa, da escola a participarem da administração escolar, com verdadeiro comprometimento,
para que a gestão participativa aconteça de fato.

1019
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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1020
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA
INSTITUIÇÃO AO ESCOLAR
Denise Santos de Souza1

RESUMO: O presente artigo tem o objetivo da ressattar a importância do psicopedagogo no


âmbito escolar, assim a cada dia precisamas da intervenção dele para auxiliar na aprendizagam e
também junto aos alunos que tem dificuldade em aprender, pois Psicopedagogia é a área que
detecta tais dificuldades e colabora com o âmbito escolar no sentido de auxiliar a equipe docente
a sanar esta dificuldade, propiciando a Ieitura de um tema com diversos enfoques e conclusões,
possibilitando o olhar pedagógico para ressaltar a importância do trabalho psicopedagógico nas
escolas.

Palavras-Chave: Família; Escola; Desenvolvimento; Afetividade; Aprendizagem.

1
Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de Campo Limpo Paulista; Francisco Morato, Franco da Rocha
e Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia Clínica e Educacional; Especialização
em Arte e Educação; Especialização em Direito Educacional.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE ROLE OF THE PSYCHOPEDAGOGUE IN THE SCHOOL


INSTITUTION
ABSTRACT: This article aims to emphasize the importance of the psychopedagogue in the school
environment, so every day we need his intervention to assist in learning and also with students
who have difficulty in learning, since Psychopedagogy is the area that detects such difficulties and
collaborates with the school environment in order to help the teaching team to solve this
difficulty, providing the reading of a topic with different approaches and conclusions, enabling
the pedagogical look to emphasize the importance of psychopedagogical work in schools.

Keywords: Family; School; Development; Affectivity; Learning.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO momento dessa area de estudo”, Assim a


Psicopedagogia atua diretamente na
A escola ideal é aquela que a aluno se sente dificuldade escolar, e o atendimento é feito
confortável e confiante, respeitando a individualmente, observando a singularidade
diversidade, para alcançar os objetivos com a do aluno e qual a sua real necessidade,
educação de quaIidade, pois a escola deve ajudando a superar a dificuldade e trabalhar
conceber ao aluno a grantia, a permanência e junto a equipe multidisciplinar se foro o caso.
o sucesso escolar. Segundo Chamat (2004 p.17), a area tem
O presente está centrado na contribuiçao do alcançado grandes avanços, trabalhando de
psicopedagogo dentro da instituição escolar, forma lúdica vinculado ao conhecimento.
qual é o verdadeiro papel do psicopedagogo Vários fatores atrapalham a vida escolar de
dentro do espaço escolar? Dessa forma uma criança, como o estranhamento ao espaço
precisamos refletir sobre a importância do escolar, falta de interação com os outros
psicopedagogo, e respeitar a capacidade e o alunos e professores, dificuldades socio-afetiva
tempo de cada aluno para aprender usando e problemas de ordem neurológica. A
didaticas dlVBFSificadas para a garantia do presença de um psicopedagogo dentro do
sucesso escolar. espaço escolar se faz necessário para auxiliar a
Hoje, com todas as mudanças que acontece equipe docente no processo de ensino
no país com a globalizagâo é necessário aprendizagem, assim Bossa (1999), nos
repensar a prática docente, pois é necessârio confirma que:
um novo olhar para respeitar conhecirnento de "0 psicopedagogo instituoonal pode
mundo e bagagem cultural de cada um, diante colaborar, na elaboraçãoo do projeto
desta realidade se faz necsssério uma reftexâo pedagógico,ou seja, por meio de seus
sobre os aspectoc da educaçãoo de qualidade conhecimentos ajudarem a escola a responder
precisando da contrfbuição de outros questões fundamentais, como, por exemplo, 0
profissionais nesse processo. que ensinar? Como ensinar? Pra que ensinar?"
Com esse olhar se faz necessário um As funções da Psicopedagogia institucional são
trabalho de estudo que reflete sobre o real diversas, tais como colaborar com o projeto
papel do psicopedagago no contexto escolar, pedagógico, realizar diagnóstico institucional
como o desafio de lidar com as dificuldades de para detectar problemas pedagógicos, ajudar o
aprendizagem. Portanto com as diversas professor a repensar sobre sua prática,
queixas e dificuldades escolares é de extrerna orientar professores referentes ao aluno com
importância a atuação do psicopedagogo. dificuldade escolar, realizar diagnóstico
Segundo Chamat (2004, p,17), a psicopedagógicos e encaminhamentos.
Psicopedagogia é: "... uma area que utilizava Uma avaliação psicopedagógica é necessária
deterrninado conhecimentos no sentido de dar para que os pais e recebam a orientação
suporte ao ego fragilizado do aluno e cujo correta para sanar as dificuidades da criança,
trabalho estaria mais voltado para as assim a Psicopedagogia é muito útil, pois sua
dificuldades escalares especifica no primeiro intenção tem caratér preventivo com a a faília

1023
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e escola impedindo que a dificuldade escolar mental, e foi observado que após um ano de
se torne um fracasso escolar tratamento as dificuldades foram sanadas.
Os problemas na relaçãoensino Como cita Shares e Sena (2011, p.2):
aprendizagem podem ser um dos motivos das Hoje no Brasi só poderão exercerr a
dificuldades escolares, problemas familiares, profissão de psicopedagogo os portadores
dificuldade de comprrensão, dificuldades sócio de certificado de conclusão em curso de
afetivas, culturais,psicólogicas sãoentraves especialização em psicopedagogia em nivel de
para o sucesso escolar.O ato de aprender pós-graduação, expedido por instituições
envolve os processos de assimilação e devidamente autorizadas ou credenciadas nos
acomodação de acordo com Piaget, é termos da lei vigente - Resolução
necessário que o aluno tenha uma bagagem 12/83,de06/10/83-,que forma os especiallstas,
cultural para somar com a nova aquisição de no caso, os então chamados “especialistas em
conhecimento, ocorrendo assim o psicopedagogia” ou ‘psicopedagogos”, tendo
desequilíbrio que a nova informação traz e será em vista o trabalho da outras gestões da ABPp
internalizado com a capacidade cognitiva de ( associação Brasileira de Psicopedagogia) e
cada um. Podemos char também zona de dessa última, tem amparo legal no Código
desenvolvimento proximal de acordo com a Brasileiro de Ocupação, ou seja, já existe a
teoria de Levy Vigostsky. ocupação da Psicopedagogo, todavia, isso não
é o suficiente. A profissão ainda precise ser
BREVE HISTÓRICO DA regulamentada, isto é, trata-se de mais um
desafio a ser enfrentado.
PSICOPEDAGOGIA A psicopedagogia começou a surgir no brasil
Segundo Vercelli (2012 p.6), a na década de 1970, pois as dificuldades de
Psicopedagogia surgiu em 1946, na Europa nos apredizafe eram associadas á disfunção
centros psicopedagógicos que eram formados neurológica denominada disfunção
por médicos, psicanalistas psicólogos e cerebralmínima (DCM), as crianças tem
pedagogos, essas centrais tinham a objetivo de inteligência média ou acima da média, porém
unir conhecimentos destas áreas para buscar apresenta certos problemas de aprendizagem
soluções com crianças com comportamentos ou de comportamento.Assim iniciam-se os
inadequados e com dificuldadee de cursos de formação em Psicopedagogia.
aprendizagem. Tinha-se a preocupação em
diferenciar as crianças com deficiências
mentais ou sensoriais e as que tinham
O PSICOPEDAPOGO E AS
dificuldade de aprender. DIFICULDADES DE
Segundo Vercelli (3012 p. 7), apud, APRENDIZAGEM
Bossa(2000), Na Argentina a capital da Buenos
Segundo Vercelli (2012), chamamos
Aires começou a oferecer o curso de
dificuIdades de aprendizagem transtornos
Psicopedagogia, na década de 1970, os
decorrentes de problemas encontradas na
psicopedagogos atuavam nos centros de saúde
aprendizaqam de leitura, escrita, matemática,

1024
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

raciocínio, escuta e fala. Sendo estes As dificuldades de aprendizagem são


problemas de origem emocional ou orgânicos problemas de origem emocional, orgânica ou
que comprometem a aptião cerebral para patológica que impedem ou dificulta o
apreender. Tais problemas também podem ser processo de assimilação e acomodação e faz
de origem hereditária, ocasionais ou de com que o aluno não acompanhe os demais
traumas que ocorrem durante a gestação, e colegas da turma.
durante ou após o nascimento,longo da vida Além destes termos, outros fatores que
por fatores emocionais ou afetivos, ou por interferem na aprendizagem como a falta de
fatores exteriores vinculados a falta de incentivo à aIfabetização, baixa auto-estima,
estímulos apropriados e necessários durante o organização espacial, problemas de visão,
período da aIfabetização, ocorrem ainda par audição, fala, coordenação motora, dislalia e os
fatores ambientais, culturais e sociais e cabe ao aspectos socio afetivo, econômico e
psicopedagogo detectar as possivéis psicológico. O ser humano é um ser integral
pertubações no processo de ensino- devemos ser observados com cautela todo o
aprendizagem; identificar, analisar, elaborar cenário em que vivemos para não patologizar
uma metodologia de diagnóstico e intervenção a sua dificuldade.
com o objetivo de sanar as dificuldades de Alguns métodos de ensino podem ser
ensino e aprendizagem; participar da dinâmica inadequados para o aluno com
da relação da comunidade educativa como um dificuldade,como por exemplo, na abordagem
articulador entre o ensinar e a aprender, entre construtivista o indivíduo constrói o seu
a familia, a escola e a comunidade, atuar junto conhecimento com o professor mediando as
ao corpo docente promovendo orietações situações de aprendizagem, porém tem alunos
metodólogicas de acordo com as que não consegue construir, então o método
caracteristicas do grupo,enfatizando os tradicional de repetição e a memorização se
aspectos relevantes do planejamento e torna mais fácil para aprender
desenvovimento das respostas educacionais Para combater a diversidades de
curriculares e organizacionais: realizar dificuldades no âmbito escolar, se faz
processos da orientação educacional, necessário a presença de um psicopedagogo
vocacional; essa orientação consiste em para acompanhar e sanar essas dificuldades e
orientar o aluno na construção de seu projeto o aluno tenha o sucesso escolar. Defendemos a
de vida, com clareza, raciocínio e equilíbrio e ideia de que o psicopedagogo trabalhe junto
resgatar o interesse dos alunos pelos estudos; com a equipe escolar e conviva com o dia a dia
consiste em organizar a vida escolar dele na rotina escolar e não visistas aleatória na
quando o mesmo não consegue faze-lo unidade escolar.
espontaneamente, com ações que promovam
o melhor uso do tempo, eIaboração de agenda
e dicas como estudar, como se preparar para
a prova, como eserever um texto;
apropriação dos conteúdos escolares.

1025
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AS ATRIBUIÇÕES DO Para iniciar o trabalho psicopedágogico na


unidade escolar é necessério conhecer a
PSICOPEDAGOGO espaço escolar, comunidade, necessidades do
INSTITUCIONAL bairro, para assim mapear e planejar as ações
As atribuições do psicopedagogo é um junto coma equipe escolar e suas expectativas
campo de estudo que desenvolve ações para ano letivo. Sendo que cada escola tem as
preventivas de suma importância no espaço suas necessidades e expectativas e cabe ao
escolar buscando facilitar o processo ensino- Psicopedagogo ouvir as queixas e fazer seu
aprendizagem. O psicopedagogo ajuda a plano de trabalho. Sendo de que nada adianta
equipe escolar a transformar a escola em o psicopedagogo trabalhar sozinho, a equipe
espaço de construção e conhecimento. deve ouvir as sugestões para que a trabalho
Tem a função de realizar o diagnóstico seja eficaz para atingir as objetivos. A equipe
institucional para verificar os problemas de deve acolher o psicopedagogo como aliado e
aprendizagem, auxíliando pais,professores não como vigia, o seu trabalho somado ao da
eeducandos e caso houver real necessidade equipe escolar é de suma importância para
encaminhar o aluno para a equipe sucesso do processo de aprendizagem e
multidisciplinar com multiplicador do conhecimento, com oobjetivo
psicólogos,fonoaudiólogo, neurologista entre único de evitar o fracasso escolar.
outros. O trabalho do psicopedagogo Como cita Soares e Sena (2012 p.5), "o papel
institucional tem caráter preventivo ao do psicopedagogo no planejamento escolar é
fracassoescolar, assim Bossa (1999), nos refletir sobre as ações pedagógicas e suas
orienta sobre as funções do Psicopedagogo no interferências no processo de aprendizaqem
auxílio aos professores e aos demais do aluno.” 0 planejamanto escolar é o
funcionários da escola nas questões momento em que toda a equipe docente se
pedagógicas e psicopedagógicas , orientações reunem para elaborar as ações do ano letivo e
aos pais e responsáveis, colaborarem com a definir os conteúdos de acordo a proposta do
direção para que haja um bom entrosamento sistema educacional, neste momento é
entre os integrantes da instituição e necessário refletir sobre as práticas
principalmente socorrer o aluno que esteja educacionais e avaliar os resultados dos anos
sofrendo, quatquer que seja a causa. Nos anteriores para fazer as alterações necessárias
orienta sobre as funggas do Psicopedagogo no e repensar outras práticas.
auxilio ao professar e as dema s funcionârios da O professor ao aplicar provas, avaliações ,
escola nas questoes pedagogicas e não avalia somente o resultso da prova, mas
psicopedagagica, orientarem as pais, sim a aprendizagem e outras situações tais
oolaborarem com a direggo para que haja urn como trabalhos em grupos , interação,
born entrcsamento entre os \ntegrantec da socialização, resoluções de problemas. Avaliar
institui@O B principalmente socorrer o aluno a zona de desenvolvimento proximal como cita
que esteja sofrendo, quatquer que seja a Vigostsky .
causa.

1026
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DESENVOLVIMENTO ambiente escolar, normalmente em um


consultório onde é realizado a coleta de dados
PSICOPEDAGÓGICO E A para uma avaliação individualizada:
APRENDIZAGEM Para que o trabalho do psicopedagogo se
A grande maioria dos educadores já sabe concretize de uma maneira mais eficaz é
que a aprendizagem não ocorre se o aprendiz necessário que o mesmo tome conhecimento
não estiver motivado. [...] transformar a dos procedimentos e testes de aplicação de
aprendizagem em prazer requer do educador diagnóstico, pelo qual chamamos de
um grande envolvimento na ação de Diagnóstico Psicopedagógico. Todo diagnóstico
ensinar/aprender, requer, também, gostar do psicopedagógico é uma investigação. Nessa
que faz [...] o professor que descobriu o prazer investigação pretende-se obter uma
na sua aprendizagem tem muito mais chance compreensão global do indivíduo, bem como
de ajudar seus alunos e alunas nesta sua forma de aprender e dos desvios que estão
descoberta (BARBOSA, 2006, p.38-39). ocorrendo nesse processo (PAÍN, 2010, p. 42).
Nascimento (2013), afirma que o trabalho O Psicopedagogo clínico conta com a
coletivo entre escola, equipe e o parceria de outros profissionais como pediatra,
psicopedagogo promove resultados positivos e neuropediatra, fonoaudiólogo, psicólogo,
contribuem para a diminuição das dificuldades psicomotricista, dentre outros, para o caso de
que surgem no âmbito educacional. É haver necessidade de um encaminhamento
fundamental que o psicopedagogo não se específico, o seu papel também é o de orientar
dedique apenas ao trabalho com a criança, pois pais e professores de forma que seu trabalho
ela está inserida em um meio social que seja integrado e não individual:
interfere, positiva ou negativamente em seu Ao se falar da forma de se operar na clínica
processo de aprendizagem, contribuindo para psicopedagógica, vale recordar que ela varia
o sucesso ou fracasso escolar. entre os profissionais, a depender, por
O diagnóstico psicopedagógico avalia quais exemplo, da postura teórica adotada, além de
são os fatores que ocasionam as dificuldades haver o fato de que, como já haver dito, cada
na aprendizagem e no ensino. Ribeiro (2011), caso é um case [...] com suas variantes, suas
afirma que as dificuldades de aprendizagem se nuances, que diferenciam o sujeito, seu
referem a algumas desordens que o sujeito histórico, seu distúrbio (BOSSA, 1994, p. 94).
pode manifestar, tais desordens podem A psicopedagogia no campo clínico tem
compreender aspectos da falta, audição, como recurso principal à realização de
aprendizagem de leitura e escrita, entrevistas operativas dedicadas a expressão e
aprendizagem matemática, dentre outras. a progressiva resolução da problemática
A atuação do psicopedagogo clínico é individual ou em grupo daqueles que a
terapêutica, considerando que o aluno se consultam. Procura descobrir os fatores que
encontra em um estágio avançado de levam o sujeito a não aprender ou apresentar
dificuldades de aprendizagens. O atendimento dificuldades de aprendizagem mesmo com a
psicopedagógico clínico ocorre fora do intervenção preventiva.

1027
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Numa linha terapêutica, o psicopedagogo acontece o aprendizado no cérebro, como os


trata das dificuldades de aprendizagem, neurônios se interligam no momento da
diagnosticando, desenvolvendo técnicas aprendizagem, como os estímulos chegam ao
remediativas, orientando pais e professores, cérebro, como se consolidam as memórias e
estabelecendo contato com outros como acessam as informações armazenadas
profissionais das áreas psicológicas, para que tenham resultados satisfatórios na
psicomotora. Fonoaudiológica e educacional, aprendizagem.
pois tais dificuldades são multifatoriais em sua É necessário que se dê a oportunidade de
origem e, muitas vezes, no seu tratamento. aprendizagem, um ambiente propício, com
Esse profissional deve ser um mediador em estímulo. As crianças aprendem quando
todo esse processo, indo além da simples recebem oportunidades adequadas para tanto
junção dos conhecimentos da psicologia e da e quando estão presentes determinadas
pedagogia (NASCIMENTO, 2013, p. 3). integridades representadas pelos fatores
Pensar em um sistema educacional de psicológicos, funções do sistema nervoso
qualidade para todos implica, sobretudo, periférico e funções do sistema nervoso
transformações profundas no conceito e na central. Assim, o processo de aprendizagem é
prática avaliativa. Uma delas é o entendimento constituído por diversos fatores que
de que o processo de construção do determinam se aprendeu, observando o seu
conhecimento não ocorre ao mesmo tempo e desempenho antes e depois da situação dada
da mesma forma por todos os sujeitos, daí a para a aprendizagem (GUERRA, 2002, p. 40).
relevância de não restringir a avaliação ao ato Sampaio (2011), enfatiza que uma vez que a
de quantificar acertos. psicopedagogia considera os diversos fatores
Zabala (1998), afirma que as mudanças envolvidos no processo de aprendizagem, cabe
educacionais que hoje são impostas e a ela o papel de investigar e identificar como
necessárias de acordo com a realidade que tais fatores podem interferir positiva ou
temos, requer a aprendizagem de novas negativamente nos processos de
habilidades e competências, além de exigir dos aprendizagem.
educadores, compromisso e motivação para o Paralelamente, segue identificando as
trabalho em parceria. diversas áreas que originam as dificuldades. A
Cada escola possui os seus problemas aprendizagem não tem início quando a criança
específicos e tem características próprias. O chega na escola, e sim, bem antes disso desde
psicopedagogo vivencia as dificuldades de o primeiro contato com a sociedade ao seu
aprendizagem apresentadas pelos educandos redor, a cada ação que ocorre no ambiente, a
e com tais dados é capaz de formular e cada palavra que escuta, e com tudo que está
reformular ações e condutas para minimizar ao seu redor.
tais efeitos e contribuir para a aprendizagem. A realidade e o contexto social e cultural dos
Os estudos em neurociência contribuem nas sujeitos devem ser levados em consideração,
práticas escolares e no processo de além de sua estrutura familiar, suas
aprendizagem. Ao compreenderem como dificuldades socioeconômicas, entre outros

1028
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aspectos, O debate sobre o papel da O Psicopedagogo Educacional trabalha na


escolarização na dinâmica social precisa instituição escolar e é responsável por levantar
considerar o potencial transformador da escola e analisar as questões que permeiam as
por algumas das experiências que proporciona práticas cotidianas escolares relacionadas a
e por muitos dos conhecimentos que aprendizagem, em conjunto com a equipe
disponibiliza (sem dúvida, o acesso à escrita escolar, deve promover a construção e a
está entre eles), e ver a escola como um reformulação das práticas no sentido de
importante espaço social de regulação da melhoria da aprendizagem e das formas de
alteridade, por meio da valoração das ensino.
identidades fixas e estáveis, nas quais também É papel da escola procurar esclarecer as
se enquadram os estereótipos e estigmas, que causas dos problemas, a primeira avaliação
conformam o padrão considerado válido e, deve ser feita por um grupo interno; depois, as
consequentemente, negam os preocupações são transmitidas aos pais,
comportamentos que dele diferem (ESTEBAN, mostrando-se opções para um diagnóstico
2010, p. 15). correto, que pede a avaliação de profissionais
A criança que apresenta alguma dificuldade, de outras áreas. [...] uma vez determinado o
deve se sentir segura em seu local de problema, pais, professores e terapeutas
aprendizagem, desta maneira, irá adquirir planejam juntas as estratégias e intervenções a
confiança em se expressar. As interações que serem feitas (modificação do ambiente,
ocorrem na escola, são importantes nos adaptação do currículo, adequação do tempo
processos de aprendizagem e a formação de atividade, acompanhamento de medicação,
continuada dos educadores é um ponto terapia adequada, etc. (BORGES, 1997, p. 20).
relevante para que mudanças aconteçam a O profissional em psicopedagogia é
favor da educação. responsável pelo suporte clínico e pedagógico
Com a garantia de um espaço em que os no contexto escolar e nos consultórios de
educadores possam articular ideias e atendimento, prevenindo eventuais problemas
relacionar a teoria e a prática, é que poderão de aprendizagem e zelando para a não
se sentir mais seguros para elaborar ocorrência destes. Prevenir, neste sentido de
alternativas que assegurem a democratização atuação, consiste em melhorar as condições da
do saber, efetivando uma educação de escola em proporcionar a construção da
qualidade e garantindo a aprendizagem. aprendizagem.
A Psicologia Social estuda a constituição dos Sampaio (2011), afirma que outro aspecto
sujeitos, analisa e descreve os processos que que vale a pena salientar é o fato de alguns
envolvem a construção do conhecimento pelo problemas na aprendizagem terem o potencial
sujeito nos momentos de interação com os de gerar alterações no comportamento do
outros. A Linguística é responsável pela indivíduo, como, baixa autoestima, vergonha
compreensão da linguagem, língua, social e por não conseguir acompanhar os colegas,
cultural e a Neuropsicologia é responsável pelo isolamento, dificuldade em se concentrar,
tratamento comportamental das pessoas, das desmotivação em relação à aprendizagem,
evoluções ocorridas no plano psíquico e podendo chegar a alterações psíquicas como
psicomotor. ansiedade e depressão.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A psicopedagogia é uma área do conhecimento, que está entre os conhecimentos de
pedagogia e de psicologia e é responsável por envolver a saúde e a educação em suas
investigações.
O diagnóstico compreende de maneira global como o indivíduo aprende e o que está
ocorrendo neste processo dificultando a aprendizagem, depois de especificado o problema parte-
se então para o encaminhamento de ações para a solução deste problema. O psicopedagogo
identifica as dificuldades de aprendizagem e realiza os encaminhamentos e as devolutivas
pertinentes e necessárias para ajudar o paciente e iniciar os processos de intervenção que
permitirão a integração escolar e social. O objetivo do diagnóstico é compreender de maneira
global como o indivíduo aprende e o que está ocorrendo neste processo que acaba por dificultar
a aprendizagem, do problema parte-se então para o encaminhamento de ações necessárias para
saná-lo. O psicopedagogo identifica as dificuldades de aprendizagem e realiza os
encaminhamentos e as devolutivas pertinentes e necessárias para ajudar o paciente e iniciar os
processos de intervenção que permitirão a integração escolar e social.
A possibilidade de aprendizagem escolar está diretamente relacionada à estrutura de
personalidade do sujeito. Para aprender o que a escola ensina, é necessária além de outras coisas,
uma personalidade medianamente sadia e emocionalmente madura, que tenha superado a etapa
de predomínio do processo primário. Assim, diante dos problemas de aprendizagem
apresentados por crianças e adolescentes, muito tem se falado com relação às dificuldades de
aprendizagem tais, como: problemas emocionais, comportamentais, dislexia, disgrafia,
disortografia, distúrbios de leitura, autismo, problemas cognitivos, sociais e biológicos. Assim, o
psicopedagogo deverá proporcionar uma investigação em todos os aspectos que possa estar
contribuindo de alguma forma para a problemática a fim de intervir da melhor maneira possível
nas dificuldades de aprendizagem (FILHO, 2012, p. 3).
Sobre os principais distúrbios de aprendizagem apresentados atualmente na escola, temos
a Dislexia, que é uma disfunção neurológica que afeta a leitura e a escrita. A criança apresenta
dificuldades em realizar a associação dos sons e letras. A dislexia não é conceituada como uma
doença, é um distúrbio e necessita de acompanhamento de uma equipe multidisciplinar; a
Disgrafia ocorre quando a criança tem a escrita como um desafio e apresenta dificuldade em
utilizar tesouras, amarrar os cadarços de sapatos, pegar ou jogar bola, dentre outras.
A ludicidade facilita os processos educativos, favorecem a interação e a socialização das
crianças, a escola é responsável na promoção de aprendizagens significativas e desafiadoras que
contribuam para a construção de conhecimentos, oportunizando ao educando o processo de
criação participativo e ativa, levando a autonomia nas ações e desenvolvendo atitudes de
respeito mútuo e solidariedade.
De sorte que não se inicia o desenvolvimento do indivíduo, da sua intelectualidade, sem
pensar na afetividade que é, como foi visto, o motor de impulsão, que leva o sujeito para a frente
e que o faz mais humano, dinâmico.
A afinidade construída duplamente entre professor/aluno, aluno/professor, que faz da
sala de aula um círculo de valores, necessidades, anseios e frustrações cruzadas, que criam uma

1030
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fortaleza de motivos para ser e estar. Por isso, na relação aluno/professor, é indispensável
compreender que os professores são maestros nessa sinfonia, pela formação ou experiência em
relação ao aluno, sujeito em desenvolvimento, à procura de identidade autônoma.
O papel do psicopedagogo é o de avaliar a situação em que se encontra o sujeito e procurar
maneiras para ajudar em sua aprendizagem rompendo os obstáculos que impedem o aluno de
aprender, trabalhando as dificuldades desses sujeitos que podem ocasionar: falta de atenção e
concentração, impulsividade, hiperatividade, além das questões emocionais que podem
interferir neste processo.
Aspectos como baixa autoestima e ansiedade podem ser trabalhados com jogos ou
trabalhos contextualizados à realidade do paciente. A arte terapia e as atividades lúdicas
intervém nas questões relacionadas às posturas e hábitos associados à atenção e a organização
da rotina, contribuindo para uma melhora nesses aspectos.

1031
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BARBOSA, Laura M. S. Psicopedagogia: um diálogo entre a psicopedagogia e a educação.
2. ed. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro, 2006.

BORGES, S.M.C. Há um Fogo Queimando em mim: a representação social da criança hiperativa.


UFC. Fortaleza, 1997.

BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia do Brasil. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007.

CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de diagnóstico psicopedagógico: o diagnóstico clínico


na abordagem interacionista. São Paulo: Vetor, 2004.

ESTEBAN, Maria Teresa; Afonso, Almerindo (Org.). Olhares e interfaces: reflexões críticas
sobre a avaliação. São Paulo: Cortez, 2010.

FERNANDÉZ, A. (1991 p.47). A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas.

FILHO, P. J. S. O psicopedagogo e as intervenções nas dificuldades de aprendizagem. São


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GUERRA, Leila Boni. A criança com Dificuldades de Aprendizagem: Considerações sobre


a teoria modos de fazer. Rio de Janeiro: Enelivros, 2002.

NASCIMENTO, Fernanda Domingas do. O papel do psicopedagogo na Instituição Escolar.


2013.

OLIVEIRA, Gilberto Gonçalves de. Neurociências e os processos educativos: um saber


necessário na formação de professores. Dissertação de Mestrado. Uberaba, Minas Gerais.
2011.

PAÍN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1985.

SAMPAIO, S.; FREITAS, I. B de (Orgs.). Transtornos e dificuldades de aprendizagem:


entendendo melhor os alunos com necessidades educativas especiais. Rio de Janeiro:
Wak, 2011.

ZABALA, Antoni. A Prática Educativa: Como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O SUPERVISOR DE ENSINO E O
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
PEDAGÓGICO
Maria Cristina Teles de Oliveira 1

RESUMO: Este trabalho tem por finalidade discorrer sobre a função que o supervisor tem quanto
a formação continuada de professores, uma vez que ela pode impactar diretamente a prática
docente. A qualificação profissional do docente bem como o trabalho em equipe, a troca de
experiências, a reflexão sobre a prática e construção de novas estratégias de trabalho são ações
ligadas à qualidade de ensino-aprendizagem e ao papel que supervisor escolar deve desenvolver
dentro da instituição de ensino.

Palavras-Chave: Supervisor; Formação; Qualidade de ensino.

1Professora de Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo e Professora Educação Básica II na Rede
Estadual de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Matemática; Licenciatura em Pedagogia.

1033
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE TEACHING SUPERVISOR AND THE DEVELOPMENT OF


PEDAGOGICAL WORK
ABSTRACT: This work aims to discuss the role that the supervisor has in the continuing education
of teachers, since it can directly impact teaching practice. The teacher's professional qualification
as well as teamwork, the exchange of experiences, the reflection on the practice and construction
of new work strategies are actions linked to the quality of teaching and learning and the role that
school supervisors must develop within the institution of teaching.

Keywords: Supervisor; Training; Teaching quality.

1034
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O SUPERVISOR DE ENSINO E O


A escola passou por grandes mudanças DESENVOLVIMENTO DO
desde que sua constituição e funções foram TRABALHO PEDAGÓGICO
redefinidas pelo legislador. Antigamente o A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases
supervisor de ensino era visto como o da Educação de 1996 foi uma conquista que
responsável por apontar erros e falhas, trouxe vários avanços para a educação
monitorar, fiscalizar e controlar, exercendo brasileira, além de respaldo para o trabalho do
funções mais próximas ao serviço de supervisor de ensino ao validar sua orientação,
inspecionar o trabalho dos profissionais da gerencia e inspeção, definindo-o como aquele
educação. profissional graduado em pedagogia com
Cardoso (2006, p. 88), esclarece que, por atuação fora da sala de aula e em vários setores
suas atribuições, a função de supervisor de do ambiente escolar.
ensino ainda hoje pode ser percebida como o São vários os fatores que impactam a
ofício de inspeção, em que as obrigações qualidade do ensino e alguns são específicos a
envolvem apenas fiscalizar e padronizar o necessidade da comunidade escolar. Outros,
trabalho escolar sem qualquer preocupação como ambiente de trabalho bem estruturado e
real com a qualidade do processo de ensino propicio ao desenvolvimento de atividades
aprendizagem. laborativas, são fundamentais em qualquer
Isso porque em 1931 o artigo 56 do Decreto- cenário e se comunicam com a qualidade de
Lei19.890 criava a carreira de inspetor, cuja vida, uma vez que o envolvimento das pessoas
função de inspecionar o trabalho escolar em uma ação bem definida depende da relação
englobava a supervisão do ensino. Dessa que ocorre entre elas e dessas com a
forma, o supervisor de ensino controlava organização institucional. A interação entre as
especialmente o desenvolvimento do trabalho pessoas nesse processo de convivência
pedagógico, preocupando-se mais com possibilita a fomentação de um ambiente
critérios burocráticos, e a punição era vista saudável, preocupado em manter um clima de
como um método de incentivo ao respeito e equilíbrio ao promover um trabalho
aprimoramento docente. colaborativo e em equipe.
Historicamente esse papel esteve sempre Atualmente o supervisor atua junto à gestão
interligado a gerência, função essa que escolar conjuntamente a todos os
também se transformou e atualmente engloba componentes internos da escola com o
um trabalho multisetorial e dinâmico. objetivo de garantir avanços contínuos a
qualidade de ensino. Alves (1985, p.25), trata a
supervisão escolar como “um processo
dinâmico que garante parâmetros para a
relação ensino-aprendizagem que se realiza na
escola”.

1035
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O trabalho desenvolvido com a finalidade de trabalho de respeito e colaboração mútua em


garantir a qualidade da educação deve que todos tenham preponderância em
funcionar como uma régua balizadora para metodologia de ensino, didática e psicologia do
todos os participantes de uma gestão processo de ensino aprendizagem. Nesse
democrática. Como integrante desse processo, enfoque o supervisor de ensino deve ter ampla
o supervisor de ensino tem, em suas formação que garanta o desenvolvimento de
atribuições, algumas obrigações visando sua criticidade assim como o conhecimento das
orientar o trabalho pedagógico. Conforme leis que deliberam a educação.
Ferreira (2003, p. 32): O desenvolvimento do trabalho pedagógico
Dentre suas principais atribuições podemos exige contínuo planejamento, com constantes
citar: orientar, controlar, supervisionar, avaliações e feedback que permitam
fiscalizar e inspecionar todo o processo replanejamentos e rearranjos visando o
educacional através de conferências, palestras prosseguimento do processo de ensino
visitas, acompanharem o desenvolvimento do aprendizagem e o alcance das metas
currículo nos estabelecimentos, com objetivos estabelecidas. Esse trabalho deve ser
de orientar pedagogicamente os professores permeado pela formação continuada e entre as
mais jovens, buscando eficiência, introduzindo responsabilidades do supervisor escolar há a
inovações, modernizando os métodos de corresponsabilidade por essa formação,
ensino e promovendo um acompanhamento coordenando o trabalho coletivo e a
mais atento do currículo pleno nos integralidade. Para Rangel (2011, p.14), o
estabelecimentos. supervisor pode interferir no processo
Embora seja complexo tentar definir o educacional:
trabalho da supervisão escolar, é importante ...por meio da organização e da coordenação
ressaltar sua função de ser um facilitador da de encontros de formação docente continuada
orientação e assessoramento aos professores que ofereçam e estimulem estudos e debates
frente aos desafios e entraves enfrentados no críticos-sociais, contextualizados, de modo que
cotidiano escolar, contribuindo com a se favoreçam o conhecimento e a valorização
promoção de uma melhora na qualidade da de práticas pedagógicas com princípios,
educação ofertada. Medina (1997), destaca processos e perspectivas emancipadoras.
que o objeto de trabalho do supervisor é o Libâneo (2013, p. 35), corroborando com
produto desenvolvido pelo professor, ou seja, Rangel, destaca a respeito do trabalho do
a aprendizagem do educando. A autora revela supervisor de ensino no desenvolvimento da
que é importante a preocupação com a formação continuada de professores:
qualidade desse trabalho, devendo o Pela participação na organização e gestão do
supervisor, por meio do professor, atentar-se a trabalho escolar, os professores podem
aprendizagem do aluno, uma vez que a aprender várias coisas: tomar decisões
responsabilidade recai sobre ambos. coletivamente, formular o projeto pedagógico,
É fundamental que supervisor, corpo dividir com os colegas as preocupações,
docente e gestão consigam um ambiente de desenvolver o espírito de solidariedade,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

assumir coletivamente a responsabilidade pela supervisor ter a habilidade de incentivar,


escola, investir no seu desenvolvimento planejar, propor, concretizar o trabalho
profissional. Mas, principalmente aprendem educacional. Além disso, o supervisor precisa
sua profissão. É claro que os professores ser capaz de avaliar-se constantemente e
desenvolvem sua profissionalidade primeiro no buscar aperfeiçoamento para minimizar e, se
curso de formação inicial, na sua história possível, sanar possíveis dificuldades e
pessoal como aluno, nos estágios etc. Mas é viabilizar um projeto de educação continuada.
imprescindível ter-se clareza hoje de que os
professores aprendem muito compartilhando a
sua profissão, seus problemas, no contexto de
trabalho. É no exercício do trabalho que, de
fato, o professor produz sua profissionalidade.
Esta é hoje a ideia chave do conceito de
formação continuada.
Além da formação continuada, o supervisor
de ensino responsabiliza-se, ainda, pelo
monitoramento do planejamento educacional,
a análise do desenvolvimento e rearranjos
essenciais ao percurso. Para o desempenho
satisfatório dessas funções, faz-se necessário
um comprometimento real com o
desenvolvimento da aprendizagem do
educando, tornando-a significativa de modo
que o aluno seja capaz de se transformar em
um cidadão crítico apto a influenciar e
modificar a sociedade em que vive.
A ideia do supervisor que incialmente era o
responsável por apontar erros e falhas,
inspecionar, fiscalizar e controlar tornou-se um
conceito ultrapassado, tendo hoje sua função
muito mais atrelada a parceria com o trabalho
docente como um pesquisador, orientador
promotor da integração.
Esse novo perfil atrela-se ao entendimento
do profissional que busca aperfeiçoar o
trabalho desenvolvido por educadores,
tornando o processo de ensino-aprendizagem
a prioridade da educação e o aluno o
protagonista do ensino. Para isso, cabe ao

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A concepção do papel supervisor não está mais baseada em apenas inspecionar, mas sim
num trabalho colaborativo, com vista ao estabelecimento de um plano de ação que contribua
para o planejamento e avaliação contínua.
Ao promover e articular a formação continuada dos docentes, o supervisor pode conduzir
e promover mudanças significativas sendo este um dos veículos de socialização, interação e
autonomia do professor.
Assim o papel do supervisor escolar se estabelece na somatória de esforços e ações
desencadeadas com o sentido de contribuir na construção e cumprimento de uma aprendizagem
significativa, promovendo a melhoria no processo ensino-aprendizagem, no resgate de valores,
no desempenho do professor como transformador das práticas pedagógicas, em um ambiente
harmônico e motivador na busca por um ensino de qualidade.
O supervisor educacional, então, é o profissional com a capacidade de compreender,
aperfeiçoar, propor e desenvolver estratégias que propiciem melhorias na realidade da
comunidade escolar e, principalmente, no rendimento do processo de ensino e aprendizagem,
recomendando modos de aperfeiçoar o desenvolvimento de projetos e do trabalho escolar.
Assim, precisa estimular propostas que atendam as necessidades da escola, com o intuito de
contribuir com a formação de cidadãos críticos, autônomos, capazes de participar ativamente na
sociedade. Cabe ao supervisor, portanto, empregar o conhecimento adquirido da rotina escolar
e nos fundamentos da educação para contribuir com uma educação de qualidade.

1038
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALVES, Nilda (coord). Educação e Supervisão: o trabalho coletivo na escola. 11ª ed. São
Paulo: Cortez, 2006.

BRASIL. Decreto-Lei 19.890/31. Dispõe sobre a organização do ensino secundário.


Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19890-18-abril-
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CARDOSO, Heloísa. Supervisão: um exercício de democracia ou de autoritarismo? In:


ALVES, Nilda (coord). Educação e Supervisão: o trabalho coletivo na escola. 11ª ed. São Paulo:
Cortez, 2006.

FERREIRA, Naura Silva C. (Coord.). Supervisão educacional para uma escola de qualidade:
da formação à ação. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2003.

LIBÂNEO, J. C. Organização e Gestão da Escola – Teoria e Prática. São Paulo: Heccus, 2013.

MEDINA, A. S. Novos olhares sobre a supervisão. Supervisor Escolar: parceiro político-


pedagógico do professor. Campinas, SP: Papirus, 1997.

RANGEL, M.; FREIRE, W. (org.). Supervisão escolar. Avanços de conceitos e processos.


Rio de Janeiro: Wak, 2011.

1039
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO


Ângela Maria Gonçalves1
Edna Sousa Barbosa2

RESUMO: O presente artigo aborda o tema trabalho como princípio educativo, mostrando de
forma sucinta a história do trabalho desde a sociedade primitiva até a primeira década do século
XXI, sendo um trabalho desenvolvido no curso de Especialização em EJA pela UAB, Campus de
Primavera do Leste no Estado de Mato Grosso.

Palavras-Chave: Trabalho; Sociedade; Educativo.

1
Professora na Rede Municipal de Primavera do Leste MT.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Ciências Naturais e Matemática; Especialização em
Planejamento Educacional e Diversidade e Educação Inclusiva
2
Professora na Rede Municipal de Primavera do Leste MT.
Graduação: Licenciatura em Letras; Especialização em Gêneros Textuais na Escola.

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WORK AS EDUCATIONAL PRINCIPLE


ABSTRACT: This article addresses the theme work as an educational principle, succinctly showing
the history of work from primitive society to the first decade of the 21st century, being a work
developed in the Specialization course in EJA at UAB, Primavera do Leste Campus in State of Mato
Grosso.

Keywords: Work; Society; Education.

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INTRODUÇÃO trabalhador da complexidade do processo de


trabalho e também dos seus resultados.
Nas sociedades primitivas, o trabalho tinha Então conforme o que estudamos podemos
como característica principal ser solidário e concluir que na década de 1980 a 1990,
coletivo. A produção era apropriada por todos. percebemos que, devido à abertura política e à
Com o advento da economia de mercado, o repressão militar, a fase era de grande
trabalho deixou de ser o espaço social de entusiasmo no que se possa pensar sobre o os
construção do sentimento de tribo, de novos rumos que o Brasil poderia tomar. Isso
comunidade, passando a ser tão somente uma fez com que, no âmbito acadêmico, fossem
mercadoria que, a partir do momento em que criados vários meios de veiculação das ideias
é comprada por quem detém o capital, aliena o pedagógicas, ideias essas nas quais o
trabalhador da complexidade do processo de pensamento de contra hegemônico mostrou
trabalho e também dos seus resultados. estar fortemente presente.
Objetiva-se analisar que quem detém o Tais aspectos possibilitaram os entraves
capital aliena quem trabalha, bem como teóricos sobre as pedagogias críticas ao
demonstrar que desde as sociedades primitivas capitalismo e sobre o trabalho enquanto
o trabalho tinha a característica de mercadoria. princípio educativo, porém o trabalho não é
O tema trabalho como princípio educativo definido como princípio educativo no ponto de
justifica-se em razão de apresentar, mesmo vista de vários estudiosos como Tumolo (2005,
que de forma sucinta, a história do trabalho p. 256).
desde a sociedade primitiva até a primeira O trabalho só poderia ser princípio balizador
década do século XXI. de uma proposta de educação que tenha uma
O problema emergente associado a hipótese perspectiva de emancipação humana numa
temática é que a grande maioria dos sociedade baseada na propriedade social. Mas
estudantes não percebem, ou não tem noção o trabalho é visto como algo que é essencial
de que são explorados e que servem de mão de para a sobrevivência humana sendo tão
obra barata por quem detém o capital. necessário na vida do ser humano e na própria
forma de ser dos seres humanos.
TRABALHO COMO PRINCÍPIO Somos parte da natureza e dependemos
Nas sociedades primitivas, o trabalho tinha dela para reproduzir a nossa vida. E é pela ação
como característica principal ser solidário e vital do trabalho que os seres humanos
coletivo. A produção era apropriada por todos. transformam a natureza em meios de vida na
Com o advento da economia de mercado, o qual necessita para suprir suas necessidades na
trabalho deixou de ser o espaço social de maioria das vezes é visto como algo doloroso
construção do sentimento de tribo, de que o trabalhador não é o dono de seu tempo
comunidade, passando a ser tão somente uma mas o trabalho que tem que realizar fazendo
mercadoria que, a partir do momento em que com que o ser humano fique preso, desta
é comprada por quem detém o capital, aliena o forma percebemos que o trabalho não é
necessariamente educativo , depende das

1042
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

condições de sua realização, dos fins a que se sociedade, ele é a atividade fundamental pela
destina, de quem se apropria do produto do qual o ser humano se humaniza, se cria, se
trabalho e do conhecimento que se gera, expande em conhecimento, se aperfeiçoa.
Porém, este processo não é tão simples assim. O trabalho é a base estruturante de um novo
tipo de ser, de uma nova concepção de história.
EMACIPAÇÃO OU ALIENAÇÃO O trabalho como princípio educativo não é
apenas uma técnica didática ou metodológica
O trabalho pode ser emancipador, mas pode
no processo de aprendizagem, mas um
também ser um instrumento que submete e
princípio ético político e não apenas um direito
até mesmo escraviza o ser humano que
do cidadão, mas um dever.
defronta com uma relação que é parte da luta
Embora a educação exerça a função de
hegemônica entre capital e trabalho. O
estabelecer o padrão de sociabilidade e
trabalho pode ser responsável por gerar prazer
reprodução e produção cultural e, de dar aos
para alguns, mas também pode ser responsável
homens a capacidade de transformar sua
por gerar pesadelo e sofrimento para outros. E
realidade social e libertar-se de determinadas
tudo isso independentemente da qualidade do
barreiras, na sociedade de classes essa
trabalho ou mesmo do seu valor social.
realidade ganha nova conotação.
Porque vivemos em sociedade e mais,
A mistificação necessária à reprodução do
vivemos em sociedade capitalista, onde o
capital acaba por desafiar a educação no seu
trabalho por si só pode gerar alienação e
processo de desvelar o real. Contudo, por esse
muitas exigências. Para que isso não ocorra, a
mesmo processo, contraditoriamente, na
educação deve estar aliada ao trabalho, ou
correlação de forças capital e trabalho, o
seja, ter o trabalho como princípio educativo.
trabalho impele, por sua subsunção, alienação
Percebemos que o discurso que alia trabalho
e super-exploração pelo capital, à formação da
com educação é algo que desponta
classe trabalhadora, que ao se incomodar e
novamente, o que pode ser comprovado pelas
perceber as desigualdades sociais no mundo da
políticas públicas voltadas para educação em
produção, na qual a precariedade das
prol do mundo do trabalho e que continuam
condições de trabalho é a sua maior expressão.
gerando discussões.
A partir desses elementos cabem-nos as
Sob a forma de trabalho como princípio
seguintes indagações: como esse processo
educativo, vários autores tem suas concepções
influencia, particularmente a educação e a
e reflexões neste âmbito, o trabalho para ser
cultura na vida do trabalhador? De que forma
visto como princípio educativo tem que ser
está pode contribuir para manutenção das
prazeroso e agregar valores culturais também
relações de insubordinação ao trabalho quanto
na vida do ser humano, O trabalho é parte
princípio educativo em relação as
fundamental da ontologia do ser social.
desigualdades advindas da sociedade de
A aquisição da consciência se dá pelo
classes, em especial, as advindas da questão de
trabalho, pela ação sobre a natureza. O
gênero imbricadas nas relações de ter pra ser?
trabalho, neste sentido, não é emprego, não é
Essas serão questões que buscaremos refletir a
apenas uma forma histórica do trabalho em

1043
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

seguir buscando dar uma contribuição aos Lessa (2007), cita esta parte da obra de
processos de trabalho e educação voltados Saviani (2005), da qual ele extrai tal conclusão.
para o contexto de princípio educativo. Conforme o que diz Lessa o trabalho pra ser
Diante de tudo isso que já mencionamos visto como princípio educativo e cultural ele
virmos que na década de noventa a lógica de tem que agregar valores e não ser visto como
mercado no campo educacional se algo que impõe regas sendo assim doloroso,
fragmentam os processos educativos, então observa-se que os conceitos de cultura
relacionando-os a pós-modernidade, que são variados e divergentes em relação ao
carregam os conceitos de particularidade e primado do mundo natural (habitat) ou social,
subjetivismo. material ou simbólico na formulação das ideias
Doravante, negando a possibilidade de sobre as culturas humanas. o trabalho, como
construir algo voltado para o conhecimento, na espaço de produção, objetivação e expressão
cultura, fazendo com que a visão das pessoas humana; portanto, o trabalho é lócus
se volta somente para o capitalismo, dentro importante de emergência das formas de
deste contexto nos é válido para explicar a fase identidade individual e tipificada tendo a
de moderação dos debates, a respeito de uma cultura como um processo de produção do
pedagogia contra hegemônica e homem que é adquirida conforme o que o
consequentemente, do trabalho como trabalho agrega para o seu conhecimento
princípio educativo. sendo permeada pelo poder do crescimento o
O que se tem sobre conceito de educação, qual fornece um importante
são os vínculos que ela deve ter com as práticas perspectiva/delimitação do homem.
sociais, com o trabalho e a valorização das Parte-se do pressuposto de que os estudos
práticas educacionais e dentro deste contexto da perspectiva de cultura, educação e trabalho
estudado vemos que há pessoas que negam podem ajudar a compreender as relações
essa teoria de trabalho quanto princípio significantes do ser/fazer do homem, no
educativo devido a necessidade que o ser âmbito do seu trabalho cotidiano de forma que
humano que são tão essenciais para a constitui a identidade sendo está constituída
sobrevivência em “Trabalho e Proletariado no sempre em uma certa relação com o meio de
capitalismo contemporâneo”, Lessa (2007), onde o homem está situado, nessa relação o
deixa bem claro e ainda aponta mais uma homem se define.
crítica, a relação entre trabalho e cultura. As condições de existência do homem que
Em sua análise da obra de Saviani (2005), são aquilo por meio do qual ele se constitui.
além de argumentar que este autor iguala a Então, o homem se dá sempre por perspectivas
educação ao trabalho, também o iguala à e ou delimitações.
cultura, sendo trabalho, educação e cultura o
mesmo e, ao tratá-lo como princípio educativo,
ignora, portanto, essa identificação de trabalho
com a cultura.

1044
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O HOMEM É TANTO UM SER se debruçando sobre o vínculo trabalho


educação baseando suas produções em Marx e
DA NATUREZA COMO DA Gramsci. Dentre eles destacamos Manacorda
SOCIEDADE (1975, 1990), Saviani (1989,1994, 2003, 2007),
Segundo Berger e Luckmann (1973), o Frigotto (2005, 2009), Antunes (1999, 2004,
homem é tanto um ser da natureza como da 2005); Kuenzer (1988,1994); Nosella (1989,
sociedade. Quando pensamos que o 1992); Franco (1989) e Tumolo (1996, 2003,
trabalhador pode dispor apenas de seu 2005, 2007).
potencial de tempo vendendo o seu tempo, o Com efeito, o princípio educativo do
trabalhador abre mão de exercer qualquer trabalho, na sociedade capitalista, assume a
possibilidade de controle ou intervenção nas forma alienada com todas as consequências
complexas relações que se estabelecem entre negativas que dela derivam. Essas questões
o indivíduo e o mundo no processo de trabalho colocadas pelos estudiosos que buscam tratar
se ele vende sua força e seu tempo sendo essa da relação, educação e trabalho, como
função somente pelo capital e não pelo prazer princípio educativo, numa perspectiva
ele não adquire cultura e também não agrega revolucionária, nos leva a também questionar
nada a sua cultura e o trabalho se torna uma como o trabalho pode ser visto como princípio
obrigação. educativo se a maioria dos seres humano
Assim o trabalho na forma capitalista trabalham pela necessidade e não por prazer
constitui a vida social estranhada e alienada, diante de nossa compreensão devido o que são
porém, também possibilita a emancipação postas pela realidade, isso quer dizer que tanto
social. o trabalho é um processo em que o surgimento quanto o arrefecimento dos
ocorrem simultâneas transformações, uma vez entraves do trabalho como princípio educativo
que, à medida que o homem, por meio de suas tem sua explicação diante da realidade que se
ações, modifica a natureza, ele também é vivencia.
modificado por ela, em um movimento
dialético.
E esse trabalho não se dá mediante o
instinto do homem, mas é uma ação planejada,
anteriormente idealizada. Diante deste estudo
sobre trabalho como princípio educativo
podemos concluir que que cada pensador tem
um conceito de trabalho como princípio
educativo nunca chegando em algo concreto e
definido para tal pesquisa, então vemos que o
princípio educativo do trabalho é uma
proposição marxista e marxiana, no território
brasileiro, especialmente a partir da década de
1980, vários estudiosos progressistas que vem

1045
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que é necessário pensar em uma pedagogia que vá contra a imposição do
capital permitindo que o indivíduo tenha um norte em meio ao caos e que sua força e seu
trabalho desenvolvido não acrescente somente a quem dela se aproprie mas a si também
agregando valores e conhecimento. Porém conforme o que estudamos podemos entender que
os autores que redigem a crítica ao trabalho como princípio educativo, exatamente nesse
momento histórico em que o socialismo cai em descrédito não chegam ao um consenso.
Ressalta-se que a derrocada do socialismo real teve influência no interior do próprio
movimento socialista, causando essas dissensões a respeito dos encaminhamentos para a luta de
classe e sobre sua organização e desigualdade social gerando conflitos e barreiras na aquisição
de conhecimentos, cultura e valores. No que se refere à trabalho como princípio educativo diante
de nossas reflexões aqui empreendidas, pensamos a partir do vínculo entre educação e estratégia
de transformação social, isto é, em como a escola pode contribuir para a ruptura do modelo
capitalista e para a emancipação humana, no entanto, entendemos que a função da escola
quanto transmissor de conhecimentos é de fundamental importância para
transmissão/assimilação dos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade.
É fundamental refletir a respeito de um princípio que possibilita acesso à humanização e,
portanto, possa contribuir para a transformação social. Sendo assim, considera-se que o trabalho
é a chave mestra para um princípio educativo e cultural do cidadão na sociedade desde que ele
agregue conhecimento e valores a quem vende sua força.

1046
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo Os sentidos do trabalho: Ensaio sobre a afirmação e negação do
trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999.

FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e Crise do Trabalho: perspectivas de final de século. 2


ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

LESSA, Sérgio. Mundo dos Homens: trabalho e ser social. São Paulo: Boitempo, 2002
MANACORDA, Mario Alighiero. O princípio educativo em Gramsci: americanismo e
conformismo. Campinas, SP: Editora Alínea, 2008.

MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Nova


Cultural, 987.

MARX, Karl. O Capital. Vol. I, tomo 1. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

TEIXEIRA, Ana Laura da Silva M. Documento trabalho como princípio educativo


TUMOLO, Paulo Sérgio. O significado do Trabalho no capitalismo e o trabalho como
princípio educativo: ensaio de análise crítica. In: http://www.anped.org.br/24/ts.htm, Data de
Acesso: 20/07/2022.

VENDRAMINI, Célia Regina. Terra, Trabalho e Educação: experiências socioeducativas em


assentamentos do MST. Ijuí: UNIJUÍ, 2000.

1047
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O USO DE JOGOS DIDÁTICOS COMO


FERRAMENTA NO ENSINO DE QUÍMICA EM
TEMPOS DE PANDEMIA
Micheline Soares Costa Oliveira1
Kethelly Rayne Lima de Oliveira2
Rodrigo Nobre de Souza Borba3
Yanna Julie da Silva Freitas4
Tifanny Almeida Fernandes5
Eduardo de Castro Campos6

RESUMO: Em meio ao cenário de Pandemia houve uma mudança de forma brusca das aulas
presenciais para o ensino remoto, as instituições de ensino e os alunos sofreram com essa
adaptação para a nova modalidade de ensino. Com isso, buscou-se meios para amenizar os
impactos que a pandemia vem causando no ensino público observando a necessidade do
desenvolvimento de aulas mais interativas e inclusivas para evitar tanto o baixo desempenho do

1 Professora Universidade Estadual do Ceará.


Graduação: Química
2 Estudante da Universidade Estadual do Ceará.

Graduação: Química
3 Estudante da Universidade Estadual do Ceará.

Graduação: Química
4 Estudante da Universidade Estadual do Ceará.

Graduação: Química
5 Estudante da Universidade Estadual do Ceará.

Graduação: Química
6 Professor da Rede Estadual de Ensino do Ceará.

Graduação :Química

1048
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aluno como a evasão escolar que aumentou consideravelmente na pandemia. Foram aplicados
jogos nas aulas e avaliado a interação, a participação e posteriormente foi elaborado um
formulário de perguntas e respostas para avaliar a metodologia empregada e a opinião dos
alunos sobre a prática realizada no modelo remoto sendo obtido um resultado satisfatório.

Palavras-Chave: Ensino Remoto; Pandemia; Jogos Didáticos.

THE USE OF DIDACTIC GAMES AS A TOOL IN CHEMISTRY TEACHING


IN PANDEMIC TIMES
ABSTRACT: Amid the pandemic scenario, there was a sudden change from in-person classes to
remote teaching, educational institutions and students suffered from this adaptation to the new
teaching modality. With this, means were sought to mitigate the impacts that the pandemic has
been causing on public education, observing the need to develop more interactive and inclusive
classes to avoid both low student performance and school dropout that increased considerably
in the pandemic. Games were applied in classes and interaction and participation were evaluated
and later a question and answer form was prepared to evaluate the methodology used and the
students' opinion about the practice carried out in the remote model, obtaining a satisfactory
result.

Keywords: Remote Teaching; Pandemic; Didactic Games;

1049
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO reservados e não adequados, como estudar em


casa, se torna muito mais cômodo a evasão
Com as repentinas mudanças no primeiro escolar. Nesse ponto, torna-se necessário o
trimestre de 2020 provenientes da crise desenvolvimento de uma aula mais interativa e
sanitária causada pela SARS-CoV-2, ou inclusiva (ARAÚJO, MENESES e VASCONCELOS,
popularmente chamada de COVID-19, o 2021). Buscando meios para amenizar os
mundo teve que se adaptar e se reinventar impactos que a pandemia vem causando no
com o intuito de amenizar os possíveis ensino, o trabalho propõe o uso de
prejuízos causados. Para a menor metodologias ativas, tanto para uma melhor
disseminação do vírus a Organização Mundial compreensão do conteúdo ministrado como
da Saúde (OMS) instaurou medidas de para uma melhor interação aluno-professor,
segurança, estando entre as de maior tornando as aulas interativas e
eficiência, o uso de máscaras atrelada ao contextualizadas com o cotidiano do aluno.
distanciamento social (WILDER-SMITH e
FREEDMAN, 2020). Tal crise causou impactos 1. METODOLOGIA
em diversas áreas, na qual acarretou
A metodologia utilizada foi a proposta por
repercussões em vários aspectos da vida em
Domingues (2021). As perguntas foram
escala global nos âmbitos sociais, econômicos,
produzidas pelos alunos do curso de química
políticos, culturais, tecnológicos e saúde. Com
da UECE (Universidade Estadual do Ceará) que
isso, o processo de escolarização passou de um
participam do programa de residência
regime presencial para o ensino a distância,
pedagógica para as 1a e 2a séries do ensino
sem que houvesse tempo para uma adaptação
médio da Escola de Ensino Médio Doutor César
preliminar dos alunos (OLIVEIRA, NETO e
Cals, localizada no município de Fortaleza.
OLIVEIRA, 2020). Com a mudança de forma
Foram utilizadas as seguintes ferramentas para
brusca para o ensino remoto, as instituições e
a realização do jogo: Kahoot como
os alunos sofrem para enfrentar tal desafio.
metodologia de ensino para a 1a série e o
Uma vez que, parte dos alunos sofrem mais
Quizur para a 2a série (Tabela 1). Os jogos
intensamente com a mudança, por parte
foram aplicados em aulas online utilizando a
social, econômico, e tecnológico é preciso que
plataforma Google Meet, baseando-se no
haja uma mudança nos currículos escolares e
modelo do Quiz, de perguntas e respostas de
práticas pedagógicas, pois uma vez que o aluno
acordo com o assunto planejado para a aula
sai de um ambiente controlado, como as salas
(Tabela 2).
de aulas, e se encontram em espaços não

1050
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

2. RESULTADOS E DISCUSSÕES relação à participação dos alunos, como


também aceitação dos estudantes sobre a
As questões foram organizadas em múltipla
aplicação desses jogos, como uma metodologia
escolha e algumas em verdadeiro ou falso. Na
inovadora de ensino em condições remotas. De
ferramenta Kahoot foi possível acompanhar o
acordo com os dados do formulário foram
desempenho dos alunos ao decorrer do jogo e
originados os seguintes resultados: alunos que
ao final um pódio com os três primeiros e a
desejam mais participação dessa metodologia
pontuação dos alunos que participaram. 3.
em sala de aula,100%; alunos que gostaram um
RESULTADOS E DISCUSSÃO As aulas foram
pouco do jogo, 35%; gostaram mais ou menos,
administradas utilizando as plataformas Quizur
15%; gostaram bastante 50%.
e Kahoot. Ambas foram levadas em
consideração a opinião dos professores, em

Além disso, sobre o aprendizado dos alunos, tiveram pouca dificuldade; 26,3% não tiveram
52,6% disseram que aprenderam um pouco dificuldades e 0% obteve muita dificuldade. Ao
com o jogo; 42,1% aprenderam bastante e final do formulário foi reservado uma parte
5,3% não aprenderam nada. No quesito de para que os alunos comentassem e
dificuldades de responder o quiz, 73,7% propusessem dicas de melhorias e métodos

1051
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que gostariam de ver nas aulas. Alguns dos


feedbacks dos alunos foram: “Bem
interessante a ideia, deixa a aula mais dinâmica
e menos repetitiva”; “utilização de memes e
pontuação extra”; “Seria muito bom aplicar
mais vezes essa metodologia nas aulas”;
“Gostei bastante, aplicar outros jogos desse
tipo seria uma boa ideia”. Com isso, foi obtido
um resultado positivo, tanto do professor
quanto dos alunos. A aplicação de
metodologias digitais promoveu uma maior
interação da turma com o professor, como
também auxiliou o educador na análise da
aprendizagem dos educandos e o repensar que
metodologias diferenciadas tornam as aulas
mais dinâmicas e prazerosas. Conclui-se que as
utilizações de métodos de ensino diferentes
como os jogos em algumas aulas nessa
modalidade remota podem contribuir para a
melhoria da relação ensinoaprendizagem
melhorando os resultados nas avaliações
internas e externas, contextualizando os
assuntos planejados com o convívio escolar do
educando.

1052
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, este trabalho trouxe a importância da utilização das novas tecnologias de ensino
disponíveis online, como os utilizados Quizur e Kahoot, contribuindo para o estreitamento da
relação ensino-aprendizagem e da contextualização dos assuntos no convívio escolar do
educando.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ARAÚJO, A. S.; MENESES, J. M.; VASCONCELOS, F. L. V. Os desafios da gestão
educacional democrática no cenário de pandemia. Ensino em Perspectivas, p. 1-12, 2021.

DOMINGUES, A. et al. Utilizando o Kahoot como ferramenta de auxílio no ensino remoto.


Educação em Foco: IFSULDEMINAS, v. 1, n. 1, 2021.

OLIVEIRA, A. S. S. E.; NETO, A. B. A.; OLIVEIRA, L. M. S. E. Processo ensino aprendizagem


na educação infantil em tempos de pandemia e isolamento. Ciência Contemporânea, p. 349-
364, 2020.

WILDER-SMITH, A.; FREEDMAN, D. O. Isolation, quarantine, social distancing and


community containment: pivotal role for old-style public health measures in the novel
coronavirus (2019-nCoV) outbreak. Journal of Travel Medicine, 2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O USO DO PHOTOMATH COMO FERRAMENTA


DE AUXÍLIO PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM
DE EQUAÇÕES DO 2° GRAU1
Eleniuza Sampaio de Freitas de Oliveira 2
Layla Raquel Barbosa Lino 3
José Cirqueira Martins Júnior 4

RESUMO: Este artigo visa pesquisar as contribuições de atividades com o uso do aplicativo
Photomath na solução de equações de 2º grau no Ensino Superior. O celular se tornou um item
acessível ao público estudantil na contemporaneidade e, não apenas para a comunicação, mas
também para estudar, fazer pesquisas, trabalhos escolares entre outros. Usamos a pesquisa
qualitativa de natureza exploratória, com a participação de 18 alunos matriculados na disciplina
de Matemática III para resolver questões de equações de 2º grau. Os instrumentos usados para
a coleta de dados foram os questionários da plataforma Google Forms, as atividades com
equações e os registros algébricos produzidos pelos alunos. Trouxemos os registros algébricos de
um dos alunos para mostrar a sua evolução com os conteúdos e, bem como as respostas do
questionário final de cinco participantes. Diante do exposto, o estudo indica que o aplicativo
Photomath contribuiu para fortalecer práticas alternativas para o ensino e aprendizagem dos
futuros professores de Matemática com o conteúdo de equações do 2° grau, permitiu a
compreensão e organização das equações, favoreceu a discussão de um planejamento coerente

1
Agradecemos a Deus pela inspiração durante a escrita, coleta, análise, discussão e considerações deste texto.
Isaías 58:11.
2 Graduanda da Licenciatura em Matemática na Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
3 Professora na Licenciatura em Matemática na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestrado em Ensino de

Ciências e Matemática (ULBRA).


4 Professor da Licenciatura em Matemática na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestrado em Educação

Matemática (UFOP).

1055
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e adequado, a fim de buscar caminhos profícuos para a aprendizagem dos alunos no período
remoto da Pandemia.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Equação 2° grau; Atividades; Photomath.

THE USE OF PHOTOMATH AS A TOOL TO HELP TEACHING AND


LEARNING OF 2nd DEGREE EQUATIONS
ABSTRACT: This is paper aims to research contributions of activities with the use of the
Photomath application in the solution of 2nd degree equations in Higher Education. The mobile
phone has become an item accessible to the student public in contemporary times and not only
for communication, but also for studying, doing research, school work and others. We used
qualitative research of exploratory nature, with the participation of 18 students enrolled in the
discipline of Mathematics III to solve questions of 2nd degree equations. The instruments used
for data collection were the questionnaires of the Google Forms platform, the activities with
equations and the algebraic records produced by the students. We brought the algebraic records
of one of the students to show their evolution with the contents and, as well as the answers of
the final questionnaire of five participants. In view of the above, the study indicates that the
Photomath application contributes to strengthen alternative practices for the teaching and
learning of future teachers of Mathematics with the content of equations of the 2nd degree,
allowed the understanding and organization of equations, favored the discussion of a coherent
and appropriate planning, in order to seek fruitful paths for the learning of students in the remote
period of the Pandemic.

Keywords: Learning; Equations 2nd Degree; Activities; Photomath.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO virtual, como na resolução de exercícios em


casa, onde eles encontravam as maiores
Este trabalho aborda um estudo com o uso dificuldades, por não ter com quem tirar
de Tecnologias da Informação e Comunicação dúvidas, o que também possibilitou os estudos
(TICs) no ensino de Matemática com o para as avaliações proposta pelo professor.
conteúdo de equações do 2° grau. O presente As tecnologias estão integradas na vivência
tema foi escolhido para apresentar aos da sociedade e na área da educação, ela está
acadêmicos, professores e comunidade em sendo inserida de forma intensiva, levando
geral, uma visão sobre como o uso das alunos e professores a se atualizarem para que
tecnologias pode favorecer o ensino e o ensino e a aprendizagem tenham efeitos
aprendizagem em Matemática, outro fator positivos para os que estão envolvidos nesses
que contribuiu para essa escolha foram processos. Assim, a junção de educação e
algumas de nossas experiências vivenciadas tecnologias no processo de ensino e
durante o cumprimento da disciplina de aprendizagem quando estão interligadas, de
Softwares Matemáticos, estas ajudaram na modo a colaborar para que isso aconteça,
elaboração de roteiros e planos de aulas, no fornecem novas formas de ensino aos aspectos
uso de alguns aplicativos, na criação de didáticos dos professores e novas
possíveis projetos, na orientação de formas oportunidades de aprendizagem para os
alternativas para o ensino com o uso de alunos por meio do seu desenvolvimento
softwares matemáticos, no processo de cognitivo (ALMEIDA, 2019; KENSKI, 2007;
aprendizagem dos aprendizagem entre outras. MARTINS JÚNIOR; LACERDA; LINO, 2020).
Assim, conhecer essas ferramentas De acordo com Carvalho (2015), existem
contribuiu para aprovação nas disciplinas de uma variedade de aplicativos que podem
Matemática III e de Cálculos I, II, III e IV do curso favorecer o desenvolvimento dos estudantes
Licenciatura em Matemática, concluídas entre na disciplina Matemática. No entanto, o aluno
o 3º e 6º semestre que poderiam, também ser deve ter maturidade para compreender que
aproveitadas no período de Pandemia que tais aplicativos são ferramentas que podem
estamos vivenciando, atualmente, com todas auxiliar e nem sempre irão fornecer soluções
as suas dificuldades e limitações de ensino e “milagrosas” para aprender Matemática.
aprendizagem com as aulas de Matemática. Com isso, ao perceber que as disciplinas que
No período da pesquisa, as aulas estavam envolvem cálculos matemáticos são
mudando, parcialmente, de presenciais para consideradas, às vezes, muito difíceis para boa
remotas, e isso acabou nos motivando para parte dos alunos em relação às operações que
usar o aplicativo Photomath, pois este realizam nas atividades, surgiu uma
apresentava um acesso mais simples, tanto oportunidade para estudar “Que contribuições
para ser baixado como usado, pelos alunos o uso do aplicativo Photomath em tecnologias
com os conteúdos que foram desenvolvidos na móveis pode trazer aos alunos no processo de
disciplina. Com a ajuda desse aplicativo foi aprendizagem em conteúdo de equações do 2°
possível desenvolver atividades em sala de aula grau?” e, tendo como objetivo principal,

1057
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

encontrar as contribuições do uso do Ainda nesse caminho, Padilha, et al. (2014),


Photomath no processo de aprendizagem dos afirmam que as tecnologias de informação e
alunos em conteúdo de equações do 2° grau. comunicação se destacaram a partir do século
O artigo está dividido da seguinte maneira, XX, através do crescimento das
uma apresentação de aspectos importantes telecomunicações, com a popularização dos
sobre o uso das TICs na Educação Matemática computadores e o acesso à internet. Esses
no ensino e na aprendizagem; os avanços, têm impactado a humanidade em
procedimentos metodológicos e os geral, com a informatização em todas as áreas
instrumentos da pesquisa em nosso estudo; a do conhecimento e, assim, o seu uso tornou-se
descrição e análise dos resultados indispensável e sem a possibilidade de
encontrados, e finalizamos tecendo algumas retrocesso, pois nos tornamos cada dia mais
considerações sobre o estudo. dependente delas.
Segundo Amante (2007), não basta que o
AS TICs NA EDUCAÇÃO professor integre as novas tecnologias nos
contextos de aprendizagem para assegurar que
MATEMÁTICA terá resultados de qualidade, mas terá que
A tecnologia está incorporada na sociedade pensar numa maneira adequada de integração
contemporânea e tem sido inserida em todas e utilização das TICs se quiser, efetivamente,
as áreas de desenvolvimento do ser humano, e criar ambientes educativos mais ricos e que
beneficia a comunicação entre empresas, nos promoverão uma aprendizagem de natureza
processos de negócios, nas pesquisas construtivista, ou seja, que instigam a
científicas, em estudos relacionados a saúde, curiosidade. Com isso, relatamos que “o
na educação com ensino e aprendizagem, construtivismo apela à eliminação de um
entre outros e a cada dia é extremamente currículo padronizado, promovendo, por outro
necessária e indispensável no cotidiano da lado, a construção de currículos alternativos e
população no mundo. flexíveis, baseados nos conhecimentos prévios
A tecnologia é importante para o dos aprendentes e na realidade destes,”
desenvolvimento do ensino de Matemática e (COSTA, 2007, p. 5). Diante disso, notamos a
não podemos deixar de valorizá-la. Nesse necessidade e importância dos professores se
mesmo entendimento, concordamos com capacitarem e estarem em contínua formação,
D’Ambrosio (2012), em que: se adequando ao seu público e evoluindo junto
Com o início da modernidade, deu-se um com eles, para usar a tecnologia a seu favor no
grande desenvolvimento da ciência e da ensino e, consequentemente, para a
tecnologia que, embora ainda não tenham sido aprendizagem de seus alunos.
formalmente incorporadas, nas suas plenas Segundo Moran (1997, p. 4), o ato de
possibilidades, pelos sistemas escolares, são de “ensinar utilizando a Internet pressupõe uma
grande importância na educação atitude do professor diferente da
(D’AMBRÓSIO, 2012, p. 3). convencional”. Na perspectiva deste autor, os
alunos estão prontos para a multimídia, os

1058
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

professores, geralmente, não. Assim, os que fornece conhecimentos necessários para o


professores mais antigos deixam claro que têm desenvolvimento e melhoria de sua práxis.
dificuldades em dominar as tecnologias e, em Com isso, é necessário manter uma
geral, muitos ainda são resistentes às continuidade pela busca de capacitação,
mudanças, mas aos poucos eles estão atualização, adaptação e evolução junto às
aceitando e se adequando com algumas tecnologias para que os professores encarem
tecnologias mais essenciais e que favorecem o os desafios da sala de aula, e permitir a eles
seu ensino. Desse entendimento, a Pandemia minimizar os entraves que possam surgir no
alavancou o acesso e permitiu que os seu processo de ensino e aprendizagem com o
professores de matemática se adequassem uso das TICs.
aquelas às suas realidades peculiares, pois Há pouco tempo, elas foram promovidas
agora é uma questão de necessidade imediata como ferramentas auxiliadoras nos processos
e que deverá ser usada em todos os níveis de de ensino e aprendizagem na sala de aula. E
ensino pelos professores como elemento ainda, está longe de ser aceita por todos
mediador na sua prática docente e na professores na rede de ensino, mas no
aprendizagem dos alunos. momento em que estamos vivendo por conta
É possível também notar que, a partir das da Pandemia, esta forçou a comunidade
ideias de D’ Ambrosio (2012), existe uma escolar a se adaptar com a nova forma de
conexão muito forte entre a Matemática, ensino remoto experienciada pela maioria dos
Ciências e as Tecnologias, pois apontou que: professores.
A educação para cidadania, que é um dos Diante do cenário atual do Brasil e bem
grandes objetivos da educação de hoje, exige como do mundial, houve o enfrentamento de
uma “apreciação” do conhecimento moderno, algumas dificuldades no sistema de ensino,
impregnado de ciência e tecnologia. Assim, o como as que ocorreram na transição do
papel do professor de matemática é presencial para o remoto, a desmotivação dos
particularmente importante para ajudar o alunos para continuarem estudando, os
aluno nessa apreciação, bem como destacar déficits de atenção em relação à gama de
alguns dos importantes princípios éticos a ela informações e imagens que apareciam nos
associados (D’AMBRÓSIO, 2012, p. 80). conteúdos e vídeos trabalhados pelos
O professor precisa buscar formas didáticas professores, a oscilação do sinal de internet
e metodológicas para ensinar quando for usar que dificultava os momentos síncronos das
a internet, as tecnologias ou algum software disciplinas trabalhadas entre outras. Com isso,
matemático para tentar resolver as suas as novas tecnologias se tornariam uma forte
demandas e necessidades que emergem em aliada para ajudar os professores no
sua prática pedagógica, pois o conhecimento a enriquecimento do ensino e também na
ser implementado durante as suas aulas, virá aprendizagem dos alunos para proporcionar
de um planejamento adequado, na busca por um nível de conhecimento significativo a partir
caminhos alternativos para solucionar os seus de propostas, devidamente planejadas, para
problemas, no estudo de literatura coerente e que eles mobilizem um raciocínio lógico e

1059
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

respostas coerentes para as tarefas que podem levem ao entendimento mútuo. Competência
ser desenvolvidas nas aulas de Matemática. 5: Compreender, utilizar e criar tecnologias
Desse modo, concordamos com Moran, digitais de informação e comunicação de forma
Massetto e Behrens (2012), que: crítica, significativa, reflexiva e ética nas
As mudanças na educação dependem diversas práticas sociais (incluindo as
também dos alunos. Alunos curiosos e escolares) para se comunicar, acessar e
motivados facilitam enormemente o processo, disseminar informações, produzir
estimulam as melhores qualidades do conhecimentos, resolver problemas e exercer
professor, tornam-se interlocutores lúcidos e protagonismo e autoria na vida pessoal e
parceiros de caminhada do professor- coletiva (BRASIL, 2017, p. 9, grifos dos autores).
educador. Alunos motivados aprendem e Nesta perspectiva, com a implementação
ensinam, avançam mais, ajudam o professor a das tecnologias é possível esperar que os
ajudá-los melhor. Alunos que provêm de alunos as usem de maneira crítica e com
famílias abertas, que apoiam as mudanças, que responsabilidade, e que levem os
estimulam afetivamente os filhos, que conhecimentos aprendidos para os próximos
desenvolvem ambientes culturalmente ricos, níveis de ensino a partir de experiências
aprendem mais rapidamente, crescem mais relevantes que tiveram. Com isso, as
confiantes e se tornam pessoas mais metodologias que aliam as tecnologias há um
produtivas (MORAN; MASSETTO; BEHRENS, ensino mais significativo e que promovem o
2012, p. 17-18). desenvolvimento de competências e
Entendemos que os alunos precisam se habilidades que estão previstas na BNCC, e que
dedicar e estarem dispostos a aprender, pois o fomentem discussões de caminhos alternativos
professor sozinho não será capaz de alcançar de práticas pedagógicas para que os seus
resultados esperados, é na união de ambas as alunos se tornem os principais produtores dos
partes que se chegará ao sucesso do ensino e seus conhecimentos, quando coadunada com
aprendizagem por meio de tecnologias os professores que se revelem como sujeitos
adequadas aos conteúdos trabalhos. mediadores para direcionar a aprendizagem
Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) dos alunos, promovem um ensino e uma
existem duas competências que podem ser aprendizagem de qualidade entre os
relacionadas ao uso da tecnologia no ensino e participantes.
na aprendizagem dos alunos: Ainda neste entendimento, as mudanças de
Competência 4: Utilizar diferentes registros nas aulas de Matemática conseguem
linguagens – verbal (oral ou visual-motora, potencializar o ensino que é proposto pelos
como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora professores e também a aprendizagem dos
e digital –, bem como conhecimentos das alunos. Sendo assim, durante os experimentos
linguagens artística, matemática e científica, que acontece nas aulas, os professores
para se expressar e partilhar informações, aprendem a melhorar a sua prática,
experiências, ideias e sentimentos em compreendem melhor em como é possível
diferentes contextos e produzir sentidos que conduzir as próximas atividades com os alunos

1060
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e lidam melhor com os problemas que surgem PROCEDIMENTOS


em seus contextos pedagógicos. A respeito das
mudanças de registros nas aulas de METODOLÓGICOS DA PESQUISA
Matemática, estas por sua vez, funcionam Nesta pesquisa, usamos uma abordagem
como uma oportunidade para desenvolver a qualitativa de natureza exploratória
aprendizagem dos alunos, pois entendemos (FIORENTINI; LORENZATO, 2012), por se tratar
que a “compreensão em matemática supõe a de uma investigação relacionada com a sala de
coordenação de ao menos dois registros de aula de Matemática e envolver aspectos,
representações semióticas” (DUVAL, 2011, p. múltiplos e complexos, desse ambiente para
15). trazer compreensões relacionadas ao
Diante disto, tais representações favorecem desenvolvimento de um experimento de
a construção de melhores entendimentos dos ensino em atividades com o conteúdo de
conteúdos para os alunos, criam novas ideias equações do 2° grau para 18 alunos
em relação às conexões entre os aspectos matriculados na disciplina de Matemática III do
teóricos e aplicações dos conteúdos de curso de Licenciatura em Matemática no
Matemática. Então, a teoria de registros de Ensino Superior na Universidade do Estado da
representações semióticas aponta direções Bahia (UNEB) na cidade de Barreiras (BA).
que mostram os caminhos de aprendizagem Os instrumentos usados para a coleta dos
que podem ser realizadas pelos alunos, pois ao dados foram as respostas algébricas, as
saber como é possível compreender a respostas das questões com os aplicativos e as
mobilização de conhecimentos e saber que respostas do questionário final. Salientamos
estão evoluindo, tanto nos pensamentos como que, para este artigo, trouxemos apenas as
nas operações que realizam, a partir de um transcrições de alguns questionários, imagens
planejamento adequado dos conteúdos em fornecidas por um dos alunos e respostas do
relação às suas necessidades, ela revela questionário final sobre as contribuições.
condições de analisar os dados produzidos e a Devido a questão de ética na pesquisa, os
aprendizagem dos alunos. nomes reais dos alunos foram omitidos e
Assim, neste artigo trouxemos os principais atribuídos uma letra maiúscula, seguida da
registros produzidos pelos alunos que foram os numeração crescente seguindo a ordem
algébricos, durante as resoluções das equações alfabética dos nomes na lista de frequência, ou
e os visuais, fornecidos pelo aplicativo que seja, o primeiro aluno da pesquisa (A1), o
direcionaram para a comunicação de suas segundo aluno (A2) e sucessivamente.
ideias e processos de aprendizagem. Os aplicativos, chamados de aplicações ou
simplesmente apps são uma espécie de
programa para celular ou dispositivos como
tablets, notebooks, Smart TVs entre outros.
Uma vantagem é que a maioria dos apps
podem ser usados off-line, ou seja, sem acesso
à internet, enquanto outros podem exigem

1061
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conexão com a internet para serem encontrar uma forma de responderem as


executados. São várias as aplicabilidades questões.
educativas disponíveis no mundo virtual, elas Para pesquisa tivemos 18 participantes,
podem fornecer conhecimentos e favorecer o regularmente matriculados na disciplina de
desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Matemática III, do curso Licenciatura em
O aplicativo matemático Photomath Matemática na UNEB em Barreiras (BA).
selecionado para esta pesquisa, está disponível Realizamos quatro encontros. No primeiro,
para download gratuitamente no play store, explicamos a finalidade da pesquisa,
também é compatível para vários tipos de posteriormente aplicamos um questionário
aparelhos celulares com Android, Windows online pelo Google Forms, com questões para
Phone ou iPhone, o celular da Apple que conta coletar informações inerentes a pesquisa,
com sistema iOS. Além de gratuito, ele é de como por exemplo, os conhecimentos acerca
fácil acesso à todos e em qualquer lugar, com do aplicativo a ser estudado, se costumavam
flexibilidade para ser usado e sem a utilizar algum outro aplicativo como auxiliador
necessidade de estar conectado à internet, na resolução de problemas, o que eles
também é capaz de resolver, em tempo real, achavam do uso de TICs com auxilio no ensino
desde expressões aritmética até cálculos mais aprendizagem, entre outros questionamentos.
complexos como equações matemáticas, No segundo, aplicamos uma atividade
utilizando a câmera do aparelho. Porém, esse diagnóstica, para analisarmos o desempenho
aplicativo não faz interpretação de um desses alunos na resolução de questões
problema, ele apenas é um suporte pra envolvendo equações de 2º grau, os
resolver equações. orientamos para responderem a atividade
individualmente e sem o auxílio de
DESCRIÇÃO E ANÁLISE ferramentas tecnológicas, para testar seus
conhecimentos.
O papel dos pesquisadores durante a coleta
No terceiro, apresentamos o aplicativo
de dados, foi a de tentar colocar condições
Photomath através de um slide no Power Point
para que os alunos refletissem sobre o
e, com isso, todos foram convidados a baixá-lo
conteúdo proposto, realizamos orientações de
para que pudessem realizar as operações, a
algumas ideias dos conteúdos ou tiramos
visualização ou algum procedimento
dúvidas que foram sanadas quanto ao
semelhante durante a pesquisa. Os alunos
manuseio ou parte técnica do aplicativo,
foram instruídos sobre o funcionamento do
porém não para fornecer respostas de
app, destinamos um momento para que eles
operações ou cálculos, ou para dizer se
tirassem dúvidas e relatassem as suas
estariam certas ou erradas. Eles foram
percepções após apresentação do app e, assim,
conduzidos para que produzissem respostas e
concluímos o encontro com o envio da segunda
as validassem a partir de seus próprios
atividade para que eles respondessem e,
entendimentos ou nas discussões com algum
posteriormente entregassem, mas desta vez,
dos participantes. Ficaram livres para
com auxílio do aplicativo Photomath. Por fim,

1062
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

propomos outro questionário, com intuito de operações algébricas, de modo correto, porém
identificar quais as percepções dos alunos, sem notar que, quando o valor de delta é
sobre o uso do aplicativo para negativo, não é preciso continuar até o final
desenvolvimento do aprendizado em para se chegar às conclusões de que não possui
Matemática, para a avaliação da ferramenta raízes reais.
com o conteúdo abordado. Assim, é perceptível observar o fato em que
As atividades propostas, tinham três teve um desenvolvimento cognitivo adequado
questões: a primeira com quatro equações de para resolver a referida questão. Quando
2º grau, a segunda e terceira com uma situação priorizou as respostas finais, possivelmente,
problema que exige interpretação para chegar ele esqueceu que nem sempre é possível
há uma equação de 2º grau. Elas podem ser encontrá-las e pode indicar uma falta de
observadas a seguir: atenção em relação à leitura correta do sinal
nas operações realizadas. Essas percepções
1) Resolva as equações abaixo no conjunto podem ser encontradas na figura 01.
ℝ:
a) 3x² - 6x = 6x - 12 Figura 1. Solução equação 2º grau da questão 1) b) de
A13.
b) 9x² + 3x = 4x² - 1
c) 10x² + 6x – 3 = 0
d) x² + 12x + 32 = 0
2) O quadrado de um número real inteiro é
igual a sete vezes esse número, menos seis.
Que número é esse?
3) Que número você encontra se multiplicar
um número real por ele mesmo e depois
subtrair 14, sendo ele igual a seu quíntuplo?

Notamos a evolução de um dos alunos com


o aplicativo, que foi o aluno A13. Neste estudo,
trouxemos alguns dos resultados produzidos
por ele e, em tempo oportuno, traremos os
resultados dos outros alunos para uma possível
triangulação dos registros produzidos por Fonte: Os dados da pesquisa.
todos durante a pesquisa.
Notamos que o referido aluno não chegou à De acordo as respostas dos questionários,
conclusão que a resposta para 1) b) não existia notamos que o aplicativo permitiu uma
raízes reais, pois ao encontrar o discriminante evolução e constituição dos conhecimentos
negativo o valor delas não está definido nesse gerados com os conteúdos de equações do 2°
tipo de conjunto. Observamos na continuidade grau. Pois houve ampliação de outros
da solução que ele consegue desenvolver as entendimentos quanto ao uso para o ensino e

1063
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a forma como se aprende com a tecnologia. Na continuidade, trouxemos outra resposta


Notou-se que eles incorporaram a tecnologia desenvolvida pelo aluno A13, agora com a
não só para suprir uma necessidade imediata, utilização do aplicativo. A partir do momento
mas também como articuladora e modeladora em que foi usado, ele funcionou como uma
da prática que são reveladas pelas ferramenta para que os resultados de suas
necessidades que emergem de seus contextos, operações algébricas fossem conferidas em
no caso aqui, os de superação de materiais pouco tempo de realizadas. Assim, Pires
alternativos para o ensino e aprendizagem de (2016), afirma que a presença de aparelhos
equações em um ambiente remoto. tecnológicos móveis rompe barreiras quando
Esse dispositivo facilitou o processo de trabalhados de modo coerente na Educação e
aprendizagem dos participantes, pois ao gerar o seu uso potencializa caminhos de
registros diferentes que funcionaram como aprendizagem para os alunos nas aulas de
elementos balizadores da aprendizagem dos Matemática (MARTINS JÚNIOR; LACERDA;
alunos (BNCC, 2017; DUVAL, 2011) e, com isso, LINO, 2020).
eles se mostram um pouco eficientes em Notamos algo de interessante em relação à
relação apenas ao uso de registros algébricos aprendizagem do aluno com o aplicativo. O
ministrados pelos professores. Aqui surge o aplicativo não interpreta textos ou algo
momento para deixar os alunos se debruçarem semelhante, apenas modelos de funções
sobre as questões, fornecer condições para construídas para serem colocadas na caixa de
que pensem de maneira diferente e, entrada e, isto demanda de tempo para
consequentemente, produzam resultados no reformular e analisar o que pode ser operado
decorrer do tempo. Talvez, seja uma passagem para montar o modelo da equação. Os aspectos
a ser melhor compreendida em outras cognitivos foram mobilizados quando buscou
pesquisas, quando falamos do tempo esperado conectar conhecimentos anteriormente
ou que seja, necessário e suficiente, para estudados e que necessitavam ser explorados
resolver as questões: qual será o tempo ideal para produzir respostas coerentes. Diante
para que os alunos produzam materiais de disso, o registro algébrico contemplado na
qualidade em suas respostas? folha de papel evidencia um amadurecimento
Se cada aluno possui um tempo de cognitivo e o passo decisivo para haver a
amadurecimento cognitivo para as operações, mudança de registro algébrico para o visual
interpretações e visualização, qual seria o (DUVAL, 2011; BNCC, 2017), pois o aplicativo
tempo ideal numa turma heterogênea de sinalizou uma oportunidade para articular os
alunos para permitir a aprendizagem sobre conhecimentos de linguagem escrita com os
esse conteúdo? São questionamentos que produzidos pelo diálogo entre os participantes.
poderão direcionar novas pesquisas e, com Esses aspectos podem ser conferidos na figura
isso, esperamos que outros pesquisadores 2 a seguir:
experimentem essas tarefas e busquem
ampliar a compreensão dos alunos no decorrer
das aulas ou pesquisas que farão.

1064
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Figura 2. Solução da questão 3 com o auxílio do extensão, não possui complexidade no seu
Photomath de A13. manejo, ele é muito fácil usar e descobrir a sua
potencialidade (COUTINHO; FEITOSA;
PINHEIRO, 2019; PIRES, 2016).
No quesito compreensão do conteúdo, ficou
claro que o Photomath é um aplicativo de
auxílio, ele ajuda o aluno na percepção e, ao
mesmo tempo em que deverá conhecer os
conceitos para que possa ser usada,
corretamente, a representação matemática
das expressões numéricas e, com isso, Cardoso
et al. (2018), afirma que os alunos precisam
dominar com destreza ou ter pelo menos uma
boa noção do conteúdo. O aplicativo serve para
tirar dúvidas no processo de resolução e
também pode nortear o aluno sobre o
resultado final, ficando a cargo do professor,
por vezes, encontrar uma forma para
aprimorar o conceito ou mediar outras formas
de resolver as expressões numéricas para
favorecer a aprendizagem dos alunos.
Trouxemos algumas respostas dos
questionários que foram colocadas na forma
de citação para dinamizar as leituras, que
mostram as contribuições da pesquisa por
meio de algumas respostas coletadas de cinco
dos participantes e, dentre elas, escreveram
que:
Sim, porque nos tempos atuais se não fosse
o auxílio das tecnologias não poderia ter
continuado os estudos de forma remota (Aluno
A4). Sim, pois amplia a percepção dos
conteúdos, auxiliando na aprendizagem (Aluno
A7). Sim, pois facilita a compreensão de alguns
conceitos mais abstratos (Aluno A10). Sim, por
estarmos em uma época em que as aulas
Fonte: Os dados da pesquisa. presenciais são impróprias, as tecnologias
A partir desses fatos, notamos que o estão sendo ferramentas que colaboram para
aplicativo aborda conteúdos desde a educação minimizar os impactos negativos que surgirão
básica até graduação e, mesmo com toda essa

1065
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

no futuro por causa da quarentena (Aluno


A11). Foi extremamente importante,
contribuiu como um suporte para solucionar
problemas matemáticos, e nesse momento de
Pandemia, sem a tecnologia para nos auxiliares
com informações a mais que as passadas pelos
professores, seria impossível (Aluno A13).
Com a análise dos dados coletados através
das respostas das atividades e dos
questionários, percebemos que o aplicativo
auxiliou como uma ferramenta tecnológica
indispensável para a continuidade de
atividades remotas para as aulas de
Matemática no Ensino Superior e que poderá
ser implementado, tanto na Educação
presencial como na remota, como uma
tentativa para potencializar o ensino dos
professores e a aprendizagem dos alunos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa investigou as contribuições do aplicativo Photomath no processo de
aprendizagem quando trabalhadas com atividades de equações do 2º grau, num contexto em
que houve a mudança de aulas presenciais para remotas, e a prioridade foi orientar os alunos
para que tivessem melhores compreensões e respostas com esse conteúdo a partir das
operações algébricas produzidas com a experimentação do aplicativo.
Verificamos que o aplicativo usado permitiu a constituição de aspectos didáticos aos
futuros professores de Matemática, para auxiliá-los nos caminhos da docência. A partir disto,
quando usado de modo a facilitar a compreensão dos alunos durante a ministração de conteúdos
matemáticos, ofereceu momentos para explorar e visualizar importantes conceitos matemáticos.
As principais contribuições do uso do aplicativo com os dispositivos móveis foram:
permitiu aos alunos um aprendizado significativo, facilitou a compreensão dos conteúdos de
equações de 2° grau no processo de aprendizagem com a flexibilidade de usar as tarefas
desenvolvidas em suas futuras salas de aulas no formato presencial ou remoto, permitiu a
confrontação imediata de seus resultados durante a realização das atividades propostas e, bem
como favoreceu avançar os estudos para outros conteúdos mais avançados, como foi o caso de
Limites de funções polinomiais. Os dados desta pesquisa possuem limitações, pois as respostas
produzidas pelos alunos nos momentos remotos poderão ser diferentes dos presenciais. Então,
o próximo passo será desenvolver as mesmas atividades em aulas presenciais para saber se, a
partir da triangulação com os novos dados, também evidenciarão momentos de aprendizagem
para os futuros professores de Matemática.
Diante do exposto, o estudo indica que o aplicativo Photomath contribuiu para fortalecer
práticas alternativas para o ensino e aprendizagem dos futuros professores de Matemática com
o conteúdo de equações do 2° grau, permitiu a compreensão e organização das equações,
favoreceu a discussão de um planejamento coerente e adequado, a fim de buscar caminhos
profícuos para a aprendizagem dos alunos no período remoto da Pandemia.

1067
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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1068
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Diferencial e Integral. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Matemática).
Universidade Federal de Juiz de Fora: Juiz de Fora: 2016.

1069
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES DA


UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
EM RELAÇÃO ÀS CONTRIBUIÇÕES DO PIBID
COMO PROGRAMA DE FORMAÇÃO DOCENTE
Ludimila Ferreira de Sousa Rodrigues1
Misserlandia Mota da Silva2
Ana Cristina de Sousa Carneiro3
Wyvaldy Freire Silva4
Elton Patrick Barbano5

RESUMO: O presente estudo apresenta uma pesquisa sobre a percepção dos professores dos
cursos de licenciatura da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), referente às contribuições
do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) para a relevância da formação
à docência. A temática da pesquisa tem como relevância social a construção de aprendizagens
significativas para a valorização do magistério possibilitando aos licenciandos participação ativa
entre universidade e escolas. O objetivo da pesquisa foi levantar as principais contribuições do

1 Professora de Química na EEM Miguel Carneiro da Cunha na Rede Pública da cidade de Tianguá, CE.
Graduação: Licenciatura em Química pela Universidade Estadual Vale do Acaraú.
2 Graduação: Licenciatura em Química pela Universidade Estadual Vale do Acaraú
3 Professora de Química no Colégio Professora Marly Passos na Rede Particular da cidade de Itarema, CE.

Graduação: Licenciatura em Química pela Universidade Estadual Vale do Acaraú


4 Professora de Química no Centro de Preparação Profissional Metas Concursos- IPU-CE.

Graduação: Licenciatura em Química pela Universidade Estadual Vale do Acaraú


5 Professor de Química na Universidade Estadual Vale do Acaraú - CE.

Graduação: Formado em Química pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Doutor em Ciências
pelo Programa de Pós-graduação em Química da UFSCar.

1070
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PIBID para a formação docente dos acadêmicos participantes do programa, segundo os


professores da UVA, e compreender contribuições do programa, referente a formação dos
bolsistas e voluntários participantes. A pesquisa caracteriza-se como qualitativa, tendo como
instrumento de coleta de dados um questionário online, desenvolvido e realizado via plataforma
Google forms. Os resultados obtidos mostraram várias contribuições do PIBID para a formação
inicial docente, e que, quase a totalidade dos participantes (90%) consideram perceber diferenças
no perfil os graduandos participantes do programa, observando maior responsabilidade com o
curso ao qual estão inseridos, melhoria na escrita e nas ações de ensino e pesquisa; maior
domínio sobre temas relacionados à educação; maior aprofundamento sobre às bases teóricas e
conhecimento científico sobre ensino. Verificou-se, também, contribuições diretas, referentes à
participação no programa, tais como, maior responsabilidade e envolvimento com o ensino e
disciplinas da educação, melhoria na escrita e nas ações de ensino e pesquisa, maior domínio
sobre temas relacionados à educação, socialização, comprometimento com o Curso ao qual está
inserido, maior aprofundamento sobre às bases teóricas e conhecimento científico sobre ensino.
Assim, com os dados obtidos nesse trabalho, é possível afirmar que o PIBID é um programa
fundamental para a formação inicial docente.

Palavras-Chave: Formação docente; PIBID; Iniciação à docência.

PERCEPTION OF TEACHERS OF THE VALE DO ACARAU STATE


UNIVERSITY IN RELATION TO THE CONTRIBUTIONS OF PIBID AS A
TEACHER TRAINING PROGRAM
ABSTRACT: The present study presents a research on the perception of professors of the teaching
courses at the Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), regarding the contributions of the
Institutional Scholarship Program for Initiation to Teaching (PIBID) for the relevance of teacher
training. The research theme has as social relevance the construction of significant learning for
the valorization of the teaching profession, allowing the undergraduates to participate actively
between university and schools. The objective of the research was to raise the main contributions
of PIBID to the teacher training of the academics participating in the program, according to UVA
teachers, and to understand the contributions of the program, referring to the training of
scholarship holders and participating volunteers. The research is characterized as qualitative,
having as an instrument of data collection an online questionnaire, developed and carried out via
the Google forms platform. The results obtained showed several contributions from PIBID for the
initial teacher training, and that almost all the participants (90%) consider that they perceive
differences in the profile of the graduating students participating in the program, observing
greater responsibility with the course to which they are inserted, improvement in the writing and
in teaching and research actions; greater mastery of topics related to education; greater depth
on the theoretical bases and scientific knowledge about teaching. There were also direct
contributions regarding participation in the program, such as greater responsibility and
involvement with teaching and education subjects, improvement in writing and in teaching and
research actions, greater mastery of topics related to education, socialization, commitment to
the Course to which it is inserted, greater depth of theoretical bases and scientific knowledge
about teaching. Thus, with the data obtained in this work, it is possible to affirm that the PIBID is
a fundamental program for the initial teacher education.

Keywords: Teacher training; PIBID; Initiation to teaching

1071
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A formação para a docência é um desafio


contínuo que condiz na construção de
A formação de professores no Brasil sempre aprendizagem significativas e aumento da
foi caracterizada por constantes processos de qualidade na formação inicial de professores,
mudança. Um grande marco de sua também está associado na valorização dos
estruturação deu-se com a aprovação da Lei de educadores e ações da sua prática docente, a
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), construção de políticas públicas educacionais
Lei Federal n° 9.364/96 no qual estabelece as tornasse essencial para a valorização do
diretrizes e bases da educação nacional e tem magistério.
como princípios norteadores a liberdade de O Programa Institucional de Bolsa de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a Iniciação à Docência (PIBID) foi criado com o
cultura, o pensamento, a arte e o saber. intuito de contribuir com a formação docente,
É evidente que a Universidade tem um papel no qual, tem como objetivo incentivar e
importante para desempenhar na formação de qualificar a formação de estudantes
professores. Por razões de prestígio, de promovendo a integração entre educação
sustentação cientifica, de produção cultural. superior e educação básica. Este programa é
Mas a abordagem essencial de um professor financiado por meio da CAPES/MEC. Além de
adquire-se na escola, através da experiência e proporcionar valorização da docência, oferece
da reflexão sobre a experiência. Esta reflexão bolsas de iniciação à docência aos alunos de
não surge do nada, por uma espécie de geração cursos de licenciaturas presenciais e remotas
espontânea. Tem regras e métodos próprios que se dediquem aos estágios em escolas
(NÓVOA 2003,p.45). públicas de ensino fundamental ou médio.
Um basilar para a formação docente é Nesse sentido, essa pesquisa tem como
enfatizado na Lei Federal n° 9.364/96 diz que objetivo geral, investigar a percepção dos
em regime de colaboração, a União, o Distrito professores da Universidade Estadual Vale do
Federal, os Estados e Municípios, deverão Acaraú (UVA) em relação às contribuições do
promover a formação inicial, a continuada e a PIBID como programa de formação docente.
capacitação dos profissionais de magistério. Também, buscou-se verificar quais
Em seu artigo 87 ressalta que as Instituições de contribuições são percebidas pelos docentes
Ensino Superior (IES). Ambos salientam a em relação às mudanças, no perfil dos
importância das IES para a formação docente participantes, da participação dos graduandos
da educação básica. em programas como o PIBID em cursos cujos
É preciso pensar a formação docente (inicial quais são, ou foram contemplados pelo
e continuada) como momentos de um programa, na UVA.
processo contínuo de construção de lima
pratica docente qualificada e de formação da
BREVE HISTÓRICO DO PIBID
identidade, da profissionalidade e da
O PIBID é um programa que oferece bolsas
profissionalização do professor (BRASIL, 2005).
de iniciação à docência aos estudantes de
cursos presenciais e remoto da educação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

superior afim de promover praticas docentes • Valorizar o magistério, incentivando os


significativas entre educação Básica e estudantes a optarem pela carreira docente.
educação Superior. Sendo este financiado por • Promover a melhoria da qualidade da
meio da CAPES de acordo com a Portaria n° educação básica.
260, de 30 de outubro de 2010 no qual aprova • Articular e integrar a educação superior e
as normas gerais do PIBID. Neste sentido as a educação básica do sistema público de
Instituições de Ensino Superior (IES) devem ensino.
atender aos seguintes objetivos do programa: • Elevar a qualidade das ações acadêmicas
I – Incentivar a formação de docentes em voltadas à formação inicial de professores nos
nível superior para a educação Básica; cursos de licenciaturas das instituições federais
II – Contribuir para a valorização do de educação superior.
magistério; • Incentivar a realização de experiências
III – Elevar a qualidade da formação inicial de metodológicas e práticas docentes de caráter
professores nos cursos de Licenciatura, inovador, que utilizem recursos de tecnologia
promovendo a integração entre educação da informação e da comunicação, e que se
superior e educação básica; orientem para a superação de problemas
IV – Inserir os licenciados no cotidiano de identificados no processo ensino-
escolas da rede pública de educação, aprendizagem.
proporcionando-lhes oportunidades de criação • Valorizar a escola pública como campo de
e participação em experiências metodológicas, experiência para a construção do
tecnológicas e práticas docentes de caráter conhecimento na formação de professores
inovador e interdisciplinar que busquem a para a educação básica.
superação de problemas identificados no • Proporcionar aos futuros professores
processo de ensino aprendizagem; participação em ações, experiências
V – Incentivar escolas públicas de educação metodológicas e práticas docentes inovadoras,
básica, mobilizando seus professores como articuladas com a realidade local da escola
formadores dos futuros docentes e tornando- (BRASIL, 2010).
as protagonistas nos processos de formação O Programa Institucional de Bolsa de
inicial para o magistério; Iniciação à Docência- PIBID, executado no
VI – Contribuir para a articulação entre âmbito da Coordenação de Aperfeiçoamento
teoria e a pratica necessárias à formação dos de Pessoal de Nível Superior CAPES, tem por
docentes, elevando a qualidade das ações finalidade fomentar a iniciação à docência,
acadêmicas nos cursos de licenciatura contribuindo para o aperfeiçoamento da
(CAPES/PORTARIA n° 260/201) formação de docentes em nível superior e para
Conforme aponta a Portaria nº 260, de 30 de a melhoria da qualidade da educação básica
dezembro de 2010 do EDITAL Nº brasileira. (HOLANDA, et al., 2013, apud,
001/2011/CAPES, o PIBID tem como finalidade: DECRETO n° 7.219, 2010).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INÍCIO DO IMPLEMENTAÇÃO O primeiro edital para a seleção de admissão


de bolsistas que foi publicado na página da UVA
DO PIBID NA UVA (www.uvanet.br) por meio da Pró-Reitoria de
Conforme Brasil, O PIBID foi implantado na Ensino de Graduação (PROGRAD) para o
UVA por meio do edital n° 02/2009- Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
CAPES/DEB. Por meio do Projeto “Integração Docência (PIBD) foi o edital n° 03/2010. O
da Iniciação à docência da UVA na Educação mesmo abordava um preenchimento de 102
Básica”, no qual contempla aos universitários vagas distribuídas da seguinte forma (Tabela
dos cursos de licenciaturas uma bolsa de 01).
iniciação a docência na rede pública de ensino.
que os mesmos participassem da pesquisa.

Desde o início do PIBID na UVA, dois projetos Toda coleta foi realizada por meio de um
já foram realizados, PIBID 2009 e 2011, formulário eletrônico, online, do Google
englobando dez cursos, 260 bolsistas de Forms, com 28 professores participantes.
iniciação à docência, 18 coordenadores de O questionário virtual (google forms) ficou
área, 48 supervisores, 2 coordenadores de área disponível para a coleta dados entre
de gestão de processos educacionais e 2 20/05/2021 a 20/07/2021, na tentativa de
coordenadores institucionais. Os projetos são coletar o maior número de respostas possíveis.
desenvolvidos em escolas da rede estadual e Os professores participantes, não foram
municipal. identificados pelo nome e, nas discussões aqui
apresentadas, serão tratados como P1 para o
METODOLOGIA professor que foi o primeiro a responder o
questionário, P2 para o segundo professor a
Para a realização dessa pesquisa, foi enviado
responder o questionário, P3 para o terceiro
uma carta convite para os professores dos
professor a responder o questionário e assim
cursos de licenciatura de química, ciências
por diante.
biológicas, física, matemática, filosofia,
O formulário foi composto por 08 perguntas,
sociologia, história, geografia, pedagogia,
destas, 03 foram perguntas objetivas, 04
letras, educação física e biologia da
subjetivas e 01quali-quantitativa. O link do
Universidade Estadual Vale do Acaraú, para

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

formulário foi enviado via WhatsApp, e pelos e- percepção dos professores com relação às
mails dos professores e das Coordenações dos contribuições do PIBID para a formação
Cursos de Licenciatura da UVA. docente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO PERFIL GERAL DOS


No total, 28 participantes responderam ao PARTICIPANTES DA PESQUISA
questionário, o qual buscou investigar a Participaram da pesquisa 28 professores
percepção dos professores da Universidade
com faixa etária predominante entre 31 a 40
Estadual Vale do Acaraú em relação às
anos, 46,4%, (13 participantes) (Figura 1),
contribuições do PIBID como programa de Questão 01, do formulário, sendo que 32,1%
formação docente. As Questões de um a três, dos respondentes possuíam idade superior a
do formulário foram redigidas com intuito de 50 anos e 21,4% (09 participantes) dos
levantar o perfil geral dos professores participantes entre 41 a 50 anos (06
participantes, faixa etária, curso ao qual está participantes).
lotado na UVA, tempo de atividade docente.
Figura 1: Faixa etária dos participantes da
Enquanto as questões de quatro (04) a sete
pesquisa.
(08), foram direcionadas a investigar a

Esses dados mostram que 100% dos Com relação ao tempo de trabalho docente
professores respondentes assinalaram ter (Figura 02), 53,6% dos participantes apontaram
idade superior a 30 anos, o que sugere que a já trabalharem como docentes na UVA há mais
maioria dos docentes já deve ter tido de 10 anos. 14,3% assinalaram trabalharem
experiências com o trabalho docente, o que entre cinco (05) a dez (10) anos, outros 14,3%
auxilia na coleta dos dados, visto que essa entre três (03) a cinco (05) anos e 17, 9% entre
experiência facilita a obtenção de respostas um (01) a três (03) anos.
que tragam possíveis comparações, Figura 2: Tempo de trabalho docente na UVA
observações, de contribuições do PIBID nos
editais já finalizados.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Por meio dos gráficos 01 e 02 verificou-se Professores de diversos cursos de graduação


uma correlação da faixa etária e o tempo de da UVA responderam ao questionário da
ensino na UVA, onde se nota que os maiores pesquisa (Questão 03, do formulário), Filosofia,
percentuais estão voltados para os docentes Química, Administração, Ciências Biológicas,
acima de 50 anos, no qual, constatou-se que Matemática, Licenciatura em Física, Ciências
todos os professores que responderam ao Contábeis, Enfermagem, Direito, Geografia e
questionário, apontaram trabalhar na Educação Física.
universidade já há mais de 10 anos de serviço.
Já os que se enquadravam na faixa etária de 31 PERCEPÇÃO DOS
a 40 anos, 04 deles trabalham entre 3 a 5 anos,
mais 04 entre 5 a 10 anos e 05 trabalham 1 a 5 PROFESSORES DA UVA EM
anos. RELAÇÃO ÀS CONTRIBUIÇÕES
Como observado nos resultados da questão
DO PIBID COMO PROGRAMA DE
um (01) a maioria dos participantes
assinalaram ter mais de dez (10) anos de FORMAÇÃO DOCENTE
experiência docente na UVA. Esse dado é muito No sentido de atender aos anseios da
importante pois como o PIBID já teve edições pesquisa, uma série de questões voltadas para
anteriores a essa (CAPS, EDITAL Nº 2/2020, a investigação de possíveis contribuições do
PROCESSO Nº 23038.018672/2019-68), a PIBID para a formação docente foram
possibilidade da a coleta de dados, que aplicadas.
possuam informações de edições anteriores, A Questão 04 foi direcionada a investigar
torna os resultados mais robustos, trazendo como os professores percebem os resultados
analises de docentes que vivenciaram outras do PIBID na formação profissional e acadêmica
edições, com bolsistas de momentos dos bolsistas. Várias respostas foram
diferentes da história do Curso de Química da coletadas, visto que a questão era dissertativa
UVA. (28 respondentes). De forma geral, a maioria
dos docentes disseram enxergarem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contribuições positivas para a formação dos tendo uma visão mais ampla do
bolsistas participantes, tais como: desenvolvimento das atividades docentes”.
P2: “Percebo, nos alunos bolsistas do PIBID, A participação em programas de formação,
uma evolução/desenvolvimento maior na PIBID, Residência Pedagógica (RP) possibilita
escrita e na produção de textos. Também, aos graduandos vivências que não são possíveis
quanto à profissão, percebo que os alunos no ambiente universitário, vivências nos
bolsistas passam a ter uma percepção maior do ambientes escolares, que são fundamentais
que é ser professor, o que é, muitas vezes, para a formação do professor. Para Arroyo
notado nos discursos desses alunos, ao (2004), a teoria aprendida na faculdade, muitas
discutirem sobre a educação com um olhar vezes, não prepara os futuros professores para
mais amplo, valorizando o que aprenderam nos as realidades das vivências escolares. Assim, a
textos que leem e escrevem”. participação em programas de formação como
P3: “Os resultados dependem muito de o PIBID, a RP, são benéficos, pois coloca os
aluno para aluno, entretanto, certamente há bolsistas em contato com a realidade da prática
uma evolução positiva na postura dos alunos educativa desde o início de sua formação.
participantes. Apresenta, ao longo da Para o professor P14, as contribuições do
passagem pela graduação, um maior PIBID vão muito além.
comprometimento com às disciplinas e com P14: “Neste item, vou destacar alguns
sua própria formação”. resultados de uma pesquisa que realizei com
A fala descrita por P3 é uma colocação muito licenciandos e professores da Educação Básica,
importante, visto que a evolução de cada aluno participantes do PIBID. A participação no PIBID
depende diretamente do envolvimento e proporcionou aos participantes manifestarem:
comprometimento que cada um dispõe para as o entendimento de que a interação entre
atividades do programa. Como observado na universidade e escola contribuiu para a
fala do professor P2, os alunos envolvidos formação docente, pois aliou a teoria com a
tendem a apresentar uma percepção maior do prática profissional; o conhecimento e a
vivência da prática profissional real aos
“ser professor” da profissão em si. Dessa
licenciandos; que, neste contexto, o
forma, participar do programa auxilia no
conhecimento profissional foi conduzido por
desenvolvimento dessa percepção, más é
meio da troca de experiências e
preciso envolvimento. conhecimentos entre os participantes do
P6: “Geralmente, os alunos que participam programa, licenciandos, supervisores e
de programas como o PIBID ou similares, como coordenador de área; o entendimento de que
Residência Pedagógica, se apresentam de os momentos de práticas foram direcionados e
modo mais participativo das demais atividades acompanhados pela formadora; o sentimento
do curso e nas disciplinas. Sendo mais de pertencer à realidade e de se enxergar como
proativos no compartilhamento de um professor. Além disso, o fato dos
conhecimento e apresentam, assumem a licenciandos desenvolverem algumas
responsabilidade pela tomada de decisões, atividades do programa na escola favoreceu
para o conhecimento de diversos aspectos do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

trabalho docente, e um deles foi o universidade, bem como pelas escolas dos
conhecimento dos alunos em relação aos seus espaços da universidade.
interesses, prováveis erros e dificuldades, Para Marins, et al. (2021), a participação em
conhecimentos prévios, entre outros, programas como PIBID, proporciona aos
possibilitando que utilizassem esse participantes o entendimento de que a
conhecimento na construção do planejamento interação entre universidade e escola
e na aplicação de aula. E ainda, podemos contribuiu para a formação docente, pois alia a
destacar outros aspectos evidenciados em teoria com a prática profissional. Proporciona a
nossas análises que ocorreram durante a vivência da prática profissional real aos
realização desse processo formativo no licenciandos, experiências e conhecimentos
contexto do PIBID, os quais podem contribuir aliados ao sentimento de pertencer à realidade
para o desenvolvimento profissional desses do ser professor, de se enxergar como um
participantes, como: a manifestação da professor.
conscientização de que o desenvolvimento Também, respostas que, podem ser
profissional docente acontece por meio da consideradas negativas, também foram
participação ativa em uma ação formativa, coletadas, tais como às obtidas pelos
colocando em discussão suas necessidades, professores P17 e P24.
realidades, conhecimentos, entre outros, a fim P17: “Não observei nenhuma contribuição”.
de melhorar suas qualificações profissionais; e P24: “Tais resultados são muito subjetivos, e
o entendimento de que, quando um processo depende muito da condução por parte dos
formativo também acontece situado no campo coordenadores de área!”
de trabalho do professor, permite-se Essas respostas indicam que, apesar de toda
intensificar os conhecimentos adquiridos aparente contribuição que o programa possa
relativos à abordagem de ensino adotada, pois apresentar, é possível que interpretações
o mesmo foi vivenciado em uma situação real, como as obtidas por P17 e P24 sejam
não se restringindo apenas ao discurso apontadas, pois como apontado pelo professor
teórico”. P3, essas possíveis contribuições dependem
P14 destaca, que dentre as várias muito dos bolsistas, assim, é provável que os
contribuições que o programa trás para seus professores se deparem com alunos/bolsistas
participantes, fatores relacionados os que passam pelo PIBID sem benefícios para sua
interesses dos alunos, prováveis erros e formação, que sejam perceptíveis, durante as
dificuldades, a considerações sobre o ambiente ações na universidade.
em que esses alunos vivem são fundamentais Uma questão, relacionada às “mudanças”
para o planejamento das aulas, fatores que, em perceptíveis (Figura 03), Questão 5.1, na
muitos momentos, passam despercebidos nas postura dos alunos foi apresentada aos
discussões no âmbito universitário. Outro fator docentes.
que se mostra fundamental é a possibilidade É possível observar que o percentual de
de aproximação entre a academia e o âmbito professores que responderam não perceberem
escolar, essa aproximação é fator fundamental mudanças (7,1%) foi baixo quando comparado
para a ocupação dos espações escolares, pela ao percentual de professores que indicaram
perceber mudanças significativas (92,9%).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Um percentual de 53,6% dos participantes P15: “Maior capacidade de argumentação


afirmou que há uma mudança de postura, dos diante de discussões relativas à educação;
alunos bolsistas, quanto à responsabilidade, Interesse em realizar pós-graduação na área de
participação em aulas, produção, escrita. Bem educação; Iniciativa; liderança.”
como 82,1% dos docentes apontaram que os Certamente, uma quantidade muito grande
alunos bolsistas apresentam um maior de contribuições, quanto à participação dos
envolvimento em atividades e ações de ensino. graduandos no programa PIBID podem ser
Como observado (Figura 03), o PIBID observadas e não foram citadas aqui, ou
contribui para a formação de seus apontadas por esse trabalho. Pois muitas das
participantes, provocando mudanças que são contribuições podem vir a se manifestarem
fundamentais para a atuação docente e anos à frente, resultado das vivências de
mesmo que um percentual pequeno de memória que ficaram gravadas no percurso
respostas “negativas” foi observado, esse histórico de formação de seus participantes. De
percentual se torna pouco significativo quanto acordo com Ponte e Oliveira (2002), o
às contribuições positivas que são observadas conhecimento profissional é específico da
pelo programa. profissão, envolve saberes que são
Além das contribuições assinaladas na desenvolvidos com a prática, saberes
Figura 03, foram observadas contribuições necessários ao seu exercício do ser professor.
adicionais (Questão 5.2 do formulário), tais No caso da docência, são saberes da prática
como: letiva que envolvem outros papéis
P3: “Os alunos ficam mais ativos no curso, profissionais. Ainda, como apontado pelos
envolvendo em diversas atividades promovidas autores, esses saberes estão diretamente
pela universidade e pela escola.” ligados com o trabalho em sala de aula, a
participação em atividades escolares e, ainda,
saberes que incluem a visão do professor sobre

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o seu próprio desenvolvimento profissional. de Enfermagem, esse aponta que a inserção no


Dessa forma, muitas contribuições que campo da prática é fator importante na
programas como o PIBID e a RP passam a serem formação dos participantes do programa.
observadas anos à frente, após a inserção Para Marins, et al. (2021), a manifestação da
desses profissionais nas escolas com o conscientização de que o desenvolvimento
exercício da docência. profissional docente acontece por meio da
Ainda, seguindo com o entendimento sobre participação ativa em uma ação formativa,
as contribuições do PIBID, referente à colocando em discussão suas necessidades,
formação de seus participantes, uma questão realidades, conhecimentos, entre outros, a fim
relacionada a como os professores percebem a de melhorar suas qualificações profissionais, é
busca e a produção de conhecimento, por fator fundamental na construção do
parte de seus participantes, foi realizada profissional professor.
(Questão 06). Vale ressaltar, também que, resultados que
A maioria dos respondentes apontou que podem ser considerados negativos forma
observa uma busca por conhecimento e coletados, tais como os expostos pelos
produção de conhecimento, relacionadas ao professores P16 e P17.
ensino, por parte dos alunos. Das 28 respostas P16: “Tem deixado ainda a desejar.”
coletadas, algumas foram selecionas e P17: “Ainda não está no nível desejado,
apresentadas a seguir: porque alguns estudantes precisam do PIBID
P2: “Percebo que os alunos envolvidos no como aporte financeiro para garantir sua
PIBID passam a valorizar a aprendizagem permanência na Universidade. Como não há
obtida com o programa e buscam, em suas política de garantias da permanência discente
discussões e textos aplicar os conceitos que que atenda a essa demanda emergencial de
aprendem pelo envolvimento com o forma mais dilatada, qualquer possibilidade de
programa.” bolsa é assumida com essa destinação mais
P10: “Como o curso de enfermagem é imediata. De todo modo, o PIBID ainda assim
bacharelado, não acompanhei diretamente consegue despertar, em boa parte dos
bolsistas do Programa Institucional de bolsistas, a consciência por um
Formação à Docência-PIBID/UVA. Acredito ser aprofundamento de suas habilidades
muito relevante para a formação dos alunos de pedagógicas para lidar com o cotidiano das
licenciatura uma vez que permite a inserção no atividades escolares com maior segurança.”
campo de prática.” Como apontado pelo professor P17, muitos
Como apontado por P2, os alunos dos participantes utilizam a oportunidade de
participantes passam a desenvolver um participação no programa como complemento
comprometimento maior, há uma mudança de financeiro. Um dos fatores do benefício da
postura que passa a propiciar ações, por parte bolsa está na base do dos conceitos do PIBID,
dos participantes do programa, que são mais fornecer um aporte financeiro aos
direcionadas à educação e ao ensino como um participantes para que estes não necessitem
todo. Mesmo para P10, que é oriundo do curso buscar trabalho fora do âmbito da graduação,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mantendo o aluno no programa, garantindo pesquisa apontaram perceber diferenças no


que o mesmo permaneça até o final de sua perfil dos participantes. Esse dado corrobora os
participação, usufruindo das ações que o PIBID dados já coletados nas questões anteriores da
pode fornecer. pesquisa, que já vem mostrando que várias são
Uma questão direcionada a coletar dados, as contribuições do programa para a formação
referentes à percepção dos professores quanto docente e na mudança de postura dos
à diferença de perfil, dos bolsistas do PIBID e os graduandos bolsistas do programa (Questões
graduandos não bolsistas foi apresentada 5.1 e 5.2).
(Figura 04), Questão 7.1. Figura 4: Diferença no perfil dos graduandos
Cerca de 90% dos docentes participantes da participantes do PIBID e os não participantes.

Apesar de a Questão 7.1 parecer ser participantes, a opção de comentar a resposta


repetitiva, ela é fundamental para a validação assinalada na Questão 7.1 (Questão 7.2). As
dos dados obtidos anteriormente, dessa forma, respostas obtidas endossam o discurso de que
caso houvesse uma disparidade muito grande o PIBID é um programa fundamental para a
entre os resultados coletados pela Questão 7.1 formação inicial docente, como pode ser
e os demais resultados já obtidos, seria possível observado nas falas abaixo:
que adequações e melhorias no instrumento P4: “No decorrer do curso, os pibidianos vão
de coleta deveriam ser feitas. se destacando nas realizações das atividades,
Logo, o percentual baixo (10,7%) para sobretudo, nas ações de estágio
respostas que apontam não haver diferença de supervisionado e de prática de docência.”
perfil entre graduandos participantes, e não P14: “Os participantes do Pibid são mais
participantes do programa, é bastante participativos e com boa fundamentação
satisfatório e está dentro dos resultados já teórica prática para discutir questões relativas
obtidos nessa pesquisa. à educação, apresentam objetivos mais claros
Corroborando, ainda, com os resultados com relação a profissão docente e reconhecem
obtidos na Figura 04, foi disponibilizado, aos a importância da formação continuada.”

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

P21: “Marquei "não" porque isso não se coordenadores, alunos das escolas onde os
observa na totalidade dos bolsistas, mas pibidianos atuam, o Curso de Química da UVA,
apenas em alguns.” o Estado do Ceará, dentre alguns outros
É importante ressaltar que, como apontado beneficiários foram apontados pelos docentes
por P21, alguns graduandos passam pelo PIBID participantes. Assim, como já vem sendo
sem desfrutarem de todas as vivências que o observado nos resultados obtidos nesse
programa oferece, assim, em alguns casos, não trabalho, na visão dos docentes da UVA, muitas
demostram mudanças de perfil perceptíveis de contribuições positivas são percebidas quanto
perfil como estudante, graduando. Essa ao PIBID como programa de formação docente.
discussão já foi apresentada nesse trabalho, Dessa forma, é perceptível que a
enfatizando que muitos dos benefícios da participação dos licenciandos do Curso de
participação no programa, para alguns Química, em programas de formação inicial,
participantes, só se manifestam mais afrente, como o PIBID, ou como a RP que contribuem a
após a passagem pelo programa. formação de graduando que se encontram do
Para finalizar, uma última questão (Questão meio para o final do curso, é fundamental para
08), direcionada à coleta de dados sobre preparar o futuro professor para a prática
quem/quais seriam os demais beneficiários do docente. A oportunidade da participação das
PIBID, além dos graduandos bolsistas, na vivências que os programas proporcionam é
opinião dos professores, foi apresentada. fator determinante na modelagem do perfil do
Nesse sentido, todos os participantes futuro professor. Como colocado por Arroyo
apontaram diversos beneficiários além dos (2000), o ofício de mestre, de pedagogo vai
bolsistas, como, a própria universidade e as encontrando seu lugar social na constatação de
escolas que recebem os bolsistas para as que aprendemos a ser humanos em uma trama
atividades do programa (P1, P4). complexa de relacionamento com outros seres
P1: “A universidade pelo profissional que tá humanos.
formando. A escola pela visão moderna de
novas formas de metodologia.”
P3: “A sociedade como um todo.”
P4: “Acredito que as ações do PIBID
também, potencialmente, beneficiam a
formação dos alunos da educação básica. Além
de levar novas metodologias para o ensino em
sala de aula, os pibidianos promovem
formação/aprendizagem por meio de diversos
projetos que valorizam a linguagem dos alunos
sem se descuidar do rigor que o saber
específico de cada área exige.”
Resultados diversos, apontando os
professores supervisores, professores

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante os dados coletados nesta pesquisa verificou-se que, de forma geral, quase que
totalidade dos professores participantes da pesquisa apontaram perceber contribuições
vinculadas ao PIBID, na formação inicial docente.
Um percentual de 53,6% dos participantes afirmou que há uma mudança de postura, dos
alunos bolsistas, quanto à responsabilidade, participação em aulas, produção de textos e escrita,
bem como 82,1% dos docentes apontaram que os alunos bolsistas apresentam um maior
envolvimento em atividades e ações de ensino.
Ainda, a maioria das falas coletadas nessa pesquisa, corroboram com os dados percentuais
obtidos, reforçando que o PIBID é um programa fundamental para a formação inicial docente,
como pode ser observado nas falas de P2, P4, P14 (p. 31 deste trabalho).
Ademais, uma lista de contribuições diretas, referentes à participação no programa,
podem ser apontadas aqui:
- Maior responsabilidade e envolvimento com o ensino e disciplinas da educação;
- Melhoria na escrita e nas ações de ensino e pesquisa;
- Maior domínio sobre temas relacionados à educação;
- Socialização;
- Comprometimento com o Curso ao qual está inserido;
- Maior aprofundamento sobre às bases teóricas e conhecimento científico sobre ensino;
Assim, como observado nos resultados obtidos, inúmeras são as contribuições do PIBID na
formação dos futuros professores.
Ainda, muitas das contribuições do programa só passam a serem perceptíveis anos após a
passagem do aluno pelo PIBID, visto que muitas das situações e ações vividas durante o programa
criam um “cadastro de memória”, memória das vivências tidas durante o programa, que vão
auxiliar na tomada de decisões em sala, no exercício da profissão, na ação do ser professor.

1083
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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identidade profissional na formação inicial. Revista de Educação, Campinas, v. 11, n. 2, p. 145-
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1084
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PERCEPÇÕES SOBRE VIOLÊNCIA FEMININA: O


QUE A ESCOLA TEM COM ISSO? É POSSÍVEL
SUA CONTRIBUIÇÃO NA CONSCIENTIZAÇÃO E
ERRADICAÇÃO DOS ABUSOS?
Soraia Souza Cardoso1

RESUMO: O presente texto surge a partir da leitura da trilogia “Princesa” de Jean Sasson, que
evidencia a soberania masculina que impera no oriente seguindo os princípios políticos e
religiosos dessa cultura distante da nossa, mas que se aproxima pela violência psicológica e física
causada às mulheres do ocidente que muitas vezes, silenciam sua dor por achar-se culpadas ou
conformadas com a situação. Descreve o relato de algumas narrativas de violência contra
mulheres que são veiculadas diariamente nos meios de comunicação e outras que perpassam
com vítimas de convívio próximo. A naturalização da violência contra essas mulheres despertou
o interesse em compreender o cerne do patriarcado, iniciado no princípio da humanidade e que
permanece presente em nossa sociedade arraigado em costumes e hábitos que se tornaram
comuns, revelando aspectos do machismo presente e descreve algumas iniciativas
implementadas via políticas públicas e outras que discorrem algumas possibilidades em busca de
caminhos que propiciem a sororidade entre gêneros. O assunto é de grande relevância, no

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I, foi Coordenadora Pedagógica na rede Estadual e
Orientadora de Estudos do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e atualmente é formadora
de professores e coordenadores pedagógicos na Divisão Pedagógica da Diretoria Regional de Educação
Pirituba/Jaraguá - SME-SP.
Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (1991). Pós-graduada
em Filosofia: Educação para o Pensar, PUC-SP (2009). Mestre Profissional em Educação: Formação de
Formadores, PUC (2017).

1085
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

entanto, pouco abordado com profundidade, fato que se faz questionar o papel da educação na
inserção dessa discussão dentro do espaço escolar.

Palavras-Chave: Educação; Violência doméstica; Violência feminina.

PERCEPTIONS ABOUT FEMALE VIOLENCE: WHAT DOES THE SCHOOL


HAVE ABOUT IT? IS IT POSSIBLE TO CONTRIBUTION TO AWARENESS
AND ERADICATION OF ABUSE?
ABSTRACT: The present text arises from the reading of Jean Sasson's "Princess" trilogy, which
highlights the male sovereignty that reigns in the East following the political and religious
principles of this culture far from ours, but which is approached by the psychological and physical
violence caused to women. from the West who often silence their pain because they feel guilty
or resigned to the situation. It describes the report of some narratives of violence against women
that are broadcast daily in the media and others that permeate with victims of close contact. The
naturalization of violence against these women aroused interest in understanding the core of
patriarchy, which began at the beginning of humanity, and which remains present in our society,
rooted in customs and habits that have become commonplace, revealing aspects of the present
machismo and describes some initiatives implemented via public policies and others that discuss
some possibilities in search of paths that promote sorority between genders. The subject is of
great relevance, however, little addressed in depth, a fact that makes us question the role of
education in the insertion of this discussion within the school space.

Keywords: Education; Domestic violence; Female violence.

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INTRODUÇÃO um sucessor para o trono deve ser de


descendência direta na linha masculina de
Toda mulher deve ser tratada como geração a geração, eu vou, com o meu mais
princesa? profundo pesar, no interesse do futuro do
Ao finalizar a leitura da Trilogia da escritora Estado e do bem-estar do povo, em
Jean Sasson, “Princesa “, “As filhas da Princesa” conformidade com o desejo de Sua Majestade
e “Princesa Sultana”, foi inevitável a reflexão o Imperador, sacrificar minha própria
causada, pois a narrativa desvela situações de felicidade e declarar meu consentimento com
abusos diante de um contexto tão diverso e ao a separação de Sua Majestade Imperial."
mesmo tempo, tão comum na vida de muitas Soraya demonstrou a força do seu desejo,
mulheres em todos continentes. não se submetendo a uma vida de aparências
Exprime sentimentos e vivências que se impostas pela tradição, mas é importante levar
distanciam e se aproximam das quais são em consideração que ela, antes de se casar,
noticiadas diariamente. Se aproximam pela dor teve oportunidade de estudar em Paris e ter
emocional, psicológica ou física e se distanciam contato com outra cultura que não a sua e isso
do conceito primordial de humano, esse ser a possibilitou tomar uma decisão impossível
dotado de direitos, entre tantos, o da para outras mulheres que não tiveram
igualdade. semelhante experiência. Vale ressaltar ainda,
Meu nome foi escolhido por meu pai em que depois de se divorciar, retornou à França e
reverência a Princesa Soraya Esfandiary- assim, foi poupada do terrível golpe na Pérsia,
Bakhtiari (ISFAHAN, 22 de junho de 1932 - que derrubou o Xá e que implantou no hoje,
Paris, 26 de junho de 2001), que conforme o Irã, a cruel ditadura religiosa tão mencionada
site Prosa Mágica, foi a segunda esposa e na trilogia da Princesa Sultana.
rainha consorte de Mohammad Reza Pahlavi, Não é comum imaginar que princesas
Xá da Pérsia. Assim como Sultana, ela não herdeiras de fortunas incalculáveis vivam sob
aceitou a hipótese de dividir o marido com uma tortura e terror, no entanto, o depoimento de
segunda esposa, fato comum no oriente, no Sultana (que por segurança não revelou seu
entanto, a infertilidade dela levara o marido a verdadeiro nome), infelizmente só reforça que
fazer essa escolha a fim de ter seu esperado essa prática persiste no oriente, como é o caso
herdeiro. da Princesa Latifa, que segundo notícia
As histórias de princesas parecem encantar publicada em 2021 no site UOL – Folha de São
com seus finais felizes. Porém, não é o que Paulo, em 2018, aos32 anos, relatou em vídeo
ocorre com todas as princesas reais, no YouTube que queria fugir do país, por não
principalmente as do oriente. Nesse caso, logo suportar os horrores praticados por seu pai, já
após o divórcio, Soraya emitiu um comunicado que havia sido torturada e permaneceu presa
que a tornou conhecida como a “Princesa dos em seu quarto por três anos, devido sua
olhos tristes”: primeira tentativa de fuga em 2002. Cabe dizer
"Desde que Sua Majestade Imperial Reza ainda, que sua irmã, a princesa Shamsa
[sic] Shah Pahlavi considerou necessário que desapareceu das ruas de Cambridge quando

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tinha 19 anos, em 2000 e tudo indica que foi o história da humanidade. No princípio as
pai, Mohammed bin Rashid al-Maktoum, vice- sociedades eram coletivistas, nômades e
presidente e premiê dos Emirados Árabes, tribais, porém aos poucos esses hábitos foram
também pai de outros 24 filhos, que ordenou o se alterando à medida que passam a modos de
sequestro e retorno das suas filhas ao país, e vidas sedentários e com a descoberta da
mesmo tendo autoridades de Londres agricultura, da caça, da participação do homem
intercedendo pelas princesas, a soberania e no processo de reprodução, foi culminando-se
poder de Maktoum prevaleceu. Em maio de a ideia de posse e propriedade, já que as
2021, a CNN Brasil noticiou a hipótese de que relações passaram a ser monogâmicas para
Latifa tenha sido vista em um local público em garantir a herança de filhos legítimos e com
Dubai, devido a uma suposta foto publicada no isso, o corpo e a sexualidade da mulher
Instagram, mas essa informação não foi passaram a ser controlados. Assim, “institui-se
confirmada e lamentavelmente, a princesa a família monogâmica, com divisão sexual e de
pode estar trancada em um dos quartos do trabalho, instaurando-se o patriarcado, nova
palácio, talvez dopada e sem contato com ordem centrada na descendência patrilinear e
ninguém, como relatou tristemente, sobre os no controle dos homes sobre as mulheres”.
oito anos de cativeiro da sua irmã Shamsa. A delegada ainda afirma que,
“culturalmente nos habituamos a ver a mulher
PATRIARCADO X SORORIDADE: como um ser menor e isso advém desde a
Grécia no período clássico, quando razão era
UMA LUTA PARA EQUIDADE sintetizada por APOLO, deus da razão, e a
O patriarcado sobre as mulheres foi mulher era vista como o oposto da verdade e
naturalizado historicamente e requer estudos do conhecimento, sendo por isso, uma alma
no intuito de escrutinar o cerne dessa tradição inferior, motivo pelo qual as mulheres gregas
que consente o poder do homem sobre a eram despossuídas de direitos políticos e
mulher, algo complexo e que prejudica a jurídicos. ”.
qualidade de vida de muitas mulheres desse É notável o quanto a cultura da desigualdade
planeta, sem distinguir etnias, religiões ou esteja arraigada e que somente na década de
camadas sociais e por ser um ato opressivo 70 os movimentos feministas eclodiram e
carece de compreensão, discussão e ação para ganharam maior visibilidade, mas as políticas
que seja evitado e que um dia, como muitas públicas ainda são insuficientes para mudança
doenças, seja erradicado. desse triste cenário.
Em entrevista ao Instituto Humanitas Percebe-se que a violência camuflada e
Unisinos em 2019, a chefe de Polícia do Rio amparada no ditado popular que “em briga de
Grande do Sul, Nadine Tagliari Farias Anflor, marido e mulher, ninguém mete a colher”, tem
que foi a primeira coordenadora das Delegacias se descortinado diante da sociedade por meio
Especializadas no Atendimento à Mulher, dos noticiários e denúncias, fato que merece
explica que sob o viés da antropologia, o maior atenção e ação, pois embora a Lei Maria
patriarcado é perpetuado desde o início da da Penha seja o marco principal findando o

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silêncio e resignação dos atos machistas ATOS MACHISTAS:


ocorridos na sociedade brasileira,
infelizmente, como afirma Nadine, muitas NARRATIVAS QUE
ações previstas por ela ainda não estão em IMPRESSIONAM
prática, como a essencial rede de proteção e É comum ouvir homens dizer aos meninos
atenção à mulher, que em muitos lugares que não devem chorar como meninas ou
funcionam com muitas limitações devido à outras frases clichês, como se o choro não
dificuldade na articulação entre estados e fosse uma forma de expressar sentimentos que
municípios e em outros sequer existe, mas são humanos em ambos os gêneros, e são
seria exitosa se contasse com centro de nessas pequenas atitudes que encontramos o
referência que ofereça apoio psicológico, chamado machismo estrutural, um padrão de
assistencial e jurídico, uma casa abrigo se comportamento empregado e
necessário, uma delegacia de polícia com institucionalizado por gerações. O machismo se
atendimento acolhedor, serviço de perícia que opõe à igualdade de direitos, aparta formas de
atenda com dignidade, um Judiciário que pensar, agir e sentir entre homens e mulheres,
funcione com celeridade e um serviço como se cada gênero tivesse seus aspectos
penitenciário que conte com vagas para que o formatados. Culmina no sentimento de posse
agressor permaneça preso. sobre a mulher, revelando um preconceito
Diversos livros, filmes, séries e novelas expresso em atitudes e opiniões, e se
chamam atenção para o tema e traduzem o manifesta de várias maneiras, por julgar a
sofrimento das mulheres oprimidas e o perfil mulher um ser inferior em aspectos físicos,
dos seus opressores. Um exemplo, é a série sociais e intelectuais.
MAID da NETFLIX, em que fica evidente a Citando alguns outros casos que merecem
violência psicológica sofrida e tardiamente destaque devido o impacto da violência, relato
percebida e que, embora longe do ideal, a então a breve biografia da Malala, a
protagonista só conseguiu dizer adeus aos paquistanesa que ficou conhecida por não
abusos, quando encontrou uma rede de apoio aceitar que o grupo radical islâmico - Talibã -
que propiciou moradia e condições mínimas proibisse as meninas de estudarem e
para iniciar uma nova vida. mostrarem seus rostos. Ela quase pagou com a
O movimento se fortalece em busca da vida por contrariar a regra imposta e relatar
sororidade, isto é, o fim das desigualdades e para a BBC como vivia os paquistaneses. Assim,
opressões históricas, para que todos possam o mundo soube das angústias vividas naquela
alcançar seu potencial máximo, e há esperança região. Depois do atentado que quase a matou,
para que as futuras gerações possam viver em foi levada para um hospital em Londres, se
equidade de gênero, tendo suas diferenças recuperou e tornou-se ativista reconhecida
respeitadas. com o Prêmio Nobel da Paz, se tornando uma
figura atuante na defesa dos direitos das
mulheres pelo mundo.

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Em muitos países onde é predominante a fé tanto, quando se observa outras violências


no islamismo, percebemos que os também naturalizadas.
ensinamentos propostos por Allah sofrem Como professora conheço o pesadelo de
interpretações radicais e muitos homens muitas crianças e adolescentes, na maioria
religiosos, impõem o uso de vestimentas para meninas, que foram vítimas de abuso sexual
que as mulheres não sejam vistas, o que anula por familiares ou pessoas próximas e
para muitas, suas vontades, personalidades e novamente, sinto repulsa ao pensar nos dados
objetivos de vida, já que eles decidem seus que o hospital Pérola Byington, por meio do
destinos desconsiderando seus desejos. programa Bem Me Quer, principal serviço de
Como mencionado no início desse texto, até atendimento às vítimas de violência sexual no
mesmo algumas princesas são obrigadas a estado de São Paulo revelam, pois mostram
seguir a tradição imposta sem direito a que, “em média, 45% dos atendimentos do
questionar se esse comportamento tem programa são de vítimas com até 11 anos e
sentido e significado para elas. Seus corpos são entre janeiro e junho de 2020, foram 1.600
objetos de prazeres aos homens, mas em atendimentos para todas as faixas etárias. Do
muitas famílias, jamais poderão ser objetos de total, 728 dos casos foram de pacientes infantis
prazer para elas próprias, pois brutalmente se - uma média de quatro por dia. No mesmo
pratica a mutilação genital feminina e como período do ano passado, foram 1.954 e 855,
explicou Sultana, esse ato violento, na maioria respectivamente. Em todo o ano passado,
das vezes, é consentido pelas mães e pais que foram 4.146 atendimentos no total, sendo
julgam estar fazendo o melhor para suas filhas, 1.855 em crianças com até 11 anos”, ou seja, a
em nome da tradição. A ignorância promove média de 4 crianças violentadas diariamente,
essa violência que de forma invasiva, mutila o que recebem socorro. Porém, sabemos que um
corpo e a mente feminina. número questionável ainda sofre no silêncio ou
Um artigo inteiro seria necessário para na invisibilidade.
relatar e promover reflexões quanto à questão No Brasil, há muitos problemas sociais e a
social e não é o propósito aqui, entretanto, é violência contra a mulher ainda requer muito
impossível não mencionar o quanto é comum empenho para promoção de ações assertivas.
em algumas culturas ou locais, que famílias Dados estatísticos do Módulo 11 do Curso
vendam ou troquem suas filhas como “Enfrentamento à violência doméstica e
mercadorias baratas, desconhecendo o destino familiar contra mulher” ofertado pela
delas. Essa é uma prática comum no Fundação Demócrito Rocha, relata que:
Afeganistão e em alguns países da África e “Nos últimos anos, passos importantes
infelizmente, é por meio dela que muitas foram dados no Brasil para a criação de
famílias garantem sua sobrevivência. legislações que criminalizam a violência
São situações de violências extremas as motivada por discriminação de gênero, como a
citadas acima e para quem vive na capital Lei Maria da Penha (lei no 11.340/2006) e a Lei
financeira do Brasil, soa absurdo, mas nem do Feminicídio (lei no 13.104/2015). Mesmo
assim, os índices de agressões contra as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mulheres não diminuíram, pelo contrário: Os números são incertos, mesmo sendo
dados do Atlas da Violência de 2019 apontam, representativos e preocupantes, mas também
por exemplo, que entre 2007 e 2017 os casos é comum o sofrimento calado das mulheres
de feminicídio ocorridos no Brasil aumentaram que dependem financeiramente dos seus
em 30,7%. Por isso, devemos questionar: o que homens, sejam maridos, pais, companheiros e
legitima tanta agressividade? Para responder a outros e que, não denunciam os maus tratos.
essa pergunta, este curso tem tentando Nesse caso, a tomada de decisão para se livrar
explicar como a violência de gênero está do agressor é muito mais difícil por conta da
fundamentada em determinantes culturais subsistência dela e muitas vezes dos filhos, mas
responsáveis pela conservação da o que chama a atenção, é que mulheres
desigualdade de poder entre homens e instruídas também são vítimas e
mulheres – e que são eles que devemos frequentemente agredidas fisicamente e
transformar. Para avaliar a percepção social em psicologicamente.
relação à tolerância à violência contra as A violência até então naturalizada, passou
mulheres, levantamento divulgado pelo a ser questionada com a repercussão da trágica
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada história de uma cearense chamada Maria da
(Ipea) em março de 2014, mostrou que um Penha Maia Fernandes, que mesmo sendo
quarto da população brasileira acreditava que formada pela Faculdade de Farmácia e
mulheres que usam roupa que mostra o corpo Bioquímica na Universidade Federal do Ceará
merecem ser atacadas. Outro dado do mesmo em 1966 e ter concluído seu mestrado em
estudo evidenciou que a maior parte dos Parasitologia em Análises Clínicas na Faculdade
brasileiros e das brasileiras acreditavam que o de Ciências Farmacêuticas na Universidade de
número de estupros seria menor “se as São Paulo em 1977, foi agredida fisicamente e
mulheres soubessem se comportar”. Como psicologicamente por seu marido, após o
parte da cultura, o machismo é uma ideologia nascimento da última, de suas três filhas, que
que está nas raízes da formação de nossa viviam constantemente com medo do seu
sociedade patriarcal e heteronormativa (o agressor que em 1983, atirou em suas costas
poder é concentrado na figura masculina e a quando dormia a deixando paraplégica.
norma social é heterossexual) e em maior ou Depois, a manteve sob cárcere durante 15 dias
menor grau na mente de todos e todas. Nesse e tentou eletrocutá-la durante o banho. Diante
sentido, para ir além do avanço na dessas tentativas de homicídio, Maria da Penha
possibilidade de responsabilização de saiu de sua casa e recorreu à Justiça na
agressores, é necessário também investir em tentativa de punir seu agressor, mas mesmo
processos de transformação cultural”. depois de julgado e condenado, o mesmo se
Essa transformação cultural se faz manteve em liberdade. Indignada com a justiça
necessária para dar um basta no argumento de brasileira, e no intuito de evitar que outras
que a vítima provocou e assim, o agressor tem mulheres tivessem o seu destino, a ativista
sua responsabilidade anulada. escreveu em 1994 o livro “Sobrevivi... posso
contar”, e fundou o Instituto Maria da Penha

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(2009), uma organização não governamental e esposa, porém, as câmeras do condomínio


sem fins lucrativos para promover a defesa da revelam as brutais agressões que culminaram o
mulher. Mas foi só em 1998, que seu caso teve fim da vida de uma jovem advogada e no
repercussão internacional e chegou a ser julgamento do agressor, foi perceptível a ação
indicada ao Prêmio Nobel da Paz, mesmo da defesa em tentar culpar a vítima, alegando
evidenciando que o Estado Brasileiro ser ciumenta, desequilibrada e invasiva.
negligenciou e silenciou seu caso por se tratar Entretanto, diante de um júri composto por 7
de violência doméstica, ou seja, fere a lei de homens e nenhuma mulher, a maioria o
Direitos Humanos que é soberana, mas não condenou culpado.
suficiente para protege-la. Porém, com à Em 2020, as cenas brutais do assassinato da
repercussão do caso Maria da Penha foi aberto juíza carioca, Viviane Vieira do Amaral,
um debate entre o Legislativo, o Executivo e a esfaqueada 16 vezes pelo ex-marido, chocou a
sociedade. O resultado desse diálogo foi o nação, pois, sabendo do perigo representado
Projeto de Lei n.º 4.559/2004 da Câmara dos pelas constantes agressões, foi beneficiada
Deputados que chegou ao Senado Federal com o programa de proteção, porém,
(Projeto de Lei de Câmara n.º 37/2006). O dispensou a escolta para atender ao pedido de
projeto foi aprovado por unanimidade nas duas uma das filhas na véspera do Natal, quando as
Casas e o então, presidente Lula, por fim levava para visitar o pai. Infelizmente, esse que
sancionou a Lei Maria da Penha (formalmente tinha o carinho das filhas, não considerou a
Lei Número 11.340). presença das mesmas e simplesmente, tirou a
As informações acima foram vida da mãe diante dos olhos das mesmas que
disponibilizadas no site E Biogafia e foi a partir assistiram à cena em estado de choque.
da história de vida dessa mulher, que Quanta indignação, pois mais uma mulher,
sobreviveu e que não aceitou sua realidade, conhecedora das leis, não foi capaz de garantir
que nosso país passou a implementar ações na sua própria segurança.
defesa do feminicídio. No entanto, a As histórias de vida de muitas mulheres
erradicação da violência contra mulher parece parecem enredos de livros e filmes de terror e
distante e lamentavelmente, os números do a série “Bom dia, Verônica” ou o filme “Cidade
Anuário da Segurança Pública de 2020 são do Silêncio”, poderiam ser apenas fictícios por
assustadores, pois revelam que a cada minuto, revelar cenas de horror e submissão, mas com
8 mulheres são estupradas. certeza, permeiam a realidade de muitas
A violência não tem idade e nem classe vítimas silenciadas pelo medo, pois é preciso
social, e invade os noticiários deixando-nos coragem para falar e ser ouvida com dignidade,
reféns do medo, como em 2018, o caso da sabendo que a denúncia não garantirá sua
paranaense Tatiane Spitzner, que foi agredida proteção.
pelo marido e morreu ao ser jogada da sacada A violência pode ser física, sexual,
do prédio onde moravam... O mais intrigante, patrimonial ou psicológica, mas causa um
é que ao ser entrevistado, ele demonstrou abalo emocional irreparável e geralmente
calma e se defendeu dizendo que não matou a ocorre no ambiente doméstico. Embora a

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maioria das agressões sejam comuns em festejava o casamento e Susi foi à festa
espaços domésticos, alguns estupros acompanhada da avó paterna da minha prima
acontecem inesperadamente, como o caso da e ficou com as colegas conversando, mas
estudante Liana Friedenbach (16 anos), que em diante da demora para cortar o bolo, a senhora
2003, ao viajar com seu recém namorado decidiu leva-la para casa e assim o fez. Mas a
Fellipe Caffé, omitiram o verdadeiro destino menina estava inconformada, pois queria
para suas famílias e seguiram para Embu- comer o bolo. Diante da insistência da filha, o
Guaçu para acamparem, mas jamais pai a deixou retornar à festa para que provasse
imaginavam os momentos de terror que iriam o tão desejado bolo, porém, ela não chegou ao
viver. Ele foi assassinado com um tiro na nuca destino e inexplicavelmente, houve uma
no primeiro dia, e ela sofreu vários abusos interrupção por três vezes na energia elétrica,
sexuais individuais e coletivos praticados por o que fez as lâmpadas se apagarem
quatro homens e um cruel adolescente momentaneamente, e como a rua era
conhecido como Champinha, que a manteve iluminada apenas pelas lâmpadas externas das
prisioneira por cinco dias e encerrou seu casas, pois não havia iluminação pública na rua,
martírio esfaqueando-a até a morte. as pessoas que estavam na calçada da rua onde
Outro caso chocante ocorreu em julho de a festa acontecia, nada perceberam. Ela
2020, quando para se proteger da COVID-19, a morava a apenas alguns portões do local da
estudante Júlia Rosenberg Pearson (21 anos), festa, num pacato bairro residencial de São
foi com a família para a casa de veraneio em Paulo, mas inexplicavelmente, foi
São Sebastião, litoral de São Paulo e ao sair surpreendida por um carro que passava e a
para fazer uma caminhada, foi encontrada sequestrou. Assim que o pai percebeu o
morta e enterrada em uma cova rasa na trilha avançar das horas, foi busca-la na festa e não a
que liga Maresias à Paúba. O mais cruel é que encontrou. Foram horas de desespero e a
depois da investigação policial, o agressor foi polícia foi acionada, até que no dia seguinte, à
preso e após confessar o crime, alegou como se encontraram no município de Mairiporã,
fosse uma virtude, que não era estuprador, só estrangulada, com queimaduras de cigarro
homicida. pelo corpo, os seios mordidos e muito
Ao narrar esses fatos, foi inevitável deixar de machucada. Alguns dias depois, uma garotinha
mencionar o terror vivido por Susi na década que brincava com o irmão também foi
de 70. Recorri à minha prima, que era amiga da sequestrada e o irmão aos gritos avisou o
menina, para descrever minuciosamente os ocorrido e apontou a direção que o carro
fatos. Recordar o doloroso caso, mesmo depois seguiu, levando a polícia a encontrar o
de tantos anos, a fez se emocionar ao agressor, que já estava retirando as roupas da
relembrar os trágicos momentos vividos. Susi menininha de apenas 4 anos, quando foi
contava com apenas 10 anos de idade, a mãe surpreendido e preso em flagrante. Eles
havia falecido em uma cirurgia há dois meses e estavam muito próximo ao mesmo local onde
junto com o pai e o irmão, viviam o luto Susi havia sido violentada e assassinada, mas
precoce. Acontece que uma outra vizinha pagou fiança e foi solto. Como a comunicação

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policial era precária, alguns dias depois, a e que se apresenta diante das agressões de pai,
polícia de São Paulo concluiu que um desses padrasto, avô, tio, primo e outras pessoas
homens, conhecido pelo apelido de Barata, próximas dos alunos. O texto discorre sobre os
pudesse ser o agressor que levou Susi a morte abusos em crianças e adolescentes, como
(pela investigação, concluiu-se que havia mais proteger as crianças da violência sexual, como
que um homem), mas depois de pagar a fiança, denunciar os casos de abuso infantil pelo
ele sumiu e o caso soma a mais um, da Disque 100, Aplicativo Brasil, ONGs como a
estatística dos crimes impunes. O pai da Susi childfundbrasil.org.br ou childhood.org.br,
enlouqueceu diante da impotência dele e da Conselho Tutelar, CREAS – CRAS ou ainda ao
justiça e esse foi o primeiro caso que marcou Ministério Público. Vale ler e conferir, pois é
meu ingresso ao triste mundo real, onde bem explicativo.
meninas temem seus destinos e desde então, Há 17 anos na educação, atuando como
fica a interrogação sobre quais circunstâncias docente ou na gestão, muitas situações se
levam um homem a cometer atos tão apresentaram. Houve caso de pai e mãe
selvagens como esses? Que direito acredita ter usuários de drogas abusarem da filha de 4 anos
sobre a vida que não é a sua? até serem descobertos e perderem a guarda da
A violência se aproxima sorrateiramente e se menina que hoje, com 11 anos, mora em
faz presente nas histórias do cotidiano escolar. abrigo. Primo abusar da prima de 9 anos e só
As descritas acima parecem distantes, mas na escola, depois de uma conversa sobre
uma escuta ativa ou o estreitamento de laços violência doméstica, a menina já com 13 anos,
permitem o descortinar de um quadro nos procurou para relatar a experiência e o
aterrorizante. São tantas experiências que trauma que viveu e que a família só veio a
infelizmente, nunca chegarão se quer a descobrir naquele dia e tantos outros...
fazerem parte das notícias sensacionalistas e Com a pandemia da COVID-19, o número de
ficarão silenciadas. Algumas permeiam o abusos se proliferou na velocidade do vírus. É a
contexto docente e cobra da escola ações que realidade infelizmente constatada, pois muitas
nem sempre são as mais adequadas e eficazes, crianças não retornaram à escola quando foi
o que torna a sensação de impotência e autorizado o regresso e durante a busca ativa
frustração muito intensa, já que situações realizada pelas escolas em 2021, muitos casos
inadmissíveis se tornam conhecidas e pouco se se revelaram, mas um em especial chocou
contribui para que deixem de ocorrer ou que demais, quando a avó muito humilde foi
tenham o bálsamo necessário para aliviar o questionada pela ausência da neta e se
prejuízo causado. sentindo pressionada, deixou escapar a
Na página on-line do site Catraca Livre, uma informação de que a menina tímida e que não
publicação de 2019 intitulada “São Paulo tem tinha namorado, contando com apenas 11
um caso de estupro dentro de escolas por dia”, anos, não poderia ir à escola, porque os pais
revela que de janeiro a outubro de 2019, foram decidiram interromper uma gravidez precoce
307 ocorrências. Torna perceptível a realidade com um aborto praticado na farmácia. Dupla
que invade sorrateiramente os muros da escola violência, pois além do estupro, o aborto que

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com certeza, dilacerou o corpo e o emocional histórias de vidas como essas não sejam
dessa menina. Poderia descrever tantos outros novamente narradas.
casos inadmissíveis que foram denunciados ao
Conselho Tutelar e outras instituições seguindo
o protocolo escolar, mas o leque de absurdos
se abre e isso envolve um dano emocional por
estar tão próxima das vítimas e carregar a
sensação da impotência.
Diante dessas situações antagônicas, cujas
quais muitas foram vítimas do feminicídio, ou
seja, homicídio por serem mulheres, suas
singularidades e complexidades, percebe-se
um paradoxo em que o preconceito e o poder
masculino, embora sejam outorgados no
oriente, são mascarados no ocidente. Os fatos
narrados por Sultana são diferentes, mas ao
mesmo tempo semelhantes ao dessas outras
vítimas encontradas em contextos tão
múltiplos, mas todos assombram pelo trauma
que causam.
Finalizo com um trecho da obra “A
dominação masculina”, de Pierre Bourdieu,
para ressaltar a gênese do androcentrismo –
essa organização social centrada na figura do
homem, do humano macho -, pois o sociólogo
alerta para as sutilezas da violência simbólica,
já que a opressão feminina é naturalizada pela
sociedade e os padrões são repetidos a partir
da perspectiva masculina do que é ser mulher,
um ser tratado como objeto e não essencial,
como se fossem uma parte para completá-los
em suas necessidades básicas e ou de prazer
sexual.
A linha do tempo ainda é tênue e
dificilmente separa o passado que explicou a
causa do androcentrismo, desse presente aqui
descrito com uma insignificante amostra do
contexto lamentável, mas espera-se que o
futuro seja promissor, no sentido de que

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As considerações finais serão tecidas a partir da frase da feminista, Simone de Beauvoir,
escrita em 1949, em seu livro Sexo Fraco: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices
entre os próprios oprimidos”. É propícia para compreendermos que o papel de objeto das
mulheres está dado socialmente, no entanto, cabe as mesmas não o aceitar de forma
naturalizada e submissa.
A vítima geralmente se sente culpada pela agressão sofrida, quando não é ameaçada a
ficar em silêncio para que outra agressão não ocorra a ela ou a outra pessoa do seu convívio, no
entanto, é preciso denunciar, não se calar diante de tamanha violência e buscar apoio.
Embora a mudança seja lenta, percebe-se algumas inciativas que poderão retirar do caos
muitas vítimas, como a do Governo Federal, por meio do Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, que disponibiliza a Central de Atendimento à Mulher, acessada por meio do
LIGUE 180 ou pelo aplicativo Direitos Humanos BR. O serviço funciona 24 horas, todos os dias
da semana e atende todo território nacional podendo também ser acessado em outros países.
Oferece escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência, disponibilizando
informações como locais de atendimento mais próximos e apropriados a cada caso.
Além também, da Campanha Sinal Vermelho Contra a Violência Doméstica, implementada
pelo Projeto Lei - PL 741/2021, que por ser recente, é pouco conhecida e carece de divulgação,
para que o gesto de fazer um X vermelho com caneta ou batom na palma da mão, seja
reconhecido como um ato da vítima a pedir socorro.
A sensibilidade diante da agressão pode tornar a mulher impotente e as vezes por
ignorância, desconhece como proceder para fugir do agressor. Nesse sentido, Seria importante
que as campanhas publicitárias veiculadas em rádio, TV e internet fossem mais agressivas a fim
de serem efetivas, tornando-se fortes aliadas para quebra dos tabus sobre esse assunto.
Na internet há blogs e curso que abordam a situação e informam procedimentos de
medidas reflexivas e protetivas, como o curso oferecido gratuitamente pela Fundação Demócrito
Rocha “Enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher”, disponível no
endereço:https://cursos.fdr.org.br/course/view.php?id=50
O curso oferece orientações e sugestões que podem ser efetivas na ação para iniciar as
mudanças necessárias ao atual contexto, uma formação respaldada de conceitos teóricos
baseados na legislação vigente e com embasamento prático.
Também é possível juntar-se a outras mulheres - grupos de irmandade - o verdadeiro
princípio da sororidade - oportunizando espaço para diálogo, reflexão e ação. Vale ressaltar que
nessa irmandade, homens também tenham a oportunidade de participar, expressar seus
sentimentos e entender o ponto de vista das questões que afetam o feminino, para que
repensem suas falas e práticas, apoiando e tornando-se também, ativistas da causa.
Participar de grupos como o “Grupo Mulheres do Brasil”, presidido por Luiza Helena
Trajano, do grupo Magazine Luiza, que têm como foco, promover a igualdade de oportunidades
entre gênero e raça, também pode ajudar no empoderamento de algumas mulheres, pois a
autonomia financeira não resolve a questão da agressão, mas intensifica a autoestima e cria
possibilidades.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

É o início de um círculo como o proposto por Sultana, mulheres em defesa de outras, e


contamos que essas iniciativas tragam luz para quem vive na escuridão. Pois, é necessário erguer
o véu que cobre a violência praticada sorrateiramente e naturalizada e a escola pode inferir nesse
processo, pois a educação é o caminho para promoção de mudanças, embora tenhamos
consciência da fragilidade do sistema e do preparo docente para iniciar um trabalho em que possa
haver a relação dialógica e reflexiva para aprofundamento do mesmo.
É inquestionável que a prioridade na escola, seja ensinar a ler e escrever com proficiência,
para que outras áreas sejam acessadas e compreendidas. No entanto, a Base Comum Curricular
elenca a valorização da diversidade e diferenças na intenção de promover a formação integral do
estudante abarcando uma educação inclusiva, dos direitos humanos, elencando conteúdos
étnico-racial, de pessoas com deficiência, religião, orientação sexual e gênero. Tais temas
ilustram livros didáticos, mas são aprofundados ou ficam apenas do discurso raso?
A discussão de gênero já acontece em algumas escolas e com certeza, é a maneira mais
eficiente para conhecer e desconstruir a teoria machista e patriarcal presente na sociedade. No
entanto, se o conhecimento é importante para chegarmos ao movimento contrário da
discriminação, por que a discussão das questões que diz respeito ao combate à violência contra
mulher pouco acontece nesses espaços? Embora seja trabalhoso e que conte com inúmeros
desafios que perpassam a organização, o tempo, o planejamento e envolvimento dos docentes e
equipe escolar, Projetos transdisciplinares e grêmios estudantis não seriam espaços para iniciar
essa conversa?
As narrativas aqui trazidas inicialmente chocam e parecem mais comuns em artigos
policiais, mas a intenção é chamar a atenção para maneira machista cuja qual a sociedade está
organizada. Assim, não há fórmula para cessar a barbárie, mas caminhos que podem ser trilhados
e encerro com algumas questões: Dentro do horário de formação docente é possível depreender
sobre as atitudes naturalizadas e o sofrimento causado por elas? Conhecer a origem da natureza
da violência machista em nossa sociedade seria um caminho para iniciar essa conversa? Diante
do diagnóstico dessas e de outras narrativas femininas, é possível pensar em projetos dentro do
espaço escolar que promovam a reflexão, o planejamento e implementação de ações que sejam
perpetuadas no sentido de iniciar mudanças nos hábitos dos meninos que serão os homens do
amanhã?
Que as pequenas iniciativas se somem e possam modificar a realidade, pois essa cultura
só será revertida com políticas e ações que promovam educação à igualdade de gênero e a
fiscalização das leis que criminalizam e propõem punições específicas e mais severas para quem
pratica os crimes de violência contra mulher.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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BRASIL ESCOLA. Feminicídio. Disponível em:


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em: https://catracalivre.com.br/cidadania/sao-paulo-tem-um-caso-de-estupro-dentro-de-escolas-
por-dia/ Data de Acesso; 25/01/2022.

CNN BRASIL. Acusado de matar juíza a facadas fica em silêncio em depoimento à justiça.
Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/acusado-de-matar-juiza-a-facadas-fica-
em-silencio-em-depoimento-a-justica/. Data de Acesso; 25/01/2022.

CNN BRASIL. Desaparecida há 3 anos, Princesa Latifa é vista em suposta foto no


Instagram. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/desaparecida-ha-3-anos-
princesa-latifa-e-vista-em-suposta-foto-no-instagram/ . Data de Acesso; 25/01/2022.

E BIOGRAFIA. Malala Yosafzai: Militante dos Direitos das Crianças. Disponível em:
https://www.ebiografia.com/malala/ Data de Acesso; 25/01/2022.

E BIOGRAFIA. Maria da Penha: Ativista brasileira. Disponível em:


https://www.ebiografia.com/maria_da_penha/#:~:text=Maria%20da%20Penha%20Maia%20Fer
nandes,1%C2%BA%20de%20fevereiro%20de%201945. Data de Acesso; 25/01/2022.

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA. Curso: Enfrentamento à violência doméstica e familiar


contra mulher. Disponível em: https://cursos.fdr.org.br/course/view.php?id=50. Data de Acesso;
25/01/2022.

INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS. Cultura do patriarcado e desigualdade históricas entre


os sexos são vetores de uma epidemia de violência contra a mulher. Entrevista especial
com Nadine Anflor. Disponível em:https://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/586504-
cultura-do-patriarcado-e-desigualdades-historicas-entre-os-sexos-sao-vetores-de-uma-
epidemia-de-violencia-contra-a-mulher-entrevista-especial-com-nadine-anflor. Data de Acesso;
25/01/2022.

Nava, Gregory. Cidade do Silêncio. Direção de Gregory Nava. Jarez: Globo Play, 2006. (112m.).

NETFLIX. Bom dia, Verônica. Netflix, 2020.

NETFLIX. MAID. Nefflix 2021.

NOTICIAS R7. Hospital de São Paulo atende em média 4 crianças vítimas de estupro por
dia. Disponível em: https://noticias.r7.com/sao-paulo/hospital-de-sp-atende-em-media-4-
criancas-vitimas-de-estupro-por-dia-31082020. Data de Acesso; 25/01/2022.

SASSON, Jean. As Filhas da Princesa. 1ª Edição. Rio de Janeiro. Best Seller, 2004.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SASSON, Jean. Princesa Sultana: Sua vida, sua luta. 5ª Edição. Rio de Janeiro. Best Seller,
2004.

SASSON, Jean. Princesa: A história real das mulheres árabes por trás de seus negros
véus. 39ª Edição. Rio de Janeiro. Best Seller, 2005.

SITE,PROSA MÁGICA. A princesa dos olhos tristes. Disponível em:


http://prosamagica.blogspot.com/2011/04/princesa-dos-olhos-tristes.html. Data de Acesso;
25/01/2022.

SITE. UOL Aventuras na História. Juventude Assassina: O triste caso de Liana Friendebach
e Felipe Caffe. Disponível em:
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/juventude-assassina-o-triste-caso-
de-liana-friedenbach-e-felipe-caffe.phtml. Data de Acesso; 25/01/2022.

SITE. UOL Folha de São paulo. DNA indica suposto assassino de universitária encontrada
em cova rasa no litoral de SP. Disponível em: https://agora.folha.uol.com.br/sao-
paulo/2020/11/dna-indica-suposto-assassino-de-universitaria-encontrada-em-cova-rasa-no-
litoral-de-sp.shtml. Data de Acesso; 25/01/2022.

SITE. UOL UNIVERSA. Tatiane Sptizner: até quando tentarão culpar a vítima pela sua própria
morte? Disponível em: https://www.uol.com.br/universa/colunas/2021/05/11/tatiane-spitzner-
condenacao-de-manvailer-por-4-a-3-machismo-do-judiciario.htm. Data de Acesso; 25/01/2022.

SITE.UOL FOLHA DE SÃO PAULO. Desaparecida há 3 anos, Princesa de Dubai diz que é
mantida refém em mansão. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/02/desaparecida-ha-3-anos-princesa-de-dubai-diz-
que-e-mantida-refem-em-mansao.shtml. Data de Acesso; 25/01/2022.

SITE.UOL UNIVERSA. Violência contra Mulher: Brasil tem um estupro a cada 8 minutos,
diz Anuário de Segurança Público. Disponível:
https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/10/18/anuario-brasileiro-de-seguranca-
publica-2020.htm. Data de Acesso; 25/01/2022.

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PRECISAMOS FALAR SOBRE GÊNERO COM OS


ADOLESCENTES
Edilamar Caonetto1

RESUMO: Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência é caracterizada pelo


período da infância à fase adulta, que corresponde à faixa etária de 10 a 19 anos. É nesta fase
que ocorrem inúmeras transformações biológicas como o crescimento dos ossos,
desenvolvimento dos órgãos e sistemas e amadurecimento das características sexuais
secundárias. O atual formato, desigual, das relações de gênero tem como reflexo a
vulnerabilidade dos/das adolescentes. Ainda há muitas questões no contexto da sexualidade
ainda vivenciadas com dificuldade pelos adolescentes. A primeira questão a ser apresentada
pelas falas refere-se às diferentes identidades sexuais (homossexual, heterossexual ou bissexual).
Sendo assim, o objetivo desse artigo é de alertar tanto a família quanto a sociedade em geral,
sobre as questões relacionadas ao gênero e o quanto isso impacta diretamente a vida desses
adolescentes que muitas vezes se sentem confusos, culpados, depressivos, sendo que muitos
chegam a se suicidarem por não sentirem como parte da sociedade e ainda por sofrerem
discriminação e até agressões verbais, físicas causando ansiedade e medo para aqueles que não
se enquadram dentro da chamada heteronormalidade. Por essa razão, a escola é um espaço ideal
para o tratamento dessas questões sobre a diversidade cultural e sexual. Além de levar ao
pensamento crítico, bem como promover entre todos os agentes escolares um convívio que seja
de respeito e democracia.

Palavras-Chave: Gênero; Adolescentes; Educação; Respeito.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Artes, Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Gestão Escolar Especialização
em Direito Educacional.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

WE NEED TO TALK ABOUT GENDER WITH TEENAGERS


ABSTRACT: According to the World Health Organization (WHO), adolescence is characterized by
the period from childhood to adulthood, which corresponds to the age group from 10 to 19 years.
It is at this stage that numerous biological transformations occur, such as the growth of bones,
development of organs and systems and the maturation of secondary sexual characteristics. The
current unequal format of gender relations reflects the vulnerability of adolescents. There are
still many issues in the context of sexuality still experienced with difficulty by adolescents. The
first question to be presented by the speeches refers to the different sexual identities
(homosexual, heterosexual or bisexual). Therefore, the purpose of this article is to alert both the
family and society in general, about issues related to gender and how much this directly impacts
the lives of these adolescents who often feel confused, guilty, depressive, and many arrive to
commit suicide because they do not feel part of society and also because they suffer
discrimination and even verbal and physical aggression, causing anxiety and fear for those who
do not fit into the so-called heteronormality. For this reason, the school is an ideal space for
dealing with these issues of cultural and sexual diversity. In addition to leading to critical thinking,
as well as promoting a relationship of respect and democracy among all school agents.

Keywords: Gender; Teenagers; Education; Respect.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO maioria de seus valores. Nessa fase todas as


pessoas começam a identificar objetos de
Segundo a Organização Mundial da Saúde desejo e afeto, e isso faz com que os desejos
(OMS), a adolescência é caracterizada pelo por pessoas do mesmo sexo apareçam, a
período da infância à fase adulta, que despeito de ainda vigorar um rechaço a esse
corresponde à faixa etária de 10 a 19 anos. É desejo e à possível incorporação de uma
nesta fase que ocorrem inúmeras identidade lésbica, gay ou bissexual nas
transformações biológicas como o crescimento convenções ditas hegemônicas em nossa
dos ossos, desenvolvimento dos órgãos e sociedade. Os relatos e a literatura relacionada
sistemas e amadurecimento das características à travestilidades e transexualidades apontam
sexuais secundárias. Foram observadas que o incômodo ou descompasso com as
também mudanças psicológicas que envolvem performances de gênero esperadas desses
alteração de humor, desejo de viver sujeitos, em função do gênero que lhes foi
intensamente, atração sexual, atribuído ao nascer, acabam aparecendo
questionamentos sobre a vida, necessidade de muitas vezes na infância. Mas sem dúvida, a
aceitação, formação de grupos, afirmação da tão referida “explosão dos hormônios” na
identidade pessoal e sexual e a iniciação na adolescência, é o que vai marcar
vida sexual (AMARAL, et al., 2017, p. 63). definitivamente corpos generificados, em
O atual formato, desigual, das relações de geral, o que se observa é uma “explosão das
gênero tem como reflexo a vulnerabilidade ilusões” desses sujeitos que poderiam viver no
dos/das adolescentes. Dentre os agravos de gênero com o qual se identificam. E uma
saúde, destacam-se, às Infecções Sexualmente possível infância mais tranquila, onde o
Transmissíveis e gravidez na adolescência. brinquedo poderia ser trapacear com a
Além dos agravos de saúde, a vulnerabilidade imposição de um gênero, se desfaz por
também se estabelece nas relações sociais. O completo, com a concretização no corpo de um
homem, pressionado pela sociedade, deve ser mulher ou homem e a cobrança que vem
sempre estar pronto para o sexo afirmando sua articulada de uma adaptação também às
masculinidade e a mulher deve ser submissa ao convenções em relação à sexualidade,
desejo do parceiro e não ter autonomia sobre impondo uma heterossexualidade a esses
suas escolhas e seu corpo. Discutir gênero na jovens (LEITE, 2018, p. 01 e 02).
adolescência é imprescindível para entender as Inicialmente é importante localizar a
relações estabelecidas e como isso se reflete na perspectiva teórica a respeito de gênero,
vivência da sexualidade, contracepção e sexualidade e diversidades. Sabe-se que são
construção de suas identidades (AMARAL, et conceitos polissêmicos, reapropriados de
al., 2017, p. 63). forma particular em cada momento político.
Por essa razão, a escola tem um papel Tais experiências foram desenvolvidas durante
central para os jovens, pois é lá que eles o período no qual o Partido dos
passam boa parte de suas vidas, constroem Trabalhadores esteve no poder no Brasil
suas redes de sociabilidade e experimentam a (mandatos Lula 2003 - 2010 e Dilma Rousseff

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

- 2011 – 2016). Neste período, foram As teorias mais recentes sobre as questões
desenvolvidas importantes políticas públicas de gênero são concebidas a partir de diversas
no campo da Educação, com foco na formação matrizes filosóficas e psicológicas. Segundo o
e sensibilização para as temáticas de gênero, pensamento pós-estruturalista, a identidade
sexualidade e diversidades. Políticas de gênero não é um dado natural, mas sim o
construídas e desenvolvidas pela articulação resultado de uma série de discursos que
entre ativistas de movimentos sociais, permeiam as relações de poder entre as
pesquisadoras/es vinculadas/os a núcleos de pessoas. Estes discursos hierarquizam grupos e
pesquisa nas universidades e agentes do validam o que é considerado normal a partir do
Estado, a partir de demandas produzidas que é estabelecido pela ordem dominante. O
nas Conferências Nacionais de Políticas para termo gênero, portanto, diz respeito aos
Mulheres, Educação, LGBT e Questões Étnico processos culturais que atuam mediante
(WELTER, GROSSI, 2018, p. 125). relações de poder, construindo padrões
Com relação aos gêneros, é importante hegemônicos, a partir de corpos sexuados
salientar que durante séculos, as mulheres (SCOTT, 1995). Atualmente vive-se em um
enfrentam batalhas para aniquilar o quadro tempo marcado pela pluralidade e diversidade
cultural de subordinação e submissão no qual cultural. Sendo assim, não é possível
estão inseridas historicamente. Além disso, as compreender a construção das identidades e
lutas e conquistas se dirigiam para garantir os fazer uma leitura crítica das relações de poder
direitos políticos, como o de votar e ser estabelecidas entre as pessoas se não as
votadas, os direitos sociais e econômicos, contextualizarmos histórica e culturalmente. O
como trabalho remunerado, estudo, pensamento pós-estruturalista compreende a
propriedade, herança, até o direito ao corpo, identidade cultural como síntese de categorias
ao prazer, à sexualidade, e contra o poder de diversas, entre elas, as identidades étnicas,
subordinação das mulheres pelos homens sociais, econômicas, sexuais, de geração,
(TORRES; BESERRA; BARROSO, 2007, p. 297). nacionalidade, religiosidade, gênero etc.
No Brasil, dentre algumas questões que (BORTOLOZZI; NAVARRO; MAIA, 2011).
envolvem a mulher, há a reprodução e a A identidade de gênero pode ser
sexualidade que vieram a ser separadas com compreendida como a auto- percepção de
maior segurança a partir de 1967, com o cada pessoa em relação às categorias sociais
advento dos métodos contraceptivos que dizem tanto ao masculino quanto ao
modernos, entre estes as pílulas feminino, à parte de uma representação
anticoncepcionais. Entretanto, o seu biológica que se constrói pelos fatores sociais e
surgimento, não aconteceu de forma tão culturais que são predominantes na formação.
emancipatória para a mulher, já que, nos Sendo um dos elementos constituintes da
países subdesenvolvidos, essa política, de identidade, mas não a definidora desta. Seu
caráter internacional, nasce muito mais desenvolvimento ocorre desde o nascimento,
voltada para o controle da natalidade (TORRES; numa interação constante entre o indivíduo e
BESERRA; BARROSO, 2007, p. 297). os outros, não se constituindo nem se

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

apresentando de maneira fixa (LOURO; 2003; Estado, bem como as Políticas Públicas, os
RIBEIRO, 2002 apud BORTOLOZZI; NAVARRO; campos Jurídico e da Saúde, assim como as
MAIA, 2011, p. 25). articulações e organizações da Sociedade Civil
Ainda há muitas questões no contexto da no que tange aos Direitos Humanos, Direitos
sexualidade ainda vivenciadas com dificuldade Sexuais, Preconceitos e Discriminações –
pelos adolescentes. A primeira questão a ser muitas vezes veladas, como também
apresentada pelas falas refere-se às diferentes regulamentações por meio de Leis, Normas e
identidades sexuais (homossexual, padrões de comportamento que impõem
heterossexual ou bissexual). Seguindo a regras sociais e relações de poder que, por
communis opinio, os adolescentes também vezes, contribuem para a reprodução de
enxergam os padrões de comportamento que violências e deturpação da realidade social,
a sociedade incorporou como normalidade, principalmente nos casos de agressões físicas e
inclusive com relação à orientação sexual, e emocionais a alguns grupos como de mulheres,
que são apresentado nas falas: tais como, homossexuais, afrodescendentes, indígenas,
heterossexual é o que todos nós somos. entre outros (SILVA, 2013, p. 13).
Heterossexual é apaixonar-se pelo sexo É fundamental que seja utilizado o conceito
oposto. É o padrão que deve ser seguido de performance de Judith Butler (2003).
(TORRES; BESERRA; BARROSO, 2007, p. 299). Segundo esse conceito, nós não nascemos
Sendo assim, o objetivo desse artigo é de homens e mulheres, nem simplesmente nos
alertar tanto a família quanto a sociedade geral tornamos num determinado momento
sobre as questões relacionadas ao gênero, e o homens e mulheres, mas nos fazemos homens
quanto isso impacta diretamente a vida desses e mulheres todos os dias, quando andamos
jovens que acabam se sentindo confusos, de um determinado jeito, falamos de uma
culpados, depressivos, sendo que muitos determinada maneira, usamos determinadas
chegam a suicidarem por não sentirem parte roupas, construímos o nosso corpo de um
da sociedade e ainda por sofrerem determinado modo, sempre referenciados a
discriminação e até agressões verbais, físicas uma norma hegemônica de gênero. É essa
causando ansiedade e medo para aqueles que performance cotidiana que cria a ilusão de
não se enquadram dentro da chamada uma substância, de uma essência masculina
heteronormalidade. ou feminina ou qualquer outra. A consciência
dessa dimensão performática é fundamental
DESENVOLVIMENTO para a desconstrução de essencialismos
biológicos ou culturais, que limitam a
Segundo Foucault (2003), a compreensão
compreensão e a ação no enfrentamento ao
da sexualidade – que é diversa – e suas relações
heterossexismo, à misogenia e à homofobia
sociais da atualidade requerem a discussão de
na escola (BORTOLINI, 2011, p. 29).
par em par de abordagens educativas com o
No dizer de Naphy (2006), lidar com
intuito de contextualizar simbologias, técnicas,
assuntos relativos à sexualidade esbarra em
experiências e representações sociais que
dois problemas conexos. O primeiro diz
envolvam tanto a escola, quanto a família, o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

respeito à questão da velha oposição “natureza teve forte poder na formação das normas de
x cultura”, no qual nos deparamos com o antigo conduta para o comportamento humano e,
impasse sobre o fato de ser a sexualidade apesar de ter sido objeto de algumas
humana constituída apenas por impulsos modificações com o passar dos tempos, ainda
genéticos ou ser ela reforçada ou, até mesmo, é assunto que causa grande controvérsia. A
determinada pelo contexto social e cultural em homossexualidade e a bissexualidade ainda são
que o sujeito está inserido. O segundo está vistas como algo anormal pela maioria dos
ligado intimamente ao primeiro, embora com adolescentes, independentemente do gênero:
uma ‘roupagem’ mais atual, se refere à Eu odeio. Sinto nojo. Tenho preconceito. É
oposição “essencialismo x construtivismo”, estranho e anormal. As falas reafirmam
que está no cerne da própria noção de pesquisas que apresentam a população
identidade de gênero. Enquanto os homossexual como a mais odiada, refletindo os
essencialistas consideram que existem altos índices de assassinato de natureza
categorias, tais como a homossexualidade, a homofóbica (TORRES; BESERRA; BARROSO,
bissexualidade, a heterossexualidade e a 2007, p. 299).
transexualidade, que seriam da ordem da Ao orientar a Educação Sexual de crianças e
essência dos indivíduos e dos grupos, para os jovens requer uma consolidação de
construtivistas tais categorias seriam apenas competências didáticas, constantes debates,
fruto de uma construção sociocultural. Assim, abertura de fóruns, criação de blogs na própria
a transexualidade não estaria ligada a uma ou escola, desmistificação de discriminações,
mais características essenciais de um indivíduo preconceitos, estereótipos e "padrões
ou grupo, mas, antes, seria resultado de uma sexuais", bem como construir a disseminação
categorização social com base em atributos e do respeito entre os alunos e professores assim
comportamentos próprios dessa pessoa ou como entre alunos e alunas, indicar o que vem
grupo (CANELLA; COUTINHO, 2013, p. 01). a ser tolerância, diversidades, conceitos de
Um dos pontos importantes a ser "homo, "hetero", "trans", "bissexuais" e
enfatizado, é o fato de que a religião exerce demais orientações sexuais (ou "condição",
intensa influência sobre o comportamento e, "desejo", "escolha afetiva"), traduzir para a
consequentemente, sobre a sexualidade contemporaneidade o "vir a ser", o ser, o
humana. As falas caracterizam esta forte querer, o escolher, o fazer, o esperar e outros
relação na formação destes preceitos: É o anunciados eventos que certamente irão
normal. Como Deus criou Adão e Eva e o fomentar caminhos saudáveis e plenos de
homem e a mulher para se unirem. No discurso cidadania na escola, na comunidade, no bairro
religioso cristão, apesar de se propagar a ideia e na vida de todos os que participarem
de acolhida aos homossexuais, são difundidas efetivamente das discussões. Não falamos de
representações que caracterizam as práticas Sexualidade, mas de Sexualidades, no plural,
homossexuais como “pecado”, assim como "plural" é a Diversidade na Escola
“anormalidade” e comportamento que se opõe e em nossa sociedade (SILVA, 2013, p. 19).
ao “plano divino”. Por isso, a ideia de pecado

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Discutir a sexualidade é discutir a vida masculinos são “mulherzinhas”,


(direito fundamental do ser humano garantido “desmunhecados” e/ou “maricas”. Por outro
por Lei). É discutir o preconceito sexual, a lado, as mulheres homossexuais são vítimas, já
violência contra a orientação sexual "homo", a que, em sendo homo, supostamente deixam
discriminação, a exclusão de grupos ditos de cumprir sua função de “fêmea” reprodutora
"minoritários" (e que, na verdade, compostos dos filhos “de um macho”, e não são aceitas no
por um sem número de pessoas) e, universo viril, ainda que emasculadas, pois não
especialmente, é discutir o amor ao outro, o possuem o pênis. E ao se identificarem
respeito, o ser tolerante e, sobretudo, conviver enquanto lésbicas, assumem uma postura ativa
em harmonia com todos os grupos e sujeitos em relação ao seu desejo sexual. Como tal
sociais que compõe a grande massa de atividade é exclusiva do universo masculino,
cidadãos-trabalhadores que foram elas são rechaçadas pelos homens e pelas
culturalmente "educados" sob a pecha do outras mulheres, pois quebraram a barreira do
machismo, do behaviorismo e de nuances que, silêncio em relação à suposta passividade
ao contrário de combater o ódio social contra feminina (TEIXEIRA; RONDINI, 2012, p. 653).
o que a sociedade intitula de "diferente" ou Os estereótipos de "masculinidade" e
"anormal", aprofunda ainda mais a reprodução "feminilidade" que a sociedade impõe a
do preconceito e da falta de informação que determinados sujeitos, "gays" e "lésbicas",
condiciona o "padrão" coercitivo que como o "homem afeminado" e a "mulher
culminam nos fatos da discriminação social e masculinizada", contribuem para a reprodução
da negligência intelectual e política e que na, do preconceito e da discriminação de um
verdade, precisam de uma "libertação social" aspecto que é privado, o "modo de ser de cada
que tanto buscamos e que, por vezes, nos um de nós" (que deve, para o "padrão
acomodamos por motivos diversos (SILVA, heterossexual", ser "eminentemente homem
2013, p. 20). macho" e "mulher fêmea" em "papéis sociais
De maneira equivalente ao estigma, a predeterminados") como, por exemplo, no
homofobia enquanto dispositivo de controle jogo de futebol feminino, na celeuma que
promove uma percepção negativa e afirma: "O "goleiro" não é menina" e, numa
homogeneizada da homossexualidade, no atitude estapafúrdia, grupos de pessoas
campo social, que resulta no campo individual, duvidam da identidade biológica de uma
em uma homofobia interiorizada. Borrillo jogadora que, ao querer exercitar o seu
(2000), aponta que as pessoas homossexuais "direito" ao lazer (direito de todo cidadão e de
costumam ser vítimas do seguinte modo: 1) Os toda cidadã), culmina na marginalização da
homens homossexuais são vítimas, pois, em "pessoa individualizada" em seu caráter
sendo homo, se “igualam” às mulheres na privado na humilhação de "ter que provar
posição de eventual receptor do pênis. Logo, publicamente" que é "mulher", como acontece
são vistos como “efeminados”, deixando de rotineiramente em escolas, olimpíadas, copas,
fazer parte do universo viril. Por isso, o campeonatos e outros eventos esportivos
estereótipo de que todos os homossexuais (SILVA, 2013, p. 21).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De modo semelhante, autores como uma identidade LGBT para si mesmo ou outras
Blumenfeld (1992), Isay (1998) e Hardin (2000) pessoas. Dentre essas consequências, destaca-
assinalam que tais efeitos englobam: 1) se a questão do suicídio (TEIXEIRA; RONDINI,
Negação da sua orientação sexual (do 2012, p. 653).
reconhecimento das suas atrações emocionais) É importante salientar também que
para si mesmo e para os outros; 2) Tentativas inúmeros estudos realizados mostraram que a
de mudar a sua orientação sexual; 3) taxa de suicídios é elevada, entre o (a)s
Sentimento de que nunca se é adolescentes homossexuais. Nos Estados
“suficientemente bom”, o qual conduz à Unidos, os jovens homossexuais (de ambos os
instauração de mecanismos compensatórios, sexos) representam um terço de todos os
como, por exemplo, ser excessivamente bom suicídios juvenis (enquanto os homossexuais
na escola ou no trabalho (para ser aceito); 4) constituem no máximo, cinco ou 6% da
Baixa autoestima e imagem negativa do população) (REMAFEDI, 1994; SAVIN-
próprio corpo, depressão, vergonha, WILLIAMS, 1996). No relatório da Secretaria da
defensibilidade, raiva e/ou ressentimento – o Força-Tarefa do Governo dos Estados Unidos
que pode levar ao suicídio já em tenra (PAUL GIBSON, 1989) sobre o suicídio juvenil,
juventude; 5) Desprezo pelos membros mais revelou-se que os jovens gays são de duas a
“assumidos” e “óbvios” da comunidade LGBT; três vezes mais propensas a tentar o suicídio
6) Negação de que a homofobia é um problema comparativamente aos jovens heterossexuais,
social sério; 7) Projeção de preconceitos em compreendendo o total de 30% anual de
outro grupo alvo (reforçados pelos suicídios juvenis (TEIXEIRA; RONDINI, 2012, p.
preconceitos já existentes na). 8) Tendência de 656).
tornar-se psicológica ou fisicamente abusivo, O problema é que desde cedo, essas
ou permanecer em um relacionamento pessoas veem - se às voltas com o que se
abusivo; 9) Tentativas de se passar por denominou de “pedagogia do insulto”,
heterossexual, casando-se, por vezes, com constituída de piadas, brincadeiras, jogos,
alguém do sexo oposto, para ganhar aprovação apelidos, insinuações e expressões
social ou na esperança de “se curar”; 10) desqualificantes. Segundo Rogério Junqueira
Práticas sexuais não seguras e outros (2009, p. 17), considera esses comportamentos
comportamentos autodestrutivos e de risco como “poderosos mecanismos de
(incluindo a gravidez e o de ser infectado pelo silenciamento e de dominação simbólica”. Por
vírus HIV); 11). Separação de sexo e amor e/ou meio dessa pedagogia, estudantes aprendem a
medo de intimidade, capaz de gerar até mesmo ser hostis aos homossexuais, transgêneros,
um desejo de ser celibatário (a); 12) Abuso de negros, frequentadores de religiões não
substâncias (incluindo comida, álcool, drogas e hegemônicas, entre outros, antes mesmo de
outras). Além de problematizar os efeitos da saber a que se referem. A invisibilidade e a
homofobia no adolescente “não “pedagogia do armário” são alternativas
heterossexual”, ou seja, com práticas sexuais utilizadas por muitos gays e lésbicas para fugir
homoeróticas, em que foi ou não assumida da “pedagogia do insulto”. Toda forma de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

discriminação interfere nas expectativas de A perturbação da identidade de gênero


sucesso e rendimento escola, produz transexual representa, igualmente, uma
intimidação, insegurança, estigmatização, profunda desordem na identidade sexual do
segregação, isolamento, estimula a simulação sujeito, no referente ao ser masculino ou
para ocultar a diferença, gera desinteresse feminino. Trata-se de uma insatisfação ou
pela escola, produz abandono e evasão, conflito de gênero, com consistente
tumultua o processo de configuração e discordância em relação ao sexo anatômico
expressão identitária, entre outros efeitos. (CARDOSO, 2005). Encontra-se mais
Rogério Junqueira (2009), afirma também que relacionada a sentimentos e desejos internos,
tais dificuldades tendem a ser ainda maiores no adequar-se fisicamente ao que se é
se pessoas homoeróticas, com identidade ou psicologicamente através da satisfação do
expressão de gênero consideradas fora do desejo de pertencer ao outro sexo. Esta
padrão convencional, forem pobres, perturbação sexual, com evidências de
iletrados, negros, indígenas, soropositivos, distúrbios ao nível do desejo e da excitação
tiverem deficiência física ou mental, e não sexual, do orgasmo e da dor sexual, vai
puderem (ou não quiserem) “ manter um concorrer para o isolamento social dos
estilo de vida sintonizado com a celebração pacientes, a baixa autoestima e a fixação em
hedonista do “ser jovem’ e ter um ‘corpo atividades que atenuem o mal-estar com o
sarado’” (JUNQUEIRA, 2009, p. 25, apud, gênero. Os adolescentes estão em particular
WELTER; GROSSI, 2018, p. 131). risco de depressão, aversão e abandono
Quando “se estuda gênero não significa escolar, conflitualidade com os progenitores,
apenas considerar o olhar sobre as mulheres,” ideação e tentativa de suicídio (ALVES; MOTA,
mas privilegiar as relações de poder entre 2015, p. 54).
cisgêneros, trans, gays e lésbicas e diversas Por essa razão, para serem aceitas pela
outras formas sociais e culturais que os sociedade, elas devem normalizar seus corpos
constituem como “sujeitos humanos” dentro de um padrão condizente com a matriz
(WELTER; GROSSI, 2018, p. 134). heterossexual dominante (BUTLER, 2001). A
Assim, encontramo-nos com a perturbação transexualidade é um exemplo claro da
da identidade de gênero intersexual afirmação “a verdade dos gêneros não está no
identificada pela anomalia orgânica congênita corpo” (BENTO, 2006), bem como de que “a
e por uma incompatibilidade entre os fatores anatomia não é o destino” (STOLLER, 1982,
genéticos, a estrutura anatômica, o apud ,CANELLA; COUTINHO, 2013, p. 08). Por
comportamento psicológico e o sexo isso Ceccarelli (2008), faz com que se pense na
socialmente percebido, e que constitui uma identidade sexual mais como um fato psíquico
preocupação grande e reveste-se de particular do que como um dado natural, bem como a
interesse para os profissionais e investigadores reavaliar a importância do discurso sobre o
em psicologia (SANTOS; ARAÚJO, 2008, apud, corpo. Afinal, todo ser humano, seja ele macho
ALVES; MOTA, 2015, p. 54). ou fêmea do ponto de vista biológico, terá que
se tornar, subjetivamente, homem ou mulher,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o que não é uma evidência em si. O corpo não


é o lugar da “verdade”, mas sim da identidade
dos gêneros, isso significa dizer que todas as
transexuais têm realizado um processo de
modificação corporal para adaptar seu corpo
ao gênero em que se sentem bem (CANELLA;
COUTINHO, 2013, p. 08).
As razões para a realização das mudanças
corporais por mulheres transexuais são
diversas: por exemplo pode-se falar em
pressões sociais, em um desejo 'natural' ou
uma descoberta pessoal ao longo do tempo.
Entretanto, todas modificam, com as devidas
diferenças, seus corpos para adaptá-lo, de
alguma forma, à sua própria identidade e
respectivo gênero. Ao atuar sobre o seu
próprio corpo, as transexuais encontraram um
meio para o reconhecimento social e pessoal
enquanto mulher, mulher transexual ou
transexual (VARTABEDIAN, 2008, apud,
CANELLA; COUTINHO, 2013, p. 08).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fase da adolescência, como etapa entre o ser criança e ser adulto, é o período
fundamental em que vai ser formada a identidade sexual e a cultura em torno da sexualidade do
ser humano, por isso é importante perceber quais as percepções que os jovens têm sobre a
sexualidade.
Sabe-se que sociedade em geral, independentemente de gênero e idade tem incorporado
os estereótipos sexuais e assim conservado seus paradigmas. Assim, para que seja alcançada a
igualdade de gênero, os indivíduos precisam destituir-se desta condição que tem sido moldada
desde a infância. Sendo assim, o ideal é que as mulheres possam exercer sua sexualidade de
forma plena e igualitária, conseguindo negociar com seus companheiros uma relação
considerada saudável que seria interessante seguir, sem que continue existindo uma repressão
social, além disso, os homens também poderiam seguir outro modelo de masculinidade sem a
opressão do modelo hegemônico atual, em que o homem não pode chorar e que tem que “trair”,
ter mais de um relacionamento e que seja forte, alto, quase um “ super herói”.
Infelizmente observa-se que o termo “sexualidade” ainda é um tabu para muitas famílias
e até para profissionais ligados ao tema. Durante séculos, tem sido discutido o que a sociedade
tem imposto como o que seria “certo” para os meninos, que no caso é ser heterossexual,
machista, o chamado provedor e chefe de família; e isso é algo que tem feito com que muitos
meninos se sintam inibidos com relação a sua própria orientação sexual, bem como a identidade
sexual, sua sexualidade, opiniões, fantasias, valores, atitudes, bem como comportamentos,
práticas e relacionamentos. Quando se trata das garotas, é algo também complicado, pois acaba
ocorrendo quase sempre algo idealizado no romantismo, em que se passa a ideia de que as
mulheres têm que ser frágeis, carinhosas, e protetoras do lar. Isso vem desde a infância e estão
ligados diretamente a sociedade machista e patriarcalista em que todos estão inseridos.
Sendo assim, é importante que tais questões sejam discutidas nas escolas, desde o início
da vida escolar para que os futuros adolescentes não apresentem preconceitos e que todos
aceitem as chamadas “novas modalidades relacionadas ao gênero” tais como a transexualidade
dentre tantas outras.
É papel fundamental ainda de a escola acolher os jovens e aceitá-los como eles são
respeitando as diferenças e evitando assim a depressão e mesmo evitar um suicídio precoce entre
esses adolescentes.
Por essa razão, a escola é um espaço ideal para o tratamento dessas questões sobre a
diversidade cultural e sexual, pois o ambiente escolar tem papel fundamental na formação destes
cidadãos no âmbito da igualdade dos gêneros e por isso esse tema deve fazer parte das políticas
públicas. Além de levar ao pensamento crítico, bem como promover entre todos os agentes
escolares um convívio que seja de respeito e democracia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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LEITE, V. A importância das políticas de educação no cenário recente da política sexual


brasileira: venturas e desventuras dos “adolescentes LGBT” na relação com instituições
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TORRES, C. A; BESERRA, E.P; BARROSO, M.G, T. Relações de Gênero e Vulnerabilidade ás


Doenças Sexualmente Transmissíveis: Percepções Sobre a Sexualidade dos Adolescentes. Esc
Anna Nery R Enferm, v.2, n. 11, p. 296-302, 2007.

WELTER, T; GROSSI, M. P. É possível ensinar gênero na escola? Análise de experiências de


formação em gênero, sexualidade e diversidades em Santa Catarina. Revista linhas.
Florianópolis, v.19, n. 39, p. 123-145, 2018.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E SUAS


CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO EM SE
TRATANDO DE ALUNOS AUTISTAS
Lusia Lusilene de Oliveira Santos1

RESUMO: Como sabemos que a demanda de crianças autistas é grande, precisamos aprender o
quanto antes a lidar com elas para que não se sintam excluídas na escola e na sociedade. Ao
compreendermos as características que envolvem o desenvolvimento psicológico,
comportamental e de aprendizagem da criança com autismo, o psicopedagogo deve estar atento
às técnicas e exercícios que façam o processo educacional mais natural. A atuação da
psicopedagogia é na aplicação de práticas que se adaptem e contemplem psicológica e
pedagogicamente a criança que chega ao consultório. Pensando nesses problemas, esse artigo
foi elaborado por meio de uma pesquisa bibliográfica de autores como: Pimentel (2004); Silva
(2008); Souza (2010); Mattos (2009), entre outros especialistas nessa área e na área da educação.

Palavras-Chave: Autismo; Escola; Psicopedagogia; Família.

1Professora de Educação Infantil .


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Gestão Escolar.

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CLINICAL PSYCHOPEDAGOGY AND ITS CONTRIBUTIONS TO


EDUCATION IN THE TREATMENT OF AUTISTIC STUDENTS
ABSTRACT: As we know that the demand of autistic children is great, we need to learn how to
deal with them as soon as possible so that they do not feel excluded from school and society.
When we understand the characteristics that involve the psychological, behavioral and learning
development of the child with autism, the psychopedagogue must be attentive to the techniques
and exercises that make the educational process more natural. The role of psychopedagogy is in
the application of practices that adapt and contemplate psychologically and pedagogically the
child who arrives at the office. Thinking about these problems, this article was elaborated through
a bibliographic research of authors such as: Pimentel (2004); Silva (2008); Souza (2010); Mattos
(2009), among other specialists in this area and in the area of education.

Keywords: Autism; School; Psychopedagogy; Family.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO que as famílias possam promover esse mesmo


desenvolvimento e aprendizagem.
A criança com autismo expressa de forma Dessa forma, protagonizar essa ação de
precoce dificuldades para se comunicar e desenvolvimento e de aprendizagem cabe ao
padrões repetitivos que prejudicam sua psicopedagogo em ambiente clínico, pois ele
interação social e comportamental. Essa irá otimizar, apurar e contribuir para o
criança enfrenta diversas dificuldades de progresso da melhora do comportamento nas
adaptação, aprendizagem e socialização dificuldades pedagógicas e educacionais da
quando entra na escola regular. criança.
O psicopedagogo precisa estar preparado
para atuar como o facilitador do aprendizado
A CRIANÇA AUTISTA NA
que essa criança terá ao iniciar seus estudos,
buscando práticas que o auxiliem em seu ESCOLA
desenvolvimento. A criança autista precisa ser incluída na
Araújo (2015, p. 3), afirma que: “...o autismo escola regular conforme garante a lei e deve
é uma síndrome difícil de ser diagnosticada ser atendida pelo Atendimento Educacional
quando não é a forma mais grave da doença, Especializado (AEE), no qual se oferece à
afetando crianças em diferentes níveis, desde criança um complemento pedagógico
o mais brando ao mais severo, mas é possível direcionado, que auxiliará sua adaptação à
perceber alguns traços desse espectro no escola regular e à educação básica.
ambiente lúdico da psicopedagogia”. Para Silva (2008, p. 261):
Quando se trata de tempo, quanto mais Após a avaliação inicial são elaboradas as
cedo ocorrer a intervenção, mais são as hipóteses no sujeito, psicológicas, na família, as
chances de se alcançar resultados positivos. relações vinculares e na escola. Já no item
Esse tipo de ensino faz com que as pessoas esquemas de intervenção, informa as fases, a
do campo tenham menos oportunidade do que importância e limitações do psicopedagogo,
as pessoas que estudam na cidade. enfatiza o encaminhamento ao profissional
Na visão de Pimentel (2004, p. 43): adequado quando tratar de casa no campo
[...] serviços, apoios e recursos que são emocional, o psicólogo.
necessários para responder, quer às A responsabilidade da avaliação clínica
necessidades específicas de cada criança, quer sobre as necessidades e características da
às necessidades das suas famílias no que aprendizagem da criança autista é do
respeita à promoção do desenvolvimento da psicopedagogo. Ele tem conhecimentos
criança. Assim, intervenção precoce inclui todo suficientes para intervir de maneira eficaz na
tipo de atividades, oportunidades e escolarização da criança, propondo atividades
procedimentos destinados a promover o que melhorem o seu desenvolvimento
desenvolvimento e aprendizagem da criança, pedagógico e social.
assim como o conjunto de oportunidades para Devemos considerar o trabalho do
psicopedagogo como um instrumento que irá

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

auxiliar na organização da estrutura cognitiva e forma de intervenção que trará melhores


comportamental dos indivíduos, pois as resultados.
intervenções são planejadas e executadas para Ao se amparar na teoria estrutural e
atender as crianças autistas para que possam metodológica, junto com as informações a
desfrutar do melhor que a escola tem para respeito dos aspectos sensoriais, o
oferecer. psicopedagogo tem ferramentas que
Uma das técnicas é o método interventivo permitirão o direcionamento das atividades e
da Análise do Comportamento Aplicada exercícios clínicos que surtirão efeito na sala de
(Applied Behavior Analysis – ABA), que facilita aula e nos demais ambientes de aprendizagem
o desenvolvimento da criança autista. para a criança autista.
Para Mascotti (2015, p. 107): Para Mattos (2019, p. 36), a criança autista
[...] tem sido amplamente utilizada para o tem:
planejamento de intervenções e, na área de [...] limiares neurológicos e as respostas
comunicação, o Sistema de Comunicação por comportamentais como contínuos que
Troca de Figuras (Picture Exchange interagem uns com os outros e que podem ser
Communication System-Pecs), que foi explicados da seguinte forma: os limiares
desenvolvido especificamente para pessoas neurológicos são referentes à quantidade
com TEA e transtornos correlatos. necessária de estímulos para um neurônio ou
Para Souza (2010, p. 41): um sistema de neurônios reagirem e as
[...] ajudá-lo a conseguir chegar à idade respostas comportamentais referem-se à
adulta com o máximo de autonomia possível. maneira como as pessoas agem em relação aos
Isto inclui ajudá-lo a compreender o mundo seus limiares.
que o cerca através da aquisição de habilidades Sendo assim, essas crianças possuem
de comunicação que lhe permitam relacionar- diferentes níveis, variando para mais ou para
se com outras pessoas, oferecendo-lhes, até menos os limiares neurológicos, se o limiar for
onde for possível, condições de escolher de alto a criança responde menos em relação às
acordo com suas próprias necessidades. dores que sente, aos chamados e demais
Essa ajuda no desenvolvimento da criança interações, ela é menos receptiva.
irá fazer com que a relação dela com a família, E, uma criança com limiar neurológico baixo
com o professor e com seus colegas de classe, é ao contrário, responde mais em relação a
melhore consideravelmente, permitindo um tudo, é mais sensível ao ambiente, distrai-se e
canal de fala mais claro e objetivo entre o incomoda-se com excesso de estímulos
psicopedagogo, a família e a escola. E, dessa sonoros, visuais ou tácteis.
forma suas necessidades pedagógicas serão Dessa forma, a intervenção psicopedagógica
moldadas de acordo com suas necessidades é mais eficaz quando a família está envolvida e
pessoais. a escola também.
É de suma importância saber a forma como Para Ciasca (2018, p. 106):
ocorre o processamento sensorial da criança
autista para se compreender qual é a melhor

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

[...] comprometimentos nas áreas de suficiente para trabalhar com as crianças


interação social, comunicação e autistas, dessa forma, a aprendizagem fica
comportamento, é importante que os comprometida e a criança sente-se frustrada.
profissionais desenvolvam estratégias para Sabemos que a escola tem um importante
contemplar a aquisição dessas habilidades. papel no nível de educação das crianças, pois
Para tanto, é necessário desenvolver um plano tem o dever de elaborar estratégias para que
terapêutico individualizado e eficiente, com essas crianças consigam desenvolver
objetivos e metas específicas que atendam às capacidades para interagir e se integrarem com
demandas de cada indivíduo. Destaca-se, as demais crianças.
ainda, a importância da escola nesse processo, Ultrapassar dificuldades, barreiras e criar
sendo necessário que o professor conheça a estratégias para uma adaptação viável e
criança e seu desenvolvimento cognitivo, a fim proveitosa é responsabilidade do
de direcionar o trabalho pedagógico de acordo psicopedagogo.
com as demandas de aprendizagem do aluno. Conforme Cunha (2015, p. 253):
Infelizmente, devido ao modelo educacional A intencionalidade, se refere ao modo de
que temos em nosso país para o ensino básico, interação entre mediador e mediado, para que
falta contato interdisciplinar que afeta o ambos aprendam moldar e interpretar
tratamento da criança autista, atrasando estímulos. Reciprocidade, diz respeito à troca,
processos que poderiam ser mais simples se é um caminho que torna visível o retorno do
houvesse a comunicação e a integração entre a aprendente ao processo de aprendizagem, é
equipe multidisciplinar que atende as esferas importante o mediador nesse processo
emocionais, comportamentais, cognitivas, procurar recompensar as respostas positivas,
afetivas e pedagógicas da criança. pois assim o aprendente percebe que está no
Precisamos lembrar que é preciso focar o caminho certo. Significado, o mediador deve
planejamento na necessidade do aluno, pois há dar significado às ações, o mediado precisa
muitas particularidades quando se trata de compreender a função, a utilidade de tal ato,
crianças autistas, e essas particularidades são de tal objetivo. Transcendência, esta tem por
determinantes para que se possa traçar um objetivo promover a aquisição de estratégias
percurso interventivo e terapêutico para a que podem servir para diversas situações.
criança. Assim, o trabalho de intervenção deve ser
O psicopedagogo enfrenta muitas realizado de modo que se adapte às
dificuldades para melhorar a aprendizagem habilidades da criança autista para que ela
dessas crianças, desde a comunicação com os tenha sua autonomia, seja incluída na escola e
pais, a escola e a família, como também com o na vida social. Com isto o diagnóstico precoce
modelo de educação padronizado que temos feito pelo psicopedagogo é de suma
em nosso país. importância, pois esse profissional promove
Muitas vezes a escola não está preparada mudanças que irão auxiliar positivamente o
para receber essas crianças e não conta com desenvolvimento da criança autista.
profissionais que tenham conhecimento

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após essas análises, precisamos entender que a criança autista deve estar incluída em
todas as atividades da escola regular, algumas irá realizar com mais facilidade que outras, mas
atuará 1com seus colegas e se sentindo importante, percebendo que mesmo sendo diferente é
aceita e respeitada por todos.
Para Peres & Mourão (2007, p. 84):
Ao atuar junto à equipe escolar, geralmente composta por diretores, coordenadores,
orientadores educacionais, professores, alunos, pais, familiares e outros segmentos o
psicopedagogo tem a oportunidade de interagir diretamente com o cotidiano das ações
desenvolvidas na instituição. Neste caso, ele passa a realizar um trabalho em conjunto
com outros profissionais, contribuindo assim, dentre outras questões, com: o
desenvolvimento de estudos e reflexões sobre os materiais didáticos escolhidos e
utilizados; a organização e seleção dos temas de ensino; o processo metodológico e
avaliativo; as situações de sucessos e insucessos escolares; os relacionamentos
interpessoais e outros temas e questões que sejam de interesse e necessidade da
instituição.

O psicopedagogo está envolvido com essas crianças desde o diagnóstico até o


desenvolvimento das dificuldades de aprendizagem propostas no modelo regular de ensino.
Segundo Araújo (2015, p. 9), “quando a criança apresenta plena desenvoltura na
realização de uma atividade (conduta adquirida), esta passa a fazer parte da rotina de forma
sistematizada”.
No estudo de Mattos (2019), que foi um estudo participativo, as crianças autistas foram
comparadas com as crianças que não apresentam esse distúrbio com a intenção de observar a
maneira como os grupos se diferenciavam nos aspectos comportamentais, perceptivos sensoriais
e em relação ao ambiente no qual estavam inseridas.
Dessa forma, concluímos esse artigo com a certeza de que a contribuição para facilitar a
socialização e a capacidade integrativa das crianças autistas também engloba, após passar pelas
dificuldades pedagógicas, mais espaço para que a criança faça contato positivo e produtivo,
interagindo com seus colegas de classe.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Atendimento Psicopedagógico. Departamento de Psicopedagogia UFPB. João Pessoa – PB,
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de 2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REDES DE APOIO PARA A AMAMENTAÇÃO E


DOAÇÃO DE LEITE MATERNO POR MEIO DAS
MÍDIAS DIGITAIS
Nívea Vilar Cardoso1
Aryanne Santana Tavares de Arruda2
Maria Emília Alencar de Medeiros Lucena3
Giovanna Lima Figueiredo da Silva4
Joana Karollyne de Siqueira Mendes5
Waleska Ferreira Xavier6
Regina Lígia Wanderlei de Azevedo7
Cristina Ruan Ferreira de Araújo8
Ana Janaina Jeanine Martins de Lemos Jordão9
1 Discentes do curso de Medicina, Psicologia e Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande, Campus
Sede.
2
Discentes do curso de Medicina, Psicologia e Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande,
Campus Sede
3
Discentes do curso de Medicina, Psicologia e Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande,
Campus Sede
4
Discentes do curso de Medicina, Psicologia e Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande,
Campus Sede
5
Discentes do curso de Medicina, Psicologia e Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande,
Campus Sede
6
Discentes do curso de Medicina, Psicologia e Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande,
Campus Sede
7 Pós-Doutoranda em Psicologia da Saúde pelo Instituto Universitário de Lisboa - Iul - Lisboa; Professora Adjunta II
da Universidade Federal de Campina Grande/PB (UFCG). Instituição: Universidade Federal de Campina Grande –
UFCG
8 Doutora em Patologia Oral pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Professora Associada III de
Histologia, Biologia Celular e Tissular e Patologia Geral para os cursos de Medicina e Enfermagem na Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG). Instituição: Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
9Doutora em Biociência Animal pela Universidade Federal Rural de Pernambuco; professora, coordenadora, tutora
e preceptora da Universidade Federal de Campina Grande. Instituição: Universidade Federal de Campina Grande –
UFCG

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RESUMO: A pandemia reduziu de modo considerável os serviços prestados pelo Banco de Leite
Humano (BLH) Dr. Virgílio Brasileiro em Campina Grande, com impactos no aumento da demanda
de leite materno para neonatos internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) devido a
diminuição de doações externas e do contato entre mãe-filho. O presente artigo tem por objetivo
relatar experiências vivenciadas por meio de um projeto de extensão desenvolvido de forma
remota durante a pandemia do COVID-19. A partir do uso direcionado das redes sociais
Instagram, e sobretudo o WhatsApp como ferramenta para a criação de vínculo e suporte mútuo
e individual, por meio do compartilhamento de experiências pessoais, e conhecimentos sobre
temas relacionados à maternidade e a amamentação. Quanto às temáticas referentes à doação
de leite materno foi notória a abrangência do projeto haja vista o aumento das doações,
arrecadação de potes de vidro para armazenamento do leite pelo Banco de Leite Humano (BLH)
da Maternidade do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA) no município de Campina Grande
– PB.

Palavras-Chave: Amamentação; Doação de Leite Materno; Redes Sociais, Redes de Apoio.

SUPPORT NETWORKS FOR BREASTFEEDING AND BREAST MILK


DONATION THROUGH DIGITAL MEDIA
ABSTRACT: The pandemic has considerably reduced the services provided by the Human Milk
Bank (BLH) Dr. Virgílio Brasileiro in Campina Grande, with impacts on the increased demand for
breast milk for neonates hospitalized in Intensive Care Units (ICU) due to the decrease in external
donations and the contact between mother and child. This article aims to report experiences
through an extension project developed remotely during the COVID-19 pandemic. Based on the
targeted use of Instagram social networks, and above all WhatsApp as a tool for creating bonds
and mutual and individual support, through the sharing of personal experiences and knowledge
on topics related to motherhood and breastfeeding. As for the themes related to the donation of
breast milk, the scope of the project was notorious, given the increase in donations, collection of
glass jars for storing milk by the Human Milk Bank (BLH) of the Maternity of the Instituto de Saúde
Elpídio de Almeida (ISEA) ) in the city of Campina Grande – PB.

Keywords: Breastfeeding; Breast Milk Donation; Social Networks, Support Networks.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO filho, diminuiu da produção de leite pelas


próprias mães para sua prole e,
A dinâmica da globalização mudou frente às consequentemente, aumentou a demanda, no
restrições impostas pela pandemia mundial, Banco de Leite, por insumos nutricionais.
como também a atividade hospitalar. Em Além disso, serviços oferecidos pelo ISEA às
Campina Grande, no interior da Paraíba, o mães de recém-nascidos que estão em UTI,
Banco de Leite Humano (BLH) Dr. Virgílio como a casa de apoio à mulher (Casa da
Brasileiro localizado na Maternidade de Gestante e da Puérpera), onde as mães de
referência no interior do estado, sofreu recebiam alojamento e as ações de Educação
impactos significativos para recém-nascidos em Saúde promovidas pela equipe do BLH,
internados na UTI do hospital, como também foram provisoriamente suspensas devido às
para suas mães. Essas repercussões se deram recomendações de prevenção à contaminação
pelo aumento da demanda de leite devido a durante a pandemia do novo Coronavírus
diminuição do contato entre mãe-filho em (JARDIM, et al., 2019).
Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e, Anteriormente ao período de
consequentemente, redução da ordenha distanciamento social, eram ministradas às
materna. Como também a diminuição de usuárias pelos profissionais do BLH, palestras
doações externas para o BLH. sobre temáticas relacionadas à maternidade e
As dimensões desse impacto podem ser ao aleitamento materno e orientações para a
ratificadas quando compara-se a redução ordenha do próprio leite, como forma de
expressiva de doadoras da unidade do BLH transmitir confiança e bem-estar para essas
supracitado, que nos meses de março e abril de puérperas em tempos de incertezas (VILLAÇA,
2019 eram 221 mulheres, no entanto no et al., 2015). As experiências trocadas e os
mesmo período no ano de 2020 eram apenas diálogos entre as mães eram responsáveis por
156 (FIOCRUZ, 2020). Ademais, a redução no amenizar as dificuldades desse período de
número de lactentes doadoras é dúvidas e de anseios.
acompanhada do aumento na demanda por Diante disso, mesmo conscientes da
leite materno pelos hospitais da cidade, de urgência e da eficácia das medidas de controle
modo que, no ano passado, a quantidade de ao COVID-19, as mudanças ocorridas na
leite humano distribuído entre o terceiro e o dinâmica do serviço possuíram efeitos
quarto mês foi de 217,2 litros e, em 2021, de desfavoráveis tanto para as mães que são
481,4 litros (FIOCRUZ, 2020). orientadas continuamente como,
As medidas de isolamento social e os receios principalmente, para os bebês que necessitam
frente à pandemia dificultaram o cadastro de dos insumos nutricionais. Considerando-se as
novas mulheres como doadoras de leite. recomendações da OMS, MS e da Sociedade
Enquanto isso, a redução do número de visitas Brasileira de Pediatria (SBP) referentes ao
dos familiares em UTI neonatal por dia, em aleitamento materno exclusivo durante os 6
decorrência de medidas sanitárias de proteção primeiros meses de vida (GLUGLIANI, 2007).
ao bebê, diminuiu o contato do binômio mãe- Assim, um projeto que desenvolvesse ações de

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continuidade do trabalho exercido pelo Banco respeito da importância de suas atividades


de Leite Humano Dr. Virgílio Brasileiro, de para a saúde materno-infantil, maior
maneira remota, possuía caráter de urgência. envolvimento da sociedade com o serviço por
Tendo em conta que os suportes técnicos e de meio do aumento de doadoras de leite, quanto
orientação aumentam as chances de eficácia de doações de potes de vidro com tampas
no processo de lactação e incentivam a plásticas, usados para armazená-lo.
continuidade à médio e à longo prazo do Levando isso em consideração, a segunda
aleitamento materno, beneficiando o binômio edição do projeto entre os meses de agosto a
mãe-filho (GLUGLIANI, 2007). dezembro de 2021, buscou ser uma ferramenta
de consolidação para a educação Continuada
PROJETOS DE EXTENSÃO em saúde no que se refere a temas que
envolvem maternidade, puerpério e doação de
CONTINUADOS: EXPERIÊNCIA leite materno, de maneira remota por meio das
NO INTERIOR DA PARAÍBA mídias digitais mais comumente usadas em
A interação e adesão do público-alvo na nosso país (WhatsApp e Instagram). De modo
primeira edição do projeto de extensão “Leite que não apenas puérperas fossem alcançadas
Materno: Doação, Diálogo e Dilemas”, por meio do projeto, mas também a sociedade
realizado entre julho e dezembro de 2021 por em geral, moradores do município e da
docentes e discentes da Universidade Federal macrorregião de Campina Grande.
de Campina Grande (Campus sede), com
posterior publicação em capítulo de livro com REDES SOCIAIS E SUPORTE
o tema: O aleitamento Materno no Contexto
do COVID-19: A Necessidade de Mais Diálogo,
MÚTUO
Mais Doação e Menos Dilemas, mostrou-se À vista disso, o diálogo remoto, com as
fundamental para a continuação das puérperas em busca de suporte materno,
intervenções em educação e saúde prestadas. apoio e educação em saúde, foram realizados
Haja vista a construção do espaço de diálogo e durante o segundo ano da pandemia de
trocas de experiências por meio das redes pandemia de COVID-19. Como modo de
sociais. Sendo assim, o diálogo com as mães, amenizar angústias vividas no período
além de sensibilizar as puérperas, seus puerperal e demais lactantes sobre o processo
parceiros e sua rede de apoio para apoiar e de amamentação e maternidade, foi idealizado
estimular a amamentação, promoveu maior por meio de aplicativos de troca de mensagens
adesão à doação do leite materno para instantâneas uma rede de apoio por meio do
neonatos internados no ISEA e para mães, que diálogo direto e acessível. A partir disso,
por diversos motivos, estivessem temáticas relevantes para a vivência das
impossibilitadas de amamentar. nutrizes foram identificadas pelo diálogo
Outrossim, efeitos como o conhecimento e a desenvolvido com as próprias puérperas e em
divulgação das atividades prestadas pelo Banco conjunto com a equipe de saúde do BLH.
Estimulando, assim, a doação de materiais de
de Leite Humano proporcionou informações a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

armazenamento para o leite materno durante realizadas semanalmente por diferentes


o período pandêmico. integrantes do projeto e sempre em horário
Por meio do vínculo interacional e dialogal fixo, preestabelecido, às 18 horas, por um
com as mães foi possível estabelecer redes de período em que os seguidores do perfil estão
apoio às puérperas de modo virtual a partir da mais ativos na plataforma digital e, assim, a
dedicação de 12 horas semanais ao projeto publicação ganharia mais visibilidade e alcance.
para o planejamento, construção do conteúdo Para a organização sistemática das
que seria veiculado pelas mídias digitais postagens, fez-se uso da ferramenta de
(Instagram e WhatsApp) e demais atividades Planilhas do Google, ordenada por data da
previstas. Na rede social Instagram o perfil do publicação, tema, responsáveis, temas
projeto @leite.materno contava com 615 sugeridos e temas já foram postados.
seguidores (atualmente 778). As novas Permitindo controle sobre os temas que já
divulgações e ações virtuais estimularam novas foram abordados e novos temas poderiam ser
gestantes e puérperas a acompanharem as debatidos durante as reuniões semanais.
ações integrativas e informativas do projeto. Por ser ferramenta muito visual, a
Para o desenvolvimento dos temas construção de um feed com layouts
considerados relevantes, houve contato organizados na vertical possibilitou a reunião
contínuo e auxílio da equipe de saúde do BLH, de todas as publicações do perfil, servindo
para que houvesse conhecimento da dinâmica como um resumo do conteúdo produzido com
médico-hospitalar do banco e como de legendas detalhando os posts. A disposição das
maneira a facilitar o diálogo com a postagens seguiu a organização de 3
comunidade associada ao ISEA, não excluindo publicações semanais a cada Segunda-feira,
a comunidade em geral que possuísse interesse Quarta-feira e Sexta-feira. O design continha
pelo tema. uma paleta de cores fixas em tons de rosa para
as postagens da segunda e quarta-feira, às
INSTAGRAM COMO CANAL DE quais versavam sobre os temas referentes ao
projeto, e a postagem da sexta-feira se detinha
EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE aos tons em amarelo, tendo em vista que
AMAMENTAÇÃO E DOAÇÃO DE versavam sobre o incentivo à doação de leite
materno ao banco de leite humano e, também,
LEITE MATERNO potes de vidro para coleta e armazenamento
O Instagram por caracterizar-se como
adequado, fazendo menção sempre ao Banco
veículo de informações de fácil acesso e ser a
de Leite do ISEA.
principal rede social para criação de conteúdo
A arte e a legenda das publicações foram
atualmente e levando em consideração o
desenvolvidas pelos respectivos extensionistas
panorama em que a pandemia do novo
designados à temática por meio da plataforma
coronavírus proporcionou aos bancos de leite,
de design digital Canva.com para estudantes e
foi usado para dialogar sobre temáticas que
a partir de uma busca ativa por literaturas
perpassam a maternidade e incentivar a
atuais sobre o tema escolhido, a fim de garantir
doação de leite materno. As postagens eram

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

um conteúdo atual e com uma leitura leve e As hashtags, utilizadas como uma palavra-
acessível ao público. Antes das publicações o chave, permitiram a classificação do tipo de
conteúdo era supervisionado pelo corpo público e conteúdo compartilhado na rede
docente do projeto. social. Como estratégia para facilitar a pesquisa
Recursos de compartilhamento de conteúdo por temas abordados no projeto, foram
por meio de vídeos, Stories, Reels e IGTV foram utilizadas as hashtags #amamentação,
utilizados para comunicação com os #maternidade, #doaçãodeleite,
seguidores, gerando maior engajamento e “#aleitamentomaterno.
interação por meio de enquetes, caixinha de Temas abordados de maior popularidade e
perguntas, testes, manda uma DM e visibilidade do perfil, no ano de 2021:
destaques. Postagens fixas nos Stories foram 1. Amamentar consumindo álcool, pode?
realizadas nas quinta-feiras: o TBT (termo 2. Você já ouviu falar de peitolé?
popular nas redes sociais que se refere a 3. Benefícios da Amamentação
expressão “Throwback Thursday” que é um dia 4. Amamentação: Expectativa versus
reservado para postar fotos e textos passados, Realidade
a fim de relembrá-los). Para que houvesse 5. Ordenha, Armazenamento e Doação de
maior aproximação com o público dessa rede Leite
social. Somado a isso, enquetes eram Utilizar todos os recursos da plataforma foi
realizadas sobre temas que foram indispensável para que o perfil obtivesse um
apresentados anteriormente, buscando alcance e interação maior.
fomentar discussões e interação com os
seguidores. No Reels, vídeos de 15 ou 30
AMAMENTAÇÃO E DIÁLOGOS:
segundos, vídeos sobre o mês “Agosto
Dourado” “Expectativa e Realidade durante a WHATSAPP COMO
Amamentação” foram publicado para reforçar FERRAMENTA DE REDE DE
a importância da doação e do aleitamento
materno para a mãe e para o bebê e abordar os
APOIO PARA PUÉRPERAS
dilemas sobre a romantização da Nas redes de apoio e suporte mútuo,
amamentação. Para a abordagem de temas principalmente aquelas pelo WhatsApp, os
mais longos e que careciam de maior diálogos entre as mulheres e os participantes
aprofundamento, foram utilizados os recursos do projeto aconteceram de modo horizontal,
do IGTV. A exemplo do “Ordenha, como forma de incentivar a troca de
armazenamento e doação de leite materno” experiências tornando-se indispensável para a
em que foi discutido os processos de doação de manutenção de vínculos afetivos, profissionais
leite materno, ordenha, higienização de potes e sociais.
de vidro para o armazenamento e a A partir do grupo de apoio denominado
arrecadação leite no Banco de Leite do Isea em “Amamentação e Diálogos” no aplicativo,
Campina Grande/PB. composto por gestantes, puérperas e lactantes
foi possível tecer discussões coletivas acerca da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

maternidade, amamentação, gravidez,


puerpério e doação de leite materno.
O WhatsApp é uma rede social cotidiana e
instantânea, de forma que a interação com as
participantes do grupo não se tornasse
cansativa para ela por meio de muitas
informações em texto e notificações,
abordagem adquire possui caráter direto e
dinâmico. As temáticas abordadas durante a
semana, em número de 3, eram discutidas e
estudadas previamente, e abordadas de modo
instrutivo por meio de conversas curtas e
pessoais como meio de incentivar a
participação das integrantes.
Além disso, o grupo era aberto ao
compartilhamento pessoal de experiências das
mulheres, dificuldades e receios frente à
maternidade. Um número expressivo de
participantes utilizaram o grupo em momentos
de dúvida, angústia ou anseio, onde puderam
contar com o suporte das demais e, quando
necessário, com uma abordagem individual
com a psicóloga e professora Regina Lígia
Wanderlei de Azevedo, colaboradora do
projeto.
As interações por parte das mulheres do
grupo se relacionavam aos conteúdos
abordados semanalmente ou a dúvidas
referentes à maternidade, amamentação e
correlatos. Geralmente, as dúvidas eram
sanadas por meio do compartilhamento de
experiência de outras mulheres, por meio das
extensionistas ou por meio das professoras
orientadoras. Em casos, onde o
compartilhamento de informações adquiriu
um caráter privado, as mulheres eram
direcionadas a partilhar com as professoras
orientadoras.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das mudanças geradas pela pandemia e pelos desafios inerentes à maternidade, a
segunda edição do projeto “Leite Materno: Doação, Diálogo e Dilemas” evidencia o êxito das
intervenções educacionais em saúde de maneira contínua e a criação de Redes de Apoio, por
meio das mídias digitais. Estas utilizadas como ferramentas de suporte e construção de redes de
apoios para mulheres nos períodos perinatal e puerperal. Principalmente em um período de
restrições do contato social, como dos últimos 2 anos.
Foi notória a abrangência do projeto no que se refere ao aumento das doações de leite
materno, arrecadação de potes de vidro para armazenamento e conhecimento dos serviços
prestados pelo Banco de Leite Humano (BLH) da Maternidade do Instituto de Saúde Elpídio de
Almeida (ISEA) no município de Campina Grande – PB.
Ademais, a criação e manutenção de Redes de Apoios por meio do Instagram e sobretudo
o WhatsApp assegurou suporte individual às puérperas, troca de experiências e conhecimentos
sobre temas relacionados à amamentação, à maternidade e a saúde física e mental materno-
infantil efetivando, desta forma, a promoção e a educação em saúde no período de Pandemia.

1126
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
FIOCRUZ. Banco de leite humano Dr. Virgílio Brasileiro. FIOCRUZ, 2020. Disponível em:
<https://rblh.fiocruz.br/banco-de-leite-humano-dr-virgilio-brasileiro>. Data de Acesso:
20/07/2022.

GLUGLIANI, Elsa Regina Justo. Tópicos básicos em aleitamento materno. In: Lopez FA,
Campos Jr D, editores. Tratado de Pediatria. Barueri: Manole; 2007. p. 315-321

JARDIM, Tamyris da Silva. et al. (2019). Principais fatores relacionados à impossibilidade


de amamentação em Puérperas assistidas no Isea. Brazilian Journal of Health Review. 2.
5024-5046. 10.34119/bjhrv2n6-013

VILLAÇA, Leda Maria de Souza. et al. A importância do aleitamento materno para o binômio
mãe filho disponibilizado pelo banco de leite humano. Rev. Saúde AJES, v. 1, n. 2, p. 1-19,
abr. 2015.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFLETINDO SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL


Katia Regina Paduano Zanona1

RESUMO: Esse artigo apresenta estudos sobre os principais aspectos da Educação Infantil. Com
ele, esperamos levar os educadores dessa fase escolar a uma reflexão sobre as práticas escolares
utilizadas. A aprendizagem torna-se fácil e divertida e leva a criança a gostar de estar no espaço
escolar, interagindo com as outras crianças. A metodologia baseia-se nas referências
bibliográficas de autores como: Miranda (2001); Oliveira (2002) e Dewey (1976), entre outros que
foram alicerce para essa pesquisa se tornar possível.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Metodologias; Histórico da Educação Infantil.

1
Professora de Ensino Fundamental na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFLECTING ON CHILD EDUCATION


ABSTRACT: This article presents studies on the main aspects of Early Childhood Education. With
it, we hope to lead educators of this school phase to a reflection on the school practices used.
Learning becomes easy and fun and makes the child enjoy being in the school space, interacting
with other children. The methodology is based on bibliographic references from authors such as:
Miranda (2001); Oliveira (2002) and Dewey (1976), among others who were the foundation for
this research to become possible.

Keywords: Early Childhood Education; methodologies; History of Early Childhood Education.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO democráticas de Rousseau (1973). O que este


propusera em nível teórico, ou seja,
O objetivo desse artigo é compreender a desenvolvimento físico, mental e moral da
Educação Infantil e enfatizar a importância dos criança, Pestalozzi (2010), aplicou na prática,
primeiros anos de escolaridade das crianças na acrescentando ainda que essas ideias eram
Educação Pré- Escolar e o trabalho com os para todas as crianças, por mais pobres que
cantinhos lúdicos que serão responsáveis em elas fossem, porque pensava em mudar a
despertar a criatividade nas crianças. condição de miséria do povo alemão por meio
A temática partiu da necessidade de da educação.
compreender que a Educação Infantil é a base Ele criou escolas na zona rural, que
da escolaridade da criança no âmbito escolar, e pretendiam ensinar pelo trabalho,
a importância do lúdico de forma divertida e proporcionando a oportunidade do aluno
diferenciada nos espaços da sala de aula. aprender uma profissão. Pestalozzi (2010),
Assim, é preciso refletir sobre como trabalhar enfatizou esse pensamento e ao mesmo tempo
as metodologias na Educação Infantil, com os acreditou que era preciso aprimorar o lado
espaços otimizados em sala de aula, de modo intelectual e artesanal e dar importância à ética
que as aulas não sejam cansativas e repetitivas. religiosa, opondo-se ao ensin verbalista da
época.
REFLETINDO SOBRE A A ação passa a ser o fundamento de seu
método e significa, para ele a observação,
EDUCAÇÃO INFANTIL investigação, coleta de material e
Rousseau (1973), realizou uma verdadeira experimentação. Pestalozzi (2010), escreveu
revolução copernicana na educação, cujo um livro para os pais, Leonardo e Gertrudes, no
centro de interesses passou do mestre para a qual mostra como Gertrudes educava os filhos,
criança, mas o que mais surpreende é que ensinando-lhes artes domésticas, industriais,
Rousseau atingiu a ideia de que a infância pode leitura, escrita e cálculo. Introduziu grandes
ser útil porque é natural, e que o inovações no campo da didática, como o uso do
desenvolvimento mental pode ser constante, lápis, lousas individuais, letras do alfabeto em
por meio da intuição, e não por experiências cartões, excursões de observação e coleta de
científicas. Além disso, ele percebeu que as material e instrução simultânea em classe.
crianças têm capacidades diferentes em cada Frederick Eby (1976), condensou assim os
idade, maneiras de ver, de pensar e de sentir princípios educacionais de Pestalozzi:
que lhes são próprias. As ideias de etapas de 1) Psicologizou a educação, tentando
desenvolvimento intelectual e moral, de fundamentá-la na transmissão de ideias e
interesse e de atividade, podem ser pesquisou as leis fundamentais do
encontradas em sua importante obra Emílio. desenvolvimento. O desenvolvimento, dizia
Pestalozzi (1746 - 1827), foi um educador ele, é uma aquisição gradativa e lenta de
que teve grande influência na pedagogia poder;
moderna, pois ele se entusiasmou com as
ideias humanitárias, filantrópicas e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

2) Tinha uma fé muito grande na educação No tocante à educação infantil, expressava


como supremo meio de aperfeiçoamento a ideia de que a única preparação possível para
individual; o desenvolvimento da meninice era o
3) Seu conceito de disciplina era baseado desenvolvimento completo dos poderes da
na boa vontade recíproca e na cooperação infância. E, estes, por sua vez, preparavam o
entre professor e aluno e caminho da juventude e da virilidade.
4) Preocupou-se com a formação de Há uma força criadora impulsionando todo o
professores e com o estudo da educação como desenvolvimento infantil, pois a infância não é
ciência. uma fase sem importância na vida pelo
Friedrich Froebel (1782-1852), foi outro processo de evolução, suas atividades tornam-
grande educador que era admirado por muitos se cada vez mais diferenciadas. Froebel (2001),
e foi criticado por outros, que condenavam percebeu que o jogo era uma atividade capaz
suas ideias avançadas para a época, tendo sido de desenvolver a espontaneidade das crianças
considerado revolucionário. Influenciado por e a manifestação da atividade criadora e
Pestalozzi (2010), com quem trabalhou nas produtiva.
escolas de Burgdorf e Yverdum, Froebel (2001), Ele preocupou-se muito com a preparação
formulou seu próprio método. dos professores — as jardineiras — e conseguiu
Ele é considerado o criador dos jardins-de- difundir o seu método pela Alemanha e pela
infância (Kindergarten), e de início chamou-os França. Após a sua morte, suas discípulas
de "viveiros infantis" pois, Pestalozzi (2010), propagaram suas ideias e os jardins-de-infância
considerava as crianças plantinhas tenras que se espalharam pelo mundo todo. Seu método é
deveriam ser cuidadas com carinho. A utilizado até hoje, tanto na pré-escola quanto
finalidade principal dos jardins era colocar as no 1º grau, a auto-expressão, o jogo, a
crianças em estreito contato com a natureza. educação física e a dramatização são também
Ele reconhecia o poder do professor, mas componentes do método froebeliano.
enfatizava o fato do aluno ser o principal Johnann Friedricil Herbart (1776-1841), é o
agente de seu próprio desenvolvimento. E, em criador do método chamado dos passos
seu livro A educação do homem, Froebel formais. Ele era alemão e contemporâneo de
(2001), afirma que a educação era vista como Froebel (2001), tendo também sofrido a
um processo no qual o aluno desenvolvia sua influência de Pestalozzi (2010). Ao contrário de
condiçãoo humana, sua autoconsciência, e Froebel, que enfatizava as características
tudo funcionava de forma completa e inatas do indivíduo, Herbart (2003), atribuía
harmoniosa, e dessa forma a humanidade se papel importante às influências externas, tanto
desenvolveu não ficando no patamar do do meio ambiente, quanto das pessoas. Para
mundo animal. ele a percepção sensorial podia ser convertida
Ele afirmava que o indivíduo é uma unidade em ideias por meio do "processo aperceptivo".
quando considerado em si mesmo, porém faz A assimilação de ideias dá-se por meio de
parte de um todo maior quando considerado experiências novas relacionadas com as ideias
em relação aos outros. que o indivíduo já adquiriu. Criou a teoria da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educação e o interesse, mas seu conceito de progressivas e, por fim, aplicação dos
interesse é diferente do de Dewey e Claparède, conhecimentos em situações práticas.
pensadores que também se basearam neste Outro nome importante para a educação é
conceito. Para Herbart (2003), o interesse está Maria Montessori (1870-1952), Médica-
no plano das ideias que entram em associação psiquiatra italiana, tratava de início de crianças
umas com as outras. anormais, para quem criou um método, depois
No século XVII, Comenius (1592-1670), estendido também às crianças normais.
educador checo, salientou a importância da Foi a primeira educadora da pré-escola
educação infantil formal e preconizou a criação moderna, criadora da casa “dei bambini” ou
de escolas maternais por toda parte. As casa das crianças, que era um estabelecimento
crianças teriam assim a oportunidade, desde os de educação pré-escolar para as camadas mais
primeiros anos, de adquirir noções baixas da população, anexas a um conjunto
elementares de todas as ciências que habitacional de uma empresa de construção,
estudariam mais tarde. (OLIVEIRA, 2002). na Itália.
"Saindo de minhas mãos, ele não será nem A primeira casa surgiu em 1907, depois
magistrado, nem soldado, nem padre, será muitas outras surgiram na Itália. Montessori
primeiramente homem". (ROUSSEAU, 1973, p. (2006), foi uma das representantes européias
15). do movimento da Escola Nova (escolanovismo,
Cabe ressaltar, que durante muito tempo a movimento de renovação educacional que
educação da criança foi considerada de teve início no século XIX e chegou até os nossos
responsabilidade exclusiva das famílias ou do dias). Ela preocupou-se muito com a saúde
grupo social ao qual ela pertencia. mental das crianças, procurando oferecer-lhes
Pelo fato de atribuir papel importante às um ambiente apropriado e respeitando sua
influências externas, Herbart (2003), destaca liberdade de ação. Criou móveis e utensílios de
o papel do professor e do método, e tamanho proporcional ao da criança, aboliu as
principalmente da forma de apresentação, carteiras tradicionais, introduzindo mesinhas
para que a matéria seja assimilada e retida. individuais leves que a própria criança podia
Sua didática, considerada de natureza deslocar.
psicológica, é uma das expressões mais Ela criou um material pedagógico vasto e
completas do associacionismo. Ele descreve atraente, destinado a desenvolver, passo a
minuciosamente os "passos”' da aprendizagem passo, as funções sensoriais e a aprendizagem
com o intuito de "mecanizar a educação". da leitura, da escrita e do cálculo. Esse material
Seu sistema de instrução educativa segue os consiste em sólidos de diversas formas e
seguintes passos: clareza na apresentação dos tamanhos, ou seja, caixas para abrir e fechar,
elementos sensíveis de cada assunto, encaixar, botões para abotoar e desabotoar,
associações desses elementos, ou seja, série de cores e tamanhos, formas e
relacionamentos desses elementos com outros espessuras.
já conhecidos, sistematização dos mesmos em Nos primeiros anos de vida a criança
conceitos por meio das generalizações aprende mais pelas ações do que pelas

1132
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

palavras, por isso, são recomendadas leis que regem o desenvolvimento mental
atividades da vida prática, como lavar roupa, infantil. O respeito à liberdade também é uma
louça, varrer, tirar pó etc. A cooperação é característica da pedagogia de Decroly (2010).
estimulada, mas o método é individualizante. As aulas diárias não seguem um roteiro
As fases de desenvolvimento, Montessori prefixado, atendendo sempre aos interesses
chamou de "períodos sensitivos" ou dos educandos. Não há material fabricado
"sensíveis". especialmente para as aulas, são usados
Esse método propagou-se na Europa e na materiais naturais, como pedras, pedaços de
América, sendo ainda hoje usado em muitas madeira, palha, argila, areia, lã etc.
escolas, principalmente nas religiosas, devido à John Dewey (1859-1952), foi uma grande
ênfase na educação da vontade e do figura americana de educador da Escola Nova,
autocontrole. O material montessoriano é porque suas ideias sobre atividade, interesse,
caro, o que acabou restringindo o método às reconstrução da experiência, reflexão, solução
escolas de elite. de problemas e, principalmente, de interação
Um dos principais representantes do social e cooperação permeiam a educação pré-
escolanovismo europeu foi Ovide Decroly escolar até os nossos dias.
(1871-1932), médico-psiquiatra belga. Para ele Seu maior objetivo era preparar as crianças
a frase: "A escola pela vida e para a vida" para a vida, vida essa que cada vez mais reflete
sintetiza suas concepções pedagógicas. as rápidas transformações de um mundo em
Esses conhecimentos Decroly (2010), constante mudança. Na esteira do
organizou em "centros de interesse", pragmatismo característico dos norte-
relacionados à alimentação, luta contra as americanos, o método pragmático de John
intempéries e os perigos, necessidade de Dewey (1976), adquire a forma de
solidariedade no trabalho em conjunto. Por instrumentalismo, ao atribuir um valor
meio dos "centros de interesse", as crianças funcional ao conhecimento e ao pensamento,
vão relacionando os antigos conhecimentos para resolver as situações problemáticas da
com os novos e expressando-os por meio da vida.
linguagem, do desenho, da modelagem, da Para Dewey (1976), a educação não tem
dramatização, sempre conduzidos pelo significado fora de um contexto social
interesse, e, partindo das necessidades da democrático, em que as crianças tenham
criança, Decroly (2010), estruturou um ensino oportunidades de atividades conjuntas e em
globalizador que excluía as matérias que elas sejam donas de suas capacidades.
tradicionais. Jean Piaget (1896.1980), ex-aluno de
Como Froebel (2001), ele também Claparède, foi seu substituto como diretor do
considerou o jogo fundamental ao laboratório de Psicologia Experimental da
desenvolvimento infantil, uma preparação Universidade de Genebra e, em 1932, assumiu
para a vida, por desenvolver a iniciativa e a a direção do Instituto Jean-Jacques Rousseau.
reflexão, além de despertar o interesse nas Piaget (1971), dedicou-se ao estudo das
atividades propostas. Seu método atende às origens do conhecimento humano, um ramo

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da filosofia denominado Epistemologia desenhos, de modelagem e de narrativas.


Genética. Em 1927 fez estudos sobre o Entretanto, ela ainda tem dificuldade de
desenvolvimento dos processos cognitivos da comunicação com os outros, devido ao
criança e para chegar à gênese do egocentrismo próprio dessa idade. O
conhecimento, ele investigou o pensamento intuitivo vai evoluindo, daí, para
desenvolvimento da inteligência e acabou um novo estágio;
criando uma teoria do desenvolvimento 3) Das operações concretas (de ± 7 a ± 11
intelectual. anos), neste estágio a criança é capaz de fazer
Na mesma linha de Claparède (1961), Piaget operações de classificação e seriação,
(1971), coloca o conceito de atividade como entretanto, ainda se prende muito aos objetas,
centro da interpretação da vida mental. A ao concreto e
atividade desempenha um papel importante 4) Das operações formais. Só neste estágio,
no processo de adaptação, pois a vida é um depois dos 11 anos, é que ela será capaz de
processo adaptativo incessante. Para ele, o raciocinar sobre ideias e hipóteses que não se
desenvolvimento é um processo progressivo e apóiam necessariamente no concreto.
contínuo e consiste na passagem de um estágio A teoria de Piaget (1971), é de extrema
de menor equilíbrio para outro de equilíbrio importância para a educação pré-escolar, pois
mais aperfeiçoado. O indivíduo está em nos faz compreender a grande influência que a
constante interação com o meio que o cerca, e interação entre o indivíduo e o meio exerce
o resultado da interação entre as atividades do sobre o desenvolvimento mental da criança. É
indivíduo e as ações do meio ambiente é o que evidente a necessidade de um ambiente
ele chamou de equilibração. estimulador, que favoreça esse
Piaget (1971), descreve o desenvolvimento desenvolvimento e, portanto, a sua
humano em termos de etapas ou estágios que aprendizagem futura.
se sucedem em ordem constante, embora cada A pré-escola, mais do que nenhum outro
pessoa tenha o seu tempo próprio de segmento educacional, tem a possibilidade de
desenvolvimento. Esses estágios são: oferecer essas condições de desenvolvimento,
1) Sensorimotor (de O a ± 2 anos), quando proporcionando um ambiente rico em
a criança conhece o mundo por meio dos estímulos e permitindo que a criança o explore
sentidos, das ações e dos movimentos; à vontade e exercite as suas capacidades de
2) Pré-operatório (de ± 2 a ± 7 anos), em assimilação e acomodação — eis a finalidade
que ela, após adquirir a capacidade de falar, básica da pré-escola.
também adquire a capacidade de pensar, seu Célestin Freinet (1896-1966), foi um dos
pensamento tem, aqui, duas fases principais: a grandes educadores deste século. Ao contrário
dos simbolismos (pensamento simbólico) e a dos anteriores, que eram quase todos filósofos,
do pensamento intuitivo. A criança é, ainda, psicólogos ou médicos, Freinet era professor
pré-lógica e muito dependente de situações primário e como tal sentia intuitivamente que
concretas. Na fase do simbolismo, ela já é a educação não poderia continuar como era no
capaz de reproduzir suas ações por meio de

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início do século. Sabia que devia mudar, mas mesmo a não gostar dos estudos, detestando a
não sabia em que direção. escola.
Quando a criança já consegue desenhar, Para Wiggers:
coloca formas geométricas, figuras humanas ...resultado de um processo histórico e social
ou árvores justapostas em grupos. Sob os marcado pelos conflitos, rupturas e
desenhos, ela faz rabiscos que, para ela, contradições, o que o impulsiona em direção a
significam a história dos desenhos. Aos poucos novas e renovadas formas de compreensão e
a escrita se liberta do desenho, primeiramente conceitualização. O currículo é visto, pois,
com a assinatura do nome e, depois, como artefato social e cultural que se vincula
complementando o desenho. Aos 5 anos a aos contextos sociais, econômicos, culturais e
criança é capaz de separar o desenho da políticos de uma sociedade, centrado numa
escrita e interessar-se mais por esta. epistemologia social do conhecimento escolar,
Aos 6 anos copia bem um grande número de preocupada com os determinantes sociais e
palavras e começa a relacionar os grafismos políticos do conhecimento educacional
com os significados. Depois a criança começa a organizado (WIGGERS, 2007, p. 39).
escrever conscientemente. É, portanto, um São formas de violência que,
processo gradativo. Freinet critica a escola que inconscientemente, o professor comete, como
com as técnicas de alfabetização estabelece por exemplo, ao negar a oportunidade à
regras que se opõem ao desenvolvimento criança de fazer uma tarefa a seu modo;
normal, prejudicando-o. Atualmente, Emília experimentar um brinquedo fora do horário
Ferreiro (1987), retoma esse conceito das fases programado; falar sobre um problema que a
da escrita a partir do desenho e cria uma nova está preocupando e assim por diante. Para nós,
metodologia para a alfabetização, iniciando a adultos, estes fatos podem parecer
pré-leitura já na pré-escola. insignificantes, porém, para uma criança
Nas décadas de 80 e 90 houve muitos pequena, eles chegam a atingir as proporções
avanços na área da Educação Infantil: de uma tragédia.
promulgação da Constituição Federal de 1988, Se, por outro lado, a orientação escolhida é
que determinou que “50% da aplicação a desenvolvimentista, o professor terá um
obrigatória de recursos em educação fosse objetivo bem mais amplo: desenvolver
destinado a programa de alfabetização” integralmente o educando, ou seja, procurará
(OLIVEIRA, 2002, p 116); promulgação do desenvolver todas as capacidades da criança,
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, tanto no sentido físico, como intelectual, social
1990) e aprovação da nova Lei de Diretrizes e e emocional. O físico se desenvolve por meio
Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº da ginástica (coordenação motora ampla) e de
9.394/96). boa alimentação, sono e repouso. As
Devido ao despreparo de muitos habilidades mentais, por sua vez,
professores, algumas crianças carregam, por desenvolvem-se por meio de jogos e
toda a vida escolar, erros difíceis de superar, brincadeiras em que a criança exercita a sua
têm problemas emocionais sérios e chegam criatividade e capacidade de pensar, de

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raciocinar sobre problemas simples, como, por progressos pedagógicos das crianças são mais
exemplo: a flutuação dos corpos na água (física notáveis.
elementar), a germinação de sementes, o Mialaret & Vial apud Kishimoto (1993)
crescimento das plantas (botânica a nível de pergunta: "De onde vem o erro? Da educação
pré-escola); a criação e observação de pré-escolar, que tem objetivos inaceitáveis
pequenos animais, como pássaros, peixes, pela escola de 1º grau, ou desta escola que
coelhos, cobaias, tartarugas etc. (zoologia para ainda não foi suficientemente transformada e
iniciantes). rejuvenescida pela pedagogia?" Na opinião
Outra conclusão interessante é que há uma dele e na nossa também, o problema da
guerra de especialistas que reivindicam a educação pré-escolar é inseparável do 1º grau,
educação pré-escolar para o seu campo de pois devem ser estabelecidas várias ligações
ação em nível central: o Ministério da Saúde entre as duas, para que a escola de 1º grau tire
disputa com o da Educação e este luta contra o proveito das capacidades que já foram
dos Assuntos Sociais. Em se tratando da desenvolvidas na pré-escola, superando a falta
prática, é o médico, o psicólogo, o psicanalista de coordenação que existe entre as duas, como
ou o assistente social que reclamam o direito foi observado na pesquisa em nível mundial e
de dirigir a equipe de atendimento ao pré- como já tivemos oportunidade de comprovar
escolar. no Brasil.
A educadora, diz Mialaret & Vial apud Para focalizar as finalidades, os objetivos e
Kishimoto (1993), infelizmente é a que tem, as tendências da educação pré-escolar,
dentre os especialistas, a menor formação baseamo-nos num texto de Constance Kamii
especializada e aparece como aplicadora das (2012), que trata de avaliação da aprendizagem
indicações e dos conselhos dos outros nesse nível educacional. Para poder falar em
especialistas. Segundo esse autor, cabe aos avaliação, a autora descreve primeiramente o
educadores o papel fundamental de desenvolvimento sócio-emocional e cognitivo
coordenação de uma equipe de especialistas. do pré-escolar.
Entretanto, é preciso que o educador tenha Kamii (2012), resume os objetivos gerais da
uma boa formação para que seja capaz não só pré-escola como sendo:
de coordenar a ação educativa mas também de
traduzir as informações obtidas de cada 1. Entre os objetivos sócio-emocionais
membro da equipe. encontram-se o desenvolvimento de condutas
Aqui, Mialaret & Vial apud Kishimoto (1993), relativas ao professor, aos colegas e às tarefas
levanta uma questão debatida sempre: a escolares. Em relação ao professor, temos a
preparação dos educadores é ponto-chave identificação com o professor, ou seja, o
para o sucesso da educação pré-escolar. Como estímulo ao bom trabalho com o mestre:
essa educação ainda não tem programas também o chamado controle interno deve ser
definidos, ela se torna uma experiência considerado, isto é, o comportamento de
pedagógica excitante para os inovadores, pois acordo com as regras socialmente aceitas,
este é um nível em que as transformações e os

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como a obediência à autoridade, mesmo sem existentes tanto entre os objetos como entre
ameaças, ou quando ausente. as pessoas.
No que diz respeito às tarefas escolares, 5. Os objetivos relativos à linguagem são
podemos citar o bem-estar na escola, a feitos por meio da chamada representação e
motivação para a realização de tarefas incluem o desenvolvimento da representação
escolares e de atividades, a curiosidade para a mental infantil em nível de símbolo para dar
busca de novos conhecimentos e a criatividade sentido à linguagem. Assim, imitação,
ao procurar novas respostas para um mesmo simulação, onomatopéias, modelos
problema. tridimensionais (maquetes) e bidimensionais
2. Os objetivos perceptomotores (desenhos) são meios que permitem
consistem em coordenação motora global ou desenvolver esses objetivos que estão
ampla (grossa), que os grandes movimentos intimamente ligados à linguagem. Por meio
das partes maiores do corpo são estimulados, deles, a criança desenvolve a sua capacidade
como por exemplo, caminhar sobre troncos, de comunicação, aumentando cada vez mais o
saltar, atirar bola, correr etc.; e na coordenação seu vocabulário.
motora seletiva, também chamada fina, que é Estes objetivos, em seu conjunto, podem ser
a coordenação olho-mão — como, por encarados de várias maneiras e receber ênfase
exemplo, cortar papel em tiras, traçar uma diversa, de acordo com diferentes orientações
linha entre duas paralelas, fazer dobraduras, pedagógicas. Os objetivos, em cada tendência
amassar papel em bolinhas fazer exercícios de da educação infantil, são os seguintes:
caligrafia etc. Escola Maternal Tradicional: Sua principal
3. Os objetos cognitivos se referem finalidade é promover o ajustamento da
a conhecimento físico, conhecimento social, criança ao meio escolar. Entre os objetivos
conhecimento lógico conhecimento lógico e propostos destaca-se o desenvolvimento
representações: O conhecimento físico emocional e perceptomotor, além da interação
compreende a natureza, o material social. Os trabalhos escolares se desenvolvem
constituinte dos objetos e suas propriedades sem obedecer a programações rígidas. O
físicas. A manipulação dos mesmos dá a currículo se compõe, sobretudo, de atividades
oportunidade para que a criança estruture o relativas ao conhecimento de plantas, canto,
conhecimento dessas propriedades físicas e estórias, labirintos, noções de tamanho, forma,
das diferentes maneiras de agir sobre eles. cor. É conveniente notar que tais atividades
4. O conhecimento social se refere ao não são orientadas para o desenvolvimento
conhecimento das regras relativas ao cognitivo. A socialização é focalizada mais no
comportamento da crinça, como por exemplo sentido de promover um comportamento
as normas escolares, bons hábitos, etc., e socialmente aceito do que do autocontrole. A
também abrange as informações sociais, como interação com adultos e outras crianças é
as formas de trabalho. Por conhecimento considerada de máxima importância e o bem-
lógico entende-se o conhecimento estar na escola, a curiosidade e a criatividade
matemático, que estabelece as relaçõs são acentuados. Os objetivos cognitivos

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relativos à curiosidade e à criatividade são emocionais, perceptomotores, cognitivos e a


incluídos entre os objetivos sócio-emocionais. linguagem correspondente a eles. Por meio
Pré-Escola De Orientação Cognitivista: desses objetivos, a escola desenvolvimentista
Também pode ser chamada de preparatória ou visa proporcionar o desenvolvimento integral
propedêutica. Os programas direcionados a do educando, por meio de atividades com
esse tipo de pré-escola surgiram com a material concreto, constituído por coisas que
finalidade de oferecer educação pré-escolar normalmente cercam a criança, exercícios de
sobretudo às crianças de nível sócio- coordenação motora ampla e restrita, ou fina,
econômico mais baixo, para facilitar o seu comparações, classificações e seriações.
ingresso na escola de 1º grau. Segundo Miranda:
De acordo com essa tendência, a principal Piaget foi um dos pesquisadores que mais
finalidade da educação pré-escolar é a de destacou o jogo como elemento coadjuvante
instruir com vistas a um preparo para o grau no processo evolutivo da criança e a
imediatamente superior. Ela é, portanto, capacidade socializadora que este possui.”
encarada como um meio de interferir na futura Para Piaget ao brincar a criança externa traços
realização acadêmica do educando, de sua aprendizagem através da interação com
prevenindo e mesmo evitando fracassos e, por atividade que está sendo desenvolvida.
conseqüência, a evasão escolar. (MIRANDA, 2001, p. 34).
O desdobramento dessa tendência resultou Da mesma forma, devem ser encaradas as
na educação compensatória, especialmente operações que envolvem os conhecimentos
criada para crianças marginalizadas espaço-temporais e as representações, bem
economica, social e culturalmente. As como atividades que propiciem o
atividades consistem, sobretudo, em tarefas desenvolvimento cognitivo. É dada ênfase à
previstas para desenvolver os conceitos interação com adultos e outras crianças.
considerados básicos para a aprendizagem Segundo essa orientação, cabe ao educador
futura, estimular a percepção e, organizar as atividades que a criança será capaz
principalmente, a linguagem. Todas as de executar em cada etapa do seu
atividades são organizadas tendo em vista a desenvolvimento mental.
motivação para as tarefas didáticas, A criança pré-escolar, em geral, acha-se nos
desenvolvimento de atitudes favoráveis ao estágios sensorimotor e pré-operatório, que
trabalho escolar, em que as recompensas, o abrangem a faixa etária de zero a sete anos,
desenvolvimento do interesse nas atividades e mais ou menos, e que antecedem o estágio das
a identificação com modelos e protótipos de operações concretas. Assim, as atividades a
rendimentos são uma constante e a linguagem serem desenvolvidas durante os anos pré-
é muito enfatizada. escolares terão como finalidade proporcionar
A Pré,Escola Piagetiana ou oportunidades para que a criança atinja o
desenvolvimentista: Baseada na teoria de Jean estágio operatório concreto.
Piaget, adota um currículo que abrange todos Essas atividades deverão, portanto,
os objetivos propostos para a pré-escola: sócio- proporcionar ajuda quanto à aquisição de

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certas atitudes prévias que serão básicas para seus ancestrais; e a corrente progressivista,
as futuras operações mentais, mas sem que se baseia nas conceituações de Dewey
imposição por parte dos docentes, pois o (1976), e Piaget (1971)" .
professor procurará também desenvolver a Em resumo, não existe uma só pré-escola,
criatividade e a inventividade, sempre em existem pelo menos, três tipos diferentes, e
interação com outros colegas e com outros para entendê-los é necessário investigar a linha
adultos. educacional ou a filosofia de educação que
A Diversidade das Ideias Pedagógicas: A conduz o ensino em cada uma dessas pré-
diversidade de propostas para a educação pré- escolas. Essa orientação filosófica, por sua vez,
escolar corresponde à diversidade das ideias depende do regime político que vigora no país
pedagógicas em geral. É assim que essas três ou no grupo social em que a escola se insere. O
tendências destacadas por Kamii também tipo de pessoa que se quer formar para uma
foram notadas por Piaget ao referir-se as atuais determinada sociedade irá condicionar o tipo
linhas de pesquisa do desenvolvimento da de educação que ela receberá.
inteligência: "São três direções: o Podemos distinguir claramente três
associacionismo empirista, que reduziria todo orientações principais e iremos encontrar
o conhecimento a uma aquisição exógena, a seguramente pré-escolas baseadas na mistura
partir da experiência ou das exposições verbais das três, o que nem sempre resulta numa ação
e audiovisuais dirigidas pelo adulto; o inatismo, pedagógica verdadeira.
que reduziria a educação ao exercício de uma Orientação Tradicional: a primeira, que
razão pré-formada de início; e o chamaremos de orientação tradicional, é
desenvolvimentismo, de natureza aquela que tem como objetivo o mesmo das
construtivista e interacionista, que admite o primeiras escolas infantis que surgiram para
desenvolvimento a partir de contínuas dar abrigo e segurança à criança, livrando-a dos
ultrapassagens das elaborações sucessivas que perigos da rua; alimentando-a e cuidando de
o indivíduo faz em interação com o meio". seu bem-estar por meio de brinquedos e jogos,
No domínio da educação geral, Kolberg canto e dança, procurando ser ao mesmo
(1992) e Meyer (2011), em seu trabalho tempo como que um prolongamento do lar
Development as the Aim of Education (O para que ela não sinta muito a mudança de
desenvolvimento como objetivo da educação), ambiente. Até a professora recebe o nome de
também detectaram três tendências, que "tia" para não parecer uma estranha.
apresentam como correntes ou ideologias Esta pré-escola, como o nome indica, é
educacionais: "a corrente romântica, que se encontrada em sociedades tradicionais e
baseia nos princípios do inatismo e do conservadoras, que não aceitam grandes
maturacionismo, a corrente da transmissão mudanças. Não há empenho algum em
cultural, enraizada na tradição clássica ensinar, mas sim apenas em proporcionar
acadêmica da educação ocidental, em que a recreação e guarda. Algumas pré-escolas desse
tarefa precípua dos educadores é a tipo são meros estacionamentos de crianças.
transmissão à geração presente da cultura de

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Orientação Preparatória Ou Propedêutica: tarefas que lhe são propostas, as que mais lhe
Uma orientação completamente oposta à interessem, sendo permitido que ela busque
tradicional é a pré-escola como um meio de várias formas de executá-las. Dá-se margem,
adiantar os ensinamentos que o aluno irá assim, à criatividade e ao espírito de pesquisa e
receber na 1ª série do 1º grau, fazendo com invenção, sem a imposição de um treinamento
que ele "não perca tempo" e procurando, além mecânico ou a preocupação única de prepará-
disso, prepará-lo de tal forma que se evitem as la para o ingresso na escola de 1º grau.
reprovações futuras ou mesmo o abandono Desta forma, procura-se desenvolver o
dos estudos. educando integralmente e em todos os
Este tipo consiste num treinamento muitas sentidos, inclusive nas habilidades necessárias
vezes severo, com testes objetivos à escolarização. Por esse motivo é denominada
semelhantes aos dos cursinhos de vestibular, orientação desenvolvimentista. Estaremos
só que com gravuras, com tarefas de casa, formando indivíduos criativos, inventivos,
cadernos de deveres de classe para leitura, autoconfiantes, para uma sociedade
escrita, cálculo e até religião; e provas, democrática, em que a
esquecendo que a criança ainda se encontra na liberdade de escolha é a ênfase. Essa
fase da infância, em que o brincar deve ser a liberdade, porém, é desenvolvida ao mesmo
sua principal ocupação, além de executar tempo que a responsabilidade e o próprio
atividades que lhe agradem e interessem. aluno deverá saber controlar seus impulsos
Essa é a orientação que chamamos de para poder conviver, brincar e trabalhar
preparatória ou propedêutica, baseada na sempre em interação com os outros colegas. É
teoria psicológica de modificação de por esse motivo que também se dá o nome de
comportamento e de aprendizagem pelo interacionista a esse tipo de pré-escola.
treinamento repetido. É autoritária, Os estudos feitos revelam que houve uma
transformando-se mesmo num transformação das finalidades e objetivos da
condicionamento visando formar pessoas pré-escola, transformação essa que reflete não
capazes de executar as tarefas que lhes são só às filosofias de educação como as mudanças
indicadas. Neste tipo de orientação, adequada sociais pelas quais passamos. A revisão das
a regimes autoritários, procura-se formar contribuições de médicos, educadores,
cidadãos sempre prontos a obedecer com psicólogos e filósofos que voltaram sua
perfeição às ordens emitidas pelos superiores. atenção para a educação de crianças em idade
Orientação Desenvoivimentista ou pré-escolar, que compõe a primeira parte
Interacionista: Uma terceira orientação, deste nosso trabalho, mostra a ocorrência de
chamada desenvolvimentista ou interacionista, um processo evolutivo que sofreram tanto as
baseada na psicologia genética de Jean Piaget, instituições como as orientações relativas à
dá liberdade ao educando para que ele interaja educação pré-escolar e que repete as
da forma que escolher com o ambiente físico e modificações que sofreram as tendências da
social que o cerca. A criança deve explorar ao educação em geral.
máximo o meio e pode escolher dentre várias

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Verifica-se que as próprias crianças gostam As habilidades e capacidades para viver em


de conviver com outras crianças de mesma sociedade devem estar sempre sendo
idade, em vez de ficarem isoladas em casa, desenvolvidas porque, nesse tipo de pré-
apenas interagindo com adultos. Surgiu então escola, pratica-se também o interacionismo, ou
a necessidade de se criarem locais agradáveis seja, acredita-se que o indivíduo só pode se
que abrigassem essas crianças e que desenvolver bem em interação com o meio
oferecessem um ambiente semelhante ao seu ambiente e com os outros indivíduos. Por esse
lar, além de proporcionar a oportunidade de motivo, as atividades programadas devem
convívio social e de recreação. sempre ser feitas em grupos, pequenos ou
Esse tipo de escola foi evoluindo, como já grandes, conforme a situação e sempre sob a
explicamos, e cada vez mais se aperfeiçoando forma de jogos e brincadeiras que atendam os
no sentido de poder desenvolver interesses das crianças.
integralmente os educandos. Embora eles já Quer dizer, elas aprendem brincando,
tragam o "currículo oculto" de seus lares, a divertindo-se, como é próprio da sua idade.
criatividade, a invenção, a socialização, a Nas habilidades necessárias à escrita e à leitura
cooperação com os colegas, o espírito de também são desenvolvidas a coordenação
equipe, por meio dos trabalhos em grupo, são motora fina, a atenção, a discriminação de
capacidades e atividades que muito sons, de imagens, a noção de lateralidade etc.,
dificilmente poderiam ser desenvolvidas no porém a técnica utilizada não é a do papel e
próprio lar. lápis, mas a de trabalhos manuais, de
Para isso, seria necessário que cada criança construção com material de sucata, como jogos
tivesse à sua disposição um adulto, por utilizando cores, formas, tamanhos, localização
algumas horas e diariamente, que lhe dos objetos de um lado, do outro, em cima,
proporcionasse todas as oportunidades que embaixo etc.
uma boa pré-escola pode oferecer. Apesar dos A criatividade e a invenção têm papel
dados pessimistas que apresentamos sobre o destacado nessa linha de trabalho. Os alunos
atendimento pré-escolar brasileiro, deveremos são estimulados a fazer projetos, inventar e
estabelecer metas a curto, médio e longo construir coisas, manipular os mais variados
prazo, para que possamos, dentro de alguns objetos e materiais, desenhar livremente sem
anos, chegar a oferecer educação pré-escolar modelos determinados, inventar histórias,
para a maioria de nossas crianças de zero a seis contá-las com suas próprias palavras e, depois,
anos. representá-las dramaticamente em grupo,
Acreditamos ter deixado claro que a cantar e dançar espontânea e livremente
"igualdade de oportunidades educacionais Dentre os instrumentos de avaliação das
para todos, sem distinção de classe social, raça atividades de pré-escola, as mais eficientes são
ou religião", deve ser oferecida nesse nível tão a observação, as entrevistas e os questionários,
propício ao desenvolvimento do ser humano. além dos estudos de caso. A observação
Fica, assim, comprovada a sua validade e constante do comportamento das crianças em
legitimidade. classe é indispensável para a detecção de

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problemas, tanto de saúde, como emocionais e o seu bem-estar na escola; mas é,


ou de relacionamento social e de principalmente, em situações de emergência
aprendizagem. Os questionários enviados aos que ela se revela, muito eficiente.
pais e as entrevistas feitas com eles, O estudo de caso deve ser feito com crianças
geralmente no início do ano letivo ou quando que apresentem problemas mais graves e que
surge um problema mais grave, completam a precisem de um estudo mais detalhado, cujo
avaliação. acompanhamento exige, às vezes, atenção,
As entrevistas ou os questionários contêm seja de ordem médica, psicológica ou
perguntas sobre os dados pessoais, como pedagógica.
nome, endereço, filiação da criança, grau de Deste modo, é conveniente insistirmos que,
escolaridade dos pais, número de irmãos, tipo ao conceber a rotina no contexto da Educação
de residência, nível salarial da família, e Infantil, devemos considerar a exploração de
principalmente dados referentes ao estado de habilidades e diferentes aspectos da criança,
saúde do aluno e ao seu comportamento e vida juntamente com a família, a creche pode se
no lar se a criança tem sono normal, se tem tornar um dos pilares fundamentais na
boa alimentação, se é introvertido ou formação do ser humano. Daí, portanto, a
extrovertido, se tem bom relacionamento com necessidade de um olhar diferenciado na
a família e com os estranhos. elaboração de uma rotina na Educação Infantil,
Outros dados importantes são os referentes um olhar que considere primordialmente a
às formas de recreação: férias, passeios de fins necessidade de sociabilização entre as
de semana, viagens, cinema, televisão, livros, crianças.
revistas; se fica muito tempo sozinho, onde e Ressignificar o papel da creche hoje é
com quem brinca. elaborar ações educativas que possibilitem a
Temos ainda a vacinação: as vacinas que ja construção de um ambiente voltado para
tomou e as respectivas datas; doenças infantis estimular a aprendizagem, para que as crianças
mais comuns que já teve; outras doenças; vivenciem situações permeadas pela
existência ou não de outras perturbações, tais descoberta, com prazer, alegria e carinho. E
como: desmaios, convulsões ou ausências. Se organizar o ambiente é pensar em formas de
toma algum medicamento com horário certo, utilizá-lo de modo que os pequenos possam
se há necessidade de cuidados especiais, como, adquirir independência, a partir de um espaço
por exemplo, os que se deve ter com crianças estimulante onde tenham inúmeras
que sofrem do coração ou que tenham asma ou possibilidades de ação, explorando,
epilepsia. descobrindo e solidificando a aprendizagem.
Todas essas informações colhidas pela
professora deverão ser passadas na ficha
individual de cada aluno. A ficha é um
elemento muito importante, para que a
professora tenha meios de auxiliar a criança
durante todo o curso, visando a aprendizagem

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com as mudanças que a creche vem passando, é necessário ter um novo olhar para o seu
dia-a-dia, o que significa considerar a rotina como peça fundamental para a construção desse
quebra-cabeça que é o desenvolvimento da criança.
A partir de uma rotina bem planejada é que os pequenos poderão construir sua identidade
e autonomia e desenvolver-se nos âmbitos motor, cognitivo, sensorial, social e afetivo por meio
da sequência de atividades de educar e cuidar, que mesclem o brincar, a linguagem oral e escrita,
a matemática, o movimento e as artes.
A educação na primeira infância envolve cuidados básicos necessários para a sobrevivência
humana. Nessa faixa etária, podemos identificar que os pequenos têm necessidades de
segurança, alimentação, higiene, colo, carinho e atenção. Assim, estar atento para as atividades
que precisam de cuidados é compartilhar desse universo infantil.
O cotidiano na Educação Infantil, especialmente nas creches, objeto de análise deste
trabalho, é estruturado em uma sequência espaço-temporal de atividades voltadas para o cuidar.
Como a criança pequena necessita de cuidados essenciais para seu desenvolvimento,
estritamente atrelados à manutenção de sua integridade física, podemos destacar que as
atividades básicas e rotineiras de higiene (como lavar as mãos, escovar os dentes, limpar-se
depois de eliminação de esfíncteres, vestir-se e pentear-se); de alimentação e outras atividades
como descansar, locomover-se, comunicar-se e consolar-se precisam da intervenção do adulto.
Quanto menos idade a criança tem, mais necessita de auxílio nas ações que integram esta
rotina da necessidade, imprescindível no processo de crescimento infantil. Dessa forma, a rotina
da necessidade, primária, está diretamente ligada ao ato de cuidar, que contempla várias ações
desenvolvidas no cotidiano da instituição, mas cuidar não é uma atividade simples. Ao contrário,
o cuidado infantil requer responsabilidade e compromisso contínuos do educador com a vida da
criança e seu desenvolvimento pleno, mediante atitudes que demandam respeito, aceitação,
ternura e principalmente dedicação com o ser humano.

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REFERÊNCIAS
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Deputados, coordenação Edições e Câmara, 2010.

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1146
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RELATO DE EXPERIÊNCIA DA RESIDÊNCIA


PEDAGÓGICA DE QUÍMICA NA ESCOLA DO
LICEU DO CONJUNTO CEARÁ DURANTE
TEMPOS DE PANDEMIA DO COVID-19
José Augusto Fernandes de Meneses1
Micheline Soares Costa Oliveira2
Regis Evaristo de Pinho3

RESUMO: Com o início da pandemia do COVID-19, instituições e escolas que ofereciam a


modalidade de curso presencial para os estudantes tiveram de migrar o ensino para o meio
remoto virtual, onde diversos estudantes encontraram dificuldades de ensino e aprendizagem
contudo, formação docente inicial é de suma importância para o desenvolvimento profissional
do licenciando. Nessa perspectiva, a CAPES lançou em 2011 o programa de residência
pedagógica, possibilitando aos estudantes formação inicial na educação, fazendo com que
estudantes do curso de licenciatura em química se habituassem a atuarem de forma presencial
nas escolas. O presente trabalho teve como objetivo analisar as contribuições do PIRP no
contexto de distanciamento social e ensino de forma de remota, no aperfeiçoamento da prática
docente dos licenciandos do subprojeto de Química da UECE. O método de pesquisa adotado foi
de forma qualitativa. Os dados foram coletados por meio de um formulário eletrônico disponível
na internet composto por nove perguntas. Oito participantes da escola campo EEM Liceu do

1 Estudante da Universidade Estadual do Ceará.


Graduação: Química
2 Professora Universidade Estadual do Ceará.

Graduação: Química
3Professor da Rede Estadual de Ensino do Ceará.

Graduação:Química

1147
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Conjunto Ceará responderam participaram da pesquisa. Entendeu-se que, apesar de não estarem
habituados ao ensino remoto, a residência pedagógica apresentou resultados significativos no
processo inicial de formação docente. A pesquisa demonstrou também algumas das dificuldades
dos residentes no período do programa, as ferramentas digitais utilizadas, além de suas
dificuldades e superações.

Palavras-Chave: Ensino de Química; Residência Pedagógica; Pandemia da Covid-19;

EXPERIENCE REPORT OF THE PEDAGOGICAL RESIDENCE IN


CHEMISTRY AT THE SCHOOL OF THE LICEU DO CONJUNTO CEARÁ
DURING THE TIME OF THE COVID-19 PANDEMIC
ABSTRACT: With the beginning of the COVID-19 pandemic, institutions and schools that offered
the face-to-face course modality to students had to migrate teaching to the virtual remote
environment, where several students found teaching and learning difficulties, however, initial
teacher training is of importance for the professional development of the licentiate. In this
perspective, CAPES launched in 2011 the pedagogical residency program, providing students with
initial training in education, making students of the chemistry degree course get used to working
face-to-face in schools. The present work aimed to analyze the contributions of the PIRP in the
context of social distancing and remote teaching, in the improvement of the teaching practice of
the undergraduates of the UECE Chemistry subproject. The research method adopted was
qualitative. Data were collected through an electronic form available on the internet consisting
of nine questions. Eight participants from the field school EEM Liceu do Conjunto Ceará
responded and participated in the research. It was understood that, despite not being used to
remote teaching, the pedagogical residency presented significant results in the initial process of
teacher training. The research also showed some of the difficulties of residents during the
program period, the digital tools used, in addition to their difficulties and overcoming.

Keywords: Chemistry Teaching; Pedagogical Residence; Covid-19 pandemic;

1148
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO impactos que a pandemia vem causando no


ensino, o trabalho propõe o uso de
Com as repentinas mudanças no primeiro metodologias ativas, tanto para uma melhor
trimestre de 2020 provenientes da crise compreensão do conteúdo ministrado como
sanitária causada pela SARS-CoV-2, ou para uma melhor interação aluno-professor,
popularmente chamada de COVID-19, o tornando as aulas interativas e
mundo teve que se adaptar e se reinventar contextualizadas com o cotidiano do aluno.
com o intuito de amenizar os possíveis Garcia (2011), afirma que o período inicial à
prejuízos causados. Para a menor docência não é um momento de aprendizagem
disseminação do vírus a Organização Mundial do trabalho ou atividades desenvolvidas como
da Saúde (OMS) instaurou medidas de o ofício do ensino, mas um momento de
segurança, estando entre as de maior socialização profissional em que ficamos livres
eficiência, o uso de máscaras atrelada ao para observação das normas e condutas do
distanciamento social (WILDER-SMITH e meio, bem como seus valores e cultura. Desse
FREEDMAN, 2020). Tal crise causou impactos modo esse momento passa a ser de
em diversas áreas, na qual acarretou desenvolvimento docente da competência do
repercussões em vários aspectos da vida em indivíduo que está se inserindo no meio escolar
escala global nos âmbitos sociais, econômicos, e educacional no geral. De acordo com as falas
políticos, culturais, tecnológicos e saúde. Com de Walter Garcia, podemos inferir que o início
isso, o processo de escolarização passou de um da atividade da docência é um momento de
regime presencial para o ensino a distância, reflexão favorecido pela observação de suas
sem que houvesse tempo para uma adaptação práticas, em que é possibilitado o
preliminar dos alunos (OLIVEIRA, NETO e desenvolvimento de estratégias como: a
OLIVEIRA, 2020). Com a mudança de forma experiência de lidar com tensões do cotidiano
brusca para o ensino remoto, as instituições e escolar e até as dificuldades do educando.
os alunos sofrem para enfrentar tal desafio. Durante a vivência em sala o preceptor bem
Uma vez que, parte dos alunos sofrem mais como o residente podem se deparar com
intensamente com a mudança, por parte social, algumas dificuldades que, nesse ponto, o
econômico, e tecnológico é preciso que haja preceptor já se sente familiarizado e sabe os
uma mudança nos currículos escolares e procedimentos estratégicos necessários para
práticas pedagógicas, pois uma vez que o aluno seletivos problemas do entorno escolar. Em
sai de um ambiente controlado, como as salas suma, é notável que a formação docente está
de aulas, e se encontram em espaços não ligada à prática e a vivência compartilhada com
reservados e não adequados, como estudar em profissionais mais experientes.
casa, se torna muito mais cômodo a evasão Fontoura (2011), comenta que professores
escolar. Nesse ponto, torna-se necessário o iniciantes geralmente têm medo de expor suas
desenvolvimento de uma aula mais interativa e dificuldades aos seus colegas, pois receiam que
inclusiva (ARAÚJO, MENESES e VASCONCELOS, haja a fragilização de sua imagem. Por isso,
2021). Buscando meios para amenizar os torna-se tão importante que o licenciando

1149
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esteja inserido no meio educacional escolar, reinventar, haja vista que, de fato, esse
para que possa ver suas dificuldades e expô-las isolamento entristeceu os profissionais da
para colegas mais experientes sem que haja educação, especialmente os professores, pois
essa fragilização porque os mais experientes na se relacionam constantemente com seus
área irão entender que este está aprendendo alunos.
e, portanto, ganhará experiência por meio de Nesse cenário, os professores passaram a
suas dúvidas e curiosidade. Ainda sobre o utilizar novas ferramentas pedagógicas,
pensamento de Fontoura (2011), existem porém, utilizar as ferramentas e a
benefícios na comunicação entre os colegas de potencialidade da internet em tempos de
profissão que consistem na criação de espaços globalização não projeta mais aprendizagem se
de dialogo entre profissionais para que pautem não utilizadas de modo á beneficiar novos
suas dificuldades e de forma coletiva haja uma métodos de ensino. Enormes listas de
resolução destas, pois há experiências que exercícios elaboradas para que os alunos
podem ser compartilhadas e que ainda não resolvam sozinhos, de certa forma se
foram vividas por outros, situações que por normalizou no meio educacional, em muitos
vezes afastam o acadêmico que nesse ponto casos não foram estabelecidas novas formas de
inicia sua carreira na docência, impedindo-o de ensino que impulsione a criatividade dos
se tornar um bom profissional que atenda ás alunos e nem a reflexão do aluno sobre as
dificuldades dos estudantes. Na perspectiva do práticas educativas positivas. No entanto,
PIRP, o aperfeiçoamento da formação inicial mesmo com toda a tentativa de adaptação do
dos licenciandos é uma forma de estimular ensino ao meio único e exclusivamente
estes acadêmicos efetivamente a atuarem na remoto, a educação não estava totalmente
prática do ensino, ou seja, nesse programa a preparada para o ensino emergencial, tendo
prática anda junto com a teoria, de forma, que em vista a fragilidade da educação Brasileira,
ainda o haja um diálogo mais próximo entre a “seja em escala nacional ou mundial, apesar de
universidade e a escola campo. De fato, esse todos os esforços empregados nessas ações, o
diálogo beneficia ambas as partes, no entanto sistema de ensino tem esbarrado na fragilidade
o mais favorecido é o graduando, visto que este da educação” (VIEIRA; RICCI, 2020, p.2).
necessita dessa experiência inicial, para que se De fato, é notável que a educação encontrou
inicie sua formação, sendo que observamos diversos percalços que o país não estava
que o professor preceptor se torna um canal de preparado para enfrentar. Um dos principais
experiência para o bolsista que poderá problemas foi a dificuldade de famílias mais
visualizar as suas práticas docentes de perto e carentes de acessar as aulas ou os materiais
usufruir de toda a experiência e conhecimento que seriam enviados por meio remoto. Vieira e
que o preceptor poderá lhe propiciar. O início Ricci comentam que “[...] enquanto algumas
da pandemia trouxe um novo contexto ao qual crianças têm acesso a tecnologias de ponta,
o mundo teve de se adaptar. O isolamento possuem acesso ilimitado à internet e recebem
social, no tocante à educação, acarretou em casa o apoio dos pais/responsáveis, tantas
preocupação e na busca de novas formas de se outras ficam à margem deste processo, seja

1150
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pela falta de equipamento tecnológico conhecer, de saber, de aprender. Pôde-se


adequado em casa, seja pelo fato de os refletir sobre o fundamental papel dos
responsáveis dedicarem-se à outras educadores, pois, mesmo no ensino a
preocupações” em suma, sabemos que a maior distância, foram essenciais na promoção da
dificuldade da maioria dos estudantes da rede aprendizagem, tendo em vista que “a
pública é a questão financeira, que ainda assim mobilização de tecnologias para as
com muitos esforços, vários alunos aprendizagens escolares exige a presença
conseguiram adquirir seus dispositivos móveis, ativa, constante e competente do professor”
seja por esforço próprio, ou por meio de ajuda (VIEIRA; RICCI, 2020, p. 4). Essa reflexão
da própria escola, ou governo. Sabe-se que consiste no fato de que, mesmo que os pais
mesmo alguns residentes pedagógicos estejam presentes no processo de
vivenciaram uma má situação financeira, no aprendizagem dos alunos, a grande parte não
meio universitário presenciou-se vários casos atinge o engajamento que é promovido pelo
como deste tipo. A escola por sua vez teve toda ambiente escolar. Este trabalho teve como
a preocupação de manter o elo entre os alunos intuito relatar a experiência dos licenciandos
e escola, por tanto os professores também da UECE com o PIRP na escola EEM Liceu do
tiveram um papel fundamental nesse cenário, Conjunto Ceará durante o período de
pois como citado acima não só a educação, mas distanciamento social causado pelo vírus
também os professores tiveram que se COVID-19, ademais refletir em como a
reinventar, uma vez que não houve residência pedagógica pode influenciar na
planejamento prévio algum para a situação formação do educador.
pandêmica, porém precisavam garantir que a
aprendizagem chegasse com qualidade para 2.METODOLOGIA
todo o seu público.
2.1 Tipo de pesquisa
Ibañez (2020, p.17-21), comenta que a
O presente relato de experiência buscou a
educação não pode se desvencilhar da escola e
coleta de opiniões por meio de um formulário
do feito de que professores, alunos e alunas se
eletrônico em que foi possível relatar as
tornaram cidadãos digitais que vivem na
experiências relacionadas ao cotidiano dos
sociedade do conhecimento. É possível
bolsistas dentro do programa de residência
observar, nas reflexões de Ibañez, que é válido
pedagógica, dando sua parcela de contribuição
falar da competência digital e a sua relação
para a discussão acerca da importância do
com o saber, a onipresença da tecnologia e da
programa de residência pedagógica para a
internet, que propuseram novas formas de
formação docente dos licenciandos.
pensar e trabalhar na escola supõe construir
O tipo de pesquisa utilizado foi a de cunho
um conhecimento que vai mais além do
qualitativa. González Rey (2005), comenta
simples acesso à informação, porque o saber é
sobre a pesquisa de cunho qualitativa e sua
mais que a simples informação de utilidade
importância com a seguinte fala: “tomar o
imediata, é uma forma de reforçar os meios de
novo como uma nova forma de saber
ensino e até de apropriação do mundo, de
preexistente é castrá-lo no que tem de

1151
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

novidade”, ou seja, podemos interpretar que a que fica situada no município de Fortaleza-CE.
pesquisa depende do âmbito em que está Além das perguntas como nome e e-mail, o
inserida visto que a pesquisa qualitativa se questionário possuí nove perguntas
torna mais eficaz quando precisamos de relacionadas a opiniões dos bolsistas acerca do
respostas que necessitam da compreensão programa em questão.
particular do objeto de estudo. O questionário teve como intuito entender
quais as dificuldades dos residentes e como
2.2 A coleta de dados por meio do Google avaliam o programa, não obstante suas
forms® contribuições para a formação docente inicial
A pesquisa foi realizada por meio do site dos estudantes que participaram do
Google forms®, por meio deste, foi aplicado um subprojeto de Química da UECE.
questionário (Quadro 1) aos nove residentes O algoritmo do programa produziu gráficos
que participaram do programa na escola da de acordo com o tipo da questão e respostas
rede estadual EEM Liceu do Conjunto Ceará individuais de cada participante.

1152
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

3.RESULTADOS E DISCUSSÕES participaram do programa de residência


pedagógica, sendo “0” muito ruim e “10” muito
3.1 Análise do grau de satisfação dos
bom, devido as notas atribuídas, observa-se
egressos do programa
que o período das atividades do programa foi
Quando perguntado aos licenciandos que
satisfatório (Figura 1).
nota atribuiriam ao período em que

3.2 – Expectativa dos bolsistas em relação alguns esteve abaixo da expectativa devido à
ao programa. pandemia e coincidentemente para o mesmo
Quando questionados sobre se “o programa percentual esteve acima devido à pandemia
esteve abaixo, acima, ou atendeu às suas (Figura 2).
expectativas?”, foi possível observar que para

1153
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Estas respostas refletem também sobre o devido a outros motivos, por favor, descreva
fator de conhecimento prévio do programa e estes motivos”.
percepção do estado emergencial vivenciado O professor preceptor, juntamente com a
no período das atividades desta edição do IES, deverá possibilitar que os residentes
programa, por exemplo, a proximidade entre sugiram e dinamizem práticas que agreguem
professor e aluno se tornou mais difícil de valor à aprendizagem dos graduandos quando
alcançar, por conta da distância que culminou efetivamente se tornarem professores;
na falta de comunicação apesar dos aplicativos promover atividades em que os residentes
de conversas, chats e outros meios participem do cotidiano escolar; oportunizar a
(TARDIF,2002) participação na elaboração de atividades que
Dois bolsistas responderam que o programa agreguem experiências no processo formativo.
esteve abaixo de suas expectativas devido à Daí a importância do preceptor, ele tem um
pandemia. Sabe-se que, devido à pandemia, papel fundamental de além de cuidar de seus
todos engajados no meio educacional tiveram alunos e precisa guiar os licenciandos na longa
de embarcar no mundo remoto, e por essas jornada da formação docente, proporcionando
questões, pode-se inferir que houve falta de novos saberes.
adequação ao meio virtual, pois o meio virtual
exige um modelo diferente de se trabalhar 3.3 Contribuições do programa para
(LEVY,1999): formação docente inicial.
Ainda segundo Tardif (2002), o professor Quando questionados com a seguinte
tem um papel fundamental na gerência dos pergunta: “O programa contribuiu para sua
alunos, isto é, nas suas emoções, motivações, formação docente? Como?”, Observou-se que
modelo de ensino e metodologias que, às todos os relatos foram positivos, como pode
vezes, pode se tornar individual, mas sem se ser visto nos sete comentários abaixo:
tornar favoritismo. A inteligência coletiva
comentada pelo autor, se trata de um tipo de “Sim, apesar da pandemia ter
inteligência compartilhada entre muitos impossibilitado o ensino presencial a
indivíduos, nesse caso, os grupos de alunos, experiência do ensino remoto foi muito
devido as diversidades de conhecimentos interessante. Tivemos que aprender como
compartilhados, onde cada um, detém um lecionar usando ferramentas digitais”
saber sobre determinado assunto. (RESIDENTE 1).
Também podemos observar que, para dois “Sim, o programa me deu a oportunidade de
residentes, a suas expectativas foram entender o compromisso que o professor deve
correspondidas devido à pandemia, ter com os alunos, além de poder aprender
provavelmente estes têm certa proximidade com um professor experiente a abordagens
com o meio virtual, ou apesar da pandemia, quem podemos utilizar para que o ensino se
tiveram facilidade com as atividades da bolsa. torne gratificante para os alunos” (RESIDENTE
A terceira pergunta não necessita de gráficos, 2).
pois é uma pergunta aberta. “se você colocou

1154
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

“Sim, de forma bem satisfatória. virtual. Isso fez com que os professores
Proporcionando grandes experiências no tivessem de buscar ferramentas alternativas às
ambiente educacional.” ( Residente 3) que estavam habituados para que pudessem
“Sim. De forma positiva, agregando bastante ensinar de forma eficaz para o seu público. De
para a minha formação, e minha carreira como fato, sabe-se que o ensino remoto já era uma
professora. Me dando segurança de si, realidade vivida por muitas instituições antes
principalmente ao falar em público” ( mesmo da pandemia. No entanto, algumas
RESIDENTE 4). instituições, incluindo a UECE, campus do
“Contribuiu aprimorando minhas Itaperi, no início da pandemia, não estavam
habilidades como docente” (RESIDENTE 6). totalmente familiarizadas com o meio virtual,
“Sim, pois a partir do programa eu pude ter pois, de fato, suas aulas eram ministradas
a percepção de como é a realidade dos somente de forma presencial, assim como
professores dentro da escola, de como as outras IES´s.
coisas acontecem por detrás dos bastidores da A escola de ensino médio “EEM Liceu do
sala aula. pude compreender todos os passos Conjunto Ceará” estava entre estas instituições
que devem ser dados antes de chegar na sala que lecionavam somente de forma presencial
de aula. pude aprender e participar de outros e, devido à pandemia, tiveram de migrar para
trabalhos além da aulas” ( RESIDENTE 7). o meio remoto para não afetar a aprendizagem
“Com certeza, me ajudou muito enquanto e a formação de seus alunos, dessa forma os
professora, para ajudar nos meus medos e professores tiveram de encontrar maneiras
completar como profissional” ( RESIDENTE 8). alternativas para chamar a atenção dos alunos
Somente um dos residentes não respondeu e ensinar-lhes de uma maneira efetiva,
à pergunta, talvez devido à pergunta não ser buscando os melhores resultados de
obrigatória. Analisando os relatos, é notável aprendizagem.
que todos que responderam à pergunta Como alunos licenciandos da UECE, no início
concordam que o programa contribuiu para a da pandemia, os bolsistas também não
formação docente inicial. estavam preparados para o meio virtual, pois
Atentando-se um pouco mais as falas, não estavam totalmente familiarizados ao
notamos que o residente 1 comentou sobre ensino nessa modalidade. No entanto, durante
“Lecionar usando ferramentas pedagógicas” e o programa, como o residente 1 comentou, os
o residente 3 comentou “Proporcionando adeptos do programa tiveram a oportunidade
grandes experiências no ambiente de se integrar ao meio, trazendo novas
educacional”, ou seja, o ambiente educacional, ferramentas de aprendizagem que, em suma,
independe da modalidade, podendo contribuíram para sua formação.
proporcionar aprendizagens e sendo eficaz em Dentre tantas observações que podem ser
transmitir o ensino (SANTOS, 2010, p.49). feitas a partir das respostas fornecidas pelos
Durante a pandemia, todas as instituições entrevistados, pode-se destacar, em suas
que outrora lecionavam somente de forma respostas, a “adaptação”, haja vista que os
presencial tiveram de se adequar ao meio

1155
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

professores, assumem uma importância crucial proporcionou tanto, experiências e


ante as transformações do mundo atual. qualificação para os bolsistas, quanto agindo
Num mundo globalizado, transnacional, os em seu papel de professor na escola campo.
alunos precisam estar preparados para uma Embora uns tenham comentando um pouco
leitura crítica das transformações que ocorrem mais e com mais detalhes, este
em escala mundial, (LIBÂNEO, 2011, p. 03). Ou questionamento teve apenas respostas
seja, tanto o preceptor quanto os residentes positivas à contribuição do programa para a
participaram ativamente deste processo, formação docente.
sendo peças fundamentais para a transmissão
do conhecimento. A importância do preceptor 3.4 Análise das perguntas acerca do âmbito
se dá pelas duas partes, sendo que tecnológico.

Quando perguntados: “Quais a anteriormente, foi um problema que os


desvantagens que você encontrou no ensino estudantes encontraram durante a pandemia.
remoto em relação ao ensino presencial?” A
alternativa que se sobressaiu foi “falta de 3.5 Principais recursos digitais utilizados
internet ou problemas de conexão”. Era pelos residentes.
esperado que essa fosse a resposta mais Acerca das ferramentas pedagógicas, foi
pertinente, visto que, de fato, é uma aplicado o seguinte questionamento: “Quais
problemática que não há no ensino presencial. ferramentas virtuais você utilizou durante as
Outras duas respostas que foram dadas pela aulas online?” os dois mais votados foram o
maioria dos entrevistados, foram a falta de Google Meet e Power Point nas aulas online a
recursos tecnológicos e a falta de aproximação ferramenta mais acessível para se transmitir o
entre professor e aluno. Sobre a falta de espelhamento da tela e webcam ao mesmo
recursos tecnológicos em relação à pergunta tempo é o Google Meet, que até o ano de 2020
anterior, podia ser esperada também que fosse tinha regras diferentes, com o tempo foi
um dos problemas mais pertinentes, pois, limitando o tempo de permanência dos
como vimos na matéria apresentada usuários (Figura 4).

1156
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Da mesma forma, o Power Point é uma dificuldades técnicas reladas pelos bolsistas no
ferramenta pra criação de slides muito período das aulas online. Muitos residentes
acessível e comumente é utilizado durante as relataram que tiveram esses problemas, a
aulas online e até mesmo presenciais, é uma pesquisa nos mostra que muitos quase todos
das principais ferramentas digitais para aulas tiveram problemas com conexão e problemas
online. relacionados com barulhos externos, o que
num ambiente de casa se torna um pouco mais
3.6 Principais dificuldades encontradas comum, dependendo da quantidade de
pelos residentes. pessoas que residem no mesmo lar ou até
A figura 5 demonstra as principais mesmo a localidade.

1157
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

3.7 Opiniões dos residentes quanto às Outra informação obtida sobre as turmas
turmas que acompanharam durante o acompanhadas foi a descrita pelo (a) residente
programa. 4, que comentou: “É notória a diferença entre
Do ponto de vista dos entrevistados no que as turmas , então umas são mais participativas
concerne às turmas que foram acompanhadas, e outras não”, demonstrando que cada turma
o que acharam do rendimento, participação acompanhada tinha suas particularidades. Ao
nas aulas e engajamento durante o período de todo, nove turmas de terceiro ano do ensino
distanciamento social. médio foram acompanhadas pelos residentes.
De acordo com a opinião dos entrevistados, No geral, as opiniões demonstraram que
a maioria dos alunos da EPEB demonstraram algumas turmas manifestaram desinteresse,
desinteresse devido à falta de proximidade outras se empenhavam mais na disciplina de
com o professor e do contato com o meio química. Esta seção também demonstrou um
presencial: pouco da dificuldade de atrair o aluno para a
“Infelizmente o desinteresse do aluno, os aula durante as aulas remotas e que o
alunos já tem antipatia pela disciplina de rendimento dos alunos aumentou durante o
química e no ambiente remoto o desinteresse retorno às aulas presenciais.
tornou-se mais evidente” (RESIDENTE 1)..
“Devido à falta de proximidade entre o
professor e o aluno por estarem em um
ambiente virtual os alunos se mostraram
pouco interessados havendo muitas faltas e
baixo rendimento de uma grande parte das
turmas, essa distância dificultava que o
professor pudesse perceber as dificuldades
individuais dos alunos e por vergonha ou
desinteresse os alunos se omitiam”
(RESIDENTE 2).
Segundo o (a) residente 6 : “As turmas
tiveram dificuldades no período remoto mas
no presencial o ensino e a aprendizagem foram
mais proveitosos. Quando feito um
cruzamento de relatos é notável que o
desinteresse se deu pela modalidade de
ensino:
“Acredito que devido a rotina da pandemia,
isso tenha afastados os alunos em relação as
aulas. sendo sempre necessário a criação de
uma dinâmica para tentar trazer suas atenções
para aulas” (RESIDENTE 8).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos relatos apresentados, é possível perceber que, apesar do distanciamento
social, o programa de residência pedagógica contribuiu de forma significativa na vida profissional
dos licenciandos como docentes, influenciando-os a buscar a experiência, porque os insere em
um ambiente escolar, possibilitando que os discentes vivenciem na prática a rotina de um
professor.
A formação docente inicial é compreendida como sendo fundamental para um professor,
tendo em vista que a residência pedagógica proporcionou aos licenciandos atividades além da
observação, como regência em sala de aula virtual, criação de slides e utilização de outras
ferramentas digitais durante as aulas, plantão de tira dúvidas, composição de músicas, no qual
os bolsistas puderam desenvolver suas habilidades e competências na área educacional. No
contexto de ensino e aprendizagem, compreende-se o quanto a residência pedagógica foi
relevante para os bolsistas.
Com a realização deste trabalho acadêmico, pôde-se comprovar que, apesar da pandemia,
programas como a residência pedagógica são indispensáveis para a formação do discente dos
cursos de licenciatura, pois promove a aproximação com a realidade docente, proporcionando
experiências únicas que acarretam na contribuição para o aperfeiçoamento de praticas docente.

1159
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
CAPES. Edital 01/2020. PROGRAMA DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: Chamada Pública para
apresentação de propostas no âmbito do Programa de Residência Pedagógica. 2020. Disponível
em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/06012020-edital-1-2020-resid-c3-
aancia-pedag-c3-b3gica-pdf . Acesso em: 20 setembro 2021
FONTOURA, H. A.. Percursos de formação e experiências docente: um estudo com
egressos do curso de pedagogia da faculdade de formação de professores da UERJ.
Residencia Pedagógica. Intertexto 2011.
GARCIA, W. E. Analise das políticas públicas para formação continuada no Brasil, na
última década. Textos selecionados de Bernadete Gatti. Belo Horizonte: Autentica Editora,
2011. Coleção perfis da educação.
GATTI, B. A Formação inicial de Professores para a educação Básica: As Licenciaturas.
Revista USP, São Paulo, N 100, p. 33-46. 2013. Dez/Jan/Fev Disponível:
<HTTPS://www.revistas.usp.br/revusp/article/viewfile/76164/79909>. Acessado em: 14 out.
2021.
González Rey, F. (2005). Pesquisa qualitativa e subjetividade São Paulo: Thomson.
Disponivel em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
53932019000100016 . Acesso em: 8 de dezembro de 2021.
IBÁÑEZ, J. S.. Educación en tiempos de pandemia: tecnologías digitales n la mejora de los
procesos educativos. Innovaciones Educativas, Islas Baleares, España, v. 22, p. 17-21, 10
set. 2020. Disponível em: <https://www.scielo.sa.cr/pdf/rie/v22s1/2215-4132-rie-22-s1-17.> pdf.
Acesso em: 24 nov. 2021.
LÉVY, P. C., Trad. O Que é o Virtual, 1ª Reimpressão, São Paulo: Editora 34, 1999. Trad. Paulo
Neves, 1ª edição.
LIBÂNEO, J. C. Adeus Professor, Adeus Professora? Novas exigências educacionais e
profissão docente. 13 ed. São Paulo: Cortez, 2011. Disponível em:
https://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/156_683.pdf . Acesso em: 12 de dezembro de
2021.
Ministério da Saúde. MS. BRASIL.. Como é transmitido? 2021. Disponível em:
https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/como-e-transmitido. Acesso em: 12 jul. 2022.
OMS (Genebra). Opas. Excesso de mortalidade associado à pandemia de COVID-19 foi de
14,9 milhões em 2020 e 2021. 2022. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/5-5-2022-
excesso-mortalidade-associado-pandemia-covid-19-foi-149-milhoes-em-2020-e-2021. Acesso
em: 12 jul. 2022.
SANTOS, G. L. Ensinar e Aprender no Meio Virtual: Rompendo Paradigmas, Educação e
Pesquisa, São Paulo, v.37,n.2, p. 307-320, 2010. Disponivel em:
https://www.scielo.br/j/ep/a/fySbbzj98nSN4pTFTx7X3sd/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 8 de
janeiro de 2022.
TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Docente. Petrópolis: Vozes, 2002.

1160
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA: OS DESAFIOS DA


INICIAÇÃO A DOCÊNCIA EM MEIO REMOTO
Micheline Soares Costa Oliveira1
Éven de Lima Paiva1
Sara Alves Ribeiro da Silva2
Márcia Malveira Cruz Feitosa4

RESUMO: O trabalho apresenta a experiência obtida na Residência Pedagógica, que tem como
objetivo agregar na formação de estudantes dos cursos de licenciatura. O relato visa demonstrar
as percepções adquiridas, diante de um novo contexto causado pela pandemia da COVID - 19, de
duas alunas do curso de Licenciatura em Química da Universidade Estadual do Ceará – UECE,
vivenciadas na escola de ensino médio Adauto Bezerra, que não conheceram a docência por meio
da sala de aula física, mas aprenderam novas metodologias para aperfeiçoar o ensino virtual. A
metodologia é desenvolvida por meio dos relatos vividos na prática, mesclando as diferentes
fases do projeto e, demonstrando posteriormente os resultados obtidos no ensino online.

Palavras-Chave: Educação; Ensino Remoto; Pandemia;

1 Professor a Universidade Estadual do Ceará.


Graduação: Química
2 Estudante da Universidade Estadual do Ceará.

Graduação: Química
3 Estudante da Universidade Estadual do Ceará.

Graduação: Química
4 Professor da Rede Estadual de Ensino do Ceará.

Graduação: Química

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PEDAGOGICAL RESIDENCE: THE CHALLENGES OF INITIATING


TEACHING IN REMOTE MIDDLE
ABSTRACT: The work presents the experience obtained in the Pedagogical Residency, which aims
to add to the training of students in undergraduate courses. The report aims to demonstrate the
perceptions acquired, in the face of a new context caused by the COVID - 19 pandemic, of two
students of the Degree in Chemistry at the State University of Ceará - UECE, experienced at the
Adauto Bezerra high school, who did not meet teaching through the physical classroom, but
learned new methodologies to improve virtual teaching. The methodology is developed through
reports experienced in practice, mixing the different phases of the project and, later
demonstrating the results obtained in online teaching.

Keywords: Education; Remote Teaching; Pandemic.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO ensino, crescendo como indivíduo e futuro


professor, onde a residência se torna
A Residência Pedagógica é um processo fundamental para a vida profissional do aluno.
implementado pela CAPES - Coordenação de O início da docência na Universidade permite
Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior. ao universitário estreitar os laços com a sua
O Programa possui como objetivo a imersão do carreira, construir uma cultura escolar e
universitário na prática pedagógica da desenvolver sua maneira de ser e agir como
educação básica, auxiliando no exercício da professor. A vivência na escola possibilita a
docência. O processo da experiência neste descoberta de novas metodologias, onde
programa contemplou imersão na escola deixamos de ser espectadores e passamos a ser
campo, trabalhando em conjunto com transmissores do saber. E foi isso que o ensino
professores e equipe pedagógica em projetos remoto possibilitou, nos fez enxergar novas
na escola. A experiência aconteceu em meio a possibilidades de ensino/aprendizagem, nos
uma calamidade de saúde pública, a qual adaptando às circunstâncias e as ferramentas
impossibilitou o contato direto com as pessoas, disponíveis que estavam nas palmas de nossas
evitando assim a socialização, que é tão mãos. O conteúdo ministrado tem que ser
importante para esta área de atuação, pois ofertado de maneira contextualizada,
como Freire (1996), nos aponta que ninguém envolvendo práticas e a vivência dos alunos
aprende sozinho. Comunicar-se, dialogar e (OLIVEIRA,2014). No ensino da química
participar é um ato educativo e, portanto, somente a exposição da teoria dificulta a
pedagógico, visando à transformação da aprendizagem, justamente por se tratar de
realidade. uma disciplina abstrata, sendo necessária uma
A escola campo E.E.M. Adauto Bezerra fica metodologia de ensino eficaz para
localizada na cidade de Fortaleza e atende a potencializar os resultados da matéria
grande demanda de alunos da capital e região ensinada. E o professor nada mais é do que o
metropolitana. Em um ano atípico, os meios de mediador desse processo, que teve que ser
ensino foram totalmente diferentes aos que reinventado mediante as dificuldades
estávamos acostumados, o uso de tecnologia observadas. O objetivo deste trabalho foi
passou a ser essencial e indispensável para dar relatar por meio da nossa visão as experiências
continuidade ao programa. Essa nova realidade adquiridas, dificuldades enfrentadas,
não impactou somente os alunos e percepções e metodologias construídas
professores, mas também os futuros docentes durante esse tempo em que nossa casa foi uma
que tiveram que lidar com um grau a mais de sala de aula, em que o quadro branco foi
dificuldade, por não ter experiências com o substituído por celulares e computadores.
ensino presencial, com metodologias de ensino
e em como ter uma postura de professor e
saber lidar com os discentes. Gatti (2010),
retrata no seu trabalho que ao assumir uma
sala de aula o licenciado inicia sua prática no

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

2. METODOLOGIA 2.3 Regência:


2.1 Reuniões via Google Meet A construção de materiais didáticos para
alunos com deficiência Em determinadas
A cerca da pandemia, eram-se realizadas
turmas havia alunos com necessidades
reuniões de alinhamento com todos do núcleo.
especiais, como síndrome de down, o que nos
Os pontos discutidos eram os sobre o início dos
mostrou a necessidade de adaptar o ensino
módulos, determinados pelo programa, o
remoto, onde nossa maneira de explicar tinha
tempo de aula e quais turmas poderíamos
que ser devagar, clara e concisa. Outra forma
observar ou efetivar a regência. O primeiro
de inclusão, para os alunos com deficiência
passo para entender uma sala de aula virtual
visual, foi realizar a leitura das questões dos
começou pela observação da regência do
simulados, onde realizamos a gravação de cada
preceptor, onde pudemos visualizar como este
questão fazendo a descrição de cada imagem
se portava durante a ministração do conteúdo.
da prova e seus gráficos. Tendo em vista as
Esse ponto foi fundamental pois possibilitou o
dificuldades dos alunos com cegueira e a nossa
desenvolvimento de técnicas e metodologias
dificuldade em adaptar o conteúdo para todos,
de ensino para despertar a atenção do aluno no
realizamos em paralelo a construção de
meio remoto.
materiais que explicavam diversos conteúdo da
química para que eles, por meio de programas
2.2 O uso da tecnologia para o aprendizado
especializados que realizavam a leitura do
Tendo em vista diversos fatores,
material, pudessem estudar de forma mais
vivenciamos um contexto em que o professor
adequada.
teve que readaptar, reinventar sua prática de
ensino, seu ambiente de trabalho, seu tempo e
toda a sua agenda de trabalho para atender as 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
novas demandas educacionais. Foi criada uma Nas escolas públicas, é sabido que o uso de
página no Instagram (@residenciap_ab) na tecnologias ainda é uma realidade pouco
qual abordamos postagens com diversas presente, visto que o investimento em
temáticas, gravação de experimentos educação, ainda é muito escasso do que
laboratoriais, construção de mapas mental e deveria para que pudéssemos ter um
curiosidades químicas, buscando assim uma verdadeiro avanço. No entanto, cabe destacar
melhor fixação do conteúdo. Procuramos que a realidade em questão chegou de
construir slides com menos textos e mais surpresa para todos, os professores tiveram
imagens, fazendo sempre referência do que adaptar todo o seu cotidiano e práticas
conteúdo ao dia a dia do aluno, com objetivo para atender as demandas educacionais, sem
de trazer a atenção para a aula e fazê-los uma formação adequada para lhes garantir o
relacionar a química ao seu cotidiano. Além suporte necessário ao desenvolvimento das
disso, buscamos reforçar a aplicação do atividades desempenhadas neste momento.
conteúdo por meio de questões, trazendo ao No atual cenário segue os questionamentos:
final de cada aula um exemplo de como a Como tem sido a adaptação a essa nova
matéria poderia ser cobrada nos vestibulares. realidade? Como fazer a compreensão efetiva

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de um aluno ao mundo atual? Promover uma


reflexão acerca dos questionamentos aqui
abordados é a intenção. A forma como se deu
a instauração do ensino remoto, sem um
planejamento prévio, sem discussão acerca de
sua aplicação, sem uma preparação dos
profissionais envolvidos, sobretudo os mais
interessados, os professores, trouxe consigo
uma série de dificuldades que evidenciam a
falta de preparação do sistema educacional
brasileiro, sobretudo em momentos de crise
como este.
O uso de slides ilustrativos e a gravação de
experimentos foram os diferenciais, por
possibilitar uma interação visual maior do
aluno e trazendo o discente para a aula por
segurar a sua atenção por mais tempo.
Segundo Ramos et al (2013), 75% do que
vemos fica gravado na memória visual, então a
utilização desses recursos diádicos constroem
conceitos mais concretos para o aluno,
facilitando assim a sua aprendizagem,
tornando a química menos abstrata durante o
ensino remoto.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo teve como objetivo apresentar reflexão sobre os contextos de educação
diante do atual cenário educacional, identificando os principais desafios e as formas de adaptação
para um melhor aprendizado. O ensino remoto reforça não apenas a fragilidade da escola neste
momento de crise, mas também a fragilidade do Estado em promover ensino de qualidade, dos
órgãos públicos responsáveis de promover igualdade no acesso aos meios para a educação. Por
fim, a reflexão aqui proposta evidenciou a necessidade da discussão, as quais evidenciam as lutas
nos diversos espaços para a promoção de educação de qualidade, que garanta o mínimo de
igualdade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
FREIRE, P.. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.

GATTI, B. A., NUNES, M. M. R. (Orgs.). Formação de professores para o ensino


fundamental: estudo de currículos das licenciaturas em pedagogia, língua portuguesa,
matemática e ciências biológicas. Textos FCC, São Paulo, v. 29, 2009. Disponível em:
http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/textos_fcc/arquivos/1463/arquivoAnexado.pdf.Acess
o em: 23 de outubro. 2021.

OLIVEIRA, W. M.de. Uma abordagem sobre o papel do professor no processo de ensino


aprendizagem. Inesul, Londrina, v. 23, p. 01-12, 01 mar. 2014. Disponível em:
https://www.inesul.edu.br/revista/arquivos/arq-idvol_28_1391209402.pdf. Acesso em: 13 de
Outubro. 2021.

RAMOS, E. M. F.T; RAMOS, M. F.; FIORENTINE, L. M. R. Introdução a Educação Digital.


Guia do cursista. 1ed – Brasília: Ministério da Educação,2013. Disponível em :
https://pt.calameo.com/read/004061801d3584f42d0fe. Acesso em: 23 de outubro. 2021.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RETINOPATIA DA PREMATURIDADE: REVISÃO


INTEGRATIVA
Herundino Neto Moura Moreira 1
Flávia Nunes Vieira2
Wanúbya do Nascimento Moraes Campelo Moreira3
Salma Saraty Malveira4
Heliana Helena de Moura Nunes5

1 Graduação em Medicina - UFPA, Especialista em Oftalmologia – AMB/CBO, Especialista em Cirurgia de Catarata


– Clínica de Olhos da Santa Casa de Belo Horizonte – MG, Responsável pelo Setor de Oftalmologia da Fundação
Santa Casa de Misericórdia do Pará – FSCMP Auditor Médico da UNIMED BELÉM.
2 Médica com 20 anos de experiência nas áreas de Medicina Intensiva e 7 anos em Medicina do Trabalho. Atuando

também na área de Gestão em Saúde, com planejamento estratégico voltado para hospitais e clínicas. Residência
Médica em Clínica Médica | Especialista em Medicina do Trabalho | MBA em Gestão em Saúde. Mestranda no
Programa de Pós Graduação Gestão e Saúde na Amazônia.
3 Doutora em Letras – UFPA; Mestra em Estudos Literários – UFPA; Especialista em Língua Portuguesa – PUC-

MG; Especialista em Libras – FIBRA; Graduada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa – UEPA;
Graduada em Letras com habilitação em Língua Inglesa – UNICESUMAR; Docente - Universidade Federal Rural da
Amazônia – UFRA, Orientadora do Projeto Entre Letras contemplado pelo Programa Institucional de Bolsas de
Extensão (PIBEX/UFRA).
4 Possui Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Pará (1984), mestrado em Pediatria e Ciências

Aplicadas à Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (2002) e doutorado em Pediatria e Ciências Aplicadas
à Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (2010). Atualmente é professor adjunto da Universidade
Estadual do Pará, Membro/Líder do Grupo de Pesquisa do Hospital Santa Casa de Misericórdia do Pará. Tem
experiência na área de Medicina, com ênfase em Neonatologia, atuando principalmente nos seguintes temas:
infecção hospitalar neonatal, suporte avançado de vida pediatria, recém-nascido de muito baixo peso.
5 Possui Graduação em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade do Estado do Pará (1983), Habilitação em

Enfermagem Obstétrica pela Universidade do Estado do Pará (1984), Mestrado em Enfermagem pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (2003) e Doutorado em Enfermagem Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012).
Atualmente é professor Adjunto III da Universidade do Estado do Pará, Enfermeira Assistente da Fundação Santa
Casa de Misericórdia do Pará. Tem experiência na área de Enfermagem, com ênfase em Saúde da Mulher,
Enfermagem obstétrica atuando principalmente nos seguintes temas: enfermagem hospitalar, saúde da mulher,
gestantes e pré-natal de alto risco.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RESUMO: O presente artigo tem como escopo fazer uma abordagem teórica, por meio de uma
pesquisa descritiva sobre a Epidemiologia, o Diagnóstico e o Tratamento da Retinopatia da
Prematuridade (ROP), pois trata-se de uma doença que pode levar a cegueira, causando grande
impacto socioeconômico na vida de muitas famílias que porventura recebam alta hospitalar, com
uma criança com sérias sequelas visuais. A obtenção de informações deste estudo efetivou-se
por meio de uma pesquisa indireta, por meio de um levantamento bibliográfico de revisão
integrativa sobre o tema, consubstanciando-se em uma pesquisa de resumo de assuntos.
Levando-se em consideração a necessidade de prevenção de fatores que causam a ROP, a
relevância do presente estudo constitui-se em apresentar a importância na triagem e tratamento
da Retinopatia da Prematuridade, além de abordar a possibilidade de responsabilização judicial
da equipe de saúde envolvida na triagem e tratamento da ROP. Como embasamento teórico para
este estudo usamos os pressupostos de Vinekar, Anand; Gangwe, Anil; AgarwaL, Samarth;
Kulkarni, Sucheta; Azad, Rajvardhan (2021); Yanoff, Myron; Duker, Jay S (2011) e Nakanami, Célia;
Zin, Andrea; Belfort JR, Rubens (2010).

Palavras-Chave: Retinopatia da Prematuridade; ROP; Diagnóstico; Tratamento.

RETINOPATHY OF PREMATURITY: INTEGRATIVE REVIEW


ABSTRACT: This article aims to make a theoretical approach, through a descriptive research on
the Epidemiology, Diagnosis and Treatment of Retinopathy of Prematurity (ROP), as it is a disease
that can lead to blindness, causing great impact. socioeconomic impact on the lives of many
families who may be discharged from the hospital, with a child with serious visual sequelae.
Obtaining information from this study was carried out through an indirect research, through a
bibliographic survey of an integrative review on the subject, substantiating itself in a research of
summary of subjects. Taking into account the need to prevent factors that cause ROP, the
relevance of the present study is to present the importance of screening and treatment of
Retinopathy of Prematurity, in addition to addressing the possibility of judicial accountability of
the health team involved. in screening and treating ROP. As a theoretical basis for this study, we
used the assumptions of Vinekar, Anand; Gangwe, Anil; AgarwaL, Samarth; Kulkarni, Sucheta;
Azad, Rajvardhan (2021); Yanoff, Myron; Duker, Jay S (2011) and Nakanami, Celia; Zin, Andrea;
Belfort JR, Rubens (2010).

Keywords: Retinopathy of Prematurity; ROP; Diagnosis; Treatment.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO exprimindo a importância da detecção precoce


para maior êxito no tratamento.
A Retinopatia da Prematuridade (ROP – Neste diapasão, o presente artigo tem como
Retinophaty of prematurity) é uma doença escopo fazer uma abordagem teórica, por meio
vasoproliferativa decorrente da imaturidade de uma pesquisa descritiva sobre a
vascular da retina de recém-nascidos Epidemiologia, o Diagnóstico e o Tratamento
prematuros. Corresponde a uma das principais da doença, pois a ROP trata-se de uma
causas de cegueira e baixa visão em crianças enfermidade que pode levar a cegueira,
em qualquer região do mundo. A detecção causando grande impacto socioeconômico na
precoce e a aplicação do tratamento são vida de muitas famílias que porventura
determinantes para prevenir sequelas visuais recebam alta hospitalar com uma criança com
graves. sérias sequelas visuais. A obtenção de
Durante a embriogênese retiniana normal, informações deste estudo efetivou-se por meio
os vasos sanguíneos iniciam a migração do de uma pesquisa indireta, por meio de um
disco ótico em direção à ora serrata por volta levantamento bibliográfico de revisão
da décima sexta semana de gestação. A integrativa sobre o tema, consubstanciando-se
vascularização retiniana só alcança a periferia em uma pesquisa de resumo de assuntos.
por volta da trigésima sexta semana da Levando-se em consideração a necessidade de
gravidez. O processo fundamental que prevenção de fatores que causam a ROP, a
determinará o desenvolvimento da ROP é a relevância do presente estudo constitui-se em
vascularização incompleta da retina no apresentar a importância na triagem e
momento do nascimento. A Retinopatia tratamento da Retinopatia da Prematuridade.
representa um desenvolvimento vascular e Como embasamento teórico para este estudo
retiniano patológicos. O nascimento usamos os pressupostos de VINEKAR, Anand;
prematuro estará relacionado à localização da Gangwe, Anil; Agarwal, Samarth; Kulkarni,
interrupção da vasculogênese. Sucheta; Azad, Rajvardhan (2021) e Yanoff,
Percebe-se que a incidência da ROP depende Myron; Duker, Jay S (2011) e Nakanami, Célia;
diretamente do acesso aos serviços de saúde Zin, Andrea; Belfort JR, Rubens (2010).
responsáveis pelo pré-natal capaz de evitar o
parto prematuro, além do serviço para
EPIDEMIOLOGIA
triagem, diagnóstico e tratamento da doença,
A ROP é uma retinopatia proliferativa que
mostrando, portanto, que há uma grande
acomete crianças prematuras de baixo peso ao
distorção no número de casos quando
nascimento e baixa idade gestacional, apesar
comparamos regiões desenvolvidas de outras
dos avanços no diagnóstico e tratamento, a
mais carentes. Logo, o estudo em questão visa
ROP continua sendo uma importante causa de
divulgar a doença para a comunidade
sequela visual em crianças. Pesquisas sobre a
acadêmica, promovendo o entendimento de
patogênese da doença continuam fornecendo
seu desenvolvimento ao longo da história,
um melhor entendimento do desenvolvimento
apresentando as suas “principais epidemias”,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

retiniano, angiogênese e neovascularização casos de ROP, representando a “Terceira


intraocular (YANOFF; DUKER, 2011). epidemia”.
Segundo Vinekar, et al. (2021), a Ásia chega A forma como o oxigênio é ofertado à
a ter duas vezes mais incidência de ROP do que criança é fundamental, pois por meio da
em países desenvolvidos: ventilação mecânica e pressão positiva
Asia has the highest estimated incidence, contínua das vias aéreas são oferecidas
where visual loss from ROP is over twice as high concentrações de oxigênio mais elevadas,
per million live births compared with fazendo com que sua entrada nos pulmões
established market economies. (p. 437) ocorra em alta pressão. O período de maior
Em 1942, T.L. Terry descreveu, pela primeira risco isolado para o desenvolvimento da ROP
vez, a existência de uma lesão em olhos de ocorre após 40 dias de vida com o recém-
recém-nascidos prematuros e a chamou de nascido em ventilação mecânica.
fibroplasia retrolental. No início da década de Quanto menor o peso ao nascer e menor
50, chegou a ser a principal causa de cegueira idade gestacional, maior será o risco de o pré-
em países desenvolvidos (“Primeira maturo apresentar a Retinopatia. Temos
epidemia”). Nesse período, o O² era também outros fatores de risco, entre eles,
administrado em recém-nascidos pré-termo variação nos níveis de oxigênio nas primeiras
(RNPT) e de baixo peso, sem monitoramento. semanas de vida, RNs pequenos para a idade
Ao final dos anos 50, a referida falta de gestacional, hemorragia intraventricular e
monitoramento de oxigênio foi identificada transfusões sanguíneas. A seguir, abordaremos
como principal fator de risco para o a Classificação, o Diagnóstico e o Tratamento
desenvolvimento da doença e o seu uso passou da doença.
a ser restringido, o que levou a uma diminuição
nos casos de cegueira, entretanto, elevou o DIAGNÓSTICO
número de mortalidade e morbidade infantis.
A Retinopatia da prematuridade teve sua
A partir dos anos 70, ainda nos países classificação publicada em 1984, 42 anos após
desenvolvidos, os avanços tecnológicos na
a primeira observação de alteração em olhos
neonatologia favoreceram a sobrevivência de
de recém-nascidos prematuros por Terry. Em
prematuros de muito baixo peso (<1000g). 1987, esta classificação foi revisada e
Com isso, a incidência de ROP voltou a crescer estabeleceu os padrões de categorização da
a despeito da monitorização neonatal que o ROP baseados em gravidade e localização
aparato técnico-científico promoveu anatômica das lesões retinianas. Assim,
(“Segunda epidemia”). (PALMER, 1991)
conforme Repka (2021), houve a publicação da
Já na década de 80, os avanços no ICROP – Classificação Internacional da
conhecimento científico chegaram aos países Retinopatia da Prematuridade em 1987:
em desenvolvimento, promovendo maior A clinical classification system for acute ROP,
sobrevida aos recém-nascidos extremos e de the International Classification of Retinopathy
baixo peso, o que fez aumentar o número de of Prematurity (ICROP), was published in 1984
with input from experts from around the world.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ICROP created a semiquantitative description de meios, ausência de disponibilidade do laser


of the extent and severity of acute disease by e falta de capacidade técnica do examinador.
documenting zone, stage, and the presence or Conforme Yanoff, Myron; Duker, Jay S (2011)
absence of plus disease (posterior pole Embora a ablação retiniana seja eficaz na
vascular dilation and tortuosity) in the retina maioria dos casos com ROP limiar, um número
immediately around the optic disc. (p. 1381). significativo desses olhos evolui para
O diagnóstico, propriamente dito da ROP, é descolamento de retina. O descolamento é
realizado preferencialmente por meio de mais comumente tracional, originado na crista
oftalmoscopia binocular indireta e lente franzir-corda e circuferencial, deslocando a
condensadora de 28 ou 30 dioptrias. Para a retina de forma anterior e central. (p.610)
realização do exame, faz-se necessário que se Por conseguinte, reservam-se os
promova midríase medicamentosa por meio procedimentos cirúrgicos aos casos de
do uso de colírios à base de fenilefrina a 2,5% e descolamento de retina e que estão
tropicamida a 0,5%, diluídos ou não, condicionados a gravidade do quadro. O
dependendo do estado clínico de cada recém- objetivo é deixar o polo posterior com mínima
nascido. ou nenhuma distorção, retina totalmente
Além da classificação, o Comitê aplicada, cristalino e visão central preservados.
Internacional estabeleceu os critérios para
triagem, monitoramento e tratamento da ROP. IMPLICAÇÕES LEGAIS
Ficou instituído que todas as crianças ao nascer
Vale-se ressaltar que não obstante a
com peso inferior a 1.500g ou idade
importância do rastreio e tratamento de ROP
gestacional < ou = a 32 semanas devem ser
para o bom desenvolvimento visual de
examinadas, assim como aquelas, com peso
prematuros, a falta deste pode trazer prejuízos
entre 1.500 e 2.000g, clinicamente instáveis.
não apenas às crianças acometidas pela
Afora o exposto, outras doenças devem ser
doença, bem como a responsabilização judicial
levadas em consideração para o diagnóstico
dos profissionais de saúde envolvidos no
diferencial com a ROP. São elas: o
recebimento das mesmas. Neste sentido, o
retinoblastoma, vitreorretinopatia exudativa
risco de envolvimento judicial em casos de
familiar, Doença de Norrie, retinosquise ligada
cegueira por ROP contra os serviços de saúde e
ao x, incontinentia pigmenti.
seus profissionais são elevados, seja pela falta
de orientação pelo neonatologista (quando há
TRATAMENTO no serviço), ou pela falta de médicos
Os principais objetivos do tratamento da oftalmologistas, ou ainda por ausência de
ROP são: a prevenção do descolamento de orientação quanto aos riscos e benefícios do
retina e a melhora do prognóstico visual. rastreamento e tratamento necessários para
A primeira escolha de tratamento evitar a cegueira.
corresponde a fotocoagulação com laser de As melhores formas de evitar processos
diodo. Há também a possibilidade do uso de judiciais consequentes às complicações
crioterapia nas seguintes situações: opacidade relacionadas a ROP são: rastreamento

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sistemático e tratamento adequado em tempo


hábil.
Rastreamento: uso das diretrizes mais
aceitas entre os especialistas. Exame não
invasivo que pode ser realizado com o RN ainda
na incubadora e em ventilação mecânica.
Neonatologista atento para não atrasar o inicio
das avaliações. Orientação adequada aos pais.
Deixar tudo devidamente registrado, se
possível com imagens.
Tratamento: baseado nas recomendações
mais aceitas e praticadas na comunidade
cientifica. Iniciar tratamento somente após
exaustiva explicação aos pais sobre o
procedimento, necessidade de terapias
suplementares, taxas de insucesso, duração e
tipo de tratamento, anestesia, efeitos
colaterais e adversos. Realizado por equipe
composta por neonatologistas, anestesista,
oftalmologistas e enfermagem habituada ou
treinada para o tratamento.
Com a pandemia de COVID-19 a
telemedicina passou a ser forte aliada no
rastreio de ROP. Dessa forma, um esforço deve
ser empreendido pelo hospital e toda equipe
profissional com o objetivo de não deixar que
nenhum recém-nascido que se enquadre nos
parâmetros estabelecidos para triagem para
prevenção da ROP, deixem de ser examinados.

1173
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há numerosas pesquisas acerca do desenvolvimento retiniano e sua vasculogênese, com
ênfase na genética e terapias antiangiogênicas. “Já se demonstrou o valor inquestionável da
triagem de prematuros de alto risco para a preservação da visão. Questões de mão de obra,
custos com transporte e confiança médico-legal, associadas à ROP são barreiras à triagem
universal”. (YANOFF, Myron; DUKER, Jay S, p.611, 2011)
A telemedicina é capaz de derrubar algumas dessas barreiras, já que um técnico treinado
pode capturar imagens do fundo do olho de crianças de alto risco, em localidades distantes, e
transmiti-las para centros de referência das grandes cidades, e, então, profissionais qualificados
poderão determinar a conduta adequada em tempo hábil e baixo custo, identificando os que
necessitam de tratamento, dirimindo assim, a grande distorção do sucesso no tratamento nos
casos que ocorrem em regiões mais carentes, quando comparado com os resultados de grandes
centros.

1174
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
NAKANAMI, Célia; ZIN, Andrea; BELFORT JR, Rubens. Oftalmopediatria. São Paulo: Editora
Roca, 2010.

PALMER E. A.; FLYNN J. T; HARDY R. J. Incidence and early course of retinopathy of


prematurity. The Cryotherapy for Retinopathy of Prematurity Cooperative Group.
Ophthalmology, 98: 1628-40, 1991.

REPKA, Michael X. A Revision of the International Classification of Retinopathy of


Prematurity. American Academy of Ophthalmology. 2021. Disponível em:
https://www.aaojournal.org/article/S0161-6420(21)00525-X/fulltext. Acesso em: 14 mar 2022.

Terry TL, Fibroblastic overgrowth of persistent tunica vasculosa lentis in infants born
prematurely: II. Report of cases-clinical aspects. Trans Am Ophthalmol Soc. 1942;40:262-84.

VINEKAR, Anand; GANGWE, Anil; AGARWAL, Samarth; KULKARNI, Sucheta; AZAD,


Rajvardhan. Improving Retinopathy of Prematurity Care: A Medico-Legal Perspective. Asia-
Pacific Academy of Ophthalmology. 2021. Disponível
em:file:///Users/user/Downloads/Improving_Retinopathy_of_Prematurity_Care__A.5.pdf. Acesso
em 01 mar 2022.

YANOFF, Myron; DUKER, Jay S. Oftalmologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

1175
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SAÚDE NA ESCOLA: AÇÕES DE PROMOÇÃO DE


SAÚDE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS POR MEIO
DO PROJETO DE EXTENSÃO “ALÉM DOS
MUROS” EM ESCOLAS DA REDE DE ENSINO
PÚBLICO DOS MUNICÍPIOS DE SANTA LUZIA E
BELO HORIZONTE
João Marcelo Guimarães de Abreu1
Luciene Rodrigues Kattah2
Luísa Pettz Oliveira Hostt3
Pedro Luca Amaral Ferreira4
Rafaela Gatti Lopes5
Rayssa Miranda de Oliveira Ferreira6

1
Graduado em Fisioterapia pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH, 2005), Pós –Graduado em
Fisioterapia Ortopédica e Desportiva pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH, 2006),atualmente
acadêmico de Medicina da Faculdade de Minas Gerais (FAMINAS/BH).
2
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Mestre em Bioquímica e
Imunologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e doutora em Ciências com ênfase em Bioquímica
pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001). Licenciada em Química e Especialista em Educação Inclusiva.
Atualmente trabalha como professora no Colégio Estadual Homero Pires e é membro do Colegiado de Farmácia e
docente na Faculdade Facisa de Itamaraju.
3
Acadêmica de Medicina da Faculdade de Minas Gerais (FAMINAS/BH).
4
Acadêmica de Medicina da Faculdade de Minas Gerais (FAMINAS/BH).
5
Acadêmica de Medicina da Faculdade de Minas Gerais (FAMINAS/BH).
6
Acadêmico de Medicina da Faculdade de Minas Gerais- (FAMINAS/BH).

1176
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RESUMO: A escola representa um local estratégico para diversas formas de intervenção,


principalmente em ações que visem a promoção de saúde e prevenção de doenças. Neste
contexto, foi estruturado no ano de 2019 um projeto de extensão com a participação de
acadêmicos de medicina da Faculdade de Minas (FAMINAS/BH) denominado “Além dos Muros”,
objetivando a construção de materiais didáticos, ministração de palestras e doação de kits de
higiene arrecadados, previamente, por meio de campanhas de doação. Os temas abordados nas
palestras surgiram a partir da demanda dos diretores escolares, que por sua vez, fizeram a
escolha baseados na vivência escolar. Dessa forma, este artigo tem por objetivo, compartilhar as
experiências vivenciadas pelos discentes nas ações desenvolvidas, mostrando a importância da
troca de saberes, o aprendizado acadêmico além das dificuldades observadas ao longo a
execução do projeto.

Palavras-Chave: Saúde na Escola; Higiene pessoal; Autocuidado; Prevenção de Suicídio.

HEALTH IN SCHOOLS: HEALTH PROMOTION AND DISEASE


PREVENTION ACTIONS THROUGH THE EXTENSION PROJECT
“BEYOND THE WALLS” IN SCHOOLS IN THE PUBLIC EDUCATION
NETWORK OF THE MUNICIPALITIES OF SANTA LUZIA AND BELO
HORIZONTE
ABSTRACT: The school represents a strategic location for various forms of intervention, especially
in actions aimed at health promotion and disease prevention. In this context, an extension project
was structured in 2019 with the participation of medical students from the Faculty of Mines
(FAMINAS/BH) called “Beyond the Walls”, aiming at the construction of teaching materials, giving
lectures and donation of kits. hygiene items previously collected through donation campaigns.
The topics addressed in the lectures emerged from the demand of school directors, who in turn,
made the choice based on school experience. Thus, this article aims to share the experiences
lived by students in the actions developed, showing the importance of exchanging knowledge,
academic learning in addition to the difficulties observed during the execution of the project.

Keywords: Health at School; Personal hygiene; self-care; Suicide Prevention.

1177
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO As ações de educação em saúde fazem parte


dos eixos estratégicos de promoção em saúde
A literatura médica ratifica, por meio de e representa a possibilidade de construção
vários estudos, a importância de uma relação colegiada e participativa de soluções para o
direta entre a saúde e educação. Estudos enfrentamento do processo saúde-doença-
demonstram que quanto maior o índice de cuidado, visando garantir melhores condições
conhecimento sobre o corpo humano e os de vida à população. É necessário entender,
cuidados com o mesmo, melhores são as que para obter êxito na execução dessas ações
condições de saúde de uma população. Dessa é importante integrar o conhecimento técnico
maneira, a escola representa um local dos profissionais de saúde ao cotidiano dos
estratégico para diversas formas de profissionais da educação sem esquecer
intervenção, principalmente o evidentemente, do público-alvo, os
desenvolvimento de ações que visem a estudantes. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
promoção de saúde e a prevenção de doenças Nessa perspectiva, surgiu no ano de 2019,
e agravos (CARVALHO, 2015). um projeto de extensão, vinculado ao curso de
No Brasil, as ações educativas nas escolas, Medicina da Faculdade de Minas
tiveram início a partir de 1989 com o (FAMINAS/BH), denominado “Além dos
desenvolvimento de práticas pedagógicas Muros”. Este projeto definiu em seu escopo,
centradas em ações individuais, com ênfase na ações de promoção em saúde e prevenção de
mudança de comportamentos e atitudes, sem doenças voltado para a população estudantil
considerar, na grande maioria das vezes, a de escolas públicas, situados em áreas sociais
realidade das condições de vida em que os carentes dos municípios de Santa Luzia e Belo
estudantes estavam inseridos (VALADÃO, Horizonte.
2004; GONÇALVES, et al., 2008). O presente artigo tem por objetivo
A partir da universalização dos sistemas de compartilhar as experiências obtidas a partir de
ensino, associado a implantação do Sistema ações de prevenção de doenças e promoção à
Único de Saúde (SUS), surgiram novas políticas saúde realizada em escolas da rede pública dos
e programas focados na prestação da municípios de Belo Horizonte e Santa Luzia por
assistência e abordagem à saúde no território meio do projeto de extensão “Além dos
escolar. Atualmente, o tema saúde na escola, Muros”, sobretudo na abordagem temática de
recebe importante destaque por diversos higiene pessoal e prevenção contra o suicídio.
órgãos nacionais e internacionais. O Brasil, por
exemplo, instituiu no ano de 2007 o Programa
METODOLOGIA
de Saúde na Escola (PSE), para garantir ações
A partir de deliberações realizadas por meio
de governo voltadas a intersetorialidade,
de reuniões ordinárias do projeto de extensão
promovendo assim, o cumprimento dos
“Além dos Muros”, foi definido que o escopo
princípios e diretrizes do SUS (DEMARZO;
do trabalho seriam abordagens de promoção
AQUILANTE, 2008).
em saúde e prevenção de agravos em escolas
públicas, localizadas em áreas de

1178
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

vulnerabilidade social dos municípios de Belo questão e os alunos do projeto ao se


Horizonte e Santa Luzia. Os temas abordados prepararem para ministrar as atividades junto
foram definidos em reuniões prévias com as aos alunos das escolas tiveram um crescimento
diretoras escolares, levando em consideração em conhecimento e uma experiência única na
as demandas estabelecidas pelas mesmas prática em sala de aula.
dentro da vivência escolar. Atuando em consonância com as políticas
Na escola Municipal Dr. Oswaldo Ferreira, públicas de saúde vigentes no Brasil, sobretudo
localizada no município de Santa Luzia, foi na ótica da promoção prevenção em saúde, o
escolhido o tema: Higiene Pessoal e projeto de extensão “Além dos Muros” iniciou
autocuidado. O público alvo dessa intervenção, suas atividades de campo em abril de 2019. A
foi estudantes do quinto ao nono ano do essência do projeto, buscou acompanhar os
ensino fundamental. Vale destacar, que para a ditames do Programa de Saúde na Escola (PSE),
realização das ações na escola, os discentes do que tem como um de seus eixos
projeto de extensão produziram material estruturadores, promover saúde e perpetuar a
educativo, além de mobilizarem donativos para cultura de paz. Dessa forma, foi possível por
a confecção de kits de higiene, compostos por meio da confecção de material pedagógico e
escova de dente, absorvente, sabonete, fio ministração de palestras, abordar temas
dental, entre outros. Os integrantes do projeto sensíveis como higiene pessoal e prevenção ao
“Além dos Muros” foram divididos em duplas suicídio, buscando sempre, enfatizar um
para ministrarem as palestras, bem como melhor enfrentamento do processo saúde-
distribuir os materiais informativos e os kits doença-cuidado, com consequente melhores
higiênicos arrecadados. condições de saúde da população-alvo
Na Escola Municipal Maria Magalhães Pinto, (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).
localizada no município de Belo Horizonte, foi O trabalho desenvolvido na escola do
definido o tema: Prevenção ao Suicídio “Você município de Santa Luzia trouxe relevantes
tem uma vida toda pela frente”. Nesta ação, os informações sobre a importância do
membros do projeto de extensão fizeram parte autocuidado na manutenção da qualidade de
da Mostra Cultural da Escola, realizando vida e da saúde das crianças e dos
palestras ao longo de toda a programação adolescentes. O tema higiene foi abordado por
cultural. meio de subtemas como a higiene oral, íntima,
cuidado com os alimentos, lavagem dos
DISCUSSÃO cabelos, cuidados com as unhas, lavagem de
mãos e cuidados com as roupas, sendo
As atividades educativas desenvolvidas nas
também abordadas as doenças decorrentes da
escolas alvo por meio deste trabalho,
falta de cuidados de higiene. Esse tema foi
mostraram-se de grande importância tanto
escolhido atendendo a demanda local, após
para os alunos da escola pública, quanto para
sugestão do corpo técnico da escola.
os discentes do projeto. As crianças e
Pode-se observar a precariedade de
adolescentes da escola alvo receberam
conhecimento e a dificuldade de acesso a itens
informações importantes sobre o tema em

1179
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

básicos de higiene pessoal. Diversos nas palestras entre os alunos e a equipe


questionamentos ao longo das palestras pedagógica das escolas foi um fator
demonstraram de forma clara a necessidade de determinante para o êxito das ações.
intervenções contundentes no ambiente Por fim, a experiência vivenciada na Palestra
escolar, com o propósito de esclarecer e buscar “Você tem uma vida toda pela frente”
alternativas para a viabilização de acesso a demonstrou a importância de se intensificar o
itens de higiene pessoal, sobretudo para combate a prática de suicídio. Estudos
crianças do sexo feminino. demonstram, que diferentemente do que se
Em tempos de uma das piores pandemias da pensava em tempo pretéritos, falar sobre o
história da civilização, e que, cuidados de suicídio, além de não ser algo encorajador para
higiene pessoal são determinantes para a a prática do mesmo, ainda pode ser
contenção do vírus, se torna ainda mais considerado um fator de proteção. Diante
necessárias ações de educação em saúde e o dessas evidências, torna-se extremamente
acesso a itens fundamentais de higiene. Apesar necessárias ações preventivas, bem como
de não ter sido aplicado nenhum tipo de esclarecer à população os serviços que
questionário socioeconômico, ficou nítido nas integram a rede de saúde mental responsáveis
conversas com os alunos, que limitações pela abordagem de pacientes vulneráveis.
financeiras estão diretamente relacionadas a
não aquisição de itens de higiene pessoal
(BRITO, et al., 2020).
O projeto “Além dos Muros, arrecadou por
meio de donativos diversos itens higiênicos
para a distribuição aos alunos. Entretanto, esse
tipo de política assistencial não pode ser de
caráter sazonal, merecendo atenção especial
dos governantes para que se estabeleça um
programa de fornecimento contínuo.
Em relação a didática aplicada nas palestras,
percebemos de forma indubitável o grande
envolvimento e atenção do público-alvo, tendo
em vista que foram realizados inúmeros
questionamentos pelos discentes e docentes
pertencentes as escolas. Foi notório que, as
ações proporcionaram conhecimento técnico
aos professores e alunos, que poderão se
tornar multiplicadores das informações
absorvidas.
Como já mencionado, a construção previa,
colegiada e participativa dos temas abordados

1180
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da excepcional experiência, na troca recíproca de saberes, bem como a
possibilidade de efetivar ações de promoção e prevenção em saúde para alunos moradores de
regiões de vulnerabilidade social, percebemos a enorme necessidade de investimentos em
programas ou projetos governamentais para subsidiar itens básicos de higiene pessoal, bem
como fortalecer o programa de Saúde na Escola, com o intuito que informações relevantes
possam chegar em todas as partes do Brasil, proporcionado mudanças necessárias ao atual
cenário presenciado.
A comunidade escolar deve ser encorajada a protagonizar essas ações, recebendo todo
auxílio necessário, para mudar para melhor a qualidade de vida da população.
Verdadeiramente, este trabalho deixou marcas vitalícias, demonstrando que, com amor,
solidariedade, compaixão, empatia e conhecimento técnico, é possível criar multiplicadores de
boas práticas e costumes, proporcionando aos que mais necessitam um pouco mais de dignidade.

1181
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRITO, S. B. P. Pandemia da Covid-19: o maior desafio do século XXI. Vigilância Sanitária
Debate , p. 54-63, 2020.

CARVALHO, F. F. B. D. A saúde vai à escola: a promoção da saúde em práticas pedagógicas.


Revista de Saúde Coletiva , Rio de Janeiro, p. 1207-1227, 2015.
Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 12, n. 24, p. 181-92, jan./mar. 2008.

DEMARZO, M. M. P.; AQUILANTE, A. G. Saúde Escolar e Escolas Promotoras de Saúde. In:


Programa de Atualização em Medicina de Família e Comunidade. Porto Alegre, RS: Artmed:
Pan-Americana, 2008. v. 3, p. 49-76.

GONÇALVES, F. D. et al. A promoção da saúde na educação infantil. Interface –Ministério da


Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Cadernos de Atenção Básica- Saúde na (BRITO,
2020)Escola. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009.

VALADÃO, M. M. Saúde na Escola: um campo em busca de espaço na agenda


intersetorial.2004. 154 f. Tese (Doutorado em Serviços de Saúde) – Departamento de Prática
de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2004.

1182
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SE A EDUCAÇÃO VEM DE BERÇO, A EDUCAÇÃO


AMBIENTAL DEVE COMEÇAR NA EDUCAÇÃO
INFANTIL!
Adine Cordeiro Betioli1

RESUMO: Em tempos de consumo exagerado, de crises econômicas, sociais e sanitárias


assolando a população mundial, há quem ainda questione a veracidade das catástrofes climáticas
decorrentes do aquecimento global, que por sua vez é resultado da devastação das florestas e da
exploração dos recursos naturais de modo inadequado. Com toda a tecnologia que o homem tem
à sua disposição, com toda a informação que essa tecnologia traz, com facilidade e rapidez, ainda
há quem desconheça a importância em manter florestas e matas nativas, em cuidar da saúde dos
rios e dos mananciais, em conter a poluição e procurar energias renováveis e ‘limpas’ para que
se reduza, assim, a destruição do planeta. Não é algo que deve ocorrer apenas lá na floresta
amazônica, mas algo que devemos praticar no bairro, na cidade em que moramos, iniciando uma
onda de recuperação, respeito e cuidado ambiental, para termos qualidade de vida e para
deixarmos ‘vida’ com herança para nossas crianças.

Palavras-Chave: Preservação; Meio ambiente; Vida.

1Professora
de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

1183
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

IF EDUCATION COMES FROM THE CRADLE, ENVIRONMENTAL


EDUCATION MUST START WITH CHILD EDUCATION!
ABSTRACT: In times of exaggerated consumption, of economic, social and health crises ravaging
the world population, there are those who still question the veracity of climate catastrophes
resulting from global warming, which in turn is the result of the devastation of forests and the
exploitation of natural resources in a inappropriate. With all the technology that man has at his
disposal, with all the information that this technology brings, easily and quickly, there are still
those who are still unaware of the importance of maintaining forests and native forests, of taking
care of the health of rivers and springs, in contain pollution and seek renewable and 'clean' energy
in order to reduce the destruction of the planet. It is not something that should only happen there
in the Amazon rainforest, but something that we should practice in the neighborhood, in the city
where we live, starting a wave of recovery, respect and environmental care, to have quality of
life and to leave 'life' with heritage. for our children.

Keywords: Preservation; Environment; Life.

1184
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO vez uma postura frente a tanta destruição,


poluição e abandono, enquanto há o que
Desde os tempos mais remotos o homem cuidar.
persegue o desenvolvimento tecnológico e
econômico como forma de alcançar o
MEIO AMBIENTE,
progresso, usando os meios que encontra
disponível. A exploração dos recursos naturais SUSTENTABILIDADE E
é uma das mais exploradas como um EDUCAÇÃO AMBIENTAL:
importante subsidio para a manutenção dos
meios de produção, abastecendo as indústrias
PRIMEIROS PASSOS
e o mercado consumidor capitalista. Por muitas Problemas de preservação do meio
décadas o homem tratou estes recursos como ambiente se tornaram um assunto crítico e
fonte infinita de matéria-prima, esgotando e urgente. Para tanto, além de solucionar os
explorando-os de modo irresponsável. E problemas ambientais que afetam o mundo
mesmo com centenas de alertas por parte de atualmente, percebeu-se a necessidade de
instituições, pesquisadores e ONG’s acerca dos criar uma geração capaz de ir além, consciente
problemas que estamos enfrentando com as não apenas da necessidade de minimizar os
mudanças climáticas decorrentes de problemas ambientais, mas de formar uma
desmatamentos, da poluição de terras e mares sociedade que se perceba como responsável
e de todas as consequências disso, ainda assim por um desenvolvimento menos agressivo.
há quem questione a veracidade dessas Ester conceito foi chamado de
informações, há quem olhe o lucro como desenvolvimento sustentável e desencadeou
finalidade que justifique o risco. inúmeras ações entre grandes governantes e
Com décadas de descaso e desrespeito, organizações mundiais, na intenção de iniciar
a degradação ambiental alcançou níveis um processo de mudança na sociedade,
absurdos e vem provocando graves problemas estabelecendo mudanças de concepções e
ambientais: Efeito estufa, chuva ácida, atitudes.
desertificação, aridez, degelo das calotas O exercício da cidadania deve começar por
polares, aumento do nível do mar e muitas cada um de nós, em nossas atitudes cotidianas,
outras situações, que estão modificando nos simples momentos em que agimos para
mudanças climáticas assustadoras: ondas de com o meio ambiente. Para exercer a cidadania
calor extremo na Europa, frio e geadas fora de se faz necessário não apenas o
época em países de clima tropical, falta de reconhecimento da própria importância na
chuvas em grandes áreas, cheia de rios e construção da história da nossa terra, mas
enchentes decorrentes de índices alarmantes também a intervenção e ação de cada um na
de chuva em outros. O que temos visto é uma construção de planeta digno de ser habitado.
grande confusão climática em todos os Esse desafio exige uma nova postura frente às
continentes, causando caos, destruição e questões ambientais para que possamos atuar
mortes, por isso é essencial que tomemos de como protagonistas do desenvolvimento de

1185
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

um planeta sustentável e não como um consciente da necessidade de preservar o


espectador de sua destruição. planeta, mas que ele possa compreender-se
Segundo Cavalcante (1995): como ferramenta capaz de interceder nesse
[...] trata o desenvolvimento econômico processo. O trabalho em Educação Ambiental,
como um fenômeno ecológico sujeito as assim como qualquer trabalho educativo que
condições ditadas pelas leis imutáveis da envolva a formação de cidadãos, não pode ser
natureza. Por isso, se torna necessária a constituído de práticas segmentadas. Para que
conscientização sobre limitações físicas do a Educação Ambiental possa alcançar seus
ecossistema e a necessidade das atividades objetivos, mais que um conteúdo ou um
econômicas se adequarem a combinações projeto pedagógico pontual, deve possibilitar a
suportáveis para o ecossistema (1995, p.17). integração entre a realidade e o cotidiano dos
Nesse sentido, estabeleceu-se vários indivíduos, promovendo então a sensibilização
mecanismos legais voltados a atender e com as questões relativas ao meio e a aquisição
normatizar aspectos sobre gestão ambiental, e de conhecimentos geradores de ações.
gradativamente se encaminhou para a Segundo Dias:
necessidade de ampliar as discussões e os [...] os novos métodos para a Educação
estudos, surgindo assim a inserção do tema Ambiental dão prioridade a problemas
Educação Ambiental no currículo escolar, com concretos, à utilização do meio ambiente
a intenção de modificar hábitos, valores e imediato como recurso pedagógico, à
atitudes sociais voltados à uma melhor colaboração entre o pessoal docente de
conscientização ambiental e adoção de novas diferentes disciplinas e à necessidade de que a
hábitos, mais responsáveis quanto ao papel do escola esteja aberta à comunidade (2004,
homem para a preservação do planeta. Isso se p.212).
deu por meio das Diretrizes Curriculares Como destaca o autor, é a relação entre a
Nacionais para a Educação Ambiental na realidade do meio em que está inserido e sua
Educação Brasileira, instituída pela lei número bagagem cultural que possibilita a integração
9.795/99 que fundamentou as práticas de entre o que se discute, se aprende e se
Educação Ambiental em todos os níveis de pretende transformar em hábitos e valores
ensino. De acordo com essa lei: ambientais. Assim, não basta incutir projetos
Entende-se por educação ambiental os mirabolantes ou temas relevantes, porém
processos por meio dos quais o indivíduo e a distantes da vivência do aluno, pois a melhor
coletividade constroem valores sociais, formar de conscientizar sobre a importância da
conhecimentos, habilidades, atitudes e sustentabilidade e da preservação ambiental é
competências voltadas para a conservação do conhecendo os problemas locais e seu impacto
meio ambiente, bem de uso comum do povo, na vida da comunidade como um primeiro
essencial à sadia qualidade de vida e sua passo para que se entenda a dimensão dos
sustentabilidade (LEI 9.795, 1999, art. 1º). problemas globais, para então conduzir-se
A proposta embutida nessa lei ultrapassa a mudanças globais efetivas.
necessidade de tornar o cidadão mais

1186
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Olhar a escola como um lugar de formação e, assim, a Educação Ambiental vai ficando de
humana significa dar-se conta de que todos os lado nas escolas.
detalhes que compõem o seu dia a dia, estão Os objetivos da Educação Ambiental têm a
vinculados a um projeto de ser humano, estão finalidade de desenvolver certas atitudes e
ajudando a humanizar ou a desumanizar as competências que ajudem os indivíduos e os
pessoas. Quando os educadores se assumem grupos sociais na tomada de consciência, nos
como trabalhadores do humano, formadores conhecimentos, nas atitudes e em sua
de sujeitos, muito mais do que apenas participação efetiva frente as propostas e
professores de conteúdos de alguma disciplina, objetivos que a Educação Ambiental deve
compreendem a importância de discutir sobre traduzir:
suas opções pedagógicas e sobre que tipo de Proporcionar a todas as pessoas a
ser humano estão ajudando a produzir e a possibilidade de adquirir conhecimentos, o
cultivar (ARROYO; CARLDART; MOLINA, 2008, sentido dos valores, o interesse ativo e as
p.120). atitudes necessárias para protegerem e
Seria interessante que os alunos não melhorarem o meio ambiente; induzir novas
estivessem alheios aos problemas que fazem formas de conduta, nos indivíduos e na
parte das comunidades em que eles estão sociedade, a respeito do meio ambiente (DIAS,
inseridos, pois “a ação educativa não consegue 2004, p.109/110)
sair do marco escolar para interessar-se pela As questões ambientais extrapolam a
comunidade e fazer com que os alunos preservação das florestas ou a redução da
participem de suas atividades” (DIAS, 2004, p. emissão de gases poluentes na atmosfera. Se
212). Como aponta o autor, dentre os trata da interferência do homem sobre a
princípios básicos norteadores para a educação natureza, sobre o uso e a exploração de
ambiental nas escolas estão a compreensão do recursos minerais discriminadamente e o
meio ambiente em sua totalidade, esgotamento de recursos naturais essenciais à
considerando os aspectos naturais, políticos, vida. Desde a Revolução Industrial ocorrida no
sociais, econômicos, científico-tecnológicos e século XVIII, os recursos naturais têm sido
históricos, buscando a compreensão da teia de utilizados de forma desordenada e a natureza
relações ecológicas, políticas, socioculturais e vem sendo degradada de forma acelerada pelo
econômicas que fazem parte da constituição ser humano, ocasionando a contaminação dos
deste meio. E seu desenvolvimento na escola recursos hídricos, a poluição do ar e dos solos,
deve ocorrer pela integração interdisciplinar, o aumento da produção dos resíduos sólidos,
aproveitando o conteúdo específico de cada entre outros agravantes, tem contribuído e
disciplina, de modo que se adquira uma muito para a redução da qualidade de vida da
perspectiva global e equilibrada. O ambiente população mundial em todos os cantos do
tem uma natureza complexa e que é possível a planeta, (FRANCO, 2001).
abordagem interdisciplinar, no entanto, na
prática os professores em sua maioria não se
sentem confortáveis com este tipo de trabalho

1187
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA mediador na construção de referenciais


ambientais e deve saber usá-los como
EDUCAÇÃO INFANTIL instrumentos para o desenvolvimento de uma
Considerando-se a importância da Educação prática social centrada no conceito da
Infantil o desenvolvimento da criança na natureza.
primeira infância e nas fases posteriores de sua No entanto, apenas o conhecimento
vida escolar, vale ressaltar a necessidade de disponível por meio da informação não é capaz
novas abordagens sobre as praticas de promover mudanças comportamentais
metodológicas desenvolvidas e as suficientes para a manutenção do meio
oportunidades ofertadas. É preciso que a ambiente. De acordo com Trigueiro, [...] “o
escola ofereça à criança a oportunidade de conhecimento de um problema ambiental é
explorar, conhecer e desenvolver-se por meio condição necessária, mas não suficientes para
das diversas experiências do papel formativo, a mudança de valores que leve ao surgimento
que a escola possibilite às crianças alcançar o de atitudes positivas, desencadeando a criação
melhor em sua formação, respeitando as de uma consciência ecológica” (2003, p. 52).
vivências de cada um, sua cultura, além do Porém, quando as atitudes são desencadeadas
desenvolvimento vindo dos estímulos que por sentimentos, associadas ao conhecimento,
recebeu em família. Nos dias de hoje, surge uma preocupação maior que cede lugar
onde o conhecimento e a informação estão ao interesse e à ação, referenciais para se
acessíveis por meio da tecnologia da Internet, trabalhar a educação ambiental na sociedade.
a educação para a cidadania representa a A escola é o espaço social e o local onde o
possibilidade de motivar e sensibilizar as educando dará sequência ao seu processo de
crianças para transformar suas experiencias e socialização. O que nela se faz se diz e se
as diversas formas de participação na valoriza representa um exemplo daquilo que a
modificação da sociedade. Sendo assim, cabe sociedade deseja e aprova. Comportamentos
destacar que a educação ambiental está ambientalmente corretos devem ser
assumindo cada vez mais uma função aprendidos na prática, no cotidiano da vida
transformadora, na qual a escolar, contribuindo para a formação de
corresponsabilização dos indivíduos torna-se cidadãos responsáveis. O professor tem como
um objeto essencial para promover o papel principal, ser o mediador entre a criança
desenvolvimento sustentável. A Educação e o objeto do seu conhecimento, cabendo-lhe
Ambiental, portanto, é condição necessária a tarefa de lançar a pergunta à qual a criança
para modificar um quadro de crescente ainda não foi exposta; instigar sua curiosidade
degradação socioambiental, como [...] “mais das mais diferentes maneiras; definir uma ação
uma ferramenta de mediação necessária entre pedagógica que vá ao encontro de seu
culturas, comportamentos diferenciados e desenvolvimento e sua intenção.
interesses de grupos sociais para a construção Considerando a questão ambiental e sua
das transformações desejadas” (BEZERRA, importância, a escola deverá oferecer meios
2007, p 10). Nesse contexto, o professor é o para que cada aluno compreenda os

1188
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fenômenos naturais, as ações humanas e suas


consequências para com sua própria espécie, e
para o ambiente. É fundamental que cada
aluno desenvolva suas potencialidades e adote
posturas pessoais e comportamentos sociais
construtivos, colaborando para a construção
de uma sociedade socialmente justa, em um
ambiente saudável. De acordo com Jacobi
(1998), a relação entre meio ambiente e
educação para a cidadania assume um papel
cada vez mais desafiador, demandando a
emergência de novos saberes para apreender
processos sociais que se interligam e riscos
ambientais que se intensificam.
A educação ambiental no contexto da
educação infantil deve buscar valores que
conduzam a uma convivência harmoniosa com
o ambiente e as demais espécies que habitam
o planeta, auxiliando as crianças a analisar
criticamente o princípio que tem levado à
destruição inconsequente dos recursos
naturais e de várias espécies. Andrade (2000),
afirma que: “A natureza não é fonte
inesgotável de recursos, suas reservas são
finitas e devem ser utilizadas de maneira
racional, evitando o desperdício e
considerando a reciclagem como processo
vital” (p.36). As demais espécies que existem
no planeta merecem nosso respeito. Além
disso, a manutenção da biodiversidade é
fundamental para a nossa sobrevivência. É
necessário planejar o uso de ocupações do solo
nas áreas urbanas e rurais, considerando que é
necessário ter condições dignas de moradia,
trabalho, transporte e lazer, áreas destinadas à
produção de alimentos e proteção de recursos
naturais.

1189
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As discussões sobre o meio ambiente e as graves consequências do desenvolvimento
industrial e tecnológico, causam muitas discussões e controvérsias entre governantes,
empresários, instituições não-governamentais, estudiosos, pesquisadores, sociedade, enfim, não
há consenso sobre causas e consequências. Os primeiros eventos sobre o tema tratavam de
ecodesenvolvimento, priorizando a preservação dos recursos naturais, baseando-se na
constatação de que a natureza era finita. Com o passar do tempo foi sendo aperfeiçoada a noção
de que os recursos naturais poderiam ser usados, desde que fossem devolvidos ao planeta. Assim
surgiu o conceito de sustentabilidade.
Da mesma forma, a legislação brasileira sobre educação ambiental passou por
transformações até chegar ao conceito de escola sustentável. Segundo os conceitos do Programa
Nacional de Educação Ambiental, a Escola Sustentável tem o objetivo de promover processos de
educação ambiental voltados para valores humanistas, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências que contribuam para a participação cidadã na construção de sociedades
sustentáveis.
Quando a educação ambiental é trabalhada na escola efetivamente, os alunos são capazes
de construírem uma nova visão, mais crítica, adquirem novos comportamentos perante as suas
práticas e atitudes, conseguem se posicionar de forma crítica e reflexiva diante de diversos temas.
Quando o professor promove atividades com seus alunos, como por exemplo, a confecção de
cartazes ou as passeatas relacionadas a temáticas ambientais, geralmente essas atividades são
trabalhadas de forma vazia, pois esse momento deveria promover e ao mesmo tempo trabalhar
com seus alunos a questão de educar para cuidar o meio em que vive, ou seja, conscientizar os
seus alunos a adquirirem novos comportamentos para minimizar os efeitos causados pela falta
de educação da população por meio dessas simples atividades.
Para isso, é necessário identificar, discutir e construir novas representações de todos os
sujeitos envolvidos no processo educativo, professores, alunos, pais, comunidade. A
reconstrução das representações necessita de sua discussão. Ou seja, a educação ambiental na
escola, vai muito além da preservação dos recursos naturais e da viabilidade de um
desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente, porque, por meio do ensino isso implicará
também num equilíbrio do ser humano consigo mesmo e, em consequência, com o planeta.
A importância do educador é de promover a reflexão no âmbito escolar, sobretudo nas
séries iniciais, para tentar alcançar novas formas de se pensar. Acerca do meio ambiente,
entende-se que a educação ambiental deve fazer parte da educação formal e que pode ser
trabalhada também na educação não formal de maneira coletiva.

1190
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação,
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TRIGUEIRO, A.; Meio Ambiente no século 21. Rio de Janeiro: Sextame, 2003.

1191
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SEXTING: EXPRESSÃO CONHECIDA OU


VIVENCIADA NA ADOLESCÊNCIA?
Alexandre Jeremias1
Érika Matos Pereira da Silva2
Juliana da Silva de Almeida3
Gabriela Moitinho Custódio4
Marta Delgado Martins5
Graciele Fagundes do Nascimento6
Monalisa de Cássia Fogaça7

RESUMO: A palavra sexting é usada para nomear o envio e recebimento de mensagens de texto,
fotografias ou vídeos com conteúdo erótico ou sexual. Objetivo e Método: O presente trabalho
expõe os resultados de uma pesquisa de opinião (quantitativa) acerca do conhecimento e
práticas do sexting entre adolescentes, utilizando uma amostra voluntária de 112 alunos do
ensino médio, com idades entre 14 e 19 anos, de escolas das redes pública e privada do estado
de São Paulo. A amostra foi coletada entre 25 de abril de 2022 até 13 de maio de 2022.
Resultados: O termo sexting não era conhecido por 62% dos pesquisados. Nunca realizaram
trocas de mensagens de cunho sexual (67%). Mas, 54% já receberam prints deste tipo de
mensagem. Discussão e Conclusão: A quantidade de trabalhos e pesquisas sobre sexting no Brasil
é muito deficitária e não abrange detalhes do perfil dos estudantes além de tipo de escola, idade

1 Acadêmico do Curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul/SP – Campus Paulista.


2 Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul/SP – Campus Paulista.
3 Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul/SP – Campus Paulista.
4 Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul/SP – Campus Paulista.
5 Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul/SP – Campus Paulista.
6 Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul/SP – Campus Paulista.
7 Profª Drª do Curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul/SP.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e gênero. A maioria dos adolescentes pesquisados não se sentiam confortáveis na prática do


sexting.

Palavras-Chave: Sexting; Psicologia; Adolescência; Escola; Ensino Médio.

SEXTING: EXPRESSION KNOWN OR EXPERIENCED IN ADOLESCENCE?


ABSTRACT: The word sexting is used to name the sending and receiving of text messages,
photographs or videos with erotic or sexual content. Objective and Method: The present work
presents the results of a (quantitative) opinion survey about the knowledge and practices of
sexting among adolescents, using a voluntary sample of 112 high school students, aged between
14 and 19, from schools in the public and private networks in the state of São Paulo. The sample
was collected between April 25, 2022 and May 13, 2022. Results: The term sexting was not known
by 62% of respondents. They never exchanged messages of a sexual nature (67%). But 54% have
already received prints of this type of message. Discussion and Conclusion: The amount of work
and research on sexting in Brazil is very deficient and does not cover details of the students'
profile beyond type of school, age and gender. Most adolescents surveyed did not feel
comfortable in the practice of sexting.

Keywords: Sexting; Psychology; Adolescence; School; High school.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO As perguntas foram separadas em duas


seções. A primeira seção contém perguntas
A palavra sexting surgiu da união das sobre dados sociodemográficos, e a segunda
palavras inglesas sex e texting, que traduzidas seção, os alunos foram questionados sobre o
significam sexo e envio de mensagem de texto significado do termo sexting, contemplando
(BARROS, 2015), e sua prática consiste no envio quatro categorias a serem investigadas.
e recebimento de mensagens de texto,
fotografias ou vídeos com íntimo (CARDOSO,
RESULTADOS
FALCKE, MOSMANN, 2019).
A idade dos estudantes variou de 14 a 19
A prática de sexting se popularizou com a
anos, fase que compreende a adolescência,
ampliação do uso das tecnologias e da
segundo a Organização Mundial da Saúde
comunicação online, e faz parte da realidade
(OMS)8 . Foram respondentes 112 alunos,
de jovens e adolescentes. Diante dos fatores de
1

sendo 59% do sexo feminino e 41% do sexo


risco decorrentes da prática, e considerando a
masculino. Referente ao tipo de escola, 87%
carência de estudos brasileiros sobre o
são de escola pública e 13% de escola privada.
assunto, se faz necessária maior investigação
No tocante a cor ou raça, 43% se declararam
acerca da temática no Brasil por profissionais
brancos, 32% pardos, 20% pretos, 3% amarelos
da psicologia, visto a gravidade dos impactos
e 3% indígenas, sendo 86% residentes na
oriundos da exposição indevida do sexting,
cidade de São Paulo e 15% em outros
sobretudo no que se refere aos adolescentes,
municípios do estado de São Paulo. Dentro da
que vivem uma fase sensível do
cidade de São Paulo, 87% estão na zona sul,
desenvolvimento (MAONEL, LORDELLO,
12% na zona norte e 1% na zona leste.
SOUZA, PESSOA, 2020).
Quanto à orientação sexual, 70% se
declararam heterossexuais, 21% bissexuais, 5%
MÉTODO pansexuais, 3% homossexuais e 1%, outros. No
Para analisar o fenômeno sexting entre tocante à identidade de gênero, 54% são
adolescentes foi utilizado o questionário mulheres cisgênero, 40% são homens
estruturado aplicado em estudantes do ensino cisgênero, 5% são não-binários e 1% de gênero
médio em escolas das redes públicas e privadas fluído.
dos municípios de São Paulo, Campinas, Sobre a renda familiar mensal, 29%
Hortolândia, Santo André e Itapecerica da declararam auferir até 1 salário-mínimo, 41%
Serra. O questionário foi respondido de forma de 1 a 3 salários-mínimos; 20% de 3 a 6 salários-
anônima e por ambiente virtual, via formulário mínimos; 3% de 6 a 9 salários-mínimos; 1%
criado no aplicativo Google Form. O período da informou ganhar mais de 9 salários-mínimos, e
coleta de dados foi de 25 de abril de 2022 até 7% disseram que não possuem nenhuma
13 de maio de 2022. renda.

8
“A Organização Mundial da Saúde circunscreve a
adolescência à segunda década da vida (de 10 a 19
anos)”.

1194
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para expor o restante dos resultados foram Gráfico 1 – Percentual de alunos sobre o
elaboradas quatro Categorias: conhecimento do termo sexting
I - Conhecimento dos alunos sobre o termo
sexting;
38%
II - Como o Sexting é praticado;
III - Se os alunos se sentem confortáveis em
praticar o Sexting
IV - Perfil das vítimas e infratores.
62%

CATEGORIA I - PERCENTUAL DE Desconhecem


Fonte: Elaborado
ALUNOS SOBRE O pelos autores (2022)

CONHECIMENTO DO TERMO
SEXTING CATEGORIA II - COMO O
Do total de 112 alunos, 62% declararam SEXTING É PRATICADO
desconhecer o significado do termo sexting.
Acerca da prática do sexting, 67% dos
(Figura 1). Desses, 55% são do sexo feminino e
estudantes informaram que nunca trocaram
45% do sexo masculino. Em relação à
conteúdos sexuais virtualmente (Figura 2). No
identidade de gênero, 52% são mulheres
tocante à cor e raça, 52% são não brancas,
cisgênero, 43% homens cisgênero, 3% não-
enquanto 48% se autodeclaram brancas. Dos
binário e 1% se identifica com o gênero fluido.
não praticantes de sexting, 79% vivem com
Sobre a orientação sexual, 74% são
renda familiar mensal abaixo de 3 salários-
heterossexuais, 17% bissexuais, 4%
mínimos. Do total de respondentes 33% já
homossexuais, 3% pansexuais e 1% outros.
praticaram sexting. Sendo que 51% já recebeu
Quanto à cor e raça, 39% são brancas e 61%
print de mensagens de texto, fotos ou vídeos
não brancas. Em relação à religião, constatou-
com conteúdo erótico e sexual de pessoa
se que 42% são católicos, 26% evangélicos, 3%
conhecida, e 54% informou tê-las recebido,
cristãos, 1% budista, 1% wicca e 4% dizem não
mas de pessoa desconhecida. Somente 6% dos
ter religião. Dos inscientes do termo sexting,
alunos respondentes compartilharam os prints
79% vivem com renda familiar abaixo de 3
de pessoas conhecidas sem consentimento e
salários-mínimos. O termo sexting já era
8% já compartilharam prints com conteúdo
conhecido por 38% dos alunos. Dentre eles, sexual de pessoas desconhecidas.
65% são do sexo feminino e 35% do masculino.

1195
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Gráfico 2 – Percentual de alunos que CATEGORIA IV - PERFIL DAS


já compartilharam conteúdos sexuais
virtualmente VÍTIMAS E INFRATORES
Quanto à exposição de mensagens, vídeos
33% ou fotos de conteúdo íntimo/sexual sem o
consentimento, 4,46% dos respondentes
informaram que já foram vítimas. Dentre elas,
60% são do sexo feminino e 40% do masculino.

67% DISCUSSÃO
Nunca trocaram conteúdos
O avanço tecnológico e a ampliação do uso
Fonte: Elaborado de smartphones, o acesso à internet e o uso
pelos autores das redes sociais transformaram a forma com a
qual interagimos, visto que as ferramentas
digitais se tornaram mediadoras dos
CATEGORIA III -OS ALUNOS relacionamentos afetivos e sociais (FEITOSA,
ESTÃO CONFORTÁVEIS NA 2020). Assim, conquanto haja julgamento
moralista em relação ao sexting (LEE e CROFTS,
PRÁTICA DO SEXTING?
2015; apud MANOEL, 2020, p.41), no contexto
Do total de entrevistados, 71% declararam
contemporâneo a prática passa a ser apenas
que não se sentem confortáveis com a prática
mais uma forma de expressão da sexualidade,
de sexting (Figura 3), sendo 63% do sexo
a qual se modifica de acordo com o contexto
feminino e 37% do masculino.
histórico e cultural e não se limita a fatores
Entre os 29% que se sentem confortáveis
biológicos (LOURO, 2000).
com a prática, 56% são do sexo feminino e 44%
Contudo, a divulgação indevida de material
são do sexo masculino.
com conteúdo sexual pode ser um fator de
risco para a integridade psicológica de quem é
Gráfico 3 – Percentual de alunos que exposto, ocasionando suicídio, vergonha,
se sentem ou não confortáveis com a
prática da sexting humilhação, constrangimento, insultos e
xingamentos, falta de suporte das pessoas e
29%
instituições e sofrimento mental profundo das
vítimas (BARROS, 2013; COELHO, 2017; SOUSA,
2021; DUARTE, 2022), o que pode ser ainda
mais gravoso durante a adolescência, em razão
das vulnerabilidades individuais e sociais
presentes nesse período do desenvolvimento
71%
(SALOMÃO, SILVA e CANO, 2013).
Não se sentem confortável
De acordo com Papalia (2021), na
Fonte: Elaborado
pelos autores (2022) adolescência que ocorrem as transformações

1196
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

físicas de maturação sexual. Os adolescentes publicação, o armazenamento e a troca de


frequentemente sentem-se pressionados a mídias que contenham sexo explícito ou
envolver-se em atividades para as quais não se pornografia envolvendo criança e
10
sentem preparados e tendem a buscar a adolescente. 2

aprovação dos grupos que estão inseridos, Na pesquisa, 71% dos entrevistados
configurando um fator de risco ao declararam que não se sente confortável com
considerarmos o sexting, em que há maior a prática de sexting, sendo 63% do sexo
coerção para a prática, devido à pressão feminino e 37% do masculino. Sabe-se que as
exercida pelos colegas, à busca por regras sociais corroboram para
popularidade, dentre outros fatores (MANOEL, comportamentos diferentes a partir do gênero
et al. 2020). e para ambos, tanto masculino como feminino,
Violências de gênero também estão a educação sexual sempre foi visivelmente
presentes na prática do sexting. Conforme repressora, fato que deve auxiliar falta de
divulgado no site Safernet9 , em 2021 foram
1 liberdade em se expressar no contexto geral da
183 atendimentos de denúncias de exposição prática e manifestação sexual (SALOMÃO,
não consentida de imagens íntimas de 2013).
mulheres, que representam 67,03% do total de Outro dado relevante para essa temática é a
denúncias. Tal premissa corrobora com a questão religiosa. A maioria dos jovens
amostragem ora apresentada, em que 60% dos respondentes que se sentem confortáveis em
adolescentes que foram vítimas desse tipo de praticar o sexting se autodeclararam sem
violência são do sexo feminino. religião. Neste contexto, o que se percebe é
A maioria dos jovens adultos já manteve que as instituições religiosas exercem papel
relações sexuais virtuais pelo menos uma vez repressor no que diz respeito à iniciação do
(TOBIN, 2015; ROSS, DROUIN & COUPE, 2019; desenvolvimento sexual dos adolescentes.
apud LORDELLO, 2019, p.69). Na pesquisa, Considerando que o sexting é uma prática
aferiu-se que 54% dos adolescentes receberam consolidada na contemporaneidade e está
mensagens com conteúdo íntimo e sexual, presente na realidade dos adolescentes, torna-
enquanto 4,46% foram vítimas de exposição se, necessário que a temática seja
sem consentimento. devidamente abordada nas instituições
No Brasil há vários mecanismos protetivos e pesquisadas.
punitivos relacionados a práticas do sexting A escola tende a limitar a educação sexual às
como os que constam no Código Penal e questões biológicas e reprodutivas, ignorando
Constituição no que se refere a difamação, os aspectos afetivos, emocionais, e geradores
injúria, crimes informáticos e virtuais (MANOEL de bem-estar que permeiam a sexualidade
et al. 2020). Já o art. 241 do ECA - Estatuto do (GONÇALVES, FALEIRO E MALAFAIA, 2013).
Adolescente, caracteriza como crime a

9 Disponível em 2Disponível em:


https://indicadores.safernet.org.br/helpline/helplineviz/pt/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm
. Acesso em 25/06/2022

1197
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Furlaneto, et.al, (2018), salientam a


dificuldade histórica em trabalhar a educação
sexual na escola devido às práticas higienistas,
contenção da liberdade de expressão sexual
causada por crenças, patriarcado e censura.
Além disso, diante do tabu relacionado à
temática, há a preocupação da escola em se
indispor com as famílias dos alunos. Nesse
sentido, Foucault (1999, p. 9), esclarece que
nossa sociedade é atravessada por modos de
exclusão e interdição:
Em uma sociedade como a nossa,
conhecemos, é certo, procedimentos de
exclusão. O mais evidente, o mais familiar
também, e a interdição. Sabe-se bem que não
se tem o direito de dizer tudo, que não se pode
falar de tudo em qualquer circunstância, que
qualquer um, enfim, não pode falar de
qualquer coisa.
A família e a escola são responsáveis pela
formação do adolescente, e precisam oferecer
a eles uma educação sexual que estimule a
busca de uma sexualidade emancipatória, que
consiste em “(...) uma sexualidade gratificante,
socialmente livre e responsável,
subjetivamente enriquecedora concebida
como parte integrante e essencial da vida
humana” (GARCIA, 2005; apud, GONÇALVES,
FALEIRO e MALAFAIA, 2013, p.252), com a
promoção de ações educativas que visem à
autonomia do indivíduo, e à superação de
preconceitos e tabus.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível constatar que a prática do sexting é uma realidade entre os adolescentes,
ainda que eles não sejam conscientes deste fato. A pesquisa demonstrou que há
desconhecimento sobre a prática, pois apesar de 33% dos entrevistados declararem que já
trocaram mensagens com conteúdo sexual, 51% informaram já ter recebido print de mensagens
de texto, fotos ou vídeos com conteúdo erótico e sexual de pessoa conhecida, e 54% declarou tê-
las recebido, de pessoa desconhecida. Ademais, os fatores de risco decorrentes da prática
(cyberbullying, estupro virtual, violências de gênero), além das questões legais e criminais que a
permeiam, devem ser amplamente discutidos pela sociedade em geral, diante do dever social de
proteção à criança ao adolescente. A escola, local onde os adolescentes mantêm uma rede de
relações afetivas e de amizade é o ambiente que possibilita a troca de conhecimento e
experiências, podendo oferecer aos alunos um local seguro para a discussão de assuntos
denominados como tabu como forma de promoção à saúde emocional, física e psicológica.
Assim, indagamos sobre a dificuldade de levar o tema sexting para as escolas. Ao solicitar a
professores, coordenadores e diretores da área de ensino para divulgarmos o link de pesquisa, a
ação foi negada, dificultando o número total de participantes e uma conclusão mais consistente
quanto aos dados coletados, o que foi uma limitação da pesquisa realizada.
É preciso que as escolas promovam espaços de diálogos entre educadores e educandos e
se envolvam em projetos que visem ampliar o conhecimento acerca de temas contemporâneos
de assuntos relacionados à sexualidade. Os profissionais da educação devem se aliar às demandas
sociais que reflitam diretamente no desenvolvimento biopsicossocial de adolescentes, visto que
negar os fatos e “interditar” a troca sobre assuntos concernentes à sexualidade traz prejuízos
concretos à saúde física, e ao bem-estar psicológico e emocional do adolescente.

1199
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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<https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/21552>. Acesso em: 25, jun. 2022.

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TRABALHO DOCENTE, PRECARIZAÇÃO DO


TRABALHO E EDUCAÇÃO FÍSICA
Idayany Araújo Cardoso de Almeida1

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo compreender como o trabalho, a alienação e a
precarização se manifestam no trabalho docente na Educação Física. O trabalho docente
contemporâneo é fruto do desenvolvimento de um longo processo histórico, a profissão de
professor passou por várias transformações até alcançar consolidação legitimada em instituições
reconhecidas para o ensino sistematizado de conteúdos essenciais para o desenvolvimento da
humanidade. As questões centrais deste trabalho são: quais são as bases para se compreender
por que o trabalho antes originava e humanizava e agora desumaniza o trabalhador? Por que o
trabalho docente sofreu e sofre tantas transformações tendendo indubitavelmente para as
formas mais precárias já vistas em todo seu processo histórico? Assim, realizamos um estudo
bibliográfico de caráter teórico. Levantamos algumas categorias para nos auxiliar nesse processo:
trabalho, trabalho docente, precarização, trabalho do professor de Educação Física. Verificamos
que o trabalho alienado influencia de alguma forma todas as esferas da práxis social, sendo assim
identificamos o trabalho docente enquanto um trabalho alienado e onde há trabalho alienado há
precarização do trabalho, pois a precarização é uma categoria inerente ao modo de produção
capitalista. Na Educação Física a precarização ganha contornos de automatização, fragmentação
e intensificação do trabalho do professor.

Palavras-Chave: Trabalho; Precarização; Trabalho docente na Educação Física.

1Professora de Educação Física no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Goiás – Campus
Formosa.
Graduação: Ma. em Educação pela Universidade Federal de Goiás – REJ.

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TEACHING WORK, WORK PRECARIOUSNESS AND PHYSICAL


EDUCATION
ABSTRACT: This work aims to understand how work, alienation and precariousness are
manifested in the teaching work in Physical Education. Contemporary teaching work is the result
of the development of a long historical process, the teaching profession went through several
transformations until it reached legitimized consolidation in recognized institutions for the
systematized teaching of essential contents for the development of humanity. The central
questions of this work are: what are the bases to understand why work before originated and
humanized and now dehumanizes the worker? Why has teaching work suffered and is
undergoing so many transformations, undoubtedly tending towards the most precarious forms
ever seen in its entire historical process? Thus, we carried out a bibliographic study of a
theoretical nature. We raised some categories to help us in this process: work, teaching work,
precariousness, work of the Physical Education teacher. We found that alienated work somehow
influences all spheres of social praxis, so we identify teaching work as alienated work and where
there is alienated work there is precariousness of work, since precariousness is a category
inherent to the capitalist mode of production. In Physical Education, precariousness gains
contours of automation, fragmentation and intensification of the teacher's work.

Keywords: Work; precariousness; Teaching work in Physical Education.

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INTRODUÇÃO maneira realizou-se uma pesquisa


bibliográfica, de cunho teórico onde foram
Este trabalho se articula de forma analisadas questões importantes para a
significativa com a categoria trabalho por problemática da precarização do trabalho
compreender que esta é o ato fundante dos docente, tais como as categorias: trabalho,
seres humanos e assim sendo, ela explica nossa trabalho alienado, precarização,
gênese, nossa relação com a natureza e com fordismo/taylorismo, toyotismo,
outros seres humanos, (MARX, 1988). keynesianismo, neoliberalismo, crise estrutural
O trabalho manifesto em sua forma social do capital, para, por fim, tentarmos elucidar
capitalista apresenta diversas fragmentações e um pouco de como acontece a precarização do
contradições que obliteram a possibilidade de trabalho docente no sentido amplo e as bases
humanização integral. Marx (2010), irá nomear histórico-sociais disso.
esse processo de trabalho alienado. Após a Os objetivos específicos se centraram em
compreensão dessa categoria foi possível compreender sobre o processo de constituição
refletir um pouco mais sobre o trabalho - mais da profissionalização docente; analisar os
especificamente o trabalho docente. Alguns aspectos gerais e específicos da precarização
questionamentos se tornaram latentes, dentre do trabalho, bem como suas manifestações
eles, destacam-se: quais são as bases para se específicas na atividade docente; compreender
compreender por que o trabalho antes as especificidades da Educação Física
originava e humanizava e agora desumaniza o compreendendo os elementos da docência em
trabalhador? Porque o trabalho docente sofreu espaços escolares e não escolares.
e sofre tantas transformações tendendo Esse estudo se justifica por sua função social
indubitavelmente para as formas mais de apresentar os impactos no trabalho
precárias já vistas em todo seu processo provenientes do modelo econômico hodierno,
histórico? em especial, o trabalho docente na Educação
Assim, este trabalho foi organizado como Física, mostrando as severas fragmentações
um ensaio teórico que procura articular o sofridas ao longo de sua constituição e
trabalho docente, a precarização do trabalho consolidação enquanto profissão, buscando
em geral e especificamente na escola e as assim, promover reflexões para que ocorram
vicissitudes destes processos na Educação transformações na realidade em prol da
Física. Para tanto, houve um diálogo com possibilidade de uma história plena.
autores críticos, que possuem proximidade
com o Materialismo Histórico Dialético e que
O TRABALHO DOCENTE
lançam luz sobre os elementos chave desse
A análise do trabalho docente não deve se
trabalho.
limitar apenas em conhecer os procedimentos
O objetivo geral foi compreender os
pedagógicos utilizados no processo de ensino-
processos de constituição do trabalho docente,
aprendizagem, os conteúdos selecionados para
da precarização do trabalho e suas
realizar essa ação, a relação docente-discente,
manifestações na Educação Física. Dessa
entre outros vários aspectos que nos fazem

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compreender um pouco melhor essa categoria As escolas eram constituídas


profissional, mas também é importante principalmente em igrejas, nas catedrais e até
conhecer a sua relação com a sociedade mesmo em conventos, o corpo docente era
capitalista hodierna. composto por membros do clero. Todavia os
membros do clero não conseguiram atender a
• A origem da profissionalização do demanda dos educandos que procuravam por
trabalho docente ensino a partir do momento em que houve a
O trabalho docente, em sua estrutura atual, necessidade de abrir espaço nas escolas para as
é produto do desenvolvimento de um longo camadas populares daquela região. Com isso a
processo histórico. A profissão de educador igreja contou com a ajuda de colaboradores
passou por vários processos distintos até leigos para exercerem a atividade docente,
atingir sua consolidação legitimada em mas para que esses leigos fossem selecionados
instituições reconhecidas para o ensino eles deveriam passar por um processo de
sistematizado de conteúdos essenciais para o juramento aos princípios da Igreja por meio da
desenvolvimento da humanidade, e para isso profissão de fé, (HYPOLITO, 1997).
várias foram as suas formas de estrutura e A sociedade entra em um momento
organização. marcado por grandes transformações com o
Hypolito (1997), em seu estudo “Trabalho advento da industrialização, do iluminismo,
docente, classe social e relação de gênero” se liberalismo, dentre outros. No meio de tantas
utilizou da contribuição de Kreutz (1985, 1986), transformações, ocorrem mudanças também
para dialogar sobre a constituição histórica do na forma de organizar o processo de trabalho.
trabalho docente, que se iniciou na Europa no Sendo assim, segundo Hypolito (1997), o
século XVI a partir de visões religiosas da Igreja. ideário liberal defendia um ensino que fosse
O entendimento sobre magistrado se laico e público para toda sociedade, com isso
desenvolveu sob a lógica de sacerdócio, um toda estrutura educacional conhecida até
tipo de vocação por motivos políticos- então entra em crise, pois a formação docente
religiosos, conservadores e de caráter não deveria mais ser a partir de vocação e
autoritário pela Igreja. profissão de fé, mas deveria desenvolver-se em
A Igreja abre espaço para as camadas parâmetros técnico-profissionais. Mas nesse
populares da sociedade terem acesso a esses momento no deparamos com uma contradição
ensinamentos, mas não de forma inocente, da profissão docente que sai dos moldes
mas com o ideal de promover e manter a paroquiais e se desenvolve nos moldes de uma
influência religiosa em grande parte da sociedade capitalista, urbana e industrial, em
sociedade. Uma das manifestações dessa que,
influência era a promoção da leitura dos textos O professor detinha prestígio social,
religiosos, para que estas ficassem enraizadas autonomia e controle sobre seu trabalho; estes
no intelecto dessas pessoas, auxiliando na vão sendo perdidos quanto mais distanciada do
modelação de caráter e condutas condizentes controle comunitário e mais profissional vai se
com as doutrinas religiosas. tornando sua função (HIPOLITO, 1997, p.21).

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Esse movimento de prestígio social, ideário religioso proposto pela Igreja e utilizado
autonomia e controle do seu trabalho (embora, durante um tempo pelo Estado.
dentro dos moldes religiosos) se davam Nesse movimento, os profissionais da
principalmente pela proximidade com o educação passam a incorporarem a proposta
público atendido, pois o próprio professor é de profissão do Estado e vão criando uma
membro da comunidade e é responsável por distância das comunidades para as quais eles
uma relação muito íntima com pais e prestavam serviço. Essa adaptação ao modelo
educandos, pois trata-se de uma relação que proposto pelo Estado foi uma das formas de
dura longo período de tempo no dia, e mais consolidação do movimento liberal de
ainda, a partir do ensino de valores e morais no educação que consequentemente procura
desenvolvimento do caráter de várias crianças. atender as necessidades de perpetuação do
Os pais depositavam muita confiança nos capitalismo. O interesse do Estado então,
professores para desempenharem esse papel e estava em retirar os professores daquele local
isso refletia diretamente na profissão e em onde a atividade docente teve início no seio da
suas características de autonomia. comunidade, mas sem que fosse subtraído
Outra contradição apontada por Hypolito desses profissionais as características de
(1997), está relacionada às características do dedicação e honra que eram próprios dos
trabalho docente que vão ser incentivadas pelo docentes. Hypolito (1997, p.25), afirma que:
Estado, pois vai se retomar as qualidades Os docentes vão buscar a nova situação de
presente no ideário religioso, relacionando a trabalho – assalariamento e formação pelo
vocação à docência. O ideário e hegemonia Estado – até mesmo porque ficará cada vez
religiosa era muito forte para ser rompida de mais difícil de realizar seu oficio de ensinar
maneira tão rápida, mesmo que o objetivo sendo um trabalhador “autônomo”, pois o
fosse uma educação pública e laica, a sistema escolar a partir daí vai se
sociedade mostrava seu interesse sociocultural complexificando e exigindo profissionalização.
em se ter uma educação nos moldes Se isso, por um lado, significaria algo positivo
conservadores, de forma que os pais pudessem (garantia de alguma segurança), de outro, os
escolher quem ensinaria seus filhos e a partir docentes entram de vez na lógica alienada do
da perspectiva que lhes fosse mais coerente. trabalho assalariado.
Nesse momento a profissão docente entra
em um aspecto de crise, pois não havia como UM SALTO PARA O SÉCULO XX
conciliar a tentativa de profissionalização
A partir do desenvolvimento do capitalismo
desses trabalhadores se os mesmos
monopolista do século XX, nos deparamos com
continuassem próximos a comunidade,
um processo de transformação no processo de
atendendo todas as suas necessidades, a todo
trabalho, pois, surge uma maior quantidade de
o momento. Com isso esses professores
empregos que em seu perfil possui um
passaram a ter interesse na profissionalização
proposito nada sutil de desqualificar outros
e consequentemente vão se afastando daquele
empregos. Um dos setores que mais se
desenvolveu nesse período foi o setor de

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serviços, conhecidos por “trabalhador Se a precarização do trabalho é inerente ao


engravatado”, pois são aqueles que trabalho assalariado, alienado, esta citação de
desenvolvem seu trabalho dentro de Hypolito nos leva a compreender que a
escritórios. Os professores não escaparam a precarização do trabalho docente no Brasil se
essa nova forma de organizar o trabalho, e desenvolve há muitos anos e cada vez mais nos
então passam a serem compreendidos deparamos com desdobramentos dessa
enquanto fornecedores de serviço do Estado precarização nos anos mais atuais, embora
capitalista. possamos também perceber que a luta contra
No Brasil os estudos sobre o trabalho essas determinações capitalistas se fazem
docente a partir de uma análise ampla e crítica presentes na profissão docente por meio, por
só se desenvolveram com mais vigor a partir da exemplo, dos sindicatos.
década de 1980, pois antes disso as análises Tendo como base o desenvolvimento dessa
eram tímidas, idealizadoras ou romantizadas estrutura Hypolito (1997), desenvolve em seu
sobre a docência. Mas foi-se percebendo que estudo o que é denominado de “tese da
os moldes empresariais de administração proletarização do trabalho docente” que
estavam sendo utilizadas nas escolas como compreende o professor enquanto um
uma ferramenta capitalista de controle, ou por trabalhador assalariado, que vive um processo
vezes eram utilizadas por falta de de precarização, perda do controle sobre o
conhecimento dos diretores das escolas sobre processo de trabalho e também perde o
outras formas de administração, (PARO, 2003). prestígio social. Essa tese pode ser explicada a
A partir dessa atual configuração, alguns partir de 5 pontos de análise, sendo elas:
sociólogos se preocuparam em estudar mais O primeiro ponto refere-se ao ingresso no
profundamente a natureza do trabalho mercado de trabalho para desenvolver a
docente e suas características adquiridas prática docente e então percebe-se a ruptura
dentro da sociedade capitalista. entre o processo de formação de professor e a
O professor já se configurava como uma realidade concreta.
categoria social assalariada, quantitativamente Hypolito (1997), faz a exemplificação a partir
muito numerosa, submetida a um processo de das instituiçõe superiores de ensino que
desvalorização profissional e perda do fornecem bases que acreditam ser necessárias
prestígio social e a um arrocho salarial nunca para formação do professor, mas que na
antes imaginado; por tudo isso, no final dos verdade não condiz com a realidade
anos 70, organizou-se sindicatos para defender encontrada após a formação. Sabemos que
suas condições sociais e de trabalho. Esses hoje algumas dessas instituições tentam
sindicatos organizaram-se de forma muito romper com essa dicotomia, mostrando a fato
semelhante às entidades sindicais de em sua essência e problematizando a realidade
trabalhadores e distanciaram-se, como modelo social, o “chão” da escola.
organizativo, das formas de organização das Em primeiro lugar, torna-se um assalariado
corporações profissionais (HYPOLITO, 1997, p. e, ao vender sua força de trabalho por salário e
84). ver-se submetido a um processo de trabalho

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cujas formas de realização já estavam muito grandes, com elevado número de alunos
previamente estabelecidas, ele acaba e professores, cuja organização mostra-se
percebendo que não possui controle sobre seu complexa, grande parte dos procedimentos de
próprio trabalho, assim como qualquer ensino é imposta aos docentes, tais como
trabalhador coletivo. Há uma tecnologia definição de turmas, salas de aula, conteúdos
educacional interposta como meio de trabalho, programáticos, tempo escolar, equipamentos
entendida em sentido amplo como capitalista, etc. (HYPOLITO, 1997, p. 86).
objetivada nos materiais instrucionais, nos No quarto ponto há uma relação muito
equipamentos, nas técnicas de ensino, nos íntima com a formação de professores e
livros didático etc., que determina a prática professoras, pois nos moldes pensados para
docente a ser desenvolvida (idem, p. 86). esse profissional dentro de uma estrutura
O segundo ponto se sustenta a partir da capitalista, estes podem ser altamente
crítica sobre os instrumentos didáticos que qualificados ou podem ser excelentes
retiram a autonomia do professor em executar executantes.
seu trabalho de maneira integral. Esse é um ponto bastante delicado que está
O auxílio das novas tecnologias de relacionado ao preparo para a carreira
comunicação não são um problema em si, pois docente. Ocorre há uma desvalorização do
o docente pode utilizá-lo como uma estudante aspirante a docente antes mesmo
ferramente que auxilie no processo de ensino de sua profissionalização no campo de
e aprendizagem dos alunos e alunas, mas o intervenção, de maneira que muitos buscam
grande problema está em ser imposto o apenas a certificação de conclusão do curso de
conteúdo programático, juntamente com a formação, mas que na verdade não se
metodologia que deverá ser utilizada, sem que empenham em estudar, conhecer,
o professor e a professora façam parte desse compreender as várias demandas
processo de contrução. educacionais.
O terceiro ponto está relacionado à Numa ótica tecnicista, o trabalhador do
organização do trabalho na escola e a ensino ideal executa o que está prescrito pela
possibilidade de intervenção e participação supervisão e previsto nos manuais. Quanto
docente junto a essa organização. maior o grau de racionalização do trabalho,
A organização da escola geralmente maior a sua intensificação, reduzindo-se o
encontra-se na mão de uma pequena equipe tempo dedicado para pensar, programar e
gestora que toma decisões por todo o coletivo planejar (HYPOLITO, 1997, p. 87, grifo nosso).
sem o consutá-lo, apenas repassando as No quinto e último ponto sobre as
decisões tomadas. características da proletarização do trabalho
Quanto maior o grau de racionalização do docente, nós nos deparamos com a
trabalho escolar e mais complexas as formas de desqualificação profissional a partir do alto
organização e administração escolar, maior grau de dependência dos recursos tecnológicos
será o controle sobre o trabalho docente. Em educacionais.
grandes estabelecimentos de ensino, escolas

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A subsunção aos meios tecnológicos afastasse completamente a possibilidade de


educacionais desenvolve uma cultura objetivação do seu trabalho. Porém, a
(basicamente forçada) de professores que resistência semântica é mera figura de retórica
criam certos graus de dependência com esse e examinar a natureza docente em sua essência
mecanismo. Muitos professores é que pode possibilitar uma compreensão da
provavelmente não seriam capazes de questão com vistas à superação de sua
continuar o desenvolvimento do seu trabalho condição subordinada.
se lhe fossem tirados esses programas e Esse trabalho dito intelectual é na verdade,
pacotes didático, dada a dependência desses uma forma de venda da força de trabalho
recursos, seja por falta de tempo em preparar muito semelhante a infindas outras. Os
esses conteúdos, seja por uma formação trabalhadores docentes estão sujeitos, ainda
limitada, ou seja, por imposição da que com peculiaridades, as mesmas
administração escolar, seja por todos estes intensidades da precarização tanto quanto
juntos. qualquer outro trabalhador. Ainda que seja
Evidencia-se, assim, uma cisão entre o diferente de um trabalhador em uma linha de
trabalhador e os meios de trabalho; entre o montagem é possível analogicamente dizer
trabalhador e o processo de trabalho. Ocorre a que o professor está em uma “linha de
alienação do professor em relação aos fins da montagem” de futuros trabalhadores (ou
educação. O importante para quem controla o desempregados). Vemos isso por meio de salas
processo não são os fins, mas os meios. Assim, de aulas cada vez mais cheias, necessidade de
torna-se uma exigência o controle e supervisão cada vez mais aulas, em mais escolas, em mais
sobre um trabalho que está parcelarizado por turnos para manutenção do salário – isso nada
sua divisão técnica, o que justifica e explica a mais é do que intensificação do ritmo e da
existência e/ou a necessidade de funções jornada de trabalho.
técnicas e especialistas (supervisores e
orientadores) para substituir diferentes PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
atribuições antes exercidas pelos docentes
(HYPOLITO, 1997, p.87). DOCENTE
Outro ponto de análise está centrado na A precarização do trabalho é uma categoria
separação entre em trabalho intelectual e inerente ao modo de produção capitalista,
trabalho manual, colocando o professor na onde há trabalho alienado existe precarização
categoria de trabalho intelectual. Sobre isso do trabalho. A precarização se manifesta de
Miranda (2005, p.11), afirma: várias formas, ainda que todas elas com suas
Definir a profissão docente como grandes diferenças não deixem de ser
intelectualizada simplesmente tem sido uma precarização.
forma de “resistência” encontrada por muitos O trabalho flexível é a principal característica
autores contra a ofensiva capitalista de do precário mundo do trabalho vigente.
desqualificação, como se a condição intrínseca Característica esta que se desenvolve com o
de trabalho intelectual dos professores modo de organização e produção toyotista.

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Sendo assim como o trabalho docente está nesse momento. Na verdade se constituiu em
configurado frente a realidade da uma atividade laboral presente na organização
reestruturação produtiva do capital? do trabalho artesanal desenvolvido nas casas,
O mundo do trabalho necessita de se em família. Estendia-se também a atividades
adaptar as velozes transformações impostas artesanais rurais desenvolvidas ao longo do
pelos ciclos cada vez mais curtos de produção século XVI, Dias; Sales (2012).
de mercadorias. Essas adaptações foram Já no século XVIII, no setor industrial a
primeiramente sentidas por trabalhadores terceirização se transforma e ganha traços de
diretamente ligados a produção de natureza flexível. A produção passa a ser por
mercadorias, mas esta lógica se estendeu aos encomenda de maneira informal, fora da
mais variados tipos de categoria profissional, fábrica, “a domicílio” . De maneira que pais,
incluindo o trabalhador docente. mães, filhos, entre outros trabalhassem para
Um exemplo dessas velozes transformações garantir o sustento da família.
na vida do professor está presente no processo Na passagem do século XX para o século XXI
de formação, pois a lógica atual é a aceleração a terceirização é utilizada no período de
da formação para a rápida inserção deste acumulação fordista/taylorista. Inicia-se nas
profissional no mercado de trabalho. Com isso indústrias têxtis e automobilísticas, mas não
nos deparamos com uma formação precária, demora, com o desenvolvimento da crise
enxuta, como é o caso dos cursos de estrutural do capital (1968-1973) a se estender
licenciatura (geralmente oferecidas por a todos os outros setores. O que antes era uma
universidades privadas) em que podem ser modalidade de trabalho existente, mas pouco
realizados em até dois anos, podendo ser disseminada, passa a ser a centralidade da
cursados na modalidade à distância ou organização do trabalho nos moldes flexíveis,
parceladamente (aulas somente aos finais de na era toyotista e se amplia para as várias áreas
semana). de trabalho.
Atendo-nos apenas aos modos de Utilizada demasiadamente no setor
flexibilização da contratação e salário do industrial, a terceirização se ergue no quadro
trabalhador docente. O modelo fluido de da crise estrutural do capital, sofre mutações,
contrato de trabalho, ou seja, o trabalho com alcança elevado nível de externalização e se
tempo determinado de expiração, e também a converte em um fenômeno mundial. Como
terceirização do trabalho conduz professores a corolário, deixa de ser uma prática restrita ao
uma realidade de sobrevivência imediata, setor industrial, intensifica-se e se expande
impossibilitando qualquer tipo de estabilidade para outras áreas de trabalho, como a área do
e planejamento para um futuro um pouco mais comércio e o setor de serviços, assim como se
distante (são exemplos, os professores estabelece contraditoriamente tanto no setor
substitutos, eventuais etc.) privado como no âmbito do setor público da
A terceirização do trabalho não é algo novo economia (DIAS; SALES, 2012, p. 6).
que surge com o advento do modelo de
produção toyotista, ela apenas se acentua mais

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Essa disseminação da terceirização para as professores são contratados como substitutos


várias áreas de trabalho chega ao trabalho de outros professores que se afastam da
docente. Empresas se especializam em instituição, seja por motivos de saúde, estudo
contratar trabalhadores e então essas são etc. Essa é uma realidade que vem crescendo
contratadas para oferecerem seus serviços em escolas e universidades públicas em todo
para outra empresa, instituição etc. Dessa Brasil. O contrato temporário impede que os
forma, essas empresas contratam vários trabalhadores criem identidade com o local de
docentes (do ensino básico ao ensino superior) trabalho, com os colegas de trabalho e com o
e os coloca a disposição de escolas e próprio trabalho em si, de forma que o
universidades que preferem lidar diretamente desenvolvimento do seu trabalho pode ser
com apenas um contrato, que seria com a impedido antes de ser finalizado, ou seja, o
empresa fornecedora do serviço, do que com contrato pode ser encerrado faltando alguns
vários contratos individuais. meses para se terminar uma disciplina, por
Dessa forma várias são as implicações com exemplo, isso para não falar na
esse tipo de contrato de trabalho, como por superexploração (expressa, por exemplo, na
exemplo: a instabilidade, insegurança, imensa carga horária) destes trabalhadores.
desvalorização trabalhista e social. Se o trabalho alienado afeta todas as esferas
A tensão sobre saber se estará empregado da práxis social, obviamente também a esfera
ou não na próxima semana faz com que vários da educação formal, é preciso enfrentar
trabalhadores não desenvolvam planos exatamente a questão do trabalho alienado
futuros, desde aspectos básicos como uma para a construção de relações humanas plenas,
compra parcelada, ou até mesmo situações pois de acordo com Marx e Engels (1999, p.51),
mais definitivas, como se casar ou ter um filho “a condição essencial para a existência e
(conforme o exemplo da bancária terceirizada supremacia da classe burguesa é a acumulação
da Caixa econômica federal anteriormente da riqueza nas mãos de particulares, a
referenciada). formação e o crescimento do capital; a
A desvalorização trabalhista e social se condição de existência do capital é o trabalho
remete principalmente ao distanciamento assalariado”. E segundo Antunes (2009, p.173),
entre os trabalhadores diretamente vinculados “uma vida cheia de sentido fora do trabalho
à empresa e aqueles que são integrantes por supõe uma vida dotada de sentido dentro do
meio da subcontratação. Não há a relação de trabalho” é exatamente essa tarefa que nós
identidade de pertencimento ao local de como professores dentro e fora da escola
trabalho. Isso impede a reivindicações de temos de enfrentar.
melhoria das condições de trabalho no local
subcontratado, impossibilita a organização
para participar de movimentos de greve por
exemplo.
Os moldes flexíveis de contratação, como é
o caso do contrato temporário, vários

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A PRECARIZAÇÃO DO são mercadorias consumidas pelos clientes que


são vendidas pelos professores em forma de
TRABALHO DOCENTE E A serviço.
EDUCAÇÃO FÍSICA Essas mercadorias se inovam com uma
Neste tópico iremos apontar alguns frequência muito grande, com o intuito de
elementos que compreendemos serem gerar para os clientes a necessidade de
manifestações da precarização do trabalho consumir o produto que “promete” melhores
docente na Educação Física. Como afirmamos resultados. Essas inovações são interligadas
na introdução, compreendemos a docência em com o aumento da tecnologia que por sua vez
espaços escolares e não escolares. Nos proporciona a precarização do trabalho do
ateremos em três espaços, das academias de professor. De acordo com Furtado (2007, p.44):
ginástica, na escola de educação básica e na Um dos exemplos do aumento da tecnologia
formação de professores. nas academias de ginástica são aparelhos de
Furtado (2007), realizou um estudo em musculação, esteiras, bicicletas e outros
academias de ginástica e apresentou esse instrumentos, com um sistema de informação
como um espaço bastante propício para a computadorizada embutido no próprio
precarização do trabalho. Este autor aponta aparelho que permite ao aluno saber, sem a
que as academias de ginástica surgiram há necessidade do auxílio do professor, o exercício
pouco mais de um século e durante esse que precisa fazer, a quantidade de repetições,
período várias transformações aconteceram. a carga, a amplitude do movimento e outras
Dentre elas podemos destacar o caráter informações que demonstram claramente a
intensificador de um negócio propício para a materialização de um trabalho morto nesses
acumulação de capital. equipamentos.
No aspecto funcional, as academias O trabalho do professor de Educação Física
passaram por um processo de inovação possui um papel fundamental na prestação de
tecnológica no sistema administrativo e gestor, serviço de uma academia de ginástica, pois é
bem como nos aparelhos de treinamento por meio do trabalho do professor que a
(bicicleta, esteiras, equipamentos de academia consegue vender sua mercadoria.
musculação etc.). A organização do trabalho Todavia o professor não possui os meios para
também seguiu no processo de transformação produção independente desse trabalho, sendo
para cooperar com a produção e satisfazer as assim, ele deve submeter a venda da sua força
necessidades de acumulo de capital, Furtado de trabalho para o proprietário da academia.
(2007). A precarização do trabalho se manifesta de
Dessa forma, o contexto em que se encontra maneira latente na venda da força de trabalho
o professor de Educação Física nas academias, e na perda da autonomia de organização e
se distancia da relação professor-aluno e se planejamento das atividades. A precarização
insere em uma relação vendedor-cliente, pois apresenta-se na crescente tecnologização dos
o professor passa a vender os produtos que são aparelhos, que dispensam cada vez mais a
oferecidos pelas academias, ou seja, as aulas presença do professor e “aprisiona” sua

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atuação ao que é programado no aparelho, pedagógico da educação física, um trabalho


mas também nos métodos padronizados de instrumental e circunscrito a questões formais
aulas que os donos de academia compram e de trato com o corpo físico.
delegam a execução aos professores. Os autores ainda apontam que a realidade
Todavia a precarização também está em que se encontra o professor de educação
presente no ambiente escolar, supostamente física é inadequada devido às más condições de
mais distante das questões acima trabalho, condições insalubres para a prática
apresentadas. Gardim e Oliveira (2012), pedagógica e no campo do conhecimento que
apontam que um elemento que contribui para há a cisão entre teoria e prática.
a precarização do trabalho docente na Assim cabe aos professores de educação
educação física, é o não reconhecimento desta física romper com a dicotomia entre o
como disciplina escolar. “biológico e social” que historicamente tem
Os autores apontam que a educação física é marcado o campo acadêmico, assim como
normalmente reconhecida como atividade, e eliminar a distância de seu trabalho
entendida enquanto tal desresponsabiliza os pedagógico com as questões político-
alunos de se envolverem academicamente com pedagógicas da escola.
a disciplina. Gardim e Oliveira (2012), nos Outro espaço em que a precarização do
mostram que um dos elementos que trabalho pode ser percebida é no ensino
contribuíram para a formação desta superior, na formação dos docentes. Cunha
representação sobre esta disciplina é o fato de (2010), salienta que a educação passa a ser alvo
uma vinculação histórica com os campos do de propostas ideológicas de um estado
conhecimento relacionados às ciências neoliberal, principalmente a formação em nível
biológicas (fisiologia, biomecânica e anatomia). superior, com o intuito de preparar o
Compreendemos que tal dicotomia é fruto trabalhador para uma atuação multifacetada
de uma cisão provocada por um interesse de no mercado de trabalho,
classe por esta disciplina escolar. As classes Ainda, o plano da formação humana recebe
hegemônicas empenharam um projeto contornos de enquadramento do novo tipo de
higienista e eugenista de formação do trabalhador demandado pelo capital; neste
trabalhador legando à educação física a ponto, é possível identificar um quadro
operacionalização de uma educação do corpo hegemônico de pro¬postas educativas, na
adequada aos preceitos modernos capitalistas, intenção da conformação técnica e ideológica
Soares (2007). do novo trabalhador às perspectivas da
Gardim e Oliveira (2012), advogam que tal pedagogia das competências, basea¬das nas
realidade em que esta disciplina escolar se noções de empregabilidade e
encontra colabora para um distanciamento do empreendedorismo (CUNHA, 2010, p.3).
professor de educação física das questões A precarização do trabalho docente
político-pedagógicas da escola, uma vez que encontra raízes em um processo econômico
em muitos momentos, a comunidade escolar, conhecido como reestruturação produtiva,
ou o próprio professor, compreende o trabalho cuja base é propiciação para o acumulo de

1213
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

capital, no entanto, as consequências desses automatização do trabalho do professor de


desdobramentos ultrapassam os limites Educação Física nas academias, são alguns dos
econômicos e atingem as questões sociais, elementos que percebemos atualmente. As
culturais, políticos, dentre outros. transformações no mundo do trabalho e as
Diante disso, o autor afirma que um dos constantes metamorfoses que o trabalho
elementos da precarização do trabalho do docente tem experimentado são significativas
professor de Educação Física se manifesta por para nos deixar em estado de alerta a respeito
meio da fragmentação da formação inicial em das novas formas de precarização do trabalho.
Educação Física. Essa fragmentação se daria a
partir de novos meios legais para adequação da
configuração educacional aos novos padrões
exigidos para a manutenção e reprodução do
capital.
Cada vez mais a formação docente esvazia-
se de aporte teórico que dê sustentação para
uma intervenção educacional crítica e
transformadora, e enche-se de propostas
pragmatistas e imediatistas que apontam
como necessidade a ação prática. As
resoluções para a formação de professores de
Educação Física, formuladas no início do século
XXI são signatárias desse processo e advogadas
da epistemologia da prática.
Os desdobramentos dessas novas
organizações se manifestam nos trabalhos
desenvolvidos pelos professores nas
universidades. Conforme Cunha (2010), a
natureza do trabalho coletivo e o
desenvolvimento da tríade que são a base da
universidade (ensino, pesquisa e extensão)
passam a ter um caráter reprodutivista e
reducionista, assumindo características dos
trabalhos de produção em série,
assemelhando-se aos moldes empresariais de
desenvolvimento.
O esvaziamento da formação, a
intensificação do trabalho dos docentes do
ensino superior, o reducionismo do trabalho
pedagógico na educação básica, a

1214
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho ao longo de todo seu processo histórico sofre severas metamorfoses. Essas
metamorfoses/modificações cooperam para o desvio do trabalho no seu sentido ontológico,
revelando assim uma face negativa do trabalho – a exploração, a fragmentação, a precarização.
Esse processo de desumanização de alienação do trabalho é perceptível no modelo de
produção fordista/taylorista, embora a alienação do trabalho não seja uma especificidade, ou
seja, originada na era fordista/taylorista Esse foi um período de grande marco na vida dos
trabalhadores de maneira negativa a partir da organização da lógica do trabalho que influenciou
várias empresas de vários países, desenvolvendo não só a produção em massa, mas também a
superexploração da força de trabalho em massa e em escala global.
Mesmo após a crise do modelo de produção fordista/taylorista, (que foi uma das
manifestações da crise estrutural do capital), foi possível uma reestruturação produtiva. O capital
se reergueu por meio também do modelo de produção toyotista – conhecido também como
modelo flexível de produção. E o neoliberalismo pode ser entendido como a superestrutura de
toda essa “nova” organização do trabalho.
Portanto chegamos ao ponto em que se desdobram os reflexos da era flexível no mundo
do trabalho, sendo eles: a intensificação, superexploração, precarização, terceirização da força
de trabalho, dentre outros (ANTUNES, 2009). Essas características ultrapassam o “chão” da
fábrica e chegam ao “chão” da escola, afetando o trabalho de muitos professores – para não dizer
de todos.
Com isso verificamos que o trabalho do professor é um trabalho alienado. Nós refutamos
a ideia de que um trabalho que tem como característica principal a intelectualidade seja livre de
alienação. Portanto o trabalho docente é um trabalho alienado, assalariado e, por conseguinte
precarizado, pois a precarização é um processo inerente ao trabalho alienado, que por sua vez, é
inerente ao modo de produção capitalista.
As formas como ocorrem a precarização do trabalho docente geram desdobramentos para
as várias esferas da vida social. Essas formas vão para além dos muros das escolas e atinge a
saúde, moradia, segurança, tempo livre, lazer, relações familiares, dentre outros. Por isso citamos
que “uma vida cheia de sentido fora do trabalho supõe uma vida dotada de sentido dentro do
trabalho” (ANTUNES, 2009, p.173), bem como o contrário também é verdadeiro, uma vida
esvaziada de sentido fora do trabalho supõe uma vida esvaziada de sentido dentro do trabalho.
Por ora temos que a vida de professores e professoras tem-se tornado esvaziada de
sentido, pois o que humanizava agora desumaniza. Isto porque para garantir condições mínimas
de sobrevivência os professores precisam trabalhar em duas, três ou mais instituições e por vezes
realizar “bicos” em outras profissões como, por exemplo, garçom, garçonete, vendedor de
cosméticos, bijuterias etc. Esses professores possuem jornada e ritmo de trabalho extenuante e
ainda precisam levar trabalho para casa (provas, tarefas etc.) aumentando ainda mais essas horas
de trabalho fora do tempo de trabalho.
A partir de todos esses apontamentos e reflexões nós compreendemos que é preciso
modificar essa realidade para vivermos uma história plena. Se de fato não é possível a separação
do “homo sapiens” e do “homo faber” essa não separação do ponto de vista fundamental só é
possível naquilo que Lukács (1979), indica como sendo o comunismo como modo de produção.

1215
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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2.ed., São Paulo, SP: Boitempo, 2009.

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https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/2175-8042.2010v22n35p113.
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DIAS, A. SALES, F. Dimensão da precarização do trabalho: o adoecimento do trabalhador. In:


XV Encontro de Ciências Sociais do Norte e Nordeste. Anais do XV Encontro de Ciências
Sociais do Norte e Nordeste. Teresina: UFPI, 2012. p.1-15. Disponível em:
www.sinteseeventos.com.br/ciso/anaisxvciso/resumos/GT15-22.pdf . Acesso em 20/07/2022.

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2007.187f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Educação) – Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2007.

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VIII Seminário do Trabalho. Anais do VIII Seminário do Trabalho. Marília: UNESP, 2012. p. 1-
8. Disponível em: http://www.estudosdotrabalho.org/gt1.html. Acesso em 20/07/2022.

HYPOLITO, A. M. Trabalho docente, classe social e relação de gênero. Campinas, São


Paulo: Papirus, 1997.

LUKÁCS, G. Ontologia do ser social: os princípios ontológicos fundamentais de Marx. São


Paulo: Ciências Humanas, 1979.

MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2010.

MARX, K. O capital: crítica da economia política. Volume I. 3 ed. São Paulo: Nova Cultura, 1988.

MARX, K. ENGELS, F. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 1999.

MIRANDA, K. O trabalho docente na acumulação flexível. In: XXVIII Reunião anual da


Associação Nacional de Pós-graduação em Educação. Anais eletrônicos da XXVIII Reunião
anual da Associação Nacional de Pós-graduação em Educação. Caxambú, 2005. p. .
Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/28/textos/gt09/gt09482int.rtf. Acesso em
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PARO, V. H. Administração escolar: introdução crítica. 12 ed. São Paulo: Cortez, 2003.

1216
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TRAJETÓRIAS EM RECONSTRUÇÃO: ASPECTOS


HISTÓRICOS DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE
SARNEY–MA
Ana Paula Durans Lopes1
Altemar Lima2

RESUMO: O presente trabalho versa sobre apontamentos para estudos dos aspectos históricos
do município de Presidente Sarney - MA (Brasil), vale ressaltar que este é parte de um projeto
mais amplo de pesquisas voltadas para reconstrução da memória histórica desta cidade do
interior do Maranhão. Os estudos de cunho científico para este município ainda são escassos, o
que torna ainda mais relevante trabalhos deste tipo para registro e reconhecimento de
identidades histórica e social da população, contribuindo para pesquisas futuras sobre a história
local. Desse modo, este é um trabalho que traz alguns pontos de partida para pensar este lugar
no processo de ocupação por diferentes povos quando ainda era um povoado, perpassando pela
emancipação à categoria de município em 1994.

Palavras-Chave: História local; Memória; Presidente Sarney–Maranhão.

1
Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Maranhão (PPGHis-UFMA).
Membro do Grupo de Pesquisa: História, Religião e Cultura Material - REHCULT.
2 Doutorando em Ciências da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa -

ULHT; Mestre em Educação pela Universidade Federal do Maranhão; membro do Centro de Investigação em
Educação - CeiD da ULHT; Pós-Graduado em Filosofia pela Universidade Cândido Mendes; membro do Núcleo de
Pesquisa em Educação Avançada do Instituto Galileu Galilei.

1217
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TRAJECTORIES UNDER RECONSTRUCTION: HISTORICAL ASPECTS OF


THE MUNICIPALITY OF PRESIDENT SARNEY-MA
ABSTRACT: The present work deals with notes for studies of the historical aspects of the
municipality of Presidente Sarney - MA (Brazil), it is worth mentioning that this is part of a broader
research project aimed at reconstructing the historical memory of this city in the interior of
Maranhão. Scientific studies for this municipality are still scarce, which makes this type of work
even more relevant to record and recognize the population's historical and social identities,
contributing to future research on local history. Thus, this is a work that brings some starting
points to think about this place in the process of occupation by different peoples when it was still
a village, passing through the emancipation to the category of municipality in 1994.

Keywords: Local history; Memory; President Sarney–Maranhão.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO territorial, faz saber que no ano de 2021 a


população estimada era de 19.217
O conhecimento do presente é uma trilha pessoas distribuídas de forma díspares pela
que se percorre para reconhecer nossa área territorial de 726,172km². Essa extensão
trajetória a partir do passado. O nosso lugar, territorial limita-se ao Norte com o município
nossa família, nossa comunidade e as relações de Santa Helena, ao Sul com o município de
construídas são um percurso de Pedro do Rosário, a Leste com o município de
reconhecimento das nossas origens, das Pinheiro e a Oeste com o município de Santa
permanências e continuidades que nosso lugar Helena (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
agrega. O que somos é um caminho que foi E ESTATÍSTICA-IBGE).2
aberto em meio as labutas por mulheres e Como mencionado, Presidente Sarney faz
homens ao longo tempo e o fazer histórico parte da Baixada Maranhense que é uma
permeia por esse lugar de busca por uma região de aproximadamente 20.000 km²
trajetória de reconstrução do mais próximo de abrangente a partir do Golfão Maranhense e o
como era um determinado lugar. curso inferior dos Rios Mearim, Pindaré e
Destarte, Presidente Sarney é um município Grajaú, curso médio do Rio Turiaçu e Bacia do
do Estado do Maranhão, localizado na região Pericumã. Importante caracterização
Nordeste do Brasil, geograficamente pertence pensando a partir de um território que como
à microrregião da Baixada Maranhense e a referido é diverso em atributos ecológicos e
mesorregião do norte do Estado do Maranhão, hidrográficos e, considerando ainda que a
situando-se em uma região rica em diversidade Baixada Maranhense na sua geomorfologia “se
ecológica, geomorfológica e hidrográfica. O rio apresenta com campos inundáveis ou não,
Turiaçu, por exemplo, faz parte do ecossistema lagos, tesos e morros e, paisagisticamente,
do município, sendo um dos principais meios apresenta dois períodos um chuvoso de janeiro
de subsistência para população, seja pelo a junho e estiagem de julho a dezembro”
fornecimento de água ou pela pesca. Além (INSTITUTO MARANHENSE DE ESTUDOS
disso, Presidente Sarney apresenta na sua SOCIOECONÔMICOS E CARTOGRÁFICOS-
extensão territorial rios e igarapés, fauna e IMESC, 2013, p.29).
flora diversificada e também produção de
alimentos, principalmente advinda da
agricultura familiar.3 1

Para ambientação do lugar que


caracterizamos faz necessário pontuar
informações essenciais de localização

3 Informações retiradas do Instituto Brasileiro de BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA:


Geografia e Estatística (IBGE) e da Secretaria de Estado histórico de cidades. IBGE, 2000. Disponível em:
de Indústria e Comércio que trata em documento técnico <https://www.ibge.gov.br>; SECRETARIA DE ESTADO
sobre a extensão hidrográfica da Baixada Maranhense, DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Região Hidrográfica do
sobretudo do Rio Turiaçu e de alguns dados que tratam Rio Turiaçu. São Luís, agosto de 2010.
do comércio e agricultura dos municípios pertencentes à
Baixada Maranhense. Consultar: INSTITUTO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

1 CARACTERIZAÇÃO GERAL estas pessoas estava um que chamava José


Pimenta, o que interliga e fortalece a ideia da
DOS ASPECTOS HISTÓRICOS DE origem do povoado Pimenta (IMESC, 2013, p.
OCUPAÇÃO DO MUNICÍPIO 394).
Situado o município na localização Vejamos que este é um ponto importante
geográfica, cabe perpassar pelos aspectos de que pode abrir possibilidades de pesquisa, a
natureza histórica. Presidente Sarney, foi memória oral até então investigada menciona
criado pela Lei Estadual nº 6.198 de 10 de a presença indígena na região e a origem do
novembro de 1994 por meio do processo de nome do então povoado Pimenta converge
desmembramento do município de Pinheiro. para ideia da pimenteira à beira do rio e um
Anteriormente, Presidente Sarney era um morador chamado José Pimenta.4 Ademais, em
1

povoado conhecido pelo nome de Pimenta e um dos relatos orais faz saber que
pertencia de forma política e [...] que a origem de Pimenta os moradores,
administrativamente ao município de Pinheiro. trabalhadores de Pinheiro mesmo que vinho
No seu passado longínquo algumas pra cá, índio andava na mata pra travessar pra
informações pontuais constituem como parte Pinheiro e até tem a história de que índio foi
do processo de ocupação do espaço territorial que botara essa história de Pimenta porque
que atualmente delimita Presidente Sarney, deixaram, quando o povo daqui branco
dentre estes, a memória oral indica os povos chegaram no rio do Pimenta – a origem – uma
indígenas como habitantes na região, pimenteira (...) o pessoal se arranjaram na
igualmente como no restante do Brasil. beira do rio pra descansar, pra merendar, pra
Nesta região um dos tantos rios que compõe dormir, beber agua do rio corrente e acharam
este espaço geográfico serviu de meio de um pé de pimenta (...) acho que foi índio que
vivência dos nativos, possivelmente ali se se arranjava lá, qualquer pessoa no caso que
alimentavam e sementes de pimenta que deixaram e nasceu essa pimenteira lá e
ficaram no chão úmido, nasceram e deram também o pessoal conservaram, não cortaram
origem a pimenteiras a margem de um igarapé. deixaram lá quando tava tempo da pimenta
De maneira geral é comum a fala de moradores eles faziam era panhar pra comer aí botaram o
antigos relatarem a presença dos indígenas e a nome do rio da pimenteira (inaudível) e desse
relação com a origem da pimenteira na beira rio da pimenteira foi criando povoado,
do rio, reforça-se também que pessoas povoado, povoado rio do Pimenta rio da
passavam pela região e se acomodavam a beira pimenteira ficou aí ficou Pimenta, quando eu
desse rio para descansar da viagem, dentre me entendi já achei esse nome de Pimenta [...].
(MORAIS, 2018).5 2

4Moradores antigos do povoado Pimenta, concederam 5 Vicente Fernandes Morais. Entrevista concedida a
as entrevistas o que contribuiu para a investigação sobre Ana Paula Durans e Altemar Lima 28 de junho de 2018,
a memória oral do lugar, são eles: Vicente Morais, Presidente Sarney-MA. Nos depoimentos de Antônio
Antônio Nogueira, Eliacir Araújo Ferraz, Leopoldo Nogueira, Eliacir Ferraz, Leopoldo Pinheiro, Gregório
Pinheiro, Gregório Ribeiro, Arcângela de Sá. Ribeiro e Arcângela de Sá, moradores mais antigos da

1220
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Em estudo recente sobre as rotas indígenas Outros aspectos que compõe a constituição
na Baixada Maranhense, demonstrou-se a do município de Presidente Sarney têm relação
presença indígena na memória oral de com práticas de comércio. Nesse contexto das
moradores de Aldeia, atual povoado do primeiras décadas do século XX ainda como
município de Presidente Sarney. O próprio povoado Pimenta pertencente ao município de
nome do lugar já remete a ligações indígenas Pinheiro, a presença da Organização Comercial
pela ideia predeterminada que concebemos no Albino Paiva mostra que a região cultivava
nome aldeia, os estudos nessa região reforçam diversos produtos comercializados. A
essa ideia. Pesquisadoras relatam que os Organização tinha como intermediários no
moradores dizem que os povos indígenas povoado de Pimenta os comerciantes Robson
foram embora e deixaram as terras, Barbosa e Ludgero Dias, este último morava em
acrescentam que “nas primeiras conversas Santa Maria (outro povoado da região) e
com alguns moradores em relação ao nome comercializava produtos como milho, coco-
dessa localidade, ouvimos informações de que babaçu, feijão farinha, peles de animais
a denominação de Aldeia se deve ao fato dessa selvagens, dentre outros produtos (SOARES,
região ter sido habitada por povos indígenas.” 2016, p. 75).
(COELHO; ARAUJO; ROLANDE; 2014, p. 198- A fim de facilitar o escoamento das
199). produções, principalmente para Pinheiro, as
Os estudos da professora Josinelma Rolande estradas foram sendo abertas. Nos relatos dos
(2016), resgataram uma notícia do Jornal moradores mais antigos demonstram a
Cidade de Pinheiro em 1959 que informava que circulação de pessoas nesse território que no
até 1933 eram frequentes os conflitos entre século XX era Pinheiro. Um antigo comerciante
indígenas e lavradores na região dos povoados por nome Antônio Nogueira conta que chegou
de Aldeia e Galiza, naquela época povoados ao povoado “no dia 31 de dezembro de 1955
pertencentes a Pinheiro. Além disso, os com um comerciozinho pra comprar babaçu”,
registros apontam para cultura material da segundo ele o povoado
produção de artefatos com influência indígena. “era muito pequininho, nem casa de telha
A pesquisa orientada pela professora não tinha nenhuma, tinha uma coberta (...) de
demonstra que nos povoados de Aldeia, Canta cavaco que era de Dorotheo Dávila, tirava
Galo e Fazenda Galo atualmente pertencentes aquele cavaco assim, cortava na serra, serra
a Presidente Sarney, os moradores mais comum ia tirando aqueles cavacos ia metendo
antigos fazem de forma artesanal cofos, nos preguinhos e pregando nas ripas só tinha
abanos e jamaxi6 , itens que tem relação com a
1 essa casa de cavaco de Dorotheo Dávila, era
cultura material indígenas (ROLANDE, 2016). pouca gente”.7 2

cidade também é comum a menção a associação da para transporte de cargas, produzido com a tala do
nomenclatura de Pimenta aos índios que ali habitavam. guarimã (planta) ou folha de juçareira.
6 Cofo: cesto para armazenar alimentos e animais, 7 Antônio Nogueira. Entrevista concedida a Ana Paula

produzido com a folha da palmeira do babaçu; Abano: Durans Lopes em 25 de junho de 2018, Presidente
utensílio para abanar o fogo ou juntar lixo, produzido com Sarney.
a folha da palmeira do babaçu; jamaxi: espécie de cesto

1221
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A literatura local também descreve que os região. Essas migrações somavam-se a


povoados hoje denominados de Três Furos, possibilidade de aquisição de terras para
Galiza e Pau Furado8 , já se destacavam na
1 desenvolvimento das atividades produtivas. A
região, estes dois últimos, respectivamente, historiografia maranhense aponta para esse
possuíam casas de comércio e produção de deslocamento de migrantes das regiões do
cereais. O território que atualmente Nordeste que em períodos de grandes secas no
compreende Presidente Sarney baseava-se século XX vieram para diferentes localidades
numa produção agrícola, a Organização do Maranhão (FERREIRA, 2011, p. 8), como
Comercial Albino Paiva de Pinheiro com o vimos a respeito dos povoados Três Furos
objetivo de escoar essa produção iniciou a (Presidente Sarney-MA).
abertura de estradas que passavam por Três Em meados do século XX a Petrobras inicia
Furos, Pimenta e Galiza ligando ao município atividades de busca de petróleo na região,
de Pinheiro. Essa rota era utilizada por índios ainda é parte da memória local, pois essa
da etnia Urubus-Caiapós que desciam o rio presença também contribui para aumentar as
Turiaçu de canoa “até a povoação do Cacau, estradas de acesso aos povoados. Segundo o
hoje situada no município de Presidente relato de Antônio Nogueira
Sarney” para seguirem a então vila de Pinheiro [...] quer dizer que 60 a Petrobrás fez essa
em busca de produtos de necessidades básicas estrada, ela não fez essa estrada, ela rasgou
(SOARES, 2006, p. 72-74). essa estrada, só fez essa passagem pra Curva
Dessa forma, sobre a localidade mencionada Grande né (...) rasgou pra máquina grande
acima, Três Furos, pode-se destacar o caso que passar pra Curva Grande, eles foram ver se
no início dos anos de 1920 representa a tinha petróleo em Curva Grande, não
composição de uma população advinda encontraram, fizeram um poço bem aí no
principalmente do Ceará e Piauí “que vieram Pimentinha, fizeram outro bem ali perto do rio
para o Maranhão atraídos pela vasta grande, aquele pedacinho ainda é da Petrobrás
disponibilidade de recursos, especialmente de hoje, onde morava aquela Ventura né, quer
água e de terra. Isto está refletido em sua dizer que eles exploraram bem aí na porta de
própria localização, ou seja, é uma comunidade Deuzanira tinha um poço parece que uns 100 e
ribeirinha, situada às margens do rio Turiaçu,” tantos metros, não deu petróleo não, não
(BARROS, 2012, p. 18). encontraram petróleo na região.9 2

Desse modo, faz parte do quadro de Para além disso, essa abertura das estradas
construção histórica da Baixada Maranhense que davam acesso ao povoado de Pimenta o
comunidades que foram formadas em função prefeito de Pinheiro daquela época Maneco
das migrações de pessoas do semiárido Paiva cedeu as máquinas da prefeitura a Orlico
nordestino devido às constantes secas da Soares que era representante da Organização

8O povoado de Pau Furado, atualmente é denominado nome antigo do lugar. A comunidade é certificada como
de Nova Jericó, pelos registros orais o nome foi remanescente quilombola.
9
modificado em decorrência da influência de igrejas Antônio Nogueira. Entrevista citada.
evangélicas e pelo incômodo dos mais jovens com o

1222
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Comercial Albino Paiva. O prefeito também Destarte, a região que atualmente se localiza
tinha interesse em “construir uma estrada para o município de Presidente Sarney inicia um
acesso ao povoado, considerado por ele, como desenvolvimento na segunda metade do
o mais próspero do município.” (SOARES, 2006, século XX, tornando-se com maior influência
p. 212). Vicente Morais faz um relato comercial e também política. Nesse contexto,
interessante sobre esse interesse no povoado José Sarney está em período de ascensão
de Pimenta, segundo ele política no governo do Maranhão (1965-2006),
O pessoal de Pinheiro, os prefeito sendo pinheirense Sarney tem uma influência
começaram a olhar pra Pimenta, foi crescendo política preponderante na Baixada, inclusive
povoado, uma produção de babaçu muito indo ao povoado de Pimenta diversas vezes.11 2

grande, de produto de babaçu, de arroz, de Nesse processo de desenvolvimento, já em


farinha que era que o povo daqui vivia disso e 1982 chega energia ao município, feito
de comércio também, os comerciantes os marcado pela inciativa dos moradores e
primeiro que eu conheci aqui já posso dizer que lideranças políticas da época, a saber sobre a
eu criança tinha nome de gente de comércio as chegada de energia,
famílias mexiam com barraca, comprador de [...] fiz parte disso aí foi briga minha com o
coco (...) o comerciante mais velho que teve prefeito de Pinheiro (...) porque a gente queria
aqui o senhor de Dorotheo Dávila até os peso e era muito difícil né aqui tinha uma pessoa
dele era de pedra...os peso de pesar coco [...] o muito importante que fez parte aqui que era o
sentido da Petrobrás era petróleo, petróleo senhor de Robson ele não era comerciante,
mesmo. Eles montaram uma (...) ali no tinha sido comerciante da história de Pimenta
cajarana, montaram uma torre, furando o senhor de Robson de Oliveira, o homem que
buraco, um movimento danado isso na época eu encontrei aqui que era o líder que tinha
de 56, depois que eu cheguei aqui em 74, amizade com os políticos de Pinheiro, com
depois que eu cheguei aqui, eles já tinham político de São Luís inclusive ele trouxe Zé
vindo fizeram uns furos que eles deixaram aí no Sarney como governador, era governador ele
cajarana deixaram um poço grande lá e depois trouxe ele aqui com Sarney Filho era um
tapavam tudo quando saiam deixavam tudo molecão, um frangote bem novinho grandão
encimentado, buraco tapado com o sinal lá de mas criança ainda, seus 14, 15 anos ele veio
vez em quando vinho, e quando vieram de aqui, o Robson que trouxe ele aqui (...). Depois
novo que foi de 56 pra 74 depois que eu tava ele continuou de vez em quando vindo, a
aqui (não lembro bem a data) aí furaram um primeira vez que ele veio eu já tava morando
poço lá no Rio Grande nessa época eu aqui nós esperamos ele através do Robson e
abastecia a firma lá de carne de boi, eu compro recebemo ele aqui com uma poção de gente
boi e botava aí eu mexia com gado, viajava (...) antes de cidade, antes da emancipação,
muito pro Pará com boiada 10 . 1 bem antes e essa emancipação foi em
1900..93, porque a eleição daqui a primeira

10 Vicente Fernandes Morais. Entrevista citada. 11 Relato presente nos depoimentos de Antônio
Nogueira, Vicente Morais e Eliacir Ferraz.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

porque teve a eleição do município pra passar começa na cabeceira do Rio Certo, segue pelo
pra município né foi em 93 e a eleição já de talvegue do referido Rio Certo, até sua foz na
prefeito foi em 96 [...].121 margem esquerdado Rio Turiaçu. d) Com os
Esse processo de eleições ao qual é referido municípios de Santa Luzia do Paruá e Santa
diz respeito a um plebiscito popular ao qual a Helena: começa na foz do Rio Certo com o Rio
votação era para decidir pelo Turiaçu segue pelo talvegue do referido Rio à
desmembramento ou não de Pimenta do jusante, até a foz da Lagoado Fumo, nos limites
município de Pinheiro, a decisão popular foi antigos de Pinheiro e Santa Helena e ponto (A).
pela aprovação da emancipação. O projeto foi Ficando fechado o perímetro do município de
encaminhado pelo deputado Remi Trinta e Presidente Sarney (FAMEM, 1994, p.1).
promulgado na Lei n° 6.198 pelo governador Adiante, a Lei estabelece sobre as
José de Ribamar Fiquene em 10 de novembro Disposições Transitórias da administração
1994. Da criação do município, o Artigo 1º pública, fica promulgado no Artigo 3º que nos
consta que “é criado o Município de Presidente quatro primeiros anos da instalação do
Sarney, com sede no Povoado Pimenta, a ser município de Presidente Sarney serão
desmembrado do Município de Pinheiro, observadas as normas constitucionais em que
subordinado à Comarca de Pinheiro”. a Câmara Municipal será composta de nove
(FEDERAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DO vereadores e a Prefeitura Municipal terá no
MARANHÃO-FAMEM, 1994, p.1). máximo cinco secretarias, estabeleceu ainda
Os limites territoriais são definidos pela Lei que as despesas orçamentarias do recém
de criação e lê-se que: município não poderia ultrapassar cinquenta
a) Com o município de Santa Helena: começa por cento da receita municipal (FAMEM, 1994,
no perímetro do Rio Turiaçu, na foz da Lagoa p.1).
do Fumo, dessa Lagoa segue uma reta sentido Como dito a lei de criação é de 1994,
Noroeste até a bifurcação dos Rios Santo contudo, o processo de instalação acontece em
Antônio e Igarapé do Velho Bento. b) Com o 01 de janeiro 1997 com a posse nos cargos
município de Pinheiro: começa nesta eletivos de prefeito, vice-prefeito e vereadores
bifurcação do Rio Santo Antônio com Igarapé em um Prédio provisório como consta na Ata
do Velho Bento, segue pelo talvegue do Rio de Instalação com a presença do Juiz de Direito
Santo Antônio até sua cabeceira no divisor de da 1ª Vara da Comarca de Pinheiro, Dr.
águas do Turiaçu e Pericumã; segue uma reta Reginaldo Moreira Serra que presidiu a
da cabeceira do Rio Santo Antônio até a solenidade. Foram eleitos no dia 03 de outubro
cabeceira do Rio Galo, lugar Vai Quem Quer; de 1996 o prefeito Penaldon Jorge Ribeiro
dessa cabeceira segue outra reta até a Moreira, o vice-prefeito Manoel Sousa
cabeceira do Rio Bem Pindova no lugar Fernandes e os seguintes vereadores:
Urucurana, na estrada que liga Paraíso ao Domingos Sá Monteiro, José de Ribamar Silva
Povoado Cacau e cabeceirado Rio Certo. c) Araújo, Domingos Silas Ferreira, Vicente
Com o Município de PEDRO DO ROSÁRIO: Fernandes Moraes, Manoel de Jesus Vieira,

12 Vicente Fernandes Morais. Entrevista citada.

1224
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Joacir Batista de Sousa, Pedro Vital Ribeiro, Brito, Santa Maria, Santa Rita, Jericó, Bem
Raimundo José Monteiro, João dos Santos Posta, Centrinho, Passa Bem, Pirinã, Brito.13 1

Melo Amorim, Raimundo Alves do Nascimento Além dessas comunidades outros povoados
e Valdemar dos Santos Soares. A Ata de fazem parte de Presidente Sarney, a exemplo:
Instalação do Município menciona que além Três Furos, Mata de Zé Roberto, São Romão,
dos eleitos para administração pública, fazia Rio de Areia, Rio Fundo, Cascudo, Pimentinha,
presente demais autoridades e personalidades Alto Verde, São Francisco, Bem Posta, Jalapa,
(ESTADO DO MARANHÃO, 1997, p. 1). Tabocal, Galiza, Pacheco, Fazenda Galo, Canta
O objetivo até aqui era justamente realizar Galo, Jandiá, Rio Grande, Granja, Rio do Meio I,
apontamentos sobre os aspectos históricos Cebolal, Estrada Grande, Cacau, Aldeia, Entre
mais gerais de ocupação de Presidente Sarney, Rios, Galiza, Martins, Lodino, Castanheira,
o ponto principal é levantar a importância para Canarana, Cajarana, Limeira, Feliciano.14 2

estudos mais consistentes sobre a região, Nesses povoados estão distribuídas as


apesar de praticamente inexistentes os escolas públicas municipais, os jardins de
trabalhos de cunho científicos que tratam da infância de obra do Pe. Luigi Risso e as escolas
região, nesse breve histórico até a estaduais. No último levantamento do Censo
emancipação podemos perceber as Escolar em 2021, foram atendidos na Educação
possibilidades de pesquisa sobre a história Infantil 1757 crianças (matrículas na creche
local, o que pode abranger estudos sobre as 972; pré-escola 785); Ensino Fundamental
relações políticas, a influência indígena na 3.790 matrículas e no Ensino Médio 670
região, os aspectos de organização sociais, a matriculados.
cultural material e imaterial, e também a Fazendo um adendo, uma figura de grande
população remanescente quilombola. contribuição na constituição no município
Nesse sentido, cabe destacar que desde quando ainda não era emancipado, é o
atualmente, Presidente Sarney possui 14 padre Luggi Risso, importante figura em
comunidades remanescentes quilombolas questões sociais e educacionais que dedicou
certificados que reforçam as origens uma atenção especial a Educação Infantil na
diversificadas dos moradores compondo uma Baixada Maranhense, especialmente em
população com diferentes etnias e dizendo Pinheiro e Presidente Sarney. Luggi Risso
muito sobre a história deste município que construiu jardins de infância nos povoados e
merece estudos acadêmicos mais profundos. também na sede de Presidente Sarney. Até o
As comunidades reconhecidas pela Fundação início dos anos 2000 os jardins Cavalinho do
Cultural Palmares, são: Bebe Fumo, São Felipe, Mar (Galiza), Mãe Luciana (Três Furos) e Jardim
Canta Galo, Cocal, Quatro Bocas, Mato do Mata o Lobo em Presidente Sarney atendiam
as crianças da região.15 Além da criação de
3

13 FUNDAÇÃO CULTURAL PALMARES. Certidões 14 Pode ser que tenha outros povoados não identificados
expedidas às comunidades remanescentes de acima.
quilombos (CRQs), publicada no DOU de 20/01/2022. 15 Dados compilados a partir da entrevista: Pe. Luiggi

Disponível em: <www.palmares.gov.br>. Acesso: Risso. Entrevista concedida a Rodrigo Pereira da Silva
02/07/2022. e Dimas dos Reis Ribeiro.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

jardins se destacou em na construção de Nogueira, Raimunda Araújo e Necionista. A


pontes e aberturas de estradas no interior da professora Marinalva Nogueira foi lembrada na
região de Presidente Sarney quando ainda era fala de Antônio Nogueira, uma das pessoas que
o povoado Pimenta e construiu igrejas como contribuiu neste trabalho como fonte oral.
parte de suas obras e atuação missionária, o Marinalva Nogueira também foi homenageada
Pe. Risso é lembrado de forma afetiva nos com seu nome na escola do povoado de Bebe
relatos orais ele vinha todo tempo, o Pe. Risso, Fumo.
todo tempo ele vinha aqui, ele vinha e nos
outros povoados, ele ia de animal, deixava o
carrinho aqui e ia de animal (...) tem o jardim
Mata o Lobo que ele fez...jardim Mata o Lobo
até meus filhos estudaram lá [...] 16 1

Pe. Risso um grande herói de Pinheiro e pra


esses interior...nós deve muito a Pe. Risso, não
só como padre porque como padre se deve as
instrução que eu e outros mais recebe (...) um
grande conselheiro... e como homem pra
desenvolver nosso município ele ajudou muito
antes de prefeito ajudar aqui ele ajudou, em
qual área? Na área da educação
principalmente, porque ele era o religioso que
dava reunião com a gente era ele (...) Pe. Risso
um grande educador, muito trabalhador, na
área da educação, não era só de igreja que ele
educava gente, nessa área de criança de vocês
criança (...) esse negócio de jardim de infância
[...] 172.
Além dos jardins de infância construídos
pelo padre Risso, uma das primeiras obras
públicas construídas no município de
Presidente Sarney foi à escola Inah Rêgo, uma
homenagem a professora Inah Araújo de
Moraes Rêgo que contribui para educação no
início do município, a escola é de 1964, os
primeiros funcionários da Escola Inah Rego
foram Noca Gazeta, Lucilene Silva, Marinalva

16Eliacir Araújo Ferraz. Entrevista concedida a Ana 2 Vicente Fernandes Morais. Entrevista citada.
Paula Durans Lopes em 16 de julho de 2018. Presidente
Sarney.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destacamos que as diferentes pessoas que habitavam a região tem importância primordial
como sujeitos que fazem a história de um lugar, sejam elas lavradores, comerciantes,
remanescentes quilombolas ou indígenas, ou ainda mulheres como Arcângela Sá, Francisca
Moraes, Maria Cruz e tantas outras trabalhadoras dentro e fora de casa, lavradoras que
produziam alimentos de subsistência ou mesmo quebradoras de coco babaçu que
complementavam a renda, todos esses sujeitos contribuíram na constituição do município e
fazem parte das características de ocupação e formação do lugar.
Nos relatos orais aparecem outros nomes que cabe a menção como Inácio de Loyola
D’ávila, Raimundo Saiá, Nhô Sá, Hermógenes, Domingos Lobato, José Pimenta, Dorotheo Dávila,
Gregório Ribeiro, Raimundo Barroso18 , moradores em grande maioria nascidos no contexto da
1

primeira metade do século XX. Outro morador que permanece na memória local é o senhor
Leopoldo Pinheiro (In Memorian) foi um dos moradores mais antigos do munícipio, sempre
trabalhou como lavrador sendo uma figura constantemente lembrada por guardar na memória
parte da história do povoado de Pimenta. O senhor Leopoldo, é sempre bem lembrado em
questões culturais e religiosas do município e até o momento parece indicar elementos em suas
práticas que entrecruzam o catolicismo popular e sincretismo religioso de influência afro-
maranhense.19 2

Por conseguinte, o destaque dos nomes se torna imprescindível, pois estamos tratando de
um trabalho de nível a buscar elementos de informações sobre a história local basilar. Como bem
no diz o historiador Carlo Ginzburg (1989), o nome é parte primordial de uma pesquisa, pois, as
“linhas que convergem para o nome e que dele partem” desponta o tecido social. E essa trama
social, de trajetórias que precisam ser reconstruídas que precisamos para despontar estudos
sólidos sobre Presidente Sarney.

18 Raimundo Barroso chegou no povoado de Curva Grande às margens do rio Turiaçu, provavelmente como
imigrante do semiárido nordestino e se destacou na região por seus conhecimentos em remédios medicinais e
práticas de tratamento de diversas doenças, é um nome que se destaca na região sendo lembrado no município por
meio de homenagem em uma Unidade Básica de Saúde.
19 Dados compilados na entrevista de Leopoldo Pinheiro concedida a Ana Paula Durans Lopes em 21 de 21 de

novembro de 2018. Presidente Sarney.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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povoado de Três Furos, município de Presidente Sarney – MA. 2012. Monografia (Graduação
em Geografia) - Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2012.

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entrelinhas dos discursos. In: ARAÚJO, R. I. S. et al. (orgs.). Paisagens: leituras e releituras da
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e Posse nos cargos eletivos de Prefeito, Vice-Prefeito e de Vereadores. Presidente Sarney
– MA, 01 de janeiro de 1997.

FEDERAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DO MARANHÃO. Lei n° 6.198 de 10 de


novembro de 1994. Cria o município de Presidente Sarney e dá outras providências. – São Luís,
10 de novembro de 1994.

FERREIRA, M. M. G. Migração de nordestinos para o Médio Mearim-MA (1930-1960): literatura


regional e narrativas orais. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – ANPUH 26., 2011. Anais
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2022.

GINZBURG, C.; CASTELNUOVO, E. (orgs.). A Micro-história e outros ensaios. Tradução de


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Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: Acesso em: 02 jul. 2022.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Manual técnico de uso da terra:


manuais técnicos em geociências. n. 7. Rio de Janeiro: IBGE, 2006.

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Enciclopédia dos Municípios Maranhenses: microrregião geográfica da Baixada Maranhense.
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SOARES, José Jorge Leite. Lugar das águas: Pinheiro 1856-2006. São Luís: Lino Raposo
Moreira, 2006.

1228
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

UMA LEITURA DISCURSIVA DO EROS


PLATÔNICO PRESENTE NO AMOR DO CONTO
“A vela ao Diabo” DA OBRA TUTAMÉIA (1967)
DE JOÃO GUIMARÃES ROSA
Wanúbya do Nascimento Moraes Campelo Moreira1
Liliane Afonso de Oliveira2

RESUMO: O presente estudo fará uma abordagem dialógica do autor João Guimarães Rosa com
o autor Grego Platão acerca da temática amorosa. O artigo coteja a referida temática com relação
às categorias platônicas sobre Eros, expressas no livro O Banquete (PLATÃO, 2001), com intuito
de provocar anacronicamente a intertextualidade com Tutaméia: terceiras estórias (1967), de
Guimarães Rosa. Para esta análise, dos 44 contos da obra rosiana foi selecionado o conto “A vela
ao Diabo”, que aborda a temática amorosa, por meio de metodologia comparativista (WELLEK,

1 Professora Adjunta da Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA. Doutora em Estudos Literários - UFPA.
Mestra do Programa de Pós-Graduação em Letras - Estudos Literários, como bolsista da CAPES – PPGL - UFPA.
Especialista em Língua Portuguesa (PUC-MG). Especialista em Língua Brasileira de Sinais para a Educação
Inclusiva (FIBRA). Licenciada Plena em Letras – Língua Portuguesa (UEPA). Licenciada em Licenciatura em Letras
Língua Inglesa (UNICESUMAR). Integrante do grupo de pesquisa (ELOS) - Estudos de Línguas Orais e Sinalizadas
cadastrado no Diretório do CNPQ. Integrante do grupo de pesquisa em Educação e Diversidade na Amazônia –
(GEDAM), no qual coordena a linha de pesquisa Leitura, Literatura, Identidade e Diversidades. Coordenadora do
Projeto de Extensão Entre Letras (UFRA).
2 Professora Adjunta da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Doutora em Comunicação, Linguagens

e Cultura (UFRA). Mestre em Comunicação, Linguagens e Cultura (UFRA). Graduada em Letras (Português) pela
Universidade da Amazônia. Professor Auxiliar I da Universidade Federal Rural da Amazônia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

1970), leitura hermenêutica (YAUSS, 1967) e discursiva, esta última com fundamento teórico de
Patrick Charaudeau (2001) e de Bahktin (1981).

Palavras-Chave: Eros; O Banquete; Tutaméia.

A DISCURSIVE READING OF PLATONIC EROS PRESENT IN LOVE


FROM THE STORY “A vela ao Diabo” FROM THE WORK TUTAMÉIA
(1967) BY JOÃO GUIMARÃES ROSA
ABSTRACT: The present study will make a dialogic approach between the author João Guimarães
Rosa and the Greek author Plato on the theme of love. The article collates this theme in relation
to the Platonic categories about Eros, expressed in the book O Banquete (PLATÃO, 2001), with
the aim of provoking an anachronistic intertextuality with Tutaméia: Terceiros Estórias (1967), by
Guimarães Rosa. For this analysis, from the 44 short stories of Rosa’s work, the short story “A
vela ao Diabo” was selected, which addresses the theme of love, through comparative
methodology (WELLEK, 1970), hermeneutic (YAUSS, 1967) and discursive reading, the latter with
theoretical foundation by Patrick Charaudeau (2001) and by Bahktin (1981).

Keywords: Eros; The banquet; Tutaméia.

1230
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Bahktin (1981), também realizou


importantes contribuições a esse tipo de
O presente estudo teve como espoco análise, introduzindo categorias como
aproximar o autor João Guimarães Rosa ao polifonia, dialogismo, elaborando
autor grego Platão, atualizando o conceito da considerações sobre as imbricações entre a
temática amorosa apresentada pela obra grega interação verbal e a realidade social em que é
em relação à obra literária rosiana. Esse estudo motivada e produzida a enunciação,
anacrônico dos discursos faz um diálogo de enriquecendo a filosofia da linguagem, antes
temas universais, como o amor, visto em obras excessivamente formalista e estrutural, com
de períodos históricos distintos. Dessa forma, concepções socialistas fortemente
observa-se como o autor brasileiro, Guimarães influenciadas pelas categorias de estudo do
Rosa, atualiza essas possibilidades de leitura do materialismo dialético marxista. Em alguns
Eros, advindas da obra platônica. Analisar momentos do trabalho essas categorias serão
temas universais discursivamente é uma empregadas.
proposta que sempre será contemporânea e Aliando-se às importantes reflexões sobre o
vislumbra uma possibilidade humanista de papel dos sujeitos no ato comunicativo da
compreensão do sentido da existência enunciação, Charaudeau (2001), apresenta um
humana. quadro esquemático e didático sobre essa
Por conseguinte, as análises das obras, serão interação entre os sujeitos e sobre esses e o
aproximadas por meio de leituras discursivas contexto real em que se produz a enunciação,
fundamentadas no teórico linguista francês permitindo-se ser adequadamente utilizado
Patrick Charaudeau (2001), uma vez que a em análises do discurso literário, como neste
linguagem é vista como uma capacidade presente estudo.
orgânica do indivíduo e também uma interação Explicitando as teorias de Charaudeau
social que gera uma materialidade em termos (2001), percebe-se que ele elucida o ato de
simbólicos, sendo assim, trata-se de uma forma linguagem como o indicador de uma
de conhecimento que se interliga intencionalidade dos sujeitos falantes, ou seja,
indissociavelmente a uma forma de ação. dos parceiros de um intercâmbio. E, essa
Nestes termos, faz-se mister perceber a parceria depende da identidade deles e resulta
linguagem como concatenação do locutor com em um objetivo de influência, portador de um
o alocutário, bem como com os objetos no propósito. Além disso, se realiza num tempo e
mundo. O discurso, então, passa a ser num espaço determinado o que é denominado
entendido como a linguagem posta em ação de situação.
para produzir sentido, que, por sua vez é Corroborando com o autor, para que um ato
construído a partir da relação do Sistema de linguagem seja eficaz é necessário que os
(signos e regras) com a História (fatos e parceiros reconheçam mútua e
convenções) e o Sujeito (intenções e obrigatoriamente o direito à palavra, o que
inferências). depende da sua identidade, e que eles
possuam em comum um mínimo dos saberes
colocados em jogo no intercâmbio da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

linguagem. Esses parceiros praticam algumas Note-se então, que o circuito externo é o
estratégias. mundo objetivo e nele temos a relação entre o
A estruturação de um ato de linguagem Eu comunicante e o Tu interpretante, já no
engloba dois espaços, sejam eles: o das circuito interno, ou seja, no mundo discursivo
limitações, que compreende os dados mínimos observamos a relação entre EU enunciador e
aos quais é necessário satisfazer para que o ato Tu destinatário que funcionariam como autor e
de linguagem seja válido; e o das estratégias, leitor modelo, respectivamente.
que por sua vez corresponde às possíveis Nesse sentido, percebemos que a análise do
escolhas que os sujeitos podem fazer na discurso, perpassando pela ótica das ciências
encenação do ato de linguagem.
da linguagem, não é experimental, mas
Para que um enunciado seja válido, coloca-
empírico-dedutiva. Logo, o analista, parte de
se em xeque o princípio da pertinência do ato
um material empírico, a linguagem, com suas
de linguagem que vai além da instância da
configurações semiológicas até a manipulação
enunciação e, inclui um saber prévio sobre a
experiência do mundo e sobre os da configuração verbal para determinar, por
comportamentos dos seres humanos vivendo meio da observação das compatibilidades e das
em coletividade. incompatibilidades de infinitas combinações,
Esse princípio se realiza num duplo espaço os cortes formais simultaneamente às
de significância, o externo e o interno à sua categorias conceptuais que lhes
verbalização, determinando também dois correspondem.
sujeitos que agem como seres sociais que Trilhando esse caminho, percebe-se que a
possuem determinadas intenções, os análise discursiva, para Charaudeau (2001), é o
designamos, então, sujeito comunicante e mapeamento de um corpus de textos
sujeito interpretante; por outro lado temos os semelhantes em nome de um tipo de situação,
intralocutores, sujeitos da fala, responsáveis contrato, que as sobre determina, e das quais
por seu ato de enunciação - que são os estudamos as constantes para a definição de
seguintes: sujeito enunciador e sujeito um gênero, e as variantes para enquadrá-las
destinatário. Podemos perceber melhor esse em uma tipologia de estratégias possíveis.
molde analítico por meio do esquema Desse modo, a análise de discurso de um texto
adaptado abaixo: perquire o texto enquanto constituição com
um fim em si mesmo, assim como a arte
FIGURA 1 – Quadro enunciativo
literária, por exemplo.
Nesse sentido, Charaudeau (2001), percebe
o discurso como portador de normas que
determinam o indivíduo vivendo numa
coletividade e as possíveis estratégias que
possibilitam a sua singularização. Ainda se
atendo a este conceito, consideramos as
noções bakhtineanas, nas quais o conceito de
Discurso perpassa pela noção da interação
Charaudeau (1984, p. 42)

1232
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

verbal, realizada por meio da enunciação ou Deste modo, principiou-se pelo cotejo da
das enunciações. Logo, essa interação verbal obra platônica O Banquete, texto no qual
seria uma realidade fundamental da língua. Platão problematiza Eros por meio da
interlocução de diversos oradores. Cabe
1 DISCUTINDO O MÉTODO ressaltar que este texto é basilar para qualquer
pesquisa que trate do tema, já que as demais
Neste lamiré, este estudo tem como intento
obras filosóficas em sua maioria, sempre
enquadrar os textos de Platão (2001) e
dialogam com o texto platônico.
Guimarães Rosa (1967), como um corpus que
Literatizando esse estudo, tem-se como
trata da temática amorosa, identificando as
momento ápice a abordagem do conto
acepções de amor em discursos diversos, como
minimalista “A vela ao Diabo” de Guimarães
no de Pausânias, na obra platônica O Banquete
Rosa, presente em seu último livro, Tutaméia:
aproximando-a do conto “A vela ao Diabo”
terceiras estórias, de 1967. Esta obra é a
presente na obra rosiana Tutaméia, que
reunião de 40 contos, distribuídos em quatro
também aborda a referida temática. Analisar-
grupos, sendo que cada um é antecedido por
se-á o aspecto formal do Enunciado, tentando
um Prefácio. Hipoteticamente ordenados, os
reconstituí-lo, aproximando anacronicamente
contos haviam sido publicados anteriormente
o discurso do autor mineiro ao do autor grego
no jornal Pulso, um periódico dedicado à área
que aborda temas universais, como a
da saúde.
teorização do enlace amoroso e o nascimento
Já tratando da temática de um modo mais
do próprio Eros.
específico há um ensaio do professor e filósofo
Nesses termos, classificaram-se as referidas
Benedito Nunes, publicado em livro O dorso do
obras como discursos literários, sendo assim, a
tigre (1976), chamado O amor em Guimarães
pesquisa apresenta as categorias platônicas da
Rosa, no qual discute as representações do
verdade do conhecimento em relação ao amor;
amor no texto rosiano.
expressas na obra O Banquete (2001),
Ainda no âmbito de teoria literária, para a
posteriormente dialogam-se ao texto platônico
aplicação metodológica da comparação
com a literariedade amorosa de Tutaméia
estabelecida entre os textos literários e
(1967), fazendo assim uma análise
filosóficos e entre os próprios contos, há a
hermenêutica e comparativa entre eles.
famosa palestra proferida pelo estudioso René
Por fim, com o intuito de dar ares de
Wellek (1970), publicada pela Universidade de
contemporaneidade à análise proposta situa-
Yale, nomeada O nome e a natureza da
se o percurso analítico Rosa (1967) e Platão
literatura comparada, marco para os estudos
(2001), no modelo de análise discursiva de
comparativos literários, fundamental para
Charaudeau (2001), com o objetivo de elucidar
qualquer análise de literatura comparada.
dentro dos excertos trabalhados os
A noção comparativista será de suma
componentes discursivos do ato de linguagem,
importância ao trabalho, pois traz à tona
presentes também na linguagem literária e
aspectos como a intertextualidade, que propõe
filosófica.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

uma nova posição crítico-analítica em relação à Apolodoro ainda era criança, mas este mesmo
obra literária. fizera questão de perguntar à Sócrates (quando
A metodologia aplicada consubstanciou-se já era um jovem que acompanhava Sócrates) a
em uma pesquisa bibliográfica, de caráter veracidade das passagens narradas por
exploratório, sendo que os elementos Aristodemo, sobrevindo, contudo, algumas
buscados no objeto investigado foram lacunas devido aos lapsos da memória dos
localizados em leituras diversas, e se buscou narradores.
sistematizá-los de modo mais preciso para O Banquete é, neste sentido, um mosaico de
registrá-los em um corpus uniforme. memórias expressas por múltiplas vozes,
Na presente pesquisa, almejou-se, pois, dispostas em tempos-espaços distintos.
fazer-se uma análise discursiva, hermenêutica Aristodemo contara à Apolodoro o que se
e comparativa dos textos de temática amorosa lembrava, e Apoloro contou ao companheiro o
presentes nas referidas obras, estabelecendo que também se lembrava dos dizeres de
um diálogo entre elas, assim como entre outros Aristodemo. A narrativa então se constrói
textos e teóricos que tratam da temática enevoada por lembranças e lacunas,
universal do Amor. rememorando os dizeres dos convidados mais
ou menos como haviam sido. “Porém de tudo
2 UMA ANÁLISE DO AMOR EM o que então foi dito, Aristodemo não se
recordava muito bem, como eu, da mesma
O BANQUETE forma, não me lembro, agora com minúcias, do
O Banquete é um tratado filosófico de Platão que ele me contou” (PLATÃO, 2001, p. 178).
(2001), a respeito do Amor. A trama é A teia dos dizeres se enleva ainda mais
constituída por meio de diálogos, nos quais quando do discurso de Sócrates, o qual é uma
cada um dos convidados ao Banquete de retomada de um discurso ouvido de uma
Agatão faz um elogio a Eros, demonstrando sacerdotisa, chamada Diotima, que ele
suas várias faces. procurou para doutriná-lo a respeito da
Os convivas do banquete eram: Agatão, o natureza de Eros.
homenageado, Fedro, Pausânias, Erixímaco, o O discurso então toma ares de polifônico,
médico, Aristófanes, o comediógrafo, Sócrates conceito de Mikhail Bakhtin (1981), posto que
e Aristodemo, que acompanhava Sócrates e são várias vozes que se somam e se
narrou à Apolodoro o que se sucedera no multiplicam, dialógica e eticamente, em uma
encontro. perspectiva sempre de infinitude, inclusão.
Apolodoro é chamado a contar o que havia Diferente do discurso monológico, pautado por
escutado de Aristodemo, pois quem lhe pedia, autoritarismo e dogmatismo, que geram
designado apenas por “companheiro”, queria indiscutibilidade das verdades proferidas por
saber com precisão o teor dos elogios tal discurso (BRAITH, 2005).
proferidos. Este banquete, em homenagem ao Os Elogios à Eros, neste sentido, apesar de
prêmio conquistado por Agatão em virtude de se constituírem cada um como um monólogo
sua primeira tragédia, acontecera quando argumentativo, em que cada um dos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

convidados busca explicar e fundamentar a distinguir dentre os Eros aquele que deveria ser
natureza do Amor, se apresentam como uma enaltecido. O discurso de Pausânias
cadeia de falas cujo princípio e o fim são caracteriza-se pela explicação dos diferentes
impossíveis de reconstituição. Um discurso tipos de relações aceitas na sociedade grega
sobre o amor fora sempre antecedido de outro, clássica. A mulher era considerada um ser
que precede um próximo. inferior, menos inteligente do que o homem; o
Neste sentido, a obra de Platão (2001), se cidadão, a quem era permitido – e mais,
tece como um drama filosófico, no qual educado - para discutir filosofia, política, arte.
Aristodemo é o narrador-mediador de outros As relações afetivas, portanto, também se
discursos; no entanto, estes discursos não se moldavam quanto à dimensão que o gênero
consubstanciam apenas em narrativas a feminino e masculino assumia em Atenas.
respeito da natureza de Eros, são antes o Assim, a relação com mulheres era vista com o
método dialético de construção da verdade – escopo de procriação e, muitas vezes,
prêmio este continuadamente postergado, relacionado à fugacidade, enquanto a relação
devido à própria essência do pensar filosófico. com o homem era tomada de sentido
Segundo memória de Aristodemo, Erixímaco pedagógico. Um homem sábio relacionava-se
tomou a palavra, relembrando conversa com com um jovem de modo a educá-lo à arte da
Fedro sobre não haver nenhum hino composto política, da retórica, da filosofia, das ciências,
pelos poetas a Eros: a todos os outros deuses, do Logos, enfim.
se criaram homenagens, porém nenhum poeta O discurso de Pausânias, então, explicita as
fez seu panegírico a Eros, sendo este um Deus duas formas de expressão do Eros. O orador
esquecido. Deste modo, Erixímaco, a fim de parte da premissa de que não há Eros sem
suprir tal lacuna, dispõe-se a contribuir com Afrodite. E, se existem duas Afrodites, defende
seu discurso a enaltecer tão poderosa Pausânias, também existem dois Eros. Uma
divindade. Propõe ainda que todos façam o Afrodite é filha de Urano, nascida sem mãe.
mesmo: elogiem Eros da maneira mais bela Esta é a mais velha e é chamada de Urânia ou
possível. Celeste. A Afrodite mais nova é filha de Zeus e
Como Fedro estava na cabeceira da mesa e Dione e seu apelido é pandêmia ou vulgar. O
por ter sido ele quem notara tão grave Eros que acompanha a Afrodite mais velha é
ausência, este iniciou os Discursos. alcunhado também de celeste; enquanto o
Outro convidado que também discursou foi outro, por acompanhar a Afrodite de Zeus,
Pausânias. Para ele nem sempre Eros inspira a responde por vulgar.
retidão, porquanto este entender que havia Para o orador, todo Deus deve ser
um outro, além deste que inspira temperança enaltecido. Mas antes ressalva: nenhum ato
aos homens. Por isso, a proposta feita àqueles em si mesmo é belo ou censurável. O que
que presenciavam o banquete - de que determina a beleza de um ato é o modo como
falassem sobre Eros - não havia sido bem é realizado; a ação será bela se realizada com
formulada, pois não havia apenas um Eros, mas retidão e beleza; do contrário, será censurável.
dois. Para corrigir tal falha, Pausânias passa a Tal concepção se estende ao ato de amar:

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apenas o amor aliado à nobreza é digno de se os princípios de ambos se fundirem em um


enaltecimento, por isso, não merece elogios o apenas. Isso ocorre quando o amigo serve ao
Eros vulgar. Neste sentido, o amor aliado à amado em tudo que for justo, comunicando a
Afrodite, filha de Zeus é vulgar, pois se este, virtude e sabedoria, e o amado, conceder
apresenta em indivíduos que gostam tanto de a quem lhe torna mais sábio tudo o que
mulheres, quanto de rapazes e revelam mais também for justo, pois desejoso de aprimorar
amor ao corpo do que à alma; visando apenas sua educação e seu saber. De outro modo, não
a consumação do ato, sem preocupar-se se o é digno: não é sob a inspiração de Eros celeste
meio de o conseguir será belo ou feio. Segundo que se age. Neste discurso, há a nítida defesa
a explicação de Pausânias, isso ocorre devido à do ser amado e do amante como
mocidade da Afrodite pandemia e da sua complementares; um, é o mais belo e jovem; o
concepção participarem dois sexos: o feminino outro, é mais sábio e mais velho. A lei
e o masculino. Diversamente do que acontece ateniense, neste sentido, tacitamente
com Afrodite urânia, nascida apenas do sexo incentivava a amizade entre o amante e o
masculino, os indivíduos inspirados por esta amado, posto que era parte do
deusa inclinam-se aos moços, representantes desenvolvimento da cidade.
do gênero mais forte e inteligente. Os Percebe-se também a defesa do amor
indivíduos inspirados por este Eros se enquanto traço de intelectualidade entre os
apaixonam por aqueles que apresentam algum cidadãos: Pausânias vinculou eloquência aos
discernimento, ou seja, por aqueles que indivíduos inspirados pelo amor celeste;
tenham idade suficiente para terem um tiranos e bárbaros não admitiam as mesmas
relacionamento para toda uma vida. O amor de leis atenienses acerca das relações amorosas,
Afrodite urânia conserva o amor pela vida pois Eros celeste é libertador, amante da
inteira porque ama o caráter nobre, traço de sabedoria.
personalidade eterno, diferente dos traços O Eros celeste inspirava o conhecimento;
físicos, sempre mutantes; é, portanto, sustentava a forma de educação dos cidadãos
constante por ser ligar ao que é constante. gregos. Aos cidadãos mais velhos cabia a
O amor entregue às pessoas não dignas não responsabilidade de educar os jovens
é belo, não deve ser elogiado. Só merece ser atenienses, e a estes, cabia ser servo e leal a
elogiado o amor à alma, algo muito superior do quem lhe educasse. O Eros celeste – alado, que
que o físico, o que aparenta ser belo, mas é tenciona para o alto - se coaduna ao espírito
indigno. A beleza consiste na beleza da alma, grego de temperança e retidão apolíneas,
da sabedoria e da retidão. O amante vulgar, posto que está em relação irremediável com a
pandêmio, que se dedica a amar o corpo em ideia de beleza e de bom.
detrimento da alma, desaparece junto ao viço Isso porque, a filosofia grega não estudava a
do corpo. Se prende a algo superficial e por isso beleza junto à arte, mas sim vinculada ao amor,
é finito. a Eros, posto que é Eros quem eleva o sujeito
Assim, só é digno se entregar o amado ao ao Belo em si; e como tudo que é belo é bom,
amigo se houver uma afinidade de princípios; Eros era um caminho de exercício do Bem

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(REALE & ANTISERI, 2007); caminho este Essa ideia de segunda leitura necessária para
incentivado pelos benesses trazidos à a compreensão do jogo linguageiro de
polis.Após essa explanação sobre o discurso Tutaméia logo nos remete à imagem da
amoroso em Pausânias, observaremos o “segunda navegação” de Platão, colocada n’O
discurso amoroso rosiano em “A vela ao Diabo” Banquete como um meio necessário para a
e sua aproximação a este discurso platônico. ascensão do homem ao mundo das Ideias, isso
é, ao plano da Verdade e da contemplação do
3 UMA ANÁLISE DO AMOR EM Bom e do Belo. Desta feita, não se poderia
também – deixar de relacionar esta citação
“A VELA AO DIABO” DE com as epígrafes dos índices dessa obra
TUTAMÉIA rosiana, em que Arthur Schopenhauer (2005),
Nos 44 textos que compõem Tutaméia: exalta o valor e a importância dessa segunda
terceiras estórias (1967), o autor Guimarães leitura, na qual as matizes e os detalhes da obra
Rosa aborda tutameices em que a vida se deixa se revelam numa ótica inteiramente nova do
entrever3, sendo que não há melhor fresta de
1
que se tinha mostrado na primeira. Rosa
vida do que os pequenos e enormemente reclamava essa segunda leitura, abrindo e
significativos episódios nos quais o Amor se fechando o volume de Tutaméia com epígrafes
apresenta, em algumas de suas múltiplas faces. do filósofo alemão, nos seus índices de leitura
Valendo-nos, num primeiro momento, das e releitura. A epígrafe inicial, localizada antes
categorias de análise do discurso de Patrick do primeiro índice, diz: “Daí, pois, como já se
Charaudeau (2008), podemos entender esse disse exigir a primeira leitura paciência,
livro como um projeto de fala (aqui fundada em certeza de que, na segunda, muita
compreendida como produção linguageira coisa, ou tudo, se entenderá sob luz
individual produzida em determinado contexto inteiramente outra” (SCHOPENHAUER, 2005,
situacional) de um Eu comunicante (Euc.) que p. 695)
objetiva seduzir um Tu interpretante (Tui) com A epígrafe final, localizada no segundo
estratégias de fala (formas de organização do índice, de releitura, diz: “Já a construção,
discurso) que permitam, ou melhor, exijam orgânica e não emendada, do conjunto, terá
uma segunda leitura acurada para melhor feito necessário por vezes ler-se duas vezes a
compreensão da mensagem e dos mecanismos mesma passagem.” (Idem, p. 695).
utilizados para emissão dessa mensagem. Nesse ínterim, importante é ressaltar que
Assim, o Eu enunciador (Eue., interno ao entende-se esta obra de 1967, como uma obra
discurso) vale-se de múltiplas estratégias do única, a despeito de ser composta de contos e
jogo linguageiro, desde a escolha acurada de prefácios publicados num primeiro momento
cada termo empregado até a diagramação e separados, muitas vezes, por um longo
formatação do livro como um todo. intervalo temporal, no jornal da área médica

3
Importante ressaltar que neste livro existem dois livros primeiro índice, apresenta-se 44 contos, ao passo que
com duas organizações de leituras diferenciadas: no no segundo índice (de releitura) apresenta-se 40 contos
e 4 prefácios.

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Pulso, sendo que tal fato concedeu-lhes o totalidade da bibliografia rosiana, em especial
tamanho reduzido do conto, tornando-os em seus quatro prefácios, onde esse Eue. se
condensados ao máximo, ao ponto de ser deixa entrever em diversos matizes,
considerado pelos primeiros leitores, por assim anunciando quatro das preocupações
dizer os contemporâneos à sua primeira norteadoras dessa obra (e de outras),
publicação (SIMÕES, 1988), como uma leitura conforme nos diz SIMÕES (1988, p. 25):
densa e de difícil penetração. Percebeu-se, Os prefácios aqui possuem função
portanto, no mundo discursivo esse leitor norteadora e se, de um lado, “desviam” a
‘preparado’, ou melhor, o leitor modelo, os atenção do leitor e obrigam-no a refletir, por
críticos literários da época, e não o chamado outro, conduzem ao centro e enigma das
‘leitor mediano’, como o Tu destinatário (Tud.) estórias, cujas facetas poderiam ser assim
da obra de Guimarães Rosa, e em especial, representadas: o avesso da linguagem (“Aletria
dessa sua última obra literária. Tal e Hermenêutica”), a invenção da palavra
entendimento é corroborado pelo que disse (“Hipotrélico”), a dupla realidade (“Nós, os
esse autor a seu amigo e estudioso de suas temulentos”), o mundo representado (“Sobre a
obras, Paulo Rónai. Em conversa por este Escova e a Dúvida”). Essas quatro facetas
narrada em seu livro Pois é publicado pela multifazem-se em outras e fundem-se em
editora Nova Fronteira em 1990, ele afirma torno de um único tema: o questionamento da
que: linguagem, do homem e do mundo.
Mostrou-me depois o índice no começo do Esses matizes diversos também se revelam
volume, curioso de ver se eu lhe descobria o quando se analisa a obra sob o enfoque
macete. temático do Amor. Baseando-nos em palestra
- Será a ordem alfabética em que os títulos proferida pelo professor João Adolfo Hansen4 ,1

estão arrumados? o Amor para Guimarães Rosa poder-se-ia


- Olhe melhor: há dois que estão fora da resumir em “completude”, em
ordem. consubstanciação do humano em divino
- Por quê? (NUNES, 2007), numa aproximação do amor
- Senão eles achavam muito fácil. ágape da ideologia cristã primitiva
“Eles” eram evidentemente os críticos. Rosa, (ROUGEMONT, 1968), ainda que se apresente
para quem escrever tinha tanto de brincar em matizes variados, que se distanciam e
quanto de rezar, antegozava-lhes a aproximam na tessitura desse livro único e
perplexidade, encontrando prazer em surpreendente.
aumentá-la. Dir-se-ia até que neste volume Assim, no conto “A vela ao diabo”, a
quis, adrede, submetê-los a uma verdadeira personagem Teresinho se divide em dúvidas se
corrida de obstáculos. (RÓNAI, 1990, p. 3) ainda é correspondido por sua distante noiva
Daí entender-se, então, ser este livro uma Zidica, que já não lhe envia cartas de São Luiz
chave hermenêutica para a compreensão da com o mesmo calor e carinho de outrora,

4
Palestra apresentada em Belém do Pará, por ocasião
do Fórum de Letras da UNAMA, 2008.

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levando-o ao recurso último de acender vela a Esta dicotomia nos remete ao discurso de
santo desconhecido para que lhe assegurasse Pausânias abordado na primeira parte do
“segurando-lhe com Zidica o futuro” (ROSA, presente artigo, em que é feita uma distinção
1967, p.21)5 . Mas acaba por enredar-se nos
1 entre dois Eros antagônicos e inconciliáveis,
subterfúgios de Dlena, que “o acolheu com sem nenhuma relação entre si: o Eros vulgar, se
tacto fino de aranha em jejum” (p.21), e com, interessa pelos corpos, desregradamente; e o
“jeitinho, sorrisinho, dolo” (p.22), quase o fez Eros celeste, que cuida do que é bom e belo
separar-se definitivamente de sua doce noiva, com moderação, constância e nobreza.
até que, ao fim da novena, descobre o enredo Dlena, então, vem representando esse amor
de Dlena e retorna a Zidica, para serem vulgar que apenas quer consumar a conquista,
“infelizes e felizes, misturadamente” (p.23). ter o amado para si, não se importando com a
Percebe-se nesse conto a oposição entre a nobreza dos atos realizados com esse escopo,
ausência e a presença física do ente amado: o sendo figurado também na história de
amor ausente fisicamente, mas presente e Guimarães Rosa como sentimento vil e
puro idealmente de Zidica com o amor traiçoeiro, que não mostra sua verdadeira face
presente fisicamente, mas dissimulado e antes de ter conseguido seu real intento: iludir
enganoso das ideias. Estando Zidica apenas e enganar, apresentando apenas simulacros da
presente no mundo dos sonhos e lembranças realidade.
de Teresinho, este acende uma vela – Em contraponto, Zidica é a representação
subterfúgio igualmente no plano das ideias, desse amor ideal e comedido, amor racional e
metafísico e transcendente - para assim mantê- moderado, aquele que motivaria Teresinho a
la, como sua certeza de futuro, garantia de lutar pela sua sobrevivência e pela melhora na
devaneios, caracterização literária recorrente qualidade de vida para retornar a esse estágio
das “mocinhas” que funcionam como de paz e harmonia, de segurança, que sua alma
personagens tipo de novelas e romances. bem se rememora de ter vivido em tempos
É essa lembrança que move Teresinho em passados e para onde espera, na hora certa,
sua jornada pela felicidade, a certeza de um retornar.
amor tal qual o de Penélope à espera do No desenlace (ou enlace) desse enredo, a
retorno de seu amado Odisseu. Aí se depara descoberta do engodo que é o deixar-se
com a realidade de Dlena, seus encantos de envolver por esse sentimento puramente
Calipso, seus feitiços de anjo decaído, de mundano da presença física de ente amado o
mulher-demônio, traiçoeira, que, a despeito do liberta para retornar à plenitude inicial de todo
amor fraterno que desperta nesse ser humano, reunificar-se ao seu amor em São
protagonista, tenta afastá-lo de seu amor Luíz e plenificar-se nesse reenlace amoroso,
idealizado, atocaiá-lo em suas armadilhas de tornando-se completo com a realização do
sedução. amor ideal. Percebe-se a escada ascensional
platônica do espírito que, originando-se na

5 Todas as citações da obra de Tutaméia: terceiras serão indicadas apenas as páginas da obra, pois a
estórias, serão da primeira edição de 1967, porquanto, referência completa já consta ao final do artigo.

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plenitude e perfeição do mundo das ideias,


toma consciência da falsidade do amor
(apenas) físico, simulacro do amor ideal de
onde se originou, e para ele retorna em seu
natural impulso de completude. Observa-se
que, diferentemente do ideário cristão de que
o mundo ideal onde se originou o espírito
contém apenas o Bom e o Belo, a completude
e perfeição desse “mundo ideal” rosiano se
consubstancia no paradoxo, na junção dos
opostos, no ser bom e não bom ao mesmo
tempo.
Assim, chega-se ao fim dessa tentativa de
dialogar com os textos de Platão e Guimarães
Rosa enquanto escritos discursivos,
observando dessa forma, além da sua estrutura
enunciativa, o seu conteúdo, o pensamento,
tratando-os, além disso, numa perspectiva
hermenêutica, uma vez que o sentido foi
equacionado também no âmbito da filosofia.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta análise, procedemos a comparação dessas duas espécies de discursos amorosos, o
literário e o filosófico, imbuídos da perspectiva de que eles se enquadram nesse gênero mais
amplo que é o gênero amoroso do discurso, buscando assim, para além de suas diferenças
formais, e sim, sua identidade temática. Procuramos elucidar algumas de suas estratégias
intertextualizando as obras, visando-se com isso a avaliação de aspectos mais intrínsecos dos
tratados literários e filosóficos a fim de explaná-los enquanto construtos discursivos.
Tal estudo trabalhou a obra literária e a filosófica como a manifestação da interação do
autor com o próprio leitor, logo se percebeu que, tanto o autor modelo literário quanto o
filosófico, buscam atingir uma espécie de leitor modelo, sendo as obras, assim, uma forma de
ação no mundo que trazem à tona as especificidades de cada discurso, pois imbricam sutilmente
a marca de cada autor modelo trabalhados.
Neste diapasão, as linguagens abordadas no presente trabalho produzem signos, alguns
inclusive empíricos, mas que a nossa pesquisa perquiriu para transpô-los em formas de ação, ou
seja, para transformá-los em estratégias da configuração verbal visíveis aos leitores.
Dessa maneira, classificamos esse material empírico, a linguagem filosófica e literária,
observando as suas compatibilidades e incompatibilidades, suas múltiplas combinações, fazendo
os recortes formais e enquadrando-as às categorias conceptuais que lhes correspondem.
Para tanto, utilizamos o quadro enunciativo de Charaudeau para categorizar o ato de
linguagem presente nas obras literária e filosófica estudadas, abarcando assim a explanação do
seu circuito interno, o mundo discursivo, com seus componentes: o EU enunciador e o TU
destinatário; assim como a análise do mundo objetivo, da situação de interação, mesmo que
ficcional, como nas obras analisadas, enquadramos o EU comunicante e o TU interpretante
presentes nos referidos discursos.
A pesquisa também se preocupou com a conceituação crítico-analítica do referido diálogo
entre a filosofia e a literatura, pois não seguiu a linha analítica da dúvida ou do binarismo
reducionista de certas análises comparatistas que consideram as obras posteriores como mera
imitação das primeiras que trabalharam anteriormente a respeito do tema, no caso, o amor.
Sendo assim, fica claro que o fato d’O Banquete anteceder a obra de Guimarães Rosa em nada a
diminui, pois o que observamos foi a absorção ou a transformação de alguns elementos textuais,
ou seja, a assimilação criativa desses elementos, e até mesmo, sua ampliação semântica, pois um
Discurso, de fato, nunca é totalmente inédito, mas como elucidou Bakhtin (1981), um mosaico
de várias vozes, uma polifonia de inúmeros outros discursos. Nesse âmbito, o trabalho afinou-se
com o favorecimento do conhecimento da singularidade de cada texto, retirando deles
principalmente, o seu sentido.
Em relação à temática amorosa, proposta por nossa pesquisa, Platão e Guimarães Rosa
dialogam, se afinando e desafinado, quanto à formulação de Eros. Platão trata Eros como um ser
alante, ou seja, que eleva o sujeito ao suprassensível, um não-lugar, que a alma reconhece por
ser imortal, posto que rememora o belo, que em Platão é a ideia privilegiadamente evidente
amável, sendo que quando reflexa no mundo sensível inflama a alma, desejosa de retornar para
junto dos deuses.

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No entanto, é apenas a Ideia do Belo, contemplada, que provoca a comunhão entre


homens e deuses, mortais e imortais; por isso, o homem preso ao belo de um corpo é rechaçado
por Platão, posto que este não alcançará o mundo suprassensível, nem conhecerá da verdade.
O discurso rosiano sobre o amor também privilegia esta como comunhão ao Belo, das
almas, do incondicional; entretanto, não nega os primeiros estágios de conhecimento de Eros. A
união dos corpos é a unidade revelada pela força do amor, enquanto Eros gregário, harmonioso.
Guimarães Rosa, deste modo, brinca com a alquimia do mundo platônico, na sua divisão
em sensível e suprassensível. Se Platão opta claramente pelo mundo das ideias, Guimarães Rosa
opta pelo caminho intermediário. Onde a imaginação toma ares de realidade e o real, ares de
ficção.
Logo, esses discursos de pensamento, mesmo separados temporalmente, um na Grécia e
outro no Sertão brasileiro; são dialógicos e se aproximam anacronicamente à necessidade de
uma “segunda navegação” para que se alcance a completude do conceito do Eros platônico e do
amor rosiano.

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REFERÊNCIAS
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Hucitec, 1981.

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Linguística II: princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2003.

BRAITH, Beth (org.). Bakhtin: conceitos -chave. São Paulo: Contexto, 2005.

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38.

CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e Discurso – Modos de Organização. São Paulo: Editora


Contexto, 2008.

FIORIN, José Luiz. Introdução à Lingüística: princípios de Análise. São Paulo: Contexto: 2003.

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NUNES, Benedito. O dorso do tigre. São Paulo: Perspectiva. 1976

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Belém: UNAMA, v. 10 n. 22, 2007. pág. 71-86.

PESSANHA, José Américo Motta. Platão: As várias faces do Amor IN Sentidos da Paixão. 2º
Ed. Companhia das Letras: São Paulo, 1987

PLATÃO. Diálogos - O Banquete. Trad. de Carlos Alberto Nunes. Belém: Editora Universitária
UFPA, 2001. 147 p.

REALE, Giovani & ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol I. 10º Ed. Paulus: São Paulo,
2007.

RÓNAI, Paulo. Pois é. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p.3-42

ROSA, Guimarães. Tutaméia. José Olympio, 1968.

ROUGEMONT, Denis de. O Amor e o Ocidente. Lisboa: Moraes Editores, 1968.

SHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação. Trad. Jair Barbosa. São
Paulo: UNESP, 2005.

SIMÕES, Irene Gilberto. Guimarães Rosa: as paragens mágicas. São Paulo: perspectiva;
Brasília: MCT/CNPQ, 1988.

1243
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

WELLEK, René. The name and Nature of Compative Literature. In: Discriminations: Further
Concepts of Cristicism. New Haven: Yale University Press, 1970, p-1-36.

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USO DA METODOLOGIA DE APRENDIZAGEM


BASEADA EM PROBLEMAS (ABP) NO CURSO
DE ARQUITETURA E URBANISMO
Maria Cláudia Lima da Cruz1

RESUMO: A Metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), também conhecida


pela sigla PBL (Problem Based Learning), consiste na utilização de uma situação-problema como
contributo no ensino. No presente artigo são apresentadas pesquisas e análises a respeito desta
metodologia no curso de Arquitetura e Urbanismo e a influência no desenvolvimento científico e
tecnológico dos estudantes. A proposta foi elaborada com o objetivo de identificar e avaliar os
aspectos relacionados a esta técnica de ensino, bem como demonstrar a eficiência desta
abordagem na busca de uma evolução na qualidade do aprendizado e da compreensão da
importância das soluções adotadas para sanar os probelmas identificados. Dentro desse contexto
foi realizada uma revisão bibliográfica de diversos trabalhos sobre PBL no processo de ensino
superior e como isso pode influenciar no aprendizado, além de estudos de casos bazeados em
experiências em sala de aula dentro da disciplina de Paisagismo.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Problemas; Paisagismo.

1Professora no Curso de Arquitetura e Urbanismo na Rede Centro Universitário FUNORTE – Montes Claros - MG
Graduação: Arquitetura e Urbanismo – PUC - MG

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USE OF PROBLEM-BASED LEARNING METHODOLOGY (PBL) IN THE


ARCHITECTURE AND URBANISM COURSE
ABSTRACT: The Problem-Based Learning Methodology (PBL), also known by the acronym PBL
(Problem Based Learning), consists of using a problem-situation as a contribution to teaching. In
this article, research and analysis are presented regarding this methodology in the Architecture
and Urbanism course and its influence on the scientific and technological development of
students. The proposal was elaborated with the objective of identifying and evaluating the
aspects related to this teaching technique, as well as demonstrating the efficiency of this
approach in the search for an evolution in the quality of learning and in the understanding of the
importance of the solutions adopted to solve the identified problems. Within this context, a
bibliographic review of several works on PBL in the higher education process was carried out and
how it can influence learning, as well as case studies based on classroom experiences within the
discipline of Landscaping.

Keywords: Learning; Problems; Landscaping.

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INTRODUÇÃO anteriormente, os quais são submetidos a


análise pelos alunos, que tentam definir e
A Aprendizagem baseada em problemas solucionar valendo-se do conhecimento de que
(ABP) ou Problem Based Learning (PBL), como dispõem. A partir dessa discussão inicial, os
se manifesta internacionalmente, é uma alunos levantam hipóteses, baseando-se nos
metodologia de ensino e aprendizagem onde a dados do problema; determinam os conceitos
apresentação de uma circunstância problema é a serem explorados; determinam as
usada para incentivar o estudo dos discentes. responsabilidades de cada membro do grupo,
Neste formato de aprendizagem, os estudantes chegando a uma solução satisfatória, e por fim,
desenvolvem trabalhos em grupos e o docente apresentam as soluções desenvolvidas e as
adota a função de tutor ou orientador do defendem em presença da turma e do
processo de aprendizagem, sendo reduzida professor orientador (ESCRIVÃO FILHO;
nesta configuração de ensino, o formato de RIBEIRO, 2008).
aulas expositivas, como acontece no ensino Dentro deste contexto, esta pesquisa
habitual. baseia-se nos fundamentos desta metodologia
Segundo Moraes (2006), o PBL representa de aprendizagem, por meio do uso de
uma perspectiva de ensino-aprendizagem bibliografias pertinentes ao tema,
ancorada no construtivismo, ou seja, na evidenciando estudos já realizados sobre o
(re)construção dos conhecimentos, cujo PBL, por meio da abordagem de livros e artigos
processo é centrado no estudante. A científicos que realizam revisões bibliográficas
aprendizagem, nessa perspectiva, traz uma sobre o assunto ou relatam experiências sobre
mudança de concepção da relação professor- o uso da metodologia em outras instituições,
aluno, tendo o aluno como o sujeito ativo no além disso, conta também com a experiência
processo de ensino-aprendizagem, o que vivida em sala de aula no curso de arquitetura
diminui a distância entre esses dois sujeitos, e urbanismo, onde o problema em questão é
muitas vezes considerados como polos de âmbito urbano, ambiental e municipal,
dicotomizados e submetidos a uma rígida trata-se da situação atual e do mal uso de
hierarquia. algumas praças da cidade.
O professor passa a atuar como um Foi pensado em solucionar este problema
orientador que auxilia o aluno a alcançar o com o uso desse método de estudo, onde os
objetivo de aprendizagem e não mais como discentes, em grupos, foram capazes de fazer
único detentor do conhecimento. A relação, um diagnóstico, ou seja ir ao local, analisar e
assim, torna-se mais horizontalizada, e as descrever a situação encontrada, levantando
relações de poder tendem a ser menos possíveis hipóteses, em seguida tentam sugerir
conflituosas e instituídas, (MAMEDE, conceitos projetuais para um melhor uso do
PENAFORTE, 2001). local pela população, e elaboram, então
As seções de PBL sempre se iniciam com a projetos arquitetônicos, urbanísticos e
apresentação de situação-problema paisagísticos com o intuito de amenizar a
envolvendo conceitos não trabalhados situação encontrada e presentear os cidadãos

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com espaços adequados e bem pensados para finalidade de fazer com que o aluno estude
resgatar a dignidade local e o conforto determinados conteúdos. Embora não
esperado pelos usuários. constitua a única prática pedagógica,
predomina para o aprendizado de conteúdos
MÉTODO DE ENSINO E cognitivos e integração de disciplinas. Esta
metodologia é formativa à medida que
APRENDIZAGEM - PBL estimula uma atitude ativa do aluno em busca
A metodologia de ensino e aprendizagem do conhecimento e não meramente
denominada PBL (Problem Based Learning) informativa como é o caso da prática
aborda uma estrutura curricular centralizada pedagógica tradicional.
no aluno que o habilita a realizar estudos, O PBL, foi criada inicialmente com o intuito
associa teoria e prática, além de possibilitar o de superar a defasagem entre os anos iniciais
bom emprego dos conhecimentos adquiridos, do curso de medicina, caracterizados por uma
bem como as habilidades e atitudes para o formação dominantemente teórica, e o início
desenvolvimento de uma solução viável para da prática médica dos seus acadêmicos. A
um problema definido. construção curricular por PBL permitiu que se
Portanto, é importante para o estabelecesse uma relação
desenvolvimento deste método de prática/teoria/prática como processo de
aprendizagem que o problema tenha vínculo formação dos médicos (LOPES, et al, 2011).
com uma realidade, onde se percebe A despeito de sua origem em medicina, o
envolvimento dos alunos e demais PBL logo se expandiu para o ensino de outras
participantes do processo, seja também áreas do conhecimento, e para outros níveis
desestruturado, interdisciplinar, e admita uma educacionais. À medida que foi sendo utilizado
possível investigação da situação. Parte em outros contextos educacionais o PBL sofreu
importante de um currículo PBL sãos as adaptações. (ESCRIVÃO FILHO; RIBEIRO, 2008).
situações-problema. Elas propiciam a Se mostrando assim, uma metodologia que se
curiosidade da busca e integraram as áreas do adapta aos mais variados cursos, de acordo
conhecimento, permitindo a com a necessidade e abordagem específica de
interdisciplinaridade e o processo de trabalho cada um, podendo ser utilizada nas diversas
instigador e cooperativo (GOMES; REGO, disciplinas que usam uma situação problema
2011). como incentivo na busca de estudos e soluções
Sakai e Lima (1996), afirmam a seguinte adequadas, com o objetivo de causar nos
apresentação sobre a Aprendizagem Baseada estudantes e curiosidade de investigação e
em Problemas: resolução do que foi proposto.
O PBL é o eixo principal do aprendizado
teórico do currículo de algumas escolas de
Medicina, cuja filosofia pedagógica é o
aprendizado centrado no aluno. É baseado no
estudo de problemas propostos com a

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PAISAGISMO – DISCIPLINA DO Dentro deste contexto é possível perceber a


importância desta disciplina na formação deste
CURSO DE ARQUITETURA E profissional, uma vez que o paisagismo está
URBANISMO presente em tudo que está no entorno do
A disciplina de paisagismo dentro do curso edificado, como nas calçadas, ruas, canteiros
de Arquitetura e Urbanismo se configura como centrais de avenidas, trevos, rotatórias, enfim,
um elemento de conceituação e aprendizado em tudo que se configura como área não
bastante amplo e imprescindível para a construídas, ou seja, áreas descobertas, mas
formação do Arquiteto e Urbanista, afinal ela não menos utilizadas por todos. Para
se apresenta como umas das principais Limberger e Santos (2000), o paisagismo “é
configurações da paisagem urbana não uma ciência e uma arte que estuda o
edificada, que são percebidos com espaços ordenamento do espaço exterior em função
livres de edificação: jardins, praças, parques e das necessidades atuais e futuras, e dos
bosques. Sendo assim, o paisagismo vai muito desejos estéticos do homem”.
além do simples conhecimento de espécies A utilização do Paisagismo nos centros
vegetais, mas se mostra presente também em urbanos pode ser considerado um instrumento
equipamentos e mobiliários urbanos. O importante para a garantia de conforto
objetivo geral desta disciplina se norteia então, ambiental, são as técnicas utilizadas para a
na aplicação de conceitos e técnicas do arborização urbana que são responsáveis por
desenho da paisagem, tendo como garantir melhora na qualidade de vida e no
preocupação principal soluções formais e aspecto visual das áreas livres. A interferência
funcionais, o usuário, o lugar, a tecnologia, na paisagem tem o objetivo de promover este
abordadas em seus aspectos mais equilíbrio, ambiental, estético e social.
elementares. Nota-se que, além do benefício estético
No escopo do curso esta disciplina se divide paisagístico, haverá uma maior absorção pelo
em duas etapas de aprendizagem, solo gramado (não pavimentado) das águas
normalmente descritas como Paisagismo I e II. pluviais, tornando-o mais permeável,
No paisagismo I são abordadas soluções amenizando assim, o problema das enchentes,
pertinentes aos espaços de menor escala como além de criar uma melhor climatização e
é o caso de jardins, tanto residenciais quanto demais benefícios ecológicos (ALATMIRO,
corporativos e comerciais. Já no paisagismo II o AMARAL, SILVA, 2008).
foco são os espaços livres mais amplos, de Ainda de acordo com os autores, calçadas
maior escala, com maior representatividade e acessíveis e com mais verde proporcionam
significado dentro dos centros urbanos, com maior mobilidade, permeabilidade e
usos de mais pessoas, uma comunidade local embelezam a paisagem urbana, além de
inteira, como acontece nas praças, nos parques aproximar a população da natureza
e bosques das cidades, envolvendo um número (ALATMIRO, AMARAL, SILVA, 2008). Sendo
maior de usuários. assim, o tratamento paisagístico de áreas
descobertas dentro dos contextos urbanos

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requerem projetos bem elaborados com utilizados, os modelos de situações-problema


estudos pertinentes pautados em aspectos que serão aplicados e o conteúdo e formatação
ambientais, funcionais, flexíveis e adequados dos resultados a serem apresentados ao final.
para diversos usuários com características
específicas, tornado os espaços livres PLANEJAMENTO DA
ambientes seguros e elaborados com
premissas projetuais e soluções que visem ATIVIDADE PROPOSTA
melhorias na a qualidade local e do entorno, na A escolha do projeto a ser desenvolvido
valorização da flora e fauna, contribuindo com pelas turmas nas disciplinas é fundamental na
a conservação da biodiversidade, afinal são aplicação de PBL, pois ele deve motivar e
espaços onde a convivência humana se faz transportar os alunos para novas descobertas,
presente. envolvendo o conteúdo programático definido
para o curso de Arquitetura e Urbanismo nesta
etapa de construção dos espaços públicos. Um
MATERIAIS E MÉTODOS projeto precisa ser bem planejado e definido
Foi realizada uma revisão integrativa, com a
com boas soluções com o objetivo de criar um
finalidade de reunir e sintetizar resultados de produto ou resultado adequado e satisfatório a
pesquisas sobre o tema abordado no presente todos os usuários, portando é importante ter
estudo, de maneira metódica e organizada com um gerenciamento adequado no seu
o intuito de contribuir e aprofundar o desenvolvimento, com aplicação de
conhecimento da abordagem averiguada. conhecimentos, habilidades, ferramentas e
Para tanto o trabalho foi elaborado com o técnicas a fim de atender aos seus requisitos,
auxílio de levantamentos e pesquisa segundo Campos (2011).
bibliográfica com consulta a livros, artigos Para desenvolver um projeto, a motivação
publicados em periódicos e eventos científicos, do professor orientador faz toda a diferença, é
relatórios, além de experiência vivenciada na necessário desafiar o estudante a trabalhar em
docência fazendo o uso do método de grupo, pois PBL é uma metodologia que
aprendizagem baseado em problemas de aplicada dessa forma promove uma visão mais
relevância municipal dentro de um contexto
ampla e a inclusão adequada do projeto por
projetual paisagístico e urbanístico de
meio de um planejamento cuidadoso e bem
intervenção em disciplina do curso de
elaborado seguindo cronogramas de ações,
Arquitetura e Urbanismo da FUNORTE – MG. táticas de gerenciamento e uma avaliação
Para realização desta proposta de aplicação criteriosa dos resultados alcançados, gerando a
da metodologia PBL para o curso de satisfação dos envolvidos em todo o processo.
Arquitetura e Urbanismo foram definidos a De acordo com Markham, Larmer e Ravitz
disciplina na qual o método será utilizado, no (2008), os alunos devem ser orientados de
caso, Paisagismo II no sétimo período, as
acordo com os seguintes passos:
responsabilidades e as funções específicas dos
desenvolvimento da ideia do projeto; decisão
alunos e do professor orientador, a dinâmica do escopo do projeto; seleção dos padrões;
das dos encontros, os materiais que serão

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incorporação dos resultados simultâneos; motivados a pensar e desenvolver projetos


desenvolvimento, a partir da formulação do paisagísticos com todos os requisitos básicos e
projeto e criação do ambiente ideal de trabalho necessários para uma proposta adequada ao
para que o grupo possa pensar e elaborar todas espaço em estudo. Para a elaboração dos
as diretrizes para a construção de uma ideia projetos de intervenção nas praças foram
única no intuito de solucionar o problema das escolhidas pelo professor tutor, e
praças escolhidas pelo tutor previamente. posteriormente sorteados entre os grupos,
Com o problema em mãos e as instruções da locais de importância histórica e cultural
atividade já passadas para os alunos é hora de dentro da cidade.
começar os projetos. Inicialmente é feito um O trabalho consiste basicamente na
diagnóstico do estado atual em que se montagem de pranchas (Figura 1) com imagens
encontram as praças da cidade, normalmente das praças no estado atual, a proposta
em mal estado de conservação, limitando os projetual de reforma, e um memorial descritivo
usos dos espaços e muitas vezes nem sendo especificando os elementos de composição
utilizada pelos moradores em função dos paisagísticos adotados, bem com um memorial
próprios aspectos urbanísticos não adequados botânico identificando as espécies vegetais
e o paisagismo sem manutenção necessária, encontradas e as inseridas na nova proposta
dificultando a permanência dos usuários no projetual do grupo, onde o professor
local. orientador se reúne com a equipe uma vez por
semana para averiguar o andamento das
RESULTADOS E DISCUSSÃO propostas, a escolha das soluções a serem
adotadas, bem como orientar sobre o que é
Para se obter resultados fazendo uso do
pertinente as definições do projeto dentro do
método de ensino e aprendizagem PBL, foram
contexto do escopo e ementa da disciplina,
expostos aos alunos do sétimo período de
sendo possível adotar todas os conceitos e
Arquitetura e Urbanismo, dentro da disciplina
definições estudadas anteriormente em aulas
de Paisagismo II, uma situação problema a
expositivas.
nível municipal envolvendo aspectos urbanos
nas situações percebidas nas praças da cidade.
Para tanto a turma foi dividida em grupos
tendo o professor atuando como um
orientador para a elaboração de um projeto
paisagístico visando a melhoria das praças
estudadas, focando nos aspectos formais,
funcionais, estéticos e ambientais, na busca de
melhorias favorecendo os usos destas áreas,
muitas vezes até degradas em alguns pontos da
cidade.
Após identificar e apresentar um diagnóstico
das praças, os discentes são instigados e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Neste caso é possível notar que os alunos


optaram por manter alguns elementos de
importância cultural e sentimental da praça,
como o a fonte de água, buscando priorizar
também o conforto térmico, e o coreto que já
faziam parte da história do local, valorizando,
assim, a questão relacionada com o
pertencimento ao lugar, sentida por todos ao
longo de muitos anos, sem se esquecer que os
usuários necessitam desta identidade local. No
entanto, foram pensados novos espaços mais
confortáveis, fluxos mais adequados e
inseridos mobiliários, novos elementos de
composição e inserção de espécies vegetais
prevalecendo o uso de cores, que valorizem
ainda mais o ambiente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esta pesquisa é possível concluir que o uso da metodologia de ensino e aprendizagem
baseada em problemas (PBL) dentro do curso de Arquitetura e Urbanismo foi bastante
pertinente, principalmente sendo usado de forma assertiva numa disciplina prática e projetual
que aborda um problema existente a nível de cidade, uma causa municipal e importante para
trazer resgate a cultura local e sentimentos de pertencimento, além de evidenciar os usos
adequados de espaços ao ar livre, podendo contemplar a natureza, algo fundamental para o
conforto humano e especialmente um contributo para a gestão ambiental como um todo.
Sendo, assim, a pesquisa possibilitou a construção de conhecimentos básicos para a
elaboração da proposta de uso do método PBL evidenciando mudanças no ensino superior
caracterizadas pela aproximação entre os conceitos trabalhados em sala de aula e o exercício
profissional na prática, cuja principal vertente caracteriza-se por metodologias ativas de ensino,
que, se bem aplicadas, contribuem para um aprendizado mais leve revelando o interesse dos
alunos em participar de novas experiências educacionais, se tornando assim, uma proposta viável
a ser aplicada no curso de Arquitetura e Urbanismo.

1253
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALTAMIRANO, G., AMARAL, J. R. A., SILVA, P. S. Caçadas Verdes e Acessíveis: Melhoram
a mobilidade, a permeabilidade e embelezam a paisagem urbana. São Paulo: A9 Editora,
2008.

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ESCRIVÃO FILHO, E., RIBEIRO, L. R. C. Aprendendo com PBL: aprendizagem baseada em


problemas: relato de uma experiência em cursos de engenharia da EESC-USP. Rev.
Minerva, São Carlos, v. 6. n. 1, p. 23-30, jan./abr. 2009.

GOMES, A. P., REGO, S. Transformação da educação médica: é possível formar um novo


médico a partir de mudanças no método de ensino-aprendizagem. Rev. bras. educ. med.,
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LIMBERGER, L. R. L., SANTOS, N. R. Z. Caderno Didático Paisagismo 1. Universidade


Federal de Santa Maria. Março 2000. 63p.

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de uma nova abordagem educacional. Fortaleza: Hucitec, 2001.

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S/A. Porto Alegre, 2008.

MORAES, M.A.A., MANZINI, E.J. Concepções sobre a Aprendizagem Baseada em


Problemas: um Estudo de Caso na Famema. RevBrasEducMéd 2006;30(3).

SAKAI, M. H.; LIMA, G.Z. PBL: uma visão geral do método. Olho Mágico. Londrina, v. 2, n.
5/6, n. esp., 1996.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A AUTORIA DO GRAVADOR: UM DILEMA DA


ARTE NO SÉCULO XIX, NO CONTEXTO DOS
ARTISTAS VIAJANTES
Angela Maria de Queiroz Campos Mello Martins Pinto1

RESUMO: O presente artigo aborda o tema trabalho como princípio educativo, mostrando de
forma sucinta a história do trabalho desde a sociedade primitiva até a primeira década do século
XXI, sendo um trabalho desenvolvido no curso de Especialização em EJA pela UAB, Campus de
Primavera do Leste no Estado de Mato Grosso.

Palavras-Chave: Trabalho; Sociedade; Educativo.

1Licenciada em Pedagogia (2007), pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP. Atuou
nas Redes Municipais de Ensino das Prefeitura de Osvaldo Cruz- SP (2004-2009), Campinas - SP (2009-2015) e
da Capital (2015 até a atualidade). Área de atuação é a Educação Infantil, Especialização em Psicopedagogia;
Especialização em Ludopedagogia.

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THE AUTHORSHIP OF THE ENGRAVER: A DILEMMA OF ART IN THE


19TH CENTURY, IN THE CONTEXT OF TRAVELING ARTISTS

ABSTRACT: This article addresses the theme work as an educational principle, succinctly showing
the history of work from primitive society to the first decade of the 21st century, being a work
developed in the Specialization course in EJA at UAB, Primavera do Leste Campus in State of Mato
Grosso.

Keywords: Work; Society; Education.

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INTRODUÇÃO

A gravura “Les Puris dans leurs forêts”, parte história e antropologia e, também, pelo fato de
do livro (WIED-NEUWIED, 1822), baseada em fazer parte de meu acervo pessoal.
registros pictóricos originais coletados pelo A expedição do príncipe Maximilian se insere
príncipe Maximilian Alexander Philip von Wied- no contexto histórico das expedições
Neuwied, artista-cronista viajante alemão científicas, artísticas e diplomáticas
(NEUWIED, 1782- NEUWIED, 1867) e gravada empreendidas após a abertura dos portos
posteriormente pelos também alemães, brasileiros, ocorrida em 1808, às nações com as
Friedrich Auguste Seyffer (LAUFFEN AM quais o Reino de Portugal mantinha relações
NECKAR, 1774-STUTTGART, 1845), que ficou a diplomáticas, logo após a chegada da família
cargo de gravar a paisagem e por G. Rist, que real. Por parte dos visitantes havia um ávido
ficou a cargo de gravar as figuras, é uma interesse em captar a maior quantidade
imagem que intriga, dada sua carga simbólica possível de informações, dada a especificidade
e, sobre ela, procurarei discorrer, nesta do bioma e da miscigenação étnica encontrada
caminhada pelas suas florestas. Esta obra na porção oriental da América do Sul –Brasil–
despertou meu interesse, dada a intensidade e, por seu turno, por parte de Portugal expor a
com que é reproduzida em livros de arte, exuberância e exotismo de suas riquezas
tropicais era um sinal de poder. Essa conjunção

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de fatores fez com que dezenas de artistas- Tecnicamente, trata-se de uma água forte
cronistas ou cientistas-cronistas viajantes sobre papel, medindo 35,3 x 51,2 cm –
empreendessem expedições pelo Brasil. dimensões do suporte–, e 24 x 30,5 cm –
Para a arte brasileira, de tradição dimensões da mancha–, impressa na
portuguesa e, consequentemente, calcada na Imprimerie Cosson, de Paris.
tradição católica da arte sacra, em especial na Oito indígenas do grupo Puri, sendo três
estatutária hagiológica, a chegada de artistas homens, três mulheres e duas crianças, de
europeus, alguns de tradição cultural perfil, voltados para a esquerda, caminhantes.
protestante, com domínio do desenho, Imagem significativa, no sentido da
representou um verdadeiro “Renascimento” preservação da etnia, por apresentar três
para a hermética arte brasileira já que havia casais em idade fértil, com duas crianças
trezentos anos que a entrada de estrangeiros aparentemente saudáveis. As mulheres levam
se manteve proibida em território brasileiro. a cria, os cestos e a cana. Os homens,
Com eles, imagens em madeira ou barro responsáveis pela segurança do grupo levam as
cozido policromado e quadros retratando flechas. O olhar eurocêntrico do príncipe
Santo Antônio, as várias manifestações da Maximilian esconde as “belezas” dos homens,
Virgem Maria (CONCEIÇÃO, DO Ó, DO CARMO, quer com a perna esquerda à frente, quer com
DO ROSÁRIO, DAS DORES etc), de Cristo na Cruz a mão sobre a púbis. São indígenas, mas o
etc, deram lugar à representação iconográfica consumo das gravuras é europeu. O grupo
dos indígenas, das matas, das florestas, dos caminha pela mata fechada, com densa
campos, dos rios, das cachoeiras etc. Esta vegetação, composta de árvores muito antigas
lufada imagética não portuguesa-católica foi, e largas, alternadas com árvores mais jovens e
sem dúvida, um marco divisor de águas na arte finas e, alguns troncos caídos, denotando o
brasileira, sem precedentes. ciclo natural da floresta. O local registrado pelo
Certa vez deparei-me com a reprodução príncipe é a região próxima ao rio Paraíba, nas
desta gravura em (PICCOLI, 2009), a gravura proximidades da cidade de São Félix, norte do
ilustra o subitem relativo à Expedição Wied- atual estado do Rio de Janeiro, em cena fixada
Neuwied (1815-1817). Houve, claro, um em outubro de 1815, em seus apontamentos
contentamento inicial pelo fato de à época eu pictóricos.
já possuir a gravura, mas, o que mais me Vale lembrar que muitas vezes os
surpreendeu foi o fato que da vasta obra apontamentos do artista, feitos in loco, são
gráfica produzida pelo príncipe Maximilian, a alterados pelos gravadores que,
reproduzida foi exatamente esta. posteriormente, utilizaram a obra original para
A partir de então, passei a ver esta gravura produzir a gravura que compôs a produção
com um outro olhar e procurei entender o que gráfica. É o caso desta gravura que,
fez a autora deste artigo, a organizadora do originalmente, fora composta a partir de dois
livro ou o responsável pelo projeto gráfico a desenhos, um descrito assim, “Estudo de três
elegê-la para ilustrar o artigo. índios puris armados, de perfil voltados para a
esquerda e de frente. 1815,” em (LÖSCHNER &

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

KIRSCHSTEIN-GAMBER, 2001, p. 80), e outro, por parte dos viajantes sobre as províncias do
“Estudo de perfil de quatro índios puris com sudeste.
crianças e utensílios, voltados par a esquerda. Segundo (LAGO, 2014, p. 142), “o livro de
1815”, em (LÖSCHNER & KIRSCHSTEIN- Maximilian von Wied-Neuwied, príncipe
GAMBER, 2001, p. 82). alemão com sólida formação de naturalista, é
Em outra obra, (FREIRE & MALHEIROS, obra clássica sobre o Brasil e tem o mérito de
2009), a gravura aparece na capa e contracapa, ter sido o primeiro álbum publicado na Europa
ocupando cerca de 2/5 da porção inferior das a revelar a vida brasileira e, sobretudo, a dos
mesmas, bem como nas páginas 9, ilustrando o índios.” Este excerto me faz entender o quão
início do capítulo “Os índios do Rio de Janeiro e importante é este álbum e, em decorrência, o
suas aldeias de origem” e 62, ilustrando o quão significativa é esta gravura, que, ainda
capítulo “A repartição: os índios aldeados”. De que fruto de uma composição à “la
fato, nesta obra, a presença em da gravura em frankenstein”, representa os puris, indígenas
quatro páginas da obra aguçou-me a extintos que cuidaram desta terra como
curiosidade. ecólogos, preservando-a e nela vivendo em
O puris habitaram a região dos atuais harmonia. Ensinamentos que os atuais
estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio brasileiros tanto necessitam.
de Janeiro e, consequentemente, têm sua
porção de sangue correndo nas veias dos
cariocas e fluminenses. Nada mais justo a
profusão da imagem dos puris nesta obra.
Em (BELUZZO, 1994), nota-se uma conexão
“alemã” que desvela os motivos pelos quais o
príncipe escolhe percorrer as então províncias
de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espirito Santo
e Bahia. Em 1804, o príncipe conhecera
Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von
Humboldt, o barão de Humboldt (BERLIM,
1769 — BERLIM, 1859). Humboldt
empreendera uma grande viagem pela
América do Sul (1799-1804), e fora impedido
de adentrar ao território brasileiro pelas
autoridades portuguesas, temerosas que ele
fosse um espião alemão. Hoje Humboldt é, e
mesmo em sua época, fora aclamado um
polímata e seus conselhos ao príncipe foram
excepcionalmente valorosos, em especial na
planificação da viagem e na escolha do
percurso, até então sem nenhuma informação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que é necessário pensar em uma pedagogia que vá contra a imposição do
capital permitindo que o indivíduo tenha um norte em meio ao caos e que sua força e seu
trabalho desenvolvido não acrescente somente a quem dela se aproprie mas a si também
agregando valores e conhecimento. Porém conforme o que estudamos podemos entender que
os autores que redigem a crítica ao trabalho como princípio educativo, exatamente nesse
momento histórico em que o socialismo cai em descrédito não chegam ao um consenso.
Ressalta-se que a derrocada do socialismo real teve influência no interior do próprio
movimento socialista, causando essas dissensões a respeito dos encaminhamentos para a luta de
classe e sobre sua organização e desigualdade social gerando conflitos e barreiras na aquisição
de conhecimentos, cultura e valores. No que se refere à trabalho como princípio educativo diante
de nossas reflexões aqui empreendidas, pensamos a partir do vínculo entre educação e estratégia
de transformação social, isto é, em como a escola pode contribuir para a ruptura do modelo
capitalista e para a emancipação humana, no entanto, entendemos que a função da escola
quanto transmissor de conhecimentos é de fundamental importância para
transmissão/assimilação dos conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade.
É fundamental refletir a respeito de um princípio que possibilita acesso à humanização e,
portanto, possa contribuir para a transformação social. Sendo assim, considera-se que o trabalho
é a chave mestra para um princípio educativo e cultural do cidadão na sociedade desde que ele
agregue conhecimento e valores a quem vende sua força.

1260
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BELUZZO, A. M. (1994). O Brasil dos viajantes. São Paulo: Metalivros.

FREIRE, J. B., & Malheiros, M. F. (2009). Aldeamentos indígenas do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: EdUERJ.

LAGO, P. C. (2014). Brasiliana IHGB. Rio de Janeiro: Capivara.

LÖSCHNER, R., & Kirschstein-Gamber, B. (2001). Viagem ao Brasil do Príncipe Maximiliano


de Wied-Neuwied (Vol. II). Petrópolis: Kapa Editorial.

PICCOLI, V. (2009). A presença dos viajantes. In: S. G. Amaral, O Brasil como Império. São
Paulo: Companhia Editora Nacional.

WIED-Neuwied, M. (1822). Voyage au Brésil, dans les annés 1815, 1816 et 1817. Paris: Arthus
Bertrand Libraire Éditeur.

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A MAGIA VISTA POR APULEIO E SUA RELAÇÃO


COM O LIVRO “O ASNO DE OURO”
Flávio Coutinho Gonçalves1

RESUMO: O objetivo do artigo que se apresenta é compreender a magia no pensamento de um


importante escritor do Império romano conhecido como Apuleio de Madaura. Apuleio viveu no
II século d.C. na África sob conquista romana. Para isso nos utilizaremos sua obra literária O asno
de ouro, também conhecida como Metamorfoses. Sabemos que Apuleio foi envolto em magia,
chegou a ser processado por práticas mágicas e se revelou iniciado em cultos mistéricos bem
comuns em sua época. Acreditamos que com essa obra possamos perceber como um homem,
envolto em misticismo retratava a magia, sempre como prática charlatã e feminina, contrária à
religiosidade mágica, vista como boa. Utiliza-se também algumas definições teóricas para o
conceito de magia.

Palavras-Chave: Império Romano; Apuleio; Magia; O asno de ouro.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em História; Licenciatura em Geografia; Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE MAGIC SEEN BY APULEIO AND ITS RELATIONSHIP WITH THE


BOOK “THE GOLDEN DONKEY”
ABSTRACT: The purpose of this article is to understand the magic in the thought of an important
writer of the Roman Empire known as Apuleius of Madaura. Apuleius lived in the 2nd century AD.
in Africa under Roman conquest. For this we will use his literary work The Golden Ass, also known
as Metamorphoses. We know that Apuleius was shrouded in magic, was even prosecuted for
magical practices, and revealed himself to be initiated into mysterious cults very common in his
day. We believe that with this work we can see how a man, wrapped in mysticism, portrayed
magic, always as a charlatan and feminine practice, contrary to magical religiosity, seen as good.
It also uses some theoretical definitions for the concept of magic.

Keywords: Roman Empire; Apuleius; Magic; The golden donkey.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O tema desta obra foi retomado por muitos


escritores, entre os quais, no século XIX, os
Este presente artigo visa um breve estudo poetas ingleses William Morris e Robert
sobre a vida de Apuleio e de sua obra “O Asno Bridges. Outras passagens também
de Ouro” a fim de compreender como este reconhecidas em Decameron, de Giovanni
autor mostrou nesta obra a magia na sociedade Boccaccio, no Don Quixote, de Miguel
romana. Apuleio foi um filósofo e escritor Cervantes e no Gil Brás de Alain Le
satírico romano nascido, acredita-se, em Sage(CHELINI, 1991, p. 68).
Madaura, na Nunímia (hoje Argélia). A
afirmação de ser Madaura a pátria do filósofo
SOBRE APULEIO
é corroborada por manuscritos da época que
O pouco que se sabe sobre Apuleio é
acrescentam ao seu nome o epíteto
descrito por ele mesmo, há controvérsias sobre
“madaurense” (SILVA, 2006, p. 24).
os dados biográficos a seu respeito, desta
Notável figura da literatura, da retórica e da
forma consideramos como biografia do autor é
filosofia platônica de sua época, educado em
uma montagem de dados tirados de
Cartago e Atenas , viajou pelo Mediterrâneo,
minuciosos exames dos documentos, com
estudando ritos de iniciação e cultos. Profundo
indícios que se alteram a partir de
conhecedor de autores gregos e latinos,
informações novas, variando da suposição a
ensinou retórica em Roma antes de regressar à
traços evidentes, sendo que o próprio Apuleio
África onde casou-se com uma rica viúva. Em
entrelaça muitos elementos autobiográficos
virtude da oposição da família da noiva ao
em suas obras (SILVA, 2006. p. 23).
casamento escreveu Apologia, que foi sua
Sua família ocupou cargos importantes na
autodefesa. Escreveu ainda diversos poemas e
administração de uma cidade que tudo indica
tratados, entre os quais Florida, coletânea de
ser Madaura, seu pai ao morrer deixou cerca de
trabalhos de eloquência, mas sua obra mais
dois milhões de sestércios ao filho.
conhecida é O Asno de Ouro (uma narrativa em
Escritores antigos referiam-se a ele como um
prosa em onze livros a que inicialmente
filósofo platônico madaurense, Apuleio foi um
chamou Metamorfoses, as aventuras do jovem
homem envolto em dogmas e mistérios e com
Lúcio, que é transformado por magia em burro
a herança que recebeu do pai teve a
e que só recupera a forma humano graças à
oportunidade de viajar para diversos lugares.
intervenção de Ísis, a cujo serviço se consagra,
Madaura era naquela época a Roma e a Atenas
e cujo episódio mais destacado dessa obra
da África. Apuleio aprendeu toda sabedoria
prima, o único romance da antiguidade a
que pudera, planejou uma viagem para
chegar completo aos nossos dias, é a Fábula de
completar a educação. Viajou para Cartago,
Amor e Psique, que pode ser interpretado
onde estudou literatura, retórica e filosofia,
como uma alegoria da união mística,
principalmente a platônica tendo mais tarde
relacionando cenas grotescas, terrificantes,
passado pela Grécia e Itália.
obscenas e em parte deliberadamente
absurdas. Segundo Semíramis Corsi Silva (2006, p. 25),
como todo jovem das ordens da elite romana,

1264
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

durante sua formação, dedicou-se aos estudos um homem de estudo e conhecimento e como
falando fluentemente as duas línguas advogado escreveu sua própria defesa na obra
principais do Império: grego e latim. Estudou “Apologia”, que foi um livro improvisado em
filosofia e direito na Grécia e eloquência em poucos dias, no qual misturam-se ironia, bom
Roma, sendo brilhantemente versado em humor, eloquência e erudição. Esta obra é mais
muitas ciências, entendia de geometria, de pessoal, no entanto , não foi difícil convencer
astronomia, de poesia e de música, é possível aos ouvintes de que não usara magia para
que tenha sido discípulo de Gaio, o célebre casar-se com Pudentila.
professor de filosofia platônica. É nesse sentido que Apuleio na Apologia
Viajou pelo oriente onde conheceu e teve alude a necessidade da sua filosofia em
contato com cultos estranhos e dogmas, as conhecer à magia, justificando suas práticas
religiões de mistério que fascinavam os mágicas como algo próprio e natural de sua
intelectuais e também fascinaram Apuleio, sua filosofia (SILVA, 2006, p. 102). Em suas viagens
curiosidade insaciável o levou a observar e pelo Oriente, foi iniciado em muitos cultos
quem sabe a praticar magia. Ele foi iniciado na mistéricos, esses cultos eram em sua maioria
maioria dos cultos mistéricos e sua devoção era dedicados a deusa egípcia Ísis, Apuleio foi
bem evidenciada. iniciado no culto de Ísis e virou um grande
Como podemos notar no seguinte devoto da deusa.
fragmento da Apologia de Apuleio: “Na Grécia Segundo Chelini (1991, p.67), em seu livro
fiz parte de iniciações na maior parte dos cultos “O Asno de Ouro” ou “Metamorfoses”, o autor
mistéricos, conservei ainda, com grande discute o papel exercido pela deusa Ísis nos
carinho certos símbolos e recordações desses rumos tomados por Lúcio, o protagonista
cultos.” principal.
De volta a Madaura dedicou-se a advocacia, O Asno de Ouro é sua obra máxima,
fazendo sempre viagens para aperfeiçoar seus acredita-se que tenha sido a obra da
estudos e pesquisar (CHELINI, 1991, p. 67)1. maturidade de Apuleio, escrito depois de todas
Quando se encaminhava para Alexandria, as viagens que realizou e com a rica experiência
Apuleio ficou doente e parou em Oea, atual que elas lhe outorgaram.
Trípoli, lá conheceu um antigo condiscípulo, Apuleio foi um homem sempre envolto em
Ponciano que tinha uma mãe muito bonita e mistérios, cheio de contrastes e contradições,
rica chamada Pudentila, esta era viúva na sério e frívolo, devoto e libertino, desejoso de
medida em que Apuleio apaixonou -se e com verdade e um pouco charlatão.
ela se casou. Além do “Asno de Ouro”, Apuleio escreveu
Porém os parentes de Pudentila achavam outras obras como Flórida, obra de retórica e
que ela havia sido enfeitiçada, e acusaram filosofia, O demônio de Sócrates, Apologia,
Apuleio de ter recorrido a práticas de magia Platão e sua doutrina e O mundo.
para conquistar a viúva e induzi-la ao Não há certezas se ele realmente era de
casamento, ele sabia que a pena para quem Madaura, menos ainda se teria um dia
praticasse magia era a morte. Mas, Apuleio era

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retornado a viver nessa cidade, o que se sabe é magistrado, apenas um membro da cúria de
que ele voltou a viver na África Romana. sua cidade natal e sacerdote de Cartago.
A obra “ Flórida”, é uma compilação feita Apuleio não nos indica se foi o grande
não se sabe quando nem por quem e possui sacerdote da província, mas de qualquer
vinte e três fragmentos de discursos forma, apenas por ter recebido, o título de
pronunciados por Apuleio em Cartago. sacerdote na principal cidade da África
O Deus de Sócrates se constitui como uma Proconsular, percebemos a importância que
exposição aprofundada sobre demonologia e desempenhou nesta região. Apuleio morreu
um estudo dos mais importantes do Médio- entre 170-180 em Cartago.
Platonismo, equiparando as especulações de
Apuleio à filosofia de Máximo de Tiro e Celso. OBRAS DE APULEIO
“Platão e sua doutrina” contém seus
ensinamentos sendo um resumo dos estudos
• A Magia e os cultos mistéricos na Roma
de Apuleio sobre este filósofo. Na obra ” O
antiga
Mundo”, apresenta os traços para a
A magia é praticada desde os primórdios da
compreensão das teorias platônicas no
humanidade e com o passar dos anos foi se
contexto do século II d.C.
modificando e adaptando a outros
Devido à fama de mago e filósofo
conhecimentos. A grande ciência sagrada como
naturalista, Apuleio recebeu alguns tratados
era chamada a magia antigamente, é uma
sobre a divindade de Hermes Trimegisto e
ciência oculta que estuda os segredos natureza
Esculápio e tratados naturais sobre plantas
e a sua relação com o homem, criando assim
medicinais encontrados são colocados como
um conjunto de teorias e práticas que visam o
de possível autoria de Apuleio (SILVA, 2006. p.
desenvolvimento integral das faculdades
42).
internas espirituais e ocultas do homem, até
As obras de Apuleio referem-se
que este tenha o domínio total sobre si mesmo
frequentemente a um tipo de magia ligada à
e sobre a natureza.
filosofia, fazendo poucas referências às
A magia como qualquer sistema de
práticas de magia populares em sua cultura.
pensamento, classifica os seres e as coisas
Segundo Chelini, ( 1991, p. 68.) Apuleio foi
(MONTERO, 1986, p. 47).
um místico e por isso, há sempre na sua obra o
As práticas mágicas são identificadas de
dualismo: artifício e religiosidade, sinceridade
acordo tanto com os princípios fundamentais
e diletantismo, o faz um paradoxo.
da magia (similaridade, contiguidade e
De volta a Cartago, ele continuou sua vida de
contrariedade) que regem o pensamento
advogado e o estudo da retórica, filosofia e da
mágico quantos alguns elementos da
história natural sendo possível ter sido
simbologia mágica.
sacerdote em Cartago.
A lei da contiguidade pressupõe que toda
Conforme Silva (2006, p. 34), Apuleio foi
parte é equivalente ao todo a que pertence, os
sacerdote do deus Esculápio. Ainda segundo
cabelos, as unhas de uma pessoa.
Silva (2006, p. 35), Apuleio cita ter sido

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De acordo com Montero (1986, p. 23), o havia praticantes de diversos tipos de magia
mágico pode estar então atuando ritualmente em Roma (SILVA, 2006. p. 96).
sobre esses elementos e produzir os efeitos No período republicano, os romanos
desejados sobre o indivíduo. diferenciavam as práticas rituais malevolentes,
Lei da similaridade é uma forma diferenciada que ameaçavam a integridade das pessoas e de
de atuação mágica, que chamamos de magia seus bens, de outras práticas mágicas bem
imitativa, ou seja “ o semelhante evoca o intencionadas, embora ambas ( TOTTI, 2004, p.
semelhante”, ou “ o semelhante age sobre o 34.), embora as duas modalidades sejam
semelhante, e particularmente cura o similares em suas aparências e manifestações.
semelhante . Lei da contrariedade como a Em relação às leis romanas que puniram a
fórmula inversa de semelhante atrai e age magia, esta apareceu pela primeira vez na lei
sobre o semelhante, a similaridade estaria da XII tabuas (século. V a.C.) como termos
contida na contrariedade. jurídicos com o objetivo de tratar das
Magia e religião sempre geram muitas proibições a práticas que equivalem ao que
discussões, mas apesar da abundância de chamaríamos nos dias de hoje de magia negra
material ,não se chegou a um acordo quanto ao (TOTTI, 2004. p. 27).
problema central, por onde passaria a linha de Em Roma é que os vocábulos magia, magus
demarcação que separa os fenômenos e magicus são empregados pela literatura das
religiosos dos fenômenos mágicos. últimas décadas do período republicano como
A magia trabalharia com forças que seriam termos eruditos ainda designando uma arte
imanentes à natureza, enquanto a religião exótica sem correspondência com a realidade.
veneraria forças transcendentes, para a magia, De modo geral para os romanos existiam
ao contrário, a natureza não é regida pelos dois tios de magia, a teurgia magia aplicada
caprichos pessoais das divindades, mas por leis para o bem e goétea magia destinada a fazer o
rigorosamente mecânicas. mal.
A magia não tem nada de místico, seu Os romanos usavam a magia principalmente
fundamento é puramente racional, seu nas plantações, para que estas crescessem,
funcionamento está assentado na ideia base de esse tipo de magia era vista como um tipo de
que os fatos se produzem sucessão invariável e magia simpática, embora a utilizavam para fins
previsível, sem a intervenção de forças cruéis, por esse motivo o crime de magia foi
sobrenaturais, a magia é portanto um sistema proibido em toda Roma pela lei das XII tábuas,
de pensamento que pressupõe a ação regular e na medida em que praticante de magia era
mecânica da natureza. punido e a pena era a morte por fustigação.
A crença em poderes mágicos é recorrente Em sua obra Apologia, Apuleio se diz
em inúmeras sociedades e os romanos não se praticante de uma magia tipo teurgica, mas ele
isentaram desta crença generalizada, a sempre se refere a um tipo de magia ligada a
evidências arqueológicas e literárias das filosofia, e não a práticas de magia populares,
épocas romanas não deixam dúvidas de que mas nunca saberemos a verdade pois

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Apuleio sempre foi cercado de mistérios e religiosa, transcendendo a perspectiva realista


mitos. Devido seu grande interesse por magia, da religião romana e possuindo uma
ele foi iniciado em várias religiões de mistério. espiritualidade mais elevada, eram também
As religiões de mistério referem-se religiões de salvação.
normalmente ao culto de Ísis, Mater Magna ou Diferente do judaísmo e do cristianismo, as
particularmente Mitra, de Dionísio Baco e igual religiões de mistério foram as mais influentes
ao culto Elêusis, representantes dos mistérios nos séculos que precederam o advento de
propriamente ditos (SILVA, 2006, p.101). Cristo. A razão desses grupos ficarem
Para não falar de Deméter de Elêusis e de conhecidos como religião de mistério encontra
Dionísio, cujos mistérios e cultos vieram para resposta em suas cerimônias secretas,
Roma já bem antes, falemos agora dos cultos somente conhecidas por aqueles que se
de Cibele e de Ísis, na qual Apuleio foi iniciado. iniciavam em tais religiões.
Eles respondiam as mesmas aspirações de As religiões mistéricas atraíram muitas
salvação, o fiel que neles se alistava, que se pessoas das camadas menos favorecidas
comprometia perante os mesmos, era economicamente, mas também atraíram um
obrigado a cerimônias coletivas, conduzidas grande número de intelectuais romanos
por sacerdotes autoritários, era selecionado (SILVA, 2006, p. 102.).
por uma iniciação individual rigorosa que o Esses cultos não representavam,
punha às ordens desses sacerdotes e ao serviço obviamente, as únicas manifestações do
das divindades (CHELINI, 1991, p. 72). espírito religioso no Império romano oriental,
Havia grandes diferenças entre os cultos do as pessoas daquela época também podiam
império romano e os cultos da Grécia e que optar por cultos públicos que não requeriam
respondiam bem às novas necessidades, ás qualquer cerimônia de iniciação que
vezes a contrariedade das almas marcavam envolvesse crenças e práticas secretas. Cada
esses cultos. Chegados a Roma sob forma mais região do mediterrâneo produziu sua própria
ou menos helenizada, tornam no império religião de mistério, fora da Grécia, surgiram os
romano um caráter nitidamente exótico, como cultos dedicados a Deméter e Dionísio, assim
para melhor proporem a seus fiéis o benefício como a Orfeu. A Ásia Menor concebeu o culto
das melhores sabedorias do Oriente. Em toda a Cibele, a grande mãe, e a seu amado, um
religião, em todos meios a singularidade de pastor chamado Átis. O culto a deusa Ísis e
seus ritos distinguia os fiéis que, de uma ponta Osíris originou-se no Egito.
a outra do Império formavam comunidades de Vamos tratar um pouco sobre o culto a Ísis,
Ísis, de Cibele e de outros deuses, assegurando- no qual Apuleio foi iniciado e era um grande
se cada qual de uma graça de salvação e com devoto.
cuja certeza ele somente contava no templo da Conforme Silva (2006, p. 102), Apuleio faz
divindade que o acolhera (CHELINI, 1991, p. uma minuciosa descrição de um ritual de
73). iniciação aos mistérios de Ísis e pela riqueza de
Estas religiões ficaram conhecidas como detalhes, conferimos que tal descrição só
uma alteração básica na postura propriamente

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poderia ser obra de alguém que conhecesse tarde, deixavam as almas na espera do
bem tal culto. amanhã, prontas para as admoestações dos
O culto à deusa Ísis se originou no Egito e sonhos místicos.
passou por duas fases principais, em sua versão Ainda segundo Chelini (1991, p.73), as
mais antiga, quando não era uma religião de cerimônias de Ísis tinham todas um caráter
mistério, Ísis foi considerada a deusa do céu, da hermético e somente os iniciados a
terra, do mar e do mundo subterrâneo compreendiam bem. A admissão ao culto
invisível. Nessa fase remota, Ísis teve um iniciava-se pela cerimônia da purificação,
marido chamado Osíris. quando o sacerdote conduzia o iniciado a um
O culto de Ísis só se tornou uma religião de lago próximo do templo e o aspergia,
mistério depois que Ptolomeu I introduziu invocando os deuses, reconduzido ao templo,
mudanças importantes, em meados de 300 a.C. ouvia os mandamentos que deveria observar:
na fase um novo deus chamado Serápis, abster-se de carne, de vinho, guardar
tornou-se seu novo cônjuge. Ptolomeu I continência e silêncio. No fim do décimo dia,
introduziu mudanças a fim de sintetizar as era conduzido a um lugar misterioso, escuro e
crenças egípicias e gregas em seu reino, escondido a que somente os sacerdotes
acelerando a helenização do Egito. Do Egito, o tinham acesso, subitamente a noite se
culto de Ísis conquistou seu espaço iluminava com fulgores e visões maravilhosas.
gradativamente em Roma . Depois, em trajes magníficos era apresentado
No princípio Roma repeliu o culto, mas a aos fiéis, trazia uma tocha na mão e uma coroa
religião acabou entrando na cidade durante o de palmas na cabeça, vinham em seguida, os
reinado de Calígula (37 – 41 d.C.), sua influência banquetes, as danças, as festas, não faltando a
expandiu pouco a pouco durantes dois séculos licenciosidade característica dessas festas. Os
posteriores e, em alguns locais, a religião se adeptos de Ísis ganhavam, assim, a certeza de
tornou a principal rival do Cristianismo. O obter a salvação após a morte.
sucesso do culto de Ísis no império romano é Toda essa aura de mistério fez com que
geralmente justificado por seus Apuleio tivesse grande interesse nessas
impressionantes rituais e pela esperança de religiões de mistério.
imortalidade oferecida a seus seguidores. Conforme Silva (2006, p. 101), Apuleio na
O ritual de Ísis compreendia duas partes, Grécia fez parte de iniciações da maior parte
uma de manhã e outra a tarde. Conforme dos cultos mistéricos, conservei ainda, com
Cheline (1991, p.67), pela manhã o sacerdote grande carinho, certos símbolos e recordações
reavivava o fogo sagrado, depois de ter desses cultos, que me foram entregues por
retirado o manto que cobria a estátua da sacerdotes. Pois bem, eu também como já
deusa, fazia libações com água que dizia ser do disse, conheci por meu amor à verdade e
Nilo. Tudo isso era feito ao som de cânticos, minha piedade aos deuses, cultos de toda
música de flauta e instrumentos de percussão, classe, ritos numerosos e cerimônias variadas.
essa música significava a presença benfeitora
da deusa. As cerimônias em ordem inversa, à

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Desta forma, como vimos, a magia era muita Após ter ganhado a confiança da moça, Lúcio
importante em Roma tanto para as camadas comenta sobre Panfília, ele diz que ela é uma
baixas como para as camadas mais altas. feiticeira e pergunta para a moça se ela sabe de
alguma coisa, Fótis tem uma um pouco de
• A magia vista por Apuleio e sua relação medo de falar, mas acaba dizendo a Lúcio que
com o livro “O asno de ouro” sua senhora prática de rituais estranhos
O livro “O asno de ouro”, escrito por Apuleio durante a noite no qual ela não ousa a assistir,
é sua obra mais madura, podemos dizer que é porém Lúcio morrendo de curiosidade queria a
uma obra de busca, como sendo esta por qualquer custo que Fótis o levasse para que ela
conhecimento e salvação. pudesse assistir tal ritual. Mas, a moça estava
O asno de ouro conta a história de Lúcio, um com medo, pois Panfília era uma feiticeira
viajante muito curioso e interessado por magia poderosa e má,
e rituais mágicos, que acaba por entrar na caso descobrisse que estava sendo vigiada,
maior aventura de sua vida. sabe-se lá do que seria capaz. Guarda-te Lúcio,
Em uma de suas viagens, ele foi para Tessália guarda-te energicamente dos perigosos
a negócios e durante o caminho encontrou dois artifícios e da criminosa sedução de Panfília,
viajantes, como uma boa conversa encurta o mulher de Milão, ela passa por mágica de
caminho, seguiu viagem junto a eles. Mas primeira ordem, mas entendida em todos os
depois de muita prosa, já estava meio gêneros de encantamentos sepulcrais (O Asno
entediado, até um deles comentou que na de Ouro, L II, 5 ).Mas, Lúcio estava decidido a
cidade para qual estavam indo, havia mulheres ver tal ritual, e queria sobre tudo aprender não
feiticeiras e com importava a consequência, e assim conseguiu
poderes sobrenaturais. convencer Fótis a lhe mostrar o ritual assim que
Segundo Apuleio (O Asno de Ouro, Livro I, 1) possível.
havia mulheres que praticavam magia e Alguns dias após, a empregada vem eufórica
adivinhação e eram tão poderosas que podiam a seu quarto dizendo que sua senhora fará o
abaixar o céu, suspender a terra, de petrificar ritual a noite, para ele se preparar e não falar
as fontes, de diluir as montanhas, de sublimar nada para ninguém. Quando chegou à noite,
os mares e derrubar os deuses, de apagar as eles foram até o local, e encontraram Panfília
estrelas e iluminar o tártaro. se despindo e após tirar toda a roupa , ela
Lúcio então ficou curioso e decidido a começou a falar palavras mágicas e em seguida
encontrar uma mulher dessas, chegando a pegou um pote cheio de uma espécie de
Hípata se hospedou na casa de um antigo pomada e untou todo o corpo, de repente
conhecido de seu pai, depois de alguns dias começou a transformar em pássaro, até por
ficou sabendo que a mulher de seu hospedeiro, fim virou uma grande ave e saiu voando. Lúcio
Panfília era uma dessas feiticeiras. não acreditava no que via, por alguns instantes
Na casa de seu hospedeiro, Lúcio conhece a não falou se quer uma palavra, mas quando
empregada Fótis, uma moça jovem e de belos voltou a si queria de todo jeito ter a tal poção
atributos por quem ele se apaixona. mágica para virar um pássaro, e convenceu

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Fótis a pegar um pote desse unguento. Mas, a próprios olhos, há uma veracidade que não
empregada pegou um frasco do unguento pode ser contestada.
errado e transformou Lúcio em um burro, a Apuleio foi um devoto de Ísis, e grande
partir daí se tem uma jornada para Lúcio voltar apreciador dos cultos mistéricos, e que
a ser homem novamente. praticava magia, porém a o tipo de magia que
ele praticava, não podia ser punida, porque ele
• Metamorfose de Lúcio acreditava admitir algo benéfico e estar mais
Segundo Chelini (p,67,1991), quando próximo da religião e da filosofia do que da
ocorreu o engano, logo no início e Lúcio se goétea.
transformou em asno, ele não se tinha Segundo Silva, (2006, p. 99), na obra O asno
informado sobre o que fazer para voltar a ser de ouro, há uma distinção entre dois tipos de
homem, mas ouviu quando a bela moça, Fótis, magia: uma magia totalmente afastada de
disse: “o remédio não é difícil; logo ao concepções tidas como religiosas,
amanhecer irei procurar rosas; basta que coma representadas por meio de operações
pétalas”. Ou seja, para Lúcio virar homem espetaculares e privadas, e outra que explora
novamente, teria que comer pétalas de rosa, elementos religiosos, ligadas a filosofia e ritos
por duas vezes ele se deparou com rosas ou religiosos, portanto punidos por leis. A primeira
flores parecidas, mas o destino lhe pregou espécie de magia mostra um sacrilégio e certo
peças. constrangimento ao praticante, sendo uma
Porém, uma noite, solitário em uma praia, prática individual. A segunda, ao contrário
Lúcio tem um sonho em que ele recebe a conhece os segredos divinos e venera os
revelação de Ísis, ele teria que se iniciar no deuses, opera na crença da condição da ação
culto da deusa, Lúcio cumpriu com toda divina e é uma prática coletiva.
sinceridade as partes de sua iniciação, ele fez Na obra “O Asno de Ouro”, Apuleio dá uma
parte de seu caminho mostrando-se obediente descrição de um ritual de iniciação aos
às ordens do destino, faltava só comer as mistérios de Ísis e pela riqueza de detalhes,
pétalas de rosa. Ele mesmo não acredita, mas conferimos que tal descrição só poderia ser
tem a confirmação por parte da deusa, uma obra de alguém que conhecesse bem o culto,
cesta de rosa será oferecida a você por um isso indica que na livro “ O Asno de Ouro”,
sacerdote, na procissão em meu nome. Apuleio escreveu sua própria história, mas de
“ A deusa diz: não tenha medo; rompe por uma maneira mais alegórica.
entre o povo; ninguém se horrorizará, mas A obra de Apuleio foi considerada por alguns
lembra-te de que, até o final da tua vida, terás como uma representação alegórica do mito
um compromisso comigo” ( CHELINI, p.78, platônico de Fedro: a alma deve morrer para
1991). chegar à concepção do divino e sofrer duras
O livro “ O Asno de Ouro” é em certa medida provas para elevar-se até Deus (MACHADO,
biográfico, pois Apuleio fala de todas estas 2008, p 179).
coisas como se as tivesse visto com seus Apuleio descreveu em sua obra “O Asno de
Ouro”, a grande importância que a deusa Ísis e

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os cultos da qual ele era iniciado, e teve como


ressalva praticamente sua filosofia de vida.
Há tanto em Apuleio, que procuram chaves
para sua compreensão, “O asno de ouro” foi
exaustivamente explicado em interpretado,
deram-lhe valor simbólico, mas são vários os
símbolos e vários os caminhos, mas ninguém
chegou em um consenso.
Há estudiosos que acreditam que Machado
de Assis, se inspirou em Apuleio, para escrever
“Memórias póstumas de Brás Cubas”,
basicamente no livro “ O Asno de Ouro”, e ele
deu uma interpretação para a obra, ou seja
Lúcio teve uma rendição.
Segundo Machado (P.176-182, 2008) Lúcio
sempre almejou a glória eterna, mas foi preciso
uma metamorfose para conseguir transformar
seu papel de personagem em narrador
(MACHADO, 2008, p.179 ). Machado de Assis
fez uso do mesmo recurso, necessitando de
uma metamorfose ainda maior, a
metamorfose de vida em morte, fazendo seu
personagem pagar com o preço de sua vida
para poder imortalizar seu narrador, que conta
as peripécias de um Brás vivo.
Apuleio foi um grande escritor de sua época
e ainda tem influência em alguns escritores
contemporâneos. Acreditamos que o livro “O
Asno de Ouro”, pode ser considerado como
uma espécie de autobiografia e uma
homenagem à deusa Ísis.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o estudo da obra “O Asno de Ouro” e a passagem sobre a vida e a obra de
Apuleio, conseguimos identificar a relação existente entre Apuleio e Lúcio, como personagem do
livro.
Parece que Apuleio intentou escrever em forma fantasia suas aventuras e viagens pelo
mundo conhecido. Não temos certeza de que foi uma autobiografia, mas de acordo com os
estudos parece haver uma relação entre os dois. Pode ser que só que a obra seja apenas
desabafo, porque como ocorre no livro, a situação dos romanos não era boa, ou seja, ladrões,
assassinos, trapaceiros, sequestradores, davam uma boa ideia de como andava a elite pobre de
Roma, e Apuleio quis fazer uma crítica sobre isso.
Mas, não há como negar que a relação de Apuleio e Lúcio seja tamanha coincidência.
Apuleio sempre foi interessado em magia e a praticava, era também um viajante sempre em um
busca do conhecimento, se meteu em algumas confusões que lhe deram muita dor de cabeça.
Lúcio também era um viajante e se interessava demais por magia, além de ser muito curioso, e
ele só consegue a salvação por meio da deusa Ísis,
Apuleio era devoto de Ísis, e iniciado em culto. Finalizando, temos a ideia, que Apuleio
escreveu por meio do livro “ O Asno de Ouro” uma autobiografia e também uma homenagem a
deusa Ísis, sendo que só por meio dela encontraria a salvação e o conhecimento, como se defende
em sua Apologia da acusação de praticar magia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
APULEIO. O Asno de Ouro. Tradução de Ruth Guimarães. São Paulo: Editora Ediouro.

CHELINI, Antônio. A deusa Ísis nas metamorfoses de Apuleio. Revista língua e literatura, v.
16, n. 19, 1991, p. 67-80.

MACHADO, Priscila Maria Mendonça. Metamorfoseando O Asno de Ouro: a presença de


Apuleio em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Anais XXIII SEC, Araraquara, p. 176-182,
2008.

MONTERO, Paula. Magia e pensamento mágico. São Paulo: Editora Ática.

SILVA, Semíramis Corsi. A imagem da mulher feiticeira como expressão da diferença de


gênero em Roma: os poemas de Horácio e Ovídio. Klepsidra Revista]Virtual de História.
2006, v. 27. Disponível em:http://www.klepsidra.net/klepsidra27/feiticaria.htm. Acesso em:
01/08/2010.

SILVA, Semíramis Corsi. Relações de poder em um processo de magia no século II d.C.


Uma análise do discurso Apologia de Apuleio. Dissertação de Mestrado apresentada na
UNESP de Franca em 2006.

TOTTI, Luis Augusto Schmidt. A magia no capítulo 35 do livro I do Opus Agriculture de


Paládio. Dissertação de Mestrado defendida na USP em 200

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA


SURDOS
Renata Catarina Silva Tenca1

RESUMO: Por meio da Lei nº 10.436/20021, o Brasil reconheceu a Língua Brasileira de Sinais /
LIBRAS como a Língua das comunidades surdas brasileiras. Baseando-se no princípio da igualdade
e no compromisso de educação universalizada, expostos na Constituição Federal (1988), bem
como na Declaração Mundial sobre Educação para Todos e a Declaração de Salamanca e por fim,
nas diretrizes estabelecidas no artigo 4º da supracitada Lei 10.436/20025, o presente trabalho é
para questionar a eficácia e oportunidade do ensino de LIBRAS enquanto meio de inclusão do
aluno surdo à sociedade e a importância da inserção deste aluno no ambiente onde LIBRAS é a
primeira língua.

Palavras-Chave: Educação; Surdos; Bilíngue.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

IMPORTANCE OF BILINGUAL EDUCATION FOR THE DEAF


ABSTRACT: Through Law nº 10.436/20021, Brazil recognized the Brazilian Sign Language / LIBRAS
as the language of Brazilian deaf communities. Based on the principle of equality and the
commitment to universal education, set out in the Federal Constitution (1988), as well as in the
World Declaration on Education for All and the Salamanca Declaration and, finally, in the
guidelines established in article 4 of the aforementioned Law 10.436 /20025, the present work is
to question the effectiveness and opportunity of teaching LIBRAS as a means of inclusion of the
deaf student to society and the importance of inserting this student in the environment where
LIBRAS is the first language.

Keywords: Education; Deaf; Bilingual.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO diferenças em ambientes que proporcionem


uma educação de qualidade para todos (as)
Tornar a escola regular um espaço (PEDREIRA, 2007, p. 3).10
verdadeiramente inclusivo é um grande Neste cenário, surge com a lei Lei Nº 13.005,
desafio para os professores, familiares e de 25 de junho de 2014 a proposta educacional
alunos, em especial no caso dos alunos surdos; do ensino bilíngüe, tendo LIBRAS como
promover a acessibilidade no ensino regular primeira língua e a modalidade escrita da
para que possam adquirir incentivos à Língua Portuguesa como segunda língua;
autonomia e exercer a sua cidadania é o reconhecendo o caráter natural das linguagens
objetivo da inclusão educacional em escolas de sinais para comunidade surda e a
regulares. possibilidade de desenvolver a consciência da
O sentido dessa inclusão educacional se importância da leitura e da escrita por meio do
mostra bastante amplo, conforme apontam ensino da Lingua Portuguesa.
Karagiannis, et al. (1999, p. 22):
a prática da inclusão de todos –
independentemente de seu talento, IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO
deficiência, origem socioeconômica ou origem BILÍNGUE PARA SURDOS
cultural – em escolas e salas de aula A educação bilíngüe permite ao aluno surdo
provedoras, onde todas as necessidades dos utilizar a língua de sinais como língua natural, e
alunos são satisfeitas. recorrer à língua portuguesa para integrar-se
Historicamente, no entanto, as crianças na cultura ouvinte, promovendo uma
surdas ficavam relegadas a instituições, escolas verdadeira identificação da criança surda com
especiais ou classes especiais, onde tinham seus pares.
como objetivo primordial de sua educação o Para que se tenha uma efetiva inclusão dos
aprendizado do português oral. Mesmo com o alunos Surdos em uma turma de ensino
advento da educação inclusiva9, a aceitação de regular, entretanto, é necessário compreender
alunos surdos em escolas comuns não garantiu que a língua de sinais representa uma
o acesso ao currículo escolar e tampouco aos modalidade diferente da língua oral e torna-se
processos de ensino-aprendizagem, visto a uma mediadora para o aprendizado de
inadequação dos meio pedagógicos e português. O educador, em especial, deve
lingüísticos, tornando a experiência considerar também que as experiências visuais
contraproducente, conforme Predreira (1997): dos alunos Surdos não são as mesmas dos
Os (as) alunos (as) Surdos (as), quando ouvintes, e que por isso, os meios favoráveis
perguntados (as) sobre como se sentiam para a educação da língua portuguesa devem
estudando com os (as) ouvintes, quase a ser visuais, sendo de fundamental importância
totalidade deles (as) afirmou que tal situação a mudança de metodologia para o
exige muito sacrifício, paciência e esforço, o desenvolvimento integral do indivíduo, de
que se contrapõe ao objetivo fundamental da forma que desenvolva toda a sua
educação inclusiva, de acolher todas as potencialidade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A inclusão e permanência do aluno Surdo no A escola e os educadores devem se


sistema educacional devem propiciar preocupar não somente em alfabetizar os
igualdade de oportunidades e um ensino de alunos surdos, mas em oferecer-lhes as
qualidade, orientadas pela perspectiva da condições para que se tornem leitores e
diversidade, com metodologias e estratégias escritores, para que verdadeiramente se
diferenciadas, com responsabilidade integrem comunidade escolar e que
compartilhada, cuja capacitação do professor alcancem todo seu potencial.
passa pelo conhecimento sobre a diversidade, O desafio da educação inclusiva não pode
com a família, responsabilidade para com o limitar-se à transferência de conteúdos por
exercício da profissão. outros modais apenas, é preciso
Por todo o exposto, nota-se imprescindível comprometimento por parte de todos, pais,
para a educação e inclusão criança surda uma educadores e escola, para formar cidadãos
educação bilíngüe, sendo fundamental para conhecedores de sua cultura e da cultura
isso, que as atividades realizadas sejam ouvinte, de modo a favorecer o pleno
adaptadas conforme suas necessidades. No desenvolvimento desses sujeitos, e a sua
mais, essa educação inclusiva, assim como nos participação na sociedade.
outros casos de crianças portadoras de
necessidades especiais, beneficia não só a
educação regular formal, unicamente da
criança surda, mas sim a absorção por parte
desta criança de sua própria cultura, o
aprendizado das demais crianças acerca das
diferenças e a interação entre elas.
Para isso, as escolas precisam de uma
metodologia de ensino própria, com sala de
aula adequada, em que predomine o visual. É
importante perceber que a pessoa com surdez
tem as mesmas possibilidades de
desenvolvimento da pessoa ouvinte,
precisando apenas que suas necessidades
especiais sejam atendidas. Neste cenário, é
importante ressaltar a importância da
linguagem de sinais, não apenas como um
nivelador entre os surdos e ouvintes, nem
como uma ferramenta para a aquisição da
língua portuguesa por parte dos alunos, mas
como parte da cultura de uma sociedade e
meio de comunicação tão genuíno, complexo e
importante quanto a língua portuguesa falada.

1278
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, considerando este desafio, da educação inclusiva, nós professores não podemos
nos limitar somente a questão de transferência de conteúdo, precisamos incentivá-los quanto ao
conhecimento de sua cultura, da cultura ouvinte, favorecer o desenvolvimento de sujeitos
conscientes de sua participação na sociedade, fornecer condições para que se tornem leitores e
escritores, que integrem a comunidade escolar de forma plena.
Temos o dever de lutar para que a educação bilíngue aconteça verdadeiramente, e
entender que para isso, é fundamental, que as atividades realizadas sejam adaptadas conforme
a necessidade de cada criança, que o surdo tenha professores bilíngues, com metodologias que
contemplem as crianças, com salas de aula adaptadas, material didático adaptado. A luta é
grande, mas a vitória com certeza será maior.

1279
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS

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QUADROS, R. M. de Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre. Artes


Médicas. 1997.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA FAMÍLIA


Giovana Barbosa Almeida 1

RESUMO: A integração entre família e escola é um processo em que não existem perda para
nenhum lado. Quando levamos em consideração que muitas crianças reproduzem no ambiente
escolar maus comportamentos que presenciaram em casa, torna-se primordial o fortalecimento
da relação e a intensificação da participação dos pais no processo de ensino aprendizagem.
Considerando que o maior beneficiado sempre será o aluno, com os direitos e deveres da família
e da escola claramente definidos e entendidos, a parceria ocorrerá de forma saudável e natural.

Palavras-Chave: Contexto; Família; História.

1Professora de Educação Infantil e Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clinica

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTEXTUALIZING THE FAMILY STORY


ABSTRACT: The integration between family and school is a process in which there is no loss for
either side. When we take into account that many children reproduce bad behaviors in the school
environment that they have witnessed at home, it becomes essential to strengthen the
relationship and intensify the participation of parents in the teaching-learning process.
Considering that the greatest beneficiary will always be the student, with the rights and duties of
the family and the school clearly defined and understood, the partnership will occur in a healthy
and natural way.

Keywords: Context; Family; History.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A HISTÓRIA DA FAMÍLIA NA


No dicionário a definição de família é: IDADE MÉDIA
Pessoas aparentadas que vivem, na mesma De acordo com Ariès (1981), a Idade Média
casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos. não privilegiava a imagem de criança, mas sim
Pessoas do mesmo sangue, origem, da relação do homem e sua profissão. “A
descendência (FERREIRA, 2010). importância dada aos ofícios na iconografia
A definição da palavra família: grupo de medieval é um sinal do valor sentimental que
pessoas, formado por pai, mãe e filhos, que as pessoas lhe atribuíam, era como se a vida
vivem sob o mesmo teto; grupo de pessoas privada de um homem fosse, antes de tudo,
unidas por crenças interesses ou origem seu oficio” (ARIÉS, 1981, p.132).
comum; grupo de seres ou coisas com Somente a partir do século XVI é que
característica comum; grupo de pessoas surgiram imagens de crianças nos calendários,
ligadas entre si pelo casamento ou qualquer pois até então, poucas haviam sido
parentesco; na classificação dos seres vivos, representadas, mas inicia-se então a
categoria que agrupa um ou mais gêneros ou introdução de imagens de crianças, que antes
tribos, relacionados segundo a história da era esquecida, como se não fosse tão
evolução e distintos dos outros por importante na vida familiar eram “deixadas de
características marcantes (HOUAISS, 2009). lado”, enquanto crianças, não havia o
Para Dias (2005), família é um grupo reconhecimento delas, o que havia neste
aparentado responsável principalmente pela tempo era a priorização do adulto o que não
socialização de suas crianças e pela satisfação extinguia a criança, na verdade era vista como
de necessidades básicas. Ela consiste em um um adulto em miniatura. Mas os anos foram
aglomerado de pessoas relacionadas entre si passando e tudo isso sofreu transformações,
pelo sangue, casamento, aliança ou adoção, nota-se a necessidade e certa importância de
vivendo juntas ou não por um período de expressar a imagem da família, e por meio de
tempo indefinido. tudo o que já havia exposto nos calendários,
Este capítulo, faz a reflexão sobre a nasce à necessidade da representação da vida:
concepção e a história da família, o sentimento crianças-adolescentes - um casal - um velho. É
de família assim como a formação dessa notório que até aqui ainda não se representa a
instituição que são construções do tempo família como um todo, pois as “idades da vida”
moderno (ARIÈS, 1981). são individuais, ou feitas separadamente
Traduzida e publicada no Brasil em 1978, (ARIÈS, 1981).
História social da Família, Philippe Ariès em sua Entre o século XV e XVI a iconografia altera-
obra aborda a concepção da família, e da se de maneira significativa:
infância em categorias construídas Quanto mais avançamos no tempo, e,
historicamente. sobretudo no século XVI, mais frequentemente
a família do senhor da terra é representada
entre os camponeses, supervisionando seu

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

trabalho e participando de seus jogos [...] O não representa nem os degraus das idades,
homem não está mais sozinho. O casal nem as três ou quatro idades separadas, mas
imaginário do amor cortês. A mulher e a família simplesmente uma reunião de família.
participam do trabalho e vivem perto do Assim seguem as representações por meio
homem na sala ou nos campos. Não se trata das pinturas, expondo todos os contextos de
propriamente de cenas de família: as crianças uma família começando pelo noivado, os trajes
ainda estão ausentes no século XV. Mas o da noiva, a cerimônia de casamento, o beijo
artista sente a necessidade de exprimir dos noivos, o leito nupcial, o nascimento da
discretamente a colaboração da família, dos criança, a imagem da família por completo
homens e das mulheres de casa, no trabalho posando no retrato, seguindo então da fase
cotidiano, com uma preocupação de pior que é o sofrimento da família com a morte,
intimidade, outrora desconhecida (ARIÈS, ou seja, as representações das fases da vida
1981, p.133). familiar, onde cada fase demonstra o que a
Por meio das pinturas em quadros na Idade família está vivendo, do início com o noivado, o
Média, percebe-se o quanto a família é casamento até a fase pior que é a perda, ou
inspiração para muitos dos pintores daquela seja, a morte (ARIÈS, 1981).
época. Surge a representação da mulher dona A busca para que a família seja retratada de
de casa e companheira. Mas de maneira maneira que sua imagem seja fiel ao que é
sublime, de forma mais oculta, com singeleza verdadeiro, traçando todo contexto familiar e
nos traços representando assim a vida privada. trazendo com o passar dos anos, propostas
Os jogos também fizeram parte da história da diferentes e uma imagem de família com uma
família, foram por meio desses jogos, que educação mais rígida, mais tradicional (ARIÈS,
muitos calendários expunham imagens da 1981).
família, jogos como: jogos de salão, jogos de O autor afirma que as imagens
força, de habilidade, jogos tradicionais, festa representadas no calendário é todo contexto
de Reis e muitos outros. Os jogos traziam a de vida em que a família estaria vivendo na
participação da comunidade, a interação entre época, sendo que divididas pelos meses do ano
os presentes, pois se jogavam entre famílias, e registrando assim as fases da vida (ARIÈS,
vizinhos, entre classe de idade, entre paróquias 1981).
e etc, trazendo assim diversão e interação Portanto, esse calendário assimila a
entre os membros da sociedade (ARIÉS, 1981). sucessão dos meses do ano à idade da vida,
No século XVI surgem novas ideias, Ariès mas representa a idade da vida sob a forma da
(1981, p.135), afirma que: história de uma família: a juventude de seus
Já tivemos a ocasião de citar Le Grande fundadores, sua maturidade em torno dos
Propriétaire de ToutesChoses, esse velho texto filhos, a velhice, a doença e a morte, que é ao
medieval traduzido para o francês e editado mesmo tempo a boa morte, a morte do
em 1556. Como observamos, esse livro era um homem justo, tema igualmente tradicional, e
espelho no mundo. O sexto livro trata das também a morte do patriarca no seio da família
“idades”. É ilustrado com uma xilogravura que reunida (ARIÈS, 1981, p. 136).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Era por meio do serviço doméstico que o ao contrário, a educação passou a ser fornecida
mestre transmitia a criança, não ao seu filho, cada vez mais pela escola (ARIÈS, 1981 p.159).
mas ao filho de outro homem, a bagagem de Desde então houve uma evolução na
conhecimento, a experiência prática e o valor educação, surgindo a necessidade de uma
humano que pudesse possuir. As crianças eram rigidez moral por parte dos educadores,
mandadas para outras famílias, passavam por acreditando-se que as crianças deveriam estar
um período de tempo juntamente com essas separadas do mundo dos adultos, para que se
famílias adotivas, para obterem um preservasse a inocência natural das mesmas.
aprendizado em um novo ambiente, elas Trazendo assim o sentimento de querer estar
seriam educadas e frequentariam escolas para mais próximo aos seus filhos, mesmo que os
aprenderem as letras latinas. Este era um filhos por um tempo estivessem morando com
hábito entre todas as famílias, outras famílias, a substituição da
indiferentemente de suas condições sociais. aprendizagem pela escola exprime também
Era de costume que as crianças tinham suas uma aproximação da família e das crianças, do
vidas misturadas com as dos adultos, sendo sentimento da família e do sentimento da
assim aprendiam por meio da convivência, do infância, outrora separado, seguindo os anos
contato que tinham com os mesmos. Portanto muita coisa foi mudando, as necessidades se
desde muito cedo a criança não tinha a vivência transformando e a base da sociedade familiar
com sua família, mesmo voltando à sua própria (ARIÈS 1981).
família anos depois, e quando isso acontecia, Um grande passo para uma evolução no
pois não era frequente. Sendo então notória a sentido de que família é muito mais do que ser
falta de vínculo entre pais e filhos, não que os pai ou filho, ou seja, caminha-se para ganhar a
mesmos não se amassem, mas o vínculo maior unidade entre os membros da família, e não
era moral e social e não sentimental (ARIÈS mais sendo inclusos pessoas de fora e sim fazer
1981). nascer o sentimento de união entre os pais e
Mas com o passar dos tempos filhos (ARIÈS 1981).
transformações viriam:
[...]as realidades e os sentimentos da família DESCOBRE-SE A INFÂNCIA
se transformariam: uma revolução profunda e
Na Idade Média, o sentimento da infância
lenta, mal percebida tanto pelos
não existia, não havia preocupações com as
contemporâneos como pelos historiadores, e
crianças, não dizendo que as crianças fossem
difícil de reconhecer. E, no entanto, o fato
mal-educadas, abandonadas, ou mesmo
essencial é bastante evidente: a extensão da
negligenciadas em sua educação. O sentimento
frequência escolar. Vimos que na idade média
da infância não significa o mesmo que afeição,
a educação das crianças era garantida pela
pelas crianças como afirma (ARIÈS, 1981).
aprendizagem junto aos adultos, e que, a partir
O modo de lidar com as crianças na Idade
de sete anos, as crianças viviam com uma outra
Média era baseado em alguns costumes
família que não a sua. Dessa época em diante,
herdados na antiguidade. O papel das crianças
era definido pelo pai, além do poder do pai

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

exercido no seio da família, existindo o poder mais velhos, aprendiam as coisas que deviam
patriarcal, exercido pela dominação política e saber ajudando os adultos a fazer. O autor
social. Na sociedade antiga o status da criança ainda relata que, até o século XVII, a taxa de
era nulo, sua existência no meio social mortalidade infantil era alta, não havia nas
dependia totalmente da vontade do pai. Com a relações familiares nenhum elo afetivo, uma
ascensão do cristianismo, o modo de lidar com vez que eram frequentes as mortes das
as crianças mudou, apesar de a mudança ter crianças de poucas idades. A preocupação da
sido em processo lento. Nasce a preocupação família era com as conservações dos bens, a
com a “moral” em relação à criança, que até prática comum de um ofício e a proteção da
então vivia e compartilhava tudo da vida dos honra.
adultos, mas que a partir daí começaram a A criança era considerada um ser
perceber o quanto é diferente uma criança e competente, têm suas necessidades, seu modo
um adulto, em relação as suas necessidades, e de pensar, de fazer as coisas, modos que lhe
sua vida como um todo (ARIÈS, 1981). são próprios. No entanto, as ideias de infância
As meninas a partir de seus dez anos eram variam ainda conforme a colocação da criança
vistas como “mulherezinhas” (no sentido de na família, na classe social, enfim, na sociedade
afazeres, aprendizagem), pois tinham uma em geral. Sabe-se que não existia na sociedade
educação desde muito cedo, sendo treinadas medieval, a consciência de infância, nem as
para que se comportassem como adultas, particularidades desta etapa da vida (ARIÉS,
governando toda a casa, sendo assim formada 1981).
para ser uma mãe de família, não existia a A ideia da infância estava relacionada à ideia
preocupação de levá-las a aprender a ler e a de independência, recorrendo-se a definição
escrever, pois muitas dessas meninas se da palavra infância, oriunda do Latim infantia,
tornavam mulheres de espírito e bem que significa “incapacidade de falar”.
educadas, portanto da sociedade, mas não Considerava-se que a criança antes do sete
sabendo pronunciar bem o que liam, ou anos de idade não tinha condições de falar, de
mesmo na escrita, ou seja, semianalfabetas. expressar seus pensamentos e sentimentos. A
Muitas delas eram criadas em conventos, e não vida da criança era marcada por mudanças
com a preocupação de educação e sim para bastante significativas, como suas vestimentas,
instrução religiosa (ARIÈS 1981). atribuições de responsabilidades,
A educação da criança era exclusividade da possibilidades de relacionamentos sociais com
família, segundo Áries (1981), a transmissão o ingresso no mundo do trabalho ou do estudo
dos valores e dos conhecimentos, e de modo e muitas vezes com a saída de casa (HEYWOOD,
mais geral, a socialização da criança não era, 2004).
portanto, nem asseguradas e nem controlada Começa surgir o sentimento de infância por
pela família. A criança se afastava desde muito volta dos séculos XV e XVI quando as crianças
cedo de seus pais, e pode se dizer que durante pequenas passam a ocupar um lugar no olhar,
séculos a educação foi garantida pela na diversão e nas brincadeiras dos adultos. A
aprendizagem graças à convivência com os partir do século XVII, a Igreja interfere na

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educação e nessa convivência das crianças com usando materiais especialmente


os adultos, com objetivo de afastá-las de confeccionados (OLIVEIRA, 2002).
assuntos ligados ao sexo. Acreditava-se que “Decroly defendia um ensino voltado para o
essa convivência poderia comprometer a intelecto” como afirma Oliveira (2002, p. 74).
formação do caráter e da moral como aponta Acreditava que a criança deveria ser posta
Oliveira (2002, p.60): "como as crianças frente a um objeto concreto, e a partir daí
nasciam sobre o pecado, competia à família e; usaria os três eixos que defendia que eram:
na sua ausência à sociedade; corrigi-las com observação, associação e expressão.
objetivo de educá-las desde pequenas”. Observava também que os alunos deveriam ser
Surgem então aí as primeiras construções de classificados e divididos em turmas
escolas, onde havia preocupação básica com homogêneas.
ensino religioso e da moral. A escola começa Por ser médica psiquiatra Montessori foi
representar o lugar da educação, em incluída na lista dos principais construtores de
detrimento da aprendizagem no convívio propostas sistematizadas para a educação
direto com os adultos. Nota-se que essas infantil. Trabalhava com crianças com
mudanças puderam ser percebidas por Áries deficiência mental, criou uma metodologia que
(1981), por meio de sua análise de obras de usaria materiais apropriados como recursos
arte, diários de família e registro. Analisando educacionais. Montessori propunha uma
esses documentos, percebe-se que a diferença pedagogia onde havia o desenvolvimento da
entre a infância e a idade adulta foi espiritualidade, opondo-se assim as
acontecendo por meio de costumes e hábitos. concepções materialistas. Para ela o ambiente
para um desenvolvimento da criança, deveria
EDUCAÇÃO INFANTIL ser dentro do contexto adequado as
possibilidades da criança, estimulando assim o
EUROPÉIA NO SÉCULO XX desenvolvimento. Destacando assim os dois na
O século XX inicia-se com avanços em pedagogia e psicologia logo após a primeira
relação à consolidação do estudo científicos da guerra mundial (OLIVEIRA, 2002).
criança. O psicólogo francês Alfred Binet em Oliveira (2002, p.76), ressalta que:
1898 defendeu a ideia de “pedagogia Tais ideias impulsionaram um espírito de
experimental” dando início a testes de renovação escolar que culminou com o
avaliações das funções psicológicas das movimento das Escolas Novas, esse
crianças. A partir dos médicos e sanitaristas movimento se posicionava contra a concepção
surgiu a preocupação na orientação do de que a escola deveria preparar para a vida
atendimento voltado as crianças em com uma visão centrada no adulto,
instituições fora da família, principalmente pós desconhecendo as características do
- primeira guerra mundial, com um maior pensamento infantil e os interesses e
número de órfãos. Decroly e Montessori necessidades próprias da infância.
médicos interessados pela educação
implantam atividades para crianças pequenas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A importância de se respeitar o universo idade, tendo assim uma infância mais bem
infantil como relata a autora, a atenção deve assistida (OLIVEIRA, 2002).
ser centrada na criança com suas necessidades Segundo Oliveira (2002), “na década de 50,
e interesses próprios, ou seja, a criança tem particularmente observa-se no conteúdo
necessidades diferentes em relação ao adulto internacional pós - segunda guerra mundial,
e que devem ser assistidas e respeitadas. nova preocupação com a situação social da
Segundo Oliveira (2002, p.76), infância e a ideia da criança como portadora de
“aprendizagem não se faria pela recepção direitos”. Houve uma expansão dos serviços de
passiva de conteúdos já formulados, mas pela educação infantil na Europa e Estados Unidos
atividade da criança em experimentar, pensar sendo assim influenciados pela valorização da
e julgar, especialmente em pequenos grupos”. estimulação precoce do desenvolvimento de
Quanto às contribuições para o crianças desde o nascimento. Usando as
desenvolvimento o autor afirma que: brincadeiras como recurso positivo, na
Vygotsky e Wallon destacavam-se pelas suas organização de “playgrounds” para o melhor
contribuições com novas formas de desenvolvimento e por meio dos mesmos
compreender e promover o desenvolvimento poder-se detectar problemas de saúde física e
das crianças. Através deles que o mental. Na educação infantil houve em países
comportamento infantil deveria ser como Estados Unidos, períodos de expansão e
interpretado com mais dedicação e não regressão, devido às posições socialmente
simplesmente aceitar os aspectos observáveis. defendidas em relação à mulher que até
Sem deixar de mencionar Piaget com suas recentemente eram confinadas no ambiente
pesquisas colaborando para uma concepção doméstico.
maior em relação à dominação sobre a criança. Oliveira (2002, p.80), aborda que:
Freinet foi um dos educadores que renovaram Sociólogos e antropólogos também
as práticas pedagógicas de seu tempo. “Para contribuíram para a transformação da maneira
ele, a educação que a escola dava às crianças como a educação dos pequenos era pensada,
deveria extrapolar os limites da sala de aula e os primeiros apontaram a força da estrutura
integrar-se às experiências por elas vividas em social na determinação das oportunidades
seu meio social” (OLIVEIRA, 2002, p.77). cotidianas das crianças; os segundos
Portanto, percebe-se o quanto se destacaram como culturas diferentes
desenvolveu a educação infantil desde a Idade elaboravam suas concepções e práticas
Média até o século XX, já que houve a educativas, abrindo o caminho para maior
necessidade de se “tratar” a criança de forma flexibilização e inovação dos modelos de
diferente como era feito antes, ou seja, a educação infantil.
criança ganha espaço na família, na vida. Nasce Todos eles contribuíram para que a
a preocupação de diferenciar o educação infantil pudesse caminhar em
desenvolvimento de uma criança para um desenvolvimento para que atingisse a criança
adulto, pois as necessidades são diferentes e a de uma forma plena e consciente de suas
mesma começa a ser respeitada pela sua pouca necessidades e capacidades. Atualmente, na

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Europa os objetivos e práticas de trabalho com


as crianças com idade inferior a escolaridade
obrigatória difere muito de país para país, em
relação aos critérios de seleção e formas de
treinamentos dos educadores. “O debate não
está mais centrado em se deve haver
investimento na área da educação infantil, mas
em por que e para quem ela existe e como
organizá-la para oferecer serviços de
qualidade” (OLIVEIRA, 2002).
Segundo Oliveira (2002), a maior
preocupação atualmente e que se espera
alcançar pelas instituições na educação infantil,
são o desenvolvimento da criança em todos os
aspectos corporal, intelectual e afetivo.
Receber crianças pequenas em instituições
como creches e pré-escolas varia de país para
país. O limite máximo de idade na educação
infantil depende muito da idade da
escolaridade obrigatória de cada país, em geral
se dá aos seis anos de idade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A parceria entre escola e família é essencial no desenvolvimento da criança. Crianças e
adolescentes que possuem pais participativos sentem-se mais motivados para estudar e
aprender, os profissionais que conseguem vínculos com as famílias desenvolvem um melhor
trabalho. As famílias que se percebem parceiras da escola tendem a auxiliar e colaborar mais. A
valorização de ambas é primordial para a formação do cidadão crítico atuante e autônomo. Por
isso a importância de entender todo o contexto e a linha histórica desses períodos.

1290
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1291
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