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joel 1

REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDITORA
CENTRO EDUCACIONAL SEM FRONTEIRAS

R454

Revista mais educação [recurso eletrônico] / [Editora chefe] Prof.ª


Mestre Fatima Ramalho Lefone - Vol. 5, n. 2 (Abril 2022) -. São
Caetano do Sul: Editora Centro Educacional Sem Fronteiras, 2022

909p.: il. color

Mensal
Modo de acesso: <https://www.revistamaiseducacao.com/sumario-
v5-n2-2022>
ISSN:2595-9611 (on-line)
DOI: https://doi.org/10.51778/2595-9611.v5i2
Data da publicação: 30/04/2022

1.Educação. 2. Pedagogia. I Ramalho Lefone, Fatima, ed. II. Título


CDU: 37
CDD: 370

Gustavo Moura – Bibliotecário CRB-8/9587

www.revistamaiseducacao.com
E-mail: artigo@revistamaiseducacao.com

Rua Manoel Coelho, nº 600, 3º andar sala 313|314 – Centro São Caetano do Sul – SP CEP: 09510-111 Tel.: (11) 95075-4417

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDITORIAL CONSELHO EDITORIAL


A SAÚDE DA EDUCAÇÃO Rodrigo da Silva Gomes
Mais que nunca, vamos ter que abordar a saúde da educação. Patrícia Regina de Moraes Barillari
Aqui de forma metafórica falamos de um processo vivo, que tomou Lindalva Freitas
conta das escolas. Após a retomada das aulas, vemos um número muito Lucinéia Contiero
alto de casos de saúde mental despontando no ambiente de ensino. Jayson Magno da Silva
Isso pelo fato de termos passado por uma pandemia que devastou a Luiz Gonzaga Lapa Júnior
educação. O ensino remoto, o alunado sem internet. O volume de Mário Cézar Amorim de Oliveira
trabalho e a invasão da privacidade do professor no contexto de home Marcos Serafim dos Santos
office. Este fenômeno só evidencia algo que já estava estruturado, que Humberto Lourenção
é o fato do professor preparar a aula, fazer avaliações e correções em Marcus Vinicius de Melo Oliveira
casa mesmo. Afinal o horário pago é na sala de aula. Alex Rodolfo Carneiro
Contingências e facticidades a parte, a educação está cada dia Hercules Guimarães Honorato
mais doente da cabeça. Dados de 2020 na região do ABC Paulista, já William Bezerra Figueiredo
demostravam números altíssimos de afastamento de professores por Teresa da Glória Paulo
problemas psiquiátricos, muitos alegando violência no convívio escolar. Elias Rocha Gonçalves
Desde a Paideia grega até os dias atuais a educação sempre Gabriel Gomes de Oliveira
refletiu a sociedade, aqui e ali os estudiosos da educação propondo Jónata Ferreira de Moura
saídas, outras vezes legitimando processos históricos, o fato é que a
escola é um espelho presente e futuro da nossa civilização. E hoje EDITORA-CHEFE
vemos a cada dia diminuir os investimentos em educação, e por sua vez Fatima Ramalho Lefone
restringir o acesso ao professor e ao aluno á educação de qualidade.
Se por um lado, a educação sofre com um processo de REVISÃO E NORMALIZAÇÃO
tentativas continuadas de privatização (já bem avançada no nível DE TEXTOS
superior), ensino militar e educação em casa (principalmente Fatima Ramalho Lefone
reinvindicação de nichos de comunidades evangélicas), vemos sendo Rodrigo da Silva Gomes
deixada de lado a “moral” da escola. Este sucateamento, só corrobora
ainda mais a situação histórica e social que enfrentamos pós-pandemia, PROGRAMAÇÃO VISUAL E
que é um aluno dois anos atrasado no desenvolvimento pedagógico, e DIAGRAMAÇÃO
ainda por cima com vários distúrbios mentais (depressão, ansiedade, Fabíola Larissa Tavares
agorafobia etc.).
PROJETO GRÁFICO
Não queremos aqui decretar uma calamidade, mas confrontar
Mônica Magalnik
a situação com o que temos de melhor: A REFLEXÃO.
Refletir a educação nos tempos atuais é desvelar a sociedade e
COPYRIGTH
suas correntes históricas. Temos um desafio nas mãos, como
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pensadores do educar e do pensar, trazer a tona o engajamento e o Editora Centro Educacional Sem
desejo da população na escola. Já fomos muito prestigiados como Fronteiras (Abril, 2022) - SP
educadores. A profissão do professor já foi muito respeitada na
sociedade. Talvez seja a hora da nossa comunidade resgatar o desejo Publicação Mensal e
de futuro, e não só o projeto de consumo imediatista que estamos multidisciplinar vinculada a
vivendo, com o avanço das redes sociais, serviços de streaming e banda Editora Centro Educacional Sem
larga. Fronteiras.
Refletir a saúde da educação é denunciar a precariedade do Os artigos assinados são de
projeto futuro de sociedade. Pessoas que só vivem para consumir e responsabilidade exclusiva dos
para um viver dopaminérgico. Pensar o amanhã é abrir mão do desejo autores e não expressam,
imediato, por um ganho em longo prazo. Aqui projeto de individuo e de necessariamente, a opinião do
sociedade entram em encruzilhada, para nos mostrar onde está o fazer Conselho Editorial
e o sonhar. É permitida a reprodução total ou
Portanto, entregamos a vocês mais uma Edição da Revista, para parcial dos artigos desta revista,
que o sonho permaneça pulsante e a reflexão desejante! desde que citada a fonte.
Rua Manoel Coelho, nº 600, 3º
Prof. Dr. William Bezerra Figueiredo andar sala 313|314 - Centro
Educador Licenciado em Filosofia, Psicanalista, Psicopatologista, Pós São Caetano do Sul – SP CEP:
Doutor em Psicologia. 09510-111

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99 A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NO
SUMÁRIO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA
CRIANÇA
9 A ARTE E DANÇA COMO ATIVIDADE DE Patrícia Maria dos Santos
DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL 110 A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR
Cleria Lima Novais COM A ARTETERAPIA
Michely Felix Silva
17 A BRINCADEIRA COM FINALIDADES
PEDAGÓGICAS E LÚDICAS NA 119 A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO
EDUCAÇÃO INFANTIL HISTÓRICO DA INCLUSÃO ESCOLAR NO
Jaqueline Silva Nascimento BRASIL
Marcia Teresa Scolar
31 A CONTRIBUIÇÃO DA PEDAGOGIA NA
VIDA DAS CRIANÇAS 140 A INCLUSÃO DO DEFICIENTE DE
Elisangela dos Santos de Jesus FORMA EFETIVA PARA A CONSTRUÇÃO
DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE
42 A CRÍTICA DE PAULO FREIRE AO QUALIDADE
CONSERVADORISMO Eleonice da Silva Gonçalves Pereira
Elson dos Santos Gomes Junior
154 A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NA
51 A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E A PERSPECTIVA DOCENTE:
INCLUSÃO NO SISTEMA ESCOLAR IMPORTÂNCIA E PERSPECTIVAS
Samanta Moraes de Oliveira Janice Aurélio Lopes

62 A IMPORTÂNCIA DA ARTE NA 162 A MATEMÁTICA E A APRENDIZAGEM


EDUCAÇÃO INFANTIL EFETIVA PARA O ALUNO AUTISTA
Thaisa Menezes Branco Alexandre de Lucca

75 A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA 171 A MÚSICA E AS LINGUAGENS


APRENDIZAGEM ARTÍSTICAS
Renato Ilton da Silva Aragão Valquiria Aparecida Pereira

83 A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO E AS 187 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


RELAÇÕES DE PODER DENTRO DAS Simone Mendes de Oliveira
RELAÇÕES HUMANAS
Maria Lucidalva da Silva 205 A NEUROCIÊNCIA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
91 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA Elaine Conceição Diogo
INFANTIL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Beatriz Mendes Scolamieri

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224 A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NO 323 BIOCOMBUSTÍVEIS NO ENSINO


ENSINO DE HISTÓRIA E AS SUPERIOR: UMA NOVA METODOLOGIA
METODOLOGIAS IMERSIVAS DE ENSINO-APRENDIZADAGEM
Carla Pereira da Silva José Eduardo dos Santos Félix
Castanheiro
236 ALFABETIZAÇÃO DE ALUNOS COM TEA
- TRANSTORNO DO ESPECTRO 333 CASCA DA ABÓBORA COMO
AUTISTA: CONTEXTALIZAÇÃO POTENCIAL PARA VALORIZAÇÃO DE
Sandra Maria de Sousa Ferreira RESÍDUO AGROINDUSTRIAL
Andressa Ramos Lima
244 ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO Sergiane de Jesus Rocha Mendonça
INFANTIL: ENTRE A LEITURA E A 347 CODEMON: ENSINO DOS
BRINCADEIRA FUNDAMENTOS DE PROGRAMAÇÃO
Marianna de Oliveira Figueiredo COM RPG
André Filipe Spíndola
252 ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DA RODA Marcello Thiry
DE CONVERSA NA EDUCAÇÃO Anita Maria da Rocha Fernandes
INFANTIL Christiane Heemann
Audry Marinho dos Santos
360 CRIANÇA AUTISTA NA EDUCAÇÃO
266 ARTES VISUAIS PARA ALUNOS COM INFANTIL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES
NECESSIDADES ESPECIAIS NO ENSINO E APRENDIZAGEM NA
Adriana De Oliveira Medeiros EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Elma Pereira Sousa
287 ATIVIDADE FÍSICA, CAPACIDADE
FUNCIONAL E POPULAÇÃO IDOSA 371 DE PROFESSORA A PESQUISADORA:
Gerusa Oliveira Mororó Aragão OLHARES SOBRE A LEITURA E A
ESCRITA NO CONTEXTO DA
298 ATIVIDADES LÚDICAS COMO ALFABETIZAÇÃO
COADJUVANTE NO PROCESSO ENSINO Márcia de Cassia Santos Mendes
APRENDIZAGEM Maria Aparecida Gusmão Pacheco
Luzeli Borges da Silva Gossler
Welton Rodrigues de Souza 392 DIREITO À EDUCAÇÃO: ACESSO À
JUSTIÇA E O RESPEITO A DIGNIDADE
312 AUTOCONCEPTO EN ALUMNOS DE HUMANA
ALTO Y BAJO RENDIMIENTO ESCOLAR Marcelo Costa Ribeiro
FACULTAD DE INGENIERIA UNAM
Hilda Beatriz Salmerón García 404 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E
NUTRICIONAL EM TEMPOS DE COVID-
19
Elsa Maria Karsburg da Rosa
Daniel Arruda Coronel

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413 EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA NA 531 O AMBIENTE ESCOLAR E O DOCENTE


EDUCAÇÃO INFANTIL Juliana Garcia Santos Pereira
Fabiana Siqueira Braga
540 O CURRÍCULO NO CONTEXTO ESCOLAR
426 EDUCAÇÃO NO BRASIL: CONTEXTO Catia Lucia Marques de Almeida
FILOSÓFICO
José Saraiva da Silva 550 O LÚDICO E O ENSINO DA
MATEMÁTICA: TEORIA X PRÁTICA
438 ENSINO MÉDIO: O PARADIGMA DA Andreia de Araújo Vieira
EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO E O
DEBATE NACIONAL 559 O PAPEL DO EDUCADOR CONTRA A
Janiara de Lima Medeiros DISCRIMINAÇÃO RACIAL EM SALA DE
AULA
461 ESTRUTURAS PSÍQUICAS E SEUS Jaqueline dos Santos Barbosa
MATIZES: UM ESTUDO DE CASO
Jamil Torquato de Melo Filho 568 O PAPEL DO GESTOR NA EDUCAÇÃO
Rodrigo de Souza INFANTIL
Rosangela da Rocha Lucas de Lemos
470 FORMAÇÃO CONTINUADA E O USO
DAS TECNOLOGIAS: SUAS 576 O SOFRIMENTO PSÍQUICO
IMPLICAÇÕES NA PRÁTICA DOCENTE CONTEMPORÂNEO: SINTOMATOLOGIA
Maria do Carmo Brandão de Barros E MECANISMOS INCONSCIENTES
Jamil Torquato de Melo Filho
481 FRACASSO ESCOLAR NO FILME ENTRE Eduardo Marques Zan
OS MUROS DA ESCOLA: POSSÍVEIS
CAUSAS 589 O TRABALHO COM CANTIGAS DE
Bruno Trindade de Mendonça Costa RODAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Lucinaide Aparecida Oliveira Viana
497 GRAVIDEZ PRECOCE EM
ADOLESCENTES 597 O USO DA ARTE NA EDUCAÇÃO
Edilamar Caonetto INCLUSIVA
Milene Otavia Oliveira Diniz Bertolli
511 HISTÓRIAS E LIVROS INFANTIS NA
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE 607 O USO DO SOFTWARE MODELLUS NO
MUNDO DAS CRIANÇAS ENSINO DE CINEMÁTICA
Patrícia de Oliveira Jorge Rayssa Vanuza da Rocha
Érica Romão da Silva Lima
521 JOGOS E BRINCADEIRAS NA Diacira Hannah Albuquerque de
EDUCAÇÃO: MEIOS DE INTERAÇÃO Oliveira Leal
COM A REALIDADE Givanildo Sales Silva
Kely Cristina de Lima Reis Haroldo Reis Alves de Macêdo

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618 OS JOGOS EM SUA PERSPECTIVA 708 REFLEXÕES SOBRE A LEITURA E A


LÚDICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ESCRITA NA PERSPECTIVA DISCURSIVA:
Daniela Paula Minhoto VOZES QUE FORTALECEM A TRAVESSIA
NA SALA DE AULA
628 OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO E Márcia de Cassia Santos Mendes
SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO DO Maria Aparecida Gusmão Pacheco
PROFESSOR DE SOCIOLOGIA:
APLICAÇÃO PRÁTICA DO ESTÁGIO 726 REFLEXÕES SOBRE AS DIFICULDADES
SUPERVISIONADO NO ENSINO MÉDIO - DE APRENDIZAGEM E O FRACASSO
UM DIÁLOGO NECESSÁRIO ENTRE AS ESCOLAR
DISCIPLINAS DE DIDÁTICA, Letícia Oliveira Macedo
METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO
DA SOCIOLOGIA E A METODOLOGIA 741 SÍNTESE DAS RECOMENDAÇÕES DE
DO TRABALHO CIENTÍFICO ATIVIDADES FÍSICAS PARA CRIANÇAS E
Hildeci de Souza Dantas ADOLESCENTES SEGUNDO O GUIA DE
ATIVIDADE FÍSICA PARA A POPULAÇÃO
650 OS TRÊS ESTADOS DO CAPITAL BRASILEIRA
CULTURAL E O PROCESSO Erivelton Fernandes França
EDUCACIONAL NA VISÃO DE
BOURDIEU 752 TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO EM FOCO
César de Araújo Pires Gabriely Gonçalves Silva
Daniella Couto Lôbo
764 TRABALHANDO POESIA EM SALA DE
661 POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA AULA COM ROSEANA MURRAY
NEUROPSICOPEDAGOGIA PARA Silvina Fátima Ramos Ribeiro
APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM
TDAH 772 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO
Priscila Braz dos Santos E HIPERATIVIDADE (TDAH): DESAFIOS
NAS ESCOLAS
679 PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADAS: Amanda Manzoli Bertucci Bernardini
COMPREENDENDO A CRIANÇA E SUAS
HISTÓRIAS 782 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE
Tatiana Aparecida de Lima ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE (TDAH)
Veridiana de Fátima Fialho Furtado
688 QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: O PAPEL
DO PROFESSOR NA ATUALIDADE 791 TRANSTORNOS MENTAIS E SINTOMAS
Patrícia Cristina Berloffa SEM EXPLICAÇÃO MÉDICA (SEM): UMA
ANÁLISE EPISTEMO-SOMÁTICA
701 REFLEXÕES E DESAFIOS DOS Jamil Torquato de Melo Filho
AGRUPAMENTOS MULTIETÁRIOS Monalisa de Cássia Fogaça
Talita Alves Silva

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807 UM ESTUDO SOBRE OS MOTIVOS


PARA O CONSUMO OU NÃO DE
FRUTAS, VERDURAS E LEGUMES DE
ADOLESCENTES DO INSTITUTO
FEDERAL DO MARANHÃO
Vanessa Barros Pinho
Álvaro Itaúna Schalcher Pereira
Francisco Adelton Alves Ribeiro

823 UMA BREVE VIAGEM DE SÓCRATES A


RUBEM ALVES
Edna Sousa Barbosa

835 USO DE TECNOLOGIA EM VIATURAS


POLICIAIS
Marcos Jessé Caetano

845 USO DO MÉTODO MONTESSORIANO


PARA O DESENVOLVIMENTO DA
CRIANÇA COM AUTISMO INFANTIL:
REVISÃO DE LITERATURA
Nathalya Alves da Silva
Maria Ovídia Muniz Portilho

862 O ORIENTADOR ESCOLAR E O


PEDAGOGO GESTOR – O OFÍCIO QUE
CABE A UM, PODE OCUPAR ESPAÇO
NO FAZER PEDAGÓGICO DO OUTRO, E
NO QUE COUBER, DE AMBOS
Marylin Cardoso Henrique
Hildeci de Souza Dantas

888 ESTUDO DE CASO SOBRE GESTÃO DE


PESSOAS
Laura Marchioro de Oliveira
Maristela Fátima Schabat
Mauro Lúcio Batista Cazarotti
Bruna Alves Epifânio
Rodrigo Nogueira de Oliveira

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A ARTE E DANÇA COMO ATIVIDADE DE


DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Cleria Lima Novais1

RESUMO: Antes mesmo de aprender a falar, o homem aprendeu a se comunicar por meio dos
gestos. E fez da dança uma forma de representação de seus sentimentos, desejos e de expressão.
Para a criança, a arte e a dança são expressões de sentimentos, de desejos, meio de comunicar-
se e demonstrar suas emoções. Como ferramenta lúdica, a arte e a dança extrapolam o elemento
de manifestação de arte, podendo ser observada como um instrumento para agir na educação da
criança, usando-a como conteúdo facilitador de aprendizagem, assim como de desenvolvimento
social do aluno, explorando a pluralidade do desenvolvimento corporal, usando o espaço, ações
externa, as expectativas individuais, a sensibilidade da criança, buscando torná-los mais seguros
para expressar seus sentimentos, proporcionando maior conhecimento de si mesmo, sendo mais
crítico, mais respeitoso e desenvolvendo habilidades que lhes capacitem para outras atividades e
para o ensino-aprendizagem educacional.

Palavras-Chave: Musicalização; Agente socializador; Agente de desenvolvimento;

1Professorade Educação Infantil na Rede Municipal de Educação da Prefeitura de São Paulo desde 2011.
Graduação: Licenciatura Plena em Pedagogia; Licenciatura em Artes Visuais; Especialização em Psicanálise dos
Contos de Fadas.

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ART AND DANCE AS A DEVELOPMENT ACTIVITY IN CHILD


EDUCATION
ABSTRACT: Even before learning to speak, man learned to communicate through gestures. And
he made dance a way of representing his feelings, desires, and expression. For the child, art and
dance are expressions of feelings, desires, means of communicating and demonstrating their
emotions. As a playful tool, art and dance go beyond the element of manifestation of art and can
be seen as an instrument to act in the education of the child, using it as content that facilitates
learning, as well as the social development of the student, exploring plurality. of body
development, using space, external actions, individual expectations, the child's sensitivity,
seeking to make them safer to express their feelings, providing greater knowledge of themselves,
being more critical, more respectful and developing skills that enable them for other activities
and for educational teaching and learning.

Keywords: Musicalization; Socializing agent; Development agent.

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INTRODUÇÃO de jogos e brincadeiras. Fato que o


desenvolvimento do gosto e do senso musical
A primeira forma de comunicação usada das crianças nessa fase são uma ferramenta
pelo homem foram os desenhos nas paredes lúdica amplamente explorada nos processos de
das cavernas, representando seus medos, socialização e aprendizagem.
desejos, conquistas e vontades. A seguir, o Vale destacar que atividades musicais
homem compreendeu que seu próprio corpo realizadas na escola não visam a especialização
era um instrumento de comunicação e passou e formação técnica, mas sim, por meio da
a usá-lo como forma de expressão, movendo- vivência e compreensão da linguagem musical,
se e rodopiando para transmitir sua facilitar a abertura de canais sensoriais e
mensagem. Um dos objetivos da dança, otimizar a expressão de emoções, ampliando a
segundo Laban é auxiliar o ser humano a achar cultura geral e contribuindo para formação
uma relação corporal com a totalidade da integral do ser. Propiciar a criança um
existência (1990, p.107). A dança, então, foi a aprendizado de uma forma que seja natural,
primeira manifestação de comunicação do por meio da alegria e não como algo que
homem. O corpo é a maior forma de expressão, deixará a criança sem vontade de fazer o que
após a linguagem. E por meio dos movimentos lhe é proposto.
ritmados que a dança expressa sentimentos e
reproduz intenções.
DOS PRIMÓRDIOS DA MÚSICA
Na educação a música é utilizada como
ferramenta facilitadora do desenvolvimento da AOS DIAS ATUAIS
criança, pois a musicalização faz parte do Existem indícios de que o homem dançava
universo infantil desde seu nascimento e é algo desde os tempos mais remotos, comprovados
de que a criança gosta e que estimula suas na descoberta de gravuras antigas registradas
descobertas. Muitas famílias usam cantigas e em pinturas rupestres observadas em
brincadeiras cantadas com as crianças, mesmo cavernas, certamente executadas por homens
antes de seu ingresso na escola. A música está primitivos. Estes ‘documentos’ pré-históricos
inserida nas festas, é usada durante o banho e são encontrados na Espanha, na África do Sul e
para ninar o sono do bebê. na França. Conforme destaca Ribas, tais
A musicalização constitui uma “pinturas rupestres levam a crer que o homem
ferramenta abrangente de educação, pois primitivo executava danças coletivas nas quais
propicia um processo pedagógico participativo, predominavam os movimentos convulsivos e
que cativa a criança e propicia um ambiente desordenados” (1959, p.26).
motivacional, onde são favorecidas a Como diz Tavares, os povos, em todas as
socialização e a integração nas propostas épocas e lugares, “dançaram para expressar
coletivas. revolta ou amor, reverenciar ou afastar deuses,
A música pode ser usada durante as mostrar força ou arrependimento, rezar,
propostas de atividades artísticas, para facilitar conquistar, distrair, enfim, viver!” (2005, p.93).
a aprendizagem do alfabeto ou para a execução De acordo com descobertas arqueológicas ao

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longo da história, a dança foi parte integrante É dança o que de bom se fez no passado, o
de cerimônias religiosas e festas pagãs, que de bom se faz agora e o que de bom se fará
“parecendo correto afirma-se que a dança no futuro, e será dança aquilo que contribuir
nasceu da religião, se é que não nasceu junto efetivamente, aquilo que se somar
com ela” (FARO, 1986, p.13). positivamente às experiências vividas por
De acordo com Ribas (1959), os homens gerações de artistas que dedicaram suas
organizavam-se para o trabalho nas lavouras e existências ao plantio e cultivo de uma arte
partiam ao som de cantigas, que ritmavam suas cujos frutos surgem agora, não apenas nos
tarefas. Ao longo da história, essas nossos palcos, mas nas telas dos nossos
demonstrações ritmadas tornaram-se danças cinemas e das nossas televisões, deixando de
que marcaram momentos especiais, como o ser algo cultivado por uma pequena elite para
período da colheita ou o agradecimento pela se transformar num meio de entretenimento
temporada de chuvas. Desses ritos nasceram as dos mais populares nas últimas décadas (1986,
danças circulares, presentes em momentos p. 130).
importantes da vida da sociedade: É correto afirmar que a dança faz parte da
nascimentos, casamentos, plantio, colheita, natureza do homem, podendo ser definida
chegada das chuvas, celebrações importantes como “[...] arte do movimento e da expressão,
para os moradores. onde a estética e a musicalidade prevalecem”
Antropólogos e arqueólogos assumem que o (ACHCAR, 1986, p.23). E sua utilização como
homem primitivo dançava como sinal de ferramenta facilitadora dos processos de
exuberância física, rudimentar tentativa de aprendizagem e socialização foram
comunicação e, posteriormente, já como forma regimentados a partir da Lei de Diretrizes e
de ritual. Dançou-se assim desde tempos Bases nº9394/96 e a publicação dos
imemoriais, em torno de fogueiras e diante de Parâmetros Curriculares Nacional (MEC/1998),
cavernas: gestos rítmicos, repetitivos, às vezes que o ensino da Arte assume sua importância
levados ao paroxismo, serviam para aquecer os nos currículos escolares, ressaltando sua
corpos antes da caça e do combate. Nas mais importância para os processos de
remotas organizações sociais, a dança estava desenvolvimento das crianças e ganhando
presente, celebrando as forças da natureza, espaço e reconhecimento, com destaque
investidas bélicas, mudanças das estações especial para as danças como ferramenta
(PORTINARI, 1989, p.17). lúdica de aprendizagem.
Nos dias de hoje a dança extrapolou os A criança se movimenta nas ações do seu
festejos, sendo utilizada como forma de lazer, cotidiano. Correr, pular, girar e subir nos
cultura e até terapeuticamente, sob orientação objetos são algumas das atividades dinâmicas
médica e para manutenção da saúde, como que estão ligadas à sua necessidade de
forma de celebrar e apenas para diversão. experimentar o corpo não só para seu domínio,
Segundo Faro, hoje tudo pode ser considerado mas na construção de sua autonomia. A ação
dança: física é a primeira forma de aprendizagem da
criança, estando a motricidade ligada à

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

atividade mental. Ela se movimenta não só em apropriadas; diversificar atividades, escolhas e


função de respostas funcionais (como ocorre companheiros, incentivando a interação e
com a maioria dos adultos), mas pelo prazer do integração com outros sujeitos (MACHADO,
exercício, para explorar o meio ambiente, 2001).
adquirir melhor mobilidade e se expressar com Aprendizado e desenvolvimento estão
liberdade. [...] A atividade da dança na escola relacionados à capacidade do indivíduo em
pode desenvolver na criança a compreensão de relacionar-se com o meio em que está inserido.
sua capacidade de movimento, mediante um Não há como negar a importância entre o
maior entendimento de como seu corpo desenvolvimento motor e o desenvolvimento
funciona. Assim, poderá usá-lo cognitivo (PIAGET, 1977). As etapas do
expressivamente com maior inteligência, desenvolvimento motor e como a criança reage
autonomia, responsabilidade e sensibilidade”. diante de estímulos e desafios determinam sua
(BRASIL, MEC/SEF, 1997, p.49). capacidade de ação e reação, de interagir com
o meio e posicionar-se diante de decisões.
PENSANDO A EDUCAÇÃO Segundo Piaget, as intervenções externas
(estímulos e mediações) levam às ações, que o
INFANTIL PARA A CRIANÇA: DO indivíduo transforma em saber. Nas palavras do
MOVIMENTO AO autor, [...] “a tomada de consciência depende
de regulações ativas que comportam escolhas
DESENVOLVIMENTO mais ou menos intencionais e não de
Muito embora a educação infantil seja uma
regulações sensório-motrizes mais ou menos
etapa escolar no processo educacional, não se
automáticas” (PIAGET, 1977, p.13),
pode perder de vista que trata de indivíduos
Embasado nesses considerações, as
numa condição diferenciada, cuja
Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil
sobrevivência e garantia de crescimento
(Parecer CNE/CEB 22/98), destacam a
saudável dependem dos adultos, que as auxilia
necessidade das propostas pedagógicas em
nas necessidades básicas físicas e psicológicas,
promover práticas de educação que integrem
assim como em momentos especiais de sua
desde os aspectos cognitivos como aspectos
vida (MACHADO, 2001).
físicos, emocionais, afetivos, linguísticos e
Segundo a autora, para que o
sociais, integrando as várias áreas de
desenvolvimento e crescimento da criança
conhecimento e promovendo ações que levem
ocorram de maneira plena, ela devem ser
ao conhecimento, estimulando um pensar
apoiadas em suas iniciativas espontâneas e
criativo e autônomo, valorização do indivíduo e
incentivadas a brincar, explorar os espaços e
o respeito a diversidade. Para isso, o uso de
oportunidades, expressar sentimentos e
ferramentas lúdicas, como a Arte e a Dança, são
pensamentos; desenvolver a imaginação, a
uma forma de alcançar bons resultados nesse
curiosidade e a capacidade de expressão;
processo de desenvolvimento social, corporal,
ampliar permanentemente conhecimentos a
afetivo e cognitivo da criança.
respeito do mundo da natureza e da cultura
apoiadas por estratégias pedagógicas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Citando Kulisz, a adoção do lúdico como este processo, uma vez que a aquisição do
recurso pedagógico, devido ao seu caráter conhecimento perpassa as ações acadêmicas e
dinâmico, criativo e atraente, além de os processos cognitivos. Nesse sentido, de
proporcionar a formação da identidade e da acordo com Marques, [...] “a escola é hoje, sem
personalidade da criança, favorece a percepção dúvida, um lugar privilegiado para que isto
crítica e o equilíbrio emocional, promovendo a aconteça e, enquanto ela existir a dança não
interação entre o ‘eu’ e o ‘outro’ e estimulando poderá continuar mais sendo sinônimo de
seu desenvolvimento cognitivo (2006, p.93). “festinhas de fim de ano” (2007, p.17).
As práticas pedagógicas devem considerar as Ao planejar as aulas de dança, deve-se
formas de agir, pensar e sentir das crianças, de considerar a importância do movimento, a
acordo com suas possibilidades de participação compreensão da estrutura e do funcionamento
em seu meio sociocultural, de modo a corporal, articulados à percepção espaço-
possibilitar a conquista de novos saberes, mas temporal. Por meio da dança, o aluno pode
principalmente voltadas para atividades exercitar a atenção, a percepção, a colaboração
coletivas que promovam a interação. Nesse e a solidariedade, além de permitir a
sentido, a dança pode proporcionar ao aluno experimentação e a criação, no exercício da
uma ampla consciência corporal em relação a si espontaneidade. Contribui também para o
mesmo, ao mundo e às coisas que evoluem desenvolvimento da criança no que se refere à
com a prática da dança, desenvolvendo a consciência e à construção de sua imagem
criatividade, a liderança e a exteriorização dos corporal, aspectos que são fundamentais para
seus sentimentos. Na escola, o ensino da dança seu crescimento individual e sua consciência
deve visar o processo criativo, o envolvimento social (PCN-Dança, MEC/SEF, 1997, p.49).
individual e a superação dos limites,
promovendo oportunidades de ampliar não
apenas os saberes conceituais, mas também
extrapolar as possibilidades expressivas, por
meio de diferentes respostas motoras.
Para que as crianças consigam usufruir das
oportunidades oferecidas é fundamental
determinar com clareza os objetivos a serem
alcançados, assim como as estratégias que
estabeleçam relações entre as demais
disciplinas e as ações propostas, permitindo ao
aluno desenvolver sua personalidade por meio
de seus conhecimentos, suas habilidades, seus
comportamentos e da própria consciência
corporal. E sendo a criança um sujeito
competente, ativo e agente de seu
desenvolvimento, esta prática deve facilitar

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação infantil é um espaço de descobertas e explorações, onde se inicia o
desenvolvimento da criança de acordo com os currículos básicos da educação nacional,
consciente da ação transformadora dos conteúdos que embasam os processos pedagógicos
formais, responsáveis em auxiliar na formação integral do sujeito. Nessa etapa da educação é
necessário priorizar processos com os quais a criança se identifique, o que tornam as ações lúdicas
essenciais para estimular as crianças a apreenderem e se desenvolverem.
Nesse sentido, usar a arte e a dança como uma forma de expressar-se e comunicar-se,
compreendendo suas funcionalidades e as possibilidades que permite para a socialização, o
aprimoramento motor, desenvolvimento social e cognitivo, transforma essa ferramenta em uma
das mais essenciais no planejamento de ações na educação infantil. Assim, é preciso que o
educador se utilize do universo infantil e exploratório, aproveitando para enriquecer as vivências
corporais no espaço, por meio de danças que façam referências a diversos planos (embaixo, no
alto, longe, perto, aqui, lá, etc.), ou ainda promover atividades sensoriais, em danças que
explorem diferentes terrenos, explorando texturas, ritmos e narrativas, apresentando desafios
que enriqueçam o desenvolvimento da criança. Para tanto, é preciso superar os estereótipos
lúdicos e recreacionista da dança na escola, compreendendo-a como ferramenta capaz de
superar barreiras físicas e emocionais, auxiliando a criança a interagir, a construir seus
conhecimentos e desenvolver-se plenamente.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Gráficas, 1986.

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TAVARES, M. C.; Imagem Corporal: conceito e desenvolvimento. Barueri (SP): Editora


Manole Ltda; 2003.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A BRINCADEIRA COM FINALIDADES


PEDAGÓGICAS E LÚDICAS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Jaqueline Silva Nascimento1

RESUMO: O ato de brincar, de transformar objetos em brinquedos, ou das expressividades aos


próprios brinquedos e jogos, estimula o imaginário infantil. O momento de criação é muito
importante no desenvolvimento motor, intelectual, social, psicológico e afetivo da criança, por
isso a escola precisa ter um olhar atento para seu crescimento salutar. A ludicidade é um
instrumento facilitador de ensino e aprendizagem do aluno nessa faixa etária da educação
infantil, porque nessa fase ele gosta de fantasiar, imaginar, dar vida a personagens que cria,
cantar, gesticular, imitar, dançar, dramatizar, desenhar. Por isso tudo que é conveniente trabalhar
interdisciplinarmente as atividades educativas, pois elas são integrativas e se comunicam entre
si. Com base no apontado que este trabalho tem por objeto geral reconhecer a aplicabilidade
pedagógica em atividades lúdicas na Educação Infantil. O presente estudo, pauta-se em uma
revisão de literatura, onde utilizou-se como fonte teórica de investigação científica autores
condizentes à temática apresentada, dentre os quais destacam-se: Vygotsky (1984), Wallon
(1998), Kishimoto (2002), (RCNEI, 1998) e Friedmann (1995).

Palavras-Chave: Ludicidade; Faixa Etária; Atividades Educação Infantil.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio; Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São
Paulo.
Graduação: Licenciatura em Letras Português-Inglês; Licenciatura em Pedagogia;Especialização em
Psicopedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PLAY WITH PEDAGOGICAL AND PLAYING PURPOSES IN CHILD


EDUCATION
ABSTRACT: Or to jump, to transform objects into jumps, or give expressivity to their own jumps
and games, stimulates the child's imagination. The moment of upbringing is very important for
the motor, intellectual, social, psychological and affective development of the upbringing, for this
reason the school needs a careful sniff to greet its growth. A ludicidad is an instrument that
facilitates the teaching and learning of the student, because this phase of childhood education
likes to fantasize, imagine, give life to characters that he or she creates, sing, gesticulate, imitate,
dance, dramatize, unleash. Therefore, it is convenient to work interdisciplinarity with educational
activities, because they are integrative and communicate with each other. Based on the fact that
this work has the general objective of reconfirming the pedagogical applicability in ludic activities
in Early Childhood Education. In this study, it is based on a literature review, where used as a
theoretical source of scientific research authors consistent with the presented theme, among
which stand out: Vygotsky (1984), Wallon (1998), Kishimoto (2002) , (RCNEI, 1998) and Friedmann
(1995).

Keywords: Playfulness; Faixa Age; Children's Education Activities.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objeto geral


reconhecer a aplicabilidade pedagógica em
Brincar é importante na vida de uma criança atividades lúdicas na Educação Infantil, e como
e se ela puder crescer num ambiente brincante, objetivos específicos compreender as
será benéfico para ela. Seria conveniente que contribuições da ludicidade no processo de
os professores da educação infantil se ensino e aprendizagem infantil; pesquisar as
interessassem pelo assunto, para irem se características da faixa etária compreendidas
envolvendo também sobre o assunto na Educação Infantil; apontar a utilização do
ludicidade de maneira favorável ao lúdico frente à interdisciplinaridade no
desenvolvimento infantil, tentando buscar contexto educacional infantil.
maneira prazerosa e alegre da conviver na O presente estudo, pauta-se em uma revisão
escola. de literatura, onde utilizou-se como fonte
O presente trabalho se justifica porque na teórica de investigação científica autores
infância as crianças já vivenciam o imaginário, é condizentes à temática apresentada, dentre os
próprio delas, então na escola pode-se dar quais destacam-se: Vygotsky (1984), Wallon
continuidade à ludicidade por meio do (1998), Kishimoto (2002), (BRASIL, 1998) e
brinquedo, da brincadeira, dos jogos lúdicos. Friedmann (1995).
Por ter consciência da importância e da
necessidade da Educação Infantil na vida de
CONTRIBUIÇÕES LÚDICAS
uma criança, é que esse assunto se tornou
Uma criança em condições normais espera-
bastante interessante, pois a partir desse
se que goste de brincar, até porque esse ato faz
estudo, metodologias e teorias de especialistas
parte de sua vida e, até então, supõe-se que na
vão enriquecer o tema. É um grande estímulo
casa dela, brincava livremente, já que é próprio
procurar entender a razão de trabalhar em
de uma criança essa atividade lúdica. Para
cima da faixa etária de dois a cinco anos,
Friedman (2012), No ambiente escolar que
entender as tendências naturais de cada idade
compreende a Educação Infantil, é provável
e aprender a observar com fins didáticos o
que a criança em determinado tempo também
repertório que as crianças trazem de casa, as
tenha tempo para brincar, porque tem a idade
influências que provocam em seus
propícia para isso: de dois a cinco anos.
comportamentos, enfim captar suas emoções.
Acredita ser a atividade lúdica crucial para o
As atividades lúdicas despertam o gosto pela
desenvolvimento cognitivo, pois o processo de
escola, há de se aproveitar essa idade
criar situações imaginárias leva ao
despretensiosa e ingênua, para prepará-los
desenvolvimento do pensamento abstrato. Isso
para o Ensino Fundamental. É preciso buscar a
acontece porque novos relacionamentos entre
melhor forma de conduzir essa criança. Então,
significados, objetos e ações são criados
faz o questionamento: Qual é a função lúdica
durante o brincar (FRIEDMAN, 2012, p. 41).
da brincadeira no processo educativo na
educação infantil?

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Sendo assim, para cada criança uma de cores comuns no quebra-cabeça à função
atividade tem sua representatividade lúdica, educativa e os lúdicos estão presentes, a
cada uma tem seu olhar diferenciado dentro de criança com sua criatividade consegue montar
um mesmo elemento. Um aluno tem respostas um castelo até mesmo com o quebra-cabeça,
distintas sobre um mesmo tema, por isso tem- através disto utiliza o lúdico com a ajuda do
se que respeitar o crescimento individualizado professor (KISHIMOTO, 2001, p.36-37).
nos variados campos (afetivo, motor e Nesse sentido fica claro que o que muda não
cognitivo). é o brinquedo, é a percepção da criança em
O autor Wallon (1998), também afirma que: relação ao brinquedo ou à brincadeira, é como
O ser humano foi, logo que saiu da vida ela vê o mundo que a cerca. A individualidade
puramente orgânica, um ser afetivo. Da cresce nesse sentido, pois tudo pode ser um
afetividade diferenciou-se, lentamente a vida brinquedo ou uma brincadeira. A primeira
racional. Portanto no início da vida, afetividade criança modifica uma brincadeira, a segunda
e inteligência estão sincreticamente busca um lugar em destaque na brincadeira,
misturadas, com a predominância da primeira. não é uma regra, mas há uma tendência. São
A sua diferenciação logo se inicia, mas a ações diferentes num mesmo brinquedo. A
reciprocidade entre os dois desenvolvimentos construção do conhecimento se faz em
se mantém de tal forma que as aquisições de situações corriqueiras na visão do adulto e
cada um a repercutem sobre a outra importantes para o mundo lúdico infantil,
permanentemente. Ao longo do trajeto, elas munda da criação espontânea e prazerosa.
alternam preponderâncias, e a afetividade Para Vygotsky (1984), o brincar tem sua
reflui para dar espaço à intensa atividade especificidade com a idade de cada criança, o
cognitiva (WALLON, 1998, p. 32). ato de brincar vai depender da criação de seu
A autora Kishimoto (2002), afirma que os ato imaginário. Para exemplificar, uma menina
jogos imaginativos podem levar a criança ao faz quer cozinhar igual a mãe, porém ainda não
de conta. A título de ilustração, em grupo ou pode por ser pequena, então, ela elabora uma
sozinha a criança pode convencionar que uma cena e vivencia o ato de cozinhar, essa
borracha branca retangular do material escolar antecipação é a brincadeira. Se a criança for
é um carrinho. Numa situação comum no demasiadamente pequena, pode ser que
parquinho de diversão infantil, por exemplo, ninguém entenda sua brincadeira, no entanto
duas crianças estão na gangorra, uma imagina se for um pouco mais velha, ela já expõe suas
estar num barco alto mar e ser um pirata, a atividades criadoras abertamente.
outra diz não ter medo de ir bem alto. Em resumo, o brinquedo cria na criança uma
O brinquedo ensina qualquer coisa que nova forma de desejos. Ensina a desejar,
complete o indivíduo em seu saber, seus relacionando seus desejos a um “eu” fictício, ao
conhecimentos e sua apreensão do mundo, o seu papel no jogo e suas regras. Dessa maneira,
brinquedo educativo conquistou espaço na as maiores aquisições de uma criança são
educação infantil. Quando a criança está conseguidas no brinquedo, aquisições que no
desenvolvendo uma habilidade na separação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação diminuem a sua imaginação e a força de sua
real e moralidade (VYGOTSKY, 1998, p. 131). fantasia. [...] Goethe dizia que as crianças
O brinquedo ou algo que se transforme em podem fazer tudo de tudo, e essa falta de
brinquedo, um objeto qualquer que para a pretensões e exigências da fantasia infantil,
criança seja um brinquedo, tem um poder que já não está livre na pessoa adulta, foi
motivador, estimula o imaginário, ela cria na interpretada frequentemente como liberdade
medida que cresce suas expectativas de ou riqueza da imaginação infantil (...). Tudo isso
criação, isso traz-lhe prazer. O brinquedo é algo junto serviu de base para afirmar que a fantasia
sério para uma criança com menos de três funciona na infância com maior riqueza e
anos, porque a realidade e a imaginação se variedade do que na idade madura. A
fundem. É normal uma menina pequena dar imaginação da criança [...] não é mais rica, é
banho na boneca sem banheira e água, por essa mais pobre do que a do adulto; durante o
orientação simbólica e imaginária, o autor diz desenvolvimento da criança, a imaginação
“coisas como objetos de ação para coisas como também evolui e só alcança a sua maturidade
objetos de pensamento” (VYGOTSKY, 1984, p. quando homem é adulto (VYGOTSKY, 1984,
122). p.124)
Em vista disso, é importante procurar Com base no apontado, a brincadeira vista
trabalhar sempre com crianças da mesma individualmente nos aponta que a criança por
idade, pois os interesses são os mesmos e as meio da imitação constrói a sua consciência da
características costumam ser semelhantes, realidade. Porém, enfoca que tanto a
devido a aproximação de atitudes e gostos, as brincadeira quanto o jogo são atividades
atividades didáticas ficam mais fáceis de serem extremamente importantes no
direcionadas pelo professor (KISHIMOTO, desenvolvimento cognitivo do aluno, o
2001) destaque é o envolvimento no mundo do faz de
Faz se necessário acrescentar que o conta, é o recurso lúdico que vai fazê-la crescer
rendimento é muito mais expressivo quando se de maneira prazerosa e saudável (FRIEDMANN,
trabalha por faixa etária, pois as crianças 1995).
costumam ter as mesmas características e O ato de brincar é contagiante, por isso o
gostam de atividades similares. Mesmo professor não pode ficar de fora, ele brinca
analisando a criança individualmente, junto com seus alunos, interage, faz parte da
contribuir para a socialização é muito escola. O professor tem condições de estimular
importante. Sem contar que há uma as crianças participando junto das atividades,
preocupação na integração de alunos com como argumenta a autora em:
deficiência física ou mental, que cabe à escola O professor deve ser um elemento
adequá-los para que tenham os mesmos integrante das brincadeiras, ora como
direitos. observador e organizador, ora como
A infância é considerada a idade de maior personagem que explicita, questiona e
desenvolvimento da fantasia e segundo essa enriquece o desenrolar da trama, ora como elo
opinião, à medida que a criança vai crescendo, entre as crianças e o conhecimento. E, como

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

elemento mediador entre as crianças e o Segundo Wallon (1998), no meio do primeiro


conhecimento, o adulto deve estar sempre estágio até o meio do terceiro estágio infantil,
junto as primeiras, acolhendo suas brincadeiras que compreende as idades de dois a cinco anos,
e auxiliando-as nas suas reais necessidades na tem-se como traço sensório/motor a fala, quer
busca por compreender e agir sobre o mundo saber como funcionam os objetos, fazem
em que vivem. (WAJSKOP, 2005, p.38) muitas perguntas, em linhas gerais querem
O professor vai ser o mediador da ludicidade saber suas diferenças entre ser criança e
infantil e vai dar os direcionamentos adulto.
pedagógicos para que a brincadeira, o jogo e Por essas razões, que, Wallon (1998, p.198),
brinquedo sejam elemento positivos na afirma que:
educação da criança em formação Em cada idade, ela constitui um conjunto
(KISHIMOTO, 2001). indissociável e original. Na sucessão de suas
Brincar é uma maneira de se comunicar, de idades, ela é um único e mesmo ser em curso
se socializar, de se divertir, de deixar a escola de metamorfoses. Feita de contrates e de
mais alegre. Na Educação Infantil, a criança é conflitos, a sua unidade será por isso ainda mais
por meio da imaginação pode se expressar susceptível de desenvolvimento e de novidade
melhor, reproduzir ideias, cantar, comunicar-se (WALLON, 1998, p. 198)
do seu jeito, esse conjunto pode fazê-la crescer Da idade que abrange a pesquisa, de acordo
e desenvolver-se educacionalmente. com os estudos de Wallon (1998), o estágio
sensório-motor e projetivo que vai até três
CARACTERÍSTICAS DA FAIXA anos, conta com a exploração motora, a criança
passa a ter autonomia e começa a relacionar-se
ETÁRIA como o meio.
A faixa etária é um aspecto essencial nas Em seguida, vem o estágio personalismo de
reflexões que devem envolver as práticas três a seis anos que é a formação da
pedagógicas destinadas da Educação Infantil. personalidade por meio da convivência com os
Fica clara a relevância de o aluno participar de demais. Há uma prevalência de recursos
atividades com proposta didática, pois a intelectuais, que vão se dividir em três fases: a
atitude de brincar remete aquilo que o aluno já primeira é a oposição, afirmação e
conhece e vivencia. As crianças carregam independência. A segunda é a fase da sedução
experiências do convívio com a família e isso as é conhecida pelas gracinhas que a criança faz e
influenciam no momento de brincar. impor a atenção dos adultos em sua volta. A
É importante que o professor conheça os terceira é a fase da imitação onde a criança
estágios cognitivos de seu aluno, para utilizar busca modelos, precisa de um referencial
os mecanismos educativos apropriados que adulto normalmente (WALLON, 1998).
promovam práticas pedagógicas estimulativas Por conseguinte, o professor deve ter
não restritivas, adequadas ao período de sempre em seu norte que o desenvolvimento
amadurecimento de cada idade (CUNHA, 2008, de uma cultura colaborativa em sala de aula, é
p. 57). apontando ao aluno seu destaque no grupo e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para si mesmo que o jogo torna-se um serem utilizados para brincar; os conteúdos
facilitador dessa dinâmica. Se o professor sociais, como papéis e situações, valores e
conquistar a confiança do aluno, já terá um atitudes que se referem à forma de como o
grande feito, pois será mais fácil sua universo social se constrói, e finalmente pelos
aproximação e consequentemente o afeto limites definidos pelas regras, constituindo
também. Para Wallon (1998) e Vygotsky (1984), assim em um recurso fundamental para
a inteligência e a afetividade têm funções brincar. Destacam-se três modalidades para
diferentes, mas são partes integrantes no brincar: o faz de conta; o brincar com materiais
crescimento psíquico. de construção; e o brincar com regras. Todas
As reações emocionais exercem uma essas modalidades propiciam a ampliação dos
influência essencial e absoluta em todas as conhecimentos infantis por meio da atividade
formas de nosso comportamento e em todos os lúdica (BRASIL, 1998, p. 28).
momentos do processo educativo. Se Por essa veia lúdica, pode-se observar a
quisermos que os alunos recordem melhor ou condução dos valores apontados pelas crianças
exercitem mais seus pensamentos, devemos de maneira tão informal e despretensiosa
fazer com que essas atividades sejam durante uma brincadeira tanto dentro como
emocionalmente estimuladas. A experiência e fora da escola, explora-se a motricidade
a pesquisa têm demonstrado que um fato infantil, a verbalização e as sensações
impregnado de emoção é recordado de forma vivenciadas. Uma boa forma de aproximar
mais sólida, firme e prolongada que um feito professor e aluno, é utilizando a ludicidade, a
indiferente (VYGOTSKY, 1984, p.121). fim de que torne as aulas mais atraentes e
Colocando de forma mais simples, tudo que produtivas para as crianças.
acontece na escola tem uma finalidade: ajudar A brincadeira pode ser um espaço
o aluno a adquirir conhecimentos que lhes privilegiado de interação e confronto de
serão úteis na escola e na vida. Portanto, a diferentes crianças com diferentes pontos de
construção de uma atitude colaborativa na vista. Nesta experiência elas tentam resolver a
classe implica ajudar cada aluno a desenvolver contradição da liberdade de brincar no nível
uma imagem positiva de si mesmo requisito simbólico em contradição do às regras por elas
essencial para atingir a participação de todos. estabelecida, assim como o limite da realidade
O brincar pode ser apresentado por meio de ou das regras do próprio jogo aos desejos
várias categorias de experiências que são colocados. Na vivência desses conflitos, as
diferenciadas pelo uso do material ou recurso. crianças podem enriquecer a relação com seus
Essas categorias incluem: o movimento e as coletâneos, na direção da autonomia e
mudanças da percepção, resultante cooperação, compreendendo e agindo de
essencialmente com a mobilidade física das forma ativa e construtiva (WAJSKOP, 2005, p.
crianças; a relação com os objetos e suas 28).
propriedades físicas assim como a combinação Partindo deste enfoque, não se pode dizer
e associação entre a linguagem oral e gestual, que é uma regra, mas é quase que unânime
que favorecem vários níveis de organização a para uma criança saudável gostar de brincar,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

faz parte de sua vida, ao entrar para escola, em A escola é um espaço de transformação, de
casa já brincava sozinha ou acompanhada. Para evolução e o brinquedo pode traduzir esse
Wajskop (2005), quando a criança entra para a pensamento infantil. Um brinquedo pode ter
escola, é inevitável que o teor afetivo já diferentes significados, tudo vai depender da
instalado nela, já seja evidente, cabendo ao vivência de cada criança, de seu conhecimento
professor adequar essa bagagem motora, de mundo. Até mesmo um objeto para uma
emotiva e intelectual de forma que contribua criança pode ser um brinquedo expressivo e
para desabrochar suas potencialidades. Todos para outa, não simbolizar nada.
esses aspectos devem ser compreendidos Para Kishimoto (2002, p. 40):
como importantes na construção global do O uso do brinquedo/jogo educativo com fins
indivíduo. pedagógicos remete-nos para a relevância
Organizada em torno da brincadeira, a desse instrumento para situações de ensino-
escola de Educação Infantil pode cumprir sua aprendizagem e de desenvolvimento infantil.
função pedagógica, ampliando o repertorio Se considerarmos que a criança pré-escolar
vivencial e de conhecimentos das crianças, aprende de modo intuitivo, adquirem noções
rumo à autonomia e a cooperação [...] A espontâneas, em processos interativos,
garantia de espaço da brincadeira na pré-escola envolvendo o ser humano inteiro com suas
é a garantia de uma possibilidade de educação cognições, afetividade, corpo e interações
da criança em uma perspectiva criadora, sociais, o brinquedo desempenha um papel de
voluntária e consciente (WAJSKOP, 2005, p. grande relevância para desenvolvê-la. Ao
104). permitir à ação intencional (afetividade), a
Em vista disso, não intencionando tornar um construção de representações mentais
fator mais importante que o outro, ressalva a (cognitiva), a manipulação de objetos e o
importância do professor na construção e no desempenho de ações sensório-motoras
desenvolvimento de aprendizagem como (física) e as trocas nas interações sociais
mediador dos interesses que se faz entre a (social), são contempladas várias formas de
aprendizagem e a afetividade. representação da criança ou suas múltiplas
Em qualquer circunstância, o primeiro inteligências, contribuindo para o
caminho para a conquista da atenção do desenvolvimento infantil.
aprendiz é o afeto. Ele é um meio facilitador A criança merece receber todos os olhares
para a educação. Irrompe em lugares que, de atenção com respeito à sua idade, à sua
muitas vezes, estão fechados ás possibilidades formação, aos seus direitos enquanto aluno na
acadêmicas. Considerando o nível de Educação Infantil. Ela terá garantido seu direito
dispersão, conflitos familiares e pessoais e até de receber um ensino e aprendizagem de
comportamentos agressivos na escola hoje em qualidade com professores capacitados para
dia, seria difícil encontrar algum outro ministrar essas aulas.
mecanismo de auxílio ao professor mais eficaz
(CUNHA, 2008, p.51).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTERDISCIPLINARIDADE NO Assim como Wallon (1998), numa analogia, o


autor é contra separar atividades específicas
CONTEXTO EDUCACIONAL por idade, mas sim separar por estágios já
A interdisciplinaridade não é muito mencionados no capítulo dois, porque tem a
trabalhada ainda na Educação Infantil, mas a ideia do todo e não da parte.
ideia é proveitosa se pensada como um projeto É contra a natureza tratar a criança
interdisciplinar cujo ponto converge para um fragmentariamente. Em cada idade, ela
tema central de interesse das crianças. constitui um conjunto indissociável e original.
A elaboração de projetos é, por excelência, a Na sucessão de suas idades, ela é um único e
forma de organização didática mais adequada mesmo ser em curso de metamorfoses. Feita
para se trabalhar com este eixo, devido à de contrastes e de conflitos, a sua unidade será
natureza e à diversidade dos conteúdos que ele por isso ainda mais susceptível de
oferece e também ao seu caráter desenvolvimento e de novidade (WALLON,
interdisciplinar. A articulação entre as diversas 1998, p. 223).
áreas que compõem este eixo é um dos fatores Por esse motivo, segundo Kleiman (1995), as
importantes para a aprendizagem dos aulas por meio de projetos por temas
conteúdos propostos. A partir de um projeto geradores também tem essa possibilidade
sobre animais, por exemplo, o professor pode didática, ao buscar ludicidade nas atividades, o
ampliar o trabalho, trazendo informações professor pode procurar usar o recurso da
advindas do campo da História ou da Geografia interdisciplinaridade para favorecer seu
(BRASIL,1998, p. 201). trabalho e ajudar o aluno a não olhar um
O projeto tem a vantagem de incorporar assunto de modo fracionado, divido.
disciplinas A interdisciplinaridade questiona a
O projeto pedagógico é a concretização da segmentação entre os diferentes campos de
autonomia da escola através do trabalho conhecimento produzida por uma abordagem
coletivo. Trabalhar coletivamente exige uma que não leva em conta a inter-relação e a
mudança da mentalidade que supere o influência entre eles questiona a visão
individualismo peculiar à nossa cultura compartimentada (disciplinar) da realidade
ocidental e tão arraigado no currículo sobre a qual a escola, tal como é conhecida,
estritamente disciplinar, com seu historicamente se constituiu. Refere-se,
conhecimento fragmentado. O trabalho portanto, a uma relação entre disciplinas
coletivo que nós propomos visa superar o (BRASIL, 1997, p. 31).
individualismo (KLEIMAN, 1995, p.43). O professor tem que ser um facilitador do
Dessa forma como se refere a citação, a conteúdo a ser transmitido e ele pode inovar,
criança vai ter a ideia total do assunto e não saindo da forma tradicional de ver as disciplinas
parcial, a interdisciplinaridade mantém essa fracionadas, para vê-las umas ajudando as
versão mais clara para o aluno, pois engloba outras. Dessa forma o aluno tem a ideia da
todas as disciplinas e não fragmentada. integração.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A principal tarefa da escola é ajudar o aluno atividade que surge espontaneamente nos
a desenvolver a capacidade de construir alunos, pois, não é uma tarefa que cumprem
relações e conexões entre os vários nós da com satisfação, sendo em alguns casos
imensa rede de conhecimento que nos enreda encarada como obrigação. Para que isto possa
a todos. Somente quando elaboramos relações ser mais bem desenvolvido, o professor deve
significativas entre objetos, fatos, conceitos despertar a curiosidade dos alunos,
podemos dizer que aprendemos. As relações acompanhando suas ações no desenrolar das
entretecem-se, articulam-se em teias, em atividades em sala de aula (CUNHA, 2008,
redes construídas social e individualmente, e p.23).
em permanente estado de atualização. A ideia Ao se falar nesses nos eixos afetivo, motor e
de conhecer assemelha-se à enredar-se, e a cognitivo, para Cunha (2008), pode-se fazer um
leitura constitui a prática social por excelência trabalho interdisciplinar usando esses
para esse fim (KLEIMAN, 1995, p.91). elementos, sendo as práticas corporais,
Partindo desse enfoque, a escola precisa brincadeiras solidárias e desenvolvimentos
aproveitar o potencial dos alunos dando-lhes pedagógicos que tenham um objetivo
aulas mais atrativas, toda criança com boas constante para unir os pontos.
possibilidades de aprendizagem traz consigo Os projetos são conjuntos de atividades que
um grande poder imaginativo e criativo que trabalham com conhecimentos específicos
deve ser explorado, essa aptidão não pode ser construídos a partir de um dos eixos de
ignorada. Para Wallon (1998), trabalhar com trabalho que se organizam ao redor de um
brincadeiras oportuniza uma aprendizagem problema para resolver ou um produto final
eficaz, pois pode auxiliar de forma positiva a que se quer obter. Possui uma duração que
estimular os alunos mais tímidos, por exemplo, pode variar conforme o objetivo, o desenrolar
no período de integração com o grupo. Basta das várias etapas, o desejo e o interesse das
programar boas estratégias de aula. crianças pelo assunto tratado. Comportam uma
Por essa razão, esse comportamento grande dose de imprevisibilidade, podendo ser
didático tende a deixar o aluno mais solto e alterado sempre que necessário, tendo
feliz, para, a partir daí, receber outros inclusive modificações no produto final. Alguns
conteúdos. Na escolha de conteúdo, o projetos, como fazer uma horta ou uma
professor pode usar a interdisciplinaridade coleção, podem durar um ano inteiro, ao passo
para enriquecer as aulas, por exemplo, numa que outros, como, por exemplo, elaborar um
atividade que envolva música e logo depois o livro de receitas, podem ter uma duração
desenho, nada impede que entre em Ciências e menor (BRASIL,1998, p. 57).
se comente algo que chame a atenção da Em vista disso, ao usar as brincadeiras na
criança por meio de um vídeo. educação, o desenvolvimento acontece por
O aprender se torna mais interessante meio da construção de um conhecimento novo
quando o aluno se sente competente pelas a partir daquele que a criança já tem. Brincar,
atitudes e métodos de motivação em sala de jogar, alegrar-se, divertir-se, são consideradas
aula. O prazer pelo aprender não é uma necessidades substanciais na natureza infantil.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Todos necessitam de uma área de ilusão as coisas de outras maneiras atribuindo-lhes


paralela ao mundo real (ou das trocas sociais). novos significados, a estabelecer novas
Quando a criança conduzir esse potencial relações entre os objetos físicos e sociais, a
imaginativo em vivacidade, ela amplia sua coordenar as ações individuais com as dos
tendência à criação (CUNHA, 2008) parceiros, a argumentar e a negociar, a
Dante do exposto, o lúdico pode facilitar o organizar novas realidades a partir de planos
entendimento das dificuldades de imaginados, a regular as ações individuais e
aprendizagem, identificando-as, intervindo no coletivas a partir de ideias e regras de universos
processo educativo, fornecendo mecanismos simbólicos – e o processo de constituição de
adequados para solução dos problemas conhecimentos pelas crianças e pelos
encontrados, isto é, funcionando como adolescentes (BRASIL, 2006, p. 38).
mediadora na relação dos sujeitos citados. Assim, o forte do lúdico, um olhar atento,
As interações sociais que a criança disponível para as muitas possibilidades de
estabelece no decorrer da atividade lúdica são expressão.
fundamentais para o seu desenvolvimento. [...] o desenvolvimento da atividade lúdica
Durante essas trocas, a criança tem depende, de forma significativa, das ações das
oportunidade de assumir diversos papéis e crianças – sem elas, a brincadeira não
colocar-se no lugar do outro (FRIEDMANN, acontece. Essas ações desenvolvem-se, nos
1998, p.31). primeiros anos de vida, muito mais no nível do
Dessa forma, para Friedmann (1998), em sua concreto (físico). Assim que a criança cresce, a
perspectiva simbólica, o lúdico significa que as sua ação torna-se mais abstrata, havendo um
atividades são motivadas e históricas. Quando desenvolvimento de habilidades cognitivas,
brinca de casinha, por exemplo, a criança emocionais e sociais. Por exemplo: em um jogo
atribuiu sentido aos objetos que utiliza para de construção com blocos, a criança pequena
montar cenários, simular pessoas e se exercita através da manipulação. À medida
acontecimentos. Essas narrativas fazem que vai se desenvolvendo, ela passa a construir
sentido para ela, pois é uma projeção de seus objetos, cenas etc., que vão adquirindo um
desejos, sentimentos e valores, expressando significado mais abstrato e servem a outras
suas possibilidades cognitivas, seus modo de brincadeiras, deixando de ser a construção o
assimilar ou incorporar o mundo, a cultura em principal objetivo (FRIEDMANN, 1998, p.31).
que vive. A criança expressa suas intuições. Pensar numa prática educativa mais
A ampliação de competências e dialogada, próxima do aluno em que una
conhecimentos nos planos da cognição e das elementos brincantes e lúdicos que levam ao
interações sociais, o que certamente tem desenvolvimento intelectual, emocional,
consequências na aquisição de conhecimentos motor e social. A interdisciplinaridade
no plano da aprendizagem formal. A partir das proporciona essa possibilidade por meio de um
considerações feitas até aqui, vale a pena projeto pedagógico.
refletir sobre as relações entre aquilo que o Aprender a conhecer, combinando uma
brincar possibilita – tais como aprender a olhar cultura geral, suficientemente vasta, com a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possibilidade de trabalhar em profundidade um A partir desse enforque, a dimensão lúdica


pequeno número de matérias. O que também desse processo refere-se ao modo curioso,
significa: aprender a aprender, para beneficiar- investigativo, planejado, que estuda
se das oportunidades oferecidas pela educação possibilidades, revê posições, imagina
ao longo de toda a vida. estratégias, pensa alternativa antes, durante e
Aprender a fazer, a fim de adquirir, não depois do processo construtivo propriamente
somente uma qualificação profissional, mas, de dito. Assim o trabalho interdisciplinar tornar-se
uma maneira mais ampla, competências que mais eficaz e mais perto da realidade do aluno,
tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas devido seu caráter espontâneo e dinâmico.
situações e a trabalhar em equipe. Mas
também aprender a fazer, no âmbito das
diversas experiências sociais ou de trabalho
que se oferecem aos jovens e adolescentes,
quer espontaneamente, fruto do contexto local
ou nacional, quer formalmente, graças ao
desenvolvimento do ensino alternado com o
trabalho (DELORS, 2000, p. 101).
Aqui fica claro que se pode desenvolver
projetos integradores de maneira
interdisciplinar, valorizando o coletivo com os
quatro pilares do saber em permanente
aprendizado.
Aprender a viver juntos desenvolvendo a
compreensão do outro e a percepção das
interdependências – realizar projetos comuns e
preparar-se para gerir conflitos – no respeito
pelos valores do pluralismo, da compreensão
mútua e da paz.
Aprender a ser, para melhor desenvolver a
sua personalidade e estar à altura de agir com
cada vez maior capacidade de autonomia, de
discernimento e de responsabilidade pessoal.
Para isso, não negligenciar na educação
nenhuma das potencialidades de cada
indivíduo: memória, raciocínio, sentido
estético, capacidades físicas, aptidão para
comunicar-se. (DELORS, 2000, p. 101-102).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo do objetivo que a ação lúdica é relevante para o ensino e aprendizagem do aluno
na Educação Infantil, esse estudo mostra que é viável o professor preparar suas aulas de acordo
com tais teorias de Kishimoto (2002), Friedmann (1995), Cunha (2008), Kleiman, (1995) e Wajskop
(2005). Toda criança necessita de solidez emocional para se entregar à aprendizagem de maneira
satisfatória. Sem o afeto a criança não se envolve com a ludicidade, não há entrosamento. Será
preciso da intermediação do professor para que a criança confie em sua figura adulta e haja
confiança, a fim de que se aproxime e comece uma interação entre ambos.
Com base no estudo, conquistar a amizade de uma criança também é um dos objetivos da
ludicidade na Educação Infantil, pode ser por meio de atividades lúdicas pela sua função
brincante, divertida e condizente com a idade dela na Educação Infantil. Nessa fase o aluno pode
aprender um conteúdo programático, brincando sem nem perceber o seu envolvimento com a
disciplina em ação. Basta o professor organizar suas aulas focadas no atos lúdicos, como jogos e
brincadeiras. É próprio da criança gostar de brincar. Se ela for saudável, não tem por que não se
interessar pela ludicidade. A brincadeira pode favorecer o desempenho lúdico e educativo
concomitantemente, pois explora o cognitivo, motor, psicológico, afetivo e social de maneira
integral.
Dessa forma, incorporar o brinquedo na programação das aulas, é primordial. Ao brincar,
a criança tem a possibilidade de transferir suas fantasias e criações para o faz de conta onde tudo
é possível e realizável. O brinquedo passa ser um instrumento de transporte desse mundo para o
faz de conta, lá ela consegue resolver seus impasses, incertezas, ela imita o adulto que está
próximo dela, cria situações parecidas com que vivencia e procura solucionar os problemas da
forma como os vê, devido a esse olhar multifacetado que é importante incorporar a
interdisciplinaridade nas atividades didáticas, pois ela proporciona essa visão abrangente de uma
situação.
Esses elementos são motivadores para os alunos pequenos, mas para que eles consigam
fazer essa brincadeira, precisam confiar muito no professor que também tem que estimulá-los
devidamente, para isso é preciso estar atento na faixa etária que é dos objetivos do estudo, caso
contrário todo trabalho será em vão.
Portanto, a partir da pesquisa bibliográfica, pode-se observar que a criança na Educação
infantil pode aprender brincando sozinha e em grupo. O professor deve ter o lúdico como
norteador das aulas para se ter um ensino e aprendizagem de qualidade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, Brasília: Mec,1998.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Básica. Ensino


Fundamental de Nove Anos: orientações para a Inclusão da Criança de Seis Anos de Idade.
Brasília: MEC, 2006.

CUNHA, Antônio Eugênio. Afeto e aprendizagem, relação de amorosidade e saber na prática


pedagógica. Rio de Janeiro: Wak, 2008.

DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 2000.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar na pré-escola. São Paulo: Cortez, 1995.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2002.

KLEIMAN, Angela. Modelos de Letramento e as Práticas de Alfabetização na Escola.


Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995.

VYGOTSKY, Liev Semionovitch. A Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1984.

WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1998.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONTRIBUIÇÃO DA PEDAGOGIA NA VIDA


DAS CRIANÇAS
Elisangela dos Santos de Jesus1

RESUMO: Esse artigo pretende buscar reflexões a respeito da importância da Pedagogia na vida
das crianças. A Pedagogia elabora uma representação básica da infância a partir das noções
pedagógicas de natureza e de cultura que assumem um caráter temporal. Como a infância
precede a idade adulta, o fator tempo é introduzido no conceito de infância. Por um lado, o
desenvolvimento fisiológico da criança provoca uma certa confusão entre natureza humana e
natureza no sentido biológico, ao mesmo tempo o aspecto temporal confunde a infância como
origem individual do homem, com a origem da humanidade: a infância corresponde ao estágio
originário da humanidade como a mesma expressa os traços essenciais da natureza humana.

Palavras-Chave: Cultura; Infância; Natureza Humana.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I, na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE CONTRIBUTION OF PEDAGOGY IN THE LIVES OF CHILDREN


ABSTRACT: This article aims to seek reflections on the importance of Pedagogy in children's lives.
Pedagogy develops a basic representation of childhood from the pedagogical notions of nature
and culture that assume a temporal character. As childhood precedes adulthood, the time factor
is introduced into the concept of childhood. On the one hand, the physiological development of
the child causes a certain confusion between human nature and nature in the biological sense, at
the same time the temporal aspect confuses childhood as the individual origin of man, with the
origin of humanity: childhood corresponds to the original stage of life. humanity as it expresses
the essential traits of human nature.

Keywords: Culture; Childhood; Human nature.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO desenvolver as potencialidades infantis de


relação interpessoal, de estar com os outros
Percebe-se que uma das grandes numa atitude de aceitação, respeito e
preocupações nas escolas de educação infantil confiança, e permitir a criança conhecimentos
está relacionada ao tempo, pois os professores mais amplos da realidade sociocultural (p. 23).
precisam elaborar atividades significativas de Não é possível então, padronizar práticas
acordo com a faixa etária de cada criança, pedagógicas. Mas sempre é interessante
preocupando-se com o tempo de refletir sobre elas. Os procedimentos adotados
desenvolvimento dessas atividades. em uma determinada situação costumam
A Pedagogia deve ter significado para que o revelar caminhos que são frutos da criatividade
professor consiga planejar suas aulas de acordo do professor e mostram maneiras originais de
com cada faixa etária e que suas ideias façam desencadear a aprendizagem, compatíveis com
sentido para as crianças. a concepção de educação que o professor
Freire (1999), corrobora, afirmando que: adote.
Às vezes mal se imagina o que pode causar As situações de aprendizagem são
na vida do aluno um simples gesto do desencadeadas a partir de questões já
professor. Um gesto aparentemente selecionadas e programadas no currículo.
insignificante pode valer como forca formadora Podem ter união com um fato que desperte o
ou como construção do educando por si interesse da classe, ou por um assunto que se
mesmo (p.47). revele oportuno.
O professor que entende a educação como O professor tem que levantar hipóteses,
prática social, transformadora e democrática dando dicas para que o aluno consiga concluir
trabalha com seus alunos na direção da o seu pensamento sozinho, claro que da sua
ampliação do conhecimento, vinculando forma, pois só assim ele vai conseguir construir
conteúdos de ensino à realidade, escolhendo o seu próprio conhecimento e se apropriar
procedimentos que assegurem a aprendizagem daquilo que ele mais deseja e gosta.
efetiva.
Os interesses que as crianças manifestam no
A CRIANÇA E SEU
cotidiano dão vida ao currículo. Conciliar esses
interesses com os objetivos das atividades DESENVOLVIMENTO
planejadas é um grande desafio; fazer com que Piaget (1996) e Vygotsky (1991), foram os
cada situação de ensino seja uma experiência grandes estudiosos sobre o desenvolvimento
nova, é o que dá, ao trabalho de cada professor, da criança.
um sabor original e único. Para Piaget (1996), os atos biológicos são
O Referencial Curricular para a Educação atos de adaptação ao meio físico e que ajudam
Infantil (1998) enfatiza que: a organizar o ambiente. Os atos intelectuais são
Educar significa propiciar situações de entendidos como atos de organização e
cuidado, brincadeiras e aprendizagens de adaptação ao meio. Para Piaget, a atividade
forma integral, que contribuam para intelectual não pode ser separada do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

funcionamento total do organismo. Assim utilizada pela criança ao lidar com seus
sendo, considera-se que o funcionamento pensamentos em cada etapa de sua vida.
intelectual é uma forma especial de atividade O primeiro estágio descrito é o Sensório-
biológica. Ambas as atividades são partes do Motor, nele o pensamento é constituído pelas
processo global por meio do qual o organismo sensações (sensório) e pelos movimentos
adapta-se ao meio e organiza suas (motor), dando o nascimento da inteligência a
experiências. partir da incorporação, feita pela criança do
Piaget concebeu a inteligência tendo dois mundo e de si mesma, podendo diferenciá-los.
aspectos importantes: o cognitivo e o afetivo. Saindo, assim, a criança de um estágio de puros
O aspecto cognitivo tem três componentes: o reflexos e se desenvolvendo até alcançar o
conteúdo, a função e a estrutura. Piaget início do pensamento representativo, que se dá
identificou três tipos de conhecimento: físico, com a noção de permanência de objetos, ou
lógico-matemático e social. O primeiro é o seja, a criança percebe que o objeto continua a
conhecimento de propriedades dos objetos e é existir mesmo que este não esteja presente ao
derivado das ações sobre os objetos. O seu campo visual.
segundo é o conhecimento construído com Piaget (1982), afirma, então, que existe
base nas ações sobre os objetos e o terceiro é inteligência antes mesmo da linguagem.
o conhecimento sobre coisas criadas pelas O segundo estágio é o Pré-Operacional, no
culturas. Cada tipo de conhecimento depende qual a criança inicia o desenvolvimento de
das ações físicas ou mentais. As ações aspectos lógicos. São eles:
instrumentais do desenvolvimento são aquelas
que geram desequilíbrio e conduzem ao • Ausência de transitividade: a criança
esforço de estabelecer a equilibração. ainda não é capaz de fazer relações conceituais.
Assimilação e acomodação são os agentes de • Ausência de conservação: a criança
equilibração, o auto-regulador do ainda não se dá conta que objetos podem ser
desenvolvimento. transformados e manterem a mesma
Quatro fatores e suas interações são quantidade, peso ou volume.
necessários para o desenvolvimento: • Irreversibilidade do pensamento: o
maturação, experiência ativa, interação social e pensamento da criança ainda tem apenas um
equilibração. O desenvolvimento cognitivo sentido, sem que o produto final possa retornar
pode ser dividido em quatro estágios para fins ao seu estado primeiro.
de análise e descrição. O desenvolvimento • Raciocínio transitivo: a criança ainda não
afetivo ocorre de modo semelhante ao é capaz de fazer generalizações (pensamento
desenvolvimento cognitivo. O aspecto afetivo é indutivo) ou tirar conclusões (pensamento
responsável pela dinamização da atividade dedutivo).
mental e pela seleção dos objetos ou eventos • Egocentrismo cognitivo: a criança ainda
sobre os quais agir. não consegue coordenar diferentes pontos de
Piaget descreveu estágios de vista.
desenvolvimento que se definem pela lógica

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Piaget deixou claro em seus estudos, que acomodação é internamente, e não


estas etapas aparecem nesta ordem e não em externamente, controlado. O afeto
outra qualquer, sendo uma etapa a preparação desempenha um importante papel neste
para a etapa seguinte, e também não controle. Em cada período do desenvolvimento
estabeleceu idades para quês estas sensório-motor, surgem novas e mais
acontecessem, dando sempre variações, afinal, sofisticadas aptidões e aumenta o
para ele, o desenvolvimento depende da autocontrole. Cada pequeno progresso torna o
interação do sujeito com o meio. indivíduo melhor equipado para lidar com as
Neste sentido, Kuhlmann (1998, p. 31), demandas da vida.
denota que: Ao completar o desenvolvimento sensório-
[...] é preciso conhecer as representações de motor, a criança já deve ter alcançado um
infância e considerar as crianças concretas, desenvolvimento conceitual necessário ao
localizá-las nas relações sociais, reconhecê-las desenvolvimento da linguagem falada e de
como produtoras da história. Torna-se difícil outras habilidades cognitivas e sociais,
afirmar que uma determinada criança teve ou principais aspectos do nível seguinte de
não infância. Seria melhor perguntar como é, desenvolvimento: o pensamento pré-
ou como foi, sua infância (KUHLMANN, 1998, p. operacional. Neste momento o
31). desenvolvimento intelectual da criança se dá
mais na área simbólica do que na área sensório-
À medida que o bebê se desenvolve motora. Isto não significa o fim do
cognitivamente, as mudanças ocorridas afetam desenvolvimento sensório-motor, indica
o comportamento em todas as áreas. Os apenas que o desenvolvimento intelectual
conceitos não se desenvolvem passa a ser predominantemente afetado pelas
independentemente um do outro. O atividades representacional, simbólica e social,
comportamento sugere que a criança já tem e não contará mais somente com a atividade
noção de constância da forma dos objetos. Os sensório-motora.
objetos não sofrem mudanças na forma No período dos dois aos sete anos, o
quando mudam de perspectiva. Desde que desenvolvimento cognitivo e o
todas as ações ocorrem no espaço, a criança desenvolvimento afetivo não estão parados. Ao
deve ter também um conceito funcional de contrário, eles estão em contínua mudança,
espaço e das relações entre os objetos. Cada com os processos de assimilação e acomodação
uma dessas capacidades surge mais ou menos constantemente resultando na construção de
na mesma época e tem o mesmo caminho de uma nova e enriquecida maquinaria cognitiva.
desenvolvimento. Todos os seus esquemas são O comportamento da criança pré-operacional
elaborados à medida que a criança assimila e é, no início do período, semelhante ao da
faz acomodações. criança sensório-motora. Aos sete anos, há
É importante reconhecer que o pouca semelhança.
desenvolvimento intelectual é um processo O nível das operações concretas é um
auto - regulatório. O processo de assimilação e período de transição entre o pensamento pré-

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

operacional e o pensamento formal. Durante o qual interage com outros homens e pela
desenvolvimento operacional concreto, a linguagem desenvolvida em sociedade.
criança atinge o uso das operações Vygotsky considera o homem um ser bio-
completamente lógicas pela primeira vez. O psico-histórico-social, dessa forma a interação
pensamento deixa de ser dominado pelas só é possível por meio da mediação, processo
percepções e a criança torna-se capaz de pelo qual algo se interpõe entre o sujeito e o
resolver problemas que existem ou existiram objeto, facilitando essa relação e possibilitando
em sua experiência. o desenvolvimento integral do ser.
A criança operacional concreta não é Para Vygotsky (1985), o desenvolvimento
egocêntrica em pensamento como são as cognitivo mantém uma relação mais estreita
crianças pré-operacionais. Ela pode assumir o com a aprendizagem. Para ele, o
ponto de vista dos outros e sua linguagem é desenvolvimento das funções psíquicas da
comunicativa e social. A reversibilidade do criança interage continuamente com a
pensamento é desenvolvida. As duas aprendizagem, isto é, com a apropriação do
operações intelectuais importantes que se conhecimento produzido pela humanidade e as
desenvolvem são a seriação e a classificação, as relações que estabelece com o meio social.
quais forma a base para o conceito de número. Essa apropriação do saber produzido ocorre
Neste nível, pode ser observado um pela interação social com adultos.
paralelismo entre o desenvolvimento cognitivo Nesta visão, desenvolvimento e
e o desenvolvimento afetivo. O aprendizagem constituem uma unidade. Sendo
desenvolvimento da vontade, que engendra inseparável do desenvolvimento, a
um senso de obrigação para com as próprias aprendizagem, quando significativa estimula e
normas ou valores, permite a regulação do desencadeia o avanço do desenvolvimento
julgamento afetivo. A autonomia de para um nível mais complexo que serve de base
julgamento e o afeto continuam a se para novas aprendizagens.
desenvolver nas relações sociais que De acordo com Elias (2000, p. 7), “no
encorajam o respeito mútuo. A criança torna- processo de aprendizagem participam
se capaz de avaliar suas ideias. Isto é também, além dos aspectos biológicos e
acompanhado de uma compreensão da noção psicológicos, descritos por Piaget, o contexto
de intencionalidade e do aumento da histórico, político e social de cada indivíduo”.
capacidade de considerar os motivos ao emitir Piaget e Vygotsky demonstram em seus
julgamentos. Pode ser observado o progresso estudos que as capacidades de conhecer e
dos conceitos morais, tal como a compreensão aprender são constituídas pelas trocas
de regras, mentiras, acidentes e justiça. realizadas entre sujeito e meio, caracterizando
Para Vygotsky (1991), a construção de os desenvolvimentos motores, afetivos e
pensamento e da subjetividade é um processo cognitivos infantil num processo dinâmico que
cultural, o homem extrapola suas capacidades se dá de forma simultânea e integrada, tendo a
sensoriais pelo uso de instrumentos própria atividade da criança como seu principal
construídos por meio do trabalho coletivo no elemento.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De acordo com o modelo epistemológico Conceber a criança como ser social que ela é,
Construtivista Interacionista sustentado pelos significa: considerar que ela tem uma história,
dois estudiosos Jean Piaget (cognitivista) e Lev que pertence a uma classe social determinada,
Vygotsky (sócio-histórico), o desenvolvimento que estabelece relações definidas segundo seu
do sujeito se dá a partir da interação deste com contexto de origem, que apresenta uma
o meio que o cerca, ou seja, o desenvolvimento linguagem decorrente dessas relações sociais e
se dá por causa da relação que se estabelece culturais estabelecidas, que ocupa um espaço
entre o sujeito, com toda sua carga genética e que não é só geográfico, mas que também dá
dispositivos biológicos, bem como sua história valor, ou seja, ela é valorizada de acordo com
pessoal acumulada, e o meio onde está os padrões de seu contexto familiar e de acordo
inserido, que compreende uma série de fatores com sua própria inserção nesse contexto
que vão desde os objetos materiais até os (KRAMER, 1986, p. 79).
valores morais, passando necessariamente Modificar a prática não significa abandonar
pela existência do outro. de uma vez tudo aquilo que já faz parte de sua
formação anterior. Novas práticas não se
A CRIANÇA E A ESCOLA instalam de um momento para o outro. Muitas
vezes o professor pensa mais adiante, mas
A escola tem um modo específico e especial
ainda repete em sala de aula o que viveu como
de organizar e propor situações para que
aluno.
ocorra a aprendizagem de determinados
Não há modelos gerais, aplicáveis em
conteúdos culturais. A questão central da
qualquer situação, pois cada sala de aula é
escola é o ensinar e o aprender. Para que uma
única: cada professor é diferente, os alunos não
aprendizagem ocorra é necessário um bom
são iguais nem podem ser idealizados. Cada um
planejamento, sustentado no trabalho do
tem sua história, trajetória escolar, pontos de
coletivo dos educadores. De cada professor é
vista e estilos cognitivos diferentes. Além disso,
exigido um sério preparo profissional que
não se pode esquecer das condições do
garanta o saber e o saber-fazer, ou seja,
ambiente em que ocorrem as interações e a
domínio do conteúdo e da metodologia de
aprendizagem. Estas tornam singular o
ensino.
trabalho com cada grupo-classe: a atividade do
É importante ressaltar que a atuação
professor não deve se repetir sempre, sem
docente pode ou não promover a
novidades ou desafios.
aprendizagem dos alunos. Quando o professor
Os interesses que as crianças manifestam no
reconhecer importância de envolvê-los,
cotidiano dão vida ao currículo. Conciliar esses
mobilizar seus processos de pensamento,
interesses com os objetivos das atividades
explorar todas as dimensões e oportunidades
planejadas é um grande desafio; fazer com que
de aprendizagem, fizer ou refizer percursos,
cada situação de ensino seja uma experiência
criar e renovar procedimentos e olhar seu
nova, é o que dá, ao trabalho de cada professor,
grupo-classe a partir de suas próprias
um sabor original e único.
características, estará propiciando
aprendizagem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Não é possível então, padronizar práticas Na relação ativa com o novo, o contato com
pedagógicas. Mas sempre é interessante várias fontes, as explicações do professor, as
refletir sobre elas. Os procedimentos adotados discussões em grupo ou outras atividades
em uma determinada situação costumam devem permitir ao aluno entender, localizar e
revelar caminhos que são frutos da criatividade relacionar informações, tirar conclusões,
do professor e mostram maneiras originais de ampliar sua compreensão, ou seja, apropriar-se
desencadear a aprendizagem, compatíveis com dos conteúdos culturais básicos, com isso o
a concepção de educação que o professor aluno estará aprendendo a aprender para
adote. encontrar sozinho o caminho para outras
Em geral, as situações de aprendizagem são aprendizagens.
desencadeadas a partir de questões já O professor tem que levantar hipóteses,
selecionadas e programadas no currículo. dando dicas para que o aluno consiga concluir
Podem ter união com um fato que desperte o o seu pensamento sozinho, claro que da sua
interesse da classe, ou por um assunto que se forma, pois só assim ele vai conseguir construir
revele oportuno. o seu próprio conhecimento e se apropriar
Uma boa forma para decidir e verificar a daquilo que ele mais deseja e gosta.
relação entre as questões novas e o que já foi Por meio da ação sobre o meio físico e da
programado: se forem possíveis entradas para interação com o ambiente social, onde a
algum assunto, se exemplificam e ampliam a linguagem exerce papel central, processa-se o
abordagem de outro, se permitem integrar desenvolvimento e a aprendizagem do ser
conteúdos de diferentes áreas. É bom deixar humano.
claro que todo programa deve ser flexível para A escola deve responder pelo acesso ao
permitir novos arranjos ao longo de sua conhecimento que se considera necessário à
execução. inserção social, para que os mais jovens se
Quando o momento não é oportuno porque apropriem das conquistas das gerações
há outro tema sendo estudado, é interessante precedentes e se preparem para novas
identificar, junto com a classe, o que está conquistas. Faz isso por meio da seleção e
provocando interesse para uma futura organização de situações planejadas
exploração. Podem aparecer, então, assuntos especialmente para promover a aprendizagem
que não tenham relação imediata com o que foi dos conteúdos que são culturalmente
programado. Se forem situações significativas valorizados pela sociedade em que ela se
para os alunos, será possível fornecer algumas insere.
explicações por meio de leitura, discussão ou O trabalho escolar pode assumir formas
vídeo e retomar o estudo em andamento. diversas de acordo com as diferentes maneiras
O tempo de abordagem dos assuntos não de entender a função da escola, o papel do
previstos pode ser maior ou menor, indivíduo na sociedade e o próprio processo de
dependendo das possibilidades que ensino e aprendizagem.
apresentem para desencadear ou enriquecer o Na sala de aula, a interação que o aluno
estudo dos conteúdos curriculares. estabelece com o professor, com outros alunos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e com o conhecimento, é que ele vai compondo


e ampliando seu repertório de significados. O
aluno não é um simples receptor de estímulos
e informações: ele tem um papel ativo ao
selecionar, assimilar, processar, interpretar,
conferir significados, construindo ele próprio
seu conhecimento.
Para exercer seu papel com sucesso, o
professor precisa conhecer bem os seus alunos.
Saber como as crianças aprendem não basta:
cada uma tem um rosto, um nome, uma
história que deve ser conhecida. Além da vida
escolar, das competências, conhecimentos e
habilidades de cada criança, o professor precisa
conhecer suas referências sócio - culturais, suas
paixões e curiosidades. Os valores e costumes
locais acabam sendo retratados na história de
cada uma.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para criar um ambiente em que as histórias, opiniões e ideias de cada um sejam
importantes e façam diferença para toda a classe, o professor pode buscar diversos caminhos.
Conhecendo seus alunos, o professor tem elementos para tomar decisões sobre a condução da
aprendizagem, seleciona os pontos de partida, determina os estímulos e recursos didáticos que
vai utilizar e define o nível de complexidade dos assuntos, o vocabulário e os exemplos com que
vai apresentar.
O aluno é o centro do processo educativo. Seu papel é ativo, como agente do próprio
desenvolvimento, o professor é o mediador entre o aluno e o conhecimento, o responsável pelo
ensino e por criar condições favoráveis para que ocorra a aprendizagem. Nessa mediação, ele
aproximará tanto mais o aluno do conhecimento quanto maior for sua convicção e certeza da
importância do que está ensinando.
Por isso que o professor tem que conhecer muito bem o seu grupo-classe e ter convicção
de que aquilo que está ensinando aos seus alunos, os mesmos estão instigados em aprender. O
professor também tem que estar bem habilitado no conteúdo que está ensinando para conseguir
conduzir o projeto ou a atividade do começo até o seu término.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil. Brasília, 1998.

ELIAS, Marisa D. C. Celestin Freinet, 7ª edição, Petrópolis: editora Vozes, 2002.

ELIAS, Marisa D. C. De Emílio a Emília: a trajetória da alfabetização. São Paulo: editora


Scipione, 2000.

FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo. São Paulo: editora Paz e Terra, 2002.

KRAMER, Sônia. O papel social da pré-escola. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, 1986.

PIAGET, Jean. A epistemologia genética, São Paulo: editora Abril Cultural, 1978.

PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança, Rio de Janeiro: editora Zahar, 1982.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CRÍTICA DE PAULO FREIRE AO


CONSERVADORISMO
Elson dos Santos Gomes Junior1

RESUMO: O presente trabalho realiza uma análise da contribuição da pedagogia de Paulo Freire
enquanto crítica ao conservadorismo socio-educacional no Brasil. O objetivo é demonstrar a
impossibilidade de pautarmos a educação sobre pilares conservadores por dois fatos principais
salientados por Freire, ou seja, uma que tange a questão ontológica (nunca nos encontramos
prontos), e outra a social. Para isso utilizaremos uma metodologia qualitativa de caráter
bibliográfico cujo objetivo foi demonstrar a desconstrução do conservadorismo por meio das
pedagogias da autonomia e do oprimido. Os resultados apontam para uma perspectiva ontológica
freireana que não concebe o condicionamento existencial humano a uma pretensa natureza
divina e, neste sentido, impele o sujeito para a luta pela efetividade histórica por meio de sua
relação no mundo e para o mundo.

Palavras-Chave: Autonomia; Liberdade; Conservadorismo.

1Professor EBTT na Rede Federal de Ensino – Instituto Federal Fluminense – IFF.


Graduação: Ciências Sociais e Mestrado em Sociologia Política pela Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro – UENF.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PAULO FREIRE'S CRITICISM OF CONSERVATISM


ABSTRACT: The present work analyzes the contribution of Paulo Freire's pedagogy as a critique
of socio-educational conservatism in Brazil. The objective is to demonstrate the impossibility of
guiding education on conservative pillars by two main facts highlighted by Freire, that is, one that
concerns the ontological question (we are never ready), and the other the social one. For this we
will use a qualitative methodology of bibliographic character whose objective was to demonstrate
the deconstruction of conservatism through the pedagogies of autonomy and the oppressed. The
results point to a Freirean ontological perspective that does not conceive the human existential
conditioning to an alleged divine nature and, in this sense, impels the subject to fight for historical
effectiveness through his relationship in the world and for the world.

Keywords: Autonomy; Freedom; Conservatism.

43
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO naturalização das relações sociais e


educacionais.
A pedagogia de Paulo Freire (1921-1997), A partir deste quadro podemos apresentar
encontra-se entre os grandes legados de nossa como percurso explicativo deste trabalho (I) a
história pedagógica e educacional. Suas obras caracterização do conceito de
são referências obrigatórias em diversos cursos conservadorismo, (II) a proposta ontológica de
de graduação, pós-graduação, cursos livres Paulo Freire e, por último, (III) o exercício
entre outros (FREIRE, 2018; 2019a; 2019b). Por histórico como ato político de “fazimento” de si
isso, ainda no bojo da comemoração de seu e do mundo. Acreditamos que este percurso
centenário, torna-se mais especial refletirmos cumpre o objetivo de demonstrar a
nossa realidade com uma obra tão atual e incompatibilidade entre a educação crítica
pertinente, principalmente, diante do cenário (para liberdade e autonomia) e o
de obscurantismo educacional que estamos conservadorismo educacional.
experimentando nos últimos anos.
Considerando a grande variedade de temas
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
desenvolvidos em suas obras, atualmente, não
A definição prévia deste conceito –
poderíamos deixar de considerar sua crítica ao
conservadorismo – cujo termo, que
conservadorismo. Esta grande reflexão de
aparentemente parece de fácil compreensão,
Paulo Freire (2019), não se faz de forma
guarda uma história que remonta ao século
descomprometida e muito menos sem
XVIII e a países como Inglaterra e França; por
motivos, mas sim, com foco na emancipação
isso alguns autores falam em
humana, na justificativa da luta pelo exercício
“conservadorismos” (COUTINHO; 2014;
da cidadania pelos mais vulneráveis e, entre
MOREIRA, 2019; KIRK, 2021). Além disso parece
outros, pelo esclarecimento em oposição ao
consenso entre os estudiosos de que não existe
“cinismo” ideológico liberal conservador.
uma “teoria política conservadora” (BONAZZI,
Neste quadro podemos pensar com Paulo
1998; KINZO, 2001), uma vez que o próprio fato
Freire (2018), a autonomia requerida e negada
de “teorizar” não se enquadra em um dos
pelas classes desfavorecidas e que, por meio de
pilares deste conceito.
um conservadorismo egoísta, naturaliza a
Dito isto, em síntese, o conservadorismo
exclusão como acomodação dos poderosos e a
seria “alternativo do progressismo, contrário a
marginalização dos pobres. Assim refletir sobre
uma colocação radical dos problemas políticos,
o conservadorismo com a pedagogia freireana
incerto sobre a possibilidade de um
se faz necessário para uma sociedade com as
desenvolvimento autônomo da humanidade”
características estruturais apresentadas pelo
(BONAZZI, 1998, p.245). Estes elementos
Brasil – o atual cenário extremista e
compõem os pilares do conservadorismo com
negacionista que nos encontramos – e, além de
os quais podemos destacar o apego à tradição,
tudo, nos traz uma perspectiva ontológica que
a importância da religião como fundamento de
se opõe a qualquer tipo de acomodação e/ou
uma concepção de “natureza humana” e
histórica, o apego às leis, a aversão às

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mudanças drásticas, às ideias de caráter crítico METODOLOGIA


e de propostas à autonomia humana
A metodologia utilizada neste trabalho é de
(MOREIRA, 2019; COUTINHO, 2014; BONAZZI,
cunho qualitativo e circunscreve-se em uma
1998; KINZO, 2001).
análise bibliográfica contendo obras de Paulo
A gramática política conservadora e seus Freire que contemplam o tema da crítica
desdobramentos sociais e políticos, caso fosse conservadora. Além disso, autores
aceita, inviabilizaria qualquer tentativa de considerados importantes foram incluídos
inclusão e transformação social. Além disso, como forma de corroborar a crítica freireana e
considerando os efeitos do capital sobre a sua relevância para as condições socio-
educação, não teríamos como almejar uma educacionais vivenciadas, em grande parte,
educação mais humana, crítica e
pela sociedade brasileira.
ontologicamente plural (MÉSZÁROS, 2008).
Neste sentido a pedagogia freireana, ao
contrário de corroborar o mundo e suas A PROPOSTA ONTOLÓGICA DE
injustiças e exclusões, propõe uma relação PAULO FREIRE
transformadora, principalmente, para os Um elemento primordial da proposta
vulneráveis e politicamente excluídos (FREIRE, ontológica contida na pedagogia freireana é
2018; 2019a; 2019b). Esta pedagogia tem como justamente o reconhecimento de que não é
objetivo, além da naturalização do mundo, possível concebermos um “ser” estático
alcançar o que Wallerstein (2001), chamou de (FREIRE, 2018). Assim sua pedagogia aponta
“efetividade histórica”, ou seja, além da para a existência de um “impulso” que nos
roupagem democrática as pessoas até então conduz ao diálogo com o mundo, por isso, não
vulneráveis devem buscar a transformação do cabe aceitarmos conformações ou receituários
mundo a começar pela própria inclusão do existenciais. Com isso, aponta para que
sujeito como ser politicamente atuante. possamos perceber:
Assim o escopo analítico de Paulo Freire nos A razão ética da abertura, seu fundamento
convida a uma perspectiva educacional e social político, sua referência pedagógica; a boniteza
que não comporta a estabilidade das que há nela como viabilidade do diálogo. A
desigualdades, mas sim, almeja a acomodação experiência da abertura como experiência
dos excluídos como participantes ativos do fundante do ser inacabado que terminou por se
mundo e de sua transformação. Neste sentido, saber inacabado. Seria impossível saber-se
se cabe algo de conservador em Paulo Freire, é inacabado e não se abrir ao mundo e aos outros
justamente o fato de conservar o desejo de à procura de explicação, de respostas a
“autonomia”, de “liberdade” e de capacidade múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo
de “fazimento” de cada sujeito para um mundo e aos outros se torna transgressão ao impulso
“sem preconceitos” (FREIRE, 2018). natural da incompletude (FREIRE, 2018, p.133).
A condição existencial apresentada por
Paulo Freire coloca-nos diante de uma
perspectiva de devir, de acontecimento, de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

existência associada à liberdade para Então temos assim o grande desafio de, por
buscarmos respostas e motivações que meio deste primeiro momento de tomada de
embasem as necessidades do ser (FREIRE, consciência, buscarmos com todas as forças
2018). Neste sentido as delimitações que nos despirmos das amarras interiorizadas.
caracterizam a humanidade e sua condição na Assim, descobrir o “opressor em si” é visto por
pedagogia freireana, desde que consideremos Freire (2019a), como um avanço que abrange
este ponto como norteador, são uma série de fatores ontológicos, entre os
evidentemente claras na oposição à ontologia quais, podemos citar a busca pela superação de
conservadora (corpo e alma). preconceitos, a valorização da diferença, o
Paulo Freire (2019a), coloca que a ontologia reconhecimento do outro e de sua cultura, e,
conservadora serve apenas como aparato da entre outros fatores, a capacidade de
opressão e da manutenção das estruturas de reconhecer a importância do círculo cultural
exclusão. Com isso, ao analisarmos a condição como um lugar que, de maneira dialógica,
humana proposta em sua pedagogia, confirma a existência de outros “círculos”
percebemos o quão urgente são as ações em diferentes.
prol da libertação dos oprimidos e das amarras A valorização desta questão do “círculo
que buscam negar a sua condição ontológica cultural” (FREIRE, 2018), nos ajuda na
plena. construção de uma postura dialógica que
O sujeito enquanto “ser no mundo” não reconhece no outro uma humanidade também
pode ficar suprimido em costumes impostos e inacabada. Por isso cabe-nos uma existência de
exteriores à suas necessidades enquanto trocas e de aprendizagens que acontecem
“acontece” (FREIRE, 2018). Para isso necessita sempre em vias de igualdade e de valorização
de um primeiro passo que é a tomada de da vida como uma parte da história (FREIRE,
consciência para começar o processo de 2019b).
extirpação das amarras psicológicas e mentais Quando penso na minha “incompletude”
impostas pela cultura opressora. (FREIRE, 2018), valorizo o outro como ser
O grande problema está em como poderão portador de liberdade e em condição de devir
os oprimidos, que “hospedam” o opressor em (FREIRE, 2019a), reconheço o outro como
si, participar da elaboração, como seres duplos, sujeito que compõe a história e, nisto, o faz por
inautênticos, da pedagogia de sua libertação. meio de uma bagagem cultural e de
Somente na medida em que descubram experiências que podem ser compartilhadas
“hospedeiros” do opressor poderão contribuir (2019b), vejo o quão distante encontra-se a
para o partejamento de sua pedagogia humanidade de alcançar qualquer nível de
libertadora. Enquanto vivam a dualidade na plenitude por meio da ontologia proposta pelo
qual ser é parecer e parecer é parecer com o conservadorismo.
opressor, é impossível fazê-lo (FREIRE, 2019a, Neste sentido, para além das “dimensões”
p.43). corpo e alma, no dizer de Max Scheler (2008),
existem inúmeras outras que necessitam ser
desenvolvidas para que o “ser no mundo”

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possa alcançar as condições de “ser para o (...) como seres a quem o imobilismo ameaça
mundo” (FREIRE, 2018). Essa perspectiva de morte; para quem o olhar para trás não deve
analítica da ontologia nos coloca diante da ser uma forma nostálgica de querer voltar, mas
necessidade de reconhecermos que não basta um modo de melhor conhecer o que está
o que recebemos de herança – cultural, sendo, para melhor construir o futuro. Daí que
religiosa, educacional, moral –, mas sim, que se identifique com o desenvolvimento
necessitamos, devido nossa condição de devir, permanente em que se acham inscritos os
de adquirir o novo e, muitas vezes, este se homens, como seres que se sabem inconclusos;
encontra entre o que nos foi negado. movimento que é histórico e que tem o seu
A pedagogia freireana nos remete assim a ponto de partida, o seu sujeito, o seu objetivo
necessidade de valorizarmos a liberdade como (FREIRE, 2019a, p.103).
ponto fundamental de desenvolvimento A história ganha assim o status de realidade
ontológico (FREIRE, 2019a), por isso, nos vivida e experimentada pelas pessoas em seu
apresenta um horizonte que pode ser cotidiano (WALLERSTEIN, 2001). Por conta
construído. Dessa forma os receituários, as desta característica Freire (2019a) salienta que
tradições ou as teleologias não figuram como a história só pode ser definida como legítima se
elementos norteadores, mas sim, tornam-se esta contemplar a participação da população e,
secundários para o desenvolvimento de mais principalmente, das frações historicamente
uma “dimensão” necessária ao sujeito excluídas.
ontologicamente definido por Freire: a A história é assim uma condição – quando
existência histórica. inclusiva – marcada pela participação, pela
inclusão do outro, pela dialogicidade
A HISTÓRIA COMO ATO estabelecida entre os círculos culturais e pela
diversidade, não prescritiva e aberta para
POLÍTICO DE FAZIMENTO ajustes e atualizações (FREIRE, 2018). Neste
Importante dimensão desenvolvida por sentido não cabe uma educação que não
Paulo Freire, a condição de existência histórica, contemple o ser em sua complexidade e sua
tem sido negada a grande parte da população trajetória pessoal (FREIRE, 2019b). Assim, sem
brasileira (FREIRE, 2018). Sua pedagogia aponta estes fatores, não seria possível construirmos
para uma história que não é simplesmente uma história “efetiva” (WALLERSTEIN, 2001),
contada, escrita e/ou documentada por algum com a diversidade inerente a própria ontologia
órgão ou pelo próprio campo da historiografia. humana – que se modifica enquanto devir – e
Para ele a história é uma condição existencial, sinaliza para as necessidades e anseios
que possibilita aos seres humanos se colocados cotidianamente para cada “círculo
desprenderem das amarras da submissão para, cultural” (FREIRE, 2019a).
assim, exercerem a condição de sujeitos para o O “fazimento” (FREIRE, 2018), é assim uma
mundo, ou seja, para sua transformação. condição alcançada com muita luta e com
muitas batalhas cotidianas para efetivação de
uma nova história. Esta necessita dialogar,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

agregar, transformar, incluir e combater todas alternativas de “leitura do mundo” (FREIRE,


as formas de preconceitos existentes na 2019b), não aceita esta perspectiva história e,
sociedade conservadora que, entre outras muito menos, compactua com a falácia de que
coisas, age de acordo com seu medo do outro, esta é legítima. Não. Paulo Freire aponta para a
principalmente, se este exercitar e buscar necessidade de inclusão (FREIRE, 2018), de
ampliar a sua “liberdade” (FREIRE, 2019a). inserção do outro na condição de igual, de
A comunidade política no Brasil, de acordo exercício de confiança para a construção de
com Paulo Freire (2019a), encontra-se assim uma história inclusiva e que busque a
incompleta e restrita aos redatores de democratização dos espaços para que, além do
prescrições de cunho impositivo e de exercício de poder, estes sejam para o exercício
desconfiança em relação aos marginalizados. humano e de sua complexa ontologia.
Dessa forma o processo que se inicia com a Dessa forma não cabe a aceitação de uma
tomada de consciência (FREIRE, 2018) e história justificada pelo alto, como fazem os
alcança, entre outros fatores, a inserção “no conservadores (KIRK, 2021; COUTINHO, 2014;
mundo” e “para o mundo” como forma de BURKE, 2012). Não existe “natureza” na
existir e atuar, contribui como mecanismo de história, mas sim, um aparato de relações
ajuste desta comunidade política debilitada sociais culturalmente estabelecidos ao longo
pelas suas ausências. do tempo e, por isso, passíveis de mudanças e
Estas ausências são justamente a evidência alterações. Assim, ao identificarmos os erros,
da marginalização, do ocultamento de outras as falhas de inclusão e percepção do outro, não
populações e sujeitos que não estão atuantes cabe justificativas naturalistas, mas sim, a
ainda. Por isso a história para Paulo Freire retomada de consciência para o atendimento
necessita de uma espécie de reedição, onde os das necessidades humanas que só podem ser
sujeitos a tanto tempo excluídos e privados de satisfeitas por esses mesmos humanos.
sua existência plena, possam escolher e obter o O “fazimento” é dessa maneira a capacidade
reconhecimento e a confiança que lhes cabe de escolher, de atuar, de transformar de
enquanto iguais (FREIRE, 2019a). confiar e de reconhecer que não cabe, para
Uma das características da opressão termos humanísticos, a defesa de uma ética
encontra-se justamente nessa perversidade que justifique a exclusão e a fome (FREIRE,
histórica denunciada por Freire (2019a), ou 2018). A ideia de um liberalismo que concede
seja, a ideia de que as pessoas humildes não todos os desejos aos que “realmente” se
são capazes de escolherem com competência dedicarem com afinco é, para Freire, uma
para o bem comum. Isso corrobora a história atrocidade cometida com as maiores doses de
corrompida que temos experimentado durante cinismo que a humanidade pode destilar.
séculos, onde às populações pobres e Nestes termos, não cabe conservadorismo para
marginais, é atribuído o “direito” de escolher o que não está bom, para o que é excludente,
seus representantes como se isso fosse o para o que marginaliza, para o que torna
suficiente. populações inteiras a-históricas.
A educação que valoriza os conhecimentos
tradicionais, a diversidade cultural, as formas

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao que tange o tema do conservadorismo e a crítica de Paulo Freire, percebemos que, para
uma sociedade com a brasileira, não cabe a defesa do conservadorismo por dois fatores
principais. O primeiro diz respeito as disparidades socioeconômicas e educacionais que durante
séculos assolam a sociedade brasileira. Segundo pelo fato de que, para uma perspectiva
ontológica que considera a humanidade como devir, não cabe conservar.
Assim a contribuição de Freire (2018), se faz extremamente atual e se coloca como
instrumento crítico de reflexão contra uma ideologia de mercado e de desumanização das
relações sociais e educacionais no Brasil. Estamos mais do que nunca necessitando do que
Mészáros (2008), chamou de “educação para além do capital”. Enquanto isso não acontece de
forma intensiva e extensiva, vamos combatendo falácias governamentais como as que dizem que
“economia é vida”.
Como bem salientou Freire (2019a), precisamos de mais confiança, contudo, para que isso
aconteça necessitamos incluir o povo e compartilhar entre os sujeitos as experiências históricas
que norteiam as tentativas e ações de viver no mundo e para ele. Sem essa “oportunidade” para
o outro e para cada um de nós, não seremos capazes de experimentar a história na sua grandeza
e intensidade que, para Freire (2018), só pode acontecer se estivermos convivendo com o outro
“autônomo” e com sua “cultura” (FREIRE, 2019b).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BONAZZI, Tiziano. Conservadorismo. In: BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. Brasília:
Editora UNB, 1998.

BURKE, Edmund. Reflexões sobre a revolução na França. Rio de Janeiro: Top´books, 2012.

COUTINHO, João Pereira. As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e


reacionários. São Paulo: Três Estrelas, 2014.

FREIRE, Paulo. A pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa. Rio


de Janeiro/São Paulo: Paz & Terra, 2018.

FREIRE, Paulo. A pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz & Terra, 2019a.

FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz & Terra, 2019b.

KINZO, Maria D’Avila Gil. Burke: a continuidade contra a ruptura. In: WEFFORT, Francisco C.
Os clássicos da política. Vol.2. São Paulo: Editora Ática, 2001.

KIRK, Russel. A mentalidade conservadora: de Edmund Burke a T. S. Eliot. São Paulo: É


Realizações Editora, 2021.

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2008.

MOREIRA, Ivone. A filosofia política de Edmund Burke. São Paulo: É Realizações Editora,
2019.

SCHELER, Max. A situação do homem no cosmo. Lisboa: Texto e Grafia, 2008.

WALLERSTEIN, Immanuel. Capitalismo histórico e civilização capitalista. Rio de Janeiro:


Contraponto, 2001.

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A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E A INCLUSÃO


NO SISTEMA ESCOLAR
Samanta Moraes de Oliveira1

RESUMO: A deficiência intelectual tem desafiado a escola comum no comprimento de seu dever
de ensinar o que acomete uma dificuldade por parte dos alunos com necessidades educacionais
especiais e principalmente o aluno com deficiência intelectual na aprendizagem da leitura e da
escrita. Pois sabemos que o aluno deficiência intelectual tem suas próprias peculiaridades em sua
aprendizagem e a construção de conhecimento acontece de forma diferenciada o que geralmente
a escola comum tem dificuldades para compreender. O processo educativo tem como principal
objetivo facilitar a aquisição de conhecimentos, informações e interações necessários ao
desenvolvimento da criança. Este estudo visa relatar a importância que o saber institucional
exerce na vida da criança com necessidades especiais e averiguar de que maneiras o educador
pode auxiliar tal criança no processo de sua formação, despertando seu interesse e curiosidade,
seu senso crítico e sua vontade de se relacionar na sociedade. Este trabalho tem como objetivo
elucidar pontos principais acerca da escola comum e a deficiência intelectual.

Palavras-Chave: Formação; Docente; Desenvolvimento; Deficiência; Intelectual.

1Professora de Ensino Fundamental e Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes Visuais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A INTELLECTUAL DEFICIENCY AND EVEN NO SCHOOL SYSTEM


ABSTRACT: Intellectual deficiency is challenged at a common school that does not understand its
duty to teach or that it faces a difficulty on the part of two students with special and mainly
educational needs or one with intellectual deficiency in learning to read and write. Well, we know
that either someone with an intellectual deficiency has their own peculiarities in their learning
and the construction of knowledge occurs in a differentiated way or that generally at school they
have difficulties in understanding. The educational process has as its main objective to facilitate
the acquisition of knowledge, information and interactions necessary for the development of
children. This study aims to report the importance that institutional knowledge exerts in the life
of children with special needs and find out how the educator can help such children in the process
of their formation, awakening their interest and curiosity, their critical sense and their ability to
relate in a society This work had the objective of elucidating main points about the common
school and intellectual deficiency.

Keywords: Training; Teacher; Development; Deficiency; Intellectual.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO submetendo-nos a isso, pois, podemos ser


assim transformados por tais experiências, de
A deficiência intelectual tem desafiado a um dia para outro ou no transcurso do tempo.
escola comum no comprimento de seu dever O ser humano é um ser que dá significado às
de ensinar o que acomete uma dificuldade por coisas do mundo e deriva significados delas, ou
parte dos alunos com necessidades seja, para nós, as coisas do mundo se
educacionais especiais e principalmente o experimentam significativamente.
aluno com deficiência intelectual na A experiência relaciona-se à capacidade dos
aprendizagem da leitura e da escrita. seres humanos para dotar de significado e
Esses tipos de escolas que mantém um sentido o relato de suas próprias vivências.
modelo conservador e tradicional de ensino Neste sentido entende que, se a experiência é
acabam por acentuar a deficiência, o que nos acontece, e se o sujeito da
aumentando a inibição e reforçando os experiência é um território de passagem, então
sintomas existentes que agravam as a experiência é uma paixão. Logo, permanece
dificuldades dos alunos com deficiência ao professor o desafio de tornar as práticas
intelectual é o que diz a Organização Mundial educativas mais condizentes com a realidade,
de Saúde - OMS de 2001 e a Convenção da mais humanas e, com teorias capazes de
Guatemala. abranger o indivíduo como um todo,
Tendo em vista que a maioria dos promovendo o conhecimento e a educação.
professores que atuam na educação básica não A deficiência Intelectual não pode e não
possui uma formação em educação especial, é deve nunca predeterminar qual será seu limite
possível que os alunos com algum tipo de de desenvolvimento e de aprendizagem do
deficiência não tenham o mesmo atendimento aluno. A educação do aluno com deficiência
que os demais estudantes. Neste caso, eles são Intelectual deverá atender suas peculiaridades
apenas inseridos no espaço escolar, porém não e suas especificidades sem se desviar dos
desenvolvem o aprendizado a que têm direito. princípios básicos da educação proposta às
Os docentes que atuam na educação básica, na demais pessoas.
sua grande maioria, não possuem formação Os professores, nos dias atuais, se deparam
alguma em educação especial, dificultando em sala de aula com alunos que apresentam
assim o atendimento aos alunos com algum problemas de aprendizagem os quais
tipo de deficiência, não sendo possível o dificultam o desempenho escolar e a aquisição
oferecimento de atendimento adequado e de conhecimento dessas crianças. É necessário
igualitário que os demais estudantes recebem. destacar que nem todas as dificuldades de
Eles são apenas inseridos no espaço escolar, aprendizagem estão relacionadas a problemas
porém não desenvolvem o aprendizado a que neurológicos.
têm direito.
Embora, a educação social faça uma
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
experiência em deixar-nos abordar em nós
Os educadores precisam promover no
próprios pelo que nos interpela, entrando e
ambiente educacional diferentes espaços de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizagem capazes de atender a todos os pode ser determinado por fatores orgânicos
alunos, contribuindo por meio das discussões relacionados com aspectos do funcionamento
sobre o currículo escolar e planejamento, os anatômico, como o funcionamento dos órgãos
métodos de avaliação, dispensando tempo dos sentidos e do sistema nervoso central;
para sua formação acadêmica e se fatores específicos relacionados à dificuldades
preocupando com a necessidade de se específicas do indivíduo, os quais não são
relacionar no dia a dia da escola, apoiando os passíveis de constatação orgânica, mas que se
alunos que apresentam diferentes dificuldades manifestam na área da linguagem ou na
de aprendizagem, auxiliando na garantia de organização espacial e temporal, dentre
acesso, permanência e ensino com qualidade a outros. Quando relacionado a um sintoma, o
todos os alunos (OLIVEIRA, 2007, p.21). não aprender possui um significado
Segundo Aranha (2005), por muitos anos os inconsciente; quando relacionado a uma
Portadores de Necessidades Educativas inibição, trata-se de uma retração intelectual
Especiais foram esquecidos, porém de um do ego, ocorrendo uma diminuição das funções
tempo pra cá esse quadro mudou e esse grupo cognitivas que acaba por acarretar os
de educandos passou então a ser a maior problemas para aprender; fatores ambientais
preocupação dos pensadores da história da relacionados às condições objetivas ambientais
Educação Especial (ARANHA, 2005, p. 5). que podem favorecer ou não a aprendizagem
Com tal preocupação pairando na educação, do indivíduo (PAÍN, 1981, apud, RUBINSTEIN,
por meio de vários estudos, pôde-se perceber 1996).
como o estudo da Arte era essencial para as Apesar da grande importância que o saber
Pessoas Portadoras de Necessidades institucional exerce na vida das crianças, elas
Educativas Especiais, pois a arte tem como não sabem, ou por vezes não conseguem fazer
objetivo a participação sem regras, permitindo isso em grupo, demonstrando com isso sua
a manifestação igualitária por meio da grande dificuldade de aprender e de viver em
realização de programas de Arte com música, sociedade. O processo de ensino e
dança e expressão corporal, onde a Pessoa aprendizagem deve ser ressignificado de
Portadora de Necessidades Especiais sente acordo com a prática pedagógica do professor,
prazer no processo de aprendizagem. Segundo que deve abandonar os padrões de uma
Ferraz & Fusari: educação bancária e investir em atividades
A importância da Arte na formação de lúdicas que auxiliem no desenvolvimento
crianças, jovens e adultos, na educação geral e cognitivo das crianças com dificuldades, sejam
escolar, está ligada à: “função indispensável estas simplesmente relacionadas a distúrbios,
que a arte ocupa na vida das pessoas e na ou mesmo à metodologia utilizada em sala
sociedade desde os primórdios da civilização, o (MAFRA 2008, p. 16).
que o torna um dos fatores essenciais de A escola inclusiva não deve fazer distinção
humanização (FERRAZ & FUSARI,1993, p. 16). entre os alunos, todos os envolvidos no
Um sintoma, que cumpre uma função cotidiano escolar e fora dele possuem
positiva tão integrativa como o aprender, e que diferenças; cada ser tem seu ritmo corporal e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cognitivo, e merecem respeito para atuarem de abrir espaço para a cooperação, o diálogo, a
acordo com suas possibilidades. Somente com solidariedade, a criatividade e o espírito crítico,
uma visão humanitária e revolucionária é que tanto no ambiente escolar como na
poderemos participar de uma escola inclusiva comunidade na qual o aluno está inserido;
que ajudará a formar uma sociedade inclusiva valorizar e formar continuamente o professor;
(PACHECO, 2007, p. 15). desenvolver em todos os envolvidos com o
Porém, não podemos imputar aos processo de ensino e aprendizagem no
educadores a responsabilidade total e ambiente escolar habilidades para o exercício
generalizada em relação às mudanças da verdadeira cidadania. Para atender a todos
necessárias para o êxito educacional dos alunos de maneira satisfatória e significativa e atender
com necessidades especiais, mas sim podemos com igualdade, a escola tem a tarefa de mudar
reconhecê-los como incentivadores da seu trabalho em muitas frentes. Cada escola
instituição educacional em relação à busca de deverá encontrar suas próprias soluções,
políticas públicas educacionais vigentes que devido à diferença da sua clientela e de suas
beneficiem o aprendizado no ambiente escolar. dificuldades e problemas. Para Ferreira:
A escola emancipatória, para Paulo Freire: Na perspectiva da promoção da Educação
Não exclui nem hierarquiza sujeitos, porém, Inclusiva existem novos recursos e novos
busca incluí-los na medida em que todos são olhares sobre os recursos existentes, que é
oprimidos na sociedade de classe e todos se necessário desenvolver. Mas, por certo que o
libertam na luta pela superação das professor com todo o conjunto de
contradições das injustiças produzidas pela competências e experiências que tem é
produção e distribuição desigual de bens certamente o principal recurso em que a
materiais e simbólicos (FREIRE, 1987). Educação Inclusiva se pode apoiar (FERREIRA,
Segundo Oliveira (2004), para que haja uma 2006, p.57).
escola que atenda as crianças com Na educação, inclusive na educação especial
necessidades especiais, não importando quais podemos perceber que é necessário grande
sejam, se faz necessário que existam nesse envolvimento na luta por direitos na sociedade.
ambiente, profissionais preocupados em Entre as principais dificuldades encontradas no
diferenciar seus conhecimentos, intensificar processo de inclusão escolar nas escolas de
sua determinação, e aprimorar sua tomada de ensino regular podemos destacar: a dificuldade
decisão. Por meio do Projeto Político com a metodologia dos professores; a falta de
Pedagógico as escolas se tornam capazes de recursos e de infraestrutura; o número elevado
tomar algumas decisões importantes para que de alunos por sala de aula; a falta de
as mudanças necessárias se alinhem aos capacitação dos profissionais da educação para
propósitos da inclusão (OLIVEIRA, 2004, p. ensinar os alunos. A Educação Inclusiva
109). objetiva atender todos e quaisquer alunos que
Entre tais propósitos podemos estabelecer apresentem necessidades educativas especiais,
alguns como: garantir o tempo adequado para em salas de aulas regulares, do ensino regular
cada aluno desenvolver sua aprendizagem; básico, propiciando desenvolvimento social,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cognitivo e cultural de todos. O ensino inclusivo alimentar tanto quantitativa quanto qualitativa
e a educação especial são temas diferenciados, pode ocasionar em déficit alimentar crônico e
mesmo sendo uma complementar a outra que acarreta em distrofia generalizada,
(CARVALHO, 2004, p. 77). afetando sensivelmente a capacidade de
aprender. [...] essas perturbações podem ter
AUTONOMIA, como consequência problemas cognitivos mais
ou menos graves, mas não configuram por si
EMPODERAMENTO E INCLUSÃO sós um problema de aprendizagem. Se bem
Para Freire (1997), não há para mim, na não são a causa suficiente, aparecem, no
diferença e na “distância” entre a ingenuidade entanto, como causa necessária (PAIN, 1989, p.
e a criticidade, entre o saber de pura 29).
experiência feito e o que resulta dos Todo o ambiente de aprendizagem se
procedimentos metodicamente rigorosos, uma compõe de elementos de oposição e fatores
ruptura, mas uma superação. A superação e facilitadores. Relatar um problema ou
não a ruptura se dá na medida em que a obstáculo é fundamental ao professor de
curiosidade ingênua, sem deixar de ser aprendizagem. Nos registros que faz de cada
curiosidade, pelo contrário, continuando a ser contexto estarão as observações que
curiosidade, se criticiza, pois ao criticara-se, representarão pontos de melhoria. O exercício
tornando-se então, permito me repetir, dessa prática, porém, é terreno minado para
curiosidade epistemológica, metodicamente ele quando essa leitura é imprecisa, pois
“rigorizando-se” na sua aproximação ao objeto, desencadeará ações com alto risco, sendo
conota-se seus achados de maior exatidão imprecisas porque teriam sido coletadas com
(FREIRE, 1997, p.17). ferramentas igualmente imprecisas. Daí a
A prática de ensinar para Freire (2005): importância de atrelar a eficácia do processo à
A prática docente crítica, implicante do eficiência da coleta de dados a partir de
pensar certo, envolve o movimento dinâmico, metodologias apuradas – por sua vez, alheias à
dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. formação do profissional, e pertinentes a
[...] O que se precisa é possibilitar, que, esferas de conhecimento que ele não domina
voltando-se sobre si mesma, por meio da (FONSECA, 1995, p. 131).
reflexão sobre a prática, a curiosidade ingênua, Segundo Freire (1996), a necessária
percebendo-se como tal, se vá tornando crítica. promoção da ingenuidade a criticidade não
[...] A prática docente crítica, implicante do pode ou não deve ser feita a distância de uma
pensar certo, envolve o movimento dinâmico, rigorosa formação ética ao lado sempre da
dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer estética. Decência e boniteza de mãos dadas.
(FREIRE, 2005 p. 38). Cada vez me convenço mais de que, desperta
Os fatores ambientais interferem muito, com relação à possibilidade de enveredar-se no
como a questão da nutrição e da saúde da descaminho do puritanismo, a prática
criança, bem como a criança que não dorme educativa tem de ser, em si, um testemunho
muito bem, ou seja, o necessário. Uma carência rigoroso de decência e de pureza. Uma crítica

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permanente aos desvios fáceis com que somos professor-aluno, a necessidade de uma
tentados, as vezes ou quase sempre, a deixar adaptação curricular, entre outros. Alguns
dificuldades que os caminhos verdadeiros alunos vêm para a escola com diversas
podem nos colocar. Mulheres e homens, seres deficiências, com níveis de maturidade
histórico-sociais, nos tornamos capazes de desiguais ou inferiores ao que se espera em sua
comparar, de valorar, de intervir, de escolher, idade cronológica. Muitos trazem uma
de decidir, de romper, por tudo isso, nós bagagem cultural, social, intelectual,
fizemos seres éticos (FREIRE, 1996. p.18). neurológica muito defasada em relação aos
Segundo Garcia (1998), no quadro atual da seus companheiros, e isto se constitui em
educação, muitas crianças apresentam desvantagens cruciais para a aprendizagem da
dificuldades no aprendizado da leitura, escrita leitura, escrita e cálculo (OLIVEIRA, 2009, p.
e até mesmo na aprendizagem dos conceitos 120).
matemáticos, dificultando assim seu
rendimento escolar. Diante dessas AS PROBLEMÁTICAS QUE O
dificuldades, as crianças se deparam com o
fracasso passando a desenvolver diversos BULLYING ESCOLAR AFETA NA
problemas emocionais, passando a acreditar VIDA DO ESTUDANTE
que são incapazes de acompanhar o processo Caso os educadores e gestores escolares
de ensino e aprendizagem apresentado pelos fossem preparados para tais situações, muitas
professores que fazem parte do seu cotidiano. coisas poderiam ser evitadas ou nem mesmo
(GARCÍA, 1998, p. 33). acontecer. Há, portanto, a necessidade de que
Por vezes também, essas crianças visitam a escola tome atitudes preventivas, tentando
vários profissionais, de diferentes áreas para impedir que um “simples” ato de preconceito
passarem por avaliações que acreditam ser não se transforme em um assassinato em
suficientes para concluírem quanto à sua massa. Lopes Neto (2005) alega que: “outro
dificuldade no processo de ensino e grande desafio das escolas é a forma como os
aprendizagem. Muitos fatores podem professores e funcionários intervém
favorecer situações que desencadeiam as efetivamente sobre os atos de bullying. Além
dificuldades de aprendizagem: os fatores das dificuldades para a identificação, o pessoal
emocionais, os fatores físicos ou sensoriais, os pode falhar no uso de recursos apropriados
de deficiência na linguagem, a falta de para resolver os conflitos à medida que
estímulos apropriados para a aquisição da base surgem” (LOPES NETO, 2005, p.82).
alfabética, dislexia, entre outras. Segundo Os cursos de graduação devem focar sua
Oliveira: atenção na necessidade de prevenção à
Os problemas de aprendizagem surgem por violência. Para isso, devem oferecer aos futuros
meio de uma associação de causas. Quando a profissionais de educação os recursos
dificuldade de aprendizagem está relacionada à psicopedagógicos específicos que os habilitem
escola, o motivo pode ser a metodologia a uma atuação eficaz em seus locais de trabalho
utilizada, motivação escassa, relacionamento para que eles utilizem metodologias

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estimuladoras do diálogo como forma de A IMPORTÂNCIA DA


resolução de conflitos; que promovam a
solidariedade e a cooperação entre os alunos, AFETIVIDADE NO SISTEMA
criando com isso um ambiente emocional que EDUCACIONAL
incentive a aceitação e o respeito às diferenças Jean Piaget (1896-1980), estudioso
inerentes a cada indivíduo; que promovam a interacionista formado em Biologia e Filosofia,
tolerância nas relações interpessoais e dedicou-se a investigar a construção do
socioeducacionais (FANTE, 2005, p. 169). conhecimento. Estudou cuidadosamente a
Todo cuidado é pouco, pois se trata de uma forma pela qual as crianças construíam seus
realidade complexa e multidimensional. O conhecimentos lógicos, com a finalidade de
tema requer um conjunto de medidas, ações compreender a evolução e desenvolvimento do
integradas e de iniciativas articuladas conhecimento humano (DAVIS; OLIVEIRA,
implementadas de acordo com um plano. Não 1994).
há soluções mágicas, mas é possível avançar Ainda para Piaget, segundo Davis e Oliveira
muito na prevenção desses eventos e na (1994), para que aconteça uma nova
educação para convivência (ELIAS, 2011 p, 10). equilibração, dois fatores são necessários:
Incutir a culpa em alguém se torna algo assimilação e acomodação.
secundário, se nos atentarmos que o Dois mecanismos são acionados para
verdadeiro problema seria descobrirmos o que alcançar um novo estado de equilíbrio. O
fazer para mudar tal horizonte e como primeiro recebe o nome de assimilação. Por
fazermos com que nossas escolas passem a meio dele o organismo – sem alterar suas
serem vistas novamente como lugar seguro e estruturas – desenvolve ações destinadas a
que merece a confiança de todos. Para Fante atribuir significações, a partir da sua
(2005): experiência anterior, aos elementos do
Mas nem tudo é tão fácil assim. Temos em ambiente com os quais interage. O outro
muitas escolas alunos rebeldes que querem mecanismo, por meio do qual o organismo
aparecer, pois em casa são abandonados pelos tenta restabelecer um equilíbrio superior com
seus pais e na escola veem um lugar no qual o meio ambiente, é chamado de acomodação.
podem aparecer como fortes e temidos e, com Agora, entretanto, o organismo é impelido a se
isso, aterrorizam àqueles alunos comportados, modificar, a se transformar para ajustar às
que não gostam de participar de confusões e se demandas impostas pelo ambiente (DAVIS;
tornam alvos desses valentões. Por outro lado, OLIVEIRA, 1994, p. 38).
temos alunos que têm medo de denunciar as O desenvolvimento, portanto, é uma
agressões que sofrem, por sentirem que equilibração progressiva, uma passagem
podem ser os próximos alvos das agressões por contínua de um estado de menor equilíbrio
eles observadas Elias (2011). para um estado de equilíbrio superior. Assim do
ponto de vista da inteligência, é fácil se opor a
instabilidade e incoerência relativas das ideias

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infantis à sistematização de raciocínio adulto estágio anterior a esta perturbação (PIAGET,


(PIAGET, 2007, p. 13). 2007, p.16).
O funcionamento psicológico das crianças é
diferente dos adultos, por isso Piaget
investigou sobre como, por meio de quais
mecanismos, a lógica das crianças se
transforma na lógica do adulto (DAVIS;
OLIVEIRA, 1994).
o desenvolvimento mental é uma
construção contínua, comparável à edificação
de um grande prédio que, à medida que se
acrescenta algo, ficará mais sólido, ou à
montagem de um mecanismo delicado, cujas
fases gradativas de ajustamento conduziram a
uma flexibilidade e uma mobilidade das peças
tanto maiores quanto mais estáveis se
tornassem o equilíbrio. Mas, é preciso
introduzir um importante diferença entre esses
dois aspectos complementares deste processo
de equilibração. Devem-se opor, desde logo, as
estruturas variáveis – definindo as formas ou
estados sucessivos de equilíbrio – a um certo
funcionamento constante que assegura a
passagem de qualquer estado para o nível
seguinte (PIAGET, 2007, p. 14). As crianças
possuem características físicas diferenciadas,
sua cidade ou local também podem ser
distintos, mesmo assim elas possuem
características universais como a maneira
como nascem, a fragilidade e desenvolvimento.
Sendo assim, o próprio Piaget (2007) ,relata
que:
A cada instante, pode-se dizer que a ação é
desequilibrada pelas transformações que
aparecem no mundo, exterior ou interior, e a
cada nova conduta vai funcionar não só para
restabelecer o equilíbrio, como também para
tender a um equilíbrio mais estável que o do

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma importante Resolução presente nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica, Resolução CNE/ CEB nº 2/2001, em seu artigo 2º, determina que:
Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizarem-
se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as
condições necessárias para uma educação de qualidade para todos (BRASIL, 2001, p.1).
Diante disso, o mais importante é que os alunos sejam orientados para a realização de
atividades de leitura, que despertem o seu senso crítico e principalmente desperte o gosto e
estimule o hábito da leitura uma vez que formar um leitor crítico requer uma prática constante
de leitura crítica:
A reflexão sobre a prática não resolve tudo, a experiência refletida não resolve tudo. São
necessárias estratégias, procedimentos, modos de fazer, além de uma sólida cultura geral, que
ajudam a melhor realizar o trabalho e melhorar a capacidade reflexiva sobre o que e como mudar
(LIBÂNEO, 2005, p. 76).
Portanto, formar o leitor crítico é uma necessidade de se construir cidadãos também
críticos, para lutarem por seus espaços na sociedade e no mercado de trabalho, sendo autônomos
e realizando seus ofícios com eficiência. Conclui-se depois de analisar e verificar a constituição,
que à gestão democrática, nos estabelecimentos públicos, foi objeto de grande discussão durante
a formulação da Constituição Federal de 1988, pois vem sendo inserida e regulamentada em infra
legislações, em que se indica que deve ser feita pela participação da comunidade escolar na
gestão da escola, por meio dos Colegiados Escolares e Instituições Auxiliares.
A escola inclusiva deve possibilitar a entrada e a permanência de todas as crianças,
inclusive aquelas com necessidades especiais, pois todas têm direito à Educação no ensino básico
e regular. Espera-se que a criança com deficiência, que passa a conviver no ambiente escolar
deixe de ser discriminada e passe a ser acolhida, contribuindo assim para a construção de um
espaço inclusivo e democrático na Unidade Escolar a qual faz parte.
A escola inclusiva tem o dever de atender a todos os educandos, independentemente de
suas diferenças ou limitações, atendendo a cada um de acordo com suas potencialidades e
necessidades. A educação inclusiva tem como fundamento principal a valorização da diversidade
de cada indivíduo. O processo de inclusão busca o rompimento com os preconceitos sociais e a
manutenção de uma sociedade mais justa, mais segura, que possibilite uma interação social
significativa e de qualidade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Temas em psicologia. São Paulo: Memnon, 1979.

DAVIS, Cláudia; OLIVEIRA, Zilma de Morais Ramos. Psicologia na educação. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 1994.

ELIAS, Maria Auxiliadora. Violência escolar: caminhos para compreender e enfrentar o


problema. São Paulo: Ática Educadores, 2011.

FANTE, Cléo. BULLYING NO AMBIENTE ESCOLAR. Disponível em. Acesso em 14 JAN de


2022.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

GARCIA, J.N. Manual de dificuldades de aprendizagem, leitura, escrita e matemática. Porto


Alegre: Artes Médicas, 1998.

LOPES NETO, Aramis Antonio. Bullying: saber identificar e como prevenir. São Paulo:
Brasiliense, 2011.

MELO, L. L; VALLE, M. O Brinquedo e o brincar no desenvolvimento infantil. Psicologia


Argumento. USP, São Paulo, 2005.

OLIVEIRA, A. A. S.; LEITE, L. P. Escola inclusiva e as necessidades educacionais especiais.

OLIVEIRA, D. E. M. B.; ROCHA, M. S.; FIGUEIROL, M. M. T. Ressignificando o contexto


escolar para a construção de alternativas que atendam a alunos com dificuldades de
aprendizagem. In: MARQUEZINE, M. C. et al. (Org.). Inclusão. Londrina, PR: EDUEL, 2003.

PAÍN, S. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. 4ª ed. Porto Alegre,


RS: Artmed, 1992.

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA ARTE NA EDUCAÇÃO


INFANTIL
Thaisa Menezes Branco1

RESUMO: O presente estudo busca analisar a importância da Arte na Escola da Educação Infantil,
de modo que possibilite aos professores um olhar diferenciado para suas atividades aplicadas em
sala de aula. A arte não está limitada a uma única disciplina, abrangendo todas as demais áreas e
englobando toda à área cognitiva, social e psicológica das crianças, o que propicia uma visão mais
crítica e perceptiva diante da realidade que as cercam. Sob essa visão, o olhar do professor deve
ser criativo e buscar sempre uma formação voltada para a cultura que é um direito de todo
cidadão. Neste trabalho propõe-se investigar sobre a importância dos professores promoverem
as atividades artísticas como favorecimento para a relação do educando na escola, na
comunidade e em sua vivência do dia-a-dia. Busca-se também identificar de que forma essas
ações contribuem para um olhar diferenciado do aluno em relação a Arte.

Palavras-Chave: Arte; Professor; Visão crítica; Educação Infantil.

1Professora de Educação Básica na Rede Municipal de Diadema e Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Artes e Musicalidade; Especialização em Educação
Especial e Inclusiva.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF ART IN CHILD EDUCATION


ABSTRACT: The present study seeks to analyze the importance of Art in the School of Early
Childhood Education, so that it allows teachers to have a different look at their activities applied
in the classroom. Art is not limited to a single discipline, covering all other areas and
encompassing the entire cognitive, social and psychological area of children, which provides a
more critical and perceptive view of the reality that surrounds them. Under this view, the
teacher's perspective must be creative and always seek training focused on culture, which is a
right of every citizen. This work proposes to investigate the importance of teachers promoting
artistic activities as a favor for the student's relationship at school, in the community and in their
day-to-day experience. It is also sought to identify how these actions contribute to a different
view of the student in relation to Art.

Keywords: Art; Teacher; Critical view; Child education.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO principalmente nas escolhas e no


encaminhamento de situações de sala de aula
O cotidiano da escola de Educação Infantil é que envolvam as linguagens artísticas.
permeado por práticas expressivas com Dessa forma, esse estudo traz à tona
linguagens artísticas. Essas linguagens são algumas indagações ao qual se propõe refletir,
instrumentos de comunicação usuais na ação tais como: Qual é a real finalidade do ensino de
da criança sobre o mundo e no fazer Artes na educação infantil? A livre expressão e
pedagógico do professor. Os professores, para o “deixar fazer” são caminhos suficientes para
atender às demandas de comunicação com as o desenvolvimento do pensamento artístico da
crianças, fazem usos das linguagens artísticas criança?
voltadas para os mais variados objetivos. No Tais questões nos remetem ao
entanto, mesmo fazendo parte do dia-a-dia as aprofundamento sobre o tema, ou seja, se faz
linguagens artísticas são, na maioria dos casos, necessário conhecer o papel primordial da
articuladas pelo professor intuitivamente e/ou Educação em Arte no ensino infantil
inconscientemente como algo já incorporado envolvendo os aspectos reflexivos, sensíveis,
ao trabalho e sobre o qual não é necessário expressivos e culturais.
refletir.
Os cursos de formação para professores
contribuem para que as linguagens artísticas A ARTE NA EDUCAÇÃO
sejam concebidas apenas como instrumentos, INFANTIL
pois em sua maioria não atribuem a Arte o A criança revela, por meio do seu modo de
mesmo tratamento que atribuem às demais pensar, agir e interagir com os outros, a sua
áreas, isto é, não vêem na Arte uma área de capacidade imensa de buscar, de explorar, de
conhecimento que possui peculiaridades que criar e aprender. A criança é um ser curioso e
poderiam ser o foco das reflexões e articulação apto a explorar sempre. Neste sentido, no
de situações de ensino por professores. contexto escolar, ela precisa vivenciar
A falta de formação faz com que esses situações que estimulem e despertem ainda
professores atuem movidos pela concepção da mais a sua curiosidade, para que possa revelar
Arte e do seu ensino, construída ao longo de as suas características, externar as suas
suas histórias pessoais. E como, dificuldades, os seus sentimentos e os seus
historicamente, a maioria dos professores foi talentos e expressões próprias.
privada do acesso ao repertório cultural da A arte tem um papel importante no processo
Arte, tanto na vivência de sua expressividade de educação da criança por incorporar
em atos artísticos quanto na possibilidade de sentidos, valores, expressão, movimento,
refletir sobre seus conteúdos na escola, isso linguagem e conhecimento de mundo, em seu
gerou uma falta de consciência sobre os aprendizado. A arte é uma linguagem que se
sentidos que esses conteúdos e vivências manifesta de várias formas, ou seja, pela dança,
artísticas podem assumir na escola. Essa falta música, pinturas, esculturas, teatro, entre
reflete-se nas ações dos professores, outras; em todas as suas formas, sejam elas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dinâmicas ou estáticas, a arte sempre expressa do interlocutor que deseja compreender as


ideias e sentimentos, isto é, sempre tem algo a condições sociais nas quais ela foi produzida.
dizer. Aprender Arte, nesse sentido, envolve fazer
Para Gullar (2006), o mundo que o artista trabalhos artísticos, apreciar e refletir sobre
cria parte das suas experiências, daquilo que eles. Envolve, também, conhecer, apreciar e
ele consegue enxergar no mundo, na sua refletir sobre as formas da natureza e
cultura. Sendo assim, a arte parte sempre de produções artísticas individuais e coletivas de
dentro do indivíduo, trazendo uma bagagem de distintas culturas e épocas, desenvolvendo
sentimentos, interesses, valores e progressivamente um percurso de criação
conhecimentos. Como não considerar pessoal cultivado.
importante, para o desenvolvimento Ensinar arte, em consonância com os modos
educacional e social de crianças, este resgate de aprendizagem do aluno, significa não isolar
do interior do ser humano viabilizado pela a escola da informação sobre a produção
arte? histórica e social da Arte e, ao mesmo tempo,
garantir aos alunos a oportunidade de edificar
• PCN e RCNEI: Diretrizes curriculares em propostas artísticas pessoais ou grupais com
Artes base em intenções próprias. (BRASIL, 1997,
Nos PCNs, a Arte é caracterizada como p.47).
conhecimento que propicia o desenvolvimento Nesse sentido, ensinar Arte significa,
do pensamento artístico e da percepção também, organizar situações de ensino-
estética, constituindo-se, assim, num modo aprendizagem adequadas a cada grupo-classe,
particular de pensar e dar sentido à experiência observando os aspectos de desenvolvimento
humana. cognitivo e as vivências já construídas pelo
Na interação com esse conhecimento, o grupo.
aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a ... para desenvolver bem suas aulas, o
reflexão e a imaginação, pois ―a Arte solicita a professor que está trabalhando com arte
visão, a escuta e os demais sentidos para a precisa conhecer as noções dos fazeres
compreensão mais significativa das questões artísticos e estéticos dos estudantes e verificar
sociais e é a forma de comunicação que atinge em que medida pode auxiliar na diversificação
o interlocutor por meio de uma síntese na sensível e cognitiva dos mesmos. Nessa
explicação dos fatos. (BRASIL, 1997, p.39). A concepção, sequenciar atividades pedagógicas
imagem ou som, apreendidos pelos sentidos, que ajudem ao aluno a aprender a ver, olhar,
são ressignificados por quem os apreende. ouvir, pegar, sentir e comparar os elementos da
Nesse ato de ressignificar, a pessoa atribui natureza e as diferentes obras artísticas e
sentidos de acordo com o conhecimento estéticas do mundo cultural, deve contribuir
cultural que construiu anteriormente, a para o aperfeiçoamento do aluno (FERRAZ &
respeito do que vê ou escuta. A obra de Arte FUSARI, 1994, p.21)
traz em si uma gama de significados
socioculturais, os quais emergem na presença

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O Referencial Curricular para Educação espontâneo com a expressão musical desde os


Infantil (1998), trata a Arte como uma das primeiros anos de vida, para, a partir dele,
formas de linguagem e de contato com objetos propor as situações de musicalização. A
de conhecimento importantes no organização dos conteúdos deverá respeitar o
desenvolvimento das capacidades de nível de percepção e desenvolvimento, bem
expressão e comunicação das crianças. Essa como as diferenças culturais entre os grupos de
área é colocada no Documento crianças das muitas regiões do país. O fazer
―Conhecimento de Mundo, tendo como eixos musical é a forma de expressão e comunicação
de trabalho ―Artes Visuais e Música. que acontece por meio da improvisação, da
Até o terceiro ano de vida, as crianças composição e da interpretação. A apreciação
exploram qualquer tipo de som, e, para musical refere-se à audição e interação com
produzi-los, em suas primeiras tentativas, músicas diversas.
batem ou sacodem objetos; ao ouvir os Conforme o RCNEI (1998), as atividades
diferentes ruídos que acaba por produzir musicais direcionadas às crianças de 0 a 3 anos
começa a conhecê-los e a identificá-los. Nesta devem objetivar a audição de diferentes tipos
fase, elas conseguem integrar gestos, som e musicais, visando ao desenvolvimento da
movimentos, momento em que se pode percepção, da discriminação dos sons, da
trabalhar atividades que exijam o envolvimento imitação e reprodução de sons e da invenção e
do canto, com a dança ou com gestos, por criação de enredos musicais. Já em relação às
exemplo, o que favorece a expressão e o crianças de 4 a 6 anos, pretende-se que
desenvolvimento motor e cognitivo. explorem e identifiquem elementos da música
A música é a linguagem que se traduz em para que se expressem, interajam e ampliem
formas sonoras, podendo expressar e seu conhecimento de mundo, por meio da
comunicar sensações, sentimentos e improvisação, interpretação e até composição
pensamentos. Está presente em todas as de enredos musicais. Os conteúdos dentro da
culturas, nas mais diversas situações: festas e educação infantil em relação à música devem
comemorações, rituais religiosos, respeitar os níveis de percepção e
manifestações cívicas e políticas, entre outros. desenvolvimento das crianças.
Desde a Grécia antiga que ela já fazia parte da Para Ávila e Silva (2003), as atividades com
educação, ao lado da Matemática e da música favorecem o trabalho de socialização,
Filosofia, sendo considerada fundamental na pois as crianças terão que cantar, de forma
formação dos futuros cidadãos. coletiva, interagindo com o outro nas de
Na Educação Infantil, a música mantém forte cantigas de roda. Elas estarão exercitando
ligação com o brincar. Os jogos e brinquedos textos e ordenando pensamentos com as letras
musicais da cultura incluem os acalantos, as das músicas. Essa interação possibilitada pela
parlendas, as cantigas de roda, os romances, expressão musical coletiva facilita e estimula
entre outros. O trabalho com música deve relações de amizade.
considerar o universo sonoro da criança, A representação cênica e a dança estão
construído em seu contato intuitivo e colocadas no eixo movimento, que tem como

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

enfoque principal o brincar, não estando dessa tempo, ou então, como um momento de lazer
forma colocados como linguagens que têm um para as crianças, devido ao conceito criado pela
referencial de área de conhecimento. sociedade de que a arte não é importante, mas
O documento não trata da recepção das somente uma forma de distração e lazer para
crianças às produções em teatro e dança, as pessoas. Neste sentido, a RCNEI (1998),
embora essas, do mesmo modo que as lembra que:
produções em artes visuais, possam ser A presença das artes visuais na educação
trazidas às crianças e observadas como uma infantil, ao longo da história, tem demonstrado
construção social. um descompasso entre os caminhos apontados
Nesse sentido, o tratamento atribuído às pela produção teórica e prática pedagógica
artes cênicas e à dança, nos documentos existente. Em muitas propostas as práticas de
curriculares para Educação Infantil, restringem- artes são entendidas apenas como meros
nas ao âmbito do fazer da criança no momento passatempos. Em que atividades de desenhar,
em que ela dança e/ou dramatiza. O colar, pintar e modelar com argila ou massinha
documento não trata do acesso a estas outras são destituídas de significados. Outra prática
representações artísticas em suas corrente considera que o trabalho deve ter
especificidades. uma conotação decorativa, servindo para
Outro eixo do RCNEI (1998), fundamental é o ilustrar temas de datas comemorativas,
que trata das Artes Visuais. As artes visuais enfeitar as paredes com motivos para os pais,
compreendem a pintura, a escultura, o etc. Nessa situação é comum que os adultos
desenho, a fotografia etc. Atualmente, elas são façam grande parte do trabalho, uma vez que
muito presentes na educação infantil, porém, não consideram que a criança tem
muitas vezes, não são exploradas as competência para elaborar um produto
verdadeiras contribuições que elas podem adequado (RCNEI, 1998, p. 87).
trazer para o desenvolvimento da criança nesta Com essa visão errônea da arte na educação
fase. infantil, desvaloriza-se o fazer da criança, não
Artes Visuais é colocada com características dando importância à capacidade que ela tem
próprias, que podem ser abordadas de criar. Desse modo, para que as artes visuais
articulando-se o fazer artístico, a apreciação e propiciem suas reais contribuições, é
a reflexão. A apreciação, o fazer e a reflexão são necessário que as atividades sejam
formas de aproximação das crianças à Arte espontâneas, ativem a criatividade e valorizem
como expressão e como objeto da cultura. a auto-expressão. Um trabalho assim irá
Os trabalhos realizados com recursos das integrar o pensamento, o sensibilidade, a
artes visuais, nas instituições de educação imaginação, a percepção, a intuição e a
infantil, geralmente, enfatizam apenas as datas cognição favorecendo o desenvolvimento de
comemorativas, com a produção de criatividade na criança.
lembranças paras as mães e para os pais, A construção da capacidade de criação na
cartões de Natal, Páscoa, entre outras, sendo infância é uma forma da criança manifestar a
considerados muitas vezes para passar o sua compreensão da realidade que o cerca, de

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exercitar sua inteligência ao criar, alterar, Já na fase de 4 a 6 anos, as atividades


organizar e reorganizar elementos plásticos, é artísticas devem: contribuir para a ampliação
uma construção do ser humano. Na sua do conhecimento por meio da oportunidade de
interação com o mundo, ela vivencia inúmeros contato com obras de arte, o que propicia o
contatos com experiências estéticas que interesse pelas mesmas; conhecer-se a si
envolvem ideias, valores e sentimentos, mesmo por meio de produções próprias;
experiências estas que envolvem o sentir e desenvolver o gosto, o cuidado e o respeito
também o pensar e o interpretar. Portanto a pelo processo de criação própria e pelo de
linguagem visual faz parte da formação integral outras pessoas.
do indivíduo e não pode ser desconsiderada no
contexto da educação infantil (MORENO, 2007, A CONSTRUÇÃO DO
p.44).
No processo de criação, a criança faz CONHECIMENTO
escolhas, envolvendo suas experiências Para se compreender como as artes, em suas
pessoais, ou seja, ao criar, ela relaciona o que diversas formas, contribuem para a construção
aprendeu, em sua interação com as pessoas, do conhecimento humano, é necessário
com a natureza e com o mundo. Neste investigar o que é e como se dá a construção do
processo, segundo Duarte Jr. (1985), o conhecimento.
educando elabora os seus próprios sentidos em Segundo Moreno (2001), para se
relação ao mundo. Luna e Bisca, ao comentar a compreender o que é o conhecimento, é
utilização de atividades artísticas no âmbito possível apoiar-se em variadas perspectivas,
escolar, ressaltam que: entre elas: a filosófica, a psicológica e a
Valorizada como área de conhecimento, é histórica. Conforme Sousa apud Moreno
também na arte que encontramos a liberdade (2001), a perspectiva filosófica entende que o
para sentir e pensar criativamente nossa conhecimento é o resultado da apropriação,
história, nossos laços afetivos e cognitivos, pelo homem, de dados empíricos e de ideias,
concretizando em formas e cores os na busca de entendimento da realidade.
sentimentos, as emoções e as conquistas Na perspectiva de Piaget (1980), o
(LUNA e BISCA, 2003, p. 129). conhecimento configura-se como uma
Em síntese, de acordo com o RCNEI (1998), a construção contínua de mediação entre o
aprendizagem com base em atividades sujeito e o objeto, ou seja, entre o meio físico e
artísticas, na educação infantil, deve garantir o social. Nessa ação, o indivíduo constrói novas
oportunidades para que as crianças de 0 a 3 estruturas mentais, estabelecendo condições e
anos ampliem seus conhecimentos na capacidades próprias de conhecer.
manipulação de diversos objetos e materiais, Sendo assim, o indivíduo não aprende como
de forma que explorem suas características e se ele fosse um depósito de informações. No
propriedades, integrando, neste processo processo de construção de conhecimento, o
ativo, a comunicação e a expressão da criança. indivíduo é sujeito ativo, só vai aprender

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

significativamente se houver uma interação o mundo e agir nele vai se formulando ao longo
com o objeto. de sua vida, a partir daquilo que o indivíduo
Com base na teoria piagetiana, o indivíduo évivencia no dia-a-dia, no meio em que está
sujeito do processo de construção do seu inserido. Conforme Severino:
conhecimento e esse processo só é possível Está definitivamente superada a ideia
mediante a sua ação. É importante ressaltar metafísica de que o nosso modo de ser se
que um trabalho artístico sempre carrega a definiria por uma essência, entendida esta
marca do seu criador, ou seja, traz embutida, como um conjunto de características fixas e
em si, a ação do sujeito que a criou, que é fruto
permanentes, ideia consagrada pelos filósofos
de sua interação com o meio e com o próprio antigos e medievais quando afirmavam que o
objeto criado. Nesse processo, o indivíduo é agir decorre do ser... Mas justamente aqueles
capaz de construir o entendimento de novos aspectos pelos quais somos especificamente
conceitos referentes a materiais e a técnicas humanos são aspectos que não estão dados a
utilizadas, o que se dá nas artes plásticas, napriori, eles são construídos graças a nossa
dança, no teatro, na música, e na produção de prática (SEVERINO, 2006,p.46).
poesias. As Artes constituem atividades pelas A educação exerce um papel primordial no
quais o indivíduo é despertado para a desenvolvimento da personalidade dos
criatividade, a qual se acentua com a prática. indivíduos. Por essa afirmação, é fácil perceber
Para Mitjáns Martinez (2000, p. 54), que o futuro de um aluno que é instigado, que
“criatividade é o processo de descoberta ou desenvolve a criatividade e o pensamento
produção de algo novo, que cumpre exigências crítico, tem perspectivas melhores de inserção
de uma determinada situação social, processo na sociedade, pela possibilidade de
que, além disso, tem um caráter conscientizar-se do seu lugar de cidadão.
personológico”, ou seja, carrega aspectos da A realidade atual apresenta-se, muitas
personalidade. vezes, violenta e hostil, carregada de
O ato criativo é um processo que sempre trazdesumanidade e destruição, e todos, crianças e
algo da pessoa que o executa. Uma pintura, por adultos, tornam-se vulneráveis este contexto.
exemplo, por mais que uma pessoa tente fazê- Kramer (2003), reflete sobre essa realidade,
la igual a uma outra, nunca o será, sempre entendendo-a como uma barbárie e defende
apresentará algo diferente. Como processo de que, para a superação da mesma, a educação
criação do novo, a arte favorece a superação, deve se dar numa perspectiva que conduza os
do que é igual, da reprodução, favorece o educandos para uma humanização, de modo
desenvolvimento de uma aprendizagem mais que se estabeleçam experiências de
significativa e criativa. socialização, de trabalho coletivo e de
valorização de si e do outro. É preciso formar o
• Por que arte na educação? homem para que ele seja capaz de ler e
O homem constrói suas concepções, seus escrever o mundo em que vive, isto é, para que
valores e suas crenças, a partir de suas ele tenha condições de analisar a realidade e,
experiências, de suas ações. O seu modo de ver assim, criar estratégias para modificá-la no que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

for preciso, de modo que o mundo se torne um processe sem entraves, e a integração social
espaço de partilhamento de cultura e de sem dificuldades (BESSA, 1972, p. 13).
construção da paz. A livre expressão é um meio pelo qual se
Segundo Kramer (2003), a cultura é uma revela a essência da personalidade, pois
junção de tradições, costumes, valores, história subentende exteriorização e representação.
e experiências que se manifestam por meio das Apesar da espontaneidade quase sempre
danças, das roupas, da música, das festas etc. A presente na criança, a realidade social e
autora entende que a criança precisa conhecer material não possibilitam que a mesma
e vivenciar a cultura na qual está inserida, para, expresse as suas realidades subjetivas. Por
a partir daí, poder fazer parte da construção meio da pintura, desenho, esculturas e outras
cultural, que é dinâmica e, assim, está em formas de artes plásticas realizam-se desejos,
constante transformação. As artes partem das satisfazem-se necessidades e se afirma o Eu, ou
manifestações culturais, desse modo, é seja, a pessoa se revela para si mesma. Assim,
importante que as crianças as vivenciem e ao exercitar a expressão livre, a criança libera
produzam, pois, assim, podem reconhecer-se sua subjetividade e se conhece cada vez mais.
como também produtoras dessa cultura. Para Alencar (1990), existem fatores que
Porém, para tanto, é necessário que a funcionam como repressão ao potencial
criança tenha oportunidades de desenvolver a criador, fatores estes que contribuem para a
criatividade e a expressão livre, e que, neste construção de uma visão limitada dos próprios
processo, ela possa se conhecer e conhecer os talentos e potencialidades, dentre as quais, o
outros, formando-se integralmente. As artes, medo da crítica e a ideia de que o talento está
em todas as suas modalidades, exploram, presente em poucos indivíduos. Segundo a
inevitavelmente, a expressão, a criatividade, a autora, é a sociedade que inculca esses medos,
imaginação, a intuição e a sensibilidade de uma por meio das crenças e valores estabelecidos,
pessoa. As artes plásticas assumem um papel que são repassados, muitas vezes, e que, de
de grande relevância para o processo de forma gradual, atingem as crianças, por meio
aprendizagem e socialização da criança. Nesse das proibições e repreensões exercidas pelos
sentido, Bessa ressalta que: adultos.
Quando a criança pinta, desenha, modela ou São estas barreiras emocionais e culturais
constrói regularmente, a evolução se acelera. que inviabilizam a visão da arte como criação e
Ela pode atingir um grau de maturidade de não reprodução. Dentre as barreiras
expressão que ultrapassa a medida comum. emocionais, a apatia, a insegurança, o medo,
Por outro lado, a criação artística traz a marca sentimentos de inferioridade e o autoconceito
de uma individualidade, provoca libertação de negativo, inibem uma forma de pensar mais
tensões e energias, instaura uma disciplina inovadora e criadora.
formativa, interna de pensamento e de ação Alencar (1990), define o autoconceito como
que favorece a manutenção do equilíbrio tão a imagem subjetiva que cada um possui de si
necessário para que a aprendizagem se mesmo. O autoconceito constitui fator
determinante daquilo que se é e caracteriza-se

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

por facetas que podem ser mais positivas ou formação do professor, pois, assim como todo
mais negativas, como exemplo: “Eu sou uma cidadão, ele tem direito de vivenciar
pessoa habilidosa, mas sou uma pessoa muito conhecimentos múltiplos da sua e de outras
tímida”. Este exemplo apresenta características culturas. Conforme os autores, é preciso
positivas e negativas da personalidade de uma enfatizar que muito mais necessário se torna o
pessoa, porém, existem pessoas que possuem contato com experiências desta natureza para
um autoconceito totalmente negativo. o profissional que estará envolvido
Em relação a essas barreiras emocionais, é diretamente com cidadãos que estão em
possível efetuar mudanças, e o professor tem processo inicial de construção cognitiva,
um papel importante no sentido de propiciar as afetiva, social, física e cultural. É comum muitas
condições favoráveis para o desenvolvimento pessoas relatarem que não sabem ou não
de habilidades e talentos dos alunos. Não gostam de desenhar, que não sabem produzir
desconsiderando as diversas atividades pelas trabalhos artísticos. Muitas vezes, o que
quais se pode realizar tal estímulo, é produziram quando ainda eram crianças,
importante salientar que as artes possibilitam o parecia não agradar os outros. Ao se analisar as
reforço de estímulos positivos para a razões possíveis para isso, pode-se chegar à
construção de um autoconceito que valorize conclusão de que não se trata o desenho e as
muito mais as habilidades do que as pinturas como atividades que podem ser
dificuldades, contribuindo, desse modo, para a aprendidas por meio da cultura, mas de
elevação da autoestima dos alunos. atividades construídas essencialmente por
A educação não se limita à estruturação e à dons inatos (GUIMARÃES; NUNES e LEITE,
apropriação de conhecimentos técnicos, 1999).
históricos, matemáticos, geográficos, entre A escola tem a sua parcela de
muitos outros tão necessários para a formação responsabilidade na formação humana, na
humana, mas compreende também o objetivo construção sensível do olhar sobre o pensar e
de humanizar, de favorecer o crescimento do olhar sobre o mundo. A escola não é
intelectual, emocional/afetivo e cultural da somente espaço para se aprender a ler,
criança, no sentido de que esta possa escrever e fazer contas e deve ir além do que é
incorporar valores como solidariedade, imediatamente utilizável. Assim, é preciso que
inquietude e desejo de mudança, sensibilidade, a escola se comprometa com a sensibilização
sentido e vida. das crianças, ou seja, que oportunize
experiências novas de descobertas e que
A ARTE E A FORMAÇÃO DO possibilite a expressividade do aluno,
permitindo que ele conheça a si mesmo e olhe
PROFESSOR para aquilo que o cerca com curiosidade e
Segundo Guimarães, Nunes e Leite (1999), sentimento.
experiências com artes plásticas, teatro, dança, No entanto, isso só será possível no espaço
música, fotografia, cinema, literatura, entre escolar, se os seus educadores também
outras, não podem estar desvinculadas da passarem por esse processo, pois “o caminho

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

da maturidade parece afastá- los do ser poético Ao desenvolver o gosto pela arte, além de
– precisam ser sensibilizados para que possam apurar a sua sensibilidade, o professor entrará
resgatar em si, o ser da poesia, o olhar sensível, em contato com diferentes obras e conhecerá
a expressividade, o potencial criador” (DIAS, o material utilizado para a criação das mesmas,
1999, p. 178). o contexto histórico, político e social no qual
Esse processo de enriquecimento estético foram produzidas e a vida dos artistas que as
deveria se dar também na formação inicial do produziram. Assim, é possível que o professor
professor, porém, os vários saberes que se forme e se construa culturalmente para uma
compõem os currículos de formação do atuação que integre, no seu cotidiano com os
docente acabam por impedir a inclusão de alunos, um envolvimento maior com o
conhecimentos relacionados às artes, patrimônio cultural, com a criação, com a
entretanto, nada justifica esta ausência. Para expressão, com o olhar curioso e sensível,
preencher essa lacuna em sua formação, o enfim com a liberdade.
professor pode buscar tais conhecimentos de
forma independente ou coletivamente. Dias
(1999, p. 179), comenta que essa busca pode
ser pessoal ou em grupos de professores e que
“os encontros devem ser realizados na própria
instituição, sendo previstos também, visitas a
museus, galerias de arte, ateliês e passeios pela
cidade”.
Dessa forma, o professor estará ampliando
seu entendimento sobre as diversas formas de
arte, sensibilizando assim o seu olhar estético,
permitindo-se novas experiências e
potencializando a sua criação. Dias ressalta
ainda que:
É preciso criar em nossos educadores o gosto
pelo belo, pela arte, estimulando-os a
frequentar museus, galerias de arte, centros
culturais, espetáculos de música e dança. Dessa
maneira estaremos contribuindo para a
democratização do conhecimento e para a
formação pessoal do educador que
consequentemente, repercutirá na relação
estabelecida por ele com seus alunos na
qualidade do trabalho pedagógico por ele
desenvolvido (DIAS, 1999, p. 188, 189).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das indagações a que se propôs esse tema, os estudos revelam que o trabalho com
Artes na Educação Infantil é de suma importância para o desenvolvimento da criança, pois é por
meio da Arte que esta amplia suas possibilidades de representação e conhecimento do mundo.
Essa afirmação por si só não é o suficiente para justificar a importância da Arte, havendo a
necessidade de entender sobre o processo de construção do conhecimento ao qual o professor
tem um papel importantíssimo, ou seja, faz a mediação nessa trajetória.
E nesse sentido, há de considerar as possibilidades das crianças, incentivando-as,
estimulando-as e oportunizando a exploração das quatro linguagens artísticas (artes visuais,
dança, música e teatro) como forma do aluno se expressar significativamente e não apenas as
visuais, como ocorre na maioria das vezes.
Considera-se que, a arte é importante para a criança, pois enquanto cria, desenha, canta,
dança ou representa uma cena ela é livre para expressar suas ideias e seus sentimentos,
aprendendo a ouvir, ver e a sentir.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação . Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais: arte. Terceiro e quarto ciclos. Brasília: MEC/SEF,1998.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Ministério da Educação e do


Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. v 3. Conhecimento de Mundo. Brasília:
MEC/SEF, 1998.

DIAS, Karina Sperle (1999). Formação estética: em busca do olhar sensível. In: KRAMER,
Sonia (org.). Infância e Educação Infantil. São Paulo: Papirus.

FUSARI, M. F. R.; FERRAZ, M. H. C.T. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 2009.

GOULART, Ana Lúcia Faria; SILVEIRA, Mariana Palhares (Orgs.). Educação infantil pós -
LDB: rumos e desafios. Campinas: Autores Associados, 1999.

GUERRA, Damiana; SANTOS, Rutilene, SOUZA, Judite. Relato da prática.

GUIMARAES, D.; NUNES, M. F.; LEITE, M. I. História, cultura e expressão: fundamentos na


formação do professor. In KRAMER, S.; LEITE, M. I; GUIMARAES, D.; NUNES, M. F. Infância
e educação infantil. 2. ed. Campinas: Papirus, 1999.

PIAGET, Jean e INHELDER, Bärbel. A psicologia da criança. Tradução de Octavio Mendes


Cajado São Paulo: Perspectiva, 1986.

SEVERINO, Antônio Joaquim, Filosofia. São Paulo, Cortez, 1994.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA
APRENDIZAGEM
Renato Ilton da Silva Aragão1

RESUMO: O objetivo desse artigo é mostrar que a família é primordial no processo de


aprendizagem da criança, pois o processo educativo não é só de responsabilidade da escola, ele
é dever da família, da escola e do Estado, como consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional nº 9.394/96 de 20 de dezembro de 1996. Buscou-se com essa pesquisa uma abordagem
sobre a integração da escola com a família no processo pedagógico, pois os pais precisam
participar da vida escolar de seus filhos de forma mais responsável, encorajando essas crianças
para que tenham mais iniciativa e percebam que a escola é um lugar no qual elas vão em busca
de conhecimentos que levarão para a vida toda. Para isso estudou-se autores como: Parolin
(2007); Osório (1996); Roudinesco (2003); Tiba (1996), entre outros que abordam o tema sobre a
importância da participação da família na vida escolar de seus filhos.

Palavras-Chave: Educação; Família; Escola; Sociedade.

1Professor de Ensino Fundamental.


Graduação: Pedagogia Instituto Superior de Educação Alvorada Plus.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF THE FAMILY IN LEARNING


ABSTRACT: The objective of this article is to show that the family is essential in the child's learning
process, because the educational process is not only the responsibility of the school, it is the duty
of the family, the school and the State, as stated in the Law of Directives and Bases. 9.394/96 of
December 20, 1996. This research sought to approach the integration of the school with the
family in the pedagogical process, as parents need to participate in their children's school life in
a more responsible way, encouraging these children to take more initiative and realize that school
is a place where they go in search of knowledge that they will take for a lifetime. For this, authors
such as: Parolin (2007); Osorio (1996); Roudinesco (2003); Tiba (1996), among others that address
the issue of the importance of family participation in their children's school life.

Keywords: Education; Family; School; Society.

76
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O objetivo desse trabalho foi a ação reflexiva


sobre a família e sua importância no processo
Este artigo procura compreender a de aprendizagem, podendo contribuir para um
influência que a família tem no processo de olhar e escuta mais atentos com relação aos
aprendizagem, pois enquanto primeira sujeitos que apresentam dificuldades na
instituição de ensino, precisa estar ao lado de aprendizagem seja esta, formal, sistemática ou
seus filhos, mostrando a eles a sociedade na construída socialmente.
qual estão inseridos.
Com esse estudo, buscou-se o resgate
A ORGANIZAÇÃO FAMILIAR E A
teórico a respeito das estruturas familiares e
modificações sofridas no decorrer do tempo, ESCOLA
no entanto, o eixo principal está relacionado a Conceituar a família nos leva às diferentes
ação potencializadora ou dificultadora no configurações que ela assumiu e assume e que
processo do aprender. se transformaram ao longo da historicidade
Vygotsky (2007), considera o sujeito em seus social, mas que continua fundamentada no
aspectos biológicos e sociais, dando a este conceito de instituição primária, ao qual o
último uma intrínseca importância, partindo do sujeito pertence e está inserido, pois é dentro
princípio que é por meio das relações e do grupo familiar que se estabelecem as
interações que os indivíduos se desenvolvem, primeiras relações de desenvolvimento,
constroem e /ou ampliam seus aprendizados. aprendizado, constituição de valores, regras e
Devido a importância da relação família e definição de papéis.
aprendizagem, a psicopedagogia mostra o No século XX aconteceram grandes
valor desse contexto, buscando por meio de mudanças em relação ao contexto social,
uma escuta e olhar atentos, compreender a refletindo nas reorganizações familiares,
posição ocupada pelo sujeito que aprende dentre as transformações ocorridas, podemos
dentro desse grupo. citar: aumento da expectativa de vida,
Para Parolin (2007): diminuição da taxa de natalidade, maior
É na família que uma criança constrói seus ocupação de mulheres no mercado trabalhista
primeiros vínculos com a aprendizagem e e o crescente número de divórcios e
forma o seu estilo de aprender. Nenhuma separações.
criança nasce sabendo o que é bom ou ruim e Para Roudinesco (2003):
muito menos sabendo do que gosta e do que A ordem familiar econômico-burguesa
não gosta. A tarefa dos pais, dos professores e repousa, portanto em três fundamentos: a
dos familiares é a de favorecer uma consciência autoridade do marido, a subordinação das
moral, pautada em uma lógica socialmente mulheres, a dependência dos filhos. Mas, ao se
aceita, para que, quando essa criança tiver de outorgar à mãe e à maternidade um lugar
decidir, saiba como e por que está tomando considerável, proporciona-se meios de
determinados caminhos ou decisões. controlar aquilo que, no imaginário da
(PAROLIN, 2007, p. 56). sociedade, corre o risco de desembocar em

77
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

uma perigosa irrupção do feminino, isto é, na a inserção do sujeito ao seu meio social, por
força de uma sexualidade julgada tanto mais isso, a família tem papel fundamental nessa
selvagem ou devastadora na medida em que relação, porque é a principal ponte para
não estaria mais colada à função materna. estabelecer essa interação.
(ROUDINESCO,2003, p. 38). Parolin (2007), conceitua a aprendizagem
Em meados de 1960 configura-se a família como um processo de contínua construção e
contemporânea ou pós-moderna, embasada desconstrução que os sujeitos têm sobre si, a
na união de duas pessoas para efetivação de realidade e os conhecimentos a eles
relações íntimas, marcando assim uma ruptura intrínsecos.
frequente dentro dos âmbitos familiares, A história da criança começa a ser definida a
ocasionada pelo número de divórcios e/ou partir do momento em que ela consegue
separações e aumento das reestruturações dentro do núcleo familiar, estabelecer e
familiares. diferenciar os papéis existentes, e ao mesmo
Por meio dos avanços tecnológicos, inclusivetempo encontrar-se como parte importante
na biomedicina, o ato sexual deixa de ser a dessa configuração, pois acaba por ser
única possibilidade para concepção da introduzida no contexto sociocultural,
maternidade, e o casamento ou união dos possibilitando-lhe a criação de sua própria
pares deixa de ser imprescindível para a história.
constituição de uma família. O primeiro vínculo é estabelecido em família
Com essas modificações no modelo familiar com a aprendizagem, criando posteriormente
os homossexuais passaram a ter o direito de se seu próprio estilo de aprender. Ninguém nasce
tornarem pais, firmando suas identidades e sabendo o que fazer e como fazer, o que é bom
diferenças dentro do grupo social. Os filhos ou ruim, tudo é ensinado para nos situar na
podem ser, portanto, a concretização simbólica sociedade e consequentemente nos permitir
e real do pertencer à sociedade. atuar com autonomia sobre o ato de aprender.
Diante dessa perspectiva Tiba (1996), afirma Tiba (2012), ainda fala que:
que: Os pais sabem de suas responsabilidades
O ambiente escolar deve ser de uma quanto ao futuro de seus filhos. Quando se
instituição que complete o ambiente familiar sentem incapazes, incluindo aqui um certo
do educando, os quais devem ser agradáveis e conforto, tendem a delegar a educação de seus
geradores de afeto. Os pais e a escola devem filhos a terceiros: escola, psicólogos,
ter princípio muito próximos para o benefício assistentes sociais, babás, funcionários, avós,
do filho/aluno. (TIBA, 1996, p. 140). tios dos filhos etc. (TIBA, 2012, p. 116).
Para que a amplitude sobre as possibilidades
RELAÇÃO APRENDIZAGEM E de aprendizagem aconteça é imprescindível
que exista o desejo, pois será por intermédio
FAMÍLIA NA ESCOLA deste, que o sujeito constituirá os novos
Aprender antecede o processo de saberes. O desejo surge a partir do olhar e
escolarização, pois é uma ação necessária para vínculo estabelecidos entre aquele que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprende e o outro, que oportuniza e deseja que O uso dos signos na mediação entre
se estabeleçam tais aprendizados. desenvolvimento e aprendizagem, era de
Libâneo (2000), que educação é: grande relevância para Vygotsky.
Conjunto de ações, processos, influências, Segundo Minick ( 2002):
estruturas que intervêm no desenvolvimento Ele via o uso de signos na mediação do
humano de indivíduos e grupos na relação ativa comportamento como o fundamento para o
com o ambiente natural e social, e social, num desenvolvimento de formas volitivas de
determinado contexto de relações entre comportamento que não podem ser
grupos e classes sociais (LIBÂNEO, 2000, p. 22). plenamente compreendidas em termos das leis
A família é a primeira unidade coletiva que de estímulo-resposta. Observando que a
irá solidificar valores e padrões, permitindo a função primária dos signos é a comunicação,
interação com outros seres humanos, é a partir Vygotsky buscou a explicação do
desse momento que apreendemos elementos desenvolvimento filogenético, histórico e
do mundo social, com o propósito de funcionar ontogenético dessas formas de
dentro dele e agir sobre ele, ressignificando comportamento em interação social
nosso próprio modo de aprender. verbalmente mediada (MINICK, 2002, p. 32).
Assim, podemos entender o processo de Em relação ao fator histórico-cultural no qual
aprendizagem como um longo percurso a ser se está inserido, o desenvolvimento acontece
seguido, que apresenta inicialmente uma devido às modificações ocorrentes durante a
ordem biológica, mas que só pode ser vida do sujeito, entrelaçando-se ao processo de
continuada e aprimorada por meio da aprendizagem.
integração existente entre o ser humano, seu Esse desenvolvimento e aprendizagem,
ambiente físico e social. dizem respeito às experiências e interações que
o sujeito tem com o mundo, assumindo o
CONCEPÇÕES DE VYGOTSKY pressuposto da natureza social do
desenvolvimento e do conhecimento humano.
Por meio da experiência com educação
Em relação aos aspectos de
especial, Vygotsky passou a interessar-se com
desenvolvimento e aprendizagem na
mais intensidade pela psicologia e durante os
concepção de Vygotsky, temos a mediação
anos de 1925 a 1934 lecionou nas áreas de
realizada por instrumentos e signos. A primeira
pedagogia e psicologia em Moscou.
retrata os objetos que ampliam as
Embora tenha morrido muito jovem,
possibilidades de transformação, quando
Vygotsky escreveu uma vasta e importante
colocados entre o homem e o mundo, já o
obra sobre as pesquisas realizadas, e suas
segundo elemento mediador signos é
ideias se mantiveram vivas graças aos seus
exclusivamente humano, ou seja, são as
colaboradores, que continuaram os estudos
simbologias determinadas de acordo com o
por meio de pesquisas básicas e aplicadas, que
contexto ao qual faz parte, havendo nestes o
se relacionavam ao desenvolvimento cognitivo.
significado e significante de acordo com o meio
social em que vive.

79
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Essa definição permite a reflexão e


compreensão de que os sujeitos não são
constituídos meramente por fatores internos,
nem tão pouco estagnados exclusivamente a
uma soma de reflexos que vem do meio,
portanto, a evolução da espécie é decorrente
da ação, interação e alteração mútua entre os
seres humanos e seus contextos sociais.
Segundo Vygotsky (2007), para se entender
a aprendizagem será utilizada uma das
definições transpostas por Oliveira e Rego:
O ser humano aprende, por meio do legado
de sua cultura e da interação com outros
humanos, a agir, a pensar, a falar e também a
sentir [...] (OLIVEIRA E REGO, 2003, p. 23).
Assim, o aprender pode ser entendido como
um processo efetivado desde o momento em
que o ser humano é gerado e perpassa toda sua
existência, portanto, os conhecimentos
adquiridos devem ser entendidos e
considerados como antecessores a
formalização e sistematização dos saberes, pois
é um processo que antecede o ingresso à
escola, não podendo esta última, ser
considerada a única fonte que o sujeito possui
para aprender.
A criança se desenvolve, aprendendo sobre
as coisas do mundo em que vive. Nessa
perspectiva, considerar o meio social, o
ambiente onde o sujeito está inserido, as
experiências e vivências mediadas pela
linguagem e os conceitos dos signos, são
determinantes para seu desenvolvimento e
consequentemente aprendizagem.

80
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio desse estudo, foi possível entender a importância da família no processo de
desenvolvimento e aprendizado das crianças. Com embasamento nas pesquisas, foi possível
observar que esse núcleo passou por diferentes mudanças em sua organização, e que o modelo
segmentado por pai, mãe e filhos, não é o único no contexto atual, e, não é possível considerar
ou desconsiderar sua funcionalidade, exclusivamente pela forma como está estruturada seus
membros.
Enquanto seres socialmente constituídos, é preciso uma organização que nos propicie
fazer parte desse meio; a esse núcleo que se denomina família, e que inicialmente favorece o
desenvolvimento dos seus membros por meio de cuidados básicos de sobrevivência, em seguida
pode favorecer ou não o processo de aprendizagem, que para ocorrer necessita de um espaço
que o favoreça, de pessoas que autorizem esse processo e do desejo eminente entre quem ensina
e quem aprende.
Chalita (2001), afirma que:
Por melhor que seja a escola, por mais bem preparados que estejam seus professores,
nunca a escola vai suprir a carência deixada por uma família ausente. Pai, mãe, avó ou
avô, tios, quem quer que tenha a responsabilidade pela educação da criança deve
participar efetivamente sob pena de a escola não conseguir atingir seu objetivo (CHALITA,
2001, p. 17 e 18).
Com esse estudo foi possível refletir sobre os sintomas na aprendizagem, pois eles estão
relacionados ao comportamento da criança e sua dificuldade em lidar com as regras socialmente
impostas, ou seja, foi observado que a problemática do sujeito, não está ligada à aprendizagem
formal e sim a disfuncionalidade familiar, que remete na conduta da criança quanto às ações
comportamentais e de convivência social.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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e 18.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos, para quê? 3ed. São Paulo: Cortez, 2000, p.
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MINICK, Norris. O desenvolvimento do pensamento de Vygotsky: uma introdução a thinking


and speech (pensamento e linguagem). In: DANIELS, Harry (org.). Uma introdução a Vygotsky.
São Paulo: Edições Loyola, 2002. Capítulo 1, página 32.

OSÓRIO, Luiz Carlos. Família hoje. Porto Alegre: Artmed, 1996, p. 14.

PAROLIN, Isabel. Professores formadores: a relação entre a família, a escola e a


aprendizagem. Série: práticas educativas. Curitiba: Positivo, 2007, p. 56.

ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Rio de Janeiro: Zahar, 2003, p. 38.


TIBA, Içami.. Disciplina, limite na medida certa. 1ª Ed. São Paulo: Ed. Gente, 1996, p. 111 e
140.

TIBA, Içami. Pais e Educadores de alta Performance. 2ª Ed. São Paulo: Ed. Integrare, 2012,
p. 116.

VYGOTSKY, Lev Semyonovitch; Formação social da mente: o desenvolvimento dos


processos psicológicos superiores. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO E AS RELAÇÕES


DE PODER DENTRO DAS RELAÇÕES HUMANAS
Maria Lucidalva da Silva1

RESUMO: Este artigo tem o objetivo de realizar uma reflexão sobre a definição do homem como
ser extremamente social, observando que cada participante do grupo humano tem a função
definida como de caçar, plantar, ir à guerra, cuidar dos filhos ou coordenar o grupo.
Culturalmente esta divisão de trabalho constrói um sistema hierárquico que determina as várias
funções, e lugares sociais dos indivíduos determinando assim, suas posições. Decorre desta
divisão, a determinação do comando, e de que detém o poder, o que oferece a esta certa força
de coação ou resolução diante de assuntos ligados aos sujeitos definidos pela esfera superior
destes como inferiores. Para compreender os diferentes modelos de gestão, é necessário
compreender os diferentes tipos de gestão, e como se criam e se constroem as relações de poder
entre os seres humanos.

Palavras-Chave: Gestão; Poder; Humano; Relações.

1 Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Letras; Especialização em Gestão Escola.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF MANAGEMENT AND POWER RELATIONS


WITHIN HUMAN RELATIONS
ABSTRACT: This article aims to reflect on the definition of man as an extremely social being,
noting that each participant in the human group has a defined role as hunting, planting, going to
war, taking care of children or coordinating the group. Culturally, this division of labor builds a
hierarchical system that determines the various functions and social places of individuals, thus
determining their positions. It follows from this division, the determination of the command, and
that it holds the power, which offers to this certain force of coercion or resolution in the face of
matters related to the subjects defined by the superior sphere of these as inferior. To understand
the different management models, it is necessary to understand the different types of
management, and how power relations between human beings are created and built.

Keywords: Management; Power; Human; Relations.

84
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A escola tem a função social de organizar e


desenvolver as relações sociais preparando e
Segundo Severino (1994, p.49), a espécie desenvolvendo o indivíduo para conviver em
humana em uma perspectiva histórico- sociedade adquirindo assim o conhecimento e
antropológica organizava- se em grupos a autonomia necessária para p o bem viver,
diversos, desenvolvendo o convívio em cumprindo seu papel determinado pela
sociedade, a cada participante deste núcleo sociedade.
social, é estabelecida uma função específica, Desta forma a escola reproduz s relações de
para que se consiga organizar produzir e poder necessárias para que se consiga viver
sobreviver no meio. mais tarde em sociedade.
Esta designação cria políticas e práticas No século XIX com a revolução industrial, a
decorrentes que constroem simbolismos de escola reproduzia os modelos adequados para
significados universais que determinem as quem fosse trabalhar na linha de produção,
relações seriam eles: os conceitos, os valores, a desta forma os métodos escolares seguiam
imagem, o juízo, o raciocínio correspondente moldes repetitivos e decorativos, que não
aos objetos culturais, desenvolvendo as estimulavam a reflexão e a ação direta do
práticas presentes em nosso cotidiano escolar. aluno.
Tais relações se dão diante de situações que Administrativamente, professores e alunos
envolvem toda a construção e formação do ser, estavam submetidos as ordens e as
em uma estrutura dialética de relações que determinações de um único indivíduo o
seriam formuladas conforme Severino da Diretor, que por sua vez, seguia orientações do
seguinte forma: supervisor, do dirigente de ensino e do
secretário de educação. O papel do diretor era
então o de coordenar e organizar todo o
processo escolar, tendo como função
Este processo de construção de relações coordenar os funcionários da escola,
cria estruturas e modelos de sociedade que se professores e alunos, não permitindo o
estipula modelos de sociedade que são desenvolvimento a autonomia das ações.
reproduzidos dentro do ambiente escolar Desta forma, a educação que se oferece
diariamente das relações estabelecidas. determina e influencia o modo da vida da
Dentro do universo escolar temos a figura sociedade e pode-se desenvolver um modelo
histórica do Delegado de Ensino, do Supervisor, democrático ou castrador de educação dentro
do Diretor e do aluno que vem sendo da sociedade. Neste século, as políticas
reestruturada em suas funções ao longo do educacionais segundo Ryan (2001, p.214),
tempo, porém, para compreender estas novas utiliza as funções de desenvolvidas pelos
práticas dentro do atual papel da escola, onde professores como ferramenta do sistema,
tem de se considerar o atual papel na vida do impedindo-os de cumprir seu real papel do
ser humano até os tempos atuais. sistema, construindo uma estrutura piramidal

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de ensino, onde todas as escolhas ordens e Valorizando e construindo a história individual


determinações eram feitas de cima para baixo. de cada um em diferentes momentos do
Este tipo de gestão, configura o modelo processo ensino aprendizagem.
tradicionalista de educação onde o indivíduo O objetivo de trabalhar na perspectiva de
era formado pela obediência, todos os pontos uma gestão democrática. passa por uma
de desenvolvimento desta proposta levam a enorme lacuna social no que se refere à
um modelo de construção social de submissão compreensão de uma Educação que busque a
e castração absolutos, o que para os transformação plena, que significa englobar as
governantes era de bom grado, uma vez que múltiplas esferas da vida planetária e social,
ela favorecia a dominação e a tomada de inclusive individual, favorecendo o processo
decisões sem muitos questionamentos. educativo entendido como transformador.
Com a construção do processo democrático Com essa finalidade, o fazer Educação se
de sociedade, este se refletiu automaticamente realiza de modo coerente com teoria
na escola, favorecendo a busca de uma emancipatória que implica na compreensão de
educação que não visava somente dominar, e que este processo se torna indispensável para
sim garantir a participação do individuo. o entendimento da educação como
Nesta fase a escola e a direção dada ao instrumento mediador de interesses e conflitos
projeto educacional começam a se transformar entre agentes do meio que usam e se
para chegar ao atual modelo de educação que apropriam do ambiente e de seus recursos de
estamos inseridos. modo diferenciado em condições materiais
desiguais e em contextos específicos tendo o
A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR diálogo como base do processo.
Porém este deve ter um objetivo específico,
QUE TEMOS se aprofundando nos problemas sem ignorar os
Analisando a educação na sua situação em saberes de forma a criar uma concepção crítica.
que se está se encontra, imagina-se que esta O segundo objetivo deste seria abrir a
não tem mais jeito, está falida, mas não é percepção dos problemas, observando-os em
verdade, hoje passa por uma fase de reflexão sua dimensão sendo este apreendido pelos
muito importante, no qual favoreça o ensino indivíduos em relação aos olhares que se têm.
seja de qualidade, possibilitando os desafios, Este entendimento implica em perceber as
para que seja estruturado um marco histórico, relações existentes entre educação, sociedade
considerando este um dos momentos mais e trabalho, em um processo global de
importantes para educação. aprendizagem em sua esfera dimensional.
Sendo assim, a necessidade de criar postura, Outro objetivo seria a compreensão de que
e mudar o que pensam a sociedade, é um o desenvolvimento da capacidade teórica no
importante desafio, com o ideal de buscar uma sentido de agir em situações concretas do
sociedade mais humana, mais fraterna, cotidiano da vida, conhecendo a realidade em
independente das condições físicas, psicológica um processo de sistematização reflexão e ação.
emocionais ou linguísticas de cada um. Por meio deste entende-se que falar em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educação transformadora é afirmar a educação exteriorizando o que se aprende, interagindo e


quanto práxis sociais que contribui para o favorecendo ações que ampliem os limites da
processo de construção com uma política escola para a sociedade.
consciente que implica em um processo Individualmente, é preciso reconhecer em
concretização de alguns princípios primeiro lugar que todos tem a ver com o
indispensáveis para a evolução humana. espaço que está a sua volta, e que só se torna
A gestão democrática porém só tem sucesso cidadão colocando em prática seu saber, ao
se todos os segmentos estiverem trabalhando perceber que existem problemas comuns a
juntos, pois ai a função da escola estará correta várias pessoas, ao descobrir que tem quanto
pois, havendo união de todos os interesses, a membro da sociedade direitos e deveres, ao
escola assume a função de educar e criar mecanismos de expressar publicamente
transformar a sociedade por meio de projetos sua opinião e quando entende que é preciso
e do diálogo, porém quando não se tem o reunir forças para realizar as mudanças.
devido apoio é difícil implementar os devidos Sendo de corresponsabilidade entre
programas de educação porque para trabalha- autoridades governamentais e comunidade em
lo deve-se faze-lo coletivamente não de forma geral, onde a melhoria de qualidade de vida
individual, é preciso que haja integração, com depende de saberes individuais e coletivos que
todos trabalhando na mesma direção. irão contribuir diretamente para a construção
Na medida em que tomamos consciência de da autonomia dos alunos.
que todas as questões educacionais não se As escolas atualmente possuem programas
prendem somente às ideias do diretor, mas que de participação da comunidade que deveriam
o engloba também o seu entorno, sendo mais ser ampliados, mas para isto são necessários
propício discutir tais questões que dizem incentivos legais para apoiar a proposta de
respeito a toda a comunidade, uma vez que participação de todos.
concentra um grande contingente de crianças, Uma gestão democrática como prática social
jovens e adultos formadores de opiniões. é uma necessidade, de cada indivíduo, pois,
Assumir a educação como projeto significa fora dos muros da escola, não se realiza a
enriquecer o trabalho pedagógico da escola leitura apenas para aprender a ler, aprende-se
uma vez que se trata de uma vertente que exige a ler para entender o mundo, é um meio de o
por sua própria natureza, o exercício da indivíduo se socializar, obter as informações
transdisciplinaridade, envolvendo todas as necessárias e se comunicar.
disciplinas e áreas do conhecimento por meio A modificação da gestão escolar além dos
da interrelação da grade curricular. muros da escola possui um caráter de
Além de criar atividades que permitam autonomia, de independência, que permite ao
iniciativas iniciais de discussão, contando com aluno ser dono do seu saber, e é assim que
o apoio de diretor, coordenador, professores, e deveria ser a escola, um local de construção
comunidade, é preciso também criar projetos que possuísse sentido e valores para os alunos
extraclasse que oferecem oportunidade aos e pudessem ajudar na construção da
alunos de desenvolverem o senso de cidadania personalidade do ser.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O problema está no fato da escola ser mera a impediria de decifrar ele retirando toda a
reprodutora dos saberes dominantes, ela não magia da construção do processo de gestão
permite aos indivíduos pensar por si próprio, democrática.
pois indivíduos pensantes, criam cidadãos O primeiro passo a ser dado é o de
críticos, e estes causariam problemas, transformar o processo pedagógico de forma
questionariam, então seria uma população que este seja condizente com a proposta
bem mais difícil de se controlar. pedagógica da unidade, permitindo que o
É difícil para o educador transferir as trabalho a ser realizado seja flexível, utilizando-
oportunidades oferecidas no exterior da escola se do tempo necessário para se alcançar o
para seu interior, pois, nem tudo o que se objetivo proposto que podem ser dias ou até
experimenta fora pode ser reproduzido dentro meses para a concretização deste.
dos muros da escola, pois lá fora, a vida Em seguida deve-se planejar as etapas que
apresentada mostra-se desafiadora, e é assim se quer alcançar com os alunos, atendo-se ao
que ela deve ser, pois transforma o aluno em fato deste “não ser fracionado”, não vir aos
um indivíduo confiante. pedaços, já que o conhecimento se constrói de
Para aprender deve-se aguçar a curiosidade, forma completa. É preciso, dar significado
e isto ocorre no dia a dia porque nosso aluno para o que se quer alcançar. O trabalho
precisa entender o que ocorre no dia a dia e o democrático torna-se mais interessante por
faz por uma necessidade básica a meio do acesso da comunidade escolar,
sobrevivência, ele precisa decifrar os códigos, e permitindo que os alunos tenham acesso ao
para isso ocorre uma inteiração do gestor com material e recontem de seu jeito as estórias
a escola. lidas.
A gestão democrática então ocorre por meio Oferecendo ao grupo acesso as opiniões e
de um processo dinâmico, o que incentiva a decisões, permitindo o desenvolvimento do
comunidade a querer conhecer mais e mais do senso crítico de cada indivíduo sendo
mundo escolar, as pistas vão aparecendo a pertinente a Educação crítica, não se deriva de
comunidade as vai decifrando até construírem saberes desunidos, mas de apreender a
o processo de gestão convencional. Porém para realidade a partir de um contexto significativo
que haja condições favoráveis para esta de forma global, percebendo o ser humano
construção, é preciso que existam espaços como uma unidade diversa, e complexa.
disponíveis onde será realizada a proposta de
trabalho.
A intervenção da comunidade é muito
importante neste processo, auxiliando-a para
que ela consiga levantar todas as hipóteses e
buscar respostas para todas elas, encontrando-
as. Porém, não se deve nunca oferecer
respostas prontas que a impeçam de pensar, e
decifrar os enigmas apresentados, pois tal ação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a Educação ser emancipatória e transformadora é preciso compreender o quadro de
crise em que se vive, utilizando o espaço escolar para modificar o pensamento e transformar a
realidade por meio do diálogo. Observa-se também que para que haja tal transformação é
necessário que todos os segmentos trabalhem juntos, é preciso que se criem políticas públicas
adequadas para a transformação das condições em que a escola ocupe seu lugar de mediadora
para que a sua proposta seja feita de forma consciente. A mudança só se dará após a reflexão da
necessidade de mudança de forma consciente.
Percebe-se ainda que é preciso dar a educação o devido valor, percebendo a educação
ambiental como transformadora quando realizada pela própria comunidade, por meio do
respeito e do conhecimento dos saberes dessa população.
Observa-se ainda que o trabalho participativo modifica a política cultural da sociedade
transformando os valores norteando os conteúdos oferecendo um potencial critico a população
exercitando o questionamento e a opção de valores significativos mais dignos.
Esclareceu-se o papel da escola que não pode e não consegue realizar a transformação
educacional sozinha devido a falta de espaço e continuação dos projetos, por falta de espaço
social, e conhecimento, inicialmente é necessário que o professor apreenda o conhecimento para
depois transportá-lo para seus alunos de forma significativa e ordenada.
Tudo leva a crer, portanto, que a gestão democrática só terá sucesso quando esta for
incutida no cotidiano, tornando-se prática diária, para isto, seria necessário uma transformação
e uma conscientização social, levando o indivíduo a perceber-se participante e responsável pelo
meio em que se vive.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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APPLE, Michael W. Educação e poder Editora: Artmed, São Paulo, 1989.

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janeiro,1987.

FREIRE, Paulo. Política e Educação Editora: Cortez.

GASPARIN, I. Uma didática para a Pedagogia histórico-crítica


Editora: Autores Associados, Rio de Janeiro, 2003.

GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José Eustáquio. Autonomia da escola: princípios e propostas.


Editora: Cortez. São Paulo,1989.

GÓMEZ, A. I. Pérez; SACRISTÁN, J. Gimeno. Compreender e transformar o ensino. Editora:


Artmed, São PAULO,1998.

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S.A.J. Filosofia da educação – Construindo a cidadania . FTD . São Paulo. 1994.


TORRES, Rosa Maria. (e como) é necessário aprender?
Editora: Papirus, São Paulo,1994.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.). Projeto Político-Pedagógico da escola: uma


construção possível Editora: Papirus, São Paulo.1995.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA


EDUCAÇÃO INFANTIL
Beatriz Mendes Scolamieri1

RESUMO: Este artigo apresenta como temática a literatura infantil e sua importância na educação
infantil. O início do processo de letramento das crianças, desde seu primeiro ambiente social, a
família, e a função da escola neste processo de desenvolvimento. Diversos autores visitados, que
estudam esse processo de letramento nos deixam importantes reflexões sobre o tema. Sendo
assim, propomos a discussão e reflexão, levando informações relevantes sobre a temática para
os professores e professoras, famílias e demais educadores, contribuindo para a conscientização
da atenção que devemos ter nesta etapa do desenvolvimento da criança, ofertando leitura de
qualidade e de forma constante, visando a formação de um leitor proficiente, que possa
interpretar o mundo e assim exercer plenamente sua cidadania.

Palavras-Chave: Literatura infantil; Educação Infantil, Letramento.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Bacharelado em Comunicação Social; Licenciatura em Pedagogia e Artes Visuais; Especialização em
Docência Universitária; Psicopedagogia e Combate ao Uso Indevido de Drogas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF CHILDREN'S LITERATURE IN CHILD


EDUCATION
ABSTRACT: This article presents the theme of children's literature and its importance in early
childhood education. The beginning of children's literacy process, from their first social
environment, the family, and the role of the school in this development process. Several authors
visited, who study this literacy process, leave us important reflections on the subject. Therefore,
we propose discussion and reflection, bringing relevant information on the subject to teachers,
families and other educators, contributing to the awareness of the attention that we must have
at this stage of the child's development, offering quality reading and in a constant way. , aiming
at the formation of a proficient reader, who can interpret the world and thus fully exercise their
citizenship.

Keywords: Children's literature; Early Childhood Education; Literacy.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO embalagens, entre outros, não devem ser


desprezados. Desta forma a criança, mesmo
A leitura do mundo é feita por meio da bem pequena, entenderá a importância da
decodificação de seus códigos e signos. A leitura e suas possibilidades, fazendo desta
escrita está presente em todos os lugares, na prática sistematizada, uma experiência
escola, nas ruas, nos informativos, nas agradável e positiva.
propagandas, nos receituários, livros, cinema e Bamberger (1995), trata a leitura como a
muito mais, aguardando a interpretação das forma mais importante do processo ensino-
pessoas. Ler é mais que decodificar, é aprendizagem, pois ela desenvolve habilidades
compreender e interpretar os diferentes linguísticas que permitem interpretar e
gêneros textuais. compreender os textos, consequentemente
Não há cidadão verdadeiramente autônomo levando a criança e o jovem a escrever e falar
sem que saiba compreender o mundo em que com mais desenvoltura.
vive, onde a comunicação e a leitura formam a No mundo letrado tais habilidades são
base das sociedades letradas. fundamentais. Por meio delas que
A família leitora é o primeiro contato e conseguimos exercer plenamente a cidadania,
exemplo para que as crianças se interessem podendo questionar, argumentar, expressar
pela leitura e comecem, por meio da nossas opiniões e necessidades, transmitir
observação, seu primeiro passo no processo do nossos conhecimentos, buscar respostas para
letramento. nossas dúvidas. Brasil (1998a) trata a leitura
A escola é o outro ambiente social das competente como ferramenta para que
crianças com fundamental importância neste possamos exercer a plena cidadania
processo. Tem a escola hoje, o objetivo e o
desafio de tornar as crianças e jovens bons
leitores, e isso só é possível com professores MAS O QUE É LITERATURA
que apreciem e compreendam a importância INFANTIL?
da leitura. Histórias sempre foram cotadas às crianças,
Na educação infantil a leitura deve ser oralmente, como forma das famílias se
introduzida diariamente, como rotina. Essa comunicarem com seus filhos, falando de
prática é importante no desenvolvimento da coisas passadas da família ou sobre as coisas
linguagem oral, da atenção e concentração, que as rodeavam. Cademartori (1994), trata
incentiva a imaginação e a criatividade, auxilia esta literatura infantil como lendária, que eram
na ampliação do vocabulário, no apenas contadas e não registradas por escrito.
desenvolvimento da fala, na compreensão das A literatura infantil nasce com o francês
emoções, além de criar uma conexão com o Charles Perrault (1628 – 1703), com livros
professor leitor. conhecidos e lidos até hoje para as crianças,
A literatura infantil é a principal ferramenta como Mãe Gansa, O Barba Azul, A Gata
aqui apresentada, mas os demais suportes Borralheira, O Gato de Botas, Cinderela, entre
textuais, como jornais, revistas, bulas, cartazes, tantos outros de sua autoria. Posteriormente

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

outros autores se destacaram na literatura primordial e principal de intercâmbio entre os


infantil, como Andersen, Irmãos Grimm, Lewis
homens.
Carrol. Louis Hjelmslev trata a linguagem como
Arroyo (1990), emprega a expressão veículo de comunicação capaz de traduzir e
Literatura Infantil ao “conjunto de publicações
refletir o ser humano, onde e quando vive.
que em seu conteúdo tenham formas Mesmo sabendo que somos constituídos por
recreativas, didáticas ou ambas, e que sejam
múltiplas linguagens, a leitura tem lugar de
destinadas ao público infantil Frantz (2001),
destaque no desenvolvimento dos homens,
define a literatura infantil como ludismo, desde sua mais tenra idade.
fantasia, questionamento, afirmando que A Literatura Infantil estimula à criança a
“dessa forma consegue ajudar a encontrar imaginar, questionar, levantar hipóteses e
respostas para as inúmeras indagações do assim ir compreendendo e se apropriando do
mundo infantil, enriquecendo no leitor a espaço e do tempo em que vive.
capacidade de percepção das coisas Segundo Abramovich (1997), ao ouvir uma
Este gênero literário é atual e presente até
história, a criança visualiza, de maneira mais
os dias de hoje. No Brasil temos muitos autores
clara, seus próprios sentimentos em relação à
que se destacaram, como Monteiro Lobato, vida, como o medo, a alegria, a raiva, a
Ana Maria Machado, Eva Funari, Maurício de insegurança, entre tantos outros, podendo
Sousa e Ziraldo. E na nova geração temos Lalau
assim melhor compreendê-los.
e Laurabeatriz, Roseana Murray, Heloísa Prieto,
A leitura desenvolve repertório, leva
Arthur Nestrovsky, Emicida, Adriana Falcão,informações, estimula senso crítico, amplia os
Duda Machado, Almir Correia. conhecimentos, aumenta a capacidade de
Na educação a literatura infantil não deve
comunicação e o vocabulário, estimula a
ser vista como um passatempo, conforme criatividade, nos emociona, prepara para os
afirma Meirelles (1984), “é uma nutrição”. estudos e para o trabalho, ajuda o
É na Literatura Infantil que a criança desenvolvimento da escrita, e amplia as
encontra subsídios para seu desenvolvimento e
possibilidades de uma vida autônoma e cidadã.
compreensão do mundo. Desta forma, Dá-se assim a importância da leitura desde a
apresentarmos textos belos, coerentes, educação infantil, de forma prazerosa e
positivos, as nutre de forma saudável e criativa.
cotidiana, no processo de formação de leitores.
Segundo Benjamin (2002), muito mais que o A escola tem na Literatura Infantil um grande
adulto, a criança tem a capacidade de misturar-
aliado do processo ensino-aprendizagem e na
se com as personagens de modo muito íntimo.formação de bons e interessados leitores.
Quando se fala de literatura, fala-se de uma
LEITURA PARA AS CRIANÇAS relação bastante estreita entre leitor e leitura.
O leitor, no momento da leitura, ativa sua
PEQUENAS memória, relaciona fatos e experiências e entra
Mesmo na atualidade, com tantos avanços em conflito com seus valores. Segundo Barros,
tecnológicos, a leitura segue como a forma 2013, p.21), a Literatura Infantil é uma grande

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aliada da escola em suas várias possibilidades: dizendo “e quem gostou bata palmas!” ou
divertindo, estimulando a imaginação, “quem gostou dê um viva!”
desenvolvendo o raciocínio e compreendendo A preparação da leitura é muito importante
o mundo. neste processo de letramento e de formação
Cabe ao professor planejar o momento da de bons leitores. Além do momento da leitura
leitura, apresentando o livro, seu autor e a é preciso que professor esteja preparado e que
história de forma que estimule o interesse e a existam os recursos adequados.
curiosidade das crianças. Pensar qual livro será lido, onde será feita a
Algumas sugestões são dadas por Fonseca leitura, qual entonação de voz será mais
(2012, p.48). Para antes da leitura: Apresentar adequada faz parte desta preparação.
a capa e o autor, falar um pouco da vida deste Mostrar vários livros e propor que a turma
autor, explicar qual o gênero e características escolha qual será a leitura do dia também é
da história que será lida, ler o título e uma maneira de incentivar o interesse da
questionar a turma sobre o que deve tratar a turma. Escolher um livro e rodiziar entre as
história. Fazer algumas perguntas para que as crianças, onde cada dia um o levará para casa
crianças comecem a imaginar e antecipar a para uma leitura com a família é outra forma
história, falar um pouco da história que será possível.
lida estimulando a curiosidade, convidá-los a Na educação infantil as crianças gostam de
ouvir com atenção sua narrativa. livros coloridos, com variadas formas e com
Durante a leitura responda perguntas que figuras para serem observadas. No ambiente
possam aparecer, com o cuidado de não se escolar, cabe aos educadores, ajudar a criança
estender (professor ou crianças) e na descoberta do quão interessantes a leitura
dispersarem-se da leitura, faça perguntas como pode ser. Segundo Sandroni e Machado (1991,
“o que será que vai acontecer agora?” ou p.16), “o amor pelos livros não é coisa que
“olhem só o que coisa bonita vai acontecer” apareça de repente”.
desta forma chamando a atenção e evitando
dispersões, não simplifique a história ou suas BNCC E A LEITURA
palavras.
Importante destacar aqui que a BNCC – Base
Após a leitura retomar o nome da história e
Nacional Curricular Comum, trata na etapa da
do autor, reler algum trecho que requeira
educação infantil, os Direitos de Aprendizagem
explicação, abrir espaço para que a turma fale
e Desenvolvimento, sendo eles Conviver,
sobre o personagem, a parte da história que
Brincar, Participar, Explorar, Expressar e
mais gostou, pergunte se gostariam de que em
Conhecer-se, todos presentes e beneficiados
outra oportunidade fosse lida outra história
com a leitura e com a Literatura Infantil.
desse autor, ou deste tema, e assim já ficará a
A Literatura Infantil pode ser vista como uma
espera pela próxima história.
porta de entrada para o universo
Encerrando esse momento de leitura,
maravilhoso da leitura. Para entendermos bem
promova uma manifestação para toda a turma,
a importância dessa literatura na formação do
ser humano, faz-se fundamental olhar para a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

variedade de textos que a compõem: fábulas, personagens, a estrutura da história.


contos de fadas, contos maravilhosos, mitos, (EI03EF05) Recontar histórias ouvidas para
lendas, adaptações de grandes clássicos da produção de reconto escrito, tendo o professor
literatura mundial, parlendas, trava-línguas, como escriba.
adivinhas, além de textos autorais narrativos e
poéticos. Temos, assim, um rico material
repleto de histórias, memórias, diversidade
cultural, fantasia, encantamento e valores
humanos (BRASIL,2018).
Neste mesmo documento, na apresentação
dos Objetivos de Aprendizagem e
Desenvolvimento da Educação Infantil, a
importância da leitura e da Literatura Infantil
ficam ainda mais evidente e obrigatória. Abaixo
alguns dos objetivos:
(EI01EF03) Demonstrar interesse ao ouvir
histórias lidas ou contadas, observando
ilustrações e os movimentos de leitura do
adulto-leitor (modo de segurar o portador e de
virar as páginas).
(EI01EF04) Reconhecer elementos das
ilustrações de histórias, apontando-os, a
pedido do adulto-leitor.
(EI02EF03) Demonstrar interesse e atenção
ao ouvir a leitura de histórias e outros textos,
diferenciando escrita de ilustrações, e
acompanhando, com orientação do adulto-
leitor, a direção da leitura (de cima para baixo,
da esquerda para a direita).
(EI02EF04) Formular e responder perguntas
sobre fatos da história narrada, identificando
cenários, personagens e principais
acontecimentos.
(EI03EF03) Escolher e folhear livros,
procurando orientar-se por temas e ilustrações
e tentando identificar palavras conhecidas.
(EI03EF04) Recontar histórias ouvidas e
planejar coletivamente roteiros de vídeos e de
encenações, definindo os contextos, os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura e a Literatura Infantil são de grande importância na formação de um bom leitor,
que mais que decodificar tenha a competência de interpretar o que lê. A apresentação do mundo
letrado deve acontecer na vida da criança desde bem pequena, tendo a família e da escola como
principais protagonistas nessa missão.
Na escola a qualidade do texto oferecido e a boa formação do professor são essenciais.
Especialmente na educação infantil o uso de técnicas e portadores de texto variados são
fundamentais para despertar o interesse e o prazer para a leitura, sendo o professor o mediador
deste processo.
A Literatura Infantil permite a criança imergir num mundo de fantasias, onde ela pode ser
o príncipe, o sapo, a heroína, a bruxa, a mãe, o cachorro, ou o que mais imaginar, e assim vai
desenvolvendo sua imaginação, vivenciando diferentes sensações e emoções.
São muitos os ganhos da criança que tem contato com a Literatura Infantil, como atenção,
memória, concentração, ampliação do vocabulário, criatividade, compreensão de si e do mundo.
Segundo Freire (1996), “a leitura de mundo precede a leitura da palavra”, afirmação que
permite-nos perceber que a criança desde muito pequena inicia seu processo de letramento, de
relações interpessoais e sociais, que são experiências fundamentais para seu desenvolvimento
integral e saudável.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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MGU3XHUwMGUzbyBkZSIsImZvcm1hY2FvIGRlIGxlaXRvciIsImRlIGxlaXRvciJd – Data de
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CADEMARTORI, L. O que é literatura infantil?, 6.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

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SANDRONI, Laura, Machado, Luiz. A criança e o livro. São Paulo: Editora Ática, 1991.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NO
DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA
Patrícia Maria dos Santos1

RESUMO: O presente artigo tem como temática a importância da música no desenvolvimento


integral da criança. Percebendo a importância da musicalização na educação infantil e pensando
na música como um recurso pedagógico, nosso objetivo é investigar as contribuições que a
música oferece para o desenvolvimento integral da criança. Trabalhar a musicalização com as
crianças necessitam muito empenho, pois exige atividades lúdicas que auxiliam a criança
conhecer a si mesmo, conhecimento este que ocorre por meio de situações do dia a dia, portanto
quanto mais estímulos à criança recebem, melhor será seu desenvolvimento intelectual, as
experiências rítmicos musicais que tem participação ativa (ver, ouvir, tocar) contribuem para o
desenvolvimento do sentido. Com os sons a criança trabalha a percepção auditiva, imitando os
gestos ou a dança, o que colabora para o desenvolvimento da coordenação motora. A
musicalização na Educação Infantil está relacionada a uma motivação diferente do ensinar, em
que é possível favorecer a autoestima, a socialização e o desenvolvimento do gosto e do senso
musical das crianças dessa fase. Ela auxilia no desenvolvimento cognitivo da criança e cabe ao
professor desenvolvê-la de forma lúdica e descontraída.

Palavras-Chave: Música; Ludicidade; Socialização; Desenvolvimento.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Licenciatura em Letras com habilitação em Português – Inglês: Licenciatura em Pedagogia;
Especialização em Educação Infantil; Especialização em Educação Musical.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF MUSIC NOT THE INTEGRAL DEVELOPMENT OF


CHILDREN
ABSTRACT: Or present an article as a theme to the importance of music not the integral
development of children. Perceiving the importance of musicalization in early childhood
education and thinking of music as a pedagogical resource, our objective is to investigate the
contributions that music offers for the integral development of children. Working on music with
the children needs a lot of effort, because it requires playful activities that help children to know
themselves, knowing that it occurs through situations from day to day, therefore, the more
stimuli they receive, the better their intellectual development will be, as musical rhythmic
experiences that have active participation (see, hear, play) contribute to the development of
meaning. As sons a criança works with auditory perception, imitating gestures or dance, or that
collaborates for the development of motor coordination. Musicalization in Early Childhood
Education is related to a different motivation than teaching, in which it is possible to favor self-
esteem, socialization and the development of the taste and musical sense of the children of this
phase. It helps in the cognitive development of the child and it is up to the teacher to develop it
in a playful and relaxed way.

Keywords: Music; Ludicity; Socialization; Development.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO mais alegre e, consequentemente, mais


agradável, além de ajudar na socialização das
Esse artigo tem como objetivo investigar as crianças. A musicalização na sala de aula
contribuições musicais como ferramenta de também pode ser usada como forma de relaxar
apoio, favorecendo sua integração e os alunos depois de atividades físicas, ou para
socialização no desenvolvimento da criança na acalmá-los diante de novas tensões e
educação infantil. Nosso desafio é procurar diferentes atividades, além de ser um poderoso
respostas para muitos questionamentos na recurso didático.
área em que atuamos (educação infantil) sobre Umas das tarefas primordiais da escola é
a importância da musicalização na educação assegurar a igualdade de chances, para que
infantil. toda a criança possa ter acesso à música e
Musicalizar significa desenvolver o senso possa educar-se musicalmente, qualquer que
musical da criança, sua sensibilidade e seja o ambiente sociocultural de que provenha
expressão, ou seja, inserir a criança no mundo (MACIÇO, 1982, p.148).
da música. É importante que a criança seja As atividades musicais realizadas na escola
inserida no mundo da música logo na primeira não visam à formação de músicos, e sim, por
infância, criando um ambiente em que ela meio da vivência e compreensão da linguagem
possa aprender a ouvir ou fazer música, musical, propiciar a abertura de canais
identificando e brincando com os sons do meio sensoriais, facilitando a expressão de emoções,
ambiente. ampliando a cultura geral e contribuindo para a
Entendemos que a musicalização permite formação integral do ser.
que a criança conheça melhor de si mesma,
desenvolvendo sua noção de esquema
O QUE É MUSICALIZAÇÃO?
corporal, aperfeiçoando sua comunicação com
A música atrai e envolve os alunos, eleva a
o outro e contribuindo para o desenvolvimento
autoestima, estimula diferentes áreas do
cognitivo-linguístico, psicomotor e
conhecimento, aumenta a sensibilidade, a
socioafetivo.
criatividade e a capacidade de concentração.
De acordo com Bréscia (2003), o trabalho
Estão presentes em todas as culturas nas mais
com a musicalização desperta e aprimora o
diversas situações.
gosto musical, favorecendo o desenvolvimento
A musicalização atua como instrumento para
da sensibilidade, o ritmo, o prazer de ouvir
que se possam ter condições de percepção
música, a imaginação, memória, atenção,
musical, não significa que embora busque
autodisciplina, socialização e afetividade.
proporcionar ao indivíduo uma sensibilidade
Também contribui para a consciência corporal
musical, isso pode não acontecer com êxito e
e a movimentação, permitindo dessa forma
também seu objetivo não é medir o talento
que a criança conheça a si mesma melhor.
musical do aluno. A música resgata a cultura,
A musicalização na sala de aula pode
auxilia na construção do conhecimento e pode
contribuir para o desenvolvimento da
contribuir para o exercício da cidadania.
aprendizagem, pois deixa o ambiente escolar

101
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O modo que as crianças percebem, contato com as canções pode contribuir para
aprendem e se relacionam com os sons, no diminuir a agressividade e auxiliar nos
tempo-espaço revelam o modo como processos de desenvolvimento da fala.
percebem, aprendem e se relacionam com o
mundo que vem explorando e descobrindo a A MUSICALIZAÇÃO NA
cada dia (BRITO 2003, p.41).
Sendo assim, a maneira que a música é EDUCAÇÃO INFANTIL
trabalhada é de extrema importância, A música da Educação Infantil é uma
principalmente quando se fala de educação linguagem fundamental para a formação
infantil, porque nessa etapa a vida do sujeito é criança, porém, na maioria das vezes, ela não
que se constrói sua identidade. Não se deve tem sido trabalhada de forma produtiva,
tornar o trabalho com a música algo que focando como nos mostra o Referencial
privilegie somente a técnica ou só o trabalho Curricular Nacional da Educação Infantil
pedagógico, pois o professor deve respeitar as (BRASIL, 1998, p.47).
limitações dos alunos que não apresentam a formação de hábitos, atitudes e
muita habilidade musical, como deve também, comportamentos como: lavar as mãos antes do
incentivar os que se interessam pela lanche, escovar os dentes, etc.”. Em muitos
linguagem. Centros de Educação Infantil, está voltada para
O termo musicalização, muitas vezes, é a realização de comemorações relativas ao
usado do ponto de vista do senso comum é o calendário de eventos do ano letivo (BRASIL,
que mostra Loureiro: 1998, p.47).
Ele muitas vezes aparece relacionado às Não podemos dizer que não deva ser feito
fases iniciais da educação musical voltada para esse trabalho dentro da Educação Infantil, o
criança, envolvendo atividades musicais que não podemos na verdade é reduzir o
lúdicas”, porém devemos levar em trabalho da musicalização a esses segmentos,
consideração que a música é um construto pois seu caráter é muito abrangente.
social, sendo assim, esse processo não Ouvir música, aprender uma canção, brincar
acontece somente na escola, pois o indivíduo de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de
está inserido em um contexto social e cultural mão, etc., são atividades que despertam,
que influenciará em sua sensibilidade e estimulam e desenvolvem o gosto pela
aprendizagem musical (LOUREIRO ,1999, p.22). atividade musical, além de atenderem a
A musicalização pode colaborar com o necessidades da expressão que passam pela
desenvolvimento da criança no processo de esfera afetiva, estética e cognitiva (BRASIL,
ensino aprendizagem, porque pode ajudá-la a 1998, p. 48).
se expressar melhor, contribui para minimizar A criança da Educação Infantil necessita de
suas dificuldades físicas, cognitivas, até mesmo atividades que promovem os
promover uma melhor socialização. Busca desenvolvimentos motores, cognitivos e a
tornar o indivíduo sensível aos fenômenos socialização, que trabalhe a diversidade e a
musicais. Pesquisas têm demonstrado que o musicalização se bem trabalhada pode

102
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

englobar todos esses aspectos, porém esse sofre tornam-se visíveis em suas experiências
trabalho para que ocorra com mais êxito deve criativas e rítmicas”. (WEIGEL, 1988, p.12).
ocorrer juntamente com as outras áreas do A música auxilia tanto o desenvolvimento do
conhecimento. aluno, quanto a percepção do professor diante
E na pré-escola, toda situação que desafie a dos seus alunos, podendo ajudá-lo, a observar
curiosidade, a imaginação e a iniciativa própria a evolução, ou retrocesso, diante das
da criança torna-se adequada à aplicação do experiências com a música, e também diante a
jogo como metodologia (WEIGEL, 1988, p.18). sua expressão, sociabilidade, entre outros
As atividades musicais dentro da Educação objetivos que o professor almeja alcançar por
Infantil devem acontecer de forma lúdica, de meio da musicalização, sendo que na Educação
maneira que a criança brincando, possa ao Infantil, é um instrumento fundamental, e
mesmo tempo, estar aprendendo e exige um preparo profissional, de recursos,
estimulando os sentidos e se tornando sensível para que possa alcançar os objetivos.
musicalmente.
Quando se trata de crianças muito pequenas COMO TRABALHAR A
há uma grande dificuldade a princípio de um
diálogo entre professor e aluno, e a música MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO
pode acabar abrindo um espaço para a INFANTIL
compreensão do outro. O trabalho com a música é algo que na
Na Educação Infantil começa o processo de maioria das vezes é executado pelas crianças
construção de identidade, a criança passa a com muito prazer, pois desde muito novas
conhecer seu corpo, percebe que não é igual ao estão intrinsecamente ligadas com a música.
outro, e nessa situação, pode ser trabalhado a Mais ou menos aos 3 e 4 anos a criança
questão da diversidade. “As atividades musicais reproduz várias melodias pequenas e simples,
coletivas favorecem a autoestima, bem como a reconhecendo facilmente algumas delas. Os
socialização infantil, pelo ambiente de instrumentos rítmicos a interessam. O controle
compreensão, participação e cooperação que da voz torna-se cada vez mais perfeito e a
podem proporcionar”. (WEIGEL, 1988, p.15). linguagem vai se completando. Nessa idade a
A socialização e a coletividade são aspectos criança aprende a dramatizar as canções.
de extrema importância a serem trabalhados Participa com agrado dos jogos cantados e
na Educação Infantil, pois nessa etapa a maioria memoriza numerosos cânticos (WEIGEL, 1988,
das crianças ainda é egocêntrica, tem p.11).
dificuldade de aceitar o diferente, e as A música está muito ligada às brincadeiras e
atividades coletivas podem trazer ótimos jogos, nessa etapa podem acontecer por meio
resultados na formação desse sujeito. das brincadeiras populares, das canções que
[...] ao mesmo tempo, a educação musical cantamos para as crianças, por isso devem-se
pode representar um meio de o educador trabalhar de maneira a despertar nas mesmas,
compreender a criança, pois as mudanças que a sensibilidade, que é essencial nessa etapa da
vida do sujeito.

103
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Desde a gestação estamos intrinsecamente As crianças podem ter um pouco de


ligados aos sons, foi comprovado dificuldade para sua adaptação na escola,
cientificamente à influência que a música segundo Maffioletti pode se tornar um espaço,
exerce sobre o feto desde a sua formação. a partir do qual, os primeiros vínculos são
Na fase intrauterina os bebês já convivem criados e mantidos, pode criar a estabilidade
com um ambiente de sons provocados pelo para os pequenos, principalmente nessa esta
corpo da mãe, como o sangue que flui nas da vida.
veias, a respiração e a movimentação dos Entre 0 e 3 anos a criança passa por um
intestinos. A voz materna também constitui constante processo de autoconhecimento, por
material sonoro especial à referência afetiva isso, deve ter contato com os mais variados
para eles. (BRITO, 2003, p. 35). tipos de experiências. Ao trabalhar com a
Esse processo de musicalização como musicalização pode proporcionar às crianças à
complementa Brito começa de forma oportunidade de aprimorar a coordenação
espontânea, de forma intuitiva, por meio do motora, raciocínio, habilidades físicas,
contato com os sons do ambiente, a música que questões estas, que são de extrema
a mãe canta, na gestação e também depois dos importância para sua formação, e que devem
bebês exigirá da educadora muita sensibilidade ser bem trabalhadas nessa etapa da Educação
e observação dos bebês, para respeitar sua Infantil, para que se possa ter um bom
maneira de explorar o universo musical. desempenho nas etapas posteriores.
Por meio dessas relações que a criança Considerada em todos os seus processos
começa a construir seu conhecimento sobre a ativos (a audição, o canto, a dança, a percussão
música experimentando, explorando e corporal e instrumental, a criação melódica) a
interagindo com os sons, podendo ficar música globaliza naturalmente os diversos
entretido por muito tempo com objeto aspectos a serem ativados no desenvolvimento
utilizado, tudo isso acontece no período da criança: cognitivo/ linguístico, psicomotor,
sensório-motor. afetivo e social (WEIGEL, 1988, p.13).
O trabalho com a música pode contribuir A insegurança é um problema muito
muito com relação à imaginação, pensamento frequente em relação às crianças pequenas,
lógico, a rapidez e a exatidão na percepção muitas vezes, elas acabam se fechando aos
auditiva. Muitas crianças têm um pouco de colegas, isso acontece principalmente no
dificuldade nas suas relações, a música pode se período de adaptação da criança dentro da
tornar uma grande aliada nessas situações. instituição, ou também existem crianças que
[...] a linguagem não verbal é uma forma de apresentam dificuldades para falar ou se
comunicação muito presente entre as crianças, expressar. Essa linguagem musical pode ser
o improviso musical pode ser uma possibilidade uma ponte entre o aluno e o professor e
de dialogarmos com as crianças muito também com os colegas de classe. Para isso
pequenas (MAFFIOLETTI, 2001, p.128). ocorra, é necessário que as atividades
proporcionem momentos de interação com o

104
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

grupo e de descontração para que o aluno se A presença do lúdico na educação infantil


sinta mais seguro em suas relações. pode ser de fundamental importância para
Pode-se notar nessa etapa de 0 a 3 anos o assimilação do conhecimento para as crianças,
conhecimento de mundo, a interação social e a atividade como teatro dança e sonorizações de
coordenação motora são aspectos primordiais histórias podem auxiliar muito no
a serem trabalhados na Educação Infantil, pois desenvolvimento dessas aptidões.
fazem muita diferença futuramente. As crianças podem aprender conceitos
Hoje com a Lei nº. 11.769, que foi decretada musicais por meio de uma atividade divertida,
no dia 18 de agosto de 2008, que propôs uma que a estimule, nos mais diversos aspetos: oral,
reformulação na lei de Diretrizes e Bases da corporal, sensibilidade de escuta,
Educação Nacional, LDB-9.394/96, foi discriminação auditiva e principalmente a
denominado que haveria três anos para que as criatividade.
escolas de ensino básico se adequassem para O que acontece em muitos Centros de
oferecer a disciplina de música em sua grade Educação Infantil, principalmente com crianças
curricular, porém, são pouquíssimas as escolas dessa faixa etária, é uma preocupação
que oferecem essa disciplina na grade escolar, exagerada pela alfabetização, isso ocorre com
não se sabe quase os motivos que impedem a mais frequência nas instituições particulares, e
inclusão dessa disciplina na escola, mas sabe-se na maioria das vezes, por cobrança dos
que é de uma importância para formação do próprios pais.
indivíduo. Existem aspectos muito mais importantes a
Na etapa da educação infantil, a música se serem trabalhados, de extrema importância
torna então uma grande colaboradora da para uma futura alfabetização, como um bom
criança em seu próprio conhecimento e do seu vocabulário, coordenação motora, noção de
grupo também, as crianças a todo o momento, espaço, limites, e um bom trabalho com a
estão em contato com a música, por isso cabe música pode contribuir para bons resultados.
ao professor mediar de que maneira ela será Consequentemente, as brincadeiras
utilizada dentro de sala de aula. musicais contribuem para reforçar todas as
As crianças de 3 a 5 anos têm necessidade de áreas do desenvolvimento infantil,
aprender por meio do concreto, manuseando representando um inestimável benefício para a
objetos, vendo, sentindo, ou seja, formação e o equilíbrio da personalidade da
experimentando sensações e movimentos. criança e do adolescente (WEIGEL, 1988, p. 13).
Por isso, as atividades como cantar com Hoje em dia, vemos muitas crianças com
gestos, dançar, bater palmas, pés são dificuldade de trabalhar com o outro, vivem em
experiências importantes para criança, pois ela uma sociedade que tudo lhe é permitido,
permite que se desenvolva o senso rítmico, a questões como limite, respeito, coletividades
coordenação motora, fatores importantes são deixadas de lado. E é nesse momento que
também para o processo e aquisição de leitura as brincadeiras musicais entram em cena, elas
e escrita (PIAGET, 1996, p. 34). podem mostrar que nem sempre somos os

105
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

primeiros, ou temos os melhores papéis, que Em outras canções, podemos solicitar a


devemos dar oportunidade para nossos pares. memória e o raciocínio rápido, onde a
Esse tipo de atividade com histórias cantadas sequência de movimentos cobrados aumenta
permite um riquíssimo trabalho de percepção gradativamente, sendo necessária uma
auditiva, confiança no outro, histórias cantadas lembrança imediata do que acabou de ser dito,
são exercícios de percepção e descriminação mas que por vezes torna-se difícil pelo acúmulo
auditiva que apuram a sensibilidade e a escuta, de informações.
e além de estimular a imaginação e a Não podemos nos esquecer de também que
criatividade”. para a aprendizagem ser eficiente é necessário
Por isso, se faz tão necessário à execução de que tenhamos uma metodologia adequada
atividades que permitam aos alunos essa para determinado público. É necessário dividir
liberdade de expressão, a socialização, isso a música em partes, repetindo cada parte
pode contribuir para que o aluno se sinta mais aprendida várias vezes, isoladamente e, em
seguro, para manifestar suas opiniões e seguida, junto com as demais aprendidas.
esclarecer suas dúvidas. A musicalização infantil é muito importante,
ela auxilia no desenvolvimento cognitivo da
MUSICALIZAÇÃO: criança, e cabe ao professor desenvolvê-la de
forma lúdica e descontraída. As brincadeiras
FERRAMENTA NA CONSTRUÇÃO infantis são repletas de sons, em que criam
DO SABER música e expressam-se com seu corpo. Isso até
A musicalização é um processo de por volta dos sete anos, pois a partir desta
construção do conhecimento musical, que tem idade ficam tímidos e sentem vergonha de se
como objetivo despertar e desenvolver o gosto expressar desta forma. Um fato que auxilia esta
musical, estimulando e contribuindo para a fase é a introdução da criança na escola, que
formação física e emocional do indivíduo. A não estimula este tipo de expressão e sim ao
música sempre deve estar interligada a outros contrário exigindo o silêncio.
tipos de arte, como por exemplo, a pintura, Trabalhar a musicalização com a criança
escultura, teatro e dança. A educação musical necessita de muita atenção, pois isto exige
deve ser inter e multidisciplinar, assim como as atividades lúdicas que auxiliam a criança a
técnicas pedagógicas, adaptadas a cada conhecer a si mesma, onde este conhecimento
realidade, sem esquecer-se do conteúdo ocorre por meio de situações do dia a dia,
humano e social da música. portanto quanto mais estímulos à criança
Ao falar em musicalização, um dos recursos recebem, melhor será o seu desenvolvimento
mais eficazes para despertar o interesse da intelectual, as experiências rítmico musicais
criança é o movimento associado à canção. Um que tem participação ativa (ver, ouvir, tocar)
exemplo é usar técnicas teatrais durante o contribuem para o desenvolvimento do
canto. Pode-se pedir para que elas imitem um sentido. Com os sons a criança trabalha a
animal ou o movimento de um carro. percepção auditiva, imitando os gestos ou a
dança desenvolve a coordenação motora e a

106
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

atenção, imitando os sons ou cantando


descobre suas capacidades e estabelece
relações com o ambiente em que vive.
As atividades musicais oferecem inúmeras
oportunidades para que a criança aprimore sua
habilidade motora, aprenda a controlar seus
músculos e mova-se com desenvoltura. O ritmo
tem um papel importante na formação e
equilíbrio do sistema nervoso. Isto porque toda
expressão musical ativa age sobre a mente,
favorecendo a descarga emocional, a reação
motora e aliviando as tensões. Qualquer
movimento adaptado a um ritmo é resultado
de um conjunto completo (e complexo) de
atividades coordenadas (MARZULLO, 2001,
p.37).
A identidade da criança vai se formando aos
poucos percebe que é diferente dos outros e ao
mesmo tempo busca integrar-se com os outros.
Desenvolvem a autoestima e a auto realização,
com isso ela aprende a se aceitar com suas
capacidades e limitações. Por meio de
atividades de musicalização coletivos podemos
reforçar a socialização, estimular à
compreensão e a cooperação, desta forma a
criança vai criando o conceito de grupo e
demonstra seus sentimentos, libera suas
emoções, desenvolve em sentimento de
segurança.

107
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A música trabalhada nas salas de aula ajuda a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno,
tornando-o mais sensível para encarar situações escolares e a sociedade. A educação deve ser
vista como um processo que está sempre evoluindo, mas que precisa de diversas formas de
estudo para seu aperfeiçoamento, pois sempre existirá diversidade, diferenças individuais que
necessitam de um tratamento diferenciado. Assim, devem-se criar atividades que contribuam no
desenvolvimento da inteligência e do pensamento crítico do educando, como por exemplo,
atividades que envolvam música, pois a música transforma a aula em mais do que um simples
aprendizado e sim em algo prazeroso para o aluno.
A música contribui muito no processo de ensino-aprendizagem, onde transformações
acontecem de maneira natural e descontraída. A utilização da música na escola desenvolve
habilidades como, coordenação motora, concentração, memorização, amplia a criatividade e a
relação entre o homem e o mundo.
Quando o professor entender a importância do lúdico no desenvolvimento da criança irá
perceber que a música pode contribuir para que a aprendizagem seja intensa e tenha resultados
muito gratificantes, e que música deve ser usada em sala de aula.
Musicalização na escola não está focada na formação de músicos, mas no despertar na
criança o interesse em entender e compreender as características da música e assim o professor
irá perceber que habilidades cognitivas e a aprendizagem irão ter um grande estímulo com o
lúdico em todas as atividades.
A escola como mediadora do conhecimento tem como maior objetivo formar cidadãos
críticos e transformadores, prontos para lidarem com situações vividas no seu cotidiano. Assim a
música no ambiente escolar tem como base trabalhar com a criança os elementos musicais como
som e silêncio, ritmo, harmonia e melodia.
É de suma importância que todos envolvidos em alguma função educacional na escola
tenham contato com a música e os elementos da musicalização, a fim de utilizá-los no dia a dia,
uma vez que a criança se encontra na fase de desenvolvimento e tomará para si o exemplo de
atitude do adulto.
Quando trabalhamos musicalização com a criança ela amplia sua percepção e socialização
desenvolvendo assim sua capacidade de concentração e raciocínio, fator muito importante em
todas as fases de sua vida.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação musical: bases psicológicas e ação preventiva.
São Paulo: Átomo, 2003.

BRITO, Teca Alencar. Música na educação infantil: propostas para a formação integral da
criança. São Paulo: Petrópolis, 2003.

LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ensino de música na escola fundamental. Campinas, SP:
Papirus, 2003 (Coleção Papirus Educação).

MAFFIOLETTI, Leda de Albuquerque. Práticas musicais na Escola Infantil. Educação Infantil.


Pra que te quero? Porto Alegre, v. 1.n. 1, p. 123 -134, 2001.

MÁRSICO, Leda Osório. A criança e a música: um estudo de como se processa o


desenvolvimento musical da criança. Porto Alegre; Rio de Janeiro: Globo, 1982.

PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar,


1996.

WEIGEL, Anna Maria Gonçalves. Brincando de música. Porto Alegre: Kuarup, 1988.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR COM A


ARTETERAPIA
Michely Felix Silva1

RESUMO: Em inúmeras ocasiões, há uma série de benefícios que a arte atribui às pessoas em seus
diferentes aspectos, como a importância da educação artística para o correto desenvolvimento
da criatividade e imaginação das crianças. A arteterapia é um tipo de terapia artística, cujo
objetivo principal é usar a arte como método terapêutico para tratar distúrbios psicológicos,
medos, traumas ou bloqueios. Embora não seja usado apenas para isso, uma vez que a
arteterapia também é benéfica para o desenvolvimento ou autoconhecimento e, acima de tudo,
para estimular a expressão de emoções, ou que se torna um tipo de terapia ideal para qualquer
pessoa. Para se beneficiar de dos aspectos positivos da arteterapia, não é necessário ser uma
pessoa com talento em todos esses aspectos, que queira poder participar, pois o objetivo
principal desse tipo de terapia é buscar ou aprimorar qualidade de vida e bem-estar como pessoa.

Palavras-Chave: Autoconhecimento; Educação Artística; Emoções.

1Professora
na Prefeitura Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE IMPORTANCE OF WORKING WITH ART THERAPY


ABSTRACT: On numerous occasions, there are a number of benefits that art attributes to people
in its different aspects, such as the importance of artistic education for the correct development
of children's creativity and imagination. Art therapy is a type of art therapy whose main objective
is to use art as a therapeutic method to treat psychological disorders, fears, trauma or blockages.
Although it is not only used for that, since art therapy is also beneficial for the development or
self-knowledge and, above all, to stimulate the expression of emotions, or that it becomes an
ideal type of therapy for anyone. To benefit from the positive aspects of art therapy, it is not
necessary to be a person with talent in all these aspects, who wants to be able to participate, as
the main objective of this type of therapy is to seek or improve quality of life and well-being as a
person.

Keywords: Self-knowledge; Artistic education; Emotions.

111
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO como “um projeto que coloca ou desafia a


transformar, pelo menos parcialmente, a dor
As artes, como todas as expressões não física ou mental, do desconforto, da dor
verbais, favorecem a exploração, expressão e marginalização, de carência, de
comunicação de aspectos que não enriquecimento pessoal. Seja dor, maldade ou
conhecemos. Nesse sentido, trabalhar as trauma, eles provam que as pessoas devem
emoções por meio da arteterapia melhora a superar para fazer uma etapa do seu progresso.
qualidade das relações humanas, pois não é um Klein parte de uma definição mais profunda
fator emocional, essencial em todo ser do que arteterapia “e o acompanhamento de
humano, ajudando-nos a ter mais consciência pessoas em dificuldade (psicológica, física,
de dois aspectos obscuros, facilitando assim o social ou existencial) por meio de suas
desenvolvimento das pessoas. produções artísticas: obras plásticas, sonoras,
A arteterapia se preocupa como uma pessoa. teatrais, literárias, corporais e de dança. Esse
Não é um projeto sobre ela, mas um projeto trabalho sutil, que toma como material as
com ela baseado em seu desconforto e seu vulnerabilidades, busca menos revelar os
desejo de se mover. A partir das diferenças sentidos inconscientes das produções do que
entre pessoas e culturas, busca atualizar as permitir que o sujeito seja recriado, ressurreto,
condições de produção criativa, perceber as em uma jornada simbólica de criação dos filhos.
especificidades dos dois meios de comunicação Esta ajuda centra-se na arte como forma de
utilizados e compreender seus impactos. comunicação, ajudando também a expressar e
A Arte-Terapia é o uso da arte como terapia. comunicar sentimentos, facilitando a reflexão,
Embora seja uma atividade milenar, se a comunicação e permitindo as necessárias
desenvolveu há cerca de 60 anos. Consiste na mudanças de comportamento. Uma criação
criação de material sem preocupação estética e artística, tomada como ação, pode estar em
sim apenas de expressar sentimentos. Esta movimento em um processo: o espaço
catarse é muito sadia e faz com que o indivíduo terapêutico intervém e irrompe na realidade,
se reorganize internamente. A arte é por si só revalidando-a.
uma atividade regeneradora (BOSSA, 1994.
p.53).
BENEFÍCIOS DAS ARTES COMO
A arteterapia pode ser definida como uma
disciplina com especificidades e limites TERAPIA
específicos. É uma ajuda -terapia para alguns- Música, arte, dança, teatro ou teatro têm
que utiliza as artes plásticas como meio para valor terapêutico para pessoas com deficiência
recuperar ou melhorar a saúde mental, ou idosos. Também conhecidas como artes,
emocional e social da pessoa. Os objetivos da elas podem ser eficazes para melhorar a função
arteterapia são os mesmos da psicoterapia. motora, a função cognitiva e a qualidade de
O psiquiatra Jean-Pierre Klein, fundador do vida; podem estimular a autodescoberta e o
INECAT (Instituto Nacional de Expressão, crescimento emocional; e pode incentivar a
Criação, Arte e terapia) refere-se à arteterapia

112
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

integração emocional e física, juntamente com A arteterapia é adaptada individualmente às


muitos outros benefícios. suas necessidades e se concentra nos objetivos
A arteterapia, também conhecida como pessoais e no bem-estar.
terapia expressiva, usa a arte como meio de Ao contrário da crença popular, ser artístico
comunicação e permite que as pessoas não é necessário para a arteterapia. Em vez
explorem e expressem suas emoções e disso, um terapeuta pode sugerir estratégias
pensamentos. para ajudar as pessoas a começar a examinar
O arteterapeuta trabalha com o sujeito suas experiências.
individualmente, ou com grupos, Incorporando aspectos de dança, teatro,
desenvolvendo práticas, dinâmicas, vivências música, escrita e muito mais, a arteterapia
que valorizam a Arte em todas as suas apoia as pessoas no gerenciamento de saúde
manifestações: pintura, escultura, música, mental e condições médicas. A arteterapia
desenho, teatro, poesia. Ao realizarmos uma pode ajudar as pessoas a aprender a se
atividade artística, não só interferimos na comunicar de forma eficaz, se expressar e se
realidade, como também desenvolvemos curar. Encontrar um profissional com formação
competências pessoais que aprimoram a especializada e formação em arteterapia é um
performance, o desempenho da pessoa, o que ótimo primeiro passo.
estabelecerá formas de comunicação entre o
real e o imaginário, entre o pragmático e o ARTETERAPIA E
sensível, transformando o ato criativo em
expressão produtiva (ANDRADE, 2000, p.53). MUSICOTERAPIA NAS ESCOLAS
O processo de arteterapia inclui o uso de A criatividade é um meio que pode ajudar a
tintas, marcador ou giz para desenhar e pintar criança a expressar as emoções que aparecem
suas emoções. Isso inclui criar uma pintura de nas diferentes fases da sua vida, bem como no
estresse, criar um cartão postal que você nunca seu dia-a-dia, estabelecendo um meio de
enviará, criar uma roda emocional e a lista comunicação e expressão que facilita os
continua. A arteterapia é um grande resgate processos de autonomia, autoafirmação e a
para pessoas que têm muita dificuldade em expressão de conflitos internos, ajudando a
expressar seus sentimentos verbalmente. compreender e aceitar as diferenças individuais
Devido à sua versatilidade, a arteterapia é e promovendo as relações sociais.
perfeita para pessoas de todas as idades. Da mesma forma, quando pretendemos
Uma revisão de vários estudos sobre a introduzir este tipo de técnicas em sala de aula,
eficácia da arteterapia mostra que ela melhora é importante estabelecer um quadro de
a qualidade de vida e a capacidade de uma referência em que sejam expostos os
pessoa de gerenciar sintomas psicológicos, benefícios da arteterapia, musicoterapia e
condições médicas e relacionadas à idade, criatividade na sala de aula para
desafios diários, estresse e esgotamento. posteriormente propor um programa de
intervenção específico baseado em técnicas
artísticas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A escola, tal como a conhecemos A arteterapia usa o desenho, a pintura e


atualmente, clama por uma mudança de raiz outras práticas baseadas na arte como forma
em que as crianças possam criar sua própria de conectar e desenvolver uma relação
aprendizagem e não se submeter a uma terapêutica. Não só permite que os alunos
educação padronizada em que se evidenciam expressem emoções, mas também fornece
seus fracassos refletidos no desajuste das suporte comportamental e gerenciamento de
diferenças. estresse.
Constantemente, as crianças adotam Criar arte promove o raciocínio sequencial e
comportamentos do mundo adulto como a organização do pensamento para aqueles que
problemas de comunicação, sentimentos de enfrentam sentimentos avassaladores, mas
inferioridade ou estresse, sendo estes grandes carecem de mecanismos de enfrentamento
indicadores de desajuste social. Nesse sentido, para processá-los adequadamente. Isso pode
a Arteterapia e a Musicoterapia aplicadas no ser incrivelmente pesado para as crianças. A
ambiente escolar é uma ferramenta valiosa arte pode servir como uma forma de mapear
para o desenvolvimento da criatividade e da pictoricamente aquilo que não pode ser
expressão das emoções, facilitando a examinado verbalmente. A ordem pode ser
adaptação da criança ao seu ambiente de visualmente estabelecida em meio ao caos
forma saudável e ajudando a aceitar as psicológico. O fazer artístico ajuda na regulação
diferenças individuais. do afeto e pode transformar uma criança em
Permitir que emoções difíceis de traduzir em sofrimento em um artista engajado.
palavras sejam expressas dando-lhes uma Costa (2001, p.15), afirma que:
forma, por meio da arte, é uma das Educar é sempre uma aposta no outro. Ao
peculiaridades mais marcantes da Arteterapia, contrário do ceticismo dos que querem ver
e onde encontramos seu maior potencial para crer, costuma-se dizer que o educador é
terapêutico. aquele que buscará sempre crer para ver. De
A arte proporciona alívio, prazer, fato, quem não apostar que existem nas
brincadeira, catarse, respingos e manchas com crianças e nos jovens com quem trabalhamos
materiais, aspectos muitas vezes essenciais qualidades que, muitas vezes, não se fazem
para crianças cujo desenvolvimento emocional evidentes nos seus atos, não se presta,
foi severamente afetado. verdadeiramente ao trabalho educativo.
Esses benefícios que as terapias artísticas e Concretizar sentimentos internalizados por
musicais nos oferecem são essenciais na fase meio da produção artística pode se tornar um
escolar, permitindo que os professores ponto de partida para a discussão e fornecer
trabalhem as emoções que surgem nos alunos um registro visual para discussões posteriores.
de forma adequada à sua idade, evitando assim É importante que os adultos respondam com
contradições e facilitando a aceitação das empatia às ansiedades da criança, como é
diferenças individuais e a adaptação ao evidente em suas narrativas e imagens. A
ambiente. criação de um espaço seguro e contido (visual
e dinamicamente) dará início a uma expressão

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mais autêntica. Um papel com borda simples dá A ARTE, A CRIATIVIDADE E A


ao papel alguma contenção visual. Para
crianças mais velhas, os desenhos de EXPRESSÃO INDIVIDUAL
polaridade geralmente ajudam a destacar A arte estimula as próprias habilidades do
diferenças e semelhanças em perspectivas sujeito, desenvolve sua criatividade e
opostas. expressão individual. É um meio para alcançar
A arte, em seu continum de expressão mais a satisfação e evoluir como pessoa.
controlada para menos controlada, pode Do ponto de vista histórico, a relação entre
permitir a experimentação de formas de lidar arte e educação se transformou de acordo com
com a adversidade. Nos limites seguros da as épocas históricas. Por mais que essa analogia
relação de tratamento e por meio da expressão passe por um processo de mudança, ainda
não-verbal, as crianças podem ensaiar persiste uma versão limitada de seu uso no
paradigmas alternativos de relacionamento. A campo educacional. No entanto, é somente
qualidade empoderadora do processo criativo com o surgimento da psicologia como disciplina
não-verbal, uma base fundamental do nosso que se valoriza a originalidade e a expressão,
trabalho como profissionais de arteterapia, habilidades que foram tidas como relevantes
permite que os clientes “falem visualmente” pelos professores.
sua expressão, mediando e contendo suas lutas Jiménez (2011), afirma que:
internalizadas. Muitas vezes, a criança A partir do século XVII, psicólogos e
intimidada cria cenas em que é um super-herói pedagogos ilustres, como Juan Amos
ferozmente corajoso. A fantasia de superar a Commenius, John Lock e JJ Rousseau, notaram
adversidade é primeiro visualizada e ensaiada que a arte pode servir como elemento
na arteterapia para que possa se tornar mais educativo, destacando assim seus dois valores:
uma realidade. o artístico-criativo-emocional e o
A arteterapia escolar também é uma arena psicopedagógico- expressão-comunicação,
rica para promover a “consciência crítica” como insistindo na ideia de que, sendo mídia, devem
postulado por Paulo Freire (2005). Na aprendê-las todas, assim como se faz com a
arteterapia, os alunos podem refletir linguagem oral e escrita (p. 10).
profundamente sobre si mesmos em relação ao Mas, as transformações perturbadoras e
seu clima social, explorar as contradições favoráveis não são percebidas com clareza até
inerentes a esses relacionamentos e tornar-se a primeira metade do século XIX, quando esses
capacitados para resolver problemas. A signos artísticos são considerados uma forma
conscientização, empoderamento e de “livre expressão, e não a repetição inútil de
responsabilização do trabalho de Freire no cânones estereotipados” (Jiménez, 2011, p.
contexto da opressão é bastante relevante para 10). É nessa altura que se demonstra que a arte
nosso trabalho atual como arte terapeutas. tem um efeito positivo, uma vez que
desenvolve tanto competências sociais, físicas
e psicológicas, como também um verdadeiro

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento da autoestima e do viver e conviver no momento presente e


autoconceito. desenvolver capacidades criativas e de inclusão
Nos tempos atuais, tão convulsivos e social em crianças e jovens. Para isso, a arte
vertiginosos, é necessário um olhar deve ser considerada como uma importante
diferenciado na formação de crianças e jovens, oportunidade de ser, criar e transformar a
onde, por um lado, sejam incorporadas realidade. Por isso, a necessidade de incluir a
técnicas didáticas que estejam de acordo com arte não só nas escolas, mas em toda a
a fluidez desses momentos, e por outro a outra, sociedade é cada vez mais evidente.
que busca incorporar outras ações que
ofereçam uma visão atual e real do mundo, que
convide a descobrir, compreender e resolver os
problemas que surgem no dia a dia.
De acordo com Berdejo e Urbina (2018), a
arte se apresenta como um instrumento para a
"apresentação estética social e sua imbricação
educativa para a formação de uma consciência
social, solidária e comprometida com as
reivindicações populares" (p.8), bem como um
forma direta de resolver os problemas sociais e
culturais do meio ambiente.
Atualmente, ao se referir à arte e sua relação
com a educação, o pensamento imediatamente
se volta para o mundo da educação artística
limitando-se à produção de benefícios
educacionais gerais e não como forma de
produção cultural.
No entanto, a educação artística desafia e
modifica os sujeitos na construção de seus
conhecimentos e contribui para o
desenvolvimento de capacidades cognitivas,
expressivas e relacionais específicas. Nessa
engrenagem da arte-educação, a arte e a
cultura como pedra angular do processo
educativo, ajudam a pensar a vida de forma
diferente, pois convoca a reflexão crítica e a
transformação da realidade circundante.
Tudo isso demonstra a importância que,
pouco a pouco, a arte tem sido dada na
educação. Agir diferente é condição vital para

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante que os professores conheçam nossos alunos, suas características, interesses,
motivações e capacidades, para poder abordá-los e assim poder ajudá-los, orientá-los e educá-
los, levando em conta seu ambiente e realidade.
Desde a infância, a arte faz parte de nossas vidas e está presente em todos os estágios de
crescimento e desenvolvimento, usando-o como forma de expressar a criatividade, sentimentos,
emoções e humores.
Com a arte, as crianças conseguem se desenvolver de forma mais específica e precisa as
diferentes capacidades criativas e inovadoras e adquirir um dos objetos e fenômenos que
ocorrem ao seu redor.
Por isso, acreditamos que neste processo educativo a arte deve ter um papel importante.
significativo, por permitir a expressão espontânea de sentimentos e emoções, bem como suas
opiniões, oferecendo a possibilidade de reproduzir e reconstruir suas experiências, o que
contribui ao mesmo tempo para o seu desenvolvimento pessoal e emocional.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Liomar Quinto. Terapias Expressivas. São Paulo: Vetor, 2000.

BERDEJO, C. e URBINA, S. (Coords.). Arte. Guardião da Memória. (1 edição). Guadalajara,


Jalisco, México: Universidade de Guadalajara. 2018.

BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre:


Artes Médicas Sul, 1994.

JIMÉNEZ, C. G. A importância da educação artística na formação integral do


aluno. Campeche, México: Universidade Pedagógica Nacional. 2011.

KLEIN, J.P. (2006). Arteterapia, um acompanhamento na criação e


transformação. Arteterapia, 1, 19-25.

FREIRE, P. Educação para a Consciência Crítica. Nova York: Continuum International


Publishing Group. 2005.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO HISTÓRICO


DA INCLUSÃO ESCOLAR NO BRASIL
Marcia Teresa Scolar1

RESUMO: O presente estudo tem como tema a importância da contextualização histórica da


Inclusão Escolar no Brasil. Por meio de pesquisas, leituras e análises de várias obras por diferentes
autores, pretendeu-se no presente artigo aduzir aspectos relevantes sobre o tema abordado.
Podemos perceber que nas últimas décadas muito se tem debatido sobre um sistema educacional
inclusivo, sendo as esferas política, cultural, social e pedagógica, tendo se manifestado em prol
do direito de todos a uma educação de qualidade. Diante disso, esse estudo tem como temática
central planear a visão histórica da educação inclusiva no Brasil até a contemporaneidade,
obtendo como objetivo discutir os avanços legais e pedagógicos que vêm ampliando esse cenário.
Mais especificamente, pretendeu-se analisar a legislação para a educação especial atualmente,
apontando questões ligadas à inclusão social e escolar das pessoas com Necessidades
Educacionais Especiais (NEE). Para realizar tal reflexão, a metodologia de pesquisa utilizada neste
trabalho foi a do tipo bibliográfica, com pesquisas realizadas por meio de livros, revistas, artigos
acadêmicos, periódicos e jornais. O referencial teórico disponibilizado por meio da Internet
permitiu uma ampla fundamentação teórica do trabalho. Por meio das leituras realizadas,
podemos perceber que, mediante as mudanças nas legislações, principalmente trazidas pela
Declaração de Salamanca, as pessoas com necessidades especiais começaram a ser vistas pela
sociedade, trazendo à escola novos desafios no atendimento das mesmas. Em consequência,
outras legislações, parâmetros e normas foram instituídos para direcionar esse atendimento. Mas
ainda temos muito o que avançar, pois ainda existe muito preconceito e até mesmo na escola
podemos observar que, pedagogicamente falando, muitos são os obstáculos a serem

1Professora de Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em EAD - Educação a Distância;
Especialização em Formação de Doente para Ensino Superior à Distância.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

enfrentados, já que a educação inclusiva não consiste apenas em colocar o aluno com
necessidades especiais dentro da sala de aula, mas sim em atender de fato essas necessidades,
permitindo que a aprendizagem ocorra mediante as possibilidades, habilidades e potencialidades
de cada um.

Palavras-Chave: Educação Inclusiva; História; Legislação.

THE IMPORTANCE OF THE HISTORICAL CONTEXT OF SCHOOL


INCLUSION IN BRAZIL
ABSTRACT: The present study has as its theme the importance of the historical contextualization
of School Inclusion in Brazil. Through research, reading and analysis of several works by different
authors, this article intends to add relevant aspects about the approached theme. We can see
that in the last decades there has been much debate about an inclusive education system, in the
political, cultural, social and pedagogical spheres, having expressed itself in favor of everyone's
right to a quality education. In view of this, this study has as its central theme to plan the historical
view of inclusive education in Brazil until contemporary times, aiming to discuss the legal and
pedagogical advances that have been expanding this scenario. More specifically, it was intended
to analyze the legislation for special education today, pointing out issues related to the social and
school inclusion of people with Special Educational Needs (SEN). To carry out this reflection, the
research methodology used in this work was the bibliographic type, with research carried out
through books, magazines, academic articles, periodicals and newspapers. The theoretical
framework available through the Internet allowed a broad theoretical foundation of the work.
Through the readings carried out, we can see that, through changes in legislation, mainly brought
about by the Salamanca Declaration, people with special needs began to be seen by society,
bringing new challenges to the school in meeting them. As a result, other laws, parameters and
norms were instituted to direct this service. But we still have a long way to go, because there is
still a lot of prejudice and even at school we can observe that, pedagogically speaking, there are
many obstacles to be faced, since inclusive education does not only consist of placing the student
with special needs within the classroom, but in actually meeting these needs, allowing learning
to occur through the possibilities, abilities and potential of each one.

Keywords: Inclusive Education; Story; Legislation.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Gradativamente as sociedades democráticas


vêm divulgando, discutindo e defendendo a
O presente estudo pretende abordar a inclusão como direito de todos em relação aos
temática da inclusão escolar mediante a diversos espaços sociais.
evolução histórica da Educação Especial no Sobre o assunto, podemos retomar algumas
Brasil. Sobre o assunto, podemos destacar definições que mais se aproximam do
algumas observações em nossa legislação, que entendimento que norteia essa análise, bem
foram fundamentais para chegarmos onde como destacados alguns autores que
estamos hoje em relação à inclusão. contribuem para as reflexões sobre essa
Na atual Constituição (1988), ficou instituído importante temática da vida social e política.
o direito à educação gratuita e obrigatória, ao Em face disso, nota-se que a materialização
menos em nível menos elementar. Esses da escola verdadeiramente inclusiva trabalha
direitos, além de serem mantidos, foram ainda baseando-se na defesa de princípios e valores
entendidos como sendo dever do Estado e da éticos, na projeção dos ideais de cidadania e
família, no seu Art. 205. justiça, nivelada a uma proposta que visa à
O Estatuto da Criança e do Adolescente promoção de práticas pedagógicas
(ECA), no seu art. 54 e 66, de forma mais contemplando o aluno, individualmente, em
específica assegura o direito à educação, onde sua maneira peculiar durante o processo de
se faz referência aos Portadores de aprendizagem e envolvendo, com
Necessidade Educacionais Especiais e seus compromisso e empenho, a comunidade
direitos, não só à educação, como também ao escolar.
trabalho.
Em 1990, com a Conferência Mundial Sobre
O CONTEXTO HISTÓRICO DA
Educação Para Todos, a educação aparece
como preocupação mundial. O tema foi motivo EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL
de vários estudos e encontros. Na Espanha, É importante contextualizar a Educação
durante a Conferência Mundial de Especial desde os seus primórdios até a
Necessidades Educacionais Especiais, foi atualidade, para que se perceba que as escolas
aprovada a Declaração de Salamanca no ano de especiais são as principais responsáveis pelos
1994. avanços da inclusão, longe de serem
A inclusão social tem se consagrado no responsáveis pela negação do direito das
mundo ocidental, especialmente a partir da pessoas com necessidades educacionais
década de 1980, como lema impulsionador de especiais, de terem acesso à educação.
importantes movimentos sociais e ações Evidencia-se que a inclusão ou a exclusão das
políticas. Na Europa e nos Estados Unidos da pessoas com deficiência estão intimamente
América, já nos anos 1970, a inclusão social das ligadas às questões culturais.
pessoas com deficiência figurava entre os No Brasil, até a década de 50, praticamente
direitos sociais básicos expressos em não se falava em Educação Especial. Foi a partir
importantes documentos legais e normativos. de 1970, que a educação especial passou a ser

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

discutida, tornando-se preocupação dos Historicamente, a educação especial tem


governos com a criação de instituições públicas sido considerada como educação de pessoas
e privadas, órgãos normativos federais e com deficiência, seja ela mental, auditiva,
estaduais e de classes especiais. visual, motora, física múltipla ou decorrente de
O desenvolvimento histórico da educação distúrbios evasivos do desenvolvimento, além
especial no Brasil inicia-se no século 19, quando das pessoas superdotadas que também têm
os serviços dedicados a esse segmento de integrado o alunado da educação especial.
nossa população, inspirados por experiências Januzzi (1992, p. 37), em seu levantamento
norte-americanas e européias, foram trazidos sobre a história da Educação Especial no Brasil,
por alguns brasileiros que se dispunham a concluiu que sua origem se deu basicamente
organizar e a implementar ações isoladas e em instituições, com atendimento registrado
particulares para atender a pessoas com em São Paulo, desde de 1600, ainda no Brasil
deficiências físicas, mentais e sensoriais. colônia, e que foi se expandindo timidamente.
Essas iniciativas não estavam integradas às Assim a Educação foi sendo o centro de
políticas públicas de educação e foi preciso o atenção e preocupação apenas nos momentos
passar de um século, aproximadamente, para e na medida exata em que dela sentiram
que a educação especial passasse a ser uma das necessidade os segmentos da sociedade.
componentes de nosso sistema educacional. O início da Educação Especial se deu no
De fato, no início dos anos 60 é que essa Brasil, no momento em que a sociedade vivia
modalidade de ensino foi instituída sob a influência do liberalismo, que sustentou
oficialmente, com a denominação de as tendências republicanas e abolicionistas
"educação dos excepcionais". Faz-se necessário (MAZZOTTA,1996, p. 85).
compreender o processo histórico da Educação De acordo com o autor acima são dois os
Especial para que possamos avançar frente às períodos na evolução da Educação Especial no
necessidades trazidas na Educação Inclusiva. Brasil. O primeiro de 1854 a 1956, em que se
A história da Educação Especial no Brasil foi verificava iniciativas oficiais e particulares
determinada, pelo menos até o final do século isoladas, tendo este período a fundação do
XIX, pelos costumes e informações vindas da "Imperial Instituto para Meninos Cegos" atual
Europa. O abandono de crianças com (Instituto Benjamin Constant), o Imperial
deficiências nas ruas, portas de conventos e Instituto dos Surdos Mudos (atual Instituto
igrejas era comum no século XVII, que Nacional de Educação de Surdos) e o segundo
acabavam sendo devoradas por cães ou que abrange de 1957 a 1993, que teve as
acabavam morrendo de frio, fome ou sede. A iniciativas oficiais de âmbito nacional. Embora
criação da “roda de expostos” em Salvador e a Constituição de 1824, primeira no país,
Rio de Janeiro, no início do século XVIII e, em prometesse a educação primária e gratuita a
São Paulo, no início do século XIX, deu início a todos, esta foi relegada ao esquecimento.
institucionalização dessas crianças que eram A fundação desses dois Institutos
cuidadas por religiosas. representou uma grande conquista para o
atendimento dos indivíduos deficientes,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

abrindo espaço para a conscientização e a assim evitaria a segregação destes em


discussão sobre a sua educação. No entanto, manicômios, asilos ou penitenciarias. Enquanto
não deixou de “se constituir em uma medida o movimento pela institucionalização dos
precária em termos nacionais, pois em 1872, deficientes mentais, em vários países, era
com uma população de 15.848 cegos e 11.595 crescente com a criação de escolas especiais
surdos, no país eram atendidos apenas 35 comunitárias e de classes especiais em escolas
cegos e 17 surdos” (MAZZOTTA, 1996, p. 86), públicas, no nosso país havia uma
nestas instituições. despreocupação com a conceituação,
Assim, a Educação Especial se caracterizou identificação e classificação dos deficientes
por ações isoladas e o atendimento se referiu mentais.
mais às deficiências visuais, auditivas e, em Entre a década de 30 e 40 observamos várias
menor quantidade, às deficiências físicas. mudanças na educação brasileira, como, por
Podemos dizer que em relação à deficiência exemplo, a expansão do ensino primário e
mental houve um silêncio quase absoluto. Em secundário, a fundação da Universidade de São
cada época, as concepções de deficiência Paulo etc. Podemos dizer que a educação do
mental refletiam as expectativas sociais deficiente mental ainda não era considerada
daquele momento histórico. um problema a ser resolvido. Neste período a
Nesse contexto, a concepção de deficiência preocupação era com as reformas na educação
mental, de acordo com Jannuzzi (1992, p. 72), da pessoa normal.
passou a englobar diversos tipos de crianças Januzzi (1992, p. 25), aponta que: A
que tinham em comum o fato de apresentarem educação popular, e muito menos a dos
comportamentos que divergiam daqueles “deficientes mentais”, não era motivo de
esperados pela sociedade e preocupação. Na sociedade ainda pouco
consequentemente pela escola. urbanizada, apoiada no setor rural,
Sob o rótulo de deficientes mentais, primitivamente aparelhado, provavelmente
encontramos alunos indisciplinados, com não eram considerados “deficientes”; havia
aprendizagem lenta, abandonados pela família, lugar, havia alguma tarefa que executassem. A
portadores de lesões orgânicas, com distúrbios população era iletrada em sua maioria,
mentais graves, enfim toda criança considerada chegando a 85% o número de analfabetos,
fora dos padrões ditados pela sociedade como entre todas as idades.
normais. No Brasil, a deficiência mental não era Em 1967, a Sociedade Pestalozzi do Brasil,
considerada como uma ameaça social nem criada em 1945, já contava com 16 instituições
como uma degenerescência da espécie. Ela era por todo o país. Criada em 1954, a Associação
atribuída aos infortúnios ambientais, apesar da de Pais e Amigos dos Excepcionais já contava
crença numa concepção organicista e também com 16 instituições em 1962. Nessa
patológica (MENDES, 1995, p. 43). época, foi criada a Federação Nacional das
Jannuzzi (1992, p. 21), nos mostrou que a APAES (FENAPAES) que, em 1963, realizou seu
defesa da educação dos deficientes mentais primeiro congresso (MENDES, 1995, p. 91).
visava economia para os cofres públicos, pois

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nesta época, podemos dizer que houve uma oportunidades de escolarização para as classes
expansão de instituições privadas de caráter mais populares e a implantação de classes
filantrópico sem fins lucrativos, isentando especiais para deficiência mental leve nas
assim o governo da obrigatoriedade de escolas regulares públicas.
oferecer atendimento aos deficientes na rede Ao longo da década de 60, ocorreu a maior
pública de ensino. Foi a partir dos anos 50, mais expansão no número de escolas de ensino
especificamente no ano de 1957, que o especial já vista no país. Em 1969, havia mais de
atendimento educacional aos indivíduos que 800 estabelecimentos de ensino especial para
apresentavam deficiência foi assumido deficientes mentais, cerca de quatro vezes mais
explicitamente pelo governo federal, em do que a quantidade existente no ano de 1960.
âmbito nacional, com a criação de campanhas Enquanto que, na década de 70, observamos
voltadas especificamente para este fim. nos países desenvolvidos, amplas discussões e
A primeira campanha foi feita em 1957, questionamentos sobre a integração dos
voltada para os deficientes auditivos – deficientes mentais na sociedade, no Brasil
“Campanha para a Educação do Surdo acontece neste momento a institucionalização
Brasileiro”. Esta campanha tinha por objetivo da Educação Especial em termos de
promover medidas necessárias para a planejamento de políticas públicas com a
educação e assistência dos surdos, em todo o criação do Centro Nacional de Educação
Brasil. Em seguida é criada a “ Campanha Especial (CENESP), em 1973.
Nacional da Educação e Reabilitação do A prática da integração social no cenário
Deficiente da Visão”, em 1958. mundial teve seu maior impulso a partir dos
Em 1960 foi criada a “Campanha Nacional de anos 80, reflexo dos movimentos de luta pelos
Educação e Reabilitação de Deficientes direitos dos deficientes. No Brasil, essa década
Mentais” (CADEME). A CADEME tinha por representou também um tempo marcado por
finalidade promover em todo território muitas lutas sociais empreendidas pela
Nacional, a “ educação, treinamento, população marginalizada. As mudanças sociais,
reabilitação e assistência educacional das ainda que mais nas intenções do que nas ações,
crianças retardadas e outros deficientes foram se manifestando em diversos setores e
mentais de qualquer idade ou sexo” contextos e, sem dúvida alguma, o
(MAZZOTTA, 1996, p. 52). envolvimento legal nestas mudanças foi de
Nesse período, junto com as discussões mais fundamental importância.
amplas sobre reforma universitária e educação Nesse sentido, a Constituição Federal de
popular, o estado aumenta o número de 1988, em seu artigo 208, estabelece a
classes especiais, principalmente para integração escolar enquanto preceito
deficientes mentais, nas escolas públicas. Sobre constitucional, preconizando o atendimento
isso, Jannuzzi (1992, p. 36), esclarece que na aos indivíduos que apresentam deficiência,
educação especial para indivíduos que preferencialmente na rede regular de ensino.
apresentam deficiência mental há uma relação Podemos dizer que ficou assegurado pela
diretamente proporcional entre o aumento de Constituição Brasileira (1988) o direito de todos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

à educação, garantindo, assim, o atendimento No intuito de reforçar a obrigação do país em


educacional de pessoas que apresentam prover a educação, é publicada, em dezembro
necessidades educacionais especiais. de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
A deficiência, principalmente a mental tem Nacional 9.394/96. Essa lei expressa em seu
características de doenças exigindo cuidados conteúdo alguns avanços significativos.
clínicos e ações terapêuticas. A educação Podemos citar a extensão da oferta da
dessas pessoas é denominada de educação educação especial na faixa etária de zero a seis
especial em função da “clientela” a que se anos; a ideia de melhoria da qualidade 6 dos
destina e para a qual o sistema deve oferecer “ serviços educacionais para os alunos e a
tratamento especial” tal como contido nos necessidade de o professor estar preparado e
textos da lei 4024/61 e da 5692/71, hoje com recursos adequados de forma a
substituída pela nova lei de Diretrizes e Bases compreender e atender à diversidade dos
da Educação Nacional, lei 9394/96. alunos.
A prática da integração social no cenário A situação atual da Educação Especial aponta
mundial teve seu maior impulso a partir dos para a inclusão como um avanço porque:
anos 80, reflexo dos movimentos de luta pelos • Em vez de focalizar a deficiência na pessoa,
direitos dos deficientes. No Brasil, essa década enfatiza o ensino e a escola;
representou também um tempo marcado por • Busca formas e condições de
muitas lutas sociais empreendidas pela aprendizagem, em vez de procurar no aluno a
população marginalizada. origem do problema;
As mudanças sociais, ainda que mais nas E o resultado desta nova visão é:
intenções do que nas ações, foram se • A escola deve prover recursos e apoios
manifestando em diversos setores e contextos pedagógicos para que o aluno obtenha sucesso
e, sem dúvida alguma, o envolvimento legal escolar;
nestas mudanças foi de fundamental • Ao invés do aluno ajustar-se aos padrões
importância. de “normalidade” para aprender, a escola deve
Nesse sentido, a Constituição Federal de ajustar-se à “diversidade” dos seus alunos.
1988, em seu artigo 208, estabelece a Porém, é interessante considerar que os
integração escolar enquanto preceito serviços especializados e o atendimento das
constitucional, preconizando o atendimento necessidades específicas dos alunos garantidos
aos indivíduos que apresentam deficiência, pela lei estão muito longe de serem alcançados.
preferencialmente na rede regular de ensino. Identificamos, no interior da escola, a carência
Segundo Bueno (1994, p. 54), é mínimo o de recursos pedagógicos e a fragilidade da
acesso à escola de pessoas que apresentam formação dos professores para lidar com essa
deficiência mental, com o agravante de esse clientela.
acesso servir mais a legitimação da Em lei, muitas conquistas foram alcançadas.
marginalidade social do que à ampliação das Entretanto, precisamos garantir que essas
oportunidades educacionais para essa conquistas, expressas nas leis, realmente
população. possam ser efetivadas na prática do cotidiano

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escolar, pois o governo não tem conseguido Portanto, para que as diferenças sejam
garantir a democratização do ensino, respeitadas e se aprenda a viver na diversidade,
permitindo o acesso, a permanência e o é necessário uma nova concepção de escola, de
sucesso de todos os alunos do ensino especial aluno, de ensinar e de aprender. A efetivação
na escola. de uma prática educacional inclusiva não será
Porém, não podemos negar que a luta pela garantida por meio de leis, decretos ou
integração social do indivíduo que apresenta portarias que obriguem as escolas regulares a
deficiência foi realmente um avanço social aceitarem os alunos com necessidades
muito importante, pois teve o mérito de inserir especiais, ou seja, apenas a presença física do
esse indivíduo na sociedade de forma aluno deficiente mental na classe regular não é
sistemática, se comparado aos tempos de garantia de inclusão, mas sim que a escola
segregação. esteja preparada para dar conta de trabalhar
Ao revisitarmos a história da Educação com os alunos que chegam até ela,
Especial até a década de 90, podemos perceber independentemente de suas diferenças ou
conquistas em relação à educação dos características individuais.
indivíduos que apresentam deficiência mental. A educação é responsável pela socialização,
Não é pouco avanço ir de uma quase completa que é a possibilidade de uma pessoa conviver
inexistência de atendimento de qualquer tipo à com qualidade na sociedade, tendo, portanto,
proposição e efetivação de políticas de um caráter cultural acentuado, viabilizando a
integração social. Podemos falar, também, de integração do indivíduo com o meio.
avanços e muitos retrocessos, de conquistas Tem-se a Declaração de Salamanca (1994,
questionáveis e de preconceitos p.4), como marco e início da caminhada para a
cientificamente legitimados. Educação Inclusiva. A inclusão é um processo
Em meados da década de 90, no Brasil, educacional por meio do qual todos os alunos,
começaram as discussões em torno do novo incluído, com deficiência, devem ser educados
modelo de atendimento escolar denominado juntos, com o apoio necessário, na idade
inclusão escolar. Esse novo paradigma surge adequada e em escola de ensino regular.
como uma reação contrária ao processo de Enquanto educadores, nosso papel frente à
integração, e sua efetivação prática tem gerado inclusão, reside em acreditar nas possibilidades
muitas controvérsias e discussões. de avanços acadêmicos dos alunos
Reconhecemos que trabalhar com classes denominados normais, terão de se tornar mais
heterogêneas que acolhem todas as diferenças solidários, acolhedores diante das diferenças e,
traz inúmeros benefícios ao desenvolvimento crer que a escola terá que se renovar, pois a
das crianças deficientes e também as não nova política educacional é construída segundo
deficientes, na medida em que estas têm a o princípio da igualdade de todos perante a lei
oportunidade de vivenciar a importância do que abrange as pessoas de todas as classes
valor da troca e da cooperação nas interações sociais.
humanas. O aluno com deficiência, na convivência com
seus pares da mesma idade, estimula seu

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento cognitivo e social, todos da equipe escolar – diretores,


demonstrando maior interesse pelo ambiente professores, secretaria, serviços gerais –
que o cerca e apresenta comportamentos participam ativamente desse projeto.
próprios para sua idade. É notório que apenas leis e declarações, por
O professor deve estar atento à interação mais pertinentes e apropriadas que sejam, por
estabelecida entre os alunos com e sem si só não revertem situações e crenças
deficiências, promovendo, não só as arraigadas na consciência social dos indivíduos.
aprendizagens acadêmicas, como o Ainda que haja iniciativas governamentais e
relacionamento entre eles e o aumento da esforços internacionais, é bem sabido que a
autoestima da criança com deficiência, mudança do paradigma da educação especial
auxiliando sua integração na classe. A vista como algo à parte, um apêndice da
segregação ou integração depende do tipo de educação e consequentemente, também um
relação estabelecida entre a pessoa com apêndice da sociedade, é algo que requer ações
deficiência e aquela que não a apresenta. de convencimento e para tal necessariamente
A prática da educação inclusiva merece deverá expandir-se e deixar de permear apenas
cuidado especial, pois estamos falando do a comunidade científica.
futuro de pessoas com necessidades É preciso que haja o levantamento de
educacionais especiais. Antes mesmo de discussões que direcionem para a tomada de
incluir, é importante certificar-se dos objetivos decisões resultando em ações efetivas. Aí sim,
dessa inclusão, para o aluno, quais os poderemos dizer que o paradigma da educação
benefícios/avanços, ele poderá ter, estando inclusiva esteja não arraigado, mas
junto aos alunos da rede regular e produzir efetivamente presente nas famílias, nas
transformações. A educação especial surgiu escolas, enfim, na sociedade, por meio de
com muitas lutas, organizações e leis favoráveis estudos e práticas científicas.
aos deficientes e a educação inclusiva começou Refletindo sobre a realidade brasileira,
a ganhar força a partir da Declaração de podemos perceber que ao implementar
Salamanca (1994, p.4), a partir da aprovação da serviços de Educação Especial com objetivo de
constituição de 1988 e da LDB 1996. atender às necessidades educacionais especiais
A educação inclusiva é um processo em que dos alunos com algum tipo de deficiência,
se amplia a participação de todos os estudantes acabamos nas últimas décadas contribuindo
nos estabelecimentos de ensino regular. Trata- para a exclusão do sistema regular de ensino,
se de uma reestruturação da cultura, da prática ainda que tenhamos nas últimas décadas
e das políticas vivenciadas nas escolas de modo iniciado a colocação de alunos de escolas e
que estas respondam à diversidade de alunos. classes especiais em classes comuns de escolas
É uma abordagem humanística, regulares, práticas desenvolvidas são pouco
democrática, que percebe o sujeito e suas avaliadas, o processo ainda se encontra aquém
singularidades, tendo como objetivos o do desejado.
crescimento, a satisfação pessoal e a inserção Assim, podemos inferir que o problema não
social de todos. Uma escola é inclusiva quando está em discutir integrar ou incluir, e sim em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

como implementar, no contexto da realidade II – deficiência permanente é aquela que


educacional, o de escola inclusiva. É necessário ocorreu ou se estabilizou durante um período
que se avalie nos planos governamentais as de tempo suficiente para não permitir
reais condições da região, da cidade, do estado recuperação ou ter probabilidade de que se
e do país para se elaborar qualquer diretriz que altere, apesar de novos tratamentos;
diga respeito à inclusão da pessoa portadora de III – incapacidade que é uma redução efetiva
deficiência na rede comum de ensino. e acentuada da capacidade de integração
social, com necessidade de equipamentos,
AS LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO adaptações, meios ou recursos especiais para
que a pessoa portadora de deficiência possa
À PESSOA COM NECESSIDADES receber ou transmitir informações necessárias
ESPECIAIS NO BRASIL ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de
O conceito e a concepção do termo função ou atividade a ser exercida.
“deficiente” detiveram suas origens na Ademais, o Art. 4º estipula que é
Declaração dos Direitos dos Deficientes, considerada pessoa portadora de deficiência a
aprovada pela Assembléia Geral da que se enquadra nas seguintes categorias:
Organização das Nações Unidas, em 9 de I – deficiência física – alteração completa ou
dezembro de 1975. Segundo o art. 1º da parcial de um ou mais segmentos do corpo
Resolução 3447, o termo “deficiente” designa humano, acarretando o comprometimento da
toda pessoa em estado de incapacidade de função física, apresentando-se sob a forma de
prover por si mesma, no todo ou em parte, as paraplegia, paraparesia, monoplegia,
necessidades de uma vida pessoal ou social monoparesia, tetraplegia, tetraparesia,
normal, em consequência de uma deficiência triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia,
congênita ou não de suas faculdades físicas ou ostomia, amputação ou ausência de membro,
mentais. paralisia cerebral, nanismo, membros com
Posteriormente, em 1980, a Organização deformidade congênita ou adquirida, exceto as
Mundial de Saúde (OMS) definiu deficiência deformidades estéticas e as que não produzam
como sendo qualquer perda ou anormalidade dificuldades para o desempenho de funções;
da estrutura ou função psicológica, fisiológica II – deficiência auditiva – perda bilateral,
ou anatômica. parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB)
No âmbito interno foi editado o Decreto nº ou mais, aferida por audiograma nas
3.298/99 (2), o qual, no art. 3º, faz a distinção frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e
entre deficiência, deficiência permanente e 3.000Hz;
incapacidade, ou seja: III – deficiência visual - cegueira, na qual a
I – deficiência é toda perda ou anormalidade acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no
de uma estrutura ou função psicológica, melhor olho, com a melhor correção óptica; a
fisiológica ou anatômica que gere incapacidade baixa visão, que significa acuidade visual entre
para o desempenho de atividade, dentro do 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor
padrão considerado normal para o ser humano; correção óptica; os casos nos quais a somatória

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

da medida do campo visual em ambos os olhos institucionalização especializada dá- se início o


for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência período de segregação, onde a política era
simultânea de quaisquer das condições separar, isolar e proteger a sociedade do
anteriores; convívio social, do contato com estas pessoas
IV – deficiência mental – funcionamento anormais, inválidas, incapazes de exercer
intelectual significativamente inferior à média, qualquer atividade.
com manifestação antes dos dezoito anos e No século XX, a desinstitucionalização
limitações associadas a duas ou mais áreas de começa a ocorrer, com programas escolares
habilidades adaptativas, tais como: onde os portadores de necessidades educativas
a) comunicação; especiais1 ou os excepcionais, como eram
b) cuidado pessoal; chamados, passam a frequentar a escola. São
c) habilidades sociais; criadas as classes especiais. Estas classes
d) utilização dos recursos da comunidade; especiais tinham o objetivo de educar os
e) saúde e segurança; diferentes, e contribuíram mais uma vez para a
f) habilidades acadêmicas; segregação e exclusão.
g) lazer; Nos anos 80 surge a integração educativa,
h) trabalho. defendendo que o ensino dos alunos com
V – deficiência múltipla – associação de duas Necessidades Educativas Especiais poderia ser
ou mais deficiências. realizado no contexto da escola regular.
Em suma, pode-se conceituar deficiência O desenvolvimento histórico da educação
como uma limitação física, mental, sensorial ou especial no Brasil inicia-se no século 19, quando
múltipla, que incapacite a pessoa de os serviços dedicados a esse segmento de
desempenhar as atividades da vida diária e nossa população, inspirados por experiências
para o trabalho e que, em razão dessa norte-americanas e européias, foram trazidos
incapacitação, a pessoa tenha dificuldades de por alguns brasileiros que se dispunham a
inserção no meio social. organizar e a implementar ações isoladas e
temos um histórico amplo de várias particulares para atender a pessoas com
significações no decorrer da história, que deficiências físicas, mentais e sensoriais.
assinala registros de resistência à aceitação Essas iniciativas não estavam integradas às
social dos portadores de necessidades políticas públicas de educação e foi preciso o
educativas especiais. Práticas executadas como passar de um século, aproximadamente, para
abandono, afogamentos, sacrifícios eram que a educação especial passasse a ser uma das
comuns até meados do século XVIII, quando o componentes de nosso sistema educacional.
atendimento passa das famílias e da igreja, De fato, no início dos anos 60 é que essa
para a ciência, passando das instituições modalidade de ensino foi instituída
residenciais às classes especiais no século XX. oficialmente, com a denominação de
Conforme Cardoso (2003, p. 20), os médicos "educação dos excepcionais".
passaram a dedicar-se ao estudo dos
deficientes, nomenclatura adotada. Com esta

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Podemos, pois, afirmar que a história da especialista James Gallagher, que veio ao Brasil
educação de pessoas com deficiência no Brasil a convite desse Grupo, foi apresentada a
está dividida entre três grandes períodos: primeira proposta de estruturação da educação
de 1854 a 1956 - marcado por iniciativas de especial brasileira, tendo sido criado um órgão
caráter privado; central para geri-la, sediado no próprio
de 1957 a 1993 – definido por ações oficiais Ministério e denominado Centro Nacional de
de âmbito nacional; Educação Especial - CENESP. Esse Centro, hoje,
de 1993.... – caracterizado pelos é a Secretaria de Educação Especial - SEESP,
movimentos em favor da inclusão escolar. que manteve basicamente as mesmas
No primeiro período enfatizou-se o competências e estrutura organizacional de seu
atendimento clínico especializado, mas antecessor, no MEC.
incluindo a educação escolar e nesse tempo A condução das políticas brasileiras de
foram fundadas as instituições mais educação especial estiveram por muito tempo
tradicionais de assistência às pessoas com nas mesmas mãos, ou seja, foram mantidas por
deficiências mental, físicas e sensoriais que um grupo que se envolveu a fundo com essa
seguiram o exemplo e o pioneirismo do tarefa. Essas pessoas, entre outras, estavam
Instituto dos Meninos Cegos, fundado na ligadas a movimentos particulares e
cidade do Rio de Janeiro, em fins de 1854. beneficentes de assistência aos deficientes que
Entre a fundação desse Instituto e os dias de até hoje têm muito poder sobre a orientação
hoje, a história da educação especial no Brasil das grandes linhas da educação especial. Na
foi se estruturando, seguindo quase sempre época do regime militar eram generais e
modelos que primam pelo assistencialismo, coronéis que lideravam as instituições
pela visão segregativa e por uma segmentação especializadas de maior porte e, atualmente,
das deficiências, fato que contribui ainda mais alguns deles se elegeram deputados, após
para que a formação escolar e a vida social das assumirem a coordenação geral de associações
crianças e jovens com deficiência aconteçam e continuam pressionando a opinião pública e
em um mundo à parte. o próprio governo na direção de suas
A educação especial foi assumida pelo poder conveniências.
público em 1957 com a criação das Só muito recentemente, a partir da última
"Campanhas", que eram destinadas década de 80 e início dos anos 90 as pessoas
especificamente para atender a cada uma das com deficiência, elas mesmas, têm se
deficiências. Nesse mesmo ano, instituiu-se a organizado , participando de Comissões, de
Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro Coordenações, Fóruns e movimentos, visando
– CESB, seguida da instalação do Instituto assegurar, de alguma forma os direitos que
Nacional de Educação de Surdos – INES, que até conquistaram de serem reconhecidos e
agora existe, no Rio de Janeiro/RJ. respeitados em suas necessidades básicas de
Em 1972 foi constituído pelo Ministério convívio com as demais pessoas.
de Educação e Cultura – MEC o Grupo-Tarefa A mudança da nomenclatura – "alunos
de Educação Especial e juntamente com o excepcionais", para "alunos com necessidades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educacionais especiais", aparece em 1986 na veemência pela Declaração sobre Educação


Portaria CENESP/MEC nº 69. Essa troca de para Todos. Pensando desta maneira é que este
nomes, contudo, nada significou na documento começa a nortear Todas as pessoas
interpretação dos quadros de deficiência e com deficiência têm o direito de expressar os
mesmo no enquadramento dos alunos nas seus desejos em relação à sua educação. Os
escolas. pais têm o direito inerente de ser consultados
O MEC adota até hoje o termo "portadores sobre a forma de educação que melhor se
de necessidades educacionais especiais – PNEE adapte às necessidades, circunstâncias e
ao se referir a alunos que necessitam de aspirações dos seus filhos. (DECLARAÇÃO DE
educação especial. Mesmo incluindo entre SALAMANCA p. 5 - 6).
esses alunos os que apresentam dificuldades Sendo assim, podemos destacar as seguintes
de aprendizagem, os que têm problemas de legislações em relação à Educação Especial:
conduta e de altas habilidade, a clientela da 1988 – Constituição da República Federativa
educação especial não fica ainda bem do Brasil: Estabelece “promover o bem de
caracterizada, pois mantém-se a relação direta todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,
e linear entre o fato de uma pessoa ser cor, idade e quaisquer outras formas de
deficiente e frequentar, o ensino especial, na discriminação” (art.3º inciso IV). Define, ainda,
compreensão da maioria das pessoas. no artigo 205, a educação como um direito de
A Constituição Brasileira de 1988, no todos, garantindo o pleno desenvolvimento da
Capítulo III, Da Educação, da Cultura e do pessoa, o exercício da cidadania e a
Desporto, Artigo 205 prescreve : "A educação é qualificação para o trabalho. No artigo 206,
direito de todos e dever do Estado e da família". inciso I, estabelece a “igualdade de condições
Em seu Artigo 208, prevê : ..." o dever do Estado de acesso e permanência na escola” como um
com a educação será efetivado mediante a dos princípios para o ensino e garante, como
garantia de:.."atendimento educacional dever do Estado, a oferta do atendimento
especializado aos portadores de deficiência, educacional especializado, preferencialmente
preferencialmente na rede regular de ensino". na rede regular de ensino (Art. 208).
Os portadores de necessidades educativas 1989 – Lei nº 7.853/89: Dispõe sobre o apoio
especiais passam a ser visto como cidadãos, às pessoas portadoras de deficiência e sua
com direitos e deveres de participação na integração social. Define como crime recusar,
sociedade. Um caminho que trilhou uma fase suspender, adiar, cancelar ou extinguir a
inicial, eminentemente assistencial, um apogeu matrícula de um estudante por causa de sua
de um modelo médico-pedagógico, das deficiência, em qualquer curso ou nível de
técnicas psicométricas, traduzido numa ensino, seja ele público ou privado. A pena para
preocupação de diagnosticar e classificar, ao o infrator pode variar de um a quatro anos de
que hoje é chamado de educação inclusiva. prisão, mais multa.
O direito de todas as crianças à educação 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente
está proclamado na Declaração Universal dos – Lei nº. 8.069/90: O artigo 55 reforça os
Direitos Humanos e foi reafirmado com dispositivos legais supracitados ao determinar

131
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que “os pais ou responsáveis têm a obrigação cursos e exames” (art. 37). Em seu trecho mais
de matricular seus filhos ou pupilos na rede controverso (art. 58 e seguintes), diz que “o
regular de ensino”. atendimento educacional especializado será
1990 – Declaração Mundial de Educação feito em classes, escolas ou serviços
para Todos: Documentos internacionais especializados, sempre que, em função das
passam a influenciar a formulação das políticas condições específicas dos alunos, não for
públicas da educação inclusiva. possível a sua integração nas classes comuns do
1994 – Declaração de Salamanca: Dispõe ensino regular”.
sobre princípios, políticas e práticas na área das 1999 – Decreto nº 3.298 que regulamenta a
necessidades educacionais especiais. Lei nº 7.853/89: Dispõe sobre a Política
1994 – Política Nacional de Educação Nacional para a Integração da Pessoa
Especial: Em movimento contrário ao da Portadora de Deficiência, define a educação
inclusão, demarca retrocesso das políticas especial como uma modalidade transversal a
pública ao orientar o processo de “integração todos os níveis e modalidades de ensino,
instrucional” que condiciona o acesso às classes enfatizando a atuação complementar da
comuns do ensino regular àqueles que “(…) educação especial ao ensino regular.
possuem condições de acompanhar e 2001 – Diretrizes Nacionais para a Educação
desenvolver as atividades curriculares Especial na Educação Básica (Resolução
programadas do ensino comum, no mesmo CNE/CEB nº 2/2001)
ritmo que os alunos ditos normais”. Determinam que os sistemas de ensino
1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação devem matricular todos os alunos, cabendo às
Nacional – Lei nº 9.394/96: No artigo 59, escolas organizarem-se para o atendimento
preconiza que os sistemas de ensino devem aos educandos com necessidades educacionais
assegurar aos alunos currículo, métodos, especiais (art. 2º), o que contempla, portanto,
recursos e organização específicos para o atendimento educacional especializado
atender às suas necessidades; assegura a complementar ou suplementar à escolarização.
terminalidade específica àqueles que não Porém, ao admitir a possibilidade de substituir
atingiram o nível exigido para a conclusão do o ensino regular, acaba por não potencializar a
ensino fundamental em virtude de suas educação inclusiva prevista no seu artigo 2º.
deficiências e; a aceleração de estudos aos 2001 – Plano Nacional de Educação – PNE,
superdotados para conclusão do programa Lei nº 10.172/2001: Destaca que “o grande
escolar. Também define, dentre as normas para avanço que a década da educação deveria
a organização da educação básica, a produzir seria a construção de uma escola
“possibilidade de avanço nos cursos e nas inclusiva que garanta o atendimento à
séries mediante verificação do aprendizado” diversidade humana”.
(art. 24, inciso V) e “(…) oportunidades 2001 – Convenção da Guatemala (1999),
educacionais apropriadas, consideradas as promulgada no Brasil pelo Decreto nº
características do alunado, seus interesses, 3.956/2001: Afirma que as pessoas com
condições de vida e de trabalho, mediante deficiência têm os mesmos direitos humanos e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

liberdades fundamentais que as demais estabelecendo normas e critérios para a


pessoas, definindo como discriminação com promoção da acessibilidade às pessoas com
base na deficiência toda diferenciação ou deficiência ou com mobilidade reduzida
exclusão que possa impedir ou anular o (implementação do Programa Brasil Acessível).
exercício dos direitos humanos e de suas 2005 – Decreto nº 5.626/05: Regulamenta a
liberdades fundamentais. Lei nº 10.436/02, visando à inclusão dos alunos
2002 – Resolução CNE/CP nº1/2002: surdos, dispõe sobre a inclusão da Libras como
Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais disciplina curricular, a formação e a certificação
para a Formação de Professores da Educação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de
Básica, define que as instituições de ensino Libras, o ensino da Língua Portuguesa como
superior devem prever em sua organização segunda língua para alunos surdos e a
curricular formação docente voltada para a organização da educação bilíngue no ensino
atenção à diversidade e que contemple regular.
conhecimentos sobre as especificidades dos 2006 – Plano Nacional de Educação em
alunos com necessidades educacionais Direitos Humanos: Lançado pela Secretaria
especiais. Especial dos Direitos Humanos, pelo Ministério
2002 – Lei nº 10.436/02: Reconhece a Língua da Educação, pelo Ministério da Justiça e pela
Brasileira de Sinais como meio legal de UNESCO. Objetiva, dentre as suas ações,
comunicação e expressão, determinando que fomentar, no currículo da educação básica, as
sejam garantidas formas institucionalizadas de temáticas relativas às pessoas com deficiência
apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão e desenvolver ações afirmativas que
da disciplina de Libras como parte integrante possibilitem inclusão, acesso e permanência na
do currículo nos cursos de formação de educação superior.
professores e de fonoaudiologia. 2007 – Plano de Desenvolvimento da
2003 – Portaria nº 2.678/02: Aprova diretriz Educação – PDE: Traz como eixos a
e normas para o uso, o ensino, a produção e a acessibilidade arquitetônica dos prédios
difusão do Sistema Braille em todas as escolares, a implantação de salas de recursos
modalidades de ensino, compreendendo o multifuncionais e a formação docente para o
projeto da Grafia Braile para a Língua atendimento educacional especializado.
Portuguesa e a recomendação para o seu uso 2007 – Decreto nº 6.094/07: Estabelece
em todo o território nacional. dentre as diretrizes do Compromisso Todos
2004 – Cartilha – O Acesso de Alunos com pela Educação a garantia do acesso e
Deficiência às Escolas e Classes Comuns da permanência no ensino regular e o
Rede Regular: O Ministério Público Federal atendimento às necessidades educacionais
divulga o documento com o objetivo de especiais dos alunos, fortalecendo a inclusão
disseminar os conceitos e diretrizes mundiais educacional nas escolas públicas.
para a inclusão. 2008 – Política Nacional de Educação
2004 – Decreto nº 5.296/04: Regulamenta as Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva:
leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, Traz as diretrizes que fundamentam uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

política pública voltada à inclusão escolar, fins lucrativos conveniados com a Secretaria de
consolidando o movimento histórico brasileiro. Educação (art.5º).
2009 – Convenção sobre os Direitos das 2011 – Plano Nacional de Educação (PNE):
Pessoas com Deficiência: Aprovada pela ONU e Projeto de lei ainda em tramitação. A Meta 4
da qual o Brasil é signatário. Estabelece que os pretende “Universalizar, para a população de 4
Estados Parte devem assegurar um sistema de a 17 anos, o atendimento escolar aos
educação inclusiva em todos os níveis de estudantes com deficiência, transtornos
ensino. Determina que as pessoas com globais do desenvolvimento e altas habilidades
deficiência não sejam excluídas do sistema ou superdotação na rede regular de ensino.”.
educacional geral e que as crianças com Dentre as estratégias, está garantir repasses
deficiência não sejam excluídas do ensino duplos do Fundo de Manutenção e
fundamental gratuito e compulsório; e que elas Desenvolvimento da Educação Básica e de
tenham acesso ao ensino fundamental Valorização dos Profissionais da Educação
inclusivo, de qualidade e gratuito, em (FUNDEB) a estudantes incluídos; implantar
igualdade de condições com as demais pessoas mais salas de recursos multifuncionais;
na comunidade em que vivem (Art.24). fomentar a formação de professores de AEE;
2008 – Decreto nº 6.571: Dá diretrizes para ampliar a oferta do AEE; manter e aprofundar o
o estabelecimento do atendimento programa nacional de acessibilidade nas
educacional especializado no sistema regular escolas públicas; promover a articulação entre
de ensino (escolas públicas ou privadas). o ensino regular e o AEE; acompanhar e
2009 – Decreto nº 6.949: Promulga a monitorar o acesso à escola de quem recebe o
Convenção Internacional sobre os Direitos das benefício de prestação continuada.
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo 2012 – Lei nº 12.764: Institui a Política
Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa
março de 2007. Esse decreto dá ao texto da com Transtorno do Espectro Autista; e altera o
Convenção caráter de norma constitucional § 3º do art. 98 da Lei nº 8.112, de 11 de
brasileira. dezembro de 1990.
2009 – Resolução No. 4 CNE/CEB: Institui - Resolução nº4 CNE/CEB
diretrizes operacionais para o atendimento - Resolução CNE/CP nº 1/02 – Diretrizes
educacional especializado na Educação Básica, Curriculares Nacionais para a Formação de
que deve ser oferecido no turno inverso da Professores
escolarização, prioritariamente nas salas de - Resolução CNE/CEB nº 2/01 – Normal 0 21
recursos multifuncionais da própria escola ou Institui Diretrizes Nacionais para a Educação
em outra escola de ensino regular. O AEE pode Especial na Educação Básica
ser realizado também em centros de - Resolução CNE/CP nº 2/02 – Institui a
atendimento educacional especializado duração e a carga horária de cursos
públicos e em instituições de caráter - Resolução nº 02/81 – Prazo de conclusão
comunitário, confessional ou filantrópico sem do curso de graduação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

- Resolução nº 05/87 – Altera a redação do


Art. 1º da Resolução nº 2/81
Este e outros dispositivos legais referentes à
assistência social, saúde da criança, do jovem e
do idoso levantam questões muito importantes
para a discussão da educação especial
brasileira, não apenas com relação à adaptação
de edifícios de uso público, quebra de barreiras
arquitetônicas de todo tipo, transporte
coletivo, salário mínimo obrigatório como
benefício mensal às pessoas com deficiência
que não possuem meios de prover sua
subsistência e outros.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que em lei, muitas conquistas foram alcançadas. Entretanto, precisamos
garantir que essas conquistas, expressas nas leis, realmente possam ser efetivadas na prática do
cotidiano escolar, pois o governo não tem conseguido garantir a democratização do ensino,
permitindo o acesso, a permanência e o sucesso de todos os alunos do ensino especial na escola.
Porém, não podemos negar que a luta pela integração social do indivíduo que apresenta
deficiência foi realmente um avanço social muito importante, pois teve o mérito de inserir esse
indivíduo na sociedade de forma sistemática, se comparado aos tempos de segregação.
Ao revisitarmos a história da Educação Especial até a década de 90, podemos perceber
conquistas em relação à educação dos indivíduos que apresentam deficiência mental. Não é
pouco avanço ir de uma quase completa inexistência de atendimento de qualquer tipo à
proposição e efetivação de políticas de integração social. Podemos falar, também, de avanços e
muitos retrocessos, de conquistas questionáveis e de preconceitos cientificamente legitimados.
Em meados da década de 90, no Brasil, começaram as discussões em torno do novo
modelo de atendimento escolar denominado inclusão escolar. Esse novo paradigma surge como
uma reação contrária ao processo de integração, e sua efetivação prática tem gerado muitas
controvérsias e discussões. Reconhecemos que trabalhar com classes heterogêneas que acolhem
todas as diferenças traz inúmeros benefícios ao desenvolvimento das crianças deficientes e
também as não deficientes, na medida em que estas têm a oportunidade de vivenciar a
importância do valor da troca e da cooperação nas interações humanas.
A prática da educação inclusiva merece cuidado especial, pois estamos falando do futuro
de pessoas com necessidades educacionais especiais. Antes mesmo de incluir, é importante
certificar-se dos objetivos dessa inclusão, para o aluno, quais os benefícios/avanços, ele poderá
ter, estando junto aos alunos da rede regular e produzir transformações. A educação especial
surgiu com muitas lutas, organizações e leis favoráveis aos deficientes e a educação inclusiva
começou a ganhar força a partir da Declaração de Salamanca (1994), a partir da aprovação da
constituição de 1988 e da LDB 1996.
Enquanto educadores, nosso papel frente à inclusão, reside em acreditar nas
possibilidades de avanços acadêmicos dos alunos denominados normais, terão de se tornar mais
solidários, acolhedores diante das diferenças e, crer que a escola terá que se renovar, pois a nova
política educacional é construída segundo o princípio da igualdade de todos perante a lei que
abrange as pessoas de todas as classes sociais.
A educação inclusiva é um processo em que se amplia a participação de todos os
estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Trata-se de uma reestruturação da cultura,
da prática e das políticas vivenciadas nas escolas de modo que estas respondam à diversidade de
alunos. É uma abordagem humanística, democrática, que percebe o sujeito e suas singularidades,
tendo como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos. Uma escola
é inclusiva quando todos da equipe escolar – diretores, professores, secretaria, serviços gerais –
participam ativamente desse projeto.
Cada vez mais é preciso que a escola oriente seus alunos preparando-os para a reflexão
crítica sobre o papel dos meios de comunicação de massa, a fim de que possam, gradualmente,

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escolher com critério qualitativo os produtos culturais. Esses são alguns dos aspectos que têm
caracterizado numerosas situações socioculturais em que tais pessoas são envolvidas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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AMIRALIAN, M. L. T. M. Desmistificando a inclusão. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v.


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conhecimento. 18. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

BLASCOVI-ASSIS, S. M. Lazer e deficiência mental: o papel da família e da escola em uma


proposta de educação pelo e para o lazer. 2. ed. Campinas: Papirus, 2001.

BLASCOVI-ASSIS, S. M. Lazer para deficientes mentais. In: MARCELINO, N. C. (Org.).


Lúdico, educação e educação física. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2003. p. 101-111.

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deficiência. Brasília, DF: CORDE, 1996. BRASIL. Ministério da Ação Social. Declaração de
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139
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A INCLUSÃO DO DEFICIENTE DE FORMA


EFETIVA PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA
ESCOLA PÚBLICA DE QUALIDADE
Eleonice da Silva Gonçalves Pereira1

RESUMO: Desde 1996, as políticas públicas veem buscando, contemplar e favorecer o processo
de inclusão de pessoas deficientes, em programas criados para contemplar pessoas ditas
“normais”, observa-se porém que, estas inclusões apresentam falhas, já que não valoriza
diretamente as singularidades de cada participante aluno deficiente ou não, no processo
educacional, não respeitando suas singularidades, existe um problema com o suporte
educacional devido à falta de informação, instrução e preparo para que os responsáveis pela
integração do deficiente consigam realizar um trabalho eficiente para realmente contribuir com
o desenvolvimento completo destes indivíduos. Ao término do artigo conclui-se que muitos
educadores não estão qualificados nem preparados para receber uma criança com deficiência
dentro da sala de aula, e por isso se perdem na proposta, e acabam por excluí-la, deixando-a de
lado por medo, pena ou desconhecer sua reação e seu comportamento, sendo preciso então
constantemente refletir sobre a questão.

Palavras-Chave: Deficiente; Criança; Desenvolvimento; Aprendizagem.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes Visuais Especialização em Psicopedagogia.

140
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE EFFECTIVE INCLUSION OF THE DISABLED FOR THE


CONSTRUCTION OF A QUALITY PUBLIC SCHOOL
ABSTRACT: Since 1996, public policies have been seeking, contemplating and favoring the process
of inclusion of disabled people, in programs created to contemplate so-called "normal" people, it
is observed, however, that these inclusions have flaws, since they do not directly value the
singularities of people. each participant student, disabled or not, in the educational process, not
respecting their singularities, there is a problem with the educational support due to the lack of
information, instruction and preparation so that those responsible for the integration of the
disabled can carry out an efficient work to really contribute to the complete development of these
individuals. At the end of the article, it is concluded that many educators are not qualified or
prepared to receive a child with a disability in the classroom, and therefore they get lost in the
proposal, and end up excluding them, leaving them aside out of fear, pity or not knowing their
reaction and behavior, and it is therefore necessary to constantly reflect on the issue.

Keywords: Disabled; Kid; Development; Learning.

141
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO contribuindo para seu desenvolvimento na vida


adulta?
A necessidade de discutir as questões O objetivo central deste trabalho é,
ligadas à educação de crianças deficientes portanto, favorecer a reflexão profissional de
introduzida nas escolas ditas normais é imensa, forma que se permita organizar o trabalho
observando as dificuldades existentes de prestado, garantido o que determina a
oferecer um ensino de qualidade, este artigo legislação vigente desde 1988, contribuindo
visa refletir sobre possíveis soluções para para o seu avanço. Tendo como objetivos
corrigir tais problemas, incentivando a específicos, analisar a ação do professor diante
construção de caminhos que permitam ao dos alunos deficientes, refletir sobre esta ação,
deficiente, ser visto como individuo pensante, buscando melhorias para o trato e o
dotado de habilidades específicas, e com desenvolvimento desta criança.
potencialidades que constantemente são
ignoradas por completo, devido ao
A INCLUSÃO DO DEFICIENTE DE
preconceito que estes estão expostos.
A ideia de tratar sobre os deficientes surgiu FORMA EFETIVA PARA A
no momento em que observando nossa área CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA
atuação percebemos como estes indivíduos,
são recebidos pela sociedade e a maneira com
PÚBLICA DE QUALIDADE
que se realiza a inclusão e como estes se Segundo Mantoan (2004), a inclusão é uma
relacionam nos diferentes grupos de convívio saída para que a escola possa fluir novamente,
diário. espalhando sua ação formadora por todos os
Entender os desafios que rodeiam os que dela participam, modificando a realidade
educadores é muito importante, já que desta da escola vigente, porém para entender como
forma favorece-se a criação de metas que ocorrem estas mudanças, é necessário que se
garantam um aprendizado significativo a essas faça um breve histórico do processo inclusivo
crianças deficientes oferecendo-lhes qualidade ao qual a escola está passando. Ao tratar a
de vida adulta, incentivando os pais e ou inclusão social, e a realidade brasileira e
responsáveis a aceitá-los de forma que mundial, as políticas públicas, buscam
entendam que a ideia é transformar uma promover uma grande transformação política e
criança deficiente em um cidadão produtivo e social, que garanta a todos o direito de conviver
de bem com a vida. Diante desta afirmativa, livremente em sociedade (Ministério da
busca-se responder em que medida a formação Educação).
docente poderia favorecer a inclusão efetiva Em 1950, modificam-se os olhares para a
desta criança na sociedade? Seria possível educação Especial no Brasil, com o decreto
desenvolver um trabalho adequado com Imperial nº 1428, assinado por Dom Pedro, na
deficientes que favoreça suas necessidades, cidade do Rio de Janeiro. Porém, a ideia de que
oferecendo-lhes um aprendizado significativo a educação deveria seguir moldes tradicionais
era muito forte, classificavam-se as escolas

142
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

como templos do saber, sendo este, um espaço constituiu várias discussões no Brasil em favor
privilegiado. dos direitos sociais, garantidos pela
Cronologicamente, as educações gerais, Constituinte, enfatizando as reivindicações
bem como a educação especial, conviveram populares, e as demandas dos grupos ou
com mudanças importantes que fizeram categorias até então excluídos dos espaços
grande diferença para o processo educacional sociais, ampliando a luta pela qualidade da
que vivemos hoje. educação das pessoas com necessidades
Nem todos os alunos com deficiência, especiais (Referencial sobre a avaliação da
cabiam nas turmas tradicionais, pois estes aprendizagem de alunos com necessidades
possuíam especificidades únicas e a forma de especiais).
conhecimento, os professores continuavam Com o surgimento deste novo modelo de
presos aos programas, horários, currículos que escola, passou-se a questionar a visão política
não ofereciam motivação nenhuma e as observando que a escola poderia ser um
bibliografias eram a mesma oferecida por espaço de abordagem política e de possível
séculos, o que segundo Mantoan (1998),não construção da cidadania como prática de
permitia a escola mudar como um todo, libertação (FREIRE, 1987).
levando os alunos a mudar para se adaptar. De acordo com Mantoan (1998), a inclusão
Tudo por exigência do sistema antiquado aos da forma que é realizada, torna-se
quais os educandos foram inseridos, abriu-se incompatível com a integração do indivíduo
os portões das escolas, mas não a prepararam portador de necessidades especiais, o que
para recebê-los. inclui o Síndrome de Down, pois se prevê que
Com a Revolução industrial, a Tecnologia e o estes alunos, devam ser inclusos de maneira
Desenvolvimento, um novo aluno se criou, radical, sem exceção, devendo frequentar a s
levando a escola a modificar seu papel de escolas regalares, mesmo que estas não
moldar o indivíduo de forma que este estejam preparadas para recebê-los, o que
adquirisse a forma de apresentar-se nos pode ser considerado um erro uma vez que
modelos sociais oferecidos. A democracia busca-se oferecer uma educação de qualidade
construída pela abertura das escolas, foi para todos.
confundida com declínio do processo da Segundo Godoy, a norma Oficial Federal
educação levando a falência a qual esta se utilizadas também no Estado de São Paulo,
encontra (FREIRE e SHOR,1987) obedece às recomendações internacionais, ao
Neste mesmo período a Educação Especial, incluir no sistema de ensino comum a pessoa
contribuiu para o inchaço da escola pública, portadora de deficiência e ressalta a
necessitando deslocar profissionais e recursos necessidade de apoio especializado e
modificando os métodos e técnicas para professores qualificados para trabalhar com
garantir aos alunos de necessidades especiais estes alunos, tal informação consta também de
vagas nas escolas regulares ( MANTOAN, 1998). emenda Constitucional, art.208.
Durante muito tempo, esta se revelou um Neste período, as portas foram abertas para
sistema de Ensino a parte, em meados de 1980, a educação inclusiva, esta, é marcada pelo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fracasso da evasão, por não possuir COMO A ESCOLA FOI


características adequadas para tal inclusão
uma vez que o acesso foi oferecido. Os alunos APRESENTADA NESTE PROCESSO
se sentiam marginalizados pelo constante O local de distribuição do saber deixa de ser
constrangimento e baixa estima, resultando o espaço de criação e recreação do
assim na evasão escolar que favoreceria conhecimento, das descobertas, fechando as
exclusão e não a inclusão do indivíduo, possibilidades de seus profissionais mostrar o
deixando muito a desejar (MANTOAN, 1998) seu melhor, e ajudar seus alunos na busca de
As escolas não foram reconstruídas para novos conhecimentos, transformando-se em
adequar-se aos alunos que chegavam, os depósitos humanos, onde todos podem entrar,
alunos é que deveriam adequar-se aos espaços mas, nem todos alcançam o sucesso esperado.
ou então se evadiam por serem rotulados ou O que não se esperava, no entanto, era que a
por fugirem do modelo de aluno ideal para a inclusão entrasse nas escolas de forma
educação regular (MANTOAN, 1998). irreversível, obrigando-as a recebê-la de
Neste processo, a discussão sobre a inclusão qualquer maneira (MANTOAN, 1998).
que se torna uma exclusão está bem definida Esta decadência educacional ocorre não
nos escritos de uma discussão organizada por somente devido à falta de estruturação ou
Sawaia, que cita que o indivíduo dito incluso despreparo, mas também pela falta de revisão
“gesta subjetividades específicas que vão curricular, pois o sistema exige a inclusão
desde o sentir-se incluído , até sentir-se destes indivíduos, para garantir-lhes o acesso e
discriminado e revoltado” (2001). A escola a permanência nas instituições de ensino como
passou então a receber o deficiente, porém lhe é de direito e está prescrita na LDB , além
continuando a ter um modelo de ideais do medo de falhar resultando em um possível
capitalistas, sendo utilizada como propaganda fracasso, acabando na não aceitação do
para os políticos vigentes, seguindo o caminho indivíduo portador de necessidades especiais(
programado para alcançar tais ideais. MANTOAN, 1997).
Umas das maiores barreiras encontradas Continuando a oferecer a esta nova classe de
para se mudar a educação é a neutralização de alunos um currículo mecânico que coordenava
todos os desequilíbrios que eles poderiam o que deveria ser feito, lido, quantas folhas
provocar a velha forma de ensinar (MANTOAN, deveriam ser dadas, qual o tipo de prova o que
1998).Desta maneira o professor continuou se esperava do trabalho, levando um espaço
cumprindo o seu papel de ensinar, algumas controlado, exigindo resultados do profissional
vezes a contra gosto, talvez por despreparo, ou que muitas vezes esta além da realidade que
por preconceito, mas, estando lá para servir. este tem em suas mãos deixando de ser o
templo do saber para transformar-se em um
espaço de recreação infantil e encontros
juvenis que muitas vezes deixam muito a
desejar estando a quem das expectativas de
pais, e alunos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A forma com que a escola é administrada conseguem chegar ao final do curso a que se
também não combina com os atuais objetivos propõe, pois, os mesmos são criados para um
escolares, ela está mais ligada a tipo de indivíduo e são oferecidos a outro, o
administradores ou contadores do que o que acaba desenvolvendo uma espécie de
educador, pois, há um modelo a ser seguido carência psíquica dos alunos que muitas vezes
por todas elas, como se alunos e professores possuem várias outras necessidades, não
fossem sempre os mesmos e se suas reconhecendo o porquê de ali se encontrarem.
necessidades fossem as mesmas, bem como Porém, abriu-se o leque de oportunidades
sua localização e região, criando um desgaste para se completar o ensino superior, mas não
enorme para quem trabalha e estuda nesta se modificou o programa para que estes
realidade já que nenhuma comunidade é igual profissionais fossem preparados para lidarem
à outra, e as necessidades são diferenciadas. com a clientela que iriam receber, não os
Mas apesar disto, a concepção de educação preparando para a atual realidade, da mesma
é construída a mercê de tais informações, que forma que ocorreu com a escola.
também diz respeito à manutenção dos Os cursos superiores, não conseguiram ainda
prédios, materiais, recursos e a política de perceber que o espaço escolar transformou-se
utilização da escola como espaço da escola em um espaço político, para criar cidadãos, e
como espaço da comunidade (MINISTÉRIO DA que o copiar respostas em silêncio, sem
EDUCAÇÃO, 1999). perspectivas, fingindo que aprendem e o
As classes que são formadas também não professor fingindo que ensina não podem mais
são iguais, possuem desenvolvimento existir, pois muitos dos que vieram, às vezes
diferenciado, no entanto, o sistema exige e não poderiam copiar e responder, mas
oferece aos professores um bloco fechado de poderiam dissertar sobre o assunto, como
informações onde se sequência as séries não os muitos não poderiam dissertar mas poderiam
estágios de conhecimento, excluindo estes escrever, não valorizando as diversidades
alunos, levando-os a sentirem-se culturais, étnicas e sociais da clientela a ser
marginalizados (MANTOAN,1998). acolhida.
Neste caso observamos o total despreparo Para que o professor não sofra em sala de
deste profissional que enxerga o aluno como aula, é preciso que as Universidades os prepare
incapaz, por não conseguir jogar futebol, mas para a realidade que vão encontrar, levando-os
ele ainda possui cabeça, membros superiores a compreender o limite de seu poder e
que poderiam ser aproveitados e percebendo que lecionar hoje apesar da
desenvolvidos em suas aulas. Não há a visão do formação recebida e continuar sendo
especial como um todo, costuma-se observá-lo ministrada da mesma maneira que a qualquer
como a deficiência em si, renegando suas outro profissional, ser Professor é mais que
outras potencialidades. profissão é vocação e que muito da perícia de
Indiretamente o processo educacional transmitir o conhecimento está na prática do
continua elitizado, mas de forma velada, e por que se faz e de como se faz (MANTOAN,1997).
este motivo nem todos os ditos especiais,

145
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os coordenadores dos cursos precisam colocando-nos em uma grande cilada que por
perceber que o indivíduo que busca o vezes transformam os educadores em grandes
conhecimento nas escolas superiores, busca réus do processo por não saberem o que fazer
também refletir sobre o papel do com estes indivíduos.
professor/educador de forma ampla, A família também desestruturada deixa de
tornando-se consciente de que o oferecer ensinamento e limites aos seus
conhecimento está exposto, mas que precisa infantes especiais para que estes aprendam a
ser aperfeiçoado. E que os meios para que isto viver em sociedade, esperando que a escola o
possa ocorrer de forma satisfatória, sem os faça a maioria delas, busca a inclusão, mas
programas padronizados, imponentes e bem quando percebem a exclusão a qual é imposta
apresentados, mas escritos de forma a aos alunos de forma cruel costumam nem os
contemplar a clientela que se tem nas mãos levar às aulas, por considerá-las chatas,
(RCNEI,2007) cansativas e desrespeitosas, sem a qualidade
É necessário também perceber que quando intelectual necessária.
expomos nossos alunos deficientes a tais aulas Esta falta de maturidade para identificar a
tradicionais, criamos uma pequena guerra de importância da escola na vida do indivíduo dito
nervos onde se trava uma pequena luta onde o especial, prejudica muito a construção de uma
professor tenta chegar ao mundo do aluno, e o sociedade digna, com a falência da instituição
aluno apresenta-se alheio o tempo todo, este Família, e com o despreparo das entidades
processo cria um desgaste profissional enorme, educacionais, os educandos encontram-se
pois o autoritarismo imposto, e a rigidez desprovidos de fatores educacionais
apresentada, não são sinônimos de importantes, criando com isto um rol de
Democracia, mas, é uma falha muitas vezes pessoas desprovidas de sentidos básicos de
assimilada durante a preparação profissional cooperação, responsabilidade, solidariedade,
(SAWAIA,2001). respeito, reciprocidade, etc.
Os alunos deficientes colocam hoje a prova à Maria Montessori (1870/1956), médica
função do professor, e buscam ensinar-lhes as italiana que aprimorou os processos de
suas características, o que acaba causando uma inteligência, oferecendo educação moral em
indisposição profissional que assola nossas detrimento da cura pedagógica. A grande
escolas, porque estes se tornam reféns de inovação oferecida por ela foi a de ajustar o
nossa própria sociedade que prefere em suas método pedagógico à individualidade
leis dizer que protegem as crianças. motivacional do deficiente, com técnicas de
Como exemplo temos o Estatuto da Criança uma educação especial não somente com o
e Adolescente (ECA) em seu Art. 54, item III objetivo de corrigir o repertório (PASSOTI,
prevê o atendimento educacional 1984).
especializado as pessoas portadoras de Nestas associações buscava-se ampliar a
deficiência, preferencialmente na rede regular busca por formas inclusivas de educação e
de ensino, porém não oferecem espaços reabilitação, como por exemplo em creches
adequados, ou qualificam estes profissionais integradas, e ensino itinerante, o que tentava

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de certa forma facilitar a vida do portador de incompreensível, insensível e não


necessidades especiais e seus familiares comprometida com seus deficientes, mas é
(MEC,1995, p. 40). preciso construir mecanismos que modifiquem
Porém a proposta oferecida pelas APAES, esta realidade (GENTILI,1995).
não aconteceram como se esperava, pois o O autor segue afirmando que desde que a
objetivo inicial era romper barreiras, mas para criança nasce, ela é convidada a conviver em
isto, era necessário, a integração do Sistema um ambiente que lhe oferece uma educação
Educacional trabalhando diretamente ao lado em conjunto, pois a mesma ao nascer já é
dele para alcançar assim os resultados inclusa em uma sociedade, pois esta aprende a
almejados, na sendo eficaz, por haver viver com sua família, tendo neste local um
divergências entre o plano de ação e sua ambiente de conhecimento e
execução (MANTOAN, 1997). desenvolvimento, construindo por meio de
Analisando a educação na sua situação em influências do meio sua forma de agir, pensar e
que se encontra, imagina-se que esta não tem agir.
mais jeito, está falida, mas não é verdade, hoje Desta maneira, a criança tem a oportunidade
esta passa por uma fase de reflexão muito de participar de outro meio sociocultural,
importante, no qual para que o ensino seja de interagindo com diferentes parceiros, tendo
qualidade e os portadores de necessidades nas escolas espaço aberto para realizar estas
especiais sejam valorizados. experiências. O compromisso das instituições
Para tanto, são realizadas constantes escolares gira em torno de garantir o direito de
registros, possibilidades e desafios, para que viverem situações acolhedoras, seguras,
seja estruturado um marco histórico, agradáveis e desafiadoras selecionando os
considerando este um dos momentos mais valores dos ensinamentos oferecidos.
importantes para educação inclusiva Alguns princípios básicos para guiar a
(MANTOAN, 2004). efetivação do compromisso proposto para a
Sendo assim, a necessidade de criar nova educação diante deste processo inclusivo,
postura, e mudar o que pensam a sociedade, é foram:
um importante desafio, da escola com o ideal a) O desenvolvimento da criança através
de buscar uma sociedade mais humana, mais de um processo recíproco;
fraterna, independente das condições físicas, b) Educar e cuidar entendendo que ambas
psicológicas emocionais ou linguísticas de cada são inseparáveis em toda ação educativa;
um permitindo ao indivíduo que construa a sua c) Todos são iguais, apesar de diferentes,
história (MANTOAN, 1997). favorecendo a inclusão de crianças portadoras
O grande objetivo educacional da década, é de necessidades especiais;
a inclusão das pessoas com necessidades d) O adulto é mediador da criança em toda
especiais, no sistema regular de ensino, e este a aprendizagem;
proporciona, um grande desafio para e) Favorecer a parceria com as famílias,
profissionais da área e órgãos competentes, considerando-a ponto principal para a
pois a sociedade mostra-se ainda realização do trabalho (RCNEI, 1998,s.p).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O ato de realizar atividade como observar bem e segura, suprindo todas as suas
um móbile, cuidar de outra criança, separar necessidades básicas garantindo-lhes o sono, o
objetos, cantar, ouvir poesias, conversar sobre alimento, a acolhida, o suprimento suas
o desenvolvimento dos animais, são necessidades, físicas, biológicas e psicológicas,
habilidades produzidas pelo processo de suprindo estas necessidades, estamos
aprendizagem oferecido para as crianças ditas contribuindo para a formação da criança no
normais, o que se torna bem mais difícil para âmbito global, permitindo que modifique sua
crianças portadoras da Síndrome de Down, e maneira de agir, pensar e sentir transformando
necessidades especiais, porém não impossível. ambas ações a de cuidar e a de educar
Uma vez que por meio dos estímulos inseparáveis de toda ação educativa proposta
adequados, é possível contribuir para que as pelo professor.
crianças construam uma relação humana nas É observando o paradigma tradicional da
atividades socioculturais oferecidas de maneira escola, revendo seus currículos, percebendo
concretas permitindo que seus saberes que cada turma é uma turma, que cada escola
fundamentais e suas funções psicológicas é uma escola, que somos únicos, e que é
(afetivas, cognitivas, motoras, linguísticas) impossível transformar a escola em uma
sejam modificadas ao mesmo tempo, grande linha de produção onde as máquinas
desenvolvendo assim novos aprendizados criam peças exatamente idênticas, todos temos
durante as atividades oferecidas. habilidades diferentes, necessidades diferentes
Estas múltiplas experiências favorecem a e as pessoas que coordenam administram e
apropriação de códigos criados pelo homem idealizam as escolas deveriam pensar no todo,
dando sentido a todas as relações com o não da forma que pensam, individualizado o
mundo a natureza e a cultura, estando estas, processo (MANTOAN, 1998).
interligadas a outros mundos como a técnica, a Necessitamos também que os programas
ciência, a política e a arte, fazendo parte da apresentados por cursos superiores, nos
produção humana, relacionadas nelas mesmas. preparem para atender os alunos de hoje,
Aprender, portanto, para os deficientes, temos consciência de que este já está repleto
pode ser entendido como o processo de de conhecimento, e não está mais preso em
modificação e aperfeiçoamento do modo de livros fechados, estamos em um mundo onde
agir, sentir e pensar informações após, todos respiram informação, então, acredito e
construir a maturação orgânica de cada defendo que os cursos deveriam aperfeiçoar o
experiência. O aprendizado, portanto, é conhecimento teórico, criando meios de nos
favorecido devido à relação com diferentes ensinar a prática.
parceiros na relação das mais diferentes Oferecer ao professorado, cursos que sejam
tarefas, por imitação ou por transmissão social. de qualidade para que estes consigam rever
Neste caso, Educar num processo inclusivo seu conhecimento (MEC,1988), considerando
significativo nada mais é que atender a que estudos realizados mostram que o
necessidade física e psicológicas da criança deficiente tem as mesmas necessidades e
oferecendo-lhe condições para que ela se sinta passam pelo mesmo processo de

148
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento de um dito normal, é uma seu direito constitucional de ir e vir sem


consideração de suma importância, pois seu restrições (MANTOAN, 1998).
processo é simplesmente um pouco mais lento, Para o sucesso completo da educação é
o que favorece sua aprendizagem suas novas preciso entender o contexto social a que o
descobertas, e sua construção da história ensino tem se proposto, permitindo que o
(MEC,1988). professor se transforme como as borboletas,
Porém, consideremos que as escolas para que este busque seu objetivo, trabalhando
públicas abrangem a Prefeitura e o Estado de contra a discriminação que ai esta, com os
SP, mas somente a prefeitura, tem tido conhecimentos voltados a todos os alunos,
iniciativas públicas de em uma pequena mostrando que está à frente de sua sala, mas,
parcela, adequar a educação para receber o o poder não está centralizado em si, que todos
deficiente, o estado ainda engatinha em tal são protagonistas do conhecimento, que estão
processo, não tendo nem realizado pequenas lá buscando novas experiências para o
experiências no assunto, e por isto não crescimento individual de cada um (MEC,2004).
oferecem apoio adequado aos seus Rever as leis, decretos, emendas, de forma
profissionais. (Referencial sobre a Avaliação de que não exclua quem deseja buscar o
Necessidades da Aprendizagem de Alunos com conhecimento, mas não engesse mãos e perna
Necessidades Especiais). de quem deseja trabalhar com estes jovens,
Sem a abertura adequada, o professor não oferecer meios de entender que é preciso
pode buscar a atualização profissional reaprender a fazer a educação, oferecendo o
necessária, e que todos até os computadores espaço para o diálogo, o que confirma os
necessitam desta atualização, é preciso objetivos da escola, levando o educando a
esclarecer que cursos são oferecidos, mas o perceber que a escola não é vazia, que existe
professor só pode buscar tal aperfeiçoamento um contexto e que este deve ser respeitado. O
depois de trabalhar horas a fio, no final de seu educador deve ser estimulado e não renunciar
período por não haver colaboração dos ao que sabe.
dirigentes que se recusam a dispensar aulas, ou O fortalecimento do grupo por meio do
negociar dias, fora a questão de que os respeito mútuo fortalece a equipe, fazendo
melhores cursos custam caro e por isso torna- com que o professor perceba que ele não está
se impossível a participação do profissional. só, e a verbalização do eu, faz com que todos se
É necessária também a reorganização dos sintam uns só, responsáveis pela resolução do
prédios, pois quem os projeta não inclui, problema arrancando o professor do
somente exclui, os prédios não possuem como anonimato e levando-o ao sucesso esperado.
já dito a adequação necessária para receber Também “é necessário reaprender o ofício,
qualquer deficiente, não é necessária a reinventando todos os dias, reinventando seu
construção de prédios específicos (escolas campo de conhecimento a cada novo
somente para deficientes) mas é sim preciso encontro” como diz Aquino (1998), quando
que as adaptações de todos os projetos de este trata dos problemas de indisciplina
construção garantam ao indivíduo deficiente, escolar. Precisamos ver nosso trabalho como o

149
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

local onde construímos todas as relações que relações que se estabelecem entre si. Esta
teremos fora da escola. mediação se dá quando o professor busca
Este é o início, mas não o fim de nossa integrar a criança com significações históricas,
caminhada e o aluno deficiente é o ator que contribuem para que a criança entenda o
principal deste filme chamado construção, que ocorre no mundo, desta forma, a atitude
merecendo ser muito bem tratado e que o professor toma diante do seu aluno, é
preservado nestes longos anos de estudo, pois que direcionará a qualidade e a eficiência do
todos, com sucesso ou não passarão pela trabalho realizado, garantindo ou não o
escola em alguma fase de suas vidas. desenvolvimento desta criança.
A cada minuto, busca-se criar uma sociedade O trabalho com as famílias, requer que os
humanitária, menos preconceituosa, menos educadores busquem entender suas
injusta, contribuindo para que crianças dificuldades, contribuindo para que se
deficientes sejam respeitadas por suas estabeleça a parceria favorecendo a
limitações sejam vistas como iguais, construção de um trabalho pedagógico
garantindo-lhes o acesso e permanência nas eficiente.
escolas, favo recendo-lhes a construção de sua Um ponto importante para que a instituição
aprendizagem e seu desenvolvimento. Porém, escola estabeleça esta parceria, ocorre na
as escolas, tem em para si um grande desafio adaptação das crianças novas na unidade, o
de promover as inteirações destes deficientes, que da aos pais a chance de transmitir ao
com outras crianças que ampliem o seu professor informações sobre as necessidades,
repertório cultural, favorecendo novas dificuldades e bagagem de conhecimento do
aprendizagens. aluno deficiente, contribuindo assim para que
O reconhecimento destas diferenças, o projeto pedagógico seja adaptado para incluir
aceitando-as como desafios a serem superados este novo aluno na unidade.
pela natureza humana, sem pré-conceitos, Outro fator é informar a criança a
favorecem o aparecimento e o reconhecimento programação que será trabalhada com a
das potencialidades humanas, sendo possível criança, mediando a aprendizagem realizada
permitir criar, descobrir e reinventar novas pela criança, ajudando a criança a formar
estratégias pedagógicas que incluam atividades hábitos de convivência que facilitem o seu dia-
que garantam a participação de todos os a-dia, sintonizando a escola e a família, para
alunos, respeitando as dificuldades e restrições que este aprendizado seja significativo.
de cada um deles, reconhecendo cada uma das Para tanto, é preciso que o professor
dificuldades reconstruindo a pratica desenvolva habilidades para que perceba estas
pedagógica conforme a dificuldade necessidades, aprendendo ao mesmo tempo
apresentada. lidar com a emoção e as dificuldades dos pais,
O professor é o parceiro mais importante e ainda reformular as suas próprias emoções e
para a construção da aprendizagem da criança valores, para facilitar a relação com as famílias
deficiente, sendo que este deve ser sensível as e com os alunos. Sendo que o grande
necessidades e desejos favorecendo as

150
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

beneficiado com estas relações passa a ser a O nível de desenvolvimento real, passa ao
criança. nível de desenvolvimento potencial, uma vez
O projeto pedagógico é o que direciona o que a exploração e a comparação realizada
trabalho da unidade, sendo elaborado pelos entre o conhecimento adquirido e a
educadores com a participação dos pais e das experiência oferecida criem um novo
crianças, tomando como ponto inicial a conhecimento sendo que para ser considerado
concepção de criança, de aprendizagem e as adequado, deve-se buscar a mediação entre
metas que pretende-se alcançar após o ambos e esta deve ser oferecida pelo professor.
desenvolvimento dos educandos. De modo geral, o desenvolvimento do
Estas experiências sugeridas, além de indivíduo PNE, deve ser observado como
contribuir com o desenvolvimento, permitem possível, considerando tudo o que a criança já
criar uma esfera exploratória que contribui aprendeu, criando intervenções pedagógicas
para que professores estejam frequentemente para que ela venha a aprender mais,
em sintonia com o que deve ser ensinado, para promovendo o desenvolvimento do indivíduo.
que a dificuldade relacionada a cada assunto
seja sanada, envolvendo as crianças em
trabalhos, motores, afetivos, de linguagem e
sensações, contribuindo para que elas
percebam as diferenças entre si e se envolvam
nos trabalhos propostos.
Para o autor, todos devem estar
matriculados na unidade escolar, pois a
inserção destes no ambiente escolar favorecem
o desenvolvimento psíquico da criança. Ao
nascer a criança encontra-se em um ambiente
social com valores culturais específicos, ao
adentrar nos muros da escola, estes
conhecimentos são aprimorados devido ao
estabelecimento das relações com o outro. As
aquisições do aprendizado criado por meio
destas experiências são chamadas de
apropriação.
Segundo Vygotsky (1994), a educação é
importante para que o sujeito se reconheça
como participante da sociedade,
transformando o conhecimento adquirido
como fruto do trabalho realizado entre
professores, alunos, família, equipe técnica,
construindo um aprendizado coletivo.

151
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término desta pesquisa, pudemos comprovar que o aluno com Síndrome de Down tem
passado por uma inclusão que é quase uma exclusão sofrida pelas dificuldades e que apesar de
todas as ações estas lhe parecem insignificantes, num primeiro momento, elas se tornam
desgastantes devido a falta de estrutura e conhecimento profissional, dificultando as relações
entre professores e alunos.
A necessidade de preparar as escolas e o sistema educacional, ao qual este aluno será
incluso é de extrema importância pois não se pode garantir qualidade de ensino esperando que
o aluno se adeque sozinho ao sistema educacional. Percebemos que ao valorizar profissional
oferecendo meios para que seu conhecimento esteja sempre sendo renovado, o sistema está
valorizando o processo pedagógico e o psicopedagógico, estabelecendo uma relação ampla com
o saber e o aprender, vencendo desafios e enfatizando a resolução dos problemas causados pelas
dificuldades dos alunos.
Oferecer cursos adequados ao profissional, permitindo-lhe obter meios adequados para
que se perceba as reais necessidades do deficiente, podendo este ser considerado um indivíduo
produtivo, porém com habilidades restritas e desenvolvimento mais lento que o das crianças ditas
normais, porém com qualidades e habilidades específicas que podem ser desenvolvidas de
acordo com os estímulos que este recebe do meio.
Cabe então ao professor e aos responsáveis garantir-lhes todo o estímulo necessário para
que estes desenvolvam seu conhecimento adequadamente, utilizando-se de todas as
informações que podem ser transmitidas a eles. Porém, para que este consiga acompanhar o que
se pretende ensinar, é preciso adequar o currículo, modificando-os e reestruturar a política
educacional oferecendo melhores condições de ensino – aprendizagem é o caminho para a
resolução da degradação e da falta de sucesso do processo de inclusão nas escolas.
Considera-se também que órgãos da educação, segurança e assistência social, pois as
construções e reestruturações desta são de suma importância para que amenizar, a pressão
sofrida pelos educadores no processo de ensinar, pois assim estes aprenderiam a lidar com a
demanda tão heterogênea que estão recebendo em sala de aula.
O conhecimento é algo que se constrói à medida que a criança e o adolescente tomam
consciência de sua importância e superam as suas dificuldades, rever o papel da escola na vida
destes alunos é de suma importância para que estes recebam o professor com o respeito
merecido, contribui para esta construção de formas agradável e saudável.
A reestruturação dos prédios, do material e dos espaços onde estes serão trabalhados
também devem ser revistos, para que a integridade intelectual do deficiente não seja
desperdiçada, pois, os acontecimentos e descobertas cientificam tem acontecido a uma
velocidade fenomenal e estes há seu tempo conseguem desenvolver seu saber, como qualquer
indivíduo normal.
Há a necessidade também da ampliação dos projetos que deram certo acerca do assunto,
favorecendo a informação, unificando estados e prefeituras, em prol do sucesso da causa,
entendendo, que independente do setor que lhe competem, os governantes precisam unificar a
sociedade.

152
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na escola –Alternativas teóricas e práticas. Ed. Summus
editorial, 1996, São Paulo.

BRASIL. EDUCAÇÃO, Ministério da Educação. Ética e Cidadania, construindo valores na


escola.

CARVALHO, Rosita Elder. Educação inclusiva, com os pingos nos is – Ed. Mediação , 2006
, Porto Alegre .

DIEHL, Rosilene Moraes – Jogando com as diferenças, Editora Phorte,2006, São Paulo.

FERREIRA, Aurelio Buarque De Holanda. Mini Dicionário da Língua Portuguesa, Ed. Nova
Fronteira, 4ª edição, 2001.

FREIRE, Paulo e SHOR, Ira .Medo e ousadia, o cotidiano do professor, Ed Paz e Terra,1987,
Rio de janeiro.

MANTOAN, Maria Tereza Egler. A integração da pessoa com deficiência. Contribuições para
uma reflexão sobre o tema. Ed. Memnon, 1997, São Paulo.

MANTOAN, Maria Tereza Egler. Caminhos pedagógicos da inclusão Ed. Memnon, 2001, São
Paulo.

ONU. Declaração de Salamanca- elaborado na Espanha, em congresso de 7 a 10 de junho de


1994.

SÃO PAULO. SME. CEFAI, Histórico do caminho traçado pelo CEFAI Capela do Socorro
desde sua criação, abril de 2003, editado por Andréia Pacheco, técnica do CEFAI, Capela do
Socorro.

SAWAIA,. As artimanhas da exclusão, ed vozes ,2001, Petrópolis.

SKILIAR, Carlos. Educação e exclusão, Ed. Meditação. Porto alegre, 2001.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NA PERSPECTIVA


DOCENTE: IMPORTÂNCIA E PERSPECTIVAS
Janice Aurélio Lopes 1

RESUMO: Nas últimas décadas o estudo das emoções vem sendo estudado por profissionais das
diversas áreas do conhecimento científico, configurando-se como um fator relevante para o
processo de desenvolvimento humano. A natureza humana requer, entre as várias habilidades e
competências necessárias para viver em sociedade, um conjunto de aptidões que incluem
autocontrole, zelo, persistência e a capacidade de automotivação. A esse grupo de aptidões
chamamos de “Inteligência Emocional”, tão fundamental nesses tempos complexos e indefinido
em toda e qualquer área do conhecimento humano, seja em nível pessoal ou profissional. Neste
texto, baseado em estudo bibliográfico, objetivamos refletir sobre a importância da inteligência
emocional para o processo de ensino aprendizagem na perspectiva docente, uma vez que a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), documento brasileiro norteador, determina os direitos de
aprendizagem da Educação Básica, onde a mesma contempla não apenas as competências
cognitivas, mas também as socioemocionais, buscando-se dessa forma, o desenvolvimento
integral dos estudantes, possibilitando-os a ir além do domínio dos objetos do conhecimento
estudado em sala de aula.

Palavras-Chave: Inteligência Emocional; Ensino aprendizagem; Base Nacional Comum Curricular.

1Professora Titular da Rede Municipal de Ensino de Crateús/CE, Atuando como Técnica Pedagógica na Secretaria
da Educação da referida Rede.
Graduação: Licenciatura Plena em Química. Especialista em Metodologia do Ensino das Ciências e Gestão
Pedagógica.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EMOTIONAL INTELLIGENCE IN THE TEACHING PERSPECTIVE:


IMPORTANCE AND PERSPECTIVES
ABSTRACT: In the last decades, the study of emotions has been studied by professionals from
different areas of scientific knowledge, configuring itself as a relevant factor for the process of
human development. Human nature requires, among the various skills and competences
necessary to live in society, a set of aptitudes that include self-control, zeal, persistence and the
capacity for self-motivation. We call this group of skills “Emotional Intelligence”, so fundamental
in these complex and undefined times in any area of human knowledge, whether on a personal
or professional level. In this text, based on a bibliographic study, we aim to reflect on the
importance of emotional intelligence for the teaching-learning process in the teaching
perspective, since the National Common Curricular Base (BNCC), a Brazilian guiding document,
determines the learning rights of Basic Education , where it includes not only cognitive skills, but
also socio-emotional ones, thus seeking the integral development of students, enabling them to
go beyond the domain of the objects of knowledge studied in the classroom.

Keywords: Emotional Intelligence; Teaching learning; Common National Curriculum Base.

155
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO relacionado a outros conceitos que ajudam a


definir e compreender melhor o termo. Dentro
Nas últimas décadas o estudo das emoções desses conceitos temos as habilidades que
vem sendo aprofundado por profissionais das estão relacionadas a inteligência emocional e
mais diversas áreas do conhecimento ao desenvolvimento socioemocional
científico, tendo em vista um fator valoroso (OLIVEIRA, GALVÃO, 2020, p. 2).
para o processo de desenvolvimento humano.
Assim sendo, buscamos nos princípios de
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Goleman (1995, p. 20), argumentos para
De acordo com Rocha e Sampaio (2020), o
tentarmos compreender o sentido do termo
conceito de Inteligência Emocional (IE), surgiu
emoção. Para o autor todas as emoções são,
em 1990, mas, apenas em 1995 ganhou
em essência, impulsos para lidar com a vida que
proporções mundiais com o lançamento do
a evolução nos infundiu. A partir dessa
livro: Inteligência Emocional, do psicólogo
proposição, consideramos que as emoções
Daniel Goleman. Para os autores, um indivíduo
atuam como um indicador interno de que algo
emocionalmente inteligente, desenvolve
importante está acontecendo.
habilidades que o torna capaz de lidar com as
De acordo com os autores Rocha e
mais diversas situações do cotidiano.
Sampaio (2020), as emoções exercem
Um indivíduo emocionalmente inteligente
influências diretas no processo de ensino
tem a capacidade lidar com frustações,
aprendizagem, sendo necessário o
controlar os impulsos, regular os seus estados
desenvolvimento inicial das competências
de ânimo, ser empático, de motivar a si mesmo
socioemocionais para se alcançar os demais
em situações difíceis, etc.( ROCHA E SAMPAIO,
objetivos educacionais.
2020, p. 07).
A educação básica de acordo com a Base
Sucintamente, temos que a IE, é a
Nacional Comum Curricular (BNCC), deve
capacidade de identificar, analisar, controlar e
ofertar um ensino integral, onde os estudantes,
expressar emoções. Quem desenvolve a IE,
desenvolvam habilidades para além dos
apresenta maior autoconsciência, e a partir
conhecimentos científicos, ou seja, que estes
dela desenvolve a: consciência social, a
sejam capazes de aprender e lidar com as
autogestão e tudo isso melhora o
diversas situações cotidianas.
gerenciamento dos relacionamentos, como
O desenvolvimento socioemocional é uma
apresentado no modelo de estrutura da
construção, que tem como base as habilidades
Inteligência Emocional de Goleman (2012).
e as competências socioemocionais, e que esta
é uma prática que deve ser estudada e
construída diariamente.
O desenvolvimento socioemocional pode ser
caracterizado como um construto, logo não se
pode ser observado diretamente, o
desenvolvimento socioemocional também está

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Estrutura da Inteligência Emocional relacionamentos intrapessoal e interpessoal,


visando o gerenciamento das emoções, para
que se consiga atingir os objetivos, como
também, tomar decisões de forma
responsável.
...as competências socioemocionais são
aquelas empregadas “para se relacionar com os
outros e consigo mesmo, compreender e gerir
emoções, estabelecer e atingir objetivos, tomar
O desenvolvimento da Inteligência decisões autônomas e responsáveis e enfrentar
Emocional, para Pereira e Evangelista, (2019), situações adversas de maneira criativa e
corresponde as competências socioemocionais construtiva” (SILVA, 2018, p. 45).
que são habilidades não cognitivas, O desenvolvimento das competências
abrangendo a capacidade que os indivíduos socioemocionais, são importantes tanto para a
possuem para expressar os seus sentimentos formação intelectual dos estudantes, como
de forma ponderada. para o convívio social. De acordo com Silva
(2018), quando bem emocionalmente, os
COMPETÊNCIAS indivíduos conseguem desenvolver melhor
suas atribuições diárias, na escola, na família,
SOCIEMOCIONAIS no trabalho, e em todas as suas relações, de
Para os autores Marin, Silva, Andrade, forma eficaz e comprometida.
Bernardes e Fava (2017), a definição de no relatório do “Estudo especial sobre
competência engloba o de habilidades, alfabetismo e competências socioemocionais
adicionando a noção de adequação na população adulta brasileira” (IAS, 2016),
comportamentais. As competências apresenta-se a definição de competência da
socioemocionais, estão relacionadas ao UNESCO, que “define competências com base
desenvolvimento pleno do indivíduo, visando no bom funcionamento do indivíduo, o que
sua formação integral, capacitando-o para agir inclui ‘comportamentos, atitudes e qualidades
de forma responsável e efetiva. pessoais que ajudam os indivíduos a serem
O uso do termo socioemocional associado às mais eficazes no campo do ensino, da
habilidades se refere àquelas que se formam formação, no trabalho e na participação social’
através do desenvolvimento das relações (SILVIA, 2018, p. 35-6). ( p. 45).
interpessoais e afetivas, aliada a forma como a
pessoa percebe, sente e nomeia a associação
entre situações e comportamentos (MARIN,
A BNCC E AS COMPETÊNCIAS
SILVA, ANDRADE, BERNARDES E FAVA, 2017, p. SOCIOEMOCINAIS
94). A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é
Silva (2018), caracteriza que essas o documento brasileiro norteador, que
competências, são aquelas empregadas para os determina os direitos de aprendizagem da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Educação Básica. E ela contempla não apenas emoções e as dos outros, com autocrítica e
as competências cognitivas, mas também as capacidade para lidar com elas (BRASIL, 2018,
socioemocionais, buscando-se dessa forma, o p. 10).
desenvolvimento integral dos estudantes, Na empatia e cooperação, os estudantes
possibilitando-os a ir além do domínio dos devem estar abertos ao diálogo, a resolução de
conteúdos. conflitos e ao próprio ato de cooperar,
A BNCC, estabeleceu dez competências promovendo o respeito mútuo, a valorização
gerais, que devem ser desenvolvidas pelos da diversidade dos indivíduos e de grupos
estudantes durante a Educação Básica. Dessas sociais, suas identidades, culturas e os mais
competências, quatro, trabalham diversos saberes. A empatia é uma
especificamente as questões emocionais: a competência de extrema relevância para o
competência 6 - Trabalho e projeto de vida; 8 - convívio social e para o próprio
Autoconhecimento e autocuidado; 9 - Empatia desenvolvimento humano.
e cooperação e 10 - Responsabilidade e Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução
cidadania. de conflitos e a cooperação, fazendo-se
Na sexta competência, os estudantes, respeitar e promovendo o respeito ao outro e
devem desenvolver habilidades, que lhes aos direitos humanos, com acolhimento e
permitam fazer escolhas com liberdade, valorização da diversidade de indivíduos e de
autonomia, consciência crítica e grupos sociais, seus saberes, suas identidades,
responsabilidade e ainda coerentes com o suas culturas e suas potencialidades, sem
senso cidadão e ao seu projeto de vida. preconceitos de qualquer natureza (BRASIL,
Valorizar a diversidade de saberes e 2018, p. 10).
vivências culturais, apropriar-se de Na décima competência, que vem trazendo
conhecimentos e experiências que lhe a responsabilidade e a cidadania, espera-se que
possibilitem entender as relações próprias do os estudantes, desenvolvam habilidades, que
mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas os permitam a tomada de decisões baseando-
ao exercício da cidadania e ao seu projeto de se em princípios éticos, democráticos,
vida, com liberdade, autonomia, consciência inclusivos, sustentáveis e solidários. A
crítica e responsabilidade (BRASIL, 2018, p. 9). responsabilidade é uma competência inerente
Com o autoconhecimento e o autocuidado, de qualquer cidadão ativo e participativo em
os alunos, devem se conhecer e se cuidar, seu meio.
tendo em vista tanto a saúde física como a Agir pessoal e coletivamente com
emocional, reconhecendo as suas emoções e autonomia, responsabilidade, flexibilidade,
como trabalha-las, assim como entender que as resiliência e determinação, tomando decisões
outras pessoas, também estão sujeitas as com base em princípios éticos, democráticos,
mesmas emoções e sentimentos. inclusivos, sustentáveis e solidários (BRASIL,
Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua 2018, p. 10).
saúde física e emocional, compreendendo- se
na diversidade humana e reconhecendo suas

158
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A BNCC, preocupa-se com o O desenvolvimento das competências


desenvolvimento dos estudantes como um socioemocionais, são de suma importância
todo, objetivando, seu crescimento como para o processo educacional, tanto para a
cidadão e como também sua qualificação para aquisição dos conhecimentos intelectuais,
o trabalho (BRASIL, 2018, p. 9). como para o lidar com as situações adversas
que são enfrentadas no caminho educacional.
A APRENDIZAGEM E AS ...indivíduos que as habilidades
socioemocionais foram bem trabalhadas e
COMPETÊNCIAS desenvolvidas no decorrer do processo
SOCIOEMOCIONAIS educacional, mesmo que expostos ao
Rocha e Sampaio (2020), apresentam que as sentimento de frustação terão muita mais
emoções exercem influencias diretas no facilidade para vencer este obstáculo, tendo
processo de aprendizagem dos estudantes. Um um aspecto muito importante da
indivíduo que estar bem com suas emoções personalidade que é a estabilidade emocional
consegue aprender mais e melhor, logo as para se conter diante de um obstáculo e
relações emocionais estão diretamente ligadas conseguir vencê-lo, através da persistência,
aos processos intelectuais. criatividade, calma e coragem para enfrentar a
As emoções são consideradas como as adversidade (ROCHA E SAMPAIO, 2020, p. 06).
reações fisiológicas e psicológicas exercendo Como exposto, a aprendizagem está
influência na aprendizagem do indivíduo, diretamente ligada ao desenvolvimento das
essencialmente as emoções são uma forma de competências socioemocionais, estas
motivos e exercem influência nos processos funcionam como uma ponte para o
intelectuais, como aprendizagem e inteligência aprendizado e a formação integral dos
( ROCHA e SAMPAIO, 2020, p. 03). estudantes.
Para os autores, Gondin, Morais e Brandes,
(2014, p.395), “...competências
socioemocionais a seu turno funcionam como
via pela qual as demais competências são
expressas e desenvolvidas”. Abed (2014),
também afirma que o emocional é
fundamental para aprimorar o processo de
ensino aprendizagem.
justificam e sustentam a crença de que o
desenvolvimento das habilidades
socioemocionais é fundamental para aprimorar
o processo de ensino aprendizagem, promover
o sucesso escolar e fomentar o progresso social
dos indivíduos e das nações (ABED, 2014, p.
105).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inteligência emocional no processo de ensino e aprendizagem é de grande importância
uma vez que o desenvolvimento socioemocional é uma construção, que tem como princípio as
habilidades e as competências socioemocionais, e que esta é uma prática que deve ser estudada
e construída diariamente.
Nesta perspectiva, o aluno precisa ter um emocional desenvolvido, “educado”, para
adquirir habilidades de lidar com os conflitos diários e suas emoções a fim de desconstruir os
momentos de sofrimento pelos quais passam em seu cotidiano e que lhes geram mal-estar. Isto
se faz necessário porque, muitas vezes, tais sentimentos fazem com que se sintam desmotivados
e esse estado de perturbação mental, recai diretamente nos conteúdos estudados em sala de
aula.
Com isso a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), norteia não apenas as competências
cognitivas, mas também as socioemocionais e as situações adversas que são enfrentadas no
caminho educacional, objetivando dessa forma, o desenvolvimento integral dos estudantes.

160
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ABED, A. L. Z. O desenvolvimento das habilidades socioemocionais como caminho para a
aprendizagem e o sucesso escolar de alunos da educação básica. Constr. psicopedag.
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OLIVEIRA, J. V.; GALVÃO, L. G. A. O desafio do desenvolvimento socioemocional no


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http://fait.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/s6YM95V1pHWTD3T_2020-12-
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ROCHA. M. M.; SAMPAIO, M. A. P. A importância do desenvolvimento das competências


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SILVA, M. M. A formação de competências socioemocionais como estratégia para captura da


subjetividade da classe trabalhadora. Araraquara – SP, 2018. Disponível em:
http://hdl.handle.net/11449/157212. Data de Acesso: 16/03/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MATEMÁTICA E A APRENDIZAGEM EFETIVA


PARA O ALUNO AUTISTA
Alexandre de Lucca1

RESUMO: Atualmente a inclusão dentro do âmbito escolar tem sido cada vez mais real e dentro
desse cenário, a presença de alunos com autismo cada vez mais frequente. Esse trabalho
científico se justifica pela necessidade de observar que o aluno autista dentro do processo de
inclusão e no âmbito escolar necessita que todas as suas potencialidades sejam desenvolvidas, e
que a partir das suas especificidades, isso tem sido cada vez mais complexo. Dentro desse
panorama o ensino dos diversos componentes curriculares existentes, surge a principalmente a
matemática, presença constante dentro da educação. Em face disso tudo, esse estudo tem como
objetivo demonstrar como a matemática dentro do contexto educacional é trabalhada com o
aluno autista. Como objetivos, a importância da metodologia adequada e do conhecimento do
autismo que deve ser utilizado pelos professores, para que o ensino da matemática seja efetivo
para esse aluno dentro e fora dos muros escolares. Incluir é entender que o aluno a partir de suas
especificidades, terá a possibilidade de ter as suas potencialidades desenvolvidas, como é de
direito a todos os alunos.

Palavras-Chave: Autista; Matemática; Metodologia.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de Ensino de Sã Paulo


Graduação: Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal de São Carlos (2002);
Especialista em Matemática, pela Faculdade Campos Elíseos (2019).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MATHEMATICS AND EFFECTIVE LEARNING FOR THE AUTISTIC


STUDENT
ABSTRACT: Currently, inclusion within the school environment has been increasingly real and
within this scenario, the presence of students with autism is increasingly frequent. This scientific
work is justified by the need to observe that the autistic student within the inclusion process and
in the school environment needs that all their potentialities are developed, and that from their
specificities, this has been increasingly complex. Within this panorama, the teaching of the
various existing curricular components, arises mainly mathematics, a constant presence within
education. In the face of all this, this study aims to demonstrate how mathematics within the
educational context is worked with the autistic student. As objectives, the importance of
adequate methodology and knowledge of autism that must be used by teachers, so that the
teaching of mathematics is effective for this student inside and outside school walls. To include is
to understand that the student, based on their specificities, will have the possibility of having
their potential developed, as is the right of all students.

Keywords: Autistic; Math; Methodology.

163
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO conceitos e características), a matemática


dentro do contexto escolar e a mesma sendo
Atualmente a inclusão garantida por lei, ensinada para o aluno autista, onde a pesquisa
promoveu e promove a integração de muitos em diversos autores levam o trabalho a um
alunos que antigamente ficavam dentro de cunho científico, saindo do senso comum.
casa, desprovidos de qualquer tipo de O aluno autista assim como os demais alunos
aprendizagem e capacidade de interação tem suas potencialidade e especificidades,
social. Com isso, a presença de alunos autistas onde cabe ao professor a escolha da
tem sido cada vez maior e consequentemente, metodologia adequada para que esse
a busca por parte dos docentes do adequado aprendizado seja efetivo, significativo para o
desenvolvimento desses discentes acaba sendo seu desenvolvimento dentro e fora do âmbito
uma longa e curiosa jornada. escolar. Todo esse processo estará diretamente
Esse trabalho científico se justifica pela ligado não apenas ao seu desenvolvimento
necessidade de observar que o aluno autista mais em toda a construção de uma inclusão
dentro do processo de inclusão e no âmbito para uma sociedade mais justa e igualitária
escolar necessita que todas as suas
potencialidades sejam desenvolvidas, e que a
1 O AUTISMO E SUAS
partir das suas especificidades, isso tem sido
cada vez mais complexo. Dentro desse PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
panorama o ensino dos diversos componentes As crianças autistas são uma realidade na
curriculares existentes, e principalmente a escola, onde sua presença se dá principalmente
matemática, presença constante dentro da pelo processo de inclusão que ocorre dentro da
educação. educação atualmente, garantida por lei, onde a
Em relação ao problema de pesquisa, define- escola é para todos, com o devido respeito as
se o mesmo com a seguinte questão: É possível potencialidades e especificidades de cada
para o aluno autista um ensino de matemática indivíduo.
que seja efetivo e significativo para o mesmo? O autismo pode se conceituado como sendo
Em face disso tudo, esse estudo tem como a perda do contato com o mundo exterior
objetivo demonstrar como a matemática através de uma intensa introspecção, um modo
dentro do contexto educacional é trabalhada de pensar desligado da realidade e de uma
com o aluno autista. Como objetivos, a predominância de vida interior (MANUILLA, et
importância da metodologia adequada e do all, 1997, p. 77).
conhecimento do autismo que deve ser Existem muitas definições acerca do
utilizado pelos professores, para que o ensino autismo, dependendo dos teóricos
da matemática seja efetivo para esse aluno pesquisados, contudo, independente dessa
dentro e fora dos muros escolares. variedade, sempre devemos ter em mente as
Como metodologia, foi realizado uma influências e consequências dessa condição no
revisão bibliográfica, a partir de livros, artigos e indivíduo perante sua vida em sociedade.
teses relacionados ao autismo (principais

164
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A National Society for Autistic Children o perturbações de sono ou da alimentação, crises


autismo é definido como: uma inadequacidade de birra ou agressividade (auto agressividade).
no desenvolvimento que se manifesta de Ao se deparar com um autista, essa tríade de
maneira grave durante toda a vida. É conceitos denominada como: interações
incapacitante e aparece tipicamente nos três sociais, comunicação e comportamento
primeiros anos de vida. Acomete cerca de cinco focalizado e repetitivo jamais deve ser
entre cada dez mil nascidos e é quatro vezes esquecido, já que é o alicerce para o
mais comum entre meninos que meninas. É conhecimento e entendimento inicial dessa
encontrada em todo mundo e em família de síndrome, independente da definição de
qualquer configuração racial, étnica e social. A autismo pesquisada, sempre irá aparecer,
pessoa portadora de autismo tem uma reforçando ainda mais o conhecimento no que
expectativa de vida normal. Uma reavaliação se refere à sintomatologia, que poderá ser
periódica é necessária para que possam ocorrer entendida posteriormente nesse estudo
ajustes necessários quanto às suas científico.
necessidades, pois os sintomas mudam e Muitas vezes, a criança se “ausenta” do
alguns podem até desaparecer com a idade ambiente que a cerca e das pessoas
(GAUDERER, 1993, p. 3, 4). circunstantes a fim de bloquear os estímulos
Antigamente, o autismo infantil foi externos que lhe parecem avassaladores. O
denominado como uma esquizofrenia infantil. autismo é uma condição da infância que isola a
Essa ideia se tornou completamente errônea criança de relações interpessoais. Ela deixa de
ao longo do tempo, graças às pesquisas e aos explorar o mundo à sua volta, permanecendo
estudiosos, já que o autismo se inicia na em vez disso em seu universo interior.
primeira infância, enquanto que a (GRANDIN & SCARIANO, 1999, p.18).
esquizofrenia é raramente vista antes dos 7 Assim, a pessoa autista permanece em seu
anos de idade e se torna mais comum na mundo interior como um meio de fugir dos
adolescência. estímulos que a cercam no mundo externo.
Suplino (2007), descreve que o autismo Outro motivo para isso é o fato de, em geral,
pertence ao grupo denominado TGD e é sentir dificuldade em se relacionar e em se
classificado como: um desenvolvimento comunicar com outras pessoas, uma vez que
anormal ou alterado, manifestado antes da ela não usa a fala como um meio de
idade de três anos, e apresentando uma comunicação. Logo, não se comunicando com
perturbação característica do funcionamento outras pessoas, acaba passando a impressão de
em cada um dos três domínios seguintes: que vive sempre em um mundo próprio, criado
interações sociais, comunicação, por ela e que não se interage fora dele.
comportamento focalizado e repetitivo. Além A palavra autismo é oriunda da junção de
disso, o transtorno se acompanha comumente duas palavras gregas: “autos” que significa “em
de numerosas outras manifestações si mesmo” e “ismo” que significa “voltado
inespecíficas, por exemplo, fobias, para”, ou seja, o termo autismo originalmente
significava “voltado para si mesmo”, porém as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

primeiras descrições sobre o autismo, tal como apresenta flacidez muscular ou uma rigidez
é visto hoje, surgiram no ano de 1943, por meio (LEBOYER, 1995).
de estudos e publicações de Leo Kanner, pois, Gauderer diz que essa criança autista de dois
até esta data, o autismo era entendido como a três anos “mostra pouco ou nenhum
uma esquizofrenia (GOMES, 2007). interesse em brinquedos e quando brincam
No Brasil, a AMA, (Associação de Amigos do geralmente não levam em consideração a
Autista – São Paulo), registrada em 1983 e, função para que foram feitos” (1993, p. 87). O
posteriormente, em 1988, a ABRA (Associação autismo é uma condição dentro do
Brasileira de Autismo), são considerados desenvolvimento, uma deficiência nos sistemas
órgãos específicos que pretendem promover que processam a informação sensorial
todo o suporte necessário ao autista e sua recebida, fazendo a criança reagir a alguns
família. estímulos de maneira excessiva, enquanto a
Dentre as características que o autista outros, inexpressivamente. Muitas vezes, a
possui, a perturbação social é aquela que fica criança se “ausenta” do ambiente que a cerca e
mais evidente, pois interfere em uma das pessoas circunstantes a fim de bloquear os
característica básica do ser humano: conviver estímulos externos que lhe parecem
em sociedade. Na maioria dos casos, a avassaladores.
perturbação social está aparente desde cedo, Por volta do quinto ano, as alterações voltam
apresentando uma criança introspectiva, a se dirigir para a fala. A criança autista
muitas vezes, desligada do mundo externo, ou continua ausente ou com poucas palavras,
seja, dentro do seu próprio mundo, tendo até a usadas de maneira que parecem sem sentido.
ausência da fala, intensificando ainda mais esse Observa-se também, na presença da fala, uma
isolamento. ecolalia, pois a criança repete palavras ou
Embora já se possa ter “suspeitas” desde os frases inteiras fora do contexto ou à margem de
primeiros dias, as condutas de desconexão da uma conversação (GAUDERER, 1993).
criança autista já podem ser evidentes aos 8-9 Normalmente, a comunicação verbal é
meses de idade. Os primeiros sinais poderiam muito concreta, com reduzida capacidade de
ser a ausência do reflexo de aproximação oral abstração. O não envolvimento emocional
ao peito materno (pelo qual o recém-nascido continua. A afetividade permanece ausente e a
põe-se em linha com o bico do seio e abre a comunicação verbal é restrita. A criança
boca mesmo antes de entrar em contato com continua alheia e emocionalmente distante.
ele) e o rechaço ao contato com o peito, a Durante o período da infância, dos cinco aos
pobreza ou ausência do reflexo de busca, de dez anos, o progresso no desenvolvimento das
sucção, de fixação e seguimento ocular, assim habilidades ocorre de forma distinta em
como mais tarde, do sorriso facial. Com quatro diferentes crianças.
a cinco meses, a criança não apresenta os Aos dez anos e na aproximação da
movimentos antecipatórios quando alguém faz puberdade, certo número de crianças tem uma
a menção de pegá-lo e quando levantado, exacerbação do comportamento, que é
característico do autismo, incluindo as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

atividades repetitivas, resistência às mudanças muitas vezes como um “bicho papão” para
e podendo ter um comportamento agressivo e muitos e adorado por outros tantos.
destrutivo. Aqueles que socialmente se No que se trata da aprendizagem da
aproximam de outras pessoas de forma ativa, matemática no ambiente escolar, é necessário
embora peculiar, podem se tornar mais que o professor permita ao aluno compreender
exigentes e reagir com fúria se os outros não se o assunto por meio de exemplos relacionados
dispuserem a ouvir por muito tempo suas ao seu cotidiano para que, depois, ele seja apto
conversas repetitivas. de solucionar problemas mais complexos.
Todo esse quadro, justifica a necessidade Cerqueira descreve (2013), descreve
que quanto mais rápido for dado o diagnóstico, exatamente isso, quando pontual que qualquer
mais rápido será o início do processo do aprendizagem só é significativa quando o aluno
tratamento/acompanhamento e, consegue entender que a mesma é essencial
consequentemente, mais rápido surgirá para a sua vida fora da escola.
possibilidades de inclusão e desenvolvimento Por meio de uma metodologia e didática
da pessoa autista. Por tudo isso, Giardinetto adequadas, o professor colabora de forma
(2009), pontua que o tratamento mais efetivo importante nesse processo, onde buscando
com crianças com autismo é a educação, o que ensinar do mais simples para o mais complexo,
é uma explicação plausível para o fato da irá gradualmente desenvolver as habilidades
crescente busca pela inclusão de alunos com do aluno, sempre levando em conta o
necessidades especiais nas escolas brasileiras. conhecimento prévio dos mesmos.
Vale ressaltar que apesar de certos padrões, Dentro da matemática algumas premissas
cada autista tem suas características próprias, são fundamentais, como entender a situação
ou seja, um autista dificilmente se comportará problema que foi proposta, com a presença de
igual ao outro. um enunciado claro e objetivo, sempre
buscando saber se os alunos conhecem ou não
2 A MATEMÁTICA E O o assunto, sequencialmente elencar os
métodos adequados para resolver o problema,
AUTISTA: CONCEITOS as estratégias mais adequadas, análise e
IMPORTANTES PARA O ENSINO verificação dos resultados obtidos.
(CERQUEIRA, 2013)
EFETIVO
No caso do aluno autista, assim como os
A matemática faz parte da vida de um
demais em uma sala de aula, as especificidades
indivíduo desde a mais tenra idade, dentro e
devem ser consideradas para que a
fora dos muros escolares. Sem os números, as
aprendizagem seja efetiva e significativa para
situações problema, a geometria, o mundo não
todos, sempre privilegiando as potencialidades
seria como é hoje em dia. Na escola contudo a
existentes.
matemática tem a capacidade de despertar
Levando em consideração a tríade existente
sentimentos contraditórios, onde o amor e o
no que se refere ao aspecto comportamental e
ódio caminham juntos, sendo considerada
cognitivo do autista, que é a interação-

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

comunicação-criatividade, Oliveira (2015), pedagógico, já que pode existir um certo


descreve que há a necessidade do uso de comprometimento na comunicação, as
materiais interessantes para o mesmo, quais atividades repetitivas e uma importante
pontos primários a serem estimulados e dificuldade no que se refere a interação social.
melhor forma de realizar a aprendizagem. Kamii e Joseph (2005), destacam que o
Baseia-se em um ensino por meio das ensino da matemática para o aluno autista
vivências, estimulando esse aluno a agir sob o deve ter uma linguagem resumida e precisa,
conhecimento, organizando suas estratégias, incentivando a interação com o conhecimento
por meio de um conhecimento contextualizado de maneira manipulativa, deixando bem claro o
e útil. objetivo da aprendizagem. A utilização de
Sabe-se que esse processo baseado no que é exercícios de agrupamento de elementos,
significativo e vivenciado passa por todos os formas e números, de seriação, classificação,
alunos, para que haja uma maior efetividade da sempre com materiais concretos, visuais e
aprendizagem dentro e fora dos muros manipuláveis são efetivos.
escolares. O que se percebe é que no que se Importante também lembrar que o autista
refere ao aluno autista, esse conceito se precisa de uma rotina, de uma sequência para
intensifica ainda mais, com a sua criatividade que se sinta mais confortável para a aquisição
dando ares para sua possibilidade cognitiva. de qualquer conhecimento, uma sala de aula
O processo de aquisição de qualquer que é um ambiente de aprendizagem, com
conhecimento está diretamente ligado a uma atividades desafiadoras e significativas.
relação dialética entre o faze e o saber, onde é O professor deve ter consciência de sua
de suma importância fazer uso da manipulação importância como mediador e compreender
e ação desse conhecimento. O autista possui que cada criança dentro de sala de aula se
uma grande percepção sensorial, sendo o seu desenvolve, amadurece e aprende de forma
próprio corpo um importante material didático particular, ou seja, atinge expectativas de
para aquisição dos conhecimentos aprendizagens únicas e que a todo tempo deve
relacionados a percepção numérica, espacial, ser valorizada e estimulada a atingir níveis cada
de medidas e etc. (CUNHA, 2017). vez mais elevados (MORAIS & ANJOS, 2016,
Importante sempre o uso de materiais 2013, p.07).
criativos, dinâmicos e estimulantes, onde o Toda a comunidade escolar deve estar
professor além de todo o conhecimento presente nesse processo de aprendizagem para
didático e metodológico, deve antes de tudo o aluno autista, onde a ideia de estar com um
conhecer sobre o autismo e o aluno autista. A aluno limitado e cognitivamente incapaz deve
partir disso tudo, a seleção metodológica fará não e/ou nunca existir, caso contrário a
toda a diferença sobre esses alunos, onde a aprendizagem estará fadada ao fracasso, assim
matemática apresentada de uma forma como o seu desenvolvimento e todo o processo
abstrata não será capaz de produzir nenhum de inclusão escolar.
conhecimento para o autista, sendo necessário
uma individualização de todo o trabalho

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cotidiano de uma escola atualmente é composto de uma diversidade, de uma
heterogeneidade ímpar, onde os docentes buscam não medir esforços para promover o
adequado processo de ensino e aprendizagem para todos os alunos. Dentro desse panorama,
vem a inclusão com os autistas, com suas particularidades e uma intensa potencialidade que
muitas vezes não é percebida ou pior, desenvolvida.
Hoje em dia, com a inclusão cada vez mais presente nas escolas públicas, e imaginar uma
aula onde o aluno autista não participe, pelo simples fato do mesmo não se enquadrar nos
chamados “padrões normais de comportamento” é inadmissível e desumano.
A matemática levando-se em conta a chamada “tríade do autismo”, com a metodologia
adequada tem a capacidade de colaborar no desenvolvimento do aspecto motor, cognitivo e
psicológico desse aluno.
A matemática assim como para os demais alunos, quando trabalhada de forma
metodologicamente adequada consegue ser eficiente para o autista tanto dentro como fora do
contexto escolar. Esse conceito da importância da matemática e sua aplicabilidade na vida de
todo indivíduo é primordial para o sucesso em qualquer processo de ensino e aprendizagem.
De acordo com o que foi abordado no transcorrer desse estudo científico, o autista precisa
também entender essa aplicabilidade e acima de tudo se sentir instigado para todo o
aprendizado. O professor por sua vez deve não apenas ser conhecedor da metodologia mais
também de tudo que envolve o autista, para que seja efetivo na sua atuação como incentivador
e mediador da aprendizagem.
Que esse estudo seja também um estimulador para que mais estudos envolvendo a
matemática e o autismo aconteçam e que outros profissionais se interessem para um maior
aprofundamento, entendimento e consequentemente, maior efetividade e significado
educacional.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
CERQUEIRA, S. D. Estratégias didáticas para o ensino da Matemática. 2013. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/2197/estrategias-didaticas-para-o-ensino-da-matematica.
Data de Acesso: 24/03/2022.

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que atuam na área: do especialista aos pais. Brasília: Corde, 1993.

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7 ed. Rio de Janeiro: Wak, 2017.

GIARDINETTO, A. R. dos S. B. Comparando a interação social de crianças autistas: as


contribuições do programa teacch e do currículo funcional natural. 2005. 135 f. Dissertação
(Mestrado em Educação Especial) - Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade
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GOMES, C. G. S. Autismo e ensino de habilidades acadêmicas: adição e subtração. Rev. bras.


educ. espec. Marília, v. 13, n. 3, p. 345-364, set./dez. 2007.

GRANDIN, T.; SCARIANO, M. M. Uma menina estranha: autobiografia de uma autista. São
Paulo: Cia. das Letras, 1999.

KAMII, C.; JOSEPH, L. L. Crianças pequenas continuam reinventando a aritmética. Porto


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LEBOYER, M. Autismo infantil: fatos e modelos. 2 ed. São Paulo: Papirus, 1995.

MANUILLA, A. et all Dicionário Médico Andrei. 2 ed. São Paulo: Andrei, 1997.

MORAIS, O. A. A.; ANJOS, M. J. Educação Especial: Autismo no Ensino Fundamental II da


Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Casimiro de Abreu. 2016. Disponível em:
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/educacaoespecialautism Data de
Acesso: 24/03/2022.

OLIVEIRA, I. M. Autismo e inclusão escolar: percursos, desafios, possibilidades. Curitiba:


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SUPLINO, H. F. O. M. Retratos e imagens das vivências inclusivas de dois alunos com


autismo em classes regulares. 2007. 169 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MÚSICA E AS LINGUAGENS ARTÍSTICAS


Valquiria Aparecida Pereira1

RESUMO: Este artigo é resultado de uma Pesquisa sobre “A Música e as Linguagens Ar-tísticas”
cujo objetivo é analisar a importância das manifestações artísticas da Arte enquanto disciplina
extrapola os muros escolares, ou seja, o processo para a sensibilidade para a arte e suas
linguagens se inicia no ambiente escolar e perdura durante o existir humano. Percebemos que as
linguagens Artísticas são as Artes Visuais, o Teatro, a Música e Dança, sendo que música se
constitui em um elemento interdisciplinar para o processo de ensino e aprendizagem dos alunos
em sua formação e aquisição de conhecimento. A presente pesquisa é de cunho bibliográfico e
conta com os aportes teórico metodológicos de Proença (2003); Borges (2003); Zagonel (2008);
Cunha (2010); Ribeiro (2001), Barbosa (1998), Berthold (2006), Romanelli (2009) entre outros que
abordam a temática proposta. A Arte vai além de uma simples leitura e representação, e compete
ao ser humano sensibilizar-se e abrir-se para as possibilidades que as Artes Visu-ais proporciona
para uma leitura de mundo que implicará em novas formas de ser e estar na imanência da
história.

Palavras-Chave: Artes Visuais; Teatro; Dança; Música; Aprendizagem.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Práticas Educativas: Criatividade, Ludicidade e
Jogos; Especialização em Neuropsicologia pela Unifacvest.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MUSIC AND ARTISTIC LANGUAGES


ABSTRACT: This article is the result of a Research on “Music and Art-Languages” whose ob-jective
is to analyze the importance of the artistic manifestations of Art as a dis-cipline that goes beyond
school walls, that is, the process for sensitivity to art and their languages begins in the school
environment and lasts during human existence. We realize that the Artistic languages are Visual
Arts, Theater, Music and Dance, and music constitutes an interdisciplinary element for the
teaching and learning process of students in their formation and acquisition of knowledge. The
present research is of a bibliographic nature and relies on the theoretical and methodological
contributions of Proença (2003); Borges (2003); Zagonel (2008); Cunha (2010); Ribeiro (2001),
Barbosa (1998), Berthold (2006), Romanelli (2009) among others that address the proposed
theme. Art goes be-yond a simple reading and representation, and it is up to the human being to
be sensitized and open to the possibilities that Visual Arts provides for a reading of the world that
will imply new ways of being and being in the immanence of histo-ry.

Keywords: Visual Arts; Theater; Dance; Song; Learning.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O objetivo da presente pesquisa é


compreender o processo das manifes-tações
A aprendizagem quando acontece a partir artísticas possibilitam ao ser humano a
das vivências do aluno, sendo assim, recorrer a comunicação por meio das artes visuais, do
Arte é fundamental, uma vez que possibilita teatro, da dança e da música de forma
diferentes mani-festações no processo ensino e interdisciplinar no processo de ensino-
aprendizagem dos alunos no âmbito escolar. A aprendizagem dos alunos no Ensino Regular.
Arte comunica, questiona, possibilita novas É de fundamental importância que por meio
formas de conceber o belo, a bele-za, provoca da arte e da música de forma interdisciplinar os
e proporciona novas formas de estar no alunos possam a Arte nas duas diferentes
mundo. manifestações de modo que os alunos:
Conhecer, pensar, refletir acerca do mundo identifiquem as diferentes manifestações
das artes pressupõe o co-nhecimento artísticas que estão presentes nas Artes Visuais,
específico e multidisciplinar que a Arte no Teatro, na Dança e na Música; Possibili-tar
proporciona por meio da sensibilidade humana aos alunos pensar, produzir e estimular o uso
que possibilita ao ser apreciar, ler novas formas das funções cognitivas com o uso das
de lin-guagens possibilitando a vivência nos diferentes linguagens que são utilizadas na Arte
diversos segmentos da sociedade. para aquisição do co-nhecimento; estabelecer
A Arte enquanto disciplina propõe as vínculos, reconhecem que todos são capazes
seguintes competências e habilidades aos de mani-festarem e se expressarem
alunos para que possam fazer uma leitura do artisticamente por meio da arte, da música, da
mundo, leitura das imagens visu-ais que estão dan-ça e as demais linguagem das Artes Visuais.
presentes no cotidiano do ser humano, assim A presente pesquisa de cunho bibliográfico
com as cores, os sons, os traços, os pretende ser um estudo a respeito das
movimentos, a dança, a pintura, o desenho, e, manifestações artísticas que fazem parte da
sobretudo a música de forma indisciplinar Arte e a importância da música no processo de
como parte das manifestações artísticas que a ensino-aprendizagem aguçando o gosto pela
Arte comunica. apreci-ação da arte por meio das artes visuais,
As crianças são estimuladas pela música e do teatro, da dança e da música, le-vando os
pela arte a desenvolver seu olhar para as mais alunos a percorrerem os vários caminhos para
diversas formas e capacidades, o ato de a aquisição do conhe-cimento na formação
desenhar desenvol-ve a autoexpressão humana.
atuando de forma afetiva com o mundo É preciso ter presente que há uma
opinando, critican-do, sugerindo por meio de necessidade de qualificação com téc-nicas,
cores, formas, tamanhos e símbolos e, instrumentos e ferramentas necessárias para a
normalmente esse tipo de prática está aliada a comunicação com a Arte por meio do uso das
um fundo musical, ou seja a arte a música linguagens artísticas para a produção de sua
possibilitam um aprendizado concreto para os arte nos campos possíveis para sua
alunos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

representação e apreciação do público que irá linguagem Artística. Já a Música, por exemplo,
apre-ciar seu trabalho, sua criação. coloca a audição como o sentido principal se
tornando um elemento essencial na Educação
AFINAL O QUE É ARTE? infantil, por exemplo.
O Teatro abrange tanto os sons, a fala, por
Essa questão é controversa e gera várias
vezes a música, enquanto expressividade da
discussões e me parece salu-tar salientar que
corporalidade, elemento chave para sua
não se chega a um conceito do que venha a ser
realização plena. Todas as Linguagens Artísticas
Arte. A arte transcende a tudo que se queira ou
são igualmente importantes e ajudam o ser hu-
se tente enquadrá-la, categorizá-la, ou seja,
mano a fazer uma leitura de mundo de forma
está no cerne da arte a transgressão. Podemos
que a crítica, a criatividade e a reflexão estejam
perceber esse processo quando pensamos na
presentes como algo que possibilita ao ser
sua representação que se constitui como a base
humano estar no mundo de forma atuante e
do seu aprendi-zado: as artes visuais, o teatro,
participativa.
a música e a dança.
Segundo Proença (2003):
A palavra Arte costuma ser usada com os
Arte é a atividade humana ligada as
mais diferentes significa-dos: a arte de em
manifestações de ordem estéti-ca, feita por
executar qualquer tarefa (arte de escrever, de
artistas a partir da percepção, emoções e
fa-lar, etc.), arte de preparar algo ou de
ideias, com o objetivo de estimular esse
dominar alguma técnica (arte culinária, arte
interesse de consciência em um ou mais
marcial) (ZAGONEL, 2008, p.24).
expectadores, e cada obra de arte possui um
Para o autor a definição se constitui em
significado único e dife-rente (PROENÇA, 2003,
um problema a ser aprofundado, pesquisado e
p.36).
discutido por não se ter uma definição precisa,
A beleza é a única maneira de satisfação e
uma vez que a própria arte é abrangente.
sensibilidade, livre de todo sentimento
Portanto, a definição de arte varia de acordo
individualista, livre do sentimento castrador,
com a época e a cultura.
liberta o ser humano de suas mazelas
As Linguagens Artísticas são as Artes Visuais,
considerando como seu ideal o belo no ser
o Teatro, a Música e Dan-ça, sendo que as Artes
humano que é livre e faz suas escolhas de ter
Visuais englobam as Artes Plásticas, sendo que
na Arte e nas suas manifestações artísticas as
o cam-po das artes visuais abrange todas as
condi-ções de possibilidades de fazer sua
artes que colocam a visão como elemen-to
leitura de mundo.
fundamental.
Segundo Ferrari (2013), a ideia de belo vai
Desenvolver o pensamento criativo passou a
mudando com o tempo e com a época e se
ser uma meta prioritária na preparação para o
constitui em uma discussão de cunho filosófico
futuro, visto que os conhecimentos adquiridos
para as diversas formas de compreensão do
hoje podem não valer nada amanhã (CUNHA,
que seja o belo, o bonito, ou seja, do que venha
2010, p. 91).
ser a beleza ampliando a compreensão de
As esculturas, pinturas, gravuras e desenhos,
estética e suas possibilidades de per-cepção
entre outros, são exemplos da Arte Visual como

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pelos sentidos humanos. A Estética, como um que buscam o sentido da vida (BRASIL, 1997, p.
ramo de discussão filosó-fico, discute 19).
compreensões de beleza ao longo dos tempos Ao se expressar artisticamente, a criança
(FERRARI, 2013). constrói sua identidade e a au-toestima
Portanto, “a arte pode ser compreendida aprimorando suas percepções e sensibilidades
como todo produto de uma preocupação diante do que vai vendo ao seu redor e da
estética, de uma vontade de beleza, quando leitura que vai influenciar no processo de
resulta numa obra de arte de alta perfeição aprendizado que os alunos concretizam e
técnica” (RIBEIRO, 2001). vivencias experiências nos diversos
A Arte incessante busca realizar a leitura do componentes curricu-lares, uma vez que a Arte
cotidiano buscando suas conquistas e pode e dever ser compreendida de forma
transformações, afinal, é para o cotidiano que multidisci-plinar fatores estes que
se vive. A vida social do ser humano está em influenciarão positivamente na aprendizagem,
constante transformação, por meio das na sua relação com o eu, com o outro e com o
aquisições da arte e da ciência que se mundo.
desenvolvem incessantemente.
Segundo Lukács (1978): MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS
A ciência descobre nas suas leis a realidade Existem diversas formas do ser humano
objetiva independente da consciência. A arte expressar seus sentimentos, seus desejos, seja
opera diretamente sobre o sujeito humano: o
rindo, cantando, falando, gesticulando, dentre
re-flexo da realidade objetiva, o reflexo dos
outras formas em se fará a utilização das várias
homens sociais em suas re-lações recíprocas, manifestações e, quando nos referimos a arte
no seu intercâmbio social com a natureza, é um que em que o ser humano se utiliza das várias
elemento de mediação – ainda que linguagens: artes visu-ais/audiovisuais, teatro,
indispensável –, é simplesmente um meio para música e dança.
provocar este crescimento do sujeito (LUKÁCS,
A arte faz parte da história da humanidade.
1978, pp. 295-296).
Na pré-história o ser humano já se manifestava
A criação artística transcende a
por meio da arte, sem fazer o uso da escrita já
singularidade para abrir os horizontes para a se expressa-vam por intermédio da arte quer
estética se concretizando na individualidade sejam símbolos, desenhos, sinais que valori-
vivenciada pelo ser humano em seu contexto zam a cultura nos dando uma visão geral de
em que realiza suas relações interativas. como o homem em determinado período da
O ser humano que não conhece arte tem história se organiza e concebe o mundo, como
uma experiência de apren-dizagem limitada, estabelece suas rela-ções sociais, de gênero,
escapa-lhe a dimensão do sonho, da força como a família se organiza, como se concebe o
comuni-cativa dos objetos à sua volta, da sagra-do e assim por diante.
sonoridade instigante da poesia, das criações A valorização da pluralidade e da diversidade
musicais, das cores e formas, dos gestos e luzes cultural em todos os âmbitos e manifestações
da arte contempla conceitos e princípios da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

disciplina Arte [...] A discussão sobre As manifestações artísticas mais antigas que
diversidade (étnicorraciais, soci-ais, religiosas, temos conhecimento, datam de
de gênero, etc.) inseriu uma outra discussão aproximadamente 40 mil anos atrás. São
muito em voga, sobre respeito de aceitação das chamadas de arte rupestres (feitas em rochas
semelhanças e das diferenças culturais (BRASIL, ou de rochas). Eram feitas a partir de materiais
2006, p. 203). naturais (carvão, pós minerais, sangue,
As pinturas vão fazendo com que o próprio pigmentos de plan-tas (BOZZANO; FRENDA &
artista se comunique com o mundo, com a GUSMÃO, 2013).
sociedade em que vive fazendo uma leitura das Segundo os autores as diferentes
formas de ser e estar neste contexto que por manifestações artísticas como a músi-ca, a
meio da arte, no caso da pintura possa se dança, as formas de representações cênicas
expres-sar e comunicar, criticar, criar, recriar fazem parte dos rituais e se transformam em
mostrando cenas do contexto em que es-tão formas de comunicação e expressão.
inseridos. Temos com isso essa compreensão de que o
Para Barbosa (1998), a pintura serve até os ser humano se utiliza das diferentes
dias atuais como documen-tação que retrata a manifestações artísticas para se comunicar,
cultura de um povo com suas evoluções, esse é para transmitir conheci-mento, para cultivar a
o caso da arte e cultura indígena dos povos que cultura e, podemos dizer sem sombras de
habitavam a América antes da chegada de dúvida de fazer memória de suas tradições
Cristóvão Colombo, por exemplo, os maias, os presentes ao longo da história.
astecas e os incas represen-tando a arte pré- As Artes Visuais se desdobram em desenho,
colombiana contada por meio de pinturas, pintura, escultura, grafite, gravura, arquitetura,
esculturas e seus templos grandiosos fotografia, existem outras formas, vão surgindo
construídos por pedras e materiais preciosos da novas for-mas de artes visuais/artes visuais.
antiguida-de. Portanto, artes visuais é a atribuição dada ao
Na América temos as grandes pirâmides dos conjunto de artes que se apresentam no
astecas que além de servir de observatório mundo em que vivemos recorrendo a várias
astronômico, as pirâmides se constituíram em expressões de sua representação que tem a
locais de estudo, servindo também de locais visão como sua principal forma de avaliação. É
para rituais religiosos, para reuniões políticas por meio da apreensão do que a pessoa vê que
são monumentos que servem de fontes se faz os julgamentos sobre aquilo que os olhos
históricas. veem.
Segundo Bozzano; Frenda & Gusmão (2013), A linguagem audiovisual, como a própria
essa vontade de criar, de se manifestar palavra expressa, é feita da junção de
artisticamente vem de nossos ancestrais e elementos de duas naturezas: os sonoros e os
estão presentes influ-enciando nossas relações visuais. O cinema o videoarte e a televisão são
que estabelecemos em nosso cotidiano. expressões audiovisuais (COU-TINHO, 2003).
Bozzano; Frenda & Gusmão (2013), O teatro é tão velho quanto à humanidade.
ressaltam que Existem formas primitivas desde os primórdios

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

do homem” (BERTHOLD, 2006). Faz parte do se contradizem. E às vezes des-te conflito na


arquétipo as transformações da expressão articulação interna da narrativa nasce uma
humana. inesperada coerência. As mais radicais
O teatro deriva do grego theatrón, que experiências frequentemente abalam os
significa “lugar para contemplar”. O teatro é alicerces das poucas certezas (PEIXOTO, 1983).
um dos ramos da arte cênica (ou perfomativa), O teatro tem um papel de fundamental
rela-cionado com a atuação/interpretação, importância para o entretenimento da
através do qual são represen-tadas histórias na população que na sua nascente influenciou a
presença de um público (a plateia). Essa forma história da humanidade com a cultura e a
de arte combina com discurso, gestos, sons, sociedade propondo grande transformação no
música e cenografia (www.conceito/teatro ser humano e sua forma de ser, estar e interagir
Conceito de Teatro, 2020). por meio de suas ações e relações que
Não há um consenso quando se refere ao estabele-ce com os outros.
“teatrão” uma vez que seu sig-nificado varia de O raio de ação do teatro, portanto, inclui a
acordo com a época e o contexto onde se pantomima de caça dos povos da idade do gelo
visualiza a apresen-tação. e as categorias dramáticas diferenciadas dos
Teatro, originalmente, significa uma casa, ou tempos modernos. O encanto mágico do
edifício, em que são representados vários tipos teatro, um sentido mais amplo, está na
de espetáculos. Ela provém da forma grega capacidade inexaurível de apresentar-se aos
teatrón, derivada do verbo “ver” (theaomai) e olhos do público sem revelar seu segredo
do substantivo “olhar” (thea), do qual vai pessoal (BERTHOLD, 2006, p. 14).
também derivar teoria (olhar sobre algo). Do O teatro além de se constituir uma
gre-go, passou para o latim com a forma de manifestação artística leva em consi-deração o
Theatrum e, através do latim para outras contexto histórico do próprio teatro e suas
línguas, inclusive a nossa. Com o temo passou diferentes culturas com o objetivo de levar
também a designar a arte em que o corpo em diversão, informação e entretenimento aos
estado alterado representa uma personagem, expectadores.
através de ações dramáticas (VELOSO, 2011, p. A linguagem teatral conta o tempo real, o
2). tempo dramático, o tempo da escrita em que a
O teatro pode ser considerado um obra foi produzida, há também o espaço que
espetáculo que pode ser realizado em um palco diz respeito aos locais em que os fatos
fechado ou a céu aberto em que as pessoas acontecem que pode ser o espaço real (cênico)
façam as exibições das peças teatrais e o es-paço psicológico e temos os
extrapolando o palco, mas com a presença da personagens, as pessoas que podem ser
plateia sempre. protago-nistas (principais) e os coadjuvantes
As mais diferentes e mesmo antagônicas (secundários).
tendências coexistem pací-fica ou não Temos a plateia que se constitui em público
pacificamente. É frequente localizarmos, num que prestigia a peça com os cenários que
mesmo es-petáculo, caminhos ou soluções que corresponde ao espaço em que se

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

transformara em palco para a representação da encontro agora constitui-se de circunstâncias,


história, da peça que será encenada com o assim, jamais me encontro inteiramente em
figurino que apre-sentará as vestimentas um tempo e lugar particulares (STRAUS,
utilizadas pelos personagens em cenas que 1966/1971, p. 70).
comporão o contexto em que retrata a peça Straus (1966/1971), sinaliza que enquanto
teatral. seres humanos experimenta-mos o movimento
Por fim tempos a iluminação que irá compor em sua vivência que pode assustar ao deparar-
o cenário com a iluminação cênica e pôr fim a se com a per-cepção do mover-se por si
sonoplastia que se preocupa com o uso de mesmo, ou seja, “nuestros movimentos no sólo
sons, aqui pode estar presente a música, nos permiten actual em el mundo, sino que en
ruídos, falas, sons de várias espécies dentre cada movimento nos sentimos a no-sotros
outros. mismos” (ALARCÓN, 2009, p. 6).
Na verdade a linguagem teatral movimenta Portanto, é de grande importância refletir
uma serie de instrumentos e recursos que irão sobre a dança, linguagem artís-tica altamente
compro o espetáculo que poderá ser a exibição humana.
de uma histó-rica clássica da Literatura, uma La danza es el arte del movimento del cuerpo
cena da vida cotidiana das pessoas, um Musi- humano. Sí se compa-ra este arte con la música
cal, uma Ópera, enfim, o teatro tem recursos se puede decir que la relación que el baila-rín
multifuncionais para entreter o seu público, sua tiene con su proprio cuerpo es semejante a la
plateia. de un instrumento musical que tiene la
Outro recurso artístico, ou seja, outra capacidad de tocarse a sí mismo. La danza es
linguagem que compõe a Arte é a dança que una forma de movimiento cuyo principio es el
nada mais são dos movimentos ritmados em “moverse a si mismo (ALARCÓN, 2009, p. 4).
sintonia com a música com passos, gestos, Segundo Alarcón (2009), a dança é a arte que
movimentos coreografados, podem ser tematiza o movimento do corpo humano. O
improvisados ou em uniformidade, a dança corpo que dança toca a si mesmo em
movimenta o corpo e possibilita configurações movimento que “move a si mesmo”. A dança
espa-ço-temporais e os vários modos de pode fazer parte do rito, símbolo, mito e arte,
perceber as transformações do cotidiano, ou seja, é o ser humano que coloca toda vida
revelando histórias, afetos, encontros, nesse ato criador, como ato mágico, chegando
desencontros, memórias e imagens de tudo o a ser considerada a mãe de todas as artes no
que é vivido. tempo e no espaço (BONILLA, 1964).
De acordo com Straus (1966/1971): Os elementos constitutivos da dança são o
O problema do movimento vivido está espaço (direção, nível, ampli-tude, fogo,
incluído no fenômeno básico da mudança, em ordem, forma); ritmo (tempo, duração, ênfase,
um chegar a ser. ‘Querer mover-se’, somente é compasso); modo (como o corpo é
possível a um sujeito que ao estar ele mesmo representado na dança) e a dinâmica (força,
incluído em chegar-a–ser, chega a ser diferente energia, tensão, relaxamento e fluxo). Logo,
[...] Assim é evidente que o lugar aonde me ações político-dançantes fizeram a arte se

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

nutrir na instauração de coreografias sociais em música há uma melhor fixação e gravação


menos sufocantes e utilitaristas. dos conhecimentos. A música sal-va o aluno na
[...] só assim pode uma cidade deixar de ser hora de avaliar os conteúdos apreendidos na
essa amálgama de construções e leis criados aula de biologia (MARIO SANTANA, PROFESSOR
com o objetivo de se controlarem cada vez mais DE BIOLOGIA, 2015).
totalmente os espaços de circulação (de A criança e o adolescente gostam de ter um
corpos, desejos, ideias, afetos); só assim pode objetivo. A apresentação em um Trabalho e/ou
uma cidade se tornar uma coreografia de atu- Seminário é uma coisa que estimula a
alização de potências políticas [...] (LEPECKI, concentração. O fato de existir uma
2011, p. 49). apresentação do final do semestre ou no final
O gesto criativo da dança, resulta em do bimestre onde se pode convidar os pais ou
relações menos cristalizadas com o espaço e o os alunos, depois da filmagem, seja para cantar,
tempo com possibilidades de ações políticas declamar, cantar junto com o instrumento, seja
em que os copos pos-sam usufruir dessa só um grupo de instrumentos. Isso é muito
linguagem artística no contexto em que vivem importe porque desenvolver a autoestima, a
(ARENDT, 1998). socialização dos traba-lhos produzidos pelos
próprios alunos.
INTERDISCIPLINARIDADE É possível dar opinião, interferir na
qualidade daquela criança. Então, o aluno
MUSICAL NA APRENDIZAGEM torna-se crítico. Você começa a inserir a noção
A música é utilizada na alfabetização, nos de tempo, de espera, de tralhar o ouvido, a
momentos mais emocionante da vida, assim colocação perante e diante do público
como pode-se utilizadas em vários trabalhando a questão da desinibição.
componentes curriculares. A música e seus A musicalização no processo de ensino-
benefícios são visíveis no processo de ensino- aprendizagem auxilia no sentido de
aprendizagem dos alunos. proporcionar uma Vicência da cidadania crítica,
O uso da música nas aulas de biologia ajuda criativa e colaborativa nos vários segmentos da
o professor na exposição dos conteúdos sociedade por onde migram nossos alunos que
propostos. Há a possibilidade e colocar uma passam pelas nossas salas de aula diariamente.
letra biológica em músicas conhecidas. O papel social é muito interessante. Não só
O meu coração é um músculo involuntário e no envolvimento musical, mas quando
ele pulsa por você. Gen-te fala que o Amor está colocamos a música em qualquer ambiente. A
sempre ligado ao coração. Ao local onde es- música pensada a partir da questão emocional,
tava a alma. Essa visão mudou ao longo dos ativa diversas vias, principalmente a região de
anos e se descobriu que cérebro é quem nos-so cérebro que se chama sistema límbico
realmente comanda o corpo humano. A partir que atua diretamente nas nossas emoções
desta exposição os alunos prestam mais gerando a liberação de várias substâncias,
atenção. No conteúdo dá para trabalhar a entre elas, a dopamina – que faz a gente se
música de diversas maneiras, transformando sentir bem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Quando a aluno se sente bem na sala de aula será suas condições de se relacionar com as
porque ouviu uma música ele quer repetir essa pessoas.
experiência. Isso faz com que os alunos se A convivência em sala de aula possibilita aos
sintam motiva-dos e envolvidos para o professores e alunos as condições de
processo de ensino-aprendizagem onde farão a possibilidade de transformar a realidade onde
aquisi-ção dos vários tipos de conhecimentos a vivem e onde esta-belece suas relações.
partir de diferentes componentes curri-culares. Quando se utiliza por exemplo a música com
A neurociência afirma que um evento que é os instrumentos musicais a turma vai dando
carregado emocionalmente ele é muito mais outro tipo de resposta uma vez que o
consolidado na região da memória. A memória conhecimento está sendo mediado por
reativa os acon-tecimentos vividos de maneira instrumentos, por recursos que são possíveis
emocional intensa. Ou seja, é possível trazer do fazem as ligações necessárias com o objeto de
passado para o presente algo que marcou de conhecimento a ser apreendido.
forma significativa nossas experi-ências a partir A emoção e o social estão presentes em
da vivência de emoções fortes e marcantes. nossa sala de aula, assim como os conteúdos a
O trabalho em grupo possibilita a conexão serem vistos precisa despertar no aluno o
com outa pessoas. Encontrar amigos. Ter a desejo, na verdade, o professor, sobretudo na
empatia com outras crianças, adolescentes e disciplina de arte vai precisar seduzir o aluno
jovens. Depois vão se formando para o processo criativo e isso se dá por meio
individualmente. da própria arte de que sensibiliza, en-canta,
A música conecta às pessoas. Temos que transforma, provoca uma postura crítica e
tocar os nossos alunos. Para que isso aconteça novas formas de ver o mundo.
é possível a partir daquilo que eles ouvem, ou A música desperta os sentidos, aguça os
seja, a partir de suas audições é possível sentidos para a aprendizagem significativa,
estabelecer uma conexão com os alunos. duradoura e porque não dizer permanente dos
Não podemos esquecer que nosso material é conhecimentos apreendidos.
humano e complexo em sala de aula. Portanto, Questão delicada, pertinente e interessante.
o Professor precisa estar atento para o Eu lido com isso. Quan-do você trabalha com
momento em que a turma está vivenciando e uma criança de 5, 6 anos é fácil, mas um ado-
processando suas relações. lescente precisa de um ambiente. O primeiro
Partindo do emocional há uma pré- momento é deixar que ela se expresse no
disposição para a aquisição dos con-teúdos que ambiente que ela tem. Não introduzir nada a
precisam ser vistos e que auxiliarão os alunos seu ver. Perguntar o que a criança ouve. O que
em sua formação humana, cidadã e que irão o adolescente está ou-vindo? A partir começar
alterar sua forma de ver, de argumentar, de a fazer uma relação entre os contextos mu-
fazer uma inferência, uma crítica, uma leitura sicais. Por exemplo: um adolescente que ouve
visual, uma leitura musical e que quanto mais rock. É possível você sentar e ouvir com ele e
elementos o ser humano puder contar melhor trabalhando essa modalidade musical com ele
começar a percepção das noções a partir do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que ele teme do que apresenta a nós. Respeito MÚSICA COMO EXPRESSÃO E
é a questão mais interessante num primei-ro
momento. Oferecer diversos tipos de MANIFESTAÇÃO DE ARTE
instrumentos, porque não o vilão ou o piano A música une as pessoas. Sabemos que
que se idealiza ao jovem. Por isso, a ideia de existem diversos gêneros musi-cais. O gênero
musicalização na aprendizagem desse musical agrega os seres humanos tornando-os
adolescente, desse jovem. O traba-lho de ouvir semelhantes a partir da particularidade de um
e entrar no contexto da música, depois, determinado estilo. A parti da música a
futuramente pro-por a escolha e a identificação limitação humana parece desaparecer, se
com o instrumento se ainda não tem (SOUTO, expande, vai além do finito, do limitado.
PROFESSORA DE PIANO, 2015). Música é arte [...] seu papel na Educação
A valorização do contado do ser humano Infantil é o de proporcionar um momento de
com a música já era existente há tempos, prazer ao ouvir, cantar, tocar e inventar sons e
Platão dizia que a música é um instrumento rit-mos. Por este caminho, envolve o sujeito
educacional mais poten-te do que qualquer como um todo, influindo, beneficamente, nos
outro. Essa visão é compreensível visto que a diferentes aspectos de sua personalidade:
música treina o cérebro para outras formas susci-tando variadas emoções, liberando
relevantes do raciocínio. tensões, inspirando ideias e ima-gens,
Portanto, a música quando inserida no estimulando percepções, acionando
processo de ensino-aprendizagem com movimentos corporais e favorecendo as
recursos estratégicos voltados para a relações interindividuias (BORGES, 2003, p.
apreensão dos conhecimentos tem resultados 115).
inimagináveis. A música pode contribuir para tornar o
As atividades musicais coletivas em sala de ambiente escolar mais alegre e fa-vorável à
aula favores o desenvolvi-mento da aprendizagem, propiciar uma alegria que seja
socialização, estimulando a compreensão, a vivida no momento presente e isso é a
participação e a coopera-ção entre professor dimensão essencial da pedagogia, e é preciso
aluno, onde o professor possibilita aos alunos que os esforços dos alunos sejam estimulados,
diferentes modos de apreensão dos compensados e recompensados por esse ambi-
conhecimentos propostos. ente.
A presença da música no processo de ensino- Uma música que seja como o som do vento
aprendizagem aguça o in-teresse dos alunos, na cordoalha dos navios, aumentando
que muitas vezes os envolve no processo de gradativamente do tem até atingir aquele em
aprender, on-de a música é utilizada como base que se cri-ar uma reta ascendente para o
curricular nas diferentes disciplinar garantin-do infinito. Uma música que comece sem começo
o resgate do aluno para o ato de aquisição de e termine sem fim. Uma música que seja como
conhecimentos diferenciados. o som do vento numa enorme harpa plantada
no deserto. Uma música que se-ja como a nota
lancinante deixada no ar por um pássaro que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

morre. Uma música que seja como som dos sividade de cada elemento envolvido no
altos ramos das grandes árvo-res vergastadas trabalho e muitas vezes se torna difícil conciliar
pelos temporais. Uma música que seja como o posturas diferentes (ROSA, 1990, p. 22).
voo de uma gaivota numa aurora de novos sons No conhecimento, na arte de conhecer, o
(MORAIS, 1962). professor é o maestro que rege seus alunos
A música como forma de expressão e arte para que em harmonia possam conhecer,
nos transporta para lugares nunca visitados, revelar o desconhecido, trazer à tona novos
talvez lugares inexistes. Essa capacidade está conhecimentos e terá sob a “batuta” todas as
não só para o músico, o artista, o que canta, possibilidades que arte e a música
mas para o professor que propõe esse novo proporcionam na vida dos alunos.
tipo de atividade e para os alunos que se A música é um meio que facilita a
predispõem a embarcar nessa nova forma de aprendizagem dos novos conhecimen-tos,
conceber o mundo que vivem. possibilita uma nova forma de ser e estar no
A música pode ser trabalhada em várias mundo proporcionando aos alunos as
áreas da educação, como: Co-municação e condições de possibilidade de transformar a
Expressão, raciocínio lógico matemático, realidade, apostando numa sociedade mais
Estudos Sociais e Ciên-cias e Saúde (ROSA, crítica, mas colaborativa e mais fraterna.
1990). Para atingir essas áreas o professor O professor não só precisa ser sensível à
poderá atribuir atividades que contribuem para expressão musical e entender o que está sendo
que o indivíduo aprenda a viver na sociedade, transmitido para seus alunos como também,
abrangendo aspectos comportamentais como [...] deve compreender a essência da
disciplina, respeito, gentileza, civi-lidade, linguagem musical, e, a partir de sua própria
valores e aspectos didáticos. experiência e de seu processo criador, facilitar,
Isso demonstra que a música está para o o con-tato da criança com as diversas
conhecimento assim como o conhecimento linguagens (plástica corporal etc.). Deve
está para a música. Cabe ao professor, mediar, propiciar situações em que a criança pode olhar
propor e estar atento para o que acontece na o mundo e se expressar. Olhar o mundo é
sala de aula. Os alunos vão dando sinais e a aula apreender e perceber significados em todas as
torna-se uma aventura a partir do momento coisas. Em condições normais, a criança
que ambos, professor e alunos se predispõem constrói a partir de seu significante,
a embarcar na aventura que o próprio transformando significados, compreendendo o
conhecimento faz na vida de todos que se mun-do e percebendo-o de uma forma
sensibilizam a partir da arte de conhecer. peculiar. Constrói assim seu pen-samento
A educação musical exige um trabalho através da interação com o ambiente e da
complexo quando envolve formação de grupos, compreensão das relações entre todas as
e isso é muito comum em quase todas as ativi- coisas, aí incluindo os sons, as canções, as
dades musicais: corais, banda, teatro, rodas e diferentes manifestações em linguagem
brinquedos cantados. O trabalho com grupos é musical (ROSA, 1990, p.18).
complexo, pois se deve preservar a expres-

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Cada professor dentro de sua disciplina tem


formas típicas e particulares de fazer com que
seus conteúdos sejam apreendidos pelos
alunos. A música neste contexto ajuda e facilita
a apreensão dos conteúdos vistos. Conhecer é
uma forma de arte. A arte de conhecer é
possível desde que o professor não se coloque
acima e nem abaixo dos alunos no processo de
ensino-aprendizagem.
Portanto, a música e sua ligação com outras
áreas do conhecimento permitem múltiplas
abordagens interdisciplinares [...] beneficiando
tanto o proces-so educacional como um todo,
quanto favorecendo a aprendizagem da
própria música (ROMANELLI, 2009).
A música se encontra em vários lugares e é
um inestimável benefício pa-ra a formação,
desenvolvimento e equilíbrio do ser humanos.
Para o educador Paulo Dourado a música é
mais abstrata das manifestações do homem.
Expri-me o que de mais profundo há no ser
humano.
A música estimula para o ato de aprender,
desenvolve as potencialidades humanas.
Portanto, música é arte. A música proporcionar
a integração do ser humano na família, na
Escola e principalmente, na sociedade em que
vivemos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por muito tempo se pensou que a Arte como uma expressão por meio da técnica, mas hoje
se percebe que já não é tanto assim. A arte proporciona aos seres humanos expressar
sentimentos e emoções, ou seja, o artista trás o sen-timento, a expressão que gostaria que o seu
publico tivesse ao ver sua obra e isso se busca por meio de técnicas para que esse sentimento
alcance o seu objetivo que é sensibilizar o seu público com sua arte.
A utilização das diferentes manifestações de arte, ou seja, o uso das dife-rentes linguagens
dentro da arte é muito utilizada uma vez que a linguagem é uma forma de comunicação e a arte
é uma forma de comunicação e a música sensibiliza o ouvinte, o faz julgar o que é belo, o que é
bonito e a beleza se faz presente.
A linguagem da Arte se utiliza de diferentes meios, isto quer dizer que podemos fazer o
uso do texto, da imagem, do som, da dança, da fala no teatro e isso requer o uso de diferentes
técnicas unindo as diferentes linguagens para se comunicar expressando a vida das pessoas em
determinado contexto históri-co.
A arte influencia a forma como ser humano vê o mundo, e se a arte é uma expressão do
artista para o mundo que se expressa por meio de sua obra de arte, ele comunica, diz, propõe,
critica, reflete tudo isso por intermédio de sua arte que e de tudo aquilo que quer comunicar ao
seu público.
Em nossa pesquisa salientamos e ressaltamos a música como uma das linguagens pelo fato
de ser um recurso, um instrumento que pode ser utilizado de forma interdisciplinar no âmbito
escolar proporcionando aos alunos momen-tos de descontração em uma prazerosa aquisição do
conhecimento.
A música é uma forma de arte e propõe um aprendizado global para os alunos. Urge que
os Professores, enquanto mediadores das diferentes formas de apreensão dos diferentes saberes
dar as condições necessária para que a música em sala de aula possibilite diversas formas de
interação de forma siste-matizada, crítica, reflexiva, criativa em que a arte esteja presente sendo
media-da pela música.
A aprendizagem não é um processo fixo, portanto, é possível aprender de diferentes
formas com uma certa flexibilidade que varia de pessoa para pes-soa e que as artes visuais, o
teatro, a dança e a música permeiam esse proces-so de aprendizagem que vai tornando possível
viver de forma singular em um mundo em constante transformações.
Por fim, penso que a Arte está em constante transformação e se constitui em um processo
em que o ser humano põe em prática uma ideia, ou seja, o ser humano faz o uso das diversas
manifestações de Arte e lhe dá as condições necessárias para se comunicar e interagir com o
mundo.
A Arte comunica o tempo todo fazendo o uso das diversas manifestações artísticas como
as Artes Visuais, o Teatro, a Música e a Dança que permeiam nossas vidas e possibilitam a
comunicação e interação na realidade que vive-mos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Simone Mendes de Oliveira 1

RESUMO: O artigo aborda a contribuição da música no contexto social, afetivo e cognitivo, de


apreciação e do fazer musical como o exercício na prática com as crianças em sala de aula.

Palavras-Chave: Educação; Aprendizagem; Música.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes Visuais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MUSIC IN CHILDHOOD EDUCATION


ABSTRACT: The article addresses the contribution of music in the social, affective and cognitive
context of appreciation and music making as an exercise in practice with children in the
classroom.

Keywords: Education; Learning; Song.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A música é uma linguagem que comunica


sensações, sentidos e passa por organização de
A música quando utilizada na educação som e silêncio. Estão presentes nas mais
infantil serve de ferramenta incentivadora da diversas situações. A afetividade a cognição e a
criatividade nas crianças, e um fator de estética são partes integrantes dela.
desinibição numa convivência coletiva. É muito A música é a linguagem que se traduz em
eficaz no período pré-escolar, pois as canções formas sonoras capazes de expressar e
de ninar ajudam a aproximar as crianças do comunicar sensações, sentimentos e
educador. pensamentos, por meio da organização e
De acordo com Brito (1998): relacionamento expressivo entre o som e o
As cantigas de ninar, as canções de roda, as silêncio.
parlendas e todo tipo de jogo musical têm A música está presente e viva em todas as
grande importância, pois é por meio das culturas, nas mais diversas situações: festas e
interações que se estabelecem que os bebês comemorações, rituais religiosos,
desenvolvam um repertório que lhes permitirá manifestações cívicas, políticas etc. Faz parte
comunicar-se pelos sons; os momentos de da educação desde há muito tempo, sendo
troca e comunicação sonoras musicais que, já na Grécia antiga era considerada como
favorecem o desenvolvimento afetivo e fundamental para a formação dos futuros
cognitivo, bem como, a criação de vínculo cidadãos ao lado da matemática e da filosofia
fortes tanto com os adultos quanto com a (BRASIL, 1998, p. 45).
música (p.49). Assim pode-se considerar que a música é
Ainda para o autor as brincadeiras com uma ferramenta que contribui para formação
palmas, rodas e cirandas ajudam no integral do ser humano. O que vem a beneficiar
desenvolvimento da percepção e atenção da no decorrer do processo de ensino-
criança desde cedo. O ambiente escolar para a aprendizagem, pois facilita de forma simples e
criança deve estar repleto de repertórios lúdica o trabalho de alfabetização e
musicais, principalmente com os sons da letramento.
natureza e a relação de entendimento entre o Ensinar utilizando-se da música ajuda a
barulho e o silêncio, elementos diferenciadores criança a valorizar uma peça musical, teatral,
no entendimento de uma música verdadeira. concertos, a aceitar a aquisição de novos
A música vem ainda contribuir para a conhecimentos, pois, dando a oportunidade do
formação do indivíduo como todo. Por meio da conhecimento dos vários gêneros musicais ela
música, a criança entrará em contato com o tem a oportunidade de construir sua
mundo letrado e lúdico. Observa-se sua autonomia, criatividade, aquisição de novos
importância como valioso instrumento, o qual conhecimentos e criticidade.
deverá ser trabalhado e estimulado A criança não é um ser estático, ela interage
provocando no educando possibilidades de o tempo todo com o meio e a música tem este
criar, aprender e expor suas potencialidades. caráter de provocar esta interação, pois, ela
traz em si ideologias, emoções, histórias que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

muitas vezes se identificam com as de quem as sapateado e dançando. E é a partir dessa


ouvem. integração gesto e som que ela passa a formar
Observa-se sua importância como valioso e construir o seu conhecimento sobre a música.
instrumento, o qual deverá ser trabalhado e De acordo com Bréscia (2003, p. 41), “a
estimulado provocando no educando investigação científica dos aspectos e
possibilidades de criar, aprender e expor suas processos psicológicos ligados à música é tão
potencialidades. antiga quanto às origens da psicologia como
Contudo, percebe-se que em todo o ensino ciência”. Dessa forma percebe-se que, a música
há necessidade de uma mudança com relação não pode ser tratada apenas como elemento
à utilização da música na Educação Infantil. Em recreativo, há muito que se explorar de suas
algumas situações ela é utilizada em fins de propriedades.
higiene, hora do lanche, comemorações Mediante tantas mudanças dentro do
cíclicas, em outras situações a música nem contexto educacional, podem-se encontrar
aparece no planejamento como ela deveria ser diferentes práticas pedagógicas, onde se faz
explorada. necessário trabalhar a diversidade
Nessa nuance se faz necessário salientar que sociocultural. O professor que se utilizar desta
música na Educação Infantil significa o trabalho diversidade de estilos musicais terá pleno êxito
com linguagem musical, exploração dos sons, ao ministrar suas aulas, proporcionando ao
resgate cultural, repertório musical da infância, aluno o pleno desenvolvimento de suas
conhecimentos esses que não necessitam aptidões e de ampliar o seu universo musical,
formação específica (musical) do educador. Pierre Shaffer e Piaget (apud, JEANDOT, 1997),
As atividades musicais realizadas na escola consideram fundamental esse princípio de
não visam à formação de músicos, e sim, por variação na música, pois para eles, o processo
meio da vivência e compreensão da linguagem contribui de forma gradativa no
musical, propiciar a abertura de canais desenvolvimento do conhecimento da criança,
sensoriais, facilitando a expressão de emoções, que ao repetir uma variação consegue
ampliando a cultura geral e contribuindo para a aprender e firmar o que aprendeu, esse
formação integral do ser. conhecimento pode ocorrer de forma natural
com o uso da música, o importante do uso da
A MÚSICA NA PRÁTICA música para a criança é desenvolver a
sensibilidade.
PEDAGÓGICA De acordo com Bréscia (2003, p. 41), as
Desde a mais tenra infância, a criança já está propriedades da música, como os ritmos,
em contato com os sons, pois ela ouve sons que complementam os estímulos necessários ao
são produzidos pelo meio, pelos seres vivos, desenvolvimento das diferenças cognitivas do
pelos objetos, etc. Toda criança gosta de cérebro; as diferentes notas, os sons e timbres,
acompanhar a música, cantando ou até mesmo formam um elemento rico em informações
balbuciando, acompanha também com o perceptivas estimulando a atenção e a
movimento do corpo, batendo palmas, memória. Percebe-se assim, que, promover

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atividades que envolvam música, de alguma do currículo e, além de melhorar a


preferência, relacionadas aos conteúdos aprendizagem de todas as matérias,
trabalhados, influência e favorece a desenvolve a sensibilidade ao agir diretamente
aprendizagem, seja em qual matéria for. na questão da autoestima e do
Em continuidade o autor afirma que as desenvolvimento global do ser. Além de
cantigas de rodas e as parlendas também transmitir herança cultural, a música, também
inserem ritmo e contexto aos conteúdos é criativa e auto expressiva, permitindo a
trabalhados, proporcionando prazer, interesse expressão de pensamentos e sentimentos,
e o envolvimento efetivo das crianças, uma vez sejam os quais forem.
que a música exerce um papel extremamente Beineke (apud, CHIARELLI, 2010, p.32),
afetivo e lúdico. afirma que:
Nesse sentido, para Bréscia (2003), O professor deve procurar conhecer todos os
desenvolver atividades relacionadas com tipos de músicas envolvidas no meio social dos
música pode servir, também, de estímulo para alunos, bem como as representações utilizadas
crianças com dificuldades de aprendizagem e, por eles, observando os objetivos da educação
ainda, contribuir sua inclusão no espaço para a compreensão da cultura musical e
escolar, pois, agiriam aos movimentos buscando encontrar a ideia-chave que sirva
específicos e contribuindo na organização do para que os alunos estabeleçam
pensamento. correspondência com outros conhecimentos e
Nesse pensar leva-se a crer que o trabalho com sua própria vida.
em grupo pode ser favorecido quanto à Gainza (1988), ainda procurou afirmar em
cooperação e a comunicação, envolvendo a seus estudos, que desenvolver atividades
todos numa perspectiva onde o importante é o musicais na escola pode ter objetivos
fazer e participar, sem a cobrança e, realizando preventivos nos aspectos: Físico – ao oferecer
individualmente, sua expressão é respeitada e atividades capazes de promover o alívio de
valorizada, desenvolvendo, assim, sua tensões devidas à instabilidade emocional e
autoestima. fadiga; Psíquico – ao promover processos de
Ter conhecimento sobre as propriedades da expressão, comunicação e descarga emocional
música ensina os alunos sobre o que sentir por meio do estímulo musical e sonoro e,
sobre si e sobre os outros; e, nessa correlação Mental – ao proporcionar situações que
de sentimentos, é importante destacar que a possam contribuir para estimular e desenvolver
música age reflexivamente nas diversas áreas o sentido da ordem, harmonia, organização e
do desenvolvimento psicossocial, cognitiva, compreensão.
motora e afetiva, levando o aluno a uma Evidencia-se, portanto que, a música atrai,
postura mais expansiva e afetiva. envolve os alunos, motiva, eleva a autoestima,
Tanto em sua própria cultura, quanto em estimula diferentes áreas do cérebro, aumenta
culturas estrangeiras, o trabalho com música a sensibilidade, criatividade, capacidade de
oferece aos alunos vivência e experiências que concentração e fixação de dados.
não se encontra explicitamente, em parte

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Dessa forma, pode-se perceber que a música Barreto (2000, p.45), apresenta que:
e suas propriedades, são mais do que Ligar a música e o movimento, utilizando a
elementos recreativos e meros estimulantes, dança ou a expressão corporal, pode contribuir
mas sim, fonte global de desenvolvimento, para que algumas crianças, em situação difícil
ferramenta auxiliadora na construção de na escola, possam se adaptar (inibição
identidade, socialização e autorrealização. psicomotora, debilidade psicomotora,
Seguindo o abordado a música é, cada vez instabilidade psicomotora, etc.). Por isso é tão
mais, considerada uma ferramenta de ação importante à escola se tornar um ambiente
pedagogia e, usada para alfabetizar, resgatar a alegre, favorável ao desenvolvimento.
cultura e ajudar na construção do O educador deve ter a sensibilidade de
conhecimento de crianças Diante do foco da perceber o momento e o tipo de música que
ação pedagógica, pode-se considerar que, por deverá ser anexado aos trabalhos, para
meio de atividades aonde se relacione objetos promover uma maior compreensão e
a sons, o educador pode perceber da criança, agregação do conteúdo trabalhado, tornando a
sua capacidade de memória auditiva, aula mais prazerosa, dinâmica, atrativa, e vai
observação, discriminação e reconhecimento ajudar a construir e recordar as informações e
dos sons, podendo assim, vir a trabalhar conhecimento.
melhor o que está defasado, na questão visual, Trabalhar, concomitantemente, as letras das
auditiva e propriamente escrita. músicas, as músicas, seus sons e contexto
Nos estudos apresentados por Katsch e histórico-cultural, ajuda e fixa o trabalho
Merle-Fishman apud Bréscia (2003, p.60), é pedagógico de maneira a levar o aluno a
destacado que “[...] a música pode melhorar o construir uma relação com a sociedade e o
desempenho e a concentração, além de ter um papel da música naquele contexto.
impacto positivo na aprendizagem de Não parece que o aluno consiga fazer essa
matemática, leitura e outras habilidades relação com o seu contexto, mas apresentar
linguísticas nas crianças”. aos alunos que aquela música foi feita com uma
A música, além de contribuir para deixar o finalidade e por uma pessoa que passava por
ambiente escolar mais alegre, pode ser algum momento diferenciado em sua vida,
utilizada desde para criar uma atmosfera mais ajuda as crianças a entenderem o porquê da
receptiva na chegada dos alunos, a um sua utilização e reforça o reconhecimento de si
momento mais relaxante direcionando a um e do outro na sociedade.
efeito calmante, após atividades que exigiram Assim, ler poemas, textos ou letras das
mais agitação e movimentos. canções antes e também depois de ouvir a
Também, apresenta sua função na redução música, reforça promove a integração de
de tensão em momentos de avaliação e pode, aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e
e deve ser usada como um recurso no cognitivos, promovendo uma interação e
aprendizado de diversas disciplinas, comunicação social.
principalmente na alfabetização – o momento É necessário que, por meio da leitura, leve o
de interagir lúdico abstrato concreto. aluno à compreensão do seu processo de

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alfabetização, a partir de usos e valores da representa um grupo, um espaço de


leitura e da escrita; deixar a criança fascinada manifestação social.
pela leitura e escrita, a fim de que como leitor A escola deve ampliar o conhecimento
e como escritor e construtor participante de musical do aluno, oportunizando a convivência
seu conhecimento, possa escrever e vivenciar, com os diferentes gêneros, apresentando
com maior plenitude, seus direitos e deveres de novos estilos, proporcionando uma análise
cidadão. reflexiva do que lhe é apresentado, permitindo
Levar o aluno a buscar sua fonte de que o aluno se torne mais crítico.
conhecimento, no caso, a música e a letras E, ainda, trabalhar por meio da música
trabalhados, é fundamental para que o aluno diferentes sons e pedir para que os alunos
visualize os aspectos sociolinguísticos que o identifiquem, produzam ou descubram de que
circunda. material é feito esse objeto que emite aquele
Além, de enfatizar o que se está sendo som, ou até mesmo, como esse som foi
proposto: a alfabetização – o decifrar dos produzido, além de trabalhar a memória
códigos sociais linguísticos e o letramento – a auditiva, constrói um elo entre som e
construção da leitura de mundo e sua real linguagem escrita ao relacionar que tudo, em
função social. É importante deixar ao alcance todos os lugares, e a todo o momento temos
das crianças, os livros em que estão os poemas som, ruídos, “música” ao nosso redor.
ou textos musicados, para que eles sejam Nesse sentido, levar o aluno a perceber que
manuseados após a roda de leitura e música, e tudo favorece sua aprendizagem e
também em outros momentos do dia. Esta compreensão sobre música e que isso pode
situação estimula e reconstrói a ação relacionar-se com sua alfabetização, com sua
desenvolvida e associa a um momento de leitura de mundo e proporcionar, assim, sua
busca livre pela aprendizagem. alfabetização, é o papel do professor, enquanto
Trabalhar a música na alfabetização não direcionador dessa compreensão de visão de
quer dizer que ela seja complemente voltada música, de escrita e de mundo.
para essa finalidade, mas sim, ter o bom senso Por ser a música uma expressão da
de utilizá- la de como ferramenta pedagógica, linguagem, uma linguagem universal, é a partir
como mais um recurso auxiliador da prática e dela que se pode interagir com o meio em que
não como única fonte, fazendo dela, se vive e reviver lembranças e emoções.
posteriormente, uma ação desgastada e já sem A presença da música na vida dos seres
prazer. humanos é incontestável, ela tem
É fundamental, também que, a música seja acompanhado a história da humanidade; aos
apresentada e estudada como matéria em si, longos dos séculos e exercem as mais
como linguagem artística, forma de expressão diferentes funções, ela se faz presente em
e um bem cultural, pois, o aluno tem direito de todas as regiões, em todas as culturas, pode
conhecer e construir uma visão sobre ela e, por ultrapassar as barreiras do tempo e do espaço,
meio dela, buscar sua identificação e lugar na firmando-se como uma das mais importantes
sociedade, já que muitas vezes, a música formas de comunicação.

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Para Snyders (1992, apud Jeandot, 1997), disto o ouvido acusará se o movimento feito foi
nunca uma geração viveu tão intensamente a correto (audição), os instrumentistas possuem
música como as atuais. É de suma importância muito mais coordenação na mão dominante
que o professor a utilize em sala e aula procure do que as pessoas comuns, o efeito do
compreendê-la em sua plenitude, com todos os treinamento musical no cérebro é semelhante
fatores que a compõem: instrumentos, letra e ao da prática de um esporte nos músculos,
seus sentidos sonoridade, buscando com isto, Platão já afirmava há muitos séculos atrás, que
desenvolver o prazeroso trabalho de escutar os a música é a ginástica da alma. Ao mesmo
mais diversos sons e composições. tempo em que a música possibilita essa
Segundo Nogueira (2004), pesquisas diversidade de estímulos, por ser relaxante,
desenvolvidas nas décadas finais do século XX pode estimular a absorção de informações,
confirma a grande influência da música no com isto é facilitar a aprendizagem.
desenvolvimento da criança, a fonte de Lasov, (1978, apud, Nogueira, 2004),
conhecimento dela. Quanto maior for os desenvolveu uma pesquisa, na qual observou
estímulos que a criança receba melhor será o grupos de crianças, em situação de
seu desenvolvimento intelectual, ao trabalhar aprendizagem; a um destes foi oferecida
com sons, desenvolve sua capacidade auditiva, música clássica lenta enquanto estavam tendo
ao gesticular e dançar, esta desenvolve a aulas, o resultado foi satisfatória para este
coordenação motora e atenção, ao manifestar- grupo, a explicação do cientista é de que a
se por meio do canto estará descobrindo suas pessoa que estava ouvindo música clássica
capacidades e estabelecendo relações com o passa do nível alfa (alerta), para o nível beta
ambiente em que ela está inserida. (relaxados, mas atentos), baixando com isto a
Sharon (2000, apud, NOGUEIRA, 2004), ciclagem cerebral, aumentando a atividade dos
pesquisadores da Escola de Medicina de neurônios e as sinapses tornam-se mais
Harvard (EUA) e Gaser, da Universidade de Jena rápidas, facilitando a concentração e a
(Alemanha), revelaram que ao comparar aprendizagem.
cérebros de músicos e não músicos, os do Conforme Nogueira (2004), outra corrente
primeiro grupo apresentavam maior de estudos aponta a proximidade entre a
quantidade de massa cinzenta, principalmente música e o raciocínio lógico - matemático. De
nas regiões responsáveis pela audição, visão e acordo com o autor pesquisadores da
controle motor. Universidade de Wisconsin, alunos que
Conforme esses autores, tocar um receberam aulas de música apresentaram
instrumento exige muito da audição e da resultados de 15 a 41 % superiores em testes
motricidade percebe-se com isto que a prática de proporções e frações do que as outras
musical faz com que o cérebro funcione “em crianças.
rede”, o indivíduo, ao ler determinado sinal de Neste sentido a autora conclui que a prática
partitura, necessita passar essa informação da música, seja por meio do aprendizado de um
visual ao cérebro, este por sua vez transmitirá instrumento, seja pela apreciação ativa,
a mão o movimento necessário (tato), ao final potencializa a aprendizagem cognitiva,

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especialmente, no campo do raciocínio lógico, meio do repertório musical que iniciamos como
da memória, do espaço e do raciocínio membros de determinado grupo social. Por
abstrato. exemplo: os acalantos ouvidos por um bebê no
Segundo Nogueira (2004), é no campo da Brasil não são os mesmos ouvidos por um bebê
afetividade humana, que os efeitos da prática nascido na Islândia, da mesma formas as
musical se mostram mais claros, brincadeiras, as adivinhas, as canções e as
independentes de pesquisas que trabalham parlendas, que dizem respeito a nossa
com crianças percebem tais efeitos, o que realidade nos inserem na nossa cultura.
muda é que esses efeitos são pesquisados e A afetividade segundo Piaget, apud
estudados cientificamente, a criança aos (JEANDOT, 1997), é a energia que mobiliza a
poucos vai formando sua identidade, cognição, ao mesmo tempo a afetividade
percebendo-se diferente dos outros e ao precisa de um espaço para estruturar-se, o
mesmo tempo buscando integrar-se ao meio, e sujeito para ele não é apenas “ativo porque faz
é neste momento que as atividades musicais muitas coisas, é ativo porque está
coletivas favorecem o desenvolvimento da continuamente organizando e reorganizando
socialização, estimulando a compreensão, a seus esquemas assimiladores”.
participação e a cooperação. A música também contribui para o
Conforme a autora em pesquisa realizada na amadurecimento individual e social, isto é o
Universidade de Toronto, Sandra Trehub (apud, aprendizado das regras sociais, por parte da
NOGUEIRA, 2004), comprovou que pais e criança, quando uma criança brinca de roda ela
educadores já tem a oportunidade de forma lúdica vivenciar
imaginavam que os bebês tendem a situações de perda, de escolha, de decepção,
permanecerem mais calmos quando expostos a de dúvida, de afirmação. Cantigas como
uma melodia serena e dependendo da Ciranda-cirandinha, Terezinha de Jesus, etc.,
aceleração do andamento da música ficam usadas no cancioneiro popular e que nos foram
mais alerta. O teórico salienta ainda que em transmitidas oralmente, por meio de gerações,
experiências vivenciadas com grupos de são formas inteligentes que a sabedoria
professores, que a princípio não apresentavam humana criou para nos preparar para a vida
memória da sua infância, ao ouvirem certos adulta.
acalantos, emocionaram-se e passaram a Tais brincadeiras tratam de temas tão
relatar situações vividas há muito tempo. Por complexos e belos, falam de amor, de trabalho,
todas essas razões a linguagem musical tendo de tristezas, de tudo que a criança irá enfrentar
sido apontada como uma das áreas do no futuro, queiram seus pais ou não, são
conhecimento mais importantes a serem experiências de vida que nenhum sofisticado
trabalhada na Educação, ao lado da linguagem brinquedo pode oferecer e elas contribuem
oral e escrita, do movimento das artes visuais, para o desenvolvimento sócio afetivo da
da matemática e das ciências humanas e criança.
naturais. A música traz efeitos significativos no Conforme Jeandot (1997), Piaget
campo da maturação social da criança, e é por compreende a música como um processo de

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ajuda ao desenvolvimento da criança, e experimentar, encontrar significados para suas


também uma atividade consequente do seu necessidades emocionais, socioculturais, físicas
crescimento. Neste momento que ela constrói e intelectuais, a música favorece na respiração,
seu conhecimento e explora a descoberta do pois quando canta a criança desenvolve a
som. Segundo o teórico “Não podemos nos linguagem verbal.
esquecer de que a música é além da arte de A música, dentro do contexto escolar,
combinar os sons, uma maneira de exprimir-se quando utilizada como motivação para a
e interagir com o outro, e assim a devemos aprendizagem dos mais variados conteúdos, é
compreendê-la [...]”. Ao usarmos a música, uma forma de expressão. Conforme o
podemos estar cientes que de uma maneira Referencial Curricular Nacional para a
prática a criança estará aguçando a Educação Infantil, a organização de conteúdos
aprendizagem, a compreensão, a interpretação para a música na Educação Infantil deverá
e a fixação dos novos conceitos de uma respeitar o nível de percepção e
maneira lúdica e criativa. Jeando (1997),traz o desenvolvimento (musical e global) das
lúdico como um fator determinante na crianças em cada fase, bem como as diferenças
aprendizagem e no desenvolvimento da socioculturais entre os grupos de crianças das
criança, o ensino utilizando-se da música como muitas regiões do país.
forma lúdica criaria ambiente gratificante e Os conteúdos estarão organizados em dois
atraente, servindo como estímulo para o blocos. “O fazer musical” e “Apreciação
desenvolvimento integral da criança. Por esta musical”. O fazer musical é uma forma de
razão a música integra o âmbito do universo comunicação e expressão que acontece por
lúdico e deve integrar as práticas pedagógicas meio da improvisação, da composição e da
com crianças. Segundo Piaget (apud, Jeandot, interpretação. Improvisação é criar orientando-
1997, p.42). se por alguns critérios pré- definidos. Compor é
A atividade lúdica é o berço obrigatório das criar a partir de estruturas fixas e determinadas
atividades intelectuais da criança, sendo por e interpretar é executar uma composição
isso indispensável à prática educativa, contando com a participação expressiva do
acreditamos que por meio da ludicidade, a intérprete.
criança constrói e reconstrói os seus conceitos Segundo Bayer e Kebach (2009), o currículo
e internaliza de maneira natural, ela consegue de música deve incluir atividades de execução,
expandir os limites de seus entendimentos por criação e apreciação, sendo que estes
meio da integração de símbolos elaborados nas parâmetros são indispensáveis para o
músicas e nas atividades artísticas. desenvolvimento dos conhecimentos musicais.
A música na educação alia-se com o brincar, Considerando-se execução, criação e
a vivência com a música desenvolve expressões apreciação como principais modos de interação
de gestos e movimentos, o canto, a dança e em com a música, a apreciação talvez encontre
especial apreciação musical. O que favorece o menor espaço nos dias atuais.
processo de socialização, a aproximação com o De acordo com Brito (2003, apud, BAYER e
saber artístico, o lazer, prazer em interagir e KEBACH, 2009, p. 73), a apreciação ou a escuta

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sonora e musical possibilita o processo de dinâmica para obter determinados resultados


formação de seres humanos, sensíveis e em execuções ou produções.
reflexivos, capazes de perceber, sentir, As autoras salientam que educadores
relacionar, pensar, comunicar-se. utilizam a música em sala de aula como recurso
A apreciação musical pode ser bem mais pedagógico; o gesto, o movimento corporal
abrangente e significativa, se além de para trabalharem com seus alunos,
desenvolvermos o senso crítico e analítico do acreditando ser o gesto uma das formas de se
nosso aluno, possibilitamos que o mesmo vivenciar a música, podendo pensar no corpo
também responda à música de formas como um instrumento musical, não somente
diferenciadas, com aquilo que pensa, sente e pela voz, mas também pela manifestação do
vivencia na sua experiência pessoal com a ritmo por meio do movimento corporal.
música. Está é uma contribuição importante A educação musical deve associar-se à arte
para a educação musical, na medida em que do movimento, explorando amplamente as
amplia o olhar do educador para o possibilidades corporais, utilizando-se da
planejamento de atividades de apreciação de expressão corporal, dos esquemas motores
modo que ele possa focar tanto o senso crítico básicos, da estruturação do tempo e do espaço
(estético) e analítico (forma, tonalidade, estilo, e da expressão de significados, sentimentos e
etc.), quanto aos aspectos de significação emoções por meio do gesto, a criança
pessoal (pensamentos, sentimentos, vivência) estabelece a interação com o mundo e com as
a partir da obra apreciada. (BASTIÃO 2004, demais crianças por meio do corpo.
p.115, apud, BAYER & KEBACH 2009, p. 29). A participação do educador é fundamental
Para as autoras, ouvir de um modo novo, para a apreciação, é por meio de uma correta
diferente é uma forma de enriquecer a proposição que o aluno se sentirá envolvido
compreensão musical, ouvir é uma atividade afetiva e cognitivamente. Becker (2001, apud,
tanto criativa como receptiva entre a música. BAYER e KEBACH, 2009, p. 73), aponta duas
Ela está presente em todos os momentos do condições necessárias para que algum
nosso dia- a- dia, nos rádios, na televisão, na conhecimento novo seja construído no ensino
natureza e nos ruídos, aos quais podemos da música, destaca-se:
atribuir ou não musicalidade, os sons invadem a) que o aluno aja (assimilação) sobre o
nosso cérebro seleciona a que queremos ouvir, material que o professor presume que tenha
temos a opção para ouvir aquilo que nos dá algo de cognitivamente interessante, ou
prazer, o que nos tranquiliza, podemos fazer melhor, significativo para o aluno.
nossas escolhas sonoras, de acordo com nossos b) que o aluno responda para i mesmo às
gostos. perturbações (acomodação) provocadas pela
A apreciação musical permitirá às crianças assimilação do material, ou, que o aluno se
que construam esquemas mentais, que aproprie em um
venham possibilitar novas produções sonoras, c) segundo momento, não mais do
ou seja, organizações posteriores sobre forma, material, mas dos mecanismos íntimos de suas
timbres, ritmos, intensidades e variações na ações sobre esse material, tal processo far-se-á

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por reflexionamento e reflexão (Piaget, 1977, como a criança e vai conseguindo promover
apud Bayer e Kebach, 2009), a partir das uma adaptação desta criança.
questões levantadas pelos próprios alunos e g) Na brincadeira, nesse murmurar, a
das perguntas levantadas pelo próprio criança já vai compreendendo, incorporando
professor, e de todos os desdobramentos que que naquele lugar não tem perigo, que ela pode
daí ocorrerem. confiar no educador, na equipe da escola, nos
d) A música em sala de aula deve ser usada amigos. No decorrer do período de adaptação
de forma lúdica, como possibilidade de da criança ocorrem situações em que “A música
ampliação da aprendizagem e sempre induz movimentos afetivos, que se
desenvolvimento integral da criança. Na processam na escuta por meio da vivência de
interação professor/aluno, a música deve agir estruturas que existem em nível de texto nela
como mediadora com o propósito de própria.” (LOUREIRO, 2003).
intensificar características humanas como a Com a música, os adultos passam pelo
imaginação, a criação e a comunicação. problema de evitar cantar, temendo o
Conforme Loureiro (2003, p. 125), a música ao “constrangimento de desafinar”. Portanto, é
ser usada em sala de aula, precisa ser além de importante saber que a afinação é um conceito
um instrumento, assim capacitar o social, que a sociedade constrói e que isso não
desenvolvimento do ser humano. “[...] torná-lo deve ser motivo para não fazer uso da música,
capaz de conhecer os elementos para intervir ou usar somente CD em sala de aula. Música
nele, transformando-o no sentido de ampliar a não é questão de dom, como ensina Loureiro
comunicação, a colaboração e a liberdade (2003), mas sim de hábito, assim como se pode
entre os seres”. adquirir o hábito pela leitura, também se pode
e) Neste sentido, Snyders (1992, p.89, fazê-lo com a música. Incentivar as crianças a
apud, Loureiro, 2003, p.204), estabelece uma produzir suas músicas é muito interessante,
maneira simples de utilização da música. Para assim como construir seu próprio instrumento
ele, a música proporciona experiências belas, musical. Acredita- se que o gosto e o hábito
que leva ao sentimento de alegria, mas uma pela música podem crescer beneficiando a
alegria específica, que desperta o prazer, e com criança, tornando a aula mais rica.
esta satisfação consegue aprender. Ao arguir na construção de instrumentos
f) A música também auxilia na fase de musicais, pensa-se sobre a questão da
adaptação à escola, ou mesmo na comunicação interdisciplinaridade, embora na educação
não verbal. Crianças de educação infantil, infantil, não ocorra à segmentação de
muito pequenas, tendem a retrair-se e não ter disciplinas (português, matemática, etc.), o
contato com ninguém. Não falam, não educador quando vai trabalhar um projeto, o
murmuram, no máximo emitem sons com um elabora, pensando o que está trabalhando com
determinado ritmo. Muitas vezes o educador aquela sala de aula. A educação é a melhor
conversa com essa criança, por meio de uma escola para o professor entender o que é
comunicação não verbal, ele tenta murmurar interdisciplinaridade.

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Ao se trabalhar com instrumentos musicais, De acordo com Jeandot (1997), segue alguns
Loureiro (2003), sugere que o educador exemplos de instrumentos construídos com
também o possa fazer de maneira mais lúdica, objetos do cotidiano: Tambor de lata de tinta
mais prática, fazendo a criança experimentar coberto com bexiga (látex) ou couro; sinos
em cima de cada instrumento, permitindo que construídos com várias chaves, de diversos
ela crie seu som, sua música. A classe pode até tamanhos, presas em um suporte;
criar uma canção em cima dos instrumentos instrumentos com tampas de metal amassadas
que conheceu, a partir da experiência que e furadas, passadas por um cordão; reco-reco
tiveram com cada um. pode ser feito com a espiral de aço de um
Manusear os instrumentos, assim como criá- caderno fixada em uma superfície de madeira
los, criar coreografias também é trabalhar com ou utilizando bambu (exatamente como os
música. Muitos pensam que música é só indígenas faziam), ou com canos de PVC, assim
cantar! Mas ela vai além, pois permite como latas de óleo; Latas de refrigerante e
experiências concretas, desde experimentar o garrafas pet cortadas, cheias de pedrinhas e
instrumento, assim como criá-lo, separar os depois vedadas geram excelentes chocalhos;
instrumentos por sons, seriá-los. Isso também Tampas de panelas velhas tornam-se
auxilia no desenvolvimento cognitivo da excelentes pratos; Cascas de coco maduro
criança. podem ser percutidas uma contra a outra ou
Barreto (2000), afirma que o primeiro passo tocadas com uma vareta; Cabaças também
para a descoberta e tomada de consciência do podem dar excelentes chocalhos, e também
aluno em relação às suas possibilidades podem ser preenchidas com sementes de
sonoras faz-se por meio da exploração dos sons flamboyant; Tubos de bambu ou de PVC, de
do corpo e dos gestos que os produzem. diversas espessuras e tamanhos presos por
Segundo ao autor, o homem pré-histórico linhas podem tornar-se xilofones; Um garfo
descobriu que, além dos sons de sua voz, era amarrado por um barbante e percutido por
possível também produzi-los por diferentes uma colher pode tornar-se um triângulo; Uma
processos: batendo em objetos (percussão), caixa de madeira ou outro suporte com fios de
soprando por meio de um canudo (sopro), náilon de diversas espessuras pode dar um bom
vibrando a corda de seu arco (corda). A instrumento de corda (JEANDOT, 1997).
diversidade de formas e a variedade de Jeandot (1997), sugere também as garrafas
materiais originaram a necessidade de de som (no mínimo cinco garrafas iguais, com
organizar e dividir os instrumentos em famílias: bocal pequeno, com quantidades diferentes de
cordas, percussão, madeira e metais água); flautas de PVC; rombo (barbante forte,
(BARRETO, 2000). sementes de frutas ou conchas); monocórdio
Um trabalho de confecção de instrumentos (ripa de madeira, pregos e fio de náilon ou
com material reciclável pode ter início com o metal), entre outros. Estas são apenas algumas
reconhecimento dos sons e suas nuances, ideias trazidas pela autora, porém existem
depois com o reconhecimento dos muitos outros caminhos que podem surgir a
instrumentos e a confecção dos mesmos. partir da exploração sonora com o material que

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tiver à sua disposição e das ideias sugeridas nas muito potente, muito conhecido e muito
aulas de apreciação. utilizado, não só na música, mas durante toda a
Ao final de um processo de confecção, de nossa vida: a VOZ! Essa capacidade de produzir
acordo com Brito (2003), é interessante reunir som é muito grande e muito significativa desde
todos os instrumentos para ouvir cada um e a mais tenra idade. Os bebês, por exemplo, se
analisar as características de cada material: comunicam pelo choro, além de reproduzir
quais os que podem produzir sons curtos ou sons vocais que ouvem.
longos, quais podem variar a intensidade, se O trabalho com a voz deve envolver
são graves, agudos, se podem ser afinados, se brincadeiras, onomatopeias, ruídos, reproduzir
produzem apenas ruídos, etc. Tão importante o som das vogais e das consoantes (pondo
quanto construir instrumentos é poder fazer ênfase na formação labial), esse trabalho
música com eles, realizar jogos de implica na escolha de um local apropriado,
improvisação, arranjos para canções acolhedor, que não comprometa a voz infantil.
conhecidas, conferindo sentido e significado a Esta, por sua vez, deve ser alvo de observação
todo esse processo que transforma materiais do professor, a fim de verificar se a criança tem
variados em meios para a expressão musical voz rouca, se faz força para falar, se grita ao
(BRITO, 2003, p. 84). invés de falar. Nesses casos, a criança deve ser
A música enquanto linguagem deve ser encaminhada para uma pessoa especializada
trabalhada na sala de aula, quando se faz um no assunto, para que se verifiquem eventuais
trabalho vocal, jogos rítmicos, ou que problemas e estes sejam solucionados. Para
contenham som, movimento, dança ou os de entender melhor a música é necessário
improvisação. Outra atividade que pode ser desenvolver o hábito de ouvir os sons com
realizada na educação é a sonorização de muita atenção, de modo que se possam
histórias, sugere a autora citada no parágrafo identificar os seus elementos formadores, as
anterior. suas variações e as maneiras como são
Qualquer material sonoro pode ser utilizado distribuídos e organizados numa composição
para fazer música, assim sendo Brito (2003), musical.
considera que qualquer propagador de som, De acordo com Loureiro (2004), qualquer
pode ser chamado de fonte sonora. Na pessoa pode fazer música e se expressar por
educação ao se trabalhar com música, deve-se meio dela, desde que sejam oferecidas
reunir grande quantidade de fonte sonora, condições necessárias para sua prática.
inclusive pode ser mostrado às crianças, o filme Quando afirmamos que qualquer pessoa pode
Tarzan. Neste filme há uma cena em que os desenvolver-se musicalmente, consideramos a
gorilas fazem som utilizando objetos dos necessidade de tornar acessível, às crianças e
humanos. aos jovens, a atividade musical de forma ampla
É um meio de se produzir música. É e democrática (p.66).
interessante utilizar instrumentos bonitinhos, A linguagem musical se dá pela exploração,
mas a improvisação também envolve isto. Além pela pesquisa e criação, e pela ampliação de
dos instrumentos se tem também um recurso recursos, respeitando as experiências prévias, a

200
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

maturidade, a cultura do aluno, seus interesses


e sua motivação interna e externa onde:
Para a grande maioria das pessoas, incluindo
os educadores e educadoras (especializados ou
não), a música era (e é) entendida como “algo
pronto”, cabendo a nós a tarefa máxima de
interpretá-la. Ensinar música, a partir dessa
óptica, significa ensinar a reproduzir e
interpretar músicas, desconsiderando a
possibilidade de experimentar, improvisar,
inventar como ferramenta pedagógica de
fundamental importância no processo de
construção do conhecimento musical (BRITO
2003 p.52).
Ouvir música, aprender uma canção, brincar
de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de
mãos são atividades que despertam e
estimulam e desenvolvem o gosto pela
atividade musical. Daí deve ser produzida,
apreciada e refletida pelas crianças. Vale
lembrar que a produção deve estar centrada na
experimentação e na imitação, tendo como
produto a interpretação e a improvisação. Este
eixo não deve ficar isolado das outras áreas
mais integrado, visto o contato estreito e direto
com as demais linguagens (movimento,
expressão corporal, artes visuais...).

201
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que a música na Educação deve ser uma importante fonte de estímulos,
equilíbrio e momento feliz para a criança.
Cada momento musical deve incentivar ações, comportamento motores e gestuais.
Entende-se a musicalidade como uma tendência que leva o ser humano para a música,
quanto maior a musicalidade e mais cedo à mesma é incentivada no indivíduo, mais rápido será
seu desenvolvimento.

202
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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204
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A NEUROCIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Elaine Conceição Diogo1

RESUMO: Este estudo tem como objetivo mostrar o quanto a Neurociência e seu estudo pode
auxiliar no desenvolvimento infantil de crianças de 0 a 6 anos de idade. O estudo da Neurociência
tem como principal objetivo melhorar o desenvolvimento de crianças que apresentam alguma
dificuldade de aprendizagem, alguns problemas neurológicos e cognitivos. Os profissionais que
trabalham na educação precisam pelo menos de um amparo de pessoas que tenham tais
conhecimentos, para auxiliar e acompanhar as crianças nos primeiros anos de vida escolar, à fim
de proporcionar a elas um desenvolvimento mais significativo. Nessa primeira fase escolar
podemos descobrir e trabalhar com essas crianças de forma que seu futuro possa ser muito
melhor, pois quanto antes for descoberto e trabalhado algum problema neurológico, maiores
serão as chances dessas crianças a se desenvolverem, minimizando os problemas no futuro.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Educação Infantil; Neurociência.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

NEUROSCIENCE IN CHILD EDUCATION


ABSTRACT: This study aims to show how much Neuroscience and its study can help in the child
development of children from 0 to 6 years old. The study of Neuroscience has as main objective
to improve the development of children who have some learning difficulties, some neurological
and cognitive problems. Professionals working in education need at least the support of people
who have such knowledge, to help and accompany children in the first years of school life, in
order to provide them with a more significant development. In this first school phase, we can
discover and work with these children so that their future can be much better, because the sooner
a neurological problem is discovered and worked on, the greater the chances of these children to
develop, minimizing problems in the future.

Keywords: Learning; Child education; Neuroscience.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Para os professores é interessante entender


um pouco sobre essas fases, para poder
A neurociência é um estudo que busca direcionar a aprendizagem. Podemos organizar
descobrir e procurar meios para que as crianças as fases de desenvolvimento organizando em
possam se desenvolver da melhor maneira pequenos grupos: primeira infância (0 à 6
possível, diminuindo os efeitos de algum anos), que iremos descrever nesse trabalho, a
problema neurológico, melhorando sua segunda infância (7 à 11 anos), adolescência
capacidade de aprendizagem, fazendo com que (12 à 21 anos), vida adulta (22 à 59 anos) e
se desenvolva significativamente, sendo terceira idade (60 à diante).
integrada e incluída numa educação de A primeira infância deve ser vista como a
qualidade. mais importante fase do desenvolvimento, no
São diversos os fatores a ser considerado qual podemos descobrir algum problema
durante o processo de aprendizagem das neurológico, e tratá-lo o quanto antes, a fim de
crianças, a idade, o grupo ao qual se encontra, diminuir os problemas de desenvolvimento e
suas experiências de vida e até os fatores aprendizagem no futuro.
nutricionais. É necessário que ocorra estudos de grupos
A neurociência estuda o sistema nervoso e dentro da escola, voltados à descobrir e
todas as suas funcionalidades, e por meio desse acompanhar o desenvolvimento das crianças,
estudo é possível entender parte do processo identificando e tratando da forma mais
de desenvolvimento das crianças por meio do adequada as crianças que apresentam alguma
cérebro. dificuldade ou problema neurológico, e em
Por conta da complexidade do cérebro dos alguns casos podendo reverter um problema
seres humanos, a neurociência se subdivide em grande em um pequeno, que possa ser
algumas categorias como a neurociência trabalhado e acompanhado de forma que ela
cognitiva focalizada no conhecimento e possa se desenvolver adequadamente.
raciocínio lógico, a comportamental, que Os objetivos desse trabalho é ajudar os
analisa os comportamentos das pessoas profissionais da educação a enxergar os limites
conforme alguns fatores internos a níveis de e as oportunidades relacionados às crianças
emoção e pensamento, entre outros focos. dentro da educação infantil, analisando
Um dos fatores determinantes do estudo do algumas consequências que as crianças
cérebro se refere à idade do indivíduo, passaram ou irão passar de acordo com
considerando sua estrutura e processamento estímulos recebidos desde o nascimento.
de informações, e esse trabalho tem como foco É interessante discutir dentro de grupos de
o trabalho com crianças de 0 à 6 anos, dentro formação o estudo da neurociência, para que
das escolas de educação infantil, é óbvio que os profissionais de educação aprendam um
com o passar dos anos o cérebro vai se pouco mais sobre o assunto, podendo
modificando, e essas mudanças ocorrem de encaminhar algumas crianças à um
maneira mais significativa nos primeiros anos especialista, ou trabalhar de forma diferente
de vida. algumas crianças, para descobrir suas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dificuldades e fazer com que se desenvolvam Porém estudos surgiram e revelaram que
da melhor maneira possível porções sobreviventes do cérebro alteraram
Esse trabalho se justifica pela importância do sua atividade funcional de modo a fazer vezes
acompanhamento das crianças na primeira de outra para contribuir com sua recuperação.
infância, e o quanto é necessário descobrir o (BORELLA, SACCHELLI, 2009, p.162).
quanto antes alguns problemas e tratá-los, Mesmo com os fatores genéticos que
para que a criança tenha um desenvolvimento entram nessa conta, enquanto as tendências
mais tranquilo e significativo. intrínsecas, as experiências também ditam
Podemos perceber que dentro das escolas como acontecerá o aproveitamento da
de educação infantil, muitas crianças não são aprendizagem pelas crianças. Não são apenas
entendidas e acabam sendo deixadas meio que os estímulos ou a falta deles que irá modificar a
de lado, sem um acompanhamento adequado, estrutura do cérebro no decorrer dos anos.
fazendo com que isso se agrave no decorrer dos Nem todos os estímulos são positivos, mas
anos, não fazendo uma inclusão adequada da como o cérebro das crianças ainda é vulnerável
mesma, fazendo com que ela perca muito no é importante termos consciência que tudo
seu desenvolvimento, acarretando em diversas pode interferir em longo prazo, especialmente
dificuldades no seu aprendizado como um nas condições emocionais das crianças. Alguns
todo. acontecimentos podem ser esquecidos ao
passar do tempo, principalmente pelas crianças
AS OPORTUNIDADES DA pequenas, mas podem ficar guardados
profundamente de maneira que irá ter um
PRIMEIRA INFÂNCIA impacto futuramente, desencadeando algumas
Para os pais e professores é muito emoções que não deveriam ter acontecido no
importante conhecer sobre a neurociência na passado, sendo trazido e modificando a
primeira infância, que está relacionada com a realidade futura.
plasticidade do cérebro, pois nos primeiros Estudos comprovam que o amor maternal,
anos de vida, esta é a fase de maior abertura e influi beneficamente nas crianças, as mães mais
absorção de aprendizagens novas. carinhosas que evitem que as crianças chorem,
A plasticidade cerebral trata-se de um novo e oferecem um apoio emocional, ajudam no
tema no que diz respeito às discussões desenvolvimento do hipocampo, que é uma
relacionadas à Medicina, e com os temas importante parte do nosso cérebro, que
relacionados com o processo de aprendizagem. visivelmente cresce duas vezes mais rápido em
Nos anos de 1950, os médicos acreditavam que crianças que recebem esse amor e carinho do
pouco se poderia fazer com relação à perda dos que as crianças que são tratadas com certo
neurônios e das conexões sinápticas, pois se distanciamento, ou são cuidadas por outras
achava que o cérebro não poderia regenerar- pessoas que não possuem esse amor e carinho
se, se trata como um programa genético já que as crianças tanto precisam.
definido. Atualmente é difícil vermos uma mãe em
tempo integral com seus filhos, por conta dos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

compromissos do dia a dia, cada vez mais é O recém-nascido “brinca” (exercita) suas
delegado a terceiros a responsabilidade de possibilidades sensoriais (mais do que motoras)
cuidar das crianças pequenas, colocando em nascentes. Brinca de “gorjear”, brinca de se
creches ou deixando com conhecidos, o que olhar, suas reações circulares primárias não
acarreta numa falta de carinho integral. passam de brincadeiras funcionais.
Por isso é importante que dentro da escola Descobrindo-a por acaso, busca recuperar a
infantil, todos os profissionais que convivem sensação corporal agradável (KISHIMOTO,
com essas crianças tenham um compromisso 2012, p. 115).
de tratá-las da melhor maneira possível, A partir de algumas situações são capazes de
influenciando seu crescimento. decidir entre duas estratégias diferentes para
Antigamente a escola só tinha a agir no mundo, podem chorar pedindo ajuda
responsabilidade de ensinar, agora tem a ou tentar explorar sozinhos.
responsabilidade de formar as pessoas, que era Precisamos estudar sobre a mente humana,
responsabilidade da família, por isso é sabendo que é um campo muito amplo do que
considerada a ideia de uma escola integral, em o cérebro e com um extremo potencial. Nossas
todos os seus aspectos de desenvolvimento. mentes não aprendem apenas com alguns
dados, podemos construir novos pensamentos,
COMO AS CRIANÇAS novas ideias. Devemos investir nas crianças,
pois no futuro essas crianças poderão mudar o
APRENDEM mundo para melhor.
O aproveitamento dos aprendizados na Falar de construção de conhecimento
Primeira Infância tem haver com a formação da através das dificuldades que o ser humano
sinapse, que tem seu ápice nos primeiros anos possa enfrentar no seu aprendizado ampliar
de vida, de forma rápida e intensa. “seus horizontes esclarecendo assim aos
Sinapses são as regiões de proximidade futuros e atuais psicopedagogos as diferentes
entre neurônios e células vizinhas, no qual são percepções teóricas que permeiam o processo
transmitidos impulsos nervosos, que passam de aprendizagem” (LEAL e NOGUEIRA, 2012,
para células, sendo possível que o cérebro p,11).
responda ao sinal recebido. A primeira infância está cercada de desafios
Desde o momento em que nascemos somos e oportunidades, sendo importante
capazes de aprender um número enorme de entendermos que os pais e professores, apesar
informações de maneira rápida, sem base de terem uma enorme responsabilidade sobre
alguma. essas crianças, não podem impedir sua
Os bebês são capazes de aprender por meio autonomia e nem mesmo de errar para
de generalizações de pequenas amostras, ao aprenderem sozinhas.
presenciar algumas situações, criando suas Por menores que pareçam, os bebês são
próprias interpretações de acordo com capazes de escolherem e tomarem decisões,
suposições lógicas, mas vale uma ação do que evoluindo rapidamente. Para trabalharmos
uma palavra. essa autonomia com segurança, podemos

209
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

propor às crianças experiências lúdicas, No dia a dia dentro de sala de aula passamos
contando histórias, jogos, brincadeiras, entre por situações de falta de atenção das crianças,
outras atividades. pouca assimilação, falta de compreensão,
É necessário que as crianças tenham o poder dificuldades de aprendizagem e como
de interagir com o meio e com os objetos e que professores, precisamos buscar alternativas
tudo isso tenha um significado real para suas para esses e outros problemas que existem
vidas, podendo escolher também o momento dentro de uma sala de aula. Nos momentos de
de brincar. reunião e formação acabamos dividindo com
Na primeira infância é a fase de intensa nossos colegas alguns desses problemas, à fim
receptividade e a imaginação está aflorando, a de buscarmos uma solução, trocando ideias e
ludicidade é uma ferramenta poderosa como estratégias.
recurso e pode apoiar diversas técnicas e Muitos professores ficam desanimados
métodos que estimulem a forma de pensar de diante à busca incessante de uma
uma maneira mais ampla. “metodologia” que consiga atingir a maior
A liberdade de brincar e experimentar o parte dos alunos, mas o trabalho do professor
mundo é o que permite trabalhar a imaginação é realmente essa busca, encontrando algumas
das crianças, testando seus entendimentos, respostas, e encontrando outras tantas
antes de lidar com alguns obstáculos e questões que irão aparecer durante os anos de
objetivos da adolescência e vida adulta. sala de aula, é importante que saiba que não
Os aprendizados ocorridos na primeira existe um modelo perfeito, nem sempre o que
infância se estenderão, fazendo parte das deu certo para uma criança será a resposta
bases em suas próximas etapas do para outra, pois há uma diversidade enorme de
aprendizado. indivíduos, situações e comunidades.
É muito impressionante para as crianças A neurociência e o conhecimento dela
quando percebem que estão aprendendo contribui para entender conhecimentos que
sempre, os pais e professores também permitem aos professores uma visão ampliada
percebem essa evolução das crianças, o e mais profunda da mente humana, mas
conceito de “aprendizagem”, acaba implicando transformar esses saberes em práticas
na ciência da criança que seu cérebro recebe pedagógicas a serem aplicadas em sala de aula
informações continuamente, por meio de é a função dos professores, não é uma ciência
órgãos sensoriais. exata e nem teríamos como fixar estratégias
Dentro da educação infantil é importante que servirão para todos os professores, cada
que as crianças comecem a entender como um precisa buscar as práticas pelas quais se
aprendem sem se darem conta de como isso sintam mais capazes em realizar com seus
acontece exatamente, sendo importante que o alunos, visando sempre o bem estar das
professor saiba que a informação nova que crianças e a qualidade no ensino e aprendizado
tenta transmitir para as crianças só é fixada se das mesmas.
tiver base, que já exista em algum lugar do Sobre os Neurocientistas, temos a frase de
cérebro da criança. Metring:

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

[...] não estão preocupados em formular determinados diagnósticos para o


receitas, seja para a área educacional, entendimento de determinados transtornos de
organizacional, médica ou qualquer outra. aprendizagem no desenvolvimento da criança.
Estão sim preocupados em descobrir, dia após Uma concepção sobre as D.A. (dificuldades
dia, coisas maravilhosas sobre a organização de aprendizagem) não pode separar, por mais
neuronal do ser humano e as disponibilizar difícil que seja admiti-lo, os aspectos
para quem queira utilizar seus achados, mas o psicosociológico ou psicoculturais dos aspectos
trabalho de articulação (no nosso caso, os neurofisiológicos ou neurobiológicos
processos de ensino e aprendizagem) precisam (FONSECA, 1995, p.148).
ocorrer a partir das necessidades dessas áreas O estudo da neurociência pelos educadores
e por profissionais dessas áreas (METRING, significará uma aproximação entre os
2011, p. 13). professores e seus alunos, acontecendo um
Para que ocorra uma revolução dentro da entendimento maior sobre a situação das
educação, seria interessante que os crianças, fazendo com que os professores
profissionais, busquem e possam estudar e entendam melhor essa nova geração,
conhecer os avanços da Neurociência para experimentando o mundo de formas diferentes
utilizar esses conhecimentos dentro de sala de em contextos diferentes, com diversas
aula, com práticas diversificadas. implicações de organização mental específica
Os professores que estudam neurociência em cada momento vivido por cada indivíduo.
não podem buscar soluções simplistas, é Este processo de aprendizagem ocorre
importante esclarecer que a neurociência não durante a vida toda. A neurociência é o campo
propõe uma nova pedagogia, e muito menos quem vem na busca de compreender e
promete soluções definitivas para todas as entender esse processo, a aprendizagem é um
dificuldades de aprendizagem, mas representa processo integral, que ocorre desde o início da
uma reorientação, mudança de direção em vida. O cérebro está sempre ativo e quando
alguns momentos, acrescentando e rompendo estimulado ele vai se organizando.
com alguns conceitos conservadores sobre o Por meio de estímulos cerebrais os
ensino/aprendizagem. neurotransmissores, são capazes de adaptar-se
Compreender o universo da neurociência é potencializando assim a sua capacidade neural.
algo complexo e intrigante; os estudos da Temos a importância de nos distanciarmos
genética mostraram que os sinais e as sinapses de teorias simplistas que apenas contemplem o
são compostos de uma química orgânica fenômeno a partir de pontos de vista isolados;
compostas de aminoácidos, lipídios e não é somente um processo de entrada e saída
proteínas. São múltiplas reações em nosso de informação, nem tão pouco pode ser
organismo, antes algo desconhecido. No considerado somente a partir da área
entendimento do psicopedagogo sobre a emocional o aprendizado integrado o cerebral,
neurologia diante da prática psicopedagógica, o psíquico cognitivo e o social.
mas instituições tanto quanto nos consultórios,
a fim de elucidar a interpretação de

211
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Portanto podemos dizer que é um processo As práticas pedagógicas vão avançando cada
neuropsicocognitivo que ocorrerá num vez mais, com tantas pesquisas científicas
determinado momento histórico, numa baseadas nas Neurociências.
determinada sociedade, dentro de uma cultura A neurociência atualmente estuda o
particular (RISUEÑO & LA MOTTA, 2005 p.31). desenvolvimento biológico dos seres humanos,
aumentando o entendimento de como são
AS NEUROCIÊNCIAS fundamentais nos primeiros 6 anos de vida,
procurando desvendar o desenvolvimento do
As Neurociências estudam o funcionamento
cérebro, os circuitos neuronais e os
do nosso cérebro e como este se molda e
mecanismos biológicos que podem afetar a
regula os mais diferentes comportamentos que
aprendizagem, a linguagem, comportamentos
expressamos no nosso cotidiano.
e a saúde dos seres humanos ao longo da vida.
Durante muitos anos as atividades humanas,
O que mais fascina nesses estudos é a
suas estruturas e as funções dos processos
compreensão do desenvolvimento do cérebro,
psicológicos, como nossas percepções,
pois é um órgão frágil e muito complexo,
memórias, atividades intelectuais, a nossa fala,
afetado pela nutrição e cuidados com a saúde
nossos movimentos e ações foram estudados e
desde o pré-natal e especialmente nos
descritos por teorias psicológicas.
primeiros anos de vida, criando a base para o
Os estudiosos mais conhecidos no caso da
desenvolvimento.
infância são Piaget, Vygotsky e Luria, mas há
O estímulo que oferecemos durante os três
muito que ainda não foi explicado e precisa ser
primeiros meses do desenvolvimento
estudado sobre o funcionamento do nosso
embrionário, afetará o feto por meio de
cérebro.
neurotoxinas, como: fumar; exposição ao
Muitos estudos sobre o cérebro contribuem
chumbo, alumínio e mercúrio; consumo de
de grande relevância para o refinamento de
álcool; violência no lar; entre tantas outras
modelos de desenvolvimento e teorias de
situações geram diversas sequelas no
aprendizagem. Com o crescimento da
desenvolvimento cerebral das crianças.
tecnologia, foram possíveis alguns exames de
Quando a grávida consome bebidas
neuro-imagem cerebral, fazendo com quem
alcoólicas, pode ocasionar a síndrome alcoólica
fosse mais fácil o aprendizado sobre o cérebro
fetal, que queima neurônios, provocando
humano, aprimorando com isso os
déficits comportamentais e de função
conhecimentos trazidos por décadas por
cognitiva.
importantes estudiosos, teóricos do
A subnutrição da gestante pode gerar nas
desenvolvimento, podendo provar como as
crianças um cérebro menor, por falta de ferro
conexões cerebrais interferem na
na sua alimentação produzindo diversos efeitos
manifestação e aprimoramento dos nossos
nas funções motoras e cognitivas.
comportamentos, especialmente como ocorre
à aprendizagem. Atualmente a neurociência tem sido um
assunto que muitos profissionais da educação
que procuram compreender e aprender, pois o

212
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cérebro e seu funcionamento causam respostas para o que realmente é eficaz dentro
curiosidade à maioria das pessoas, e da educação.
especialmente no que diz respeito ao Os professores que estudam a
aprendizado, e às doenças cerebrais são um Neuropedagogia acabam aprendendo a
dos assuntos mais tratados dentro das escolas, estimular diferentes zonas do cérebro e criam
pois com a inclusão de pessoas com problemas ligações, auxiliando seus alunos no
e dificuldades de aprendizagem, os professores reconhecimento mais eficaz das palavras e
precisam buscar estratégias para ensinar procurando errar menos.
ensiná-las. Para os profissionais da educação é
A neurociência trabalha como determinada importante ter um pouco de conhecimento
pessoa é, como aprende, especialmente nas sobre como o cérebro funciona, e quais
questões temperamentais de cada indivíduo, estratégias devem trabalhar com as crianças,
os motivos pelos quais determinada pessoa para que consiga o melhor desenvolvimento
ficou de tal maneira, por que tamanha das mesmas.
diferença entre as pessoas. Tudo é estudado na Não basta sabermos como o cérebro
neurociência do imaginário ao cotidiano das aprende isso apenas não é suficiente para a
pessoas, sendo um assunto que permeia a realização da mágica do ensinar e do aprender.
sociedade, pesquisas sobre o funcionamento Não há soluções instantâneas e definitivas, mas
do cérebro sempre são assuntos interessantes os conhecimentos advindos da neurociência
e cada vez mais publicados. cognitiva auxilia na construção e na definição
As escolas deveriam criar ambientes de de propostas de intervenção pedagógica mais
forma que obtivessem o melhor eficazes, especialmente para as crianças que
aproveitamento do cérebro na aprendizagem, apresentam algum problema no cérebro ou
proporcionando atividades relaxantes, algum distúrbio de comportamento e
exercícios respiratórios, evitando situações aprendizagem, sendo um passo enorme para a
estressantes, pensando no corpo do aluno e inclusão dessas crianças, buscando
toda sua configuração biológica e seu sistema atendimento específico e especializado,
nervoso. melhorando a qualidade de vida das mesmas.
Os neurocientistas estudam como o cérebro Todas as crianças serão beneficiadas com o
aprende, e é importante que os profissionais de professor que entende sobre neurociência, por
educação tenham acesso a todo o material conta das estratégias didáticas, as formas
estudado, pois na escola os professores tentam diferenciadas de abordar certos
ensinar cérebros, e todos possuem uma forma conhecimentos e a visão singular que o
de aprender diferente dos demais. professor que conhece o assunto tem.
A educação sempre está mudando, tendo Ao estudarmos como o cérebro funciona e
idas e vindas, nem sempre o que deu certo em como as pessoas aprendem o professor vai ter
um período é capaz de dar certo atualmente, as mais segurança sobre a forma mais adequada
descobertas das neurociências, buscam para auxiliar seus alunos, permitindo
desenvolver um ensino bem-sucedido e

213
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

provocando a alteração na taxa de conexão desenvolvimento, podendo contribuir para


sináptica que afeta a função cerebral. uma maior compreensão do processo de
Ao tratarmos sobre a aprendizagem há aprendizagem das crianças, melhorando sua
diversos princípios e padrões comuns que atuação profissional perante o grupo de
podem ser adequados à maioria das crianças crianças.
existindo situações que são específicas, sendo Os professores precisam reconhecer nas
necessário estudarmos caso a caso, e o crianças suas áreas de maior habilidade,
professor precisa conhecer para poder compensando e reduzindo o impacto de áreas
relativizar ou tratar de uma maneira mais nas quais apresentam mais dificuldade.
diferenciada essa criança. Nos primeiros anos de vida, podemos
O cérebro humano é capaz de se recompor e perceber que os bebês interagem, e
revitalizar, esse processo é chamado de apresentam interesse pelos colegas, tentando
“neuroplasticidade”, e isso abre diversas fazer uma comunicação, interagindo com o que
oportunidades dentro da educação, pois a está próximo.
criança que por algum motivo não aprendeu Os professores precisam observar e
nada, poderá vir a aprender, pois nosso cérebro compreender melhor todo esse
é capaz de abrir novas possibilidades. Esta amadurecimento das habilidades sociais das
concepção dinâmica do cérebro reposiciona a crianças, sua forma de comunicação,
postura e o trabalho do professor, pois nada é permitindo observar diferentes aspectos do
definitivo. seu desenvolvimento cognitivo.
É fundamental para os profissionais da A neurociência nos ajuda a compreender o
educação que saibam que o cérebro é capaz de perfil de alunos que apresentam algum
se adaptar a qualquer situação, e que devemos problema de desenvolvimento, mas não
buscar de diversas maneiras o aprendizado das podemos generalizar as crianças por conta da
crianças, por mais difícil que isso possa parecer. síndrome que apresenta, cada indivíduo se
O cérebro tem a função de aprender a mudar desenvolve de uma maneira, e todos possuem
o meio e mudar em um curto período de especificidades.
tempo, sendo preciso que aconteça alguma Mas é importante conhecer os pontos de
provocação ou aprendizagem. fragilidade do perfil de aprendizagem, como
alguns aspectos comuns do desenvolvimento,
AS NEUROCIÊNCIAS NA alguns pontos fortes, podendo contribuir para
o conhecimento e qual o impacto dos déficits
EDUCAÇÃO INFANTIL em determinada criança, conseguindo com isso
Dentro das escolas de educação infantil levar em consideração e criar estratégias que
precisamos favorecer o desenvolvimento possam ser mais efetivas para a aprendizagem
saudável das crianças durante a primeira da mesma. Favorecendo a todos, não apenas à
infância. criança que apresenta alguma dificuldade no
É necessário que os profissionais da aprendizado, agindo precocemente para
educação conheçam os processos de diminuir e compensar alguns aspectos que

214
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

demandam mais atenção diminui o são diferentes das demais pessoas, percebem
crescimento de algumas dificuldades. que podem pensar o que quiserem.
Por diversas razões as Neurociências na As crianças para se beneficiarem da
Educação estão crescendo como um novo educação formal precisam ter uma apreensão,
campo que em apoio com outras áreas do mesmo que rudimentar, de como elas
saber, acabam contribuindo com a busca da aprendem, ter consciência do que não sabem,
promoção de um desenvolvimento pleno e é um pré-requisito para que a instrução
saudável para as crianças na primeira infância. sistemática que a criança recebe na escola seja
Quando os professores utilizam todo esse significativa.
conhecimento na hora de planejar, observar e Aos 5 anos as crianças já possuem um bom
registrar o desenvolvimento das crianças, será amadurecimento dos circuitos neuronais e
fácil refletir e propor novas atividades, aperfeiçoamento das conexões e atividades de
buscando o ensino/aprendizagem, de uma regiões do córtex, capacitando receberem uma
maneira mais clara e eficaz. instrução pré-escolar, conseguem aprender
Quando nascem os bebês possuem uma diversos hábitos de higiene, cuidado com seus
capacidade sensorial básica, que se desenvolve pertences, tirar e colocar roupas, amarrar
durante os primeiros anos de vida, nos cadarço, pegar algum material e devolver no
primeiros dias aprendem a reconhecer o cheiro local adequado, brincar com os demais,
e o rosto de suas mães, acabam prestando mais consegue dividir brinquedos, atenção e
atenção ao som da voz da mãe do que de conseguem responder a diversos comandos.
qualquer outra pessoa, indicando que Na educação infantil o que mais as crianças
reconhecem a voz e até os batimentos precisam fazer é brincar, sendo uma forma livre
cardíacos da mãe já quando nascem, por se e individual, um exercício funcional.
habituarem a este som na fase uterina. Configurando uma necessidade básica das
Os recém-nascidos distinguem algumas crianças, além de ser um direito conferido, a
expressões faciais básicas de alegria, tristeza e brincadeira é uma ferramenta repleta de
até mesmo raiva, por volta dos 18 meses os possibilidades, tanto para as crianças como
bebês sabem diferenciar alguns elementos de para adultos que convivem com ela, em
outras pessoas, desejos e emoções do que eles especial dos professores, que por meio da
mesmos podem ter diferentes olhares, desejos observação dessa brincadeira, pois são
e emoções. Nessa fase as crianças brincam de momentos lúdicos que trabalham diversas
faz de conta, demandando o saber do que é competências.
real e o que é imaginário, sendo um dos Em outras palavras, o brincar, nessa
primeiros passos para a criatividade. perspectiva, teria a função vital e adaptativa de
Por volta dos 3 anos de idade as crianças fomentar o pleno desenvolvimento da criança
começam a falar o que pensam, por vezes sem em seus múltiplos e variados aspectos,
lógica, algumas frases soltas, o que passou pela sobretudo do ponto de vista social e cognitivo,
cabeça na hora, por volta dos 4 – 5 anos, e o faria estimulando a aprendizagem por meio
começam a perceber que seus pensamentos

215
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

das experiências que propicia (COSTA, 2013, p. responsabilidade, além de aprender a


04). importância da negociação, da conquista, do
As crianças sempre estão em constante seu controle, convivendo com regras e
construção, criando, elaborando, produzindo e resolvendo conflitos com seus colegas,
tudo por conta do meio lúdico, do brincar, que compartilhando espaços, brinquedos e outros
é uma função fundamental no colegas, na educação infantil essa socialização
desenvolvimento infantil, por meio de diversos é um dos objetivos mais importantes, pois
canais, permitindo a criação de situações desenvolvendo a capacidade de dividir,
imaginárias que dão vasão a outras interagir e se comunicar de forma clara, faz
estruturações e organizando e reorganizando com que a criança no futuro possa se
seus pensamentos e expressões. desenvolver plenamente para conviver em
Toda atividade lúdica comporta uma sociedade.
dinâmica biopsicossocial intimamente ligada a A brincadeira é uma atividade social.
seu contexto espaço-temporal. Por meio do Depende de regras de convivência e de regras
lúdico, as crianças e jovens não apenas se imaginárias que são discutidas e negociadas
desenvolvem, mas também refletem a seu incessantemente pelas crianças que brincam. É
modo sobre a sociedade onde vivem e uma atividade imaginativa e interpretativa.
levantam seus questionamentos, exprimem Brincar é experimentar, por meio da repetição
suas opiniões sobre o que presenciam e, muitas e da ação imaginativa, outras formas de ser e
vezes, chegam até a propor novas formas de de pensar. É, também, repetir o já conhecido
lidar com situações mal resolvidas, brincando para compreendê-lo e adaptar-se a ele.
(OLIVEIRA, 2010, p.24). (ABRAMOWICZ e WAJSKOP, 1995, p. 57-58).
Ao brincarem as crianças constroem O que a criança mais gosta é brincar,
experiências e se relacionam com o meio em conhecendo, experimentando, aprendendo,
que vivem de maneira ativa, vivenciando essas vivenciado, expondo emoções, enfrentando
experiências e tomando decisões, adquirindo e alguns conflitos, elaborando respostas,
ampliando diferentes habilidades e interagindo consigo, com os colegas e com o
potencialidades, permitindo experimentar mundo em que vive.
novas situações e realidades por meio da Quando criança o brinquedo pode possuir
interação com as demais crianças e contextos. diferentes significados, dependendo da ocasião
As crianças desde pequenas podem escolher em que se encontram, qualquer objeto pode se
se brincam ou não, tendo opinião, e isso já tornar um rico brinquedo, permitindo que as
demanda desenvolver sua capacidade de crianças explorem seus conhecimentos sob
escolha, aumentando sua autonomia, diferentes perspectivas.
criatividade e responsabilidade quanto as suas No brinquedo, a criança opera com
próprias ações e decisões. significados desligados dos objetos e ações aos
Nesses momentos lúdicos as crianças quais estão habitualmente vinculados;
acabam se sentindo capaz de colocar seus entretanto, uma contradição muito
sentimentos e valores, mostrando também interessante surge, uma vez que, no brinquedo,

216
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ela inclui, também, ações reais e objetos reais. COMO TRANSFORMAR A SALA
Isto caracteriza a natureza de transição da
atividade do brinquedo: é um estágio entre as DE AULA
restrições puramente situacionais da primeira É muito importante que o ambiente escolar
infância e o pensamento adulto, que pode ser seja um espaço enriquecido, para o
totalmente desvinculado de situações reais aproveitamento e a melhora na aprendizagem
(VYGOTSKY, 2002, p. 112). das crianças, lugares nos quais as crianças são
O brincar ainda é visto por muitos adultos isoladas, sem brinquedos, sem estímulos
sem importância, mesmo existindo estudos acabam apresentando déficit de sinapses e
que mostram os benefícios que o brincar traz baixo desempenho em tarefas de
para o desenvolvimento das crianças, é preciso aprendizagem, ambientes extremamente
oferecer, especialmente aos professores e carentes, ou quando as crianças são
demais profissionais da educação cursos de negligenciadas, sem estímulos sensoriais ou
formação nos quais são trabalhados esse contato social, geram retardo nas habilidades
assunto, pois é de tamanha importância para o de andar, falar e distúrbios emocionais e
desenvolvimento de nossas crianças, podendo cognitivos.
influir no futuro da educação como um todo. Nosso cérebro é capaz de reagir fortemente
Ainda há profissionais da educação que só por conta de estímulos estressantes,
consideram os aspectos cognitivos formais e influenciado por meio de situações que
apresentam relutância e dificuldade em viveram nos primeiros anos de vida, tal
perceber as relações que existem entre o habilidade é resultado de resposta a esses
brincar e o desenvolvimento integral das estímulos e acaba influenciando a qualidade do
crianças, inclusive no que diz respeito à raciocínio e a regulação das funções corporais.
cognição, por meio da ludicidade e do brincar a As crianças que recebem estímulos de
criança consegue assimilar muito mais, de qualidade sensorial no início da vida acabam
forma prazerosa e mais rápida do que por meio esculpindo melhor os circuitos
da fala de um adulto, mesmo repetindo e neuroendócrinos e neuro imunes do cérebro.
desenhando na lousa. Em resumo, as relações entre o complexo
Quando vivenciamos uma situação ela fica psiconeuroendoimune são fixadas nos
muito mais fixa em nossa mente, do que primeiros anos de vida e influenciam na
quando ouvimos ou vemos acontecer à outra maneira de lidar com situações estressantes e
pessoas, pois quando vivenciamos estamos acontecimentos, influenciando a aprendizagem
sentindo, por isso o brincar, participar de uma e comportamento nos anos posteriores, por
atividade, pensando em respostas, se isso é tão importante os cuidados maternos nos
colocando em situações problemas é muito primeiros anos de vida, pois podem engatilhar
mais interessante e eficaz para a aprendizagem programas que induzem o eixo hipotálamo-
das crianças. hipófise-adrenais, podendo com isso responder
de uma forma equilibrada as situações

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estressantes que passamos durante a vida A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO


toda.
Cada ser humano percebe e entende a PROFESSOR
informação do ambiente externo de forma bem É importante estudar e entender sobre a
particular, o sistema imune influencia as mente humana, e os professores devem olhar
funções cerebrais refletindo nas manifestações para a complexidade do mundo presente,
do comportamento, como sentimentos de comparando com o que acontecia pelo menos
medo, raiva, amor e felicidade. a meio século atrás. Podemos pensar em que
O aprendizado é uma arma poderosa na luta tipo de mente era preciso naquela época para
pela sobrevivência e é uma característica inata poder interagir com os outros, com o meio, e o
do cérebro. Então, porque algumas crianças que era necessário para enfrentar os
não aprendem, se é uma característica inata do problemas que existiam naquele tempo, como
cérebro aprender? Pensemos nisso (METRING, era adquirido as informações para sobreviver e
2011, p. 56). o que podemos tirar da história, para usarmos
A evolução humana que fez com que nosso no nosso cotidiano.
cérebro foi crescendo e aumentando as Atualmente com tantos avanços
potencialidades, conforme tudo foi mudando e tecnológicos e o aumento dos estudos no
os homens se tornaram cada vez mais sociais, campo da neurociência cognitiva, estão
foi aumentando e complexificando e aparecendo diversas descobertas promissoras
provocando com isso a expansão da rede de como são feitas diferentes conexões neurais
neural, criando novas conexões gerando novas que possibilitam cada vez mais a melhoria no
aprendizagens, novos entendimentos, numa processo de aprendizagem, trazendo também
cadeia em espiral irreversível. Fazendo com diferentes conceitos de plasticidade cerebral
que a mente humana fosse construindo, mas que é inerente a todo esse processo.
mesmo assim não há como entender como ela Muito do que já foi estudado e descoberto
se organiza dentro de uma visão tradicional de pela ciência, referente à assuntos sobre a
inteligência. mente humana ainda assusta algumas práticas
Os professores precisam conhecer e pedagógicas tradicionais que são trabalhadas
reposicionar-se diante aos novos estudos e durante diversos anos e que não levam em
todas as descobertas a respeito da mente e da consideração toda a evolução do ser humano e
inteligência dos seres humanos, conseguindo do cérebro e como está organizado
desenvolver com isso um trabalho na atualmente.
perspectiva de atender às individualidades, Dentro de sala de aula percebemos que
podendo atingir o maior número possível dos todos são diferentes, todos aprendem de uma
seus alunos. maneira diferente do colega, sendo necessário
procurar conhecer o estilo de aprendizagem de
cada criança, planejando e criando novos
modelos pedagógicos que possam permitir que
cada um aprenda mais e melhor do seu modo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Todas essas mudanças não ocorrem de um cognitivas, motora, afetiva e social no


dia para outro, não conseguimos romper com redirecionamento de seus alunos.
tudo, com a tradição, que está centrada em É necessário que os professores
ensinar e avaliar de uma forma única, compreendam que os conhecimentos prévios
padronizando tudo, poucos profissionais da que as crianças trazem para dentro da sala de
educação procuram observar as mudanças que aula, assumem um papel fundamental para a
ocorreram durante os anos dentro de sala de aquisição de novas aprendizagens, pois quanto
aula, só sabem reclamar que as crianças não mais as crianças aprenderem, melhor será para
são mais como eram antigamente, não organizar os novos aprendizados e mais fácil
percebem que antigamente a família que era a será seu aprendizado. É importante saber quais
principal formação das crianças, as mães não são esses conhecimentos prévios e os conceitos
trabalhavam fora, e ensinavam os modos e cognitivos que todos os alunos possuem para
alfabetizavam as crianças em casa, fazendo planejar, podendo utilizar alguns métodos
com que o trabalho do professor fosse apenas pedagógicos mais adequados de acordo com o
passar conteúdos novos, mandavam deveres nível de aprendizado retratado pelas crianças.
de casa que sempre voltavam completos, e Todos os estudos servem não apenas para
explicados pelas famílias. compreendermos as crianças como
Como todos os estudos, sabemos que temos percebemos seus perfis irregulares, e todos os
conhecimentos que nos permitem entender e avanços da Neurociência determinam alguns
demonstrar que é possível e produzir procedimentos e acontecimentos pedagógicos,
resultados mais significativos, melhorando com melhorando o planejamento e a prática
isso a aprendizagem das crianças. pedagógica, mudando alguns objetivos,
Os professores se deparam com diversas surgindo com isso novas estratégias de ensino,
situações em relação aos seus alunos, e alguns buscando sempre uma melhor qualidade de
deles não atingem a aprendizagem esperada, ensino e aprendizagem das crianças.
por diversos problemas, sendo que os Ao conhecer o funcionamento do sistema
professores se preocupam, se sentem nervoso, os profissionais da educação podem
incapazes, ficam decepcionados, acabam desenvolver melhor seu trabalho, fundamentar
pegando aversão aos alunos que parecem com e melhorar sua prática diária, com reflexos no
falta de educação, não pensando que o mesmo desempenho e na evolução dos alunos. Podem
pode estar sofrendo com algum problema intervir de maneira mais efetiva nos processos
maior. de ensinar e aprender, sabendo que esse
Diversos pesquisadores das áreas de conhecimento precisa ser criticamente
educação, psicologia e saúde estão na busca de avaliado antes de ser aplicado de forma
respostas para compreenderem como eficiente no cotidiano escolar. Os
acontece o aprendizado, sendo fundamental conhecimentos agregados pelas neurociências
entender o conceito da Plasticidade Cerebral, podem contribuir para um avanço na educação,
como contribui para a prática educacional em busca de melhor qualidade e resultados
dentro de sala de aula, bem como as dimensões mais eficientes para a qualidade de vida do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

indivíduo e da sociedade (COSENZA, 2011, p.


145).
Não podemos imaginar ainda o que a
Neurociência pode vir a descobrir sobre as
capacidades do cérebro humano, trazendo
novos questionamentos, que com certeza irão
surpreender diversos profissionais da educação
e da psicologia, transformando nossas práticas,
melhorando a educação cada vez mais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo e a compreensão sobre o funcionamento do cérebro humano sempre está em
evolução por conta das novas tecnologias e o desenvolvimento e crescimento das áreas
biológicas.
A educação tem como meta a aprendizagem, e o estudo sobre o cérebro e como
aprendemos é um assunto que sempre permeia o universo educacional, pois a aprendizagem está
basicamente ligada ao campo da memória.
As pesquisas, interpretações das implicações que conhecemos do cérebro para o ensino e
a aprendizagem são muito importantes, especialmente para a educação infantil e outros níveis,
progredindo da mesma maneira que a neurociência.
Mesmo com toda pesquisa sobre o cérebro, ninguém pode receitar ou criar um
planejamento fixo de como os professores devem ensinar, não tem como abandonarmos nossa
prática de uma hora para outra, mas podemos ir modificando aos poucos, baseando nossas
experiências com demais estudos, fazendo uma complementação com tudo que já foi estudado,
emergindo da pesquisa sobre o funcionamento do cérebro e especialmente da neurociência
cognitiva.
Dentro das escolas de educação infantil é importante brincar com as crianças, pois por
meio da brincadeira podem consolidar o que são, aumentando sua autonomia, por exploração
do mundo, fazendo pequenos avanços, compreendendo e assimilando gradativamente todas as
regras, padrões e por vezes modificando quando necessário.
As crianças não brincam só para passar o tempo, suas escolhas são motivadas por
processos íntimos, por sentimentos e desejos, algumas inquietações, vontades e ansiedades
vivenciadas em seu cotidiano familiar e social.
É por meio da brincadeira que a criança tem a oportunidade de aprender e entender
determinados fatos, formulando, reorganizando regras e valores, confrontando suas vivências
com a de outras crianças, reelaborando sentimentos, desejos e emoções.
O brincar e a brincadeira possuem uma linguagem peculiar, os adultos precisam respeitar
mesmo que não consigamos entender por completo essa linguagem, precisamos estar atentos
para oferecer distintas formas e situações lúdicas que criem possibilidades às crianças para que
elas desenvolvam suas potencialidades, imaginação e criatividade.
O lúdico consegue oportunizar uma forma não convencional de utilizar alguns objetos com
significados diferentes do que eles realmente possuem.
Brincado as crianças podem evoluir cognitivamente, tendo liberdade para determinar
ações, percebendo algumas consequências que resultam de algumas decisões e melhorando a
comunicação com os demais.
O papel do professor é de um mediador, especialmente nos momentos que acontecem
alguma dificuldade de comunicação, amparando as crianças durante as mais variadas
modalidades, acolhendo, mas tentando deixar as crianças brincarem da forma mais livre, mas
nunca deixando de observar e refletir sobre esses momentos tão importantes para o
desenvolvimento das crianças.

221
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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223
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NO ENSINO DE


HISTÓRIA E AS METODOLOGIAS IMERSIVAS
Carla Pereira da Silva1

RESUMO: O presente artigo tem por interesse central a discussão acerca das práticas e
metodologias do ensino de história na dimensão da reflexão crítica acerca das relações étnico-
raciais neste ambiente. Sendo assim, o objetivo da investigação é correlacionar a prática do
ensino de história com o desenvolvimento crítico de jovens educandos por meio das chamadas
metodologias imersivas. Deste modo, inicia-se por apresentar a questão das relações étnico-
raciais no ensino de história a partir de considerações sobre as metodologias imersivas, assim
como sua caracterização. Em um segundo momento, na mesma intencionalidade, apresenta-se
as potencialidades destas metodologias tanto para o ensino-aprendizagem, quanto para o
desenvolvimento integral dos educandos. A pesquisa se caracteriza essencialmente pela
abordagem qualitativa descritiva, em que se fundamenta em arcabouço teórico metodológico de
princípios construtivistas e da psicologia histórico-cultural.

Palavras-Chave: Ensino de História; Metodologias Imersivas; Relações Étnico-Raciais.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I. na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia Especialização em Educação Infantil; Especialização em Artes Visuais.

224
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AN ETHNIC-RACIAL QUESTION NOT TEACHING HISTORY AND


IMMERSIVE METHODOLOGIES
ABSTRACT: I present an article with a central interest in discussing the practices and
methodologies of teaching history in the dimension of critical reflection on ethnic-racial relations
in this environment. Also, the objective of the research is to correlate the practice of teaching
history with the critical development of young learners through the so-called immersive
methodologies. In this way, it begins by presenting the question of ethnic-racial relations not only
of history from considerations on immersive methodologies, as well as their characterization. In
a second moment, with the same intention, the potentialities of these methodologies are
presented both for the teaching-learning, and for the integral development of the students. The
research is essentially characterized by a qualitative descriptive approach, in which it is based on
a methodological theoretical framework of constructivist principles and historical-cultural
psychology.

Keywords: Ensino de Historia; Immersive Methodologies; Ethnic-Racial Relations.

225
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO de educandos enquanto ativos e responsáveis


dos seus processos de aprendizagens e
A Educação contemporânea, além daquela desenvolvimento. Subsidiariamente, como
chamada crise que à acomete, também é alvo objetivos específicos, buscar-se-á identificar
de disputas teóricas bastante incisivas. É uma diferentes metodologias imersivas e ativas de
disputa legítima, visto que a vida social, no aprendizagem, refletir sobre suas
sentido bourdieusiano, é um campo de disputa. potencialidades no ensino de história e pontuar
Todavia, não basta apenas o seu os significados potentes para educandas e
reconhecimento. Para que seja inteligível e que educandos.
se possa se argumentar e se aprofundar na
questão, é imprescindível que seja uma
reflexão contextualizada. O primeiro ponto é o O ENSINO DE HISTÓRIA E AS
reconhecimento de qual Educação que se fala. RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS
Da dimensão que se assume aqui, fala-se de De forma geral, como sinalizado na
uma Educação imersa em um sistema introdução, a disciplina História é permeada
socioeconômico específico, a qual não deve ser por forte potencial crítico-reflexivo, em que se
naturalizada, antes transformada. O segundo espera que por meio de seu ensino o educando
ponto, que decorre do primeiro, é especificar desenvolva suas capacidades de pensar a
quais são os sentidos que a Educação assume sociedade e a realidade vivida de forma ativa
na abordagem. A depender da abordagem de enquanto sujeito (NAPOLITANO; VILLAÇA,
análise, haverá diferentes possibilidades de 2013). Tomando por exemplo o momento
reflexão críticas. É a partir de tais considerações histórico de escravização da população negra
preliminares que se situa o ensino de história e no Brasil, a perspectiva é que esse educando
suas metodologias, em que se reconhece uma perceba as relações de dominação e poder
disciplina característica para desenvolvimento constituintes da referida sociedade, tendo em
das potencialidades crítico-reflexivas, além do vista a grande hierarquização étnico-racial
atrelamento à concepção de Educação fundada no racismo e a inferiorização da
enquanto libertária e emancipadora, ou seja, mulher, fundada no patriarcado, por exemplo.
contrastante ao modelo atual da escola Pode-se ainda falar em reflexão sobre a ideia de
republicana de massa e produtivista. direito do período - a distinção de direito entre
Nessa esteira de Educação libertária e brancos e negros; formas de resistências; o
emancipadora que proporcione aprendizagens reconhecimento gradual do negro enquanto
significativas, objetiva-se então pontuar as constituintes do tecido social; concepções de
potencialidades das metodologias em que se cidadania e concepções de gênero e relações
reconhece educandas e educandos enquanto de opressão de gênero. Com isso, está se
centralidade dos processos de ensino- falando aqui que, para além de concepções
aprendizagem. Nesse sentido, um caminho tradicionalistas de educação, ou como definiria
possível é a adoção de metodologias ativas ou o mestre Paulo Freire acerca da educação
imersivas, as quais propõem o reconhecimento bancária, nos processos educativos do ensino

226
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de história, o que ganha relevo é o Para satisfazer minimamente a


desenvolvimento das capacidades de complexidade do tema, parece-nos necessário
apreensão e contextualização dos fenômenos propormos uma reflexão teórica sobre o que
sociais situados nos períodos históricos são essas relações étnico-raciais no âmbito
específicos. Isso significa que não existe educacional-escolar, sem se desligar das
nenhum impedimento para se saber datas concepções sociais mais globalizantes acerca
históricas, mas o importante é entender os dessas mesmas relações. Na mesma medida,
processos históricos que tornam essas datas faz-se necessário nos referirmos à Lei
relevantes e, por conseguinte, que possibilita 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade
arcabouço teórico mais estendido para a da temática "história e cultura afro-brasileira"
compreensão da realidade contemporânea e, por conseguinte, do ensino das relações
(PEREIRA; MONTEIRO, 2013). étnico-raciais na educação básica. Ainda,
Ainda tendo por exemplo a sociedade buscando uma amarração coerente ao texto,
escravista, de forma mais específica, pode-se propõe-se apresentar algumas práticas gerais
dispensada atenção mais demorada às relações do ofício docente que possibilite a superação
mais imediatas e quotidianas do escravo dos preconceitos e discriminações. Por fim,
trabalhador urbano, os chamados "escravos de alertamos que trabalhar questões étnico-
ganho", por exemplo. Ao se analisar esse raciais no contexto educacional refere-se às
quotidiano, principalmente orientando-se suas diversas dimensões, indígena, negra,
pelos vínculos sociais que esta prática asiática, branca, imigrante etc., entretanto, em
possibilitava, é possível perceber aspectos virtude da exigência de brevidade do artigo, o
quotidianos relacionados ao domínio do foco recairá especialmente sobre as questões
privado destes indivíduos, viabilizando que, de luta negra, inserida em uma sociedade
ainda que de forma limitada, passasse a se branca, historicamente eurocêntrica,
reconhecer enquanto sujeito social. O escravo neoliberal capitalista e opressora (PEREIRA;
de ganho desenvolvia laços sociais para além MONTEIRO, 2013).
das relações de exploração e opressão senhor- De forma geral, a reflexão acerca das
escravo. Nesta medida, abria-se caminho para relações étnico-raciais no âmbito educacional-
o exercício do pensamento "livre"; abria-se escolar refere-se a processos educativos que
caminho para a "reflexão crítica". Ou seja, propõem e possibilitam a superação dos
apesar de todo o contexto adverso, a situação preconceitos e discriminações, erigindo uma
do escravo trabalhador urbano pôde proposta de equidade social em direção do
proporcionar maiores possibilidades de respeito, dignidade e harmonia entre as
organização, de resistência, de contestação e diversas partes constituintes do tecido social.
até mesmo de avanço, pelo simples fato de Uma das grandes intenções de se refletir sobre
expansão de acesso à informação. Neste as relações étnico-raciais também se refere a
momento, a intenção é evidenciar as relações construção de identidades positivas, pautadas
étnico-raciais de uma perspectiva histórica. no respeito, vivência e na valorização da
diversidade.

227
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A formação populacional do Brasil No contexto escolar, até final do século


contemporâneo, como é sabido, se deu com passado, a educação tradicional reiterava a
base em três raízes principais: africana, ideia do mito da democracia racial, entretanto,
indígena e europeia. O problema é que o distorcendo a ideia inicial, difundida por
processo não foi harmônico, antes, baseado na Gilberto Freire, na qual se dizia que, no Brasil,
opressão e exploração, relação na qual o todas as raças viviam harmoniosamente. Na
europeu assumiu o papel de opressor. Nesta perspectiva desta distorção, ainda se propalava
medida, criou-se uma tradição histórica de que o Brasil era o país do respeito racial;
depreciação e inferiorização dos dois outros entretanto, na medida em que teria sido
troncos, mormente o negro, se considerarmos formado pelos referidos três agentes, negro,
que em alguns momentos da história, se branco e índio, definindo papéis específicos a
romantizou a figura do índio. cada agente, marcadamente hierarquizados e
De acordo com Souza (1983): atribuindo maior importância aos brancos, ao
A sociedade escravista, ao transformar o passo que condutor do processo histórico, os
africano em escravo, definiu o negro como definindo sempre como aqueles responsáveis
raça, demarcou o seu lugar, a maneira de tratar pelas decisões políticas e sociais importantes,
e ser tratado, os padrões de interação com o contrapartida aos negros e índios restavam
branco e insti¬tuiu o paralelismo entre cor ficar com as características naturalizadas da
negra e posição social inferior (p. 19). brincadeira e da preguiça, sempre em um
Depreciação que passou do caráter sentido pitoresco e romantizado, efetivando-se
escrachado do seu momento inicial, para o o projeto do preconceito velado (NAPOLITANO;
caráter velado no desenrolar da história, VILLAÇA 2013).
satisfazendo as exigências do "politicamente Com as lutas dos movimentos sociais,
correto", desembocado no mito da democracia especificamente o movimento negro, a
racial brasileira, refletindo diretamente nas contestação de tais pressuposto
práticas e relações escolares. preconceituosos e racista, se dava de forma
A forma como a nossa sociedade se organiza, cada vez mais enfática, culminando em
o preconceito étni¬co-racial existente contra o embates ideológicos e sociais que forçaram a
afrodescendente, submetem as pes¬soas aprovação da Lei 10.639/2003, possibilitando
estigmatizadas a uma violência psicológica, no que se abrisse maior espaço para o debate e
âmbito da sociedade mais ampla. reflexão sobre as relações étnico-raciais na
Consideramos uma violência psicológica a escola e nos demais níveis da sociedade.
atribuição de atributos negativos a um grupo Tendo por perspectiva os princípios
étnico-racial ou a uma pessoa, dificultando a qualitativos, propõe-se a avaliação formativa: o
identificação das pessoas discrimina¬das com primeiro critério será a participação/interesse
seu grupo de pertencimento (LOUREIRO, 2004, no tema. Um segundo critério será alguma
p. 202). atividade que denote a compreensão sobre o
tema, podendo ser uma charge, uma poesia,
uma história fictícia, um relatório etc.; ou ainda

228
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

discorrer sobre uma questão-problema, uma Sendo assim, a aula expositiva deve ser
representação teatral, um seminário. Por fim, o apenas suficiente para que se possibilite um
terceiro critério avaliativo será em termos da escopo de conhecimento sobre o assunto por
ação afirmativa, na qual o educando tenha a parte dos educandos. A partir desse escopo de
oportunidade de expor a sua perspectiva. conhecimento, passa-se então às atividades de
Importante ressaltarmos que deve-se fomento de reflexão crítica pelos educandos e
considerar a personalidade de cada educando, educandas. O que pode ser feito então é, após
tendo em vista que alguns alunos são mais o escopo de conhecimento, exercícios de
introspectivos que outros ou o contrário. Sendo produção de algum tipo de registro palpável,
assim, outras formas de avaliação devem ser como pequenos textos, ou respostas
sempre uma possibilidade, por exemplo, no dissertativas sobre o tema, ou mesmo
caso, entrega de relatório ou pesquisa exposição oral acerca dos entendimentos sobre
extraclasse. o tema.
Tendo em vista que a avaliação também é Tendo em vista que a proposta é o trabalho
um artefato que possibilita avaliar não apenas com diversidade étnica a partir de uma
o aluno, mas o próprio processo de ensino- perspectiva histórica, as avaliações devem
aprendizagem e as formas na qual ele está se concorrer nesse mesmo sentido, sugerindo aos
dando, assim como as práticas docente, educandos que, além das informações
importante pensar em alguma forma programadas nos planos de aulas, busquem
quantitativa. Pode ser algum relatório aberto, maior aprofundamento em materiais
uma avaliação direcionada, avaliação disponíveis em sala, como artigos, revistas e
afirmativa, ou mesmo o educador relatar em livros. A partir desse primeiro movimento, que
local próprio suas observações do os educandos sejam capazes de exercitar a
interesse/participação dos alunos. Ou seja, prática da argumentação, da investigação e da
produção de algum tipo de registro ou pesquisa, uma vez que a principal fonte da
documento. Essa prática é de fundamental disciplina história são as fontes documentais.
valia para a identificação de acertos e Mas sem esquecer as fontes orais, propõe-se
equívocos manifestados durante o processo de também a pesquisa acerca da história oral.
ensino-aprendizagem (NAPOLITANO; VILLAÇA Além do que, da capacidade de expressar suas
2013). ideias na forma escrita; sempre possibilitando
A estratégia de ensino que se avalia aqui ser uma flexibilidade para que o educando se
a mais adequada é aquela que concebe o expresse mormente na forma que se sinta mais
educando e educanda enquanto centralidade confortável. Aqui neste momento está se
do processo de ensino-aprendizagem. Nesta aplicando as avaliações diagnóstica e
esteira, deve-se considerar a bagagem de formativa.
experiências e vivências dos educandos, Concernente a avaliação somativa, se dará
privilegiando a contextualização do processo preferência pela pesquisa extra classe e
de ensino-aprendizagem sempre a partir destas respectiva produção de trabalhos escritos.
vivências e experiências. Avalia-se que esta proposição é aquela que que

229
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possibilita maior internalização de estão umbilicalmente correlacionadas com


conhecimento, assim como, possibilidade de metodologias ativas, o que remete considerá-
reflexão. Mas também não se abre mão da las operando na mesma chave.
aplicação de provas escritas e orais, Portanto, um dos primeiros aspectos que
respeitando as disposições e melhores precisam ser destacados é que propostas
condições de adaptação dos educandos. Deve- imersivas se orientam pela busca de fomento
se enfatizar também que não se deve da motivação dos sujeitos envolvidos, para que
considerar a avaliação enquanto estanque e estes se revelem enquanto autores autônomos
rígida, mas antes enquanto um processo, e ativos. Nesse sentido, tratando-se de
pertencente ao processo maior de ensino- processos de ensino-aprendizagem na
aprendizagem. educação escolarizada, as metodologias
imersivas e ativas precisam manter um
AS POTENCIALIDADES DAS equilíbrio adequado entre os desafios
propostos e as habilidades e saberes
METODOLOGIAS IMERSIVAS E desenvolvidos pelo sujeito
ATIVAS (CSIKSZENTMIHALYI; NAKAMURA, 1998). Em
Metodologias imersivas de ensino- circunstâncias de desafios que não condizem
aprendizagem são propostas teórico- com o desenvolvimento apresentado pela
metodológicas nas quais se tem por pessoa, ou com a cultura, costumes etc.,
consideração, primeiramente, a aquisição de acabam por produzir efeito contrário, podendo
conhecimento e respectiva aprendizagem por se expressar na apatia, frustração, ansiedade,
meio da experiência concreta e isolamento etc. por seu turno, desafios banais
contextualizada, em que o educando remetem ao tédio.
necessariamente participa ativamente do Correlacionando a noção de metodologias
processo por meio da prática. Prática esta que imersivas com o ensino de história, existem
não se limita à efetivação da atividade ou diferentes possibilidades de efetivação dos
trabalho proposto, mas que seja flexível o processos de aprendizagem, como a pesquisa
suficiente para a intervenção reflexiva do em sites da internet específicos, trabalho com
sujeito participante. objetos de época que remeta ao contexto
Ao se falar de metodologias imersivas de histórico analisado, visitação a lugares
aprendizagem, paralelamente estão sendo históricos, produção autoral etc.
consideradas propostas de processos de
ensino-aprendizagem que superam as
metodologias tradicionalistas na medida em
que é pressuposto o educando enquanto
centralidade desse processo e, por
conseguinte, sua autonomia enquanto sujeito
participativo da realidade e produtor de
cultura. Desta forma, metodologias imersivas

230
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalmente, avalia-se aqui que um dos objetivos centrais ao se trabalhar com as
metodologias imersivas e o tema étnico-racial no ensino de história proporciona afirmar que etnia
e identidade racial não são diferenças naturais, o que seria considerar características biológicas
como essenciais na definição dos indivíduos. Antes são processos culturais, os quais são
distorcidos por segmentos de classes tradicionalmente dominantes na intenção de
hierarquização social. Talvez o principal objetivo e que possa contribuir com a luta de superação
das opressões ligadas as questões de raça e etnia, seja extirpar a ideia de diferenças naturais
entre grupos culturais e étnico-raciais, como se estes se desenvolvessem de forma independente
da contextualização social e dos processos históricos. Exemplo disto é quando educadores, diante
de conflitos que se apresentam no ambiente escolar, invertem a lógica e trocam efeitos por
causas, atribuindo estes conflitos à origens raciais e culturais inerentes ao sujeito ao invés de
considerar a estrutura social organizativa daquela sociedade, quiçá, a superestrutura do sistema.
Ou seja, desconsideram o processo histórico de construção das mentalidades, que, no caso, se
deu no sentido de opressão da "raça" branca para com a "raça" negra; além de não perceber que
este é um evento histórico de luta ideológica, do qual emergem tais conflitos.
Recorrendo Glass (2012), agora pautando-se em Appiah e Gutmann (1996), explicita o que
se trata a raça e os projetos que giram entorno dela; além de corroborar para aquilo que já se
vem afirmando ao longo do texto.

A raça não é uma característica natural ou biológica das pessoas ou de grupos, mas sim
um princípio estruturante que informa como os grupos interagem e fornece normas e
padrões dentro dos quais os indivíduos fazem escolhas sobre suas próprias identidades.
Como um processo competitivo de identidade ideológica, a formação racial ocorre dentro
de uma matriz de disputa de interesses e poder, de forma que as fronteiras do que seja
negro, branco etc., inexoravelmente mudam com os contextos sociais e culturais,
independentemente da validade científica, teológica ou filosófica da raça per se (GLASS,
2012, p. 898).

Ainda nesta mesma esteira, é essencial que se tome consciência que a luta contra o
racismo não é isolada, pois o racismo se pauta em outras estruturas de poder para se fortalecer,
na mesma medida que influencia estas outras estruturas de poder e opressão, como as
identidades de classe, gênero, orientação sexual etc. Ainda, apresenta-se com força
surpreendente em instituições como a econômica, política, cultural e educacional.
Ao fim e ao cabo, a importância da raça está relacionada com identidade da pessoa,
considerando suas vivências, história de vida, experiências inseridas em contextos sociais e
culturais mais amplos. A raça não pode ser definida e fundamentada em princípios biológicos;
mas também seria um equívoco a definir exclusivamente com base em princípios culturais e
sociais. Pode-se afirmar que ela se constitui, assim como a identidade, por meio da correlação de
forças existentes na dinâmica social. E por existir essa correlação de forças sociais e a
subjetividade do sujeito, a identidade de raça nunca poderá ser plena e homogênea dentro de
formatos pré-estabelecidos; Cada sujeito organiza essa identidade tomando-se por base

231
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

premissas mais gerais culturais e sociais, assim como pelo constrangimento exercido pela
superestrutura; mas também, peculiarmente, mediante sua subjetividade, avaliações e escolhas.
Ou seja, considerando que até mesmo a subjetividade e a personalidade são, em grande medida,
construídas socialmente, a raça é algo externo a nós; algo que fazemos e que se é feito a nós; não
algo que somos.
Sendo assim, a referência às metodologias imersivas e metodologias ativas de
aprendizagens, as quais propalam princípios da autonomia, cooperação e colaboração, levam ao
entendimento dos princípios próprios da Educação na condição de Instituição Social que advoga
pela reflexão crítica e pensamento livre, tornando-se muito evidente, como se tentou demonstrar
aqui, as contribuições destas teorias para a formação do sujeito.

232
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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235
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALFABETIZAÇÃO DE ALUNOS COM TEA -


TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA:
CONTEXTALIZAÇÃO
Sandra Maria de Sousa Ferreira1

RESUMO: O processo de inclusão de alunos com deficiência na educação infantil é uma realidade
que merece atenção e cuidado, especialmente na organização escolar, na elaboração do projeto
pedagógico da unidade e no planejamento das ações cotidianas. Particularmente no caso de
alunos com TEA (Transtorno de Espectro Autista), é preciso compreender que a inclusão não
passa apenas em atender o aluno numa sala de aula regular, mas sim em compreender suas
capacidades e permitir que esse aluno as desenvolva, construindo caminhos para ampliá-las e,
sobretudo, para compreender que pode extrapolar suas condições iniciais e tornar-se um
indivíduo autônomo, capaz e plenamente socializado.

Palavras-Chave: Inclusão; Integração; Desenvolvimento; Autonomia.

1Professorade Educação Infantil na Rede Municipal da Cidade de São Paulo.


Graduação: Licenciatura Plena em Matemática (1998); Licenciatura Plena em Pedagogia (2001);
Especialização em Educação Ambiental (2014).

236
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LITERACY OF STUDENTS WITH ASD - AUTISTIC SPECTRUM


DISORDER: CONTEXTALIZATION
ABSTRACT: The process of including students with disabilities in early childhood education is a
reality that deserves attention and care, especially in school organization, in the elaboration of
the unit's pedagogical project and in the planning of daily actions. Particularly in the case of
students with ASD (Autism Spectrum Disorder), it is necessary to understand that inclusion does
not only involve attending the student in a regular classroom, but also understanding their
abilities and allowing that student to develop them, building paths to expand them and, above
all, to understand that they can extrapolate their initial conditions and become an autonomous,
capable and fully socialized individual.

Keywords: Inclusion; Integration; Development; Autonomy.

237
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Certamente para o professor é necessário


compreender a realidade do aluno, as
O processo de inclusão de indivíduos com oportunidades que a escola pode oferecer e
deficiência é algo que ainda nos dias atuais gera buscar amparar seu trabalho pedagógico para
questionamentos entre a sociedade e, por realmente ‘incluir’ esse aluno nas dinâmicas
vezes, até mesmo nas escolas. Certamente, o cotidianas. Hoje sabemos um pouco mais que a
trabalho pedagógico com alunos deficientes uma década atrás, mas ainda há muitas
demanda maior preparo dos profissionais da dúvidas, questionamentos e inseguranças
educação e uma formação/capacitação que sobre o trabalho com inclusão, e as respostas
lhes permita compreender como acessar esse não são únicas para todos, não se tem um
indivíduo, como atendê-los em suas processo pedagógico estabelecido que possa
necessidades e, principalmente, como ser aplicado para todos os casos de aluno de
aproveitar suas capacidades para iniciar um inclusão. Sendo assim, a dúvida que permeia as
trabalho pedagógico que reconheça esse aluno discussões pedagógicas sobe o tema é como
como parte integrante das ações pedagógicas. atender esse aluno e tornar o processo de
Na educação infantil, tema proposto a este inclusão em uma ação efetiva? A resposta (essa
artigo, a inclusão oferece ao professor a sim!) é única: para atender o aluno com
oportunidade de explorar as capacidades do inclusão a escola precisa conhecer esse aluno,
aluno em atividades lúdicas, que permitem o compreender suas capacidades, descobrir
trabalho pedagógico de modo mais interativo e como explorar suas habilidades e como colocá-
agradável, de modo que o aluno possa se sentir las em prática para que, pouco a pouco, esse
mais disposto a participar e integrar-se ao aluno se perceba como parte do coletivo e
grupo. Especialmente no caso de alunos com esteja disponível a integrar as ações coletivas e
Transtorno do Espectro Autista – TEA, é preciso os desafios particulares para conquistar sua
compreender como essa criança chega à autonomia e ampliar suas capacidades.
educação infantil, qual seu grau de
disponibilidade para o trabalho coletivo e quais
TEA - TRANSTORNO DO
as especificidades de seu transtorno, uma vez
que mesmo havendo mais de um aluno com ESPECTRO AUTISTA:
TEA, devemos ter ciência de que cada indivíduo CONTEXTUALIZAÇÃO
apresenta particularidades, capacidades e A definição do transtorno do espectro
necessidades. Da mesma forma que cada autista está descrita do Manual Diagnóstico e
sujeito tem sua individualidade, cada aluno Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5
autista apresenta características próprias de (2014), que detalha as características que um
sua condição, que precisam ser indivíduo com TEA apresenta, relacionadas ao
compreendidas, respeitadas e trabalhadas, comprometimento do desenvolvimento do
para que esse aluno possa tirar proveito de sua indivíduo e que podem desencadear severos
relação social com o grupo. comprometimentos de comunicação social e
comportamentos restritivos e repetitivos, que

238
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

se iniciam na primeira infância (COLLET, et al, social, profissional ou em outras áreas


2016). importantes da vida do indivíduo no presente;
O autismo é uma condição que compromete E. Essas perturbações não são mais bem
a capacidade de comunicação, a linguagem e a explicadas por deficiência intelectual
capacidade de socialização. Dentre as (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou
dificuldades apresentadas pelos indivíduos por atraso global do desenvolvimento.
diagnosticados com TEA estão: dificuldade em (Observação: Deficiência intelectual ou
perceber acontecimentos compartilhados, de transtorno do espectro autista costumam ser
expressar o que sentem ou pensam nas mais comórbidos; para fazer o diagnóstico da
diversas situações, de utilizar as palavras de comorbidade de transtorno do espectro autista
acordo com o contexto, presença de manias, e deficiência intelectual, a comunicação social
hábitos repetitivos, manutenção de rituais, deve estar abaixo do esperado para o nível
hipersensibilidade a barulhos ou locais geral do desenvolvimento) (DSM-5, 2014,
barulhentos, iluminação excessiva, p.50/51).
aglomeração de pessoas, dificuldade em O que indica a gravidade no diagnóstico são
interpretar funções em brinquedos e os prejuízos na comunicação social e em
aparelhos, dificuldade em seguir regras e padrões de comportamento restritivos e
exigência em manter rotinas. repetitivos, classificados em três níveis: nível 1
O espectro autista não é um diagnóstico – exigindo apoio; nível 2 exigindo apoio
único, presente em todos os indivíduos substancial e nível 3 exigindo muito apoio
diagnosticados com TEA, mas sim um conjunto substancial, que incidem diferentemente na
de características que indicam o grau de comunicação social e em comportamentos
comprometimento do indivíduo, classificados restritivos e repetitivos (DSM-5, 2014, p.52).
em níveis de ‘A’ até ‘E’, indicando os déficits Outros transtornos estão relacionados ao
que o indivíduo apresenta: espectro autista, como a Síndrome de Asperger
A. Déficits persistentes na comunicação (rotinas repetitivas ou rituais, falar de forma
social e na interação social em múltiplos formal ou usando figuras de linguagem,
contextos; incapacidade de interagir, comportamento
B. Padrões restritos e repetitivos de social e emocional inadequados, dificuldade
comportamento, interesses ou atividades; para uso de comunicação não verbal,
C. Os sintomas devem estar presentes deficiência de coordenação motora); Síndrome
precocemente no período do desenvolvimento do X-frágil (dentre as característica estão a face
(mas podem não se tornar plenamente alongada, mandíbula avantajada, escoliose e
manifestos até que as demandas sociais perda de tônus muscular; pode ter leve atraso
excedam as capacidades limitadas ou podem cognitivo ou apresentar casos graves de
ser mascarados por estratégias aprendidas atraso); Síndrome de Angelman (síndrome rara
mais tarde na vida). que causa grande atraso no desenvolvimento
D. Os sintomas causam prejuízo funcional, dificuldades na fala, equilíbrio e
clinicamente significativo no funcionamento movimentos, entre outros); Síndrome de Rett

239
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

(doença neurológica mais comum entre sexo décadas. Mudam-se alguns processos
feminino, responsável pela perda das funções pedagógicos, são inseridas novas didáticas, mas
motoras e neurológicas ainda na primeira em sua essencia a escola permanece centrada
infância) (NEUROSABER, 2018). em seus agentes formadores. Muito se fala
O diagnóstico precoce é um agente sobre a escola centrada no aluno e em como a
facilitador para desenvolver formas de atuação escola deve pensar seus projeto pedagógico
e tratamento para os indivíduos com TEA, pois voltado a preparar seu aluno para a vida,
na infância os mecanismos de desenvolvimento centrado numa formação crítica e cidadã
são mais facilmente trabalhados. Essa é uma (LIBÂNEO, 2007). Fato que a escola ainda se
síndrome que se inicia ainda na primeira mantém presa aos modelos de currículo
infância e persiste ao longo da vida do voltados ao desenvolvimento cognitivo e à
indivíduo, podendo ser acometidos de outras aquisição de saberes e conhecimentos
comorbidades como TDAH – Transtorno de acumulados academicamente, voltado a dotar
Déficit de Atenção e Hiperatividade, o indivíduo de informações.
Ansiedade, Depressão, Epilepsia, entre outras, Pensar a escola inclusiva nesse modelo
e o grau de comprometimento ou gravidade engessado de ensino antecipa de antemão seu
pode variar de um indivíduo para outro. fracasso, pois como vimos, as especificidades
Embora alguns indivíduos necessitem de da criança com deficiência demandam
cuidados e apoio ao longo de sua vida, em propostas especifícas e individualizadas para
decorrência da gravidade de seu cada especificidade. No caso do autismo (tema
comprometimento, muitos indivíduos deste artigo), a escola precisa compreender seu
diagnosticados com TEA alcançam autonomia e alcance frente às demandas que o indivíduo
apresentam capacidade de viver de forma apresenta ebuscar adaptar-se às suas
independente. Um fator determinante para necessidades. Para isso, uma proposta que foi
que indivíduos diagnosticados com grau leve coloca em prática nas escolas do Estado de São
alcancem essa autonomia é o diagnóstico e Paulo, é o sistema de apoio ao professor
intervenções precoces, que auxiliam no seu regular por meio de estagiários dedicados
desenvolvimento e na redução das dificuldades esclusivamente ao aluno. Sobre o assunto
apresentadas, gerando assim resultados Mantoan & Pietro destacam:
positivos em qualidade de vida, condições Até agora, os sistemas de ensino têm lidado
sociais e autoestima elevada. com a questão por meio de medidas
facilitadoras, como cuidadores, professoras de
RE-ORGANIZANDO A ESCOLA reforço e salas de aceleração, que não
resolvem, muito menos atendem o desafio da
PARA A INCLUSÃO inclusão. Pois qualificar uma escola para
A organização estrutural das instituições de receber todas as crianças implica medidas de
ensino sofreram poucas alterações em sua outra natureza, que visam reestruturar o
essencia, permanecendo estagnadas em ensino e suas práticas usuais e excludentes. Na
conceitos pré-determinados ao longo das inclusão, não é a criança que se adapta à escola,

240
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mas a escola que para recebê-la deve se percebem como interagir entre si, incluindo
transformar (2006, s.d.). cada um em suas individualidades,
Certamente para o professor que atende até apropriando-se de cada experiência trocada
30 ou 35 alunos numa sala regular, contar com entre todos os agentes que participam e
o apoio de um assistente para auxiliar ao aluno perceber que, muito ou um pouco menos, cada
com TEA faz a diferença no que diz respeito ao um tem algo a aprender e a ensinar ao outro.
desenvolvimento das propostas pedagógicas.
Mas reconhecemos que o desenvolvimento
desse aluno não deve ficar exclusivamente a
cargo desse agente. E é esse o ponto de
destaque no tema, pois pensar em ações
individualizadas dentro de uma rotina cotidiana
pode parecer impossivel, mas na verdade,
quando imaginamos que isso faz parte de um
planejamento maior, pensado a quatro mãos,
contando com o auxílio de outros integrantes
da equipe escolar, talvez seja mais viável. Nesse
sentido, Pietro (2006), ressalta a necessidade
de repensar o sistema educacional e destaca a
necessidade de formação de seus profissionais.
Pensar numa escola inclusiva não pode ser
apenas sobre como esse aluno de inclusão é
atendido, mas sobretudo de como ele está
incluído nos processos e ações pedagógicas
cotidianas. Uma “escola para todos” não é
sobre estar na escola, mas sim sobre o que essa
escola representa para a transformação do
aluno, como afirma a autora, “... em fazer que
os direitos ultrapassem o plano do meramente
instituído legalmente e construir respostas
educacionais que atendam às necessidades dos
alunos.” (2006, p. 69)
Pensar a sala de aula, o parque, as propostas
pedagógicas, pensar o brinquedo, o desenho,
as brincadeiras e rodas de leituras, cada uma
dessas ações deve oportunizar ao aluno com
TEA a possibilidade de explorar suas
capacidades e amplia-las gradativamente, à
medida que as propostas avançam e os alunos

241
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão é um tema recorrente, que há décadas é debatido e retomado, mas que
constantemente descobrimos quão pouco sabemos e quanto ainda há para pesquisar, refletir e
apreender. Para o professor em particular, a inclusão gera uma grande expectativa e enorme
ansiedade, pois não sabe se dará conta de atender tal criança ou de como fará para desenvolver
as ações pedagógicas cotidianas com ela. Por outro lado, a necessidade da criança precisa ser
atendida e apontada nos registros e planejamentos, pois não se pode negligenciar o direito e a
necessidade desse aluno aos nossos cuidados!
Existem inúmeras propostas e legislações específicas que indicam um direcionamento,
mas na prática, no chão da escola, na sala de aula lotada, as propostas não ajudam o professor
em suas dificuldades, não ajudam o aluno em suas necessidades, não ajudam a instituição em
suas propostas, não ajudam as famílias em suas responsabilidades. E diante disso quem perde é
o aluno deficiente.
A educação necessita de um programa que auxilie desde a formação profissional do
professor, que amplie as condições de atendimento desse aluno em turmas regulares e
instituições de ensino com condições físicas para tal, podendo contar com atendimento
especializado dentro do planejamento regular, orientando e auxiliando na formação de um
projeto pedagógico capaz de oferecer ao aluno os requisitos necessários para sua evolução, para
seu desenvolvimento e para a conquista de sua autonomia.
Não basta contar com um auxiliar/cuidador para a criança, se o atendimento o isola da
integração com a turma. É preciso compreender que isso o aluno tinha nas turmas de
atendimento especializado, e o que faz a diferença é a possibilidade de integrar TODOS os alunos
nas ações pedagógicas cotidianas, oferecer-lhes propostas pedagógicas adequadas às suas
necessidades e de atendê-los, como aos demais alunos da turma.

242
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BASÍLIO A.; MOREIRA J.; Autismo e escola: os desafios e a necessidade da inclusão.
02.abril.2014. Disponível em: http://educacaointegral.org.br/noticias/autismo-escola-os-desafios-
necessidade-da-inclusao/> Data de Acesso em: 22.mar.2022.

COLLET, N.; REICHERT, A. P. S.; PINTO, R. N. M.; TORQUATO, I. M.B.; SOUZA NETO, V. L.;
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Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento ... et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato
Cordioli ... [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2014.

INSTITUTO NEUROSABER; Síndromes que envolvem o autismo. 2018. Disponível em:


<https://institutoneurosaber.com.br/sindromes-que-envolvem-o-autismo> Data de Acesso em:
22.mar.2022.

LIBÂNEO, J. C.; Pedagogia e pedagogos, para que? 9. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

MANTOAN, M. T. E.; PRIETO, R. G.; Inclusão Escolar: pontos e contrapontos. São Paulo:
Summus, 2006.

SILVA, E. R.; É possível trabalhar os sentidos com autistas? São Paulo: Revista Ler e Saber.
2015.

243
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


ENTRE A LEITURA E A BRINCADEIRA
Marianna de Oliveira Figueiredo1

RESUMO: A alfabetização é mais que dotar um indivíduo da capacidade de reconhecer os signos


de linguagem, conhecer o alfabeto, compreender os encontros vocálicos, aprender palavras,
frases, parágrafos. Considerando-se que a prática educativa não é apenas uma exigência da vida
em sociedade, mas também o processo de prover conhecimento e cultura ao cidadão de modo a
torná-los aptos a atuar no meio social, de reconhecer suas necessidades e as formas de
exercer seus direitos, além de perceber-se como elemento fundamental no processo de
transformação social, os processos como se dão tais ações podem influenciar diretamente em
seu sucesso. Assim, além de ser capaz de ler, o sujeito necessita compreender o texto e suas
mensagens subliminares. Na Educação Infantil, base do conhecimento da criança na fase escolar,
os processos pedagógicos devem possibilitar seu desenvolvimento por meio da apropriação da
leitura e da escrita.

Palavras-Chave: Ler; Escrever; Interpretar; Compreender.

1Professorade Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Arte na Educação.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LITERACY IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION: BETWEEN READING


AND PLAY
ABSTRACT: Literacy is more than providing an individual with the ability to recognize the signs of
language, know the alphabet, understand vowel encounters, learn words, phrases, paragraphs.
Considering that educational practice is not only a requirement of life in society, but also the
process of providing knowledge and culture to citizens to make them able to act in the social
environment, to recognize their needs and ways of exercising their rights, in addition to perceiving
themselves as a fundamental element in the process of social transformation, the processes in
which such actions are carried out can directly influence their success. Thus, in addition to being
able to read, the subject needs to understand the text and its subliminal messages. In Early
Childhood Education, the basis of the child's knowledge in the school phase, the pedagogical
processes must enable their development through the appropriation of reading and writing.

Keywords: Read; To write; Interpret; Understand.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO ocorra de modo linear, respeitando os saberes


que a criança traz consigo e compreendo a
Quando a criança ingressa na educação necessidade de produzir conhecimentos e
infantil ela passa por várias etapas de formação acordo com sua bagagem cultural.
que lhes permite adquirir autonomia e
possibilitam seu desenvolvimento físico,
PERSPECTIVA HISTÓRICA DO
emocional e cognitivo. A criança aprende a
brincar, aprende a correr, a pintar, aprende a PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO:
dividir o brinquedo, entende os limites BREVE CONTEXTO
impostos pelas regras e normas que compõem Antes de aprender a ler e escrever o homem
a boa vivencia com seus amiguinhos da escola. já dominava outras formas de comunicação,
A socialização é uma das primeiras etapas de capaz de transmitir seus pensamentos,
formação trabalha na educação infantil. À conquistas e desejos. Foram os homens pré-
medida que a criança cresce e amadurece, ela históricos que, por meio das pinturas rupestres,
passa a perceber outros aspectos de sua criaram uma forma de transmitir mensagens e
vivência na escola e, gradativamente, vai deixar gravado nas pedras suas vivências.
ampliando seus conhecimentos, descobrindo a [...] com a pintura nas cavernas do período
distância da sala até o parque, o tempo entre o paleolítico; transformou-se na pictografia
café e o almoço, a altura das mesas, o peso das (registro de ideias por desenhos copiados da
cadeiras, as diferenças de cada espaço escolar, natureza com relativo realismo); aperfeiçoou-
aprende que cada indivíduo é único, descobre se com a simplificação desses desenhos,
a diversidade social e por aí afora. transformando-os em ideogramas (sinais
A educação infantil é uma etapa rica em simplificados de desenhos, já sem a
descobertas. E à medida que a criança cresce, preocupação de fazê-los cópias fiéis da
se envolve nos processos pedagógicos e aguça natureza) e resultou na criação dos fonogramas
sua curiosidade, ela percebe quanta coisa há (sinais que representam os sons da língua
para aprender na escola. E dentre todos os falada), invenção essa atribuída ao povo
aprendizados, a iniciação à leitura e a escrita semita, que habitava a Ásia Menor (BARBOSA,
compõem uma etapa de grande expectativa 1994, s.d.).
para todos: crianças, pais e professores. À medida que o homem foi evoluindo,
O processo de alfabetização de inicia por transformaram-se também as formas de
meio das rodas de leitura, da representação comunicação e a necessidade de se comunicar
das histórias ouvidas, das vivências da criança e de modo mais eficaz, assim como de registrar
do estímulo à sua criatividade e curiosidade. seus conhecimentos. Os rabiscos deram espaço
Por isso, pensar esse processo é algo que para a construção do alfabeto, que evoluiu de
precisa de planejamento e ações pertinentes acordo com o passar dos tempos, dos papiros e
ao momento e às vivencias de cada criança, de ideogramas, às letras e aos livros, desta forma,
modo a tornar o processo de alfabetização em garantiu-se que os registros históricos fossem
algo prazeroso e, especialmente, para que mantidos, passando “às gerações futuras os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conhecimentos dos fatos passados” (RIZZO, O conhecimento faz parte da vida de


2005, p.13). A origem do termo alfabetizar qualquer ser humano desde seu nascimento,
surge da utilização do alfabeto e pelo primeiro sendo passado de geração a geração,
método de ensino, utilizado na Grécia antiga, valorizando-se costumes e valores culturais,
como aponta Rizzo: influenciados pela sociedade e pela
[...] enfatizava de tal forma o domínio do comunidade em que vive. Desse modo, é
alfabeto (ensino do nome e das formas das importante reconhecermos que qualquer
letras), a ponto de o processo iniciar-se pela criança ao ingressar na escola traz consigo
caligrafia e pelo reconhecimento oral do nome determinada bagagem cultural e certo nível de
de cada sinal (letra). Esse procedimento era conhecimento, procurando-se respeitar as
bastante repetitivo e demorado e etapas da educação e, especialmente, de cada
transformava-se, numa fase posterior, na criança. Para Ana Teberosky, em seu livro
conjugação de dois, depois três sinais para “Aprendendo a escrever” (1994), o processo de
serem “lidos” juntos, formando assim novos construção do conhecimento e da escrita da
sons, sem qualquer preocupação de ligação criança não se dá de modo segmentado, em
destes a significados (2005, p.14). etapas pré-definidas e determinadas. É preciso
Os processos de alfabetização na educação compreender a pré-disposição da criança,
brasileira percorre um longo caminho, entre como se dá sua construção do conhecimento.
políticas públicas e desenvolvimento A autora destaca que mesmo antes de
socioeconômico, numa grave distinção compreender o sistema alfabético, as crianças
socioeconômica. Mas à medida que a educação conseguem diferenciar a escrita do desenho,
volta seus olhares e ações às necessidades da compreendendo as marcas gráficas e seus
evolução cultural e educacional, devido ao significados linguísticos, assim, quando
desenvolvimento dos grandes centros urbanos, perguntada sobre o que diz o texto, ela fala o
é instituída a educação como se conhece nome do desenho. A esse processo, a autora diz
atualmente, seriada ou em ciclos. ser uma ‘hipótese do nome’ (TEBEROSKY,
Reconhecidamente um forte instrumento de 1994).
inserção social, tanto por educadores como por
ampla parcela da população, a educação ganha ALFABETIZANDO NA
ares de instrumento para a reconstrução
nacional e promoção social, quando em 1932 o EDUCAÇÃO INFANTIL
Movimento da Escola Nova, comandado por Os processos de aprendizagem são
educadores e intelectuais, apresenta um Plano construídos gradativamente, em cada uma das
de Reconstrução Nacional, que ficou conhecido ações propostas no cotidiano da escola. Ao
como Manifesto dos Pioneiros da educação chegar à escola, ao interagir e integrar-se aos
Nova. Mas é apenas a partir da constituição de colegas, ao participar das brincadeiras, ao
1988 que a educação infantil começa a ser deixar fluir sua criatividade, a criança inicia seu
percebida como uma etapa essencial ao processo de desenvolvimento e aprendizado,
desenvolvimento do sujeito (LIBÂNEO, 1990). cabendo à escola fazer a mediação entre o que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o aluno já sabe e o que precisa aprender, domínio das palavras e letras, como a
estimulando-a a explorar o universo escolar. capacidade de questionar, pensar, decidir,
A diversidade cultural, como bem sabemos, entender, ver e interpretar tudo no mundo. Sob
é uma grande oportunidade de troca de esta ótica, a aplicação do lúdico num processo
experiências entre os alunos e deve ser de alfabetização voltada à formação deste
estimulada como uma ferramenta facilitadora individua extrapola a transmissão de
no processo de aprendizagem. O aprendizado e conhecimentos que se dá de maneira cansativa
a progressão da criança, entretanto, e desmotivadora, descontruindo as práticas
dependerão de dois fatores complementares: mecânicas e os conteúdos pré-determinados.
do que a criança aprendeu antes da escola e Deste modo, podemos afirmar que as ações
das possibilidades que a escola vai oferecer à pedagógicas devem estar voltadas a
criança no ambiente escolar para propiciar seu oportunizar os processos de formação
desenvolvimento. cognitiva por meio de jogos, brincadeiras e
Ao consideramos a escola ‘responsável’ atividades lúdicas, utilizando-se da expressão
direta pelo processo de aprendizagem e do corpo em sua totalidade, utilizando a de
alfabetização da criança, temos então que brincar em espaço para construção e
avaliar seus objetivos e expectativas frente às desconstrução de saberes, explorando a
dificuldades de aprendizado, as necessidades experimentação por meio de atividades lúdicas
do educando e as ações pedagógicas que como forma de descobrir-se como agente
podem intermediar a ampliação do transformador do meio com que está
conhecimento e a superação das dificuldades interagindo, desenvolvendo suas
apresentadas durante este processo, potencialidades, incorporando valores,
entendendo que a escola de hoje não pode conceitos e conteúdos.
preocupar-se apenas em alfabetizar, ensinar a Segundo Vygotsky (1994), por meio da
ler e interpretar ou transmitir conteúdos. É observação das brincadeiras e jogos que a
preciso que o aluno entenda e seja capaz de criança desenvolve e participa podemos
tomar decisões, que ele aprenda a pensar perceber e determinar a passagem de um
criticamente e compreender seu papel social estágio do desenvolvimento da criança para
no cotidiano. outro, uma vez que o brincar emerge de uma
Citando Ferreiro [...] “a escrita pode ser necessidade infantil. Ainda segundo o autor,
concebida como um sistema de código e de isto se comprova na seguinte constatação:
representação. Como código, os elementos já [...] aquilo que é de grande interesse para um
vêm prontos e como representação, a bebê deixa de interessar uma criança um pouco
aprendizagem se constitui em uma construção maior. A maturação das necessidades é um
pela criança” (1996, p.10). Sendo assim, tópico predominante nessa discussão, pois é
podemos afirmar que o processo de impossível ignorar que a criança satisfaz certas
alfabetização vai muito além da aquisição da necessidades no brinquedo [...] (1994, p.122).
capacidade de leitura e escrita, engloba
capacidades muito mais abrangentes que o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A atividade lúdica reafirma sua importância


no processo ensino-aprendizagem, pois ao
brincar a criança aprende a se colocar na
perspectiva do outro, a representar papéis do
mundo adulto, trocar experiências e ampliar
sua capacidade intelectual, pois o processo de
interação permite não apenas o convívio social
e a ampliação do universo infantil, mas
também é um complemento fundamental para
o desenvolvimento físico, verbal e intelectual,
uma vez que a interação entre os pares
proporciona ações de troca, mediação de
diferenças e contato com a diversidade.
Ao ser desafiado em situações-problema, o
aluno será instigado a intermediar conflitos e
buscar uma solução para seu problema, o que
possibilita a reconstrução de experiências
previamente adquiridas por meio de suas
vivencias individuais. É nesse sentido que a
troca virá como fator enriquecedor no processo
ensino-aprendizagem. Brincando a criança
aprende com toda riqueza do aprender
fazendo, sem medo de errar, essa é uma
proposta de contribuição para busca do
conhecimento e melhoria do ensino.

249
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar a alfabetização na educação infantil obriga um exercício de abandono dos métodos
tradicionais e dos modelos pré-estabelecidos. A criança já sabe ‘ler’ quando chega a escola. Ela
consegue designar os objetos e seus nomes, ela reconhece figuras e brinquedos, só não é capaz,
ainda, de colocar as letras no papel. Mas esse é um processo construído a partir dos elementos
que a criança já adquiriu, de sua bagagem cultural e das trocas que irá fazer.
Por isso que na educação infantil o processo de alfabetização deve se dar de maneira
natural, por meio da construção individual, respeitando-se as capacidades de cada criança,
procurando-se oferecer vários mecanismos diferenciados que auxiliem essa construção e
utilizando-se de processos lúdicos, que estimulam e aguçam a curiosidade e a criatividade infantil.
Os antigos processos alfabetizatórios, que se davam de modo segmentado a partir do
método silábico permitia a aquisição de saberes, mas limitava a criança ao conteúdo exposto.
Apendia-se o Bê-á-bá, seguindo as ‘famílias’ das letras aplicadas em cada tarefa do livro didático.
Atualmente, por meio da construção e da exploração, permite-se que as crianças possam interagir
com o aprendizado, explorando os espaços, os elementos, o brinquedo e a brincadeira. Por isso
é fundamental não apenas que as crianças ouçam histórias ou possam manusear os livros (que
indiscutivelmente é muito importante no processo de alfabetização e leitura!), mas sobretudo
que compreenda que em cada canto da escola, em cada brincadeira, em cada ação, ela pode
explorar a imagem, a forma, perceber os aromas, e a partir daí construir seu processo de
alfabetização, segundo sua perspectiva, sua realidade e seu tempo de aprendizagem.

250
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental.
Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

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básica. Disponível em: <http://www.campinas.sp.gov.br/smenet/pedagogico/textos> Data de
Acesso:22/03/2022.

BARBOSA, J. J.; Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1994.

BRASIL. Lei de diretrizes e bases. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>


Data de Acesso:22/03/2022.

COSTA, M. M. da.; Metodologia do ensino da literatura infantil. Curitiba: IBPEX, 2007.

CRAIDY, C.; KAERCHER, G. E.; Educação Infantil – pra que te quero? São Paulo: Artmed,
2001.

FERREIRO, E.; Reflexões sobre alfabetização. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

FERREIRO, E Alfabetização em Processo. São Paulo: Cortez, 1996.

LIBÂNEO, J. C.; A democratização da escola pública. São Paulo, Edições Loyola, 1990, 6ª
edição.

LEMLE, M.; Guia teórico do alfabetizador. 9ª ed. São Paulo: Ática, 1990.

BRASIL.; Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, Ministério da


Educação e do Desporto / Secretaria da educação, 1998.

RIZZO, G.; Alfabetização Natural. 3ª edição- Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2005.

SAUSSURE, F. de.; Curso de linguística geral. Trad. de A. Chelini , José P. Paes e I. Blikstein.
São Paulo: Cultrix; USP, 2003.

TEBEROSKY, A et all.; Aprendendo a escrever. São Paulo: Ática, 1994.

SILVA, A.; Alfabetização: a escrita espontânea. São Paulo: Contexto, 1994.

VYGOTSKY, L. S.; A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes,


1994.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DA RODA DE


CONVERSA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Audry Marinho dos Santos1

RESUMO: O presente trabalho pretende por meio desse estudo, analisar a importância da roda
de conversa na educação infantil, considerando esta como mecanismo didático eficaz para
incentivo à leitura. A literatura infantil oferece aos alunos na educação infantil maneiras
prazerosas e divertidas de aprender, de descobrir outros mundos, de aguçar a curiosidade por
meio da fantasia, transformando esses leitores em fiéis agentes de leitura no presente e no
futuro, transportando-os a um mundo de maravilhas imaginárias, especialmente com a prática
de rodas de conversa inseridas em sua rotina de aula. Para o desenvolvimento deste trabalho
utilizou-se o método de pesquisa bibliográfica, realizada por meio de referências teóricas já
analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas
de web sites. Assim, apresentando um breve histórico da Literatura na Educação Infantil e as
vantagens obtidas do trabalho com Literatura nesse segmento, reiterando sua importância da
prática de rodas de conversa mediadas pela leitura, na promoção do conhecimento de si e do
mundo, possibilitando situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das
crianças, e ainda como os professores se preparam para tão importante missão. Diante desse
estudo, conclui-se que a leitura em rodinhas de conversa na educação infantil é essencial para a
formação de bons leitores e, portanto, o incentivo de pais e da escola é fundamental.

Palavras-Chave: Educação; Literatura infantil; Roda de conversa; Leitura; Aprendizagem.

1Professora no Ensino Fundamental Menor na Escola Oséias Gonçalves da Silva de Porto Franco-MA. Graduação:
Pedagogia na Faculdade Universidade Federal do Tocantins (UFT); Pós-graduada em Aprendizagem e Autoria
na Educação Infantil e Ensino Fundamental pela Universidade Estadual do Maranhão.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ANALYSIS OF THE IMPORTANCE OF THE CONVERSATION WHEEL IN


CHILD EDUCATION
ABSTRACT: The present work intends, through this study, to analyze the importance of the
conversation circle in early childhood education, considering it as an effective didactic mechanism
to encourage reading. Children's literature offers students in early childhood education
pleasurable and fun ways to learn, to discover other worlds, to arouse curiosity through fantasy,
transforming these readers into faithful reading agents in the present and in the future,
transporting them to a world of imaginary wonders, especially with the practice of conversation
circles inserted in their classroom routine. For the development of this work, the method of
bibliographic research was used, carried out through theoretical references already analyzed, and
published by written and electronic means, such as books, scientific articles, pages of web sites.
Thus, presenting a brief history of Literature in Early Childhood Education and the advantages
obtained from working with Literature in this segment, reiterating its importance of the practice
of conversation circles mediated by reading, in the promotion of knowledge of oneself and the
world, enabling mediated learning situations for the elaboration of children's autonomy, and also
how teachers prepare for such an important mission. In view of this study, it is concluded that
reading in conversation circles in early childhood education is essential for the formation of good
readers and, therefore, the encouragement of parents and the school is fundamental.

Keywords: Education; Children's literature; Conversation wheel; Reading; Learning.

253
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO maternal ou pré-escola, destaca-se de forma


didática a roda de leitura tendo como foco o
A educação escolar na infância é essencial ambiente educacional o qual ela está inserida,
para formação do indivíduo se tornando e, como a docência trabalha essa ação que é
imprescindível tanto para os alunos quanto primordial para se obter uma visão do ensino e
para os profissionais. No contexto escolar da aprendizagem em cada período escolar
professores se planejam utilizando forma condizente a cada faixa etária da criança nesse
constante metodologias para atrair a criança nível de ensino.
para o mundo da leitura, e uma delas é a roda O eixo Leitura, segundo a BNCC (2018), tem
de leitura, assim, proporcionam à criança uma seu foco voltado para o desenvolvimento de
viagem em sua imaginação. habilidades de compreensão e interpretação
O primeiro indício do surgimento da leitura da leitura, interpretação de textos verbais e
foi na Europa por volta do século XVIII, e devido ainda identificação de gêneros textuais que são
às transformações e as evoluções sociais da compreendidas como competências
época as crianças começaram a ser vista como específicas da Língua portuguesa, nas séries
parte do futuro das famílias fazendo com que iniciais de aprendizagem da criança. Deste
os pais investissem na formação dos filhos. A modo, o estímulo acontece de acordo com
partir dessa evolução percebe-se um novo cada faixa etária.
avanço na história e a leitura se apresenta Partindo desta premissa, observamos que
como estímulo para um melhor aprendizado. entre um ano e meio e três anos sugere-se
Existiram períodos que foram marcados por incluir entre os brinquedos livros de papelão,
importantes mudanças que contribuíram cada plástico ou pano, contendo gravuras que
uma em seu tempo para consolidar o novo permitirão a utilização da imaginação,
segmento que foi a leitura, seja por meio da mostrando as histórias de forma simples e
literatura ou escrita. atrativa. Segundo Coelho (2000), existem cinco
Nesse contexto, a literatura infantil pode categorias que norteiam as fases do
influenciar na formação da criança, que passa a desenvolvimento psicológico da criança: o pré-
conhecer o mundo em que vive e a leitor, o leitor iniciante, o leitor em processo, o
compreendê-lo. Assim como destaca Cervo leitor fluente e o leitor crítico.
(2001, p. 16), a leitura para a criança não é, A escolha dessa temática se deu pelo fato de
como às vezes se ouve, meio de evasão ou estar em contato direto com a educação
apenas compensação, ela é concebida como infantil e por perceber como o lúdico por meio
uma representação do real, onde pela da roda leitura pode auxiliar na aprendizagem
imaginação, o leitor reage, reavalia e dos alunos que interagem entre si por meio das
experimenta as próprias emoções e reações. estorinhas contadas e lidas pelo professor, bem
Dessa forma, tendo em vista realizar um como, pelo feedback do aluno para com o
estudo sobre a leitura no processo de professor e em casa com a família, e enquanto
desenvolvimento da criança na educação estudante de Pedagogia, reconhecendo que a
infantil, considerando os períodos de creche, educação infantil é a base da educação básica,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

acreditando que a mesma deve ser bem Como enfatiza Oswald (1997), um projeto
conduzida pelo professor para que o educativo que se articule em torno de uma
aprendizado seja efetivo e significativo. proposta ético-política de educar com a
Nesse estudo foi realizada a pesquisa literatura, significa convidar a escola, em se
bibliográfica do tema por meio de livros, libertando de sua predileção por desenraizar a
revistas, sites especializados na Internet entre literatura do seio da cultura, inserindo-a numa
outros, a fim de colher resposta do problema abordagem educacional colonizadora, abrindo
científico. Nessa perspectiva, apresento o espaços para que a leitura possa ser reescrita
problema científico deste trabalho: Qual a como prática da liberdade.
importância da roda de conversa realizada pelo Os leitores constroem significados sobre o
professor (a) na sala de aula ou em espaços de que ouvem ou leem usando seus
leitura, no processo de aprendizagem e de conhecimentos prévios, criando imagens que
desenvolvimento da criança? estão ligadas às suas próprias experiências e
A partir da problemática levantada o interações humanas, e construindo significados
objetivo geral foi: refletir sobre a importância na medida em que interagem com outras
da roda de conversa, numa perspectiva lúdica, crianças e adultos, comentando as histórias.
no processo de ensino aprendizagem do aluno Contudo, se a forma de trabalhar o texto
da educação infantil, em seus respectivos literário no contexto escolar deve sofrer
períodos: creche, maternal e pré-escola. mudanças, a seleção desse material, de igual
maneira, também deve se atualizar não se
FORMAÇÃO DO HÁBITO DE pautando na concepção tradicional da prática
leitora, centradas na visão do professor, mas
LEITURA variando de acordo com a perspectiva social e
Os benefícios do trabalho com literatura na cultural e de formação do sujeito.
Educação Infantil apresentam experiências Para Coelho, (2000), verifica-se que o
bem-sucedidas, enfatizando as interações e convívio do leitor com a literatura tem
brincadeiras como ponto norteador do resultado afetivo e nessa aventura espiritual
currículo da Educação Infantil. que é a leitura muitos são os fatores em jogo.
Os textos literários provocam reflexões de Entre os mais importantes está a necessária
natureza cognitiva e afetiva, permitindo ao adequação dos textos às diversas etapas do
leitor a entrada em um mundo desconhecido, desenvolvimento infantil.
porém, instigante, que desenvolve o O trabalho com o texto literário na Educação
imaginário, e desperta a curiosidade. Infantil não deve ter o ensejo de alfabetizar as
Considerando, dessa forma, a leitura como crianças, tendo em vista que, de acordo com as
uma forma de se perceber o mundo e a Diretrizes Curriculares Nacionais para a
realidade que o cerca, a literatura possibilita a Educação Infantil, as práticas pedagógicas que
formação de cidadãos capazes de entender a compõem a proposta curricular da Educação
realidade social, atuar sobre ela e transformá- Infantil devem garantir experiências que
la. possibilitem às crianças experiências de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

narrativas, de apreciação e interação com a O ideal, com base no percebido, é que o


linguagem oral e escrita, e convívio com professor seja o mediador, familiarizando o
diferentes suportes e gêneros textuais orais e aluno com o texto literário e sendo uma ponte
escritos. Ainda de acordo com o documento: entre o texto e o leitor que ainda não adquiriu
A proposta pedagógica das instituições de autonomia.
Educação Infantil deve ter como objetivo Os livros devem fazer, assim, parte da
garantir à criança acesso a processos de realidade da criança, precisa ser um objeto tão
apropriação, renovação e articulação de comum quanto uma peça de roupa, para que o
conhecimentos e aprendizagens de diferentes ato de ler imagens e posteriormente o código
linguagens, assim como o direito à proteção, à escrito seja um ato tão comum quanto vestir-
saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à se. Para isso, pode ser de grande valia trabalhar
dignidade, à brincadeira, à convivência e à com um cantinho apropriado para a leitura na
interação com outras crianças (BRASIL, 2010, pré-escola, ampliando seu contato com a
s.p). literatura infantil nos primeiros anos de vida. A
A Literatura, na Educação Infantil, é capaz de tarefa da escola é mostrar as portas de acesso
promover o conhecimento de si e do mundo, e a decisão de atravessá-las e em que medida
incentivando a curiosidade, a exploração, o depende de cada indivíduo (COLOMER, 2007).
encantamento, o questionamento, a indagação No caso dos livros infantis a criança primeiro
e o conhecimento das crianças em relação ao ouve a história contada pelo adulto,
mundo físico e social, objetivos elencados relacionando o enredo com as imagens. Após
como eixos do currículo nas práticas essa etapa, a criança já se sente capaz de
pedagógicas da Educação Infantil. recontar a história, guiando-se pelas
Nunes (1990), afirma que a literatura, mais ilustrações e imitando a fala do adulto,
do que introduzir as crianças no mundo da prosseguindo seu desenvolvimento até se
escrita, ao tratar a linguagem enquanto arte, apropriar, naturalmente, da linguagem escrita,
traz as dimensões ética e estética da língua, em um exemplo perfeito da zona de
exercendo um importante papel na formação desenvolvimento proximal, definido por
do sujeito. Assim, o contato da criança com a Vygotsky.2 E a realizar hoje somente com
1

literatura é essencial para a sua formação como ajuda, amanhã realizará sozinha, ou seja, a
leitor de mundo e, além disso, quanto mais zona de desenvolvimento proximal hoje será o
cedo as histórias orais e escritas forem nível de desenvolvimento real amanhã
inseridas em seu cotidiano, maiores serão as (VYGOTSKY, 2000).
chances do desenvolvimento do prazer pela Neste sentido, a iniciação da leitura infantil,
leitura. poderá se dar de forma prazerosa e significativa

2
Vygotsky explicita a mediação e a origem das funções faculdades naturais humanas, para se constituírem em
mentais pelo conceito de internalização, ou seja, o produtos de ação coletiva dos homens, desenvolvidos ao
mecanismo pela qual uma atividade externa se torna longo da história. Nesse viés, as ideias de Vygotsky,
uma atividade interna. A partir dessa perspectiva, a colocando a zona de desenvolvimento proximal como
linguagem e a consciência deixam de ser vistas como possibilidade de aprendizagem por meio da ação ou
interferência da família e do professor.

256
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

em um ambiente com ações planejadas de A BNCC (2018, p. 43), aponta que “criar e
acordo com as fases leitoras, num caminho que contar histórias oralmente, com base em
proporcione à criança desenvolver a imagens ou temas sugeridos” é um dos
imaginação, emoções e sentimentos. objetivos de aprendizagem no campo das
A leitura de texto para a criança que gosta de experiências como a escuta, a fala, o
leitura não se trata de uma leitura pensamento e a imaginação, ambos, essenciais
convencional, tendo em vista que a criança de no desenvolvimento das crianças bem
01 a 02 anos não se prende a uma história, pequenas, como as do Maternal II. A infância
interessando-lhe o movimento, o tom da voz e é o tempo que vai do nascimento à maturidade
o colorido das páginas, sendo mais adequada, dos pequenos, e é dividida em períodos
nessa fase, a leitura frase a frase, de modo diferentes. Essas fases servem para classificar
solto, curto, promovendo um diálogo entre a as crianças de acordo com as características
criança e o livro (MARTINS, 1994). físicas, psicológicas e sociais da infância. E, para
A leitura se realiza a partir do diálogo do agrupá-los com base no comportamento
leitor com o objeto lido, seja escrito sonoro, específico da idade. Desde o maternal, os
seja um gesto, uma imagem, um alunos são estimulados a práticas que
acontecimento. Esse diálogo é referenciado por valorizam cada ação.
um tempo e um espaço, uma situação: Com isso, os pequenos conquistam
desenvolvido de acordo com os desafios e as habilidades que vão, gradativamente,
respostas que o objeto apresenta, em função possibilitando os degraus de sua autonomia
do prazer das descobertas e do diante das situações e dos desafios que surgem
reconhecimento de vivências do leitor em suas vidas. O desenvolvimento infantil para
(MARTINS, 1994). a teoria de Piaget (1896-1980), considera
Em tempo, o leitor faz parte da categoria 04 fases no que diz respeito a cognição, que
inicial que envolve a fase da primeira infância, são: sensório-motor, pré-operatório,
que vai dos quinze meses aos dois anos, e a operatório concreto e operatório formal. As
segunda infância, quando a criança está fases da criança são divididas em períodos bem
completando os três anos. Na primeira fase, a distintos, sendo a primeira até os 2 anos de
criança inicia o conhecimento da realidade que idade, a segunda até os 7 e a terceira até os 12.
a rodeia, estimulada pelos contatos afetivos, Entretanto, dentro de cada etapa existem
momento em que conquista a própria avanços anuais significativos, que devem ser
linguagem e nomeia o que está à sua volta. considerados por educadores e,
Na segunda infância, começa a predominar principalmente, pelos pais.
os valores vitais, e sensoriais. É um período Em seu desenvolvimento físico, nessa faixa
egocêntrico e de interesses por jogos e etária a criança começa a ter mais coordenação
brincadeiras, com um crescente impulso de motora, descobrindo como manusear uma
adaptação ao meio físico e novas formas de colher ou um lápis e como controlar suas
comunicação verbal. necessidades de ir ao banheiro. No aspecto
emocional, demonstra suas alegrias e

257
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

frustrações de maneira bem ativa, e é neste criança já consegue vestir-se sozinha, mas para
momento que as birras ficam mais evidentes, escovar os dentes e tomar banho ainda é
melhora a sua sociabilidade e passa a imitar necessário um pouco auxílio. É comum que
algumas ações dos adultos, conseguindo ficar converse bastante e que a sua fala já esteja
mais tempo longe da mãe, interagir com outras bem aprimorada, com o uso de todas as
crianças e ouvir histórias. consoantes e frases bem estruturadas. O uso
Nessas primeiras fases da criança, até os 3 de símbolos e desenhos são frequentes,
anos, a evolução é muito grande, pois é quando imitando personagens de desenhos animados e
ela começa a conhecer as coisas, perceber entende-se com total clareza a diferença entre
sensações, desenvolver o caminhar e fantasia e realidade.
reconhecer familiares e outras pessoas fora do Além disso, o ser humano nesta idade gosta
seu círculo comum. É um período em que, sem de estar entre amigos e desenvolve alguns
dúvidas, o pequeno precisa de colegas imaginários. Sua linguagem é fluente,
acompanhamento constante. Além disso, neste usam plurais e tempos verbais de forma correta
momento ele só pode compreender o que vê, conhecem números, cores e também tem
toca ou sente, e por isso é tão difícil pedir para noção de tempo, distinguindo o ontem, o hoje
que encontre um brinquedo que não está à e o amanhã. Nesta fase, os menores se tornam
vista, por exemplo. Para uma criança dessa menos egoísta, dividindo coisas e esperando a
idade, é como se o que ela não pode ver ou sua vez de brincar. A curiosidade está mais
sentir não existisse. aflorada e os porquês são mais elaborados. A
O desenvolvimento físico da criança dos 3 partir dos 6 anos de idade, a criança começa a
aos 4 anos é notável: ela pula e corre tendo compreender as coisas que não fazem parte da
domínio de seus movimentos, pode pedalar um sua realidade. Por isso, é nesta fase que ela é
triciclo, sabe segurar o xixi e já consegue comer introduzida ao alfabeto e à matemática.
sozinha, iniciando assim a independência para A linguagem é a principal habilidade e a
muitas atividades. No aspecto emocional, grande responsável pela aprendizagem das
começa a entender os seus limites e a demais aptidões. Ela começa a se desenvolver
desenvolver alguns medos, como receio de desde o nascimento, mas somente aos 3 anos
algum bicho, inseto ou personagem, por de idade a criança possui um vocabulário mais
exemplo, assim, possivelmente a criança terá vasto para se comunicar. Nesse momento, suas
dificuldades em partilhar brinquedos, competências vão aumentando e a sua
entretanto poderá interagir melhor em grupos. memória já possibilita reter mais informações,
É importante lembrar que, como citado além de conseguir estruturar frases. Momento
acima, nesta fase da criança é indicado iniciar o ideal para incluir aulas extracurriculares de
aprendizado de outras línguas, pois este é o idiomas e de música, por exemplo. Aos 8 anos,
momento em que a memória pode guardar os pequenos entram em um novo momento da
mais informações e se tem muita facilidade de sua educação, quando já distingue.
desenvolver outros idiomas que jamais serão As fases da criança que acontecem dentro do
esquecidos na vida adulta. Dos 4 aos 5 anos, a período de 2 a 7 anos são chamadas de pré-

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

operatórias. Elas refletem o momento em que literatura infantil pode proporcionar


a garotada começa a aprender coisas novas, momentos de leituras organizados nas
aceitando o que lhes é ensinado e a rodinhas de conversa.
desenvolvendo o pensamento representativo. As crianças que, desde os primeiros anos de
Isso quer dizer que os pequenos já são vida se habituam a manusear livros infantis e
capazes de compreender a realidade e ouvem histórias inventadas, mais tarde
coordená-la com seus pensamentos, além de certamente terão a motivação para leituras
entenderem como brincar de “faz de conta” e diversas, especialmente, leituras de aventuras
como separar a fantasia do que acontece na cujos protagonistas são crianças da sua mesma
realidade à sua volta. idade, que, com o tempo, conhecem autores
Assim, pais e educadores devem servir de estimulantes como Monteiro Lobato, C.S Lewis,
estimuladores da criança, apresentando-a Hans Christian Andersen, Júlio Verne e tantos
diversas possibilidades de conversação e outros.
expressões, contribuindo assim, para aquisição Nesse contexto, esses leitores podem sentir
da linguagem oral, instrumentalizando-a para, um imenso prazer na leitura, porque
em sequência, ingressar no mundo dos livros, experimentam esse prazer de modo adequado
da leitura e da linguagem escrita. às etapas da sua vida, em doses certas, até o
ponto de tomarem consciência de que,
A RODINHA DE CONVERSA NA juntamente com o prazer que oferece, a leitura
transmite raciocínios, faz germinar ideias,
EDUCAÇÃO INFANTIL ensina silenciosamente a escrever e a falar com
É na infância em que o encontro com o clareza, estimula a imaginação, amadurece a
mundo da leitura e com os clássicos infantis sensibilidade.
valem exatamente como um momento especial Pressupõe-se que a rodinha de conversa na
e marcante, de um prazer extraordinário e uma educação infantil possui um padrão de
importância particular. organização e isso é definido na elaboração do
Muitos apreciadores da literatura infantil planejamento do professor e segue uma linha:
são crianças e jovens que tiveram avós, pais, boas-vindas, músicas, organização do
tias, professores que, desde cedo, lhes calendário, chamada, escolha do ajudante e
contavam estórias ou liam o que estava escrito apresentação das atividades do dia. Sendo
sobre a magia e aventuras em livros. essencial neste ponto que o educador fale
Importante considerar que os clássicos não sobre seu plano, projeto ou proposta, mas ouça
devem ser lidos por dever ou por respeito, e também o que as crianças almejam.
sim, por prazer de vivenciar o mundo da leitura. A roda de conversa deve ser provida
A escola deve fazer com que os alunos seguindo princípios e alicerçada na
conheçam os clássicos da literatura desde a compreensão de que o discente se sinta
infância, dentre os quais poderão ser usados percebido, escutado e respeitado. Nesta
futuramente e reconhecidos como os "seus" ocasião, a criança deve sentir-se acolhida e a
clássicos. Essa intimidade com os clássicos da vontade para exprimir-se espontaneamente,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tendo segurança que suas ideias serão ideias, onde a mesma se dá por troca de falas,
respeitadas, de modo que o educador deve aprendizagem, dúvidas e descobertas, é
indicar preliminarmente que todos serão importante ressaltar também que a roda serve
protagonistas da sua fala e posição na sala de para valorizar o grupo. Esse instrumento
aula, mas, deixando claro que o educando deve pedagógico chamada roda de conversa além de
entender e reconhecer respeitando o que os contribuir para a construção do conhecimento,
demais tem a expressar, não embaraçando ou valoriza a relação dialógica entre os diferentes
atrapalhando e sempre aguardando a sua vez sujeitos, fazendo assim uma construção
de expressar-se. coletiva de saberes, respeitando as diferenças
O momento da rodinha no ambiente escolar de cada um.
deve ser considerado um momento de extrema Este momento é de suma importância para o
importância, pois o aluno irá construir um desenvolvimento da fala e da escuta, bem
universo moral e social do seu aprendizado. como do respeito para com o outro, pois é
A ideia de contextualização do método da preciso respeitar as diferenças e o ponto de
roda de conversa no Brasil surgiu por volta do vista do outro. Neste ponto também se constrói
ano de 1950 com Paulo Freire, a partir, dos e reconstrói novos conhecimentos entre os
trabalhos sobre a alfabetização de adultos. envolvidos na roda de conversa.
Paulo Freire, devido aos contatos que teve É importante ressaltar que esses momentos
durante sua adolescência com os trabalhadores em que a criança participa na troca de diálogos
rurais e seus filhos, “[...] conheceu de perto a revestem-se de uma identidade de grupo que,
realidade e as necessidades do adulto em simultâneo, revela sua própria identidade
trabalhador analfabeto” (BRANDÃO, 2006, p histórica, proporcionando assim uma
35). Ele inicia sua jornada, rumo a uma prática responsabilidade individual e coletiva,
consciente e libertadora, a partir, das estabelecendo novos significados a sua
experiências que adquiriu com os pais e vivência e a tomada de decisões.
educadores. Esse momento de escuta na roda de
No passado, a roda de conversa era vista conversa estimula a criança a reconhecer o
como um meio de diálogos informais, entre outro, suas ideias e formas de pensar, segundo
familiares e amigos, na qual partilhavam seus Warschauer (1997, p.46), “as rodas se
momentos de alegria e de tristezas. Hoje, além caracterizam por reunir indivíduos com
de tal fato, a roda também é concebida como histórias de vida diferentes e maneiras próprias
um instrumento de pesquisa e diálogo na sala de pensar e sentir, de modo que os diálogos,
de aula, momento que pode ser rico de escuta nascidos desse encontro, não obedecem a uma
e fala, pois é a partir desta troca que ocorrem mesma lógica”.
as diferentes ideias e os diferentes As rodas de conversa são às vezes
aprendizados. atravessadas pelos diferentes significados que
No Referencial Curricular Nacional para a um tema desperta em cada participante. Esses
Educação Infantil, a roda de conversa é vista diálogos são muito relevantes, pois é a partir
como um momento de diálogo e troca de deles que as crianças organizam suas ideias,

260
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

podendo expressá-las e problematizá-las, e até possível então a troca de saberes, mas para isso
mesmo transformar sua opinião, criação de deve ser planejado, tanto o assunto a ser
novas ideias e reflexão sobre diferentes temas trabalhada quanto a sua duração.
trazidos na roda (WARSCHAUER, 1997). O momento da roda de conversa se destina
Além disso, durante este momento as a investigação, a busca de saberes sobre
crianças têm a liberdade de expressão, podem determinado assunto, fazendo assim, com que
sanar suas dúvidas e curiosidades, compartilhar as crianças sejam capazes de construir
saberes, experiências, tristezas e alegrias, em diferentes conhecimentos importantes para o
um processo de diálogo e aprendizagem que seu desenvolvimento, estimulando-as para que
envolve a fala e escuta do outro. aprendam a observar, perguntar, pensar,
Portanto, é uma estratégia pedagógica que imaginar, dentre outras possibilidades.
permite ao docente desenvolver diversas A roda de conversa na educação infantil, nos
atividades que possibilitam a construção do períodos de creche, maternal e pré-escola, que
conhecimento por parte do aprendiz em várias atende crianças de zero aos 5 anos e 11 meses,
áreas da cultura e da educação. é de suma importância para o desenvolvimento
Nesse contexto, as rodinhas de conversa da linguagem, diante disso é possível perceber
demonstram ser um espaço propício para o a necessidade deste momento estar presente
desenvolvimento do processo de alfabetização na rotina diária para a qual o professor deve
e letramento, para o uso variado de recursos planejar bem o que irão conversar, para que
didáticos e para o desenvolvimento de essa conversa não seja vazia, e sim, que faça
atividades rotineiras, de aprendizagens sentido para a criança utilizar uma linguagem
coletivas, de resolução de conflitos. Pois, que a criança entenda, para pensar um pouco
permite que o professor compreenda o mais sobre o desenvolvimento da linguagem
processo de construção do conhecimento do oral que é um dos objetivos da roda.
aluno e interfira, em alguns momentos, Nesse contexto, sente-se a importância de
auxiliando-o na reelaboração de sua mencionar nas discussões os teóricos Vygotsky
aprendizagem. e Piaget para mais esclarecimentos sobre as
Desta forma mesmo que a roda seja concepções do desenvolvimento das crianças
realizada todos os dias, é de suma importância quanto a inserção das rodinhas de conversa.
o professor realizar o planejamento delas, Para Montoya (2013), que fez um estudo
como planeja as suas aulas, para que assim não sobre as convergências e divergências teóricas
seja uma coisa mecânica, e sim, mobilizadora entre Vygotsky e Piaget (1996), no qual, diz
para quais deveram buscar identificar e trazer que, ao longo do seu desenvolvimento a
assuntos que dizem respeito ao grupo e que criança faz um movimento no qual seu
realmente seja relevante se trabalhar. pensamento evolui por meio da linguagem,
Sobretudo, a roda vem com o intuito de sendo inicialmente construída socialmente
auxiliar o professor a abordar diferentes para posteriormente passar a ser individual. E
assuntos fazendo com que as crianças de acordo com Piaget (1996), a fala da criança
contribuam de diferentes maneiras, onde é inicialmente não tem uma função social, o

261
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

movimento da fala é ao contrário do que afirma a ter futuramente uma visão crítica frente a
Vygotsky(1996), sendo assim a fala passa do tudo que os rodeiam.
individual para o social.
Mesmo com opiniões diferentes sobre a
linguagem, os dois autores afirmam que existe
uma relação entre linguagem e pensamento, o
que se pode afirmar que esse processo deve ser
aprimorado e organizado nas rodas de
conversa.
Contudo, o planejamento da rodinha de
conversa deve sempre ser pensado a partir do
contexto da turma, ou seja, as características
das crianças e seu desenvolvimento, e
aprendizagem. É importante salientar que a
roda deve ter como princípio o diálogo, que
pressupõe a participação das crianças, e o
direito de todas participarem. Nos diferentes
assuntos, o professor deve buscar estratégias
para que o diálogo se torne realmente efetivo
entre ele e as crianças.
Concluindo, pode-se verificar que a roda de
conversa, é um método importante, que
atende às necessidades de organização da aula,
de ideias, de atividades, de concepções, de
gerência de conflitos, etc. Ela proporciona
respostas que vão sendo exigidas pelo próprio
professor e pelo próprio grupo, incentivando a
cooperação, cultivando os valores da
solidariedade, do amor e da amizade, do
respeito às diferenças, do senso crítico, do
aprendizado, dos direitos e dos deveres, além
de contribuir significativamente para o
processo de desenvolvimento das crianças.
Portanto, cabe ao professor a competente
tarefa de utilizar a leitura dos clássicos infantis
no seu dia a dia profissional, fazendo com que
os alunos possam ter acesso aos livros e
também fazendo com que os mesmos venham

262
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises discorridas neste trabalho visam a compreensão da importância da roda de
conversa quando trabalhada e desenvolvida na Educação Infantil.
No decorrer dos anos a infância sofreu muitas alterações, pois antigamente não havia
significado próprio, entretanto nos últimos anos passa a ganhar status, transformando a criança
no centro das atenções. Conhecer a história do surgimento do sentimento da infância é
importante para essa compreensão, bem como, esta concepção vai ganhando diferentes
contornos ao longo do tempo.
Nesse contexto, referenciando os primeiros momentos de aprendizagem, desenvolver o
interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa muito cedo, em casa,
aperfeiçoa-se na escola e continuando pela vida inteira.
Nesse contexto, o presente estudo alcançou o seu objetivo, levantou questões relevantes
e que precisavam ser tratadas com mais clareza sobre a importância da prática de rodinhas de
conversas na educação infantil. As histórias contadas pelos mais velhos, dos tempos passados já
não importam, a tradição e a cultura não precisam mais ser transmitidas pelos mais experientes
uma vez que a Internet cumpre bem este papel.
Enfim, o que vale ressaltar é que a prática de rodas de conversa na educação infantil
permite o desenvolvimento de novas maneiras da criança se comportar, auxilia no processo
ensino aprendizagem, ajuda no convívio social e transforma a educação a cada dia numa
educação de mais qualidade.
Sabe-se que o aprendizado é um processo ativo, que perpassa pela interpretação e
compreensão da realidade. A construção do saber implica na reconfiguração permanente de
nossos conhecimentos e é influenciado pelas diversas experiências do dia-a-dia que nos trazem
novos significados e valores.
A leitura contribui para a formação do senso crítico e estimula a reflexão, pois é um
fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, por meio da palavra.
Reuni e integra os sonhos e a vida real, os ideais e a possível ou impossível realização.
Deve-se cultivar a imaginação criadora e a sensibilidade da criança, que são capacidades de
experimentação e organização da realidade. E nas rodas de conversa proporcionadas às crianças
na escola, de forma planejada e organizada, provoca a aprendizagem com melhores resultados.
Diante do exposto concluímos que a leitura, especialmente realizadas em rodas de
conversas na escola, se torna uma atividade de base na vida de todo o indivíduo, por que é a
partir da leitura que se abrirá as portas para todos os outros conhecimentos.
Quem trabalha como professor precisa ler para que seus alunos possam ser possuídos
pelos textos e assim se apaixonem pela leitura. Usar a leitura na escola pede que se tenha um
professor com os conhecimentos necessários para trabalhar em sala de aula com as crianças.
O educador que deseja formar bons leitores precisa acompanhar diariamente a evolução
de cada aluno-leitor, sem deixar cessar sua ansiedade pelos textos e pelos livros, tornando-os
conhecedores e desafiadores dos processos de leitura.
Portanto, deve-se insistir e investir para que a criança tenha o prazer de ler. E a literatura
infantil e de forma geral é a grande ponte para se criar significativos hábitos de leitura, pois só
assim, por meio da leitura, as pessoas poderão se descobrir conhecer a história da humanidade,

263
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

saber como as coisas funcionam e saber mais de si mesmo e do mundo que se encontra em sua
volta. Afinal, cada aluno inserido no mundo da leitura é um potencial cidadão e agente
transformador de si mesmo e do mundo que o rodeia.
A Roda de Conversa vem mostrar e propor uma nova opção para os educadores que
almejam não apenas alfabetizar seus alunos, mas, educá-los e contribuir para o processo de
formação de cidadãos críticos, conscientes, autônomos e felizes.

264
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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da leitura literária. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

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Educação Infantil. Brasília, DF, 2010.

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2000.

COLOMER, T. Andar entre livros: a leitura literária na escola. Trad. Laura Sandroni. São
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FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

MONTOYA, Adrian Oscar Dongo. Resposta de Piaget a Vygotsky: convergências e


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NUNES, Terezinha. Construtivismo e alfabetização: um balanço crítico. Revista Educação.
Belo Horizonte, n.12, dez. 1990. pp. 21-32.

OSWALD, M. L. M. B. Aprender com a literatura: uma leitura benjaminiana de Lima Barreto.


Rio de Janeiro, 1997. Tese (Doutorado em Educação) PUC-RJ.

PIAGET, Jean. O desenvolvimento do pensamento: equilibração das estruturas cognitivas.


Lisboa: Dom Quixote, 1996.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imitação e


representação. Rio de Janeiro: LTC, 1990.

WARSCHAUER, Cecília. A roda e o registro: uma parceria entre professor, alunos e


conhecimento. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

265
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ARTES VISUAIS PARA ALUNOS COM


NECESSIDADES ESPECIAIS
Adriana De Oliveira Medeiros1

RESUMO: O presente artigo objetiva apresentar as Conquistas e os impasses dos docentes


durante a inclusão dos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) dentro da sala de aula
do ensino regular, analisando suas noções sobre o processo escolar e as adaptações curriculares.
Para tanto, adotei a pesquisa bibliográfica. Durante a pesquisa de campo foi utilizado o
instrumento de observação com registro em diário de campo e vivencia junto aos professores dos
alunos com TEA, cujo foco foi conhecer seus conhecimentos acerca do TEA e das metodologias
que podem favorecer a inclusão desses alunos no ambiente escolar. Os resultados da pesquisa
nos revelaram que existe um enfraquecimento visível referente à formação e capacitação dos
docentes e que essa se reflete na inclusão dos alunos com TEA, se tornando um impasse
significativo para inclusão desses alunos na rede regular de ensino. Tais resultados nos levam a
repensar sobre os reais significados da inclusão e da necessidade urgente que as políticas públicas
assumam a responsabilidade sobre a formação docente, como instrumento principal em favor
dos alunos que necessitam de olhar diferenciado. Este artigo objetivou assinalar os pontos
essenciais sobre A Arte na Educação Especial. Grande parte das práticas pedagógicas em
Educação Especial restringe-se ao desenvolvimento perceptivo motor é focalizar o trabalho do
educador como agente transformador e para isso, deve ter competência e habilitação específicas.
Contudo o trabalho com crianças especiais, citando especificamente os autistas, tem sido pouco
explorado na sociedade e carece de informações para o auxílio dos professores em âmbito
escolar. Tendo em vista tais aspectos, o enfoque principal deste artigo é proporcionar
informações claras e objetivas. Mediante os resultados, observa-se que a maioria dos professores
não possui conhecimento suficiente e adequado para lidar com autistas. Também nos parece

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Docência Do Ensino Superior.

266
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

claro que é de competência do professor e dos órgãos responsáveis pela educação à busca e a
oferta por cursos de formação continuada.

Palavras-Chave: Artes; Educação Especial; Linguagem; Autismo.

VISUAL ARTS FOR STUDENTS WITH SPECIAL NEEDS


ABSTRACT: This article aims to present the achievements and impasses of teachers during the
inclusion of students with Autism Spectrum Disorder (ASD) within the regular education
classroom, analyzing their notions about the school process and curricular adaptations. For that,
I adopted the bibliographic research. During the field research, the observation instrument was
used with a field diary record and experiences with the teachers of students with ASD, whose
focus was to know their knowledge about ASD and the methodologies that can favor the inclusion
of these students in the school environment. The research results revealed to us that there is a
visible weakening regarding the training and qualification of teachers and that this is reflected in
the inclusion of students with ASD, becoming a significant impasse for the inclusion of these
students in the regular education network. Such results lead us to rethink about the real meanings
of inclusion and the urgent need for public policies to assume responsibility for teacher training,
as the main instrument in favor of students who need a different look. This article aimed to point
out the essential points about Art in Special Education. A large part of the pedagogical practices
in Special Education is restricted to the perceptual motor development, focusing on the
educator's work as a transforming agent and, for that, he/she must have specific competence and
qualifications. However, working with special children, specifically citing autistic children, has
been little explored in society and lacks information to help teachers in the school environment.
In view of these aspects, the main focus of this article is to provide clear and objective
information. Through the results, it is observed that most teachers do not have sufficient and
adequate knowledge to deal with autistic people. It also seems clear to us that it is the
responsibility of the teacher and the bodies responsible for education to search for and offer
continuing education courses.

Keywords: Arts; Special education; Language; Autism.

267
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO o desenvolvimento da criança em suas


especificidades. A arte está presente em todas
O tema tem como objetivo entender quais as as culturas da história da humanidade por meio
dificuldades que o Transtorno de Espectro da pintura, da escultura, da música e da dança,
autista enfrenta, e o que falta para que o representado uma via de acesso ao mundo.
mesmo venha a ter uma assistência maior. O O autismo é o nome dado a um padrão de
tema Transtorno de Espectro autista nos deixa comportamento peculiar caracterizado por
com muitas dúvidas sobre como acontece essa comprometimentos persistentes nas
interação, pois sentimos que quando se tratar interações sociais recíprocas. Uma
de uma criança autista assusta, e muitos característica muito marcante no autismo é a
professores que dizem que não dariam conta dificuldade na comunicação, pois o
que não saberiam lidar com elas. desenvolvimento da linguagem e o
A metodologia utilizada são pesquisas comportamento esperado, não se
bibliográficas baseadas em autores que desenvolvem adequadamente ou são perdidos
abordam o tema estudado, e também um no início da infância.
estudo de caso observado por meios de
práticas pedagógicas.
A ARTE E O AUTISMO
Sabe-se que hoje existem políticas de
O psiquiatra Leo Kanner (1943), foi quem
direitos em favor daqueles, que durante muito
descreveu o autismo pela primeira vez, e
tempo foi excluído pela sociedade, como a Lei
publicou um artigo intitulado “Distúrbios
Federal 7.853/89 que garante à gratuidade de
Autísticos do Contato Afetivo”. Na época era
acesso a rede pública de ensino regular ao
considerado uma forma incomum e precoce de
aluno portador de deficiência física ou mental,
esquizofrenia. Atualmente sabe-se que o
e prevê punição de um a quatro anos a quem
autismo está distinto das psicoses. Pessoas com
negar ou cancelar matricular de qualquer aluno
este padrão de comportamento, podendo levar
deficiente.
uma vida considerada normal desde que haja
Esse tema foi escolhido porque há muito
respeito e compreensão da parte dos que
tempo discute-se a questão da arte como
convivem com ela. As dificuldades na
processo de desenvolvimento na educação, e
comunicação, é uma das características mais
sua finalidade no universo lúdico, até onde esse
marcantes no autismo; propõe-se utilizar o
contexto influencia o desenvolvimento
conhecimento artístico como uma forma de
psicomotor do aluno. Por fim, iremos
linguagem entre o autista e o “mundo social”
identificar a contribuição da arte como,
facilitando sua comunicação e consequente
ferramenta de estimulação no processo de
interação com a sociedade. Descreveu onze
aprendizagem e desenvolvimento integral do
crianças com um padrão de comportamento
aluno na educação, sendo assim, determinar
peculiar em comum que compreendia muitos
os objetivos precisos para que o processo
diferentes aspectos. Considerou que tais
pedagógico aconteça eficazmente, como
características definiam uma síndrome
agente facilitador e enriquecedor, respeitando
específica, completamente distinta de outras

268
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

perturbações infantis e decidiu designá-las de Síndrome de Asperger: difere do autismo


“autismo infantil precoce”. clássico, principalmente por não ocorrer
De acordo com Orrú (2011, p. 37), “o retardo mental, atraso cognitivo e considerável
déficit de comunicação tem sido uma prejuízo na linguagem. Desenvolve interesses
preocupação em estudos sobre o particulares em campos específicos.
desenvolvimento de pessoas com autismo, Autismo Atípico: esta categoria é usada
identificado nos critérios de diagnósticos como quando existe um comprometimento grave e
severamente acometido por grandes danos, global do desenvolvimento da interação social,
em razão da própria síndrome”. da comunicação verbal e não verbal.
Para Kathryn (1996), o diagnóstico precoce e Transtorno de Rett: proveniente de causas
apropriado é o primeiro passo crucial no desconhecidas e com severo retardo mental,
sentido de assegurar um melhor futuro para apenas crianças do sexo feminino. Possui
crianças autistas, pois, crianças com severo prejuízo no desenvolvimento da
transtornos autísticos possuem linguagem expressiva e receptiva, aliada a um
relacionamentos perturbados, ou seja, uma grave retardo mental e psicomotor.
capacidade perturbada de se relacionar Transtorno Desintegrativo da Infância: incide
afetando todas as áreas de desempenho, predominantemente em meninos, é
aprendizado e comportamento; enquanto o acompanhado de retardo mental, é uma
processo natural de maturação pode provocar regressão em múltiplas áreas do
progressos, o déficit básico jamais é totalmente funcionamento. No período que antecede a
curável. Porém, ninguém pode estar sempre doença, a criança pode se tornar inquietas,
certo de um diagnóstico tão difícil. O autismo é irritável, ansiosa e hiperativa. É importante
um grande nivelador, e somente aqueles que atentar ao fato de que autismo não é uma
convivem com o autista tornam-se os melhores doença, existem tratamentos que incluem
entendedores do assunto. Os sinais típicos do medicamentos específicos e técnicas
transtorno variam bastante, em geral, os pedagógicas especializadas.
autistas têm dificuldades de relacionamento Cunha (2011), deixa claro que as
interpessoal, atraso significativo ou ausência da manifestações do autismo variam
linguagem verbal, mímica e gestual, não intensamente, dependendo do nível de
costumam olhar nos olhos dos interlocutores. desenvolvimento e da idade cronológica do
Além de comportamentos repetitivos e indivíduo. Porém como já foi mencionado
estereotipados. O CID 10 classifica o autismo anteriormente, o quanto antes for
como Transtornos Invasivos do diagnosticado o autismo em uma criança,
Desenvolvimento são associados a diversas maiores serão os resultados do tratamento.
síndromes, os mais conhecidos são: Segundo Cunha (2011, p. 28):
Síndrome de Asperger; ... comportamento autístico toma a forma de
Autismo Atípico; uma tendência que impõem rigidez e rotina a
Transtorno de Rett; uma série de aspectos do funcionamento
Transtorno Desintegrativo da Infância; diário, tanto em atividades novas em hábitos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

familiares e brincadeiras. Há alguns sintomas Quando falamos do mundo artístico,


cardeais que, percebidos precocemente na reconhecemos as dificuldades na comunicação
criança, ajudam ao reconhecimento do e na linguagem. É natural que alguns com a
transtorno. síndrome não atente para a necessidade social
O artigo desenvolvido foi de natureza de expressar-se, mas isso não significa que não
qualitativa, utilizando a observação e sejam sensíveis e não procurem comunicar-se
desenvolvimento de bibliografias por autores por outra via: a via afetiva. Decreto é
com estudos focados em autistas e eminentemente pelo afeto que comunicamos
diagnósticos precoces que predominam o nosso amor. É pelo afeto que nos tornamos
comportamento desses indivíduos. escultores de nós mesmos no mundo exterior
A partir dessa perspectiva, buscou-se (CUNHA, 2011, p. 78).
entendimento de características que definam a Apesar das limitações, essas crianças têm
síndrome especifica “autismo”; como educar suas capacidades. O que fazer para desenvolvê-
um autista e as maiores dificuldades. las? Depende de suas habilidades e das
A elaboração foi feita principalmente por oportunidades que lhe forem oferecidas.
livros, artigos científicos que se buscou a Se as atividades com os alunos autista visam
interação social de alunos no cotidiano escolar, à sua independência, trabalhar a comunicação
focalizando a investigação nas práticas e a linguagem expressiva e receptiva possibilita
pedagógicas utilizadas, ou seja, houve uma sua autoria nas ações, facilitando, também, os
investigação detalhada ao ambiente, sujeito e processos pedagógicos de ensino e
situações peculiares. aprendizagem. Atividades que estimulem
Para se educar um autista é preciso inseri-lo elaboração cognitivas na área da comunicação,
na escola, que é o primeiro passo para que unindo a ação sensitiva- tão comum no
aconteça esta integração, sendo possível a autismo- como interesses afetivos, possibilitam
aquisição de conceitos importantes para o o aperfeiçoamento das suas habilidades e sua
percurso da vida. É a escola que deve conduzir inserção social. (CUNHA, 2011, p.78-79).
o desenvolvimento intelectual e também De acordo com Cunha (2011),o autista
afetivo dessas crianças autistas, fazendo-as necessitará adquirir: Compreensão da
conhecer a realidade e proporcionando um linguagem para a sua utilização; habilidades de
saber da humanidade e das relações que a letramento; habilidades com diferentes meios
cercam. de comunicação, capacidade para superar a
Uma das maiores dificuldades para o autista frustação e a irritabilidade de que podem advir
e a comunicação e a linguagem. Fator muito das dificuldades de comunicação.
relevante, em se tratando de relações, pois é Segundo especialistas entre a faixa etária
necessário que o professor consiga comunicar- dos seis aos doze anos, é o período mais
se com seu aluno. tranquilo na vida de um autista, pois os
Segundo Cunha (2011): momentos de raiva e ataques violentos já
passaram e frustações hormonais da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

adolescência ainda virá, é nesse período, que simbologia das expressões afetivas, da imagem
aprendem a interagir socialmente. pessoal e do mundo ao redor para a interação
De acordo com Kant (1999), são duas as dos alunos com autismo.
formas de conhecimento – o entendimento e a Esse processo deve partir da observação de
sensibilidade, tem como objetivo sintetizar em cada aluno, em virtude das suas
conceitos as intuições da sensibilidade e a particularidades. Portanto, procuramos
capacidade, de produzir conceitos e, pela demonstrar que as práticas sempre nos levam
sensibilidade, são intuídos os objetos que, de a resultados e a caminhos diferentes, onde o
acordo com as percepções dos sentidos, são olhar e o interesse deles é que vai nos
representados no tempo e no espaço. O tempo direcionar para o desenvolvimento da
e o espaço são modos de sentir que estruturam atividade.
as percepções ou intuições, elementos do Normalmente o ambiente escolar é o
conhecimento que dão origem à experiência primeiro ambiente que uma criança começa a
sensível. frequentar, seja ela autista ou não. É
Trabalhos artísticos estimulam o foco de importante salientar que, para educar um
atenção de qualquer aprendente, pois autista é preciso também promover integração
demandam proficuamente a concentração, social.
servindo como intervenção psicopedagógica. Muitas vezes, o autismo traz a carga do
Na pintura, no desenho ou nas atividades com isolamento social, da dor familiar e da exclusão
massa, os canais da sensibilidade são os escolar. É normal que os pais se preocupem,
melhores receptores da aprendizagem. Por porque há relevantes alterações no meio
eles, de forma lúdica, podem ser alcançados familiar e, nem sempre, é possível encontrar
resultados motores e cognitivos essenciais à maneiras adequadas para lidar com as
educação do indivíduo. São instrumentalizados situações decorrentes. É primordial o
de propostas educacionais e de relações entendimento da escola a respeito dos
afetivas com o saber (CUNHA, 2011, p. 84). impactos que o espectro autístico produz na
Barbosa (1991, p. 36-37), afirma que esta vida em família, que requer cuidados
proposta “... do ensino das artes corresponde ininterruptos, atenção constante, atendimento
às quatro mais importantes coisas que as especializado e muitos gastos financeiros
pessoas fazem com a arte. Elas a produzem, (CUNHA, 2011, p. 87-88).
elas a vêm, elas procuram entender seu lugar Segundo Gauderer (1998), o trabalho
na cultura por meio do tempo, elas fazem educacional da criança autista dependerá da
julgamento acerca de sua qualidade”. instituição e turma na qual está inserida. As
Portanto, a partir dos dados levantados e por crianças autistas precisam receber uma
meio das referências sugerimos como prática educação especial diária oferecida por
pedagógica de atividades no Ensino de Arte, profissionais bem qualificados que conheçam e
aos estudantes com diagnóstico ou pautas de compreendam bem o autismo.
autismo. Dessa maneira, haverá conciliação de De acordo com Cunha (2011, p. 90), “para a
temas direcionados para o entendimento e a escola realizar uma educação adequada,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

deverá, ao incluir o educando no meio escolar, encontre em condições (ou se mostre capaz) de
incluir também a sua família nos espaços de realizar a atividade proposta sozinho, porém,
atenção e atuação psicopedagógica”. com o uso de recurso visual (ORRÚ, 2011, p. 51
Coll (1995), defende que os procedimentos e 52).
da educação de um autista, devem basear-se Este método tem como objetivos principais:
em um conhecimento minucioso das leis de promover adaptações dos autistas de se
aprendizagem, sempre respeitando sua desenvolverem ativamente no meio em que
individualidade. vivem; proporcionando adequado não só ao
É a escola que deve conduzir o autista, mas também a família do autista e
desenvolvimento intelectual e também afetivo aqueles que vivem com eles; além de fornecer
dessas crianças autistas. informações para que o maior número de
É necessário, apontar um método que possa pessoas conheça o autismo e suas
atender e contribuir para o bom manifestações.
desenvolvimento de um autista, por se tratar
de um método bastante usado o tratamento DEFICIÊNCIAS
dos autistas, optou-se por explicar as
A deficiência é um conceito complexo que,
características particulares do TEACCH.
além de reconhecer o corpo com lesão,
Este método – originou-se em 1966 na denuncia a estrutura social que aparta do
Escola de Medicina da Universidade da Carolina convívio social a pessoa deficiente.
do Norte, tem como princípio associar técnicas
Promover uma educação inclusiva não é
comportamentais que devem ser trabalhadas.
privar o indivíduo do direito de ser avaliado, de
É preciso que seja acompanhada pelo professor
ser contemplado e analisado em seu
ou o profissional que atua na área (ORRÚ,
crescimento e desenvolvimento. Trabalhar de
2011).
modo inclusivo é manter certos princípios de
Ele nos mostra as suas diferenças, padrão universal, pois as pessoas com
necessidades, atividades e rotinas e estas necessidades, especiais tem o direito de serem
devem ser analisadas de acordo com a
avaliadas em suas potencialidades, de serem
especificidade de cada um.
enxergadas como sujeitas capazes de superar
Segundo ORRÚ (2011): expectativas. É permitir que todos tenham a
O método TEACCH utiliza estímulos visuais e oportunidade de demonstrar resultados,
audiocinetésico-visuais para produzir competências e conhecimentos, equalizando e
comunicação. As atividades são programadas disseminando uma educação de qualidade para
individualmente e mediadas por um todos (CUNHA, 2015, p 85).
profissional. Nas salas de aula, em geral, No Decreto nª 3.298 de 1999 da legislação
costumam estar máximo de cinco alunos com a brasileira, encontramos o conceito de
síndrome. A metodologia de ensino se dá a deficiência e de deficiência física, conforme
partir da condução das mãos do aluno que faz segue:
uso dos símbolos, em um contínuo Art. 3…: - Para os efeitos deste Decreto,
direcionamento de sua ação até que se considera-se:

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

I - Deficiência – toda perda ou anormalidade crescimento e desenvolvimento. Trabalhar de


de uma estrutura ou função psicológica, modo inclusivo é manter certos princípios de
fisiológica ou anatômica que gere incapacidade padrão universal, pois as pessoas com
para o desempenho de atividade, dentro do necessidades especiais têm o direito de serem
padrão considerado normal para o ser humano; avaliadas em suas potencialidades, de serem
Art. 4…: - Deficiência Física – alteração enxergados como sujeitos capazes de superar
completa ou parcial de um ou mais segmentos expectativas. É permitir que todos tenham a
do corpo humano, acarretando o oportunidade de demonstrar resultados,
comprometimento da função física, competências e conhecimentos, equalizando e
apresentando-se sob a forma de paraplegia, disseminando uma educação de qualidade para
paraparesia, monoplegia, monoparesia, todos (CUNHA, 2015, p. 85).
tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, Segundo a Associação Americana de
hemiplegia, hemiparesia, amputação ou Deficiência Mental (AAMD, 1994), a Deficiência
ausência de membro, paralisia cerebral, Intelectual é um déficit intelectual no
membros com deformidade congênita ou comportamento adaptativo anterior aos 18
adquirida, exceto as deformidades estéticas e anos de idade (BRASIL, 2007).
as que não produzam dificuldades para o Diariamente o deficiente intelectual tem
desempenho de funções. dificuldades em desenvolver suas atividades no
O comprometimento da função física ambiente social e cultural no meio em que vive
acontecerá quando existir a falta de um (BRASIL, 2007).
membro (amputação), sua má-formação ou Na Deficiência Intelectual a pessoa indica um
deformação (alterações que acometem o atraso em seu desenvolvimento, dificuldades
sistema muscular e esquelético) (BRASIL, para aprender, realizar tarefas diárias e de
2007). interagir com o meio onde vive. Ou seja, existe
Deficiência física se refere ao um comprometimento cognitivo que acontece
comprometimento do aparelho locomotor que antes dos 18 anos, este prejudica suas
compreende o sistema Osteoarticular, o habilidades adaptativas.
Sistema Muscular e o Sistema Nervoso. As A doença mental engloba uma série de
doenças ou lesões que afetam quaisquer condições que causam alterações de humor e
desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, comportamento que podem afetar o
podem produzir grande limitações físicas de desempenho da pessoa na sociedade. Essas
grau e gravidades variáveis, segundo os alterações acontecem na mente da pessoa e
segmentos corporais afetados e o tipo de lesão causam uma alteração na sua percepção da
ocorrida (BRASIL, 2006, p. 28). realidade. Em suma, trata-se de uma doença
Na visão do autor a inclusão no ensino psiquiátrica, que deve ser tratada por um
regular deve se dar da seguinte forma: profissional da área, com uso de medicamentos
Promover uma educação inclusiva não é específicos para cada situação (BRASIL, 2007).
privar o indivíduo do direito de ser avaliado, de A cegueira é uma alteração grave que afeta
ser contemplado e analisado em seu as funções elementares da visão, causando a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

incapacidade de perceber cor, tamanho, homenagem ao Monsenhor Francisco de Paula


distância, forma, posição ou movimento. Pode Rodrigues (BRASIL, 2007).
ocorrer desde o nascimento (cegueira Com a participação do Governo do Estado de
congênita), ou posteriormente adquirida em São Paulo, em 1930, as primeiras atividades dos
decorrência de causas orgânicas ou acidentais. alunos ocorreram com o professor cego Mauro
Em alguns casos, a cegueira pode associar-se à Montagno, aposentado pelo Instituto Benjamin
perda da audição (surdo cegueira) ou a outras Constant, do Rio de Janeiro, entretanto o
deficiências (BRASIL, 2007). ensino do braille foi iniciado com o professor
O Instituto Benjamin Constant, sobre o qual Alfredo Chatagnier (BRASIL, 2007).
anteriormente foram dadas algumas O Instituto mantém uma escola de Ensino
informações, em 1942 editou em braile a Fundamental, em modelo de internato, semi-
Revista Brasileira para Cegos, a primeira do internato, externato, cursos de Artes
gênero em nosso país. Instalou-se em 1943 Industriais, Educação para o Lar, Música,
uma imprensa braille para servir Orientação e Mobilidade, além de prestar
principalmente aos alunos do Instituto. serviços de assistência médica, dentária e
Posteriormente a portaria ministerial de alimentar (BRASIL, 2007).
número 504, datada em 17 de setembro de No dia 11 de março de 1946, instalou-se em
1949, passou a distribuir gratuitamente livros São Paulo uma importante instituição, a saber,
em braile às pessoas cegas que solicitassem a Fundação para o Livro do Cego no Brasil-FLCB.
(BRASIL, 2007). Criada com muito esforço por Dorina de Gouve
Em 1946, a portaria ministerial de número Nowill, professora de deficientes visuais, que
385, datada em 8 de junho, equiparou o curso ficara cega aos dezessete anos de idade.
ginasial mantido pelo Instituto Benjamin Contando com o apoio das autoridades
Constant ao ginásio de ensino regular, dando públicas do Estado de São Paulo e a
assim início ao ensino integrado para cegos. Em comunidade em geral, a (FLCB) iniciou com o
1947 o Instituto, juntamente com a Fundação intuito de produzir e distribuir livros impressos
Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, realizou o em sistema de braille. As atividades logo foram
primeiro curso de Especialização de ampliadas, passaram a englobar educação,
Professores na Didática de Cegos. No período bem-estar social de pessoas cegas ou
de 1951 a 1973, a parceria passou a oferecer o portadoras de visão subnormal. Conforme
curso de formação em convênio com o Instituto organizados os estatutos a FLCB tinha
Nacional de Estudos Pedagógicos-INEP (BRASIL, característica de organização particular, sem
2007). fins lucrativos e de abrangência nacional
• Instituto de Cegos Padre Chico (BRASIL, 2007).
O Instituto de Cegos Padre Chico se trata de Declarada como de utilidade pública federal
uma escola residencial que atende crianças pelo decreto 40.269, datado em 15 de fevereiro
deficientes visuais em idade escolar. Fundada de 1957, obteve sua declaração como entidade
em 27 de maio de 1928, na Cidade de São de utilidade pública municipal pelo decreto de
Paulo, recebeu o nome como forma de número 4644, datado em 25 de março de 1960

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e utilidade pública estadual pela lei 8059 de 13 Campinas em companhia de duas freiras
de janeiro de 1967 (BRASIL, 2007). francesas, as irmãs Saint Jean e Luiza dos Anjos,
Com a finalidade de integrar o deficiente dando início ao Instituto Santa Terezinha
visual na comunidade como pessoa auto (BRASIL, 2007).
suficiente produtiva, o trabalho do Instituto Em 18 de março de 1933, o Instituto foi
sempre foi financiado com recursos públicos transferido para Cidade de São Paulo. Até 1970,
das esferas municipais, estaduais, federais e de o Instituto funcionou como internato para
todo corpo da comunidade pelo Instituto meninas portadoras de deficiência auditiva, a
alcançada. Em 1990 a Fundação passa a ter o partir desse ano deixou de ser um internato
nome de: Fundação Dorina Nowill para Cegos feminino e passou para o regime de externato,
(BRASIL, 2007). para meninos e meninas, dando assim início ao
A deficiência auditiva traz limitações para o trabalho de integração de alunos deficientes
desenvolvimento do indivíduo. Considerando auditivos no ensino regular (BRASIL, 2007).
que a audição é essencial para a aquisição da O Instituto é mantido pela Congregação das
linguagem falada, vácuos nos processos Irmãs da Nossa Senhora do Calvário.
psicológicos de integração de experiências, Reconhecido como Utilidade Pública Federal,
afeta o equilíbrio e a capacidade de Estadual e Municipal, mantém convênios com
desenvolvimento da pessoa. A sociedade órgãos federais, como a Legião Brasileira de
conhece bem pouco os portadores de Assistência, (LBA), com órgãos estaduais e
deficiência. Esse desconhecimento se reflete na municipais, como a CBM, entidade religiosa
ausência das estatísticas brasileiras, as leis são alemã (BRASIL, 2007).
implantadas de modo lento e parcial, sendo Para Cunha (2015), a síndrome de Down é
ignoradas pela maior parte da população. uma condição genética. É uma alteração
Desta forma os deficientes auditivos recorrem cromossômica, tem esse nome por causa de
a legislação para obter seus direitos de cidadão John Langdon Down, médico Britânico que
(BRASIL,2007). descreveu a síndrome, em 1862. Esta síndrome
tem relação com a dificuldade cognitiva e ao
• Instituto Santa Terezinha desenvolvimento físico. O desenvolvimento
O Bispo Dom Francisco de Campos Barreto motor da criança com SD mostra um atraso
fundou o Instituto Santa Terezinha em 15 de significativo, sendo que todos os marcos do
abril de 1929, na Cidade de Campinas-SP desenvolvimento motor (sentar, ficar em pé,
(BRASIL, 2007). andar) ocorrerão mais tarde, se comparado
Sua fundação foi possível devido a duas com a criança normal, a presença na hipotonia
freiras brasileiras que foram ao Instituto de muscular contribui para esse atraso motor.
Bourg-La-Reine, em Paris, França, com o Para Gonzáles (2007, apud CUNHA, 2015), a
propósito de se prepararem como professoras síndrome tem relação com doenças maternas,
especializadas no ensino de crianças surdas. com problemas viróticos, falta de vitamina etc.
Após quatro anos de formação as irmãs Suzana, Pode ser que na família que tem síndrome de
Madalena e Maria da Cruz, voltaram a Down, venha ter outros casos posteriores. Os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

riscos aumentam quando os pais têm mais Há informações que as pessoas que tem o
idade. TDAH, possuem alterações em
Ele ressalta que pessoas com síndrome de neurotransmissores, substâncias que
Down têm alteração geral no sistema nervoso, transmitem as informações entre as células
este indivíduo tem um desenvolvimento mais nervosas, principalmente no controle da
lento. liberação de dopamina e da noradrenalina.
Esta síndrome faz com que o O TDAH não é compreendido por suas
desenvolvimento seja limitado, quando este dificuldades e estas dificuldades nem sempre
contraiu infecções, pode haver perdas têm como causa o desinteresse do indivíduo.
auditivas, memória curta, com isso torna -se Este termo “transtorno” é utilizado para
mais lenta a aquisição da fala e na descrever a incompatibilidade e entre os
aprendizagem da linguagem, com dificuldades desafios enfrentados estão a convicção das
gramaticais, na articulação pronominal, nas habilidades que possui para enfrentá-los,
concordâncias e nas diferenças, porém não alguns transtornos são problemas não
consegue desenvolver melhor resultado nos resolvidos na infância que leva para vida adulta.
aspectos funcionais e pragmáticos da língua. A Wallon (2007, apud CUNHA, 2015), observa
aprendizagem para essas crianças depende da que quando nossas emoções não conseguem
interação e estímulos. transformar em ações mentais ou motora,
O transtorno de déficit de atenção e acontecem efeitos desorganizadores em nosso
hiperatividade, TDAH é um transtorno ser. Podendo tornar-se potencialmente em
neurobiológico de causa genética, aparecendo anárquicas, explosivas e imprevisíveis.
na infância e acompanhando o indivíduo por Ele fala que o desequilíbrio emocional
toda a vida. influencia na organização do pensamento. Os
O TDAH apresenta-se de três formas: adultos têm dificuldades para controlar suas
combinada, predominantemente emoções, mas para as crianças é muito mais
hiperativa/impulsiva ou predominantemente difícil. Alguns registros estão fixados em nossa
desatenta. O transtorno é influenciado pelos memória, sem nos darmos conta causam
genes herdados e fatores ambientais podem angústias e tristezas, e não percebemos por
incrementar os sintomas. Tem como déficit que esse desconforto emocional, mas eles
trazer a atenção e permanência, regulando as estão causando transtornos e até doenças
emoções e ações. físicas.
Ao longo dos anos, muitas toxinas Para Cunha (2015), o transtorno de conduta
ambientais têm sido envolvidas em hipóteses é um dos principais motivos de
para explicação dos sintomas de TDAH como encaminhamentos disciplinares do aluno. São
fatores nutricionais, envenenamento por crianças que têm dificuldades de aceitar regras
chumbo e exposição pré-natal de drogas ou e limites. Que estão sempre desafiando a
álcool (DUPAL; STONER, 2007, apud, CUNHA, autoridade, como dos pais e professores e são
2015). antissociais. É diagnosticado principalmente na
infância e na adolescência. Pesquisas indicam

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que pais que são dependentes de bebidas com a probabilidade que ocorra com outros
alcoólicas, possuem maior probabilidade de membros da família.
terem filhos com o transtorno. Porém, outro Dispraxia para Cunha (2015), é uma
fator é o ambiente de convívio do indivíduo que disfunção motora neurológica, que impede o
se reflete no espaço escolar. Eles não têm cérebro de desempenhar os movimentos
comprometimento, não se preocupam com os corretamente, o que ocasiona a falta de
sentimentos, desejos, e o bem dos outros. coordenação motora, de percepção e
Interpretam mal as intenções de terceiros, equilíbrio, sem a existência de lesão, mas sim,
respondendo com agressões, intolerância, são uma desorganização na coordenação motora.
durões e irritados. Os acessos de raiva e Este diagnóstico segundo o autor deve ser
temeridade estão sempre associados. feito precocemente, para que a criança não se
Segundo Cunha (2015), a dislexia é um prejudique na vida escolar, gerando danos em
transtorno e confundida como déficit de sua autoestima. Estas crianças apresentam
atenção, problemas psicológicos ou mesmo incapacidade de ficarem quietas, estão sempre
desinteresse. Suas características são as balançando os pés ou ficam batendo palmas,
dificuldades dos indivíduos de decodificar sujam-se muito ao comer e esbarram
símbolos, ler, escrever, soletrar, compreender frequentemente em objetos.
um texto, reconhecer fonemas, exercer tarefas Segundo Farrell (2008, apud, CUNHA, 2015),
relacionadas a coordenação motora e tem algumas crianças têm células nervosas do
como hábito trocar, inverter, omitir ou córtex cerebral, que possuem menos
acrescentar letras ou palavras ao escrever. De interconexão reforçadas. Isso torna a
acordo com DSM-IV (Manual Diagnóstico e capacidade do cérebro para processar as
Estatístico de Transtornos Mentais IV), este informações mais lentas, causando o
diagnóstico é feito para saber se essa comprometimento em seu desenvolvimento
incapacidade interfere no desempenho escolar motor. Esta criança tem dificuldade de
ou até mesmo nas atividades da vida diária que responder e agir de modo apropriado ao
exigem habilidades de leitura. Onde se receber as instruções faladas. Ele sabe realizar
caracterizam como um diagnóstico de atividades, porém, tem dificuldades de
exclusão, é preciso verificar se há outro motivo organizar os movimentos e executá-los.
para os sintomas (problemas emocionais, Cunha (2015), explica que é um transtorno
auditivos, visuais etc). relacionado a identificação e classificação dos
O autor também explica que alunos números, e também na execução de cálculos
disléxicos têm dificuldades de leitura e escrita, mentais ou feitos no papel. Esta dificuldade
porém possuem inteligência compatível ao seu está relacionada especificamente, a uma
desenvolvimento. Eles possuem muitas dificuldade na compreensão e aprendizado de
habilidades e em alguns casos, são talentosos matemática. Ela se manifesta com mais
na arte, na música, no teatro etc. Há indícios, frequência nas atividades escolares.
que falam, da existência de fatores hereditários Estudantes com discalculia não possuem
compreensão intuitiva e não entendem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conceitos básicos numéricos simples. A Quando falamos em formação, focalizamos


discalculia não prejudica a habilidade de inicialmente a formação do indivíduo que é
leitura, mais influência no processamento sempre planejada e direcionada para que sua
lógico- matemático e afeta a percepção de prática profissional se concretize socialmente.
tempo e espaço. Pode ser encontrado em Porém há uma contradição entre o que deve
alunos com dislexia e TDAH. ser realizado durante o processo de assimilação
A Disgrafia é uma alteração da escrita, está do conteúdo e o que realmente se executa em
ligada a problemas de percepção motora. sala de aula como explica o seguinte autor:
Caracteriza rigidez no traço, lentidão, pouca Numa sociedade organizada, espera-se que
orientação espacial no papel e escrita não a educação, como prática institucionalizada,
uniforme. contribua para a integração dos homens no
São dois tipos segundo Sampaio (2009, apud, tríplice universo das práticas que tecem sua
CUNHA, 2015): existência histórica relações econômicas; no
1- Motora: aluno lê e fala bem, porém a universo da sociabilidade, âmbito das relações
dificuldade está na coordenação motora fina políticas; e no universo da cultura simbólica,
para escrever letras, palavras e números. âmbito da consciência pessoal, da
2-Perceptiva: Este aluno tem dificuldades subjetividade e das relações intencionais
para relacionar o sistema simbólico e as grafias (SEVERINO, 2002, p.11, apud, MARTINS, 2010,
que representam sons, palavras e frases. p.14).
Para Cunha (2015), está ligado ao atraso do Há um dilema do trabalho educativo, que se
domínio da linguagem. Este aluno confunde as equilibra entre a humanização e a alienação
letras e as sílabas, ou efetua troca ortográficas, que explica no tocante à formação docente isso
com isso faz inversões, aglutinações, omissões é letal, pois o produto do trabalho educativo
e desordem na estrutura das orações em deve ser a humanização dos indivíduos, que,
conteúdo que já foram trabalhadas em sala de por sua vez, para se efetivar, demanda a
aula. mediação da própria humanidade dos
Isso pode acontecer na alfabetização, mas se professores (MARTINS,2010).
continuarem essas dificuldades deve ser A autora afirma que o objetivo central da
encaminhado ao especialista. educação escolar, é a transformação humana
em novas forças criadoras. Extrair do aluno a
FORMAÇÃO DOS sua capacidade máxima para que ele possa
transformar sua vida social e estender essa
PROFESSORES PARA ENSINAR transformação ao longo de sua vida social.
ARTES NA EDUCAÇÃO ESPECIAL [...] o objetivo central da educação escolar
Martins (2010), faz uma análise e aborda a reside na transformação das pessoas em
relação profissional e a atividade produtiva do direção a um ideal humano superior, na criação
professor e qual resultado se espera entre o das forças vivas imprescindíveis à ação
que foi apreendido em sua formação criadora, para que seja, de fato,
pedagógica e o que é efetivado na prática. transformadora, tanto dos próprios indivíduos

278
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quanto das condições objetivas que sustentam aceleração da urbanização e reivindicações


sua existência social. Não estamos, portanto, pela democratização da escola pública,
nos referindo à concepção liberal de influências da “guerra fria” etc.) gestaram os
humanização, para quem esse processo se primeiros sinais de esgotamento do ideário que
efetiva na centralidade do sujeito abstraído das fora aventado como ícone de uma educação
circunstâncias concretas de sua existência. moderna, democrática e humanista (MARTINS,
Trata-se, outrossim, de um processo 2010, p.17).
dependente da produção e reprodução em Entre os anos de 1960 e 1970, há um
cada indivíduo particular das máximas predomínio do modelo de Taylor e Ford, cujo
capacidades já conquistadas pelo gênero objetivo era a produção em massa e adequação
humano. Um processo, portanto, desses novos trabalhadores passa pela
absolutamente condicionado pelas educação, com as “teorias do capital humano”.
apropriações do patrimônio físico e simbólico Esse novo modelo de educação priorizava a
produzido historicamente pelo trabalho dos formação técnica adequando o cidadão ao
homens, dos quais os professores não podem novo modelo de produção.
estar alienados (MARTINS, 2010, p.15). Já no final do século XX, houve o crescimento
Ao longo do século XX, houve sucessivas da concepção da pedagogia produtivista, que
reformas econômicas que foram norteando e entra em choque com as ideias da pedagogia
estruturando os ideais pedagógicos, se tecnicista surgindo desse embate a “visão
arrastando ao longo do tempo e influenciando crítico reprodutivista”. As ideias contra
a prática docente e a formação dos professores hegemônicas surgem baseadas na concepção
(MARTINS, 2010). de uma “educação popular”, bem como a
Dentre as renovações sociais surge na área pedagogia crítico social e a pedagogia histórico-
da educação o modelo da pedagogia nova. Qual crítica. Todas elas contribuíram para
foi a contribuição dessa nova pedagogia para a importantes debates no âmbito da educação e
formação dos nossos professores, é um deram importante colaboração para os
questionamento que o sociólogo Saviani avanços na educação inseridos na Constituição
(2007), nos traz no livro ´´História das ideias de 1986 (MARTINS, 2010).
pedagógicas no Brasil´´. Outras vertentes pedagógicas foram
O autor explica que entre 1932 e 1947, a surgindo segundo o autor, porém sempre com
pedagogia nova e a pedagogia tradicional, se um olhar mercantilista sobre a educação,
equilibram e se mantiveram na educação do frisando sempre máxima racionalização e
país. otimização dos recursos. Entre elas podemos
A partir de 1960 a pedagogia nova, se torna destacar os mais conhecidos como:
predominante. Já no ano seguinte, dá-se início Neoescolanovismo – “aprender a aprender”,
ao seu processo de declínio. Neoconstrutivismo – “pedagogia das
Profundas mudanças sociais que se faziam competências” aprendizagem individual,
presentes (a exemplo da Neotecnicismo - “qualidade total” escola como
industrialização/modernização do país, empresa (MARTINS, 2010).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para Figueiredo (2013), a formação inicial e sejam organizados e ativos que documentem e
continuada de professores visando a inclusão ensinem. Pensar o espaço de forma que todos
deve ser pensada primeiramente na sua os alunos tenham oportunidades de
organização e instrumentalização de ensino, aprendizado e de socialização, e ficando ao
bem como a gestão da classe e seus princípios professor a responsabilidade de substituir a sua
éticos, filosóficos e políticos, que permitiram a pedagogia tradicional pela pedagogia pensada
esses professores a reflexão e compreensão de na diversidade, é o que expõe a autora no
seu verdadeiro papel e da escola na formação seguinte trecho:
dessa nova geração que deverá responder às A escola, para se tornar inclusiva, deve
demandas profissionais. acolher todos seus alunos,
A autora explica sobre a importância da independentemente de suas condições sociais,
organização dos tempos e espaços de emocionais, físicas, intelectuais, linguísticas,
aprendizagem no agrupamento de alunos e no entre outras. Ela deve ter como princípio básico
planejamento das atividades. Pensar na desenvolver uma pedagogia capaz de educar e
sequência didática adaptada às reais incluir todos aqueles com necessidades
necessidades dos seus alunos e na educacionais especiais e também os que
consolidação da aprendizagem. apresentam dificuldades temporárias ou
Nesta perspectiva de ensino, o professor permanentes, pois a inclusão não se aplica
situa-se como mediador, considerando apenas aos alunos que apresentam algum tipo
aspectos como: atenção às diferenças dos de deficiência (FIGUEIREDO, 2013, p. 143).
alunos; variação de papéis que o professor Booth e Ainscow (2000, apud, FIGUEIREDO,
assume diferentes situações de aprendizagem; 2013), o percurso da inclusão irá ampliar e
organização dos alunos de forma que elaborar as competências e habilidades dos
possibilite interações em diferentes níveis, de professores, e que as experiências obtidas irão
acordo com os propósitos educativos (grupo – ajudar na sua formação continuada agregando
classe, grupos pequenos, grupos maiores, valores e conhecimentos no contexto social, de
grupos fixos) (FIGUEIREDO, 2013, p.142). história de vida e contribuíram para uma
Há a necessidade de reconsiderar nossas prática mais acolhedora. Não se pode exigir
crenças e valores. Os professores continuam que todos os professores ajam da mesma
querendo controlar as situações em sala de forma, pois cada um terá uma visão própria das
aula, não dando a liberdade para o aluno e práticas pedagógicas na inclusão. Portanto, os
exercendo forte autoridade no sentido de que autores concluem que não se pode esperar na
o aluno precisa sempre olhar para ela, formação dos professores o desenvolvimento
sentando em fileiras e com seus materiais de ritmos e competências similares e que sua
pedagógicos sob sua supervisão. Nesse aspecto prática pedagógica só será efetivamente
o espaço é o ponto primordial enfatizado pela inclusiva se o espaço possibilite sua atuação
autora, pois deve se pensar em espaços inclusiva e a reflexão do seu próprio trabalho
preparados para todos os níveis de pedagógico.
desenvolvimento e idades apropriadas, que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Seguindo na mesma linha de raciocínio Cunha (2015), comenta que, embora


Santos (2013, apud, MANTOAN, 2013), ressalta saibamos que na educação especial há casos
que para que a escola e as práticas docentes degenerativos muito severos, ainda assim,
sejam condizentes com a inclusão devem essas pessoas, mesmo que impossibilitadas no
proporcionar o fortalecimento dos projetos espaço pedagógico e afetivo, por meio de
políticos pedagógicos, sala de aula com eixo de atuação de profissionais interessados e
aprendizagem para todos, articulação da teoria dedicados, podem receber um
e prática, trabalho interdisciplinar, acompanhamento educacional reabilitativo em
reorganização dos tempos e espaços e seu próprio lar. São ações inclusivas além dos
investimentos na infraestrutura material e muros da escola.
pessoal, bem como a revisão do processo de Continuando na sua linha de pensamento, o
avaliação. A formação continuada do professor autor, explica que quando o educador trabalha
deve ser em serviço, pois, a aprendizagem é com a informação da educação inclusiva, sua
permanente e o desafio da educação é prática conclui todos os níveis e modalidades
contínuo. Segundo a autora, são realidades que de ensino: da educação especial, passando pela
podem ou não acontecer nas escolas e educação básica e atingindo a educação de
dependem do nível de comprometimento com jovens e adultos, alcançando assim a
a inclusão escolar. diversidade discente nas diferentes etnias,
O professor, dentro da perspectiva inclusiva culturas e classes sociais. O professor deve
e com uma escola de qualidade, não deve observar, avaliar e mediar, para que os recursos
duvidar da capacidade e das possibilidades de pedagógicos de que a escola possui sejam
aprendizagem dos alunos e muito menos apropriados para aqueles que ensinam e para
prever quando esses alunos não irão aprender. os que recebem o aprendizado, como segue:
Ter um aluno deficiente em sala de aula, não É evidente que a educação dos alunos com
deve ser um empecilho, para que, suas práticas necessidades educacionais especiais é um
pedagógicas, com relação ao deficiente seja de trabalho multidisciplinar que requer
menor qualidade ou em menor tempo. especialistas de diversas áreas atuando com a
Dentro desse contexto a autora explica que escola. É bom ressaltar que a aprendizagem
ainda, não justifica um ensino à parte, transcende o campo escolar, porque os
individualizado, com atividades que mesmos mecanismos que estão presentes no
discriminam e que se dizem ´´adaptadas´´ às cotidiano. É nosso papel educar para a vida e
possibilidades de entendimento de alguns. A não somente para testes e avaliações pontuais.
aprendizagem é sempre imprevisível, portanto, Isso se torna mais indelével quando educamos
o professor deve considerar a capacidade de aprendentes com necessidades especiais, uma
todos os alunos, deixando de rotulá-los e de vez que eles carecem de uma aprendizagem
categorizar seus alunos, entendendo que todos integradora, relacionada à vida social (CUNHA,
são capazes de assimilar conhecimento e de 2015. p. 12).
produzi-los (MACHADO, 2013).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Michels (2006), explica que a formação de as práticas escolares na perspectiva da


licenciatura, especificamente no curso de absorção com qualidade, das mais diversas
Pedagogia, com habilitação em educação diferenças culturais, linguísticas, étnicas,
especial, e não em uma de suas áreas definidas sociais e físicas. É também verdadeiro que a
pelas deficiências e deverá estar relacionada contribuição da área da educação especial não
com o atendimento educacional dos alunos se fará presente enquanto permanecer
com deficiência. hegemônico o modelo médico-pedagógico
Seguindo ainda no pensamento da autora, (MICHELS, 2006).
podemos notar a variação de tipos de Quanto à formação de professores de hoje,
formações continuadas e ela poderá ser a há constantes mudanças tanto do ponto de
modalidade para formar os professores para a vista de conceitos e valores como de práticas.
educação especial. Aos professores As competências que se esperam que o
capacitados cabe a tarefa de identificar quais professor domine se revelam cada vez mais
são os possíveis discentes com necessidades complexas e diversificadas. Espera-se que o
especiais e desenvolver com eles atividades e professor seja competente dominando, desde
ações pedagógicas. o conhecimento científico do que ensina à sua
Percebe-se ainda para a autora, a proposição aplicação psicopedagógica, bem como em
que o professor atualmente continua ligado metodologias de ensino, de animação de
com o modelo da educação tradicional que, grupos, atenção à diversidade etc. Isto sem
continua se organizando com base no modelo considerar as grandes expectativas que existem
médico-pedagógico, que acaba se confundindo sobre o que o professor deve promover no
com o conhecimento da educação especial. âmbito educacional. Alguns autores têm, por
Estudos mostram que a grande dificuldade do isso, denominado a missão do professor na
professor é aceitar a crítica a esse modelo, que escola contemporânea como uma “missão
está vinculado ao pensamento dominante, não impossível” (BRASIL, 2008).
somente na educação especial, mas na Poderia pensar que este problema se
educação de modo geral, causando por muitas resolverá com mais conteúdo na formação e
vezes ao resultado do fracasso escolar. assim com a extensão dos currículos de
Ainda segundo a autora, na atualidade, a formação. Mas não parece ser esta a solução.
proposta dos professores, têm como máxima a Não é a simples aquisição de mais
inclusão. Porém sua manutenção tem sido o conhecimentos de teoria que fará o professor
modelo médico-pedagógico que nos faz pensar mais capaz de responder aos numerosos
se este caminho está levando a qual caminho? desafios que enfrenta. Pode-se, assim,
Sucesso ou fracasso? promover ao professor um conjunto de
Se for verdade que para a democratização da experiências que lhe permitam aplicar estes
escolarização os alunos com deficiência por conhecimentos num contexto real. A profissão
meio de inclusão do ensino regular, terão que de professor envolve um grande número de
ser superadas as barreiras impostas pelos decisões que tradicionalmente são da sua
educadores não especializados e modificados responsabilidade e que lhe contribui um

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

elevado grau de autonomia no quotidiano da Uma transcrição literal sobre sua definição é
sua profissão. Por isso, é tão complexa a debruçarmo-nos sobre a seguinte situação: a
profissão e a sua devida formação e se torna música não é tarefa fácil porque apesar de ser
claro o motivo pelo qual resulta insuficiente um intuitivamente conhecida por qualquer pessoa,
simples aumento de formação teórica. é difícil encontrar um conceito que abarque
Conceder informação era, tradicionalmente, todos os significados dessa prática. Mais do que
um dos itens principais do processo educativo. qualquer outra manifestação humana, a
Mas, a profissão docente deixou de estar tão música contém e manipula o som e o organiza
intimamente comprometida com um ensino no tempo. Talvez por essa razão ela esteja
baseado na informação. O papel do professor sempre fugindo a qualquer definição, pois ao
mudou: de um transmissor de informação, ele buscá-la, a música já se modificou, já evoluiu. E
passou a ser um facilitador do processo de esse jogo do tempo é simultaneamente físico e
aquisição de conhecimento. Este emocional.
procedimento implica que para que a A arte é uma forma de o ser humano
informação se transforme em conhecimento expressar suas emoções, sua história e sua
precisa ser discutido, refletido e, completada. cultura por meio de alguns valores estéticos,
Esta é uma nova competência do professor e da como beleza, harmonia, equilíbrio. A arte pode
escola. Tomando como exemplo uma dilatada ser representada por meio de várias formas,
experiência na formação de professores na em especial na música, na escultura, na pintura,
área das NEE (NECESSIDADES EDUCATIVAS no cinema, na dança, entre outras.
ESPECIAIS) tanto no campo graduado como A música sempre esteve presente ao longo
pós-graduado, vamos discutir os modelos e da história da humanidade. Tão antiga quanto
estratégias que nos parecem mais adequados o Homem, a música primitiva era usada para
para preparar os professores para os desafios exteriorização de alegria, prazer, amor, dor,
da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008). religiosidade e os anseios da alma.
Um ponto especial a ser levantado neste A música tornou-se um objeto de estudo
tópico é a expressividade do homem pela arte. muito importante para os educadores e demais
Não fugindo a esta situação positiva, por volta envolvidos com o processo educativo, pois
da década de 80, novas abordagens foram além de oferecer um grande leque de
introduzidas no ensino da Arte no Brasil. A possibilidades e abrangências, tornou-se uma
imagem ganhou um lugar de destaque na sala disciplina obrigatória na rede regular de ensino.
de aula, o que representa uma das tendências Nos dias atuais a música pode ser
da Arte contemporânea e uma novidade para o considerada uma das artes que mais
ensino da época. As imagens produzidas tanto influenciaram e influenciam na sociedade.
pela cultura artística (pintores, escultores) Tudo o que acontece ao nosso redor, nos afeta
como as produzidas pela mídia (propaganda de diretamente ou indiretamente, pois vivemos
TV e publicitária gráfica, clipe musical, internet) num conjunto de pessoas que compartilham
passaram a ser utilizadas pelos professores e propósitos, gostos, preocupações e costumes,
alunos da educação básica.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e que interagem entre si constituindo uma


comunidade.
Segundo Silva ( 1966), nas últimas décadas
do século XX, assistimos a um acentuado
movimento de mudanças nas organizações
sociais, consequente e interdependente dos
movimentos de mudanças políticas,
econômicas, cientificas e culturais.
Estamos vivendo nesta nova sociedade em
constante mudança, que está se organizando e
reorganizando de acordo com as características
da sociedade em rede, da globalização da
economia e da virtualidade, as quais produzem
novas e mais sofisticadas formas de exclusão
(SILVA, p.1, 1996)
A arte é uma forma de criação de linguagens,
seja ela visual, musical, cênica, da dança, ou
cinematográfica, essas formas de linguagens
refletem o ser e estar no mundo, todas são
representações imaginarias de determinadas
culturas e se renovam no exercício de criar ao
longo dos tempos. Ao desenvolver-se na
linguagem da arte o aprendiz apropria-se do
conhecimento da própria arte. Essa
apropriação converte-se em competências
simbólicas por que instiga esse aprendiz a
ampliar seu modo singular de perceber, sentir,
pensar, imaginar e se expressar, aumentando
suas possibilidades de produção de leitura de
mundo, da natureza e da cultura e também
seus modos de atuação sobre eles.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação, a arte, o conhecimento sensível e o autismo foram os temas mais abordados
neste artigo. Constatou-se que a falta de atendimento especializado pode trazer consequências
como atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimentos físicos e emocionais,
distúrbios de fala e atraso escolar. Uma vez que é crescente o número de pessoas com
necessidades especiais atuantes na sociedade.
Pôde-se ratificar que autismo não é doença. Porém não há motivos para subestimar a
capacidade de um autista.
Nota-se que todo aquele que foge aos padrões sociais é excluído, pois lhe é negado o
direito de ser e de viver diferentemente das regras sociais criadas e impostas a todos.
Quanto à expectativa de utilizar a arte como mediadora na comunicação do autista, foi
alcançada e superada. Confirmou-se que a Arte é capaz de organizar e estruturar o mundo
respondendo aos desafios que dele emanam; a Arte é um produto que expressa representações
imaginárias das distintas culturas que se renovam por meio dos tempos.
O processo artístico de ensinar arte é enfrentar muitos desafios, é ser capaz de
comprometer-se em refletir as questões sociais, ecológicas e culturais. Perante questões tão
complexas como o autismo, a arte e a educação.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental.


Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília: MEC / SEF. 1997.

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Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
74, p.: il – (Série F. Comunicação e Educação em Saúde).

COLL, C., PALACIOS, J, e MARCHESI, Á. Desenvolvimento Psicológico e Educação:


necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Tradução de Marcos A. G.
Domingues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

CUNHA, Eugênio. Austismo e Inclusão: Psicopedagogia práticas educativas na escola e na


família. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.

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KANNER, Léo. Austitic. Distrurbances of Affective Contact. Nervous Child, 2:217-250


(1943).

KATHRYN, Ellis et al. Autismo. Rio de Janeiro: Revinter, 1996.

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Problemas Relacionados à Saúde – CID-10. 2018.

ORRÚ, Silva Ester. Autismo: o que os pais precisam saber? Rio de Janeiro: Wak. Editora,
2011.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ATIVIDADE FÍSICA, CAPACIDADE FUNCIONAL E


POPULAÇÃO IDOSA
Gerusa Oliveira Mororó Aragão1

RESUMO: O processo de envelhecimento humano pode ser compreendido como um processo


universal e os fatores biológicos, sociais, psicológicos e ambientais, devem ser considerados ao
se pensar em qualidade de vida para o idoso. Esta revisão bibliográfica teve como objetivo
analisar estudos que demonstraram a relação positiva entre a prática de atividade física e a
manutenção da capacidade funcional da população idosa. Para a elaboração desse estudo, foram
consultadas as bases de dados BIREME, SCIELO e sites da Internet para a busca de documentos
do Ministério da Saúde do Brasil (MS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Palavras-Chave: Educação Física; Idoso; Capacidade Funcional.

1Professora de Educação Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Educação Física; Especialização em Fisiologia do Exercício.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PHYSICAL ACTIVITY, FUNCTIONAL CAPACITY AND ELDERLY


POPULATION
ABSTRACT: The human aging process can be understood as a universal process and biological,
social, psychological and environmental factors must be considered when thinking about quality
of life for the elderly. This bibliographic review aimed to analyze studies that demonstrated the
positive relationship between the practice of physical activity and the maintenance of the
functional capacity of the elderly population. For the elaboration of this study, the BIREME,
SCIELO databases and Internet sites were consulted to search for documents from the Brazilian
Ministry of Health (MS) and the Pan American Health Organization (PAHO).

Keywords: Physical Education; Old man; Functional capacity.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO envelhecimento, dessa maneira, mantendo a


capacidade funcional da população idosa.
O processo de envelhecimento humano Matsudo, et al. (2003), acredita que não é
pode ser compreendido como um processo possível pensar hoje em prevenir ou minimizar
universal, dinâmico e irreversível, abrangendo os efeitos do envelhecimento sem que, além
fatores biológicos, sociais, psicológicos e das medidas gerais de saúde, não se inclua
ambientais, esse conjunto de fatores, devem também a atividade física.
ser considerados ao se pensar em qualidade de Ainda segundo Gomes & Zazá (2009), a
vida para o idoso (DUCA; SILVA; HALLAL, 2009). adesão a uma atividade física regular, é um dos
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia aspectos fundamentais para buscar um
e Estatística – IBGE (2004), o envelhecimento envelhecimento independente e com maior
da população brasileira apresenta um qualidade de vida.
acentuado crescimento, em 2000, o grupo de 0 Esta revisão bibliográfica teve como objetivo
a 14 anos representava 30% da população analisar estudos que demonstraram a relação
brasileira, enquanto o grupo de maiores de 35 positiva entre a prática de atividade física e a
anos representava 5%. Em 2050, esses dois manutenção da capacidade funcional da
grupos irão se igualar em 18%, segunda a população idosa.
estimativa do IBGE, em 2062, o número de Para a elaboração desse estudo, foram
brasileiros irá parar de aumentar. consultadas as bases de dados BIREME, SCIELO
O Projeto Saúde, Bem-estar e e sites da Internet para a busca de documentos
Envelhecimento – SABE (2003), informou que o do Ministério da Saúde do Brasil (MS) e da
Brasil representa um conjunto de países no Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
continente, onde o processo de
envelhecimento irá ocorrer mais rapidamente.
Ao considerar o envelhecimento rápido da
O ENVELHECIMENTO E A
população, torna-se necessário o PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA
desenvolvimento de ações que possam auxiliar No processo de envelhecimento, uma das
o idoso a ter uma boa qualidade de vida, tendo consequências é o aumento de incidências de
em vista as perdas fisiológicas ocorridas no doenças crônicas degenerativas, reduzindo
processo de envelhecimento (BENEDETTI, et dessa forma, a independência do idoso,
al., 2007). tornando-os dependentes até mesmo para
Para Gomes & Zazá (2009), o processo de realizar as atividades mais simples (BENEDETTI,
envelhecimento é acompanhado muitas vezes, et al., 2007).
por um estilo de vida inativo, favorecendo a As mudanças no estilo de vida durante o
incapacidade física e a dependência do idoso. envelhecimento, tem como conseqüência, a
Segundo Benedetti, et al. (2007), a prática de aquisição de hábitos lesivos à saúde e a
atividade física é um dos fatores que irá qualidade de vida, como a redução dos níveis
minimizar as perdas fisiológicas no de atividade física inerentes às atividades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

habituais, favorecendo ao surgimento de vontades, ligadas aos aspectos físicos,


patologias (PEREIRA & RODRIGUES, 2007). intelectuais, emocionais e cognitivos.
O tema envelhecimento ativo e saudável Segundo Rosa, et al. (2003), incapacidade
surge no cenário nacional apenas no final do funcional define-se pela presença de
século XX, por meio da Política Nacional de dificuldade no desempenho de certos gestos e
Saúde do Idoso (PNSI), redefinindo novas de certas atividades da vida cotidiana ou
estratégias para a promoção e a prevenção de mesmo pela impossibilidade de desempenhá-
saúde no envelhecimento (FERNANDES & las.
SIQUEIRA, 2010). A capacidade funcional depende de alguns
O crescimento da população idosa gerou componentes, entre eles estão, o equilíbrio,
maior preocupação em relação à capacidade força muscular, flexibilidade e a agilidade
funcional, tornando-se um assunto de grande (BENEDETTI, et al., 2007).
importância na saúde desse segmento etário O equilíbrio é a capacidade de manter a
(ALENCAR, et al., 2010). postura estática ou dinâmica, possibilitando
A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa dessa forma, atender as necessidades
(PNSPI), propôs a capacidade funcional como ambientais (BENEDETTI ,et al., 2007). No
um novo paradigma para a saúde, com o equilíbrio existe a combinação do sistema
objetivo de incluir a independência e a vestibular, visual e somatossensorial para
autonomia na atenção à saúde da pessoa idosa. manter a postura, devido o processo de
Um dos maiores desafios relacionados à envelhecimento esses sistemas são
atenção a população idosa, é conseguir deteriorados (ZAMBALDI, et al., 2007).
contribuir para que os idosos consigam A perda de força muscular relacionada à
redescobrir possibilidades para viver uma vida idade é resultante, sobretudo, da perda
com qualidade, mesmo enfrentando limitações substancial de massa muscular que acompanha
progressivas (Ministério da Saúde, 2007) o envelhecimento ou da diminuição da
O conceito de capacidade funcional é atividade física. Os adultos mais velhos e
bastante complexo, na prática são utilizados os sedentários apresentam uma grande perda de
conceitos de capacidade e incapacidade (ROSA, massa muscular (WILMORE & COSTILL, 2001).
et al., 2003). A perda de massa, força e qualidade do
Para Sanches (2000), a capacidade funcional músculo esquelético, são conhecidas como
é a independência para a realização das sarcopenia. O andar e o equilíbrio são os mais
atividades de vida diária. afetados, aumentando o risco de queda, perda
No estudo de Nogueira et al. (2010), a da independência física funcional e aumento
capacidade funcional refere-se à condição que do risco de doenças crônicas degenerativas
o indivíduo possui de viver de maneira (MATSUDO, et al., 2003).
autônoma e de se relacionar em seu meio. Já A sarcopenia pode provocar no idoso,
para Pereira & Rodrigues (2007), a capacidade dificuldade para realizar até mesmo a tarefas
funcional compreende todas as capacidades mais simples do cotidiano, por exemplo,
necessárias para que um indivíduo realize suas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

levantar-se de uma cadeira (ROGATTO & Os benefícios da prática de exercícios para


GOBBI, 2001). idosos dependem de como se processa o
Outro componente da capacidade funcional envelhecimento e da rotina de exercício físico
é a flexibilidade, que é a amplitude dos praticada. (CAROMANO; IDE; KERBAURY,
movimentos articulares, sendo específica para 2006).
cada articulação (BENEDETTI, et al., 2007). Para Segundo Gomes & Zazá (2009), a adesão a
Dantas (2002), a perda da flexibilidade, é um uma atividade física regular, é um dos aspectos
fator que reduz a independência do idoso, fundamentais para buscar um envelhecimento
prejudicando sua qualidade de vida. independente e com maior qualidade de vida.
A capacidade física agilidade está Os benefícios que a prática de atividade
relacionada com a locomoção, evita por meio física regular proporciona para o idoso são
de sua manutenção, quedas e a dependência incontestáveis, principalmente na manutenção
do idoso, reduzindo juntamente com as outras da capacidade funcional (RABACOW, et al.,
capacidades físicas, os efeitos negativos do 2006).
processo de envelhecimento (FERREIRA &
GOBBI, 2003). OS BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE
A capacidade funcional referente à condição
física do indivíduo, é um dos importantes FÍSICA PARA OS IDOSOS
marcadores de um envelhecimento bem- No estudo de Caromano; IDE; Kerbaury
sucedido e de melhor qualidade de vida (2006), foram elaborados dois programas de
(CIPRIANI, et al., 2010). treinamento para investigar os efeitos da
O comprometimento da capacidade manutenção da prática de exercícios em
funcional do idoso acarreta consequências para idosos. Fizeram parte desse estudo 20
sua vida, para sua família, para a comunidade e participantes, sendo 18 mulheres e dois
para o sistema de saúde, por torná-lo homens, com média de idade 68,7 ± 3,5 anos.
dependente, diminuir sua qualidade de vida e Os indivíduos foram divididos em dois grupos,
bem estar (TORRES, et al., 2009). Ga (exercícios gerais) e Gb (caminhada). O
Um dos principais fatores que aumenta o programa de exercícios gerais incluiu exercícios
risco para a incapacidade funcional é a de respiração, alongamento, postura,
inatividade física (CARDOSO, et al., 2009). coordenação, força muscular e resistência
A inatividade física é um dos principais cardiovascular e no Gb a caminhada. Os
fatores de risco para doenças crônicas, entre a programas de exercícios foram realizados por
população idosa ela é grande, o que favorece o dezesseis semanas, duas vezes por semana, em
surgimento dessas doenças (Envelhecimento e sessões de uma hora de caminhada ou
saúde, 2007). exercícios gerais. Avaliações de desempenho
Para Wilmore & Costill (2001), um estilo de físico foram realizadas antes de iniciar o
vida ativo pode reduzir acentuadamente programa de exercícios, ao término do
muitas perdas da capacidade de trabalho físico. protocolo e um ano após sua realização,
analisando as principais disfunções

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

decorrentes do processo de envelhecimento, da capacidade de realizar as atividades da vida


entre elas a flexibilidade, força muscular em diária, foi sugerido que a participação em um
membros superiores e inferiores e equilíbrio. programa de atividade física regular, pode
Conclui-se nesse estudo que a manutenção da favorecer a um estilo de vida ativo e
prática de atividade física, independente da independente e provavelmente este grupo
atividade física treinada, preservou ou comparado a outras mulheres da mesma
melhorou as funções estudadas, enquanto o comunidade, porém, inativas, conseguirá
abandono das atividades produziu piora dessas manter a capacidade funcional que auxiliará
funções. em sua independência no processo de
Matsudo, et al (2003), demonstrou resultado envelhecimento e principalmente evitar a
positivo em seu estudo realizado com 117 necessidade de institucionalização em idades
mulheres de 50 a 79 anos de idade (65 ± 6,6 mais avançadas.
anos), que participavam do Projeto Outro resultado envolvendo positivamente a
Longitudinal de Envelhecimento e Aptidão relação entre a atividade física e a capacidade
Física de São Caetano do Sul. O programa de funcional, foi encontrado no estudo de (SILVA,
atividade física inclui exercícios aeróbios, de et al., 2010), com 32 participantes idosos, com
alongamento, flexibilidade e de equilíbrio, duas idade entre 60 a 85 anos, de ambos os sexos,
vezes por semana, 50 minutos por sessão e com praticantes de um programa de atividade física,
tempo de prática que variava de dois a oito oferecida por uma Unidade Básica de Saúde
anos. As avaliações foram realizadas durante (UBS). Os participantes foram divididos em dois
um ano e os resultados apresentaram a grupos, 16 sedentários e 16 ativos, submetidos
evolução longitudinal da capacidade funcional, a exercícios de fortalecimento, alongamento,
fortalecendo a proposta dos efeitos positivos equilíbrio, de marcha, cognitivos e vestibulares,
da prática de atividade física, proporcionando “dança sênior” e orientações em gerais, uma
um nível de independência que pode melhorar vez por semana, duas horas por sessão, além de
a saúde e a qualidade de vida durante o praticarem fora do estudo atividades como,
envelhecimento. hidroginástica, remo, canoagem, surfe, Tai Chi
O estudo de Matsudo; Matsudo; Araújo Chuan, ginástica, caminhada, exercício com
(2001), realizou avaliações sobre a capacidade bicicleta, com freqüência variando de uma a
de realizar as atividades da vida diária, com um cinco vezes por semana. Após as avaliações
grupo de 81 mulheres praticantes de um realizadas, foi possível observar melhora na
programa de ginástica localizada, oferecida capacidade funcional dos praticantes de
pelo Centro da Terceira Idade Moacyr atividade física, obtendo os melhores
Rodrigues, duas vezes por semana, 50 minutos resultados no desempenho funcional, em
por sessão, com tempo de prática de 2 a 5 anos. relação aos sedentários, reforçando dessa
O resultado apresentou a manutenção da maneira, a importância da prática da atividade
capacidade funcional. Devido os resultados física em relação à manutenção da capacidade
positivos das avaliações em relação à funcional, que proporcionará maior
manutenção da capacidade funcional, por meio independência na vida do idoso.

292
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo o estudo de Pauli, et al. (2009), flexibilidade, não apresentou melhora


realizado com uma amostra constituída de dez significante, porém, destaca-se que houve sua
voluntárias divididas em: GNT (n=5), com idade manutenção, fator muito importante a ser
média de 64,2 anos, que realizavam atividades considerado no processo de envelhecimento.
da vida diária de forma independente e haviam Com este resultado apresentado, sugere-se
participado de um programa supervisionado de que mesmo com o envelhecimento são
atividade física, mas que nos últimos doze anos possíveis ganhos e manutenções nas
não tinham participado de nenhum programa capacidades funcionais, por meio da prática de
supervisionado de atividade física e o grupo GT atividade física regular.
(n=5), com idade média de 65,8 anos, com as O estudo realizado por (SILVA; FILHO; GOBBI,
mesmas características do GNT, mas 2006), com um grupo de 61 mulheres, com
continuaram a participar de um programa idade entre 55 a 75 anos, divididas em três
supervisionado de atividade física, que incluiu grupos, sendo (G1) 20 participantes, com
atividades como dança, exercícios resistidos, média idade de 61,8±3,3 anos, praticantes de
esportes adaptados, ginástica aeróbica, atividades físicas regulares como esporte,
atividades recreativas e outras, com atividade física geral, musculação, ginástica,
intensidade moderada, sessões com duração dança e práticas corporais alternativas,
de uma hora, três vezes por semana, durante 9 realizadas em três dias da semana, com
meses por ano, nos últimos doze anos. Este duração de uma hora por sessão, (G2) 21
estudo possibilitou predizer, que as participantes, com média de idade 61,4±5,9
participantes do programa supervisionado de anos, praticava caminhada matutina e (G3) 20
atividade física, apresentaram diferenças participantes sedentárias, com média de idade
positivas em suas capacidades funcionais em 61,7±5,9 anos, tanto o G1 quanto o G2
relação as participantes sedentárias. praticavam as modalidades escolhidas por pelo
Cipriani et al. (2010), realizou um estudo menos quatro meses. Os autores concluíram
com 225 idosas, idade igual ou superior a 60 após os testes para avaliar a capacidade
anos, média de idade de 69,26 anos, funcional que, a atividade física generalizada
praticantes do programa de exercício físico do supervisionada, parece proporcionar melhores
Centro de Desportos da Universidade Federal resultados em relação à melhoria e/ou
de Santa Catarina (CDS/UFSC). As participantes manutenção da capacidade funcional, uma das
do programa de atividade física, realizavam explicações para que isso ocorra é que esse tipo
pelos menos duas sessões semanais de aulas de de atividade física proporciona benefícios à
ginástica, com duração de 50 minutos cada quase todos os componentes da capacidade
sessão. Os resultados obtidos por meio da funcional. A caminhada proporcionou seus
bateria de testes para avaliar a capacidade benefícios para a capacidade funcional, mesmo
funcional das participantes no decorrer de 10 em menores níveis, comparados as atividades
meses demonstraram melhora e/ou físicas generalizadas supervisionadas.
manutenção nas variáveis das capacidades
funcionais. A capacidade funcional

293
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos estudos analisados foi possível verificar que a prática de um conjunto de atividade
física, independente da modalidade praticada, demonstrou ter influência na melhoria e/ou
manutenção das capacidades físicas, que são inerentes a uma vida independente e ativa,
contribuindo para um bom nível de qualidade de vida.
Por meio dos resultados encontrados, foi possível verificar uma igualdade em relação à
quantidade de dias utilizados nos programas de atividade física regular, permanecendo entre dois
a três dias como quantidade razoável, para que ocorra a melhora e/ou manutenção da
capacidade funcional.
Os estudos apresentados na revisão de literatura utilizaram em suas pesquisas em maior
quantidade, participantes do sexo feminino, visto que os grupos que praticam atividade física
regular da terceira idade, geralmente são formados em maior número de mulheres, indicadas
estas como participantes que permanecem por período maior em um programa de atividade
física, portanto, cabe ressaltar a importância de novos estudos serem realizados com grupos
mistos, para a analisar possíveis diferenças existentes.
O tema analisado neste presente estudo deve ser aprofundado por meio de novas estudos,
procurando encontrar atividades que proporcionem melhores resultados referente à melhora
e/ou manutenção das variáveis da capacidade funcional, analisando qual deve ser sua
intensidade, volume e os principais cuidados em sua realização.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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297
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ATIVIDADES LÚDICAS COMO COADJUVANTE


NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM
Luzeli Borges da Silva Gossler1
Welton Rodrigues de Souza2

RESUMO: Neste artigo, intitulado atividades lúdicas como coadjuvante no processo ensino
aprendizagem, teve-se como objetivo identificar a importância do lúdico na aprendizagem e no
desenvolvimento de crianças da educação infantil. Para tanto optou-se pela pesquisa bibliográfica
não sistemática, realizada a partir da consulta de artigos científicos, livros didáticos, revistas, teses
e projetos. Frente ao material pesquisado foi possível entender o real significado de lúdico,
originário do latim ludus que significa brincar, nesse brincar envolve jogos, brinquedos e
atividades de descontração, essencial na infância, pois favorece o desenvolvimento, físico,
psíquico, social, psicomotor, intelectual e de saúde. A pesquisa identificou que as atividades
lúdicas são excelentes aliadas na aprendizagem, socialização e imaginação, além de ajudarem a
lidar com os problemas cotidianos, controlarem as emoções, e proporcionar proximidade aos
colegas, docentes e sociedade em geral, tornando-os mais aptos a participarem em trabalhos de
equipe. Foi possível concluir que cabe ao professor planejar os recursos disponíveis na escola e
criar meios para estimular a participação dos alunos, deste modo é possível afirmar que a
ludicidade é essencial para o processo ensino aprendizagem de crianças da educação infantil.
Todavia, este é um processo de longo prazo que deve ser incorporado na formação permanente
dos professores.

Palavras-Chave: Lúdico; Criança; Educação Infantil.

1Pedagoga (UNINTER). Atendente na Rede Municipal de Inocência/MS..


2 Mestre em Educação (UEMS); Professor na Rede Municipal de Três Lagoas/MS.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PLAY ACTIVITIES AS A CO-ADJUVANT IN THE TEACHING-LEARNING


PROCESS
ABSTRACT: In this article, entitled playful activities as an adjunct in the teaching-learning process,
the objective was to identify the importance of play in the learning and development of children
in early childhood education. For that, we opted for non-systematic bibliographic research,
carried out from the consultation of scientific articles, textbooks, magazines, theses and projects.
In view of the researched material, it was possible to understand the real meaning of playful,
originating from the Latin ludus which means to play, in this play involves games, toys and
relaxation activities, essential in childhood, as it favors physical, psychic, social, psychomotor,
intellectual development. and health. The research identified that recreational activities are
excellent allies in learning, socialization and imagination, in addition to helping to deal with
everyday problems, controlling emotions, and providing proximity to colleagues, teachers and
society in general, making them more apt to participate. in teamwork. It was possible to conclude
that it is up to the teacher to plan the resources available in the school and create means to
stimulate the participation of the students, in this way it is possible to affirm that playfulness is
essential for the teaching-learning process of children in early childhood education. However, this
is a long-term process that must be incorporated into the continuing education of teachers.

Keywords: Playful; Kid; Child education.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO ser considerado necessidade básica da


personalidade, do corpo e da mente no
O lúdico é um tema que tem conquistado comportamento humano (BANDEIRA; SOUZA,
espaço no panorama nacional, essencialmente 2015).
na Educação Infantil, isso por utilizar brinquedo Essas técnicas no ambiente escolar devem
que é fundamental na infância e seu uso pode estar significativamente interligadas com as
proporcionar um trabalho pedagógico que finalidades pedagógicas para garantir a
auxilia na produção do conhecimento (NILES, aprendizagem, promovendo também a
SOCHA, 2014). interação entre os sujeitos participantes do
As atividades lúdicas tornaram essenciais ambiente educativo.
para o desenvolvimento da criança, pois ela é a Por meio das atividades lúdicas o processo
conexão entre o intelecto, a capacidade que ela de socialização se torna natural, seja ele com o
tem de aprender e a relação que o meio lhe meio e seu desenvolvimento social e cognitivo,
oferece. Por meio dessas atividades os tornando-se importante para a alfabetização,
docentes conseguem realizar diagnósticos, no que se diz respeito à forma como as letras,
intervenções, aprimoramentos, os sons, as sílabas e as palavras são retratadas
desenvolvimento, além de estimular suas e trabalhadas com a criança.
capacidades para adquirir conhecimentos e de Sendo assim, a criança que brinca no
maneira prazerosa (LOUCHARD; LOUCHARD, ambiente escolar aprende a criar uma relação
2015). de proximidade com o professor, à escola e o
A ludicidade pode ser uma ferramenta conhecimento, criando afinidades importantes
utilizada em todas as disciplinas escolares, por para que o ambiente envolvido seja acolhedor
meio de atividades como jogos, brincadeiras, (CHAVES; SANTOS, 2018).
contações de histórias e fantoches, por Deste modo, o lúdico possibilita o
exemplo, contribuindo assim para o processo desenvolvimento intelectual e cognitivo da
de aprendizagem da criança. criança, isso em relação a sua formação,
O divertimento auxilia as crianças a ocasionando o desenvolvimento da
vivenciarem diversas experiências que personalidade, individualidade, atenção,
propiciam a interação com o outro, permitindo afetividade, a criatividade e senso crítico,
organizar o pensamento, tomar decisões e tornando-os mais aptos para a vida adulta.
ampliar a produção de conhecimentos (MELO, A brincadeira por sua vez é essencial para o
2018). desenvolvimento da criança, o que não deve
A ludicidade se origina da palavra latina ser utilizado apenas como diversão, isso
"ludus", que significa jogo. No sânscrito uma porque o lúdico possui caráter pedagógico e
língua da Índia antiga existe uma palavra, “lîla”, contribui para o desenvolvimento das
que se caracteriza por jogo, brincadeira. Sendo potencialidades dos alunos, favorecendo o
assim, é possível observar que a ludicidade está aprendizado de maneira intermediária as
presente em todas as épocas, desde os tempos brincadeiras, além de possibilitar momentos de
mais antigos até os tempos atuais, passando a

300
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

descontração, interações, contato com o outro sites de referências da temática e sites de


e da imaginação (FANTACINI; ZANETTI, 2016). trabalhos científicos (Scielo, Google acadêmico,
A educação se torna mais eficiente quando Bireme), necessários para construção da
se insere atividades significantes e presente pesquisa.
participativas às crianças; por esse motivo o
lúdico surge como uma maneira de educar e ATIVIDADES LÚDICAS NA
aprender.
O melhor modo para induzir a criança à EDUCAÇÃO INFANTIL
atividade é à autoexpressão e à socialização, Na educação infantil a criança passa a
que será obtido por meio do método lúdico, desenvolver uma visão mais ampla do
que garante a contribuição para a educação ambiente em que vive, pois começa a ter
infantil (BANDEIRA; SOUZA, 2015). contato com outras crianças da mesma faixa
Segundo Dallabona e Mendes (2004), o etária e com adultos que não fazem parte do
lúdico é importante para uma instituição seu ambiente familiar.
escolar que objetiva o sucesso pedagógico e a Sendo assim é nessa fase que ocorre o
formação do cidadão, pois essas ações processo de desenvolvimento, envolvendo os
educativas resultam em aprendizagem nos seus aspectos emocional, intelectual, social e
aspectos social, cognitiva, relacional e pessoal. motor (MENEZES, 2019).
Além disso, elas proporcionam prazeres, que As atividades lúdicas nesse período é uma
não são encontrados em outras muito comuns alternativa que pode ser utilizada para o
em outras atividades escolares. aprendizado da criança. Elas são fundamentais,
A instituição de ensino e o professor pois esse método de ensino é uma ferramenta
precisam rever seus conceitos, dando mais para os docentes, isso porque as brincadeiras
valor e importância ao lúdico em todo o em sala de aula fazem com que as crianças
processo educativo, procurando sempre novas assimilam melhor os conhecimentos
estratégias, considerando sempre a realidade transmitidos (LIRA, 2019).
de seu aluno, respeitando sua vivência, Desta maneira, Santos (2010), afirma que a
individualidade e cultura (SQUIPANO; RAMOS, palavra lúdico vem do latim ludus que significa
2013). brincar. O brincar envolve os jogos, brinquedos
Ressaltamos que o presente trabalho tem e descontrações e estão voltadas para a
como metodologia à revisão bibliográfica, ou conduta daquele que joga, brinca e se diverte.
revisão da literatura, que é caracterizada pela Os jogos criam espaço para a aprendizagem do
busca e análise crítica, de algum assunto da indivíduo, assim como para o saber,
literatura que será analisado, discutido e conhecimento e sua compreensão de mundo.
revisado para que possa então elaborar um O lúdico possui caráter educativo, pois todos
novo trabalho científico (DIAS, 2016). os indivíduos gostam de “brincar”, assim,
Para construção do trabalho foi utilizado atividades lúcidas têm sido usadas como
como fontes de pesquisa, periódicos instrumento pedagógico, proporcionando aos
eletrônicos, impressos, artigos científicos e educadores a sua utilização para melhorar a

301
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

motivação e o processo de ensino e Desta maneira, brincando eles aprendem a


aprendizagem (RODRIGUES, 2007). lidar com as emoções, a equilibrar suas
A ludicidade é uma necessidade do ser tensões, a formar sua individualidade e
humano em qualquer idade, essencialmente na construir a sua individualidade, sua marca
infância, em que deve ser vivenciada, como pessoal e sua personalidade (BATISTA;
meio de diversão, além de ter por finalidade TRETTEL, 2016).
desenvolver as potencialidades da criança,
levando em consideração o conhecimento que BENEFÍCIOS DO LÚDICO PARA
é formado pelas relações interpessoais e pelas
trocas recíprocas que se estabelecem durante A INFÂNCIA
toda a formação integral da criança O lúdico é uma necessidade humana que
(ISCHKANIAN; MACIEL, 2017). possibilita a interação da criança com o meio
O lúdico por sua vez, é um dos modos mais em que vive, sendo ele um meio de expressão
eficazes de envolver o aluno nas atividades, e aprendizado. As atividades lúdicas
pois a brincadeira está totalmente relacionada oportunizam a incorporação de valores, o
à criança, sua maneira de realizar alguma desenvolvimento cultural, obtenção de novos
atividade, refletir e descobrir o mundo que a conhecimentos, o desenvolvimento da
cerca (DALLABONA; MENDES, 2004). sociabilidade e da criatividade. Por intermédio
Ele, no entanto é um recurso didático, dela a criança encontra o equilíbrio entre o real
fundamental para o aprendizado da criança, e o imaginário e tem a oportunidade de se
pois a ludicidade corrobora para o desenvolver de maneira prazerosa (NILES,
desenvolvimento de suas habilidades, SOCHA, 2014).
socialização, interação e afetividade, mas ela A ludicidade abrange uma aprendizagem de
deve ser desenvolvida com cuidado, pois, os modo eficaz, promovendo alegria e prazer,
estudantes não devem ter visão de que as estimulando a curiosidade e o desejo de
atividades lúdicas seja apenas uma simples descobrir o mundo que o cerca.
brincadeira, mas sim algo que acrescente para O jogo e a brincadeira asseguram que a
a obtenção da aprendizagem, por isso deve ser criança forme sua identidade em um ambiente
realizada de maneira planejada para alcançar em constantes mudanças, e diversos
resultados positivos (SILVA; SOUZA, 2013). significados. Quando uma criança está
As atividades lúdicas podem ser realizadas brincando, ela internaliza os conhecimentos e
por meio de um jogo, uma brincadeira ou experiências.
alguma atividade coletiva como, por exemplo, A brincadeira tem função psicológica
um trabalho de recorte e colagem, jogos, fundamentais no desenvolvimento humano,
teatros dramáticos, exercícios de relaxamento pois a criança simboliza o mundo e os
e respiração, movimentos significativos e acontecimentos ao brincar, sendo assim o
atividades rítmicas. Essas atividades devem ser lúdico torna-se um ato descontraído de
orientadas e se necessário fazer reajustes interrelação e descobertas, em que a criança
(ARAUJO; MORAIS, 2018).

302
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

consegue identificar seus erros e acertos desenvolvimento mental melhorando assim


(BATISTA; TRETTEL, 2016). sua conduta e sua autoestima.
A introdução de jogos e brincadeiras na Ela auxilia no desenvolvimento geral da
educação infantil tem a finalidade e a criança, nas quais todas as dimensões estão
perspectiva de desenvolver os aspectos intrinsecamente vinculadas: a inteligência, a
intelectuais, social e psicomotor, de modo que afetividade, a motricidade e a sociabilidade são
a atividade/jogo seja planejada de maneira que inseparáveis, em que a afetividade fornece a
a criança brinque, imagine, interaja com outros energia necessária para a progressão psíquica,
indivíduos, além de recriar situações moral, intelectual e motriz da criança
vivenciadas pelos adultos. (MENESES; PORANGABA; PORANGABA, 2012).
As atividades lúdicas garantem vantagens A brincadeira é uma maneira de
para o desenvolvimento físico, comunicação e por meio dela as crianças
desenvolvimento das habilidades motoras e reproduzem e recriam o seu cotidiano, seja ele
expressão corporal (NIEIRO, 2018). em um mundo de imaginação e fantasia. Ao
As brincadeiras são caracterizadas pelo fazer parte de brincadeiras lúdicas a criança
processo de aprendizagem, pois o brincar e o aprende e desenvolve sua autonomia e
jogar criam um ambiente de reflexão, criatividade, além de estabelecer uma relação
estimulando o raciocínio, o pensamento, entre jogo e a aprendizagem (BISOGNIN, 2015).
estabelecendo contatos sociais, além de Por isso é essencial que na educação infantil
auxiliar na compreensão do meio, a satisfazer essa prática seja para fins de desenvolvimento
seus desejos, desenvolver habilidades, intelectual, da autoconfiança, exploração,
conhecimentos e criatividade. curiosidade, raciocínio, emoção e
As integrações que a ludicidade proporciona psicomotricidade, de modo a ampliar os seus
favorecem a superação do egocentrismo, valores e agrupar-se de um modo saudável com
desenvolvendo a solidariedade e a empatia, e as pessoas.
introduzem, principalmente no As atividades lúdicas podem ser vista como
compartilhamento de jogos e brinquedos, um ambiente preparado para acolher a
novos sentidos para a posse e o consumo (DIAS, espontaneidade da criança em busca do seu
S/D). próprio ser, criando meios para ela ser criativa,
Squipano e Ramos (2013), ressaltam que o espontânea e sentir-se segura (NILES; SOCHA,
lúdico garante um desenvolvimento saudável e 2014).
harmonioso. De acordo com Marques (2017), por meio do
Durante a brincadeira a criança desenvolve lúdico as crianças aprendem a se relacionar
habilidades motoras, sua sensibilidade visual e com o próximo, a trocar seu ponto de vista com
auditiva, exercita sua criatividade e as outras metas possíveis, a construir
imaginação, transbordam sentimentos como conceitos, a raciocinar sobre o cotidiano, a
alegria e tristeza minimiza o nível de aprimorar as coordenações de movimentos
agressividade e passividade, aperfeiçoa sua variados.
inteligência emocional, promove seu

303
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As atividades lúdicas garantem a ampliação Menezes (2019), afirma que é por meio das
das áreas psicomotoras, perceptivas, de brincadeiras que as crianças constroem as suas
atenção, raciocínio e estimula a ligação dentre próprias identidades, adquirem seu espaço,
objetos. Ela por sua vez, deve promover a aprendem a enfrentar os seus desejos,
interação e evolução dos pequeninos, descobrem suas limitações, expressam seus
assegurando a formação da sua vida em sentimentos, melhoram sua comunicação com
sociedade. Além disso, deve promover o os outros indivíduos, aprendem a entender e
rendimento escolar, e pode contribuir para o agir no ambiente em que vive, além de
desenvolvimento da fala, do pensamento e no compreender e aprender a respeitar os limites.
sentimento (LOUCHARD; LOUCHARD, 2015; Além disso, elas aprendem a respeitarem as
BENEDET, 2011). regras, a se colocarem no lugar do outro e a
Ela abre espaço para uma diversidade de participarem de relações do seu cotidiano,
linguagens e expressões, auxiliando na passa a compreender as regras e os
criatividade, despertando o desejo de aprender comportamentos e experimenta os mais
de maneira diferente e prazerosa. Essas diversos sentimentos: dor, tristeza, alegria,
atividades influenciam a aprendizagem, perda, desejo e prazer. Para a criança,
manifestando habilidades e imaginações, além brincadeira é uma atividade completa, pois
de mostrar que a brincadeira não é apenas uma favorece as descobertas e os desafios
atividade solta e sem nenhuma necessários para o seu desenvolvimento
intencionalidade, e sim uma forma de aprender (ABREU, et al, 2014).
(SANTANA, 2019). Deste modo, elas contribuem para o
As brincadeiras e os jogos proporcionam desenvolvimento intelectual, físico, emocional
uma gama de alternativas que contribuem de e moral da criança; proporcionando interação
forma significativa na construção do social, deixando a criança em contato com
conhecimento, de forma agradável e outros indivíduos, inserindo-as em um grupo,
interessante para a criança. Propor jogos favorecendo o compartilhamento de ideias, a
novos, com ideias novas, provocando um novo troca experiências, desenvolvimento de
olhar, implementado no espaço escolar com linguagem; envolvendo emoções, afetividade,
métodos, recurso e técnicas pedagógicas companheirismo, percepção e argumentação
inovadoras com objetivo de aprender e ensinar (GOMES, 2009).
de forma prazerosa, cativante, que instigue na As atividades lúdicas proporcionam a
criança a participação e o desenvolvimento de construção do conhecimento de maneira
atitudes relacionadas ao respeito mútuo, a agradável e prazerosa, certificando que as
cooperação, a obediência, a formação de crianças tenham motivação intrínseca
regras, ao senso de responsabilidade, a necessária para uma aprendizagem de
iniciativa individual e em grupo, bem como ao qualidade, até transformá-los em adultos
próprio desenvolvimento cognitivo, motor e seguros e prudentes, com grande imaginação e
afetivo (FERNANDES, 2012, p. 21). autoconfiança, mesmo os que apresentam

304
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

alguma dificuldade na sua aprendizagem ou desenvolvimento psicomotor, ou seja, na


durante a obtenção do saber (OLIVEIRA, 2010). motricidade fina e ampla, assim como no
Melo (2010), ressalta ainda que essas desenvolvimento de habilidades do
atividades desenvolvem também as funções pensamento, sejam elas a imaginação, a
cognitivas e sociais, pois por meio delas as interpretação, a tomada de decisão, a
crianças criam o autodomínio, as atitudes, à criatividade, o levantamento de hipóteses, a
vontade, os valores e assimilação de regras, obtenção e organização de dados e a aplicação
contribuindo para sua convivência no grupo, dos fatos e dos princípios a novas situações que
evidenciando assim a sua importância para a acontecem quando jogamos, obedecemos a
educação infantil. regras e vivenciamos conflitos numa
As atividades lúdicas proporcionam as competição (ZANATA, 2017).
crianças interação social, construção de A Criança, jogo e brincadeira estão
normas para si e para o outro, criação e diretamente interligados, mas a instituição
recriação de novas brincadeira. Sendo assim, escolar muita das vezes não percebe essa
por meio do jogo e com auxílio de brinquedos a interligação e acaba privando a criança das suas
criança se forma como sujeito e organiza-se. necessidades de movimento, expressão e de
Desta maneira ao manipular os brinquedos a construção de seu conhecimento. Embora
criança cria oportunidade de construir e esteja nesse ambiente, é fundamental que a
representar tudo aquilo que ela observa, instituição tenha uma percepção desse
entendendo melhor os problemas e situações desenvolvimento (OLIVEIRA, 2010).
do mundo em que vive. Em alguns casos, a As atividades lúdicas devem ser
criança utiliza um brinquedo imaginando ser compreendidas na sua essência e trabalhadas
um objeto em que deseja ter naquele na sua totalidade com adequação do
momento. conhecimento e da cultura, sem deixar a
Os brinquedos são importantes no ludicidade, isso por favorecer novas
desenvolvimento e na educação da criança, aprendizagens (JUCHEM, 2008).
pois permitem que as crianças se divirtam e, ao
mesmo tempo, aprendam (MARQUES, 2017). IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR
Quando diz respeito aos jogos e brincadeiras
elas propiciam vários benefícios, entre eles à NA CONSTRUÇÃO DAS
saúde física, emocional e intelectual. Por ATIVIDADES LÚDICAS
intermédio deles a criança vêm a desenvolver a Ao docente é destinada a finalidade de busca
linguagem, o pensamento, a socialização, a alternativa que facilitem a obtenção do
iniciativa e a autoestima, preparando-se para conteúdo pelos estudantes, favorecendo assim
se tornar um cidadão capaz de enfrentar o processo ensino-aprendizagem. Esse
desafios e participar da melhoria do ambiente profissional deve elaborar planejar e
que vive. estabelecer metodologias, com muita
O jogo por sua vez, auxilia no processo responsabilidade e seriedade, aderindo às
ensino-aprendizagem, isso por contribuir pra o

305
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

brincadeiras ao aprender (SQUIPANO; RAMOS, Na educação infantil é fundamental que o


2013). docente compreende que o seu papel é ser o
O professor é essencial no planejamento das principal incentivador desse processo
atividades lúdicas, nas quais eles devem utilizar educativo, estando aberto a novas discussões e
maneiras mais adequadas para a sua essa abertura na prática pedagógica deve ser
elaboração. Nesse planejar deve-se considerar de modo a enriquecer o processo de ensino
a idade e as situações sociais das crianças. aprendizagem.
Para colocar em prática qualquer atividade, Sendo assim, ele deve criar na criança a
o docente deve analisar a possibilidade de necessidade de ação, tendo como finalidade a
aquisição dos materiais necessários, a situação construção da inteligência lógica colocando
da instituição e de seus alunos, pois apenas situações que desenvolva sua autonomia, para
desse modo conseguiram incentivar a criança, que consiga de forma livre e participativa
e não excluir, expor ou desmotivar (MARQUES, solucionar exercícios propostos (BANDEIRA;
2017). SOUZA, 2015).
O professor de Educação Infantil tem o papel O profissional supracitado é um dos maiores
de planejar as atividades lúdicas para as responsáveis pela renovação em suas práticas
crianças não de forma que estas façam sem escolares e, assim, na mudança da instituição
sentido, apenas como mais uma atividade, mas escolar esperada pelos pais e pela sociedade.
sim deve planejar situações de atividades O docente, por sua vez deve criar uma
lúdicas que possuam objetivos definidos no diversidade de prática educativa para que
sentido de proporcionar as crianças avanços de garantir uma melhoria na qualidade de ensino
qualidade no nível de desenvolvimento. Para e proporcionar uma melhor aquisição
tanto o professor deve estar preparado para aprendizado. Estas metodologias devem ser
desempenhar suas funções e por isso deve ser introduzidas em todas as disciplinas,
treinado e orientado (ZANATA, 2017, p. 26). essencialmente as lúdicas, uma vez que as
Deste modo, quando o docente cria esses atividades lúdicas contribuem para a
momentos de brincadeiras e aprendizagem ele aprendizagem e para progresso da
oferece ao estudante oportunidade de ter personalidade, pois quem joga segue regras, e
consciência de si mesmo, e a oportunidade de estas ajudaram na formação moral, pois as
fazer escolha do seu próprio caminho, segundo atividades lúdicas é um meio de motivação
seus valores e seu modo de ver o mundo, para o aluno, contribuindo para facilitar o
conseguindo enfrentar a situações adversas aprendizado (RODRIGUEZ, 2007).
que podem aparecer (NIEIRO, 2018).
Carmo, et al (2017), ressalta que as
brincadeiras permitem que educador atue com
o concreto ou abstrato, possibilitando diversas
maneiras e formas das crianças realizarem
alguma atividade proposta, predominando o
aprendizado significativo e divertido.

306
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades lúdicas são fundamentais para a aprendizagem no ensino infantil, pois a
brincadeira é um dos primeiros meios para a criança enfrentar seus problemas, saciar seus
desejos, a criar, imaginar, se posicionar, a ter contato com outros indivíduos, a respeitar as regras,
a si mesmo e os outros.
A ludicidade é uma ferramenta que auxiliará no processo ensino aprendizagem das
crianças, pois ela produz prazer e divertimento ao mesmo tempo em que auxilia na obtenção do
saber, uma vez que é capaz de promover benefícios, dentre eles físico, motor, psíquico, social,
afetivo, moral e intelectual.
Acreditamos que cabe ao professor criar meios para planejar e executar as atividades, de
modo a atingir todos os objetivos esperados, nas quais é essencial considerar a idade, o nível de
aprendizagem, os recursos disponíveis na instituição e condições dos estudantes. Todavia, este é
um processo de longo prazo que deve ser incorporado na formação continuada e permanente
dos professores.

307
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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311
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AUTOCONCEPTO EN ALUMNOS DE ALTO Y


BAJO RENDIMIENTO ESCOLAR FACULTAD DE
INGENIERIA UNAM
Hilda Beatriz Salmerón García1

RESUMO: Avaliar as alterações no autoconceito dos alunos da Faculdade de Engenharia que


solicitam aconselhamento psicopedagógico Foram constituídos dois grupos de controlo, alunos
regulares e sem problemas de rendimento escolar, entendendo-se como tal a média, a
regularidade na aprovação de assuntos. O outro grupo era de alunos com baixo rendimento
escolar. Não houve diferenças significativas nas 5 áreas de autoconceito, exceto iniciativa e
escolaridade do pai.

Palavras-Chave: Autoconceito; Desempenho escolar; Aconselhamento; Estudante universitário.

1Professora de.Filosofía de la Educación na Rede Sistema de Universidad Abierta y a Distancia. SUAYED Facultad
de Filosofía y Letras, UNAM.
Graduação em Educacao.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SELF-CONCEPT IN STUDENTS OF HIGH AND LOW SCHOOL


PERFORMANCE FACULTY OF ENGINEERING UNAM
ABSTRACT: Evaluate the changes in the self-concept of the students of the Faculty of Engineering
who request psycho-pedagogical advice Two control groups were made, regular students and
those without problems in school performance, understanding as such the average, the regularity
in the approval of subjects. The other group was of students with low school performance. There
were no significant differences in the 5 areas of self-concept, except for initiative and the father's
education.

Keywords: Self-concept; School performance; Counseling; University student.

RESUMEN: Evaluar los cambios en el autoconcepto de los alumnos de la Facultad de Ingeniería


que solicitan asesoría psicopedagógica Se realizaron dos grupos control, alumnos regulares y sin
problemas en el rendimiento escolar, entendiendo por tal el promedio, la regularidad en la
aprobación de materias. El otro grupo fue de alumnos con bajo rendimiento escolar. No hubo
diferencias significativas en las 5 áreas de autoconcepto, excepto en la de iniciativa y en la
escolaridad del padre.

Keywords: Autoconcepto; Rendimiento escolar; Asesoramiento; Estudiante universitario.

313
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO PROCEDIMIENTO DE
Interesa conocer si el autoconcepto se EVALUACIÓN
modifica después de la asesoría De esta forma, se captaron 10 alumnos que
psicopedagógica en grupos control y recurrieron a solicitar Asesoría durante tres
experimental, es decir, con alumnos regulares meses, y a 23 sujetos que conformaron el grupo
e irregulares en cuanto al rendimiento escolar control durante el mismo período y también
y asociar los resultados de la escala de alumnos de la Facultad de Ingeniería.
autoconcepto con variables sociodemográficas Con base en el cuestionario se recabaron los
como ser primogénitos o no, mayor número datos generales tanto del grupo control como
actividades extraescolares, la escolaridad del del grupo experimental. Las características
padre o de la madre, el número de hermanos y encontradas en ambos grupos:
si el autoconcepto en el área de iniciativa es El sexo predominante en el grupo control fue
mayor. el masculino, constituyendo el 91.3% de la
Rendimiento escolar en este trabajo se tomó muestra; siendo el 8.7% para las mujeres.El
en cuenta el promedio actual, el de la escuela sexo masculino también predominó en el grupo
de procedencia y la regularidad en las materias. experimental, donde constituyó el 60%
El instrumento empleado fue la escala de mientras que el sexo femenino el 40%. Las
autoconcepto elaborada por Jorge la Rosa diferencias en las proporciones no son
(1986). Esta escala es del tipo diferencial significativas
semántico creado por Osgwood; pero Del grupo control 21 sujetos nacieron en la
construída y validada por la Rosa para medir ciudad de México, lo que representa un 91.3%
específicamente autoconcepto en población y solo 2 sujetos (8.7%) nacieron en algún estado
mexicana. de México. El grupo experimental estuvo
La prueba contiene 72 reactivos bipolares conformado por 9 sujetos que nacieron en la
compuestos por dos adjetivos contrarios; entre ciudad de México (90%) y solamente uno nació
estos dos adjetivos, existe un continuo de siete en provincia (10%).
líneas, la línea junto al reactivo indica que esa El promedio de edad fue de 22.43 años para
característica se posee en mayor grado. El el grupo control, con una desviación estándar
espacio central indica que el individuo no se (S) de 1.67. En tanto que 23.1 años fue el
describe con ninguno de los dos adjetivos. Y las promedio de edad para el grupo experimental,
líneas, entre la central y la extrema, muestran con una S de 6.47. Las diferencias no son
la direccionalidad del adjetivo en cantidad significativas con la prueba "t", ya que la t fue
(poco o bastante). de 0.47 y la p de dos colas de .65 Veintidós
El diseño de Investigación corresponde al de sujetos del grupo control, constituyeron el
dos grupos sometidos a preprueba y 95.7% de solteros, y el 4.3% de casados. Del
postprueba, autoseleccionados a la muestra. grupo experimental 9 sujetos fueron solteros y
uno divorciado lo que constituyó el 90% y el
10% respectivamente.

314
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

En el grupo control, el promedio de Humanidades y en tercero de preparatorias de


hermanos fue de 3.04 con una S de 1.99. En el la UNAM.
grupo control, en cambio, el promedio de Los alumnos del grupo experimental
hermanos fue de 4.8 con una S de 3.33. Siendo provienen tanto de preparatorias de la UNAM
31 los grados de libertad, se obtuvo una t de como del Colegio de Ciencias y Humanidades y
1.89 y una p de .08 lo que constituye una posteriormente tanto del Colegio de
tendencia a la significancia. Bachilleres como de preparatorias particulares.
Del grupo control 7 alumnos son El promedio académico obtenido en la
primogénitos, 9 ocupan el 2o. lugar de escuela de procedencia, fue de 8.35 para el
nacimiento y 7 el 3o, representando el 30%, grupo control, con un S de .71 Para el grupo
39.1% y 30.4% respectivamente. experimental el promedio académico de la
Para el grupo experimental 5 sujetos fueron escuela de procedencia fue de 8.2 con una S de
primogénitos representando el 50%, un sujeto .79 El resultado de la prueba t fue de .53 con
ocupó el 2o. lugar de nacimiento, otro el 4o. una p=.61 por lo cual se observa que no existen
lugar y otra persona el 5o. representando cada diferencias significativas.
uno 10%; 2 sujetos ocuparon el 7o lugar, Las carreras cursadas en el grupo control por
representando el 20% orden decreciente, son las de Ingeniería
Como se puede observar, el mayor Electrónica, Ingeniería Industrial, Ingeniería
porcentaje del grupo control está representado Mecánica e Ingeniería en Computación; todas
por alumnos que ocupan el 2o. lugar de relativas a la División de Ingeniería Mecánica y
nacimiento y en el grupo experimental los Eléctrica (DIME); posteriormente las carreras
primogénitos constituyen el porcentaje más cursadas por un alumno son las de Ingeniería
elevado. Topográfica e Ingeniería Civil, pertenecientes a
El porcentaje más elevado respecto a la la División de Ingeniería Civil, Topográfica y
escolaridad del padre en el grupo control es el Geodésica (DICTyG); y las de Ingeniería
de nivel universitario y en el grupo Geológica, Geofísica y Petrolera
experimental el de primaria completa. El correspondientes a la División de Ingeniería en
mayor porcentaje en el grupo control en Ciencias de la Tierra (DICT). Para el grupo
relación con la escolaridad de la madre es el de experimental, las carreras cursadas pertenecen
nivel preparatoria y en el grupo experimental el en primer término a la DIME y posteriormente
mayor porcentaje es ocupado por el nivel a la DICTG.
secundaria. Se concluye que el nivel académico En el grupo control, el semestre mínimo
del padre es mayor que el nivel académico de cursado es el 3o y el máximo el 11o; representa
la madre para ambos grupos. Pero la el mayor porcentaje cursado el 9o semestre.
escolaridad de ambos padres es mayor en el Para el grupo experimental el límite inferior
grupo control que en el grupo experimental. está constituido por el primer semestre, el
La mayoría de los alumnos del grupo control límite superior por el 9o; ocupando el mayor
provienen de preparatorias particulares, en porcentaje los alumnos que cursan el primer
segundo término del Colegio de Ciencias y semestre.

315
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

El promedio académico obtenido en vocacional, servicio que les habían brindado en


Facultad de Ingeniería para los alumnos que la escuela de procedencia.
integran el grupo control es de 7.56 con una S La problemática planteada por los alumnos,
de .66 mientras que para el grupo experimental difiere en la mayoría de los casos por la captada
el promedio es de 4.1 con una S de 3.18; la por el asesor; los problemas detectados han
prueba t arrojó un resultado de 5.08 con una sido divididos en áreas a saber: académica,
p<.00001 lo cual muestra que existen social y económica y psicológica. Para las dos
diferencias significativas en ambos grupos. primeras áreas tomaré el estudio de Hano Roa
El promedio de materias acreditadas fue de (2004) realizado en el Centro de Servicios
29.26 para el grupo control con una desviación Educativos de la Facultad de Ingeniería. En lo
estándar de 10.53; para el grupo experimental, que concierne al área psicológica, aunque me
el promedio de materias acreditadas fue de 3.2 baso en el estudio mencionado, hago un
con una desviación estándar de 5.85. El resumen de lo que a mi juicio constituye el
resultado de la prueba t fue de 7.31 con una "diagnóstico general" de los alumnos que
p<.00001 lo cual constituye una diferencia recurrieron al servicio de asesoría durante la
bastante significativa entre ambos grupos. realización del presente estudio.
Para el grupo control fue de 2.35 con una S de Académica: deficiencia de conocimientos
1.43 mientras que para el grupo experimental antecedentes, deficiencias en su método de
el promedio fue de 1.1 con una S de .57. La estudio dadas por: predominio de la memoria
prueba t fue de 2.64 con una p<.0127 lo cual sobre el razonamiento, omisión de pasos
constituye una diferencia significativa entre importantes en sus técnicas de estudio, falta de
ambos grupos. Los alumnos del grupo control objetivos, falta de concentración,
realizan mayor número de actividades que los desorganización tanto de actividades como de
alumnos que solicitaron tratamiento. cosas, ausencia de hábitos de estudio,
Del grupo control 7 sujetos han recibido confusión respecto a la jerarquización de sus
asesoría y 16 nunca la han recibido, ello metas y objetivos, falta de información para la
conforma el 30.4% y el 69.6% respectivamente. eficaz elección de su carrera, abandono
Del 30.4% de sujetos que han recibido asesoría temporal de los estudios (de 1 semestre a 3
solo uno continúa, representando el 4.3% años).
respecto a los que antes recibieron tratamiento Social y Económica: con excepción de 2
que constituyen el 26.1%. Del grupo sujetos, todos los demás individuos eran hijos
experimental 7 alumnos nunca han recibido de familia y no necesitan trabajar por el
asesoría, lo que constituye el 70% y 3 si se han momento, presentaban incapacidad para
sometido a tratamiento, representando el 30%. relacionarse con sus compañeros, maestros,
Todos los sujetos sometidos previamente a amigos y novia/o o bien, no sabían de qué
tratamiento lo habían finalizado tiempo antes manera relacionarse ni de qué platicar,
de acudir al servicio de Facultad de Ingeniería y sintiendo que los comentarios propios no eran
se trataba, generalmente, de orientación tan importantes, la relación con su familia era
poco profunda y en muchas ocasiones, los

316
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

padres desconocían sus problemas tanto RESULTADOS Y DISCUSIONES


escolares como emocionales, culpaban, al
Se analizarán los resultados arrojados por las
principio, a todas las demás personas de su
pruebas estadísticas, (análisis de varianza, la
situación o bien, sentían que no servían para
correlación de rango de Spearman y la prueba
nada y que no tenían derecho a ser escuchados
"t" no pareada), ello permitirá aceptar o
y queridos por quienes en un principio
rechazar las hipótesis propuestas. Para obtener
culpaban.
las diferencias intergrupos e intragrupos se
Psicológicas: deficiente capacidad de utilizó el análisis de varianza y solo cuando
autocrítica, consideración negativa respecto a arrojaba una diferencia significativa, se
sí mismo, idealización exagerada de lo que es procedió al empleo de la prueba "t". El nivel de
ser Ingeniero, sentimientos de minusvalía,
significación empleado fue de .05. Se encontró,
anulación del yo, otorgando mayor crédito a
en el análisis de varianza un efecto significativo
críticas externas, conflictos entre sus del grupo en las áreas de iniciativa y emocional,
expectativas con sus gustos, habilidades y como puede apreciarse en la tabla 1.
aptitudes, sentimientos de soledad y angustia.

No se encontró, diferencia significativa preprueba y la postprueba, esto puede


alguna, contrariamente a la observación apreciarse en la tabla 2.
anterior, en el análisis de varianza entre la

A continuación, y con base en las diferencias se encontraba entre los grupos en cada una de
significativas, señaladas por el ANOVA, se las condiciones temporales. Los resultados de
procedió a la aplicación de la prueba "t" con el la prueba "t" se muestran en las tablas 3 y 4
objeto de localizar si la fuente de las diferencias

317
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Con base en las tablas 3 y 4 se observa que Así mismo, se rechaza la hipótesis 1 subrayando
existe una diferencia significativa entre los el hecho de que el autoconcepto global del
grupos en la preprueba en el área de iniciativa; alumno que recibe asesoría, no se modifica.
diferencia que se conservó en la postprueba lo Por otra parte, se correlacionaron las
cual nos permite aceptar la hipótesis 10 que variables: número de actividades, lugar de
hace mención de la diferencia en el área de nacimiento, escolaridad del padre y promedio
iniciativa de ambos grupos. Se rechaza la escolar con el autoconcepto global y/o con
hipótesis 2 que menciona la modificación del algunas de sus áreas específicas en la
autoconcepto en los alumnos del grupo preprueba. Se utilizó la correlación por rangos
control. Existió una diferencia significativa en de Spearman, ello puede apreciarse en la tabla
el área de iniciativa entre los grupos, diferencia 5.
que ya estaba dada desde el inicio de la
investigación. Dado que no hubo diferencias
significativas entre la preprueba y la
postprueba, es evidente que ni la terapia ni el
paso del tiempo (6 semanas) tienen algún
efecto sobre el autoconcepto. Por ello se
rechaza la hipótesis 3 que alude a la igualdad de
los puntajes del autoconcepto entre los grupos.

318
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Como se observa en la tabla 5, se encontró prueba arrojó una p= 0.4001, lo cual nos obliga
una correlación baja pero significativa entre el a rechazar la hipótesis 4.
número de actividades y el puntaje total en la
escala de autoconcepto por lo cual se acepta la
hipótesis 5 que señala que existe una relación
positiva entre autoconcepto y número de
actividades. Esta correlación estuvo presente
en el grupo control mientras que en el grupo
experimental no existió.
Además, se encontró una correlación
positiva entre el promedio escolar y el área
ocupacional en el grupo experimental, por lo
que se acepta la hipótesis 8 respecto a la
relación entre el promedio escolar y el
autoconcepto ocupacional. Por ser las únicas
correlaciones significativas, se rechazan las
hipótesis 6 y 7 referentes a la relación entre la
escolaridad del padre y el autoncepto
ocupacional global.
De igual forma, se rechaza que exista alguna
relación entre el número de hermanos y el
autoconcepto social, señalada en la hipótesis 9.
Por otra parte, la prueba "t" de dos colas no
indicó que existan diferencias significativas en
el autoconcepto global entre los alumnos
primogénitos y los no primogénitos pues la

319
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONCLUSIONES
Es evidente que a pesar del esfuerzo realizado por conformar a los grupos lo más
semejante posible, existieron diferencias significativas entre ellos. La escolaridad de los padres
fue superior en el grupo control, lo mismo sucedió con el número de actividades extraescolares,
con el promedio escolar obtenido en los estudios de licenciatura y con el número de materias
acreditadas en la Facultad de Ingeniería.
Estas tres últimas diferencias de alguna manera se esperaban puesto que el Centro de
Servicios Educativos (CESEFI) tiene como función ayudar al alumno con problemas académicos
por lo que resulta comprensible que fueran este tipo de alumnos lo que solicitaran asesoría.
Sin embargo, cabe resaltar que, a pesar de las desigualdades ya mencionadas no se
encontraron diferencias significativas respecto a los puntajes totales del autoconcepto tanto en
la preprueba como en la postprueba, aunque existió una tendencia a la significancia (p=0.058); a
excepción del área de iniciativa la cual favoreció a los alumnos del grupo control; tanto en la
primera como en la segunda aplicación.
Aunque los alumnos del grupo experimental se encontraban en desventaja,
académicamente hablando, con respecto al grupo control y aún cuando tenían así mismo, menos
actividades extraescolares que aquellos, mostraron puntajes similares en el autoconcepto. Esto
puede deberse al hecho de que en el grupo experimental el 50% eran primogénitos. A pesar de
que no se encontró una correlación significativa entre autoconcepto y lugar de nacimiento, la
manera en que se conformaron los grupos pudo haber causado cierta varianza de error. Cabría
preguntarse si en un muestreo aleatorio y representativo de los alumnos con características
escolares poco favorables, como las del grupo experimental, y no-primogénitos, mostraría
puntajes similares a los obtenidos en nuestro estudio por el grupo en cuestión.
Una explicación tentativa acerca de la ausencia de efectos de la asesoría sería el poco
tiempo transcurrido entre la preprueba y la postprueba. Si junto con Shavelson (2002) creemos
que el autoconcepto es una estructura ordenada, jerárquica, estable y multifacética, estamos
ante el dilema planteado por Marsh para quien desde el punto de vista de la medición resulta
conveniente que el autoconcepto sea una estructura estable y en cambio, para evaluar una
intervención terapéutica éste deberá ser modificable.
En este sentido, la crisis que el individuo tenga al confrontar sus ideales con sus logros
reales lo moviliza a revisar su autoconcepto y a solicitar ayuda, sin embargo, esto no implica que
la crisis modifique su autoconcepto. Resulta difícil suponer entonces, que la asesoría provoque
cambios sustanciales en la estructura del autoconcepto aunque quizá sí repercuta en ciertas
conductas específicas.
Sería interesante observar en un estudio de seguimiento si los alumnos sometidos a
terapia aumentan el número de actividades extraescolares una vez superado el conflicto
académico manifestado. Puesto que a medida que un área específica del autoconcepto resulta
gratificada, en términos de congruencia entre el yo pensado idealmente y el yo ejecutor, el
individuo tiende a expandir su yo a otras esferas con la confianza basada en sus logros anteriores
infunde hacia sus nuevas actividades. En palabras de Rogers, se diría que el yo se torna más
espontáneo y accesible, con menos defensividad y abierto a nuevas experiencias, toda vez que se
reducen las discrepancias entre el yo ideal y el yo.

320
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

En este sentido, resulta comprensible que existan diferencias basales en el área de


iniciativa, pues esta escala hace referencia a una característica de la personalidad aplicable al
estilo como el individuo desempeña sus actividades y ocupaciones.
Por otra parte, las puntuaciones similares en el autoconcepto, a pesar de las diferencias en
la situación escolar, pueden deberse al tamaño de la muestra la cual fue muy reducida como para
permitirnos apreciar alguna diferencia en el autoconcepto entre los grupos. Cabe resaltar que las
diferencias mencionadas entre los grupos tales como escolaridad de los padres y escuela de
procedencia indicarían un mejor nivel económico de los alumnos que conforman el grupo control.
Elexpuru Albizuri, (1992), Gimeno Sacristán, José. (1976)
Con respecto a la relación entre nivel económico y autoconcepto, no se ha encontrado una
relación ni concluyente ni satisfactoria indicativa de que el nivel económico sea una variable que
modifique sustancialmente el autoconcepto Strong y Bugental (2000).
La revisión que la persona hace de su autoconcepto sobreviene toda vez que ésta se
encuentra en un estado de incongruencia entre su yo y su campo perceptual. En esta
incongruencia o disonancia cognoscitiva pueden, efectivamente, encontrarse factores
económicos que coadyuven al mantenimiento del estado de incongruencia o a la modificación
del autoconcepto, sin embargo, no puede decirse que el factor económico, tomado de manera
aislada, sea causa de la modificación del autoconcepto así como tampoco puede sostenerse que
el nivel económico determine un autoconcepto alto o bajo ni la consiguiente adaptabilidad social
y emocional del individuo. González-Torres, M.C. (1992). Goñi Grandmontagne, Alfredo. (2008).
Por ello, el que existan índices que revelen la diferencia económica entre los grupos no
puede ni explicar ni correlacionarse con las pocas diferencias que en los puntajes de
autoconcepto hubo.

321
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BUGENTAL, F.T. Y E.C. Gunning. (2000) Investigations into self-concept: stability of
reported self-identifications. II Journal of Clinical Psychology 11(1): 41-46.

ELEXPURU Albizuri, Itziar (1992). Autoconcepto y educación: teoría, medida y práctica


pedagógica País Vasco (Spain). Dpto. de Educación, Universidades e Investigación.

GIMENO Sacristán, José. (1976). Autoconcepto, socialbilidad y rendimiento escolar.


Instituto Nal . de Ciencias de la Educación. Madrid.

GONZÁLEZ-Torres, M.C. y Tourón, J. (1992). Autoconcepto y rendimiento escolar: sus


implicaciones en la motivación y en la autorregulación del aprendizaje. Pamplona: EUNSA.

GOÑI Grandmontagne, Alfredo. (2008). El autoconcepto físico: Psicología y educación


(Psicologia). Ediciones Pirámide.

HANO-Roa, M. (2004) Fundamentos para la asesoría escolar individual en la Facultad de


Ingeniería UNAM. Tesis de licenciatura en Pedagogía. Facultad de Filosofía y Letras. UNAM.
México.

KERLINGER, N.F. (1983) Investigación del comportamiento. Técnicas y metodología.


Editorial Interamericana. México, 1983.

LA ROSA, J. (1986) Escalas de locus de control y autoconcepto: construcción y validación.


Tesis doctorado en Psicología Social. Fac. de Psicología. UNAM. México.

PEREZ-Gomez, A. (1987). Psicología Clínica. Problemas fundamentales. Editorial Trillas.


México.

ROGERS, R.C. (1984). El proceso de convertirse en persona. Ed. Paidós. México.

SHAVELSON,J.R. y R.Bolus. (2002) Self- concept: the interplay of theory and methods. En
Journal of Educational Psychology 74(1):3-17.

STRONG J. y D.D. Feder. (1961) Measurement of the self concept: a critique of the literature.
Journal of Counseling Psychology 8(2): 176-178.

322
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

BIOCOMBUSTÍVEIS NO ENSINO SUPERIOR:


UMA NOVA METODOLOGIA DE ENSINO-
APRENDIZADAGEM
José Eduardo dos Santos Félix Castanheiro1

RESUMO: Os biocombustíveis são combustíveis derivados de matérias-primas renováveis, tais


como óleo alimentar (biodiesel), cana-de açúcar, beterraba, milho e resíduos de (para a produção
de bioetanol). Este biocombustíveis podem ser incorporados nos combustíveis de origem fóssil
e/ou substituir os combustíveis tradicionais. O ensino do curso de Biocombustíveis no ensino
superior pode tende a ser muito expositivo. Um ensino que está centrado no docente. Contudo,
e devido ao desenvolvimento de novas das tecnologia informáticas, e desta forma grande
disponibilidade de informação existente, a abordagem dos conteúdos deve ser diferente. O
ensino do curso de biocombustíveis deve estar centrado no aluno. Este artigo pretende mostrar
como poderá ser realizado o processo de ensino-aprendizagem centrado no aluno, numa unidade
curricular como os bicombustíveis.

Palavras-Chave: Biocombustíveis; Aprendizagem; Metodologia de Ensino.

1Professor de Biocombustíveis na Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora, Portugal.


Graduação:Licenciatura em Engenharia Química (Universidade NOVA de Lisboa); Doutoramento em
Engenharia Química (Universidade NOVA de Lisboa).

323
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

BIOFUELS IN HIGHER EDUCATION: A NEW TEACHING-LEARNING


METHODOLOGY
ABSTRACT: Biofuels are fuels derived from renewable raw materials such as cooking oil
(biodiesel), sugar cane, sugar beet, corn and waste (for the production of bioethanol). These
biofuels can be incorporated into fossil fuels and/or replace traditional fuels. The teaching of the
Biofuels course in higher education can tend to be very expository. A teaching that is centered on
the teacher. However, and due to the development of new computer technologies, and thus the
wide availability of existing information, the approach to content must be different. This article
aims to show how the teaching-learning process centered on the student can be carried out, in a
curricular unit such as biofuels.

Keywords: Biofuels; Learning; Teaching Methodology

324
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO produzidos a partir de matérias-primas que não


competem com a cadeia alimentar, como
A biomassa é uma fonte de energia biomassa lenho-celulósica, resíduos florestais e
renovável disponível em grande quantidade agrícolas. Estes biocombustíveis são
originária da matéria orgânica como, por produzidos principalmente por transformação
exemplo, vegetação, resíduos florestais e física, termoquímica e bioquímica, após uma
agrícolas, desperdícios de madeira, óleo etapa de pré-tratamento da matéria-prima. Os
vegetal e da fração biodegradável de resíduos biocombustíveis de terceira geração são os
sólidos urbanos (BASHA, 2009). combustíveis obtidos a partir de algas. As algas
Os biocombustíveis são combustíveis de apresentam elevada eficiência na conversão de
origem não fóssil, produzidos a partir recursos energia solar em energia química. Estas têm a
naturais como os derivados de matérias capacidade de acumular lipídios, a capacidade
agrícolas (por exemplo, plantas oleaginosas), de serem desenvolvidas num ambiente
biomassa florestal, cana-de-açúcar e milho. Os controlado e a capacidade de captação do CO2,
biocombustíveis têm a vantagem de reduzir a proveniente das emissões industriais, para o
dependência energética em relação aos seu crescimento. Esta geração de
combustíveis fósseis, permitem uma redução biocombustíveis é caraterizada pela
dos gases com efeito de estufa, os quais são os competição reduzida com as culturas
principais responsáveis pelo aquecimento alimentares, com impactos ambientais
global e alterações climáticas (OSTER, 2021). reduzidos, permitindo uma contribuição
Devido ao aumento do preço do petróleo e significativa na mitigação dos gases com efeito
aos problemas ambientais, a produção de de estufa. Os biocombustíveis de quarta
biocombustíveis tem vindo a aumentar nos geração são produzidos a partir de biomassa de
últimos anos. Para atingir as metas algas geneticamente modificadas e da captura
estabelecidas pela Diretiva nº.2003/30/CE, de CO2 (SALADINI, 2016)
transposta para o regime jurídico nacional pelo A Unidade Curricular (UC) de
Decreto-lei nº 62 de 21 de março de 2006, que Biocombustíveis na Universidade de Évora é
prevê um aumento da incorporação de uma disciplina opcional do 3º ano (5º ou 6º
biocombustíveis nos combustíveis (gasóleo e semestre) da Licenciatura em Biotecnologia. A
gasolina) até 2020, a produção de UC tem 3 ECTS, correspondente a 78 h de
biocombustíveis tem aumentado durante os trabalho dos alunos, das quais 30 h de contacto
últimos anos. Os biocombustíveis são com o docente (15 h de aulas teórica e 15 h de
classificados, frequentemente, em quatro aulas práticas laboratoriais) e 48 h de trabalho
grupos: primeira, segunda, terceira e quarta autónomo, realizado individualmente ou em
geração. Os biocombustíveis de primeira grupo.
geração são produzidos a partir de matérias- A UC de Biocombustíveis é uma UC
primas usadas na produção de alimentos, como introdutória ao estudo dos biocombustíveis.
o açúcar, amido e lípidos / gorduras. Os Esta UC pretende que os alunos compreendam
biocombustíveis de segunda geração são a necessidade de utilizar biomassa e resíduos

325
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para a produção de energia, conheçam os UNIDADE CURRICULAR DE


principais processos para a produção de
energia a partir de resíduos e da biomassa, BIOCOMBUSTÍVEIS
identifiquem os biocombustíveis de primeira, Os objetivos gerias da componente teórica
segunda, terceira e quarta geração e da UC de Biocombustíveis são:
compreendam o conceito de biorrefinaria. Com - Conhecer o conceito de biocombustíveis;
esta UC pretende-se que os alunos - Reconhecer a importância de
compreendam os impactos económicos e biocombustível sustentáveis;
ambientais da produção e utilização de - Conhecer os processos de produção de
biocombustíveis. biocombustíveis: bioetanol, biodiesel, biogás e
O programa teórico da UC de produção de combustível BtL (biomass to
Biocombustíveis compreende os seguintes liquid);
temas: 1. Introdução aos biocombustíveis; 2. - Compreender o conceito de biorrefinaria.
Ciclo de vida dos biocombustíveis e Os objetivos específicos da componente
sustentabilidade; 3. Produção de biodiesel; 4. teórica da UC de Biocombustíveis são:
Produção de bioetanol; 5. Produção de biogás; - Distinguir biocombustíveis de primeira
6. Produção de combustível líquido a partir da geração, segunda geração, terceira geração e
biomassa (Biomass to Liquid); 7. Introdução ao quarta geração;
conceito de biorrefinaria. - Compreender o ciclo de vida de um
Tradicionalmente, este conteúdos são biocombustível;
tendencialmente expositivos. O docente - Avaliar da sustentabilidade do ciclo de vida
introduz os conceitos durante as aulas. Os dos biocombustíveis;
alunos, numa aula tradicional, poderão ser - Distinguir as diferentes matérias-primas
pouco interventivos. São agentes passivos. O que podem ser utilizadas para a produção de
processo ensino-aprendizagem está centrado biodiesel;
no docente (GUIMARÃES, 2009). O que se - Conhecer os processos de produção de
pretende com este trabalho é uma reflexão biodiesel;
sobre outro método de ensino. Um processo de - Distinguir os diferentes tipos de
ensino-aprendizagem centrado no aluno. Neste catalisadores utilizados na produção de
modelo de aprendizagem os agentes ativos são biodiesel;
os discentes e o docente é o agente passivo - Reconhecer as vantagens e desvantagens
(RAMOS 2002). Durante as aulas, os alunos do biodiesel;
fazem apresentações, existem debates entre os - Distinguir as diferentes matérias-primas
discentes sobre o tema dessa aula e o docente utilizadas na produção de bioetanol;
é apenas um moderador que esclarece as - Conhecer as etapas principais de produção
dúvidas que poderão sugerir durante a aula. de bioetanol;
- Conhecer os processos de produção de
bioetanol;
- Reconhecer as vantagens do bioetanol;

326
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

- Compreender a importância do biogás - Reconhecer as diferentes matérias-primas


como um biocombustível; que podem utilizadas para a produção de
- Conhecer os processos de produção de biocombustíveis;
biogás; - Compreender as vantagens e desvantagens
- Reconhecer as propriedades do biogás; das diferentes matérias-primas, quer a nível da
- Compreender a importância da produção produção quer a nível do consumo;
de biocombustíveis líquidos a partir da - Desenvolver a capacidade de planear
biomassa; estratégias de produção dos biocombustíveis;
- Conhecer o processo de produção de BtL e - Desenvolver a capacidade de planear
as suas propriedades; estratégias de redução do impacto ambiental;
- Compreender o conceito de biorrefinaria; - Compreender o conceito de biorrefinaria.
- Reconhecer como processos diferentes A UC de Biocombustíveis tem uma
podem estar interligados. componente prática laboratorial. Os objetivos
A ONU adotou uma nova agenda de da componente laboratorial da UC de
desenvolvimento sustentável. Esta agenda é Biocombustíveis são:
formada por 17 Objetivos de Desenvolvimento - Reunir informação científica;
Sustentável (ODS), para serem implementados - Planear os trabalhos laboratoriais;
por todos os países do mundo durante os - Executar os trabalhos laboratoriais com
próximos 15 anos, até 2030. A UC de rigor científico e segurança;
Biocombustíveis visa criar as bases do - Interpretar os resultados obtidos;
conhecimento que ajudem a alcançar o - Comunicar os resultados obtidos;
Objetivo 7 “Assegurar o acesso confiável, Os objetivos específicos da componente
sustentável, moderno e a preço acessível à laboratorial da UC de Biocombustíveis são:
energia para todos”, e o Objetivo 13 “Tomar - Reconhecer a importância da escolha e
medidas urgentes para combater a mudança caraterização da matéria-prima para a
climática e seus impactos” dos Objetivo de produção de biodiesel;
Sustentabilidade Ambiental. - Reconhecer a importância da etapa da
As competências que se pretendem esterificação antes da reação de
desenvolver nos alunos com a UC de transesterificação básica para a produção de
Biocombustíveis, na componente teórica, são: biodiesel a partir de óleo alimentar usado;
- Compreender os efeitos ambientais da - Conhecer as reações químicas para
produção e utilização dos biocombustíveis; sintetizar biodiesel;
- Compreender a importância de os - Reconhecer a importância da
biocombustíveis na área dos combustíveis caracterização do biocombustível produzido.
ajudar na mitigação das alterações ambientais; As competências da componente
- Compreender as diferenças, as vantagens e laboratorial da UC de Biocombustíveis são:
desvantagens dos biocombustíveis de primeira, - Realizar trabalho em equipa;
segunda, terceira e quarta geração; - Resolver problemas propostos e/ou
aplicado a uma nova situação;

327
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

- Interpretar os resultados obtidos A avaliação desta UC compreende duas


experimentalmente e relacioná-los com a componentes: a componente teórica e a
teoria; componente prática-laboratorial.
- Apresentar os resultados quer na forma A nota final é obtida pela média ponderada
escrita quer na forma oral. das componentes T e PL com a seguinte
proporção obtida pela fórmula 0,6xNT + 0,4xPL,
METODOLOGIA DE ENSINO DE sendo NT a nota da componente teórica e PL a
nota da componente prática laboratorial.
BIOCOMBUSTÍVEIS Para aprovação final da UC, os alunos têm de
A metodologia de ensino da UC de ter nota maior ou igual a 9,5 valores em cada
Biocombustíveis, estruturada de acordo com o componente.
Processo de Bolonha, tem o seguinte número
de horas de contato (NC) durante o semestre:
NC = 15 h T + 15 h PL, sendo T as aulas teóricas
CONTEÚDO DO PROGRAMA
e PL as aulas práticas-laboratoriais. TEÓRICO DE BIOCOMBUSTÍVEIS
O novo modelo de ensino-aprendizagem da Na aula nº1 (com duração de 1 h) é realizada
Unidade Curricular de Biocombustíveis está a apresentação da Unidade Curricular (UC) de
centrado no discente. Assim, em cada aula Biocombustíveis. Neste aula, o docente
Teórica os alunos apresentam trabalhos, os apresentará o programa, a planificação da UC
quais deverão ser efetuados com base em bem como o horário de atendimento aos
artigos científicos, trabalhos monográficos alunos. As datas das provas de avaliação serão
e/ou teses. Deverá existir uma interação entre marcadas. É também recomendada a
os alunos, de forma a tornar as aulas mais Bibliografia para a UC de Biocombustíveis.
dinâmicas. Durante as aulas, o docente tem Nesta aula os discentes ficam a conhecer os
apenas um papel de moderador e esclarecedor temas que serão desenvolvidos ao longo do
das dúvidas que poderão surgir durantes as curso de Biocombustíveis. Será também
apresentações. proposto um novo modelo de ensino-
A avaliação desta UC tem duas aprendizagem aos alunos. A preparação dos
componentes: a componente teórica e a trabalhos, realizados em grupo, devem incluir a
componente prática-laboratorial. Nesta UC é pesquisa dos diferentes temas com base em
proposto que a avaliação seja efetuada pela artigos científicos, monografias e/ou teses.
realização de dois testes escritos que incluem Na aula nº2 (com duração de 2h), terá os
matéria das aulas teóricas (regime de avaliação seguintes temas: Introdução aos
contínua), ou opcionalmente, pela realização biocombustíveis. Apresentação dos tipos e da
de um exame final. classificação dos biocombustíveis. Produção
A avaliação da componente prática dos biocombustíveis no Mundo. Os alunos
laboratorial (PL) será realizada pela começarão por apresentar os trabalhos,
apresentação e discussão de um relatório realizados em grupo, sobre o tema da aula.
(elaborado por 2 ou 3 alunos por grupo). Após a apresentação do trabalho, terá início

328
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

um período de discussão entre os alunos sobre terá início um debate sobre os diversos
os diferentes assunto apresentados pelos assuntos da aula. O docente terá, mais uma vez,
alunos, no âmbito da temática da aula. O um papel passivo. O ensino estará centrado no
docente durante a aula tem a função de aluno. O docente será apenas moderador e
moderar as questões colocadas pelos alunos e esclarecedor de dúvidas.
esclarecer os alunos. Na aula nº5 (com duração de 2 h), tem os
Na aula nº3 (com duração de 2h), tem os seguintes temas: Estudo da produção de
seguintes temas: Ciclo de vida dos bioetanol. Apresentação das diferentes
biocombustíveis e sustentabilidade; Avaliação matérias-primas para a produção de etanol.
da sustentabilidade do ciclo de vida dos Etapas de produção de etanol. Processos de
biocombustíveis. Apresentação dos desafios produção de etanol a partir do açúcar, a partir
para um biocombustível sustentável. do amido e a partir da celulose. Apresentação
Necessidade de “biocombustíveis verdes” e das propriedades do bioetanol e considerações
cenários efetivamente sustentáveis para os sobre as emissões do bioetanol. As aulas terão
biocombustíveis. Aspetos importantes de início com a apresentação dos trabalhos
sustentabilidade das principais formas de realizados pelos alunos. Posteriormente, terá
conversão da biomassa em biocombustível. A início uma discussão sobre os diferentes temas
aula terá início com a apresentação dos da aula.
trabalhos dos alunos. Como o novo modelo de Na aula nº6 (com duração de 2 h), tem os
ensino-aprendizagem, após a apresentação dos seguintes temas: Estudo da produção de
trabalhos, os alunos iniciarão uma discussão biogás. Indicação das matérias-primas para a
sobres os diferentes temas da aula. Mais uma produção de biogás. O processo de produção
vez, o docente terá o papel de moderador e de de biogás. As diferentes etapas envolvidas na
esclarecedor de algumas dúvidas. produção deste biocombustível. Apresentação
Na aula nº4 (com duração de 2h), tem os das propriedades e as emissões do biogás. Após
seguintes temas: Estudo da produção do a apresentação dos trabalhos pelos alunos, terá
biodiesel. Apresentação das matérias-primas início uma discussão sobre os temas da aula. De
que podem ser utilizadas para a produção do novo, o docente terá apenas um papel de
biodiesel. Reações envolvidas na produção do moderador e estará disponível para esclarecer
biodiesel. Natureza dos catalisadores que as dívidas que possam surgir durante a aula.
podem ser utilizados nos processos. Os Na aula nº7 (com duração de 2 h), tem os
processos de produção de biodiesel. O glicerol seguintes temas: Estudo da produção de
como subproduto da produção do biodiesel. combustível líquido a partir da biomassa
Apresentação das propriedades do biodiesel e (Biomass to Liquid). Apresentação das
as emissões deste biocombustível. Com o matérias-primas que podem ser utilizadas para
modelo de ensino-aprendizagem proposto a produção do combustível. O diagrama
para a UC de Biocombustíveis, os alunos processual de produção de BtL. As principais
começarão por apresentar os trabalhos etapas de produção, gaseificação, limpeza do
desenvolvidos em grupo e posteriormente, gás e síntese. Apresentação das propriedades

329
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

do BtL bem como as emissões deste esterificação. Na aula 3, corresponderá à


biocombustível. A aula terá início com a transesterificação de óleo alimentar com
apresentação dos trabalhos dos alunos, metanol. Nesta aula, será realizada um
seguido de um discussão. O docente, de acordo trabalho prático sobre a síntese de biodiesel
com o modelo proposto, terá a função de por transesterificação de óleo alimentar com
moderador na aula. As dúvidas dos alunos metanol. Após a reação, será efetuada uma
serão esclarecidas pelo docente. separação e purificação do biodiesel produzido
Na aula nº8 (com duração de 2 h), tem os para caraterização físico-química (na próxima
seguintes temas: Introdução ao conceito de aula laboratorial). Na última aula laboratorial,
biorrefinaria. O conceito de biorrefinaria. será realizada a caraterização do biodiesel
Apresentação de forma genérica uma produzido. Nesta aula, será determinada a
biorrefinaria. A integração de processos numa densidade, teor de água, índice de acidez e
biorrefinaria. Exemplos de integração de viscosidade do biodiesel produzido.
processos para a produção de combustíveis. Posteriormente, existirá uma apresentação e
Para concluir o programa teórico da unidade discussão do relatório elaborado pelos alunos.
curricular de Biocombustíveis, será introduzido
o conceito de biorrefinarias. Os alunos
realizarão a apresentação dos trabalhos,
seguir-se-á uma discussão. No final da aula,
caso existam dúvidas, o docente deverá
esclarecer os alunos.

CONTEÚDO DO PROGRAMA
PRÁTICO LABORATORIAL DE
BIOCOMBUSTÍVEIS
Nas aulas práticas laboratoriais, os alunos
irão sintetizar biodiesel, a partir de óleo
alimentar usado. Inicialmente, os alunos
começarão por realizar uma Caracterização
físico-química do óleo alimentar usado
(determinação da acidez do óleo, teor de água,
densidade e a teor em sólidos). Após esta aula,
os alunos farão a esterificação de ácidos gordos
livres presentes no óleo alimentar usado. Os
alunos realização um trabalho prático sobre a
esterificação dos ácidos gordos livres presentes
no óleo alimentar usado com metanol. Será
determinada a acidez do óleo, após a reação de

330
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, as aulas das unidades de curriculares de Biocombustíveis são
tendencialmente aulas expositivas (centradas no docente). No sentido de tornar as aulas mais
interessantes para os alunos, foi proposto um novo modelo de ensino-aprendizagem centradas
nos alunos. O modelo proposto tem como objetivo uma maior participação dos alunos nas aulas.
No início de cada aula, os alunos farão uma apresentação do tema da aula. Após a apresentação,
será realizada uma discussão/debate entre os discentes. O docente será apenas moderador e
esclarecerá as dúvidas dos alunos. O ensino está centrado no aluno. Desta forma, as aulas serão
menos expositivas com maior participação dos alunos no processo ensino aprendizagem,
permitem aos alunos uma maior intercessão com entre eles e com o docente.
A participação dos alunos neste modelo de ensino-aprendizagem permitirá uma mudança
de atitude dos alunos na sala de aula. No entanto, é de salientar que este modelo proposto
poderá ser difícil de implementar numa unidade curricular com um número de alunos inscritos
elevado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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332
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CASCA DA ABÓBORA COMO POTENCIAL PARA


VALORIZAÇÃO DE RESÍDUO AGROINDUSTRIAL
Andressa Ramos Lima1
Sergiane de Jesus Rocha Mendonça2
RESUMO: O aproveitamento de resíduos agroindustriais provenientes de partes de hortaliças
como cascas, sementes, talos e folhas podem contribuir para redução de impactos ambientais,
além de serem ricos em nutrientes. O presente trabalho tem como proposta fazer um estudo
prospectivo sobre a utilização da casca da abóbora (Curcubita moschata) indexados entre os anos
2012 à 2022 avaliando o aproveitamento mundial deste resíduo agroindustrial. No estudo
prospectivo científico foram utilizadas as bases Web of Science, Scopus e SciELO com descritores
“Pumpkin peel”, “Pumpkin reuse”, “Pumpkin waste” e “Curcubita moschata” onde registrou-se
ao todo 554 artigos. As publicações e citações referente ao descritor “Pumpkin peel” nas bases
Scopus e Web of Science, foram 179 e 145 artigos, respectivamente. Quanto aos países que mais
publicaram com o descritor “Pumpkin peel” viu-se que o Brasil é o país com maior número de
publicações indexadas nestas bases. Os maiores picos de publicações, usando o termo “Pumpkin
waste”, foram nos anos 2019 e 2021. Ao verificar as principais áreas no qual os artigos foram
indexados utilizando o descritor “pumpkin peel”, “pumpkin reuse”, “pumpkin waste” e
“Curcubita Moschata”, observou-se maior participação de estudos na área das Ciências
Ambientais ou Agrárias com 39% dos registros. Conclui-se que apesar do considerável número de
artigos ainda há muito a ser feito, principalmente pesquisas com o aproveitamento de partes de
hortaliças como a casca, que possui grande potencial para produção de bioprodutos.

Palavras-Chave: Resíduos sólidos; Curcubita moschata; Jerimum.

1Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).


2Docente do Departamento de Química da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Doutora em Biodiversidade e Biotecnologia

333
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PUMPKIN PEEL AS POTENTIAL FOR AGRICULTURAL WASTE


VALUATION
ABSTRACT: The use of agroindustrial waste from vegetable parts like peeling, seed, stalk and
leaves can help the reduction of environmental impacts, while also being rich in nutrients. The
present work wishes to prospectively study the use of pumpkin peel (Curcubita moschata) from
2012 to 2022, evaluating the worldwide exploitation of this agroindustrial waste. In a prospective
scientific study it was used the databases Web of Science, Scopus and SciELO with descriptors
“Pumpkin peel”, “Pumpkin reuse”, “Pumpkin waste” and “Curcubita moschata” where it was
registred 555 articles altogether. The papers and citations related to the descriptor “Pumpkin
peel” in the databases Scopus and Web of Science, were of 179 and 145 articles, respectively. As
of the countries that published the most articles with the descriptor “Pumpkin peel” it was
noticed that Brazil was the country with the biggest number of papers related to this subject. The
biggest peaks of publications, using the term “Pumpkin waste”, were in the years 2019 and 2021.
While checking the main areas where the articles were indexed using the descriptor “pumpkin
peel”, “pumpkin reuse”, “pumpkin waste” and “Curcubita Moschata”, it was observed bigger
participation in research in the areas of Enviromental or Agrarian Sciences with 39% of the
records. In conclusion, despite the considerable number of articles there’s still much to be done,
mainly research with the use of vegetable parts like the peel, that has great potential for the
production of bioproducts.

Keywords: Solid waste; Curcubita moschata; pumpkin.

334
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Carvalho, et al (2021), em seu trabalho relata


que no Brasil são desperdiçados 26 milhões de
No Brasil os termos “abóbora”, “moranga” e toneladas de resíduos sólidos, dentre esses
“jerimum” tem sido usados para caracterizar desperdícios estão os resíduos resultantes do
espécies do gênero Curcubita, entretanto como processamento de hortaliças, que podem
há uma grande variação de nomes populares, causar sérios problemas ambientais se não
de acordo com a região do país, é sugerido o forem tratados, além de representarem perdas
uso do termo ‘abóboras’ para designar significativas de nutrientes.
coletivamente as cinco espécies domesticadas A abóbora tem grande valor econômico e
de Cucurbita (PRIORI, et al. 2018). alimentar, e o cultivo de cucurbitáceas no
O consumo de alimento minimamente Brasil, em especial das abóboras, tem grande
processados tem crescido e a abóbora, possui importância social na geração de empregos
grande aceitação por ser um alimento básico e diretos e indiretos, pois demanda grande
abundante, pois é muito consumido, inclusive quantidade de mão-de-obra, desde o cultivo
pelas famílias agricultoras (autoconsumo) e até à comercialização, ressaltando-se que o
urbanas, além de possuir uma composição Brasil consumiu cerca 1,19 kg de abóbora, logo
química composta por fibras, baixa calorias, maior consumo no Nordeste com 1,24 kg
fonte de vitaminas A, ferro (MANOS, et al. (RESENDE; BORGES; GONÇALVES, 2013), e em
2017). torno de 35% da produção brasileira agrícola é
O que é extraído da abóbora são desperdiçada (FIOROTO, et al., 2019).
processados para produzir sucos, doces, polpas A utilização econômica de resíduos de frutas
e extratos, entretanto, por volta de 25 % de seu oriundos do mercado in natura ou das
peso é composto por casca e sementes, agroindústrias, aliada ao desenvolvimento de
subprodutos utilizados para a alimentação tecnologias para diminuir as perdas nos
animal, como fertilizantes orgânicos ou processos produtivos, podem contribuir de
descartados (SINOSAKI, et al. 2017). As folhas forma significativa para a economia do país e
também podem ser aproveitadas, pois o seu para a diminuição dos impactos ambientais
extrato aquoso tem alta atividade antioxidante, (PIRES, et al., 2010).
sendo utilizadas tradicionalmente por algumas Portanto, utilizar o alimento em sua
populações africanas (PROVESI, 2010). totalidade significa mais do que economia,
Um dos maiores problemas da atualidade significa usar os recursos disponíveis que são
está relacionado à destinação dos resíduos oferecidos sem desperdício, reciclar, respeitar
sólidos, que são gerados no seu dia a dia. Essa a natureza e alimentar-se bem, com prazer e
questão torna-se ainda mais complexa quando dignidade (STORCK, et al., 2013).
se trata de resíduos sólidos advindas de Diante do crescimento populacional e do
atividades agroindustriais, pois estes setores desperdício de grandes toneladas de alimento
geram um expressivo volume de resíduos e orgânicos, alimentos como frutos da abóbora,
subprodutos (GASPAR, 2019). que é de fácil manuseio, encontrada em feiras
livres, supermercados, partes como casca e

335
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

semente possui alto valor nutricional, Estudos sobre aproveitamento de


mostrando a necessidade de agregar valor a resíduos/subprodutos de partes não
esses resíduos agroindustriais, além de convencionais das hortaliças apresentam
contribuir para redução da taxa de lixo resultados relevantes quanto à redução do
orgânico. desperdício de alimentos e o desenvolvimento
Portanto o objetivo deste trabalho é fazer de novas tecnologias, além de proporcionar
um estudo prospectivo sobre a utilização da economia nos gastos com alimentação,
casca da abóbora (Curcubita moschata) diversificar nutrientes e agregar valor
indexados entre os anos 2012 a 2022 utilizando nutricional às preparações (DAMIANI;
banco de dados da Web of Science, Scopus e MARTINS; BECKER, 2020).
SciELO a fim de fazer um levantamento de Segundo Pinheiro & Szczerepa (2018), o
informações sobre o tema proposto avaliando Brasil está entre os dez países que mais
o panorama mundial a respeito do desperdiçam alimentos no mundo, alimentos
aproveitamento deste resíduo agroindustrial. estes que poderiam acabar com a fome de
milhares de brasileiros, o autor ainda relata,
AGROINDÚSTRIA que o desperdício se encontra enraizado à
cultura do povo brasileiro, o que contribui para
A agroindústria é o conjunto de atividades
a redução dos recursos nutricionais oferecidos
pertinentes à transformação de matérias-
à população, o que se agrava ainda mais
primas da agricultura, pecuária, aquicultura ou
quando relacionado a população mais carente.
silvicultura e o grau de transformação da
Diversos estudos mostram que o ato de
matéria varia de acordo com objetivos dos
aproveitamento de resíduos gerados durante o
empreendimentos agroindustriais (VAZ, 2020).
beneficiamento de frutos e vegetais para
O Brasil é um dos principais produtores
obtenção de produtos com maior valor
agrícolas do mundo, com destaque para
agregado, é desconhecido por grande parte da
produção de frutas, onde ocupa o 3° lugar no
população, pois não tem informação sobre seus
ranking mundial, sendo a cadeia produtiva de
benefícios, como a importância integral dos
frutas a responsável por produzir milhões de
alimentos ou se tem informações, não as
toneladas de alimentos, além de gerar grande
colocam em prática (OLIVEIRA, et al, 2020).
quantidade de empregos e renda,
demonstrando assim sua importância
nutricional, social e econômica para o país ABÓBORA E SEUS
(SILVA, 2019). SUBPRODUTOS
No nordeste brasileiro, a agroindústria As espécies da família Cucurbita são
continua sendo uma atividade econômica, conhecidos como abóbora, abóbora-crioula,
dinâmica e estratégica para o desenvolvimento abóbora-de-pescoço, abóbora-gigante,
sustentável do interior dos estados abóbora-de-vaca, abóbora-menina e moranga,
nordestinos, principalmente na área hortaliças entre outros, sendo que esses nomes
e frutas (SANTOS; CARNEIRO, 2008). dependem da região em que está sendo

336
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cultivada e não são associados ao tipo de fruto farmacêutica e em cosméticos, valorizando


(JOVCHELEVICH, 2011). ainda mais esse resíduo.
A abóbora é originária da América Central e De maneira geral, as cascas são constituídas
foi um dos primeiros vegetais produzidos pelos basicamente por carboidratos, pectina e fibra
Incas e Maias, chegando ao Brasil no século XIX bruta, o que possibilita o seu aproveitamento
e no Nordeste, também conhecida como para fabricação de doces, podendo-se tornar
abóbora de leite ou jerimum (Ramos et al., uma alternativa viável de aproveitar e de
2010). No censo de 2006 foi produzido 384.912 resolver o problema da eliminação dos
toneladas de abóbora, (Morais; Almeida; resíduos, além de seu uso comercial (LIMA, et
Galvão, 2015), mas atualmente, no último al., 2018).
censo agropecuário realizado em 2017, a Vários estudos, realizados em cascas de
produção de abóbora no Brasil foi de 417.839 frutas e vegetais, mostraram a presença de
toneladas, no Maranhão foram produzidos constituintes importantes, que podem ser
13.311toneladas e em Caxias-MA 204 utilizados para fins farmacológicos ou
toneladas (IBGE, 2017). farmacêuticos. Os pesquisadores extraíram
O cultivo da abóbora é predominante na inúmeros componentes com atividades
região do Nordeste brasileiro, entre elas estão antimicrobianas, antioxidantes e anti-
abóbora (Cucurbita moschata), a moranga inflamatórias de diferentes cascas. Essa
(Cucurbita máxima) e abobrinha (Cucurbita oportunidade oferece opção para solucionar os
pepo) (Vale et al., 2019). As abóboras do problemas nas áreas de aplicação de
gênero Cucurbita (Cucurbita moschata e C. antibióticos de maneira econômica e ecológica,
maxima) são amplamente cultivadas no Brasil, reduzindo a poluição causada pelo descarte
com destaque para os estados de São Paulo, desses resíduos agrícolas (DAMIANI; MARTINS;
Bahia, Minas Gerais, Maranhão, Pernambuco e BECKER, 2020).
Rio Grande do Sul (PEREIRA, et al., 2017).
Chouaibi, et al (2020), relata em seu trabalho METODOLOGIA
que a casca da abóbora é um subproduto, que
A pesquisa é de natureza descritiva e
tem destaque na indústria, pois são uma fonte
exploratória, tendo em vista fazer um
de amido ainda não utilizada para produção de
levantamento da utilização da casca da
bioetanol e este estudo não foi relatado por
abóbora (Curcubita moschata), utilizando
nenhum trabalho de pesquisa até o
alguns norteadores como “Pumpkin peel”,
momento, mostrando que esse bioproduto
“Pumpkin reuse”, “Pumpkin waste”, “curcubita
apresenta grande potencial para o
moschata” presentes no título, resumo ou em
aproveitamento de resíduos agroindustriais,
palavras chaves.
que seriam descartados, além de ajudar a
Trata-se de uma pesquisa tanto quantitativa
proteger o meio ambiente no contexto do
como qualitativa, pois abrange a quantificação
desenvolvimento sustentável. O autor ainda
da coleta de dados relacionados às análises dos
relata que as fibras encontradas na casca da
artigos científicos assim como caracteriza-se
abóbora podem ser usadas na indústria
por uma pesquisa bibliográfica elaborada a

337
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

partir de material publicado nos últimos 10 RESULTADOS E DISCUSSÃO


anos, utilizando bancos de dados
Utilizando as bases Web of Science, Scopus e
internacionais e nacionais como Web of
SciELO, com os termos “pumpkin peel”,
Science, Scopus e SciELO a fim de fazer um
“pumpkin reuse”, “pumpkin waste” e
levantamento de informações sobre o tema
“Curcubita Moschata” registrou-se 554 artigos
proposto.
indexados (Tabela 1).

De acordo com os resultados encontrados, consequentemente, muita atenção tem sido


pode-se perceber que o termo “Pumpkin dada à utilização de subprodutos vegetais, em
waste” foi bastante representativo nas bases sua maioria, não utilizados pela indústria de
internacionais Scopus (178) e Web of Science alimentos convencionais nem pela população,
(145), o segundo termo mais encontrado nas por outro lado a utilização desses subprodutos
bases foi “Pumpkin peel” com 91 artigos na agrega valor econômico à produção, além de
base Web of Science e 89 artigos na base contribuir para a formulação de novos
Scopus. Os termos “Pumpkin waste” e produtos alimentícios e minimizam o
“Pumpkin peel” são encontrados com desperdício (SILVA, et al., 2011).
frequência nos resumos e palavras-chaves dos O Brasil possui o maior número de
artigos e “Pumpkin reuse” foi o termo publicações indexadas nas bases da Web of
encontrado em menores quantidades. Science, Scopus e SciELO com o descritor
Durante os últimos anos, a demanda por (Pumpkin peel), seguido da China, Índia e
novos alimentos nutricionalmente saudáveis e Turquia, conforme apresentado no Gráfico 1.
economicamente viáveis aumentou e

338
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Yoshida (2011), em seu trabalho relata que o Marchi; Gonçalves (2020), a preocupação com
Brasil está crescendo em volume de os resíduos orgânicos e principalmente de
publicações ao longo do tempo, e pode-se dizer hortaliças como a abóbora vem ganhando
que isso seria fruto do esforço e formação de importância ao longo das últimas décadas,
mestrandos e doutorandos pelas Universidades visto que as atuais demandas ambientais,
Brasileiras. sociais e econômicas alcançaram uma
O Gráfico 2 mostra que nos anos de 2019 e complexidade, exigindo uma nova postura e a
2021 houve uma grande quantidade de indústria vê que é economicamente viável
publicações de artigos relacionados aos alimentos de fontes alternativas de vegetais
resíduos da abóbora (Pumpkin waste) com o intuito de fornecer produtos mais
utilizando a base de dados Scopus. Segundo saudáveis e ricos em fibras.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Barbiere; Canheo (2021), acredita dos Alimentos (AIA) tem sido pensado de forma
hipoteticamente que o aumento de especial. O AIA tem como princípio básico a
publicações no ano 2021 deve-se ao fato de diversidade da alimentação, atendendo de
que a pandemia de Covid-19 tenha aumentado forma eficaz as necessidades nutricionais dos
o pico de submissões, momento em que boa indivíduos com o uso de partes não
parte dos acadêmicos começou a trabalhar em convencionais dos alimentos em preparações
modalidade home office. As submissões se culinárias.
mantiveram altas pelos primeiros meses do A disponibilidade de informações, a
isolamento social e que no ano de 2020 não mudança de cultura, o motivo pelo qual são
houve chamadas especiais por isso a baixa gerados as perdas associadas e o destino destes
publicações. alimentos considerados não comestíveis e que
Quanto à quantidade de publicações e são removidos da cadeia de fornecimento de
citações referente ao descritor “Pumpkin peel” alimentos é escassa em muitos países, cidades,
percebeu-se que o ano de 2019 e 2021 houve empresas e outras entidades. Isso implica no
um aumento de publicações sobre os estudos desenvolvimento de medidas, que evitem o
da casca de abóbora, tal resultado pode estar desperdício, bem como a identificação do
atrelado ao fato, que a hortaliça em si tem surgimento de métodos mais eficazes de
grande importância econômica, pois durante aproveitamento, ou seja, gerenciar algo não
seu processamento é grande a quantidade de mensurado se torna uma adversidade
resíduos gerado da abóbora na forma de (SANTOS, et al., 2020).
sementes e cascas. Ao verificar as principais áreas no qual os
Peixoto & Pinto (2016), destacam, que o artigos foram indexados utilizando o descritor
aumento dos cuidados com o manejo com as “pumpkin peel”, “pumpkin reuse”, “pumpkin
hortaliças, o aproveitamento nas indústrias das waste” e “Curcubita Moschata” (Gráfico 3),
partes como casca, reduz o desperdício de observa-se maior participação de estudos
alimentos em países industrializados. Neste ligados à área de Ciências Ambientais ou
âmbito, instrumentos legais que reduzam as Agrárias com uma porcentagem de 39% dos
brechas mercadológicas, que levem em registros.
consideração o planejamento entre criação de Vargas (2014), afirma que o aumento de
produtos e utilização, ou produzam a cultura de publicações em Ciências Ambientais ou
consumo consciente, mesmo de partes não Agrárias se deve a grande concentração de
comestíveis teriam influência direta em recursos para a investigação na área, pois o
resultados benéficos. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
Silveira, et al., (2021), em seu trabalho relata inova em pesquisas principalmente no setor
que atualmente o uso de recursos naturais e agrícola para investigação e melhoramento.
consumo consciente tem despertado o
interesse da sociedade, e isso tem exigido
comportamentos e formas de pensar
diferentes, com isso o Aproveitamento Integral

340
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A divulgação completa dos alimentos é uma Levantamentos feitos na base Scopus sobre
alternativa capaz de propiciar às pessoas um os avanços tecnológicos com uso da casca de
melhor consumo nutricional, melhoria da abóbora no ano de 2021 mostrou aplicações da
economia relacionada aos alimentos e a casca para a produção de biocarvão em estudos
relação ecológica entre o homem e o meio realizados por Bal; Ozer; Imamoglu (2021). Em
ambiente em que vive, uma vez que o pesquisa realizadas por Sharma; Bhat (2021)
aproveitamento tem como consequência a com o uso da polpa e casca de duas variedades
redução do lixo (SAMPAIO; FERST; OLIVEIRA, de abóboras (Cucurbita máxima), foram
2017). verificados efeitos da extração verde de
Por meio da inovação, que é apresentada carotenóides, polifenóis e atividades
nos resultados de pesquisa voltadas para o antioxidantes.
gerenciamento alimentício, muitos dos Estudos com a abóbora (Curcubita pepo L.)
alimentos, que tinham partes descartadas de mostraram a presença de ácidos fenólicos,
formas indevidas, causando danos a diferentes flavonóides e carotenóides em extratos polares
níveis tróficos, gerou ao meio ambiente um e não polares, que são úteis na indústria como
aliado em sua conservação. De acordo com potencial suplemento alimentar ou matéria-
Araújo et al. (2015) e Laurindo; Ribeiro (2014), prima para preparações cosméticas e
os resíduos provenientes do descarte farmacêuticas (CVETKOVIC, et al, 2021).
inadequado de alimentos no meio ambiente, Lima, et al (2021), extraiu um corante da
podem, por meio da infiltração do chorume no casca da abóbora (Curcubita moschata), um pó
solo provocar proliferação de microrganismos e com alto teor de carotenóides e com potencial
contaminação do lençol freático, além de para ser aplicado como corante natural nas
também representar prejuízo financeiros. indústrias alimentícia, farmacêutica e
cosmética.

341
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados discutidos, é notório que há um número considerável de
publicações sobre ''a casca da abóbora'', porém ainda há poucos trabalhos publicados e
indexados, demonstrando que existe muito estudos e descobertas a serem feitas. Os trabalhos
voltados para as cascas da abóbora dentro do intervalo de busca nas bases de dados científicos
demonstraram, que houve aumento nos últimos anos mostrando ser relevante o estudo sobre o
aproveitamento de partes não convencionais de hortaliças.
O Brasil demonstrou grande índice de publicações quando realizada a busca sobre os
resíduos da abóbora, mostrando ser favorável com as mudanças ambientais em que o país tanto
busca.
Com os levantamentos feitos na base Scopus, viu-se a importância da casca da abóbora e
quanto está se tornando vantajosa sua aplicação na indústria, principalmente para a produção de
bioetanol, biocarvão e suas importantes aplicações na indústria alimentícia, farmacêutica e
cosmética.

342
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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346
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CODEMON: ENSINO DOS FUNDAMENTOS DE


PROGRAMAÇÃO COM RPG
André Filipe Spíndola1
Marcello Thiry2
Anita Maria da Rocha Fernandes3
Christiane Heemann4

RESUMO: Este artigo apresenta um jogo estilo Role Playing Game (RPG) como estratégia
pedagógica no processo de ensino de Fundamentos de Programação para alunos iniciantes do
Curso de Ciência da Computação. São apresentadas as estratégias utilizadas para o
desenvolvimento do jogo, bem como os dados coletados a respeito das diferentes percepções e
avaliações dos alunos que jogaram o jogo com uma unidade instrucional por meio do modelo
MEEGA+. A maioria dos alunos que participaram da avaliação do jogo considerou positivamente
o método utilizado e deram feedback para melhorias futuras.

Palavras-Chave: Ensino de Programação; Jogos Educacionais; RPG.

1 Acadêmico de Ciência da Computação na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI – Campus Kobrasol.


2 Professor de Engenharia de Software na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI – Campus Kobrasol.
Graduação em Ciência da Computação.
3 Professora de Inteligência Artificial na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI – Campus Kobrasol.

Graduação em Ciência da Computação.


4 Professora de Linguística Aplicada e Estudos Semânticos na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Graduação: Licenciatura em Letras.

347
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CODEMON: TEACHING THE FUNDAMENTALS OF PROGRAMMING


WITH RPG
ABSTRACT: This article presents a Role Playing Game (RPG) style game as a pedagogical strategy
in the process of teaching Fundamentals of Programming for beginning students of the Computer
Science Course. The strategies used for the development of the game are presented, as well as
the data collected regarding the different perceptions and evaluations of the students who played
the game with an instructional unit through the MEEGA+ model. Most of the students who
participated in the evaluation of the game positively considered the method used and gave
feedback for future improvements.

Keywords: Teaching Programming; Educational Games; RPG.

348
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO seja, novos conhecimentos são adquiridos por


meio do conhecimento já obtido pelo aluno
A maioria dos alunos ingressantes na
(MOREIRA, 2012), o uso de um jogo de RPG é
universidade tem como base de ensino do
um método educacional relevante. Isto se dá
conhecimento, o método baseado em leitura e
pelo fato do mesmo ser um gênero de jogo que
escrita, que é um meio eficiente para lembrar
possui como características relevantes, o
de fatos e conceitos de baixo nível de
planejamento, o estudo e a prática. O
memorização. Porém, para conceitos mais
mecanismo de jogo do gênero RPG é a
complexos que necessitam um alto nível de
interpretação de um papel dentro de um
motivação e concentração, tem demonstrado
ambiente controlado, possibilitando assim, o
resultados ineficientes como a capacidade de
desenvolvimento da imaginação, criatividade,
associação dos conteúdos e o ganho de
cooperação em grupo e superação de
habilidade profissional (RANDI & CARVALHO,
obstáculos (LUNA, 2020).
2013).
A evolução da informática nos últimos anos,
Alunos de cursos de Ciência da Computação
tem mostrado a necessidade de profissionais
enfrentam grandes problemas referentes a
qualificados, saindo do papel de consumidores
motivação, pouca participação, individualismo,
de tecnologia, para produtores. Diante deste
pouco compromisso com as atividades
fato, no Reino Unido, o ensino de programação
propostas pelos professores, baixa taxa de
na educaçaão básica é obrigatório, por ser uma
aprovação, devido ao sistema tradicional de
forma de diminuir os índices de desistência nos
ensino, o qual é considerado pelos alunos como
cursos superiores, despertar interesse dos
complexo e desmotivador, principalmente pelo
alunos pela área de computação e aumentar o
fato de que a atual geração de alunos passa
potencial de aprendizagem das demais
mais tempo jogando do que as gerações
disciplinas, por meio da lógica de programação
anteriores (SHABALINA, et al, 2017).
(LEITE, 2016).
O número de crianças atingidas pelo excesso
Neste sentido, espera-se que o uso de um
de peso corporal está aumentando em todo o
jogo RPG possa contribuir para a melhoria no
planeta (MEDEIROS, SILVA & ARANHA, 2013).
aprendizado dos conceitos de programação,
Embora, a prevalência de sobrepeso em países
pois permite a simulação de cenários fictícios
de alta renda seja mais que o dobro do que em
que ampliam a criatividade. Além disso, o fato
países de média e baixa renda, três quartos do
de jogos serem ferramentas de entretenimento
total global de crianças com excesso de peso
tornam o aprendizado mais divertido, sendo
vive em países economicamente mais pobres
assim um forte fator motivacional (MOREIRA,
(MEDEIROS, SILVA & ARANHA, 2013).
2012; LUNA, 2020; MEDEIROS, SILVA &
Levando em consideração a teoria de
ARANHA, 2013).
aprendizagem significativa, que é um processo
Este trabalho apresenta um jogo educacional
por meio do qual uma nova informação
para apoiar, de forma lúdica, os fudamentos da
relaciona-se de maneira substantiva (não
programação, para estudantes iniciantes no
literal) e não arbitrária a um aspecto relevante
curso de Ciência da Computação, bem como
da estrutura de conhecimento do indivíduo, ou

349
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para alunos do ensino médio, motivando e 1.2 ADDIE


aprimorando a habilidade lógica
ADDIE é um modelo de design instrucional,
computacional. O jogo contém aspectos de
que auxilia instrutores e especialistas a planejar
RPG para facilitar e agilizar a progressão do
e desenvolver material que visem a
jogador, devido a familiaridade com o gênero
aprendizagem. É utilizado para criar qualquer
do jogo.
tipo de instrução de ensino, ou seja, um
processo genérico de ensino, empregado para
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA identificar as necessidades dos público-alvo,
Para a aprendizagem é imprescindível o projetar a solução e avaliar os resultados
desenvolvimento de algumas capacidades: (i) (BATISTELLA, 2016).
cognitiva – que se refere a como a informação A maioria dos modelos de design
é armazenada e organizada na mente do ser instrucional atuais são variações do modelo
que aprende; (ii) afetiva – que se refere a quais ADDIE, que utilizam um processo comporto por
são os sinais emotivos apresentados pelos cinco fases: análise, projeto, desenvolvimento,
indivíduos no processo de aprendizagem, como execução e avaliação; representado em um
prazer ou dor, motivação ou tédio, satisfação guia dinâmico e flexível, no qual cada fase tem
ou descontentamento, e (iii) psicomotora, que um produto que se encaixa na fase
se refere a quais são as habilidades musculares subsequente (BATISTELLA, 2016; SAVI, 2011;
adquiridas por meio de treino e prática BRANCH, 2009).
(MOREIRA, 1999; PRITCHARD, 2018). Para a categorização das possíveis lacunas de
Com isso, o papel do professor no processo desempenho dos alunos, com o objetivo
de aprendizagem seria criar meios que disciplinar da unidade instrucional na fase de
facilitem o desenvolvimento de experiências, análise do ADDIE, a Taxonomia de Bloom foi
despertando a curiosidade e a motivação de desenvolvida (ARMSTRONG, 2016).
cada aluno em um ambiente confortável e livre A Taxonomia de Bloom categoriza os
de conflitos em grupo, permitindo que cada um objetivos de ensino no desenvolvimento
possa expressar livremente o que deseja fazer, cognitivo, afetivo e psicomotor do aluno.
mas para isso, é necessário que o professor Consiste em seis categorias a serem
ofereça um conjunto de possibilidades quanto completadas, sendo uma, a base para outra
aos recursos didáticos (MOREIRA, 1999; (ARMSTRONG, 2016).
SOUZA, LOPES & SILVA, 2013).
Dentros deste contexto, algumas definições 1.3 MEEGA+
de fazem necessárias para compreender o
MEEGA+ é uma evolução do modelo MEEGA
desenvolvimento deste trabalho. À seguir as
(Model for the Evaluation of Educational
mesmas serão apresentadas.
Games), que avalia jogos educativos em termos
de motivação, experiência do usuário, e
aprendizaagem, na percepção da qualidade,
por meio do ponto de vista dos alunos de

350
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cursos da área de Computação no ensino desempenho do jogador no contexto do jogo


superior (BATISTELLA, 2016). (TAUCEI, 2019; GARRIS, AHLERS & DRISKELL,
MEEGA+ é composto por fatores de 2002).
qualidade, sendo medidas as dimensões com ENgAGED (Educational Games
os itens de um questionário como o formato de Development) consiste em um processo de
escala de Likert de 5 pontos, com alternativas desenvolvimento para estratégias de ensino,
de resposta que variam de “discordo com base em jogos educacionais com aplicação
totalmente” a “concordo totalmente”, além de em cursos da área de Computação no Ensino
permitir que o indivíduo use uma resposta Superior, voltado principalmente para
neutra, tornando mais confortável para professores e aluno que necessitam realizar o
expressar sua opinião (BATISTELLA, 2016; SAVI, desenvolvimento de um jogo educacional,
2011; BRANCH, 2009). porém, não possuem conhecimento de design
instrucional ou suporte essecial para sua
1.4 METODOLGIA DE implementação (BISHOP et al, 2015).

DESENVOLVIMENTO DE JOGOS
Para a execução deste trabalho, foi realizada
2 TRABALHOS CORRELATOS
uma análise de metodologias que pudessem Para este trabalho, os autores se basearam
ser aplicadas no desenvolvimento de jogos em dois games: Code Hunt e Silent Teacher.
educacionais. O objetivo desa análise foi para Ambos jogos educacionais para o ensino dos
conduzir um processo organizado, evitar o fundamentos da programação. À seguir, ambos
retrabalho, agilizar a produção e os jogos serão apresentados.
principalmente orientar no desenvolvimento Com isso, o papel do professor no processo
de um ambiente de ensino efetivo. Os modelos de aprendizagem seria criar meios que
escolhidos após a análise foram o Input Process facilitem o desenvolvimento de experiências,
Out Come e o ENgAGED. despertando a curiosidade e a motivação de
Input Process Out Come consiste na cada aluno em um ambiente confortável e livre
aplicação do conteúdo instrucional, de conflitos em grupo, permitindo que cada um
juntamente com as características do jogo possa expressar livremente o que deseja fazer,
mas para isso, é necessário que o professor
(fantasia, regras, objetivos, desafios, mistério e
ofereça um conjunto de possibilidades quanto
controle), acionando assim, o ciclo do jogo,
aos recursos didáticos (SOUZA, LOPES & SILVA,
levando ao usuário criar certos julgamentos
sobre o game, como por exemplo, se é 2013; MOREIRA, 1999).
divertido, interessante ou envolvente (GARRIS,
AHLERS & DRISKELL, 2002). Esses julgamentos 2.1 CODE HUNT
levam a determinados comportamentos, como Code Hunt foi desenvolvido pela equipe da
persistência ou tempo na tarefa. Microsoft Research (BISHOP, et al, 2015), e
Consequentemente, esses comportamentos consiste em encontrar um conjunto de
resultam em um feedback do sistema sobre o entradas e valores esperados, sendo

351
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

responsabilidade do jogador desenvolver um solucionar na primeira interação do jogador,


algoritmo, que, conforme o valor de entrada, que, conforme a sua progressão no jogo é
retorne o valor esperado como resposta. aumentada a complexidade do problema,
Compilando o algoritmo, é possível analisar as simulando uma situação que o jogador está,
respostas geradas, classificando como correta por conta própria, para resolução do enigma,
ou incorreta, além de mostrar qual era o valor sem ninguém para explicar nada, porque o
esperado. professor é silencioso.
A mecânica do jogo Code Hunt refere-se a
quebra-cabeças, que necessitam de um banco 3 O JOGO DESENVOLVIDO
extenso de desafios, além de atualizações
Para auxiliar no ensino dos fundamentos da
periódicas. Dependendo da aplicação e
programação, foi desenvolvido o jogo
duração de um evento, a elaboração de 6 a 24
CODEMON, cujo objetivo é introduzir de forma
problemas, já é considerada satisfatória. O
lúdica, os conceitos iniciais de programação,
armazenamento dos quebra-cabeças consiste
para estudantes iniciantes em cursos de Ciência
na anotação das seguintes informações: (i) ID;
da Computação, bem como para alunos do
(ii) categoria do problema; (iii) descrição do
ensino médio, motivando e aprimorando a
problema; (iv) design inicial do algoritmo; e (v)
habilidade lógica computacional. O jogo
dificuldade do quebra-cabeça.
contém aspectos de RPG para facilitar e agilizar
Para um nivelamento e progressão das
a progressão do jogador, devido a familiaridade
habilidades de programação, o jogo está
dos jovens com este tipo de gênero de jogo.
dividido em seção e subseções. As seções estão
O jogo foi desenvolvido na linguagem de
classificadas em treinamento, operações
programação própria do motor gráfico Godot,
aritméticas, laços de repetição, condicionais,
a CDScript, possibilitando a criação de um
etc. Cada seção consiste em subseções que
mundo gráfico topdown 2D estilo pixel art. Por
classificam a dificuldade da seção atual.
meio dessa ferramenta, foi desenvolvido um
ambiente que o usuário poderá interagir com
2.2 SILENT TEACHER os fundamentos de programação, enquanto se
Silent Teacher é um projeto mantido pela movimenta normalmente com seu
empresa francesa Toxicode (TOXIDO, 2020), personagem em um mundo aberto, repleto de
com foco em soluções para web e jogos monstros de código a serem resolvidos.
didáticos minimalistas. O principal objetivo do Como desafio, os jogadores deverão
Silent Teacher é introduzir os conceitos conhecer os conceitos básicos sobre variáveis e
utilizados em programação, focando em uma seus tipos, portas lógicas, compreensão do uso
visão geral do que é um algoritmo, operadores de operadores aritméticos e lógicos, bem como
aritméticos e lógicos, variáveis, tipos de alguns comandos de controle existentes em
variáveis, funções e condicionais. programação, tais como for, if-else, while. E
A mecânica do jogo Silent Teacher é não como último desafio, tem-se a compreensão do
apresentar nenhuma instrução, nenhum texto, algoritmo de ordenação bubble sort.
mas uma simples operação aritmética para

352
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O jogo conta a história de Jimmy, um calouro 3.1 INTERFACE DO JOGO


na Academia de Códigos, que tem o desejo de
Para maior feedback e facilidade de
capturar todos os codemons conhecidos. Em
localização, os objetos de interação ficarão
sua primeira aula, Jimmy chega atrasado,
visíveis ao jogador, na maior parte do tempo,
estando somente na sala, ele e o Dr.
sendo ocultado somente em cenários de
Compilador, que compreende o atraso de
desafios ou nos tutoriais do jogo.
Jummy e explica como está a atual situação do
O personagem fica posicionado no centro da
Mundo dos Códigos, e conta que o bubble, o
tela, sendo possível a movimentação do
codemon capaz de manter a ordem no mundo,
mesmo, somente por meio da utilização do
foi atacado por algum vírus que afetou o seu
teclado, em um mundo aberto. Na Figura 2 é
algoritmo, causando a desordem entre os
possível visualizar a interface principal do jogo.
codemons. Com isso, Dr. Compilador está
mandando a campo todos os seus acadêmicos
para desafiar os codemons e trazer a ordem
novamente no mundo, porém, como Jimmy é
calouro, Dr. Compilador dará maior atenção a
sua aventura, orientando e explicando cada
codemon.
Após a aplicação da unidade instrucional dos
fundamentos de programação, espera-se que Figura 2. Interface do Jogo.
os alunos adquiram competência nos níveis
cognitivos de conhecimento, compreensão e
aplicação de acordo com a Taxonomia de 3.2 OS DESAFIOS DO JOGO
Bloom. A Figura 1 apresenta o objetivo de Como primeiro desafio, o jogador terá que
ensino que o jogo desenvolvido propõe atingir. responder as perguntas dos codemons do tipo
variável na Floresta das Variáveis para
possibilitar a sua captura. As perguntas
consistem na possibilidade de 3 respostas,
ficando a critério do jogador saber qual delas é
a correta, caso a resposta escolhida seja
incorreta, o jogo fornecerá um feedback ao
jogador.
Para variabilidade e aumento do desafio,
cada codemon do tipo variável terá 3 perguntas
distintas, e a sequência das alternativas serão
fornecidas de forma aleatória.
O segundo desafio que o jogador terá que
Figura 1. Nível de aprendizado com base na Taxonomia realizar é compreender os algoritmos
de Bloom. fornecidos pelos codemons dos tipos

353
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

operadores aritméticos, operadores lógicos e se a sequência foi realizada corretamente. A


comandos de controle, sendo dividido em 3 Figura 4 ilustra a interface do desafio final.
níveis de dificuldade.
O desafio consiste em utilizar corretamente
os codemons e seus valores para resultar o
valor correto da função fornecida, podendo
utilizar variáveis que representam os
triângulos, operadores aritméticos que
representam os quadrados e operadores
lógicos que representam os hexágonos,
conforme mostra a Figura 3. Figura 4. Interface do desafio final

O desafio das portas lógicas não gera


nenhuma punição caso o usuário erre. Consiste
no modelo de tentativa e erro em acertar os
valores da entrada para que transmita 1 como
saída para carregar a bateria do notebook, com
isso toda vez que o jogador conseguir acertar
os valores de entrada é recuperado 10% de sua
energia, sendo possível continuar carregando a
Figura 3. Interface do desafio de análise de algoritmo.
barra de energia ou retornar para interface do
jogo.
Como último desafio, o jogador interage com
Para facilitar o processo de geração dos
os swaps do algoritmo bolha, sendo dividido
desafios de perguntas e respostas assim como
em duas etapas com a seguinte sequência, a
o de análise de algoritmo, foram desenvolvidas
ordenação de variáveis do tipo int e a
estruturas no formato JSON (JavaScript Object
ordenação de variáveis do tipo string. O desafio
Notation), agilizando o processo de população
consiste em apresentar para o jogador 5
dos desafios. No modelo de análise de
codemons dentro de bolhas com seus valores
algoritmo foi criada uma lista de objetos
descritos, tendo como objetivo ordenar de
conforme a Figura 5.
forma crescente os valores apresentados.
No último swap de cada iteração a bolha que
prendia o último codemon é estourada, com
isso o jogador não poderá realizar o swap
novamente com o aquele valor. No total serão
4 iterações de swaps, na última iteração todos
os codemons estarão com as bolhas estouradas
Figura 5. Estrutura no formato JSON
e será apresentado um feedback para o jogador

4 AVALIAÇÃO DO JOGO

354
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A eficácia do jogo foi avaliada como não mais três perguntas, sendo uma obrigatória
experimental com pós-teste com três tipos de para avaliar qual experiência do usuário com a
grupo de usuários baseado na experiência dos programação e outras duas opcionais, se
mesmos com programação: nenhuma, menos encontrou algum erro durante a sua
de um ano e mais de um ano. Na qual, os dados participação e para alguma sugestão de
são coletados apenas uma vez após a aplicação melhoria.
do jogo educacional por meio do questionário
respondido sobre suas percepções sobre o 4.1 RESULTADOS
jogo. Foi adotado o modelo MEEGA+ que
Ao todo não se sabe quantos alunos
decompõe os fatores de qualidade em métricas
realmente tiveram a experiência com o jogo,
com as questões do modelo de avaliação
porém foram no total de 22 participantes e
(BATISTELLA, 2016; SAVI, 2011; BRANCH,
convidados que preencheram os questionários
2009).
sobre sua experiência ao participar do jogo. Os
A execução da avalição ocorreu de forma
participantes foram categorizados em três
eletrônica por meio da ferramenta Google
grupos conforme a sua experiência com a
Forms. Foram disponibilizadas instruções para
programação, sendo 11 com mais de um ano de
avaliação, via e-mail para turmas da disciplina
experiência, 7 com menos de um ano de
de Algoritmos I e II do curso de Ciência da
experiência e 4 com nenhuma experiência.
Computação da UNIVALI, e via mensagens por
Para a análise dos dados foram gerados
celular para demais alunos e interessados na
gráficos representando a frequência das
área da Computação para participar como
respostas considerando a amplitude dos
voluntários.
valores de concordo totalmente; concordo; não
Todos questionários foram coletados de
concordo e nem discordo; discordo; e discordo
forma anônima e limitados para uma resposta
totalmente. Nos gráficos são apresentados
por usuário. Além das questão conforme o
também os valores da mediana para cada item.
modelo de avaliação, foram acrescentadas
Em termos de usabilidade, os resultados
podem ser verificados na Figura 6.

355
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O gráfico exibido apresenta valores positivos educacional, sendo que a boa parte está
em todas as dimensões avaliadas acerca da situada nos valores de concordância. O fator
usabilidade do jogo educacional, sendo que a destaque de concordância foi “É claro para mim
maiorias das partes estão situadas nos valores como o conteúdo do jogo está relacionado com
de forte concordância. Os fatores de maiores a disciplina” e os fatores com menor
concordâncias foram “As cores utilizadas no concordância são “Eu prefiro aprender com
jogo são compreensíveis” e “O design do jogo é este jogo do que de outra forma (outro método
atraente (interface, gráficos, tabuleiros, cartas, de ensino)”, “O jogo não se torna monótono
etc.)”. Já o fator com menos concordância foi nas suas tarefas (repetitivo ou com tarefas
“Eu precisei aprender poucas coisas para poder chatas)” e “Este jogo é adequadamente
começar a jogar o jogo”. desafiador para mim.”. Sendo assim, permite
A Figura 7 permite verificar os resultados perceber que a dimensão que mais necessita de
positivos em todas as dimensões avaliadas melhorias, seriam os artefatos relacionados
acerca da experiência do usuário com o jogo com os Desafios.

356
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível cumprir integralmente o desenvolvimento do jogo educacional para
plataforma PC, superando a expectativa dos possíveis sistemas operacionais aptos para executar
o jogo educacional, tendo a possibilidade de aplicar a unidade instrucional em sistemas Windows,
Linux e MacOS.
A avaliação do jogo pelos alunos apresentou resultados positivos na maioria das
dimensões, validando os objetivos específicos de desenvolvimento de um enredo, conteúdo
didático e design do jogo. Essas estatísticas confirmam que o jogo cumpre seu propósito
educacional e contribui para melhorar os conhecimentos dos alunos. Porém na aplicação do jogo
para o público-alvo não foi possível cumprir integralmente, porque nem todos os participantes
possuem a característica do público alvo planejado.
Como trabalho futuros, é sugerido o levantamento dos feedbacks gerados pelos
participantes na avaliação, como por exemplo, o desenvolvimento de um botão de saída do jogo
e ajustes dos erros encontrados. Por meio dos resultados obtidos, é possível verificar a
necessidade de maiores variações nos desafios. Também é sugerido o desenvolvimento do jogo
para plataforma Web, com isso, não necessitando a instalação na máquina do usuário para
executar o jogo, diminuindo a barreira da configuração da máquina. Outro aspecto de
implementação, seria a respeito com a interação social, possibilitar que vários jogadores se
conectem ao mesmo mundo para a troca de conhecimento.

357
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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359
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CRIANÇA AUTISTA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


DESAFIOS E POSSIBILIDADES NO ENSINO E
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Elma Pereira Sousa1

RESUMO: O objetivo deste artigo é refletir sobre a criança autista na educação infantil - desafios
e possibilidades no Ensino e Aprendizagem na Educação Inclusiva. A inclusão como um processo
atualmente em voga nas instituições de ensino encontra inúmeras dificuldades para efetivar-se e
acaba tendo realidades diferenciadas dentro de cada instituição. Nesse sentido, surgiu o interesse
por esse tema de pesquisa, diante de observação de que é cada vez mais comum encontrar
pessoas laudadas com o autismo, porém, muitas pessoas ainda não conhecem suas
características, necessidades e questões relacionadas ao processo de educação escolar dessas
crianças. Pretende-se assim contextualizar o autismo, as principais características desses
indivíduos, as particularidades em torno do processo de inclusão. A pesquisa parte de uma revisão
bibliográfica para ter uma visão geral do objeto de estudo, para conhecer seus grandes desafios
como uma proposta pedagógica adequada, a participação da família e uma formação de

1 Professora do Ensino Fundamental.


Graduação em História pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Porto Nacional - TO (2004); Graduada em
Pedagogia pela Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS) - Palmas - TO (2019); Pós-Graduação em Gestão
Educacional e Metodologia do Ensino de Ciências Humanas - História e Geografia (EDUCON) - Palmas - TO (2006);
Pós-Graduação em Gestão Escolar pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Palmas (2008); Pós-Graduação
em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar pela Universidade de Brasília (UNB) – Brasília - DF
(2015); Acadêmica do Curso do Programa de Mestrado em Educação pelo Instituto de Ensino Superior Vanguarda
(IESVA) - Araguaína - TO (2020-2022).

360
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

professores, e as possibilidades de intervenções necessárias para contribuir no processo de


inclusão educacional e social dessas crianças.

Palavras-Chave: Autismo; Criança; Processo de Inclusão; Desafios e Possibilidades; Ensino e


Aprendizagem.

AUTISTIC CHILD IN EARLY CHILD EDUCATION:


CHALLENGES AND POSSIBILITIES IN TEACHING AND LEARNING IN
INCLUSIVE EDUCATION
ABSTRACT: The purpose of this article is to reflect on the autistic child in early childhood
education - challenges and possibilities in Teaching and Learning in Inclusive Education. Inclusion
as a process currently in vogue in educational institutions finds numerous difficulties to become
effective and ends up having different realities within each institution. In this sense, the interest
in this research topic arose, in view of the observation that it is increasingly common to find
people with autism, however, many people still do not know their characteristics, needs and
issues related to the school education process of these children. . Thus, it is intended to
contextualize autism, the main characteristics of these individuals, the particularities surrounding
the inclusion process. The research starts from a bibliographic review to have an overview of the
object of study, to know its great challenges such as an adequate pedagogical proposal, family
participation and teacher training, and the possibilities of interventions necessary to contribute
to the inclusion process. educational and social life of these children.

Keywords: Autism; Kid; Inclusion Process; Challenges and Possibilities; Teaching and learning.

361
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO AUTISMO E SUAS


O termo inclusão, na maioria dos casos ainda CONCEPÇÕES: ALGUNS
é utilizado para referir-se ao atendimento ASPECTOS
protestado a crianças com deficiência dentro O termo autismo tem uma longa história que
do contexto dos sistemas regulares de remonta cerca de um século, foi usado pela
educação”. E assim, utiliza-se esse termo primeira vez pelo psiquiatra suíço Eugen
quando se refere a crianças com necessidades Bleuler em 1911, no entanto, a definição clínica
educacionais especializadas e que, em geral, da síndrome de autismo não apareceu até
origina-se de algum tipo de deficiência ou 1943.
distúrbio que esses alunos possam ter. O Brasil Nesta data, Leo Kanner, um psiquiatra
tem aderido a essa proposta, buscando infantil de nacionalidade norte-americana,
qualificar seus profissionais, adaptar espaços, publicou um artigo no qual descreveu os traços
porém, é ainda um processo lento e em que mostravam 11 de seus pacientes, todos
construção. eles crianças, e que coincidiam entre si de
As inúmeras pesquisas já realizadas sobre o maneira surpreendente. Este artigo apareceu
autismo evidenciam diferentes formas de com o título “Alterações autistas de contato
caracterizar esse transtorno e ainda hoje, há afetivo” em uma revista agora extinta Nervous
vários pesquisadores e cientistas, de diferentes Child. O Dr. Kanner referiu-se a essas crianças
áreas buscando compreender as com essa descrição:
especificidades de um indivíduo com autismo e Desde 1938, tem nos chamado a atenção
o que pode auxiliar a vencer as várias várias crianças cujas características diferem de
dificuldades que ele enfrenta em seu cotidiano. forma notável e única de todos os que se
Diante dessa compreensão acerca do conheciam até agora, e cada caso merece, e
autismo, a pesquisa visa discutir os desafios e espero que você receba com tempo,
possibilidades do processo de inclusão da consideração detalhada de suas peculiaridades
criança autista em seu processo de ensino e fascinantes. (KANNER, 1943, apud, CUNHA, et
aprendizagem na Educação Infantil. al, 2015, p. 14).
Apresentando algumas dificuldades que Mais tarde, Kanner teve a oportunidade de
prejudicam o desenvolvimento dessas crianças observar mais crianças com características
no seio da escola e consequentemente em sua semelhantes e usou o termo “autismo infantil”
vida social. E também a importância da praticas para descrever tal condição. Do ponto de vista
pedagógicas como possibilidades concretas e etimológico, a palavra “autismo” se origina do
de contributo para que a inclusão educacional termo grego “autos” relativos a “eu mesmo”,
e social possa ser uma realidade. ou seja, o autismo consistiria em uma condição
na qual o indivíduo é totalmente autocentrado
em si mesmo e em seu mundo (SILVA; 2016).
No final do século XIX, o psiquiatra Henry
Maudsley (1835-1918), levantou a

362
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possibilidade de que a “psicose” pudesse embora Lorna Wing tenha publicado em 1981
ocorrer em crianças. Essa palavra não tem um suas coincidências com o trabalho de Hans
significado preciso, mas tende a ser usada Asperger. Até a década de 1960, não surgiram
como um rótulo geral para um comportamento novas ideias sobre a natureza dos distúrbios
extravagante e bizarro. Os distúrbios que agora autistas. Pesquisas sobre o desenvolvimento
são considerados dentro do espectro autístico normal da infância, bem como o trabalho sobre
se encaixam nessa descrição, então eles foram o autismo de Kanner, especialmente as de
classificados como “psicoses infantis”. Michael Rutter e seus colegas, levaram a
Nas primeiras décadas do século XX, as mudanças essenciais.
teorias dos psicanalistas influenciaram muito as Este trabalho mostrou que o
atitudes dos profissionais e da sociedade em comportamento de crianças com autismo fazia
geral. Desde que Kanner publicou seu primeiro sentido se visto como devido a desordens de
artigo sobre “autismo infantil”, muitos alguns aspectos do desenvolvimento que
acreditavam que a síndrome era uma começaram no nascimento ou nos primeiros
desordem emocional, não física, e que todos os anos da infância (CUNHA, 2012).
problemas se deviam ao modo de como os pais Diante disso, o crescente conhecimento de
educavam seus filhos. O efeito foi desastroso, como o cérebro funciona e as coisas que
agravando a preocupação dos pais em ter um podem dar errado deixou claro que as causas
filho cujo comportamento eles não conseguiam são físicas e não têm nada a ver com os
entender, fazendo-os sentirem-se culpados e métodos dos pais em criar seus filhos. Agora há
minando a confiança que podiam ter em sua poucas pessoas que culpam os pais, mas entre
capacidade de ajudar (GÓMEZ; TERÁN, 2014). certos profissionais e alguns profanos há
Em 1944, Hans Asperger, na Áustria, resquícios das velhas ideias, que produzem
publicou seu primeiro artigo, “Psicopatia muita infelicidade para os pais que tropeçam
Autista”, sobre um grupo de crianças e nessas atitudes.
adolescentes com outro padrão de Alguns psiquiatras infantis consideravam
comportamento hoje conhecido como que os distúrbios autistas eram formas de
síndrome de Asperger. Asperger acreditava que esquizofrenia infantil. No entanto, uma série de
sua síndrome era diferente do autismo de estudos realizados por Israel Kolvin e seus
Kanner, embora ele admitisse que ambas colegas na década de 1970 mostrou as
tinham muitas semelhanças. Ele publicou em diferenças entre o autismo e a muito rara
alemão no final da Primeira Guerra Mundial, e desordem da esquizofrenia infantil.
demorou muito até que os artigos sobre o Nas décadas de 1970 e 1980, começou-se a
assunto aparecessem na língua inglesa. Até dez considerar seriamente a ideia de que o autismo
ou quinze anos atrás, seu trabalho não era de Kanner foi parte de um espectro mais amplo
conhecido fora da Europa. de autismo e dos distúrbios encorajados,
A curta história da síndrome de Asperger é alguns estudos sobre o autismo foram
tão recente que sua obra original foi realizados, incluindo os de Camberwell
recentemente traduzida por Uta Frith em 1991, mencionado acima e os de Christopher Gillberg

363
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e colegas na Suécia. As implicações desse ponto Inclusiva aposta na escola como comunidade
de vista na pesquisa e na prática clínica ainda educativa, defende um ambiente de
estão sendo exploradas (CUNHA, 2012). aprendizagem diferenciado e de qualidade
Na perspectiva conceitual Gaudere (1997), para todos os alunos. É uma escola que
considera que: reconhece as diferenças, trabalha com elas
Autismo, portanto, é um nome dado a um para o desenvolvimento e dá-lhe um sentido,
padrão de comportamento produzido de forma uma dignidade e uma funcionalidade (p. 10).
complexa, como um resultado final de uma Nesta visão esclarecedora, a Educação
longa sequência de causas. É uma síndrome, ou Inclusiva é definida como uma ruptura diante
seja, um conjunto de sintomas, que agrupados, da educação tradicional, que é reprodutivista,
recebem a denominação de autismo (ORNITIZ mecânica e aleatória da realidade, já a
apud GAUDERER, 1997, p. 55). educação inclusiva insere e respeita as culturas
Pode-se inferir que esta síndrome não diversas, a individualidade de cada um, e
responde a uma única etiologia, por isso é levando em conta suas possibilidades e
muito provável que se tenha que falar, em um capacidades, contribuindo com o seu
futuro não muito distante, de autismos em vez desenvolvimento integral.
de autismo. Se faz necessário em relação a criança
autista a necessidade de uma educação
PROCESSO DE INCLUSÃO DA inclusiva que contribua em seu processo de
aprendizagem e a sua inserção social. Mas
CRIANÇA AUTISTA: depara-se com desafios ou dificuldades que
DESAFIOS E POSSIBILIDADES prejudicam a criança desde seu ingresso na
escola até o seu processo de aprendizagem.
NO ENSINO E APRENDIZAGEM Um dos desafios é desenvolver uma pedagogia
NA EDUCAÇÃO INFANTIL centrada na criança autista, como esclarece o
Antes mesmo de refletir sobre os desafios e Referencial Curricular Nacional para a
possibilidades da inclusão da criança autistas Educação Infantil:
na Educação Infantil, é fundamental O principal desafio da Escola Inclusiva é
compreender o que é a educação inclusiva em desenvolver uma Pedagogia centrada na
seu contexto geral. criança, capaz de educar a todas, sem
Para Rodrigues (2000, p. 10): discriminação, respeitando suas diferenças;
A Educação Inclusiva é comumente uma escola que de conta da diversidade das
apresentada como uma evolução da escola crianças e ofereça respostas, adequadas as
integrativa. Na verdade, ela não é uma suas características e necessidades, solicitando
evolução, mas uma ruptura, um corte, com os apoio de instituições e especialistas quando
valores da educação tradicional. A Educação isso se fizer necessário. (BRASIL, 1998, p. 36).
Inclusiva assume-se como respeitadora das Trazendo essa reflexão para a inclusão da
culturas, das capacidades e das possibilidades criança autista pode-se considerar que a uma
de evolução de todos os alunos. A Educação necessidade uma pedagogia própria ou

364
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

centrada na criança autista, compreendendo Se o autismo diferencia o aluno dos demais,


seu processo de desenvolvimento diante de a instituição de ensino precisa qualificar sues
suas características peculiares, que na maioria profissionais para atendê-los, ou pelo menos
das vezes os professores têm dificuldades em ofertar a presença do professor de apoio que
sua pratica pedagógica. Por exemplo, as possa acompanha-lo, auxiliando diante das
crianças que tem diagnóstico de autismo atividades a serem desenvolvidas e auxiliando-
severo que não socializa com ou outros alunos o a interagir mais com os espaços, pessoas,
e onde Figueiredo e Costa (2018, p. 16), vencendo suas limitações, conseguindo
ratificam que: aprender e tendo melhores resultados dentro
Percebemos que os alunos com diagnóstico do processo de ensino-aprendizagem.
de autismo severo não socializam os outros
alunos. Duas professoras educação especial PROCEDIMENTOS
ajudam os dois alunos em suas atividades e na
condução deles para sala de aula comum. Os METODOLÓGICOS
alunos apresentam dificuldade de ficar em sala A proposta ou procedimento metodológico
de aula, ficam no máximo 15 minutos, são se restringiu a uma abordagem bibliográfica em
inquietos e atrapalham os demais alunos. consulta de matérias publicados e refletidos,
Essa dificuldade de socialização do aluno facilitando assim, a compreensão do objeto de
autista severo acaba impedindo que ele estudo que é a criança autista na educação
participe de um maior número de atividades e infantil - desafios e possibilidades no Ensino e
isto não ocorre porque o professor não quer, Aprendizagem na Educação Inclusiva.
mas porque as características e dificuldades do Cervo (2011, p.61), apresenta a pesquisa
aluno o impedem de socializar-se com os bibliográfica como um meio de formação por
demais alunos. excelência e procedimento básico para os
Ainda Figueiredo e Costa (2018, p. 4), estudos monográficos, destinado a busca do
continuam a refletir: domínio do “estado da arte” sobre
O autismo é uma condição que reflete determinado tema. Acrescenta que:
alterações no neuro desenvolvimento de uma [...] constitui pesquisa propriamente dita na
pessoa, determinando quadros muito distintos, área das ciências humanas. Como resumo de
mas que tem em comum um grande prejuízo na assunto, constitui o primeiro passo de qualquer
sociabilidade. Esse prejuízo, em grande pesquisa científica. Os alunos de todos os níveis
medida, reflete no aprendizado e acadêmicos devem, portanto, ser iniciados nos
desenvolvimento do estudante no que diz métodos e nas técnicas da pesquisa
respeito à apropriação do currículo. Nesse bibliográfica.
sentido, é preciso que haja, por parte da
escola/professores, uma adequada DISCUSSÃO DOS DADOS
organização do trabalho pedagógico voltada às
necessidades de cada estudante, assegurando
BIBLIOGRÁFICOS
O fato de que o aluno com autismo tem
o acesso de todos ao currículo/conhecimento.
dificuldade de interagir com outras pessoas é

365
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

algo que afeta o processo de inclusão, porém, importantes que auxiliam o trabalho do
Simonetti (2010), lembra que, mesmo vivendo professor; utilizar atividades lúdicas como
em um mundo isolado, muitos autistas acabam brincadeiras, assim como programas de
conseguindo estabelecer uma boa relação e televisão, dentre outras atividades que o
contato com os professores, o que acaba autista gosta; estimular o aluno a aprender a ler
diminuindo as dificuldades no trabalho a ser e escrever por meio de temáticas e formas
desenvolvido. O autor lembra, porém, que, textuais presentes no seu cotidiano; antecipar
“adentrar a esse universo exige que o professor os conteúdos ministrados, de forma que a
seja flexível e tenha disposição para promover família tenha maior facilidade para auxiliar o
e participar das atividades e brincadeiras” autista em casa; manter proximidade física com
(SIMONETTI, 2010, p.90). o aluno, sempre auxiliando-o a direcionar sua
Quando se fala em dificuldades no processo atenção.
de qualificação docente remete-se ao fato de Outro desafio no processo de inclusão da
que a maioria dos professores não teve criança autista é participação da família o
nenhum tipo de contato com a temática do ambiente escolar do filho autista. Nisso,
“autismo” durante sua formação e por isto não Oliveira (2015), é um dos vários autores que
tem nenhuma qualificação para trabalhar com discutem a importância do papel da família no
esses alunos. Assim Sousa (2015), cita que processo de inclusão escolar do aluno autista.
muitos professores sentem-se despreparados De acordo com o autor a família é um núcleo
para lidar com esses alunos, pois não comum em praticamente todas as sociedades e
compreendem nem a proposta da inclusão, onde o indivíduo desenvolve suas primeiras
nem as particularidades que apresentam. formas de socialização, sendo uma mediadora
Sousa (2015), afirma que as dificuldades da de padrões, modelos e influências culturais. Por
inclusão latentes, porém, é possível amenizá- isto, é considerada a primeira instituição social
las, mas para isto é necessários investimentos, da qual o indivíduo faz parte e que une-se a
qualificação profissional e que o aluno receba a outras instituições para que o bem-estar de
devida atenção dentro das instituições de seus membros possa ser assegurada, por isto,
ensino, onde “a apropriação de um projeto ela é responsável por transmitir valores, ideias,
político pedagógico que vise garantir um crenças e significados diferenciados que estão
atendimento respeitando as particularidades presentes na sociedade.
de cada aluno de modo que lhes traga um De acordo com Oliveira (2000, apud,
desenvolvimento positivo e um ensino de POLÔNIA e DESSEN,2007, p.26):
qualidade” (SOUSA, 2015, p.15). A escola é uma instituição social com
Figueiredo, Costa e Dias (2018, p.04) ,citam objetivos e metas determinadas, que emprega
algumas ações do professor que podem auxiliar e reelabora os conhecimentos socialmente
a vencer as inúmeras dificuldades produzidos, com o intuito de promover a
apresentadas dentro da educação de alunos aprendizagem e efetivar o desenvolvimento
autistas: buscar constante contato com as das funções psicológicas superiores: memória
famílias, pois elas podem oferecer informações seletiva, criatividade, associação de ideias,

366
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

organização e sequência de conhecimentos, processo de inclusão efetive-se em todos os


dentre outras. seus sentidos.
Tanto a família como a escola precisam ter o Laluvein (2001, apud, SOUZA, 2015, p.20),
compromisso de reciprocidade, ou seja, de afirma que essa relação deve ser mediada com
dividir a educação do cidadão de forma uma comunicação clara, mas também com o
igualitária, pois ambas são formadoras. Assim estabelecimento de limites, já que muitos pais
sendo, chegam as instituições de ensino com vários
No que cabe às relações entre família e tipos de informações que obtiveram em vários
escola, torna-se imperativo assumir um meios e querem que a escola haja ou trabalhe
compromisso com a reciprocidade. De um lado, de acordo com o que eles pensam, o que acaba
a família, com sua vivência e sabedoria prática gerando conflitos. Para o autor, é preciso que
a respeito de seus filhos. De outro, a escola com ambas as instituições saibam seu papel e que
sua convivência e sabedoria não menos prática configurem suas ações de acordo com as
a respeito de seus alunos. É preciso entender necessidades apresentadas pelo autista.
que esses mesmos alunos são também os O que seriam as possibilidades no processo
filhos, e que os filhos são (ou serão) os alunos. de inclusão da criança autista na educação
Dito de outra forma: cabe às duas instituições infantil? São possibilidades que favorecem a
mais básicas das sociedades letradas o inclusão educacional se social dessas crianças,
movimento de aproximação num plano mais e isso proporcionado no contexto escolar pela
horizontal, de distribuição mais igualitária de praticas pedagógicas dos professores.
responsabilidades. (SANTOS, 1999, apud, , Figueiredo, Costa e Dias (2018), citam ainda
SOUSA, 2015, p. 25). que são estratégias importantes sentar perto
É dessa maneira que escola e família do aluno para que ele consiga manter seu foco
compartilham as mesmas funções sociais, de atenção, criar quadros de orientação que
educacionais e políticas, influenciando e fiquem expostos na sala de aula e possibilite
contribuindo para a formação do cidadão. No que ele se oriente melhor, usar recursos visuais
caso específico da família do aluno autista, o múltiplos e variados que o auxiliem a entender
apoio da família no processo de ensino e e assimilar o que está sendo ensinado, atentar
aprendizagem é fundamental para o aluo para suas dificuldades enquanto a
autista, na conquista de seu desenvolvimento interpretação de textos, adaptar conteúdos e
(SOUSA, 2015). formas de avaliação de acordo com as
Figueiredo, Costa e Dias (2018), afirmam que características de cada aluno.
não basta colocar o aluno autista na sala de Sousa (2015), afirma que é papel da escola
aula regular sem que haja envolvimento da promover uma educação democrática, que
família, da escola e da comunidade escolar, atenda às necessidades de todos os alunos. A
pois isto estaria cumprindo, apenas, as busca pelo conhecimento sobre o que é a
determinações legais. O planejamento e a inclusão e como ela pode ser efetivada, é algo
implantação de políticas educacionais que precisa fazer parte das rotinas das
eficientes é o pressuposto básico para que esse instituições de ensino e “aliado a isto, a busca

367
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de estratégias metodológicas de interação e antes adaptar os conteúdos, ritmos e estilos de


desenvolvimento de todos os alunos deve ser aprendizagem, às condições concretas de cada
algo constante de uma escola inclusiva” grupo, subgrupo ou indivíduo (MORGADO,
(SOUSA, 2015, p.16). 2011, apud SOUSA, 2015, p. 17).
Ainda de acordo com Sousa (2015), a busca Assim, a definição de propostas pedagógicas
por meios ou estratégias de trabalho com e metodológicas exige que a instituição de
alunos autistas deve ser algo conquistado com ensino conheça bem sua clientela, que possa
empenho, disponibilidade e dedicação do atende-la de acordo com suas necessidades,
professor que precisa estar constantemente sempre primando por uma educação de
atualizado com as questões que envolvem esse qualidade e no caso específico do aluno autista,
transtorno. É importante que haja é preciso que sejam desenvolvidas práticas e
planejamento, pesquisa, definição de estratégias pedagógicas capazes de acolher e
estratégias de ensino, adaptação de conteúdo, respeitar as diferenças que apresentam em
enfim, produzidas condições para favorecer a relação aos demais.
aprendizagem de todos os alunos. A incapacidade de desenvolver um
Para Baptista (2006. p. 93), “[...] o relacionamento interpessoal se mostra na falta
compromisso do educador tem como base a de resposta ao contato humano e no interesse
apropriação de seus próprios recursos e pelas pessoas, associada a uma falha no
instrumentos: a observação, o diálogo, a desenvolvimento do comportamento normal,
negociação e a avaliação retroalimentam o agir de ligação ou contato. Na infância, estas
do educador” e por isto, o professor do aluno deficiências se manifestam por uma
autista deve estar, constantemente em busca inadequação no modo de se aproximar, falta de
de informações, ser sensível em relação às contato visual e de resposta facial, indiferença
necessidades apresentadas pelos alunos e além ou aversão a afeto e contato físico (GAUDERER,
de conhecimentos teóricos e técnicos, ser 2011, p. 14).
alguém sensível para as dificuldades e Mesmo que haja dificuldades em
limitações de seus alunos. compreender o comportamento do autista, é
Morgado (2011) citado por Sousa (2015), preciso considerar que ele possui sentimentos,
chama a atenção para a questão da lutar contra o preconceito e a rejeição e buscar
flexibilização do currículo, pois para o autor, ele alternativas que o auxiliem em sua
deve atender as particularidades regionais e as aprendizagem e desenvolvimento.
peculiaridades apresentadas por cada turma e
jamais esquecendo-se da qualidade da
educação.
Flexibilizar o currículo, para responder a
cada caso particular - comunidade, religião,
língua, etnia, necessidade específica - não é
ficar preso a conteúdos predefinidos e a ritmos
e estratégias de aprendizagem rígidas, mas

368
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No caso específico da criança com autismo, surgiram várias formas de escolarizá-la, isto
porque há diferentes formas de se compreender essas crianças, a forma como se desenvolvem
assim como as possibilidades educativas que a elas podem ser direcionadas. Há de se considerar,
porém, que a escolarização desses indivíduos, ficou, por muito tempo sob responsabilidade da
educação especial. Dentro dessas instituições, o atendimento a criança autista baseava-se no
modelo clínico médico e a educação centrava-se nas deficiências que o aluno possuía, buscando
corrigir ou amenizar os déficits que ele apresentava, porém, fortalecendo a imagem da criança
com autismo dentro do diagnóstico e afirmando a ideia de que ela não era capaz de aprender ou
se desenvolver.
O processo de inclusão do autista vai além de colocá-lo na escola regular, na sala de aula
regular, é preciso que a ela sejam oferecidas condições de ter aprendizagens significativas, que
suas potencialidades sejam trabalhadas e que assim ela seja vista e tratada como um sujeito que
aprende, pensa, age, sente, que pode e deve participar do grupo social, desenvolvendo-se por
meio dele e tendo suas singularidades respeitadas, assim como deve ser com todos os alunos.

369
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DE PROFESSORA A PESQUISADORA: OLHARES


SOBRE A LEITURA E A ESCRITA NO CONTEXTO
DA ALFABETIZAÇÃO
Márcia de Cassia Santos Mendes 1
Maria Aparecida Gusmão Pacheco 2

RESUMO: O artigo tem como objetivo apontar reflexões tecidas pela professora no exercício da
pesquisa acadêmica acerca da própria experiência docente, sem perder de vista as experiências
das professoras colaboradoras. O texto é parte da pesquisa de mestrado embasado nos
pressupostos teóricos de Bakhtin (2011) Freire (1989, 1986, 2006, 2013, 2019)) e Vygotsky (1988,
1991), e traz notas sobre o ensino da leitura e da escrita situada na formação Pacto Bahia e PNAIC.
Neste contexto emerge o olhar da professora alfabetizadora que tornou-se formadora de
professores(as), escritora, contadora de histórias e pesquisadora a respeito do ensino da leitura
e da escrita como processos que caminham juntos nos anos iniciais à luz da perspectiva discursiva.
Deste modo, destaca a escuta sensível das crianças sobre o lido para além de perguntas que estão
explícitas no texto como uma das condições necessárias para o desenvolvimento das habilidades
leitoras e escritoras. As reflexões dispostas no artigo chamam a atenção para o ensino pautado
em um planejamento como estudo, demarcado de intencionalidade pedagógica permeado pela
mediação permanente nas atividades propostas referentes à leitura e à escrita em cada ano do
Ensino Fundamental e, não apenas, nos dois primeiros anos. Além disso, aponta a relevância da

1 Mestre em Ensino pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia -UESB. Professora da Rede Estadual de
Ensino do Estado da Bahia.
2 Professora titular do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários-DELL e do Programa de Pós-Graduação

em Ensino, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia -UESB.

371
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

formação continuada fundada nos saberes experiências dos(as) professoras embasadas nos
pressupostos da pesquisa colaborativa.

Palavras-Chave: Professor; Pesquisador; Leitura; Escrita; Alfabetização.

FROM TEACHER TO RESEARCHER: VIEWS ON READING AND


WRITING IN THE CONTEXT OF LITERACY
ABSTRACT: The article aims to point out reflections made by the teacher in the exercise of
academic research about her own teaching experience, without losing sight of the experiences of
the collaborating teachers. The text is part of the master's research based on the theoretical
assumptions of Bakhtin (2011) Freire (1989, 1986, 2006, 2013, 2019)) and Vygotsky (1988, 1991),
and brings notes on the teaching of reading and writing situated in the Pacto Bahia and PNAIC
formation. In this context emerges the look of the literacy teacher who became a teacher trainer,
writer, storyteller and researcher about the teaching of reading and writing as processes that go
together in the early years in the light of the discursive perspective. In this way, she highlights the
sensitive listening of children about what is read in addition to questions that are explicit in the
text as one of the necessary conditions for the development of reading and writing skills. The
reflections presented in the article call attention to teaching based on planning as a study,
demarcated by pedagogical intentionality permeated by permanent mediation in the proposed
activities related to reading and writing in each year of Elementary School and not only in the first
two years. . In addition, it points out the relevance of continuing education based on the
knowledge and experiences of teachers based on the assumptions of collaborative research.

Keywords: Teacher; Researcher; Reading; writing; Literacy.

372
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO implicações pessoais, as profissionais e, por


conseguinte, as acadêmicas. Nessa teia, o
A TRAVESSIA DA PROFESSORA objetivo desse artigo é apresentar os olhares
sobre a experiência com a leitura e a escrita, no
E FORMADORA DE contexto da alfabetização para puxar os fios a
PROFESSORES(AS)EM BUSCA DA questão da comunicação discursiva.
CONSTRUÇÃO DO A autora da epígrafe escolhida para encimar
cada segmento do texto percorre o texto
CONHECIMENTO RELACIONADO postulado, porque diz muito sobre minhas
À LEITURA E À ESCRITA motivações e meu gosto particular pela palavra
Os sonhos dão para o almoço, para o jantar, escrita, lida e contada. Por isso, referendo a
nunca. Fiquei embatucado com aquele dizer. arte da palavra, a literatura, lugar carregado de
Primeiro pensei que era sonho (doce, daquele vozes plurais. O fragmento destacado traz o
tão gostoso que sua Tia Maria-Velha faz) e dizer da personagem Tio Totó, do livro Becos da
fiquei matutando, matutando.... Ora entendia, Memória, de Conceição Evaristo (2017). Em
ora não entendia [...]. Um dia, encontrei uma conversa entre Maria-Nova e Tio Totó, ele
novamente o almanaque no meio de uns fala sobre como aprendeu a ler e a copiar em
pertences meus. Li de novo. Eu já lia melhor. Vi um caderno tudo de que gostava. Tio Totó, ao
também que isto estava escrito numa página copiar, não atinava “com o dizer que estava por
que só tinha ditados e versos. Então não podia trás do escrito”. Muito tempo depois é que ele
ser mesmo sonho, doce de comer. Mas mesmo descobriu “a verdade do dizer daquele ditado”
assim não atinei com o dizer que estava por trás (EVARISTO, 2017, p. 50). Infelizmente, ainda se
do escrito. (EVARISTO, 2006)3 1
segue, em 2021, copiando letras e palavras
Minha4 travessia pela alfabetização: é a
2
aleatoriamente.
outra margem do rio, que emerge como parte Na esteira dessas motivações, seguem
deste estudo, para iniciar a interlocução e algumas discussões formuladas a respeito da
porque também traz, em seu tecido, leitura e da escrita observadas nas formações e
experiências da pesquisadora, professora e nos acompanhamentos pedagógicos do
formadora de outros professores e outras Programa Pacto–BA e do Programa Nacional
professoras acerca da leitura nos anos iniciais. pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC),
Sendo assim, apresento as linhas que circunscritas no fazer das professoras e da
compuseram a dissertação de mestrado ora pesquisadora, as quais participaram dos
referendado, destacando, além das referidos programas.

3
Cada parte inicial do texto traz a literatura de Conceição emerge da compreensão responsiva em torno da
Evaristo, Becos da Memória (2006) como elo da comunicação discursiva. Sendo assim, ora sou eu, a
comunicação discursiva que emerge das vozes que pesquisadora, ora somos nós – a pesquisadora, a
ecoam nas linhas do texto, de modo a revelar olhares orientadora, as professoras, as crianças – e, vestidas por
singulares e comuns envolvendo o coletivo. essas vozes, entoamos nossa escrita ancoradas nas (e
4
A escolha da primeira pessoa (do singular e do plural), com) vozes alheias.
na escrita deste trabalho, é uma decisão política e

373
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O Programa Pacto–BA surgiu em 2011, em Na escola, é a palavra que alimenta o olhar


uma parceria entre o governo do Estado da da criança em direção à produção escrita. A
Bahia e os respectivos municípios, em regime palavra é signo, e não mero sinal e, sendo
de colaboração, tendo por objetivo assegurar a dialógica, precisa ter sentido para a criança
alfabetização das crianças, com início no 1º ano que, como sujeito, tem história, lê o mundo,
para, em seguida, ir-se ampliando para o 2º e, descortinando-o, significando-o. Fora isso, a
em seguida, para o 3º ano. Em 2014, associou- língua será apenas um protótipo reificado que
se ao Programa Federal Pacto Nacional pela pouco ou mesmo nada lhe dirá. Talvez, por isso,
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), cujo em muitas situações na escola, na fase da
objetivo era garantir a alfabetização das alfabetização, haja aparente resistência da
crianças até 8 anos de idade. Embora o estudo criança à escrita, porque falta a interlocução, a
não esteja diretamente ligado aos programas palavra como elo entre a criança e o outro,
supracitados, essa experiência está presente na como condição ímpar para que o texto seja
memória afetiva de cada uma. produzido.
Desse modo, a palavra memória foi tomada, De acordo com Bakhtin (2011), a palavra é a
neste trabalho, na perspectiva de Benincá porta para adentrar dialogicamente na vida de
(2002), por meio de um movimento interativo cada sujeito. Nessa dinâmica, aludimos à teoria
entre os sujeitos da formação, que registravam dialógica, à palavra oral e escrita como
a “memória pedagógica” do encontro linguagem, ancorada nos postulados estudados
mediante seus saberes e experiências. Esse pelo autor para trilhar conosco. Por isso, não
registro ia puxando fios das próprias práticas, à tenho como fugir de minha experiência de vida
medida que cada sujeito lia, formando uma com a palavra oral e escrita em seu uso social,
grande rede de experiência discursiva dialógico, interativo e interlocutivo.
individual, movida pelas vozes carregadas de Estudei em uma escola pública no interior
“escrevivências”, no dizer de Evaristo (2017), da Bahia, mas meu encantamento pela leitura
que emergiam para compor o processo não nasceu na escola, embora ela tenha sido
formativo. um espaço de muita alegria, que contribuiu
Nesses fazeres, consideramos nossa assertivamente para a escolha de minha
concepção de linguagem, não a dita por nós, profissão de professora. Rememoro as noites
mas a que é desocultada quando vamos mediar enluaradas em que ficava sentada no passeio5 1

a escritura do texto de outrem. Foram essas da casa vizinha, saboreando, numa escuta
reflexões que descortinaram meu olhar para o apurada, aqueles “causos”, na maioria contos
que sabia e não sabia, para assim me refazer e, populares guardados na memória de minha
nessa travessia, transformar a prática mãe. Foi pela oralidade que a leitura de mundo
pedagógica, a minha e não a do outro. Assim, ganhava formas diversas e ancorava em meus
nessa travessia, “[...] tudo o que já foi, é o ouvidos e, mais adiante, seria lida nos livros e,
começo do que vai vir” (ROSA, 1994, p. 440). por conseguinte, escrita por mim e lida e

5
O termo refere-se a sentar na calçada, em frente à porta cultivado nas cidades do interior da Bahia e que fez parte
de casa, para conversar com os vizinhos. Hábito ainda da minha vida em São Sebastião do Passé.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

reescrita. Este movimento pode inferir que ler de outros, encontram ecos também em mim,
e escrever estão intimamente ligados. porque, conforme reitera Bakhtin (2006), a
Havia, em mim, vozes que pulavam e eu as palavra, como signo cultural, ao ser assimilada
segurava para que ficassem ali, bem guardadas. e carregada de sentido, é agregada à
Para Bakhtin (2006), mesmo quando estamos consciência verbal, compondo todos os atos de
conosco, há diálogo, porque o eu não vive sem comunicação. Desse modo, compreendo ser a
o outro nem o outro sem o eu. Sendo assim, sala de aula o lócus onde reverbera interação.
esse silêncio também está revestido pela A partir dessas reflexões, referendo o
enunciação que, por sua vez, é um produto da arcabouço teórico freireano no que tange à
interação social. educação emancipatória para a discussão,
Em seguimento às histórias contadas e porque seus estudos estão firmados no diálogo,
recontadas na voz ritmada de minha mãe no respeito aos fazeres de quem ensina e de
sertaneja, iam sendo costurados também os quem aprende, tendo em vista uma prática
retalhos de nossas histórias, misturados com o pedagógica que, ao transformar, também se
real e o imaginário. Em casa, não havia livros, transforme, emergindo, nesse movimento, a
embora, naquele território, a fala daquela práxis.
mulher fosse unindo as pontas com as vozes Nessa “brincadeira séria”, trago para a
que ecoavam dentro de mim, permitindo-me discussão a perspectiva abordada por
ocupar uma ativa posição responsiva no Vygotsky6 (1991), em que a palavra se
1

mundo. Nessa interação, estava o processo de transforma em ferramenta que vai nutrindo o
se expressar em relação ao outro, e não, sujeito do conhecimento, de ideias, de
meramente, para o outro. imaginação, de amorosidade. Mais tarde, por
Ainda rememorando aqueles tempos opção, eu me tornei professora, porque havia
vividos, entre uma história e outra, eu ia em mim o desejo de ensinar as crianças a
“parindo” as histórias dos outros nas minhas acordarem as palavras que moram nos livros e
próprias histórias que, por sua vez, seriam a escreverem as próprias histórias.
contadas novamente. Histórias cheias de vozes Aos poucos, fui mergulhando nos estudos
que silenciavam meu coração, ainda criança, para ir compondo os pontos em cada retalho,
aluna da professora, como quando escutava o sem perder de vista o que foi dito lá atrás por
conto mais lindo do mundo, “O voo da asa minha mãe sobre “o cuidado com o avesso da
branca”, entoado pela voz sertaneja de minha costura”. Fiz a transposição desse ensinamento
mãe. Um dia, descobri outra porta para recriar para a vida, para sempre me lembrar de
horizontes: as palavras escritas nos livros. observar o avesso de minha prática
Desse modo, eu e elas (as palavras) fomos pedagógica, que não estava restrita à sala de
nos tornando companheiras vida afora. É nesse aula, porque, na escola e na vida, há sempre
percurso que a palavra oral e a escrita, vindas intencionalidades, sentidos, não apenas

6
No livro, Piaget-Vygotsky: novas contribuições para o debate ocidentais: em espanhol Vigotsky; em francês, Vygotski; em
(1996), uma nota do editor elucida que o nome de Vygotsky italiano, Vigotskij; e, por fim, em inglês Vygotsky. No presente
apresenta-se escrito de modos diferentes nas línguas estudo, adotamos a escrita da língua inglesa.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

significados, uma vez que a prática pedagógica, As histórias do tempo da meninice, que
nas palavras de Freire (2019), é uma prática dormiam em minha consciência, passaram a
social humana, humanizadora. fazer parte da rotina da sala de aula. Gostava
Formada no antigo curso de magistério, de envolver as crianças nas histórias lidas e
segui, durante onze anos, como professora contadas e, ainda, “contandolendo”8 , de 2

alfabetizadora. Nos quatro primeiros anos, escutar as impressões, os risos, as relações


ainda na década de 80, ensinava com a cartilha estabelecidas acerca das narrativas. “Eu não
Casinha Feliz7 . Não gostava desse modo de
1 sabia, mas sabia” que aquele momento
ensinar e, na palavra que habitava em mim, potencializava os conhecimentos de cada uma
buscava outros modos de ensinar a ler e a delas acerca da leitura e da escrita. Elas liam, e
escrever. Nesse início, não foi possível construir isso sempre me comovia, porque era a
o embasamento teórico-metodológico “boniteza de um sonho” (GADOTTI, 2003),
necessário para a realização de um trabalho capaz de alterar o real que circula na realidade
mais consistente relacionado à mediação: de cada criança.
faltava-me o estudo teórico. E isso, decerto, fez Ao escrever essas linhas, sou invadida pelas
muita falta no movimento permanente da sala reminiscências dos recontos das crianças, em
de aula, porque aquelas crianças de lá não minha sala de aula, quando mudavam alguns
podiam esperar que eu aprendesse melhor “pontos” e iam, com as suas experiências
para lhes ensinar. discursivas individuais, trazendo novos
Ao lançar o meu olhar para o passado, elementos para o texto. Ou, no dizer de
compreendo que ensinei com as ferramentas Marcuschi (2004), realizando a retextualização.
que possuía, porque, em muitos momentos, Nesse período, eu não compreendia o porquê
não contei com interlocutores reais que de cada criança assumir, de modo diverso, a
questionassem o meu fazer e contribuíssem, história por mim lida ou contada, mas
assim, para sistematizá-lo com a rigorosidade encantava-me escutar as respostas inusitadas.
metódica necessária. Decerto houve e ainda há Eram os primeiros indícios de uma produção de
muita solidão pedagógica na escola. Na maioria texto de autoria, envolvida pelas vozes
das vezes, as lacunas de nossa formação inicial implícitas no enunciado (gêneros discursivos),
não nos permitem avançar como gostaríamos, mesmo que eu, a professora, ainda não tivesse
porque o professor e a professora reflexivos, acessado teoricamente às postulações de
embora saibam ser necessário melhorar sua Smolka (2012), a respeito da escrita em seu
prática pedagógica, não sabem como fazê-lo. funcionamento social, movida pela interação e
interlocução, também na escola. E as reflexões

7
A Casinha Feliz era uma cartilha para alfabetização das convocar a criança a memorizar as letras, os sons, as
crianças, projetada ainda em 1950 por Iracema Meireles, sílabas e as palavras daquele grupo. Para saber mais,
tendo a sua expansão em 1970 até 1979. Todo trabalho ver:
era estruturado a partir do método fônico. Primeiro http://www.acasinhafeliz.com.br/metodo/momentos_mar
ensinavam-se os sons das letras para, mais adiante, a cantes.htm.
8
leitura e a escrita das vogais e consoantes, das sílabas. É um modo de contar e ler tendo o livro como objeto
A partir daí,as palavras eram apresentadas ao lado dos que guarda as histórias escritas.
sons das letras estudadas, com um “barulhinho” para

376
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dela já estavam presentes em plena década de prática no início do ano de 2001, em parceria
1990. com as secretarias e diretorias de ensino até o
As crianças interagiam com colegas e final de 2002. No ano 2008, por causa do ensino
comigo, com seus desenhos, com as cantigas, fundamental de 9 anos, foi lançado o Pró-
as histórias vindas de casa, nos relatos sobre o Letramento, que abordou conceitos e
final de semana. Traziam seus mundos, e essas concepções fundamentais ao processo de
experiências com as linguagens repertoriavam, alfabetização, sistematizando as capacidades
isto é, a palavra oral e a escrita passavam a ser mais relevantes a serem atingidas pelas
vivenciadas como experiências constituídas de crianças, ao longo dos três primeiros anos do
sentido, mostrando o outro como elemento Ensino Fundamental de nove anos.9 1

necessário para a produção de textos orais e A graduação ocorreu tempos depois, não
escritos em seu uso social, ainda que porque não quis avançar nos estudos formais,
timidamente. mas porque os recursos eram parcos, e a
Toda essa descoberta acordava em mim o necessidade de trabalhar era preponderante.
desejo contínuo de permanecer estudando, Seguia estudando sozinha e, ao ser aprovada
porque ainda sentia que, mesmo as crianças no concurso da rede estadual, fiz o curso
lendo e escrevendo, faltava mais alguma coisa, “Adicionais” para ensinar na 5ª série, hoje, 6º
não nelas, reitero, mas em mim. E o tempo não ano. Nesse período, as leituras freireanas
parava, e eu a professora ia planejando e passaram a fazer parte de minha vida
replanejando minha prática pedagógica, profissional, quando ganhei de presente o livro
inventando e reinventando outros modos de Pedagogia do Oprimido, em 1984, de uma
ensinar, tendo em vista a escuta daquilo que as freira da escola em que fui aprovada numa
crianças perguntavam. E assim, íamos entrevista para lecionar. Essa leitura abriu
aprendendo. Aprendi a ser professora na portas para outras do mesmo autor e foram
atividade permanente de estudar, de me desvelando o meu olhar para as linhas de força
refazer em cada tempo pedagógico e diante a e poder que fabricam e alargam as
escuta sensível, como sinaliza Barbier (2004). desigualdades sociais. Sentia que precisava
Ao longo do período de 1995 a 1998, a muito fazer um curso superior, mas, enquanto
Secretaria de Educação Fundamental do MEC o sonho não era possível, seguia significando e
elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais ressignificando minha prática pedagógica,
para o Ensino. Participei, como cursista, do PCN lendo e lendo...
em Ação – Alfabetização. Mais uma vez, fui Anos mais tarde, formei-me em Letras e,
cursista do Programa de Formação de mais adiante, fiz uma Especialização em
Professores Alfabetizadores (PROFA), também Estudos Linguísticos e Literários. Assim, segui
organizado pelo MEC no ano 2000 e posto em como professora no Ensino Médio, tendo a

9
Muitos estados e municípios estão promovendo a de nossos alunos. No caso de escolas que trabalham
ampliação da Educação Fundamental, com a inclusão de com Ensino Fundamental de 8 anos, em que as crianças
crianças de seis anos. Nosso objetivo é o de só ingressam aos 7 anos, também se deve considerar
concentrarmos um esforço e atenção do aprendizado da três anos para a alfabetização.
língua escrita nesses anos decisivos da trajetória escolar

377
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

leitura, em especial do texto literário, como exercício da prática pedagógica exigiu esse
ferramenta da atividade leitora e escritora. movimento permanente.
Assim, em 2000, desenvolvi com estudantes do Observei que, mesmo afirmando ser o texto
Ensino Médio, o Projeto Tecendo Textos a centralidade do trabalho no componente de
Literários, aprovado pela Secretaria da língua portuguesa, pouco havia, efetivamente,
Educação do Estado da Bahia, no turno oposto. de um fazer com a escrita na abordagem
Em seus estudos, Smolka (2012), enuncia discursiva em mais de duzentos municípios, isto
que o discurso presente no texto literário está é, quase quinhentas salas de aula que
impregnado pelo discurso da sociedade. acompanhei durante o período formativo e de
Ademais, esse campo artístico-literário, desde acompanhamento pedagógico.
cedo, repertoria as crianças, contribuindo para As observações colhidas nas salas de aula a
que elas conheçam lugares diferentes, em respeito da escrita estavam vinculadas aos
tempos diferentes. Todo esse engajamento diagnósticos relacionados aos níveis de escrita,
fomenta o uso social da escrita e da reescrita de com base, por vezes equivocada, nas ideias do
textos na sala de aula. estudo proposto por Ferreiro e Teberosky, no
Em 2012, fui selecionada pela Secretaria da livro A Psicogênese da Língua Escrita, publicado
Educação do Estado da Bahia para atuar como no Brasil em 1986. Foi possível observar que a
professora formadora de outros formadores alfabetização como “processo discursivo” ainda
municipais do 1º ano, do ciclo de alfabetização, não fazia parte da prática presente nas salas de
pelo Programa Pacto–BA. Esse trabalho aula, e essa ausência estava atrelada à falta de
contribuiu para fomentar os estudos a respeito estudos sobre a concepção interacionista da
das possibilidades de aprendizagem, na sala de linguagem. Comecei a investigar e me deparei
aula, em relação à leitura e à escrita e, mais, com alguns estudos de Lerner (2002), Dolz e
sobre a escrita como processo discursivo. Ou Schneuwly (2004), Smolka (2012), Gusmão
seria melhor dizer: sobre a inexistência desse (2015), dentre outros.
lugar. Por volta do 2º semestre de 2018, última
Comecei a trabalhar como formadora do edição do PNAIC, comecei a dialogar com
Programa Nacional pela Alfabetização na Idade algumas professoras, por meio do aplicativo
Certa PNAIC em 2013, na região da Chapada WhatsApp, a respeito da possibilidade de um
Diamantina, território em que já exercia a planejamento com foco na escrita como
função como formadora do Pacto–BA. processo discursivo. As professoras envolvidas
Permaneci nesse programa em todas as nesse diálogo trabalhavam em turmas
edições, finalizando em 2018. Essa experiência regulares e multisseriadas, de diferentes
me favoreceu adentrar na sala de aula do ciclo territórios de identidade do Estado da Bahia. A
de alfabetização (1º, 2º e 3º anos iniciais), maioria tinha participado das formações do
agora também como observadora e Pacto–BA e (ou) PNAIC, em seus municípios.
colaboradora. Desse reencontro renasce o Deste modo, a leitura inicial dos postulados
desejo de continuar estudando, porque o bakhtinianos espelhou o desejo de retornar ao
compromisso assumido com a vida: participar

378
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

por inteiro do diálogo, razão pela qual busqueiestudantes, ao final dos anos iniciais. Esses
meu aperfeiçoamento na pós-graduação dados também incidem na escrita, já que são
stricto sensu. Também havia em mim o desejo processos indissociáveis, ainda que com
de provocar nas professoras, sujeitos deste especificidades. No Estado da Bahia, de acordo
estudo, o rompimento com a artificialidade de com o Instituto Brasileiro de Geografia e
uso da língua por meio de uma perspectiva Estatística (IBGE), já foi assegurado o acesso de
enunciativa e dialógica, a qual possibilitava que
95,9% de crianças com 4 e 5 anos na pré-escola,
a criança descobrisse a importância da leitura em 2017. Todavia, nesse mesmo ano, houve a
atenta de seus escritos, da revisão e da divulgação do relatório do Sistema de Avaliação
reescrita cuidadosa, enfim, do sentido de da Educação Básica (Saeb), no qual a Bahia se
“autoria”, ao tempo em que também promovia apresenta no nível 3 de leitura10 em relação ao 1

a reinserção das professoras no


aproveitamento do 5º ano.
aprofundamento de seus saberes. Isso ratifica, infelizmente, que a proficiência
Ao referendar a minha experiência pessoal – leitora das crianças e adolescentes do 5º ano é
aluna da professora que teve dificuldade para frágil quando compreendemos o que é estar no
aprender a ler, professora alfabetizadora de nível 3, ainda que saibamos que esse tipo de
crianças na rede particular e pública, contato avaliação, de acordo com Esteban (2008), está
com adolescentes que não liam na 5ª série, em comprometida com a colonialidade do poder,
1993 e professora formadora de formadores do que emerge nas relações cotidianas,
ciclo de alfabetização do Programa Pacto–BA e promovida por uma política neoliberal que,
Programa Nacional pela Alfabetização na Idade infelizmente, acentua as desigualdades sociais,
Certa (PNAIC) em diferentes Territórios de acentuando a invisibilidade dos mais pobres.
Identidade da Bahia, contadora de histórias e Não é fácil para uma pessoa – criança,
escritora de literatura para as infâncias –, adolescente, jovem, adulto – permanecer na
constituem uma história que está tecida em escola sem aprender a ler e a escrever. E esse
mim, reitera o pensamento freireano de somos fato é ainda mais complexo quando se constata
formados mediatizados pelo mundo. que muitas dessas crianças, que participaram
dessa avaliação, frequentaram a creche e a pré-
escola, isto é, adentraram na escola na “idade
A LEITURA E A ESCRITA NA certa”. No momento da elaboração deste
SALA DE AULA estudo, foi divulgado o resultado do Índice de
11
A opção por este estudo também diz Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2

respeito aos índices relacionados à leitura de referente ao ano de 2019. Os dados

10 linguagem verbal e não verbal. Informações disponíveis


No nível 3, além das habilidades descritas nos níveis
0 a 2, os estudantes provavelmente são capazes de, por no site:
exemplo, localizar informação explícita em reportagens; http://portal.inep.gov.br/documents/186968/484421/REL
reconhecer relação de causa e consequência em AT%C3%93RIO+SAEB+2017/.
11
poemas, contos e tirinhas; inferir o sentido de palavra, o Ideb é o Índice de Desenvolvimento da Educação
sentido de expressão ou o assunto em cartas, contos, Básica, criado em 2007 pelo Instituto Nacional de
tirinhas e histórias em quadrinhos, com o apoio de

379
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

apresentados indicam que houve um pequeno abordado. Ao contrário, ela trilha em busca da
avanço na proficiência leitora dos alunos do 5º apreensão dos significados e dos estados
ano, no Estado da Bahia. subjetivos em que os sujeitos estão imersos. A
Assim, compreendo que a significação e a partir desse ponto, apura-se o olhar para
ressignificação da prática pedagógica das perceber as minúcias trazidas pelos sujeitos.
professoras, neste estudo, emergem de um Assim, ao invés de promover possíveis
esforço individual e coletivo, bem como do generalizações, busca-se compreender tanto os
compromisso político com a vida do outro – sujeitos quanto os fenômenos, haja vista a
nesse caso, a da criança. singularidade e complexidade de uns e de
Com base nas considerações elencadas outros.
percebemos que a continuidade do processo Para Ibiapina (2008), é pertinente a
formativo, advindo da teoria enunciativa colaboração para intensificar as condições de
dialógica, ao lado da abordagem vygotskyana, coprodução de conhecimento, não apenas do
trazendo a mediação como possibilidade de pesquisador, mas também de professores e
interagir colaborativamente, por meio dessa professoras que fazem parte de cada estudo ao
acepção abordada por Pimenta (1999) sobre a lado do(a) pesquisadora(a).
necessidade de um projeto formativo como Ao aportar nessa travessia, que carrega a
projeto humano com base na reflexão com simbologia de nossas humanidades, negamos o
vista à emancipação de professores e fechamento das proposições evidenciadas
professoras é condição necessária para o neste estudo. Ao contrário, abrimos
fortalecimento do ensino da leitura e da escrita possibilidades para novos diálogos em que as
em todo Ensino Fundamental. ações sobre a prática pedagógica no ensino da
Na dissertação de mestrado da qual faz parte leitura e da escrita em anos iniciais sejam
o estudo proposto neste artigo a escolha tecidas de modo cada vez mais colaborativo,
metodológica pela pesquisa qualitativa com base na interatividade própria da
considerou os fundamentos abordados, entre linguagem enunciativa e dialógica.
outros, por Franco (2000, 2005), Barbier No Documento Curricular Referencial da
(2004), Ibiapina (2008) e Santos (2019), cujos Bahia - DCRB (BAHIA, 2019), o ensino de Língua
olhares estão voltados mais para os processos Portuguesa tem o foco deslocado de conteúdos
do que para os produtos, ou seja, dão mais para abarcar as competências e habilidades
ênfase à compreensão e à interpretação a que vão permeando os quatro campos de
respeito de como os fatos e os fenômenos se atuação: jornalístico-midiático, vida pública,
apresentam do que indicar com precisão suas ensino e pesquisa e, por fim, artístico-literário,
causas. conforme também está posto na BNCC. Esses
Isso não significa que a pesquisa qualitativa campos de atuação estão ligados às práticas de
foge da profundidade acerca do assunto linguagem: leitura, escrita, oralidade, análise

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Básica, ao tempo em que estabelece metas para a
(Inep), o qual objetiva mensurar a qualidade da melhoria do ensino.
aprendizagem nas diferentes etapas da Educação

380
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

linguística semiótica, sendo que essa última No cenário baiano, assim como em boa parte
permeia todos os campos de atuação. do país, vivemos ainda os reflexos da precária
Nos dois documentos oficiais, o escolarização da população, que não dispõe,
protagonismo da criança é tomado como em sua totalidade, do acesso aos livros e bens
condição necessária para aprender. Nessa culturais, fruto da chamada “cultura letrada”.
construção, são considerados, no processo Há muito o que fazer para transformar esse
pedagógico, a criatividade, o lúdico, a quadro e, se os nossos estudantes não trazem
dimensão afetiva, ao lado da cognitiva e social. esses bons hábitos de casa, a escola acaba por
Logo, a proposição é que as aprendizagens assumir sozinha a responsabilidade por essa
sejam desenvolvidas a partir das interações e questão.
vivências cotidianas, ancoradas na perspectiva Há 30 anos, a discussão acerca da repetência
histórico-crítica, tal como se pode observar no na 1ª série era um tema recorrente, e as
excerto abaixo, retirado do DCRB (2018, p.150): justificativas guardavam os destaques que
A língua é um fenômeno vivo, extremamente sinalizamos no texto. Nessa época, não havia
variável, assim como seus falantes. É por meio tantos professores graduados, e as famílias das
do uso da língua materna que somos capazes crianças das escolas públicas possuíam pouco
de receber e de processar informações contato com os livros. Logo, a escola assumia a
quaisquer, inclusive as informações responsabilidade praticamente sozinha.
matemáticas, bem como esclarecer dúvidas, Naquela época, ensinava-se a escrita por meio
comunicar nossos resultados e propor de letras, sílabas, palavras e frases. Não havia
soluções. A língua materna é aquela na qual são um destinatário para essa escrita: elas
lidos os enunciados, são feitos os comentários, escreviam para serem corrigidas pelo professor
e a que permite interpretar o que se ouve ou o ou pela professora. A reflexão a respeito do que
que se lê nos diversos suportes. realmente mudou ao longo dessa travessia nos
Essa proposição traz um conceito de língua lança a pergunta: o que realmente mudou no
como processo vivo e dinâmico, que respeita a cenário da apropriação da linguagem escrita?
variação linguista sem, contanto, negar a Em seu estudo, Gusmão (2015), retrata a
norma-padrão, a qual vai sendo ensinada à prática pedagógica da professora Maria, no que
criança por meio de enunciados concretos tange à reescrita de textos. É observada,
(gêneros discursivos) apresentados por Bakhtin durante a investigação, a imensa preocupação
(2011). Essa concepção de língua já foi inscrita dessa professora em “dar o conteúdo”,
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) conforme observamos:
(BRASIL,1997) e nas Diretrizes Curriculares A preocupação da professora 4Maria era
Nacionais do Ensino Fundamental (DCNEF) apenas na ênfase do como fazer e fazer sempre
(BRASIL, 2010). da mesma forma [...]. A escrita como produto,
No DCRB (BRASIL, 2019, p. 151), está quando priorizava atividades de cópias, de
registrada também a situação da leitura e da palavras e de frases, e a repetição dos mesmos
escrita das crianças baianas, enfatizando-se tipos de exercícios, acreditava que os seus
que ainda há muito por fazer: alunos, ao decorarem as lições e as atividades,

381
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estavam aprendendo (GUSMÃO, 2015, p. Infantil, pois a criança que chega nessa etapa
165;167). esteve inserida em contextos discursivos
Essa preocupação também é confirmada na caracterizados por relações de sentido,
fala da maior parte das professoras que proclamados no círculo bakhtiniano como
acompanhamos na formação do Pacto–BA e do bases de uma produção entre os sujeitos. Sem
PNAIC, no período de 2012 a 2018. Mesmo o outro, nesse processo, não há dialogismo, ou
quando a formação continuada propunha uma seja, é na interação que as relações dialógicas e
agenda formativa que fomentava o a comunicação discursiva são concretizadas.
desenvolvimento do professor e da professora Assim, a escola é um espaço social, e a
reflexivos, era difícil para eles desconstituírem- criança que está nela, aprendendo a escrever,
se desses modelos, já que suas raízes estavam é um sujeito dialógico. Logo, necessita
alicerçadas em uma formação inicial focada na experimentar a escrita com interlocutores “de
reprodução, na transferência do conhecimento verdade mesmo”, como está sinalizado no
firmado na racionalidade técnica imposta pelo DCRB (2019, p. 251).
positivismo. Tal concepção vem reforçar a necessidade
Será que o conhecimento acerca da de educar para o mundo, de ensinar ao
linguagem não cabe no currículo da formação estudante que a escrita e a leitura vão mais
inicial de professores que atuam na Educação além do que conhecer as 26 letras do alfabeto.
Infantil e em anos iniciais? E o que mesmo cabe Para isso, é necessário o trabalho com práticas
para que esse futuro profissional compreenda de leitura e escrita com diversos textos que
os processos que envolvem a apropriação da circulam também fora dos muros da escola.
escrita de textos pelas crianças dos anos Além disso, é preciso considerar que há
iniciais? Por que será que “a professora Maria, práticas escolares tão reais e tão sociais quanto
profissional obediente e cumpridora de ordens às externas à escola.
que emanam de fora das salas de aula [...], Embora o DCRB, firmado na BNCC, no que se
trabalhava, ano após ano (por 15 anos refere ao Ensino Fundamental, anos iniciais,
seguidos!), sempre da mesma forma como aponte para a apropriação da escrita com foco
havia trabalhado nos anos anteriores? ” na “construção da consciência fonológica, do
(GUSMÃO, 2015, p. 164). Tais questionamentos conhecimento sobre as diferentes estruturas
são mencionados para que possamos pensar silábicas, as regularidades ortográficas diretas,
sobre os caminhos percorridos por professores as diferentes grafias do alfabeto [...]” (DCRB,
na elaboração de seus planejamentos, 2019, p. 106), ele traz pistas que permitem
conforme os saberes experienciais firmados, inferir acerca da relevância da alfabetização a
muitas vezes, no discurso interior, sem a partir de uma proposta da escrita como
interlocução com outros. atividade cultural, alicerçada em práticas
Vale também reiterar que, nesse cenário, sociais, no sentido de que “[...] produzir um
inscrito no DCRB (2019), a escrita é lançada a texto em linguagem escrita não significa,
partir do 1º ano, considerando os campos de necessariamente, saber grafá-lo corretamente
experiência desenvolvidos na Educação de próprio punho [...] oralmente – mas em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

linguagem escrita.” (DCRB, 2019, p. 106-107). O estudo dos textos das crianças, das suas
texto está na centralidade do trabalho com a experiências discursivas, da compreensão
escrita, e não como pretexto para ensinar responsiva que elas trazem dos textos lidos,
letras, sílabas, palavras e frases. contados e escritos.
É, pois, nesse sentido, que Geraldi (1996), Compreendemos que a aula é mediada pelas
enfatiza que: relações dialógicas advindas das diferentes
Aquele que aprendeu a refletir sobre a histórias de vida dos sujeitos que, por
linguagem é capaz de compreender uma conseguinte, tecem uma teia circundada por
gramática – que nada mais é do que o resultado discursos trazidos por várias vozes,
de uma (longa) reflexão sobre a língua; aquele promovendo convergências e divergências,
que nunca refletiu sobre a linguagem pode encontros e desencontros. Para Freire (1986), a
decorar uma gramática, mas jamais aula dialógica abre portas para que o professor
compreenderá seu sentido (GERALDI, 1996, p. ressignifique a própria prática por meio da
64). reflexão porque “[...]o diálogo requer uma
O modo pelo qual o DCRB (2018, p. 34), aproximação dinâmica na direção do objeto”
desenha o perfil do professor ou da professora, (FREIRE, 1986, p. 65).
para estar na sala de aula na Educação Infantil, Lembremos nesse ponto que, quando o
no Ensino Fundamental, em anos iniciais e anos professor aprende ao ensinar, compreendemos
finais, demanda continuidade da formação em esse movimento de modo não assimétrico, isto
serviço para que, cada vez mais, eles tenham ao é, são aprendizagens diferentes porque ele está
alcance ferramentas que potencializem um em condição de sujeito mais experiente para
fazer na sala de aula que contribua para mediar a leitura e a escrita na sala de aula, por
aprendizagem. exemplo.
É nessa vertente que consideramos Trouxemos a reflexão de Bakhtin (2011),
imprescindível que as universidades entrem acerca do excedente de visão como a
nessa luta política a favor da Educação Básica construção da visão que cada sujeito tem da
pelo direito de a criança pobre, negra, indígena própria constituição, envolvendo as relações:
(maioria nas escolas da rede pública) aprender eu para mim mesmo, eu para o outro e o outro
a ler e a escrever com sentido, considerando as para mim. Observamos que a cumplicidade
próprias experiências discursivas das crianças. entre o meu excedente de visão em relação a
Ler e escrever Essa demandam mediação ele e dele em relação a mim fomenta senso de
qualitativa com vistas a potencializar a compromisso mútuo, ponto tão importante
construção do conhecimento pelas crianças. para tecer o nosso estudo de modo
Essa interlocução, quando bem planejada, faz a colaborativo.
criança aprender porque há investimento Enfim, as relações dialógicas dentro e fora da
teórico-metodológico por parte de quem escola contribuem para que professores e
ensina. A formação inicial precisa se apropriar crianças possam aprender sobre o currículo
do como ensinar a ler e a escrever em uma escolar sem perder de vista os saberes, as
perspectiva discursiva, a partir também do experiências, as histórias de cada um. Assim,

383
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

compreendemos, segundo Freire (1986), que Para Bakhtin (2004, p. 41), “as palavras são
“A educação dialógica é uma posição tecidas a partir de uma multidão de fios
epistemológica [...]” e que, mesmo precedida ideológicos e servem de trama a todas as
de planejamento, de orientações externas, não relações sociais em todos os domínios”. As
desautoriza o professor, mas exige consciência palavras das professoras, nos enunciados
crítica, estudo permanente, interlocução, escritos e orais, trouxeram-nos as marcas de
mediação. suas vidas, ao tempo em que revelaram as
É neste sentido que a professora Danda práticas pedagógicas em um movimento cíclico
12
destaca, no Grupo do Tecendo Leitura, no
1 reflexivo, por meio do estudo, não apenas
Whatsapp: teórico, mas também das produções das
No trabalho com a leitura e a escrita, pois ao crianças o que lhes possibilitou ressignificar o
propor reflexões sobre os procedimentos de ensino de leitura e da escrita a partir, também,
leitura e escrita em sala de aula, a partir da da formação continuada.
análise da interação constituída entre
professor e aluno, foi possível ensinar a ler e a
escrever estudando as produções dos meus
alunos. As formações do Pacto abriram portas
para o conhecimento de como alfabetizar
contextualizando e também utilizando
estratégias metodológicas de melhor
aperfeiçoamento para o trabalho com as
classes de alfabetização.
As redes de experiências com os professores
coordenadores foram uma grandiosa e
importante forma de superação das
dificuldades, oportunidades de educadores
discutirem com outros profissionais e expor
suas inquietudes acerca da metodologia,
favorecendo, assim, trocas de experiências
exitosas e propiciaram reflexões mais
aprofundadas sobre a própria prática. Esse
processo ofereceu a participação de cursos
presenciais com estudos e atividades diversas
com os orientadores.

12 Nome fictício dado à professora colaboradora.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
PARA CONTINUAR REFLETINDO...
Quando trouxemos às questões relacionadas às práticas de leitura e escrita para a reflexão
considerando a travessia da professora, formadora de professores(as) no contexto dos anos
iniciais, da contadora de histórias, escritora de livros para as infâncias e pesquisadora, queremos
mostrar que o dialogismo, como processo discursivo, implica a elaboração de atividades nas quais
experiências subjetivas da criança, como sujeito discursivo, sejam também priorizadas. Ao
realizar atividades em que as crianças são encorajadas a ler e a tomarem a linguagem para si,
interagindo com as outras vozes, rompemos com a artificialidade da língua. Mas tudo isso exige
estudo por parte de quem ensina.
Constatamos no percurso que há alunos no 5º ano sem saber ler. São muitas crianças que
se encontram nessa situação na Bahia e no Brasil, de acordo com os boletins divulgados com base
nos dados do Ideb 2019.13 1 Quando situamos o Ideb não é porque concordamos com a
abordagem dessa política de avaliação, pautada no “aprender a aprender”. Contudo, sabemos
que precisamos avançar nesse diálogo, para que outras vozes ecoem dentro dessas políticas
públicas e de formação de professores, também no âmbito da formação inicial.
Pensamos ser relevante a leitura crítica, na integra, dos documentos oficiais, pelos
professores, com a finalidade de refletir acerca do que as vozes que ressoam ali estão a dizer. Nas
palavras de Freire (1986, p. 15), “a estrutura do conhecimento oficial é também a estrutura da
autoridade social. É por isso que predominam o programa, as bibliografias e as aulas expositivas
como formas educacionais para conter os professores e os alunos nos limites do consenso oficial”.
A leitura aprofundada, com embasamento crítico e teórico, possibilitará ao docente a
reflexão sobre os motivos pelos quais aquelas habilidades e os respectivos objetos de
conhecimento, para o 1º ano, estão dispostos daquela forma no DCRB, na primeira página:
reconhecimento das letras (EFLP0110) do alfabeto e as diversas grafias (EFLP011), a
correspondência fonema-grafema (EFLP012) para escrever espontaneamente ou com ditado
palavras e frase, a segmentação de palavras e classificação de palavras quanto ao número de
sílabas (EFLP0112). Importante compreender que as letras, as sílabas, as palavras vão produzindo
sentido no texto e em seu contexto. Assim, o professor vai mediando a leitura da palavra dentro
do texto, com a finalidade de compreender o significado e o sentido naquele contexto.
Percebemos que essa organização está centrada no domínio do código de representação
da língua. A ideia é conhecer as letras e os sons delas. Como a criança irá construir sentido assim?
De que modo vai sentir vontade de ler? Cadê a linguagem viva, dinâmica, dialógica? Esses pontos
contribuem sobremaneira nas relações vividas pelas crianças na fase inicial da escrita. Trata-se
de uma escrita que já nasce artificial, porque nada tem a dizer, assim as questões lançadas abrem
portas para que sigamos refletindo e buscando, na prática, um ensino que contribua para que as

13
Ideb é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

crianças construam sentido acerca do lido e, por conseguinte, escrevam para comunicar as
próprias ideias, sentimentos, enfim, para exercitar a cidadania crítica e consciente. É nessa
direção que ler e escrever na perspectiva discursiva deve ser um trabalho em todos os anos do
Ensino Fundamental.

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391
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DIREITO À EDUCAÇÃO: ACESSO À JUSTIÇA E O


RESPEITO A DIGNIDADE HUMANA
Marcelo Costa Ribeiro1

RESUMO: O que justifica este trabalho é a necessidade de demonstrar que o exercício do direito
à educação, enquanto direito humano, é um elemento importante no conjunto dos meios que
visam a alcançar o pleno desenvolvimento da personalidade do indivíduo, bem como saber que
ele é parte da construção de uma sociedade melhor, ajudando a fiscalizar os atos administrativos
referentes a educação brasileira. Este trabalho tem como tema "Direito à educação: direito social
e humano". O problema trazido à baila está no fato de que, a deficiência do conhecimento sobre
os mecanismos legais e jurídicos da maior parte da população, para reivindicar o atendimento
das necessidades de instrução de qualidade, bem como da manutenção e sustento do indivíduo
no período de educação, é um obstáculo no processo de reivindicação desses direitos, bem como
a fiscalização dos atos da administração pública pela sociedade, que, em contrapartida, nessa
situação, passa a depender do despertar do Ministério Público ou das organizações não
governamentais representativas dos interesses educacionais. O objetivo que orientou a
construção deste trabalho foi demonstrar que a dignidade da pessoa humana é um direito social,
fundamento do Estado Democrático de Direito, e sobrepõe-se aos interesses particulares. Este
objetivo se desdobrou nos seguintes objetivos específicos: demonstrar que a educação é um
direito humano; que as políticas de governo não atendem as necessidades elementares na
educação brasileira; e que a falta de conhecimento acerca dos direitos educacionais torna difícil
o exercício desse direito. A metodologia tem abordagem do tipo quali-quanti, de natureza
aplicada, com objetivo descritivo, cujo procedimento é bibliográfico.

1Professor de Direito da UNISEP, Ouro Fino, Minas Gerais. Doutor em Ciências Jurídicas pela Pontifícia
Universidade Católica de Buenos Aires, Argentina. Mestre em Educação pela Universidade do Vale do Sapucaí –
UNIVÁS. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3225326342265920. ORCID-id: https://orcid.org/0000-0002-1643-7747.

392
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Palavras-Chave: Direito à educação; Direito social; Sociedade; Direitos humanos.

RIGHT TO EDUCATION: ACCESS TO JUSTICE AND RESPECT FOR


HUMAN DIGNITY
ABSTRACT: What justifies this work is the need to demonstrate that the exercise of the right to
education, as a human right, is an important element in the set of means that aim to achieve the
full development of the individual's personality, as well as knowing that he is part of the
construction of a better society, helping to inspect administrative acts related to Brazilian
education. This work has as its theme "Right to education: social and human right". The problem
brought up is the fact that the lack of knowledge about the legal and juridical mechanisms of the
majority of the population, to claim the attendance of the needs of quality instruction, as well as
the maintenance and sustenance of the individual during the period of education. , is an obstacle
in the process of claiming these rights, as well as the inspection of public administration acts by
society, which, on the other hand, in this situation, comes to depend on the awakening of the
Public Ministry or non-governmental organizations representing educational interests. The
objective that guided the construction of this work was to demonstrate that the dignity of the
human person is a social right, foundation of the Democratic State of Law, and overlaps with
private interests. This objective unfolded in the following specific objectives: to demonstrate that
education is a human right; that government policies do not meet basic needs in Brazilian
education; and that the lack of knowledge about educational rights makes it difficult to exercise
this right. The methodology has a quali-quanti approach, of an applied nature, with a descriptive
objective, whose procedure is bibliographic.

Keywords: Right to education; Social law; Society; Human rights.

393
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO sociedade onde ele está inserido. É a busca pela


manutenção da paz por meio da construção do
Os direitos sociais, dentre os quais a conhecimento.
educação, têm fundamento na dignidade da O direito à educação extrapolou os limites
pessoa humana, quer no aspecto individual ou territoriais dos países, quando, em 10 de
no âmbito social. Esses direitos apresentam um dezembro de 1948, na terceira sessão ordinária
aspecto solidário quanto à sua efetividade, da Assembleia Geral das Nações Unidas, foi
abrangência e garantia de que o indivíduo proclamada e adotada a Declaração Universal
poderá exercê-lo e será amparado, conforme dos Direitos Humanos, da qual se destaca a
Cordeiro e Galindo (2007, p. 125). garantia de instrução do indivíduo pelo Estado,
Objetivamente, sob o preceito como fator essencial para o seu
constitucional, demonstra-se que a dignidade desenvolvimento social, intelectual e moral
da pessoa humana é um direito social e consequentemente.
fundamento do Estado Democrático de Direito. A instrução, do ponto de vista da prestação
Trata-se de uma normativa que se materializa estatal brasileira, é um objetivo mais
no contexto social e político da República específico, isto é, pode-se inferir que a
Federativa do Brasil, sob a égide da obrigatoriedade do Estado é ofertar o ensino
Constituição Federal de 1988. O respeito a essa de qualidade. Uma obrigação declarada na
dignidade pelo Estado, quando efetivamente Constituição Federal (BRASIL, 1988), no art.
existente, conduz ao entendimento de que a 205, regulado pelo no art. 4º da Lei de
instituição estatal é responsável pela tutela Diretrizes e Bases da Educação Nacional
dessa dignidade em seu território, garantindo (BRASIL, 1996).
ao indivíduo o mínimo para sua subsistência, O problema trazido à baila está no fato de
quiçá a melhor qualidade possível do que, a deficiência do conhecimento sobre os
suprimento das suas necessidades básicas. mecanismos legais e jurídicos da maior parte da
Após a Segunda Guerra Mundial, a população, para reivindicar o atendimento das
educação, considerada prioridade nas políticas necessidades de instrução de qualidade, bem
públicas em vários países, tornou-se o como da manutenção e sustento do indivíduo
elemento prioritário para a sociedade no período de educação, é um obstáculo no
internacional no processo de reconstrução da processo de reivindicação desses direitos, bem
dignidade das nações assoladas pelas inúmeras como a fiscalização dos atos da administração
batalhas. Principalmente, porque demonstra pública pela sociedade, que, em contrapartida,
respeito a dignidade humana em contraposição nessa situação, passa a depender do despertar
ao Holocausto. do Ministério Público ou das organizações não
Era a reedificação das estruturas governamentais representativas dos interesses
educacionais que possibilitaria um processo de educacionais.
capacitação dos indivíduos em defender a paz. Justifica-se a construção deste trabalho na
Dotando-os de discernimento acerca da necessidade de demonstrar que o exercício do
realidade sociopolítica e econômica da direito à educação, enquanto direito humano,

394
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

é um elemento importante no conjunto dos ativo ou omissivo por parte do devedor da


meios que visam a alcançar o pleno obrigação, nesse caso o Poder Público
desenvolvimento da personalidade do (DUARTE, 2004, p. 85), acarretará a
indivíduo, bem como saber que ele é parte da possibilidade de judicialização do direito à
construção de uma sociedade melhor, educação. Nessa relação obrigacional, o credor
ajudando a fiscalizar os atos administrativos é o indivíduo ou a coletividade.
referentes a educação brasileira. Ambos são detentores do direito subjetivo
A capacidade do indivíduo de exigir do público que lhes garante o poder constitucional
Estado a oferta de um ensino de qualidade e a de recorrer ao judiciário, cuja finalidade é a
manutenção da sua subsistência no período de solução de conflitos derivados do
instrução, está respaldada na Constituição descumprimento do dever pelo Estado. Nesse
Federal de 1988, na Declaração Universal dos sentido, tanto o indivíduo quanto a
Direitos Humanos de 1948, e na Lei de coletividade podem apresentar suas exigências
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de em nome da dignidade do ser humano, da
1996. igualdade de direitos, da recusa definitiva de
formas de discriminação etc. Deste modo,
O PODER PÚBLICO E A chamar à responsabilidade do Poder Público
em juízo para cumprimento da obrigação por
RESPONSABILIDADE SOCIAL meio de uma decisão do Poder Judiciário.
A responsabilidade do Poder Público tem
origem no contrato social. Uma obrigação
jurídica na qual se encerra o dever de dar, fazer
EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E
ou não fazer algo em benefício de um indivíduo DIREITOS HUMANOS
ou da coletividade procurando atender o Para exigir uma educação de qualidade,
interesse público. É comum, hodiernamente, obedecendo a realidade sociocultural de cada
constatar a omissão do Estado na execução, Unidade Federativa da União, é necessário
implantação ou implementação de políticas saber que educação é direito social. É um
públicas relacionadas à educação, implicando conjunto de direitos que têm como base
em dano considerável à sociedade. Fato este garantir aos indivíduos o exercício e usufruto
que ficou evidente neste momento de de direitos fundamentais em circunstâncias de
pandemia da COVID-19, quando as aulas igualdade, para tornar possível uma vida digna
passaram a ser remotas no período de por meio da proteção e garantias dadas pela
lockdown e, agora, com o retorno às aulas Constituição Federal vigente.
presenciais, isto é, deficiências no processo de O direito à educação é um direito humano
aprendizagem dos alunos. acolhido em várias constituições e convenções
A interpretação da lei, em relação à atuação internacionais, das quais surgiram a Declaração
do Estado nas políticas públicas, demonstra Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), e
que todo direito tem um objeto que se traduz o Pacto Internacional sobre Direitos
numa contraprestação. Um comportamento Econômicos, Sociais e Culturais (BRASIL, 1992).

395
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Partindo do princípio de que o direito à No Brasil, a Constituição Federal de 1988


educação é reconhecido como um direito social atribui ao Ministério Público à defesa da ordem
e ambos são parte dos direitos humanos, e jurídica, do regime democrático e dos
compartilham da mesma finalidade, qual seja a interesses sociais e individuais indisponíveis
proteção e o incentivo ao desenvolvimento (Art. 127), promovendo as medidas necessárias
moral e intelectual do indivíduo em sociedade, à sua garantia (Art.129). O ministério público,
pode-se aferir que, uma vez atrelados, em nome do povo, e na defesa dos interesses
repercutem no desenvolvimento social. públicos, bem como as entidades
O desenvolvimento social tem em si uma representativas da sociedade, detém a
compreensão ampliada da dimensão de capacidade de reivindicar, perante o judiciário,
crescimento econômico, expandindo os o cumprimento de uma obrigação social pelo
horizontes de conceitos rigorosos relacionados Estado.
à produção, consumo, trabalho, renda etc., A falta de conhecimento sobre os
para incorporar outros pilares ao bem-estar mecanismos legais e jurídicos da maior parte da
social, especialmente aqueles relacionados aos população, para reivindicar o atendimento das
direitos sociais, que surgiram em meados do necessidades de instrução de qualidade, bem
século XX, sendo, mais tarde, afirmados na como da manutenção e sustento do indivíduo
Declaração Universal dos Direitos Humanos no período de educação, é um obstáculo no
com repercussão nas normas pertinentes à processo de reivindicação desses direitos, bem
educação. como a fiscalização dos atos da administração
pública pela sociedade, que, em contrapartida,
A EDUCAÇÃO, O DIREITO nessa situação, passa a depender do despertar
do Ministério Público ou das organizações não
SUBJETIVO PÚBLICO E O ESTADO governamentais representativas dos interesses
O direito subjetivo público é princípio educacionais.
fundamental para exercício do direito Assim, o direito subjetivo público tem sua
relacionado as questões de interesse público, a origem no Estado de Direito que consiste na
exemplo da educação. Ou seja, é a capacidade igualdade de direitos e deveres recíprocos
jurídica dada ao indivíduo de exercer seu entre os cidadãos e o Estado, e assim elimina-
direito onde ele caiba, sob a garantia se o caráter despótico e absolutista do Estado.
constitucional e deve ser respeitado pelo Passando a vigorar o Estado de Direito,
Estado. A exemplo do exercício do direito à consagrado pela Constituição Federal de 1988.
educação destinado ao atendimento a todos A esse respeito, Bobbio (2004), pondera com a
aqueles maiores de sete anos no cumprimento seguinte reflexão:
dos anos da escolaridade obrigatória para o [...] quando nascem os chamados direitos
qual o Estado é aquele ente que deve públicos subjetivos, que caracterizam o Estado
proporcionar o atendimento desse direito de Direito. É com o nascimento do Estado de
(CURY, 2002). Direito que ocorre a passagem final do ponto
de vista do príncipe para o ponto de vista dos

396
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cidadãos. No Estado despótico, os indivíduos se nos Atos das Disposições Constitucionais


singulares só têm deveres e não direitos. No Transitórias (art. 60), com alteração dada pela
Estado absoluto, os indivíduos possuem, em Emenda Constitucional n.º 53 de 2006, no qual
relação ao soberano, direitos privados. No antevê a criação do Fundo de Manutenção e
Estado de Direito, o indivíduo tem, em face do Desenvolvimento da Educação Básica e de
Estado, não só direitos privados, mas também Valorização dos Profissionais da Educação
direitos públicos. O Estado de Direito é o Estado (Fundeb) mantido pelo FNDE, órgão cuja tarefa
dos cidadãos (BOBBIO, 2004, p. 31). consiste em receber e transferir recursos para
Consonante a essa reflexão, o Ministro em estados e municípios, para garantir a
exercício, Luís Roberto Barroso, do Supremo implementação e/ou funcionamento de
Tribunal Federal (STF), argumentou que: importantes programas educacionais.
É bem de ver, no entanto, que o constituinte O Fundeb é um fundo específico, de caráter
preferiu não sujeitar-se [sic] a riscos de contábil e de abrangência estadual, composto
interpretação em matéria à qual dedicou por recursos provenientes de impostos e das
especial atenção: o ensino fundamental. Desse transferências dos Estados, Distrito Federal e
modo, interpretando a si mesmo, fez incluir no Municípios vinculados à educação, conforme
§ 1o do art. 208 a declaração de que “o acesso disposto nos arts. 212 e 212-A da Constituição
ao ensino obrigatório e gratuito é direito Federal. Refere-se a um conjunto de 27 fundos
subjetivo público”. O dispositivo, todavia, não (26 estaduais e 1 do Distrito Federal) que serve
deve induzir ao equívoco de uma leitura como sistema de redistribuição de recursos à
restritiva: todas as outras situações jurídicas Educação Básica (EDUCAÇÃO, 2020).
constitucionais que sejam redutíveis ao O estabelecimento do PNE, declarado no
esquema direito individual – dever do Estado artigo 214, com redação dada pelo caput da
configuram, da mesma sorte, direitos públicos Emenda Constitucional n.º 59 de 2009, dispõe
subjetivos (BARRO, 2009, p. 113). sobre o objetivo de articular o sistema nacional
A subjetividade do direito à educação é um de educação, tal seja:
princípio importante contido na Constituição Art. 214 – A lei estabelecerá o plano nacional
Federal de 1988. Historicamente, a de educação, de duração decenal, com o
Constituição de 1967, alterada pela Emenda objetivo de articular o sistema nacional de
Constitucional n.º 1 de 1969, reconhecia o educação em regime de colaboração e definir
direito à educação como direito objetivo com diretrizes, objetivos, metas e estratégias de
peculiaridades. O desconhecimento legal e implementação para assegurar a manutenção e
explícito da educação. O direito subjetivo desenvolvimento do ensino em seus diversos
público, nos textos constitucionais níveis, etapas e modalidades [...]
antecedentes, criava embates jurídicos que se Assim, uma vez garantido o direito subjetivo
estendia a todas as áreas do direito que se público à educação, incumbe ao Poder Público
vinculavam à matéria. garantir que ele seja exercido adequadamente
A inquietação do legislador com a garantia pelo cidadão. Consequentemente, obriga o
de um modelo mínimo de qualidade manifesta- Estado a desenvolver políticas públicas capazes

397
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de fazer a solidificação das normas destinadas documentos de direito internacional. Isso


a cuidar da educação, atendendo as porque, refere-se àquelas posições jurídicas
necessidades das instituições de ensino e, que reconhecem o ser humano como detentor
principalmente, à construção de um piso de direitos naturais, independentemente de
salarial digno para os professores, haja vista sua vinculação com determinada ordem
que os professores detêm um conjunto de constitucional. Ou seja, extrapola os limites
saberes docentes indispensáveis à dinâmica do territoriais de um país.
processo ensino-aprendizagem. Relaciona-se a um ordenamento jurídico, no
qual está inserido à validade de direitos
DIREITO À EDUCAÇÃO E universais em qualquer tempo. De tal sorte
que, revelam um inequívoco caráter
DIREITOS HUMANOS supranacional (internacional). Pode-se
No art. 26, inciso 1º, da DUDH, há o destacar como exemplos: a Declaração
reconhecimento da instrução como direito de Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), a
todo ser humano e, no inciso 2º, assegura-se a Declaração Europeia de Direitos do Homem
prestação estatal dos países-membros para a (TEDH, 1950), e a Convenção Americana sobre
implantação e implementação de políticas Direitos Humanos (EUA, 1969), que possuem
públicas voltadas à instrução de seus povos. objetivos de proteção dos direitos do homem,
Significa a construção de uma segurança dentre eles o direito de instrução.
jurídica destinada a defender esse direito, em Todavia, não convém considerar somente o
observância ao pleno desenvolvimento da critério espacial como elemento único para a
personalidade e do fortalecimento do respeito diferenciação entre direitos humanos e
pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. Posto que, se assim somente
fundamentais (ONU, 1948). fosse, surgiriam imprecisões sobre a extensão
Cabe aqui uma distinção terminológica entre contextual desses dois institutos jurídicos, ou
“direitos humanos” e “direitos fundamentais”, seja, uma comparação equivocada, quiçá
comumente utilizados como sinônimos. Sarlet incompleta.
(2018, p. 18), explica que no contexto espacial Também, não poderão ser concebidos como
da norma relacionada ao ser humano, há sinônimos, tendo em vista que a concretização
diferenças. Os “direitos fundamentais” se de cada um desses termos é distinta uma da
aplica para aqueles direitos do ser humano outra. Esta distinção é de importância para se
reconhecidos e corporificados na esfera do compreender o alcance da proteção dos
direito constitucional positivo de determinado direitos do homem em relação ao direito à
pelo Estado, por exemplo, a Constituição educação estendida em nível mundial. Os
Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da chamados jusnaturalistas entendem que o
Educação Nacional de 1996. direito natural, como o de aprender, antecede
A expressão “direitos humanos”, segundo aos próprios direitos humanos e fundamentais.
Sarlet (2018, p. 18), a sua dimensão é espacial Sarlet (2018, p. 21), esclarece que se torna
e mais ampla, e guardaria relação com os importante levar em consideração a distinção

398
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quanto à aplicabilidade e proteção das “normas princípios expressos na Constituição Federal


consagradoras dos direitos fundamentais (BRASIL, 1988), cuja lista está limitada aos
(direito interno) e dos direitos humanos direitos humanos. Direitos estes que têm a
(direito internacional)”. característica de garantir a existência digna da
O entendimento é o de que não se faz pessoa humana, ainda que seja de forma
necessário entranhar-se na ideia de que os mínima, sob a garantia de eficácia pelos
direitos fundamentais atingem o maior grau de tribunais internos.
efetivação, frente à existência de instâncias, Dada a importância que os direitos
especialmente as judiciárias, munidas de poder fundamentais assumem no ordenamento
para fazer com que esses direitos sejam jurídico brasileiro2 , a doutrina tem se
1

respeitados. empenhado em explicar os direitos


Sinteticamente, pode-se dizer que os fundamentais com base nos planos formal,
direitos humanos são garantias integradas material, funcional e estrutural.
naturalmente à existência da pessoa, tidos Quanto aos planos formal e material,
como verdadeiros para todos os países e Pereira (2018, p. 77), os distingue como sendo
materializados em variados instrumentos do os direitos fundamentais aqueles que a ordem
Direito Internacional Público. constitucional os declara expressamente nos
Porém, devido a fatores instrumentais, não artigos, 6º, 7º, 14 e 17 da Constituição Federal
têm uma aplicação fácil e acessível à maioria de 1988. Quanto ao plano material, são direitos
das pessoas, principalmente, quando está em fundamentais aqueles direitos que ostentam
jogo o direito à educação. Nesse sentido, em maior importância, ou seja, os direitos que
muitos casos, a solução está no processo de devem ser declarados por uma Constituição
judicialização da educação. legítima, oriunda de uma Assembleia
Aqui cabe uma digressão, se alguma Constituinte.
reinvindicação à educação não estiver Quanto ao plano funcional, ele dá origem a
regulamentada, o ativismo judicial tende a duas funções dos direitos fundamentais, tais
resolvê-la. Neste aspecto, o judiciário pode sejam as regras e os princípios. Por um lado,
mandar o ente público cumprir o que operam no plano da subjetividade como
determina a decisão judicial fundamentada em garantidores da liberdade individual sob os
direitos humanos, considerados essenciais à aspectos sociais e coletivos desta
sobrevivência do indivíduo, bem como da subjetividade. De outro lado, os direitos
própria sociedade. assumem uma função objetiva, posto que
Cabe ainda destacar que os direitos transcende à função subjetiva do indivíduo,
fundamentais são construídos por regras e assim explica Pereira (2018, p. 77–78).

2
Ordenamento jurídico é como se chama à disposição preponderância, ou seja; o ápice, ao qual todas as
hierárquica das normas jurídicas (regras e princípios), demais leis devem ser compatíveis material e
dentro de um sistema normativo. Por esse sistema, formalmente. Trata-se, portanto, de um conjunto
pode-se compreender que cada dispositivo normativo hierarquizado de normas jurídicas (regras e princípios)
possui uma norma da qual deriva e à qual está que disciplinam coercitivamente as condutas humanas,
subordinada, cumprindo a Constituição o papel de com a finalidade de buscar harmonia e a paz social.

399
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Essas duas categorias que não se excluem.


Isto é, primeiramente, o sentido que
atribuímos às expressões “direitos humanos”
(ou direitos humanos fundamentais) e “direitos
fundamentais” não são termos reciprocamente
excludentes ou incompatíveis, mas, sim, de
dimensões íntimas e cada vez mais inter-
relacionadas. O que não afasta a circunstância
de se cuidar de expressões reproduzidas em
esferas distintas de aceitabilidade
jurisprudencial, cujas consequências práticas
não podem ser desconsideradas.
Portanto, para garantir o direito à educação,
tem-se que compreender, primeiramente, que
ele faz parte da natureza humana em sociedade
que se expressa em direito natural. Segundo,
que material e formalmente, esse direito deve
estar explícito na lei maior que rege o Estado
brasileiro, a Constituição Federal de 1988, bem
como deve estar regulamentado em leis
infraconstitucionais, tal como a da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(BRASIL, 1996). Por fim, o direito natural,
material e formal relativo à educação estão sob
o amparo da Declaração Universal dos Direitos
Humanos (ONU, 1948).

400
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os direitos sociais preditos na atual Constituição Federal, compreendidos como garantias
adquiridas ao longo da história brasileira, nem sempre foram inseridos nas Constituições
anteriores. Formalmente, a inclusão desses direitos ao ordenamento jurídico positivo 3 foi 1

gradativa, por meio das conquistas sociais e políticas, que fizeram de tais direitos dinâmicos e
abertos, ou seja, sujeitos a ampliações.
Para a viabilização de um ensino de fácil acesso e de qualidade, é necessário que a
educação seja uma pauta prioritária do governo federal. O Brasil, atualmente, tem um dos piores
fundos de recursos destinados à educação no mundo. Esta precária distribuição de recursos
coloca o Brasil na 57ª posição do ranking mundial, segundo a IMD World Competitiveness Center
(IMD, 2021). Segundo a pesquisa, quando avaliado em termos per capita, o mundo investe em
média US$ 6.873 (cerca de R$ 34,5 mil) por estudante anualmente, enquanto o Brasil aplica
apenas US$ 2.110 (R$ 10,6 aproximadamente).
Desde 1995, a Transparência Internacional divulga o relatório anual Índice de Percepção
de Corrupção (IPC) que coloca na ordem os países conforme o grau em que a corrupção é
percebida entre funcionários públicos e políticos. Esta organização define a corrupção como o
abuso do poder confiado para fins privados. Este índice avalia 180 países e territórios e os atribui
notas em uma escala entre 0 e 100. Quanto maior a nota, maior é a percepção de integridade do
país. O Brasil encontra-se na 38ª posição, conforme a Transparency International the Global
Coalition Against Corruption (IPC, 2021).
Por conseguinte, enquanto não houver atenção especial aos direitos e garantias
fundamentais da nossa constituição, relacionados à educação e aos direitos humanos, o
desenvolvimento social brasileiro estará em constante estado de precariedade, impactando
negativamente na economia do país. Para tanto, o judiciário deve criar processos de facilitação
do acesso à justiça pelo cidadão, a fim de que os preceitos e garantias constitucionais sejam
respeitados e o povo possa exigir obediência do Poder Público à manutenção do bem-estar social.

3
O ordenamento jurídico positivo baseia-se no direito positivo, isto é, consiste no conjunto de todas as regras e
leis que regem a vida social e as instituições de determinado local e durante certo período, por consequência,
mutável conforme à demanda da dinâmica social.

401
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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Rio de Janeiro: Saraiva JUR, 2018.

402
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais: uma Teoria Geral dos Direitos
Fundamentais na Perspectiva Constitucional. 13. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora,
2018.

TEDH, Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Declaração Europeia de Direitos do Homem
e das liberdades fundamentais. Roma, Itália: Conseil de l’Europe, 1950.

403
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL EM


TEMPOS DE COVID-19
Elsa Maria Karsburg da Rosa1
Daniel Arruda Coronel2

RESUMO: A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) ocupa posição estratégica para a prevenção,
controle dos problemas alimentares e nutricionais, além de promoção da alimentação adequada
e saudável a fim de evitar agravos à saúde da população. Com a propagação do vírus SARS-Cov-2
e suas variantes, causadores da doença mundialmente denominada de Covid-19, a situação de
pandemia vem impactando, dentre outros danos, em especial um direito humano básico – a
alimentação adequada e saudável. Em vista disso, o presente estudo busca discutir por meio de
evidências científicas e marcos legais o cenário atual da Educação Alimenta frente a pandemia
por Covid-19. Compreender melhor os fenômenos do comer, do alimentar e do nutrir, bem como
captar informações sobre o que é saudável representam grandes desafios para a EAN. A
apropriação da linguagem da alimentação saudável, sem necessariamente compreender o que
representa, pode tornar-se banalizada e perigosa, especialmente no cenário em vigor. São estes
aspectos que tornam a EAN tão desafiadora e necessária atualmente.

Palavras-Chave: Educação Alimentar; COVID-19; Segurança Alimentar.

1 Mestranda em Gestão de Organizações Públicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Nutricionista
pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).
2 Professor Associado do Departamento de Economia e Relações Internacionais. Docente permanente no Programa

de Gestão de Organizações Públicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Doutor em Economia (UFV).

404
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

FOOD AND NUTRITIONAL EDUCATION IN TIME OF COVID-19


ABSTRACT: Food and Nutrition Education (EAN) occupies a strategic position for the prevention
and control of food and nutritional problems, in addition to promoting adequate and healthy food
to avoid harm to the health of the population. With the spread of the SARS-Cov-2 and its variants,
which cause the disease known worldwide as COVID-19, the pandemic situation has impacted,
among other damages, in particular a basic human right - adequate and healthy food. In this
regard, this study discussed, through scientific evidence and legal framework, the current
scenario of Food Education despite the Covid-19 pandemic. To better understand the
phenomena of eating, feeding, and nurturing, as well as capturing information about what is
healthy, is one of the major challenges for the EAN. The appropriation of the language of healthy
eating, without necessarily understanding what it represents, can become trivialized and
dangerous, especially in the current scenario. These are the aspects that make EAN so challenging
and necessary today.

Keywords: Nutrition Education; COVID-19; Food safety.

405
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Para tanto, faz-se necessário compreender


que a Educação Alimentar e Nutricional possui
Perante a propagação do vírus SARS-Cov-2, como pilar a alimentação adequada e saudável
causador da doença mundialmente caracterizada como um direito humano básico
denominada de Covid-19, a situação de e também reconhecida como uma ação
pandemia avança juntamente com inúmeras estratégica para o alcance da Segurança
inquietações, especialmente daqueles que Alimentar e Nutricional e da garantia do Direito
pesquisam, atuam e gerenciam os campos da Humano à Alimentação Adequada (DHAA).
saúde e da educação. Nesse contexto, a Nesse sentido, o presente estudo busca
Educação Alimentar e Nutricional (EAN) ocupa discutir por meio de evidências científicas e
posição estratégica para a prevenção e marcos legais o cenário da Educação Alimenta
controle dos problemas alimentares e frente a pandemia por Covid-19.
nutricionais atuais e para a promoção da
alimentação adequada e saudável a fim de
DESAFIOS DA EDUCAÇÃO
evitar agravos ainda maiores à saúde da
população. ALIMENTAR E NUTRICIONAL
Um avanço fundamental e balizador das (EAN)
ações de EAN no Brasil, no âmbito das Políticas Como forma de fortalecimento da EAN, a Lei
Públicas, foi a elaboração do Marco de Nº 11.947, de 2009, traz “a inclusão da
Referência de Educação Alimentar e educação alimentar e nutricional no processo
Nutricional. O documento foi produzido em de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo
2012 pelo Ministério do Desenvolvimento currículo escolar, abordando o tema
Social e Combate à Fome e inseriu a Educação alimentação e nutrição e o desenvolvimento de
Alimentar e Nutricional (EAN) no contexto da práticas saudáveis de vida, na perspectiva da
promoção da saúde e da Segurança Alimentar segurança alimentar e nutricional”. Além disso,
e Nutricional (SAN) (BRASIL, 2012). O Marco essa Lei estipula medidas e apoio à agricultura
ratificou a EAN como um campo de ação familiar local e parâmetros que orientam e
fundamental para a construção de estratégias definem a oferta desses alimentos às escolas, o
de prevenção e controle dos problemas que contribui diretamente para a EAN nos
alimentares e nutricionais, cujos resultados diferentes ciclos de vida (BRASIL, 2009).
identificam-se como determinantes no Conforme o Decreto Nº 7.272, de 25 de
controle das doenças crônicas não agosto de 2010, a EAN é uma diretriz da Política
transmissíveis, deficiências nutricionais, bem Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
como a valorização das diferentes expressões (PNSAN), e desde então, vem sendo trabalhada
da cultura alimentar, fortalecimentos de em uma perspectiva mais ampliada em
hábitos regionais, redução do desperdício de diferentes campos de ação, no escopo do
alimentos, promoção do consumo sustentável sistema alimentar, e articulada a outras
e da alimentação saudável. políticas públicas (BRASIL, 2010).

406
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Justamente em seu contexto mais amplo, a como gênero, etnia e preferências pessoais,
educação alimentar e nutricional insere-se no elementos e características essas norteadoras
campo transdisciplinar, multissetorial e da EAN (BRASIL, 2014).
multiprofissional, pois há interdependência de Com grande empenho, segundo o Relatório
fatores, tanto para entender a alimentação em das Nações Unidas, em 2014, o Brasil
si como os princípios da EAN. Tal premissa leva apresentava resultados expressivos, fruto de
cada vez mais a refletir sobre o ato de comer um conjunto de políticas estruturais nas áreas
como algo muito mais amplo que ingerir de Segurança Alimentar e Nutricional e
nutrientes. A alimentação é sim um ato proteção social implementadas, no qual a fome
biológico; mas, ao mesmo tempo, é também deixou de ser um problema estrutural no país,
cultural e até mesmo ecológico (etapas do segundo dados da Food and Agriculture
sistema alimentar) e político (permeado por Organization of the United Nations (FAO,
interesses privados e campo de disputa). 2014). A partir de então, as ações
A ação de comer, além de satisfazer as concentraram-se no enfrentamento das
necessidades biológicas, é também fonte de crescentes taxas de excesso de peso e
prazer, de socialização e de expressão cultural. obesidade, que são um desfecho da má
As características do modo de vida alimentação, o que passou a ser um desafio
contemporâneo influenciam, crescente no campo das políticas públicas.
significativamente, o comportamento Dados evidenciados por meio da Pesquisa de
alimentar, com oferta ampla de opções de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para
alimentos e preparações alimentares, da Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico
influência do marketing e da tecnologia de (VIGITEL, 2019), recentemente promovida pelo
alimentos, além do apelo midiático das redes Ministério da Saúde, apontam uma prevalência
sociais. de 55,4% da população em estado de excesso
No Brasil, os guias alimentares têm um papel de peso, já a obesidade variou entre 15,4%, a
estratégico na indução e orientação de políticas 23,4%, nas principais capitais brasileiras
públicas de alimentação e nutrição e na (BRASIL, 2019).
garantia do direito humano à alimentação e à No entanto, em paralelo aos cenários
soberania alimentar (BORTOLINI, et al., 2019). existentes, em dezembro de 2019, foi
Nesse sentido, o Guia Alimentar para a descoberto, após os primeiros casos
População Brasileira, em sua segunda edição, registrados na China, o novo Coronavírus,
enfatiza que a alimentação saudável deve agente causador da doença classificada como
atender aos princípios ou “leis da alimentação” Covid-19. Tratando-se de um vírus gripal, com
da quantidade, da qualidade, da adequação e alto índice de contágio, espalhou-se
da harmonia, suprindo de forma equilibrada o rapidamente de forma mundial, impactando de
total calórico e de nutrientes necessários ao modo danoso os países. A pandemia então
organismo, respeitando as diferenças instalada passou a exigir atenção em diversas
individuais e/ou coletivas relativas às áreas, principalmente sobre a saúde da
características socioeconômicas e culturais população, trazendo árduos desafios para seu

407
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

controle, necessitando medidas que visem grande volume de informações disponíveis


solucionar ou minimizar seus resultados em dificulta o discernimento sobre a confiabilidade
vários aspectos (CABRAL, et al., 2020; YANG et das informações circulantes. Ao mesmo tempo,
al., 2020). há uma maior disponibilidade de periódicos
Como agravante, crises emergenciais como a científicos e base de dados on-line que se
da Covid-19, possuem características de wicked tornou facilmente disponível. No entanto, o
problems, ou seja, problemas ambíguos, conceito de saúde difundido na web deve ser
dinâmicos, com baixo nível de informações questionado e filtrado sob um olhar crítico e
confiáveis, consequências intangíveis que atento de seus leitores.
demandam soluções difíceis e A propagação de informações e orientações
interdependentes (SCHMIDT; MELLO; supostamente milagrosas sobre alimentação e
CAVALCANT, 2020). Para tanto, atender as nutrição no combate ao Coronavírus e
demandas da sociedade no cotidiano é um fortalecimento do sistema imunológico tornou-
grande desafio para a administração pública, se motivo de preocupação, dada a inexistência
que precisa gerenciar recursos limitados para de protocolos técnicos ou evidências científicas
atender necessidades ilimitadas da população. que sustentem alegações milagrosas.
Com a crise gerada pela pandemia de Covid-19, Nesse sentido, informações básicas sobre
este cenário tornou-se caótico em muitos formas de transmissão e prevenção podem ser
países, especialmente no Brasil. desacreditadas por algumas fontes não oficiais.
De acordo com estudos realizados pela Rede Além disso, promessas de cura do vírus com
de Pesquisa em Soberania e Segurança remédios caseiros, como comer alho e tomar
Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), em vitamina C, estão entre as medidas mais
dezembro de 2020, mais da metade da veiculadas, mesmo sem nenhuma evidência
população brasileira (55,2%) constituía algum científica. Orientações como essas podem
estado de insegurança alimentar (REDE gerar falsas expectativas na população e um
PENSSAN, 2021). Esse dado indica que as descrédito em relação às orientações dos
privações causadas pela pandemia do órgãos de saúde, levando a uma maior
Coronavírus se somaram ao agravamento do propagação do vírus (PALÁCIO; TAKENAMI,
empobrecimento e da fome em todo o 2020). Esse cenário contribui ainda mais para a
território brasileiro. ineficiência das práticas de educação em saúde,
No contexto da comunicação em saúde, as especialmente no que tange à Educação
mídias sociais promovem a interação entre Alimentar e Nutricional.
paciente, profissionais e públicos em geral, por Matos (2020), observou que as notícias
meio da criação, do recebimento e do falsas mais frequentes que circulam pela
compartilhamento de conteúdo e comentários. internet no período pandêmico estão
As informações, desse modo, atingem um relacionadas à terapêutica de combate ao
alcance global em tempo real. vírus, sendo o primeiro e mais eminente
No entanto, os autores de conteúdos, destaque envolveu consumo de bebidas
frequentemente, não são identificados, e o quentes (37%), como chás medicinais, como

408
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

forma preventiva ou corretiva para agravos da


doença.
As interações humanas e tecnológicas
sofreram mudanças e/ou avanços ao longo do
tempo, os modos de se lidar com a alimentação
e o binômio saúde-doença estão em constante
transformação, pois atualmente o acesso às
informações é impulsionado em um ritmo mais
veloz e abrangente.
Além disso, o alerta para o agravamento da
insegurança alimentar no mundo devido à
pandemia de Covid-19, segundo o Relatório
Global de Crises Alimentares, publicado pelo
Programa Mundial de Alimentação da
Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura, preocupa os países
com maior desigualdade social, como o Brasil
(FAO, 2020).

409
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pandemia de Covid-19 impôs desafios sem precedentes para os sistemas alimentares em
todo o mundo. A crise econômica e social associada à emergência sanitária exacerba as
iniquidades sociais e ameaça à SAN, impulsionando o crescimento da pobreza e desvelando a
iminência da crise da fome, em paralelo informações sobre alimentação realizam um desserviço
à saúde da população.
Toda a mobilização para se ter uma alimentação saudável demanda uma transformação
maior, tanto da pessoa quanto da sociedade. E é nessa interface que entra a EAN.
Neste sentido, é fundamental compreender melhor os fenômenos do comer, do alimentar
e do nutrir, bem como captar informações sobre o que é saudável. A apropriação da linguagem
da alimentação saudável, sem necessariamente compreender o que representa, pode tornar-se
banalizada e perigosa. São estes aspectos que tornam a EAN tão desafiadora e necessária
atualmente.
A pandemia evidencia a necessidade urgente da adoção de medidas coordenadas em
escalas global, nacional e local para prevenir a crise humanitária e alimentar iminente, que
ameaça particularmente grupos em maior situação de vulnerabilidade. Para tanto, deve-se
buscar programas e fortalecer as iniciativas voltadas à proteção social, assegurando o pleno
acesso e critérios de informação de qualidade sobre alimentação saudável e adequada.

410
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Lei no 11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o
atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da
educação básica. Brasília: Diário Oficial da União. 17 jun. 2009. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11947.htm. Acesso em: 31 jan.
2022.

BRASIL. Decreto nº 7.272, de 25 de agosto de 2010. Regulamenta a Lei nº 11.346, de 15 de


setembro de 2006, que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN
com vistas a assegurar o Direito Humano à Alimentação Adequada, institui a Política Nacional
de Segurança Alimentar e Nutricional - PNSAN, estabelece os parâmetros para a elaboração do
Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e dá outras providências. Diário Oficial da
União 2010. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/decreto/d7272.htm. Acesso em: 31 jan. 2022.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Marco de referência de


educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. – Brasília, DF: MDS; Secretaria
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em


Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2019: vigilância de fatores de
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http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2019_vigilancia_fatores_risco.pdf.
Acesso em: 30 jan. 2022.

BORTOLINI, G.A. et al. Guias alimentares: estratégia para redução do consumo de alimentos
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CABRAL, E. R. de M. et al. Contribuições e desafios da Atenção Primária à Saúde frente à


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MATOS, R. C. Fake news frente à Pandemia de Covid-19. Vigilância Sanitária em Debate, v.8,
n.3, p.78-85, 2020. Disponível em: https://dx.doi.org/10.22239/2317-269x.01596. Acesso em:
Acesso em: 01 fev. 2022.

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O estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil: um retrato multidimensional.
Relatório, 2014. Disponível em: https://www. fao.org.br/download/SOFI_p.pdf. Acesso em: 31 de
jan de 2022.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA (FAO).


Addressing the impacts of COVID-19 in food crises. Rome: FAO; 2020. Disponível em:
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PALÁCIO, M. A. V; TAKENAMI, I. Em tempos de pandemia pela COVID-19: o desafio para a


educação em saúde. Vigilância Sanitária Em Debate, 8(2), 10-15. 2020.

411
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REDE BRASILEIRA DE PESQUISA EM SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR (REDE


PENSSAN). VIGISAN: Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da
Pandemia da Covid-19 no Brasil. Rio de Janeiro: Rede Penssan, 2021. Disponível em:
http://olheparaafome.com.br/. Acesso em: 20 jan. 2022.

SCHMIDT, F; MELLO, J; CAVALCANT, P. Coordenação governamental na crise da covid-19:


breve proposta de ação. Boletim. Análise Político-Institucional, v. 22, p. 13-23, 2020.

YANG, W. et al. Clinical characteristics and imaging manifestations of the 2019 novel coronavirus
disease (COVID-19): A multi-center study in Wenzhou city, Zhejiang, China. Journal of
Infection, v. 8, n. 4, p. 388-393, 2020.

412
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA NA EDUCAÇÃO


INFANTIL
Fabiana Siqueira Braga1

RESUMO: A inclusão de crianças de todas as etnias, crenças e raças, é um tema polêmico, visto
por muitos como algo do futuro, impossível de ser realizado nas condições atuais de ensino. Hoje,
com a política de inclusão, a educação infantil é a porta de ingresso ao sistema educacional para
boa parte das crianças, devendo o atendimento educacional especializado ser ofertado na própria
creche ou pré-escola em que a criança está matriculada. A pesquisa trata a importância dA
inclusão de crianças de todas as etnias, crenças e raças na educação e na sociedade em geral.
Então para descrever o contexto histórico dA inclusão de crianças de todas as etnias, crenças e
raças na rede pública de ensino é um processo de inclusão dos portadores de necessidades
especiais ou de distúrbios de aprendizagem na rede regular estadual ou municipal. Em se
tratando da busca de uma sociedade inclusiva, faz-se necessário pensar em atividades de inclusão
para além do ambiente escolar.Segundo a Associação Americana de Deficiência Mental (AAMD,
1994), a Deficiência Intelectual é um déficit intelectual no comportamento adaptativo anterior
aos 18 anos de idade (BRASIL, 2007).Diariamente o deficiente intelectual tem dificuldades em
desenvolver suas atividades no ambiente social e cultural no meio em que vive (BRASIL, 2007).
Na Deficiência Intelectual a pessoa indica um atraso em seu desenvolvimento, dificuldades para
aprender, realizar tarefas diárias e de interagir com o meio onde vive. Ou seja, existe um
comprometimento cognitivo que acontece antes dos 18 anos, este prejudica suas habilidades
adaptativas. A doença mental engloba uma série de condições que causam alterações de humor
e comportamento que podem afetar o desempenho da pessoa na sociedade. Essas alterações
acontecem na mente da pessoa e causam uma alteração na sua percepção da realidade. Em suma,

1
Professora de Educação Infantil, na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura m Pedagogia.

413
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

trata-se de uma doença psiquiátrica, que deve ser tratada por um profissional da área, com uso
de medicamentos específicos para cada situação (BRASIL, 2007).

Palavras-Chave: Inclusão escolar; Adaptação curricular; Aprendizagem; Etnias; Crenças; Raças.

ANTI-RACIST EDUCATION IN CHILD EDUCATION


ABSTRACT: The inclusion of children of all ethnicities, beliefs and races is a controversial topic,
seen by many as something of the future, impossible to be carried out under current teaching
conditions. Today, with the inclusion policy, early childhood education is the gateway to the
educational system for most children, and specialized educational services must be offered at the
day care center or preschool where the child is enrolled. The research addresses the importance
of including children of all ethnicities, beliefs and races in education and in society at large. So, to
describe the historical context of the inclusion of children of all ethnicities, beliefs and races in
the public school system is a process of inclusion of people with special needs or learning
disorders in the regular state or municipal network. When it comes to the search for an inclusive
society, it is necessary to think about inclusion activities beyond the school environment.
According to the American Association of Mental Disability (AAMD, 1994), Intellectual Disability
is an intellectual deficit in adaptive behavior prior to children. 18 years old (BRAZIL, 2007). Daily,
the intellectually disabled have difficulties in carrying out their activities in the social and cultural
environment in which they live (BRASIL, 2007). In Intellectual Disability, the person indicates a
delay in their development, difficulties in learning, performing daily tasks and interacting with the
environment where they live. That is, there is a cognitive impairment that happens before the
age of 18, this impairs their adaptive abilities. Mental illness encompasses a number of conditions
that cause changes in mood and behavior that can affect a person's performance in society. These
changes happen in the person's mind and cause a change in their perception of reality. In short,
it is a psychiatric disease, which must be treated by a professional in the area, using specific
medications for each situation (BRASIL, 2007).

Keywords: School inclusion; Curricular adaptation; Learning; Ethnicities; Beliefs; Races.

414
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO formação de profissionais da educação e


qualificação da escola para trabalhar com as
A pertinência da educação alude à pessoas especiais; analisar a forma real de
necessidade de que esta seja significativa para inclusão nas escolas. Entrevistar pais que
todos, de forma que possam apropriar-se e vivenciam A inclusão de crianças de todas as
construir-se como sujeito, desenvolvendo sua etnias, crenças e raças. A inclusão de crianças
autonomia e sua identidade. Para que haja de todas as etnias, crenças e raças e a
pertinência a educação seve ser flexível e deficiência são os temas mais frequentes no
adaptar-se às necessidades e características debate sobre educação, pois vêm da gestão as
dos estudantes em seu contexto. É necessário orientações de como os educadores devem agir
abordar de forma integral um conjunto de e guiar seus educandos, em razão disso, a
fatores que são fundamentais para o educação especial tem buscado cada vez mais
crescimento e desenvolvimento do educando. a “Educação Inclusiva”. E as escolas públicas ou
Entender que a inclusão de crianças de todas privadas estão preparadas para incluir a todos,
as etnias, crenças e raças significa oferecer independente de sua cultura ou jeito de ser ou
oportunidade de estudo para todas as pessoas, agir?
sem distinção de cor, raça, classe social, ou
ainda, condições físicas e psicológicas.
A INCLUSÃO DE CRIANÇAS DE
O objetivo da pesquisa é compreender a
totalidade da importância da inclusão de TODAS AS ETNIAS, CRENÇAS E
crianças de todas as etnias, crenças e raças no RAÇAS
ensino regular como uma das maneiras de Segundo Almeida (2001), é o conceito
oferecer educação qualificada, igualdade, homogeneizador da escola tradicional que
evidenciando a relevância do papel da escola e deve ser mudado, define o conceito de
do professor no método de composição dA educação inclusiva como “o desenvolvimento
inclusão de crianças de todas as etnias, crenças de uma educação apropriada e de alta
e raças, destacando ainda a conjuntura qualidade para alunos com necessidades
histórica do surgimento da educação para o especiais na escola regular”. A questão coloca-
aluno especial, além de evidenciar dificuldades se na forma como a escola interage com a
encontradas por pessoas com necessidades diferença. Tentativas anteriores, não
especiais, relacionando teria e prática. necessariamente em ordem de tempo dão à
Especificar o que deve ser feito para permitir dimensão dessa afirmação:
que crianças e jovens tenham acesso ao Na escola tradicional, a diferença é proscrita
convívio dentro das escolas, juntamente com para a escola especial. A escola integrativa
outras crianças, sendo portadoras de procura responder à diferença desde que ela
necessidades especiais ou não. seja legitimada por um parecer médico-
Interpretar o contexto histórico do processo psicológico, ou seja, desde que seja uma
de inclusão; conhecer as políticas públicas da deficiência no sentido tradicional. A escola
Educação Especial; Apontar a importância da inclusiva procura responder, de forma

415
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

apropriada e com alta qualidade, à diferença O referencial teórico fortalece a proposta ao


em todas as formas que ela possa assumir. defender a importância dA inclusão de crianças
A inclusão de crianças de todas as etnias, de todas as etnias, crenças e raças na Educação
crenças e raças é um tema polêmico, visto por Infantil. Para explicar o autismo dentro do
muitos como algo impossível de ser realizado processo de inclusão na escola regular deve-se
nas condições atuais de ensino. Porém algumas dizer que a criança necessita experimentar,
pessoas vêm se mobilizando a fim de mostrar vivenciar e brincar para adquirir
aos educadores e até mesmo a sociedade, que conhecimentos que futuramente lhe ajudará a
não tem como ficar estático frente ao processo desenvolver de maneira mais eficiente um
que está vigorando a cada dia. Hoje, com a aprendizado formal.
política de inclusão, a educação infantil é a Por meio das brincadeiras a criança acaba
porta de ingresso ao sistema educacional para explorando o mundo a sua volta livremente,
boa parte das crianças, devendo o atendimento pois é a partir daí que ela constrói seu
educacional especializado ser ofertado na aprendizado, e é nesse espaço que a criança
própria creche ou pré-escola em que a criança acaba criando um mundo de fantasias e
está matriculada. manifesta seus sentimentos, se sentindo cada
É por meio dos relacionamentos sociais que vez mais segura para interagir. Toda teoria
descobrimos o que é necessário para viver na necessita, primeiro, de uma conceituação.
sociedade. O primeiro contato social da criança O conceito de educação inclusiva ganhou
é no meio familiar. Segundo Kramer (2005), os maior notoriedade a partir de 1994, com a
surdos foram durante muito tempo Declaração de Salamanca. No que diz respeito
condenados por sua condição, considerados às escolas, a ideia é de que as crianças com
doentes, pela falta da comunicação oral e necessidades educativas especiais sejam
escondidos da sociedade pela sua família. A incluídas em escolas de ensino regular e para
língua de sinais era proibida. Recentemente, a isto todo o sistema regular de ensino precisa
Língua Brasileira de Sinais foi reconhecida ser revisto, de modo a atender as demandas
como língua materna dos surdos, por meio da individuais de todos os estudantes. O objetivo
Lei Nº 10.436, de 24 de abril de 2002, o que dA inclusão de crianças de todas as etnias,
proporcionou aos mesmos um reconhecimento crenças e raças demonstra uma evolução da
perante a sociedade. cultura ocidental, defendendo que nenhuma
O Decreto Federal n° 5.62 de 22 de criança deve ser separada das outras por
dezembro de 2005, estabelece que os alunos apresentar alguma diferença ou necessidade
com deficiência auditiva tenham direito a especial. Do ponto de vista pedagógico esta
educação da Língua Brasileira de Sinais (Libras) integração assume a vantagem de existir
e a língua portuguesa como sua segunda língua; interação entre crianças, procurando um
logo as crianças devem ter acesso a língua desenvolvimento conjunto, com igualdade de
especial o mais cedo possível, o que em geral oportunidades para todos e respeito à
acontece nas escolas. diversidade humana e cultural.

416
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo Silva (1993), a exclusão escolar EDUCAÇÃO INCLUSIVA:


pode ser visibilizada pela incapacidade de o
aluno realizar atividades tipicamente escolares PROCESSO HISTÓRICO E
no espaço de sala de aula, bem como pela ATENÇÃO À PESSOA COM
inadaptação dos mesmos para agir com
DEFICIÊNCIA NAS POLÍTICAS
sucesso nas ações sociais envolvendo o uso da
língua escrita e falada. A primeira limitação é PÚBLICAS NO BRASIL
percebida facilmente pelos educadores em Entre os princípios fundamentais da
contexto de ensino, pois, devido a resquícios de educação inclusiva, está o entendimento de
práticas da tradição pedagógica, as habilidades que o acesso à educação é um direito
necessárias para um bom desempenho escolar incondicional de todos. A inclusão de crianças
continuam sendo supervalorizadas. de todas as etnias, crenças e raças é um tema
A Problemática da pesquisa contribui para polêmico, visto por muitos como algo do
construir o conhecimento, pois este tema foi futuro, impossível de ser realizado nas
escolhido por que há muito tempo discute-se a condições atuais de ensino. Porém algumas
questão do Autismo e A inclusão de crianças de pessoas vêm se mobilizando a fim de mostrar
todas as etnias, crenças e raças no seu processo aos educadores e até mesmo a sociedade, que
de desenvolvimento na Educação Infantil, e sua não tem como ficar estático frente ao processo
finalidade no universo lúdico, até na qual esse que está vigorando a cada dia.
contexto influencia o desenvolvimento A Educação Especial é o ramo da Educação
psicomotor da criança. que se ocupa do atendimento e da educação de
A questão da exclusão escolar está em pessoas com deficiência, preferencialmente
constante discussão, entretanto Freitas (2007), em escolas regulares, ou em ambientes
afirma que estão surgindo novas formas de especializados tais como escolas para surdos,
exclusão e estas estão sendo implementadas escolas para cegos ou escolas para atender
nos sistemas escolares e sobre elas não se tem pessoas com deficiência intelectual.
muito controle e conhecimento. Além disso, o Dependendo do país, a educação especial é
autor afirma que a reprovação é uma antiga feita fora do sistema regular de ensino. Nessa
forma de exclusão e que agora ela se mostra abordagem, as demais necessidades educativas
unida a outras formas de exclusão mais especiais que não se classificam como
recentes desenvolvidas pelo sistema. “As novas deficiência não estão incluídas. Não é o caso do
formas de exclusão atuam agora por dentro da Brasil, que tem uma Política Nacional de
escola fundamental. Adiam a eliminação do Educação Especial na Perspectiva da Educação
aluno e internalizam o processo de exclusão” Inclusiva (2008), e que inclui outros tipos de
(FREITAS, 2007). alunos, além dos que apresentam deficiências.
A educação inclusiva deveria ser o que na
verdade a educação precisa ser para todos. Ela
tem que criar sentidos, abrir possibilidades,
permitir a participação e estar conectada com

417
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a realidade. A educação especial é uma Outras questões foram especificadas em Lei,


educação organizada para atender inclusive de se ter assegurado a condição de
exclusivamente alunos com determinadas incapacidade da pessoa, tanto no que diz
necessidades especiais. Algumas escolas respeito a sua independência como para o
dedicam-se apenas a um tipo de necessidade, trabalho, e, caso isso ocorra, essa pessoa
enquanto outras se dedicam a vários. O ensino perderá o benefício, o qual ficou mais
especial tem sido alvo de críticas por não conhecido como (BPC).
promover o convívio entre as crianças especiais Sua regulamentação deu-se pelo Decreto no.
e as demais crianças. Por outro lado, a escola 1.744, de 8/12/1995. Outra conquista, refere-
direcionada para a educação especial conta se à proibição de qualquer discriminação
com materiais, equipamentos e professores referente a salário e critérios de admissão (Art.
especializados. O sistema regular de ensino 7°, inciso XXXI); acesso ao serviço público por
precisa ser adaptado e pedagogicamente meio de reservas de percentual dos cargos e
transformado para atender de forma inclusiva. empregos públicos (art. 37, § 7°), e quanto a
Antecedente aos eventos internacionais isso, o Decreto 3298/99, assim procedeu para
supramencionados, a Constituição Federal de efetivar a regulamentação desse direito: Fica
1988, introduziu no País, a era dos direitos, em assegurado à pessoa portadora de deficiência o
detrimento dos sentimentos da benesse, direito de se inscrever em concurso público, em
caridade e favor, que impregnavam projetos igualdade de condições com os demais
sociais, mantendo, sobretudo, a hegemonia candidatos, para provimento de cargos cujas
das instituições e a fragilidade dos cidadãos. atribuições sejam compatíveis com a
Com isso, defendendo a cidadania plena e, ao deficiência de que é portador. Citaremos
mesmo tempo envolvendo o Estado, a abaixo as denominações das deficiências para
sociedade e as famílias, direcionando-os a melhor entendimento de suas necessidades.
assegurar o acesso aos bens sociais, sem Deficiência auditiva - Perda parcial (ou total)
discriminação de qualquer natureza. bilateral de 25 decibéis (dB) ou mais, resultante
A Constituição federal de 1998 incorporou da média aritmética do audiograma, aferidas
vários dispositivos referentes aos direitos da nas frequências de 500 Hertz (Hz), 1.000 Hz,
pessoa com deficiência, nos âmbitos da saúde, 2.000 Hz, 3.000 Hz, 4.000Hz; variando de
educação, trabalho e assistência. acordo com o nível ou acuidade auditiva da
Especificamente no campo educacional, seguinte forma: - Surdez leve/moderada: perda
registrou-se o direito público subjetivo à auditiva de 25 a 70 dB. A pessoa, por meio de
educação de todos os brasileiros; entre eles, os uso de Aparelho de Amplificação Sonora
indicados como portadores de deficiência, Individual – AASI torna-se capaz de processar
preferencialmente junto à rede regular de informações linguísticas pela audição;
ensino. Essas determinações estenderam-se consequentemente, é capaz de desenvolver a
para outros textos legais da União e para as linguagem oral. - Surdez severo-profunda:
legislações estaduais e municipais. perda auditiva acima de 71 dB. A pessoa terá
dificuldades para desenvolver a linguagem oral

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espontaneamente. Há necessidade do uso de forma: - Cegueira: é a perda total ou o resíduo


AASI e/ou implante coclear, bem como de mínimo de visão que leva a pessoa a necessitar
acompanhamento especializado. A pessoa com do Sistema Braille como meio de leitura e
essa surdez, em geral, utiliza naturalmente a escrita. - Baixa Visão ou Visão Subnormal: é o
Língua de Sinais. comprometimento do funcionamento visual de
Deficiência física - Alteração completa ou ambos os olhos, mesmo após tratamento ou
parcial de um ou mais segmentos do corpo correção. A pessoa com baixa visão possui
humano, acarretando o comprometimento da resíduos visuais em grau que lhe permite ler
função física, abrangendo, dentre outras textos impressos ampliados ou com uso de
condições, amputação ou ausência de recursos ópticos especiais.
membro, paralisia cerebral, membros com Surdo-cegueira - É uma deficiência singular
deformidade congênita ou adquirida, exceto as que apresenta perdas auditivas e visuais,
deformidades estéticas e as que não produzam concomitantemente, em diferentes graus,
dificuldades para o desempenho das funções. necessitando desenvolver diferentes formas de
Deficiência intelectual/mental - Caracteriza- comunicação para que a pessoa surda cega
se por limitações significativas, tanto no possa interagir com a sociedade.
funcionamento intelectual como na conduta Síndrome de Down - Alteração genética
adaptativa, na forma expressa em habilidades cromossômica do par 21, que traz, como
práticas, sociais e conceituais. (SISTEMA AADID, consequência, características físicas marcantes
2010). A Organização Pan-Americana da Saúde e implicações tanto para o desenvolvimento
e a Organização Mundial da Saúde realizaram fisiológico quanto para a aprendizagem.
um evento em Montreal, Canadá, em outubro A inclusão de crianças de todas as etnias,
de 2004 e, nessa ocasião, foi aprovado o crenças e raças está ligada a todas as pessoas
documento intitulado Declaração de Montreal que não têm as mesmas oportunidades dentro
sobre Deficiência Intelectual. A mudança de da sociedade. Mas os excluídos socialmente
terminologia de deficiência mental para são também os que não possuem condições
intelectual pretendeu esclarecer que se trata financeiras dentro dos padrões impostos pela
de funcionamento de intelecto e não da mente sociedade, além dos idosos, os negros e os
como um todo. Hoje, cada vez mais se está portadores de deficiências físicas, como
substituindo o adjetivo mental por intelectual. cadeirantes, deficientes visuais, auditivos e
Deficiência múltipla - É a associação de duas mentais. Existem as leis específicas para cada
ou mais deficiências primárias área, como a das cotas de vagas nas
(mental/visual/auditiva/física), com universidades, em relação aos negros, e as que
comprometimentos que acarretam atrasos no tratam da inclusão de crianças de todas as
desenvolvimento global e na capacidade etnias, crenças e raças de pessoas com
adaptativa. deficiência no mercado de trabalho.
Deficiência Visual - É a perda total ou parcial,
congênita ou adquirida, variando de acordo
com o nível ou acuidade visual, da seguinte

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ALUNOS COM TRANSTORNO disgrafia, discalculia, dislalia, disortografia e o


TDAH.
GLOBAL DE DESENVOLVIMENTO A criança com dificuldade de aprendizagem
Segundo Oliveira (1994), aqueles que pode se sentir rejeitada pelos colegas de sala, e
apresentam alterações qualitativas das se a sua dificuldade não for tratada, as
interações sociais e recíprocas e na consequências podem tomar uma proporção
comunicação, um repertório de interesses e maior, causando danos irreversíveis à vida
atividades restritas, estereotipadas e dessa criança. O aluno com dislexia faz trocas
repetitivas. Incluem-se nesse grupo alunos com ou omissões de letras, inverte sílabas,
autismo, síndromes do espectro do autismo e apresenta leitura lenta, pula linhas ao ler um
psicose infantil. texto.
Autismo- Transtorno do desenvolvimento, Ensinar crianças com dificuldade de
caracterizado, de maneira geral, por problemas aprendizado requer por parte do professor
nas áreas de comunicação e interação, bem uma investigação de como cada criança
como por padrões restritos, repetitivos e aprende. O professor deve estar a par das
estereotipados de comportamento, interesses habilidades e fraquezas de cada criança, não
e atividades. apenas no que diz respeito às habilidades
Transtornos Funcionais Específicos - Dentre acadêmicas como a leitura e a escrita, mas
os transtornos funcionais específicos estão: também em termos de habilidades de
dislexia, disgrafia, discalculia, transtorno de ‘aprendizado’ como percepção, audição, visão
atenção e hiperatividade, entre outros. e memória. Uma vez entendido como cada
Para entendermos as dificuldades de criança aprende, todos os tipos de atividades
aprendizagem, primeiramente é necessário podem ser ‘trabalhados’ de forma a ajudar a
que conheçamos o processo de aprendizagem criança que possui dificuldades de
e quais são seus princípios básicos. A aprendizado. (ALMEIDA, 1993, p. 1).
aprendizagem modifica o comportamento de A disgrafia vem associada à dislexia, letras
forma duradoura e acontece por meio da ilegíveis, mal traçadas, muito próximas. A
experimentação, observação e regras. desorganização ao produzir um texto estão
As dificuldades de aprendizagem podem ter associados à ela. Um dos problemas mais sérios
origem em fatores orgânicos ou emocionais. é a discalculia, o portador dessa dificuldade não
Aqueles que estão envolvidos no processo identifica os sinais das operações matemáticas,
educativo precisam observar se essas não sabe utilizá-los, não compreende
dificuldades são momentâneas ou não, a fim de enunciados de problemas, não consegue
tentar descobrir se estão associadas a fatores quantificar, comparar, entender sequências
desmotivadores do aprendizado, tais como: lógicas.
sono, cansaço, tristeza, desordem, preguiça, A dislalia é a dificuldade na emissão da fala e
etc., para melhor identificar o problema. As a disortografia é a dificuldade na linguagem
dificuldades mais conhecidas são: dislexia, escrita. Também pode aparecer, como
consequência da dislexia, o Transtorno de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), processos cognitivos (ou seja, aprender)


que é um problema de ordem neurológica e precisamos de uma condição básica; isto
traz consigo sinais evidentes de inquietude, reflete diariamente em nossa memória e na
desatenção, falta de concentração e aprendizagem.
impulsividade. É muito comum encontrarmos crianças com
Quando se fala em desvantagem, o tempo de atenção diminuído, a algumas
incapacidade, logo vem a sensação de perdas atitudes podem auxiliar neste sentido:
do sujeito em relação aos outros e ao meio em trabalhar com postura adequada aos alunos,
que vive, a sensação de impossibilidade. No desenvolver uma rotina estipulada
entanto, não é mais dessa forma que devemos previamente, respeitar os horários
pensar a pessoa com deficiência, relacionando- estabelecidos.
a a faltas, ao não poder. Atenção é o processo ordenado para captar
informações do meio em que vivemos. A
FORMAÇÃO DE PROFESSORES atenção seleciona e hierarquiza todos os
estímulos que recebemos, de forma a indicar
PARA EDUCAÇÃO ESPECIAL que o barulho externo de um ônibus passando
O objetivo do ensino de didática é equipar o pela rua é menos importante do que a palestra
aluno, futuro professor, com instrumentos a que estamos assistindo. Por este motivo, a
teóricos que funcionem como recursos a serem atenção é muito importante nos processos de
mobilizados em situações concretas da atuação aprendizagem. Dos casos de TDAH, 80% são de
pedagógica. O ensino de didática na formação meninos ,vale ressaltar que este diagnóstico
de professores tem por objetivo conscientizar não deve ser feito de forma leviana e baseado
os alunos quanto ás concepções e conceitos apenas no aspecto. Atualmente é muito
referente sãs disciplinas a serem ministradas e comum que as crianças que sejam agitadas
ao modo de as ensinar. O professor deve sejam classificadas com TDAH, no entanto é
portanto buscar meios de ensino que chamem normal que as crianças apresentem uma
a atenção ao lúdico e ao que interessa para seu atividade motora excessiva ,mas em certos
aluno. O mundo lúdico é cheio de fantasias e a casos ,quando cobramos que fiquem sentadas
arte trabalha “brincando“ despertando o e quietas ,algumas crianças podem apresentar
interesses daqueles que a buscam. um comportamento ainda mais agitado, e
Existem inúmeras formas pedagógicas para realmente só 7% dos casos se beneficiam com
se dirigir ás ações dos educandos. Crianças de 4 remédios ,o melhor tratamento envolve
e 5 anos ,por exemplo que se encontram na mudança de atitude e estímulos dos pais e
educação infantil ,tem visões acentuadas para professores.
receber informações e associar a sua fantasia Para existir aprendizagem existem três tipos
.elas aprendem com o imaginário. de características básicas :
Cada experiência nova que vivemos, ativa -atenção /concentração;
uma série de processos neurológicos, afetivos e -emoção /motivação;
cognitivos. Para acessarmos os nossos -memória.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A inclusão de crianças de todas as etnias, onde esse contexto influencia o


crenças e raças da criança com deficiência é um desenvolvimento psicomotor da criança.
problema de bastante relevância, e deve ser A educação é um processo tipicamente
tratado com a gravidade que ele representa, humano, que possui a especificidade de formar
tendo em vista que na maioria das vezes a cidadãos por meio de conteúdos “não
escola não está preparada adequadamente materiais”, que são ideias, teorias e valores,
para receber tais alunos e acabam tratando os conteúdos que vão de usufruir decisivamente
alunos com necessidades especiais como um na vida de cada um, a questão da educação é
peso para a escola, além de torná-los responsável por garantir a qualidade
incapacitados cerceando as oportunidades e educacional, e os gestores são os responsáveis
dificultando o aprendizado, ainda mais quando por isso, com comprometimento do domínio
percebem que são tratados de forma dos conteúdos curriculares, que habilitem no
discriminada. mundo da educação e da sabedoria de viver em
Interpretar o contexto histórico do processo sociedade respeitando as diferenças, num
de inclusão; Conhecer as políticas públicas da mundo mais justo para todos. Assim se formou
Educação Especial; Apontar a importância da a educação especial.
formação de profissionais da educação e A Pluralidade faz surgir um país feito a
qualificação da escola para trabalhar com as muitas mãos, aonde todos juntos, vindo de
pessoas especiais; Analisar a forma real de tradições diversas, com distintas formas de
inclusão nas escolas. Entrevistar pais que arrumar o mundo, com inúmeras concepções
vivenciam A inclusão de crianças de todas as do belo, conseguem criar uma comunidade
etnias, crenças e raças. A criança necessita plena da consciência da importância da
experimentar, vivenciar e brincar para adquirir participação de cada um na construção do bem
conhecimentos que futuramente lhe ajudará a comum. Todos podem ser diferentes, mas são
desenvolver de maneira mais eficiente um absolutamente necessários.
aprendizado formal. Por meio das brincadeiras Só com esta união na diversidade se constrói
a criança acaba explorando o mundo a sua volta um mundo novo. Neste curso apresentamos
livremente, pois é a partir daí que ela constrói reflexões sobre a educação inclusiva,
seu aprendizado, e é nesse espaço que a especialmente aspectos relacionados à escola
criança acaba criando um mundo de fantasias e para todos, questões conceituais, A inclusão de
manifesta seus sentimentos, se sentindo cada crianças de todas as etnias, crenças e raças, a
vez mais segura para interagir. Toda teoria escola inclusiva e a sociedade inclusiva,
necessita, primeiro, de uma conceituação. priorizando, no entanto: Pluralidade cultural,
Esse tema foi escolhido porque há muito diversidade, diferença: questões étnico-raciais
tempo discute-se a questão dA inclusão de e questões de gênero e a educação inclusiva,
crianças de todas as etnias, crenças e raças e refletidas no movimento da escola para todos.
seu processo de desenvolvimento na Educação O objetivo do ensino de didática, é equipar o
Infantil, e sua finalidade no universo lúdico, até aluno, futuro professor, com instrumentos
teóricos que funcionem como recursos a serem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mobilizados em situações concretas da atuação


pedagógica. O ensino de didática na formação
de professores tem por objetivo conscientizar
os alunos quanto às concepções e conceitos
referentes sãs disciplinas a serem ministradas e
ao modo de ensiná-las. O professor deve,
portanto, buscar meios de ensino que chamem
a atenção ao lúdico e ao que interessa para seu
aluno. O mundo da educação inclusiva é cheio
de desafios e objetivos, os professores
trabalham “brincando“ despertando o
interesses daqueles que a buscam.
Existem inúmeras formas pedagógicas para
se dirigir ás ações dos educandos. Crianças de 4
e 5 anos ,por exemplo que se encontram na
educação infantil ,tem visões acentuadas para
receber informações e associar a sua fantasia
elas aprendem com o imaginário.
Por meio de análise documental e da
realização de questionário e entrevistas com as
professoras atuantes no campo de pesquisa, o
estudo revelou que as principais dificuldades
de aprendizagem percebidas por elas são:
dificuldades na leitura, escrita, cálculos
matemáticos entre outras. E que as causas
dessas dificuldades podem estar relacionadas à
família, à criança, e à escola. Os resultados
mostraram que as professoras percebem as
dificuldades de aprendizagem de três maneiras
distintas: dificuldade em assimilar o
conhecimento, na leitura e escrita e dificuldade
de raciocínio. Verificou-se com os estudos
realizados nesta pesquisa que é importante a
utilização de práticas pedagógicas
diferenciadas que atendam às necessidades
dos alunos com a ajuda do Atendimento
Educacional Especializado (AEE).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mundo sempre esteve fechado para mudanças, em relação a essas pessoas, porém, a
partir de 1981, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou um decreto tornando tal ano como
o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiências (AIPPD), época em que se passou a
perceber que as pessoas portadoras de alguma necessidade especial eram também merecedoras
dos mesmos direitos que os outros cidadãos. A princípio, eles ganharam alguma liberdade por
meio das rampas, que permitiram maior acesso às escolas, igrejas, bares e restaurantes, teatros,
cinemas, meios de transporte, etc. Aos poucos, o mundo foi se remodelando para dar-lhes
maiores oportunidades. Hoje é comum vermos anúncios em jornais, de empresas contratando
essas pessoas, sendo que de acordo com o número de funcionários da empresa, existe uma cota,
uma quantidade de contratação exigida por lei. Uma empresa com até 200 funcionários deve ter
em seu quadro 2% de portadores de deficiência (ou reabilitados pela Previdência Social); as
empresas de 201 a 500 empregados, 3%; as empresas com 501 a 1.000 empregados, 4%; e mais
de 1.000 empregados, 5%. Nossa cultura tem uma experiência ainda pequena em relação à
inclusão social, com pessoas que ainda criticam a igualdade de direitos e não querem cooperar
com aqueles que fogem dos padrões de normalidade estabelecido por um grupo que é maioria.
E diante dos olhos deles, também somos diferentes. E é bom lembrar que as diferenças se fazem
iguais quando essas pessoas são colocadas em um grupo que as aceite, pois nos acrescentam
valores morais e de respeito ao próximo, com todos tendo os mesmos direitos e recebendo as
mesmas oportunidades diante da vida.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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KRAMER, Sonia. Alfabetização leitura e escrita formação de professores em curso. São


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OLIVEIRA, Glória Aparecida Pereira. A concepção de egressos de um curso de Pedagogia


acerca da contribuição do trabalho de conclusão de curso. 2003. Dissertação (Mestrado)
Faculdade de Educação – Universidade Estadual de Campinas. São Paulo, 2003.

Referencial Curricular Nacional para educação, disponível em


http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pd. Acesso em 15.04.2018.

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SILVA, W. R. Subvertendo a exclusão escolar: A mediação didática dos gêneros discursivos


no ensino da escuta, 1993.

425
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO NO BRASIL: CONTEXTO


FILOSÓFICO
José Saraiva da Silva1

RESUMO: Este artigo apresenta um breve panorama histórico do ensino de filosofia no Brasil,
iniciando com a chegada dos jesuítas e seu método denominado Ratio Studiorum, passando pelas
constituições federais, manifestos e reformas da educação, até o conjunto de normas que
estabeleceram as diretrizes e bases da educação no Brasil.

Palavras-Chave: Educação; Contexto Histórico; Filosofia.

1 Professorde Ensino Fundamental e Médio na Rede Municipal de São Paulo e Rede Estadual de São Paulo.
Graduação:Licenciatura em Artes pela Faculdade Belas Artes; Especialização em Filosofia pela Universidade
Federal de São Carlos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCATION IN BRAZIL: PHILOSOPHICAL CONTEXT


ABSTRACT: This article presents a brief historical overview of philosophy teaching in Brazil,
starting with the arrival of the Jesuits and their method called Ratio Studiorum, passing through
federal constitutions, manifestos and education reforms, to the set of norms that established the
guidelines and bases of the education in Brazil

Keywords: Education; Historical context; Philosophy.

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INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO E O ENSINO DE


O presente artigo tem a característica de ser FILOSOFIA NO BRASIL:
uma pesquisa de cunho teórico-prático- BREVE HISTÓRICO
filosófico, apresentamos a contextualização da No início da colonização do Brasil, os jesuítas
época histórica do ensino de filosofia no Brasil, instituíram a educação religiosa com o fim
que servirá como base para apresentação do expresso de catequese dos índios. Ensinavam
tema estudado. Essa história influenciou os filhos dos senhores de engenho, dos
fortemente a maneira como se ensinou e se colonos, dos índios e dos escravos. “A todos
ensina, a disciplina de filosofia. Desde a procuravam transformar em filhos da
chegada do Marquês de Pombal (1759) até os Companhia de Jesus e da Igreja, exercendo
dias atuais, o ensino de filosofia vem passando grande influência em todas as camadas da
por diversas reformulações e adaptações, a população” (PILETTI, 1996, p.167). Para
começar pela participação marcante dos atender aos que queriam e podiam avançar nos
jesuítas, que foram responsáveis pela educação estudos, os jesuítas desenvolveram a Ratio
dos brasileiros, aproximadamente por dois Studiorum, um plano completo, que além do
séculos, ou seja, de 1549 a 1759. Após a ensino de ler e escrever, eram oferecidos os
expulsão dos jesuítas, veio com o Marquês de cursos: de Letras, Filosofia e Ciências, tidos
Pombal as reformas que substituíam a escola como de nível secundário, e o curso de Teologia
que servia aos interesses religiosos por uma e Ciências Sagradas, de grau superior, que era
escola útil, isto é, que passa servir aos indicado, sobretudo à formação de sacerdotes.
interesses do Estado. Com a Proclamação da Na classe de Filosofia, os estudantes aprendiam
República, caiu nas mãos dos governantes, um sobre Lógica, Metafísica e Moral. Mantidos
sistema de ensino mal articulado, no qual para pela Companhia de Jesus, os cursos de grau
se ingressar no nível médio não se exigia a médio, tinham uma extensão ao todo de
conclusão do fundamental e para se ingressar aproximadamente nove anos.
no ensino superior não se exigia a conclusão do Os jesuítas desempenharam um duplo papel
nível médio. O Brasil se constituiu como o país no Brasil: o de apóstolos da fé católica e de
da educação elitista, por isso, eclode a partir da transmissores da cultura ocidental, isto é,
década de 1920, várias reformas educacionais enquanto ensinavam as primeiras letras e o
nos Estados da Federação, como as de São ensino religioso, seguiam transmitindo o
Paulo, Ceará, Bahia, Minas Gerais e Distrito idioma e os costumes de Portugal. Fundaram as
Federal, que defendiam uma educação que chamadas escolas de ler e escrever, no qual
servisse como instrumento de reconstrução ministravam uma educação religiosa. A certa
nacional, que fosse pública, obrigatória e leiga, altura, tornaram o Brasil uma gigantesca
que atendesse principalmente os interesses empresa da Companhia de Jesus, cultivando a
dos aprendizes. terra, preparando as lavouras, instalando
engenhos de cana de açúcar, chegando a ser
grandes produtores da colônia, essa instituição

428
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

foi considerada como sendo o primeiro aulas, já que: “O objetivo das reformas
latifundiário dos trópicos. pombalinas foi substituir a escola que servia
Os padres, Manuel da Nóbrega, José de aos interesses da fé pela escola útil aos fins do
Anchieta e Aspicuelta Navarro são as três Estado” (PILETTI, 1996, p. 170). Era na verdade,
grandes figuras da missão jesuíta no Brasil. A uma educação manipulada para servir ao
posição dos padres da companhia foi fortalecimento do poder instituído. Segundo
considerada política desde quando se Piletti (1996, p. 169): “(...) o ensino brasileiro,
incorporaram às comitivas dos primeiros ao iniciar-se o século 19, estava reduzido a
governantes gerais enviados para o Brasil, pouco mais que nada, em parte como
sendo que este pensamento continuou ao consequência do desmantelamento do sistema
longo de mais de dois séculos. Na época os jesuítico, sem que nada de similar fosse
jesuítas se tornarem suspeitos de tentar criar organizado em seu lugar”
um império independente, por agruparem em As reformas educacionais importantes que o
grande quantidade os indígenas, e aos poucos marquês de Pombal realizou em Portugal não
conquistarem autossuficiência, dispondo de atuaram em profundidade no Brasil, porque
plena infraestrutura administrativa, econômica este novo sistema vinha impregnado do
e cultural, em um regime comunitário que se pensamento enciclopedista francês, entrando
bastava. Os nativos eram educados na fé cristã assim, em choque com as antigas ideias
e ensinados a produzir arte, muitas vezes com incorporadas na maneira de ensinar dos
auto grau de refinamento, mas sempre nos jesuítas. A falta de um quadro de professores
modelos europeus. A educação no Brasil esteve preparados para substituir os padres, forçou os
sob a liderança exclusiva e uniforme dos padres filhos da nobreza brasileira a estudarem nos
da Companhia de Jesus, que teve por base centros culturais da Europa, o que acabou
estudos literários e retóricos, indiferente à favorecendo a formação de uma elite de
assimilação de idiomas estrangeiros e também cientistas como: José Bonifácio de Andrada e
não incluía em seus currículos o estudo das Silva, mineralogista e homem de Estado;
ciências em base experimental. Martim Francisco Ribeiro de Andrada, José
Em 1759, o Marquês de Pombal expulsou os Mariano da Conceição Veloso, Arruda Câmara,
jesuítas e a Companhia de Jesus do território Bittencourt de Sá e outros pioneiros da cultura
nacional. Logo deixaram de existir dezoito científica do Brasil. Também a Revolução
estabelecimentos de ensino secundário e Francesa e a Independência Americana
aproximadamente vinte e cinco escolas de ler e trouxeram o ideário filosófico iluminista, que
escrever. No lugar da Ratio Studiorum foi acabaram por influenciar a renovação cultural
instituído outro sistema de estudos, que agora no Brasil.
pertencia ao Estado e que não era mais Em 13 de Maio de 1808, D. João, o príncipe
exclusividade da Igreja, eram denominadas regente, fundou a Imprensa Régia, editando as
aulas régias e compreendia o ensino de primeiras obras no Brasil. No mesmo ano, a
humanidades, como: filosofia racional, moral e Gazeta do Rio de Janeiro dá início ao jornalismo
desenho. Não havia ordenação entre essas brasileiro e em 1810 surge a primeira biblioteca

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pública brasileira, com valiosa doação de livros outro lado sua presença de fato não foi
pelo regente, dando origem a Biblioteca assegurada. Legalmente estava na grade,
Nacional do Rio de Janeiro. Em 1808 e 1809 entretanto, da maneira como era disposta,
foram criados os primeiros cursos de Medicina impedia que estivesse de fato presente na vida
e Cirurgia, na Bahia e no Rio de Janeiro. Tempos acadêmica dos alunos, pois, a disciplina só fazia
depois surgem os primeiros cursos parte das séries finais do curso, ou seja, no
preparatórios para técnicos em agricultura, sexto e sétimos anos.
economia e indústria, de início na Bahia, depois As faculdades daquela época contavam com
se estendendo ao Rio de Janeiro, Pernambuco regulamentos que permitiam que elas
e Minas Gerais. mantivessem cursinhos preparatórios para o
Após a independência (1822), na ingresso em seus cursos. Além do que, o
constituição de 1824 (art. 179), constavam Governo autorizava ao aluno do Colégio Pedro
apenas princípios gerais sobre a gratuidade na II realizar os cursos preparatórios e as provas de
educação primária e uma referência genérica acesso às faculdades a partir do quarto ano, o
aos colégios e universidades, nas quais seriam que levava muitos estudantes a optarem por
ensinados os elementos das ciências, belas encerrar os estudos no Colégio antes de cursar
artes e letras. Para se ter uma ideia do quanto as três últimas séries. Como a filosofia estava
o Brasil estava atrasado na questão entre as matérias desses anos, dificilmente
educacional, que nesta mesma época, em estudavam-na no colégio.
Boston (EUA) a Universidade de Harvard, A reação descentralizadora do ato adicional
estava em pleno funcionamento, e em plena de 1834 fortaleceu o poder das províncias para
atividade desde a sua fundação em 1650. legislar sobre a instrução pública, criando uma
De acordo ainda com Piletti (1996, p. 178) bipartição de atribuições com o poder
“Uma lei de 1827 determinou que deveriam ser centralizado, porém, tudo era inoperante.
criadas escolas de primeiras letras em todas a s Houve tentativa de mudanças no ensino com as
cidades, vilas e lugarejos, e escolas de meninas reformas: Couto Ferraz (1854) que colocava em
nas cidades mais populosas, dispositivos que execução o Regulamento da Instrução Primária
nunca chegaram a ser cumpridos”. Apenas são e Secundária da Corte; a Leôncio Correia
criados os cursos jurídicos de Olinda e São (1879), que adotava o ensino livre. No entanto,
Paulo. O padrão foi o de fundar escolas isoladas pouco alteraram a estrutura do ensino
de nível superior e não universidades. No imperial.
período de mais de 60 anos que vai da Com a Proclamação da República tem início
Independência à República, uma única à instalação da escola pública no Brasil. A
instituição de cultura geral havia sido criada constituição de 1891 estabeleceu em seu artigo
(1838) - o Colégio Pedro II, a primeira escola 65 que era facultado aos Estados, em geral,
secundária do Império - com um bem todo poder ou qualquer direito que lhes não
estruturado curso de humanidades, de sete fosse negado por cláusula expressa ou implícita
anos. Mas, se por um lado a filosofia constava contida na constituição. Em virtude desse
no currículo do ensino secundário nacional, por artigo, coube aos Estados organizar seus

430
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sistemas educacionais. Em outros textos foram Pedagógicos e o fundo Nacional do Ensino


conferidos à União poderes específicos para Primário.
legislar sobre a organização municipal do Logo depois da redemocratização do Brasil,
Distrito Federal, bem como sobre o ensino após a Segunda Guerra Mundial, a constituição
superior e os demais serviços que, na capital da de 1946 deu competência à União para legislar
república, fossem reservados ao governo da sobre diretrizes e bases de educação nacional,
União. Atribui-se ao congresso, mas não estabelecendo que a educação é direito de
privativamente, a criação de instituições de todos, e que o ensino nos diferentes níveis e
ensino superior e secundário nos Estados e a ramos seria regulamentado pelos poderes
competência de sancionar sobre a instrução públicos, sendo livre a iniciativa privada,
secundária no Distrito Federal. Baseados na respeitando as leis que o regulam. Esta
atribuição concedida aos Estados, iniciam-se a constituição (1946), estabelece no capítulo II,
partir de 1920, em várias unidades da título VI, artigos 166, 167, 168, 169, 170, 171 e
federação, movimentos de renovação 172, que o ensino primário seria obrigatório,
educacional, inspirados nos movimentos da oficial e gratuito para todos, também gratuito o
Escola Nova Europeia2 , de que são exemplos: a
1 ulterior ao primário para quantos provarem a
reforma Lourenço Filho, no Ceará, em 1923; a falta ou insuficiência de recursos próprios. Com
reforma Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925; a a constituição de 1967, e as alterações da
reforma Fernando de Azevedo, no Distrito emenda constitucional n. 1, de 17 de outubro
Federal, em 1927; e a reforma Francisco de 1969, manteve-se a atribuição da União de
Campos, em Minas Gerais, em 1928. Em 1930, legislar sobre diretrizes e bases da educação
com a revolução, foi criado o Ministério da nacional e entender a educação como um
Educação e Saúde, e o novo ministro Francisco direito de todos e dever do Estado, nos diversos
Campos3 logo apresenta seu projeto de
2 graus de ensino.
mudanças. Toda essa movimentação tinha se iniciado
A constituição de 1937, da ditadura do sob a influência do pensamento do filósofo e
Estado Novo, restringiu a autonomia dos pedagogo John Dewey (1859-1952), que dizia
Estados e deu ênfase ao ensino pré-vocacional que a educação era indispensável para o bem
e profissional, considerado, em matéria de coletivo. A educação era necessária para que as
educação, o primeiro dever do Estado, por ser pessoas pudessem ser aperfeiçoadas e com
destinado às classes menos favorecidas, sendo isso afirmassem o progresso social, e desta
criado o Instituto Nacional de Estudos maneira conseguissem dar prosseguimento a
sua educação, princípios e conhecimentos.

2
Também chamada de Escola Ativa ou Escola como proposta principal a instituição de um sistema
Progressiva, foi um movimento de renovação do ensino, nacional de educação, com ênfase na formação do
tendo como um dos fundadores o suíço Adolphe Ferrière professor, na educação básica, no ensino primário,
(1879-1960) na Europa, e por John Dewey (1859-1952) formando um todo que articulasse desde o primário até
na América do Norte. Surgiu no fim do século XIX e o ensino superior.
ganhou força na primeira metade do século XX.
3 As Reformas: Lourenço Filho, Anísio Teixeira,

Fernando de Azevedo e Francisco Campos, tinham

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Este movimento de renovação no ensino foi Anteriormente contrários, os colégios


especialmente ativo não só no continente conservadores começaram a aderir ao
europeu, mas, também na América do Norte e escolanovismo, pois, naquele momento surgia
no Brasil, na primeira metade do século XX. o pensamento para uma organização de um
Esta movimentação tinha como dinâmica a sistema educacional que fosse adequado à
oposição à Escola Tradicional4 , 1 estrutura moderna que estava sendo
magistrocêntrica, e voltada para a transmissão construída no período pós-guerra no país,
de conteúdo. A escola nova, ao contrário, é desta maneira, medidas de curto prazo não
pedocêntrica e mais preocupada com o fazia mais sentido, devia-se pensar para diante,
processo do que com o produto do dado que a Europa e os Estados Unidos já eram
conhecimento, uma vez que tem por objetivo a industrializados. Porquanto, na década de
formação do homem para uma sociedade em 1960, por ocasião da Revolução de 1964, se deu
mudança. A escola nova representa o a tentativa de implantar a tendência tecnicista
pensamento liberal burguês. Isto tudo em no país. Acreditava-se que isto modificaria e
teoria, porque na prática, a maioria das escolas traria renovação para os olhares dos teóricos
continuou a usar o sistema magistral, centrado da educação e daria impulso ao
no professor como transmissor de desenvolvimento necessário à administração
conhecimentos e o aluno como repositório dos serviços para as novas escolas. Na visão dos
desses saberes. pensadores que encabeçavam esta
O movimento renovador entrou em recesso movimentação:
no período do Estado Novo, inaugurado por Era preciso, pois, imprimir uma direção cada
Getúlio Vargas em 1937, e só ressurgiu na vez mais firme a esse movimento já agora
década de 1950, já no fim do Estado Novo, que nacional, que arrastou consigo os educadores
se deu com o fim da Segunda Grande Guerra, de mais destaque, e levá-lo a seu ponto
em 1945, com a participação dos já citados culminante com uma noção clara e definida de
pensadores, entre outros. suas aspirações e suas responsabilidades. Aos

4
A Escola Tradicional é assim conhecida por utilizar uma preparação do aluno, em seguida formula a
Pedagogia Tradicional, que tem as seguintes apresentação do conteúdo, correlacionando-o com
características: outros assuntos e, por último, faz-se a aplicação dos
• Promover a formação moral e intelectual, exercícios. Somente o professor possui conhecimento
lapidando o aluno para o convívio social, pressupondo a para ensinar, o papel do aluno é o de receber o
conservação da sociedade em seu estado atual (status conhecimento transmitido pelo professor. O silêncio em
quo). A escola terá como foco apenas a cultura, deixando sala de aula é determinado pelo docente que é
que a sociedade resolva os seus problemas; autoridade em sala de aula;
• Passar os conteúdos como verdades absolutas, • Fundamentar o aprendizado na receptividade
sem chance de questionamentos ou levantamentos de dos conteúdos pelo aluno. A aprendizagem se dá por
dúvidas em relação a sua veracidade. Não são meio da resolução de exercícios e da repetição de
considerados os conhecimentos prévios do aluno, conceitos e recapitulação do saber adquirido sempre que
apenas o que está no currículo é transmitido, sem necessário for reavivá-lo na mente. A avaliação também
interferências; é mecânica e ocorre por meio de resolução de tarefas
• Expor as aulas de forma verbal. O foco principal enviadas para casa, provas orais e escritas.
é na resolução de exercícios e na memorização de
fórmulas e conceitos. Inicialmente o professor realiza a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que tomaram posição na vanguarda da especialização e também na profissionalização


campanha de renovação educacional, cabia o dos estudos nas universidades.
dever de formular, em documento público e o Portanto, conclui-se que este último item
governo, a posição que conquistaram e vêm estabelece um marco na década de 1940, com
mantendo desde o início das hostilidades chegada da missão francesa na recém-criada
contra a escola tradicional (INEP, 1984). Universidade de São Paulo (USP), que
Era necessário a criação de uma nova política constituirá, futuramente, a metodologia do
para a educação, que fosse pautada na ensino da disciplina de filosofia. Entre os
formação dos educadores e que atendessem as teóricos deste grupo estava Martial Gueroult
exigências industriais que surgiram na época, (1891-1976), que salientava que não poderia
com a esperança de que houvesse uma existir filosofia em detrimento a história da
transformação no sistema educacional e filosofia. Sendo assim, para ele não se aprende
garantia de que o pensamento científico nas filosofia sem conhecer primeiro a sua história.
ações da escola fosse efetivo e abrangente.
Para o entendimento do percurso da A LEI DAS DIRETRIZES E BASES
filosofia na história da educação brasileira,
como também para compreensão do momento DA EDUCAÇÃO NACIONAL
atual a respeito do que se ensina e aprende Com base no dispositivo constitucional que
sobre filosofia nas salas de aula do ensino regula a competência da União, entendeu-se
médio, separa-se em três grandes etapas o que a função de legislar sobre diretrizes e bases
desenrolar da história da filosofia no Brasil. da educação nacional deveria constar de um
Estes períodos são caracterizados por três texto legal único. Dentro desse entendimento,
metodologias distintas: o poder executivo, em 1948, encaminhou ao
A primeira metodologia utilizada para o congresso nacional o projeto da Lei de
ensino de filosofia no Brasil, foi marcada pela Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
utilização do método da Ratio Studiorum Durante treze anos, a discussão do projeto
incorporado pelos padres da Companhia de provocou debates entre diferentes correntes
Jesus no século XVI; educacionais, uns advogando uma maior
A segunda, aparece no século XIX e foi ingerência da União em matéria de ensino,
marcada por um ensino com predominância outros defendendo o fortalecimento dos
num sistema experimental, isto é, com uma poderes dos estados, (estes de tendência
metodologia sem referência à tradição socialista-marxista) ao mesmo tempo em que
filosófica, devido a formação dos pensadores se defrontavam os partidários da escola pública
serem advindos dos mais diversos campos do com os que lutavam por um maior apoio à
conhecimento; escola particular, resultando afinal, uma
A terceira, já no século XX, primava pelo solução de compromisso entre essas correntes,
modo moderno de se estudar filosofia e teve constantes da Lei 4024, de 20 de dezembro de
seu início marcado pelo grande interesse na 1961.

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O texto final da primeira LDB, apresentado uma melhor base educacional a todos os
no Congresso em 1961, representava um certo brasileiros.
triunfo do setor privado, pois, garantiam-lhes A Lei nº 9.394/96 das Diretrizes e Bases da
que continuariam detentores de grande parte Educação Nacional foi finalmente aprovada em
dos cursos secundários, já que a maioria das dezembro de 1996, de autoria do senador
escolas de nível médio no país eram Darcy Ribeiro. Esta lei, no seu artigo 36, § 1º,
particulares. inciso III, determinava que os alunos do ensino
Se nos ativermos ao ensino secundário, secundarista tenham o direito ao acesso e
veremos a grande predominância de consequentemente o domínio dos
estabelecimentos particulares: em 1932 havia, conhecimentos, não só de sociologia, mas,
no Brasil, apenas 394 unidades de ensino também de filosofia, porque isto seria
secundário, das quais 58 eram mantidas pelos importante para o exercício da cidadania.
poderes públicos, enquanto 336 pertenciam à Interessante o texto, no entanto, a lei não dizia
iniciativa particular. Conclusão: a educação de de que maneira poderia ser inseridos esses
nível secundário era privilégio dos ricos conhecimentos no currículo. Nesse sentido, se
(PILETTI, 1996, p. 223). faz a seguinte observação:
A LDB/61 em seu artigo 33, se isenta da (...) a lei não afirmava que esses
responsabilidade de preparar os jovens para o conhecimentos devessem estar
ensino superior, deixando a iniciativa privada disciplinarmente inseridos no currículo. De
explorar esse seguimento. “A educação de grau algum modo, o dispositivo legal responde aos
médio, em prosseguimento à ministrada na debates da década de 1980: afirmar a
escola primária, destina-se a formação do importância da filosofia na formação cidadã é
adolescente”. (PILETTI, 1996, p. 221). Já não se responder a demanda por uma formação
falava de preparação para o egresso do aluno crítica; e não afirmá-la como disciplina significa
secundarista no ensino superior. A ressaltar seu caráter interdisciplinar(GALLO,
precariedade da educação pública fez crescer 2012, p.20).
cada vez mais as escolas particulares, Conquanto, a primeira referência que se tem
principalmente as que ofereciam os cursos para o ensino de filosofia na educação básica é
secundários e preparatórios para ingresso nas sem dúvida os dispositivos legais, neste
faculdades. Bom para quem podia pagar, mas, sentido, a LDB (1996) vai dispor de uma
para aqueles que não tinham condições de perspectiva instrumental para o ensino dessa
custear os estudos, ficavam as margens da disciplina nas salas de aulas. A Lei expressar que
sociedade, pois, a admissão nas escolas na medida em que o conhecimento da filosofia
privadas dependia do pagamento das é oferecido aos alunos, eles podem melhorar e
mensalidades, condição que milhões de se desenvolverem enquanto cidadãos. Já em
brasileiros não podiam assumir. O sistema de 1982, com a Lei nº 7044, o governo havia feito
educação pública do país carece de ser revisto, algumas alterações nos dispositivos desse
também nos dias atuais, e adaptado as documento que permitia a presença da filosofia
diferenças regionais para que possa oferecer como disciplina optativa no currículo, mas,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

obteve baixa adesão por parte das escolas e graduação específicos para o desenvolvimento
poucos Estados se dispuseram a estipular do ensino da disciplina e dos professores nas
regulamentação sobre o assunto. escolas públicas de todo o país, cuja principal
Talvez, devido ao movimento de preocupação é basicamente sobre os métodos,
redemocratização que o país passava, nas didáticas e estratégias de ensino.
décadas 1980/1990, houve um inevitável
esvaziamento do ambiente de lutas dos
professores, que só veio a se tornar articulado
no segundo período dos anos 1990. Nesta
década, acontecem lutas organizadas no
Estado de Santa Catarina e na Câmara dos
Deputados, mas, somente em junho de 2008, o
então vice-presidente da República, José de
Alencar, sancionou a lei que tornaria
obrigatório no currículo das escolas do Brasil o
ensino de filosofia.
Finalmente, somente com a Lei nº 11.684/08
foi possível alterar o artigo 36 da Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 1996, que estabelecia as
diretrizes e bases da educação nacional, para
incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas
obrigatórias nos currículos do ensino médio.
Agora, eram aproximadamente 23 mil escolas
no Brasil, que teriam incluídas aulas de filosofia
em seus cursos de ensino médio.
A pergunta que se fazia era: depois de 37
anos de ausência nos currículos, de que
maneira seria inserida na grade a filosofia e a
sociologia? Sabia-se que mesmo sendo
obrigatório, não seria fácil a introdução destas
matérias na grade curricular, pois, haveria
disputas por horários e quantidades de aulas,
entre os professores de outras disciplinas, dado
que a presença de novas disciplinas significaria
a redução de carga horária de outras que já
estavam ocupando um lugar.
Nesse sentido, filósofos de todo o país
começaram a argumentar sobre a criação de
linhas de pesquisa e até programas de pós-

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face ao apresentado observamos pela trajetória educacional no Brasil , as
intencionalidades em algumas fases de objetivar a educação em contextos variados, ora como a
educação enquanto manutenção da igreja , ora como manutenção do estado.
Nesta perspectiva a Filosofia, área de riqueza milenar passa por transformações para além
de sua importância formativa no contexto dos currículos institucionais propostos.
Vale ressaltar as questões didático metodológicas a ser aplicada em sala aula com o
objetivo de descobrir soluções relativas as demandas de formação e prática pedagógica do
professor de filosofia.
Neste contexto para entender o tamanho do problema do ensino de filosofia e sugerir
alternativas de percurso, é importante considerar toda a trajetória percorrida pela filosofia na
história da educação brasileira.

436
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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http://w3.ufsm.br/leaf/artigo_prof_didatica.pdf. Data de Acesso:20/03/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ENSINO MÉDIO: O PARADIGMA DA


EDUCAÇÃO PARA O TRABALHO E O DEBATE
NACIONAL
Janiara de Lima Medeiros1

RESUMO: O objetivo deste artigo está em provocar inquietações a partir das discussões sobre a
nacionalização e a qualidade do ensino, tão discutidas entre as décadas de 1990 e 2000, e sua
constante modernização, debatida até os dias atuais, que nos remetem a questionamentos
quanto às políticas públicas para o Ensino Médio. Nesse sentido, mediante o materialismo
histórico dialético poderemos refletir, a partir do contexto e da conjuntura sociopolítica e
econômica brasileira no período mais recente e, analisarmos a Lei nº 13.415/2017.

Palavras-Chave: Educação para o Trabalho; Novo Ensino Médio; Lei nº 13.415/2017.

1Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense, professora com experiência nas áreas administrativa
e docente em instituições públicas e privadas, civis e militares, desde a educação básica à superior (graduação e
pós-graduação latu sensu), nas modalidades presencial, EaD e híbrida.

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HIGH SCHOOL: THE EDUCATION PARADIGM FOR WORK AND THE


NATIONAL DEBATE
ABSTRACT: The purpose of this article is to provoke concerns from the discussions about
nationalization and the quality of education, so discussed between the 1990s and 2000s, and its
constant modernization, debated until the present day, which lead us to questions about the
policies public for high school. In this sense, through dialectical historical materialism we will be
able to reflect, from the context and the Brazilian sociopolitical and economic conjuncture in the
most recent period, and analyze Law nº 13.415/2017.

Keywords: Education for Work; New High School; Law No. 13,415/2017.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO reforça a relação da educação para o


trabalho, articula novas formas de submissão
A intenção geral deste trabalho é o de do trabalhador ao capital e desperta anseios
compreender como a nacionalização e a aos trabalhadores para que sejam
qualidade do ensino, tão discutidas entre as multicomponentes e multihabilidosos a fim de
décadas de 1990 e 2000, e sua constante aumentarem sua empregabilidade.
modernização, discutida até os dias atuais, nos Vivemos em um período de grandes
remetem a reflexões quanto às políticas transformações na Educação resultantes de
públicas para o Ensino Médio. interesses divergentes de forças políticas que,
Segundo Medeiros (2021, p. 37), há “um com seus diferentes olhares, buscam a
entendimento bastante difundido de que é no (des)centralização e o controle com o objetivo
Ensino Médio que a formação profissional se de doutrinar e ideologizar o conteúdo do
centra na juventude brasileira. A juventude é ensino na escola. Portanto, tendo em vista o
reconhecida como capital humano”; desta que objetivamos desenvolver no presente
forma é que a autora metaforiza que, “além de trabalho desde o ponto de vista metodológico,
capital humano, a juventude é entendida como apreendemos que o materialismo histórico
sendo a mais valiosa matéria prima que, dialético é uma concepção que considera que é
lapidada, é preparada para atender ao mundo na produção da vida material que as relações
do capital,” (2021, p. 37) sociais são estabelecidas, e que, igualmente, é
A partir da consciência de competência e de uma concepção que se propõe a uma análise e
sua relação de capital humano, se verifica a crítica da realidade social vigente. Nesse
importância da qualificação da mão de obra, sentido, mediante o materialismo histórico
cujo fim é institucionalizar novos modos de dialético poderemos, a partir da análise do
formar trabalhadores e recalcular a conexão contexto e da conjuntura sociopolítica e
entre a escola e o trabalho, “[...] associando o econômica brasileira (MEDEIROS, 2022, p. 58),
discurso de globalização às proposições ao período mais recente, a partir da qual
capitalistas e aos processos educacionais.” analisaremos a Lei nº 13.415/2017.
(MOREIRA, 2017, p. 15). Neste sentido, a Ao provocar a análise crítica sobre os
educação profissionalizante, por meio do fundamentos teórico-práticos da Lei nº
desenvolvimento da capacidade humana, tem 13.415/17, o que se pretende é compreender
a finalidade de formar técnica e as evidências presentes na relação entre o
tecnologicamente os indivíduos e está atrelada capital e a educação do Ensino Médio, uma vez
à melhoria econômica do país. Como que esse nível de ensino responde pela
consequência, um conjunto de pensamentos, escolaridade média da maioria da juventude
regras ou leis, vão sendo construídos em prol brasileira. Assim, considerando-se que é na
do patrimônio humano. É o que podemos escola que se concretizam as políticas públicas
identificar ao analisarmos a Pedagogia das educacionais e que é também nesse ambiente
competências quando (MEDEIROS, 2021, p.57) que as concepções de sociedade e de mundo
são construídas, importa compreender a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

relação entre as transformações no Ensino e Desenvolvimento da Educação Básica e de


Médio e a questão da hegemonia, quer tais Valorização dos Profissionais da Educação).
transformações tenham suscitado, quer O que se observa na MP n° 746/2016 é que
tenham consolidado a hegemonia já existente as características de suas predições já estavam
(GRAMSCI, 2001, p. 247-248). Neste trabalho contempladas e delimitadas no Projeto de Lei
serão avaliados os impactos da atual Reforma nº 6.840/13. As medidas foram aprovadas na
do Ensino Médio, por meio da reflexão sobre nova Lei do Ensino Médio, Lei 13.415/2017.
temas como trabalho, mercado, cultura, Segundo Saviani (1985), os atores que
produção de conhecimento na sociedade participaram da elaboração da PL de 2013 eram
brasileira. os mesmo que estavam no MEC quando
aprovada a MP de 2016, posteriormente
A GÊNESE DA LEI Nº aprovada (2017) por meio da Lei em vigor.
Desse fato é possível aferir que, embora tenha
13.415/2017 ocorrido mudanças no governo e também a
Uma das maiores críticas recebidas pelo tentativa de implementação de uma nova
governo Temer2 no campo Educacional foi com
1

política voltada à formação integral e à


relação à Medida Provisória n° 746, de 22 de formação humana (por meio das
setembro de 2016, que versava sobre a DCNEM/2012), o poder decisório sobre os
reforma do Ensino Médio. A Ementa desta caminhos da Educação, seguiram sendo
Medida Provisória (MP) instituiu a Política de providos pelo mundo do capital.
Fomento à implementação de Escolas de É suspeito que o estopim à decisão imediata
Ensino Médio em Tempo Integral alterou a Lei para a reforma do Ensino Médio, já há muitos
nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei que anos discutida, talvez tenha ocorrido quando
estabelece as diretrizes e bases da educação foi divulgada, em 2014, a Meta do Ensino
nacional) e a Lei nº 11.494 de 20 de junho 2007 Médio de 2013, que era de 3,9, mas que acabou
(Lei que regulamenta o Fundo de Manutenção por ficar na média nacional de 3,7.

2 O então vice-presidente, Michel Miguel Elias Temer Rousseff, entre os anos de 2016 a 2018. Michel temer,
Lula, empossado para substituir a presidente Dilma Vana como é mais conhecido.

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Segundo Medeiros (2021, p. 65), no seu implicações foram desde o número significativo
último ano comandando o Palácio do Planalto, de disciplinas obrigatórias reduzidas, à falta de
o ex-presidente Michel Temer tinha entre seus preparo dos professores, além da falta de
maiores desafios a imprevisibilidade dos clareza quanto aos recursos necessários às
desdobramentos da delação prestada por escolas a fim de prepará-las para a
executivos da Odebrecht, em decorrência das implementação do ensino em tempo integral.
investigações da Lava Jato e também da Se não bastasse o absurdo do método, o
Reforma Previdenciária. conteúdo do que vai na MP746 é também
De acordo com Medeiros (2022, p. 1428- sintomático de uma visão arbitrária na teoria
1444), o ano de 2017 é marco de partida para a pedagógica. Ela altera artigos da Lei de
análise crítica sobre a perspectiva de formação Diretrizes e Bases da Educação Nacional
humana sob a égide do Capital. A experiência (LDBEN), de, amplamente discutida com
vivenciada pelo Brasil comprova as intenções diversos segmentos sociais. A intenção é
do capital para com a educação brasileira. reduzir a consciência crítica dos estudantes ao
A Medida Provisória nº 746, de 2016, que restringir disciplinas como filosofia, sociologia e
levou à aprovação da Lei 13.415/2017, foi alvo artes, além da fundamental educação física.
de críticas de estudantes, educadores e dos Corpo e mente dos estudantes passam a ser
vários seguimentos da sociedade civil descartáveis e induzidos a um único projeto,
interessados. Esses grupos já haviam tecnicista, de formação de uma massa amorfa
manifestado protestos contra a proposta de de mão de obra para o mercado de trabalho
emenda, a Emenda Constitucional do Teto dos (VITRAL, 2016, s/p).
Gastos Públicos – PEC 241/2016, cujo objetivo Por meio da Medida Provisória 746/2016 foi
era a delimitação dos gastos públicos em 20 aprovada a Reforma do Ensino Médio sob a Lei
anos. A crítica à PEC 241 deu-se devido à nº 13.415/17, que foi incorporada à Lei de
ameaça que ela representava ao Plano Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/1996.
Nacional de Educação (PNE), no qual os A principal crítica a respeito das
investimentos necessários em educação características básicas da Lei da Reforma do
sofreriam perda de cerca de 24 milhões por Ensino Médio, Lei nº 13.415/17, é a respeito de
ano, segundo estimativa da Consultoria de a mesma ter em sua essência o discurso
Orçamento e Fiscalização Financeira (Conof) 3 1 ideológico da cultura empresarial, que retroage
da Câmara dos Deputados. à Lei nº 5.692/1971. Esta Lei tinha como
Os mesmos grupos de manifestantes estratégia organizar de forma rápida o ensino
tratados anteriormente, de várias regiões do direcionando ao mundo corporativo para os
Brasil, protestaram, à época, contra a MP que, filhos da classe trabalhadora menos favorecida
com pouquíssimo debate, foi aprovada por economicamente. Ao ingressarem no mercado
meio de um ato institucional. As principais de trabalho, suas posições de trabalho e

3 Dados divulgados pela Agência Brasil. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-


10/educacao-pode-perder-r-24-bi-anuais-por-conta-da-
pec-241-mec-nega . Data de Acesso: 22/03/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

salários eram menores, uma vez que a sua Na Lei nº 13.415/2017, o Artigo 7, proclama:
formação (no sentido de qualificação) os A formação de docentes para atuar na
limitava. educação básica far-se-á em nível superior, em
As características neoliberais já curso de licenciatura plena, admitida, como
apresentadas, em 1971, por meio da Lei nº formação mínima para o exercício do
5.692/1971, receberam novos nomes, uma magistério na educação infantil e nos cinco
nova roupagem e reapareceram por meio da primeiros anos do ensino fundamental, a
Reforma do Ensino Médio de 2017. Pode-se oferecida em nível médio, na modalidade
afirmar que, à luz de Medeiros (2019, p.27), normal (BRASIL, 2017,s.p).
essa reforma privilegia a formação aligeirada Também quanto à autorização de ampliação
para a rápida absorção de mão-de-obra pelo da jornada de trabalho há similaridade. A Lei nº
mercado de trabalho. 5.692/1971, Art. 77 informava: “Quando a
Outros resgates à Lei nº 5.692/1971 com oferta de professores, legalmente habilitados,
nomes mais atuais encontram-se, por exemplo, não bastar para atender às necessidades do
nas semelhanças entre as leis cujas ensino, permitir-se-á que lecionem, em caráter
prerrogativas sustentam a formação adaptada suplementar” (BRASIL, 1971). De forma similar,
a cada região nacional, de forma a atender as a Lei atual 13.415/2017 em seu Art. 8 diz que
peculiaridades locais. É o que se pode ver no “o professor poderá lecionar em um mesmo
Art. 4 da Lei nº 5.692/1971, que apresentava estabelecimento por mais de um turno, desde
um núcleo comum para o currículo de 1º e 2º que não ultrapasse a jornada de trabalho
graus e uma parte diversificada em função das semanal estabelecida legalmente [...]” (BRASIL,
características regionais. No Artigo 25 há a 2017).
Educação a Distância, adotada como Dentre as principais mudanças constantes na
modalidade de ensino (para o curso supletivo). MP n° 746/2016, pode-se citar a
Outra similaridade encontra-se sobre a implementação de escolas de Ensino Médio em
formação do professor. Na Lei nº 5.692/1971, o tempo integral; a ampliação progressiva da
Artigo 30 faz a seguinte afirmação: carga horária para 1400 horas; a
Art. 30. Exigir-se-á como formação mínima obrigatoriedade do ensino da Língua
para o exercício do magistério: Portuguesa e Matemática nos três anos do
No ensino de 1º grau, da 1ª à 4ª séries, curso; o compulsório ensino de Língua Inglesa
habilitação específica de 2º grau; como prioridade ou do Espanhol como segunda
§ 1º Os professores a que se refere à letra a opção; a composição do currículo do Ensino
poderão lecionar na 5ª e 6ª séries do ensino de Médio pela Base Nacional Comum Curricular
1º grau se a sua habilitação houver sido obtida (BNCC) e os itinerários formativos definidos em
em quatro séries ou, quando em três mediante cada sistema de ensino, dando ênfase nas áreas
estudos adicionais correspondentes a um ano de linguagens, de matemática, de ciências da
letivo que incluirão, quando for o caso, natureza, de ciências humanas e deformação
formação pedagógica (BRASIL, 1971,s.p.). técnica e profissional. A referida MP também
concedia autonomia para que os sistemas de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ensino definissem e organizassem as áreas de baixo”. Não foram consultados educadores,


conhecimento escolhidas, bem como as pesquisadores da área e tampouco foi
competências, as habilidades e as expectativas considerada a opinião dos docentes e dos
de aprendizagem, desde que estivessem em estudantes. Outros questionamentos sobre a
conformidade com aquelas definidas na BNCC Lei nº 13.415/17 proveniente da medida
do Ensino Médio. provisória incidem no fato de que ela alterou
A reforma provocou muitas inquietações, pontos fundamentais da Lei 9.394 de 20 de
entre elas está a que se refere à educação dezembro de 1996 (LDBEN). Também refletiu
básica, tendo em vista as instabilidades e na Lei nº 11.494 de 20 de junho de 2007
indefinições que envolvem as crianças de 0 a 17 (FUNDEB), a qual regulamenta o Fundo de
anos; isso porque se trata de um período de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
vida em que o estudante está em formação, no Básica e de Valorização de Profissionais da
seu sentido mais geral. As indefinições aqui Educação. Refletiu, ainda, na Consolidação das
abordadas dizem respeito à seguinte questão: Leis de Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto
Quais as finalidades de cada etapa da educação Lei nº 5.452 de 10 de maio de 1943 e no
básica? Na legislação brasileira há clareza Decreto Lei 236 de 28 de fevereiro de 1967.
quanto às funções da escola e da educação (MEDEIROS, 2022, p.1428-1444)
escolar na etapa Infantil (creche de 0 a 3 anos e
pré-escola de 4 a 5 anos), e quanto aos ANÁLISE DA LEI Nº
objetivos do Ensino Fundamental (6 a 14 anos).
Contudo, há dúvidas quanto à finalidade da 13.415/2017
terceira etapa da educação básica. É no Ensino Com a promulgação da Lei de Diretrizes e
Médio que o jovem entre 15 e 17 anos de Bases da Educação Nacional (LDBEN), nº
idade, aproximadamente, traz outras 9.394/1996, nacionalizou-se a educação básica
indagações; e justamente aí vem à tona a de forma oficial. A educação básica, de caráter
divisão do currículo, por meio dos itinerários obrigatório, é composta por três etapas:
formativos adotados pela Reforma do Ensino Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Médio. Ensino Médio. Observa-se que, no período
As maiores críticas recebidas pelos selecionado para o estudo (entre 1996-2016), o
profissionais da educação e pela opinião Ensino Médio suscitou uma política pública
pública interessada na Reforma do Ensino específica. Como consequência, nasceu a Lei nº
Médio Lei nº 13.415/17 são, principalmente, 13.415/2017, cuja Reforma do Ensino Médio
quanto à forma como foi aprovada, devido às ficou estabelecida por meio de 22 artigos.
suas características de retrocesso e à O Art. 1º da Reforma do Ensino Médio
indefinição da identidade do Ensino Médio estabelece a organização da carga horária
brasileiro. ampliada, alterando o Artigo 24 da LDBEN:
A Lei foi posta de forma unilateral e Art. 24. A educação básica, nos níveis
autoritária, segundo as críticas tecidas à época, fundamental e médio, será organizada de
por razão de ter sido proposta de “cima para acordo com as seguintes regras comuns:

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

I - a carga horária mínima anual será de No que diz respeito à organização do tempo
oitocentas horas para o ensino fundamental e escolar, nota-se que esta não é a única forma
para o ensino médio, distribuídas por um possível. Segundo o Art. 35-A da LDBEN
mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho Parágrafo 5º:
escolar, excluído o tempo reservado aos Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular
exames finais, quando houver; (Incluído pela definirá direitos e objetivos de aprendizagem
Lei nº 13.415, de 2017). [...] do ensino médio, conforme diretrizes do
§ 1º A carga horária mínima anual de que Conselho Nacional de Educação, nas seguintes
trata o inciso I do caput deverá ser ampliada de áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº
forma progressiva, no ensino médio, para mil e 13.415, de 2017.). [...]
quatrocentas horas, devendo os sistemas de § 5º A carga horária destinada ao
ensino oferecer, no prazo máximo de cinco cumprimento da Base Nacional Comum
anos, pelo menos mil horas anuais de carga Curricular não poderá ser superior a mil e
horária, a partir de 2 de março de 2017. oitocentas horas do total da carga horária do
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017). (BRASIL, ensino médio, de acordo com a definição dos
1996). sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415,
Antes da Reforma do Ensino Médio as de 2017) (BRASIL, 1996,s.p.).
escolas brasileiras atendiam ao regime de carga Na Reforma do Ensino Médio não está
horária de 800 horas anuais (4 horas diárias). especificado exatamente em quanto tempo a
Por meio do § 1º do Art.24, aprovado na nova carga horária deverá ser superior a 1800 horas.
Lei, o ensino em tempo integral passa a ser O parágrafo 5º do Artigo 3 da Lei nº 13.415, de
implantado gradualmente a partir de 1.000 2017, apenas define que a carga horária não
horas anuais, até atingir às 1.400 horas. No pode ser superior a 1800 horas do total da
entanto, questiona-se se a proposta de carga horária do Ensino Médio. Comparando-se
aumento da carga horária por si só refletirá na ao que se preconizava no Art. 24 da LDBEN
qualidade do ensino por meio do ensino 9394/1996, havia 2.400 horas no total para o
integral proposto. Há um expressivo consenso Ensino Médio que correspondiam a 800 horas
entre estudiosos da educação de que somente anuais. Mas, segundo a Lei nº 13.415/2017, Art.
o aumento da carga horária não garante o 1º, § 1º, existe o interesse em aumentar esse
desenvolvimento integral do aluno. A discussão tempo para 1.400 horas anuais. Nessa direção,
aponta para a necessidade de se pensar e de se o propósito é de que, num período de até cinco
por em prática investimentos estruturais que anos, todas as escolas atinjam ao menos 1.000
dizem respeito à capacitação docente e às horas anuais, não estando claro, no entanto,
condições de trabalho e de estudo do como e por quanto tempo esse acréscimo total
professor, bem como à infraestrutura básica de carga horária deverá se consolidar. Ficam,
necessária para a prática das atividades portanto, inevidentes as intenções
teóricas, propostas à ampliação da carga administrativas.
horária de 7 horas diárias. O Art. 2º da Reforma do Ensino Médio altera
o Artigo 26 da LDBEN, que trata dos currículos,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

especificamente nos parágrafos 2º, 5º, 7º e pluralidade cultural e relações de trabalho.


10º, conforme se segue: Naturalmente, a abordagem que é dada para
§ 2º O ensino da arte, especialmente em estes temas são as instituídas pela classe
suas expressões regionais, constituirá hegemônica.
componente curricular obrigatório da No § 10º observa-se o caráter obrigatório da
educação básica. BNCC atendendo aos interesses políticos e
§ 5º No currículo do ensino fundamental, a sociais e, desta forma, aprovado pelo CNE. Os
partir do sexto ano, será ofertada a língua parágrafos acima expressos são os que dão
inglesa. conteúdo ao horário integral de que trata o Art.
§ 7º A integralização curricular poderá 1 da Reforma do Ensino Médio. Observa-se o
incluir, a critério dos sistemas de ensino, caráter evasivo em que no Art. 2 esses
projetos e pesquisas envolvendo os temas conteúdos são preestabelecidos, direcionados
transversais de que trata o caput. à consulta da Base Nacional Comum Curricular
§ 10. A inclusão de novos componentes do Ensino Médio, que só foi aprovada em
curriculares de caráter obrigatório na Base dezembro de 2018, ou seja, 22 meses após a
Nacional Comum Curricular dependerá de homologação da Reforma do Ensino Médio.
aprovação do Conselho Nacional de Educação e Tratar da carga horária e da composição
de homologação pelo Ministro de Estado da curricular remonta aos termos Escola em
Educação (BRASIL, 2017,s.p). Tempo Integral ou Educação em Tempo
Parece relevante a compreensão de que o Integral. Talvez estes termos possam ser
desenvolvimento dessa nova Base Comum confundidos com o conceito de Educação
Curricular (BNCC), que se encontra em estágio Integral e, por associação, à construção de um
inicial, demonstra-se precariamente currículo para a formação completa. Nesse
organizado. Outro fato que se constata na sentido, torna-se oportuna uma ponte com o
BNCC é de que, apesar de caber ao Estado a pensamento gramsciano. A perspectiva de
manutenção dos princípios do Ensino Médio, a formação integral foi posta por Gramsci (1991),
sua organização está nitidamente influenciada que defendeu uma proposta de escola unitária,
por empresários da educação. Observa-se o segundo a qual a formação do ser humano deve
caráter político implícito nas decisões, ser integral, no sentido de formação mais
especialmente em conteúdos expressos em abrangente e geral. Há nesta proposta de
artigos como o 26 da LDBEN, § 2º e § 5º. formação a inserção de valores da
No § 7º da LDBEN há a menção acerca de autodisciplina, do humanismo e da autonomia
temas transversais, que foram estabelecidos moral, como pontos fundamentais e básicos
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para uma especialização a ser decidida pelo
(PCN’s). Os temas transversais apresentam estudante posteriormente. Trata-se de uma
conteúdos temáticos que aparecem escola criadora, a respeito da qual o teórico
transversalizados nas diversas áreas de destaca:
conhecimento e abrangem temas como ética, A escola criadora não significa uma escola de
orientação sexual, meio ambiente, saúde, inventores e descobridores; ela indica uma fase

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e um método de investigação e de metamorfose do Ensino Médio está na sua


conhecimento, e não um programa divisão em duas grandes partes: a composição
predeterminado que obrigue à inovação e à geral dos currículos do Ensino Médio e a Base
originalidade a todo custo. Indica que a Nacional Comum Curricular (BNCC).
aprendizagem ocorre notadamente graças a Com a Reforma, a formação geral básica do
um esforço espontâneo e autônomo do Ensino Médio deve chegar a 1800 horas e deve
discente, e no qual o professor exerce apenas compreender as competências e as habilidades
uma função de guia amigável, como ocorre ou comuns para a aprendizagem, conforme
deveria ocorrer na universidade. Descobrir por estabelecidas na Base Nacional Comum
si mesmo uma verdade, sem sugestões e ajudas Curricular (BNCC). Até 1.200 horas
exteriores, é criação (mesmo que a verdade correspondem ao itinerário formativo
seja velha) e demonstra a posse do método; organizado a partir das Áreas de Conhecimento
indica que, de qualquer modo, entrou-se na e da Formação Técnica e Profissional. A carga
fase da maturidade intelectual na qual se horária dividiu-se em 60% para as disciplinas
podem descobrir verdades novas (GRAMSCI, obrigatórias nos três primeiros anos
1991, p. 115). (Português, Matemática e Inglês) e 40% para a
A proposta da educação integral de Gramsci formação por meio do itinerário. A formação
(1991, p. 36), visava inserir os alunos “[...] na geral básica nas diferentes áreas do
atividade social, depois de tê-los elevado a um conhecimento estaria atrelada à proposta da
certo grau de maturidade e capacidade para a formação integral gramsciana, a qual
criação intelectual e prática e a uma certa englobava a formação humana, técnica,
autonomia na orientação e iniciativa”. intelectual, socioemocional e física. Esse
Portanto, os currículos deveriam ser modelo de formação projetaria o aluno ao seu
compostos “[...] em seus vários níveis, de desenvolvimento individual emancipatório.
acordo com a idade e com o desenvolvimento Conforme as professoras Castro e Lopes (2010,
intelectual-moral dos alunos” (GRAMSCI, 1991, p. 20;21):
p. 36). Com um conteúdo curricular Para Gramsci, o ser humano, na escola
humanístico e buscando trabalhar teoria e unitária, por adquirir a capacidade de trabalhar
prática, o ideário era “[...] o desenvolvimento intelectualmente e manualmente, de maneira
da capacidade de trabalhar manualmente harmônica e integrada, superaria as relações
(tecnicamente, industrialmente) e, fetichizadas e a alienação (reificação) do
paralelamente, o desenvolvimento das processo de produção em prol de uma
capacidades para o trabalho intelectual” sociedade mais humana e justa, adquirindo,
(GRAMSCI, 1991, p. 33). desta feita, um caráter de educação
Novamente a respeito da reforma do Ensino emancipadora, ao formar todos os seres
Médio, observa-se que, embora tenha sido o humanos para governar. Percebemos que,
objeto de maior divulgação, a proposta de tanto para Gramsci, como para os Pioneiros, o
escolas com tempo integral não foi a maior conceito de educação integral visava à plena
mudança desta reforma. A relevante humanização do homem, mas a diferença

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fundamental está na finalidade dessa educação ensino, deverá estar harmonizada à Base
em relação à sociedade existente à época. Nacional Comum Curricular e ser articulada a
Como evidencia as linhas anteriores, a partir do contexto histórico, econômico, social,
preocupação de Gramsci ia além da ambiental e cultural (BRASIL, 2017, s.p).
preocupação com a carga horária e disciplinas Por meio do § 2º do Art. 35-Ada LDBEN, por
obrigatórias. O filósofo italiano preocupava-se meio do texto inserido pela Reforma, a “Base
com a humanização dentro do processo Nacional Comum Curricular referente ao
educacional, cuja finalidade seria o Ensino Médio incluirá obrigatoriamente
estabelecimento da prática de homens livres e estudos e práticas de educação física, arte,
emancipados na sociedade. sociologia e filosofia.” (BRASIL, 1996). Estes
O Art. 3º da Reforma do Ensino Médio artigos evidenciam que aquilo que sobrou
refere-se ao Art. 35-A da LDBEN, por meio do como obrigatório para a atual Base Comum
qual são definidos direitos e objetivos para o Curricular/BNCC – e isso graças às pressões
nível de ensino em questão em quatro áreas do populares – foram conteúdos como Educação
conhecimento: Física, Arte, Sociologia e Filosofia, que também
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular cairiam no empobrecimento de seu
definirá direitos e objetivos de aprendizagem oferecimento nas específicas “Áreas do
do ensino médio, conforme diretrizes do Conhecimento”. Em resposta à inclusão destes
Conselho Nacional de Educação, nas seguintes conteúdos verifica-se no Artigo 4º, a seguir, a
áreas do conhecimento: inserção de tais conteúdos distribuídos nos
I - linguagens e suas tecnologias; itinerários formativos.
II - matemática e suas tecnologias; Os § 3º e § 4º tratam da obrigatoriedade da
III - ciências da natureza e suas tecnologias; Língua Portuguesa, Matemática e Língua
IV - ciências humanas e sociais aplicadas [...] Inglesa, sendo o espanhol a segunda opção
(BRASIL, 2017, s.p). para o caso de não haver o idioma inglês. A este
Essas áreas do conhecimento concentram respeito, além da análise pedagógico-
todos os saberes definidos como necessários curricular, há uma intrigante provocação
ao jovem no seu preparo para o mundo do quanto à prioridade do idioma inglês: por meio
trabalho, nomeado neste Art. 35 da LDBEN do § 4º teceríamos um estudo aprofundado
como “etapa final da educação básica, com sobre subalternidade cultural e linguística
duração mínima de três anos [...]” (BRASIL, estadunidense. Mas aqui se faz uma
1996). provocação para futuras oportunidades de
A Reforma inseriu por meio do Art. 35-A em aprofundamento. O § 5º, que aborda a carga
seu § 1º a articulação do ensino aos contextos horária, foi tratado acima, quando se analisou
locais de cada instituição escolar nas diversas o Art. 1 da Reforma. O § 6º trata dos padrões
regiões do país. Deste modo: de avaliação de desempenho nos processos de
§ 1º A parte avaliação nacional, o que deixa-nos uma brecha
diversificada dos currículos de que trata para alterações no ENEM. No que se refere à
o caput do art. 26, definida em cada sistema de avaliação, esta é apresentada no § 8.

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É válido destacar que uma das formas de relevância para o contexto local e a
acesso que apoia o ingresso dos jovens no possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
Ensino Superior é o Exame Nacional do Ensino I - linguagens e suas tecnologias;
Médio (ENEM). A Reforma desperta para II - matemática e suas tecnologias;
indícios de que o exame também sofra III - ciências da natureza e suas tecnologias;
impactos e alterações, impactando, IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
consequentemente, o ingresso dos jovens na V - formação técnica e profissional [...]
graduação. (BRASIL, 2017,s.p).
O § 7 trata audaciosamente da “formação Parece claro que, além da BNCC, uma das
integral do aluno” e da “construção do seu mudanças significativas na Reforma é a que dá
projeto de vida”: “os currículos do Ensino ao aluno a possibilidade de escolha por
Médio deverão considerar a formação integral itinerários formativos.
do aluno, de maneira a adotar um trabalho É importante identificar e compreender os
voltado para a construção de seu projeto de Artigos 3º e 4º da Reforma, que correspondem
vida e para sua formação nos aspectos físicos, aos Artigos 35-A e 36 da LDBEN,
cognitivos e socioemocionais” (BRASIL, 2017). respectivamente. A nomenclatura das Áreas do
A audácia se dá pelo fato de haver, no Conhecimento confunde-se com os nomes dos
parágrafo 5º do Art. 36 da LDBEN (corresponde itinerários formativos. Segundo o texto da
ao Art. 4º da Reforma), a informação de que o Reforma, há 4 grandes áreas do conhecimento
aluno poderá optar por mais de um itinerário, que fazem parte do currículo flexível do aluno.
no caso da existência da vaga:§ 5º “Os sistemas Os itinerários formativos foram estruturados a
de ensino, mediante disponibilidade de vagas partir das quatro (4) áreas do conhecimento
na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do (linguagens e suas tecnologias, matemática e
ensino médio cursar mais um itinerário suas tecnologias, ciências da natureza e suas
formativo de que trata o caput.” (BRASIL, tecnologias, ciências humanas e sociais
2017,s.p). aplicadas) e da formação técnica e profissional.
Nessa linha de incertezas quanto às ofertas Os itinerários estão estruturados em quatro
de itinerários e a quantidade de vagas, torna-se eixos e envolvem investigação científica,
inviável tratar da formação integral que processos criativos, mediação e intervenção
garanta ao aluno a formação para a construção sociocultural e empreendedorismo,
do seu projeto de vida. formalizados por meio da portaria nº
O Art. 4º corresponde ao Art. 36 da LDBEN, 1.432/2018.
no qual estabeleceu-se a composição do novo Cada itinerário tem por objetivo aprofundar
Ensino Médio: o conhecimento na área do conhecimento
Art. 36. O currículo do ensino médio será específica que o aluno cursará, na perspectiva
composto pela Base Nacional Comum de aplicabilidade do conhecimento naquela
Curricular e por itinerários formativos, que área: Linguagens (Português, Inglês (ou
deverão ser organizados por meio da oferta de espanhol), Artes e Educação Física), Ciências da
diferentes arranjos curriculares, conforme a Natureza (Biologia, Física e Química) e Ciências

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Humanas e Sociais (História, Geografia, § 3º A critério dos sistemas de ensino,


Sociologia e Filosofia). O V itinerário, Formação poderá ser composto itinerário formativo
Técnica e Profissional, tem o objetivo de integrado, que se traduz na composição de
preparar o aluno para o mercado de trabalho. componentes curriculares da Base Nacional
É por meio deste itinerário que o estudante Comum Curricular - BNCC e dos itinerários
deverá obter a formação inicial e técnica, formativos, considerando os incisos I a V
reconhecida por meio de diploma em do caput. (BRASIL, 2017,s.p).
profissões que constem das listas do Catálogo Observa-se que a composição estrutural
Nacional de Cursos Técnicos (CNCT), conforme curricular apresenta uma rigidez conteudista
previsto no Art. 4º, § 7º. por meio da decisão das Secretarias;
O parágrafo 1º do Art. 4º – correspondente igualmente nega a interdisciplinaridade
ao Art. 36 da LDBEN – afirma que “A necessária à formação humana nessa etapa.
organização das áreas de que trata o caput e Por mais que o artigo 36 da LDBEN, parágrafo
das respectivas competências e habilidades 3º, anuncie que o itinerário pode ser composto
será feita de acordo com critérios estabelecidos de forma integrada, na prática, tal perspectiva
em cada sistema de ensino” (BRASIL, 2017,s.p). pode conduzir, pela facilidade do processo, à
O destaque a esse parágrafo deve-se ao fato retificação de um currículo restrito às áreas do
de que a Reforma afirma que as competências conhecimento previstas nos incisos I a IV do
e as habilidades estão definidas na BNCC e que artigo 35º.
no mesmo documento se encontram os Seguindo o pensamento do Art. 4º, o § 6º
itinerários informativos divulgados aos jovens preconiza que
com suas cinco opções de escolha. O parágrafo a critério dos sistemas de ensino, a oferta de
deixa claro que a opção de escolha não é do formação com ênfase técnica e profissional
aluno, mas sim da Secretaria de Educação do considerará: I - a inclusão de vivências práticas
Estado visto que, conforme a Constituição de trabalho no setor produtivo ou em
Federal, em seu Art. 211 “A União, os Estados, ambientes de simulação, estabelecendo
o Distrito Federal e os Municípios organizarão parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de
em regime de colaboração seus sistemas de instrumentos estabelecidos pela legislação
ensino.” (BRASIL, 1988). E complementa, por sobre aprendizagem profissional (BRASIL,
meio da Emenda Constitucional 14/96, no § 3º, 2017,s.p).
que “Os Estados e o Distrito Federal atuarão A divulgação da Reforma do Ensino Médio,
prioritariamente no ensino fundamental e feita por meio dos meios de comunicação de
médio” (BRASIL, 1988). massa, comunicava à classe pobre brasileira
Serão as Secretarias que decidirão sobre a uma ampla possibilidade de escolha
oferta do itinerário formativo integrado, que é profissional pelos indivíduos. Mas, ao analisar
o itinerário que combina mais de uma área do as entrelinhas, observa-se que é reforçado que
conhecimento, podendo ainda incluir o a oferta de itinerários e de vagas é prerrogativa
Itinerário V, referente à formação profissional. das Secretarias de Educação dos Estados. Desta
Conforme o §3º do Art. 4º: forma, a perspectiva perversa da reforma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aparece concretizada no desemprego: moral e psicológico, e o aprendiz, a executar,


enquanto a oferta do itinerário na rede pública com zelo e diligência, as tarefas necessárias a
é decidida pela Secretaria de Educação, a rede essa formação (BRASIL, 2000,s.p).
privada tem autonomia para essa decisão. No entanto, as empresas “contratam” jovens
Assim, há as demissões de trabalhadores na em fase de formação pelo Ensino Médio (entre
rede privada em decorrência da evasão de 14 e 17 anos) em atendimento ao Art.429 da
alunos por ocasião da redução da oferta de mesma lei da aprendizagem, que determina um
algum itinerário. número mínimo de estudantes:
No inciso I do mesmo § 6º verifica-se que o Os estabelecimentos de qualquer natureza
aluno será direcionado à prática do mundo do são obrigados a empregar e matricular nos
trabalho sob os critérios legais da cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem
aprendizagem profissional. Na Lei da número de aprendizes equivalente a cinco por
Aprendizagem, Lei nº 10.097 de 19 de cento, no mínimo, e quinze por cento, no
dezembro de 2000, são alterados dispositivos máximo, dos trabalhadores existentes em cada
da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, estabelecimento, cujas funções demandem
aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º de formação profissional (BRASIL, 2000.,s.p.).
maio de 1943. Em seu Art. 403 diz ser “proibido Observa-se que, no item I, § 6º do Art. 4º da
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos Reforma do Ensino Médio, fica bem evidente o
de idade, salvo na condição de aprendiz, a interesse legal do Estado em prover mão de
partir dos quatorze anos” e o parágrafo único, obra mais barata, ainda que incompleta, ao
consta que “o trabalho do menor não poderá atendimento do empresariado nacional (ou
ser realizado em locais prejudiciais à sua multinacionais no Brasil).
formação, ao seu desenvolvimento físico, A estratificação do currículo e a automática
psíquico, moral e social e em horários e locais formação rasa, aligeirada, está clara neste
que não permitam a frequência à escola.” Logo, parágrafo 6º, inciso II, do Art. 4º, que concede
a legislação inclui o jovem estudante a partir de a possibilidade de certificados intermediários
14 anos às práticas do trabalho. para fins laborais. Conforme o inciso II há “a
O trabalho especial estabelece vínculo possibilidade de concessão de certificados
formal, em que há direitos e deveres entre intermediários de qualificação para o trabalho,
empregador e estudante, conforme a Lei da quando a formação for estruturada e
Aprendizagem nº 10.097/2000: organizada em etapas com terminalidade”
Art. 428. Contrato de aprendizagem é o (BRASIL, 2017). Portanto, parece importante
contrato de trabalho especial, ajustado por problematizar o aligeiramento da formação
escrito e por prazo determinado, em que o contida nessa proposta, uma vez que poderá
empregador se compromete a assegurar ao justificar a desistência da formação – por meio
maior de quatorze e menor de dezoito anos, de certificados intermediários –, o que é o
inscrito em programa de aprendizagem, mesmo que ampliar uma massa de manobra de
formação técnico-profissional metódica, fácil reposição para o trabalho.
compatível com o seu desenvolvimento físico,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Quanto às etapas com terminalidade, “integralização”, uma vez que é algo que pode
conforme previsto no Decreto de Lei nº 5.154 ou não acontecer e que depende do interesse
de 23 de julho de 2004, no Art. 6º observa-se dos sistemas de ensino e, principalmente, dos
que os “cursos [...] de nível médio [...], quando alunos.
estruturados e organizados em etapas com Dentre os questionamentos relevantes a
terminalidade, incluirão saídas intermediárias, serem feitos, um diz respeito ao interesse do
que possibilitarão a obtenção de certificados de aluno que concluiu o Ensino Médio, no caso de
qualificação para o trabalho [...]” (BRASIL, que esse aluno deseje retomar os estudos para
2004, grifos meus). O § 10 especifica a cursar mais um ano do Ensino Médio.
possibilidade da organização do Ensino Médio Observemos o artigo 36 da LDBEN em seu
em módulos e adoção de sistema de créditos parágrafo 5: “Os sistemas de ensino, mediante
para fins de terminalidade específica. No disponibilidade de vagas na rede, possibilitarão
entanto, a questão é: O jovem que solicitou seu ao aluno concluinte do ensino médio cursar
certificado de qualificação para o trabalho mais um itinerário formativo de que trata o
retornará para a conclusão dos seus estudos e caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)”
formação profissional? (BRASIL, 1996).
Quanto aos itinerários formativos propostos Outra expectativa divulgada nas campanhas
na Lei nº 13.415/2017, cabe avaliar se haverá anunciadas refere-se à possibilidade de escolha
continuidade ouse possibilitará a por parte do aluno. Antes de ser decretada a Lei
descontinuidade de conhecimento e de nº 13.415/2017, os meios de comunicação de
manutenção do processo educativo evitando massa anunciavam “mais liberdade para
distorções na esfera do sistema educacional estudar conforme a sua vocação”, o que
brasileiro. tendência a imaginação de variedades de
Na análise do Art. 4º há outras dimensões a ofertas e possibilidades de escolha. Avaliando-
serem consideradas, dentre as quais está a se o parágrafo 10 fica claro que o Ensino Médio
questão das possibilidades de escolhas do estará organizado em módulos, ou seja, com
aluno e seus desdobramentos, que na verdade, disciplinas semestrais: “Além das formas de
serão conduzidas pela Secretaria de Educação. organização previstas no art. 23, o ensino
Dentre esses desdobramentos, destacam-se: médio poderá ser organizado em módulos e
quantidade de oferta de mais de um itinerário adotar o sistema de créditos com
formativo (§ 1º); oferta de itinerário formativo terminalidade específica. (Incluído pela Lei nº
integrado, incorporando a formação técnica e 13.415, de 2017)” (BRASIL, 1996).
profissional (§ 2º); disponibilidade de vagas Nesse sentido, um grande problema se
pela Secretaria de Educação (§ 5º); oferta de estabelecerá quando o aluno estudar um ano e
formações experienciais à formação técnica e meio e, antes de ingressar no segundo
profissional (§ 7º); adoção e oferta de sistemas semestre do segundo ano, tiver de escolher seu
de crédito com terminalidade (§ 10º). Estes itinerário, já que no meio do curso, no segundo
parágrafos representam linhas das incertezas ano, ele já deverá ter escolhido o itinerário.
no que tange ao currículo e sua Contudo, nesse modelo apresentado no

452
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

parágrafo anterior, a oferta para o aluno cursar educacionais. Com isso, justifica-se a
já estaria estabelecida e, consequentemente, o irresponsabilidade com a educação no Ensino
sistema já estaria antecipando a escolha do Médio de formação técnica e profissional.
aluno para quando ele estiver ingressando no Observa-se que a formação de professores
Ensino Médio, e não para o período precisa ser devidamente compreendida, de
equivalente à metade do curso. modo a atender às prerrogativas da reforma. O
No § 8º do Art. 4º há a informação sobre a § 11, por meio do inciso I, e o Art. 6º, no inciso
oferta de formação técnica e profissional IV, prevê a flexibilização da formação docente,
“realizada na própria instituição ou em parceria sendo um fato que aponta para um mero
com outras instituições”. Contudo, não fica preenchimento do cargo de professor, devido
claro neste parágrafo quais empresas parceiras ao aligeiramento de sua formação. O Art. 4º, §
seriam essas e quais as características exigidas 11: “Para efeito de cumprimento das exigências
para tanto. Muito embora se explicite no texto curriculares do ensino médio [...] mediante as
“aprovada previamente pelo Conselho Estadual seguintes formas de comprovação: [...]”
de Educação, homologada pelo Secretário (BRASIL, 2017) deixa ambiguidade quanto à
Estadual de Educação e certificada pelos forma de comprovação da instituição de
sistemas de ensino”, aspectos quanto à educação à distância, pois o inciso I aponta a
aprovação, homologação e certificação dos necessidade de se ter que comprovar
parceiros não se apresentam claros nem demonstração prática. Essa demonstração
transparentes. prática não pode excluir o objeto do serviço
Nota-se maior obscuridade na informação ofertado (ensino), o qual necessita da função
contida no o § 11º: “Para efeito de docente para se concretizar. E no Art. 6º, inciso
cumprimento das exigências curriculares do IV, ao prever “profissionais com notório saber
ensino médio, os sistemas de ensino poderão reconhecido [...] para ministrar conteúdos de
reconhecer competências e firmar convênios áreas afins [...]” (BRASIL, 2017), nota-se,
com instituições de educação à distância com igualmente, uma indefinição a respeito da
notório reconhecimento [...]” (BRASIL, 2017, formação desses profissionais.
grifos meus). No campo da formação docente, parece
Neste Art. 4º, § 11º, o qual afirma a pertinente o questionamento que se refere à
possibilidade de convênios com instituições de manutenção do tipo regulamentar de formação
educação à distância com notório docente vinculada a esta Lei, pois representa
reconhecimento, ainda que nos incisos I a VI um retrocesso histórico-social. Para Gramsci
estejam estabelecidas as formas de como as (2001, p. 49):
instituições de educação à distância deverão Na escola atual, em função da crise profunda
comprovar este notório reconhecimento, nota- da tradição cultural e da concepção da vida e
se a evidência da mercantilização do do homem, verifica-se um processo de
conhecimento que, pelo barateamento da mão progressiva degenerescência: as escolas de tipo
de obra docente, desvaloriza a formação em profissional, isto é, preocupadas em satisfazer
nome do suprimento das carências interesses práticos imediatos, predominam

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sobre a escola formativa, imediatamente ano; a partir da segunda metade do segundo


desinteressada. O aspecto mais paradoxal ano até o final do terceiro ano, dará
reside em que este novo tipo de escola aparece seguimento ao Ensino Médio cursando um dos
e é louvado como democrático, quando na itinerários formativos por ele escolhido, o qual
realidade, não só é destinado a perpetuar as seguirá até o final do curso.
diferenças sociais, como ainda a cristalizá-las O Art. 5º da Reforma do Ensino Médio
em formas chinesas. acrescentou o § 3º ao Art. 44 da LDBEN, que em
Esse tipo de educação técnica, pragmática e seu inciso II aborda a abrangência dos cursos de
degenerativa, presente na atual Lei do Ensino graduação e da classificação em processo
Médio 13.415/2017, considerando-se a seletivo tratado na nova Lei. Por meio do § 3º,
“degenerescência” apontada por Gramsci na o processo seletivo classificatório à graduação
citação acima, precisa ser acompanhada e seus considerará as competências e as habilidades
resultados iniciais precisam ser avaliados. definidas na Base Nacional Comum Curricular.
Voltando ao assunto da escolha do itinerário E neste caso, outra intrigante provocação é
pelos alunos, o § 12 do Art. 4º da Lei, que quanto ao Ensino Médio, que tem classificado
correspondente ao Art. 36 da LDBEN, inúmeros jovens ao ensino superior público e
determina que as “[...] escolas deverão orientar privado do país.
os alunos no processo de escolha das áreas de O Art. 6º da Lei da Reforma corrobora a
conhecimento [...]” (BRASIL, 2017). O que se análise acima. Ele passou a vigorar ao
questiona é como se dará a orientação aos acrescentar o inciso IV ao Art. 61 da LDBEN, que
alunos, se as escolas poderão não oferecer identifica que são considerados profissionais da
todos os itinerários formativos previstos, uma educação escolar básica os que nela estando
vez que esses itinerários serão objetos de em efetivo exercício obtiveram formação em
seleção da Secretaria de Educação. Isso reitera cursos reconhecidos:
que não depende exclusivamente das escolhas Profissionais com notório saber reconhecido
dos alunos. Ao final, imagina-se o pelos respectivos sistemas de ensino, para
questionamento por parte do aluno: “Mas eu ministrar conteúdos de áreas afins à sua
gostaria de outras opções...”, e a escola formação ou experiência profissional,
orientando “Mas é somente essa oferta que atestados por titulação específica ou prática de
temos”. ensino em unidades educacionais da rede
Nos artigos 35-A e 36 da LDBEN pública ou privada ou das corporações privadas
(correspondentes ao 3º e 4º Art. da Reforma do em que tenham atuado. (BRASIL, 2017, grifos
EM), está explícita a composição do currículo nosso).
do Ensino Médio em que, na primeira grande Desse modo, nota-se que o conceito
parte, o aluno terá o estudo baseado na BNCC implícito de profissionais de notório saber com
e, na segunda metade, o aluno estudará um dos reconhecimento para lecionarem no Ensino
cinco possíveis itinerários. Essa exponencial Médio, nos diversos conteúdos estabelecidos
alteração vem significar que o aluno poderá pela BNCC desse grau de ensino, diz respeito ao
cursar, à luz da BNCC, até metade do segundo fato de que esses profissionais estão aptos à

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

função desde que seja comprovada a formação comunicação em massa, planejamento e


ou a experiência profissional. Desta forma, controle, entre outros.
observa-se que, por meio da Lei, a formação No Art. 10º há a alteração do Art. 16 do
não é mais uma condição; abre-se, então, uma Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de
possibilidade para casos em que os professores 1967, com determinações para programas do
não tenham a experiência comprovada. setor de radiodifusão. Apesar de não ser alvo
Questiona-se, assim, como se poderia da discussão proposta no momento, cabe
incentivar os professores a buscarem o ressaltar que houve uma preocupação com a
aprimoramento profissional. comunicação por meio dos meios de
Implicações sobre a qualificação docente comunicação em massa. Os artigos 11º e 12º
despertam preocupação. Essas implicações determinam prazos para que os sistemas de
estão especificadas nos Artigos 7º, 8º e 11º da ensino estabeleçam cronogramas de
reforma. Contudo, abordar detalhadamente o implementação da Reforma do Ensino Médio.
tema não é o objeto desta pesquisa, visto que Este cronograma parece estar associado
entrar-se-ia na discussão sobre a formação e também às questões de ordem financeira.
valorização docente. No entanto, cabe destacar Aspectos de investimentos financeiros
algumas dessas implicações a respeito da estabelecidos na Lei encontram-se no Art. 9º,
qualificação docente para nível de que se refere ao caput do Art. 10 da Lei nº
conhecimento desta realidade na legislação 11.494, de 20 de junho de 2007, que incluiu,
atual no Brasil. O Art. 7º altera o Art. 62 da por meio do inciso XVII, a formação técnica e
LDBEN, por meio do qual é especificada a profissional. Os artigos do 13º ao 20º, também
formação docente para a atuação na educação abordam questões de ordem financeira. O Art.
básica: 13º institui a Política de Fomento à
[...] far-se-á em nível superior, em curso de implementação de Escolas de Ensino Médio em
licenciatura plena, admitida, como formação Tempo Integral. No Art. 14º ficam
mínima para o exercício do magistério na estabelecidos os casos em que são obrigatórias
educação infantil e nos cinco primeiros anos do as transferências de recursos da União aos
ensino fundamental, a oferecida em nível Estados e ao Distrito Federal. Também os
médio, na modalidade normal (BRASIL, 2017). artigos 15º, 16º, 17º, 18º, 19º e 20º tratam do
Na discussão sobre os 22 artigos que Fundo Nacional do Desenvolvimento da
compõem a Lei nº 13.415/2017, cabe ao Educação (FNDE), de apoio financeiro, no que
presente trabalho desenvolver a análise dos se refere aos recursos financeiros, à prestação
artigos de cunho pedagógico, conforme foi de contas dos Estados e do Distrito Federal, ao
proposto para o objeto da pesquisa. No controle da aplicação dos recursos ao FNDE e
entanto, a Reforma do Ensino Médio desperta aos orçamentos do FNDE e do Ministério da
para outros olhares expressos por meio dos Educação, respectivamente.
demais artigos, que envolvem aspectos como a O Art. 21º publica a vigência da Lei a partir
formação e a valorização docente, assuntos de 16 de fevereiro de 2017 e o Art. 22º revoga
econômicos relacionados à educação,

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a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005, que desigualdade. Isso porque, além de restringir o
dispunha sobre o ensino da língua espanhola. conhecimento a determinadas camadas sociais
Esta temática financeira é para Gramsci de agrupadas em localizações distintas do
grande importância, pois sem verbas território nacional, avalia-se a tendência de que
destinadas à Educação não são possíveis os o resultado da formação escolar da forma
investimentos em infraestrutura, em como se apresenta vise apenas à formação de
tecnologia e, principalmente, na formação e profissionais para serem utilizados no mercado
nas condições do trabalho docente. para a reprodução do trabalho e do
Para Gramsci (2001, p. 36-37): conhecimento. Esse conhecimento proposto
A escola unitária requer que o Estado possa no Ensino Médio por meio da Lei em discussão
assumir as despesas que hoje estão a cargo da desperta a preocupação quanto a sua
família no que toca à manutenção dos funcionalidade de reproduzir mais trabalho
escolares, isto é, requer que seja produtivo, à medida que formará
completamente transformado o orçamento do trabalhadores cada vez mais úteis ao mercado
ministério da educação nacional, ampliando-o de trabalho.
enormemente e tornando-o mais complexo: a Uma questão relevante e primordial é a de
inteira função de educação das novas gerações se dar evidência sobre quantos itinerários,
deixa de ser privada e torna-se pública, pois efetivamente, a escola possui para oferecer.
somente assim ela pode abarcar todas as Enquanto a medida provisória 746/2016
gerações sem divisões de grupos ou castas. Mas tratava da obrigatoriedade de as escolas
esta transformação da atividade escolar requer oferecerem pelo menos dois itinerários, esse
uma enorme ampliação da organização prática dispositivo desapareceu no texto final da Lei
da escola, isto é, dos prédios, do material atual. Deste modo, não está mais estabelecido
científico, do corpo docente, etc. O corpo o mínimo de itinerários para oferta em cada
docente, em particular, deveria ser ampliado, escola.
pois a eficiência da escola é muito maior e Outro aspecto relevante é quanto ao ‘poder
intensa quando a relação entre professor e decisor’ efetivamente. As ofertas dos
aluno é menor, o que coloca outros problemas itinerários por escola serão decididas pela
de solução difícil e demorada. Também a Secretaria Estadual. Ora, se a Lei não está
questão dos prédios não é simples, pois este estabelecendo a quantidade mínima de
tipo de escola deveria ser uma escola em itinerários, se a escolha de oferta nas escolas é
tempo integral, com dormitórios, refeitórios, prerrogativa da Secretaria Estadual, se há a
bibliotecas especializadas, salas adequadas possibilidade de as escolas ofertarem apenas
para o trabalho de seminário, etc. um itinerário e se esse itinerário é selecionado
Por meio da análise da Lei nº 13.415/2017, pelo órgão público, nota-se, em uma relação
observa-se que a divisão do currículo do Ensino lógica, que na prática não há garantia de
Médio em cinco itinerários formativos nos leva possibilidade de escolha pelos alunos.
a inferir, numa análise de médio e longo prazo, Há que se mensurarem quantos municípios
a possibilidade de manutenção da brasileiros possuem apenas uma escola

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ofertando o Ensino Médio. Considerando-se Científico. E eu confesso que lá na minha


que essa única escola só pode oferecer um cidade, cidade pequena, a minha inclinação
itinerário, o aluno não tem escolhas: terá que toda sempre foi pelas ciências humanas. E eu
cursar a ênfase do saber oferecido e ingressar me recordo que não havendo o curso Clássico,
no mundo do trabalho sem qualquer eu ingressei do primeiro no Científico, mas logo
possibilidade de escolha. Em muitos casos, isso no final do ano, aquele tempo tinha segunda
poderá levá-lo a abandonar os estudos ou, época, eu fiquei para a segunda época em física
mediante investimento financeiro da família, e em química. E daí, eu percebi que eu tinha
seguir para estudar na capital aquilo que se que ir para o curso Clássico e daí, vim para São
enquadra na sua real escolha profissional. Paulo para fazer o Clássico. [...]
Nossa Constituição, no artigo 205, define as
DISCURSO DE CERIMÔNIA DE competências, em matéria de educação:
“Educação é dever do Estado, dever de todos,
LANÇAMENTO DO NOVO da família, com a colaboração da sociedade”.
ENSINO MÉDIO [...] ela (a educação) deve servir, sem dúvida
O cenário acima descrito nos faz relembrar o alguma, ao pleno desenvolvimento da pessoa
discurso de Cerimônia de Lançamento do Novo humana, o que requer darmos aos jovens
Ensino Médio4 , no Palácio do Planalto em
1
opções curriculares e não imposições
20165 , quando o Presidente Michel Temer
2
curriculares. Ela deve servir ao preparo para o
revelou, sem se dar conta, o grande perigo exercício da cidadania, o que nos impõe, por
desta reforma: exemplo, combater a evasão escolar que assola
Eu folgo em vir a este plenário no instante o Ensino Médio. Ela deve, também, servir à
em que se inova o Ensino Médio. E a história da qualificação para o trabalho, o que recomenda
educação é uma coisa curiosa. Eu comentava à escola disponibilizar uma opção de formação
há pouco, na minha sala, com o governador técnica e profissionalizante (TEMER, 2016,
Geraldo Alckmin, que no meu tempo de s/p,).
estudante - quero saudar também a doutora A experiência vivida pelo ex-presidente não
Viviane Senna, que se dedica muito à educação será diferente da que temos hoje com o novo
-, mas no meu tempo de interior no estado de Ensino Médio. As mudanças se referem apenas
São Paulo havia no colégio, no Ensino Médio o aos vocábulos e aos protagonistas: quando
curso Científico e o curso Clássico. Quem ia jovem, Temer teve que escolher o que hoje
para ciências humanas fazia o curso Clássico, chamamos de itinerários formativos. Ou seja, o
quem ia para ciências exatas, ia para o que fica evidente é que a situação se repete tal

4
TEMER, Michel. Discurso do Presidente da República, Michel republica/discurso-do-presidente-da-republica-michel-
Temer, durante Cerimônia de Lançamento do Novo Ensino temer-durante-cerimonia-de-lancamento-do-novo-
Médio - Palácio do Planalto. Biblioteca Presidência da ensino-medio-palacio-do-planalto. Data de Acesso em
República, Brasília, 22 de set. de 2016. Disponível em: 20/03/2022.
5 Quando aprovada a Medida Provisória n° 746, de 22 de
http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-
presidentes/michel-temer/discursos-do-presidente-da- setembro de 2016 da Reforma do Ensino Média
convertida na Lei nº 13.415.

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como aconteceu antes, embora sob a égide de de incentivos ao ofertar os itinerários nas
outra roupagem. No entanto, Temer teve a cidades em que as escolas públicas não
oportunidade de migrar para São Paulo para oferecem.
cursar o que de fato ele queria, visto que No mesmo discurso o ex-presidente enfatiza
contava com condições econômicas favoráveis que as competências em educação são deveres
para fazê-lo. Todavia, esta realidade, em geral, de todos, em colaboração com a sociedade.
não é a mesma vivida por muitos jovens que Sutil ou irônica, fica evidente que a
irão se deparar com a falta de opção de solidariedade com que Temer evidencia seu
itinerário formativo na escola pública da sua apoio à iniciativa privada também se concretiza
cidade. A falta de opção de itinerários na Reforma do Ensino Médio por meio da
formativos em muitos casos significará oferta de educação à distância por “instituições
contrariedade aos estudantes e normalmente de notório reconhecimento”.
seus estudos não trarão conteúdos passíveis de Temer (2016, s/p), complementa e encerra
aplicação quando se inserirem no mercado de seu discurso:
trabalho. Estou, portanto, seguro, certo, certíssimo,
O discurso de Temer apresentou-se que com as medidas anunciadas hoje, fruto de
contraditório quando afirmou a necessidade de um belíssimo trabalho feito pelo Ministério da
ofertar aos jovens opções curriculares e não Educação, com o ministro e todos os técnicos
imposições, já que são as Secretarias de se dedicaram a esta matéria, criando mais
Educação que decidem sobre os itinerários a oportunidades para nossos jovens, constroem
serem ofertados, fato que já parece se também as bases de um crescimento
configurar numa imposição curricular. Outra econômico sustentável.
situação que poderá ocorrer na falta de O discurso em si representou uma
itinerário de interesse do jovem é que esse provocação e também uma oportunidade de se
venha a se desmotivar em razão da oferta da desenvolver pesquisas na perspectiva de
escola e por isso venha a abandonar seus realizar o mapa a respeito das motivações
estudos. Deste modo, o natural é que esse envolvidas na Reforma do Ensino Médio, por
jovem venha a submeter-se ao mercado de meio da análise das suas origens e objetivos. As
trabalho com nível básico incompleto, o que primeiras análises levam à suspeita de que
contradiz ao que o ex-presidente interino existam interesses em privilegiar a iniciativa
afirmou em seu discurso. O caso do jovem privada nacional.
poder contar com uma família em condições de
investir na sua mudança de cidade para que ele
consiga concluir o Ensino Médio de seu
interesse não é a realidade mais comum na
sociedade brasileira. A oferta desse itinerário
em outra cidade poderá ser em escola pública
ou em escola privada. Se olharmos por este
lado, a iniciativa privada terá também um leque

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da Reforma do Ensino Médio Lei nº 13.415/2017 reforça uma característica
marcante desse nível de ensino. Mantém a perspectiva da dualidade estrutural da educação: é
propedêutica porque busca oferecer uma preparação geral básica a fim de possibilitar o estudo
especializado. Ou seja, ao preocupar-se com uma educação geral que alicerce a especialização
superior, essa educação tende a preparar o jovem para uma formação mais específica. Nesse
sentido, as instituições privadas continuarão atendendo a demanda de jovens que necessitam de
aprovação nos vestibulares para ingressarem no Ensino Superior, no qual poderão escolher as
suas profissões e, a partir dessa escolha, se especializarem.
Por outro lado, a sua perspectiva de formação profissional traz consigo um conjunto não
só de conhecimentos técnicos, mas também de habilidades e atitudes exigidas para a prática de
determinada profissão. Esta modalidade de ensino encontrada na Educação Básica oferece, por
meio de cursos técnicos, de formação de professores ou de formação inicial e continuada (FIC),
opções de oferta de profissões de rápida formação para a inclusão no mercado de trabalho.
Assim, é possível observar que a dualidade presente na educação brasileira é social e
histórica: jovens da classe trabalhadora são atendidos com uma política pública adequada à
manutenção da sua condição social mediante às inúmeras dificuldades que enfrentam para o
desenvolvimento de uma profissionalização que necessita de uma formação posterior à do Ensino
Médio.
A dualidade aqui tratada pode ser uma possibilidade de identificação dos fatores que
resultam na distância entre as intenções de formação para atender ao mundo do trabalho e a
formação intelectual. A formação profissional ou a propedêutica seria ineficaz? Na verdade,
pretende-se, aqui, finalizar defendendo a valorização de uma formação que integre as duas
formações, ou seja, que propicie uma formação integral.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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União, Brasília, 2017. Acesso em 8 jan. 2022.

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GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere, v.2. Os intelectuais: O princípio educativo:


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Civilização Brasileira, 1991.

MEDEIROS, Janiara de Lima. Trabalho-Educação e a Conjuntura Nacional. São Paulo:


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MEDEIROS, Janiara de Lima. A reforma Ensino Médio: Estudo crítico da lei n° 13.415/2017.
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MEDEIROS, Janiara de Lima. Formação para o Trabalho x Formação para a Vida: do princípio
educativo do trabalho à educação emancipatória. Mauritius: Novas Edições Acadêmicas, 2019.

MOREIRA, Damares de Oliveira. Pedagogia das competências e escolas estaduais de educação


profissional do Ceará: formando para o mercado. Fortaleza: UFC. 2017.

SAVIANI, Demerval. O trabalho como princípio educativo frente às novas tecnologias. In:
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VITRAL, Carina. Carina: Golpe no Ensino Médio é o AI-1 do Traíra. Conversa Afiada, 08 de out. de
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do-traira. > Data de Acesso 22/03/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ESTRUTURAS PSÍQUICAS E SEUS MATIZES: UM


ESTUDO DE CASO
Jamil Torquato de Melo Filho1
Rodrigo de Souza2

RESUMO: Frequentemente nos deparamos na clínica psicanalítica com casos que nos despertam
dúvidas em relação a promoção de psicodiagnósticos. Frente a isso, muitas possibilidades podem
emergir e a utilização dos conceitos teóricos oferecidos pela psicanálise tornaram-se essenciais e
norteadores a tal entendimento. Dessa forma, foi realizado o estudo de caso de um adulto,
acompanhado semanalmente, na intenção de ilustrar a dubiedade quanto a sua estrutura
psíquica. Adão oscilava, por meio dos discursos analisados, entre aquele que entendia a sua
personalidade como a de um psicopata devido a inexistência, segundo ele, de qualquer
sentimento, e o enfrentamento negado de uma angústia na busca por tornar-se ser. Conclui-se
que, a ampla possibilidade, o dinamismo e as formas de enfrentamento do psiquismo diante das
situações vividas, levaram a não categorização do caso, já que a riqueza do conteúdo nele
presente ainda promove discussões quanto a simbiose das possibilidades apresentadas.

Palavras-Chave: Neurose; Perversão; Estudo de caso; Psicanálise.

1 Professor Ms. de Psicologia na Universidade Nove de Julho (UNINOVE).


Psicólogo; Psicanalista e Mestre em Psiquiatria (FMUSP).
2 Psicólogo e Pesquisador no Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo com formação em Saúde Sexual (AISEP -

IPq-HCFMUSP)

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSYCHIC STRUCTURES AND THEIR HUES: A CASE STUDY


ABSTRACT: We often come across in the psychoanalytic clinic with cases that raise doubts in
relation to the promotion of psychodiagnoses. Faced with this, many possibilities can emerge and
the use of the theoretical concepts offered by psychoanalysis have become essential and guides
to such an understanding. In this way, a case study of an adult was carried out, followed weekly,
with the intention of illustrating the dubiousness regarding its psychic structure. Adão oscillated,
through the analyzed speeches, between the one who understood his personality as that of a
psychopath due to the inexistence, according to him, of any feeling, and the denied confrontation
of an anguish in the quest to become a being. It is concluded that the wide possibility, the
dynamism and the ways of coping with the psyche in the face of the situations experienced, led
to the non-categorization of the case, since the richness of the content present in it still promotes
discussions about the symbiosis of the possibilities presented.

Keywords: Neurosis; Perversion; Case study; Psychoanalysis.

462
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO impulsos libidinais e os recalcados – recalque e


deslocamento como elementos fundamentais -
A psicoterapia psicanalítica tem como na constituição e satisfação de um desejo - o
alicerce a subjetividade do analisando. Levando que causa angústia - , na perversão ou
em conta esse fator é necessário estabelecer manifestação de um discurso perverso temos a
alguns critérios no que tange a questão economia de angústia, que não poupa trabalho
diagnóstica e sua forma de investigação. ao sujeito em sua recusa a castração,
Tendo isso claro, devemos destacar a promovendo um resultado instável de cisão do
importância de um estudo de caso e a eu, em que só precariamente evitaria tal
fundamental colaboração teórica deste, angústia (RUDGE, 2005; MIELI, 2012).
oferecendo uma ampla gama de possibilidades Envolto nesse campo está a sexualidade
que podem ser demonstradas, advindas da humana e suas múltiplas formas, variações e
experiência individual, tanto do profissional expressões que, quando associada a perversão
quanto do paciente. conduz a descrições de práticas no campo
A maleabilidade entre teoria e prática, sexual em associação ao termo como
característica de atuação do psicanalista na fenômeno desta vertente, que está carregada
clínica, contribui para a construção de possíveis
de muitos juízos de valores e que podem,
diagnósticos que orientem a prática e conduta ainda, gerar sofrimento e angústia (SANTOS;
profissional e, também, na visualização de CECCARELLI, 2009).
possibilidades de cenários interventivos Diante do caso a ser apresentado e mediante
voltados ao alívio do sofrimento psíquico e a associações, questionamentos e investigações
dissolução de sintomas. O sintoma, por sua vez, emergidas na relação transferencial, a escolha
oriundo de uma problemática psíquica, objetal estaria entre duas possibilidades:
subsidia a psicanálise quanto a pesquisa dos histeria masculina com apresentação de
possíveis caminhos do psiquismo e sua discurso perverso ou perversão.
estruturação (ALBERTI, 2005). Metapsicologicamente, uma suposta cisão do
Em psicanálise a estrutura psíquica, como eu daria conta de duas atitudes possíveis que
por exemplo a neurose e a perversão, está não entrariam em contradição. O não
diretamente ligada em como o sujeito se surgimento de conflitos e a formação de
relaciona na configuração edípica e tudo o que compromisso que estariam como que
a compõe, isso inclui a castração e a angústia articulada a um sintoma neurótico (RUDGE,
por ela causada, a relação do sujeito com a 2005). Para tanto, o objetivo da descrição do
realidade, com o desejo e com os objetos, caso Adão, visa ilustrar a dubiedade quanto a
refletindo-os na relação transferencial. sua estrutura.
Podemos destacar ainda as identificações
oriundas desse processo (PIRES, et al., 2004;
MÉTODO
MIELI, 2012).
O estudo de caso é um dos métodos mais
Se na histeria, os sintomas representam o
antigos e utilizados para compartilhamento de
resultado de um compromisso entre os
aspectos e intervenções clínicas. Muito

463
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

utilizado em pesquisas qualitativas, chorar sem apresentar qualquer tipo de


desenvolve-se numa situação natural, com discurso de culpa, encontrando certa satisfação
dados descritivos e que estão voltados para nesse comportamento.
análise do sujeito por meio de um ambiente Ciente de que só se sentia bem quando
controlado que ultrapassa a realidade construía situações conflituosas com as
complexa e contextualizada a qual vive, pessoas em geral, como forma de regulação
promovendo discussão acerca da conduta emocional, almejava relações amorosas e de
terapêutica adotada em vista do sofrimento amizades que ultrapassassem as barreiras do
psíquico apresentado. convencional, que ele denominava como ‘sem
Por se tratar de um método de natureza limites’, tendo como premissa que tal
dinâmica, as hipóteses interpretativas exigem possibilidade só poderia existir dentre aqueles
íntima relação com as teorias norteadoras. Sua que eram e/ou vieram a tornar-se seus amigos.
apresentação requer cuidado, delicadeza e Diante disso, Braunstein (2007), nos lembra
incita a discussão entre profissionais quanto as que o histérico sonha com um futuro despertar
demandas psíquicas e formas de em um paraíso de felicidade e, nesse sentido,
enfrentamento subjetivas apresentadas e para Adão essa ideia de felicidade nas relações
tomadas, respectivamente, por cada sujeito. sem limites era, recorrente.
Trata-se, portanto, de fragmentos de relatos Adão quando relata o que poderia fazer a si
clínicos de um adulto, acompanhado na clínica e aos outros, indicava que se sentia como duas
psicanalítica pelo período de um ano, com pessoas habitando num único corpo e vivia
sessões semanais. constantemente em busca de um
entendimento. À priori, o de manipular as
ESTUDO DE CASO - ADÃO pessoas por meio da apresentação de sua
figura e, à posteriori, o estabelecimento de
Paciente procurou a análise motivado por
uma relação de poder configurada pelo
insistência e indicação de uma amiga. Segundo
conhecimento.
ele, tinha dúvidas do que poderia fazer a si e
Se o histério negativiza sua perversão, o
aos outros ao seu redor, em termos de
outro que o habita o positiviza. Daí a
sofrimento físico e psicológico. Entretanto, isso
dificuldade a abordar a neurose e a perversão a
se alterou no decorrer das sessões.
partir de um ponto de vista que não seja da
Adão (nome fictício), primogênito de uma
própria dialética (CARVALHO SILVA; LIGEIRO,
família de dois filhos, vinte e dois anos, pai
2011). Calligaris (1986), ao falar da ‘montagem
alcoolista, mãe agressiva e instável
perversa’ descreve um tipo de arranjo libidinal,
emocionalmente, trabalhava numa fábrica no
com características perversas que unem
período noturno. Morava sozinho numa
sujeitos neuróticos. Como nos recorda Couto e
edícula situada no terreno dos pais.
Ceccarelli (2004), se tomássemos essa escuta
Quando criança, sentia prazer em causar dor
como vinda de um perverso afetaria
em sua irmã mais nova. Por exemplo, dava-lhe
transferencialmente o analista de forma
beliscões, puxões de cabelo entre outros
diferente da escuta de um neurótico. Dito isso,
comportamentos agressivos que a faziam

464
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Adão manifestou o interesse de que um despertou nele dúvida em relação a sua


psicodiagnóstico marcasse sua diferenciação conduta. Teria sido abuso ou não?
dos demais e abrilhantasse sua identidade, Este fato, especificamente, retornava com
corroborando com os discursos de seus amigos, intensidade sempre que eram tratadas
que o julgavam psicopata, e esperavam que o questões quanto a sua forma de se relacionar,
analista também o percebesse dessa forma, bem como na descrição de aspectos referentes
valorando a análise de todos e validando sua a proximidade e/ou afastamento entre seus
busca pessoal, a fim de que pudesse pares.
aprofundar-se sobre tais questões construindo Vale ressaltar que, muitas vezes, tentaram se
aquele que gostaria/quer se tornar. afastar um do outro e quando se
Seu gozo sexual estava na tentativa de reaproximavam retomavam o assunto,
ultrapassar o limite da parceira com a prática instigando em Adão que esta fosse uma
de enforcamento durante a relação. Adão tentativa de Melissa em ultrapassar seus
mantinha com Melissa (nome fictício), uma próprios limites, porém, acreditava que se isso
relação simbiótica entre amizade e namoro. acontecesse ele perderia o completo interesse
Questionava-se sobre os motivos de tamanha por ela.
atração que nutria por ela. Carvalho Silva e Freud, no livro ‘Psicologia das massas e
Ligeiro (2011), concluem que o histérico está análise do eu e outros textos (1920-1923)
adormecido tal qual igual ao conto de fadas da (2011), discorre que a identificação – a forma
bela adormecida, que dorme para viver na mais remota de laço emocional com outra
fantasia de tal amor sublime. A isso entende-se pessoa - é ambivalente. Pode-se tornar tanto
a necessidade de Adão na busca por alguém expressão de ternura quanto desejo de
que suprisse tais ideações. afastamento de alguém. Comporta-se (a
Costumava fazer uso de pornografia virtual identificação) como um derivado da primeira
voltada a tal temática, porém abandonou fase da organização da libido, da fase oral, em
quando leu relatos de atrizes que sofreram que o objeto que prezamos e pelo qual
abusos nos settings de filmagem. Em ansiamos é assimilado pela ingestão, sendo
contrapartida, disse que tentou fazer com dessa maneira aniquilado como tal.
Melissa o mesmo que via nos filmes, Cabe destacar que Adão nutria uma
entretanto, a garota tinha histórico de abuso profunda admiração em relação a um
sexual. Na impossibilidade de realização de sua personagem psicopata de uma série de
fantasia, Adão sentiu-se frustrado. Havia entre televisão, e que seu contentamento apenas
o casal o acordo de que quando ela se sentisse com o sexo oral que praticava em sua
incomodada durante o ato sexual, sinalizaria “namorada”, como será explorado adiante,
para Adão com um beliscão. Em determinada poderia advir de um desejo inconsciente, não
situação ele não respeitou o acordo tendo literal, de “devorá-la”.
ultrapassado tal limite na esperança de Durante uma sessão, ao falar sobre suas
realização completa do seu desejo. Tal situação fantasias sexuais e fantasias no sentido mais
amplo da palavra, Adão projetava no analista a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possibilidade de que ele (o analista) fosse A renúncia da prática sexual encontrada por
aquele que ultrapassaria seus limites (de Adão), Adão significaria uma verdadeira ameaça de
consolidando assim, a relação tão almejada que castração, no sentido fantasmático de uma
Melissa não era capaz de lhe proporcionar. Por perda total e permanente de toda a capacidade
fim, ele a tornar-se-ia no percurso da relação sexual. Ceccarelli (2011), disserta que tais
analítica, estando ainda, a princípio, no campo práticas podem ser mantidas em segredo pelo
da oralidade. sujeito até que haja um vínculo transferencial
Esse jogo cênico vivido e criado por Adão e a consistente promovendo segurança em falar
presença do discurso perverso teve como sobre elas, fato que pôde ser experienciado por
imperativo a colocação dos coadjuvantes Adão na psicoterapia. O autor complementa
(Melissa e analista) em seus papéis requeridos ainda dizendo que por constituírem uma fonte
ao modo imperativo e à sedução como maneira primária de angústia, raramente tais práticas
de submeter os outros (RUDGE, 2005). Em levam o sujeito à análise, o que justificaria o
relação a falha de colaboração na encenação discurso de Adão na explicação de que se
construída pelo sujeito, todo o esforço de submeteu ao processo pela insistência da
recusa tenderá a desmoronar e a angústia de amiga e para buscar um saber que, segundo
castração se fará presente, por isso, não querer ele, só poderia ser encontrado no setting
ver e sim experimentar e falar sobre, era para terapêutico.
Adão a tentativa de negativar todo seu esforço Ele já havia sentido atração por homens, mas
transpondo de um a outro e a ele mesmo. sempre por alguém famoso. Porém, até o
Podemos acrescentar a isso as palavras de momento não tinha tido qualquer tipo de
Braunstein (2007): “o gozo é uma essência que relação homossexual, ainda que estivesse
lhe escapa e que apenas poderia ser fixado aberto a tal prática. Em determinada situação,
sobre a base de reconhecê-lo e pega-lo no seu pai lhe disse aos prantos, que tudo bem se
Outro, um Outro que deve ser construído, ele fosse gay, tendo Adão não esclarecido
esculpido e defendido a qualquer custo.” aspectos sobre sua sexualidade naquele
Descreveu situações de impotência sexual instante e, definindo-a, em sessão, como
que o fizeram direcionar sua satisfação para a indefinida. Tal comportamento, deu-se devido
promoção de sexo oral na parceira, não ao pai ser o proponente da conversa, o que
necessitando de retribuição e nem mesmo de incomodou Adão, manifestando a intenção de
sua própria ejaculação ou manipulação de seu retomada do assunto quando ele puder ser o
genital. Sentia, após o coito, uma sensação de condutor, tendo em vista que havia a intrínseca
estar sujo. Melissa chegou a levantar a hipótese necessidade de estar no controle de tudo.
de que Adão não gostava de sexo tendo ele Na prática clínica a noção de cisão do eu
com frequência pensado a respeito dessa ilustra a ideia de um discurso perverso (RUDGE,
possibilidade. Conversaram também sobre a 2005). Esta cisão fundamenta uma labilidade
possibilidade de um relacionamento sem sexo argumentativa em que o sujeito pode dizer,
e, também, de um ménage à trois com um desdizer, talvez sem mentir, qualquer coisa que
amigo de Adão. lhe poupe angústia dada a situação a qual
esteve/está envolvido. Adão menciona que

466
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

chegou a mentir para o analista não desejo, ora objeto de aniquilação dada sua
caracterizando o específico assunto ou propensão a descontruir suas fantasias.
momento e, talvez, o fato de tratar sobre tal O homem histérico se diferencia em sua
temática diante de outra figura masculina fantasia, ele se coloca em cena não como
tenha-lhe gerado incômodo fazendo-o potência diante de um pai, mas como
procurar, psiquicamente, pela mesma saída feminilizado diante deste (BRUNO, 1997).
que tomou com seu pai, a de travar a Diante disso, a análise tornou-se para Adão a
construção do controle da relação. No pai a busca de uma categorização quanto a sua
desautorização da conversa proposta por este personalidade, que ele interpretava como a de
e na análise a possível insuficiência do um psicopata, devido a inexistência, segundo
profissional em percebê-lo. ele, de qualquer sentimento.
No núcleo familiar, Adão sempre assumia o Traços alexitímicos se mostraram presentes
papel daquele que traria a resolução de em sua verbalização relativa ao campo
quaisquer problemas que, outrora, se afetivo/emocional, como por exemplo, em
apresentassem. Quando criança, sua mãe o inúmeras situações ele não conseguia
agredia em excesso, principalmente quando nomenclatura-los, nem mesmo os relativos à
seu pai chegava em casa alcoolizado. Ela sua própria mãe. Carneiro (2008), nos lembra
manifestava ainda, o desejo de, futuramente, que ainda que atualmente seja vasta a
morar com ele separando-se de seu pai, literatura sobre alexitimia os resultados são
possibilidade esta descartada pelo paciente. Ao contraditórios e pouco coerentes. Estudos
contrário das aspirações de sua mãe, Adão assinalaram que os pacientes alexitímicos,
tinha o desejo de dissociar-se dela por frente a situações nos quais se sentem
completo, descrevendo-a como alguém frustrados, tensos, não conseguem encontrar
desestruturada emocionalmente, traço este dentro de si fantasias ou palavras para lidar
que ele repudiava. com a situação de desamparo ou evento
Ao pensar sobre tal perspectiva, um cerne de estressante (SIFNEOS; APFEL-SAVITZ; FRANKEL,
histeria masculina pode ser levado em 1977; RODRIGUES et al., 2014).
consideração. Ou seja, ao recusar evitar a No decorrer de seu processo analítico e,
castração, recusa-se a ser o rival do pai e segundo ele, por apresentar problemas
encontrando nele, novamente, a castração ao financeiros que o obrigaram a abandonar as
querer tornar-se objeto de seu amor (BRUNO, sessões, solicitou um psicodiagnóstico com a
1997; MATIAS, 2019). O que seria uma saída finalidade de ‘manipular e se apresentar as
vantajosa, ao ser amado pelo pai, coloca-lhe pessoas como tal’. Entretanto, o afastamento
numa categoria de “mulher”. Tal convenção de Adão e o posicionamento do analista,
corrobora com a inespecificidade (in)denifida impossibilitaram a concretização de tal
do campo sexual por Adão. A angústia procedimento, que estava em desacordo com a
redobrada na posição feminina justificaria, em proposta inicial do profissional, consentida por
tese, a hostilidade mantida e proferida para a Adão, quanto ao aprofundamento de suas
figura da mãe/mulher dicotomizando também questões psíquicas, tendo este retornado,
com a figura de Melissa que, ora era objeto de meses depois, com a mesma solicitação por
aplicativo de mensagem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No caso de Adão seu substrato psíquico nos leva a pensar em distintas possibilidades
quanto a sua estrutura. Inicialmente, nos leva crer se tratar de um perverso, pelo controle e pela
riqueza com a qual descrevia sua vida, sua prática sexual, a forma que mantinha suas relações,
no sentido físico e psicológico, pela pseudo-detenção de um poder que, para ele, resultava em
um distanciamento afetivo e um gozo sádico. Posteriormente, levantou-se a hipótese de se tratar
de um histérico, haja vista sua pouca habilidade para sustentar um glamoroso personagem por
ele criado e para lidar com a possível angústia - que ele negava - emergida por não sê-lo.
A fantasia do histérico, contudo, é perversa: por ser tudo o que ele não pode ser. Em seu
mundo imaginário, muitas cenas perversas tomam o cenário (CREMASCO, 2008). Adão ao utilizar-
se do mecanismo de denegação estabeleceu, transferencialmente na análise, uma configuração
diferente do que seria caso fosse neurótico. Mieli (2012), ao elucidar tal aspecto, endereçado
especificamente a posição do analista como sujeito suposto saber, ressalta que muitas vezes pode
levar a uma abrupta interrupção do tratamento, haja vista o afastamento do paciente em questão
e seu retorno com a prerrogativa que somente lhe importava o psicodiagnóstico e nada mais.
Carvalho Silva e Ligeiro (2011), complementam que, a manutenção de um não-sabido, que
se traduz como sendo o próprio saber do inconsciente no neurótico, não se sustentaria na
perversão, pois o perverso diz saber sobre o gozo sendo, portanto, seu mestre. Ele não coloca o
outro no lugar de sujeito suposto saber, mas ele sendo o que supõe tal saber e sua retomada
quanto a finalidade descritiva do psicodiagnóstico seria como uma tentativa altiva de exercer o
controle e “provar” o que criou e/ou era/é.
Concluiremos dizendo que, a ampla possibilidade que o psiquismo oferece, seu dinamismo
e suas formas de enfrentamento diante das situações vividas, leva-nos, até o momento, a não
categorização do caso. Seu compartilhamento se deu devido a riqueza de conteúdo nele
presente, no intuito de gerar discussões acerca das diferentes temáticas apresentadas nesse
fragmento.

468
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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341–360, 2005.

BRAUNSTEIN, N. Gozo. São Paulo: Escuta, 2007.

BRUNO, P. A histeria masculina. Revista Curinga, v. 9, p. 138–145, 1997.

CALLIGARIS, C. Perversão - um laço social? Salvador: Cooperativa Cultural J. Lacan, 1986.

CARNEIRO, V. L. Propriedades psicométricas da OAS - Observer Alexythimia Sclae:


versão brasileira. 2008. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 2008.

CARVALHO SILVA, M. A. de; LIGEIRO, V. O gozo e seus desdobramentos na clínica da


histeria e da perversão Laboratório de Psicanálise da Universidade Federal do Ceará. [s.l:
s.n.].

CECCARELLI, P. R. As possíveis leituras da perversão. Estudos de Psicanálise, v. 36, p. 135–


148, 2011.

COUTO, L. F.; CECCARELLI, P. R. O gozo extático do expectador de uma cena perversa. Rev.
Mal-Estar Subj., v. 4, n. 2, p. 266–276, 2004.

CREMASCO, M. V. F. Histeria e fantasias perversas em Matador (Almodovar): diálogos


psicanalíticos no cinema. Psicanálise e Cinema, v. 9, p. 72–76, 2008.
FREUD, S. Psicologia das massas e análise do eu e outros textos (1920-1923). 5. ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 2011.

MATIAS, J. F. Histeria masculina: Os impasses na assunção da posição sexual. Estudos e


Pesquisas em Psicologia, v. 19, n. 2, p. 464–483, 2019.

MIELI, P. de Freud entre neurose e perversão. Reverso, v. 63, p. 91–102, 2012.


PIRES, A. L. de S. et al. Perversão - estrutra ou montagem? Reverso, v. 26, n. 51, p. 43–50,
2004. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
73952004000100005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>.Data de Acesso: 28/03/2022.

RODRIGUES, A. L. et al. Reflexões críticas sobre o constructo de alexitimia. Revista da


Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, v. 17, n. 1, p. 140–157, 2014.
RUDGE, A. M. Notas sobre o discurso perverso. Interações, v. 10, n. 20, p. 35–44, 2005.

SANTOS, A. B. dos R.; CECCARELLI, P. R. Perversão sexual, ética e clínica psicanalítica.


Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 12, n. 2, p. 316–328, 2009.

SIFNEOS, P. E.; APFEL-SAVITZ, R.; FRANKEL, F. H. The phenomenon of ‘alexithymia’ -


Observations in neurotic and psychosomatic patients. Psychotherapy Psychosomatic, v. 28,
p. 47–57, 1977.

469
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

FORMAÇÃO CONTINUADA E O USO DAS


TECNOLOGIAS: SUAS IMPLICAÇÕES NA
PRÁTICA DOCENTE
Maria do Carmo Brandão de Barros1

RESUMO: A pesquisa busca analisar as contribuições da formação continuada do professor no


uso das tecnologias como apoio educacional, tendo a abordagem metodológica de cunho
bibliográfico e de natureza exploratória, fundamenta-se em autores como Libâneo (2015),
Cavalcante (2015), Moran (2015; 2012) e Freire (2002). A problemática tem como
questionamento: de que forma a formação continuada contribui na utilização das tecnologias na
prática docente e no processo de ensino aprendizagem? Visto que a importância da utilização de
ferramentas tecnológicas educacionais pelo professor, pode ampliar o desenvolvimento dos
alunos. O estudo em questão justifica-se por meio das contribuições da formação continuada,
problematizando, por sua vez, o uso das tecnologias como instrumento em relevância no espaço
escolar. Por fim, os resultados da pesquisa evidenciam a importância da formação continuada do
professor em prol da utilização das tecnologias em sala de aula para impulsionar o
desenvolvimento e aprendizagem, sendo usada de forma planejada e adequada às necessidades
dos alunos.

Palavras-Chave: Professores; Formação Continuada; Tecnologias.

1Professora do Ensino Fundamental I na Rede pública municipal, Caxias/MA.


Graduação: Pedagogia – UNIASSELVI, Ciências da Religião – UEMA. Mestranda em Ciências da Educação.
Programa de Pós-Graduação Absoulute Christian University - Orlando - Flórida/EUA.

470
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTINUING EDUCATION AND THE USE OF TECHNOLOGIES: ITS


IMPLICATIONS IN TEACHING PRACTICE
ABSTRACT: The research seeks to analyze the contributions of the teacher's continuing education
in the use of technologies as educational support, having the methodological approach of a
bibliographic and exploratory nature, based on authors such as Libâneo (2015), Cavalcante
(2015), Moran (2015; 2012) e Freire (2002). The problem has the question: how does continuing
education contribute to the use of technologies in teaching practice and in the teaching-learning
process? Since the importance of using educational technological tools by the teacher, it can
expand the development of students. The study in question is justified through the contributions
of continuing education, questioning, in turn, the use of technologies as a relevant instrument in
the school space. Finally, the research results show the importance of continuing teacher
education in favor of the use of technologies in the classroom to boost development and learning,
being used in a planned and appropriate way to the students' needs.

Keywords: Teachers; Continuing Training; Technologies.

471
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Desta forma, compreende-se que formação


docente em específico a formação continuada,
A formação continuada do professor no uso se configura como uma importante ferramenta
das tecnologias como apoio educacional que visa minimizar alguns dos impactos no
contribui com o processo de ensino processo educacional dos alunos que levam a
aprendizagem, sendo a que utilização das outros agravantes como repetência e evasão.
tecnologias como ferramentas educacionais Portanto, os resultados da pesquisa
pelo professor, possibilita ampliar o evidenciam a importância da formação
desenvolvimento dos alunos. continuada do professor em prol da utilização
O objetivo geral visa analisar as das tecnologias em sala de aula para
contribuições da formação continuada do impulsionar o desenvolvimento e
professor no uso das tecnologias como apoio aprendizagem, sendo usada de forma
educacional O estudo justifica-se por meio das planejada e adequada às necessidades dos
contribuições da formação continuada, alunos.
problematizando, por sua vez, o uso das
tecnologias como instrumento em relevância
O PROCESSO FORMATIVO
no espaço escolar.
Nesta perspectiva, o docente deve refletir CONTINUADO DO PROFESSOR E
sobre seu processo formativo, para assim A UTILIZAÇÃO DAS
buscar ressignificar constantemente seu saber
e fazer pedagógico, levando em consideração
TECNOLOGIAS NO CONTEXTO
as características do aluno em sua faixa etária, ESCOLAR
para potencializar as competências e Os muitos avanços no campo da educação
habilidades no processo de ensino evidenciam que o professor tem um papel
aprendizagem em sala de aula. essencial e neste viés o processo formativo na
Assim tanto a formação inicial quanto a perspectiva continuada contribui com o ensino
continuada objetiva um constante de forma inovadora e inclusiva, por isso o uso
aperfeiçoamento, sendo necessários na prática das tecnologias ainda mais no atual contexto da
dos professores no cotidiano escolar. Pois, essa educação é relevante para atender às diversas
formação busca assegurar a eficiência e necessidades dos alunos.
qualidade na educação, favorecendo uma Neste sentido Nóvoa (2002), afirma que a
aprendizagem autônoma e ativa dos alunos. formação continuada se alicerça na
Freire (2002, p. 25), afirma que “[…] quem dinamização de projetos de investigação nas
forma se forma e re-forma ao formar e quem é escolas, passa pela consolidação de redes de
formado forma-se e forma ao ser formado”. Em trabalho coletivo e de partilha entre os diversos
outras palavras, durante o processo de atores educativos, investindo nas escolas como
formação, o docente adquire experiência e lugares de formação. Para o autor, a formação
conhecimento que o transforma, ou seja, na não se constrói por acumulação de cursos, de
sua maneira de pensar e agir. conhecimentos ou de técnicas, mas de um

472
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

trabalho reflexivo e crítico sobre as práticas e para se comunicar, acessar e disseminar


de (re)construção permanente da identidade informações, produzir conhecimentos, resolver
pessoal. problemas e exercer protagonismo e autoria na
A formação tanto inicial quanto continuada vida pessoal e coletiva (BRASIL, 2018, p. 09).
requer que o planejamento didático seja As contribuições podem ser diversas com
apenas uma organização fechada e rígida muitas vantagens tanto para o professor
quando o professor trabalha com esquemas, quanto para o aluno, Kenski (2012), fala que “as
aulas expositivas, apostilas e avaliação tecnologias são tão antigas quanto a espécie
tradicional e que, de certa maneira, pode humana”. Já que a palavra tecnologia se traduz
facilitar para os alunos, mas, por outro lado, desde os artefatos pré-históricos – como a
transfere para o aluno um pacote pronto do descoberta do fogo ou a invenção da roda – até
conhecimento (MORAN, 2009). os objetos mais modernos – como os
O professor deve ressignificar dispositivos móveis digitais. A linguagem
constantemente sua prática pedagógica, também é uma tecnologia, e assim é possível
levando em consideração a faixa etária, as compreender que o lápis, a caneta, o papel,
características, vivências e experiências dos entre tantas outras invenções, também são
alunos para potencializar suas competências e considerados tecnologias.
habilidades no processo de ensino O uso das tecnologias no processo
aprendizagem em sala de aula. educacional, segundo Cavalcante (2012),
Libâneo (2015), aponta que a grande requer a responsabilidade de aperfeiçoar as
mudança social está na escola e no professor compreensões de alunos sobre o mundo
que seja realmente comprometido com o que natural e cultural em que vivem. É
faz com o seu papel enquanto profissional indispensável o desenvolvimento contínuo de
docente, significando, assim, o alunos e professores, trabalhando
desenvolvimento do processo de ensino e adequadamente com as novas tecnologias,
aprendizagem num entendimento dialético e constata-se que a aprendizagem pode se dar
em movimento, circulando entre professores e com desenvolvimento emocional, racional, da
alunos. Por sua vez, o professor é convocado a imaginação, do intuitivo, das interações, a
refletir sobre a sua profissão, o que se espera partir dos desafios, da exploração de
da sua função nos dias atuais frente às possibilidades, de assumir responsabilidades,
demandas e ao cenário de mudanças do criar e do refletir juntos.
constantes em todos os setores da sociedade. Ainda conforme Libâneo (2015, p.227), o
De acordo com a Base Nacional Comum termo formação continuada, vem
Curricular (BNCC), o uso das tecnologias é acompanhado de outra, ou seja, a formação
importante, uma vez que: inicial. A formação inicial refere-se ao ensino de
Compreender, utilizar e criar tecnologias conhecimentos teóricos e práticos destinados à
digitais de informação e comunicação de forma formação profissional, completados por
crítica, significativa, reflexiva e ética nas estágios. Já a formação continuada é o
diversas práticas sociais (incluindo as escolares) prolongamento da formação inicial, visando o

473
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aperfeiçoamento profissional teórico e prático Desta forma, Imbernón (2010), colabora ao


no próprio contexto de trabalho e o ressaltar que o professor tem o papel de se
desenvolvimento de uma cultura geral mais tornar um facilitador, facilitador, do processo
ampla, para além do exercício profissional. de ensino aprendizagem do aluno. O termo
O processo educacional não poder ser facilitador foi empregado para indicar que o
inflexível, engessado e acabado, ou seja, cabe professor ajuda a facilitar o desenvolvimento
ao professor e os alunos, bem como os demais cognitivo do aluno, por meio de indagações que
sujeitos sociais pensarem sua construção de desequilibram as certezas inadequadas e que
modo contínuo, para que assim possibilitem propiciam a busca de alternativas para
novas perspectivas na aprendizagem dos encontrar a solução mais apropriada ao
alunos que também estão mudando problema e ao estilo individual de pensamento.
constantemente e interagem de acordo com o Para Freire (2002), a educação é uma forma
contexto social no qual estão inseridos, sendo de intervenção no mundo, ou seja, se
que as tecnologias estão conectadas a esta compreende que o processo formativo ainda
realidade contemporâneo e que vão para além mais continuado dos docentes, se apresenta
da sala de aula. como um caminho, para utilizar novas
Para Marcelo (2009), é importante que se tecnologias objetivando uma formação de
tenha clareza de que a formação continuada é qualidade. De modo que o processo de
um processo a ser desenvolvido por toda a formação dos professores ocorra permanente
carreira docente, que vai sendo aos poucos e constante. Já que a formação não deve ser
construído e reconstruído, com o propósito de apenas acumular conteúdos, mas um processo
melhoria da prática e por consequência uma de construção do conhecimento, identidade do
melhora da educação. Portanto, cabe citar “a próprio professor, Freire já dizia que ninguém
denominação desenvolvimento profissional forma ninguém, cada uma forma a si mesmo, e
que se adequa plenamente a essa discussão, isso deixa mais evidente como a formação tem
uma vez que nos faz compreender o real várias perspectivas como a autonomia no
sentido de se desenvolver” (MARCELO, 2009, p. ensinar e aprender.
09). A relevância da formação continuada, de
O professor tem um importante papel acordo Santos (2010), é um direito do
enquanto mediador, por isso o conceito professor, tendo em vista que:
“desenvolvimento” tem uma conotação de A formação contínua em serviço deve ser um
evolução e continuidade que, em nosso compromisso dos sistemas de ensino para o
entender, supera a tradicional justaposição enfrentamento da universalização de uma
entre formação inicial e formação contínua dos escola que atenda tanto às necessidades
professores “[...] desenvolvimento profissional quanto às expectativas das camadas populares,
docente pode ser entendido como uma atitude que, para além da visão de ascensão social,
permanente de indagação, de formulação de possibilite às gerações mais jovens a efetiva
questões e procura de soluções” (MARCELO, compreensão do mundo em que vivem.
2009, p. 09).

474
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Além de um direito, a formação continuada No entanto, Vasconcelos (2015), acrescenta


do professor pode se configurar também como que desde o século XX, e principalmente nesta
um dever, já que enquanto mediador tem a primeira década do século XXI, as
responsabilidade com a aprendizagem dos transformações sociais, econômicas e políticas
educandos, considerando suas particularidades ocorridas constituem fator fundamental para
e necessidades em sala de aula. as mudanças na sociedade, e com isso, de
Moran (2015), sintetiza ainda algumas forma particular, o surgimento das tecnologias
contribuições possíveis das tecnologias digitais sempre causou impactos na sociedade.
para a educação, mas destacamos A utilização das tecnologias, mesmo não
principalmente o fato de o aluno poder assumir sendo algo novo, mas a forma abrupta como se
o papel de aprendiz proativo e participante, expandiu e não só no contexto educacional,
sujeito de suas ações e protagonista do seu mas em muitas esferas da sociedade, devido a
aprendizado. Porém, ele não estará sozinho pandemia do Covid-19 e o isolamento social
neste processo, pois o professor será o trouxe a realidade muitas possibilidades e
mediador e orientador. Para tanto, faz-se contribuiu no romper de fronteiras na
necessária uma mudança de entendimento e comunicação e interação, principalmente entre
até de atitude pelos envolvidos; há momentos professor e aluno.
em que o aluno trabalhará individualmente; Silva; Volpato (2013), fala que com a
outros, em grupos, mas o principal é que todos expansão rápida dos recursos tecnológicos as
estejam dispostos a colaborar com sua escolas também aderiram às tecnologias,
aprendizagem. As tecnologias digitais sendo que esse fato sugere uma reflexão em
possibilitam configurar espaços de relação ao uso dessas ferramentas nas
aprendizagem, nos quais o conhecimento é instituições públicas do ensino básico. Sendo
construído conjuntamente, porque haverá assim, para o uso dessas tecnologias nas
interatividade. Não há como pensar em escolas é importante que haja um
educação sem troca, sem Co criação. Na busca conhecimento, pois tais ferramentas, aliadas à
do modelo pedagógico específico da educação metodologia do docente, podem contribuir
on-line, a interatividade surge como aspecto significativamente para sua prática pedagógica
central. dentro e fora da sala de aula.
No atual contexto pandêmico, por exemplo, Nesse sentido, as novas tecnologias no
houve uma expansão do uso das tecnologias cenário educacional atual tornam-se
em sala de aula, muitas ferramentas e recursos relevantes, pois “o ensino remoto permite o
didáticos e tecnológicos foram utilizados no uso de plataformas já disponíveis e abertas
processo de ensino aprendizagem, como as para outros fins, que não sejam estritamente os
aulas remotas e isso foi um dos novos grandes educacionais, assim como a inserção de
desafios para a educação brasileira, uma vez ferramentas auxiliares e a introdução de
que nem todos os alunos e professores tinha práticas inovadoras” (GARCIA, et al., 2020,
acesso às tecnologias ou mesmo sabiam usar p.05).
de forma coerente.

475
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As novas Tecnologias estão trazendo vários inclusão da internet na educação, pois ele
benefícios para a sociedade, ocasionando uma precisa se aprimorar nessa tecnologia para
maior interação entre as pessoas e já fazem introduzi-la na sala de aula, no seu dia a dia, da
parte da realidade de muitos cidadãos. Porém, mesma forma que professor, que um dia,
infelizmente não são todos que conseguem ter introduziu o primeiro livro em uma escola e
acesso a esses recursos tecnológicos e acabam teve de começar a lidar de modo diferente com
não podendo usufruir de suas vantagens o conhecimento – sem deixar as outras
(VILAÇA; ARAÚJO, 2016). tecnologias de comunicação de lado.
Para Garcia et al. (2020, p.09), aprender é Continuaremos a ensinar e a aprender pela
uma atitude cuja competência precisa ser palavra, pelo gesto, pela emoção, pela
desenvolvida. A pró atividade, a inventividade, afetividade, pelos textos lidos e escritos, pela
a responsabilidade e o compromisso são televisão, mas agora também pelo
condutas que precisam ser construídas e computador, pela informação em tempo real,
incentivadas. No ensino remoto, o estudante pela tela em camadas, em janelas que vão se
terá de ser gradativo e continuamente aprofundando às nossas vistas.
incentivado e provocado para a aprendizagem. De acordo com Pontes (2018), a melhor
Segundo Massi (2015), para além das garantia de sua eficácia, é a partir da
dificuldades formativas, verificadas na medida sensibilidade do professor em perceber as
em que nem todos os cursos superiores necessidades e limites da criança. Uma
preparam adequadamente o professor em atividade desenvolvida na escola, na qual o
relação às TICs, reconhecendo-se a importância professor tenha participação ativa ou
da formação dos professores a este nível, para colaborativa proporciona um relacionamento
que os alunos adquiram competências digitais, mais conexo entre ele e o aluno.
sociais e cognitivas havendo, não obstante, Na formação docente, a mediação deve ser
ainda um longo caminho a percorrer a este observados muitos aspectos que compõem
nível. A par destas, existem também essa prática, Navarro e Prodócimo (2012),
dificuldades operacionais, associadas à falta de propõem uma reflexão sobre a mediação do
recursos materiais ou mesmo à falta de professor na ação e assim deve ser
condições de trabalho do professor. Ainda providenciando materiais, espaços e divisão de
assim, apesar das dificuldades referidas, os tempo. Como resultados afirmam que um
benefícios e potencialidades evidenciados nas contexto bem organizado pela professora,
pesquisas referentes a esta temática no âmbito como a preparação do ambiente, a colocação
educativo sobrepõem-se à parte menos de brinquedos e móveis na sala ou no parque,
positiva. Para que estes desafios sejam pode contribuir bastante no desenvolvimento
superados deve proporcionar-se um ensino das crianças.
aberto a esta realidade, que corresponda aos Sousa; Sarmento (2010), afirmam que o
desafios do mundo atual. processo de ensino e aprendizagem passa a ser
Conforme Moran (2012), o professor é mais construído com sentido e significado, pois as
importante do que nunca nesse processo de famílias trazem consigo oportunidades de

476
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ajustes coletivos e desafiadores para a escola. aparece na utilização de técnicas padronizadas


Essa comunicação e conhecimento fortalecem de coleta de dados.
mais e melhores os recursos didáticos, práticas O estudo teve o material foi coletado e/ou
inovadoras, empreendedorismo e para muitas escolhido por meio de levantamento
outras ações que são construídas na escola bibliográfico, sendo, portanto, uma pesquisa
como uma “pedagogia da responsabilidade do tipo bibliográfico, para Marconi e Lakatos
colaborativa”. Esforços colaborativos entre a (2012), esta objetiva colocar o cientista em
escola, professor e família tornam-se contato com o que foi produzido sobre
indispensáveis para que se possam educar as determinado assunto.
crianças e os jovens para a vida (SOUSA; A base de dados tem os seguintes
SARMENTO, 2010). indexadores: Google Acadêmico, Biblioteca
Para tanto, nota-se a importância do papel Científica Eletrônica do SCIELO e LILAC, onde
do professor e sua formação continuada, mas foram analisados apenas artigos e monografias
ele não deve ser o único responsável, uma vez nacionais entre 2016 a 2021 pelo método de
que deve ter o apoio dos demais sujeitos como revisão bibliográfica. Sendo consultados por
a família no processo educacional, apoio para meio dos seguintes descritores e palavras-
realizar a formação, incentivo salarial, chave: professor, formação continuada e
melhores condições de trabalho, para que tecnologias, dos quais foram selecionados de
possa assim ressignificar sua prática acordo com a temática deste estudo.
pedagógica, se utilizando de variados recursos Desta forma, o estudo levou em
como, por exemplo, as tecnologias em sala de consideração os motivos de exclusão e
aula. inclusão. De modo que a exclusão foi feita nos
casos de: materiais indisponíveis, em língua
METODOLOGIA estrangeira, fora do recorte temporal, arquivos
duplicados e estudos em desacordo com a
A pesquisa tem uma abordagem qualitativa,
temática desta pesquisa.
a qual segundo Minayo (2014), se preocupa
A inclusão levará em consideração a
com o nível de realidade que não pode ser
quantificado, ou seja, ela trabalha com o disponibilidade do material, estudos nacionais,
universo de significados, de motivações, recorte temporal de acordo com a delimitação
aspirações, crenças, valores e atitudes. Com da pesquisa e com os objetivos da pesquisa. Por
caráter de cunho descritivo, conforme Gil fim acontecerá a escrita do trabalho científico,
(2009), o caráter descritivo tem como respeitando as regras da instituição de ensino e
as normas técnicas.
finalidade principal a descrição das
características de determinada população ou
fenômeno, ou o estabelecimento de relações
entre variáveis. São inúmeros os estudos que
podem ser classificados sob este título e uma
de suas características mais significativas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diálogo entre o professor, a formação continuada e as tecnologias é essencial, sendo
importantes que estejam conectadas para que de modo significativo favoreça a formação dos
sujeitos, contribua com a prática docente em sala de aula e de forma adequada e coerente possa
potencializar a aprendizagem dos alunos em seu desenvolvimento.
Na escola, os desafios são inúmeros, a carência e até mesmo a escassez de tecnologias,
uma vez que se sabe que nem sempre nos espaços escolares contam com a infraestrutura
adequada, por isso, o papel do professor frente a utilização das tecnologias é importante para a
inovação no saber e fazer pedagógico em prol da aprendizagem dos alunos.
A formação inicial e continuada almeja o aperfeiçoamento, sendo necessárias na prática
dos professores no cotidiano escolar. Pois, essa formação busca assegurar a eficiência e qualidade
na educação, favorecendo uma aprendizagem autônoma e ativa dos alunos. Desta forma,
compreende-se que formação docente em específico a formação continuada, se configura como
uma importante ferramenta que visa minimizar alguns dos impactos no processo educacional dos
alunos que levam a outros agravantes como repetência e evasão.
Portanto, os resultados da pesquisa evidenciam a importância da formação continuada do
professor em prol da utilização das tecnologias em sala de aula para impulsionar o
desenvolvimento e aprendizagem, sendo usada de forma planejada e adequada às necessidades
dos alunos.

478
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

FRACASSO ESCOLAR NO FILME “ENTRE OS


MUROS DA ESCOLA”: POSSÍVEIS CAUSAS
Bruno Trindade de Mendonça Costa1

RESUMO: Este artigo tem por objetivo, compreender como determinados problemas
educacionais podem contribuir para o fracasso escolar tendo como objeto de estudo, o longa
metragem francês “Entre os muros da escola” e as contribuições da psicopedagogia na busca de
uma maior compreensão e caminhos para os fatores que envolvem esse fracasso. Será pertinente
compreender como acontecem as relações entre produção escolar e as oportunidades reais que
a escola oferece às diversas classes sociais no sentido de promover um ambiente que seja propício
ao efetivo aprendizado.

Palavras-Chave: Filme; Entre os muros da escola; Fracasso escolar; Afetividade; Aprendizagem


significativa

1Psicopedagogo e Professor de Língua Inglesa e Educação Digital na Rede Municipal de São Paulo
Graduação: Licenciatura em Letras.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SCHOOL FAILURE IN THE FILM “BETWEEN SCHOOL WALLS”:


POSSIBLE CAUSES
ABSTRACT: This article aims to understand how certain educational problems can contribute to
school failure, having as object of study, the French feature film "Entre os muros da Escola" and
the contributions of psychopedagogy in the search for a greater understanding and paths to the
factors involved. involving this failure. It will be pertinent to understand how the relationships
between school production and the real opportunities that the school offers to the different social
classes happen in order to promote an environment that is conducive to effective learning.

Keywords: Film; Between the walls of the school; School failure; Affectivity; significant learning

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO POR QUE EXISTE FRACASSO


O presente artigo se proporá a tecer de ESCOLAR? ONDE E COMO
forma dialética a relação entre os fatores mais SURGE?
pontuais que conduzem ao fracasso escolar e o O fracasso escolar é um dos assuntos mais
objeto de estudo, que neste casso será o filme discutidos entre psicopedagogos e
“Entre os muros da escola”. Para isso, serão profissionais da área de educação e pode ser
analisados elementos que contribuem de compreendido como um desajuste produzido
forma contraproducente a configuração do em determinado ponto escolar no que se
processo pedagógico na sala de aula refere às condições e possibilidades que a
apresentado no filme em questão. escola tem oferecido ao educando em termos
O viés histórico social e multicultural, a de aprendizagem, seja ela na formação
relação discente/docente, a afetividade nas docente, na avaliação, no currículo, na didática,
relações humanas, bem como o oferecimento na metodologia etc. Weiss (2004, p.16), afirma
de uma educação descontextualizada à que fracasso escolar é uma resposta
realidade do mundo exterior de cada indivíduo, insuficiente do aluno a uma demanda ou
serão os rudimentos e princípios desta exigência da escola. O mesmo autor ainda
proposta de reflexão, que partirá de uma acredita que essa questão pode ser analisada
concepção relacional entre professor, aluno e de três diferentes óticas: o da família, da escola
aprendizagem. e da sociedade e não descarta a possibilidade
Os aspectos analisados caminharão em de que o fracasso escolar pode estar atrelado
consonância com as diversas possibilidades de ao meio em que a criança está submetida, isto
ação da psicopedagogia com propostas de é, não se pode conferir o revés escolar tão
intervenção para as devidas demandas. somente ao discente, é preciso considerar o
Partindo do pressuposto que um percentual universo em que vive e as condições que
considerável de escolas públicas encontra-se corroboram para o oferecimento de
vulnerável ao mau êxito no processo de ensino oportunidades ou não para o aprendizado e a
aprendizagem, o trabalho proposto, alçando formação integral do sujeito.
sua excelência e complexidade, tem a intenção Debruçando – se sob uma análise histórica
de oferecer reflexões e análises acerca de acerca do fracasso escolar, Bossa (2002),
fatores que determinam as causas do insucesso constata que é recente e surgiu a partir do
dos objetivos pedagógicos, logo, entende- se, século XIX em função da escolaridade
pois que o tema do trabalho seja justificável por obrigatória e das grandes mudanças estruturais
refletir a respeito dos possíveis elementos ocorridas na sociedade e na economia.
geradores e configuradores deste fracasso Embora esta patologia esteja entremeada na
escolar bem como o encontro de ferramentas e prática de diversas escolas públicas, não pode
mecanismos psicopedagógicos que sanem os ser depreendida como intrínseca e inerte, mas,
problemas causadores dessa condição do “não como efeito condicional de interação do aluno
atingir o sucesso esperado”. com os moldes de ensino, bem como o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contexto pessoal privado e escolar de cada responsabilidades na formação efetiva do


sujeito. sujeito, ou seja, deixar de oferecer um
Alguns pensadores estão de acordo entre si ambiente pedagogicamente e didaticamente
no que diz respeito ao fato de que o fracasso propício ao aprendizado. Ainda pensando a
escolar carrega consigo a incumbência de respeito das condições sociais como fator
originar de certa forma a estratificação social. A desencadeador do insucesso escolar Weiss
classe social ainda se configura como um (2004, p.16), ainda afirma que: No diagnóstico
determinante nas possibilidades que são psicopedagógico do fracasso escolar de um
ofertadas no seio da sociedade. Arroyo (2000, aluno não se podem desconsiderar as relações
p.18), afirma que os alunos chegam à escola, significativas existentes entre a produção
defasados, com baixo capital cultural, escolar e as oportunidades reais que
desprovidos de habilidades mínimas e sem determinada sociedade possibilita aos
capacidade de enfrentar o ritmo “normal” de representantes das diversas classes sociais.
aprendizagem. Assim, alunos de escolas públicas brasileiras
Talvez seja pertinente atestar quem com a provenientes das camadas de mais baixa renda
Proclamação da República em 1889, a escola da população são frequentemente incluídos
passou a ser administrada pelo poder público, em “classes escolares especiais”, considerados
tornou-se obrigatória e começou a configurar- pertencentes ao grupo de possíveis
se como um espaço para aquisição de cultura, “deficientes mentais”, com limites e
consciência e pensamento. Deste período problemas.
histórico até aqui, o desafio tem sido oferecer Entende-se então que a compreensão do
uma escola de acesso, permanência, qualidade contexto sociocultural do indivíduo se faz
e oportunidades na participação política e necessário para compreender uma das razões
social para todos, contudo, a apropriação do do fracasso escolar, contudo, ele não é o único,
conhecimento, que até então, deveria diversos autores dialogam entre si acerca do
acontecer de forma democrática, ainda está contexto escolar como cooperador no
mantida na classe social mais provida na insucesso pedagógico. Para Weiss (2004, p.16),
possibilidade de ascensão. Arroyo (1991, p12), os professores não almejam o conhecimento
expõe que, Até na velha Europa das revoluções desejado pelo aluno quando estão inseridos em
burguesas, a extensão da escola púbica ao povo contextos escolares desestruturados, sem
nunca foi uma dádiva da burguesia republicana, apoio de material pedagógico adequado e sem
mas uma necessidade de se opor aos resquícios o apoio da família. Afirma ainda que a má
organizados da aristocracia que se apegava ao qualidade do ensino provoca um desestímulo
controle de poder a também do saber. na busca do conhecimento propriamente dito.
Para Scoz (1994, p.81), a pobreza em que os Luck (2002, p.28), assegura que somente uma
alunos estão submetidos aparece com forte escola bem dirigida pode apresentar bons
determinante dos problemas de aprendizagem, rendimentos e ainda que o professor seja a
contudo, não pode ser usada como justificativa figura principal para que a escola tenha um
para que a escola se exima de suas bom rendimento. A autora ainda diz,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

[...] o professor é a figura central na Este será o assunto do próximo item deste
formação dos educandos. Ele quem forma no artigo.
aluno o gosto ou o desgosto pela escola, a
motivação ou não pelo estudo; o entendimento LIBERDADE OU OPRESSÃO
da significância ou insignificância das áreas e
objetos de estudo; a percepção de sua ENTRE OS MUROS DA ESCOLA?
capacidade de aprender, e de seu valor como As constantes mudanças ocorridas no seio
pessoa (WEISS, 2004, p.16). da sociedade afetam direta ou indiretamente o
Bossa (2011), ainda refletindo acerca das cenário educacional da escola contemporânea,
possíveis causas do fracasso escolar na escola forçando a romper-se e dissociar – se de uma
pública, em uma entrevista que concedeu ao concepção atrelada a um processo de ensino –
site G1 afirma que este fracasso vai além dos aprendizagem tradicional, ultrapassado e por
problemas do aluno, mas é oriundo do próprio vezes, promotor do fracasso escolar.
sistema de ensino. A autora coordenou uma Considerando a existência dessas mudanças
pesquisa durante cinco anos nas escolas e que muitas vezes a instituição escolar não
públicas de São Paulo que tinha o objetivo de alcança o sucesso no que diz respeito a
entender quais problemas eram as causas das contextualizar seu espaço e ideias a essas
dificuldades de aprendizagem. Os resultados modificações sociais, o fracasso propriamente
apontaram que a cada quatro alunos que dito toma corpo por meio das inquietações
concluem o ensino fundamental, três saem sem emergentes de problemas tais como: crise de
saber ler, escrever e fazer operações autoridade do docente, indisciplina e a
matemáticas, isto é, equivalente a 25% dos agressividade em sala de aula, ausência de
estudantes. afetividade na relação professor / aluno, bem
Todo esse panorama descrito acima conduz como a falta de diálogo e comunicação entre as
a uma reflexão pertinente acerca de a escola partes, falta de sentido do conteúdo abordado
tomar o seu papel de promotora de práticas em classe, desinteresse pelo conhecimento e
educativas que faça a inserção das camadas dificuldade em manter a atenção dos
populares no mundo neoliberal e progressista, estudantes. Bossa (2002, p.19), dialoga com
uma escola que forme cidadão críticos a essa premissa quando afirma que:
atuantes no meio social, tornando a escola dos No Brasil, a escola torna-se cada vez mais o
filhos do povo uma escola real, necessária e palco de fracassos e deformação precária,
possível, e não continuar seno um aparelho impedindo os jovens de se apossarem da
ideológico do estado. herança cultural, dos conhecimentos
Com base na reflexão feita a respeito dos acumulados pela humanidade e,
possíveis geradores do fracasso escolar, cabe consequentemente, de compreenderem
nesse momento inserir esses configuradores e melhor o mundo que os rodeia. A escola, que
geradores no filme em pauta e compreender deveria formar jovens capazes de analisar
como os traços do insucesso aparecem nele. criticamente a realidade, a fim de perceber
como agir no sentido de transformá-la e, ao

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mesmo tempo, preservar as conquistas sociais, François Bégaudeau, logo, o diretor criou uma
contribui para perpetuar injustiças sociais que adaptação do livro para a linguagem do cinema,
sempre fizeram parte da história do povo com um roteiro específico.
brasileiro. É curioso observar o modo como os Quando nos debruçamos para um estudo
educadores, sentindo-se oprimidos pelo minucioso dos fatos mencionados
sistema, acabam por reproduzir essa opressão anteriormente, alguns questionamentos
na relação com os alunos. culminam e se fazem pertinentes. A escola
No ano de 2008, o cinema francês legitima o direito ao aluno de ter seu senso
apresentou o insucesso escolar descrito acima, crítico desenvolvido em relação à realidade em
no longa metragem “Entre les murs”, que na que está inserido? Garante a autonomia
versão brasileira é intitulado como “Entre os intelectual aos sujeitos? Oferece condições
muros da escola” e na versão portuguesa “A para que os educandos aprendam com
turma”, título este que outorgou ao filme o qualidade e saiam da escola lendo e
recebimento de importantes prêmios do escrevendo? Estabelece afetividade e respeito
cinema como Palma de Ouro e Festival de nas relações humanas no âmbito escolar?
Cannes. Dirigido pelo cineasta Laurent Cantent Preocupa-se com as singularidades e com os
e protagonizado por Bégaudeau, Nassim conhecimentos que o aluno traz do seu meio e
Amrabt, Laura Baquela, Cherif Bounaïdja os contextualiza de acordo com a realidade
Rachedi, entre outros. Dirigido pelo cineasta sociocultural e o meio em que cada um se
Laurent Cantet, o filme ganhou importantes encontra?
prêmios do cinema por abordar uma relação Ainda segundo Bossa (2000, p.22),
intranquila entre um professor de uma escola atualmente, a Psicopedagogia trabalha com
pública na periferia de Paris e seus alunos na uma concepção de aprendizagem segundo a
faixa etária entre treze e quinze anos. O filme é qual participa desse processo um equipamento
marcado por insistentes discussões permeadas biológico com disposições afetivas e
por agressividade verbal, intolerância nas intelectuais que interferem na forma de
relações, resistência ao multiculturalismo relação do sujeito com o meio, sendo que essas
existente no grupo, bem como problemas já disposições afetivas e intelectuais que
citados no parágrafo anterior, que podem ser interferem na forma da relação do sujeito com
visualizados de forma indubitável na rotina da o meio, sendo que essas disposições
sala de aula. influenciam e são influenciadas pelas condições
Laurent Cantent, cineasta francês, recebeu socioculturais do sujeito com o seu meio.
25 prêmios e 10 indicações pro seus trabalhos Acredita – se que fatores como: negação dos
em festivais no mundo todo. Sua primeira problemas de aprendizagem falta de
produção foi um curta metragem intitulado contextualização do meio sociocultural com
Tous à la Manif e seu primeiro longa metragem aos saberes escolares, ausência de afetividade
foi no ano de 200 com o filme Human e vínculo na relação professor e aluno, falta de
Resources. Em 2008, dirigiu o filme Entre les didática e recursos pedagógicos que atraiam a
murs, que foi baseado no livro homônimo atenção dos estudantes, a indisciplina e a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

agressividade, a penalização como forma de a partir da constatação da diferença entre nós


resolução de problemas indisciplinares e ruídos e os outros.
na comunicação entre os atores escolares, Essa diversidade cultural é notada logo nas
podem ser causas visíveis do revés escolar primeiras cenas quando o aluno Cherif, escreve
público. A seguir, será proposta uma reflexão seu nome em uma folha branca e logo abaixo
contextualizada ao filme, compreendendo desenha a bandeira do Líbano. Em outro
como esses fatores interferem de forma momento, o professor se mostra apático e
negativa o cotidiano da escola parisiense descuidado em relação aos traços desse
exposta por Laurent Cantent. multiculturalismo quando duas alunas
pergunta ao professor o porquê de ele sempre
O MULTICULTURALISMO E O usar nomes franceses para exemplificar
situações, a resposta do professor é que esse
PRECONCEITO NA SALA DE AULA tipo de questionamento é irrelevante, contudo,
Geograficamente localizada na região uma das garotas rebate a resposta do docente,
periférica de Paris, a classe e composta por uma afirmando que não se sente francesa embora
iminente miscigenação em que os alunos são seja nascida na França. Oliveira (2001), diante
filhos de asiáticos, africanos, latino - desta situação descrita acima constata que,
americanos e franceses e estão enquadrados A proposta de uma educação voltada para a
na faixa etária entre 13 e 15 anos, matriculados diversidade coloca a todos nós, educadores, o
na sétima série. Este multiculturalismo grande desafio de estar atentos às diferenças
propriamente dito se mostra por vezes como econômicas, sociais e raciais e de buscar o
um dos fatores de desentendimentos entre os domínio de um saber crítico que permita
educandos e o professor, que se agridem interpretá-las (...). Nós, como educadores,
verbalmente por meio de uma intolerância às temos a obrigação não só de conhecer os
diferentes culturas, promovendo assim um mecanismos da dominação cultural,
ambiente de hostilidade e intransigência. Velho econômica, social e política, ampliando os
(2004, p.63), reflete a respeito da diversidade nossos conhecimentos antropológicos, mas
cultural quando afirma: também de perceber as diferenças étnico-
Hoje em dia cultura faz parte do vocabulário culturais sobre essa realidade cruel e
básico das ciências humanas e sociais. O seu desumana.
emprego distingue-se em relação ao senso Há outro momento no filme em que é
comum no sentido que este dá às noções de notado um comentário carregado de juízo de
homem culto e inculto. Assim como todos os valores e preconceitos é quando o professor,
homens em princípio interagem socialmente, durante a aula está desenvolvendo uma
participam sempre de um conjunto de crenças, reflexão sobre os conceitos e significados para
valores, visões de mundo, redes de significado a palavra “snob” é interrompido por um aluno
que definem a própria natureza humana. Por que coloca em dúvida sua sexualidade,
outro lado, cultura é um conceito que só existe perguntando se é gay ou não. A observação do
estudante reflete a concepção que ele mesmo,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ou até mesmo outros colegas de classe fazem aprendizagem são marcas que o autor imprimiu
da sexualidade. Atualmente há uma na sala de aula apresentada no filme.
necessidade de a escolar ser um espaço de A conflituosa relação entre o professor de
formação e orientação sobre o tema, Maistro Francês, François, e os jovens estudantes, é
(2006, p.6), elucida essa questão da escola abordada com evidência em quase todas as
como espaço para trabalhar as questões do cenas. Frequentemente as falas do professor
preconceito racial quando afirma, são convertidas em mensagens genéricas pelo
(...) o trabalho de Educação Sexual na escola, grupo, isto é, o docente diz alguma coisa, o
implica em planejamento e ações pedagógicas grupo interpreta de outra maneira o que acaba
sistemáticas. Não se trata de palestras, ocasionando discussões e tumultos, isto é, a
semanas especiais, de cartazes pregados nos falta de entendimento, gera confusões. Da
murais, mas sim de um canal mesma acontece na situação contrária, à
permanentemente aberto para que as turma, omite informações para o professor ou
questões sobre a sexualidade possam ser transmite mensagens confusas gerando um
discutidas com crianças e adolescentes, de mal estar e mal – entendidos.
maneira séria, clara e ampla. Nota-se que tais conflitos emergem da
Uma das atribuições da escola é pontificar a necessidade que o professor juntamente com
tolerância com ênfase na diversidade e na seus colegas e direção tem de manterem um
vivência harmônica, promovendo a descoberta sistema tradicional de ensino, regido por um
das possibilidades de pensar diferente, ambiente sobrecarregado de regras, normas,
enxergar a vida de formas diferentes, sansões e punições. Mesmo não obtendo
relacionar-se com as pessoas de forma sucessor, François mostra-se como mediador
diferente, promover cultura de forma na busca de solução de problemas por suas
diferentes e até mesmo aproximar-se dos inúmeras tentativas. Para Guimarães (1999,
diferentes. p.103), que a indisciplina pode ser um dos
meios de o aluno contestar, manifestar o seu
A CRISE DE AUTORIDADE DO descontentamento e a sua não conformidade
com aulas desatualizadas, teóricas, ou relação
PROFESSOR COMO autoritária, desumana e fria. Por isso, precisa
CONFIGURADORA DA ser analisada para além do rótulo de
indisciplina e ser pensado como expressão de
INDISCIPLINA E DA AGRESSÃO uma consciência social em formação.
MORAL Nota-se a coerção moral de forma
Brigas, discussões, incompreensões, exacerbada e frequente no filme, quando o
indisciplina, dispersão, agressividade, professor se dirige aos alunos de forma
problemas de cunho pessoal e familiar, pejorativa, ofensivo, irônico, fazendo
superproteção, desinteresse pelo aprendizado, brincadeiras ambíguas e em contrapartida os
e interferências comunicativas nas relações alunos também não hesitam em enfrentá-lo,
pessoais e perturbações no processo ensino –

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hostilizando-o e fazendo comentários de professor ao invés de dar ordens e exigir


natureza truculenta e perversa. obediência, deve inspirar sentimentos de
O clímax desta hostilidade descrita no cooperação, e ao invés de exercer o seu poder,
parágrafo anterior culmina na cena em que o deve criar um novo poder com o auxílio dos
professor se remete a duas alunas rotulando-as discentes. Vasconcelos (1997, p.248),
como “vagabundas”. A força do adjetivo dito corroborando com o mesmo pensamento de
por François gera uma série de conflitos entre Nash, afirma que cabe ao professor buscar
discentes e docente até que resulta na legitimação da autoridade por meio do diálogo.
expulsão de um dos alunos da classe. Na É significativo perceber que o
mesma cena o professor diz que os alunos enfrentamento, a indisciplina e os atos hostis
precisam respeita - ló, mas, repara-se que não estão amarrados a esta crise de autoridade de
idealiza ações que o norteiem a conquistar esse François que é notória no decorrer das cenas,
respeito. A negação do apreço é claramente em que o docente não é ouvido, não é
visualizada em dois outros momentos do filme, respeitado e torna-se alvo da aversão e da
um quando os alunos afirmam que não é justo demonstração de agressividade, provocação e
serem punidos por insultarem as pessoas e o antagonismo por parte dos jovens estudantes.
professor sair impune diante de diversas Rego (2002, p.17), afirma que uma das origens
ofensas. A indisciplina sempre culmina quando da indisciplina está vinculada à falta de
um aluno não concorda com determinada autoridade do professor, de sua capacidade de
norma ou regra de convivência. Com base controle e execução de ações punitivas. Esta
nesse fato observado no filme, constata-se que crise de autoridade também é percebida em
a causa da indisciplina e da agressividade pode diversas reclamações do professor, uma delas é
ter origem no sentimento de injustiça entre os quando adentra a sala dos professores dizendo
adolescentes, Giglio (1999, p.187), acredita que que não entrará mais para dar aula porque não
os alunos, quando tratados de forma injusta, ou se sente respeitado e em outro momento em
subordinados a regras injustas tendem a que durante uma reunião pedagógica,
responder com ações indisciplinadas e juntamente com seus colegas, discute sobre
explosivas. Por mais que o professor tente regras com teor punitivo que não já não geram
controlar tais manifestações, não obtém êxito mais feitos.
porque os alunos não reconhecem a sua Fatores como estes fazem acreditar que se
autoridade. faz necessária a construção de uma autoridade
O outro momento é quando o professor usa baseada na competência e não uma autoridade
a seguinte fala: “você diz filho da mãe e eu não construída de forma leviana, hierárquica e
posso dizer nada?”, ou seja, o docente confirma monárquica. Furlani (1995), diferencia os dois
nesse momento a sua crise de autoridade e o tipos de autoridade. A primeira é produzida na
seu desejo interior de travar uma relação de relação professor / aluno em que o professor
igualdade com os alunos. Nash (1997, p.124), expõe ideias aos alunos e estimula a
afirma que a autoridade é uma das democracia, sendo assim, professor e alunos
necessidades da sala de aula, em que o são respeitados passando a autoridade um

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

produto de relação entre professor e aluno. A escreva sobre a sua vida e ainda nesta cena, o
segunda autoridade, pautada na hierarquia, é professor demonstra interesse em saber sobre
institucionalizada e baseada na organização a vida de cada deles por meio desta tarefa,
escolar, ou seja, o professor impõe ao aluno por contudo, um dos alunos por meio de uma
meio da superioridade do cargo, réplica diz: “o professor não está interessado
desencadeando hostilidade, agressividade, em nossas vidas, é só o trabalho dele”. Estre
ressentimento, inferioridade, revolta, trecho deixa visível o quanto os alunos
indisciplina ou até mesmo passividade. construíram uma imagem distante e pouco
Convém ressaltar que este breve estudo não acessível do professor, em que ele é visto como
esgota a possibilidade de análise acerca do um transmissor de conhecimento, ou seja, um
tema crise de autoridade do professor depositante de informações desprovidas de
vinculado a indisciplina e agressão, entretanto, afeto.
com base na abordagem realizada, pode – se Para Saltini (2008), o docente deve ir além de
constatar que a indisciplina torna possível e conhecimentos teóricos, ele precisa conhecer
impulsiona uma revisão no que diz respeito ao seu aluno, entendê-lo, demonstrar
relacionamento entre professor e aluno, disponibilidade de mudança quando perceber
podendo atingir a força da transfiguração deste que está cometendo certos equívocos, pois se
vínculo entre eles e na maneira como as duas faz necessário o reconhecimento das falhas
partes concebem a autoridade e a afetividade, pedagógicas.
que será o assunto do próximo item. A imagem do professor torna-se um
referencial para a formação da autoimagem
A NEGAÇÃO DA AFETIVIDADE E dos educandos, logo, oferecer aos alunos
atenção, mostrar interesse pelo seu
DO VÍNCULO: CAMINHO PARA O desempenho escolar, empenhar-se em
FRACASSO ESCOLAR fomentar a necessidade do amor-próprio, de
A dimensão afetiva tem tomado o seu lugar um ambiente propício à compreensão, ao
em meio às discussões pautadas nos elementos respeito consigo mesmo e com o próximo
promotores do sucesso escolar. podem ser fatores que promovam um clima de
Entende-se que a afetividade está vinculada maior vínculo, afetividade e aprendizagem.
ao sentir-se pertencente, acolhido, respeitado Segundo Cunha (2008, p.80):
e compreendido por um determinado grupo de A professora ou professor é o guardião de
pessoas. Uma relação que seja antagônica a seu ambiente. A começar pelos seus
esta, pode se mostrar como repugnante e movimentos em sala, que devem ser
desestimuladora. O filme sugere o tempo todo adequados e gentis. A postura, o andar, o falar
o sentimento de exclusão e não pertencimento são observados pelos alunos, que o vê como
que os alunos têm em relação ao ambiente modelo, Independentemente de idade, da pré
escolar. Este sentimento fica notório na cena – escola à universidade, o professor sempre
em que François solicita a produção de um será observado. Então, um bom ambiente para
autorretrato em que o objetivo é que cada um a prática do ensino, começa por ele, que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

canalizará a atenção do aprendente e operação, onde preenche uma função especial;


despertará o seu interesse em aprender. ele cria uma nova relação entre S e R. [...]
O conhecimento e o aprendizado não são Consequentemente, o processo simples
adquiridos somente por meio do estímulo-resposta é substituído por um ato
desenvolvimento de conteúdos, mas também complexo, mediado.
são construídos pelo adolescente em contato Ainda para Libâneo (1994, p. 250),
com o social, dentro da família, na relação com dialogando com a premissa de Vygotsky,
os professores e no mundo que o cerca. O afirma, com relação ao vínculo entre professor
relacionamento com os docentes é depois da e aluno o seguinte:
família o vínculo mais importante que criança O professor não apenas transmite uma
pode estabelecer. Este vínculo um dos informação ou faz perguntas, mas também
responsáveis por grande parte da sua educação ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar
e da sua aprendizagem. Para Vygotsky (1994, para que aprendam a expressar-se, a expor
p.115), “o aprendizado humano pressupõe opiniões e dar respostas. O trabalho docente
uma natureza social específica e um processo nunca é unidirecional. As respostas e as
através do qual as crianças penetram na vida opiniões dos alunos mostram como eles estão
intelectual daqueles que a cercam”. reagindo à atuação do professor, às
O filme deixa evidente, na cena em que o dificuldades que encontram na assimilação dos
professor leva os alunos à sala de informática conhecimentos. Servem também para
para escreverem legendas sobre fotos diagnosticar as causas que dão origem a essas
momentâneas de suas vidas, um processo de dificuldades.
mediação, em que François interferiu de forma Diante e tais evidências, constata-se que o
positiva, orientando e motivando e afeto, o carinho, o respeito e o olhar com olhos
intermediando a aprendizagem, oferendo de compreensão são elementos
atendimento individual e personalizado, potencialmente determinantes no sucesso da
colocando – os como sujeitos da atividade. aprendizagem, podendo beneficiar a relação
Vygotsky (1994, p.53), define este processo aluno / professor e/ou aluno / conteúdos
como mediação e entende que ele seja forma curriculares, bem como fazer a diferença na
de demonstrar afetividade por ser uma forma educação e nos resultados almejados. Pensado
de interação social. Para ele: a respeito do assunto, é pertinente neste
[...] toda forma elementar de momento abordar o último elemento gerador
comportamento pressupõe uma reação direta do fracasso escolar.
a situação-problema defrontada pelo
organismo – o que pode ser representado pela
fórmula simples (S R). [...] Por outro lado, a
estrutura de operações com signos requer um
elo intermediário entre o estímulo e a resposta.
Esse elo intermediário é um estímulo de
segunda ordem (signo), colocado no interior da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A DESCONTEXTUALIZAÇÃO todos os jovens – meninos e meninas, ricos e


pobres, loiros e morenos, católicos,
CURRICULAR E O protestantes, judeus ou muçulmanos,
TRADICIONALISMO EM habitantes das cidades ou dos campos.
Supunha-se único porque o ensino ministrado,
DETRIMENTO DO SUCESSO
no conjunto, deveria ser o mesmo quanto a
PEDAGÓGICO seus conteúdos e a seus métodos, para todos
A prática tradicional foi costumeira e os estudantes, independentemente de
habitual em tempos antigos, contudo, ainda quaisquer identidades e pertenças
percebe-se traços desse pensamento comunitárias por eles abraçadas.
anacrônico e ossificado perpassando a prática A priori, a linha pedagógica tradicional
regular de numerosas escolas que estabelecem entende que o professor é a figura central do
uma relação paradoxal com a sociedade aprendizado, logo, ele trabalha os conteúdos
moderna, tecnológica, rápida no fluxo da de maneira sistematizada, e por vezes
informação, da comunicação, plural e desprovidos de sentido para o aluno. A relação
interconexa globalmente, gerando assim, um professor e aluno é baseada na transmissão de
contraste que causa uma inquietação em conhecimento e na educação bancária, ou seja,
inúmeros pensadores que acreditam em uma no depósito de informações e não na
escola pautada na construção e na criação. contextualização de atividades que façam
Com relação a este tradicionalismo na sentido no dia a dia do adolescente.
educação, Boto (2006), afirma que com a Esse tradicionalismo é latente no trecho do
Revolução Francesa e escola passa a ser um filme em que o professor está abordando um
direito público e que a condição era de tirar as assunto considerando estranho ao contexto
pessoas do mundo da ignorância e conduzi – lás temporal em que os alunos estão inseridos e
ao mundo da consciência e às oportunidades que não dialogam com as reais necessidades do
de acesso. Boto (2006), com relação à adolescente contemporâneo. Nesta cena,
necessidade da ruptura com o sistema de François está explicando, por meio de aula
ensino tradicional, afirma ainda que: expositiva, o uso dos verbos no modo
No território pedagógico, a escola se alçava imperfeito subjuntivo para e comunicar, até
como dispositivo de ruptura com o Antigo que uma aluna o questiona, alegando o porquê
Regime. Com a Revolução, tratava-se de buscar aprender aquele conteúdo se ninguém fala
romper com as antigas tradições. Para tanto, daquele jeito, e ainda indaga o porquê da
era necessário erigir outras – demarcando recriminação das gírias que eles usam no
novas formas de lidar com a cultura. Surge cotidiano.
como bandeira de luta da escola moderna de O discurso desta aluna mostra-se carregado
Estado o sonho republicano por um sistema de de inquietude em relação ao ambiente escolar,
ensino público, gratuito, laico, universal, único que nada privilegia o seu contexto de vida, o
e obrigatório. Seria universal por pretender seu dia a dia e o seu cotidiano, tratando de
colocar na mesma classe todas as crianças; assuntos que não produzem novidades e em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

nada ampliam a sua forma de descortinar o seja parte da aprendizagem significativa e a


mundo e a sociedade em que está inserida. define como ”[...] um processo por meio do
Outro trecho apresenta uma pergunta do qual uma nova informação relaciona-se, de
professor aos alunos: “Vocês aprenderam maneira substantiva (não literal) e não
alguma coisa nos livros que leram na escola?” e arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura
uma das alunas define os livros como “inúteis”, de conhecimento do indivíduo".
então, François pergunta a ela se leu algum Menezes e Santos (2002), concordam com
livro por conta própria, e ela responde dizendo, Moreira no que diz respeito a considerar o
para surpresa do professor, que leu “A conhecimento de cada indivíduo,
República” de Platão. O trecho descrito [...] trate os conteúdos de ensino de modo
demonstra o quanto à escola não se preocupa contextualizado, aproveitando sempre as
em valorizar tudo aquilo que os jovens relações entre conteúdos e contexto para dar
adolescentes carregam consigo, tornando a significado ao aprendido, estimular o
escola um ambiente desprovido de sentido e protagonismo do aluno e estimulá-lo a ter
“inútil”. autonomia intelectual.
Para Martins (2002, p.31 e 32): Com base nesta reflexão, conclui- se que faz
No currículo descontextualizado não – se necessário vincular os conteúdos escolares
importa se há saberes; se há dores e delícias; se a situações de aprendizagem que façam
há alegrias e belezas. A educação que continua sentido para os educandos e estejam
sendo “enviada” por esta narrativa incorporados à vivência deles. Assim, será
hegemônica, se esconde por trás de uma possível estabelecer relações entre os
desculpa de universalidade dos conhecimentos conhecimentos e o cotidiano. A busca na
que professa, e sequer pergunta a si própria sociedade, no dia a dia e no que é habitual é o
sobre seus próprios enunciados, sobre seus viés para uma aprendizagem significativa e
próprios termos, sobre porque tais palavras e para um currículo adequado.
não outras, porque tais conceitos e não outros,
porque tais autores, tais obras e não outras.
Em contraponto outra cena evidenciam
outra prática do professor, em que ele conduz
os estudantes até a sala de informática para
fazerem download de uma foto que ilustre as
suas vidas e em seguida, criem legendas para
estas fotos, descrevendo-as. A ação do
professor demonstra uma execução de
atividade contrária à descrita no parágrafo
anterior. Nesta tarefa, ele contemplou o
contexto de vida, o cotidiano e o dia a dia do
aluno, outorgando um significado ao trabalho.
Moreira (1999), entende que esse processo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando-se em conta todos os aspectos que foram apontados neste artigo, considera – se
que a escola precisa assumir o seu papel libertador na formação do indivíduo, criando um espaço
solidário, afetivo e propício à aprendizagem significativa. Esta escola que pune que aprisionar
entre muros ideológicos, que dita regras, que estabelece uma relação de distância entre professor
e aluno, uma escola que pautada em práticas desprovidas de sentido e significado carece ser
superada por uma que seja marcada pela democracia, pela divisão mútua das decisões, pela
transformação das informações em práticas sociais, por aquela que está baseada na
solidariedade, no combate à injustiça social e luta por seus direitos.
O professor precisa caminhar em consonância com este cenário escolar, considerando que
este tem relegado, por vezes, a sua função, apresentando-se como um guarda de cárcere,
opressor e autoritário, logo, o ele precisa tomar o seu papel de promotor do pensamento que vai
para além dos muros da escola, para além de um espaço físico, garantindo uma educação que
descortine cada vez mais a qualidade em sua essência.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

GRAVIDEZ PRECOCE EM ADOLESCENTES


Edilamar Caonetto1
RESUMO: No Brasil de 1500 até os dias de hoje, a educação do campo ainda tem sofrido os efeitos
de colonizadores, além de uma política hegemônica também voltada as grandes corporações e
uma economia globalizada. Entretanto quando o Brasil e o mundo adentraram o ano de 2020,
ninguém poderia imaginar que milhões de pessoas iriam passar por meses em isolamento social.
No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o mundo
passava por uma pandemia. A pandemia do coronavírus chegou impondo uma nova ordem, ou
seja, outro ritmo para a humanidade. E daí o caos se instalou. No Brasil, além da grave crise
sanitária, o país tem passado por uma grave crise econômica e política. A suspensão das
atividades letivas presenciais por todo o mundo impôs aos gestores educacionais, professores e
estudantes, o desafio de uma adaptação e transformação. Os professores se viram pressionados
a migrarem para o ensino online, transferindo e transpondo metodologias e práticas pedagógicas
típicas dos espaços de aprendizagem presenciais, em um ensino remoto de emergência. Diante
de tantos conflitos e problemas, este artigo tem como objetivo retratar os problemas e desafios
da educação durante a pandemia da COVID-19. Além de escancarar as desigualdades econômicas
e sociais do Brasil. Por isso, a educação do novo milênio, após a pandemia, terá o desafio e deverá
estar permeada por estudos que envolverão a cultura. Cabe ressaltar que após a pandemia
possivelmente haverá um maior hibridismo da educação presencial com o EAD, pois cada vez
mais os professores estarão preparados para o distanciamento, tendo a possibilidade do
surgimento de novas doenças coletivas futuras, sendo que tal probabilidade nunca mais será
descartada. Sendo assim, uma crise sanitária só será superada, também, por uma educação
melhor.

Palavras-Chave: Pandemia; COVID- 19; Educação, Alunos.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Artes, Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Gestão Escolar; Especialização
em Direito Educacional.

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EARLY GRAVIDITY IN ADOLESCENTS


ABSTRACT: In Brazil from 1500 to the present day, rural education has still suffered the effects of
colonizers, in addition to a hegemonic policy also aimed at large corporations and a globalized
economy. However, when Brazil and the world entered the year 2020, no one could imagine that
millions of people would spend months in social isolation. On March 11, 2020, the World Health
Organization (WHO) declared that the world was experiencing a pandemic. The coronavirus
pandemic arrived imposing a new order, that is, another rhythm for humanity. And then chaos
ensued. In Brazil, in addition to the serious health crisis, the country has gone through a serious
economic and political crisis. The suspension of face-to-face teaching activities around the world
imposed on educational managers, teachers and students the challenge of adaptation and
transformation. Teachers found themselves pressured to migrate to online teaching, transferring
and transposing methodologies and pedagogical practices typical of face-to-face learning spaces,
in an emergency remote teaching. Faced with so many conflicts and problems, this article aims
to portray the problems and challenges of education during the COVID-19 pandemic. In addition
to widening Brazil's economic and social inequalities. Therefore, the education of the new
millennium, after the pandemic, will have the challenge and must be permeated by studies that
will involve culture. It should be noted that after the pandemic, there will possibly be a greater
hybridity of face-to-face education with EAD, as more and more teachers will be prepared for
distancing, with the possibility of the emergence of new future collective diseases, and this
probability will never be ruled out. Therefore, a health crisis will only be overcome by better
education.

Keywords: Pandemic; COVID-19; Education, Students.

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INTRODUÇÃO infelizmente quase meio milhão de mortes em


todo o mundo (WHO, 2020, apud, SOUZA,
Em uma colônia que foi explorada por mais 2020, p. 111).
de 300 anos, o desenvolvimento de um sistema Com isso, as pessoas têm vivido uma crise
educacional para todos não foi considerado sem precedentes. A pandemia do coronavírus
prioridade, sendo que o campo sempre foi visto chegou impondo uma nova ordem, ou seja,
como meio de produção da riqueza, e por essa outro ritmo para a humanidade. E daí o caos se
razão não necessitava de escolas e sim de instalou. No Brasil, além da grave crise
trabalhadores. Os primeiros colonizadores que sanitária, o país tem passado por uma grave
chegaram em 1500 encontraram um povo no crise econômica e política. Para tentar
campo, onde obtinham todos os recursos entender este momento, é necessário dialogar
diretamente das suas atividades agrários como com um turbilhão de sentimentos, assim como,
coletores e agricultores (BARRETO, 2003, apud, com teorias e práticas que possam ajudar a
NASCIMENTO; PONTES; ARAÙJO, 2021, p. 03). encontrar um pouco de ordem no caos. Neste
No Brasil de 1500 até os dias de hoje, a caso, as teorias e práticas não auxiliam apenas
educação do campo ainda tem sofrido os a refletir sobre o momento da pandemia e, em
efeitos de colonizadores, além de uma política especial sobre a educação em tempos de
hegemônica também voltada as grandes COVID-19, mas a produzir, no contexto da
corporações e uma economia globalizada. Essa educação, outras possibilidades e outros
globalização entrou sem pedir permissão, e acontecimentos. O que importa agora, não é
hoje às pessoas têm migrado do campo para “nem vencer o caos nem fugir dele, mas
cidade para satisfazer os desejos cada vez mais conviver com ele e dele tirar possibilidades
ambiciosos desse movimento (ORTIZ, 2000, p. criativas” (GALLO, 2008, p. 49, apud, SOUZA,
8, apud, NASCIMENTO; PONTES; ARAÙJO, 2020, p. 111).
2021, p. 03). Sendo assim, o ano de 2020 começa
Porém no ano de 2020, mais precisamente ameaçado pelo surto da COVID-19, uma
em março, o tal “sonho” do Raul Seixas, ou seja, doença causada pelo vírus SARS-CoV-2 ou novo
“o maluco beleza” parece ter se tornado Coronavírus. Em 30 de janeiro de 2020, a
realidade. Mas, não foi apenas “um dia em que Organização Mundial de Saúde (OMS) declara
a Terra parou, mas sim um dia em que todas as emergência de saúde pública de importância
pessoas do planeta inteiro resolveram que internacional e no início de março de 2020 essa
ninguém ia sair de casa” (SEIXAS, 1977, apud, situação avança a uma pandemia, decorrente
SOUZA, 2020, p. 111). Assim, milhões e milhões do surgimento de surtos da COVID-19 em
de pessoas passaram meses em isolamento vários países e regiões do mundo (OPAS/OMS-
social. No dia 11 de março de 2020, a 2020). Este cenário pandêmico terminou
Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou exigindo das autoridades governamentais em
que o mundo passava por uma pandemia. todo o mundo a adoção de várias medidas,
Três meses e meio após este anúncio já havia publicadas em instrumentos legais e
9.454.051 de casos confirmados de COVID-19 e normativos, no intuito de conter a propagação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

da doença. Foram criadas mundialmente (Almeida e Alves, 2020). Conforme os últimos


Políticas públicas emergenciais com objetivo de dados divulgados pela Organização das Nações
reduzir o impacto dessa pandemia (VIEIRA; Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SILVA, 2020, p. 1014). (UNESCO), órgão que monitora os impactos da
Na atualidade se vivenciam contaminações pandemia na educação, o fechamento das
pelo coronavírus que desde 1960 passou a ser instituições de ensino afetaram diretamente
reconhecido cientificamente como um vírus mais de 72% da população estudantil no
da família de estrutura em formato de coroa, mundo (UNESCO, 2020b). No contexto
e que causa infecções respiratórias além de educacional brasileiro, o Ministério da
provocar outras doenças como a Síndrome Educação decreta em 17 de Março de 2020,
Respiratória Aguda Grave (SARS) bem como a através da Portaria nº 343, a suspensão de
Síndrome Respiratória do Oriente Médio aulas presenciais e sua consequente
(MERS) (BRASIL, 2020 a BARRETO; AMORIM; substituição por atividades não presenciais
CUNHA, 2020, p. 793, apud, BARRETO; ancoradas em meios digitais enquanto durar a
AMORIM; CUNHA, 2020, p. 793). situação de pandemia do novo Coronavírus
Em especial, o SARS-CoV-2 foi classificado (COVID-19). Também no contexto educacional
como um parasita intracelular e que pode português, em 12 de março de 2020, o
infectar não somente o ser humano, mas Primeiro-Ministro anuncia o encerramento de
também outros seres, pois depende de uma todas as escolas do país a partir do dia 16 do
célula viva para se reproduzir, além de mesmo mês, a fim de conter a propagação do
sobreviver inativo no ambiente por até 72 surto de Covid-19; de modo que as aulas de
horas dependendo do material hospedeiro. todos os alunos do ensino básico e secundário
Alguns estudos realizados indicam que o vírus mantiveram-se em regime online (CABRAL,
da Covid-19 é o responsável pela transmissão 2020, apud, VIEIRA; SILVA, 2020, p. 1014).
de doença respiratória altamente infecciosa e A suspensão das atividades letivas
com sintomas iniciais semelhantes aos presenciais por todo o mundo impôs aos
resfriados comuns nos indivíduos, tais como gestores educacionais, professores e
febre, cansaço, tosse seca, dores, congestão estudantes, o desafio de uma adaptação e
nasal, dor de cabeça, conjuntivite, dor de transformação, até então, inimagináveis
garganta, diarreia, perda de paladar ou olfato, (OECD, 2020a), obrigando-os a um novo
erupções cutâneas ou descoloração dos dedos modelo educacional, sustentado pelas
das mãos ou dos pés (OPAS, 2020, apud, tecnologias digitais e pautado nas
BARRETO; AMORIM; CUNHA, 2020, p. 793 e metodologias da educação online. Os
794). professores se viram pressionados a migrarem
As medidas de distanciamento social para o ensino online, transferindo e
sugeridas pela OMS e adotadas na maioria dos transpondo metodologias e práticas
países causaram o fechamento das escolas e pedagógicas típicas dos espaços de
suspensão das aulas presenciais da rede aprendizagem presenciais, naquilo que tem
pública e privada em nível básico e superior sido designado por ensino remoto de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

emergência (Moreira, Henriques e Barros, migração gerou uma transposição de práticas e


2020, apud, VIEIRA; SILVA, 2020, p. 1014). metodologias do ensino presencial para as
Segundo dados da PNAD (IBGE, 2018), 20,9% plataformas virtuais de aprendizagem, que é o
dos domicílios brasileiros não têm acesso à chamado ensino remoto (SOUZA, 2020, p. 112).
internet, isso significa cerca de 15 milhões O ensino remoto tornou-se um desafio para
de lares. Em 79,1% das residências que têm esses profissionais que precisaram aprender na
acesso à rede, o celular é o equipamento mais prática a usar a Tecnologia da Informação e
utilizado e encontrado em 99,2% dos Comunicação (TIC) para desenvolver as suas
domicílios, mas muitas famílias compartilham aulas. O ensino remoto tem provocado um
um único equipamento. Outra realidade que aumento do nível de ansiedade dos
não deve ser desconsiderada é que as casas das professores, além de sobrecarga de trabalho
classes médias e alta têm uma estrutura (PENÍNSULA, 2020). Estas consequências têm
privilegiada para o desenvolvimento de demonstrado a necessidade do apoio técnico e
atividades escolares. Porém, as residências das psicológico aos professores. Segundo Santos
classes populares se configuram, em geral, (2020, apud, SOUZA, 2020, p. 112), o ensino
com poucos cômodos onde convivem várias remoto tem deixado suas marcas, em alguns
pessoas, tornando-se difícil a dedicação dos casos, permitindo encontros afetuosos e boas
alunos às atividades escolares. A pesquisa dinâmicas curriculares, e, em outros, tem
TICKids Online Brasil (CETIC, 2019) mostra que repetido modelos massivos subutilizando os
11% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos potenciais da cibercultura na educação. Os
não têm acesso a internet, correspondendo a 3 modelos de educação em massa são
milhões de pessoas, sendo que 1,4 milhão característicos da educação a distância (EaD)
nunca acessou a rede. Tais dados enfatizam um tradicional (SOUZA, 2020, p. 114).
dos desafios da educação no período da Educação a distância desde a definição da
pandemia, que é o acesso das pessoas à rede EaD como modalidade de ensino pela Lei de
internet banda larga para continuarem Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB
aprendendo e ensinando (SOUZA, 2020, p. 9394\96), passando pelas metas do Plano
112). Nacional de Educação, até a criação da
Diante de tantos conflitos e problemas, este Universidade Aberta do Brasil (UAB) em 2006,
artigo tem como objetivo retratar os problemas são várias as ações normativas de execução
e desafios da educação durante a pandemia da que vão incorporando a EaD ao contexto
COVID-19. Além de escancarar as educacional brasileiro. A EaD representa uma
desigualdades econômicas e sociais do Brasil. modalidade de ensino que vem sendo
utilizada há muito tempo. Inicialmente,
utilizava-se a correspondência como tecnologia
DESENVOLVIMENTO mediadora entre aluno e professor. Depois
Devido à emergência da pandemia, escolas chegaram o rádio e as TVs Educativas, que
precisaram se organizar para migrar para o foram importantes para a educação brasileira
ensino com o uso das tecnologias digitais. Esta nas décadas de 1960 a 1990, pois auxiliavam na

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

qualificação de muitos trabalhadores. Esse tipo de educação remota (PEREIRA; BARROS, 2020,
de educação a distância de massa ainda tem p. 04).
reflexos atualmente nos cursos que utilizam Com relação aos alunos, é necessário
tecnologias digitais. Com os ambientes online, considerar a inserção de todos num contexto
muitos programas de EaD migraram seus mundial e por esse fato não se pode ficar à
desenhos para as tecnologias digitais da margem dos acontecimentos e das
informação e comunicação (TDIC), mantendo consequências, que no momento nem sempre
a mesma lógica comunicacional das mídias estão sendo positivas. A educação deveria ser
de massa que separa os sujeitos dos beneficiada e privilegiada com os avanços
processos de criação dos conteúdos e do tecnológicos, porém, infelizmente não é
próprio desenho didático (SANTOS, 2009 apud contemplada devidamente como deveria,
SOUZA, 2020, p. 114). Assim, o paradigma afinal, mesmo considerada prioridade pelos
educacional, em muitos cursos EaD, ainda órgãos governamentais, continua de modo
estão centrados na pedagogia da transmissão, geral, ultrapassado em tecnologia e elitista, na
na lógica da mídia de massa, na qual os menos favorecidos lutam por uma
autoaprendizagem e nos modelos de tutoria escola pública de melhor qualidade e por um
reativa. Somente a transposição do que já se acesso à universidade mais democrático e
fazia com o uso das mídias de massa para as menos excludente. Por estarem inseridos nesse
tecnologias digitais interativas e em rede não contexto, os alunos tem observado uma
configura mudança no processo educacional situação crítica, o que lhes provoca desestímulo
(SOUZA, 2020, p. 114). e falta de perspectiva em relação às suas vidas
Tal como o trabalho docente, muitos e ao futuro. Assim, acaba por desencadear
professores mesmo não estando preparados, elevados índices de repetência e evasão
ainda têm enfrentado desafios desse novo escolar, ou seja, o insucesso do processo
momento e continuam a aprender tutoriais ensino-aprendizagem. Somam-se a isso outros
para o uso de novas tecnologias educacionais e problemas de ordem pessoal, familiar e social
entender as formas das aplicações de que comprometem o processo ensino-
metodologias ativas no ensino-aprendizagem, aprendizagem, uma vez que afloram na escola
além de discutir estratégias de avaliar, e no meio próximo a esta (PEREIRA; BARROS,
promover um ensino remoto de boa qualidade 2020, p. 04).
aos alunos, minimizar os prejuízos da falta do Para Moysés (1995, apud, PEREIRA; BARROS,
contato presencial. Cabe aqui salientar que a 2020, p. 04), um dos maiores e graves
metamorfose da educação provocada em curto problemas da escola em todos os níveis é o
prazo pela pandemia mundial mostrou que baixo nível de aproveitamento dos alunos; a
hoje, se tornou fundamental investir na aprendizagem dos conteúdos escolares é algo
formação continuada dos professores bem que envolve os processos mentais superiores e
como oportunizar melhorias no se dá no interior de um ser social e
desenvolvimento de suas práticas historicamente contextualizado. Somando-se a
pedagógicas em suas atuações na modalidade isso, é fundamental destacar que para esse

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

período em que os especialistas maior renda (PEREIRA; BARROS, 2020, p. 04 e


recomendaram a necessidade de um 05).
isolamento social como uma forma eficaz do Han, em seu livro “A Sociedade do Cansaço”,
combate ao covid-19, os alunos necessitaram fez um retrato do mundo de antes da pandemia
de um computador com acesso a internet em da Covid-19 demonstrando que vivemos numa
suas residências para a realização das época de velocidade e de esgotamento, na qual
atividades escolares. o sistema de poder vigente valoriza indivíduos
Para Waiselfisz e Lápis (2007, apud, PEREIRA; inquietos, hiperativos, que se arrastam no
BARROS, 2020, p. 04 e 05), as diversas cotidiano produtivo, quase sempre bem-
desigualdades socioeconômicas que sucedido e que executam inúmeras e variadas
caracterizam o Brasil determinam fortemente tarefas. Estamos vivendo na sociedade do
as condições de acesso aos benefícios das desempenho, constituída por uma nova
modernas tecnologias da informação. Se, no subjetividade proveniente das transformações
ano de 2005, o país tinha acima de 32 milhões sócias históricas ocorridas desde o final do
de usuários da Internet, isso representava século XX (HAN, 2017). Foucault, ainda antes de
aproximadamente 17% de sua população, Han, seguia na mesma linha de pensamento ao
índice bem baixo, quando comparado com os declarar que, não no final do século XX, mas
dos países avançados, e menor, inclusive, que desde meados do século XVIII, vivemos em um
os de vários países da América Latina, como sistema de bio poder ou biopolítica, um sistema
Chile, Costa Rica, Argentina e Uruguai. Isso sem que busca aperfeiçoar um estado de vida na
contar a grande concentração do acesso nos população, a fim de criar indivíduos
setores de renda elevada. Entretanto, para os economicamente ativos. Produzir, inovar,
40% da população de menor renda, esse acesso responder com criatividade às situações de
é possível só para 5,7% da população. trabalho, de estudo, de relacionamento é o que
Nessas condições de elevada concentração, se espera de todos nós. Auto superação,
resulta utópico, e até paradoxal, priorizar a iniciativa, eficiência e flexibilidade explicam a
inclusão digital pela via individual para aqueles sociedade do desempenho de Han (2017) e a
que vivem no nível da subsistência e muitas biopolítica de Foucault (2012, apud, DIASA,
vezes nem isso. E essa foi, até hoje, a política 2021, p. 565).
preponderante da expansão digital, em O tempo de pandemia pelo Coronavírus
detrimento de estratégias coletivas ou sociais. (COVID-19) trouxe uma ressignificação para a
Os quantitativos da PNAD/IBGE de 2005 são educação, nunca antes imaginada. A dor
claros ao destacar essa prioridade: enquanto causada pela perda de pessoas, o afastamento,
10,5% da população de 10 anos de idade ou o isolamento social, causaram uma
mais acessou a Internet em seu domicílio, só desestruturação no sistema regular e
2,1% o fizeram em centros gratuitos. Mais presencial de ensino. A crise sanitária está
ainda, esses centros gratuitos, por diversos trazendo uma revolução pedagógica para o
motivos, como localização, finalidade etc., ensino presencial, a mais forte desde o
acabam sendo mais utilizados pelos setores de surgimento da tecnologia contemporânea de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

informação e de comunicação. As conversações apontados principalmente devido aos baixos


à distância se intensificaram com o advento da salários dos educadores, infraestruturas
internet e, no Brasil, a comunicação digital precárias das escolas, diversos tipos de
ganhou força após a metade da década de violências, evasão e reprovação, desvios de
1990, com o aparecimento dos canais de repasses de verbas, amplo analfabetismo
pesquisa e de conversação, especialmente das informal e resultados cada vez mais
redes sociais (PASINI; CARVALHO; ALMEIDA, catastróficos nas avaliações internas e
2020, p. 02). externas. Na lista do Programa Internacional
Mas não podemos esquecer que a nossa de Avaliação de Alunos (PISA) de 2018, os
leitura do mundo precede a leitura da palavra alunos de 15 anos ficaram mal classificados em
(FREIRE, 2005). Antes mesmo de analisarmos quesitos básicos como Leitura 57º, Ciências 66º
qualquer letra, realizamos a compreensão e e Matemática 70º, em um total de 79 países
leitura do mundo. O homem se comunica (OCDE, 2019). Por isso, além dos problemas
desde os remotos desenhos realizados no educacionais, o país também enfrenta crises na
interior das cavernas à moderna conversação área da economia, saúde e política, onde a
via era da internet, especialmente maioria dos representantes tomam decisões de
potencializada na pandemia. Um fato, interesses próprios e partidários, uma guerra
portanto, é comprovado pela própria de poder, e quem perde é a população. São
inteligência humana: a comunicação é inerente reflexos da má administração, com pessoas
ao instinto do homo sapiens e não existe despreparadas que assumem cargos
sociedade organizada no mundo que não utilize importantíssimos, remetendo ao descaso com
os códigos da fala e da linguagem. O isolamento a qualidade educacional do país (AVELINO;
social causado pela COVID-19 levou bilhões de MENDES, 2020, p. 56).
humanos à condição de reflexão e ao Embora, um dos fatores mais apontados pela
pensamento da necessidade mais efetiva de se população da grave situação da educação
considerar um ser social e histórico, pensante e brasileira esteja ligado ao fator econômico,
capaz de encontrar uma saída para a educação entorno de 6% de parte do Produto Interno
da pandemia. Paulo Freire já idealizava sobre Bruto (PIB) de 2019, que foi de 7,3 trilhões
isso: (...) Assumir-se como ser social e histórico, de reais (IBGE, 2019), não conseguiu resolver
como ser pensante, comunicante, a crise instaurada a décadas. Daí destinar esses
transformador, criador, realizador de sonhos, bilhões na educação não tem representado
capaz de ter raiva porque é capaz de amar. resultados satisfatórios nacionalmente e muito
Assumir-se como sujeito porque é capaz de menos internacionalmente, conforme
reconhecer-se como objeto. A assunção de nós apontam os resultados das avaliações em larga
mesmos não significa a exclusão dos outros. escala em que o Brasil participa. Como
(2001, p.46, apud, PASINI; CARVALHO; abordagem, assuntos de políticas educacionais
ALMEIDA, 2020, p. 06). são bastante complexas, e por essa razão
O Brasil tem enfrentado inúmeros surgem questionamentos acerca de como
problemas educacionais ao longo dos anos,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

utilizar de fato esses investimentos (AVELINO; para acompanhar o desempenho educacional


MENDES, 2020, p. 57). dos pupilos (AVELINO; MENDES, 2020, p. 57).
Segundo Lima e Marques (2012 AVELINO; O meio social e cultural são agentes ativos na
MENDES, 2020, p. 57) pesquisas apontam que relação de saber (BOURDIEU, 1999; CHARLOT,
o melhor investimento seria em infraestrutura 2003 apud (AVELINO; MENDES, 2020, p. 57 e
das escolas e/ou equipamentos tecnológicos; 58) crianças e jovens com acessos a museus,
na formação inicial ou continuada dos teatro, cinema, recursos tecnológicos, viagens,
professores, outros sugerem melhor carregam em si uma bagagem maior em
remuneração dos educadores e relação aos que não dispõem desse capital
consequentemente a valorização da profissão cultural. Famílias com grau de escolaridade
para torná-la mais atrativa. A realidade da baixa, crianças cujos responsáveis não possuem
educação brasileira sempre foi precária, porém a Educação Básica, ficam em desvantagem em
o país enfrenta diversos novos problemas na relação àqueles, cujo os pais concluíram o
educação em função das paralisações por Ensino Superior e entendem que o maior
conta do novo coronavírus, Sars-Cov-2, investimento é o apoio cultural e educacional
causador da doença COVID-19 (LUIGI; dos filhos (AVELINO; MENDES, 2020, p. 57 e
SENHORAS, 2020; MARANHÃO; SENHORAS, 58).
2020), tornando o status precário da educação O Brasil precisa urgentemente de uma
ainda mais evidente. Além de todas as reformulação na educação, pois é evidente que
dificuldades já existentes, os alunos terão de o sistema de ensino vigente não tem dado bons
enfrentar um sistema de educação que não resultados. É lógico que depende de muitos
tem estrutura suficiente para ampará-los outros fatores, mas é inegável que uma
frente a essa nova realidade. mudança seja necessária. Para essas mudanças
É importante salientar que as questões acontecerem é preciso de uma boa guinada nas
sociais, econômicas e culturais dos alunos, políticas públicas educacionais e maior
também influenciam diretamente nos compromisso individual, onde as pessoas
resultados da aprendizagem. A construção do realmente estejam dispostas a melhorar o
conhecimento da criança está relacionada ensino no país. Todos precisam ter acesso a
principalmente ao meio que está inserida e escola, e que essas escolas estejam em
quando essa convive em um lar desestruturado condições de receber todas as crianças,
com agressões, drogas ou estupros, os inclusive as de inclusão. Para isso, é necessário
educadores pouco têm a oferecer, exceto uma boa administração pública e um modelo
denunciar aos responsáveis, que infelizmente de ensino eficiente, capaz de ensinar na
em muitos casos, são os próprios familiares. construção do ser humano e que aprenda ler,
E diante desse contexto de isolamento social, escrever e resolver problemas em seu
estão diretamente expostos nesses ambientes cotidiano. A sugestão é que as escolas tenham
hostis e com pouco apoio pedagógico. Pois, os currículos mais flexíveis, salas de aulas
responsáveis não têm preparação pedagógica interativas, trabalhar a interdisciplinaridade,
fazer com que a escola seja o lugar do saber,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que desenvolvam suas habilidades e que por uma racionalidade distinta da EaD. Se a EaD
remetam as competências. E talvez o principal, reforça a lógica do controle rizomático,
ou seja, a valorização do educador. Esse substituindo a vigilância pelas metas (SARAIVA,
profissional carece de investimentos 2010), o ensino remoto retoma alguns
psicológico, de formação e financeiros para elementos da disciplina. Em geral, no ensino
contribuir com o avanço da nação. Por isso ter remoto, é necessário um envio de evidências
um programa de formação inicial e continuada de desenvolvimento de atividades não
é tão relevante nesse momento, justamente avaliativas, que funcionam como uma forma de
por conta do novo coronavírus (Sars-CoV-2), controle do uso do tempo, uma das
que emergiu e sequenciou uma pandemia no características da disciplina. Na EaD, as
país, ao qual a comunidade escolar estava atividades a serem desenvolvidas são na maior
despreparada (AVELINO; MENDES, 2020, p. 59 parte das vezes, avaliações. Portanto, os
e 60). processos de EaD não têm como foco o
Diversos especialistas têm marcado que controle do uso do tempo, mas apenas a
ensino remoto e Educação a Distância (EaD) são demonstração de atingimento das metas de
conceitos distintos (IPOG, 2020). No Brasil, a aprendizagem, conforme Saraiva e Veiga-Neto
EaD encontra-se bem disseminada no Ensino (2009, apud, SARAIVA; TRAVERSINI;
Superior. Com pequenas variações, cursos LOCKMANN, 2020, p. 07).
nessa modalidade desenvolvem-se Esse excerto expõe que a desigualdade e as
praticamente sem interações síncronas entre dificuldades enfrentadas pelos alunos de
professores e alunos, ficando parte significativa escolas públicas não podem ser resumidas à
do trabalho delegado a um tutor e com questão de acesso à internet. Os alunos mais
avaliações padronizadas. Entretanto, nas carentes, que não podem desfrutar da
escolas privadas, cujos alunos têm amplo merenda escolar, estão passando fome. Outra
acesso à internet e que podem prover soluções reportagem publicada em GAÚCHAZH reforça
educacionais por meio de ferramentas digitais, essa ideia, ao afirmar que a desigualdade de
durante o período de isolamento, têm sido condições interfere, inclusive, no esforço de
realizadas muitas atividades síncronas. Ao estudar. Em um contexto no qual muitos alunos
ponto de que algumas escolas, principalmente vão à escola para comer, ter um silencioso
nos anos finais do Ensino Fundamental e no cômodo da casa com computador para se
Ensino Médio, ministrarem aulas por meio do concentrar é para poucos (HARTMANN; BOFF,
Google Meet ou do Zoom nos mesmos horários 2020 apud SARAIVA; TRAVERSINI; LOCKMANN,
que haveria aulas presenciais (SARAIVA; 2020, p. 11).
TRAVERSINI; LOCKMANN, 2020, p. 07). A vulnerabilidade social em que se
Toda a responsabilidade educativa está a encontram esses alunos não lhes dá direito a
cargo do professor, que pode planejar suas um amplo acesso à rede. A infância e a
avaliações de modo mais personalizado. No juventude pobre devem ser tuteladas e
nosso entender, as atividades remotas por controladas pelo Estado, como já tem sido
meio de ferramentas digitais estão orientadas historicamente no Brasil. De acordo com Rizzini

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

(2011, p. 225), desde o Brasil colônia, existe investigadora e reflexiva da própria prática,
uma preocupação com os “menores vadios, considerando assim tanto a própria condição
vagabundos, viciosos e delinquentes”, quanto a do estudante em termos cognitivos,
prevendo-se formas de evitar a vagabundagem sociais, econômicos e tecnológicos (REIS;
e inserir esses sujeitos no mundo do trabalho. ROSA, p. 6 e 7, 2020)
Percebe-se aqui a continuidade dessa Ou ainda, o convite que é feito á todos na
concepção, em que a vagabundagem se Pedagogia da Autonomia (FREIRE, 1997) e que
transforma em acesso a conteúdos que não os tem conseguido, apesar de tudo manter (ou
estritamente educacionais. A educação remota quiçá, construir) a esperança. Já estará agindo
vem trazendo questões e desafios para a nesse processo de reinvenção. Sem negar o
Educação Básica e para a docência, mas, desespero que não poucas vezes nos assalta.
mesmo com todas as dificuldades, não se Sem negar a desesperança como algo concreto
coloca em questão a paralisação dessas e sem desconhecer suas razões históricas,
atividades. Insegurança, necessidade de econômicas e sociais. Mas acreditando, como
adaptações rápidas, invasão da casa pelo o fez Paulo Freire (2016) na esperança e no
trabalho e pela escola, ansiedade frente às sonho como estratégias de luta (MONTEIRO,
condições sanitárias e econômicas são 2020, p. 250).
elementos presentes no cenário atual que vêm
produzindo professores em estado de exaustão
(SARAIVA; TRAVERSINI; LOCKMANN, 2020, p.
12).
O convite para nos reinventarmos enquanto
professores e professoras não é novidade. Ele
já vem sendo feito há tempos. Talvez com
outros nomes, mas sua natureza de reinvenção
permanece. É o convite que nos vem sendo
feito por Nóvoa (1999) e por Schön (1997), para
que os professores sejam reflexivos, ou seja,
profissionais capazes de pensar, analisar e
questionar a própria prática com a finalidade
de agir e aprimorá-la construindo uma
atuação autônoma, possibilitando, também
aos estudantes, a construção da autonomia,
tão importante em tempos de crise em que a
tomada de decisão é um imperativo. É também
o convite feito por Becker e Marques (2010),
para que sejam professores-pesquisadores,
cuja principal característica é contextualizar o
que ensina por força de uma atividade

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Pandemia causada pela Covid-19 que atingiu o planeta e foi e está ocorrendo
independentemente de classe social, sendo que, as pessoas do mundo todo foram impactadas
em distintas proporções nas suas rotinas e nas demandas sejam pessoais, profissionais ou
educacionais. Por essa razão, mudanças significativas em maior ou menor grau têm aparecido nas
atividades de toda a comunidade escolar, em especial, aos professores, estudantes e suas famílias
no contexto educacional dentro do período pandêmico.
Por essa razão, para que ocorra uma boa qualidade no processo de ensino-aprendizagem
durante o período de isolamento social é necessário que deva ter um comprometimento por
parte da família, formação dos professores, bem como a produção de materiais didáticos de
qualidade e suas habilidades com o uso de novas tecnologias, e também ao acesso que os
professores precisaram e talvez ainda venham precisar ter com relação aos meios tecnológicos e
assim conseguiram produzir suas atividades.
Outra questão fundamental foi o acesso que os alunos tiveram ao computador e a internet.
Entretanto, o que ficou evidente, foi o fato de que os alunos menos favorecidos, na maioria das
vezes não tinham computadores em suas casas, e por esse motivo, esses estudantes têm estado
excluídos do processo de ensino-aprendizagem. Outra questão importante é a de que o aluno
que possui o computador em sua casa com acesso a internet precisaram e ainda precisam estar
motivados para realizar tais atividades. Além de tantas questões, o professor ainda teve que
aprender a desenvolver atividades que viessem a motivar os alunos a realizarem estas de maneira
efetiva.
Com relação a pós-pandemia, é importante unir esforços e experimentar outras
metodologias e práticas que levem em conta o potencial das tecnologias digitais em rede e assim
favoreçam a colaboração, a autonomia, criatividade e a autoria de professores e estudantes. O
momento de pandemia tem trazido reflexões que estão fazendo parte do cotidiano. Portanto,
tais reflexões e a experimentação da educação em tempos de Covid 19, surgiram e trouxeram o
caos, e por essa razão é necessário lutar por políticas públicas de acesso à internet para todos e
por outras educações.
É importante salientar que a crise sanitária causada pelo COVID-19 acabou e ainda tem
modificado todas as relações de afetividade e de comunicação. Afinal as formas de contaminação
pelo vírus, em virtude da alta taxa de transmissão e da letalidade, trouxe também o pânico
especialmente em idosos. Por isso, as medidas principais para se evitar a disseminação do vírus
foram o distanciamento social, embora no Brasil poucos respeitaram essa medida preventiva
contra o vírus, além da quarentena que tem impactado diretamente na educação, causando o
afastamento presencial de docentes e discentes.
Por isso, a educação do novo milênio, após a pandemia, terá o desafio e deverá estar
permeada por estudos que envolverão a cultura, numa perspectiva que adote o entrelaçamento
cultural. Cabe ressaltar que após a pandemia possivelmente haverá um maior hibridismo da
educação presencial com o EAD, pois cada vez mais os professores estarão preparados para o
distanciamento, tendo a possibilidade do surgimento de novas doenças coletivas futuras, sendo
que tal probabilidade nunca mais será descartada.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A rede de educação esteve com suas atividades escolares presenciais suspensas, atingindo
milhões de estudantes em todo o país. Contudo, a educação não deve parar devido à necessidade
de adaptação e da superação por parte de professores e de alunos. Assim, em meio a um
turbilhão de problemas, a educação deverá ser uma potencializadora da esperança humana,
capaz de continuar auxiliando para a modificação de condutas, sempre para o bem da sociedade,
em busca de fazer sujeitos melhores. Por isso, uma crise sanitária só será superada, também, por
uma educação melhor.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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Journal of Computers in Education. 2020.

510
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

HISTÓRIAS E LIVROS INFANTIS NA


CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE MUNDO
DAS CRIANÇAS
Patrícia de Oliveira Jorge1

RESUMO: A literatura que trata das questões fundamentais da educação infantil passa por
diversas revisões o que faz com que ela seja a todo momento alvo das mais diversas
preocupações. O mesmo pode ser dito sobre a educação infantil, que mostra diferentes relações
com o ensino e vida em sociedade. Essas relações vão desde a busca por funções e práticas
específicas, até a submissão aos conteúdos e metodologias aplicadas as práticas de leitura e
escrita infantil na educação infantil na sociedade contemporânea que incorporam grande parte
dessas disputas, seja pela valorização da alfabetização seja pelo conceito de produtividade, de
redução do tempo livre e da demanda por resultados que comprovem o retorno dos
investimentos nela realizados. A leitura para as crianças em desenvolvimento se torna cada vez
mais fundamental na construção da identidade de mundo e consequentemente na maneira como
ela irá interagir em sociedade, o mundo criado pelas narrativas infantis é repleto de seres
fantásticos e de noções de ética e moralidade adaptadas para as realidades e faixas etárias.

Palavras-Chave: Literatura; Educação; Identidade.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação Infantil.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

STORIES AND CHILDREN'S BOOKS IN THE CONSTRUCTION OF


CHILDREN'S WORLD IDENTITY
ABSTRACT: The literature that deals with the fundamental issues of early childhood education
undergoes several revisions, which makes it the target of the most diverse concerns at all times.
The same can be said about early childhood education, which shows different relationships with
teaching and life in society. These relationships range from the search for specific functions and
practices, to submission to the contents and methodologies applied to children's reading and
writing practices in early childhood education in contemporary society that incorporate a large
part of these disputes, either for the valorization of literacy or for the concept of productivity. ,
reduction of free time and demand for results that prove the return on investments made in it.
Reading for developing children becomes increasingly fundamental in the construction of the
world's identity and consequently in the way it will interact in society, the world created by
children's narratives is full of fantastic beings and notions of ethics and morality adapted to
realities and age groups.

Keywords: Literature; Education; Identity.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO primeiros impulsos que colocam-na como


agente participativo no mundo as histórias
A temática da leitura vive há bastante tempo infantis tornam-se elementos imprescindíveis
no universo dos professores, das famílias, das de entrada para a percepção do universo ao
crianças, dos sistemas de ensino e das seu redor.
legislações. Muitos campos de pesquisa se Livros se tornam uma ferramenta muito
juntaram aos debates políticos por objetivos envolvente para leitura em voz alta; eles são
diferentes, mas eles também têm dedicado compostos de ilustrações que ajudam os alunos
seus esforços à alfabetização infantil, às a entender a história e a fazer previsões. Eles
habilidades de leitura e escrita das crianças. incluem textos curtos com padrões repetidos
Pontos de vista contrastantes buscam espaço que permitem aos alunos internalizar o novo
em pesquisas, políticas e práticas; portanto, vocabulário e estruturas de uma forma
esse processo exige raciocínio dos professores agradável e inconsciente.
e resgate de conquistas e posições. É assim que As crianças gostam de ouvir histórias
a qualidade esperada enfrenta contradições e indefinidamente; essa repetição permite que
desencontros ao atender às condições eles adquiram certos itens de linguagem e
objetivas de uma sociedade igualitária. reforcem outros inconscientemente. O uso de
Ler histórias permite que as crianças façam histórias permite que os professores
conexões entre a linguagem oral e a escrita, o introduzam novo vocabulário, expondo as
professor deve apontar para a palavra ou linha crianças à língua em diferentes contextos,
para enfatizar essas conexões. O objetivo da enriquecendo assim suas habilidades de
leitura de histórias é fornecer aos alunos uma pensamento e apresentando-as às habilidades
introdução da linguagem oral e uma ponte para produtivas. Além disso, muitas histórias têm
a alfabetização no idioma. Para ler histórias nos uma repetição natural de vocabulário e
estágios iniciais da linguagem, o professor deve estruturas importantes que ajudam as crianças
primeiro fazer muito trabalho de pré-leitura a se lembrar de detalhes e a aprender a
que prepara o aluno para ser capaz de antecipar o que está para acontecer a seguir na
compreender a história. Este trabalho de pré- história.
leitura se concentra na construção de
vocabulário por meio de diferentes tipos de
LITERATURA INFANTIL
atividades, como jogos, quebra-cabeças,
atividades de combinação, músicas e outros MULTIPLAS FORMAS DE SE
tipos de atividades que ajudam os alunos a se CONCEBER O MUNDO
familiarizem. A literatura infantil primitiva consistia em
Portanto, a leitura e contação de histórias histórias faladas, canções e poemas que eram
tornam-se instrumentos fundamentais para o usados para educar, instruir e entreter as
desenvolvimento das crianças no que concerne crianças. Foi somente no século XVIII, com o
as possibilidades de criação e interação com o desenvolvimento do conceito de infância, que
mundo que as cercam, por se tratar de um dom um gênero separado de literatura infantil

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

começou a emergir, com suas próprias divisões, capaz de nos envolver e trazer novas
expectativas e cânones. Os mais antigos desses dimensões ao cotidiano (GREGORIN FILHO,
livros foram livros educativos, livros sobre 2009, p.29)
conduta e simples – muitas vezes decorados Trazendo uma lente crítica para o estudo do
com animais, plantas e cartas antropomórficas. multiculturalismo na literatura infantil, este
A literatura sintetiza, por meio dos recursos livro prepara professores, educadores e
da ficção, uma realidade, que tem amplos pesquisadores de literatura infantil para
pontos de contato com o que o leitor vive analisar as dimensões ideológicas da leitura e
cotidianamente. Assim, por mais exacerbada do estudo da literatura. Cada capítulo inclui
que seja a fantasia do escritor ou mais recomendações para aplicação em sala de aula,
distanciadas e diferentes as circunstâncias de pesquisa em sala de aula e leitura adicional.
espaço e tempo dentro das quais uma obra é Multicultural é tudo o que promove um
concebida, o sintoma de sua sobrevivência é o verdadeiro diálogo com o outro, com o
fato de que ela continua a se comunicar com o estrangeiro, aquele que fala outro idioma, que
destinatário atual, porque ainda fala de seu pode ter outro escrito, outra religião, outras
mundo, com suas dificuldades e soluções, referências que a nossa, dir-vos-ei então que
ajudando- o, pois, a conhecê-lo melhor estamos num mau começo, que o nosso tempo
(ZILBERMAN,1994, p.22). premente e superficial não é multicultural e
A análise multicultural crítica fornece uma que, além disso, está ameaçado por dois
mudança filosófica para o ensino de literatura, perigos mortais e contraditórios.
a construção de currículo e a incorporação de É claro que o mundo precisa de uma
questões de diversidade e justiça social. Ela ferramenta coletiva de comunicação, e o inglês
problematiza a literatura infantil, oferece uma hoje desempenha esse papel perfeitamente,
maneira de ler o poder, explora a teia complexa mas o mundo também tem uma forte
das relações sociopolíticas e desconstrói necessidade de preservar sua diversidade
suposições assumidas sobre linguagem, cultural, uma condição absoluta de sua riqueza
significado, leitura e literatura trata-se de e dinamismo. Hoje, diante da abertura da
estudo literário como mudança sociopolítica. Globalização, a abertura se estendeu aos países
Pela própria historicidade do gênero, não se do Oriente, pouco se faz para preparar o
deve descartar a literatura para crianças e parecer, para adaptar a escola, a chegada de
jovens como um objeto de estudo ou ensino estrangeiros ao nosso terreno, assim podemos
nos cursos de formação de professores ou na afirmar que muito mais fecundo em literatura
área de programa de pós- infantil vai ficando. Esses intercâmbios culturais
graduação. Isto é, literatura para criança refletem ainda mais diversas formas de
deve ser oferecida como arte e prazer, arte interpretação e preparação para a cultura do
porque é o resultado de um fazer estético do(s) outro.
autor (es)e prazer porque o contato com a arte A fala (enquanto manifestação da prática
pode ser encarado desde a mais tenra idade oral) é adquirida. A mãe dá seu primeiro sorriso
como uma experiência ricamente prazerosa, ao bebê. Mais do que decorrência de natural é

514
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a forma de uma inserção cultural e de juventude, a deixar sua cultura nativa para
socialização. Naturalmente em contextos viver em um país estrangeiro em um ambiente
informais do dia a dia e nas relações sociais e cultural diferente. Eles são, por vezes,
dialógicas que se instauram desde o momento conscientes de como seus próprios anseios
em que há uma disposição biogenética, o culturais (sua própria língua, sua própria
aprendizado e uso de uma língua (MARCUSCHI, religião) é apagada por poderes estrangeiros e
2001, p.18) . imposta sobre eles outra cultura (outra língua,
Assim como por imprevidência, não outra religião).
havíamos preparado nem a opinião nem a No entanto, crianças e jovens que não
escola para a chegada em massa de conhecem a diversidade cultural também pode
trabalhadores, permitindo reações de rejeição, ser curiosa sobre outras culturas, terras
intolerância, xenofobia, a mesma distantes, povos "exóticos"; eles podem
imprevidência, a mesma cegueira, a mesma satisfazer essa curiosidade viajando ou lendo
ignorância, tornar o leito das tensões, as livros que alimentam sua imaginação. É
recusas, os sofrimentos do Brasil de amanhã, geralmente aceito que, na infância, a
por outro lado as integrações literárias são experiência (feliz ou triste, positiva ou
desde o incentivo a imigração do XVII uma traumática) de diferenças e contrastes culturais
forma de ampliação do lócus educacional. é duradoura. Isso tem um impacto sobre como
Em todos os países, em todos os continentes, Nós não apenas entendemos sua própria
crianças e jovens crescem em diferentes cultura, mas também os
ambientes culturais e seguem caminhos outros. Esta experiência inicial é em grande
diferentes para desenvolver uma identidade parte responsável por atitudes de abertura ou
cultural. Eles podem crescer na cultura de seus rejeição, tolerância e intolerância, pacífica ou
ancestrais, mas cruzar outras culturas fora de hostil e agressiva.
suas casas e famílias. A literatura infantil sempre foi usada em
O importante é que se repense no lugar da todo o mundo para permitir a socialização
Literatura, seja por meio da divulgação oral ou cultural, para transmitir conhecimento sobre a
escrita, como espaço próprio para que se recrie própria cultura ou a dos outros, e para
novas sensibilidades. Tanto a narração de encorajar atitudes em relação à cultura de
histórias por meio da oralidade, como pela origem e culturas estrangeiras. Do nosso ponto
escrita , podem facilitar a emergência de uma de vista contemporâneo, este papel tem sido
criança mais conhecedora de si e de outro, positivo e negativo: por um lado, ajudou a
plenamente capaz de se reconhecer nos textos, promover a abertura e tolerância, enquanto
como também criar universos a partir das por outro ele encorajou exclusão, rejeição,
portas que se abrem durante a escuta /leitura desprezo e ódio.
(CAVALCANTI, 2009,p.32).
Ou às vezes crescem em famílias onde
relações interculturais e interraciais são a
norma. Alguns são forçados, em sua infância ou

515
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OS DESDOBRAMENTOS interação com diferentes gêneros. Um gênero


é uma classe ou tipo de literatura que possui
EDUCACIONAIS um conjunto de características comuns. Assim,
O contato com livros para crianças pode ser podemos falar sobre diversos gêneros, tais
apresentado desde antes do nascimento ou do quais, literatura de ficção, romance ou
berço, quando o seu primeiro livro é colocado mistério; literatura tradicional, representada
nas mãos da criança ou quando ouve rimas e por fábulas, lendas e mitos, fantasia,
babás que mães e avós cantaram durante relacionada a temas fantásticos, poesia e
gerações. Esses eventos cheios de melodia, realista, ligado a biografias, relacionadas a
vocabulário e imagens são a linguagem que temas fantásticos.
permite à criança entender o mundo e o lugar A base de todos esses gêneros é a função
que ocupa. Tal é o caso de Rubén que, um ano imaginativa da literatura que permite ao aluno
antes de ler a história Vamos brincar na enriquecer-se, conhecer o patrimônio cultural
floresta, Ele reagiu com riso de prazer quando de seu contexto social, reafirmar sua
ouviu a voz "grave" do lobo enquanto se vestia identidade e entrar em contato com diferentes
para sair para pegar as ovelhas e as vozes mundos que favorecem o desenvolvimento do
"risadas" daqueles que querem fazer uma pensamento divergente. . Assim, a literatura
piada. infantil, escrita principalmente por adultos, é
As crianças aprendem a partir da língua que aquela que pode ou não ter a criança como
ouvem. Portanto, quanto mais rico for o protagonista, reflete suas emoções e
ambiente linguístico, mais rico será o experiências; É aquele que ter a ótica da criança
desenvolvimento da linguagem. O processo de como um centro lhes oferece, nem sempre,
apropriação da linguagem continua ao longo finais felizes.
dos anos escolares, de modo que esses anos Pode-se dizer que a criança, desde muito
devem ser preenchidos com as imagens e o jovem, participa da literatura como um jogo,
vocabulário estimulante oferecido pela diversão ou entretenimento. Quando vai à
literatura infantil. O termo literatura pode ser escola, ele também tem contato com a
definido a partir de uma perspectiva histórica literatura não apenas para fins recreativos, mas
ou cultural, da perspectiva de um crítico ou também para outras intenções: aprender a ler
outro, ou de um ou outro leitor. Como e escrever, cultural, moral, religiosa e
promotores da leitura, entendemos a literatura pedagógica. Nesse sentido, é oportuno
como a construção imaginária da vida e do mencionar Rodríguez (1991), que aponta que a
pensamento em formas e estruturas da criança, desde o seu nascimento, está exposta
linguagem integradas em um conjunto de a produtos literários que sua cultura propõe
símbolos que provocam uma experiência para diversos fins e por diferentes meios (por
estética. exemplo, televisão, rádio, cinema).
Essa experiência pode ser a reconstrução ao Ele ouve canções de ninar, histórias são
vivo ou a expansão de eventos anteriores, ou a contadas ou lidas. Quando ele fala, brinca com
criação de novas experiências a partir da as palavras, canta músicas e aprende enigmas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Este fato determina que as crianças podem encarregarem de suas vidas enquanto criavam
aprender inconscientemente algumas regras compreensão e empatia daqueles que não
de operação ou marcas do texto literário. Isso estavam diretamente envolvidos.
permite que desenvolvam esquemas O estabelecimento de uma sociedade
antecipatórios sobre o funcionamento da mediada pela comunicação global tornou as
linguagem escrita, o que será muito útil para culturas estrangeiras acessíveis diariamente
aprender a ler. Portanto, dentro das primeiras proporções sem precedentes. As crianças
atividades espontâneas de expressão oral e dificilmente podem ignorar o fluxo de
leitura na criança é o gozo de histórias. Esse informações e imagens produzidas em todos os
gênero literário é o mais utilizado pelos países do mundo pela mídia eletrônica. Assim,
professores para ensinar a leitura em sala de as condições básicas exigidas para a
aula; porque, é mais comum, adequado e socialização cultural tornaram-se mais difíceis,
aceito em todas as idades. delicadas e instáveis. Uma das reações à falta
Além disso, a história é uma ferramenta que de cultura da globalização em muitos lugares
estimula o pensamento criativo, imaginativo e tem sido uma identificação excessiva com a
crítico das crianças, permitindo-lhes expressar- própria cultura ou religião, o que levou a maior
se de várias maneiras. A partir do nível de parte do tempo à depreciação e até mesmo
Educação Inicial e Pré-escolar, as crianças desprezo por outras culturas e religiões.
demonstram interesse em explorar e Para literatura juvenil e outras formas de
estabelecer contato com diferentes materiais expressão o desafio para as crianças é
de leitura e escrita, que induzem a expressar participar da criação de uma sociedade global
experiências e experiências reais e baseada na tolerância cultural e religiosa, que
imaginativas, gerando a expressão de suas implica não apenas que culturas religiões
próprias ideias, emoções e sentimentos. que coexistam em paz, mas também que elas se
permitem que seu mundo interior apareça. influenciam mutuamente colocando-se em pé
Portanto, o uso da história torna-se uma de igualdade.
ferramenta de ensino útil para acompanhar Preservar as relações entre a literatura e a
emocionalmente e criativamente as crianças escola, ou o uso do livro em sala de aula,
em seu processo de desenvolvimento. decorre de ambas compartilharem um aspecto
em comum: a natureza formativa. De fato,
LITERATURA INFANTIL E AS NA tanto a obra de ficção como a instituição do
ensino estão voltadas à formação do indivíduo
CONSTRUÇÃO DAS EMOÇÕES ao qual se dirigem (ZILBERMAN, 1994, p. 25).
A literatura infantil também tentou se É impossível listar exaustivamente as muitas
concentrar nas experiências e emoções de facetas do tema do Congresso, especialmente
crianças e jovens que foram culturalmente porque diferentes países e culturas não olharão
reprimidos ou tiveram que deixar suas casas para esses aspectos da mesma maneira. As
para se integrar em um ambiente estrangeiro. seções a seguir devem, portanto, ser tomadas
Ela ajudou jovens em conflitos culturais a se como sugestões e não destinadas a excluir as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dimensões do tema principal que elas não


mencionariam. Além disso, embora essa lista
mencione apenas a literatura para os jovens,
sempre está implícito que ela também inclui
outras mídias, como o álbum, histórias gráficas,
quadrinhos, mangás, filmes. séries de televisão,
jogos de vídeo etc.

518
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A literatura proporciona às crianças conhecimento, prazer e gratificação, é uma
experiência enriquecedora que lhes dá a oportunidade de compartilhar sentimentos, significados
e outras construções de acordo com suas necessidades, interesses particulares, o discurso
literário difere de outros discursos porque promove a liberdade interpretativa do leitor, portanto
cada leitura, mesmo do mesmo texto, é transformada em uma nova aventura para a criança. Não
devemos apenas nos atermos ao ensino da literatura como uma maneira de desfrutar, nem como
uma maneira de abordar o espírito porque “ler literatura é uma experiência,
A literatura infantil constitui um meio poderoso para a transmissão da cultura, a integração
das áreas do conhecimento: história, música, arte, psicologia, sociologia, etc., o enriquecimento
dos universos conceituais e a formação de valores. Além disso, a literatura desempenha um papel
fundamental na escola e no lar como uma ferramenta que favorece uma abordagem aos
processos de leitura e escrita.
A importância da literatura pode refletir-se no valor afetivo que oferece à criança por meio
da literatura educa enquanto entretém. Criar espaços na sala de aula para a literatura abre portas
para a criatividade, para o poder criativo da palavra e do imaginário; levando as crianças a
descobrir o prazer que os livros proporcionam antes de serem solicitadas a desenvolver
habilidades de leitura (ou seja, decifrar). Assim, a leitura faria tanto sentido quanto andar de
bicicleta; Eles sabem como a experiência será divertida.
A associação da literatura com diversão e brincadeira pode ser vista como uma função
lúdica: A poesia nasce do brincar, podemos então, sugir algumas características comuns entre a
poesia e o brincar, são ações desenvolvidas dentro de certos limites de tempo, espaço e
significado, em uma ordem visível que operam com regras livremente aceitas e fora da esfera de
utilidade ou necessidade material. O humor é o desabafo e entusiasmo a ação que vem
acompanhada de sentimentos de elevação e tensão e leva à alegria e ao abandono. Da mesma
forma, para uma história manter a atenção da criança, ela deve se divertir. Ela tem que concordar
com suas ansiedades e aspirações, fazer reconhecer plenamente suas dificuldades, enquanto
sugere soluções para os problemas que o preocupam. Na literatura infantil nada enriquece e
satisfaz tanto a criança quanto os contos de fadas populares, pois permitem que ele aprenda
muito sobre os problemas internos dos seres humanos e suas soluções.

519
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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COELHO, Nelly Novaes (2009). Literatura Infantil: teoria–análise–didática. São Paulo:


Moderna.

GREGORIN FILHO, José Nicolau. Literatura Infantil: breve percurso histórico. concepção
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São Paulo: Melhoramentos, 2009. HUIZINGA, Johan. Homo ludens. São Paulo : Perspectiva,
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ZILBERMAN, R. A literatura infantil na escola. 9. ed. São Paulo: Global, 1994.

520
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO:


MEIOS DE INTERAÇÃO COM A REALIDADE
Kely Cristina de Lima Reis 1

RESUMO: Brincadeiras representam portas de entrada para as interações sociais necessárias ao


desenvolvimento infantil, todas formas de estabelecer contatos com essa nova fase passam pelas
narrativas, sejam elas criadas pelos pais e responsáveis como fundamentos morais, ou pelas
histórias cintadas as crianças por meio de histórias populares ou de outros lugares, tempos e
períodos. Buscamos por meio desse trabalho desenvolver as discussões necessárias nos
embasando em autores que pensaram o assunto para fundamentação e revisão dos textos. Os
jogos partem da premissa desenvolvimentista os quais possuem o poder de ensinar, capacitar e
educar, funcionando como elementos eficazes para as habilidades de memorização mecânica.
Esses jogos educacionais são cada vez mais considerados como novas tecnologias instrucionais
com grande potencial e têm a hipótese de auxiliar efetivamente propósitos instrucionais, porque
fornecem abordagens diversas e podem abordar a aprendizagem cognitiva e afetiva.

Palavras-Chave: Jogos; Educação; Identidade; Habilidades; Escola.

1
Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia; Especialização em Educação
Infantil.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

GAMES AND PLAY IN EDUCATION: MEANS OF INTERACTION WITH


REALITY
ABSTRACT: Jokes represent gateways to the social interactions necessary for child development,
all ways of establishing contacts with this new phase pass through narratives, whether created by
parents and guardians as moral foundations, or through stories belted to children through
popular stories or from other places, times and periods. Through this work, we seek to develop
the necessary discussions based on authors who thought about the subject for the foundation
and revision of the texts. Games are based on the developmental premise that they have the
power to teach, train and educate, functioning as effective elements for mechanical
memorization skills. These educational games are increasingly considered as new instructional
technologies with great potential and are hypothesized to effectively support instructional
purposes because they provide diverse approaches and can address cognitive and affective
learning.

Keywords: Games; Education; Identity; Skills; School.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO baseada em jogos levaram a expectativas e


reivindicações promissoras, não só do ponto de
Jogos se tornaram um tópico indispensável vista científico, mas também no plano de
no domínio da tecnologia educacional. Embora trabalho prático da educação.
o conceito de jogos educativos, ou seja, Os jogos têm o poder de ensinar, treinar e
relativamente novo, a ideia e o uso não são. Já educar e são meios eficazes para aprender
nos anos 60, os videogames foram habilidades e atitudes que não são tão fáceis de
implementados nos Estados Unidos da América aprender por memorização mecânica. Esses
para as escolas militares e médicas, bem como jogos educacionais são cada vez mais
na comunidade acadêmica geral. considerados como novas tecnologias
Recentemente, surgiu um interesse novo e instrucionais com grande potencial e têm a
crescente em jogos de vídeo projetados para o hipótese de auxiliar efetivamente propósitos
uso em ambientes educacionais. Esse interesse instrucionais, porque (teoricamente) fornecem
crescente é aparente, entre outras coisas, no abordagens diversas que podem abordar a
número de livros publicados que tratam de aprendizagem cognitiva e afetiva (por exemplo,
aprendizagem baseada em jogos, nos múltiplos construção do conhecimento, habilidades e
seminários e conferências sobre esse tema, na competências).
grande quantidade de estudiosos que têm
trabalhado neste tópico de pesquisa ao longo
O BRINCAR E AS AÇÕES
dos anos, etc.
Então, muitas pessoas estão ocupadas em COGNITIVAS
tempo integral com esse assunto. Um exemplo Aprender por meio do brincar é um termo
bem conhecido são os computadores para usado em educação e psicologia para descrever
aprendizagem e, de acordo com eles, a como uma criança pode aprender a
aprendizagem baseada em jogos é muito mais compreender o mundo ao seu redor. Por meio
motivadora do que a educação formal é para os do brincar, as crianças podem desenvolver
alunos de hoje. Os jovens se tornaram falantes habilidades sociais e cognitivas, amadurecer
nativos da linguagem digital de computadores, emocionalmente e ganhar a autoconfiança
internet e videogames ou nativos digitais. Isso necessária para se envolver em novas
implica que esse grupo de alunos é diferente experiências e ambientes.
(por exemplo, eles pensam e processam Os primeiros anos de vida são decisivos na
informações fundamentalmente) e as coisas na formação da criança, pois se trata de um
educação terão que mudar, por exemplo, como período em que ela está construindo sua
um professor se comunica com seus alunos, o identidade e grande parte de sua estrutura
conteúdo que ele está ensinando. física, afetiva e intelectual. Sobretudo nesta
A juventude aprende mais com tecnologias fase, deve-se adotar várias estratégias, entre
digitais e videogames sobre arte, design e elas as atividades lúdicas, que são capazes de
tecnologia do que na escola. Os amplos intervir positivamente no desenvolvimento da
interesses no domínio da aprendizagem criança, suprindo suas necessidades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

biopsicossociais, assegurando-lhe condições confusão em torno da definição de brincar está


adequadas para desenvolver suas relacionada ao fato de que na literatura de
competências (MALUF, 2009. p.13). desenvolvimento infantil o termo brincar é
As principais formas que as crianças frequentemente usado para rotular a maioria
pequenas aprendem incluem brincar, estar das formas de comportamento social e não
com outras pessoas, ser ativo, explorar e novas social das crianças, independentemente de ser
experiências, conversar consigo mesmo, ou não brincadeira.
comunicar-se com outras pessoas, enfrentar
desafios físicos e mentais, mostrar-se como AS AÇÕES SOCIOEMOCIONAIS
fazer coisas novas, praticar e repetir
habilidades e ter Diversão. DAS BRINCADEIRAS
O fato de a criança, desde muito cedo, poder O brincar é essencial para o
se comunicar por meio de gestos, sons e mais desenvolvimento porque contribui para o bem-
tarde representar determinado papel na estar cognitivo, físico, social e emocional das
brincadeira faz com que ela desenvolva sua crianças e jovens. Brincar é a ferramenta que as
imaginação. Nas brincadeiras as crianças crianças usam para aprender sobre o mundo e
podem desenvolver algumas capacidades a sociedade. Por meio do brincar, suas
importantes, tais como a atenção, a imitação, a necessidades sociais e cognitivas podem ser
memória, a imaginação. Amadurecem também atendidas e desenvolvidas. Brincar é o modo
algumas capacidades de socialização, por meio como as crianças interagem com este mundo e
da interação e da utilização e experimentação criam experiências para entender a sociedade
de regras e papéis sociais (BRASIL, 1998, p. 22). e as interações humanas. Sua prática permite
As crianças não apenas desfrutam de que as crianças criem e explorem um mundo
brincadeiras, mas também se beneficiam dela que podem dominar, conquistando seus medos
de muitas maneiras, assim, a importância do enquanto exercem papéis adultos, às vezes em
brincar. Abaixo estão explicações baseadas em conjunto com outras crianças ou cuidadores
pesquisas sobre a importância do jogo e como adultos. O jogo ajudará as crianças a se
incorporar o jogo na sala de aula da primeira tornarem solucionadoras de problemas auto
infância. O brincar pode ser um termo vago no eficientes, porque durante as brincadeiras, as
mundo educacional porque sua definição não é crianças criam e resolvem seus próprios
clara, especialmente quando se coloca no problemas. Quando uma criança é solicitada a
contexto de uma sala de aula. A brincadeira resolver um problema acadêmico ou da vida
pode ser definida como qualquer coisa que real, ela poderá usar as habilidades que pratica
uma criança faça dentro do contexto social e, durante o jogo para encontrar uma solução.
às vezes, é definida como apenas tempo livre. O evidente auxílio que o brincar proporciona
Existem definições confusas e conflitantes, mas às crianças, no que tange desenvolver novas
existem duas formas seguras de brincar no competências que levam a uma maior
contexto da educação, jogo e brincadeiras confiança e à resiliência de que precisam para
guiadas ou estruturadas. Grande parte da enfrentar os desafios futuros, contribui para o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento global da criança. Por meio desenvolvimento. Em seguida, cria


de sua prática explora-se a criatividade, diferenciação para os alunos. Isso ocorre
habilidades físicas e cognitivas são refinadas e porque o jogo é determinado pelos alunos. Os
fortalecidas. Usar o brincar como uma alunos decidem o que querem aprender ou
ferramenta para ensinar em sala de aula na como aprenderão por meio do jogo. Uma
primeira infância trará uma abordagem maneira de garantir que as atividades de
holística ao conteúdo e ajudará a desenvolver educação sejam adequadas ao
cada parte de cada criança. Permite que as desenvolvimento e com conteúdo rico é por
crianças usem sua criatividade enquanto meio do desenvolvimento de um currículo que
desenvolvem sua imaginação, destreza e força se baseia nas brincadeiras das crianças. O
física, cognitiva e emocional. Brincar é brincar tem um impacto positivo nos alunos em
importante para o desenvolvimento saudável seu desenvolvimento, portanto, deve ser uma
do cérebro atuando como um elemento grande parte do currículo nas escolas. Quando
essencial nos programas para a primeira as crianças são capazes de selecionar o que
infância, pois proporciona às crianças a aprendem, elas estarão mais engajadas e
oportunidade de expressar suas ideias e capazes de obter as informações.
sentimentos, simbolizar e testar seus [...]No brinquedo, a criança sempre se
conhecimentos sobre o mundo e adquirir apoio comporta além do comportamento habitual de
efetivo aprendizagem. sua idade, além do seu comportamento diário;
Por meio do brincar, as crianças podem no brinquedo é como se ela fosse maior do que
sintetizar e internalizar as informações que ela é na realidade. Como no foco de uma lente
aprenderam. Depois de ensinar uma lição, de aumento, o brinquedo contém todas as
deixar as crianças brincarem irá ajudá-las a tendências do desenvolvimento sob forma
colocar as informações que acabaram de condensada, sendo ele mesmo uma grande
aprender em situações imaginárias do "mundo fonte de desenvolvimento (VYGOTSKY, 2007,
real". Se o plano não puder ser usado nas aulas p.134).
para ensinar o conteúdo, é importante usá-lo O brincar permite que as crianças pequenas
depois que o conteúdo for ensinado para selecionem seu aprendizado, especialmente se
ajudar as crianças a internalizar o que isso facilitar a obtenção de uma ampla gama de
acabaram de aprender. metas de desenvolvimento; portanto, deve ser
As crianças integram tudo o que sabem em um componente vital no currículo de educação
todos os domínios quando jogam, tudo torna- infantil. As experiências de brincadeira das
se valioso para crianças pequenas, crianças os ajudam a aprender conceitos e
principalmente como meio de aprendizado. habilidades acadêmicas. Um programa efetivo
A fim de implementar o jogo de forma de estudos por meio do lúdico oferece às
estruturada e eficaz, ele deve ter um lugar no crianças o ambiente apropriado para que elas
currículo. Há muitos benefícios na construção se tornem membros produtivos de uma
do currículo em jogo. Em primeiro lugar, sociedade democrática. As crianças podem
garante que o conteúdo seja adequado ao representar papéis em diferentes posições

525
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

políticas. As crianças podem ter eleições e não uma página de um livro de exercícios que
oportunidades de voto, também visam ensinar arbitrariamente, decide focalizar a leitura ou a
as crianças sobre interação social, cultura e vida escrita (MOYLES, 2006, p 137).
doméstica. As crianças poderiam ter um lugar O jogo é suficientemente importante para as
para brincar de casinha e assumir papéis Nações Unidas, que é reconhecido como um
familiares. Existem muitas ideias diferentes direito específico para todas as crianças. As
para o currículo. crianças precisam da liberdade para explorar e
brincar. O brincar também contribui para o
JOGOS E BRINCADEIRAS E O desenvolvimento do cérebro. Evidências da
neurociência mostram que os primeiros anos
DESENVOLVIMENTO DA do desenvolvimento de uma criança (do
LINGUAGEM nascimento aos seis anos) estabeleceram a
O desenvolvimento da linguagem é outro base para a aprendizagem, o comportamento e
elemento que percebemos aqui, pois, a a saúde ao longo da vida. Os caminhos neurais
linguagem se desenvolve por meio de de uma criança são influenciados em seu
contextos culturais e sociais. Muitos desenvolvimento por meio da exploração,
desenvolvimentos na linguagem ocorrem no pensamento, resolução de problemas e
contexto social. Portanto, quando as crianças expressão de linguagem que ocorrem durante
brincam juntas, elas estão praticando suas episódios de brincadeira. O jogo nutre todos os
habilidades linguísticas e se desenvolvendo aspectos do desenvolvimento infantil – forma o
mais. O currículo de idiomas e alfabetização alicerce das habilidades intelectuais, sociais,
pode ser integrado em todas as áreas. Se físicas e emocionais necessárias para o sucesso
houver uma abordagem baseada em na escola e na vida. O brincar abre o caminho
investigação para o ensino de ciências, a para o aprendizado.
brincadeira também será incorporada por meio A aprendizagem ocorre quando as crianças
de uma abordagem baseada na investigação, as brincam com blocos, pintam uma imagem ou
crianças podem explorar e brincar para brincam de faz de conta. Durante o brincar, as
encontrar as respostas para suas próprias crianças tentam coisas novas, resolvem
perguntas sobre esse mundo natural. Permitir problemas, inventam, criam, testam ideias e
que as crianças usem materiais no ambiente exploram. As crianças precisam de brincadeiras
para experimentá-las e jogá-las ajudará a não estruturadas e criativas; em outras
aprender sobre os conceitos matemáticos de palavras, as crianças precisam de tempo para
maneira natural. Além disso, a criação de aprender por meio de suas brincadeiras.
experiências como cozinhar, medir, construir, O brincar é um negócio sério para o
etc., em um ambiente de jogo, aprimora seu desenvolvimento de jovens em fase de
desenvolvimento matemático. desenvolvimento. Esse é um entendimento tão
Igualmente, no brincar relacionado ao importante. Uma abordagem deliberada e
letramento, é o evento do faz-de-conta que eficaz apoia o desenvolvimento cognitivo de
determina a natureza da resposta letrada, e crianças pequenas. Quando bem projetada,

526
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

essa abordagem explora os interesses em jogos. Aprendizagem baseada em


individuais das crianças. Atrai as suas brincadeiras também pode ser definida como
capacidades emergentes e responde ao seu crianças ativas e envolvidas em seu
sentido de investigação e exploração do mundo aprendizado. As crianças aprendem melhor por
à sua volta. Ele gera crianças altamente meio de experiências, o propósito da
motivadas que desfrutam de um ambiente no aprendizagem ativa é que ela motiva, estimula
qual os resultados de aprendizagem de um e apoia o desenvolvimento de habilidades,
currículo têm maior probabilidade de serem conceitos, aquisições de linguagem,
alcançadas. habilidades de comunicação e também oferece
O brincar não significa apenas recrear, é oportunidades para que as crianças
muito mais, caracterizando-se como uma das desenvolvam atitudes positivas e demonstrem
formas mais complexas que a criança tem de conscientização uso de aprendizado,
comunicar-se consigo mesma e com o mundo, habilidades e competências recentes e
ou seja, o desenvolvimento acontece através consolidem o aprendizado.
de trocas recíprocas que se estabelecem
durante toda sua vida. Assim, através do
brincar a criança pode desenvolver
capacidades importantes como a atenção, a
memória, a imitação, a imaginação, ainda
propiciando à criança o desenvolvimento de
áreas da personalidade como afetividade,
motricidade, inteligência, sociabilidade e
criatividade (OLIVEIRA, 2000, p. 67).
O jogo desenvolve o conhecimento de
conteúdo das crianças e oferece às crianças a
oportunidade de desenvolver habilidades
sociais, competências e disposição para
aprender. A aprendizagem baseada em
brincadeiras baseia-se em um modelo
vygotskiano de no qual o professor presta
atenção em elementos específicos da atividade
lúdica e fornece incentivo e retorno sobre a
aprendizagem das crianças. Quando as crianças
se envolvem em atividades reais e imaginárias,
o brincar pode ser um desafio no pensamento
das crianças. Para estender o processo de
aprendizagem, a intervenção sensível pode ser
fornecida com apoio de adultos, quando
necessário, durante a aprendizagem baseada

527
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existem vários benefícios da abordagem de aprendizagem lúdica no cenário dos anos
iniciais, incluindo as crianças que usam e aplicam seus conhecimentos, habilidades e
compreensão de maneiras diferentes e em diferentes contextos, e praticantes lúdicos usam
muitas abordagens diferentes para envolver as crianças em atividades que as ajudem a aprender
e a desenvolver disposições positivas para o aprendizado. Os praticantes podem e devem planejar
brincadeiras infantis, criando ambientes de aprendizado de alta qualidade e garantindo períodos
ininterruptos para as crianças.
O nível de brincadeiras infantis aumenta quando adultos brincam com elas. A variedade
de brincadeiras que as crianças praticam também aumenta quando os adultos se juntam. A união
é diferente do controle. O controle faz com que as crianças sigam uma agenda castradora e não
leve a tanto desenvolvimento cognitivo quanto quando os pais seguem o exemplo de seus filhos.
Brincar é a moeda das crianças. Existem várias maneiras pelas quais os educadores, pais e
responsáveis podem facilitar o aprendizado das crianças durante o brincar.
Os adultos podem modelar atitudes positivas em relação ao jogo, encorajando-o e
proporcionando um equilíbrio de brincadeiras internas e externas ao longo do ano. Quando os
adultos se juntam, devem guiar a forma, engajar-se e estendê-la, em vez de ditar ou dominar a
ação. É necessário um ambiente decidindo quais brinquedos, materiais e equipamentos serão
incluídos nesse ambiente. É importante oferecer uma variedade de materiais e experiências em
diferentes níveis de dificuldade. A escolha dos materiais é importante, porque fornece a
motivação para a exploração e descoberta das crianças. Ambas as experiências internas e
externas devem fornecer centros e espaços exploratórios. O ambiente de jogo deve permitir que
as crianças façam escolhas e explorem as possibilidades de jogo. O ambiente de jogo deve refletir
as experiências de vida diárias da criança.
Observe cuidadosamente quando as crianças começarem a usar os brinquedos, materiais
e equipamentos. A observação é um processo contínuo, fornecendo informações sobre os
interesses, habilidades e pontos fortes da criança e as oportunidades de aprendizagem e
desenvolvimento adicionais. A observação ajuda a identificar maneiras pelas quais os adultos
podem construir e guiar o aprendizado. Ouça, repita, amplie e faça perguntas no momento certo,
estenda a observação natural das crianças fornecendo a linguagem necessária para ajudar as
crianças a articular o que elas vêm acontecer. Os adultos podem promover brincadeiras e
oportunidades para descobertas expansivas; eles podem melhorar (ou facilitar) o brincar,
encorajando as crianças a trazer seus interesses e experiências para a brincadeira. Os adultos
podem fazer perguntas para expandir e melhorar o jogo. Auxiliar as crianças a reconhecerem os
conceitos que surgem ao lidar com o ambiente, fazer hipóteses, reconhecer semelhanças e
diferenças e resolver problemas. Fornecer conhecimento social, permitindo que as crianças
aprendam o conhecimento físico e lógico-matemático que as ajuda a entender o mundo ao seu
redor.
Brincadeiras de faz-de-conta, envolve a criança a interpretar ideias e emoções. As crianças
encenam histórias que contêm diferentes perspectivas diferentes. Embora alguns estudos
mostrem que esse tipo de brincadeira não aumenta o desenvolvimento infantil, outros

528
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

descobriram que ele tem um grande impacto no uso da linguagem das crianças e na percepção
das perspectivas dos outros. O faz de conta também pode ajudar na autorregulação de uma
criança nas áreas da civilidade, atraso na gratificação, empatia e redução da agressão. Também
pode melhorar as habilidades sociais, como empatia, resolução de problemas e comunicação.

529
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial curricular nacional para a educação infantil: formação pessoal e social.
Brasília: MEC/SEF, v.01 e 02.1998. 85p.

MALUF, Angela Cristina Munhoz. Atividades lúdicas para a educação infantil: conceitos,
orientações e práticas. 2 Ed. Petrópolis, RJ: vozes, 2009(a).

MOYLES, Janet R. A Excelência do Brincar. Porto Alegre: Artmed, 2006.

OLIVEIRA, Vera Barros de (org). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e


aprendizagem. 10ª ed. São Paulo: Ícone, 2006. Cap.4.

530
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O AMBIENTE ESCOLAR E O DOCENTE


Juliana Garcia Santos Pereira1

RESUMO: Esse artigo busca refletir a respeito do ambiente escolar e o docente. Tem como
objetivo discutir na sua fundamentação teórica as inovadoras práticas pedagógicas que procuram
aguçar o espírito criativo dos estudantes. Pretende-se também identificar os principais métodos
da escuta para serem desenvolvidos pelos professores/ educadores. Percebe-se que a criança
desde a Educação Infantil para a sua formação deve ser precedida de ações que promovam a sua
liberdade, fundamentalmente quando estão realizando atividade em grupo, no qual a interação
social deve ser estimulada pelos professores, dando continuidade até o ensino superior. Assim
para promover uma educação inclusiva e o protagonismo infantil que é mostrado como uma
condição relevante no comportamento da formação educacional das crianças que frequentam o
ensino de base das séries iniciais deve ter a frente profissionais capacitados para a condução da
organização das didáticas direcionada para este público infantil.

Palavras-Chave: Espírito Criativo; Formação; Práticas Pedagógicas.

1Professora na Prefeitura Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

531
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE SCHOOL ENVIRONMENT AND THE TEACHER


ABSTRACT: This article seeks to reflect on the school environment and the teacher. Its objective
is to discuss in its theoretical foundation the innovative pedagogical practices that seek to sharpen
the creative spirit of students. It is also intended to identify the main methods of listening to be
developed by teachers/educators. It is noticed that the child from Kindergarten to their formation
must be preceded by actions that promote their freedom, fundamentally when they are carrying
out group activities, in which social interaction must be stimulated by teachers, continuing until
higher education. . Thus, in order to promote inclusive education and child protagonism, which is
shown as a relevant condition in the behavior of the educational training of children who attend
basic education in the initial series, qualified professionals must be in front to conduct the
organization of didactics aimed at this audience. childish.

Keywords: Creative Spirit; Formation; Pedagogical practices.

532
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO processo pedagógico de complementar os


conhecimentos impostos aos alunos.
O primeiro passo rumo a uma transformação
na educação é procurar capacitar de forma
ENSINO APRENDIZAGEM E A
adequada os docentes no sentido de procurar
entender as diversidades de linguagens que os QUALIDADE NA EDUCAÇÃO
alunos desde a Educação Infantil têm a INFANTIL
capacidade de produzir. O primeiro passo para se alcançar um ensino
Observa se a partir da experiência aprendizado de qualidade dentro do ambiente
desenvolvida em diversas regiões do país vem escolar, principalmente nas séries iniciais onde
mostrar de forma acentuada que a criatividade o perfil dos alunos se apresenta como ávido
das crianças apresenta uma grandeza infinita e pelo novo, de conhecer os movimentos da
que precisa de profissionais da educação com sociedade e passar a opinar de forma
capacidade para ser explorada e produzir construtiva ou a construir pensamento critico
resultados capazes de provocar da realidade onde esta inserido, é fortalecer a
transformações na sua personalidade. relação e o vínculo que envolve os agentes
Outra observação importante é que apesar professores e os educandos, sem a presença do
de algumas experiências isoladas que está comportamento que possa ser preconceituoso
sendo praticada no Brasil em relação ao ou de discriminação com os discentes que
modelo de ensino infantil que está sendo apresentam dificuldades de aprendizado.
proposto no projeto de ensino a educação para Sobre esta situação de procurar mostrar a
crianças no país ainda vai demorar muito para inclusão a opinião de Barbosa (2008), é
alcançar este estágio de qualidade, bastante esclarecedora, ele comenta que;
principalmente quando se trata de ensino O dinamismo da inclusão social dentro do
público devido aos problemas estruturais espaço pedagógico deve sempre existir neste
sociais e culturais que fazem parte da formação processo de ensino. O professor como
educacional das crianças. educador não deve oferecer o produto
Como mostra Veiga (2001), visualizar a acabado, mas sim sempre colocar para os
criança na sua formação de base como sujeito discentes a oportunidade de vê a outra face ou
crítico e construtor de pensamento e ideias, opiniar de modo diferente do que está sendo
principalmente como elemento integrante da exposto para ele sem utilizar o comportamento
sociedade faz parte do papel do professor de discriminação contra aqueles que
educador dentro da realidade do ensino apresentam deficit intelectual (BARBOSA,
aprendizagem moderno. 2008, p. 39).
E um dos instrumentais mais indicados para É este comportamento que leva os alunos a
exercer esta proposta é lançar mão da terem a postura que leva estes indivíduos
interdisciplinariedade, onde as mais diversas sentirem como sujeitos construtores do
disciplinas tem como função dentro deste conhecimento e que está sendo construído
pela sociedade sem o comportamento

533
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

discriminatório ou a práticas de outras necessidade de mudanças no modelo de ensino


violências relacionadas com as adversidades. público praticado no país direcionados as
Outro papel importante dentro da escola crianças e que venha atender as propostas
relacionado com a inclusão é a do gestor colocada na Constituição e também na
pedagógico que deve levar para este espaço de legislação específica de defesa dos direitos
convívio e de aprendizado a gestão deste público que é o Estatuto da Criança e do
participartiva, inclusive com lideranças de Adolescente.
alunos de maneira que possa como estudante Mas o que aparece com mais consistência
levar opiniões em relação as práticas em todo este processo de transformação do
desenvolvidas e os modelos de aprendizado ensino é a necessidade de consolidar cada vez
que podem não estar sendo satisfatório. mais a conscientização dos nossos educadores,
de que para se ter uma educação com
A ESCOLA E O ENSINO DE qualidade é necessário a intervenção do poder
público para promover a consolidação de um
QUALIDADE processo que leve o fortalecimento da
A escola atualmente por meio dos administração escolar voltada para a gestão
professores educadores e também da sua democrática participativa e inclusiva.
direção deve mostrar que tem as reais E para alcançar esta posição de se constituir
condições de promover um aprendizado de instrumento do desenvolvimento protagonista
qualidade para todos sem qualquer é necessário que fortaleça as instituições
discriminação e que supere o ensino teórico escolares que fazem parte deste processo,
provocado pelas transformações tecnológicas. principalmente os conselhos de classes e as
Os professores precisam estar sempre se associações dos pais dos alunos e também os
reciclando para obter novos conhecimentos profissionais da pedagogia que tem a
para serem levados para dentro das salas de responsabilidade de conduzir este processo de
aula e que consiga transformar de forma transformação.
positiva esta realidade. Além destas instituições se torna de
Kinney (2009), é bastante relevante quando importância fundamental o papel decisivo dos
ressalta que; demais gestores escolares como inspetores,
Os profissionais educadores ao desenvolver supervisores e pedagógos que passam a ser
os seus planos de aula devem ser direcionada mais atuantes e participativos no processo de
para as condições que possibilitam entender as tomada de decisões dentro das escolas públicas
principais necessidades deste público infantil, no nosso pais.
compreender as suas formas de comunicação e Outra conclusão importante dentro do
a partir destas condições procurar alinhar a sua estudo investigativo é a relevância do papel dos
didática de acordo com as especificidades e diretores das escolas e a sua disposição em
capacidades de cada criança (p. 39). promover esta participação de todos os
Tem se observado que passou ser alvo de membros que estão envoltos da instituição,
intensos debates as condições que envolvem a

534
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

principalmente a comunidade em que a séries iniciais esta liberdade de criar e produzir


instituição escolar estar envolvida. trabalhos a partir da sua imaginação visual do
O dinamismo da inclusão social dentro do ambiente em que está inserido.
espaço pedagógico deve sempre existir neste O modelo da didática do ensino infantil que
processo de ensino. O professor como é realizado na atualidade nas escolas públicas
educador não deve oferecer o produto no Brasil direcionada ao público de crianças
acabado, mas sim sempre colocar para os exclui este processo de liberdade do
discentes a oportunidade de vê a outra face ou pensamento que leva ao comportamento da
opiniar de modo diferente do que está sendo criação de situações novas.
exposto para ele sem utilizar o comportamento Muito pelo contrário os alunos ficam sem
de discriminação contra aqueles que autonomia e liberdade para questionar sobre
apresentam deficit intelectual (BARBOSA, situações ou condições que aparecem no seu
2008, p. 23). ambiente de convivência. Outra forma de
Em contrapartida a comunidade escolar propocionar o protagonismo infantil a partir do
também deve cobrar esta participação e não modelo da didática da escuta é possibilitar as
ficar de forma passiva, favorecendo o crianças destas séries iniciais as condições que
comportamento autoritário da direção, possam interagir com outras pessoas inclusive
tomando medidas de cunho individualista. com os proprios pais que tem papel
Uma das possibilidades mais relevantes para fundamental na questão do desenvomento
se fundamentar o protagonismo infantil na comportamental.
educação básica é transformar a didática A discussão do termo protagonismo infantil
promovida pelas escolas e transformar o passa também pela transformação da didática
comportamento dos professores no sentido de na educação infantil a partir da educação
promover as condições que levam a autonomia continuada dos professores para que possam
dos alunos, principalmente aqueles que criar as condições de levar adiante métodos
apresentam dificuldades de aprendizado e mais eficaz em relação a formação escolar
comportamental. deste público das séries iniciais.
Para Edwards (1999), as práticas Pois os professores neste processo do
pedagógicas como o que emprega o método da protagonismo infantil passam a ter um papel de
escuta onde as crianças tem prioridade para fundamental importância nesta condição para
desenvolver de forma livre e expontânea as levar as crianças a terem um comportamento
suas atividades práticas e passam a questionar autônomo para poder criar situações e
os professores é um imporante instrumento realidades de ambientes onde estão inseridos.
para se chegar ao protagonismo infantil e para O professor deve ter a consciência que a
o enfrentamento dos comportamentos criança é dotada de capacidade de criar e
relacionados com a discriminação e os produzir situações novas desde que as suas
preconceitos dentro do ambiente das escolas. potencialidades sejam exploradas de forma
Desta forma o protagonismo infantil mostra adequada.
uma condição de proporcionar aos alunos das

535
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

E ainda o protagonismo infantil origina das OS MODELOS DE DIDÁTICA


situações em que a escola e os professores
Os modelos de didática que podem
oferecem as crianças de forma iguais a
funcionar com inclusão que promovem o
oportunidade de compartilhar os momentos
desenvolvimento do comportamento cognitivo
das atividades escolar com a sua familia que
das crianças na educação da sua formação
tem uma fundamental importância no
básica se referem a metodologia dos conteúdos
processo do ensino aprendizado.
escolares que empregam as formas lúdicas e
Uma questão importante nesta discussão do que tem importância fundamental na questão
importante papel dos professores no do desenvolvimento das potencialidades que
desenvolvimento do comportamento do levam as condições do surgimento do
protagonsimo infantil é procurar entender as
protagonismo infantil.
falas ou linguagens dos alunos e também as
Pois a ludicidade e as atividades práticas
suas principais potencialidades e fraquezas
desenvolvidas por equipes de alunos
para que possam serem exploradas.
colaboram para que possam desenvolver
Outra questão fundamental relacionada com comportamentos de interação social e
a participação dos professores neste contexto principalmente espaços para discussão sobre
de ensino de qualidade comprovada e inclusivo determinados temas.
se concentra nas oportunidades das crianças
As crianças numa situação de exclusão social
descobrirem novas realidades, estimular os
devido as dificuldades de relacionamentos
diálogos procurando estreitar os
comportamentais e de comunicação conforme
relacionamentos e assim tomar parte no
mostra Kinney (2009), se sentem parte
crescimento do comportamento destes alunos
integrante de todo o projeto escolar e também
das séries iniciais do ensino fundamental.
passam a sensassão de serem valorizadas pelos
E manter o reconhecimento dos direitos de membros de educadores e também pelas suas
cada criança, observado de forma particular as
familias.
suas especificidades como deficiências e
As crianças desta idade devem se sentir com
potencialidades de maneira que evidencie a
liberdade de pensamentos e de expressão para
expontaneidade destes individuos e
que possam interessar no seu aprendizado e
certamente são comportamentos que levam as
também na sua formação de personalidade
condiçoes do protagonismo infantil com a
independente das deficiências que possuem.
participação fundamental dos professores
Quando as escolas não praticam estas ações
educadores.
que promovem o protagonismo infantil neste
E nesta condição de melhor aproveitar as
público pode comprometer todos os resultados
potencialidades dos alunos das séries iniciais e
que são esperados das práticas didáticas dos
promover a sua inclusão social que a instituição
profissionais professores.
familiar tem uma grande importância no Este método da escuta proporciona a
sentido de compartilhar com a escola estes liberdade da fala e das expressões dos alunos,
momentos de interação. pois discentes desta idade quando estão na sua
formação escolar de base necessitam de

536
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

autonomia para que possa desenvolver o seu instrumento didático que permite os
comportamento cognitivo e assim serem profissionais educadores a descobrir novas
considerados como protagonistas. possibilidade de inclusão social e
A liberdade de pensar e de expressar por principalmente erradicar os altos índices de
meio destas figuras e das imagens são de evasão escolar devido ao sentimento de
importância fundamental para que os alunos exclusão que a grande maioria dos alunos
possam mostrar as suas potencialidades e por passam dentro das salas de aula.
outro lado as suas dificuldades de opinar diante A educação infantil deve ser observada
do grupo que está sendo realizada a atividade. como uma oportunidade de explorar os
Para Freire (2007), se a preparação dos talentos dos alunos e não reduzir a sua
professores não for adequada todo o processo capacidade de participação quando estão
do método da escuta pode apresentar diante de colegas e professores nas salas de
resultados completamente desfavorável em aula.
relação ao aprendizado e ao desenvolvimento Segundo defende B arbosa (2008), o
do comportamento crítico dos alunos. processo de escuta também oferece a
Os espaços escolares onde são realizadas as oportunidade dos alunos manifestar sobre os
práticas escolares também se torna de problemas de relações pessoais dentro do
fundamental importância para que possa ser ambiente familiar que pode estar
desenvolvido o protagonismo infantil nos comprometendo o seu rendimento escolar e a
alunos. partir desta situação a escola passa a ter a
Esta falta de espaços pode limitar a responsabilidade de transformar a situação da
capacidade dos alunos em desenvolver um criança e criar um comportamento em que ela
pensamento criativo das novas situações que possa desenvolver as suas competências e
aparecem nos espaços que possibilitam mais habilidades.
liberdade. As escolas e os profissionais educadores,
Também foi discutido pelo grupo que os principalmente numa visão de gestão
profissionais professores educadores devem democrática devem ter a responsabilidade
serem criativos nas suas didáticas como social de propor métodos pedagógicos que são
mostrou nas experiências das escolas mais direcionados ao desenvolvimento do
brasileira. comportamento cognitivo e também para que
Quando os alunos se defrontam com novos os alunos da educação infantil se sintam como
espaços e atividades que aguçam as suas protagonistas neste processo de formação
curiosidades o rendimento do aprendizado se básica.
torna altamente positivo. É desta forma que se contrói uma formação
É importante afirmar que todos os alunos básica de qualidade sem a preocupação da
desta idade escolar apresentam as suas alienação dos alunos, neste método
potencialidades e fraquezas que estão ocultas democrático da escuta as crianças tem as
e vai depender da capacidade dos docentes em possibilidades de serem criticas e capazes de se
relação a criatividade para que possa descobrir posicionar dentro do contexto social em que
estes comportamentos dos seus discentes. estão inseridos no futuro.
Para Senge (2005), este processo da
metodologia pedagógica do método de escuta
vem sendo amplamente recomendado como

537
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O essencial é despertar o processo educacional e o ambiente escolar pelas mais altas
qualidades de ensino, a fim de que todos busquem na educação métodos para desenvolver os
conhecimentos, as habilidades e as atitudes necessárias para participar de modo efetivo e
consciente do processo de democratização da educação.
O professor precisa ter uma percepção política mais global para poder ressignificar sua
ação, até porque não serão poucas as resistências que provavelmente encontrará na sua tentativa
de realizar uma prática transformadora. Tendo esta visão, compreenderá que não se trata apenas
de buscar “diferentes técnicas pedagógicas” onde alguns optariam por um tipo, outros optariam
por outros, exercendo livre poder de escolta.
Para promover a mudança de qualidade na prática docente, o processo de capacitação não
pode restringir-se a participação dos educadores em palestras, seminários e cursos, mas
fundamentalmente de significar seu envolvimento em estudos sistemáticos.
Pensamos que o momento atual exige uma organização e uma atuação que consigam
contribuir de maneira efetiva para o estabelecimento de uma política educacional mais justa e
adequada em todo o país. E é por meio do encontro — e muitas vezes confronto — de ideias que
surgem as reais necessidades, dificuldades e soluções para questões que tanto afetam a formação
do educador.

538
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BARBOSA, M. C. S. HORN, M. G. S. Projetos pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre:
Artmed, 2008.

FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo: relato de uma professora. Rio de


Janeiro: Paz e Terra, 2007.

KINNEY, L.; WHARTON, P. Tornando visível a aprendizagem das crianças. Porto Alegre:
Artmed, 2009.

SENGE, Peter. Escolas que aprendem: Um guia da Quinta disciplina para educadores, pais
e todos os que se interessam pela educação. Porto Alegre: Artmed, 2005.

539
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O CURRÍCULO NO CONTEXTO ESCOLAR


Catia Lucia Marques de Almeida 1

RESUMO: O artigo aborda a importância do currículo escolar na formação de cidadãos críticos e


atuantes, com fundamentação nas leis da área da educação vigentes, em documentos publicados
pelo Ministério da Educação que estruturam a educação e subsidiam o desenvolvimento de uma
educação de qualidade no Brasil e nas contribuições dos autores José Pacheco (2007), J. Gimeno
Sacristán (2000), entre outros.

Palavras-Chave: Currículo escolar; Educação; Cidadania.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de Município de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

540
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE CURRICULUM IN THE SCHOOL CONTEXT


ABSTRACT: The article discusses the importance of the school curriculum in the formation of
critical and active citizens, based on current education laws, on documents published by the
Ministry of Education that structure education and subsidize the development of quality
education in Brazil and in the contributions from authors José Pacheco (2007), J. Gimeno Sacristán
(2000), among others.

Keywords: School curriculum; Education; Citizenship.

541
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO obrigatória a partir dos seis anos de idade, com


o objetivo de possibilitar a formação básica do
É no currículo escolar que são idealizadas as cidadão.
concepções de sociedade, de escola, de Para ter uma base curricular comum no país,
educação e de cidadãos que desejamos formar. foram criados os Parâmetros Curriculares
Ao pensar o currículo é preciso reflexão, Nacionais, que são constituídos de propostas
compromisso e ética, pois o mesmo pode pedagógicas para o ensino fundamental e
corroborar para perpetuar os interesses servem de referência para os educadores (as),
ideológicos e políticos da classe dominante ou com a intenção de subsidiar o desenvolvimento
possibilitar o exercício de uma cidadania plena de uma educação de qualidade no País. As
pela sociedade. propostas desse referencial são flexíveis, ou
Assim, objetiva-se apresentar a sua seja, podem e devem ser adaptadas as
importância para o desenvolvimento do necessidades e a realidade dos alunos e
trabalho pedagógico na formação dos alunos e professores de várias regiões da nação, pois os
fazer a análise do currículo de uma escola de PCN não são [...]
ensino fundamental, situada na região [...] um modelo curricular homogêneo e
periférica da cidade de São Paulo, visando impositivo, que se sobreporia à competência
evidenciar o modelo de currículo que se político-executiva dos Estados e Municípios, à
vivencia na unidade escolar, a partir das diversidade sociocultural das diferentes regiões
contribuições teóricas de José Pacheco (2007), do País ou à autonomia de professores e
J. Gimeno Sacristán (2000), entre outros equipes pedagógicas. (BRASIL, 1997, p. 13)
autores. Este documento vem atender a necessidade
Este artigo justifica-se por sua temática de se organizar o sistema educacional do país
relevante no campo educacional. para proporcionar a igualdade de direitos entre
os cidadãos e uma de suas funções é “garantir
ENSINO FUNDAMENTAL a coerência dos investimentos no sistema
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação educacional” (BRASIL, 1997, p. 13). A qualidade
Nacional (LDB 9394/1996) regulamenta o do ensino também depende de investimentos
sistema educacional do Brasil, fundamentada na formação e valorização do professor e na
no princípio do direito universal da educação disponibilidade de materiais didáticos,
para todos, estabelece em seu art. 32 a portanto, é [...]
obrigatoriedade do ensino gratuito na escola [...] papel do Estado democrático investir na
pública com duração de oito anos, com o escola, para que ela prepare e instrumentalize
objetivo de formar para a cidadania. (BRASIL, crianças e jovens para o processo democrático,
1996) forçando o acesso à educação de qualidade
A Lei nº 11. 274 de seis de fevereiro de 2006 para todos e às possibilidades de participação
modifica o art. 32 da LDB (9394/1996) social. (BRASIL, 1997, p. 27)
determinando que o ensino fundamental terá a
duração de nove anos, com matrícula

542
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os PCN estruturam o ensino fundamental própria e de transformar a sua realidade se


em ciclos para que seja possível desenvolver o desvencilhando de qualquer forma de
processo de ensino-aprendizagem de uma opressão. Segundo Sacristán (2000, p.15):
maneira menos fragmentada do conhecimento o currículo supõe a concretização dos fins
possibilitando a apropriação dos saberes mais sociais e culturais, de socialização, que se
complexos, “o primeiro ciclo se refere às atribui à educação escolarizada [...] é uma
primeira e segunda séries; o segundo ciclo, à práxis antes que um objeto estático emanado
terceira e à quarta séries; e assim de um modelo coerente de pensar a educação
subsequentemente para as outras quatro ou as aprendizagens necessárias das crianças e
séries”. (BRASIL, 1997, p. 43). Os PCN abrangem dos jovens, que tampouco se esgota na parte
várias áreas, tais como: Língua Portuguesa, explícita do projeto de socialização cultural nas
Matemática, Ciências Naturais, História, escolas.
Geografia, Arte e Educação Física e também por Desse modo, o currículo não se constitui
um conjunto de documentos intitulados temas apenas de um documento que propõe
transversais que versam sobre diversos conteúdos a serem ministrados no ambiente
assuntos transitando por diferentes áreas do escolar, pois é durante a prática pedagógica
conhecimento nos campos da Ética, Meio que o currículo se desenvolve, é no cotidiano
Ambiente e Saúde, Pluralidade Cultural e escolar que vai se formando este ou aquele tipo
Orientação Sexual. de sujeito. Portanto, além dos muros da escola
Os objetivos gerais para o ensino também há um currículo que pretende moldar
fundamental propostos nos PCN visam formar o sujeito para que atenda as expectativas da
para cidadania proporcionando o sociedade na qual está inserido e uma das
desenvolvimento integral do educando em funções da escola é possibilitar que os alunos
suas “capacidades afetiva, física, cognitiva, desenvolvam o senso crítico para que não se
ética, estética, de inter-relação pessoal e de tornem meros reprodutores de processos
inserção social” (BRASIL, 1997, p. 69). E ainda, sociais que perpetuam as desigualdades e o
cuidar para que o educando se perceba como individualismo, mas sim protagonistas de suas
um sujeito sócio-histórico e transformador do próprias vidas tornando-se cidadãos
meio social, se aproprie de hábitos saudáveis conscientes e atuantes.
em relação a sua própria saúde e do coletivo e A partir da importância de estudar currículo,
possa utilizar as diferentes linguagens para realizei uma visita técnica em uma Escola de
tornar-se um sujeito proativo. Ensino Fundamental, localizada na cidade de
São Paulo, situada na zona leste de São Paulo e
CURRÍCULO ESCOLAR a análise desta observação segue apresentada.
O currículo escolar é importante porque é
por meio dele que a sociedade perpetuará os CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA
interesses ideológicos e políticos da classe A Escola de Ensino Fundamental faz parte da
dominante ou terá a possibilidade de exercer a Secretaria Municipal de São Paulo , localizada
sua cidadania plenamente, de pensar por si na zona leste

543
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A escola tem em seus arredores vários A organização dos planos de ensino tendo
comércios e residências, em sua maioria os em consideração as orientações curriculares, as
alunos são provenientes dos bairros próximos expectativas de aprendizagem e as
como: Jardim São Gonçalo, Jardim Ricardo, necessidades educacionais da comunidade.
Jardim da Conquista e Iguatemi. A busca em atender a necessidade de
A escola é de alvenaria e possui um elevador, melhoria na qualidade das relações que se
três andares onde estão distribuídas dezesseis estabelecem na escola com vistas a torná-la um
salas, uma biblioteca, uma sala de informática, ambiente de convivência produtiva entre
um pátio coberto e as salas da administração. diferentes.
Na área externa tem uma quadra coberta e A preocupação da escola em valorizar os
uma quadra descoberta e um parque infantil. espaços de participação existentes na escola e
A escola é tem grande porte. O quadro de a criação de outros espaços de modo a garantir
funcionários é composto basicamente por 49 que a escola se aproxime cada vez mais das
pessoas, desde auxiliares de serviços escolares necessidades da comunidade e promova a
até cargos na direção. Tem diversos materiais constituição de sujeitos coletivos.
didáticos como, televisão, computadores, O desenvolvimento de um projeto de auto-
jogos, aparelho de DVD e caixa de som. avaliação institucional com o intuito de
descobrir mecanismos que permitam
ANÁLISE DA PROPOSTA aproveitar os resultados das avaliações
externas para aperfeiçoar o trabalho da
CURRICULAR unidade, melhorar as aprendizagens dos alunos
A visita técnica realizada por mim em uma e criar um instrumento de diálogo que
escola de Ensino Fundamental contemplou a contribua para o reforço da autonomia da
análise da proposta curricular da escola, escola.
destacando-se: E por fim, o desenvolvimento de vários
A concepção de educação como um projetos, tais como: festivais de leitura,
processo interno que depende do indivíduo e olimpíadas de matemática, dia da descoberta,
que resulta das interações sociais e das ações rodas de conversa, jornal da escola, festivais de
fundamentadas na ideia de que educar é criar contação de histórias, olimpíadas de
condições para que a criança se assuma como astronomia, projeto de poesia, jogos
sujeito da sua própria aprendizagem, interclasses, projeto nas ondas do rádio,
proporcionando às crianças condições de projeto de artes cênicas, projeto mexa-se,
aprendizagem que permitam a sua inclusão na projeto de musicalização, show de talentos,
sociedade. projeto ação cidadã que incentiva ações
A proposta de proporcionar as realizadas pelos alunos para melhoria do
aprendizagens necessárias para o cotidiano escolar. Todos projetos são
desenvolvimento dos alunos com vistas a realizados com a participação dos alunos e
equidade social. ocorrem durante o ano letivo, às vezes
simultaneamente.

544
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A partir dos aspectos elencados acima, Portanto, é no dia-a-dia que o currículo


podemos perceber que o currículo da EMEF constitui-se, é no processo de implementação
está baseado no currículo crítico que questiona desse referencial que baliza a prática
não só o que ensinar, mas também o porquê pedagógica que se forma o sujeito e muitas
ensinar isso ou aquilo, buscando propiciar vezes neste processo o resultado nem sempre
aprendizagens significativas para formar o é o esperado, o que foi planejado não é
cidadão crítico que poderá livrar-se da executado e o discurso não condiz com a
opressão da classe dominante e romper com o realidade.
ciclo de perpetuação das desigualdades sociais. Ao analisar a proposta pedagógica e a partir
Dentre os aspectos apresentados na das entrevistas, que serão apresentadas neste
proposta curricular desta escola a auto- trabalho, constatei que está escola consegue
avaliação institucional é um destaque, pois ao implementar várias de suas propostas, mas que
perceber que os sistemas de avaliações ainda tem uma grande dificuldade em manter
externos levam em conta os resultados e não o uma relação com a família e de lidar com a
processo singular de cada escola, a instituição indisciplina dos alunos.
se propôs a se autoavaliar e é por meio da
reflexão que se faz sobre o processo de ensino- ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
aprendizagem que é possível desenvolver
A seguir serão apresentados os resultados
novas práticas e sanar não apenas, as
obtidos na entrevista feita com os funcionários
dificuldades de aprendizagem, mas também as
e alunos da EMEF.
dificuldades de ensino, “os professores estão
Quando questionados sobre “a importância
mais precisados de interrogações que de
desta escola para você”, os entrevistados
certezas” (PACHECO, 2007, p. 100). Outro
indicaram três aspectos relevantes: o
aspecto interessante são os projetos
aprendizado, o desenvolvimento da formação
desenvolvidos que proporcionam a integração
profissional e a família que a comunidade
e a formação do sujeito autônomo,
escolar forma. Em minha visita pude perceber
participativo e crítico.
que existe toda uma organização para que
Desde um enfoque processual ou prático, o
ocorra o interesse dos alunos no aprendizado e
currículo é um objeto que se constrói no
também a forma carinhosa que os profissionais
processo de configuração, implantação,
têm entre si e com os alunos, as paredes são
concretização e expressão de determinadas
repletas de fotografias dos eventos que
práticas pedagógicas e em sua própria
ocorrem na escola e cartazes que convidam os
avaliação, como resultado das diversas
alunos a participar dos projetos desenvolvidos
intervenções que nele se operam. Seu valor
pela instituição.
real para os alunos, que aprendem seus
Ao perguntar “quais as principais
conteúdos, depende desses processos de
dificuldades desta escola” os entrevistados
transformação aos quais se vê submetido.
apontaram a indisciplina e a falta de um
(SACRISTÁN, 2000, p. 101)
contato mais próximo com a família. Durante a
visita pude ver que a escola se preocupa em

545
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

superar essa dificuldade conversando e microssociedade e os sujeitos que a frequenta


orientando os alunos e relembrando-os sobre devem ter seus direitos respeitados, isso inclui
os combinados estabelecidos no início das poder dialogar sobre os tópicos que envolvem
aulas. a construção do conhecimento e o bem-estar
Ao questionar sobre “o que tem de melhor da comunidade escolar, pois é neste momento
nesta escola” os entrevistados falaram sobre a que o sujeito está desenvolvendo suas
valorização profissional, os projetos concepções e, é a partir delas que se forma a
desenvolvidos e a refeição oferecida para os sociedade atual e se formará a sociedade de
alunos. Na visita notei que existe um respeito amanhã. Então, acredito que a escola deve
entre os profissionais das diversas áreas que fazer uma ponte entre a sua proposta
atuam na escola, tem essa valorização do educacional e a vida além dos muros da escola.
profissional desde os cargos da limpeza até a Compreende-se que o currículo escolar
direção. pensado muitas vezes não é efetivamente
Quando perguntado: “O que você mudaria implantado, é um discurso que não acontece
nesta escola” os participantes falaram sobre a no currículo vivido, por várias dificuldades que
indisciplina e o estabelecimento de um contato se apresentam durante o processo de ensino-
mais próximo com a família. Assim, percebe-se aprendizagem na instituição escolar.
que ocorre uma dificuldade em estabelecer Portanto, cabe a todos nós que fazemos a
limites dentro do espaço escolar. educação, buscar soluções para que o discurso
Os entrevistados ao serem questionados do currículo pensado se aproxime cada vez
sobre “como é a relação escola-família”, mais do contexto singular de cada instituição e
explicaram que é uma relação complicada que possa ser efetivamente desenvolvido.
está sendo construída aos poucos, a família
participa das reuniões e dos eventos
desenvolvidos pela escola e existe uma
preocupação por parte da escola em se
aproximar dos alunos e dos pais.
Ao estudar currículo percebe-se o papel da
escola como formadora de uma sociedade mais
justa e igualitária, pois é por meio de suas
propostas pedagógicas e de sua efetiva
aplicação que o sujeito poderá usufruir de seus
direitos como cidadão e se conscientizar de
seus deveres.
Formar para a cidadania como vários
documentos da área da educação e leis pregam
requer uma prática pedagógica na cidadania
porque a escola não é um ambiente isolado da
sociedade, a escola é como uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O currículo se desenvolve a partir da prática pedagógica e é no cotidiano escolar que se
forma este ou aquele tipo de sujeito.
É preciso possibilitar que os alunos sejam protagonistas de seu processo de aprendizagem,
expressando suas ideias, pensamentos e opiniões, considerando seus saberes e o território no
qual está inserido.
A partir daí, propor vivências de acordo com as necessidades e interesses dos alunos,
formando cidadãos conscientes e atuantes. Assim, na constituição do currículo há que se
questionar não só o que ensinar, mas também o porquê ensinar isso ou aquilo, buscando
propiciar aprendizagens significativas para formar o cidadão crítico que poderá livrar-se da
opressão da classe dominante e romper com a perpetuação das desigualdades sociais.
Nessa perspectiva, é essencial a autoavaliação institucional e a reflexão sobre o processo
de ensino e aprendizagem para desenvolver novas práticas e superar as dificuldades de
aprendizagem e de ensino.
Portanto, a escola como formadora de uma sociedade mais justa e igualitária precisa
buscar meios para que o currículo pensado se estabeleça no que de fato é vivido na unidade
escolar.

547
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Política


nacional de educação infantil. Brasília, DF: MEC/SEF/COEDI, 1994.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.


Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Dispõe sobre as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Brasília, DF: MEC, 1996.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:


introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Lei n. 11.274, 6 fev. 2006. Altera a redação dos art. 29, 30, 32 e 87 da Lei n. 9.394, de
20 dez. 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, dispondo sobre a
duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6
(seis) anos de idade. Diário Oficial da União. Brasília, 7 fev. 2006.

DESPREBITERIS, Léa; TAVARES, Marialva Rossi. Diversificar é preciso – instrumentos e


técnicas de avaliação de aprendizagem. São Paulo: Senac, 2009.

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao


pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 1980.

FREIRE, Paulo. A educação na Cidade. São Paulo: Cortez, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes Necessários à Prática Educativa. 8. ed.


Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

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HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de


trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5ªed .Porto Alegre: Artmed, 1998.

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PACHECO, José. Fazer a ponte. In: OLIVEIRA, Inês Barbosa de. (org). Alternativas
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PARO, Vitor Henrique. Administração Escolar: Introdução Crítica. 11ª ed. São Paulo: Cortez,
2002.

548
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RIZZO, Gilda. Creche: organização, currículo, montagem e funcionamento. 2. ed. Rio de


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RODRIGUES, Neidson. Educação: Da formação humana à construção do sujeito ético.


Educação & Sociedade, Campinas, ano XXII, n. 76, out. 2001. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
73302001000300013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Data de Acesso: 22/03/2022.

SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3ª ed. Porto Alegre:
Artmed, 2000.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O LÚDICO E O ENSINO DA MATEMÁTICA:


TEORIA X PRÁTICA
Andreia de Araújo Vieira 1

RESUMO: Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica que aborda o tema: A aprendizagem
matemática e o lúdico na educação infantil. Temos como objetivos para este estudo abordar os
principais aspectos sobre a aprendizagem matemática nos contextos da educação infantil além
da perspectiva lúdica de ensino dentro deste tema. Para o ensino da matemática nos primeiros
anos de escolarização, o caráter lúdico é extremamente importante, bem como a utilização de
diferentes materiais e estratégias para que a criança possa adquirir os conhecimentos necessários
para a construção das hipóteses matemáticas. As crianças quando acessam o ambiente escolar
devem ter acesso aos mais variados espaços de trocas e aprendizagens significativas, para que
elas possam viver ricas experiências e realizar descobertas. Os primeiros contatos das crianças
com o ensino da matemática serão o alicerce para as novas experiências e deverão considerar as
experiências que ela traz de seu ambiente familiar e os aspectos relacionados ao seu
desenvolvimento. Neste cenário buscamos destacar de que maneira o ensino de matemática
pode permear as práticas lúdicas na escola da infância e como as brincadeiras e jogos podem
trazer elementos e conhecimentos matemáticos.

Palavras-Chave: Ensino da Matemática; Aprendizagem; Educação Infantil; Lúdico.

1Professora de Educação Infantil.


Graduação; Licenciatura em Pedagogia pelo Centro Universitário São Camilo (2002); Especialista em Alfabetização
e Educação Matemática pela Faculdade Campo Limpo Paulista (2007).

550
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PLAYING AND MATHEMATICS TEACHING:


THEORY X PRACTICE
ABSTRACT: This article presents a literature review that addresses the topic: Mathematical
learning and play in early childhood education. We aim for this study to address the main aspects
of mathematical learning in the context of early childhood education in addition to the playful
perspective of teaching within this theme. For the teaching of mathematics in the first years of
schooling, the ludic character is extremely important, as well as the use of different materials and
strategies so that the child can acquire the necessary knowledge for the construction of
mathematical hypotheses. When children access the school environment, they must have access
to the most varied spaces for meaningful exchanges and learning, so that they can live rich
experiences and make discoveries. The children's first contacts with the teaching of mathematics
will be the foundation for new experiences and should consider the experiences that they bring
from their family environment and aspects related to their development. In this scenario, we seek
to highlight how the teaching of mathematics can permeate playful practices in childhood schools
and how games and games can bring mathematical elements and knowledge.

Keywords: Teaching Mathematics; Learning; Child education; Ludic.

551
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO didática que está sendo proposta para o


trabalho com os conteúdos matemáticos é
Este artigo apresenta uma revisão extremamente importante para o sucesso na
bibliográfica que aborda o tema: A aprendizagem e para a construção de
aprendizagem matemática e o lúdico na conhecimentos.
educação infantil. Temos como objetivos para
este estudo abordar os principais aspectos
LUDICIDADE E APRENDIZAGEM
sobre a aprendizagem matemática nos
contextos da educação infantil além da MATEMÁTICA
perspectiva lúdica de ensino dentro deste Lima (2015), afirma que as primeiras
tema. A utilização de jogos no ensino da concepções matemáticas de forma e número
Matemática pode proporcionar aos alunos o surgiram no tempo das cavernas. No período
desenvolvimento de diferentes habilidades, paleolítico, que se caracterizava pela presença
além da aprendizagem dos conteúdos de objetos de osso e de pedra lascada. Nesse
curriculares, propriamente dito. Para o ensino período o homem passa a avaliar a quantidade
da matemática nos primeiros anos de de alimentos, pessoas e animais o que
escolarização, o caráter lúdico é extremamente favoreceu o surgimento da definição de
importante, bem como a utilização de número, partindo da compreensão de
diferentes materiais e estratégias para que a diferenças e semelhanças, progredindo até a
criança possa adquirir os conhecimentos contagem de forma primitiva utilizando pedras,
necessários para a construção das hipóteses nós em cordas, ossos e dedos das mãos.
matemáticas. O ensino de matemática deve orientar e
As crianças quando acessam o ambiente contribuir para a formação do cidadão, uma
escolar devem ter acesso aos mais variados formação que seja significativa para inserção
espaços de trocas e aprendizagens no mundo do trabalho, das relações sociais,
significativas, para que elas possam viver ricas cultural que valoriza as crenças e o
experiências e realizar descobertas. Os conhecimento que se apresenta para a
primeiros contatos das crianças com o ensino educação matemática, sendo assim um desafio
da matemática serão o alicerce para as novas interessante na vida desses alunos, pois eles já
experiências e deverão considerar as vêm com uma bagagem de conhecimentos que
experiências que ela traz de seu ambiente não pode deixar de ser aproveitados.
familiar e os aspectos relacionados ao seu Um dos principais motivos para a utilização
desenvolvimento. dos jogos nas aulas de Matemática seria a
Para o desenvolvimento do trabalho com possibilidade de diminuir os bloqueios e
jogos na educação é necessário que o professor insegurança apresentados pelos alunos que
tenha objetivos claros em relação as atividades temem a Matemática e apresentam dificuldade
propostas e quanto ao que se pretende em compreendê-la. A ideia do jogo neste
alcançar com as suas intervenções. Neste contexto educacional não pode estar
sentido, as formas de avaliação, o diálogo e a relacionada somente aos aspectos de diversão

552
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ou distração, o jogo nesta esfera relaciona-se Lima (2015), destaca que a História da
ao caráter pedagógico da ação de jogar, Matemática é importante no processo de
permeado por objetivos educacionais, que ensino e aprendizagem, pois o entendimento
podemos destacar como exemplos: impor da criação de conceitos e de que forma eles
limite e regras; desenvolver a autoconfiança, a foram introduzidos na ciência, torna-se
concentração e o raciocínio lógico; estimular a fundamental para se estabelecer conexões
criatividade, a afetividade, a construção do entre as demais linguagens, possibilitando
conhecimento e a aprendizagem significativa. perceber que as teorias de hoje foram
[...] a matemática pode dar sua contribuição resultado de grandes desafios dos matemáticos
à formação do cidadão ao desenvolver de antigamente.
metodologias que enfatizem a construção de Borin (1996), enfatiza que um dos motivos
estratégias, a comprovação e justificativa de fundamentais para a utilização dos jogos nas
resultados, a criatividade, a iniciativa pessoal, o aulas de Matemática seria a possibilidade de
trabalho coletivo e a autonomia advinda da diminuir os bloqueios e insegurança que alguns
confiança na própria capacidade para enfrentar alunos apresentam em relação ao ensino da
desafios. (BRASIL, 1998, p.27). matemática. A ideia do jogo neste contexto
Vygotsky (1994), aponta que a educacional não pode estar relacionada
aprendizagem precede o desenvolvimento somente aos aspectos de diversão ou distração,
infantil. Nesse sentido, ele precisa entender o jogo nesta esfera relaciona-se ao caráter
que a criança vem aprendendo, e antes de pedagógico da ação de jogar, permeado por
desenvolver suas próprias habilidades e objetivos educacionais, que podemos destacar
habilidades, ela passou pelo processo de como exemplos: impor limite e regras;
acumulação de conhecimentos, durante o qual desenvolver a autoconfiança, a concentração e
irá desenvolver os conhecimentos que o raciocínio lógico; estimular a criatividade, a
aprendeu de acordo com os procedimentos. afetividade, a construção do conhecimento e a
Segundo o autor, crianças menores de três aprendizagem significativa.
anos não têm capacidade de separar a Piaget (1978), destaca que o mais
realidade da imaginação porque tudo se torna importante na estrutura de jogo são as regras
sério. Porém, na idade escolar, o que devem ser respeitadas por todos os
desenvolvimento torna-se muito importante, envolvidos e com a aprovação de todos,
pois estabelece uma relação entre significado e podendo sofrer alterações de acordo com a
percepção visual, ou seja, entre o pensamento necessidade dos envolvidos no jogo. No jogo de
e as situações reais. Para ele “as necessidades regras, a criança passa a pensar no aspecto
e incentivos das crianças não podem ser coletivo e social, pois deve adequar-se àquele
ignoradas porque elas os colocam conjunto de regras ali estabelecidas. Neste tipo
efetivamente em ação, permitindo-nos de jogo, o individualismo é abandonado, pois
compreender seu progresso de um estágio de caso as regras não sejam cumpridas, o jogo
desenvolvimento para outro"(p.52). perde o seu sentido e a sua finalidade.

553
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Grando (2000), afirma que a atividade de Neste sentido as situações que propiciam à
jogo, no contexto do processo ensino e criança uma reflexão e análise do seu próprio
aprendizagem da Matemática, é apresentada raciocínio, devem ser valorizadas e estimuladas
ao aluno como uma ação real e séria, que no processo educacional de ensino e de
envolve compromisso e responsabilidade. Os aprendizagem, desta forma, o jogo no ensino
jogos fazem parte do contexto social e cultural da Matemática passa a ser um instrumento
dos alunos e, neste sentido, evidencia-se a importante nesse processo de assimilação de
necessidade de respeitar e valorizar os jogos já ideias e conceitos.
de conhecimento do aluno, sejam os Segundo Ferreira (2014), desenvolver o
tradicionais, seja os que vão sendo conhecimento das crianças, partindo da
culturalmente criados, desta forma, o resolução de problemas, pode ajudar na ligação
professor deve atentar-se para aqueles entre o conhecimento que a criança traz de seu
conhecimentos que os alunos apresentam a ele meio social e cultural e a sua compreensão dos
e trazem para o contexto da sala de aula. conteúdos que estão previstos no currículo de
A utilização de jogos no ensino da matemática, auxiliando na compreensão e no
Matemática pode proporcionar aos alunos o desenvolvimento de habilidades, utilizando o
desenvolvimento de diferentes habilidades, lúdico como recurso pedagógico.
além da aprendizagem dos conteúdos De acordo com os Referenciais Curriculares
curriculares, propriamente dito. O desafio Nacionais para a Educação Infantil (1998) o
proposto nos jogos de regras, por exemplo, ensino de matemática deve orientar a
instiga o aluno a desenvolver estratégias para formação do cidadão, para que tenha uma
que possa chegar ao resultado esperado, sendo formação que seja significativa para inserção
necessário atentar-se e compreender as regras no mundo do trabalho das relações sociais,
ali propostas, para resolver o problema em cultural que valoriza as crenças e o
questão, tendo como objetivo a vitória, conhecimento que se apresenta para a
utilizando-se do raciocínio lógico e das educação matemática, sendo assim um desafio
questões referentes a resolução de problemas interessante na vida desses alunos, pois eles já
para isso. vêm com uma bagagem de conhecimentos que
Os fundamentos para o desenvolvimento não pode deixar de ser aproveitados.
matemático das crianças estabelecem-se nos Assim sendo, é necessário que a escola
primeiros anos. A aprendizagem matemática esteja atenta à importância do processo
constrói-se através da curiosidade e do imaginativo na constituição do pensamento
entusiasmo das crianças e cresce naturalmente abstrato, ou seja, é importante notar que a
a partir das suas experiências [...] A vivência de ação regida por regras - jogo - é determinada
experiências matemáticas adequadas desafia pelas ideias do indivíduo e não pelos objetos.
as crianças a explorarem ideias relacionadas Por isso sua capacidade de elaborar estratégias,
com padrões, formas, número e espaço duma previsões, exceções e análise de possibilidades
forma cada vez mais sofisticada (PIAGET, 1978, acerca da situação de jogo, perfaz um caminho
p.73). que leva à abstração. Portanto, a escola deve

554
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estar preocupada em propiciar situações de diferentes significados. O segundo significado


ensino que possibilitem aos seus alunos se refere às características do sistema de regras
percorrerem este caminho, valorizando a de cada jogo, no qual ele pode ser diferenciado
utilização de jogos nas atividades escolares de outros jogos. A terceira trata o jogo como
(GRANDO, 2000, p.23). um objeto para alcançá-lo, pois alguns jogos
Kishimoto (2003), destaca que os jogos estão não podem acontecer sem um objeto
ligados a sonhos, imaginação, ideias e específico.
símbolos. Esta é uma sugestão para educar as Na educação infantil, além do
crianças (e educadores infantis) com base em enriquecimento de conhecimentos, deve-se
jogos e linguagem artística. A concepção adotar estratégias educacionais, para que as
simbólica de pessoa de Kishimoto é crianças possam brincar estando em contato
estabelecida coletivamente, e sua capacidade com a natureza para que percebam o seu valor
de pensar está relacionada aos sonhos, à e que entendam que fazem parte dela, levando
imaginação e à capacidade de brincar com a em conta que muitas ficam em espaços
realidade, que é a base para a proposição de fechados sem nenhum contato com o meio
um novo "método de ensino infantil". externo, assim essas atividades propostas
Ainda com base no autor podemos afirmar deverão ter relevância sobre isso, mostrando
que os jogos têm origens e culturas diferentes que não terão poder sobre ela, mais sim que
e se espalham por meio de jogos e jogabilidade estarão conhecendo e aprendendo sobre a
diferentes. Tem a função de estabelecer e natureza e quais serão os efeitos da não
desenvolver a convivência entre as crianças por preservação da mesma, incentivando-as a
meio do estabelecimento de regras, padrões e cuidarem e a preservarem o mundo em que
significados, concretizando assim uma vivem. É por meio das brincadeiras que se pode
convivência mais social e democrática, pois também ensinar a linguagem, as regras e
“como materialização espontânea da cultura através do brinquedo, cria-se um espaço do
popular, os jogos tradicionais têm a capacidade qual a criança adquire imaginação, liberdade e
de tornar sustentável a cultura infantil A função toma iniciativas. (FERREIRA, 2014, p.67).
de desenvolvimento. “Desenvolver a forma de Ferreira (2014), destaca que a atividade
convivência social” (KISHIMOTO, 2003, p. 15). lúdica não pode estar associada apenas a uma
As pessoas podem compreender o jogo por diversão ou passatempo, o brincar é uma ação
meio de diferentes culturas, regras ou que está diretamente ligada à criança, sendo
circunstâncias ficcionais para distinguir o uma forma de auxílio nos processos de
significado dado ao jogo, de modo a definir a desenvolvimento e aprendizagem na infância,
ação de acordo com as regras e os objetos que tanto nas interações com os demais como de
caracterizam o jogo. Ao trazer esses maneira individual. A atividade lúdica pode ser
significados para o jogo de palavras, ela realizada de diferentes maneiras, por meio de
esclareceu cada significado e disse desde o jogos, brincadeiras, brinquedos, danças entre
primeiro aspecto. Portanto, dependendo da outras.
cultura e da época, o jogo de palavras pode ter

555
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Com base nas ideias de Ferreira (2014), é


papel da escola reconhecer a importância da
atividade lúdica, por meio de jogos e
brincadeiras, por exemplo, como um facilitador
da aprendizagem da criança, pois torna-se um
instrumento favorável no processo de ensino
aprendizagem, é por meio destas atividades
lúdicas a criança se comunica e se relaciona
com os seus pares, entendendo sobre o mundo
que a cerca e sobre qual a melhor maneira de
se inserir nele.
Para uma boa organização de aprendizagem
em torno de situações problemáticas que
sejam significativas para os alunos, é necessário
estabelecer ou desenvolver o conhecimento de
resolução de problemas; estabelecer relações
com comportamentos que descrevem o
trabalho em uma determinada área de
conhecimento; Compreender os costumes
culturais de usar certos conhecimentos e a
forma geral de contatar os indivíduos com os
outros. O ponto de partida é compreender os
jogos como práticas humanas e sociais
relacionadas ao conhecimento.

556
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de jogos no ensino da Matemática pode proporcionar aos alunos o
desenvolvimento de diferentes habilidades, além da aprendizagem dos conteúdos curriculares,
propriamente dito. O desafio proposto nos jogos de regras, por exemplo, instiga o aluno a
desenvolver estratégias para que possa chegar ao resultado esperado, sendo necessário atentar-
se e compreender as regras ali propostas, para resolver o problema em questão, tendo como
objetivo a vitória, utilizando-se do raciocínio lógico e das questões referentes a resolução de
problemas para isso.
A aprendizagem matemática é extremamente importante para o desenvolvimento das
crianças, pois desde muito pequena a criança tem contato com as situações que permeiam o seu
meio social, onde a matemática está presente em diferentes situações. A escola tem um papel
fundamental no sentido de auxiliar o aluno a construir os seus conhecimentos e levantar
hipóteses em relação aos conteúdos matemáticos, para que estes conteúdos sejam utilizados nas
diversas situações do cotidiano, dentro e fora da escola.
No contexto da Educação Infantil as atividades lúdicas devem ser frequentes no ensino da
matemática, promovendo um aprendizado mais eficaz e oportunizando as crianças experiências
de aprendizagem significativas, que contribuam para a aquisição de conhecimentos e para o
desenvolvimento de habilidades especificas desta área de conhecimento.
Com base nos autores pesquisados podemos afirmar que a abordagem construtivista
considera o brincar um elemento fundamental para o processo de desenvolvimento e
aprendizagem da criança, dado que esse seria uma forma da criança resolver problemas e
situações problemas que surgem a partir de sua interação com o meio. Com isso, o jogo é
valorizado no espaço educativo da criança na educação infantil.
Os jogos e brincadeiras abrangem grande parte do desenvolvimento da criança, quando
representam situações observadas no cotidiano, criando situações imaginárias confrontada com
o real e desenvolvendo suas capacidades e habilidades. Além de proporcionar uma aprendizagem
significativa as brincadeiras e os jogos, no contexto escolar, podem ser utilizados como
entretenimento e diversão e para o desenvolvimento de determinadas habilidades e
competências.

557
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BORIN, J. Jogos e resolução de problemas: uma estratégia para as aulas de matemática.
São Paulo: IME – USP, 1996.

BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a


educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação
Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998.

FERREIRA, Karina Fernandes; CONDOTTA, Rebeca Barragam; MONTEIRO, Ana Fátima B.


Silva. O Ensino da Matemática na Educação Infantil e a Ludicidade na abordagem do
processo. UNISANTA. Humanitas. Vol. 3. Nº 1. 2014.

GRANDO, R.C. O conhecimento Matemático e o uso de jogos na sala de aula. Campinas:


FE/UNICAMP. Tese de Doutorado, 2000.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O Jogo e a Educação Infantil. Florianópolis: Perspectiva. UFSC/


CED, NUP, n.22, p.105-128, 2003.

LIMA, Joaquim Neto Ferreira de. A importância da História da Matemática para as práticas
pedagógicas. Universidade Estadual da Paraíba. Centro de Ciências Exatas e Sociais
Aplicadas. 2015.

PIAGET, J. A Epistemologia Genética. 2 ed. Petrópolis: Vozes 1978.

SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Orientações


Curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didáticas para Educação
Infantil. SME. São Paulo: SME/DOT, 2007.

VYGOTSKY, L. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos


psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

558
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O PAPEL DO EDUCADOR CONTRA A


DISCRIMINAÇÃO RACIAL EM SALA DE AULA
Jaqueline dos Santos Barbosa1

RESUMO: O artigo abordado vai muito além da rotina de trabalho de um professor vai muito além
do que exigem as atribuições normais da função, um dos maiores problemas enfrentados
atualmente pelas escolas é a discriminação racial, herança do nosso trágico passado escravagista.
Este tipo de discriminação está enraizado dentro das famílias brasileiras o que ocasiona a rejeição
e bullying, ou seja, violência psicológica e até mesmo física contra alunos negros. Mediante a tais
situações lamentáveis ainda no século XXI, é evidente que se pergunte qual é o papel do professor
face a esse problema. Resta dizer que, o educador atua com vários cargos dentro de um ambiente
escolar e não só como o papel de professor, sejam eles: mediador de conflitos, grande gestor de
opiniões, e o, mas importante que é o exemplo de vida na conduta do aluno. É notável que ainda
hoje nos deparemos com tais situações que geram conflitos nas unidades escolares como, por
exemplo: uma criança branca que entra em uma escola pode estranhar a existência de um colega
negro sem necessariamente que isso caracterize preconceito, portanto é muito importante que
em primeiro momento o papel da família também é de suma importância, pois devemos
apresentar todos os tipos de etnias, deficiências, crenças e demais diferenças para nossas
crianças. E caso isso não seja tão eficaz, na maioria dos casos em que o professor intervém
rapidamente, os acontecimentos envolvendo estranheza de alunos a colegas negros não chegam
a virar problema, no mais ainda existe ocasiões em que uma criança branca se recusa firmemente
a sentar-se ao lado de um menino ou menina negra, negando-se a desenvolver qualquer tipo de
interação, e até dividir o banco do refeitório. Nos casos mais graves em que a criança apresenta
indícios de discriminação racial por outra criança, como deve o professor agir, os traumas que o
sentimento de rejeição e de exclusão podem causar em uma criança podem se tornar

1
Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

559
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

irreversíveis. Devemos defender que a cor de pele não é escolha e não poderá ser alterada por
vontade própria, sendo assim, analisando a situação, o educador precisa agir para resolver a
questão rapidamente e empregar a mediação de um problema que pode se propagar por toda a
classe e até ultrapassar os muros da escola.

Palavras-Chave: Racismo; Discriminação racial; Preconceito.

THE ROLE OF THE EDUCATOR AGAINST RACIAL DISCRIMINATION IN


THE CLASSROOM
ABSTRACT: The article addressed goes far beyond the work routine of a teacher, it goes far
beyond what the normal attributions of the function require, one of the biggest problems
currently faced by schools is racial discrimination, a legacy of our tragic slave past. This type of
discrimination is rooted within Brazilian families, which causes rejection and bullying, that is,
psychological and even physical violence against black students. In the face of such regrettable
situations still in the 21st century, it is evident that one asks what the role of the teacher in the
face of this problem is. It remains to be said that the educator works with several positions within
a school environment and not only as a teacher, whether they are: mediator of conflicts, great
manager of opinions, and the, but important, that is the example of life in the conduct of the
student. It is remarkable that, even today, we are faced with such situations that generate
conflicts in school units, such as, for example: a white child who enters a school may be surprised
by the existence of a black classmate without necessarily characterizing prejudice, so it is very
important that in At first, the role of the family is also of paramount importance, as we must
present all types of ethnicities, disabilities, beliefs and other differences to our children. And if
this is not so effective, in most cases where the teacher intervenes quickly, events involving
students' strangeness to black colleagues do not become a problem, and there are still occasions
when a white child firmly refuses to sit down. next to a black boy or girl, refusing to develop any
kind of interaction, and even sharing the cafeteria bench. In the most serious cases in which the
child shows signs of racial discrimination by another child, as the teacher should act, the traumas
that the feeling of rejection and exclusion can cause in a child can become irreversible. We must
defend that skin color is not a choice and cannot be changed of its own accord, so, analyzing the
situation, the educator needs to act to resolve the issue quickly and employ the mediation of a
problem that can spread throughout the class. and even beyond the walls of the school.

Keywords: Racism; Racial discrimination; Preconception.

560
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO nossa formação cultural, como nação se só nos


lembramos dos índios ou dos negros e uma
O grande marco da lei distingue entre especifica data.
grandes ilustres e nossa atual legislação da A conscientização das crianças de que nossas
constituição de 1988 ainda não e 100% posta raízes são indígenas, negras e brancas para que
em prática que todos somos iguais perante a lei nossas crianças, desde a Educação Infantil, de
sem distinção de raça, credo, opção sexual maneira que aceitem com naturalidade o fato
apesar de esta, ser mencionada todos os dias e de ter amigos de todas as etnias, pois deverá
em todos os ambientes de convivência comum ser um hábito que é o respeito sobre todos
não só na escola. A conduta do professor não independente de etnia, assim poderemos
pode em hipótese alguma ser tendenciosa. O contribuir significativamente para a diminuição
tratamento deve ser igual para todos, de um problema que paira sobre a nossa
chamando todos os alunos pelo nome, pois sociedade.
com isso já evitamos várias tipos de Portanto, o educador não pode ficar neutro
comportamentos. frente a uma injustiça cometida contra um
Acreditamos que o professor e a família aluno, o mesmo deve assumir um papel ativo
dividem as responsabilidades na formação do contra todo tipo de discriminação, exaltando a
pensamento da criança e de como ela se importância e a beleza de todas as etnias que
comporta diante das situações do seu juntas formam a nossa população.
cotidiano. Assim como as ações, gestos e falas A prática efetiva é que o educador deve
de todas as pessoas que fazem parte da vida da escolher seu material de apoio, e que o mesmo
criança têm grande influência na formação de seja empregado dia-a-dia, na pratica contra a
opinião, para o bem ou para o mal, ajudando a discriminação racial em sala de aula, o mesmo
construir sua visão de mundo, a do professor não deve esperar um aluno de etnia oprimida
em sala de aula e muito importante na vida do consiga sozinho reconhecer o bullying até
mesmo. porque devemos exterminar toda e qualquer
O combate ao preconceito, em suas pratica discriminatória, afinal, a principal
diferentes faces da vida do aluno, não trarão missão do educador é desenvolver pessoas
resultados efetivos se só acontecer uma vez ao para torna-las cidadãs de bem livres de
ano, em publicidade ou campanhas, no discriminação sejam elas de todos os tipos.
combate e a atuação do professor para
combater a discriminação deve ser
CONCEITO HISTÓRICO
permanente, de forma firme, de maneira que
É de conceito que desde 1966, 21 de março
todos possam ser alcançados, não
é marcado por ser o Dia Internacional pela
necessariamente a classe dos negros. Posto
Eliminação da Discriminação Racial e, apesar de
que a discriminação atinge também outros
ser uma data muito importante, nem sempre é
grupos étnicos, como os índios, o grupo
lembrada e, muito menos, respeitada, pois se
LGBTQIA+, Como conseguiremos conscientizar
tornou tão somente uma data e não
a criança de que a cultura nativa faz parte da
necessariamente o fim da discriminação racial,

561
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

segundo Lélia Gonzalez, constantemente distinção, exclusão, restrição ou preferência


atenta às pautas que importam, não deixou a por determinada raça, nacionalidade,
data passar em branco. ascendência, cor ou ética é considerado
O Brasil mesmo após 40 anos após, segue discriminação racial.
escondendo a população negra e, quando não No Brasil, muitas vezes esse termo é
é possível, articula-se para nos eliminar a todo substituído pela palavra “racismo” e
custo. relacionado somente às pessoas negras. Isso se
Mencionamos mas uma vez que em pleno deve à construção histórica e social da
século 21, pretenso símbolo de futuro, nosso discriminação contra africanos e descendentes,
país continua a deixar a população negra que se iniciou no século 16 com o transporte de
liderando trágicas estatísticas, como a de escravos oriundos de países africanos
mortes evitáveis, de desemprego e de comandado por portugueses. No entanto se
analfabetismo, entre outras. nos atentarmos aos detalhes a discriminação
As taxas de homicídios entre negros e vai muito além disso, ela ultrapassa barreiras
negras, por exemplo, crescem a cada ano por assim dizer, limites estes culturais
enquanto a taxa de não-negros diminui no socioeconômicos estruturais, que vão muito
mesmo recorte temporal, movimentos racistas além do almejado limite, todavia, esse termo
e conservadores parecem ganhar força nos também pode ser aplicado a outras etnias.
últimos tempos, colocando a atual democracia O Brasil é um país formado por uma rica
brasileira. diversidade cultural, segundo dados do
Sabemos que a luta não acabou mas está Instituto de Pesquisa e Estatística 2019, cerca
ganhando força, visibilidade mas ainda há que de 42% da população se domina branca, 46% se
se lutar e o grande marco começa na infância, declaram como parda, 9,4% como negros e
no respeito, na educação, ou seja, a despeito de 1,1% como indígenas ou asiáticos, muito
toda dor e retrocesso, haverá futuro e, se tudo embora o cenário ideal seja de convivência
sair como o esperado, será bem diferente do harmônica, a realidade não é bem assim.
presente que insiste em manter a Apesar da discriminação racional ser crime
discriminação racial e seus nefastos resultados. no Brasil, ainda há muitos casos de repúdio e
de violência contra expressões culturais e
O QUE É DISCRIMINAÇÃO religiosas diferentes, a cor da pele é outro
motivo para preconceito.
RACIAL
Amplamente discutido o tema vem se
colocando em pauta nas discussões nas redes
QUAIS SÃO AS FORMAS DE
sociais, grupos de universidades, essa forma de DISCRIMINAÇÃO RACIAL
discriminação está cada vez mais sendo A discriminação racial, vai muito além da
compreendida pelos brasileiros. manifestação de violência, aversão publica,
Entretanto a discriminação racial a conceito contra determinada raça ou grupo de pessoas,
é qualquer comportamento ou fala de a formas de discriminação vem até em palavras

562
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ou ações destituídas por pessoas, a este isolamento social em razão da etnia também é
determinado grupo ou pessoas, embora esses uma maneira de discriminação racial. Tratar
sejam os casos que costumam ser noticiados. alguém com base em estereótipos é uma
Por essa mesma razão muitas pessoas não conduta igualmente discriminatória.
enxergam atitudes suas ou de terceiras como
discriminatórias. O QUE DEIXAMOS PASSAR NO
Muitas vezes, algumas pessoas acreditam
veemente que se passar de um comentário DIA A DIA
infeliz ou de um comportamento rude, mas que Embora, quando nos deparamos com
não tem associação direta com a raça dos pessoas que possuem hábitos diferentes, e que
envolvidos, estará tudo bem, e que não vivem de maneira completamente distinta das
ofendeu determinado individuo. nossas, podemos ter um choque estrutural,
esse embasamento não deve de maneira
A lei considera discriminação de raça, ou nenhuma deixar interferir nas relações
racismo, os seguintes elementos: interpessoais, e muitas vezes deixamos certos
comportamentos passarem despercebidos.
• Recusar o fornecimento de bens ou Por fim, é essencial para dar fim a esse
serviços; sentimento, e esse magma, receio e a aversão
• Impedimento ou limitação a uma contra raças diferentes serem combatidas de
atividade econômica; pronto, com a compreensão de que, apesar das
• Recusar o aceso a locais públicos ou diferenças, temos muito em comum.
abertos ao público;
• Constituição de turmas ou a adoção de DESPREPARO DO PROFESSOR
medidas de organização interna nas
PARA ATUAR NO BOJO DAS
instituições de ensino usando critérios de raça;
• Condicionamento ou limitação de QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS
direitos; Muitos e muitos casos de racismo, dentro do
• Emissão de declarações que visam ambiente escolar vem sendo cada vez mais
ameaçar ou insultar um indivíduo ou um grupo cometidos, onde muitas vezes o profissional
por razões de raça. No mais, existem outras não consegue minimizar o problema por falta
formas de discriminação racial, um individuo de experiência, de qualificação e, até mesmo,
também pode ser descriminado em razão de por incapacidade em lidar com a diversidade.
suas crenças, expressões religiosas, idioma, O que pode vir a ocasionar uma violência
roupas, costumes e tradições. grave e gerar um trauma, o profissional a
Portanto, qualquer demonstração de respeito disso, sem saber como reagir em
aversão, seja por meio de palavras ou de ações, momentos em que exigem a sua intervenção
em relação à cultura particular de uma para que o problema não se torne uma
determinada população étnica ou de um único agressão mais séria, deve se portar de grandes
indivíduo é discriminação, incitar o ódio, conhecimentos nas lutas raciais empregar

563
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

práticas antirracismo e empregar o diálogo com necessidade de valorização e do respeito ao


sua classe, para que todos respeitem uns aos afrodescendente e a sua cultura dentro da
outros. escola, como assim defendermos uma causa
Segundo Munanga (2008, p. 11). : que não são só dos negros e são também parte
Essa falta de preparo que, devemos da sociedade em que vivemos hoje, parte de
considerar com reflexo do nosso mito de quem somos de onde viemos, e como
democracia racial compromete, sem dúvida o queremos nossa sociedade.
objetivo fundamental de nossa missão, no
processo de formação dos futuros cidadãos O PAPEL DA ESCOLA NA
responsáveis de amanhã.
A grande falta de oportunidade de se DESCONSTRUÇÃO DO
qualificar para os temas de relação étnico- PRECONCEITO
racial, ocasiona a falta de preparo ou por O exercício da cidadania, a escola tem o
preconceitos introjetados, alguns professores papel de formar o aluno, e a decorrer de sua
não sabem se aproveitar das situações evolução em continuar aprendendo ao longo
flagrantes de discriminação racial na escola. da vida. Esta é a orientação da Lei de Diretrizes
de Bases e das Diretrizes Curriculares Nacionais
O PAPEL DO EDUCADOR NA para o Ensino no Brasil. Para ampliação da
cidadania os objetivos principais que devem
DESONSTRUÇÃO DO RACISMO orientar o trabalho pedagógico, e por causa
O papel da unidade escolar sempre será disso, a escola tem que buscar o
buscar meios por meio de bibliografia sobre as desenvolvimento de competência e
questões étnicas e raciais, eleger o tema para habilidades que permitam compreender a
discussão em grupo de estudos e fomentar a sociedade que vivemos, e apresentar aos
criação de cursos para que os professores, alunos.
técnicos, alunos. Por fim, a sociedade deve ser entendida
Introduzir, na comunidade escolar como um como uma produção “dinâmica” dos seres
todo, possa se aprofundar nas causas e humanos, um processo permanente de
conseqüências da dispersão dos africanos pelo construção e reconstrução das relações dentro
mundo e abordar a História da África antes da do ambiente escolar.
escravidão. O Foco são as contribuições dos Segundo Coelho (2008, p. 103):
afro-descendentes para o desenvolvimento da Ainda que a perspectiva e os procedimentos
humanidade, eleger de conhecimentos na do professor possam ser considerados
questão racial é assunto de todos e deve ser tradicionais, e inegável existência de certa
conduzida para a reeducação das relações coerência entre o conceito adotado de
entre descendentes de africanos, de europeus cidadania e a prática pedagógica.
e de outros povos. Uma vez que seu conceito informa uma
Nos lembrando do passado podemos concepção de cidadão ativo, capaz de situar-se
reconhecer da existência do futuro, da diante de dificuldade, de formar opiniões

564
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

próprias, de ler o mundo, de distinguir o


“verdadeiro e o aparente”, sua prática
pedagógica não se encaminha para a
transmissão de regras e para o
condicionamento de comportamento, mais
para a construção de competências e a
habilidade que permitam ler o mundo e
interpretá-lo.
Digamos que há momentos pedagógicos
privilegiados para discutir a diversidade e
conscientizar alunos sobre sua importância e
riqueza, onde o objetivo de todos é dar sua
contribuição e ajudar nesse processo
transformador tão necessário e urgente.
Afinal, todos nós, independente de onde
viemos, de nossas crenças e de nossa
aparência, temos sentimentos e desejamos
viver com felicidade.
Por fim, esse anseio é, sem dúvidas,
compartilhado pelos seres humanos ao redor
do Brasil e do mundo, e justamente pela classe
dos educadores e corpo diretivo, na luta contra
o racismo e diferença estrutural que ainda se
faz presente em todos os aspectos onde já não
deveríamos permitir tais atos.

565
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos primórdios dos tempos o racismo ou a discriminação racial vem do século passado
carregado por muitas e muitas gerações dentro de um contexto histórico, mas poderíamos por
memorizar a situação e dizer que havia tais preconceitos, e que os mesmos ficaram somente em
livros.
No entanto, sabemos que da maneira que vamos avançando em práticas contra a
discriminação seja ela em qualquer local o ponto inicial é dentro das unidades escolares, tanto se
fala de discriminação que fora empregado uma grande prática que é o bullying dentro de um
ambiente escolar.
A classe da educação e unidades escolares tem empregado práticas e criado maneiras de
reprimir as práticas de discriminação dentro da escola, a resposta não será satisfatória, pois cada
vez mais tem esse tema tido como pauta nas redes sociais e mídias sociais, dizendo contra o
racismo formas igualitárias de trabalho não só no ambiente escolar e sim na sociedade. Ou seja,
ainda não é o suficiente para estes episódios acabarem, estamos muito longe de almejar o final
de um contexto tão segregado de sofrimento tendo seu fim tão próximo.
Portanto, não podemos simplesmente inserir maneiras de lembrar datas históricas um dia
contra a luta dos negros, pois se faz necessário 365 dias de atenção de luta, não só contra a pratica
do racismo, mas sim o agravamento da classe e o respeito que verdadeiramente se faz necessário,
a escola sempre foram e serão um cenário de aprendizado sejam elas de educação, das matérias
sociais, quanto de educação histórica, respeito, na compreensão dos que necessitam, o ambiente
escolar tem que ser mix de boas práticas sejam elas do corpo diretivo, dos professores e dos
alunos.
Poderíamos tão somente dizer que as falhas vêm somente dos educadores ou somente
das escolas, mas na prática não é isso que ocorre, alguns professores não tem autonomia para
inserir grades curriculares e praticas na pauta escolar, e por muitas vezes ficam presos aos ensino
ultrapassado. Assim fecham os olhos para algumas situações por não saberem como se portar
diante daquela determinada situação.
Resta ainda dizermos que os familiares também tem grande influencia, na educação mas
já sofreram contra praticas discriminatórias que acabam deixando de lado quando ocorre com
alguém de sua família, a discriminação enraizada, dentro de todo o ambiente escolar deve ser
exterminada, e para lutarmos contra isso se faz necessário a presença veemente de todos,
educadores diretores, profissionais da educação e principalmente os alunos, os vilões não são
somente o corpo escolar.
A inclusão de práticas contra a discriminação tem que ser respeitadas por todos e em todos
os locais, trabalhando incansavelmente contra teremos uma escola mais feliz e
consequentemente uma sociedade livre de preconceitos.

566
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BLOG VITTUDE. O que é discriminação racial. Disponivel em: https://www.vittude.com/blog/o-
que-e-discriminacao-racial-como-e-no-dia-a-dia/ Data de Acesso: 30/03/2022.

GONZALEZ, Lelia. A Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Disponivel em:


https://www.nossacausa.com/lelia-gonzalez-discriminacao-racial/ Data de Acesso: 30/03/2022.

SITE UNITAU. Discriminação Racial: Origem e Consequências do Preconceito: Disponivel


em: https://unitau.br/noticias/detalhes/4870/discriminacao-racial-origem-e-consequencias-do-
preconceito Data de Acesso: 30/03/2022.

SITE, Brasil Escola. O papel da escola contra a desconstrução do racismo. Disponivel em:
https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/o-papel-escola-na-desconstrucao-racismo-
preconceito.htm. Data de Acesso: 30/03/2022.

SITE. Diversidade e discriminação. Disponivel em: https://www.respeitarepreciso.org.br Data


de Acesso: 30/03/2022.

SITE. CERRT- Equidade Racial e de Gênero. Disponivel em: https://www.ceert.org.br Data de


Acesso: 30/03/2022.

567
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O PAPEL DO GESTOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Rosangela da Rocha Lucas de Lemos1

RESUMO: Um ensino de qualidade conta com uma gestão participativa que está sempre
envolvida com o dia a dia das crianças e dos educadores. A educação infantil demanda uma gestão
focada nas necessidades das crianças, pois são muito pequenas. Dessa forma, o trabalho
pedagógico junto com todas as áreas da escola permite o bom desenvolvimento do aprendizado
dessas crianças, pois esse aprendizado deve focar em atender as necessidades e as expectativas
dos pequenos. Esse artigo irá demonstrar os desafios da gestão escolar e o bom desenvolvimento
do trabalho pedagógico em equipe, porque é preciso que toda unidade escolar tenha o mesmo
objetivo, que é fazer a criança se sentir importante no ambiente em que está estimulando seu
conhecimento no processo educativo. Para isso estudou-se autores como: Libâneo (2008);
Campos (2013); Kramer (1999), entre outros.

Palavras-Chave: Educação; Gestão Escolar; Trabalho Pedagógico.

1Professor de Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia - PUC - SP.

568
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THE ROLE OF THE MANAGER IN CHILD EDUCATION


ABSTRACT: Quality education relies on participatory management that is always involved in the
daily lives of children and educators. Early childhood education demands management focused
on the needs of children, as they are very young. In this way, the pedagogical work together with
all areas of the school allows the good development of these children's learning, as this learning
must focus on meeting the needs and expectations of the little ones. This article will demonstrate
the challenges of school management and the good development of pedagogical teamwork,
because it is necessary that every school unit has the same objective, which is to make the child
feel important in the environment in which they are stimulating their knowledge in the
educational process. For this, authors such as: Libâneo (2008); Fields (2013); Kramer (1999),
among others.

Keywords: Education; School management; Pedagogical Work.

569
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO para que atuem com segurança em seu próprio


processo de mudança.
A gestão escolar pode parecer igual para
qualquer segmento da educação, pois conta
A GESTÃO DEMOCRÁTICA E A
com ações realizadas por meio dos princípios
ligados à organização escolar, mas quando EQUIPE ESCOLAR
pensamos em educação infantil, há ações que O professor é de suma importância na vida
precisam ser diferentes. das crianças na educação infantil, pois ele é o
Ao pensarmos em um projeto para a mediador do conhecimento e precisa fazer com
educação infantil, precisamos considerar que elas aprendam de forma simples, clara e
contextos diferentes dos que a criança já possui dinâmica. Sendo assim, precisa estar preparado
no ambiente familiar, pois além de aprender para esse desafio.
ela vai precisar de uma alimentação Buscar metodologias que estejam
diferenciada, espaço para descansar, adequadas para a faixa etária que irá atender é
profissionais experientes para o cuidado dessas sua responsabilidade, pois precisa aprender
crianças. sobre o desenvolvimento da criança, seu modo
Com isso, para se ter uma escola de de ver e sentir o mundo, porque assim irá dar a
qualidade é preciso que a gestão promova o ela a oportunidade de manifestar sua
uso dos recursos materiais e humanos de forma linguagem, expor suas ideias, seus
que sejam evitados os imprevistos, pois as sentimentos, sua criatividade, sua imaginação e
crianças não podem ter um longo tempo de sua relação social.
espera entre uma atividade e outra. A gestão não deve medir esforços para
Para que elas se desenvolvam conforme o investir na formação de sua equipe escolar,
esperado, a transmissão de conhecimentos e pois precisa construir um olhar mais sensível,
ensinamentos deve ser simples, ter clareza e reflexivo e autônomo para o trabalho com
ser o mais dinâmico possível. essas crianças, pois professores capacitados
A gestão precisa estar sempre atenta e conseguem desenvolver a aprendizagem com
investir na formação de uma equipe de mais segurança.
qualidade, tornando-a capaz de construir um O papel do gestor precisa ser planejado e
olhar sensível, reflexivo e autônomo. desenvolvido de forma integrada para o bom
A equipe docente deve ter condições de andamento do processo de ensino e
estar sempre estudando para obter domínio aprendizagem. É ele quem vai direcionar o
sobre os aspectos específicos do trabalho com trabalho dos professores, fazendo-os entender
crianças dessa faixa etária. o quão importante é o trabalho que realizam
Sabemos que toda gestão precisa estar com as crianças dessa faixa etária.
focada na formação continuada da equipe Buscar uma gestão democrática é uma luta
docente e de toda equipe escolar, pois é contínua nas escolas públicas e um dos
preciso trabalhar a autoestima de toda equipe princípios que estão presentes na Constituição
Federal.

570
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A escola precisa refletir sobre sua intenção caminho envolvendo professores, alunos,
educativa, precisa buscar autonomia e funcionários, pais e toda comunidade.
qualidade para a integração de todos os setores Assim ela se transforma em uma instância
de forma que possa resolver todos os educadora e o trabalho nessa instituição de
problemas que surgirem. ensino passa a ser um espaço coletivo de
De acordo com a LDBN (1996), no Artigo 2º: aprendizagem, transformando-a em uma
Os estabelecimentos de ensino terão a unidade escolar de concepção crítico-reflexiva.
incumbência de elaborar e executar sua ... a liberdade não deixa de ser liberdade
proposta pedagógica; administrar seu pessoal e pelas relações interpessoais e sociais que a
seus recursos materiais e financeiros; assegurar limitam, a autonomia por considerar a
o cumprimento dos dias letivos e horas-aula existência e a importância das diretrizes básicas
estabelecidas; articular-se com as famílias e a de um sistema nacional de educação. A
comunidade, criando processos de integração democracia sustenta-se em princípios de
da sociedade com a escola. Em seu Artigo 13º, justiça, igualdade, participação e autonomia.
prevê que os docentes incumbir-se-ão de (SAVIANI, 1999, p. 99).
participar da elaboração da proposta Ao ter autonomia para a construção do
pedagógica do estabelecimento de ensino. Plano Escolar, o professor será uma pessoa
(BRASIL, 1996, p. 12). mais crítica e reflexiva, pois atuará de forma
Assim, é preciso pensar na escola como um concreta nas relações sociais, éticas, políticas e
local de aperfeiçoamento contínuo de seu escolares.
Plano Escolar, dando destaque às práticas Ele não pode deixar de acreditar que essa
educativas, no plano pedagógico e construção se constitui da subjetividade dos
administrativo. agentes educacionais, pois todos os segmentos
Quando os professores participam da da escola estão relacionados com as práticas
solução dos problemas e das decisões, isso os cotidianas.
incentiva, porque sentem-se mais responsáveis A reestruturação das práticas pedagógicas é
pelo que acontece na unidade escolar. uma questão de sobrevivência no dia a dia da
Por mais iluminada que seja a tomada de unidade escolar, mesmo sendo complexa,
decisão individual, se não for socializada, ela ambígua e às vezes conflituosa precisa estar de
corre o risco de morrer com quem a descobriu acordo com o contexto histórico concreto no
ou ter dificuldade de ser implementada na qual a escola atua.
prática. A imposição das descobertas pessoais Esse contexto histórico não é atual, existem
dificilmente compromete o coletivo com sua pesquisas sobre toda organização da escola,
execução e com seus resultados. (RAMALHO, pois faziam parte de uma administração
2000, apud, NUNES, 2005, p. 13). marcada pela burocracia que a tornava
A escola precisa poder tomar decisões sobre parecida com as administrações empresariais,
seus objetivos e a forma de organização de seus esses estudos eram chamados de
espaços. Dessa forma, ela irá traçar seu próprio Administração e Organização Escolar e não
davam conta da parte Pedagógica da escola.

571
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Se faz necessário distinguir, no estudo dos se organiza e se estrutura tem um caráter


processos de organização e gestão, duas pedagógico, ou seja, depende de objetivos mais
concepções bastante diferenciadas em relação amplos sobre a relação da escola com a
à finalidade sociais e políticas da educação: a conservação ou transformação social
concepção científico-racional e a concepção (LIBÂNEO, 2008, p. 105).
socio-crítica (LIBÂNEO, 2008, p. 15). Quando se sentem parte da unidade escolar
Quando se refere a concepção científico- e responsáveis pelo bom resultado alcançado,
racional tem-se uma visão mais burocrática e professores, gestores, alunos, zeladores, pais e
técnica da escola. A escola precisa funcionar de comunidade acreditam estar aptos para aceitar
forma racional, planejada e organizada com o riscos, inovar e agir com coragem ao invés de
objetivo de alcançar melhores índices e ser reprimirem seus sentimentos e ideias, pois
eficaz. Esse tipo de instituição valoriza a estão atuando junto a uma gestão,
hierarquia de funções e quanto ao verdadeiramente, democrática.
planejamento há pouca participação das Uma equipe aprende junto, erra junto, toma
pessoas inseridas no ambiente escolar. Isso decisões junto, e isso fortalece o trabalho da
acontece ainda em algumas escolas brasileiras. gestão escolar. E, ao compartilharem o
Já na concepção socio-crítica, essa conhecimento e as ideias contribuem para o
organização é conhecida como aquela que crescimento da equipe escolar e para o sucesso
deseja a participação das pessoas envolvidas, da aprendizagem.
destacando suas ações e a importância das
interações sociais. DESAFIOS DA GESTÃO
Assim, tanto a gestão como as decisões que
precisam ser tomadas são decididas ESCOLAR
coletivamente e isso possibilita à equipe A gestão escolar enfrenta diversos desafios
escolar a discussão de projetos e ações, nas todos os dias para alcançar uma educação de
quais todos contribuem com o crescimento qualidade na Educação Infantil, como por
coletivo da unidade escolar. exemplo a qualidade das práticas educativas, a
Sendo assim, por meio dos estudos de metodologia desenvolvida e a formação
observação de autores e estudiosos a continuada dos professores.
concepção democrática-participativa baseia-se O planejamento pedagógico é uma
na relação entre direção e membros da ferramenta muito importante para o
unidade escolar na qual todos contribuem para desenvolvimento integral dos sujeitos
que se alcancem os objetivos escolares e cada envolvidos no processo.
um tem o dever de assumir sua parte no ...a Educação Infantil exige planejamento
desenvolvimento dos trabalhos. refletido por uma equipe e supervisionado por
As concepções de gestão escolar refletem uma coordenação atenta e que compreende a
diferentes posições políticas e concepções do essência em cada etapa do desenvolvimento
papel da escola e da formação humana na (ANTUNES, 2012, p.35).
sociedade. Portanto, o modo como uma escola

572
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Sendo assim, é preciso repensar o suficientes para que se promovam experiências


desenvolvimento infantil, para o qual a de aprendizagem inovadoras e satisfatórias.
formação do gestor e de sua equipe escolar é O gestor consegue promover no ambiente
de suma importância, pois não se consegue escolar a conscientização da família e da
desenvolver um trabalho em equipe, na qual os comunidade de forma que elas contribuam
profissionais envolvidos não entendem os positivamente nos processos de escolha das
fundamentos da apropriação do crianças.
conhecimento. Quando o olhar do outro se depara com a
Para Campos (2013), as práticas pedagógicas realidade vivida pela escola, mudanças
precisam: acontecem, propostas são negociadas e as
...valorizar a brincadeira, a iniciativa das crianças é que são mais beneficiadas, pois
crianças, os aspectos emocionais e afetivos, a todos se sentem pertencentes àquele espaço.
interação positiva entre adultos e crianças, o Dessa forma, as reuniões para estudos e
trabalho individual e em pequenos grupos. reflexões não podem acontecer somente para
(CAMPOS, 2013, p. 27). a discussão da parte burocrática da escola,
Campos (2013), afirma que essas ações precisa ser dinâmica e contar com a
valorizam os aspectos emocionais, cognitivos, participação de toda equipe escolar, de forma
físicos e sociais da criança. que todos atuem em prol da construção de
Sabe-se que o trabalho com as crianças é uma escola infantil de qualidade.
uma tarefa complexa, por isso é importante se
ter conhecimento, dedicação, criatividade e
disponibilidade para desenvolver um
aprendizado contínuo.
É relevante que as crianças tenham
momentos e ambientes diferenciados, nos
quais elas irão compartilhar experiências
culturais que fortalecerão seus laços com o
conhecimento.
As crianças precisam criar, construir e
desconstruir, precisam de espaços com areia,
água, terra, objetos variados, brinquedos,
livros, jornais... e também espaços cujo
objetivo é a experiência com a cultura, a arte e
a ciência (KRAMER, 1999, p. 3).
Seguindo esse pensamento, os gestores das
escolas infantis têm um papel muito
importante em relação ao desenvolvimento
das crianças, pois precisam deixar à disposição
delas espaços e materiais adequados e

573
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pontuou-se nesse estudo questões que são de suma importância para os gestores,
questões para que se priorize a melhoria da qualidade do ensino na Educação Infantil, pois estão
relacionadas à qualidade das práticas pedagógicas, às condições de trabalho nas instituições e à
formação continuada dos professores.
A meta do gestor é desenvolver junto à equipe e à comunidade escolar um trabalho
diferenciado, despertando um sentimento de comprometimento em todos os envolvidos no
processo educativo.
A qualidade do trabalho é comprovada quando as crianças se sentem motivadas e felizes
com o aprendizado, pois os conhecimentos adquiridos são visíveis para toda equipe escolar.
Sendo assim, esse artigo mostrou os desafios da gestão e da equipe escolar aplicados às
práticas pedagógicas e às condições de trabalho, E, quando esses desafios são superados a
qualidade do ensino melhora e os resultados alcançados confirmam que o trabalho coletivo e
democrático é a melhor maneira de se alcançar o sucesso na Educação Infantil.

574
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. Projetos e Práticas pedagógicas na Educação Infantil. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2012, p. 35.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9.394, de 20 de dezembro de


1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em:
02/02/2022.

CAMPOS, Maria Malta. Entre as Políticas de Qualidade e a Qualidade das práticas. Tema
em Destaque. Cadernos de Pesquisa, v. 43, n. 148, p. 27, jan/abr, 2013.

KRAMER, Sônia. O papel social da educação infantil. Revista Textos do Brasil. Ministério das
Relações Exteriores, Brasília, 1999, p. 03.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 5ed. Goiânia:
Alternativa, 2008, p. 15 – 105.

NUNES, Iolanda Rodrigues. Exercer a autonomia: um desafio para a gestão da escola


pública. Dissertação. São Carlos, 2005, p.13.

SAVIANI, Demerval. Sistemas de ensino e planos de educação: o âmbito dos municípios.


Educ. Soc. [online]. 1999, vol.20, p. 99.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O SOFRIMENTO PSÍQUICO CONTEMPORÂNEO:


SINTOMATOLOGIA E MECANISMOS
INCONSCIENTES
Jamil Torquato de Melo Filho1
Eduardo Marques Zan2

RESUMO: A epidemiologia mensura o sofrimento psíquico como manifestação de sintoma, para


a medicina uma quebra na homeostase, para a psicanálise uma formação de compromisso que
sofre interferências da sociedade. O objetivo foi introduzir uma compreensão psicanalítica
metapsicológica sobre como a cultura contemporânea favorece o fortalecimento das atuais
sintomatologias. Realizou-se uma revisão crítica da literatura por meio do método de análise de
conteúdo do material utilizado. Na tríade criança-mãe-pai freudiana, a castração paterna traduz
a impossibilidade da completude do desejo culminando em subsídios elaborativos simbólicos,
hoje não plenamente frustrada subverte valores que alimentavam o supereu. O sintoma com o
enaltecimento fálico e a depleção simbólica, impõe ao sujeito o imperativo do gozo. Conclui-se
que, tanto as transformações sociais quanto subjetivas se apresentam, não somente, como
constitutivas nas atuais sintomatologias, mas no mecanismo de todas as relações do Eu que se
dão de forma fantasmática.

Palavras-Chave: Psicopatologia; Psicanálise; Contemporaneidade; Sintoma; Epidemiologia.

1 Professor Ms. de Psicologia na Universidade Nove de Julho (UNINOVE).


Psicólogo, Psicanalista e Mestre em Psiquiatria (FMUSP).
2 Docente em disciplinas EAD da graduação em Psicologia e em cursos de pós-graduação da Diretoria de Saúde

na Universidade Nove de Julho (UNINOVE).


Psicólogo, Psicanalista, Bacharel em Filosofia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTEMPORARY PSYCHIC SUFFERING: SYMPTOMATOLOGY AND


UNCONSCIOUS MECHANISMS
ABSTRACT: Epidemiology measures psychic suffering as a manifestation of a symptom, for
medicine a break in homeostasis, for psychoanalysis a compromise formation that suffers
interference from society. The objective was to introduce a metapsychological psychoanalytic
understanding of how contemporary culture favors the strengthening of current symptoms. A
critical review of the literature was carried out using the content analysis method of the material
used. In the Freudian child-mother-father triad, paternal castration translates the impossibility of
completeness of desire culminating in symbolic elaboration subsidies, today not fully frustrated
subverts values that fed the superego. The symptom with the phallic enhancement and the
symbolic depletion, imposes on the subject the imperative of jouissance. It is concluded that both
social and subjective transformations are presented, not only as constitutive in the current
symptoms, but in the mechanism of all the relations of the Self that occur in a phantasmatic way.

Keywords: Psychopathology; Psychoanalysis; Contemporaneity; Symptom; Epidemiology.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO suas delineações de estudo quando classificam


seus indivíduos investigados. Há de se enfatizar
Nos dias atuais, vivenciamos uma grande aqui que entendemos ser necessária tal forma,
complexidade que é a de classificar um sujeito uma vez que fatores de confusão e possíveis
em doente e não doente, uma vez que muitas vieses de pesquisa são controlados quando
alterações ocorreram desde que pesquisadores dessa definição. Sendo assim, não estamos
voltaram suas pesquisas para tais descritivos. criticando a forma de investigação dessa
Entender a definição de saúde é fundamental ciência, mesmo porque suas contribuições são
para delinear o pensamento de bem-estar de muito maiores e necessárias do que a breve
um sujeito. Para tanto, um sujeito saudável, problemática apresentada.
segundo proposto pela Organização Mundial Diante dessa prática epidemiológica, Brant
da Saúde (OMS) em 1948, seria aquele que (2001), questiona essa metodologia utilizada e
apresenta ‘um estado de completo bem-estar propõe que a subjetividade, inerente ao ser
físico, mental e social’. Diante da dificuldade de humano, deva ser considerada, pois tais
mensuração do termo “bem-estar” a aspectos de investigação podem ajudar na
Assembléia Mundial da Saúde (AMS) definiu identificação e explicação da própria condição
como meta a países membros da OMS alcançar na qual o sujeito se encontra, apresentando,
até o ano 2000 um estado que permitisse o assim, seus variados motivos. Sabemos ainda
desempenho de uma vida econômica e que há delineamentos de pesquisa que
socialmente produtiva (OMS, 2003; WORLD possuem tal prerrogativa em questão e o
HEALTH ORGANIZATION, 2006; BONITA; presente artigo pretende se ater ao sofrimento
BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010). psíquico mediante sintomatologias
Estudos como estes são realizados por meio apresentadas em suas diversas e diferentes
da Epidemiologia, que é a ciência fundamental formas, inclusive as inconscientes, levando em
à Saúde Pública e tem como base mapear e consideração, quando possível, o seu momento
identificar doenças à partir de métodos de instalação para entendimento da
quantitativos estudando suas prevalências e configuração do sofrimento propriamente dito.
incidências em determinadas populações Santos & Siqueira (2010), apontam o
buscando estratégias de prevenção e controle sofrimento psíquico como resultado no
(BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010). aumento do número de usuários que buscam
Suas pesquisas analisam fatores de riscos por atendimento clínico público e/ou privado,
envolvidos no início, duração e recorrência de apresentando queixas inespecíficas e
determinadas patologias pesquisadas, sintomatologia nem sempre bem reconhecida
resultando em informações fundamentais para ou identificada pelos profissionais de saúde da
o desenvolvimento de programas de Atenção Primária (AP), contribuindo assim com
intervenção e promoção de saúde (TOHEN; a ideia de sofrimento na busca por
BROMET, 2002). entendimento e/ou explicação. Diante da
Partindo desse pressuposto, perspectiva de sofrimento emocional atrelada
epidemiologistas tendem a ser diretivos em a sintomatologia não bem especificada, o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Manual Diagnóstico e Estatístico de este, que desaparecer para que se possa voltar
Transtornos Mentais, DSM-5 (2014), apresenta à normalidade. Para a Psicanálise, o sintoma
tal intersecção como Transtorno de Sintomas tenta cumprir a função de equilíbrio, ele é uma
Somáticos descrevendo-o entre seus critérios formação de compromisso inconsciente
diagnósticos. Enfatiza-se aqui não a forma tornando-se, portanto, alívio e angústia, sendo
como eles se apresentam, mas sim como são difícil de dissolver/resolver porque oferece
interpretados. Nesse caso, a problemática se uma solução ao desejo e à pulsão (OCARIZ,
configura numa dificuldade dobrada, já que 2003), compreendendo o fenômeno humano
num primeiro momento há a percepção do como um choque de forças intrapsíquicas
profissional que avalia e há a auto percepção inconscientes e que sofre, em sua constituição,
do sujeito que sente/vive. interferências diretas da sociedade em que tal
As representações de saúde e doença para sujeito está inserido.
os sujeitos apresentam diferentes ordens de Não devemos esquecer que dado o campo
realidade quando analisada a cultura ocidental social e suas problemáticas de ajustamento
por exemplo, pois nela o conhecimento sobre o para sobrevivência, o sujeito enfrenta questões
corpo é fragmentado em redutoras coletivas inerentes do convívio com outros da
perspectivas teóricas, ou seja, o campo sua espécie. Sendo assim, Dunker (2011),
biológico, psíquico e social. De modo esclarece que, além da relação mente/corpo,
semelhante, o atual conceito de doença baliza- os sintomas são resultados dessa díade por
se por uma visão cartesiana de corpo meio de um conflito psíquico. O autor enfatiza
desvitalizado que não inclui o homem em sua ainda que há um sentido da experiência pessoal
integralidade (CZERESNIA, 2007). ao sujeito que se configura no sentido de signo
Cada sujeito possui um corpo, e para esta de um processo patológico de adoecimento e
análise nos ateremos a dois tipos, que, por vezes, não nomeados coletivamente
especificamente. Primeiro o corpo vivido, acabam por não se encaixarem dentro de uma
experienciado e pessoal, aquele que o próprio justificativa diagnóstica que os satisfaça.
sujeito preza como se fosse seu próprio ‘Eu’, Com tal definição de sintoma, percebe-se
que tem enorme valor narcísico e que mantém também que a problemática do reducionismo
guardado tudo o que o constitui protegido por no modelo biomédico acima descrito estende-
fronteiras, sendo sua estrutura física a primeira se na atuação dos profissionais da Psicologia,
dentre tantas. Seria esse assim o corpo isto porque se analisarmos as sintomatologias
biológico. E o corpo concebido pela Psicanálise do ponto de vista social, percebemos que os
trabalhado pelas pulsões (ÁVILA, 2012). casos histéricos e obsessivos abundantes na
Dessa forma, o primeiro desafio é explicitar época moderna, e vastamente estudados na
as diferenças em relação ao sintoma. Para a academia freudiana, divergem das
medicina o sintoma é uma ruptura, uma falha e enfermidades contemporâneas que
uma quebra na homeostase do corpo, é um “dominam” estatisticamente os quadros
sinal de que algo no campo biológico não vai psicopatológicos tratados pelos profissionais
bem e/ou não funciona adequadamente tendo, de saúde mental, bem como o espaço nas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pesquisas e publicações científicas, em que há, determinado (VOSGERAU; ROMANOWSKI,


de maneira progressiva, sintomatologias 2014). Utilizou-se ainda, ‘o método de análise
depressivas e de ansiedade (SIGLER, 2013). de conteúdo’ que constitui-se em um conjunto
Destarte, para a atuação efetiva do de técnicas utilizadas na análise de dados
psicólogo, novos modelos de abordagem do qualitativos bem delineado por Campos (2004).
mal-estar humano devem ser pensados para Este tipo de análise se vale da comunicação
dar conta de um sofrimento que escapa às como ponto de partida e tem por finalidade a
características da Modernidade. Isto porque, produção de inferências que confere ao
de acordo com Birman (2007), as método relevância teórica. Diante disso, serão
psicopatologias desenvolvem-se pelo resultado descritas tais fases da análise de conteúdo que
dialético entre os valores sociais da atualidade foram respeitas.
em contrapartida aos mecanismos de defesa
subjetivos, sendo necessário analisar como a FASE DE PRÉ-EXPLORAÇÃO DO
cultura contemporânea e suas características
influenciam na subjetividade humana. MATERIAL
Com isso, o objetivo deste artigo pauta-se Nesta fase existe uma interação significativa
em introduzir uma compreensão do pesquisador com o material de análise.
metapsicológica sobre como a cultura Dessa forma, foram realizadas revisões de
contemporânea, por meio da interpretação termos específicos, disponíveis na literatura, a
psicanalítica, favorece o fortalecimento das fim de que a discussão do material gerasse
atuais sintomatologias. A problematização da inferência quanto as lacunas presentes. Para
inter-relação entre cultura e construção da tanto, foram consultadas as seguintes bases de
subjetividade são pontos considerados cruciais dados: SciElo, PePSIC, Índex Psi e BVS-Psi,
para compreender a multiplicidade das formas sendo que a última apresentava resultados da
de sofrimento deste homem contemporâneo, MedLine e LILACS. As palavras-chave utilizadas
imprescindível para compreensão psicanalítica foram: Psicopatologia; Psicanálise;
dos quadros clínicos da contemporaneidade. Contemporaneidade; Sintoma; Epidemiologia.
Este artigo apoia-se, finalmente, na Foram considerados os artigos publicados em
necessidade de se lançar luz às problemáticas inglês e português entre os anos de 2000 a
atuais e não simplesmente encontrar uma 2017.
resposta ou um diagnóstico para o pathos que
vem aparecendo de maneira mais farta no A SELEÇÃO DAS UNIDADES DE
cotidiano clínico.
ANÁLISE
Nesta fase, o pesquisador é orientado por
MÉTODO questões de pesquisa que precisam ser
Foi realizada uma revisão crítica que analisa respondidas. Para tanto, as unidades de análise
e sintetiza as informações disponibilizadas na incluem palavras, sentenças, frases,
literatura por meio de uma avaliação e parágrafos, etc. Recortes temáticos também
discussão aprofundada sobre um tema podem ser utilizados para delinear melhor a

580
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

análise. Nesse caso, a temática escolhida foi a DISCUSSÃO


de ‘sintoma’ já que, como apresentado
Dentre os estudos analisados pôde-se
anteriormente, há formas de evidências que
perceber que a construção diagnóstica é
contemplam mais de um segmento como o
estruturada por meio de investigações
caráter biológico, psíquico e social. Para Lacan
epidemiológicas que restringem sua produção
(1999), o sintoma representa aquilo que não
em resultados constituídos somente por dados
deve ser dissociado do sujeito, algo que deve
sintéticos, visualmente eficientes e
ser modificado, mas não arrancado do mesmo
quantitativos, que do ponto de vista biomédico
por ser fundamental a sua estrutura.
são consideradas variáveis demográficas e
socioeconômicas, porém, que consideram a
O PROCESSO DE pessoa investigada como indivíduo e não
CATEGORIZAÇÃO E sujeito. Em se tratando de constituição psíquica
percebeu-se que tal construção diagnóstica
SUBCATEGORIZAÇÃO cartesiana se tornou demasiado segmentada
Nesta fase, as categorias são como grandes diante da complexidade deste sujeito que sofre
enunciados que abarcam os temas seguindo em resposta as construções diagnósticas
um grau de proximidade que permitam suas contempladas por instrumentos avaliativos.
análises e promovam significados e Isto porque, por se tratar de uma gama de
elaborações importantes que atendam aos sintomas biológicos e sem uma etiologia
objetivos propostos, a fim de criarem aparente, o diagnóstico problematiza o
conhecimentos. trabalho do profissional avaliador, já que está
Como subcategoria foi utilizada a apriorística sob sua responsabilidade muito mais do que
na qual o pesquisador possui experiência prévia levantar dados, lançar luz a identificação de
do assunto discutido. Esse tipo de conflitos que, outrora, não identificam e
categorização permite ainda limitações como a correlacionam às descrições previamente
comodidade do pesquisador em classificar estabelecidas do saber médico/científico e que
diretamente suas categorias correndo o risco confrontam sua própria concepção de sintoma.
de que a promoção dos resultados, dessa nova Ao eleger variáveis que não fogem do
intersecção, promova um certo controle necessário ao âmbito científico pré-
“engessamento” na discussão das categorias estabelecido, corre-se o risco de não levar-se
temáticas. em consideração fatores psicossociais que
Este artigo por si só, lança luz a uma estão diretamente, como apresentam outros
problemática que será discutida como central, estudos, envolvidos na manifestação dos
apontando que a junção bem como sintomas psicossomáticos em que, por vezes, o
classificação dos termos aqui presentes provou próprio paciente envolto nessas situações
ser passível de discussão e reflexão tornando- emocionais desiquilibradas o manifesta
os relevantes, podendo se apresentar de forma corporalmente, na tentativa da resolução de
empírica e metapsicológica. conflitos inconscientes apresentando, por
resultado, comportamentos de fragilidade,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dependência e submissão (COELHO; ÁVILA, imputadas as que estão na etiologia dos


2007; PAULIN; OLIVEIRA, 2012; TÓFOLI; sintomas psicossomáticos. Para sua
GONÇALVES; FORTES, 2012). compreensão, identifica as psicopatologias
Levando em consideração os fatores como o resultado dialético entre os valores
anteriormente mencionados, cabe dissertar fálicos que a sociedade contemporânea
acerca da manifestação dos sintomas não preconiza em contrapartida aos mecanismos
somente na vertente biomédica, mas, também de defesa subjetivos perante a falta fálica
na psicossocial como sendo o que podemos materna (BIRMAN, 1999). Portanto, para a
chamar de clímax da problemática a que esse análise do desenvolvimento das
trabalho se propôs investigar. psicopatologias do ponto de vista
Minerbo (2013), esclarece que, a psicoetiológico, há a necessidade de
modernidade produz uma forma de investigarmos a sociedade contemporânea e
subjetividade que se esforça para caber no que como sua “alienação” hedonista influencia na
é considerado legítimo, ao passo que a pós- subjetividade humana.
modernidade promove maior liberdade no que A transição da sociedade moderna para a
diz respeito ao processo de simbolização e contemporânea gerou transformações
elaboração de demandas diversas sendo socioculturais na humanidade bem como um
consideradas para esse estudo, as psíquicas. impacto na dinâmica psíquica. Para tanto,
Entende-se por simbolização a percepção Cugini (2008), remeteu-se a Zygmunt Bauman
psicológica dos estímulos sensoriais, quando quando este utilizou-se do conceito de liquidez
estes deixam de ser unicamente eles mesmos para explicar o sentido de contemporaneidade.
para ganhar um sentido psicológico e se ligar a Tal conceito, propõe que a crise das ideologias
outras representações mentais, imbuídas de fortes, pesadas, sólidas, típicas da
afeto (MIJOLLA; CABRAL, 2005). Já o conceito modernidade produziu, do ponto de vista
de elaboração começou a ser desenvolvido por cultural, um clima fluido, líquido, leve,
Freud a partir de 1893 como um momento de caracterizado pela precariedade, incerteza e
elaboração psíquica entre o traumatismo e o rapidez de movimento. Tais consequências
aparecimento dos sintomas (FREUD, 2016). estão assim relacionadas as novas formas de
Mas foi ao escrever “Recordar, Repetir e subjetivação do homem contemporâneo.
Elaborar” que o autor lançou algumas ideias de Na mesma proporção que a modernidade
como se dá a transformação de um impulso (ou oferecia ideologias fortes, o desejo e a
quantidade de energia, na linguagem) em satisfação individual eram condenados em
pensamento (ou qualidade psíquica). A detrimento ao coletivo, desdobrando-se em
experiência não elaborada, a qual podemos psicopatologias de conversão, mas que
chamar de traumática se mantém fora dos produziam uma seguridade nas pessoas que
processos associativos (LAPLANCHE, et al., nelas confiavam (simbolização). Por sua vez o
2016). desmoronamento contemporâneo dos padrões
Frente a tais questionamentos, a Psicanálise sociais trouxe consigo a perda de referenciais
considera justamente estas variáveis não

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

simbólicos que pudessem oferecer subsídios três tempos, sendo o primeiro a identificação
psíquicos na vida das pessoas (elaboração). da criança como o falo materno, o segundo o
Na contemporaneidade os objetivos a serem deslocamento de ser para ter o falo, a partir da
perseguidos são, segundo Bauman (2001), interdição paterna e, finalmente, o terceiro
frágeis e mudam com frequência, as tempo a ameaça da castração.
instituições, referência, estilos de vida, crenças Tendo em vista estes tempos previamente
e convicções mudam antes que tenham tempo descritos, na modernidade o desenvolvimento
de se solidificar em costumes, hábitos e clássico edípico se concluía no reconhecimento
verdades evidentes. Dado isso, a liquidez social da castração fazendo com que houvesse uma
pode ser evidenciada no núcleo familiar, pois valorização do pai (metáfora paterna) e um
constitui-se em novas configurações, bastante amparo simbólico instituído. Nesta sociedade,
diferente da família nuclear moderna, sendo o sintoma era caracterizado por uma conversão
como em outros aspectos, fluida. desenvolvida pela relação da farta simbolização
Como atualmente não há mais regras claras frente aos padrões sociais preestabelecidos e
a seguir, cada indivíduo decide tudo por si e confrontantes ao desejo.
segundo seus próprios valores, não mais de Por sua vez, na contemporaneidade a trama
acordo com um valor socialmente edípica mantém traços do primeiro tempo pois
compartilhado. Esta suposta autonomia já não há modelos parentais tão bem
desenvolve uma fantasia de que os sujeitos, delineados principalmente quanto ao papel
homens e mulheres, devem enfrentar de interditor paterno. Por consequência, o
maneira individual qualquer contratempo que psiquismo não desenvolve um conteúdo
lhe apresente frente ao seu desejo simbólico consistente, levando o sintoma
enquadrando-se em assumir seu papel de pai, instaurar-se como um modelo somatizador,
mãe e filho (BIRMAN, 2007). pois essa depleção faz com que a satisfação do
Deste modo, enquanto na tríade criança- desejo seja investida diretamente no corpo e
mãe-pai durante o Complexo de Édipo não no plano simbólico. É preciso ressaltar, no
freudiano, a castração como função interditora entanto, que o enfraquecimento paterno no
paterna é o evento que se traduz pela contexto edípico não significa que o sujeito
impossibilidade da fantasia de completude do tenha dissolvido Édipo pela via psicótica, mas
desejo, culminando em subsídios elaborativos sim na possibilidade neurótica e imaginária
simbólicos, na contemporaneidade a relação onde a castração poderia ser negada
criança-mãe não é plenamente frustrada pelo desenvolvendo um supereu perverso e,
pai, fazendo com que o sistema de valores portanto, mais “materno”. E é justamente uma
simbólicos que alimentava o supereu freudiano interdição paterna simbólica consistente o
inverta- se, transformando o imperativo das responsável por expulsar os limites do
interdições em imperativo do gozo, isso dentro impossível e dando consciência de que nem
da perspectiva lacaniana. tudo é permitido, desenvolvendo nossa
Aprofundando o conceito do Complexo de capacidade de simbolizar a falha, a falta, o gozo
Édipo freudiano, Lacan o define como tendo (ROUDINESCO, 2003).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Porém, o fracasso de uma experiência de explicar tal falha, devemos nos lembrar de que
gozo absoluto é o que, para Lacan, assegura a como o sujeito contemporâneo mantém
durabilidade do desejo e o mantém vivo. Mas fortemente a primazia da primeira fase edípica,
como a atual lei é o imperativo do gozo, o ou seja, em ser o falo, não sendo instaurado
conflito e o desamparo inerentes ao neurótico plenamente o registro simbólico.
não são mais suportáveis. A tentativa de Embora o registro simbólico seja definido a
invalidar o desprazer de maneira a gozar partir da referência ao falo o que funda
irrestritamente leva o sujeito à morte. A propriamente a dissimetria entre os sexos, ou
contemporaneidade trata-se de uma cultura da seja, o que propicia uma abertura nessa
pulsão da morte em que o prazer não é mais fórmula fechada do simbólico é exatamente o
controlado e a busca por ele torna-se o fato de o lado feminino ser “não-todo”. Nesse
propósito máximo da vida. sentido, segundo Lacan (2012), a mulher se
Complementando a estas transformações, situa a partir de que não são todos os que
Dunker nos diz que enquanto a subjetividade podem ser ditos como verdade em função de
moderna era baseada na lei e tinha como afeto argumentação no que se enuncia sobre a
fundamental a culpa, quando passamos para função fálica. Mas para sustentar essa abertura
uma subjetividade contemporânea construída que garante, ao mesmo tempo, um limite ao
pela potência, há uma espécie de interiorização simbólico e um acesso ao gozo é necessário
do seu parâmetro de autorrealização, tendo pressupor que a mulher não existe. Porém,
por sentimento não a culpa, mas a vergonha. A como a contemporaneidade enaltece o
culpa é instituída pela lei, enquanto a vergonha feminismo simbólico, a “não existência” da
é instituída por si mesmo. E isso é muito mais mulher proposta por Lacan favorece a depleção
congruente com a experiência de que o sujeito simbólica recorrente nos casos
cruzou uma fronteira interna e que não psicopatológicos encontrados na atuação
consegue referir a uma lei do Outro que a clínica, por exemplo.
represente, ou seja, a vergonha é a resposta à Podemos considerar, então, que as atuais
frustração em não se estar à altura dos ideais psicopatologias são respostas ao conflito
que o seu próprio supereu materno perverso constituído pelo diálogo do psiquismo com a
estabeleceu. Essa nova forma de expressão de cultura contemporânea, por meio de um
liberdade existencial é uma experiência cada supereu perverso “materno” que impõe a
vez mais guiada de que o sujeito consegue e potência do gozo; e que seus sintomas
deve construir seus próprios parâmetros de apresentam-se como as formações de
realização, sendo assim muito mais sádica e compromisso neuróticas primitivas do primeiro
perversa (DUNKER, 2017). tempo edípico, não simbolizadas diante de tais
O conflito gerado pelos mecanismos acima imposições de gozo, como resposta pulsional
expostos são transversalmente atravessados de morte a tal conflito contemporâneo
pela característica ‘falha simbólica ou constitutivo, como os quadros depressivos
depleção’ presente na contemporaneidade (impotência) e ansiosos/compulsivos
para a constituição dos sintomas atuais. Para (potência).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Diante dessas formações de compromisso Cabe ressaltar que o papel do profissional


realizadas pelo próprio sujeito e algumas de exige muito mais que a premissa clássica da
suas consequências aqui evidenciadas, Neto escuta psicanalítica, que é a intervenção após a
(2008), pautando-se em Lacan, introduz uma interpretação do discurso analisado, pois o
reflexão de que nem sempre de modo paciente da atualidade exige esse amparo
inconsciente o paciente quer se curar de sua simbólico, antes de mais nada, para que possa
doença e/ou de seus sintomas. A partir disso, reelaborar seu conflito.
importante ressaltar a diferença Por fim, o trabalho multidisciplinar entre os
sintomatológica no que se refere a profissionais da saúde serve e é, não apenas
identificação e enfrentamento de tal situação, necessário para contribuição no que concerne
seja pelo ponto de vista do paciente, seja do ao saber científico, mas de importante
profissional. efetividade quanto a responsabilidade deles ao
Para tanto, algumas especificidades hão de se assumirem como parte integrante dentro
ser levadas em consideração como no caso do desse processo tão individual quanto coletivo,
médico que atuará na intenção de suprimir os tanto no que tange a sua postura profissional,
sintomas (orgânico) e anular, tanto quanto for mas principalmente no papel simbólico a eles
possível, a angústia em benefício do próprio atribuídos pelo paciente e de vital significado
paciente gerando-lhe assim bem-estar. Mas, ao para a melhora. Pois, de acordo com Lacan, o
passo dessa conquista os mecanismos analista completa o sintoma.
interventivos que estariam em pauta seriam os
consequenciais a falha simbólico-elaborativa
do sujeito que tem como manifestação
sintomatológica não uma melhora, mas uma
delação intrapsíquica de conflito que emerge
no corpo como forma de realização.
Já no que diz respeito aos profissionais
psicólogos/psicanalistas o trabalho seria o de
oferecer ao sujeito subsídios de amparo
simbólico necessários para que o mesmo possa
traduzir a realidade de seu sofrimento,
construindo assim novos significados (NETO,
2008). Esta nova percepção acerca de si mesmo
pauta-se na promoção da capacitação de
entendimento acerca de sua situação diante
dos sintomas (psíquicos), contribuindo para
preservação do bem-estar dentro do possível
promovendo, ainda, não apenas remediação
como dissolução do conflito psíquico.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intersecção dos termos pesquisados e suas descrições explicitam a importância dos
fatores socioculturais e metapsicológicos integrados como desencadeadores no processo de
manifestação e desenvolvimento do sintoma psicossomático, por exemplo. Isto porque há a
necessidade de se construir uma sintomatologia voltada a subjetividade do sujeito e entendê-lo
de modo mais profundo e individual.
Sendo assim, houve a necessidade desta contextualização pois foi perceptível que apesar
do determinismo psíquico, as transformações socioculturais causam um impacto significativo na
constituição do eu. Não somente nos mecanismos de defesa, nas formações de compromisso,
nas conversões e somatizações, dentre outras formas em que as psicopatologias se apresentam,
mas principalmente na configuração do desenvolvimento superegóico, antes paterno, agora
materno.
Portanto, um recorte social foi necessário a fim de se procurar estabelecer respostas que
servissem de norteadores quanto a manifestação e formas de instalação sintomatológicas diante
das diferenças da época Moderna para a Contemporânea.
Do social ao individual, a família contemporânea foi considerada o elo que condensa as
características da contemporaneidade no desenvolvimento subjetivo do eu e que abre as
possibilidades para as formações psicopatológicas frente à liquidez contemporânea.
Após todas essas considerações, pôde-se verificar que o sintoma contemporâneo, dentre
outras características subjetivas, se desenvolve diante da estruturação psíquica, do declínio da
figura paterna e a consequente depleção simbólica, preservando no supereu a representatividade
da cultura perversa e de enaltecimento fálico, impondo ao sujeito (criança) contemporâneo o
sofrimento do imperativo do gozo. Com este quadro, aos diferentes profissionais da área saúde,
cabe uma atuação fragmentada na construção de um saber integral e congruente que contribua
no processo das diversas nuances do sintoma e sua elaboração. Aos psicólogos/psicanalistas mais
que a escuta psicanalítica os compete o amparo simbólico exigido inconscientemente pelo
paciente.
É importante ressaltar que apesar dos delineamentos aqui percorridos para uma
metapsicologia contemporânea, não podemos considerá-la como uma etiologia restrita para o
fenômeno sintomatológico da atualidade. Considerar isso seria incongruente com toda a
complexidade da subjetividade humana e seus desdobramentos psicopatológicos.
Conclui-se, finalmente, por meio desta análise, que tanto as transformações culturais da
sociedade contemporânea quanto as transformações subjetivas do sujeito nela instituído
apresentam tais mudanças não somente como constitutivas nas atuais sintomatologias, mas no
mecanismo de todas as relações do Eu que se dão de forma fantasmática, seja por vias esperadas
ou patológicas.

586
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O TRABALHO COM CANTIGAS DE RODAS NA


EDUCAÇÃO INFANTIL
Lucinaide Aparecida Oliveira Viana1

RESUMO: As cantigas fazem parte da rotina da Educação Infantil por isso a escolha deste tema:
”O trabalho com cantigas de rodas na Educação Infantil”. Este trabalho tem como objetivo
possibilitar a coleta de informações, trazendo suporte teórico e visando um olhar criterioso em
relação à importância das cantigas para as crianças. A princípio, aborda-se a importância do
professor inserir em suas atividades as cantigas de roda, pois, as mesmas trazem muitas
vantagens para o desenvolvimento da criança. A partir das teorias apresentadas no estudo é
possível entender que o lúdico, do qual faz parte às cantigas de roda têm interpretado um
importante papel nas atividades educativas, em especial na Educação Infantil, pois por meio da
brincadeira e do encantamento com as cantigas as crianças podem vivenciar diversas situações
que ainda não conhecem. No caso das cantigas de roda, sua musicalidade, poesia, ludicidade e
apresentação de aspectos folclóricos é evidenciada uma efetiva contribuição para o
desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças. A valorização das cantigas de roda na
educação infantil e seu favorecimento social entre os alunos e o ambiente da escola são
destaques neste trabalho.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Cantigas de roda; Aprendizado.

1
Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

WORKING WITH CANTIGAS DE RODAS IN CHILD EDUCATION


ABSTRACT: The songs are part of the routine of Early Childhood Education, which is why this
theme was chosen: "Working with nursery rhymes in Early Childhood Education". This work aims
to enable the collection of information, bringing theoretical support and aiming at a judicious look
at the importance of songs for children. At first, it addresses the importance of the teacher
inserting nursery rhymes into their activities, as they bring many advantages to the child's
development. From the theories presented in the study, it is possible to understand that the ludic,
of which the nursery rhymes are part, have played an important role in educational activities,
especially in Early Childhood Education, because through play and enchantment with the songs,
children can experience different situations that they do not yet know. In the case of the nursery
rhymes, their musicality, poetry, playfulness and presentation of folkloric aspects are evidenced
as an effective contribution to the emotional and cognitive development of children. The
appreciation of nursery rhymes in early childhood education and its social favor among students
and the school environment are highlights in this work.

Keywords: Early Childhood Education; Nursery rhymes; Learning.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO características transmitir costumes e crenças


de diferentes culturas, estimulando a
A música na Educação Infantil visa melhor criatividade, imaginação, memorização já que
desenvolvimento social, linguístico e afetivo geralmente trazem letras curtas e simples.
dos alunos, foi elaborado com o objetivo de Capazes de promover a interação entre os
contribuir para o processo do ensino e da pares.
aprendizagem por meio das Cantigas de Roda, Há muito tempo as cantigas de roda vêm se
acreditando proporcionar a confiança para que fazendo presente na vida das pessoas, mas, não
as crianças desenvolvam suas habilidades e se sabe ao certo como elas surgiram e como
auxilia na interação com outros indivíduos. passaram a fazer parte das brincadeiras das
Sabendo-se que a música faz parte da vida do crianças. O que pouco se sabe a respeito das
ser humano mesmo antes do seu nascimento, cantigas de roda, é que elas sempre estiveram
pois as crianças ouvem diversos sons e ruídos presentes nas brincadeiras das crianças,
que se propagam por meio do corpo da mãe, preservando as tradições de um povo onde os
esta pesquisa dará ênfase aos benefícios que a adultos as repassam para seus filhos, netos,
cantiga de roda traz ao desenvolvimento bisnetos e outros, ou seja, as cantigas de roda
integral da criança. são repassadas oralmente de geração para
É importante resgatar as cantigas de roda no geração. O brincar de roda ou ciranda sempre
espaço escolar e a partir delas promover as alegrou as crianças em qualquer época e em
interações, o respeito e desenvolver a todos os países[…] Constituem um fator de
consciência corporal, ampliando assim o preservação e transmissão de nossas tradições
repertório musical. As cantigas de rodas ou e uma das primeiras manifestações do espírito
cirandas carregam a diversidade brasileira e associativo das crianças sendo um verdadeiro
são ricas em gestos e vocabulários, sendo patrimônio cultural da humanidade (PAIVA,
também possível que ao serem utilizadas sejam 2003, pp. 13-14).
contextualizadas. Esta pesquisa pretende compreender mais
A explicação de Loureiro (2008), é que o especificamente a influência das cantigas de
aprendizado da música deve ser um ato de roda no desenvolvimento infantil, por meio de
desprendimento prazeroso, que comungue atividades lúdicas enfatizando a importância do
com as experiências da criança sem ser uma processo de socialização e interação, ao meio
imposição ou que busque a qualquer custo que em que vive por meio de um rico repertório
a criança domine um instrumento, o qual pode lúdico. Sempre aliando a prática com a
minar sua sensibilidade e criatividade. ludicidade. Sendo que a música tem grande
Elas são também porta de entrada para influência na aprendizagem infantil além da
outros mundos, o "mundo da imaginação". ampliação cultural.
Assim como as histórias, as cantigas são um
convite para adentrar nesse universo. Além de
reproduzirem o folclore, as cantigas de rodas
conhecidas também como ciranda têm como

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTEXTO HISTÓRICO DAS dela é possível conhecer sobre costumes, festas


típicas, comidas e até mesmo sobre o cotidiano
CANTIGAS DE RODA de um grupo social. Martins (2012), acrescenta
Na Idade Antiga as cantigas de roda faziam outros elementos, para ela às cantigas de rodas
parte da vida ativa dos adultos, contudo não se são: poesias e poemas cantados em que a
tem certeza de quem as criou, o que se sabe ao linguagem verbal (o texto), a música (o som), a
certo é que foram conhecidas e reconhecidas coreografia (o movimento) e o jogo cénico
coletivamente, sendo transformadas com o (representação) se fundem em uma única
tempo por meio das diversas culturas atividade lúdica. Para os diversos
existentes. Aliás, muitas delas acabaram se pesquisadores que estudaram as cantigas de
tornando formas de diversão e recreação. roda como atividades lúdicas (CASCUDO,1984;
Ainda na tentativa de definição do que seja JESUALDO,1993; FERNANDES, 1979; MELO,
cantigas de rodas, outros autores vão 1981), são unânimes em afirmar que as
enfatizando outros aspectos e nos ajudando a cantigas de roda fazem parte do cancioneiro
compreender o fenômeno. Segundo Gaspar folclórico infantil. Ou seja, canções que
(2010), as cantigas de roda são: expressam tradições individuais e coletivas da
Canções populares, que estão diretamente cultura popular brasileira.
relacionadas com brincadeira de roda. Essas Enfim, Câmara Cascudo (2001, p. 102), nos
brincadeiras são feitas formando grupos de chama atenção para dois aspectos importante,
crianças, geralmente de mãos dadas, que e que tem a ver com os objetivos deste
cantam 13 as letras da canção que tem suas trabalho, a saber: o papel dos adultos na
próprias características, geralmente ligadas à preservação e divulgação das canções
cultura daquele local. Também são conhecidas populares e espontâneas e também, a partir
como cirandas, e representam os costumes, das cantigas rodas, propor outras formas de
crenças, o cotidiano das pessoas, a fauna, a interações para além do mundo midiático.
flora, culinária, dentre outros aspectos de um Vejamos o que ele disse:
lugar. As cantigas possuem uma letra fácil de Essas melodias passam de geração em
memorizar, sendo formada por rimas e geração, entoadas pelos adultos ajudam a
repetições que prendem a atenção das entreter, embalar e fazer adormecer as
crianças, de modo que estimula a imaginação e crianças. Hoje em dia elas não são tão
a memória da criança (GASPAR, 2010, apud, presentes na realidade infantil como
FARIAS, 2013, 223). antigamente devido às tecnologias existentes
Gaspar destaca as origens populares e a como os computadores, celulares, tablets,
relação das cantigas com a cultura de cada entre outras tecnologias (CASCUDO, 2001, p.
brincante. Além disso, analisa a estrutura e 102).
temas das letras cantadas e memorizadas. A No entanto, percebe-se que com a presença
cantiga de roda é um tipo de canção popular, e o acesso cada vez mais cedo das crianças às
faz parte do folclore brasileiro e pode retratar a novas tecnologias e mídias digitais, as crianças
cultura de determinadas regiões, por meio vêm se distanciando cada vez mais das

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possibilidades de interação e aprendizagens em um patamar destaque no desenvolvimento


possíveis a partir das cantigas e brincadeiras de da criança. O universo infantil é intensamente
rodas. Deste modo, o trabalho com as cantigas influenciado pelas cantigas de roda. Elas vão se
de roda se torna tema relevante no contexto da perpetuando de geração em geração por meio
educação infantil, visto que as cantigas de roda do tempo, transmitidas das gerações mais
oferecem diversas possibilidades de velhas às mais novas (ARAÚJO, 2009).
aprendizagem e propiciam às crianças As Cantigas de Roda ressaltam os momentos
atividades lúdicas que promovem de forma mais preciosos na vida da criança, momento
prazerosa o desenvolvimento integral de suas em que ela acredita nas ilusões e mergulha no
habilidades. mundo da fantasia, mesmo conhecendo e
No Brasil, a maioria das cantigas de roda é aceitando a realidade da qual participa. É neste
proveniente de outros países e passaram por transitar entre aceitar o real e viver no sonho
modificações culturais, adaptando-se e que as cantigas representam para a criança a
tornando-se popular, hoje parte do folclore confiança e a certeza de que necessita para
brasileiro. Porém existem cantigas no Brasil, de investir na conquista de si mesma e do mundo.
origem interna e que fazem parte do folclore de Brincar de Roda é uma atividade em que a
alguns estados brasileiros, criadas em um criança desenvolve a sua criatividade e resgata
determinado momento histórico. Ana Maria um pouco da história de seus antepassados,
Machado (2001, p. 7), reforça tal uma vez que as cantigas são aprendidas e
posicionamento afirmando que: “As Cantigas cantadas de geração em geração.
Infantis tradicionais são um tesouro que a
gente não pode jogar fora”. Quem não tem CANTIGAS DE RODA UMA
guardado como lembrança as cantigas de roda
e que, ao relembrar, se emociona com as PODEROSA FERRAMENTA
mesmas, marcadas de ritmo, resultado de uma PEDAGÓGICA
composição rica por formação de jogos As cantigas de roda quando aliadas às
sonoros, jogos de palavras, rimas, práticas pedagógicas realizadas com as
musicalidades, cantos e danças. crianças, podem ensinar as bases de sua cultura
As cantigas de roda oferecem para as e permitir que as crianças vejam-nas como
crianças a experiência lúdica com o fenômeno brincadeira, sobre isso (HEYLEN, 1987, p. 120),
linguístico e uma diversidade de ensinantes afirma que: “[…] enquanto brinca lhe são
condensados. Como manifestação livre e transmitidas as bases educacionais tradicionais
espontânea da cultura popular, esse tipo de de sua cultura.” Mesmo que em alguns
brincadeira tem a função de levar a cultura momentos as cantigas de roda se apresentem
infantil a se tornar perpétua, aprimorar as com regras excessivas, que não agradem às
formas de convivência social e viabilizar o crianças devido ao objetivo que o professor
prazer de brincar (KISHIMOTO, 1997). É tem com aquela atividade, ainda sim é
possível observar que as interações sociais, necessário que durante processo de ensino, o
com base nas brincadeiras tradicionais residem professor trabalhe com as crianças atividades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que propicie a elas experiências diferenciadas linguístico, psicomotor e socioafetivo. O lúdico


por meio da ludicidade. na educação infantil é primordial, pois a
A maioria das brincadeiras infantis são em utilização de brincadeiras no processo de
sua maioria espontâneas e marcadas pelo ato ensino-aprendizagem possibilita a introdução
de cantar. As cantigas de rodas começam a ser de conteúdos por intermédio de atividades
praticadas pelas crianças naturalmente lúdicas onde a criança irá aprender de forma
procurando em geral a aproximação e a prazerosa, enquanto. O brincar faz com que o
sensação de conforto. O aprendizado ocorre conhecimento aconteça de forma prazerosa
com base na observação das atividades lúdicas por possuir um caráter coletivo.
dos outros. As cantigas de roda oferecem para as
A criança vive inserida em um ambiente crianças a experiência lúdica com o fenômeno
sonoro, pois desde seu nascimento brinca com linguístico e uma diversidade de ensinantes
os sons, perfazendo sempre uma combinação condensados. Como manifestação livre e
lúdica. A interiorização da língua de seu povo espontânea da cultura popular, esse tipo de
vai ocorrendo com a socialização. Mais do que brincadeira tem a função de levar a cultura
as palavras, as crianças aprendem a entonação, infantil a se tornar perpétua, aprimorar as
melodia, sotaque, ritmo, sentido. A linguagem formas de convivência social e viabilizar o
poética realiza um jogo com as palavras, prazer de brincar (KISHIMOTO, 1997). É
ordenando-as de forma harmoniosa, possível observar que as interações sociais,
introduzindo uma parcela de mistério com base nas brincadeiras tradicionais residem
(HUIZINGA,1990). em um patamar destaque no desenvolvimento
A partir delas é possível brincar, desenvolver da criança. O universo infantil é intensamente
a audição, ritmo, movimentos, equilíbrio, influenciado pelas cantigas de roda.
linguagem oral e memória. A prática ainda Elas vão se perpetuando de geração em
contribui para as crianças iniciarem na música. geração por meio do tempo, transmitidas das
As cantigas são também a porta de entrada gerações mais velhas às mais novas (ARAÚJO,
para outros mundos. 2009). Elas existem na nossa memória, e as
A cantiga de roda é um tipo de canção resgatamos em alguns momentos com sabor
popular diretamente relacionada com de infância. Dessa forma, é preciso que os
brincadeiras de roda, faz parte do folclore professores revivam sua meninice para se
brasileiro e é comum em todo o território. A lembrarem das mais belas brincadeiras, e assim
brincadeira de roda reequilibra as emoções do possam reconhecer o valor educativo que elas
ser humano, cria laços afetivos, contribui para têm, especialmente por representarem um
a socialização e a interação da criança. momento de prazer e ser por meio desses
Analisando os benefícios que o lúdico na momento, que os alunos conseguem aprender
educação infantil proporciona às crianças, as melhor.
cantigas de rodas e música como meio de
desenvolvimento da inteligência e a integração
do ser, no desenvolvimento cognitivo,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As cantigas populares fazem parte do patrimônio cultural da humanidade. De forma geral,
são músicas associadas ao folclore. Ou seja, às tradições, costumes e até lendas de um povo. Por
isso, costumam ser cantadas em momentos de roda ou cirandas, por exemplo. E não são
exclusivas de uma ou outra cultura: as cantigas estão presentes em diversos países e
comunidades tradicionais ao redor do mundo. Assim, as cantigas populares são como histórias
cantadas, que praticamente todo mundo conhece por tê-las aprendido em algum momento da
vida. Fica claro que as cantigas de roda por meio do lúdico auxilia no gosto pela aprendizagem,
aquisição de conhecimentos, contribuindo assim para o bom desenvolvimento da criança. Pois o
lúdico resgata o prazer pela aprendizagem, proporcionando um contato prazeroso com a
linguagem, a escrita e a leitura.
Verificam-se que as cantigas de roda podem ser útil tanto como suporte pedagógico como
no entretenimento, das crianças, além de contribui para o processo de desenvolvimento da
aprendizagem das mesmas. Dessa forma concluímos que as Cantigas de Roda estão relacionadas
com o estímulo a imaginação, concentração, criatividade e memória. E fazem parte do cotidiano
e principalmente do dia-dia das crianças.
E assim, se explica a presença das atividades com música (Cantigas de Roda) na sala de
aula e particularmente na educação infantil. Portanto, é preciso deixar que as crianças brinquem
de cantiga de roda no espaço escolar, é preciso aprender a rir, a inverter a ordem, a representar,
envolvidos na simbologia, a imitar, a sonhar e imaginar com elas. Dessa forma, abrem-se o
caminho para que adultos e crianças, possam. Dessa forma cabe a observação de que o uso das
cantigas de roda no processo de ensino e aprendizagem nas escolas mais atuais, é uma realidade
que antigamente não se tinha, o que permitia ao canto orfeônico ser até então o único meio de
valorização de trabalhar a música nas escolas mesmo que em meio a objetivos políticos, e assim
a educação musical foi ganhando seu espaço e buscando novas formas de ensino para trabalhar
a música nas escolas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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edição: Sprint,2003.

596
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O USO DA ARTE NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA


Milene Otavia Oliveira Diniz Bertolli1

RESUMO: Este artigo objetiva teve como objetivo discutir a prática do uso da arte como parte do
desenvolvimento e do aproveitamento escolar do aluno com deficiência. Assim, foi realizada uma
compilados de práticas do uso da arte com junção da regência regular, verificando, junto ao
professor especializado, quais estratégias eram melhor aplicadas de acordo com a deficiência do
aluno, onde neste processo foi utilizado para subsidiar o trabalho pedagógico o perfil do aluno
com deficiência, considerando sua idade, laudo de deficiência, grau de dificuldade do âmbito em
que está inserido, para que assim possamos atuar com eliminação de barreiras para seu
desenvolvimento e inclusão. Para isso foi criado uma sala ambiente com atuante nas quatro áreas
de educação especial (deficiência auditiva, física, mental e visual), na sala de recurso
multifuncional, explorando classes comuns do Ensino Fundamental I e Ensino Fundamental II da
rede de escola pública do Município da Cidade de São Paulo. As ações foram registradas em
cadernos de atividades, fotos e vídeos, sendo estas classificadas por meio de categorias do âmbito
da arte em sua prática (música, teatro, artesanato manual, jogos e lúdico). Os resultados apontam
que ocorreram diferenças significativas entre a interação, proatividade, autonomia e
relacionamento dos alunos com deficiência no ambiente escolar, seja com relacionamento com
colegas de sala, professores e outras da rotina pedagógica em que está inserido, considerando
assim a confirmação de uma educação especial em uma perspectiva inclusiva. De outra forma
ainda nos deparamos com transitar sobre outras barreiras, a importância de todo corpo docente
ir preparado à sua regência lembrando do seu aluno com deficiência, sendo sim a inclusão e
equidade possível.

Palavras-Chave: Aluno com deficiência; Arte; Inclusão.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Docência para o Ensino Superior; Especialização
em Tecnologia na Educação Básica; Especialização em Educação Especial com Ênfase em Surdez.

597
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE USE OF ART IN INCLUSIVE EDUCATION


ABSTRACT: This article aims to discuss the practice of using art as part of the development and
school performance of students with disabilities. Thus, a compilation of practices of the use of art
was carried out with the junction of the regular regency, verifying, together with the specialized
teacher, which strategies were best applied according to the student's disability, where in this
process the profile was used to subsidize the pedagogical work. of students with disabilities,
considering their age, disability report, degree of difficulty of the scope in which they are inserted,
so that we can act with the elimination of barriers for their development and inclusion. For this,
an environment room was created with active in the four areas of special education (hearing,
physical, mental and visual impairments), in the multifunctional resource room, exploring
common classes of Elementary School I and Elementary School II of the public school network of
the Municipality. of the City of São Paulo. The actions were recorded in activity notebooks, photos
and videos, which were classified by categories in the field of art in their practice (music, theater,
handicrafts, games and entertainment). The results indicate that there were significant
differences between the interaction, proactivity, autonomy and relationship of students with
disabilities in the school environment, whether with classmates, teachers and others in the
pedagogical routine in which they are inserted, thus considering the confirmation of an education
especially in an inclusive perspective. Otherwise, we are still faced with passing over other
barriers, the importance of all faculty being prepared for their regency remembering their student
with disabilities, and inclusion and equity is possible.

Keywords: Disabled student; Art; Inclusion.

598
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O método encontrado foi prático x


teórico, onde apenas após conhecer o aluno,
No decorrer de alguns anos em atuação na estudar sua história de vida, sua composição e
educação, observasse a importância do condição de laudo e consideração de equipe
respeito e qualidade em cada área de atuação, médica especializada que aponta em laudo
neste caso especificamente atuamos na médico a situação do aluno, podemos então
educação inclusiva, mais conhecida como estudar a teoria para tal perfil, ou seja, em
educação especial, sendo objeto de estudo no consideração de toda bagagem do aluno com
âmbito de unidade escolar na rede pública de deficiência e após contato e verificação de seu
ensino fundamental I e II do município da perfil, podemos considerar o método de ensino
Cidade de São Paulo; Onde tem matriculado até à busca de eliminação de barreiras do ambiente
o momento média de 18.500 alunos com em que está inserido no perfil de unidade
deficiência e apenas 4.000 funcionários escolar, e assim explicarmos a metodologia
especialistas na área de educação especial, ou com uso da arte em apoio ao seu processo de
seja a relevância do tema é se suma ensino aprendizagem. Este método o qual
importância, pois em busca de uma educação consiste em ações bimestrais com materiais
inclusiva, há necessidade de atuação específicos para o perfil do aluno, sendo de uso
capacitada e voltada para este tema inserida na individual ou coletivo neste processo de ensino,
rotina pedagógica, já que falamos da inclusão devendo ser aplicada apenas na sala de
dentro do ambiente escolar. recursos multifuncionais, onde há garantia de
Nesta vertente nosso objetivo é atuar atendimento educacional especializado por
com atendimento educacional especializado, professor especialista.
diretamente com alunos com deficiência, De forma geral justificasse esta
eliminando barreiras e atuando em estratégias abordagem, pela observação da grande
educativas à recuperação de aprendizagem e ausência de inclusão na visão geral, quando
inclusão. Considerando que é necessário um falamos de escola, ensino de qualidade, ou seja
tempo de trabalho para criação de vínculo com na prática são média de 30 alunos para um
aluno, temos os objetivo de encorajar o aluno professor a cada 45 minutos, atuar com seu
no processo crítico/criativo, interesse em conteúdo curricular, articular questões
explorar o lado artístico do aluno, oportunizar burocráticas administrativas como fazer
conscientização sobre seus pontos fortes e chamada de nomes todos os dias, verificador
fracos, sendo reconhecidos como habilidade e de frequência do aluno, mediar questões
barreiras na prática da arte, como fonte de interpessoais entre alunos, pois atualmente há
aprendizado e desenvolvimento de atividades muita ocorrência sobre indisciplina, violência e
que requeiram não apenas iniciativas, mas desrespeito em sala de aula, sendo quase
também estímulo, coragem, apoio, impossível dentro desta realidade ainda dar
curiosidade, raciocínio entre ação reflexão e conta de atender um aluno com deficiência
ação. com individualidade de suas necessidades,
incluindo com equidade e avaliando com crítica

599
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e raciocínio para o mundo. Nesta perspectiva, a Vale lembrar que, com a LDB de 1996, a
escolha de abordagem tem um fator necessário Educação Especial passou a ter um capítulo
para seu estudo e prática, a busca pela exclusivo – o capítulo V –, apresentado em três
educação especial na perspectiva inclusiva, artigos que caracterizam a modalidade de
onde garante-se um momento específico com ensino:
professional especialista à oportunizar Essas ações vêm sendo impulsionadas pelo
aprendizado de qualidade e equidade ao aluno Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008.
com deficiência, sendo individualmente e Ele destaca:
coletivamente. Art. 1º que União prestará apoio técnico e
financeiro aos sistemas públicos de ensino dos
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
objetivando ampliar a oferta do atendimento
PERSPECTIVA INCLUSIVA educacional especializado aos alunos com
No ambiente de educação especial, deficiência, transtornos globais do
podemos observar a constante evolução nas desenvolvimento e altas habilidades ou
leis, diretrizes e pensadores pedagógicos, em superdotação, matriculados na rede pública de
busca de não apenas explanar as ensino regular; salienta:
peculiaridades do mundo da pessoa com Art. 2º que o atendimento educacional
deficiência, mas também regras que obrigam o especializado deve integrar a proposta
atendimento de qualidade, com pedagógica da escola, envolver a participação
responsabilidade e cuidado que tais pessoas da família e ser realizado em articulação com as
merecem, tornando desta forma obrigatório o demais políticas públicas.
atendimento especializado, acessível e Art. 3º O Ministério da Educação prestará
equitativo à este público alvo. Tendo como apoio técnico e financeiro às seguintes ações
alguns exemplos diversos documentos voltadas à oferta do atendimento educacional
norteadores de política, ação e sociedade em especializado, entre outras que atendam aos
prol dos direitos da pessoa com deficiência objetivos previstos neste Decreto: formação
(“Declaração de Salamanca”, “Estatuto da continuada de professores para o atendimento
Pessoa com Deficiência”, “Estatuto da Criança educacional especializado; formação de
e do Adolescente” “LDB”). gestores, educadores e demais profissionais da
escola para a educação inclusiva.
a) Abordagem legal da visão Educação Pela necessidade de uma legislação
Especial: brasileira que contemplasse todas as garantias
E no que se refere à Educação Especial, a Lei indispensáveis a esse grupo social vulnerável,
nº 9.394/96 apregoa/reforça a universalização foi elaborado o estatuto da Pessoa com
da educação. Essa lei preconiza que os sistemas Deficiência.
de ensino devem assegurar aos alunos Estas legalidades tornam os direitos da
currículos, métodos, recursos e organizações pessoa com deficiência mais próximo da
para atender as suas necessidades específicas. prática, pois onde há uma sociedade repleta de

600
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

barreiras à inclusão seja de acessibilidade, de Deficiência auditiva:


sensibilização ao próximo, respeito e apoio ao • Pessoa com perda da audição bilateral;
seu desenvolvimento e outros, podemos • Pessoa com perda da audição parcial;
considerar de suma importâncias as leis à busca • Pessoa com perda da audição total;
da inclusão de direitos e práticas na nossa Deficiência física:
perspectiva aqui, sendo direitos e inclusão de Embora este não seja o termo mais
ensino de qualidade, aprendizagem, crítica e correto para utilizar, entendemos que a
autônoma, seja para o aspecto de atuação deficiência física é toda aquela que
social, política, familiar, mundo do trabalho e compreende limitações nos movimentos, ou
outros. alteração parcial ou completa de um ou mais
segmentos do corpo humano. Porém, o termo,
b) Pessoa com deficiência: deficiência física abrange todas as deficiências,
Segundo o Estatuto da Pessoa com inclusive as intelectuais, vez que a palavra física
Deficiência: “Pessoas com deficiência são está ligada à fisiologia, ou seja, todo o corpo é
aquelas que têm impedimentos de longo prazo “físico”, e todas as deficiência estão abrangidas
de natureza física, mental, intelectual ou no corpo.
sensorial, os quais, em interação com diversas • Paraplegia;
barreiras, podem obstruir sua participação • Paraparesia;
plena e efetiva na sociedade em igualdades de • Monoplegia;
condições com as demais pessoas”. Tendo • Monoparesia;
direito a igualdade e não a discriminação, • Tetraplegia;
sendo direito a educação, atendimento • Tetraparesia;
prioritário, saúde, capacidade civil trabalho, • Triplegia;
cultura, esporte, turismo e lazer, e • Triparesia;
acessibilidade. • Hemiplegia;
No Brasil tem mais de 17 milhões de pessoas • Hemiparesia;
com deficiência, segundo IBGE. Compartilhe: • Ostomia;
Um levantamento do Instituto Brasileiro de • Ausência de um membro;
Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 8,4% • Nanismo;
da população brasileira acima de 2 anos – o que • Paralisia cerebral;
representa 17,3 milhões de pessoas – tem • Membros com deformidade adquirida
algum tipo de deficiência. (2021). ou congênita. Deformidades estéticas não se
Segundo a lei n° 10.098/2000, são enquadram pois não apresentam dificuldades
consideradas pessoas com deficiência as que se no desempenho das funções.
enquadram em: Deficiência intelectual:
Deficiência visual: • Síndrome do X frágil;
• Pessoas Cegas; • Síndrome de down;
• Pessoas com Baixa Visão; • Síndrome de Rett;
• Pessoa com Visão Monocular; • Discalculia;

601
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Síndrome do álcool fetal; produto de colheita considerado como


• Erros inatos do metabolismo; avaliação são extremamente encantadores,
• Transtorno do Espectro Autista. pois são também libertadores considerando
Deficiência múltipla: que a pessoa com deficiência pode por meio
• É a associação de duas ou mais deste trabalho ter muitos avanços como:
deficiências em uma pessoa. comunicação, expressão do seu pensamento,
É importante ressaltar que, embora a participação ativa, crítica e autônoma no
legislação abranja esses tipos de deficiência, ambiente em que vive. A teoria
todas elas devem ser respaldadas a partir de sociointeracionista no ensino de arte busca
laudos médicos que aufiram seu permitir que o aluno não só aprenda sobre
enquadramento dentro das hipóteses manifestações artísticas e culturais
elencadas. Por exemplo, apenas a partir de socialmente reconhecidas, como também
laudo médico podemos descobrir se uma estimula a criação de sua própria arte,
pessoa tem ausência de audição total, ou desenvolvendo competências e habilidades.
parcial, pois é medido por meio de audiograma Sobre o que rege a importância da Arte como
em determinadas frequências de Hz. componente curricular, temo Os Parâmetros
Sendo considerada dessa forma, a Curriculares Nacionais de arte têm como
concepção de que a pessoa com deficiência objetivo orientar a prática pedagógica para
depende da oportunidade da interação com a alcançar uma educação de excelência. As aulas
pessoa com o meio, e não um problema de arte precisam desenvolver no aluno a
individual, adequando-se assim o ambiente e sensibilidade, percepção, imaginação,
não a pessoa, garantindo assim seus direitos. pensamento crítico e dimensão social das
c) Arte como componente curricular na manifestações artísticas
escola: Segundo Alencar (2007):
O estudo das artes auxilia no traz algumas simples práticas pedagógicas
desenvolvimento de diversas habilidades e que podem fazer a diferença na sala de aula, no
competências que serão levadas da infância momento do fomento à produção artística dos
para a vida do indivíduo. Isso porque as artes educandos. São elas: 1. Não se restrinja a
têm a capacidade de trabalhar com a exercícios e atividades que possibilitem uma
representação da realidade, de uma forma única resposta correta. 2. Valorize as ideias
muito subjetiva e individual. Contamos com originais de seus alunos. 3. Uma ideia original é
consideráveis resultados extraídos do ser apenas o primeiro passo. Lembre os alunos da
humano, quando falamos do ensino da arte na importância de refinar as ideias criativas. 4. Dê
prática, sendo a ação em produção, fluição e chances aos alunos para eles discordarem de
reflexão, e diante desta exploração mágica que seus pontos de vista.
acontece no ambiente escolar, percebemos Com um olhar imenso nesta perspectiva, a
que estes aspectos quando vividos com público ação considerada ativa deste objeto de estudo,
especificamente com pessoas com deficiência, é o acolhimento, estudo da bagagem de vida do
os mediadores de desenvolvimento até o indivíduo, aplicação da ação artística na área de

602
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

melhor interesse e habilidade, docência turno na sala de recurso multifuncional,


consciente e inclusiva. ofertando meios e modos de aprendizagem
d) Sala de Recuso Multifuncional e o AEE que efetive o desenvolvimento do estudante,
(atendimento educacional especializado): complementando o trabalho de ensino regular
Segundo consta no documento Sala de com ensino de educação especial, realizando
Recursos Multifuncionais (MEC, 2006), o constante diálogo com demais componentes
Atendimento Educacional Especializado deve na comunidade escolar, seja outros
ser uma ação dos sistemas de ensino para professores, equipe de apoio e gestão,
acolher a diversidade ao longo do processo familiares e rede de apoio de assistência social
educativo. Constitui parte diversificada do da região.
currículo dos alunos com necessidades Verificasse também no portal do MEC,
educacionais especiais, organizado que as criações de salas de recursos
institucionalmente para apoiar, complementar multifuncionais nas escolas regulares, tem
e suplementar os serviços educacionais diminuído as barreiras e aumentado a inclusão
comuns. Nesse sentido, os espaços como vemos abaixo:
especializados poderão ser considerados locais
pertencentes à escola, que contribuem para
superar as dificuldades de aprendizagem, bem
como para proporcionar a interação dos alunos
com os conhecimentos escolares e com os
outros instrumentos culturais de ensino.
Desta forma consideramos que estes
espaços visam ainda ao desenvolvimento do
pensamento, do conhecimento, da socialização
e dos processos comunicativos construídos
historicamente, contando sempre com a
colaboração, liderança e articulação de Fonte:
profissional especializados na educação http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/recursos-
especial/inclusiva, tornando mais possível as multifuncionais
ações coletivas e individuais necessárias à cada
De 2005 a 2009, foram oferecidas 15.551
aluno, considerando seu perfil, sua deficiência,
salas de recursos multifuncionais, distribuídas
potencializando suas habilidades, estimulando
em todos os estados e o Distrito Federal,
seus desafios processos de aprendizagens e
atendidos 4.564 municípios brasileiros - 82% do
autonomia para o mundo. Nessa situação o AEE
total.
(Atendimento educacional especializado) é um
Considerando a metodologia adotada, é de
serviço de apoio à sala comum, ou seja um
suma importância o passo a passo da ação
trabalho em colaborativo um com outro, seja
pedagógica com uso da Arte na Educação
no mesmo momento ou em períodos
inclusiva, podemos observar a necessidade de
específicos, seja em sala regular ou contra
uso das leis, cursos, recursos e colaboração

603
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

docente, nesse exercício em sala de aula. Desta com a arte, podendo envolver música, teatro,
forma vemos que em 2007, foi lançado, pelo artes visuais e dança.
MEC, o Plano de Desenvolvimento da Educação Na rotina do atendimento educacional
(PDE), o qual merece maior atenção pela sua especializado, temos dois modos de
complexidade. Das ações previstas pelo PDE, atendimento, podendo ser individual ou em
para fins deste trabalho, destaco os grupo no contra turno ou seja, além do horário
direcionamentos dados à Educação Especial, os de aula do aluno, sendo hora extra na escola,
quais parecem caminhar paralelamente à ou no formato colaborativo com o professor
discussão que atualmente vem sendo realizada regular de regência no horário regular de aula
na área, no que diz respeito à efetividade da do aluno; Diante da análise do perfil do aluno,
transversalidade da Educação Especial no criação de vínculo com o mesmo, exploração de
ensino regular. Nesse sentido, são apontados suas habilidades, desejos de futuro,
pelo programa a utilização e a ampliação das reconhecimento das barreiras existentes no
Salas de Recursos Multifuncionais e de meio para seu desenvolvimento, contamos
acessibilidade; estas, com equipamentos, como ação prática, reflexão e ação, com uso de
mobiliários e materiais pedagógicos roteiro: objetivos, habilidades,
devidamente adaptados, além da indução, por desenvolvimento, atividade, recursos e
meio de recursos públicos à implementação da avaliação. Sendo aplicados recursos à
acessibilidade arquitetônica nas escolas. eliminação de barreiras em sua vida à inclusão
Contamos também como componente parte com uso de arte teatral (mídia e encenação),
da prática inclusiva o Plano anual, mensal e música (mídia, canto coral), artesanal (manual,
diário pedagógico, com a lida de uma colagem recorte, montagem, pintura, criação,
formatação de objetivos a longo prazo, exposição) foto e vídeo (montagem, poses,
conteúdos com sequência didática e estratégia exploração do ambiente, nomeações e
de acordo com o perfil o público alvo, nesta criações) e outros.
vertente que consideramos a pessoa com Para assim oportunizarmos constantemente
deficiência especificamente como objeto alvo à a inclusão, equidade nesse processo de
aprendizagem, buscamos a evolução de suas desenvolvimento humano e aprendizagem.
habilidades e inclusão de acordo com o que
realmente precisa, considerando como
aprendizado especificamente o que a faria
evoluída para sua rotina como ser humano
pertencente a sociedade. No contexto, prática,
materialidade, construção de algum material,
temos várias habilidades envolvendo o ciclo de
ensino e série de referência do aluno, e
sobretudo seu perfil como já citamos,
considerando sua deficiência, conteúdo
lidamos com quatro eixos básicos do ensino

604
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No percurso compreensivo, a abordagem do uso da arte na educação inclusiva, nos
remeteu à conclusão de uma ação quase que terapêutica, mas com foco pedagógico, onde a
atuação do professor especialista na educação especial, torna possível a participação do aluno
com deficiência, onde os objetivos traçados tem maior espaço de serem vividos, observados e
alcançados quando falamos de ação, reflexão e realidade de vida no ambiente escolar. Durante o
uso da arte, destacamos positivas participações nos quesitos de arte sendo: teórico-prático com
uso nas áreas de música e teatro, pintura e artesanato, jogos e ludicidade. Na rotina escolar,
verificamos o método de coleta de dados, adaptação de atividade dentro da proposta curricular,
utilizando de mapeamento com passos gradativos de ações em busca de resultados, estes os
quais remete na atuação ativa do aluno com autonomia de ação e/ ou apoio organizado
direcionado diretamente em sua vivência na escola.
Assim, consideramos com maior incidência, o público com a deficiência intelectual, e
verificamos a grande aceitação inclusiva tanto por parte do aluno do público alvo quanto dos
alunos regulares e professores envolvidos, onde de forma interdisciplinar atuamos com sucesso
à inclusão, abordagem de aceitação, eliminação de barreiras à uma vida inclusiva e observamos
o real avanço na aprendizagem, socialização e interação dos alunos envolvidos, com autonomia,
alegria e vontade de sempre ter mais experiências na comunidade escolar.

605
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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ps. 19, 23, 24, 29. MEC; SEEP; 2008.

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MICKLETHWAIT, L. Para a criança brincar com arte: o prazer de explorar belas pinturas.
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https://undime.org.br//noticia/historico-do-estatuto-da-pessoa-com-deficiencia. Data de Acesso
em: 22/03/2022.

606
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O USO DO SOFTWARE MODELLUS NO ENSINO


DE CINEMÁTICA
Rayssa Vanuza da Rocha1
Érica Romão da Silva Lima 2
Diacira Hannah Albuquerque de Oliveira Leal3
Givanildo Sales Silva4
Haroldo Reis Alves de Macêdo5
RESUMO: Sabe- se que o ensino de física é um importante instrumento para a sociedade, porém,
ainda é encontrado vários desafios no que tange ao ensino de física, principalmente em relação
a despertar no aluno o interesse em aprendê-la, como também a falta de laboratórios pode ser
algo a atrapalhar e dificultar a aprendizagem, diante as diversas problemáticas cabe ao professor
procurar métodos para novas alternativas de ensino. Neste trabalho fez-se o uso do programa
de modelagem computacional, Modellus, e as aplicações se deram na área de Cinemática. Diante
ao que foi exposto o presente trabalho intitulado como “O uso do software modellus no ensino
de cinemática” traz como alternativa para as aulas de física o uso do software modellus onde tem
como objetivo principal aplicar o uso do software citado como alternativa didática para a falta de
laboratório nas escolas de ensino médio. Como também construir uma sequência didática para o
ensino de física, em específico na área da cinemática para demonstração de como pode ser a
sequência de utilização do software.

Palavras-Chave: Ensino de física; Software modellus; Cinemática.

1 Licenciatura em Física, Instituto Federal do Piauí- Campus Picos.


2 Licenciatura em Física, Instituto Federal do Piauí- Campus Picos.
3 Licenciatura em Física, Instituto Federal do Piauí- Campus Picos.
4 Licenciatura em Física, Instituto Federal do Piauí- Campus Picos.
5 Doutor, Instituto Federal do Piauí- Campus Picos.

607
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE USE OF MODELLUS SOFTWARE IN KINEMATICS TEACHING


ABSTRACT: It is known that the teaching of physics is an important instrument for society,
however, there are still several challenges regarding the teaching of physics, especially in relation
to awakening in the student the interest in learning it, as well as the lack of laboratories can be
something to get in the way and hinder learning, given the various problems it is up to the teacher
to look for methods for new teaching alternatives. In this work, the computational modeling
program, Modellus, was used and the applications were made in the area of Kinematics. In view
of what was exposed, the present work entitled "The use of modellus software in the teaching of
kinematics" brings as an alternative to physics classes the use of modellus software where its
main objective is to apply the use of the mentioned software as a didactic alternative for the lack
of laboratory in high schools. As well as building a didactic sequence for teaching physics,
specifically in the area of kinematics to demonstrate how the sequence of use of the software can
be.

Keywords: Physics teaching; Modellus software; Kinematics.

608
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Comunicação (TDIC) e a internet disponibilizam


um grande número de alternativas didáticas
Na disciplina da Física, vemos que os que, com as devidas adaptações, pode-se
professores ainda fazem predominar o ensino potencializar a ampliação dos recursos
expositivo. Um dos motivos do ensino disponíveis para o ensino e a aprendizagem,
expositivo ser predominante é a limitação de proporcionando a aplicação de novas
espaços adequados como, por exemplo, o metodologias como também de estratégias
ambiente escolar não possuir laboratórios; pedagógicas.
como também a escassez de equipamentos e Diante disso, este trabalho foi desenvolvido
materiais para realização dessas aulas práticas. com o objetivo de aplicar o uso do software
Claro que além destes aspectos, outros fatores modellus como alternativa didática para a falta
também contribuem para esta ausência das de laboratório nas escolas de ensino médio.
aulas práticas nos ambientes escolares como; o Como também construir uma sequência
grande número de alunos por turma e a carga didática para o ensino de física, em específico
horária insuficiente da disciplina e até o na área da cinemática.
comodismo de muitos professores que por
muitas vezes estão exaustos.
REFERÊNCIAL TEÓRICO
No ensino de Física, grande parte da
dificuldade encontrada por os alunos quanto ENSINO DE FÍSICA
ao aprendizado de Física se da pela ausência de A Física é uma das ciências que influência
laboratórios didáticos, que servem como consideravelmente sobre os mais variados
instrumentos de verificação dos fenômenos setores da ciência, pois a mesma mostra como
físicos e que tem o intuito de complementar a tudo na natureza está conectada e de que
teoria passada em sala de aula. As atividades forma essas conexões acontecem.
práticas em laboratórios fomentam nos alunos Frequentemente, vemos que alunos
conhecimento e demonstra a importância do apresentam dificuldade em disciplinas da área
aprendizado de Física como também sua de ciências exatas, uma delas é em conceitos
aplicação no seu cotidiano, facilitando assim relacionados à Física. Um dos fatores desse
sua aprendizagem. Segundo Andrade, Lopes e cenário, está o fato de uma significativa
Carvalho (2009), para que aconteça a quantidade de alunos que considerarem a
aprendizagem do aluno “[...] o laboratório disciplina monótona e pouco estimuladora
didático de física é algo bastante importante, (RICARDO; FREIRE, 2007). Além disso, constata-
principalmente por proporcionar aos se uma falta de conexão entre o conhecimento
estudantes um contato com os fenômenos prévio, ou seja conhecimentos de vida do
descritos na teoria”. alunos, com teoria apresentada na sala de aula
Sendo assim se faz necessário possuir e a realidade do aluno e assim o mesmo não
alternativas para a falta de aulas com a consegue dar significado/ conectar com o
experimentação em laboratório. Sabe-se que conteúdo estudada em sala. (MONTAI;
as Tecnologias Digitais da Informação e LABURÚ, 2005).

609
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Ou seja, entendemos que a utilização de para o caso da falta de laboratórios de Física.


diferentes estratégias de ensino pode Onde segundo (FILHO, 2010); O Simulador
contribuir para que os alunos compreendam ospode permitir a visualização e a investigação
fenômenos e também a se interessarem por dos acontecimentos, teorias envolvidas no
aprofundar esses conhecimentos. Segundo fenômeno, e permite também os alunos
Silva (2014); Com o avanço das tecnologias e o
fazerem conexões entre os fenômenos da vida
aumento da disponibilidade de internet, é real e a ciência básica, aprofundando a sua
necessário reaprender, a ensinar e a aprender;
compreensão, aprendizagem e apreciação do
e a integrar o humano e o tecnológico. mundo físico. (FILHO, 2010)
Contudo, por mais que seja necessário o As simulações computacionais podem ser
professor adaptar-se com esses novos meios de
bastante úteis, principalmente quando a
ensino – ligados as tecnologias – ainda se faz
experiência original for impossível de ser
necessário trazer para esse novo cotidiano do
reproduzida no ambiente escolar. . Como cita
alunado práticas relacionadas a atividades não
Nogueira (2000), Inserir o uso de
somente tecnológicas, mas também atividades computadores nas escolas, como instrumento
manuais que permitam com que o aluno se de ensino complementar, vem crescendo
depare com possíveis “problemas” que os progressivamente em todo o mundo,
estingue o mesmo a buscar por soluções Naturalmente, sua utilização tem se tornado
imediatas ou de longo prazo. Entende-se que uma tendência global.
quando o ensino ocorre dessa forma, faz com Pode- se perceber então com as afirmações
que o aluno se interesse mais por a disciplina e
acima, que utilização de simuladores possibilita
que desenvolva gosto pela mesma. uma aula contextualizada, tornando possível
Ademais, é indiscutível que as tecnologias
que o aluno entenda melhor o conteúdo. Como
até certo grau veio para melhorar e facilitar a
afirma Batista (2013), A utilização de
vida de todos, nesse âmbito o ensino da física
simuladores na educação pode ser uma
que abarque os dois meios, tanto o tecnológico
experiência eficaz, pois é uma alternativa em
como o manual, traz sem duvidas grandes que pode possibilitar ao aluno a construção do
resultados positivos no que diz respeito a conhecimento de forma interativa, estimulante
aprendizagem, bem como também o interesse e desafiadora.
do aluno uma vez que a cada dia que passa a Mas claro, não tirando a importância da aula
tecnologia está presente no nosso dia a dia e
teórica, que é algo de importância para
isso faz precisarmos de adaptação e inclusão da
aprendizagem do aluno, como afirma Sousa
mesma de forma positiva. (2011), a aplicação dos simuladores em sala de
aula precisa ser de forma adequada, com
cautela, para a utilização do simulador, deve-se
SIMULADORES antes realizar aulas teóricas sobre o conteúdo,
Os simuladores são softwares programados para que assim a simulação seja entendida
para a experimentação de fenômeno. Uma das como uma comprovação dos conceitos
finalidades da utilização de um simulador é

610
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estudados. Ou seja, o simulador seria ao a profundamente para o desenvolvimento das


complementar a aula do professor. aulas, uma vez que diminui a dificuldade de
compreensão existente na maior parte do
alunado que se deparam com cálculos e
MODELLUS NO ENSINO DE formulas matemáticas que requer maior tempo
FÍSICA para a resolução. Com isso, a utilização do
Como já mencionado anteriormente, as modellus se torna favorável tanto para os
tecnologias estão cada dia mais fincadas na professores e alunos, quanto para o ensino,
sociedade, e isso de uma forma tão enraizada que terá grandes melhorias.
que se torna difícil não incluí-la no ensino. Seguindo esse viés, outro fato que é de
Nesse sentindo, o uso de softwares são grande importância ressaltar aqui, é a
extremamente indispensáveis quando o necessidade de antes de tudo, uma formação
assunto são aparatos tecnológicos. Como mais adequada para os professores, pois
exemplo de sistema voltado para o ensino da entende-se que alguns professores,
física, temos o software modellus, cujo “torna principalmente de física, prendem-se apenas a
mais fácil a aplicação de vários assuntos de ensinar formulas e mais formulas sem coloca-
física por meio de animações, sem deixar de las em prática, com a ajuda de um simulador
lado a utilização de fórmulas, tabelas e gráficos, nesse caso. Nesses casos seria importante
tornando assim, a aula mais dinâmica.” apresentar para os professores a importância
(AMORIM; SANTOS, p. 03, 2019) de se trabalhar com simuladores nas aulas de
Como se sabe, o software modellus atua física, visando não somente a “facilidade” que
como um sistema de simulação onde cria o mesmo dispõe, mas também os benefícios
modelos de simulação relacionados a física e a correspondentes, bem como também o
matemática, tudo isso com a praticidade e com aprendizado.
o uso de um computador. Segundo o professor Outro ponto relevante relacionado a
Enders (2016), “o software é dirigido ao ensino utilização das tecnologias está ligado a
[...] e permite alunos e professores realizarem “utilização de uma ferramenta computacional
experiências com modelos matemáticos, que faz surgir condições para que o aluno possa
controlar variáveis como tempo, velocidade e assimilar conhecimento antes não
distância, analisar a variação de uma função e a proporcionado pelas limitações do lápis e
respectiva representação gráfica [...] além de papel.” (MACHADO; MOURA, p. 45, 2009).
implementar exercícios propostos ou criar o Ademais, é sabido que aulas onde é feito uso
seu próprio exercício sob a forma de de novos recursos sejam eles tecnológicos ou
simulação.” não, faz com que o aluno prenda mais a
Nesse contexto, percebe-se o quão é atenção naquilo que está sendo ensinado.
positivo trazer o software modellus para o
âmbito escolar, em especifico para as aulas de
física. Pois diante das suas funções disponíveis
acredita-se que o mesmo contribui

611
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DESENVOLVIMENTO Os alunos serão avaliados por meio dos


textos desenvolvidos por eles mesmos e por o
O procedimento metodológico se dará por
debate que será feito com todos os alunos,
meio de uma sequência didática, com o
para assim encerrar a aplicação do trabalho,
conteúdo de cinemática. Como demonstrado a
onde os alunos relataram os pontos positivos e
seguir.
negativos de sua experiência, quais os maiores
Tabela 1: Sequência didática. desafios e quais aprendizados. Abaixo está dois
Aulas Conteúdo
exemplos de como o modellus pode ser
Introdução ao estudo dos movimentos. Ponto aplicado em exercícios. Os dois exercícios são
1° aula
material e corpo extenso, trajetória, posição exemplos tirados de um livro didático; Física
em uma trajetória, função horária, velocidade Volume 1 - Mecânica (2016) - Bonjorno. Sendo
escalar média, velocidade escalar instantânea.
Movimento uniforme, função horárias,
o primeiro exercício sobre movimento
gráficos/ Execução de experimento virtual uniformemente variado e o segundo sobre
2° aula
(simulação) para verificar e discutir os lançamento vertical, exemplos distintos para
conceitos propostos.
demonstrar que o modellus pode ser utilizado
Movimento uniformemente variado,
aceleração escalar, aceleração escalar média e em situações diferentes.
instantânea, equação de Torricelli, gráficos.
3° aula
Execução de experimento virtual (simulação)
para verificar e discutir os conceitos EXERCÍCIOS APLICADOS
propostos.
4° aula Queda livre e lançamento vertical NO MODELLUS
Construção de textos desenvolvidos por os Exercício 01 (Movimento uniformemente
5° aula alunos, relacionando a aula teórica com as
simulações, variado): Um automóvel está parado diante de
Debate em sala sobre oque foi explanado, um semáforo inicialmente após o sinal ter
6º aula
contendo o ponto de vista dos alunos. aberto, um caminhão o ultrapassa com
Fonte: Autores
velocidade constante de 20m/s. Nesse exato
instante, o motorista do automóvel parte com
O simulador utilizado para realização desse
aceleração de 4m/𝑠 2 em direção ao caminhão.
trabalho será o modellus. Modellus é um
a) Após quanto tempo o automóvel
software, destinado ao ensino-aprendizagem
alcançará o caminhão.
da Física. Podendo ser utilizado pelo professor
b) Quantos metros terá percorrido o
como uma ferramenta capaz de apresentar e
automóvel até alcançar o caminhão?
ilustrar um determinado assunto, sendo
Exercício 02 (Lançamento vertical): Um
também um recurso que possui finalidades
corpo é abandonado do alto de uma torre de
como explorar um modelo matemático de um
125m de altura em relação ao solo. Despreze a
fenômeno físico. Como demonstrado acima
resistência do ar e admitindo g=10m/s² pede-
será ministrado 6 aulas, onde inicialmente os
se:
alunos terão contato com a teoria de cada
a) O tempo gasto para atingir o
conteúdo e após a compreensão inicial desse
solo.
conteúdo será então feita a simulação.
b) Velocidade ao atingir o solo.

612
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para o exercício 01) teremos: equação aplicada no modelo. Além disso,


Figura 1 – Simulação do exercício proposto sobre o partindo desse instante de tempo, pode-se
movimento uniformemente variado
calcular qual posição que eles irão se encontrar.
Para o exercício 02) teremos:
Figura 3 – Modelagem matemática e simulação do
exercício proposto sobre lançamento vertical

Fonte – Software modellus


Fonte – Software modellus

Figura 2 – Modelagem matemática do movimento


uniformemente variado Seguindo a equação posta no modelo, vemos
que a partícula executa um movimento de
queda livre a partir do repouso, ou seja, sua
velocidade inicial (𝑣0 ) é igual à zero. Apesar de
ser um movimento de queda, aparece um sinal
negativo na aceleração da gravidade. Isso
acontece por causa da orientação traçada
como positiva que é na direção oposta ao vetor
𝑔⃗.

Fonte – Software modellus


O gráfico mostra claramente que existirá um
instante de tempo em os dois objetos irão se
encontrar. Para descobrir isso, basta utilizar a

613
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Figura 4 –Tabela do exercício proposto sobre lançamento


vertical

Fonte – Software modellus


A partir da tabela, vemos que o tempo
necessário para que a partícula atinja a posição
final 𝑦 = 0 é de 5 segundos.

614
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espera-se que com este estudo sobre a utilização do software modellus, seja evidenciado
o uso de simuladores em sala como uma alternativa viável. Ressaltando, é claro, que é uma
ferramenta deve ser utilizada como complemente as aulas teóricas, que a utilização do
computador e da simulação em sala de aula não pode substituir o professor, como também não
substitui o laboratório tradicional.
Por fim, espera-se que este trabalho possa proporcionar aos docentes de Física, subsídios
para utilização de simuladores. Como também demonstrar que o uso da tecnologia integrada aos
recursos didáticos, pode tornar o ensino da disciplina de física, mais dinâmico e interativo.

615
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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no ensino de física: uma aplicação da cinemática. UFPEL, Rio Branco, AC, 2019. Disponível
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Data de Acesso: 22/02/2022.

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ENDERS, B. O que é modellus. Bernhard, 2016. Disponível em:
http://www.bernhard.com.br/disciplinas/simulacao-em-ensino-de-fisica/o-que-e-o
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FILHO, Geraldo Felipe de Souza. Simulações Computacionais para o Ensino de Física


Básica: Uma Discussão sobre Produção e Uso. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino
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MACHADO, A. F.; COSTA, L. M. A utilização do software MODELLUS no ensino da Física.


Artigo, 2009. Disponível em: https://www.e-
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MONTAI, Vinicius; LABURÚ, Carlos Eduardo. Experimentos de física: Critérios de escolha


utilizados pelos professores do Ensino Médio. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE
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616
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OS JOGOS EM SUA PERSPECTIVA LÚDICA NA


EDUCAÇÃO INFANTIL
Daniela Paula Minhoto1

RESUMO: Este artigo objetiva demonstrar a importância dos jogos na Educação Infantil utilizando
o lúdico como ferramenta para gerar aprendizados e contribuir no desenvolvimento integral da
criança. Destaca também a importância no olhar do professor para a utilização dos jogos de forma
lúdica como um aliado a sua prática educativa associando o prazer e aprendizado, e assim
contribuir no desenvolvimento em sua perspectiva integral sendo afetiva, cognitiva, social e
motora. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica. Concluiu-se que para que o professor
utilize os jogos de forma lúdica obtendo resultados significativos é necessário buscar o
conhecimento e aplicar em sua prática educativa para que por meio dos jogos as crianças tenham
o direito ao brincar garantido e possam aprender e desenvolver em diversos aspectos de forma
prazerosa e divertida.

Palavras-Chave: Jogos; Lúdico; Educação Infantil; Prática educativa.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Ludopedagogia.

618
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

THE GAMES IN THEIR FUN PERSPECTIVE IN CHILDREN'S EDUCATION


ABSTRACT: This article aims to show the importance of games in Early Childhood Education using
play as a tool to generate learning and contribute to the integral development of the child. It also
highlights the importance in the teacher's eyes for the use of games in a playful way as an ally to
their educational practice, associating pleasure and learning, and thus contributing to the
development in its integral perspective being affective, cognitive, social and motor. The
methodology used was bibliographic research. It was concluded that for the teacher to use the
games in a playful way obtaining significant results, it is necessary to seek knowledge and apply
it in their educational practice so that through games children have the right to play guaranteed
and can learn and develop in various aspects of pleasurable and fun way.

Keywords: Games; Playful; Child Education; Educational practice.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO ferramenta para auxiliar a aprendizagem das


crianças na Educação Infantil. A prática do
Os jogos utilizados na Educação Infantil por lúdico, nas brincadeiras, brinquedos ou jogos
muito tempo era visto apenas como um vem mostrando que é possível aprender e
passatempo e momento de diversão para as desenvolver seu conhecimento de forma
crianças. prazerosa.
Mas ao longo dos anos vem sendo abordado A criança aprende melhor brincando e
e comprovado na prática por muitos estudiosos muitos conteúdos podem ser ensinados por
e educadores que os jogos, utilizando o lúdico meio das brincadeiras, as atividades com jogos
como ferramenta para auxiliar em sua prática ou brinquedos podem ter objetivos didático
educativa deve proporcionar o prazer e a pedagógico que visem proporcionar o
diversão para trazer muitos benefícios no desenvolvimento integral do educando (LIRA,
âmbito das aprendizagens e no 2014, p.17).
desenvolvimento integral das crianças, pois Como cita a autora acima, o brincar e o
elas aprendem e desenvolvem brincando. aprender estão diretamente relacionados, por
Este artigo fez uma análise sobre os meio das diferentes maneiras de brincar a
benefícios dos jogos na Educação Infantil criança está aprendendo e se desenvolvendo
utilizando o lúdico como ferramenta para de forma prazerosa.
auxiliar no aprendizado e o desenvolvimento Na educação infantil a ludicidade tem papel
da criança. Para isso utilizou-se a metodologia fundamental, Santos (2007), afirma “a
de pesquisa bibliográfica em: livros, internet, ludicidade é uma necessidade do ser humano
artigos e revistas científicas. em qualquer idade e não pode ser vista apenas
Justifica-se este estudo, o fato que muitos como diversão.” Muitos educadores ainda não
educadores ainda não têm conhecimento dos compreenderam a importância do “brincar”,
benefícios que os jogos aplicados de forma mas sabe-se que muitos são seus benefícios,
lúdica proporcionam e o impacto que traz na pois no brincar se desenvolve na perspectiva
vida das crianças para o aprendizado e seu integral sendo afetiva, cognitiva e social. Tal
desenvolvimento no âmbito afetivo, cognitivo, como ressalta Teixeira (1995), “o ser que brinca
motor e social, sendo importantes para a vida e joga é, também, o ser que age, sente, pensa,
adulta. aprende e se desenvolve”.
Primeiramente aborda-se a importância do Segundo a Base Nacional Comum Curricular
lúdico para a Educação Infantil para após - BNCC, é direito da criança:
explorar a sua utilização nos jogos e apresentar Brincar cotidianamente de diversas formas,
os benefícios da sua aplicação prática. em diferentes espaços e tempos, com
diferentes parceiros (crianças e adultos),
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO ampliando e diversificando seu acesso a
produções culturais, seus conhecimentos, sua
NA EDUCAÇÃO INFANTIL imaginação, sua criatividade, suas experiências
O lúdico vem sendo abordado cada vez mais emocionais, corporais, sensoriais, expressivas,
pelos estudiosos e educadores como

620
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cognitivas, sociais e relacionais (BRASIL, 2018, a base para a vida adulta, uma vez que, tais
p.38). atividades trabalham juntos o físico e o
Por meio das brincadeiras, brinquedos e emocional da criança. Morais destaca que:
jogos as crianças se divertem e sem que A ludicidade na educação possibilita
percebam estão aprendendo e se situações de aprendizagens que contribuem
desenvolvendo em vários aspectos, na para o desenvolvimento, isto é, a brincadeira
socialização, a criatividade, imaginação, os com a finalidade de atingir objetivos escolares,
movimentos corporais, a lidar com regras e e também a forma brincar espontaneamente,
solucionar problemas, expressar emoções e envolvendo o prazer e o entretenimento, neste
assim contribuindo para uma infância sadia e, último o lúdico é essencial (MORAIS, 2009, p.8).
consequentemente para a vida adulta. Para Bacelar (2009):
De acordo com o Referencial Curricular Através de uma vivência lúdica, a criança
Nacional da Educação Infantil-RCNEI: está aprendendo com a experiência, de
As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de maneira mais integrada, a posse de si mesma e
construção e aqueles que possuem regras, do mundo de um modo criativo e pessoal.
como os jogos de sociedade (também Assim, a ludicidade, como uma experiência
chamados de jogos de tabuleiro), jogos vivenciada internamente, vai além da simples
tradicionais, didáticos, corporais etc., realização de uma atividade, é na verdade a
propiciam a ampliação dos conhecimentos vivência dessa atividade de forma mais inteira.
infantis por meio da atividade lúdica (BRASIL, (BACELAR, 2009, p.26).
1998, p.23). A brincadeira direcionada com objetivos
Para Pinto e Lima (2003): educativos ou livre sendo proporcionada de
A brincadeira e o jogo são as melhores forma prazerosa e divertida trazem mais
maneiras de a criança comunicar-se sendo um sentido para as crianças facilitando assim as
instrumento que ela possui para relacionar-se aprendizagens.
com outras crianças. É através das atividades A educação infantil, embora para muitos
lúdicas que a criança pode conviver com os ainda não tenha sua devida importância é a
diferentes sentimentos que fazem parte da sua base da formação sócio educacional do
realidade interior. Ela irá aos poucos se indivíduo e, por isso, as atividades lúdicas
conhecendo melhor e aceitando a existência contribuem em seu desenvolvimento
dos outros, estabelecendo suas relações sociais cognitivo, intelectual e social. Teixeira ressalta
(PINTO; LIMA, 2003, p.5). “as atividades lúdicas integram as várias
As atividades lúdicas não se limitam apenas dimensões da personalidade: afetiva, motora e
a brincadeiras e jogos na infância, também cognitiva” (TEIXEIRA, 1995, p.23).
experiências que sejam livre, que a criança Para possibilitar às crianças os benefícios por
disponha de autonomia sendo voltada para o meio da utilização do lúdico nas práticas
divertimento, possibilitando também educativas, é importante propiciar atividades
aprendizagens, a relacionar-se com o outro e que estimule o interesse, a socialização, criar
com o mundo, ampliando as habilidades que é um ambiente que favoreça a criação,

621
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

descobertas, exploração, experimentação e crianças, de animais ou de amarelinha, de


relacionar conteúdos e conceitos. Para Ribeiro, xadrez, de adivinhas, de contar estórias, de
“o lúdico como método pedagógico prioriza a brincar de "mamãe e filhinha", de dominó, de
liberdade de expressão e criação. Por meio quebra-cabeça, de construir barquinho e uma
dessa ferramenta, a criança aprende de uma infinidade de outros. (KISHIMOTO,1997, p. 13).
forma menos rígida, mais tranquila e prazerosa, Conforme cita a autora, a dificuldade em
possibilitando o alcance dos mais diversos defini-lo é que há especificidades nos jogos,
níveis do desenvolvimento (RIBEIRO 2013, p.1). suas regras e formas de jogar, o que gera
Deste modo o lúdico pode contribuir de diferentes definições. Dentro das
forma significativa para o desenvolvimento especificidades há diversidade em relação à
integral da criança, auxiliando no aprendizado, cultura, que difere no sentido que se tem
na interação, concentração, atenção, determinados jogos, as formas de jogar e sua
memorização, imaginação, criatividade e contribuição nas interações sociais.
construção do pensamento. Os jogos têm diversas origens e culturas que
Para que o desenvolvimento das atividades são transmitidas pelos diferentes jogos e
lúdicas educativas sejam aplicadas na Educação formas de jogar. Este tem função de construir e
infantil de forma que se tenha os ganhos que o desenvolver uma convivência entre as crianças
lúdico proporciona, é imprescindível garantir a estabelecendo regras, critérios e sentidos,
formação do professor e condições de atuação, possibilitando assim, um convívio mais social e
para que o educador possa utilizar essa democracia, porque “enquanto manifestação
ferramenta em sua prática como um aliado espontânea da cultura popular, os jogos
para o desenvolvimento integral da criança. tradicionais têm a função de perpetuar a
cultura infantil e desenvolver formas de
A UTILIZAÇÃO DE JOGOS NA convivência social (KISHIMOTO,1993, p. 15).
Na compreensão de Johan Huizinga (2008), o
EDUCAÇÃO INFANTIL jogo é:
Na infância, as brincadeiras, a utilização do Uma atividade ou ocupação voluntária,
brinquedo, e principalmente dos jogos, exercida dentro de certos e determinados
contribuem de forma significativa no limites de tempo e de espaço, segundo regras
desenvolvimento da criança. Conforme livremente consentidas, mas absolutamente
Kishimoto (1998, p. 9), “psicólogos têm dado obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo,
grande atenção ao papel do jogo na acompanhado de um sentimento de tensão e
constituição das representações mentais e seus alegria e de uma consciência de ser diferente
efeitos no desenvolvimento da criança, da vida cotidiana.
especialmente de 0 a 6 anos de idade”. O jogo é uma forma lúdica de trabalhar a
Tentar definir o jogo não é tarefa fácil. necessidade que a criança tem de conhecer e
Quando se diz a palavra jogo cada um pode explorar o seu meio, ela entra em seu mundo
entendê-Ia de modo diferente. Pode-se estar imaginário reproduzindo de forma simbólica o
falando de jogos políticos, de adultos, de mundo adulto, dando significados aos objetos

622
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e nesse brincar é gerado o sentimento de Há uma característica em comum em todos


alegria contribuindo no desenvolvimento e os jogos que são as regras, que podem estar
aprendizados de forma divertida. Para explícitas ou implícitas, conforme cita
Vygotsky (1991): Kishimoto:
É na atividade de jogo que a criança A existência de regras em todos os jogos é
desenvolve o seu conhecimento do mundo uma característica marcante. Há regras
adulto e é também nela que surgem os explícitas, como no xadrez ou amarelinha,
primeiros sinais de uma capacidade regras implícitas como na brincadeira de faz-
especificamente humana, a capacidade de de-conta em que a menina se faz passar pela
imaginar (…). Brincando a criança cria situações mãe que cuida da filha. São regras internas,
fictícias, transformando com algumas ações o ocultas que ordenam e conduzem a brincadeira
significado de alguns objetos (VYGOTSKY, 1991, (KISHIMOTO, 1998, p.4).
p.122). Na concepção de Piaget (1946), citado por
Campagne (1989) citada por Kishimoto Antunes (2017), os jogos dividem-se em jogos
(1998, p. 20), sugere critérios para uma de exercício, simbólicos, de construção e de
adequada escolha de brinquedos, de uso regras. Os jogos de exercício dividem-se em
escolar, de modo a garantir a essência do jogo. sensório-motores e de exercícios do
São eles: pensamento. Os jogos simbólicos expressam-se
1. o valor experimental - permitir a por meio do “faz de conta”. Santos (2002, p.
exploração e a manipulação; 90), relata que “(...) os jogos simbólicos,
2. o valor da estruturação - dar suporte a também chamados brincadeira simbólica ou
construção da personalidade infantil; faz-de-conta, são jogos por meio dos quais a
3. o valor de relação - colocar a criança em criança expressa capacidade de representar
contato com seus pares e adultos, com objetos dramaticamente.” De acordo com Vygotsky
e com o ambiente em geral para propiciar o (1984):
estabelecimento de relações e É na interação com as atividades que
4. o valor lúdico - avaliar se os objetos envolvem simbologia e brinquedos que o
possuem as qualidades que estimulam o educando aprende a agir numa esfera
aparecimento da ação lúdica. cognitiva. Na visão do autor a criança
Para que os jogos possam contribuir no comporta-se de forma mais avançada do que
desenvolvimento e aprendizado é importante nas atividades da vida real, tanto pela vivência
que os educadores façam as escolhas de de uma situação imaginária, quanto pela
brinquedos e materiais que permitam às capacidade de subordinação às regras
crianças explorar, manipular, sendo importante (VYGOTSKY, 1984, p. 27).
propiciar as interações entre as crianças e o Em relação aos jogos de construção,
ambiente e analisar se o lúdico está sendo Kishimoto (2017), afirma que “os jogos de
estimulado proporcionando divertimento, construção são considerados de grande
alegria e prazer. importância por enriquecer a experiência
sensorial, estimular a criatividade e

623
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolver habilidades da criança”. Kishimoto alguns serão beneficiados, “a competição é um


cita “Froebel, o criador dos jogos de construção processo onde os objetivos são mutuamente
que oportunizou a muitos fabricantes a exclusivos, as ações são individualistas e
duplicação de seus tijolinhos para a alegria da somente alguns se beneficiam dos resultados”
criançada que constrói cidades e bairros que (BROTTO, 2001, p. 27).
estimulam a imaginação infantil”. Quando está É essencial o papel do professor no
construindo, a criança está expressando suas ensinamento às crianças de que o mais
representações mentais, além de manipular importante não é ganhar, mas sim competir,
objetos. estimular não apenas a competição mas
Ainda segundo Kishimoto (2010, p. 44), “os principalmente o raciocínio, para gerar
jogos de construção são considerados de aprendizagens e contribuir em vários aspectos
grande importância por enriquecer a no desenvolvimento se aperfeiçoando ao longo
experiência sensorial, estimular a criatividade e da vida.
desenvolver habilidades da criança”. Porém por meio dos jogos lúdicos é possível
Para Piaget (1946), citado por Antunes ir além e trabalhar a cooperação nos jogos, pois
(2017), “os jogos de regras possuem sua tem como objetivo promover a união, a
regularidade imposta pelo grupo, resultado da solidariedade, a interação, a confiança entre as
sociabilidade necessária, passam de uma pessoas e também diminuir a agressividade,
condição motora e egocêntrica para a pois o vencer ou perder não é tão essencial, o
cooperação e até mesmo a codificação”. prazer está na diversão em jogar e cooperar
Para que os jogos de exercício, simbólico, de para que o objetivo coletivo seja alcançado.
construção ou de regras utilizados como Nos jogos cooperativos “joga-se para
ferramenta na educação infantil contribuam superar desafios e não para derrotar os outros;
para as aprendizagens e no desenvolvimento joga-se para se gostar do jogo, pelo prazer de
da criança é importante o papel do professor, jogar” (BROTTO, 2001, p. 54). Friedman
em compreender e refletir sobre as regras dos considera que:
jogos para trabalhá-las em vários aspectos Os jogos lúdicos permitem uma situação
dentre eles, o eu, o outro, o nós, estimular a educativa cooperativa e interacional, ou seja,
interação, imaginação, sem esquecer de quando alguém está jogando está executando
priorizar a alegria e o prazer de jogar. Antunes regras do jogo e ao mesmo tempo,
(2017), enfatiza “um verdadeiro educador não desenvolvendo ações de cooperação e
entende as regras de um jogo apenas como interação que estimulam a convivência em
elementos que o tornam possível, mas como grupo (FRIEDMAN, 1996, p. 41).
verdadeira lição de ética e moral que, se bem É importante que o professor tenha clareza
trabalhadas, ensinarão a viver, transformarão na proposta do jogo, trabalhar as regras para os
e, portanto efetivamente educarão”. resultados sejam significativos gerando
Como sabemos, existem os jogos que aprendizados, sem esquecer do essencial que é
estimulam a competição entre jogadores sendo o prazer e a diversão que o jogo proporciona.
a motivação ser o vencedor, se for em grupo só

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo Celso Antunes, em seu livro O jogo prazer, da capacidade de iniciação e ação ativa
e a Educação Infantil: falar e dizer, olhar e ver, e motivadora”.
escutar e ouvir (2017), do ponto de vista Segundo Antunes (2017), “a aprendizagem é
educacional a palavra jogo se afasta do tão importante quanto o desenvolvimento
significado de competição e mais social e o jogo constitui uma ferramenta
especificamente no sentido do divertimento, pedagógica ao mesmo tempo promotora do
brincadeira e passatempo, podendo até incluir desenvolvimento cognitivo e social enfatizando
uma ou outra competição, mas essencialmente que jamais se deve esquecer o aspecto do
visam estimular o crescimento e aprendizagens prazer e da alegria”. Ainda Antunes: “uma
em uma relação entre duas ou mais pessoas criança que joga, o faz porque se diverte, mas
com determinadas regras. Para Kishimoto dessa diversão emerge a aprendizagem e
(2017), “o uso do brinquedo / jogo educativo maneira como o professor, após o jogo
com fins pedagógicos remete-nos para a trabalhar suas regras pode ensinar-lhe
relevância desse instrumento para situações de esquemas de relações interpessoais e de
ensino – aprendizagem e de desenvolvimento convívio ético”.
infantil”. E Kishimoto enfatiza: “a utilização do Para muitos educadores, o jogo é uma
jogo potencializa a exploração e a construção importante ferramenta de aprendizagem no
do conhecimento, por contar com a motivação desenvolvimento do indivíduo em uma
interna típica do lúdico”. perspectiva afetiva, criativa, social e cultural. O
De acordo com a visão dos autores, o jogo professor ao utilizar o jogo em sua prática
utilizado com objetivos educacionais pode até educativa de forma lúdica, é importante
incluir a competição, mas sua premissa está no sempre estimular o prazer, o divertimento e a
divertimento visandoestimular o motivação para gerar na criança o interesse e
desenvolvimento infantil e as aprendizagens, seu envolvimento no jogo, trabalhando
na motivação que o jogo traz, na relação social também a interação, valores e a importância
e regras a serem cumpridas. Antunes enfatiza das regras não somente no jogo mas na vida.
(2017):
Não mais pode existir no educador a ideia RESULTADOS
classificatória de “jogos que divertem” e “jogos
Para utilizar o lúdico como ferramenta em
que ensinam” pois se o jogo que se aplica
sua utilização nos jogos na Educação Infantil o
exercita e coloca em ações desafios a sua
professor deve priorizar sempre o prazer e a
experiência, promove sua relação interpessoal,
diversão.
exaltando as regras do convívio, será sempre
A utilização dos diversos tipos de jogos
um jogo educativo e ainda que possa
geram aprendizagens e contribuem para o
simultaneamente ensinar e divertir.
desenvolvimento integral das crianças, mas é
Para Kishimoto (2010, p. 41), “utilizar o jogo
preciso refletir em como esses jogos estão
na educação infantil significa transportar para
sendo trabalhados.
o campo do ensino-aprendizagem condições
É importante que o professor tenha o
para maximizar a construção do conhecimento,
conhecimento para utilizar o lúdico nos jogos e
introduzindo as propriedades do lúdico, do
assim obter resultados significativos.

625
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo teve como metodologia a pesquisa bibliográfica e traz a tona a importância
dos jogos utilizando o lúdico como ferramenta nas práticas educativas na Educação Infantil para
o aprendizado e o desenvolvimento integral das crianças.
Na infância por meio da atividade dos jogos as crianças desenvolvem a capacidade de
imaginar entrando em seu mundo imaginário imitando a vida adulta de forma simbólica criando
brincadeiras dando significados a objetos, sendo importante o professor fazer a mediação
proporcionando objetos que estimulem a imaginação, o convívio social e a motivação que o jogo
proporciona.
Todos os jogos utilizados de forma a estimular a interação, propiciar às crianças a
exploração de objetos, brinquedos e o ambiente, ampliando as experiências, trabalhando suas
regras de forma lúdica proporcionando sempre o prazer e a diversão promovem aprendizados
contribuindo no desenvolvimento em vários aspectos sendo cognitivo, afetivo, motor e social,
pois elas aprendem brincando.
Os autores evidenciam que, são muitos os benefícios em utilizar os jogos de forma lúdica
pois estimulam a socialização, criatividade, cooperação e desenvolvem habilidades no raciocínio,
entre outros, sendo fundamentais para o desenvolvimento pleno infantil, mas para que aconteça
é fundamental a mudança no olhar para a Educação Infantil que é a base para a vida adulta,
investir na formação dos professores, possibilitar recursos para que possam colocar em prática
os aprendizados garantindo às crianças seus direitos ao brincar, aprender e desenvolver em seu
aspecto integral. São muitos desafios no âmbito pedagógico e administrativo para que de fato a
utilização dos jogos enaltecendo a ação lúdica na Educação Infantil seja proporcionada às crianças
em sua amplitude.
Cabe a escola provocar a reflexão sobre essa prática educativa com seus educadores.

626
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Encarnação Bacelar- Salvador: EDUFBA, 2009.144 p.

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Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil#a- educacao-infantil-no-
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social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

627
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO E SUA


INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR
DE SOCIOLOGIA: APLICAÇÃO PRÁTICA DO
ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO ENSINO
MÉDIO - UM DIÁLOGO NECESSÁRIO ENTRE AS
DISCIPLINAS DE DIDÁTICA, METODOLOGIA E
PRÁTICA DO ENSINO DA SOCIOLOGIA E A
METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO
Hildeci de Souza Dantas1

RESUMO: O artigo em pauta objetiva discorrer acerca do (projeto/estudo) de estágio


supervisionado quando atrelado na busca do fazer docente dentro dos quatro pilares da
educação e a influência que se tem na formação do professor de Sociologia alinhando, contudo,
num embasamento teórico por meio das áreas (correlatas/disciplinas) que versam de fato uma
boa aplicação prática do estágio supervisionado na condição de docente do nível médio. Para
1 Professor na Rede de Ensino da Educação Básica Estadual de Igarapé-Açu/PA.
Formação Acadêmica: Licenciado em (Sociologia). (Pedagogia). (Letras/Português e Espanhol).
Especializado em (Língua Portuguesa). (Docência do Ensino Superior). (Neuropsicopedagogia).
(Psicopedagogia Institucional, Clínica e Educação Especial). (Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica).
(Pedagogia Empresarial) e (Educação Infantil, Alfabetização e Letramento). (Mestre) e (Doutor) em Educação.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tanto, cunhou-se de uma análise na prática do professor de Sociologia em sala de aula traçando
dentro do posto de trabalho os quatro pilares da educação – (aprender a conhecer, aprender a
fazer, aprender a conviver e a aprender a ser). Nesse sentido, a proposta de intervenção na
prática quando arguido neste (projeto/estudo) foi o de buscar por meio de um diálogo pleno e
exitoso na prática do professor de Sociologia em formação focado dentre 3 (três) disciplinas de
cunho metodológico de pesquisa-ação/reflexão-ação, a saber: a Didática, a Metodologia e Prática
do Ensino da Sociologia e a Metodologia do Trabalho Científico. No mais, o mérito deste trabalho
- (artigo-trabalho/projeto) - consiste na atuação do professor de Sociologia ao passo que (o
favorecimento do conhecimento e da aprendizagem) esteja atrelado da necessidade do alunado
que estão no nível médio possam entender da urgência de (aprender a aprender) como um dos
resultados propostos para a sua realidade empírica do notório saber, pois as instituições do
presente século conclamam por novas (habilidades, conhecimentos e atitudes) gerando com esse
aparato uma nova ordem na prática do alunado de Sociologia e no dia a dia do professor de
Sociologia bem como do futuro profissional e suas competências. O estudo nesse (artigo-
trabalho/projeto) é de uma pesquisa do tipo bibliográfica e (aplicação/prática) de ensino do
professor de Sociologia quando em (ação-reflexão/prática) na sala de aula. Ainda a esse respeito,
a interdisciplinaridade neste trabalho serviu como um (aliado-chave) na condução da prática de
ensino nas três áreas do conhecimento e seu (diálogo-prático) de novas competências do
cotidiano e vida acadêmica para ambos – (alunos e docente), este último, quando atrelado ao seu
(ofício/professor) de Sociologia.

Palavras-Chave: Estágio Supervisionado e Nível Médio. Os Quatro Pilares da Educação. Proposta


de Intervenção e Prática de Ensino. Influência na Formação do Professor de Sociologia. Futuro
Profissional e Novas Competências.

THE FOUR PILLARS OF EDUCATION AND THEIR INFLUENCE ON THE


TRAINING OF SOCIOLOGY TEACHERS: PRACTICAL APPLICATION OF
THE SUPERVISED INTERNSHIP IN HIGH SCHOOL - A NECESSARY
DIALOGUE BETWEEN THE DISCIPLINES OF DIDACTICS,
METHODOLOGY AND PRACTICE OF SOCIOLOGY TEACHING AND THE
METHODOLOGY OF SCIENTIFIC WORK
ABSTRACT: The article aims to discuss about the supervised internship (project/study) when
linked in the search for the teaching within the four pillars of education and the influence it has
on the training of the Sociology teacher aligning, however, in a theoretical foundation through
the areas (correlated/disciplines) that deal in fact a good practical application of the supervised
internship in the condition of middle level teacher. For that, it was coined an analysis in the
practice of the Sociology teacher in the classroom tracing within the work station the four pillars
of education - (learning to know, learning to do, learning to live together and learning to be). In
this sense, the proposal of intervention in the practice when argued in this (project/study) was to
seek through a full and successful dialogue in the practice of the Sociology teacher in formation
focused among 3 (three) disciplines of methodological nature of research-action/reflection-
action, namely: Didactics, Methodology and Practice of Sociology Teaching and Methodology of
Scientific Work. Moreover, the merit of this work - (article-work/project) - consists in the
performance of the Sociology teacher while (the favoring of knowledge and learning) is linked to
the need of the students who are in the high school level can understand the urgency of (learning

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

to learn) as one of the proposed results for their empirical reality of the notorious knowledge,
because the institutions of the present century call for new (skills, knowledge and attitudes)
generating with this apparatus a new order in the practice of the students of Sociology and in the
daily life of the Sociology teacher as well as of the future professional and his competences. The
study in this (article-work/project) is of a bibliographical research type and (application/practice)
of teaching of the Sociology teacher when in (action-reflection/practice) in the classroom. Also in
this regard, interdisciplinarity in this work served as a (key ally) in conducting teaching practice in
the three areas of knowledge and its (dialogue-practice) of new skills of everyday life and
academic life for both - (students and teacher), the latter, when tied to their (craft/teacher) of
Sociology.

Keywords: Supervised Internship and High School. The Four Pillars of Education. Intervention
Proposal and Teaching Practice. Influence in the Formation of the Sociology Teacher. Professional
Future and New Competencies.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO futuros profissionais (alunos que saem do


ensino médio em busca de uma profissão - seja
Não é novidade pra ninguém que o esta profissão de cunho metodológico docente,
conhecimento é a mola propulsora de uma ou não).
nação que demanda avanços e ranços ao longo Por outro lado, o que importa é que ser
de nosso perfil histórico desde que professor de Sociologia requer um estudo de
entendemos que somos humanos (alguém que maior afinco acerca da sociedade em que
pensa e age de acordo com as prerrogativas da vivemos e convivemos como um todo. Daí se
sociedade em apreço). percebe que o encontro dessas 3 (três)
E nesse embate encontramos o papel do disciplinas para o futuro docente (professor de
professor de Sociologia na avidez de Sociologia) é de uma primazia enormemente
problematizar na mente de seu alunado que o competitiva e acirrada ao mesmo tempo.
ensino médio é a porta de (entrada e saída) É sabido afirmar que os tempos mudaram, as
para uma educação continuada e sua pessoas mudaram e o mercado a todo dia
importância se aprofunda em cunhar-se no muda como, por exemplo, os tempos de
mérito dos quatro pilares da educação pandemia em que estamos perpassando (onde
arraigado no autor Jacques Lucien Jane Delors as pessoas precisaram se adaptar para com o
(1998). uso da tecnologia para continuar estudando e
Desta forma, o trabalho teve um recorte ao trabalhando ao mesmo tempo sem falar no
alcance do (projeto/estudo) de estágio trabalho home Office e/ou tele trabalho).
possuindo um único objetivo que é: Como problemática foi questionado:
Situar nos alunos de 2ª Licenciatura em Até que ponto alunos e professores de
Sociologia que opte por fazê-lo com base em Sociologia estão conscientes de que os quatro
um (projeto/estudo) que demande ao menos 3 pilares da educação são fortes aliados para uma
(três) disciplinas a gosto modo e que delas educação continuada de sucesso? Como os
trabalhem em comum acordo – (aplicações quatro pilares da educação têm influenciado os
práticas em sala de aula) - como se o assim alunos e professores de Sociologia a tomarem
estivesse demandando o estágio propriamente decisões acertadas frente ao novo mercado
dito (presencial). De todo modo, afirma-se aqui que estamos enfrentando? De que forma os
o compromisso da escolha das disciplinas: quatro pilares da educação influenciam e
Didática; Metodologia e Prática do Ensino de contribuem para a formação cognitiva,
Sociologia e Metodologia do Trabalho profissional e social dos alunos que estão
Científico (O AUTOR, 2021/2022). saindo do nível médio e escolhem cursar
A justificativa para a escolha das disciplinas Sociologia? (O AUTOR, 2021/2022).
em ação tem por base a educação continuada Contudo, tem-se como possíveis respostas
e, nesse embate, entra o papel que cabe ao ao problema que a priori foi questionado,
professor formador de Sociologia para com a respectivamente, a seguir:
educação em tempos modernos onde as A partir da compreensão de que os quatro
instituições do presente século requerem dos pilares da educação são em suma a produção

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

do tempo em que vivemos onde o aprender a chamamos de competências técnicas de


conhecer, aprender a fazer, aprender a viver estudos como, por exemplo, um seminário, um
juntos e aprender a ser - são portas de entradas estudo de caso e até uma pesquisa social, etc.
e saídas rumos aos novos postos de trabalho Dissertar por meio do ensino da disciplina de
docente. Através da percepção de que as Metodologia do Trabalho Científico que alunos
instituições do presente século sofrem e não é e professores de Sociologia encontram
de hoje com a pressão da falta de mão de obra (métodos/caminhos) de práticas de como
qualificada. Em linhas gerais, os alunos vivem aprimorar o conhecimento na busca constante
sob a pressão da relação entre a qualificação de do saber como – (aprender a fazer) – pesquisas
mão de obra e a competitividade desde o ensino médio e se tornar um futuro
desregulamentada da pós-modernidade em profissional que o mercado da pós-
que vivemos (O AUTOR, 2021/2022). modernidade almeja atrelando a este o saber
Partindo dessa relação de competências – como – (aprender a conhecer), (aprender a
(conhecimentos, habilidades e atitudes) - é que viver) e, por fim, saber como – (aprender a ser)
se situa o objetivo geral ao referido - pesquisador.
(projeto/estudo) de estágio – (curso de Trabalhar de forma – (interdisciplinar) -
segunda licenciatura em Sociologia) - bem mostrando que os saberes devem estar (inter-
como tal se têm evidência para o enfoque relacionado e interconectado) gerando novas
prático a partir de tais prerrogativas, a saber: competências necessárias na sociedade
Mostrar de que forma podemos estar moderna, desta forma, traçado pelo diálogo
atrelado aos quatro pilares da educação – entre o viés das disciplinas: (Didática -
(alunos e professores de Sociologia em sala de Metodologia e Prática do Ensino de Sociologia -
aula). Metodologia do Trabalho Científico).
Nesse sentido, a proposta de trabalho Quanto aos procedimentos metodológicos o
também vai além dos espaços das (salas de ponto de partida é alinhar para uma pesquisa
aula) bem como se situa dentro dos pilares do do tipo prioritariamente “bibliográfica”
conhecimento. Para isso, os objetivos perpassando para uma “pesquisa prática-ação”
específicos estão assim ordenados, no sentido de (inter-relacionar e interconectar)
respectivamente: um modelo prático de pesquisa começando
Descrever que por meio da prática do ensino pela disciplina de Didática como seu aliado
de Didática e o diálogo entre alunos e principal pela Metodologia e Prática do Ensino
professores de Sociologia é que alcança o de Sociologia bem como cunhar da
sucesso profissional em sala de aula permitindo Metodologia do Trabalho Científico.
novos temas sejam eles frios ou quentes para Nesse aspecto, (FONSECA, 2002), consegue
debates. afirmar o que se entende por pesquisa
Mostrar para alunos e professores de bibliográfica quando,
Sociologia que a disciplina de Metodologia e Esse tipo de pesquisa é feito por meio de
Prática do Ensino de Sociologia deve contribuir levantamento de referências em teorias já
de fato com os saberes mais aproximados que analisada e até publicada através de quaisquer

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

meios sejam eles eletrônicos ou fisicamente. Por isso, o estágio tem esse propósito –
Igualmente, ressalta que na pesquisa (fazer com que a união dessas três disciplinas)
bibliográfica o autor busca informações para forme-se num (projeto/estudo) interdisciplinar
testar a sua problemática de forma que os cunhado na prática da sala de aula no
conhecimentos prévios sejam mais usuais e, (estudante/estagiário-não obrigatório) o
adiante mais, confirmados ou refutados. (p.32, sentido do fazer acontecer dentro de um
citado por FANTINATO, 2015, p. 20). modelo prático impessoal e contínuo. Muito
No todo e/ou em parte, a pesquisa surgiu da bem lembrado é possível destacar a seguir os
necessidade de se trabalhar o foco do estágio relatos dos autores quando citaram Vigotsky
na prática do professor de Sociologia, este, (2010) acerca do estágio supervisionado
licenciado pleno em Pedagogia, em especial, na quando na prática do professor de Sociologia e
condição de 2ª Licenciatura em Sociologia. assim advogaram:
Contudo, temos que, Para que o ensino seja eficaz, o aluno precisa
Segundo Elliott (1997, p.15), a pesquisa perceber a relação entre o seu conhecimento
prática-ação permite superar as lacunas prévio e o conhecimento que a ele está sendo
existentes entre a pesquisa educativa e a apresentado na escola. No entanto, está claro
prática docente, ou seja, entre a teoria e a que não existe fórmula pronta para alcançar
prática, e os resultados ampliam as resultados, é preciso praticar e a única forma
capacidades de compreensão dos professores de práticar antes de ir para a sala de aula já
de Sociologia e suas práticas, por isso como professor, é estagiando. (SOUZA; SILVA;
favorecem amplamente as mudanças, em VAZ, 2019, p. 5).
especial, no processo de ensinagem – (ensino e Aponta-se, aqui um modelo proposto para
aprendizagem) - do alunado em âmbito de os alunos de Sociologia, a saber: período da
estudo das ciências sociais como um todo. pandemia Covid-19, porém, a proposta
(citado por LUCIOLO; MENDES, 2015, p. 3/164, metodológica não é para aplicação e sim, como
grifo do autor). se o alunado fosse tomar por primazia o
No entanto, busca-se, com isto, um elo entre possível estágio supervisionado.
os autores e seus saberes num só propósito que Para tanto, cunhou-se dessa distância de
é o de fazer valer os 4 (quatro) pilares da entendimento partindo do princípio de que
educação num só plano pedagógico – (proposta somos pessoas maduras e adultas que
de estágio supervisionado) fazendo valorizar e necessitamos de outros modelos mentais que
influenciar na profissão docente de Sociologia e nos estimulem a criar e a inovar
na formação do aluno de Sociologia bem como constantemente. Ainda a esse respeito, estes
de suas práticas em sala de aula unindo mesmos autores fizeram questão de mencionar
esforços na busca das competências alinhadas esse quesito do estágio e, assim aludiram que
no aprender a aprender – (foco do primado dos este tipo de estágio distancia o alunado da sua
quatro pilares da educação). É de se perceber própria realidade (empírica/notório) saber, por
que ao longo dessa proposta de estágio uma isso, no olhar dos autores acima supracitados é
coisa é certa – (educar é ensinar a pensar). possível percebermos que:

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O estágio deve ser problematizado de forma Sociologia e a Metodologia do Trabalho


crítica em que a prática docente é analisada e Científico.
repensada de acordo com a realidade escolar C) A aplicação do (projeto/estudo) em si bem
da escola observada, incluindo também nesta como a conclusão e as referências pertinentes
analise as condições de trabalho do professor, consultadas.
a realidade da disciplina de sociologia no ensino Para não ficar somente nesta discussão é
médio, as condições socioeconômicas dos bom repensarmos para o que se afirma em
alunos destas escolas, a presença ou ausência Wallon, quando advoga que:
de interesse pela disciplina por parte dos Um professor realmente ciente das
alunos. Todos estes fatores devem ser levados responsabilidades que lhes são confiadas deve
em consideração por parte do estagiário tomar partido dos problemas de sua época. Ele
quando for fazer suas análises e seus relatórios deve tomar partido não cegamente, mas à luz
de estágio, pois não deve ser uma mera do que sua educação e sua instrução lhes
descrição dos acontecimentos em sala de aula, permita fazer. Ele deve tomar partido para
acredito que esta observação deve ser de conhecer verdadeiramente quais são as
forma analítica e reflexiva para proporcionar a relações sociais, quais são os valores morais de
criação de novos métodos de abordagem de sua época. Ele deve se engajar não somente
conteúdo dentro da sala de aula (SOUZA; SILVA; com seu trabalho de escritório, e não somente
VAZ, 2019, p. 6). para a análise das situações econômicas ou
Daí, a importância do tema que foi escolhido sociais de seu tempo e de seu país; ele deve ser
para esse (projeto/estudo). Considera-se, que solidário com seus estudantes, aprendendo
nada aqui está esgotado, temos muito ao que com eles quais são as suas condições de vida,
percorrer, em linhas gerais, as instituições por exemplo. Ele deve constantemente buscar
precisam de pessoas que somados aos seus novas ideias e modificar a si próprio para um
esforços consigam assumir novos papéis, estes, contato permanente com uma realidade em
(que sejam mais críticos e que se permitam a evolução permanente, feito da existência de
construir novos conhecimentos). O todos e que deve atender aos interesses de
(projeto/estudo) encontra-se assim todos (WALLON, 2008, p.82, citado por
delimitado: ANDRADE; BASTOS, 2016, p. 81).
A) Introdução com os aspectos relevantes da Enquanto tomadores do conhecimento
pesquisa como a justificativa, problemáticas, devemos repensar todos os dias as nossas
hipóteses, objetivo geral e os específicos bem (práticas docentes) uma vez que o (alunado)
como o norte dos procedimentos não é apenas alguém que recebe conteúdos de
metodológicos. modo tradicionalmente e não questiona, não
B) O desenvolvimento com a discussão sob se apresenta como dono de algum saber e,
os traços essenciais dos achados (autores) que acima de tudo, alguém que não tem em seu
falam sobre as temáticas subdivididas em repertório do saber o diálogo entre este e o seu
Didática, Metodologia e Prática do Ensino de educador.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nesse aspecto, os autores a seguir A DIDÁTICA E OS TÓPICOS DE


reafirmam o que se discorre anteriormente e,
ressalta observando que: INTERVENÇÃO PRÁTICA EM
Professores e alunos precisam dialogar, SOCIOLOGIA E NA FORMAÇÃO
precisam se entender e compreender, sem
DO PROFESSOR DE SOCIOLOGIA
diálogo não existe aprendizagem. É um
Muito se fala em pesquisas, porém, é nos
processo de troca em que professores e alunos
alunos do ensino médio que este rigor
aprendem e são ensinados. Essa interação e
científico merece total atenção. Desta forma, o
troca de experiências e conhecimentos se dão
objeto de pesquisa já proposto neste
principalmente a través da fala, por isso ouvir
(projeto/estudo) de estágio é buscar nesse
se faz muito importante no processo de ensino
alunado que influencia tem os quatro pilares da
aprendizagem. Professor e aluno devem falar,
educação na formação do professor de
mas primordialmente saber ouvir (ANDRADE;
Sociologia e de alunos que estão saindo do
BASTOS, 2016, p. 79).
nível médio e ficam a mercê das prerrogativas
Em conformidade com que se apresentam os
da sociedade moderna (pós-modernidade).
autores acima supracitados é relevante
Sobretudo, surge com esse diálogo uma
mencionar que o estado da arte pelo ensino da
análise mais acurada do processo ensino e
Sociologia é de uma grandiosidade que nem
aprendizagem que é o de suscitar nestes alunos
necessita reafirmar que o processo de
a influencia que o (apender a conhecer, fazer,
ensinagem (ensino e aprendizagem) só terá
conviver e ser) tem de maior importância para
frutos se todos nós fizermos a nossa parte
o contexto educacional como um todo.
enquanto docente.
Dessa forma, a Didática e os tópicos de
Nesse sentido, o diálogo a que se propõem
intervenção em Sociologia e na formação do
os autores é de um notório saber entre ambos
professor de Sociologia se torna importante
uma vez que o alunado precisa ser conhecedor
uma vez que ambos (alunos/professores em
de tal experiência (conhecimento) do professor
formação) e/ou profissionais atuantes saibam
que se abrirá para o debate e assim fazer de sua
primar por uma ética didática com
prática docente o mais desafiador aspecto da
planejamento e compromisso para que o
disciplina de didática como um dos tópicos a
ensino e aprendizagem sejam dados como
serem observados neste (projeto/estudo).
concluídos, porém, nunca acabado.
No melhor das intenções a didática é uma
A Didática enquanto disciplina é a mola
das disciplinas que todos nós perpassamos
propulsora do dever de todo docente. Sem um
quando na (graduação/licenciatura) e como se
bom plano de aula e boas ações correlatas para
não bastasse também a revisamos em nosso
um ensino pleno e eficaz jamais teremos uma
cotidiano e vice-versa. Sobretudo, é dela que
intervenção prática em sala de aula. Por isso, a
iremos focar daqui em diante quando esculpido
Didática é base de todo o processo
no teor profissional e da formação do professor
educacional. E neste projeto de
de Sociologia.
aplicação/intervenção prática a Didática foi

635
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escolhida como um aliado nesse processo de o pensamento e a reflexão do estudante, da


ensinagem. importância de planejar contingências de
Todavia, o autor Libâneo (2014, p. 2), afirma reforço, com o objetivo de alcançar formas
com muita veemência que ao invés de ficar especificas de comportamentos, para regular
problematizando (coisas) a única saída seria se aprendizagens e desenvolver competências
perguntar: “Para que servem as escolas?” nos estudantes. Enfim, o entendimento
Pergunta mais ousada, não é? De fato, é uma produzido sobre o ato de ensinar caminhou,
pergunta que cabe respostas e uma delas é se historicamente, no sentido de priorizar ora um
assegurar de forma prática que as escolas estão ora outro elemento que constitui o ato de
ai para graduar de forma secular cidadãos de ensinar.
bem e com essa vertente surge o papel do Contudo, o (projeto/estudo) de estágio
professor de Sociologia nesse espaço. supervisionado em Sociologia vem justamente
Outro ponto importante é procurar saber se buscar essa prerrogativa incutida na arte de
as escolas estão de fato cuidando e lidando de ensinar e aprender como assimila os quatro
fato e de direito com o planejamento a que é pilares da educação todos unidos no estímulo e
proposto dentro do Projeto Político reforço por uma base reflexiva e transmissiva
Pedagógico. Este mesmo autor aponta que a do conhecimento.
escola deve primar por um “conteúdo do Para isto, a Pedagogia tradicional trazia uma
conhecimento didático e do seu papel na vertente muito diferente dos dias atuais como
formação de professores”. Papel este que é de assuntos longe da realidade empírica dos
interesse pessoal, profissional e ético por uma alunos. E nesta proposta o primor é fazer dos
escola mais participativa, inovadora e alunos de Sociologia um pesquisador do futuro
construtora de um conhecimento mais traduzindo nestes um ato de ensinar como
acurado. prazer e em prol de uma sociedade mais justa e
Conhecimento este que vai além de uma igualitária traduzida na ética da pesquisa e suas
Didática da formação docente e das práticas de metodologias de ensino.
ensino metodológicos em Sociologia e suas De todo modo, objetiva-se com este
implicações para a construção do (projeto/estudo) de estágio o que se afirma em
conhecimento arraigado no trabalho científico (VEIGA, 1989, p. 44, citado por BARBOSA &
desde o nível médio até a formação do FREITAS, 2018, p. 3), nesta concepção “a
professor universitário, dentre outros aspectos Didática é compreendida como um conjunto de
a serem togados. regras visando assegurar aos futuros
Por isso, os autores Barbosa & Freitas (2018, professores as orientações necessárias ao
p. 3), citam Damis (2010, p. 6), e afirma que: trabalho docente”.
Historicamente, os conhecimentos Nesse sentido, a metodologia e prática de
produzidos sobre arte de ensinar caminharam ensino da Sociologia caem muito bem em prol
da ênfase no ensino para a aprendizagem, da dos quatro pilares da educação incutida na
transmissão de conhecimentos pelo professor formação do professor de Sociologia baseado
para a orientação de atividades para estimular em temas (quentes) e temas (frios) combinados

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

na arte de ensinar dos quatro pilares da fazer o aluno compreender a que a disciplina
educação. trabalha a complexidade do ser humano,
influenciando e sendo influenciado pelas
estruturas sociais, problematizando seus
A METODOLOGIA E PRÁTICA limites, suas contradições e suas diferentes
DO ENSINO DA SOCIOLOGIA E atitudes quando sujeito a um determinado
SUA INFLUÊNCIA DOS QUATRO momento ou situação histórica. O seu principal
mérito, resumindo, é nos conduzir a pensar
PILARES DA EDUCAÇÃO NA sobre as relações sociais (desiguais), as
FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE diferentes culturas, as políticas existentes no
meio social.
SOCIOLOGIA Olhando para a proposta de
A Metodologia e a Prática do Ensino da aplicação/intervenção prática desde o início
Sociologia também é atributo neste deste (projeto/estudo) de estágio é possível
(projeto/estudo) de estágio onde a proposta de enxergar que o autor tem sua verdade quando
(aplicação/intervenção-prática) na formação enfoca o papel da Sociologia. Daí se propõe
docente para a diversidade e a neste trabalho que seja elucidado a diversidade
interdisciplinaridade na formação do professor e a interdisciplinaridade como um dos pontos-
de Sociologia é a segunda base de aplicação na chave nessa proposta. Todavia, a Sociologia
prática do professor de Sociologia em formação não é matéria apenas dos Sociólogos.
neste (projeto/estudo). Para tanto, Por isso, a cultura da diversidade na
(LOURENÇO, 2008, p. 3/69) advoga que: formação do professor de Sociologia cai
O trabalho do Sociólogo é questionar os muitissimamente bem para este
problemas sociais, refutando as primeiras (projeto/estudo) e os temas transversais
impressões, e indo além das aparências, isto é, deverão estar em flexibilidade em detrimentos
provocar no estudante o entendimento que de temas quentes como a ética, a cidadania, a
por trás de um mundo manifesto se oculta um participação política, o respeito mútuo e a
mundo latente. Os fatos sociais não surgiram justiça bem como os temas frios, a
ao acaso foram construídos socialmente. solidariedade, o diálogo, a educação ambiental,
De fato, o autor acima citado é lúcido por nos a orientação sexual, etc. Todas essas questões
informar que os problemas sociais também são devem fruir de uma cultura social não somente
oriundos do Sociólogo onde o lúdico nem incutido no professor de Sociologia, mas em
sempre é manifestado. Tudo depende da forma todo aquele que por sua vez tem preocupação
como cada ser humano consegue enxergar o com o meio social.
mundo e as coisas. Por sua vez, na (p. 4/70) este Nesse sentido, disciplina de Metodologia do
mesmo autor afrma: Trabalho Científico deveria trazer desde o
O papel da Sociologia no Ensino Médio é a ensino médio na pessoa do aluno por meio do
desnaturalização, o estranhamento e a tomada ensino secular como uma injeção de ânimo
de consciência dos fenômenos sociais. Isto é, para a pesquisa (antes-durante-depois) de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ingressar num mundo do trabalho ou até Para além deste, no nível médio este quesito
mesmo numa Universidade. Este é o apreço passa indiferente até mesmo por muitos de nós
dessa proposta neste (projeto/estudo) em ação educadores que por muitas vezes achamos que
e intervenção-prática do professor de nossos alunos não irão (aprender a aprender)
Sociologia. como bem assimila os quatro pilares da
educação. Ainda a esse respeito, isso implica
veementemente na disciplina de Sociologia, da
A METODOLOGIA DO Didática, da Metodologia e Prática de Ensino
TRABALHO CIENTÍFICO E SUAS em Sociologia e até mesmo no rol das
(Universidades/Faculdades).
MÚLTIPLAS COMPETÊNCIAS Contudo, o olhar vazio, o olhar indiferente é
PARA O ENSINO DE SOCIOLOGIA o que causa preguiça mental na sociedade. O
A Metodologia do Trabalho Científico e/ou fazer pesquisa desde o nível médio é um
da Pesquisa Científica eleva no aluno o cunho (elo/diálogo) entre o aluno do ensino secular e
da pesquisa como um todo. E esse é o objeto o aluno pesquisador. Pois quem não pesquisa
de estudo quando se fez a união desta não produz e muito menos faz ciência.
(disciplina/área) no (projeto/estudo) de estágio Desta forma, o (fazer/conhecer), o
apesar de que esta disciplina não existe no nível (fazer/fazer), o (fazer/conviver) e o (fazer/ser)
médio, mas é estudada nos cursos de é nos permitir do fazer ciência e isso tem
licenciaturas e nos foi solicitado que começo lá na produção de nível médio quando
escolhêssemos 3 (três) áreas e foi escolhido o professor de Sociologia passa um trabalho e
como uma proposta de muita ousadia para o mergulhamos na busca por resposta e isso
entorno do ensino médio quando da deveria acontecer desde os primórdios –
construção do saber notório de um aluno/a que (pesquisar a pesquisar).
sai do ensino médio já com um conhecimento Para compreender a riqueza desta proposta
mais aguçado do saber empírico de ensino, é necessário que analisemos previamente essas
pesquisa e extensão, este último quando três (áreas/disciplinas), em especial, a de
inserido na (graduação/licenciatura). Metodologia da Pesquisa Científica e/ou
Olhando por essa ótica ressalta-se aqui das Metodologia do Trabalho Científico onde o
palavras de Mário Quintana quando afirmou há aluno tem a possibilidade de contribuir com a
muitos anos atrás “o que mata um jardim não ciência. E como isso pode acontecer?
é o abandono. O que mata o jardim é esse olhar Pesquisando apenas... Ou seja, colocando em
vazio de quem por ele passa indiferente”. Cabe sua pauta outras 3 (três) diferentes dinâmicas
aqui destacar que o (tradutor/poeta/jornalista) que são: realidade, ciência e cultura.
já despertava certo interesse pela pesquisa. Para tanto, (BRUNER2 , 1988a, p. 103), citado
1

por (GÓMEZ, 2000, p. 7), assim advertiu: “não

1 (2000, p. 7). BRUNER, J. S. Prologue to the English


Nota: O autor Bruner, 1998a, (p. 103) foi citado do
capítulo 3 do livro – compreender e transformar o ensino Edition. In: The Collected Works of L. S. Vygotsky.
dos autores J. Gimeno Sacristán e A. I. Pérez Gómez,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

existe um mundo real, único, preexistente à Nada está esgotado quando se trata de
atividade mental humana”. Nesse sentido, (...) conhecimento acadêmico. Todavia, nem
ainda assim o afirmou: “o mundo das sempre o conhecimento tem sido a mola
aparências é criado pela mente”. Com esta propulsora do homem/ciência e vice-versa.
afirmativa do autor estou ciente de que é pela Cada um carrega consigo que aprendeu ao
ciência (pesquisa) que a mente humana se longo do tempo. A dinâmica da sala de aula
constrói e evolui constantemente. deve ser dialógica/flexível onde todos possam
É nítido que conhecemos um mundo de aprender a aprender.
diversas maneiras, diversas atitudes, diferentes Por sua vez, este mesmo autor adverte que:
estruturas e diferentes representações e A aula deve tornar-se um fórum de debate e
realidades, porém, cabe aqui afirmar que é negociação de concepções e representações da
fazendo ciência que as pessoas começam a realidade. No entanto, ele assim afirma que o
pesquisar e no nível médio essa dinâmica aluno/a pode se envolver num processo aberto
deveria estar paulatinamente na concepção de de intercâmbio e negociação de significados
nossos alunos. sempre que novos conteúdos provoquem a
Todavia, a nossa realidade educacional é ativação de seus esquemas habituais de pensar
outra, a nossa ciência (pesquisa) anda em e atuar”. Ainda faz alusão a quê: “é necessário
constantes dúvidas e a cultura é sempre a provocar no aluno(a) a consciência das
mesma (cada tem a sua e ninguém faz nada pra insuficiências de seus esquemas habituais e o
mudar). Para confirmar o que se pretende com valor potencial de novas formas e instrumentos
essa terceira área/disciplina é possível de análise da realidade plural. Por outro lado,
analisarmos para o que afirmou (GÓMEZ, 2000) faz uma crítica aos professores e diz que
que: somente se poderá realizar esta provocação se
O conhecimento acadêmico não pode de o professor/a parte do conhecimento do
modo algum reduzir-se à transmissão dos estado atual do estudante, de suas concepções,
produtos históricos da investigação científica inquietações, propósitos e atitudes. Por fim, ele
ou da busca pela cognitiva da humanidade. O advoga que a orientação habitual na prática
conhecimento foi, é e será uma aventura para docente é, ao contrário, deve partir das
o homem, um processo carregado de incerteza, disciplinas e aproximá-las de modo mais ou
de prova, de ensaio, de propostas e retificações menos motivador ao aluno/a. (GÓMEZ, 2000,
compartilhadas, e da mesma maneira deve se pp. 9-10, grifo do autor).
aproximar do aluno/a, se não queremos Como podemos assimilar o autor faz severa
destruir a riqueza motivadora da descoberta. alusão acerca do propósito da pesquisa e
(p. 8). afirma que é possível que ambos estejam
comprometidos com as representações sociais.

Volume 1. Nova Iorque, EUA, Plenum, 1987. Tradução


livre do autor: BRUNER, J. S. Prologue para a edição
inglesa. In: As Obras Colecionadas de L. S. Vygotsky.
Volume 1. Nova Iorque, EUA, Plenum, 1987.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Este ainda alude que os docentes devem incutir que precisamos nos dias de hoje frente ao novo
nos alunos a vontade de pesquisar partindo das ensino médio.
disciplinas e aproximá-los o quanto necessário Ainda assim, ele alega que a pesquisa
e que a investigação por si só não anda se não promove no aluno certas capacidades que vão
houver uma (ação-reação-ação) por parte de desde a prática (pessoal) quanto ao (social)
quem ousa a pesquisar e produzir suscitando o questionamento das coisas por
conhecimento. meio dos porquês? e para quês? E, neste, estar
Desta forma (PESCUMA, 2008, p. 11), incutido os quatro pilares da educação que é o
reafirma que “a produção de novos (aprender a aprender) como seu maior foco. No
conhecimentos gera nas pessoas a necessidade entanto, ele afirma questionando que a
de uma constante atualização”. Já (LUNA, 1996, pesquisa não deve ser concebida apenas na
p. 5), também esclarece que “o papel do graduação, pós-graduação e, sim, desde a
pesquisador passa a ser o de um intérprete da educação infantil até o mais alto (grau/nível
realidade pesquisada”. Assim, é o aluno do educacional).
ensino médio. Cabe a cada um Por isso, é de se reafirmar neste
(fazer/acontecer) de seu jeito. (projeto/estudo) de estágio como a terceira
Este deve fazer pesquisa bem antes de (área/disciplina), a saber, a Metodologia do
ingressar na Universidade e o professor de Trabalho Científico perpassando desde o nível
Sociologia pode antecipar, estes, para o médio (entrada/saída) dos alunos para o
fomento da pesquisa com temáticas de cunho mercado de trabalho ou até mesmo o seu
“quentes” ou “frios” que desperte curiosidades ingresso em uma (Universidade/Faculdade).
de debates em sala de aula. Ou seja, por meio Em outras palavras, estes, devem estar
de um pequeno projeto ou de um seminário de preparados para novos conhecimentos como
pesquisa com breve discussão em fóruns e até bem assim advertiu (PESCUMA, 2008, p. 13),
apresentação em workshop bem como quando citou Demo (1991, pp. 40-52), e assim
publicações em revistas da área, etc. É na descreveu os cinco níveis da pesquisa citadas
(disciplina/área sociológica) que os alunos como: “interpretação reprodutiva, própria,
devem despertar para o (novo) e para a reconstrução, construção e criação-
(produção) de novos conhecimentos. descoberta”. Diante deste contexto, vários
Nesse sentido, Pescuma (2008, p. 13), mais instrumentos servem de apoio nesta terceira
uma vez quando citou Demo (1991, p. 50/78- etapa do (projeto/estudo) de estágio
94), fez questão de assimilar que: a pesquisa supervisionado em Sociologia.
implica diálogo constante com a realidade... Por último, é deste poder de inovar e recriar
Assim, adverte que este confronto com a que o (projeto/estudo) se define adiante mais
realidade exige capacidade do aluno em em detrimento de tais afinidades em sala de
elaborar na prática a recriação de novas aula como: ensaio de trabalhos acadêmicos,
(descobertas/teorias) e de unir (ao saber) como levantamento bibliográfico, resenhas críticas,
(saber) e (mudar) a realidade percebida. É o resumos, artigos de opinião, dentre outros que
possam fruir nos alunos o gosto pela pesquisa

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

em (aprender a conhecer), (aprender a fazer), De todo modo, a proposta aqui tem como
(aprender a conviver) e, por último, (aprender objeto de estudo fazer buscas ativas na prática
a ser) um instrumento de cunho pessoal na do professor de Sociologia quando de sua
pesquisa científica e se modelar rumo ao atuação em sala de aula e o foco consiste para
trabalho metodológico desde o ensino médio. os alunos do nível médio em detrimento dos
quatros pilares da educação arraigada na
influência que se tem em (aprender a conhecer,
PROPOSTA DE aprender a fazer, aprender a conviver e
(APLICAÇÃO/INTERVENÇÃO- aprender a ser) como uma proposta prática
profissional em ambos os lados.
PRÁTICA) DO Por fim, de um lado está o (professor de
(PROJETO/ESTUDO) DE ESTÁGIO Sociologia) em (formação) e de outro lado
SUPERVISIONADO PARA O consiste no (alunado) em (formação) com
respaldo teórico nas 3 (três) disciplinas a
CURSO DE 2ª LICENCIATURA EM fomentar que são a Didática, a Metodologia e
SOCIOLOGIA Prática do Ensino da Sociologia e a Metodologia
O aprendizado é constante na vida do ser do Trabalho Científico. A partir de então segue
humano. Ao longo de sua existência, ele os 3 (três) quadros das propostas de
aprende de diferentes formas: nas relações (aplicação/intervenção-prática) para o
estabelecidas na família, no convívio com (projeto/estudo) de estágio supervisionado
amigos, no sistema escolar, entre outros. para a 2ª licenciatura em Sociologia.
(SOUZA, VOLPATO & GIANEZINI, 2018, p. 1/57).
boa aula é um dos passos mais importante para

De acordo com a Didática área escolhida cunhar no primado dos quatros pilares da
pelo estagiário neste (projeto/estudo) de educação, este, só estará contribuindo cada vez
estágio supervisionado para a 2ª Licenciatura (mais e mais) na formação do futuro
em Sociologia é possível revermos que a (educador/sociologia).
disciplina de Didática é a mola propulsora e A rigor, seja ele(a) na condição de aprendiz
discernimento pleno do professor de Sociologia ou profissional. Tudo depende de um bom
em formação e/ou naquele que já atua em sala planejamento. No entanto, a proposta é:
de aula. Nesse sentido quando o professor tem preparar ambos (alunos e professores de
a plena convicção de que a preparação de uma Sociologia em formação) para lidar com os
anseios da sala de aula. Ou seja, preparação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esta que consiste na tomada de novas p. 3/49a).


competências fazendo com que sejam chaves- Concordo com a autora quando nos chama
mestra para o embate de uma formação plena, atenção nos informando que não é somente
justa e de igual modo para todos. papel da escola em apreço, para o arcabouço
Podemos rever que essas duas da direção, mas que também, o professor
(áreas/disciplinas) se (complementam e se consiga abrir mão do seu eu e pôr a mão na
completam) a partir do preparo e dinamismo massa traduzindo novas competências para a
em ambos os lados: professor de Sociologia e sala de aula e focando em tópicos mais ousados
professores em formação. Para tanto, fica e conscientes para seus alunos.
entendido que: Em tal sentido, partindo de um seminário
A sociedade admite a importância da escola onde o discurso seja pleno, (participativo-
na preparação de cidadãos com melhor democrático) entre todos. Por exemplo, os
potencial de trabalho e passam a exigir mais temas quentes e os temas frios em que a
competência, mais flexibilidade e agilidade dos sociedade esteja perpassando. Fazendo com
gestores escolares, de modo que a escola possa que os alunos em formação se dediquem ao
acompanhar suas solicitações. (FREITAS, 2000, máximo para atingir os quatro pilares da
educação.

A autora ainda nos relembra que: Em especial, aos nossos alunos do nível
Em decorrência, o potencial criativo da médio que estão saindo para buscar novas
desejada autonomia escolar tem sido discutido competências no mercado de trabalho e os
amplamente, mas continua pouco exercitado, quatro pilares da educação é a mola propulsora
por falta de experiência nesse exercício. Até do aprender a conhecer, fazer, conviver e ser.
mesmo planejadores educacionais começam a Então, mãos à obra.
perceber que o exercício da autonomia pode É de se concluir que: Como aprender a
ser um aliado na busca da qualidade da conhecer? Se permitindo... Como Fazer?
educação (FREITAS, 2000, p. 3/49b). Aprendendo uns com os outros. Como
Fica nítido que diante desses (temas quentes conviver? Se abrindo para o novo. Como ser?
e frios) que o professor de Sociologia em Atuando em debates com posturas éticas e
formação ou aquele que atua na condição de comprometidas com a verdade em tempo e
aprendiz esteja consciente de que esses temas fora de tempo. Contudo, é papel do professor
sejam eles (frios e/ou quentes) uma hora irão saber entender que seus alunos estão à mercê
prevalecer em suas consciências e que todos de um mercado tão acirrado, competitivo e
devem estar preparados para um debate entre cruel (O AUTOR, 2021/2022).
alunos em sala de aula.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

É possível revermos que esta segunda disciplina divisora de águas ou será apenas um
(área/disciplina) tem embasamento teórico e meio de colocar recém-formados em Ciências
um teor mais apurado de se fazer uma Sociais no mercado de trabalho enquanto eles
proposta de (aplicação/intervenção) como um não chegam ao mestrado e ao doutorado? Qual
modelo prático a ser aplicado em sala de aula. a relação de Sociologia com a formação de
A proposta é: preparar ambos para uma cidadania? Porque se cria tanta ilusão e
formação docente contida na diversidade e polêmica em torno dele? (p. 1/67).
introduzir neste meio campo a É de se entender que tais perguntam se
interdisciplinaridade como um diálogo entre as reveste no que se propõe o (projeto/estudo)
vertentes do saber teórico e prático. Podemos pelo viés da Metodologia e Prática de Ensino
rever que essas duas (áreas/disciplinas) se em Sociologia. No entanto, cabe aos
(complementam e se completam) a partir do professores de Sociologia em formação ou
preparo e dinamismo em ambos os lados: naqueles já formados e alunos cunhar dos
professor de Sociologia e professores em quatro pilares da educação e prosseguir como
formação (O AUTOR, 2021/2022). uma mola condutora de todo processo de
Fica nítido perceber que essa proposta tem formação do futuro (educador-sociólogo).
um cunho de perguntas que devem ser Todavia, a proposta se reveste a seguir dentro
respondidas e que quando unidas dentro da de tais práticas que devem ser tomadas como
Metodologia e Prática de Ensino da Sociologia base para um ensino melhor e de qualidade
e da Interdisciplinaridade o fazem da formação como um todo. E como tal, para o bem estar de
docente uma arte do saber e aprender. todos os envolvidos com o processo de
Contudo, elas se complementam e o papel ensinagem.
do professor de Sociologia em formação e dos Assim concorda-se com o autor acima e é
formandos do nível médio são em suma uma notório enfatizar da necessidade de que todos
dinâmica que devem ser dialogada entre todos (alunos, escola e docentes) estejam preparados
em sala de aula. O diálogo deve prevalecer para cunhar de certas (habilidades e
neste contexto de (ação/reflexão-ação). competências) para fazer das ciências
Por isso, Lourenço (2008), nos convida a sociológicas tais competências-chave na escola
questionar: (saber ser, saber fazer, saber conviver e saber
A Sociologia deve ser lecionada no Ensino conhecer), - (tradução dos quatro pilares da
Médio? Por que ensinar? O que ensinar e como educação – saber, a saber / aprender, a
ensinar? O aluno do ensino médio tem aprender).
capacidade e interesse para compreendê-la? A A seguir, a tabela para análise.
Sociologia pode contribuir nas nossas decisões
cotidianas ou ela é apenas uma teoria
interessante? A Sociologia vai ser uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Somos sabedores de que esses - temas seminário interdisciplinar, seminário da


“quentes” e/ou “frios” - devem sim estar nas formação docente, seminário prático da
pautas das escolas do ensino médio e os pesquisa social, seminário de práticas docentes
docentes devem saber cunhar de novas entre professores de sociologia, seminário de
propostas metodológicas e instruir seus alunos atuação de práticas sociais, seminário de
a buscar novas respostas para tais temas sejam construção do conhecimento científico na
eles “ditos” quentes e/ou frios. Como fazer? prática com temas voltados para a cidadania,
Cabe aos professores em formação e/ou diálogo social, ética e responsabilidade social,
profissionais aprender a conhecer de tais gestão dos cuidados da saúde e bem estar,
técnicas metodológicas e aplicar estes temas dentre outros. A seguir é discorrido a terceira e
por meio de variados seminários como última proposta ação versus a proposta de
(aplicação/intervenção) prática em sala de intervenção na prática de ensino do professor
aula. de Sociologia em formação.
Dentre eles estão, seminário integrador,

É sabido afirmar que fazer pesquisa desde e assim muitos dos problemas serão
tão cedo é uma prática que envolve não amenizados desde tão logo quando a escola se
somente os docentes de Sociologia e/ou os permitir que ambos saibam cunhar dos quatro
formandos, mas também devem envolver os pilares da educação como:
alunos do ensino médio para quando O aprender a conhecer (identificar
(entrar/sair) não ficar a mercê do mercado de problemas), aprender a fazer (levantar
trabalho que ao nosso entendimento é cruel e hipóteses), aprender a conviver (refletir sobre
não perdoa ninguém. O mercado é acirrado e situações, descobrir e desenvolver soluções
competitivo e devemos está preparados a todo comprometidas com a promoção do
vapor para enfrentarmos a concorrência conhecimento científico) e, além disso,
desenfreada. aprender a ser (aplicar os conhecimentos
Fazem necessários que novas abordagens adquiridos ao longo de suas formações
metodológicas sejam (introduzidas nas escolas) seculares) (O AUTOR, 2021/2022).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De acordo com Lourenço (2008, p. 4/70), “o Na (p. 11/77), afirma que: “não há como
indivíduo é a soma daquilo que adquire ao descartar o conhecimento científico visto que
longo de sua formação. Além disso, a escola ele não é fruto do acaso, mas sim, da própria
hoje vem obstruindo a experiência do pensar. ação do homem no processo de transformação
Atualmente, mesmo vivendo na era da de sua realidade”. Não existe uma formula
informação, as pessoas não tem o hábito da para o êxito aqui nesta discussão. A base de
leitura”. Concorda-se plenamente quando o tudo é o exercício pleno da docência em prol da
autor é enfático em sua proposição. Não há o pesquisa bem como de motivação para um
que se discutir. ensino de maior qualidade.
Já na (p. 6/72), este mesmo autor afirma Assim, somos de parecer conclusivo de que
que: “o pesquisador deve praticar a arte da os tópicos a seguir na tabela abaixo devem
desconfiança e refutar a preguiça intelectual.” estar sempre no rol das salas de aulas dos

professores em formação desde o nível médio


até o ensino superior.
Somos levados a concluir que tais práticas de da formação docente deve estar permeado em
ensino pelo viés da pesquisa científica levarão tais práticas de (ensino/aprendizagem).
os alunos do nível médio para uma (ação- Contudo, os professores devem saber aplicar
reação-reflexão) e (ação) ao mesmo tempo. novas ferramentas de ensinagem (ensino e
Certas dinâmicas de trabalho quando aprendizagem) com o intuito de formar novos
começado desde cedo já no ensino médio fará cidadãos com práticas da construção em
com que os formandos em sociologia passem a pesquisa em detrimento da metodologia do
ter novas habilidades e competências para trabalho científico. Tais práticas estão, a saber:
cunhar da sua formação docente e quando em ensaio de trabalhos acadêmicos, levantamento
atuação dando sempre o seu melhor em sala de bibliográfico, amostragem em resumo
aula e/ou fora dela. expandidos, resenhas críticas, resumos, artigos
Mas, como aplicar? Como saber conhecer? de opinião, dentre outros que elevem o
Como saber aprender a aprender? De fato, é primado de novas competências e habilidades.
complexo, mas não impossível. Temas quentes Adiante mais... No todo ou em parte deve-se
e/ou frios dentro dessa terceira seguir a dinâmica do projeto/estudo quando
(área/disciplina) nos leva a pensar na em (ação-reflexão e ação). Então, mãos à obra!
aplicabilidade dos dias atuais onde o enfoque Os dias estão cada vez mais estranhosamente
complexos e cabe a nós enquanto tomadores

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

do conhecimento fazer buscas ativas no rol das


salas de aulas e apresentar aos nossos alunados
o (melhor do melhor) que a pesquisa científica
tem a nos oferecer. Pois uma vez fazendo
pesquisa... Tornamos-nos pesquisadores e,
uma vez pesquisadores... Aprimoramos-nos em
fazer e construir um mundo melhor e
recheados de pessoas inteligentes e com forças
de vontade para pesquisar e pesquisar.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A princípio o (projeto/estudo) de estágio supervisionado foi desafiador. Porém, escolher
três (áreas/disciplinas) para aplicação em um (projeto/estudo) a ser cunhado na prática do
professor de Sociologia em formação e naquele já profissionalmente falando (foi muito
realizador) uma vez que unindo (os quatro pilares da educação e as disciplinas), em foco, foi no
mínimo ousado, porém, proveitoso e cautelosamente, exitoso.
Considera-se que a (aplicação/intervenção-prática) do (projeto/estudo) de estágio
supervisionado em Sociologia deve ser aplicado dentro das prerrogativas do curso de 2ª
licenciatura e pode ter sua aplicabilidade de fato na escola. Porém, aqui é apenas de cunho
proposta de (aplicação/intervenção) prática para o futuro da sala de aula caso o estivéssemos
atuando de forma presencialmente no estágio. O trabalho foi arguido de forma remota e de muito
bom grado como se o aluno estivesse com a mão na massa.
Mediante a problemática neste (projeto/estudo) é positivo afirmar que ambos
(alunos/professores de Sociologia) estejam fortemente atrelados ao rol da educação continuada
uma vez que somos eternos aprendizes e não escapamos da educação seja na rua, na igreja, no
trabalho ou em outro lugar, estamos sempre aprendendo uns com os outros e os quatro pilares
da educação influencia muito no que couber na vida (pessoal/profissional-futuramente) dos
alunos que destes se alinhar para as novas competências e habilidades do mundo profissional,
pessoal e até social.
No mundo cognitivo as pessoas estão sempre moldadas a aprender a aprender quanto
que no profissional estamos sempre conhecendo novas habilidades e no social temos que
aprender a conviver com as pessoas para poder trabalhar e convivermos harmoniosamente de
forma que todos saiam ganhando de modo pleno e continuado.
Todos sem exceção devemos compreender que os quatros pilares da educação está
incutido em nossas vivências pessoais, profissionais e sociais. E somente por meio da percepção
seletiva de mundo (vida secular) é que perpassamos por maiores aprendizagens. E cabe a cada
um de nós (alunos/aprendizes) e (formandos/professores) cunharmos da efetiva mão de obra
acurada por um (saber fazer), (como fazer), (saber como fazer) e (saber ser).
No todo, ou em parte, todos estamos constantemente vivendo e aprendendo e a
competitividade exige de nós (novas) habilidades, conhecimentos e atitudes diferenciadas e isto
foi mostrado no (projeto/estudo) em si onde o (aprender, a aprender) e o saber, (a fazer e ser)
constitui-se no conviver.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Rafael Ademir Oliveira de; BASTOS, Eliane. Estágio supervisionado em ensino de
sociologia: observação da formação e prática docente. Revista Café com Sociologia. Volume
5, número 3, Ago./Dez. 2016. Disponível em:
https://revistacafecomsociologia.com/revista/index.php/revista/article/download/675/pdf. Data
de Acesso: 19/03/2022.

BARBOSA, Flávia Aparecida dos Santos; FREITAS, Fernando Jorge Correia de. 2018. A
Didática e sua contribuição no processo de formação do professor . Disponível em:
https://docplayer.com.br/24219144-A-didatica-e-sua-contribuicao-no-processo-de-formacao-do-
professor-palavras-chave-didatica-teoria-e-pratica-construcao-de-identidade.html Data de
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649
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OS TRÊS ESTADOS DO CAPITAL CULTURAL E O


PROCESSO EDUCACIONAL NA VISÃO DE
BOURDIEU
César de Araújo Pires1
Daniella Couto Lôbo2

RESUMO: Este estudo tem como foco a teoria de Pierre Bourdieu para a educação com ênfase na
sua concepção de capital cultural e seus estados incorporado, objetificado e institucionalizado. O
pensador francês revolucionou a forma de entender a educação na década de 1960, introduzindo
o capital cultural como elemento determinante do fracasso ou sucesso escolar do indivíduo. O
objetivo do estudo é discutir os conceitos estabelecidos por Pierre Bourdieu em seu livro “Escritos
de Educação. Metodologicamente é uma pesquisa bibliográfica que utilizou como fonte artigos e
livros publicados sobre o assunto em plataformas digitais. Entre os teóricos mais utilizados estão
Bourdieu (1998), Nogueira e Catani (2015), Silveira (2013), Cunha (2007), Martelato e Pimenta
(2017), entre outros. Na discussão do assunto foram encontrados resultados que apontam que o
capital cultural, em função de não ter distribuição igual entre os indivíduos na escola, é
determinante no fracasso e sucesso do aluno e que o sistema escolar como estar estruturado nos
dias atuais no Ocidente transforma a escola em reprodutora das desigualdades sociais. Em termos
de conclusão, Bourdieu e sua proposta para a educação são atuais não apenas para a realidade

1 Professor de Teoria e Pratica do Atletismo e Metodologia do Basquetebol, na FacCidade – Faculdade da Cidade


de Aparecida, mestrando no Programa de Pós-graduação em Educação – FacMais.
2 Professora orientadora do quadro permanente e membro da linha de pesquisa Educação, Instituições e políticas

educacionais do Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado em Educação da Faculdade Inhumas


(Facmais).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

brasileira, mas para a educacional mundial e que as medidas adotadas nas escolas são mais
reprodutoras de desigualdades sociais do que eliminadoras delas.

Palavras-Chave: Bourdieu; Capital cultural; Educação; Desigualdades sociais; Habitus.

THE THREE STATES OF CULTURAL CAPITAL AND THE EDUCATIONAL


PROCESS IN BOURDIEU'S VISION
ABSTRACT: This study focuses on Pierre Bourdieu's theory of education with an emphasis on his
conception of cultural capital and its embodied, objectified and institutionalized states. The
French thinker revolutionized the way of understanding education in the 1960s, introducing
cultural capital as a determining element of an individual's school failure or success. The aim of
the study is to discuss the concepts established by Pierre Bourdieu in his book “Escritos de
Educação. Methodologically, it is a bibliographic research that used articles and books published
on the subject on digital platforms as a source. Among the most used theorists are Bourdieu
(1998), Nogueira and Catani (2015), Silveira (2013), Cunha (2007), Martelato and Pimenta (2017),
among others. In the discussion of the subject, results were found that point out that cultural
capital, due to not having equal distribution among individuals in the school, is decisive in the
failure and success of the student and that the school system, as it is structured nowadays in the
West, transforms the school reproducing social inequalities. In terms of conclusion, Bourdieu and
his proposal for education are current not only for the Brazilian reality, but for world education
and that the measures adopted in schools are more reproducing social inequalities than
eliminating them.

Keywords: Bourdieu; Cultural capital; Education; Social differences; Habitus.

651
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO escolar pressupõe um olhar direcionado para o


homem como ser social, ou seja, o indivíduo e
As discussões sobre educação são amplas e os fenômenos devem ser estudados em sua
variadas e tem levado muitos estudiosos a se totalidade valorizando uma gama de aspectos
debruçar sobre o tema no mundo e no Brasil. que vão além do biológico para alcançar as
De igual modo, muitos são os problemas que esferas do social, político, cultural e
perpassam o cotidiano escolar. Sabendo disto, econômico.
este estudo tem o objetivo discutir os conceitos
estabelecidos por Pierre Bourdieu em seu livro
SOBRE O CONCEITO DE
Escritos de Educação (ano).
Pierre Bourdieu é um filósofo social francês CAPITAL CULTURAL DE
que, atualmente, tem reconhecimento mundial BOURDIEU
que o coloca entre os principais pensadores do Neste contexto, Cunha (2007), destaca que
século XX. Seus estudos abordam temáticas todo conceito possui uma gênese e com o
como educação, cultura, arte, política, termo capital cultural não é diferente. Dessa
economia, literatura, direito e filosofia que forma, afirma que o conceito de capital cultural
impactaram a década de 1960 e impactam em Bourdieu está associado aos registros
também os dias atuais. etnográficos realizados pelo pensador na
Para realizar essa pesquisa, foram realizadas Argélia. Assim, a autora descreve que todo
consultas digitais sobre publicações de autoria conceito é fundamental para se entender as
do próprio Bourdieu e de autores brasileiros relações de dominação estabelecidas numa
que desenvolveram pesquisas sobre este sociedade e neste caso, do conceito de capital
pensador francês. Portanto, a natureza deste cultural este tem sua importância quando o
estudo é uma pesquisa bibliográfica com base assunto é o entendimento da dimensão
em livros e artigos. simbólica que envolve A respeito do capital
Assim, a estrutura do trabalho é composta cultural e a percepção que Bourdieu estabelece
de três partes: na primeira delas, a abordagem sobre o mesmo, muitos autores têm se
se refere ao conceito de capital cultural de dedicado à reflexão do termo, indicam por
Bourdieu; na segunda, dedica-se aos três exemplo, que esta foi uma expressão usada por
estados presentes no conceito de capital Bourdieu para fazer análises sobre as situações
cultural; enquanto a última se trata das de classe numa sociedade (SILVA, 1995).
contribuições da teoria de Bourdieu para a Já para Bodart (2010), Bourdieu cunhou o
educação nos dias atuais. conceito de capital cultural quando
Ao realizar o presente estudo, propõe-se desenvolveu seus estudos sobre reprodução
discorrer sobre as contribuições que envolvem social e o lugar ocupado pela escola neste
os três estados do capital cultural no processo processo de reprodução. Isto porque o capital
ensino aprendizagem, e como é percebida a econômico, segundo esta perspectiva, não é o
influência dos mesmos na educação. único que pode ser mobilizado pelas pessoas
Entendendo que a proposta para a educação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quando assunto era reprodução de privilégios e informações e atividades culturais. Desse modo
distinção social. o que acontece com o conceito de capital
Desse modo, o que se estabelece em cultural é que:
Bourdieu é a concepção de que, por meio do De modo geral, tanto os estudos que
capital cultural, é a ideia de que a cultura deve focalizam a atuação do capital cultural na
ser vista como um “bem simbólico” que à escola quanto a literatura que aborda o
medida que mais se tem este bem, mais se conceito de classe social sugerem que na ideia
consolidam as condições que favorecem sua de capital cultural destacam-se as
acumulação (BODART, 2010). “informações estratégicas” que têm um papel
Outra importante observação que deve ser decisivo na perpetuação das condições de
feita a respeito de Bourdieu é a que envolve a classe na sociedade. Entretanto, diversas
relação de habitus e capital cultural. Na análises do próprio Bourdieu e de outros
concepção deste autor, habitus equivale a um autores mostram que essas informações
sistema de disposições que são duradouras e também podem se constituir num mecanismo
também transferíveis, além de “estruturadas e de mudança, contribuindo para a mobilidade
predispostas a funcionar como estruturantes, social (SILVA,1995, p. 35).
ou seja, como princípios geradores e Conforme observado, nas colocações de
organizadores de práticas e representações Silva (1995), o conceito de capital cultural ao
(BOURDIEU, 1975, op. cit. STIVAL; FORTUNATO, mesmo tempo que traz uma ideia voltada para
2011, p. 05). a perpetuação das condições de classe numa
Considerando as abordagens acerca da determinada sociedade, também pode ser
teoria de Bourdieu, Stival e Fortunato (2011) elemento que proporciona a transformação
destacam que este pensador francês não dessas mesmas condições. Isto cria o que é
concebia o sistema educacional como um conhecido como paradoxo da teoria de
reprodutor estrito da configuração de classes, Bourdieu, pois a cultura tanto atua como
porém, por meio do habitus associado à classe reprodutora das condições sociais como
dominante, se realiza a cooptação de membros também é “veículo de mudança social”.
da sociedade que estão isolados (STIVAL; Para Cunha (2007), o capital cultural é um
FORTUNATO, 2011). recurso raro e que é mal distribuído. Assim, na
Mas é importante mencionar que a ideia do concepção desta autora, o desejo de possuir tal
capital cultural ultrapassa a noção de recurso conduz a um aumento do conflito
subcultura de classe. Assim, ele representa um proporcionando a permanência de um “jogo”
recurso de poder equivalente, porém que vai de dominação de um grupo social sobre o outro
além, a outros recursos de poder cuja estrutura objetivando a estrutura simbólica que é
básica de tais recursos são os aspectos reconhecida e aceita em determinada
econômicos (SILVA, 1995). sociedade.
Essa associação do termo capital à cultura, Considerando os autores aqui destacados
pressupõe uma analogia com o poder e o até o momento - Silva (1995), Cunha (2007),
“aspecto utilitário”, no sentido de posse de Bodart (2010), Stival e Fortunato (2011) - o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

capital cultural associado ao habitus, conforme também não podem dar conta da parte relativa
deram maior ênfase os últimos autores citados, que os diferentes agentes ou as diferentes
contribuem para o estabelecimento da ideia de classes concedem ao investimento cultural por
que as configurações de classe se deem em não considerarem, sistematicamente, a
função de uma relação de dominação de uma estrutura das chances diferenciais que lhes são
classe sobre a outra envolvendo o fator destinadas pelos diferentes mercados, em
cultural. função do volume e da estrutura do seu
Alguns aspectos, partindo do próprio patrimônio (BOURDIEU, 1979, p. 38).
Bourdieu, são importantes para facilitar a Bourdieu (1979), enfatiza que essa
compreensão desta temática. Para este percepção dos economistas sobre a questão do
pensador francês, é relevante que se observe rendimento escolar, não contempla aspectos
que “a noção de capital cultural se impôs, relacionados às oportunidades dadas pelos
primeiramente, como uma hipótese diferentes mercados aos agentes sociais e
indispensável para dar conta da desigualdade classes sociais diferentes.
de desempenho escolar de crianças Outro ponto relevante, relacionado ao
provenientes de diferentes classes sociais conceito de capital cultural e suas
(BOURDIEU, 1979, p. 36). características, é que Bourdieu rompe com
Bourdieu (1979) enfatiza que o capital pressupostos anteriores referentes ao fracasso
cultural em sua perspectiva relaciona os e sucesso escolar, com base nas chamadas
benefícios específicos que estas crianças, aptidões humanas e capital humano. Estes
oriundas de classes sociais diferentes e de aspectos estão ligados, segundo o pensador
extrações de classes podem receber no francês, à forma como é distribuído o capital
mercado escolar com a distribuição do capital cultural entre as crianças (BOURDIEU, 2015).
entre estas mesmas classes. Assim, ele rompe Na próxima parte deste trabalho a discussão
com o pensamento ocidental que o antecedeu, está voltada para a conceituação e
que baseiam o sucesso ou fracasso escolar nas caracterização dos três estados presentes no
características individuais das pessoas e no capital cultural, a saber, estado incorporado,
capital humano. Uma importante observação estado objetivado e estado institucionalizado.
deste pensador consiste no fato de que:
Os economistas têm o mérito aparente de OS TRÊS ESTADOS DO CAPITAL
colocar explicitamente a questão da relação
entre as taxas de lucro asseguradas pelo CULTURAL E SUA DINAMIZAÇÃO
investimento educativo e pelo investimento O trabalho de Pierre Bourdieu, “Les trois
econômico (e de sua evolução). Entretanto, états du capital culturel” foi originalmente
além de sua medida do rendimento escolar só publicado na revista Actes de la Recherche en
levar em conta os investimentos e benefícios Sciences Sociales, no ano de 1979. Aqui é
monetários ou diretamente conversíveis em apresentada uma parte desta obra, mais
dinheiro, como as despesas decorrentes dos especificamente a que se refere aos três
estudos e o equivalente em dinheiro, eles estados do capital cultural: incorporado,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

objetivado e institucionalizado. Neste sentido, A concepção de Bourdieu (2015),


no estado incorporado, o capital “pessoal” não relacionado a este estado do capital cultural
se deve ser transmitido de forma que é o objetivado, aponta para o fato de que
instantaneamente, bem como por doação ou os bens culturais aparecem como apropriados
até mesmo, por transmissão hereditária, seja materialmente. Também se enfatiza que neste
por compra ou por troca (BOURDIEU, 2015). estado estão presentes a aparência de um
Posto isto, é importante observar o alerta universo autônomo e coerente” e sua
feito por Bourdieu a respeito deste tipo de institucionalização ganha corpo por meio dos
estado e sua transmissão, pois trata-se de um títulos escolares. Em sua concepção:
“capital pessoal” cuja aquisição não se dar por Isto denotará o grau de investimento no
meio de doação ou hereditariamente, está processo escolar, visto que, vincula-se a
ligado à aquisição inconsciente baseada em aquisição do título ao retorno financeiro. É
“condições primitivas''. perceptível que a aquisição deste se nivelará
Abordando também esta questão do capital para dificuldade ou facilidade de aquisição do
cultural e seus estados, Silveira (2013, p. 51), título escolar, ou seja, quanto mais fácil sua
descreve a importância de se falar no capital disponibilização no mercado, menos valor terá.
social como sendo um “conjunto de recursos Com o diploma, essa certidão de competência
atuais ou potenciais ligados à posse de uma cultural que confere ao seu portador um valor
rede durável de relações mais ou menos convencional (...) (BOURDIEU, 2015, p.86).
institucionalizadas de inter-conhecimento e Sobre o estado do capital cultural que é o
inter-reconhecimento”. objetivado, percebe-se que este é
Bourdieu (1979), enfatiza que para acumular caracterizado por deter um determinado
capital cultural é necessário haver uma número de propriedades cuja definição ocorre
incorporação. Esta, por sua vez, representa um na relação que o capital cultural desenvolve
trabalho de “inculcação” e “assimilação”, algo com sua forma incorporada (SILVEIRA, 2013).
que para o pensador francês demanda tempo e Nas palavras de Bourdieu “o capital cultural
cujo investimento cabe diretamente ao no estado objetivado apresenta-se com todas
investidor fazer. Esta situação é comparada por as aparências de um universo autônomo e
Bourdieu ao ato de bronzear ao dizer que a coerente que, apesar de ser o produto da ação
incorporação não pode acontecer por histórica, tem suas próprias leis,
procuração. transcendentes às vontades individuais, e que
Sobre o capital cultural objetivado, este permanece irredutível”. Neste sentido, o
detém propriedades bastantes estruturadas, capital cultural na sua forma objetivada diz
principalmente de forma de bens culturais, tais respeito ao que cada agente ou conjunto de
como esculturas, pinturas, livros, etc. Neste agentes numa determinada sociedade
ponto para sua aquisição, precisa ter uma consegue e pode tomar posse dele (BOURDIEU,
interligação com o capital econômico 1998, p. 78).
(BOURDIEU, 2015, p. 85). Importante acrescentar também que:

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Tudo parece indicar que, na medida em que capital cultural em três fases, propiciará o
cresce o capital cultural incorporado nos melhor entendimento da influência desses no
instrumentos de produção (e, pela mesma processo educacional, visto que, a escola e seus
razão, o tempo de incorporação necessário segmentos estão impregnados das
para adquirir os meios que permitam sua características atribuídas a cada uma das fases
apropriação, ou seja, para obedecer à sua do capital cultural.
intenção objetiva, sua destinação, sua função),
a força coletiva dos detentores do capital O CAPITAL CULTURAL E A
cultural tenderia a crescer, se os detentores da
espécie dominante de capital não estivessem INSTITUIÇÃO ESCOLAR
em condições de pôr em concorrência os Importante iniciar mencionando que
detentores de capital cultural (aliás, inclinados Bourdieu utiliza o termo capital cultural para
à concorrência pelas próprias condições de sua designar a impregnação da cultura na
seleção e formação - e, em particular, pela sociedade e em especial no campo educacional
lógica da competição escolar e do concurso e com isso, vislumbrar como a cultura de classe
(BOURDIEU, 1979, p. 78). está presente na valorização da cultura
Corroborando com este pensamento, dominante.
Silveira (2013), destaca que o terceiro estado O espaço escolar apresenta uma
do capital cultural é o institucionalizado. diferenciação social na composição de seu
Identificando-o como um tipo de objetivação elenco. Assim, mesmo com essa diversidade, é
que deve ser colocado à parte, posto que inviável pensar que dentro de uma sala de aula
representa propriedades que são originais algum aluno obteria privilégios, porém
dentro do capital cultural. Bourdieu nos chama atenção para o fato de que
Conforme define Bourdieu (1998, p. 79), pessoas oriundas de setores diferentes da
Ao conferir ao capital cultural possuído por sociedade, uma vez integrando a comunidade
determinado agente um reconhecimento escolar e que cada um traz consigo um nível de
institucional, o certificado escolar permite, conhecimento diferenciado (NOGUEIRA, 2015).
além disso, a comparação entre os diplomados O referido pensador francês, por meio das
e, até mesmo, sua ‘permuta’ (substituindo-os definições aqui trazidas anteriormente, traz
uns pelos outros na sucessão. contribuições que apontam para o fato de que
Porém, vai além do que foi mencionado, já a escola poderia ser um laboratório de
que é possível “estabelecer taxas de desenvolvimento de estratégias para
convertibilidade entre o capital cultural e o nivelamento desses conhecimentos,
capital econômico, garantindo o valor em propiciando a todos as mesmas oportunidades
dinheiro de determinado capital escolar” (NOGUEIRA, 2015).
(BOURDIEU, 1998, p. 79). Dessa forma, de acordo com Nogueira (2015,
Assim, há nestes três estados do capital p. 250), “a escola exclui: mas, a partir de agora,
cultural, uma dinamização, sendo que a exclui de maneira contínua, em todos os níveis
proposta bourdieusiana de classificação do do cursusi (entre as classes de transição e os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

liceus de ensino técnico não há, talvez mais que escolares. Razão pela qual consideram que tal
uma diferença de 6 grau), e mantém em seu resposta representa um marco nas formas de
seio aqueles que exclui”. pensar e analisar a educação.
Baseando-se em Bourdieu, Nogueira (2015), De igual modo, com base nas concepções de
frisa que a escola se contenta em relegar estes Bourdieu, é destacada a importância que os
excluídos “para os ramos mais ou menos títulos escolares ganham nas sociedades
desvalorizados”. Assim, o que é vislumbrado no ocidentais, por exemplo, que é o tipo de
cotidiano escolar é que a mesma atua como sociedade brasileira. Tais títulos são
reprodutora das desigualdades, fato equivalentes a posições sociais e estão
evidenciado quando enfatiza que seu intimamente associados à transmissão de
compromisso é de instruir os diferentes com a valores, comportamentos e estilo de vida, a
mesma proporção. Neste sentido, faz-se chamada “boa educação negada” aos
relevante mencionar que: indivíduos em função da alegação de que a
Bourdieu teve o mérito de formular, a partir mesma não foi alcançada suas supostas
dos anos 60, uma resposta original, abrangente “inaptidões dos fracassados” representa a
e bem fundamentada, teórica e naturalização das desigualdades sociais
empiricamente, para o problema das (MARTELATO; PIMENTA, 2017).
desigualdades escolares. Essa resposta tornou- Dessa forma, os autores destacam que a
se um marco na história, não apenas da educação é desvelada como “um mecanismo”
Sociologia da Educação, mas do pensamento e que reproduz, diga-se de passagem, de forma
da prática educacional em todo o mundo. Até muito "perversa” os privilégios sociais, ou seja,
meados do século XX, predominava nas os mecanismos de dominação de um grupo
Ciências Sociais e mesmo no senso-comum social sobre o outro (MARTELATO; PIMENTA,
uma visão extremamente otimista, de 2017).
inspiração funcionalista, que atribuía à Outra importante observação acerca da
escolarização um papel central no duplo sociologia da educação em Bourdieu aponta
processo de superação do atraso econômico, para o fato de que ao se transpor a discussão
do autoritarismo e dos privilégios adscritos, teórica para o campo da Sociologia da
associados às sociedades tradicionais, e de Educação, se faz necessário reconhecer o
construção de uma nova sociedade, justa esforço de Bourdieu para que não ocorresse o
(meritocrática), moderna (centrada na razão e objetivismo nos fenômenos educacionais
nos conhecimentos científicos) e democrática (NOGUEIRA; NOGUEIRA,2002).
(fundamentada na autonomia individual) Assim, se nota que Bourdieu busca se
(NOGUEIRA & NOGUEIRA, 2002, p. 16). distanciar deste dualismo entre estas duas
Os autores Nogueira e Nogueira (2002), nos concepções baseadas no objetivismo e
mostram como Bourdieu, a partir da década de subjetivismo. Em sua proposta, há uma
1960 dar uma resposta que considera original e negação daquilo que caracteriza o sujeito
ao mesmo tempo ampla e com fundamentação individual como autônomo, tal qual faziam os
técnica e empírica para as desigualdades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

defensores do subjetivismo (NOGUEIRA; transformariam a sua estrutura efetivamente


NOGUEIRA, 2002). desigual” (SILVEIRA, 2013, p. 57).
A proposta de Bourdieu enxerga o sujeito
como aquele que possui uma bagagem que foi
herdada socialmente e que, sim, pode
apresentar alguns elementos objetivos,
portanto externos, e que podem fazer bem ao
sucesso escolar como é o caso do capital
econômico, capital social e capital cultural
(NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2002).
Também é importante salientar que a
proposta de Bourdieu contempla reflexões
muito significativas sobre o que é entendido
como fracasso ou sucesso escolar. Assim, o
sistema escolar converte as desigualdades
sociais, ao não oferecer acesso democrático ao
capital cultural, em desníveis de aprendizagem,
com atuação “brutal” diante dos mais
desfavorecidos do acúmulo de capital, razão
pela qual estes são relegados apenas “ao pleno
aproveitamento de suas potencialidades”
(MARTELATO; PIMENTA, 2017, p.9).
Por outro lado, a proposta de Bourdieu
permite que pensemos nas atuais “políticas de
justiça social podem estar apenas tentando
ajustar a estrutura social existente, em busca
de justiça e redução das desigualdades, mas
sem alterar a estrutura que gerou as próprias
desigualdades” (SILVEIRA, 2013, p. 57).
Enfatizando a atualidade da teoria de
Bourdieu no Brasil, Silveira (2013), afirma que
no país estão sendo mantidas as mesmas
desigualdades sociais historicamente
conhecidas no sistema educacional e na
sociedade como um todo, o que tem sido feito
reduziu-as “um pouco”, “porém sob o manto
das políticas de igualização e da preocupação
com os índices de melhorias sociais que não

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bourdieu de fato transformou o pensamento filosófico e sociológico e educacional
predominante até bem recentemente, década de 1960, ao sair da dicotomia filosófica entre
objetivismo e subjetivismo relacionada à análise do sistema escolar, por exemplo.
Conduziu as formas de pensar a sociedade a uma reflexão melhor fundamentada, nos
aspectos técnicos e empíricos, introduzindo a importância de considerar o capital cultural e seus
estados dinâmicos como aqueles que estariam fortemente ligados ao fracasso e sucesso escolar,
distanciando-se da concepção até em vigor na década de 1960 que atribuía a tais fatores
elementos relacionados à presença ou ausência de aptidões individuais em cada sujeito.
A exposição feita no decorrer deste estudo realizou, as discussões sobre o conceito, as
características e os estados do capital cultural e a proposta de Bourdieu para a escola e a
educação, possibilitaram o alcance do objetivo proposto para essa pesquisa à medida que foi se
estabelecendo o diálogo entre os mais diversos autores que discutiram a teoria de Bourdieu.
De modo geral, este levantamento conseguiu apreender que a escola e o sistema escolar
como um todo, ainda nos dias atuais, reproduzem as desigualdades sociais que estão presente
na sociedade em geral e, no interior da escola, não distribuem de forma socialmente equilibrada
e igualitária o capital cultural tão necessário ao sucesso escolar. Logo, conclui-se que Pierre
Bourdieu e sua teoria do capital cultural muito tem a contribuir para as análises educacionais da
realidade brasileira e do mundo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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publicacoes.uerj.br/. Data de Acesso: 20/03/2022.

660
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA
NEUROPSICOPEDAGOGIA PARA
APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM TDAH
Priscila Braz dos Santos 1

RESUMO: Nos últimos anos o Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade tem sido
estudado como um dos transtornos mais predominantes . Este trabalho tem o objetivo principal
investigar a atuação do neuropsicopedagogo ao lidar com a aprendizagem das crianças
portadoras de TDAH, explicitar não somente as causas e os malefícios relacionados a este
transtorno para o desenvolvimento da criança, como também de ressaltar a importância de
intervenções precoces, considerando que a criança portadora de dificuldade ou de transtorno de
aprendizagem se sente a margem do ambiente escolar, o que pode causar prejuízos não apenas
no seu desempenho escolar, mas também em sua vida social e profissional. Refletir sobre o
embasamento teórico-metodológico da Neuropsicopedagogia perante as dificuldades
características deste transtorno faz-se necessário, pois o profissional desta área poderá atuar
positivamente seja na intervenção preventiva ou terapêutica.

Palavras-Chave: TDAH; Neuropsicopedagogo; Intervenção.

1
Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Alfabetização, Especialização em Arte e História da
Cultura; Especialização em Psicopedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

POSSIBLE CONTRIBUTIONS OF NEUROPSYCHOPEDAGOGY TO THE


LEARNING OF STUDENTS WITH ADHD
ABSTRACT: In recent years, Attention Deficit/Hyperactivity Disorder has been studied as one of
the most prevalent disorders. The main objective of this work is to investigate the role of
neuropsychopedagogists when dealing with the learning of children with ADHD, to explain not
only the causes and harm related to this disorder for the child's development, but also to
emphasize the importance of early interventions, considering that children with learning
difficulties or disorders feel outside the school environment, which can cause damage not only to
their school performance, but also to their social and professional life. Reflecting on the
theoretical-methodological basis of Neuropsychopedagogy in the face of the difficulties
characteristic of this disorder is necessary, since the professional in this area can act positively
either in preventive or therapeutic intervention.

Keywords: ADHD; Neuropsychopedagogue; Intervention.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A neurociência auxilia na compreensão do


que é comum a todos os cérebros, dando
O TDAH é um transtorno de comportamento respostas confiáveis a importantes questões
interfere negativamente no desenvolvimento sobre a aprendizagem humana ( RELVAS, 2012,
da aprendizagem. Este transtorno de p. 201) .
comportamento se caracteriza por desatenção, Estudos e testes neuropsicológicos apontam
hiperatividade e impulsividade. que "distúrbios na motivação e na executiva,
Alguns autores afirmam que este transtorno particularmente na inibição de respostas,
pode se originar de fatores pré e pós-natal, vigilância, memória operacional e
familiares, ambientais, sociais e culturais, tem planejamento são fatores que interferem no
início na infância e persisti por toda a vida. desempenho do portador do TDAH, porém o
Os portadores deste transtorno acarretam quadro é variável ( CONSENZA e GUERRA, 2011,
prejuízos como o rótulo de preguiçosos, mal- p. 136).
educados, desorganizados entre outros. A Nesta perspectiva o neuropsicopedagogo,
criança pode apresentar comportamento para lidar com portadores deste transtorno
agitado e impaciente o que influencia deve ter o domínio do estudo da Neurociência
negativamente em seu processo de e pautar suas intervenções em aprendizagens
aprendizagem. significativas utilizando-se de estratégias
Frequentemente o TDAH tem sido facilitadoras e que estimulem as sinapses
identificado e tratado por profissionais clínicos consolidando o conhecimento do
como: neuropediatras, psicólogos clínicos, neuroaprendiz de forma inclusive emocional.
psicopedagogos ou neuropsicopedagogos, A Neuropsicopedagogia é uma área
fonoaudiólogos, psicomotricistas, transdisciplinar do conhecimento, é um novo
musicoterapeutas e arterapeutas. campo de especialização profissional, de
O tratamento do TDAH deve envolver uma pesquisa, de ação e intervenção, baseado no
equipe multidisciplinar, incluindo intervenções avanço das Neurociências e suas
medicamentosas. Perante as dificuldades aplicabilidades nos campos da educação e
escolares o psicopedagogo pode atuar psicopedagogia ( BEAUCLAIR, 2014, p. 23).
orientando novas estratégias didáticas e nas De acordo com Flor e Carvalho ( 2012, p. 225
intervenções na aprendizagem da criança, o ), o neuropsicopedagogo ao estar de posse do
que facilita a convivência do aluno portador de conhecimento das neurociências terá que
TDAH em sala de aula evitando assim a assumir o trabalho de reger uma orquestra
marginalização do mesmo. afinadíssima na qual a melodia sai perfeita
Atualmente a neurociência é grande porque o maestro sabe quão precisamente
responsável pelas descobertas do estão afinados seus instrumentos e quanto se
funcionamento do sistema nervoso em especial pode tirar deles melodias harmoniosas e
do cérebro, tornou-se uma grande aliada na suaves.
identificação de cada indivíduo como único,
com ritmo e desenvolvimento próprio.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DEFINIÇÃO E HISTÓRIA DA reabilitação e da prevenção de dificuldades e


distúrbios da aprendizagem.
NEUROPSICOPEDAGOGIA De acordo com o Dr Alberto Montes de Oca
A Neuropsicologia, enquanto ciência, foi Tamez (2006), PhD em Neurociência, a
oficialmente reconhecida no Brasil, em 1988, Neuropsicopedagogia é:
com a fundação da Sociedade Brasileira de um exercício de trabalho interdisciplinar
Neuropsicologia (ORTIZ, et al, 2008), enquanto sobre o processamento de informações e
profissionalização, surgiu em 2004 com a modularidade da mente em termos de
publicação da Resolução º 002/2004 do Neurociência Cognitiva, Psicologia, Pedagogia e
Conselho Federal de Psicologia, que Educação, que ocorre na formação
regulamentou a prática da Neuropsicologia multidisciplinar de profissionais voltados à área
como especialidade para Psicólogos (ANDRADE educacional. O neuropsicopedagogo deve ter
& SANTOS, 2004, Conselho Federal de amplo conhecimento dos diferentes modelos,
Psicologia, 2004). teorias e métodos de avaliação, planejamento,
Ainda é uma ciência nova, tendo em torno de currículo dos diferentes níveis de ensino. Além
150 anos, mas a partir da década de 90 disso, deve ter amplo conhecimento da base
alcançou um maior auge e vem neurobiológica do comportamento
proporcionando mudanças significativas na psicoeducacional e da reabilitação
forma de perceber o funcionamento cerebral. neurocognitiva tanto em crianças,
As funções cerebrais respondem a muitas adolescentes, sujeitos idosos e pessoas com
questões da Pedagogia , o entendimento necessidades especiais.
sobre o cérebro humano é de suma relevância Ainda em 2006 Suárez publicou um artigo
para a Educação, pois é um campo que lida com intitulado “Desmitificación de La
as particularidades do cérebro humano, Neuropsicopedagogía”, sendo que o mesmo
principalmente no que se refere aos estímulos traz toda evolução histórica da
de aprendizagem. Neuropsicopedagogia, constituindo-se assim
Nesta perspectiva as Neurociências têm um documento importante dentro dessa área
muito a contribuir com as diversas áreas do de conhecimento. Suárez (2006, apud, DE LA
conhecimento e da relação com a Pedagogia e PEÑA, 2005), no transcorrer de seu trabalho
da Psicologia surgiu a Neuropsicopedagogia. científico nos traz essa importante
A Neuropsicopedagogia é uma ciência contribuição:
transdisciplinar que estuda a relação entre o A Neuropsicopedagogia agrega os
funcionamento do sistema nervoso e a conhecimentos da Psicologia e
aprendizagem humana. Para isso, busca Neuropsicologia, compreendendo o
relacionar os estudos das neurociências com os funcionamento dos processos mentais
conhecimentos da psicologia cognitiva e da superiores (atenção, memória, função
pedagogia. Seu objetivo é promover a executiva,....) de explicações psicológicas e
reintegração pessoal, social e educacional a instruções pedagógicas tem como objetivo
partir da identificação, do diagnóstico, da fornecer uma estrutura de conhecimento e de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ação para a descrição completa: o tratamento, procurados e um dos grandes desafios


explicação e valorização do ensino - educativos.
aprendizagem que ocorrem ao longo da vida do Na Espanha, o curso de Mestre em
aluno, promovendo uma educação integral Diagnóstico e Intervenção
com impacto além da escola e o período de Neuropsicopedagógica está na 14a. edição, em
tempo e tipo de aprendizagem estabelecido Barcelona na 5a. edição, no entanto aqui no
como válido. Brasil a especialização em
Dr Marco Tomanick Mercadante, Neuropsicopedagogia é bastante recente. A
contextualiza a Neuropsicopedagogia com as Neuropsicopedagogia no Brasil teve seu grande
seguintes palavras: avanço por meio do CENSUPEG ( Centro Sul
Um campo do conhecimento que procura Brasileiro de Pesquisa e Extensão).
reunir os avanços advindos das neurociências Nos estados do sul do Brasil, universidades
com a psicopedagogia. Assim, o profissional tais como: PUC e UFRGS apresentam como
com essa perspectiva deve ter conhecimento disciplina nos cursos de graduação, voltados a
amplo das bases neurobiológicas do Pedagogia, os Estudos Neuropsicopedagógicos,
aprendizado, do comportamento e das os quais Forner (2009, p71-72), faz a seguinte
emoções, e dominar os elementos clássicos da referência:
psicopedagogia. Além disso, uma coerência No nível I, a disciplina Estudos
epistemológica que garanta uma adequada Neuropsicopedagógicos chama a atenção, por
articulação dessas áreas dispares do enfatizar aspectos que contemplam as ideias
conhecimento é fundamental para a atuação do estudo. Eis a sua ementa: Estudo do
na área. desenvolvimento humano na perspectiva da
Krug (2011, apud, RODRIGUES, 1996, p.40), genética e da Neuropsicopedagogia,
apresenta o conceito de Neuropsicopedagogia aproximando estes saberes com foco nas bases
com as seguintes palavras: biológicas da aprendizagem, na busca de
“Abordagem neurológica de distúrbios e de melhores formas de ensinar e de aprender. Os
incapacidades de aprendizagem. A objetivos da disciplina convertem para a real
Neuropsicopedagogia é de grande utilidade necessidade de os futuros professores
para o psicopedagogo clínico, pois possibilita o reconhecerem as dificuldades de
diagnóstico de processos anormais na aprendizagem de seus alunos, bem como as
estrutura, na organização e no funcionamento possíveis alternativas de trabalho. Isto é, terem
do sistema nervoso central, por meio de testes subsídios para planejamento que atenda às
de avaliação neuropsicológica, aplicáveis a demandas que surgem nas salas de aula. A
indivíduos portadores de problemas de disciplina se propõe a fazer com que os
aprendizagem". estudantes de Pedagogia conheçam o
A Neuropsicopedagogia visa entender a funcionamento neural, o desenvolvimento
conexão cérebro x aprendizagem, proposta a neuropsicológico, desde a concepção até a
partir do conhecimento da Neurociência, morte, destacando a neuroplasticidade, bem
apresenta-se como um dos assuntos mais como as bases biológicas e influência do uso de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

drogas pelos pais de crianças, bases h) emoções têm papel-chave no


neurológicas da entrada, processamento e aprendizado;
saída da visão, audição, tato, movimento e i) movimento pode potencializar as
atenção. A partir desses conhecimentos, enfim, oportunidades de aprendizado;
busca contribuir para que os professores k) nutrição impacta o aprendizado;
possam realizar as intervenções, considerando l) sono impacta consolidação de memória;
aspectos do desenvolvimento normal e das m) estilos de aprendizado (preferencias
dificuldades de aprendizagem. cognitivas) são devidas à estrutura única do
cérebro de cada indivíduo;
ÁREA DE ATUAÇÃO n) diferenciação nas práticas de sala de aula
são justificadas pelas diferentes inteligências
PROFISSIONAL DO dos alunos.
PSICOPEDAGOGO Sendo considerados esses elementos é
O Neuropsicopedagogo deve ter possível afirmar que o ato de aprender é uma
conhecimento amplo das bases ato complexo, que vai além de memorizar
neurobiológicas, do aprendizado, do conteúdos, aprender envolve:
comportamento, das emoções e dominar os • aprender envolve emoção;
elementos clássicos da psicopedagogia. • interação;
Nesta perspectiva alguns elementos devem • alimentação;
ser considerados de significativa importância • descanso.
para a intervenção neuropsicopedagógica, são O neuropsicopedagogo, profissional que
eles: está em constantes buscas de
a) Estudantes aprendem melhor quando são conhecimentos acerca dos transtornos,
altamente motivados do que quando não têm síndromes, patologias e distúrbios a qual o
motivação; indivíduo possa estar relacionado, terá ter
b) stress impacta aprendizado; condições de identificar nos indivíduos tais
c) ansiedade bloqueia oportunidades de sintomalogias, procurar identificar quais
aprendizado; competências e habilidades que tais indivíduos
d) estados depressivos podem impedir possuem, e propor uma intervenção
aprendizado; neuropsicopedagógica, que com certeza se fará
e) o tom de voz de outras pessoas é acompanhada junto aos familiares, professores
rapidamente julgado no cérebro como e equipe pedagógica e demais profissionais que
ameaçador ou não-ameaçador; se fazem presentes na vida destes indivíduos.
f) as faces das pessoas são julgadas quase A Sociedade Brasileira de
que instantaneamente (intenções boas ou Neuropsicopedagogia (SBNPp) contextualiza o
más); campo de atuação conforme o perfil
g) feedback é importante para o profissiográfico do neuropsicopedagogo.
aprendizado; O Neuropsicopedagogo Clínico atuará na
especificidade do indivíduo e deverá atender

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

em consultórios ou clínicas, postos de saúde e Criação de estratégias que viabilizem o


centros de referência de atendimento social. A desenvolvimento do processo ensino-
Neuropsicopedagogia clínica tem seu foco no aprendizagem do aluno;
processo ensino aprendizagem. Encaminhamento do aluno a outros
Os Neuropsicólogos Clínicos são capacitados profissionais quando o caso for de outra área
para: de atuação/especialização.
• Compreender o papel do cérebro do ser
humano em relação aos processos DEFINIÇÃO DE APRENDIZAGEM
neurocognitivos na aplicação de estratégias
O termo “Aprendizagem” vem de aprender,
pedagógicas nos diferentes espaços da escola,
deriva do latim, é a união do prefixo ad que
cuja eficiência científica é comprovada pela
significa junto ou aproximação e do termo
literatura, que potencializarão o processo de
prehendere, que quer dizer levar, capturar etc.,
aprendizagem.
seu sentido metafórico, seria “levar para junto
• Intervir no desenvolvimento da linguagem,
da memória”. O termo “Dificuldade” vem do
neuropsicomotor, psíquico e cognitivo do
latim diffi cultas e tem sentido de sofrimento,
indivíduo.
pobreza, pois é oriunda do termo diffi cilis,
• Adquirir clareza política e pedagógica pobre, sofrido, a união do prefixo dis que quer
sobre as questões educacionais e capacidade dizer fora e do termo facilis, que é aquilo que
de interferir no estabelecimento de novas pode ser conseguido sem dificuldade e advindo
alternativas neuropsicopedagógicas e
do termo facere.
encaminhamentos no processo educativo.
Alguns autores definem aprendizagem como
• Compreender e analisar o aspecto da sendo a aquisição de novos comportamentos.
inclusão de forma sistêmica, abrangendo
De acordo com Vygotsky (1993), a
educandos com dificuldades de aprendizagem
aprendizagem ocorre a partir de um intenso
e sujeitos em risco social.
processo de interação social, por meio do qual
A atuação do Neuropsicopedagogo o indivíduo vai internalizando os instrumentos
Institucional se dará em instituições escolares,
culturais.
centros e associações educacionais,
A Aprendizagem pode ser considerada, de
instituições de ensino superior e terceiro setor.
forma geral, como processo de integração e de
Para a SBNPp, a atuação do adaptação do ser humano em seu ambiente.
Neuropsicopedagogo na área Institucional, ou Por não ser este ambiente estático, mas
de educação especial, de educação inclusiva passível de constantes mudanças, aprendemos
deve contemplar: a nos modificar constantemente também.
Observação, identificação e análise do O processo de aprendizagem sofre
ambiente escolar nas questões relacionadas ao interferência de aspectos ambientais,
desenvolvimento humano do aluno nas áreas
econômicos, afetivos, sociais, psicológicos,
motoras, cognitivas e comportamentais; emocionais e familiares.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A perspectiva da aprendizagem sustenta que fundamentais para que a aprendizagem se


o desenvolvimento resulta da aprendizagem, efetive : saúde física e mental, motivação,
uma mudança duradoura no comportamento prévio domínio, maturação, inteligência,
baseada na experiência ou adaptação ao concentração ou atenção, memória.
ambiente. Os teóricos da aprendizagem Com frequência encontramos alunos
procuram descobrir leis objetivas que que apresentam dificuldades de aprendizagem
governam as mudanças no comportamento nas salas de aula e infelizmente podem ser
observável e veem o desenvolvimento como tratados como preguiçosos, lentos e
algo contínuo (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. desinteressados por parte dos professores e
62). familiares.
Todos nós aprendemos durante toda a vida No entanto professores e outras pessoas
gradualmente de acordo como nosso próprio envolvidas no desenvolvimento escolar do
ritmo. aluno devem sempre estar atentas, pois as
Além da integridade de nossos componentes dificuldades podem estar também relacionadas
cerebrais faz-se necessária uma integração com a aspectos orgânicos e emocionais, os
as áreas visual, auditiva e motora para que o problemas de fundo biológico são conhecidos
processo de aprendizagem ocorra de forma como transtornos de aprendizagem.
esperada
Na aprendizagem, ocorre a interação entre o DIFICULDADE E TRANSTORNO
indivíduo e o meio através da experiência,
gerando mudanças. O meio fornece as DE APRENDIZAGEM
informações que deverão ser processadas pelo Segundo o site do Wikipédia (enciclopédia
indivíduo, e a aquisição e o processamento da livre), dificuldade de aprendizagem, por vezes
informação ocorre por meio de três etapas: referida como desordem de aprendizagem ou
entrada (input), processamento e saída transtorno de aprendizagem, é um tipo de
(output). O input ocorre através de vias desordem pela qual um indivíduo apresenta
aferentes – visão, audição e somatossensitiva dificuldades em aprender efetivamente. A
(tato, gustação, olfato) -, constituindo a desordem afeta a capacidade do cérebro em
percepção sensorial da informação pelo receber e processar informação e pode tornar
cérebro. Os processamentos ocorrem em áreas problemático para um indivíduo um
corticais perceptivas e motoras. Esse aprendizado tão rápido quanto o do outro, que
processamento exige integração de áreas não é afetado por ela.
corticais Dificuldade de aprendizagem é um termo
O envolvimento de sentimentos, emoções, bastante genérico e se refere a uma defasagem
valores familiares e culturais interferem na aquisição de uma ou mais competências,
efetivamente no significado do que é sem causa evidente. Este termo não se refere à
aprendido pelo aluno. origem da dificuldade, nem às suas
De acordo com Rocha Drouet (2001 características, mas apenas sinaliza que algo
p.09), sete fatores são considerados

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

não corre bem no processo de aprendizagem aprendizado estão alteradas desde as primeiras
daquele aluno. etapas do desenvolvimento.
São diversos os fatores que podem interferir Dois padrões são identificados quando
positiva ou negativamente no desenvolvimento iniciamos um processo de investigação sobre a
educacional de um aluno. origem e características de limitações no
Aspectos ambientais, econômicos, sociais, processo educativo dos alunos:
afetivos, psicológicos, emocionais e familiares • As Dificuldades de Aprendizagem
podem ser determinantes para a vida escolar originadas por eventos transitórios na vida do
de uma criança. aluno, como por exemplo problemas de saúde,
A forma e o nível dos déficits de perdas emocionais, mudança de residência ou
aprendizagem que a criança apresenta são escola, entre outros.
afetados pelo ambiente que ela vive • Transtornos de Aprendizagem que se
O baixo rendimento escolar pode ter como referem a dificuldades que sempre estiveram
causa: presentes na vida escolar do aluno.
• Fatores sociais e econômicos. Caracterizam-se
Alimentação e moradia precária, falta de saúde pelo caráter inato de uma defasagem que
e lazer, assim como problemas de ordem pode ocorrer em uma ou mais áreas do
familiar são muitas vezes causadores de conhecimento.
dificuldades e desinteresse pelo aprendizado. Os transtornos específicos se referem a
• Fatores físicos e mentais são também dificuldade no desenvolvimento de uma
limitantes de aprendizagem, visto que a grande determinada competência, os transtornos que
a maioria das escolas não possui estrutura física envolvem múltiplas competências são
para acolher alunos com limitações de denominados transtorno global de
locomoção, nem tão pouco recursos humanos aprendizagem.
qualificados para a efetivação da inclusão dos Se a criança possuir alterações cognitivas
mesmos. que afetem sistematicamente o seu processo
O Manual Diagnóstico Estatístico de de aprendizagem, podemos estar diante de um
Transtornos Mentais - DSM IV (1994), por sua transtorno de aprendizagem.
vez, define como transtornos da aprendizagem A cognição é a capacidade para armazenar,
quando os resultados do indivíduo em testes transformar e aplicar conhecimento, sendo um
padronizados de leitura, matemática ou amplo leque de processos mentais. Por meio da
expressão escrita estão substancialmente natureza da cognição que o sujeito
abaixo do esperado para sua idade, compreende os processos e produtos mentais
escolarização e nível de inteligência. Já a superiores. Ela é um processo formado por um
Classificação de transtornos mentais e de sistema complexo de componentes (LIRA,
comportamento - CID 10 (1993), denomina 2012).
dificuldade de aprendizagem como transtornos
nos quais as modalidades habituais de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A dificuldade de aprendizagem ocorre por falta de oxigênio e complicações antes ou


eventos transitórios na vida do aluno durante o parto, doenças ou exposições a
interferindo negativamente no aprendizado do drogas durante a gravidez, sufocação,
mesmo. Já o transtorno de aprendizagem afogamento, inalação de fumaça,
caracteriza-se pela persistência na dificuldade envenenamento por monóxido de carbono
de aprender. (SMITH; STRICK, 2012).
Diante disto, quando nos deparamos com Podemos afirmar que os transtornos de
um aluno em situação de defasagem de aprendizagem ocorrem de uma diversidade de
aprendizagem, faz-se necessária uma avaliação fatores incluindo influência genética, das
especializada para definir a gravidade e a condições de gestação e do nascimento que
natureza do problema. interferem de forma negativa na aprendizagem
A identificação da origem do problema formal a partir de afirmações de estudos que
impede a rotulação do aluno como preguiçoso, utilizam técnicas de neuroimagem para
desinteressado ou incapaz. examinar o cérebro. Estes estudos indicam a
O diagnóstico e os tratamentos de possíveis existência de áreas cerebrais importantes para
transtornos deverão ser realizados por a leitura que são menos ativadas, a região do
profissionais da área da saúde. lobo temporal do hemisfério esquerdo,
Geralmente, o diagnóstico é realizado importante região para o processamento
quando o professor percebe algumas fonológico é menos ativada (funciona com
dificuldades que interferem na escrita, leitura e menos intensidade) em pessoas que têm
aritmética. Alguns autores apontam que as transtornos de aprendizagem. Por isso, esses
interferências ocorrem também, na realização transtornos são conhecidos como alterações
de outras atividades e no relacionamento com do neurodesenvolvimento. Existe ainda a
os familiares e amigos. probabilidade genética de pais com
Os transtornos de aprendizagem mais transtornos terem filhos com esta
conhecidos são a dislexia, a disgrafia, a característica.
discalculia, a dislalia, a disortografia, a TDHA.
O QUE É TRANSTORNO DE
CAUSAS DOS TRANSTORNOS DÉFICIT DE ATENÇÃO E
DE APRENDIZAGEM HIPERATIVIDADE (TDAH)
Algumas dificuldades de aprendizagem são Saul Cypel (2007), coloca que o TDAH é
diretamente ligadas a lesões compreendido como um transtorno que
cerebrais, surgidas a partir de traumas compromete principalmente o funcionamento
cranianos, hemorragias cerebrais e tumores, do lobo frontal do cérebro, responsável, entre
febres altas e doenças como, encefalite e outras atividades, pelas funções executivas (FE)
meningite. Existem, ainda, fatores relacionados e de funções como:
à desnutrição, exposição a substâncias tóxicas • A atenção;
e, a tratamento com radiação e quimioterapia,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• A capacidade que o indivíduo possui de e/ou filhos que também têm o transtorno) é
auto estimular-se; maior do que naqueles que entram em
• Conseguir planejar-se, traçando remissão.
objetivos e metas; Com relação ao gênero, ao contrário dos
• Controle dos impulsos; relatos clínicos do TDAH em crianças, a relação
• Controle das emoções; de homens / mulheres com TDAH é de 1:1.
• A memória que depende da atenção. No fim da Primeira Guerra Mundial, abateu-
Segundo Rohde e Benczick (1999), o TDAH é se sobre alguns países a epidemiologia de
um problema de saúde, o transtorno é encefalite, acarretando uma proporção
diagnosticado por profissional médico ou por fundamental para o TDAH, pois foi quando
uma equipe interdisciplinar. Os alunos que surgiu uma das primeiras descrições sobre
enfrentam esse distúrbio apresentam baixa mudanças de comportamentos, como
concentração, inquietude e impulsividade. tagarelice, crises emocionais, entre outros, a
Forster e Fernández (2003), propõem uma qual subsidiou aos autores a hipótese de que
definição que integra várias perspectivas crianças hipercinéticas apresentavam algum
teóricas, para entender e descrever o tipo de lesão cerebral, sem causas definidas.
transtorno: neurológico, psicopedagógico e Assim, no decorrer do século XX, o transtorno
escolar. Definem o TDAH como um transtorno passou a receber diversas denominações, como
de conduta crônico com um substrato biológico a de Lesão Cerebral Mínima, Disfunção
muito importante, mas não devido a uma única Cerebral Mínima, Hipercinesia, Síndrome
causa, com uma forte base genética, e formada Hipercinética da Infância e Déficit de Atenção
por um grupo heterogêneo de crianças. Inclui com ou sem Hiperatividade (DUMAS, 2011),
crianças com inteligência normal ou bem sendo hoje caracterizado pelo Manual
próxima do normal, que apresentam Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
dificuldades significativas para adequar seu Mentais (DSM-V, 2014), como Transtorno de
comportamento e/ou aprendizagem à norma Déficit de Atenção/Hiperatividade, e pela
esperada para sua idade. Classificação de Doenças Internacionais (CID-
O TDHA é considerado um transtorno de 10, 1993) como Transtorno Hipercinético.
comportamento, do neurodesenvolvimento De acordo com o DSM – IV (Manual
que interfere negativamente no Diagnóstico e Estatístico de Desordens
desenvolvimento da aprendizagem. Pode ter Mentais) o Transtorno de Déficit de
sua origem em fatores hereditários e por este Atenção/Hiperatividade é um problema de
motivo a anamnese é fundamental no processo saúde mental, considerando-o como um
de identificação e intervenção. distúrbio bidimensional, que envolve a atenção
De acordo com a ABDA ( Associação e a hiperatividade/impulsividade e pode ser
Brasileira do Déficit de Atenção) cerca de 2/3 apresentado sob três formas: subtipo
das crianças com TDAH, seguem com os predominantemente desatento, subtipo
sintomas do transtorno na vida adulta. Nesta predominantemente hiperativo/compulsivo e
população, a taxa de agregação familiar (pais subtipo combinado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Atualmente não há uma classificação do desenvolvimento. Em ambos os domínios seis


transtorno em relação aos sintomas. Os (ou mais) dos seguintes sintomas devem
tradicionais subtipos de TDAH persistir por pelo menos seis meses, em um
(predominantemente desatento, grau que é inconsistente com o nível de
predominantemente hiperativo-impulsivo e desenvolvimento, e tem um impacto negativo
combinado) (AMERICAN PSYCHIATRIC diretamente sobre as atividades sociais e
ASSOCIATION, 2000) são considerados como acadêmicas/profissionais. Para adolescentes e
apresentações no DSM-5 (AMERICAN adultos mais velhos (17 anos ou mais), pelo
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). Essa menos cinco sintomas são obrigatórios:
alteração deve-se aos resultados de inúmeras • Desatenção:
pesquisas que refletem que a manifestação dos a) Muitas vezes, deixa de prestar atenção a
sintomas pode variar de acordo com a idade em detalhes ou comete erros por descuido na
que o diagnóstico é considerado (BIEDERMAN escola, no trabalho ou durante outras
ET AL., 2000; VAN LIER ET AL., 2007; LARSSON atividades.
ET AL., 2011; DOPFNER ET AL., 2014), diferente b) Muitas vezes tem dificuldade em manter
do sentido do termo “subtipo”, que se refere a a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (por
uma condição invariável. Estudos anteriores exemplo, tem dificuldade em permanecer
descreveram um declínio geral da severidade focado durante as palestras, conversas ou
dos sintomas de hiperatividade-impulsividade leitura longa).
ao longo do desenvolvimento (VAN LIER ET AL., c) Muitas vezes parece não escutar quando
2007; LARSSON ET AL., 2011), enquanto que lhe dirigem a palavra (por exemplo, a mente
para os sintomas de desatenção os resultados parece divagar, mesmo na ausência de
são inconclusivos, a redução (BIEDERMAN ET qualquer distração óbvia).
AL., 2000), a estabilidade (DOPFNER ET AL., d) Muitas vezes, não segue instruções e não
2014) e o aumento desses sintomas (LARSSON termina tarefas domésticas, escolares ou no
ET AL., 2011) têm sido relatados. Dessa forma, local de trabalho (por exemplo, começa tarefas,
estima-se que até 70% das crianças mas rapidamente perde o foco e é facilmente
diagnosticadas com TDAH na infância desviado).
continuam a exibir níveis e) Muitas vezes tem dificuldade para
desenvolvimentalmente inapropriados de organizar tarefas e atividades (por exemplo,
desatenção e, em menor grau, sintomas de dificuldade no gerenciamento de tarefas
hiperatividade-impulsividade durante a sequenciais, dificuldade em manter os
adolescência e na vida adulta (BIEDERMAN, et materiais e os pertences em ordem, é
al., 1998; FARAONE, et al., 2002). desorganizado no trabalho, tem má
São cinco os critérios diagnósticos do TDAH administração do tempo, não cumpre prazos).
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013): f) Muitas vezes, evita, não gosta, ou está
• Critério A – Um padrão persistente de relutante em envolver-se em tarefas que
desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade exijam esforço mental constante (por exemplo,
que interfere com o funcionamento ou trabalhos escolares ou trabalhos de casa ou

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para os adolescentes mais velhos e adultos: completa frases das pessoas; não pode esperar
elaboração de relatórios, preenchimento de por sua vez nas conversas).
formulários, etc). h) Muitas vezes tem dificuldade em esperar
g) Muitas vezes perde coisas necessárias a sua vez (por exemplo, esperar em fila).
para tarefas ou atividades (por exemplo, i) Muitas vezes, interrompe ou se intromete
materiais escolares, lápis, livros, ferramentas, os outros (por exemplo, intromete-se em
carteiras, chaves, documentos, óculos, conversas, jogos ou atividades, começa a usar
telefones móveis). as coisas dos outros sem pedir ou receber
h) É facilmente distraído por estímulos permissão).
externos. • Critério B – Vários sintomas de
i) É muitas vezes esquecido em atividades desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade
diárias (por exemplo, fazer tarefas escolares, devem estar presentes antes dos 12 anos de
adolescentes e adultos mais velhos: retornar idade.
chamadas, pagar contas, manter • Critério C – Vários sintomas de
compromissos). desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade
HIPERATIVIDADE-IMPULSIVIDADE: devem estar presentes em dois ou mais
a) Frequentemente agita as mãos ou os pés contextos (por exemplo, em casa, na escola ou
ou se remexe na cadeira. trabalho, com os amigos ou familiares; em
b) Muitas vezes levanta-se ou sai do lugar em outras atividades).
situações que se espera que fique sentado (por • Critério D – Há uma clara evidência de
exemplo, deixa o seu lugar na sala de aula, no que os sintomas interferem ou reduzem a
escritório ou outro local de trabalho, ou em qualidade do funcionamento social, acadêmico
outras situações que exigem que se permaneça ou ocupacional.
no local). • Critério E – Os sintomas não ocorrem
c) Muitas vezes, corre ou escala em situações exclusivamente durante o curso da
em que isso é inadequado (Em adolescentes ou esquizofrenia ou outro transtorno psicótico, e
adultos, esse sintoma pode ser limitado a não são melhor explicados por outro
sentir-se inquieto). transtorno mental (por exemplo, transtorno de
d) Muitas vezes, é incapaz de jogar ou humor, transtorno de ansiedade, transtorno
participar em atividades de lazer calmamente. dissociativo, transtorno de personalidade )
e) Não para ou frequentemente está a “mil Para que ocorra aprendizado a atenção deve
por hora” (por exemplo, não é capaz de estar focada, a falta de atenção é um
permanecer ou fica desconfortável em comportamento do TDAH, a divagação durante
situações de tempo prolongado, como em as tarefas, a falta de persistência, dificuldade
restaurantes e reuniões). de se manter focado e de se organizar
f) Muitas vezes fala em excesso. A capacidade de manter o foco em um
g) Muitas vezes deixa escapar uma resposta determinado alvo e ignorar todo o resto opera
antes da pergunta ser concluída (por exemplo, na região pré-frontal do cérebro. O circuito
especializado desta área aumenta a força dos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sinais em que queremos nos concentrar e conta a vasta diversidade de tais características
diminui a força do que escolhemos ignorar e necessidades ( SALAMANCA, 1994, s.p).
(GOLEMAN, 2014, p. 22). A criança portadora do TDAH deve ser
Segundo a ABDA (2015), a “impulsividade é a considerada uma criança com necessidades
deficiência no controle dos impulsos, é agir educacionais especiais
antes de pensar”. Se a criança se sente A Constituição Federal e as Diretrizes e Bases
incomodada, ela reage de forma violenta, não para a Educação Nacional, determinam que a
consegue se conter diante de regras. Crianças educação é dever da família e do Estado,
impulsivas são fáceis de perceber: elas agem baseadas nos princípios de liberdade e nos
sem reflexão, têm reações súbitas, só se ideais de solidariedade humana, com a
arrependem depois do ato, mas logo finalidade de pleno desenvolvimento do
esquecem. Um comportamento diferente dos educando, garantindo o exercício da cidadania
outros transtornos em que a raiva e o e a sua qualificação para o mercado trabalho.
ressentimento duram horas ou dias. A A LDB (1996), no Art. 59, assegura que os
impulsividade causa um elevado grau de sistemas de ensino deverão propiciar
prejuízo acadêmico, presença acentuada de currículos, métodos, técnicas, acesso
sintomas comportamentais e maior prejuízo no igualitário, entre outros, para alunos com
funcionamento global quando comparado aos necessidades diferenciadas.
outros subgrupos. Apesar de todas as garantias legais o que se
Para alguns casos de TDHA são utilizados encontra na prática dentro das instituições de
medicamentos para amenizar os sintomas por ensino é a falta de recursos e o despreparo dos
meio de acompanhamento médico. profissionais para lidar com as crianças
Os sintomas citados acima afetam a portadoras de qualquer necessidade especial.
aprendizagem, a conduta, a autoestima, as No ano de 2007 o Ministério da Educação
habilidades sociais e o funcionamento familiar lançou a Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva, porém
OS DIREITOS DOS ALUNOS não incluiu alunos com TDAH como público-
alvo da Educação Especial.
COM TDAH A Lei 9.394 (Lei de Diretrizes e Bases da
Toda criança tem direito fundamental à Educação Nacional - LDB) está dentre os
educação, e deve ser dada a oportunidade de documentos oficiais que reforçam os direitos
atingir e manter o nível adequado de dos indivíduos com qualquer disfunção ou
aprendizagem; deficiência quando se trata da inserção ao
Toda criança possui características, mercado de trabalho e do acesso a educação,
interesses, habilidades e necessidades de preservando a igualdade e a dignidade, além
aprendizagem que são únicas, sistemas dos direitos da criança e dos adolescentes
educacionais deveriam ser designados e regulamentados no Estatuto da Criança e do
programas educacionais deveriam ser Adolescentes.
implementados no sentido de se levar em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Apesar do amparo legal, o maior desafio


para as crianças diagnosticadas com TDAH, no
que se refere ao ambiente educacional, está na
adequação deste.
Para Rotta (2006, p. 367,368), é importante
que se inclua crianças com TDAH nas escolas
regulares, porém, “sabe-se que é uma tarefa
árdua, tanto para os professores que se vêem
sozinhos em turmas numerosas e
heterogêneas, quanto para os pais que exigem
uma escola melhor para os filhos”.
Algumas conquistas foram alcançadas por
meio da mobilização da sociedade civil.
O projeto de Lei 7081, tem por objetivo
instituir, no âmbito da educação básica, a
obrigatoriedade da manutenção de programa
de diagnóstico e tratamento do TDAH e da
Dislexia. O projeto já foi acatado no senado e
na Comissão de Educação da Câmara, faltando
apenas duas comissões para ser aprovado no
legislativo e posteriormente sancionado.
Até que o Projeto de Lei 7081/2010 seja
votado nas próximas Comissões da Câmara e,
sancionado pela Presidência da República, o
Ministério Público vem proporcionando
sentenças favoráveis para as pessoas com
TDAH que buscam os seus direitos, com base
no ECA (Estatuto do Menor e Adolescente) e no
Decreto Legislativo nº 186, de 2008, que tem
status de Emenda Constitucional segundo
exposto no Artigo 5º, Parágrafo 3 da
Constituição Federal
Nesta perspectiva a mediação do
neuropsicopedagogo na orientação e apoio a
toda equipe pedagógica é de fundamental
importância, ajustando as intervenções aos
aspectos que refletem em comportamentos
inadequados e causam impactos negativos na
vida social do indivíduo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Intervir precocemente no caso de alunos que não conseguem aprender, é a melhor forma
de garantir uma vida saudável a essas crianças.
A criança portadora de dificuldade ou de transtorno de aprendizagem se sente a margem
do ambiente escolar, o que pode causar prejuízos não apenas no seu desempenho escolar, mas
também em sua vida social e profissional.
Vimos neste trabalho que as dificuldades de aprendizagem decorrem de eventos pontuais
na vida do indivíduo e são transitórias.
Já os transtornos de aprendizagem são decorrentes de causas neurobiológicas, são inatos,
permanentes e em muitos casos são hereditários.
Identificar a severidade e a boa caracterização dessas dificuldades são aspectos
fundamentais para a buscar a forma ideal para auxiliar as crianças com limitações.
A Neurociência é uma área muito nova, principalmente no contexto educativo, são poucas
as pesquisas publicadas sobre neurociência x educação.
Muitos são os cursos voltados a Neurociência, mas percebe-se que no cenário educativo,
as práticas neurocientíficas ainda se mostram desconhecidas e vistas com indagações por aqueles
que as desconhecem.
O TDAH é um problema de saúde, o transtorno é diagnosticado por profissional médico ou
por uma equipe interdisciplinar. Os alunos que enfrentam esse distúrbio apresentam baixa
concentração, inquietude e impulsividade.
O TDAH é considerado um transtorno de comportamento, do neurodesenvolvimento que
interfere negativamente no desenvolvimento da aprendizagem e pode ter sua origem em fatores
hereditários.
Apesar do amparo legal para o atendimento dos alunos portadores do TDAH ainda
encontramos resistência e despreparo no ambiente educacional, além da falta de recursos.
No contexto educativo atual questões relacionadas a inclusão trouxeram consigo aportes
como: laudos médicos, medicações diversas, dúvidas na metodologia ensino-aprendizagem,
exigindo profissionais capacitados para indicar caminhos e intervir de forma efetiva no trabalho
com os indivíduos.
O neuropsicopedagogo, profissional que está em constantes buscas de conhecimentos
acerca dos transtornos, síndromes, patologias e distúrbios a qual o indivíduo possa estar
relacionado, terá ter condições de identificar nos indivíduos tais sintomalogias, procurar
identificar quais competências e habilidades que tais indivíduos possuem, e propor uma
intervenção neuropsicopedagógica, que com certeza se fará acompanhada junto aos familiares,
professores e equipe pedagógica e demais profissionais que se fazem presentes na vida destes
indivíduos.

676
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Data de Acesso: 22/03/2022.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADAS:


COMPREENDENDO A CRIANÇA E SUAS
HISTÓRIAS
Tatiana Aparecida de Lima1

RESUMO: Sem dúvida o universo infantil é repleto de magia, alegria, ludicidade, inocência,
facilmente encontrados nas brincadeiras, brinquedos, desenhos e histórias, que compõem a
infância, dentro e fora da escola. E a criança se apodera desse universo lúdico, tomando para si
essa narrativa e traduzindo sua própria história, relacionando-se com personagens situações, que
são representadas em suas várias formas de linguagem, mostrando muito de si mesmo, de suas
vivencias e de como lê o mundo e a realidade em que vive. É nesse sentido que a psicanálise dos
contos de fadas os fornece subsídios para compreender mais da criança, de como ela compreende
sua realidade e, especialmente, de como ela se relaciona e demonstra sua compreensão de
situações que nem mesmo compreende ao certo a profundidade e como afetam seu
desenvolvimento

Palavras-Chave: Contos de fada; Narrativas; Significados; Expressividade.

1Professorade Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Prefeitura Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSYCHOANALYSIS OF FAIRY TALES: UNDERSTANDING THE CHILD


AND THEIR STORIES
ABSTRACT: Undoubtedly, the children's universe is full of magic, joy, playfulness, innocence,
easily found in games, toys, drawings and stories that make up childhood, inside and outside
school. And the child takes possession of this playful universe, taking this narrative for himself
and translating his own story, relating to characters and situations, which are represented in their
various forms of language, showing a lot of himself, his experiences and how he reads. the world
and the reality in which he lives. It is in this sense that the psychoanalysis of fairy tales provides
them with subsidies to understand more of the child, of how he understands his reality and,
especially, of how he relates and demonstrates his understanding of situations that he does not
even understand for sure the depth and how affect your development.

Keywords: Fairy tales; Narratives; Meanings; Expressiveness.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO diferente. Por esse motivo, essa pesquisa


voltou-se a compreender o papel dos contos de
O universo do faz de conta é algo inerente à fada e como podemos compreender o universo
criança e a infância, seja por meio dos infantil por meio da leitura, especialmente
brinquedos e brincadeiras, quando a criança se sobre o significado e a representatividade que
transporta para outra realidade, seja por meio as narrativas de contos de fada têm para as
de brincadeiras, de desenhos ou histórias, que crianças, sobre sua realidade e suas vivências, e
oferecem à criança várias oportunidades para como isso fala sobre quem a criança é e como
que ela possa se transportar para outros ela vive.
universos. Fato que, seja qual for a forma, a
criança tem muito forte essa capacidade em
1. A EDUCAÇÃO INFANTIL
imaginar-se em vários papeis diferentes, como
um super-herói, uma fada, um policial, como a ENQUANTO ESPAÇO DE
personagem desbravadora de aventuras, DESCOBERTAS E
incluindo-se em histórias e contos de fada, que
estimulam sua criatividade e todo o processo
DESENVOLVIMENTO
criativo que o universo da leitura permite ao No universo infantil, as aprendizagens
indivíduo. ocorrem pela brincadeira, privilegiando ações
Ao ingressar na escola, a criança tem esse lúdicas em detrimento de conhecimentos
contato com o universo lúdico dos contos e cientificamente constituídos. Compreender a
cantigas ainda mais explorados, pois as importância e o papel da escolarização infantil,
atividades lúdicas com histórias e músicas passa pela concepção de que a primeira etapa
infantis é bastante explorado nos primeiros da educação básica tem por objetivo o
anos escolares das crianças, fazendo parte dos desenvolvimento integral da criança em seus
planejamentos pedagógicos e das propostas aspectos físico, afetivo e social, cabendo à
curriculares. Após a Lei de Diretrizes e Bases da educação infantil fortalecer as relações sociais
Educação Nacional – LDB 9394/96 propôs a da criança, respeitar suas vivências e as
educação infantil como primeira etapa da especificidades da infância, como explicitado
educação, em seu artigo 29: no referencial para as diretrizes da educação
A educação infantil, primeira etapa da infantil:
educação básica tem como finalidade o [...] no espaço escolar, as relações sociais e
desenvolvimento integral da criança até seis intersubjetivas requerem a atenção intensiva
anos de idade, em seus aspectos físico, dos profissionais da educação, durante o
psicológico, intelectual e social, tempo e o momento de desenvolvimento das
complementando a ação da família e da atividades que lhes são peculiares. Este é o
comunidade. tempo em que a curiosidade deve ser
Uma das maiores preocupação na educação estimulada, a partir da brincadeira orientada
é tornar o indivíduo capaz de ‘ler’ o mundo à pelos profissionais da educação (BRASIL, 2013,
sua volta, e na educação infantil isso não é p. 36).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Dentre os objetivos traçados para esta etapa estimulem a criatividade, as descobertas, a


da educação citamos o cuidar e educar, exploração, o desenvolvimento da
oferecendo à criança a oportunidade de personalidade e autonomia, valorizando a
desenvolver suas habilidades e capacidades, troca, a afetividade e as relações interpessoais.
respeitando as características própria da O processo de aprendizagem na educação
infância e preservando o caráter lúdico das infantil deve atender as especificidades da
atividades e ações propostas, fatores à infância. idade, oferecendo oportunidades à criança de
Muito embora algumas famílias apresentem explorar diferentes formas de comunicação,
expectativas relacionadas aos processos de linguagem e expressão como forma de
alfabetização da criança, ainda na educação aprimorar sua capacidade de interação com o
infantil, este processo ocorre de modo outro e com o meio. Nesse processo, a
espontâneo, cabendo na verdade à etapa afetividade facilita a compreensão das
seguinte da educação, nos primeiros anos do diferenças, fortalece a relação de
ensino fundamental. É na educação infantil que interdependência, estimula a participação, a
a criança é estimulada a melhorar sua troca e, especialmente, ajuda a reduzir
capacidade de interação e socialização, situações de conflito e favorece o trabalho em
explorar suas capacidades e compreender as equipe, capacidades que fazem a diferença em
diferentes linguagens com ferramenta e todas as etapas de crescimento do indivíduo e
comunicação. Sendo assim, as práticas em suas experiências na vida adulta. Portanto,
pedagógicas devem compreender diferentes as situações em que a criança consegue exercer
formas de oportunizar às crianças diversas estas vivências tendem a possibilitar melhores
experiências, atendendo uma linguagem resultados para os processos pedagógicos.
adequada à suas vivências e sua idade, voltadas Cabe portanto a escola de educação infantil
ao seu desenvolvimento integral permitir à criança vivenciar oportunidades para
Como ressalta Macedo (2009), o desenvolver-se e conhecer a si mesma e ao
desenvolvimento integral saudável durante os outro. Como citado nas Diretrizes Curriculares
primeiros anos de vida permitem à criança Nacionais, a educação infantil deve reconhecer
maior facilidade de se adaptar a diferentes a criança como sujeito histórico e de direitos,
ambientes, adquirir novos conhecimentos e possibilitando-lhe interações e práticas
apropriar-se de novas habilidades, o que lhes cotidianas que possibilite “construir sua
permitirá, futuramente, na obtenção de um identidade pessoal e coletiva, brincar,
bom desempenho escolar e pessoal. Portanto, imaginar, fantasiar, desejar, aprender,
as funções pedagógicas da educação infantil observar, experimentar, narrar, questionar e
devem considerar a realidade da criança, sua construir sentidos sobre a natureza e a
bagagem cultural e suas vivências, buscando sociedade, produzindo cultura” (2010, p.12).
ampliar, por meio de atividades que tenham Para tanto, as propostas, ações e ferramentas
significado concreto para a vida das crianças, que se apropriam da ludicidade como forma de
seus conhecimentos e sua forma de inserir a criança no universo de descobertas e
compreender o mundo, propostas que aprendizagem, devem permear os processos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pedagógicos e o currículo da educação infantil, o universo imaginário. Como descreve Martins


como forma de manutenção das (1994), a leitura se mostra uma ponte para o
especificidades que compõem o processo educacional, proporcionando ao
desenvolvimento infantil. Nesse sentido, as indivíduo uma formação integral e
narrativas dos contos de fadas são importante reconhecimento de suas capacidades.
agente pedagógico no processo ensino-
aprendizagem da criança. 2. CONTOS DE FADAS OU
As histórias são, sem dúvida, uma
importante ferramenta de aprendizagem e NARRATIVAS HISTÓRICAS DO
descobertas para a criança, além de estimular COTIDIANO?
o processo de aquisição dos signos de Difícil definir a origem dos contos de fadas,
linguagem. Escutar histórias é um passo mas certamente as narrativas criadas dizem
essencial para a aquisição de vocabulário e para muito sobre histórias contadas de geração em
o desenvolvimento do aluno leitor, permitindo- geração, descrevendo passagens históricas ou
lhe conhecer o mundo e adquirir vasto mesmo recontando fatos históricos de um
conhecimento. Os contos de fadas são uma povo, sua cultura e espiritualidade. Mesmo
ferramenta de oportunidades e descobertas, sem uma posição definitiva sobre, há indícios
que permitem à criança ampliar sua de que a literatura teve início no século II a.C,
criatividade e imaginação, estimulando a entre os povos celtas, descrevendo sobre seus
curiosidade e despertando sua capacidade de deuses. Foram encontradas passagens em
questionar e refletir sobre si, sobre o outro e escritos de Platão, onde mulheres mais velhas
sobre o mundo. Citando Villardi “Há que se apresentavam suas histórias carregadas de
desenvolver o gosto pela leitura, afim de que simbologias às crianças (HISADA, 1998).
possamos formar um leitor para toda vida” As origens dos contos de fadas são as mais
(1999, p. 11). diversas. Proveniente de contos folclóricos
Cada história apresenta uma narrativa europeus e orientais, há neles um interessante
diferente, apresentando ao indivíduo cruzamento de princípios, entre os quais
diferentes costumes, conflitos, impasses, predominam os judaicos- cristãos e os da
suspense, problemas e soluções possíveis, vertente mística da antiguidade greco-latina.
demonstrando por meio dos personagens (KHÉDE, 1986, p. 16).
vivências que, de um jeito ou de outro, traz ao Em análises de romances antigos foram
leitor reconhecimento e identificação pessoal, encontrados registros de textos com fortes
fazendo com que a contação de história assuma indícios de contos de fadas, em narrativas do
importante papel na educação infantil, pois universo fantástico e carregados de
auxilia a reconhecer e compreender questões simbologias relatando que os povos da
sociais cotidianas, além de oferecer histórias antiguidade conheciam esse universo
repletas de fantasia, universos mágicos, figuras fantástico existente nos contos, repleto de
diferentes e seres incríveis, que se significados simbólicos e de metáforas, com
transformam numa ponte entre o mundo real e grande capacidade de interligar o consciente e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o inconsciente. Porém, nesse período, os da criança com esse tipo de literatura e seu
contos não eram destinado às crianças, pois valor terapêutico para esse público. O autor
eram histórias que traziam fatos cotidianos destaca os conflitos ou ansiedades que surgem
carregados de violência, adultério, situações de em estágios específicos de desenvolvimento,
incesto, canibalismo e outros temas do assim como sua capacidade de auxiliar a
universo adulto. Sobre isso, Souza (2005), criança a compreender significados ocultos nas
coloca que esses contos apresentavam o histórias e relacioná-los à vida. (BETTELHEIM,
destino dos homens em suas mazelas e crenças 2015)
sobrenaturais. Essas histórias eram recontadas
em encontros sociais, nas salas de fiar, nas 3. PSICANÁLISE DOS CONTOS
aldeias ou demais espaços de reunião dos
adultos (RADINO, 2001) DE FADAS: A MORAL DA
Mas foi apenas a partir da ressignificação da HISTÓRIA É OUTRA!
infância e do reconhecimento da criança como Em sua análise dos contos de fada
ser de direitos e cuidados que a literatura volta Bettelheim (2015), apresenta narrativas
os contos de fadas para esse público, ocultas nas entrelinhas das histórias, que
reconhecendo a necessidade de universo refletem conflitos, medos, inseguranças, enfim,
imaginário e fantástico, perpetuando histórias que estão associadas diretamente ao cotidiano
populares em contos repletos de magia e do homem. Para o autor, buscar um significado
fantasia. O que distingue o conto de fadas de para a vida exige a capacidade de transcender
outras modalidades de literatura é justamente os limites de uma existencia autocentrada,
o uso de componentes mágicos, imaginários e acreditando que sua existencia tem um
fantásticos, mas que carregam também forte objetivo maior, um significado maior, o que traz
apelo problemático existencial, onde os para o indivíduo um sentimento de satisfação
personagens sofrem, são perseguidos, pessoal consigo e com o que faz.
precisam vencer grandes obstáculos para Hoje, como no passado, a tarefa mais
alcançar a realização pessoal, para então importante e também a mais difícil na criação
viverem felizes para sempre (CALDIN, 2002; de uma criança é ajudá-la a encontrar
OLIVEIRA, 2001). significado na vida. Muitas experiências de
No entanto, ao aprofundar estudos acerca crescimento são necessárias para se chegar a
da simbologia contida em histórias de contos isso. A criança, à medida que se desenvolve,
de fadas e o fascínio que exercem sobre a deve aprender passo a passo a se entender
criança, as interpretações apresentaram melhor; com isso, torna-se capaz de entender
histórias carregadas de significado, refletindo os outros e, eventualmente, pode se relacionar
conflitos ou ansiedades pessoais. Nesse com eles de forma mutuamente satisfatória e
sentido, a psicanálise dos contos de fada significativa (2015, p.08).
remete a interpretações simbólicas Sendo a criança um ser em
relacionadas ao inconsciente humano, como desenvolvimento, sua capacidade de
coloca Bettelheim (2015), ao destacar a relação compreender o real significado das coisas, das

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ações e da convivência social ainda não está nessa fase de desenvolvimento, a significação
formada, pois sua percepção não alcança esse vem por modelos associativos onde são
raciocínio complexo. Porém, para representadas suas experiências, suas
compreender a si mesma, ao outro e ao vivências e necessidades.
mundo, é preciso ajudá-la a compreender os
conceitos morais da vida em sociedade. Sendo
assim, a leitura dos contos de fada com as
crianças perpassa esse conceito formador e
necessita ser compreendido, para alcançar os
objetivos contidos em sua narrativa. Deste
modo, o trabalho com a leitura dos contos de
fadas permite que a criança encontre
significados nas histórias, para então
compreender os processos reflexivos.
Citando Freud, a psicanálise deve auxiliar o
homem a aceitar a natureza problemática da
vida, sem sentir-se derrotado por ela, mas sim
armando-se de coragem para lutar
corajosamente. Essa é a mensagem que os
contos de fada apresentam de forma poética,
transmitindo para a criança a mensagem de
que as dificuldades são inevitáveis, mas com
coragem e perseverança os obstáculos são
vencidos. Muitos personagens personificam
medos, angústias, inseguranças, sentimentos
contidos pela criança e que não encontram eco
em suas vivências, mas por meio das narrativas
podem ajudar na sua compreenção e em como
superar e buscar superação.
Certamente que algumas narrativas de
contos de fadas são apenas isso mesmo, uma
linda história. Mas podem trazer reflexões que
auxiliam a criança a compreender as situações
e os personagens, relacionando-os às suas
vivências individuais e ao cotidiano social.
Porém, cabe ao narrador observar como a
criança recebe a história e como são por elas
recontadas, quais são os pontos marcantes e o
que realmente tocou a criança, lembrando que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O universo infantil é rico em significados e simbologias que vão sendo construídas a partir
das vivências e experiências que a criança tem em família, em sociedade e, especialmente, na
escola. As narrativas de contos de fadas, histórias inocentes, repletas de aventuras, suspenses e
finais felizes, ao ser analisa sob a ótica da psicanálise, têm muito a revelar sobre a criança e como
ela percebe o mundo a sua volta. Nesse sentido, podemos perceber por essa breve reflexão, que
os contos de fada vão muito além de historinhas romantizadas para distrair a criança. Há muito a
explorar nesse universo da psicanálise dos contos de fada em várias histórias que compõem o
imaginário da criança e que pode dizer muito sobre a criança, como ela compreende o mundo
que a cerca, como lida com os problemas da sociedade contemporânea e que atingem tão
fortemente seu desenvolvimento.
Por meio dessa ótica da psicanálise podemos compreender um pouco da
representatividade que as narrativas carregam ao serem recontadas pela criança em suas
brincadeiras, em seus desenhos e no modo como ela se apodera das histórias para relacioná-las
à sua própria vida, suas vivências e, especialmente, em como administra o conflito interno entre
a magia da infância e a realidade dos problemas do mundo real e da vida em sociedade, que tão
fortemente atinge o desenvolvimento das crianças na atualidade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


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2010.

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a hora do conto. Encontros Bibbi: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, 2002.

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Rio de Janeiro: Revinter, 1998.

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https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-72605> Acesso em: 17.mar.2022.

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piagetiano. São Paulo: PEPSIC - Boletim de Psicologia, volume 55/no123, 2005. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-5943200500020000>
Acesso em: 17.mar.2022.

VILLARDI, R.; Ensinando a gostar de ler e formando leitores para a vida inteira. Rio de
Janeiro: Editora Qualitymark/Dunya,1999.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: O PAPEL DO


PROFESSOR NA ATUALIDADE
Patrícia Cristina Berloffa1

RESUMO: Este artigo apresenta uma reflexão sobre a prática docente na Educação Básica, que se
constitui um meio para a produção do conhecimento, e a escola é um lugar ao quais os valores e
práticas da educação precisam ser vivenciadas. Grandes nomes na história da educação nos
mostram que o docente deve ser um facilitador da aprendizagem, buscando fazer com que o
corpo discente participe da sua formação por intermédio da integração e cooperação de todos,
uma vez que o papel do docente em sala de aula. A pesquisa discute a formação inicial de
professores, procurando evidenciar as exigências dessa formação, bem como a formação
oferecida e, consequentemente, o papel do professor no contexto escolar. Para tanto, fez-se um
levantamento bibliográfico e uma reflexão aprofundada do tema em questão.

Palavras-Chave: Docência na Educação Básica; Formação inicial; Formação continuada; Educação.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Arte História; Especialização em Educação nos Museus
Paulistas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

QUALITY OF EDUCATION: THE TEACHER'S ROLE TODAY


ABSTRACT: This article presents a reflection on the teaching practice in Basic Education, which
constitutes a means for the production of knowledge, and the school is a place where the values
and practices of education need to be lived. Big names in the history of education show us that
the teacher must be a facilitator of learning, seeking to make the student body participate in their
training through the integration and cooperation of all, since the role of the teacher in the
classroom. The research discusses the initial training of teachers, seeking to highlight the
requirements of this training, as well as the training offered and, consequently, the role of the
teacher in the school context. For this purpose, a bibliographic survey and an in-depth reflection
of the subject in question were carried out.

Keywords: Teaching in Basic Education; Initial formation; Continuing training; Education.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO centralizador do Estado na definição tanto


avaliação.
É um lugar comum afirmar-se que o A profissão docente era caracterizada por
desenvolvimento de um país está ligado à algumas traças de conhecimento objetivo, o
educação nas suas diferentes modalidades, ao que de certa forma significava possuir
ponto de se considerar os recursos humanos determinado conhecimento formal assumir a
qualificados como a sua maior riqueza. Assim, capacidade e ensiná-lo, o que caracterizava e
pode-se afirmar que nas questões relacionadas caracteriza um conhecimento abstrato de
com a cidadania e a defesa nacional, o papel da casos bem concretos. Atualmente essa postura
escolarização será inequívoco. arcaica e conservadora de características
O processo educacional, desde sua origem, é históricas são consideradas insuficientes ao
permeado pela lógica social vigente. Diferente passo que o contexto em que se educa tem
do que muitos ainda discursam, não é a escola cada vez mais importância no processo de
que pauta as mudanças sociais, mas a ensino/aprendizagem, deixando um ensino
sociedade que pauta a prática educativa. Nesse unicamente técnico de transmissão de
sentido, o professor pode se constituir em conhecimento, dando lugar a uma prática
sujeito de resistência à lógica hegemônica da construtora de ensino ético e crítico formador.
sociedade por meio do exercício de sua A aprendizagem pela relação, pela convivência
profissão. aumenta a capacidade de interação entre
Nas políticas educacionais sobre formação professor e aluno com o grupo, dessa forma a
docente, no Brasil evidencia-se nos prática tem exigido cada vez mais do educador,
documentos legais uma dinâmica discursiva e é claro que isso requer uma formação
relativa à configuração das funções, dos papéis qualificada do profissional permanentemente.
e das competências dos professores num perfil Para refletir a respeito do conceito de
profissional. Uma interrogação pertinente, no formação de professores exige que se recorra à
entanto, pode ser colocada: qual a razão para pesquisa, à prática de formação e ao próprio
que a noção de competência tenha adquirido significado do papel do professor na sociedade.
centralidade na construção de um perfil A pesquisa acompanha os movimentos
profissional do docente? A resposta está em políticos econômicos e socioculturais que dão
que ela faz parte de políticas educacionais que forma ao desempenho docente, quer no plano
respondem a um duplo objetivo: de um lado, a real quer no plano ideal. Já a prática
descentralização e a responsabilização das estabelece-se a partir de uma amálgama de
escolas e dos docentes pelos resultados do condições teórico-contextuais.
sucesso dos alunos. A devolução de Os professores, mesmo possuindo esses
competências e a autonomia são faces de uma títulos acadêmicos, pouca importância tem
mesma moeda: transfere responsabilidades da dado a sua formação profissional, isto é, à sua
esfera pública para a esfera privada preparação para a função do ensino. Autores
(comunidades, pais, alunos, professores e vêm alertando para algumas lacunas existentes
outros); de outro, o reforço do papel na formação dos docentes na Educação Básica,.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O objetivo geral é refletir sobre o papel do pedagógica e didática. Na busca de qualificação


professor na Educação Básica, bem como sua e aperfeiçoamento da profissão docente, estes
formação continuada. Os objetivos específicos professores ingressam em cursos de pós-
são destacar como se desenvolve a formação graduação stricto senso, que por sua vez estão
inicial dos professores; estabelecer uma mais voltados a formação de pesquisadores.
comparação entre a utilização de métodos Como nos mostra Tardif (2005), o professor
tradicionais e as novas tecnologias; discorrer deve assumir uma posição inovadora, deixando
sobre novos paradigmas educacionais. de ser mero ministrador de aulas. Mas essa
A motivação em estudar sobre o assunto é posição passa a exigir do mesmo, constante
por acreditar que há deficiências nas escolhas atualização, tanto no que se refere a sua
dos docentes. Nem sempre os profissionais disciplina, como também, sobre os problemas
possuem qualificação ou são qualificados para enfrentados em sala de aula - indisciplina,
atuar didaticamente em sala de aula, métodos de avaliação, dentre outros, assim
possuindo apenas qualificação técnica. Além contribuindo com o entendimento acerca da
disso, cita-se ainda a experiência como aluno realidade, tanto do aluno como do papel do
na graduação e em conversas informais com professor, e também na promoção de uma
colegas e outros profissionais já formados que emancipação intelectual e política de ambos.
corroboram com a justificativa de que alguns Para Zabalza (2004), o professor possui três
professores não possuem didática coerente grandes dimensões na definição de seu papel
com sala de aula. como docente. A dimensão profissional que
Em que as novas tecnologias aprimoram ou configura os componentes essenciais que
não a metodologia dos professores num atual definem essa profissão; a dimensão pessoal
paradigma educacional. que interfere no mundo da docência a partir de
alguns elementos como a satisfação no
2 O PAPEL DO PROFESSOR NA trabalho e outras situações de ordem pessoal;
e a dimensão administrativa que envolve
EDUCAÇÃO BÁSICA questões contratuais, de carreira, condições de
Ao professor na Educação Básica, é atribuída trabalho e outras obrigações do exercício
a responsabilidade de formar profissionais profissional. Essas dimensões propostas pelo
competentes para suprir as necessidades do autor não são excludentes, isto é, coexistem na
mercado de trabalho. Este professor precisa análise sobre o papel do docente.
saber o conteúdo, conhecer os recursos O docente, diante desse argumento
pedagógicos e as novas tecnologias para levantado pelos autores citados, precisa
compartilhar conhecimento e promover o compreender que o trabalho de instruir o aluno
desenvolvimento de habilidades e deve ser uma atividade voltada para o trabalho
competências em seus alunos. Um grande sobre o humano, ou seja, para haver o
desafio para o professor está relacionado à desenvolvimento das ações planejadas pelo
ausência de formação prévia e específica para educador, ele precisa compreender que os
atuar como docente, sobretudo formação educandos são constituídos de aquisições

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cognitivas, sociais, culturais e econômicas. Para transmitir seus conhecimentos. Enfim, o


este trabalho se constituir, conforme os professor deve ser um aliado na construção do
autores em pauta, o trabalhador precisa se indivíduo - aluno e não, simplesmente, um
dedicar ao seu parceiro de trabalho, que é transmissor de disciplinas. O professor deve
justamente outro ser humano dotado de ainda estar apta a contínua mudança de nosso
competências e saberes, sendo estas dia a dia.
construídas historicamente no caráter
essencial da interação humana, uma vez que a 3 A FORMAÇÃO INICIAL DO
aprendizagem se dá no contato entre
humanos. PROFESSOR
A docência exige a indissociabilidade entre A formação profissional e acadêmica do
ensino, pesquisa e extensão. Formar professor é gestada no contexto da revolução
professores implica compreender a liberal como expressa Tanuri (2000, p. 62):
importância do papel da docência e as as escolas destinadas ao preparo específico
competências do corpo docente. O professor dos professores para o exercício de suas
precisa se transformar num tutor eficiente de funções está ligado à institucionalização da
atividades de grupos, devendo demonstrar a instrução pública no mundo moderno, ou seja,
importância prática do assunto a ser estudado, à implementação das ideias liberais de
teve transmitir o entusiasmo pelo aprendizado, secularização e extensão do ensino primário a
a sensação de que aquele conhecimento fará todas as camadas da população.
diferença na vida dos alunos; ele deve Destaca a autora que esta demanda insere-
transmitir força e esperança, a sensação de que se no bojo da Reforma e Contra Reforma, no
aquela atividade está mudando a vida de todos entanto somente se materializa na Revolução
e não simplesmente preenchendo espaços em Burguesa, com a criação dos primeiros cursos
seus cérebros. Os docentes devem ser normais em 1795, na França. No Brasil, os
preparados para a arte do ensinar. Não basta arautos da Revolução Burguesa proclamados
ser um bom pesquisador, mas também, um ao apagar das luzes do império, sustentados
bom transmissor de conhecimentos. Ocorre nos primeiros tempo da república, se
que ao ensino médio é exigida formação consolidam na metade do século XX.
especifica para ministrar aulas, enquanto para Em decorrência a organização da escola e
o ensino básico não há tal exigência, fato este pública e os cursos para formar os professores
que deve ser mudado, uma vez que para são implementados nesta mesma conjuntura,
transmitir conhecimentos não basta apenas tê- primeiro os cursos normais para formar o
los, mais que isso o educador deve ter a professor primário e posteriormente as
formação necessária para tal. Existem licenciaturas (nas áreas de conhecimento e
profissionais extremamente habilitados para pedagogia). Desde a década de 1990, os
trabalhar em suas respectivas áreas e ainda sistemas de ensino proclamam por uma
munido de profundo conhecimento, formação de professores capaz de promover
entretanto limitados quando o assunto é mudanças no processo de ensino. Nesta

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

perspectiva, entre as alternativas, na definição chamados conteúdos pedagógicos e os


das políticas de intervenção no estatuto da conteúdos a serem ensinados. Isso se mostra
formação do professores, é elevar o nível de muito nitidamente nos cursos de licenciatura,
exigência para os cursos de formação inicial do compostos por dois grupos de disciplinas. Em
professor e a ampliação da formação um grupo, estão as disciplinas de formação
continuada. específica na área e, no outro, estão as
Se tomarmos por base estudo feito disciplinas de formação geral e pedagógica.
recentemente por Gatti (2010), que trata das Geralmente, esses dois grupos de disciplinas
características e problemas da formação de são desenvolvidos de forma desarticula da e,
professores no Brasil, notamos que a situação até mesmo, contraditória. Afirma-se, por
não demonstra avanços significativos. A autora, exemplo, uma concepção de ensino e de
ao analisar projetos pedagógicos de cursos de aprendizagem à luz da ideia de resolução de
licenciatura de instituições públicas e privadas problemas, enquanto nas aulas das disciplinas
das cinco regiões do país, revela um panorama do primeiro grupo prevalece uma prática
desolador quanto às condições dos cursos de baseada, unicamente, na transmissão de
formação de professores para a educação conhecimentos descontextualizados, sem
básica, mostrando a necessidade urgente de participação do aluno. Pode-se dizer, também,
uma revisão profunda nas estruturas dos que, em muitas instituições formadoras, há um
cursos. Uma das causas apontadas pela autora certo desprestígio do segundo grupo de
para essa situação, que sofre implicações da disciplinas e dos professores que trabalham
pulverização na formação e indica uma com elas.
formação frágil, distante das necessidades Seria desejável que o campo de trabalho real
formativas de professores para atender às de profissionais professores fosse referência
exigências da educação básica, é a ausência de para sua formação, não como constrição, mas
um eixo formativo para a docência. como foco de inspiração concreta. Silva Júnior
Para cumprir a LDB na letra e no espírito, (2010, p. 7), ao analisar experiências formativas
será necessário reverter essa situação. A lei de docentes, assinala que as formações
manda que o professor construa em seus clássicas voltadas à preparação individual para
alunos a capacidade de aprender e de o trabalho têm se revelado ineficazes, ou seja,
relacionar a teoria à prática em cada disciplina a concepção tradicional de formação inicial de
do currículo; mas como poderá ele realizar essa profissionais apenas como propedêutica, em
proeza se é preparado num curso de formação forma teórica dissociada de experiências e
docente no qual o conhecimento de um objeto conhecimentos adquiridos pela experiência de
de ensino, ou seja, o conteúdo, que trabalho, não responde às necessidades de
corresponde à teoria, foi desvinculado da reconversão profissional que a
prática, que corresponde ao conhecimento da contemporaneidade coloca. A formação inicial
transposição didática. de um profissional, além da formação
Um dos problemas centrais dos cursos de acadêmica, “requer uma permanente
formação é a falta de articulação entre os mobilização dos saberes adquiridos em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

situações de trabalho, que se constituirão em deveres, para que, assim, possam cobrar mais
subsídios para situações de formação, e dessas das autoridades competentes, sejam elas
para novas situações de trabalho” Silva Júnior entidades públicas ou privadas. Entretanto, é
(2010). importante destacar os deveres docentes no
trabalho pedagógico com crianças que deve
4 A FORMAÇÃO CONTINUADA superar a dicotomia entre cuidar e educar,
permitindo pelo processo da organização do
DO PROFESSOR tempo e do espaço, possibilidades para o
Vivemos atualmente, em uma sociedade conhecimento, para a aprendizagem e
considerada, por muitos teóricos, como pós- desenvolvimento infantil. Em relação aos
moderna, marcada pela inovação tecnológica e direitos recorremos a Lei de Diretrizes e Bases
social; dessa maneira, o interesse sobre a da Educação Nacional - Lei 9.394/96, no Artigo
formação de professores, nos últimos anos, 13, que destaca:
ganhou destaque no campo da investigação Os docentes incumbir-se-ão de: I - participar
entre os diversos estudiosos educacionais da elaboração da proposta pedagógica do
internacionais e nacionais. estabelecimento de ensino; II - elaborar e
Existem diversas tendências históricas sobre cumprir plano de trabalho, segundo a proposta
a formação de professores. Algumas pedagógica do estabelecimento de ensino; III -
abordagens tomam, como referência, uma zelar pela aprendizagem dos alunos; IV -
concepção mais crítica, mais reflexiva, que estabelecer estratégias de recuperação para os
concebe o professor como profissional do alunos de menor rendimento; V - ministrar os
ensino, ao passo que outras são mais dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de
tradicionais, com uma visão mais clássica, participar integralmente dos períodos
pautada na racionalidade técnica, ora dedicados ao planejamento, à avaliação e ao
positivista, ora empirista, que concebe o desenvolvimento profissional; VI - colaborar
professor como um técnico, não considera o com as atividades de articulação da escola com
saber deste, só o saber científico. as famílias e a comunidade (BRASIL, 1996, p. 6).
Neste sentido, pensamos que o tema que Candau (1997), apresenta três aspectos
elegemos assume não só atualidade – tanto no fundamentais para o processo de formação
nível das práticas nas quais se tem buscado continuada de professores: a escola, como
uma interação crescente entre formação e locus privilegiado de formação; a valorização
trabalho, nos mais diversificados grupos do saber docente; e o ciclo de vida dos
profissionais e contextos organizacionais, como professores. Isto significa dizer que a formação
no nível da investigação e produção científica - continuada precisa: primeiro, partir das
como também importância e impacto em nível necessidades reais do cotidiano escolar do
intra e interindividual. professor; depois, valorizar o saber docente, ou
A Formação Continuada é uma exigência da seja, o saber curricular e/ou disciplinar, mais o
LDB 9394/96. Os professores necessitam saber da experiência; por fim, valorizar e
conhecer as leis que regem seus direitos e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

resgatar o saber docente construído na prática exigindo uma nova postura do educador. Com
pedagógica (teoria + prática). a utilização de redes telemáticas na educação,
Assim, analisamos a formação continuada podendo-se obter informações nas fontes,
diretamente ligada ao papel do professor; as como centros de pesquisa, Universidades,
possibilidades de transformação de suas Bibliotecas, permitindo trabalhos em parceria
práticas pedagógicas e nas possíveis mudanças com diferentes escolas; conexão com alunos e
do contexto escolar. Imbernón (2010), ainda professores a qualquer hora e local,
ressalta a formação continuada como fomento favorecendo o desenvolvimento de trabalhos
de desenvolvimento pessoal, profissional e com troca de informações entre escolas,
institucional dos professores, elevando seu estados e países, por meio de cartas, contos,
trabalho para transformação de uma prática. permitindo que o professor trabalhe melhor o
Tal prática está para além das atualizações desenvolvimento do conhecimento.
científicas, didáticas ou pedagógicas do Para acompanhar essa inovação tecnológica
trabalho docente, supõe uma prática cujo é necessária a formação e com ela a capacidade
alicerce é balizado na teoria e na reflexão desta, de seleção dos instrumentos, dos canais e dos
para mudança e transformação no contexto documentos; deve ocorrer uma relação entre
escolar. os aspectos econômicos e pedagógicos, pois
Diante dos diversos pensamentos sobre a sobre eles se darão as ações administrativas.
formação continuada de professores e as Portanto, os recursos tecnológicos podem
diversas práticas ao respeito, fica esclarecido facilitar a passagem do modelo mecanicista
que não há modelo único. Portanto, se faz para uma educação mais interacionista; um
necessário conhecer esses pensamentos e processo interativo com alternância de papéis,
práticas, analisá- los criticamente e apreender conexão, heterogeneidade e multiplicidade,
isso para desenvolver novos conhecimentos, que seja capaz de gerar um estímulo-resposta
cujos produtos sejam, de fato, a transformação entre o professor e o aluno. O computador é
da formação dos profissionais da educação. uma “ferramenta” que auxilia no intermédio da
ação do professor e o aprender do aluno, um
5 O PROFESSOR E AS NOVAS auxiliar, sempre disponível e muito útil quando
bem utilizado.
TECNOLOGIAS O uso da tecnologia não se restringe apenas
A era digital, em especial com o advento da aos novos modelos de determinados
internet, abriu caminhos e trouxe ao homem o equipamentos e produtos; ela altera
acesso a um novo espaço comunicacional. Em comportamentos. A ampliação da tecnologia
meio a uma diversidade linguística e cultural, impõe-se à cultura existente, transformando
algumas vezes apontada como forma de não apenas o comportamento individual, mas o
inserção na cultura globalizada, em diversos de todo o grupo social. Bellonni (2001, P. 55),
setores da sociedade. afirma que: “A integração das inovações
Com as Novas Tecnologias da Informação tecnológicas aos processos educacionais vai
abrem-se novas possibilidades à educação, depender, então, da concepção de educação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

das novas gerações que fundamentam as ações negação, mas um redimensionamento e uma
e políticas do setor”. dinamização alicerçados no procedimento de
Com o adequado emprego da tecnologia, o questionar, de admitir a provisoriedade do
professor deverá ser o elemento fundamental conhecimento, na abertura ao diálogo e na
nesta mudança de mentalidade e atitude, integração de novas ideias.
inclusive com uma nova visão a respeito do erro
não mais como punição, mas como 6 NOVOS PARADIGMAS
oportunidade para aprender, desenvolver a
autonomia e a flexibilização de um sistema EDUCACIONAIS
rígido, centralizado e controlador (VALENTE, A necessidade de mudança na educação
1997, p. 21). O educador exercerá um trabalho brasileira é um desafio e, ao mesmo tempo, um
mais intelectual, mais criativo, mais momento ímpar para os educadores de forma
colaborativo e participativo e estará preparado geral. Experiências de algo novo na prática
para interagir e dialogar – junto com seus pedagógica têm sido um caminho árduo para
alunos – com outras realidades fora do mundo alguns e incentivo para outros. Fazer a ruptura
da escola. É esta rede de informações e com a velha concepção de “ensinar” é o
conexões que torna o ensino não-linear e caminho para o novo perfil do educador que,
colabora para a organização da inteligência para tal, precisa voltar a estudar.
coletiva distribuída no espaço e no tempo, Acredita-se que as coisas não mudam na
como nos ensina Lévy (1999). Cria-se um educação, principalmente, pelas dificuldades
coletivo inteligente, que nada é fixo, mas não enfrentadas por todos aqueles e aquelas que
tem desordem, pois são coordenados e nela exercem as suas atividades profissionais,
constantemente avaliados. Interagir neste ao tentarem se adaptar a uma nova cultura de
meio equivale a reconstruir um mundo comum trabalho que, por sua vez, requer, mais do que
que pensa diferentemente dentro de cada um nunca, uma profunda revisão na maneira de
de nós, porém contribui para a construção ensinar e de aprender. Embora quase todos
coletiva do saber. A mudança de paradigma percebam que o mundo ao redor está se
requer um exercício muito transformando de forma bastante acelerada,
Ao admitir o conhecimento como um entretanto, a grande maioria dos professores
processo de natureza interdisciplinar ―que ainda continua privilegiando a velha maneira
pressupõe flexibilidade, plasticidade, com que foram ensinados, reforçando o velho
interatividade, adaptação, cooperação, ensino, afastando o aprendiz do seu próprio
parcerias e apoio mútuo (MORAES, 1996, p. processo de construção do conhecimento,
14), coloca-se a utilização pedagógica do conservando, assim, um modelo de sociedade
computador na confluência de diversas teorias que produz seres incompetentes, incapazes de
- teorias "transitórias" e coerentes com a visão criar, pensar, construir e reconstruir
epistemológica da rede. Dessa forma, abrem-se conhecimento.
as possibilidades de profunda alteração na Para que a escola consiga ser um espaço de
pedagogia tradicional - o que não significa sua construção de formação do cidadão capaz de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

exercer sua cidadania de forma plena, do educando de construir seus conhecimentos,


necessita construir uma nova forma de de buscar, compartilhar e reelaborar
organizar seu trabalho, capaz de romper e informações. Assim, minimizando os
mudar o pensamento unidimensional em problemas decorrentes do uso inadequado,
direção do novo paradigma de inclusão. respondendo ao menos parcialmente os
Tomando cuidado para que ao apropriar-se questionamentos:
desses novos recursos tecnológicos não esteja E essa a educação que tenta acompanhar a
sendo manipulada ao consumismo. revolução das tecnologias da informação? É
De acordo com Demo (1998), há um desta forma que estaremos preparando as
rompimento com o conhecimento racional com futuras gerações para terem acesso às redes de
paradigmas rígidos optando para a comunicação, ao conhecimento disponível?
flexibilidade. Nesta nova concepção a tarefa Como desenvolver autonomia, cooperação e
principal do conhecimento é até certo ponto, criticidade a partir desses novos instrumentos?
desfazer as verdades, descongelar os entraves E por que as coisas não,
ao processo de questionamento e inovação. A Assim sendo, espera-se que as universidades
difusão desse conhecimento é mediante ao possam oferecer cada vez mais cursos de
processo de comunicação que pode utilizar formação que sejam satisfatórios para a
recursos considerados de tecnologias, como o sociedade contemporânea. Neste âmbito,
quadro negro, livro e outras ferramentas pode-se observar que a prática docente deve se
pedagógicas ou ser mediada por meio das reciclar, se ambientar em novos formatos, se
novas tecnologias da informação e apropriar aos conceitos do novo paradigma
comunicação (TICs). existente na atualidade. Os docentes podem
Esse conjunto de novas abordagens aproveitar os recursos tecnológicos para
estratégicas compõem um universo - de auxiliar de maneira crítica a prática pedagógica.
práticas, valores, conceitos, entre outros - O professor dos dias de hoje deve ser um
sempre pronto para ser desbravado. Não agente que estuda incessantemente, que se
existem mais fórmulas mágicas ou receitas para aprimora e que corre para acompanhar as
lidar com fatos e elementos práticos ou novidades midiáticas. Moran (2005, p. 36),
teóricos. As novas propostas que regem os afirma que:
processos de aquisição e proliferação dos A educação escolar precisa compreender e
saberes humanos estão permanentemente incorporar mais as novas linguagens,
sendo constituídas e reconstruídas, de maneira desvendar os seus códigos, dominar as
mais democrática, interativa e dialética. Esse possibilidades de expressão e as possíveis
processo e determinado pelos paradigmas. manipulações. É importante educar para usos
Portanto, a educação mediada pelas TIC democráticos, mais progressistas e
necessita de uma significação, de uma intenção participativos das tecnologias, que facilitem a
pedagógica que vise torná-la o meio e não o evolução dos indivíduos.
fim. Neste sentido, é fundamental que o uso
destas ferramentas desenvolva a capacidade

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Para encarar as transformações que já


ocorreram, o profissional deve se preparar, e
antes de tudo é preciso estar aberto para atuar
em várias áreas e saber lidar, cada vez mais,
com a tecnologia e aperfeiçoar as relações
humanas. O caminho é ter conhecimento para
atuar em diferentes áreas do conhecimento
com qualidade, relacionar-se bem com a as
pessoas, buscar especializar-se em vários
assuntos prezar a qualidade de vida.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No artigo, procuramos argumentar que a formação de professores, embora tenha se
tornado uma temática central nas discussões no cenário acadêmico brasileiro, os cursos que
oferecem essa formação para atuação na educação básica permanecem sem alterações
significativas em seu modelo formativo. Nessa tentativa, tomamos caminhos que nos levaram a
evidenciar as exigências dessa formação, a formação oferecida e o papel do professor no contexto
escolar.
A questão, ora proposta, é o desafio das Instituições de Ensino Fundamental na construção
de projetos pedagógicos no momento atual pelo qual passa a educação básica no Brasil e as
constantes exigências do mercado de trabalho em preparar o aluno para ocupar postos de
trabalho diferenciados e que exigem uma série de habilidades específicas, somando-se a isto a
postura de consumidor do próprio aluno influenciado pela mensagem publicitária de algumas
unidades escolares que afirmam preparar integralmente o seu aluno para o mercado de trabalho,
como a frase "aqui o aluno aprende na prática" e outras frases de efeito.
Reconhecemos o valor da teoria, da reflexão e do conhecimento, indispensáveis à
construção da práxis. Estudos e ações governamentais devem atingir a estas questões apontando
outros caminhos para a construção de uma formação continuada que possa ao mesmo tempo,
realizar-se no tempo e espaço escolares, alcançar o professor nos seus projetos de ascensão
profissional e fundamentar teoricamente sua práxis educativa.
Entretanto, é imprescindível considerar que as novas tecnologias estão sendo associados
a outros recursos, o que introduz novas formas de fazer e de interagir, modifica a maneira como
se pensa e como se aprende e torna necessário refletir sobre os mesmos em cada uma das
atividades de formação que se pretenda realizar
A reflexão crítica conduzida durante a pesquisa deixa claro que é urgente repensar as
práticas pedagógicas a fim de sintonizá-las com as demandas de um contexto que diverge
totalmente das práticas outrora aplicadas, de características fragmentárias e até mesmo
excludentes.
O uso de tecnologias na educação permite que os estudantes desenvolvam habilidades
intelectuais com maior motivação, pois ele estará aprendendo de forma condizente com a
realidade em que vive – a era de grandes avanços tecnológicos. Ele já é uma realidade, mas não
na grande maioria, na qual ainda predomina o estilo tradicional – carteiras enfileiradas, alunos
calados e passivos, uso apenas de livros, lousa e giz.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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ZABALZA, M. A. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre:


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700
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFLEXÕES E DESAFIOS DOS AGRUPAMENTOS


MULTIETÁRIOS
Talita Alves Silva1

RESUMO: O presente artigo busca refletir acerca dos agrupamentos multietários e as questões
que as envolvem pensando no percurso histórico e social das crianças com relação as salas
seriadas e as potencialidades na Educacão Infantil.O viés teórico inclui os estudos sobre os
agrupamentos multietários a partir de documentos oficiais e da produção científica (2006-2016)
João, 2018; além dos estudos de Valiati (2006); Ariès (1981); Lima (2015) e Prado (2006). Ao final
pretende-se analisar os caminhos para proporcionar experiências plurais e significaticas
envolvendo agrupamentos multietários, ao mesmo tempo em que confere-se às salas seriadas
uma tentativa de homogeneização das infâncias divididas por etapas e indicações temporais e
classificatórias.

Palavras-Chave: Salas multietárias; Crianças; Educação Infantil.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Letras e Pedagogia pela Universidade de São Paulo.

701
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFLECTIONS AND CHALLENGES OF MULTIETARY GROUPINGS


ABSTRACT: This article seeks to reflect on multi-age groups and the issues that involve them,
thinking about the historical and social path of children in relation to graded classrooms and the
potential in Early Childhood Education. The theoretical bias includes studies on multi-age groups
based on official documents and scientific production (2006-2016) João, 2018; in addition to
studies by Valiati (2006); Aries (1981); Lima (2015) and Prado (2006). In the end, it is intended to
analyze the ways to provide plural and meaningful experiences involving multi-age groups, at the
same time as giving the serial rooms an attempt to homogenize childhoods divided by stages and
temporal and classification indications.

Keywords: Multi-age rooms; Kids; Child education.

702
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO da análise do percurso histórico de organização


de classes seriadas no decorrer da Educação
Este artigo pretende promover uma reflexão Infantil.
acerca de agrupamentos multietários na
Educação Infantil. Em minha trajetória como
PERCURSO HISTÓRICO E SALAS
professora da área da Educação Infantil não
tive a experiência de trabalho com grupos de ETÁRIAS NA EDUCAÇÃO
faixas etárias diferentes na mesma sala. A Educação Infantil carrega na sua história a
Se na rede privada, numa escola com viés presença da lógica de divisão de grupos por
tradicional, os agrupamentos multietários idade. De acordo com a pesquisadora Patrícia
sequer fizeram parte das discussões Prado (2006, p. 110), pouco se tem escrito
pedagógicas, por outro lada na Rede Municipal sobre agrupamentos de várias idades e,
de São Paulo, o tema ganha força suscitando o segundo ela, a sucessão de idades nas
interesse de muitos docentes e pesquisadores. instituições de Educação Infantil padronizam e
Já para João (2018), na sua dissertação de classificam crianças pela semelhança,
Mestrado, sua experiência na Educação uniformizando-as e segregando-as tais como
Infantil, com agrupamentos formados por conteúdos e métodos de ensino em detrimento
crianças de três a seis anos de idade, na época dos agrupamentos multietários que, segundo
em que realizava docência compartilhada com ela, de certa forma vão na contramão dessa
dois professores, permitiu à pesquisadora um lógica excludente e perversa.
olhar diferenciado e enriquecedor quanto às Sobre isso, Valiati (2006), reforça o quanto
interações entre crianças de diferentes idades, esses conteúdos e métodos, seguindo o
sobretudo nas trocas de experiências, desde a princípio de “igualdade”, persegue a mesma
escovação ou até mesmo na execução de sequência linear e progressiva, carregando uma
tarefas mais complexas. concepção estática e engessada de
No seu relato, a pesquisadora salienta que a aprendizagem e desenvolvimento como se as
ideia desse agrupamento na escola em que etapas devessem ocorrer do mesmo jeito e no
trabalhava surgiu pela necessidade de aceite mesmo tempo.
dessas crianças com idades distintas. Nessa esteira de raciocínio, é importante
Assim a partir de sua experiência na escola, mencionar a Base Nacional Curricular Comum
foi possível problematizar questões (BNCC) (BRASIL, 2017), que surge como
envolvendo alguns pilares da Educação Infantil, documento norteador curricular para material
partindo do pressuposto da importância das didático, propostas pedagógicas, formação de
brincadeiras e interações sociais, versus professores e avaliação, assim como as DCNEI
segregação por idades. em âmbito nacional e mais precisamente o
Esse relato me fez refletir sobre a Currículo da Cidade para a Educação Infantil na
viabilização dos agrupamentos multietários Prefeitura de São Paulo.
como proposta de trabalho, do interesse por Esse documento de certa forma promove
pesquisas que envolvem o tema e, por último, esse mesmo engessamento mencionado por

703
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Patrícia Padro em sua tese em 2016. Passados tem essa idade, é tão nova, mas tão sábia” ou
mais de dez anos, ainda observamos a “como pode o meu chefe ter a idade para do
necessidade de um ensino pautado na meu filho” corroborando essa ideia
aquisição de saberes padronizados. verticalizada dos saberes.
Nesse sentido, surge a ideia de função social Essas e outras frases, que muitas vezes
da escola e das classes seriadas como um fazem parte de tantos discursos, carregam a
modelo que atenda um mercado como linha de visão de que o “mais novo”, visto como
produção semelhante as práticas do século XIX, inexperiente, precisa sempre aprender mais e,
só que dessa vez disfarçado de direitos de consequentemente, “o mais velho”, perderá
aprendizagem e igualdade de oportunidades. tudo o que foi aprendido, haja visto que a
criança menor é erroneamente taxada como a
CONTEXTO HISTÓRICO E OS que menos sabe.
Assim, os agrupamentos etários limitam a
AGRUPAMENTOS MULTIETÁRIOS criança no processo de socialização ao passo
Do ponto de vista histórico, de acordo com que as aprendizagens distintas são
Ariès (1981, p.10), as interações entre as desafiadoras e enriquecedoras na construção
crianças se davam a partir da prática, num de experiências diversificadas e agregadoras.
ambiente com encontros e festas incluindo
vizinhos, homens, mulheres, idosos, outras
crianças, ou seja, pessoas de todas as idades.
A CRIANÇA NO PROCESSO
A partir das revoluções industriais e da EDUCATIVO
configuração das novas relações de trabalho, Na configuração da escolarização da criança,
ainda de acordo com Ariès (1981), houve uma durante muito tempo, a ideia do adulto como
separação das crianças com os adultos, numa aquele que ensina e a criança como aquela que
espécie de enclausuramento tal qual o aprende permeou a história da educação.
processo de escolarização dos dias atuais. Nesse sentido, além da visão de adulto
Nesse processo, segundo o autor, as crianças inacabado, a primeira infância, como objeto de
eram divididas de acordo com a sua estudo pedagógico, surge com características e
capacidade. Após um longo período surge a definições próprias que permitem subdividir os
necessidade de adaptação do mestre ao nível conteúdos em etapas (no intuito de promover
da criança, garantindo aí uma preocupação da a normatização e homogeneização do seu
infância e seus saberes. desenvolvimento) que serão recebidos pelas
Quando se trata dos agrupamentos crianças e coordenados pelos mestres e
multietários, um dos questionamentos responsáveis.
recorrentes inclui a estagnação ou até mesmo Dornelles (2008), compreende as classes
o retrocesso da criança mais velha devido a homogêneas como instrumento de disciplina e
interação com crianças mais novas. Ao pensar rigidez. Desse modo, as idades diversificadas
sobre as relações adultas, comumente são entendidas como subversão, ao mesmo
observam-se relatos como “nem parece que tempo em que o ensino deveria estar atrelado

704
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aos estágios de desenvolvimento da criança,


sob o risco de contração de doenças mentais.
Na contramão dessa linha, Lima (2015, p.98),
compreende o processo escolar da criança
partindo da heterogeneidade da infância “que
pressupõe constituirmos uma relação
necessária com a diferença” que constitui
todos os sujeitos. Destarte, essa divisão etária,
João (2018), salienta a divisão das rotinas e
espaços escolares.
Atrelada a essa divisão etária, está vinculada
a divisão por tempo e a rotina desses espaços
onde as crianças, muitas vezes, são tratadas
como se fossem apenas uma, ou seja,
homogênea. Esse aspecto é bem contraditório
se analisarmos o marco legal e documentos
oficiais brasileiros sobre a infância, criança e
Educação Infantil, onde reconhecem a criança
na sua heterogeneidade e como ator social e
pontuam que os eixos norteadores das
propostas pedagógicas devem ser as interações
sociais e as brincadeiras (JOÃO, 2018, p. 58).
Assim, de acordo com a autora, a divisão das
salas por idade engloba a organização de toda
estrutura do cotidiano da escola suscitando as
formas como as crianças aprendem, socializam-
se e relacionam-se no ambiente escolar.

705
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente reflexão mostrou o quanto a configuração das salas seriadas pode ser
compreendida como uma tentativa de homogeneização das infâncias no qual as crianças são
divididas por etapas e obrigadas a desenvolver habilidades e competências.
Sobre isso, Gondra (2010), analisa com ressalvas a vida recortada em etapas e com
indicações temporais e classificatórios, que de certo modo, segundo ele, enaltecem métodos,
materiais e avaliações.
Nessa conjuntura, a construção de um diálogo que se atente as necessidades das crianças
observando a cultura de pares e os aspectos de aprendizagem e desenvolvimento da criança a
partir da socialização umas com as outras, permitem a defesa dos agrupamentos multietários nas
instituições de Educação Infantil como mais coerente com as diretrizes norteadoras dessa etapa
escolar.

706
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Janeiro: Guanabara Koogan, 1981.

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GONDRA, J. G. A emergência da infância. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 26, n. 1,


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LIMA, Patrícia de Moraes. Infância(s), alteridade e norma: dimensões para pensar a


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n. 1, p. 94-106, jan./abr. 2015.

JOÃO, SAMARA MARIA. Os agrupamentos multietários na educação infantil: reflexões a


partir de documentos oficiais e da produção científica (2006 -2016) (Dissertação de
Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018. 188 p.

PRADO, P. D. Contrariando a idade: condição infantil e relações etárias entre crianças


pequenas da Educação Infantil. 2006. Tese (Doutorado em Educação) Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, SP, 2006.

VALIATI, M. E. A abordagem multiidade na Educação Infantil. Pátio Educação Infantil, São


Paulo, ano 3, n. 9, p. 39-41, fev. 2006.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFLEXÕES SOBRE A LEITURA E A ESCRITA NA


PERSPECTIVA DISCURSIVA: VOZES QUE
FORTALECEM A TRAVESSIA NA SALA DE AULA
Márcia de Cassia Santos Mendes 1
Maria Aparecida Gusmão Pacheco2

RESUMO: O presente artigo faz parte da dissertação apresentada no Mestrado em Ensino, pela
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. O objetivo deste estudo é refletir sobre a
leitura e a escrita na perspectiva discursiva considerando vozes que fortalecem o trabalho do(a)
professor(a) na sala de aula. A prática da leitura e escrita começa a fazer parte da vida humana
desde o momento que começamos a compreender o mundo a sua volta. O gosto por esse estudo
emergiu da necessidade de abordar e reiterar caminhos para a leitura e a escrita na escola, nos
anos iniciais. Este artigo traz o recorte bibliográfico que ancorou o estudo realizado e que, por
conseguinte, contribuiu para a análise da prática pedagógica das professoras colaboradoras que
participaram da pesquisa. Como resultado podemos observar que apesar já é possível constatar
alguns caminhos trilhados pelas professoras na direção da leitura e da escrita na perspectiva
discursiva, considerando o a formação continuada realizada pelas professoras.

Palavras-Chave: Leitura; Escrita; Discursiva; Anos Iniciais.

1 Mestre em Ensino pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia -UESB. Professora da Rede Estadual de
Ensino do Estado da Bahia.
2 Professora Titular do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários-DELL e do Programa de Pós-

Graduação em Ensino, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia -UESB.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFLECTIONS ON READING AND WRITING IN THE DISCURSIVE


PERSPECTIVE: VOICES THAT STRENGTHEN THE CROSSING IN THE
CLASSROOM
ABSTRACT: This article is part of the dissertation presented in the Master's Degree in Teaching,
by the State University of Southwest Bahia - UESB. The objective of this study is to reflect on
reading and writing in the discursive perspective, considering voices that strengthen the teacher's
work in the classroom. The practice of reading and writing begins to be part of human life from
the moment we begin to understand the world around us. The taste for this study emerged from
the need to approach and reiterate paths for reading and writing at school, in the early years. This
article brings the bibliographic clipping that anchored the study and which, therefore, contributed
to the analysis of the pedagogical practice of the collaborating teachers who participated in the
research. As a result, we can observe that although it is already possible to see some paths taken
by the teachers in the direction of reading and writing in the discursive perspective, considering
the continuing education carried out by the teachers.

Keywords: Reading; Writing; Discursive; Initial Years.

709
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO compreensão de que a concepção de leitura e


a de escrita estão ancoradas à luz do mesmo
Mãe Joana aprendera sozinha catando olhar: o discursivo.
cuidadosamente as letras, nas horas de folga
nas casas em que trabalhava. Era, talvez, por
O ENTRECRUZAMENTO DOS
isso o seu grande desejo e esforço para que os
filhos aprendessem a leitura. Todos foram para FIOS: OS ASPECTOS TEÓRICOS
a escola. Muitas vezes a fome acompanhava as DA COMUNICAÇÃO DISCURSIVA
crianças pelo caminho, pois o pouco dinheiro Reconhecendo que há muitas formas de
do pão era desvirtuado para a compra de um dizer e muitas formas de compreender o
caderno, lápis ou borracha. [...] Maria-Nova, à mundo, consideramos relevante marcar
medida que aprendia, se tornava mestra dos algumas delas com mais precisão: as que
irmãos menores e das crianças vizinhas. correspondem aos conceitos com as quais
Maria-Nova crescia, lia, crescia dialogamos. Assim, a partir das reflexões
(EVARISTO,2006, s.p). iniciais, assentamos as vozes teóricas que
Lançamos nosso olhar sobre os marcos embasam este estudo. Elas se complementam
teóricos que embasam o estudo proposto, reciprocamente na construção da comunicação
objetivando aprofundá-los e apresentá-los por discursiva.
meio de uma “escrevivência”, termo cunhado Assim, destacamos, nos estudos de Bakhtin
na literatura produzida por Evaristo (2017), (2011), referentes à teoria enunciativa
para dizer da escrita que emerge da vida. dialógica, o dialogismo e a compreensão
Todavia, os dizeres postulados por nós não responsiva, ambos reverberando em
constituem apenas uma revisão da produção experiências discursivas. A mediação, na
literária, pois, ao trazer as vozes dos outros, perspectiva de Vygotsky (1991)3 , é 1

também enunciamos nossas vozes, e, por meio compreendida como a intervenção de um


delas, nossa escrita se torna carregada pela elemento que se põe entre o ser humano e a
nossa vivência. natureza, por meio de instrumentos, tendo em
Reiteramos que o recorte do estudo vista estabelecer relações uns com os outros,
proposto diz sobre a escrita, sem perder de de acordo com o uso de signos, os quais
vista a leitura. Sendo assim, constitui um promovem a interação. Também assumimos o
compromisso histórico e uma necessidade postulado teórico de Freire (1989, 2013, 2019),
pedagógica atrelar a leitura ao processo da no que tange à prática pedagógica.
escrita. Logo, mesmo considerando as Ao ler a epígrafe, podemos compreender
especificidades de ambas, não as concebemos que “a palavra serve de expressão de uma em
de modo dicotômico no processo de ensino- relação ao outro” (BAKHTIN, 1992, p. 107). Ao
aprendizagem. Esse ponto é importante para a

3No livro, Piaget-Vygotsky: novas contribuições para o francês Vygotsky; em italiano Vygotsky e, por fim, em
debate (1996), uma nota do editor elucida que o nome inglês Vygotsky. No presente estudo, adotamos a forma
de Vygotsky, apresenta-se escrito de modos diferentes utilizada na língua inglesa.
nas línguas ocidentais: em espanhol Vygotsky; em

710
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

catar cuidadosamente as letras para si, relevância. Essas palavras dos outros trazem
inferimos que Mãe Joana já intuía que ler a consigo a sua expressão, ou o seu tom
palavra, para além das letras, era condição valorativo que assimilamos, reelaboramos e
necessária para uma vida menos “severina”4 . 1 reacentuamos.
Com certeza, havia, nessa mulher, a luta para Leitura e escrita são experiências discursivas
que seus filhos, negros e pobres, também também individuais, que se desenvolvem na
aprendessem a ler. Quiçá já soubesse que o interação permanente com os enunciados
mundo é lido antes da palavra. Por isso, pela individuais dos outros. Lemos, em diversas
experiência de vida, ela já sabia que a leitura situações, o que outros escreveram. Assim,
transforma mundos. tanto uma quanto a outra contribuem para
É nessa direção que apresentamos conceitos alterar o nosso modo de ser e estar no mundo,
desenvolvidos à guisa da teoria enunciativa mediadas pelas relações de sentido, isto é, por
dialógica, evidenciados nos estudos relações sociais Observamos que, no caminhar
bakhtinianos: dialogia e compreensão da vida que seguia interruptamente, a
responsiva. Sendo assim Bakhtin (2011, p. 349), personagem Maria-Nova “crescia, lia, crescia”
lembra-nos que “O homem entra no diálogo e, por conseguinte, reescrevia sua história
como voz integral. Participa dele não só com abrindo portas, portanto, para a reescrita da
seus pensamentos, mas também com seu história do seu povo, porque ela crescia
destino, com toda a sua individualidade. ” também em relação ao conhecimento da
(BAKHTIN, 2011, p. 349). É dessa maneira que o palavra, não como mero sinal, mas como signo
universo cultural do outro, como sujeito, é que se desvela à luz da “palavramundo”
traçado dialogicamente. Assim, no que (FREIRE, 2013). Trazer a leitura para a roda
concerne ao pensamento de Bakhtin (2011, p. sinaliza que ela começa no mundo particular e
294-295), compreendemos que: avança para a palavra, que tem de ter sentido
[...] a experiência discursiva individual de para quem lê, e, por conseguinte, para quem
qualquer pessoa se forma e se desenvolve em escreve.
uma interação constante e contínua com os A palavra é atravessada pela ideologia
enunciados individuais dos outros. Em certo porque possui significado e remete a alguma
sentido essa experiência pode ser caracterizada coisa fora de si mesma. Ilustramos, a partir de
como processo assimilação – mais ou menos Bakhtin (2011), a questão, por exemplo, da
criador – das palavras do outro (e não das palavra “negras”. Lida sozinha, solta,
palavras da língua). Nosso discurso, isto é, descontextualizada, quiçá diga pouco sobre
todos os nossos enunciados (inclusive as obras nossas lutas para inserção em uma sociedade
criadas) é pleno de palavras dos outros, de um europeizada. Todavia, quando a situamos em
grau vário de alteridade ou assimilabilidade, de um contexto – “Vidas negras importam”5 –, a 2

um grau vário de aperceptibilidade e de palavra “negras” passa a assumir outra

4Referência ao poema “Morte e Vida Severina”, de João 5O enunciado “Vidas negras importam” ressurgiu, como
Cabral de Melo Neto. movimento, em 25 de maio de 2020, devido ao

711
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conotação. Sendo assim, nossos discursos não por certo, já ocupam um lugar de relevância
são apenas nossos: eles estão carregados de teórica e metodológica no que diz respeito ao
marcas discursivas de tantos outros. Nessa tema evidenciado. Esse ponto é deveras
perspectiva, ressaltamos, que de acordo com salutar, porque reabriu caminhos que poderão
Volochinov (2013), a palavra não mostra oportunizar a ressignificação da prática
apenas a realidade: ela a interpreta, porque, pedagógica sobre o ensino da leitura e da
como signo ideológico, considera o contexto escrita, questão orientadora da pesquisa.
dinâmico, social e permeado pela interação. Outro ponto que, desde o início, queremos
A epígrafe que coroa este artigo está situada demarcar, neste estudo, é a opção que o
no romance memorialista Becos da Memória sustenta pela concepção de linguagem
de Conceição Evaristo. A literatura é interacionista, considerando os saberes
reconhecida como arte da palavra, e foi na constituídos na relação entre teoria e prática,
palavra, como signo ideológico, que caracterizados por um movimento espiralado e
encontramos a motivação para escrever acerca permanente, portanto desligado da visão
do porquê, aos olhos de Mãe Joana, “a falta do maniqueísta e fragmentada, típica da
pão dói menos que a falta da leitura”. Sem abordagem tradicional. Diante do exposto, não
tomar posse da leitura da palavra como signo iremos nos deter em explanações acerca das
ideológico, corremos risco de permanecer na outras concepções de linguagem, uma vez que,
invisibilidade, lendo o mundo a partir dos olhos nos discursos, as professoras fazem referências
dos outros. ao ensino da leitura e da escrita movidas pela
Mais uma vez, reiteramos que ler e escrever interação.
são habilidades que possuem especificidades, Observamos que os fazeres dessas
mas que estão mutuamente encravadas, professoras colaboradoras apontam indícios de
coladas uma na outra. Logo, demandam ser omissões, na formação inicial, na qual tanto a
compreendidas à luz de uma mesma concepção leitura quanto a escrita não foram configuradas
de linguagem. Com isso, interessa-nos bastante para uma abordagem, na escola, a partir dos
uma escuta sensível, de acordo com as modos diferenciados de uso na vida social. A
premissas sinalizadas por Barbier (2004), sobre diversidade de textos que circula na sociedade
os dizeres das professoras colaboradoras. São já colore o espaço da sala de aula, mas é preciso
elas que trazem as palavras do cotidiano da sala perspectivar como são explorados para as
de aula acerca do ensino da leitura e da escrita, crianças no processo inicial de alfabetização (1º
a ser problematizado teórica e e 2º ano) e a posteriori, no 3º, no 4º e no 5º
metodologicamente. ano. Para isso, não há “receita”, a não ser
Assim, para potencializar o diálogo, estudar e estudar para entremear a prática à
convidamos as vozes dessas professoras que, teoria, estimulando, cada vez mais, as

assassinato de George Floyd pelo policial Derek início em 2014: Black Lives Matter. Disponível em
Chauvin, em Minneapolis, Estados Unidos. Esse https://blog.imaginie.com.br/black-lives-matter/. Data de
episódio, de clara violência ostensiva, que faz parte de Acesso: 28/02/2022.
um racismo estrutural, trouxe à tona manifestações a
favor de vidas negras e retomou um movimento que teve

712
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

professoras a refletirem acerca das cada sujeito enuncia de modo diferente, mas
experiências discursivas imbricadas nas não desigual, sua percepção sobre o mundo.
próprias práticas pedagógicas, referentes ao A palavra fora do contexto pode dizer nada
ensino da leitura e da escrita. ou muito pouco. A palavra “negro” pode ter
Queremos destacar que o uso do termo usos e entonações diferenciadas, a depender
“criança – e não aluno, educando ou estudante da situação comunicativa. A entonação e o
– assume, neste estudo, um propósito político, contexto é que fazem a palavra se transformar
para enfatizar que o lugar é da criança que em enunciado. Assim, pode-se afirmar que a
estuda nos anos iniciais, dentro e fora da palavra, isolada ou a priori, não carrega juízo de
escola, como sujeito histórico e social, logo, valor ou emoção.
sujeito de direitos, de desejos e de deveres. A Dito isso, para Bakhtin (2011), o enunciado
intenção é de romper com a visão não é uma convenção, mas a unidade concreta
adultocêntrica que ainda permeia na sociedade da comunicação discursiva. Por isso, difere da
e, consequentemente, na escola. Desse modo, oração. Ou seja, ao utilizar a língua, os
esse estudante, antes de tudo, deve se tornar enunciados orais ou escritos estão presentes. É
visível, na sala de aula, como criança. com base nessa acepção que os gêneros
Ainda com referência a essa questão, poderá discursivos, que são enunciados, necessitam
alguém dizer que os termos “aluno”, ser compreendidos para adentrarem à sala de
“educando” e “estudante” também trazem o aula. Mais adiante, iremos discorrer a respeito
indicativo supracitado, sendo, portanto, mais desse ponto, por ser ele imprescindível para o
adequados porque estamos tratando de um planejamento de situações leitoras e escritoras
tema referente ao contexto escolar, no âmbito na escola, considerando-se a linguagem em sua
acadêmico. Contudo, reiteramos que os outros dimensão social.
termos abrem portas para atender a todos e Importante é ressaltar que “A enunciação é
todas que estão na escola na condição de o ato de produção do discurso, é uma instância
discente. No caminho trilhado, corroboramos pressuposta pelo enunciado (produto da
que a palavra não é um sinal, mas um signo e, enunciação). Ao realizar-se ela deixa marcas no
como tal, carrega um conteúdo ideológico e discurso que constrói. ” (FIORIN, 2018, p.55).
“tudo que é ideológico possui um significado e Frente ao exposto, percebemos haver um elo
remete a algo situado fora de si mesmo” entre as variadas vozes na mesma enunciação
(BAKHTIN, 1992 p. 21). discursiva, e sua historicidade significa que a
Na perspectiva dialógica “[...] a língua passa enunciação emerge da interação social. Assim,
a integrar a vida, por meio de enunciados o que eu, você e nós dizemos está recheado da
concretos (que a realizam); é igualmente por fala de outros. O locutor e o interlocutor
meio de enunciados concretos que a vida entra assumem igual relevância no discurso, porque
na língua. ” (BAKHTIN, 2011, p. 265). A língua é, o primeiro fala para interagir com o segundo de
portanto, um sistema de signos modo ativo, coerente com o que foi enunciado,
demarcadamente ideológico, porque ela mesmo quando silencia. A linguagem é
passeia por diferentes classes sociais e, assim, heterogênea por ser constituída por tantas

713
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

vozes, sem que possamos nos dar conta de em nossas experiências discursivas, o que
quais são elas. também revela a prática pedagógica.
Fiorin (2018), ainda assevera que o conceito Nessa perspectiva, “[...] o dialogismo são as
referente ao dialogismo pode permitir variados relações de sentidos que se instauram entre
sentidos: aquele que está implícito no enunciados. ” (FIORIN, 2018, p. 19). Como já foi
enunciado; aquele explícito por intermédio da enfatizado, a linguagem é social e está sempre
inclusão de vozes de outros enunciados; e, por entre o interlocutor e o locutor, construindo
fim, aquele que indica a resposta dada por cada relações de sentido, porque é assim que a
pessoa às inúmeras vozes que circulam na linguagem entra na vida. Com filiação à
realidade dos sujeitos envolvidos. Isso leva em orientação firmada nos estudos bakhtinianos,
consideração a ativa posição responsiva, caminhamos para a compreensão de que o
conceito desenvolvido por Bakhtin, que dialogismo é a comunicação interativa em que
aparece no livro Marxismo e filosofia da cada um se vê e se reconhece por meio do
linguagem e, mais adiante, em Estética da outro.
criação verbal. Para esse autor, se existe De acordo com Bakhtin (1992, p. 106):
diálogo, há compreensão responsiva ativa, A palavra dirige-se a um interlocutor: ela é
mesmo quando a resposta é inadequada ou função da pessoa desse interlocutor: variará se
quando não há resposta. Assim, nas palavras de se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social
Bakhtin (2011, p. 271), “Toda compreensão da ou não, se esta for inferior ou superior na
fala viva, do enunciado vivo, é de natureza hierarquia social, se estiver ligada ao locutor
ativamente responsiva (embora o grau desse por laços sociais mais ou menos estreitos (pai,
ativismo seja bastante diverso); toda mãe, marido, etc.). Não pode haver
compreensão é prenhe de resposta, e nessa ou interlocutor abstrato; não teríamos linguagem
naquela forma a gera obrigatoriamente: o comum com tal interlocutor, nem no sentido
ouvinte se torna falante” próprio nem no figurado.
Visto assim, o ato responsável ou ético é uma Ao refletir ainda mais um pouco acerca dos
resposta do interlocutor, isto é, um conceitos indicados, vale frisar que na
posicionamento demarcado pelo signo perspectiva teórica que envolve esse estudo a
ideológico, a palavra oral e escrita acerca do leitura e a escrita têm um caráter interativo,
discurso ora mediato ou imediato já por meio do qual, é lendo e escrevendo que o
estabelecido (SOBRAL, 2008). Essa resposta sujeito se insere na comunicação. Dessa
está mais intimamente ligada a um discurso do maneira, as professoras e as crianças produzem
que à réplica a uma pergunta. Compreendemos enunciados que precisam ser lidos de modo
que a resposta dada ao outro é para que ele linguístico, mas também social, ideológico,
conheça as ideias, os pensamentos, as como processos enunciativos e dialógicos.
experiências, ou para prosear com outro que há Nessa direção, pensamos ser relevante
em cada um de nós, tendo em vista assumir a trazer os estudos freireanos sobre o diálogo,
responsabilidade dos nossos atos manifestados tendo em vista aproximá-los da discussão
apresentada, considerando a teoria

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

enunciativa e dialógica. Assim, para Freire É nesse movimento permanente e reflexivo


(2006, p. 118): para a transformação entre prática e teoria e
O diálogo tem significação precisamente teoria e prática que a práxis ocorre
porque os sujeitos dialógicos não apenas continuamente, porque o mundo não está
conservam sua identidade, mas a defendem e pronto, completo, acabado. Assim, é possível
assim crescem um com o outro. O diálogo, por pensar sobre como ressignificar os modos de
isso mesmo, não nivela, não reduz um ao outro. ensinar a ler e a escrever revisitando os
Nem é favor que um faz ao outro. movimentos que as professoras fazem, não
Diante do conceito de dialogismo lançado na para buscar erros e equívocos – ao contrário o
teoria bakhtiniana, em que emerge como que elas já realizam em sua prática pedagógica
comunicação interativa na qual o interlocutor com as crianças que aprendem a ler e a
ou locutor se percebe e se reconhece no outro escrever.
ao tempo que aponta a dialogia como o ato do Tomar para si a palavra discurso,
diálogo, podemos inferir que o pensamento apresentada por Bakhtin (1992), como signo,
freireano acerca do conceito de diálogo se isto é, algo que, de acordo com a enunciação,
configura como uma relação dialógica que, ao significa e representa alguma coisa para
se respeitar, também respeita o outro, sua alguém, portanto, poderá fazer diferença na
cultura, seus saberes, suas experiências. Logo, escola ao ensinar a ler e a escrever, porque,
o entrecruzamento desses conceitos contribui nela, a criança terá a oportunidade de interagir
para que as professoras colaboradoras com diferentes vozes, logo, com diversos
ressignifiquem pontos já costurados na prática pontos de vista a respeito de um mesmo
pedagógica, mas o inverso também poderá assunto, por exemplo.
ocorrer. Já a palavra como sinal tende a ser um mero
Para Saviani (2013, p.91): identificador, pois ela, na maior parte das
Quando entendemos que a prática será vezes, enseja apenas uma decodificação sem
tanto mais coerente e consistente, será tanto compreensão do que está dito por trás do que
mais qualitativa, será tanto mais desenvolvida foi lido (os implícitos, o subentendido),
quanto mais consistente for a teoria que a colaborando para a produção de uma escrita
embasa, e que uma prática será transformada artificializada. Por isso, concordamos com as
à medida que exista uma elaboração teórica premissas do enunciado supracitado de Saviani
que justifique a necessidade da sua (2013), a respeito do movimento da prática na
transformação e que proponha as formas de busca das práxis.
transformação, estamos pensando a prática a Logo, não pactuamos com a “leitura”
partir da teoria. Mas é preciso também fazer o ensinada sob a perspectiva de unir letras, unir
movimento inverso, ou seja, pensar a teoria a sílabas para formar palavras, uma vez que esse
partir da prática, porque se a prática é o processo não propicia uma contribuição efetiva
fundamento da teoria, seu critério de verdade como prática social. Dessa ação, infelizmente,
e sua finalidade, isto significa que o ainda cristalizada na escola, ressurge a
desenvolvimento da teoria depende da prática pergunta que ecoa: como é mesmo que as

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crianças irão escrever textos, se ainda nem municípios baianos. Mais adiante, ainda neste
leem e nem escrevem de modo proficiente? capítulo, continuaremos o diálogo acerca
(BRASIL, 2017). desses dois programas, porque é a partir deles
A experiência de formadora em quase que este estudo começou a ser pensado.
duzentos municípios baianos (período de 2012 Diante do que foi exposto até o momento,
a 2018) nos permitiu observar, acompanhando compreendemos ser relevante conhecer,
as salas de aula com os programas Pacto–BA6 e 1 desde a formação inicial, a história da
PNAIC, o distanciamento da leitura e da escrita alfabetização no Brasil e as concepções de
como prática social, ainda que muitos leitura e escrita cujas bases poderão alimentar
coordenadores pedagógicos e coordenadoras a construção ou a reprodução de métodos e
pedagógicas acreditassem que trabalhavam técnicas que não apenas contribuem para
nessa perspectiva. práticas reprodutivas no que se refere ao
O Pacto pela Educação, conhecido como ensino e aprendizagem de ler e escrever, mas
Pacto–BA, foi um dos programas coordenados também para o apagamento da voz do
pelo Programa de Apoio à Educação Municipal professor ou da professora, inscrita nos
(Proam), vinculado SUPAV7 , instituído em 2007
2 discursos externos.
e substituído em 2018. O Proam coordenava, As notas acima apontam alguns dos
dentre outros programas, o Pacto–BA. Ele foi caminhos percorridos pela leitura e pela escrita
organizado em três eixos de abrangência: 1) em um dado período do tempo histórico, para
formação continuada para professores dos que, assim, possamos compreender que esses
anos iniciais do Ensino Fundamental, nas áreas caminhos foram marcados por relações
de Alfabetização, Linguagem e Matemática; 2) binárias. De acordo com Hebrard (1999), a
gestão; 3) avaliação. escrita, ao contrário da leitura, não alcançava a
O Pacto –BA surgiu em 2011, tendo como todos, porque demandava mais tempo e
exemplo o Programa de Alfabetização na Idade recursos financeiros. Nessa época, a
Certa, do Ceará, iniciado em 2007, cuja meta aprendizagem leitora visava ao
era garantir a alfabetização dos alunos do 2ª desenvolvimento da habilidade de decodificar
ano. O Pacto–BA começou o processo pautada na prática da leitura silenciosa ou
formativo com formadores municipais de 312 oralizada.
localidades do estado, inicialmente com turmas Nos anos iniciais, com as devidas exceções,
do 1º ano. por certo, no que tange à alfabetização, houve
Em 2013, surgiu o PNAIC, com objetivo de ainda a predominância da leitura esvaziada de
garantir o direito à alfabetização de todas as sentido para as crianças, o mesmo ocorrendo
crianças na instituição. Em um dado momento, com a escrita. É fato que, atualmente a
os dois programas caminharam juntos, com despeito dessa investigação acadêmica, ambas,
foco na alfabetização das crianças dos leitura e escrita ainda não são compreendidas

6O Pacto pela Educação, na Bahia, foi instituído em 28 7 Superintendência de Avaliação.


de abril de 2011, conforme o Decreto de número 12.792
e mantido até o período de 2015 a 2018.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

como objeto de um ensino baseado numa contexto do texto, e também como vincular o
concepção interacionista de linguagem. texto/contexto com o meu contexto, o
E por que defendemos a experiência com a contexto do leitor”. Logo, a leitura é uma
língua social, interativa, com as múltiplas prática social e política de extrema
linguagens? A resposta nos veio de inúmeros necessidade, considerando a formação à luz de
pesquisadores, cujos dados são revelados em um arcabouço teórico que promova a
documentos oficiais (PCN, BNCC, DCRB), libertação dos sujeitos, não mais a opressão
porque eles trazem, em seu cerne, uma eficaz Compreendemos, ainda mais, que o signo
abordagem do ensino-aprendizagem da língua, está carregado de ideologia. No que diz
que contribui para a formação do sujeito em respeito à aprendizagem leitora e escritora, a
sua totalidade, objetivando o exercício da quem interessa manter meninos e meninas
cidadania de modo cada vez mais crítico, pobres, negros e pardos, em sua maioria,
consciente, emancipatório. Entretanto, amarrados a um ensino cujo foco do trabalho
sabemos que há uma distância entre o escrito está ligado a uma concepção de linguagem que
nesses documentos e as condições ofertadas não incita o pensamento crítico, não autoriza o
para que esses discursos sejam materializados. dizer com as próprias palavras, não escuta, de
O encontro entre leitura e escrita foi um modo sensível, o dito do outro, e que, por fim,
movimento que passou a transitar, aqui no tende a “encher” cada componente curricular
Brasil, por volta, da metade do século XIX, de conteúdo não como um meio, mas um fim
porque, anteriormente, havia um diferencial no em si mesmo? Entregar as atividades leitoras e
ensino, que separava quem iria ler daqueles escritoras apenas para professores e
que iriam copiar (não escrever). E quem eram professoras do componente curricular Língua
os produtores dos textos? Onde moravam? O Portuguesa, entendidos como os únicos
que faziam? Qual o seu grupo social? profissionais de leitura e escrita na escola é
Percebemos, ao adentrar um pouco mais no olhar para a linguagem de modo muito
estudo da história da escrita, de onde vem a reducionista.
cópia, a reprodução das letras, o ensino da Freire (1986), acrescenta que está a favor da
escrita e, não com a escrita. Uma resposta seriedade intelectual e, por isso, é relevante
possível nos vem do estudo de doutorado de conhecer o texto e o contexto. Contudo, é
Vieira (2017), que esmiúça o uso das cartilhas relevante ser crítico, porque a crítica cria a
desde o século XVI, bem como as memórias que disciplina intelectual tão necessária para a ativa
repercutem nas ações das professoras compreensão responsiva, por meio de
alfabetizadoras. perguntas ao que está sendo lido, bem como ao
Aqui, registramos nosso modo de conceber a que está sendo escrito, porque não devemos
leitura a partir das palavras de Freire (1986, p. ser submissos diante do texto. Ler é mais que
15): “[...] ler não é só caminhar sobre as uma mera atividade: é uma operação cognitiva
palavras, e também não é voar sobre as que exige muito esforço. Segundo Bakhtin
palavras. Ler é reescrever o que estamos lendo (2011), a recepção está assentada na
para descobrir a conexão entre o texto e o enunciação, e essa é única quando pensamos

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para falar acerca de cada enunciado lido. Sendo como protagonistas de sua história. Tal
assim, é imprescindível que as crianças, desde passagem nos lembra o poema de João Cabral
cedo, encarem a leitura e a escrita com muita de Melo Neto que diz: “Um galo sozinho não
seriedade. tece uma manhã / ele precisará sempre de
Bakhtin (2011), concebe a linguagem como outros galos”.8 É essa teia de vozes que
1

um sofisticado instrumento de comunicação, potencializa a comunicação na interlocução.


atividade dinâmica, dialética e heterogênea Ao unir prática e teoria, ou o inverso,
que emerge na (e da) interação entre os compreendemos que a interação entre os
interlocutores do discurso, sendo materializada sujeitos se realiza pela palavra (discurso),
por meio de enunciados orais e escritos. Para “território comum do locutor e interlocutor”
ele, “[...] cada enunciado particular é individual, (BAKHTIN, 2006, p. 107). Nessa dinâmica, todos
mas cada campo de utilização da língua elabora têm o que dizer e precisam dizer, uma vez que
os seus tipos relativamente estáveis de nos constituímos como sujeitos da (e na)
enunciados, os quais denominamos de gêneros história por intermédio das relações dialógicas.
do discurso. ” (BAKHTIN, 2011, p. 262). Aqui, cabe trazer para o diálogo os motivos
Complementamos os pontos pelos quais a proposta também busca um fazer,
supramencionados com as reflexões de na escola, pautado nos gêneros discursivos. A
Rodrigues (2005): priori, partimos da premissa levantada por
Fora da situação social de interação Bakhtin (2011, p. 262) de que:
(chamada por alguns pesquisadores de espaço A riqueza e a diversidade dos gêneros do
de circulação), perde-se a dimensão do discurso são infinitas porque são inesgotáveis
enunciado e do gênero: o que era irônico pode as possibilidades da multiforme atividade
ser visto como sério, o gênero pode ser outro, humana e porque em cada campo dessa
já não se pode mais tomar uma atitude atividade é integral o repertório de gêneros do
responsiva, pois falta o “acabamento” do discurso, que cresce e se diferencia à medida
enunciado. Assim, a situação da interação é o que se desenvolve e se complexifica um
critério primeiro e central para o estudo do determinado campo.
gênero (RODRIGUES, 2004, p. 436). A despeito do que sinaliza o referido autor,
Nesse viés, olhar para historicidade dos operacionalizar, na escola, os estudos dos
enunciados (gêneros discursivos) é gêneros discursivos na vertente enunciativa e
compreendê-los a partir da constituição dialógica potencializa o sujeito como produtor
histórica que agregam, para não os esvaziar de de relações de sentido que ganham corpo na
sentido. Por isso, lá no início dessa tessitura, aula, porque, na “[...] interação, os discursos
recorremos à palavra “escrevivência”, uma vão sendo construídos e reconstruídos levando
escrita inscrita na (e pela) vida dos sujeitos que, sempre em consideração o contexto social [...]
ao dizerem de si, também carregam as vozes por meio da linguagem verbal e não verbal”
dos outros e seguem apanhando outras vozes (LIMA e SOUZA, 2016, p. 20).

8Referência ao poema “Tecendo a manhã”, de João https://www.escritas.org/pt/t/11508/tecendo-a-manha.


Cabral de Melo Neto. Disponível em: Data de Acesso: 28/02/2022.

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Brait (2009) nos chama a atenção para o fato tão somente em sua construção composicional
de que dialogismo e polifonia são diferentes. O (forma padrão como determinado gênero
primeiro instaura a linguagem, e a polifonia diz discursivo se estrutura dentro do campo social
sobre as vozes polêmicas em um discurso. Esse, do qual faz parte), uma vez que o conteúdo
por sua vez, também pode apresentar uma voz temático guarda os elos dialógicos que o
monofônica, em que predomina um enunciado traz de outros textos. Isso significa
determinado enunciado. Assim todo enunciado que esse espaço vai além do que está posto no
é dialógico, mas nem todos podem ser tema ou assunto. Por fim, o estilo traz, a
polifônicos. depender do gênero, as marcas de quem
Fiorin (1997, p. 231), ratifica: escreve, ou seja, o modo pelo qual desenvolve
Apreende-se a heterogeneidade constitutiva o conteúdo temático. Acerca do estilo, o autor
pela memória discursiva de uma dada pontua que ele “[...] está indissoluvelmente
formação social. É a apreensão dos diferentes ligado ao enunciado e às formas típicas de
discursos que circulam numa dada formação enunciados, ou seja, aos gêneros do discurso”
social dividida em classes, subclasses, grupos (BAHKTIN, 2011, p. 265).
de interesses divergentes, pontos de vistas O ensino que nos foi dado emergiu sob o
múltiplos sobre uma dada realidade, que signo da “educação bancária”, criticada por
permite ver as relações polêmicas entre eles. Freire (2019). Por isso, pouco dialogávamos na
Na heterogeneidade constitutiva, o outro é escola e, quando “escrevíamos”, era para
um fio invisível no discurso, mas está presente responder a questionários ou fazer redações
sem autoria específica. A interdiscursividade para serem corrigidas pelas professoras. Esses
também transita nos planos de aula das modelos seguiram tatuados em nós como
professoras e nas atividades desenvolvidas, alunas e, consequentemente, como
cuja finalidade é ensinar as crianças a ler e a professoras.
escrever, não apenas no componente Trazemos as reflexões do tempo pretérito,
curricular Língua Portuguesa. É assim que as mas, infelizmente, o tempo passado ainda
crianças, como sujeitos históricos, com suas passeia no tempo atual, revestido de pós-
experiências discursivas individuais e vivendo modernidade, em que há pouco tempo ou
em contextos diversos, também começam a disposição para o diálogo. Nesse diálogo, como
interagir com essas atividades “mediatizadas locutoras que constroem o enunciado,
pelo mundo” (FREIRE, 1989). Dessa foram, as concordamos que: “Não é por nenhuma opção
crianças poderão assumir a ativa compreensão ideológica prévia que é necessário dar a palavra
responsiva ou responderem por meio da a quem foi silenciado: é uma necessidade
ausência, dos silêncios, dos ditos erros, mas linguística ouvi-la se se quiser compreender a
essas atitudes não são passivas. atividade com textos como uma atividade de
Ao postular o trabalho na escola com os produção de sentidos” (GERALDI, 1995, p. 113).
gêneros do discurso, considerando Bakhtin Diferentemente do que nos foi ensinado,
(2011), ratificamos que essa prática não se escrever é produzir sentidos e tem um
refere a modelos estáveis do texto, com foco endereçamento, mesmo quando escrevemos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para nós mesmos: “[...] o discurso entrelaça Desse momento em diante, a criança passa a
com ele discursos outros em interações sentir a necessidade das palavras, tenta
complexas, fundindo-se com uns, isolando-se aprender os signos: é a descoberta da função
de outros, cruzando com terceiros. ” (BAKHTIN, simbólica da palavra.
1998, p. 1992). E as vozes que ressoam desses Ao abarcar a dialética como pressuposto
e nesses diálogos fazem brotar uma escrita da para a organização de uma teoria que olhe para
vivência que, dialeticamente, contribui para o ensino e a aprendizagem como processos
nossa inscrição no mundo e vão definindo a sociais, o autor traz as premissas do método
compreensão que nós, professores e dialético para observar as transformações
professoras, temos do que é aprendizagem. É, qualitativas relacionadas às atitudes presentes
pois, nessa direção, que continuaremos nosso na construção do desenvolvimento humano, ao
diálogo. lado das situações que circulam na sociedade.
Nesse sentido, a teoria vygotskyana ressalta a
MEDIAÇÃO COMO FORÇA mediação como ponto nodal para a
apropriação de cada novo conhecimento.
MOTRIZ PARA O ENSINO DE Para aprender a escrever, por exemplo, a
LEITURA E ESCRITA NA SALA DE criança não tem acesso direto a esse
conhecimento novo, ou seja, esse contato é
AULA
mediado por textos, objeto cultural e social. As
Enfatizamos, também a teoria desenvolvida
aproximações para a construção desse
por Lev Semenovich Vygotsky, nos aportes
conhecimento estão arraigadas nas relações de
relevantes para a construção do conhecimento,
sentido, nas quais existe o “outro social”, que
toma como referência a condição histórica e
não é apenas a pessoa, mas também os
cultural de cada sujeito. Para ele, é por meio da
objetos, bem como a cultura, o contexto social.
linguagem que a interação vai ganhando forma
Dito isso, focamos na mediação, aspecto
diante do mundo em que vivemos.
imprescindível no trabalho do professor e da
Para Vygotsky (1991), a criança aprende por
professora na escola, compreendendo a
meio da mediação, a qual é potencializa a
criança como sujeito histórico e cultural e,
aprendizagem. Freitas (1994, p. 93), estudiosa
portanto, que pensa, que tem experiências,
da teoria vygotskyana, sinaliza:
que interage com o mundo, e, por isso também,
Nas crianças pequenas, o pensamento evolui
aprende a linguagem, a escrita e a leitura, e
sem a linguagem. Os primeiros balbucios se
assim vai se desenvolvendo. Dessa forma, a
formam sem o pensamento e têm como
aprendizagem não está restrita a uma etapa
objetivo atrair a atenção do adulto. Aos dois
que precisa ser “consolidada” para que a
anos de idade, o pensamento pré-linguístico e
criança desenvolva a outra.
a linguagem pré-intelectual se encontram e se
Ilustramos a assertiva acima com uma cena,
juntam, surgindo um novo tipo de organização
ainda viva na sala de aula, em que a criança tem
linguístico-cognitivo. A essa altura, quando
de “aprender” primeiro as letras do alfabeto,
essas duas linhas se encontram, o pensamento
para depois ter acesso ao texto. E, quando o
se torna verbal e a linguagem racional [...].

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

texto entra na sala, não tem como centralidade potencializem sua apreensão do mundo social,
a leitura compreensiva em todos os sentidos em diálogo constante com a experiência de
sociais. Na maioria das vezes, o plano de aula outras crianças, porque elas precisam
não foi pensado ou elaborado com tempo para participar ativamente da aula planejada pelo
trazer as vozes das crianças para a própria aula. professor ou professora.
O conceito de mediação, nos pressupostos A compreensão de que a criança não é mera
teóricos vygotskianos, diz respeito à relação do receptora dos conhecimentos apresentados a
homem com o mundo e com os outros sujeitos. ela no contexto em que está envolvida, e que
Não temos acesso direto ao objeto do sua inserção no mundo é influenciada também
conhecimento. Tal acesso ocorre na interação pela história, pela cultura, é fundamental para
com diferentes interlocutores. Nos dizeres de que, na escola, as atividades sejam pensadas
Vygotsky (1988), a criança, a priori, parece como práticas discursivas mediadas por
estar falando, e é na interlocução com os relações dialógicas (BAKHTIN, 2011).
outros que essa fala é enunciada, revelando Nessa vertente, o ensino-aprendizagem
seu próprio olhar acerca do mundo deve ser pautado nas experiências sociais que
É na interação, território dialógico emergem da palavra viva de cada sujeito, da
demarcado por convergências e divergências, reflexão a respeito da palavra que escuta e que
que a criança, como interlocutora, se diz, com a finalidade de interagir com outros.
comunica. Vygotsky (1988), aponta que há Observamos que a colaboração entre os
níveis diferentes de desenvolvimento: o real, o sujeitos, além de fomentar a construção do
proximal e o potencial. O reconhecimento objeto de conhecimento estudado, também
desses níveis contribui para que se possa contribui para desenvolvimento da formação
mediar o processo de aprendizagem. humana, aproximando as crianças de relações
Vygotsky (1988), afirma que cada nível está sociais menos autoritárias, centradas no
situado em uma zona de desenvolvimento. apagamento da identidade do outro.
Para ele, o que a criança sabe fazer sozinha é o Os pontos supracitados nos permitem
desenvolvimento real; o desenvolvimento pensar na relação da criança com a leitura e a
proximal se relaciona aos processos mentais escrita na escola como prática social, já que, de
que estão sendo construídos na criança, acordo com Vygotsky (1991), ela desbrava o
aprofundados para que assumam o mundo mediada pela linguagem, na interação
desenvolvimento potencial. Todo esse com os outros, e esse aprendizado contribui
processo é mediado por instrumentos e signos. para seu desenvolvimento.
Nesse sentido, ensinar como pontua Freire Trata-se de um mundo real, vivo, cercado
(2019), não deve ser concebido, por aquele que por múltiplas linguagens inclusas
ensina, como replicar, transferir conhecimento, dialogicamente, que estão à disposição da
como se o sujeito, a criança, não carregasse, em criança porque ela é um sujeito que está no
sua bagagem, ao chegar à escola, suas contexto social. Não obstante, esse mundo é,
experiências, seus desejos e, sobretudo, seus muitas vezes, reduzido, na escola, por práticas
direitos. Direito de usufruir de atividades que pedagógicas que podam a criatividade, a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

imaginação, a brincadeira, as relações


dialógicas, a escuta ativa sobre o que as
crianças têm a dizer a respeito da história lida,
do vídeo a que assistiu, de uma brincadeira etc.
Dito isso, podemos compreender o quanto é
complexo para uma criança aprender a ler e a
escrever sem a mediação direta, mesmo
quando ela já tem alguns conceitos
desenvolvidos, oriundos de sua vivência
cotidiana. É nesse sentido que a teoria
vygotskyana defende a importância da
linguagem para a aprendizagem e para as
relações sociais, a interação de adultos e
crianças, os mais experientes e os menos
experientes. Por isso, as relações sociais estão
fundadas com ato interativo mediado pela
linguagem, tendo, na oralidade, duas funções
centrais: a função social e comunicativa, e a
função organizadora, que planeja o
pensamento.

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PARA NÃO FECHAR AS DISCUSSÕES


Compreendemos, nesse sentido, que a aula é mediada pelas relações dialógicas advindas
das diferentes histórias de vida dos sujeitos que, por conseguinte, tecem uma teia circundada por
discursos trazidos por várias vozes promovendo convergências e divergências, encontros e
desencontros. A aula dialógica abre portas para que professores ressignifiquem a própria prática
por meio da reflexão porque “o diálogo requer uma aproximação dinâmica na direção do objeto.
” (FREIRE, 1986, p. 65).
Lembremos, nesse ponto, que, quando professor e professora aprendem ao ensinar,
compreendemos esse movimento de modo não assimétrico, isto é, são aprendizagens diferentes
porque eles estão na condição de sujeitos mais experientes para mediar a leitura e a escrita na
sala de aula, por exemplo.
A leitura atenta a respeito da prática pedagógica colabora para se pensar a formação
continuada com um exercício permanente, colaborativo e, não apenas cooperativo. Esse
indicativo significa que devem ser considerados os saberes experienciais dos(as) professores(as)
Nesse sentido, compreendemos que os saberes do sujeito que ensina não são constituídos
apenas por meio da quantidade de formação que vai acumulando no exercício da docência, mas,
sobretudo, do que cada um “aprende ao ensinar” Quem aprende permanece buscando aprender,
estabelecendo uma relação viva entre a prática e a escuta das vozes dos outros que dizem sobre
a teoria.
Para tornar-se coenunciador da criança é preciso também saber enunciar, estar no lugar
de dizer, bem como de escutar o outro, refletir, fomentar a articulação dos saberes de cada um
com o outro, trazer a vida para sala. E isso não nega a aprendizagem dos objetos de conhecimento
ou conteúdo, já que eles perpassam pelo saber real da criança para serem potencializados. Esses
saberes estão guardados e elas nem sabem o quanto já sabem...por essa razão, necessitam ser
acionados por meio de uma brincadeira, uma contação de história, um jogo, ações que quando
mediadas com intencionalidade pedagógica favorecem a leitura e a escrita na perspectiva
discursiva.
Quanto mais o professor e a professora conhecerem a etapa de desenvolvimento da
criança, maior condição eles terão de mediar, visando a potencializar a construção de um novo
conhecimento. Desse modo, no âmbito da linguagem escrita, a criança enunciará o que ela tem
para dizer a partir das próprias motivações, não por meio de frases que artificializam o que tem
a comunicação, podando seu modo particular de dizer, cerceando o registro autoral da própria
história.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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BAKHTIN, M.; Volochinov, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud


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BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 6.ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
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EVARISTO, Conceição. Becos da memória. Rio de Janeiro: Pallas, 2017.

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725
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFLEXÕES SOBRE AS DIFICULDADES DE


APRENDIZAGEM E O FRACASSO ESCOLAR
Letícia Oliveira Macedo1

RESUMO: O presente artigo trata de dificuldades de aprendizagem e suas possíveis causas, a


partir da compreensão do comportamento do educando, por meio do levantamento e análise de
aspectos relativos à construção e relação do indivíduo com o saber, com reflexões sobre o papel
de mediação do professor, como também sobre fatores que podem levar ao desinteresse do
aluno, como a dificuldade de aprendizagem.

Palavras-Chave: Dificuldades de Aprendizagem; Desmotivação Escolar; Construção do Saber.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura Plena em Pedagogia; Especialização em Artes Visuais.

726
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFLECTIONS ON LEARNING DIFFICULTIES AND SCHOOL FAILURE


ABSTRACT: This article deals with learning difficulties and their possible causes, from the
understanding of the student's behavior, through the survey and analysis of aspects related to
the construction and relationship of the individual with knowledge, with reflections on the
teacher's mediation role, as well as factors that can lead to student disinterest, such as learning
difficulties.

Keywords: Learning Disabilities; School demotivation; Construction of Knowledge.

727
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO compreensão de como os processos de ensino


e aprendizagem se relacionam com as
Esta pesquisa busca uma compreensão motivações particulares dos estudantes.
sobre as dificuldades de aprendizagem e seus Assim, para que seja possível a consecução
desdobramentos, como a questão da de tais objetivos, foram abordadas,
indisciplina, que pode ser tratada por meio de inicialmente, reflexões relativas à construção
diferentes enfoques. do saber, seguidas por uma análise do papel do
Serão abordados diferentes autores, cujo professor na vida escolar do aluno.
trabalho discorre sobre indisciplina escolar nos Por fim, foram expostas considerações a
dias de hoje; quais são as possíveis causas e respeito das dificuldades de aprendizagem, as
consequências; como se dá o trabalho do quais podem ser consideradas como fatores
professor com seus alunos em relação à desencadeantes de desinteresse e
disciplina; em que medida as práticas desmotivação escolar.
educativas desenvolvidas na sala de aula
afetam alunos e professores em sua relação
O INTERESSE DO ALUNO E A
com a indisciplina; quem é o aluno
indisciplinado; como ele é visto pelos RELAÇÃO COM O SABER
professores, o que os alunos pensam de si Um dos principais temas debatidos e
mesmos, de seus professores e da escola; como pesquisados nos últimos anos é a relação dos
combater, quais as regras de comportamento alunos com o saber. Um ponto de extrema
vigentes na escola devem ser construídas, importância, diante da realidade escolar
como o professor deve fazer, agir para enfrentada nos dias atuais, na qual a
minimizar este problema. desmotivação e o desinteresse dos alunos são
Entende-se que o professor participa do aspectos preocupantes.
processo de construção de seu aluno, assim De acordo com Charlot (2000), o saber é uma
como o aluno também contribui para a forma de representação de uma atividade, de
constituição do professor, ambos relações do sujeito com o mundo, com ele
experimentam na escola e na sala de aula em mesmo e com outros. Assim, “não há saber que
particular, situações sociais significativas, que não esteja inscrito em relações de saber” (p.
configuram suas histórias sociais e individuais. 63), de forma que a educação deveria ter como
O caminho percorrido da metodologia foi um objeto os processos que viabilizam o sujeito a
mergulho em bibliografias pertinentes, uma adotar uma relação com o saber, e não apenas
busca incessante na questão da indisciplina, a acumulação de conteúdos intelectuais.
com pesquisa bibliográfica e anotações para Seja qual for o campo de conhecimento,
assegurar esse tema. Nesse sentido, é importa percebe-se que os discentes envolvidos nesse
uma análise abrangente da dificuldade de processo encontram imensas dificuldades para
aprendizagem. se integrarem nessa relação que os permeiam
Os objetivos que se pretendem alcançar por e se manterem motivados.
meio deste estudo estão relacionados à

728
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A questão da relação com o saber pode ser momento em que a aprendizagem leva o
colocada quando se constata que certos individuo ao aprendizado, ela está colaborando
indivíduos, jovens ou adultos, têm desejo de para que ele se desenvolva, mas para que isso
aprender, enquanto outros não manifestam aconteça é necessário que este aprendizado
esse mesmo desejo. Uns parecem estar apresente um significado e que possa despertar
dispostos a aprender algo novo, são o desejo de aprender. Ainda assim, a
apaixonados por este ou por aquele tipo de capacidade intelectual também faz parte do
saber, ou, pelo menos, mostram uma certa processo de aprendizagem, ou, saber,
disponibilidade para aprender. Outros parecem mostrando que o aluno deve ter capacidade de
pouco motivados para aprender, ou para entender cada disciplina, visto que cada um
aprender isso ou aquilo, e, às vezes, recusam- tem suas particularidades e competências para
se explicitamente a fazê-lo (CHARLOT, 2001, p. serem compreendidas.
15). Charlot (2001), afirma ainda que a situação
Charlot (2001), aponta que a relação com o socioeconômica não é um fator decisivo para o
saber pode levar um aluno ao aprendizado por mau desenvolvimento do estudante na
meio de duas condições. Para o discente o ato construção de uma relação sólida com o saber.
de aprender deve ter um significado na sua O autor comparou dados de pesquisa feita com
vida, estar fisicamente presente na escola e se alunos de diversas classes sociais, e privilegiou
houver desinteresse de sua parte e dificuldade as respostas de indivíduos da mesma classe e
de relacionar os conteúdos escolares com de acordo com as respostas obtidas tentou
situações significativas à aprendizagem, encontrar um tipo de relação com o saber de
possivelmente, será prejudicada. Em um cada uma. Um ponto de extrema importância
segundo ponto, é imprescindível que o aluno de toda a análise feita remete-se ao fato de que
tenha olhar crítico, mostrando que tem o aluno deve ser ativo nos processos de ensino
capacidade de entender, que domina as e aprendizagem, sendo mediado pelo
competências que são exigidas em professor.
determinados temas. Bachelard (1996), defensor do
Aprender é para os discentes apropriar-se construtivismo, afirma que o saber é oriundo
dos objetos de saber, ter acesso a um mundo do questionamento e se solidifica por
de saber organizado em disciplinas [...]; eles sucessivas retificações. Para que o saber se
exprimem aprendizados em termos de concretize e a aprendizagem se efetive, é
conteúdos de pensamento necessário compreender mais a fundo o que
descontextualizados, de objetos pensáveis em mobiliza os alunos e a forma como veem e
si mesmos, sem referência direta a um Eu em compreendem a escola.
situação (CHARLOT, 1996, p. 59).
A problemática da relação com o saber é
muito ampla, e outra questão que deve ser
contemplada é como a relação com o saber
pode ser criada. Sabemos que a partir do

729
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O PAPEL DO PROFESSOR NA deste processo (que serão refletidos


diretamente no trabalho com os alunos) sejam
CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS satisfatórios, é indispensável que este
PARA A VIDA ESCOLAR DO profissional esteja apto a realizar a devida
articulação entre os saberes teóricos com a
ALUNO
realidade encontrada no ambiente
Para que a Educação cumpra seu papel de
educacional, bem como com a realidade na
formadora de sujeitos críticos e conscientes,
qual cada aluno, como sujeito sócio-histórico,
bem como de viabilizadora e potencializadora
está inserido.
do desenvolvimento dos indivíduos de uma
A partir das reflexões que fizemos, com base
sociedade, é imprescindível que o trabalho
nos estudos realizados, entendemos que
docente seja considerado de forma central
somente a partir da compreensão deste
neste contexto com reflexões sobre sua
cenário de forma abrangente e profunda, o
finalidade, importância e valorização com
educador poderá exercer seu papel com
vistas ao sucesso do processo educacional
eficiência, de forma significativa e plena na vida
como um todo.
de seus educandos, despertando seu interesse
No que se refere à relação existente entre a
pelas descobertas que a escola pode
formação destes profissionais e sua prática, é
proporcionar. O comprometimento de todos é
possível notar que esta articulação ainda é
imprescindível para que o coletivo produza,
insipiente, um ponto no qual se encontram
verdadeiramente, uma unidade.
dificuldades. Assim, os professores terminam
Ao praticar sua docência, o educador, sujeito
por desempenhar uma atuação deficiente,
formador, não deve pensar no seu educando
como esclarece Rau (2012):
como um objeto para o qual ele transfere todo
estudos revelam que, desde há muito,
o seu conhecimento. O aluno, embora não
ocorrem problemas na formação desses
tenha chegado ao mesmo grau de
professores, no sentido de identificar a relação
conhecimento do professor deve ser
dialética existente entre os aspectos
reconhecido como alguém que possa também
acadêmicos que possibilitam uma relação de
proporcionar trocas de experiências e
interação entre a prática que cada professor irá
aprendizagens. O aluno não é um objeto que
desenvolver baseando-se na realidade
precisa ser moldado, assim como educando e
educacional em que for atuar e a teoria, que se
educador não são objetos um do outro. O fato
funda na concepção de educação, de criança e
é que quando o educador ensina, ele esta
de sociedade da própria instituição educacional
exercitando a sua prática e, por consequência,
(RAU, 2012, p. 26).
o outro responde o que lhe foi ensinado.
Este é um ponto que necessita de atenção e
Conforme Freire (1996), “quem ensina aprende
cuidado, uma vez que, ao chegar ao espaço
ao ensinar e quem aprende ensina ao
educacional, o professor precisa portar os
aprender” (p. 23).
conhecimentos teóricos necessários para a
A arrogância do educador ao exercer seu
reflexão e a compreensão sobre o trabalho
poder e impor seu pensamento de forma
docente. Contudo, para que os resultados

730
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

arbitrária é um problema que ameaça a Saud (2009), baseada na teoria de Wallon,


construção da autonomia do educando e pode afirma que são diversos os fatores que
ser um fator determinante para a contribuem para o ensino e a aprendizagem,
desmotivação do aluno em relação ao dentre eles está o envolvimento entre os
conteúdo. É imprescindível que o professor alunos e professores e para isso deve haver o
valorize o repertório e as inferências trazidas respeito mútuo mantido uns pelos outros, a
pelos alunos. confiança, a segurança, o carinho, a admiração
Não há pensar certo fora de uma prática e a tranquilidade. Enfim, um ambiente
testemunhal que o aprendiz em lugar de prazeroso capaz de propiciar o
desdizê-lo. Não é possível pensar que pensa desenvolvimento do sujeito em todos os
certo mas ao mesmo tempo perguntar ao aluno aspectos. Desta forma, laços de identificação e
se ‘sabe com quem está falando’ (FREIRE, 1996, vínculos são formados, o que é de extrema
p. 35). importância para que o aluno se sinta inserido
Jolibert (1994), frisa que a relação entre e parte da comunidade escolar.
ensino e aprendizado merece reflexão, pois a Vygotsky (2007), afirma que é por meio da
pedagogia que vem sendo praticada visa mais o interação com outros membros da cultura que
“ensinar” do que o “aprender”, ou seja, o foco o homem interioriza as formas sócio
está no professor, em vez de centrar-se na historicamente estruturadas do
criança e em seu desenvolvimento individual e desenvolvimento psicológico. A imitação é
particular. ferramenta determinante no processo de
Na maior parte do tempo, a pedagogia desenvolvimento. No ambiente escolar, a
tradicional, e até a pedagogia dita renovada, criança entra em contato com diversos novos
envolve o ensino: a atividade essencial é códigos, com representações e com
realizada pelo professor, e às crianças só cabe organizações que precisa compreender e
‘entender’, ‘responder’, ou ‘executar’ as tarefas assimilar.
imaginadas por ele. Nenhuma exigência ligada Aguiar (2004), elucida que alguns
a uma situação real: estamos no campo do faz- professores executam intervenções de forma
de-conta, ou em atividades nas quais aprender equivocada, de modo que criatividade e a
é a meta e não o meio (JOILBERT, 1994, p. 13). liberdade do desenvolvimento e da
Para Aguiar (2004), o professor deve pensar aprendizagem do aluno são podadas e restritas,
as atividades partindo do concreto para o o que pode resultar em um afastamento da
abstrato e sempre buscar relacioná-las com as criança e na perda de interesse.
situações cotidianas da vida dos alunos, para Também é indispensável ter em mente que
que o aprendizado ganhe maior significado, a respeitar os educandos é um ponto crucial na
compreensão seja beneficiada e a motivação relação que se dá no âmbito educacional, de
dos alunos seja mantida. É necessário que modo que cada ação e cada proposta
exista respeito pela individualidade dos alunos pedagógica sejam cuidadosamente pensadas e
e também pela sua liberdade de expressão planejadas a partir da ideia de que o aluno é
emocional e cognitiva.

731
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sujeito de seu aprendizado e deve ser De acordo com Davis e Oliveira (1994), a
considerado em sua totalidade. afetividade caracteriza-se em amor, ódio,
O professor possui o importante papel de tristeza, alegria ou medo, sensações que levam
articular conhecimentos em prol da viabilização o indivíduo a afastar-se ou aproximar-se das
de todo o processo de desenvolvimento e pessoas, ou vivenciar novas experiências. Nesta
aprendizagem do aluno, mediando e perspectiva o afeto inclui expressão e
potencializando a aquisição de conhecimento, linguagem, como: sorrisos, gritos, lágrimas,
a construção de identidade e de socialização, olhar e rosto triste, boca fechada e
de modo que este se mantenha motivado e se sobrancelhas caídas, são algumas expressões
conheça como agente principal de seu que comunicam os sentimentos dos seres
desenvolvimento. Para o alcance de tais humanos.
objetivos relativos à aprendizagem e ao Em seus estudos, Piaget abordou as relações
desenvolvimento dos alunos, é importante entre afetividade, cognição e relações sociais,
pontuar a relevância da afetividade como para melhor entender a gênese da moral
elemento viabilizador de vínculos entre (construção de valores e sentimentos). Ele
professor e alunos. defende que a construção de valores,
Ao se conceituar afetividade percebe-se que considerando esses elementos afetivos como
existem várias definições sobre o seu essenciais para explicar o desenvolvimento
significado. Entre as várias conceituações, cognitivo (SOUZA, 2003).
Ribeiro (2010, p. 403) define afetividade como Tendo como base os estágios de
“[...] atitudes e valores, comportamento moral desenvolvimento propostos por Piaget, a
e ético, desenvolvimento pessoal e social, autora destaca que no estágio pré-operatório
motivação, interesse e atribuição, ternura, esta questão afetiva necessita de maior
inter-relação, empatia, constituição da atenção no que se refere às relações entre as
subjetividade, sentimentos e emoções”. pessoas. Nessa fase começam a surgir os
Segundo a autora, a afetividade é fundamenta primeiros sentimentos morais (amor, temor,
para que um ambiente escolar seja apropriado respeito...), sendo estes sentimentos
no sentido de promover a aprendizagem dos imprescindíveis para a determinação de uma
alunos. moral heterônoma, pois se sabe que a criança
Segundo o Dicionário Aurélio da Língua heterônoma aceita as regras sem
Portuguesa (FERREIRA, 2004, p. 61). questionamentos (SOUZA, 2003).
Afetividade. [De afetivo + - (i) dade.] S.f.1. Para Vygotsky, não há a separação entre a
qualidade ou caráter de afetivo. 2. Psic. afetividade e o cognitivo, pois eles estão
Conjunto de fenômenos psíquicos que se interligados entre si, fato que o autor critica a
manifestam sob a forma de emoções, pedagogia tradicional em separar a afetividade
sentimentos e paixões, acompanhadas sempre da cognição. Diante disto, Vygotsky entende a
da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou afetividade como fator de contribuição para o
insatisfação, de agrado ou desagrado, de desenvolvimento do indivíduo, ressaltando que
alegria ou tristeza. o ser humano se desenvolve na interação com

732
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o meio social e cultural, para ele, afetividade e Isso reforça a importância que os professores
as emoções desenvolvem-se desde o têm em desempenhar uma relação de afeto
nascimento (OLIVEIRA; REGO, 2003). com os discentes, provocando neles diferentes
A afetividade, para Wallon, é um fator reações.
primordial para o desenvolvimento dos seres Há ainda que se destacar a necessidade de
humanos, assim sendo, conforme consideram atentar e refletir sobre a afetividade presente
Almeida e Mahoney (2009), na concepção no processo de ensino-aprendizagem, bem
walloniana a afetividade pode ser definida da como a de estarmos sempre muito atentos ao
seguinte forma: que nossos alunos e nossas alunas têm a dizer.
Refere-se à capacidade, à disposição do ser Ouvi-los (as) falar sobre suas vivências e seus
humano de ser afetado de ser afetado pelo sentimentos na escola constitui-se num
mundo externo e interno por meio de diferencial deste estudo, que mostrou que as
sensações ligadas a tonalidade agradáveis ou crianças têm muito a comunicar e a informar,
desagradáveis. A teoria apresenta três de forma autêntica e enriquecedora. A
momentos marcantes, sucessivos, na evolução possibilidade de se expressarem de forma tão
da afetividade: emoções, sentimentos e paixão espontânea e verdadeira, como ocorreu,
(p. 17). permitiu penetrar nesse universo afetivo e
Nesse sentido, Wallon considera a perceber o quanto a educação, hoje, precisa
afetividade um fator essencial para o aprender ou saber lidar com ele (SAUD, 2009,
desenvolvimento da inteligência na criança, p. 41).
sendo que ao nascer o primeiro contato que a Nesta perspectiva, o compartilhamento de
criança tem com o meio social, é por meio afetividade se faz extremamente importante
dessa interação que se dá sua sobrevivência, uma vez que “a ausência sistemática das
por depender exclusivamente do outro interações emocionais seguras cria um espaço
(WALLON, 2007). de vulnerabilidade e desenvolvimento de
De acordo com Souza (2003), Piaget utiliza- insegurança” (ABREU, 2010, p. 37).
se de muitos aspectos para explicar sua teoria Em relação à percepção individual, a forma
sobre afetividade e cognição, no entanto, aqui como a noção de “eu” está permeada
serão descritos apenas aspectos que são constantemente pelo senso de “nós” nos leva a
necessários para a compreensão da atividade compreender que “muitos aspectos de nossa
no âmbito escolar, em especial nas séries personalidade formam-se durante a infância à
iniciais. medida que experimentamos um círculo
Almeida e Mahoney (2009), à luz da teoria constante de relações íntimas com nossos pais,
walloniana, ressaltam que em suas análises família e amizades” (ABREU, 2010, p. 44).
com crianças do Ensino Fundamental I, As relações interpessoais são amplamente
observaram que os alunos demonstram decisivas no processo de construção de nosso
sentimentos positivos (tranquilidade, “eu”. Dessa forma:
entusiasmo, confiança, alegria e prazer),
associados ao que sentem pelos educadores.

733
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O tipo de adulto no qual nos converteremos denunciam as rupturas ou descontinuidades


não é somente o produto de nossa natureza mais dramáticas e estereotipadas de estilos
biológica, mas também o resultado de uma prematuros de comportamentos de ligação” (p.
miríade de interações que mantemos com 45).
quem nos rodeia ao longo dos anos iniciais de Desse modo, é possível notar que
nossa formação. Para a maioria de nós, a estabelecer e fortalecer vínculos afetivos com
qualidade de nossas relações com os demais os alunos pode otimizar a relação de ensino e
continua sendo uma área de experiência das aprendizagem, além de contribuir de modo
mais importantes e o critério pelo qual, muitas expressivo para o desenvolvimento psicológico
vezes, ajustamos a avaliação de nosso bem- dos indivíduos forma significativa e saudável.
estar e satisfação. Os relacionamentos
recíprocos, nos quais as pessoas sentem-se ASPECTOS RELATIVOS A
ouvidas, vistas e entendidas, bem como
emocionalmente recebidas, são basicamente PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM
as circunstâncias mais importantes para o COMO FATORES DE
desenvolvimento de nossa subjetividade. (...)
Assim, nas mais variadas formas, é por meio
DESMOTIVAÇÃO ESCOLAR
Para compreender os efeitos que os
dos relacionamentos que nos conhecemos. É
problemas de aprendizagem surtem nos alunos
na troca e no oferecimento de apoio e
e diferenciá-los de um distúrbio de
segurança que encontramos a oportunidade de
aprendizagem, é importante, antes de
entendimento de quem somos e de quem é o
qualquer coisa, realizar sua definição, ou seja,
outro. Quando conseguimos desfrutar de tais
conceituar o que se entende por problemas de
condições, temos a possibilidade de presenciar
aprendizagem.
a construção de nossa identidade de maneira
saudável e organizada – o que não acontece no De acordo com José (2009), “os problemas
de aprendizagem referem-se às situações
ambiente carente dessas características. Assim
sendo, descobrir os padrões ou as sequências difíceis enfrentadas pela criança normal e pela
criança com um desvio do quadro normal, mas
repetidas de interações desenvolvidas por uma
com expectativa de aprendizagem a longo
criança com seus cuidadores é deparar-se com
a coluna vertebral do que a criança prazo” (p. 23).
potencialmente se tornará em sua vida adulta A autora completa:
(ABREU, p. 44-45). Pela intensidade com que se apresentam os
Pode-se notar que Abreu (2010), destaca o sintomas e comportamentos infantis, pela
quanto as relações estabelecidas entre a duração que eles têm na vida escolar e pela
criança e aqueles que estão mais próximos em participação do lar e da escola nos processos
seu processo de desenvolvimento são problemáticos, fica difícil para o professor
determinantes para que este se dê de forma diferenciar um distúrbio de um problema de
saudável, de modo que o autor alerta que “no aprendizagem [...] Portanto, estabelecer
caso das interações patológicas, elas claramente os limites que separam ‘problemas’
de aprendizagem dos chamados ‘distúrbios’ de

734
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizagem é uma tarefa muito complicada, Chabanne (2006), apresenta um importante


que fica a critério do especialista na área em quadro que esclarece os aspectos que
que a deficiência se apresenta (JOSÉ, 2009, p. envolvem o aluno e influenciam em sua
23). construção de identidade, na formação de sua
Ainda segundo a pesquisadora, a detecção noção de mundo, bem como compreensão e
das dificuldades de aprendizagem que interação com o entorno.
aparecem em sala de aula fica a cargo do Ser aluno é assumir um papel... e subir no
educador, especialmente nas escolas que palco; o aluno pode se recusar a entrar no jogo,
apresentam características mais carentes. O mas então, de qualquer modo, outro papel lhe
educador também deve “investigar as causas é atribuído: o de aluno ‘diferente’. No palco
de forma ampla, que abranja os aspectos social, à medida que o tempo passa,
orgânicos, neurológicos, mentais psicológicos encontramos muitos atores, muitos cenários, e
adicionados à problemática ambiental em que declamamos muitos textos, ora nossos, ora
a criança vive” (Idem). aqueles que nos atribuem [...] e podemos nos
Dessa forma, o educador viabiliza o sair bem ou mal com nossa máscara pessoal.
direcionamento da criança a um especialista, (CHABANNE, 2006, p. 27).
de modo que este possa, além de oferecer Conforme Leal & Nogueira (2011), para que
tratamento à criança, também fornecer se possa oferecer um tratamento efetivo ao
orientação ao professor para que este tenha aluno, é imprescindível que seja empregada
condições e recursos para lidar com o aluno em uma investigação diagnóstica clínica
sala de aula, ou, caso julgue necessário, realizar aprofundada, realizada por uma equipe de
a indicação de sua transferência para uma sala especialistas que vai desde o psicopedagogo,
de aula especial, adequada à sua necessidade. passando pelo psicólogo, o neurologista, o
Para a autora, inúmeros são os fatores que fonoaudiólogo etc. Só a partir de uma avaliação
podem acarretar problemas ou até mesmo um dessa equipe multidisciplinar será possível
distúrbio de aprendizagem. Entre eles, vislumbrar o não aprender de maneira
destacam-se: profissional e acertada para que não haja
Fatores orgânicos – saúde física deficiente, julgamentos precipitados e preconceituosos
falta de integridade neurológica (sistema (LEAL; NOGUEIRA, 2011, p. 54-55).
nervoso doentio), alimentação inadequada etc. É possível notar que muitos são os aspectos
Fatores psicológicos – inibição, fantasia, que podem interferir no interesse e na
ansiedade, angústia, inadequação à realidade, motivação dos estudantes, especialmente
sentimento generalizado de rejeição etc. quando passam por questões delicadas no que
Fatores ambientais – o tipo de educação diz respeito a dificuldades de aprendizagem.
familiar, o grau de estimulação que a criança É imprescindível que o professor esteja
recebeu desde os primeiros dias de vida, a atento para identificar possíveis causas e
influência dos meios de comunicação etc (JOSÉ, auxiliar o aluno a superar tais dificuldades, de
2009, p. 23). modo que possa encontrar significado e prazer
no ambiente escolar, construindo uma relação

735
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

saudável com o universo do conhecimento e do O fracasso escolar pode ocorrer por diversas
saber. situações e condições externas e internas ao
Muitas são as demandas que a escola recebe estudante. Podemos citar como causas
e cabe a ela, portanto, transmitir saberes externas, problemas de ordem socioeconômica
acumulados e, ao mesmo tempo, impedir que das famílias dos estudantes e sócio
as crianças fiquem desmotivadas e busquem institucional: desde estrutura física da escola,
apenas estudar para a prova, que se tornou um problemas administrativos e pedagógicos; nas
instrumento para verificar a memorização do causas internas, o desenvolvimento cognitivo e
conteúdo. Ou seja, a escola e o educador, que os de ordem afetivo-emocionais, motivacionais
não cumpriu minimamente as demandas da e de relacionamentos.
educação para o século XX, encontram-se Para Piaget (1994), um sujeito epistêmico
totalmente despreparados para atender os constrói conhecimentos a partir das
desafios do século XXI. coordenações de suas ações e dos
Embora muitos estudiosos tenham se ensinamentos, oportunidades, bem como
dedicado em responder diversos benefícios de sua herança genética, saúde
questionamentos sobre a capacitação dos orgânica e mental.
educadores na atuação com crianças que Quem não se adéqua a um padrão
apresentam desmotivação e desinteresse no pedagógico convencional, reage
processo de ensino aprendizagem, a negativamente, tornando-se inadequados.
complexidade dessa problemática em termos Para Fonseca (1996), a primeira necessidade
da capacitação do professor requer ainda seria, portanto:
muitas pesquisas. [...] alfabetizar a linguagem do corpo e só
Segundo Charlot (2005), o fracasso escolar é caminhar para as aprendizagens triviais que
um tema relevante e polêmico que requer mais não são que investimentos perceptivo-
atenção no espaço escolar. Ele tem sido foco de motor, ligados por coordenadas espaços –
constantes discussões por estar intimamente temporais e correlacionadas por melodias
atrelado a questões como: reprovação, evasão, rítmicas de integração e respostas (FONSECA,
indisciplina, erro, fracasso e insucesso escolar. 1996, p.142).
Conforme estipula a Lei de Diretrizes e Bases A busca pelo método único, um ideal
da Educação Nacional (1996), espera-se que os pedagógico, não só terminou como passou a
estudantes ao final de nove anos de idade ser considerado inadequado didaticamente. A
tenham completado o Ensino Fundamental I pedagogia do século XX modificou
obrigatório e gratuito. Nossa realidade, no radicalmente a forma de ensinar, apesar de
entanto, é bem distinta, uma vez que há alto muitos erros que ocorreram e continuaram a
índice de fracasso escolar, sistema de ocorrer devido à compreensão equivocada e a
“promoção automática” de analfabetos e de informações superficiais das novas
novos métodos de ensino sem qualificação metodologias.
profissional. Dentro do contexto moderno das
tecnologias em educação, o conhecimento

736
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

disponível estará cada vez mais ao alcance de aprendizado, precisa ser avaliada em vários
todos. É fundamental ter no professor o aspectos.
facilitador da aprendizagem, que saiba manejar Precisamos nos apropriar da concepção de
o conhecimento com autonomia. Com o papel que a ação, o movimento e experiências
do professor essencial e sua função educativa e concretas facilitam e reforçam o
não instrucionista. desenvolvimento e a aprendizagem. As
O sistema educacional precisa estar atento a crianças com dificuldades de aprendizagem
importância da inserção curricular dos valores precisam de apoio no desenvolvimento de suas
básicos, para que haja uma boa convivência potencialidades, não rótulos.
escolar entre discentes e docentes. Os temas O professor deve privilegiar as habilidades
transversais já existem, porém, é preciso um de cada aluno, provendo desenvolvimento da
melhor aparato não somente de materiais autoestima e integração dos educando;
didáticos, mas, uma maior preocupação em orientando e desafiando os alunos a alcançar
relação à formação dos professores para uma metas para vencer as dificuldades.
utilização eficaz. A escola, como espaço Pedagogicamente a integração requer a
formador e não conformador, deve abrigar as promoção das qualidades próprias do
diferenças, mas deve conter as regras indivíduo, sem estigmatizar e sem segregar.
fundamentais como recurso organizador das Identificar intervenções necessárias para
relações sociais. ajudar educadores a capitalizar potencialidades
Paulo Freire (1996, p. 25), em sua intelectuais dos alunos com dificuldades de
consagrada obra “Pedagogia da Autonomia”, aprendizagem em vez de encará-los como
nos diz que “não há docência sem discência, as vítimas de suas defasagens. As experiências de
duas se explicam e seus sujeitos, apesar das aprendizagem devem caminhar do concreto
diferenças que os conotam, não se reduzem à para o abstrato, do simples para o complexo.
condição de objeto, um do outro”, e Para que possamos ver a realidade de maneira
complementa: “quem ensina aprende ao mais objetiva é necessária uma organização da
ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. aprendizagem.
A aventura do conhecimento é
compartilhada, portanto reúne ao mesmo
tempo interesses psicológicos, biológicos,
sociológicos, antropológicos, lingüísticos,
artísticos e culturais. A priori tratamos as
dificuldades escolares das crianças como
problemas delas mesmas, uma vez avaliada, a
criança torna-se aquilo que o teste definiu.
O (a) professor (a) não pode esquecer de que
o (a) aluno (a) é um ser social com cultura,
linguagem e valores específicos. A criança é um
todo; quando apresenta dificuldades no

737
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das considerações apresentadas pelos autores consultados, foi possível concluir
que o estudante deve ser compreendido em sua totalidade, considerando todas as influências
que recebe e que podem interferir de maneira positiva ou negativa em seu processo de
aprendizagem.
Somos sujeitos constituídos por nossa história, cultura e sociedade. Interagimos e somos
influenciados o tempo todo pelo meio no qual estamos inseridos e, da mesma forma, o
influenciamos. Agimos sobre ele, transformando-o e transformando a nós mesmos, em um
contínuo processo de construção que não se limita e não se esgota.
Contudo, não podemos negligenciar nossas características biológicas, que fazem parte e
permeiam todo o cenário descrito.
Sem dúvida, ao nos depararmos com dificuldades, em qualquer área da vida, é necessário
avaliar as influências de todos os elementos que nos constituem.
Em relação à aprendizagem, é importante frisar a imprescindibilidade de todos os aspectos
constituintes do indivíduo estar em equilíbrio para que seja possível relacionar-se com o saber e
construir seu conhecimento.
Nenhum aspecto deve ser privilegiado em detrimento de outro, no que tange ao
desenvolvimento humano, pois não somos seres fragmentáveis. Somente a partir dessa
compreensão poderemos entender e auxiliar os alunos a atribuírem sentido e significado à
experiência escolar, tornando possível que se mantenham interessados e motivados.

738
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SÍNTESE DAS RECOMENDAÇÕES DE


ATIVIDADES FÍSICAS PARA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES SEGUNDO O GUIA DE
ATIVIDADE FÍSICA PARA A POPULAÇÃO
BRASILEIRA
Erivelton Fernandes França1

RESUMO: Como se não bastasse o aumento vertiginoso no número de crianças e adolescentes


com excesso de peso e baixo nível de atividade física nos últimos anos, infelizmente, países do
mundo inteiro foram surpreendidos com a pandemia da COVID-19. Isso trouxe além dos prejuízos
diretos e marcantes para a saúde da população em geral, uma série de alterações
comportamentais que acarretaram inclusive na redução do nível de atividade física populacional,
inclusive de crianças e adolescentes. Felizmente, mesmo diante deste momento crítico que está
sendo a pandemia da COVID-19, o Ministério da Saúde brasileiro voltou sua atenção à
necessidade de estabelecer diretrizes claras no que tange as recomendações de atividade física
para os diversos grupos e segmentos da população. Isso fez com que, por meio de um trabalho
colaborativo com pesquisadores brasileiros, o Guia de Atividade Física para a População Brasileira
fosse publicado em 2021. Tendo em vista a relevância deste documento, bem como a

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio nas redes Municipal e Estadual de ensino de São Paulo. Professor
de Ensino Superior no Centro Universitário Carlos Drummond de Andrade (UNIDRUMMOND) e no Centro de
Estudos em Saúde (CES) da Faculdade Unylea.
Formação acadêmica: Doutor em Engenharia Biomédica; Especialização em Medicina do Esporte e da Atividade
Física; Graduado em Educação Física, Ciências biológicas e Pedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

necessidade de fortalecer e incentivar iniciativas e políticas públicas que estimulem a prática de


atividade física para os mais variados grupos populacionais, inclusive crianças e adolescentes, este
estudo tem por objetivo abordar as suas recomendações de atividade física para este público.

Palavras-Chave: Guia de Atividade Física para a População Brasileira; Crianças e adolescentes;


Recomendações de atividades físicas.

SUMMARY OF PHYSICAL ACTIVITY RECOMMENDATIONS FOR


CHILDREN AND ADOLESCENTS ACCORDING TO THE PHYSICAL
ACTIVITY GUIDE FOR THE BRAZILIAN POPULATION
ABSTRACT: As if the vertiginous increase in the number of overweight children and adolescents
with a low level of physical activity in recent years was not enough, unfortunately, countries
around the world were surprised by the COVID-19 pandemic. This brought, in addition to the
direct and marked damage to the health of the population in general, a series of behavioral
changes that even led to a reduction in the population's level of physical activity, including
children and adolescents. Fortunately, even in the face of this critical moment of the COVID-19
pandemic, the Brazilian Ministry of Health has turned its attention to the need to establish clear
guidelines regarding physical activity recommendations for different groups and segments of the
population. This meant that, through collaborative work with Brazilian researchers, the Physical
Activity Guide for the Brazilian Population was published in 2021. In view of the relevance of this
document, as well as the need to strengthen and encourage public initiatives and policies that
encourage the practice of physical activity for the most varied population groups, including
children and adolescents, this study aims to address their activity recommendations. physics for
this audience.

Keywords: Physical Activity Guide for the Brazilian Population, children and adolescents,
recommendations for physical activities.

742
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO adolescentes com excesso de peso


(BRAMBILLA; POZZOBON; PIETROBELLI, 2011;
Os hábitos de tela (hábitos relacionados ao LANDRY; DRISCOLL, 2012), e baixo nível de
uso de recursos tecnológicos que possuem atividade física nos últimos anos (KATZ et al.,
display eletrônico), como celulares, televisores, 2008), infelizmente, países do mundo inteiro
computadores, videogames e tablets foram surpreendidos com a pandemia da
(BICKHAM, et al., 2013), estão cada vez mais COVID-19. Isso trouxe além dos prejuízos
presentes no cotidiano da humanidade, em diretos e marcantes para a saúde da população
especial de crianças e adolescentes (DAS et al., em geral, uma série de alterações
2017). Esse fato tem resultado em uma série de comportamentais que repercutiram inclusive
mudanças habituais e comportamentais, no nível de atividade física populacional,
principalmente no que diz respeito ao nível de inclusive de crianças e adolescentes (FRANÇA
atividade física da população (MORAES; et al., 2020).
GUERRA; MENEZES, 2013). Em crianças e Inevitavelmente, as medidas restritivas
adolescentes, especificamente, isso é muito adotadas com o intuito de conter o número de
preocupante, pois boa parte da população mortes por COVID-19, afetaram drasticamente
mundial nessa faixa etária não atende às o nível de atividade física populacional
recomendações quanto ao tempo mínimo (FRANÇA et al., 2020). Isso ocorreu pois além de
semanal de atividade física ideal para a muitos trabalhadores estarem
manutenção da saúde (KATZ et al., 2008). desempenhando suas atividades laborais no
Os baixos níveis de atividade física de modo home office, os espaços tipicamente
crianças e adolescentes em dias atuais destinados à prática de atividades físicas como
contribuem diretamente para alavancar um academias e parques públicos, durante muitos
grave problema de saúde pública, neste caso, a meses, tiveram suas atividades suspensas, em
obesidade infantil (BRAMBILLA; POZZOBON; função de recomendações das autoridades
PIETROBELLI, 2011; LANDRY; DRISCOLL, 2012;). sanitárias e de saúde pública, bem como
Esta é uma situação extremamente prefeitos e governadores. Tais restrições
preocupante, pois além deste quadro de repercutiram negativamente no nível de
obesidade poder perdurar até a idade adulta atividade física populacional (FRANÇA, et al.,
(GUINHOUYA, 2012; VAN GROUW; VOLPE, 2020).
2013) Em se tratando de crianças e adolescentes,
representa um importante fator de risco estes também sofreram duramente com as
para o desenvolvimento de síndrome medidas restritivas necessárias ao
metabólica (SHAY et al., 2013) e doenças enfrentamento da pandemia da COVID-19.
crônicas não transmissíveis na infância Além do difícil acesso aos ambientes de lazer e
(PPINTO; SILVA, 2015; LIMON; VALINSKY; BEN- de práticas de atividades físicas, as atividades
SHALOM, 2004). escolares que são cruciais para o
Como se não bastasse o aumento desenvolvimento cognitivo e psicossocial dos
vertiginoso no número de crianças e estudantes, durante vários meses, ocorreram

743
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de modo remoto e com atividades online, Podemos entender atividade física como
inclusive as aulas de Educação Física (VIEIRA et qualquer movimento corporal realizado
al., 2020). Isso é extremamente prejudicial na voluntariamente por meio de contração da
medida em que, para muitos estudantes, as musculatura esquelética, que eleve o gasto
aulas de Educação Física constituem-se num energético para além dos níveis de repouso.
dos poucos momentos durante a semana em Essa definição foi elaborada por Carpensen e
que conseguem realizar atividades físicas colaboradores (1985), e é adotada até os dias
esportivas e afins. atuais pela organização Mundial da Saúde
Felizmente, mesmo diante deste momento (OMS). Dessa forma, os mais variados
crítico que está sendo a pandemia da COVID- movimentos realizados em diferentes
19, o Ministério da Saúde brasileiro voltou sua contextos (lazer, trabalho, locomoção e
atenção à necessidade de estabelecer atividades domésticas) quando exigem um
diretrizes claras no que tange as gasto calórico maior do que em estado basal,
recomendações de atividade física para os isto é, em repouso, são considerados como
diversos grupos e segmentos da população. atividades físicas (CASPERSEN; POWELL;
Isso fez com que, por meio de um trabalho CHRISTENSON, 1985).
colaborativo com pesquisadores brasileiros, o É muito comum que os termos atividade
Guia de Atividade Física para a População física, exercício físico e esporte sejam utilizados
Brasileira fosse publicado em 2021 (BRASIL, como sinônimos, entretanto, isso é um
2021). Tendo em vista a relevância deste equívoco. Esse erro ocorre pelo fato da prática
documento, bem como a necessidade de de exercício físico, assim como as atividades
fortalecer e incentivar iniciativas e políticas esportivas serem uma das subcategorias das
públicas que estimulem a prática de atividade atividades físicas, e por ambos terem como
física para os mais variados grupos característica central a realização de
populacionais, inclusive crianças e movimentos corporais que demandam um
adolescentes, este estudo tem por objetivo gasto energético maior do que em estado de
abordar as suas recomendações de atividade repouso. Entretanto, existem aspectos centrais
física para este público. que os diferenciam.
O exercício físico tem como característica
CONCEITOS INTRODUTÓRIOS ser realizado de forma sistematizada e
estruturada, com objetivos específicos em
SOBRE ATIVIDADE FÍSICA relação à aptidão física, seja ela esportiva ou
Antes de revisar as recomendações de relacionada à saúde (CASPERSEN; POWELL;
atividade física para crianças e adolescentes CHRISTENSON, 1985). Por aptidão física,
sugeridas pelo Guia de Atividade Física para a entende-se a capacidade de um indivíduo
População Brasileira (BRASIL, 2021), para uma realizar atividades físicas, exercícios físicos
melhor compreensão e aplicabilidade das e/ou atividades esportivas com vigor e
instruções, se faz necessário compreender disposição. Dessa maneira, quanto menor for o
alguns princípios e conceitos introdutórios. esforço de um indivíduo na realização de uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tarefa motora, maior é o seu nível de Independente da tarefa motora realizada,


condicionamento físico, ou seja, sua aptidão uma atividade física de deslocamento, um
física (PATE, 1988). exercício físico específico ou uma dada
Diante disso, qualquer indivíduo que almeje modalidade esportiva, é possível estimar a
melhorar seu nível de condicionamento físico, intensidade do esforço realizado pelo
e por consequência aprimorar capacidades praticante. Isso pode se dar por meios mais
físicas como força, resistência muscular, precisos, elaborados e dispendiosos em
resistência cardiorrespiratória, flexibilidade, ambientes laborais, tais como pela análise do
dentre outras, deve realizar um programa de volume de oxigênio (VO2) consumido durante
atividade física, exercícios ou esportes em a realização da tarefa, ou por meio de escalas
intensidade moderada à vigorosa, de percepção subjetiva de esforço. Estes
preferencialmente de modo estruturado e instrumentos apesar de simples, apresentam
periodizado e sob a supervisão de um boa correlação com variáveis fisiológicas
profissional (MONTEIRO, 1996). sensíveis ao esforço, dentre elas a frequência
O termo esporte deve ser entendido como cardíaca (JUNIOR, 2013).
uma atividade institucionalizada (contendo Segundo o Guia de Atividade Física para a
regras instituídas por entidades oficiais, tais População Brasileira, a intensidade da prática
como federações e confederações), que de atividade física e suas subcategorias (dentre
também requer esforço físico (isso o faz uma elas os exercícios físicos e as atividades
subcategoria da atividade física, assim como o esportivas), podem ser classificadas em leve,
exercício físico), fazendo uso de habilidades moderada ou vigorosa (BRASIL, 2021). A seguir
motoras de elaborado nível de complexidade, veremos as sugestões deste guia para o
muitas delas específicas da modalidade. controle simples, porém eficaz, da intensidade
Ademais, diferentemente do exercício físico ou das atividades físicas em todas as suas
das atividades físicas da vida diária, as subcategorias.
atividades esportivas são praticadas de modo As atividades físicas de intensidade leve são
competitivo, podendo ser ela uma modalidade aquelas que exigem do praticante o mínimo de
individual, em dupla, pequenos grupos ou até esforço físico quando comparadas ao estado
mesmo times compostos por mais de uma basal, ou seja, o estado de repouso. Nesta
dezena de atletas (BARBANTI, 2006). intensidade ocorre um pequeno aumento da
O fato de boa parte dos atletas (amadores ou frequência cardíaca e respiratória. A percepção
não) possuírem em sua rotina de treinamento, subjetiva de esforço relatada pelo praticante
também, a prática de exercícios físicos varia de 1 a 4 em uma escala de 0 a 10. Uma
sistematizados com o objetivo de aprimorar as característica importante que pode ser
mais variadas capacidades físicas exigidas na observada em esforços físicos de intensidade
modalidade esportiva que praticam, bem como leve é a capacidade do praticante conseguir
o fato de, assim como o exercício físico, ser uma conversar normalmente enquanto se
das subcategorias da atividade física, leva ao movimenta ou até mesmo, se solicitado, cantar
equívoco no uso dos termos.

745
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

uma música sem interrupções importantes na diminuição do risco de obesidade infantil,


fala (BRASIL, 2021). melhora da qualidade do sono (isso aumenta a
As atividades físicas de intensidade disposição da criança ao longo do dia e diminui
moderada quando comparada às de sua irritabilidade e cansaço), aperfeiçoamento
intensidade leve, exigem maior esforço físico e da coordenação motora, aprimoramento das
ocorre um aumento perceptível na frequência funções cognitivas relacionadas a memória e ao
respiratória e cardíaca. O relato de percepção aprendizado (impactando positivamente no
subjetiva de esforço pelo praticante numa processo de ensino aprendizagem escolar),
escala de 0 a 10 fica entre 5 e 6. Nesta estímulo à integração e ao convívio social com
intensidade de trabalho, manter uma conversa os pares de mesma idade (estimulando assim o
sem interrupções na fala é muito difícil e cantar desenvolvimento de habilidades psicológicas e
não será possível (BRASIL, 2021). competências socioemocionais), saúde e
As atividades físicas de intensidade vigorosa condicionamento físico (em especial às
por sua vez têm como característica um grande capacidades físicas relacionadas aos sistemas
esforço físico, isso gera como repercussão cardiorrespiratório e muscular), promove
fisiológica uma frequência cardíaca e melhora do humor (reduzindo a sensação de
respiratória bem mais rápida que o normal, estresse e atenuando sintomas de ansiedade e
sendo maior inclusive que em intensidades depressão), bem como estimula a adoção de
moderadas de trabalho. Numa escala de 0 a 10 um estilo de vida saudável (com adoção de
a percepção subjetiva de esforço autorrelatada bons hábitos alimentares e redução do tempo
fica entre 7 e 8. Ao atingir esta intensidade de em comportamento sedentário), em especial o
trabalho o indivíduo não conseguirá nem tempo de tela (tempo destinado ao uso de
conversar (BRASIL, 2021). aparelhos como celular, videogame, tablet,
computador, televisão e similares), dentre
RECOMENDAÇÕES DE outros (BRASIL, 2021).
Para melhor discussão sobre as
ATIVIDADE FÍSICA PARA recomendações de atividade física, segundo o
CRIANÇAS E ADOLESCENTES Guia de Atividade Física para a População
Indiscutivelmente, a prática de atividades Brasileira, assim como no documento,
físicas deve fazer parte dos hábitos de vida de dividiremos esta sessão em duas partes, sendo
qualquer indivíduo, independente da faixa elas: 1- Atividade física para crianças de até 5
etária. Em crianças e adolescentes isso se torna anos; 2- Atividade física para crianças e jovens
ainda mais relevante, uma vez que se de 6 a 17 anos.
encontram num período crítico do seu • Atividade física para crianças de até 5
desenvolvimento biopsicossocial e físico anos
(BRASIL, 2021). De acordo com o Guia de Atividade Física
Dentre os principais benefícios de uma vida para a População Brasileira, crianças com até 1
fisicamente ativa nesta faixa etária estão a ano de idade, devem realizar, pelo menos, 30
manutenção do peso adequado e consequente minutos diários de atividade física, sendo que

746
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

este montante poderá inclusive ser fracionado saltitar, buscar objetos, dentre outras
ao longo do dia. Em se tratando de crianças possibilidades (BRASIL, 2021).
numa faixa etária de 1 a 2 anos de idade, a Dos 3 aos 5 anos de idade, devido ao maior
recomendação é que sejam realizada estágio desenvolvimental, as crianças devem
diariamente, também podendo ser distribuídos ser estimuladas a envolverem-se em atividades
ao longo do dia no mínimo 3 horas de atividade de maior intensidade (pelo menos 1 hora diária
física. Cabe ressaltar que para estas duas faixas em atividade de intensidade moderada à
etárias iniciais (até 1 ano de idade e de 1 a 2 vigorosa, dentre as 3 horas diárias
anos de idade), não é necessário considerar a recomendadas), deste modo, estímulos mais
intensidade da atividade física realizada. Em elaborados e que requeiram as habilidades
outras palavras, movimentar-se é o que motoras do andar, correr, chutar, saltar,
importa. Finalmente, para a faixa etária de 3 a escalar, arremessar devem ser estimuladas.
5 anos de idade, recomenda-se que sejam Uma vez que nesta faixa etária a criança já deve
praticadas assim como na faixa etária anterior estar regularmente matriculada na educação
(de 1 a 2 anos de idade) 3 horas diárias de infantil, atividades físicas mais complexas como
atividade física. No entanto, para esta este natação lutas, jogos pré- desportivos e
grupo etário sugere-se que pelo menos 1 fundamentos ginásticos podem ser trabalhados
destas 3 horas seja em intensidade moderada à pelos professores de Educação Física e
vigorosa, também podendo ser praticada em estimulados pelos pais, inclusive em atividades
diferentes momentos ao longo do dia (BRASIL, extracurriculares (BRASIL, 2021).
2021). Em linhas gerais, para crianças de até 5 anos,
Crianças com até 1 ano de idade podem as sugestões apresentadas pelo Guia de
atingir suas recomendações de atividade física Atividade Física para a População Brasileira,
diária sendo estimuladas a se movimentar diante das recomendações de atividade física,
estando em decúbito ventral (barriga para apontam que:
baixo), ou então sentadas com as pernas e “ é importante que as crianças sejam
braços em movimento. Nesta faixa etária os fisicamente ativas em vários momentos do dia,
pais e/ou professores devem estimular vivenciando diferentes experiências de
frequentemente as crianças a segurar, movimento apropriadas à sua fase de
alcançar, puxar, empurrar, rastejar, engatinhar, desenvolvimento e conforme suas capacidades
rolar, equilibrar-se com e sem ajuda, levantar- (BRASIL, 2021, p.13).”
se, dentre outras possibilidades de movimento • Atividade física para crianças e jovens de
(BRASIL, 2021). 6 a 17 anos
Na faixa etária de 1 a 2 anos, com a criança De acordo com o Guia de Atividade Física
um pouco mais desenvolvida, a atividade física para a População Brasileira, crianças e jovens
pode ser estimulada por jogos e brincadeiras numa faixa etária de 6 a 17 anos devem praticar
que desafiem tarefas motoras como equilíbrio diariamente, no mínimo, 60 minutos de
bipodal e unipodal, rastejar, andar, escalar, atividade física, sendo que atividades em
intensidade moderada ou vigorosa são as mais

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

recomendadas. Cabe rememorar que esta que seja estimulada a conhecer novas
intensidade de atividade física varia entre 5 e 8 possibilidades de se movimentar, seja por meio
numa escala de percepção subjetiva de esforço da prática esportiva, de exercícios físicos ou em
que vai de 0 a 10 ,e ainda, que nestas atividades físicas, como por exemplo o
intensidades manter uma conversa sem deslocamento. Neste caso, quando possível,
interrupções na fala é muito difícil (BRASIL, incentivar o deslocamento de bicicleta, por
2021). exemplo, contribui beneficamente para atingir
Dentro destes 60 minutos diários, devem ser as recomendações diárias de atividade física,
incluídos em pelo menos 3 dias da semana, bem como auxiliar em alguns afazeres
atividades que estimulem o fortalecimento do domésticos também podem ser uma boa forma
sistema musculoesquelético. Para isso, de estimular a atividade física. Bons exemplos
atividades como saltar que podem ser de atividades que podem ser realizadas neste
realizadas por meio da brincadeira de pular contexto são a manutenção e limpeza do
corda, e o puxar que pode ser realizado com a quintal ou área externa, ou ainda sair para
brincadeira do cabo de guerra devem ser passear com o cachorro (BRASIL, 2021).
estimuladas, dentre outras que tenham estas Na escola em especial, a atividade física
características (BRASIL, 2021) também deve ser praticada pelas crianças e
Assim como nas faixas etárias mais tênues, o adolescente. Neste contexto 2 valiosíssimos
tempo diário de atividade física pode ser momentos merecem ser apontados: 1 as aulas
atingido de modo fracionado. Ademais, cabe de Educação Física, que com a pratica
ressaltar que para que maiores benefícios à estruturada e informação adequada ofertada
saúde sejam atingidos, é completamente pelo Professor trará inúmeros benefícios à
recomendável aumentar progressivamente o saúde e ao desenvolvimento dos estudantes e
tempo diário de 60 minutos, e ainda, para os 2- o intervalo/recreio escolar, um momento
dias em que não forem possíveis atender a ímpar para a interação social, bem como a
recomendação mínima, deve ser realizado o descoberta de diversas manifestações culturais
tempo que for possível. Pois conforme citado do movimento humano (jogos, brincadeiras,
no Guia: “Cada minuto conta!” (BRASIL, 2021, danças, esportes e etc.) (BRASIL, 2021).
p.17).
Devido a maior faixa etária, período
desenvolvimental e independência de
locomoção, o espectro de atividades físicas
possíveis de serem realizadas para este grupo é
bem maior. Sendo assim, no tempo livre é
importantíssimo que esta criança ou
adolescente possa destinar tempo à realização
de atividades que gosta de praticar, podendo
ser realizada inclusive na presença de amigos e
pessoas do seu ciclo de convivência, e ainda,

748
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na análise do Guia de Atividade Física para a População Brasileira, em especial
para a faixa etária que compreende crianças e adolescentes, pudemos obter as seguintes
recomendações de atividade física: Pelo menos, 30 minutos diários para crianças menores de 1
ano, não havendo sugestões sobre a intensidade da atividade física realizada; Na faixa etária de
1 a 2 e de 3 a 5 a recomendação é de que diariamente sejam praticadas, no mínimo 3 horas de
atividade física, sendo que para o último grupo etário, em uma destas horas atividades físicas de
intensidade moderada à vigorosa devem ser realizadas; Já no último grupo etário que
compreende a infância e a adolescência a recomendação é que sejam realizados 60 minutos de
atividade física em intensidade moderada ou vigorosa, sendo que em pelo menos 3 dias da
semana, atividades que estimulem o fortalecimento do sistema musculoesquelético devem ser
realizados.
De fácil leitura e compreensão, o Guia de atividade física para a população brasileira traz
ainda diversos exemplos e sugestões de como alcançar as recomendações de atividades físicas
para cada um dos grupos etários (conforme abordados aqui neste artigo). Finalmente, uma das
maiores “lições” trazidas por este documento, em especial para crianças e adolescentes, é a
importância destas serem ativas nos mais variados momentos do dia, de modo que se envolvam
nas mais diversas experiências motoras e de atividade física, desde que sejam adequadas ao seu
estágio de desenvolvimento.

749
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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751
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO EM FOCO


Gabriely Gonçalves Silva1

RESUMO: Nos tempos atuais, é de fácil percepção o quanto a tecnologia está presente em nossas
vidas. No ano de 2020, ficou evidente como a tecnologia ajuda nas práticas educativas, uma vez
que, com a Pandemia decorrente ao Covid 19, as aulas passaram a ser on line e o professor se
reinventou para continuar ensinando mesmo a distância. O acesso a quaisquer informações é
obtido de maneira rápida e eficaz. No passado, não tão distante, até a forma de se comunicar era
diferente e o acesso a informação era muito mais complexo. A tecnologia, quando utilizada de
forma correta, possibilita ao professor um arsenal de recursos para aprimorar e incrementar os
processos escolares e sua prática pedagógica, tornando as aulas mais atrativas e interativas. A
tecnologia não pode ser considerada como uma matéria a ser aprendida ou algo isolado, e sim,
um portal de possibilidades para criar momentos marcantes de aprendizado para as crianças.

Palavras-Chave: Tecnologia; Educação, Criança.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo. Graduação: Licenciatura
em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TECHNOLOGY AND EDUCATION IN FOCUS


ABSTRACT: Nowadays, it is easy to perceive how much technology is present in our lives. In 2020,
it became evident how technology helps in educational practices, since, with the pandemic
resulting from Covid 19, classes became online and the teacher reinvented himself to continue
teaching even at a distance. Access to any information is gained quickly and effectively. In the
not-so-distant past, even the way of communicating was different and access to information was
much more complex. Technology, when used correctly, provides the teacher with an arsenal of
resources to improve and increase school processes and pedagogical practice, making classes
more attractive and interactive. Technology cannot be considered as a subject to be learned or
something isolated, but a portal of possibilities to create remarkable moments of learning for
children.

Keywords: Technology; Education, Child.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO informática seja aplicada de forma educativa e


mais democrática, no qual todos tenham
A construção das aulas e o próprio projeto acesso.
pedagógico, devem acompanhar e se preparar Neste sentido, nota-se que a dimensão
para essa nova geração tecnológica. Hábitos acerca da apropriação dos recursos
educacionais tradicionais, para essa geração, tecnológicos, seja no âmbito escolar ou mesmo
leva ao desinteresse e a dificuldade de no cotidiano do aluno. É necessário saber que
concentração dos alunos durante as incluir digitalmente é disponibilizar a
explicações em sala de aula. Por isso, é de tecnologia e fazer dela um instrumento de
grande importância o debate sobre a inclusão ensino e até mesmo de possibilidade de
digital nas escolas, para que professores e inclusão social.
alunos possam utilizar a tecnologia em favor Para Junior (2011), com essas possibilidades
dos estudos. tecnológicas que surgem juntamente com as
Quando aliamos as propostas curriculares da tecnologias de rede, é preciso entender que
educação infantil com a tecnologia, tornamos o incluir digitalmente não deixa de ser um
processo de aprendizagem mais atraente e processo de colaboração, onde a rede se torna
interessante. Estimulando os alunos, de um ambiente de troca de informações e
maneira lúdica e interativa, a explorarem novos conhecimentos, fazendo sentido em valer a
conhecimentos, aprendendo a elaborar ideias, cidadania, exercendo-a de uma forma
expressar opiniões, questionar e a pesquisar, democrática e consciente.
utilizando todas as ferramentas educacionais O acesso a informação pode ocorrer a
disponíveis. Vale ressaltar, que a qualquer momento, porém com muito mais
implementação desta tecnologia no âmbito ênfase utilizando dos recursos tecnológicos, no
escolar, irá aprimorar o que vivenciamos no mundo atual as crianças possuem mais
nosso cotidiano, seja em casa, com os amigos facilidade de utilização destes recursos, mas
ou em qualquer lugar, pois é notório que a essas habilidades barram muitas vezes coisas
internet está vinculada em todos os lugares simples do dia a dia. Nota-se que são ágeis
com muito mais ênfase do que antigamente. nesse universo, mas na grande parte não
conseguem se relacionar no âmbito social e
INCLUSÃO DIGITAL E SUA afetivo, ou seja, em ambientes não virtuais.
Para Brandão (2007), a escola por sua vez
IMPORTÂNCIA NO AMBIENTE enfrenta muitos desafios, em relação ao bom
ESCOLAR uso deste mecanismo, no qual é de suma
De acordo com Frigotto (1998), a tecnologia importância quantidade de informações frente
e a comunicação vêm sendo disseminada de aos veículos de comunicação para crianças,
forma inevitável nas salas de aula, com isso a adolescentes, para que não percam sua
escola está cada vez mais em transformação no essência, que usem de forma construtiva,
mundo digital. O intuito é levar essa tecnologia educativa, não utilizando de conteúdos
as escolas públicas de maneira que a inadequados ou restritos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Cabe a escola estudar criteriosamente, A tecnologia está presente em todos os


desenvolver competências nas atualidades lugares, em todos os momentos inerentes a
para que possa orientar de forma adequada nossa vida. Pensando nesse desenvolvimento e
esse público que cresce significativamente na aperfeiçoamento das tecnologias, tratamos,
nossa sociedade. então, das tecnologias digitais, que são
Quando ocorre a inclusão digital com o caracterizadas por um conjunto de tecnologias
cidadão, sem exclusão, o uso das tecnologias que trabalham com sistemas binários, ou seja,
de informação ocorre, tendo assim livre acesso uma sequência finita de 0 e 1. Elas surgiram a
a informação. partir do século XX revolucionando a indústria,
Nesse contexto, não podemos deixar de citar a economia e a sociedade.
as sábias palavras de Teixeira sobre inclusão Para Morin (2000), a tecnologia deve ser
digital: inserida no âmbito escolar como forma de
Assim, propõe-se o alargamento do conceito desenvolver a capacidade de comunicação do
de inclusão digital para uma dimensão aluno, mas que este recurso seja aproveitado
reticular, caracterizando-o como um processo de forma correta, proporcionando assim a
horizontal que deve acontecer a partir do mudança na educação, tanto na forma de
interior dos grupos com vista ao aprender, quanto na mediação do professor.
desenvolvimento de cultura de rede, numa Vale ressaltar que de nada vale este recurso
perspectiva que considere processos de se os professores não estiverem atualizados e
interação, de construção de identidade, de familiarizados para que possam inserir em suas
ampliação da cultura e de valorização da aulas de forma significativa, envolvendo as
diversidade, para a partir de uma postura de crianças neste contexto para que assim a
criação de conteúdos próprios e de exercício da aprendizagem seja interessante, lúdica e
cidadania, possibilitar a quebra do ciclo de possibilitem a ter mais contato com imagens,
produção, consumo e dependência sons e movimentos muito mais próximos aos
tecnocultural. (BORGES, 1999, p. 39). reais.
A TIC (Tecnologias de informação e
comunicação) vem desenvolvendo uma nova TECNOLOGIA DIGITAL NA
sociedade, modificando o cotidiano das
pessoas, o modo de pensar, trabalhar, de viver EDUCAÇÃO INFANTIL
e principalmente de se comunicar com outras A Educação Infantil implica o
pessoas. desenvolvimento integral e valorização da
Assim, Kenski (2012), conceitua a tecnologia criança de maneira a experimentar esse mundo
como algo que envolve qualquer coisa que o tecnológico no ambiente escolar. A escola vem
cérebro humano conseguiu criar, desenvolver e de forma incansável buscando alternativas,
modificar o seu uso e sua aplicação e que a estimulando a participação e contribuindo para
tecnologia não consiste somente em maquinas o pleno desenvolvimento da aprendizagem das
e equipamentos. crianças.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para tornar o processo de aprendizagem não só é um produto do seu contexto social,


mais interessante e lúdico, o uso destas mas é também um agente ativo na criação
tecnologias aliadas as propostas curriculares na deste contexto. (REGO, 2000, p.49).
Educação infantil, vem mudando o pensar, a Por mais que as escolas utilizem tablets,
maneira de se expressar e questionar de cada computadores e outros recursos em sala a
criança, permitindo assim a exploração de educação por si não mudou, visto que os
novos conhecimentos de forma interativa e recursos são utilizados em hora determinada,
divertida. ou seja, a tecnologia não é utilizada de maneira
Para Borges (1999), estamos em um mundo correta, como deveria ser.
em que as tecnologias interferem no cotidiano, Normalmente, elas não são correlacionadas
sendo relevante, assim, que a educação aos conteúdos dados em sala de aula,
também envolva a democratização do acesso ministradas por professor específico, hora e
ao conhecimento, à produção e à interpretação local pré-determinados para utilização dos
das tecnologias.” recursos. Para que essa concepção mude as
Por tecnologia entendemos um “conjunto de tecnologias digitais devem ser inseridas no
saberes inerentes ao desenvolvimento e material pedagógico da escola, associadas ao
concepção dos instrumentos [...] criados pelo conteúdo dado em sala de aula, assim como um
homem por meio da história para satisfazer livro, um jogo pedagógico, permitindo assim o
suas necessidades e requerimentos pessoais e desenvolvimento do aluno no âmbito
coletivos” (VERASZTO, SILVA, MIRANDA e pedagógico.
SIMON, 2008, p.78). Vale ressaltar, para que haja a inserção das
Neste sentido, é notório que a utilização de tecnologias digitais na educação infantil, se faz
artefatos busca a melhoria de performances necessário o conhecimento ser aprimorado dos
nas coisas mais simples, ou até mesmo mais professores, uma vez que estes possuem
complexas, partindo do conhecimento referencias de uma década passada e a
científico chamado tecnologia. tendência é que repitam a forma como foram
Entende-se que a função da escola, além do educados, de maneira tradicional.
conhecimento passado é proporcionar a
oportunidade de aprendizagem para as O PROFESSOR E AS
crianças, de modo que adquiram compreensão
no seu mudo e em seu tempo. TECNOLOGIAS
Ao longo do processo histórico sobre O papel do professor é muito importante ao
infância cidadã da criança como sujeito de utilizar as tecnologias digitais, uma vez que é de
direitos, Vygotsky, profundamente responsabilidade dele motivar e manter a
influenciado pelos postulados marxistas, atenção do aluno no conteúdo discutido e
afirma que as origens das atividades pesquisado.
psicológicas mais sofisticadas devem ser Desde muito cedo nas vidas das crianças a
procuradas nas relações sociais do indivíduo tecnologia está presente, seja com o uso do
com o meio externo. Entende que o homem celular ou tablets, com muita facilidade, porém

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

não é a mesma situação do professor. Dessa Por meio do computador o professor tem em
forma é preciso ter consciência do seu uso, sua disposição uma série de ferramentas que
para auxiliar o aluno com dificuldade, para que podem ser utilizadas para enriquecer sua ação
assim aprenda a utilizar esta ferramenta a seu pedagógica. Desse modo se faz necessário a
favor, de forma didática. escola se reinventar para sobreviver como
Prender a atenção dos alunos para instituição educacional, para que assim a
aprendizagem se tornou uma tarefa difícil para prática de fato ocorra, que o uso das
o professor. A forma como se porta diante dos tecnologias digitais da informação possam ser
alunos e das tecnologias deve ser respeitada, inseridas e sistematizadas na prática
com limites, cabe aos alunos se concentrar no pedagógica.
conteúdo aplicado e aprender a realizar suas
tarefas de forma correta, agregando IGUALDADE DE
conhecimento e buscando ampliar suas
habilidades quanto ao uso da tecnologia. OPORTUNIDADE: AS ESCOLAS
O grande desafio dos professores é seguir o NO BRASIL E NO MUNDO
princípio que privilegia o aprendizado É inviável comparar a desigualdade em
interdisciplinar e integrador para construção de relação ás escolas brasileira e as do mundo
conhecimentos. todo, mas podemos citar alguns exemplos de
A escola precisa intensificar a aprendizagem, países desenvolvidos, como França, Estados
deixando de ser apenas transmissora de Unidos e o Canadá, cujas escolas de ensino
informação, pois o objetivo não é somente fundamental são de ótima qualidade e
transmitir conteúdos e sim ensinar a forma de gratuitas.
buscar informações, por meio de pesquisas, Trata-se de uma questão de escolha e não de
desenvolvimento de projetos e conteúdos necessidade a busca de bases particulares,
específicos. visto que são poucas, pois geralmente são
A educação sofre com a falta de recursos buscadas por pais que optam por um método
tecnológicos atualizados, a escola conta com de ensino específico.
parcerias entre professores, pais e empresas Contudo, o mais importante é que todos
cujo objetivo é equipar as escolas possam ter acesso a mesma educação, sendo
tecnologicamente adquirindo equipamentos. ela publica ou não, sendo rico ou pobre, sem
Vale lembrar que o professor tem o dever de distinção. Esse seria o primeiro passo para a
ensinar de forma a motivar seus alunos, redução da desigualdade, no que tange dar
inspirar contribuindo assim para a oportunidade igual para todos.
aprendizagem de forma significativa. A desigualdade no Brasil é muito notória,
O professor explorará diversos meios pois existem muito poucas escolas públicas de
tecnológicos por meio do computador, qualidade. Muitos atrelam isso aos baixos
aprimorando assim seu conhecimento para salários que os professores recebem, pois
facilitar o processo de aprendizagem do aluno muitos precisam ter vários empregos para
e desenvolvimento intelectual. conseguir ter uma renda satisfatória.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nota-se que o problema é da falta de deve acontecer e como este descarte impacta
infraestrutura, visto que, os prédios são na vida da sociedade.
precários e sem muitos vislumbres de Mesmo que ocorram campanhas para o uso
investimentos em tecnologia. de lixeiras seletivas as pessoas não percebem o
Outro problema também é sobre a quanto este tipo de ação pode influenciar no
uniformização dos currículos que não dão meio ambiente.
margem para adicionar matérias diferentes, Propostas educacionais sobre a coleta
que podem ser do interesse dos estudantes de seletiva precisam ultrapassar os muros de
uma determinada região. A escola não é capaz ambientes escolares e chegar a ambiente de
de trazer a realidade do aluno para a sala de convívio da sociedade. Por meio desta
aula e as atividades práticas, que envolvem a proposta estaremos criando uma cultura de
tecnologia, são poucas. forma consciente e fazendo com que o meio
O ensino se tornou desinteressante visto ambiente tenha maior preservação.
que, dificulta o aprendizado e contribui ainda Educação ambiental são os processos por
mais para a desigualdade, além de todo o meio dos quais o indivíduo e a coletividade
cansaço e o desestimulo do professor frente a constroem valores sociais, conhecimentos,
tantas dificuldades, constitui assim um cenário habilidades, atitudes e competências voltadas
desolador. para a conservação do meio ambiente, bem de
Mesmo este cenário sendo tão desigual, não uso comum do povo, essencial à sadia
pode desanimar, ainda há solução. O que falta qualidade de vida e sua sustentabilidade.
é vontade política e principalmente A Educação Ambiental é uma dimensão da
investimento no ensino. educação, é atividade intencional da prática
social, que deve imprimir ao desenvolvimento
O IMPACTO DO USO DA individual um caráter social em sua relação com
a natureza e com os outros seres humanos,
TECNOLOGIA NO MEIO visando potencializar essa atividade humana
AMBIENTE - UMA PROPOSTA com a finalidade de torná-la plena de prática
social e de ética ambiental.
EDUCACIONAL PARA O
A preocupação com saneamento, ao longo
DESCARTE ADEQUADO E A da história, esteve quase sempre relacionada à
PROPOSTA EDUCACIONAL transmissão de doenças. Entretanto, o
A tecnologia tem sido consumida cada vez crescimento acelerado da população mundial e
mais, e ela está em todas as áreas da educação, do parque industrial, o consumo excessivo, o
e por que não falar em meio ambiente consequente aumento na produção de
também? Percebe-se que a sociedade embora resíduos e o descarte irresponsável desses
consuma tecnologia no seu dia a dia não sabe resíduos no meio ambiente têm levado a uma
como descartar quando estas não mais estão preocupação mais abrangente: a escassez dos
em uso. Percebe-se ao analisar que existe uma recursos naturais. Vale lembrar que o conceito
falta de conhecimento sobre como o descarte de desenvolvimento sustentável está

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

intimamente ligado a capacidade de atender às colaborador a única forma de motivação para


necessidades das sociedades atuais sem trabalhar era o salário, agora pensando em
comprometer as futuras gerações. Os questões humanistas as instituições, empresas,
princípios sugerem que é preciso desenvolver organizações estão voltadas a trabalhar novos
uma economia que privilegie o crescimento temas para motivação dos seus colaboradores,
econômico, alterando a qualidade desse com a finalidade de amenizar novas mudanças
crescimento para torná-lo mais equitativo e que possam surgir e trazer maiores
menos intensivo no uso de matérias-primas e rendimentos em relação às atividades a serem
energia, destacando o papel dos avanços desenvolvidas no ambiente de trabalho.
científicos, tecnológicos e inovadores. Para que isso possa ocorrer é necessário
Dentro de uma unidade escolar para adotar práticas de comunicações efetivas e
trabalhar qualquer tema usando as integradas, apostar em ações de comunicação
tecnologias, o gestor deve estar preparado interna e de responsabilidade e
para apoiar e incentivar todos, valorizando o relacionamento social e ambiental, excelentes
seu desempenho, e buscar tirar o máximo de ações que pode fazer com que as organizações
sua equipe, sendo assim, o gestor agrega a mostrem os seus esforços tanto com seus
função de coordenar toda a ação pedagógica colaboradores, quanto para a sociedade.
dentro da instituição. A comunicação dentro de qualquer
Um ótimo gestor sabe ir além, busca manter- instituição é de extrema importância para que
se atualizado com o intuito de estar preparado todas as atividades ocorram de forma a obter
para enfrentar novos desafios, com isso a benefícios com o uso da tecnologia. A
importância de realizar pesquisas, avaliar e humanização pode ter início com a convivência
encarar os desafios que possam surgir de forma entre os colegas de trabalho, afinal a maior
mais segura. Ao analisar os riscos, buscando parte do tempo de um funcionário é dentro de
eliminar os erros que por ventura possam uma instituição. Como conviver com as pessoas
acontecer. em seu ambiente de atividades? Existem
Uma nova forma de compreender o práticas que podem ser utilizadas no dia-a-dia
processo de comunicação dentro das que surtem ótimos efeitos são elas: ser gentil
instituições ou qualquer organização é a com os colegas, evitar conflitos, saber escutar,
humanização no ambiente de trabalho. dar sugestões, incentivar as pessoas ao seu
Segundo Silva, a humanização das redor dentre outros. Algumas instituições ao
organizações é uma tendência cada vez mais admitir novos colaboradores fazem
importante e presentes em gestões com visão treinamentos e já discutem a humanização
de futuro alinhadas, as necessidades do entre as pessoas.
mercado. A comunicação é uma das melhores As instituições podem por meio de reuniões
formas de humanizar uma organização, visto tratarem com seus colaboradores sobre
que conecta pessoas a um objetivo único. possíveis problemas que possam estar
Antigamente o trabalho era voltado atrapalhando a rotina em suas atividades, o
somente para produtividade e para o ouvir é de extrema importância, em casos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

podem ocorrer novas ideias e uma solução que receber novos conhecimentos, agregar as suas
venha a contribuir a instituição e a todos funções buscando sempre seu crescimento e
envolvidos nela. reconhecimento profissional.
O colaborador pode interagir não somente Manter uma comunicação aberta e clara,
nos momentos de mudanças, inovações, mas apresentar os objetivos da instituição, também
em todas as circunstâncias ele poderá são tópicos que contribuem para o bom
manifestar suas opiniões o gestor deve atuar andamento dos processos.
neste momento como um ouvinte e procurar A busca por melhores resultados e os
colher de forma positiva, seus comentários desafios do mundo dentro das instituições vive
quem sabe em um futuro prospero poderá em constantes mudanças, humanizar as
obter recompensas com novas ideias. relações é atuar nesta aproximação,
As instituições devem proporcionar aos aproveitando-se da tecnologia.
funcionários uma integração entre eles, deixa-
los cientes que eles podem dar sugestões,
ideias sempre são bem vindas. Investir em
pessoas é pensar no crescimento da instituição,
a equipe bem formada vai além das
expectativas.
A realização profissional e pessoal depende
de reconhecimento. O colaborador quando é
reconhecido recebe um grande estímulo para
continuar a evoluir em suas atividades e buscar
sempre melhorar naquilo que lhe faz a
diferença dele junto com os demais.
É importante tratar também da autoestima
do colaborador, a instituição pode retribuir seu
reconhecimento com novas atribuições de
responsabilidades, planos de desenvolvimento,
cursos de aprimoramento, a comunicação
engajada com os demais departamentos,
planos de carreiras, dessa maneira, o
colaborador poderá se motivar com essas
oportunidades e buscar mais desafios e
aprimoramento de suas competências.
É de extrema importância o colaborador se
sentir reconhecido e receber motivação junto
as suas qualidades, com isso, ele se sentirá
importante dentro do processo, e terá essa
necessidade atendida. Ficará empenhado em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como já nos referimos, o uso das tecnologias se faz necessário, pois contribui de forma
significativa na educação dos alunos das séries iniciais do ensino fundamental I, além de ampliar
o leque de conhecimento, tornando assim uma sala de aula mais divertida e interessante.
A sociedade e a educação encontram-se em constante processo evolutivo e de adaptação
com os avanços tecnológicos. Os meios de comunicação passaram a utilizar a informação de
maneira virtual e, a partir disso, impuseram, de certa maneira, que os indivíduos também se
adequassem para utilizar as novas ferramentas e recursos disponíveis.
A escola pública, no Brasil, enfrenta dificuldades em relação a inclusão digital, por falta de
incentivo dos governantes, muitas escolas possuem estrutura precárias, diferentemente do
cenário privado.
A falta de estrutura e suporte técnico deixa muito a desejar. Em uma escola sem estrutura
alguma, fica difícil construir planos de aulas que possam levar as novas tecnologias e a novas
formas de educação até os alunos. Ainda falta investir muito na educação e qualificar não
somente o espaço físico, mas também o professor. Um professor qualificado consegue incorporar
suas aulas novos conceitos e novas técnicas.
O fato que se estabelece é que este cenário, assusta os profissionais da educação e toda a
comunidade escolar, pois favorece as relações de disputa e foca apenas no individuo.
Aprofundando no tema de tecnologia na educação, pode-se perceber que há uma enorme
importância em serem pensadas na visão de qual projeto essas tecnologias podem ser usadas,
como se incorpora a tecnologia no currículo escolar. Pois se percebe que o entendimento e a
apropriação que a escola pode fazer com toda tecnologia é ferramenta importante para o plano
pedagógico.
O jovem tem domínio muito fácil com toda tecnologia e a escola pode criar projetos e fazer
esforço de se apropriar dessas ferramentas para ter uma alfabetização de qualidade, a formação
dos gestores e todo o trabalho colaborativo deve andar na mesma visão, pois a educação hoje é
inclusiva e promove o ensino aprendizagem ao longo da vida.
Por outro lado, a tecnologia vem ganhando espaço no mundo inteiro e sendo
disponibilizado de forma aleatória para todo territorio. Fica evidente que a é muito importante
fazer uso das tecnologias digitais da informação e comunicação para o processo de ensino e
aprendizagem e que o professor deve buscar dominar as tecnologias, usufruir de forma lúdica
para o aprendizado. É extremamente importante rever o papel do professor em relação ao saber
deste conhecimento, visto que, as escolas disponibilizam o uso desse recurso e oferece
oportunidades tanto para alunos quanto para professores e que, a utilização bem planejada
desses recursos pode ocasionar vantagens para os envolvidos.
Dessa maneira os alunos irão se interessar mais pelos conteúdos, facilitando assim o
entendimento sobre os assuntos das disciplinas e o processo de aprendizagem será mais
dinâmico e eficaz.
Portanto, quando aliamos as propostas curriculares da educação infantil com a tecnologia,
tornamos o processo de aprendizagem mais atraente e interessante. Estimulando os alunos, de
maneira lúdica e interativa, a explorarem novos conhecimentos, aprendendo a elaborar ideias,
expressar opiniões, questionar e a pesquisar, utilizando todas as ferramentas educacionais
disponíveis.

761
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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763
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TRABALHANDO POESIA EM SALA DE AULA


COM ROSEANA MURRAY
Silvina Fátima Ramos Ribeiro1

RESUMO: Este artigo tem como objetivo discutir sobre as dificuldades docentes em trabalhar com
o texto poético em sala de aula e trazer algumas possibilidades estratégicas que buscam tornar a
leitura e a escrita poética mais atrativa, a fim de formar leitores com habilidades de leitura,
compreensão e escrita: Freire (1989), definiu a leitura como uma “operação inteligente, difícil,
exigente e gratificante”, e assim é considerada um “estado de arte”. É por meio dela que o
homem é capaz de compreender o mundo das palavras e da vida. A leitura real e verdadeira é
aquela na qual nós lemos, relemos, paramos para saboreá-la ou para refletir. E é essa leitura que
devemos oferecer aos nossos educandos. Escrever é outra arte. Pablo Neruda, poeta e escritor
chileno, brinca com o assunto: “ Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina
com um ponto final. No meio, você coloca as ideias.” Mas onde buscar essas ideias? Na leitura,
que abastecerá o arquivo mental com ideias, informações, inquietações, reflexões,
posicionamentos, criatividade, sensibilidade, vocabulário. Associar leitura e escrita de textos
poéticos, que são focos deste artigo, em sala de aula, facilitará nosso educando a produzir. Para
alcançar o objetivo, vamos buscar na poesia de Roseana Murray a nossa inspiração.

Palavras-Chave: Educação; Aprendizagem; Poesia.

1Professorade Língua Portuguesa e Literatura, nas Redes Municipal e Estadual de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Letras; Especialização em Literatura Brasileira; Especialização em Metodologia
do Ensino da História com ênfase em História Medieval.

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WORKING POETRY IN THE CLASSROOM WITH ROSEANA MURRAY


ABSTRACT: This article aims to discuss teachers' difficulties in working with the poetic text in the
classroom and to bring some strategic possibilities that seek to make reading and poetic writing
more attractive, in order to train readers with reading, comprehension and writing skills. Freire
(1989), defined reading as an “intelligent, difficult, demanding and rewarding operation”, and
thus it is considered a “state of the art”. It is through it that man is able to understand the world
of words and life. The real and true reading is the one in which we read, reread, stop to savor it
or to reflect. And it is this reading that we must offer to our students. Writing is another art. Pablo
Neruda, Chilean poet and writer, jokes about the matter: “Writing is easy. You start with a capital
letter and end with a period. In the middle, you put the ideas.” But where to look for these ideas?
In reading, which will supply the mental archive with ideas, information, concerns, reflections,
positions, creativity, sensitivity, vocabulary. Associating reading and writing of poetic texts, which
are the focus of this article, in the classroom, will facilitate our student to produce. To reach the
goal, we will look to Roseana Murray's poetry for our inspiration.

Keywords: Education; Learning; Poetry.

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INTRODUÇÃO exerce com maior propriedade seu papel como


cidadão. E tudo isso deve começar em sala de
Procura-se um equilibrista aula, por intermédio de meios criativos,
que saiba caminhar na linha lúdicos, mostrando aos educandos o quão
que divida a noite do dia importante e prazeroso é ler, compreender,
que saiba carregar nas mãos aprender e expressar-se por meio da escrita.
um fino pote cheio de fantasias
que saiba escalar nuvens arredias DIFICULDADES EM SE
que saiba construir ilhas de poesia
na vida simples de todo dia (MURRAY, s.d, TRABALHAR A POESIA EM SALA
IN CLASSIFICADOS POÉTICOS, 1985). DE AULA
Segundo Pinheiro (2002, p.15), “mesmo
Então por que essa “ilha de poesia” não é sendo de fundamental importância para
construída em sala de aula? A proposta deste formação de conhecimentos, é a poesia o
artigo é fazermos uma reflexão sobre quais são gênero menos prestigiado no fazer pedagógico
os entraves e dificuldades docentes em da sala de aula.” A maior parte dos professores
trabalhar o texto literário, em especial a poesia, tem resistência ao trabalhar com o gênero
na sala de aula e trazer algumas experiências de poético, preferem os textos em prosa,
trabalho com resultados positivos. Para isso deixando sempre a poesia de lado. Muitos são
daremos enfoque a poemas de Roseana os motivos. Alguns têm dificuldade em
Murray. Conheceremos um pouco mais sobre a trabalhar esse gênero. Pinheiro também
sensibilidade dessa grande escritora e, assim menciona a escassez de livros em versos e que
contribuir para o trabalho pedagógico, de o trabalho do professor se restringe a
maneira que o docente possa levar a criança a cansativos exercícios de interpretação e análise
perceber a poesia de modo prazeroso e estrutural do poema. Lajolo (1993, p.108),
despertar o leitor e a escrita que existem afirma “Professor precisa gostar de ler, precisa
dentro dela. A poesia vista como brincadeira, ler muito, precisa envolver-se com o que lê.”
com jogos de palavras, sonoridade, ritmo, Isso é um fato de grande preocupação. Como
possibilitando a reflexão de questões despertar o prazer pela leitura no educando, se
culturais, sociais e afetivas envolvidas. Quando o eixo fundamental dessa engrenagem é o
o professor propicia às crianças a oportunidade professor? Então a necessidade de ressignificar
de conhecer características próprias desse a relação professor/livro é urgente, pois
gênero literário, mostra que a poesia está somente assim ele poderá sensibilizar e
presente no nosso dia-a-dia mais do que se convidar os alunos a conhecerem essa prática
imagina, está presente na vida. A leitura e a cultural. Ao falar do ato da leitura ou de um
escrita de poemas é instrumento de acesso à livro, os olhos do professor têm que brilhar.
cultura e à realidade social de grande À medida que o trabalho com o texto poético
importância no desenvolvimento do ser se torne vivo em sala de aula, surge a
humano. A pessoa informada, crítica, criativa necessidade de novos procedimentos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pedagógicos. Quanto a isso é importante o Apresentar a poesia de forma mais leve


professor buscar formas de trabalhar estimula a aprendizagem, leitura,
ludicamente, possibilitando ao educando um interpretação, criação e reflexão, despertando
contato prazeroso com a poesia, incentivando emoções. “A poesia é uma das formas mais
a leitura, a reflexão e a produção. radicais que a educação pode oferecer de
Para a maioria das crianças, a escola é o exercício de liberdade por meio da leitura,
único lugar em que elas têm contato com a oportunidade de crescimento e
leitura, sendo assim é nesse cenário que eles problematização entre pares e de
poderão tornar-se ou não leitores. Encorajar os compreensão do contexto em que interagem”
profissionais da educação que estejam (FILIPOUSKI, 2006). Assim quanto mais cedo
dispostos a desenvolver um trabalho de oferecermos esse universo às nossas crianças,
qualidade com o texto poético e mostrar que mais cedo se desenvolverão intelectualmente,
há possibilidades de promover trabalhos com a tornar-se-ão leitores críticos e produtores de
leitura de poemas, levando a formação de textos autônomos.
leitores que veem sentido naquilo que leem e Cabe ao professor conduzir seus alunos ao
que sejam capazes de escrever com manuseio dos livros, textos e autores por meio
adequação, criatividade e criticidade é o de oficinas de textos, rodas de conversas, rodas
propósito da educação e deste artigo. de leitura, atividades lúdicas, apresentar a
poesia como uma brincadeira, a exemplo de
A EXEMPLO DE ROSEANA Roseana Murray.”

MURRAY
“Digo como Neruda, poeta que amo: para ALGUMAS PROPOSTAS DE
nascer nasci. Para fazer poesia, amar, cozinhar TRABALHO
para os amigos, para ter as portas da casa e do Trazer soluções ou receitas como despertar
coração sempre abertos” – estas são palavras
o gosto pela leitura e escrita do texto poético
de Roseana Murray.
não é o objetivo deste artigo, mesmo porque
Filha de imigrantes poloneses, Roseana não há fórmulas prontas, o que há são
nasceu num dia quente de dezembro de 1950. experiências. Apresentar o texto poético com
Gosta de mato e do silêncio. Publicou mais de olhares diferentes, convidando a criança a
100 livros que encantam crianças e adultos com imaginar e a mergulhar nesse contexto é uma
seus versos sobre trivialidades, como o cantar forma prazerosa de conhecer e adquirir senso
de um pássaro, a brincadeira entre um gatinho crítico diante da realidade. Roseana Murray
e seu novelo de lã, a garotinha que brinca de privilegia em sua composição o lúdico, a
amarelinha. E nada mais importante do que a simplicidade e a brincadeira com as palavras, o
simplicidade para encantar nossos alunos e colorido. Utiliza recursos estilísticos como a
estimulá-los a contar suas experiências por assonância, a aliteração produzindo
meio das palavras, dos versos, das rimas, dos musicalidade, ritmo, o que contribui para o
ritmos. nosso objetivo.

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propor aos alunos que criem suas bolsas de


Vai que vai, vai que vem sonhos e busquem maneiras de alcançá-lo e,
faz o balanço do trem. assim, levá-los a perceber que a vida está para
A menina, com o nariz a poesia, como a poesia está para a vida.
achatado na vidraça, Assim como classificados de um jornal,
enlaça a paisagem Roseana escreveu o livro “Classificados
com o seu olhar encantado. Poéticos”, uma proposta poética para vender,
alugar, trocar, procurar. Os anúncios falam de
Vem também, vem também amor, vida, natureza, família, envolvem
faz o balanço do trem. sentimentos e novas maneiras de olhar e
Na bolsa a menina leva pensar o mundo.
pérolas coloridas, Menino que mora num planeta azul feito a
girassóis e margaridas, cauda de um cometa quer se corresponder com
anõezinhos de voz fina alguém de outra galáxia.
e afinadas flautas mágicas. Neste planeta onde o menino mora as coisas
não vão bem assim:
Você vem, você vem o azul está ficando desbotado e os homens
faz o balanço do trem. brincam de guerra.
É que a bolsa é cheia de sonhos, É só apertar um botão que o planeta Terra
alegres e tristonhos, vai pelos ares…
e ninguém sabe para onde leva Então o menino procura com urgência
a menina balançando alguém de outra galáxia para trocarem selos,
no coração do trem. figurinhas e esperanças.
Habitante de outra galáxia aceita
Vai que vai, vem que vem, corresponder-se com o menino do planeta azul.
vem também, vem também O mundo deste habitante é todo feito de
você vem, você vem vento e cheira a jasmim.
Faz o balanço do trem Não há fome nem há guerra, e nas tardes
(MURRAY, IN FARDO DE CARINHO, 1987). perfumadas as pessoas passeiam de mãos
dadas e costumam rir à toa.
No poema “O trem”, Roseana Murray revela Nesta galáxia ninguém faz morte, ela
o eu lírico, uma menina, faz uma viagem de acontece naturalmente, como o sono depois da
trem. A composição foi criada de forma simples festa.
e cheia de musicalidade. Ao ler o poema Os habitantes não mentem, e por isso os
podemos sentir o trem em movimento. Nessa seus olhos brilham como riachos.
viagem a menina leva uma bolsa cheia de O habitante da outra galáxia aceita trocar
sonhos. O leitor é convidado pelos últimos selos e figurinhas e pede ao menino que encha
versos do poema a fazer essa viagem também. os bolsos de esperanças, e não só os bolsos,
Aproveitando esse momento, o professor pode mas também as mãos, e os cabelos, a voz, o

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coração, que a doença do planeta azul ainda Jardins. De suas guirlandas de palavras. Gostei
tem solução (MURRAY, IN CLASSIFICADOS de ler seu verbo a prender os perfumes, as
POÉTICOS, 1985). cores, as formas e o sol sobre as flores. Há por
Esse poema de Roseana Murray traz certo um poeta sensível às coisas da natureza
inúmeras possibilidades de trabalho. neste Jardins.” O poeta simplesmente “sentiu”
Transportar o educando do cotidiano ao e levar para a sala de aula toda essa delicadeza,
mundo literário dará autonomia e segurança o cheiro de flor e de frutas, os sons das folhas e
para que produza textos. Propostas didáticas do vento já será uma imensa satisfação aos
como a escrita de novos classificados, nossos pequenos leitores.
ilustrações representativas dos poemas,
declamação, produção de painéis, escrita de
cartas a serem trocadas com o eu lírico, criação
de um novo texto com suas palavras, entre
outros. Do classificado poético pode-se passar
para as “Receitas poéticas em que um livro de
receitas da sala pode ser feito, cujos
ingredientes principais sejam sentimentos e
emoções. Sem esquecer o tema apresentado –
no caso do poema citado, o nosso planeta pede
socorro – que pode servir de base para
discussões, debates e textos argumentativos.

“Flores passeiam
no azul do dia,
fabricam coloridos
silêncios,
como se fosse lenços
de seda e ar”
( MURRAY, IN JARDINS, 2014).

O Poema pertence ao livro “Jardins”.


Roseana traz quinze pequenos poemas que
representam os mais diferentes jardins,
delicadeza que mexe com o imaginário do
leitor. Leva a perceber as pequenas belas
coisas, como as flores, que estão ao nosso
redor. A respeito do livro, Manoel de Barros,
grande poeta brasileiro diz “Gostei do seu

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aproximar a criança do texto poético traz conhecimento e exerce papel fundamental na
formação do aluno-leitor, modificando-o, levando-o a uma formação cidadã plena.
O compromisso do professor e de todos os envolvidos com a formação do aluno-leitor-
produtor é fundamental. O professor pode e deve proporcionar situações de aprendizagem em
que a criança desenvolva seu lado emocional, construa valores e desperte para um saber lúdico.
Trabalhar poemas com ludicidade pode ser uma forma eficaz de levar à criança a ver a
poesia, não como uma atividade difícil e longe de sua realidade, mas como caminho para o mundo
da fantasia, da criatividade e do conhecimento.
Para encerrar, tivemos a oportunidade de conhecer e constatar que os poemas de Roseana
Murray são uma excelente opção para aqueles que desejam levar a criança a penetrar no mundo
da leitura e da escrita de forma lúdica e prazerosa, tendo em vista que possibilitam à criança a
vivenciar sensações à medida em que brinca com as palavras, com os sons, com os cheiros e com
os significados. Assim, cabe destacar a ideia de Aguiar (2004) “A poesia infantil só estará
plenamente realizada se for capaz de se aproximar do leitor, criar imagens, sons e ritmos que o
façam brincar com a linguagem e descobrir novas formas de se relacionar com o mundo.”, e isso
Roseana Murray sabe fazer perfeitamente.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
AGUIAR, Vera Teixeira de. Era uma vez...na escola: formando educadores para formar
leitores. Belo Horizonte: Formato, 2004.

BAMBEGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. Trad. Octávio M. Cajado. São
Paulo: Ática/UNESCO, 1986.

FILIPOUSKI, Ana Mariza R. Para formar leitores e combater a crise de leitura na escola:
acesso à poesia como direito humano. Ciências e Letras (Porto Alegre), Porto Alegre, 2006.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo:
Autores Associados/Cortez, 1989.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.

MURRAY, Roseana. Classificados poéticos, Editora Moderna, 2ª edição, 1985.

MURRAY, Roseana. Fardo de carinho, Belo Horizonte: Lê, 1987. Fonte: Livro: JORNADAS. port
– Língua Portuguesa – Dileta Delmanto /Laiz B. de Carvalho – 6º ano – Editora Saraiva. p.238 e
239.

MURRAY, Roseana. Jardins. Ed. Global, 2014.

PINHEIRO, Hélder. Poesia na sala de aula. 2ª edição. João Pessoa. Ideia, 2002.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E


HIPERATIVIDADE (TDAH): DESAFIOS NAS
ESCOLAS
Amanda Manzoli Bertucci Bernardini1

RESUMO: Este artigo aborda o problema sobre o transtorno e déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH) com crianças no período da infância, como também faz menção sobre a fase adulta; busca
mostrar algumas possíveis situações, que podem ocorrer, sobre como agem as crianças com
TDAH. Sugere também alguns procedimentos de ação para todos os envolvidos na educação da
criança.

Palavras-Chave: Hiperatividade; Déficit de atenção; Preconceito; Avaliação clínica.

1Professora de Educação Básica I na Rede Municipal de Amparo – SP.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Bacharel em Administração de Empresas; Especialização em Educação
de Jovens e Adultos; Especialização em Gestão Escolar; Especialização em Supervisão Escolar; Especialização
em Educacao Inclusiva.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ATTENTION DEFICIT HYPERACTIVITY DISORDER (ADHD):


CHALLENGES IN SCHOOLS
ABSTRACT: This article addresses the problem of attention deficit and hyperactivity disorder
(ADHD) with children in the childhood period, as well as mentioning the adult phase; seeks to
show some possible situations, which may occur, on how children with ADHD act. It also suggests
some action procedures for everyone involved in the child's education.

Keywords: Hyperactivity; Attention deficit; Preconception; Clinical assessment.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Ainda existem muitas pessoas, como pais e


professores que acreditam que o
Explorar a temática sobre crianças comportamento da criança ou do jovem
hiperativas é mostrar aos leitores, muito mais hiperativo é de oposição, e que pode e deve ser
que a simples diferença entre uma criança controlado. Por essas e outras razões, é muito
“bagunceira”, etc., em comparação com a importante entender que hiperatividade é uma
criança com transtorno de déficit de atenção e situação orgânica com fundamentação
hiperatividade (TDAH). Todos na sociedade neurológica, e que qualquer ser, criança, jovem
precisam ter as informações corretas a fim de ou adulto, que se esteja impossibilitado de
poder preparar o caminho dessas crianças da conter os próprios movimentos, sinta-se
melhor maneira possível. deveras mal no que se diz respeito a si mesmo
Para isso, temos que ter em mente que e que sua autoimagem e autoestima possam
iremos lidar com um tipo de comportamento tornar-se negativas.
diferente do normal e que os indivíduos com O estudioso, Paul Wender (in, ANTONIUK,
TDAH têm seu lado forte de atuação. Eles 2006, p17), relata que existe duas
podem ser muito atuantes ao meio o qual estão características diferenciais em Hiperatividade:
engajados, desde que as pessoas e a sociedade uma, é que podemos observar na criança
que os cercam estejam preparadas para hiperativa de comportamento impulsivo, a qual
administrar as diversas situações. fala demais sem pensar, e jamais aguarda por
Esse assunto, atualmente está sendo muito nada, fazendo com que todos parem e sejam
estudado, porém ainda é muito recente. Um atropelados por ela. O indivíduo faz planos,
dos motivos para tão grande interesse é que o decide erroneamente e suas finalizações
TDAH é bastante generalizado em nossa podem ser danosas. Paul Wender (in
sociedade, atingindo de 3% a 5% das crianças ANTONIUK, 2006 p17), afirma: "Essa criança
em idade escolar no nosso país. Em muitos corre para a rua, sobe no peitoril da janela,
casos, os efeitos do transtorno de déficit de trepa em árvores... Por isto sua cota de
atenção e hiperatividade serão visíveis escoriações, hematomas, cortes e idas ao
somente na sua juventude e talvez em sua vida médico são significativas". Um outro tipo de
adulta. hiperatividade tem suas notações traduzidas na
A hiperatividade na criança, normalmente incapacidade de dar foco à atenção. Isso ocorre
apresenta características como, ela devido a uma forte estimulação nervosa que
aparentando não ser capaz de parar, estar leva o indivíduo, a passar de um estímulo a
sempre se movimentado, agitada, que não outro, não sendo capaz de dar foco, direção a
conseguirá ficar imóvel. O Dr. Serfontein (in, um único alvo, o que leva os outros pensar que
ANTONIUK, 2006 p.24), diz que: "Mesmo a criança é desligada. Eles vão respondendo a
quando o indivíduo mais velho, se analisado diferentes estímulos ao mesmo momento e
com atenção, o hiperativo revelará algum tipo isso pode ser um indício onde mostra que essa
de movimento contínuo das pernas, dos pés, criança pode ser hiperativa. Ela não consegue
dos braços, das mãos, dos lábios, da língua". se concentrar.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AS PESSOAS COM TDAH Atualmente, sabemos que o TDAH é um


distúrbio neurológico grave, mas tratável,
Infelizmente o Transtorno de Déficit de
porém de difícil diagnóstico e
Atenção e Hiperatividade (TDAH) é responsável
acompanhamento, devido à necessidade de
pela frustração que pais e seus filhos com esse
um trabalho multidisciplinar contínuo. É
distúrbio experimentam diariamente. Crianças
possível afirmar que as pessoas portadoras de
e adultos diagnosticados com esse transtorno
TDAH, apesar das dificuldades decorrentes da
são frequentemente rotulados de “difíceis”,
condição, podem aprender a tirar o melhor
"problemáticos", "desmotivados", "avoados",
partido das suas características e a realizar todo
"malcriados", "indisciplinados",
seu potencial.
"irresponsáveis" ou, até mesmo, "pouco
É necessário aprender a usar corretamente
inteligentes". Muito daquilo que lemos ou
todo esse talento oculto nessas pessoas. Do
ouvimos sobre esse assunto, tem conotação
negativa. O motivo para isso acontecer, é o fato contrário, pode-se aditar um modelo
desse transtorno continuar sendo pouco destrutivo de viver. Com a ajuda de pais e
conhecido, mesmo com muitos estudos a amigos, professores e terapeutas, as pessoas
respeito. com TDAH podem aprender a usar seu dom de
maneira efetiva. De repente, as coisas ficam
Ninguém associa as qualidades como:
mais claras, e eles podem começar a se
"criativo”, “trabalhador”, “energético”,
beneficiar de um talento ainda não
“caloroso”, “inventivo”, “leal”, “sensível”,
aproveitado.
“confiante”, “divertido”, “observador” ou
“prático" a essas pessoas que têm TDAH.
Porém, estes sim, descrevem muito melhor CARACTERÍSTICAS
essas pessoas. Esse distúrbio (também chamado
Observe esta outra lista: "falta de atenção”, transtorno, desordem ou síndrome) de déficit
“tédio”, “baixa tolerância”, “intensidade de de atenção pode ou não ser acompanhado de
comportamento que os levam à conflitos com hiperatividade. De acordo com estudos
autoridades”, “alto nível de atividade” e americanos, cerca de 1/3 da população
“questionamento das regras”. mundial padece desse mal, em maior ou menor
E esses, são mais adjetivos para as pessoas grau. Mas, afinal... O que é isso?
de TDAH? Não. Para curiosidade, essas atitudes Algumas características são observadas nas
estão associadas aos superdotados. Vamos crianças portadoras desse distúrbio. Quando
pensar por um minuto em pessoas fantásticas pequenas, seu comportamento em ambiente
da história mundial como, Thomas Edison, que escolar costuma ser notado desde o primeiro
inventou a lâmpada; Benjamin Franklin, que momento em que entram na escola.
descobriu a eletricidade; em Magic Johnson, Apresentam uma atividade motora muito
que tanto fez pelo basquete; em Ziraldo e seu acentuada e suas atitudes inadequadas
Menino Maluquinho. E a maravilhosa música frequentemente dispersam a concentração dos
de Mozart e Beethoven? O que é que todas colegas, resultando em dificuldades de
essas pessoas têm em comum? TDAH. inserção social. Normalmente, adicionam–se a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esses problemas, outros, por exemplo, baixa comportamento muitas vezes inadequado
autoestima, depressão que podem afetar socialmente.
significativamente à performance desses Não podemos esquecer que é normal a
estudantes, e no futuro, adultos inseguros. criança ser ativa e às vezes em excesso. Da
Acontece que esse comportamento mesma forma, é comum, principalmente na
acompanha a criança desde o seu nascimento, escola, criança desinteressada pela aula
porém; normalmente, ao ingressar no tornarem-se bagunceiras, o que nessas
ambiente escolar, é percebido pelos situações, se caracterizam indisciplinas. Antes
profissionais de educação (e algumas vezes, de classificar a criança com hiperatividade, é
pelos próprios pais) que a atividade daquela preciso entender que a hiperatividade é
criança é bem maior que a de seus colegas, caracterizada pela atividade ininterrupta, ou
quando também passa a não compreender a seja, o indivíduo está ativo vinte e quatro horas
matéria dada. por dia, até mesmo dormindo (pois tem o sono
A falta de atenção e concentração também é agitado) sua atividade chega a exaustão.
um sinal de alerta. Diversas vezes, as pessoas Porém, apesar de exausto, ainda continua com
que convivem com o indivíduo portador dessa a necessidade de estar em atividade, mesmo
doença, acreditam que até exista déficit que o corpo já não aguente, a mente continua
auditivo, também um dos diagnósticos em ação.
diferenciais a serem feitos, porque a pessoa
parece não ter ouvido o que foi dito a ela. PENSAR E ANALISAR
Porém, não é isso que ocorre. O portador ouve
Hiperatividade em si não é uma doença,
perfeitamente na grande maioria das vezes,
normalmente é um sintoma de algum distúrbio
mas seu cérebro trabalha numa velocidade
como TDAH, alguns tipos de DDA, TOC e outros
maior que o da maioria das pessoas. Ele pode
distúrbios de aprendizagem ou
estar pensando em três, quatro, cinco coisas ao
comportamento. Dessa forma, temos vários
mesmo tempo e o assunto do momento pode
parâmetros para analisar. Quando a criança é
não ser sua prioridade.
muito ativa, sempre está agitada, parecendo
Reforçando, distúrbio de déficit de atenção
que nunca se cansa, é preciso verificar como ela
(DDA), pode ou não ser seguido de
dorme. Se estiver com sono agitado, com ou
hiperatividade, portanto algumas pessoas são
sem pesadelos, dormir na cabeceira da cama e
quietas, reservadas, mas vivem “no mundo da
acordar nos pés, cair da cama ou ainda se
lua...” e também podem ter esse distúrbio
tiverem tiques, convulsões ou outro sintoma
(MATTOS, et al, 2007 p.94, 101).
parecido, deverá ser encaminhada a um
Utilizando-se técnicas apropriadas e
profissional capacitado, como pediatra,
medicação, que pode variar de caso a caso, terapeuta, psiquiatra, etc. que esteja apto a
seguindo as orientações médicas, o portador identificar seu distúrbio, tratá-lo ou
de DDA consegue superar suas dificuldades encaminhar a criança a um tratamento
com mais tranquilidade e apresentar toda sua específico. Se o sono da criança for tranquilo,
potencialidade oculta até então sob um
pode-se dizer que é uma criança

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aparentemente normal, então, tudo o que se Especialistas recomendam que sempre se


deve fazer, é deixá-la à vontade para esclareça o portador, a respeito do transtorno,
despender toda sua energia durante o dia e seja ele criança, adolescente ou adulto. Só é
poder dormir e descansar à noite. possível programar um tratamento com
Criança em idade escolar, deve frequentar alguma perspectiva de sucesso se a pessoa
escolas que tenham bastante espaço para envolvida se dispuser a colaborar. O primeiro
brincadeiras e que proporcionem contato com passo para garantir essa colaboração é dar o
muitos brinquedos, livros, etc. Já, se a criança máximo de informação possível sobre o TDAH,
ainda não estiver na escola, o ideal é que os suas implicações e consequências.
pais a levem em um parque público ou play Solicitar a ajuda e aproveitar a experiência
ground e comandem brincadeiras instrutivas de grupos de apoio, também é muito
como teatro de fantoches, por exemplo. Além enriquecedor. Devem conduzir a criança para
disso, muitas outras atividades podem ser uma equipe pedagógica ou serviço de
usadas, com boa vontade e paciência. orientação. Membros da equipe
A atenção dos pais, opiniões de profissionais provavelmente irão observar o aluno na sala de
das áreas médicas e educacionais são aula e em outros ambientes da escola. Eles
indispensáveis para detectar tal distúrbio. podem ser de grande ajuda ao participar das
Infelizmente, ainda o assunto é muito pouco reuniões com o professor e os pais e
debatido e divulgado, com isso podemos ter compartilhar observações, fornecer
hoje, no Brasil, um grande número de crianças informações e propor soluções "criativas".
caminhando para um futuro incerto, quando Muitas recomendações para avaliação
estas, poderiam ser muito mais felizes. médica/clínica são iniciadas no ambiente
Essa é uma situação delicada que escolar. Sua comunicação com a equipe é
profissionais e principalmente os pais têm que muito importante.
enfrentar. Muitas vezes, os pais se perguntam Infelizmente, muitas vezes, os pais não
se devem falar para a criança que ela tem um aceitam que seu filho está tendo os problemas
problema? Isso não pode fazer com que ela se que são vistos na escola. Crianças com TDAH
sinta "diferente", "doente", "incapacitada", apresentam um padrão de comportamento
"louca"?... ano após ano. Frequentemente, somente após
Muito antes de ter um diagnóstico, o alguns anos ouvindo os mesmos comentários
comportamento diferenciado da criança com de vários professores, é que os pais se
TDAH já chamou sua atenção para essa convencem de que devem procurar algum tipo
diferença. É de grande importância que todas de tratamento para seu filho.
as pessoas que convivem com ela, a ajude a Também é importantíssimo que todas
entender e a aceitar o fato que tem realmente documentações feitas pelos professores sejam
um problema, específico e identificável. Guiá-la guardadas junto com os registros do aluno. Os
nesse difícil processo é papel amoroso dos pais médicos, na maioria das vezes, veem a criança
e sempre lembrando que o TDAH não é uma por um breve momento durante a consulta e
doença. acabam por não encontrar nada significativo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Concluem que o aluno não tem nenhum impulsiva e se distrai facilmente; terminar as
problema. Frequentemente, a implicação é que tarefas propostas em casa ou na escola é difícil
o problema vem do aluno ou da escola. Quando para ela. Algumas são capazes de fazer amigos,
os registros escolares mostram um histórico de já outras, embora desejem muito tê-los,
falta de atenção, distração, impulsividade e parecem não saber dizer a coisa certa ou
hiperatividade, o médico fica mais receptivo abordar as outras crianças no momento
para levar em consideração as preocupações oportuno. As suas tentativas em convidar
da escola ou dos pais. Uma boa documentação outras crianças para qualquer atividade, parece
(observações e registro de fatos) ajuda a muitas vezes, interromper o que está
fornecer evidências necessárias. acontecendo. Outras, não são rudes ou
Não existe características físicas que possam desligadas, mas simplesmente não têm
ser observadas no portador de TDAH. A atitudes simples para socialização. Algumas
sintomatologia tem início antes dos sete anos crianças pelo contrário têm facilidade em fazer
de idade. Devemos reforçar os marcos desse amigos. Somente não sabem como manter
quadro: desatenção, impulsividade e uma amizade. Eles demonstram os mesmos
hiperatividade. interesses das outras crianças, sendo capazes
Além desses, podem ser acrescentadas: as de se encaixar em uma atividade e manter a
dificuldades na conduta e/ou problemas de conversação, entretanto, por causa de sua
aprendizado associados à discretos desvios de impulsividade e do fato de sentirem-se
funcionamento do sistema nervoso central. facilmente frustrado, inevitavelmente se
É comum observar que a criança, portadora descontrolaram. A criança tenta dominar e
de TDAH seja ativa no berço, durma pouco e controlar a brincadeira, o que frequentemente
chore muito, quando já passados os meses resulta em brigas. As outras crianças passam a
iniciais. O bebê frequentemente sai sem ajuda evitar a brincadeira com eles. Quase todas as
do berço muito cedo, apesar das tentativas dos demais crianças, parecem não estarem
pais para impedirem sua saída. Uma vez fora do disposta a tolerar o seu comportamento
berço, tende a agir, geralmente apalpando, agressivo e controlador.
quebrando e arremessando objetos.
O indivíduo não é capaz de ficar sem uma
atividade motora. Com isso, acaba por OBSERVAÇÕES NA ESCOLA
incomodar e importunar quem o cerca. Às As crianças rotuladas como desobedientes e
vezes, a hiperatividade motora é acompanhada muito agitadas, “podem” ser portadoras de
pela verbal, a criança fala muito, mas não TDAH. Segundo a Professora Nívea Maria C. de
consegue manter a atenção, as ideias fogem e Fabrício (2003), de 3 a 6% das crianças em todo
a produção intelectual é reduzida. mundo possuem TDAH e está diretamente
ligado ao baixo rendimento escolar, levando à
repetências e problemas sérios de
INTERAÇÃO COM SEUS PARES aprendizagem. Esse indivíduo hiperativo, não
Como já dito anteriormente, a criança que consegue corresponder às exigências
sofre de hiperatividade, é desatenta, inquieta,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

curriculares exigidas pelas escolas intelectuais permitem que ela compense sua
convencionais. incapacidade de continuar uma tarefa devido a
O portador de TDAH apresenta muitas sua desatenção. Quando tem sua atenção
dificuldades de atenção e impulsividade. Esses focalizada, torna-se capaz de aprender tão bem
sintomas de hiperatividade podem ser muitos quanto as outras crianças.
ou poucos denunciados, isso torna o trabalho Algumas atitudes, podem ajudar o professor
do educador muito difícil na relação em a conseguir ter resultados positivos com aluno
diferenciar uma criança agitada de uma criança portador de TDAH. Primeiramente, chamar a
hiperativa. atenção com uso de incentivos e novidades,
Frequentemente, a criança hiperativa não fazendo perguntas e intervenções eficazes.
consegue controlar seu comportamento. Sua Elogios, revisões de regras, auxílio de colegas-
tendência é de se ater às circunstâncias tutores, também são ótimas opções para
secundárias frente a uma explicação que está ajudar o portador de TDAH, avançar em seus
sendo dada pelo professor. Geralmente, fica aprendizados. Tarefas claras e bem definidas,
envolvida em uma atividade menos produtiva usos de materiais sensoriais, auditivos e em
durante a aula, como: observando o que outros alguns momentos, até um ambiente isolado de
alunos estão fazendo, olhando pela janela ou se estudos, pode ser eficaz. Mas, não existe uma
ocupando com outro objeto próximo. Esse fórmula certa, cada professor deve ir
comportamento da criança hiperativa não é conhecendo seus alunos e a partir disso, por
reativo às intervenções normais do professor. meio de erros e acertos, ir encontrando opções
Muitas vezes, isso pode ser interpretado como de ensino eficazes.
desobediência e conduzir os professores, a uma
cobrança mais rígida. Esta situação,
normalmente agrava o problema, aumentando
a frustração do professor e da criança.
A dificuldade básica em acompanhar o ritmo
de uma aprendizagem formal nas crianças
portadoras de TDAH, comumente acontece
devido a desatenção. Essas crianças possuem
uma variação normal de aptidões intelectuais,
podendo ser consideradas que na maioria das
vezes, dentro dos limites médios; outros
brilhantes, atingindo limites superiores, como
também, aquelas que ficam abaixo da média de
aptidões intelectuais. A título de curiosidade,
uma criança hiperativa brilhante,
frequentemente consegue ter uma boa
atuação nas primeiras séries do ensino
fundamental. Suas maiores aptidões

779
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O TDAH precisa ser mais bem difundido e explanado para as famílias, áreas de ensino,
sociedade em geral e aos nossos governantes. Todos necessitam estar inteirados do problema,
pois, este existe de fato, e também para que não nos incorra pesados fardos em um futuro muito
próximo. É um problema antigo, mas começou a ser estudado recentemente e quando se fala de
problemas da humanidade, trinta ou quarenta anos de pesquisa é pouquíssimo tempo.
Este trabalho tentou mostrar também, que a falta de centros referenciais, com
profissionais treinados, capacitados e habilitados para detectar, diagnosticar e apoiar o
tratamento dos indivíduos com TDAH, na educação nas escolas e no sistema de saúde pública se
torna mais um grave obstáculo; podemos mencionar também, a falta de conhecimento sobre o
assunto de maneira geral , ou seja, ignorância das instituições e das pessoas quanto às
consequências do não tratamento de uma pessoa diagnosticada com TDAH. Fora o preconceito,
resultante da ignorância, como um dos fatores que limitam e trazem dificuldades ao tratamento
do indivíduo com TDAH.
Espera-se que os educadores não passem a olhar qualquer excesso de “agitação” em uma
criança como TDAH, mas que se conscientizem que a hiperatividade é uma realidade no nosso
meio e que devemos orientar a quem necessitar de ajuda, principalmente às famílias que
possuem o problema e muitas vezes, ignoram o fato.

780
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Casa do Psicólogo, 2000

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Data de Acesso: 22/03/2022.

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cenário científico nacional e educacional brasileiro. Rio de Janeiro: [s.n], 2009

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VEJA, revista de novembro de 1999, p 130 – Ed. Abril.

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Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente no
Departamento de Pediatria, Setor de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Paraná.
Curitiba, 2006.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE
ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE (TDAH)
Veridiana de Fátima Fialho Furtado1

RESUMO: O TDAH tem características peculiares em sua manifestação como a desatenção, a


hiperatividade e impulsividade que afeta tanto o processo de aprendizagem como a sua interação
social. As crianças com TDAH possuem muitas dificuldades em se concentrar nas tarefas
propostas, de executar atividades sozinhas, e que de certa forma atrapalham os demais colegas
devido sua hiperatividade. Diante dessa complexidade, o artigo presente objetiva refletir sobre o
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), orientações para família. Sabe-se que
é fundamental a participação da família seja no processo de aprendizagem e de inclusão de seus
filhos no meio social. Para isso, é necessário que família seja orientada ou formada para
compreender a complexidade do TDAH, tanto na esfera do processo de aprendizagem quando os
impactos em seu bem-estar ao longo da vida da criança e do adolescente. Para uma maior
compreensão desse objeto de pesquisa, adotou - se uma abordagem bibliográfica, tendo assim,
uma visão panorâmica acerca de algumas orientações para a família acerca do Transtorno do
Déficit de Atenção e Hiperatividade, na busca de fazer suas intervenções necessárias com seus
filhos.

Palavras-Chave: TDAH; Família; Orientação; Processo de Aprendizagem e Inclusão; Estratégias


Domésticas.

1
Professora do Ensino e Fundamental I.
Graduação em Geografia pela Fundação Universidade do Tocantins (FUT) - Palmas - TO (2003); Graduação em
Pedagogia pela Faculdade Integrada de Araguatins (FAIARA) - Araguatins (2014); Pós-Graduação em Gestão
Escolar pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) - Palmas (2008).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ATTENTION DEFICIT/HYPERACTIVITY DISORDER (ADHD)


ABSTRACT: ADHD has peculiar characteristics in its manifestation such as inattention,
hyperactivity and impulsivity that affect both the learning process and social interaction. Children
with ADHD have many difficulties concentrating on the proposed tasks, performing activities
alone, and that somehow hinder other colleagues due to their hyperactivity. Given this
complexity, the present article aims to reflect on Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD),
guidelines for the family. It is known that the participation of the family is fundamental, both in
the learning process and in the inclusion of their children in the social environment. For this, it is
necessary for the family to be guided or trained to understand the complexity of ADHD, both in
the sphere of the learning process and the impacts on its well-being throughout the life of the
child and adolescent. For a better understanding of this research object, a bibliographic approach
was adopted, thus having a panoramic view about some guidelines for the family about Attention
Deficit Hyperactivity Disorder, in the search to make the necessary interventions with their
children.

Keywords: ADHD; Family; Orientation; Learning and Inclusion Process; Domestic Strategies.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O TDAH – ALGUMAS


O Transtorno de Déficit de Atenção e CONCEPÇÕES RELEVANTES
Hiperatividade (TDAH) é um transtorno que O Transtorno do Déficit de Atenção com
persiste por toda vida, que tem suas causas na Hiperatividade (TDAH), tem sido evidenciado
combinação de fatores genéticos, ambientais e em seminários, em livros e teses, na busca de
socais, e tendo suas características peculiares reflexões para o entendimento e intervenção
como a desatenção, a impulsividade e desse transtorno.
hiperatividade e que influência na socialização Teixeira (2015), descreve que no início do
e no processo educativo das crianças e século XX, com o avanço nas pesquisas sobre
adolescentes. Os pesquisadores consideram transtornos infantis, ocorreu na França o
que o TDAH não é um transtorno de Primeiro Congresso de Psiquiatria Infantil de
aprendizagem, mas influência na Paris, resultando em uma nova especialidade
aprendizagem das crianças e adolescentes, médica. No Brasil, em 1967, foi criada por
onde são identificadas baixo rendimento Stanislau Krynski e Antônio Branco, a
escolar em relação aos demais colegas. Associação Brasileira de Neuropsiquiatria
Na família essas características de crianças e Infantil (ABENEPI), efetuando e alavancando
adolescentes com TDAH são percebidas pelos mais estudos sobre os transtornos mentais na
pais, mães ou responsáveis, e muitas vezes, os infância e adolescência. Nesta perspectiva, foi-
mesmos não sabem lidar com filhos agitados, se encaminhando a sociedade para a ideia de
inquietos, agressivos, e quer precisam de aceitação dos transtornos, para a busca por
capacitação e de orientações para ajuda-los em informações, por tratamento; efetuando
seu processo de aprendizagem e na possíveis progressos na vida dos portadores de
convivência social dentro do contexto familiar. necessidades especiais.
Por isso, a escola tende muito a contribuir com Na história dos transtornos mentais infantis,
a família, dando assim, subsídios teóricos- outros nomes também foram atribuídos ao
práticos para o enfrentamento dessas TDAH; como doença de Still, por ter sido
dificuldades e contribuir com o processo dos descrito pela primeira vez oficialmente por este
filhos. Especialistas como psicólogos, médico inglês, George Still, que associava os
psicopedagogos, orientadores, são dados clínicos e comportamentais destas
fundamentais no diálogo com as famílias, e crianças, à algum transtorno cerebral e não à
buscando juntas alternativas, intervenções falhas ambientais e educacionais; e Distúrbio
sejam pedagógicas ou domésticas para o pleno de Impulsividade; mais tarde, foi-se usado o
desenvolvimento das crianças e adolescentes, termo Lesão Mínima do Cérebro e Disfunção
para que os mesmos, sejam construtores de Cerebral, ocasionando grande espanto aos
história e do seu destino. pais. Então, usou-se a expressão: “Reação
Hipercinética da Infância”; menciona, (PHELAN,
2005).

784
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Em1980, o nome Transtorno de Déficit de apresentados em crianças, adolescentes e


Atenção foi utilizado pela primeira vez, pelo adultos; com a ressalva no reconhecimento da
DSM-III (sigla em inglês para Manual de diminuição da intensidade dos sintomas na vida
Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios adulta; na maioria dos casos. Havendo
Mentais, Terceira Edição); evidenciando como também, o reconhecimento do subtipo
o ponto central do problema: a dificuldade de predominantemente desatento; levando em
se concentrar e de manter a atenção. consideração as evidências destacas pelas
O DSM-III reconhecia dois tipos de TDA/H; o dificuldades pessoais nos diversos âmbitos
TDAH com hiperatividade, sendo então (familiar, social, profissional, acadêmico)
chamado de TDAH; e o sem hiperatividade, resultantes deste transtorno.
com a sigla- TDA, com prejuízos em sua função Barkley (2008), explana que em 2002, o
atencional. O termo “TDA, Tipo Residual”, foi TDA/H, foi oficialmente reconhecido por mais
incluído pelo DSM-III, para se referir às pessoas, de oitenta profissionais e cientistas
que em sua infância foram diagnosticadas com especializados neste transtorno, em todo o
TDAH; e mesmo na sua fase adulta, apresentam mundo, como uma deficiência legítima do
traços deste transtorno; em alguns casos, mais desenvolvimento; configurando então, na
controlados e em outros, ainda se mantém Declaração do Consenso Internacional sobre o
fortes alguns dos traços ou boa parte deles; TDA/H
causando proporcionalmente, desequilíbrio Green e Chee (2015), estimam que entre
emocional, psicológico, social. (PHELAN, 2005). cinco crianças, a probabilidade é de que duas
Essa forma adulta de TDA/H, foi: delas tenham essa condição TDA/H;
Oficialmente reconhecida em 1980, com a acometendo mais os meninos, a cada três
publicação, pela Associação Americana de diagnósticos, apenas um é para o sexo
Psiquiatria, DSM-III, que trouxe mudanças feminino. Definem como: “O TDA/H é uma
importantes em diversos pontos: desvinculou a condição biológica, localizada no cérebro
nomeação da síndrome de seus aspectos infantil, que é causada por uma pequena
etiológicos (fatores causais) e deu destaque aos alteração na sintonia do cérebro normal (uma
aspectos clínicos (sintomas); enfatizou a leve disfunção cerebral) ” (GREEN; CHEE, 2015,
questão atentiva como sintoma nuclear da p.12).
alteração (BARBOSA, 2016, p. 227). Para Barbosa (2016, p.73), define o TDAH:
Barbosa ainda esclarece que: “Atualmente o É um funcionamento de origem biológica,
DSM-IV é um consenso quando se fala de marcado pela herança genética, que se
diagnóstico de TDA/H”. Foi publicado manifesta na criança ainda bem jovem, antes
oficialmente em 1994, pela Associação dos sete anos, independentemente de ela ser
Americana de Psiquiatria; que mudou a proveniente de um ambiente hostil ou de estar
nomenclatura de Distúrbio do Déficit de passando por problemas.
Atenção, para Transtorno de Déficit de Nesta concepção, Barbosa (2016), considera
Atenção/Hiperatividade (TDAH). Pautado que o TDAH tem funcionamento de origem
oficialmente pelos mesmos sinais e sintomas biológica, mas sua gênese é genética, afetando

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

crianças bem jovens e comprometendo sua apresenta dificuldade em fixar na memória os


vida educacional e social. conteúdos impostos pelo professor, isto é, vai
Green e Chee, (2015, p.46), afirmam que: estar sempre atrasado com os deveres
“Atualmente o TDA/H, caracteriza-se pela escolares.
presença de um comportamento hiperativo- Para isso, é necessário que a família
impulsivo e por problemas de deficiência de tenha formação específica em TDAH, e
aprendizado”. Sendo que grande parte dessas essa formação, capacitação seja
crianças, são acometidas por problemas de realizada pela escola, onde os diversos
aprendizado, deficiência de atenção em algum profissionais como psicólogos,
grau, concomitantemente a comportamento psicopedagogos, neuropsicopedagogos,
hiperativo/impulsivo. Boa parte delas, orientadores, professores, possam
evidenciam déficit de atenção na memória contribuir com a família em estratégias
imediata e no aprendizado. E em menor pedagógicas e domésticas favorecendo
número estão as crianças acometidas apenas tanto o seu processo de aprendizagem
com comportamentos hiperativos impulsivos. quando sua relação social.
Isto posto, não se pode generalizar o TDA/H, A orientação dos pais, mães ou responsáveis
mas deve-se respeitar as singularidades deste visa facilitar a relação familiar com pai, mãe, e
transtorno. demais parentes, para estabelecer uma relação
de compreensão e de diálogo com os filhos que
TDAH E AS ORIENTAÇÕES tem TDAH. Para Mattos (2001), a orientação
não é apenas porque auxiliam na compreensão
PARA FAMÍLIA do comportamento do portador do TDAH, mas
Crianças e adolescentes com o Transtorno também porque incluem o ensino de técnicas
do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), para auxiliar no manejo dos sintomas e
possuem muitas dificuldades na interação prevenção de problemas.
social, com a própria família e também no seio A Associação Brasileira de Psicologia Escolar
escolar no que tange tanto a aprendizagem e a e Educacional (ABRAPEE, 2007), elenca
socialização. Diante disso, é importante uma algumas orientações ou aconselhamentos
parceria entre família e escola, para que ambas indispensáveis para pais ou responsáveis:
possam compreender a complexidade do TDAH • Informar-se a respeito do TDAH, ler
e estabelecer intervenções pedagógicas e sobre o assunto, procurar famílias com o
domésticas. mesmo problema a fim de trocar experiências;
Para Medeiros (2012), o relacionamento da • Auxilia a conhecer o TDAH e manejo
escola com os pais ou responsáveis de alunos adequado do problema;
com TDAH deve ser respeitoso buscando • Evitar castigar excessivamente;
sempre amenizar o baixo rendimento escolar, • Procurar a escola e a professora e
assim como, a falta ou excesso de agitação, observar se conhecem o problema, e fornecer
pois, esta criança não tem capacidade de informações caso seja necessário;
acompanhar o restante da classe, pois

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Evitar um estilo de educação muito para compreender o objeto de estudo. Na visão


permissivo. Impor limites e cumpri-los, de Gil (2002), a pesquisa bibliográfica utiliza
dosando a liberdade para evitar exigências material já publicado, basicamente de livros,
excessivas; artigos de periódicos e, atualmente de
• Prepara a criança para enfrentar os informações disponíveis na internet.
limites que encontrará ao longo da vida, sem O artigo se restringiu a livros e que
que sua liberdade seja tirada; fundamentou a partir de teóricos e
• . Evitar discussões ou gritos na frente da especialistas sobre o TDAH e a orientação para
criança. Manter um diálogo franco, família, dando assim, subsídios para ajudar a
perguntando o que pode ser feito para ajudar e família no processo de desenvolvimento dos
que dificuldades a criança vê no dia-a-dia; seus filhos que tem TDSAH, tanto no âmbito da
São orientações que podem ajudar a família aprendizagem quanto em sua convivência
a conhecer melhor as nuanças e a social.
complexidade das características peculiares
dos seus filhos que tem TDAH, que são DISCUSSÃO DOS DADOS
inquietos, agressivos, explosivos, tem baixo
autoestima, e sendo assim, esses BIBLIOGRÁFICOS
aconselhamentos ajudará a própria família não A Escola baseia-se em teóricos e
só no processo de aprendizagem, visto que são especialistas em TDAH, para assim, ajudar a
contribuições da própria, mas também família em seu desenvolvimento com seus
melhorará a convivência em casa com seus filhos, visando melhorar a sua relação com pais,
filhos. mães ou responsáveis e também no seu
Para Jones (2004), é importante que os pais processo de aprendizagem. Diante disso, Du
respeitem seus próprios limites, afastando-se Paul e Stoner (2007), salientam que em alguns
da criança quando cansados ou irritados e casos, psicólogos escolares ou assistentes
pensando antes de agir impulsivamente. A sociais oferecem serviços de treinamento para
criança e o adolescente têm que ser instruídos os pais ou responsáveis no contexto escolar,
a refletir sobre sua situação, de modo especial, especialmente quando esses serviços não estão
dos seus comportamentos para verificar as disponíveis na comunidade. Quando o
possíveis soluções e consequências destas treinamento para os pais é oferecido na escola,
soluções. geralmente uma ênfase sobre ajudar para que
os pais supervisionem a realização plena de
tarefas academicamente relevantes.
PROCEDIMENTOS Neste contexto, a escola oferece
METODOLÓGICOS informações aos pais ou responsáveis o que
Como procedimento metodológico, o tange ao processo de aprendizagem dos filhos,
presente artigo utilizou a abordagem mostrando que um ajuda para os pais em
bibliográfica, que se estrutura em fontes relação as atividades ou tarefas ao serem
secundárias a partir de especialistas e teórico realizadas. Mas é preciso ir além de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

simplesmente ajuda a família nas tarefas da fornecimento de atenção positiva frequente e


escola, pois é preciso ajudar na compreensão sistemática quando a criança engajar-se em
do TDAH em toda a sua complexidade. Nisso, atividades adequadas enquanto os pais
Barkley (1998), estabeleceu um Programa de realizam outras atividades.
Treinamento para os pais ou responsáveis das 5) Treinar na utilização de time-out para
crianças e adolescentes com TDAH: desobediência: treinar na utilização de custo de
1) Fornecer Informações sobre o TDAH: resposta (time-out do reforço) frente a
características, evolução, prognóstico e comportamentos de desobediência, a ser
etiologia do TDAH, associadas a material de utilizado logo após o início de dois tipos de
leitura e vídeos. Auxilia a modificar crenças comportamentos inadequados por parte da
incorretas sobre o problema. criança, escolhidos anteriormente em acordo
2) 2. Discutir causas do comportamento entre pais e criança.
opositivo: fatores que contribuem para a Esses São alguns pontos relevantes do
presença de comportamentos opositivos em Programa de Treinamento de Barkley (1998),
crianças com TDAH, incluindo: a) que vai desde informações sobre o TDAH em
Características da criança: saúde, idade, toda a sua conjectura até reforçar o
temperamento e dificuldades; b) comportamento positivo para controlar os
Características dos pais: saúde, idade, comportamentos inadequados das crianças e
temperamento e dificuldades; c) adolescentes com TDAH, visando tanto o
Consequências do comportamento opositivo e processo de aprendizagem quanto no controle
coercitivo; d) estressores familiares. dos comportamentos em casa.
3) Desenvolver um repertório reforçador e Outra contribuição importante é da teoria
de atenção nos pais: orientar em relação ao Comportamental Familiar para Adolescentes, e
papel do reforço sobre o comportamento da conhecido como “solução de problemas e
criança; treinar os pais para reforçar treinamento para a comunicação” (PSCT,
comportamentos adequados e ignorar os ROBIN & FOSTER, 1989), combina elementos
inadequados; enfatizar a necessidade de do treinamento para o manejo de contingência
aumentar substancialmente a freqüência de e da terapia estrutural familiar.
reforços e de atenção aos comportamentos Especificamente, envolve técnicas de
socialmente adequados e de adesão da criança construção de habilidades como a instrução
4) Orientar os pais a prestarem atenção nas para a solução de problemas e
brincadeiras e comportamentos adequados, comportamentos apropriados para a
fornece comandos diretos e aumentar a comunicação, bem como a prescrição de
freqüência de reforço para comportamentos mudanças e coalizões no sistema familiar. Em
adequados; treinar na utilização de comandos muitos casos, procedimentos da terapia
diretos: Ex: substituir questões como “Por que cognitiva são empregados para reestruturar os
você não guarda seus brinquedos? ” Por sistemas de crenças irracionais dos membros
comandos diretos como “Guarde seus da família.
brinquedos na caixa”; Treinar para o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na maioria das vezes, a família não está preparada ou não sabe lidar com os diversos
comportamentos agressivos, inquietos e explosivos dos seus filhos que tem TDAH, e que ocasiona
prejuízos no relacionamento família e até no processo de aprendizagem. Muitas vezes, a escola
com seus profissionais como psicólogos, psicopedagogos, entre outros, oferecem subsídios para
os pais ou responsáveis acompanharem seus filhos na realização das tarefas.
Isso é importante, mas é necessário que escola e outras instancias sociais, enfoque essas
orientações no âmbito do relacionamento, da convivência entre pais ou responsáveis e seus filhos
com TDAH, como forma de entender os variados comportamentos e estabelecendo intervenções
domésticas para facilitar a convivência por meio do diálogo. A convivência harmoniosa entre pais
e filhos em casa, contribuirá em seu comportamento em sala de aula, e consequentemente,
facilitará o processo de aprendizagem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ABRAPEE, . Orientações e/ou aconselhamentos indispensáveis para cuidadores de
crianças ou adolescentes com TDAH, 2007.

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diagnóstico e Tratamento. 3 ed. Artmed Porto Alegre, 2008.
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MEDEIROS, Maria Celina Gazola. O que os professores conhecem sobre dislexia e o


transtorno do déficit de atenção. São Paulo: SESI-SP, 2012.

PHELAN, T. W. TDA/TDAH. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: Sintomas,


Diagnósticos e Tratamentos. Crianças e Adultos. São Paulo: M. Books do Brasil Editora, 2005.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TRANSTORNOS MENTAIS E SINTOMAS SEM


EXPLICAÇÃO MÉDICA (SEM):
UMA ANÁLISE EPISTEMO-SOMÁTICA
Jamil Torquato de Melo Filho1
Monalisa de Cássia Fogaça2

RESUMO: A Epidemiologia é a ciência fundamental a saúde pública e responsável pela


mensuração do sofrimento psíquico por meio da manifestação de sintomas que não se restringem
apenas aos fatores físicos, mas que estão gradativamente integrados ao sofrimento emocional
de uma pessoa ao longo de sua vida. Realizou-se uma análise epistemo-somática por meio de
uma revisão de estudos epidemiológicos acerca dos termos transtornos mentais e Sintomas sem
Explicação Médica (SEM). Comparou-se metodologias e tratamentos utilizados para diagnóstico
e acompanhamento. Os Transtornos de Ansiedade e Depressivos estão associados aos SEM e
contribuem para multimorbidade psiquiátrica na vida do sujeito. Fatores psicossociais como
idade, estado civil, situação ocupacional, escolaridade e gênero reforçam essa prevalência. A
análise epistemo-somática identificou que o processo científico no que tange aos conceitos de
simbolização e elaboração carece de maior avanço em relação ao sujeito somatizador a fim de se
avaliar o momento de desenvolvimento e/ou desencadeamento de sintomas, bem como de
psicopatologias no organismo.

Palavras-Chave: Transtornos Mentais; Sintomas sem Explicação Médica; Somatização.

1 Prof. Ms. de Psicologia na Universidade Nove de Julho (UNINOVE).


Psicólogo, Psicanalista e Mestre em Psiquiatria (FMUSP).
2 Profa. Dra. de Psicologia nas Universidades Anhembi Morumbi e Cruzeiro do Sul.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MENTAL DISORDERS AND MEDICALLY UNEXPLAINED SYMPTOMS


(MUS): AN EPISTEMO-SOMATIC ANALYSIS
ABSTRACT: Epidemiology is the fundamental science of public health and is responsible for
measuring psychic suffering through the manifestation of symptoms that are not restricted to
physical factors but are gradually integrated into a person's emotional suffering throughout their
life. An epistemo-somatic analysis was carried using epidemiological studies on the terms mental
disorders and Medically Unexplained Symptoms (MUS). Methodologies and treatments used for
diagnosis and follow-up were compared. Anxiety and Depressive Disorders are associated with
MUS and contribute to psychiatric multimorbidity in the subject's life. Psychosocial factors such
as age, marital status, occupational status, education and gender reinforce this prevalence. The
epistemic-somatic analysis identified that the scientific process with regard to the concepts of
symbolization and elaboration lacks greater progress in relation to the somatizing subject in order
to assess the moment of development and/or triggering of symptoms, as well as
psychopathologies in the body.

Keywords: Mental Disorders; Medically Unexplained Symptoms; Somatization.

792
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO relacionadas com a transformação político-


econômica.
Originada das observações de Hipócrates há Nessa mesma direção, Czeresnia (2007),
mais de 2000 anos, a Epidemiologia aponta que as representações da saúde e/ou
caracteriza-se pela ciência fundamental a da doença apresentam diferentes ordens de
Saúde Pública, sendo definida como o estudo realidade dentro da cultura ocidental, uma vez
da distribuição e dos determinantes de estados que nosso conhecimento sobre o corpo é
ou eventos relacionados à saúde em fragmentado em diferentes e redutoras
populações específicas, com o objetivo de perspectivas teóricas que configuram os
identificar e mapear doenças emergentes a campos do conhecimento biológico, psíquico e
partir de métodos quantitativos estudando sua social. A autora enfatiza ainda que os fatores de
ocorrência numa determinada população para risco, muitas vezes complexos de serem
se definir estratégias de prevenção e controle identificados, são importantes para
(BONITA; BEAGLEHOLE; KJELLSTROM, 2010). classificação de enfermidades, mas o conceito
Estas pesquisas avaliam, por exemplo, a moderno de doença ainda se refere a um corpo
distribuição de transtornos mentais em desvitalizado que não inclui o homem em sua
determinadas populações, analisando fatores integralidade. Kroenke, et al. (2005), enfatizam
de riscos envolvidos com seu início, duração e que a criação de categorias com subtipos
recorrência, garantindo esta como uma problematiza a formação de um todo coerente.
informação fundamental para o Atualmente o grande número de síndromes
desenvolvimento de programas efetivos de disfuncionais definidas por critérios baseados
intervenção e promoção de saúde, que ao lidar em sintomas como apresenta, por exemplo, o
com seu objeto está investigando um conjunto Manual Diagnóstico e Estatístico de
numérico de indivíduos (TOHEN; BROMET, Transtornos Mentais (DSM), explicita cada vez
2002). mais a complexidade do assunto ao acrescentar
Esta forma de investigação e sua clássica comorbidades para sua identificação na
divisão de indivíduos em ‘doentes’ e ‘não tentativa de minimizar distinções quanto ao
doentes’ deveria, assim como aponta Brant diagnóstico das psicopatologias.
(2001), ser revista já que este se refere a esses O manual enfatiza que os sintomas não bem
indivíduos como ‘sujeitos da saúde ou da especificados podem ser definidos como
doença’ ao enfatizá-los como não absolutos, Transtornos de Sintomas Somáticos e podem
inteiros ou intactos. Para tanto, o autor propõe vir acompanhados de doenças médicas
que a Epidemiologia agregue ao homem diagnosticadas também associadas a algum
estatístico as possibilidades inconscientes e sofrimento psicológico. São descritos alguns
subjetivas intrínsecas ao sujeito psicanalítico, fatores de riscos que podem estar associados
possibilitando assim a abertura de novas ao seu desenvolvimento como, por exemplo:
perspectivas de investigação alargando seu vulnerabilidade genética e biológica (maior
conceito diante das “novas doenças” também sensibilidade à dor), experiências traumáticas
de abuso e violência e privação precoces.

793
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Aumentam a lista os fatores culturais/sociais que eles não têm (CREED; HENNINGSEN; FINK,
que, segundo o manual, desvalorizam e 2011).
estigmatizam o sofrimento psicológico em É necessário ressaltar que dos estudos
comparação com o sofrimento físico pesquisados nem todos apontam,
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA), especificamente, para a terminologia referida e
2014). é possível perceber que estão alocados juntos
Tófoli, et al. (2011; 2012), ao estudarem a a outros transtornos que preveem tais
demanda de saúde mental na Atenção Primária sintomas em suas descrições, porém, suas
(AP), perceberam que os estudos realizados no nomenclaturas variam mediante especificidade
Brasil apontaram que a incidência de analisada.
sofrimento emocional abrange cerca de 50% A inespecificidade bem como as
dos usuários atendidos por equipes da AP e da características e/ou sintomas
Estratégia Saúde da Família (ESF), sendo que apresentados/delatados pelos usuários do
em média 35% destes têm alterações de Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo,
intensidade grave e preenchem critérios problematiza que os profissionais sejam
associados a diferentes quadros clínicos assertivos em seus diagnósticos. Tais queixas
podendo estar acompanhados de transtornos, inespecíficas podem ser classificadas como
como os depressivos e de ansiedade. Dessa sintomas difusos nos quais não se verificam
forma, os estudos epidemiológicos alterações anatomopatológicas que os
responsáveis por tais levantamentos justifiquem, são frequentemente rejeitados
explicitam, em números, dados importantes pelos profissionais que os denominam,
para a prevenção no âmbito da saúde pública. pejorativamente, de “poliqueixosos” e
Porém, quando se trata de comorbidades entre problematizam a dinâmica diagnóstica do
os transtornos mentais, os Sintomas sem profissional que os avalia (TÓFOLI;
Explicação Médica (SEM) acabam por compor GONÇALVES; FORTES, 2012).
esse quadro. Algumas pesquisas realizadas nos Estados
O termo Sintoma sem Explicação Médica Unidos têm apontado diretamente para a
(SEM), conhecido em inglês como medically intersecção aqui delineada, já no Brasil pouco
unexplained symptoms (MUS) tem sido se encontram trabalhos epidemiológicos nessa
amplamente utilizado por pesquisadores, e há linha, provavelmente, pois os relatos e
uma quantidade considerável de dados diagnósticos não são bem registrados dentro
referentes à prevalência e ao desfecho desses da prática médica exercida na AP de forma que
sintomas que surgiram em pacientes que sirvam para quantificar sua prevalência
frequentavam clínicas de assistência (BOMBANA; LEITE; MIRANDA, 2000). Os
secundária e, após investigação apropriada, autores ressaltam ainda que os quadros
não podiam ser explicados por patologia apresentam incapacitação desproporcional aos
orgânica ou disfunção biológica bem exames clínicos laboratoriais e que
reconhecida colocando-os assim como parte de apresentam, também, importantes fatores
um grupo de pacientes que são tratados pelo psicossociais envolvidos.

794
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Em síntese, seja qual for a nomenclatura Comparou-se a metodologia utilizada no Brasil


utilizada até o momento foi possível perceber e fora dele, para diagnóstico dos SEM, a fim de
que as síndromes e os sintomas somáticos não produzir dados que ajudem no processo de
se restringem apenas aos fatores físicos e estão elaboração de práticas interventivas para
gradativamente integrados ao sofrimento identificação, bem como terapêutica utilizada
emocional de uma pessoa ao longo de sua vida. para tratamento e/ou acompanhamento de
Essa nova perspectiva suscita pesquisas e pacientes que os apresentem.
discussões mais aprofundadas para entender
se um é causador do outro, ou se, de fato, estão MÉTODO
atrelados e ocorrem concomitantemente.
Para alcançar os objetivos propostos
Saberes referentes a Psicossomática tem
realizou-se uma revisão da literatura acerca dos
ajudado muitos profissionais no que concerne
temas centrais, ou seja, Transtornos Mentais e
a identificação e análise de sintomatologias não
Sintomas sem Explicação Médica (SEM), a fim
bem especificadas. Para tanto, em seus estudos
de que fosse possível descrever quais
da primeira infância, Joyce McDougall
transtornos e SEM estariam associados.
compreendeu que seus pacientes adultos, às
Após o levantamento dos dados primários
vezes, funcionavam psiquicamente como
realizou-se uma análise epistemo-somática
bebês que, não podendo se utilizar de palavras,
comparando a metodologia utilizada, no Brasil
reagiam psicossomaticamente a uma emoção
e fora dele, para diagnóstico dos SEM a fim de
dolorosa. A pesquisadora entendia que os
produzir dados que ajudem no processo de
fenômenos psicossomáticos tinham,
elaboração de práticas interventivas para
sobretudo, uma função defensiva, levando-os a
identificação bem como terapêutica utilizada
um estágio de desenvolvimento no qual a
para tratamento e/ou acompanhamento de
distinção entre sujeito e objeto ainda não era
pacientes que os apresentem.
estável, o que poderia despertar angústia
O rastreamento foi realizado em três bases
(CAPITÃO; CARVALHO, 2006). Dessa forma,
de dados bibliográficas principais a seguir:
utilizar-se dos conceitos da Psicossomática
SciElo, PePSIC e BVS-Psi, sendo que a última
corrobora para o entendimento dos SEM, já
apresenta resultados da MedLine e LILACS. As
que diante de um conflito psíquico –
palavras-chave utilizadas para pesquisa foram:
transtornos mentais - os sintomas são uma
transtornos mentais; sintomas sem explicação
tentativa de “cura”.
médica; epidemiologia; somatização;
Diante do exposto, realizou-se uma análise
psicossomática.
epistemo-somática por meio de uma revisão da
Somente foram contemplados estudos
literatura utilizando-se de estudos
epidemiológicos que apresentaram, em seus
epidemiológicos acerca dos termos transtornos
resultados, prevalência estatística dos termos
mentais e SEM, na intenção da possibilidade
centrais escolhidos sem que estes estivessem
em descrever quais transtornos estão
apoiados a patologias específicas. Foram
associados aos SEM e quais os sintomas tem
selecionados artigos publicados entre os anos
sido mais prevalentes diante de tal associação.
de 2000 a 2017 nos idiomas inglês e português

795
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e utilizados conceitos da Psicossomática para (712); SEM (06); Epidemiologia (620);


dissertação acerca da temática sintoma. Somatização (58) e; Psicossomática (01).
Conforme análise epistemo-somática, a
RESULTADOS E DISCUSSÃO descrição dos SEM é um conceito que necessita
de maior investigação tendo em vista as
Os artigos e estudos relacionados aos SEM
diferentes problemáticas que foram se
encontrados revelaram grandes impasses na
apresentando com o passar do estudo como a
sistematização das informações.
construção diagnóstica e os instrumentos
Primeiramente, eram considerados diferentes
utilizados para tal.
aspectos diagnósticos que acabavam por
Por se tratar de uma gama de sintomas “não
agrupar-se em nomenclaturas similares,
específicos” e abrangentes, o diagnóstico
porém, diferentes em suas análises.
problematiza o trabalho dos diversos e
Posteriormente, parte dos estudos resultantes
diferentes profissionais que atuam no âmbito
no levantamento das informações estavam
da saúde em geral. Pôde-se perceber que os
atrelados a determinadas
estudos epidemiológicos que embasaram esta
patologias/classificações ou a estudos de caso
análise, enfatizavam a permanente tarefa
e não descreviam, literalmente, os sintomas,
desses profissionais em identificar e
tendo sido utilizados, apenas, como
correlacionar a sintomatologia específica
norteadores teóricos. Dessa forma, não
apresentada dentre critérios diagnósticos para
puderam ser elegíveis já que as discussões do
tal. Para isso, são apresentados em seus
surgimento/aparecimento de tais sintomas
resultados que, fatores de estresse
haviam sido analisadas sob uma perspectiva
psicossociais estão diretamente envolvidos na
direcionada para cada assunto, o que
manifestação dos sintomas e, por vezes, o
enviesaria o resultado desta análise levando a
próprio paciente envolto nessas situações
exclusão de alguns trabalhos que serão
emocionais desestabilizadas o manifesta,
mencionados.
corporalmente, na tentativa de resolução dos
Vale ressaltar que, o número de estudos
problemas apresentando em seu
pesquisados foi bem alto e, não
comportamento fragilidade, dependência e
necessariamente, foram lidos em sua
submissão (COELHO; ÁVILA, 2007; PAULIN;
integralidade. Entretanto, foram analisados os
OLIVEIRA, 2012; TÓFOLI; GONÇALVES; FORTES,
resumos a fim de eleger quais seriam
2012).
contemplados dentre os critérios previamente
Observou-se ainda que, quadros como esses
estabelecidos. Para a base de dados PePSIC
são comumente encontrados em serviços de
foram encontradas as seguintes quantidades
AP e sua dificuldade diagnóstica promove
apresentadas entre parênteses: TM (23); SEM
diversos encaminhamentos gerando altos
(0); Epidemiologia (50); Somatização (14) e;
custos para o sistema de saúde (COELHO;
Psicossomática (72). Na SciElo, TM (55); SEM
ÁVILA, 2007). Tais encaminhamentos estão
(03); Epidemiologia (23); Somatização (23) e;
diretamente associados a multimorbidade
Psicossomática (05). Por fim, na BVS-Psi
psiquiátrica para
(Medline/LILACS) foram encontrados: TM

796
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

acompanhamento/tratamento de Transtornos Os estudos descritos nessa análise


de Ansiedade e Depressivos (ANDRADE, et al., apontaram ocorrências consideráveis de
2002, 2010). Sendo assim, os sintomas prevalências estatísticas referentes a
evidenciados nos estudos dizem respeito a manifestação de transtornos mentais na
estas patologias, e são eles: taquicardia; população como um todo. Brant (2001),
dispneia suspirosa; tosse; cefaleia; dores ressalta, por vezes, a importância da relação
originárias de contraturas muscular como entre indivíduo e coletivo, ou seja, o todo
lombar, cervical, pélvica, peitoral e nas pernas; (resultado), não necessariamente corresponde
alterações de sono; inapetência e perda de a todos (indivíduos). Dessa forma, medir a
peso; fadiga; cólon irritável; vertigem e/ou prevalência é estritamente importante para
tontura; (PAULIN; OLIVEIRA, 2012; TÓFOLI; nortear o trabalho dos profissionais de saúde,
GONÇALVES; FORTES, 2012). entretanto, não pode ser tomada como única.
Como limitação para esse fragmento da Sua sugestão é de que a Epidemiologia abranja
análise não podem ser considerados apenas suas pesquisas para estudos qualitativos que
estes sintomas como parte dos SEM, tendo em traduzam a real situação na qual se encontra o
vista que se referem a um recorte específico de sujeito.
cada pesquisa. Entretanto, a apresentação de No que se refere a prevalência na população,
sintomas como estes promove o conhecimento os estudos apontaram para os Transtornos de
no que diz respeito a prática clínica de saúde Ansiedade e Depressivos como sendo aqueles
para o atendimento de pacientes relacionados aos Sintomas sem Explicação
somatizadores, uma vez que é levado em Médica (SEM) (COELHO; ÁVILA, 2007;
consideração o discurso e descrição do próprio ANDRADE, et al., 2009, 2010; SANTOS;
sujeito acerca do que o aflige tendo, o SIQUEIRA, 2010; TÓFOLI; ANDRADE; FORTES,
profissional, a responsabilidade de alocá-lo 2011).
numa patologia/psicopatologia condizente ao Segundo descrição do DSM-5 (2014), os
apresentado. Tal postura, a qual podemos Transtornos de Ansiedade se diferem entre si,
chamar de reducionista, também é explorada mas compartilham de características como
pela bibliografia e servirá para fundamentar as medo e ansiedade excessivos que somente
possíveis práticas interventivas mais adiante. posterior a um exame detalhado, é que se pode
Em síntese, os estudos apontaram ainda, identificar situações que são temidas e/ou
como já introduzido anteriormente, para evitadas por meio da descrição de
comorbidades com transtornos mentais pensamentos ou crenças associadas. Já os
específicos nos quais segundo Andrade (2010), Transtornos Depressivos apontam para
descreve que o sofrimento psicológico e presença de humor triste, vazio e irritável,
algumas características sociodemográficas acompanhado de alterações somáticas que
como idade, estado civil, situação ocupacional, afetam significativamente a capacidade de
escolaridade e gênero estão associadas a esta funcionamento do indivíduo.
multimorbidade psiquiátrica resultando, dessa Baseado em como a literatura utilizada para
forma, a complexidade a respeito do assunto. diagnóstico dessas patologias é descrita, é

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

inevitável a correlação aos Transtornos de com maior facilidade identificar os sintomas e


Sintomas Somáticos. Se o fator somático é admiti-los buscando ajuda. Importante
inerente a presença e instalação destes na vida destacar que tal análise se refere com base a
diária do sujeito vale ressaltar também seus questionários autoaplicáveis e estritamente
descritivos diagnósticos. Sendo assim, estes são relacionadas a questões de humor, ansiedade
descritos como responsáveis pela causa de ou fobias, tendo a categoria feminina sido a
aflição ou perturbação significativa da vida maior quantidade participante evidenciado
diária e são melhor compreendidos por meio pelos resultados dos estudos.
da apresentação de pensamentos Assumpção e Gonçalves (2011), ao
desproporcionais com a gravidade da situação estudarem o assunto, concluem que os
e sentimentos associados a tais preocupações, pacientes quando encorajados a falar sobre
o que eleva o nível de ansiedade para seus sofrimentos psicológicos acabam por
persistente e gasto de energia excessivo alocar-se nos critérios de Transtornos
dedicado aos sintomas (AMERICAN Somatoformes, ou seja, relacionados
PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA), 2014). biologicamente a patologia segundo o DSM IV
Andrade (2010), ao descrever os fatores e que acabou por transformar-se na categoria
psicossociais envolvidos aponta justamente de Transtornos de Sintomas Somáticos do
para a intersecção que permeia a instalação DSM-5. Em associação ainda aos SEM, Coelho e
destes na vida dos sujeitos, o que nos leva a Ávila (2007), demonstram que cerca de 20 a
hipotetizar que, assim como propõe a 60% dos pacientes que apresentam a síndrome
Psicossomática estudada, conforme Capitão e do intestino irritável, por exemplo,
Carvalho (2006), a forma de por vezes tentar demonstram também comorbidades
aliviar as tensões geradas por esse compilado psiquiátricas com os transtornos depressivos e
de fatores que abarcam as similaridades entre ansiosos.
os transtornos é na forma de sintomas que, A complexidade do assunto é ainda mais
condizem ou não, ao problema outrora ampla quando se buscam formas de
apresentado. Ressalta-se aqui que a queixa intervenções e/ou identificação para melhor
expressa no contexto clínico pelo paciente nem terapêutica a ser utilizada na associação
sempre é a verdadeira angústia por ele discutida até o momento. Para isso, Czeresnia
vivenciada o que problematiza, como dito por (2007), conclui que o caminho de investigação
vezes nessa análise, para uma celeridade no a ser percorrido segue o permanente desafio
trato de tais patologias e psicopatologias. de integrar o psicossoma nas interfaces com o
As formas de enfrentamento das situações corpo, e Zorzanelli (2011), destaca que seja
ainda podem ser delimitadas como diferentes qual for a restrição de pesquisa acerca dos
entre homens e mulheres. Segundo Santos e assuntos, os modelos conceituais não devem
Siqueira (2010), os homens buscam em mais seguir uma polarização e sim uma
substâncias psicoativas o alívio de supressão integração, já que as mudanças sociais são
para sua angústia ou sofrimento, constantes e novos modelos conceituais
diferentemente das mulheres que conseguem transitam por um mesmo assunto mediante

798
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sua especificidade de abordagem do especialistas como por exemplo os psiquiatras


fenômeno. (PAULIN; OLIVEIRA, 2012).
O intuito da APA ao criar o DSM era subsidiar Ainda nesse contexto, mesmo que o
a prática médica no que concerne ao profissional identifique tais demandas
diagnóstico de psicopatologias, estabelecendo psicológicas o encaminhamento para outros
uma concepção pluridimensional relacionada à profissionais especializados é a ferramenta
genética, à neurociência, à epidemiologia, à mais utilizada tendo, o paciente atendido, por
investigação clínica, propriamente dita, e às vezes, não suprido a atenção da qual estava,
culturas garantindo melhor compreensão também, interessado. Coelho e Ávila (2007),
como um todo (APA, 2014; CATANI, 2014). apontam que, a criação de prontuários
Entretanto, como já apresentado eletrônicos pouparia custos e exames
anteriormente, ao passo de nortear essa desnecessários, entretanto, estaria vinculado
análise também existe a problematização dos apenas a profissionais que tem como ambiente
reducionismos já discutidos. Portanto, de trabalho o atendimento em locais nos quais
percebeu-se que o manual é, ainda, fonte esse instrumento fosse implementado. Vários
conjunta de consulta entre os profissionais estudos apontam também para a problemática
brasileiros e estrangeiros, entretanto, faltam de humanização por parte de médicos nos
instrumentos específicos de rastreamento no atendimentos clínicos, porém, a presente
que diz respeito as sintomatologias não bem análise não pretende ater-se a essa vertente
especificadas. especificamente (GARCIA; BRAS; CHIARI, 2010;
Se outrora, a porta de entrada para o CALEGARI; MASSAROLLO; DOS SANTOS, 2015;
atendimento clínico emergencial é a RIOS; SIRINO, 2015).
apresentação de sintomas por parte dos A apresentação de sintomas físicos no
indivíduos, estes acabam por utilizar-se de tal atendimento médico legitima o
mecanismo para obter o desejado, ou seja, reconhecimento da presença de uma patologia
atenção e cuidado. Invariavelmente, esse por parte do profissional que busca em seu
primeiro acolhimento é realizado, em sua arcabouço de conhecimento formas de
maioria, por um médico clínico geral. Dessa combate ao sintoma apresentado. Evidencia-
forma, questiona-se, ainda que de forma se, por meio de estudos, que pacientes não
produtiva, uma vez que o objetivo é o bem discursam sobre suas angústias psíquicas, pois
estar do sujeito, se o ensinamento por eles os médicos não lhe permitem falar delas, salvo
recebido durante sua formação é o suficiente quando o discurso assemelhasse a critérios
para identificação de toda e qualquer demanda diagnósticos previamente descritos como, por
que venha a ser apresentada, ou se de fato, exemplo, diagnosticar o Transtorno de
como apontam Coelho e Ávila (2007), seu Sintomas Somáticos mediante o discurso de
preparo teria sido apenas para identificação de sintomatologia inespecífica apresentada.
demandas bioquímicas problematizando a Até o momento pôde-se perceber a
dificuldade de reconhecimento de questões necessidade da publicação de estudos
psicológicas, salvo quando profissionais qualitativos mais específicos, entre diferentes

799
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

áreas, para o desenvolvimento de nosografias pacientes que se sujeitam e se identificam com


que respondam, ou pelo menos norteiem, o esse tipo de abordagem, leva a um tratamento
trabalho dos profissionais de saúde e mais prolongado que vise a identificação de
comparem diferentes enfoques, unificando elementos inconscientes que vão além dos
pontos a fim de universalizar os conhecimentos sintomas (COELHO; ÁVILA, 2007; PAULIN;
adquiridos (COELHO; ÁVILA, 2007). OLIVEIRA, 2012).
Ainda nesse sentido, Santos e Siqueira Independente do tipo de terapêutica
(2010), aprofundam-se nas limitações dos tipos utilizada no tratamento, o paciente deve ser
de estudos por causa de problemas participante ativo e (co)construtor de práticas
metodológicos como por exemplo: falta de que minimizem seu próprio sofrimento. O
padronização na definição e identificação dos profissional, então, estará a serviço dessa
casos; amostragem pouco estruturada; risco de melhoria na qualidade de vida e propiciará,
viés, entre outros; que permitem apenas mediante seus conhecimentos científicos,
descrever a ocorrência e características em facilitadores que ajudem o paciente nesse
determinadas populações com pouco espaço processo. Para tanto a abordagem
para inferir acerca da causalidade de psicossomática mostra-se efetiva nesse
apresentação/manifestação. intercurso, uma vez que o faz (re)pensar o
Sobre as formas de terapêuticas utilizadas desencadeamento bem como instalação de tais
para tratamento/acompanhamento, alguns sintomas no organismo proporcionando uma
autores apresentam suas contribuições. Para análise mais aprofundada que servirá, assim
Tófoli e Gonçalves (2012), a escuta qualificada como exposto, de autoconhecimento para seu
e ampliação da rede de apoio a esses pacientes enfrentamento.
potencializam as estratégias de acolhimento e Baseado nos aspectos discutidos, ao
evidenciam que a terapia comunitária tem se pesquisar/analisar o momento da
mostrado uma ótima intervenção no trato manifestação dos sintomas no organismo,
desses sofrimentos emocionais, inclusive como tanto o profissional como o paciente
intervenção preventiva para a cronificação dos promovem o que posso citar como o clímax da
quadros de somatização. Bombana et al. problemática a que essa análise se propôs a
(2000), reforçam essa abordagem no sentido investigar. Não obstante, Minerbo (2013), nos
de que o trabalho em grupo, juntamente com o faz refletir acerca do que diz respeito a esta
atendimento clínico individual, minimiza a análise levando em consideração um estudo da
cristalização do próprio sintoma abrindo-se a modernidade e pós-modernidade. Ao citar esse
possibilidade de o paciente identificar por si só contexto atenho-me aos resultados
diferentes maneiras, sentidos e destino que anteriormente explicitados que esclarecem os
possa dar a eles. contextos psicossociais como fatores
As psicoterapias cognitivo-comportamentais desencadeadores das psicopatologias citadas.
também têm demonstrado bons resultados A autora esclarece que, a modernidade produz
diminuindo as queixas e custos na área da uma forma de subjetividade que se esforça
saúde. Já a psicoterapia psicodinâmica, para para caber no que é considerado legítimo, ao

800
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

passo que a pós-modernidade promove maior Quando Joyce McDougall, por meio de
liberdade no que diz respeito ao processo de Capitão e Carvalho (2006), relata que seus
simbolização e elaboração de demandas pacientes se comportavam como crianças ao
diversas sendo consideradas para essa análise, tentar explicitar seus conflitos, assim pode-se
as psíquicas. dizer que é o somatizador e/ou aquele que
Entendemos a simbolização como a apresenta SEM. Mais profundamente ainda,
percepção psicológica dos estímulos sensoriais, Queiroz e Correia (2002), esclarecem que o
quando um estímulo, um objeto, um evento, sofrimento de uma criança é o que faz a mãe ou
alguma coisa deixa de ser unicamente ela seu cuidador tomar conhecimento dessa
mesma para ganhar um sentido psicológico e se angústia suscitando momentos de afetividade
ligar a outras representações mentais e cuidado, ao passo de mais tarde
(MIJOLLA; CABRAL, 2005). Já o conceito de substituirmos essa mãe e/ou cuidador por
elaboração começou a ser desenvolvido por nosso próprio corpo.
Freud em ‘Estudos sobre a Histeria’ escrito O médico e/ou qualquer outro profissional
entre os anos de 1893 a 1895. O autor partiu de saúde como psicólogos e enfermeiros ao
dos estudos anteriormente feitos por Jean- cuidar de pacientes somatizadores ocupam,
Martin Charcot que dizia existir “um momento mesmo que por um breve período, o lugar da
de elaboração psíquica entre o traumatismo e mãe/cuidador na vida desse sujeito suprindo
o aparecimento dos sintomas”. Mas foi ao não apenas a demanda do paciente como do
escrever ‘Recordar, Repetir e Elaborar’ que próprio profissional que tem como desejo
Freud lançou algumas ideias de como se dá a “curar e/ou minimizar o sofrimento”.
transformação de um impulso (ou quantidade Especificamente no campo psicológico, cabe
de energia, na linguagem) em pensamento (ou ao analista e/ou terapeuta encontrar palavras
qualidade psíquica). A experiência não que traduzam a realidade do sofrimento do
elaborada, a qual podemos chamar de paciente atribuindo assim, significados (NETO,
traumática se mantém fora dos processos 2008). Ou seja, a elaboração desses conflitos é
associativos (LAPLANCHE, et al., 2016). um processo contínuo que abrange o indivíduo
Permitir-se propor uma análise epistemo- em sua integralidade, por isso, a
somática é analisar o processo científico da Psicossomática explicita tão bem sua
medicina com o corpo (QUEIROZ; CORREIA, participação no que concerne a esta análise.
2002). Se o corpo apresenta manifestações Por fim, Neto (2008), apresenta ainda uma
somáticas como resolução de conflitos reflexão feita por Lacan que nem sempre o
psíquicos, abre-se um canal para discussão do paciente quer se curar de sua doença e/ou seus
processo de elaboração dos conflitos sintomas. Atrevo-me a complementar que essa
vivenciados pelo sujeito. Ou seja, assim como a própria manifestação gera, para o paciente,
Psicossomática busca entender o sujeito em ganhos secundários que podem ser do campo
suas interfaces de relação entre mente e corpo, consciente ou inconsciente. Entretanto, o
essa mesma intersecção é experienciada médico agirá na intenção de suprimir os
psiquicamente pelo próprio sujeito. sintomas e anular, tanto quanto for possível, a

801
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

angústia em benefício do próprio paciente


gerando-lhe assim bem-estar. Mas, ao passo
dessa realização do médico circunscreve-se
uma falha epistemo-somática quando o sujeito
não, necessariamente, está em busca da
melhora, e sim por estar movido a motivadores
que permeiam, por exemplo, o campo
psicanalítico (NETO, 2008).
Respeitar o paciente é promover sua mais
ampla compreensão acerca de si mesmo. Sua
defesa, seja com o silêncio, por meio de
sintomas e até mesmo regressão a infantilidade
são formas de comunicação de que algo não
está bem. Mais do que estarmos munidos de
saberes e técnicas específicas de cada ciência,
os profissionais da saúde tem diante de si um
material em constante mutação que nem os
mais severos reducionismos conseguirão,
talvez, descrever a complexidade que é o ser
humano e, assim, o torna cada dia mais
interessante e desafiador.

802
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos epidemiológicos avaliados apresentam prevalências importantes quanto a
presença dos transtornos mentais e dos SEM na população. A intersecção destes estudos e suas
descrições explicitam a importância dos fatores psicossociais como desencadeadores no processo
de manifestação e desenvolvimento de sintomas no organismo. Para tanto, evidenciou-se que os
Transtornos Depressivos e Ansiosos estão associados aos SEM, bem como sua maior prevalência
tem sido: taquicardia; dispneia suspirosa; tosse; cefaleia; dores originárias de contraturas
muscular como lombar, cervical, pélvica, peitoral e nas pernas; alterações de sono; inapetência e
perda de peso; fadiga; cólon irritável; vertigem e/ou tontura.
Avalia-se ainda que há a necessidade de se construir uma epidemiologia voltada a
subjetividade do sujeito, a fim de entendê-lo de modo mais profundo e individual. Não obstante,
acredita-se que outros sintomas, ainda não avaliados, possam ser incluídos nessa categoria, já
que os aqui identificados não podem ser tomados como únicos.
Com base nos resultados dos estudos apresentados, avalia-se que a Psicossomática tem
fundamental importância no entendimento e (re)discussão acerca da intersecção entre mente e
corpo. Neste sentido, a análise epistemo-somática contribui, também, para a identificação do
processo científico no que tange aos conceitos de simbolização e elaboração, aspecto este que
ainda carece de maior avanço por parte da literatura científica na produção de investigações mais
aprofundadas junto aos pacientes somatizadores, com a finalidade de se avaliar o momento de
desenvolvimento e/ou desencadeamento dos sintomas, bem como das psicopatologias. Para
tanto, diferentes profissionais da saúde como médicos, psicólogos e enfermeiros, por exemplo,
devem estar, além de capacitados, debruçados sobre esse assunto que ainda suscita muitos
questionamentos.
Considerando que as características sociodemográficas estão associadas a multimorbidade
psiquiátrica, esta presente análise da literatura científica elucida a necessidade da contribuição
de novos estudos, mais aprofundados, acerca dos temas pesquisados e discutidos, para que o
DSM, responsável pela identificação de psicopatologias no Brasil e fora dele, possa estar cada vez
mais atualizado no que concerne a sua funcionalidade. Além disso, os SEM carecem de maior
atenção, uma vez que não foi possível explicitar outros instrumentos que garantissem maior
precisão nesse contexto.
Apresentar diferentes terapêuticas para tratamento e acompanhamento de pacientes
somatizadores e/ou com manifestação de SEM promove maior amplitude da junção entre
diferentes técnicas e profissionais que, ao trabalharem juntos, visam buscar sistematizações que
forneçam, não somente aos pacientes como aos próprios profissionais envolvidos, métodos de
enfrentamento que garantam melhoria na qualidade de vida, bem como na elucidação de
questões que permeiam a tenuidade que se encontram os assuntos pesquisados.

803
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

UM ESTUDO SOBRE OS MOTIVOS PARA O


CONSUMO OU NÃO DE FRUTAS, VERDURAS E
LEGUMES DE ADOLESCENTES DO INSTITUTO
FEDERAL DO MARANHÃO
Vanessa Barros Pinho1
Álvaro Itaúna Schalcher Pereira²
Francisco Adelton Alves Ribeiro³

RESUMO: A recomendação da necessidade de uma dieta variada para o organismo humano que
contenha a ingestão de vários alimentos é difundida amplamente. O consumo de frutas, verduras
e legumes (FVL) contempla a variedade alimentar com sua importância na promoção da saúde e
prevenção de doenças. Embora esses alimentos estejam associados à redução de riscos de
doenças, pesquisas sinalizam para o baixo consumo de FVL entre adolescentes e apenas
recomendam o consumo sem considerar a complexidade que envolve o ato de se alimentar.
Assim, buscou nesse estudo verificar os motivos ou não do consumo de frutas, verduras e
legumes (FVL) pelos discentes do Ensino Médio Integrado, a fim de auxiliar nas ações de Educação
Alimentar e Nutricional (EAN) no ambiente escolar. Para tanto, foi aplicado uma entrevista
semiestruturada com alunos, que informaram como principais motivos para a não ingestão
fatores econômicos como principal obstáculo percebido para o consumo de FVL, seguida do
gosto, não tem o hábito, necessidade de preparo, influência da indústria e do acesso e

1 Aluna do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica – ProfEPT/IFMA.


Graduação: Nutrição pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
² Professor Doutor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão – IFMA.
Graduação: Química pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
³ Professor Doutor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão – IFMA.
Graduação: Sistemas de Informação pelo Centro Integrado Diferencial – UNIFACID.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

disponibilidade no ambiente escolar. Quando perguntado aquilo que facilitaria a ingestão FVL, os
entrevistados referiram à questão de saúde, motivo pelo qual citaram como principal responsável
para a ingestão desses alimentos.

Palavras-Chave: Ingestão de Frutas; Verduras e Legumes; Adolescentes; Ensino Médio Integrado.

A STUDY ON THE REASONS FOR THE CONSUMPTION OR NOT OF


FRUITS AND VEGETABLES BY ADOLESCENTS OF THE FEDERAL
INSTITUTE OF MARANHÃO
ABSTRACT: The recommendation of the need for a varied diet for the human organism that
contains the intake of various foods is widespread. The consumption of fruits and vegetables (FV)
contemplates the food variety with its importance in health promotion and disease prevention.
Although these foods are associated with the reduction of disease risks, research points to the
low consumption of FV among adolescents and only recommend consumption without
considering the complexity involved in the act of eating. Thus, this study sought to verify the
reasons or not for the consumption of fruits and vegetables (FV) by students of Integrated High
School, in order to assist in the actions of Food and Nutrition Education (EAN) in the school
environment. For this, a semi-structured interview was applied with students, who reported as
main reasons for not ingesting economic factors as the main perceived obstacle to the
consumption of FV, followed by taste, not having the habit, need for preparation, influence of the
industry and the access and availability in the school environment. When asked what would
facilitate FV intake, the interviewees referred to the health issue, which is why they cited it as the
main responsible for the intake of these foods.

Keywords: Intake of Fruits and Vegetables; Teenagers; Integrated High School.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO humano com transformações somáticas,


psicológicas e sociais (BRASIL, 2018). Os fatores
A recomendação da necessidade de uma atrelados à maturação sexual, alterações físicas
dieta variada para o organismo humano que e hormonais que marcam a puberdade, elevam
contenha a ingestão de vários alimentos é as necessidades energéticas e nutricionais
difundida amplamente. O consumo de frutas, estimando-se o aumento de aproximadamente
verduras e legumes (FVL) contempla a 50% do peso e de 15 a 25% da estatura final do
variedade alimentar com sua importância na adulto (FISBERG, et al., 2013).
promoção da saúde e prevenção de doenças, Apesar de ser uma fase marcada por
na redução dos teores energéticos totais, de necessidades nutricionais aumentadas foi
densidade energética, além do fornecimento verificada por meio de pesquisas feitas em
de vitaminas e minerais que o organismo diferentes regiões do país, a exemplo da
necessita para o bom desenvolvimento população adulta, uma baixa ingestão no
(POMERLEAU, 2005; OMS, 2014). consumo de FVL e que uma minoria dos
Estudos têm ressaltado a relação entre o adolescentes alcançou a recomendação
consumo adequado desses alimentos com a mínima (PeNSE, 2009, 2012, 2015).
redução de risco de doenças cardiovasculares Cabe ressaltar que essas pesquisas sinalizam
(DCV) e neoplasias (AUNE, et al., 2017; JHEE et para o baixo consumo de FVL e apenas
al., 2019). Os fatores de risco ligados a DCV, recomendam o incentivo ao consumo desses
como hipertensão, diabetes, obesidade, e alimentos. Ou seja, as intervenções em saúde,
dislipidemia são menos frequentes em desta forma, estão sendo realizadas no sentido
indivíduos como maior consumo de fibras de aumentar o consumo de FVL para
(LAIRON et al., 2005). adolescentes. No entanto, percebe-se que os
Embora esses alimentos estejam associados resultados em modificar o perfil de consumo
à redução dos riscos dessas doenças, elas desses alimentos não têm atingindo sua
aparecem como principais causa de morte no eficácia.
mundo. No Brasil e no mundo é constatado que Possivelmente essas modificações que vem
ocorreu uma redução das doenças ocorrendo ao longo dos anos não surtiram um
transmissíveis e o aumento das taxas de efeito desejado dado à valorização nas
mortalidade por Doenças Crônicas Não intervenções pelo aspecto técnico da nutrição
Transmissíveis (DCNT), que incluem doenças em detrimento dos fatores socioculturais
cardiovasculares, diabetes, câncer e doenças envolvidos no comportamento e hábitos
respiratórias crônicas (OMS, 2014). alimentares (SCRINIS, 2021). Ou seja, pouco se
A adolescência, fase que abrange indivíduos conhece sobre os aspectos subjetivos e
entre 10 a 19 anos, é caracterizada por comportamentais esclarecedores do
profundas mudanças físicas e comportamento alimentar dos indivíduos.
comportamentais. É o momento de transição Nesse contexto, o objetivo da presente
entre a infância e a vida adulta marcado pelo investigação foi analisar os motivos ou não do
significativo crescimento e amadurecimento consumo de frutas, verduras e legumes pelos

809
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

discentes da Educação Profissional e contribuições teóricas de Vygotsky são


Tecnológica do Ensino Médio Integrado importantes na investigação sobre o
(EPTEMI), a fim de auxiliar nas ações de funcionamento psicológico humano já que esse
Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no é constituinte das relações sociais e da cultura
ambiente escolar, a ser realizado com os alunos na construção da subjetividade.
dos cursos de Agropecuária e Agronegócio do De acordo com Jomori, et al. (2008), as
Instituto Federal de Educação, Ciência e escolhas alimentares são conduzidas por dois
Tecnologia do Maranhão (IFMA) – Campus tipos de determinante e podem ser
Grajaú. A referida pesquisa subsidiará classificadas como: os que são relacionados ao
informações para intervenção pedagógicas na alimento e os relacionados ao indivíduo. Os
escola, na criação de uma cartilha com determinantes relacionados aos alimentos são:
estratégias para o incentivo do consumo de sabor, aparência, textura, cor, cheiro e
FVL. aspectos nutricionais. E os fatores relacionados
aos indivíduos: biológicos e fisiológicos, estado
1 FATORES CONDICIONANTES de saúde, aspectos psicológicos, fatores
socioambientais e culturais
DAS ESCOLHAS ALIMENTARES Assim, para se escolher determinado tipo de
Inúmeros estudos abordam o consumo alimento deve ser levado em consideração não
alimentar sem considerar o entendimento só os aspectos fisiológicos (de fome) e
sobre os condicionantes que determinam as biológicos (necessidades nutricionais), mas as
escolhas alimentares da população. A escolha relações sociais onde estamos inseridos
alimentar, segundo Falk et al. (2001), é um interferem de forma decisiva nas nossas
processo complexo que envolve fatores escolhas alimentares uma vez que o que age
socioculturais e psicológicos e em função disso sobre o homem são suas condições sócio-
não se deve excluir para o entendimento do históricas (LEONTIEV, 2004).
fenômeno a origem subjetiva e social do
indivíduo, uma vez que a compreensão da
subjetividade do homem é um processo
2 PROCEDIMENTO
sociocultural capaz de superar as concepções METODOLÓGICO
individualistas (VYGOTSKY, 2009). Foi realizada uma abordagem qualitativa por
Para Vygotsky (2009), a cultura torna-se meio de uma entrevista semiestruturada com
parte da natureza de cada indivíduo por meio 11 discentes da EPTEMI dos cursos de
da construção dos sistemas de signos Agropecuária e Agronegócio IFMA – Campus
produzidos culturalmente, provocando desse Grajaú. Para esta pesquisa considerou
modo intensas transformações individuais. É importante o enfoque qualitativo para a
por isso que as relações sociais em compreensão das percepções dos adolescentes
determinadas condições histórico-culturais sobre o consumo de FVL, uma vez que os
devem ser investigadas ao se examinar o processos que envolvem o ato de se alimentar
desenvolvimento dos seres humanos. As

810
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

abrange questões sociais, biológicas e baixo consumo de produtos considerados mais


psicológicas dos indivíduos (BOOG, 2013). saudáveis e naturais, como frutas, verduras e
A vantagem da entrevista semiestruturada, legumes. Sobre este aspecto, P3 afirma sobre
conforme Ludke e André (2011), é de poder sua alimentação: "Eu vejo ela razoável, que eu
elaborar pelo pesquisador a partir de um me alimento tanto da forma bem, como da
esquema básico, porém, não rigidamente, pois forma mau [...]. Mas, eu como muita besteira,
é permitida a livre fala do entrevistado e o chocolate, sorvete, hambúrguer, batata frita,
entrevistador. Assim como poder fazer pizza, principalmente, quase todos os dias. O
adaptações necessárias no intuito de averiguar, participante P6 comenta: “[...] essas coisas, tipo
por exemplo, as percepções, práticas e razões verduras, vegetais eu como muito pouco”. Para
para a ingestão de FVL pelos discentes do IFMA, um dos entrevistados (P8) considera sua
Campus Grajaú, MA. alimentação monótona pela falta,
O presente estudo respeitou os princípios principalmente, de frutas, verduras e legumes.
éticos seguindo as determinações e normas É... eu acho que não é tão boa, acho que
estabelecidas pela Resolução nº 466, de 12 de poderia melhorar. Porque eu acho que faltaria
dezembro de 2012 e Resolução nº 510, de 07 mais diversidade de legumes, de frutas porque
de abril de 2016, do Conselho Nacional de às vezes é sempre o mesmo [...]. Mas eu acho
Saúde - CNS, do Ministério da Saúde, que que eu poderia consumir outros tipos de frutas
aprovam diretrizes e normas e legumes com mais frequência. Porque nem
regulamentadoras de pesquisa envolvendo sempre dá pra comprar direto (P8).
seres humanos (BRASIL, 2012). A identidade Para Garcia (2003), a nossa comensalidade
dos estudantes foi omitida com o uso das siglas atual aponta para um modelo tipicamente
P1, P2, ...., P22. urbano, em que há falta de tempo para o
preparo e consumo de alimentos, há presença
cada vez maior de comida industrializada e
3 A DIALÉTICA EM TORNO DO ultraprocessada, de excessiva propaganda de
CONSUMO DE FRUTAS, soluções rápidas de saciar a fome e crescente
individualização dos rituais alimentares,
VERDURAS E LEGUMES DE causando uma transformação em nossa forma
DISCENTE DA EDUCAÇÃO de nos relacionar com a comida. Para um dos
PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA entrevistados, menciona como as condições
cotidianas favorecem o consumo de alimentos
DO ENSINO MÉDIO INTEGRADO industrializados. A rapidez, a praticidade e a
Alguns dos entrevistados, ao descrever simplicidade das preparações são apontadas
sobre seus hábitos alimentares ressaltam ter como motivo para adoção de uma dieta
uma alimentação bem típica adotada pelos hipercalórica.
brasileiros (Brasil, 2014). A alimentação segue A nossa alimentação hoje..., ela se tornou
um padrão mais contemporâneo de consumo muito no... mais rápido, mais prático, e mais
de produtos industrializados e fast food e com simples, e assim, eu não quero me preocupar

811
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

em comprar uma fruta, uma verdura pra mim açúcar, modificando os hábitos alimentares da
fazer uma sopa, enquanto eu posso ir no sociedade ocidental.
comércio e comprar uma sopinha já pronta e só Para Baird (2016), as escolhas alimentares
coloco no fogo. Então a nossa realidade é essa refletem a influência da indústria, do poder
[...]. Ninguém quer fazer um caldo da batata, legislativo e executivo. As políticas agrícolas do
então é isso, o mais rápido e o mais prático. A Brasil, por exemplo, na maioria das vezes
gente tá acostumando que todo dia o povo privilegiam o agronegócio em detrimento da
inventa uma coisa diferente e a gente quer agricultura familiar (LOCATEL; LIMA, 2016).
comer [...]. Eu não consigo colocar é... verduras, Essas são situações que precisa ser resolvida de
carboidratos, legumes, apesar que eu preciso, forma articulada uma vez que envolve
mas eu não tenho muito essa questão de elementos estruturais como os econômicos,
introduzir as verduras e as frutas. É..., como eu culturais, educacionais, sociais, e, carecem ser
lhe disse às vezes a gente compra um doce e já avaliados quando envolve questões sobre
não quer fruta e prefere sempre, prefere alimentação humana.
sempre um doce de goiaba enlatados do que a A questão econômica foi apontada como
própria goiaba (P5). principal obstáculo percebido para o consumo
Hoje, existe uma diversidade de produtos e de frutas, verduras e legumes entre os
uma oferta grande nos mercados de alimentos entrevistados, seguida do gosto, não tem o
industriais, como os panificados, massas, hábito e, necessidade de preparo. Destaca as
geleias, embutidos, sucos, etc... Para vários seguintes falas dos entrevistados como um
participantes da pesquisa, essa oferta motivo para o baixo consumo de frutas,
abundante é um dos condicionantes à verduras e legumes. “Assim, tem alguns tipos
mudança dos hábitos alimentares. “Eu não de frutas né, que impede, que são meio que
quero me preocupar em comprar uma fruta, impedida por causa do valor elevado [...]” (P2).
uma verdura pra mim fazer uma sopa, “Acredito que condição financeira, é só o que
enquanto eu posso ir no comércio e comprar falta” (P7). “É as principais é o preço, porque
uma sopinha já pronta e só coloco no fogo [...]” não é muito barata” (P8). “Às vezes é o dinheiro
(P5). né, às vezes não dá pra comprar tantas coisas
Moss (2015), também faz alusões a assim. E ai, é preciso tirar algumas coisinhas
mudanças no ritual da alimentação, hoje, a quando o dinheiro tá pouco” (P9). “Por
alimentação está cada vez mais submetida à questões financeiras mesmo” (P10). “É por que
indústria. Vivemos um processo de todas as vezes que a gente vai no mercado a
barateamento de produtos alimentícios, gente não compra, ai compra mais o
devido ao crescimento da indústria alimentícia necessário, arroz, feijão” (P11).
associado ao processo industrial e a ampliação Essa característica identificada certifica a
do uso do marketing tem provocado um necessidade de tratar do tema com mais
processo de massificação do consumo de seriedade. A passagem acima é ilustrativa do
alimentos com alto teor de sal, de gordura e de quanto não podemos reduzir as escolhas
alimentares à individualidade das pessoas,

812
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mesmo porque o processo de escolhas verificados neste estudo confirmam o que já


alimentares abrange um grande leque de haviam visto em outras pesquisas realizadas no
variáveis que culminam numa complexidade de Brasil (PeNSE, 2009; 2012; 2015), quanto
situações particulares na trajetória de vida de menos favorecida a condição socioeconômica
cada um. Em alguma medida, o tipo de do indivíduo menor o consumo de frutas,
alimentação dos indivíduos não depende verduras e legumes.
somente das escolhas individuais, mas, envolve Com a finalidade de conhecer a
circunstâncias maiores e muitas vezes os disponibilidade de frutas, verduras e legumes,
sujeitos têm seu poder de escolha reduzido. O perguntou a procedência desses alimentos, e
preço dos produtos não depende estes são principalmente advindos do comércio
exclusivamente de questões financeiras local, das frutarias e supermercados, além de
individuais ou familiares, mas é determinado práticas de produção para o autoconsumo.
por escolhas econômicas e políticas que na Como podemos conferir no seguinte trecho da
maioria das vezes não favorecem uma entrevista: “Aqui da minha casa a gente
alimentação saudável. compra, tirando a que tem aqui no quintal, a
A influência das condições econômicas gente compra no..., a gente compra na
afetando os hábitos alimentares foi mercearia aqui do lado, no mercantilzinho que
predominante no presente estudo, a passagem tem frutaria” (P1). “A mãe compra no verdurão,
abaixo ilustra o peso das condições financeiras e às vezes quando tá no tempo da fruta, a gente
na decisão dos hábitos alimentares. colhe também das árvores que tem aqui no
Pra te falar a verdade aqui a gente não tem quintal, as frutas” (P3). “As frutas na maioria
essa mania de comer... tá comendo verduras das vezes são do comércio, já as verduras e
como, por exemplo, é... alface ou cheiro verde legumes são de pessoas que vedem, tipo na
como todo mundo conhece, tomate, mas da feira” (P4). “A grande maioria a gente compra
minha família mesmo a gente não tem, tipo, a no mercado, e algumas mesmo dá pra plantar
gente nunca quase come esses (as) verduras, na roça [...]” (P6). “É... dos mercados, das
assim, não porque a gente quer também não frutarias” (P9). “Vem dos mercado ou das
né, porque a gente não tem condições de frutaria” (P11).
comprar essas coisas também, ai a gente fica só Com relação ao gasto médio por semana,
na base do que for necessário pra comer que é foram relatados valores de R$ 10,00, R$ 50,00
feijão, arroz [...] (P10). por semana. Porém esse valor referenciado foi
Essa percepção do custo como um motivo uma estimativa uma vez que os discentes
para o baixo consumo de frutas, verduras e relataram que são os pais ou familiares que
legumes é de grande importância, ainda mais comprar esses alimentos e, portanto, não
no Brasil, um dos países mais desigual do saberiam exatamente o gasto por semana.
mundo e que possui parte considerável da Embora as questões socioeconômicas seja
população com baixa renda (IPEA, 2013). Os um fator importante a ser levando em
efeitos das características socioeconômicas consideração nas escolhas alimentares dos
sobre o consumo de frutas verduras e legumes indivíduos, o ato de comer, pela complexidade

813
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que envolve seus determinantes, vão além das (LORDELO, 2011). Logo, produzir, preparar e
questões socioeconômicas. Para o consumo de digerir os alimentos não se restringe apenas a
frutas, verduras e legumes entre adolescentes uma necessidade de ordem biológica, até
não gostar do sabor foi o segundo motivo porque estes atos também são ações culturais.
identificado para a baixa ingestão desses Assim, nossa construção de hábitos, bem como
alimentos. “Porque a minha mãe faz eu comer, dos gostos e de preferências, como nos orienta
não é que eu goste, tem uns que eu não gosto, Rozin, et al. (2008; 2009), é sem dúvidas
mas a maioria a mãe me obriga a comer” (P3). determinada socialmente. Deste modo,
“No caso, só são algumas coisas que eu não qualquer estratégia de promoção de
como, como pro exemplo, cenoura, repolho alimentação saudável deve considerar este
porque eu não gosto mesmo” (P4). “Algumas aspecto.
que eu não como porque eu não gosto, Apesar dos entrevistados mencionarem
beterraba, é... Abóbora..., berinjela também, é conhecimentos sobre a importância do
só por questão de gosto mesmo” (P6). consumo de frutas, verduras e legumes “não
Normalmente os alimentos de baixa ter o hábito/costume” foi o terceiro motivo
densidade energética são menos palatáveis o para o baixo consumo desses alimentos. “Ah!
que leva muitos indivíduos a substituírem esses nunca parei pra prestar atenção, mas acho que
alimentos por outros mais palatáveis e é pelo hábito mesmo. Não tenho o hábito de
agradáveis, o que acaba dificultando a ingestão sempre consumir” (P9). “Eu acho que só falta
segundo as recomendações nutricionais de querer, sempre querer optar pelo mais fácil,
(BRASIL, 2014). mais prático que tá pronto e acaba deixando
Importante destacar que o “gosto” apesar de isso faltar” (P5).
depender de questões genéticas e biológicas é O que possivelmente pode ter relação com
também uma construção social e histórica e as importantes mudanças nos hábitos
pode sofrer mudanças por influência familiar, alimentares brasileiros ocorridos nas últimas
de amigos, ou em razão de sujeição a alto nível décadas (BRASIL, 2014). Portanto, estratégias
de publicidade (NEUMARK-SZTAINER, et al., que busque a valorização da cultura alimentar
1999; HENDY; WILLIAMS; CAMISE, 2005). e que busque uma abordagem familiar pode ser
Montanari (2013), especifica a definição do um caminho interessante para incentivar uma
gosto como parte do patrimônio cultural das alimentação saudável.
sociedades humanas, porém a cultura não é Vale mencionar que ter conhecimento sobre
somente uma criação de artefatos, mas um alimentação saudável, geralmente, não é
reflexo da experiência humana (VALSINER, suficiente para fazer com que as pessoas
2012). adotem por comportamentos mais saudáveis. E
As experiências humanas, inclusive àquelas muitas das vezes as estratégias ignoram a
referentes à comida, são um processo de como complexidade dos comportamentos
as pessoas criam, mantêm e transformam relacionados à saúde e a alimentação e
conhecimento que diz respeito à cognição potencializam a informação para a mudança de
individual em conhecimento sociocultural hábitos.

814
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Embora os entrevistados mencionem não ter A necessidade de preparo para frutas,


o hábito de consumir frutas, verduras e verduras e legumes também foi mencionado
legumes, consideram a possibilidade de como obstáculo para sua ingestão. No discurso
mudanças. Com base nos relatos dos de um dos entrevistados demonstrou a
entrevistados, quando perguntado se mudaria dificuldade de preparo desses alimentos com
alguma coisa dos seus hábitos alimentares a um motivo para o baixo consumo. “[...] Ah,
maioria respondeu que gostaria de mudar. digamos que uma certa preguiça né, aquela
Houve participantes que responderam que coisa de botar a mão na massa, vai fazer tua
gostaria de mudar seus hábitos alimentares comida, vai.... te organiza na tua semana pra tu
consumindo menos alimentos hipercalóricos e ter teu, tua carne, tuas verdura já tudo pronto,
industrializados e ingerir mais alimentos congelada pra no outro dia [...]” P5).
saudáveis, como frutas, verduras e legumes. De acordo com O Guia Alimentar para a
“Mudaria, eu mudaria o consumo de População Brasileira o enfraquecimento da
refrigerante e mudaria o consumo de coisas transmissão de habilidades culinárias entre
gordurosas. [...]” (P1). “Sim, consumir menos gerações tem favorecido o consumo de
massa é... menos carboidrato, menos coisas alimentos ultraprocessados. Uma vez que os
enlatadas, menos coisas prontas, de “delivery” alimentos in natura ou minimamente
e optar por frutas, verduras coisas que eu não processados geralmente precisam ser
faço [...]” (P5). “Eu acho que sim, começar a selecionados, pré-preparados, temperados e
gostar de alguns alimentos, como cebola, cozidos, combinados a outros alimentos e
cenoura, é..., tomate é bom [...]” (P3). “Só no oferecidos na forma de pratos para que possam
caso mesmo de não consumir algumas coisas ser consumidos. Isso requer tempo da pessoa
por questões de gosto, por exemplo, de não ou de quem é responsável pelo preparo das
gostar de cenoura, de repolho até porque é refeições (BRASIL, 2014). Normalmente os
importante consumir, e substituir alimentos alimentos frescos e nutritivos requerem
que não são saudáveis” (P4). “Eu acho que eu habilidades culinárias, são mais caros e
acrescentaria comidas mais é... vegetal essas precisam de mais tempo para o seu preparo.
coisas assim, porque eu como muito pouco” Quando perguntado aquilo que facilitaria a
(P6). “Sim, porque eu como muito dessas coisas ingestão frutas, verduras e legumes, segundo o
assim relacionado a frituras, principalmente relato dos entrevistados, referiram à questão
salgados, essas coisas, refrigerantes, eu acho de saúde. Uma alimentação saudável, rica em
que poderia evitar mais isso, buscar consumir frutas, verduras e legumes, pode trazer
mais frutas [...]” (P8). “Sim, deixar de comer uns benefícios à saúde, sendo, portanto, um dos
salgados e demais coisas que assim, que não é fatores que mais influência na escolha e
bom pra gente, pra nossa saúde, e consumir compra desses alimentos (TEIXEIRA, 2013).
mais aqueles alimentos que é saudável pra nós, Motivo pelo qual os entrevistados citaram
como por exemplo, legumes e demais coisas” como principal responsável para a ingestão
(P10). desses alimentos. “No caso porque eles são rico
em vitaminas, o que ajuda também a contribuir

815
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para uma boa saúde. E também evitar certas que isso” (P7). “Nos informar, ter mais palestra
doenças” (P4). “Pra livrar de doenças, porque a respeito, eu acredito que conscientização e
minha família é um pouco doente e ai pra conhecimento também é essencial” (P6). “Eu
ajudar a combater mais” (P3). “É vem na minha acho que ter tipo almoço, nuntem, eles
cabeça exemplos destes alimentos, e também colocasse legumes, frutas, mas lá num tem.
vem a imagem de boa alimentação é saúde, Tem que comprar” (P9). “Poderiam incentivar
acredito que é essa imagem que passa pra por palestras, frequentemente tem palestra na
gente” (P7). “A minha irmã ela já trabalhou em escola e não é frequente abordar esses temas
consultórios essa coisa assim, de nutricionista, relacionado a alimentação [...]” (P4).
ela já foi técnica em enfermagem e falava das Pelo menos contratar uma nutricionista para
coisas que a gente tem que comer quando eu a gente ter pelo menos uma aula por semana
era mais novo que faz bem para a saúde [...]” pra gente. Porque lá na escola é muito ruim
(P6). “Quando eu jogava bola né, o treinador esse negócio de alimentos. Porque de manhã a
tinha que falar o que comer pra se manter com única coisa que a gente pode comer é pastel
a saúde, se manter bem com a saúde” (P2). com suco porque não tem nada, então a escola
No IFMA Campus de Grajaú oferece 05 já não ajuda muito nessa parte. Porque tem vez
(cinco) cursos técnicos integrados ao ensino que a gente fica no contra turno até tarde e a
médio, possui apenas uma cantina, não possui gente tem que comprar a nossa própria
um quadro de nutricionista e embora possua comida. Ai às vezes não é aquela coisa que
um Restaurante Estudantil nunca entrou em digamos nossa que comida saudável (P3).
funcionamento, o que inviabiliza o Todas essas situações contribuíram para
fornecimento de refeições aos estudantes. O aumentar a vulnerabilidade desses estudantes
instituto garante o auxílio alimentação aos em suas escolhas alimentares, e visivelmente,
estudantes socioeconomicamente vulnerável. elevando o consumo de salgados,
Em virtude disso, antes da pandemia, alguns refrigerantes, biscoito recheado, entre outros
discentes levam refeições de casa, outros alimentos processados e ultraprocessados.
preferem substituir as refeições principais por Os hábitos alimentares adotados pelos
lanches não saudáveis adquiridos na cantina ou adolescentes, nos últimos anos, têm sido
nos entornos da Instituição. Nos relatos dos marcados por uma participação mais
estudantes quando questionados sobre de que expressiva de alimentos industrializados ricos
forma a escola poderia contribuir para práticas em gorduras, açúcares e sódio, em
de bons hábitos alimentares disseram que: “Lá compensação diminuiu o consumo de
na escola tem os lugares de venda de alimentos naturais como frutas, legumes e
alimentos, no recreio, eu acho que, tipo, verduras, ricos em fibras e vitaminas.
substituir os alimentos que não são saudáveis O barateamento de produtos alimentícios
por saudáveis” (P11). “Acho que fazer algum (MOSS, 2015), a ampliação do uso de alimentos
tipo de acompanhamento eu acho, industrializados/processados, a alimentação
acompanhamento do aluno, vê ali o que tá fora de casa, o crescimento da oferta de
faltando, vê ali o que está acontecendo, acho refeições rápidas estão vinculados diretamente

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a renda das famílias e da possibilidade de conhecimentos e crenças, a partir de uma boa


gastos com a alimentação (LENZ, et al., 2009). É argumentação e concretas decisões (GROLLI,
notório o aumento na oferta de produtos 2016).
industrializados como refrigerantes, Por isso, é oportuno e eficaz propor a EAN no
salgadinhos tipo chips e doces com preços âmbito escolar, pois esta possui funções
acessíveis à população, sendo essa educativas e formadoras, estimulando a
popularização como sendo causa provável no interação e reflexão, além de ser um espaço
aumento do consumo desses alimentos nas que contribui para o desenvolvimento
últimas décadas, principalmente entre psicológico e emocional dos alunos e também
adolescentes. possibilita o compartilhamento de hábitos,
Neste cenário, torna-se fundamental preferências e modismo (SILVEIRA, et al.,
vislumbra o ambiente escolar onde crianças e 2011).
adolescentes passam boa parte do tempo, Nesse aspecto é importante ressaltar que a
como um espaço possível para realização de educação alimentar ao objetivar a mudança de
ações que promovam a saúde a partir de uma hábito acaba por necessitar de uma estrutura a
concepção ampla de alimentação saudável. A partir de metodologias participativas
alimentação saudável, em sua essência, incentivando o aluno no processo educativo.
compreende o ser humano como ser integral, Deste modo, como contemplação deste
perpassando também pelos aspectos trabalho na promoção da alimentação saudável
econômicos, culturais, sociais e que seja no ambiente escolar, foi desenvolvida uma
atrelada a realidade onde os sujeitos estão cartilha que aponta algumas estratégias de
inseridos (BRASIL, 2014). ações práticas visando o incentivo ao consumo
A intenção de analisarmos alguns trechos de de frutas, verduras e legumes.
relatos dos entrevistados teve como objetivo As ações desenvolvidas estão ligadas ao dia
refletir sobre os motivos ou não que levam os a dia dos alunos, com estímulos a se
discentes da Educação Profissional e expressarem e opinarem, que sejam capazes de
Tecnológica a consumirem frutas, verduras e confrontar fatos e julgar os diferentes pontos
legumes. Partindo do pressuposto de não de vista, assim como corroborar para sua
apenas considerar a alimentação pela ótica da formação como cidadão. A “CARTILHA PARA
necessidade biológica de sobrevivência do ser GESTORES, EDUCADORES E DISCENTES:
humano, mas também em suas demissões estratégias ao incentivo do consumo de frutas,
sociais. verduras e legumes em turmas de Educação
Nessa perspectiva, o tema alimentação Profissional Técnica de Nível Médio Integrado
precisa ser discutido no sentido que o comer campus Grajaú-MA”, será disponibilizada no
não é apenas uma necessidade vital, mas sim portal da EDUCAPES quando da aprovação pela
uma atitude que gera impacto a toda a banca do Mestrado Profissional em Educação
população, existindo a necessidade de fornecer Profissional e Tecnológica.
subsídios para que todos possam realizar suas
escolhas alimentares, por meio de seus

817
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Direito Humano à Alimentação adequada (DHAA) está inserido na Constituição Brasileira
(1988), como um direito (social) fundamental. Significa dizer que os indivíduos estão livres da
fome e da desnutrição e tem acesso a uma alimentação saudável. Embora não se torna suficiente
sua previsão no rol de direitos, sua concretização depende muito da colaboração entre Estado e
sociedade.
A Promoção da Alimentação Adequada e Saudável (PAAS) como diretriz da Política
Nacional de Alimentação e Nutrição fundamenta-se em ações de apoio, proteção e promoção da
saúde, objetivando melhorar a qualidade de vida da população, por meio de ações intersetoriais,
voltadas aos indivíduos, coletividades e aos ambientes que contribuem para a redução da
múltipla carga de má nutrição (desnutrição, carências nutricionais, sobrepeso, obesidade e outros
agravos relacionados à alimentação e nutrição) (BRASIL, 2013).
Contudo, a abordagem nutricional em saúde pública, com foco na educação nutricional,
tende a enfatizar e priorizar os aspectos técnicos da nutrição oferecendo informações muito
complexas, impedindo a capacidade de modificar o comportamento alimentar da população.
Assim, essa pesquisa partiu da hipótese de que é importante não apenas conhecer os aspectos
técnicos da nutrição, mas também os motivos explicativos do comportamento alimentar.
O aumento do consumo de FVL é uma das recomendações para prevenção e controle das
DCNT, responsáveis pelas principais causas de morbidade e mortalidade no Brasil (OMS, 2014).
Dada a relevância da participação das FVL na construção de um padrão alimentar saudável, o
propósito do estudo foi conhecer os motivos que levam os adolescentes a consumirem ou não
FLV a partir das percepções deles, de suas condições objetivas e subjetivas, considerando o
contexto em que esses indivíduos estão inseridos na sociedade. A fim de que as atividades de
intervenção realizadas no ambiente escolar possam ser promissoras para a promoção de hábitos
alimentares saudáveis e para a promoção da saúde.
Com base nos resultados observou-se como barreira para o consumo de frutas, verduras
e legumes entre adolescentes dos cursos técnicos integrado em Agropecuária e Agronegócio do
IFMA, Campus Grajaú, fatores econômico apontado como principal obstáculo percebido entre os
entrevistados, seguido do gosto, não tem o hábito, necessidade de preparo, influência da
indústria e de acesso e disponibilidade no ambiente escolar. E aquilo que facilitaria a ingestão
frutas, verduras e legumes, segundo o relato dos entrevistados, referiram à questão de saúde.
Frente a isso, a promoção da alimentação saudável para adolescentes não deve ser
encarada como um esforço individual, pois depende de vários fatores como os socioeconômicos,
culturais e também de iniciativas governamentais que potencializem e estimulem mudanças
comportamentais com foco na promoção da saúde. Investir, por exemplo, em programas públicos
como o PNAE visando facilitar o acesso de frutas, verduras e legumes, seria uma medida eficaz
para promover um maior consumo desses alimentos.
Considerar as percepções dos discentes expressas na fase de diagnóstico foi fundamental
para o planejamento e desenvolvimento de ações de Educação Alimentar e Nutricional, por meio
da criação de uma cartilha. Uma vez aplicada e executada, a cartilha poderá trazer resultados
positivos no que se refere à ampliação de conhecimento, na pretensão de modificar ou
modificação das práticas alimentares, de compreender como as escolhas alimentares podem
afetar nossas vidas e o meio ambiente.

818
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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822
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

UMA BREVE VIAGEM DE SÓCRATES A RUBEM


ALVES
Edna Sousa Barbosa 1

RESUMO: O artigo tem o objetivo de discutir e relatar sobre as correntes filosóficas


contemporâneas que norteiam as tendências educacionais e pedagógicas do Brasil dos Séculos
XX e XXI, além de voltarmos a atenção para a formação do sujeito na modernidade e como as
práticas e saberes vêm funcionando para fabricar a Modernidade e como ela o chamado sujeito
moderno. Como aporte teórico utilizamos Freire (1996); Gallo (2000);Foucault (2008),entre
outros.

Palavras-Chave: Educação; Escola; Pensadores; Tendências educacionais.

1Professora de Língua Portuguesa na Rede Municipal do Município de Primavera do Leste MT.


Graduação: Licenciatura em LETRAS pela Universidade Federal de Mato Grosso.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A BRIEF JOURNEY FROM SOCRATES TO RUBEM ALVES


ABSTRACT: The article aims to discuss and report on the contemporary philosophical currents
that guide the educational and pedagogical trends in Brazil in the 20th and 21st centuries, in
addition to turning our attention to the formation of the subject in modernity and how practices
and knowledge have been working for to manufacture Modernity and, like it, the so-called
modern subject. As a theoretical contribution we used Freire (1996); Gallo (2000); Foucault
(2008), among others.

Keywords: Education; School; thinkers; Educational trends.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO novo tipo de homem para a sociedade


capitalista e defenderem princípios ditos
O presente artigo traz um breve relato democráticos e, portanto, o direto de todos se
histórico sobre as correntes filosóficas desenvolverem segundo o modelo proposto de
contemporâneas que norteiam as tendências ser humano, esquecem o fato fundamental
educacionais e pedagógicas do Brasil dos desta sociedade, que é o de estar ainda dividida
Séculos XX e XXI, temos como objetivo em termos de condição humana entre os que
voltarmos a atenção para a formação do sujeito detêm os meios de produção, isto é, entre
na modernidade e como as práticas e saberes dominantes e dominados (RIBEIRO, 1981, p.
vêm funcionando para fabricar a Modernidade 116)". De qualquer maneira, o importante é
e como ela o chamado sujeito moderno. que os educadores perceberam e denunciaram
Iniciamos nossa viagem pelo pensador John as deficiências educacionais.
Dewey, passando por Martin Buber, Jansz
Korczak, Paulo Freire, Friedich Nietzsche,
UMA BREVE VIAGEM DE
chegando a Michel Foucault e Rubem Alves.
Objetiva-se relatar sobre as correntes SÓCRATES A RUBEM ALVES
filosóficas contemporâneas que norteiam as O projeto da Modernidade identifica-se com
tendências educacionais e pedagógicas do a ilimitada confiança na razão, capaz de
Brasil dos Séculos XX e XXI, além de apresentar compreender e subjugar a natureza em
um breve relato histórico sobre as tendências proveito da humanidade e com a crença no
educacionais e pedagógicas do Brasil dos progresso como trajetória humana que, pelo
séculos XX e XXI, e, compreender a formação uso da razão, garantiria à sociedade ingressar
do sujeito na modernidade. em um estágio mais desenvolvido no sentido
O artigo em questão é um estudo de maior humanização, entendido como
desenvolvido durante o curso de LETRAS na liberdade (e, idealmente, também como
UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso igualdade e fraternidade). Na busca da
– como parte integrante da grande curricular concretização deste projeto, houve um
da graduação. Lembrando que a história da admirável crescimento em termos de
educação no Brasil teve a influência dos quantidade e refinamento em todos os campos
escolanovistas e foi marcante a ação de do conhecimento e de suas aplicações. O
educadores como Fernando de Azevedo e século XVI foi marcado por profundas
Anísio Teixeira, trouxe para a realidade mudanças na visão do mundo pelos homens,
educacional brasileira, ideias e técnicas toda efervescência característica do
pedagógicas dos Estados Unidos da América, Renascimento aparece, sobretudo, na esfera
representadas pela filosofia educacional de intelectual e isso favorece uma certa rejeição
John Dewey. Um aspecto negativo do aos princípios e às ideias que governavam o
pensamento dos pioneiros é que a realidade mundo até então.
brasileira era totalmente adversa da realidade As correntes filosóficas contemporâneas que
americana ou europeia. "Ao proporem um norteiam as tendências educacionais e

825
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pedagógicas do Brasil dos séculos XX e XXI Pode-se afirmar que o pensamento


tiveram como precursor inicial o pragmático Existencialista provocou mudanças
John Dewey, com seu pensamento e sua significantes na educação, pois propunha a
grande influência na Escola Nova. Foi Dewey afirmação da existência concreta da criança, e
que pregou o ensino centrado no aluno e não também valorizava aspectos que não haviam
no professor; “centro é o aluno”. Fez também sido trabalhados em educação até aquele
críticas aos aspectos práticos e tradicionais da momento, tais como: decisão, diálogo,
educação. Para ele, o aluno, ao invés de autenticidade e compromisso.
guardar informações em números excessivos, Sartre pregando o método fenomenológico,
deveria assimilar os conteúdos, resolvendo que foi o preferido dos existencialistas,
problemas práticos e reais, isto é, deveria afirmava que “a existência precede a essência”.
aprender fazendo. A fenomenologia é o método ou tentativa de
Nos ideais escolanovista o professor é descrever e interpretar os fenômenos, isto é, o
orientador. Esse conceito de Escola Nova observador fenomenológico vai tentar olhar
ocorreu na década de 1930, e estimulava o com olhos desprovidos de qualquer
debate, a crítica e experiências, como votar e preconceito os processos e os objetos pelo que
ser votado na escola. É importante ressaltar são não importando o que foi dito antes.
que os alunos tinham a participação restrita nas No campo educacional, a fenomenologia
escolas até então. A partir da Escola Nova, com trouxe várias contribuições, tais como: a
a pedagogia proposta por Dewey criou-se análise do homem como ser relacional; a
educandos autônomos, criativos e afeitos aos relação do professor x aluno passa a ser
debates e ao trabalho coletivo. investigada, mas não mais do ponto de vista de
Outro filósofo que pensou em maneiras seres distintos ou até antagônicos.
diferentes de ensino foi o educador polonês Dessa forma, a fenomenologia humanizou os
Suchodlski, que dividiu as manifestações estudos sobre a educação, e diversos
pedagógicas surgidas desde a antiguidade até educadores romperam com a dicotomia
nossos dias, em duas grandes correntes: as professor x aluno e propõem uma relação de
pedagogias da essência e as pedagogias da troca sem hierarquias e verticalidades, sendo
existência. Sendo que a primeira teve início que o importante nesse método não é a
com Platão, e foi desenvolvida pelo objetividade científica e fria, mas os elementos
cristianismo. Essa pedagogia investiga tudo o emocionais e afetivos que se estabeleceram no
que é empírico no homem e busca uma processo estudado.
educação como ação que desenvolva no Martin Buber escreveu duas obras
indivíduo (criança) sua verdadeira essência, ou fundamentais no campo da Antropologia
seja, educava a criança de fora para dentro. Já Filosófica que são: “Eu e Tu” e “Do Diálogo ao
a pedagogia da existência procurava priorizar o Dialógico”. Nessas obras Buber defende a ideia
entendimento dos desejos e anseios de cada de que houve um tempo em que o homem
criança, ou seja, valorizava a educação de tinha uma estreita relação com Deus, com a
dentro para fora, do indivíduo para o social. natureza e com os outros seres, apoiado na

826
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

visão de que o outro é um fim em si e, por isso, conhecimento era o indutivo, que procede da
deve ser respeitado em sua dignidade, mas a observação e do experimento; René Descartes
modernidade nos trouxe outro paradigma e foi (1596-1650), fundador do racionalismo
estabelecida uma nova postura dos homens moderno, para quem o mundo funciona como
frente aos outros. Passou-se assim a tratar uma máquina (mecanicismo), cujos segredos
Deus, a natureza e os outros seres como uma de funcionamento podem ser desvelados pelo
relação Eu-isso; dessa forma ele passou a tratar uso da razão afirma que o conhecimento da
o outro como um mero meio para atingir seus mecânica do funcionamento da natureza
fins. A tese central de Buda é que o homem é permitiria ao homem antecipar
um ser de diálogo, e precisa do olhar do outro acontecimentos e dispor de domínio sobre a
para se realizar plenamente como indivíduo. E natureza;
para recuperarmos a “relação” eu-tu na A racionalidade científica tornou-se a
educação, temos de deixar o aluno falar de principal referência do conhecimento
igual para igual, isto é, temos de romper associada à utilidade, que agregou poder ao
barreiras e preconceitos, nos colocando no conhecimento. O homem empreendeu, então,
lugar do aluno e percebendo o quanto “ele” um esforço de autonomia, num sistema
sofre no processo educativo e, diante disso, baseado na centralidade do indivíduo e seus
teríamos a efetivação de um diálogo que direitos, tornando-se a subjetividade uma
valorizaria a dignidade de cada um. norma central do projeto moderno de
Jansz Korczak foi outro educador que teve sociedade. Nesse contexto, o coroamento do
uma atitude fenomenológica em sua prática conhecer seria a capacidade e a ação
educativa. Em sua obra “Quando eu voltar a ser transformadoras. Resultantes desse conjunto
criança” expõe uma experiência ficcional, na de ideias, os processos históricos da Revolução
qual após ser visitado por um duende ele se Francesa e da Revolução Industrial foram,
torna criança de novo, mas com um diferencial; respectivamente, a expressão política e a base
sua consciência continua sendo de adulto. material de uma revolução epistemológica e de
Dessa forma faz-se presente o dialogismo uma nova civilização no ocidente, que levaria o
consciência-eu/outro. homem à plena liberdade.
Saindo do dialogismo entramos na dialética As verdades preestabelecidas já não são
de Karl Marx e sua visão socialista. Para Marx aceitas como únicas verdades. Existem povos
nessa nova sociedade sem classes que estava diferentes que seguem dogmas distintos,
surgindo deveria ser construída uma nova mantêm costumes diversos, em que tudo
escola, a qual chamou de “Educação parece fomentar incerteza, iniciando-se, assim,
Omnilateral”, ou “Politécnica”, na qual um período conturbado de descrença e dúvida.
formaria o aluno dentro de três aspectos A ideia de liberdade cristã estava contra o
primordiais: mental, físico e técnico. A tarefa paganismo. Como conseqüência desse
maior da ciência seria o domínio da natureza pensamento moderno há o posicionamento do
pela compreensão de seus processos e para homem em sua cultura, visão de mundo, do
quem o único método realmente confiável de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

universo, e de si mesmo, trata-se da relação No final da década de 50 do século XX, Paulo


Sujeito-Objeto. Freire critica a Pedagogia Tradicional, a qual
Dentro desse novo pensamento educacional chamou de bancária, pois, segundo ele, ocorre
devia ter uma formação cultural sólida e que um depósito de informações como em uma
além dos alunos conhecerem os clássicos da conta bancária, e o professor verá quanto tem
literatura, deveriam também ter acesso aos da de “saldo” na cabeça do aluno no dia da prova.
Ciência e da Educação Física. Dessa forma Para Paulo Freire “educar é conscientizar”.
proporcionaria a ginástica e o ensino de noções Destarte, surge com ele a Pedagogia
básicas de higiene e saúde. Quanto ao técnico, Libertadora. Essa pedagogia revolucionou, já
esse seria alcançado pelo trabalho manual na que propunha que a alfabetização partisse de
escola, tanto no artístico quanto no técnico- temas geradores coletados do cotidiano da
profissionalizante. comunidade, ou seja, usar as coisas e objetos
Marx definiu vários aspectos que seriam de conhecidos dos aprendizes, pois dessa forma
fundamental importância para o êxito desse eles aprenderiam mais facilmente. Outra
novo modelo de escola, entre os quais contribuição importante de Freire foi a
destacam-se: a eliminação do trabalho infantil Alfabetização de Jovens e Adultos.
que tivesse caráter de exploração; a associação Paulo Freire é considerado hoje como um
entre educação e produção material; a dos maiores educadores do século XX.
inseparabilidade entre a educação e a política. Friedrich Nietzsche pode ser considerado o
Foi com Karl Marx que surgiu o pensamento portal de entrada para a filosofia
dialógico, no qual as contradições que ocorrem contemporânea, pois é um dos personagens
na escola passavam a ser desveladas com mais fundamentais na história do pensamento
clareza. Foi nesse período que surgiu a escola educacional chamado “Pós-Moderno”. Foi o
pública, laica, universal e gratuita, não se primeiro filósofo a confrontar a tradição, seja
esquecendo que essa experiência escolar foi socrática, platônica, agostiniana ou cartesiana,
influenciada pelo Iluminismo. Esse filósofo pregando o valor do corpo, do desejo e do
criticou as propostas socialistas que o prazer como aspectos que não devem ser
antecederam e sua proposta apoiou-se em sua menosprezados nas atividades humanas, e
concepção de Materialismo Dialético, que lhe principalmente na educação. Suas obras
permitiu analisar a história a partir das relações argumentam exatamente uma educação
econômicas. equilibrada entre razão e corpo, e que dê valor
O esclarecimento e a compreensão da às artes com a mesma intensidade dada às
totalidade social e a discussão de temas e ciências. Essa educação tem que ser criativa e
problemas específicos da educação são autônoma, valorizando a vida em todas as suas
contribuições do marxismo para a educação. expressões.
Marx foi o primeiro a esclarecer e a descrever a A Pós-Modernidade tem como principais
influência determinante da economia na pensadores Michel Foucault, Gilles Deleuze e
educação, a partir da estrutura produtiva. Rubem Alves. Foucault combateu com
veemência a ideia de que o poder se dá de cima

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para baixo e defendeu a tese de que há uma uma crítica genealógica porquanto trata das
expressão do poder que se espalha por todas as contingências que nos fazem ser o que somos,
direções. Essa filosofia prega que o poder é o e da possibilidade de não mais sermos,
resultado de diversas forças que se encontram fazermos ou pensarmos aquilo que somos,
nas relações expressas no cotidiano. Esse fazemos ou pensamos. Acrescente-se, ainda,
filósofo iniciou uma prática epistemológica, que a crítica foucaultiana não é salvacionista ou
segundo a qual é possível operar uma análise messiânica: “se quisermos um mundo melhor
dos discursos teóricos e práticos do saber; a teremos que inventá-lo, já sabendo que
arqueologia do saber, que não se preocupa em conforme vamos nos deslocando para ele, ele
tornar explícito o conteúdo significativo dos vai mudando de lugar”(Veiga-Neto, 2005,
discursos, mas sim as condições em que ele foi p.30). Ao configurar a racionalidade moderna
produzido, e se preocupa também com a sua no pensamento de Foucault, nota-se sua
gênese, seu desenvolvimento, como se preocupação em responder à pergunta: “como
transmitiu, como foi utilizado e por que foi nos tornamos o que somos como sujeitos?”
substituído por outro. A crítica de Foucault à Parte, então, da expressão “o sujeito desde
racionalidade moderna não exclui a própria sempre aí” – visto como objeto das influências
racionalidade, mas questiona a ideia sociais, culturais, políticas, econômicas,
unificadora e totalitária de razão. O homem educacionais – e por isso mesmo, facilmente
não preexiste ao mundo social, afirma, e o manipulável. Esta condição seria a fonte dos
racional não é pré-determinado: ele se constrói maiores problemas sociais, na medida em que
por meio do social, que por sua vez vai se ela agiria encobrindo e naturalizando o seu
moldando pela ação humana. Rejeita as ideias caráter manipulador, arbitrário e opressor.
totalizantes e as metanarrativas, pois aquele Suas pesquisas abordaram três modos de
que fala, fala de um lugar situado e específico. subjetivação que transformam os seres
Sua crítica tem sempre presente que nenhuma humanos em sujeitos: a objetivação do sujeito
questão tem resposta definitiva e acabada e no campo dos saberes (arqueologia); esta tem
pretende-se desancorada, por isso preocupa-se um caráter histórico e político, procurando
em desterritorializar, desfamiliarizar, levar ao descobrir como os saberes aparecem e se
estranhamento; apoia-se sempre transformam; a objetivação do sujeito nas
provisoriamente nos acontecimentos. Fala-nos, práticas do poder que divide e classifica
também, de uma liberdade que se efetiva em (genealogia):
pequenas doses, no cotidiano concreto, que é A genealogia seria (...) um empreendimento
“alcançável nas pequenas revoltas diárias, para libertar da sujeição os saberes históricos,
quando podemos pensar e criticar o nosso isto é, torná-los capazes de oposição e de luta
mundo” (VEIGA-NETO, 2005 p.26). contra a coerção de um discurso teórico
Sua crítica é arqueológica na medida em que unitário, formal e científico.
trata tanto dos discursos que articulam o que A reativação dos saberes locais (...) contra a
pensamos, dizemos ou fazemos, quanto de hierarquização científica do conhecimento e
levar em conta os acontecimentos históricos. É seus efeitos intrínsecos de poder, eis o projeto

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

destas genealogias desordenadas e Ao fazer um esquema imaginário das


fragmentárias (FOUCAULT, 2004, p17). práticas escolares, desvela como pano de
Michel Foucault foi um grande estudioso da fundo o disciplinamento, a vigilância, os
história das instituições disciplinares surgidas exames, as auto narrativas e outras práticas de
no Ocidente com a modernidade, e entre elas controle e poder. Tais práticas são adequadas
está a instituição escolar. Talvez isso se deva para a construção do sujeito moderno,
por ele ter passado grande parte de sua vida cidadãos da sociedade disciplinar e capazes de
nessas instituições, pois começou seus estudos autogoverno. Assim a escola cria condições
muito cedo, com menos de quatro anos de para possibilitar a modernidade. Observa
idade, passando toda a sua vida fazendo parte Foucault que as práticas sociais, mais
delas, seja como aluno, ou como professor. Ele propriamente as práticas escolares estão
se sentia excluído da sociedade (por ser envolvidas pela cultura e têm uma dimensão
homossexual) por esse motivo coloca em suas discursiva. E vê o discurso como uma rede de
obras e em suas reflexões a busca da representações que utiliza textos, imagens,
reconciliação consigo mesmo, criando, dessa códigos de conduta, estruturas narrativas que
forma, um outro tipo de pedagogia, um outro também contribuem para moldar a vida social.
tipo de educação, isto é, uma pedagogia Todas estas tecnologias de poder têm por
exercida por si sobre si mesmo, a qual dará o função impor uma conduta determinada a uma
nome de subjetivação, em contraposição à multiplicidade de indivíduos ou ao indivíduo
sujeição, que é o princípio regente na escola e isoladamente, de forma a que respondam às
na sociedade. expectativas das instituições criadas pela
Na educação, e de modo especial no sociedade moderna.
currículo, os professores, a princípio, têm Nossas escolas e nossa sociedade buscam o
domínio dos discursos que formam o currículo. poder (o domínio) e isso pode ser comprovado
Segundo Foucault, os professores tornam-se no dia-a-dia de cada um de nós, na escola
locutores anônimos e com autoridade, mas nossos alunos sentam sempre em fileiras,
desconhecem as origens do discurso que temos a ilusão de que com isso manteremos a
praticam. Por outra parte, Foucault desconstrói ordem e conseguiremos dominar a turma
a ideia de sujeito epistêmico, base da exercendo nosso poder de professor, na
epistemologia construtivista exaustivamente sociedade não é diferente: é o rico mandando
estudada e proposta como método de trabalho no pobre, é o patrão mandando no assalariado
aos professores, ao propor que “não é a e assim por diante. Mas voltamos a Foucault,
atividade do sujeito do conhecimento que foi da experiência da subjetivação em
produz um saber útil ou arredio ao poder, mas contraposição a sujeição que surgiu o pensador
o saber-poder, os processos e as lutas que o da recusa, da rebelião do dia-a-dia contra o
atravessam e o constituem, que determinam as poder, que tenta se apossar de nossos corpos e
formas e os campos possíveis do de nossas almas, para mudarmos essa
conhecimento” (FOUCAULT, 2005, p.30). realidade devemos buscar uma saída, e essa
saída será encontrada na educação, Foucault

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

“não esperava por mudanças sociais que viriam aprender a aprender, buscando para isso
no futuro, mas nos convidava a criar o novo no direcionar à singularidade de cada
presente, em todas as relações em que nos sujeito(aluno) e de cada sociedade, pois
encontramos” (GALLO e VEIGA-NETO, 2008). segundo Pedro Demo:
Parafraseando Veiga-Neto (2008), os O que marcaria a modernidade educativa
pensamentos de Foucault sobre a educação seria a didática do aprender a aprender, ou do
devem ser analisados com a seguinte metáfora: saber pensar, englobando, num todo só, a
o sujeito é tomado como uma dobradiça, ou necessidade de apropriação de conhecimento
seja ele(o sujeito) é o elemento que fará a disponível e seu manejo criativo e crítico. A
ligação ambos, pois ele é o elemento da competência que a escola deve consolidar e
pesquisa filosófica e também é o elemento sempre renovar é aquela fundada na
principal para a pratica da pedagogia. propriedade do conhecimento como
Entendemos então, que o “sujeito é o ‘objeto- instrumento mais eficaz da emancipação das
objetivo’ de qualquer teorização ou prática pessoas e da sociedade (1992) .
educacional” (idem 2008. p.19), sendo assim a O diferencial dessa concepção é que o
principal função do educador é cuidar dos conceito precisa ser construído/reconstruído
educandos, porque esses são os “objetos- de acordo com as necessidades específicas e
objetivos” de sua prática educativa, e cuidando gerais de cada aluno (sujeito), dessa forma,
dos educandos ele estará cuidando de si estaremos buscando o sentido mais amplo da
mesmo. educação que é levar o aluno a estudar, a tecer
“Pensando com Foucault, o educador precisa o saber, a descobrir aquilo que realmente
adestrar-se a si mesmo, construir-se como necessita para aprender. Como diz Lacan, nós
educador, para que possa educar o outro, isto reduzimos a Educação a ser apenas um
é, preparar-se para o outro para que adestre-se aprender, em vez de um aprender a se
a si mesmo.”(idem.p.25). descobrir, a construir o saber, e assim fazer
Destarte,” o educador precisa emancipar-se com que nosso aluno tenha prazer em buscar,
a se mesmo, para que sua atividade docente em aprender.
possa ser um ato de emancipação e não de Assim como Foucault, Deleuze preocupou-se
embrutecimento, pois ao se emancipar, ao com os pequenos detalhes e a riqueza e
exercitar em si mesmo, o educador estará apto originalidade de cada ser, destacando a
para um processo de subjetivação que insista filosofia dos “universais” abstratos para o
em que cada um eduque-se a se mesmo” estudo da concretude dos eventos e
(idem.p.25). acontecimentos.
As ideias desse filósofo estão cada vez mais Sua filosofia nega a dialética e afirma a
sendo utilizadas no âmbito educacional. multiplicidade, as diferenças, as variações que
Desse modo, devemos conceber a Educação, se manifestam na vida e que mostram que não
ou seja, o processo de ensino-aprendizagem de há uma identidade pura e sim seres em
uma nova forma, isto é, procurar entender a constante transformação. Dentre os conceitos
Educação como um processo dinâmico de que criou um dos mais importantes para a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contemporaneidade e para o campo da


educação é o do rizoma; esse conceito
emblemático resume seu pensamento.
O conceito do rizoma é uma proposição
paradigmática em substituição ao paradigma
arbóreo de Hegel. Esse novo conceito
constituirá numa outra escola, num outro
professor e num outro aluno. Uma revolução
imensa se faria no meio educacional tão
conservador.
Rubem Alves prega uma nova maneira de
ensinar defendendo uma Pedagogia de
Inconscientização, na qual ele não quer
abandonar a tarefa de conscientizar os alunos
frente à realidade, mas o que ele pretende é
dar vez e voz ao corpo, ao desejo, à brincadeira,
à alegria, ao jogo, coisas despregadas pela
escola tradicional.
Alves tem uma forma de pensar que se
aproxima de Foucault e Deleuze, já que, além
de terem uma inspiração Nietzscheana que
rompe com o paradigma racionalista
cartesiano, afirmam o corpo, o desejo e a
dimensão inconsciente do humano.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após fazer essa breve “viagem” de Sócrates a Rubem Alves, visitando historicamente cada
fase de crescimento do ser humano, vimos que as correntes de pensamento estão estreitamente
ligadas a cada tempo e a cada fazer humano dentro de sua época. Na Antiguidade Clássica, onde
“tudo começou” Platão e sua busca da essência faz uma primeira análise da essência humana,
descolando-se pela primeira vez dos aspectos dísticos, enxergando o homem como um ser em si.
Na Modernidade sabemos que Descartes vinculou a filosofia a modo produtivo partimentado,
sendo sucedido por Marx que viu a influência da produção industrial na educação. Assim
chegando aos nossos dias, e com eles a Pós-Modernidade; entendemos que uma compreensão
de Freire, Dewey e Rubem Alves, com sua revisitação a Foucault e a Deleuze poderão trazer
excelentes contribuições ao ensino, particularmente no Brasil, por considerar a nossa matriz
cultural tão variada, conjuntamente com as variações sociais e econômicas. Considerando que
para os diversos padrões de comportamento poderia haver um estímulo-resposta buscado em
um ou outro desses grandes pensadores.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1981.

CASTRO, Eliana de Moura. Psicanálise e Linguagem. São Paulo: Ática, 1986.

DEMO, Pedro. Formação de Formadores Básicos. In aberto. Brasília: ano 12, Nº 54, abr/jun,
1992.

FOUCAULT, Michel. Foucault pensa a educação. In. Revista Educação –edição especial. Vol
3. São Paulo: Segmento, 2008.

FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do saber. Rio de Janeiro Fiorense, 1986.

FREIRE, Paulo. A pedagogia do oprimido. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

GALLO, Silvio. Deleuze e a educação. Belo Horizonte: autêntica, 2000.

RIBEIRO, M. L. S. História da Educação Brasileira: A Organização Escolar. 3a. Edição. São


Paulo, Editora Morais, 1981.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

USO DE TECNOLOGIA EM VIATURAS POLICIAIS


Marcos Jessé Caetano1
Alex Sandro Pacheco2

RESUMO: As viaturas policiais exercem um papel fundamental para que o trabalho policial seja
realizado de maneira rápida e eficiente. Entretanto, devido a burocracia de documentos e
organização de informação, esse trabalho pode acabar sofrendo um atraso. A presença de
tecnologia nas viaturas policiais facilita o acesso a essas informações garantindo menor tempo
em burocracia e permitindo facilitar o trabalho policial, assim liberando mais rapidamente as
equipes para novos atendimentos. Logo, esse artigo (trabalho) possui como objetivo realizar uma
revisão bibliográfica referente ao uso de tecnologias embarcadas em viaturas da polícia militar.
Assim, destacando os equipamentos e tecnologias utilizadas, benefícios e exemplos de seu uso.
Com base na revisão realizada podemos concluir que a implementação de tecnologia no dia-a-dia
policial auxilia no combate ao crime. O uso de tecnologia é bastante presente principalmente com
o uso de rádios comunicadores, GPS e outros equipamentos responsáveis em facilitar o
atendimento a ocorrências e organização de informação.

Palavras-Chave: Polícia Militar; Segurança Pública; Tecnologia embarcada.

1 Policial Militar do Estado do Paraná.


Graduação: Tecnologia em Redes de Computadores; Especialização em Tecnologia da Informação, Especialização
em Gestão de Riscos e Cibersegurança.
2 Policial Militar do Estado do Paraná.

Graduação: Bacharel em Ciência da Computação, Especialização em Segurança Pública, Especialização em


Análise Criminal.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

USE OF TECHNOLOGY IN POLICE VEHICLES


ABSTRACT: Police vehicles play a key role in ensuring that police work is carried out quickly and
efficiently. However, due to the bureaucracy of documents and organization of information, this
work may end up being delayed. The presence of technology in police vehicles facilitates access
to this information, ensuring less bureaucracy and facilitating police work, thus freeing up teams
more quickly for new services Therefore, this article work aims to carry out a literature review
regarding the use of technologies embedded in military police vehicles. Thus, highlighting the
equipment and technologies used, benefits and examples of their use. Based on the review
carried out, we can conclude that the implementation of technology in the police's day-to-day life
helps in the fight against crime. The use of technology is very present mainly in the use of radios,
GPS and other equipment responsible for facilitating the attendance to occurrences and
information organization.

Keywords: Military police; Public security; Embedded technology.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO POLÍCIA MILITAR


A polícia, exercendo o monopólio da força
O uso de viaturas no desenvolvimento do
em nome do Estado, tem a função de controle
trabalho policial é de extrema importância para
social, em especial das classes consideradas
que o trabalho seja realizado de forma efetiva.
perigosas, servindo à preservação da ordem
A polícia Militar utiliza a viatura principalmente
social vigente. O Brasil, desde sempre, contou
para o policiamento ostensivo, preventivo,
com forças de segurança pública militarizadas,
atendimento de ocorrências e atividades
concebidas como instrumento para a proteção
administrativas.
do Estado (VALENTE, 2012).
No Brasil, as viaturas contam com luzes de
Os policiais militares, como servidores
emergência e rádio comunicador, sendo assim
públicos estaduais, estão protegidos por uma
equipamentos básicos nas viaturas policiais.
legislação específica. No exercício da sua
Entretanto, alguns estados estão equipando
atividade de manutenção da segurança e da
suas viaturas com câmeras de vídeo e sistemas
ordem pública se diferenciam dos demais
de captura de áudio como meio de aprimorar a
servidores por seu ambiente e pelas situações
segurança pública e os direitos humanos
diversificadas de trabalho; pela exposição
(BOCK; POZZEBON; FRIGO, 2016).
rotineira às situações de riscos à saúde e à vida,
Os registros de ocorrência exigiam do policial
tais como: rotina, horas-extras, estresse,
militar um esforço considerável para a sua
insegurança e equipamentos inadequados
execução, pois demandam o cadastro de
(FERREIRA; BONFIM; AUGUSTO, 2011, p. 7).
muitas informações em diversos formulários de
A Polícia Militar tem grande importância na
papel, tornando morosa a coleta de dados
manutenção e preservação da ordem pública,
relevantes para a prevenção ao crime e
garantindo com o exercício de suas atividades a
persecução penal, além de prolongar o tempo
tranquilidade pública. A sua competência é
de envolvimento dos policiais e das partes
definida e limitada por previsões legais, as
interessadas no atendimento das ocorrências.
quais norteiam todas as ações das instituições
O uso da Tecnologia Embarcada em viaturas
policiais (SILVA, 2020).
policiais permite facilitar o trabalho profissional
Para atendimento da ocorrência em local, a
de segurança pública, garantindo menor tempo
Polícia Militar é demandada via número 190 ,
em burocracia e permitindo o fácil acesso a
as chamadas centrais de atendimento . No local
informações.
de ocorrência, os policiais reúnem possíveis
Logo, este trabalho tem como objetivo
indícios de infração e conduz o autor do fato, a
apresentar (realizar) as formas de utilização
vítima e as testemunhas para a Central de
(um levantamento bibliográfico sobre) do uso
Registro de Ocorrência, onde geralmente existe
de tecnologias embarcadas em viaturas da
uma sala destinada à Polícia Militar para a
polícia militar. Assim, destacando os
confecção do Boletim de Ocorrência (DIAS;
equipamentos e tecnologias utilizadas,
JESUS; RODRIGUES, 2021).
benefícios e exemplos de seu uso.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

VIATURAS POLICIAIS efeitos sociais ligados a uma técnica particular


num campo particular”. Se a tecnologia é
Para auxiliar na execução de suas atividades,
indispensável no mundo de hoje,
com o passar do tempo e o progresso da
especialmente as novas tecnologias, torna-se,
humanidade, apareceram as hoje chamadas
pois, indispensável também refletirmos sobre
viaturas policiais, para dar a necessária
seu uso e seu papel na segurança pública
mobilidade que o cumprimento da missão
(SOUZA, 2009).
requer (BARROSO, 2006). Segundo Rodrigues
(2021), as viaturas de polícia no Brasil são A tecnologia embarcada em viaturas policiais
carros comuns que em sua maioria das vezes veio para modificar os boletins de ocorrências
são modificados, adquiridos baseados em em papéis e confeccionados manualmente,
que demoravam um certo tempo para serem
exigências lícitas ou simplesmente locados
preenchidos e muitas vezes de forma errônea.
pelos batalhões de empresas.
Também facilita a comunicação entre os
policiais com a utilização da internet, lavrar
Figura 1. Viatura da Polícia Militar
autuações de trânsito pelo aplicativo,
fotografando ocorrências, filmando e gravando
áudios para provas lícitas em ações judiciais ou
crimes cometidos (WONSOWSKI, 2019).
A polícia militar do Paraná , desenvolve um
sistema onde será possível a lavratura do
boletim de ocorrência no local do fato , assim
podendo imprimir o mesmo para as partes
Fonte: Carvalho e Campos (2019) envolvidas.

A viatura policial é um veículo fornecido TIPOS DE EQUIPAMENTOS E


aos policiais para que eles possam se deslocar TECNOLOGIAS
entre os locais de ocorrências até as delegacias
As viaturas apresentam uma série de
ou unidades da polícia militar. As viaturas
tecnologias, entre elas a vigilância por câmeras
variam em marcas e modelos, conforme o
em tempo real promovida por uma central de
entendimento das necessidades de cada
vídeo monitoramento, podendo apresentar
instituição, variando também, conforme o
áudio e imagem em perfeitas condições
Estado da nação ao qual pertencem estas
(MONDEGO, 2019). Diversas tecnologias
forças (BOCK, 2015).
móveis caracterizadas por sua portabilidade
são utilizadas nas viaturas policiais. Além da
TECNOLOGIA EMBARCADAS telefonia combinada com as redes sem fio que
EM VIATURAS POLICIAIS permitem a comunicação e permissão de
De acordo com Linard (1996), tecnologia é localização à distância, existem outras
um “conjunto de discursos, práticas, valores e tecnologias e equipamentos que impactam de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

forma relevante o trabalho profissional dos BENEFÍCIOS DO USO DAS


policiais (SACCOL & REINHARD, 2007).
O tablet e o celular são as tecnologias mais TECNOLOGIAS
conhecidas e utilizadas (FIGURA 2). Segundo Um sistema embarcado de monitoramento
Mulbert (2014), ambos são os dispositivos constitui uma grande vantagem nas operações
tecnológicos de maior impacto nos últimos policiais. A transparência por intermédio da
anos, apresentando funcionalidades de gravação é de suma importância para que uma
computadores móveis, sendo mais intuitivos e operação seja bem-sucedida. Essas
de fácil mobilidade. Esta ferramenta auxilia a informações adquiridas pelo sistema de
vida policial, sendo para utilizar um aplicativo monitoramento futuramente poderão ser
de atualização e aplicação de leis, assim como consultadas como evidências ou simplesmente
a elaboração de multas e comunicação (SIMÃO, para observar os pontos fortes de uma
2017). Também sendo possível utilizar operação bem-sucedida e os pontos fracos de
aplicações como por exemplo o boletim de uma que não foi corretamente executada
ocorrência eletrônico. (MAGYAR & SOUZA, 2014).
Figura 2. Exemplo de celular/tablet utilizado A maior presença de policiais na rua,
pela polícia melhoria na agilidade dos atendimentos,
economia de papel e amparo na ocorrência são
grandes vantagens da tecnologia embarcada
(WONSOWSKI, 2019). Segundo Pagotto e
Muniz (2021), a tecnologia embarcada em
viaturas policiais traz mais agilidade e eficiência
no atendimento de ocorrências, além de
fornecer possibilidades inéditas aos bombeiros
Fonte: Extra (2020) e policiais militares e civis, como wi-fi integrado
(Um equipamento que passa despercebido para consulta de bancos de dados, leitor de
mas afeta diretamente na prestação de serviço biometria e sistema de leitura de placas de
policial é a arma de choque. Utilizada como veículos (FIGURA 3).
forma de alternativa na contenção de Figura 3. Reconhecimento Biométrico em
indivíduo, a arma de choque, ou taser, é uma Viaturas
arma “não-letal” utilizada para combater
bandidos em fuga por meio de um projétil que
libera uma descarga elétrica de 50.000 volts
(CIRIACO, 2007).

Fonte: Agência Estadual (2017)

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EXEMPLOS DE TECNOLOGIAS E via, monitoramento de velocidade, freada,


adequação entre velocidade e marcha e o
SEU USO tempo que a viatura ficou na cerca. Segundo
No estado de Santa Catarina é bastante Kvietinski e Mastella (2021), os indicadores de
frequente o uso do PMSC Mobile pela Polícia criminalidade na área de aplicação do Método
Militar do Estado. O PMSC Mobile é um SIGA diminuíram 12,4%, ao passo que nas
aplicativo desenvolvido para auxiliar o trabalho demais áreas houve um aumento de 4,4%.
policial melhorando seus processos, reduzindo Já no estado do Maranhão, a Polícia Militar
o tempo de atendimento às ocorrências e do Estado conta desde janeiro de 2016 com
aumentando a qualidade do serviço prestado equipamentos de tecnologia avançada em suas
pela Polícia Militar do Estado (SIMÃO, 2017). viaturas policiais. Segundo netseg (2017) a
Com o PMSC Mobile, as informações de Tecway, empresa de locação de viaturas, é
diversos formulários de papel estão responsável por diversas adaptações físicas nas
sistematizadas em um aplicativo organizado. viaturas, como: instalação de rádio digital de
Esta inovação faz com que o registro de última geração e a implementação do sistema
ocorrência, o acesso às informações sobre V.I.U. Veicular que permite a gravação e
pessoas e veículos, e a gestão do atendimento transmissão ao vivo de áudio, vídeo e GPS. Com
de emergência estejam incorporados em uma esse sistema instalado nas plataformas móveis,
única solução mobile, facilitando e a PM consegue fazer um acompanhamento da
potencializando o trabalho do policial militar na operação em todas as viaturas, até relatórios
rua (SIMÃO, 2017). de mobilidade de um determinado período
Kvietinski e Mastella (2021), realizam um (NETSEG, 2017).
estudo sobre a aplicação do Sistema de A polícia militar do Estado do Paraná, utiliza
Gerenciamento dos indicadores do Avante o sistema AVL para localização de suas viaturas,
(SIGA) de tecnologia embarcada em áreas de assim é possível verificar a localização exata de
maior ocorrência de delitos e os seus cada viatura em conjunto com o Siscop Web
resultados na área do 20° Batalhão da Polícia estas tecnologias auxiliam na tomada de
Militar (20° BPM) de Porto Alegre. O método decisões como por exemplo a retirada de uma
SIGA foi desenvolvido por Kvietinski (2015) com viatura para apoio a ocorrências de maior vulto.
o objetivo de utilizar tecnologia embarcada O governo do estado de Espírito Santo
para a distribuição de viaturas em áreas de lançou no mês de setembro de 2021 um novo
maior ocorrência de delitos, dessa forma, sistema de computação embarcada para as
gerando indicadores de trabalho e gestão de viaturas operacionais das forças policiais do
efetivo operacional. estado. Os policiais ou bombeiros nas viaturas
Segundo os autores, o SIGA tem por base a contam com um smartphone que com o
definição de áreas de concentração de delitos aplicativo conectado ao sistema e-cops, poderá
prioritários que são denominados de cerca receber rotas mais rápidas para chegar até um
eletrônica. Toda vez que a viatura entra nessa endereço utilizando internet fornecida pelo wi-
área, gera um evento que mostra o percurso da

840
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fi integrado ofertado pelo aparelho (PAGOTTO


& MUNIZ, 2021).
Outra tecnologia é o sistema de transcrição
de voz. O agente de segurança na viatura envia
um áudio por meio do App, atualizando a
ocorrência em tempo real para o despachador
de recursos, sendo que a informação já é
escrita automaticamente na tela do
computador no CIODES - Centro Integrado
Operacional de Defesa Social (PAGOTTO &
MUNIZ, 2021).

841
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os avanços tecnológicos ocorrem de forma constante na nossa vida. A tecnologia veio
incrementando em diferentes áreas e aspectos da sociedade devido a necessidade de acelerar
processos e facilitar o acesso a informações necessárias para a execução de tarefas em diferentes
áreas.
Os investimentos em segurança pública nacional infelizmente não são no aporte
necessário para combater a criminalidade crescente equipada. Entretanto, a implementação de
tecnologia no dia-a-dia policial auxilia no combate ao crime. Esse estudo destaca o uso de
equipamentos tecnológicos nas viaturas policiais que circulam pelas ruas do nosso país,
destacando o uso de rádios comunicadores, softwares e outros equipamentos responsáveis em
auxiliar o trabalho policial.
Podemos destacar que diferentes estados utilizam diferentes tecnologias embarcadas em
suas viaturas. Cada tecnologia é adaptada para auxiliar na execução das necessidades locais,
acelerando e facilitando as tarefas dos policiais para que eles possam atender um maior número
de ocorrências com maior eficiência possível.

842
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

USO DO MÉTODO MONTESSORIANO PARA O


DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA COM
AUTISMO INFANTIL: REVISÃO DE LITERATURA
Nathalya Alves da Silva1
Maria Ovídia Muniz Portilho2

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo analisar as práticas metodológicas pelo uso do
método montessoriano com crianças autistas na educação infantil. A problemática investigada
aqui partiu do seguinte questionamento: por que utilizar o método montessoriano para o
desenvolvimento de crianças com autismo infantil? Visto que essa metodologia de ensino pode
trazer vários benefícios para o segmento educativo de crianças autistas! A pesquisa trata-se de
uma revisão de literatura de caráter qualitativa, com análise bibliográfica de acordo com uma
sistematização de artigos publicados em periódicos científicos e sites seguros. Desse modo,
percebeu-se muitos benefícios que o método montessoriano pode contribuir para as práticas
pedagógicas dos professores, o colocando como mediador do processo de ensino e
aprendizagem, e o aluno no centro de suas próprias descobertas do conhecimento, o que propicia
um desenvolvimento integral, tendo o método montessoriano como um meio de suporte para os
avanços significativos de habilidades fundamentais as crianças com autismo.

Palavras-Chave: Método Montessoriano; Autismo; Educação Infantil; Desenvolvimento.

1
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Tocantins-Unitins-Campus Araguatins.
2 Professorado Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Tocantins–Unitins–. Campus Araguatins, Mestra
em Ciências ambientais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

USE OF THE MONTESSORIAN METHOD FOR THE DEVELOPMENT OF


CHILDREN WITH CHILD AUTISM: LITERATURE REVIEW
ABSTRACT: This study aimed to analyze the methodological practices through the use of the
Montessori method with autistic children in early childhood education. The problem investigated
here started from the following question: why use the Montessori method for the development
of children with infantile autism? Since this teaching methodology can bring several benefits to
the educational segment of autistic children! The research is a qualitative literature review, with
bibliographic analysis according to a systematization of articles published in scientific journals and
secure websites. In this way, it was noticed many benefits that the Montessori method can
contribute to the pedagogical practices of teachers, placing it as a mediator of the teaching and
learning process, and the student at the center of their own discoveries of knowledge, which
provides an integral development. , having the Montessori method as a means of support for
significant advances in fundamental skills for children with autism.

Keywords: Montessori Method; Autism; Child education; Development.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO por meio de livros e artigos com os principais


autores que falam sobre o método
O método montessoriano é uma montessoriano e suas contribuições para
metodologia de ensino que foi criada por Maria crianças autistas entre eles: Montessori (1965),
Tecla Artemísia Montessori, uma médica e Lillard (2017), Ribeiro (2018), Rosa e Cruz
educadora que no decorrer de sua vida realizou (2019), Petry (2019), Barbosa (2020), entre
experiências com crianças que tinham outros.
necessidades específicas, o seu trabalho Com este trabalho, espera-se contribuir a
aborda materiais organizados em um ambiente partir do uso do método montessoriano para as
preparado em prol do desenvolvimento práticas dos professores no processo de ensino
educacional de forma lúdica e despertando a e aprendizagem de crianças com autismo,
autonomia da criança. trazendo a relevância de torná-la autora do seu
Dessa forma, discutir sobre uso do método próprio conhecimento.
montessoriano para desenvolvimento de
crianças com autismo infantil é de suma
MÉTODO MONTESSORIANO
importância, uma vez que todos os anos está
tendo o aumento significativo de diagnósticos NO CONTEXTO HISTÓRICO:
nessa área, contudo é necessário ter CONCEITO
educadores capacitados para recebê-los nas A criadora do método Montessori nasceu em
instituições de ensino. uma pequena região chamada Ancona, na
A problemática investigada aqui parte do Itália, em 1870, sendo a única filha mulher de
seguinte questionamento: por que utilizar o seus pais teve seus privilégios em receber uma
método montessoriano para o educação de qualidade e por esse motivo se
desenvolvimento de crianças com autismo mudaram para Roma. A profissão da época
infantil? para as mulheres era somente ser professora,
Assim, o objetivo desse estudo é analisar as mas Montessori era uma feminista do seu
práticas metodológicas pelo uso do método tempo e não seguiu os parâmetros da
montessoriano com crianças autistas. Para os sociedade Lillard (2017).
objetivos específicos ressalta conhecer o Contudo, iniciou sua vida acadêmica, quis
conceito método montessoriano para crianças seguir várias graduações que eram da sua
autistas na educação infantil, analisar as própria vontade. Começou com matemática,
contribuições do método montessoriano para o em seguida engenharia, porém se encantou por
desenvolvimento de habilidades da criança biologia e resolveu cursar medicina. Dalonso
com autismo na educação infantil, refletir (2016, p.72), afirma que “[...] mesmo contra a
sobre o método montessoriano e as práticas vontade de seus pais, pois até então não havia
docentes com crianças autistas na educação médicas na Itália tornando-se, então, a
infantil. primeira médica da Itália. [...]”.
A pesquisa é qualitativa, a partir de uma Em 1896, após se formar em medicina pela
revisão de literatura com análise bibliográfica Universidade de Roma fez sua residência em

847
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

uma clínica psiquiátrica da universidade, como educativos. Rosa e Cruz (2018, p.121), afirma
parte de suas funções visitava crianças em que “[...] as casas dei bambini foram os
hospícios gerais de Roma, e foi quando primeiros espaços onde Montessori iniciou seu
começou a ter outro olhar para aquela trabalho com crianças de 3 a 7 anos, filhos de
situação, pois aqueles pequenos precisavam de moradores de um conjunto residencial [...]”.
uma educação, e assim ela conduziu-se em Lillard (2017), comenta que:
busca de pesquisadores da área como Jean Para sua surpresa, durante sua pesquisa no
Itard e Edouard Séguin para começar suas hospício, descobriu que aquelas crianças
experiências com o seu método educacional, podiam aprender muitas coisas que antes
Lillard (2017). pareciam impossíveis. Essa convicção levou
Desde o início, suas pesquisas partiram de Montessori a dedicar suas energias ao campo
observações a respeito da criança colocando-a da educação pelo resto da vida (LILLARD, 2017,
no centro de sua própria aprendizagem. p. 2).
Segundo Nascimento, Vieira e Santos (2019, Seus materiais de estudo que foram
p.178), “[...]ela criou sua pedagogia utilizados na casa dei Bambini aguçavam as
observando os estudos de Édouad Seguin que ações do cotidiano das crianças, pois naquele
estudava o aprendizado infantil. Seu método tempo as pessoas achavam que elas não
busca potencializar a criatividade infantil desde dariam conta de realizar pequenas tarefas do
da primeira infância[...]". dia a dia. Os recursos que Maria Montessori
Na construção de embasamentos na área da criou tinham como princípios contribuir para
educação, Maria Montessori resolveu fazer habilidades sensório-motor, entre outros
outra graduação para analisar se seus inúmeros equipamentos criados por ela que
fundamentos estavam certos, pois seus instigam o cognitivo, a concentração e a
métodos foram todos criados a partir do percepção no desenvolvimento das crianças.
surgimento das necessidades das crianças para Segundo Rosa e Cruz (2019):
sua construção do saber, Barbosa (2020), Montessori via a sala como um ambiente
ressalta que: adequado para as crianças, onde elas podiam
Buscando novos conhecimentos formou-se manipular os materiais sem restrições; com
em pedagogia em 1902, quando começou a isso ela criou vários materiais pedagógicos com
desenvolver suas teses de que o meio foco na estimulação sensório-motora que são
influencia o desenvolvimento cognitivo do utilizados até os dias de hoje. Um deles é o
aluno, criando, assim, suas primeiras material dourado utilizado para ensinar
metodologias educacionais (BARBOSA, 2020, matemática (ROSA; CRUZ, 2019, p.120).
p.73). Em suas investigações Montessori (1965),
Maria Montessori, criou a casa das crianças percebeu que para estimular as crianças a
que na Itália chamava-se de “ casa dei bambini" terem curiosidade e vontade de realizarem as
visto que nesse ambiente era um hospício que atividades propostas pelos educadores seria
ela transformou em um lugar de renome, como preciso equipamentos adequados, sendo
o primeiro que utilizou seus recursos assim, ela também elaborou o material

848
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mobiliário para que as crianças tivessem O Método Montessori faz parte de uma
liberdade e total acesso ao espaço que pedagogia científica que aborda a liberdade,
estivessem inseridas, com esses instrumentos autoconfiança e a autonomia da criança na
ela conseguiu fazer as crianças sentarem utilização dos instrumentos criados por Maria
sozinhas em suas cadeiras, alcançar a pia do Montessori, que colabora para essa construção
banheiro e o bebedouro, visto que foram de experiências. Pugens, Habowski e Conte
pensados para a estatura delas e com materiais (2018, p.360), fomentam que “[...] o objetivo
leves e de fácil manuseamento. Neste sentindo de Montessori não é um método sobreposição
Rudolpho e Cararo (2019) afirmam que: objetiva ,mas é a geração da curiosidade e do
Nesse método, o destaque está no desenvolvimento da mente da criança como
equipamento, material e mobiliário, que além algo complexo [...]”.
de serem adequados ao tamanho das crianças, Por conseguinte, essa abordagem
permitem que mesas, cadeiras e poltronas pedagógica ver os alunos como cientistas
sejam transportadas por elas e valorizam a arte experimentando os conhecimentos cada vez
e a estética. Assim, entende-se o avanço dessa que eles vão em busca de aprendizado.
proposta como fato de o planejamento espacial Montessori (1965, p.12), afirma que:
ser parte construtiva de um novo modo de “[..]cientista é aquele que, à luz da experiência,
considerar a criança (RUDOLPHO, descobria a via que conduz às verdades
CARARO,2019, p. 6,7). profundas da vida e que, de qualquer forma,
Desse modo, as pesquisas realizadas por ela desvela-lhe os segredos fascinantes [...]”.
aconteciam com base na realidade, quanto Em seu método educativo são abordados os
mais analisava as crianças percebia que para pilares necessários para que os alunos
ocorrer a aprendizagem não precisaria consigam se desenvolverem de forma integral.
somente de um quadro e professores dando Petry (2019, p. 24), enfatiza que “Os seis pilares
ordens, mas sim vendo o educador como um educacionais de Montessori que são suporte a
mediador que organiza um ambiente com todo o método são: autoeducação, educação
condições necessárias para que os próprios como ciência, educação cósmica, ambiente
alunos construam seus conhecimentos de preparado, adulto preparado e criança
acordo com suas vivências. equilibrada”.
Segundo Petry (2019): Durante sua caminhada entre um estudo e
[...] O maior embasamento trazido através outro Montessori contribuiu de forma
do método montessoriano está dentro do pilar significativa para os educadores de sua época,
do ambiente preparado, onde é importante do modo que com todos os seus estudos e
criar as condições no ambiente da criança para pesquisas ela auxiliava os profissionais, fazendo
que ela responda aos períodos sensíveis e palestras, cursos, reuniões para a apresentação
também apresentar atividades adaptadas, a de seus recursos e uns dos seus marcos foi
fim de que seu desenvolvimento possa se quando segundo, Lillard (2017):
realizar nas melhores condições (PETRY, 2019, [...] o ministro da educação italiano pediu a
p.24). Montessori que ministrasse palestras aos

849
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

professores de Roma. Essas palestras foram com suas práticas, podendo ser usados de
realizadas na Escola Ortofrênica de Roma, e diversas maneiras nas áreas educativas, pois
Montessori foi nomeada diretora dessa escola esse mecanismo conduz os alunos a
em 1898 [...] (LILLARD, 2017, p. 2) experimentações que envolvem descobertas
Ao final da sua jornada ainda viajou bastante que os levam a aprendizagem de habilidades
por vários países, mas quis terminar de deixar essenciais para formação global. Dessa forma
o seu legado nas suas origens. Dalonso (2016), Petry (2019), enfatiza sobre o método
Maria Montessori volta para a Itália para mais montessoriano.
uma vez contribuir com todas as vivências de [...] A real reforma na educação requer que a
anos conhecendo outros países. Isso aconteceu escola permita o livre desenvolvimento da
antes de morrer, em 1952. atividade da criança, para que nela possa surgir
Dessa forma, atualmente o método a pedagogia científica. Com isso, o conceito de
montessoriano é utilizado em vários lugares, liberdade trabalhado no método
visto que sua metodologia contempla desde o montessoriano inspirado pela pedagogia deve
ambiente, recursos, professores e as disciplinas ser universal [...] (PETRY, 2019, p. 26).
a serem aplicadas em sala de aula. Rosa e Cruz O tema continua sendo uma abordagem de
(2018, p. 131), comenta que “[...] o método suma importância para a amplitude que é a
montessoriano é usado em várias escolas. educação, uma vez que ele tem instrumentos
Ainda hoje, ele auxilia a criança no necessários a serem usados em todos níveis da
desenvolvimento cognitivo e psicomotor [...]” educação infantil, trazendo o concreto com
Montessori até os dias atuais é referência liberdade para incentivar a autonomia que são
com sua metodologia de ensino, comentada estímulos primordiais para o desenvolvimento
por pesquisadores e profissionais não só da de uma criança dentro do contexto escolar.
área da educação, mas de diversos âmbitos da
sociedade, visto que o seu método abrange CONTRIBUIÇÕES DO MÉTODO
todo o contexto que cerca uma criança, desde
o nascimento até sua chegada no ambiente MONTESSORIANO PARA O
escolar. Segundo Duarte (2017), essa DESENVOLVIMENTO DE
metodologia pode ser abordada desde a sua
HABILIDADES DA CRIANÇA COM
própria casa:
A aplicação do método montessoriano em AUTISMO NA EDUCAÇÃO
casa objetiva mudar o olhar sobre a criança. INFANTIL
Preparando o ambiente, retirando todos os O Transtorno do Espectro Autista-TEA, mais
objetos que representam perigo do seu conhecido como autismo é um distúrbio
alcance, adaptando as instalações, permitindo neurológico que, está cada vez mais presente
com que ela faça sozinha e em segurança em nossa sociedade, tornando-se significativo
(DUARTE, 2017, p. 15). o aumento de diagnósticos nas instituições de
Na instituição de ensino, esses materiais ensino, sendo perceptivo algumas condições na
contribuem para a mediação dos educadores infância. A fase na qual é possível observar

850
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

alguns traços como a falta de interesse à adequado para que aconteça o


socialização, apresentando também desenvolvimento de maneira mais natural
movimentos repetitivos entre outras atitudes possível, oferecendo todas as condições
dependendo do grau do autismo, se é leve, apropriadas para suas descobertas. A LDB
moderado ou severo. (2013), enfatiza que são necessários:
Segundo Petry (2019): Currículos, métodos, técnicas, recursos
A Organização Mundial da Saúde (OMS), educativos e organização específicos, para
através da CID 10- 2014 (Classificação De atender as suas necessidades, terminalidade
Transtornos Mentais e de Comportamento: específica para aqueles que não puderem
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas ) atingir o nível exigido para a conclusão do
estima que, a nível mundial, existem 70 milhões ensino fundamental em virtude de suas
de pessoas com autismo, sendo 2 milhões no deficiências, e aceleração para concluir em
Brasil. Estima –se também, que em cada 88 menor tempo o programa escolar para os
crianças, uma apresenta traços de autismo, superdotados. (BRASIL, 2013, Art. 59).
com incidência cinco vezes maior em meninos Nesse sentido, o método educativo em
(PETRY, 2019, p. 12). questão traz meios de grande importância para
Dessa maneira, é preciso um olhar atencioso a preparação de um ambiente a fim de receber
dos educadores para suas práticas os alunos autistas, sendo que a organização
metodológicas a serem utilizadas com os inicial começa pela sala de aula na qual será o
autistas, uma vez que esses alunos demandam primeiro lugar onde ele vai ficar. Montessori
atividades de acordo com as suas (1965), estudou um modelo de mobília escolar
especificidades para que possam realizá-las. que fosse adequado para a necessidade das
Barbosa (2020), afirma que: crianças instigando o intelecto. Entre esses
Nesta perspectiva, todo o processo deve ser recursos estavam, mesinhas, cadeiras,
prioritariamente centrado na criança e não nas poltronas, pias e fechaduras iguais aos dos
suas dificuldades, deve-se priorizar suas adultos, mas de tamanhos acessíveis para que
necessidades e suas capacidades, elas pudessem pegar com suas próprias mãos.
proporcionando a criança um ambiente com É de suma relevância que esses instrumentos
estímulos afetivos, sensoriais e cognitivos sejam inseridos logo no início da vida escolar de
(BARBOSA, 2020, p. 25). uma criança que tem autismo. Sabendo da
Assim, os professores precisam buscar dificuldade de interação social que sua
formas de aplicabilidade de um ensino condição traz, esses recursos acessíveis ao seu
significativo para as crianças autistas. Um alcance, com liberdade de poder ver e pegar
método educativo que trouxe resultados tornam-se mais atrativos para elas, dessa
positivos com intuito de um ensino e forma, contribuem para, que se sintam mais à
aprendizagem de qualidade para eles, foi o vontade para realizar suas explorações.
método Montessori, pesquisas apontam que Segundo Ribeiro (2018, p. 17), “a Educação
essa sistematização anda lado a lado com tudo Infantil, como primeira etapa escolar da
o que um TEA necessita, por ser um ambiente criança, precisa estar preparada para trabalhar

851
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com os alunos independentemente de sua Dentro desses métodos foram elaboradas


diferença, pois o processo de inclusão escolar quatro áreas para classificar os materiais e o
ou exclusão começa ali [...]”. desenvolvimento que cada um traz para a
As atividades em sala de aula precisam estar aprendizagem dos alunos de acordo com suas
envolvendo a realidade da vida do aluno, com necessidades específicas. O primeiro são os
elas as crianças aprendem habilidades como exercícios táteis que a partir do toque e das
coordenação motora- visual, social entre formas que podem manusear os instrumentos,
outras e mais tarde estarão desenvolvendo a Lillard (2017), enfatiza que:
escrita. Essas ações para muitas pessoas [...], Os exercícios táteis desenvolvem a
podem parecer bagunça, como por exemplo: leveza do toque e, no caso das tábuas de toque
jogar arroz no chão, derramar água, carregar (tábuas com faixas alternadas de lixa e de
bandejas, etc.…, mas, no entanto, colabora madeira lisa), também o movimento da
para vários movimentos precisos da mão e do esquerda para a direita. O traçado das formas,
corpo, controle muscular e coordenação visual como o das formas do armário geométrico
que trazem a percepção de um ciclo de tarefas (sentir em volta de um encaixe de um círculo de
com finalidades inicial abordando o meio e o madeira etc.), treina o olho para a exatidão da
fim, Lillard (2017). forma, e os músculos da mão e dos dedos para
Corroborando com a ideia, a abordagem seguir o traçado de uma forma em preparação
Montessori favorece a construção de para formar as letras (LILLARD, 2017, p. 114).
habilidades dos alunos com autismo, pois esses Com a grandeza de contribuições que esse
mecanismos que envolvem os recursos recurso demostra, aponta-se que a utilização
pedagógicos criados por Maria Montessori, deles vai depender de como o educador irá usar
geram ferramentas no lúdico que incentivam as em suas aulas, visto que essas técnicas estão
ações realizadas por eles. Nascimento, Vieira e sujeitas a mudanças de acordo com a
Santos (2019), afirmam que: necessidade de cada instituição, mas percebe-
É importante que sejam trabalhadas se a quantidade de momentos prazerosos e
habilidades de atenção, vontade, inteligência, explorações por torná-lo o centro do processo.
imaginação e criatividade com as crianças para Rosa e Cruz (2018), fomentam que:
que elas possam manipular o ambiente ao seu Nos exercícios táteis, a criança toca um
redor, a partir da autoaprendizagem, tendo o objeto com olhos fechados mostrando que,
ambiente estruturado para oportunizar isso assim, ela pode sentir melhor o objeto sem ver.
(NASCIMENTO; VIEIRA; SANTOS, 2019, p. 1). Esse aprendizado traz uma satisfação ás
Nessa perspectiva, o recurso propõe vários crianças, pois, elas exercitam seu sentido tátil,
exercícios com os instrumentos referindo-se a querendo sempre tocar nos objetos para sentir
espaços de análise da criança. Segundo Rosa e melhor (ROSA; CRUZ, 2018, p. 125).
Cruz (2018, p. 124), “[...] Montessori criou O Segundo exercício refere-se uma área
exercícios que ensinam, por exemplo, o crucial para o desenvolvimento de
reconhecimento da temperatura, do peso, do competências para formação de uma criança
cheiro, das dimensões, entre outros [...]”. autista, conforme os pesquisadores citam os

852
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

materiais sensoriais ajudam de forma efetiva apenas alguns, desenvolvem as capacidades


na construção de habilidades na vida dos perceptuais, a discriminação visual e auditiva e
alunos, do modo que atrai os olhares das a capacidade de comparar e classificar da
crianças no querer fazer as atividades, e com criança, todos poderes necessários para a
isso conduz para as experiências que o método linguagem escrita. Além disso, seu controle
destaca que são fundamentais. muscular vem sendo cada vez mais refinado em
Segundo Petry (2019): preparação para os movimentos da escrita e
O Material sensorial, de acordo com o para segurar um lápis (LILLARD, 2017, p. 114).
método montessoriano é constituído por Dando continuidade a abrangência de
variados objetos agrupados de acordo a recursos desenvolvidos por Montessori, o
qualidade de suas estruturas, como cor, forma, terceiro são equipamentos relacionados com a
dimensão, som, grau de aspereza, peso, linguagem e escrita das crianças autistas
temperatura, entre outros. Cada conjunto de usando a ludicidade, uma vez que eles têm
objetos têm a mesma qualidade, mas em um dificuldades de falar e de se expressar, e na
grau diferente, onde uma graduação varia de escrita também apresentam obstáculos por
objeto para objeto de forma regular, sempre falta da coordenação motora e de tentar
que possível estabelecida matematicamente. O colocar força muscular para conseguir escrever,
contraste, quando bem visível, fará a criança se com tudo isso dentro de seu método foi criado
interessar pelo objeto antes mesmo e mecanismo para ajudar no desenvolvimento
exercitar-se com ele (PETRY, 2019, p. 36). dessas capacidades.
Dessa forma, os instrumentos sensoriais Lillard (2017), fomenta a importância da
instigam o autista para as descobertas do linguagem:
concreto, pois os materiais são todos expostos O desenvolvimento da linguagem é paralelo
ao alcance da criança, de modo que ele não com essas outras atividades. A criança ouve os
terá apenas um recurso para ser usado, mas adultos lerem com frequência, em ampla
vários fazendo com que o aluno tenha a diversidade de livros sobre a vida dos outros
liberdade de escolher qual vai usar, e dessa povos, outros lugares, a vida nesses lugares e,
maneira sua indagação não será apenas fixada em especial, o mundo da natureza. A ênfase
em um objeto, mas em todos que podem ser nessa idade está em ampliar o horizonte da
manipulados. criança no mundo real. Ela está no período
Lillard (2017), afirma que: sensível para fatos e anseio pelo conhecimento
Os materiais sensoriais expandem ainda real. [...] (LILLARD, 2017, p. 114).
mais a preparação da criança por meio da Juntamente com os recursos de linguagem
construção sobre a ordem nela estabelecida como uma introdução para a aprendizagem da
com uso dos exercícios de vida prática. A torre leitura e escrita, há também outros métodos
cor-de-rosa, o armário geométrico, os cilindros que Maria Montessori elaborou como
sólidos, os cilindros de som, os encaixes de contribuição ao processo de alfabetização dos
mental, os inúmeros jogos correspondências, alunos, como o alfabeto móvel e as lixas nas
as placas de cor, os sinos, para mencionar placas lisas. Rosa e Cruz (2018) comenta que:

853
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Antes de a criança começar a escrever, ela tamanho da criança, isso vai desde da sala de
tem contato com o alfabeto móvel e as letras aula, como o banheiro, cozinha, até o ensino
recortadas em lixa e coladas em plaquetas. As das religiões, a igreja com os objetos acessíveis
vogais são coladas em um fundo vermelho e as para elas; as formas metálicas, que são figuras
consoantes em azul. A professora mostra como geométricas para atividades sensoriais e
traçar a letra com os dedos indicador e médio, matemática. Essas metodologias estão aliadas
apontando a direção na qual a letra é escrita e, com a preparação do ambiente em prol do
depois, anuncia o som da letra. Por meio dessas processo de práticas realizadas pelos alunos
atividades, a criança vai compreender três para a sua própria formação.
impressões simultâneas: a tátil, a forma e o Para Rosa e Cruz (2018):
som que correspondem à letra (ROSA; CRUZ, Montessori acreditava que a criança era um
2018, p.130). ser que tinha potencialidade e que precisava
O Quarto são as lixas que abordam um ser estimulada adequadamente para
conjunto de benefícios para os alunos autistas, desenvolver atividades concentradas,
uma vez que ao realizarem essas atividades autocorretivas, contribuindo para a
estarão conhecendo não somente as vogais e independência, o desenvolvimento intelectual
letras, mas o desenhar de cada letra do e a aprendizagem das crianças. Para a
alfabeto, e irá ajudar nas habilidades motoras educadora, isso se dá especialmente por meio
sensoriais e táteis para assim conquistar o nível de atividades práticas (ROSA; CRUZ, 2018, p.
da escrita. 133).
Lillard (2017), afirma que: Desse modo, o método educativo
A lixa serve para controlar os movimentos da Montessori oferece todo o suporte que está
criança quando sente a letra, pois sabe pelo adequado para o ensino e aprendizagem dos
toque quando escorregou da letra para a placa alunos autistas, uma vez que todas as ações
lisa. O controle do erro relativo a direção e ao educativas tratadas levam em consideração as
lugar da letra também resulta do fato de elas especificidades das crianças criando as
serem coladas em tábuas alongadas, pois a possibilidades de um estudo significativo.
criança pode ver quanto colocou a letra do lado Petry (2019), fomenta que:
errado ou de cabeça para baixo [...] (LILLARD, [...] O maior embasamento trazido através
2017, p. 117). do método montessoriano está dentro do pilar
Além desses exercícios citados, existem do ambiente preparado, onde o importante é
outros que colaboram nas diversas disciplinas criar as condições no ambiente da criança para
escolares, que foram projetados por Maria que ela responda aos períodos sensíveis e
Montessori e até nos dias atuais são utilizados também apresentar atividades adaptadas, a
em aulas práticas envolvendo a construção de fim de que seu desenvolvimento possa se
conhecimentos por meio do concreto, entre realizar nas melhores condições. Um ambiente
esses materiais estão: o material dourado, que preparado com recursos sensoriais possibilita a
ensina o sistema de números decimais e exploração mais ampla pela criança e incentiva
operações básicas de matemática; a mobília do

854
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o desenvolvimento cognitivo na primeira MÉTODO MONTESSORIANO E


infância (PETRY, 2019, p. 51).
A contribuição trazida a partir dessas AS PRÁTICAS DOCENTES COM
metodologias pedagógicas é muito ampla, e se CRIANÇAS AUTISTAS NA
adéqua com facilidade para a produção do
EDUCAÇÃO INFANTIL
conhecimento e habilidades das crianças com
A educação infantil é o início da
autismo, principalmente na educação infantil,
escolarização de uma criança, sendo a base
por ser uma fase primordial para o início de sua
para a construção de saberes que serão levados
escolaridade. Onde é necessário haver,
por toda uma vida, nesse período é preciso ser
descobertas, explorações, e busca contínua de
proporcionado para elas um ambiente lúdico
condutas feitas por elas para que haja
que condiz com todas as contribuições que o
aprendizagem de forma construtiva para os
método montessoriano traz para as
alunos, sabendo que vai ser o autor de seu
metodologias de ensino.
próprio estudo, por isso é necessário entender
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais
o seu erro para assim conseguir acertar.
para a Educação Infantil (2009):
Lillard (2017), afirma que:
As práticas pedagógicas que compõem a
[...] O próprio cerne da filosofia e do método
proposta curricular da Educação Infantil devem
Montessori é sua abordagem do trabalho da
ter como eixos norteadores as interações e a
criança e do adulto. Por “trabalho”, Montessori
brincadeira, garantindo experiências que: I-
não se refere a nenhum ato mecânico, mas à
promovam o conhecimento de si e do mundo
atividade física e mental escolhida livremente
por meio da ampliação de experiências
por um indivíduo – uma atividade que tem
sensoriais, expressivas, corporais que
significado para ele porque promove seu
possibilitem movimentação ampla, expressão
próprio crescimento ou contribui para a
da individualidade e respeito pelos ritmos e
sociedade. Montessori acreditava que essa
desejos da criança; [...] (DCNEI, 2009, p. 4).
atividade era natural para a criança e a mais
Dessa forma, é nesse contexto que a criança
importante influência em seu desenvolvimento
está começando a ser inserida em um ambiente
[...] (LILLARD, 2017, p. 125-126).
escolar, sendo necessário uma receptividade
O método montessoriano com toda sua
adequada para que o seu encantamento no
teoria de ensino corrobora para essas
mundo da educação comece. O educador tem
fundamentações, visto que são de suma
o papel de suma importância para essa
importância para o ensino e aprendizagem de
abordagem sendo ele o adulto preparado para
forma integral colocando em pauta que uma
sempre observar o aluno de acordo com as suas
criança com autismo infantil aprende sim,
individualidades.
porém, isso vai depender das práticas
Segundo Pugens, Habowski e Conte (2018):
realizadas pela escola e sobretudo do professor
A Educação Infantil surge como um grande
para o aluno.
campo de pesquisa, que os professores que
atuam na área precisam desvendar e projetar
para o pleno desenvolvimento da linguagem,

855
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

da inteligência, da afetividade, da sociabilidade e os benefícios que cada material tem para


e da personalidade das crianças (PUGENS; ajudar no ensino e aprendizagem dos alunos.
HABOWSKI; CONTE, 2018, p. 359). Nascimento, Vieira e Santos (2019),
Assim sendo, as práticas que estão sendo comentam sobre suas observações ao utilizar
mais utilizadas pelos educadores com as os encaixes coloridos:
crianças autistas, envolvem o lúdico e a Durante a vivência com método,
autonomia, principalmente a liberdade de observamos a aplicação de todos os objetivos
realizar suas explorações com o ambiente, os propostos por Montessori. Observa-se o
professores usam recursos que requerem cores quanto as crianças aprendem quando possuem
e formas, para chamar a atenção delas e assim autonomia e podem buscar conceitos próprios.
fazer com que tenham a vontade de realizar as Nas brincadeiras de encaixe, elas aprendem
atividades propostas. onde devem encaixar corretamente através de
Texeira e Glanda (2019), afirmam que: diversas tentativas que fazem e não através do
Outro ponto fundamental é o de se trabalhar conhecimento pronto. Logo, percebe-se o
com o concreto e o lúdico com crianças quanto se torna relevante esse método no
autistas. Elas demonstram maior compreensão desenvolvimento infantil (NASCIMENTO;
do que lhes é ensinado e maior interesse, o que VIEIRA; SANTOS, 2019, p. 181).
leva à melhor aprendizagem e desempenho Outro material bastante usado em escolas, e
escolar mais eficaz [...] (TEIXEIRA; GLANDA, que poucos professores sabem quem é a
2019, p. 133). criadora e muito menos não conhecem os
Um dos fatores importantes para o processo privilégios dele para a criança, é o material
de escolaridade de um aluno autista é criar dourado, um recurso matemático, que pode
possibilidades para que ele faça parte do ser usado de diferentes formas para trazer o
ambiente e participe de todas as ações que concreto em uma das áreas que notasse que a
possam levá-las ao conhecimento, dessa maioria dos alunos ainda têm muitas
maneira o professor precisa elaborar tarefas dificuldades.
para que essas atitudes sejam alcançadas da Rosa e Cruz (2018), enfatizam sobre o uso
melhor forma possível. desse material:
Alves (2019), comenta que: O Material Dourado auxilia as crianças a
As estratégias de atuação do docente numa caminhar no concreto para o abstrato de forma
classe com aluno autista devem basear-se prazerosa, desperta no aluno a concentração, o
tanto na sua formação, como na sua interesse, além de desenvolver sua inteligência
sensibilidade e experiências, para proporcionar e imaginação criadora, pois a criança está
a este aluno o que lhe é garantido por lei, uma sempre predisposta ao jogo. Ele também
inclusão com qualidade (ALVES, 2019, p.15). contribui para a aprendizagem das crianças que
As observações de algumas práticas dos passam a somar, subtrair, repartir, a
educadores referente ao uso do método transformar as unidades em dezenas, centenas
Montessori para o desenvolvimento da criança e em milhar. Ainda possibilita que a
com autismo, abordam como se dá essas ações aprendizagem seja significativa, sendo um

856
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

recurso didático lúdico (ROSA; CRUZ, 2018, observá-la em um ambiente tão livre e aberto
p.127). quanto possível. [...] (LILLARD, 2017, p. 46).
Quando se traz todas essas informações As metodologias educativas desse ensino
citadas como base para metodologias que caminham para formação de um aluno com
colaboram para a aprendizagem das crianças competências essências para a sociedade, mas
com autismo, o método que favorece todas o educador precisa a partir de observações
essas práticas é o montessoriano. Por ser criar as chances para todas essas dimensões, e
amplo com seus instrumentos, visto que ele uma das mais eficientes é a autonomia, que a
pensa desde do ambiente à maneira que o criança vai desabrochando por causa dessas
professor precisa se portar, pois todas essas colaborações e de cada agir do professor para
condições ajudam na liberdade para a o aluno. Salomão (2019, p. 6), afirma que: “O
desenvoltura de cada descoberta inicial que a professor, que deve ajudar a criança a avançar
criança irá apresentar. Segundo Suassuna em seu caminho para a independência, é uma
(2021): das características mais surpreendentes da
[...] o educador necessita refletir sobre os perspectiva pedagógica de Maria Montessori
comportamentos da criança, para montar [...]”.
estratégias e metodologias que possam Além disso, como as práticas pedagógicas
desenvolver essas crianças. Para que então indicam, o educador deve estar sempre
essas crianças tenham seus objetivos observando com atenção cada movimento da
alcançados dentro da escola, com criança sem tentar interferir em seus
desenvolvimento cognitivo e uma socialização experimentos, uma vez que os testes servem
(SUASSUNA, 2021, p. 1427) para sua construção de saberes de acordo com
Dessa maneira, o professor vem ser o que foi apresentado, mas se caso for preciso
mediador de todo o processo que essas intervir em alguma situação também ficará a
práticas pedagógicas instigam, pois deixa a critério do professor, isso vai depender de cada
criança livre em um ambiente que foi acontecimento. Petry (2019, p. 26), afirma que:
organizado e preparado para recebê-la, mas “O mais importante para o educador deste
em todas essas buscas quem irá realizar é o método, segundo a autora, seria o espírito
próprio aluno de acordo com as suas atento observador, visão para servir, interferir
experimentações. Lillard (2017), frisa sobre a ou se retirar segundo os casos e necessidades
relevância da liberdade para a criança: [...]”.
Liberdade é um elemento essencial em um A aplicabilidade da prática ainda hoje é bem
ambiente Montessori por dois motivos. restrita, mesmo esse método tendo tantas
Primeiro, porque somente em uma atmosfera vantagens, ele requer detalhes que são de
de liberdade a criança pode se revelar para nós. suma abrangência para todo o processo da
Uma vez que o dever do educador é identificar criança com autismo na educação infantil,
e auxiliar o desenvolvimento psíquico da percebe-se que em escolas é dado o início a
criança, ele deve ter uma oportunidade de esse mecanismo, mas por falta de recursos ou
até mesmo de formações continuadas não

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

acontecem a sequência desses estudos para A ênfase de Montessori na infância como


que as ações dos professores sejam moldadas outra dimensão da vida humana é outro
da melhor maneira. princípio importante atualmente, Nossa
Rosa e Cruz (2018), comenta que: sociedade, tão concentrada em um ritmo
[...] obtiveram vários resultados positivos, alucinado de produção e realizações a qualquer
que sugerem a necessidade de intervir na custo, precisa desesperadamente trabalhar em
formação dos professores e promover cursos relação ao equilíbrio que provém de se ver o
de extensão para divulgar o método mundo pelos olhos da criança, A criança, como
Montessori, devido aos bons resultados para todos os seres vivos, tem suas próprias leis
aprendizagem infantil (ROSA; CRUZ, 2018, p. naturais [...] (LILLARD, 2017, p. 129).
136-137). Destarte, esse é um caminho para que
De acordo com as mudanças que vêm aconteça o desenvolvimento integral de uma
acontecendo no decorrer dos tempos na criança com autismo, pois com essa filosofia de
educação, é indispensável que não só o educação traz o aluno para estar no centro de
educador como as instituições de ensino, seus próprios conhecimentos tornando-se um
tentem se adaptarem para estar cidadão autônomo, mas sem ultrapassar suas
transformando suas práticas educativas, uma explanações de acordo com seus progressos
vez, que a cada momento está surgindo espontâneos.
situações novas que requerem conhecimentos,
e análises nas condições dadas aos educadores.
Pugens, Habowski e Conte (2018), frisam
que:
[...] falta de qualificação dos profissionais
que atuam nesse campo, ainda é visível no
cenário atual, bem como a ausência de uma
preocupação em desenvolver uma educação
criativa (de posicionar- se comunicativamente
sobre as questões vividas), para despertar
momentos de pensar com as crianças [...]
(PUGENS; HABOWSKI; CONTE, 2018, p. 363).
O método montessoriano auxilia as práticas
dos docentes, contudo, é essencial que se
tenha apoio a partir de formações continuadas,
palestras e oficinas, visto que o sistema
Montessori apresenta essas evoluções de um
nível para outro, e assim os educadores podem
trazer oportunidades de práticas significativas
aos alunos com autismo.
Lillard (2017), afirma que:

858
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo teve como o objetivo analisar as práticas metodológicas pelo uso do método
montessoriano com crianças autistas, conhecendo o conceito do método para a criança autista,
analisando as contribuições que ele pode desenvolver na criança com autismo na educação
infantil, refletindo sobre as práticas docentes a partir do método educativo em questão. Tais
objetivos resultaram nas seguintes respostas:
O primeiro objetivo, aborda o conceito histórico de como surgiu o método montessoriano,
e como aconteceu as primeiras criações dos instrumentos que visa trazer benefícios no
seguimento de escolarização para as crianças com necessidades específicas, visto que os recursos
auxiliam para habilidades primordiais no desenvolvimento infantil.
O segundo objetivo, refere-se as práticas dos professores na utilização dos recursos
montessorianos para a criança com autismo, percebe-se a amplitude de conhecimentos que as
lixas, material dourado, blocos coloridos, as mobílias do tamanho da criança, entre outros, podem
estar oferecendo oportunidades de aprendizagens significativas dentro do ambiente escolar.
O terceiro objetivo, observou-se que o método já vem trazendo um contexto de bons
resultados para salas de aulas, mas acredita-se que é relevante a promoção de estudos a partir
de formações continuadas para uma melhor compreensão do método montessoriano, para que
assim os educadores tenham condições necessárias de contribuição em todos os níveis da
educação infantil.
Sendo assim, considera-se que essa é apenas uma revisão de literatura, mesmo com toda
essa riqueza de técnicas que foram abordadas nesse artigo, ainda há muito a ser estudado e
refletido em termos da aplicabilidade desse método, sendo necessário os professores terem uma
visão centrada na criança e em tudo que ela pode participar no seu processo de aprendizagem.

859
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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861
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O ORIENTADOR ESCOLAR E O PEDAGOGO


GESTOR – O OFÍCIO QUE CABE A UM, PODE
OCUPAR ESPAÇO NO FAZER PEDAGÓGICO DO
OUTRO, E NO QUE COUBER, DE AMBOS
Marylin Cardoso Henrique1
Hildeci de Souza Dantas2

RESUMO: O referido artigo intitulado “o orientador escolar e o pedagogo gestor – o ofício que
cabe a um, pode ocupar espaço no fazer pedagógico do outro, e no que couber, de ambos”. Em
tal sentido, é possível percebermos o quanto a formação de pedagogia tem respaldo também
para o âmbito da orientação pedagógica. No entanto, é papel de ambos os profissionais
(agir/fazer) em prol do fazer docente e da gestão pedagógica como um elo entre o papel que cabe
a um em seu ofício, pode no que couber, ao outro (ambos) para as ações do fazer pedagógico e
de gestão ao mesmo tempo. O objetivo neste estudo consiste na aliança entre a (ação, reflexão
e ação-reflexão) tem primazia no que podemos chamar de orientação pedagógica com enfoque
na gestão e sua relação com toda a equipe diretiva de gestão e orientação escolar. Sua
problemática versa na esfera da formação em pedagogia como uma das condições preexistentes

1 Professora da Educação Básica na Rede de Ensino Municipal de Macaé/RJ.


Formação Acadêmica: Mestra em Educação com especialidade em Organização e Gestão de Centros
Educativos, Licenciada em Letras – (Português/Literatura) com Especialização em Educação Inclusiva.
2 Professor na Rede de Ensino da Educação Básica Estadual de Igarapé-Açu/PA.

Formação Acadêmica: Doutor e Mestre em Educação. Licenciado em Pedagogia. Licenciado em Sociologia.


Licenciado em Letra – (Português e Espanhol). Especializado em Língua Portuguesa. Docência do Ensino
Superior. Neuropsicopedagogia. Psicopedagogia Institucional, Clínica e Educação Especial. Gestão Escolar
e Coordenação Pedagógica. Pedagogia Empresarial. Educação Infantil, Alfabetização e Letramento.

862
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de atuação nessa especificidade de (orientar e gestacionar) o campo de trabalho pedagógico de


uma escola com foco em equipe diretiva de gestão, coordenação e orientação pedagógica. Seu
foco também tem alinhamento com determinados autores que colaboraram com o fazer
pedagógico bem como o ofício que cabe a cada um no que couber, (de ambos), em suas
particularidades. Ou seja, sempre prevalecendo o ato de (ensinar e aprender) ao mesmo tempo.
Outros aspectos estão entrelaçados no todo e/ou em partes. Em tal sentido, versando em
alternativas de mobilização para o enfoque pedagógico dentro do campo da orientação
pedagógica e o seu elo para a gestão escolar. Nessa perspectiva, vem sendo espaço de discussão
entre aqueles que por experiência ou pelo ato de (ensinar e aprender) estão liderando a formação
entre pares, onde a troca de saberes e o seu amplo ofício é parte integrante do (ato/prática) de
potencial aprendizagem para o campo da orientação pedagógica e suas estratégias
compartilhadas. Ou seja, junto ao (pedagogo/gestor), este, tem primazia no que podemos
chamar de – (gestão compartilhada estratégica) - com influência do fazer docente como atores
participantes dessa relação no que couber, (de ambos), como um espaço influente de
engajamento laboral e institucional como um todo. Contudo, autores como (LIBÂNEO, 2005);
(LIBÂNEO, 2006); (SAVIANI, 2007); (VERSARI, 2007); (FRANCO, 2008); (OLIVEIRA, et al, 2011);
(ROVARIS & WALKER, 2012); (PASCOAL, 2013); (GAZZOLLA, ARBOTI & PACHECO, 2014); (SIMÕES,
2018) e (BRASIL, 2006) dentre outros que deram enfoque bibliográfico para a culminância deste
artigo como um ato de fundamentação teórica em sua (integração/ação) dentro da arte de
orientação e gestão pedagógica. No entanto, o trabalho contou com uma pesquisa do tipo
bibliográfica e pesquisa de cunho (argumentativo-exploratório) para o entorno da abordagem
qualitativa como (descritivo-explicativa) de cunho prioritariamente (bibliográfico-teórica).

Palavras-Chave: Orientação Escolar; Prática de Gestão e Ensino; Fazer Pedagógico/Ofício-


Pedagogia; Ação Pedagógica de Gestão e Orientação Escolar.

THE SCHOOL COUNSELOR AND THE PEDAGOGICAL MANAGER - THE


ROLE OF ONE MAY OCCUPY A SPACE IN THE PEDAGOGICAL WORK
OF THE OTHER, AND WHEN APPROPRIATE, OF BOTH
ABSTRACT: The referred article entitled "the school counselor and the pedagogical manager - the
craft that fits to one, can occupy space in the pedagogical making of the other, and in what fits,
of both". In such sense, it is possible to realize how much the formation of pedagogy has support
also for the scope of the pedagogical orientation. However, it is the role of both professionals
(act/do) in favor of the teaching and pedagogical management as a link between the role that fits
to one in his office, and the other (both) for the actions of the pedagogical and management at
the same time. The objective in this study consists in the alliance between the (action, reflection
and action-reflection) has primacy in what we can call pedagogical orientation with focus in the
management and its relation with all the directive team of management and school orientation.
Its problematic verses in the sphere of the formation in pedagogy as one of the preexistent
conditions of acting in this specificity of (to guide and to manage) the field of pedagogical work
of a school with focus in directive team of management, coordination and pedagogical
orientation. Its focus also has alignment with certain authors who collaborated with the
pedagogical making as well as the office that fits to each one in what fits, (of both), in their
particularities. That is, always prevailing the act of (teaching and learning) at the same time. Other
aspects are intertwined as a whole and/or in parts. In such a sense, it deals with mobilization
alternatives for the pedagogical approach within the field of pedagogical guidance and its link to

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

school management. In this perspective, it has been a space of discussion among those who by
experience or by the act of (teaching and learning) are leading the formation among peers, where
the exchange of knowledge and their ample craft is an integral part of the (act/practice) of
potential learning for the field of the pedagogical orientation and its shared strategies. That is,
together with the (pedagogue/manager), this, has primacy in what we can call - (strategic shared
management) - with influence of the teaching as participating actors of this relationship as far as
it fits, (both), as an influential space of labor and institutional engagement as a whole. However,
authors such as (LIBÂNEO, 2005); (LIBÂNEO, 2006); (SAVIANI, 2007); (VERSARI, 2007); (FRANCO,
2008); (OLIVEIRA, et al, 2011); (ROVARIS & WALKER, 2012); (PASCOAL, 2013); (GAZZOLLA, ARBOTI
& PACHECO, 2014); (SIMÕES, 2018) and (BRASIL, 2006) among others that gave bibliographic
focus to the culmination of this article as an act of theoretical foundation in its
(integration/action) within the art of pedagogical guidance and management. However, the work
relied on a bibliographical research and research of (argumentative-exploratory) nature for the
surroundings of the qualitative approach as (descriptive-explanatory) of primarily (bibliographic-
theoretical) nature.

Keywords: School Guidance; Management and Teaching Practice; Pedagogical Practice/Office-


Pedagogy; Pedagogical Action of School Management and Guidance.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO na condição de (gestor pedagogo) ou na


condição de (gestor orientador).
O aluno, por sua vez, é a razão de ser da Ambos, freneticamente (podem e devem)
escola. Para colaborar com o aluno e com as fazer valer o seu papel dando espaço e tempo
suas necessidades, a escola precisa contar com ao espaço/escolar no que cabe ao fazer
o trabalho do orientador escolar. Esse é o pedagógico e suas prerrogativas de saberes
profissional que trabalha diretamente com o levando em consideração sempre o apoio de
aluno e se preocupa com a sua formação todos os envolvidos neste âmbito de ensinar e
pessoal. Ao orientador educacional cabe aprender.
desenvolver propostas que elevem o nível Então, existe diferença nesta ação
cultural do aluno e tudo fazer para que o pedagógica (orientação escolar e gestão
ambiente escolar seja o melhor possível. [...] escolar?). Com certeza, sim!. O orientador
Como partícipe da equipe de gestão diretiva, escolar é aquele que se incumbe de
incutida na pessoa do pedagogo gestor e/ou do transformar o espaço escolar num espaço de
gestor pedagogo a orientação educacional certeza educacional, ou seja, aquele que
e/ou escolar pode se desenvolver em cinco (chega) para (ficar e desafiar) os problemas que
áreas, a saber: foco no aluno, foco na escola, são oriundos da esfera educacional.
foco na família, foco na comunidade e, De acordo com os autores acima
sobretudo, foco na sociedade. (PASCOAL; supracitados, o exercício profissional do
HONORATO; ALBUQUERQUE, 2008, p. 9, grifo orientador escolar tem respaldo no que
nosso). podemos apontar a partir do entendimento de
É nítido perceber o quanto o papel do que:
orientador escolar e da gestão pedagógica se Para poder exercer a contento a sua função,
faz extremamente importante para os dias o orientador escolar e/ou educacional precisa
atuais. Todavia, o ofício que cabe ao pedagogo compreender o desenvolvimento cognitivo do
gestor também cabe no que couber ao gestor aluno, sua afetividade, emoções, sentimentos,
escolar. E o que essa relação tem haver com o valores, atitudes. Além disso, cabe ao
foco da ação pedagógica? Exatamente tudo. orientador escolar promover, entre os alunos,
Não há atalhos. Ambos devem primar por um atividades de discussão e informação sobre o
trabalho coletivo. mundo do trabalho, assessorando-os no que se
Contudo, o mais importante neste contexto refere a assuntos que dizem respeito a
não é (quem faz) e/ou (quem ganha espaço escolhas. Todas as relações que se estabelecem
para fazer acontecer) à ação pedagógica no cotidiano escolar, em especial o
incutida no papel do orientador escolar e sim relacionamento com os colegas, podem
na impessoalidade, atenção e apreço pelo fazer receber inúmeras contribuições do profissional
pedagógico. Por outro aspecto, nas escolas orientador educacional e/ou escolar. (p. 10,
esses profissionais estão incansavelmente a grifo nosso).
cunhar do fazer o (acontecer) o seu real papel Em tal sentido, o (orientador escolar) em
enquanto pedagogo que é. Em tal sentido, seja comum acordo com o (pedagogo gestor) unem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esforços conjuntos para melhorar os espaços conceber um lugar de ensino que resulte em
escolares como um lugar onde o (alunado) se qualidade”. (ZANATA; NOVAES, 2022, p. 2). No
sinta bem e queira ficar ali para (aprender a todo, e/ou em partes, concordamos com os
aprender) e não o contrário. Já com relação aos autores em todos os aspectos já relacionados
espaços da gestão de sala de aula nutre o aos papéis até aqui.
(orientador escolar) por uma performance de Outro ponto-chave que merece atenção é:
mediador entre o (pedagogo gestor) e toda a Qual é a relação real entre o trabalho do
(equipe diretiva) da escola sem falar nos papéis orientador escolar e do pedagogo gestor?
que cabem aos pais, responsáveis e até a Pensando nisso, tem-se a seguinte questão:
comunidade escolar. Será que o ofício que cabe a um, cabe ao outro?
Corroborando com esses enfoques E no que couber, ou seja, na função pedagógica
entendemos por trazer a nossa discussão o situando as várias ações do fazer pedagógico
pensamento de (SILVA, 2015) quando faz de um e do outro, em especial, ao trabalho do
questão de elucidar que: orientador escolar.
O papel do orientador escolar tem sua Justifica-se, no entanto, que o (agir) e o
importância para três enfoques que são: na (fazer) de ambos consiste na plena realização
vida do aluno, da família e até mesmo dos do fazer acontecer. Mas, será que é isto que
professores. O orientador escolar é acontece na prática educacional em nossos
responsável pela mediação entre todos os dias?
envolvidos no processo educacional. É um Podemos ter a plena convicção de que o
papel desafiador, que foi ganhando, com o papel que cabe a um pode no que couber ao
passar dos anos, suma importância no âmbito outro, simplesmente, pelo fato de ambos
escolar. (SILVA, 2015, p. 19a) citada por serem (pedagogos) e estarem na linha de
(ZANATA; NOVAES, 2022, p. 5, grifo dos frente do enfoque do (aprender a aprender).
autores). Em outras palavras, relutando constantemente
Pensando bem é válido mencionar que o para que o (ensino e a aprendizagem) dos
enfoque da função pedagógica que se respalda alunos estejam à altura do saber do presente
no âmbito do (orientador escolar) também tem século. Ademais, quem é quem neste espaço
seu esforço esculpido no (agir) e no (fazer) do pedagógico? Olhando para o que se advoga em
(pedagogo gestor) e no (pedagogo-diretor (ZANATA & NOVAES, 2022, p. 21), podemos
escolar). insistir e concordar que:
Por essa mesma ótica, os autores são O orientador educacional/pedagogo-
unânimes em reafirmar que este enfoque no orientador diferencia-se do coordenador
(agir) e do (fazer pedagógico) esculpido na pedagógico, do professor e do gestor/diretor.
pessoa do (pedagogo gestor) e/ou na função do O diretor ou pedagogo/gestor administra a
(diretor escolar) tem suas raízes a partir do escola como um todo; o professor cuida da
entendimento de que “é comum ouvir que esse especificidade de sua área do conhecimento; o
profissional representa a gestão e a coordenador fornece condições para que o
administração da escola, incumbido por docente realize a sua função da maneira mais

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

adequada possível e o orientador educacional Para tanto, podemos esclarecer o que se


cuida da formação de seu aluno, para a escola afirma em (NEVES, 2009), quando esclarece
e para a vida. (p. 21, grifo dos autores). que:
É gritante o papel do orientador escolar nas Os ganhos de uma educação de qualidade
palavras dos autores. Por sua vez, devemos para todos, é fundamental a ação do
esclarecer que o nosso foco aqui é: unir o papel gestor/orientador escolar, onde sua formação,
que cabe a um e, pode no que couber, ao outro. competência pedagógica, dedicação e atitude
Porém, um administra - (pedagogo gestor) - e positiva são fatores determinantes do êxito do
faz a gestão da escola como um todo. Por sua seu trabalho. Para que o gestor orientador
vez, o outro - (gestor orientador) - cuida da consiga ter competência pedagógica significa
parte principal que é a formação do aluno e que ele deve conhecer os conteúdos que são
suas vertentes. Sobretudo, ambos cuidam da ensinados e as habilidades que são
ação pedagógica. desenvolvidas; utilizar estratégias
O segundo ponto-chave de justificativa metodológicas adequadas; avaliar criticamente
neste artigo está embasado nos achados de os resultados de prática pedagógica, para
(ASSIS, 1994), quando faz alusão a outros introduzir as necessárias correções e definir as
saberes e enfoques da função do orientador próprias necessidades de formação
escolar, quando reafirma que o orientador continuada; por sua vez, o orientador escolar
educacional deve possuir outros precisa ter consciência do que ensinar, para
conhecimentos que se relacionam com o fazer quem e com ensinar. (p. 16, grifo nosso).
pedagógico de gestão escolar. Pensando nesse embate o trabalho tem
Entretanto, tais abordagens devem ser como seu principal objetivo: discutir por meio
fundamentais para a sua prática educacional, a de um (referencial bibliográfico-teórico) os
saber: “Psicologia, Sociologia, História da aspectos da ação pedagógica pelo (agir) e pelo
Educação e História do Brasil (até nossos dias), (fazer) no trabalhar do (orientador escolar) e da
além de outros, oriundos da Antropologia, (gestão pedagógica) traçando um viés mais
Ciências Políticas, Metodologia e Pesquisa em aguçado pelas ações do (saber/fazer)
uma abordagem qualitativa”. (p. 137 citada por pedagógico do (orientador escolar).
PASCOAL; HONORATO; ALBUQUERQUE, 2008, No entanto, para arguir essas ações,
p. 6). achamos por bem suscitar nesses achados
Fica evidente mencionarmos que o papel do outros caminhos, a saber:
orientador neste embate também tem seus A) Dissertar o ofício que cabe ao orientador
achados no papel que cabe ao (pedagogo e, no que couber também, ao pedagogo gestor.
gestor) uma vez que ambos possuem “notórios B) Descrever as particularidades por meio
saberes” da primazia pedagógica. Ou seja, de (literaturas-chave) do saber pedagógico
ambos possuem formação em “pedagogia” e para o âmbito do (agir) e ao âmbito do (fazer)
estão preparados para enfrentar o campo da pelo ofício de um e/ou do outro.
(gestão) bem como o campo da (orientação C) Por fim, fazer destaque ao papel do
pedagógica) e vice-versa. (orientador escolar) dentro de uma perspectiva

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mais aguçada do (saber/fazer) em prol da ação ensino e aprendizagem) seja real e surta efeito
pedagógica e suas práticas de gestão. em termos de qualidade educacional.
O trabalho em si tem respaldo por uma ação Por outra ótica, não estamos afirmando que
conjunta e necessária do (saber fazer), (saber não qualidade e nem que os efeitos não estão
como fazer) e (saber ser). Ou seja, o (saber à altura do cargo/função, longe de nós
fazer) está incutido no conhecimento de que advogarmos esta causa, porém, é de consenso
ambos a possui. Já o (saber como fazer) que os papéis são diferentes e com similitudes
consiste nas habilidades de quem tem para do ato de educar e do fazer pedagógico/gestão.
usufruir de uma boa orientação pedagógica. O artigo em síntese conta com o tipo de
Por fim, o (saber ser) está atrelado às atitudes pesquisa (bibliográfica/teórica) que no
de ambos em trabalhar em parceria de gestão pensamento de (FONTELLES et al, 2009) fica
e fazer a diferença no (agir) e no (fazer) evidente que:
pedagógico. Este tipo de pesquisa fornece o suporte a
Sobretudo, por mais que o (fazer todas as fases de um protocolo de pesquisa,
pedagógico) na visão de alguns autores esteja pois auxilia na escolha do tema, na definição da
atrelado ao papel que cabe ao gestor questão da pesquisa, na determinação dos
orientador (devemos) acima de tudo – objetivos, na formulação das hipóteses, na
(entender) - que o papel que cabe a um, pode fundamentação da justificativa e na elaboração
no que couber, ao outro. do relatório final. (p. 7).
No todo e/ou em partes, não estamos aqui Nesse sentido, a pesquisa também
trocando e nem invertendo os papéis, mas, corrobora para uma pesquisa de cunho
com muita (resiliência), trazer para ao leitor (argumentativo-exploratório) por
que o papel é similar e diferente ao mesmo (descrever/explorar) os achados na literatura
tempo como bem assimila (SILVA, 2015, p. entre os autores mais recorrentes sobre a
19b), citada por (ZANATA & NOVAES, 2022, p. temática em si.
5), quando alude que o orientador escolar é o No entanto, na (p. 6), os autores apontam
“responsável pela mediação entre todos os que:
envolvidos no processo educacional”. Não há Este tipo de pesquisa visa a uma primeira
dúvidas nisso. Todos devem entender essa aproximação do pesquisador com o tema, para
dinâmica de trabalho e fazer valer a torná-lo mais familiarizado com os fatos e
compreensão que demanda por este fenômenos relacionados ao problema a ser
profissional. estudado. No estudo, o investigador irá buscar
No que podemos elucidar a “mediação” não subsídios, não apenas para determinar a
está focado apenas no trabalho do (orientador relação existente, mas, sobretudo, para
escolar) e sim, no (gerenciamento de equipe conhecer o tipo de relação. (FONTELLES, 2009).
diretiva do pedagogo gestor). Ambos Entretanto, o trabalho é de natureza
(podem/poderiam e devem/deveriam) bibliográfica e teórica e versa acerca de uma
trabalhar em conjunto para que o (processo de (pesquisa/qualitativa) por discorrer no que há
de mais relevante em relação ao trabalho do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

(orientador pedagógico) bem como da parceria


gestores/pedagogos. Sua presença, seu
que pode haver entre a (equipe diretiva decomprometimento com o outro e com as
gestão escolar) e sua performance enquantoaprendizagens são muito importantes.
um profissional da área de (orientação escolar).
Suas atividades e funções lhe conferem
Do mesmo modo, a pesquisa qualitativa é na
destaque no contexto escolar, requerendo
visão dos autores como uma dinâmica do fazer
coerência entre o discurso e a prática,
pesquisa onde nada é rigidamente estruturado
buscando um modelo transformador da gestão
permitindo ao pesquisador a sua própria pedagógica. Neste aspecto, o ofício que cabe a
dinamicidade por inovar e criar novos embates,
um, pode simplesmente ocupar lugar na
outros enfoques e novas oportunidades de ação/pedagógica do outro, no que couber: seja
imaginação em relação aos achados na este pedagogo-gestor ou pedagogo-
literatura acerca do tema em questão, a saber:
orientador.
pesquisa por abordagem qualitativa. (GODOY, No contexto atual não cabe mais deixar de
1995, p. 2) citado por (SILVA; CORRÊA, 2022, p.
pensar que todos os educadores precisam ser
3). atuantes e capazes de questionar a educação,
Contudo, o artigo está estruturado por uma
redimensionando sua prática pedagógica, no
simples abordagem introdutória onde se que couber: gestão, coordenação, supervisão,
abordou os aspectos-chave da pesquisa orientação ou gestor-docente/pedagogo.
científica perpassando por todos os seus (SIMOES, 2018, p. 2, grifo nosso).
(pontos-técnicos) de (importância/relevância)De um modo muito proveitoso é bom
do tema em si. Ou seja, indo desde justificativa
lembrar que o papel do (orientador
da temática até a mais simples (metodologia)
educacional) no ambiente da escola se perfaz a
adotada como sua primeira seção. Adiante partir do (entendimento) e (leitura de mundo)
mais, abordaram-se aspectos do tema em da autora Pascoal (2013), quando afirma que
geral, a saber, - (fundamentação teórica) –
este trabalho é cunhado por um profissional
quando atrelado por seus (achados/autores). E,
que:
por fim, (conclusões) e (referências). Ao lado do professor, o orientador
educacional zela pelo processo de
O PAPEL DO ORIENTADOR aprendizagem e formação dos estudantes por
meio do auxílio ao docente na compreensão
ESCOLAR (PEDAGOGO dos comportamentos das crianças. Ou seja:
ORIENTADOR) – O OFÍCIO, O enquanto o professor se ocupa em cumprir o
currículo disciplinar, o orientador educacional
DISCURSO, SUA PRÁTICA E
se preocupa com os conteúdos atitudinais, o
GESTÃO DO FAZER PEDAGÓGICO chamado currículo oculto. Nele, entram
Da mesma forma que todo gestor escolar aspectos que as crianças aprendem na escola
precisa ser um educador, supervisores de forma não explícita: valores e a construção
escolares e orientadores educacionais, em de relações interpessoais. (PASCOAL, 2013, p.
nenhum momento, deixam de ser educadores- 2, grifo nosso).

869
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Olhando com mais ousadia nos lembramos que por ora tece acerca das relações
de outro autor que por nome de (MAILHIOT, interpessoais no trabalho também é lúcido
1976:66a), que ao se referir a uma das quando advoga afirmando que neste (ato de
pesquisas realizadas pelo Psicólogo Kurt Lewin ensinar) e (educar e ensinar) para a vida recorre
(1965), em seus primeiros ensaios acerca das ao trabalho de outro Psicólogo chamado de
relações interpessoais ele advoga que a Schurtz, desempenhando uma relação de
produtividade de um grupo de pessoas em um trabalho onde possa haver: inclusão, controle e
determinado ambiente de trabalho só terá afeição, respectivamente.
essência benéfica se todos estiverem Ao discorrermos para ambos os papéis aqui
estritamente ligados a um consenso de já discutido entre o (fazer docente) e o (fazer
competência e humanização entre seus pedagógico) entre os atores da linha de frente
membros e membros, sobretudo, onde a da equipe pedagógica da escola é bom que nos
solidariedade possa andar lado a lado na lembremos da necessidade da tríade do
construção da ética das relações interpessoais. Psicólogo Schutz, que ao se referir ao ambiente
Desta forma, a prática pedagógica da gestão de trabalho e sua relação interpessoal, faz-se,
escolar, coordenação pedagógica, Supervisão e notório na perspectividade de ambos, ou
orientação educacional como um trabalho melhor, tornando-os a operação administrativa
integrado é uma proposta que surge ocupando da escola muito proveitosa, sem falar na
o lugar de uma postura tradicional, de um contribuição real que ambos devem ter no dia
trabalho totalmente técnico – e, em uma a dia.
determinada época, alienante – que passou por Sobretudo, indo, além disso, é cabível que o
vários períodos de transformação, desde o (orientador educacional) de uma determinada
surgimento das ações destes profissionais no escola tenha (habilidades finas) no (trato com
processo de educação formal. (SIMÕES, 2018, as pessoas) e suas respectivas tarefas, ou seja,
p. 3, grifo nosso). em seu ambiente de trabalho. No todo e/ou em
Para tanto, o trabalho desse profissional – partes, todas as nossas necessidades devem
(pedagogo-orientador) se deve ao fato de que: ser satisfeitas, isto é, no sentido de (atuar para
“ele é o principal responsável pelo avançar) e (avançar para atuar). Sobretudo,
desenvolvimento pessoal de cada aluno, dando como tudo na vida é preciso treino e
suporte a sua formação como cidadão, à perseverança. Por isso, Pascoal (2013), é
reflexão sobre valores morais e éticos e à enfática nesse (ato de treinar e perseverar)
resolução de conflitos” (p. 66b, grifo dos com (constância de gestão) e, para isto,
autores). Embora, este (orientador trazemos para este enfoque o que ela
pedagógico) também atue lado a lado do propriamente corrobora e assevera que:
(diretor/gestor e do coordenador pedagógico). Por tratar diretamente das relações
Não há o que problematizar. Cabe a este humanas, o orientador educacional pode ter
profissional lançar a mão ao fazer pedagógico e suas funções confundidas com as de um
brilhar e como tal fazer valer o seu trabalho psicológico. Essa confusão, no entanto, deve
como um primor de sucesso. O autor em voga ser evitada, porque, embora também lide com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

problemas de convivência e com dificuldades deseja como um ato que não é muito fácil de
de aprendizagem das crianças, a função do ser desenvolvido nas estampas fina de uma
orientador se aproxima mais do aspecto escola onde nem sempre todos são ousados e
pedagógico e não da dimensão terapêutica do capacitados para ouvir e ser ouvidos.
atendimento. (p. 3, grifo da autora). (PASCOAL, 2013, p. 2).
É sabido dizer que (todo/as nós atore/as) no Nesse sentido, tudo o que foi relatado até
processo de ensino e aprendizagem dentro de aqui... Não quer dizer que seja o fim... Porém,
nossos serviços sistêmicos somos tão capazes o limiar do trabalho pela (gestão pedagógica)
que não paramos para perceber que o nosso ainda percorre por outros passos largos do
trabalho relativamente requer: (produtividade, (fazer pedagógico-docente) e se estampa no
qualidade de vida no trabalho e efeito que se remete mais uma vez a autora quando
sistêmico), porém, todos nós somos capazes e advoga:
estamos aptos a desenvolver novas Que esse trabalho também ultrapassa os
habilidades, criar e inovar, ou seja, ousar muros da escola. O orientador deve atuar como
sempre, também, faz parte do papel que cabe uma ponte entre a instituição e a comunidade,
ao orientador pedagógico. (OS AUTORES, entendendo sua realidade, ouvindo o que ela
2022). tem a dizer e abrindo o diálogo entre suas
Por outro lado, a autora é feliz quando expectativas e o planejamento escolar. (p. 3).
afirma que o papel do orientador educacional é Sobretudo, ela ainda é persistente e afirma
tão parecido quanto ao do profissional que:
psicólogo, mas, jamais podemos nos deixar Para conseguir realizar seu trabalho, o
fazer por um ato terapêutico, sobretudo, profissional que ocupa esse cargo não pode
psicológico. Em outros aspectos, papel esse ficar o tempo inteiro em sua sala, apenas
confundido por muitos leigos no processo recebendo alunos expulsos da aula ou que
educacional e, principalmente, quando se trata desrespeitaram um colega ou um professor. Ele
de orientação pedagógica. Falar de só consegue saber o que está acontecendo na
relacionamento no ambiente laboral é muito escola, entender quais são os comportamentos
trabalhoso uma vez que muitos acabam das crianças e propor encaminhamentos
confundidos tais papéis. adequados quando circula pelos espaços e
No entanto, o profissional que lida convive com os estudantes. (p. 6).
diariamente com esse trato deve se dispor de Entretanto, muito se tem pregado que a
competências-chave de relacionamento gestão do trabalho pedagógico do (orientador
laboral onde todos gostam de falar e ser educacional) deve se ater na coluna de parceria
ouvidos, onde todos querem total atenção, e ente o (gestor/pedagogo-Diretor) e ao
ficam muito felizes quando são atendidos profissional (coordenador/pedagogo-docente),
dentro da ética profissional e, por fim, querem contudo, a autora é prestativa ao afirmar que o
resultados imediatos e apenas sorriam quando trabalho deste profissional não se consolida
são compreendidos e como tal são polivalentes apenas em alguém que lida diariamente com
quando consegue se alimentar do que se alunos que possivelmente estão dando

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

problemas e/ou são problemáticos, e sim; este (coordenador pedagógico) uma vez que nem
trabalho se reveste na contra mão-única entre sempre existem esses profissionais na escola e
família, escola e (sociedade/comunidade) muito menos a preparação para tal ação. Por
escolar. outro lado, é a diferenciação entre os papéis
Aquém deste, também se atribui o (diálogo) que cabe a um, pode muito bem no que
e o (planejamento escolar) ultrapassando as couber, a ambos.
barreiras da convivência entre (alunos e alunas) Porém, Simões assevera muito bem essa
na orientação (pura e ética) do fazer docente. diferença de posto de trabalho entre (ambos)
Contudo, numa perspectiva onde a (verdade e pedagogos seja ele na condição de
a confiança) estejam arroladas no processo de (pedagogo/gestor), (pedagogo coordenador),
(ensino/aprendizagem), a saber: como um (pedagogo supervisor) e/ou (pedagogo-
propósito a ser construído na fidelização orientador), este último, aqui é sendo o foco de
escolar; como uma das práticas pedagógicas de nosso trabalho como fim da discussão em
ensino e seus procedimentos de mudanças, apreço. Sobretudo, sem discutir o papel do
isto é, no aval do coletivo e de um dever (pedagogo-docente) para esse contexto de
cumprido como um todo em todos os seus atuação e ação.
aspectos de (gestão/orientação pedagógica). Todavia, (SIMÕES, 2018), ressalta ser:
Pensando nisso, revelam-se outras vertentes O supervisor escolar e o orientador
do saber docente que não deixam de serem educacional diferenciam-se do professor e do
condições do ato (educacional/gestão) aonde: diretor. O diretor ou gestor administra a escola
É obvio que todo esforço da equipe gestora como um todo; o professor cuida da
acaba se relacionando diretamente com as especificidade de sua área do conhecimento; o
condições de exercer seu papel de articulador supervisor escolar fornece condições para que
e promotor de uma educação cidadã e de o docente realize a sua função da maneira mais
qualidade, o que remete ao domínio específico satisfatória possível e o orientador educacional
para exercer a gestão política. Ou melhor, cuida da formação de seu aluno, para a escola
dizendo, a gestão do trabalho pedagógico. Por e para a vida. O supervisor escolar e o
sua vez, é neste hábito de liderar que entra as orientador educacional são sujeitos de uma
condições plenas do fazer orientação ação, dentro de um espaço em transformação
educacional por parte de quem dela se dispõe e transformador – a escola. Precisam ser
e outros três saberes entra em ação, a saber: competentes em muitos aspectos, como:
Saber ser, saber conviver e saber propor ideias técnico, político, administrativo e pedagógico.
para o bem da escola remete, inicialmente, as (p.5 grifo dos autores).
suas lideranças. (OLIVEIRA et al, 2011, p. 4/54, Nada está totalmente correto ou
grifo dos autores). equivocado até aqui, mas, é salutar e rever que
Para tanto, um dos maiores problemas que as visões de muitas escolas estão ultrapassadas
em sua maioria as escolas tem perpassado é a no sentido de aliar o trabalho do coordenador
condição efetiva deste profissional capturado pedagógico na perspectiva do papel do
na condição do (orientador pedagógico) e/ou orientador educacional, papel esse que se

872
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

reveste apenas a alguém que esteja social e cultural, fazendo com que o mesmo
literalmente preparado para agir interaja e intervenha no contexto onde está
freneticamente gerando sempre a lealdade, a inserido, sendo capaz de tomar decisões a
confiança e a percepção seletiva de atuar para partir do que se conhece como pessoa e
desvendar o (eu – comigo) e o (eu – contigo). colaborador atuante na comunidade onde vive.
Em tal sentido, isto fica muito bem claro nas Ainda cabe-lhe o papel de planejar, coordenar
palavras de Pascoal (2013), quando ela coloca e implementar ações inerentes ao espaço
essa condição, e apregoa que: escolar e comunidade, como também,
Apesar de essas funções do orientador participar das mesmas identificando as
serem essenciais no processo de ensino e características pertinentes da escola, da
aprendizagem, nem sempre as escolas contam comunidade e das atividades executadas. (pp.
com esse profissional em sua equipe. Com ou 2/52-3/53).
sem ele, no entanto, o trabalho não pode Cunhando para o pensamento das autoras
deixar de ser feito. Da mesma maneira que uma acima é bom lembrar que a discussão aqui, por
escola sem coordenador pedagógico não deixa hora, demanda (aspectos-chave) e atribuição
de planejar as situações didáticas, uma escola de (um) e/ou de (ambos) pelo (fazer
sem orientador educacional não deixa de se pedagógico) está situado ao sentido de que
preocupar com a formação cidadã de seus ambos – (gestão, coordenação e orientação
alunos. Essa missão deve ser cumprida pelo educacional) – estão atrelados às funções (de
diretor, coordenador e também pelos um) ou (de outro) e (todos) podem (cooperar)
professores. (p. 7, grifo dos autores). de forma (única) e (imparcial) diante da
Pelo visto é de se considerar aqui que outro apreciação do (ensino) e da (aprendizagem)
papel também esteja imbricado na condição do como um todo.
trabalho pedagógico do orientador escolar que Desta forma, Oliveira et al (2011), alertam
é a comunicação humana. Ou seja, sem ela que:
ninguém consegue desenvolver um bom Nesse sentido a gestão, coordenação e
trabalho com eficácia e responsabilidade. orientação educacional são imprescindíveis
Sobretudo, a mesma autora em voga clarifica para o bom andamento das atividades
essa informação nos deixando a informação de escolares. Cada um possui sua importância e
que nenhum orientador pedagógico atua valor, não sendo uma função mais importante
sozinho e sem (este) ou (aquele) à escola não que outra, até porque nenhuma se consolida
pode e nem dever parar. Confirmando aos isoladamente, mas se constitui no coletivo, por
relatos de Pascoal e diante dos argumentos meio da articulação dos diferentes papéis
pelos pesquisadores até aqui é bom ressaltar daqueles que compõe a equipe pedagógica. (p.
para o (papel/função) do orientador 3/53, grifo nosso).
educacional que aos olhos e modelo mental de No entanto, segue as regras segundo
Oliveira et al (2011) afirma-se que: (Pascoal, 2013) quando faz alusão ao livro
O orientador educacional tem como função extremamente coerente ao que ela se ateu
orientar os alunos no conhecimento pessoal, para escrever o conteúdo na página da nova

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escola – gestão. Livro este intitulado de: “A legislação educacional do país; Circula pela
Orientação Educacional - Conflito de escola e convive com os estudantes. (PASCOAL,
Paradigmas e Alternativas para a Escola, Mírian 2013, p. 7, grifo dos autores).
Paura S. Zippin Grinspun, 176 págs., Ed. Cortez. Contudo, é de se perceber que o trabalho do
Nesse sentido, cabe citarmos aqui o trabalho orientador educacional não é nenhuma faceta
do orientador educacional, o que ele faz? onde se diz algo e não se pode acrescentar.
Quem ele é? Qual sua relação com as práticas Muito pelo contrário, é um trabalho que
de gestão e o seu elo com a pedagogia e o fazer demanda de uma gestão pedagógica onde o
pedagógico. (fazer) dever (acontecer) e o (acontecer) se
deve ao fato do ato de (agir). Isto é, em prol do
O TRABALHO DO ORIENTADOR bem estar de todos os envolvidos na interação
primordial do (saber fazer), do (saber como
EDUCACIONAL (PEDAGOGO fazer) e do (saber ser). Por isso, o orientador
ORIENTADOR) – O QUE FAZ E educacional precisa estar em constante
semelhança com a (direção-pedagogo/gestor)
QUEM ELE É? ANTES DE SER
e com a (coordenação pedagógica) onde sua
ORIENTADOR É UM PEDAGOGO atividade precisa ser mantida, aprimorada e
– QUEM É O PEDAGOGO, reciclada, sempre que possível diante de um
conflito, por exemplo.
AFINAL? O QUE A PEDAGOGIA Este profissional é também aquele que em
NESTE CONTEXTO, PROFISSÃO? conjunto com todos os atores da escola e fora
QUAIS SUAS PRÁTICAS DE dela, por exemplo, a comunidade e os pais de
alunos deve ser o (pedagogo) que faz a
GESTÃO DO FAZER PEDAGÓGICO (representação do pensamento) onde sua
O que faz o orientador educacional? Orienta (comunicação) seja a mais alta possível e a sua
os alunos em seu desenvolvimento pessoal, (motivação) seja a mola do (agir, fazer e
preocupando-se com a formação de seus acontecer) numa perspectiva (laboral) onde,
valores, atitudes, emoções e sentimentos; por exemplo, (a pauta de uma reunião com os
Orienta, ouve e dialoga com alunos, pais) não passe de uma (limitação) para o (agir)
professores, gestores e responsáveis e com a e (atuar) do (fazer pedagógico/docente).
comunidade; Participa da organização e da O orientador escolar deve mais do que
realização do projeto político-pedagógico e da nunca primar por um (trabalho ético) e
proposta pedagógica da escola; Ajuda o (exitoso) no sentido de (desenvolver) um
professor a compreender o comportamento (trabalho sistêmico) onde sua (atuação) seja
dos alunos e a agir de maneira adequada em (transparente) não apenas em saber (ouvir) e
relação a eles; Ajuda o professor a lidar com as (lidar) com a diferença, sobretudo, que crie
dificuldades de aprendizagem dos alunos; bases para a construção de um ambiente
medeia conflitos entre alunos, professores e propício à criatividade na hora de fazer um
outros membros da comunidade; Conhece a (laudo técnico) e/ou uma (entrevista técnica)

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com um determinado pai ou aluno. Por outro entretanto destacar que, do mesmo modo, ela
lado, que a sua autoestima, empatia e não se restringe à descrição, explicação e
afetividade estejam estampadas no limiar de interpretação do real educativo, pois isso, com
um (bom dia), de uma (boa tarde) e/ou até já vimos, é a imprescindível contribuição das
mesmo de uma (boa noite) e, por aí vai... Ciências da Educação. Assim sendo, identifico a
Contudo, os autores como (GAZZOLLA, especificidade da Pedagogia, como Ciência da
ARBOTI & PACHECO, 2014), neste horizonte Educação, no movimento contínuo entre a
advogam: “o professor é peça fundamental no intenção clara do para que fazer e do como
processo educacional, (...) na construção da fazer. (p. 33, grifo nosso).
personalidade da criança, pelo papel que Partindo desse pressuposto somos levados a
desempenha e representa diante dos alunos, questionar que a Pedagogia enquanto ciência
como educador e mediador da construção do da educação ela é uma das áreas que mais nos
conhecimento”. (p.3, grifo dos autores). sustenta ao conhecimento como única ciência
Façamos dessa citação a nossa: “ambos – que estuda outras ramificações. Daí a
(orientador e professor) - são peças-chave na necessidade de nos posicionarmos para o
lide diária e convívio de uma criança em enfoque da Pedagogia como um campo do
formação na escola ou fora dela”. Por outro conhecimento ao vértice da identidade
lado, cabe aos pais, escola, estado e sociedade pedagógica do profissional Pedagogo e a
abraçar como tal o é, (esta criança) quebrando própria Pedagogia em si como uma arte
as barreiras do preconceito e fazendo o seu educativa.
papel de cidadão.
De modo único, o autor (PINTO, 2006) em A PEDAGOGIA COMO UM
sua Tese Doutoral em Educação, isto é,
intitulada como “Pedagogia e Pedagogos CAMPO DE ESTUDO, A
Escolares” pela Universidade de São Paulo – IDENTIDADE DO PEDAGOGO E A
USP/SP com muito bom gosto contribui para
PEDAGOGIA ENQUANTO
esse enfoque da Pedagogia enquanto uma
ciência que educa e que ensina a (aprender a CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO
aprender) como sua base de conhecimento. O fato de o fenômeno educativo ser
No entanto, ele argumenta que, interpretado cada vez de forma mais
[...] A Pedagogia difere das Ciências da abrangente, pelo avanço científico em
Educação porque é uma ciência que orienta e é diferentes áreas (Psicologia, Sociologia,
produzida na prática do educador, Antropologia...), não inviabiliza a Pedagogia
consubstancia-se na sua ação, no seu fazer. como Ciência da Educação. Pelo contrário,
Nesse sentido, cabem as perguntas: Como o apenas reforça a necessidade de ela se firmar
educador age? Por que age assim? Em que se como a Ciência da Educação para garantir a
fundamenta seu fazer? Considerando como unidade da compreensão do fenômeno
ponto pacífico o princípio de que a Pedagogia educativo e na intervenção da prática
não se reduz ao fazer educativo, é necessário, educativa. Quanto à Pedagogia, por sua

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

reconhecida vinculação com a prática, precisou 2005), que falam da Pedagogia como parte do
lutar por um espaço entre as disciplinas processo da gestão pedagógica e seus atores
científicas da universidade em alguns países como se bem pergunta: Quem é o profissional
(Schmied-Kowarzik, 1988) e, em outros Pedagogo?
lugares, “desaparece em proveito de um O Pedagogo é o profissional que atua em
modelo dedutivo que deseja reduzir o fazer ao várias instâncias da prática educativa, direta ou
dizer, o saber-fazer ao saber científico” indiretamente ligadas à organização e aos
(Houssaye, 2004, p.18). A Pedagogia – como processos de transmissão e assimilação ativa
Ciência da Educação – é que tem possibilidade dos saberes e modos de ação, tendo em vista
maior de desenvolver esse movimento. Ela objetivos de formação humana definidos em
parte do fenômeno educativo como um todo e, sua contextualização histórica. (p. 52, grifo
com a contribuição da produção teórica das nosso).
diferentes ciências, vai elaborando as sínteses Fazendo um contrapondo, ao que diz o autor
possíveis para a apreensão do real. A Pedagogia quando faz uma análise de quem é esse
não pode ser vista como uma das ciências da profissional. Somos levados a perceber que o
educação já que ela é a Ciência da Educação. E (pedagogo) é alguém com capacidade mútua e
somente a Pedagogia pode ser a Ciência da que ao longo de sua formação - (teórico
Educação, pois seu objeto exclusivo de prático-pedagógico) deve atuar com muita
investigação é a educação. Afirmar que a cautela.
Pedagogia compõe o conjunto das Ciências da Sobretudo, ao pôr a mão na massa deve agir
Educação, ou seja, que é uma outra ciência (ou com profissionalismo e ética uma vez que o
campo de estudo) das Ciências da Educação, é trabalho docente é pautado com muita
igualar o que é desigual. Assim como subtrair “sofrência” no sentido da “desvalorização” da
da Pedagogia a produção científica da história, própria categoria docente. A pergunta que não
da psicologia, da sociologia etc., é fragilizá-la quer calar é: [Somos unidos?], de certa, forma,
como Ciência da Educação. (PINTO, 2006, p. 26- Não! Ao nosso entendimento é a única
27-30-31ª, grifo nosso). categoria de profissionais onde o (saber) não
A Pedagogia é uma elementar ciência que impera exclusivamente no (saber fazer).
estuda a formação do homem e se alinha com Certamente, essa categoria de (pedagogos) são
o saber docente seja ele na condição humana profissionais que tão pouco vive na identidade.
em que se insere, por isso, infere-se, que essa (OS AUTORES, 2022).
profissão estar consolidada na perspectiva de Confirmando ao que disse Libâneo (2005)
que somente por meio dela – (por formação trazemos para complementar o que
superior) - é que todos os atores da escola dissertamos tão logo abaixo de suas palavras.
atuam de forma (ética e responsável) dentro de Isto é, aonde Souza et al (2013) enfatiza
um saber ilibado e em constante processo de fazendo (exitosa referência) e com (muita
transformação. Remetemo-nos aos conceitos simplicidade), nesse (embate e discussão),
dos autores como Souza et al (2013, p. 6), podemos “observar” que o (campo de estudo)
quando fizeram referência ao autor (LIBÂNEO, e (atuação do pedagogo) é enxergado com

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muita propriedade, nesse aspecto, a pedagogia Ainda a esse respeito, percebe-se que a
é: própria categoria não tem dado total espaço
Um campo de estudos com identidade e para o diálogo. Em tal sentido, nas Instituições
problemáticas próprias, e seu objeto de estudo de Ensino Superior – (IES) muitas vezes se
compreende os elementos da ação educativa e desvelam apenas e tão somente por meio de
sua contextualização, ou seja, sujeito que se debate, simpósio, workshop, seminário, etc.
educa, educador, saberes e o contexto em que Contudo, é na (academia) e/ou (fora dela)
ocorre, e o pedagogo é o profissional que surgem novos caminhos para o debate. É
responsável por essa prática educativa em suas possível notar que a – (estes espaços) - somam-
várias modalidades e manifestações. (p.8). se, um (gerador de consciência) e
Por outro lado, a autora Franco (2008), tão (contextualização amparada) dentro das
somente afirma com muita cautela quem é o (práxis socialmente estabelecida) com vistas à
Pedagogo e o que ele tem a oferecer enquanto (formação e pós-formação) deste ou daquele
cidadão que lida com a arte de educar seja na profissional que irá atuar como (pedagogo-
liderança de (gestão, coordenação, supervisão, docente) e/ou (outros novos caminhos)
orientação) e, por fim, (pedagogo-docente). oriundos desta profissão. (OS AUTORES, 2022).
Assim sendo, ela tão somente, afirma que: Mais uma vez as autoras (GAZZOLA, ARBOTI
O curso de Pedagogia se constitui no único & PACHECO, 2014), reafirmam esse
curso de graduação onde se realiza a análise compromisso do (fazer docente) versus (sala de
crítica e contextualizada da educação e do aula), pois, uma vez (educador), este, devem
ensino enquanto práxis social, formando o ser os (diferenciais competitivos), assim, elas
pedagogo, com formação teórica, científica e advertem e nos chamam a atenção para o
técnica com vistas ao aprofundamento na (enfoque docente) e alegam que:
teoria pedagógica, na pesquisa educacional e É preciso que em suas aulas o professor se
no exercício de atividades pedagógicas utilize de uma metodologia diferenciada
específicas. (FRANCO, 2008, p. 149). conforme cada turma de alunos, pois a forma
Por essas e outras razões é que a identidade em que cada conteúdo é trabalhado é de
do curso de pedagogia foi tão sofrida e ainda é fundamental importância para o entendimento
questionada até hoje. Por isso, ou não do ser aprendente. A partir do
A Pedagogia que se constitui como uma das momento em que o professor entende seus
ciências práticas mais ricas por sua tradição alunos, o mesmo passa a dinamizar suas aulas
deixa de contribuir com a análise teórica de de maneira mais compreensiva para os
uma prática transformadora, para mesmos, e assim eles também entenderão seu
paradoxalmente balizar-se na discussão teórica professor, e mais do que isso: terão
e científica das ciências sociais em torno de interesse em buscar e pesquisar sobre os
métodos de pesquisa que possibilitem a assuntos trabalhados em aula, havendo
orientação de uma prática crítica. (PINTO, maior envolvimento e, consequentemente,
2006, p. 31b). uma incessante busca pelo saber de ambos os

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lados, professor/aluno, que construirão o entre conhecimentos científicos e culturais,


conhecimento juntos. (p. 6). valores éticos e estéticos inerentes a processos
Sobretudo, a parceria entre os atores – de aprendizagem, de socialização e de
(gestão, coordenação, supervisão, orientação e construção do conhecimento, no âmbito do
docente) – estes, devem ser de forma plena e diálogo entre diferentes visões de mundo
humanizada. Isto é, seja na sala de aula, no (BRASIL, 2006, p. 11).
ambiente (gestacional/diretoria), na É preciso lembrar que esta resolução é a
(condução) e (preparação) do (currículo) para a mola propulsora da margem da docência para
(escola) na perspectiva da coordenação o curso de pedagogia, aplicando-se, tão
pedagógica; na (supervisão) de cunho somente para o (exercício da docência na
proveitoso da (gestão docente). Por fim, do educação infantil) e nos (anos iniciais do ensino
próprio (orientador educacional) que trabalha fundamental), nos cursos de ensino médio, etc.
com a população em geral desde a família, pais Por outra ótica, ao olharmos para o final do
de alunos, colegas de trabalhos e artigo 2º o texto é claro e se pode analisar:
(direção/docente) dentro de um limiar pleno “bem como em outras áreas nas quais sejam
de gestão docente. previstos conhecimentos pedagógicos”. Isso
Finalizando o debate, Franco (2008, p. 130), implica dizer que o – (ato de educar) - não se a
afirma que: “é a ciência pedagógica que deve têm apenas à docência da sala de aula. Todavia,
fundamentar a prática docente”. Ainda assim, se remete ao (papel) que cabe (daquele/a) para
ela adverte: “que a docência se faz pela onde vai atuar o(a) futuro(a) profissional da
pedagogia e não a pedagogia se faz pela pedagogia.
docência”. Contudo, a Resolução (BRASIL, Para tanto, o autor Libâneo (2006), nos
2006), ressalta a docência, prescrevendo o remete uma crítica à docência como não sendo
seguinte: à base da pedagogia como sua existência do
Art. 2º As Diretrizes Curriculares para o curso curso que já formou tanto pedagogo e até hoje
de Pedagogia aplicam-se à formação inicial ainda é palco de debate político pedagógico em
para o exercício da docência na Educação sua particularidade desde sua existência desde
Infantil e nos anos iniciais do Ensino o (século V) antes (Grécia).
Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na Podemos enxergar com muita pluralidade o
modalidade Normal, e em cursos de Educação que dissertou o autor a seguir:
Profissional na área de serviços e apoio escolar, A base de um curso de Pedagogia não pode
bem como em outras áreas nas quais sejam ser à docência. A base de um curso de
previstos conhecimentos pedagógicos. pedagogia é o estudo do fenômeno educativo,
§ 1º Compreende-se à docência como ação em sua complexidade, em sua amplitude.
educativa e processo pedagógico metódico e Então, podemos dizer: Todo trabalho docente
intencional, construído em relações sociais, é trabalho pedagógico, mas nem todo trabalho
étnico-raciais e produtivas, as quais pedagógico é trabalho docente (LIBÂNEO,
influenciam conceitos, princípios e objetivos da 2006, p. 8/850 referenciado por ROVARIS &
Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação WALKER, 2012, p. 3).

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Certamente, é bom lembrar que a base da as normas de organização da escola; ao papel


pedagogia é a ciência que modela a educação que cabe aos professores, que ministram as
como uma mola propulsora do (ensino- aulas, organizam o material didático, fazem
aprendizagem), sendo esta, a única que busca planejamento e orientam alunos e pais (e
o (fazer docente) dentro das (práticas levam trabalhos para realizarem em casa); ao
pedagógicas) e da própria (didática da papel que cabe ao secretário escolar, este,
formação docente). responsável por organizar a documentação dos
Entretanto, o que podemos observar que a professores e alunos; ao papel que cabe a
gestão do trabalho pedagógico não se faz pela bibliotecária, esta, se ocupa de cuidar da
mera existência de uma equipe pedagógica e conservação e empréstimos dos livros e de
sim, por uma ética da ação conjunta entre todo o zelo ao ambiente bibliotecário; ao papel
todos os envolvidos pelo processo de ensino e que cabe aos zeladores, estes, cuidam da
função da escola – (que é que foi e sempre limpeza e conservação da escola; ao papel que
será) - a de (ensinar a todos os alunos sem cabe a merendeira, esta, que prepara e serve a
qualquer ameaça ou receio de preconizar o merenda aos alunos. Conclusão: Se os
preconceito), pois, não poderá haver a trabalhos realizados por estes profissionais da
existência da distinção entre (quem ensina) e escola não estiverem de acordo entre si e a
(quem é ensinado). escola, não haverá significados e tão menos
De um modo mais apropriado o avanços. (VERSARI, 2007, p. 7-8, grifo dos
(pedagogo/gestor-docente) deve mais do que autores).
nunca dominar seu trabalho onde é proposto Terminamos aqui essa discussão falando que
por um currículo de assimilação de conteúdos a (pedagogia) é uma profissão que tem
reforçados de uma experiência docente com respaldo sobre várias áreas de atendimento
práticas inovadoras e criativas. Por outro lado, educacional e como única é a bola da vez.
temos a função do (gestor-diretor) que jamais Embora, muitos estudantes quando ingressam
poderá agir com pressentimentos de opressão nas Instituições de Ensino Superiores - (IES) tão
e desprezo por um ensino tradicional. logo sonham com a sala de aula e no limiar do
Contudo, todo (pedagogo/gestor-diretor) entendimento da profissão buscam outras
tem em sua cúpula institucional a (comunidade áreas para satisfazer o seu “ego” uma vez que
escolar) que segundo a autora (VERSARI, 2007) o campo da pedagogia é vasto e concede ao
é notório entender que: pedagogo vários caminhos.
Várias pessoas realizam trabalhos diferentes Por isso, Saviani (2007), complementa que:
na organização escolar. Entre elas, está o A pedagogia se desenvolveu em íntima
referido Pedagogo, precavido à organização relação com a prática educativa, constituindo-
das salas, ao comportamento dos alunos, ao se como a teoria ou ciência dessa prática
trabalho do professor, ao planejamento sendo, em determinados contextos,
curricular e à avaliação. No entanto, em relação identificada com o próprio modo intencional de
ao papel que cabe ao diretor é o de orientar os realizar a educação. Ao longo de vários séculos
professores, funcionários, pais e alunos sobre a pedagogia construiu uma rica tradição teórica

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e científica sobre a prática educativa que deve (este/esta) profissional no meio educacional, a
continuar a ser desenvolvida, a despeito e até citar, a gestão educacional conforme alude
mesmo por causa das inúmeras negativas de Saviani a seguir:
que foi alvo na história do pensamento A profissão que corresponde ao setor de
humano. (SAVIANI, 2007, p. 2/100). educação “é uma só e, por natureza, não só
Caminhos estes que de modo único neste admite como exige ‘modalidades’ diferentes de
trabalho fica evidente, dentre os quais se capacitação a partir de uma base comum”
disserta, a seguir: (pedagogo-docente); (Brasil/CFE, 1969, p.106), o relator conclui que
(pedagogo-diretor/gestor); (pedagogo- não há razão para se instituir mais de um curso.
coordenador); (pedagogo-supervisor); Considera, assim, que os diferentes aspectos
(pedagogo-orientador) sem falar nas áreas implicados na formação do profissional da
relacionadas a outras duas vertentes de educação podem ser reunidos sob o título geral
atendimento da profissão fora da área de Curso de Pedagogia que constará de - uma
educacional como a (pedagogia empresarial e parte comum e outra diversificada.
pedagogia social), dentre outras áreas do A primeira deverá dar conta da base comum
fomento – (saber fazer) - para além da sala de e a segunda, das diversas modalidades de
aula, etc. capacitação, traduzidas na forma de
Na (p. 17/115), este mesmo autor ressalta habilitações. A primeira – A parte diversificada
que: contemplou as seguintes habilitações:
O caminho efetivo de introdução da Orientação Educacional; Administração
pedagogia na Universidade se deu pelos Escolar; Supervisão Escolar; Inspeção Escolar;
Institutos de Educação, concebidos como Ensino das disciplinas e atividades práticas dos
espaços de cultivo da educação encarada não cursos normais.
apenas como objeto do ensino, mas também A segunda – A parte comum - O aspecto mais
da pesquisa. Nesse termo entra aqui o – característico da referida regulamentação foi à
(docente) enquanto pesquisador que é. Nesse introdução das habilitações visando a formar
âmbito as duas principais iniciativas foram o “especialistas” nas quatro modalidades
Instituto de Educação do Distrito Federal, indicadas (Orientação Educacional,
estruturado e implantado por Anísio Teixeira, Administração Escolar, Supervisão Escolar e
em 1932, e dirigido por Lourenço Filho; e o Inspeção Escolar), além do professor para o
Instituto de Educação de São Paulo implantado, ensino normal.
em 1933, por Fernando de Azevedo. Ambos, Daí a pretensão de formar os especialistas
sob inspiração do ideário da Escola Nova. (grifo em educação por meio de algumas poucas
dos autores). regras compendiadas externamente e
Finalizando o entendimento que de a transmitidas mecanicamente, articuladas com
pedagogia é uma profissão com várias áreas o treinamento para a sua aplicação no âmbito
para (trabalhar/atuar). Somos levados a de funcionamento das escolas. Eis porque se
perceber que como profissão é oriunda de um considerou como suficientes às matérias
saber empírico no que diz respeito ao situar “Estrutura e Funcionamento do Ensino” e

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“Princípios e Métodos”, seguidas de outra que ensinar e aprender para a vida na condução da
alude a algo de algum modo relacionado com a construção de um mundo melhor).
“especialidade” em referência: “Legislação do Para tanto, Saviani, advoga que:
Ensino” para a inspeção, “Estatística” para a Com efeito, pelo caminho da história os
administração, “Currículos e Programas” para a vários elementos que, na atualidade, são
supervisão e “Orientação Vocacional” e considerados como necessários à formação do
“Medidas Educacionais”, para a orientação. educador serão contemplados no seu
(pp. 4/102-23/121, grifo dos autores). nascimento e desenvolvimento, explicitando-
Ainda assim, este mesmo autor reluz e se as condições e as razões que conduziram ao
constata que: entendimento de sua necessidade para a
É curioso notar que a nova LDB, ao mesmo formação do educador (2007, p. 32/130).
tempo em que elevou ao nível superior a Conclui-se, com muito apreço e
formação dos professores para atuar nos anos consideração pela – (fundamentação teórica) -
iniciais da escolarização, manteve a graduação que por hora foi discutido com muita
em Pedagogia ao dispor, no artigo 64: a (dedicação e força de vontade). Entretanto,
formação de profissionais de educação para deixamos uma reflexão para quem de modo
administração, planejamento, inspeção, único, simples e ético for atuar dentro de uma
supervisão e orientação educacional para a das áreas de fomento dos saberes pedagógicos,
educação básica, será feita em cursos de a saber: “Saibam que tudo aqui não se esgota
graduação em pedagogia ou em nível de pós- uma vez que o atuar da gestão do trabalho
graduação, a critério da instituição de ensino, pedagógico é extenso ao extremo”. [...]
garantida, nesta formação, a base comum “Sobretudo, se formos olhar com mais
nacional. (p. 24/122). desenvoltura dentro do que é de fato, por uma
Por isso, a – (gestão educacional) – discussão mais aprofundada, o tema nunca
implicamente incutida nas palavras de Saviani terminará, por ser um palco de debate”. [...]
– (deve ser democrática e participativa) - “Ou melhor, que sempre vai precisar de um
atrelando os conhecimentos como a prática mais (dinâmico e curador) processo de
vivenciada por todos os atores no processo e (ensinagem) – traduzindo, temos, (ensino e
procedimento de ensino/aprendizagem. aprendizagem)”. (OS AUTORES, 2022).
Todavia, a (gestão educacional) e/ou (gestão Corroborando ao pensamento anterior, a
escolar) é uma fantástica área onde se saber, Saviani (2007), copiosamente,
concentra o saber empírico da – (pedagogia complementa:
empresarial), - isto é, corroborando as linhas de Em resumo, o espírito que presidiu à
pesquisas e debates da (Administração) e/ou elaboração das diretrizes curriculares nacionais
da (Gestão). do Curso de Pedagogia foi à consideração de
Dentro dessas práticas de (gestão e/ou que o pedagogo é um docente formado em
administração) está o “pedagogo” situado curso de licenciatura para atuar na “Educação
como gestor educacional – (aquele que se Infantil e nos anos iniciais do Ensino
esforça para fazer cumprir com o dever de Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na

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modalidade Normal, e em cursos de Educação fundamentação teórica que lhes permitirá uma
Profissional na área de serviços e apoio escolar, ação coerente e com uma satisfatória
bem como em outras áreas nas quais sejam instrumentação técnica que lhes possibilitará
previstos conhecimentos pedagógicos”, uma ação eficaz”. (p. 32/130). Que todos os
conforme consta do artigo 2º e é reiterado no pedagogos dediquem mais amor à profissão
artigo 4º. Eis aí a destinação, o objetivo do que escolheram para suas vidas. Pedagogia é a
Curso de Pedagogia. (pp. 27/125-28/126, grifo arte de evoluir e crescer para o amanhã.
dos autores). Avante, sempre e sempre por melhores
Porém, é salutar dizer aqui neste findar de resultados. Os pedagogos-orientadores e os
mais uma lide – (referencial teórico) - que pedagogos-gestores que lutem dia após dia
apenas os pedagogos comprometidos com a para quebrar as barreiras do preconceito que
razão do ato de educar, educar e aprender é ainda em pleno século XXI mora nos corações
que de fato farão a diferença neste mundo de pessoas des(humanas) que, se quer
onde se prega tanto a paz, amor e união, mas (respeitam) o espaço dos outros e, por seu
não se vê com muita frequência essa tríade no “ego” próprio, entendem, por bem – (estar
meio da classe dos professorados, muito acima) de (tudo e todos).
menos na gestão e tão pouco na equipe Por fim: “diferentemente das demais
pedagógica. Os orientadores e gestores que ciências da educação, a Pedagogia é a ciência
lutem! Avante! da prática, sobretudo, se constitui como sua
Complementado Saviani (2007) alude que: especificidade”. (PIMENTA, 2000, 47 citada por
“não nos resta outro caminho senão, diante do PINTO, 2006, p. 37). Daí, conseguimos fechar
fato consumado, procurar tirar proveito da esse enfoque pedagógico sob a temática – “o
fluidez, exercitando a flexibilidade e orientador escolar e o pedagogo gestor – o
criatividade apregoadas”. (p. 30/128). Há ofício que cabe a um, pode ocupar espaço no
muitos charmes por vagar por esse caminho. fazer pedagógico do outro, e no que couber, de
Sobretudo, poucos têm o compromisso com a ambos”.
fé da verdade da profissão que um dia
escolheram para seguir. No entanto, são
poucos os profissionais da área da pedagogia
que perfazem um trabalho sério e
compromissado com a verdade situado pelo
campo da ética e da filosofia da própria
profissão bem do seu (ofício-professor).
Acrescentando, em relação a este
pensamento, Saviani (2007), conclui e faz uma
severa argumentação-crítica, proveitosa e
louvável, a saber: “espera-se que irá formar
pedagogos com uma aguda consciência da
realidade onde vão atuar, com uma adequada

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não é novidade pra ninguém que o (papel) e/ou (função) exercida pelo (orientador
educacional) e/ou (orientador escolar) é exercida plenamente por um (gestor pedagogo) e/ou
(pedagogo gestor) e vice-versa. Nada tem acrescentado nessa lide histórica quando se tem em
mente o trabalhar deste profissional. Por essas razões que ao discutimos desde o resumo até aqui
– (que o elo entre esses dois profissionais quando em união fazem a diferença) - para a instituição
educacional como um todo. Ou seja, o papel que cabe a um, cabe ao outro no que couber e vice-
versa.
A única diferença consiste na função a que se adeque a realidade institucional seja na
(esfera pública) ou na área (privada) um ou outro sempre vai está à frente desse embate. Em tal
sentido, mesmo que os conflitos sejam preexiste no que couber, a saber: diferentes funções e
mesmos profissionais, isto é, pedagogos. Antes de ser (orientador escolar) e/ou (pedagogo
gestor) - (este ou aquele) - é um profissional oriundo da educação, ou seja, alguém que com muita
capacidade pode no que couber exercer variadas (funções e papéis diferentes) em uma mesma
realidade institucional.
Olhando com mais ousadia para os achados ao longo de nossa discussão chegamos à
conclusão de que este mesmo profissional tem seus dias repletos de desafios. E, somos de
parecer positivo de que é possível que o (pedagogo) quando formado em pedagogia esteja
preparado para enfrentar este campo do saber: (orientador escolar) e/ou (pedagogo/gestor).
Em tal aspecto, mesmo indo na contra mão do seu (agir) e (fazer) este profissional tem de
sobra em sua lide pedagógica uma missão a cumprir: prática social ampla. Prática esta que vai
desde o batente de uma escola até a alta direção (gestor pedagogo) ou (pedagogo gestor) e/ou
(direção escolar) e vice-versa. E no que couber, a gestão educacional, a supervisão, a
coordenação, administração escolar bem como temos discutido – (orientação escolar) cunhado
por uma prática pedagógica na pessoa do (diretor escolar).
Além disso, somos levados a crer que um determinado diretor escolar que compreende o
termo emancipação espera que sua equipe diretiva seja contornada também pelo enfoque de
todos esses profissionais a que nos propomos a discorrer no parágrafo anterior.
Ainda a esse respeito, em especial, ao contar com o apoio diretivo do orientador
educacional é uma prova de que o trabalho em conjunto se faz pelo (agir) e pelo (fazer docente)
em todos os rumos educacionais. Outra vertente de nossos achados é que o papel que cabe a um
pode no que couber ao outro e isso demanda a mola mestra do coração do trabalho pedagógico
de uma escola e suas diferentes atuações, necessidades e ordens.
Ao apontarmos que no que pese ao arguir do trabalhar do orientador escolar chegamos a
um denominador comum: “que o papel do orientador escolar nos dias atuais é salutar nas
atividades diárias do coordenador pedagógico. E, como tal, se apresenta também no rol das
tarefas de gestão do pedagogo gestor”.
No entanto, o objetivo a fim deste trabalho pesa no (agir) e no (fazer) desse profissional
como um elo entre (um) e o (outro) e no que couber. Assim sendo, este profissional tem primazia
nos saberes pedagógico da escola mesmo estando em segundo plano em suas ações. Sobretudo,
o ofício que cabe a um, pode ser exercido ao outro no que for conveniente e lícito de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

(atuação/função). No entanto, o (saber/fazer) é consistente dentro de uma jornada pedagógica


de um (gestor pedagogo) já incluindo o (papel/função) e todas as tarefas do orientador escolar
como um todo, ou melhor, em sua plena (ação-reflexão/ação) pedagógica de gestão e vice-versa.
Todavia, essa relação tem tudo haver no âmbito da gestão pedagógica de uma escola em
nossos dias. Para tanto, é óbvio que o papel que cabe ao orientador pode simplesmente se alocar
ao gestor e, acima de tudo, ao coordenador. Por sua vez, ambos têm o foco na formação do aluno
em detrimento do (agir) e do (fazer pedagógico) olhando sempre os cuidados com os pais,
responsáveis e até a própria comunidade escolar.
A esse respeito, podemos culminar atenção para a relação que existe entre um e outro e
o ofício que cabe a um, pode, no que couber, ao outro sem desvelar total (ação/reflexão-ação)
no agir e no fazer do trabalho de cada um.
Contudo, o trabalho de (ambos) se comprova e se estende a partir do entendimento de
que (um) faz jus ao entorno da gestão e sua equipe diretiva e o (outro) se atrela a este como um
entorno mais acurado do processo, pois é este que está à frente do (fim-último) do termo ensino
e aprendizagem: o aluno. Como tal, é ele o (orientador escolar) que vislumbra todo o enfoque de
uma gestão escolar e vai, além disso, (buscar ativar sempre a consciência de seu dever cumprido)
por meio de uma gestão (conjunta e necessária) no sentido de alocar o termo (espaço ético
educativo e solidário).
São várias as ações do fazer pedagógico que se estende ao ofício do orientador escolar,
porém, para alcançar nossos objetivos ponderamos apenas os que estiveram ao nosso olhar
diretivo de gestão pedagógica e de toda a equipe diretiva de gestão, isto é, no arguir da parceria
que pode existir entre (um e outro) e no que couber da direção escolar como um todo.
Este é o foco do trabalhar do orientador escolar e suas vertentes do saber pedagógico.
Porém, quem é quem no ato de educar se respalda no entorno do aprender a aprender pelo
vértice do (saber fazer), (saber como fazer) e (saber ser). No mais, o trato deve ser a qualidade
do ensino e colaborar no todo para o bom andamento do trabalho educativo.
Em tal sentido, sua atuação deve-se pautar para além de um simples –
(profissional/pedagogo) – e/ou (suas nomenclaturas). Mas, que atue com afinco para melhores
resultados. Isto é, seja na condição de (pedagogo gestor) e/ou (pedagogo orientador). Mas, que
atue com ética e responsabilidade institucional com foco no entorno da comunidade escolar
como um todo e vice-versa. Pois todo pedagogo que se preze deve atuar com destreza, lealdade
e parceria, sobretudo, com fulcro no bem estar de todos. Entretanto, para todos e de todos
aqueles que estão a sua volta e vice-versa.

884
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ESTUDO DE CASO SOBRE GESTÃO DE PESSOAS


Laura Marchioro de Oliveira1
Maristela Fátima Schabat ²
Mauro Lúcio Batista Cazarotti ³
Bruna Alves Epifânio 4
Rodrigo Nogueira de Oliveira 5

RESUMO: Este artigo trata de um estudo de caso realizado na empresa Liquigás Tavares, empresa
atuante no comércio de distribuição de gás de cozinha, localizada em Santa Maria – RS. Para o
presente trabalho buscou-se desenvolver uma pesquisa relacionada a qualidade da
administração de recursos humanos e seus benefícios, que se caracteriza em foco do treinamento
proporcionado ao colaborador da empresa. No referencial teórico foram abordados importantes
conceitos da gestão de recursos humanos e sua importância, como treinamento, recrutamento.
Já para a metodologia foi utilizada uma pesquisa qualitativa e quantitativa, descritiva, o método
utilizado nesse trabalho foi indutivo. Em relação os meios de investigação, este estudo se
caracterizou por estudo de caso e uma pesquisa bibliográfica. Por meio da análise dos resultados

1 Formado em Administração pela Universidade luterana dia Brasil/ ULBRA, Pós graduada em Gestão estratégica
de pessoas pela Universidade Luterana do Brasil/ ULBRA, Pós Graduada em Administração Pública IPB/ instituto
pedagógico brasileiro, pós graduada em Gestão Pública IPB/ Instituto Pedagógico Brasileiro.
² Tecnologia em Gestão comercial. Atualmente atua no ramo de peças automobilística e Gestão Comercial.
³ Formado em Administração pela Universidade de Uberaba (Uniube), Pós graduado em Gerenciamento de
Projetos pela Faculdade Integradas de Jacarepaguá (FIJ -RJ), Mestrado em Mestrado em Dirección Estratégica
pela Universidade Europeia (Uniatlantico-Espanha).
4 Bacharela em Administração de Empresas formada pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto
Uruguai. MBA em Gestão de Pessoas pela Universidade do Norte do Paraná, atua profissionalmente na área
bancária.
5 Formado em Ciências Contábeis pelo Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai, pós -

graduado em Contabilidade com Ênfase em Tributos e Contabilidade, Perícia e Auditoria pela Universidade
do Norte do Paraná; MBA em Gestão Pública pela Universidade do Norte do Paraná. Atualmente 3º Sgt do
Exército Brasileiro, atuando no setor financeiro da 3ª Região Militar.

888
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

foi possível identificar possíveis melhorias a serem realizadas na empresa, podendo assim
proporcionar aos seus clientes maior qualidade nos serviços e aos seus colabores melhores
treinamento para seu desenvolvimento, e consequentemente um aumento na satisfação.

Palavras-Chave: Recurso Humanos; Gestão de Pessoas; Treinamento; Desenvolvimento.

CASE STUDY ON PEOPLE MANAGEMENT


ABSTRACT: This article deals with a case study carried out at the company Liquigás Tavares, a
company operating in the distribution of cooking gas, located in Santa Maria - RS. For the present
work, we sought to develop a research related to the quality of human resources management
and its benefits, which is characterized in focus of the training provided to the company's
employee. In the theoretical framework, important concepts of human resources management
and their importance, such as training, recruitment, were addressed. As for the methodology, a
qualitative and quantitative, descriptive research was used, the method used in this work was
inductive. Regarding the means of investigation, this study was characterized by a case study and
a bibliographic research. Through the analysis of the results, it was possible to identify possible
improvements to be made in the company, thus being able to provide its customers with greater
quality in services and better training for its employees for their development, and consequently
an increase in satisfaction.

Keywords: Human Resource; People management; Training; Development.

889
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Dentro do contexto descrito, este trabalho


abordará a os atuais treinamentos realizados
Com os avanços tecnológicos no mercado se pela empresa de serviços, que pelas suas
tem uma abertura de maior competitividade, características tem necessidade de pessoas
algo que que poderá surgir em longo ou curto altamente treinadas para atender seus clientes
prazo, com isso as empresas começaram a da melhor forma, mantendo-os e fidelizando
buscar novas estratégias para enfrentar a os.
competitividade e se manter, dando maior
abrangência ao setor de recursos humanos
PROBLEMATIZAÇÃO DA
(RH).
Encontrasse, assim, o setor de recursos PESQUISA
humanos (RH) presente em muitas Considerando a relevância da contratação
organizações, inclusive em organizações de das pessoas certas para o trabalho, para que a
pequeno porte, que será o caso da empresa em empresa possa prestar um bom atendimento a
estudo, uma revendedora de gás localizada na seus clientes e para que a prestadora de
cidade de Santa Maria – RS. serviços possa manter os clientes atuais e
Quando tratando-se de empresas de conquistar novos, com isso crescendo.
serviços algumas ações ficam mais evidentes, Constata-se que isso se deverá em grande
as características de qualidade e satisfação de parte aos serviços de atendimento realizados
seus consumidores depende do pelos colaboradores. Ou seja, a Gestão de
posicionamento de seus colaboradores. Por Pessoas tem papel fundamental para que as
isso os proprietários apresentam o papel empresas prestem bons serviços e com isso
fundamental na execução dos serviços, assim satisfaçam clientes e contribuam para o
como no desenvolvimento e crescimento da crescimento das organizações. Assim chega-se
empresa. ao problema de pesquisa deste trabalho de
As pessoas que completam o time de conclusão de curso que é:
funcionários na empresa são fundamentais Como são realizados os processos de gestão
para tal crescimento e reconhecimento, de pessoas, recrutamento, seleção,
observa-se a importância nas áreas de serviços, treinamento e manutenção dos colaboradores
devido a qualidade percebida quando realizado na empresa Revendedora Liquigás Tavares?
o fechamento do atendimento ou serviço. Verificar como são realizados os processos
Esse padrão de qualidade é atingido no de recrutamento, seleção, treinamento e
momento em que a empresa começa a manutenção dos colaboradores na empresa
oferecer treinamentos voltados a preparação Revendedora Liquigás Tavares.
do trabalho. É extremamente necessário Verificar como ocorrem os processos de
investir em treinamentos e qualificações de recrutamento e seleção na empresa;
colaboradores, para que se tornem Identificar como é constatada a necessidade
profissionais preparados para atender e de treinamento;
responder a qualquer dúvida de seus clientes.

890
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Relatar os tipos de treinamentos Lauda, bairro Tancredo Neves, com distribuição


proporcionados pela empresa aos de produtos por meio de tele entregas, com
colaboradores; representação da marca Ultragaz.
Identificar como a empresa constata se os Com uma moto, a capacidade de
conhecimentos e técnicas proporcionados armazenamento era de 40 botijões, a venda
pelos treinamentos estão sendo aplicados no mensal era de 300 a 400 botijões.
dia a dia de trabalho. Em abril de 2006, prevendo mudanças e
Identificar se há política de manutenção de expansão no empreendimento em relação a
colaboradores. clientes, a empresa abre sua sede própria
Justifica- se este trabalho pela importância localizada ainda na Tancredo Neves, Quadra
do tema, e por tudo mais o que se pode agregar 39, n°23, tendo também um ponto de vendas
de melhorias nos treinamentos para os situado ao posto de combustível Dutra,
funcionários e ajuda ao responsável do setor de localizado na Av. Medianeira, bairro centro,
recurso humanos, também reforçando a com vendas locais.
importância dos colabores no crescimento e De modo que houve a expansão a empresa
reconhecimento da empresa. precisou aumentar também o seu quadro de
Satisfazer os funcionários gerando um funcionários, ao iniciar as suas atividades a
ambiente agradável e por consequência mais empresa contava com apenas um entregador,
qualidade na realização de suas funções sentido a demanda das vendas aumentando
diárias. aos longos dos meses a empresa buscou o
Fornecer subsídios para os colaboradores se recurso de mais um auxiliar de entrega.
sentirem mais seguros na realização das Essa quantidade de funcionários foi mantida
tarefas, conquistando autonomia para tomada por mais ou menos quatro anos, relata a
de algumas sugestões de decisões. proprietária do estabelecimento.
Este trabalho está estruturado em Em 2010 a empresa passa a operar no balcão
introdução, depois a problematização da de venda juntamente com a distribuidora
pesquisa, que apresenta o problema de Brutti, na Br 158, suas vendas eram realizadas
pesquisa, os objetivos e a justificativa. diretamente e por tele entregas
Posteriormente apresenta a empresa. No Em 2012 a empresa muda-se para o bairro
terceiro é realizada a Análise Ambiental. Por Tomazetti, após a compra de outra
fim as conclusões, em seguida apresenta-se a distribuidora, operando com tele entrega,
bibliografia utilizada e os anexos que fazem balcão de venda e com dois veículos fazendo a
parte do estudo. venda automática, representando a marca
Buttano e Liquigás com capacidade de
A EMPRESA armazenamento de 120 botijões e uma venda
de 1.600 mês.
A Liquigás Tavares, é uma empresa com 13
Em fevereiro de 2018 a empresa retorna
anos de atividades no mercado. O
para a sede própria, onde ocorre atualmente
empreendimento iniciou no em 15 de abril de
2005 em um endereço localizado na Av. Paulo

891
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

suas atividades, sendo representante da empresa deve monitorar seis forças


Liquigás e Butano. importantes: a demográfica, a econômica, a
A empresa atua no segmento de distribuição natural, a tecnológica, a político-legal e a
de gás, nas seguintes modalidades, portaria sociocultural”. Essas forças fazem parte do
(cliente compra direto no ponto de revenda), Macroambiente, que de certa maneira,
automática (venda na rua, em roteiros influenciam nas tomadas de decisões da
programados) mediantes a utilização de organização.
pequenos veículos de carga. O macroambiente é composto pelas
Hoje a empresa conta com dois variáveis mais distantes da empresa, as
entregadores de tele moto, dois entregadores variáveis externas podem interferir no
de venda automática de caminhonete, o que funcionamento da empresa, seja ela para
totaliza quatros funcionários atuando na área resultados positivos e negativos, mas também
de suporte de entrega. não afeta apenas a empresa, mas sim o
O que possibilita a permanência da empresa conjunto da sociedade e de suas atividades,
no mercado é um grande reconhecimento de englobando matérias relativas à população,
seus clientes, por possuir uma abrangência de questões legais ou tecnológicas.
promoções e comodidades. “As empresas bem-sucedidas reconhecem
as necessidades e as tendências não –
ANÁLISE AMBIENTAL atendidas e tomam medidas para lucrar com
elas.” (KOTLER, 2000, p. 158)
A análise ambiental, segundo Ferrell (PRIDE;
A partir disso é presumível entender que se
FERRELL, 2001, p. 42)., “é o processo de avaliar
torna eficaz às empresas estarem atentas a
e interpretar as informações coletadas durante
novos negócios, novas tecnologias, as
o exame ambiental”. Sendo assim é
mudanças no mercado e na forma de recepção
fundamental para a sobrevivência de qualquer
aos clientes.
empresa a análise dos ambientes interno e
externo, pois caso ocorra alguma mudança
ocasionará em uma oportunidade ou ameaça. • Ambiente demográfico
A análise dos ambientes, seja ele externa ou “O ambiente demográfico é de grande
interno, é essencial para as movimentações da interesse para os profissionais de marketing
empresa. De acordo com Chuchill e Petter por que envolve pessoas, e pessoas constituem
(2000, p. 26). “Todas as organizações são mercados” (KOTLER E ARMSTRONG. 2003 p.
afetadas pelo ambiente organizacional, pois 65).
este afeta a capacidade da administração de De acordo com Kotler e Keller (2005, p. 93),
desenvolver e manter bons relacionamentos Este ambiente é composto por variáveis que
com seus clientes”. influenciam o poder de compra dos
consumidores. O poder de compra de uma
economia dependente das suas reservas, renda
• Macroambiente
e disponibilidades de crédito. “No ambiente
Kotler e Keller (2006, p. 76), evidenciam que
econômico os profissionais de marketing
em um cenário global em rápida alteração, a

892
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

precisam focalizar a distribuição de renda e os prestações de serviços, absorve 74,49% da


níveis de poupança, endividamento e população ativa da cidade.
disponibilidade de crédito”. Tendo como base por meio de dados, a
A demografia é a ciência que estuda a quantidade de habitantes na zona urbana,
população humana analisando seu tamanho, pode-se concretizar que o gás de cozinha é um
densidade, localização, idade, sexo, raça, dos principais meios de utilização para a
ocupação e outros dados estatísticos. O realização de preparos dos alimentos.
ambiente demográfico incide num conjunto de
fatores que afetam a população de uma • Ambiente econômico
determinada região. Kotler e Keller (2006, p. De acordo com Kotler e Keller (2005, p. 93):
78) entendem que “as tendências Este ambiente é composto por variáveis que
demográficas são altamente confiáveis em um influenciam o poder de compra dos
curto e médio prazo”. consumidores. O poder de compra de uma
A principal força demográfica que os economia depende das reservas, renda e
profissionais de uma determinam região disponibilidade de crédito. No ambiente
monitoram é a população. Afinal, os mercados econômico os profissionais de marketing
são compostos de pessoas. Entre os aspectos precisam focalizar a distribuição de renda e os
de extremo interesse para os profissionais de níveis de poupança, endividamento e
marketing estão, o tamanho e a taxa de disponibilidade de crédito.
crescimento da população de diferentes Cada área geográfica varia muito em relação
cidades, regiões e países, a distribuição das ao nível de distribuição de renda. “O ambiente
faixas etárias e sua composição étnica, os graus econômico corresponde aos fatores que
de instrução, os padrões familiares, e as afetam o poder de compra e o padrão de
características das diferentes regiões, bem consumo das pessoas”. Kotler e Armstrong
como os movimentos entre elas (KOTLER e (2003, p. 72).
KELLER, 2006, p. 78). A Prefeitura de Santa Municipal de Santa
Segundo os dados disponibilizados pelo o Maria (2017), relata que Santa Maria possui
censo da Prefeitura Municipal de Santa Maria, uma estrutura e uma vocação econômica
baseado no ano de 2010, a cidade possui voltada para a prestação de serviços,
261.031 habitantes, sendo a maior posteriormente acentuada com o
concentração de habitantes na zona urbana, estabelecimento de serviços públicos estatais e
em funções das atividades comerciais e de federais e com o desenvolvimento do comércio
serviços, que são predominantes da cidade. local.
Mesmo tendo em vista que a cidade de Santa Certamente, a grande massa e fluxo
Maria está estre as 100 melhores cidades em se monetário na cidade dependem,
viver. fundamentalmente do serviço público. O
Na classificação econômica, verifica – se, município destaca-se na região e país como
conforme o site da Prefeitura Municipal de cidade portadora das funções relacionadas a
Santa Maria, que o setor terciário de prestações de serviços: Comercial,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Educacional, Médico-hospitalar, Rodoviário e descarte usando necessários em lugares


Militar. (PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA autorizados.
MARIA, 2017).
• Ambiente tecnológico
• Ambiente Natural Para Churchill (2000, p. 43), “os
Com toda a globalização ao longo dos anos, desenvolvimentos tecnológicos proporcionam
observa-se uma série de consequências oportunidades importantes para o valor
consideráveis ao ambiente natural ou físico oferecido ao cliente”. É importante ressaltar
como também conhecido. Danos sentidos no que essas mudanças, quando não ocorrem
dia-a-dia. O ambiente natural é uma juntamente com o cliente poderão resultar em
importante preocupação global. uma ameaça organizacional.
Para Kotler (2000), os profissionais de Segundo Kotler (2000, p. 171):
marketing precisam estar conscientes das Uma das forças que mais afetam a vida das
ameaças e das oportunidades associadas às pessoas é a tecnologia. A tecnologia gerou
quatro tendências do ambiente natural: a maravilhas como a penicilina, cirurgia no
escassez de matérias-primas, o custo mais coração e a pílula anticoncepcional. Gerou,
elevado de energia, os níveis mais altos de também, horrores como a bomba de
poluição e a mudança no papel dos governos. hidrogênio, o gás asfixiante a submetralhadora.
O meio ambiente tem sido o tema mais Gerou, ainda, benefícios duvidosos como
reportado nos últimos anos, uma preocupação automóveis e os videogames.
constante das empresas e órgãos Chiavenato (2000), lembra que toda
governamentais. Por isso muitas das empresas organização utiliza alguma forma de tecnologia
procuram se associar no selo verde, uma para executar suas operações e realizar as suas
espécie de selo de responsabilidade social por tarefas.
uma organização não governamental. Tendo Sob um ponto de vista administrativo, a
em vista que o gás de cozinha é um combustível tecnologia se desenvolve nas organizações
poluente e que poderia ser substituído pelo gás através de conhecimentos acumulados e
natural, que não prejudica em quantidades desenvolvidos sobre o significado e execução
altas a natureza. Mas ambos ainda são de tarefas- know-how- e pelas suas
considerados sujos, diferente da energia manifestações físicas – máquinas,
elétrica, onde seu problema está no impacto no equipamentos, instalações – constituindo um
meio ambiente decorrente as usinas complexo de técnicas usadas na transformação
construídas, e não afetam a bacia hidrográfica. dos insumos recebidos em resultados, isto é,
Por tanto, umas das medidas tomadas pelos em produtos ou serviços (CHIAVENATO, 2000,
representantes de gás é o uso dos botijões p. 395).
retornáveis, onde as pessoas não descartam
em meio público, elas devolvem para o Em relação aos aspectos e avanços
reabastecimento desse gás. Nesse ponto, não tecnológicos, as mudanças na área de serviços
há acumulo de dejetos na natureza, tendo o afetam diretamente ao comercio de vendas,

894
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pois aumentam o valor dos produtos As leis e regulamentos que afetam as


repassados ao consumidor. Esse aumento atividades da empresa devem ser verificados
possui custos tão elevados em ponto de vista constantemente, pois podem representar
do consumidor, que impedem um uso ameaças sérias, mas também podem oferecer
excessivo, mas podemos destacar que quanto oportunidades relevantes. Nesse sentido, é
maior a tecnologia neste setor maior será a essencial não ser apanhado de surpresa,
qualidade e menores serão os preços para os antecipar sinais de alerta e analisar com
consumidores finais. cuidado o cenário, e se há evolução.
Sabendo que o gás é um produto inflamável Os fatores políticos que podem exercer
que deve ser manuseado e instalado com todo influência significativa sobre o ambiente de
o cuidado, foram criadas as normas que devem negócios incluem, a regulamentação de
ser seguidas na hora de sua instalação. A forma proteção ambiental, as políticas fiscais, as
como é feita a instalação do gás pode ser regulamentações e restrições comerciais
responsável por diminuir ou aumentar os riscos internacionais, a defesa do consumidor, as leis
de vazamentos e acidentes domésticos. A dos trabalhadores, e os reguladores da
Liquigás Tavares trabalha com todos os concorrência.
padrões exigidos pela ABNT (Associação Uma influência legal são as normatizações
Brasileira de Normas Técnicas). Os recipientes de transportes de gás e seu armazenamento.
são transportáveis, numa extensa cadeia de Tendo estas leis, com ciência da importância
distribuição até o consumidor, ocupando com para segurança do produto e as empresas que
pequeno espaço na empresa em estudo, os os vendem, o que em muitas das situações
mesmos, são constituídos por mangueira, pode ocasionar uma certa dificuldade nas
braçadeiras e regulador se pressão de gás, instalações de novas revendedoras.
passando ainda mais credibilidade.
• Ambiente Sociocultural
• Ambiente político e legal Quando uma determinada empresa se
Composto de instituições e outras forças que instala em uma determinada região, ela verifica
afetam os valores básicos, as percepções, as algumas variáveis: religião, cultura, economia,
preferências e os comportamentos da costume, crenças. As organizações podem se
sociedade. adaptar, para poder atingir o seu público-alvo,
Na definição de Kotler e Armstrong (2003, p. com eficácia nos resultados.
75) é: Conforme Kotler e Armstrong (2003, p. 76):
O ambiente político consiste em leis, órgãos O ambiente cultural é constituído de
governamentais e grupos de pressão que instituições e outras forças que afetam os
afetam e limitam várias organizações de valores, as percepções, as preferências e os
determinada sociedade. Quando bem comportamentos básicos de uma sociedade. As
concebida, regulamentação pode intensificar a pessoas crescem em determinada sociedade
concorrência e assegurar amplos mercados de que molda suas crenças e seus valores básicos.
bens e serviços. Esse comportamento gerado por todas estas

895
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influências é determinado uma visão de mundo prática seu serviço de comércio, atividades de
que define o relacionamento de uma pessoa atendimento aos clientes. Vale lembrar que as
com as outras. A persistência dos valores forças sociais e culturais também afetam as
culturais, as mudanças nos valores culturais opiniões, levado em conta o tradicionalismo da
secundários, são características críticas que sociedade local. A Liquigás Tavares tenta
podem afetar as decisões das empresas. identificar os princípios e ideais de seus
Chiavenato (1994), conceitua que, ao clientes, e busca agir dentro do contexto.
mesmo tempo, uma organização social e uma
unidade econômica, ela está sujeita a pressão • Microambiente
social e a influências do meio social e cultural Este ambiente relaciona-se as variáveis que
onde está situada. Segundo o autor as se encontram dentro da organização, como
principais variáveis sociais que repercutem nas clientes, concorrentes, fornecedores, público,
atividades das empresas são: tradições que conforme Kotler e Armstrong (2007, p. 56),
culturais do país em geral, e da comunidade “ajudam a empresa a efetuar a tarefa de
onde está localizada, em particular; estrutura agradar aos clientes em suas necessidades”.
de orçamento familiar de despesas e relação a Este é composto pelas forças e agentes que
bens de serviços; importância relativa dada a estão próximos à empresa e muitas vezes
família e a coletividade local e nacional; atitude transformam sua capacidade competitiva.
das pessoas frente ao trabalho e às ideias Fazem parte do microambiente de uma
quanto a profissão; atitude quanto ao dinheiro organização: política interna da empresa,
e a poupança; homogeneidade ou fornecedores, prestadores de serviço, clientes
heterogeneidade das estruturas raciais e concorrentes.
linguísticas do país. A tarefa de administração de marketing é
O uso dos fogões a gás em nossa sociedade atrair clientes e relacionar-se com eles,
continua sendo o meio mais utilizado para o oferecendo-lhes valor e satisfação.
preparo dos alimentos consumidos. No Chiavenato (2000), chama este ambiente de
entanto, eles não são os únicos que tarefa, sendo o mais próximo e imediato da
possibilitam os preparos. A evolução organização, sendo o segmento de extração da
tecnológica possibilita a cada dia uma organização de entradas e saídas.
diversidade de produtos diferenciados. (Forno Quando a organização escolhe o seu produto
elétrico, micro-ondas), isso tem aumentado a ou serviço e quando escolhe o mercado onde
sua participação, em função da relação pretende coloca-los, ela está definindo o seu
custo/benefício, para assados que demandam ambiente de tarefa. É no ambiente de tarefa
muito mais gás. que uma organização estabelece o seu domínio
A Liquigás Tavares identifica seus clientes ou, pelo menos, procura estabelece-lo. O
por meio das necessidades que tem na domínio depende das relações de poder ou
utilização dos botijões de gás e na quantidade dependência de uma organização em face do
mensal dos consumidores. Seu público é ambiente quanto as suas entradas ou saídas. A
distribuído dentro da população da região, organização tem poder sobre seu ambiente de

896
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tarefa quando as suas decisões afetam as vezes Mesmo não possuindo muitos setores na
decisões dos fornecedores de entrada ou Liquigás Tavares os existentes dão suporte para
consumidores de saída. Ao contrário, a as atividades, desde do início até a entrega do
organização tem dependência em relação ao produto para que o resultado seja satisfatório,
seu ambiente de tarefa quando as suas buscando solucionar qualquer conflito interno
decisões dependem das decisões tomadas ou externo.
pelos seus fornecedores de entrada ou A abertura ocorreu com o capital próprio
consumidores de saída. As organizações aplicado dos donos, por isso observa-se que o
procuram aumentar o seu poder e reduzir sua fluxo de botijões e clientes não é de extrema
dependência quanto ao seu ambiente de tarefa grandeza. O capital foi aplicado sem
e estabelecer o seu domínio. Esse é o papel da necessidade ou intenção de usar capitas
Estratégia organizacional (CHIAVENATO, 2000 bancários para suporte. Assim as empresas
p. 391). mantem seu ponto de equilíbrio por meio de
No desenvolvimento de seus planos de sua demanda e gasta conforme o fluxo de caixa
marketing, a empresa é de suma importância da empresa.
que a administração de marketing leve em Conforme comentado pelos proprietários a
consideração todos os setores da empresa, empresa teve seu ponto de partida, a visão de
financeiro, gestão de recursos humanos, um empreendimento, que poderia dar certo ou
compras e até mesmo alta direção e produção. errado. O dono possui apenas o ensino médio
Sabendo que cada setor desse, dentro da completo, mas acompanha juntamente com
empresa, é um fator de influência, todos eles sua esposa sócia proprietária, formada em
juntos formam o ambiente interno e tem ciências econômicas as movimentações da
impacto sobre os projetos e atividades de empresa. O empreendimento mantem uma
marketing. vida solida atualmente, sem dívidas com
Essa variável se relaciona com seu meio bancos, em relação a investimentos. Seus
interno, com os setores e seus níveis custos fixos e variáveis se pagam com a
hierárquicos. Kotler e Armostrong (2007, p. demanda do mercado.
56), defende que: A empresa se caracteriza como uma
Ao elaborar planos de marketing a empresa familiar, possui juntamente no seu
administração de marketing leva em quadro de funcionários os dois sócios
consideração outros grupos da empresa, como, proprietários da empresa. Juntamente há eles
por exemplo, a alta administração e os existem ainda mais três entregadores, que
departamentos financeiro, de pesquisa e trabalham na realização das vendas de tele –
desenvolvimento (P&D), de compras, produção entregas, duas motos e um carro. O carro passa
e de contabilidade. Todos esses grupos inter- a ser mais utilizado para a carga de botijões
relacionados constituem interno de estratégias maiores ou de quantidades mais elevados,
mais amplas e a política da empresa, e os também utilizado para abastecimento do
gerentes de marketing tomam decisões de ponto de venda localizado ao posto de
acordo com os planos desenvolvidos por ela. combustível. O atendimento telefônico que

897
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ocorre como o primeiro contato pelo cliente é a Petrobras, dentro da as políticas de


realizado pela sócia, ela registra endereço, exclusividade, não poderia haver demais
quantidades e verifica-se se a entrega ocorrera marcas como Nacional Gás. Outros
de imediato ou será programada, ou seja, o fornecedores importantes são:
cliente liga pela manhã, mas a entrega será na os postos de combustíveis que abastecem a
parte da tarde. frota para o transporte de entregas;
oficinas mecânicas para a manutenção dos
• Fornecedores veículos;
Os fornecedores são um elo importante no serviços gráficos, empresas que realizam
sistema geral de entrega de valor da empresa trabalhos de arte de tipografia e impressão
ao consumidor. Eles provêm os recursos para propagandas e brindes aos clientes;
necessários para a empresa produzir seus bens A respeito aos serviços de organização e
e serviços, e podem afetar seriamente o limpeza, a empresa possui um funcionário
marketing. responsável pelos serviços.
De acordo com Robbins (2000, p. 91), as
organizações dependem de matérias primas, • Concorrentes
trabalho e capital para operar. Se a Chiavenato (1994), entende que os
disponibilidade desses recursos é restrita, se os concorrentes são as empresas que concorrem
preços aumentam ou a qualidade diminui, a entre si para a obtenção dos recursos
capacidade da organização de continuar necessários e para a conquista de mercados,
operando pode ser uma ameaça. para a colaboração de produtos e serviços,
Chiavenato (1994), conclui que há uma podendo disputar os mesmos fornecedores e
cadeia distinta de fornecedores, podendo os mesmos clientes de uma empresa.
abranger, fornecedores de recursos para a Segundo Robbins (2000, p. 90):
empresa, isto é os fornecedores de capital de Em um ambiente estático, os concorrentes
dinheiro; fornecedores de materiais que se oferecem hoje os mesmo produtos e serviços
trata da área de suprimentos; fornecedores de pelo mesmo preço de ontem e continuarão
mão de obra, área de recursos humanos oferecendo amanhã. Infelizmente para os
tratado pela própria empresa; fornecedores de gerentes, os concorrentes mudam suas
equipamento, composto pelas empresas estratégias; lançando, por exemplo, novos
prestadoras de serviços , como propaganda, produtos com características melhoradas(...)as
suporte técnico entre outros. organizações também enfrentam a
Os principais fornecedores da empresa são possibilidade de surgimento de novos
as multimarcas, como a LiquiGás Nacional, concorrentes.
Tche Gás, Vs Dutra Comercio de Gás Liquefeito. Os concorrentes da empresa estudada
A empresa em estudo não trabalha com uma podem ser considerados as outras empresas
distribuição diretamente realizada pela revendedoras de gás. Em Santa Maria elas
Petrobras, o que disponibiliza a venda de possuem produtos com qualidades e preços
demais marcas, se o fornecedor fosse somente similares, possuem as mesmas capacidades de

898
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abastecimento conforme a exigência de seus empresa, realizam a fiscalização e a cobrança


clientes, possui pontos fracos e fortes de impostos.
referentes no seu atendimento, ao carregar Sindicato dos trabalhadores, firma os
uma marca não muito reconhecida por todos o contratos de trabalho e garante o direito dos
produto acaba tendo um ponto fraco, pois a trabalhadores de acordo com as normas do
marca Liquigás já consolidada no mercado e Sindicato dos comerciários, as qual estão
carrega junto a Petrobras. registrados.
Associação de revendedores de Liquigás,
• Os Públicos empresa prática deste órgão como forma de
Segundo Kotler (2003), um público consiste obter vantagens conjuntas para os
em qualquer grupo que tenha um interesse revendedores.
atual ou potencial na organização ou que possa
causar um impacto em sua capacidade de • Intermediários de marketing
atingir seus objetivos. Os intermediários de marketing ajudam as
A questão público tem como embasamento organizações referente ao processo de
também os grupos que regulamentam divulgação, promoção, venda e distribuição de
qualquer que seja a origem do estabelecimento seus bens ao comprador final. São formados
a manter suas atividades diárias. por revendedores, firmas de distribuição física,
Chiavenato (1994), defende que a categoria agência de serviços de marketing e
como o grupo de instituições que, de alguma intermediários financeiros. Os revendedores
forma, impõe controles, limitações ou são canais de distribuição que compram e
restrições as atividades da empresa, seja revendem suas mercadorias, dividindo-se em
especificando maneiras de como deverá ser atacadista e varejista.
realizado as atividades, seguindo algumas de Os intermediários financeiros são
suas decisões, fiscalizando ou controlando suas compostos por bancos e seguradoras que
atividades. ajudam as empresas em caso de transações
Entre os grupos regulamentadores que financeiras ou de risco ligadas às compras e
orientam as atividades da Liquigás Tavares, vendas dos bens na organização.
alista-se os seguintes: Conforme Kotler (2006, p.510):
Agência Nacional de Petróleo (ANP), Os intermediários facilitam o fluxo de
acompanha e disciplina a cadeia de produção e mercadorias e serviços (...). Esse procedimento
distribuições de combustíveis, da exploração é necessário para diminuir a distância entre a
em plataformas á fase de vendas dos produtos. variedade de mercadorias e serviços oferecida
A empresa precisa seguir todas as normas de pelo fabricante e a variedade necessária para
transportes, embalagem e instalações de gás atender à demanda exigida pelo consumidor.
previstas. Essa distância resulta do fato de os fabricantes
Governos municipal, estadual e federal, normalmente produzirem uma grande
emitem os registros de funcionamento da quantidade de uma variedade limitada de
mercadorias, enquanto os consumidores

899
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normalmente desejam uma quantidade sua permanência no mercado incluído a


limitada de uma grande variedade de satisfação de seu cliente, de acordo com Kotler
mercadorias (KOTLER, 2006, p. 510) e Armstrong (2007, p.57).
A Liquigás Tavares tem como seus A empresa precisa estudar detalhadamente
intermediários de marketing diretos os serviços os cinco tipos de mercado de clientes. Os
gráficos, empresas que realizam trabalhos de mercados consumidores consistem em
arte de tipografia e impressão para indivíduos e famílias que compram bens e
propagandas e brindes aos clientes, os bancos, serviços para processamento posterior ou para
fornecedor de créditos e diversos serviços, o uso em seus processos de produção,
antecipação de receita e cobrança e a enquanto os mercados revendedores
contabilidade, empresa que documenta e faz compram bens e serviços para revende-los com
os pagamentos legais necessários à vida da uma margem de lucro. Os mercados
empresa; governamentais são constituídos de órgãos
3.2.5 Clientes governamentais que compram bens e serviços
São pessoas que compram com diversos para transferi-los a outros que necessitam
tipos de finalidade, para consumo pessoal, para deles ou para produzir serviços públicos. Por
revender, para usar no processo de produção fim os mercados internacionais consistem em
ou para transferir para outros que necessitam. compradores em outros países, incluindo
Cobra (2003), defende que é essencial uma consumidores, produtores, revendedores e
análise contínua e sistemática desse governos. Cada tipo de marcado possui
departamento, no intuito de se verificar quais características especiais que exigem um
os clientes potenciais, como estes veem a cuidadoso estudo por parte do vendedor.
qualidade dos produtos da empresa e o que De acordo com Kotler (2003, p. 62), “todas
pensam sobre os preços e o atendimento essas funções devem pensar no consumidor e
praticado. trabalhar em conjunto para oferecer valor e
De acordo com Bretzke (2005, p. 38): satisfação superiores ao cliente”.
O termo clientes refere-se também as Os clientes têm o poder de exigir redução
pessoas que assumem diferentes papeis no nos preços, qualidade dos produtos, melhores
processo de compra, como especificador, o formas de pagamento e maior prestação de
influenciador, o comprador, o pagante, o serviços.
usuário ou aquele que consome o produto e O público alvo da Liquigás Tavares são todos
assumem atitudes diferenciais diante dos os consumidores que tenham necessidade de
estímulos de marketing, de acordo com o trocas de botijões residenciais para o processo
envolvimento e comprometimento com a de preparo de comidas ou necessidades de
compra, uma determina situação ou contexto. aquecimentos de líquidos diários, sendo eles
Portanto os gestores responsáveis pelo de procedência de pessoas físicas ou jurídicas.
marketing das organizações devem ficar A frequência do consumo ocorre a partir da
atentos a esses clientes, para suprir suas necessidade do abastecimento de botijão, os
necessidades e desejos, assim então garantir consumidores entram em contato com a

900
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empresa, onde ocorre todo o processo de Gráfico 2: Sexo


atendimento telefônico, com consultas de sexo:
endereços para a entrega via tele – entregas. A
compra também pode ser realizada 20%
diretamente na sede da empresa no bairro femino

Tancredo Neves, ou no ponto de vendas masculino


80%
localizado junto ao posto de combustível Dutra
na Av. Medianeira.
Fonte: Elaborado pela autora, 2018
RESULTADOS
A primeira pergunta indagou qual a idade
A terceira pergunta indagou o estado civil
dos colaboradores ativos na empresa hoje,
dos entrevistados. O gráfico mostra que existe
incluindo empregado e empregadores. Como
uma divisão de grau civil. Onde solteiros
pode – se observar no gráfico 1, não existe uma
totalizam apenas 20%, os outros 80% se
idade predominante, a empresa possui 20 %
encontram casados ou vivendo com
com idade menor que 20 anos, 40 %
companheiro.
correspondem de 36 a 45 anos e os outros 40%
Gráfico 3: Estado civil
correspondem a faixa acima de 46 anos.
Mostrando que a empresa é constituída com solteiro

pessoas de amadurecimento.
20%
Gráfico 1: Qual a sua idade 40%
casado

idade: 40% vive com


menos de 20 anos companheiro

20% entre 20 e 25 anos

40% Fonte: Elaborado pela autora, 2018


entre 26 e 35 anos
Na pergunta seguinte, indagou – se a
40% entre 36 e 45 anos
escolaridade dos colaboradores, mostrando
acima de 46 anos
que mesmo tendo um quadro de
colaboradores de idade mais avançadas buscar
Fonte: Elaborado pela autora, 2018. uma qualificação seria essencial. Pois sua
maioria apenas possui escolaridade que
O segundo item pesquisado diz respeito ao correspondem aos atuais ensino fundamental e
sexo. A mostra que o universo da empresa é médio. Demostrado no gráfico 4.
predominante masculino, como pode ser Gráfico 4: Qual a sua escolaridade
analisada. Tendo na empresa 4 homens e 1 Escolaridade Fundamental
mulher. comleto
Ensino médio
20% 20% incompleto
Ensino médio
completo
20% Superior
40% incompleto
Superior completo

Fonte: Elaborado pela autora, 2018

901
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As respostas anteriores foram compatíveis atendimento telefônico e na própria sede e


com todos os colabores envolvidos na coleta da para as teles entregas que são realizadas
pesquisa sendo eles empregados e quando pedidas.
empregador. As seguintes perguntas foram No gráfico 7 apresenta-se de forma
coletadas somente com referências aos porcentual quanto ao local de trabalho dos
empregados. colaboradores. Onde 40% atuam somente na
Os seguintes gráficos demostram empresa, 40% atuam somente realizando
percentualmente a relação que os empregados entrega domiciliar e 20% atuam nas duas
tem com seus colegas de trabalhos e com seus opções.
responsáveis.
Gráfico 7: Seu local de trabalho na empresa é
Gráfico 5: O seu relacionamento com os demais Local de trabalho
colaboradores somente na
propria
20%
Relacionamento com colegas 40% empresa
somente
40%
entrega
Péssimo
domiciliar
33% Ruim

67%
Razoável Fonte: Elaborado pela autora, 2018
Bom
Ótimo

A seguir foi indagado aos empregados


Fonte: Elaborado pela autora, 2018 somente a questão de treinamentos recebidos
e a sua relevância a isso perante a realização do
Gráfico 6: O relacionamento com os proprietários trabalho diário.
Relacionameto com próprietarios No gráfico 8 observa-se que apenas 33% dos
Péssimo colaboradores não recebeu o treinamento,
33% 34%
Ruim essa porcentagem corresponde a somente 1
Razoável
funcionário. O treinamento realizado com os
33% Bom

Ótimo
demais tem enfoque na prevenção contra
incêndio, curso o qual foi proporcionado por
Gráfico 6 Fonte: Elaborado pela autora, 2018
um representante do corpo de bombeiros da
cidade de Santa Maria.
No que diz respeito ao relacionamento entre Gráfico 8: Você recebeu algum tipo de curso para
a equipe, sendo de mesmo modo considerado realização das atividades
colegas e proprietários da empresa. Verificou- você recebeu algum treinamento
se, até mesmo informalmente, que há um clima
de respeito e companheirismo entre
funcionários da empresa. A empresa totaliza 5 33% sim

integrantes, sendo eles 3 funcionários e 2 67% não

sócios proprietários, que são distribuídos para


suporte da empresa, abastecimento de pontos
Fonte: Elaborado pela autora, 2018
de vendas, atendimento ao público que busca

902
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Temos a representação do gráfico 9 que colaboradores, esses objetos são


questiona o grau de relevância dos caracterizados como os veículos para entrega,
treinamentos recebidos, o que cada telefone para contato, luvas, capacete.
funcionário pensa sobre a questão de receber Com embasamento nessas informações os
treinamentos para a realização do trabalho funcionários são questionados sobre a
diário. orientação para a prestação de serviços nas
residências, gráfico 11.
Gráfico 9: Questiona-se a importância dos Verifica-se que existe uma orientação
treinamentos e equipamentos relacionados à passada pelos proprietários para realização das
segurança no trabalho
tarefas e trabalho a ser desenvolvido, pois a
Importância dos treinamentos
orientação tem como objetivo principal os
importante cuidados que devem ser tomados, no processo
indiferente de troca (entrada do botijão para dentro da
pouco importante
residência). O funcionário possui uma cautela
100%
não acha importante
ao realiza a passagem desse botijão para
estragos residenciais não venham a ocorrer, ele
Fonte: Elaborado pela autora, 2018 também precisa verificar se o botijão está
colocado de forma correta, se suas mangueiras
Com base no gráfico 9 temos que 100% dos não estão com vazamentos de gás.
funcionários acham importante possuírem Gráfico 11: Você recebeu alguma orientação para a
treinamentos para realização de trabalho, prestação do serviço nas residências
sendo ele de qualquer natureza. Orientação de prestação de serviço nas
residências
A seguir as próximas respostas se referem a sim
questão de materiais utilizados para a
não
realização dos processos do trabalho, gráfico
trbalho exclusivamente na
10. 100%
empresa
Gráfico 10: No desempenho de suas funções você
utiliza equipamentos e materiais necessários para o Fonte: Elaborado pela autora, 2018
trabalho em boas condições
Equipamentos e materiais são de boas As últimas perguntas levantadas aos 3
condições
funcionários são sobre o processo de seleção
profissional.
sim
100% Os funcionários são questionados referente
não
de como tiveram conhecimento da vaga
ofertada, dois funcionários respondem que
Fonte: Elaborado pela autora, 2018 foram convidados pelos proprietários e outro
Ao realizar essa análise de visibilidade partiu de uma indicação de um amigo.
porcentual dos resultados nota-se que os É questionado a experiencia profissional dos
materiais de trabalhos se encontram com boas mesmos, e as respostas é que já trabalharam
condições de trabalhos por 100% dos no ramo da atividade anteriormente. Então

903
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sem haver dúvidas sobre a prática já caráter mais seletivo, processo de


desenvolvidas no trabalho anteriormente, recrutamento, quando contratar, como o
finaliza-se questionando se mesmo sendo processo de seleção ocorre, existe um roteiro,
convidados e indicado os funcionários divulgação da vaga, exigências profissionais,
passaram por um processo de recrutamento e treinamentos proporcionados, rotatividade
seleção, as respostas estão apresentadas na dos colaboradores, remuneração dos
figura 12. colaboradores, benefícios complementares,
necessidades de treinamentos, monitoria da
Gráfico 12: Quando você foi contratado passou por satisfação do cliente.
um processo de recrutamento e seleção A necessidade do recrutamento de novos
Processo de recrutamento
colaboradores partem do princípio da
0%
demanda, quanto maior a demanda do
sim mercado, maior será a necessidade para o
não
100% atendimento de pedidos diários. A partir disso
se constatada a necessidade o processo de
recrutamento acontece de forma formal,
Fonte: Elaborado pela autora, 2018
divulgação da vaga em redes sociais pela
No gráfico 12, demostra-se por meio da
fanpage da empresa, por indicação, por banco
porcentagem de 100%, que todos os três
de dados de empresas do mesmo ramo ou o
funcionários passaram por um processo de
próprio na empresa, divulgação em jornais.
recrutamento e seleção. De forma, a qual
Quando selecionado o colaborador passa
foram levantados dados como a permissão de
por um processo de entrevista na empresa,
dirigir, ou seja, se todos possuíam carteiras de
onde são levantados dados essenciais para o
habilitação categorias AB, também foram
trabalho ofertado, se possui experiências
questionados na entrevista sobre como eram
anteriores, se possui carteira de habilitação
realizados os trabalhos na empresa anterior,
categoria AB, idade corresponde a contratação,
como era o funcionamento e o relacionamento
estado de saúde, entre outras perguntas. O
com os colegas. Foi explicado cargos e salários,
roteiro é de entrevista é considerado informal,
benéficos, horários e outros.
não existe uma planejada caso da empresa em
Seguindo em uma mesma linha de estudo os
estudo. Após os questionamentos a empresa
questionamentos passam a ser feitos para os
passa a sua parte da informação, salários,
dois sócios proprietários da Liquigás Tavares. O
benéficos e horários.
questionário segue anexo ao trabalho.
Existindo a contração o único treinamento
A primeira pergunta a ser realizada a eles é
que é passado de forma mais conhecida é a
sobre quais os cargos ocupados na empresa
questão de prevenção contra incêndio, as
pelos empregados, a resposta obtida são os
outras especificações de ações, de como agir
seguintes cargos: telefonista, entregador e
partem do proprietário que trabalha
vendedor.
diretamente junto com os demais funcionários.
Após ter uma percepção de quais cargos são
Não existe um treinamento que seja de forma
oferecidos, as perguntas seguintes são de

904
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

anualmente realizado, são apenas trocados


feedbacks das situações, assim buscando uma
melhoria contínua.
A satisfação do cliente também é muito
valorizada dentro da empresa, existe um
trabalho de pós-vendas realizado
semanalmente, buscando saber o grau de
satisfação do cliente ou informações de
melhorias
Sendo uma empresa de pequeno porte
ainda, a Liquigás Tavares não possui plano de
cargos e salários, mas proporciona benefícios
como: remuneração mensal equivalente a 20%
a mais da categoria, vale-transporte, desconto
no botijão de gás para a família dos
colaboradores, plano de saúde e uma
bonificação quando atingida a meta proposta.

905
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelos resultados obtidos, verifica-se que os proprietários da empresa têm uma relação boa
com os seus colaboradores. Também se verificou que os colaboradores estão de grande parte
satisfeito com seus vencimentos e com o trabalho que desempenham. De maneira geral se
sentem parte da família, pois existe abertura de participações e aceitação de ideias.
Com a análise de todos os dados apresentados no decorrer do estudo, verifica-se que a
empresa mante uma política de boa convivência e proporciona aos seus funcionários boas formas
de realização de trabalhos.
Por meio do questionário aplicado aos colaboradores ativos na empresa, pode- se chegar
a conclusão acerca dos motivos de não realizarem treinamentos para a suas ações,
principalmente no setor específico.
Diante do questionário e entrevista aplicada, pode-se marcar alguns pontos específicos,
pois, quanto aos fatores que mais influenciam para que o treinamento não ocorra, estão ligados
a política da empresa e a sua visão. Mesmo possuindo somente um treinamento desde sua
admissão, os colaboradores não matem treinamentos frequentes, a falta de visão parte dos
próprios proprietários, responsáveis também pelo recrutamento da empresa.
Essa falta de visão acaba colocando a própria empresa um fator de risco, onde, não é
somente de boa convivências e orientações discutias que se mantem o funcionamento correto.
Os colaboradores por sua vez consideram relevante o grau de importância desses
treinamentos, não somente para conhecimento, mas para proporcionar medidas corretas no
momento de agir.
Com base na pesquisa teórica e prática, sendo não autorizado a pesquisa documental pelo
o proprietário, apresenta-se as seguintes sugestões:
Formação de um setor que representasse mais o colaborador. A empresa sendo
gerenciada pelos proprietários, acaba de certa forma de proporcionar melhorias continuas aos
colaboradores, isso se entende por meio da empresa ser uma empresa familiar e de pequeno
porte, onde seus gerentes e administradores são os próprios donos. Esse setor formado por um
colaborador verificaria de certa forma a visão vista dos funcionários, proporcionaria
reformulações em assuntos como salários, planos de saúde, horários, situação de trabalho,
comunicação interna, incumbência de, por meio dos planejamentos estratégicos internos,
identificar problemas e soluções.
Implantação de um sistema de recrutamento e seleção, por meio de critérios definidos, o
processo na empresa hoje ocorre de forma frágil, os funcionários apenas passam por uma
entrevista sem planejamentos, apenas há uma troca de informações se certificando de algumas
informações essenciais.
Criação e definição clara e objetiva de um plano de carreira da empresa, mesmo sendo
pequeno porte o funcionário pudesse chegar a um cargo, dado exemplo: Supervisor de entrega;
assim tornando claro ao colaborar a perspectiva de crescimento, uma forma de reconhecimento;
Formulação de um plano do poder aquisitivo dos salários, com metas melhores
especificadas para participação de lucros em todos os resultados;

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Abertura maior de comunicação interna, verificando o gráfico 6 observa que ainda existe
um pouco de diálogo entre os membros;
Reestruturação na política de benefícios e incentivos, visando estimular a melhoria de
qualidade de vida dos colaboradores;
Criação de um plano de incentivos aos estudos, para que todos os funcionários alcancem
um grau de conhecimento maior que apenas ensino fundamental e médio;
Criação de mecanismo de avaliação dos funcionários, sendo de forma mensal, trimestral,
semestral. Tocando sua assiduidade, aparência, tratamento e rentabilidade.
Criação de treinamentos, obrigatórios aos funcionários ao entrar na empresa, e de
manutenção, para os que já integram a equipe, incluído total itens de segurança, vendas e
desenvolvimento pessoal.
Estas são algumas sugestões que no entendimento do autor desse trabalho, podem ser
proporcionadas para que haja maior interesse e motivação para os colaboradores, construindo
uma empresa cada dia melhor, com maior produtividade e que os colaboradores possam de certa
forma se sentirem importantes e reconhecidos, orgulhando-se de fazer parte da empresa e
crescimento. Alguns outros levantamentos não puderam ser de forma levantados pela não
permissão de acesso dos documentos trabalhistas e demais documental da empresa em estudo.

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