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(Org.)
Desenvolvimento econômico:
novos e antigos desafios
Arapiraca/AL
2022
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS COORDENAÇÃO GERAL DO XI ENCCULT
Reitor: Odilon Máximo de Morais Dr. José Crisólogo de Sales Silva
Vice-Reitor: Anderson de Almeida Barros
Diretor da Eduneal: Renildo Ribeiro-de-Siqueira COMITÊ CIENTIFICO
Coordenadores do grupo de Trabalho
CONSELHO EDITORIAL DA EDUNEAL Dr. Anderson Moreira Aristides dos Santos
Presidente: Renildo Ribeiro-de-Siqueira Drª. Camila do Carmo Hermida
Titulares Drª. Verônica Nascimento Brito Antunes
Professores:
José Lidemberg de Sousa Lopes Revisores Científicos
João Ferreira da Silva Neto Dr. Anderson Moreira Aristides dos Santos
Luciano Henrique Gonçalves da Silva Dr.ª Ariane Danielle Baraúna da Silva (UFAL)
Natan Messias de Almeida Dr.ª Camila do Carmo Hermida (UFAL)
Maria Francisca Oliveira Santos Dr. Paulo Henrique De Oliveira Hoeckel (UFGD)
Márcia Janaína Lima de Souza - Sistema de Bibliotecas (SIBI) Dr.ª Verônica Nascimento Brito Antunes (UFAL)
Catalogação na Fonte
Inclui bibliografia.
Índice remissivo: p. [202] -204.
ISBN: 978-65-86680-77-5
DOI: https://doi.org/10.48016/xienccultgt6
E-book: https://www.eduneal.com.br/produto/desenvolvimento-economico/
CDU: 332.1
Apresentação........................................................................................................................6
7. Deterioração dos termos de troca: uma análise comparativa entre Brasil e Coreia do
Sul (1995-2017)................................................................................................................ 124
Vinicius Melo Araújo
Camila do Carmo Hermida
8. Novas tecnologias sobre o mercado de trabalho no setor bancário brasileiro...... 144
Fausto Bruno Mendes Leite de Oliveira
William Nascimento da Silva
Natallya de Almeida Levino
Cristiano da Silva Santos
E
ste e-book, na forma de coletânea, contém 10(dez) artigos frutos das apresentações
orais ocorridas na 11ª Edição do Encontro Científico Cultural (XI ENCCULT) no
âmbito do grupo de trabalho (GT 6): “Desenvolvimento socioeconômico: novos e
antigos desafios”. O encontro ocorreu virtualmente entre os dias 14 e 17 de setembro de
2021 e contou com a participação de professores, estudantes e pesquisadores de várias
instituições do Brasil. Os organizadores do livro, coordenadores do GT 6, objetivavam
realizar discussões interdisciplinares com diferentes aportes teóricos e metodológicos
sobre o Desenvolvimento Econômico e, nesse sentido, o evento se mostrou exitoso. O
e-book é o resultado de várias reflexões e contribuições científicas sobre o tema.
Sob diferentes métodos e procedimentos, a obra traz majoritariamente uma
perspectiva macroeconômica, com interfaces da teoria econômica, da economia internacional
e do crescimento de longo prazo. No entanto, também traz questões do desenvolvimento
regional em um plano mais micro e da economia política e sociologia econômica.
Dessa forma, o objetivo deste e-book é compartilhar textos produzidos por
estudantes e professores de graduação e mestrado de várias universidades brasileiras em
torno da perspectiva do desenvolvimento econômico, assim como fortalecer interações e
diálogos que auxiliem no avanço e aprofundamento do conhecimento científico brasileiro.
Os dez artigos do e-book foram sequenciados de acordo com a abrangência do tema
tratado: das contribuições mais macroeconômicas para aquelas mais setoriais e regionais.
O Capítulo 1: “A relação entre Cadeias Globais de Valor e mudança estrutural no período 2006-
2015: uma análise descritiva” trata da participação dos países nas denominadas Cadeias
Globais de Valor (CGV) e de que forma ela está correlacionada com o desenvolvimento
econômico via mudanças estruturais. O artigo realiza uma análise descritiva para 58
economias por meio do cálculo de indicadores que expressam, por um lado, tal participação
nas CGV e, por outro, mudanças estruturais, como o índice de sofisticação das exportações
e o índice de Complexidade Econômica.
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO: NOVOS E ANTIGOS DESAFIOS
CAMILA DO CARMO HERMIDA • ANDERSON MOREIRA ARISTIDES DOS SANTOS • VERÔNICA NASCIMENTO BRITO ANTUNES (ORG.)
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DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO: NOVOS E ANTIGOS DESAFIOS
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setor, tema de fundamental relevância para os novos desafios impostos pela tecnologia ao
desenvolvimento econômico inclusivo.
O Capítulo 9: “O que influencia a reeleição de deputados federais? Uma análise para o
nordeste brasileiro a partir das eleições majoritárias de 2018” analisa o processo eleitoral no
Nordeste brasileiro. Por meio de uma metodologia econométrica (modelo Logit), busca
identificar as principais variáveis que podem ter influenciado a reeleição de deputados
federais do Nordeste do Brasil e suas implicações para o desenvolvimento da região.
Por fim, o Capítulo 10: “O Artesanato e a identidade cultural no território de Belo
Monte/AL” trata do desenvolvimento regional por meio de um estudo de caso sobre o
artesanato local do município de Belo Monte no estado de Alagoas. Com uma perspectiva
menos econômica e mais sociológica, o artigo analisa de maneira exploratória a relação
entre a identidade cultural dos cidadãos da cidade e o desenvolvimento socioeconômico
do município.
8
1
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6147-2066; Universidade Federal de Alagoas/Mestrando em Economia
Aplicada (PPGEA-UFAL), BRAZIL, E-mail: raulmanso@live.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7206-5132; Universidade Federal de Alagoas/Coordenadora do
Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada (PPGEA-UFAL), BRAZIL, E-mail: camila.hermida@feac.
ufal.br.
Todo o conteúdo expresso neste capítulo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
INTRODUÇÃO
1 DOI: https://doi.org/10.48016/XIenccultgt6l1cap1
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO: NOVOS E ANTIGOS DESAFIOS
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REFERENCIAL TEÓRICO
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do trabalho) aos mais recentes (mais de um fator sob análise). Enfim, realizamos uma
exposição da literatura que relaciona a participação em CGV e mudança estrutural.
Entendem-se as CGV como uma forma específica de abertura ao comércio, por meio
da qual se transfere conhecimento sob um determinado contexto muito mais organizado de
interação administrado por firmas líderes no processo produtivo (FAGERBERG; LUNDVALL;
SHROLEC, 2018). As CGV formam-se sobre estruturas de produção nas quais são distribuídas
funções entre firmas, envolvendo parceiros contratuais, afiliados estrangeiros e fornecedores
externos independentes. Como resultado, têm-se fábricas capazes de atravessar fronteiras
(DARIA; WINKLER, 2016), cuja fragmentação dos processos produtivos e a própria dispersão
internacional de funções definem-se sejam como cadeias sequenciais ou como redes
complexas, podendo ser global, regional ou mesmo bilateral (TAGUCHI, 2014).
A interação entre países diversos criaria a oportunidade para a importação de
habilidades e tecnologias, promovendo empregos e aumentando a produtividade do
trabalho. Tais impulsos em países de pequenas e médias rendas poderiam acelerar a
industrialização e, assim, pavimentar um caminho para o desenvolvimento por meio de
spillovers (transbordamentos) (DARIA; WINKLER, 2016).
A emergência das CGV ocorreu somente no final da década de 1980, na “segunda
desagregação” da globalização, nos termos de Baldwin (2013). Nesse período, as tecnologias
da informação e comunicação (TICs) desenvolveram-se de modo a permitir coordenar
complexidades produtivas em maior distância e, assim, baratear custos ao aproveitar-
se de diferenças salariais entre países desenvolvidos e em desenvolvimento: “alguns
estágios produtivos anteriormente realizados em proximidade (entre países desenvolvidos)
foram dispersos geograficamente (entre países desenvolvidos e em desenvolvimento)” (Ibid.,
p. 17, tradução e grifos nossos). Isto permitiria o offshoring do know-how produtivo pela
internacionalização das cadeias produtivas.
Uma forma de mensuração das CGV, segundo Constantinescu, Mattoo e Ruta (2019,
p. 2385, tradução nossa), é “a parcela do valor adicionado estrangeiro incorporado nas
exportações brutas”. Em específico, os bens intermediários costumam funcionar como
a principal proxy para tal mensuração (STURGEON; MEMEDOVIC, 2011). De acordo com
Baldwin (2013), a verificação do valor adicionado é possível por meio das matrizes de insumo-
produto, pois se consegue distinguir o que são insumos para outras indústrias (i.e., bens
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intermediários). Estes dados podem ser obtidos na Trade in Value Added (TiVA), dentre outras
matrizes, na qual se individualiza o valor adicionado, doméstico ou estrangeiro, incorporado
nas exportações (DARIA; WINKLER, 2016).
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METODOLOGIA
Este estudo tem natureza aplicada e uma abordagem quantitativa descritiva (métodos
estatísticos). Buscou-se explorar, descrever e explicar o objeto de pesquisa pela pesquisa
bibliográfica e ex-post facto.
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Propomos avaliar a mudança estrutural por meio de proxies imperfeitas cuja proposta
é refletir a mudança na “qualidade”, ou no grau de sofisticação, da pauta comercial dos países.
Afinal, conforme o referencial teórico, a mudança na pauta de especialização comercial dos
países em direção a setores industriais e com maior teor tecnológico é capaz de refletir em
grande medida os processos de mudança estrutural nas economias. Duas proxies foram
utilizadas para mensurar tais mudanças estruturais: um índice de sofisticação da pauta de
exportações — Índice q — e o Índice de Complexidade Econômica (ECI).
O Índice q foi calculado com base nos dados de valor adicionado doméstico nas
exportações disponibilizados na TiVA (2018, apud OCDE, 2019). O valor adicionado doméstico
suprime valores realizados por países estrangeiros. A metodologia de cálculo seguida foi a
desenvolvida em Hermida (2016), na qual se utiliza a classificação setorial da OCDE para
categorizar os setores da classificação comercial ISIC Rev.4 em termos tecnológicos. Seu
cálculo dá-se da seguinte forma:
(1)
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(3)
Onde: é o total, em pontos percentuais das
exportações totais do país, da participação em CGV, resultado da soma de
, porcentagem da participação para trás (conteúdo estrangeiro importado
presente nas exportações do país em análise), e ,
porcentagem da participação para frente (conteúdo estritamente nacional presente nas
exportações dos países).
O Quadro 1 elenca minuciosamente as características gerais de cada variável utilizada
neste estudo e sua respectiva fonte.
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Total: 32 Total: 26
Fonte: Elaboração própria (2021).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nesta seção analisamos o atual estágio de inserção das economias nas CGV, e, por
conseguinte, caracterizando suas estruturas produtivas. A Tabela 1 elenca os países com
maiores e menores Índice q e ECI a partir da média do período amostral (2006 a 2015).
Verifica-se que, em relação ao Índice q, os países com alta intensidade tecnológica na sua
produção obtiveram os maiores resultados, entre eles o Japão e a Coreia do Sul figurando as
duas primeiras posições.
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Tabela 1 - Países com maiores e menores Índice q e ECI conforme a média de 2006 – 2015
Média do
Média do ECI
Índice q
Menor Maior Menor Maior
Nova
-0,63509 Japão 0,904121 Camboja -1,08475 Japão 2,307414
Zelândia
Coreia do
Camboja -0,51367 0,787606 Peru -0,70881 Suíça 2,004165
Sul
Chile -0,41712 Cingapura 0,771751 Marrocos -0,56665 Alemanha 1,964914
República
Vietnã -0,31703 0,740067 Cazaquistão -0,51494 Suécia 1,838339
Tcheca
Letônia -0,30451 México 0,71307 Austrália -0,37188 Áustria 1,711146
Peru -0,24766 Alemanha 0,692287 Vietnã -0,35825 Finlândia 1,697431
Argentina -0,16104 Israel 0,633412 Chile -0,26086 Cingapura 1,620084
Coreia do
Indonésia -0,12206 Irlanda 0,600637 Indonésia -0,12133 1,619961
Sul
Arábia Reino
Estônia -0,06069 Hungria 0,596866 -0,12104 1,600405
Saudita Unido
Reino República
Lituânia -0,04899 0,593127 Argentina -0,03663 1,584267
Unido Tcheca
Fonte: Elaboração própria (2021).
Não obstante, identificam-se países asiáticos, da Europa oriental e ocidental, do
Oriente Médio e da América Latina, dos quais somente dois são países em desenvolvimento
— México e Cingapura. Em contraposição, os menores resultados são de países situados na
Oceania, Ásia, América Latina e Europa Oriental, dos quais cinco são países desenvolvidos e
cinco são países em desenvolvimento — Camboja, Vietnã, Peru, Argentina e Indonésia.
Podemos observar resultados similares do ECI perante o Índice q: as maiores médias
do ECI foram de Japão, Cingapura, Coreia do Sul, Reino Unido, Alemanha e República Tcheca,
países os quais apareceram entre as maiores médias do Índice q. No entanto, no ECI, temos
apenas países desenvolvidos figurando entre as maiores médias, diferentemente do que
observamos entre as suas menores médias, dos quais apenas Austrália e Chile são países
desenvolvidos.
A fim de ampliarmos a visão de análise sobre o período, podemos dividi-lo em
dois grupos: de 2006 a 2010, e de 2011 a 2015. O Gráfico 1 é um gráfico de dispersão da
relação entre o logaritmo do ECI (eixo Y) diante do logaritmo da participação em CGV (eixo
X) no período de 2006 a 2010, com classificação por países em desenvolvimento (azul) e
desenvolvidos (vermelho) e pelo PIB per capita (tamanho). Também se desenhou uma linha
de tendência geral ao longo do gráfico.
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O Gráfico 3 tem a mesma estrutura do Gráfico 1, porém no período de 2011 a 2015.
Devido à presença de enorme outlier, diminuiu-se a escala do gráfico para o ponto mínimo
de logeci ser igual a -1 a fim de conseguir visualizar a dispersão dos dados. Novamente, os
países desenvolvidos Austrália, Grécia e Chile tiveram seu ECI abaixo da linha de suavização.
Devido à presença de outliers, vê-se uma concentração de países em desenvolvimento acima
da linha de suavização.
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No Gráfico 5, analisa-se a dispersão do ECI perante o Índice q, nossas duas variáveis
para a mudança estrutural, de 2006 a 2015, com classificação pelo PIB per capita. Percebe-se
uma tendência positiva por meio da trajetória da linha de suavização. Também é possível
perceber a concentração de países com maiores níveis de PIB per capita em áreas de maior
nível tanto de ECI como de Índice q.
Em todos os gráficos, percebe-se uma tendência, média, em comum da curva de
suavização subdividida em três estágios. Primeiramente, em níveis baixos de participação
em CGV, o acréscimo desta mesma participação provoca um crescimento acentuado de
ambos os Índices q e ECI. Ou seja, marginalmente, os dados sugerem que integrar as CGV,
inicialmente, estaria correlacionado com efeitos positivos sobre as capacidades produtivas
de uma dada economia. Porém, a partir de loggvcpart = 3,5, há, aparentemente, um nível de
“estabilidade”, ou até mesmo decréscimo, da capacidade produtiva conforme cresce o grau
de participação em CGV. Este seria o segundo grupo, entre os mencionados acima.
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Gráfico 5 - Dispersão do ECI perante o Índice q, classificados pelo produto per capita, 2006 – 2015
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As principais características das CGV são seu alto grau de dinamismo e sua
complexidade no decorrer de suas redes produtivas. Nela, há uma divisão do trabalho e o
valor adicionado doméstico varia conforme a intensidade de conhecimento e tecnologia
neste processo. O presente estudo teve como objetivo analisar a existência de uma relação
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entre a participação em CGV e o fenômeno das mudanças estruturais a partir de uma base
de dados de 58 países no período de 2006 a 2015. Realizamos uma revisão de literatura
pertinente à temática, desde a conceituação de CGV até as novas discussões entre este
fenômeno atual e as mudanças estruturais.
Os resultados obtidos sugerem que a relação entre ambas variáveis depende, a priori,
do grau de participação nas CGV. Inicialmente, integrar a elas parece estar relacionado
positivamente a uma mudança na capacidade produtiva de um país, até certo ponto em
que há estabilidade para alguns países e declínio para outros de sua capacidade estrutural.
Há, no entanto, um ponto posterior a partir do qual a relação entre participação e mudança
estrutural mostra-se positiva.
Dessa forma, considerando o aprofundamento recente da participação de diversos
países nessas CGV e as evidências descritas preliminarmente neste trabalho é fundamental a
recomendação de que as empresas busquem alcançar melhores posições ao longo das CGV,
desenvolvendo novas funções, absorvendo conhecimento e buscando assimilar formas
de upgrading a fim de garantir ganhos contínuos em termos de mudança estrutural que
se traduzam em desenvolvimento econômico para as economias onde estão localizadas.
Concomitantemente, políticas industriais e comerciais devem ser pensadas com o intuito
de ampliar a competitividade dos distintos setores por meio das CGV sem desconsiderar as
reais perspectivas de upgrading ao longo de cada CGV e seus diversos impactos para o nível
de renda e emprego nas economias.
Algumas considerações devem ser feitas acerca das limitações deste estudo. A
mensuração empírica de ambas as variáveis é primordial para verificar a existência de
um padrão entre a participação e a mudança estrutural. Todavia, a limitação temporal e
de países da amostra, devido à disponibilidade de dados, dificulta o estudo. A estatística
descritiva também não se mostrou suficiente para verificar se os efeitos são os mesmos para
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Sugere-se que, após o lançamento de uma
base de dados relativamente maior, a TiVA 2020, que se realize maiores estudos, inclusive
com instrumentos econométricos a fim de estudar o sentido de determinação entre tais
fenômenos econômicos.
REFERÊNCIAS
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are going. In: ELMS, D. K.; LOW, P. (org.). Global Value Chains in a Changing World.
Genebra: WTO Publications, 2013.
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4, p. 624-654, 1960.
CORRÊA, L. M.; PINTO, E. C.; CASTILHO, M. Trajetória dos países nas Cadeias Globais de Valor:
padrões de atuação, estágios produtivos e mudança estrutural. Instituto de Economia –
UFRJ, Texto para Discussão 007/2017, Rio de Janeiro, 2017.
DARIA, T.; WINKLER, D. Making Global Value Chains Work for Development. The World
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DING, Sai; KNIGHT, John. Why has China grown so fast? The role of physical and human
capital formation. Oxford Bulletin of Economics and Statistics, v. 73, n. 2, p. 141-174,
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FAGERBERG, J.; LUNDVALL, B. Å.; SRHOLEC, M. Global value chains, national innovation
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Research, 30(3), 533-556, 2018.
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valor. 2016. Tese (Doutorado em Economia). Orientador: Prof. Dr. Clésio Lourenço Xavier.
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2016.
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MCMILLAN, M.; RODRIK, D. Globalization, Structural Change and Productivity Growth. In:
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Studies in Comparative International Development, v. 45, n. 4, p. 439-467, 2010.
26
2
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6050-1048; Universidade Federal do Ceará/Doutorando em Economia,
jailsonufal@gmail.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4234-8665;Universidade Federal de Alagoas/Professor Adjunto 3, E-mail:
anderson.santos@feac.ufal.br;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7206-5132; Universidade Federal de Alagoas/ Coordenadora do PPGEA
e Professora Adjunta da FEAC, camila.hermida@feac.ufal.br.
Todo o conteúdo expresso neste capítulo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
INTRODUÇÃO
2 DOI: https://doi.org/10.48016/XIenccultgt6l1cap2
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3 Ellery (2014) faz um balanço com as principais dificuldades em relação às metodologias e bases de dados
utilizadas para calcular a PTF. O autor ainda discute as mudanças recentes realizadas na base da Penn World
Table (PWT).
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Além dessa forma mais geral, explora-se mais duas especificações adicionais:
considerando o capital humano e fazendo as variáveis da função de produção em termos de
horas trabalhadas. Ademais, para verificar a robustez dos resultados, considera-se também
valores distintos para as elasticidades do crescimento e para algumas medidas da função de
produção, bem como outros recortes temporais.
Por fim, cabe destacar que na aplicação dessa técnica para o caso brasileiro, optou-se
por coletar os dados diretamente da PWT 9.14 em vez de construir as medidas da função de
produção a partir de dados das contas nacionais, como é feito por boa parte dos trabalhos
empíricos. A base supracitada já conta atualmente com medidas específicas para produto,
estoque de capital físico, capital humano e emprego. O Quadro a seguir fornece uma
descrição compacta das variáveis que foram utilizadas.
4 Para uma visão mais detalhada sobre a construção e descrição das variáveis da PWT, ver Feenstra et al. (2015).
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DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO: NOVOS E ANTIGOS DESAFIOS
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5 Medida alternativa calculada pelos autores para representar a diferença entre a evolução da PTF brasileira e
a da fronteira tecnológica.
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então, a PTF não conseguiu se recuperar de modo a voltar para as taxas observadas no
intervalo anterior.
Franco (1998) argumenta que o velho modelo (se referindo ao modelo de crescimento
por substituição de importações) parecia ter se esgotado ao longo dos anos 80. O excesso
de políticas comerciais e industriais típicas dessa lógica, bem como a intensificação de
estímulos fiscais para sustentar o crescimento, acabaram por agravar a ineficiência industrial
e a competitividade e, desta forma, impactando negativamente a produtividade. De forma
semelhante, Ferreira, Ellery e Gomes (2008) levantam três hipóteses para explicar o colapso
da produtividade na década de 70 e na década perdida: (i) aprofundamento das políticas
protecionistas; (ii) excesso de intervenção estatal em setores produtivos; e (iii) intervenção
governamental no sistema de preços relativos da economia.
Voltando-se para uma questão mais técnica, mas que tem implicações importantes
para análise do intervalo em questão, Barbosa Filho e Pessôa (2014) sugerem que a PTF
na década de 1980 poderia ter sido maior que a normalmente é estimada pela maioria
dos trabalhos, dado que os estudos ainda não consideravam horas trabalhadas em vez de
população ocupada. O argumento é que a PTF mensurada com base em população ocupada
subestima o desempenho da produtividade no período (houve redução da jornada de
trabalho nesse período). Embora os resultados continuem confirmando desempenho ruim
da PTF para esse intervalo, seria uma queda bem menor do que a que convencionalmente
tem sido reportada.
6 O termo “Consenso de Washington” foi criado em 1989 pelo economista britânico John Williamson para
designar um conjunto de medidas políticas que visava dar conta dos problemas econômicos dos países em
desenvolvimento, começando pela América Latina. O supracitado consenso pode ser sumarizado em 10
pontos: (i) Disciplina fiscal; (ii) Reordenação das Prioridades de Despesas Públicas; (iii) Reforma tributária;
(iv) Liberalização das taxas de juros; (v) Taxa de Câmbio competitiva; (vi) Liberalização comercial; (vii)
Liberalização do investimento estrangeiro direto; (viii) Privatização; (ix) Desregulamentação; e (x) Direitos de
propriedade (WILLIAMSON, 2009).
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um novo modelo onde o Estado teria uma postura mais reguladora e fiscal (PINHEIRO et
al, 2004).
Como fora discutido, a década anterior havia sido demasiadamente caótica em várias
instâncias da economia, inclusive em relação ao desempenho da PTF. Para a década de
1990, por outro lado, os trabalhos que empreendem a metodologia de decomposição do
crescimento encontram um movimento de recuperação dessa medida, recuperação esta
que se mantém até boa parte da primeira década dos anos 2000. Por exemplo, Gomes et
al. (2003) mostram que a taxa de crescimento da PTF se tornou positiva entre 1992 e 2000,
crescendo 1% a.a. Em Ellery (2017) a contribuição da PTF para o crescimento do PIB por
horas trabalhadas foi de 1,6%, para o intervalo de 1992-1998. Os trabalhos de Bonelli e
Fonseca (1998) e Pinheiro et al. (2004) mostram que durante a década de 1990 a PTF cresceu
significativamente. Estes últimos, em particular, fizeram a decomposição do crescimento
com e sem capital humano, para ambos os casos, os resultados foram bastante similares.
Uma das hipóteses levantadas para explicar o processo de recuperação da PTF na
década de 90 foi a redução da instabilidade macroeconômica, com destaque para o controle
da inflação (a partir do êxito do Plano Real). De modo geral, é bastante comum se destacar
a contribuição das demais reformas estruturais para o crescimento da produtividade
nesse período, onde a busca da eficiência se tornou uma prioridade (PINHEIRO et al., 2004;
PINHEIRO; GIAMBIAGI; GOSTKORZEWICZ, 1999).
Assim, é possível destacar dois achados principais que são comumente apontados
para esse intervalo. Primeiro, houve recuperação, ainda que modesta, da produtividade
agregada e, em segundo lugar, as reformas empreendidas à época teriam desempenhado
alguma parcela de influência nesse processo. Uma discussão que será retomada em seguida
é sobre o tempo de maturação das reformas, ou seja, acerca do tempo até que os efeitos
sobre a produtividade fossem efetivados.
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7 Ver Negri e Cavalcante (2014) e Bacha e Bonelli (2016) para uma discussão mais aprofundada.
8 Barbosa et al. (2016) discutem sobre as implicações da transição demográfica sobre a oferta de trabalho e o
crescimento econômico.
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ter sido relegado a um papel secundário. O fato é que com a nova tendência de queda da
produtividade, aprofundada após 2014, além da nova dinâmica demográfica e as mudanças
na condução da política econômica, a busca por ganhos de produtividade se torna um
imperativo. (CAVALCANTE; NEGRI, 2014; MATOS, 2016).
Dentre os principais resultados para o período recente, Bonelli (2014) encontra uma
taxa de 1,3% para o intervalo 2003-13 da PTF, esta que explica a maior parte do crescimento
observado. É uma taxa até razoável quando se considera o desempenho pós-década perdida.
Bacha e Bonelli (2016) encontraram valores de 2% e -0,2% para os intervalos 2004-2010 e
2011-2014, respectivamente. Em Bonelli (2016) o crescimento da PTF passou de 2,1% a.a. no
período 2007-2010 para 0,4% a.a. entre 2011 e 2014. Ellery (2017), por sua vez, mostra que,
enquanto no intervalo 1992-2002 a taxa média de crescimento da PTF foi 0,91% a.a., nos dez
anos seguintes, a taxa de crescimento anual foi de 1,4%.
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Período
Com e sem capital humano, durante o intervalo 1970-1980 é possível observar uma
redução da PTF, mas a taxa de crescimento do produto por trabalhador permanece bastante
elevada. De certa forma, esse resultado reforça a ideia de que houve um processo de
descolamento entre a produtividade e o crescimento, ainda na década de 70, um processo
considerado insustentável a longo prazo.
Nas próximas aplicações serão considerados valores distintos para as elasticidades
do crescimento: , valor frequentemente utilizado
pela pesquisa econômica e , estimativa para o Brasil, obtida a partir
da média da participação da remuneração do trabalho no PIB a preços nacionais, entre 1960
e 2017. Com essas novas especificações, a principal diferença em relação ao comportamento
da PTF são valores maiores nos intervalos 1990-2000 e 2000-2010.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
iii. Período das reformas – a década de 90 marca uma certa ruptura com o
modelo de desenvolvimento anterior, adotando-se profundamente uma
postura mais reformista. Embora haja controvérsia sobre qual teria sido o
impacto das reformas, os resultados obtidos pela maioria dos trabalhos
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iv. Período recente – são duas histórias que, embora relacionadas, tiveram desenvolvimentos
bastante distintos. A recuperação da PTF segue até boa parte da primeira década, porém
apresentando um desempenho muito aquém do esperado. Esse fraco desempenho teria
então sido encoberto por dois fatores: bônus demográfico e boom das commodities,
que propiciaram uma ampla sensação de bem-estar, mesmo a produtividade estando
praticamente estagnada. Após a crise de 2008, vem a segunda parte da história, com a PTF
apresentando novamente variação negativa. Sem embargo, muito dificilmente o Brasil
poderá contar com os fatores que favoreceram a dinâmica virtuosa da década anterior.
O fato é que a economia atravessa o período pós-década perdida até os dias recentes
com um fraco desempenho da produtividade agregada. Quando finalmente parecia que
o quadro iria mudar, durante a primeira década dos anos 2000, novamente a PTF volta a
colapsar após a crise de 2008 e mais ainda após a recessão de 2014. No geral, os trabalhos têm
reportado que a economia brasileira caminha para fechar quatro décadas de estagnação da
produtividade. É um diagnóstico preocupante, considerando o fato de que no longo prazo
a produtividade é o que garante crescimento sustentado.
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WILLIAMSON, J. A short history of the Washington Consensus. Law & Bus. Rev. Am., v. 15, p.
7, 2009.
43
3
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2760-1706; Universidade Federal de Alagoas/Graduando em Economia
(FEAC-UFAL); BRAZIL, E-mail: thallysoneduardo12@gmail.com.
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7206-5132; Universidade Federal de Alagoas/Coordenadora do
Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada (PPGEA-UFAL), BRAZIL, E-mail: camila.hermida@feac.
ufal.br.
Todo o conteúdo expresso neste capítulo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
INTRODUÇÃO
9 DOI: https://doi.org/10.48016/XIenccultgt6l1cap3
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No final dos anos de 1980 e na década de 1990, o país passou por um processo de abertura
comercial que tinha como um dos objetivos o aumento da produtividade. Veloso, Matos
e Peruchetti (2019) encontram que entre o período de 1981-2018, a renda per capita e a
produtividade por hora trabalhada cresceram 0,9% e 0,4% ao ano, respectivamente. O baixo
crescimento da produtividade foi compensado pelo bônus demográfico que correspondeu
ao acréscimo de 0,5% ao ano no período. No entanto, a sociedade brasileira vem passando
por mudanças demográficas no sentido de redução da taxa de natalidade. Nesse contexto,
muito se argumenta que o crescimento de renda per capita no Brasil estará cada vez mais
condicionado a ganhos de produtividade (Boneli e Fontes, 2013). Isto posto, faz-se a seguinte
pergunta norteadora deste trabalho: em que medida um aumento da abertura comercial
pode contribuir para ganhos de produtividade na economia brasileira?
Dado que há uma extensa literatura, tanto ao nível internacional como nacional,
acerca da relação causal entre a liberalização comercial e ganhos de produtividade (SILVA,
2004), e que esta é considerada uma variável central no debate acerca do crescimento
econômico, o presente trabalho tem por objetivo analisar o processo de abertura
comercial no Brasil, bem como investigar e mensurar os impactos de tal processo sobre o
comportamento da produtividade da economia brasileira no período entre 1982 e 2019.
Ademais, não há mais trabalhos empíricos recentes buscando explicar os
impactos do grau de abertura comercial para sua produtividade do Brasil. Logo, uma das
contribuições desse trabalho é atualizar a análise dessa relação considerando um período
mais recente. Outra contribuição importante é a aplicação de uma metodologia distinta
daquelas até então aplicadas na literatura para investigar tal relação – a abordagem
econométrica baseada em Modelos Autorregressivos de Defasagens Distribuídas (ARDL)
-, os quais permitem avaliar e diferenciar os efeitos de curto e longo prazo do grau de
abertura econômica sobre a produtividade do trabalho.
O artigo está dividido em três seções além desta Introdução: uma revisão da
literatura empírica sobre a relação entre abertura comercial e produtividade, com especial
ênfase para o Brasil e literatura no âmbito nacional; uma seção de aspectos metodológicos;
e uma seção de resultados, além das considerações finais.
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forma, a produtividade gera não apenas um aumento do produto com a mesma quantidade
de trabalho e outros insumos, como também incentivos para que mais investimentos
sejam feitos, ocorrendo um “efeito transbordamento” para toda a economia (SILVA, FILHO e
KOMATSU, 2016).
Srenivasan e Bhagwati (2000 apud SILVA, 2004) argumentam que uma abertura
comercial pode afetar positivamente a produtividade através de uma alocação mais eficiente
de recursos, redução de atividades de rent-seeking e um maior retorno social do investimento
direto estrangeiro. Já Lee (1993 apud SILVA, 2004) e Romer (1996 apud SILVA, 2004),
discutindo o impacto da liberalização sobre a produtividade, considerando o efeito positivo
da maior disponibilidade de insumos para as economias domésticas. Os autores chegaram
à conclusão de que uma política comercial protecionista pode diminuir a quantidade de
insumos importados necessários ao processo produtivo, afetando negativamente a taxa de
crescimento do produto de curto prazo.
Por sua vez, Edwards (1998) argumenta que a evolução da produtividade de uma
economia em desenvolvimento depende das inovações domésticas e da imitação de novas
tecnologias do resto mundo, corroborando assim com os trabalhos de Lee e Romer discutidos
em Silva (2004), dado que uma política comercial protecionista reduziria a quantidade de
insumos necessários ao desenvolvimento das inovações domésticas, por conseguinte, a
imitação das novas tecnologias estrangeiras.
Em contraste, com o mesmo modelo de crescimento endógeno sustentado por um
processo de learning by doing, Chuang (1998 apud SILVA, 2004) conclui que, sob certas
condições, abrir a economia doméstica significa aumentar a taxa de crescimento do produto
através da transmissão de conhecimento via comércio.
Tybout et al., (1989) realizam um estudo para o Chile com a finalidade de verificar se as
proteções de comércio reduzem a eficiência da indústria, com dados de plantas industriais
que datam de 1967 e 1979, anos pré e pós a abertura comercial chilena. Os principais
resultados obtidos foram que não houve evidência de uma melhoria de eficiência do setor
manufatureiro como um todo. Contudo, aquelas indústrias que sofreram maior redução de
tarifas foram as que apresentaram um maior aumento de produtividade.
Com relação aos estudos sobre o caso brasileiro, a maior parte dos trabalhos corrobora
com os apontamentos do mainstream do debate, apresentando evidências de efeitos
positivos da abertura para a produtividade. Hidalgo (2002) examinou a relação existente
entre o aumento da produtividade e o processo de abertura comercial brasileiro iniciado
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em 1988. O autor utiliza como medida de produção o indicador de produção física da PIM-
PF, como medida de trabalho utiliza o nível de emprego na indústria de transformação da
PIM-DG e como medida de capital o consumo industrial de energia elétrica da Eletrobrás,
sendo analisado o período entre 1976 e 1998. O trabalho aponta uma relação positiva entre
a abertura comercial e a produtividade a partir do início dos anos 90, por meio do acesso a
insumos de maior qualidade e implementação de programas de qualidade e produtividade
nas empresas.
Bonelli e Fonseca (1998) estimam a Produtividade Total dos Fatores por meio da
metodologia de contabilidade do crescimento. Um dos resultados aponta para a elevação
da produtividade causada possivelmente por elevação tecnológica e possíveis alterações
nas estruturas das empresas.
Lisboa, Menezes Filho e Schor (2002) investigaram em que medida uma alteração
nos preços relativos causada pela queda de barreiras tarifárias resultou na adoção de novas
tecnologias nas empresas que favoreceram à produtividade. Foi realizado um estudo
utilizando dados de 1700 firmas de diversos setores da economia. Os dados tiveram como
origem a Pesquisa Industrial Anual – PIA – realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), e foram usados dados que representassem estoque de capital, número
de trabalhadores, produção, tarifa sobre produtos e tarifas sobre insumos para o período
entre1988 a 1998. Os resultados sugerem que houve um aumento efetivo da produtividade
na economia como um todo. Além disso, a queda das tarifas dos insumos foi a principal
causa do aumento da produtividade.
Rossi Júnior e Ferreira (1999) mensuram a produtividade do trabalho e a produtividade
total dos fatores e avaliaram os impactos da abertura comercial para o crescimento da
produtividade em 16 setores da economia. O estudo mostra que o desempenho positivo da
produtividade não foi resultado de questões cíclicas e que o impacto da abertura sobre a
produtividade é passado principalmente pela importação de insumos de maior qualidade,
bem como pela maior concorrência nos setores que forçam as empresas se manterem cada
vez mais eficientes em troca da permanência no mercado.
Ferreira e Guillén (2004) também buscaram verificar se o processo de abertura gerou
um aumento da produtividade média da indústria de transformação. Utilizaram dados de
produção, mão de obra e capital de dezesseis setores da indústria de transformação brasileira
correspondente ao período de 1985-1997. Os resultados obtidos indicam a existência de
um significativo aumento na produtividade industrial na maior parte dos setores estudados
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após a abertura comercial. Contudo, não houve evidência estatística de redução de mark-
up, o que leva a supor que o canal para este aumento de produtividade não foi o aumento
da concorrência. Desse modo, o acesso a insumos importados e uso de novas tecnologias
podem ter sido possíveis canais de aumento da produtividade (FERREIRA; GUILLÉN, 2004).
METODOLOGIA
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A variável aqui considerada para o indicador do grau de abertura comercial é a soma das
exportações e das importações como percentual do Produto Interno Bruto (PIB) do país no período
t, como segue:
(4)
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Por fim, os dados possuem frequência anual e são referentes tanto à produtividade
do trabalho por horas trabalhadas quanto por pessoal ocupado, os quais foram obtidos
a partir da base de dados do observatório de produtividade da Faculdade Getúlio Vargas
(FGV). Já os dados referentes à participação da balança comercial no PIB brasileiro foram
obtidos na base World Development Indicators do Banco Mundial. O período analisado nesta
pesquisa compreende 1982-2019, que corresponde a todo o período disponível na base de
dados da FGV.
RESULTADOS
RESULTADOS DESCRITIVOS
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Até o início dos anos 2000, o Brasil apresentou mudanças na composição setorial
de sua mão de obra, reduzindo a participação nas atividades agrícolas tradicionais e
registrando aumento nos setores de serviços urbanos e indústria. A redução contínua da
produtividade a partir de 1980 nos serviços levou a efeitos negativos na produtividade da
economia, compensada parcialmente pelos ganhos de produtividade da indústria a partir
dos anos de 1990 (FILHO; CAMPOS; KOMATSU, 2014). Expansão do crédito, programas de
transferência de renda e aumentos no valor real do salário mínimo, nos anos 2000, teriam
impulsionado a demanda por produtos do setor de serviços mais que proporcionalmente
na economia, ampliando sua participação no consumo. Dessa forma, a partir da década de
2000, o Brasil apresentou uma reversão importante da tendência decrescente dos serviços,
levando o setor a ter uma importância fundamental para o crescimento da produtividade do
trabalho, com absorção de mão de obra (FILHO; CAMPOS; KOMATSU, 2014).
A abertura comercial brasileira iniciada em 1988, gradualmente, reduziu tanto
barreiras tarifárias como não tarifárias. A título de exemplo, a tarifa média de 130% vigente
em 1987 foi para menos de 15% em 1994. Também a partir da década de 1990, o Brasil
eliminou uma série de barreiras quantitativas e regimes especiais de importação que tornava
a proteção comercial praticada pelo país pouco transparente (SCHMIDT, 2008). Desse modo,
o processo de desenvolvimento do país passou a depender de sua capacidade de competir
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A média do grau de abertura comercial para este período foi de 21% do PIB.
Apresentou seu menor valor, de 14%, no ano de 1989 e seu valor máximo de 29% no ano
de 2004. O período de maior abertura comercial brasileira ocorreu entre os anos de 1999
até 2008, quando houve queda do comércio internacional devido à crise mundial iniciada
naquele ano. Desde então, tal abertura permanece em patamares mais baixos.
Por fim, a Tabela 1 sumariza as principais estatísticas das variáveis utilizadas nos
modelos econométricos, conforme descrito na metodologia: Produtividade por horas
trabalhadas (prod1) e Produtividade por pessoal ocupado (prod2), ambos medidos em
termos de variação percentual; Grau de abertura comercial (comex); Horas trabalhadas em
termos percentuais (ht) e Pessoal ocupado em termos percentuais (po). Considerando um
total de 38 observações que correspondem a dados anuais para o período de 1982 a 2019.
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RESULTADOS ECONOMÉTRICOS
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Além desses testes foram realizados testes diagnósticos para os modelos ARDL tais
como os testes de autocorrelação, de heterocedasticidade, normalidade e estabilidade do
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Gráfico 4 - Teste Cusum Square do modelo ARDL prod1 e do modelo ARDL prod2
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Gráfico 5 - Teste Cusum Square do modelo ARDL prod1 e do modelo ARDL prod2
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Tabela 4 - Resultados das estimações ARDL de curto prazo para os modelos prod1 e prod2
Prod1 Prod2
Prod1 (t-1) 0,284 .294***
Comex -.0038** -.003**
Comex (t-1) .0041** .0036**
Ht -0,006 0,004
Po .0126** -.0054***
Po (t-1) -.0052** 0,003
Constante -0,005 -0,006
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Valores Críticos
Estatística Cointegração
Modelo
F I0 I1 I0 I1 I0 I1 I0 I1 de longo prazo
L1 L1 L05 L05 L025 L025 L01 L01
Prod1 6,889 2,72 3,77 3,23 4,35 3,69 4,89 4,29 5,61 Não
Prod2 9,397 2,72 3,77 3,23 4,35 3,69 4,89 4,29 5,61 Não
Fonte: Elaboração própria a partir de estimação no STATA 13.
Notas: L1: significância a 10%; L05: a 5%; L025 a 2,5%; e, L01 a 1%.
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indicam que uma variação percentual, tanto em uma como em outra variável, levariam a
uma redução de 0,004% e aumento de 0,005% na produtividade, respectivamente. Já para
o modelo prod2, os coeficientes do grau de abertura comercial e horas trabalhadas foram
estatisticamente significativos a um nível de 5% e 10%, respectivamente. O aumento de 1%
no grau de abertura comercial levaria a uma redução de 0,003% na produtividade, assim
como o aumento de 1% nas horas trabalhadas ocasionaria um aumento de 0,005% na
produtividade por pessoal ocupado no curto prazo.
Além disso, o coeficiente do ajustamento (ECM-1) de ambos os modelos foram
significantes, a um nível de 1%, e com sinais negativos, indicando convergência das variáveis
no longo prazo e que choques anteriores serão corrigidos no período atual. A velocidade do
ajustamento para o primeiro modelo foi de 71%, enquanto para o segundo foi de 70%.
Notas: L1: significância a 10%; L05: a 5%; L025 a 2,5%; e, L01 a 1%.
Por fim, a Tabela 8 apresenta os coeficientes de longo prazo das variáveis explicativas
de cada modelo. A nossa variável de interesse apresentou sinal positivo como esperado,
mas nenhum coeficiente foi estatisticamente significativo tanto para o modelo prod1 como
para o prod2, não podendo fazer qualquer inferência estatística dos coeficientes de ambos
os modelos. Sendo assim, o teste de cointegração (Bound test) indicou que deveria se
especificar um vetor de correção de erros no modelo, mas no longo prazo as variáveis não
se apresentaram significativas para determinar a produtividade da economia brasileira.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve por objetivo analisar, à luz da teoria econômica, o processo
de abertura comercial do Brasil e seus reflexos em eventuais ganhos de produtividade para
a economia brasileira. Foi realizada uma revisão de literatura empírica sobre os efeitos da
abertura comercial para a produtividade da economia brasileira até o final da década de 90
e confirma os apontamentos teóricos do mainstream do debate, os quais sugerem efeitos
positivos diretos e indiretos (HIDALGO, 2002; LISBOA; MENEZES FILHO; SCHOR, 2002; ROSSI
JÚNIOR; FERREIRA, 1999; FERREIRA; GUILLÉN, 2004; HIDALGO; MATA, 2009). No entanto,
os resultados encontrados no presente trabalho, utilizando-se modelos ARDL para dados
agregados, não corroboram com aqueles encontrados por tais autores de que maior abertura
comercial impacta positivamente a produtividade.
Primeiramente, os resultados do modelo ARDL de curto prazo demonstraram que
elevações do grau de abertura comercial da economia brasileira levaram a uma redução
imediata da produtividade, medida tanto por horas trabalhadas quanto por pessoal ocupado.
Quando considerada a defasagem de um ano desta variável o efeito também foi significativo,
porém positivo, ou seja, os benefícios da abertura apareceram somente em termos defasados.
Já os resultados de curto prazo dos modelos com correção de erros (ECM) demonstraram
um efeito negativo da abertura comercial para os ganhos de produtividade mesmo para
a defasagem ótima de um período. Considerando que o teste Bound demonstrou haver
cointegração entre as variáveis no longo prazo, tomamos como preferíveis os resultados do
modelo ECM que captura tal relação entre as variáveis. Portanto, os efeitos de curto prazo
da abertura comercial para a variação da produtividade do trabalho da economia brasileira
foram significativos e negativos.
Quanto aos resultados das estimações para o longo prazo, a abertura comercial
apresentou sinal positivo, mas que não foi capaz de garantir ganhos significativos de
produtividade, vez que seu coeficiente não apresentou significância estatística.
A principal contribuição desta pesquisa foi a utilização do método ARDL que é
relativamente novo e permite analisar as relações de curto e de longo prazo entre o grau
de abertura comercial e a produtividade para a economia brasileira. Embora esse tenha
sido um exercício válido de verificação da pergunta norteadora, é importante que outras
estimações sejam realizadas com o sentido de verificar a robustez da nossa análise. Vale
destacar ainda que as proxies utilizadas aqui refletem apenas a produtividade do trabalho,
sendo importante estender a análise para os impactos sobre a produtividade total dos
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fatores (PTF). Além disso, a fim de obter um maior diálogo com a literatura é importante,
em trabalhos futuros, utilizar outras variáveis explicativas que refletem a abertura comercial
como tarifas sobre importação de produtos finais e de insumos intermediários, tal como em
Rossi Júnior e Ferreira (1999) e Hidalgo (2002). Essa variável pode refletir de maneira mais
próxima os efeitos positivos apontados pela literatura já que, como indicado, a produtividade
aumentaria por meio da importação de insumos de melhor qualidade e pela implementação
de programas de qualidade nas empresas devido à maior concorrência. Por fim, ressalta-
se, para trabalhos futuros, avaliar os efeitos desagregados da abertura comercial sobre os
distintos setores da economia brasileira, na medida em que eles foram afetados de maneira
diferente, tal como aponta Ferreira e Guillén (2004).
REFERÊNCIAS
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VELOSO, Fernando A.; MATOS, Silvia Maria; PERUCHETTI, Paulo Henrique Ribeiro. Produtividade
do trabalho apresenta queda de 0, 7% no terceiro trimestre de 2019. 2019.
64
4
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6481-6066. Universidade Federal de Alagoas/ Mestranda do programa de
pós-graduação em Economia Aplicada da Faculdade de Economia/ BRAZIL, E-mail: nathalia.araujo@feac.ufal.br
INTRODUÇÃO
10 DOI: https://doi.org/10.48016/XIenccultgt6l1cap4
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REVISÃO DE LITERATURA
Mazoni (2005) aponta como marco da discussão sobre os impactos do papel do Estado
na economia a década de 1990, quando a mudança de um Estado predominantemente
regulador em detrimento de um Estado produtor acarreta modificações para a economia que
resultam em redução dos investimentos públicos.
A situação do Brasil impôs severas dificuldades às políticas de estabilização
implementadas na década de 1990, em que os esforços em busca de austeridade fiscal
do governo central e adequação às medidas adotadas, eram parcialmente cancelados
pelos gastos excessivos dos governos. O controle da inflação, ligado ao Plano Real, teve
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METODOLOGIA E DADOS
MODELO ECONOMÉTRICO
O modelo aqui estimado segue o modelo teórico desenvolvido por Devajaran (1996),
aplicado por Rocha e Giubert (2007) e Teixeira (2010), para os estados brasileiros, e por
Sant’anna (2018) para os municípios Paranaenses sendo adotado como metodologia, vez que
o objetivo principal desta análise é compreender como a composição dos gastos públicos e
das transferências de renda federais, entre o período de 2000 - 2019, estão relacionados com
o crescimento econômico dos estados brasileiros.
Para alcançar os objetivos gerais e específicos desta pesquisa, pretende-se utilizar
os dados do banco de informações da Secretaria de Tesouro Nacional – STN -; esses dados
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Yit = α i + γ t + β ′ X it + ε it
(1)
onde: Yit é a taxa média de crescimento per capita anual para o período estudado,
αi
calculada pela diferença de logaritmos; corresponde aos efeitos específicos de cada
γt
estado, representa as variáveis constantes entre os estados e Xit consiste de todas as
variáveis independentes:
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RESULTADOS
Com o controle da inflação no final de 1999, havia espaço para o crescimento no início
dos anos 2000. O desafio da política econômica brasileira passou a ser aliar esse crescimento
à manutenção do controle inflacionário e o equilíbrio externo (TEIXEIRA, 2010).
Ainda que, a partir da década de 1980, os compromissos assumidos pelo Estado
tenham se tornados maiores e que a ampliação do grau de descentralização e autonomia
fiscal dos entes federativos tenham sido um dos princípios-base do federalismo fiscal,
o Gráfico 1 a seguir ilustra o comportamento das séries temporais da parcela dos gastos
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estaduais em infraestrutura social e econômica com relação às despesas estaduais totais para
o período em análise de 2000 a 2019, indicando que não há descentralização na trajetória
dos gastos entre esses dezenove anos.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Secretaria do Tesouro Nacional – STN – (2020).
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Gráfico 2 - Evolução dos gastos públicos por tipo de função com relação às despesas
orçamentárias estaduais - 2000 à 2019
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Secretaria do Tesouro Nacional – STN – (2020)
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Ademais, a escolha do modelo de efeitos fixos está relacionada ao fato de ele ser
o mais adequado para analisar o impacto de políticas sobre os estados, corroborando
com trabalhos similares como Rocha e Giuberti (2007), Divino e Silva Júnior (2012) e De
Oliveira, Hasegawa e Thomaz (2018), e com a disponibilidade dos dados para o período
de 2000 – 2019.
Variáveis Modelo
a Efeito
Pooled Efeito Fixob
aleatório
(Desp.Infra. Econômica/Desp. Total)it-1 0.3992*** 0.3992*** 0.3625*
(Desp.Infra. Social/Desp.Total)it-1 0.1045* 0.1045* 0.3198***
(Despesa total/PIB)it-1 -0.0270* -0.0270* -0.0077
(Despesa corrente/Desp. Total)it-1 0.1145* 0.1145* 0.1297*
(Despesa capital/Desp. Total)it-1 -0.1778** -0.1778** -0.1755*
(FPE per capita)it-1 -0.0022 -0.0022 0.2101***
(PIB per capita)it-1 -0.0411*** -0.0411*** -0.1830***
Constante 0.1991** 0.1991** -0.8382***
Obs. 508 508 508
Estados 27 27 27
2
R
0.077 0.077 0.1538
Teste Breusch-Pagan (Prob > chibar2) 0.000
Teste Hausman (Prob>chi2) 0.000
Teste Wald (Prob>chi2) 0.000
Teste Wooldridge (Prob > F) 0.000
Fonte: Elaboração própria
a
Variáveis estão em logaritmos; bModelo estimado com erros padrões robustos. Para os modelos de efeitos
fixos e efeitos aleatórios é utilizado o R2 do within groups.
+ p<0.10, * p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo tem como questão central a análise da relação entre os gastos
públicos e o crescimento econômico dos estados para o período de 2000 – 2019. Sendo as
despesas instrumentos de políticas públicas, em especial, os gastos em infraestrutura social
e econômica. O modelo estimado identificou uma possível vinculação dos gastos públicos
com um maior crescimento no futuro.
No que diz respeito à relação entre composição dos gastos e crescimento econômico
dos Estados brasileiros, tem-se que a relação entre os gastos com infraestrutura social e
econômica é positiva, bem como os gastos correntes e o fundo de participação estadual,
entretanto, a relação entre os gastos de capital e a taxa de crescimento dos entes é negativa.
A existência de um efeito negativo dos gastos de capital sobre o crescimento indica
a necessidade de reorientação na composição dos gastos em direção às despesas em
infraestrutura social e econômica, dado que essas têm um efeito positivo maior sobre o
produto. A relação com as despesas correntes requer a compreensão de que os mesmos
não devem ser negligenciados quanto às demais despesas.
Os resultados expõem também que dada as grandes transformações trazidas com
a descentralização fiscal, o fundo de participação dos estados apresentou relação positiva
com o crescimento dos entes, estando a ampliação do papel dos governos subnacionais
ligado à oferta de bens e serviços, entretanto, o padrão de alocação dessas despesas está
fortemente relacionado à legislação atuante sobre as finanças públicas, definindo limites
constitucionais e quais despesas devem ser privilegiadas.
Vale ressaltar que esses repasses federativos estão concentrados nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, indicando a fragilidade dos entes que compõem essas regiões na
geração própria de receitas a partir da sua dinâmica econômica e arrecadação tributária,
gerando um certo grau de dependência desses repasses para manter suas políticas e ofertas
de serviços à sociedade. A transferência de recursos financeiros para os estados não tem
se mostrado suficiente para atacar as desigualdades e desequilíbrios regionais no que diz
respeito a distribuição desses gastos.
A trajetória das despesas com infraestrutura social abrange a maior parcela do
total dos gastos governamentais durante todo o período e os gastos com infraestrutura
econômica apresentam ao longo desses dezenove anos uma tendência decrescente com
relação às despesas estaduais totais.
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Ainda que ambas as despesas apresentam uma relação positiva com o crescimento
dos entes federativos, as mesmas vêm apresentando reduções anuais, expondo, dessa forma,
um menor espaço na composição do orçamento público, o que explicita um contexto de
limitação fiscal após uma série de ajustes sofridos pelo funcionalismo público.
A avaliação macroeconômica da composição das despesas é importante, contudo, se
mostra insuficiente, ainda que gastos com infraestrutura social se mostrem como promotores
do crescimento, torna-se de fundamental importância uma avaliação microeconômica
desses gastos. Duas décadas após a promulgação da lei que rege as finanças públicas
estaduais, LRF, a composição orçamentaria, para a melhor adequação das demandas da
sociedade, é tida como pauta quanto à oferta de bens e serviços, influenciada por diversos
fatores, ciclos e períodos de crescimento econômico como um todo, na atualidade são as
despesas de maior flexibilidade orçamentária ainda que os impactos dessas variáveis para o
crescimento dos entes sejam expressivos e positivos.
Uma sugestão para trabalhos futuros será aprofundar a análise de regressões para
dados em painel dinâmico, incluindo como variável explicativa a variável dependente
defasada, considerando para a análise que o crescimento passado afeta o crescimento
futuro, a partir do Método de Momentos Generalizados (GMM) contornando possíveis
problemas de endogeneidade no modelo, utilizando variáveis dummies de ano para captar
fatores comuns, como choques macroeconômicos, que afetam a taxa de crescimento dos
diferentes estados.
Por fim, conclui-se que a avaliação tão somente pela ótica do equilíbrio fiscal não
está necessariamente associada a maiores níveis de qualidade de serviços públicos
locais, havendo necessidade de adequação dos gastos às demandas de bens e serviços
fundamentais ao desenvolvimento da sociedade.
REFERÊNCIAS
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81
5
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8286-6611; Professora Associada I do Instituto de Economia e Relações
Internacionais (IERI) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pesquisadora; Brazil; E-mail: alvesthais@
ufu.br.
Todo o conteúdo expresso neste capítulo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
INTRODUÇÃO
Partindo das conclusões sobre como a teoria econômica ortodoxa trata a política
monetária e o Estado, esse artigo tem como objetivo avaliar, a partir de dois períodos
de crises distintos, tanto os resultados das políticas econômicas implementadas pelo
governo brasileiro em momentos de crise generalizada, como a do mercado subprime
dos Estados Unidos, em 2007, e a crise do coronavírus, vivenciada no período recente,
assim como, com base nas repercussões das crises supracitadas, investigar se a posição
assumida pelo governo brasileiro para amenizar os efeitos econômicos das crises tem
alguma fundamentação keynesiana.
A escolha das duas crises se justifica, pois, não se pode afirmar que a economia
mundial já havia se recuperado por completo depois da crise financeira de 2007, muito
menos que o Brasil teria superado incertezas nos campos econômico e político instauradas
a partir das Jornadas de Junho, em 2013; além disso, desde o início da pandemia, e
principalmente durante o isolamento social, uma das principais pautas governamentais ao
redor do mundo, bem como no Brasil, passou a ser como solucionar, ou ao menos frear, a
11 DOI: https://doi.org/10.48016/XIenccultgt6l1cap5
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financeiras são maiores que os investimentos, diz-se que não há geração de riqueza nova,
apenas de riqueza velha.
Tomando-se por base a existência de incerteza e a instabilidade das expectativas,
Keynes (1936) desdobra a crise do mercado de capitais em dois momentos: primeiro, os
motivos da instabilidade da eficiência marginal do capital, caso em que as variações da
eficiência marginal do capital independem da taxa de juros; e, segundo, a relação entre a
eficiência marginal do capital e a taxa de juros como esclarecedora do cálculo capitalista
perante as perturbações em um ambiente de incerteza. Segundo Amado (2000), o que pode
abalar as expectativas e o estado de confiança é o próprio mercado de capitais, visto que a
análise deste é o resultado da dissociação da propriedade efetiva do capital e da gestão da
máquina produtiva. Dessa forma, a crise é o momento de plena expressão da acumulação
de riqueza velha em detrimento da acumulação de riqueza nova. A decisão no mercado
financeiro fundamenta-se nas expectativas de curto prazo, e não nas de longo prazo, em
uma circunstância em que o especulador tenta prever o que a opinião média julga ser a
opinião média dos agentes de mercado.
O mercado de capitais permite que o capital tenha maior liquidez e maior mobilidade.
Porém, esses mercados podem tornar-se tão atrativos a ponto de inibirem novos
investimentos. A crise se origina no colapso da eficiência marginal do capital, que, buscando
valorização, é barrado pelas altas taxas de juros. No momento em que se apresentam as
decisões acerca de investimentos, atua um conjunto de expectativas otimistas. Contudo, se
os rendimentos esperados não ocorrem, tem-se uma reação imediata e desproporcional,
fato que provoca uma redução das expectativas em um momento extremamente pessimista.
Com o colapso, há uma corrida pela liquidez, geradora do aumento da taxa de juros, que só
ocorre depois do colapso da eficiência marginal do capital. A crise do capital é explicada pela
incapacidade de se realizarem investimentos prováveis: projetou-se uma renda provável, que
não foi realizada. Assim, o cálculo expectacional, a expectativa das decisões e a incoerência
destas resultam no colapso.
Além disso, Keynes (1978) enfatiza que o colapso das expectativas não é
compensado apenas pela política monetária, pois deve ocorrer a digestão da capacidade
excedente que leve à retomada dos investimentos. Isso possibilita afirmar que, no cerne
da proposição keynesiana, está a ideia de que o Estado deve regular as expectativas em
parceria com a iniciativa privada para a tomada de decisão dos investimentos, evitando
mudanças abruptas nestes.
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Convém ressaltar que a postura ativista de Keynes (1978) não pode ser inteiramente
justificada apenas pela detecção de problemas sistêmicos na economia. A proposição de
que o livre mercado gera resultados insatisfatórios não implica, necessariamente, que a
intervenção estatal seja desejável. O ativismo da concepção do economista britânico decorre
também de sua postulação de que é possível formar uma burocracia pública eficiente e
bem preparada para a gestão da política econômica, assim como de sua convicção de que o
intervencionismo não representa, em si mesmo, uma ameaça à liberdade individual. Ademais,
reconhece-se que o Estado dispõe de instrumentos importantes para influenciar a economia.
Por sua capacidade de mobilizar recursos, de criar moeda, de correr riscos e, principalmente,
por possuir capacidade institucional de moldar os horizontes de expectativas dos agentes
privados e de afetar o grau de incerteza no ambiente em que tais expectativas são formadas,
o Estado se diferencia de qualquer agente privado e pode direcionar a trajetória do sistema.
Assim, admitida a possibilidade e a conveniência da intervenção governamental,
cabe discutir os instrumentos e os canais de atuação das políticas fiscal e monetária, vez que
influenciam diretamente as variáveis relevantes na determinação da renda e do emprego.
A política fiscal representa um instrumento importante ao elevar o gasto agregado e
afetar o multiplicador do produto agregado. Nesse caso, o orçamento público deve ser
deficitário, quando a economia está em retração, e superavitário, em períodos de expansão,
funcionando, por conseguinte, como um estabilizador automático de demanda (FERRARI
FILHO; CONCEIÇÃO, 2001). Por sua vez, a política monetária influencia a taxa de juros por
meio da variação da oferta de liquidez, com impactos sobre os níveis de investimento.
Keynes (1936) defende que a política monetária deve ter papel acomodativo. Tal
afirmação indica que a oferta de moeda deveria acompanhar oscilações em sua demanda,
causadas por variações do produto nominal e no grau de preferência pela liquidez, buscando
manter certa estabilidade nos termos de crédito e evitar impactos negativos sobre a
atratividade dos bens de investimento. Neste sentido, o economista procura demonstrar
o limite da política monetária em termos da regulação do sistema, na medida em que o
manejo da taxa de juros se revela insuficiente para contra-arrestar a volatilidade das
decisões de investimento. Isso não significa, no entanto, negligenciar a importância de uma
taxa de juros compatível com a eficiência marginal do capital. Uma taxa de juros elevada
pode inibir o processo produtivo, posto que afeta a funcionalidade do sistema de crédito
como provedor de liquidez à economia. A taxa de juros, que define o estado do crédito, deve
ser reduzida em relação à eficiência marginal de capital, como meio de favorecer a decisão
pelos investimentos.
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Nas condições da crise financeira internacional, o crédito externo recua não porque
o risco de emprestar aumenta, mas porque os intermediários estrangeiros precisam
recapitalizar seus balanços no exterior. O sistema de preços perde seu efeito sinalizador
e prevalecem comportamentos de mercado racionado. Justifica-se, nestas condições, a
intervenção do governo para evitar uma ruptura dos padrões de produção e comércio.
Segundo Lopes (2008), de forma antecipada a diversos países, inclusive em relação
ao próprio governo americano, o governo brasileiro já tinha encomendado um pacote de
medidas de política econômica de caráter expansionista, mesmo antes da crise se manifestar
na sua forma mais contundente sobre o contexto econômico brasileiro. A Tabela 1 apresenta
as principais medidas de políticas econômicas implementadas pelo governo brasileiro para
enfrentar um possível cenário recessivo delineado pela crise financeira internacional.
Em termos das medidas de política econômica implementadas na economia
brasileira, observa-se uma disposição das autoridades monetárias em utilizar o conjunto
de instrumentos que possui para assegurar o funcionamento do sistema financeiro
brasileiro e amenizar os impactos negativos da crise internacional sobre o ambiente
macroeconômico, principalmente no que diz respeito à contração de crédito, que
influencia o nível da atividade econômica, e em relação às pressões cambiais, que podem
gerar impactos inflacionários na economia.
De forma geral, verificam-se indícios de uma política econômica (seja monetária,
fiscal, cambial ou comercial) de caráter mais expansionista. Mesmo assim, é possível verificar
uma tendência de o governo brasileiro pautar-se, inicialmente, em políticas de liquidez com
base na utilização dos instrumentos de controle de crédito, com uma resposta mais atrasada
e lenta no que diz respeito à alteração da taxa de juros básica da economia, em função dos
temores inflacionários das autoridades monetárias.
Nesse sentido, o Banco Central adotou diversas medidas no âmbito do mercado
monetário para minimizar os efeitos da contração do crédito externo sobre a economia,
reduzindo a exigibilidade incidente sobre depósitos compulsórios dos bancos, criando
linhas de operações de crédito em moeda estrangeira para financiamento do comércio
exterior, e, só posteriormente, reduzindo a taxa de juros básica da economia, numa tendência
comum com as atitudes tomadas por diversas outras economias. Cabe destacar que o
rápido estancamento de uma crise de liquidez foi possível graças às reservas internacionais
elevadas, à atuação dos bancos públicos, aos depósitos compulsórios altos e aos juros
elevados, fatores que formaram um capital que pôde ser utilizado, de forma criteriosa e
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temporária, para contrapor-se aos efeitos negativos da súbita parada dos fluxos de capital
externo sobre a atividade econômica.
Segundo Carneiro e Bolle (2008), as medidas de política monetária e creditícia tiveram
como objetivo: (a) evitar a propagação da desaceleração do crédito; (b) expandir os ativos
dos bancos públicos, que, normalmente, aumentam sua captação de depósitos, de modo a
compensar a redução dos ativos dos bancos privados, tanto pela perda de depósitos e de
funding externo, quanto pela menor disposição para o risco, além de compensar os efeitos
da desalavancagem das instituições financeiras não bancárias. A crítica ortodoxa, a esse
respeito, é a de que a utilização dos bancos públicos no fornecimento de crédito mascara
uma política fiscal expansionista e pouco transparente, travestida de política monetária
compensatória, que pode resultar na deterioração do balanço do Estado e dos critérios de
alocação de crédito.
Com relação à política cambial, as autoridades monetárias optaram por manter o
sistema de câmbio flexível, com a utilização das reservas apenas para reduzir a volatilidade
cambial, mas deixando claro que não se trata de uma defesa com relação a algum nível
de câmbio suposto como o de equilíbrio da economia. A utilização de reservas é o
instrumento mais usual nessas situações, entretanto, a intervenção do Banco Central por
meio de derivativos cambiais vem ganhando relevância nos últimos anos. Neste sentido,
desde a intensificação da crise, em setembro de 2008, o Banco Central colocou quase
US$ 33 bilhões em swaps cambiais. Segundo Neto e Wajnberg (2008), tal política sinaliza
uma recusa da tentativa de estabelecer um teto ou banda de flutuação da moeda e uma
percepção de que a depreciação do Real ajudará a reduzir o déficit na conta-corrente,
principalmente se a contração de crédito e os ajustes dos estoques da economia reduzirem
os efeitos sobre a inflação.
A política fiscal no contexto da crise pautou-se pela redução e/ou isenção das
alíquotas de alguns impostos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), sobre
determinados segmentos da economia (especialmente automóveis e bens de consumo
duráveis), a fim de estimular o consumo e, consequentemente, reaquecer a atividade
econômica. Além disso, o reajuste mais expressivo do salário mínimo e dos benefícios
previdenciários estimula a demanda das famílias. Semelhantemente se verifica uma atuação
dos bancos públicos e o anúncio de programas de gastos, como o novo pacote habitacional
divulgado pelo governo, além do reforço dos gastos em infraestrutura previstos no Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC), como forma de incentivar a construção civil e seus
efeitos multiplicadores sobre a atividade econômica. Assim, cabe destacar uma perspectiva
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CRISE DO CORONAVÍRUS
SITUAÇÃO PRÉ-PANDEMIA
Desde 2015, o Brasil vem adotando políticas fiscal e monetária de corte ortodoxo,
sendo que a partir de 2016 passou a implementar um conjunto de reformas liberais, que
incluíram: (i) um teto constitucional de gastos públicos, vigorando a partir de 2017, que
congelou o gasto primário do governo por 20 anos, já que o gasto público foi reajustado
tão-somente pela inflação do ano anterior, um tipo de regra fiscal que só existe no
Brasil; (ii) uma reforma trabalhista, vigorando a partir de novembro de 2017, que levou
a flexibilização do mercado de trabalho, incluindo, entre outras medidas, implantação
de contrato temporário, trabalho intermitente e possibilidade de jornada de trabalho de
12 horas; e (iii) uma reforma previdenciária, aprovada em novembro de 2019, que, entre
outras mudanças, aumentou a idade mínima de aposentadoria, o tempo mínimo de
contribuição, entre outros.
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dos ativos financeiros e uma forte diminuição na liquidez do mercado financeiro (Martins
et al., 2020).
A adoção de medidas de isolamento social provocou uma queda drástica no ritmo
de crescimento econômico. Os setores da indústria, comércio e serviços apresentaram em
março queda de 9.1%, 2.5 % e 6.9%, respectivamente, conforme dados do IBGE, Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (2021). O declínio no produto foi determinado pela
queda no setor de serviços e no setor industrial, enquanto na agricultura se manteve um
crescimento inicialmente elevado em função das exportações de commodities.
Consequentemente os impactos também foram sentidos no mercado de trabalho,
que já vinha passando por um processo de fragmentação. Segundo a pesquisa PNADC,
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal, (2020), a taxa de desocupação
no primeiro trimestre de 2020 foi de 12,2%, representando um aumento de 1,3 pontos em
relação ao trimestre anterior. A desocupação prejudicou mais as mulheres que os homens,
assim como as pessoas que se declararam pretas e pardas do que as brancas. O número de
desalentados foi de 4,8 milhões de pessoas, sendo a Bahia o estado com maior contingente
(778 mil), abrigando 16,3% do total nacional. O percentual de pessoas desalentadas foi de
4,3%, 0,2 pontos percentuais a mais que o quarto trimestre de 2019. Em relação ao trimestre
anterior, a criação de novas vagas de emprego reduziu em 2,3 milhões de janeiro a março de
2020, e a redução com relação ao mesmo trimestre de 2019 foi de 1,8 milhão. A população
fora do mercado de trabalho bateu um recorde atingindo a soma de 67,3 milhões de pessoas.
Ainda conforme a PNADC (2020), a informalidade foi de 40% da população ocupada, e
houve uma queda de 7% de empregados sem carteira, a primeira redução desde o primeiro
trimestre de 2016. Este cenário expressou a forte informalização que vem sendo a alternativa
de sobrevivência para os brasileiros desde a crise de 2015-2016. A queda nos empregos sem
carteira assinada ocorreu sem um correspondente aumento na formalização, o que sugere,
segundo Krein e Borsari (2020), uma sinalização do agravamento do desemprego para os
próximos meses. Foram 12,9 milhões de pessoas desocupadas, 6,5 milhões subocupadas
por insuficiência de horas e 8,3 milhões na força de trabalho potencial (desalentadas ou
não). Estas três categorias somadas representaram a subutilização da força de trabalho, o
que quer “dizer que, em certo sentido, faltou trabalho para 27,6 milhões de pessoas” (Krein
e Borsari, 2020, p. 1).
Já no que se refere ao mercado de crédito bancário, a contração na concessão do
crédito ocorreu a partir de março de 2020 para pessoas físicas e em abril para as pessoas
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na arrecadação fiscal, sobretudo em países como o Brasil onde esses entes subnacionais
estão proibidos de emitir dívida pública; e, (iv) ampliação do sistema público de saúde para
enfrentamento da crise sanitária.
De acordo com Martins et al., (2020), no que se refere às medidas adotadas pelo
Banco Central do Brasil (BCB) para evitar uma crise de liquidez no mercado financeiro
e assegurar o funcionamento do mercado de crédito, as medidas de liquidez foram
bem-sucedidas tanto para evitar uma crise de liquidez no setor bancário quanto para
reverter, ao menos parcialmente, a queda nos preços dos títulos públicos e privados,
em particular nos títulos curtos e pré-fixados. Cabe destacar que boa parte dos recursos
liberados através da redução de recolhimentos compulsórios, alívio nos coeficientes de
conservação de capital e relaxamento temporário das regras de provisionamento das
instituições financeiras migrou para o mercado das operações compromissadas do BCB,
uma aplicação de alta liquidez, que tiveram forte aumento no período de abril a setembro
de 2020. Isto sugere que tais medidas evitaram uma crise de liquidez, mas tiveram efeitos
limitados sobre a oferta de crédito, ainda que tenha evitado a ocorrência de uma redução
repentina e acentuada na oferta de crédito bancária, que eventualmente pode resultar
em uma crise bancária.
Após a desaceleração na concessão de crédito em abril e junho de 2020, houve uma
recuperação da oferta de crédito, sendo maior para pessoa física do que para pessoa jurídica,
sendo no primeiro caso favorecido pela renegociação dos empréstimos, com extensão de
prazos e redução nas taxas de empréstimos. No caso do crédito corporativo, verifica-se um
racionamento de crédito para pequenas e médias empresas nos meses de abril a junho de
2020, o que evidencia a baixa efetividade das medidas adotadas inicialmente de injeção
de liquidez pelo BCB para estimular a oferta de crédito neste segmento. De fato, o PESE,
Programa Emergencial de Suporte ao Emprego, não foi bem-sucedido, tendo financiado
o total de R$ 7,9 bilhões, em particular microempresas (menos de 30 funcionários), bem
abaixo dos R$ 34 bilhões disponibilizados pelo Tesouro para o programa. Os problemas do
PESE estão relacionados às condicionalidades (obrigatoriedade de crédito direto nas contas
dos empregados) e ao fato de que os bancos tinham que prover 15% dos recursos dos
empréstimos em um ambiente de alto risco.
Somente com o uso dos fundos garantidores (FGI e FGO) que a concessão de crédito
fluiu para pequenas e médias empresas, ainda com certo atraso. Os montantes de recursos
financiados pelo PRONAMPE e pelo PEAC-FGI até 31/12/2020 foram R$ 37,5 bilhões e R$
92,4 bilhões, e realizando 516.790 e 35.959 operações, respectivamente (BCB, 2021). De
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julho a setembro em 2020, houve um forte aumento na taxa de crescimento do crédito para
pequenas e médias empresas.
No tocante ao impacto da crise do coronavírus sobre o mercado financeiro no Brasil,
tem-se que as taxas de juros de mais de 3 anos subiram acentuadamente em março de 2020,
mantendo-se elevadas até o mês de maio, vindo a cair até julho, acompanhando a redução
na taxa Selic (1 dia). A partir de agosto, notou-se uma elevação gradual em todos os vértices,
inclusive nas taxas de juros de 1 ano, o que evidenciou uma piora na percepção de risco dos
agentes, em função de fatores diversos como incerteza sobre futuro da economia, sobre a
condução da política econômica, crise política, entre outros, que inclusive gerou problemas
no gerenciamento da dívida pública pelo Tesouro. Cabe destacar que embora o BCB tivesse
à sua disposição em 2020 uma permissão para comprar títulos públicos e privados no
mercado secundário para achatar a curva de juros, ele não utilizou a mesma.
O programa de auxílio emergencial (AE) a indivíduos vulneráveis, que respondeu
por mais de 50% dos gastos do governo federal, contribuiu para uma rápida melhora na
distribuição de renda, na medida em que evitou a redução de renda das famílias de baixa
renda, em comparação com outros segmentos da população, em particular o segmento
que ganha menos de meio salário mínimo. Além da redução na desigualdade social,
verificou-se uma forte redução na pobreza e extrema pobreza devido ao programa de
auxílio emergencial: a percentagem da população abaixo da pobreza reduziu de 23,7% em
maio para 18,4% em agosto de 2020, enquanto que a percentagem da extrema pobreza
caiu ainda mais, de 4,18 para 2,29.
Sanches et al., (2021) estimaram o efeito multiplicador do Auxílio Emergencial, ou
seja, os fatores que atenuaram a profundidade da recessão no primeiro ano de pandemia.
Suas simulações indicaram que, com um gasto equivalente a 4,1% do PIB de 2020, o Auxílio
foi responsável por evitar que a economia brasileira caísse entre 8,4% e 14,8% em 2020. Já
a redução no consumo das famílias poderia ter diminuído entre 11,0% e 14,7% na ausência
desse benefício, em vez de sofrer a queda de 6%.
Ao analisar o índice de atividade econômica do BCB, (2021), observou-se que a
crise sanitária, em função do isolamento social que seguiu a pandemia, levou a uma forte
queda na atividade econômica entre abril e junho de 2020. A economia viria a se recuperar
parcialmente a partir de agosto, quando a pandemia arrefeceu parcialmente no Brasil e o
impacto contracíclico do auxílio emergencial se fez sentir. Já em janeiro de 2021, houve uma
nova queda na atividade econômica em função da segunda (e forte) onda da pandemia, que
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo procurou avaliar, a partir de dois períodos de crises distintos, tanto os
resultados das políticas econômicas implementadas pelo governo brasileiro em momentos
de crise generalizada, como a do mercado subprime dos Estados Unidos e a crise do
coronavírus, quanto, com base nas repercussões das crises supracitadas, investigar se a
posição assumida pelo governo brasileiro para amenizar os efeitos econômicos das crises teve
alguma fundamentação keynesiana. Em um primeiro momento, com base no pensamento
keynesiano, foi realizado uma breve análise do investimento e do papel do Estado em uma
economia empresarial. Sob a visão de Keynes, tem-se que a presença do Estado na economia
capitalista é imprescindível, pois a participação do setor público na economia deriva da
própria incapacidade de autorregulação da economia capitalista e, embora as propostas
econômicas elaboradas pelo economista britânico sejam sempre apontadas pela regulação
pública da economia, esta não é totalmente centralizada. Tais propostas são indicações de
suporte, coordenação e ordenação do Estado para uma economia com menos flutuações,
portanto, numa perspectiva de um Estado que seja corretivo e preventivo.
No contexto da crise financeira internacional de 2007, abre-se espaço para a discussão
sobre a adoção de medidas de cunho keynesiano no debelamento da crise, tais como a
criação de um sistema de coordenação de políticas econômicas, a utilização de política
fiscal expansionista, a implementação de controles de capitais e sistemas de regulação e
de supervisão mais eficientes, dentre outras. Obviamente, não se espera o fim das políticas
ortodoxas que vêm sendo implementadas em diversas economias desde a década de 1990.
No entanto, em condições de instabilidade, há que se considerar um papel mais ativo do
Estado no enfrentamento da crise e na reversão da desconfiança dos agentes econômicos.
As medidas de política econômica adotadas pelas autoridades monetárias sugerem o
posicionamento efetivo dos Estados na busca pela estabilidade do mercado, na medida
em que os governos montam pacotes de resgate e injetam liquidez no sistema, além de
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possível concluir que as decisões do Governo Federal até o momento não se mostraram
capazes de suavizar os efeitos nocivos da crise para a economia e o bem-estar dos brasileiros,
visto que o auxílio emergencial não pareceu dar conta das necessidades dos cidadãos. Nesse
caso, é imprescindível rediscutir as medidas adotadas.
Os dados relativos ao mercado de trabalho apontaram uma situação ruim há muito
tempo e que não melhorou como foi prometido no momento da implantação das reformas
trabalhista e previdenciária, que objetivaram o ajuste fiscal. Considerando o cenário
prévio, a chegada do coronavírus no Brasil apenas aprofundou as dificuldades que o país
já enfrentava; portanto, acreditar que o vírus seja o único responsável pelos problemas
econômicos e sociais que se apresentaram desde já, bem como àqueles que ainda virão, é
negar o quadro anterior da economia brasileira indicado pelos dados disponíveis.
Assim, a maior ou menor intervenção do Estado na economia (e o retorno com maior
ou menor força das proposições keynesianas) depende dos efeitos da crise serem duradouros
ou mais superficiais. É indispensável se ter em mente que a solução da crise não se pauta
pela defesa de uma atuação do Estado de maneira desregrada, em que se deva aumentar
desmesuradamente a despesa pública financiada com dívida para sairmos da crise, ou o fim
da liberalização dos mercados financeiros. Nesse sentido, torna-se necessário pensar todo
um programa estratégico de intervenção, bem desenhado, com mecanismos eficazes, que
seja capaz de transformar a crise em oportunidade.
Em suma, não se pode pensar na atuação mais direta do Estado na economia como algo
estritamente maléfico ao pleno funcionamento dos mercados, mas como algo complementar
ao bom funcionamento destes. De fato, nenhum governo aplica na administração econômica
o receituário neoclássico ou keynesiano no seu estado puro. O pragmatismo deve prevalecer,
com uma combinação mais adequada possível das proposições de uma ou outra escola,
considerando as necessidades e conveniências do momento.
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jan. 2021. Universidade de São Paulo: MADE, 2021.
106
6
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7222-8288; Professor da Educação Básica, Técnica e Tecnológica;
Instituto Federal Fluminense – IFF; Santo Antônio de Pádua, Rio de Janeiro; BRAZIL; E-mail: elsonuenf@
yahoo.com.br.
Todo o conteúdo expresso neste capítulo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
INTRODUÇÃO
12 DOI: https://doi.org/10.48016/XIenccultgt6l1cap6
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REFERENCIAL TEÓRICO
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Sem isso, o que chamamos de desenvolvimento não passa de uma retórica capitalista cuja
finalidade serve para justificar o status quo e a manutenção de uma estrutura excludente e
descomprometida com o reconhecimento da humanidade dos mais vulneráveis da escala
socioeconômica.
Este é o quadro histórico tratado por Florestan Fernandes em diversos momentos
da história recente brasileira, o qual buscou denunciar e combater com rigor crítico além
de, muitas vezes, participação em atos contra as ações excludentes e ideologicamente
comprometidas com as elites brasileiras; por isso suas análises se fazem importantes e atuais
para o entendimento de questões que ainda se fazem empecilhos para o desenvolvimento
econômico e social no Brasil. Sua interpretação preza pela valorização de um passado que
ainda vigora com desdobramentos para o Brasil contemporâneo (FERNANDES, 2005, p.409-
410; 2008, p. 421; 2010, p.245; 2011, p.178).
Acrescentamos a estes elementos a existência de uma gramática política que, em
sua maior intensidade, manifesta-se estranha ao “universalismo de procedimentos” (NUNES,
2004, p.35). Assim, o desenvolvimento é freado por uma cultura marcadamente personalista
no que tange às instâncias deliberativas do aparelho estatal. Esta característica, quando
não hegemônica, manifesta a relação entre as classes organizadas – de cunho privatista
– e a defesa de seus interesses através de representantes políticos por elas financiados
(FERNANDES, 1966, p.131).
Por último, mas não esgotando as conexões analíticas de Florestan Fernandes no
que tange ao tema do desenvolvimento socioeconômico, podemos citar a existência de
uma “retórica da intransigência” (HIRSCHMAN, 2019, p.19). Nesta, as mudanças em prol do
desenvolvimento humano são combatidas pelas classes conservadoras através de um discurso
que aponta para a “perversidade”, “futilidade” e “ameaça” de políticas de caráter distributivas.
Nestes termos, tratar de desenvolvimento no Brasil é considerar um embate que
ultrapassa a mera distribuição de renda e/ou, como já foi citado, o bom desempenho do PIB.
Esta questão entrelaça-se com disputas ideológicas, de classes, de culturas administrativas e
políticas enraizadas na condução do Estado e de suas políticas e, além de tudo, principalmente
com o desenvolvimento dos meios de comunicação e redes sociais, uma batalha contra
informações descabidas e falsas a respeito do conceito de desenvolvimento econômico
e social. Por isso, ressaltamos certa complexidade e, sem incorrer em anacronismos,
consideramos que a obra de Florestan pode nos fornecer elementos explicativos deste
campo de estudos.
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PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
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quanto aos direitos de contestação e reivindicação (FERNANDES, 1979, p.7) e, entre outros
fatores; pelo formalismo constitucional, cuja ressonância das leis e direitos formais não são
facilmente experimentados pela maior parte da população (FERNANDES, 1989, p.10).
Por isso Florestan Fernandes (2010, p.11) fala de um “circuito fechado”, ou seja, da
existência de uma estrutura social autoritária e contrária aos elementos constitutivos dos
privilégios das classes dirigentes e, logo, do Estado Autocrático-Burguês. Essa perspectiva
deixa o país no que denominou de “compasso de espera”, ou seja, em um constante estado
de expectativas que na realidade “histórica” (WALLERSTEIN, 2001, p.9) não se realizam e/ou
se concretizam com inúmeras inconsistências.
Esta via interpretativa, embora pareça um circuito fechado, é, ao contrário,
empregada por Florestan Fernandes como ponto de partida para embasar e justificar
a “contestação necessária” (FERNANDES, 2015b, p.16). O autor apresenta uma série de
exemplos históricos de pessoas que ousaram contestar as estruturas através de uma
práxis revolucionária, contudo, estes exemplos não seriam possíveis sem uma leitura da
dominação, da formação e reprodução das desigualdades, a identificação dos formalismos
constitucionais e políticos, entre outros fatores já citados.
Compreender a formação social brasileira e como suas configurações contribuem
para a manutenção do status quo das classes historicamente privilegiadas é, para Florestan
Fernandes, imprescindível para que as forças contestadoras (2015b, p.33) possam atuar.
Além disso, o autor alerta a respeito de uma preocupação muito pertinente, afirmando que
o intelectual deve estar em contato com a realidade social, com os acontecimentos, com o
mundo e deve seguir de forma crítica a regra de constituição de uma boa práxis, ou seja,
reflexão-ação-reflexão, sem dispensa da “autocrítica” (ANDERSON, 1985, p.13-14).
A “REVOLUÇÃO TRAÍDA”
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DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO: NOVOS E ANTIGOS DESAFIOS
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p.329) evidencia essa “tragédia” burguesa que logo se transformou em “farsa”, principalmente,
pela interrupção do movimento de aprofundamento da dominação burguesa e do avanço
das contradições, cuja expectativa seria aproximar as sociedades europeias do socialismo e
consequentemente do comunismo.
Com Trotsky (2007ª, p.62; 2007b, p.8-9) a “revolução permanente” logo se transformou
em “revolução traída” pela acomodação burocrática que ganhou as lideranças do Partido
Comunista Soviético, principalmente depois da ascensão de Stalin (1922-1953). Neste quadro,
os avanços conquistados e que visavam à ampliação da participação dos trabalhadores do
controle dos processos sociais e da produção da vida em suas variadas instâncias, foram
reduzidos a um período marcado por perseguições políticas e assassinatos.
Estas experiências históricas ganharam um tom marcante na sociologia crítica,
principalmente, pelo fato de anunciar a farsa burguesa na sociedade brasileira (FERNANDES,
2005, p.350; 2010, p.149; 2011, p.157). Os esforços para ampliação da dominação burguesa,
para Florestan Fernandes, não passaram de ajustes para a manutenção da integração da
economia nacional ao comércio internacional. Isso levou a burguesia nacional a um estado
de acomodação histórica e de ruptura com os avanços democráticos.
No dizer de Wallerstein (2001, p.38), essa postura das elites evidencia a busca pela
manutenção de uma sociedade de retórica moderna, contudo, no que tange à realidade
experimentada cotidianamente para a maior parte da população, isso não passa de uma
falácia burguesa. O capitalismo assim é desenvolvido menos pelas frações burguesas
e seus próprios capitais, bem como, de maneira mais geral, pelo uso do aparelho estatal
como mediador e, até mesmo, financiador dos interesses de classe destas elites dirigentes
(FERNANDES, 2008c, p.60-61).
Assim, a concepção de uma “revolução traída” passa por evidências como a existência
de uma estrutura socioeducacional altamente excludente (FERNANDES, 1966, p. 36; 1989,
p.79), pela marginalização da população negra e pelo descaso com sua efetiva inclusão
nos espaços de deliberação e decisão (FERNANDES, 2008a, p.567; BASTIDE; FERNANDES,
2008, p.200), assim como pela existência de uma valorização das leis – mesmo que estas
não possuam ressonância no mundo da vida (FERNANDES, 1989a) –, além disso, afirma
Florestan Fernandes (1994, p.11) que:
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Florestan Fernandes salienta que até mesmo a Constituição de 1988, considerada por
muitos como “Constituição Cidadã”, é incapaz de gerar qualquer alteração histórica sem que
haja uma mudança da “condição humana” no Brasil (FERNANDES, 2014, p.105). Enquanto
houver tratamento diferenciado para a população negra e pobre, enquanto o trabalhador
continuar sendo visto como um escravo, enquanto a estrutura educacional for excludente
com os mais humildes, enquanto os “miseráveis da terra” continuarem servindo de oceano
para ilhas de privilégio, não podemos considerar que alcançamos o desenvolvimento.
As críticas de Florestan Fernandes são impressionantemente atuais e se nos
valermos dos últimos dados do Instituto de Pesquisas Aplicadas – IPEA – veremos que
boa parte dos elementos abordados continua em situação deplorável em termos de
desenvolvimento (SOUZA, 2018, p.5; BARBOSA; SOUZA; SOARES, 2020, p.29; AZEVEDO;
RIBEIRO; SANTOS JÚNIOR, 2012, p.40-41; VALADARES; SILVEIRA; PIRANI, 2017, p.162-163 );
ou seja, renda, educação, participação política e acesso à propriedade da terra, para ficar
entre os principais, ainda são “questões” sem solução no Brasil.
Neste sentido podemos situar que os entraves do desenvolvimento econômico
no Brasil, antes de o associarmos ao âmbito estritamente econômico, perpassa, segundo
Florestan Fernandes (2005, p.233; 2010, p.122; 2011, p.235; 2014, p.141), uma série de
dimensões sem as quais o desenvolvimento não passa de uma anedota. Estes são os pilares
que devem ser construídos com a humanização das relações, ou melhor, com a perspectiva
de desenvolvimento que contemple um “novo homem” (FERNANDES, 1979b, p.112).
Esta perspectiva salienta que a dignidade humana é essencial para a construção
de uma sociedade de igualdade de oportunidade, onde não haja distinção por cor e/ou
classe social, discrepâncias educacionais e culturais. Florestan Fernandes (1979b, p.143)
salienta que o humanismo como caminho histórico pautado sobre a democratização das
oportunidades não significa o fim da pobreza ou das desigualdades, mas sim, a garantia da
dignidade. O desenvolvimento começa assim por essa garantia fundamental sem a qual não
cabe apregoarmos avanços econômicos enquanto não houver avanços humanísticos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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salientada como importante e atual para desvendar as estratégias ideológicas que associam
desenvolvimento a indicadores como o PIB, por exemplo.
Além disso, no que tange aos tópicos utilizados para o desenvolvimento da análise
proposta, estes cumpriram seu papel em evidenciar outras “dimensões” (SCHELER, 2008,
p.87-88) da existência humana, sem as quais, não podemos pensar em desenvolvimento.
Por isso este trabalho também se prestou ao papel de ampliar a compreensão do conceito
de desenvolvimento que, para além das definições economicistas, necessita incorporar
efetivamente a ideia de humanidade e os elementos necessários para a sua existência o
mais próximo possível da plenitude.
Outro ponto que vale a pena ressaltar é que, ao contrário do que dizem muitas
vertentes conservadoras, em sociedades com as características de desigualdade como a
brasileira, “conservar” torna-se uma afronta à própria humanidade, ou no dizer de Florestan
Fernandes, um desrespeito à “condição humana”. Esta, quando entendida em sua plenitude,
deixa claro o quanto ainda precisamos melhorar enquanto sociedade para chegarmos a ter
o que “conservar”.
Assim, mesmo que tenhamos hegemonias conservadoras, estas somente alcançarão
estabilidade após a efetivação dos preceitos e necessidades humanas mais básicas ganharem
corpo e materialidade na vida da maior parte da população. Enquanto isso não acontece,
vivemos uma história de ondas antidemocráticas (FERNANDES, 1979a, p.53; 2014, p.131)
que não se sustentam pela mesma inconsistência com que se materializam.
Enquanto essa dinâmica ocupa o tempo histórico brasileiro e demonstra uma das
dimensões das tensões sociais existentes em nossa história, de forma crítica devemos
manter os punhos levantados pois a cultura autoritária continua destilando seus ideais,
na maior parte das vezes, silenciosamente (ADORNO, 1995, p.119). Por isso, devemos
manter o compromisso de desmistificar anedotas e falácias sobre o desenvolvimento
socioeconômico, principalmente, quando estes não estiverem comprometidos com a
radicalização democrática e com a inclusão à condição de dignidade dos mais vulneráveis
da escala social.
Nestes termos, o debate se faz urgente como forma de nortear e de combater
qualquer forma de desleixo em relação aos cuidados com a humanidade e com a promoção
de condições verdadeiramente humanizadas de existência. Enquanto mantivermos índices
de concentração de riquezas e de todos os bens produzidos pela sociedade – materiais,
simbólicos, culturais –, a crítica e a desconstrução de ideologias conservadoras do
desenvolvimento permanecerão necessárias, importantes e atuais.
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REFERÊNCIAS
BASTIDE, R; FERNANDES, F. Brancos e negros em São Paulo. São Paulo: Global, 2008.
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FERNANDES, F. Circuito fechado: quatro ensaios sobre o “poder institucional”. São Paulo:
Globo, 2010.
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Furtado, C. (1974). El mito del desarrollo y el futuro del Tercer Mundo. El Trimestre
Económico, 41(162-162), pp. 407-416.
SOUZA, P. Os ricos no Brasil: o que sabemos, o que não sabemos e o que deveríamos saber.
Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais - BIB, v. 85, p. 5-26,
2018.
STOPPINO, M. Ditadura. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G.(coords.). Dicionário
de Política. Brasília: Editora UNB, 1ª ed. 1998.
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7
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6907-6730; Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade –
Universidade Federal de Alagoas/Pesquisador, BRAZIL, E-mail: viniciusaraujo.2013.va@gmail.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7206-5132; Programa de Pós-graduação em Economia Aplicada –
Universidade Federal de Alagoas/Professora, BRAZIL, E-mail: camila.hermida@feac.ufal.br;
Todo o conteúdo expresso neste capítulo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
INTRODUÇÃO
Em 2015 se iniciou uma das maiores crises da história econômica do Brasil e dentre
os fatores conjunturais que contribuíram para essa desaceleração da economia brasileira
estão os choques cambiais, com 50,0% de desvalorização do real; taxa de juros básica da
economia (Selic de 14,25% a.a.); e de alinhamento de tarifas públicas com controle de preços
administrados, que se traduziram em um aumento de 10,7% no IPCA de 2015 (BACEN, 2015).
A dificuldade de retomada da economia brasileira no período recente somada à conjuntura
advinda com a pandemia da Covid 19 denota a importância de se debater as limitações e
dificuldades estruturais enfrentadas pelo Brasil para seu desenvolvimento econômico.
Sobre isso, destacam-se as contribuições da teoria desenvolvimentista para o debate
sobre o desenvolvimento econômico das economias latino-americanas. Uma das teses
que melhor sintetiza o corpo teórico desenvolvimentista é a “Tese Prebisch-Singer”, ou
“Teoria da Deterioração dos Termos de Troca”, a qual busca explicar as dificuldades para o
desenvolvimento econômico enfrentado pelas economias periféricas – principalmente as
latino-americanas.
13 DOI: https://doi.org/10.48016/XIenccultgt6l1cap7
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Segundo essa tese, a medida dos termos de troca é fundamental para explicar
o atraso das economias subdesenvolvidas e em desenvolvimento, já que esses países
não conseguem nem mesmo manter os ganhos conquistados em seus níveis salariais e
em seus valores de exportações pelo baixo valor agregado e elasticidade dos bens que
exportam. Dessas perdas em balanças comerciais é que se explicariam os problemas
econômicos internos dessas economias – a periferia econômica mundial –, pois, para
compensar esses constantes déficits e perdas de ganhos em comércio internacional,
necessitam recorrer à conta de capital, o que implica em juros altos (consequentemente
baixos investimentos e aumento de serviço da dívida). Isso, por sua vez, causa um déficit
em contas governamentais (por conta de baixa arrecadação), financiamento da dívida
nacional e monetização da dívida, causando, por exemplo, os problemas inflacionários
vistos na economia brasileira. Ademais, acentua-se o processo de desindustrialização
nacional, por não haver incentivos a sair do gargalo infraestrutural que se tem para
promover a industrialização (PREBISCH, 1949).
Nesse contexto, buscaremos verificar por meio dessa abordagem teórica se essas
condições desfavoráveis dos países periféricos ainda permanecem para o Brasil e em que
medida se sustentam no período entre 1995 e 2017. O objetivo geral deste trabalho é verificar
a permanência ou não da deterioração dos termos de troca da economia brasileira nesse
contexto de depressão econômica recente, utilizando a experiência desenvolvimentista
sul-coreana de maneira comparativa. Este trabalho contribui para a literatura ao tratar da
discussão sobre políticas de desenvolvimento por meio de um estudo comparativo entre
o Brasil e a Coreia do Sul no período recente. Além disso, no campo político, contribui por
tratar de entraves para o desenvolvimento econômico do país.
Metodologicamente o artigo pode ser classificado como dedutivo e exploratório
de natureza qualitativa, em sua análise comparativa histórica, e quantitativa, na medida
que utilizará dados secundários conjunturais das duas economias supracitadas. Ele está
dividido em três seções, além desta introdução e das conclusões. Na primeira seção será
exposto o referencial teórico baseado na formulação originária da tese Prebisch-Singer.
Na segunda seção é realizado um breve estudo histórico-comparativo entre o Brasil e
a Coreia de Sul como método de investigação, identificando semelhanças e diferenças
nos processos de industrialização de ambos os países, considerando seus respectivos
ciclos/período de formação econômica, além do contexto internacional no qual os
países estavam e/ou estão inseridos. Por fim, na última seção, apresentamos uma análise
comparativa desses países com os indicadores mais relevantes à teoria de deterioração
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dos termos de troca, utilizando estatística descritiva com dados obtidos em sites
institucionais internacionais como Banco Mundial, Atlas da Complexidade Econômica e
UN Comtrade.
A tese de deterioração dos termos de troca (preço das exportações como razão do
preço das importações) está consubstanciada nos trabalhos de Prebisch (1949) e Singer
(1949). A hipótese Prebisch-Singer sustenta que os ganhos de comércio são distribuídos
de forma desigual, o que causaria a não equalização de remuneração, principalmente, do
trabalho entre centro (países avançados) e periferia (países subdesenvolvidos).
Com relação ao entendimento da tendência de deterioração dos termos de
troca, o primeiro ponto relevante é a compreensão de como os ganhos econômicos se
distribuem na economia. Progressos tecnológicos e ganhos de produtividade são refletidos
em ganhos reais, sendo estes possibilitados por duas formas: incrementos de renda ou
queda de preços. Quando se considera que as economias estão abertas para o comércio
internacional, consumidores e produtores são duas classes que podem estar em regiões
geográficas distintas, por exemplo, os países subdesenvolvidos são o mercado consumidor
que importam bens duráveis produzidos por capitalistas industriais que estão em países
desenvolvidos (PREBISCH, 1949).
Considerando que os países periféricos necessitam de uma maior inserção
internacional para se promoverem economicamente, o progresso tecnológico nos países
subdesenvolvidos é repassado em queda de preços, o que já causaria uma deterioração
dos preços relativos internacionais, e nos países desenvolvidos se reflete em aumento de
remuneração dos fatores. Como consequência, temos que os países periféricos tomam
perdas ao distribuir seus ganhos pela queda de preços, afetando seus rendimentos em
trocas internacionais, enquanto os países industrializados tomam vantagem por manter
uma crescente ou estabilidade de preços e distribuindo seus ganhos internamente em
níveis de remuneração (PREBISCH, 1949).
É dessa diferença na forma de distribuição que os países industrializados começam
a ter suas vantagens frente aos países subdesenvolvidos, porque conforme o país tem sua
cadeia produtiva mais especializada em bens finais, os ganhos econômicos são repassados
em ganhos de remuneração dos fatores, o oposto ocorre para os países desindustrializados
focados em commodities.
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Por fim, a falta de novos setores de atividade, barreiras à imigração (nos países
industrializados) e obstáculos ao processo de industrialização tardio (falta de capital e
geração de novas tecnologias), resultam em abundante mão de obra para as atividades
exportadoras (oferta elástica) e esta competição minaria seus salários. Deste modo, por
conta da dificuldade de organização sindical, os ganhos de produtividade deste setor seriam
transferidos para os preços, e não transformados em renda. Portanto, a tese Prebisch-Singer
é um modelo de interligação entre a estrutura econômica e social e o comércio internacional.
Nessas condições, os caminhos pelos quais os ganhos do comércio conectar-se-iam com
ganhos para o trabalhador são dificultados. A estrutura de má distribuição de renda tenderia
a se reproduzir, mantendo inócuas as vantagens advindas do comércio internacional, vez
que as premissas de oferta inelástica de trabalho e de tecnologia como um bem livre não
seriam satisfeitas (PREBISH 1949; SINGER 1949).
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14 Entendemos que esse período é relevante ao servir como uma análise ex-post dos efeitos das políticas
industriais de ambos os países (apontados na análise das trajetórias históricas da seção anterior) e ainda ser
um longo período de 23 anos dando contribuições à literatura mais focada na década de 1990.
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Gráfico 1 - PIB per capita (US$) e Percentual de trabalhadores assalariados – Brasil e Coreia do
Sul (1995-2017)
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Fonte: Elaboração própria a partir de dados de UN Comtrade (2020) em World Integrated Trade Solution
(WITS, 2020).
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do UN Comtrade (2020) em World Integrated Trade Solution
(WITS, 2020).
Esses dados refletem de certo modo o nível de desenvolvimento industrial com baixa
competitividade comercial do Brasil – também expresso em produtividade e valor agregado
– que seria justamente o que mede as vantagens comparativas.
A Figura 1 mostra que até 2017 a composição das exportações do Brasil se baseia,
em grande parte, em produtos primários e, no máximo, produtos derivados desses
mesmos, como minério de ferro e produtos de metal-siderurgia, sendo seus principais
demandantes os Estados Unidos e a China. No que tange à pauta de importações do Brasil
em sua maior parcela é composta por: derivados de petróleo, produtos industriais gerais,
veículos automotivos, bens relativos a telecomunicações, máquinas elétricas e fertilizantes.
Curioso atentar para dois fatores: (i) - exportamos petróleo, entretanto importamos seus
derivados; (ii) – importamos muita manufatura, que em sua maior representatividade
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Podemos observar no Gráfico 4 que o saldo final das transações correntes do Brasil
foi sustentável em seus superávits, exceto em 2013 e 2014 com saldos muito próximos de
nulos. Estes dados demonstram a dependência brasileira aos fatores externos para se ter
saldos excedentes, algo que não se sustenta nos períodos de crise externa e quando não se
pode contar com o setor externo para reduzir as perdas das crises internas.
As exportações brasileiras tiveram um crescimento moderado, mas positivo até 99
– o que pode ser explicado pela nova fase de reestabilização da economia. Depois dessa
fase, temos o crescimento consistente do governo Lula, que alguns atribuiriam ao boom
das commodities, seguido por um devido decrescimento em 2009, porém não abalou a
tendência de crescimento mantida até 2011 (também vale salientar a “quase estagnada”
em 2002). Posteriormente, temos uma tendência de queda e manutenção da mesma até
2016, quando temos o impeachment da presidente Dilma e o crescimento é retomado em
2017 com os reajustes austeros na economia e uma suposta melhora nas expectativas do
setor privado.
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Até certo ponto, isso nos mostra como os retornos da economia brasileira estavam
inteiramente ligadas às flutuações do comércio internacional quanto à elasticidade preço-
demanda e renda-demanda dos seus bens primários. Além disso, o fator da queda interna
do PIB também parece ter afetado negativamente os níveis de exportação do país. No
tocante às importações, o comportamento dissonante do volume importado pode estar
relacionado a uma problemática da tese Prebisch-Singer: o quanto as exportações das
periferias impactam sua capacidade de importar, além da problemática das importações
não estarem bem alocadas em bens de capital.
Na Figura 2 apresenta-se a pauta de exportação e importação sul-coreana. Nota-
se nas exportações a presença tanto de automóveis quanto outros meios de transporte,
componentes elétricos, derivados de petróleo, produtos relativos a telecomunicações
e instrumentos óticos. Já a pauta de importação é formada por óleos de petróleo e óleos
naturais, com uma parcela também para componentes eletrônicos, sendo esses três grandes
blocos responsáveis pela matéria-prima e pelas condições de funcionamento da indústria
sul-coreana – no caso, energia e componentes eletrônicos para montagem de outros bens.
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Seus principais parceiros comerciais são China e EUA, seguidos por Japão e Hong
Kong, que estão como a Argentina para o Brasil na sua lista de parceiros. Os dados de destino
das exportações da Coreia do Sul mostram que ela consegue ter uma penetração muito
mais pulverizada no mercado internacional, dado que tanto países desenvolvidos quanto
subdesenvolvidos demandam seus bens finais.
De forma geral, o saldo comercial coreano sempre foi muito estável, com uma leve
crescente de 2015 em diante (Gráfico 5).
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mundial). Vale ressaltar também nos valores de volume comercial, muito maiores que os
do Brasil, aproximadamente duas vezes maior em certos períodos. Observa-se também
que a elasticidade do setor industrial exportador é bem mais condizente com as taxas
de crescimento sul-coreanas, suas maiores constâncias e menor volatilidade podem ser
explicações para a divergência em termos de PIB per capita dos países. Além disso, na Coreia
do Sul as flutuações de PIB seguem as flutuações dos saldos comerciais. Ou seja, a indústria
e consequentemente o setor externo parecem apresentar relevância quando se trata do
desenvolvimento econômico coreano.
Temos no Gráfico 6 os dados de exportação como capacidade de importação (em
moeda local) para os dois países e é possível observar o quanto a Coreia do Sul adquiriu de
capacidade de importação a partir do momento em que se industrializa. O Brasil também
possui ganhos em sua capacidade de importação, mas claramente a uma constância menor
e, podemos observar pelas inclinações das retas, numa velocidade até mais acelerada,
se comparado com a Coreia do Sul, que se cessa por pelo menos 6 anos. Aqui também é
visível a dependência externa do Brasil quando atentamos para os períodos em que sua
capacidade de importação oscila: crise mundial, boom de commodities e recessão interna
– comportamento muito diferente da capacidade de importação sul-coreana, que não
decresce em nenhum momento.
Gráfico 6 - Exportação como capacidade de importação (em moeda local) – Brasil e Coreia do
Sul (1995-2017)
Esse ponto também acaba sendo muito relevante para a tese de deterioração dos
termos de troca por demonstrar como os países agroexportadores perdem a capacidade de
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
AMSDEN, A. Asia’s Next Giant: South Korea and Late Industrialization. Oxford University
Press. New York, 1989.
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142
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8
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7130-7403; Universidade Federal de Alagoas/Bacharel em Sistema da
Informação, BRAZIL, E-mail: faustobmendes@hotmail.com;
(2)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9064-9676; Universidade Federal de Alagoas/Bacharel em Sistema da
Informação, BRAZIL, E-mail: willnascimento03@gmail.com;
(3)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1215-3798; Universidade Federal de Alagoas/Professora, Departamento
de Administração na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEAC), BRAZIL, E-mail: natallya.
levino@feac.ufal.br;
(4)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1689-7513; Universidade Federal de Alagoas/Professor, Campus Sertão/
Unidade Santana do Ipanema; BRAZIL; E-mail: cristiano.santos@santana.ufal.br.
Todo o conteúdo expresso neste capítulo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
INTRODUÇÃO
Ao longo do curso da nossa história, a tecnologia tem moldado as nossas vidas. Foi a
partir dela que conseguimos melhorar a produtividade no campo, na indústria e no setor de
serviços. De acordo com Rodrigues, Oliveira e Freitas (2007), percebe-se que ela tem sido um
divisor de águas no que se refere ao aumento da nossa qualidade de vida, produtividade e
ganhos de escala na forma de produção dos bens e serviços.
De acordo com Crépon, Heckel e Riedinger (2003), estudos realizados para verificar
os efeitos das tecnologias da informação na produção de 3646 empresas, conduzidos ao
longo do período de 1994 a 1997, demonstraram que a Tecnologia da Informação (TI) tem
15 DOI: https://doi.org/10.48016/XIenccultgt6l1cap8
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influência sobre a eficiência do trabalho. Dessa forma, pode-se ver que a adoção de políticas
de investimento em TI tem a capacidade de impactar diretamente o mercado de trabalho.
Segundo Mansur (2019), as transformações causadas pela Inteligência Artificial
(IA) transporá muitas barreiras. Em muitas áreas de negócios, as aplicações tecnológicas
relacionadas à IA sofrerão processos de otimização nos próximos anos, e a sociedade
caminha na direção de implementar tecnologias relacionadas a ela nas mais diversas áreas
do conhecimento ou negócios.
Dessa forma, na visão de Schaff (1995), vê-se que a partir do desenvolvimento de
novas tecnologias e sua implementação no cotidiano, algumas profissões e/ou atividades
tendem a ser gradativamente substituídas por processos inerentes a esta revolução. E isso
tem ficado mais evidente nas três últimas décadas, quando Castells (2000) intitulou de era
da informação, muito embora estes processos de transformação tecnológica tenham sido
criados ou aprimorados a partir da sequência de outras eras de revolução que a antecederam.
Ainda na visão de Mansur (2019), a partir do momento em que forem adotadas
aplicações de IA, torna-se desnecessária a presença humana em algumas atividades da
cadeia produtiva estendida, fazendo com que alguns empregos sejam redundantes dentro
do processo produtivo.
Atualmente, profissões que exigem elevado grau de conhecimento como bancário,
têm tido parte dos seus processos de trabalho substituídos por ferramentas de automação de
tarefas e processos, muitas destas na forma de algoritmos que executam tarefas, processos
e/ou procedimentos de forma automatizada fazendo o reaproveitamento de dados e/ou
bases de conhecimento fartamente disponíveis em bancos de dados oficiais ou privados,
gerando uma distribuição de tarefas entre homens e máquinas, e que vem favorecendo a
diminuição gradativa dos postos de trabalho de pessoas que executam tais tarefas de forma
manual, principalmente.
De acordo com Bellotto (2004, apud MARQUES; RESENDE, 2013), o surgimento da
tecnologia propiciou a substituição de trabalhos físicos por softwares capazes de extrair
dados e transformá-los em conhecimento, por conseguinte, em informações. Isso trouxe
mais dinamismo no acesso às informações, tornando o processo de controle, organização,
armazenagem e disponibilização das informações mais veloz, contribuindo assim para o
processo de tomada de decisões.
Neste sentido, o presente trabalho busca analisar o impacto que novas tecnologias
podem gerar no mercado de trabalho do setor bancário brasileiro. Este setor foi escolhido
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em decorrência dos avanços de tecnologias recentes (década de 2010) que estão sendo
incorporadas nos mais diversos serviços financeiros. Para esta análise foi realizada uma
pesquisa bibliográfica com enfoque qualitativo e de natureza exploratória em diferentes
bases de dados.
Este trabalho está dividido em mais três seções além desta introdução. Na seguinte,
é exposto o referencial teórico que dará subsídios às discussões do artigo. Na terceira
seção, apresentamos os resultados e discussões acerca da pesquisa realizada. Por fim, as
considerações finais sobre este estudo.
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meio estritamente eletrônico16 é um bom exemplo disso, dado que os processos de abertura
de conta (início do relacionamento do cliente com o banco) são delegados a processos de
verificação e checagem automatizados e sem a interferência humana.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
16 Resolução BACEN n.º 4.480, em 25 de abril de 2016 (
) § 1º Consideram-se meios eletrônicos os instrumentos
e os canais remotos utilizados para comunicação e troca de informações, sem contato presencial, entre
clientes e as instituições referidas no caput.
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Ainda de acordo com a FEBRABAN (2019), nos últimos anos, os canais digitais vêm
apresentando constantes evoluções no que se refere à praticidade, conveniência e segurança
na realização de transações bancárias. O resultado disto é visto no aumento do número de
transações bancárias nos meios digitais. Em 2018, por exemplo, o mobile banking representou
cerca de 40% das transações bancárias realizadas nos mais variados canais disponíveis de
atendimento17, ao passo que, em 2011, este número representava apenas 0,03%. Quando
considerado o uso dos canais digitais (mobile e internet banking), o percentual de transações
bancárias realizadas nestes canais representou cerca de 60% ao longo do ano de 2018.
Assim sendo, conforme visto na Figura 2, fica demonstrado um crescimento de 85% no uso
de transações via canal mobile banking entre 2014 e 2018, superando inclusive as transações
via internet banking.
17 Mobile banking, internet banking, POS (Point of Sale), ATM (Autoatendimento), Correspondentes, Agências e
Contact Centers (Call Centers).
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Todo esse resultado positivo relativo ao uso de canais digitais em detrimento dos
canais tradicionais de atendimento é possível a partir de investimentos em Tecnologia
da Informação (TI) pelos bancos. Neste contexto, pode-se mensurar a importância dos
investimentos em TI para o setor bancário a partir do montante de recursos investidos
pelos bancos.
Conforme dados da consultoria Gartner (Figura 3) – apresentados na Pesquisa
FEBRABAN de Tecnologia Bancária – em 2018, os investimentos em tecnologia
representaram cerca de R$ 5,7 bilhões. Com base no mesmo ano, os valores aplicados
pelos bancos para cobrir as despesas tecnológicas foram de R$ 13,9 bilhões, que somados
aos R$ 5,7 bilhões destinados a investimentos, representam R$ 19,6 bilhões em recursos
aportados em áreas relacionadas às TI. Assim, o total gasto em 2018 com tecnologia supera
os gastos realizados dos três anos anteriores, conforme apontado na Figura 3. Segundo a
pesquisa, no item investimentos e despesas estão inseridos gastos com Software, Hardware
e Telecom, representando uma escala dos maiores aos menores valores investidos ou
despendidos, respectivamente.
Noutro ponto, o uso de inteligência artificial já é uma realidade nos grandes bancos
brasileiros e, segundo dados da FEBRABAN (2019), levando-se em consideração as interações
via canais digitais (chat, chatbot e e-mail) entre 2017 e 2018, enquanto o crescimento do chat
e e-mail para interações com clientes foi de 364% e 19%, respectivamente, o chatbot teve um
crescimento de 2.585% em relação ao ano de 2017. Dessa forma, para a FEBRABAN (2019, p.
34), esse “tem sido um dos recursos nos quais os bancos mais têm aplicado as ferramentas
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Assim, verifica-se que os bancos vêm levando a sério a sua política de investimentos
em tecnologia, e os recursos aplicados em computação cognitiva e inteligência artificial têm
sido largamente utilizados pelos bancos visando melhorar a experiência do usuário com
relação aos seus produtos e serviços e dinamizar o seu potencial de negócios.
A comodidade no acesso ao banco pelo celular pode explicar a crescente demanda
pelos serviços de tecnologia. Diante disto, os bancos têm procurado investir cada vez mais
em tecnologia para suprir a demanda dos serviços e promover um ambiente mais cômodo
e seguro aos seus clientes (FEBRABAN, 2019).
Dessa forma, fica evidenciado que os bancos estão procurando adequar as suas
rotinas à realidade que vem sendo desenhada a cada dia pelo avanço de novas tecnologias
que permitem aos clientes se autoatenderem, não necessitando, portanto, a ida a uma
agência física para tratar de rotinas corriqueiras do dia a dia, tais como consulta de saldos e
extratos, pagamento de contas, transferências, etc.
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24 BB reduz cargos, agências e abre programa de demissão. Folha de S. Paulo. 29 jul. 2019. Disponível
em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/07/bb-reduz-cargos-agencias-e-abre-programa-de-
demissao.shtml. Acesso em: 26 jul. 2020.
Bradesco anuncia PDV para funcionários com 20 anos de banco e perto da aposentadoria. Folha de S. Paulo.
29 ago. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/08/bradesco-anuncia-pdv-
para-funcionarios-com-20-anos-de-banco-e-perto-da-aposentadoria.shtml. Acesso em: 26 jul. 2020.
Itaú anuncia programa de demissão voluntária. Folha de S. Paulo. 29 jul. 2019. Disponível em https://www1.folha.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa teve como objetivo analisar os impactos das novas tecnologias sobre
o mercado de trabalho no setor bancário brasileiro, tomando como base de pesquisa os
dados referentes aos cinco maiores bancos brasileiros (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú,
CEF e Santander). Os dados coletados demonstram um uso mais incisivo dos canais de
autoatendimento para realização de transações bancárias, em especial o mobile banking, uma
redução acentuada no número de postos de atendimento (agências e PABs) e consequente
redução no quantitativo de funcionários ao longo do período estudado.
Este movimento vem demonstrando uma clara mudança no perfil profissional
dos bancários, os quais estão passando a atuar em atividades mais consultivas e de
relacionamento com os clientes, com foco na venda de produtos e serviços destes bancos
(FEBRABAN, 2019). À medida que os correntistas destes bancos vão se familiarizando com
os serviços oferecidos em meio digital, há uma tendência natural para ampliação destes
serviços, inclusive com a adição de novas funcionalidades antes restritas ao atendimento
presencial nas agências bancárias.
Assim, de modo a prover a demanda por inovações tecnológicas do mercado
financeiro, os bancos vêm investindo milhões de reais em tecnologia com vistas a oferecer
uma maior imersão dos clientes em um ambiente mais seguro, agradável, eficiente e eficaz
na realização de transações bancárias sejam do cotidiano ou em outras transações mais
complexas, tais como financiamentos de veículos e imóveis25, que inclusive já possuem
suporte à contratação estritamente em meio digital.
A limitação do presente trabalho está relacionada à impossibilidade de se mensurar a
economia realizada pelos bancos a partir da implementação do uso de novas tecnologias em
seu modelo de negócios, ou seja, comparativo entre o modelo de atendimento convencional
e digital; à impossibilidade de se mensurar os índices de eficiência operacional (IEO) obtidos
entre os dois modelos; e à impossibilidade de se mensurar o nível de aceitação dos novos
padrões de atendimento/relacionamento entre os modelos de atendimento convencional
25 No financiamento imobiliário, a presença do requerente a uma agência se faz necessária apenas para
formalizar a assinatura no contrato e, após, submetê-lo ao registro cartorário.
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e digital, além de não demonstrar o perfil dos clientes que possuem ou não uma maior
inclinação ao uso destas novas tecnologias.
Este trabalho abre campo para que novas pesquisas relacionadas ao setor possam ser
realizadas com maior profundidade, visando a obtenção de dados a respeito do papel que
as novas tecnologias podem gerar sobre cargos específicos dentro do sistema financeiro,
bem como o papel dos canais tradicionais (agências, PAB, ATM, correspondentes bancários
e contact centers) de atendimento em detrimentos aos canais de atendimento digital.
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162
9
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4494-8365; UFAL / UFRGS/Professor da Universidade Federal de Alagoas
e Doutorando em Economia pela UFRGS, BRAZIL, E-mail: josefranciscoamorim@gmail.com;
Todo o conteúdo expresso neste capítulo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
INTRODUÇÃO
26 DOI: https://doi.org/10.48016/XIenccultgt6l1cap9
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a exemplo de Pereira e Mueller (2000), Pereira e Mueller (2003), Melo (2004), alguns outros
apontam para possíveis aspectos que impactam nas reeleições, como Pereira e Rennó (2001)
e Graça e Souza (2014).
Com base nessa breve introdução, o presente estudo possui por finalidade analisar
possíveis fatores que influenciaram na reeleição de deputados federais em 2018. As
eleições majoritárias proporcionam informações dos políticos à sociedade, os eleitores
podem conhecer as ações desenvolvidas ao longo da ocupação do cargo, a reputação dos
agentes que representam a sociedade, e ainda, com uma quantidade menor de candidatos
em disputa é possível escolher eventuais representantes com base nas disputas locais
e regionais, considerando possíveis alianças políticas entre o executivo local (prefeitos),
legislativo municipal (vereadores) e o legislativo estadual (deputados estaduais).
Dentro desse contexto onde o trabalho é desenvolvido, surge o seguinte
questionamento: O que influencia as reeleições para deputados federais no Nordeste?
A partir desta questão, o objetivo geral que norteia o presente estudo é analisar variáveis
que influenciaram os resultados das reeleições para o cargo de deputado federal no
Nordeste nas eleições majoritárias de 2018.
Em desdobramento ao objetivo geral apontado acima, temos os objetivos
específicos abaixo:
i) Realizar uma breve descrição da representação eleitoral para o Nordeste durante a
eleição de 2018.
ii) Analisar o sucesso da reeleição na performance nacional e o impacto do apoio de
governos estaduais na eleição de 2018.
A partir dessas informações iniciais, o presente estudo é dividido em quatro seções
além desta introdução. Na segunda seção, são desenvolvidos aspectos teóricos que norteiam
o presente estudo, desde aspectos referentes à estratégia eleitoral e atuação parlamentar até
estudos sobre reeleição; já na terceira seção, temos os aspectos metodológicos utilizados
para o estudo. Dando prosseguimento, na quarta seção, são apresentados os resultados do
estudo realizado; e, por fim, na quinta seção, temos as considerações finais do estudo com
breves conclusões, limitações e recomendações.
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política, dado que no executivo o incentivo consiste na maior capacidade para influenciar
políticas públicas, aplicação de recursos e melhor apresentação de resultados, podendo os
resultados no executivo servir para alavancar o retorno à bancada federal.
Corroborando com o argumento acima, temos em Graça e Souza (2014) um estudo
que debate sobre esse processo, no qual os autores consideram o retorno eleitoral obtido
via desempenho nas eleições para o executivo municipal. Antagônica às eleições nos
Estados Unidos, o custo das eleições no Brasil é menor, em função da utilização de eleições
alternadas. Neste caso, não estão sendo tratados valores da campanha eleitoral no Brasil,
mas sim o custo eleitoral, ou seja, o custo relacionado à perda de mandato em função da
perda de eleição.
Quando consideramos a eleição no Brasil, temos a possibilidade de os candidatos
concorrerem a cada dois anos, espaço de tempo entre as eleições majoritárias (nacionais) e
eleições locais, logo, se o candidato for incumbente no cargo de deputado federal seu custo
em concorrer ao executivo municipal é menor. Outro aspecto a ser registrado corresponde
ao apontado por Graça e Souza (2014) em que os custos financeiros de uma campanha
majoritária são proporcionalmente maiores que os custos de eleições locais, então a busca
por concorrer ao executivo corresponde à intenção de satisfazer uma das duas possibilidades
acima: maior representatividade nas próximas eleições ou progressão na carreira política.
Assim, temos internamente a estratégia de utilizar o candidato a prefeito como um possível
puxador de votos no futuro. Apesar disso, tivemos uma mudança no código eleitoral com o
Projeto de Lei 5735/1327, no qual os candidatos devem obter pelo menos 10% do quociente
eleitoral, mesmo assim, as alianças proporcionadas em partidos com puxadores de voto
ainda correspondem como meio para a reeleição.
Desde que tivemos o retorno do processo democrático, a eleição de 2020 foi a que
apresentou menor quantidade de deputados federais concorrendo ao pleito do executivo
municipal, conforme o Gráfico 01. A diminuição da quantidade de candidatos pode ser
reflexo da queda de arrecadação e repasse de recursos para os municípios, conforme estudo
técnico de dezembro de 2020 da Confederação Nacional dos Municípios28.
27BRASIL – Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 5.735/2013. Brasília-DF, 2015. Disponível em: https://
www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1102056&filename=PL+5735/2013.
Acesso em: 15 de abr. 2021.
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planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13165.htm. Acesso em: 15 de abr. 2021.
28 CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS. O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) em
2020 e as perspectivas para 2021. Porto Alegre- RS, 2020. Disponível em: https://www.cnm.org.br/cms/
biblioteca/O-Fundo-de-Participacao-dos-Municipios-FPM-em-2020-e-as-perspectivas-para-2021.pdf.
Acesso em: 15 de abr. 2021.
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Para a análise das relações estabelecidas entre a reeleição dos deputados federais,
representantes da região Nordeste e dos fatores que podem influenciar a variável
dependente, foram utilizados como base alguns estudos realizados anteriormente, a
exemplo de Amorim Neto et al. (2003), Leoni, Pereira e Rennó (2003), Rennó (2007), Mancuso
et. al. (2013), Graça e Souza (2014), Cervi et al. (2015), Avelino et al. (2016) e Morais e Koprik
(2018). A partir de tais estudos, tornou-se evidente a necessidade de compreender não
apenas o voto como um todo, mas também compreender as partes, ou seja, as cidades em
que os políticos apresentaram maior quantidade de votos, assim, foi realizada uma análise
descritiva e um modelo logit no presente estudo, com isso, as relações com a base também
foram consideradas.
Três tipos de variáveis independentes foram utilizadas: i) relação com o executivo –
para a relação com o executivo foram consideradas duas variáveis: a aliança estabelecida
com prefeito eleito em 2016 e aliança com o governador em 2018; ii) variáveis eleitorais
– para a relação de variáveis eleitorais foram consideradas: o voto em 2018 em todo o
estado, o voto em 2018 nas cidades que tiveram mais votos, o quociente eleitoral em
2018, a concorrência para prefeito em 2016; iii) variáveis gerais – PIB per capita, gastos
com voto em 2018, quantidade de famílias inscritas no Bolsa Família em 2017. Como
variável dependente foi utilizada o sucesso eleitoral, variável dicotômica que mede a
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reeleição dos deputados federais, com valores de 0 e 1. O quadro 01 realiza uma breve
descrição das variáveis.
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Visando analisar variáveis que impactam na reeleição dos deputados federais, foi
apresentada como variável dependente o Sucesso na Reeleição. Os dados foram analisados
através de software estatístico, quanto à análise dos dados foram utilizadas: técnicas
descritivas – visando estabelecer uma descrição referente às características; técnica de
regressão logística (logit) – modelo de regressão que possui a variável de saída categórica
dicotômica e apresenta variáveis previsoras contínuas ou categóricas.
Segundo Field (2009), “a regressão logística é uma regressão múltipla, mas
com uma variável de saída categórica dicotômica e variáveis previsoras contínuas ou
categóricas.” Assim, torna-se possível prever a qual categoria um indivíduo ou evento
está associado. A regressão logística é muito utilizada na literatura biomédica devido
a sua aplicação em formular modelos sobre fatores que determinam e/ou contribuem
para determinada doença, da mesma forma, em relação a tratamentos de doenças,
como exemplo podemos citar: fatores que determinam se um tumor é benigno, se a
utilização do tabaco influencia em doenças pulmonares, avaliação da disponibilização
de crédito, satisfação quanto ao mercado de trabalho, enfim, sua aplicação não fica
condicionada a apenas uma realidade. Sucintamente, o modelo de regressão logit
estima a probabilidade de ocorrerem eventos binários.
Diferente do modelo de regressão linear, o modelo logit não busca prever ou explicar
a existência de relação entre uma variável dependente com uma e/ou várias variáveis
independentes, conforme destaca Malhotra (2012), o modelo logit estima “a probabilidade
de uma observação pertencer a determinado grupo.” A probabilidade pode ser estimada a
partir da equação:
(1)
171
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(2)
Ou ainda,
(3)
(5)
(6)
172
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Ainda no Quadro 02, temos o Sucesso da reeleição, indicando a Bahia com a maior
taxa de sucesso (reeleitos / quantidade de vagas) – 64%; seguido do Pernambuco – 52%. A
menor taxa de sucesso foi apresentada pelo Estado do Ceará com 33% de reeleição.
Outro fator importante analisado descritivamente corresponde à possibilidade
de eleição intercalada, o que isso significa? Quando políticos utilizam de eleições a cada
2 anos com a finalidade de alcançar cargos mais elevados, ou obter cargos no executivo.
Um exemplo que podemos destacar é a eleição intercalada entre a candidatura a prefeito
(executivo municipal) e deputado federal, alguns candidatos podem concorrer à prefeitura
para obter maior quantidade de votos, ou ainda, utilizar a eleição para deputado para obter
vitória no pleito eleitoral para prefeitura.
Em relação ao fato de terem concorrido à prefeitura nas eleições de 2016, apenas 11
deputados federais concorreram ao cargo. Desta forma, tal fator pode não ser significativo
e não tenha influenciado na eleição para deputado em 2018, conforme a coluna 04, variável
C_Pref_16.
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Sim 75 41 11 46 52 3
Não 39 73 103 68 62 111
Média ,66 ,36 ,10 ,40 ,46 ,03
Variância ,227 ,232 ,088 ,243 ,250 ,026
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do TSE, 2021.
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a escolha por esse método deu-se em função da variável dependente ser binária. O teste
analisou o efeito de variáveis na reeleição em 2018.
O teste buscou o efeito dos votos gerais na reeleição e foram utilizadas as seguintes
variáveis: Votos em 2018 – referente ao quantitativo de votos obtidos no pleito eleitoral de
2018; Gastos por voto em 2018 – despesas de campanha sobre os votos obtidos no Estado
(despesas/quantidade de votos); Aliado do Prefeito eleito em 2016 – variável dicotômica
que verifica o impacto da aliança com prefeitos eleitos em 2016; Aliado do Governador
2018 – variável dicotômica que busca verificar o impacto da aliança com governadores
eleitos em 2018.
Em continuidade, no modelo de regressão linear temos o R2 como medida estatística,
sendo analisado o quão próximo os dados podem estar da linha de regressão. Na regressão
múltipla temos o R2 como coeficiente de determinação, onde é analisada a correlação de
Pearson ao quadrado entre os valores de saída e previstos. Seguindo essa direção, Field
(2009) e Malhotra (2012) destacam que podemos realizar a análise de aderência do modelo,
para isso utilizaremos o modelo de verossimilhança-log (VL).
Inicialmente, foi determinado o modelo utilizando somente a constante, com isso,
é possível verificar que a constante apresentou adequação ao modelo via estatística Wald,
a qual informa se o coeficiente β do previsor é significativo. Conforme a seção 3 sobre os
Aspectos Metodológicos para Análise, o teste de Wald vem a ser o teste de significância do
coeficiente de regressão logística.
O modelo foi estimado por máxima verossimilhança e podemos verificar que os
valores do β foram significativos, conforme valores presentes na quinta coluna da Tabela 02.
Uma observação em relação à Tabela 02 refere-se a não significância da variável aliança como
prefeito eleito em 2016, por isso, a variável foi excluída quando o modelo de verossimilhança
foi estimado.
Em continuidade, o modelo de verossimilhança apresentou uma diminuição e
melhor ajuste. A partir da 3ª interação, o ajuste diminuiu de 58,502 para 42,444, com um
pseudo R2 de 0,743 para 0,827; o pseudo R2 de Nagelkerke pode vir a ser destacado como
um valor similar ao R2 da regressão linear.
Com base nas informações da Tabela 02, temos que a variável voto influenciou
positivamente na reeleição dos deputados federais da região Nordeste em 2018, valor com
indicador Exp b maior que 1,0, indicando que quando o previsor aumenta, as chances de a
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saída ocorrer aumentam, ou seja, isso significa que quanto maior a quantidade de votos, isso
influencia na eleição do candidato à reeleição.
Por outro lado, as demais variáveis, assim como a constante, apresentaram valor
negativo, os gastos por voto em 2018 apresentaram coeficiente negativo. A explicação para
esse resultado deve-se ao fato de candidatos terem despesas altas de campanha, porém
com performance eleitoral não favorável, basicamente alta despesa e votos não suficientes
para reeleição; candidatos tiveram maiores despesas eleitorais e não foram eleitos, por
outro lado, candidatos que gastaram menor quantidade de recursos tiveram êxito eleitoral
alcançando o sucesso na reeleição.
Com isso, necessariamente ter uma quantidade maior de recursos não significa
reeleição se o candidato não conseguir obter o ‘carisma’ do eleitor, logo, recursos de
campanha podem não influenciar a eleição positivamente, embora, destacam-se os casos
analisados no presente estudo.
A variável aliança com o candidato ao governo também não contou positivamente,
mesmo que alguns buscassem a reeleição, logo, ser aliado do candidato ao governo não foi
significativo. Por fim, a porcentagem global de sucesso na reeleição foi de 65%, com um total
de 75 candidatos reeleitos. O teste de Wald surge como teste de significância do coeficiente
de regressão logística, comprovando a adequação dos resultados ao modelo.
,00051 14,398
Votos em 2018
,000
(0,04381) 6,884
Gastos por voto em 2018
,009
(3,23221) 10,076
Aliado do Governador 2018
,002
10,9718 (44,70217) 15,476
Constante 0,6539
0,00 ,000
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Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do TSE, 2021.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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LIMITAÇÕES DO ESTUDO
RECOMENDAÇÕES
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SOUZA, C. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, nº
16, jul/dez 2006, p. 20-45.
184
10
(1)
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0618-6454; Mestranda no Programa de Pós-graduação em Dinâmicas
Territoriais e Cultura (Prodic), da Universidade Estadual de Alagoas, BRAZIL, E-mail: brunaizabelaribeiroalves@
hotmail.com. ID Lattes: 4668910836933822
Todo o conteúdo expresso neste capítulo é de inteira responsabilidade dos seus autores.
INTRODUÇÃO
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fabricados não por pessoas e sim por máquinas, com uma geração de lucro substancial
quando comparados ao produto artesanal.
O artesão busca agregar ao seu produto um valor, aquilo que aprendeu, construiu e
se identificou ao longo da sua vida, por isso que comparar o artesanato aos modelos atuais
de produção e de mercado é uma distorção sem fim, no sentido de intimidar o sujeito a
perder um dos seus valores mais importante, que é a sua identidade.
Ademais, não significa dizer que o artesanato deve se restringir ao tradicional, tanto
em sua produção quanto em sua comercialização, o que se veda é que ele seja visto como
uma mercadoria em massa e não como algo único. Destaca-se que, essa forma de enxergar
o resultado final do produto artesanal como algo que não pode ser feito ou criado de
igual modo por outra pessoa, vem agregar um valor ao produto e também potencializar o
território onde está inserido.
Em outro enfoque, Giddens (2003, p. 54) afirma que “viver a tradição da maneira
tradicional significa defender as atividades tradicionais por meio de seu próprio ritual e
simbolismo – defender a tradição por meio de suas pretensões internas à verdade”. Dessa
forma, a discussão deste trabalho gira em torno da relação do artesanato, fruto da tradição
e da cultura popular, que estabelece uma identidade para a população belomontense, com
as interferências causadas pela modernidade, pós-modernidade e globalização, dando-se
ênfase ao campo da produção, difusão e comercialização destes artefatos.
Portanto, serão analisadas como essas transformações podem causar consequências
e danos para diversos setores do trabalho artesanal e de que forma o hibridismo cultural
é impactado. Na visão de Hall (2014), tem-se que a globalização vem causando uma
tendência ao colapso de todas essas identidades culturais fortes, tornando as identidades
fragmentadas e efêmeras pela multiplicidade de culturas híbridas que transformam o antigo
sujeito sociológico em sujeito pós-moderno global.
Por sua vez, Canclini (1998) sinaliza que a globalização se trata de um processo
formado a partir da internacionalização não só econômica, mas também cultural. Desse
modo, percebe-se que foram gerados organismos múltiplos, cuja sede não se encontra
predominantemente em nenhum país, mas suas conexões mantêm traços das nações
de origem.
Assim, o processo de globalização pode ser entendido sob uma ótica ampliada,
permitindo ver nesse fenômeno implicações que superam a simples denúncia de apropriação
do sistema capitalista e de uma eventual homogeneização da cultura, do sistema capitalista
e de uma eventual homogeneização da cultura.
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Território, assim, em qualquer acepção, tem a ver com poder, mas não
apenas ao tradicional “poder político”. Ele diz respeito tanto ao poder no
sentido mais explícito, de dominação, quanto ao poder no sentido mais
implícito ou simbólico, de apropriação. Lefebvre distingue apropriação de
dominação (“possessão”, “propriedade”), o primeiro sendo um processo
muito mais simbólico, carregado das marcas do “vivido”, do valor de uso, o
segundo mais concreto, funcional e vinculado ao valor de troca.
190
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Importante trazer à baila que o que está em “jogo” não é a ressignificação da cultura
como expressão popular, mais sim os ganhos gerados por tal produção. O capitalismo quer
transformar o fazer artesanal em uma produção em massa; ou seja, com interferências
da indústria, privando o artesanato da sua autenticidade, fato que se encontra em
descompasso com o que se objetiva do trabalho artesanal. Nesse sentido, Canclini (1998,
p. 22) apresenta que:
191
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A cidade de Belo Monte (AL) é uma região com uma área de 334.116 Km² (Figura
1). Sua população é calculada em 6.710 habitantes, aproximadamente, sendo 16,7% da
população habitante na zona urbana e 83,3% na zona rural (IBGE, 2010). A cidade é localizada
à margem do Rio São Francisco, a uma distância de 210 km da capital Maceió. A população
belomontense tem como predominância econômica agricultura, pecuária, comércio e
turismo, como principais fontes de renda.
192
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ARTESANATO BELOMONTENSE
A cidade de Belo Monte, estado de Alagoas, possui vários artesãos, os quais, com
a sua arte e dedicação, desenvolvem o fazer artesanal com excelência, contribuindo
economicamente e potencializando o turismo cultural. Relacionando a vivência do conjunto
de elementos significativos do patrimônio histórico e dos eventos culturais, valorizando e
promovendo os bens materiais e imateriais da cultura local.
Na composição dos artefatos desenvolvidos, são exemplos: as carrancas, cadeiras
personalizadas, pinturas em tela, bordado, tricô, fuxico, dentre outras modalidades artesanais.
Para a economia de Belo Monte, no que se refere ao artesanato, as carrancas e as
cadeiras personalizadas ganharam maior visibilidade no fazer artesanal, especialmente
através do trabalho do artesão Jasson Gonçalves Da Silva, personagem que compõe a gama
de artesãos e que faz exposições de suas obras em outros municípios, estados e até mesmo
fora do Brasil (Figura 2).
Figura 2 – Peça do artista no estande Marco 500, no Instituto Europeu de Design, durante a
Design Week 2019 em São Paulo – SP.
A história de vida deste mestre se une com a arte através da analogia entre o fazer
artesanal, a criatividade e o desejo de passar o seu legado adiante, ao mesmo tempo em
que, ao criar peças advindas de sua imaginação, alimenta a sua inspiração com elementos
da natureza, da fauna e da flora local, a partir de tudo que tenha vida e gera inspiração,
estando muito além da renda e ganhos econômicos, mas sim de uma autonomia pessoal,
transformando até mesmo a adversidade em oportunidade.
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Jasson Gonçalves da Silva (Figura 3), nascido em 1954, leva uma vida modesta ao lado
de sua família no Povoado Monte Santo, município de Belo Monte/AL, a poucos quilômetros
do Rio São Francisco. Um artesão que, com sua criatividade e empenho, exerce suas técnicas
e habilidades, construídas ao longo do tempo com suas experiências de vida, pois o mesmo,
além de artesão, tem uma gama de habilidade tais como: alvenaria, marcenaria, construção
civil, agricultura, pecuária, dentre outras, que desenvolveu ao longo de sua vida. No entanto,
a sua paixão está ligada aos artefatos que produz manualmente, com matéria-prima retirada
da natureza.
Para encontrarmos este mestre do artesanato local, passamos por uma sinuosa
estrada de terra, nos perímetros do município de Belo Monte (AL), sinalizados pela arte a
qual é desenvolvida pelo artesão (Figura 4); em cada curva há um pouco de sua imaginação,
tornando a chegada ao destino mais entusiasmante. Com muita simplicidade, ele provou
que o talento não reconhece fronteiras.
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Figura 4 – Arte do mestre Jasson Gonçalves da Silva, seta de indicação para a residência do artesão.
O artesão, desde criança, viveu e se criou na roça com os seus pais e familiares,
dedicando-se ao trabalho braçal e pesado no sertão alagoano. As obras que produz,
utilizando recursos e materiais existentes na localidade, possui em seus detalhes uma
história a contar. O mestre Jasson, como é conhecido, inspira-se na natureza e nos
acontecimentos diários de sua vida para expressar em suas obras um pouco do que vive
ou já viveu (Figura 5).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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entre as pessoas. Dentro desse contexto, o artesanato serve como importante mecanismo
para trazer fonte de renda para as comunidades locais e também proporcionar visibilidade
para o território onde esses bens são produzidos.
O exemplo do sucesso do artesão Jasson Gonçalves da Silva, demonstra que, mesmo
com as adversidades econômicas enfrentadas, é possível desenvolver o artesanato e ter
visibilidade nos cenários nacional e internacional, servindo de paradigma e de inspiração
para que outros artesãos devolvam suas habilidades no trabalho artesanal.
Importante destacar que o fazer artesanal constitui-se de uma atividade cultural, na
medida em que é construída, transmitida e modificada ao longo do tempo, perpetuando
modos de vida, saberes e fazeres de uma determinada sociedade, fazendo com que esses
valores sejam preservados e transmitidos de geração a geração.
Assim sendo, percebe-se que a globalização confirma, contraditoriamente, um
renovado interesse pela cultura local como antídoto à massificação; por esse motivo, o
desafio constante é de não transformar em simples modismo que, em tese, é passageiro,
por aquilo que mobiliza e torna sustentável a atividade inventiva dessas formas de vida, as
suas tradições e bens culturais.
REFERÊNCIAS
ARTISTA de Belo Monte tem obra exposta no Salão do Móvel de Milão. AMA – Associação
dos municípios Alagoanos. Disponível em: https://ama-al.com.br/artista-de-belo-monte-
tem-obra-exposta-no-salao-do-movel-de-milao/. Acesso em: 10 jul. 2021.
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SOBRE OS ORGANIZADORES
201
ÍNDICE REMISSIVO
A
Abertura comercial 13, 44, 45, 46, 47, 48, 50, 51, 53, 54, 55, 56, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64
Alianças 164, 168, 170, 175
Artesanato 185, 187, 190, 191, 192, 193, 194, 195, 197, 198
B
Bancos 88, 89, 90, 93, 95, 99, 130, 145, 146, 147, 148, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 161, 162
BAUMAN, Z 198
Brasil 18, 25, 27, 28, 31, 34, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 51, 53, 62, 66, 68, 80, 81, 82, 87, 92, 93,
95, 97, 98, 99, 100, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 115, 116, 117, 118, 120, 121, 122,
124, 125, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 146, 147, 148, 156, 158,
159, 160, 161, 163, 166, 168, 181, 182, 183, 194, 198
C
Cadeias Globais de Valor 9, 11, 25
Carreira política 167, 168, 182
Comércio internacional 9, 12, 34, 44, 51, 54, 63, 114, 125, 126, 127, 128, 129, 132, 136, 140, 141
Crescimento econômico 12, 13, 25, 27, 34, 45, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 75, 78, 79, 81, 94, 96, 131, 161
Crises 82, 83, 85, 87, 92, 101, 124, 135
Cultura 66, 105, 108, 110, 112, 115, 117, 119, 120, 122, 147, 161, 162, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 191,
192, 193, 194, 197, 198
D
Dados em painel 65, 66, 71, 72, 79, 180
Decomposição do crescimento 27, 28, 29, 31, 33, 35, 36, 37, 38, 39
Desenvolvimento 9, 10, 11, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 31, 32, 39, 42, 46, 53, 65, 66, 67, 68, 79,
81, 107, 108, 109, 110, 112, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 124, 125, 132, 134, 140, 141, 142, 145,
156, 170, 186, 188, 190, 193, 197
Desenvolvimento econômico 10, 13, 24, 26, 42, 44, 68, 110, 116, 118, 124, 125, 128, 129, 138, 141,
142, 185, 193
Despesas Públicas 32, 68, 70
E
Economia 10, 12, 13, 15, 17, 22, 23, 25, 26, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 39, 40, 41, 42, 44, 45, 46, 47, 48, 50,
53, 59, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 79, 80, 81, 82, 83, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 95, 98, 100, 101, 102,
103, 104, 105, 106, 109, 114, 116, 117, 123, 124, 125, 127, 130, 131, 132, 133, 135, 139, 140, 142, 141,
147, 154, 159, 161, 164, 165, 167, 180, 181, 182, 183, 190, 194
DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO: NOVOS E ANTIGOS DESAFIOS
CAMILA DO CARMO HERMIDA • ANDERSON MOREIRA ARISTIDES DOS SANTOS • VERÔNICA NASCIMENTO BRITO ANTUNES (ORG.)
Economia brasileira 30, 31, 32, 34, 35, 39, 40, 41, 42, 44, 45, 50, 59, 60, 61, 62, 63, 83, 89, 94, 95, 100,
102, 103, 104, 117, 124, 125, 129, 136, 140, 141, 142
Eleições majoritárias 8, 163, 164, 167, 168
Escolha Pública 164, 165, 181, 183
Estrutura produtiva 10, 12, 15, 16, 23, 139, 141
F
Formação social 107, 108, 111, 112, 113
Formalismo 109, 112, 113
Fragmentação 11, 25, 96
G
Gastos públicos estaduais 65, 69, 81
Globalização 9, 11, 162, 186, 187, 191, 193, 197, 198, 199
Governo brasileiro 82, 87, 88, 89, 93, 98, 101
I
identidade 117, 161, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 191, 193, 197, 199
industrialização 11, 23, 125, 129, 130, 131, 132, 140
K
Keynes 82, 83, 84, 85, 86, 87, 101, 102, 103, 105, 161
M
Mercado de trabalho 14, 93, 94, 95, 96, 102, 103, 144, 146, 145, 154, 157, 159, 171
Modelo ARDL 49, 56, 57, 58, 59, 62
N
Nordeste 78, 160, 163, 164, 169, 170, 173, 176, 178, 179
O
OLIVEIRA, F. 81
P
Periferia 107, 109, 121, 125, 126, 127, 132, 136, 139, 140, 141
Política econômica 35, 72, 83, 86, 87, 88, 89, 91, 100, 101, 106, 116, 131
Produtividade agregada 27, 30, 31, 33, 34, 38, 39, 40, 42
Produtividade do trabalho 11, 45, 47, 50, 51, 52, 53, 62, 64
Produtividade total dos fatores 27, 30, 41, 42, 47, 62
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DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO: NOVOS E ANTIGOS DESAFIOS
CAMILA DO CARMO HERMIDA • ANDERSON MOREIRA ARISTIDES DOS SANTOS • VERÔNICA NASCIMENTO BRITO ANTUNES (ORG.)
R
Reeleição 163, 164, 166, 168, 169, 170, 171, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 183, 184
Regressão logit 171
S
Sistema eleitoral 166, 167, 175
Sociedade civil 108, 120
Subdesenvolvimento 111, 116, 121
Sucesso na reeleição 171, 173, 177
Sujeito 185, 186, 187, 188, 189, 191, 197
T
tecnologias 11, 13, 46, 47, 48, 128, 129, 144, 145, 146, 147, 153, 154, 157, 159, 160, 163
Termos de troca 15, 34, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 132, 138, 139, 140, 141
Tradição 85, 87, 185, 186, 187, 188, 193, 196
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DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO: NOVOS E ANTIGOS DESAFIOS
CAMILA DO CARMO HERMIDA • ANDERSON MOREIRA ARISTIDES DOS SANTOS • VERÔNICA NASCIMENTO BRITO ANTUNES (ORG.)
O
s textos apresentados nesta obra são fruto do
XI ENCCULT - Encontro Científico Cultural
de Alagoas, que teve como tema nesta edição
a Quebra de paradigmas e mudanças sociais: os novos
desafios para a ciência. São 11 anos contribuindo
para o fomento das discussões científicas no âmbito
interdisciplinar, congregando pesquisadores de diferentes
instituições no contexto local e regional.
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