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CENTRO EDUCACIONAL SEM FRONTEIRAS
R454
Mensal
Modo de acesso: <https://www.revistamaiseducacao.com/sumario-
V3-N1-2020>
ISSN:2595-9611 (on-line)
Data da publicação: 31/03/2020
www.revistamaiseducacao.com
E-mail: artigo@revistamaiseducacao.com
Rua Manoel Coelho, nº 600, 3º andar sala 313|314 – Centro São Caetano do Sul – SP CEP: 09510-111 Tel.: (11) 95075-4417
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SUMÁRIO APRENDIZAGEM
Risolene Maria da Silva Araujo
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593 ALFABETIZAR LETRANDO 731 CONCEITO DE INFÂNCIA POR MEIO DA OBRA DE RUTH
Cristiane Maria de Souza Menezes ROCHA
Andréa Cristina Dos Santos Viviani
604 ALGUMAS QUESTÕES PEDAGÓGICAS SOBRE O ENSINO
DA PRONÚNCIA, ORIENTADAS À DIFICULDADE DE 743 CONTEXTUALIZANDO A AFETIVIDADE SIGNIFICATIVA
PERCEBER E PRODUZIR AS VOGAIS / i: / E / I / NO ESPAÇO ESCOLAR
Luiz Cláudio Ribeiro Occhi José Armando Soares dos Santos
617 ALUNOS COM DISLEXIA: DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO 762 CONTEXTUALIZANDO A DISLEXIA
INFANTIL Silvana Possato Olivo
Ana Lucia Coutinho da Costa Lima
773 CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
629 ANÁLISE DO ARTIGO DA Dra. GAMITO DE ACORDO Marcia de Oliveira Gonçalves Capitani
COM A UNIDADE CURRICULAR DE BIO-SISTEMAS
Alex Sandro Pires de Lima
786 CONTEXTUALIZANDO E COMPREENDENDO A
Profª. Dra. Sônia Borges Seixas DEFICIÊNCIA
Juliana Koga Vieira
647 APLICAÇÃO DA MUSICALIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL COMO ELEMENTO FORMATIVO
796 CONTEXTUALIZANDO O BULLYING
Kely Cristina Lima Reis
Paula Regina Messias Afonso
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839 DESAFIOS DO PROFESSOR NO PROCESSO ENSINO 992 EDUCAR PELA BRINCADEIRA NO CONTEXTO DA
APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM SÍNDROME DE PSICOMOTRICIDADE
BOURNEVILLE (ESCLEROSE TUBEROSA) Thaís Pagan Simões Pugliesi
Cleyton Silva Ferreira
Maria de Fátima de Sousa
999 ENSINAR MATEMÁTICA POR MEIO DE RESOLUÇÃO DE
PROBLEMAS
850 DESAFIOS NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA
Elvis Vieira da Silva
SURDOS
Marcos Serafim dos Santos
1011 ENSINO RELIGIOSO: CONTEXTO HISTÓRICO
868 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DA CRIANÇA José Saraiva da Silva
COM SÍNDROME DE DOWN
Michelle Soares Nascimento 1021 ESCOLA: AMBIENTE LEGÍTIMO DE APRENDIZADO,
CONSTITUIÇÃO DA PESSOA E DE POSSIBILIDADES
878 DIÁLOGOS E REFLEXÕES A RESPEITO DA INDISCIPLINA PARA A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
NA ESCOLA Marcia Regina Corrêa
Rogério Tadeu Gonçalves Marinelli Rosemeire Gomes dos Santos Jangrossi
883 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONSTRUÇÃO DE HORTA NA
ESCOLA 1033 ESPAÇO ≠ AMBIENTE
Sonia Rejes de Simoni Denise Emmett da Silva Leite
940 EDUCAÇÃO ESPECIAL E A INCLUSÃO: UM OLHAR 1069 GAMIFICAÇÃO: ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA CONTRA O
SOBRE O MUNICÍPIO DE AMPARO SÃO PAULO ABANDONO E/OU EVASÃO ESCOLAR E POR UMA
EDUCAÇÃO FINANCEIRA VIA GAMES
Sara Luz Silveira Costa
Eliane Alves de Souza
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1121 GESTOR COMO LÍDER EDUCACIONAL 1249 LETRAMENTO DIGITAL: REFLETINDO ACERCA DA
Manoel Cicero da Silva Filho FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO
FUNDAMENTAL (ANOS INICIAIS)
Maria Violêta Lima Macêdo
Carlos Mometti
Adriana Bigido
1133 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Carla Renata Wilhans Barbosa
1260 A MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS: MUDANÇAS
PARA O SÉCULO XXI
1142 HORTA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL Eliete Braga da Silva
Raphaela Rui Riveros
1271 MULTILETRAMENTO UM DESAFIO PARA O DOCENTE
1151 IMPORTÂNCIA DA QUÍMICA NA FORMAÇÃO DO NA ATUALIDADE
PROFISSIONAL FARMACÊUTICO: UM ESTUDO DE CASO Elmenton dos Santos Fernandes da Silva
SOBRE A PERCEPÇÃO DE GRADUANDOS
Rodrigo Fernando Campos
Alexandra Regina do Nascimento
Amanda Silva de Lima
1283 MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Rosilene Maria da Silva
Rosemeire Gomes Clemente
Alamisne Gomes da Silva
Loiva Liana Santos Borba
1290 NIETZSCHE E A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
1160 INCLUSÃO ESCOLAR COM ENFASE NO ALUNO COM Claudia Aparecida de Oliveira Werneck Regina
DEFICIÊNCIA
Andreia Pereira 1297 O APRENDIZADO MATEMÁTICO ALIADO A
Joelma Oliveira Dias TECNOLOGIA E AULAS INTERATIVAS NO FORMATO DE
EAD
Samantha Savina Albanez
1169 INDISCIPLINA: CONCEPÇÕES E DESAFIOS NA
EDUCAÇÃO
Daniela Dantas Esteves Berte 1303 O BRINCAR E A APRENDIZAGEM
Sandra Roberta de Andrade Silva
1175 JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO
Barbara Lygia Monteiro dos Santos 1318 O CONTRIBUTO DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NO
ENSINO DA MATEMÁTICA
Luciene Suzarte Santos
1199 JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO
Maria José Silva Almeida Trindade
Maria Teresa Panchame
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1480 PEDAGOGIA DA OPRESSÃO NO ESPAÇO ESCOLAR: 1611 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E PERSPECTIVAS PARA O
RESGATE DE MEMÓRIAS DE EXPERIÊNCIAS COM A ENSINO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS
HOMOFOBIA NA BUSCA DE FORMAS DE RESISTÊNCIA Robson Abel Lopes
Marcos Andrade Alves dos Santos
Mário Cézar Amorim de Oliveira 1634 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DO
ENGENHEIRO
1496 POLÍTICA PAULISTANA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL: O Sarah Gomes Silveira Guimarães
ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO NO Ernande da Costa e Silva Filho
CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Daniele de Castro Pessoa de Melo
Alzenir Maria Ribeiro de Sousa
Loiva Liana Santos Borba
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1677 TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL 1760 LEITURA: UMA CONQUISTA DIFERENCIADA DO QUE A
Thatiana de Camargo Riqueto Rodrigues Brasil ESCOLA PROPÕE
Valéria Casemiro Torres
1689 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA:
POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÕES EDUCACIONAIS 1770 NOVAS CONCEPÇÕES ARTÍSTICAS SÉCULO XIX
Amanda Felix de Carvalho IMPRESSIONISMO E FOTOGRAFIA
Audrey Rose Amadeu Santana Silva
1702 UM OLHAR SOBRE A IMPORTÂNCIA DA RELAÇAO
ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA NO PROCESSO DE ENSINO 1779 O DIREITO DE BRINCAR DAS CRIANÇAS
APRENDIZAGEM Andréia Fernandes Lapo
Maria Izidoria Pereira Silva
1787 O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NO
1713 UM OLHAR SOBRE O PROCESSO DE ENSINO HORÁRIO DE FORMAÇÃO DOS PROFESSORES
APRENDIZAGEM NA ESCOLA INDÍGENA TORO HACHÔ Alcione Aparecida Souza Lima
ALDEIA PEDRA BRANCA EM GOIATINS-TO
Vanessa Rodrigues Dias
Joana D’arc Gomes Cardoso Vanderley
Maria Cecília Florêncio da Silva
1803 CONVERGÊNCIAS ESTÉTICAS DA ARTE AFRICANA
Hilda Pereselevicius Antonietto
1722 UMA PERCEPÇÃO CIENTÍFICA SOBRE GESTÃO
DEMOCRÁTICA NA GESTÃO ESCOLAR
José Fernando da Silva Alves 1814 O OLHAR NA PERSPECTIVA DA ARTE
Graziela de Queiroz Arruda Cleide das Graças Felix
Diógenes José Gusmão Coutinho
1819 CRIANÇA: UM SER EM DESENVOLVIMENTO
1733 UTILIZAÇÃO DE JOGOS MATEMÁTICOS COMO Kelly Cristina Bernardo
METODOLOGIA DE ENSINO EM AULAS DO ENSINO
MÉDIO 1828 O CURRÍCULO PROERD E SUA APLICAÇÃO NAS
Silvana Aparecida CamolesI ESCOLAS DE SÃO PAULO
Joyce Croxiatti de Oliveira
1744 A OBESIDADE INFANTIL E AS CONTRIBUIÇÕES
DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA
REDUÇÃO DA OBESIDADE
Claudilene Silva Xavier
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LEITURA:
UMA CONQUISTA DIFERENCIADA DO QUE A
ESCOLA PROPÕE
Valéria Casemiro Torres1
RESUMO: Esta abordagem discute algumas vivências reais do desenvolvimento da leitura no
processo ensino-aprendizagem. Questiona-se o quão é importante uma aprendizagem
solidificada e experimental, que resgate e valorize as diferentes vivências. As crianças
desenvolvem ao longo da Educação Infantil o conceito de leitura e escrita, o qual ganhará novos
formatos durante o restante de sua vida acadêmica ao que refere-se especializações e variações.
O ato da leitura inicia-se com a interpretação dos símbolos visuais para que estes possam ter
sentido para si, ou seja, a pessoa irá decodificar a língua escrita. Dois fatores contribuem para a
realização da leitura: informação visual – tudo o que está perante os nossos olhos – e informação
não-visual – são os conhecimentos prévios, a compreensão da linguagem relevante e certa
habilidade relacionada à leitura. Quanto maiores forem as informações não-visuais, maiores
serão as possibilidades da leitura se realizar. Em relação à compreensão durante a leitura,
podemos dizer que quando apresentamos um texto para uma criança, este nunca fica sem
significado (mesmo que a criança ainda não saiba ler ), pois vem acompanhado por um contexto
gráfico ou material ( imagens, embalagens, etc.) ou de um contexto verbal ( informação dada
por um adulto acerca do significado ), ou seja, no primeiro caso a criança antecipa a leitura por
meio da imagem, e no segundo, ela une as informações que o adulto lhe deu, ás letras do texto.
Ler constitui uma forma de pensar, de solucionar problemas, de discuti-los e para tanto, é
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necessário uma análise e uma discriminação, um julgamento, uma avaliação e uma síntese. Para
realizar estas tarefas o leitor utiliza-se de suas experiências anteriores. Ele é capaz de decodificar
e interpretar o texto graças às suas vivências e a sua imaginação; realiza inferências no texto e só
o faz porque confia em si mesmo, aumentando, portanto, sua eficiência na leitura.
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é o som que elas produzem que facilitam a palavra que não reconhece, provavelmente irá
compreensão, mas sim a maneira como são pulá-la buscando entender qual é o contexto.
escritas. Para que possamos reconhecer as Uma segunda alternativa é buscar o seu
palavras, precisamos nos utilizar dos significado e em último caso, irá pronunciá-la
conhecimentos prévios. em voz alta. Com uma criança que está
Quando ensinamos uma criança a ler, é iniciando a leitura, ocorre o mesmo. Se ela
necessário que a palavra esteja inserida em um optar em primeiro lugar (ou como única
contexto de forma significativa para a mesma. escolha) pela leitura em voz alta ( ou seja, pela
Por exemplo, se apresentamos uma placa de fonologia) , é porque ela está fazendo da leitura
trânsito com a palavra “PARE”, é muito uma decodificação, e não um ato de
diferente do que se apresentássemos a palavra compreensão.
isolada. Ao lê-la, a criança entende o que está Se apresentamos uma palavra fora de um
lendo, pois a palavra apresentou um significado contexto (por exemplo, por meio de lista de
para ela e não somente tentou representar as palavras), poderá dificultar a sua compreensão
letras em sons: “ P+A=PA; R+E= RE” e no final pois a aprendizagem se dá mais facilmente por
“PARE”. intermédio da leitura significativa.
Uma vez que a criança domina e Boa parte do nosso vocabulário nos foi
compreende que existe uma relação entre a concedida por meio da leitura de palavras
aparência e o significado das palavras, ela é escritas em contextos significativos.
capaz de reconhecer outras e inseri-las dentro Muitas vezes não poderíamos entender o
do mesmo contexto. significado das palavras sem que estas
Utilizar-se da fonologia para ensinar os estivessem inseridas em um contexto. A palavra
leitores iniciantes o prazer da leitura é “manga”, como saber se é a fruta ou a parte da
realmente muito difícil, pois a leitura das camisa se estiver isolada? Um exemplo prático
palavras muitas vezes não corresponde a sua disso foi vivenciado por uma das integrantes do
ortografia (como no caso da palavra “mesa” : o grupo. A professora perguntou às crianças se
“S” tem som de “Z”; “explicação”: o “X” tem conheciam uma mangueira e ela disse que sim,
som de “S”). completando que no jardim de sua casa tinha
Muito se fala sobre uma possível revisão uma, e que sua mãe a utilizava para lavar o
ortográfica, de forma a escrever as palavras tal quintal (referindo-se, assim, a mangueira
como se fala, mas desta forma, pessoas que d’água e não a árvore frutífera, conforme a
falam um dialeto próprio mas que escrevem de professora havia perguntado).Com isso,
forma que todos possam se entender ( como é podemos comprovar que há necessidade da
o caso dos chineses ), não poderiam mais se palavra estar dentro de um contexto para que
comunicar. Pensar em uma mudança como assim não seja dificultada a compreensão.
esta, é sustentar que o objetivo principal da A escola vem tornando-se um lugar duvidoso
leitura é a decodificação das letras em som e no que diz respeito ao ensino da leitura, pois
não a compreensão do que se está lendo. Um vem tratando a mesma como algo que é
leitor fluente, quando se depara com uma imposto, não levando-se em conta a maneira
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como a criança relaciona-se com a leitura fora um controle estrito da aprendizagem de cada
dela. componente; e um conjunto de regras que dão
Com esta atitude a escola não consegue ao professor certos direitos e deveres que só
ampliar as diversas formas de interpretação ele pode exercer - enquanto o aluno exerce
que a leitura possibilita, transformando-a em outras complementares. Esses são os fatores
algo maçante, que não vai além da que, articulados, tornam impossível ler na
decodificação de letras, sílabas e palavras, não escola.
estabelecendo qualquer relação com o meio. A forma como o ensino da leitura é imposto,
O “ensino” da leitura na escola, não vem reforça a maneira autoritária da escola, tendo
conseguindo dar à mesma o seu verdadeiro como preocupação o total controle do processo
sentido, que é o uso social, apresentando-se de aprendizagem e não a formação do aluno
como uma fonte de informação e interpretação leitor. Esta atitude faz com que o verdadeiro ato
da realidade. A leitura está sendo transformada de ler desapareça, tornando a leitura, para o
em um objeto de ensino, que não consegue aluno, algo que não apresenta qualquer
transmitir ao aluno a importância da leitura significado, não levando há nada ou à lugar
para a compreensão do mundo e de si mesmo. nenhum.
O trabalho com a leitura na escola, está Lerner (1996, p. 3), afirma:
resumindo-se apenas, à alguns textos de o tratamento que a escola (e somente ela) dá
gênero escolar, seguindo-se de exercícios que à leitura é perigoso porque corre o risco de
não levam o aluno a refletir sobre nada mais, do assustar as crianças, ou seja, de distanciá-las da
que aquilo que ali está escrito. leitura ao invés de aproximá-las; ao colocar em
A escola vem seguindo o modelo imposto, juízo o contexto da leitura na escola, não é justo
com o objetivo de obter-se o sucesso escolar, sentar os professores no banco dos réus,
que vem por meio de questionários e porque eles também são vítimas de um sistema
avaliações, seguidos de uma nota, a qual de ensino; contudo, não há de se perder todas
controla de forma rigorosa, todo o processo de as esperanças: em certas condições a
aprendizagem que é tido na escola, como algo instituição escolar pode converter-se em um
que inicia-se do mais simples para o mais ambiente propício à leitura; essas condições
complexo. devem ser criadas antes mesmo das crianças
Segundo Lerner (1996: 5), aprenderem a ler no sentido convencional do
uma teoria de aprendizagem que não se termo - e uma delas é que o professor assuma
ocupa do sentido que a leitura possa ter para as o papel de intérprete e que os alunos possam
crianças e concebe a aquisição de ler através dele.”
conhecimento como um processo acumulativo Portanto, a escola, juntamente com o
e graduado, como uma decomposição do professor, deve refletir sobre a prática do
conteúdo em elementos supostamente mais ensino da leitura, tornando esta algo que leve à
simples; uma distribuição do tempo escolar que formação de leitores ativos, que façam da
pré-determina os períodos destinados à leitura uma prática de sua cidadania, como um
aprendizagem de cada um destes elementos; ato de reflexão e transformação. A escola não
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pode contentar-se com uma leitura mecânica e novas propostas, de maneira eficaz,
desestimulante. Ela pode e precisa conseguindo com isto transformações
comprometer-se com esta, tornando-a significativas na educação, que deverão seguir-
abrangente, crítica e inventiva. se de uma prática constante de reflexão sobre
O professor vem sendo, muitas vezes, o ensino da leitura, envolvendo nesta prática a
responsável pelo “fracasso” desta formação. instituição escolar e o grupo de educadores,
Mas será justo responsabilizar somente o que dela fazem parte, buscando por meio da
educador? Que tipo de formação este professor leitura, não como um ato passivo, a formação
recebeu ou recebe para desenvolver um de um leitor competente dentro e fora da
trabalho significativo com a leitura? Podemos escola, sendo um cidadão atuante e
afirmar que a maioria dos educadores são transformador nas práticas sociais.
leitores ativos e conscientes da importância da O registro escrito é a principal fonte de
mesma na formação do cidadão? transmissão de cultura, conhecimento e
A maioria dos educadores também são também de comunicação social, e sendo a
vítimas de um sistema de ensino, que não deu escola uma instituição à serviço da sociedade,
conta de transformá-los em leitores críticos, com a função de promover a capacitação e
mas sim os permitiu permanecer em condição integração social, não pode falhar em deixar
de alienação. que os alunos leiam de forma acrítica. Freire
Segundo Machado (2001, p 21): (1997, 20), afirma que “a leitura do mundo
Na faculdade, eles [os professores] precede sempre a leitura da palavra,” a leitura
aprendem muito sobre pedagogia e psicologia, do texto se insere na leitura do mundo, por isso
mas pouco sobre arte. Têm pouco contato com ao lermos não podemos de deixar de ler e
as obras. Acabam entrando no Magistério sem interpretar o mundo.
instrumentos para distinguir arte de não arte, Segundo Freire (1997,p.28),o educador,
textos bons de ruins. como quem sabe, precisa reconhecer, primeiro,
Para o professor ser capaz de trabalhar a nos educandos em processo de saber mais, os
leitura em suas diversas e diferentes formas, sujeitos, com ele, deste processo e não
levando ao pleno desenvolvimento do aluno, pacientes acomodados; segundo, reconhecer
enquanto leitor, é necessário que entenda o que o conhecimento não é um dado aí, algo
processo de construção e além disso o mobilizado, concluído, terminado, a ser
significado e a importância da leitura na vida de transferido por quem o adquiriu a quem ainda
todos nós. não o possui.
Dentre todas as questões aqui levantadas, é Porém, o professor é manipulado pelo
de suma importância, que para se transformar sistema que o coloca diante de regras e normas
a educação no Brasil, não basta apenas fazendo-o manter a “ordem”, no que diz
apresentar novas didáticas, métodos, filosofias, respeito ao processo de ensino-aprendizagem,
entre outros, mas também pensar na formação conseguindo desta forma manter o controle,
e capacitação de nossos educadores, para que tanto da leitura, como da definição do papel do
os mesmos sintam-se seguros em abraçar as professor e do aluno de maneira vertical.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tratar sobre o papel do professor e da escola na formação de leitores, exigiu-nos constante
reflexão, pois a preocupação com a leitura, em uma abordagem construtivista, é pouco difundida
no meio educacional, sendo que a escrita é o principal objeto de estudo na área da alfabetização.
Constata-se que a escola não vem conseguindo trabalhar a leitura em sua amplitude,
deixando de atingir plenamente o objetivo de formar um leitor competente. A instituição escolar
concebe o ato da leitura como uma atividade que inicia-se e termina em seu âmbito, limitando
seu papel na formação de leitores, tornando-a isolada e consequentemente descontextualizada
da realidade. A escola preocupa-se em alfabetizar e não letrar, pois a leitura é praticada quase
que exclusivamente no período de alfabetização e preocupar-se somente com a alfabetização
como um ato passivo de leitura e escrita, não vem apresentando resultados significativos,
colaborando substancialmente para que o aluno permaneça no papel de leitor passivo.
De acordo com os diversos autores abordados e tendo uma visão mais abrangente do papel
da escola e do professor no processo de aquisição da leitura, é importante definir a consolidação
do hábito de ler como um instrumento que seja capaz de potencializar uma releitura crítica do
meio social e não somente conhecimento de carga cultural, pois o trabalho com a leitura deve ser
realizado continuamente pelo professor de acordo com objetivos a serem atingidos,
compartilhando com o aluno o papel de leitor ativo.
Somente com a formação de leitores críticos, capazes de analisar sua história e a do
contexto no qual se inserem, poderão acontecer transformações significativas não só na
educação, mas sim na sociedade como um todo. A escola juntamente com o professor precisa
assumir uma proposta séria de valorização do papel da leitura enquanto principal meio de
integração do indivíduo na sociedade. É imprescindível que os professores das diferentes áreas
de conhecimento assumam seu papel de formadores de leitores do e para o mundo.
Formar leitores é criar condições para que estes sejam capazes de atribuir sentido aos
textos, por meio de uma reflexão crítica, relacionando-os com suas necessidades, valores e as
práticas sociais.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil. Brasília: MEC, 1998.
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 24 ed. São Paulo: Cortez, 1995.
FOUCAMBERT, Jean. A criança, o professor e a leitura. Porto alegre: Artes Médicas, 1997.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 35 ed. São Paulo: Cortez, 1997.
JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
LERNER, Delia. É possível ler na escola? Lectura e vida, ano 17, n.º 1, março-
1996.
PIRES, Fernando Mauro da Silva e BEZERRA, Maria Isabel Fernandes - Experiências, leitura
e literatura na sala de aula. Universidade Federal do Acre - UFAC - Departamento de
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SMITH, Frank. Leitura significativa. 3 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica,
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SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
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