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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDITORA
CENTRO EDUCACIONAL SEM FRONTEIRAS

R454

Revista mais educação [recurso eletrônico] / [Editora chefe] Fabíola


Larissa Tavares – Vol. 3, n. 1 (mar. 2020) -. São Caetano do Sul:
Editora Centro Educacional Sem Fronteiras, 2020

1743 p.: il. color

Mensal
Modo de acesso: <https://www.revistamaiseducacao.com/sumario-
V3-N1-2020>
ISSN:2595-9611 (on-line)

1.Educação. 2. Pedagogia. I Tavares, Fabíola Larissa, ed. II. Título


CDU: 37
CDD: 370

Gustavo Moura – Bibliotecário CRB-8/9587

www.revistamaiseducacao.com
E-mail: artigo@revistamaiseducacao.com

Rua Manoel Coelho, nº 600, 3º andar sala 313|314 – Centro São Caetano do Sul – SP CEP: 09510-111 Tel.: (11) 95075-4417

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDITORIAL CONSELHO EDITORIAL


Alex Rodolfo Carneiro
O ENSINAR E O APRENDER NA EDUCAÇÃO: A AVALIAÇÃO COMO
Fabíola Larissa Tavares
INGREDIENTE NA QUALIDADE DO PROCESSO Fatima Ramalho Lefone
"A avaliação não é uma tortura medieval." (Philippe Perrenoud).
Hercules Guimarães Honorato
O caminhar na construção de um sujeito autônomo, crítico, histórico e
Lindalva José de Freitas
social tem na prática educativa uma possibilidade de promover seu crescimento. Mariana Siqueira Silva
No trânsito pela escola e pelo contrato didático, passa obrigatoriamente pelo Rodrigo da Silva Gomes
processo de ensino e aprendizagem e perpassa pela avaliação, a qual, segundo o Patrícia Regina de Moraes Barillari
professor Cipriano Luckesi em seu livro A Avaliação da Aprendizagem: Componente
do Ato Pedagógico, apresenta-se como uma ação efetiva de se investigar a EDITORA-CHEFE
qualidade do seu objeto de estudo, com o escopo na obtenção dos resultados
almejados e definidos, e não de quaisquer resultados que sejam possíveis. O Fabíola Larissa Tavares
contrato didático é um termo cunhado por Philippe Perrenoud, o qual significa, em
síntese, uma parceria implícita ou explícita na construção do conhecimento escolar, REVISÃO E NORMALIZAÇÃO
decorrentes de ações efetivas em sala de aula ou fora do ambiente escolar. O que DE TEXTOS
se procura e se deseja na avaliação, portanto, é acompanhar os processos de
Fatima Ramalho Lefone
aprendizagem escolar do aluno, lembrando que avaliar não é apenas medir. Para se
Rodrigo da Silva Gomes
evitar a lógica excludente dominante em nossa sociedade, é importante que a
avaliação tenha como principal objetivo a qualidade do processo de ensinar e
aprender. Essa perspectiva exige que a questão metodológica da avaliação seja PROGRAMAÇÃO VISUAL E
tratada com outros olhares, pluralidade e flexibilidade, de modo a contemplar a DIAGRAMAÇÃO
individualidade do modo de aprender dos alunos. A avaliação formativa ou Cíntia Aparecida da Silva Gomes
emancipatória se constitui em mudança na relação professor-aluno, pois tem como
proposta a renovação de conceitos. A avaliação, quando centrada no aluno,
transforma o professor em criador de situações de aprendizagem, mediador neste PROJETO GRÁFICO
processo, e torna-se verdadeiramente útil pedagogicamente, pois auxilia o aluno a Mônica Magalnik
aprender, a se desenvolver, colabora para a regulação das aprendizagens e do
desenvolvimento do projeto educativo. No entanto, nós docentes, ainda estamos COPYRIGTH
vinculados ao modelo de exames, de provas e de notas no cotidiano da avaliação.
A nossa prática pode estar ancorada numa perspectiva da aprendizagem antiga, da
classificação, da seletividade, do autoritarismo e não aberta ao diálogo. A prática da REVISTA MAIS EDUCAÇÃO
avaliação da aprendizagem precisa se adequar a um novo paradigma educacional, Editora Centro Educacional Sem
utilizando-se também de recursos tecnológicos. Ensinar é muito mais que uma mera Fronteiras (março, 2020) - SP
transferência de conhecimentos de uma pessoa mais velha para uma mais nova, é
muito mais, é incitar o aprendente, é motivá-lo a sentir-se parte da relação dialógica Publicação Mensal e
criada, favorecendo a reflexão, a autoavaliação e o crescimento do aluno como multidisciplinar vinculada a
pessoa socialmente incluída. Essa perspectiva exige uma mudança na atitude dos Editora Centro Educacional Sem
educadores, com a finalidade de promover possibilidades para que o fio condutor Fronteiras.
do processo de ensino tenha continuação na qualidade da aprendizagem, por meio
de um feedback da avaliação, que com certeza, não constitui-se em tortura
medieval! Os artigos assinados são de
responsabilidade exclusiva dos
Professor Doutor Hercules Guimarães Honorato autores e não expressam,
Chefe da Divisão de Assuntos Psicossociais da Escola Superior de Guerra (ESG), Rio necessariamente, a opinião do
de Janeiro, Brasil; Doutor em Política e Estratégia Marítimas pela Escola de Guerra Conselho Editorial
Naval; Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia pela Escola Superior de
Guerra; Mestre em Educação pela Universidade Estácio de Sá, Especialista em
Gestão Internacional e MBA Logística pelo Instituto COPPEAD de Administração da É permitida a reprodução total ou
Universidade Federal do Rio de Janeiro; Docência do Ensino Superior; Bacharel em
Ciências Navais com Habilitação em Administração pela Escola Naval. parcial dos artigos desta revista,
Autor do livro: Relato de uma Experiência Acadêmica: O “Eu” professor- desde que citada a fonte.
pesquisador.

Rua Manoel Coelho, nº 600, 3º


andar sala 313|314 - Centro
São Caetano do Sul – SP CEP:
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

124 A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NO AUXÍLIO DA

SUMÁRIO APRENDIZAGEM
Risolene Maria da Silva Araujo

11 (AUTO)FORMAÇÃO DOCENTE MILITAR 135 A CONTRAREFORMA E AS ORIGENS DA PEDAGOGIA


Lucinéia Contiero MODERNA
Humberto José Lourenção Daniel Mendes Gomes

23 A ALFABETIZAÇÃO COMO UM ATO DE AMOR: 142 A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA


DISCUTINDO A INTRODUÇÃO DO LETRAMENTO E DA INSTITUCIONAL NO ENSINO SUPERIOR: SUBSÍDIOS
ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O DESENVOLVIMENTO DE APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA
Regiane Bueno da Silva Carvalho
Maria Lúcia Francisco Damasio
35 A APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA A PARTIR DA
LUDICIDADE DOS JOGOS 155 A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DE ARTE NA EDUCAÇÃO
Méleri de Fátima Arraz Moysés INCLUSIVA
Thaís Meira Albuquerque
47 A APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA NOS ANOS
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 163 A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS E DAS BRINCADEIRAS
PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Luciana Fumes
Nerli Ferreira da Silva
55 A APRENDIZAGEM EFETIVA POR INTERMÉDIO DE
PROJETO INTERDISCIPLINAR 174 A CONTRIBUIÇÃO E A RELEVÂNCIA DA BRINCADEIRA
PARA A APRENDIZAGEM
Daniela Marques Vichessi
Patrícia Maria dos Santos
60 A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL NO
ESPAÇO DA BRINQUEDOTECA 184 A DANÇA COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DE
ENSINO APRENDIZAGEM DO ALUNO CEGO
Gabriely Gonçalves Silva
Juraci Gomes Alves
72 A ARTE DE ROMERO BRITO COMO ELEMENTO
DESENCADEADOR DO DESENVOLVIMENTO DE 198 A DANÇA COMO MEIO DE DESENVOLVIMENTO PARA
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO NA EDUCAÇÃO CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
INFANTIL Fabiola Adriana Rodrigues de Oliveira Castilho
Marcia Lucélia Martins de Medeiros
210 A EDUCAÇAO INCLUSIVA E SUAS IMPLICAÇÕES NO
81 A ARTE E SUA IMPORTÂNCIA PARA O CONTEXTO ESCOLAR
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA Rose Soraya Duarte Siqueira
Talita Pinfildi Gomes Carlos
218 A ESCOLA INCLUSIVA E O ATENDIMENTO
91 A CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA NA EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ESTUDANTES
ESCOLA COM SURDEZ
Cícero Jorge dos Santos Marinalva Aparecida Vieira Mariano da Costa

104 A CONSTRUÇÃO DA HABILIDADE LEITORA E 228 A FORMAÇÃO DIDÁTICA DE PROFESSORES PARA A


ESCRITORA PRÁTICA NA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR
Maria Aparecida Silva de Souza Daniela Sobral de Medeiros Bondioli

118 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E A 244 A GÊNESE DO MÉTODO LÚDICO


PSICOMOTRICIDADE Ivone Amaral de Lima Silva
Tatiana Paula de Souza Pereira
256 A HISTÓRIA DA ARTE
Élida de Sousa Machado

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268 A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA: 400 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA O


CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DOS DESENVOLVIMENTO COGNITIVO HUMANO
EDUCANDOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Rosimeri Maria Ricarte Paes
Iara dos Santos Ramos
413 A IMPORTÂNCIA DO DESENHO NA EDUCAÇÃO
284 A IMPORTÂNCIA DA FIGURA PATERNA PARA O INFANTIL
DESENVOLVIMENTO INFANTIL Roger Luiz Franco
Aline Aparecida da Silva Souza 425 A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
292 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL Darci Gonçalves dos Santos Paixão
Roberto Domingos Minello
438 A INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL NAS ESCOLAS
300 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA FORMAÇÃO DE REGULARES DE CAXIAS-MA
PEQUENOS LEITORES NOS ANOS INICIAIS Francisca das Chagas Pereira da Silva Santos
Rita de Cassia de Oliveira
450 A INCLUSÃO POR MEIO DE BRINCADEIRAS E
309 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO BRINQUEDOS
INFANTIL Debora Cristina Silva Pinheiro
Ana Claudia da Silva Liberato
458 A INFLUÊNCIA DA EMOÇÃO NO APRENDIZADO: O
316 IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO CÉREBRO PRECISA SE EMOCIONAR PARA APRENDER
INFANTIL Maísa Amaral Dietrich
Marilda Pereira da Silva De León Alvez
471 A INFLUÊNCIA DA MOTIVAÇÃO NO PROCESSO DE
324 A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE E DO BRINCAR NO APRENDIZAGEM
DESENOLVIMENTO INFANTIL Erika Tatiana Garcia de Oliveira Toledo
Marta de Araújo Carvalho
480 A LUDICIDADE COMO INSTRUMENTO FACILITADOR
334 A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE NO PROCESSO DE DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
ALFABETIZAÇÃO Patrícia Aparecida da Silva Santos
Renata Ribeiro de Queiroz
486 A MÚSICA COMO RECURSO METODOLÓGICO NO
342 A IMPORTÂNCIA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA NA PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NO 1º ANO DO ENSINO
EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
Daniela Gabriel Santiago dos Santos Naira Denise Lopes
Priscila Pinheiro de Barros
357 A IMPORTÂNCIA DA PARCERIA ENTRE ESCOLA E
FAMÍLIA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
492 A MÚSICA E MOVIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DA
Simone Aparecida Brugugnoli EDUCAÇÃO INFANTIL
Daniela Rebelo Silva
363 A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTICIDADE PARA A
EDUCAÇÃO INFANTIL
501 A MÚSICA E O HOMEM: CONTRIBUIÇÕES NO
Cacilda Borges Pires de Castro DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COGNITIVO NO
PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
381 A IMPORTÂNCIA DA SALA DE RECURSOS Jane Santos Pereira Molina
MULTIFUNCIONAL PARA A INCLUSÃO DE EDUCANDOS
COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA -SURDEZ
510 A MÚSICA E SUA RELEVÂCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Miriam da Silva Frederico Santos
Eliana Fatima Rodrigues Nogueira Cimmino

392 A IMPORTÂNCIA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA COMO


PROPOSTA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA NO CICLO DA 520 A NEUROCIÊNCIA E SUA IMPORTÂNCIA NA
ALFABETIZAÇÃO FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Zilma Sales de Souza Jacqueline Capel

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529 A PARTICIPAÇÂO DA NEUROPEDAGOGIA NA ESCOLA 672 ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A LINGUAGEM DA


Suzany Pepicelli DANÇA
Eliana Oliveira de Souza
539 A REGRA É CLARA: O LÚDICO NÃO É SÓ BRINCADEIRA
Marialva Giannini de Mello 680 AS EMOÇÕES NOS ADOLESCENTES
Gisele Saviani
546 A RELEVÂNCIA DAS ARTES VISUAIS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL 694 AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA COMO INSTRUMENTO
Ana Elizabeth Torres Filgueira CONSTRUTIVO NO PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM
Sandra Regina dos Santos Barbosa
556 A TEORIA DA PSICOPEDAGOGIA COMO APOIO AO
ALUNO COM DEFASAGEM DE APRENDIZAGEM
Mislene Gonçalves do Nascimento 704 AVALIAÇÃO: ANÁLISE HISTÓRICA
Rosângela Barbieri Mendes
567 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NOS ANOS INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL 716 BRINCAR É COISA SÉRIA
Célia Regina de Almeida Rosimeire Matias de Oliveira

579 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: REFLEXÕES SOBRE O 725 COMPONENTES DA EXPRESSÃO: A MÚSICA


ENSINO E APRENDIZAGEM DO USO DA LÍNGUA ASSOCIADA A OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS
Genilda Santos de Araújo Luiza de Caires Atallah

593 ALFABETIZAR LETRANDO 731 CONCEITO DE INFÂNCIA POR MEIO DA OBRA DE RUTH
Cristiane Maria de Souza Menezes ROCHA
Andréa Cristina Dos Santos Viviani
604 ALGUMAS QUESTÕES PEDAGÓGICAS SOBRE O ENSINO
DA PRONÚNCIA, ORIENTADAS À DIFICULDADE DE 743 CONTEXTUALIZANDO A AFETIVIDADE SIGNIFICATIVA
PERCEBER E PRODUZIR AS VOGAIS / i: / E / I / NO ESPAÇO ESCOLAR
Luiz Cláudio Ribeiro Occhi José Armando Soares dos Santos

617 ALUNOS COM DISLEXIA: DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO 762 CONTEXTUALIZANDO A DISLEXIA
INFANTIL Silvana Possato Olivo
Ana Lucia Coutinho da Costa Lima
773 CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
629 ANÁLISE DO ARTIGO DA Dra. GAMITO DE ACORDO Marcia de Oliveira Gonçalves Capitani
COM A UNIDADE CURRICULAR DE BIO-SISTEMAS
Alex Sandro Pires de Lima
786 CONTEXTUALIZANDO E COMPREENDENDO A
Profª. Dra. Sônia Borges Seixas DEFICIÊNCIA
Juliana Koga Vieira
647 APLICAÇÃO DA MUSICALIDADE NA EDUCAÇÃO
INFANTIL COMO ELEMENTO FORMATIVO
796 CONTEXTUALIZANDO O BULLYING
Kely Cristina Lima Reis
Paula Regina Messias Afonso

658 APRENDIZADO POR MEIO DO BRINCAR: O LÚDICO


COMO INSTRUMENTO DE BASE 808 CONTRIBUIÇÃO DA PSICANÁLISE NAS INTERVENÇÕES
PSICOPEDAGÓGICAS
Patrícia de Oliveira Jorge
Letícia Oliveira Macedo

667 ARTE E EDUCAÇÃO


825 CONTRIBUIÇÕES DE EMÍLIA FERREIRO NA
Marilda José Coelho ALFABETIZAÇÃO INFANTIL
Regina Mara Curtolo Belem

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839 DESAFIOS DO PROFESSOR NO PROCESSO ENSINO 992 EDUCAR PELA BRINCADEIRA NO CONTEXTO DA
APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM SÍNDROME DE PSICOMOTRICIDADE
BOURNEVILLE (ESCLEROSE TUBEROSA) Thaís Pagan Simões Pugliesi
Cleyton Silva Ferreira
Maria de Fátima de Sousa
999 ENSINAR MATEMÁTICA POR MEIO DE RESOLUÇÃO DE
PROBLEMAS
850 DESAFIOS NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA
Elvis Vieira da Silva
SURDOS
Marcos Serafim dos Santos
1011 ENSINO RELIGIOSO: CONTEXTO HISTÓRICO
868 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DA CRIANÇA José Saraiva da Silva
COM SÍNDROME DE DOWN
Michelle Soares Nascimento 1021 ESCOLA: AMBIENTE LEGÍTIMO DE APRENDIZADO,
CONSTITUIÇÃO DA PESSOA E DE POSSIBILIDADES
878 DIÁLOGOS E REFLEXÕES A RESPEITO DA INDISCIPLINA PARA A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
NA ESCOLA Marcia Regina Corrêa
Rogério Tadeu Gonçalves Marinelli Rosemeire Gomes dos Santos Jangrossi
883 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONSTRUÇÃO DE HORTA NA
ESCOLA 1033 ESPAÇO ≠ AMBIENTE
Sonia Rejes de Simoni Denise Emmett da Silva Leite

890 EDUCAÇÃO E AUTOESTIMA 1039 ESTRATÉGIAS E MANEJOS EDUCACIONAIS EM


Elisabete Córdova Lima Pennachi CRIANÇAS COM TRANSTORNOS DO ESPECTRO DO
AUTISMO
904 EDUCAÇÃO E LUDICIDADE Tamara Cristina Pellini
Fátima Aparecida Malos Espirito
1050 EXPERIÊNCIAS E PRÁTICAS EDUCATIVAS SOB A
PERSPECTIVA DO FILME “ESCOLA DA VIDA”
914 EDUCAÇÃO E MODERNIDADE: AS REFORMAS
EDUCACIONAIS DO MARQUÊS DE POMBAL Vitor Sergio de Almeida
Daniel Mendes Gomes Ryhã Henrique Caetano e Souza

922 EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA 1063 FRACASSO ESCOLAR


Luziane Bomfim da Silva Débora Aline Trajano Santos

940 EDUCAÇÃO ESPECIAL E A INCLUSÃO: UM OLHAR 1069 GAMIFICAÇÃO: ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA CONTRA O
SOBRE O MUNICÍPIO DE AMPARO SÃO PAULO ABANDONO E/OU EVASÃO ESCOLAR E POR UMA
EDUCAÇÃO FINANCEIRA VIA GAMES
Sara Luz Silveira Costa
Eliane Alves de Souza

953 EDUCAÇÃO INFANTIL: ESPAÇO DE BRINCADEIRAS


1081 GESTÃO DEMOCRÁTICA: OS RELACIONAMENTOS
Zenóbia Silva Pereira Paiva PROFISSIONAIS QUE CONTRIBUEM PARA UMA
Cacilda Borges Pires de Castro ESCOLA DEMOCRÁTICA
Tatiane Leite da Silva Comini
967 EDUCAÇAO INFANTIL: POSSIBILIDAES E DESAFIOS DE
PROJETOS INTEGRADOS 1091 GESTÃO E LEGITIMAÇÃO DO CURRÍCULO NOS
Adriana Souza da Cruz Santos PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Sirley Girardi Barbosa
980 EDUCAÇÃO INFANTIL: ASPECTOS HISTÓRICOS
1111 GESTÃO, FORMAÇÃO PEDAGÓGICA, DOCENTES NO
Carla de Oliveira Rosa
CURRÍCULO DA CIDADE DE SÃO PAULO
Claudineide Batista dos Santos

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1121 GESTOR COMO LÍDER EDUCACIONAL 1249 LETRAMENTO DIGITAL: REFLETINDO ACERCA DA
Manoel Cicero da Silva Filho FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO
FUNDAMENTAL (ANOS INICIAIS)
Maria Violêta Lima Macêdo
Carlos Mometti
Adriana Bigido
1133 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Carla Renata Wilhans Barbosa
1260 A MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS: MUDANÇAS
PARA O SÉCULO XXI
1142 HORTA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL Eliete Braga
Raphaela Rui Riveros
1271 MULTILETRAMENTO UM DESAFIO PARA O DOCENTE
1151 IMPORTÂNCIA DA QUÍMICA NA FORMAÇÃO DO NA ATUALIDADE
PROFISSIONAL FARMACÊUTICO: UM ESTUDO DE CASO Elmenton dos Santos Fernandes da Silva
SOBRE A PERCEPÇÃO DE GRADUANDOS
Rodrigo Fernando Campos
Alexandra Regina do Nascimento
Amanda Silva de Lima
1283 MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Rosilene Maria da Silva
Rosemeire Gomes Clemente
Alamisne Gomes da Silva
Loiva Liana Santos Borba
1290 NIETZSCHE E A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
1160 INCLUSÃO ESCOLAR COM ENFASE NO ALUNO COM Claudia Regina Aparecida de Oliveira Werneck
DEFICIÊNCIA
Andreia Pereira 1297 O APRENDIZADO MATEMÁTICO ALIADO A
Joelma Oliveira Dias TECNOLOGIA E AULAS INTERATIVAS NO FORMATO DE
EAD
Samantha Savina Albanez
1169 INDISCIPLINA: CONCEPÇÕES E DESAFIOS NA
EDUCAÇÃO
Daniela Dantas Esteves Berte 1303 O BRINCAR E A APRENDIZAGEM
Sandra Roberta de Andrade Silva
1175 JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO
Barbara Lygia Monteiro dos Santos 1318 O CONTRIBUTO DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NO
ENSINO DA MATEMÁTICA
Luciene Suzarte Santos
1199 JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO
Maria José Silva Almeida Trindade
Maria Teresa Panchame

1328 O ENSINO DA ARTE


1209 JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Claudia Torres de Moraes
Karina Gomes Alves Cardoso

1338 O ENSINO DE LÍNGUAS NO BRASIL: DO LATIM AO


1215 EDUCAÇÃO INFANTIL: JOGOS E BRINCADEIRAS
FRANCÊS
Joyce Barbosa dos Santos Lima
Edson José Barbosa

1228 JOGOS E BRINCADEIRAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL


1345 O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Karina Antunes de Lima
Carlene Aguiar Pereira

1239 LANGUE E PAROLE: CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS


1354 O MEIO AMBIENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A
IDEIAS DE SAUSSURE E OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS
CONSCIENTIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO NA FORMAÇÃO
CONTEMPORÂNEOS
DE UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL
Valdemir Melo de Souza
Amanda de Oliveira Cardoso

1369 O PAPEL DAS ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Maria Luiza Soares de Campos

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1386 PROFESSOR DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL 1524 PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL PREVENTIVA: UM


ESPECIALIZADO FRENTE ÀS NECESSIDADES OLHAR TRANSFORMADOR PARA A PRÁTICA DOCENTE
EDUCATIVAS José Aparecido de Farias Leite
Ilza Carla Colombo Vieira
1534 PSICOSES NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AUTISMO E
1403 O SUDESTE ASIÁTICO AOS OLHOS DE HOLLYWOOD: ESQUIZOFRENIA
ANÁLISE DOS FILMES O REI E EU (1956) E ANNA E O Regina Célia Gonçalves Mateus
REI (1999)
Ligia Lemos Sousa Nery de Castro
1544 RECURSOS DIDÁTICOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
1413 O TRABALHO DOCENTE: RELAÇÕES PERCEBIDAS
ENTRE O FILME “ENTRE OS MUROS DA ESCOLA” E O Amanda Manzoli Bertucci Bernardini
TEXTO “SOBRE JEQUITIBÁS E EUCALIPTOS”
Catia Cristina de Melo Ferreira
1556 REFLETINDO SOBRE O BRINCAR
Mara Regina Alcasas
1419 USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA APRENDIZAGEM
UNIVERSITÁRIA
Edileuza da Conceição Ferreira 1568 REFLEXÃO SOBRE O RACISMO, ABORDAGEM
NECESSÁRIA PARA UM PROCESSO DE APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVO E ADEQUADO
1428 O USO DE JOGOS E BRINCADEIRAS COMO RECURSO
NA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA Helena Furtado
NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Rosilene de Souza dos Santos
1580 REFLEXÕES SOBRE O DIAGNÓSTICO DA CRIANÇA
AUTISTA
1439 O VIDEOCLIPE COMO LINGUAGEM AUDIOVISUAL Niris Katyane de Lacerda Pessoa
Rogério Fraulo
1593 REGISTRO: FERRAMENTA PARA A PRÁTICA DOCENTE E
1448 OS EFEITOS DA ATIVIDADE FÍSICA NA APRENDIZAGEM AUXILIAR NA AÇÃO DO PSICOPEDAGOGO
E NO DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL Wiviane Santos de Camargo
Renato Ilton da Silva Aragão
1603 RELAÇÃO DIRETOR E PROFESSOR POR INTERMÉDIO
1469 OS MUSEUS E A ACESSIBILIDADE DO TRABALHO COLETIVO E DA LEGISLAÇÃO
Adriana Sampaio Ramiro Sabadini Sandy Katherine Weiss de Almeida

1480 PEDAGOGIA DA OPRESSÃO NO ESPAÇO ESCOLAR: 1611 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E PERSPECTIVAS PARA O
RESGATE DE MEMÓRIAS DE EXPERIÊNCIAS COM A ENSINO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS
HOMOFOBIA NA BUSCA DE FORMAS DE RESISTÊNCIA Robson Abel Lopes
Marcos Andrade Alves dos Santos
Mário Cézar Amorim de Oliveira 1634 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DO
ENGENHEIRO
1496 POLÍTICA PAULISTANA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL: O Sarah Gomes Silveira Guimarães
ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO NO Ernande da Costa e Silva Filho
CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Daniele de Castro Pessoa de Melo
Alzenir Maria Ribeiro de Sousa
Loiva Liana Santos Borba

1506 POVO INDÍGENA GUARANI


1642 SER PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
Daniela Rita Nardi
Maria Aparecida da Cruz de Meira Moreira

1515 PSICOMOTRICIDADE: POSSIBILIDADES E DESAFIOS


PARA O DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS COM 1657 SISTEMA VISUAL BAIXA VISÃO E APRENDIZAGEM
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) Luciene Barbosa Sampaio
Celeste Nascimento Cruz

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

1672 SUSTENTABILIDADE E CONSUMO CONSCIENTE NO 1713 UM OLHAR SOBRE O PROCESSO DE ENSINO


CONTEXTO INFANTIL APRENDIZAGEM NA ESCOLA INDÍGENA TORO HACHÔ
Inez Gissele Weiller dos Santos ALDEIA PEDRA BRANCA EM GOIATINS-TO
Joana D’arc Gomes Cardoso Vanderley
1677 TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL Maria Cecília Florêncio da Silva
Thatiana de Camargo Riqueto Rodrigues Brasil
1722 UMA PERCEPÇÃO CIENTÍFICA SOBRE GESTÃO
DEMOCRÁTICA NA GESTÃO ESCOLAR
1689 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA:
POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÕES EDUCACIONAIS José Fernando da Silva Alves
Amanda Felix de Carvalho Graziela de Queiroz Arruda
Diógenes José Gusmão Coutinho
1702 UM OLHAR SOBRE A IMPORTÂNCIA DA RELAÇAO
ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA NO PROCESSO DE ENSINO 1733 UTILIZAÇÃO DE JOGOS MATEMÁTICOS COMO
APRENDIZAGEM METODOLOGIA DE ENSINO EM AULAS DO ENSINO
Maria Izidoria Pereira Silva MÉDIO
Silvana Aparecida CamolesI

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(AUTO)FORMAÇÃO DOCENTE MILITAR


Lucinéia Contiero 1
Humberto José Lourenção 2

RESUMO: A (auto)formação continuada docente militar é o tema desta abordagem e, em


específico, a (auto)formação por meio da autobiografia e do memorialismo são o foco deste
trabalho. Tratou-se de compreender o perfil e o contexto profissional dos docentes que atuam na
Graduação e Instrução Militares, na formação continuada de oficiais da Força Aérea, ou seja, uma
situação historicamente situada. Muitas são as questões que permeiam tal investigação, e aqui
estão, tanto quanto possível, considerações elementares, entre elas a identificação do contexto
de ensino; os docentes interlocutores; o ambiente e as condições de ensino-aprendizagem; além
de elementos que identificam ou particularizam os professores. Apoiam esta abordagem autores
como Lejeune (1975); Delory-Momberger (2008); Nóvoa (1995), entre outros.

Palavras-Chave: Ensino militar; Autobiografia de formação; Formação continuada.

1 Professora Associada do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo do Centro de Educação –


Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Pós-Graduação UNIFA – Universidade da Força Aérea.
E-mail: conlucineia@hotmail.com
2 Professor Associado da Divisão de Ensino da Academia da Força Aérea/Universidade da Força Aérea / Pós-

Graduação UNIFA – Universidade da Força Aérea.


E-mail: lourencao@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO universidade enquanto instituição também


formadora de seus próprios professores, estes
A formação/atualização de professores vai comprometidos com a auto reciclagem, em
muito além da discussão de conceitos condição de sujeitos da (auto)formação
científicos, avança para a reflexão sobre os mediada pelos processos direcionados e
próprios conceitos constituidores do processo capazes, nesta triangulação, da ação educativa
formativo. Ao refletir sobre os processos de enquanto intelectuais autônomos,
formação, enfatiza-se a necessidade de o instrumentalizados por uma educação
professor tornar-se sujeito do conhecimento científica e crítica.
agindo com autonomia no espaço educacional O artigo que ora apresentamos finaliza as
e de modo a ressignificar suas práticas a partir atividades relativas ao Estágio Pós-Doutoral
da problematização de seu contexto. junto à Pós-Graduação em Ciências
Compreender o ambiente de ensino como um Aeroespaciais pela Universidade da Força Aérea
dos principais espaços para realizar pesquisas - UNIFA. Abordamos aspectos referentes ao
deve ser o primeiro passo para a construção da desenvolvimento de narrativas autobiográficas
identidade de um professor-pesquisador, ou e à leitura analítica das histórias de vida de
professor em situação de (auto)formação, visto professores/instrutores militares em suas
que este pode adquirir postura e habilidades relações com a prática docente e seus
que propiciem uma leitura crítica do contexto desdobramentos para a formação de um
educativo a partir da problematização das sujeito centrado em uma identidade social
situações vivenciadas. específica construída a partir de uma educação
Entretanto, para o êxito desse processo de doutrinária adequada à organização e a
formação são necessárias condições básicas: a. estratégias de socialização militar. São estas as
um processo de descobertas voltado para a considerações que partem de um
pesquisa; b. proposta de articulação dos entrelaçamento teórico crítico ilustração via
conteúdos curriculares às atividades corpus analisado.
desenvolvidas; c. utilizar ferramentas teórico- A produção e socialização das escritas de si
metodológicas que possibilitem a confirmaram o entendimento de que os
ressignificação das práticas no transcorrer do processos de formação de professores e
processo; d. registros de experiências; e. prática leitores se modelam na tensão entre as
do acompanhamento da docência e da experiências que demarcam as histórias de vida
pesquisa por meio de consciência reflexiva de de cada sujeito e seus singulares percursos de
trabalho. A consolidação dessas diretrizes como formação e (auto)formação. A leitura dos
instrumentos de (auto)formação contribui para relatos dos professores/instrutores
o desenvolvimento de um modelo de docência participantes foi organizada a partir de eixos
que, por si, propicia a formação de todo temáticos, os quais trataram de especificidades
professor que queira assumir-se como dos conteúdos, porém, considerando
pesquisador de sua própria ação pedagógica. A elementos indispensáveis que garantiram uma
partir dessa perspectiva, entende-se a visão ampla e o menos superficial possível de

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análise: abrangência; forma; fontes; estrutura; A história de vida profissional de um


e discurso. Assim, os dados permitiram uma professor militar é diferente do professor que
organização temática: (auto)biografia, vivencia qualquer outro contexto/ambiente
memória e formação docente; histórias de educacional. O contexto é típico, as
vidas cruzadas e narrativas de formação militar circunstâncias de ensino são únicas, e a carreira
e, por fim, as escritas de si como dispositivo e prevê outras atividades exigidas pelo professor
práticas de formação docente. Os eixos militar que são desprovidas de qualquer
oportunizaram desdobramentos projeção pedagógica (como ser escalado para
metodológicos centrados nas histórias de vida, tirar serviços de guarda, de formatura militar,
diários biográficos, narrativas de formação de liderança de tropa, cumprir função
professores porque adotam, além da administrativa, por exemplo). Porém, há que se
temporalidade e reflexividade, aspectos e dizer que um professor/instrutor militar é uma
questões relativas à subjetividade e à marca identitária dentro da corporação, assim
importância de se ouvir a voz do sujeito e como o ser militar é uma condição (profissional)
compreender o sentido da investigação- circunscrita em todas as esferas pessoais e
formação centrada na abordagem experiencial. sociais. O professor militar leciona disciplinas
No decurso da experiência de pesquisa, das grades curriculares dos cursos de
escritas de si foram produzidas tendo como graduação e pós-graduação; o instrutor é assim
títulos Diários de formação e Rascunhos de chamado por ser um professor a ministrar
mim; tratavam-se todas de narrativas cursos, oficinas ou especializações de
autobiográficas memorialísticas. Todas as conhecimentos específicos militares, como
discussões e registros desenvolvidos curso de mecânica de aeronave, pilotagem de
possibilitaram diferentes leituras sobre os aeronaves, cursos de sobrevivência, de
sentidos das escritas de si como prática de armamento, de paraquedismo, etc.
investigação e de formação no campo do As escritas de si, tomadas enquanto prática
trabalho docente militar e das aprendizagens de formação e (auto) formação docente (HESS,
experienciais construídas ao longo da carreira e 2000, p. 64), tornaram possível apreender as
da vida. Trazemos, nesta oportunidade, inter-relações entre as diversas situações e
apontamentos teóricos suscitados em leituras e dimensões experienciais da/na atividade
temas de discussões coletivas do grupo que educadora. O registro narrativo permitiu
experimentou essa (auto)formação; trazemos compreender o modo como cada sujeito,
alguns aspectos do trabalho desenvolvido com permanecendo ele próprio, toma consciência
base nas escritas de diários e das histórias de de si e se transforma. Também evidencia o
leitura. processo e movimento que cada pessoa
empreende para externar seus conhecimentos,
1. PERCURSO DE DISCUSSÃO valores e energias, para ir construindo a sua
identidade num diálogo contínuo com os seus
contextos.
1.1. IDENTIDADE PROFISSIONAL E AS
ESCRITAS DE SI

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No que concerne aos diários autobiográficos, profissionalização docente deve ser entendida
Holly afirma: “educadores que optaram pela em duas dimensões, a “profissionalidade” e o
elaboração de diários profissionais ou pessoais “profissionismo”: a primeira leva o professor a
escolheram observar-se a si próprios, tomar a adquirir competências fundamentais para o
experiência em consideração e tentar desempenho das atividades docentes e os
compreendê-la. A escrita de diários biográficos saberes próprios da profissão; o segundo, indo
constitui-se em ‘escrita sobre a vida’ (bio= vida, além da qualificação e competência, é também
graphia = escrita), tentando compreender e uma construção social na qual se situam a
articular as experiências de uma outra pessoa. moral coletiva, o dever ser e o compromisso
A escrita de diários autobiográficos envolve o com a educação. A profissionalização se refere,
processo de contar a história da própria vida. A portanto, à maneira como se estabelecem as
escrita de diários biográficos e autobiográficos relações profissionais; às formas de
inclui, geralmente, a reconsideração e a desenvolvimento da atividade profissional; às
reconstrução da experiência a partir da história associações estabelecidas dentro e fora do
de uma vida, quer seja a sua própria contexto de trabalho – implica a criação de
(autobiografia) ou a de outras pessoas estratégias e negociações com vistas a fazer
(biografia) (1992, p. 101). Logo, o que com que a sociedade reconheça qualidades
empreendemos juntos no processo deste específicas que proporcionem, ao profissional,
trabalho foi tornar possível a (auto)formação prestígio e reconhecimento social.
docente possibilitando aos sujeitos entrarem A construção de narrativas reflexivo-pessoais
em contato com suas lembranças, histórias e (termo nosso), estratégia que caracteriza o
representações sobre as aprendizagens e campo das abordagens (auto)biográficas, por
discursos pedagógicos construídos no espaço ser capaz de levar o professor a refletir mais e
acadêmico e que, no caso, é também o espaço melhor – avanço ao profissionalismo –, é
em que a carreira profissional militar evolui. caminho metodológico que temos defendido
Nas experiências da sala de aula da na atuação acadêmica e na pesquisa realizada
universidade, temos observado, escutado e junto aos docentes/instrutores militares que se
percebido o sentido que cada sujeito sujeitaram à condição de (auto)formação
estabelece face às relações entre saberes e dirigida. Entendemos ser este o tipo de
atuação sob a lógica da argumentação pesquisa qualitativa que oportuniza ao
comprometida com a prática, ou seja, a professor em atividade buscar, ele próprio,
adequação dos saberes à atuação de espaços para a emancipação, a autonomia, a
professores. Daí porque vimos na pesquisa da construção e desenvolvimento da identidade
narratividade autobiográfica uma alternativa profissional – o “self-as-teacher”, como quer
válida para lidar com as questões complexas Bruner (1997).
pertinentes à formação de professores de A pesquisa autobiográfica permite ressaltar
universos educacionais distintos, autênticos, o momento histórico vivido pelo sujeito. Assim,
como é o dos militares. Voltamos a Ramalho, a temporalidade contida na narrativa individual
Núñez e Gauthier (2003), para quem a remete ao dinamismo de um tempo histórico

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que apreende as estruturas de relações sociais remetem a acontecimentos concretos e


e os processos de mudança pelos quais o sujeito detalhados de forma minuciosa, indicando
passa ao longo da vida. Nesse sentido, o tempo lugares, tempos e experiências pessoais.
e o espaço das ações realizadas pelos sujeitos A narrativa confere papéis aos personagens
dentro de grupos sociais podem identificar, de nossas vidas, define posições e valores entre
além das práticas sociais que estes elaboram, as eles; constrói, entre as circunstâncias, os
negociações dos acontecimentos ocorridos em acontecimentos, as ações, as relações de causa,
suas vidas (NÓVOA, 1995,p. 189). Entre o saber de meio, de finalidade; polariza as linhas de
ser e o saber fazer existe a mobilização do nossos enredos entre um começo e um fim e os
conhecimento de si e das coisas. Durante a vida, leva para uma conclusão; transforma a relação
o sujeito se engaja na incessante busca de si, na de sucessão dos acontecimentos em
busca de sentido e de conhecimento, que, uma encadeamentos finalizados; tem seu lugar na
vez deslocados e movimentados, transportam realização da história contada. A narrativa faz
informações ao mesmo tempo em que de nós o próprio personagem de nossa vida:
devolvem outras – o “conhecimento não fazemos a narrativa de nossa vida porque
acumulado” de que nos fala Latour (2000). Esse temos uma história; temos uma história porque
deslocamento, entendido também como fazemos narrativa de nossa vida (DELORY-
trajetória, evidencia, pelos processos narrativos MOMBERGER, 2008, p. 37).
biográficos, um indivíduo envolvido consigo A narrativa fundamenta o modelo que
mesmo, com o outro e com os contextos de inspira nossas representações biográficas e a
inserção: enxerga o que é, o que já não pode maneira como narramos nossa vida. A narrativa
ser, e o que ainda poderá se tornar. A forma de “não apresenta fatos, mas palavras”, afirma
expressão mais imediata para demonstrar a Delory-Momberger (2008, p. 95), “a vida
representação mental, pré-escritural de uma narrada não é a vida”. Isso significa que o objeto
biografia, são as narrativas. Delory-Momberger sobre o qual trabalham os pesquisadores
(2008) esclarece que os princípios do discurso interessados nos procedimentos de formação
narrativo consistem em organizar a sucessão ou profissionalização de professores por meio
dos fatos, as sintaxes das ações e das funções, das histórias de vida não é, portanto, a vida,
a dinâmica transformadora entre sequências de mas as construções narrativas que os
aberturas e de fechamento dos entrevistados elaboram, pela fala ou pela
acontecimentos, além de orientar quanto aos escrita, quando são convidados a contar sua
objetivos do sujeito em narrar determinados vida.
fatos. Nesse sentido, a narrativa se apresenta Há complexidade evolvendo o estudo do
como a linguagem do fato biográfico, como o gênero enquanto categoria literária que se
discurso no qual escrevemos nossa vida, presta ao campo educacional enquanto
conforme afirma Delory-Momberger (2008). De discurso específico orientado para a exposição
acordo com Jovchelovitch e Bauer (2002), as de vida de alguém. Isto porque há aspectos
narrativas são ricas em colocações indexadas, elementares e operacionais que dão mostra da
uma vez que as referências nelas contidas potencialidade biográfica que permitem uma

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leitura e investigação do todo e parecem ser O grupo escolhido para realização da


observáveis em toda e qualquer espécie do pesquisa apresenta características que definem
gênero biográfico: biografia, autobiografia, um caráter plural e singular a um só tempo:
memória, diário intimo, autorretrato, carta, singular porque composto por sujeitos que
testemunho... Estes aspectos são fontes, desenvolvem atividades dentro do ambiente
abrangência, estrutura, discurso e forma. As educacional especificamente militar; plural por
fontes referem-se a biografias anteriores, se tratarem de professores de áreas diversas,
memórias de contemporâneos, confissões, de experiências diferenciadas e vivências
trabalhos crítico-biográficos, reportagens, singulares. Outro elemento de análise
correspondência ativa e passiva, entrevistas, considerado é a diversidade de espaços em que
consultas bibliográficas e iconoplásticas de toda cada sujeito atua, nesse sentido as vivências
ordem, etc. A estrutura diz respeito à ordem desses sujeitos refletem a dinâmica do
cronológica das informações, por exemplo. A cotidiano militar e constituem um rico mosaico
abrangência: toda a vida ou parte dela, toda de histórias, experiências, percursos formativos
uma geração ou estudo de época. Enquanto e trajetórias que cada sujeito vivenciou. No
forma, o gênero biográfico guarda uma gama plano estrutural, interessou mais abordar os
variada de subespécies: autobiografia, níveis de focalização e de categorização
biografia, biografia romanceada... Já o discurso biográfica.
diz respeito às ideologias, envolvimentos Sabe-se que a tradição biográfica privilegia a
emocional-afetivos, relações profissionais, linearidade cronológica, sujeitando a vida do
enfim... biografado a uma sequência natural. As
É verdade que toda capacidade de apreender narrativas autobiográficas e memorialísticas
com segurança os fatos da vida ou sua dos professores/instrutores militares seguem,
representação em termos realistas é em parte, esse padrão, embora em menor
desconfiável. Mas é também verdade que o abrangência – restringindo-se à juventude e à
autor se comporta como jornalista, como vida adulta, com repercussão na formação e
historiador. A definição de autobiografia de trajetória profissional. A noção de sucessão
Lejeune reitera esse entendimento: narrativa cronológica se firma também pela remissão a
retrospectiva em prosa que uma pessoa real faz endereços diversos. Indicação de cidades e
de sua própria existência, com destaque para a unidades militares e a idade e a profissão
vida individual, em especial para a história de situam os acontecimentos entre um antes e um
sua personalidade. No plano textual, no “pacto depois, com um durante no meio. Se os
autobiográfico”, identificam-se autor como o registros dos fatos só em parte se ajustam aos
dono da informação; o narrador como o titular moldes tradicionais, isto quer dizer que esses
do discurso; e a personagem como a pessoa de narradores não estruturam seu texto segundo
que se fala. Vale lembrarmos que o resgate do uma ordenação cronológica rígida, estratégia
fato submete-se a outras contingências que o que empresta certa leveza e desprendimento,
transformam. como se as informações fossem naturalmente
registradas ao ritmo das lembranças. Esse

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desprendimento cronológico, solto entre vida e à carreira militar sempre rememorada na


analepses e prolepses, permitiu também as presença de companheiros.
interferências desses narradores-autores Voltamos a Lejaune (1975), para lembrar que
puxando a experiência narrada para o tempo o relato retrospectivo em prosa que uma
mais recente. Este método um tanto livre para pessoa faz de sua existência colocando acento
o registro dos fatos é postura adotada pelos dez na sua vida individual e história de sua
memorialistas, aparentemente mais personalidade faz a especificidade
interessados no registro espontâneo. Os autobiográfica. Essa experiência de retomada,
professores-narradores pulam de assunto e regressiva e relativamente nova no plano das
lastro temporal de um parágrafo para outro ou escritas de si faz da imagem e do estudo da
numa mesma passagem memoriada, liberdade profissão docente uma metodologia e um
que comprovou ser o método escolhido por processo de (auto)formação válidos. Assim, em
todos. situação de (auto)formação, o professor é o
As memórias narradas de fundo sujeito que se desdobra na sua diversidade
metadiscursivo contemplaram os aspectos: polifônica. A polifonia diz respeito à divisão de
primeiros passos rumos à intelectualidade e dois eus: o eu reflexivo (agente do autor situado
influências, gosto pela profissão, motivações e no tempo da enunciação) e o eu da memória
aspirações. Pela abrangência dos aspectos as (identificado com fatos retroativos). O narrador
memórias docentes podem ser categorizadas em primeira pessoa por vezes se afasta do
como autobiografias intelectuais/profissionais, personagem, comporta-se em terceira pessoa e
em termos amplos, e ainda um tanto crítica, se aproxima do eu centro – o autor, pois o eu
pois se sujeitam a análises e interpretações biográfico é um “diálogo de instâncias
psicanalíticas e profissionais mais ou menos múltiplas”, é polifônico. O eu da fala passa a ser
densas. Há paradas reflexivas que reforçam a outro eu, distanciado do eu de quem se fala
polifonia temática e assumem o que se possa (tempo passado – enunciado). Têm-se, assim,
entender por transferências catárticas da vida os diferentes níveis de focalização narrativa. As
dos autores para as narrativas. Neste particular, interferências do tempo da enunciação
os relatos autobiográficos são ainda uma promovem o distanciamento da autobiografia
escrita do eu, uma recriação individual do tradicional pelo grau de interferência do
mundo: situa-se no universo, arruma casa, narrador e sua espontaneidade assistemática.
ordena a vida, volta-se às volições interiores. São muitas as passagens em que os narradores
Na narrativa autobiográfica o narrador se se afastam do personagem para revisar as
identifica: pessoa real e personagem principal vivências, para comentar e julgar, com olhar
(Lejeune). Nas narrativas autobiográficas e adulto e profissional, as circunstâncias que
memorialísticas dos professores/instrutores envolvem o jovem militar em formação
militares, autor é o narrador de si mesmo, que profissional e o professor militar que este se
se volta a si no tempo; é o adulto narrador- tornou. Ao recuperar essas experiências, a
profissional que se recompõe na análise de si autobiografia de profissionalização permite
mesmo; é o adolescente e jovem que se lança à

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uma nova versão delas, subjetivas e em 1.2. ALGUNS RESULTADOS DE


perspectiva diferente. DESENVOLVIMENTO SEGUNDO ASPECTOS
O exercício reflexivo não foi sujeito a rigor AFETIVO, COGNITIVO E MORAL
metodológico. O resultado foi um composto de A maioria dos autores dos relatos iniciou a
colorido humano entremeado de episódios narração de suas memórias a partir da
sociais e coletivos autênticos. As memórias adolescência e revelam o desejo de relatar quê
autobiográficas facultaram aos seus autores, passado os fizeram se tornarem os homens e
por identificarem-se com narradores e instrutores professores de hoje. Dois
personagens, certo desprendimento na professores/instrutores confidenciaram ter
exposição das memórias – vantagem que sido dolorosa a obrigação de recuperar na
repercutiu nas estruturas textuais e fizeram memória recordações, passagens e
desses professores autobiógrafos de sentimentos familiares. Porém, alegam a
profissionalização bastante modernos, importância das memórias como uma “forma
imprimindo certa tonalidade cronística às de perceber que a profissão de professor-
memorias – marca da contemporaneidade instrutor se funde com a íntima destinação para
categorial. a carreira militar” (PROFESSOR INSTRUTOR V,
Em resumo, reitere-se: as memórias 2017). Os pequenos acontecimentos da vida
docentes em questão e que serviram à ordinária que encontram ressonância na vida
(auto)formação docente militar, em análise, de cada um repercutiriam de forma direta na
podem ser assim caracterizadas: enquanto escolha profissional desses sujeitos: “Desde
forma, tratou-se de autobiografias que entrei para a vida militar, fui descobrindo
memorialísticas; enquanto abrangência: minha vocação de liderança, que no meio
relações afetivas da juventude militar e retratos militar, se confunde com passar
de época envolvendo aspectos culturais, conhecimentos, estar à frente e ensinar”. Esta
educacionais e sócio políticos apropriados ao descoberta seria vista como “maior satisfação
gênero autobiografia de cunho intelectual e pessoal à minha futura carreira profissional.
profissional; enquanto discurso: uso do eu Então, passei a me dedicar a esse objetivo: ser
múltiplo, ou seja, somando e alternando um instrutor (professor) dentro da corporação”
autor/narrador/personagem como um eu (PROFESSOR INSTRUTOR S., 2017).
reflexivo e um eu da memória; enquanto De forma comum, os relatos apresentam
fontes: dados de memória fotográfica com memórias a partir de um quadro temporal
interferências para convencimento do bastante específico: dos anos que antecedem à
interlocutor, conferência de dados cruzados via entrada na Força Aérea até o momento atual
fotografias e referencial bibliográfico da dos autores, o que significa grande variação em
organização militar; enquanto estrutura: termos de anos (entre 1975 e 2017), visto que
ordenação cronológica linear com uso de saltos os percursos na carreira de cada um desses
bruscos, prolepses e analepses, ambientação e professores seguem cursos tão diversificados
idades juvenil e adulta como motivadores quanto intensos. Os autores dos relatos, quase
temporais. na totalidade, ocuparam-se de influências

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intelectuais e profissionais sempre afiguram-se lembranças significativas de um


entremeando o relato com passagens ambiente escolar de formação para sujeitos
pitorescas que envolveram familiares, amigos e que se tornariam, um dia, profissionais da
mestres inspiradores e exemplos a serem educação, como os variados toques de corneta
seguidos. As memórias juvenis se dividem entre indicando os “comandamentos” de execuções
vivências antes e pós-preparação para entrada para todo tipo de atividade da rotina diária
na caserna, para onde o jovem, depois de lutar (como hora de levantar da cama, “a alvorada”,
por uma vaga nas escolas de formação, insere- “entrar em formação”, movimentos em “ordem
se nesse novo e diferenciado universo unida”, “o marchar” com marcialidade, o
educacional e profissional. As reações desses debandar para início das aulas, o fim das aulas
garotos diante desses dois universos, o civil e o para refeições no “rancho”, a hora de dormir,
militar, diante das primeiras descobertas e “o silêncio”...); cabem também lembranças
desafios, revelam-se em situações que impactantes como a rotina de exigentes
mesclam a vida pueril em franca liberdade, a atividades físicas; e cabem, ainda, as
formação familiar, escolar, profissional, os lembranças ordinárias como do toque “fora de
obstáculos, o contato com os novos amigos, a forma” indicando o fim das atividades diárias e
adaptação à educação disciplinadora, as o início de momentos de um pouco de
atividades e formalidades militares. Os relatos relaxamento e alguma nostalgia saudosa dos
marcam simbolicamente a juventude desses familiares durante o período de internato até o
estudantes, a trajetória da formação e da momento do “toque do silêncio”, quando todas
carreira militar e, dentro dela, a formação as luzes se apagam indicando a hora de dormir.
docente (lembremos que os profissionais da A individualidade das memórias não nega a
educação são chamados de “mestres” pelo reconstrução de um esboço de história das
alunado e “professores/instrutores” pelas mentalidades por meio do registro de hábitos
chefias e encarregados). Tais parâmetros corriqueiros, de crenças e de comportamentos
temáticos, somados às informações que os comuns, baseada em cumplicidade e muita
antecedem, dão uma notícia abrangente sobre amizade entre companheiros, ao ponto de
o conteúdo das narrativas, revelando, haver memórias comuns em que todos
infelizmente, pouca contribuição para o aprendem juntos, enquanto “falam da vida
entendimento de sua natureza e profundidade. num nível de igualdade total, não havendo
As memórias narram as histórias, sobretudo, diferenças de cor, religião, riqueza ou pobreza.
de um ambiente educacional peculiar. Entre um Os problemas são os mesmos, o enfrentamento
fato pessoal e outro, memórias de conversas, das mesmas dificuldades e dos mesmos
brincadeiras e missões comuns, como se a objetivos” (INSTRUTOR S. Expressão verbal,
própria estrutura narrativa, entremeada de 2017).
seus espaços entre uma lembrança e outra, A narrativa memorialística tem um fundo
possibilitasse a figuração compartilhada de sócio cultural, embora submetido ao filtro
cenários e de cenas em que sujeitos subjetivo de quem escreve. Esta intromissão,
vivenciaram uma mesma experiência. Assim, bastante variável na intensidade, sugere muitas

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vezes o grau de compromisso dos autores. Já se houver questões do seu autor que possam
sabe à saciedade sobre o interesse histórico trazer um esclarecimento particular ao
que marca o gênero biográfico de formação, e conceito do processo investigado, ou seja, que
seria desgastante arrolar exemplos. Grande esses professores viessem a ter as ideias que
parte das lembranças dos professores militares têm, hoje, sobre a profissão de professor militar
tem ampla base sócio política ou sócio e a educação militar e doutrinária como espaço
histórica, o que sugere, inclusive, sua validação de atuação profissional.
enquanto registro histórico e mnemônico de
um universo educacional específico. Os relatos
dos professores apresentam vínculo entre a
trajetória individual e o contexto sócio
histórico, mas não se trata de preocupação
sistemática. Há recortes costumbristas, traços
de manifestações populares de diversas épocas
e ambientações: gastronomia, medicina,
costumes e hábitos, literatura, filmes, disciplina
escolar. Há certamente expressão de uma
individualidade adulta. Há força reflexiva nisso,
com repercussão no plano estrutural.
Lejeune (1975, p. 25), admite a necessidade
de relativizar a posição categórica e admitir a
existência de ambiguidades e de graus no
espaço autobiográfico. A revisão do passado
introduz o “pacto autobiográfico” fatalmente
ligado à identidade, território onde as
categorias de verdade e de realidade não
podem ser nitidamente demarcadas. O
desenrolar da autobiografia, pela sua própria
natureza, implica uma predominância da voz do
narrador, constantemente presente, no sentido
de que ele escolhe e ordena as lembranças.
Compreender como esses militares se
tornaram professores dentro da organização
(instrutores de voo, de mecânica de aeronaves,
de armamento, instrutores de instrutores...) é
recorrer à representação que cada narrador
tem sobre a profissão professor militar e os
processos de profissionalização na área. Na voz
de Josso (2004, p. 32), a narrativa só avança se

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A profissionalização docente é algo vivo. Ao tomar a profissionalização como uma narrativa
e o homem como representação (fundamento e objeto de estudo), como quer Foucault, trazemos
o movimento que o professor faz para tornar-se o que ele é no espaço em que atua. A pesquisa
reafirmou, uma vez mais, que a partir do momento em que o professor narra a sua trajetória
profissional, reconstroem-se os caminhos que levaram a determinados acontecimentos no vir a
ser professor. E é acompanhando os profissionais em seus contextos, os caminhos percorridos e
as escolhas realizadas por eles ao longo do percurso, que poderemos ampliar nossa compreensão
sobre as dimensões da profissionalização docente. Para Nóvoa (1995, p.7), a vida (dos
professores) constituiu-se, por longo tempo, um “paradigma perdido” da pesquisa em educação,
mas hoje, sabemos que não é possível separar o eu pessoal do eu profissional, sobretudo numa
profissão impregnada de valores e de ideais e muito exigentes do ponto de vista do
empenhamento e da relação humana.
Segundo Derouet (1988), a identidade profissional de professores é uma elaboração que
perpassa a vida profissional em diferentes e sucessivas fases, desde a opção pela profissão,
passando pela formação inicial e, de resto, por toda a trajetória profissional do professor,
construindo-se com base nas experiências, nas opções, nas práticas, nas continuidades e
descontinuidades, tanto no que diz respeito às representações, como no que se refere ao trabalho
concreto. Consoante esse entendimento, comungamos com Moita (1995, p.113), que considera
a história de vida a metodologia com potencialidades de diálogo entre o individual e o
sociocultural, pois “só uma história de vida evidencia o modo como cada pessoa mobiliza seus
conhecimentos, os seus valores, as suas energias, para ir dando forma à sua identidade, num
diálogo com os seus contextos”.

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REFERÊNCIAS
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de Maria da Conceição Passeggi, João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi. Natal: EDUFRN;
São Paulo: Paulus, 2008.

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In: NÓVOA, Antônio (Org.). Vidas de professores. Lisboa: Porto Editora, 1992. p. 79- 110.

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JOSSO, M.C. Experiências de vida e formação. Lisboa: EDUCA, 2004.

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Professores. Porto: Porto Editora, 1995.

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RAMALHO, B. NUNEZ, I. & GAUTHIER, C. Formar o professor, profissionalizar o ensino:


perspectivas e desafios. Porto Alegre: Sulina, 2003.

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A ALFABETIZAÇÃO COMO UM ATO DE AMOR:


DISCUTINDO A INTRODUÇÃO DO LETRAMENTO
E DA ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Regiane Bueno da Silva Carvalho1

RESUMO: A partir do entendimento dos conceitos de letramento e alfabetização, neste trabalho


discute-se a inserção do processo de assimilação da linguagem e da escrita no âmbito da educação
infantil. Com o objetivo de identificar os fatores que despertam o interesse das crianças para o
aprendizado das técnicas de leitura e escrita, bem como definir as noções de alfabetização e
letramento e observar o pape da família e do professor na formação de um ambiente
alfabetizador. Por meio de uma revisão teórica sobre o tema, considera-se de grande importância
o contato com as habilidades de leitura e escrita nos anos iniciais de escolarização, na medida em
que muitas vezes, o interesse em apreender o mundo letrado parte das próprias crianças. Para
isso, cabe ao professor atuar como mediador do conhecimento, promovendo estratégias de
aprendizagem que visam despertar o interesse das crianças por essas questões, nesse contexto,
a ludicidade aparece como estratégia de ensino

Palavras-Chave: Letramento; Alfabetização; Educação Infantil; Ludicidade.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal da Cidade de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Alfabetização; Especialização em Letramento.
E-mail:carvalhoregiane@hotmail.com

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INTRODUÇÃO indicados para introduzir o processo de


assimilação e apropriação dos elementos
Alfabetização ou letramento? Educação gráficos, da escrita e da leitura nos motivou a
infantil ou ensino fundamental? Quando e investigar a questão. A importância da
como introduzir o contato com o sistema alfabetização para a vida escolar, pessoal e
escrito e com a leitura? Essas são algumas profissional do aluno, dessa forma, justifica a
questões que são levantadas entre professores escolha do tema
e pedagogos responsáveis pela aprendizagem Objetivamos identificar os fatores que
das crianças nos primeiros anos da vida escolar despertam o interesse das crianças para a
dos alunos. prática de leitura e escrita; definir os conceitos
Neste artigo, busca-se responder às de alfabetização e letramento à luz da
perguntas a partir da visão da produção teórica; entender o papel da família e
alfabetização como um ato de amor. Acredita- do professor na criação de um ambiente
se que o processo de assimilação do alfabeto e alfabetizador.
sua utilização como forma de comunicação A fim de alcançar os objetivos propostos, os
consista em um ato de doação, em que se recursos metodológicos utilizados partem de
transmita ao próximo um conhecimento uma pesquisa de natureza básica, ao buscar
imprescindível para sua inserção no mundo. compreender o problema levantado mediante
Uma relação de empatia entre o professor e o revisão da literatura sobre o tema. Ao contrário
aluno se faz necessãria para a apropriação do da independência que se alude entre
conhecimento ensinado e, por isso, consiste em alfabetização e letramento, referencia-se pela
um ato de amor. concepção de que ambos os conceitos devem
A temática justifica-se em dois fatores, em ser trabalhados juntos. Além dessa perspectiva,
especial, observados na prática diária em sala parte-se do entendimento acerca da
de aula. O primeiro é a importância de o aluno alfabetização como um “processo de aquisição
desenvolver sua capacidade de leitura e escrita e apropriação do sistema da escrita, alfabético
a fim de ter independência em seus estudos. A e ortográfico" (SOARES, 2004, p. 16). Enquanto
alfabetização e o letramento são cruciais para a o letramento consiste em desenvolver
vida escolar dos alunos, pois, é preciso saber “habilidades textuais de leitura e escrita, o
ler e escrever para que se possa explorar convívio com tipos e gêneros variados de texto
outros campos de conhecimento. Além disso, e portadores de texto, a compreensão das
um dos fatores de baixo rendimento dos funções da língua escrita" (SOARES, 2004, p.
alunos, nas diversas disciplinas do ensino 15).
fundamental Il deve - se a dificuldades de
interpretação que estão relacionadas à
O AMBIENTE ALFABETIZADOR
alfabetização e letramento.
Apesar das divergências de opiniões entre os
O outro fator está ligado às questões iniciais
estudiosos sobre o tema, referencia-se, nesta
colocadas na introdução. O debate entre
pesquisa, pela concepção de que alfabetização
professores e pedagogos sobre os períodos
e letramento são dois processos distintos,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

porém, interdependentes. No qual, a conhecimento em um processo dinâmico. Por


alfabetização consiste na aquisição das práticas meio dessa perspectiva, a educação infantil
de leitura e escrita, enquanto o letramento, deixa de ser um período escolar voltado,
seria a aplicação dessas técnicas (SOARES, principalmente, às atividades lúdicas,
2004). Outra questão, nesse sentido, refere- se relacionadas ao brincar e ao desenvolvimento
ao momento em que ambos os processos psicomotor, para promover também o contato
devem ser inseridos na formação das crianças. inicial com o universo da leitura e escrita.
Observou-se o acesso precoce ao mundo das A Educação Infantil é um período que
letras, ainda na educação infantil. Neste coincide com o momento na vida da criança em
capitulo, a partir da análise de qual seria um que nela se desperta o interesse por diversos
ambiente alfabetizador propício para inserir assuntos sobre o mundo que a cerca, entre eles
esses conceitos, bem como o papel da familia e questÕes relacionadas ã leitura, escrita e
do professor no processo de aquisição das oralidade. Nesse contexto, cabe ao professor
técnicas de leitura e escrita e os fatores que utilizar o interesse em benefício da
despertam o interesse das crianças em aprendizagem dos alunos, ao introduzir
aprender a ler e escrever, busca-se aprofundar naturalmente, por meio de livros infantis e
a discussão sobre o período infantil ideal para a gibis, por exemplo, as habilidades de leitura e
introdução dessa aprendizagem. escrita. Ao mesmo tempo, a família também
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação tem o seu papel no processo de
Nacional — a LDB n° 9.394/1996, na seção II, desenvolvimento infantil. Cumpre a ela a
dispôe que a educação infantil proporcione aos responsabilidade de estimular nas crianças o
alunos o desenvolvimento dos aspectos interesse, bem como auxiliá-las em atividades e
cognitivo, afetivo, psicomotor e social por meio estar em permanente contato com a instituição
de atividades escolares. Assim, os objetivos do escolar, acompanhando de forma ativa essa
período inicial de educação estão voltados para etapa do desenvolvimento infantil.
desenvolver as habilidades físicas, emocionais, Ao passo que a educação infantil consiste no
sociais e intelectuais das crianças, a fim de estágio inicial de escolarização e que as
despertar um senso de autonomia e crianças, desde cedo, convivem com
autocontrole, bem como a confiança em seu informações mediadas pela escrita, elas
desenvolvimento expressivo e comunicativo precisam ter contato e entender do que se trata
com o outro e o mundo a sua volta. esse tipo de expressão como uma das formas
Tal visáo coaduna com a perspectiva de comunicação entre as pessoas, no ambiente
vigotskyana (1989), na medida em que o escolar. Assim, um ambiente alfabetizador na
ambiente escolar, especialmente, a sala de educação infantil prescinde do acesso a todo
aula, passa a ser vista como Iócus privilegiado tipo de material escrito, a criação de um “canto
de articulaçáo do conhecimento na relaçáo ou área de leitura onde se encontrem não só
professor/aluno. De modo que, a partir de um livros bem editados e bem ilustrados, como
processo interativo, todos participam e se qualquer material que contenha escrita",
expressam, transformando a construção de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

proporcionando esse acesso aos alunos Em artigo intitulado A importância da família


(FERREIRO, 2002, p.33). na alfabetização da criança, Emília Neta e
Em trabalho sobre a educação infantil Débora Silva (2014), discutem de que forma a
enquanto ambiente alfabetizador, Marques relação familia-escola pode contribuir para o
(2008), aponta que, partir dessa perspectiva, a desenvolvimento escolar da criança na fase
criança relaciona-se com os materiais escritos e inicial da formação. De acordo com a revisão da
vê neles as coisas que existem no mundo em literatura proposta pelas autoras, aponta-se a
que ela vive. Com isso, a alfabetização, além de importância da colaboração da família para o
ocorrer de forma natural, prepara e estimula os sucesso ou fracasso escolar dos alunos,
alunos para as etapas de pré-leitura e pré- conforme o ni\lei de participação familiar e
escrita. Referenciada por Teberosky (2005), interação. Tal colaboração, quando ocorre de
Marques defende que o ambiente alfabetizador forma afetuosa, contribui para estimular a
é aquele que proporciona o acesso a uma autoestima e o interesse das crianças pelo ato
cultura letrada, no qual os alunos estão de aprender.
socialmente inseridos, o que facilitaria a futura Com isso, ao chegarem ao ambiente escolar,
aprendizagem escolar das crianças (MARQUES, as crianças trazem consigo conhecimentos
2008, p. 17). prévios, bem como a curiosidade (NETA; SILVA,
2014, p. 52).
O PAPEL DA FAMÍLIA E DO As autoras defendem que a participação da
familia na alfabetização da frança é de
PROFESSOR NO AMBIENTE fundamental importância, pois, é a primeira
ALFABETIZADOR instituição que faz parte da”’lida da Criança e é
Verifica-se que um ambiente alfabetizador é o fundamental agente de socialização” (NETA;
aquele em que proporcione às crianças o SILVA, 2014, p.41d. Assim, a escolarização
contato com uma cultura letrada na qual ele se ocorre, segundo elas, em dois âmbitos
vê socialmente inserido. Dessa forma, a família, marcados por 3lTerentes contextos, em que
os professores e a escola, têm grande ambos, família e escola, possuem grande
responsabilidade nesse estágio inicial de importância c processo de aprendizagem.
escolarização e devem garantir tal acesso às No meio familiar ocorrem as primeiras
crianças. A partir de um balanço dos trabalhos situações de aprendizagem, em que as ariancas
acadêmicos sobre o tema, busca-se discutir o têm contato com padraes, normas, valores e os
papel da família e do professor no processo de assimila. Assim, a unidade familiar aparece
alfabetização e letramento na educação também para outros autores “como o mais
infantil. poderoso sistema de SOCialização para o
desenvolvimento saudável da criança e do
• A família enquanto ambiente adolescente” (SILVA, 2008, p. 216).
socializador Ao passo que um relacionamento familiar
inadequado pode prejudicar as relações do
indivíduo com a sociedade, o bom convívio

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

familiar é de suma importância para o p. 62). O resultado dessa incompreensão é a


processo de alfabetização da criança, transferência da responsabilidade de educar
especialmente, no período que antecede o para a escola, o que, por sua vez, pode acarretar
contato com a escrita e seus usos sociais. A consequências negativas ao desenvolvimento e
aprendizagem ocorre por meio da interação do à aprendizagem infantil. Uma vez que compete
indivíduo com a realidade e as pessoas que o à familia o papel de educar seus filhos, função
cercam, logo, por meio das situações bem diferente da que a escola exerce, a de
vivenciadas é que a criança atribui e, ao mesmo ensinar uma diversidade de conhecimentos.
tempo, adquire valores, habilidades e/ou Por isso, faz-se necessário aos pais
informações que competem para seu conscientizarem-se quanto a sua
desenvolvimento. responsabilidade em educar seus filhos, visto
Portanto, verifica-se que o ambiente familiar que os pais, além dos professores e da escola
proporciona o contato inicial com os exercem a importante função de preparar e
ensinamentos da vida, em que os pais inserir as crianças no contexto social. Além
aparecem como os primeiros educadores, disso, a atuação dos pais e sua participação de
responsáveis pelo “[...] desenvolvimento nos forma ativa na vida escolar de seus filhos
aspectos social, familiar e pessoal. A educação interferem significativamente para o sucesso
familiar é um fator de grande importância na ou fracasso escolar dos alunos. Visto que, ao
formação da criança, desenvolvendo a incentiVarem seus filhos, os pais estimulam a
criticidade, ética, cidadania e refletindo no autoestima e o autoconfiança das crianças.
processo escolar” (NETA; SILVA, 2014, p. 57). Destarte, nota-se a importância da educação
Segundo as autoras, notadamente, entre 0 a informal, ou seja, o aprendizado com as
7 anos de idade, a relação escola- familia – experiências cotidianas vivenciadas em familia
sociedade é essencial ao desenvolvimento e ou com amigos, para uma saudável inserção da
socialização da criança,pois trata-se de uma criança no ambiente escolar, pois, é por meio
fase na qual, a partir da interação, as crianças dela que se apreende as regras do convívio
vivenciam experiências e aprendizagens, social. Na medida em que a família valoriza as
atribuindo um significado próprio ao mundo práticas educativas, elas estão oferecendo aos
social em que está inserido. Contexto, no qual, seus filhos bons exemplos e isso resulta em um
a família e a escola atuam apenas como comportamento satisfatório no ambiente
mediadores do processo de assimilação de escolar (MARQUES, 2008, p. 09).
novos conhecimentos. [...] crianças oriundas de lares privilegiados,
Por outro Iado, apesar da atestada que têm pais com formação acadêmica, com
importância do relacionamento entre acesso a estantes de livros, e a meios culturais
família e escola para o sucesso da diversos, mas que não recebe incentivo dos
aprendizagem escolar de seus filhos, muitos mesmos pode estar fadado ao fracasso escolar,
pais ou ainda “[...] não compreendem sua independente do status social que a família
função e a importância de sua participação na ocupa (MARINHO, 2009, p. 19).
vida escolar de seus filhos" (NETA; SILVA, 2014,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Com isso, verifica-se alguns fatores que Para que isso ocorra, faz-se necessário
contribuem para a formação de um ambiente compreender:
alfabetizador no contexto familiar, [...] o papel que configura o professor
despertando o interesse da criança em alfabetizador como fundamental para o
aprender e favorecendo sua aprendizagem processo de aquisição e leitura do educando,
futura. Todavia, a atuação da familia deve considerando-o parceiro na jornada para a
ocorrer não só na preparação da criança para a apropriação de novas linguagens, como aquele
inserção no ambiente escolar, bem como o que introduz a criança em seus primeiros
acompanhamento de todo o seu processo de contatos com a leitura e a escrita, recai sobre
escolarização. ele a grande responsabilidade em despertar ou
inibir na criança o desejo de aprender e
• O papel do professor enquanto conhecer o mundo em seu entorno. Cabe a ele
mediador do conhecimento possibilitar o acesso às diferentes linguagens
E quanto aos professores, quais são as que circundam o mundo (plástica, musical,
estratégias que eles podem utilizar a fim de cênica, visual) posto no âmbito social, que
proporcionar aos alunos um ambiente ampliam o universo cultural e possibilita
alfabetizador? De acordo com a revisão entender e intervir na realidade (MARINHO,
bibliográfica feita neste trabalho, nota-se que 2009, p. 18).
uma das principais atribuições do professor de Desse modo, percebe-se outra estratégia
educação infantil é atuar como mediador do didática que denota dessa
processo de construção do conhecimento pela perspectiva, a importância de um ensino
criança. Em outras palavras, o professor contextualizado. Ou seja, cabe ao professor
propicia o contato com o mundo da leitura e da promover situações de aprendizagem que
escrita, cuja responsabilidade está em auxiliar a estejam relacionadas com o contexto, com a
aprendizagem , a partir de intervenções realidade em que a criança se encontra
didáticas, ao mesmo tempo em que, estimula a inserida.
autonomia e desperta o interesse do aluno para Ao propor uma revisão dos conceitos e uma
o aprendizado (BRAGA, 2011, p. 46). discussão dos diferentes pontos de mista sobre
A concepção defendida por Vygotsky (1988), alfabetização e letramento, um coletivo de
já trazia em si a ideia do professor enquanto autoras defendeu a ideia de que, cabe ao
mediador do conhecimento, na medida em que professor [...] trazer para dentro da sala de aula
o professor é aquele que possui um saber e o o contexto do mundo letrado em que vivemos,
compartilha com seus alunos, por meio de proporcionando aos alunos a escrita de
atividades que despertam autonomia e palavras que tenham sentido e significado e
interesse, sendo essencial para a consolidação que mostrem a real função da linguagem
da aprendizagem. Nesse sentido, no próprio escrita” (SOUZA, et al, 2014, p. 94). Dito de
processo de aprendizagem, a criança é capaz de outra forma, a ação do professor mediador nos
assimilar a cultura ao se relacionar com o primeiros contatos com o universo das letras,
professor e com a turma. deve estar voltada “para a realidade dos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

alunos,para que estes apliquem os professor ao promover o contato inicial das


conhecimentos adquiridos em sua realidade, crianças com a alfabetização, a partir dessas
fazedo sentido para eles,formando alunos três estratégias, consiste em oferecer às
letrados(BRAGA,2011,P.47). crianças a experiência de práticas de leitura em
A importância da inserção do contexto social grupo, mediadas pelo professor.
do aluno, deve-se não só ao fato de favorecer [...] as crianças ampliar suas experiências de
a atribuição de sentido à aprendizagem, como letramento e seus repertórios textuais,
também instrumentaliza o aluno, na medida desenvolvem estratégias variadas de
em que “a alfabetização deve propiciar a leitura compreensão textual, inserindo-se no mundo
crítica do mundo, sendo ela o elemento de da escrita e iniciando-se como leitoras, mesmo
mediação entre os homens e a realidade em que ainda não saibam ler autonomamente
que vivem com o propósito de compreender e (BRANDÃO, 2010, p. 22).
transformá-Ta" (GEHLEN, 2009, p. 125). Contudo, verifica-se a necessidade de o
No tocante à inserção da realidade dos professor ter em mente sua responsabilidade
alunos no contexto da sala de aula, um terceiro no processo de assimilação do conhecimento
aspecto denota a atuação do professor: o inter- por parte dos seus alunos. Pois, cabe ao
relacionamento entre as noções de professor elaborar estratégias que despertem o
alfabetização e letramento para introduzir os interesse e a curiosidade em aprender. Assim
alunos no mundo da leitura e da escrita, como a família, o professor tem um peso
desenvolvendo essas habilidades. O processo significativo para o sucesso ou o fracasso da
de ensino-aprendizagem em turmas de aprendizagem escolar. A fim de otimizar o
alfabetização precisa estar relacionado ao processo de alfabetização, o professor deve
letramento, de modo a atribuir sentido à contribuir
aprendizagem do aluno. [...] para o desenvolvimento das habilidades
A noçáo aventada por Paulo Freire (2002), centrais do aluno, tais como: codificação e
que ficou exemplificada na frase: Eva viu a uva, decodificação do sistema gráfico; o dom ínio
produz uma escrita desvinculada da realidade entre fonema e grafema; e a consciência
do aluno, uma escrita que circula apenas no fonológica e fonêmica, que resultam em
ambiente escolar. Dessa forma, não só a frase, sucesso para os educandos dando-lhes
mas também o próprio aprendizado perde o alicerces sólidos para uma leitura fluente
sentido, na medida em que a criança não (MARINHO, 2009, p. 20).
consegue aplicá-lo em suas relações cotidianas. Por outro lado, faz-se necessário destacar a
Sob a perspectiva de que alfabetização importância de uma formação dovente de
abrange as habilidades de leitura e escrita, a qualidade, de modo a capacitar o professor
autora levanta a interdependência entre para atuar de forma significativa no processo de
alfabetização e letramento, mesmo antes alfabetização escolar, especialmente, na
do conceito letramento ser educação infantil, período, no qual as crianças
concebido, conforme delineou-se têm o primeiro contato com o mundo das
anteriormente. Com isso, a atuação do letras.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Despertando o interesse das crianças Acredita-se que para um processo


Após delinear o papel da família e do alfabetizador significativo é necessário, antes
professor na construção de um de tudo, que a criança entenda a importância
ambiente alfabetizador durante a educação dos signos e seus significados e suas aplicações
infantil, busca-se agora identificar as para a comunicação e inserção no mundo
estratégias utilizadas a fim de despertar o social. Por isso considera-se de grande valia a
interesse das crianças, transformando a sala de inserção dessas noções ainda na educação
aula em um ambiente alfabetizador. infantil.
Nesse sentido, a primeira coisa que o Por outro Iado, oferecer às crianças o
professor precisa saber é se seus alunos estão contato com o letramento e a alfabetização
ou não interessados na assimilação das ainda na educação infantil, não significa retirar
habilidades de leitura e escrita, pois, sem desse período as brincadeiras como forma de
interesse a relação acaba sendo arbitrária e o aprendizagem. Pelo contrário, de acordo com a
conhecimento destituído de sentido para as revisão bibliográfica, notou-se que vários
crianças. Para isso, é preciso estar atento à autores defenderam que o exercício da leitura
necessidades, desejos e curiosidades das e da escrita nesse período devem ser
crianças. A observação cuidadosa das ações, apresentados em instrumentos prazerosos,
opiniões, ideias e questionamentos delas em estimulando um aprendizado significativo e
suas atividades cotidianas pode contribuir para eficiente, por meio de práticas lúdicas.
a apreensão dos interesses e ser utilizado como Nesse sentido, além da ludicidade, o
forma de atrair a atenção dos alunos para a professor de educação infantil precisa encarar
introdução de novos conhecimentos. a alfabetização como um ato de amor, tal como
defendera Freire (1999), a noção de que não se
A ALFABETIZAÇÃO COMO ATO pode falar em educar sem amor. Conforme
observado anteriormente, para a
DE AMOR transformação da sala de aula em um ambiente
Diante da discussão levantada, verifica-se a alfabetizador, o professor, entre outras coisas,
importância de oportunizar às crianças, ainda precisa estabelecer com cada aluno uma
na educação infantil, os primeiros contatos com relação de confiança. E, para isso, na medida
o universo letrado. Para isso, a família e o em que se trata de crianças, o professor precisa
professor cumprem um papel fundamental no ser carinhoso, amoroso e paciente, a fim de
sentido de estimular nas crianças e/ou construir um sôlido relacionamento que, por
aproveitar sua curiosidade para introduzir as sua vez, venha a facilitar a consolidação da
noções iniciais \/incubadas à alfabetização. aprendizagem.
Nesse sentido, o letramento aparece como A aplicação da ludicidade no processo de
estratégia didática propiciando ao aluno o ensino e aprendizagem na educação infantil,
contato com a leitura, a escrita, bem como a especialmente, nos processos de letramento e
compreensão dessas habilidades como formas alfabetização é indicado e bastante promissor,
de se manifestar no mundo. entretanto, prescinde de alguns cuidados por

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

parte do educador. Luckesi (2016), em artigo


sobre a ludicidade e a formação do educador,
observa que na medida em que o educador tem
noção de que a “ludicidade é um estado
interno”, cabe a ele, “cuidar, em primeiro Iugar,
de si mesmo” (2016, p. 19). Um educador para
conduzir uma prática educativa lúdica, deverá
ter em si o lúdico e estar atento as suas próprias
emoçôes.
A atuação lúdica aparece como sugestão em
várias propostas pedagógicas, principalmente,
da Educação Infantil. Visto que a utilização da
experiência lúdica na educação propicia
situações de aprendizagem significativas ao
desenvolvimento integral da criança. Isso
porque a ideia de liberdade, criatividade,
imaginação, participação, interação, autonomia
relacionam-se com a ludicidade. Nesse sentido,
ela estimula o desenvolvimento da imaginação
que é fundamental para criatividade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A despeito das divergências de opiniões entre os neste trabalho, referenciamo-nos pela
concepção de alfabetização e letramento são dois processos distintos, porém
interdependentes. No qual, o primeiro consiste na aquisição das habilidades técnicas de leitura e
escrita, enquanto o segundo, aparece como a aplicação dessas técnicas.
Ainda que a alfabetização tenha o seu início regulamentado oficialmente somente
a partir do primeiro ano do Ensino Fundamental, foi possível notar a importância da inserção de
ambos os processos na formação das crianças ainda naEducaçáo Infantil. Todavia, verificou-se
também, a complexidade que envolve o tema, contribuindo para diferentes concepções quanto
aos conceitos de alfabetização e letramento, bem como ao periodo ideal de introdução desses
novos conhecimentos.
A proposta da análise sobre a alfabetização na educação infantil como um ato de amor,
partiu do objetivo geral de identificar os fatores que despertam o interesse das crianças para a
prática de leitura e escrita. Observou-se, assim, que parte das crianças o interesse por
compreender os signos de comunicação que permeiam o universo dos adultos letrados.
Ao professor, como forma de estimular e despertar o interesse dos seus alunos para esse
aprendizado, cabe observar de forma criteriosa e atenta às indagaçôes e questionamentos dos
alunos, a fim de se aproveitar dessas questões para inserir situações de aprendizagem de leitura
e escrita.
Na elaboração de um ambiente alfabetizador, pode-se perceber que o papel da familia e
do professor são fundamentais para o sucesso do processo inicial de alfabetização das crianças.
A família aparece não só como o primeiro ambiente socialização infantil, como também é o lugar
onde as crianças têm os primeiros contatos com as formas oral e escrita da linguagem. Além disso,
a participação da família intervém diretamente para o sucesso ou o fracasso não apenas do
processo de alfabetização, mas de toda a vida escolar de seus filhos.
Ao passo que ao professor de educação infantil, uma de suas principais atribuições estão
as funções de mediar a relação entre os alunos e o conhecimento, promover um aprendizado
relacionado ao contexto e às vivências das crianças, proporcionar o acesso ao universo letrado a
partir da inter-relacionamento entre
letramento e alfabetização e, por fim, como um ato de doação e amor, utilizar-se das
atividades lúdicas como forma de estabelecer um relacionamento saudável com seus alunos,
despertando neles o interesse e a curiosidade em aprender.
Com isso, a opção por uma revisão da literatura foi suficiente para conduzir a discussão e
alcançar as respostas ao problema inicialmente colocado, na medida em que a argumentação dos
autores demonstraram a relevância dos processos de alfabetìzação e letramento na educação
infantil e que eles sô podem ocorrer a partir de um born relacionamento entre professor e aluno.
Uma vez que o processo de compreensão da leitura e da escrita e suas aplicações, consiste em
um ato de doação, em que se transmite ao próximo um conhecimento imprescindivel para sua
inserção no mundo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Uma relação de empatia entre o professor e o aluno se faz necesário para a apropiação do
conhecimento e, por isso, consiste em um ato de amor.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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VYGOTSKY, L. Pensamento e Linguagem. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA A PARTIR


DA LUDICIDADE DOS JOGOS
Méleri de Fátima Arraz Moysés 1

RESUMO: Assim como as mudanças acontecem com o tempo, seja no modo de se vestir, agir,
pensar, a educação não poderia permanecer estática, exigindo que a mesma se adaptasse para
atender as novas necessidades dos alunos e da sociedade, sendo assim, entre os diversos
métodos de ensino, encontramos o uso do Lúdico, que apesar de não ser uma metodologia nova,
é pouco difundida atualmente. O uso o Lúdico em sala de aula traz diversos benefícios para os
alunos, inclusive para o tutor, permitindo melhor aprendizado, de forma descontraída, quebrando
o ambiente monótono em muitas matérias, por meio do seu uso os alunos podem se divertir e
aprender ao mesmo tempo, criando assim grande vantagem seu uso em salas de aula.

Palavras-Chave: Lúdico; Jogos; Matemática; Sala de Aula.

1Professora do Ensino Fundamental I. na Rede Estadual de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
E-mail:meleri@bol.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO representações do mundo concreto com a


finalidade de entendê-lo.
A ludicidade com a utilização de jogos é um Para o educando a expressão do objeto por
assunto que tem conquistado espaço no meio da brincadeira representa o sentimento
panorama nacional, por ser o brincar a essência que ainda não consegue dizer em palavras orais
da infância e seu uso permite um trabalho ou escritas. Nessa perspectiva é que entra o
pedagógico que possibilita a produção do papel do professor, um conhecedor dos
conhecimento, da aprendizagem e do movimentos naturais do indivíduo ainda em
desenvolvimento. pleno desenvolvimento.
Independentemente de época, cultura e O presente artigo apresenta uma pesquisa
classe social, os jogos e brinquedos fazem parte bibliográfica e documental, no qual são
da vida da criança, pois elas vivem num mundo abordados temas e conceitos que ajudam no
de fantasias, de encantamento, alegrias e debate deste interessante assunto que
sonhos, no qual a realidade e o faz de conta se possibilita a aprendizagem da matemática a
confundem. partir de jogos, para contribuir de forma
Na sociedade, com transformações significativa para o desenvolvimento do ser
aceleradas que vivemos, somos sempre levados humano, auxiliando não só na aprendizagem,
a adquirir novas competências, pois é o mas também no âmbito social, pessoal e
indivíduo a unidade básica para as mudanças. A cultural facilitando no processo de socialização,
utilização para brincadeiras e jogos no processo comunicação, expressão e construção do
pedagógico faz despertar o gosto pela vida e pensamento.
leva os indivíduos a enfrentarem os desafios A aprendizagem receptiva significativa
que lhe surgem. quando a tarefa ou o conteúdo a ser aprendido
Desde muito cedo as crianças interagem com se torna significativo durante o seu processo de
o mundo que as cercam, o mundo que as internalização e passa a fazer sentido para o
cercam, o que reflete na sua maneira de pensar, educando.
aprender e interagir com os outros e com o O jogo aproxima deste modo o educando do
meio. Por intermédio de simples ferramentas conhecimento científico, pois ele passa a viver
em sala de aula, o professor é capaz de verificar virtualmente situações de busca por soluções
se o lúdico, os jogos e as brincadeiras de problemas próximos daqueles enfrentados
funcionam como ferramentas para viabilizar o pelos cientistas durante o processo de
processo de aprendizagem das crianças. construção do conhecimento científico.
O jogar e brincar na escola é, portanto mais Objetivamos verificar por meio da história
que uma atividade, segundo Piaget (1998), é dos jogos e brincadeiras, a necessidade de
um berço obrigatório que contribui e enriquece incluir o lúdico no processo para tornar a
o desenvolvimento do aprendiz. Os jogos e aprendizagem mais atraente; compreender os
brincadeiras são o primeiro e melhor recurso conceitos de alguns teóricos sobre a
para o caminho da aprendizagem não apenas importância do lúdico e a utilização desse
na diversão, mas como um modo de criar conhecimento no cotidiano da Educação;

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

apresentar a importância de utilizar o jogo A HISTÓRIA DOS JOGOS E


como um recurso que pode estimular a
aprendizagem da matemática; debater sobre a BRINCADEIRA
utilização do recurso do jogo matemático como A criança em sua primeira infância é muito
um facilitador do desenvolvimento da centrada nela mesma. Esse é um aspecto que
aprendizagem das crianças. vai sendo modificado pouco a pouco e, se o
Partindo do pressuposto de que o jogo espaço da escola permite que a criança haja em
matemático é uma ferramenta do cotidiano liberdade e o ambiente de sua casa não a
infantil e é o meio pelo qual a criança se compromete fisicamente e intelectualmente,
relaciona com outros conhecimentos, ela não ela chegará ao primeiro grau razoavelmente
pode ser impedida de usufruir do uso de sua socializada, e estabelecendo relações de troca
imaginação como fio condutor do seu com seus iguais, ou seja, com seus colegas de
desenvolvimento, portanto se faz necessário turma, na escola. E o significado, nessa primeira
introduzir jogos e brincadeiras no cotidiano fase da vida depende mais que em qualquer
escolar, de que forma que a criança não sofra outra, da ação corporal. Mesmo assim,
alteração psicológica e o professor possa raramente a escola tem a clarividência de
utilizar os jogos e brincadeiras como um incluir nesse processo a atividade física, o jogo.
recurso didático importante no processo ensino Se o contexto for significativo para criança, o
aprendizagem. jogo como qualquer outro recurso pedagógico,
Observa-se na atualidade, que os resultados tem consequência importante em seu
da Educação, apesar de todos os seus projetos desenvolvimento.
continuam insatisfatórios, principalmente no As habilidades motoras precisam ser
conhecimento da matemática, percebe-se desenvolvidas, sem dúvida, do ponto de vista
então a necessidade de mudanças nas escolas e cognitivo, social e afetivo. Ao nascer reage por
também na formação dos professores que reflexo e estímulos de sucção, de marcha, de
utilizam os jogos e brincadeiras sem uma respiração, de extensão da palma da mão.
contextualização que impulsione a Outros movimentos de que dispõem,
aprendizagem e o desenvolvimento das chamados espontâneos, são aparentemente
habilidades educativas dessa fase da infância, difusos, desorganizados e abrangem todo o
tornando assim este recurso didático corpo, especialmente os membros. Após
meramente recreativo. poucos meses a criança já não sugará só por
Pode, de fato, o emprego de jogos reflexo, mas por intenção.
matemáticos na educação contribuir para Nesta primeira etapa da vida os recursos
possibilitar a estruturação de uma educação utilizados são exclusivamente sensório-motor,
matemática de qualidade? (o que inclui sentimentos, emoções, relações,
entre outros). O esquema que permite
manipular um objeto não serve de imediato
para manipular outro. Cada assimilação exige
uma acomodação. Fracassando uma vez ela

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tenta novamente e precisa ser estimulada para introduz o indivíduo no mundo dos sistemas e
continuar tentando, passando, pouco a pouco, teorias no qual é denominado operatório
a considerar as características do novo objeto, formal ou hipotético dedutivo.
até que o esquema inicial utilizado possa ser Para Piaget (1979), o símbolo é uma
modificado, adaptando-se a nova situação. A representação mental de objetos do meio
linguagem é fundamental não só para a externo. A maturação biológica coloca à
estruturação de um nível cada vez mais elevado disposição dos seres um recurso, o símbolo. Há,
do pensamento, mas mesmo para a temporalmente, uma diferença básica entre
estruturação de atos motores. pensamento e ação física: enquanto em pouco
O desenvolvimento infantil é analisado em mais de um ano foi necessário para estruturar
suas diversas etapas, estes períodos de todos os mecanismos motores básicos, muitos
desenvolvimento são estanques, um deles anos serão necessários para estruturar um
começa num certo momento, exatamente pensamento, já construído do ponto de vista
quando termina um outro. Convém lembrar corporal. Nesta etapa é preciso aprender a
que estamos falando de seres vivos, e mais, de pensar.
seres humanos o que torna impossível essa A escola não deve trabalhar com o intuito de
precisão matemática na análise do fazer com que as crianças pequenas tornem um
desenvolvimento. De modo geral, ao nascer a miniadulto, mas deve-se trabalhar para que a
criança é caracterizada por uma atividade do criança construa e reforce suas estruturas
tipo automática, reflexa, passados os primeiros corporais e intelectuais. Uma atividade
meses de vida começa movimentos fundamental para a Educação Infantil é o faz de
intencionais Le Boulch chamou esse período de conta, pois durante esta brincadeira, ao
a etapa do corpo vivido. praticarem a ação corporal, ela passa a
Para Piaget (1979), aparece no individuo o preocupa-se em ajustar-se com o mundo
comportamento inteligente, são os esquemas exterior, ou seja, com o mundo real.
de ação. Segundo o autor o primeiro período de A brincadeira á a atividade espiritual mais
vida da criança Sensório-motor, ocorre entre pura do homem neste estágio e, ao mesmo
um e dois anos de idade aproximadamente tempo, típica da vida humana enquanto um
também chamado de latência. A partir do todo da vida natural interna do homem e de
surgimento da linguagem, inicia-se um novo todas as coisas. Ela dá alegria, liberdade,
período, pré-operatório, intuitivo, ou contentamento, descanso interno e externo,
simbólico, fazer compreender tal período se paz no mundo. A criança que brinca sempre,
estenderia até os sete anos, mais ou menos. com determinação auto ativa, perseverando,
Após alguns anos, passará para o operatório- esquecendo sua fadiga, pode certamente
concreto, início da cooperação e do raciocínio tornar-se um homem determinado, capaz de
lógico vai dos 6 a 7 anos, mais ou menos, até os auto sacrifício para a promoção do seu bem e
10 ou 12 anos aproximadamente. O último dos dos outros. Como sempre indicamos o brincar
períodos do desenvolvimento da inteligência em qualquer tempo não é trivial, é altamente
descrito por Piaget, começa na adolescência e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sério e de profunda significação. (FROEBEL, sejam compatíveis com o nível da criança, isto
1912, apud, KISHIMOTO, 2002, p. 68). é, desde que ela possa superá-los.
O jogo, como o desenvolvimento infantil, Na estabilidade não há desenvolvimento.
evolui de um simples jogo de exercício, Toda ação que contenha algo que seja visto
passando pelo jogo simbólico e o jogo de como novo para a criança constitui um
construção, até chegar ao jogo social. problema para ela. Novo, para a criança é
No primeiro deles, a atividade lúdica refere- aquilo que suas estruturas cognitivas não
se ao movimento corporal sem verbalização; o reconhecem. A criança compreende aquilo que
segundo é o faz de conta, a fantasia; o jogo de vive que concretiza na sua ação. Quando, num
construção é uma espécie de transição para o jogo o professor oferece materiais variados,
jogo social. Por fim é aquele marcado pela que possa inclusive ser confeccionada junto
atividade coletiva de intensificar trocas e a com as crianças, está permitindo que elas
consideração pelas regras. O jogo contém um possam vivenciar e tomar consciência da
elemento de motivação: o prazer da atividade realidade concreta, transformando o real em
lúdica. Há que se encontrar a medida certa função de suas necessidades.
entre a movimentação corporal e a
imobilidade, entre o sério e o lúdico, entre o A RESPEITO DO JOGO
prazer e a obrigação rotineira. Na primeira
Existe muita confusão a respeito dos termos
infância a ação corporal ainda predomina a
brinquedos, brincadeiras, jogo e esporte. As
ação mental.
definições dessas palavras em nossa língua
O corpo tem uma infindável capacidade de
pouco às diferenciam. Brincadeira, brinquedo e
educar-se. Não pode, nem se deve negar a
jogo significam a mesma coisa, exceto que o
inteligência corporal como componente
jogo implica a existência de regras e de
fundamental no processo de adaptação dos
perdedores e ganhadores quando de sua
seres humanos ao seu meio ambiental. A partir
prática. Também esporte e jogo representam
do início da segunda infância a criança pode
quase à mesma coisa, apesar de esporte ter
compreender de forma lógica sua vida de
mais a ver com prática sistemática.
relações, consequentemente a representação
A variedade de fenômenos considerados
fantasiosa que caracteriza a primeira infância
como jogo, mostra a complexidade da tarefa de
será superada por uma representação
defini-lo. Assim, atirar com um arco e flecha,
simbólica mais comprometida com os
para uns é jogo, para outros, é preparo
elementos da realidade concreta com os quais
profissional. Uma mesma conduta pode ser
as crianças interagem.
jogo ou não jogo, em diferentes culturas,
O professor não deve dar soluções prontas
dependendo do significado a ela atribuído. Para
para a criança, mas oferecer pistas que levem a
se compreender a natureza do jogo, é preciso
solução, propondo questões mais simples que
classificar situações entendidas como jogo,
facilitem resoluções de questões mais
diferenciações que permitem o aparecimento
complexas. O educador deve ser um
de suas espécies.
provocador de desequilíbrios, desde que eles

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Entre os autores que discutem a natureza do transformação não poderá agir inconsciente e
jogo, encontram-se Caillos (1967); Huizinga irrefletidamente. Cada passo de sua ação
(1951); Henriot (1989); Fromberg (1987); deverá estar marcado por uma decisão clara e
Christie (1991), entre outros. explicita do que está fazendo e para onde
Os autores acima citados, assinalam pontos possivelmente está encaminhado os resultados
comuns: o prazer (ou desprazer), o ”não sério” de sua ação (LUCHESI, 1999, p. 46).
ou o efeito positivo; as regras (implícitas ou Com o renascimento começou a exigir
explicitas); a relevância do processo de brincar também o desenvolvimento do corpo, e a partir
(o caráter improdutivo), a incerteza de seus deste contexto que surgiu os jogos educativos.
resultados; a não literalidade ou a Inácio de Loyola (2000), acredita na
representação da realidade, a imaginação e a importância dos jogos de exercício para o
contextualização no tempo e no espaço. desenvolvimento do ser humano e que sua
Neste trabalho, jogo pode ser sempre utilização como recurso da aprendizagem é
entendido como objeto, suporte de atividade fundamental.
de aprendizagem e a mesma como descrição de Dewey (1859 - 1952), modifica a tradição
uma conduta estruturada, com regra no jogo froebeliana que durou cinquenta anos,
para designar, tanto objeto e as regras do jogo colocando a experiência direta com os
da criança. elementos do ambiente, e os interesses das
crianças como novos eixos, no qual a
O JOGO NA EDUCAÇÃO aprendizagem infantil acontece de maneira
espontânea, por meio dos jogos e das situações
INFANTIL de seu cotidiano.
Por intermédio da manipulação dos objetos A importância dos jogos educativos de
pode-se perceber que a criança passa a ter mais caráter exploratório, no qual as crianças
facilidade para aprender e cabe ao professor possam utilizar livremente, começou a ser
utilizar materiais concretos para estimular estas divulgado na Europa, pela escolanovista Maria
crianças. Montessori.
Platão em Les Lois (1948), afirma da Os jogos utilizados na educação,
importância de aprender brincando, sem que se principalmente na educação infantil possui uma
tenha repressão, pois entre os romanos os ampla classificação que são:
jogos eram totalmente voltados para o preparo • Jogos tradicionais - que tem uma
físico, com intuito de formarem soldados. característica anônima, e sua transição e oral.
O interesse pelos jogos surgiu devido a • Jogos de construção - é de caráter livre,
Horacio e Quintiliane, cujo ambos referem a no qual as crianças por meio dos manuseios das
presencia de guloseimas em formas de letras, placas passem a construir, transformar, criar, e
porem esse interesse acabou por causa do até mesmo destruir, podendo assim expressar
cristianismo. seu imaginário. O jogo de construção é muito
Um educador que se preocupe com a sua importante para está faixa etária, pois ele
prática educacional, esteja voltada para a contribui para que a crianças além de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolver suas habilidades motoras, ele Apesar da facilidade na aplicação das aulas
estimula sua criatividade e enriquece sua lúdicas, é importante o planejamento correto
experiência sensorial. do conteúdo a ser passado, o estudante deve
Há também os jogos de regras, de faz de ao mesmo tempo em que “brinca”, aprender e
conta entre outros. ter noção disso, ou seja, perceber que está
absorvendo novos conhecimentos concretos e
USO DE JOGOS LÚDICOS NO uteis, que podem (e devem) ser aplicados
posteriormente em exercícios ou perguntas
ENSINO FUNDAMENTAL realizadas tanto pelo professor quanto pelos
É imprescindível que nesta fase o professor próprios alunos.
tenha um perfil para a pedagogia relacional, As aulas devem ter objetivos concretos de
utilizando de seus conhecimentos para criar a passar um conhecimento ou experiência pré-
ponte entre o aluno e o conhecimento. No definida pelo professor, evitando o apenas
começo desta fase as crianças estão mais “brincar” e consequentemente perder o rumo
suscetíveis as brincadeiras e por tanto mais da aula. Vale lembrar que é necessário que o
fáceis para a aceitação, tudo isso somado ao tutor entenda que o corpo e o intelectual
fato de que o cérebro está em pleno trabalham juntos no aprendizado, para a que o
desenvolvimento, como uma espécie de aluno possa compreender o meio, trocar
“esponja”, pronta para absorver novos informações e experiências adquiridas.
conteúdos, principalmente se apresentados de Com o passar do tempo às crianças mudam,
forma descontraída, divertida ou animada, o o processo do lúdico não deve permanecer
que é proposto pelo lúdico em salas de aula. igual para sempre, principalmente quando
Assim o professor pode ter maior chegam ao quinto ano, por volta dos dez anos
conhecimento sobre cada aluno e se de idade, nesta fase não basta mais cantar,
necessário, redirecionar sua prática. Por correr, jogar apenas. É preciso alterar os
intermédio de trabalhos lúdicos em grupo, no métodos de aplicação do lúdico em sala de aula,
jardim de infância ou na pré-escola, ensinamos nessa etapa o professor deve estar atento aos
os alunos a compartilhar, dividir, interagir, acontecimentos em sala buscando agir de
respeitar os limites colocados para aquela forma conciliadora, por meio de atividades que
atividade. O professor deve orientar as aulas possam promover a socialização e união, com o
para que todos se manifestem e produzam uso de exercícios lúdicos em grupo, para
independente de suas capacidades. Nos melhor aprimoramento do convívio em
primeiros anos escolares é muito importante sociedade.
deixar claro que cada sujeito é único, com O instrutor também deve organizar as aulas
diferentes construções lógicas e significações. de forma mais cuidadosa, visando à segurança
Neste momento, em que o aluno entra no dos alunos, já que nesta idade as brincadeiras
estágio das operações concretas, o lúdico se tonam mais perigosas e o “brincar
aliado ao conhecimento é de fundamental impetuoso” se torna parte das aulas. Nessa
importância. etapa da vida, é comum eles buscarem testar

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

seus corpos o tempo todo, o instrutor deve se mas vale lembrar que isso não significa que as
precaver para evitar a ocorrência de acidentes. reclamações iram cessar, adolescente que não
No oitavo e nono ano, as coisas voltam a reclama está doente.Porém, com as atividades
mudar, e mais uma vez é necessário à propostas será possível à aplicação do lúdico
adaptação das aulas lúdicas por parte do com grande melhora na
professor. O contato se torna mais difícil, os aprendizagem/aceitação dos alunos.
objetivos dos alunos mudam e o meio me que O professor deve ter o cuidado de criar a
vivem também, isso sem contar as mudanças assimilação do conhecimento, criar novos
físicas e emocionais, que se manifestam de esquemas cognitivos para a evolução do aluno,
forma diferente em cada aluno. preparando o aprendiz para a cidadania,
Apesar de mais complicado, as aulas lúdicas fortalecendo sua ligação com o conhecimento
se fazem importantes, uma vez que permitem transformando ao aluno e a sua realidade
trabalhar com diversos fatores como a preparando para o mundo atual, no qual os
depressão, frustração, aceitação e aprovação meios de comunicação geram novos conceitos
pelos demais colegas. Incluímos também o fato aparentemente imutáveis. Cabe também ao
de que por meio do lúdico é possível trabalhar tutor enfatizar que o lúdico não e privilégio
e melhorar com aspectos importantes para a único da infância, mas sim parte importante
vida do aluno, como por exemplo: trabalhando para a vida toda, necessário tanto quando
aspectos corporais, timidez, oralidade, criança como quando adulto. Caso o conteúdo
literatura, etc. Com isso podemos concluir que não se fixe na mente do aluno, o lúdico não tem
aplicação do lúdico em salas de aula se faz valor, conhecimentos que são facilmente
extremamente necessária para a preparação do esquecidos, demonstram falhas na aplicação do
aprendiz, o fortalecendo para a vida adulta. lúdico em aula, cabe ao mestre mudar sua
Como aplicar aulas lúdicas para metodologia para aprimorar o ensino de seu
adolescentes? Uma vez que nessa fase, as aulas aprendiz.
são vistas como chatas, coisas de criança, perca Porem de nada vale o lúdico/jogo se o
de tempo. Com isso incluindo as constantes próprio professor não acredita em tal prática,
reclamações que ocorrem o tempo todo. O sendo assim o mestre precisa ter confiança no
professor deve demonstrar para o aluno como lúdico e elaborar de forma séria e correta suas
determinada atividade pode melhorar ou aulas, visando o melhor para cada faixa de
ensinar alguns conceitos específicos. idade, criando um ambiente de respeito mútuo
Algumas abordagens interessantes se e confiança.
provaram mais eficazes no trabalho com Temos então uma poderosa ferramenta, o
adolescentes, com a grande melhora no ensino lúdico, que implantado de forma correta e
de alunos dessa idade, alguns exemplos são responsável pelo tutor, permite a melhor
apresentações de teatro, pesquisando peças, qualidade do ensino em sala de aula, com
autores, desafios, realização de experimentos fortalecimento garantido do aluno para sua
em sala, etc.. Com isso o tutor pode aplicar o vida acadêmica, profissional e pessoal.
lúdico de forma mais aceitável para o aprendiz,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

USO DO LÚDICO EM AULAS DE respostas, entre outros, transformam o


ambiente, anteriormente pesado, maçante e
MATEMÁTICA chato em aulas descontraídas e divertidas,
Um dos maiores desafios do uso de aulas permitindo a melhor aproximação do aluno ao
lúdicas se aplica nas aulas de matemática. conhecimento matemático, sanando as falhas
Nesse caso o objetivo vai além do ensinar, mas na atividade escolar diária. Assim temos três
também de desenvolver o raciocínio lógico- pontos principais que justificam o uso de lúdico
dedutivo, estímulo de pensamentos, em sala: o caráter lúdico, o desenvolvimento
criatividade e principalmente a resolução de das técnicas intelectuais e a formação de
problemas de modo geral. relações sociais.
Incluímos também o obstáculo de que na Por intermédio dos jogos contamos com a
grande maioria das vezes a matemática é vista oportunidade de amadurecer conteúdos e
pelos alunos como “bicho-papão”, não é difícil aprofundar outros já trabalhados, usados para
encontrar alunos com dificuldade de aprender facilitar o conhecimento dos alunos que
matemática e que ainda dizem para si mesmos apresentem dificuldade de aprender a matéria.
e para os outros “eu não consigo aprender Devido a isso devemos usá-los como
matemática” ou “eu não gosto de matemática”. facilitadores e não como instrumentos
Gerando ao professor dessa matéria o recreativos.
desafio de ter que aumentar a motivação de Segundo Malba Tahan (1968, p. 45), “para
seus alunos antes mesmo de aplicar seus que os jogos produzam os efeitos desejados é
ensinamentos, desenvolver autoconfiança, a preciso que sejam, de certa forma, dirigidos
organização, concentração, raciocínio, pelos educadores”.
socialização e interações com outros alunos. Assim o mestre deve observar como as
Uma vez bem planejado, a aplicação de jogos crianças agem durante o jogo, não basta
pode facilitar a absorção de conhecimentos ensiná-las a jogar, mas sim, observar e
matemáticos, com o uso das ferramentas interferir, aplicar questões interessantes,
corretas é possível levar um novo conceito para desafiar a criatividade e a capacidade de
os alunos em relação à matemática, o de que é resolução de problemas e ainda assim manter a
possível, não apenas aprender, mas também se dinâmica dos grupos e de cada criança
divertir com a matemática e descobrir diversas individualmente.
utilidades por meio de sua aplicação. Também é necessária a atenção na escolha
Vygotsky (apud, BEAUCHAMP, 2007), afirma dos jogos, já que os mesmos devem estimular a
que o uso do brinquedo permite o melhor resolução de problemas, raciocínio e conter
aprendizado da criança em uma esfera desafios. A utilização de regras para o alcance
cognitiva, estimulando a curiosidade, desses pontos é absolutamente imprescindível
confiança, desenvolvimento da linguagem, do para o alcance dos objetivos até agora citados.
pensamento, concentração e atenção. Lembrando que tais atividades não podem ser
O uso de jogos como de tabuleiro, dominó, muitos difíceis, contando com o equilíbrio entre
palavras cruzadas, memória, perguntas e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o jogo e os conhecimentos já obtidos pelos • Trabalhar a frustração dos alunos,


alunos. perante a derrota.
No que diz respeito a jogos matemáticos, Com o uso correto dos conceitos descritos
temos três categorias principais: acima pelo mestre, temos uma ótima
Estratégicos: trabalha o raciocínio lógico, por ferramenta para o ensino de matemática em
meio de regras que obedecidas pelos alunos, salas de aula, o lúdico.
permite chegar a uma resolução para alcançar
o objetivo final.
Treinamento: utilizado para a aplicação de
reforço para alguns alunos, de forma mais
descontraída, sem o uso de aulas maçantes.
Geométricos: foco na observação e
pensamento lógico, trabalhando figuras,
semelhanças, ângulos, etc..
Com aplicação correta dos jogos e a
utilização de regras previamente preparadas
pelo tutor, podemos obter os seguintes
benefícios principais:
• Os alunos aprendem de forma natural,
sem serem obrigados a isso.
• A busca do próprio aluno para melhorar,
devido a criação de competição entre os
colegas.
• Detecção de alunos com dificuldade.
• Os alunos apresentam a assimilação do
conteúdo
• Melhora na confiança e senso crítico de
cada aluno.

Mas também devemos nos atentar aos


seguintes fatos:
• As atividades devem ser feitas em
duplas/grupos.
• O jogo deve ser testado pelo tutor, antes
da aplicação.
• O jogo não é algo obrigatório.
• A sorte não deve interferir no resultado
final
• O uso de regras é obrigatório.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de jogos em sala de aula deve ser encarado como método facilitador e
complementador da aprendizagem, não como único meio ou solução milagrosa.
Mas devido aos pontos apresentados por esse trabalho bibliográfico, o uso do lúdico
permite ao aluno alcançar o conhecimento de forma mais fácil, e mais do que isso, permite ao
aluno melhorar aspectos que geralmente não podem ser trabalhados em sala de aula, como
autoconfiança, respeitos ao próximo, vontade/animo de aprender, aprende a seguir as regras
propostas e a ganhar/perder.
Essa poderosa ferramenta tem o poder de sanar lacunas (ou a maioria delas) existentes no
estilo de ensino atual, preparando os alunos de forma mais efetiva para o mundo, trabalhando
aspectos como emocional, físico e mental, que por sua vez são refletidos na vida profissional e
social.
Nos últimos anos a educação tem passado por grandes transformações devido ao avanço
tecnologia e a globalização, o uso do lúdico permite uma adaptação a essas mudanças de modo
mais suave, além de incumbir os benefícios citados nesse trabalho.
O professor deve estar sempre pronto para aprender, se o mestre não acreditar no uso do
lúdico, planejá-lo antecipadamente, testá-lo e seguir as dicas demonstradas neste artigo,
certamente não poderá aplicar o lúdico, pelo menos não de forma efetiva, para obter o máximo
de retorno dos seus alunos.
Com isso podemos afirmar, o uso do lúdico é importante, mais do que isso, ele se faz
necessário na educação atual, de modo que a sua aplicação ou não faz uma grande diferença na
criação das novas gerações que ainda viram.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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FREITAS, M. S., & Pailino, G. P. Educação e ludicidade na primeira fase do ensino


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(14 ed.). São Paulo: Edições Loyola, 1996.

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http://www.matematica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1320. Data
de acesso: 20/02/2020.

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TAHAN, M.. Matemática Divertida e Delirante. São Paulo: Saraiva, 1968.

VASCONCELOS, C. d.. Construção do conhecimento em sala de aula. São Paulo: Libertad,


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mundo. Brasil MEC/SEB. Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da
criança de seis anos de idade/ organização Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pagel, Aricélia
Ribeiro do Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

WADSWORTH, B. J.. Inteligência e Afetividade da Criança na teoria de Piaget. São Paulo:


Pioneira, 1977.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA NOS


ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Luciana Fumes 1

RESUMO: Este artigo tem como objetivo levar os educadores dos anos iniciais do Ensino
Fundamental a uma reflexão sobre sua prática pedagógica na Educação Matemática, pois, para
que haja um aprendizado de qualidade, os conteúdos curriculares devem ser abordados de forma
significativa e baseando-se no conhecimento prévio dos alunos, o que permitirá uma construção
de saberes visando a formação de cidadãos críticos e participantes de sua sociedade.

Palavras-Chave: Educação; Matemática; Aprendizagem.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio, atuando como Coordenadora Pedagógica na Rede Municipal de
São Paulo.
Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Matemática; Especialização em Matemática Aplicada;
Especialização em Formação Docente.
E-mail: luciana.fumes@yahoo.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Cabe a nós educadores estarmos sempre em


pesquisa, nos aprofundando e aprimorando
Diante da realidade da nossa sociedade não só nosso conhecimento técnico, mas
científica e tecnológica que progride essencialmente, como trabalhá-los em sala de
continuamente em todos os ramos da ciência aula, contextualizando e desenvolvendo
verificamos a situação crítica em que se sempre heuristicamente para que os
encontra a Educação no Brasil. Pensando conhecimentos sejam construídos pelos nossos
especificamente na Educação Matemática, educandos de forma concreta e real, para assim
chegamos à conclusão que algo deve ser auxiliar na formação de cidadãos críticos e
reformulado. reflexivos, participantes do desenvolvimento
Se concebermos no movimento da educação intelectual, político e social do país.
matemática que o espaço escolar é destinado a
realização de atividades mais amplas que a
TRABALHANDO A
própria matemática, devemos nos questionar o
quanto de matemática propomos aos alunos MATEMÁTICA DE FORMA
das séries iniciais na perspectiva da educação SIGNIFICATIVA NOS ANOS
matemática. Para tomarmos mais clara nossa
reflexão, vamos tomar três exemplos de
INICIAIS
produção de crianças que, segundo a escola, A Matemática constitui uma linguagem e é,
estão em situação de dificuldade em portanto, um instrumento de comunicação e
matemática no momento que o professor não leitura do mundo. Está presente na vida de
consegue identificar na produção do aluno das todas as pessoas, de maneiras e em momentos
séries iniciais o desenvolvimento de atividade diversos, pois todos, de alguma forma,
matemática de alto valor cognitivo. precisam contar calcular, localizar-se no
O educador, como qualquer outro espaço, ler e interpretar tabelas, gráficos,
profissional, encontra vários obstáculos mapas, plantas e maquetes, fazer previsões,
quando tem a função de mediador do intuir, deduzir, analisar, raciocinar, argumentar
conhecimento desses que são o “futuro” do etc. As dificuldades de aprendizagem bem
país. Sabendo que essa não é uma tarefa fácil, como as deficiências no ensino da Matemática
busca formas de atingir seus objetivos por meio constituem, já há algum tempo, preocupação
de sua própria formação continuada, visando para os estudiosos cujas investigações são
sempre aprofundar seus conhecimentos a fim dedicadas às questões inerentes à aplicação de
de auxiliando da melhor maneira esses alunos. metodologias no ensino da Matemática, assim
Algo de extrema importância a ser tratado é como ao refinamento da compreensão desta
a valorização dos conhecimentos prévios das ciência tão discriminada pela exatidão de seus
crianças, para a partir daí, construir significados métodos. O nível de verdadeira aversão à
elaborados por estes, que devem desenvolver Matemática apresentada pelas crianças parece
seu raciocínio e todo seu potencial estar intimamente ligado à forma usual como a
interpretativo e participativo. mesma é abordada no âmbito escolar, o que é

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fator determinante para o desempenho da A Matemática contribuirá diretamente na


trajetória educacional do aluno. formação deste cidadão, desenvolvendo
A prática de ensino em geral é uma ação habilidades e competências que serão úteis na
pedagógica que visa o aprimoramento, sua vida social e profissional, sem
mediante uma multiplicidade de enfoques, da desconsiderar, no entanto, seus
ação educativa exercida no sistema educacional conhecimentos prévios trazidos de seu grupo
de maneira mais direta e característica, qual sociocultural, respeitando suas diversidades e
seja a forma por excelência dessa ação, isto é, o pluralidades culturais, para isso, a
trabalho em sala de aula (D’ AMBRÓSIO, 1986, etnomatemática se faz presente
p. 37). proporcionando a compreensão do saber
Para que haja um aprendizado significativo e matemático em todas as esferas sociais ao
real, é preciso que o docente estimule o longo da história da humanidade,
estudante, de todos os níveis de escolaridade, a contextualizando em diferentes grupos de
participar com a sua atividade intelectual, interesse, comunidades, povos e nações.
curiosa, indagadora, irrequieta, criadora e até Para proporcionar toda essa reforma
mesmo perturbadora de quem quer cada vez metodológica sugerimos o ensino
mais conhecer e transformar. Fazendo com que aprendizagem realizado por meio da
os educandos percebam que no contexto em Modelagem Matemática e da Resolução de
que vivem, não é possível pensar a realidade Problemas que proporciona o desenvolvimento
em partes entendidas separadamente, pois a de todos os aspectos necessários ao
mesma é complexa em sua totalidade, desenvolvimento de um cidadão completo de
perpassando por vários aspectos sociais, que nossa sociedade globalizada necessita.
políticos, morais, econômicos e ainda que não
se pode desvencilhar os conhecimentos MODELAGEM MATEMÁTICA
“escolares” com o mundo extra classe.
A modelagem matemática trata-se da arte
O âmbito escolar tem a função precípua de
de transformar problemas reais em problemas
assegurar a todos os educandos,
matemáticos e solucioná-los interpretando
indistintamente, além de uma formação
suas soluções na linguagem do cotidiano, como
cultural sólida, as condições para que possam
nos explicita Bassanezi (2002).
desenvolver competências, habilidades e
Sua existência é mais antiga do que se pensa,
atitudes de cooperação, solidariedade e justiça,
pois suas aplicações são utilizadas desde os
que, inegavelmente, contribuirão tanto para a
tempos mais primitivos, foi “modelando” que
inserção no mercado do trabalho, desde que
os povos antigos estabeleceram teoremas,
este exista para todos, quanto para a formação
axiomas, fórmulas e cálculos que visavam
de uma consciência individual e coletiva dos
simplesmente resolver seus problemas diários.
significados e contradições existentes na
O termo, em sua concepção moderna, foi
sociedade contemporânea, possibilitando
estabelecido durante o Renascimento, quando
transformar e enfrentar as mudanças contínuas
surgiram as primeiras idéias da Física segundo a
e radicais desse mundo globalizado.
linguagem matemática.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A modelagem matemática é, assim, uma parte. Além de o estudante vislumbrar


arte, ao formular, resolver e elaborar alternativas no direcionamento de suas
expressões que valham não apenas para uma aptidões ou formação acadêmica.
solução particular, mas que também sirvam, O educador necessita deixar claro, que nem
posteriormente, como suporte para outras sempre se obterão respostas exatas, ou mesmo
aplicações e teorias (BIEMBENGUT&HEIN, pode acontecer de o modelo traçado não ser
2003, p. 13). aplicável à situação. Nesse caso, é hora de
A noção de modelagem sempre esteve refletir, replanejar e reiniciar o processo, no
presente em quase todas as áreas: Arte, Moda, qual a busca pelo modelo perfeito traz um
Arquitetura, História, Economia, Literatura e na “pacote” de aprendizado acumulado pela
própria Matemática, pois o ser humano vive em experiência que se adquire na formulação e
busca de soluções para os problemas do seu execução de um plano prático e real.
mundo real, no qual a evolução é constante e Durante toda essa mediação, o professor
contínua. deve ressaltar que nenhum modelo deve ser
A modelagem está inserida em nossa vida, idealizado como definitivo, pois durante todo o
mas não faz parte do contexto escolar. Este processo de construção, resolução e validação,
ambiente que deveria ser o “berço” dos pode-se detectar falhas, no qual o mesmo
maiores avanços científicos e tecnológicos modelo seja alterado e aperfeiçoado. A
futuros, no qual o aluno deveria ser o cidadão reformulação de modelos é uma das partes
criativo, crítico e transformador da realidade, fundamentais do processo de modelagem e da
pelo contrário, nas salas de aula encontram-se construção dos conhecimentos adquiridos
alunos desinteressados e desmotivados. neste trabalho, as reflexões necessárias na
Existem inúmeros benefícios que a busca do melhor modelo para determinada
modelagem matemática pode fornecer aos situação.
educandos e educadores, no âmbito escolar, é
uma forma de abstração e generalização com a A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
finalidade de previsão de tendências que
Em nosso cotidiano, dizemos que temos um
consiste, essencialmente, na arte de
problema quando nos surge uma dificuldade
transformar situações da realidade em
nos impedindo de atingir um objetivo qualquer,
problemas matemáticos cujas soluções devem
já um problema matemático é toda situação
ser interpretadas na linguagem usual e
requerendo a descoberta de informações
estabelecidas pelo seu modelador e como
matemáticas desconhecidas para que o
estratégia do processo de ensino-
indivíduo tente resolvê-lo, investigando
aprendizagem é eficiente a partir do momento
estratégias e criando idéias necessárias para
que os alunos se conscientizem que estamos
chegar a uma resolução.
sempre trabalhando com aproximações da
Resolver problemas é o processo de
realidade, ou seja, que estamos estabelecendo
aplicação de conhecimentos previamente
soluções para problemas reais sobre
adquiridos em situações novas e desconhecidas
representações de um sistema ao qual fazemos
(KRULIK, 1997, p.10).

50
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A resolução de problemas foi discutida e atento na seleção dos problemas que serão
estudada em 1980, no National Council of abordados durante as aulas, que precisam ser
Teachers of Mathematic NCTM, dos Estados de fácil interpretação além de estarem de
Unidos, onde apresentou-se recomendações acordo com a realidade dos alunos.
para o ensino de Matemática focado na Segundo Polya (1995), “nas resoluções de
contextualização e na relevância de aspectos problemas o primeiro passo é a compreensão
sócias sendo incorporados ao currículo. dessa situação e isso requer uma reflexão e
Hoje a proposta curricular está um tanto uma boa interpretação, para que o ponto
alterada e a resolução de problemas já é principal seja identificado, a incógnita. A seguir
encarada como uma metodologia de ensino de deve ser realizado um plano para a execução da
suma importância, no qual o professor propõe resolução referida e após a implementação do
ao aluno situações problemas caracterizadas planejado, deve-se verificar o resultado”, o que
por investigação e exploração de novos o autor chama de retrospecto.
conceitos, fazendo com que o educando se Nesse processo de indagação e descoberta,
sinta motivado a superar novos desafios utilizando o método heurístico, o professor tem
presentes em sua realidade. o papel de incentivador e mediador dando o
Essa estratégia pedagógica tem como suporte necessário aos alunos encorajando-os
objetivo nortear as intervenções necessárias na a pensar, para que as resoluções sejam
relação educador-educando, propiciando concretizadas, ressaltando inclusive que
maior participação e liberdade dos estudantes existem várias estratégias diferentes que
que atuam nas interpretações e formulações podem solucionar o mesmo problema, pois
como ponto de partida para solucionar os cada aluno pode escolher um caminho
problemas levantados. diferente, que tenha a liberdade para utilizar
É importante ressaltar a diferença entre bons seus conhecimentos prévios e extra-escolares
problemas matemáticos dos desafios que se para que formulando as soluções segundo seu.
encontram ao final dos capítulos de alguns Isso faz com que o próprio educando estabeleça
livros didáticos ou dos rodapés de palavras relações entre teoria e prática, relacionando a
cruzadas, revistas e almanaques, pois estes Matemática com situações reais pessoais e
desafios ou charadas ou ainda “quebra- sociais.
cabeças” tem por objetivo oferecer Na resolução, a compreensão do problema é
entretenimento e normalmente não exigem de extrema importância, por isso Polya ressalta
raciocínio dedutivo e levam à obsessão por os questionamentos elaborados em cima do
respostas corretas pré-estabelecidas. seu enunciado, para que este seja bem
Os bons problemas devem ser desafiadores, compreendido e os pontos condicionantes
reais, interessantes, elemento realmente sejam identificados, considerando o problema
desconhecido além de não apresentar sob vários pontos de vista e procurando a
resolução direta de uma ou mais operações relação com conhecimentos previamente
aritméticas e até mesmo possuir certo nível de concebidos.
dificuldade. Para isso o professor deve estar

51
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

É de extrema importância que o professor


valorize as soluções encontradas pelos alunos,
mesmo que não estejam completamente
corretas ou tenham sido variadas, pois estará
motivando-o e incentivando na busca de seu
próprio raciocínio.
As idéias de Polya auxiliam o resolvedor no
sentido de organizar suas idéias numa
perspectiva sistematizada, pois, quando temos
idéias organizadas à solução de um problema se
torna uma tarefa comumente mais simples em
comparação a uma situação, na qual as idéias
não estão organizadas.
Esse trabalho vem sendo utilizado como uma
forma de incentivar os alunos na busca de suas
próprias respostas, sem imposição alguma e
livre para que cada um determine um caminho
diferente.
Conforme Dante (1999, p.11), “é preciso
desenvolver no aluno a habilidade de elaborar
um raciocínio lógico e fazer uso inteligente e
eficaz dos recursos disponíveis, para que ele
possa propor boas
Na resolução é imprescindível que os
próprios alunos interpretem e compreendam o
problema antes de estabelecerem as ações
para resolvê-lo e nesse percurso de construção
da aprendizagem vários aspectos são
assimilados, entre eles, a leitura e a
interpretação tão essenciais na vida do
indivíduo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aprofundando os estudos no que tange a Educação Matemática, concluímos que existe um
aparato didático-pedagógico extremamente rico a nossa disposição, mas em contrapartida
vivemos uma situação educacional complicada e “fracassada” que anseia por transformações
rígidas e rápidas.
O contexto sociocultural sugere um fortalecimento dos aspectos moral, crítico e
participativo da sociedade. O ensino desenvolve no indivíduo condições de ele se tornar um
cidadão participante, especialmente ativo, desenvolvendo suas potencialidades visando sua
adequação e progresso em seu meio.
Não se pode eximir a escola de sua responsabilidade perante a situação crítica que se
encontra a Educação em nosso país, pois o ensino que ainda funciona no sistema de auto
transmissão com as pessoas se acostumadas às repetições e cópias de conteúdos soltos e
abstratos, totalmente alheias à realidade dos alunos.
Chamamos a atenção para os obstáculos mais comuns presentes em nosso sistema
educacional e que podem ser resumidos no fato de que existe um programa a ser cumprido num
prazo fixo, na falta de treinamento dos professores em relação a novas estratégias de ensino e na
dificuldade que os estudantes apresentam em todos os pré requisitos essenciais ao bom
desenvolvimento do aprendizado.
Os alunos carregam lacunas de longa data, isso proporciona a desmotivação e o
desinteresse, mesmo porque no sistema educacional atual de regime de “Progressão Continuada”
os educandos e a sociedade em geral acreditam que não é preciso ter bom desempenho para ser
aprovado no final do ano. As idéias equivocadas ligadas ao sistema educacional também são
obstáculos que o educador enfrenta em sala de aula.
Cada educador deve procurar se preparar em todas as faces do conhecimento técnico e
pedagógico, visando aprofundar seus conhecimentos continuamente, trabalhando sempre com a
sua realidade e buscando atingir aos seus alunos com as estratégias selecionadas para cada
situação.
A Educação Matemática é uma área ampla e precisa ser aprendida e reaprendida sempre,
o estudo deve ser contínuo, pois o profissional da Educação necessita estar atento às
necessidades da sociedade tecnológica em que vivemos, pois sua função social requer grande
responsabilidade e empenho.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BASSANEZI, R.C. Ensino-aprendizagem com Modelagem Matemática. São Paulo: Editora
Contexto, 2002.

BIEMBENGUT, M. S.; HEIN, N. Modelagem matemática no ensino. São Paulo: Contexto, 2000.

D’ AMBRÓSIO, U. Etnomatemática – Elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte:


Autêntica, 2001.

D’AMBRÓSIO, U. Da realidade à ação reflexões sobre educação e matemática. São Paulo:


Summus Editorial, 1986.

DANTE, L. R. Didática da resolução de problemas de matemática. São Paulo: Editora Ática,


1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São


Paulo: Paz e Terra, 165 p, 1996.

KRULIK, S.; REYS. R. E. A resolução de problemas na matemática escolar. São Paulo: Atual
Editora, 1997.

MACHADO, Nilson José. Matemática e Educação: Alegorias, tecnologias e temas afins. São
Paulo: Cortez, 2006.

POLYA, G. A arte de resolver problemas. Um Novo Aspecto do Método Matemático. Rio de


Janeiro: Interciência, 1986.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 22. ed. São Paulo: Cortez,
2002.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A APRENDIZAGEM EFETIVA POR INTERMÉDIO


DE PROJETO INTERDISCIPLINAR
Daniela Marques Vichessi 1

RESUMO: O presente artigo aborda o desenvolvimento de projeto interdisciplinar, desenvolvido


no 1º ano do Ensino Fundamental e sua aplicação em uma Escola Municipal, situada no município
de Santo André. Os conteúdos utilizados na produção dos objetivos de aprendizagem e no
desenvolvimento das atividades foram: as metodologias aplicadas em sala de aula; aprendizagem
efetiva e os instrumentos avaliativos.

Palavras-Chave: Metodologia; Aprendizagem; Avaliação.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Ludopedagogia; Psicopedagogia; Especialização em
Direito Educacional.
E-mail: danivichessi@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO criança em querer saber o que significam e para


que servem;
As estratégias didáticas utilizadas no • Rádio para ouvir notícias dos
desenvolvimento do projeto interdisciplinar, acontecimentos e músicas variadas ampliando
visam auxiliar o aluno a compreender e o repertório cultural;
entender o conteúdo abordado utilizando aulas • Laboratório de Informática, uma função
práticas e teóricas, dialogando sobre o mesmo, primordial de inclusão digital, é usada como
fazendo os alunos pensarem e refletirem, complemento do trabalho desenvolvido na sala
criando situações problemas a partir do de aula;
conhecimento prévio do aluno, para • TV e DVD, sendo transmitidos programas
aprofundar o conteúdo e promover o e vídeos educativos. O professor por sua vez,
envolvimento da turma, estimulando o complementa suas informações tendo em vista,
trabalho em grupo. os objetivos de ensino das diferentes áreas de
Quanto a postura do educador observamos conhecimento;
que é fundamental o compromisso com o • Exposições que têm por objetivo
processo de ensino e aprendizagem, de divulgar e informar à comunidade, integrando a
reflexão, de comprometimento, de escola e as famílias favorecendo sua
autoavaliação, liderança, democracia, participação;
acolhimento e preocupação com a permanente A sala de aula é organizada de forma que os
formação continuada. alunos sentem-se em duplas com a finalidade
Quanto a relação Professor/Aluno, de estabelecer parcerias que ajudem no
compreendemos que o professor é o mediador processo de ensino e aprendizagem. A
entre o aluno e o conhecimento. Neste sentido professora também organiza em forma de
é fundamental a relação ética, de respeito círculo, quando quer propor alguma atividade
mútuo, de confiança, autoestima e vínculo diferenciada.
afetivo. Na sala contém uma caixa de livros para
No que diz respeito aos recursos leitura, que fica disponível para as crianças. A
pedagógicos e didáticos, observamos ma biblioteca é utilizada semanalmente para
grande variedade, entre eles destacam-se: leitura local e também para empréstimo de
• Lousas que são usadas para registros e livros. No início da aula, diariamente, é
visualização de dados e resolução de exercícios; realizada uma leitura de fruição com o objetivo
• Gravuras que servem como recursos de incentivar o hábito da leitura. Para ampliar
visuais e que aproximam o aluno da realidade, as possibilidades, a professora, faz uso de
das notícias e estimulam o conhecimento; recursos como: revistas, gibis, jogos educativos,
• Mural Didático, no qual são colocadas letras móveis, globo, fotos, cartazes, entre
ilustrações que serão utilizadas na sala de aula; outros.
• Mapas que servem para ilustrar diversos
acontecimentos e despertar o interesse da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DESENVOLVIMENTO o Relatório Reflexivo e no final do semestre


elabora o Relatório Descritivo, no qual aponta
A metodologia adotada pela professora tem
os objetivos estipulados e alcançados, as
uma postura construtivista, às vezes mesclada
dificuldades e os avanços dos alunos, fazendo
com a concepção tradicional. Planeja suas aulas
assim um relatório individual para cada um.
com atividades atrativas, visando o interesse
dos alunos, porém utiliza de momentos
tradicionais de fixação, memorização e
repetição. Fica clara a concepção de criança que
é seu público alvo, um ser em formação,
portanto deve atuar como mediadora e
orientadora.
Primeiramente é feita a Avaliação Inicial por
intermédio da sondagem para conhecer melhor
o aluno e verificar o que já sabe. A Avaliação
Formativa é feita durante o decorrer do
processo de ensino, sendo contínua, diária e
personalizada. E Avaliação Final quando
termina um determinado projeto didático, para
verificar se o aluno alcançou o objetivo
estipulado.
A professora observa os alunos
individualmente na execução de suas
atividades para saber como estão, dependendo
do conteúdo a ser trabalhado, organiza-os para
sentarem em duplas ou em grupos, fazendo
sempre o acompanhamento do
desenvolvimento do aluno, registrando seus
avanços e dificuldades, para com isso fazer as
intervenções necessárias, no momento e
tempo adequado.
A concepção de avaliação da professora é
coerente e justifica a abordagem adotada, pois
consiste em avaliar o progresso, o avanço do
aluno e se está alcançando o objetivo que é
proposto, não fazendo uma avaliação
excludente e punitiva para os alunos que não
conseguem acompanhar.
A professora registra o que acontece
diariamente no Semanário, no final do mês faz

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Primeiramente, é importante ressaltar, que a educação é um dos direitos fundamentais
estipulados na Constituição Federal, portanto deve ser respeitada e ampliada a todos sem
distinção de cor, classe social, faixa etária entre outros motivos que podem causar discriminação
e preconceito.
A educação consiste em um conjunto de métodos empregados no processo de instrução,
ensino-aprendizagem necessários para o desenvolvimento físico, intelectual /cognitivo, moral,
social/político e cultural de um ser humano. A escola passa a ser um espaço que contribui
efetivamente para a formação de um cidadão pleno.
Em se tratando da Educação Básica, a responsabilidade do Educador aumenta, porque se
trata de seres em formação, que vê em seu professor um modelo a ser seguido é nesta fase que
a criança está aprendendo e formulando seus conceitos acerca do mundo a sua volta.
Deve-se ter o cuidado de não restringir o ensino apenas aos conteúdos curriculares e sim
em facilitar, orientar, transmitir valores e sentimentos tão importantes como o respeito, a
dignidade, a solidariedade, a justiça e a igualdade formando verdadeiros cidadãos conhecedor de
seus direitos e deveres.
O primordial é estimular o pensamento, a reflexão, a aprender argumentar suas opiniões,
não agindo de acordo com o senso comum, que infelizmente é presente em pessoas que
massificadas pela mídia e os meios de comunicação agem conforme a maioria sem saber o porquê
e para quê.
Temos cada vez mais convicção de que a Educação de qualidade é a principal forma de
transformar a realidade de maneira prazerosa e significativa, construindo uma sociedade mais
democrática, na qual todos são iguais, mudando a história do nosso país, fazendo assim a grande
diferença.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Nacionais da Educação Infantil.
Brasília: MEC, 1998.

HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação Mito & Desafio: Uma Perspectiva
Construtivista. (11º ed). Rio Grande do Sul: Educação e Realidade, 1993.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar. (6º ed). São Paulo: Cortez,
1997.

LUCKESI, Cipriano Carlos Avaliação educacional escolar: para além do autoritarismo.


Tecnologia Educacional. São Paulo: Cortez, 1984.

LUCKESI, Cipriano Carlos Avaliação Educacional Escolar: Para Além do Autoritarismo.


Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro: Cortez vol.7, nº 61, 1994

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL


NO ESPAÇO DA BRINQUEDOTECA
Gabriely Gonçalves Silva1

RESUMO: O presente artigo aborda aprendizagem na educação infantil construída no espaço


estruturado da brinquedoteca. Entender sua importância e investigar como são constituídos os
espaços da brinquedoteca escolar é objeto principal desta pesquisa que se baseia em pesquisas
bibliográficas e de campo, para, ao final, elucidar as habilidades que são desenvolvidas nesse
espaço tão rico. A metodologia constitui-se em levantamento de bibliografia e fontes de
informações em campo, revisitando autores que já se debruçaram sobre o desenvolvimento e a
aprendizagem infantis, fundamenta-se a relevância da brincadeira na infância, para assim situá-
la no contexto escolar da Educação Infantil à luz de teóricos que discorrem sobre o tema como:
Kishimoto(1993), Wajskop(2002); Freidmann(2012).

Palavras-Chave: Brincar; Brinquedoteca; Educação Infantil.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia.
E-mail: gabriely-g@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO como recursos pedagógicos decorrentes dos


diversos níveis do conhecimento.
O presente artigo aborda aprendizagem na Sendo a brinquedoteca um espaço destinado
educação infantil construída no espaço ao brincar significativo, busca-se apresentar
estruturado da brinquedoteca. Entende-se que nesta pesquisa a importância desses espaços no
na primeira infância a aprendizagem se dá pelo desenvolvimento da criança, quais
brincar, pela brincadeira e jogos aprendizagens esse espaço pode proporcionar
compartilhados e coletivos, desta forma, é compreendendo as necessidades especificas da
indispensável entender a brinquedoteca como primeira infância.
mais um espaço de desenvolvimento e Tendo exposto as ideias iniciais busca-se
aprendizagens infantis. entender como se dá o desenvolvimento do
Entender sua importância e investigar como espaço estruturado para o brincar, como são
são constituídos os espaços da brinquedoteca selecionados os brinquedos e brincadeiras
escolar é objeto principal desta pesquisa que se possíveis nesse espaço? Para responder esses
baseia em pesquisas bibliográficas e de campo, questionamentos explorar o referencial teórico
para, ao final, elucidar as habilidades que são que discorre sobre o brincar pontuando as
desenvolvidas nesse espaço tão rico. aprendizagens relacionadas ao espaço da
O espaço da brinquedoteca proporciona a brinquedoteca.
criança aprendizagem e desenvolvimento o A metodologia constitui-se em levantamento
tempo todo, na prática o brincar na Educação de bibliografia e fontes de informações em
Infantil tem um papel fundamental na campo, revisitando autores que já se
conquista da autonomia, desenvolvimento debruçaram sobre o desenvolvimento e a
motor, comunicação e interação social, entre aprendizagem infantis, fundamenta-se a
outras diversas aprendizagens. relevância da brincadeira na infância, para
As brinquedotecas são pensadas como assim situá-la no contexto escolar da Educação
espaços para o brincar ricos em estrutura e Infantil à luz de teóricos que discorrem sobre o
materiais que estimulam o imaginário infantil; tema como Tizuko M; Kishimoto(1983);
nessa proposta buscou-se como objetivo Wajskop(2002); Freidmann (2012); pretende-se
analisar quais contribuições esses espaços contribuir para os trabalhos na educação
trazem para o desenvolvimento das crianças. infantil, na busca de uma brinquedoteca de
Nesse sentido, jogos, brinquedos e qualidade como espaço lúdico de
brincadeiras não são apenas um aprendizagem significativa, pensada e
entretenimento, mas uma atividade que estruturada com o olhar voltado para as
possibilita a aprendizagem de várias necessidades das crianças.
habilidades e, portanto, esses são os objetivos
específicos, observar esse desenvolvimento
prazeroso da criança que e como o educador
deverá interagir com o lúdico, concretizando os
jogos, brinquedos e brincadeiras e não apenas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR brancos, negros e índios nos jogos tradicionais


infantis atuais no Brasil. Mas é possível, em
NA INFÂNCIA alguns casos, efetuar um estudo,
Na antiguidade, crianças de todas as idades e especialmente em contextos onde o
adultos participavam, juntos, das mesmas predomínio dessas etnias é muito grande, como
brincadeiras. Essa era uma forma vista de nos engenhos de açúcar ou nas tribos indígenas
aproximar os laços de afetividade e promover a espalhadas pelo país, no fim do século passado
união. Entendia-se então, que as crianças não e começo deste(KISHIMOTO, 1993, p. 20).
tinham jogos próprios para sua idade, elas Assim como o brinquedo é fruto da cultura
tinham que se contentar com as brincadeiras local, no Brasil não poderia ser diferente. A
estipuladas pelos adultos. Os jogos, naquela cultura brasileira é uma mistura de culturas de
época, não eram considerados como práticas todas as partes do mundo, logo, há os mais
necessárias e sérias. Eram vistos como coisas variados tipos de brinquedos.
sem importância e esquecidas. Kishimoto (1997, p.13), afirma que: “tentar
De acordo com Kishimoto (1993), que faz um definir o jogo não é tarefa fácil”, pois é possível
apanhado histórico do uso de jogos no contexto sua interpretação de diversas formas como, por
social, o jogo veio ganhar um valor crescente na exemplo, brincar de “mamãe e filhinha”, jogar
década de 1960, com o aparecimento de bola, brincar na areia, construir um barquinho.
museus com concepções mais dinâmicas, onde Entretanto, cada jogo tem suas
nesses espaços as crianças podiam tocar e particularidades, no exemplo citado de brincar
manipular brinquedos. Este processo de de “mamãe e filhinha” usa-se a imaginação da
valorização do jogo chegou ao Brasil no início da criança, este se diferencia do jogo de futebol no
década de 1980, com o aumento da produção qual há regras a serem cumpridas, que também
científica a respeito dos jogos e o aparecimento se torna diferente do brincar na areia, no qual a
das brinquedotecas. brincadeira há o prazer de manipulação de
O conceito de jogo no Brasil tem uma objetos que satisfaz a criança. Por sua vez,
característica folclórica, baseada nas raízes todas elas se diferem da construção de um
brasileiras. As brincadeiras brasileiras têm barquinho, pois há a exigência de um modelo
origem nas culturas indígena, negra, italiana e mental e destreza manual para executar a
portuguesa que, por sua vez, também é uma atividade.
mistura de tradições europeias, como relata Há inúmeros estudos que mostram a
Kishimoto (1993). O jogo veio para o Brasil importância dos jogos na educação e,
junto com sua colonização, em 1500, porém principalmente na educação infantil, é por meio
seu caráter era mais literário, incluindo contos do jogo que a criança consegue construir o seu
e lendas, parlendas adivinhações, superstições próprio conhecimento. No decorrer da história
e festas típicas. os jogos educacionais têm sido valorizados na
Em virtude da ampla miscigenação étnica a educação infantil, pois é a partir deste contexto
partir do primeiro grupo de colonização, fica que o jogo voltado para a criança passa por
difícil precisar a contribuição específica de

62
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mudanças, tornando-se cada vez mais presente finalidade o aprendizado da criança,


na escola. envolvendo assim toda a equipe pedagógica.
Todavia, em todos os tempos, o jogo foi visto De acordo com a Base Nacional Curricular
como algo primordial no desenvolvimento do Comum (2017):
educando, acompanhando a evolução das Brincar cotidianamente de diversas formas,
novas tecnologias e dos novos recursos que em diferentes espaços e tempos, com
estão sendo disponibilizados. diferentes parceiros (crianças e adultos),
O brincar e o jogar são atos indispensáveis à ampliando e diversificando seu acesso a
saúde física, emocional e intelectual e sempre produções culturais, seus conhecimentos, sua
estiveram presentes em qualquer povo, desde imaginação, sua criatividade, suas experiências
os mais remotos tempos. Por intermédio deles, emocionais, corporais, sensoriais, expressivas,
as crianças desenvolvem a linguagem, o cognitivas, sociais e relacionais (BRASIL, 2017,
pensamento, a socialização, a iniciativa e a p. 38).
autoestima, preparando–se para ser um Várias habilidades cognitivas que são
cidadão capaz de enfrentar desafios e participar colocadas em prática durante a brincadeira,
na construção de um mundo melhor. seja ela sozinho, em grupo, com adultos ou
Para Kishimoto (1997): crianças, cada experiência irá ampliar o campo
A utilização do jogo potencializa a exploração de conhecimento da criança de acordo com
e a construção do conhecimento, por conta da suas interações e dos materiais e espaços
motivação interna, típica do lúdico, mas o oferecidos para o brincar.
trabalho pedagógico requer a oferta de O Referencial Curricular Nacional para a
estímulos externos e a influência de parceiros Educação Infantil (1998), já apontava que a
bem como a sistematização de conceitos em brincadeira favorece a autoestima das crianças,
outras situações que não jogos. Ao utilizar, de contribuindo para superar progressivamente
modo metafórico, a forma lúdica (objeto suas aquisições de forma criativa. Brincar
suporte de brincadeira) para estimular a contribui para a interiorização de determinados
construção do conhecimento, o brinquedo modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais
educativo conquistou um espaço definitivo na diversos, tornando-se assim, meio por onde a
educação infantil (KISHIMOTO, 1997, p. 43). criança aprende e interioriza sentimentos,
O brincar é mais do que uma distração, é pensamentos e funções sociais.
uma linguagem na qual a criança revela uma Entendida como ação assimiladora, a
forma de pensamento. Por meio da brincadeira brincadeira aparece como forma de expressão
a criança situa-se no espaço em que vive, da conduta, dotada de característica
constrói a ideia de si e do outro, experimenta, espontânea e prazerosa, na qual a criança
fala, age, interpreta, interage, enfim, constrói conhecimentos. O brincar representa
desenvolve habilidades essenciais para uma uma fase no desenvolvimento da inteligência,
melhor compreensão do mundo. marcada pelo domínio da assimilação sobre a
O brincar na escola é diferente do brincar em acomodação, tendo como função consolidar a
outro lugar, a brincadeira na escola tem como experiência passada.

63
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No entanto, para Vygotsky (2007), os anteriores, quando estas entram num novo
processos psicológicos são construídos a partir sistema de relações. O conhecimento é
de imposições do contexto sociocultural. Seus adquirido por um processo de natureza
paradigmas para explicitar a brincadeira assimiladora e não simplesmente registradora.
infantil, localizam-se na filosofia que concebe o No raciocínio decorrente do fato de que os
mundo como resultado de processos histórico- sujeitos aprendem por meio do jogo é de que
sociais que alteram não só o modo de vida da este possa ser utilizado pelo professor em sala
sociedade, mas inclusive as formas de de aula. As primeiras ações de professores
pensamento do ser humano. apoiados em teorias construtivistas formam no
Segundo Kishimoto (2002), brincadeira é sentido de tornar os ambientes de ensino
ação que a criança desempenha ao concretizar bastante ricos em quantidade e variedade de
as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. jogos, para que os alunos possam descobrir
Pode-se dizer que é o lúdico em ação, conceitos inerentes às estruturas dos jogos por
brinquedo e brincadeira relacionam-se com a meio de sua manipulação.
criança. A criança cria uma situação imaginária, As concepções sócio interacionistas partem
assume o papel e age como tal, se do pressuposto de que a criança aprende e
transformando e mudando também o desenvolve suas estruturas cognitivas ao lidar
significado dos objetos de acordo com sua com o jogo de regra. Nesta concepção, o brincar
vontade, sem se preocupar com a sua promove o desenvolvimento porque está
adaptação à realidade concreta. Essas ações impregnado de aprendizagem. E isto ocorre
são capazes de modificar os processos de porque os sujeitos, ao brincar de forma dirigida,
desenvolvimento e aprendizagem, quando passam a lidar com regras que lhes permitem a
interagem no cotidiano infantil. compreensão do conjunto de conhecimentos
veiculados socialmente, permitindo-lhes novos
O BRINCAR COMO FORMA DE elementos para apreender os conhecimentos
futuros.
DESENVOLVIMENTO E A criança, colocada diante de situações
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO lúdicas, apreende a estrutura lógica da
brincadeira e, deste modo, apreende também a
INFANTIL
estrutura matemática presente. O brinquedo e
A brincadeira é atividade inerente à infância,
o brincar são fatores, indispensáveis no
é de entendimento de todos da área de
desenvolvimento da criança. Esses dois fatores
educação que essa afirmação se dá pela
em conjunto auxiliam no desenvolvimento
frequência com que as crianças usam do brincar
relacionando a criança, o meio ambiente e o
para experimentar situações e explicitar seus
meio social.
sentimentos e colocar em prática tudo que foi
O que realmente importa é que a criança seja
internalizado.
inserida e faça parte deste contexto social por
Assim, o desenvolvimento intelectual não
meio das brincadeiras, também sendo
consiste apenas em acumular informações,
trabalhadas nas crianças a noção de espaço,
mas, sim, em reestruturar as informações

64
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tempo e as características físicas dos objetos. contribuem e enriquecem o desenvolvimento


Brincar também contribui de forma bastante intelectual. Ele afirma:
efetiva para o relacionamento social das O jogo é, portanto, sob as suas duas formas
crianças, visto que oferece uma forma livre e essenciais de exercício sensório-motor e de
autônoma de interação entre as mesmas. simbolismo, uma assimilação do real à
A brincadeira é uma atividade presente na atividade própria, fornecendo a este seu
vida de crianças em diversas culturas, alimento necessário e transformando o real em
possuindo papel importante no função das necessidades múltiplas do eu. Por
desenvolvimento das mesmas. Apesar disso, tal isso, os métodos ativos de educação das
importância nem sempre é reconhecida pelos crianças exigem todos que se forneça às
adultos, os quais priorizam na educação das crianças um material conveniente, a fim de que,
crianças aspectos cognitivos formais e jogando, elas cheguem a assimilar as realidades
apresentam uma dificuldade em visualizar a intelectuais que, sem isso, permanecem
relação existente entre brincadeira e exteriores à inteligência infantil (PIAGET, 1976,
desenvolvimento. p.160).
Este desenvolvimento, para Wallon (1979), Wallon (1979), fez inúmeros comentários
se dá por meio de uma interação entre que evidenciam o caráter emocional em que os
ambientes físicos e sociais, sendo que os jogos se desenvolvem, e seus aspectos relativos
membros desta cultura, como pais, avós, à socialização. Referindo-se a faixa etária dos
educadores e outros, ajudam a proporcionar à sete anos, Wallon (1979), demonstra seu
criança participar de diferentes atividades, interesse pelas relações sociais infantis nos
promovendo diversas ações, levando a criança momentos de jogo:
a um saber construído pela cultura. Por isso, a A criança concebe o grupo em função das
importância da brincadeira, pois é a criação de tarefas que o grupo pode realizar, dos jogos a
uma nova relação entre situações do que pode entregar-se com seus camaradas de
pensamento e situações reais. Brincar é coisa grupo, e também das contestações, dos
muito séria, toda criança deveria poder brincar. conflitos que podem surgir nos jogos onde
A brincadeira contribui para o processo de existem duas equipes antagônicas (WALLON,
socialização das crianças, oferecendo-lhes 1979, p.210).
oportunidades de realizar atividades coletivas Desta forma, o jogo e as relações sociais
livremente, além de ter efeitos positivos para o estão estritamente ligados ao desenvolvimento
processo de aprendizagem e estimular o da personalidade da criança, a “imitação” do
desenvolvimento de habilidades básicas e adulto é essencial nessa formação. Por fim, mas
aquisição de novos conhecimentos. não menos importante, brincar é um direito da
Piaget (1976), afirma que a atividade lúdica é criança, conforme o Art. 7º da Declaração dos
o berço obrigatório das atividades intelectuais Direitos da Criança promulgada pela ONU em
da criança. Estas não são apenas uma forma de 1959.
desafogo ou entretenimento para gastar
energia das crianças, mas meios que

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BRINQUEDOTECA: UM ESPAÇO Desta forma, é importante manter um


espaço com matérias, brinquedos e mobiliários
LÚDICO DE APRENDIZAGENS adequados e diversificados, que promovam o
SIGNIFICATIVAS desenvolvimento infantil estimulando as
Com o entendimento acerca do brincar, diversas áreas cognitivas e afetivas. Os
pode-se inferir que proporcionar espaços para brinquedos e jogos devem estar disponíveis
tal é essencial na educação infantil. A criação para o acesso das crianças, a fim de despertar o
de espaços lúdicos nas escolas foi um marco interesse e a imaginação das crianças.
para legitimar a importância de tal ato, orna-se Outro ponto importante é na quantidade e
uma conquista para a educação infantil. A qualidade dos brinquedos disponibilizados, a
brinquedoteca se torna um espaço para organização dos espaços e brinquedos leva a
aprendizagens significativas que favorece e estímulos que dependem da apresentação e
valoriza a brincadeira, segundo Cunha (1997): disposição e também, de acordo com o público
A principal implicação educacional da atendido e sua frequência.
brinquedoteca é a valorização da atividade, que Sendo um espaço propício para a construção
tem como consequência o respeito às de saberes e vivencias prazerosas, a
necessidades afetivas da criança. brinquedoteca se torna um local de incentivo à
Promovendo o respeito à criança, contribui construção de novas ideias e formas de brincar,
para diminuir a opressão dos sistemas as potencialidades e habilidades das crianças
Educacionais extremamente rígidos. Além de são desenvolvidas diante das interações e
resgatar o direito da infância, a Brinquedoteca representações vivenciadas nesse espaço
tenta salvar a criatividade e a espontaneidade lúdico.
da criança, tão ameaçadas pela tecnologia De acordo com Kishimoto (1997):
educacional de massa (CUNHA, 1997, p.14). Atualmente as brinquedotecas são
Um espaço que valorize o brincar livre das consideradas espaços de animação
crianças, que estimule e desenvolva todas as sociocultural que se encarregam da
potencialidades é foco das brinquedotecas. transmissão da cultura infantil bem como do
Valorizar esses espaços é de extrema desenvolvimento da socialização, integração e
importância. Carvalho (2011), parafraseando construção de representações infantis
Kishimoto (1993), complementa: (KISHIMOTO, 1997, p. 28).
Atualmente as brinquedotecas são De acordo com a autora, o desenvolvimento
consideradas espaços de animação social é uma das habilidades desenvolvidas em
sociocultural que se encarregam da um espaço lúdico, a brincadeira também faz
transmissão da cultura infantil bem como do com que a criança perceba seu corpo, se
desenvolvimento da socialização, integração e movimente com destreza e seja motivada a
construção de representações infantis partir do ambiente oferecido.
(CARVALHO, 2011, p. 28). Pode-se dizer que cada espaço é pensando
para desenvolver tipos diferentes de
habilidades, por esse motivo existem vários

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tipos de brinquedotecas, com funções e alegria, de amor, de conhecimento (OLIVEIRA,


finalidades diferenciadas. 2007, p. 159).
De acordo com Cunha (1997), a Nas brinquedotecas escolares muitas
brinquedoteca: crianças brincam todos os dias, portanto, usar a
É um espaço onde as crianças (e os adultos) forma de organizar os brinquedos e jogos, de
brincam livremente com todo o estímulo à forma que as crianças participem dessa
manifestação de suas potencialidades e organização diária, também promove
necessidades lúdicas. Muitos brinquedos, jogos desenvolvimento e estimulam as crianças a
e diversos materiais permitem expressão da serem organizadas em seus espaços de brincar.
criatividade, mas a brinquedoteca pode existir Este ambiente criado especialmente para a
também sem brinquedos desde de que outros criança tem como objetivo estimular a
estímulos às atividades lúdicas sejam criatividade, desenvolver a imaginação, a
proporcionados (CUNHA, 1997, p. 13). comunicação e a expressão, incentivar a
Observando as diversas habilidades brincadeira do faz-de-conta, a dramatização, a
desenvolvidas nos espaços das brinquedotecas, construção, a solução de problemas, a
pode-se entender que cada canto e espaço é socialização e a vontade de inventar, colocando
pensando para que esses desenvolvimentos ao alcance da criança uma variedade de
ocorram de forma lúdica e intencional. Para se atividades que, além de possibilitar a ludicidade
adequar a cada espaço onde é inserida, os individual e coletiva, permite que ela construa
diversos tipos de brinquedotecas são pensados o seu próprio conhecimento (SANTOS, 2000,
de modo a colaborar com os demais espaços, p.8).
sem deixar de carregar sua função lúdica. É importante entender que o espaço da
A brinquedoteca escolar, foco principal brinquedoteca não pode ser só um depósito de
desse artigo, é a mais comum encontrada em brinquedos; visto que os objetivos estão claros
quase todas as escolas que valorizam o brincar diante dos estímulos que são oferecidos em
como forma de aprendizagem das crianças. cada canto, o brincar dentro desse espaço
Dentro do espaço da brinquedoteca o primeiro oferece uma variedade de brincadeiras e
critério a ser considerado é de organização, na brinquedos que devem ser adequadas de
qual a criança consiga se locomover livremente acordo com a faixa etárias das crianças que ali
dentro desse espaço, dando a elas o poder de brincam.
escolha para todas. Assim falando no espaço da brinquedoteca
Este é o caso do espaço denominado seu acervo, deve possibilitar o
brinquedoteca, onde a variedade de materiais desenvolvimento e as capacidades das crianças,
e sua organização sempre à disposição as estimulando a condição do potencial de cada
exploração e manuseio, assim como a uma delas, para que as qualidades de
segurança, bem-estar e sensação de capacidade ou realização. Para compreensão
acolhimento possibilitam sua utilização de diversas formas, para que haja comunicação
autônoma. Brinquedos e brincadeiras convivem e efeito a estímulos sociais ou a sentimentos e
em harmonia com as necessidades de afeto, de necessidades íntimas ou uma combinação de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cada criança em seu contexto de ser humano na 8. Canto do Playground: local composto de
fase da infância. brinquedos de parquinho infantil seja de fibra,
Sobre a organização das brinquedotecas, o plástico resistente ou metal.
mais comum encontrado é a organização em 9. Cantos dos tapetes e colchões: espaço
“cantos”; essa organização vem se modificando com tapetes grandes ao chão para brincadeiras,
ao longo do tempo a fim de evoluir com os rolamentos, movimentos acrobáticos, entre
estudos, oferecendo um modelo mais outros.
adequado para cada ambiente onde está 10. Canto do Cinema: local com televisão e
inserida. DVD, com almofadas, tapetes e sofás para as
Conforme aponta Vaz (2009), existem duas crianças apreciarem filmes diversos, e atender
maneiras de se organizar bem o espaço da as diversas faixas etárias.
brinquedoteca por meio de disposição para 11. Canto da Pintura e Desenhos:
empréstimos ou a instalação de um espaço fixo, disponibilizar a criança materiais às pinturas e
permitindo ao cesso e a organização dos desenhos como: pincéis, telas, papeis,
brinquedos pelas crianças; no espaço fixo os cartolinas, sulfites, entre outros (VAZ, 2009,
“cantos” correspondem à: p.2).
1. Canto do "Faz de Conta": espaço com Diante dessas orientações baseadas nas
mobílias e utensílios domésticos; canto do pesquisas de autores, pode-se observar as
supermercado; camarim com fantasias, diversas possibilidades diante de cada espaço
chapéus, espelhos, fantasias, para destinado ao brincar. Os olhares acadêmicos
representação de diversos papéis, entre outros para as brinquedotecas cada vez se ampliam a
brinquedos infantis miniaturizados. fim de afirmar os benefícios para o
2. Canto da "Leitura": diversos tipos de livros desenvolvimento das crianças, em uma fala no
para atender às todas as faixas etárias e Seminário Nacional sobre a Brinquedoteca,
estimular o hábito e gosto pela leitura. Cunha (1997, p. 106), afirma que, "os
3. Canto das "Invenções ou Criação ou brinquedos alimentam a inteligência, e brincar
Sucatoteca": uso de materiais recicláveis ou tonifica a alma", reforçando como estes
objetos diversos para inventar, construir e espaços colaboram com a aprendizagem e
recriar coisas e brinquedos; desenvolvimento das crianças.
4. Canto do Teatro ou do Fantoche: criação e Portanto, o acervo de brinquedos da
construção de histórias e fantoches, com Brinquedoteca deve permitir o
painéis e palcos para encenações. desenvolvimento de capacidades e estimular
5. Canto da Oficina: para construção e potencialidades, criando a compreensão das
restauração de brinquedos, entre outros. mais diversas formas de arte, de comunicação
6. Mesa Coletiva: espaço utilizado para jogos e comportamento social equilibrado da criança.
coletivos; A brinquedoteca precisa ser entendida como
7. Canto do Mural de Recados: para um lugar que possibilita uma construção de
comunicações ao usuário, com notícias, avisos, aprendizagens, um espaço mediador que
normas, entre outros. considere o brincar e aprender de forma lúdica.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Sendo assim, desempenhar um papel lúdico Sendo um espaço mediador das


dentro das instituições educacionais é de aprendizagens, a brinquedoteca deve ser vista
notória importância para as crianças, pois assim como espaço de estimulação das habilidades
ela pode transferir para suas interações e cognitivas, sociais, motoras e afetivas da
vivências os significados que dá à sua cultura, criança, como afirma Hypolitto (2001, p. 177),
aos seus valores e conceitos dentro de um "todas devem estabelecer forte elo entre o
espaço contextualizado. conhecimento e sua construção, partindo das
A criança enquanto brinca desenvolve situações lúdicas, [...] e realmente concretizar-
habilidades que serão colocadas em prática em se, com significação". Assim, pode-se
diversas situações, o fator educacional da considerar a brinquedoteca fundamental para
brinquedoteca considera esse as aprendizagens escolares, levando as
desenvolvimento e observa as relações vividas atividades lúdicas a outro nível de
nesses espaços. entendimento crítico, proporcionando
Segundo Cunha (1997): situações e vivências ricas para o
A principal implicação educacional da desenvolvimento infantil.
brinquedoteca é a valorização da atividade
lúdica que tem como consequência o respeito
as necessidades afetivas da criança.
Promovendo o respeito à criança, contribui
para diminuir a opressão dos sistemas
educacionais extremamente rígidos. Além de
resgatar o direito a infância, a brinquedoteca
tenta salvar a criatividade e a espontaneidade
da criança, tão ameaçadas pela tecnologia
educacional em massa (CUNHA, 1997, p. 14).
A brinquedoteca não deve ficar
descontextualizada, deve ser uma parte
integrante das atividades com enfoque nos
processos de socialização das crianças,
oferecendo grandes oportunidades de
vivencias lúdicas significativas. Na escola a
brinquedoteca deve ter como objetivo envolver
toda a comunidade escolar, porque, além de
ser um espaço de educação, também é de
análises das brincadeiras, de compreensão e
identificação de comportamentos infantis e
acompanhamento do desenvolvimento pelo
educador.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A existência de escolas para a educação infantil justifica-se por serem espaços de reflexão
sobre a educação e sobre os processos de ensino e de aprendizagem. Sabe-se que é nesta parte
da infância que o ser humano constrói as principais estruturas cognitivas, que serão os suportes
das futuras aprendizagens e desenvolvimento de habilidades e competências complexas.
A escola de crianças pequenas deve ser mais um lugar de divertimento (e aprendizagem,
consequentemente), do que um local de classificação e cumprimento de burocracias; caminho
este que as escolas do país vêm seguindo, impelidas pelas influências históricas e políticas às quais
todas as esferas da sociedade estão submetidas.
Esta pesquisa revela a importância dos espaços lúdicos estruturados no ensino na
educação infantil, como já se sabe, o modo mais prazeroso da criança aprender é brincando,
explorando materiais, espaços, brinquedos e colocando a imaginação em foco, descobrindo a si
mesma e desenvolvendo as habilidades de socialização e expressão.
A brinquedoteca tem o objetivo de reforçar a importância do brincar na educação infantil,
o brincar e o jogar é a melhor forma de ensino/aprendizagem para as crianças, por meio desses é
possível inserir qualquer conteúdo ou assunto, desenvolvendo o cognitivo das crianças de forma
leve e significativa.
Na brinquedoteca é o espaço, no qual as crianças colocam em prática a expressividade, a
coletividade e coloca em prática suas habilidades sociais, a partir disso o educador poderá
observar e intervir para ampliar o desenvolvimento das crianças, essa observação também serve
para a avaliação de como está acontecendo esse desenvolvimento, permitindo ações que
promovam outras formas e vivências na escola.
Pode-se dizer que o entendimento da importância da brinquedoteca escolar é reconhecido
pelos educadores. O estudo diante da estruturação e modificações feitas durante o tempo,
demonstram que os professores estão atentos às necessidades das crianças e conseguem
articular seus planejamentos para colocar o brincar como ponto principal na educação infantil,
indo além das normas e leis que asseguram essa prática.
Por fim, é sempre interessante buscar aprimorar o olhar para o brincar infantil, a
implementação das brinquedotecas nas escolas proporciona às crianças um desenvolvimento
surpreendente que é visto em todos os momentos e atividades da escola. Valorizar e proporcionar
o brincar é dever de todos os educadores da infância.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wpcontent/uploads/2018/02/bncc-20dez site.pdf.
Data de Acesso:11/03/2020.

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CUNHA, Nylse Helena Silva. A brinquedoteca brasileira. In: Santos, S.M.P. dos (org.).
Brinquedoteca: o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: Vozes, 1997.

Friedmann, A (2012). O brincar na Educação Infantil: observação, adequação e inclusão.


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Data de Acesso:11/03/2020.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos infantis: o jogo, a criança e a educação. Petrópolis, Rio
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KISHIMOTO, Tizuko Morchida. (Org.). O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 2002.

OLIVEIRA, Vera Barros de. Rituais e brincadeiras na brinquedoteca: vetores de crescimento


pessoal, social e cultural. In: OLIVEIRA, Vera Barros de (Org.). Brinquedoteca: uma visão
internacional. Petrópolis: Vozes, 2007.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Imitação, jogo e sonho, imagem e


representação. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1976.

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Editora Vozes. 2000.

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Ourinhos-SP. 2009. Disponível em:
<http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=2588>. Data de
Acesso:11/03/2020.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 7º Ed,
2007.

WALLON, Henry. Psicologia e Educação da criança. Lisboa: Vega/Universidade, 1979.

WAJSKOP, G. (2012). Brincar na Educação Infantil. 9.ed-São Paulo: Cortez.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A ARTE DE ROMERO BRITO COMO ELEMENTO


DESENCADEADOR DO DESENVOLVIMENTO DE
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Marcia Lucélia Martins de Medeiros1

RESUMO: Este trabalho consiste, em como se dá o processo que desencadeia a comunicação e


expressão no meio infantil a partir das releituras do artista Romero Brito. Buscou refletir que a
arte no contexto da educação infantil, pode ser extremamente prazerosa e significativa no que
diz respeito ao ensino e aprendizagem e por meio da arte de Romero Brito, da experimentação
concreta das releituras feitas das obras do artista, irá favorecer a percepção, imaginação e
criatividade do universo infantil.

Palavras-Chave: Percepção; Imaginação; Criatividade.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes Visuais.
E-mail: marcialuceliam@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Considerando que o ensino da Arte na


educação infantil deve priorizar a
As artes estão presentes no cotidiano da vida espontaneidade, o pensamento, a imaginação,
infantil e auxiliam no desenvolvimento da a sensibilidade, a percepção, a interação e a
criança. Ao rabiscar e desenhar no chão, na cognição das crianças em cada fase de seu
areia e nos muros, ao utilizar materiais desenvolvimento, num trabalho integrado que
encontrados ao acaso, ao pintar objetos e até favoreça o exercício pleno das diversas
mesmo seu próprio corpo, a criança está se potencialidades e dimensões humanas, e a
expressando, fazendo julgamentos estéticos e formação de memórias individuais e coletivas
conhecendo, traços, cores e formas. que acompanham o ser humano em todas as
A linguagem da arte na educação infantil tem suas ações.
um papel fundamental, envolvendo os aspectos O ensino da Arte atende a princípios
cognitivos, sensíveis e culturais. Atualmente estéticos na procura do Belo, portanto, não tem
tem se observado a necessidade de projetos como objetivo formar artistas, mas sim
interdisciplinares para educação infantil, no oferecer às crianças oportunidade de se
sentido de desenvolver práxis nas quais haja a manifestarem artística e culturalmente,
total integração do profissional da educação apropriando-se da linguagem da Arte de forma
com as crianças, a instituição e a comunidade. sensível, criativa e lúdica para compreender a si
O trabalho desenvolvido a partir da arte de mesmas, ao mundo e às relações sociais nas
Romero Brito permite que as habilidades quais estão inseridas.
infantis sejam estimuladas, ajudam no processo
de aprendizagem, pois desenvolvem a
OBJETIVOS DO ENSINO DE
percepção e a imaginação – recursos
indispensáveis para a compreensão de outras ARTES E SUA IMPORTÂNCIA NA
áreas do conhecimento humano. EDUCAÇÃO DESDE A DÉCADA DE
A criança trabalha com as mãos, aprendendo
e apreendendo o mundo; vê por meio delas,
80
manipulando e modificando, destruindo e Um ponto especial a ser levantado neste
construindo, observando e criando. Por tópico é a expressividade do homem pela arte.
intermédio das atividades lúdicas a criança Não fugindo a esta situação positiva, por volta
consegue se expressar. da década de 80, novas abordagens foram
Por meio de atividades planejadas é possível introduzidas no ensino da Arte no Brasil. A
ampliar o gosto pela arte; Aprender a apreciar imagem ganhou um lugar de destaque na sala
obras de arte; Adquirir conhecimento sobre de aula, o que representa uma das tendências
artistas; Conhecer vida e obra do artista da Arte contemporânea e uma novidade para o
Romero Britto; Conhecer a letra inicial do nome ensino da época. As imagens produzidas tanto
do artista; Conhecer e fixar as cores e as formas pela cultura artística (pintores, escultores)
geométricas; Expressar emoções e como as produzidas pela mídia (propaganda de
sentimentos; ampliar o vocabulário. TV e publicitária gráfica, clipe musical, internet)

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

passaram a ser utilizadas pelos professores e propósitos, gostos, preocupações e costumes, e


crianças da educação básica. que interagem entre si constituindo uma
Uma transcrição literal sobre sua definição comunidade.
é debruçarmo-nos sobre a seguinte situação: a Segundo Silva (1966), nas últimas décadas do
música não é tarefa fácil porque apesar de ser século XX, assistimos a um acentuado
intuitivamente conhecida por qualquer pessoa, movimento de mudanças nas organizações
é difícil encontrar um conceito que abarque sociais, consequente e interdependente dos
todos os significados dessa prática. Mais do que movimentos de mudanças políticas,
qualquer outra manifestação humana, a música econômicas, cientificas e culturais.
contém e manipula o som e o organiza no Estamos vivendo nesta nova sociedade em
tempo. Talvez por essa razão ela esteja sempre constante mudança, que está se organizando e
fugindo a qualquer definição, pois ao buscá-la, reorganizando de acordo com as características
a música já se modificou, já evoluiu. E esse jogo da sociedade em rede, da globalização da
do tempo é simultaneamente físico e economia e da virtualidade, as quais produzem
emocional. novas e mais sofisticadas formas de exclusão
A arte é uma forma de o ser humano (SILVA,1996, p.1).
expressar suas emoções, sua história e sua A arte é uma forma de criação de linguagens,
cultura por meio de alguns valores estéticos, seja ela visual, musical, cênica, da dança, ou
como beleza, harmonia, equilíbrio. A arte pode cinematográfica, essas formas de linguagens
ser representada por meio de várias formas, em refletem o ser e estar no mundo, todas são
especial na música, na escultura, na pintura, no representações imaginarias de determinadas
cinema, na dança, entre outras. culturas e se renovam no exercício de criar ao
A música sempre esteve presente ao longo longo dos tempos. Ao desenvolver-se na
da história da humanidade. Tão antiga quanto linguagem da arte o aprendiz apropria-se do
o Homem, a música primitiva era usada para conhecimento da própria arte. Essa
exteriorização de alegria, prazer, amor, dor, apropriação converte-se em competências
religiosidade e os anseios da alma. simbólicas porque instiga esse aprendiz a
A música tornou-se uns objetos de estudo ampliar seu modo singular de perceber, sentir,
muito importantes para os educadores e pensar, imaginar e se expressar, aumentando
demais envolvidos com o processo educativo, suas possibilidades de produção de leitura de
pois além de oferecer um grande leque de mundo, da natureza e da cultura e também
possibilidades e abrangências, tornou-se uma seus modos de atuação sobre eles.
disciplina obrigatória na rede regular de ensino.
Nos dias atuais a música pode ser FUNDAMENTOS E
considerada uma das artes que mais
influenciaram e influenciam na sociedade. Tudo METODOLOGIA PARA ARTES NO
o que acontece ao nosso redor, nos afeta ENSINO INFANTIL
diretamente ou indiretamente, pois vivemos As pinturas de Romero Brito contam com
num conjunto de pessoas que compartilham cores vibrantes e traços bem demarcados

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

remetendo aos vitrais isto faz com que o que possam com eles estabelecer vínculos
quadro esteja multifacetado por meio do fecundos, promissores, educativos. Por certo
desenho, mas também da pintura. que esta é uma tarefa coletiva, dos educadores
Britto abusa das formas geométricas para e educadoras em especial, mas não somente
preencher a tela e não utiliza técnicas de deles, posto que a formação das novas
profundidade para suas composições. Assim, gerações humanas é uma tarefa da sociedade,
seus motivos estão sempre em primeiro plano. em seu conjunto. Por último, além de se
Outra característica importante é que seus diferenciarem na forma e intensidade em que
personagens, mesmo os animais, estão sempre se apresentam na vasta realidade das escolas e
sorrindo. O próprio artista justifica esta escolha grupos de professores do ensino no Brasil, estes
afirmando que deseja transmitir alegria por desafios não existiram sempre e podem deixar
meio de seus trabalhos. de existir. São realidades históricas e por isso
A escolha deste artista para desenvolver um podem ser superadas. Buscar os caminhos das
trabalho no âmbito escolar infantil, se deu soluções, criá-las e recriá-las, coletivamente,
devido a estas características marcantes e refazendo as bases das interações entre
colorido presente diariamente na educação adultos, crianças, adolescentes e jovens no
infantil. interior da escola e no presente, é um desafio
Considerando o conceito de arte e arte- que se sobrepõe aos demais. Essa junção de
educação, discutido até agora e de seus esforços parece ser o mais promissor horizonte
elementos até aqui pontuados, listamos para que os educadores em geral e os
algumas potencialidades do uso da arte como professores/as do ensino infantil, possam
estratégia ou metodologia na abordagem de enfrentar o nosso compromisso primeiro, que
conteúdos dos eixos do conhecimento constitui o sentido e finalidade maior do ofício
vivenciados na educação infantil. de mestre: o desafio humano, político, ético e
O conceito faz alusão aos métodos que estético de trabalhar na formação das novas
permitem obter certos objetivos. Com base gerações humanas, das nossas crianças na mais
nisso, fazemos aos educadores que pretendem tenra idade. Para que sejam seres
valer-se da arte no processo de verdadeiramente humanos, que auxiliem na
ensino/aprendizagem a seguinte pergunta: construção de outro mundo, possível.
qual é o seu objetivo? Se, como foi dito, na obra A teoria froebeliana, ao considerar a arte
de arte não há certo e errado e ela mesma cria como uma atividade espontânea, concebe
as regras enquanto se constrói o que vai suporte para o ensino e permite a variação do
orientar as escolhas do educador serão seus aprender, ora como atividade livre, ora
objetivos. orientada.
Diante desta questão, um novo desafio se As concepções froebeliana de educação,
apresenta: o de reunir forças e esforços dos homem e sociedade estão intimamente
trabalhadores da educação e demais vinculadas ao aprender. Assim, a atividade livre
segmentos sociais para reverter este quadro de e espontânea, é responsável pelo
penumbra, vindo de longas décadas, de modo desenvolvimento físico, moral, cognitivo, os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dons ou objetos que subsidiam atividades. O educando do ensino infantil, deve ser
Entende também que a criança necessita de compreendido como um ser em plena
orientação para o seu desenvolvimento, aprendizagem, é importante que as escolas e os
perspicácia do educador levando-o a educadores, incentivem a prática do jogo, como
compreender que a educação é um ato forma de aperfeiçoar esse desenvolvimento.
institucional que requer orientação. A dramatização e o teatro possibilitam a
Ao participar da arte a criança também criança sonhar e fantasiar revela angústias,
adquire a capacidade da simbolização conflitos e medos aliviando tensões e
permitindo que ela possa vencer realidades frustrações são importantes para que se
angustiantes e domar medos instintivos. O trabalhem diferentes tipos de sentimentos e a
aprender é um impulso natural da vida das forma de lidarmos com eles.
crianças e também no percurso infantil, que A personalidade humana é um processo de
aliado à aprendizagem tornar-se mais fácil à construção progressivo, no qual se realiza a
obtenção do aprender devido à integração de duas funções principais: a
espontaneidade das atividades por meio de afetividade, vinculada à sensibilidade interna e
uma forma intensa e total. orientada pelo social e a inteligência, vinculada
Compreender o universo da arte é às sensibilidades externas, orientada para o
indispensável para o bom desenvolvimento do mundo físico, para a construção do objeto.
trabalho pedagógico efetivado pelo professor Conforme Antunes (2004), a aprendizagem é
que é o mediador destas ações. A arte é tão importante quanto o desenvolvimento
essencial, pois possibilita à criança uma social e o jogo constituem uma ferramenta
aprendizagem por meio das vivências, por meio pedagógica ao mesmo tempo promotora do
das quais podem experimentar sensações e desenvolvimento cognitivo e o do social. O
explorar as possibilidades de movimentos do teatro pode ser um instrumento da alegria, uma
seu corpo e do espaço adquirindo um saber criança que dramatiza, antes de tudo o faz
globalizado a partir de situações concretas. porque se diverte, mas dessa diversão emerge
A arte é um instrumento que possibilita que a aprendizagem e a maneira como o professor
as crianças aprendam a relacionar-se com o após o teatro, trabalhar suas regras pode
mundo, promove o desenvolvimento da ensinar-lhes esquemas de relações
linguagem e da concentração interpessoais e de convívio ético.
consequentemente gera uma motivação a Trabalhar com teatros é fazer com que a
novos conhecimentos. O eixo da arte é o criança aprenda de forma prática, interativa e
desenvolver, sendo um dos meios para o alegre, ou seja, participando de atividades mais
crescimento, e por ser um meio dinâmico, a descontraídas a criança se sente feliz e
arte oportuniza o surgimento de motivado e ao mesmo tempo adquire o seu
comportamentos, padrões e normas conhecimento de forma prazerosa. As regras de
espontâneas. Caracteriza-se por ser natural, um teatro são feitas para que a criança adquira
viabilizando para a criança uma exploração do valores que possam ser usados durante toda a
mundo exterior e interior. sua vida, é por isso que ao fazer as atividades o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educador deve pensar quais são os objetivos mundo. As atividades lúdicas têm papel
daquele jogo para aquela faixa etária e para a indispensável na estruturação do psiquismo da
realidade a que pertence aquela criança. criança, é no ato de brincar que a criança
Os teatros são essenciais para o desfruta elementos da realidade e fantasia, ela
desenvolvimento de construção, estimulando começa a perceber a diferença do real e do
todos os sentidos tais como: psicomotor, imaginário. É por meio do teatro que ela
cognitivo, social e emocional, desenvolvendo a desenvolve não só a imaginação, mas também
capacidade de pensar, refletir, abstrair, fundamenta afetos, elabora conflitos, explora
organizar, realizar e avaliar. ansiedades à medida que assume múltiplos
Quando a criança dramatiza, ela libera e papéis despertando competências cognitivas e
realiza suas energias e tem o poder de interativas.
transformar uma realidade proporcionando Almeida (2008), afirma que a dramatização
condições de liberação de fantasia. De acordo contribui de forma prazerosa para o
com Wajskop (2001), o teatro pode ser um desenvolvimento global das crianças, para
espaço privilegiado de interação e confronto de inteligência, para a efetividade, motricidade e
diferentes pessoas e personalidades com também sociabilidade. Por meio do lúdico a
pontos de vistas diferentes. Nesta vivência criança estrutura e constrói seu mundo interior
criam autonomia e cooperação e exterior. As atividades lúdicas podem ser
compreendendo e agindo na realidade de consideradas como meio pelo qual a criança
forma ativa e construtiva. Ao definirem papéis efetua suas primeiras grandes realizações. Por
a serem representados nas peças de teatros, as meio do prazer ela expressa a si própria suas
crianças têm possibilidades de levantar emoções e fantasias.
hipóteses, resolver problemas e a partir daí Os educandos expressam emoções,
construir sistemas de representação, de modo sentimentos e pensamentos, ampliando a
mais amplo, no qual não teriam acesso no seu capacidade do uso significativo de gestos e
cotidiano. posturas corporais.
Uma dificuldade que essa concepção de A função da arte é ao mesmo tempo,
ensinamento apresenta, é de como diferenciar construir uma maneira de acomodar a conflitos
as artes e seus significados, porém cabe á nós e frustrações da vida real. Para Piaget (1990), o
professoras usarmos nossa visão de observação brincar retrata uma etapa do desenvolvimento
e distinguir a prática das habilidades que cada da inteligência, marcado pelo domínio da
individuo traz de bagagem. Ainda, de acordo assimilação sobre a acomodação, tendo como
com as pesquisadoras o indivíduo no processo função consolidar a experiência vivida. A
de aprendizagem passa por fases distintas, intervenção do professor é fundamental no
ampliando a sua reflexão sobre o seu sistema processo de ensino aprendizagem, além da
até chegar ao seu domínio, vivendo o lúdico. interação social ser importante para a aquisição
Por meio do lúdico a criança aprende a do conhecimento.
ganhar, perder, conviver, esperar sua vez, lidar A arte é um estímulo natural e influência no
com as frustrações, conhecer e explorar o processo de desenvolvimento dos esquemas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mentais. Seus benefícios permitem a trabalhando também o teatro e todas suas


integração de várias ações como: a afetiva, a formas de dramatizações.
social motora, a cognitiva, a social e a afetiva.
Existem algumas considerações sobre a função
lúdica e educativa do teatro. A função lúdica do
teatro promove prazer, diversão e até mesmo
desprazer, quando escolhido voluntariamente,
com função educativa o brinquedo ensina
qualquer coisa que complete ao indivíduo em
seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão
do mundo.
Em nossa prática docente, precisamos
propiciar situações de aprendizagem que levem
ao desenvolvimento de habilidades e de
conteúdos que possam responder às
necessidades das crianças ao meio social que
habitam. Trabalhar a arte com os educandos do
Ensino Infantil não é difícil, basta entrar em seu
mundo, mas o que se torna difícil é ter um olhar
pedagógico e voltado para o mundo que insere
a criança, isto implica entendê-lo como
produção humana e compreender a forma que
ela assume sob determinada organização social
e qual função cumpre. Por esta razão, o ensino
da arte, nem mesmo no período inicial de sua
aprendizagem, se reduz ao mero domínio do
código (desenhos e garatujas e interpretações
do faz de conta), pois este é apenas um
instrumento de realização de determinadas
funções, e como tal não esgota todas as
possibilidades sociais da arte, a proposta de
ensinar pressupõe o desenvolvimento da
prática como forma de produção de sentido.
O professor acompanha a adequação do
conhecimento e a socialização para que seja
preservada a cultura, reconhecendo também a
variação de posição da linguagem em diversas
situações de interação, levando em
consideração as diferentes línguagens,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor de Artes deve estimular a criança, a não se limitar a aprender, mas também a
construir seu próprio conceito objetivando despertar o senso crítico na criança por meio do
debate e diálogo aberto. Devemos ter em mente a necessidade de formar cidadãos capazes de
liderar de serem críticos e além de tudo ter conhecimento, ter argumento sólido. Se aprofundar
no conhecimento sobre o conteúdo a qual irá aplicar, buscar a compreensão cada vez. Mais nas
pesquisas ler livros ter total domínio sobre o assunto em questão. É de responsabilidade de o
professor prover uma aula que cause nas crianças, a curiosidade interesse de conhecer, criar
participar questionar e ser observador. Além disso, o trabalho com argumentação é considerado
fator relevante para o exercício de cidadania. Sabemos que a prática de selecionarmos
argumentos pode ajudar no desenvolvimento do senso crítico. Para isso é necessário que o
professor possua conhecimento, referencial teórico sobre o assunto para usar a metodologia
adequada.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ARANHA, Maria Lúcia Arruda. História da Educação e da Arte. Geral e Brasil. São Paulo:
Moderna, 2006.

ARIÉS, Philippe. História Social Arte. Rio de Janeiro. LTC, 1978.

ARROYO, M.G. O significado da infância. Brasília: MEC/SEF/DPE/COEDI, 1994. p.88.

PIAGET, Jean. A criança em idade pré-escolar. São Paulo: Ática, 1994. p.100.

SILVA, Leda Maria Giuffrida. A expressão musical para as crianças da pré- escola. Caderno
Ideias. Campinas, vol.10, 1992.

SILVA, A.B.H. Arte Infantil. Curitiba: Positivo, 1996. p 350. MARTINS, A.J.F. Infância cultura e
pedagogia. Porto Alegre: Criarp, 2006- p.120.

VISCONTI, M.; BIAGIONI, M.Z.; GOMES, N.R. Guia para educação e prática musical em
escolas. 1ª edição. São Paul,1996.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A ARTE E SUA IMPORTÂNCIA PARA O


DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Talita Pinfildi Gomes Carlos 1

RESUMO: Esse artigo tem como objetivo observar a importância da Arte na Educação Infantil e
como ela contribui para o desenvolvimento da criança. Para tanto, utilizamos como aporte
teórico: Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998); Parâmetros Curriculares
Nacionais (1997); Barbieri (2012), documentos que versam sobre a temática.

Palavras-Chave: Artes; Educação Infantil; Desenvolvimento.

1Professor de Educação Infantil e Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail:talitapinfildi12@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A IMPORTÂNCIA DA ARTE NO


Ao longo da trajetória docente percebemos DESENVOLVIMENTO DA
o quanto é essencial uma formação voltada CRIANÇA
para reflexão, conscientização e criticidade. A Esse item aponta para importância da arte
prática pedagógica é determinante para o para o desenvolvimento infantil e o papel do
desenvolvimento, crescimento e aprendizado professor.
do aluno. É a educação de qualidade que O Referencial Curricular Nacional para
contribuirá para transformar e melhorar o Educação Infantil (1998, v. 3), aborda que no
mundo em que vivemos e a sociedade. século XX foram desenvolvidas pesquisas no
O interesse pela arte na Educação Infantil campo das ciências humanas que trouxeram
surgiu a partir da realidade atual nas escolas informações fundamentais sobre o
públicas, as quais não possuem um professor desenvolvimento da criança, seu processo
com formação específica no ensino da arte. criador e sobre as artes de diferentes culturas.
Este interesse provocou-me o desejo de Com a junção da antropologia, da filosofia, da
aprofundar os conhecimentos nesta área. psicanálise, da psicologia, da psicopedagogia,
Consciente da importância do papel do da crítica de arte e das tendências estéticas da
professor para o desenvolvimento da criança, modernidade, surgiram autores elaboraram os
aprofundei meus conhecimentos em Artes princípios inovadores para o ensino das artes,
Visuais o que contribuiu significativamente da música, do teatro e da dança. Esses
para a minha formação e atuação na área da princípios discerniam a arte da criança como
Educação. A oportunidade de vivenciar manifestação espontânea e auto expressiva:
situações significativas com crianças na fase valorizavam a livre expressão e a
inicial da aprendizagem no ensino das Artes sensibilização para o experimento artístico
Visuais, confirmou a importância desse ensino como orientações que visavam ao
na Educação Infantil, despertando o interesse desenvolvimento do potencial criador, ou seja,
em aprofundar esses conhecimentos. as propostas eram centradas nas questões do
Esta breve trajetória vivenciada por mim, ao desenvolvimento da criança. (BRASIL, 1998,
longo da Graduação de Artes Visuais, revelaram s.p).
o quão fundamental é a construção de sujeitos Essas orientações trouxeram grandes
críticos, reflexivos e mais sensíveis, na contribuições para a valorização da produção
transformação e atuação na sociedade. criadora infantil, mas o princípio revolucionário
defendia a todos a necessidade e a capacidade
da expressão artística modificando-se para “um
deixar fazer”, sem intervenção, acarretando em
uma pequena evolução das crianças na
aprendizagem. Devido ao questionamento da
livre expressão e da ideia de que a
aprendizagem artística ocorria

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

automaticamente à medida que a criança linguagem visual, dos materiais e suportes


crescia, houve mudanças nos rumos do ensino utilizados tendo em vista desenvolver, por meio
da arte, constatando que o desenvolvimento da observação e da fruição (reflexão, emoção,
artístico é resultante de formas complexas de sensação), a aptidão de construção de sentido,
aprendizagem. Desde cedo a arte da criança reconhecimento, análise e identificação de
sofre influência da cultura, por meio de obras de artes e seus produtores;
materiais, suportes, observação de imagens na • reflexão: é o pensar sobre os conteúdos
TV, gibis, estampas, revistas, trabalhos do objeto artístico, manifestados em sala,
artísticos de outras crianças, etc. Por meio dos compartilhando perguntas e afirmações que a
trabalhos das crianças, é possível reconhecer o criança realiza por meio de incentivos e
local e a época em que vivem, suas ideias, suas estímulos do professor e no contato com suas
oportunidades de aprendizagem, seu potencial próprias produções e a dos artistas.
para refletir, embora seja possível reconhecer O contato com o fazer artístico, a produção
também espontaneidade e autonomia na de arte dos museus, revistas, gibis, livros,
exploração e no fazer artístico da criança. igrejas, ateliês, espaços urbanos, entre outros,
Ao longo da vida, a criança tem suas próprias propiciam o desenvolvimento da imaginação
impressões, interpretações e ideias em relação criadora, da expressão, da sensibilidade e das
a arte e ao fazer artístico. Essas construções, capacidades estéticas das crianças.
ocorrem a partir de suas experiências que Trabalhar com Artes Visuais na Educação
abarcam a relação com a produção de arte, com Infantil requer respeito das particularidades e
mundo dos objetos e seu próprio fazer. esquemas de conhecimento de cada faixa
De acordo com o Referencial Curricular etária e nível de desenvolvimento, ou seja,
Nacional para Educação Infantil (1998): deve-se trabalhar de forma integrada, o
As crianças exploram, sentem, agem, pensamento, percepção, intuição, imaginação,
refletem e elaboram sentidos de suas sensibilidade e a cognição da criança, tendo em
experiências. A partir daí, constroem vista, o desenvolvimento das capacidades
significações sobre como se faz, o que é, para criativas da mesma.
que serve e sobre outros conhecimentos a Durante o processo de aprendizagem em
respeito da arte (BRASIL,1998, s.p.). Artes Visuais, a criança traça um caminho de
As Artes Visuais é uma linguagem que possuí criação e construção individual que abrange
estrutura e características próprias, cuja escolhas, experiências pessoais, aprendizagens,
aprendizagem ocorre, por meio da articulação relação com a natureza, motivação interna
dos seguintes aspectos: e/ou externa.
• fazer artístico: com foco na exploração, De acordo o Referencial Curricular Nacional
expressão e comunicação, por meio de práticas para Educação Infantil (1998):
artísticas afim de auxiliar no desenvolvimento O percurso individual da criança pode ser
de um percurso de criação pessoal; significativamente enriquecido pela ação
• apreciação: apreensão do sentido que o educativa intencional; porém, a criação artística
objeto sugere associando aos elementos da é um ato exclusivo da criança. É no fazer

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

artístico e no contato com os objetos de arte e na construção das demais linguagens visuais,
que parte significativa do conhecimento em como pintura, modelagem, colagens, etc. O
Artes Visuais acontecem. No decorrer desse desenvolvimento contínuo do desenho resulta
processo, o prazer e o domínio do gesto e da em mudanças significativas, passando de
visualidade evoluem para o prazer e o domínio garatujas (rabiscos) para desenhos
do próprio fazer artístico, da simbolização e da estruturados com símbolos. Essa transição no
leitura de imagens (BRASIL,1998, s.p.). desenho ocorre devido às interações da criança
O início para o desenvolvimento estético e com o ato de desenhar e com o desenho do
artístico é o ato simbólico que possibilita outro.
reconhecer que os objetos mantêm-se Na garatuja, a criança tem como hipótese
independentes de sua presença física e que o desenho é simplesmente uma ação sobre
imediata. Os símbolos constituem o mundo a uma superfície, e ela sente prazer ao constatar
partir das relações que a criança determina os efeitos visuais que essa ação produziu. A
consigo mesma, com as outras pessoas, com a percepção de que os gestos, gradativamente,
imaginação e com a cultura. produzem marcas e representações mais
Com quase um ano, a criança já tem organizadas, permite à criança o
capacidade de eventualmente, conservar reconhecimento dos seus registros
ritmos regulares e realizar seus primeiros traços (BRASIL,1998, s.p.).
gráficos, considerados muito mais como No momento em que a criança desenha ou
movimentos do que como representações. Essa cria objetos ela também brinca de “faz de
fase é conhecida como fase das garatujas conta”, verbaliza narrativas que expõem suas
(rabiscos). A criança amplia o conhecimento de capacidades imaginativas, expandindo sua
si próprio, das ações gráficas e do mundo a maneira de sentir e pensar sobre o mundo do
partir da repetida exploração e experimentação qual faz parte. Conforme o desenho evolui da
do movimento. Primeiramente a criança garatuja para símbolos, a criança passa a
reconhece e identifica as representações vincular no espaço bidimensional do papel, na
gráficas para posteriormente saber representar areia, na parede, ou em qualquer outra
graficamente o mundo visual. Conforme a superfície, tendo uma regularidade nos
criança controla os seus gestos e coordena-os desenhos, presentes no meio ambiente e nos
com o olhar, ela passa a registrar formas trabalhos aos quais ela tem acesso, inserindo
gráficas e plásticas mais elaboradas, que podem esse conhecimento e influenciando
referir-se a objetos naturais, imaginários ou diretamente em suas próprias produções. No
mesmo a outros desenhos. O professor deve início, a criança traz consigo a hipótese de que
contemplar todas as modalidades artísticas, o desenho serve para representar tudo que ela
proporcionando uma diversificação na ação das sabe sobre o mundo. Com isso, por meio do
crianças, na experimentação de materiais, do desenho a criança cria e recria individualmente
espaço e do corpo. Dessas modalidades, formas expressivas, incluindo percepção,
destaca-se o desenvolvimento do desenho por imaginação, reflexão e sensibilidade, de forma
sua importância no fazer artístico das crianças que as pessoas consigam se apropriar das

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

leituras simbólicas do desenho. A imitação artistas, filmes etc.; exista a possibilidade do


amplamente utilizada no desenho e por muitos uso de diferentes materiais pelas crianças,
combatida, realiza uma função importante no fazendo com que estes sejam percebidos em
processo de aprendizagem, pois auxilia na sua diversidade, manipulados e transformados;
apropriação de conteúdos de formas e figuras, os pontos de vista de cada criança sejam
por meio da representação. As atividades em respeitados, estimulando e desenvolvendo
artes plásticas que abrangem diferentes tipos suas leituras singulares e produções individuais;
de materiais, mostram as crianças as trocas de experiências entre as crianças
possibilidades de transformação, de aconteçam nos momentos de conversa e
reutilização e de construção de novos reflexão sobre os trabalhos, elaborações
elementos, formas, texturas entre outros. A conjuntas e atividades em grupo; o prazer
princípio a conexão que a criança estabelece lúdico seja o gerador do processo de produção;
com os diferentes materiais, dá por meio da a arte seja compreendida como linguagem que
exploração sensorial e da sua utilização em constrói objetos plenos de sentido; a
diversas brincadeiras. Dessa forma, para valorização da ação artística e o respeito pela
construir, a criança utiliza-se das possibilidades diversidade dessa produção sejam elementos
reais dos materiais, considerando as sempre presentes(BRASIL,1998, s.p.).
características dos objetos, para assim, Em relação ao tempo em artes visuais, deve
progressivamente, relacioná-los e transformá- haver organização, respeitando as
los em função de diferentes argumentos. possibilidades das crianças em relação ao
O Referencial Curricular Nacional para ritmo, interesse pelo trabalho, tempo de
Educação Infantil (1998), destaca: que os concentração e o prazer na produção das
conteúdos da aprendizagem em artes podem atividades. É recomendável, que o professor
ser organizados de forma a propiciar que a observe o desenvolvimento da atividade
criança utilize aquilo que já conhece e também proposta, para se necessário, redimensionar as
que estabeleça novas relações, ampliando seu atividades ou o seu tempo proposto. Em
conhecimento a respeito dos assuntos relação a organização do tempo, o Referencial
abordados. Vale ressaltar, que a necessidade e Curricular Nacional para Educação Infantil,
o interesse, são criados e apreciados na própria (1998), aponta três possibilidades de
situação de aprendizagem. organização: atividades permanentes;
O professor, possuindo clareza do seu sequências de atividades; e os projetos. A
projeto de trabalho, poderá realizar com maior atividade permanente, refere-se a situações
qualidade a sua ação educativa assegurando didáticas que ocorrem com frequência diária ou
que: semanal, na rotina das crianças. Um exemplo
A criança possa compreender e conhecer a de atividade permanente é oferecer em ateliês
diversidade da produção artística na medida ou em ambientes de trabalho, atividades
em que estabelece contato com as imagens das simultâneas como, modelar, pintar, desenhar,
artes nos diversos meios, como livros de arte, fazer construções e colagens, que possibilitem
revistas, visitas à exposições, contato com que a criança escolha o que quer fazer. Isso

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

proporciona o desenvolvimento do percurso mobilize as crianças e o professor. É


individual de cada criança, conforme elas recomendável que o professor avalie o
possam escolher, regulando o tempo dedicado processo do projeto continuamente,
a cada produção, experimentando diversas considerando cada etapa.
possibilidades. Além disso, outros fatores importantes para
É recomendável que o professor garanta o fazer artístico são: a organização da sala, a
diariamente na rotina um tempo destinado ao qualidade e quantidade dos materiais e sua
desenho, na qual não tenha a intervenção disposição no espaço. Os espaços devem ser
direta do mesmo. Já em relação as sequências amplos para favorecer a liberdade de
de atividades, refere-se a uma série planejada e expressão, possibilitando o máximo de
orientada de tarefas com o objetivo de gerar autonomia para o acesso e uso dos materiais de
uma aprendizagem específica e definida. Essas forma que as crianças se acomodem
sequências propiciam desafios com diferentes confortavelmente, pois espaços apertados
graus de complexidade, ajudando a criança a inibem a expressão artística. Para tal, os
resolver problemas por meio de diferentes mesmos devem favorecer o andar, o correr e o
proposições. As sequências de atividades e as brincar das crianças. Para despertar o prazer
atividades livres, permitem apreciar, refletir e a nas mesmas e o desejo de produzir, os espaços
buscar significados nas imagens da arte. Em devem ser concebidos e equipados para isso,
relação aos projetos, são formas de trabalho permitindo uma reorganização do mobiliário,
que contemplam diferentes conteúdos e considerando cada proposta. Uma certa
organizam-se considerando um produto final, desordem no local causada pela diversidade de
na qual a escolha e elaboração são materiais faz parte do processo criativo, no
compartilhadas com as crianças. Inúmeras entanto, ao final das atividades, as crianças
vezes, esses projetos não terminam com o devem participar da arrumação do local. É
produto final, pois geram novas aprendizagens importante que o espaço possibilite a exposição
e novos projetos. Alguns exemplos de projetos e permanência dos trabalhos pelo tempo
de artes são: exposição, ilustração de um livro, escolhido. O professor pode utilizar um mesmo
maquete, um cenário para brincar, entre espaço criando cantos específicos para cada
outros. Os projetos são elaborados por meio de proposta, como por exemplo, o canto de Artes
pesquisas e negociação entre professor e Visuais, o canto da leitura, dos brinquedos,
criança, podendo o mesmo antecipar o produto entre outros. No canto de Artes, os materiais
final de forma que as crianças acabam podem ser organizados em caixas e o chão
interferindo no planejamento e alterando o coberto com jornais para evitar manchas, os
processo. Os projetos podem surgir de um trabalhos poderão ser pregados em varais ou
tema, um problema sugerido pelo grupo, de na parede, possibilitando assim, a realização de
uma notícia de televisão ou jornal ou atividades em Artes Visuais. No entanto,
decorrentes do cotidiano, de um interesse também é possível organizar ateliês que são
particular das crianças, entre outros. Um espaços específicos para a realização de
requisito para a escolha do projeto é que ele atividades variadas em Artes Visuais. É

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

importante que nos ateliês os materiais fiquem adequação desses conteúdos, proporcionando
ao alcance das crianças, permitindo a livre um planejamento mais adequado com as
escolha. É fundamental também, que haja um necessidades do grupo de crianças.
lugar para a secagem dos trabalhos e torneiras Em Artes Visuais a avaliação deve ser:
e pias para higienização de materiais, das mãos, sempre processual e ter um caráter de
rostos etc. Pode-se ter também, pastas e análise e reflexão sobre as produções das
arquivos para colocar as produções e locais que crianças. Isso significa que a avaliação para a
abriguem exposições permanentes das criança deve explicitar suas conquistas e etapas
produções. do seu processo criativo; para o professor, deve
De acordo com o Referencial Curricular fornecer informações sobre a adequação de
Nacional para Educação Infantil (1998), a base sua prática para que possa repensá-los e
da produção artística são os materiais, por isso, estrutura-los sempre com mais segurança
é importante garantir as crianças acesso a uma (BRASIL,1998, s.p.).
grande diversidade de suportes, instrumentos e Considerando crianças de zero a três anos a
meios, podendo ser de uso corrente (lápis de exploração de diversos materiais e a
cor, pincéis, tinta, argila, caixas, barbantes, possibilidade de expressar-se por meio deles
cola, tecidos, tesouras etc.) ou outros podem são consideradas como experiências
diversificar os procedimentos em Artes Visuais prioritárias em Artes Visuais. Para tal, é
(colheres, cotonetes, sucatas, palitos, fundamental que as crianças tenham tido
carimbos, elementos da natureza, canudos, oportunidade de pintar, modelar, desenhar,
etc.). Vale destacar que em relação as sucatas, brincar com materiais de construção em
é fundamental que o professor faça uma diferentes situações, utilizando os mais
seleção para que elas não ofereçam perigo e diversos materiais. Em relação a crianças de
estejam em boas condições, adequadas para o quatro a seis anos, aquelas que tiveram muitas
uso. A tecnologia atual (vídeos, computadores, oportunidades na Educação Infantil, de
filmadoras, etc.) podem enriquecer e ampliar vivenciar experiências envolvendo as Artes
os recursos do professor. Visuais espera-se que as crianças expressem-se
O professor deve avaliar cada criança e comuniquem-se por meio da pintura, do
individualmente, considerando a significação desenho, da modelagem e outras formas de
que cada trabalho comporta, sem utilizar-se de expressão plástica. Para tal, é fundamental que
julgamentos como certo ou errado, feio ou a criança tenha vivenciado diferentes
bonito, que não auxiliam em nada o processo atividades, explorando as mais diversas
educativo. O professor deve ter um olhar técnicas e materiais.
atendo ao longo do processo, por meio de Barbieri (2012, p.18), afirma que trabalhar
registros e observações, tanto do grupo como com a arte na educação infantil ajuda cada
do percurso individual de cada criança que irão criança a descobrir como é seu mundo de
fornecer parâmetros valiosos para orientar o invenções, abrir a porta para novos
professor na escolha dos conteúdos a serem conhecimentos, e assim aprender a imaginar e
trabalhados, auxiliando também avaliar a a fazer.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De acordo com os Parâmetros Curriculares


Nacionais (1997):
A educação em arte propicia o
desenvolvimento do pensamento artístico, que
caracteriza um modo particular de dar sentido
às experiências das pessoas: por meio dele, o
aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a
reflexão e a imaginação. Aprender arte envolve,
basicamente, fazer trabalhos artísticos,
apreciar e refletir sobre eles. Envolve, também,
conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da
natureza e sobre as produções artísticas
individuais e coletivas de distintas culturas e
épocas (BRASIL,1997, s.p.).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa forma, a arte tem um papel fundamental no desenvolvimento integral da criança,
ampliando sua forma de ver e sentir o mundo, tornando-a mais sensível, criativa, reflexiva,
autônoma. Para tal, é fundamental que o professor crie situações significativas para a criança, de
forma que permita que ela se expresse de diferentes maneiras. Além disso, é importante também,
o ambiente e os materiais que serão proporcionados e como serão proporcionados para a criança,
de forma que sejam seguros e adequados para o fazer da arte.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BARBIERI, Stela. Interações: Onde está a arte na infância? São Paulo: Blucher, (2012).

BRASIL, MEC.Parâmetros Curriculares Nacionais (1997).

BRASIL, MEC.Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília (1998, v. 3).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA
PARTICIPATIVA NA ESCOLA
Cícero Jorge dos Santos 1

RESUMO: Este artigo demonstra como os termos: gestão democrática, gestão compartilhada e
gestão participativa, embora não se restrinjam ao campo educacional, expressam a luta de
educadores e pais de alunos, para a defesa de um projeto de educação pública de qualidade social
e democrática. Busca-se compreender como tais conceitos se materializam nas unidades
escolares, por meio dos colegiados que dividem com o Diretor Escolar as atribuições e
responsabilidades para a constituição da Gestão Democrática. Analisa-se como o gestor escolar
lida com o compartilhamento de decisões com o Conselho de Escola e outros colegiados e como
a gestão compartilhada contribui para a democratização da escola.

Palavras-Chave: Gestão democrática; Gestão Participativa; Gestão Compartilhada.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduado: Licenciatura em Educação Física pela Universidade Metodista (2009); Licenciatura em Pedagogia pela
Universidade 9 de julho (2014); Especialização em Gestão Pública Municipal Pela UNIFESP (2019).
E-mail: titosbc@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter dado força e criado caminhos para chegar até este
momento, a minha família que foi importante neste percurso, a minha Tutora Profª Marcia Rita
Couto que sempre prestativa, ajudou muito neste processo. Agradeço a amiga Raquel, Iolanda e
Renato que caminharam ao meu lado nesta jornada.

Ao Programa de Pós-graduação Lato Sensu (especialização) em Gestão Pública e Gestão Pública


Municipal da UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP, em parceria com o Programa
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL - UAB, instituído pelo Ministério da Educação/MEC, no âmbito
do Programa 1061 – Brasil Escolarizado, ação 8426 – Formação Inicial e Continuada a Distância
com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO básica, de acordo com as suas peculiaridades e


conforme os seguintes princípios:
A gestão democrática das unidades escolares a) participação dos profissionais da educação
é tema de recorrente debate neste espaço na elaboração do projeto pedagógico da escola;
educativo, as mudanças que levam a b) participação das comunidades escolar e
descentralização do poder e a luta pela efetiva local em conselhos escolares ou equivalentes;
participação de todos os integrantes da c) Como condição para o estabelecimento da
comunidade escolar são causa de conflitos que gestão democrática é preciso que os sistemas
levam ao crescimento e valorização do trabalho de ensino assegurem às unidades escolares
coletivo. públicas de educação básica que os integram,
É um processo importante, mas gradativo, as progressivos graus de autonomia pedagógica,
disputas de poder entre o gestor e os administrativa e financeira, observadas as
colegiados que atuam dentro da escola levam à normas gerais de direito financeiro público
quebra de posturas e rupturas de conceitos e (BRASIL,1988, s.p).
paradigmas que podem motivar ou levar a Apesar da determinação legal, é importante
mudanças inesperadas no direcionamento de saber como os órgãos colegiados se
novas concepções na gestão escolar. materializam dentro da unidade escolar, como
Entender o processo de construção da tomam forma e influenciam na melhoria da
gestão democrática e o nível de atuação da aprendizagem e desenvolvimento da escola.
comunidade nos colegiados que atuam dentro
das unidades escolares, como este
REFERENCIAL TEÓRICO
compartilhamento de gestão acontece, se
O suporte teórico para se pensar nos
existe efetivamente participação dos pais de
desafios inerentes aos órgãos colegiados tais
alunos nas reuniões do Conselho de Escola.
como APMs, Conselhos de Escola e Grêmios
A Constituição Federal de 1988 e a Lei de
Estudantis dentro das Unidades de Ensino
Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/96
Fundamental (EMEF’s) na Prefeitura Municipal
determinam que as gestões democráticas da
de São Paulo, suas funções compõem aspectos
educação busquem modernizar a gestão da
de extrema importância relevantes ao
escola e dos sistemas de ensino, estabelecendo
caminhar de uma Gestão Democrática.
um modelo mais participativo das ações dentro
das unidades escolares.
A Constituição Federal (1988), estabelece no ÓRGÃOS COLEGIADOS NA
artigo 206 os princípios sobre os quais o ensino ESCOLA: O QUE SÃO E COMO
deve ser ministrado. Dentre eles, destaca-se a
gestão democrática do ensino público, na FUNCIONAM
forma da lei. Cabe, no entanto, aos sistemas de Os órgãos colegiados que atuam dentro das
ensino, definirem as normas da gestão unidades escolares, exercem papel de grande
democrática do ensino público na educação importância para que se exerça a gestão
democrática dentro da escola, o Conselho de
Escola, a Associação de Pais e Mestres e o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Grêmio Estudantil, levam os envolvidos a Os Conselhos de Escola são órgãos


participação, descentralizando o poder e construídos por alguns segmentos da
contribuindo na busca por uma educação de comunidade escolar, seus membros são
qualidade. escolhidos por meio de eleição entre seus pares
É importante salientar que não há lei federal ou assembleias, ou seja, alunos escolhem
que aponte como devem ser construídos estes alunos como representantes, pais escolhem
colegiados, a Lei de Diretrizes e Bases da pais, professores escolhem professores, temos
Educação Nacional (1996), em seu artigo 14 ainda o segmento dos funcionários de apoio, da
estabelece: equipe pedagógica e o Diretor, membro nato
Art. 14- Os sistemas de ensino definirão as do conselho, o único que tem cadeira cativa
normas da gestão democrática do ensino neste importante colegiado que é composto da
público na Educação Básica de acordo com suas seguinte forma:
peculiaridades e com base nos seguintes
princípios: I-participação dos profissionais da Diretor
Educação no projeto pedagógico da escola; II- (Membro
participação das comunidades escolar e local Nato) Equipe de
Apoio
em conselhos de escola ou Alunos (Secretaria e
equivalente(BRASIL,1996,s.p.). Inspetores e
Funcionários)
No Plano Nacional de Educação (2014), em Conselho de
Escola
sua meta 19, os Conselhos de Escolas são assim Corpo
citados: Docente
Pais de Alunos
estimular a constituição e o fortalecimento
Equipe Gestora
de conselhos escolares e conselhos municipais
(Assistentes e
de educação, como instrumento de Coordenadores
Pedagógicos
participação e fiscalização na gestão escolar e
educacional, inclusive por meio de programas
de formação de conselheiros, assegurando-se Figura 1: Modelo explicativo elaborado pelo autor
condições de funcionamento autônomo
(BRASIL, 2014, s.p). Outro importante órgão colegiado é a
Nas escolas do município de São Paulo, o Associação de Pais e Mestres (APM), esta
conselho é fundamentado de acordo com da Lei associação é voltada a administração
Municipal nº 11229/92, que em seu artigo 104 democrática do capital financeiro enviados a
tem a seguinte redação: cada unidade escolar do município. Nas
O conselho de escola é um colegiado com unidades escolares do município de São Paulo a
função deliberativa, cuja atuação está voltada APM é regida pela Portaria Nº 3.539, de 6 de
para a defesa dos interesses dos educandos e abril do ano de 2017 e é constituída da seguinte
inspirada nas finalidades e objetivos da forma:
educação pública do Município de São Paulo
(SÃO PAULO,1992, s.p).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pelo Presidente da Diretoria Executiva,


apresentar ao Conselho Fiscal, bimestralmente,
Assembléia
Geral os relatórios e os demonstrativos e,
anualmente, ao final do mandato, o balanço e o
Diretoria Conselho relatório anuais das atividades da Associação
Executiva Fiscal
acompanhados das contas do exercício,
inclusive as que falarem sobre a utilização de
eventuais verbas oriundas de outras
APM
instituições.
O Conselho Fiscal, constituído de 3 (três)
Figura 2: Modelo explicativo elaborado pelo autor elementos, sendo 2 (dois) pais (mães) de alunos
e 1(um) representante do quadro
A Assembleia Geral da APM é composta por administrativo (funcionário) ou docente
todos os membros e é encarregada de eleger ou (professor) da Escola, que tem por atribuição:
destituir do cargo os administradores, aprovar Fiscalizar os balancetes semestrais e
as contas, alterar o estatuto, e até dissolver a balanços anuais apresentados pela Diretoria
entidade. Executiva, emitindo parecer por escrito,
A Diretoria Executiva é composta de assessorar a Diretoria Executiva na elaboração
Presidente e Vice-Presidente, Secretário, do Plano Anual de Trabalho na parte referente
Tesoureiro, e de cinco Vogais. Cabe a esta à aplicação de recursos, examinar, a qualquer
diretoria anualmente, no mês de maio, elaborar tempo, os livros e documentos da Assembleia
o Plano Anual de Atividades, o Plano Geral, dar posição, a pedido da Diretoria
Orçamentário Anual da Associação e o Plano de Executiva sobre resoluções que afetem as
Aplicação dos Recursos Externos finanças da APM, solicitar a Assembleia Geral,
disponibilizados, apresentando-os nesse se necessário, a contratação de serviços de
mesmo mês à Assembleia Geral, em reunião auditoria contábil.
ordinária, avaliar sugestões e executar as A APM também se constitui numa forma de
decisões tomadas pela Assembleia Geral, gestão democrática, uma vez que não se realiza
reunir-se ordinariamente, pelo menos uma vez sem a participação da comunidade escolar, é
por bimestre e extraordinariamente, sempre um órgão criado para exercer um regime de
que necessário, a critério de seu Presidente, colaboração com a gestão da escola, tem a
tomar medidas de emergência, não previstas finalidade de ajudar na construção dos
no Estatuto da Assembleia Geral, manter objetivos educacionais pretendidos pela
escriturados, atualizados e disponíveis à unidade escolar.
consulta, os livros da entidade, abrir conta em O Grêmio Estudantil é um colegiado formado
instituição da Rede Bancária Nacional, em por estudantes da unidade escolar, todo aluno
nome da Associação de Pais e Mestres, na qual matriculado na unidade pode concorrer a
deverão ser gerenciados os valores recebidos, eleição de representante neste segmento. O
devendo a referida conta ser movimentado Grêmio representa os interesses do alunado, é

95
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

um grande espaço de fortalecimento da PARTICIPAÇÃO NOS


comunidade escolar, além de programar a
aprendizagem da cidadania, o Grêmio COLEGIADOS
Estudantil é uma das primeiras oportunidades A escola é composta por uma diversidade
que o jovem tem de efetivar a sua participação muito grande de pessoas, estar atento a esta
na sociedade, atuando na luta por direitos e no diversidade faz da unidade escolar um grande
reforço ao respeito a convivência e a calabouço de inclusão, o conselho de escola
responsabilidade. como órgão colegiado que pode dar vez e voz a
O Grêmio tem função deliberativa e é esta diversidade, pode se tornar uma grande
organizado da seguinte forma: ferramenta para consolidar a gestão
a-) Assembleia Geral dos Estudantes; participativa e caminhar no sentido do
b-) Conselhos de Representantes de Turma; incentivo a permanência do aluno na escola.
c-) Diretoria do Grêmio. Neste sentido Fontana (2011, p. 3), afirma
Quando a unidade escolar estabelece que “a escola não pode ser instrumento de
um Grêmio Estudantil, é criado um estatuto alienação e manutenção desses ideais porque é
para este colegiado. O Grêmio Estudantil é constituída de sujeitos pensantes e que
fundamentado pela Lei Federal nº 7398/85. desejam uma sociedade diferente para todos”.
Toda unidade educacional, inserida numa Envolver e promover a participação dos pais
comunidade tem o seu Projeto Político de alunos no Conselho de Escola não é uma
Pedagógico, o chamado PPP, é um documento tarefa simples, até porque os interesses são
construído pela comunidade escolar também conflitantes, os compromissos individuais e
sob uma perspectiva democrática, ou seja, cotidianos e muitas vezes a falta de
envolve também a participação de gestores, proximidade da instituição escola com esse
professores, alunos, pais e funcionários. Este segmento da comunidade dificulta esta
importante documento contém registros participação.
históricos da unidade, o planejamento de ações
de médio e curto prazo, subsidia e avalia a O DIRETOR E A GESTÃO
pratica pedagógica, expressa a identidade da
DEMOCRÁTICA
escola e sua autonomia. O Projeto Político
O Diretor Escolar deve ter em mente que
Pedagógico está amparado pela LDB (1996),
para que se fundamente uma gestão realmente
que em seu artigo 12 tem o seguinte dizer: “Os
democrática, deve apoiar suas equipes,
estabelecimentos de ensino respeitando as
relacionar-se amistosamente com a
normas comuns e as de seus sistemas de
comunidade escolar e local, administrar em
ensino, terão a incumbência de elaborar a sua
conjunto com os colegiados os espaços físicos
proposta pedagógica”.
da unidade, bem como seu patrimônio e seus
recursos. Entender seu papel de liderança,
incentivando a formação continuada da
comunidade escolar e valorizando o espaço
educativo como local de socialização dos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

saberes, inserindo na comunidade escolar que 2001 até o ano 2015 e Leis que dão sustentação
envolvimento e participação refletem em ao tema pesquisado. Os artigos publicados em
melhoria da aprendizagem de seus alunos. revistas brasileiras escritos por pesquisadores
Segundo Paro (2005): estrangeiros (e, portanto, traduzidos) não
No âmbito da unidade escolar, esta foram computados. As bases de dados
constatação aponta para a necessidade da utilizadas de teses e dissertações foram: Capes
comunidade participar efetivamente da gestão — INEP— Google Scholar — Unesp — UFSCAR
da escola de modo a que está ganhe autonomia — PUC–RS — PUC–SP — Mackenzie — UFRGS
[...]. Não basta, entretanto, ter presente a —– BDTD (Biblioteca Digital de Teses e
necessidade de participação da população na Dissertações).
escola. É preciso verificar em que condições Na busca realizada para as teses e
essa participação pode tornar-se realidade dissertações, as áreas de análise (palavras-
(PARO,2005, p.40). chave) utilizadas foram: gestão escolar,
A forma de gestão burocrática autoritária democracia participativa e gestão democrática.
existente antes da Constituição Federal de 1988 Os conceitos de gestão escolar e democracia
e da LDB em 1996, na qual o diretor de forma participativa são frequentemente empregados
solitária fazia e decidia tudo, já não cabe as juntos, logo, fez-se necessário pesquisar esta
unidades escolares brasileiras, a divisão de associação demonstrando como se dá a
tarefas e a divisão de decisões fazem parte da construção dos colegiados e a participação da
nova lógica administrativa vigente, a comunidade escolar nas decisões. Damos a
descentralização da gestão e a estes temas a designação de “temas
corresponsabilidade devem ser adotadas para relacionados”, e isso por duas razões: uma de
se repensar a cultura da escola no mundo do ordem teórica, outra de ordem prática. A de
compartilhamento da informação. ordem teórica: embora não se confundam com
Nesse sentido Carvalho (2011, p. 12), ressalta e nem se sobreponham às questões Por essa
que: razão, achamos importante pesquisarmos os
Assim, a tendência é ampliar os espaços de “temas relacionados” e computarmos os
decisão no nível dos estabelecimentos de trabalhos cujos autores os associaram. Na
ensino, fortalecer a autonomia administrativa, busca realizada para os artigos, utilizamos as
curricular, pedagógica e financeira das mesmas categorias de análise (palavras-chave)
unidades escolares e, ao mesmo tempo, utilizadas para teses e dissertações. Outro
aumentar a responsabilidade da escola e dos critério, de ordem estritamente pragmática, foi
gestores escolares pelos resultados alcançados empregado: a facilidade e, sobretudo, a rapidez
(CARVALHO,2011, p. 12). de ter em mãos os artigos selecionados.

METODOLOGIA ANÁLISE DOS RESULTADOS


Por meio de busca realizada na internet, A gestão compartilhada entre o Diretor de
realizou-se um levantamento de dissertações, Escola e a comunidade escolar ao longo dos
teses e artigos e livros produzidos no Brasil de anos vem se fortalecendo dentro das unidades

97
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escolares, não é tarefa fácil para o gestor, e do funcionamento da escola no


teoricamente quem propõe a direção a ser enfrentamento de seus desafios (LUCK,2009,
seguido, dividir as responsabilidades tendo o p.80).
mérito ou fracasso atribuído apenas a ele, A construção de uma escola melhor passa
porém quem responde por tudo sempre será o pela superação de muitos desafios, dentre eles
diretor. a autonomia de decisão para a melhoria da
Segundo Paro (2015, p. 41), o diretor não é aprendizagem, o diretor de escola está à frente
aquele que estabelece os objetivos e determina deste processo, incluindo a participação ativa
que sejam atingidos, mas sim aquele que da comunidade escolar como um todo,
coordena a execução das ações tendo a maior efetivando a gestão democrática que garanta
responsabilidade sobre elas. qualidade para todos os alunos. Os colegiados e
A gestão democrática, para se fazer presente o PPP são importantes instrumentos de acesso
e se consolidar na unidade escolar, o Diretor da comunidade as unidades escolares, porém é
deve estar aberto ao pluralismo de ideias, ao importante ressaltar que apenas o acesso à
respeito a quem pensa diferente, estar escola não é garantia de uma gestão
preocupado em promover junto a comunidade democrática, acesso é importante, mas sem
escolar e local mudanças e melhorias, buscando participação a democracia acaba por não se
a prática da participação de todos e consolidar.
comprometendo-se com a democracia. Estar A Constituição Federal de 1988, afirma em
aberto a novos desafios, ser um bom ouvinte, seu artigo 1º que “todo poder emana do povo”,
construir um diálogo aberto com a comunidade se o povo não participa efetivamente não pode
e com os colegiados, estar sensível ao ambiente lutar por seus anseios e necessidades, isto é
e as pessoas que ali convivem, criando um clima fato que acontece dentro de nossas escolas, a
de apoio e confiança favorecendo baixa participação nas reuniões dos colegiados,
oportunidades de integração escola e abordaremos de forma mais incisiva o Conselho
comunidade. Manter a motivação do grupo de de Escola.
pessoas que atuam dentro das escolas é função As decisões mais importantes que são
do diretor, a liderança deve ser compartilhada tomadas dentro da unidade escolar, são
com os colegiados constituindo-se em levadas a deliberação do Conselho de Escola,
corresponsabilidade na gestão administrativa e este colegiado tem um mandato de 1 ano de
pedagógica da unidade escolar. Desta forma o duração e nas escolas da rede municipal São
diretor valoriza o processo de participação e Paulo, são previstas 12 reuniões ordinárias e
promove a tomada de decisão compartilhada. quantas extraordinárias forem necessárias
Segundo Lück (2009): desde que chamadas com um período de 24
A gestão escolar pelo diretor se assenta, horas de precedência.
portanto, sobre sua competência em liderar e As reuniões ordinárias são chamadas por
compartilhar liderança, tanto na comunidade meio de edital de convocação que são
interna como externa da escola, orientada por espalhados pela unidade, os pais e
uma visão de conjunto do trabalho educacional responsáveis, via de regra, são avisados

98
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

também por telefone ou comunicação enviada O diretor de escola deve sim buscar motivar
por meio dos seus filhos. e articular junto à comunidade escolar e local,
Qualquer assunto pertinente ao viabilizar maior participação nas reuniões de
desenvolvimento do trabalho pedagógico e Conselho de Escola, porém não pode ser
funcionamento da unidade pode motivar apontado como único responsável se a
convocação de uma reunião, seja ordinária, democracia participativa não se efetivar em sua
prevista num calendário criado pelos unidade. A construção deve ser coletiva e o
componentes do Conselho, ou extraordinária, gestor deve estar atento na coordenação deste
para atender uma necessidade que surge ao trabalho pensando no bem comum do alunado,
longo do tempo. ou seja, no produto educação.
São motivos de pauta de reunião a Segundo Gadotti (2014):
aprovação ou alteração de calendário, Não basta criar mecanismos de participação
aprovação ou avaliação de projetos, aprovação popular e de controle social das políticas
ou questionamento do uso da verba destinado públicas de educação; é preciso atentar para a
a escola, reformas estruturais, avaliação de necessidade de criar, também,
eventos, designação de alguns cargos, entre simultaneamente as condições de participação.
outros assuntos de importância no dia a dia da A sociedade civil participa sempre que
escola. As reuniões extraordinárias e podem ser convocada, mas com muita dificuldade. A
solicitadas por qualquer membro da unidade participação, para ser qualificada, precisa ser
escolar, cabe ao presidente do conselho precedida pelo entendimento – muitas vezes
convocar por relevância do tema a ser técnico e científico – do que se está discutindo:
deliberado ou não, qualquer pessoa pode saber ler planilhas de custo, orçamentos etc.
participar efetivamente das reuniões do (GADOTTI,2014, p.4).
Conselho de Escola com direito a voz, porém A construção de órgãos colegiados
apenas o conselheiro tem direito a voto nas participativos dentro de unidades escolares
deliberações. É importante ressaltar que pode soar como um sonho distante. Paro (2001,
obedecendo os limites legais, cada escola cria p.15), afirma que a concentração de poder nas
um Estatuto do Conselho de Escola, documento mãos do diretor de escola, tira a autonomia da
que direciona o trabalho e o funcionamento unidade, conseguir a participação de todos os
deste colegiado. segmentos nas decisões dos objetivos e
Para que a gestão democrática tenha o funcionamento, a escola terá mais força na
princípio da participação, deve criar os dotação orçamentaria e autonomia do uso
caminhos para o comprometimento com os destes recursos.
sujeitos, sair do discurso e ir para a ação, assim Para alcançar maior participação da
é possível transformar a educação. Criar comunidade na unidade o gestor deve ter claro
condição para a participação dos pais nas que descentralizar as decisões valoriza a
reuniões não é tarefa apenas do gestor, mas de comunidade escolar, que passa a se sentir
todos os segmentos da comunidade escolar responsável pelos rumos da escola, lutando por
(FONTANA, 2011, p.6). uma educação de qualidade.

99
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para Lück (2000):


Educação, portanto, dada sua complexidade
e crescente ampliação, já não é vista como
responsabilidade exclusiva da escola. A própria
sociedade embora muitas vezes não tenha bem
claro que tipo de educação seus jovens
necessitam, já não está indiferente ao que
ocorre nos estabelecimentos de ensino, não
apenas exige que a escola seja competente e
demonstre ao público está competência com
bons resultados de aprendizagem de seus
alunos e bom uso de seus recursos, como
também contribuir para a realização deste
processo, assim como decidir sobre os mesmos
(LÜCK,2000, p.12).
Se a escola conseguir interagir de forma
efetiva e continua com os pais, buscando a
resolução de problemas, por certo, juntos
encontrarão as soluções mais adequadas para
favorecer a família, os educadores e
principalmente a finalidade da escola, a
formação do aluno.

100
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção da democracia participativa nas unidades escolares continua sendo um
grande desafio, já que não depende apenas da regulamentação legal, mas de uma tomada de
consciência da comunidade escolar acerca da responsabilidade da gestão democrática da
educação.
A escola voltada para a Gestão Democrática precisa criar uma cultura de cumprir os
propósitos estabelecidos por todos que dela fazem parte, estando atento ao funcionamento de
seus colegiados e criando mecanismos de intervenção e participação coletiva, vinculando a estes
o entendimento da diversidade existente na escola e incorporando o fazer por várias mãos.
Desta forma é importante compreender que a gestão democrática e participativa precisa
transcender a ideia do aspecto conceitual e legal, a comunidade escolar deve se apropriar dos
colegiados para que a gestão seja efetivamente participativa. É importante a luta pela
participação da comunidade escolar e local nos colegiados para que a transparecia da gestão
escolar se consolide, fortalecendo a autonomia, criando um ambiente de respeito a pluralidade e
contribuindo para uma educação de qualidade.

101
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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26/12/1996. Disponível em <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm> Data de
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CARVALHO, Elma Júlia Gonçalves de. Gestão escolar: da centralização à


descentralização. Revista online de Política e Gestão Educacional, [S.l.], nº 11, Jan. 2017.
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<http://conae2014.mec.gov.br> Data de Acesso:22/02/2020.

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PARO, Vitor Henrique. Gestão Democrática da Escola Pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 2001.

PARO, Vitor Henrique. Diretor Escolar: educador ou gerente? São Paulo: Cortez, 2015.

SÃO PAULO. Portaria nº 3.539, de 06 de Abril de 2017. Estatuto Padrão das APMS Disponível
em <https://leismunicipais.com.br/legislacao-municipal/5298/leis-de-sao-paulo> Data de
Acesso:22/02/2020.

102
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SÃO PAULO. Lei Nº 11.229/92. Estatuto do Magistério Municipal. Disponível


em<https://leismunicipais.com.br/a/sp/s/saopaulo/leiordinaria/1992/1122/11229> Data de
Acesso:22/02/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONSTRUÇÃO DA HABILIDADE LEITORA E


ESCRITORA
Maria Aparecida Silva de Souza 1

RESUMO: Este artigo tem como objetivo discutir como o professor pode intervir junto ao aluno,
quando este apresenta dificuldades na aquisição da leitura e da escrita. Pretende pesquisar os
subsídios teóricos de como ocorre o processo de aprendizagem, segundo a Psicogênese da Lecto
Escrita. O papel da professora também é avaliar, juntamente com os outros professores um
diagnóstico quando um aluno tem dificuldade na escrita e leitura. Sendo assim deve intervir no
processo de ensino-aprendizagem, a fim de possibilitar espaços de aprendizagem eficazes.
Tratamos das funções do professor, enquanto responsável por esse aluno, das possibilidades de
intervenção que ele pode proporcionar e que devem ser feitas na escola, e também as
contribuições teóricas e metodológicas sobre a aprendizagem de alunos do Ensino Fundamental.

Palavras-Chave: Professor; Aprendizagem; Escola.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação Infantil.
E-mail: cidabongiovi@yahoo.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO escrita. Isso implica que quem já adquiriu o dito


código, no caso, o professor alfabetizador,
As diferentes práticas pedagógicas seguidas deverá intervir nesse processo, possibilitando
pela escola representam promessas de melhora que o aluno se aproprie do código, refletindo,
educacional. Apesar das diferentes concepções criando hipóteses, refazendo e entrando em
teóricas, os casos de dificuldade continuam a conflito, para sentir-se impulsionado em busca
acontecer, denunciando que tais mudanças de uma solução(FERREIRO,1985, p.45).
ainda são superficiais, não representando Segundo Oñativia (1983, p.76), a
transformações reais de resposta às aprendizagem da leitura e da escrita implica
dificuldades dos alunos. dois elementos imprescindíveis: interação
Uma alternativa que tem se mostrado social e motivação pessoal, já que a criança
promissora é o auxílio de um acompanhamento deve aprender a postergar seus impulsos
especializado na escola, desde o ensino imediatos e desenvolver atividades que são
fundamental com o objetivo de buscar ações organizadas pelo professor em uma sequência
que dêem subsídios aos professores, a fim de temporal mais longa.
repensarem a sua prática, promovendo Toda escola necessita de um profissional que
alternativas para o desenvolvimento da dê suporte para o professor entender como
totalidade afetiva, psicomotora e cognitiva com ocorre a aprendizagem e possivelmente
um caráter preventivo e formativo. encaminhar as crianças que necessitam de uma
Esse artigo busca descrever um processo intervenção adequada.
interventivo realizado na escola seja por Segundo a abordagem socioconstrutivista, a
orientadores pedagógicos, coordenadores, que alfabetização é um processo de interação com
propicie o desenvolvimento das capacidades e a língua escrita em que o grande desafio não é
habilidades envolvidas no ato da leitura e apenas decodificar, mas também compreender
escrita com alunos do Fundamental, que os usos sociais da escrita. Um ser alfabetizado é
apresentem dificuldades no processo de aquele capaz de utilizar à escrita como um
alfabetização. instrumento que lhe permite sugerir, pensar,
O processo de aquisição da leitura e da apreciar, se comunicar, ou seja, entrar na
escrita é bastante complexo e cada aluno tem cultura escrita e ser membro de pleno direito.
suas particularidades representando novos
desafios e questionamentos para o educador.
METODOLOGIA
Segundo Emilia Ferreiro, (1985, p. 45):
A escolha desse tema ocorreu devido a
A criança recria o código linguístico na
minha atuação na área da educação,
medida em que interage com esse objeto de
observando alunos que tem alguma dificuldade
conhecimento que é a língua escrita. É como se
no processo de alfabetização, e que
ela fizesse uma “redescoberta” da escrita. É
permanecem anos na mesma série ou recebem
nesse processo de apropriação que a criança
a promoção sem a real aprendizagem. Muitas
percorre um caminho similar ao seguido pela
vezes chegam ao Ensino Fundamental II com
humanidade na criação do código da língua
muitas dificuldades na leitura e escrita, o que

105
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

compromete inclusive a aprendizagem de conhecimento quanto das relações e ações


outras áreas do conhecimento, como: História, (BARBOSA, 2001, p. 31).
Geografia, Ciências e até mesmo a Matemática. Quando se está diante de uma criança com
A situação fica ainda mais complicada, pelo fato dificuldades de aprendizagem, não significa que
de cada disciplina, ter um professor diferente. essa criança não aprenda, mas sim que seu
Tendo em vista as dificuldades citadas processo de aprendizagem se encontra
anteriormente, pretende-se dessa forma com desequilibrado e que as aprendizagens são
este artigo contribuir para melhorar os realizadas de maneira diferenciada da
conhecimentos teóricos e as práticas esperada. A teoria da equilibração de Piaget
pedagógicas, no ensino inicial da leitura e da (1975), elucida-nos claramente.
escrita A aprendizagem é fator decisivo para a vida
Trata-se de uma pesquisa de revisão e sobrevivência do indivíduo, é por meio dela
bibliográfica dos seguintes teóricos Ferreiro que o homem se afirmar como ser racional,
(1995); Bossa (2000); Fernandez (2001); Pain constitui sua personalidade e se prepara para
(1992); Oliveira (2009) e Oñativia (1983). cumprir o papel que lhe é reservado na
sociedade a qual pertence (PAIN, 1985, p.23).
AS TEORIAS DE Essa mesma autora nos diz que o aluno, uma
vez inserido nesse contexto educacional, ao
APRENDIZAGEM perceber que apresenta dificuldades em sua
O cotidiano da escola é rico em situações em aprendizagem e não encontra respostas a elas,
que a escrita e a leitura são necessárias e fazem muitas vezes começa a apresentar
sentido. Trabalhar atividades significativas, desinteresse, desatenção, irresponsabilidade,
lúdicas, de pesquisa, literária é imprescindível agressividade, porém essas respostas são
para que a criança compreenda a abordagem inadequadas, é um sinal de descompensação.
dos aspectos formais do sistema de leitura e A aprendizagem deve ser significativa, o
escrita. aluno deve ter prazer em compreender um
Algumas atividades devem ser previstas para texto e também ter sentido para ele. Paín, diz
desenvolver atitudes e valores nos alunos em que quando o aluno descobre um significado no
relação à leitura, como gostar de ler livros que lê, ele encontra afeto.
diversificados, frequentar bibliotecas, valorizar Paín (1989), registrou que o professor
a leitura como fonte de entretenimento, cuidar necessita instigar o aluno à participar e ter
dos livros e demais materiais escritos, bem paciência nesse período de aprendizagem, e
como, procurar informações em jornais e aceitar essa fase de aprendizagem". A
revistas. alfabetização, para Paín, (1989, p.23), deve ser
Falar de aprendizagem no interior da um tempo de alegria e, o professor deve dar
instituição educacional é falar de um contínuo esse clima na sala de aula.
movimento de interações entre os agentes Fernández (2001, p.56), nos aponta a
educativos, que resulta em trocas, descobertas, importância da família, que igualmente é
construção e reconstrução tanto do responsável pelo aprender da criança, já que

106
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

eles são os primeiros que ensinam os filhos. Isso As teóricas discutem no livro Psicogênese da
nos leva a relação professor-aluno, que para língua escrita, o processo de aquisição da língua
essa autora, “quando aprendemos, escrita, tendo como foco primordial o modo
aprendemos com alguém, aprendemos como a criança aprende. Para as autoras,
daquele a quem outorgamos confiança e direito “nenhuma criança entra na escola regular sem
de ensinar”. nada saber sobre a escrita e que o processo de
A psicopedagoga Porto também contribui alfabetização é longo e trabalhoso para todas,
para o entendimento da aprendizagem: não importa a classe social” (1999, p. 08).
A aprendizagem constitui-se em um dos Isso implica dizer que a criança participa de
indicadores da capacidade de aprender, um mundo letrado e possui a priori um
relacionado especialmente com as crianças, conhecimento básico diante da escrita que a
com seu grau de adaptação, com o nível de cerca. Conhecimento este aprimorado quando
desenvolvimento de sua personalidade, e a entra na escola e cabe a esta fornecer materiais
condição cognitiva, refere-se às estruturas que prazerosos e atrativos que visem propiciar um
permitem a organização dos estímulos e do ambiente que possa favorecer o
conhecimento da dinâmica do comportamento, desenvolvimento do raciocínio, bem como a
caracteriza-se como o processamento da interação dos discentes com a língua escrita.
realidade e ação sobre o meio. Os aspectos Essa ideia completa com o que Pelegrini (2003,
afetivos, juntamente com os cognitivos e os p. 28), afirma sobre a alfabetização, quando
biológicos são comumente identificados como aponta que esta não é um estado, mas um
fatores individuais internos das crianças que processo. Ela tem início muito cedo e não
isoladamente ou em interação determinam as termina nunca.
condições de aprendizagem (PORTO, 2009, Nós não somos igualmente alfabetizados
p.40). para qualquer situação de uso da língua escrita.
A aprendizagem é um fruto da história de Temos mais facilidade para ler determinados
cada sujeito e das relações que ele consegue textos e evitamos outros. O conceito também
estabelecer com o conhecimento ao longo da muda de acordo com as épocas, as culturas e a
vida, afirma Bossa (PAIN, 2000, p.60). chegada da tecnologia.
A partir de 1980, educadores como Emília Segundo Ferreiro (2003, p. 36), o objetivo
Ferreiro e Ana Teberosky (1999), trouxeram o desses estudos era de “mostrar e demonstrar
entendimento sobre a alfabetização, a qual que as crianças pensam a propósito da escrita,
envolve não apenas um decifrado de signos e e que seu pensamento tem interesse,
códigos, mas, também, um processo de coerência, validez e extraordinário potencial
elaboração de hipóteses acerca da educativo”.
representação linguística. Neste sentido, A Psicogênese da língua escrita mostra pistas
compreende-se que práticas mecânicas de muito valiosas para direcionar a ação didática
memorização e ensino já estão ultrapassadas e quanto à alfabetização, visto que esta passou a
que a alfabetização, nas suas especificidades, ser vista como uma construção conceitual e
precisa de um novo olhar. contínua a partir de tais investigações, sendo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

então desenvolvida em processo interativo, aquele em que se passa a perceber a função


dentro e fora da sala de aula, acontecendo social do texto.
então, aos primeiros contatos da criança com a Acreditar nisso é dar razão à velha
escrita. consciência fonológica.
Enfatiza-se, nesta compreensão, que a Neste sentido, as ideias que mitificavam a
aquisição da escrita alfabética não se trata aquisição da lecto escrita têm sido
somente de um processo de associação entre modificadas com a grande colaboração da
letras e sons, trata-se da elaboração de uma estudiosa, pois esta defende o resgate das
série de hipóteses que o indivíduo precisa fazer, práticas sociais da escrita, bem como das
bem como, tomar decisões acerca de uma práticas pedagógicas contextualizadas e
empreitada cognitiva, pra que este possa significativas. Nesse contexto, observa-se que o
entender como ele funciona. termo “letramento” aparece diretamente
Emília Ferreiro (1999; 2003), destaca a ligado ao processo de alfabetização, abrindo
importância do domínio de diversas um leque de uso social de aquisição da língua
propriedades lógica da notação da escrita dentro e fora da escola.
que o sujeito precisa ter, para que possa Antigamente, os métodos de alfabetização a
entender o funcionamento do Sistema de que se tinha, era estritamente ligado à grafia e
Escrita Alfabética, processo no qual terá que som das letras, o modo sintético.
produzir a noção de unidades de linguagens, ou O ensino tradicional obrigou as crianças a
seja, textos, frases, palavras, sílabas, letras e reaprender a produzir os sons da fala,
fonemas para que assim possa compreender as pensando que, se eles não são adequadamente
relações entre as partes escritas com a pauta diferenciáveis, não é possível escrever num
sonora, o que, estabelece as relações de ordem, sistema alfabético. Mas, esta premissa baseia-
permanência e relações termo a termo. se em duas suposições, ambas falsas: que uma
A teórica, em uma entrevista, declara à criança de seis anos não sabe distinguir os
“Revista Nova Escola” que a alfabetização fonemas do seu idioma, e que a escrita
possui um sentido bem mais amplo, ou seja, alfabética é uma transcrição fonética do
alfabetizar consiste em formar indivíduos que, idioma.
além das letras, possam fazer uma leitura de A primeira hipótese é falsa, porque se a
mundo. Para a autora (2003, p. 30), atualmente criança, no decorrer da aprendizagem da língua
o que se fala a respeito de letramento é o que oral, não tivesse sido capaz de distinguir
cabe e compreende a alfabetização. Vejamos: E oralmente pares de palavras, tais como pau,
o que aconteceu com a alfabetização? Virou mau; coisa que obviamente, sabe fazer. A
sinônimo de decodificação? segunda hipótese também é falsa, em vista do
Letramento passou a ser o estar em contato fato de que nenhuma escrita constitui uma
com distintos tipos de textos, o compreender o transcrição fonética da língua oral (FERREIRO;
que se lê. Isso é um retrocesso. Eu me nego a TEBEROSKY, 1999, p. 24).
aceitar um período de decodificação prévio Com base nas teorias de Ferreiro e Teberosky
(1999), conclui-se então, que ensinar a ler e

108
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escrever vai muito além da repetição, é a crença de que esse conhecimento sobre a
decodificação dos caracteres, transcrição literal função social da escrita já está consolidado pela
da fala, cópia, reforço e memorização criança.
repetitiva. Nos dias de hoje, o foco da Então, a prática docente volta-se para o
alfabetização deve ser fazer uso social da ensino da língua escrita como objeto em si
leitura e escrita. Isso é fazer letramento. mesmo. Nas escolas, não há a preocupação em
registrar e tomar como ponto de partida para o
FERREIRO E SUAS ensino o conhecimento que o aluno já possui ou
de que maneira compreende a língua escrita.
CONTRIBUIÇÕES NA As pesquisadoras Emília Ferreiro e Ana
COMPREENSÃO DO PROCESSO Teberosky, por meio de seus estudos
psicolinguísticos sobre a gênese da escrita e da
DE APRENDIZAGEM DA LÍNGUA
leitura, chegaram à conclusão de que o
ESCRITA caminho percorrido pela criança na busca pela
A condição básica para que uma criança compreensão da natureza e o funcionamento
inicie o seu processo de alfabetização é a do sistema de escrita é composta por estágios
compreensão de que a escrita representa a bem delimitados (SOARES, 1985; REGO, 2006,
oralidade e, consequentemente, o p.34).
pensamento. Esse caminho foi denominado de
A descoberta que a palavra escrita substitui psicogênese da língua escrita. Esses estudos
os objetos, as ações, os sentimentos, é fator mostraram que qualquer criança, seja de classe
primordial para a aquisição da escrita e da menos favorecida ou não, percorre os mesmos
leitura, e é ainda mais importante para as estágios conceituais até chegar ao
crianças oriundas de famílias de baixa renda, entendimento de que a escrita representa a
pois em seu convívio, as práticas de leitura e língua. O que diferencia o entendimento entre
escrita são quase inexistentes. A compreensão as crianças é o seu grau de interação e de
das funções da escrita constitui um dos convívio significativo com as práticas de leitura
objetivos ausentes nos programas de e escrita.
alfabetização (FERREIRO, 1993, p.32). Esses estudos sobre a psicogênese da língua
O professor deve criar situações em sala de escrita valorizam a escrita espontânea da
aula para que a criança possa entender essas criança.
funções. As crianças, cujos familiares estejam As primeiras escritas da criança têm a
constantemente envolvidos por práticas de aparência de “linhas onduladas ou quebradas
leitura e escrita vão perceber mais facilmente (ziguezague), contínuas ou fragmentadas, ou
que a língua escrita tem usos e práticas sociais, então como uma série de elementos discretos
como, por exemplo, a construção de lista de repetidos (séries de linhas verticais, ou de
compras do mercado, diferentemente daquelas bolinhas) (FERREIRO, 2001, p. 18).
crianças em que não praticam a leitura e
escrita. O que geralmente acontece nas escolas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A escrita infantil foi analisada tanto por seus O terceiro período é marcado pela atenção
aspectos gráficos quanto por seus aspectos às propriedades sonoras da palavra. A criança
construtivos. O primeiro se refere à forma percebe que as letras podem corresponder às
como a escrita se apresenta visualmente, e o sílabas orais. No eixo quantitativo, a variação da
segundo as representações e os mecanismos quantidade de letras depende do número de
para diferenciá-los. Ferreiro (2001, p. 15), sílabas. A partir daí o período silábico
descobriu que a escrita infantil se desenvolve se inicia por meio da hipótese: “uma sílaba por
dentro de uma trajetória de aspectos letra, sem omitir sílabas e sem repetir letras”
construtivos. (FERREIRO, 2001, p. 25). No período silábico-
Esse desenvolvimento acontece como alfabético, a criança percebe que a sílaba não
resultado das interações em processos representa a unidade mínima da palavra. A
culturais, das situações educativas. Essa linha sílaba pode se decompor em partes menores,
evolutiva tem três grandes períodos: distinção os fonemas. Dessa forma, o aprendiz descobre
entre o modo de representação icônico e o não- que quantitativamente uma letra
icônico; a construção de formas de necessariamente não equivale a uma sílaba.
diferenciação (controle progressivo das Outra questão que chama a atenção é a de
variações sobre os eixos qualitativos e visão que se tem a respeito da língua escrita.
quantitativos) e; a fonetização da escrita (que Convencionou-se nas sociedades letradas que a
se inicia com um período silábico e culmina no aprendizagem da escrita se daria dentro do
período alfabético) (FERREIRO, 2001, p. 18). âmbito da escola. É necessário resgatar dentro
O primeiro período se estabelece pela das práticas escolares a ideia de que “a escrita
diferenciação entre desenhar e escrever e pela é importante na escola porque é importante
compreensão de que a escrita pode substituir o fora da escola, e não o inverso (FERREIRO, 2001,
desenho. A segunda se caracteriza pela p. 21).
construção de critérios de diferenciação entre A escola assume o papel de mantenedora da
as escritas, que obedecem a alguns critérios. O língua escrita e impõe ao sujeito que aprende
critério intrafigural refere-se às propriedades uma postura de respeito à língua escrita sem
que o texto escrito deve possuir para ter direito a questionamentos. Esse respeito tem
significado, representadas por meio do eixo que estar presente na representação gráfica
quantitativo (quantidade mínima de letras que das letras, na ortografia, na leitura, entre
geralmente são três) e do eixo qualitativo outros. A prática docente deve ser
(variação interna das letras). O critério suficientemente adequada para conduzir o
interfigural refere-se às diferenciações entre processo de alfabetização e letramento,
uma escrita e a próxima, tendo como eixo resgatando, entre outras coisas, a valorização
quantitativo a variação na quantidade de letras das práticas e os usos sociais da escrita na
e o eixo qualitativo, a variação do repertório e cultura escolar.
da posição das mesmas na palavra. Esses dois [...] os exercícios que preparam a criança
primeiros períodos correspondem ao nível pré- para a aprendizagem da língua escrita, na
silábico. verdade, propõem um treinamento

110
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

meramente técnico e mecânico: preparar a Curto, Morillo, e Teixidó, (2000, p.87),


mão para fazer traçados corretos; o olho para apresentam uma proposta de avaliação
distinguir formas, e discriminação espacial; o completa e de fácil aplicação: O orientador
ouvido para que diferencie sons; e o aparelho pedagógico fará uma análise identificando o
fonador para que realize isoladamente sons momento do processo de alfabetização que o
fora do contexto linguístico. Esses exercícios de aluno se encontra e orientará o professor
forma alguma trabalham com a inteligência da fornecendo atividades e estratégias para
criança para entender a língua escrita como auxiliar na continuidade do aprendizado.
uma representação da linguagem oral e sua Alfabetizar faz parte de um processo mais
função social (FERREIRO, 1993, p. 21). amplo à “aquisição da competência linguística”,
De acordo com a autora citada acima, conceito apresentado por Oñativia tanto em
fundamentado em conhecimentos de seu método integral como em diversos artigos
alfabetização e inovações em países latino- sobre o tema. A alfabetização implica o
americanos no final do século XX, é aceitável aprendizado de uma habilidade específica que
definir de outra forma os objetivos da envolve associar sons com signos gráficos
alfabetização de crianças. Como: a (letras), fonemas com grafemas, habilidade
compreensão do modo de representação da esta que possibilitará codificar e decodificar
linguagem que corresponde ao sistema mensagens escritas.
alfabético de escrita; compreensão das funções Envolve também desenvolver a motricidade
sociais da escrita que determinam diferenças fina que possibilitará pegar um lápis e tracejar
na organização da língua escrita; leitura as letras, aprender que se escreve em
compreensiva de textos que correspondem aos determinada direção (de cima para baixo e da
diferentes registros de língua escrita, esquerda para a direita), discriminar
enfatizando a leitura silenciosa; produção de perceptualmente letras e sons, enfim, uma
textos respeitando os modos de organização da série de habilidades indispensáveis para a
língua escrita que correspondem a esses apropriação do código linguístico.
diferentes registros; atitude de curiosidade Por outro lado, “adquirir a competência
diante do objeto escrito, entre outros. linguística” implica adquirir a capacidade de
operar de forma autônoma com a língua, isto é,
A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ser capaz de produzir mensagens que
expressem um pensamento autônomo e
DE ESCRITA ALFABÉTICA criativo e ser capaz de interpretar mensagens
A avaliação de alunos com dificuldades de com espírito crítico. Essa outra fase do processo
aprendizagem deve ser feita no início do significa, portanto, desenvolver práticas de uso
trabalho com uma intervenção diagnóstica. de uma técnica adquirida no ato da
Serve para identificar em que momento do alfabetização.
processo de construção de leitura e escrita se Pain (1989), nos ensina que a escola tem um
encontram os alunos que iniciam o 1º ou 2º ano importante papel de desenvolver as crianças
do Ensino Fundamental. como pessoas independentes, ampliando sua

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

capacidade afetiva e intelectual indispensável a O DESENVOLVIMENTO


obter conhecimentos. Para ela, a escola
necessita oferecer uma didática baseada em INFANTIL NA PERSPECTIVA DA
conceitos científi¬cos, que beneficie o ALFABETIZAÇÃO E DO
aprendizado, in¬dependente do grupo social do
LETRAMENTO
aluno. Ela crê que o conhecimento pertence a
A Lei nº 11.274/2006 se refere a ampliação
todos, mesmo dos que tem dificuldade.
do ensino fundamental para nove anos. Diante
Paín (1989, p. 65), lembra que alguns alunos
das mudanças na educação básica no Brasil do
não aprendem a ler e a escrever porque isso
século XXI, é preciso se pensar o processo de
não faz parte do seu dia-a-dia, se sentem sem
alfabetização e letramento de crianças no
motivo para aprender e não aprendem porque
ensino fundamental de nove anos. Essa
esse conhecimento não significa nada para eles.
mudança representa uma resposta às
Para prevenir o fracasso escolar, é necessário
demandas com relação ao atendimento
trabalhar em e com a escola, realizar um
educacional das crianças. O ingresso de
trabalho para que o professor possa conectar-
crianças de seis anos no ensino fundamental
se com sua própria autoria e, portanto, seu
traz desafios e impactos na implementação da
aluno possa aprender com prazer, denunciar a
política de nove anos de escolarização básica.
violência encoberta e aberta instalada no
Nas últimas décadas, a educação recebeu
sistema educativo. Mas uma vez gerado o
contribuições de pesquisas de áreas como a
fracasso e conforme o tempo de sua
psicologia genética, da psicolinguística, entre
permanência, o orientador deverá intervir para
outros. Dentre as descobertas dessas
que o fracasso do aprendente, encontrando um
pesquisas, pode-se destacar a importância
terreno fértil na criança e em sua família, não
dada à educação infantil para o
se constitua em um sintoma neurótico
desenvolvimento integral da infância. As
(FERNANDEZ, 2001 p. 64).
crianças que iniciam sua escolarização na
Pain (1989, p. 78), se preocupou com as
educação infantil têm um salto qualitativo na
crianças que tinham dificuldade para
construção do conhecimento.
acompanhar os colegas na sala de aula. Voltada
Além disso, os dados do Indicador Nacional
a esse tema, estudou a constituição do sujeito,
de Alfabetismo Funcional (INAF) apontam que
considerando a necessida¬de do aluno se
o maior tempo de escolarização diminui as
perceber como alguém que existe no mundo, e
desigualdades de desempenho da leitura e
que aprender deve fazer sentido para ele.
escrita (FRADE, 2007). Isso remete a outro
ponto: para a escola pública, o processo de
alfabetização não se concentra mais nas classes
de crianças de sete anos.
Por outro lado, a presença obrigatória da
criança de seis anos no ensino fundamental traz
também uma mudança de ordem estrutural. A
criação e a implantação da lei não vieram

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

acompanhadas de um processo de o ensino fundamental se concentra nos


implementação. Não existem políticas que conhecimentos mais formais e abstratos da
dêem suporte para o efetivo atendimento escrita e do cálculo, esquecendo as suas
dessas crianças. Essas políticas devem ser funções sociais de comunicação.
voltadas para o financiamento da compra de Indiretamente essa lei uniu dois segmentos
mobiliário adequado, de material didático, para escolares, e a preocupação é a forma com a
a reestruturação curricular, para a contratação qual a classe do 1º ano será encarada daqui
de recursos humanos por meio da abertura de para frente. Se essas classes forem
vagas e formação docente. consideradas como classes preparatórias, a lei
A falta de um financiamento terá um efeito negativo, pois retira da criança o
suficientemente capaz de fornecer uma direito ao seu desenvolvimento integral.
infraestrutura mínima para que o ensino As crianças de seis anos, ao ingressarem no
fundamental de nove anos se concretize com ensino fundamental, deveriam ter seu direito
qualidade pode resultar na falácia dos ao desenvolvimento cognitivo, sendo
processos de alfabetização e letramento e de alfabetizadas na perspectiva do letramento,
ampliação da escolarização básica da respeitando-se suas especificidades e
população. necessidades.
A decisão de iniciar o processo obrigatório do
ensino de nove anos não foi tomada com base A FORMAÇÃO DO PROFESSOR
em estudos ou pesquisas na área (ARELARO,
A aprendizagem da leitura e escrita ocupa o
2005, p. 54). Os recursos financeiros são a
centro das discussões educacionais nas últimas
principal causa da matrícula de crianças de seis
décadas. Políticas educacionais, como a do EF
anos no 1º ano do ensino fundamental. O
de nove anos, requerem a necessidade de se
número de alunos atendidos em cada rede
desenvolver competências e novas habilidades
pública de cada estado interfere nas verbas do
de leitura e escrita nos alunos brasileiros.
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
É nesta sociedade cada vez mais
Ensino Fundamental (FUNDEB), sendo que
exigente em relação à aprendizagem e ao
quanto maior o número de alunos
conhecimento, que a competência na
matriculados, maiores os recursos financeiros
alfabetização e no letramento ganha destaque.
recebidos, mesmo que ainda ínfimos para
A alfabetização não é vista mais como um
garantir a qualidade exigida pela sociedade
processo isolado, a aprendizagem da escrita
organizada.
requer seu uso na dinâmica social, ou seja, em
O ingresso de crianças de seis anos no ensino
atividades de letramento. Ou, como nos aponta
obrigatório ainda provoca a discussão entre o
Gumperz (2008), alfabetização não apenas pelo
conceito da educação infantil e o conceito do
sentido de suas habilidades técnicas, mas como
ensino fundamental. O primeiro tem o papel de
“conjunto de prescrições sobre o uso do
propiciar lazer e socialização, promover a
conhecimento” da leitura e da escrita (p.13).
construção de conhecimentos de caráter
Assim, as instituições escolares, os órgãos
simbólico e do aprimoramento da oralidade. Já
governamentais, a sociedade e as mídias de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

modo geral, discutem as possibilidades de cada uma das letras para poder escrever. “Além
conquistarmos uma aprendizagem da leitura e desses, envolve os complexos usos e as
escrita mais condizentes com as exigências do múltiplas funções que a língua escrita assumiu
mundo contemporâneo. A complexidade em uma sociedade como a nossa. Assim,
destes processos e as transformações no aprender a ler e a escrever não se restringe
conceito e concepções da aprendizagem da apenas ao “ba-be-bi-bo-bu” (CAGLIARI, 1999,
leitura e da escrita ocorridas nestas últimas p.65).
décadas determinam um grande desafio para Essas considerações exemplificam de
os educadores e uma condição imprescindível maneira sucinta a revolução conceitual que
para a constituição dos sujeitos nesta abalou profundamente os pressupostos
sociedade. norteadores do processo de alfabetização e
A proposta de formação de professores, em vem orientando as análises e reflexões como
conformidade com as Diretrizes Curriculares também, direcionam estudos, cujos conteúdos,
para o Curso Normal Superior, estabelecidas têm se constituído norteadores da formação
pelo MEC, contempla dentre outras, a dos professores nas últimas duas décadas.
construção de competências referentes ao: • Entretanto, falta aos formadores, indicativos
Domínio dos conteúdos a serem socializados, mais precisos, desse movimento nas práticas e
de seus significados em diferentes contextos e nas ações que efetivamente acontecem no
de sua articulação interdisciplinar; • Domínio interior das escolas. A compreensão do
do conhecimento pedagógico; • Conhecimento movimento da mudança de paradigmas, das
de processos de investigação que possibilitem o práticas efetivamente desenvolvidas, dos
aperfeiçoamento da prática pedagógica avanços obtidos pós a Psicogênese da Leitura e
(GUMPERZ, 2008, p.64). da Escrita, irão contribuir de forma bem mais
Dessa forma, tanto os Referenciais de efetiva, para a construção de competências
Educação Infantil como os Parâmetros imprescindíveis no processo de formação dos
Curriculares Nacionais para os anos iniciais do professores alfabetizadores.
Ensino Fundamental sustentam a importância Diante de tantas descobertas feitas por
de que a ampliação das competências pesquisas e estudos de âmbito educacional, é
discursivas e linguísticas dos alunos decorram necessário fazer mudanças na estrutura
de uma rica atividade com a linguagem. educacional brasileira e uma delas é a respeito
O processo de aquisição da leitura e da da questão da formação do professor. Para o
escrita insere-se hoje, em um quadro bastante sucesso da alfabetização e letramento de
complexo, explicitados principalmente nos crianças, além de uma nova postura política no
estudos e teorias de Emília Ferreiro: implica em que se refere à qualificação do ensino, é
descobertas de como codificar a fala e necessário se pensar na formação do docente.
decodificar o escrito; também, às decisões que É fundamental repensar, agora, o trabalho
o aprendiz precisa tomar para selecionar os com linguagem em sala de aula, levando em
caracteres para representar a fala e, ainda, às conta as discussões e necessidades atuais. Esse
habilidades que precisa desenvolver para traçar caminho não é tão fácil, uma vez que muitos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educadores não ouviram a terminologia fundamentais às práticas da linguagem oral e


Letramento em sua formação inicial, ou escrita.
apresentam uma interpretação equivocada do A alfabetização e o letramento, por serem
mesmo. Mas, embora compreendamos a processos de natureza complexa, exigem do
dificuldade, acreditamos na possibilidade, pois docente uma formação profissional que leve
“o saber dos professores não provém de uma em consideração suas especificidades
fonte única, mas de várias fontes e de conceituais, teóricas e metodológicas. Para
diferentes momentos da história de vida e da atuar em classes de alfabetização, é
carreira profissional” o que possibilita a indispensável o professor possuir um
compreensão desse conceito (TARDIF, 2004: conhecimento sistematicamente construído,
p18). por meio de cursos de formação inicial e
Valorizar o professor, sobretudo o continuada, de qualidade.
alfabetizador, seus saberes e sua prática, é O professor alfabetizador deve avaliar
buscar entender, não só a literatura, mas a constantemente sua prática educativa, pois é
dinâmica da sala de aula, uma vez que o por meio da mesma que o docente irá aprender
conhecimento científico é ressignificado pelo a ensinar. Por essa razão, os saberes da prática
professor no cotidiano escolar. docente não são adquiridos somente por meio
De acordo com TARDIF (2004, p. 32), da formação acadêmica. Esses saberes são e
“[...] à medida que o professor reconstrói seus devem ser completados com os conhecimentos
saberes e sua prática, precisa pensar em apreendidos no exercício da docência.
metodologias de ensino que articulem a Entretanto, se o professor acreditar que sua
alfabetização e o letramento.” O processo de formação inicial por si só sustenta sua prática,
aquisição do sistema de escrita alfabética esse professor não terá uma prática educativa
precisa ocorrer inserido no trabalho com suficientemente adequada para atuar em
materiais escritos que circulam na sociedade, classes de alfabetização. Além disso, é por meio
levando os alunos a compreenderem seu uso. do exercício da autorreflexão de seu trabalho
Ou seja, é necessário alfabetizar em um que o docente terá a oportunidade de rever sua
contexto de letramento. É necessário ação docente para constantemente reorganizá-
“Alfabetizar Letrando”. Isto é, fazer com que a la.
criança se aproprie do sistema alfabético e
ortográfico da língua, garantindo-lhe plenas
condições de usar a língua nas práticas sociais
de leitura e escrita.
Essa prática de alfabetização, inserida no
contexto de letramento, significa ensinar os
educandos a utilizarem a língua escrita e falada,
em diferentes contextos sociais. Dessa forma,
as atividades pedagógicas devem ser centradas
no desenvolvimento das capacidades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por esse estudo pode-se concluir que é preciso investir num desenvolvimento interativo,
criativo e lúdico, incluindo a habilidade de aprender a ouvir opiniões diferentes e a contra-
argumento. Estabelecer comparações objetivas entre textos diferentes e as diversas maneiras de
utilizar a escrita socialmente. É necessário também favorecer a troca de experiências, tendo em
vista o desenvolvimento de valores como cooperação e reciprocidade. Os profissionais da
educação, especialmente os que trabalham com a alfabetização, a buscarem aperfeiçoamento
nessa área tão complexa, mas rica em sentido e significado para a educação.
Assim, a formação dos profissionais da educação ocorre em cursos de Pedagogia que,
mesmo reformulados com diferentes habilitações, não têm atendido à demanda da escola.
Todavia, permanece na escola um imenso vazio, pois a Pedagogia, numa visão da compreensão
do processo de ensino-aprendizagem, não tem contemplado as diferentes situações advindas da
própria escola, como por exemplo, o desempenho do professor, os conteúdos de ensino e o
processo afetivo, cognitivo, apenas justapondo informações sem conseguir articulá-las.
Entender o ser humano pressupõe um sentimento de cumplicidade com a criança.
Cumplicidade esta do professor, não só com a criança, mas com a sua trajetória dentro do
contexto escolar, ressignificando este no mundo acadêmico como um sujeito capaz de
desenvolver-se.
A partir deste estudo compreendemos que os problemas de aprendizagem no geral,
requerem um olhar atento dos profissionais da educação, pois estes podem ter origem orgânica,
psicológica ou ambiental. Cabe ao professor perceber tais problemas, e já encaminhar seu aluno
aos profissionais que poderão prestar um atendimento especializado. E quanto mais cedo for
detectado, com certeza o resultado será significativo.
Nesse caso, o professor deverá encaminhar o aluno para o profissional especializado. Após
um diagnóstico elaborado, este deve ser encaminhado para o atendimento por uma equipe
multidisciplinar, formada por psicólogos, neurologistas, fonoaudiólogos, entre outros
profissionais que por meio de estudos conjuntos poderão estar atuando frente ao problema.

116
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Alegre, Artmed, 2000.

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CURTO, L. M.; MORILLO, M. M.; TEIXIDÓ, M. M. Escrever e ler. Vol. 1. Porto Alegre. Artmed.
2000.

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pensamento. Porto Alegre, Editora Artmed, 2001.

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famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. 24 eds. Atualizada. São Paulo: Cortez, 2001.

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Coleção Leitura. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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contribuições de Vygotsky. In: FARIA Ana Lúcia Goulart de; MELLO, Suely Amaral (Org.).
Linguagens infantis: outras formas de leitura. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. p. 23-
40.

OLIVEIRA, Mari Ângela Calderari. A intervenção Psicopedagógica na escola. Curitiba, PR:


IESDE Brasil, 2009.

OÑATIVIA C.A. Psicogênese da Lecto Escrita -apostila Unisa – Curso Psicopedagogia. (1983).

PAIN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4 eds. Alegre:


Artmed, 1992.

PORTO, Olivia. Psicopedagogia institucional, teoria prática e assessoramento


psicopedagógico, 3 edições rio de Janeiro Wak Ed. 2009.

117
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E A
PSICOMOTRICIDADE
Tatiana Paula de Souza Pereira1

RESUMO: O presente artigo apresenta um levantamento bibliográfico acerca do desenvolvimento


infantil e da psicomotricidade, buscando mostrar o papel desta no desenvolvimento da criança,
favorecendo a sua capacidade de orientação no espaço e sua percepção da relação com objetos
ao seu redor e destas consigo, para a construção do conhecimento.

Palavras-Chave: Educação; Desenvolvimento; Psicomotricidade.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Bacharel em Fonoaudiologia; Especialização em Psicopedagoga;
Especialização em Neuropsicopedagogia.
E-mail: tatifga2@gmail.com

118
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO relacionais que permitem, utilizando o corpo


como mediador, abordar o ato motor humano
A psicomotricidade é a primeira área do com o intento de favorecer a integração deste
conhecimento a relacionar o movimento aos sujeito consigo e com o mundo dos objetos e
aspectos psíquicos e emocionais dos seres outros sujeitos (COSTA, 2002, p.32)
humanos, realizando a comunhão destes Em razão de seu próprio objeto de estudo,
elementos. Ela busca relacionar movimento, isto é, o indivíduo humano e suas relações
desenvolvimento motor e habilidades com os com o corpo, a Psicomotricidade é uma ciência
processos de aprendizagem. encruzilhada... que utiliza as aquisições de
A psicomotricidade é de fundamental numerosas ciências constituídas (biologia,
importância nos primeiros anos de vida da psicologia, psicanálise, sociologia, linguística...)
criança. Em sua prática empenha-se em deslocar a
Este trabalho faz um levantamento sobre problemática cartesiana e reformular as
conceito de Psicomotricidade e um breve relações entre alma e corpo: O homem é seu
resumo histórico de sua evolução no Brasil; e corpo e NÃO - O homem e seu corpo (COSTE,
um levantamento sobre a teoria de Jean Piaget 1981,p.21).
acerca do desenvolvimento cognitivo, Segundo Lapierre e Le Boulch (apud,
concluindo sobre a influência do primeiro sobre OLIVEIRA, 1992, p. 122), a psicomotricidade
o desenvolvimento da criança. deve ser uma formação de base indispensável
para toda criança, pois oferece uma melhor
O QUE É PSICOMOTRICIDADE capacitação ao aluno para uma maior
De acordo com a Sociedade Brasileira de assimilação das aprendizagens escolares e um
Psicomotricidade (2020), psicomotricidade é a bom desenvolvimento escolar.
ciência que tem como objeto de estudo o
homem por meio do seu corpo em movimento BREVE HISTÓRIA DA
e em relação ao seu mundo interno e externo. PSICOMOTRICIDADE
Ela está relacionada ao processo de maturação,
De 384 a 322 a.C. Aristóteles já afirmava
no qual o corpo é a origem das aquisições
sobre um pensamento psicomotor. Para ele, a
cognitivas, afetivas e orgânicas e é sustentada
ginástica, até a adolescência, deveria ser
por três conhecimentos básicos: o movimento,
desenvolvida sem exercícios cansativos para
o intelecto e o afeto.
não prejudicar o desenvolvimento do espírito
A Psicomotricidade baseia-se em uma
(OLIVEIRA, 2003, p. 29.).
concepção unificada da pessoa, que inclui as
Em 1870 a palavra Psicomotricidade é usada
interações cognitivas, sensório motoras e
pela primeira vez, pela necessidade médica de
psíquicas na compreensão das capacidades de
encontrar uma área que explique certos
ser e de expressar-se, a partir do movimento,
fenômenos clínicos (S.B.P./ 2020).
em um contexto psicossocial. Ela se constitui
Em 1925, Wallon, médico psicólogo,
por um conjunto de conhecimentos
relaciona movimento ao afeto; a emoção ao
psicológicos, fisiológicos, antropológicos e

119
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

meio ambiente e aos hábitos dos indivíduos Segundo os estudos de Piaget, o


(S.B.P./ 2020). desenvolvimento cognitivo se realiza em
Em 1935, Edouard Gullmain, neurologista, estágios, a natureza e a caracterização da
desenvolve exame psicomotor para fins inteligência mudam com o passar do tempo.
diagnósticos, de indicação terapêutica e de Os estágios foram esquematizados em:
prognóstico. - sensório motor (0 a 2 anos);
Em 1947, Julian de Ajuriaguerra, delimita - pré operatório (2 a 6 anos);
transtornos psicomotores que oscilam entre - operações concretas (7 a 11 anos)
neurológicos e psiquiátricos. Psicomotricidade - operações formais (12 anos em diante)
adquire especificidade e autonomia.
1980, Le Boulch renova a Educação Física • Período Sensório-Motor (0 a 2 anos)
tradicional propondo técnicas de educação A criança percebe o ambiente e age sobre
psicomotora. ele. A inteligência é prática. O contato com o
1990- é formado o curso de graduação em meio é direto e imediato.
Psicomotricidade no Brasil e começam Predomínio do desenvolvimento das
preocupações com a regulamentação da percepções e dos movimentos;
profissão. O desenvolvimento físico é acelerado;
1992- é formada a primeira turma de Os desenvolvimentos ósseo, muscular e
psicomotricistas brasileiros. neurológico permitem a emergência de novos
comportamentos, como sentar-se, engatinhar,
DESENVOLVIMENTO andar, o que propiciará um domínio maior do
ambiente.
COGNITIVO SEGUNDO PIAGET Os brinquedos ideais nesta fase são os de
O desenvolvimento cognitivo é o progresso sacudir, chupar, chacoalhar, etc. A criança
gradativo da habilidade dos seres humanos no percebe o universo como o exterior a si, ela já
sentido de obterem conhecimento e se não é o centro do universo.
aperfeiçoarem intelectualmente (BARROS,
1999, p. 100). • Período pré-operatório (2 a 6 anos)
É de suma importância para o O principal progresso é o desenvolvimento
desenvolvimento da criança o campo da capacidade simbólica. É a fase das
assimilativo ou o meio. É preciso que o meio curiosidades. É nessa fase que se inicia a
provoque novos estímulos e proporcione novas linguagem. A criança começa a ter contato com
experiências para que os sistemas de ação a escola, corre, salta, pula, escova os dentes,
sejam acionados. Esta possibilidade de novos segura o lápis, entre outros.
estímulos deve ser rica pois a mesma Organismo estruturalmente capacitado para
possibilidade o desenvolvimento e associação o exercício de atividades psicológicas mais
dos esquemas de ação originários e favorece o complexas.
aparecimento de outros, por obra da - 2 aos 4 anos: pensamento egocêntrico
maturação (PIAGET, p. 57;58).

120
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

- 4 aos 6 anos: pensamento intuitivo (a PSICOMOTRICIDADE X


criança usa a inteligência e o pensamento).
- Não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter DESENVOLVIMENTO INFANTIL
uma explicação (é a fase dos "por quês"). A emoção imprime tom ao movimento
corporal, cada emoção, traz uma reação
• Período Operatório Concreto (7 a 11 diferente do corpo, segundo o temperamento
anos) emocional do ser humano, resultado da
A criança usa a lógica e o raciocínio de modo interatividade entre a motricidade e a atividade
elementar, mas só aplica na manipulação de emocional (WALLON, 1971).
objetos concretos. O trabalho com o meio psicomotor tende a
Desenvolvimento das noções de tempo, ser baseado na, objetivando o desenvolvimento
espaço, velocidade, ordem, casualidade. das capacidades e rendimento, visando à
É capaz de relacionar diferentes aspectos e eficiência e adequando aos diferentes níveis de
abstrair dados da realidade. habilidade, respeitando a personalidade e a
A criança é capaz de interiorizar as ações, ou vontade e a motivação do educando (ALVES,
seja, ela começa a realizar 2008,p.23).
operações mentalmente e não mais apenas A criança faz-se entender por gestos nos
por meio de ações físicas típicas da inteligência primeiros dias de sua vida, e até o momento da
sensório-motor. linguagem o movimento constitui quase que a
expressão global de suas necessidades
• Período Operatório Formal (a partir dos (FONSECA, 1998, p.216, p.41)
12 anos) Para Piaget, de acordo com La Taille et al.
A criança já é capaz de pensar em todas as (1992), as crianças são capazes de reconhecer
relações possíveis, logicamente. O pensamento e, representar, somente aquelas formas que
é formal, é capaz de deduzir por hipóteses. possam reconstruir efetivamente a partir de
Raciocina sobre hipóteses à medida em que suas próprias ações. Têm capacidade de se
é capaz de formar esquemas conceituais sobressaírem em atividades, nas quais o
abstratos. movimento é feito pelo seu próprio corpo, o
Possui padrão intelectual que persistirá andar, o pular, o saltar delimita uma habilidade
durante a idade adulta; de instinto, não havendo necessidade de
O desenvolvimento posterior consistirá adaptar seus movimentos. O movimentar-se
numa ampliação de conhecimentos tanto em ajuda na aquisição de seu cognitivo. Segundo
extensão como em profundidade, mas não na ele, a motricidade desempenha papel vital na
aquisição de novos modos de funcionamento inteligência antes da aquisição da linguagem.
mental.

121
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação Psicomotora deve ser considerada de base, pois condiciona todos os demais
aprendizados na fase pré-escolar. Proporciona à criança tomar consciência de seu próprio corpo,
da lateralidade, situar-se no espaço, dominar seu tempo, adquirir coordenação hábil de seus
gestos e movimentos.
Na fase pré-escolar que as crianças se movimentam das mais diversas formas, e estes
movimentos, associados, servem de base para outros mais complexos necessários futuramente.
A criança com um bom desenvolvimento psicomotor, não terá dificuldades em ler, escrever
e interagir com o grupo.

122
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BARROS, Celia S.G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. 12ª ed. São Paulo. Editora:
Ática. 1999.

LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta K.; DANTAS, Heloísa. Piaget, Vygotsky e Wallon:
teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

LAPIERRE, André. A Educação Psicomotora na escola Maternal. São Paulo. Mande. 1982.

LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor do nascimento aos 6 anos. 7ª ed. Porto


Alegre: Artmed. 1984.

OLIVEIRA, Gisele de C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque


psicopedagógico. 3ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

PIAGET, Jean. Seis estudos da Psicologia. Trad. Maria Alice D´Amorim e Paulo S. L. Silva.
Rio de Janeiro. Forense, 1986.

SBP.Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. Histórico psicomotricidade. Disponível:


www.psicomotricidade.com.br/sociedade/historico.htm.Data de Acesso:12/03/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NO AUXÍLIO DA


APRENDIZAGEM
Risolene Maria da Silva Araujo1

RESUMO: O presente artigo tem o objetivo de mostrar a importância da contação de histórias no


desenvolvimento educacional das crianças visando apropriar-se do momento de convivência
escolar de maneira prazerosa para a sua formação enquanto ser social leitor valendo do mundo
da imaginação concomitante às situações de desafios, motivando e fortalecendo a afetividade e
seu desempenho no processo de ensino- aprendizagem, bem como, por meio da fundamentação
teórica evidenciar que a prática literária é fundamental para o desenvolvimento cognitivo da
criança.

Palavras-Chave: Imaginação; Histórias; Aprendizagem.

1Professora de Educação Infantil. na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Contação de História.
E-mail: risolene.araujo@yahoo.com.br.

124
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Zilberman(2003), Vygotsky(1998), dentre


outros a fim de nortear as situações problemas
Ao nos referirmos em contação de histórias que interferem no processo de ensino
nos reportamos a mais antiga prática utilizada aprendizagem, em destaque a função social da
pelos seres humanos, que por meio desta literatura infantil como agente transformador.
habilidade comunicativa realizavam as trocas
de experiências e ensinamentos além de
A TRAJETÓRIA DA CONTAÇÃO
proporcionar momentos de prazer.
Atualmente, vivenciamos a era da tecnologia, DE HISTÓRIAS
na qual as informações chegam por O termo contação é utilizado para definir o
diversificados meios de comunicação, de ato de contar histórias, narrar ou mesmo,
maneira ampla e muito mais rápida, porém, a promover saraus, partindo do pressuposto de
capacidade de despertar a imaginação, as que a linguagem oral é uma das práticas mais
emoções, os interesses, as expectativas diante remota na comunicação entre as pessoas e de
de um contador, o ouvir, contar ou recontar que a oralidade foi e é uma das maiores
preservando culturas e valores, estão ficando propagadoras de muitas culturas vemos que o
de lado. ser humano conta histórias desde o início do
Estamos então diante de um grande desafio desenvolvimento de suas habilidades de
que é o resgate da “contação de histórias”. O comunicação e da fala.
primeiro contato que toda criança tem com A contação de histórias é uma prática muito
textos, basicamente se dá por meio das antiga e de grande relevância para a história da
histórias que lhes são apresentadas por meio da humanidade. Documenta-se que, antes mesmo
fala, ou seja, oralmente. Não importa por da escrita ser inventada, já havia o costume de
quem, seus pais, avós, familiares, ou apenas um utilizar o conto oral como instrumento de
vizinho; nem tão pouco em qual ocasião, se em transmissão de conhecimento. Através dessa
uma tarde chuvosa, se foi ao acordar ou antes tradição oral muitas sociedades conseguiram
de ir dormir, no caso esta, importantíssima preservar a sua cultura, e, consequentemente,
promovendo um sono tranquilo e restaurador, deixaram um rico legado de saberes, crenças e
no qual nada mais é do que o início do processo tradições, pois cada geração tinha o dever de
ensino- aprendizagem. contar as histórias para as gerações seguintes
É por meio da contação de histórias que o (BUSSATO, 2007; PATRINI, 2005, p.110).
educador estará estimulando: a imaginação, a Por meio da contação se expressam
criatividade, a oralidade bem como no sentimentos, conhecimentos, experiência,
incentivo a leitura, desse modo contribuindo além de promover momentos de união,
para a formação social do sujeito; garantindo a confraternização ou mesmo passar o tempo.
aprendizagem diferenciada e significativa. Afora uma prática prazerosa e educativa, a ação
Desse modo, o presente trabalho valer-se-á de contar e ouvir histórias possibilita o resgate
de estudos e pesquisas bibliográficas de da memória cultural e efetiva.
diversos autores tais como Miranda(2010),

125
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O ato de contar histórias é uma das artes determinada comunidade e cabíveis a


mais antigas, na cultura africana, por exemplo, interpretação dos integrantes do grupo.
existem os “Griôs”, que são aqueles que há Durante muito tempo a criança era vista
séculos preservam e transmitem as histórias do como um adulto e compartilhava de todas as
seu povo e da formação de sua sociedade. atividades com os mais velhos, inclusive a
Antigamente, costumava-se ver o povo mesma cultura literária, somente a partir do
reunido ao redor de uma fogueira para se século XVIII, com a reestruturação familiar é
aquecer, narrar acontecimentos, dialogar e que a criança passou a ser vista como um
alegrar. indivíduo diferente do adulto, principalmente
Desse modo as pessoas contavam e repetiam com atribuições diferentes destes, bem como
histórias, guardando suas tradições e língua. as necessidades e características próprias.
Assim elas transmitiam a história e o Nesse mesmo período, no âmbito educacional,
conhecimento acumulado pelas gerações, suas apresentou-se uma necessidade de
crenças, costumes, os mitos e principalmente mudança no que dizia respeito à
os valores que deveriam ser resguardados pela mentalidade sociocognitiva da criança, sendo a
comunidade. escola o centro para a mudança na literatura:
O conto oral é uma das mais antigas formas apareça a literatura infantil; seu nascimento,
de expressão. E a voz constitui o mais antigo porém, tem características próprias, pois
meio de transmissão. Graças a voz, o conto é decorre da ascensão da família burguesa, do
difundido no mundo inteiro, preenche novo status concedido à infância na sociedade
diferentes funções, dando conselhos, e da reorganização da escola (ZIBERMANN,
estabelecendo normas e valores, atentando os 2003, p.33).
desejos sonhados e imaginados, levando às As histórias é o modo significativo das
regiões mais longínquas a sabedoria dos pessoas expressarem suas experiências, o
homens experimentados (PATRINI, 2005, p. primeiro contato que a criança tem com o
118). texto, geralmente acontece por meio das
As histórias despertam a imaginação, as histórias apresentadas, oralmente, pelos
emoções, o interesse, as expectativas, vale familiares. Essas podem acontecer em
lembrar, das pregações de Cristo, que fazia uso diferentes ocasiões, seja ao acordar, antes de
das parábolas, uma forma narrativa alegórica, dormir, em uma trade chuvoso, na casa da
uma história para passar seus ensinamentos, avó... O fato é que se trata de um hábito
suas mensagens aos homens. Levando suas determinante ao início do processo de
palavras do concreto ao simbólico. aprendizagem.
A prática de contar histórias antecede o No Brasil, pelo fato da época ser colônia, a
desenvolvimento da escrita, de modo que na literatura infantil deu-se pela adaptação das
cultura primitiva, saber ler, escrever e obras portuguesas; e, de fato a literatura
interpretar os sinais da natureza era valioso, infanto-juvenil brasileira iniciou-se com as
pois estes seriam posteriormente os registros obras de Monteiro Lobato, que eram
pictográficos que relatariam o cotidiano de

126
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

diversificadas e na linhagem da ficção como é importante para a formação de


abordando problemas mundiais. qualquer criança ouvir muitas, muitas
Com Monteiro Lobato é que tem início a histórias... escutá-las é o início da
verdadeira literatura infantil brasileira. Com aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter
uma obra diversificada quanto a gênero e um caminho absolutamente infinito de
orientação, cria esse autor uma literatura descoberta e de compreensão do mundo
centrada em algumas personagens, que (ABRAMOVICH, 2003, p. 16).
percorrem e unificam seu universo ficcional Segundo Cagliari (1989, p.148), “a atividade
(CUNHA, 2003, p.24). fundamental desenvolvida pela escola para a
O ato de contar, ouvir e recontar histórias formação dos alunos é a leitura”, levando-nos a
tendo sido impulsionado pela necessidade de perceber que independente da formação que o
exprimir os sentidos da vida, buscar indivíduo possa possuir, se não tiver o gosto
explicações, transmitir valores familiares e pela leitura, perder- se-á os valores literários,
conhecimentos, é uma prática decisiva na pois estará desenvolvendo técnicas na sua
formação e no desenvolvimento do processo de aprendizagem. É necessário resgatar no
ensino-aprendizagem. passado, valores que foram se perdendo na
A contação de histórias é atividade própria evolução da sociedade.
de incentivo à imaginação e o trânsito entre o Por intermédio das histórias, a sociedade
fictício e o real. Ao preparar uma história para encontrou uma maneira significativa de como
ser contada, tomamos a experiência do expressar suas experiências, capazes de
narrador e de cada personagem como nossa e estimular a formação do cidadão. Por isso, é
ampliamos nossa experiência vivencial por preciso criar um ambiente de encantamento,
meio da narrativa do autor. Os fatos, as cenas e suspense, surpresa, emoção, permitindo que
os contextos são do plano imaginário, mas os personagens ganhem vida, enriquecendo a
sentimentos e as emoções transcendem a leitura.
ficção e se materializam na vida real
(RODRIGUES, 2005, p. 4). A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS E
Mesmo com o aparecimento de novas
tecnologias de informação e comunicação, a A APRENDIZAGEM
contação de histórias é praticamente um ato de Diante das diferentes práticas educativas, a
resistência e de preservação identitária, pois é contação de histórias é uma das mais evidentes
um processo que perdura até os dias de hoje, na realidade escolar; presente desde a rotina
podendo ocorrer em diversificados ambientes escolar do professor as visitações, quer seja a
de socialização. vinda de um contador ou idas a espaços
Segundo Freire (1989), o passo inicial para a culturais. Portanto, não podemos restringir
“leitura de mundo” se dá pelo ambiente essa prática somente para entendimento da
familiar, no qual ouve-se as primeiras histórias, linguagem, há de se ir além do desperta da
sendo estes componentes os intermediários imaginação e sentimentos, transcendendo a
entre a criança e o texto oral. palavra. E, exatamente por esta função é que o

127
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ato de contar história não pode ser utilizado Senso crítico: as histórias atuam como
apenas como o lúdico na hora do conto, em ferramentas de grande valia na construção
momentos isolados, e, sim estar presente como desse senso crítico, porque por meio delas os
metodologia para enriquecimento da prática alunos tomam conhecimento de situações
docente, visto que possibilitará o alheias à sua realidade, uma vez que podem
desenvolvimento de múltiplas aprendizagens. “navegar” em diferentes culturas, classes
Para um melhor desenvolvimento da criança sociais, raças e costumes;
é necessário que esta seja motivada Disciplina: é entendida como aceita e
exteriormente, com a prática da contação de praticada espontaneamente pela criança e não
histórias o educador viabilizara a interação como algo imposto inquestionavelmente pelo
desse processo, pois proporcionará o confronto educador. No momento que se trabalha com o
entre o real e o imaginário da criança. que a criança realmente gosta, quando sente
Podemos destacar alguns aspectos que foi preparada especialmente para elas, as
relevantes desta prática: chances de se ter uma postura atenta e
Caráter: as histórias com heróis, conteúdos participativa aumentam muito (DOHME, 2005,
que proporcionam lições de vida, fábulas em p. 19).
que o bem prevalece sobre o mal. Por meio das Diante das informações constantes na
histórias, principalmente, os meninos se bibliografia estudada, fica evidente que prática
defrontam com situações fictícias e com isso pedagógica utilizando a contação de histórias
adquirem vivência e referências para montar os como metodologia acrescenta
seus próprios valores; muito no desenvolvimento do aluno, bem
Raciocínio: as histórias mais elaboradas, os como de sua personalidade. Além de, como
enredos intrigantes, agitam o raciocínio da afirma Miguez, “na maioria dos casos, a escola
criança; acaba sendo a única fonte de contato da criança
Imaginação: o exercício da imaginação traz com o livro e, sendo assim, é necessário
grande proveito às crianças, porque atende a estabelecer-se um compromisso maior com a
uma necessidade muito grande que elas têm de qualidade e o aproveitamento da leitura como
imaginar. As fantasias não são somente um fonte de prazer” (MIGUEZ, 2000, p. 28).
passatempo; elas ajudam na formação da O ato de contar uma história, além de
personalidade na medida em que possibilita atividade lúdica, amplia a imaginação e ajuda a
fazer conjecturas, combinações, visualizações criança a organizar sua fala, por meio da
como tal coisa seria “desta” ou de “outra” coerência e da realidade.
forma; As primeiras disposições na memória das
Criatividade: uma vez que a criatividade é pessoas são o ver, sentir e ouvir, daí o ato de
diretamente proporcional à quantidade de contar histórias ser uma experiência de
referências que cada um possui, quanto mais interação, interação essa que estabelece,
“viagens” a imaginação fizer, tanto mais aproxima os sujeitos envolvidos.
aumentará o “arquivo referencial” e, Os contos enriquecem nosso espírito,
consequentemente, a criatividade; iluminam o espírito, iluminam o interior, ao

128
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mesmo tempo possibilita o indivíduo ser mais possibilitando o crescimento intelectual, crítico
protagonistas na resolução dos problemas e e criativo do aluno, além de estar
mais flexíveis para aceitar diferenças. proporcionando uma aprendizagem
Em qualquer fase do desenvolvimento significativa, fazendo uso dessa metodologia;
humano é possível se contar histórias “o leitura & contação de história, para a melhoria
impulso de contar histórias deve ter nascido no do desempenho escolar, de modo a atender as
homem no momento em que ele sentiu necessidades intelectuais e até mesmo afetivas
necessidade de comunicar aos outros, certa por meio dos conteúdos simbólicos contidos
experiência sua, que poderia ter significação nas leituras.
para todos” (COELHO, 2000, p.13) Segundo Gadotti (1988):
O ato de contar histórias possibilita debater o ato de ler é incompleto sem o ato de
importantes aspectos do cotidiano das escrever. Um não pode existir sem o outro. Ler
crianças, assim como ensinar temas éticos e e escrever não apenas palavras, mas ler e
cidadania e de propiciar um mundo imaginário escrever a vida, a história. Numa sociedade de
que encanta a criança. É necessário que a privilegiados, a leitura e a escrita um privilégio.
criança ouça histórias, para desenvolver a Ensinar o trabalhador apenas a escrever o seu
imaginação, a observação, a linguagem oral e nome ou assiná-lo na Carteira Profissional,
escrita, além, claro do prazer pela arte e a ensiná-lo a ler alguns letreiros na fábrica como
habilidade de dar lógica aos acontecimentos; ‘perigo’, ‘atenção’, ‘cuidado’, para que ele não
estimulando o interesse pela leitura. provoque algum acidente e ponha em risco o
A aquisição de habilidades, inclusive a de ler, capital do patrão, não é suficiente (GADOTTI,
fica destituída de valor quando o que se 1988, p. 17).
aprendeu a ler não acrescenta nada de Desse modo, notoriamente a leitura, exerce
importante a nossa vida (BETTELHEIM, 2002, p. um papel importantíssimo no crescimento
12). intelectual e crítico do aluno, desenvolvendo
Ao contarmos histórias para as crianças, suas potencialidades, aperfeiçoando sua
desenvolvemos o gosto pela leitura e personalidade que refletirá no seu rendimento
possibilitamos uma aprendizagem de forma escolar.
prazerosa. O incentivo nas práticas pedagógicas é de
Conforme a faixa etária, existe um tipo de suma importância “a imersão da criança nas
história predileta, ou mesmo o livro predileto, diferentes linguagens e o progressivo domínio
devendo assim estimular as crianças, seja pelos por elas de vários gêneros e formas de
pais, seja pela escola. E, cabe a escola não expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e
deixar se perder o uso contínuo de livros musical” (BRASIL, 2010,
paradidáticos para estimular a literatura aos p. 25); evidenciando que é por meio da
alunos. É motivando as crianças a imaginar, a exploração das múltiplas linguagens que a
criar, que o educador estará enriquecendo o criança será capaz de expressar, comunicar
desenvolvimento da sua personalidade, seus sentimentos, emoções e, principalmente,
seus pensamentos.

129
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Se, é estimulando as crianças a imaginar, curiosidade de saber mais e ir além do


criar, envolver-se, que avançamos no esperado, como também oportuniza maior
enriquecimento e desenvolvimento de sua significado a pequenas circunstâncias diárias”
personalidade, o conto terá então utilização (CARDOSO, 2013, p.22).
significativa, assim como a contação de Desse modo, a conscientização dos
histórias interferirá positivamente na educadores de sua responsabilidade diante do
aprendizagem, pois o fantasiar e o imaginar hábito de leitura é de suma importância para a
antecedem a leitura. Por meio da contação de vida individual, social e cultural dos alunos;
histórias como metodologia utilizada para o visto que ao vivenciarem as emoções por meio
desenvolvimento dos sujeitos e melhoria de das narrativas estão sendo preparados para o
desempenho dos mesmos, o contato com o mundo real. O imaginário é fomentado pela
conteúdo simbólico das leituras, vem de literatura que encanta e deleita.
encontro às necessidades afetivas e intelectuais Em plena virada de milênio, quando o
do indivíduo; “longe da crença ingênua de que professor se senta no meio de um círculo de
a leitura dispensa aprendizagem, é preciso que alunos e narra uma história, na verdade cumpre
se invista na análise da elaboração do texto, um desígnio ancestral. Nesse momento, ocupa
mesmo com leitores iniciantes ou que ainda o lugar do xamã, do bardo celta, do cigano, do
não dominem o código escrito” (MACIEL, 2010, mestre oriental, daquele que detém a
p. 59). sabedoria e o encanto, do porta-voz da
O cenário da aprendizagem sendo ancestralidade e da sabedoria. Nesse momento
estimulada pela contação de histórias leva-nos exerce a arte da memória (PRIETO, 1999, p. 41).
à Alves (2006, p. 61): O ato de ouvir e contar histórias na fase
Penso que, de tudo o que as escolas podem infantil é de muita importância para a formação
fazer com as crianças e jovens, não há nada de da criança, pois a mesma está no início da
importância maior que o ensino do prazer da aprendizagem para desenvolver-se como
leitura. Todos falam na importância de leitora, e a formação de um leitor se dá na
alfabetizar, saber transformar símbolos gráficos capacidade de compreender as histórias
em palavras. Concordo. Mas isso não basta. É escritas bem como os acontecimentos do seu
preciso que o ato de ler dê prazer. As escolas cotidiano.
produzem, anualmente, milhares de pessoas Segundo Abramovich (2003, p. 16), “é
com habilidade de ler, mas que, vida afora, não importante para a formação de qualquer
vão ler um livro sequer (ALVES ,2006, p. 61). criança ouvir muitas histórias. Escutá-las é o
O hábito da leitura deve proporcionar a início da aprendizagem para ser leitor é ter um
internalização cognitiva dos sentimentos, caminho absolutamente infinito de
promover a interação e a capacidade de criar e descobertas e de compreensão do mundo”. A
recriar. “A imaginação é uma atividade contação de histórias além de divertirem, elas
necessária, pois proporciona maiores propiciam a prática de educar,
aprendizagens, momentos de interação; instruir, socializar, desenvolver a inteligência
construção de regras, explora a criação, a e a sensibilidade. “Para formar grandes leitores,

130
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

leitores críticos, não basta ensinar a ler. É


preciso ensinara gostar de ler” (VILLARDI, 1997,
p. 2).
A prática da contação de histórias possibilita
a complementação das aprendizagens, o
estímulo, a valorização e o aprimoramento do
trabalho pedagógico. “É no confronto e na
reflexão sobre a prática e os saberes
pedagógicos e com base neles, que os
professores criam novas práticas” (FAZENDA,
1998, p. 172).
Uma prática educativa lúdica possibilitará a
cada um de nós e nossos educandos
aprendermos a viver mais criativamente e, por
isso mesmo, de forma mais saudável
transitaremos com mais facilidade para o
estado de “clareza”, em busca de soluções
criativas para o nosso cotidiano, assim como
também transitaremos facilmente para o
estado focado (exatidão) quando necessitamos
de agir praticamente, tendo em vista realizar as
soluções que acessamos (LUCKESI, 2004, p. 19).
Portanto, a oralidade deve existir desde
sempre na vida das crianças, despertando o
interesse por histórias, livros, leituras, e, acima
de tudo “...formar leitores; para fazer da
diversidade cultural um fato; organizar as
etnias; manter a História viva; para se sentir
vivo, para encantar e sensibilizar o ouvinte,
para estimular o imaginário”(BUSATTO, 2011,
p. 46).
Para Abramovich (2003), a contação de
história é fundamental para o desenvolvimento
intelectual da criança, a partir do interesse
desta pela leitura, sua imaginação é estimulada
assim como o desenvolvimento comunicativo
por meio da interação. A escola, pode ser para
muitos, o único caminho de acesso ao livro e a
leitura.

131
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do momento que a contação de histórias favorece o desenvolvimento cognitivo,
físico, psicológico, moral e social; contribuindo na aprendizagem escolar, pois proporciona maior
desenvolvimento perceptivo do aluno, a escola deve ter uma atenção especial no ato de contar
histórias pois é função dela construir e reconstruir
conhecimentos. Daí a importância do hábito de ouvir histórias desde os primeiros
momentos da vida educacional da criança, reafirmando as vantagens na aprendizagem de
conteúdo, na socialização, na comunicação, na criatividade e até mesmo na disciplina.
Por intermédio da contação de histórias é notório o papel da literatura como meio de
conhecer melhor o mundo e a nós mesmos enquanto leitores, em meio a articulação de leitura
crítica do mundo e a leitura de textos literários. Além da melhoria nos relacionamentos afetivos
interpessoais, possibilita a aprendizagem em diferentes disciplinas, visto que é possível por meio
dos textos literários, compartilhar sentimentos, atitudes, posturas de personagens que retratam
situações da realidade.
Por fim, é de suma importância que os educadores lutem pela magia da contação de
história ser cada vez mais presente no cotidiano escolar, tanto quanto a busca pela inovação da
prática pedagógica.

132
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 2003.

ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São Paulo: Loyola, 2006.

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Educação, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2002.

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Vozes, 2011.

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CAGLIARI, L. C. Caminhos e descaminhos da fala, da leitura e da escrita na escola. Projeto


Ipê – Ciclo Básico. São Paulo: CENP – SE – SP, 1985.

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1998.

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ensino fundamental. Brasília: Ministério da Educação, 2010.

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As mais belas Histórias Infantis de todos os Tempos. São Paulo: Globo.

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Paulo: Cortez, 2005.

133
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.

134
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONTRAREFORMA E AS ORIGENS DA
PEDAGOGIA MODERNA
Daniel Mendes Gomes1

RESUMO: Este artigo parte das reflexões do historiador da educação, David Hamilton (2001),
publicadas com o título Notas de Lugar Nenhum: sobre os primórdios da escolarização moderna
na Revista Brasileira de História da Educação e faz uma reflexão sobre como se constituiu a o que
se convencionou chamar Escola Moderna. Outros autores são convocados para pensar como a
Escola Moderna surge sob uma nova perspectiva, mesmo que sem a intenção, que se propagou
pelo mundo nas mãos da Companhia de Jesus no contexto de contrarreforma.

Palavras-Chave: Pedagogia Moderna; Reforma; Contrarreforma; História da Educação.

1Professor de Geografia na Rede Municipal de Educação de São Paulo.


Graduação: Bacharel em Geografia; Licenciatura em Geografia pela Universidade de São Paulo.
E-mail: mendesgomes2206@gmail.com

135
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO moderna não possui ancestrais institucionais,


ou seja, a escola nasce de lugar nenhum.
O objetivo desse artigo é desenvolver uma Para Hamilton (2001), a escola moderna não
reflexão sobre as origens do que ficou é a continuação da escola medieval. Mesmo
conhecido como Pedagogia Moderna à luz do não podendo negar os estudos vindos da
contexto histórico que levou a alta sociedade escolástica como influência na constituição do
eclesiástica europeia às mudanças novo, o autor sustenta a ideia de que pensar em
educacionais ocorridas a partir do início do uma história linear evolutiva da escola limita a
século XVI. O papel da Reforma Protestante, da compreensão mais profunda do assunto. É
maior circulação do impresso, das Grandes nessa direção que o texto caminha. Para
Navegações são cruciais para as mudanças no reforçar tal tese, o autor expõe que os textos
cenário educacional. David Hamilton (2001), relacionados à educação no período medieval,
em suas Notas sobre lugar nenhum, nos colocam a escola como algo mais parecido com
esclarece que a pedagogia moderna não possui grupos de crianças. Não havia a especificidade
uma ancestralidade e nem é uma evolução da de um lugar separado, exclusivo para o ensino.
pedagogia medieval. Sendo assim é por meio da Além de, nesse período, a escola não
análise das condições sociais e políticas daquele apresentar concretamente um tratado de
momento que podemos pensar a constituição pedagogia.
desse novo modelo de escola. O autor também atenta para a questão de
O estudo das origens da Escola Moderna é que escola e ensino são coisas diferentes:
salutar por ser esse modelo de ensino ainda sempre houve ensino, porém, escola é uma
comum nas práticas de ensino em escolas do instituição criada socialmente. O próprio
Brasil e do Mundo. Hoje, entendida e conceito de escola na Idade Média é difuso, não
denominada como Pedagogia Tradicional, o havia uma escola da maneira que a
modelo de escola materializado no século XVI concebemos: com currículo, classe e local
ainda persiste, apesar de sucessivas críticas já próprio. Muitas desses conceitos surgiram na
feitas a esse modelo. Portanto, estudos dessa medida em que a escola moderna foi se
natureza são importantes compreender a constituindo. Portanto, a escola é uma
construção da Escola Moderna e ao mesmo invenção da Era Moderna.
tempo desnaturalizá-la. Outro fator importante na constituição da
escola moderna foi o conflito travado entre a
DO TEXTO DE DAVID Reforma Protestante e a Contra Reforma. A
crítica à Igreja Católica apressou o ensinamento
HAMILTON de doutrinas. A Reforma trouxe contribuições
O texto trata da constituição da escola significativas. O maior empenho em doutrinar e
moderna, esta nasce no bojo da configuração ensinar os postulados bíblicos e a luta por
do Estado Moderno e não ocorre de maneira novos adeptos farão com que diversas
planejada, mas sim como resposta às novas tendências do cristianismo organizassem
necessidades do homem moderno. O autor métodos de estudo. Temos aí o embrião da
defende a tese de que a constituição da escola

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escola moderna. Protestantes como Filipe de deu as bases para o pensamento hodierno. Em
Melanchton, João Calvino e Martinho Lutero poucas palavras, a virada do século XV para o
lançaram as bases para a criação dos Ginásios e século XVI é o ápice do lento declínio do mundo
a organização de um currículo – escola em medieval e o começo de outro tempo, tão lento
ciclos. Em contrapartida, a Contrarreforma quanto o primeiro, marcado pelo intenso
organizou um método de ensino chamado Ratio combate e lenta entrada do paradigma
Studiorium, portanto, o contexto de lutas científico como plano norteador do mundo.
religiosas também dará as bases da escola.
A CONTRARREFORMA E A
CONSTITUIÇÃO DA IDADE ESCOLA MODERNA
MODERNA O movimento de Contra-Reforma nasce no
O que chamamos de “Idade Moderna” foi um bojo das questões políticas, sociais e culturais
conjunto de transformações ocorridas na mencionadas anteriormente. A Igreja precisou
Europa que influenciou boa parte do mundo a mudar para tentar garantir sua soberania. Para
partir do final do século XV como a queda de tanto, certos postulados que a Igreja manteve
Constantinopla e tomada da cidade pelos ao longo de séculos tiveram que ser revistos.
Turcos Otomanos em 1453 que culminou no A convocação do Concílio de Trento pelo
fim do império Bizantino e o fechamento da Papa Paulo III, que durou de 1545 a 1563, marca
rota via terrestre do Ocidente para o Oriente; o início da reação da Igreja Católica frente aos
as Grandes navegações dos séculos XV e XVI, novos desafios postos pelas diversas mudanças
realizadas primeiramente por Portugal e ocorridas na virada dos séculos XV e XVI. Entre
Espanha e posteriormente pela França, as diversas questões uma das mais
Holanda e Inglaterra; a constituição dos Estados importantes, senão a principal, era conter o
Nacionais e o Absolutismo; a invenção da avanço dos dissidentes que, apesar de
imprensa de Gutenberg entre os anos de 1450- existirem desde a idade média, estavam
1455, criada por Johann Gutemberg, tirando o crescendo significativamente em número e
monopólio da Igreja Católica da leitura dos alcance geográfico.
textos sagrados, antes escritos somente em A imprensa e a tradução da Bíblia para o
Latim; e a Reforma Protestante. vernáculo potencializaram a ação dos
O homem é colocado no centro das questões movimentos reformistas deixando a cúria
– o Humanismo – contrapondo-se a Escolástica romana ameaçada.
Medieval que tinha a explicação do mundo sob Até então a Igreja Católica tinha o monopólio
a ótica da filosofia tomista, sob a interpretação da cultura, tendo amplo apoio político dos
da Igreja cujo principal objetivo era a reinos católicos, tendo o Latim como idioma
investigação da natureza divina e suas relações oficial para assuntos relacionados à teologia e
com o mundo. as leis. A Igreja dominava os principais centros
Tais transformações deram origem a uma de cultura da Europa: as Universidades
nova forma de pensar o mundo e, lentamente Medievais, no qual ensino da Escolástica era o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conhecimento por excelência. A filosofia de São Somente nos domínios portugueses, no qual
Tomás de Aquino era a base que sustentava a a ordem teve todo apoio do rei, os jesuítas
ciência medieval. O tomismo resgatava alguns fundaram colégios nos mais remotos lugares,
postulados de Aristóteles para explicar por alcançando o Novo Continente (América), a
meio da interpretação bíblica católica as coisas China (Macau), Índia (Goa), e Indonésia (Timor
do mundo. É necessário lembrar que o que hoje Leste) e África. Em 1586 a Cia de Jesus já
conhecemos como ciência moderna foi alcançava o número de 162 colégios espalhados
exatamente um afastamento, de forma lenta e pelo mundo.
gradual, da explicação do mundo pautado na
retórica, na dialética, na religião e em Deus para
um saber empírico, pautado na observação in
lócus, tendo o próprio homem e a natureza com
objeto de análise.
A propagação do ensino das línguas
vulgares pelas escolas protestantes, a difusão
de impressos nas mais diversas línguas
vernáculas, inclusive a Bíblia levou a Igreja
Católica a criar uma “força tarefa”, uma milícia
para combater o alcance das ideias
protestantes tanto na Europa como no restante
do mundo que naquele momento se abrira para
o Ocidente.
Em 1534, Inácio de Loyola funda a
Companhia de Jesus, uma ordem religiosa cuja
ação aproximava-se ao militarismo (obediência
incondicional às regras, disciplina,
hierarquização, sempre voltados para o
comprimento da missão). De formação
missionária (missão), os jesuítas foram os
baluartes da propagação da fé católica pelo
mundo. Os jesuítas tiveram dupla missão:
conter o avanço do protestantismo na Europa e
pregar a fé católica para as nações recém
conquistadas pelos colonizadores. Outras
ordens católicas também se dispuseram nessa
difícil tarefa, mas a Companhia de Jesus pelo
seu caráter militarizado, rigor e disciplina foi o
principal arauto do catolicismo pós Concílio de
Trento.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A princípio, o principal objetivo dos jesuítas não era a construção de uma escola, ou de um
sistema de ensino, ou mesmo de uma nova pedagogia. Seu objetivo era a pregação da fé católica
renovada pelo Concílio de Trento. Mas ao ingressar nessa missão, os inacianos que embarcaram
para terras distantes não sabiam o que iriam encontrar em terras tão remotas: Eles tiveram que
aprender a língua dos povos, criar instrumentos de doutrinação, músicas, rimas, qualquer forma
que pudessem se comunicar e conseguir difundir a sua cultura. Nesse sentido, a pedagogia
jesuítica (tinha que ensinar a rezar, a confessar, ensinar a moral e os costumes, ensinar as leis)
teve que criar na prática, no dia-a-dia, a sua própria maneira de ensinar.
Longe de desconsiderar o ideal da Ordem fundada por Inácio de Loiola, a educação e o
ensino foram tomando proporções consideráveis, mas sempre relacionados ao fim religioso da
Companhia de Jesus. Assim, vale dizer que na pedagogia jesuítica a instrução e a educação
caminharam juntas, não deixando encoberto o fato de que a Ordem, fundada e liderada por
Loiola, era uma sociedade religiosa e que se utilizava da ciência do ensino como instrumento para
promover a verdadeira religião (COSTA e MEN, 2012,p.32).
Dessa forma, a Companhia de Jesus não poderia perder o foco (salvar os homens) e para
tanto era fundamental padronizar alguns procedimentos. O próprio Inácio de Loiola escreveu
entre 1521 e 1539 os Exercícios Espirituais, um manual de espiritualidade que de certa forma era
utilizado como uma “pedagogia católica” pois determinava padrões disciplinares de
comportamento com orientações de ordem práticas: métodos de aprendizagem pautados no
confinamento, na repetição, na memorização por repetições sistematicamente planejadas, no
controle do tempo de estudo e do espaço apropriado para o andamento das atividades
educacionais. Nota-se que, apesar de não ser propriamente um tratado de pedagogia, os
Exercícios Espirituais abordavam questões que posteriormente se tornariam uma das bases da
Pedagogia Moderna (TOLEDO ;SKALINSKI ;JUNIOR, 2012 p. 254).
A Companhia de Jesus estruturou um amplo e eficiente sistema de instrução escolar,
padronizou regras e em 1599, criou o Ratio Ataque Studiorum Societas Jesu, um dos documentos
mais importantes para a Pedagogia Moderna.
Segundo João Adolfo Hansen (2001, p.13;42), o Ratio Studiorum não é propriamente um
tratado teórico de pedagogia, mas um código prático de normas. Sob forte influência do Pe
Cláudio Aquaviva, o Ratio Studiorum foi dividindo em um programa de estudos de oito anos para
os ensinos inferiores e um programa de quatro anos para os ensinos superiores.
Os estudos inferiores foram subdivididos em um quinquênio e um triênio. Em cinco anos
os alunos teriam uma grade curricular aprendendo Gramática (3 anos); humanidades (2 anos) e
retórica (1 ano, concomitante ao estudo de Humanidades). Os últimos três anos do currículo eram
destinados ao estudo de Filosofia.
Os estudos superiores destinavam-se aos alunos internos, àqueles que iriam seguir a
carreira eclesiástica. Eram quatro anos destinados ao estudo da Teologia. Nota-se aí a
semelhança com atuais grades curriculares e graus de ensino.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

É importante ressaltar que esse modelo de ensino só aceitava alunos já alfabetizados o que
nos faz pensar que essas escolas eram destinadas somente a um grupo social, no caso brasileiro
aos filhos das elites agrárias.
Outro ponto importante diz respeito à ênfase dada pelos jesuítas à retórica. Os alunos liam
frequentemente textos clássicos de Cícero. Isso pode ser bem explicado pelo fato de que havia a
necessidade de convencer o gentio pala palavra. Vale lembrar que, no Brasil, os ensinamentos
sobre a fé católica eram feitos pela oralidade, poucos sabiam ler.
Os textos aceitos nas escolas jesuítas eram aqueles autorizados pelo Index e tinham como
finalidade a conservação e a ortodoxia. É interessante verificar como os Jesuítas, por meio da
criação de um código de normas visando o conservadorismo, acabaram por criar algo novo.
Por último é relevante apontarmos que a escola Jesuítica e o Ratio Studiorum estão dentro
do que ficou conhecido como Humanismo, mas não tiveram a intenção de propagá-lo. Pelo
contrário, a postura da igreja era a ortodoxia. Liam-se os clássicos da antiguidade de uma maneira
reacionária procurando enquadrá-los dentro de perspectivas conservadoras.
A companhia de Jesus criou aldeamentos no continente americano para catequizar e
consequentemente administrar a vida social dos novos cristãos nativos. Também criou colégios
para atender os filhos dos colonizadores, filhos de donos de engenho, das elites rurais de todo
reino português, criou colégios para disseminar os ideais da ordem inaciana e formar novos
quadros de jesuítas. Para esses era destinado o ensino superior.
Assim, a Companhia de Jesus criou as bases da Escola Moderna com uma pedagogia que
hoje chamamos de tradicional, mas que ainda se faz presente. A obrigatoriedade seguir a um
currículo, a disciplina, a repetição e decoração, o espaço escolar com prédio exclusivo para esse
fim, a separação entre o ambiente escolar das outras esferas sociais, os castigos, as punições, a
avaliação e a hierarquia escolar são exemplos de uma escola e de uma pedagogia que, se não
existe mais, ainda reina na memória de muitos do que vivem o presente.

140
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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colégios jesuíticos em Portugal e no Brasil do século XVI. In. TOLEDO. D. A. A. et. al. (orgs.)
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TOLEDO, Cesar de Alencar Arnaut de. e SKALINSKI JUNIOR, Oriomar. A racionalidade da


espiritualidade inaciana e sua contribuição para a educação escolar na Modernidade. In.
TOLEDO. D. A. A. et. al. (orgs.) Origens da educação escolar no Brasil. Vol. 1 Maringá: Eduem,
2012.

141
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA
INSTITUCIONAL NO ENSINO SUPERIOR:
SUBSÍDIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
Maria Lúcia Francisco Damasio 1

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo central analisar e apresentar os campos de
atuação do psicopedagogo e avaliar o papel desse profissional na área institucional escolar
superior e tem como pressuposto que as características dos conhecimentos prévios são
determinantes para novas aprendizagens e que “a aprendizagem significativa ocorre quando uma
nova informação ancora-se em conceitos relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva de
quem aprende” de acordo com Ausubel (1981). A partir, dos resultados do estudo realizado por
meio da análise e interpretação obtidas considera-se que os estudantes sentem falta de
intervenções que contribuam para uma solução satisfatória da crise psicossocial caracterizada
pelo ingresso na faculdade. Por fim, que as contribuições psicopedagógicas no ensino superior
têm como objetivo também evitar a reprovação do aluno e, muitas vezes, o abandono do curso e
que a reprovação é um problema de todos e seu papel fundamental é analisar e assinalar os
fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição,
sugerindo e auxiliando no desenvolvimento de projetos favoráveis às mudanças educacionais,

1Professora de Ensino Fundamental e Médio na Rede Estadual de Ensino; Docente no Ensino Superior;
Coordenadora Pedagógica.
Graduação: Mestre em Educação; Especialista em Língua Portuguesa; Especialista Linguística Aplicada ao Ensino
de Língua portuguesa; Especialista em Psicopedagogia Institucional; Licenciada em Letras Português/Inglês.
E-mail:luciadamasio@yahoo.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

visando evitar processos que conduzam às dificuldades da construção da aprendizagem do


conhecimento.

Palavras-Chave: Psicopedagogia Institucional; Dificuldade de Aprendizagem; Aprendizagem


Significativa; Ensino Superior.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO presente artigo tem como objetivo principal:


Analisar e apresentar os campos de atuação do
As dificuldades de aprendizagem vêm sendo psicopedagogo e avaliar o papel desse
tema de interesse desde o início do século XIX, profissional na área institucional escolar
sem que houvesse de fato um campo superior e objetivos específicos: Definir a
concretizado de pesquisas sobre o tema. concepção de aprendizagem significativa sob a
Diversas as abordagens e os enfoques ao longo teoria de David Paul Ausubel por meio de
dos séculos foram dados ao tema, sendo que revisões bibliográficas; Listar as principais
durante esse período houve uma ampliação das causas das dificuldades de aprendizagem no
possibilidades a serem consideradas a respeito ensino superior; Refletir e analisar o papel e a
do assunto e cada vez mais áreas de estudos atuação do psicopedagogo na instituição de
puderam se unir na busca por uma solução. ensino Superior.
Na atual conjuntura do cenário acadêmico e O interesse pelo tema surgiu pela verificação
profissional, vivenciamos no mundo da e observação de que muitos alunos fracassam
tecnologia o acesso instantâneo às no Ensino Superior, principalmente nos
informações, que podem ser acessadas a períodos iniciais, no qual se verifica dificuldade
qualquer momento e em qualquer lugar. Na de acompanhar os conteúdos das disciplinas
maioria das vezes observa-se que o acúmulo de dos períodos iniciais, principalmente quando as
saberes, informações e conhecimentos ao avaliações são contextualizadas a qual
longo da sua vida acadêmica não foram necessita de reflexão, compreensão e
suficientes para este discente enfrentar o interpretação exigindo desse aluno um leitor
mercado profissional que é tão competitivo. proficiente que seria o ideal, porém a realidade
Desta forma, é imprescindível o é bem diferente.
desenvolvimento de competências e Diante do exposto, dessa forma, os
habilidades que movimentem e articulem os questionamentos que nortearam a presente
conhecimentos construídos ao longo da sua pesquisa podem ser formulados nos seguintes
vida. termos: Como o psicopedagogo institucional
Neste contexto percebe-se, especialmente o pode contribuir para diminuir a exclusão
Ensino Superior brasileiro, apresentando escolar diante da dificuldade de aprendizagem?
inúmeras deficiências exibindo inúmeros Por que o tema dificuldades de aprendizagem
aspectos negativos principalmente a desperta tanto interesse, atraindo professores
prevalência de aulas pautadas em um ensino da rede particular e pública, de diferentes
tradicional que já não contribuem para uma modalidades de ensino especialmente no
aprendizagem significativa e na maioria das contexto do ensino superior?
vezes sem nenhuma criatividade que desperte A Metodologia utilizada nesse artigo foi
ao discente a vontade de aprender a aprender. baseada na abordagem qualitativa e quanto aos
Tendo em vista a relevância de serem procedimentos técnicos utilizados foi à
conhecidos os possíveis fatores nas dificuldades pesquisa bibliográfica que para Gil (2002), tem
de aprendizagem no ensino superior, o como finalidade conhecer as diferentes formas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de contribuição científica que se realizaram atividades para que os conteúdos possam ser
sobre a temática. assimilados;
• O segundo menciona que a
DIFICULDADE DE CONCEITUAR aprendizagem é um processo construtivo,
porque as atividades que os alunos realizam
DIFICULDADE DE têm como finalidade a construção do
APRENDIZAGEM: ORIGEM conhecimento;
• O terceiro aspecto aborda a
ETIMOLÓGICA DE DIFICULDADES
aprendizagem como um processo significativo,
DE APRENDIZAGEM pois o aluno deverá gerar estruturas cognitivas
Para compreender o conceito “Dificuldade organizadas.
de Aprendizagem” é necessário, inicialmente, Portanto, os autores, concebe a
discutir sobre o que significa aprendizagem. aprendizagem como um processo de
As atividades mentais e comportamentais assimilação/adaptação de hábitos, conceitos,
não nascem com o ser humano, são adquiridas acontecimentos, procedimentos e atitudes,
ao longo da vida, por processos em que a valores e normas; em que o sujeito adquire
aprendizagem assume um papel muito determinados esquemas cognitivo/mentais
relevante. provenientes do meio a que pertence, por meio
Aprendizagem é a capacidade de aprender de sua própria estrutura cognitiva, com a
que nos permite adquirir os diversos modos de finalidade de resolver tarefas e adaptar-se de
agir, reagir e alterar os nossos comportamentos forma ativa e construtiva.
para nos adaptarmos as novas circunstâncias O aprender implica, portanto, certas
que inevitavelmente enfrentamos num mundo integridades básicas, que devem estar
de constante mutação é usada para designar presentes quando oportunidades para a
tanto o processo de aprender como o resultado aprendizagem são oferecidas.
desse processo. Para Vallet (1977), o “termo Dificuldade de
Aprender é um fenômeno complexo que Aprendizagem tem sido usado para indicar uma
envolve diversos aspectos do ser humano, os perturbação na aquisição e utilização de
inerentes à sua natureza e ao meio no qual ele informações ou na habilidade para solução de
está inserido. Isso faz com que este processo problemas”
seja pessoal e intransferível, na medida em que Nesse contexto, quando existe uma falha no
a possibilidade de aprender está diretamente ato de aprender, esta exige uma modificação
relacionada às características individuais. dos padrões de cognição, assimilação e
Barca Lozano & Porto Rioboo (1998), transformação, seja por vias internas ou
expõem um conceito de aprendizagem que externas ao indivíduo. A tentativa de definir e
integra três aspectos: esclarecer os termos relacionados a essa falha
• O primeiro é o de que a aprendizagem é na aprendizagem tem sido uma tarefa bastante
um processo ativo, pois os alunos, difícil por todos os profissionais que se
necessariamente, têm que realizar uma série de interessam por esta problemática.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DIFICULDADES DE formação, razão pela qual, qualquer lesão


poderá comprometer irreversivelmente o
APRENDIZAGEM ESCOLAR E potencial de aprendizagem, quer verbal ou não
FATORES COMO: INFLUÊNCIAS verbal.
Portanto, elencaremos alguns fatores
ENDÓGENAS E EXÓGENAS
externo tais como: metodologia inadequada
A expressão “dificuldades de aprendizagem”,
que muitas vezes o professor encontra
agrupa todos os problemas de aprendizagem,
resistência para mudança, formação do
quer sejam intrínsecos ao indivíduo ou
professor às vezes por falta de
relacionados com fatores externos, ou seja,
desenvolvimento e formações continuadas
contextuais ou mesmo emocionais, bem como
sérias e adequadas, cultura da escola, relação
pela combinação destes. É importante que seja
professor-aluno, política educacional e
descoberto o mais rápido possível, a fim de
representação do professor sobre a dificuldade
auxiliar o desenvolvimento no processo
de aprendizagem escolar, problema familiar
educativo.
que desequilibra o emocional desse aluno
É interessante que todos os segmentos
dificultando a aprendizagem entre outros.
envolvidos no processo educativo estejam
É importante que pais, professores e outros
vigilantes a essas dificuldades, observando se
profissionais que estejam envolvidos com o
são momentâneas ou se persistem ao longo do
aluno dispensem atenção à consciência afetiva
tempo.
que o aluno experimenta, pois, de acordo com
Fonseca (1995), comenta a etiologia das
a teoria de Goleman (1995), “o controle das
dificuldades de aprendizagem que pode ser
emoções é fator essencial para o
abordada em dois níveis: endógeno e exógeno.
desenvolvimento da racionalidade e cognição
O aspecto endógeno é de origem biológica e
do indivíduo”.
sua influência em termos de desenvolvimento e
Além disso, o autor considera ainda que a
o aspecto exógeno são de origem social
afetividade pode aumentar a capacidade de
desencadeada por condições de pobreza e
pensar, de analisar realisticamente os
privação cultural.
problemas da vida, de fazer planos e executar
Quanto aos fatores endógenos (biológicos),
ações com mais acertos, prazer e competência.
pode-se afirmar que as causas genéticas são
Segundo a teoria de Piaget(1896-1980),o
indispensáveis para esclarecer as causas
desenvolvimento intelectual é formado por
relacionadas às dificuldades de aprendizagem.
dois componentes: cognitivo e afetivo. O
Desta forma, oportuniza-se um diagnóstico
desenvolvimento afetivo encontra-se paralelo
detalhado em busca de maiores informações
ao desenvolvimento cognitivo. O Afeto inclui
para o processo de intervenção do
sentimentos, interesses, necessidades, desejos,
psicopedagogo.
tendências, valores, emoções em geral,
Nesta perspectiva de descobrir as causas das
expressividade e comunicação.
dificuldades de aprendizagem é importante
É óbvio que os fatores afetivos estão
enfatizar que neurologicamente até os trinta
envolvidos mesmo nas formas mais abstratas
meses de vida, o cérebro está em acelerada

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de inteligência. Podemos destacar então que UM POUCO DA TEORIA DA


de acordo com o autor, os fatores cognitivos e
afetivos se entrelaçam no decorrer do APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
desenvolvimento humano, formando uma só NA ÓTICA DE DAVID AUSUBEL E
unidade no funcionamento intelectual.
A ATUAÇÃO DO
Para Jardim (2001):
As crianças com dificuldades de PSICOPEDAGOGO
aprendizagem têm disfunções em habilidades A aprendizagem é compreendida como um
necessárias para haver aprendizagem efetiva, processo de mudança de comportamento
apresentando problemas na compreensão da adquirido por meio da experiência construída
leitura, organização e retenção da informação e por fatores neurológicos, ambientais,
na interpretação de textos. Geralmente são emocionais e relacionais, resultantes da
lentas ao processar informações, apresentam interação entre estruturas mentais e o meio
estratégias pobres para escrever, problemas de ambiente em que se está inserido. É um
organização espacial e muita distração o que processo permanente e contínuo na vida do ser
acarreta dificuldade de comunicação e hábitos humano, acontece durante toda a vida e em
ineficientes de estudo (JARDIM,2001, p.23). todas as situações.
Temos que levar em consideração que cada De acordo com Charlot (2000, p. 67),
criança tem um ritmo e deve ser respeitado, “aprender é exercer uma atividade em
pois todo indivíduo tem condições de aprender situação: em um local, em um momento da sua
e que este indivíduo possui um ritmo próprio de história e em condições de tempo diversos,
aprender e de se relacionar com o objeto de com a ajuda de pessoas que ajudam a aprender.
aprendizagem. A relação com o saber é relação com o mundo,
Neste contexto depreendemos que as em um sentido geral, mas é, também, relação
dificuldades de aprendizagem com causas de com esses mundos particulares (meios,
natureza endógena podem ser entendidas, em espaços) nos quais o indivíduo vive.
sentido amplo, aquelas que a criança apresenta Entende-se que a aprendizagem faz parte de
dificuldades em assimilar, ordenar e transferir o um processo de construção do próprio ser
conhecimento. humano. Aprendizagem é um processo que
A expressão “dificuldades de aprendizagem”, permite conhecer o mundo que o cerca
no entanto, agrupa todos os problemas de descobrindo características da natureza, dos
aprendizagem, quer sejam intrínsecos ao objetos, das pessoas, das coisas e de si mesmo.
indivíduo ou relacionados com fatores Cada pessoa é única, possui características
externos. próprias, um modo de agir, pensar e ser. 'Somos
diferentes, essa é a nossa condição humana.
A teoria da aprendizagem significativa não é
apresentada como nova, mas sim como atual.
Argumenta-se que houve uma apropriação
superficial, polissêmica, do conceito de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizagem significativa, de modo que longo do texto de modo a promover a


qualquer estratégia de ensino passou a ter a diferenciação progressiva do mesmo.
aprendizagem significativa como objetivo. Numa visão geral “aprendizagem
Portanto, o que se verifica na prática a significativa” é aquela em que ideias expressas
maioria dessas estratégias, ou as instituições de simbolicamente interagem de maneira
ensino de um modo geral, continuam substantiva e não arbitrária com aquilo que o
promovendo muito mais a aprendizagem aprendiz já sabe. Substantiva quer dizer não
mecânica, puramente memorística, que serve literal, não ao pé-da-letra, e não arbitrária
para as provas e é esquecida, apagada, logo significa que a interação não é com qualquer
após do que a significativa. Em linguagem ideia prévia, mas sim com algum conhecimento
coloquial, a aprendizagem memorística, especificamente relevante já existente na
mecânica é a conhecida decoreba, tão utilizada estrutura cognitiva do sujeito que aprende.
pelos alunos e tão incentivada na escola. Cabe, O pesquisador norte-americano David Paul
no entanto, destacar que aprendizagem Ausubel (1918-2008),afirma que, quanto mais
significativa e aprendizagem mecânica não sabemos, mais aprendemos. Famoso por ter
constituem uma dicotomia: estão ao longo de proposto o conceito de aprendizagem
um mesmo contínuo. significativa - que encerra a série Teoria
Cabe ressaltar que a aprendizagem mecânica Passada a Limpo -, ele é contundente na
não se deve, porém refutá-la totalmente, pois abertura do livro Psicologia Educacional: "O
ela é importante no momento em que o fator isolado mais importante que influencia o
indivíduo adquire informações em uma nova aprendizado é aquilo que o aprendiz já
área de conhecimento que ainda é totalmente conhece".
desconhecida para ele. A aquisição de Quando sua teoria foi apresentada, em 1963,
conceitos é a base para a formação dos as ideias behavioristas3 predominavam.
2

subsunçore2 que atuam como conceitos


1 Acreditava-se na influência do meio sobre o
âncora, nas quais as novas informações irão se sujeito. O que os estudantes sabiam não era
conectar, e forma uma nova estrutura cognitiva considerado e entendia-se que só aprenderiam
significativa para o universo de pensamento se fossem ensinados por alguém.
deste indivíduo. Pode-se afirmar segundo Davis Ausubel que
Portanto, o texto procura esclarecer o que é, a aprendizagem significativa, na qual uma nova
afinal, aprendizagem significativa. Isso é feito ideia, um novo conceito, uma nova proposição,
abordando recursivamente esse conceito ao uma nova teoria mais abrangente, passa a

2Subsunçores ou ideia-âncora termo utilizado na Psicologia (Teoria da Aprendizagem Significativa-David Ausubel)


para estrutura cognitiva existente, capaz de favorecer novas aprendizagens que permite dar significado a um novo
conhecimento que lhe é apresentado ou por ele descoberto.
3 Behaviorismo foi inaugurado pelo americano John B. Watson, em um artigo (1913), que apresentava o título

"Psicologia como os behavioristas a veem". Abordagem teórica da Psicologia centrada nos comportamentos
específicos, observáveis e mensuráveis e baseada em estudos rigorosamente controlados, com quantificação dos
dados comportamentais, excluindo os conceitos subjetivos envolvendo a consciência.

148
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

subordinar conhecimentos prévios é chamada Neste contexto a intervenção do


de aprendizagem significativa superordenada. psicopedagogo tem um caráter preventivo e
sua atuação inclui orientar o(s) discente(s),
A IMPORTÂNCIA E auxiliar os professores e demais profissionais
em relação às questões pedagógicas, colaborar
CONTRIBUIÇÃO DO com a direção para que haja um bom
PSICOPEDAGOGO NA entrosamento entre todos integrantes da
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA comunidade escolar e principalmente, ajudar o
discente a ter de fato uma aprendizagem
NO ENSINO SUPERIOR significativa e esta realmente faça sentido para
Atualmente um dos grandes desafios das sua vida profissional e acadêmica.
instituições de ensino superior é saber lidar Com isso, a busca da identidade, por meio de
com o discente que apresenta dificuldade de recursos psicopedagógicos, pode ser um meio
aprendizagem. E muitas vezes, no seu de ajuda ao “aprendiz-aluno” no contexto
despreparo, ao ensino superior pode universitário, e orientar o docente na
desencadear mais problemas, ou até mesmo identificação e auxilio aos alunos que
agravar os já existentes, gerando no educando apresentam comportamentos de aparente
sentimentos de desmotivação, repetência de incapacidade, desinteresse e inatividade
disciplina, desinteresse e baixa autoestima. (HOIRISCH; BARROS; SOUZA, 1993).
Portanto, nesse sentido, Azevedo (2003, p.
72), afirma que: O TRABALHO DO
A Psicopedagogia em seu desejo de conhecer
mais sobre o outro, para poder ajudá-lo a PSICOPEDAGOGO
vencer suas dificuldades, superar seus INSTITUCIONAL NO ENSINO
problemas de aprendizagem e compreender os
elementos que interferem nesse processo, em
SUPERIOR
O trabalho do Psicopedagogo institucional é
busca da autoria de pensamento, tem como o
dá apoio e intervenção, buscamos em Neves o
seu maior desafio: aprender a conhecer,
conceito de que, “a psicopedagogia estuda o
aprender a fazer e aprender a ser.
ato de aprender e ensinar, levando sempre em
O trabalho do psicopedagogo, como um
conta as realidades interna e externa da
profissional qualificado, consiste em dar
aprendizagem, tomadas em conjunto”. E, mais,
assistência aos professores e a outros
procurando estudar a construção do
profissionais da instituição escolar para
conhecimento em toda a sua complexidade,
melhoria das condições do processo ensino-
procurando colocar em pé de igualdade os
aprendizagem, bem como para a prevenção dos
aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe
problemas de aprendizagem. Juntamente com
estão implícitos (BOSSA, apud, NEVES, 2000, p.
toda equipe escolar propõem a construção de
24).
um espaço adequado às condições de
Pode-se considerar que ao longo do percurso
aprendizagem.
acadêmico, o aluno defronta-se com tarefas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que desconhece e que podem ser Neste contexto, na chamada sociedade do


caracterizadas em três domínios relevantes de conhecimento, o ambiente universitário requer
acordo com Gonçalves e Cruz (1988). do aluno uma nova postura, é um sistema que
Quadro 1 – Principais desafios acadêmicos exige adaptação, autonomia, uma rotina de
Nº Domínios Tipos de desafios pesquisa, articulação de ideias e a utilização das
tecnologias. As instituições buscam
01 Acadêmico Dificuldade de adaptar-se aos
hábitos e métodos de estudo de profissionais que além de desenvolverem suas
e ao sistema de avaliação. funções de forma eficiente, sejam
02 Pessoal e Dificuldade na construção de
social um sentido de identidade e das colaboradores criativos com capacidade de
relações interpessoais. decisão e iniciativa são habilidades que se opõe
03 Vocacional Questões relacionadas com a
identidade vocacional, a busca
a uma postura profissional passiva.
por um espaço organizacional e De acordo com (PORTILHO, 2009:79), na
a transcrição para o mundo do
trabalho.
contemporaneidade, o aprendiz deixou de ser
Fonte: Gonçalves e Cruz (1988, p.127;145), adaptado pela passivo “[...] e passa a ser um sujeito ativo,
autora. capaz de colocar em prática uma ampla
variedade de condutas que determinam a sua
De acordo com o próprio código de ética a modalidade de aprendizagem”.
psicopedagogia no contexto institucional:
Continua afirmando Portilho (2009), que:
Artigo 1º: é um campo de atuação em Educação
Aprender pressupõe construir conexões
e Saúde que se ocupa do processo de
entre as informações, significando-as a partir
aprendizagem considerando o sujeito, a família,
da realidade, transformando-as em
a escola, a sociedade e o contexto sócio
conhecimentos e saberes. [...] a pessoa quando
histórico, utilizando procedimentos próprios da
aprende precisa, também, desenvolver um
psicopedagogia, fundamentados em diferentes
conhecimento sobre si mesmo, assim como
referenciais teóricos.
procurar saber quais mecanismos que utiliza
No seu Parágrafo Único: A intervenção
para aprender, o que já conhece e o que falta
psicopedagogia é sempre da ordem do
para conhecer, organizando assim seus
conhecimento, relacionada com a
conhecimentos dentro de uma visão de
aprendizagem, considerando o caráter
globalidade.
indissociável entre os processos de
Pode-se argumentar que, existem
aprendizagem e as suas dificuldades (ABBp,
estudantes que necessitam de atendimentos
2013).
especializados que não podem ser ofertados
Pode-se afirmar que no ensino superior os
dentro do espaço educativo.
alunos ao ingressarem, apresentam problemas,
Neste contexto, Porto (2011), propõe
tanto de ordem cognitiva como relacional.
algumas intervenções psicopedagógicas na
Muitas dessas dificuldades fizeram parte de
instituição: rever o projeto político-pedagógico
toda a sua vida escolar são frutos de uma
para discutir as questões pedagógicas e
educação tradicional que valorizava pela
adequá-las de acordo com a realidade da
massificação de conteúdos em detrimento do
instituição de ensino; trabalhar com turmas
desenvolvimento das habilidades.

150
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

menores; oferecer cursos de formação e


autoformação aos professores e à equipe
pedagógica e flexibilizar o currículo.

151
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se que a tarefa do psicopedagogo no ensino superior é olhar e buscar
compreender como o universitário aprende, e identificar práticas interventivas adequadas ao
nível superior. Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem são diversas e receitas prontas para
solucioná-las não existem.
A Psicopedagogia é uma área de estudo diretamente relacionada à aprendizagem, tendo
como objeto de estudo a construção do conhecimento do sujeito que aprende e da instituição
que ensina.
Sendo assim, o trabalho preventivo feito pelo psicopedagogo beneficia, além do aluno que
apresenta dificuldades, todos os discentes que são vítimas de professores com metodologias
inadequadas, falta de atualização e de motivação para o ensino.
É necessário acompanhar o andamento das intervenções propostas e verificar seus
resultados. O desafio é resgatar a capacidade de autoria do aluno, de produzir sentido no que faz
e de abandonar as atividades mecânicas e repetitivas que não agregam valor à produção de
conhecimento.
Neste contexto, Santos (2008), apresentam as sete atitudes recomendadas nos ambientes
de aula:
1. Dar sentido ao conteúdo: toda aprendizagem parte de um significado
contextual e emocional.
2. Especificar: após contextualizar o educando precisa ser levado a perceber
as características específicas do que está sendo estudado.
3. Compreender: é quando se dá a construção do conceito, que garante a
possibilidade de utilização do conhecimento em diversos contextos.
4. Definir: significa esclarecer um conceito. O aluno deve definir com suas
palavras, de forma que o conceito lhe seja claro.
5. Argumentar: após definir, o aluno precisa relacionar logicamente vários
conceitos e isso ocorre por meio do texto falado, escrito, verbal e não
verbal.
6. Discutir: nesse passo, o aluno deve formular uma cadeia de raciocínio pela
argumentação.
7. Levar para a vida: o sétimo e último passo da (re) construção do
conhecimento é a transformação. O fim último da aprendizagem
significativa é a intervenção na realidade. Sem esse propósito, qualquer
aprendizagem é inócua (SANTOS,2008, p.73; 74).
Por fim, considera-se que as contribuições psicopedagógicas no ensino superior têm como
objetivo também evitar a reprovação do aluno e, muitas vezes, o abandono do curso e que a
reprovação é um problema de todos, não somente do Professor, Direção e Equipe pedagógica. A
aprendizagem é um processo complexo que envolve diversos fatores e a psicopedagogia, que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possui um caráter multidisciplinar é uma das ferramentas úteis no espírito do desenvolvimento


científico e da inteligência emocional dos alunos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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português, de Eva Nick et al, da segunda edição de Educational psychology: a cognitive view.
Rio de Janeiro: Inter-americana, 1980.

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In: SCOZ, Beatriz Judith Lima. et al. Psicopedagogia: contribuições para a educação pós
moderna. Petrópolis, RJ: Vozes; São Paulo: ABPp, 2004.

BARCA LOZANO, A., PORTO RIOBOO, A. Dificultades de aprendizaje: categorias y


clasificación, factores, evaluación y proceso de intervención psicopedagógica. In
SANTIUSTE BERMEJO, V., BELTRÁN LLERA, J. A. Dificultades de aprendizaje. Madrid:
Editorial Sintesis, 1998.

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: Elementos para uma teoria. Porto Alegre:
Artmed, 2000.

FONSECA, Vitor da. Introdução às dificuldades de aprendizagem. PORTO ALEGRE: ARTES


MÉDICAS. 1995.

GIL, ANTÔNIO CARLOS. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ED. SÃO PAULO: ATLAS,
2002.

GONÇALVES, O. F. & Cruz, J. F. A. (1988). A organização e implementação de serviços


universitários de consulta psicológica e desenvolvimento humano. Revista Portuguesa de
Educação, 1, 127;145.

JARDIM, W.R. DE S. Dificuldade de aprendizagem no ensino fundamental: manual de


identificação e intervenção. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

PORTO, O. Psicopedagogia institucional: teoria, prática e assessoramento


psicopedagógico. 4ª ed. Rio de Janeiro: Wak; 2011.

MELO, G. N.S. Construção da aprendizagem características de estudantes do ensino


Fundamental – Campinas – Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia. PUC –Campinas
– (2005).

154
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DE ARTE NA


EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Thaís Meira Albuquerque 1

RESUMO: O presente trabalho é resultado de uma pesquisa bibliográfica que discute algumas
considerações à respeito da contribuição do ensino da arte na educação inclusiva, de forma que
ocorra a efetiva aprendizagem, indo além da estética, trazendo reflexões de que o aluno com
necessidades especiais precisa de ações pedagógicas diferenciadas e que para isso acontecer, a
escola precisa se organizar, tanto nas questões de espaços físicos, quanto à materiais pedagógicos
respeitando sempre as capacidades e habilidades motoras. Mostra ainda, a arte e inclusão como
processo pelo qual, a sociedade busca adaptar para incluir pessoas com necessidades especiais
no meio social, levando-as a seguir o seu papel de cidadão, na construção de um mundo mais
incluso e solidário.

Palavras-Chave: Educação inclusiva; Arte; Ações pedagógicas.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Letras; Licenciatura em Artes; Licenciatura em Ciências
Biológicas; Especailização em Gramática e texto da Língua Portuguesa.
E-mail: thatameira@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO inclusiva, ou seja, que promova a integração e


o desenvolvimento de todos. Assim como está
A arte está presente na vida do homem na Declaração de Salamanca, que é o
desde o período da pré-história, quando ele já documento que trata de princípios, politicas e
pintava nas paredes das cavernas, assim áreas da educação especial no Brasil, sua
promovendo o desenvolvimento de principal defesa é para diminuir a discriminação
competências, habilidades e conhecimentos e as desigualdades educacionais dos alunos
necessários às diversas áreas de estudo, com necessidades educativas especiais.
entretanto, não é isso que justifica a sua
inserção no currículo escolar, mas seu valor
ARTE E O DESENVOLVIMENTO
intrínseco como construção humana, como
patrimônio comum a ser apropriado por todos. INFANTIL
A pesquisa tem como objetivo demonstrar A escola sendo o espaço das discussões
contribuição da arte na educação inclusiva, sobre direitos e deveres e de reflexão da
como ferramenta para o êxito do processo da realidade, ela passa a ser também a dimensão
inclusão do aluno, e assim possa para propiciar social das manifestações artísticas, que
a garantia dos direitos dos educandos com constitui uma das funções importantes do
necessidades especiais. Tem como objetivos ensino da arte, como propagado nos PCNs
específicos saber entender como vem (1997). Ele aprende com isso, que existem
acontecendo a adaptação e a flexibilidade da povos, costumes, religiões, modos de produção
dinâmica escolar em relação ao assunto, além e criação diferentes dos dele, elementos que o
de mostrar também como as escolas em geral ajuda a compreender melhor o outro para uma
tem feito para romper as barreiras, tanto convivência com as diferenças.
estruturais como atitudinais, visando Oferecer uma educação com arte é pensar
efetivamente à inclusão de todos na sociedade. numa educação que dê ao aluno a chance de
A Politica Nacional de Educação Especial na poder desenvolver seu potencial de criação, de
perspectiva de educação inclusiva que está produção, de execução de suas atividades e é ai
descrita em (BRASIL, 2008 p.9), o público alvo então que, a escola entra como uma espécie de
da educação especial são os alunos com elo entre o que a sociedade propaga e o desejo
deficiência, transtornos globais de do aluno em poder desenvolver atividades que
desenvolvimento e altas habilidades/ suas vontades e seus sonhos, representem suas
superdotação. Em virtude disso, todos os fantasias.
alunos são amparados pela legislação brasileira, No Referencial Curricular Nacional para a
aqueles a que independentemente de sua Educação Infantil (1998), a educação da criança
condição física, e ou social, intelectual de ações deve se dar em um contexto capaz de propiciar
diferenciadas a fim de garantir o seu a ela o acesso a elementos culturais que
desenvolvimento escolar. contribuem para o desenvolvimento e para a
Para isso, portanto, há necessidade de se interação das mesmas na sociedade, e claro
pensar na educação, dentre ela a escola, como que isso deve acontecer de forma mais eficaz

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

no âmbito do espaço escolar, no qual o sujeito De acordo com o RCNEI (1998), a


fazendo arte possa pensar sobre arte, levando aprendizagem com base em atividades
sempre em considerações o espaço que ela está artísticas deve garantir oportunidades para que
inserida. as crianças ampliem seus conhecimentos na
Portanto, somente um processo educacional manipulação de diversos objetos e materiais,
embasado na interação social poderá contribuir de forma que explorem suas características e
para a construção da identidade do indivíduo, propriedades, integrando, neste processo
pois se fundamenta no desenvolvimento ativo, a comunicação e a expressão da criança.
afetivo, emocional e cognitivo: Na fase da educação básica as atividades
Ao rabiscar e desenhar no chão, na areia e artísticas devem contribuir para a ampliação do
nos muros, ao utilizar materiais encontrados ao conhecimento por meio da oportunidade de
acaso (gravetos, pedras, carvão), ao pintar os contato com obras de arte, o que propicia o
objetos e até mesmo seu próprio corpo, a interesse pelas mesmas; conhecer-se a si
criança pode utilizar-se da Arte para expressar mesmo por meio de produções próprias;
experiências sensíveis (BRASIL,1998, p. 85). desenvolver o gosto, o cuidado e o respeito
Antigamente se a música, por exemplo, era pelo processo de criação própria e pelo de
considerada essencial para a formação do outras pessoas.
cidadão, por ter o poder de integrar aspectos Os Parâmetros Curriculares Nacionais em
sensíveis, afetivos, estéticos, cognitivos e de Arte (1997), para a educação básica descrevem,
comunicação social, ou seja, naquela época já em sua apresentação, que a educação em arte
se percebia o quanto a linguagem musical é um propicia a ampliação da sensibilidade, da
excelente meio para o desenvolvimento da percepção, da reflexão e da imaginação. Para o
expressão, do equilíbrio, da autoestima e documento, ao conhecer as artes, o aluno
autoconhecimento, além de um poderoso meio poderá se envolver de forma mais criativa com
de integração social. as outras disciplinas. Como a arte é patrimônio
Ao discorrer sobre a arte em geral na da humanidade, e se manifesta nas diversas
educação desde cedo, Kramer (2003), culturas, o aluno desenvolverá, por meio do
ressaltam que a mesma é inerente à natureza contato com a mesma, a compreensão das
do homem. Desde recém-nascido, o indivíduo diferentes culturas existentes, valorizando o
começa a emitir sons e a organizá-los como que é próprio de sua cultura.
pequenos fragmentos, a criança estabelece A dança é uma manifestação artística muito
contato com a música, por meio das canções de presente na cultura dos povos. Ela integra o
ninar, cantaroladas por membros da família, pensamento, o sentimento e o corpo, pois por
por exemplo. Sendo assim, já na mais tenra meio da dança, a criança estará desenvolvendo
idade, em seu cotidiano, a criança internaliza a atenção, a percepção e a cooperação e
noções de linguagem musical, as quais passam conhecerá seu o corpo e as suas possibilidades,
a fazer parte da sua bagagem de numa atividade que lhe propicia o uso da
conhecimentos. criatividade e da espontaneidade. A arte em
geral compreende as criações próprias dos

157
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

alunos, além da apreciação de outras obras. A muito cedo no ambiente escolar. E que mesmo
criação abrange pinturas, modelagens, ainda sendo criança bem pequena, é possível
desenhos, esculturas, fotografias, produções sim, por meio da pintura, desenho, esculturas e
informatizadas, além de construções outras formas de artes plásticas, satisfazer-se
bidimensionais e tridimensionais. suas necessidades e se afirma o Eu, ou seja, a
A apreciação deve ser significativa, de forma pessoa se revela para si mesma. Assim, ao
que propicie a convivência com produções exercitar a expressão livre, na qual a mesma
visuais; reconhecimento de épocas históricas e libera sua subjetividade e se conhece cada vez
do contexto em que uma obra foi produzida; a mais.
vida dos artistas e sua ligação às obras; e a Não se deve esquecer que o professor tem
mensagem que a obra revela ao aluno, de um papel importante no sentido de propiciar as
forma subjetiva, provocando o reconhecimento condições favoráveis para o desenvolvimento
da importância da arte na sociedade e na vida de habilidades e talentos dos alunos. Não
dos indivíduos. desconsiderando as diversas atividades pelas
O ensino da arte torna obrigatório com a quais se pode realizar tal estímulo, é
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação importante salientar que as artes possibilitam o
Nacional LDB nº9394/96, na qual, afirma que o reforço de estímulos positivos para a
ensino da arte constituirá componente construção de um autoconceito que valorize
curricular obrigatório, nos diversos níveis da muito mais as habilidades do que as
educação básica, de forma a promover o dificuldades, contribuindo, desse modo, para a
desenvolvimento cultural dos alunos diante de elevação da autoestima dos alunos.
todas essas modificações. A arte evolui A educação não se limita à estruturação e à
pedagogicamente para discussões que geraram apropriação de conhecimentos técnicos,
concepções e novas metodologias para o históricos, matemáticos, geográficos, entre
ensino e a aprendizagem da mesma nas muitos outros tão necessários para a formação
escolas. humana, mas compreende também o objetivo
Segundo Kramer (2003), a cultura é uma de humanizar, de favorecer o crescimento
junção de tradições, costumes, valores, história intelectual, emocional/afetivo e cultural da
e experiências que se manifestam por meio das criança, no sentido de que esta possa
danças, das roupas, da música, das festas e etc. incorporar valores como solidariedade,
Ela deixa claro que criança precisa conhecer e inquietude e desejo de mudança, sensibilidade,
vivenciar a cultura na qual está inserida, para, a sentido e vida.
partir daí, poder fazer parte da construção
cultural, que é dinâmica e, assim, está em EDUCAÇÃO INCLUSIVA
constante transformação. Ou seja, se a arte
parte das manifestações culturais, desse modo, BRASILEIRA
é importante que as crianças as vivenciem e A educação inclusiva tem como objetivo
produzam, pois, assim, podem reconhecer-se abranger todas as crianças na escola e defender
como também produtoras dessa cultura desde valores como éticos e direito de acesso ao saber

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e à formação. Carvalho (2000), por sua vez, A construção de uma escola livre de
defende a inclusão responsável, concebendo-a preconceitos a Inclusão educacional deve atuar
como uma metodologia, direito a igualdade, no sentido de favorecer a convivência com a
com equidade de oportunidades. diversidade e instituir o respeito e a
Na concepção de Carvalho (2000), a fraternidade entre as pessoas. A escola
educação inclusiva nasceu como realidade, não inclusiva deve promover o convívio com as
sendo mais admissível ignorá-la, sendo então diferenças, o que deve ser estimulado desde a
necessário haver uma reconsideração da mais inicial das formas de convivência social na
escola, deixando de lado o padrão do aluno educação infantil. A partir do momento em que
ideal e buscando a aceitação do diferente. O se favorece o convívio com a diversidade desde
autor complementa que somos diferentes e cedo, se ganha na construção da cidadania, pois
queremos ser assim e não uma cópia malfeita o modo eficaz de combater o preconceito é na
de modelos considerados ideais. Somos iguais infância, impedindo que o mesmo apareça.
no direito de sermos inclusive, diferentes. Na Constituição Federal Brasileira (1988),
A educação inclusiva ao longo de seu estão elencados os princípios que regem o
desenvolvimento busca atenuar as ensino brasileiro, tendo como premissa: A
discriminações existentes quanto às crianças igualdade de condições para o acesso e
com necessidades especiais, passando por permanência na escola, e gratuidade do ensino
várias transformações, especialmente durante público em estabelecimentos oficiais. Assim
os anos 1990, nos quais a luta contra qualquer como também, claro os deveres do Estado com
forma de discriminação esteve presente. Para a educação, garantindo o atendimento
que a inclusão seja realidade, será necessário especializado às pessoas com deficiência
rever uma serie de barreiras, além das politicas preferencialmente na rede regular de ensino
e das praticas pedagógicas. É necessário (BRASIL, 1994, Art. 206).
conhecer o desenvolvimento humano e suas A inclusão foi assim legalmente consolidada
relações com processo de ensino e por meio da Constituição Federal, bem como
aprendizagem levando em conta como se dá também pelo Estatuto da Criança e do
esse processo para cada aluno. Adolescente e pela Lei de Diretrizes e Bases da
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Nacional(1996), pelo Plano Nacional
Educação Especial para a Construção de da Educação (2014),que apontam alunos com
Currículos Inclusivos (2006), as necessidades necessidades especiais, que antes eram
especiais não se portam como objetos que são excluídos desse tipo de aula, agora era dever
transportados de um lado para outro, dos quais proporcionar serviços possíveis a essas pessoas,
pode desfazer quando bem entender. Diante e, somente assim a sociedade, começando pela
disso, nos últimos anos, a expressão portadora escola tinha o direito de respeitar e oferecer
tem sido evitada para se referir-se a esse grupo educação de qualidade a todos, para que
de pessoas, preferindo-se em seu lugar, referir- somente assim possamos construir um mundo
se a “pessoa com” ou alunos com necessidades justo, a começar pela na comunidade em que
educacionais especiais. vivem esses alunos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ARTE E EDUCAÇÃO INCLUSIVA mundo que o cerca, por meio das linguagens
visuais e plásticas, na qual se desenvolve e
A arte como instrumento de inclusão social
descobre interesse pelo novo.
pode e deve ser vista como fator de
O objetivo maior da proposta pedagógica
complemento nas diversas formas de
desenvolver aprendizagens ligadas a diferentes para o ensino de arte na perspectiva inclusiva
áreas do conhecimento, e essa questão é deve ser aquele que oferece oportunidades
abordado pela interdisciplinaridade, que na diversas da livre expressão dos seus
verdade, nada mais é do o dialogo entre uma sentimentos, na qual aperfeiçoe também suas
ou mais disciplina, para que possa solidificar as linguagens e assim sendo possíveis a todos
aprendizagens por meio de diferentes maneira novas maneiras de ser e sentir, a partir do que
eles veem, ouve e observam, sobre não
e oportunidades de se contextualizar os
somente suas produções, mas também a dos
conteúdos. E o professor tem o papel
fundamental na inclusão dos seus alunos, pois colegas.
é ele que deve oferecer para seu aluno a maior É importante frisar que em toda criança
diversificação possível de materiais, existe um potencial possível de desenvolver
fornecendo suportes, técnicas, bem como sobre que a educação em arte pode e deve
desafios que venham favorecer o crescimento atuar, e que educação por meio dela não é para
de seu aluno, além de ter consciência de que formar artistas, mas pessoas sensíveis e
um ambiente estimulante depende desses conhecedoras da linguagem da arte. Pois, não
fatores colocados, permitindo a exploração de há dúvidas, que por meio do conhecimento da
novos conhecimentos. arte, somos capazes de compreender o mundo,
Cabe a escola encontrar respostas pois ela de fato facilita a linguagem e a
educativas para a necessidade de seus alunos e comunicação, e uma vez estimulada ela
aperfeiçoa nossas percepções e sensibilidades.
assim exigir dela adequações para somente
Portanto, é evidente o quanto a arte tem um
assim possa de fato construir praticas
poder imensurável, uma vez que a mesma
educativas inclusivas, que se preocupem com a
remoção de barreiras á todos os tipos de permite múltiplas formas de ver e sentir o
aprendizagens e assim permita o mundo, contribuindo assim para uma interação
desenvolvimento de todos numa escola de fato inclusiva entre todos.
democrática, pautada no respeito á
diversidade. Todo individuo tem potencial para
ser criativo, e arte tem um papel importante
para aguçar esse potencial por meio daquilo
que dá prazer.
Percebe-se que de fato a criança por meio
da arte, ao mesmo tempo em que ele está na
escola estar realizando suas atividades
artísticas culturais, está ao mesmo tempo
aprendendo a estabelece uma relação com o

160
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação brasileira tem progredido de certo modo, pois tem observado a importância
de se educar e dar a verdadeira oportunidade, considerando que todos devam ser incluídos, e
muito mais que seja incluído e aceito de forma que garanta o respeito, aos mais diversos tipos de
deficiências.
Foi no desenvolvimento deste trabalho que pude entender que por meio da arte o aluno,
tem uma maior vivência na escola devendo garantir que os indivíduos, independentemente de
suas condições sociais ou biológicas, tenham a chance de ser e estar na sociedade como um todo.
Isso é que estejam aptos para acessar também os bens culturais e os direitos políticos.
Evidenciamos que uma sociedade só aprende a valorizar sua cultura se for vivenciada
desde criança e que o papel do professor é fazer esta mediação para que as motive e incentive
superando assim todos os obstáculos e sintam autoras da sua arte com autonomia e
espontaneidade, pois a criança conquista seu espaço de forma única. E que o desenvolvimento
artístico de uma criança jamais pode ser comparado com o de outra.
Portanto, se pensarmos numa ação educacional intencional, tanto no ensino individual
quanto coletivo para o ensino em arte, fazendo quando necessárias interferências adequadas no
fazer das crianças, possibilitando assim avanços significativos na aprendizagem com arte no
sentido de incluir todos, e cada um ao mesmo tempo tenha a liberdade de produzir individual e
nessa luta de inclusão social, a escola deve contar sempre também com a parceria da família, e
com certeza pais e escola juntas poderão propiciar ao educando com necessidades especiais
conhecimento, apreciação e reflexão sobre as formas da natureza e assim compreenda melhor o
seu universo cultural.
Na questão da socialização do fazer artístico, a criança também desenvolve a sua
sensibilidade, percepção e imaginação, ampliando desse jeito seu repertorio como valores éticos
e estéticos, contribuindo a formação de futuro cidadão mais consciente na construção de um
mundo mais incluso e solidário.
Considera-se que no momento que todos que estão envolvidos no processo educacional,
seja no ensino com artes ou não, promove enriquecimento da sua autoestima e melhora a
qualidade de interação social, bem como a desenvolve também todas suas potencialidades
cognitivas, sociais e emocionais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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inclusão. Rev. Educação, Porto Alegre: PUCRS, nº. 49, mar. 2003.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS E DAS


BRINCADEIRAS PARA O DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
Nerli Ferreira da Silva 1

RESUMO: O artigo apresenta a necessidade do planejamento e da organização do tempo e do


espaço para a realização do jogo e da brincadeira de forma efetiva. O trabalho com os jogos e as
brincadeiras durante o desenvolvimento infantil são de extrema importância, em visto que por
meio deles a criança apresenta vários aspectos sócio – emocionais. Considera-se que a realização
deste artigo proporciona inquietações e desencadeia pensamentos acerca das novas formas de
trabalho que associam os jogos e as brincadeiras ao cotidiano escolar. Nós somos construtores de
nossa própria história, dessa forma, as crianças constroem um mundo cheio de imaginação e
criatividade. Por meio dos jogos e brincadeiras as crianças despertam sua imaginação, ampliando
seu repertório de conhecimentos, aprendendo brincando.

Palavras-Chave: Jogos; Brincadeiras; Desenvolvimento Infantil.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Geografia.
E-mail: nerlifnunes@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO semelhantes, mas com algumas divergências. A


brincadeira é a ação que a criança desempenha
Jogar significa: brinquedo, passatempo ao concretizar as regras do jogo, ao entrar na
sujeito a regras, série de coisas que forma um ação lúdica, ou seja, o lúdico em ação. Sendo
todo ou coleção, atividade física ou mental assim, brinquedo e brincadeira estão
organizada por um sistema de regras, que relacionados com a criança e não se confundem
definem perda ou ganho. com o jogo, que apresenta regras, diferente da
Os jogos e as brincadeiras estimulam o brincadeira que é uma ação livre. Tanto no jogo
desenvolvimento do conhecimento, tornando- como na brincadeira a criança pode ou não se
se um processo espontâneo, ligado a um utilizar do objeto, o brinquedo.
processo geral de embriogênese, que diz Para Kishimoto (1996), o jogar é definido
respeito ao desenvolvimento do corpo, do pela linguagem de cada contexto social, isto é,
sistema nervoso e das funções mentais, respeitar o uso do cotidiano, pressupondo
tratando-se de um processo de interpretações e projeções sociais. É um
desenvolvimento total. sistema de regras, que permite identificar em
Por meio dos jogos e brincadeiras a criança qualquer jogo uma estrutura sequencial que
começa a receber estímulos, habilidades e especifica sua modalidade. Fabricar o próprio
atitudes necessárias à sua participação social, a jogo como pião, xadrez, entre outros,
qual só poderá ser atingida completamente representa construir o objeto a ser empregado
mediante a convivência com seus na brincadeira.
companheiros da mesma idade e também com O brinquedo, em geral, representa a
os mais velhos. realidade infantil, coloca a criança na presença
O significado de brincar é muito mais de reproduções: tudo que está no seu
complexo do que as definições encontradas nos cotidiano, a natureza e as construções
diversos dicionários existentes. Aurélio (2003, humanas. Pressupõe um mundo imaginário da
p. 12), define o brincar como “divertir-se, criança e do adulto, criador do objeto lúdico.
recrear-se, entreter-se, distrair-se, folgar”. Tal
gesto também pode ser, segundo o dicionário
A IMPORTÂNCIA DO JOGAR
Michaelis (2012, p. 17), “entreter-se com jogos
O jogar é um movimento, no qual existe
infantis e divertir-se fingindo exercer atividades
contradição, pois quem joga apresenta atitudes
cotidianas do dia a dia adulto”. Ou seja, brincar
contraditórias, embora consigam garantir a
é algo muito presente na vida do ser humano,
existência harmônica do jogo. Ao jogar o ser
ou pelo menos deveria ser.
humano expressa a sua fantasia, imaginação e
Junto do brincar teremos a brincadeira
curiosidade de exploração dentro das regras
inserida que significa ato ou efeito do brincar,
que estruturam o jogo. Manifestam também
divertimento, brinquedo, jogo, passatempo,
sentimentos de alegria pelo prazer ou pelo
zombaria.
desafio de realizar algo.
Podemos perceber que segundo as
O jogar faz parte do cotidiano da criança.
definições acima o ato de brincar e jogar são
Desde muito pequena explora o mundo por

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

meio de jogos e brincadeiras representando, OS JOGOS E SUA


imaginando, criando e seguindo regras. Ao
jogar a criança se mostra inteira e intensa, IMPORTÂNCIA PARA O
interagindo com os objetos, vivendo um DESENVOLVIMENTO INFANTIL
processo de desenvolvimento e aprendizagem, Segundo os Parâmetros Curriculares
independente da cultura ou classe social. Nacionais (1998), é importante que o aluno faça
O jogo infantil é um momento lúdico, uma tentativas, formule hipóteses e as compare
atividade física e mental que favorece tanto o com outros alunos para validar seus
desenvolvimento pessoal como o social. A procedimentos. Desta forma busca-se atividade
criança evolui com ele e o jogo da criança vai de relação com colegas do próprio aluno.
evoluindo conforme o seu desenvolvimento. Os jogos e desafios favorecem o
Pode ser entendido como um modo de desenvolvimento social, psicológico e
comunicação em que a criança expressa os intelectual das crianças.
aspectos de sua personalidade e sua tentativa De acordo com Bomtempo (1997):
de interagir no mundo adulto. Trabalhar no sentido de criar um ambiente
É por meio do jogar que as crianças exploram agradável e livre de tensões na sala de aula. O
os objetos que as cercam, melhoram a agilidade aluno precisa aprender a ser feliz na escola,
física, experimentam seus sentidos e descobrir o prazer de aprender, e de fazer as
desenvolvem o pensamento. Algumas vezes suas atividades bem-feitas, aprender que é
jogam sozinhos; em outras, na companhia de permitido errar e que o erro nos faz crescer.
outras crianças, desenvolvendo também o Não ter medo de descobrir, assumir e
comportamento em grupo. desenvolver a própria potencialidade (p.9).
A escola, por buscar uma educação mais Identificar as problemáticas referentes ao
ativa e participativa, procura desenvolver processo ensino-aprendizagem de matemática
habilidades que explorem o potencial de cada é uma tarefa reflexiva, uma vez que a
aluno, auxiliando na socialização e aprendizagem é um tema amplo que requer
relacionamento com a sua comunidade. O jogo estudos, pesquisas e discussões.
é uma boa solução para esta busca, pois é O jogo pedagógico é uma atividade mais
possível trabalhar o desenvolvimento pessoal estruturada e constituída por um princípio de
ao lado da vida em grupo. Além disso, ainda se regras mais diretas, cabendo ensinar de forma
pode trabalhar o desenvolvimento sensorial, prazerosa a disciplina de matemática.
físico, intelectual, afetivo e social. Para que os jogos pedagógicos tenham um
lugar garantido no cotidiano escolar, é
necessário que a atuação do professor seja
alimentada pela vivência lúdica, na qual se
coloque pleno, inteiro no momento, saindo do
papel de agente exclusivo de informação e
formação dos alunos, e passando a
desempenhar uma função de mediador.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Percebe-se que os jogos pedagógicos ajudam método de aprendizagem e desenvolvimento,


no processo ensino aprendizagem de forma tendo o professor como mediador e este se
significativa, contribuindo em todas disciplinas, utilizando de planejamentos que auxiliem e
fundamentalmente em matemática, na qual estimulem a participação das crianças.
temos vários exemplos de jogos pedagógicos, Para Velasco (1996, p. 78):
como jogo da memória, dominó, entre outros Brincando a criança desenvolve suas
que trabalham com o raciocínio lógico. capacidades físicas, verbais ou intelectuais.
Segundo Rangel (1992, p.17): Quando a criança não brinca, ela deixa de
O ensino de matemática nas séries iniciais estimular, e até mesmo de desenvolver as
não leva em conta suas experiências diárias, nas capacidades inatas podendo vir a ser um adulto
quais estabelece relações de semelhanças e inseguro, medroso e agressivo. Já quando
diferenças entre objetos e fatos, classificando- brinca a vontade tem maiores possibilidades de
os, ordenando-os e quantificando-os. Assim, o se tornar um adulto equilibrado, consciente e
ensino torna-se distante da realidade, a criança afetuoso.
é induzida a aceitar uma situação artificial, sem A autora nos faz remeter ao pensamento de
significado para ela. que o brincar estimula integralmente o
De acordo com a autora, ao ensinar a desenvolvimento infantil, tornando o processo
matemática para criança de forma mecânica a ensino aprendizagem significativo.
mesma não estará se apropriando de A educação traz muitos desafios aos que nela
conhecimentos significativos, pois não terá o trabalham e aos que se dedicam a sua causa.
mesmo interesse em que se tem quando está Muito já se pesquisou, escreveu-se e se discutiu
aprendendo com os jogos pedagógicos, aos sobre a educação, mas o tema é sempre atual e
quais fazem parte do processo ensino indispensável, pois seu foco principal é o ser
aprendizagem de forma prazerosa. humano. Então, pensar em educação é pensar
Os jogos e as brincadeiras fazem parte do no ser humano, em sua totalidade, em seu
ambiente natural da criança, ao passo que as corpo, em seu meio ambiente, nas suas
referências abstratas e remotas não preferências, nos seus gostos, nos seus
correspondem aos seus interesses. prazeres, enfim, em suas relações vivenciadas.
A sala de aula deve ser um local ao qual se A aprendizagem presente no jogo
busque constantemente a eficácia no processo relacionada a questões sociais e da vida,
educativo por meio de momentos em que os também estão presentes nesses estudos em
jogos e as brincadeiras possam estar inseridos que ele compreende o jogo e a brincadeira
para auxiliar na construção de conhecimentos como ações que estão intimamente ligadas à
de maneira eficaz e contagiante. aprendizagem, não fazendo referência apenas
A brincadeira lúdica ajuda a criança a a educação dita formal, que trata de conteúdos,
expandir seu imaginário e desenvolver diversas mas também a social, já que nela a criança
formas de aprendizagem. Utilizar jogos e acaba por reproduzir situações já vivenciadas e
brincadeiras no cotidiano escolar não é observadas em situações anteriores.
somente uma forma de diversão e, sim, um

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os jogos e as brincadeiras sempre estiveram “Em qualquer tipo de jogo a criança sempre
presentes na vida do ser humano como forma se educa” (KISHIMOTO, 2001).
de alegria e prazer, mas nem sempre foram Froebel (1782-1852), foi o primeiro a
considerados como um fator fundamental no destacar o jogo como parte do trabalho
processo ensino aprendizagem. pedagógico, quando criou o jardim de infância
A educação contemporânea traz muitos utilizando jogos e brinquedos.
desafios não podendo estagnar-se em uma Froebel acredita que não se pode separar os
única e exclusiva metodologia de ensino, é estágios do desenvolvimento infantil como se
preciso utilizar-se de todos os recursos fossem distintos. Percebe a necessidade de
possíveis para que a escola transforme-se em educar a criança, desde seu nascimento,
um lugar especial que desperte na criança a garantindo, assim, o desenvolvimento pleno do
vontade de aprender e os jogos e brincadeiras ser humano. Valoriza a individualidade que se
podem contribuir nesse processo. completa com a coletividade. Sua teoria tem a
concepção de que a liberdade é elemento
A INTERAÇÃO DO PROFESSOR essencial no desenvolvimento físico, intelectual
e moral, pois permite a ação estimuladora da
COM OS ALUNOS POR MEIO DOS atividade espontânea.
JOGOS Antes de Froebel (1782-1852), eram
O professor conhece melhor seus alunos por veiculadas três concepções da relação jogo
meio do jogo, isso se torna perceptível. Pode-se infantil e educação. Estas eram:
perceber se o ambiente escolar está • a recreação: relaxamento;
competitivo ou cooperativo, pode-se utilizar do • o jogo sendo utilizado para auxiliar os
jogo para que esse ambiente sofra algumas conteúdos escolares;
alterações que estimulem os alunos a mudar. • diagnóstico da personalidade infantil e
As crianças, de início, fazem jogadas recurso para ajustar o ensino às necessidades
independentes como se estivessem jogando infantis.
sozinhas e, aos poucos, conseguem ir Isso mostra que Froebel (1782-1852),
percebendo o outro. Quando começam a considerava o jogar como a fase mais
entender o papel do outro, é possível estimular importante da infância, pelo fato da criança
a cooperação, desenvolvendo a capacidade de representar por meio dele suas necessidades e
perceber o ponto de vista do outro e considerar impulsos internos. Entendia que, durante a
o outro. brincadeira, a criança, ao imitar, tenta
Com o jogo de regras, as crianças trabalham compreender o mundo e que a liberdade de
a concentração, pensam em formas de expressão permite a representação de coisas
solucionar as situações e assim vão construindo significativas.
estratégias. Aos poucos vão compreendendo as
regras e elaborando ideias para vencer.
O jogo, na escola, acaba sendo um recurso a
serviço do processo ensino-aprendizagem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OS JOGOS ALÉM DAS atividades de forma a criar um ambiente de


aprendizagem rico e espontâneo.
BRINCADEIRAS O brincar é considerado ação que induz ao
Não devemos enxergar os jogos apenas prazer, e para Santini (1996), brincar a cima de
como uma forma de competição, mas sim ter tudo é exercer o poder criativo do imaginário
um olhar sobre uma forma de aprender humano construindo um universo, do qual o
brincando. criador ocupa o lugar central, por meio de
Segundo Mattos (2011p.386), “o jogo é uma simbologias originais inspiradas no universo de
atividade que se desenvolve com regras que quem brinca e, é nesta ação que a criança
permitem indicar um vencedor”. desenvolve-se como ser criativo, pois a relação
Para Kishimoto (2010, p.01): onírica com as situações do mundo em sua
Para a criança, o brincar é a atividade volta permitem-na criar sua cultura ao mesmo
principal do dia-a-dia. É importante porque dá tempo que identifica-se com a sociedade em
a ela o poder de tomar decisões, expressar que faz parte. A criança tem, ao fazer o que
sentimentos e valores, conhecer a si, aos outros gosta (brincar) despertando um desejo de
e o mundo, de repetir ações prazerosas, de desvendar o desconhecido, são sujeitos ativos
partilhar, expressar sua individualidade e que quando interagem com o outro, com o
identidade por meio de diferentes linguagens, meio, com o objeto ou consigo mesma
de usar o corpo, os sentidos, os movimentos, adquirem de certa foram conhecimentos.
solucionar problemas e criar. Na brincadeira, a criança está sempre se
Segundo Vygotsky (1989, p.113.), “a criança comportando acima de sua idade, acima de seu
faz o que ela mais gosta de fazer, porque o comportamento usual do dia a dia; na
brinquedo está unido ao prazer”. brincadeira ela está, por assim dizer, um pouco
As brincadeiras e jogos infantis são adiante dela mesma. O brinquedo contém uma
elementos indispensáveis para a formação da forma concentrada como no foco de uma lupa,
criança. “É por meio do lúdico que ela vai todas as tendências de desenvolvimento; é
incorporando certos valores à sua como se a criança tentasse pular acima de seu
personalidade e ampliando o seu nível usual.
conhecimento de mundo” (SOLER, 2006). Os jogos e brincadeiras nas sociedades
Piaget (1978), afirma que “a atividade lúdica antigas tinham o propósito de estreitar os laços
é o berço obrigatório das atividades intelectuais coletivos e de união de uma sociedade, uma vez
da criança, sendo, por isso, indispensável à que nesta época o trabalho não ocupava muito
prática educativa”. tempo das pessoas (ARIÉS, 1981).
Dentro do brincar, os jogos têm a função de Historicamente, os jogos e as brincadeiras
socializar, dar um enfoque nas regras e foram alvos de diversas pesquisas, e podemos
desenvolver habilidades, pois todo o jogo observar que sua valorização deu-se a partir de
implica em um ato de brincar. E na sua teorias propostas por filósofos e pedagogos
execução o professor pode explorar aspectos e com estudos feitos no campo da educação ao
longo de vários anos, comprovando

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cientificamente a importância do brincar para o na formação de atitudes como: cooperação;


desenvolvimento das crianças pequenas. socialização; respeito mútuo; interação;
Na escola é possível o professor se soltar e lideranças, criatividade, personalidade e
trabalhar os jogos como forma de difundir os autonomia, que favorecem a construção do
conteúdos. Para isso, entendo ser necessário a conhecimento do educando (SANTOS, 2012,
vivência, a percepção e o sentido, ou seja, o p.32).
educador precisa selecionar situações A utilização dos jogos em sala de aula tornou-
importantes dentro da vivência em sala de aula; se, por muito tempo, sem significado e sem
perceber o que sentiu como sentiu e de que importância, chegando a ser desvalorizada e
forma isso influencia o processo de desconsiderada como um recurso pedagógico
aprendizagem; além de compreender que no que favorece a aprendizagem.
vivenciar, no brincar, a criança é mais O educador alemão Froebel (1782-1852), foi
espontânea. "Sem dúvida, os conteúdos podem pioneiro na introdução à brincadeira no
ser trabalhados com o uso do jogo. A criança cotidiano escolar infantil, fundando a escola
pode trabalhar ou fixar um conteúdo com a infantil destinada aos menores de oito anos e,
atividade lúdica. Mas, para isso, o jogo é uma posicionando uma proposta educacional que
das estratégias e não a única". dava ênfase à liberdade da criança.
O pensamento da criança é muito intuitivo,
A HISTÓRIA DOS JOGOS egocêntrico e subjetivo, portanto, existe um
grande progresso, pois há o desenvolvimento
PEDAGÓGICOS da capacidade simbólica ou de representação.
Ao longo da história, vários estudos se Durante muito tempo a escola foi vista pelos
mostraram eficientes no âmbito da coesão alunos como algo enfadonho, obrigatório, sem
entre o lúdico e o processo ensino sentido e entediante, e quando os educadores
aprendizagem. ofereciam brinquedos, eram criticados pelos
Do ponto de vista histórico, a análise a pais e mesmo por colegas de profissão de
respeito dos jogos pedagógicos é feita a partir estarem perdendo tempo. Entretanto, com a
da imagem da criança presente no cotidiano de revelação de que o lúdico pode possuir
uma determinada época. O lugar que a criança intencionalidade educativa, descobriu-se um
ocupa num contexto social e específico, a processo que tornou o processo educativo
educação a que está submetida e o conjunto de atraente e desejado.
relações sociais que mantém com personagens Em 1970 a educação para crianças de 0 a 6
do seu mundo permitem compreender melhor anos, foi comtemplada com um novo estatuto
o cotidiano infantil. no campo das políticas e dos ensinamentos
Ao longo dos anos podemos comprovar que educacionais. Com isto uma variedade de
a utilização de procedimentos metodológicos projetos para as crianças pequenas vem sendo
que envolvem brincadeiras, jogos e brinquedos desenvolvidos (LAZARETTI, 2011, p. 1).
tende a contribuir com mais facilidade para o Percebe-se que os jogos pedagógicos sempre
processo de ensino e aprendizagem da criança estiveram presentes na vida do ser humano

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

como forma de alegria e prazer, mas nem


sempre foram considerados como um fator
fundamental no processo ensino
aprendizagem.
Os novos paradigmas consideram que os
alunos devem ser preparados para conviver
numa sociedade com constantes mudanças,
sendo assim, o professor deve atuar como
mediador no processo ensino aprendizagem.
A Educação deve se voltar para o
desenvolvimento das capacidades de
comunicação, resolvendo problemas, tomando
decisões, fazendo inferências, criando,
aperfeiçoando conhecimentos e valores de
uma forma cooperativa.
Durante séculos a educação foi
disciplinadora, não havia prazer ao aprender,
não havia tantos estímulos como se têm hoje
por meio dos jogos pedagógicos.
Na Idade Média, a educação era tradicional,
na qual o aluno aprendia de forma mecânica,
era exigido silêncio, os alunos ficavam
enfileirados, não sendo estimulados de forma
prazerosa, como acontece atualmente.
Como a chegada do século XVI, surgiu o
Renascimento, ao qual novas concepções
pedagógicas foram descobertas e começou
então dar ênfase aos jogos pedagógicos como
forma de ensino aprendizagem.
No século XVIII os jogos pedagógicos
começam a ganhar ainda mais espaço e a serem
mais valorizados no processo ensino
aprendizagem.
Atualmente os jogos pedagógicos servem de
instrumentos contribuintes no processo ensino
aprendizagem, fundamentalmente no ensino
de matemática, ao qual ainda há rejeição a essa
disciplina.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O jogo é uma atividade mais estruturada e constituída por um princípio de regras mais
diretas, cabendo ensinar de forma prazerosa.
Para que os jogos tenham um lugar garantido no cotidiano escolar, é necessário que a
atuação do professor seja alimentada pela vivência lúdica, na qual se coloque pleno, inteiro no
momento, saindo do papel de agente exclusivo de informação e formação dos alunos, e passando
a desempenhar uma função de mediador.
Percebe-se que os jogos ajudam no processo ensino aprendizagem de forma significativa,
contribuindo em todas disciplinas, fundamentalmente em matemática, na qual temos vários
exemplos de jogos pedagógicos, como jogo da memória, dominó, entre outros que trabalham
com o raciocínio lógico.
Ainda há muito a ser estudado e discutido sobre a educação das crianças pequenas e sobre
quais os melhores métodos de ensino. Isso também nos leva a pensar que tipo de cidadão
queremos formar para o futuro de nossa sociedade.
Mediante os estudos já realizados vimos que o brincar é essencial na interação social da
criança com o seu meio.
Os jogos ajudam a criança a expandir seu imaginário e desenvolver diversas formas de
aprendizagem. Utilizar jogos e brincadeiras no cotidiano escolar não é somente uma forma de
diversão e, sim, um método de aprendizagem e desenvolvimento, tendo o professor como
mediador e este se utilizando de planejamentos que auxiliem e estimulem a participação das
crianças.
A utilização dos jogos deve ser explorada, favorecendo cooperação, interação social e uma
melhor organização entre professor e aluno, para a construção dos conhecimentos de diversos
conteúdos trabalhados em sala de aula.
O objetivo da intervenção pedagógica realizada por meio de jogos pedagógicos durante o
processo ensino aprendizagem é observar as possíveis dificuldades que o aluno tenha e mediante
o diagnóstico elaborar atividades que venham de encontro as suas necessidades.
Por meio de atividades significativas para a criança seu desenvolvimento se torna mais
amplo a medida de seu interesse, sendo necessário que seja levado em conta as construções
cognitivas do educando, instaurar a fala do aluno, observando o que ele está fazendo, organizar
ações, prover situações experimentais para facilitar a invenção do aluno.
Considera-se que a sala de aula deve ser um local ao qual se busque constantemente a
eficácia no processo educativo por meio de momentos em que os jogos e as brincadeiras possam
estar inseridos para auxiliar na construção de conhecimentos de maneira eficaz e contagiante.

171
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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173
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONTRIBUIÇÃO E A RELEVÂNCIA DA
BRINCADEIRA PARA A APRENDIZAGEM
Patrícia Maria dos Santos 1

RESUMO: O artigo tem como objetivo descrever sobre a importância do brincar em sala de aula
e quanto isso contribui para o desenvolvimento das crianças. Muitos profissionais de educação
ainda não acreditam no poder dos jogos e das brincadeiras, devemos buscar mudar a visão desses
professores e dos pais em relação aos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento das crianças.
Há muitos estudos que trabalham os jogos dentro das escolas como uma estratégia eficaz para o
desenvolvimento cognitivo das crianças. Optamos pela revisão bibliográfica, buscando
informações sobre o tema, pois os professores precisam buscar meios de trabalhar os conteúdos
a serem transmitidos, de uma forma mais prazerosa, descontraída, utilizando-se do lúdico, pois
brincando as crianças experimentam, descobrem, inventam, aprendem e conferem habilidades.
Além de estimularem a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporcionam o
desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e da atenção. O brincar está
dentro do ser humano, desde pequenos podemos perceber o quanto as crianças gostam de
brincar, e não é por que crescemos que não gostamos de brincar, as brincadeiras mudam mas o
sentido continua sendo o mesmo, estimular o cérebro com o sentimento de alegria que o brincar
e o jogar trazem para a vida, além disso os jogos são importantes para os mais velhos, que não
deixam de estimular o cérebro, ajudando na manutenção do mesmo, melhorando a qualidade de
vida.

Palavras-Chave: Alfabetização; Aprendizagem; Ensino Fundamental; Ludicidade.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Letras; Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: mariatissa@msn.com

174
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO que ainda, praticam as brincadeiras de um


modo prático sem sentido e não levando a
O tema “Jogos, brinquedos e brincadeiras na criança a pensar a agir e sentir o prazer da
infância” foi escolhido por fazer parte do brincadeira em sua vida?
universo da criança e o fato de que muitos Neste sentido devemos perceber que:
professores não fazem uso desta importante Uma das tarefas centrais do
ferramenta pedagógica, seguindo somente o desenvolvimento nos primeiros anos de vida é
currículo e seu respectivo cronograma, sem a construção dos sistemas de representação,
perceber que estão deixando de usufruí-los tendo papel-chave neste processo a capacidade
como uma estratégia didática. de “jogar com a realidade”. É neste sentido que
As brincadeiras são de vital importância para podemos dizer que o jogo simbólico constitui a
a ampliação dos saberes de uma criança, pois gênese da metáfora, possibilitando a própria
estimulam a imaginação e por meio dela a construção do pensamento e a aquisição
construção e a evolução do aprendizado. (KISHIMOTO, 2009, p. 46;47).
Atualmente os espaços e o tempo dedicado aos No percurso teórico para realização deste
jogos e brincadeiras com e para os alunos são artigo, buscamos a fundamentação em
escassos, elas não mais constroem seus Vygotsky (1997), Kishimoto (1998), Piaget
próprios brinquedos, utilizando os que já vêm (1974), entre outros. Esta busca nos forneceu
prontos, conduzindo inclusive a maneira de conteúdo para o entendimento do tema
brincar, sem dar espaço à criação e a abordado.
imaginação que tanto impulsionam o O alemão Friedrich Froebel (1987), foi um
desenvolvimento despertando a motivação da dos primeiros a considerar a infância como uma
criança. fase decisiva para a formação de pessoas. Foi
Pensando nesta realidade, o trabalho um grande contribuidor para o ensino infantil,
abordará o tema levando a uma reflexão e pois possuía uma perspectiva diferenciada a
conscientização para uma mudança deste respeito da infância. Para ele, o
panorama tão preocupante, resgatando a desenvolvimento da criança, assemelha-se com
relevância do uso da ludicidade no dia a dia o de uma semente, pois afirma que a criança é
escolar visando um aprendizado prazeroso que como uma semente a ser cultivada. O educador
enriquece o conhecimento e contribui para o alemão preocupa-se sempre em harmonizar o
desenvolvimento integral do educando. divino com o homem, pois para ele, os
Objetivamos realizar investigações sobre a indivíduos só podem chegar ao
importância do brincar para a aprendizagem, autoconhecimento se harmonizarem a infância,
seu papel fundamental na socialização, assim a natureza e Deus.
como no enriquecimento do vocabulário e na Froebel (1987), adotou o jogo como um dos
aquisição de conceitos. instrumentos principais para o
Diante desta reflexão nos deparamos com a desenvolvimento e autoconhecimento com
seguinte problematização: O que se pode fazer liberdade da criança, pois por meio de jogos e
para melhorar a situação de algumas escolas brincadeiras a criança busca interagir e é por

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meio da convivência social que a criança das necessidades e características da criança e


adquire o autoconhecimento, ela passa a do adulto.
compreender suas emoções e sentimentos. A Lei n.º 13.257/2016 prevê a formulação e
O professor denominava como “dons” os implementação de políticas públicas voltadas
brinquedos e materiais educativos que criava, para as crianças que estão na “primeira
pois, acreditava que por meio destes, os alunos infância”.
descobririam seus próprios dons. Além disso, a Lei nº 13.257/2016 altera o
Visa transformar as brincadeiras infantis em ECA, a CLT, a Lei nº 11.770/2008 e o CPP.
um ato de amor aos nossos futuros aprendizes, A Declaração Universal dos Direitos da
alunos de várias gerações que nunca tiveram a Criança, aprovada na Assembleia Geral das
oportunidade e nem o conhecimento do Nações Unidas em 1959 e fortalecida pela
quanto às brincadeiras são tão importantes Convenção dos Direitos da Criança de 1989,
quanto para o seu desenvolvimento emocional enfatiza: “Toda criança terá direito a brincar e a
e sentimental. divertir-se, cabendo à sociedade e às
autoridades públicas garantirem a ela o
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR exercício pleno desse direito”.
O Brasil foi signatário dessa convenção. A
Com o passar dos anos, o Estado preocupou-
Constituição Brasileira e o Estatuto da Criança e
se em aprimorar o atendimento à educação
do Adolescente (ECA) também asseguram esse
infantil, dando a ele caráter educacional. A
direito que, neste ano, foi fortalecido com o
promulgação da Constituição Federal do Brasil
Marco Legal da Primeira Infância (Lei
de 1988 trouxe a educação como um direito
13.257/2016).
fundamental do indivíduo, garantindo o livre
acesso gratuito à educação. A nova legislação coloca a criança desde o
nascimento até os 6 anos como prioridade no
O Sistema Educacional Brasileiro organiza-se
desenvolvimento de programas, na formação
por meio dos sistemas de ensino da União, dos
dos profissionais e na formulação de políticas
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A
públicas. A Lei assegura que a primeira infância
Constituição Federal do Brasil de 1988 e a Lei de
deverá ser protegida contra toda forma de
Diretrizes e Bases da Educação, Lei 9394/96 que
violência e de pressão consumista (art. 5º).
estrutura o funcionamento da educação no
Brasil, estando diretamente ligada às diretrizes É previsto pela Carta Magna Brasileira de
implantadas pela própria Constituição Federal 1988, Estatuto da Criança e da Adolescência de
do Brasil de 1988. 1990 e pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional de 1996. Outros direitos
A Lei 9394/96 foi à primeira lei a incluir a
infantis são pronunciados nesses documentos
educação infantil nas diretrizes da educação,
como os direitos em relação à vida, à saúde, à
trazendo diversas modificações, porém ainda
alimentação, à educação, à cultura, à
não possuindo caráter obrigatório. Ao longo do
dignidade, ao respeito, à liberdade e à
tempo, para muitos estudiosos pioneiros em
convivência familiar e comunitária, incluindo o
educação, tornou-se notória a diferença acerca

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lazer como uma solução que deve ser de direito Toda vez que o elemento competitivo suplanta
a todas às crianças. os demais atributos do brinquedo que tem
O brincar possui um relevante papel para o como essência a natureza criativa, perde a
desenvolvimento infantil. por meio dos jogos e função de lidar com as condições humanas;
das brincadeiras a criança desenvolve o seu mais quando bem aproveitado é umas das mais
raciocínio e começa a se expressar com mais construtivas experiências. O brincar estimula a
facilidade. por meio destes, a criança constrói representação e evoca aspectos da realidade. O
sua própria linha de pensamento e mundo imaginário é proposto pelo objeto
desenvolvem consequentemente sua lúdico.
imaginação e criatividade. Ao brincarem os O brinquedo fotografa e metamorfoseia a
alunos estarão mais preparados a enfrentarem realidade. Este mundo imaginário varia
determinadas situações na vida adulta, pois o conforme a idade: para o pré-escolar estão
brincar além de favorecer a autoestima prepara carregados de animismo, aos seis anos, a
estes indivíduos para tomarem certas decisões criança integra predominantes elementos da
ao longo da vida. realidade. A infância é a idade do possível e por
Muitas características humanas meio das brincadeiras a criança pode expressar
desenvolvem-se na criança pela sua brincadeira o mundo real, seus valores e seu modo de
com a boneca, porque em razão disso sua pensar (KISHIMOTO, 2009, p 19; 20).
própria Natureza se tornará, em um certo Segundo Kishimoto (2009), as brincadeiras
tempo, objetiva e daí reconhecível para a infantis, apresentam como características a não
criança e para os pensativos e observadores literalidade, o efeito positivo e a flexibilidade.
pais e babás. Daí se tornar visível mais tarde, Cria-se então um clima propício para
por meio da e pela diferença espiritual, a investigações necessárias à solução de
diferença de vocação e vida entre o menino e a problemas.
menina (FROEBEL, 1987, p. 93). Ao atender necessidades infantis, o brincar
As brincadeiras desenvolvem o senso de torna-se uma forma adequada para a
competência e auxiliam na aquisição de aprendizagem de conteúdos escolares. O
conceitos, como: nomear, descrever, ordenar, brinquedo pode ser usado como recurso que
construir, redigir, criticar, discriminar, entre ensina, desenvolve e educa de forma
outros. Já os jogos têm como função prazerosa. Quando as situações lúdicas são
autocontrole, a aquisição de flexibilidade e intencionalmente criadas com vistas a
empatia, o desenvolvimento da cooperação e estimular certos tipos de aprendizagem é que
do senso de criatividade, a capacidade de surge a dimensão educativa e o educador pode
controlar respostas pessoais e de adquirir o potencializar de ensino-aprendizagem. Isto
pensamento abstrato além de possibilitar um ocorre quando:
maior equilíbrio emocional. Utilizar o jogo na educação transporta para o
O jogo, como atividade agradável, não pode ensino condições para maximizar a construção
ser confundido como o sentido de competição do conhecimento, introduzindo as
que pode significar obrigação ou treinamento. propriedades do lúdico e da ação motivadora.

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O brincar potencializa a exploração e criança constrói com suas brincadeiras um


construção do conhecimento. Faz-se necessário mundo que possui valor representativo.
reconhecer o homem como ser simbólico, cuja Com a atividade lúdica (um dos aspectos
capacidade de pensar esta ligada à capacidade mais legítimos do desempenho infantil) é
de sonhar, imaginar e jogar com a realidade possível formar uma ideia sobre os tipos de
(KISHIMOTO, 2009, p 21). mecanismos defensivos, flexibilidade,
Por ser livre de pressão e avaliação, a espontaneidade, afeição à agressividade, entre
brincadeira cria um clima de liberdade, propício outros. Podendo ser utilizado na observação e
à aprendizagem, estimulando para o interesse, tratamento psicológico, é um meio de
descoberta e reflexão. Propicia experiências de demonstração que coloca a criatividade em
êxito, é um canal de comunicação, motiva a prática e estimula a participação social.
superação de objetivos cognitivos e
emocionais, possibilita a autodescoberta, a CONCEITO DE LUDICIDADE
integração e a integração e a relação de
Analisando as perspectivas de Vygotsky
confiança (KISHIMOTO, 2009).
(1987) e Piaget (1974), pode-se afirmar que a
O aspecto lúdico e prazeroso que existe no
ludicidade tem um importante papel na
processo de ensino-aprendizagem não se
educação infantil, ou seja, no desenvolvimento
encaixa na concepção tradicionalista de
da criança. Enquanto elas brincam se
educação, que prioriza a aquisição de
desenvolvem e se socializam, descobrindo
conhecimentos, a disciplina e a ordem como
assim seu lugar na sociedade, por meio do
valores a serem cultivados. A educação exige
brinquedo e da brincadeira, ocasionando assim
sérias discussões e práticas sobre as vivências
uma melhora significativa na leitura e escrita,
cotidianas dos seus alunos.
por isso esses dois estudiosos defendem o
De acordo com Almeida (2000, p.47), a
brincar na educação infantil.
brincadeira é universal e própria de saúde. O
E em relação à matemática:
brincar facilita o crescimento e conduz aos
De acordo com Alves (2001, apud, SANTOS,
relacionamentos grupais. É no brincar que a
2009, p.9), a importância da matemática, de um
criança desenvolve sua liberdade de criação,
modo geral, é indiscutível, no entanto, a
utiliza sua personalidade integral e descobre o
qualidade do ensino dessa área de
seu “eu”.
conhecimento se encontra em um nível muito
Em afinidade à inteligência criativa, o
baixo. Com isso, podem-se utilizar os jogos
brinquedo pode ser avaliado como reprodução
como um método facilitador de aprendizagem,
significativa da organização psíquica da criança,
ou seja, usá-los como uma ferramenta de
podendo representar os conflitos, tornando
trabalho.
manifesto a estrutura preservativa do ego, a
Vygotsky (1987), classifica o brincar em
amplitude da atividade livre e permitindo a
algumas fases. Na primeira fase a criança se
análise da importância dos setores
distancia de seu real do que lhe foi proposto
independentes do ego. Às vezes é distinguida
pela mãe. Já na segunda fase por volta dos sete
como atividade e infância declinada, mas a
anos caracteriza-se a imitação, ou seja, a

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criança copia os adultos a sua volta, e por fim, construírem e reconstruírem seu
na terceira fase quando a ludicidade não está conhecimento.
mais tão presente, pois começam a surgir o real Os alunos gostam de se destacar, são
e as regras e convenções a elas associados. curiosos, pela vontade de aprender, devemos
Vygotsky (1987), ainda defende que o jogo deve sempre incentivá-los, elogiá-los, valorizá-los e
ser mais explorado na esfera educacional nuca repreendê-los diante de outras pessoas.
mostrando assim a importância do papel do Palavras de caráter educativo como “muito
professor, pois é ele quem cria os espaços, bem”, “que bacana” aumentam a autoestima,
disponibiliza materiais e faz a mediação na fazendo com que busquem meios para alcançar
construção do conhecimento. a formação de cidadãos competentes e
Já Piaget (1974), acredita não ter idade integrando-se e contribuindo para um novo
para a ludicidade, para ele o desenvolvimento modelo de sociedade.
ocorre ao longo da vida, como também acredita A inserção dos jogos no contexto escolar
que o sujeito não é ativo nem passivo e sim aparece como uma possibilidade altamente
interativo, defendendo assim o faz de conta e significativa no processo de ensino
que Piaget defende a realidade, o jogo aprendizagem, por meio da qual, ao mesmo
simbólico. tempo em que se aplica a ideia de aprender
Piaget (1974), afirma que a ludicidade é brincando, gerando interesse e prazer
o berço das atividades intelectuais das crianças (RIBEIRO, 2009, p.19).
sendo assim indispensável na educação. Com Grandes teóricos como Rousseau (1968),
todo seu estudo Piaget concluiu que as crianças Froebel (1987), Dewey(1952) e Piaget(1974),
não raciocinam como adultos, descobrindo isso confirmam a importância do lúdico para a
recomendou aos adultos mudarem sua educação da criança.
abordagem com as crianças, modificando assim Segundo Rousseau (1968), as crianças têm
a teoria pedagógica que afirmava que a mente maneira de ver, sentir e pensar que lhe são
de uma criança era vazia. Por fim fazendo uma próprias e só aprendem por meio da conquista
comparação com as teorias de Vygotsky (1987), ativa, ou seja, quando elas participam de um
conclui-se que um completava a teoria do processo que corresponde à sua alegria natural.
outro. Uma educação eficiente proporciona
O lúdico como um componente da cultura atividades, com autoexpressão e participação
histórica, permitindo não somente consumir social às crianças, no qual a escola deve
cultura mais sim criar cultura. O lúdico pode ser considerar as crianças como criadores que
usado como um recurso, que propicia um despertam, mediante estímulos, com
ensinar de forma correta, simples e divertida. A faculdades próprias capazes de uma criação
criança também constrói seu conhecimento, produtiva, e o educador deve fazer do lúdico
em brincadeiras próprias, as quais chamam de uma arte, uma maneira de promover,
livres. O professor neste caso não é o dono do facilitando a educação da criança, sendo a
saber, mas ele será o mediador, ajudando-a por melhor forma de conduzir as crianças ao
meio do lúdico, fazer descobertas e juntos

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aprendizado e à socialização por meio do tanto, oferece informações que influenciam a


método lúdico. prática educacional de forma bastante
Já Dewey (1952), pensador norte-americano, significativa.
afirma que o jogo faz o ambiente natural da A atividade lúdica é muito viva e
criança, ao passo que as referências abstratas e caracterizam-se sempre pelas modificações, e
remotas não correspondem ao interesse dela. não pelo cuidado, de objetos, papéis ou ações
Piaget (1974), mostra claramente em suas do passado das sociedades, conforme
obras que os jogos não são apenas uma forma assinalam diversos pesquisadores. Como uma
de desafogar ou entretenimento para gastar a atividade dinâmica, o brincar modifica-se de
energia das crianças, mas meios que uma situação para a outra, de um grupo para o
contribuem para o enriquecimento do outro. Por isso sua riqueza. Essa qualidade de
desenvolvimento intelectual. Para ele, os jogos mudança dos contextos das brincadeiras não
e as atividades lúdicas tornam-se significativas podem serem ignoradas.
à medida que a criança se desenvolve. A intervenção é fator preponderante à
Com a livre manipulação de materiais revisão do programa de estudos, a reavaliação
variados, ela passa a reconstituir, reinventar as do trabalho didático-pedagógico do professor e
coisas, o que já exige uma adaptação mais ao reexame do nível de aproveitamento global
completa. Essa adaptação só é possível, a partir da classe.
do momento em que ela própria evolui Para fazer da leitura e da escrita uma
internamente, transformando essas atividades corrente bem sucedida no processo de
lúdicas, que é o concreto da vida dela, em aprendizagem, a escola deverá propor
linguagem escrita que é o abstrato. momentos de prazer e que combinem vários
Para Piaget, (1967) “o jogo não pode ser visto recursos, uma vez que o aprendizado da leitura
apenas como divertimento ou brincadeira para como forma de prazer poderá deixar de ser
desgastar energia, pois ele favorece a privilégio de poucos. Os cantinhos pedagógicos
ampliação física, cognitiva, afetiva e moral” O servem como estímulo para a criança expressar
brincar é, por conseguinte, um quebra- suas vivências e interagir com os colegas.
cabeça... Não se trata simplesmente de como
se pensava, de um método para aliviar tensões
ou energias contidas das crianças. Também não
é uma atividade que “prepara” a criança para o
mundo, mais é real para aquela que brinca.
Verdadeiramente, brincamos, envolvemo-nos
com paixão no ato de brincar, sem precisar, em
absoluto, saber o que significa.
As contradições conceituais e metodológicas
persistem. Porém, existe um movimento que
promete ampliar-se e fomentar os
conhecimentos sobre a atividade lúdica. Para

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há um número significativo de alunos que apresentam baixo rendimento escolar. Esses
alunos apresentam baixa autoestima, indisciplina, falta de interesse, problemas familiares, entre
outros, sendo necessário oportunizar lhes recursos para superarem tais dificuldades.
O aluno com dificuldades de aprendizagem somente adquire o conhecimento se for capaz
de atuar sobre ele, uma vez que, aprender é descobrir, inventar, modificar. Assim, é papel do
professor promover a socialização, integração e melhora da autoestima de seu aluno e é função
da escola fornecer meios para que ele possa se identificar como integrante de um grupo.
É necessário que os professores compreendam as relações que os alunos estabelecem no
meio físico e cultural, além de reconhecerem e entenderem a diversidade existente numa sala de
aula.
O fator família é de suma importância para o bom rendimento escolar, podendo atuar
como principal motivador para o sucesso escolar. Do contrário, a má influência familiar pode ser
a grande causadora das reprovações, desinteresse e das dificuldades na aprendizagem.
No entanto, acreditar que a dificuldade de aprendizagem é responsabilidade exclusiva do
educando ou da família ou apenas da escola é no mínimo uma atitude ingênua diante da
complexidade do aprender. Buscar e encontrar alguém que assuma a culpa do fracasso escolar
nos dá a sensação de que está tudo resolvido. A atitude do não aprender traz em si o subtexto da
denúncia de que algo deverá ser feito, e esse feito não poderá jamais ser a duas mãos.
É nesse momento que o professor pode utilizar-se do lúdico para despertar o interesse de
seu aluno. Como vimos no decorrer desse trabalho, as dificuldades encontradas são muitas, mas
ser profissional exige que criemos caminhos alternativos para a aprendizagem. Devemos ensinar
de forma que o aluno aprenda. É valido lembrar que equipes multidisciplinares constituídas por
educadores, pedagogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos, médicos e demais
profissionais envolvidos para auxiliar nos casos de problemas de aprendizagem, contribuindo para
que os alunos com dificuldade possam desfrutar sua cidadania de forma plena.
A proposta exposta reforça o pensamento de que precisamos exercer uma prática docente
em parceria, em equipe, na qual todos deverão voltar seu “olhar” e sua “escuta” para o sujeito
da aprendizagem. Não adianta refletirmos sobre o trabalho docente e buscar de modo contínuo
agregar valores à formação, ressignificar os conteúdos e adotar novas posturas avaliativas, se não
conhecermos o ser que estamos educando e a grande responsabilidade que é a de participarmos
da sua formação.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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182
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A DANÇA COMO FERRAMENTA NO PROCESSO


DE ENSINO APRENDIZAGEM DO ALUNO CEGO
Juraci Gomes Alves 1

RESUMO: Neste trabalho, procura-se descrever a importância de se trabalhar com as expressões


corporais para se obter bons resultados no processo de ensino-aprendizagem dos alunos cegos
no AEE (Atendimento Educacional Especializado), a dança já vem sendo utilizada como
instrumento de auxílio nas escolas e até mesmo como forma de intervenção psicopedagógica. A
dança é um tipo de atividade física que possibilita a expressão artística e motora. É considerado
um tema muito abrangente devido a suas abordagens e ramificações, sua evolução é significativa
como a evolução do mundo atual. Neste sentido, apresentam-se aqui algumas sugestões para um
direcionamento mais próximo possível do correto e ideal. Também se relata o que é o (AEE) e
como o uso da dança em seu currículo ajuda a obter ótimos resultados com alunos cegos. Dessa
forma, este texto traz um entendimento do corpo, do movimento e da dança de uma maneira
ampla. Atribui-se a importância de se trabalhar com a dança, por entender que o corpo e mente
são uma coisa só e já não podem mais ser entendidos separadamente, pois o corpo é a mente
tornada manifesta. Trabalhar o corpo é examinar a mente.

Palavras-Chave: Cegueira; Dança; Expressões Corporais.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: juracigomesalves@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO pular, saltar sobre objetos ou obstáculos, etc.


Tais atividades estão ligadas à necessidade de
Uma das grandes aspirações das últimas fazer com que o corpo experimente diferentes
décadas tem sido a possibilidade do ensino ações de movimentos, permitindo domínio e
integrado no (AEE), porém, quando expressão na construção da linguagem corporal
observamos cursos de música, teatro, dança no e social. Tornando possível expressar-se de
currículo de boas escolas, isso não significa que maneira coletiva ou individual, envolvendo os
estejam efetivamente fazendo uso dessas artes sentimentos e emoções nas suas diferentes
integradas ao projeto de ensino da escola. maneiras de comunicação, uma vez que a dança
Por motivos historicamente estabelecidos, a é uma forma de expressão humana que possui
educação escolar tem privilegiado valores uma linguagem própria.
intelectuais em relação aos valores corporais. De acordo com Rengel (2016), é importante
Conforme Giffoni (1973, p.16), os problemas tornar evidente que uma noção dualista de
educacionais "(...) quase sempre são corpo, ou seja, a ideia de que mente é uma
considerados pelo lado intelectual, sendo uma “coisa” e corpo, outra “coisa”, não deve mais
das faltas da educação". Opinião essa prevalecer. É necessário sempre tratar de corpo
compartilhada por Bèrge (1988, p. 24), quando mente, com o intuito de demonstrar a
o mesmo faz uso da metáfora "(...) O cérebro se relevância do aparato sensório-motor na
empanturra, enquanto o corpo permanece aprendizagem do movimento, da dança e de
esfomeado". qualquer outra área de conhecimento e sua
Contudo, esta visão já vem se modificando. ligação com a experiência subjetiva, as
Segundo Ossona (2001), nos dias de hoje há expressões de percepções, de emoções, de
uma melhor compreensão acerca dos valores pensamentos.
formativos e criativos da dança, que conduzem Com essa visão, pretende-se mostrar que a
a uma ampliação das ações corporais. dança é, sem dúvida, uma das maiores
A dança pode aprimorar as possibilidades manifestações de expressão do movimento
psicomotoras no desenvolvimento do humano e, sendo assim, representa papel
estudante, diminuindo sua hiperatividade e importante no processo educativo. Na escola,
levando-o a níveis de concentração mais serve como instrumento pedagógico e
profunda em consequência de exercícios psicopedagógico e ensina tanto quanto os
estruturantes. esportes, jogos e brincadeiras, podendo e
Dessa forma, neste trabalho procura-se devendo ser utilizada como instrumento de
destacar o importante papel que as expressões crítica social. Sobretudo, deseja-se mostrar a
corporais, especialmente a dança, representam dança como um meio quase ilimitado de
no processo de aprendizagem dos alunos aprendizagem que, ainda por falta de cursos de
cegos, utilizadas como instrumento de ensino- capacitações dos profissionais da rede pública,
aprendizagem na escola com crianças e jovens, fica restrita a festas e comemorações, como
uma vez que o corpo está em constante festas juninas, festas das nações, do folclore,
atividade de movimento, como: andar, correr, entre outras.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Portanto, a proposta deste trabalho é A audição desempenha um papel relevante


verificar os benefícios da dança para o processo na seleção e codificação dos sons que são
de ensino-aprendizagem, fundamentando a significativos e úteis. A habilidade de atribuir
dança como um fator benéfico proporcionando significado a um som sem perceber
uma melhor qualidade de vida. visualmente a sua origem é difícil e complexa. A
A Dança é uma arte de movimento e experiência tátil não se limita ao uso das mãos.
sentimento que permite autodescoberta, O olfato e o paladar funcionam conjuntamente
ensino criativo e cooperação entre os alunos e são coadjuvantes indispensáveis. O sistema
(FUX, 2003). hepático é o tato ativo, constituído por
componentes cutâneos e sinestésicos, por meio
QUANDO FALTA A VISÃO dos quais impressões, sensações e vibrações
detectadas pelo indivíduo são interpretadas
A criança que enxerga estabelece uma
pelo cérebro e constituem fontes valiosas de
comunicação visual com o mundo exterior
informação. As retas, as curvas, o volume, a
desde os primeiros meses de vida porque é
rugosidade, a textura, a densidade, as
estimulada a olhar para tudo o que está à sua
oscilações térmicas e dolorosas, entre outras,
volta, sendo possível acompanhar o movimento
são propriedades que geram sensações táteis e
das pessoas e dos objetos sem sair do lugar. A
imagens mentais importantes para a
visão reina soberana na hierarquia dos sentidos
comunicação, a estética, a formação de
e ocupa uma posição proeminente no que se
conceitos e de representações mentais.
refere à percepção e integração de formas,
contornos, tamanhos, cores e imagens que
estruturam a composição de uma paisagem ou OBSERVANDO E APRENDENDO
de um ambiente. COM O CORPO
As informações tátil, auditiva, sinestésica e A abordagem das práticas terapêuticas vem
olfativa são mais desenvolvidas pelas pessoas mudando assustadoramente, afastando-se das
cegas porque elas recorrem a esses sentidos abordagens puramente verbais das décadas
com mais frequência para decodificar e guardar anteriores em relação à ação e realização. Não
na memória as informações. mais cliente e terapeuta apenas conversam.
Sem a visão, os outros sentidos passam a Desde que as novas abordagens são
recebera informação de forma intermitente, basicamente experimentais e dirigidas ao
fugidia e fragmentária. O desenvolvimento corpo, o futuro cada vez mais enfocará o corpo,
aguçado da audição, do tato, do olfato e do (PENTEADO, 2016).
paladar é resultante da ativação desses Novas formas de psicoterapia vêm se
sentidos por força da necessidade. desenvolvendo em todos os continentes. São as
Portanto, não é um fenômeno extraordinário novas buscas em psicoterapia que servem de
ou um efeito compensatório. Os sentidos base para a pedagogia e a psicopedagogia.
remanescentes funcionam de forma De acordo com Penteado (2016), já faz
complementar e não isolada. alguns anos que elas vêm sendo utilizadas por

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estudantes e leigos, dando-lhes a convicção de crenças, sentimentos e recordações que dão


que todo trabalho realizado tem como certeza, forma e organizam o comportamento.
a integração corpo e espírito. Não existe Uma vez que se reconheça o elo íntimo entre
espírito sem seu invólucro corporal. Segundo mente e corpo, a base racional para as terapias
algumas linhas de pesquisa, corpo e espírito são do corpo está clara. Nada que os músculos
uma unidade, que deve ser utilizada para realizem é feito sem a orientação do sistema
compreender os novos rumos das técnicas nervoso central; até os hábitos antigos de
psicoterápicas. movimento e sustentação que moldam o corpo
Sem o auxílio da vocalização ou sussurro, são organizados pelo cérebro. O corpo é a
sem os sons da laringe, faringe, língua, lábios, mente tornada manifesta. Trabalhar no corpo é
dentes, estimulados por gases viajando acima examinar a mente.
de velocidades críticas, o corpo transmite O corpo, por sua vez, pode se tornar parte de
mensagens àqueles treinados a recebê-las. um elaborado sistema de defesas que a psique
Acima, abaixo, fonemas, palavras, frases, cria para proteger-se das agruras da vida. O
pronunciamentos, cada um de nossos corpos caráter é a armadura e o corpo é a primeira
diz quem, o que, onde, como cada um dos linha de defesa. No decorrer dos
residentes no corpo é, era ou será, (PENTEADO, acontecimentos o hábito limita o movimento,
2016). diminui a flexibilidade, e por outro lado
O que o corpo revela – pelo menos quando bloqueia e trunca a nossa experiência, o corpo
observado por alguém que esteja preparado – nos protege contra a experiência plena da vida.
são os meandros e as curvas da história pessoal: As terapias do corpo são uma maneira direta de
os segredos, traumas e triunfos de dias destruir aquela proteção; de nos abrirmos
passados. Eles estão corporificados em totalmente para a vida, (PENTEADO, 2016).
ligamentos e músculos; expressos na postura. O Prestera e Kurtz (1989), tomam essas
corpo é a personalidade tornada manifesta e considerações como um ponto de partida,
pode ser analisado com tanta segurança quanto detalhando os laços entre a mente a o corpo de
a psique, por aqueles que sabem como fazê-lo maneira a torná-los úteis para qualquer um que
(PRESTERA e KURTZ, 1989, p. 20). queira unir mente e corpo em um órgão coeso,
Hector Prestera e Ron Kurtz (1989), são um todo.
pioneiros em ler o que o corpo tem a dizer O corpo não mente. Seu tom, cor, postura,
sobre a pessoa. No livro “O corpo revela – um proporções, movimentos, tensões e vitalidade
guia para a leitura corporal”, que se tornou um expressam o interior da pessoa. Esses sinais são
clássico, eles oferecem um manual para uma linguagem clara para aqueles que
decifrar as mensagens codificadas no corpo. À aprenderam a lê-los. O corpo conta coisas sobre
medida que cada vez mais terapeutas nossa história emocional e nossos mais
entendem que o corpo não mente – enquanto profundos sentimentos, nosso caráter e nossa
as palavras frequentemente o fazem - analisar personalidade. O caminho oscilante e
o corpo está se tornando a nova estrada real inconsequente de um bêbado e o andar leve e
para o inconsciente – e para todas as outras gracioso de um bailarino falam tanto do seu

187
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

movimento através da existência quanto de seu inteiro esclarecido por meio da autodescoberta
progresso pelo espaço (PRESTERA & KURTZ, perseverante. uma nova base deve ser
1989, p. 21). construída sobre a vitalidade física, atitudes
Não importa qual o mais importante: o papel realistas, satisfação emocional e a aceitação da
do cérebro ou do corpo. O cérebro pode vida. Ao buscarmos crescimento, ao
representar ações por imagens; a mão pode penetrarmos cada vez mais profundamente em
pegar, bater, arremessar. Mas isso não importa. nossos sentimentos, ao procurarmos dentro de
Pensar não é mais importante que acariciar. O nós mesmos a fonte e o significado de nossas
cérebro representa o que a mão pega, e a mão vidas, nós podemos somente vir a encontrar um
pega o que o cérebro representa. infindável reservatório espiritual – inefável,
Sei que não são iguais, como sei que um misterioso, e não obstante a base mais segura
coração não é o mesmo que um cérebro. Nem e verdadeira de nossa existência (PENTEADO,
se trata de provar essa igualdade. Mas sei que 2016).
nada são longe um do outro, desintegrados,
divorciados. Apenas fazem sentido quando se A IMPORTÂNCIA DA
solidarizam num todo maior que os integra,
como simples para o fenômeno humano: LINGUAGEM CORPORAL PARA O
colocar de um lado o espírito e de outro o ALUNO CEGO
corpo, separando-os, dissecando-os, O ser humano não se comunica apenas por
reduzindo-os a partes que não interagem. A meio da linguagem verbal, mas também da
questão humana vai muito além dos simplismos linguagem corporal, ou seja, a partir de gestos,
reducionistas da tradição científica clássica expressões faciais, olhares, movimentos,
(FREIRE, 1991, p.36). postura, emoções, forma de andar, etc. Nos
Dessa forma, para uma análise mais primeiros dias de vida, a criança se faz entender
detalhada da pessoa se faz necessário observar por gestos e, até o início da linguagem verbal, o
o que o corpo revela, o que pode ser aprendido movimento é a expressão geral de suas
sobre uma pessoa observando sua postura e necessidades. A profundidade e o valor da
estrutura corporal. É interessante fazer um intercomunicação humana por meio do gesto
mapeamento do corpo, parte por parte, dando são de máxima importância para a criança cega,
informação detalhada da relação entre os não apenas em função da relação estreita com
aspectos físicos do corpo e as emoções e suas emoções, como também por ser um meio
atitudes às quais elas correspondem. A de transmitir o equilíbrio do estado interior do
transformação profunda é muito mais do que recém-nascido (FONSECA, 1998). Quando o
encontrar um papel ou jogos melhores. É uma bebê sente fome ou dor ele torce seu corpo,
expansão real do self, a remoção de limites auto possibilitando que sua mãe perceba seu
impostos – restrições baseadas em temores desconforto. Por intermédio do movimento, do
irracionais e fracassos da infância. As atitudes tom, a criança fala por meio de seu corpo. Tais
às quais eles dão vida devem ser trazidas à “mensagens corporais” acompanham o
consciência, então examinadas e o processo indivíduo por toda a sua vida.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De acordo com Lofiego (2000), se como dificuldades cada vez maiores para realizar
educadores, pensarmos no desenvolvimento movimentos simples, produzindo tensões
da criança de forma integrada, isto é, musculares desnecessárias, rigidez e má
procurando atender aos aspectos físicos, postura, entre tantos outros problemas.
afetivos, sociais e cognitivos, é necessário que Fonseca (1995, p. 21), retrata este fato
desde a mais tenra idade seja utilizado quando afirma que:
amplamente o movimento. O movimento [...] a ausência de espaço e a privação de
consciente pode ser realizado por meio da movimento é uma verdadeira talidomida da
prática de atividades psicomotoras, como atual sociedade, continuando na família
modo de ajudar a criança a se comunicar com o (urbanização) e na escola. A não-aceitação da
mundo a partir da ação, do movimento e dos necessidade de movimento e da experiência
gestos, contribuindo para o desenvolvimento corporal da criança põe em causa as atividades
pleno e as aprendizagens. Para o autor, o instrumentais que organizam o cérebro
desenvolvimento psicomotor é caracterizado (FONSECA,1995, p. 21).
por uma maturação que faz parte do Diversos estudos vinculam o
movimento, do ritmo, da construção espacial, desenvolvimento psicomotor à aprendizagem
do reconhecimento dos objetos, das posições, escolar. Furtado (1998), instituiu relações entre
da imagem do nosso corpo e da palavra o desempenho psicomotor e a aprendizagem
(atividade verbo-motriz). da leitura e escrita, e os resultados do seu
A princípio, a psicomotricidade estava trabalho apontam que ao promover a
relacionada a uma concepção neurofisiológica, ampliação do potencial psicomotor da criança,
fundamentada na neuropsiquiatria infantil. O aumenta-se também as condições básicas para
interesse de estudiosos da área da psicologia, as aprendizagens escolares. Pesquisa
pedagogia e educação física foram, desenvolvida por Nina (2000), acerca da
gradativamente, alterando a perspectiva desse organização percepto-motora e a
trabalho. Os autores que mais influenciaram os aprendizagem da leitura e da escrita em classes
psicomotricistas nesta transformação foram de alfabetização, indica a necessidade de que já
Wallon, Piaget e Lê Boulch que, em suas obras, a partir da educação infantil sejam oferecidas
abordam a formação da inteligência, tornando atividades motoras voltadas para o
evidente que esta é gerada através da fortalecimento e consolidação das funções
experiência motriz da criança (FÁVERO & psicomotoras, primordiais para o sucesso das
CALSA, 2016). atividades de leitura e escrita.
A vida atual proporciona às crianças um Pesquisas anteriores, desenvolvidas por
excesso de inatividade. Fávero e Calsa (2016), Cunha (1999), comprovam a relevância do
observando colegas de profissão realizarem um desenvolvimento psicomotor e cognitivo. A
trabalho com dança com crianças de todas as autora averiguou que o desenvolvimento
idades há alguns anos, notaram o quanto este psicomotor é de grande relevância para a
problema tem se agravado na atual geração. E aprendizagem da leitura e da escrita e que as
alegam que essa falta de atividade tem gerado crianças com nível superior de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento conceitual e psicomotor são aprendizagem existentes, aquelas que se


as que apresentam os melhores desempenhos relacionam com um baixo desenvolvimento
escolares. Ainda sobre este aspecto, Oliveira psicomotor. Embora diversos autores (LE
(2001), desenvolveu um trabalho de BOULCH, 1992; LAPIERRE, 1982), tenham
reeducação psicomotora com crianças com demonstrado a relevância da psicomotricidade
idade entre sete e onze anos que apresentavam no desenvolvimento cognitivo, no aprendizado
dificuldades de aprendizagem. Os resultados da leitura e da escrita e na formação da
indicaram que a maioria delas obteve melhoria inteligência, tradicionalmente, a escola tem
no desempenho escolar. dado pouca importância à atividade motora das
Entretanto, o que parece simples à primeira crianças. O espaço da atividade infantil fica
vista, pode ser muito complexo, visto que o limitado à visão de que o movimento é algo
educador tem dificuldades em diagnosticar as fundamentalmente motor, separado de
dificuldades de aprendizagem e também em qualquer outro setor do desenvolvimento, seja
relacionar a experiência psicomotora como afetivo, cognitivo ou social (COLELLO, 1993).
auxílio para as dificuldades apresentadas.
Conforme alega Collelo (1995): UTILIZANDO A DANÇA NO
[...] as aulas de educação física parecem se
restringir a atividades de recreação ou de PROCESSO DE ENSINO-
fortalecimento muscular, nos quais o APRENDIZAGEM DOS ALUNOS
movimento parece ter um fim em si mesmo.
CEGOS
Paralelamente, os professores, em sala de aula,
De acordo com Scarpato (2016), algumas
trabalham a motricidade infantil, visando
pessoas acreditam que, para ocorrer a
apenas a uma mecânica padronizada de
aprendizagem, é necessário que o educando
comportamento. Quando a escrita é
esteja sempre sentado e quieto. Porém,
considerada um ato prioritariamente motor
privilegiar a mente e desprezar o corpo pode
(que não impõe ao aprendiz grandes esforços
gerar uma aprendizagem empobrecida. É
cognitivos), a maior preocupação dos
necessário ver o indivíduo como um ser total e
alfabetizadores recai no treinamento das
único que quer aprender de modo dinâmico,
habilidades responsáveis pelos aspectos
prazeroso, envolvente (conforme foi visto
figurativos da escrita (coordenação motora,
anteriormente).
discriminação visual e organização espacial)
Nem sempre o educando imóvel está
(COLLELO, 1995, p.18).
envolvido com o que se passa na sala de aula.
A intenção aqui não é afirmar que a
Ele pode estar inquieto por dentro, querendo
psicomotricidade é a resposta para todas as
se movimentar porque é muito difícil
dificuldades de aprendizagem, e nem tão pouco
permanecer durante muito tempo na mesma
afirmar que um desenvolvimento psicomotor
posição. É primordial desenvolver a
inapropriado pode ser a causa de todas as
corporeidade em todas as áreas, não apenas
dificuldades escolares. O que se procura é
nas áreas afins.
analisar dentre as inúmeras dificuldades de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

(...) Infeliz educação a que pretende, pela percorre a necessidade de conhecer sua própria
explicação teórica, que prega que os indivíduos história e manifestações culturais de seu povo”.
podem ter acesso ao conhecimento pelo Nessa direção, a dança sempre teve o
conhecimento e não pela experiência. mesmo objetivo: a vida, a saúde, a religião, a
Produziria somente doentes do corpo e do morte, a fertilidade, o vigor físico e sexual,
espírito, falsos intelectuais inadaptados, também percorrendo os caminhos terapêuticos
humanos incompletos e impotentes (FREINET, e educacionais, determinando assim, uma
1991, p. 43). diversidade interessante para esta
A educação inclusiva precisa ser global, não manifestação (SCARPATO, 2016).
somente vislumbrando a um aspecto do É primordial para este ser, que já foi nômade
indivíduo, o que presume a dança na sala de e hoje é sedentário, ainda oprimido pelo tempo
aula por ser um aprendizado que agrega o e espaço, pelas situações do dia a dia, presumir-
conhecimento intelectual e a livre expressão do se com uma dança que possa ser democrática,
educando (SCARPATO, 2016). quebrando a ideia de que a dança "é privilégio
No entanto, a utilização da dança na de alguns" (GARIBA, 2002, p. 2); e, de que é
educação não tem como finalidade somente preciso uma técnica específica. Entende-se que
propiciar a vivência do corpo e reduzir tensões o mais importante é ser capaz de compreender
provenientes de esforços intelectuais a dança como "um modo de vida, de existir"
excessivos, uma vez que, ao mesmo tempo em (GARAUDY, 2003, p. 7).
que promove a criatividade, também traz Essa compreensão do movimento por meio
muitos benefícios ao processo de da dança pode estar vinculada ao universo
aprendizagem, se incorporada com outras pedagógico, visto que a dança, além de
disciplinas. atividade física, na opinião de Ferrari (2016, p.
Segundo Scarpato (2016), trabalhar com o 2), também é "educação", sendo indispensável
corpo provoca a consciência corporal. O para que o sujeito entenda o que e porquê fazer
educando questiona-se e passa a compreender o movimento, já que o movimento expressivo
o que acontece consigo mesmo e à sua volta, antes de tudo precisa ser consciente.
torna-se mais espontâneo e exprime seus Desse modo, esta consciência posiciona o
desejos de forma mais natural, o que pode indivíduo como um ser no mundo e essa
gerar dificuldades para a prática pedagógica interação, segundo Nanni (2002, p. 7), é
autoritária, que ainda julga que o educando só "indispensável para que o ser humano se torne
aprende sentado na carteira. sujeito de sua prática no desvelar a sua
Para exprimir suas emoções, o ser humano realidade histórica, por meio de sua
recorreu ao movimento, ao gesto que, segundo corporeidade".
Fahlbusch (1994, p. 16), "é a dança" em sua Na visão de Scarpato (2016), buscar uma
forma mais básica. prática pedagógica mais coerente a partir da
Assim sendo, conforme Scarpato (2016, p. dança significa permitir que o indivíduo se
08), “o conhecimento de si mesmo e da dança expresse de forma criativa, sem exclusões,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tornando esta linguagem corporal Dessa forma, propõe-se o uso da dança como
transformadora e não reprodutora. ferramenta de suporte ao desenvolvimento
cognitivo-motor do aluno, trazendo uma
A DANÇA NA APRENDIZAGEM perspectiva à área interdisciplinar, indicando
que o corpo pode ser usado na aprendizagem,
Desde os primórdios, a expressão corporal
e que a mesma se concretiza por meio de
por meio da dança já fazia parte da vida dos
diversas maneiras e estilos. A dança oferece um
seres humanos. Cada cultura transferiu seu
desenvolvimento corporal vasto, lapidando a
conteúdo às mais diversas áreas como a Arte, a
personalidade do aluno a partir de uma
Música e a Pintura. Dentre essas, as danças
consciência corporal em relação ao próprio
absorveram a maior parte dessa transferência,
universo e ao universo do outro.
em função do fato de que a dança sempre foi
Conforme Duncan (apud, OSSONA, 2001, p.
de grande importância nas sociedades, seja
64):
como uma forma de expressão artística, seja
Em minha opinião, a dança tem como
como objeto de culto aos deuses ou ainda como
propósito a expressão dos sentimentos mais
mero entretenimento (CAVASIN, 2016).
nobres e mais profundos da alma humana:
Consoante Cavasin (2016), o Renascimento
aqueles que nascem dos deuses em nós, Apolo,
cultural ocorrido nos séculos XV e XVI trouxe
Pan, Baco, Afrodite. A dança deve implantar em
diversas transformações no âmbito das artes,
nossas vidas uma harmonia que cintila e pulsa.
da cultura, da política e da religião, o que fez
Ver a dança somente como uma diversão
com que a dança também sofresse profundas
agradável e frívola é depreciá-la.
transformações que já vinha se arrastando no
Neste sentido, Pereira et al (2008, p.61),
decorrer dos anos. Nessa época, a dança
afirma que:
passou a ter caráter social, ou seja, passou a ser
dançada pela nobreza em grandes espetáculos (...) a dança é um conteúdo primordial a ser
teatrais e em festas somente como trabalhado na escola. Ela permite que os
educandos conheçam a si próprios e os demais;
entretenimento e recreação.
que explorem o mundo da emoção e da
A partir de então, a dança social foi mudando
imaginação; que criem; que explorem novos
e gradativamente se tornou acessível às classes
sentidos, movimentos livres (...). Constata-se
menos privilegiadas da sociedade, que já
ainda as infinitas possibilidades de trabalho
realizavam outro tipo de dança: as danças
do/para o educando com sua corporeidade por
populares. Tais mudanças de comportamento
meio dessa atividade.
foram se vinculando às danças sociais,
Cunha (1999, p. 14), também salienta a
originando, dessa forma, uma nova tendência
relevância do processo de escolarização da
da música que, dançada por casais,
dança: "Acreditamos que apenas a escola, a
posteriormente se chamaria Danças de Salão.
Em todas as épocas, a dança sempre permitiu partir do uso de um trabalho consciente de
que o ser humano retratasse suas aspirações à dança, terá condições de fazer emergir e formar
procura da felicidade, do autoconhecimento e um sujeito com conhecimento de suas
do aprimoramento de cada gesto expressado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

verdadeiras possibilidades corporais- pluridimensionais que determinem relações


expressivas". entre as demais disciplinas e que possibilitem
Para Vargas (2003, p. 13), a dança na escola ao educando desenvolver sua personalidade a
"(...) abrange a sensibilização e conscientização partir de seus conhecimentos, de suas
dos educandos tanto para suas posturas, habilidades, de seus comportamentos e da
atitudes, gestos e ações cotidianas como para própria consciência corporal acerca das
as necessidades de expressar, comunicar, criar, individualidades e restrições.
compartilhar e interagir na sociedade”.
Desse modo, incentivar a educação por meio
da dança escolar não se limita apenas nas
"festinhas comemorativas"; muito menos em
promover a ideia de que "dançar se aprende
dançando," (MARQUES, 2006, p. 19). Na
opinião de Marques (2006), o estudo e a
compreensão da dança corporal e intelectual,
"vão muito além do ato de dançar" (p. 18).
Assim sendo, conforme os autores acima,
uma proposta de dança escolar pode ser
sintetizada no sentido de se buscar uma forma
de dança que se liberte do academicismo
indicando que esta não se limita somente à
aprendizagem de técnicas e estilos como ballet
clássico, jazz, moderno etc... vai muito além da
simples classificação, visto que, segundo Ferrari
(2016, p. 02), "A Dança na escola não é a arte
do espetáculo, é educação através da arte".
Conforme Gariba (2016), uma arte não existe
apenas para ser admirada à distância, mas sim
para ser aprendida, compreendida,
experimentada e explorada, numa tentativa de
conduzir o ser humano a vivenciar o corpo em
todas suas extensões, a partir da relação
consigo mesmo, com os outros e o mundo.
Na escola, o ensino da dança objetiva o
processo criativo, devendo estar educador e
educando sempre motivados para as aulas. É
essencial que exista um planejamento
detalhado e consciente dos objetivos a serem
alcançados bem como o uso de estratégias

193
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espera-se que este trabalho seja uma introdução simples e útil ao que a estrutura, postura
e fisionomia corporal revelam a respeito das pessoas em especial as pessoas cegas.
Para aqueles que podem ver e compreender, o corpo fala claramente, revelando o caráter
e a maneira de a pessoa ser no mundo. Revela traumas passados e a personalidade atual,
sentimentos expressos e sentimentos ocultos. O olho treinado vê isto e muito mais.
Embora muita informação sobre o que os corpos revelam esteja disponível, não é
amplamente conhecida. E embora alguns usem este conhecimento intensamente, ele não é
amplamente utilizado. Desta forma, a intenção neste trabalho foi, também, a de apresentar um
esboço básico deste conhecimento, sem uma exposição prolongada. Algo que seja útil quer para
o leigo, quer para aqueles que clinicam. Espera-se principalmente enfatizar este aspecto: o corpo
revela a pessoa; ele é a pessoa. E deseja-se levar este conhecimento a um público mais amplo.
As formas de manifestação do movimento não são separadas do corpo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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197
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A DANÇA COMO MEIO DE


DESENVOLVIMENTO PARA CRIANÇA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Fabiola Adriana Rodrigues de Oliveira Castilho1

RESUMO: Compreender a arte na educação é um tema que deve ser trabalhado desde a infância,
visto que a criança é um cidadão em desenvolvimento e deve ser respeitada como tal. A dança é
um instrumento que permite desafiar e ampliar a expressão e comunicação de imagens, ideias,
pensamentos e sentimentos de forma singular da representação estética, além de instigar o aluno
a observar, refletir, analisar, compreender, interpretar e criticar as características, qualidades,
processos e ordenações no trabalho pessoal e dos outros parceiros ou artistas e, relacionar
intenções e valores das manifestações artísticos- estéticas e culturais, na cultura de outros povos
e na vida cotidiana. A arte faz parte da formação do aluno para desenvolver sua auto expressão,
trata-se de um excelente meio para ensinar. Portanto, a escola com seus recursos e todo seu
trabalho pedagógico deve inserir, incentivar e propor maneiras, nas quais a educação escolar dê
espaço sólido e concreto a educação na sua prática. Este trabalho se propôs a estudar o uso de
jogos e instrumentos musicais feitos com sucata, como recurso pedagógico na educação infantil,
com atividades lúdicas, criativas, que desenvolvam potencialidades e habilidades. Dessa forma,
acredita-se que ações lúdicas e práticas com as crianças são propostas de construção de formação
integral.

Palavras-Chave: Arte; Educação; Dança; Desenvolvimento; Criança.

1 Professora de Ensino Fundamental II, na Rede Municipal de São Paulo; Professora no Ensino Superior em Rede
Privada.
Graduação em Letras: Mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem; Especialização em Inglês
Instrumental; Licenciatura em Pedagogia; Bacharel em Tradução e Interpretação;
E-mail: fabiolaadriana@uol.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO os quais tendem auxiliar na sua vida escolar e


social, ou seja, no decorrer de todo o
Compreendendo a dança como uma desenvolvimento de sua vida.
ferramenta pedagógica, ela deve ser explorada
e proporcionada diariamente para os alunos,
A ARTE NA EDUCAÇÃO
por meio de atividades lúdicas e criativas, que
Conforme Monlevade (2001), durante a
desenvolvam potencialidades e habilidades dos
Brasil colônia, o financiamento da educação
pequenos. Atualmente tem se percebido que
ficou sob a responsabilidade exclusiva dos
cada vez mais se procura enaltecer a
jesuítas embora estivesse diretamente ligada à
consciência da importância da dança como
política colonizadora dos portugueses
forma de expressão do ser humano e de sua
realizando a conversão dos indígenas em mão-
cultura. O que há de se considerar ainda, é que
de-obra escrava para o trabalho na colônia.
a dança não é somente um passatempo, um
Pode se observar que com a expulsão dos
adorno, um simples divertimento, mas deve ser
jesuítas do Brasil, tentou-se promover a
percebida como um valor social de um povo.
educação pública estatal, financiada por meio
O presente estudo tem a intenção de
do subsídio literário, considerado como o
compreender como ocorrem os estímulos
primeiro Fundo dirigido exclusivamente para a
artísticos quanto a dança na Educação Infantil,
educação.
descobrir quais as estratégias que o docente
Para Paiva (1998, p. 56), no plano político, os
utiliza para ministrar suas aulas e salientar de
líderes locais, senhores de engenho,
que forma a dança como instrumento
comerciantes e exploradores de terras e
pedagógico pode despertar laços de
escravos passaram a reclamar maior espaço no
afetividade. Juntamente com a preocupação de
âmbito das decisões e as relações sociais
refletir a importância deste tema no processo
estavam sendo remodelados na direção de
de desenvolvimento da criança na escola, assim
novos valores, hábitos e costumes e enquanto
como o respeito as relações interpessoais, seja
isso, o colégio jesuítico continuava formando
na sala de aula ou na sua vida pessoal do
letrados.
indivíduo.
Nesse cenário de transformação social,
Justifica-se o tema, pela necessidade de
diversas situações contribuíram para a
compreensão que a dança por meios de
evolução do processo educacional brasileiro
conceitos corporais pode possibilitar ao
nesses cinco séculos de existência formalizada.
desenvolvimento infantil, visto que este
Os últimos acontecimentos
contexto envolve a dança como uma cultura da
(CONSTITUIÇÃO,1988 e LDB, 1996), nos
humanidade.
mostram essa verdade naquele padrão atual de
Logo é possível observar que se uma criança
escolarização.
tiver a oportunidade de ter contato com a
De acordo com os PCNs (Parâmetros
dança ainda na infância, terá facilidade em
Curriculares Nacionais, 1998), para a educação
desenvolver melhor a percepção, coordenação
e educação infantil, considerando-se as
motora e agilidade nos movimentos do corpo,
especificidades afetivas, emocionais, sociais e

199
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cognitivas das crianças de zero a seis anos, a grandes questões: a de acesso e a da qualidade
qualidade das experiências oferecidas que do atendimento.
podem contribuir para o. exercício da cidadania Dessa maneira, surgiam às creches com
devem estar embasadas nos seguintes caráter assistencialista (cuidador), visando
princípios educativos, conformes os PCNs dentre outras situações, diminuírem o alto
(1998, p. 13). número de crianças vistas com maior
O respeito à dignidade e aos direitos das necessidade que eram obrigadas pelas famílias
crianças, consideradas nas suas diferenças a trabalhar (sistema capitalista), para ajudarem
individuais, sociais, econômicas, culturais, com as despesas da casa e garantirem seus
étnicas, religiosas, etc.; O direito das crianças a sustentos. Nesse sentido, a educação infantil,
brincar, como forma particular de expressão, (que ainda não havia recebido esse nome) tinha
pensamento, interação e comunicação infantil; como função principal a guarda das crianças.
O acesso das crianças aos bens socioculturais Para Lisboa (1998, p. 37):
disponíveis, ampliando o desenvolvimento das A escola dos pequeninos em de ser um
capacidades relativas à expressão, à ambiente livre, onde o princípio pedagógico
comunicação, aos afetos, à interação social, ao deve ser o respeito à liberdade e à criatividade
pensamento, à ética e à estética; À socialização das crianças. Nela, os pequeninos devem poder
das crianças por meio de sua participação e se locomover, ter atividades criativas que
inserção nas mais diversificadas práticas permitam sua autossuficiência, e a
sociais, sem discriminação de espécie alguma; desobediência e a agressividade não devem ser
O atendimento aos cuidados essenciais coibidas e, sim, orientadas, por serem
associados à sobrevivência e ao condições necessárias ao sucesso das pessoas
desenvolvimento de sua identidade (LISBOA ,1998, p. 37).
(BRASIL,1998, p. 13). Assim, se por trás do todo o interesse social,
A partir dessa contextualização, pode se econômico e político podemos ver um avanço
observar que a sociedade é composta por no sentido de uma maior “democratização” de
vários sistemas (político, cultural, econômico, espaços próprios para a criança se desenvolver
jurídico e educacional) articulados entre si. (Educação Infantil), e aí eis que surge um novo
Dessa forma, além da Constituição Federal debate, outra função a esses espaços; a função
de 1988, do Estatuto da Criança e do pedagógica.
Adolescente de 1990, destaca-se a Lei de Ao pensar que a Educação Infantil tem uma
Diretrizes e Bases da Educação (1996), Nacional função pedagógica, nota-se a ideia de um
de 1996, que, ao tratar da composição dos trabalho que considere a realidade e os
níveis escolares, inseriu a Educação Infantil conhecimentos infantis como ponto de partida
como primeira etapa da Educação Básica. e os amplia, por meio de atividades que têm um
É importante considerar os inúmeros significado concreto para a vida das crianças e
desafios impostos para o efetivo atendimento que, simultaneamente, asseguram a aquisição
desse direito, que pode ser resumido em duas de novos conhecimentos, garantindo assim seu
desenvolvimento integral.

200
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Desta forma, um programa (Políticas acompanha os parâmetros mundiais, com suas


Públicas) que pretenda atingir tais objetivos características próprias, acentuada por forte
acima relatados, não pode em momento algum assistencialismo e improviso. As crianças da
ou ainda sob circunstância alguma deixar de área urbana eram colocadas nas “rodas
proporcionar capacitação aos recursos expostas” para serem recolhidas pelas
humanos nele envolvidos, nem tampouco de instituições religiosas, muitas dessas crianças
supervisão constante do trabalho (avaliação). eram de mães que pertenciam às famílias
Assim, conforme Lisboa (2001, p. 39): tradicionais.
Propiciar ao aluno um ambiente rico em Nos dias atuais, pode se identificar tais
experiências necessárias ao desenvolvimento mudanças que até pouco tempo, originaram-se
físico, psicológico, intelectual e social de novas exigências sociais e econômicas,
complementando a ação da família e da conferindo à criança um papel de investimento
comunidade. Promover a ampliação das futuro, esta passou a ser valorizada, portanto o
experiências e conhecimentos do aluno, seu atendimento teve que acompanhar os
estimulando seu interesse pelo processo de rumos da história.
transformação da natureza e pela convivência Sendo assim, a Educação Infantil de uma
em sociedade; estimular a criatividade como perspectiva assistencialista transforma-se em
elemento de auto expressão; a construção do uma proposta pedagógica aliada ao cuidar,
conhecimento que inclui necessariamente as procurando atender a criança de forma
ideias de descobrir, de inventar, de redescobrir integral, nas quais suas especificidades
e de criar( LISBOA,2001, p. 39). (psicológica, emocional, cognitiva, física, etc.)
Diante do exposto, é necessário se pensar devem ser respeitadas.
em uma base de programas pedagógicos Portanto, por meio dessas ações e dessa
pensados e elaborados a partir do trajetória, a educação infantil de hoje, busca
conhecimento prévios dos alunos em suas proporcionar desenvolvimento aos alunos e
múltiplas dimensões e das necessidades sociais qualidade para que eles tenham
de aprendizagem que lhes são propostas. desenvolvimento satisfatório.
Desse cenário educacional, começa-se a
pensar sobre educação escolar voltada paras as A DANÇA NA EDUCAÇÃO
crianças, o trabalho com fins educativos foi
substituído pela escola, que passou a ser INFANTIL
responsável pelo processo deformação. De acordo com Ossona (1988, p. 18), “a
Assim, a criança sai do anonimato e dança é uma disciplina que se deve começar
lentamente ocupa um espaço de maior quando se é bem pequeno, sobretudo quando
destaque na sociedade, essa evolução traz os dotes físicos não são excepcionais”, ou seja
modificações profundas em relação à na infância ocorre diversos movimentos na vida
educação. dos pequenos e estes acontecem de forma
De acordo com Áries (1989), a história da criativa e diversificada.
Educação Infantil no Brasil, de certa forma,

201
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para Nanni (2008, p. 1), “a Dança – em sua lúdico na educação infantil sendo continuado
essência – como manifestação primitiva, era nas demais sérias da educação, para assim
um mergulho no mundo mágico, onde os facilitar e tornar agradável, o processo
movimentos espontâneos surgiram da pedagógico e educativo da criança.
imaginação.”. A criança desempenha funções moldáveis e
O ensino de dança sendo elemento é dever educador valorizar as diversas
construtivo da arte na educação ainda é algo concepções que as crianças carregam. Neste
novo e pouco adotado pelo profissional de sentido é importante se pensar na educação
educação. Essa modalidade de ensino ganhou infantil com um olhar sensível e refletindo em
mais força com a criação dos Parâmetros todas as possibilidades que ela contém.
Curriculares Nacionais (PCN’s), que se reitera Em 1988, com a promulgação da
pela primeira vez na história do Brasil, sendo Constituição Federal, iniciou-se a discussão
atribuída importância para a arte. sobre uma nova Lei de Diretrizes e Bases da
Neste sentindo o nome dado a disciplina que Educação Nacional, e em 1996 sancionou-se a
abordava de forma integrada as linguagens L.D.B. nº9.394,1996, que está em vigor até a
cênicas (dança), plástica e musical foi educação presente data e que enfatiza em seu artigo 26
artística. No entanto essa não foi a primeira “O ensino da Arte constituirá componente
iniciativa de valorização da dança, pois já em curricular obrigatório, nos diversos níveis da
1971 a L.D.B. (Lei de Diretrizes e Bases da educação básica, de forma a promover o
Educação de 11 de agostos de 1971), introduziu desenvolvimento cultural dos alunos”.
o ensino de arte no currículo escolar da Tal lei propõe em termos de contribuição
educação básica, mas de forma não obrigatória. para a Arte, e que reflete na dança, uma, maior
Acredita-se que ao ser inserida na educação autonomia para as escolas trabalharem o
infantil a dança é uma forte ferramenta para a ensino da Arte dentro do seu currículo, com o
vida escolar dos pequenos, contudo para que objetivo de formação de valores, possibilitando
isto ocorra é imprescindível que o clima escolar ao aluno um olhar mais crítico em relação ao
seja favorável e que os profissionais estejam ensino da arte. O Artigo 2º. Da L.D.B.E. nº
dispostos a mediar essa ação. 9.394-96 afirma que:
Laban (1990), relata que: A educação, dever da família e do Estado,
Os movimentos na dança se manifestam na inspirada nos princípios de liberdade e nos
riqueza dos gestos e nos passos utilizados no ideais de solidariedade humana, tem por
dia-a-dia: em qualquer ação o homem faz uso finalidade o pleno desenvolvimento do
de movimentos leves ou fortes, diretos ou educado, seu preparo para o exercício da
flexíveis, lentos ou súbitos, controlados ou cidadania e sua qualificação para o trabalho
livres (LABAN, 1990). (BRASIL,1996, s.p).
Assim, propõe-se a valorização desta Segundo o artigo a uma possibilidade da
temática como atividade geradora de formação da autonomia, ou seja, que o sujeito
desenvolvimento intelectual, social e tem o direito de fazer suas escolhas e
emocional, proporcionando a integração do

202
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolver as ideias, proporcionando ao aluno oferecer, visto que a dança ajuda na


o direito a expressão artística. socialização, afetividade e liberdade de
Outro aspecto importante que deve ser movimentos e expressões.
considerado é evidenciar o que tange o ensino Portanto, é importante ressaltar que a dança
da Arte como disciplina obrigatória, apesar das deve ser vista como um fator crucial para o
reformulações da Lei de Diretrizes e Bases da desenvolvimento motor e social da criança, e
Educação Nacional promulgada em 1996, em deve estar inserida nas aulas de educação
que a Arte parece como disciplina obrigatória infantil fazendo parte do planejamento
no currículo escolar, ela foi durante 24 anos pedagógico do docente, além de ser valorizada
considerada “atividade” escolar. dentro do currículo escolar.
Logo é necessário ter em mente as diversas
definições e transformações que a infância A DANÇA E A AÇÃO DOCENTE
sofreu ao longo da história e hoje é
A dança é uma forma de expressão corporal
fundamental que a educação infantil tenha uma
natural. Trata-se de uma forma de expressar
fundamentação política com alicerces
sentimentos e sensações por meio do
adequados tendo sempre os pequenos como
movimento, uma forma de falar com seu
centro principal.
próprio corpo. Assim dançar é transmitir a si e
Dessa maneira, assumir Arte como disciplina
ao outro um conhecimento de infinitas
obrigatória do currículo parece que tem sido
possibilidades.
um processo e tanto para os profissionais da
Neste sentido, seu aspecto educacional deve
área em tantas outras necessidades que o
ter como pressuposto básico a interação aluno
currículo pede. De acordo com o artigo 12º da
e professor, acredita-se que se trata do suporte
LDB nº5692-71:
estrutural para a concretização do fenômeno
O regimento escolar regulará a substituição
educativo.
de uma disciplina, área de estudo ou atividade
Desse modo, entende-se que o professor
por outra a se atribua idêntico ou equivalente
deve proporcionar situações que permitam
valor formativo, excluídas as que resultem do
desenvolver as habilidades de acordo com a
núcleo comum e dos mínimos fixados para as
faixa etária em que o aluno se encontra, por
habilitações profissionais, (BRASIL,1971, s.p).
meio do interesse que leva a ação e propor
Sendo assim o ato de dançar proporciona um
desafios que possibilite o aluno criar, desafiar e
desenvolvimento sadio aos pequenos. Ao
inovar.
dançar a criança vivência sua infância com
Um exemplo bastante significativo dessa
possibilidades de conhecer diversas culturas e
situação é o sistema de avaliação a que a arte
seu crescimento ocorre de maneira equilibrada
dever ser submetida dentro das quatro paredes
em seus aspectos físicos e emocionais, além de
da escola. A avaliação quantitativa exigida por
ter sua criatividade mais aguçada.
nosso sistema escolar, mesmo que auxiliada
Esta ação proporciona aos pequenos
por avaliações processuais, não nos permite
responsabilidades, criatividade, enfim elas
explorar aquilo que significa uma das grandes
aprendem alguns saberes que ninguém poderá
riquezas no mundo da produção artística: O

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

debate entre críticos a impossibilidade de são aleatórios. Estes obedecem a padrões


consenso, a subjetividade implícita não sociais e econômicos, ou nascem da
exclusiva, a variedade de respostas e necessidade latente do homem de expressar
julgamentos frente a um mesmo trabalho seus sentimentos e emoções, desejos e
artístico de acordo com conceitos, gostos, interesses, sonhos ou realidade, por meio das
expectativas, visões e mundo. A avaliação formas diversas de dança.
qualitativa, que raramente pertence ao mundo Morgada Cunha (2000, p.96), afirma que:
de nossa escola básica – e tampouco ao de A dança criativa possui características,
muitas escolas de dança – ainda é um ideal, ou valores e finalidades eminentemente
uma transformação radical a ser perseguida educativas, por isso ela deveria integrar os
pelos professores de arte-dança (MARQUES, currículos escolares desde a pré-escola até a
2001, p.53). Universidade. O que se alerta então é que o
O papel do professor ao ensinar a dança, não preconceito é grande em relação à dança e sua
deve direcionar o aluno dizendo o que ele deve natureza, uma vez que falar dessa questão
ou não fazer, como uma mera repetição de implica em dizer que alguns jovens ainda
passos, mas sim o que ele pode realizar com seu pensam que “isso é coisa de mulher (CUNHA,
instrumento artístico, o próprio corpo. Entende 2000, p.96).
–se que deve apenas fazer uma mediação como O trabalho com o corpo é para algumas
controlar o movimento, a fim de que ele pessoas ainda um medo a ser vencido. Muitos
responda eficientemente á suas necessidades alunos têm receio de se mostrar, de se
expressivas por meio dos princípios da forma envolver, ser tocado e sentindo pela dança, pois
artística, auxiliá-los na composição e no sabe-se que por muito tempo a igreja católica
julgamento de seus esforços artísticos, foi difusora dessa ideia de proibições, e
expondo os mesmos a uma grande variedade condenou esses atos que prevalecem vivos e
de estímulos e efeitos criativos, ampliando presentes nas atitudes e comportamentos de
assim, sua experiência e visão para as muitos jovens em relação a dança na escola.
potencialidades expressivas. Se o balé vestiu os pés em sapatilhas de
Neste sentido, a criança consegue se cetim, ocultando a superfície do corpo e sua
aprimorar em consciência e equilíbrio corporal, força de trabalho atrás de uma cobertura que
coordenação, orientação espaço-temporal, representava a feminilidade macia e graciosa e
criatividade, ritmo, espirito grupal, auto estima, se dança moderna bravamente despiu o pé
aprimoramento físico e mental. para simbolicamente assegurar seu contato
Na rede pública de ensino existem poucas com a terra, a musa da dança pós-moderna usa
escolas que desenvolvem este tipo de trabalho tênis, não simbolizando nada, provendo a
diretamente, em que são ressaltados os rapidez e a leveza das sapatilhas de ponta, mas
benefícios da dança para o desenvolvimento do também o conforto, mantendo uma distância
homem consciente e atuante na sociedade. fria e humana da terra enquanto garante que os
De acordo com Nanni (2003), a evolução e o pés fiquem firmes no chão (BANES, 1987, p.17)
progresso da dança por meio da história não

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

É válido ressaltar que pedagogos como governamentais nesta área, em relação à


licenciados afins, procurem esclarecimentos pesquisa, formação de professores e apoio a
práticos e teóricos com pessoas que tenham divulgação da dança.
contato direto com a dança, para que essas Vale ainda lembrar, mesmo que nosso
dúvidas sejam trazidas à tona dentro das salas assunto seja a dança na escola e, portanto,
de aula e essa ideia de preconceito seja menos carregada da tradição da dança em si,
esclarecida para muitos alunos. É importante que os ideais de corpos para aqueles que
lembrar que existem poucos livros no Brasil dançam (magreza, flexibilidade, juventude),
com a bibliografia destinada à dança na escola ainda estão muito presentes em nossa
como forma de conhecimento e transformação. sociedade. As aulas de dança podem se tornar
Marques (2007, p.108), afirma, “é por meio da um verdadeiro campo de concentração para
dança, que os sentimentos cognitivos se aqueles que não atendem as expectativas
interagem aos processos mentais”. O autor (mesmo que inconscientes) dos professores de
expõe algumas questões a serem pensadas: dança em relação ao corpo “apto” para esta
Quais são, por exemplo, os ensinamentos em disciplina. O reverso da moeda, no entanto,
relação ao gênero contidas nos movimentos de pode ser trabalhado por meio das aulas de
quadrilha? O que as danças veiculadas pela dança: uma visão crítica experimentada e vivida
televisão estariam ensinando as nossas crianças sobre o corpo em sociedade e suas relações
sobre sexualidade? Por que o professor com a moda, a mídia, a medicina, (MARQUES,
privilegia as danças populares em detrimento 2007, p.28).
do repertorio pessoal de movimento de cada Na sala de aula existe uma diversidade de
aluno? Isso comprova que a dança acontece corpos e, no entanto, quem pode dançar e
muito antes do ato de dançar, (MARQUES, quem não pode dançar. A proposta de Marques
2007; p.62). (2007), denota o esclarecimento que todos
Reforça-se mais uma vez que, pela primeira podem dançar, desmistificando o que é
vez a dança é vista em documento nacional parâmetro para ser dançarino. A autora
como linguagem especifica de Arte, separada demostra e deixa claro que todas as pessoas
do teatro. No entanto continua com a falta de têm qualidades para escolher e querer o
profissionais qualificados para ensiná-la em próprio estilo de dança, e descobrir o seu
nosso país, pois como já foi citado potencial explorando as diferentes escolhas e
anteriormente, existem poucos livros de dança diferentes gêneros musicais.
traduzidos para o português, o que dificulta Neste sentindo prevalece o preconceito
sem dúvida o trabalho e a inserção dessa contido no imaginário, onde algumas pessoas
“disciplina” no currículo escolar. afirmam que certo tipo de dança é “só de
Os PCN’s (1998), são um ótimo referencial mulher”. No entanto, como o professor deve
para o professor trabalhar de forma qualitativa trabalhar esses temas dentro das salas de aula
o trabalho artístico educativo, documento este de maneira a deixar a criança expandir seus
que veio também reforçar a necessidade de movimentos de forma livre e quando for
maior atenção das universidades e dos órgãos necessário mediar a atividade. A fim de acabar

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com o preconceito referente a dança, de modo o que possibilita a construção de competências


a saber e aceitar as diferenças inerentes a para lidar com a Arte de maneira ampla em sua
condição humana, pois ainda se encontram, em vida pessoal e social.
alguns casos, questões como: A formação docente nesse sentindo se faz
Preconceito que ainda prevalece no meio necessária, é importante que o professor
artístico ligado à dança e a idade ao corpo. conheça a Arte, portanto a dança, como
Aprende-se mais na infância ou na juventude? componente formador e a utilize forma a
Ou na idade adulta? Reitera-se que a dança não possibilitar ao aluno desenvolver suas
tem limite etário. Não há limite etário para diferentes habilidades no campo educacional.
dançar. Portanto para que isso ocorra é necessário
A dança não dita a orientação sexual do que se invista em cursos de formação, para que
indivíduo, esse tema pode ser usado para esses profissionais tenham suporte para
debates, problematização e questionamentos trabalhar dentro das escolas, e assim
sobre o corpo, sobre o que está mudando, as desenvolver projetos, nos quais os alunos
transformações que estão ocorrendo. Concebe- possam ser atores atuantes de suas próprias
se que o ideal é que o aluno saiba conviver com produções, pois entende-se que só assim este
isso sem preconceito, não criando modelos do tema irá fazer sentindo para quem ensina e
que é ou não feminino. para quem aprende.
“A dança, como forma de conhecimento, de
experiência estética e de expressão do ser
humano, pode ser elemento de educação social
do indivíduo,” (MARQUES, 2001; p.16).
Nesse sentindo há a necessidade de
problematizar essas relações e contextualizá-
las em sala de aula. Conhecer o passado é
importante para compreender o presente e
ampliar o futuro, esse trabalho pode ser
pautado nas diferenças, sendo importante
lançar a pergunta, será que isso tem ligação ou
expressão com nossas vivencias sociais?
O que se observa a partir de tais reflexões é
que a dança como parte do currículo, assim
como, as necessidades de uma formação mais
especifica do professor, são questões que
privilegiam uma formação mais ampla do
aluno, pois se este conseguir conceber a dança
como parte de seu processo de construção,
ainda na infância terá oportunidade maior de
desenvolver suas habilidades em idade adulta,

206
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criança tem sua curiosidade natural, brinca espontaneamente e se diverte enquanto
aprende e por isso, o ambiente escolar, precisa reafirmar quanto aos procedimentos que possam
levar a preservação e uso racional do nosso meio ambiente.
Nota-se que a lei que fundamenta a educação infantil no Brasil (RCNEI, 1998), propõe que
o trabalho com atividades musicais seja fundamentado juntamente com as aulas de artes no
currículo escolar e garantindo à criança a oportunidade de vivenciar as questões musicais como
forma de conhecimento, desenvolvimento, aprendizagem e habilidades, contribuindo para sua
formação pessoal e social.
Contudo em tempos atuais a dança não é mais algo apenas para ser apresentado ou visto,
como um instrumento de apreciação. Essa ideia de dança está sendo desmitificada pelo mundo
contemporâneo, porque os profissionais vêm percebendo que ela pode ser usada como um
recurso nas escolas, com fins de inserção dos jovens para dentro das salas de aulas, possibilitando
trabalhar por meio arte vários conteúdos significativos.
Neste sentindo, o desafio que cabe aos educadores atualmente, diz respeito ao
estabelecimento de uma aproximação entre a Arte e educação, utilizando a dança como mais
uma forma para chamar a atenção dessas crianças, de modo a reduzir a marginalidade e a
violência que se tem sofrido no cotidiano escolar, uma vez que a dança propicia o
desenvolvimento da criatividade pessoal e coletiva, a apreciação e a sensibilidade, buscando
dessa forma o alcance das qualidades físicas e psíquicas próprias da infância.
Compreende-se que ao se pensar e falar em dança na sala de aula é preciso vê-la como
uma aliada indissociável do desenvolvimento das crianças, visto que existem diversas áreas do
saber que trabalhadas de forma lúdica, que na educação infantil, é de extrema importância a
aprendizagem significativa das crianças.
Portanto, ao relacionar com critério e objetividade o repertório apresentado nas aulas de
expressão musical e corporal, o intuito é de proporcionar às crianças um conhecimento gradativo
de diferentes gêneros e estilos musicais, de forma que, estar-se-á desenvolvendo a verdadeira
aquisição do conhecimento, sensibilidade, criatividade e gosto artístico.
O conhecimento sobre a música se constrói junto com os alunos, entendendo e
respeitando como as crianças se expressam musicalmente em cada fase, para, a partir daí,
fornecer os meios necessários para elaborar, materiais referentes ao desenvolvimento desta
capacidade expressiva.
De modo que muitas são as possibilidades de se trabalhar essa temática com as crianças e
assim valorizar os instrumentos, jogos e brincadeiras que são desenvolvidos nesses momentos
lúdicos. Esse trabalho teve a intenção de contribuir na maneira de ver a dança como um
componente constitutivo da área de conhecimento Arte, que relacionada com as demais áreas de
conhecimento, que quando trabalhada pelo docente contribui para a construção do pensamento
artístico e da percepção estética, desenvolvendo na criança a criatividade, a percepção e a
imaginação.

207
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Logo, pode-se entender que a dança favorece ao aluno relacionar-se de forma criadora e
autoconfiante com as demais áreas do currículo, auxiliando os professores no processo de ensino
e aprendizagem de diferentes áreas do conhecimento.

208
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Wilson Alves de Paiva.

OSSONA, Paulina. A educação pela dança. São Paulo: Summus, 1988.

209
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A EDUCAÇAO INCLUSIVA E SUAS IMPLICAÇÕES


NO CONTEXTO ESCOLAR
Rose Soraya Duarte Siqueira 1

RESUMO: O artigo apresenta uma análise acerca da educação especial numa abordagem
histórica e social permeando a legislação vigente no Brasil.Nessa análise fica evidente que a
legislação referente especificamente a Educação Especial se transformou muito ao longo dos anos
onde o foco, sobretudo, se concentra numa educação inclusiva de qualidade e acessível a todos
os alunos. Nesse âmbito não percebemos a nítida realidade do sistema público educacional
brasileiro, na qual os profissionais da educação, alunos e seus familiares se deparam com
inúmeras dificuldades seja pela ausência de recursos humanos habilitados ou pela carência de
recursos estruturais adequados para o atendimento educacional especial de qualidade a todos.

Palavras-Chave: Educação; Inclusão; Escola.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Letras; Especialização em Educação Especial.
E-mail: soraya_siq@yahoo.com.br

210
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Neste aspecto, a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional rechaça como a questão dos
O artigo tem por objetivo analisar aspectos alunos com necessidades especiais estava
históricos e sociais do atendimento educacional sendo pensada aqui no Brasil. A preocupação
especializado mediante uma perspectiva com o fornecimento de uma educação de
inclusiva. Há alguns anos não víamos crianças qualidade e que ao mesmo tempo atendesse as
com necessidades especiais nas escolas e nas necessidades específicas de cada grupo,
ruas, certamente havia um considerável “assegurando a terminalidade específica
número crianças deficientes escondidas em àqueles que não atingiram o nível exigido para
seus lares sobre a responsabilidade somente de a conclusão do ensino fundamental, em virtude
seus familiares como se eles fossem culpados de suas deficiências e, a aceleração de estudos
pelos erros de formação ou de genética de seus aos superdotados para conclusão do programa
filhos. escolar”, fizeram parte do debate que resultou
Esta situação tem-se modificado ao longo na LDB(1996).
dos anos. A educação escolar é direito de todos A chegada dos anos 90 representaram uma
e cabe a nós educadores cumprir nosso papel ruptura com a visão estadista, pois com a
de mediadores rumo à garantia desse direito, Declaração de Salamanca (1994), e a extensão
com qualidade e respeito, conforme gradual do direito à Educação a todos
assegurado pelo Estatuto da Criança e do demonstram o fim das barreiras à
Adolescente(1990). universalização da Educação e o início de uma
Tendo isso como base para nosso trabalho preocupação efetiva por parte do Ministério da
em sala de aula, podemos perceber a Educação em oferecer uma educação de
necessidade que os profissionais da educação qualidade aos especiais.
têm de formação e informação no que tange à Essas mudanças puderam ser verificadas a
inclusão adequada de todos na sociedade partir de 1999 com o Decreto n°3.298 que
promovendo assim a valorização do ser regulamenta a Lei n°7.853/39, que garantia a
humano. inserção e integração da pessoa com
deficiência ao sistema de educação regular.
MARCOS HISTÓRICOS NA Estas ações da Legislação brasileira sofreram
grande influência da Convenção de Guatemala
EDUCAÇÃO INCLUSIVA (1999), que mostrou seu efeito, sobretudo na
Analisando a legislação brasileira para a promulgação do Decreto n°3956/2001, no qual
educação inclusiva concluiu-se que, até a se ratifica os direitos humanos a todos,
década de 1980, esta tinha um caráter inclusive aos deficientes, caracterizando
basicamente assistencialista e paternalista. Tais descriminação toda exclusão ou diferença que
políticas sinalizavam a oferta de serviços na impeça o direito de uma educação de qualidade
proposta de reabilitação e adaptação social do aos mesmos. O documento Política Nacional de
indivíduo ao meio, cabendo à pessoa com Educação Especial na Perspectiva da Educação
deficiência adaptar-se ao meio e não, o Inclusiva determina, “este Decreto tem
contrário.

211
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

importante repercussão na educação, exigindo deliberações da LDB. Tanto que uma das mais
uma reinterpretação da educação especial, recentes deliberações do Conselho Estadual de
compreendida no contexto da diferenciação Educação do Estado de São Paulo, a
adotada para promover à eliminação de Deliberação CEE n°68/2007 reforça grande
barreiras que impedem o acesso a parte das questões abordadas por esta
escolarização,” (2008, p.9). pesquisa. O primeiro artigo já resume algumas
Em 2001, as Diretrizes Nacionais para a das idéias expostas aqui, como a questão da
Educação Especial, por meio da resolução busca por atender as necessidades
CNE/CEB n° 2/2001 no artigo 2º, determinaram educacionais que deixem o aluno com
a obrigação de todos os sistemas de ensino em necessidades especiais em iguais condições ao
matricular alunos com deficiência, fazendo com aluno regular.
que estas instituições estivessem aptas para Art.1° - A educação, direito fundamental,
recebê-los, assegurando assim as condições público e subjetivo da pessoa na modalidade
básicas para oferecer uma educação de especial, é um processo definido por uma
qualidade a todos. proposta pedagógica que assegure recursos e
Ainda no mesmo ano, o Plano Nacional de serviços educacionais especiais, organizados
Educação (PNE) pela Lei n°10.172/2001 institucionalmente, para apoiar, complementar
demonstra sua intenção de construir uma e suplementar o ensino regular, com o objetivo
Escola Inclusiva que consiga englobar toda essa de garantir a educação escolar e promover o
diversidade humana e ao mesmo tempo desenvolvimento das potencialidades dos
oferecer aos alunos um atendimento que supra educandos que apresentam necessidades
as suas necessidades, quer sejam elas físicas ou educacionais especiais, (SÃO PAULO,, 2007, p.
intelectuais. 1).
Tanto em 2003 quanto em 2004 foi possível De uma forma geral, as Leis de Diretrizes e
observar a ação do Ministério da Educação em Bases visam além proporcionar uma educação
parceria com o Ministério Público Federal na adequada, a esta parcela comumente
organização deste atendimento aos “especiais” despercebida pela sociedade, buscam também
da educação, pensando, sobretudo, na inseri-la no mercado de trabalho, por meio da
acessibilidade. vinculação entre vida escolar e trabalho.
Com o mesmo intuito o Decreto n°5.296/04 Há, contudo, críticas a abordagens da
de 2004 regulamentou leis que promovessem LDB(1996), no tocante aos termos
ações em prol da acessibilidade e locomoção generalizantes que se utiliza para descrever os
das pessoas com algum tipo de deficiência e/ou deficientes, os quais acabam sendo
problemas de mobilidade reduzida aos meios considerados rótulos das pessoas que possuem
de ensino. algum tipo de deficiência, à medida que
É importante lembrar, no entanto, que este reconhecemos muitas dificuldades de
debate continua presente nos meios sociais, aprendizagem entre diversos outros grupos.
acadêmicos e instituições públicas gerando
muita discussão acerca das interpretações das

212
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

UM NOVO OLHAR ACERCA DA em sala de aula. Em alguns ela atenção de


profissionais multidisciplinares capacitados
EDUCAÇÃO INCLUSIVA interagindo com o professor da sala regular e
Na inclusão escolar idealizada pelos até mesmo a família.
estudiosos todos os alunos são aceitos e A educação especial é o segmento da
educados em salas regulares e recebem educação que trata dos excluídos, aqueles que
oportunidades adequadas às suas habilidades e por características próprias físicas ou mentais
necessidades. O princípio orientador da enfrentam dificuldades em participar
Declaração de Salamanca de 1994 é de que ativamente da sociedade em todos os seus
todas as escolas deveriam receber todas as aspectos
crianças independentemente das suas A verdadeira escola inclusiva não exclui
condições físicas, sociais, emocionais ou aqueles que possuem dificuldades severas, mas
intelectuais, (CARVALHO, 1998, p.8). se mostra aberta à diversidade e apresenta
Sabemos que no Brasil as dificuldades e a propostas de atividades adaptadas às
falta de estrutura ainda são de proporções necessidades dos alunos valorizando as
assustadoras. Inúmeras são as atitudes diferenças.
governamentais que poderiam fazer a Essa escola parte do pressuposto de que
diferença na educação brasileira, para todas as crianças podem aprender e fazer parte
educadores e educandos. Na sala de aula não da vida escolar e comunitária. A criança,
podemos esperar que a formação venha independentemente de suas especificidades,
automaticamente, a profissão nos exige a busca deficiências, síndromes ou limitações deve ter
constante visando a construção de novos assegurado seu atendimento na classe de
conhecimentos agregando novas experiências ensino regular.
e conhecimentos por meio de pesquisas, Educando todos os alunos juntos, as pessoas
cursos de aperfeiçoamento, reuniões com deficiências têm oportunidade de
pedagógicas, entre outras, são algumas formas preparar-se para a vida na comunidade, os
de juntos, tentarmos solucionar alguns professores melhoram suas habilidades
problemas de sala de aula além de configurar- profissionais e a sociedade toma a decisão
se uma busca de formação contínua. consciente de funcionar de acordo com o valor
Quando os professores recebem as social da igualdade para todas as pessoas, com
informações as leis já estão em funcionamento. os consequentes resultados de melhoria da paz
Percebemos que o corpo docente é totalmente social(KARAGIANNIS, SAINBACK & STAINBACK,
a favor da inclusão, o que nos deixa aflitos são 1999, p.21).
os fatores que envolvem a carência de recursos Em relação às atividades pedagógicas, há a
físicos e estruturais e a formação, os quais possibilidade de adaptações tanto para as
sejam adequados, além de profissionais propostas acadêmicas quanto às de
especializados. Nem sempre a criança com movimento.
necessidades educacionais especiais necessita Os princípios contidos na Lei Diretrizes e
de um professor auxiliar ou de monitoramento Bases da Educação(1996), e no Plano

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nacional(2014), de Educação determinam que Regular passou a ser considerada como o


a escola se mobilize para estruturar um ambiente indicado para fornecer educação a
conjunto de ações e providenciar recursos todos, encarando assim de frente os problemas
necessários que garantam o acesso e a da exclusão e descriminação dos diferentes.
permanência de todos os alunos, promovendo O ambiente escolar sofreu algumas
um ensino que respeite as especificidades da transformações passando a ser adotado como
aprendizagem de cada um. um local de convergência da pluralidade, na
No entanto não despercebemos a nítida prática, porém, essas mudanças não surtiram
realidade no sistema educacional brasileiro. As muito efeito, sendo que as escolas continuam
principais dificuldades encontradas pelo corpo no processo de garantir atendimento
docente atualmente estão as mesmas apropriado a estes alunos.
existentes em qualquer escola pública Para efetivarmos o processo de inclusão
brasileira, a saber, formação insuficiente dos escolar precisamos definir quem realmente faz
professores, baixos salários, falta de apoio parte da Educação especial. De acordo com a
pedagógico, infraestrutura e condições de Deliberação CEE n°68/2007, este grupo é
trabalho precárias de acordo com Castro e bastante diversificado.
Jusevicius, (2002). Entre as necessidades Art. 3° - Consideram-se educandos com
mencionadas pelos autores podem-se destacar: necessidades educacionais especiais:
a formação específica e continuada dos I – alunos com deficiência física, mental
educadores, a orientação na prática cotidiana, sensorial, e múltipla, que demandem
o apoio familiar e técnico, a redução do número atendimento educacional especializado;
de alunos nas classes e alterações nas II – alunos com altas habilidades,
condições estruturais das escolas. superdotação e grande facilidade de
Com base nessas informações, pode-se aprendizagem, que os levem a dominar,
perceber que são necessárias mudanças rapidamente, conceitos, procedimentos e
profundas no sistema educacional vigente a fim atitudes;
de garantir o cumprimento dos objetivos da III – alunos com transtornos invasivos de
educação especial inclusiva. desenvolvimento;
IV – alunos com outras dificuldades ou
ATENDIMENTO EDUCACIONAL limitações acentuadas no processo de
desenvolvimento, que dificultam o
ESPECIALIZADO acompanhamento das atividades curriculares e
Por muito tempo foi defendido que as necessitam de recursos pedagógicos adicionais,
pessoas com necessidades educacionais (BRASIL, 2008, p.1).
especiais deveriam receber algum tipo de O terceiro artigo da Deliberação CEE
atendimento especializado paralelo a sua n°68/2007, revela com clareza as barreiras que
educação regular. Entretanto com a esta pluralidade impõe a organização escolar,
reformulação leis, conceitos e posturas no no entanto essas definições não devem ser
decorrer da história da educação a Escola pensadas como meras categorias isoladas. É

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

necessário pensar também que as pessoas


vivem em constantes transformações o que
implica a importância da escola cultivar um
ambiente heterogêneo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso país segue um modelo de educar originário de outros países, embora a idéia não
seja ruim o que falta-nos é adequar esses modelos de forma a combinar com a nossa realidade e
à nossa cultura.
A Legislação que trata especificamente sobre a Educação Especial se transformou muito ao
longo dos anos. Podemos afirmar até que ocorreu uma evolução gradativa das leis brasileiras em
prol da pessoa com deficiência, isso somente demonstrava a interação do Brasil com as
tendências mundiais em destaque no período.
A educação não pode ser incompleta, o indivíduo que adquire conhecimento o carrega
para sempre, mesmo que este tenha limitações ele precisa ter acesso as informações necessárias
para seu convívio em sociedade para que possam ter mais oportunidades ao direito de uma vida
digna e justa.
No que que se refere a Educação Especial, sabemos que ainda falta muito para que
possamos fazer diferença significativa para alunos, seus familiares e educadores.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação. Formação Continuada a Distância de Professores para o
Atendimento Educacional Especializado. Secretaria da Educação Especial.
MEC;SEED;SEESP: Brasília, 2007.

BRASIL,MEC. Documento elaborado Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial


n° 555, de 5 de Junho de 2007, prorrogada pela Portaria n° 948, de 9 de outubro de 2007.
prorrogada pela Portaria nº 948/2007, entregue ao Ministro da Educação em 07 de janeiro de
2008.

BRASIL,MEC. Indicação CEE nº 70/2007CEB – publicada no DOU de 19/7/2007, Aprovada em


13-6-2007 – Normas para a Educação Especial. Brasília, 2008.

BRASIL,MEC. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação


Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008b.

BRASIL,MEC. Leis da Educação Especial. Disponível em: < htpp:// www.mec.gov.br>. Data
de Acesso:02/03/2020.

BUENO, J.G.S. Educação especial brasileira integração/ Segregação do aluno diferente.


São Paulo: EDUC/PUC,1998.

CARVALHO, R. E. Mudando de perspectiva: das necessidades educacionais especiais à


remoção de barreiras para a aprendizagem. Mediação, 1999.

KARAGIANNIS,A., STAINBACK,W. & SAINBACK,S. Fundamentos do ensino inclusivo. Em


S. STAINBACK e W. STAINBACK (Orgs.). Inclusão – Um Guia para Educadores (pp. 21 – 34).
Tradução de M. França. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

SÃO PAULO. Deliberação CEE Nº 68/2007 – Normas para a Educação Especial. Brasília, 2008.

SATO, C.; CARDOSO, A. M.; TOLOCKA, R.E. A inclusão de pessoas com necessidades
educativas especiais nas escolas regulares: Receio ou Coragem? In: VENÂNCIO, S.; 2002.

UNESCO. Declaração de Salamanca. Necessidades Educativas especiais-NEE. In:


Conferência Mundial sobre NEE. UNESCO. Espanha, 1994.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A ESCOLA INCLUSIVA E O ATENDIMENTO


EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA
ESTUDANTES COM SURDEZ
Marinalva Aparecida Vieira Mariano da Costa 1

RESUMO: Considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage
com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo
uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras,” (BRASIL, 2005).No começo, os surdos brasileiros não
contavam com nenhuma educação, assim como nos outros lugares do mundo eram jogados à
margem da sociedade, com muita luta no decorrer de vários anos, essa comunidade conquistou
o direito de estarem matriculados na sala regular e ter um Acompanhamento Educacional
Especializado como apoio para terem uma educação de qualidade.

Palavras-Chave: Atendimento Educacional Especializado; Libras; Surdez.

1Professora de Atendimento Educacional Especializado (PAEE) na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Surdez Libras/Tradução e Interpretação; Especialista
em Educação Especial e Inclusiva e Educação Especial com Ênfase em Deficiência auditiva, visual e
Surdocegueira.
E-mail: Marinalvavmcosta@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO necessário mudar conceitos e paradigmas dos


envolvidos nesse processo de inclusão.
As pessoas com surdez por muito tempo Para a efetivação da política de inclusão, é
foram marcadas pelo isolamento, não imperativo também que os profissionais de
possuíam nenhum acesso à sociedade, nem educação que compõem a escola mudem de
sequer com sua família, pois na época eram atitude, repensem sua prática, sua maneira de
considerados por todos como indivíduos sem ensinar, de ver o mundo e o ser humano,
utilidade alguma, sendo excluídos de toda e pensem seus valores, enxerguem o outro como
qualquer situação. Todos que não faziam parte um ser de relações, capaz de aprender, mudar
dos padrões exigidos pela sociedade eram e transformar a organização institucional
percebidos como seres desqualificados e também precisa mudar sua estrutura e cultura,
inferiores. (MACHADO, 2008, p. 47).
Em algumas épocas, as pessoas surdas eram Para que a criança surda esteja totalmente
mortas, jogados ao mar, sacrificadas, incluída em uma escola, é necessário que o
rejeitadas, abandonadas, ou achavam que a Decreto 5626/2005 seja cumprido em sua
surdez era um castigo, não convivendo com as totalidade, é de extrema importância que o
demais pessoas. estudante surdo tenha acesso a Língua
Com muita luta e com o auxilio de vários Brasileira de Sinais, não somente ela mas, todos
documentos ao longo dos tempos, as pessoas seus amigos de sala, a equipe escolar, a
surdas conquistaram o direito de ser cidadão e comunidade e principalmente a família, só
de estar dentro de uma escola regular de assim a verdadeira inclusão acontecerá, sem
ensino junto com todas outras crianças e de ter discriminações e sem que o aluno surdo sinta-
sua diferença linguística respeitada, além de ter se como um “peixe fora da água”, caso
como apoio o atendimento educacional contrário, é assim que se sentem. Como
especializado. relatado por alguns surdos na obra de Machado
Diante disso, o presente artigo tem como (2008).
objetivo dissertar sobre a garantia desse direito -Eu sempre perguntava para os professores,
e a legislação que o garante, além de discorrer mas eles só respondiam oralmente e eu não
sobre a funcionalidade do atendimento compreendia nada (S1)
educacional especializado na inclusão escolar -Vocês conseguiam conversar com os
das pessoas surdas. ouvintes (S1)?- Eu não conseguia conversar,
pois só falava em LIBRAS. (S 3). [...] Depende, às
AS CONQUISTAS vezes eu tentava oralizar, mas era muito difícil
Diante da conquista de ter sua língua e às vezes eu procurava falar em LIBRAS, mas
reconhecida, a luta agora é para que esses era méis difícil do que oralizar, porque os
direitos sejam efetivados, caso contrário, não professores e os alunos não compreendiam
resolve muita coisa, a lei não pode estar só no nada (S2) (p. 36;37).
papel, é preciso torná-la realidade, para isso é

219
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Esses relatos deixam clara a importância de Dessa forma, professores são responsáveis
se cumprir a lei, a escola inclusiva é uma escola por mudar sua prática pedagógica, isso só é
que acolhe a todas as pessoas, independente possível, quando refletirem e tomar
de condição social, limitações, todavia para conhecimento de que prática poderá utilizar-se
receber e acolher a todos com qualidade é para alcançar o progresso do aluno com surdez,
necessário levar em consideração as isso deve ser alcançado contando com o apoio
especificidades, diferenças de cada aluno, de todos os envolvidos no processo de
lembrando ainda que cada pessoa aprende de educação escolar.
um jeito e necessita de recursos diferenciados Um bom começo é ter conhecimento sobre
para transformar toda informação em as necessidades educacionais de seus alunos,
conhecimento. somente com esse conhecimento poderá agir
A Educação Inclusiva significa um novo em prol da aprendizagem do seu aluno.
modelo de escola em que é possível o acesso e [...] Para se tornar-se inclusiva a escola
a permanência de todos os alunos, e onde os precisa formar seus professores e equipe de
mecanismos de seleção e discriminação, até gestão, e rever as formas de interação vigentes
então utilizados, são substituídos por entre todos os segmentos que a compõem e
procedimentos de identificação e remoção de que nela interferem. Precisa realimentar sua
barreiras para aprendizagem, (GLAT, BLANCO, estrutura, organização, seu projeto político-
2007, p.16). pedagógico, seus recursos didáticos,
As práticas pedagógicas adotadas por metodologias e estratégias de ensino, bem
professores da escola comum em relação à como suas práticas avaliativas, (GLAT, BLANCO,
escolarização do aluno surdo, na maioria das 2007, p.16).
vezes não condizem com as necessidades Os estudantes surdos precisam de
educacionais desse público, as metodologias professores que tenham conhecimento sobre a
utilizadas por professores devem ser revistas e diferenciação linguística desse grupo, sua
modificadas, pois segundo Damázio (2007), as cultura, para que os conteúdos curriculares
práticas pedagógicas constituem o maior sejam entendidos por eles, caso contrário a
problema quando se fala em escolarização de aprendizagem e o conhecimento não farão
alunos surdos, e não as limitações auditivas, por parte da vida escolar e social desses alunos,
isso a autora afirma que. tornando-se apenas um número dentro da
Torna-se urgente, repensar essas práticas escola.
para que os alunos com surdez, não acreditem Muitos educandos têm suas matriculas
que suas dificuldades para o domínio da leitura aceitas por força da legislação e tornam-se um
e da escrita são advindas dos limites que a número nas estatísticas educacionais.
surdez lhes impõe, mas principalmente pelas Frequentam as aulas, são integrados nas salas
metodologias adotadas para ensiná-los, de aula, mas não incluídos e, muitas vezes,
(DAMÁZIO,2007, p. 21). tornam-se “invisíveis” aos olhos dos colegas e
de muitos educadores, que não atendem às
suas especificidades e singularidades,

220
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contribuindo para o fracasso e a exclusão educação básica, garante a Resolução CNE/CEB


escolar e social desses cidadãos, (MACHADO, nº 2, de 2001 em seu artigo 3.
2008, p. 47). Atualmente muito se fala a respeito do
Para que isso não ocorra, Mrech (1999), Atendimento Educacional Especializado,
apud, Machado (2008), disserta que a escola todavia, ainda falta muito para que ele se torne
deve criar “espaços de auxilio mútuo”, os uma efetiva realidade, apesar de ser um apoio
professores precisam estar mais próximos dos importante, Alvez, Ferreira, Damázio (2010),
seus alunos, observando suas dificuldades, coloca que essas dificuldades acontecem “em
além disso, trabalhar em parceria com os pais. virtude de problemas relacionados a decisões
Para Mrech o ambiente da escola inclusiva político-filosóficas, pedagógicas,
precisa ser a favor do processo do ensino metodológicas e de gestão e planejamento da
aprendizagem, reformulando conceitos escola brasileira”.
avaliativos e ainda os professores devem contar As autoras colocam ainda que o AEE está
com o apoio de profissionais especialistas, além pautado no ensino de duas línguas, a LIBRAS e
de ter formação continua para aperfeiçoar seus a Língua Portuguesa escrita, visando o pleno
conhecimentos para que a verdadeira inclusão desenvolvimento do aluno surdo, utilizando
aconteça. metodologias diversificadas que o levem a
Além disso, o aluno surdo deve dispor de um aprender a aprender, tendo acesso ao
acompanhamento especializado, conteúdo de forma mais significativa.
acompanhamento esse garantido por lei. O trabalho do AEE é desenvolvido de acordo
com os conteúdos do professor da sala comum,
O ATENDIMENTO por isso a importância do trabalho ser feito em
equipe, pois o AEE complementa a
EDUCACIONAL ESPECIALIZADO aprendizagem da sala comum, como relatam
O Atendimento Educacional Especializado Alvez, Ferreira e Damázio (2010):
(AEE) pertence à Educação Especial, uma A prática pedagógica do AEE parte dos
modalidade da educação escolar, é um recurso contextos de aprendizagem definidos pelo
educacional importante que a escola dispõe professor da sala comum, que realizando
para o estudante, na sua estadia na escola pesquisas sobre o assunto a ser estudado e
regular de ensino, porém, esse apoio não deve elabora um plano de trabalho envolvendo os
ser confundido como reforço escolar, e ainda conteúdos curriculares. O professor de AEE
não passar a responsabilidade do professor da entra em contato com esse plano de trabalho
sala regular para o professor especializado, a para desenvolver as atividades
Educação Especial é um apoio suplementar e complementares com os alunos com surdez. (p.
complementar ao da escola comum para 10).
garantir a educação escolar e promover o Dessa forma, o professor especialista do AEE
desenvolvimento das potencialidades desses não é o único responsável pela aprendizagem
alunos em todas as etapas e modalidades da do aluno surdo, mas o professor da sala comum

221
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e toda equipe escolar, pois o aluno é de comum e o professor de Língua Portuguesa,


responsabilidade de toda a escola. para que esteja a par do conteúdo desenvolvido
Segundo Damázio (2007), o AEE se divide em na sala comum, cujo objetivo do atendimento é
três momentos didáticos pedagógicos: emiti-lo em LIBRAS, utilizando recursos visuais,
momento do atendimento educacional como maquetes, imagens e até teatro, todo
especializado em LIBRAS na escola comum, esse trabalho deve ficar registrado no caderno
momento do atendimento educacional do aluno.
especializado para o ensino da LIBRAS (Língua Segundo Damázio (2007), o Atendimento
Brasileira de Sinais), momento do atendimento Educacional Especializado para o ensino de
educacional especializado para o ensino da LIBRAS acontece diariamente, também em
Língua Portuguesa. turno contrário ao da escola comum, a autora
Damázio (2007), disserta que o Atendimento coloca que o primeiro passo é efetuar um
Educacional Especializado em Libras na escola diagnóstico do aluno para saber em qual nível
comum deve ser diário, em turno contrário o da de conhecimento em LIBRAS o aluno se
escola regular, esse atendimento tem como encontra, visto que é a partir dele que o
foco explicar os principais conceitos dos trabalho do instrutor ou professor de LIBRAS é
conteúdos curriculares em LIBRAS, ou seja, a planejado.
essência da matéria que o aluno aprendeu na O trabalho do Instrutor de Libras é muito
sala comum, esse trabalho é desenvolvido por importante, pois ele deverá pesquisar em
um professor, de preferência surdo. livros, dicionários, internet e com outros
Sabendo que o surdo utiliza-se do visual para surdos, sinais que contemplem aos conceitos a
compreender o mundo, o espaço desse ser estudados, e ainda segundo a autora caso
momento pedagógico deve ser repleto de não existam sinais para termos científicos,
recursos visuais que contemplem o devem entendê-los e criar um sinal que venha
aprendizado do currículo a ser trabalhado. contemplar o conceito cientifico, esses sinais
Os materiais e os recursos para esse fim devem estar de acordo com a forma semântica
precisam estar presentes na sala de e léxica da Língua Brasileira de Sinais, após sua
Atendimento Educacional Especializado, quais criação os sinais devem ser registrados para uso
sejam: mural de avisos e notícias, biblioteca da nas aulas de LIBRAS.
sala, painéis de gravuras e fotos sobre temas de Damázio (2007), retrata ainda que os sinais
aula, roteiro de planejamento, fichas de pesquisados ou criados devem ficar registrados
atividades e outros, (DAMÁZIO, 2007, p.26). em um caderno, no qual o aluno possa
Damázio (2007), coloca que o professor que consultá-los.
desenvolve esse trabalho deve ter licenciatura Diante dessa responsabilidade o Instrutor de
e ter pleno domínio da Língua de Sinais, LIBRAS deve ser um profissional que esteja
desenvolvendo um trabalho de comunicação e disposto a estudar, pois deve sempre se
interlocução em todos os níveis de ensino e que atualizar, conhecer verdadeiramente sobre a
ainda deve estar presente na escola comum, Língua de Sinais, para que possa desenvolver
tendo parceria com o professor da escola um bom trabalho, dele dependem os sinais

222
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para definir conceitos para a compreensão dos não conhecimento da sua língua materna,
alunos surdos. assim o atendimento educacional
O último momento pedagógico citado por especializado, garante esse aprendizado, além
Damázio (2007), é o Atendimento Educacional da Língua Portuguesa.
Especializado para o ensino da Língua Todavia, esse atendimento ainda não é uma
Portuguesa, é realizado em salas de recursos realidade, como já citado, o atendimento aqui
multifuncionais, também em horário diferente dissertado foi desenvolvido pela autora em sua
da sala de comum. escola, a Ameduca, criada em 1995, a
A autora discorre que o regente dessa sala experiência vivenciada pela autora em sua
deve ser um professor que conheça a língua a escola, serviu de base para uma cartilha do
ser trabalhada, visto que o objetivo desse Ministério da Educação e Cultura sobre o
momento é desenvolver a “competência Atendimento Educacional Especializado para
gramatical ou linguística, bem como textual”, pessoas com surdez.
além disso, para que esses objetivos sejam Segundo a autora, essa escola foi fundada
alcançados a sala deve conter. devido as suas fundadoras presenciarem em
Riqueza de materiais e recursos visuais sua trajetória na Educação Especial, momentos
(imagéticos) para possibilitar a abstração dos de escolarização dos alunos surdos que não
significados de elementos mórficos da Língua deram certo.
Portuguesa. Por não acreditarmos no modelo de escola
Amplo acervo textual em Língua Portuguesa, seriada, que busca a homogeneidade e
capaz de oferecer ao aluno a pluralidade dos descarta a heterogeneidade, que respalda a
discursos, para que os mesmos possam ter reprovação em detrimento da aprovação,
oportunidade de interação com os mais criando falsas imagens do mundo que nos
variados tipos de situação de enunciação. rodeia, fundamos, em 1995, uma escola: a
Dinamismo e criatividade na elaboração de Ameduca. Esta escola pretende valorizar,
exercícios, os quais devem ser trabalhados em reconhecer, acolher as qualidades de todos os
contextos de usos diferentes, (DAMÁZIO, 2007, que nela convivem e questiona a produção das
p.38;39). diferenças no processo educativo. Suas
O trabalho do professor desse atendimento atividades estão pautadas na inclusão e nas
também é em conjunto com o professor de possibilidades humanas. Propomos, nessa
LIBRAS e da sala comum, esse professor dá escola, um percurso curricular não seriado que
continuidade ao trabalho, porém, usando os permite o acompanhamento dos alunos ao
conceitos específicos em Língua Portuguesa, longo do desenvolvimento da aprendizagem,
afirma a autora. uma vez que o conhecimento se dá em ciclos
Dessa forma, o conjunto desses momentos completos da vida do ser humano, (DAMÁZIO,
pedagógicos de forma complementar ao ensino 2005, p.33).
da sala comum, garante uma inclusão de
qualidade as pessoas com surdez, pois, uma das
dificuldades encontradas por alguns alunos é o

223
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A organização do atendimento educacional do que a autora coloca, pois é a LIBRAS que está
especializado citado pela autora é de extrema sendo oferecida em turno contrário à escola
importância para a escolarização do aluno comum.
surdo, porém, dentro de uma educação Dessa forma, o acesso ao conteúdo
bilíngue, em que o surdo possa ser respeitado curricular está sendo feito somente no
na sua diferenciação linguística, tendo acesso a momento pedagógico em LIBRAS, e não
sua língua materna nas dependências da escola, também durante as aulas, embora sejam
na sua sala comum, nesse sentido, a autora utilizados recursos visuais, não garante o
discorda desse pensamento, pois no seu acesso ao conteúdo, é necessária a presença do
conceito o aluno surdo só tem acesso á ela nos interprete de Língua Brasileira de Sinais em sala
momentos específicos. de aula, direito esse garantido por lei, caso
A comunicação entre alunos ouvintes e com contrário, o aluno não fará parte da sala de aula
surdez nas salas de aula é predominantemente comum, ou seja, a verdadeira inclusão não
feita em L2 oral e escrita. Na sala de aula, os acontece, visto que o conteúdo curricular em
alunos com ou sem surdez não são impedidos LIBRAS só é abordado no atendimento
de usar a L1 para se comunicar, entretanto, o educacional especializado.
professor cria e utiliza o canal da L2, De acordo com o Decreto 5626, de5 de
possibilitando aos alunos com surdez, a dezembro de 2005, as pessoas com surdez têm
oportunidade de aprender a leitura labial, a direito a uma educação que garanta a sua
leitura e a escrita de palavras, frases e textos, formação, em que a Língua Brasileira de Sinais
(DAMÁZIO, 2005, p.83). e a Língua Portuguesa, preferencialmente na
Nesse sentido, durante a estadia do aluno na modalidade escrita, constituam línguas de
sala comum, não há compreensão do currículo instrução, e que o acesso às duas línguas ocorra
trabalhado em sala de aula, pois a língua de forma simultânea no ambiente escolar,
utilizada nesse momento é a L2, a Língua colaborando para o desenvolvimento de todo
Portuguesa, e não a L1, a LIBRAS, nem mesmo processo educativo, (ALVEZ, FERREIRA e
é interpretada por um interprete dessa língua. DAMÁZIO, 2010, p. 9).
Sabendo que no momento pedagógico em É nesse momento que entra o papel do
LIBRAS, o aluno consegue compreender o interprete de LIBRAS, ele é o responsável pela
conceito do conteúdo, entende-se que durante tradução simultânea da Língua Portuguesa para
a aula na sala comum esse conceito não é a Língua Brasileira de Sinais.
construído pelos alunos surdos, não É o profissional que domina a língua de sinais
acontecendo assim uma inclusão verdadeira. e a língua falada do país e que é qualificado para
O Decreto 5626/2005 em seu artigo 16 deixa desempenhar a função de intérprete. No Brasil,
claro que a Língua Portuguesa na sua forma oral o intérprete deve dominar a língua brasileira de
deve ser oferecida ao surdo e ao deficiente sinais e língua portuguesa, (QUADROS, 2004,
auditivo, em turno distinto ao da escola regular, p.27).
com o apoio das áreas da saúde e ainda se a
família optar por essa modalidade, ao contrário

224
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A presença desse profissional está garantida


por lei no decreto 5626 de 2005 em que diz que
as escolas devem ser providas desses
profissionais, para que os alunos tenham
acesso às informações em tempo real, e assim
participar efetivamente da construção do seu
conhecimento. Nesse pressuposto, a presença
desse profissional no ambiente escolar é
indispensável.
Damázio (2007), deixa claro que os
momentos didáticos pedagógicos devem
acontecer diariamente em turno contrário ao
da sala comum, momento esse somente entre
seus pares. O aluno surdo necessita de um
atendimento especializado, mas o cuidado para
que esse não se transforme em educação
especial substitutiva ao ensino comum deve ser
tomado.

225
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As transformações ocorridas durante os anos levaram a compreensão de quais as
verdadeiras necessidades do estudante surdo para que haja interação com a família, escola e
sociedade.
Por meio das bibliografias, verificou-se que por muitos anos a população surda sofreu por
não terem acesso a educação, porém, com o decorrer da história e a elaboração de documentos
que levaram a promulgação das leis existentes hoje, garantindo o direito à uma educação de
qualidade ao lado de todas as pessoas, sendo respeitados suas especificidades educacionais
especiais, dentre essas conquistas o Atendimento Educacional Especializado que dá suporte e
complementando e somando para a evolução escolar do alunos surdos ou com deficiência
auditiva.
Todavia percebe-se que esse atendimento é algo novo, que necessita de expansão, o
direito a esse atendimento vem sendo garantido desde a Constituição Federal de 1998, porém,
somente em 2005 com o Decreto 5626/2005, passou a se tornar realidade.
Posto isso, considera-se que esse atendimento é de extrema importância para esse público
alvo, contudo ainda há muito que fazer para que os alunos surdos tenham acesso à educação de
qualidade e possam desfrutar de um ambiente favorável a sua vida educacional, dentre eles é ter
a sua disposição o atendimento que garanta isso.

226
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALVEZ, Carla Barbosa; FERREIRA, Josimário de Paula; DAMÁZIO, Mirlene Macedo. A
Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: abordagem bilíngue na
escolarização das pessoas com surdez. Brasília. Ministério da Educação, Secretaria da
Educação Especial. Fortaleza. Universidade Federal do Ceará. 2010.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
Disponível em:http://www.planalto.gov.br.Data de Acesso:22/02/2020.

BRASIL. Decreto nº 5626 de 22 de dezembro de. 2005, Brasília. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br. Data de Acesso:22/02/2020.

BRASIL. Lei 10436 de 24 de abril de 2002. Regulamentada pelo Decreto lei nº 5626 de 22 de
dezembro de. 2005, Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Data de
Acesso:22/02/2020.

DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação escolar da pessoa com surdez: Uma
proposta inclusiva. Universidade Estadual de Campinas. Campinas. 2005. Disponível in:
www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000374273. Data de Acesso:22/02/2020.

DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação escolar da pessoa com surdez: Uma
proposta inclusiva. Universidade Estadual de Campinas. Campinas. 2005. Disponível in:
www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000374273. Data de Acesso:22/02/2020.

GLAT, Rosana; BLANCO, Leila de Macedo. Educação Especial no contexto de uma Educação
Inclusiva; in: GLAT, Rosana. Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. 7 letras. Rio de
janeiro, 2007.

MACHADO, Paulo Cesar. A política educacional de integração /inclusão: um olhar do


egresso surdo. Florianópolis, Ed. Da UFSC, 2008.

QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de Sinais Brasileira:
estudos linguísticos. Artmed Editora, Porto Alegre, 2004.

227
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A FORMAÇÃO DIDÁTICA DE PROFESSORES


PARA A PRÁTICA NA DOCÊNCIA DO ENSINO
SUPERIOR
Daniela Sobral de Medeiros Bondioli 1

RESUMO: Este artigo tem como tema “A formação didática de professores para a prática na
docência do ensino superior”, enfatizando a necessidade de formação específica para docentes
que atuam em universidades e faculdades, compreendendo que a prática desses profissionais
deve estar voltada, principalmente, para a realidade dos alunos e para as suas necessidades.
Como questão central elencamos: como a formação didática do docente superior contribui para
a prática baseada no ensino-aprendizagem de elementos pertencentes à realidade do aluno, ao
que lhe será útil em sua vida acadêmica? Para elucidar o problema, objetivamos demonstrar a
necessidade e relevância da formação docente didática para atuar no ensino superior bem como
desenvolver um estudo teórico acerca das especificidades didáticas do acadêmico superior;
indicar necessidades e perspectivas em relação ao ensino-aprendizagem das instituições
superiores. A temática justifica-se em virtude de sua relevância e pertinência. Optamos pela
pesquisa de cunho qualitativo, por meio de pesquisa bibliográfica. Considera-se que a formação
superior e continuada deve incluir metodologias voltadas à didática, de maneira a que o professor
tenha melhores condições planejar adequadamente sua ação prática.

Palavras-Chave: Formação didática; Instituições superiores; Conhecimento.

1Professora de Ensino Fundamental II, na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura Ciências Biológicas; Especialização Docência do Ensino Superior.
E-mail: danielasmd@hotmail.com

228
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO formação docente que lhe dê subsídios para


orientar o cidadão e o profissional capazes de
Atualmente entende-se que a formação transformar o seu contexto social para melhor
didática de professores para a prática na e de solucionar problemas inerentes a um
docência do ensino superior é um tema de cotidiano em constantes mudanças.
grande relevância, pois grande parte dos De acordo com alguns autores, tanto o
profissionais desse âmbito de ensino não tem professor quanto o aluno ainda estão
formação didática, ou seja, são formados com arraigados numa proposta de educação
licenciatura em áreas distante do que requer a tradicional, que torna o processo de ensino
docência, como bacharéis ou graduados em improdutivo e alienado, no qual o que se
áreas gerais, como: administração, engenharia, privilegia, na maioria das práticas, é o acúmulo
enfermagem, medicina, contadores, etc. O que de conhecimentos e avaliações quantitativas,
faça com que exista a necessidade de formação desvinculadas de uma realidade emergente.
específica para docentes que atuam em A justificativa pela escolha do tema se deu
universidades e faculdades, compreendendo por considerar que a instituição superior
que a prática desses profissionais deve estar precisa adequar-se às práticas educativas e
voltada, principalmente, para a realidade dos metodológicas que atendam as novas
alunos e para as suas necessidades. exigências de formação postas pelas realidades
Em face das alterações contínuas que vêm contemporâneas, sempre baseadas nas
sendo processadas na sociedade, por meio da necessidades e realidade do aluno.
globalização, dos avanços tecnológicos de O tema deste estudo é a necessidade de
informação e da comunicação, e, ainda, diante formação docente para sua atuação no Ensino
dos modelos de excelência exigidos pelo Superior, pois ao que se constata ele adquire o
mercado de trabalho, as Instituições de Ensino conhecimento específico da área em que
Superior necessitam repensar o seu papel como atuará após sua formação, mas a aplicação
espaço de transformação social. destes na sala de aula está pautada em
Entende-se, dessa forma, que por elas planejamento, conteúdos e metodologias
estarem inseridas nesse contexto social de ultrapassadas ou descontextualizadas da
mudanças contínuas devem atender às realidade do aluno. Fala-se isso, pois a
necessidades sociais do momento e ao novo acessibilidade às informações e conhecimentos
perfil de aluno, para formar o profissional está bem próxima da realidade dos alunos, o
crítico e transformador, necessário à sociedade que se precisa, na verdade, é orientação sobre
atual, o que demanda professores aptos para como direcionar esses conteúdos e
isso. informações, como fazê-los chegar ao aluno.
Este estudo busca mostrar que o professor Discutem-se aqui os aspectos metodológicos e
formador do profissional do futuro não apenas as dificuldades enfrentadas por esses
deva ser um indivíduo capacitado em todas as profissionais no seu processo individual de
dimensões — científica, política, técnica, formação docente, bem como na transposição
humana e ética —, mas também tenha

229
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

profissional que os levou da teoria para a possam encontrar possíveis respostas e, assim,
docência. subsidiar o tema desenvolvido.
O problema que se apresenta é: como a Ratifica-se a pesquisa bibliográfica,
formação didática do docente superior classificando-a, conforme Marconi e Lakatos
contribui para a prática baseada no ensino- (2007, p.185), como exploratória, haja vista que
aprendizagem de elementos pertencentes à tratará o tema e suas vertentes à luz de
realidade do aluno, ao que lhe será útil em sua conceitos preexistentes.
vida acadêmica e profissional? a bibliografia pertinente “oferece meios para
Objetivamos demonstrar a relevância da definir, resolver, não somente problemas já
formação docente didática para atuar no conhecidos, como também explorar novas
ensino superior, bem como desenvolver um áreas onde os problemas não se cristalizaram
estudo teórico acerca das especificidades suficientemente” e tem por objetivo permitir
didáticas do acadêmico superior; explicar sobre ao cientista o reforço paralelo na análise de
o novo perfil de alunos do ensino superior e suas pesquisas ou manipulação de suas
como o professor pode trabalhar a pesquisa de informações, (MARCONI e LAKATOS,2007,
maneira a melhorar o desempenho destes; p.185).
indicar necessidades e perspectivas em relação A partir das leituras realizadas, será
ao ensino-aprendizagem das instituições desenvolvido o devido fichamento das mesmas
superiores. para que se possa argumentar, conceituar e
analisar, de maneira crítica, as ideias enfocadas.
METODOLOGIA Importa esclarecer que a escolha da
literatura buscará privilegiar obras atuais,
O estudo traçado para o desenvolvimento do
entretanto há casos em que obras mais antigas
artigo será uma pesquisa bibliográfica, de
serão referendadas, haja vista a sua
fontes secundárias, de maneira que esta
importância em relação ao tema e sua
embase a argumentação a partir de estudos e
influência sobre alguns autores
pesquisas de autores sobre o tema ou afins.
contemporâneos.
A respeito deste tipo de pesquisa, Marconi e
As fontes pesquisadas serão apenas livros e
Lakatos (2007), destacam:
artigos, fazendo-se desnecessários quaisquer
A pesquisa bibliográfica, ou de fontes
outros documentos escritos, ou seja, fontes
secundárias, abrange toda bibliografia já
secundárias.
tornada pública em relação ao tema de estudo,
Os recursos e serviços secundários são os de
desde publicações avulsas, boletins, jornais,
indexação e resumo, devendo ser esclarecido
revistas, livros, pesquisas, monografias, teses,
que, aqui, indexação é usada no seu sentido
material cartográfico etc. (MARCONI e
lato, embora a estrutura adotada nesse serviço
LAKATOS, 2007, p.185).
inclua os descritores, isto é, “termos escolhidos
A partir da leitura de autores como Freire
como expressão preferencial de conceitos,
(1997), Santos (2000), Santos e Varela (2007) e
numa linguagem de indexação”, além do
Luckesi (2002), se buscará adquirir
embasamento teórico, de maneira que se

230
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

resumo (THESAURUS ,apud, PINHEIRO, 2007, p. qualitativa, se dará pela aproximação com o
2). tema.
Os dados construídos a partir das leituras e Os dados recolhidos são designados por
fichamentos serão explicitados por meio de qualitativos, o que significa ricos em por
texto argumentativo, tendo por idealização a menores descritivos relativamente a pessoas,
abordagem do tema delimitado. locais e conversas, e de complexo tratamento
Não serão necessários gráficos, tabelas, estatístico. “As questões a investigar não se
figuras ou qualquer outro tipo de tabulação ou estabelecem mediante a operacionalização de
ilustração, apenas o texto argumentativo, variáveis, sendo, igualmente, formuladas com o
numa abordagem qualitativa. objetivo de investigar os fenômenos em toda
Segundo Miles e Huberman (1994), a sua complexidade e em contexto natural,”
pesquisa qualitativa possui as seguintes (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.16)
características: Também far-se-á uso da pesquisa descritiva
1) O papel do pesquisador é de adquirir e exploratória. Sobre a primeira, Castro (1996),
uma visão [...] sistemática, integrada [...] do detalha que:
contexto em estudo; [...] o pesquisador tenta Quando se diz que uma pesquisa é descritiva,
captar dados sobre a percepção dos atores se está querendo dizer que se limita a uma
locais [...], por meio de um processo de descrição pura e simples de cada uma das
profunda atenção [...] dos preconceitos sobre o variáveis, isoladamente, sem que sua
tópico a ser discutido; ao ler [...] os materiais, o associação ou interação com as demais sejam
pesquisador pode isolar alguns temas e examinadas, (CASTRO, 1996, p. 66).
expressões que podem ser revistos com os Em relação à pesquisa exploratória:
informantes, mantendo sua forma original ao As pesquisas exploratórias têm como
longo do estudo; a tarefa principal é a de principal finalidade desenvolver, esclarecer e
explicar [...] como as pessoas veem, entendem, modificar conceitos e ideias, tendo em vista, a
consideram, tomam decisões [...]; a maioria das formulação de problemas mais precisos ou
análises é feita em palavras. Essas palavras hipótese pesquisáveis para estudos
podem ser reunidas, subagrupadas ou posteriores. De todos os tipos de pesquisas,
quebradas em segmentos semióticos. Podem estas são as que apresentam maior rigidez no
ser organizadas para permitir ao pesquisador planejamento. Habitualmente envolvem
contrastar, comparar, analisar e conferir levantamento bibliográfico e documental,
padrões entre elas, (MILES e HUBERMAN, 1994, entrevistas não padronizadas e estudos de
p.84;85). caso. Procedimentos de amostragem e técnicas
2) quantitativas de coleta de dados não são
A pesquisa qualitativa “[...] supõe o contato costumeiramente aplicados nestas pesquisas,
direto e prolongado do pesquisador com o (GIL, 1999, p. 43).
ambiente e a situação que está sendo Assim, ratifica-se que os tipos de pesquisa
investigada [...]” (LUDKE; ANDRÉ, 1988, p. 11), escolhidos visarão uma abordagem mais
a escolha da pesquisa, seguindo uma linha

231
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

completa direcionada ao tema formação de que se refere a prescrições metodológicas,


docentes do ensino superior. sobretudo quando as condições e as ambições
da prática se transformam, (PERRENOUD, 2002,
A RELEVÂNCIA DA DIDÁTICA p. 15).
Dessa maneira, entende-se que as
NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO perspectivas pessoais e profissionais do
DOCENTE SUPERIOR docente Superior envolvem diferentes modos
Para que se compreenda a Didática e o seu de compreender e organizar o processo ensino-
papel na prática pedagógica do docente aprendizagem, e, por isso, a sua ação educativa
superior, faz-se necessário explicar quem é o e a sua prática pedagógica configuram sempre
educador e como ele compreende o fenômeno uma opção política.
educativo, tendo em vista as diretrizes que Segundo Mizukami (1986, p. 4), subjacente a
orientam sua atuação pedagógica. esta prática estaria presente, implícita ou
Entendendo a educação no seu sentido geral, explicitamente, de forma articulada ou não,
pode-se dizer que educadores são todos os “um referencial teórico que compreendesse os
membros de uma sociedade, (FREIRE, 1996). conceitos de homem, mundo e sociedade,
Conforme Lourenço, Lima e Narciso (2016), é cultura, conhecimento etc.”
relevante que o docente tenha a percepção da No entanto, o docente do Ensino Superior
sua importância política na Educação. A esse pode adotar um ou outro aspecto das
pensamento, Freire (1997, p. 19), acrescenta diferentes tendências, desde que não vá contra
que “a educação é um ato político – um ato que os princípios que norteiam a sua forma de
sempre é praticado a favor de alguém, de um pensar e agir. Ou seja, mesmo tendo ideias
grupo, de algumas ideias e, consequentemente, progressistas, nada o impede de adotar, em sua
contra outro alguém, contra outro grupo e prática, ideias tradicionais. Na prática, a
contra outras ideias”. diversidade é o que realmente funciona a partir
Para Perrenoud (2002, p. 15), é importante da pesquisa e da adequação ao que se
que haja uma melhor preparação dos pretende.
programas de formação docente, haja vista que Um profissional reflexivo não se limita ao
muitos só terão esse contato com essa teoria que aprendeu no período de formação inicial,
nos cursos que fizerem. nem ao que descobriu em seus primeiros anos
Mesmo quando os programas de formação de prática. Ele reexamina constantemente seus
no ensino passam para o âmbito da objetivos, seus procedimentos, suas evidências
universidade, a teoria não desempenha um e seus saberes. Ele ingressa em um ciclo
papel comparável ao que tem na formação dos permanente de aperfeiçoamento, já que
engenheiros, dos médicos ou na dos teoriza sua própria prática, seja consigo
administradores. A (re) descoberta da mesmo, seja com uma equipe pedagógica,
complexidade do ofício de professor está (PERRENOUD, 2002, p. 44).
menos ligada à crítica à ilusão cientificista do
que à descoberta dos limites do bom senso no

232
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Destaca-se que não há uma teoria definida inovação por parte do docente, sobre isso,
como a perfeitamente correta e adequada ao Santos (1997, p. 85), esclarece que,
processo ensino-aprendizagem. Cada uma [...] o professor é um intermediário entre o
agrega ideais de uma época e de seus aluno e o conhecimento, assumindo um papel
precursores. O docente pode se valer das ideias importante na formação do indivíduo. “É
que julgar mais interessantes ao seu trabalho, preciso ter em mente a diferença entre
(FREIRE, 1996). erudição e sabedoria, pois o verdadeiro
Conforme Libâneo (2001), os professores conhecimento tem que ser internalizado, as
não podem, de forma nenhuma, se informações não devem ser apenas
desvencilhar do conteúdo da sua disciplina, assimiladas, mas precisam provocar as devidas
contextualizando e orientado o aluno para que transformações na nossa linha de pensamento,
o faça ser aplicado e útil na sua vida prática. caso contrário, serão apenas palavras que irão
Para isso, a escolha e aplicação do conteúdo ornamentar nossa erudição.
deve ser direcionado a sua utilidade prática e Por intermédio desse esclarecimento de
ao seu teor científico. Perrenoud (2002), impõe Santos, entende-se que grande parte dos
os conteúdos como forma substancial dos educadores busca seguir algum modelo de
indivíduos se envolverem e interferirem sobre ensino, podendo ser o que conhece da sua
a realidade que os cerca. formação, de literatura na área, de colegas de
Sem pretender afirmar que a formação trabalho ou mesmo por meio do conhecimento
acadêmica dos professores é ideal, temos de histórico. Não há de se considerar que o que
reconhecer que ela é inferior à sua formação funcionou em relação à aprendizagem de outra
didático-pedagógica. O desequilíbrio é grande turma ou professor, em estudos científicos, ou
no ensino médio e maior ainda no superior, já em determinado ano ou século funcionará
que uma parte dos professores ocupa sua agora; entretanto, pode também dar certo, a
função sem ter nenhuma formação didática, partir de adaptações condizentes com a
(PERRENOUD, 2002, p. 49). atualidade.
Nesse sentido, a Didática se instala entre o O profissional pode se voltar a seus próprios
pedagógico e a docência. Isto significa que ela valores se eles forem capazes de guiá-lo sem
faz a ligação entre o “para quê” (opção político- hesitação e de fazê-lo investir na luta contra o
pedagógica) e o “como” da prática escolar (a fracasso e o elitismo, na educação para a
prática docente). cidadania ou na instrução propriamente dita,
Ao que se percebe o discurso do docente na negociação ou na sanção. Alguns
superior pode ser entendido como profissionais têm o azar e a sorte de duvidar.
progressista, atualizado, crítico e reflexivo; Eles não têm certeza de saber que linhas de
entretanto, sua prática, ainda está inserida na conduta devem adotar. Nesse caso, eles
concepção tradicional e tecnicista de ensino. precisam dispor dos recursos intelectuais
Ou seja, teoria e prática se apresentam capazes de reconstruir certezas provisórias.
distanciadas. Nesse sentido, é importante Isso poderá ser alcançado com maior facilidade
se trabalharem em equipe, mas não os

233
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dispensará de refletir, de pesar os prós e os mas também como indivíduo, para sua
contras, de pensar nas contradições e de buscar realização plena e a promoção da sua real
um ponto de equilíbrio desconfortável, que satisfação.
representa um frágil compromisso entre Dentro desta concepção, logo se percebe
valores e finalidades contrapostos, que tratar de currículos é muito complicado,
(PERRENOUD, 2002, p. 55). uma vez que este deve formar e informar a
Por outro lado, Freire (1996), afirma que pessoa humana em sua globalidade,
existem docentes voltados a um trabalho mais conciliando teoria e prática, transmitindo
direcionado ao conteúdo e sua funcionalidade, valores, conhecimentos e habilidades.
bem como a realidade do aluno. Em atual revolução tecnológica pede-se que
A prática desses profissionais, educadores, os currículos estejam sempre atualizados em
não deve jamais estar voltada a modismos a todos os campos do conhecimento científico e
ideias desconhecidas e a fórmulas de se educar. informados acerca das práticas tecnológicas
É preciso, antes de tudo ter perfil para ser mais recentes. Na era da Globalização, exige-se
educador, coerência para traçar suas metas e que os currículos devam preparar também o
coragem para alcançá-las. indivíduo para ser um cidadão do mundo.
A prática docente superior, como a dos Ao pensar assim, tem-se que teoricamente
demais (infantil, fundamental e médio), se os currículos superiores deveriam ser muito
constrói em um determinado contexto, em um amplos, modificados cotidianamente e, além
determinado tempo histórico, adquirindo disso, variados de acordo com o local onde o
novas características para responderem a indivíduo está inserido. Mais complicado ainda:
novas demandas da sociedade, portanto, não é “a cada estudante teria que corresponder um
um dado imutável, é algo que caminha com currículo específico, pois a rigor a experiência
evolução da humanidade. de vida individual deve ser considerada em sua
determinação” Kilpatrick, citado por Moreira,
O DOCENTE SUPERIOR E O et al (2002, p. 21).
Até pouco tempo atrás, só se conhecia o
CURRÍCULO cenário de salas de aulas isoladas umas das
Segundo Willian Kilpatrick, citado por outras, limitadas em recursos, com mesas e
Moreira, et al (2002, p. 19), em parte, “O cadeiras dispostas em filas, o professor
currículo é qualquer experiência dentro ou fora desempenhando sua função de dono do saber,
da escola que tenha como meta preparar o a apresentação de informação limitada ao uso
indivíduo para cumprir de forma efetiva e de livros, textos, quadro-negro e quase sempre
responsável o seu papel de cidadão, de forma linear e sequencial. Neste cenário o
colaborando na construção de uma sociedade aluno é um elemento passivo, um mero
melhor.” Mas não apenas isso. receptor de informações preparadas pelo
O currículo, ainda para este autor, deve sistema educacional. São poucas as
formar e informar a pessoa humana em todas oportunidades para a simulação de eventos
as suas dimensões, não somente como cidadão, naturais ou imaginários, tanto para aumentar a

234
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

compreensão de conceitos complexos quanto experiências de vida de educandos e


para estimular a imaginação, (LOURENÇO; educadores.
LIMA; NARCISO,2016). Segundo Ribeiro (1993), a desconstrução do
O currículo educacional, na maioria das conceito é necessária para reconstruir numa
vezes, era (é) visto por meio de uma filosofia do dimensão que evidencie as possibilidades
conhecimento humano dividido em científico-metodológicas, pois fazer currículo é
classificações: matemática, português, fazer ciência, diz a autora.
geografia, história, biologia, língua estrangeira, Na sociedade, há sábios educadores e
física, etc., sem nenhuma possibilidade de autores de livros didáticos que criam currículos
haver inter-relacionamentos, (MOREIRA, et al, invencíveis – tudo que se considera importante
2002). é anexado. Mas o currículo vai ficando pesado,
Moreira et al (2020), insere que já se cogita pois, há cada vez mais coisas importantíssimas
que o conceito de currículo é muito complexo, a serem incluídas. Mas o que todos nós
pois abrange um apanhado de conhecimentos sabemos é que nem os alunos considerados
para serem colocados em prática, por um gênios conseguem entender tudo. É relevante
período de tempo, dentro de uma estrutura que o professor se utilize de técnicas
educacional que envolve sistema de ensino e diversificadas para que seus alunos aprendam,
organização escolar. São vários os conceitos de conforme Lourenço, Lima e Narciso, (2016, p.
currículo, pois, tudo que se faz e fala na escola 71), afirmam:
acaba se tornando um currículo, que não deixa A falta de instrução por parte dos
de estar ligado a um planejamento. Caso o professores para o uso correto destas técnicas
planejamento seja bem elaborado, com resulta na reprodução de antigos mestres, e na
coerência, fins e objetivo bem definido o que se consequente frustração profissional. Dessa
faz e o que se fala estão sempre em sintonia. forma, alguns fatores devem ser levados em
Conforme afirma Kilpatrick, citado por Traldi conta na hora da escolha de uma técnica, são
(1987, p. 64), “currículo é uma sucessão de eles: as diferenças entre os alunos (idade,
experiências escolares adequadas a produzir, contexto sociocultural, aptidões; Interesses e
de forma satisfatória, a contínua reconstrução necessidades dos alunos (atuais e futuros)(
da experiência”. Para que isto ocorra é LOURENÇO, LIMA e NARCISO,2016, p. 71).
fundamental o papel do professor, no sentido Não basta fazer um currículo cheio de
de preparar um ambiente adequado que prioridades e acabar esquecendo o principal,
promova o desenvolvimento dos alunos e faça que é colocá-lo em prática, para que possa ser
aflorar seus potenciais, tornando-os absorvido pelo aluno, de maneira que o leve a
participantes ativos e críticos do processo compreender o que foi ensinado. Um currículo
ensino-aprendizagem. adequado é aquele que considera a realidade
Desconstruir conceitos e ideias já prontas é do aluno e trabalha de modo contextualizado.
condição para promover essa contínua Para Lourenço, Lima e Narciso (2016, p. 72), a
reconstrução da experiência, de forma falta de motivação e interesse dos alunos,
integrada e contextualizada, ligada às muitas das vezes está diretamente ligada a

235
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

metodologia utilizada pelo professor ao É preciso, também, buscar conhecimento em


repassar os conteúdos e conhecimentos. outras áreas, para facilitar a interação entre os
diversos campos do saber, evitando-se a
QUE PRECEITOS HÁ NA fragmentação dos processos de ensinar e de
aprender.
FORMAÇÃO DIDÁTICA DOCENTE Numa perspectiva de interação professor-
É de fundamental importância que o aluno, a ação pedagógica voltada para a
professor tenha domínio dos conteúdos a aprendizagem significativa parte do
serem trabalhados na sala de aula, constituindo conhecimento que o aluno tem do cotidiano, da
esse domínio em um requisito essencial para a sua realidade, (FREIRE, 1996).
efetivação da aprendizagem significativa pelo Obviamente que alguns conceitos não serão
aluno, haja vista que se pode ensinar de conhecidos pelo aluno e não se aplicarão
maneira mais dinâmica. diretamente em sua realidade, entretanto é
Conforme Lourenço, Lima e Narciso (2016): importante que aos que se fazem próximos dela
Sabemos que uma aula mais dinâmica, é uma sejam feitas as referências necessárias.
aula bem elaborada, onde requer também um Cabe ao professor, conforme Leite (2009),
empenho melhor por parte do professor, considerar o conhecimento do cotidiano,
dando-lhe mais trabalho. Por outro aspecto a levando o aluno a superar essa visão
recompensa profissional de gratidão por parte fragmentada característica do senso comum,
dos alunos pode ser bastante significativo e de para chegar ao conhecimento formalizado,
qualidade quando o docente se dispõe a criar sistematizado – caminhando dos conceitos
novas maneiras de ensinar, deixando de lado a espontâneos aos conceitos científicos.
“mesmice” das aulas rotineiras (LOURENÇO, Entende-se que numa Instituição de Ensino
LIMA e NARCISO, 2016, p. 73). Superior não caberá mais um professor
Isso requer uma cultura “geral” como, conteudista, tecnicista, preocupado somente
também, o conhecimento das especificidades com provas e notas, mas, sim um professor,
dos conteúdos, suas origens e evolução mas humano, ético, estético, justo, solidário,
conceitual e suas aplicações. que se preocupe com a aprendizagem e a
Um bom conhecimento do conteúdo formação do educando. Nesta perspectiva
significa, também, saber selecionar conteúdos teremos na sala de aula um professor mediador
adequados para um a visão atualizada do tema, entre o sujeito e o objeto do conhecimento,
conteúdos que sejam acessíveis aos alunos e de trabalhando de forma que, a partir dos
seu interesse. conteúdos, dos conhecimentos apropriados
O professor deve estar sempre estudando pelos alunos, estes possam compreender a
para aprofundar os seus conhecimentos e para realidade e atuar na sociedade em que vivem e
adquirir outros novos, acompanhar o transformá-la (LEITE, 2009, p. 73).
desenvolvimento das coisas, das pessoas, das
formas de comunicação, (FREIRE, 1996).

236
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O ponto de partida para a ação pedagógica Essa aprendizagem, a partir da prática social
na sala de aula, é o saber que o aluno já traz de alunos e professores, possibilita a
para a escola. Este saber o aluno adquire por construção de conceitos significativos em várias
meio do senso comum em sua vida diária, pela perspectivas, nas diferentes disciplinas.
observação e informações assimiladas: Para a construção do conhecimento numa
observação da realidade que o cerca e dimensão de aprendizagem significativa, é
informações veiculadas pela família, pela imprescindível, de acordo com Fernandes
instituição, na qual estuda, pelos grupos a que (2004):
pertencem e meios de comunicação de um Considerar o conhecimento prévio que o
modo geral. aluno possui;
Pela mediação do professor que domina Criar condições para desenvolver no aluno a
conhecimentos específicos, o aluno confronta o capacidade de observação, de reflexão, de
saber do senso comum com o conhecimento crítica sobre a sua realidade existencial;
elaborado que está nos “conteúdos básicos” ou Lançar mão do saber sistematizado,
nos livros e constrói os seus significados, os organizado, historicamente produzido, para
seus conceitos, com compreensão própria. ajudar o aluno a construir significados que lhe
Essa construção do conhecimento se dá pela permitam compreender a sua realidade e nela
interação dialógica professor-aluno como poder intervir, (FERNANDES, 2004, p.32).
sujeitos ativos, construtores desse A viabilização dessa proposta está
conhecimento – os alunos deixam de ser diretamente relacionada à efetivação da
passivos, no sentido de receber o prática pedagógica na sala de aula, por meio
conhecimento pronto, transmitido pelo dos encaminhamentos didáticos utilizados pelo
professor e, passam a ser ativos em relação à professor.
construção do conhecimento.
De acordo com Fernandes (2004): O DIFERENCIAL DO DOCENTE
professores são sujeitos concretos e
atuantes no cenário educacional, enquanto SUPERIOR QUE POSSUI
sujeitos dotados de múltiplas determinações, FORMAÇÃO DIDÁTICA FRENTE A
que incorporam modelos e aspirações sociais,
mas também elaboram suas sínteses pessoais,
SUA PRÁTICA
Ao se decidir por determinada forma de
participando da construção social do conceito
atuar em sala de aula, é importante tornar bem
de qualidade de ensino, (FERNANDES ,2004, p.
claro o porquê da opção e a que resultados
1).
concretos se chegará.
O ensino e a aprendizagem são processos
A atuação pedagógica deve estar voltada
contínuos, dinâmicos, de interação professor-
para a realidade, deve ser contextualizada.
aluno, em que se relacionam o “saber fazer”
Nessa intenção, também deve se inserir a teoria
(metodologias) e o “saber” (conteúdo) para
ensinada e a prática. Assim, por exemplo, não
uma aprendizagem significativa, duradoura e
há como o aluno estudar um assunto sem se dar
compreensiva.

237
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conta ao que ele pode contribuir para a sua perspectiva, hão de dar conta do que é
atuação enquanto cidadão. concreto e significativo na realidade do aluno e,
Cada professor tem suas vivências na ainda, daquilo que ele precisa alcançar em
formação acadêmica e constrói sua identidade matéria de conhecimento elaborado, para
vocacional e profissional na interação com os tornar maior seu entendimento sobre o real e
alunos por meio de uma pratica reflexiva na potencializar sua possibilidade de uma atuação
experiência cotidiana. O professor em primeiro mais consciente, consequente e eficaz.
lugar é um educador, logo ele precisa exercer Para Covos, et al (2018), percebe-se, nos
uma liderança democrática, na qual possa cursos de graduação, quer sejam de
dividir, na maioria dos casos, o poder de licenciatura ou bacharelado, é uma delimitação
decisão sobre os assuntos criando e teórica, direcionada e baseada na formação
estimulando a participação de todos, (LEITE, “conteudista” do acadêmico. Esse modelo de
2009, p. 76). formação não mais se adapta ao padrão
Destaca-se, aqui, o ensino acadêmico, tradicional do mercado de trabalho, que deseja,
Superior, no qual muitas vezes o currículo e o antes de profissionais gabaritados na teoria,
próprio professor visam o conhecimento saibam lidar com as relações interpessoais de
específico e não oportunizam o aluno a estar maneira eficaz, que saibam resolver problemas
desenvolvendo suas ideias a partir dele, para inerentes à profissão que exercerem, que
que extraia ao máximo tudo o que lhe for consigam ser práticos e eficientes, acima de
interessante. tudo.
[...] o docente do ensino superior é um Assim é que ressurge a necessidade de o
profissional da educação, pois somente com a educador conhecer seu educando e, ainda que
união dos conhecimentos específicos da área, ele não receba estas informações da escola,
com os conhecimentos pedagógicos, é que se cabe a ele mesmo imergir no mundo de seus
constitui uma prática eficaz, capaz de formar educandos para que seja capaz de
profissionais e cidadãos, críticos e conscientes contextualizar sua prática de acordo com o
(LEITE, 2009, p. 81). universo destes (TAFNER, 2008, p. 02).
Afinal, o cidadão/acadêmico que se pretende Não se deseja, aqui, afirmar que os
formar há de ser crítico, criativo, capaz de conteúdos sejam dispensáveis. Ao contrário,
estabelecer relações e fazer julgamentos; há de deseja-se mostrar que sozinhos não são o ideal,
ser atuante, responsável e comprometido com de que é preciso que as instituições de Ensino
o que faz; deve ser bem informado, capaz de Superior repensem a sua prática, para que ela
interpretar sua realidade e nela intervir; ser seja voltada ao que o aluno de fato necessite na
ainda solidário, capaz de ser perceber no grupo sua atuação futura (COVOS, et al, 2018).
e atuar no sentido de seu fortalecimento e de Dessa forma, o que se deseja mostrar é que
sua coesão. teoria e prática devem estar contextualizadas,
Isso exige da instituição de ensino clareza de maneira que o aluno possa se fortalecer
quanto às suas intenções e suas ações. As quando ingressar na profissão desejada.
situações de ensino-aprendizagem, nessa

238
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Enfim, situações de ensino que informem e educação está cada vez mais em alta e somente
interpretem a vida, produzindo aprendizagens quem souber extrair dele todas as suas
significativas, que desenvolvam as vantagens terá chances de competir na
potencialidades, habilidades, aptidões, realidade feroz que nos cerca (TAFNER, 2008, p.
capacidades mentais e, ao mesmo tempo, 08).
fortaleçam a autonomia, o sentido da partilha, Tal atuação há de se constituir, portanto,
da cooperação, da ajuda mútua, assim como o numa perspectiva que possibilite a participação
sentimento de solidariedade, de coesão, de ativa do aluno num processo dinâmico de
responsabilidade e de comprometimento ensino-aprendizagem e o desenvolvimento de
consigo mesmo, como o outro, com o grupo e sua capacidade de observação, de reflexão, de
com a própria vida. crítica e de criação. Essa participação deve
Por outro lado, a convivência entre permear todo o processo de desenvolvimento
educando e educador na sala de aula do projeto, desde a sua concepção passando
atualmente atesta que o ensino está pelo acompanhamento das ações previstas e a
totalmente desligado da vida real do educando. correspondente avaliação.
Parece que o educador, ao entrar em sala,
esquece de todo o restante do mundo: dos
conflitos mundiais, da globalização, das
injustiças sociais, enfim, é como se as paredes
da sala de aula impedissem a entrada de
objetos estranhos não previstos pelo programa
adotado pela escola (TAFNER, 2008, p. 02).
A partir desse referencial é possível definir os
objetivos ou os resultados a que se precisa
chegar, de modo que a atuação pedagógica, por
meio da contextualização da teoria e da prática,
assegure a formação desse aluno/cidadão,
dando vida à concepção de educação pela qual
se opta.
A importância da contextualização e
interação no processo de ensino-
aprendizagem. Ainda que eles não ocorram
dentro do local ideal – na universidade como
era de se esperar –, não há desculpas para o
educador atuar também de forma negligente.
Ele mesmo sabe os efeitos de um ensino que
esquece o educando. Tornam-se, dessa forma,
obrigatórias ações em sala de aula que insiram
o educando no mundo real, visto que o produto

239
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Grande parte das intuições superiores tem a ideia de que o acadêmico necessita apenas
dos conteúdos programáticas para que a sua atuação profissional seja eficiente. De fato, isso se
mostra muito importante. Entretanto, mais que isso, é relevante que esse profissional em
formação adquira informações, conceitos e ideias que o auxiliem nas relações interpessoais, na
resolução de conflitos, na constituição de sua ética profissional, entre outros.
É possível, hoje, diferenciar o professor que se utiliza de posturas tradicionais e o que se
utiliza de posturas mais atuais.
No entanto, muitas vezes essas posturas se confundem e se aproximam, fazendo com que
se perceba que não há um modelo de educação superior (ou em outro nível de ensino) a ser
seguido, e o que realmente funciona é que atende aos alunos de forma imediata. O que as
diferencia, de fato, é que nas tradicionais o aluno é considerado um ser passivo, cujo papel é
apenas o de escutar, repetir e reter o conhecimento dado pelo professor.
Nas mais atuais, o aluno é visto como alguém que contribui para sua aprendizagem de
forma ativa: seleciona, assimila, interpreta e generaliza informações sobre seu meio físico e social.
Essa mudança na forma de compreender o papel do aluno implicou uma revolução na forma de
conceber o ensino, alterando a postura do professor.
Antes, se ao professor cabia apenas transmitir o conhecimento de forma pronta e acabada
para seus alunos, agora espera-se que ele seja o mediador entre os alunos e o conhecimento a
ser adquirido.
Constata-se que no processo de ensino-aprendizagem a história particular do aluno deve
ser considerada. O autoconhecimento do aluno influencia em sua capacidade de aprender. Isso
ocorre porque cada um, com base nas interações que são mantidas com os outros, vai
conhecendo suas possibilidades e seus limites, valorizando ou depreciando alguns de seus
aspectos.
Percebeu-se que a aprendizagem deve ser significativa, isto é, relevante para a vida do
aluno e articular-se com seus conhecimentos anteriores. Para que as aprendizagens sejam
significativas, é preciso que o professor saiba programar atividades e criar situações adequadas,
de maneira que se possam articular os conhecimentos escolares aos conhecimentos prévios do
aluno. Dessa forma, a articulação dos novos conhecimentos com os antigos formam uma
estrutura cognitiva – uma forma de pensar sobre si e sobre o real – mais sofisticada e complexa.
Compreende-se que aprender motiva mais quando o aluno já tem alguma ideia do que está
sendo ensinado e foi informado sobre como os novos conhecimentos podem fazer sentido sem
sua vida. Para o ensino se tornar efetivo, é preciso que ele seja motivador – e ele é motivador
quando tem significado para o aluno. Todas as visões de ensino-aprendizagem concordam que a
motivação é importante.
Também se faz eficaz a aprendizagem vivenciada, que é duradoura, haja vista que sempre
que os alunos têm a oportunidade de exercitar seus conhecimentos, aplicando-os em atividades
práticas, a aprendizagem fica mais sólida.

240
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De nada adianta o acadêmico concluir sua graduação se o seu currículo se preocupou


apenas com conteúdos formais, não lhe dando suporte para a humanização da profissão dos
valores a ela arraigados.
Por tudo o que foi discutido e por muito que ainda se faz necessário abordar, mas não
nesse momento, destaca-se o argumento de que o docente superior é “professor” mesmo eu
trabalhe com indivíduos mais independentes, na maioria responsáveis e profissionais, e que sua
responsabilidade em ofertar-lhes o conhecimento não se isenta, ao contrário, se reafirma, pela
necessidade em formar bons alunos e principalmente bons profissionais.

241
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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TRALDI, Lady Lina. Currículo. São Paulo: Atlas, 1987.

243
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A GÊNESE DO MÉTODO LÚDICO


Ivone Amaral de Lima Silva1

RESUMO: O artigo apresenta aspectos teóricos relativos à gênese do método lúdico; as


características pedagógicas atreladas aos jogos durante a idade moderna; a caracterização
histórica do jogo no brasil. Enfatizamos a importância dos jogos enquanto ferramentas lúdicas
utilizadas ao longo do tempo e suas contribuições no contexto atual , especialmente nos aspectos
de aprendizagem das crianças.

Palavras-Chave: Educação; Gênese; Lúdico.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes; Especialização em Educação Infantil;
Especialização em Libras; Especialização em Alfabetização e Letramento.
E-mail: ivonelimaamaral@hotmail.com

244
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO variam conforme a cultura e o contexto


histórico ao qual está inserido.
A palavra jogo, com toda certeza tem em si Primeiramente podemos classificá-lo em
muitas definições, entre estas aquela que o dois grandes grupos:
conclui como ato fútil, desnecessário, o que • Jogos de movimentação: atividades que
leva muitos docentes e pais a desacreditarem envolvem algum tipo de esforço físico;
da metodologia lúdica. • Jogos sedentários: aqueles que estão
Nesse artigo busca-se destacar a importância diretamente ligados à atividade mental;
de se pensar o jogo como uma metodologia, No dialeto popular, jogo remete apenas
sem se deixar cair em contradição e lançando-o aos jogos de azar e as atividades esportivas, da
como uma nova tendência pedagógica, ou mesma forma, é explicado na maior parte dos
como solução para todos os males, ao dicionários, por isso ressaltaremos a sua
contrário, propõe-se uma reflexão sobre ele e divulgação no campo da psicopedagogia.
sua aplicação à educação. Assim, tem-se um Assim podemos destrinchá-lo em
grande aliado para tentar sanar ou minimizar os grupos, de forma mais minuciosa, além dos já
problemas de aprendizagem das crianças, já citados, teríamos os jogos dramaticais, que
que este é uma proposta viável que mantém também estão envolvidos na etimologia da
relações com o ser humano desde tempos relação jogos e aprendizagem.
remotos, e ainda, presente em nosso cotidiano,
pode aproximá-lo dos conteúdos científicos.
JOGOS DE AZAR
Com isso destaca-se como essencial as
Também são conhecidos como jogos de
pesquisas e trabalhos elaborados e
salão, suas precípuas finalidades são a diversão
disponibilizados aos educadores a fim de que
e a recreação. Denotado como jogatina
leiam, reflitam e compreendam a necessidade
assombrou a burguesia durante o século XIV,
de brincarem com os alunos, de planejarem
hoje sua prática é proibida, em alguns países,
atividades, nas quais interfiram nas
por isso se tornou apenas distração em algumas
brincadeiras e a partir delas ensinem, não
festas e recintos.
somente conteúdos escolares, mas
Suas formas mais conhecidas são os
aprendizados que as crianças poderão utilizar
jogos de cartas (baralho) e o jogo do bicho
para resolver situações fora do âmbito escolar.
(apostas em forma de loteria).

A GÊNESE DO MÉTODO LÚDICO


Antes de fazerem-se as análises as quais nos
JOGOS DESPORTIVOS
Abrangem as atividades esportivas e os
dispomos com este artigo, precisamos definir o
exercícios ginásticos que necessitam de
que é o jogo, quais significados que podem ser
treinamento e destreza para a realização dos
atribuídos ao termo. Numa perspectiva ampla
movimentos.
pode-se defini-lo um fenômeno cultural com
São muitos os jogos desportivos, dentre os
múltiplas ramificações e denotações, que
quais podemos citar o vôlei, a natação,

245
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ginástica olímpica, o atletismo e o futebol, desenvolvimento da espontaneidade do


esses jogos também desenvolvem a indivíduo.
motricidade dos praticantes. Com atividades que a desenvolva, o aluno irá
Logo, consideram-se esportes, as práticas em agir e se expressar espontânea e naturalmente,
que são adotadas regras de caráter oficial sem medo de estar errado, por ter ideias
competitivo, que são organizados de forma a diferentes, fortalecendo suas capacidades
regulamentar a atuação de amadores ou expressivas.
profissionais, que como tais recebem uma Dinâmicas para imaginação - imaginar é
remuneração pelo trabalho. formar imagens a partir da observação,
O esporte é também uma atração para o percepção e memória. Produz-se, então, uma
público mundial, que acompanha os grandes ação do pensamento que pode ser
campeonatos. representada por meio das linguagens corporal,
verbal, gestual, gráfica, musical e plástica.
JOGOS GRAMATICAIS Constitui-se, assim, o que se denominam
atividades globais de expressão, que são
Estes jogos estão inseridos diretamente na
naturalmente usadas pela criança em seu
arte cênica, que envolvem as atividades e os
cotidiano.
exercícios de preparação dos atores. São
Dinâmicas de observação - a observação é
dinâmicas realizadas para a aquisição de
um ato dramático que amplia as possibilidades
concentração, melhoras da voz e dos
do jogo, o que serve de ponto de partida para
movimentos.
que se crie, produza com criatividade.
Mas esses também são de extrema
O educador deve nortear e estimular a
importância para os indivíduos comuns, pois
observação do aluno, a fim de que observe
atuam como desbloqueadores emocionais,
diferentes aspectos sociais, verificando com
estimulando a expressão e a desinibição, sendo
criticidade aguçada a realidade.
fundamentais para ampliação das relações, da
espontaneidade e do poder de criação. Assim, Essa atividade facilita o desenvolvimento das
capacidades expressivas da criança,
podemos classificá-los em:
despertando nela a consciência de si mesma e
Dinâmicas de relacionamento - verificando-
do mundo que a cerca.
se a importância da adaptação da criança a um
grupo de convívio, salientam-se essas, que
favorecem o autoconhecimento e o JOGOS INFANTIS
conhecimento do outro. Os jogos, ou brincadeiras infantis são
Participando a criança compreenderá a transmitidos por tradição oral, persistindo nas
individualidade das pessoas, respeitando-as, sociedades coetâneas, pois fortificam o
por entender que todos pensam de forma desenvolvimento social. Abarcando os gestos,
diferente. os movimentos, o canto, a dança e o faz-de-
Jogos para espontaneidade - é conta, esses jogos são a expressão da infância.
inquestionável a relevância do Brincar de roda, amarelinha e pular corda são

246
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

alguns exemplos de como a criança mantém AS CARACTERÍSTICAS


suas relações intra e interpessoal.
Estes jogos envolvem os acalantos (cantigas PEDAGÓGICAS ATRELADAS AOS
de ninar); as parlendas (travas-língua, JOGOS DURANTE A IDADE
mnemônicas); rondas (cantigas de roda);
MODERNA
adivinhações; contos e os romances.
A relação entre criança, jogo e educação na
Todos esses podemos classificar como jogos
idade moderna seguia algumas perspectivas
tradicionais, mas existem ainda os jogos de faz-
lineares, não se acreditando no potencial dessa
de-conta, que são baseados na imitação e como
relação e o jogo desprovido de qualquer cunho
jogo simbólico faz parte do desenvolvimento
sério, firmou-se uma pedagogia que o utilizava,
humano, sendo fundamentais para a origem de
mas de forma aleatória, sem representar
todos os outros; os jogos de construção, em
qualquer sentido para a criança. O que faremos
que a partir de sua interação com materiais e
agora será tentar delinear os seguimentos do
objetos a criança produz, cria coisas; os jogos
jogo, que seriam: recreação, jogos pedagógicos,
corporais, as atividades físicas que
dinâmicas de expressão e educação física.
desenvolvem a psicomotricidade infantil e os
Enquanto recreação, o jogo era visto como
jogos de regras, que possuem marcações que
forma de relaxamento, indispensável ao
levam as crianças a entenderem a função das
esforço em geral, ao esforço físico e em seguida
regras.
o mental e, enfim, muito especialmente, ao
É importante averiguarmos algumas
escolar. Dessa forma, ele contribuía
redundâncias encontradas entre os jogos
indiretamente à educação, permitindo ao aluno
infantis e os outros. Isso só porque o jogo na
relaxado, mais eficiência em seus exercícios e
forma lúdica interage todas as suas possíveis
em sua atenção.
denotações.
Assim, dava-se um tempo para que as
Fazendo-se uma análise, tentaremos
crianças retomassem o fôlego, guardando na
decodificar as maneiras que o jogo e suas
mente que toda a nossa vida se divide entre
ramificações atuam no desenvolvimento
esforço e repouso, a atividade laboriosa e as
humano e como podem estar aplicadas no
festas. Afirmando que o divertimento é
processo de ensino aprendizagem, averiguando
essencial para uma boa gestão das capacidades
primeiramente algumas influências históricas
mentais.
que caracterizam o que conhecemos por jogo
Ressaltamos que essa relação ainda existe,
hoje.
muitos professores vêm os jogos desprendidos
dos conteúdos, sem uma função pedagógica, o
que enfatiza uma oposição entre recrear e
ensinar, que pode ser dita como uma oposição
entre o jogo e a seriedade.
Na temática dos Jogos Pedagógicos vão se
abrir espaços para o jogo na educação, mas
dando-lhe aspecto de exercícios escolares.

247
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Assim, o jogo se torna um suporte para tradicionalmente na educação física a inclusão


seduzir a criança, pois ela não consegue de diversas formas de jogo.
projetar os ganhos que tem com a O que desperta o interesse do educador não
aprendizagem da leitura, da escrita e também são os fundamentos ou princípios dos jogos,
da linguagem, mas consegue trabalhar desde mas a possibilidade de um trabalho educacional
que esse se pareça com um jogo, pois terá de corpo inteiro. O que evidencia o jogo apenas
motivação e interesse em vencer os desafios como exercício físico.
que ele propõe. Somente quando a ginástica olímpica se
Todavia essa proposta só existia para as desenvolveu, dispensou-se o jogo dessa tarefa,
crianças em processo de alfabetização, para as até que os jogos esportivos fizessem apelo
maiores só se utilizava os jogos como forma de novamente do suporte utilizado.
recreação ou como ainda será exposto, isso
porque se acreditava que a palavra jogo • A Visão da criança nesse período
limitava-se a jogatina, cuja não tinha um No contexto descrito existia uma visão,
fundamento pedagógico em si, podendo oriunda do pensamento cristão, negativa da
inclusive induzir as crianças ao vício dos jogos criança, que a marcava pelo pecado, tendo sua
de azar. natureza ligada ao mal. Por isso, pregava-se o
Como Dinâmica de Expressão, o jogo hábito da “vara” para corrigi-las, e uma
permitia ao educador explorar a personalidade pedagogia tradicional de vigilância, na qual
da criança e, eventualmente, adaptar o ensino educar era não dar espaço para a
ou orientação desta. espontaneidade infantil, tratando-as como
Dessa forma, por meio do jogo a criança se miniaturas de adultos.
expressava com espontaneidade, Logo, o educando era algo manipulável e o
proporcionando ao professor-mediador a educador devia incluir nele a razão, todos os
observação de suas qualidades naturais para seus atos deviam ser vigiados para terem
desenvolvê-las ou transformá-las, não é um sentido educativo, até mesmo seus jogos e
jogo formador mais revelador. brincadeiras.
As crianças são exercitadas para jogos em Da forma em que estava constituída a
que irão demonstrar o que pensam. Essa imagem da criança, era impossível existir a
concepção apesar de manter o contexto valorização dos jogos, para se dar outra
discutido - o jogo sem uma função educativa lhe dimensão a eles seria necessária uma ruptura
dá um sentido, o que futuramente favorecerá a com esse vínculo, eis o que fez o movimento
relação jogo-educação. romântico2 , que, com efeito, denunciou a ideia
1

E há ainda a concepção que considerava o do jogo não ter valor educativo.


jogo como parte da Educação Física, não por ser Será a partir do movimento romântico que os
um jogo, mas porque as crianças desprendem psicopedagogos irão estudar e fazer trabalhos
esforços físicos. É por essa ideia que existe

2Foi um movimento realizado por pedagogos influenciados pelas ideias de Rousseau, que pregavam contra as
mazelas da civilização, originando uma nova ideia da criança e da natureza.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sobre o desenvolvimento sócio cognitivo superstições; parlendas e mitos, tais como


infantil, e o papel dos jogos nesse processo. lobisomem; moura encantada; e todo o acervo
Todavia, antes de fazermos uma leitura do de histórias de bruxas; fadas; assombrações;
decorrer dos tempos, façamos uma observação gigantes; príncipes; tesouros enterrados;
sobre o jogo no Brasil. sonhos de aviso; orações religiosas fortes;
medo do escuro; entre outros. Assim, as lendas
A CARACTERIZAÇÃO da cuca, bicho papão e bruxas, contadas aos
netinhos pelas avós portuguesas e pelas negras
HISTÓRICA DO JOGO NO BRASIL aos sinhozinhos, ao longo de nossa história
O desenvolvimento do jogo no Brasil se deu penetraram na infância brasileira.
de forma parecida com o de outros povos, Acredita-se que alguns jogos originaram-se
porém esse desenvolvimento não foi dessas histórias, por exemplo, o jogo com
simultâneo, visto que nosso processo bolinhas de gude. Por meio de uma analogia,
cronológico não foi paralelo aos das outras vemos um poderoso papão que um toque é
civilizações. capaz de destruir seus inimigos; ou ainda, o
Também temos as nossas particularidades, o pega-pega, na qual a bruxa malvada tenta
que distingue a nossa cultura de outras, todavia capturar as criancinhas.
sofremos influências, até mesmo por termos Desde a colonização, as crianças brasileiras
sidos originalmente uma colônia formada por vêm sendo ninadas com cantigas lusitanas e
diversas sociedades, temos então no jogo brincando com jogos acompanhados de versos.
(como na nossa cultura) o resultado da O que podemos exemplificar com o seguinte:
miscigenação social e política pela qual
passamos. Fiorito que bate, bate
Dessa forma, para entendermos as Fiorito que já bateu
características distintas do nosso jogo, Quem gosta de mim é ela
requeremos uma investigação pelas nossas Quem gosta dela sou eu!(apud,
raízes folclóricas. E nessa estaremos refletindo KISHIMOTO, MORCHIDA, 1993 p.23).
sobre as três etnias que mais se destacam em
nossa formação: a europeia, representada Em São Paulo, muitas crianças conhecem
pelos portugueses colonizadores; a africana dos esse versinho e brincam com ele batendo
negros escravos e a ameríndia, dos legítimos palmas, porém trocando fiorito por pirulito.
descobridores. Como as lendas e histórias, os jogos
Centralizando nossa pesquisa nas influências como bolinha de gude, amarelinha, pião, têm
folclóricas que recebemos, iniciemos pela
lusitana.

• Influências Lusitanas
É possível notarmos a influência lusitana em
nosso folclore por meio de versos; adivinhas;

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sua origem na antiguidade3 foram trazidos ao


1 conseguiram brincar aqui, como brincavam em
Brasil pelos portugueses e estão enraizados na seu país de origem, já que os jogos que
popularidade da brincadeira infantil brasileira. envolviam linguagem verbal encontraram
Isso nos faz acreditar que os jogos barreiras, pois os negros de diferentes etnias
tradicionais são oriundos de tempos remotos e eram misturados para não se comunicarem,
capazes de sobreviverem às transformações impedindo as rebeliões. Além disso, poucos
que sofre a sociedade. Assim os colonizadores foram os viajantes que registraram os jogos
portugueses foram apenas um veículo para que infantis, a infância não despertava interesse
chegassem ao nosso país, mas antes de nos estudiosos da época.
concluirmos a configuração do nosso jogo, É provável que a criança africana brincasse
averiguemos as características folclóricas que da forma que o ambiente lhe permitia. Todavia
ele recebeu dos negros vindos da África. a literatura oral foi a que mais deixou suas
marcas. Os negros sempre transmitiam as
• Influências Africanas histórias de seu povo, os contos, lendas, os
Não se sabe exatamente quando e quantos mitos, os deuses e animais encantados, o que
negros entraram no Brasil, em virtude da falta nos faz acreditar que tais elementos continuam
de documentação. Já em 1585, segundo presentes no lúdico infantil.
informações do Padre José de Anchieta, para Entre os brinquedos pesquisados,
uma população de 57.000 habitantes, havia encontrou-se uma espingarda feita do talo da
14.000 escravos negros. Sabe-se que a bananeira, se constata que utilizavam a prática
população negra predominava nas regiões universal da confecção de brinquedos a partir
sudeste e nordeste, sendo que elas se tornaram de materiais naturais, prática que é usada até
grandes focos de redistribuição de escravos por hoje na África.
todo o país. Dentro do nosso folclore ainda encontramos
Quanto aos jogos e brincadeiras africanas, a influência negra registrada no período dos
verificamos uma grande dificuldade em engenhos de açúcar. Uma relação de domínio,
detectá-los antes do século XIX. Depois de apontada por diversos autores de nossa
centenas de anos em contato com o europeu a literatura4.2

criança negra sofreu influências, além do que


existiam brincadeiras e jogos universais, • A Imagem da Criança nos Tempos do
presentes em qualquer cultura ou situação Engenho de Açúcar
social. Compreender a infância desse tempo requer
A questão mais discutida está em descobrir uma análise da estrutura familiar patriarcal, do
se as crianças que vieram com seus pais sistema educacional e do modo de vida nos

3 Em 1283, o Rei Castille Alfhose X, redigiu o primeiro livro sobre jogos da literatura européia, onde descreveu
diversos jogos, tais como: jogos de ossinhos (ou saquinhos), o xadrez; tiro ao alvo; o gamão; jogo do fio (cama-de-
gato); jogos de trilha; amarelinha; o pião; entre outros.
4
Obras recomendadas: Casa grande e senzala (Gilberto Freire); Menino de engenho (José Lins do Rego); A
educação nacional (José Veríssimo); O folclore negro no Brasil (Arthur Ramos); Paraíba em preto e branco (Waldice
Mendonça Porto).

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engenhos, as relações entre os meninos para conseguirem doces, em algumas vezes


brancos e negros, as mucamas escravas, os pais levavam sustos ou ficavam decepcionadas com
e os familiares. os gatos, marimbondos ou a farinha que caíam
Por intermédio das negras adaptou-se ou do pote. Essa se tornou uma brincadeira
enriqueceu a tradições portuguesas, inclusive comum nas festas de aniversário infantil, mas
as canções de ninar foram adaptadas de acordo com bexigas cheias de farinha de trigo e balas.
com as características regionais. Há ainda relatos de escravos livres baianos,
Era um hábito frequente nos grandes que como carregadores, em suas horas de
engenhos, colocar a disposição da criança descanso jogavam o A-í-ú, que consiste em um
branca uma negra, de mesma idade, mesmo pedaço de tábua com 12 buracos côncavos,
sexo, para companheiro de brincadeiras. Isso colocam e retiram-se as peças, que podiam ser
refletia, de forma minimizada, a relação de pequenos frutos cor de chumbo, este jogo
dominação dos adultos, pois o menino negro se também é conhecido como mancala, jogo
tornava o leva - pancadas, o branco usava-o bastante antigo jogado pelos egípcios.
como escravo nas suas brincadeiras. Nestas, Logo depois dessa complexa distinção entre
muitas vezes violentas, os moleques se os jogos dos moleques negros e brancos,
tornavam carros-de-boi, cavalo de montaria, devido às inter-relações que mantinham, pode-
burros de liteiras, enfim os meios de transporte se afirmar que de qualquer forma a brincadeira
da época. era a mesma, o jogo lúdico interferia na
A esse respeito podemos citar a fala de José realidade da criança, levando-a a transformar
Veríssimo: em prazer suas travessuras de infância.
Não havia casa onde não existisse um ou Todavia, fica-nos ainda uma questão,
mais moleques, um ou mais curumins, vítimas seriam também estes os jogos e brincadeiras
consagradas aos caprichos do nhonhô. Eram- dos curumins em suas aldeias? É o que
lhe o cavalo, o leva - pancada, os amigos, os tentaremos descobrir nas próximas linhas.
companheiros, os criados (apud KISHIMOTO,
1993 p. 33). • O Elemento Indígena nos Jogos
Os meninos de engenho viviam livres, Tradicionais Infantis
montando em cavalos, nadando nos rios, nas A cultura indígena é uma enorme
represas, comendo frutas, matando contribuinte do folclore nacional, pelo
passarinhos, fazendo travessuras típicas da intermédio da mulher indígena, enriqueceu-se
idade. Nas cidades aprontavam da mesma a culinária com muitos alimentos, remédios
forma, vivendo pelos telhados, na rua caseiros e tradições ligadas ao
empinando pipas, jogando pedras e pião. desenvolvimento da criança e os processos de
Existiam algumas brincadeiras que hoje higiene.
conhecemos de outras formas, como o quebra Uns fortes elementos folclóricos indígena
pote, no qual se colocava algum objeto em um são as danças totêmicas, que imitavam animais
pote de barro e dependurava-o. As crianças demoníacos em rituais mágicos. Os animais
com os olhos vendados tinham que quebrá-lo presentes em sua cultura foram contados nas

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histórias, contos e lendas, e entraram na viam em seus arredores, e desde pequenos já


memória social da criança. eram acostumados com as atividades dos
Em algumas tribos do norte do país, as mães adultos de acordo com o tamanho.
faziam para os filhos brinquedos de barro A criança indígena pouco era castigada ou
cozido, representando imagens de animais e de reprimida. Pouco lhe restava do proibido:
pessoas, o que se nota é que essas imagens encantos e descobertas podiam se transformar
eram predominantemente femininas e com em traquinagens de criança.
elementos religiosos. Chegamos então ao conhecimento de
Essa tradição de bonecos de barro não se algumas singularidades do jogo no Brasil. A
transferiu para a cultura que temos hoje, ao partir da investigação feita averiguou-se que a
contrário aderimos à boneca de pano, de ludicidade brasileira foi contextualizada
origem africana, que, particularmente, temos também pela europeia, e no seu decorrer
medo que seja suprimida pela produção histórico as etnias africanas e ameríndias
industrial de brinquedos. Nas feiras do interior fundiram-se no âmbito de nossa tradição
ainda encontramos bonecos feitos de barro. cultural.
Existem outras tradições dos jogos indígenas, Apesar das distinções que fizemos a
como o uso de aves domésticas como miscigenação é algo tão generalizador que
brinquedo, o uso do bodoque (estilingue) e o torna impossível uma investigação mais
alçapão para pegar passarinhos, o predomínio aprofundada, o que nos remete uma reflexão
deles junto à natureza, nos rios, com grandes para a compreensão dos nossos costumes e
grupos, que permanecem na infância brasileira tradições, distinguir o que verdadeiramente faz
em muitas regiões. parte de nosso folclore e o que foi incluído a ele.
Nota-se nos folguedos a tendência de Ressaltemos a importância de o educador
misturarem nas danças suas vidas a dos fazer com que os seus educandos resgatem
animais. Imitavam diabos com cabeças de também o folclore nacional oriundo dos negros
animais, representando com máscaras, faziam e das comunidades indígenas, para que as
cantorias com vozes de animais, dançavam com devidas reflexões sejam feitas.
os movimentos deles, suas cuias e potes tinham
a mesmas formas e seus jogos representavam
os movimentos e as características dos animais.
Desta tradição restou à cultura brasileira os
jogos de imitação e mesmo o jogo do bicho, tão
popular, que depois foi reforçado por outras
tradições.
O índio brincava imitando seus pais,
utilizando arco, flechas, tacapes, propulsores,
enfim todo o arsenal de um guerreiro, já se
preparando para a vida adulta. Quer dizer
utilizavam o faz-de-conta para expressar o que

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vale ressaltar que por meio análises acerca das relações sociais que o jogo mantém com
outras situações didáticas, o porquê de uma estratégia tão precisa e imbuída de teorias
pedagógicas ainda ser rechaçada em alguns contextos da realidade educacional vigente.
Verificou-se que a eficácia do método lúdico é assinalada pelo paralelo que ele mantém
entre o cotidiano do aluno e o conteúdo curricular proposto no ensino. Essa ideia é fortificada
quando se observa que linearmente o jogo está inserido no decorrer da vida humana.
A contemporaneidade da ludicidade esbarra na condição minimizada que o educador
trabalha. O que muitas vezes ocorre por esse seguir um paradigma antiquado e passadista, quanto
às tendências pedagógicas.
Distinguindo dos alunos, por acreditar ser detentor do conhecimento, quando na verdade,
se analisada a fala de Freire, (1987):
Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém educa a si mesmo: os homens
se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo. Mediatizados pelos objetos cognoscíveis
que, somente nessa prática ' bancária ', são possuídos pelo educador que os deposita nos
educandos passivos (FREIRE, Paulo. 1987, p. 69).
De outra forma, a metodologia lúdica é suprimida pelo sistema educacional coetâneo, quer
dizer por reflexos que ele leva à sala de aula, pois a realidade é ambígua, a universalização e a
democratização do ensino, pressupostas nas diretrizes educacionais, não ocorrem com eficácia,
já que também não há, continuamente, o aperfeiçoamento profissional do educador, para que
ele seja conhecedor dessas e tenha multiplicidade de metodologias, sendo orientado sobre como
usufruí-las de maneira proveitosa.
Outro fator condizente com essas discussões abrange o nosso sistema sociopolítico. Assim,
seguindo uma ordem cronológica, pode-se dizer de diferentes formas que houve evolução quanto
ao trabalho com jogos e brincadeiras dentro da escola, o que também se deu porque se mudou a
visão que se tinha da criança enquanto sujeito.
Entretanto, ainda não mudamos alguns princípios, os quais ainda caracterizam a sociedade
como tradicionalista, na qual a criança, em muitos momentos, volta a ser considerada um mini
adulto, e então se restringe seu espaço lúdico, dedicando-lhe entretenimentos, como televisão e
videogame, que, muitas vezes, são ideologicamente violentos.
É fundamental que tenhamos princípios teóricos, metodológicos e didáticos em relação as
contribuições dos jogos e suas contribuições na aprendizagem significativa e desenvolvimento
integral das crianças.

253
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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TAILLES, Ives de La e outros. Piaget, Vygotsky, Wallon, teorias psicogenéticas em


discussão. São Paulo, Sumus, 1992.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A HISTÓRIA DA ARTE
Élida de Sousa Machado1

RESUMO: O artigo apresenta a trajetória da arte e sua fundamental importância na vida humana.
Destacamos a a história da arte, a arte pré-histórica, a arte na pré-história brasileira. Nesta
perespectiva utilizamos aportes teóricos propondo uma tessiura do tema considerando a
relevancia e pertinencia da arte ao longo dos tempos.

Palavras-Chave: Educação; História; Artes.

1 Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação Especial com Ênfase em Deficiência
Intelectual.
E-mail: elidamachado.s@hotmail.com

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INTRODUÇÃO A docência em Artes é assegurada pelos


Parâmetros Curriculares Nacionais de Artes
A Arte se constitui por uma disciplina com a (1997), e pela Lei de Diretrizes e Bases da
devida importância no contexto escolar e, sua Educação Nacional (LDBEN/1996),
docência que deve ser realizada por elementos de nossa pesquisa,que ressaltam o
profissionais qualificados com cursos de quanto ela é importante na Educação atual.
Licenciatura em Artes. Para versar uma Desta forma, buscamos no amparo da
investigação e melhor compreender como legislação um estudo da conjectura atual no
surgiu a Arte e seus afazeres artísticos, que se refere à formação dos professores de
partimos da concepção de Graça Proença em Artes como um requisito fundamental para a
sua obra sobre “Descobrindo a História da Arte” boa qualidade da docência em Artes. Sendo
(2005), Dalton Sala sobre “Ensaios sobre arte assim, apresentaremos uma reflexão sobre a
colonial luso-brasileira” (2002) e SILVA, Et al situação do Ensino da Arte no Brasil, bem como,
sobre “Fazendo Arte para aprender:A proposições legais quanto a formação dos
importância das artes visuais no ato educativo” professores de Artes. É fato que o percurso
(2010). histórico do ensino de Artes no Brasil aponta
Nesse estudo, privilegiamos os uma série de entraves que dificultou a inserção
acontecimentos a partir do inicio de tudo, já da disciplina nas escolas de forma adequada, ou
nos primeiros traços e expressões deixadas seja, com docentes especialistas em Arte.
pelos homens da pré história, as ditas Artes Realizamos um breve estudo sobre como
Rupestres, que enriqueceram cavernas e surgiu a Arte, com a História da Arte na Pré-
pedras, de muitos lugares do mundo, com seus História e a retomada de um breve histórico
desenhos que simbolizavam a expressão do que sobre o ensino da Arte no Brasil, a fim de que se
viviam em seu cotidiano e, não podemos deixar possa compreender como este ensino se
de apontar o nosso patrimônio histórico que tornou uma disciplina e ainda obrigatória nas
engloba a arte rupestre brasileira, o que aponta escolas brasileiras.
que os homens das cavernas habitavam nosso A finalidade de apenas ressaltar o estudo da
território o qual herdamos todo o seu legado, História da Arte na Pré- História, foi de mostrar
que hoje nos favorece um belíssimo ponto que a arte tem uma existência em si própria, na
turístico para uma visitação que nos coloca de convivência do ser humano com o mundo que
volta ao passado. o cerca, na existência e na construção de
Fomos seguindo a linha histórica da arte nos saberes que permitem ao homem construir sua
Brasil e suas influências, o que não poderíamos inteligência criativa e assim, modificar a
deixar de citar a educação jesuítica na sociedade em que vive.
colonização. Para ilustrar melhor nosso Consideramos a História da Arte como um
trabalho apontamos algumas cavernas tema de grande relevância porque é por meio
importantes encontradas em outros países. da análise sócio histórica do passado que
podemos compreender o melhor o presente.
Partindo disso, vamos abordar o início da

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criação artística com os homens da caverna, na que os missionários jesuítas tiveram por
pré-história, com ilustrações de figuras de praticamente dois séculos, na educação
desenhos em cavernas e pedras, a chamada brasileira, em especial, nas suas demonstrações
Arte Rupestre, que fazem parte de um acervo artísticas que envolvem o Barroco com
preservado que abarca nossa história. influencias européias, com suas grandes obras,
Nesse ciclo histórico foram produzidas as principalmente em igrejas de todo o Brasil. A
Sete maravilhas do mundo antigo: as famosas trajetória do ensino de Arte, desde a chegada
Pirâmides e o Farol de Alexandria, localizados dos jesuítas até a atualidade, teve avanços
no Egito; o significativos, com novos pensamentos e
Colosso de Rodes, a estátua Criselefantina de concepções do que seja efetivamente o ensino
Zeus, o templo de Artêmis e o Mausoléu de de Arte.
halicarnasso, na Grécia; e os Jardins suspensos
da Babilônia, no Iraque. A HISTÓRIA DA ARTE
E o papel fundamental que os missionários A história do Ensino da Arte é um tema
jesuítas tiveram por praticamente dois séculos, importante a ser estudado, pois é por meio da
na educação brasileira, em especial, nas suas análise sócio histórica do passado que podemos
demonstrações artísticas que envolvem o compreender o presente. É preciso destacar
Barroco com influências européias, com suas
que o conceito de Arte foi se ampliando com o
grandes obras, principalmente em igrejas de
passar do tempo, como uma linguagem uma
todo o Brasil. A trajetória do ensino de Arte, forma de expressão, sendo assim, é certo que a
desde a chegada dos jesuítas até a atualidade, Arte é uma manifestação humana essencial que
teve avanços significativos, com novos esteve sempre presente nas culturas de um
pensamentos e concepções do que seja povo desde a antiguidade, representadas pela
efetivamente o ensino de Arte. arte rupestre até os dias de hoje.
A finalidade de apenas ressaltar o estudo da É chamado de “Arte Rupestre” o tipo de arte
História da Arte na Pré- História, foi de mostrar
mais antigo da história, mesmo antes de o
que a arte tem uma existência em si própria, na
homem iniciar a escrita, com início no período
convivência do ser humano com o mundo que Paleolítico Superior. A Arte Rupestre é
o cerca, na existência e na construção de encontrada em todos os continentes e divide-
saberes que permitem ao homem construir sua se em dois tipos:
inteligência criativa e assim, modificar a
A pintura rupestre, compreende as
sociedade em que vive.
composições feitas com pigmentos; A gravura
Consideramos a História da Arte como um
rupestre, que são as imagens gravadas em
tema de grande importância, porque é por
incisões na própria rocha.
meio da análise sócio histórica do passado que
A arte rupestre engloba desenhos, símbolos
podemos compreender o melhor o presente.
e sinais pré-históricos que foram feitos em
Partindo disso, vamos abordar o início da
tetos, paredes e outras superfícies de cavernas,
criação artística com os homens da caverna, na
assim como em abrigos rochosos e ao ar livre.
pré-história, assim como o papel fundamental
Geralmente, estas representações artísticas

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eram imagens de animais, plantas, pessoas do acontecimento, os acadêmicos consideraram


período no qual viviam com reproduções do seu as pinturas como prova de mentes primitivas.
dia a dia, como danças, caça, rituais, Já no decorrer do século XX, foi aceita a ideia de
alimentação e outros acontecimentos. Foi a que os homens pré-históricos tinham a mesma
partir do estudo desta arte que os capacidade artística e intelectual do homem
pesquisadores puderam conhecer melhor os moderno.
hábitos e a cultura dos povos da Antiguidade. Um dos períodos mais fascinantes da história
Segundo estudos realizados recentemente, humana é a Pré-História. Esse período não foi
estima-se que a arte rupestre começou no registrado por nenhum documento escrito, pois
momento em que o homem de cro-magnon- é exatamente a época que antecede a escrita.
Magnon se estabeleceu na região da Europa. Os Tudo o que se sabemos dos homens que
cro-magnons foi uma população primitiva de viveram nesse tempo é o resultado da pesquisa
homens que viveram no Período Paleolítico de antropólogos, historiadores e dos estudos
Superior. Em 1868, alguns esqueletos de da moderna ciência arqueológica com suas
ancestrais dos seres humanos atuais foram descobertas dos sítios arqueológicos, que
encontrados numa caverna na região de Cro- reconstruíram a cultura do homem da
Magnon, no sudoeste da França. A caverna antiguidade, considerando-se um legado para
foi pesquisada por um geólogo francês que as gerações que surgiram.
descobriu cinco camadas arqueológicas. Os
seres humanos revelados nessa descoberta A ARTE PRÉ-HISTÓRICA
foram chamados de cro-magnons e, desde
Podemos considerar que a arte pré-histórica
então, foram considerados, juntamente com os
se assemelha com a produção artística do
neandertais, representantes dos homens pré-
homem ocidental da atualidade, porém feitas
históricos.
pelos humanos pré-históricos. As primeiras
Há aproximadamente 150 anos, foram
expressões artísticas eram muito simples e
encontradas pela primeira vez as pinturas da
surgiram na pré-história num formato
caverna de Altamira, localizada na Espanha.
empírico, como um meio de representação, por
Segundo D’Aquino (1980, p.5):
meio de imagens de pessoas, animais, objetos
Suas manifestações artísticas não tinham e elementos da natureza, dentre outros,
intenção estética, e sim, econômica. Pintavam desenhados nas paredes e pedras das cavernas.
nas paredes escuras de suas cavernas os Tais obras consistiam em traços feitos nas
animais que tão bem conheciam como fontes paredes de argila da cavernas ou das mãos em
de alimento ou de outros meios de
negativos.
sobrevivência, como as peles para se abrigarem
Mas foi somente muito tempo depois de
do frio intenso: o bisonte, a rena, o mamute, o
dominarem a técnica das mãos em negativo é
cavalo.
que os artistas pré-históricos começaram a
Naquela época, os pesquisadores não desenhar e pintar animais. Os artistas pré-
acreditaram na descoberta, pois consideraram históricos após obter um pó colorido a partir da
as pinturas como fraude. Após este trituração de rochas, sopravam por meio de um

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canudo sobre a mão pousada na parede da artística de que se tem conhecimento. Nesse
caverna. A região em volta da mão fica colorida período a arte é considerada em todas as
e a parte coberta, não, como um estêncil, se manifestações que se desenvolveram antes do
comparado nos dias de hoje. Com isso, obtinha- surgimento das primeiras civilizações e,
se a silhueta da mão, como um filme em portanto antes da escrita. Isso pressupõe uma
negativo, daí o nome “Mãos em negativo”. grande variedade de produções, por povos
O homem da caverna também usava óxidos distintos, em locais diferentes, mas com
minerais, ossos carbonizados, carvão, vegetais algumas características comuns.
e sangue de animais em suas pinturas. Os Com o desenvolvimento da agricultura e o
elementos sólidos eram esmagados e início da metalurgia, entre os anos 8.000 e
dissolvidos na gordura dos animais por eles 4.000 a.C, constituem os aspectos principais da
caçados. Acredita-se que inicialmente chamada revolução neolítica. Nesse período,
utilizavam o próprio dedo como pincel, mas há também conhecido como idade da pedra
indícios de terem empregados pinceis feitos de polida, os homens agrupam-se em povoados e
penas e pelos. começam a dividir os trabalhos que permite a
A Arte Rupestre, foi descoberta em muitos produção e a comunicação com outros grupos.
lugares do mundo, mas as mais estudadas são Surge então a escrita, demarcando o período
as das “cavernas de Lascaux e Chauvet, França, das grandes civilizações como da mesopotâmia
de Altamira, Espanha, de Tassili, na região do do Egito, da Grécia e de Roma.
Saara, África, e as do município de São Nesse ciclo histórico foram produzidas as
Raimundo Nonato, no Piauí, Brasil. As pinturas Sete maravilhas do mundo antigo: as famosas
rupestres que mais se destacam são as Pirâmides e o Farol de Alexandria, localizados
chamadas “mãos em negativo” e os desenhos e no Egito; o Colosso de Rodes,a estátua
pinturas de animais. As mãos em negativos são Criselefantina de Zeus, o templo de Artêmis e o
um dos primeiros registros deixados pelos Mausoléu de halicarnasso, na Grécia; e os
nossos ancestrais, no período da Pré-História Jardins suspensos da Babilônia, no Iraque.
chamado Paleolítico. No período Paleolítico a principal
O período Paleolítico, também conhecido característica dos desenhos da Idade da Pedra
como período da pedra lascada é o período Lascada é o naturalismo, na qual o artista
mais longo e antigo da história que aconteceu pintava os animais ou humanos, do modo como
por volta de 3,5 milhões a 10.000 anos a.C. Os o via de uma determinada perspectiva,
grupos viviam em pequenos bandos abrigando- reproduzindo a natureza tal qual sua vista
se em cavernas; se alimentavam de caças, captava. Acredita-se que essa arte era realizada
pesca e coletas de frutas que encontravam na por caçadores e que fazia parte do processo de
própria natureza; desenvolviam lentamente a magia por meio do qual procurava-se interferir
linguagem oral e construíam instrumentos com na captura de animais, ou seja, o pintor-caçador
ossos e pedras. do Paleolítico supunha ter poder sobre o animal
Enfim, a arte do Paleolítico refere-se ao início desde possuísse a sua imagem.
da história da arte, a mais antiga produção

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Acreditava-se que poderia matar o animal musteriense. Nesta época também surgiram os
verdadeiro desde que o representasse ferido sambaquis, que foram os primeiros hominídeos
mortalmente num desenho. Realizavam as encontrados na América do Sul, situados
pinturas rupestres, feitas em rochedos e principalmente em áreas litorâneas.
paredes das cavernas, caracterizando sua No paleolítico médio os homens começaram
forma de vida. Para fazer as pinturas com a tradição cultural de reservar um lugar
encontradas nas paredes das cavernas, o para depositar os restos mortais de seus entes
homem pré-histórico usava pedaços de rochas, queridos e todos os pertences deles, como,
sangue de animais, argila, saliva, ossos e outros vestes, colares, cerâmicas e ferramentas, além
materiais. de também depositarem no mesmo local
Na Pré-História pode-se destacar os períodos conchas e restos mortais de animais. Com isso
em que aconteceram grandes evoluções no iniciava um conceito primitivo de religião.
desenvolvimento da humanidade em relação
ao modo de sobrevivência, social e artístico: o • Paleolítico Superior
Paleolítico e o Neolítico. A arte nesse período é estimada como sendo
a arte mais antiga da humanidade.
• Paleolítico Inferior Desenvolvida pelos povos primitivos, era
Período estimado entre 5.000.000 a 25.000 produzida nas cavernas, local onde os homens
a.C., marcado pelo surgimento dos primeiros nômades, caçadores e coletores, se protegiam
hominídeos que surgiram, no continente das intempéries climáticas e dos animais
Africano e viviam da caça e coleta de alimentos selvagens. Foi considerada como as primeiras
ofertados pela natureza. A temperatura da manifestações artísticas da época e só foram
terra nesta época era extremamente baixa, o localizadas por meio de escavações
que obrigava os homens e animais a viverem arqueológicas realizadas a partir do século XX
dentro de cavernas para não morrerem de frio. sobretudo na Ásia, África e Europa.
Eles costumavam fabricar seus instrumentos Os artistas do Paleolítico Superior realizavam
com pedras, madeiras e ossos e utilizavam também trabalhos em escultura. Além das
machados de pedras para cortar e esmagar os pinturas, eles também produziram objetos
alimentos, se defender dos predadores e furar decorados e esculturas de formas humanas,
coisas. sobretudo de formas femininas volumosas, que
supostamente indicava a fertilidade, feitas com
• Paleolítico Médio rochas, ossos ou madeira. Nota-se a ausência
Foi neste período que surgiu o homem de de figuras masculinas e a predominância das
Neandertal, que era um pouco mais inteligente figuras femininas, com a cabeça surgindo como
que seus antecessores. Eles começaram a prolongamento do pescoço, seios volumosos,
explorar mais a distribuição geográfica e ventre saltado e grandes nádegas.
passaram a ocupar a Europa enquanto Segundo D’Aquino (1980), p.5:
desenvolviam um pouco mais as suas técnicas
de talhe, também chamadas de indústria

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milhares de anos antes, se faziam pequenas • Neolítico


esculturas representando figuras femininas Nesse último período da Pré-História que
muito gordas. Essas estatuetas simbolizavam a marca aproximadamente 10.000 a 5.000 anos
fertilidade e a abundância da natureza. Assim, a.C, iniciou-se o desenvolvimento da
talvez tenha sido a magia a primeira força agricultura e a domesticação de animais, o que
intuitiva a levar o homem ao ato estético forçou o homem primitivo a sua permanência
(D’AQUINO,1980, p.5). em uma residência fixa, pois não precisavam
Destaca-se Vênus de Willendorf, esculpida mais mudar-se constantemente em busca de
em calcário oolítico e colorido com ocre alimentos.
vermelho. Possui 11,1 cm de altura Desta forma, com o início do cultivo de
representando estilisticamente uma mulher. campos, o homem das cavernas passou a ter
Acredita-se que as formas femininas eram uma vida mais estável, preocupando-se com
utilizadas em rituais associados à fertilidade e suas lavouras e afixando moradia, iniciando a
à sexualidade. Foi descoberta nosítio origem das sociedades atuais. A fixação do
arqueológico do paleolítico situado perto de homem da Idade da Pedra Polida, garantida
Willendorf, na Áustria.Em 1990, após uma pelo cultivo da terra e pela manutenção de
revisão da análise estratigráfica deste sítio manadas, ocasionou um aumento rápido da
arqueológico, estimou-se que tivesse sido população e o desenvolvimento das primeiras
esculpida há 22 000 ou 24 000 anos. Pouco se instituições, como família e a divisão do
sabe sobre a origem, método de criação e trabalho.
significado cultural. Certamente todas essas conquistas técnicas,
Outros tipos de figuras abstratas foram assim como as mudanças de hábitos
encontradas, como, riscos e linhas influenciaram muito o pensamento artístico e
emaranhadas. Os homens desse período obteve-se um forte reflexo na Arte. O homem,
utilizavam resíduos vegetais, sangue, carvão, que se tornara um camponês, não precisava
argila, terra ou excrementos humanos, para mais ter os sentidos apurados de um caçador,
fazer impressões humanas ou de animais nas como no período Paleolítico, e o seu poder de
pedras, relevos ou desenhos abstratos, como observação foi substituído pela abstração e
riscos, símbolos, etc. Produziam instrumentos racionalização, pois passou a refletir nas
de marfim, ossos, madeira e pedra como, situações que lhe surgiam em seu caminho.
machado, arco e flecha, lançador de dardos, Como consequência, surge um estilo artístico
anzol e linha. Era comum encontrar figuras de simplificador e geometrizante, com sinais e
homens caçando os animais, como, bisontes, figuras que mais sugerem do que reproduzem
cervos, cavalos.Essa é a chamada de Arte os seres propriamente dito. Os temas da Arte se
Rupestre, um patrimônio história riquíssimo modificaram e começaram as representações
que nos permite conhecer como viveram da vida coletiva, uma característica do homem
nossos ancestrais. sedentário.
O artista do período Neolítico passou a
retratar a figura humana em suas atividades

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cotidianas. A partir do sedentarismo em 1942. A cor preta que predomina, contém


estabelecido pela mudança de hábitos, o carvão moído e dióxido de manganês.
homem Neolítico deixou as cavernas e passou a Encontrada em 1994, a caverna apresenta
desenvolver técnicas de construção de desenhos de ursos, panteras, cavalos,
moradias, dando início às primeiras obras de mamutes, hienas, dezenas de rinocerontes
arquitetura com construções de pedras. peludos e animais diversos.
Surgiram então os primeiros arquitetos e as Gruta de Rodésia, na África: calcula-se que
primeiras obras arquitetônicas que exista há mais de 40.000 anos.
transformaram o modo de viver dessa O Parque Nacional Serra da Capivara, no
civilização. Ao mesmo tempo desenvolveram as Brasil: localizado no Sudeste do Estado do Piauí,
técnicas de tecer panos (tecidos) em teares e ocupa várias áreas, entre os municípios de São
de fabricar cerâmicas. O artista do Neolítico Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e
produziu uma cerâmica que revela mais a sua Coronel José Dias. Nessa região encontra- se
preocupação com a beleza e não apenas com a uma densa concentração de sítios
utilidade do objeto. Esses artistas também arqueológicos, sendo a maioria com pinturas e
iniciaram a produção de esculturas em metal. gravuras rupestres.
Eles já produziam o fogo por meio do atrito
com pedras ou gravetos e, começaram a A ARTE NA PRÉ-HISTÓRIA
trabalhar na fundição de metais, o que mais
tarde determinou o fim desse período com o BRASILEIRA
surgimento da metalúrgica e a edificação de O território brasileiro, muito antes da
cidades, a invenção da roda, da escrita e do chegada dos portugueses, já era habitados
arado de bois. pelos povos indígenas há milhares de anos.
Sendo assim, as pinturas rupestres Foram encontrados vários vestígios
registravam essas transformações ao longo do arqueológicos que comprovam essa existência,
tempo, transpondo uma nova alternativa de como, fragmentos de ossos e de objetos,
viver em sociedade.Existem várias cavernas desenhos e pinturas gravados em rochas.
pelo mundo que demonstram a pintura Desde 1970, vários pesquisadores trabalham
rupestre:Caverna de Altamira, na Espanha; num sítio arqueológico localizado no município
Caverna de Lascaux, na França; Caverna de de São Raimundo Nonato,portal de entrada do
Chauvet, na França e a Gruta de Rodésia, na Parque Nacional Serra da Capivara , no Piauí,
África. área de maior concentração de sítios pré-
São quase uma centena de desenhos feitos históricos do continente americano e
há 14.000 anos. Foram os primeiros desenhos Patrimônio Cultural da Humanidade, declarado
descobertos, em 1868, mas sua autenticidade pela UNESCO. No ano de 1978, foram
só foi reconhecida em 1902. encontrados no local grande quantidade de
Suas pintura foram produzidas há cerca de vestígios arqueológicos.
17.000 anos, mas foram encontradas somente As pesquisas mostram que os primeiros
habitantes da região usavam as grutas como

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

abrigo ocasional e foram os autores das obras


ali pintadas e gravadas. Há outros sítios
arqueológicos importantes no Brasil, como o de
Pedra Pintada, no Pará, e em Peruaçu e Lagoa
Santa, em Minas Gerais. Com as pesquisas
sobre as antigas culturas que existiram no
Brasil, podemos concluir que a nossa história
está ligada com a história do mundo, o que
reforça o conhecimento de que nossas raízes se
encontram num tempo muito mais remoto do
que o ano de 1500, que é considerado o ano
que deu início à história do Brasil. Pode-se
ainda destacar mais alguns locais em que
podemos encontrar pinturas rupestres no
território brasileiro, como, Rondonópolis em
Mato Grosso, Lagoa Santa e Peruaçu em Minas
Gerais, Cariris Velhos em Paraíba e o Parque
Nacional Sete Cidades, no Piauí.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendemos que a expressão artística faz parte da história da humanidade desde os
tempos mais remotos, iniciando-se na pré-histórias até a atualidade. O ser humano, desde que
nasce, tem a capacidade de desenvolver habilidades que o levem a atuar de forma que estabeleça
situações para sua própria sobrevivência.
Desta forma, acreditamos que mesmo a partir de sua própria experiência, os homens têm
se desenvolvido de acordo com suas necessidades em seu cotidiano, em busca de elementos que
o façam alcançar seus objetivos. Porém se faz necessário que haja um desenvolvimento pleno do
cidadão e, que ao longo de sua vida haja a presença de estímulos que favoreçam sua
aprendizagem. Para isso, acima de tudo, é de suma importância que a escola exerça sua função
social viabilizando profissionais com formação apropriada para exercer o papel que lhe é
atribuído.
Contudo, o homem da pré-história sentiu a necessidade de expressar suas crenças e
desenvolver técnicas para a própria sobrevivência, numa época em que as transformações
aconteceram muito lentamente, desde os habitantes de cavernas que eram nômades até os das
atuais.
Sedentários e dono de suas terras. Mas tudo isso aconteceu em milhões de anos, pelo fato
do desenvolvimento ser brando e as descobertas serem elementos de uma eventualidade que
sobrevinha numa determinada circunstância que o obrigava a arriscar-se em algo que
necessitasse.
Já os jesuítas tinham a desígnio de amansar os indígenas com o objetivo de mantê-los sob
controle e assim viverem para servir ao clero, que dominava grande parte da Europa na época.
Acreditavam que se domesticados, os indígenas seriam seus aliados e a paz entre eles
prevaleceriam de tal forma que a convivência fosse mais amistosa. Mas não foi o que aconteceu,
pelo fato de que os indígenas tinham um espírito de liberdade em relação ao mundo que o cercava
e, embora muitos se submeteram a escravidão, a maioria lutou contra o que dificultou muito a
convivência entre eles.
Enfim, a arte do Paleolítico refere-se ao início da história da arte, considerada a mais antiga
produção artística de que se tem conhecimento. Nesse período a arte é considerada em todas as
manifestações que se desenvolveram antes do surgimento das primeiras civilizações e, portanto
antes da escrita. Isso pressupõe uma grande variedade de produção, por povos distintos, em
locais diferentes, mas com algumas características comuns.
Considera-se que é no último período, denominado Paleolítico Superior, que o homem dá
o mais significativo passo na produção artística consciente, como resultado de uma necessidade
espiritual, dá luz às produções que expressam seu senso de espírito em cavernas ou pedras. No
entanto, é possível que este nível seja o culminar de um longo processo de amadurecimento
artístico e técnico, e que muito do que foi criado em épocas anteriores simplesmente não tenham
sobrevivido até aos nossos dias. Por esta razão subsistem ainda muitas incógnitas e questões em
aberto, podendo-se apenas especular sobre quais seriam as verdadeiras motivações artísticas do
Homem Pré-histórico.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A arte pré-histórica existe há milhões de anos e se fez presente aqui no Brasil, em alguns
lugares citados nesse trabalho. Sendo assim, nosso estudo a partir da pré-história se fez
necessário para entendermos que a produção artística em nosso país aconteceu muito antes da
ocupação pelos europeus e que é de grande importância para compreendermos o processo do
ensino da Arte para nossos alunos das séries iniciais do ensino fundamental.
Assim como a Arte da pré-história iniciou-se com a produção artística descobertas nos
sítios arqueológicos encontrados em alguns lugares do mundo e inclusive em nosso país, também
nos preocupamos em citar alguns acontecimentos com início da ocupação do Brasil, com a
chegada das redenções jesuíticas que deram um outro significado à arte no Brasil. Assim,
entendemos que as influências jesuíticas muito contribuiu para que a Arte se desenvolvesse da
forma que a encontramos atualmente.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Lei de Diretrizes e Bases Nacional: disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm. Data de Acesso:14/03/2020.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : arte. –


Brasília: MEC/SEF, 1997. 130p.

BUARQUE, C. Portal Teatro na escola: Comissão de Educação: Disponível em:


<http://www.teatronaescola.com/index.php/noticias/item/139-agora-e-lei- teatro-e-linguagem-
obrigatoria-na-educacao-basica-brasileira.> 14/03/2020.

CORTA DAQUI E DALI: Como o uso da tesoura pode desenvolver habilidades motoras e
cognitivas nas crianças.Disponível em:
<http://comoeducarseusfilhos.com.br/blog/corta-daqui-e-dali-como-o-uso-da- tesoura-pode-
desenvolver-habilidades-motoras-e-cognitivas-nas-criancas/> Data de Acesso:14/03/2020.

PROENÇA, Graça. Descobrindo a História da Arte . 1ª Ed. São Paulo, Ática.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA:


CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO
DOS EDUCANDOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Iara dos Santos Ramos1

RESUMO: Este artigo tem como propósito mostrar a relevância dos contos de fadas para as
crianças, para os professores e a para a escola. Os contos de fadas são histórias que se mantém
por muitos anos e que suas transformações vêm sendo necessárias de acordo com as
necessidades das crianças. Cada história tem suas narrativas simples e seus personagens por
muitas vezes são formados por heróis e bruxas, que exercem papéis fundamentais na imaginação
e criatividade das crianças. A escola e a família são essenciais para o processo de formação do
leitor crítico, sendo as mesmas responsáveis por mostrar o universo da literatura de modo
aprazível, não tornando a leitura como obrigação.

Palavras-Chave: Criança; Contos de Fadas; Professor; Educação Infantil.

1Professora Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo e Rede Municipal de Guarulhos.
Graduação: Licenciatura em Letras.
E-mail: iarasramos.ir@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O educador ao narrar uma história deve ser


capaz de fazer com que a criança, de maneira
Existem diversas alternativas de promover a descontraída, concentre-se e demonstre
integração ludicidade na aprendizagem infantil, interesse pela história, vivenciando dessa
contudo para que uma atividade pedagógica maneira um mundo diferente e incentivando a
seja lúdica é importante que seja possível à sua curiosidade e fantasia O mundo que as
viabilidade de decisão, de escolha, de crianças descobrem por meio das histórias abre
exploração, de indagações e respostas por caminho à formação de novas atitudes e
parte das crianças. perspectivas, possibilitando que estas se
Os contos de fadas surgiram há muito tempo posicionem criticamente diante da realidade.
e, até hoje tem encantado as crianças, Portanto, a imaginação é um dos aspectos
incentivando nelas um significante interesse. fundamentais na formação da criança. É por
Com uma linguagem simples e com uma meio do faz de conta que se desenvolvem
simbologia já idealizada, os contos de fadas condições favoráveis de aprendizagem, quando
cativam e acompanham as crianças a um a criança busca novos significados que se fazem
mundo de fantasias, de idealizações e dão importantes naqueles momentos de interação
sentido ao seu anseio de crescer e de estabelecidos pelas situações imaginárias e
transformar o universo. pelas regras de convivência. O faz de conta dá
Esses contos caracterizam-se por apresentar oportunidades para expressão e elaboração em
uma situação de equilíbrio no início e forma simbólica de anseios e conflitos, quanto
divergência em seu desenvolvimento o que mais rica for à fantasia e a imaginação da
proporciona as crianças reconhecer com esses criança, maiores serão suas probabilidades de
conflitos e absorvem para si, como forma de ajustamento do mundo ao seu redor. Como
resolução a seus próprios problemas. Além exemplo, é possível mencionar as bonecas, os
disso, eles colaboram para o desenvolvimento fantoches, as mobílias infantis, os carrinhos, as
subjetivo das crianças, ao passar a ideia de que fantasias, os teatrinhos e outros.
a luta contra as dificuldades na vida é inevitável Os contos infantis utilizam uma linguagem
e, se a pessoa não se intimida diante delas e as imagística, que junto a símbolos, figuras,
combate ela sairá vitoriosa. alegorias e comparativos conseguem transmitir
A contação de histórias poderá oportunizar a padrões de pensamentos ou de conduta que
ampliação do pensamento infantil propiciando provocam o amadurecimento da inteligência da
novas escolhas e vivências. A contação de criança, fazendo-a formar conceitos críticos
histórias permite a criação de um mundo que colaboram na compreensão e reflexão
próprio para as crianças, é por meio da sobre o mundo a sua volta.
imaginação que a criança se permite fazer parte
no mundo da fantasia, modificando, por
exemplo, um cabo de vassoura em um cavalo
que ela escutou estar na história contada.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E A Além de ser uma atividade lúdica, o ato de


contar histórias trabalha a emoção, a
APRENDIZAGEM socialização, a atenção, é uma nova forma de
A contação de história é uma atividade ensinar e de aprender. Se, adquirindo o hábito
lúdica, artística e pedagógica podendo estar ao da leitura, a criança passa a escrever melhor e a
alcance do professor na sala de aula como um dispor de um repertório mais amplo de
instrumento de trabalho, um recurso informações, a principal função que a literatura
importante para a aprendizagem do aluno, e cumpre junto a seu leitor é a apresentação de
consequentemente, para a formação do aluno novas possibilidades existenciais, sociais,
leitor. Segundo Abramovich (1989), é por meio políticas e educacionais. Na educação infantil os
de uma história que se pode descobrir outros professores devem ser incentivadores do
lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e hábito da leitura. Contar ou ler histórias para as
de ser, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo crianças desde pequenas será de grande
História, Geografia, Filosofia, Política, importância para despertar nelas o gosto pela
Sociologia, sem precisar saber o nome disso leitura e assim contribuir para o seu
tudo... O professor quando conta uma história, desenvolvimento e aprendizagem.
está fazendo uma ponte entre o leitor e o livro, Sobre a literatura infantil Coelho (2000, p.
criando um elo imaginário, contribuindo para 43), afirma que: É o meio ideal não só para
aquisição da linguagem, estimulando a auxiliá-las a desenvolver suas potencialidades
observação, facilitando a expressão de ideias e naturais, como também para auxiliá-las nas
desenvolvendo a capacidade cognitiva de várias etapas de amadurecimento que
perceber o livro como um instrumento de medeiam entre a infância e a idade adulta.
informação. Sabe-se que a contação de histórias é uma
Conforme Vygotsky (2007): atividade de linguagem em que as expectativas
A imaginação é um processo psicológico dos ouvintes se confrontam com os
novo para a criança; representa uma forma acontecimentos e formas narrados. É ouvindo
especificamente humana de atividade histórias que as crianças se deparam com
consciente, não está presente na consciência importantes emoções, como a tristeza, a raiva,
de crianças muito pequenas e está totalmente a irritação, a insegurança, o medo, o bem estar,
ausente em animais. Como todas as funções da a alegria, a confiança, enfim, ela proporciona
consciência, ela surge originalmente da ação. O momentos de prazer ao mesmo tempo em que
velho adágio de que o brincar da criança é serve de alicerce dentro do processo de
imaginação em ação deve ser invertido; aprendizagem, contribuindo para o
podemos dizer que a imaginação, nos desenvolvimento da criança.
adolescentes e nas crianças em idade pré- Segundo Souza (1997), a didática do conto de
escolar, é o brinquedo sem ação, (VYGOTSKY, histórias é cativante e enriquecedora na
2007, p. 109). educação infantil e, com o cuidado para que a
estrutura da narração aconteça de forma
lúdica, dentro do seu processo de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizagem, a contação proporcionará às CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA


crianças um melhor desenvolvimento da
capacidade de produção e compreensão EDUCAÇÃO INFANTIL
textual. Ao longo dos anos, a educação preocupa-se
É importante também que as crianças em contribuir para a formação de um indivíduo
tenham acesso a livros, com o objetivo de crítico, responsável e atuante na sociedade.
proporcionar um contato com o objeto Isso porque se vive em uma sociedade, na qual
enriquecendo suas possibilidades de as trocas sociais acontecem rapidamente, seja
imaginação, de criar, de experimentar novas por meio da leitura, da escrita, da linguagem
cores, combinações e significados, como define oral ou visual. A Educação Infantil é uma fase
Bajard (2002): ideal para a formação do interesse pela leitura,
[...] a escuta das fábulas pela criança suscita pois nesta fase são formados os hábitos da
nela o desejo de procurar a fonte da qual o criança. As escolas de Educação infantil são um
mediador retira essas histórias, favorecendo local onde as crianças interagem socialmente,
assim o contato com a materialidade dos livros. recebendo influências socioculturais para o
A criança explora o espaço onde eles estão desenvolvimento da aprendizagem.
armazenados, toca-os, abre-os, escolhe-os. Ao A leitura é um estímulo para desenvolver a
entrar nas páginas do livro de literatura infanto- capacidade crítica de interpretação e interação
juvenil, os olhos da criança são atraídos pela social, oferecendo, assim, um contato com o
riqueza de imagens, antes de se sensibilizarem seu mundo imaginário. É nesta fase que todos
a disposição do texto. O livro se deixa conhecer os hábitos se formam, por isso a importância de
então a partir de sua encadernação, do formar leitores desde pequenos.
empilhamento de suas páginas e de sua As histórias infantis nos levam para um
flexibilidade, assim como pelo fascínio que mundo imaginário, no qual as crianças sentem
provocam suas ilustrações (BAJARD, 2002, p. medo, se consolam, relacionam o real com o
186). imaginário, despertam curiosidade, acreditam
É isso que a história faz, ela apresenta nas histórias porque a visão de mundo aí
mecanismos para enfrentar os problemas de apresentada está de acordo com a sua. É de
uma maneira saudável e criativa, levando a grande importância que o trabalho do hábito
criança a um mundo maravilhoso, no qual os pela leitura seja incentivado também em casa.
momentos vivenciados pelos personagens e Desde o berço, a criança escuta a mãe cantando
suas aventuras são repletas de significados, e balançando, ou contando histórias antigas.
permitindo o desenvolvimento da Com isso a criança aprende a gostar do livro
subjetividade das crianças, oferecendo uma pelo afeto, sendo por meio deste que a criança
nova forma de interpretar seus sentimentos. aprende e desenvolve.
Segundo Pinto, citado por Runifo e Gomes
(1999), a contação de histórias influi em todos
os aspectos da educação da criança: na
afetividade: desperta a sensibilidade e o amor à

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

leitura; na compreensão: desenvolve o Assim, os contos de fadas proporcionam


automatismo da leitura rápida e a diversos sentimentos na criança como fantasia,
compreensão do texto; na inteligência: medo, alegria e tristeza. Sendo de grande
desenvolve a aprendizagem de termos e importância inserir na Educação Infantil, pois é
conceitos e a aprendizagem intelectual. onde se inicia o caminho para a leitura.
A literatura infantil é um caminho que leva a Contudo, educar é uma tarefa que exige muita
criança a desenvolver a imaginação, emoções e responsabilidade, neste sentido é essencial
sentimentos de forma prazerosa e significativa. para uma boa formação que a criança seja
É importante para a formação de qualquer estimulada a ler.
criança ouvir muitas e muitas histórias, pois é Por isso, é importante entender como se dá
por meio dos livros e contos infantis que a o processo de formação da leitura. Pais e
criança enfoca a importância de ouvir, contar e docentes precisam saber como podem
recontar. estimular este processo que será significativo
De acordo com Abramovich (2009, p.14), por toda a vida. A influência dos pais na
“escutá-las é o início da aprendizagem para ser formação de leitores. Os pais são grandes
um leitor, e ser leitor é ter um caminho incentivadores na formação dos hábitos na
absolutamente infinito de descoberta e de criança, por isso sua influência sobre este
compreensão do mundo”. hábito é de grande importância, pois estarão
Incentivar a formação do hábito de leitura na presentes desde a infância até a velhice, além
idade em que todos os hábitos se formam, isto do contato com o livro e a rica aprendizagem
é, na infância, é muito importante. Neste daí surge o gosto pela leitura.
sentido, a literatura infantil é uma peça A compreensão e sentido daquilo que o cerca
fundamental para o desenvolvimento cognitivo inicia-se quando bebê, nos primeiros contatos
e social da criança, sendo que cada criança é um com o mundo. Os sons, os odores, o toque, o
ser particular, cada uma possui suas paladar, estes já são os primeiros passos para a
dificuldades e limitações. Exercendo papel criança aprender a ler. No entanto, esta é uma
essencial na aprendizagem. atividade que implica não somente a
A criança incorpora na história e traz para a decodificação de símbolos.
sua vida. Bettelheim (1980, p. 15), ressalta que, Ela envolve uma série de estratégias que
é característico dos contos de fadas colocarem permitem ao indivíduo compreender o que lê.
um dilema existencial de forma breve e Neste sentido, relatam os Parâmetros
categórica. Isto permite a criança aprender o Curriculares Nacionais (PCN’s,2001, p.54.):
problema em sua forma mais essência, na qual Um leitor competente é alguém que, por
uma trama mais complexa confundiria o iniciativa própria, é capaz de selecionar, dentre
assunto para ela. O conto de fadas simplifica os trechos que circulam socialmente, aqueles
todas as situações. Suas figuras são esboçadas que podem atender a uma necessidade sua.
claramente, e detalhes, a menos que muito Que consegue utilizar estratégias de leitura
importantes, são eliminados. Todos os adequada para abordá-los de forma a atender
personagens são mais típicos do que únicos. a essa necessidade. As crianças precisam ser

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incentivadas, quanto mais cedo melhor, para experiência sua, que poderia ter significado
poder despertar a imaginação, criatividade, para todos. Há quem conte histórias para
análise, senso crítico e poder de argumentação, enfatizar mensagens, transmitir
pois os livros são ferramentas do conhecimentos, disciplinar, até fazer uma
conhecimento. espécie de chantagem - se ficarem quietos,
Ao ter contato com os livros a criança conto uma história, se isso, se aquilo... - quando
estreita os laços familiares e cria-se um o inverso que funciona. A história aquieta,
momento de proximidade. serena, prende a atenção, informa, socializa,
Jolibert (1994, p. 14), afirma que:·.não se educa (COELHO, 1999, p.12).
ensina uma criança a ler: é ela quem se ensina Na infância, a narrativa de histórias amplia a
a ler com a nossa ajuda [e a de seus colegas e aquisição de conhecimentos e experiências das
dos diversos instrumentos da aula, mas crianças, desperta a criatividade, a imaginação,
também a dos pais e de todos os leitores a atenção e principalmente o gosto pela leitura.
encontrado. Para Abramovich (1989), a importância de se
Cada criança possui o seu desenvolvimento, contar histórias para crianças reside no fato de
suas etapas e processos, é ela quem que escutá-las é o início da aprendizagem para
desempenha o papel essencial da ser um leitor, é também instigar o imaginário, é
aprendizagem, com estímulos ela realizará esta ter a curiosidade respondida em relação a
tarefa com mais facilidade. É importante tantas perguntas, é encontrar outras ideias
despertarmos a curiosidade na criança para que para solucionar as questões (como as
ela mesma possa folhear os livros, ver as personagens fizeram).
figuras. Desde cedo à criança já percebe que o Na Educação Infantil as histórias despertam
livro é uma coisa boa e que lhe dá muito prazer, nas crianças desde pequenas, gostos e valores,
porém muitos pais acham que por não saberem pois quando se conta uma história têm-se
ler, não precisam ter o contato com os livros. vários objetivos entre eles, ensinar, instruir,
educar e divertir. É na infância quando a criança
A IMPORTÂNCIA DAS está nesta fase de desenvolvimento e
descobertas que se deve proporcionar-lhe este
HISTÓRIAS INFANTIS contato com os livros, fazendo com que ela
Qualquer pessoa em algum momento da perceba que por meio deles ela pode aprender
vida já ouviu ou contou uma história, pois as a escrever, a imaginar, a pensar e a descobrir o
histórias e os contos populares sempre mundo. Digamos que o conto poderia ser para
existiram, ou seja, desde que o ser humano a criança um objeto transicional que lhe
adquiriu fala. Não há nesse mundo um só povo permitisse passar do mundo da onipotência
que não tenha suas histórias, elas são uma imaginária àquele da experiência cultural, e em
necessidade do ser humano por ser um elo que que o prazer e o desejo pudessem encontrar
une as pessoas. As histórias devem ter nascido sua fonte de renovação. Contar histórias é
com o homem, no momento em que ele sentiu proporcionar e despertar a leitura, o escrever,
necessidade de contar aos outros alguma o desenhar, o imaginar, o brincar. Por

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

intermédio das histórias a criança sente auxiliar na formação de uma consciência crítica,
diferentes emoções como alegria, medo, fazendo seus ouvintes/leitores identificar-se
tristeza, bem estar, insegurança, entre tantas com os temas abordados nas histórias
outras, e assim ela aprende a lidar com seus (DOMINGUES, NIEDERAUER, 2005, p. 5).
sentimentos da sua maneira. Um exemplo a ser citado é a história dos três
A vida é com frequência desconcertante para porquinhos, que mostra a importância da união
a criança, ela necessita mais ainda que lhe seja dos três irmãos (porquinhos) para vencer o seu
dada a oportunidade de entender a si própria maior opressor (lobo). Portanto, diante de
nesse mundo complexo com o qual deve todos os desafios apresentados em sala de aula
aprender a lidar. Para que possa fazê-lo, precisa a contação de história é a que mais atua na
que a ajudem a dar um sentido coerente ao seu formação do imaginário infantil, sendo que, ao
turbilhão de sentimentos. Necessita de ideias ouvir a história a criança viaja na imaginação e
sobre como colocar ordem na sua casa interior, nos sonhos. As histórias infantis sempre trazem
e com base nisso poder criar ordem na sua vida consigo uma mensagem de vida pessoal e social
(BETTELHEIM, 2009, p.13). Percebe-se que a fortalecendo assim, o desenvolvimento da
contação de histórias na educação infantil é de personalidade e a importância da convivência
extrema importância, a criança que é familiar e social.
incentivada e gosta de ouvir e ler histórias será Os professores ao contarem histórias trazem
com certeza um adulto diferenciado. como perspectiva o crescimento na
aprendizagem e no desenvolvimento
OS DESAFIOS DA CONTAÇÃO intelectual de seus alunos. Por isso, a história
auxilia na aprendizagem da leitura, escrita e
DE HISTÓRIAS NA SALA DE AULA desenvolvimento oral. Assim, percebe-se a
A literatura infantil em sala de aula e práticas importância do contador de história, porque,
educativas escolares tem apresentado um de acordo com Farias (2011), há diversas razões
continuo desafio para educadores e alunos na para se ouvir e contar histórias.
criação do imaginário, sendo uma atividade que A primeira é que, quando as ouvimos,
exige muita criatividade do professor. Para despertamos para situações que não tínhamos
Domingues e Niederauer (2005, p.5), a pensado antes. Dessa forma, ampliamos nossos
literatura atua sobre a criança como conhecimentos, o que nos permite rever e
perspectiva de sonhos e valores em construção. reelaborar alguns valores. A segunda é que as
Tal literatura que apresente o maravilhoso, histórias mantêm sempre aceso o farol da
próprio da fábula, dos mitos e das lendas e que imaginação, da criatividade, da curiosidade, da
encontra, nos contos de fadas, um destaque ludicidade. Elas despertam o espírito juvenil
especial, continua encantando as crianças até que existe em qualquer pessoa, seja criança ou
hoje. Isso porque os valores que tal literatura adulto. Quem sabe muitas histórias,
transmite são gerais e perenes, visto que certamente é porque ouviu, leu ou contou.
surgiram do folclore, que é a manifestação do Assim, dispõe de mais conhecimentos para
conhecimento de um povo e continuam a enfrentar situações novas durante o seu

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

percurso de vida, uma vez que, ao contrário da Desta forma acredita-se que a leitura é um
maioria das formulações científicas, as histórias dos meios mais importantes para a consecução
rejeitam verdades unívocas e permitem de novas aprendizagens; possibilita a
soluções múltiplas (FARIAS 2011, p. 21). construção e o fortalecimento de ideias e
Portanto, ao ser desafiado para contar ações, afinal, não se ensina ou não se aprende
história o professor muitas vezes não tem simplesmente a ler e a escrever. Aprende-se
consciência da influência dessas sobre o uma forma de linguagem, uma forma de
imaginário e a formação cognitiva e social da interação, uma atividade, um trabalho
criança. Pois, se sabe que desde recém-nascido simbólico, que só é conseguido por meio da
as histórias contadas contribuem para o utilização dos contos de fadas concomitante ao
desenvolvimento do estímulo à leitura. processo de alfabetização.
A criança ao ouvir, ler e compreender a A importância de contar histórias foi
história reproduz durante as brincadeiras com ressaltada quando se percebeu que era uma
seus amigos as histórias lidas e ouvidas nos forma de transmitir a emoção da literatura.
diversos contextos sociais (escola, família, Segundo Abramovich (1993), “Escutá-las é o
grupos de amigos), fortalecendo os laços início da aprendizagem para ser um leitor, e ser
familiares e sociais. leitor é ter um caminho absolutamente infinito
Os desafios são variados para enfrentar as de descobertas e compreensão do mundo”.
dificuldades de leitura tanto na sala de aula A partir dessa afirmação de Abramovich
quanto em casa. Assim é necessário valorizar (1993), entende-se que no momento em que o
essa prática, pois, a contação de histórias, aluno ouvir uma história ele entrará em contato
quando trabalhada de forma adequada, com uma realidade diferente da sua e terá
contribui para que as crianças desenvolvam e acesso ao novo. Neste sentido, contar histórias
ampliem habilidades, valorizando a ideia que a leva os alunos a um mundo que só é imaginário
criança, ao escutar histórias, é levada a fazer ou ignorado, de forma que a experiência pode
associações e relações com situações do ser sugada agradavelmente, revelando-se uma
cotidiano, sendo, desta forma, mais fácil estratégia para ensinar e entreter.
desempenhar papeis sociais com autonomia e Por esse motivo acredita-se ser grande a
criticidade. contribuição do contar e ouvir história na
Portanto, o contar e o ouvir histórias são, aprendizagem do aluno, tanto em valores,
fundamentais na vida da criança para que, a quanto em conteúdos escolares, já que nesta
mesma se desenvolva de forma física, fase escolar se aprende com o que é de agrado,
intelectual, emocional, social, afetiva e e contar histórias é brincar com versos, com
cognitivamente. Ouvindo histórias, elas rimas ou simplesmente com palavras. Por meio
aprendem a lidar com as emoções e da oralidade é possível fascinar-se com a
desenvolvem o imaginário, equilibrando as riqueza da comunicação, que é uma arte muito
tensões provenientes do seu mundo cultural e linda e atrai os alunos para o aprendizado.
social, construindo sua individualidade e marca
pessoal, enfim, sua personalidade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

HABILIDADES QUE O O professor que conta história, abre as


portas da imaginação infantil, levando a criança
PROFESSOR DEVE TER AO para um mundo maravilhoso e mágico, repleto
CONTAR HISTÓRIAS de ternura, carinho e suspense. Portanto, ao
O grande segredo para ser um bom contador contar uma história o professor deve conhecer
de histórias é ler muito, ler tudo e não ter bem o enredo, pois assim estará se embalando
pressa para contar a história. Quem conta deve com o tema, vivendo-o e emocionando-se. É
estar preparado a produzir uma cumplicidade importante também ter uma voz clara e
entre a história e o ouvinte, propiciando agradável, que se modifica de acordo com a
espaços para a criança se envolver e não pode situação e os personagens. Dosar e não
nunca ser um repetidor mecânico do texto que exagerar na carga de emoção. A oralidade é
ele escolheu contar. muito importante na Educação Infantil,
Para contar uma história – seja qual for – é enriquecendo a comunicação e a expressão,
bom saber como se faz. Afinal, nela se uma vez que as crianças fazem uso da
descobrem palavras novas, se entra em contato linguagem a todo o momento, esta ajuda
com a música e com a sonoridade das frases, favorece a interação social. Neste sentido, o
dos nomes, se capta o ritmo, a cadência do papel do educador é de assumir um
conto, fluindo como uma canção, ou se brinca compromisso com o livro, criando o hábito de
com a melodia dos versos, com o acerto das contar histórias e despertando curiosidade nas
rimas, com o jogo das palavras. Contar histórias crianças para que criem suas hipóteses.
é uma arte! É ela que equilibra o que é ouvido Segundo o Referencial Curricular Nacional de
com o que é sentido, e por isso não é nem Educação Infantil (RCNEI, 1998, p. 24):
remotamente declaração ou teatro, ela é o uso É na interação social que as crianças são
simples e harmônico da voz(ABRAMOVICH, inseridas na linguagem, partilhando
1989, p.18). significados e sendo significadas pelo outro.
Como garantia de uma boa narração são Cada língua carrega, em sua estrutura, um jeito
necessários elementos como originalidade, próprio de ver e compreender o mundo, o qual
surpresas, agilidade da contação e a se relaciona a características de culturas e
expressividade. Abramovich (1989), coloca grupos sociais singulares. Ao aprender a língua
ainda que, contar histórias é uma arte, que não materna, a criança toma contato com esses
pode ser feita de qualquer jeito, pegando conteúdos e concepções, construindo um
qualquer livro, sem nenhum preparo. E quando sentido de pertinência social (BRASIL,1998,
isso acontece a criança logo percebe que o p.24).
narrador não está acomodado com a história e De acordo com o Referencial Curricular
existe uma grande chance de no meio da Nacional para a Educação Infantil
história o narrador emperrar ao pronunciar a criança como todo ser humano, é um
alguma palavra, fazer as pausas nos momentos sujeito social e histórico e faz parte de uma
errados e perder o rumo da história. organização familiar que está inserida em uma
sociedade, com uma determinada cultura, em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

um determinado momento histórico (BRASIL, história é bem contada ela marca


1998, p. 21;22). profundamente a alma do ouvinte”. Cabe ao
As escolas de Educação infantil são um localprofessor aprimorar seu conhecimento e
onde as crianças interagem socialmente, habilidades para contar histórias às crianças. É
recebendo influências socioculturais, para o um momento mágico e de uma riqueza de
desenvolvimento da aprendizagem. Coelho detalhes incontáveis. Seguem algumas
(1999), completa: “Estudar uma história é, em sugestões para que a hora do conto seja um
primeiro lugar, divertir-se com ela, captar a momento verdadeiramente atraente e mágico
mensagem que nela está implícita e, em às crianças.
seguida, após algumas leituras, identificar os - A VOZ O principal instrumento do contador
elementos essenciais” (1999, p.21). de história é a voz. Portanto, o narrador deve
Para as crianças da Educação Infantil é expressar-se numa voz definida, compreensível
importante que as histórias tenham linguagem e modificá-la de acordo com os aspectos da
simples, clara e de acordo com os interesses e história que está contando. Garcia, et. al.,
maturidade. Devem ter uma narrativa (2003), coloca que a voz é muito importante
interessante e agradável que despertem a para o contador de histórias, pois ela
curiosidade e a imaginação. Nas histórias de materializa não só as sucessivas fases do conto
fadas, por exemplo, o ¨Era uma vez...¨, leva as(momentos de alegria, tristeza, euforia,
crianças ao mundo do encanto e da magia. Por suspense, tranquilidade, etc.), como também
os personagens, uma vez que cada um possui
isso, o professor deverá sempre contar histórias
que contenham personagens fantásticos. uma voz típica e fácil de ser identificada. Alguns
As fábulas também são histórias que as exemplos: - o gigante tem voz grossa e forte; -
crianças da Educação Infantil gostam muito, o rei possui uma voz mandona; - os animais
levando-as a entrar no mundo de fantasias e pequenos ou filhotes possuem uma voz
imaginação. O professor deve narrar contos balbuciada e fina; - os velhinhos possuem voz
que apresentem repetições, diálogos, sons, trêmula e fraca. Para ter uma boa voz, é
etc., pois as crianças adoram participar importante ter alguns cuidados como: - tomar
ativamente da história repetindo palavras, bastante água, várias vezes ao dia e em
imitando sons e as vozes de animais. temperatura ambiente; - comer frutas, maçã,
Segundo Coelho (1999), dentre os por exemplo, ajuda na limpeza da boca e da
indicadores que nos orientam na seleção da laringe; - Evitar ingerir alimentos ou líquidos
história destaca-se o conhecimento dos muito gelados ou muito quentes; - Evitar gritar.
interesses predominantes em cada faixa etária. - O OLHAR O olhar é tão importante quanto
a fala, é o elo principal do contador de histórias.
TÉCNICAS E RECURSOS PARA Por intermédio do olhar pode-se expressar:
bondade, sinceridade, orgulho, indiferença,
CONTAR HISTÓRIAS meiguice, entusiasmo... Deve-se distribuir bem
Segundo Garcia, et.al. (2003, p 39),” não há o olhar e não se fixar só numa pessoa ou num
exagero nenhum em dizer que quando uma grupo. Antigamente, no tempo de nossos pais e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

avós, a comunicação era feita muito mais pelo prazer em ir acompanhando as ilustrações
olhar do que pelas palavras. Bastava um olhar enquanto escuta a história. Na óptica de
mais forte e já se sabia o que eles queriam dizer. Coelho, “devemos mostrar o livro para a classe
Hoje, falta esse ingrediente na comunicação virando lentamente as páginas com a mão
(GARCIA, et. al. 2003, p.44). O olhar traz o direita, enquanto a esquerda sustenta
ouvinte para dentro da história. O contador lentamente a parte inferior do livro, aberto de
deve distribuir bem o olhar e cruzá-lo ao menos frente para o público”.
uma vez com o de cada ouvinte. A história não Narrar com o livro não é, propriamente, ler a
pode ser repetida mecanicamente, e aqui entra história. O narrador a conhece, já a estudou e a
a importância da expressividade do olhar. Uma vai contando com suas próprias palavras, sem
sugestão para treinar o olhar é brincar em titubeios, vacilações ou consultas ao texto, o
frente ao espelho, fazendo expressões que prejudicaria a integridade da narrativa”
fisionômicas: - Alegria - Tristeza - Raiva - Medo (COELHO, 1999, p.33). O professor deve ler e
- Emoção. estudar a história antes de contá-la e segurar o
- A EXPRESSÃO CORPORAL Na contação de livro com cuidado, à altura dos olhos das
histórias, o corpo e as mãos são ingredientes crianças. Além do livro o professor poderá usar
importantes, ajudam a expressar as ideias. diversos outros recursos para contar histórias,
Porém, não se deve nunca exagerar nos gestos, como: - teatro de sombras; - sucatas e outros
eles devem ser simples e expressivos. Todo objetos; - marionetes; - máscaras; - gravuras; -
personagem (rei, rainha, madrasta, caçador, cineminha; - retroprojetor...
animal, etc...) tem um jeito de ser, um andar, Outro ótimo recurso para contar e
manias, atitudes e todo enredo pode ser dramatizar histórias, são os fantoches, o
baseado em gestos e expressões. O contador professor mesmo pode fazer, recriar e inventar:
deve estar atento, os gestos devem ser - fantoche de colher de pau; - fantoche de meia;
estudados e elaborados durante a preparação - fantoche de saco de papel; - fantoche de
da história, pois podem ajudar na decodificação copinho plástico; - fantoche de tecido; -
significativa contida na palavra e dar uma fantoche de caixas e embalagens; - fantoche de
direção ao imaginário da criança. Coelho palito; - fantoche de garrafa plástica.
(1999), também cita algumas técnicas utilizadas Os instrumentos musicais também podem
para a contação de histórias, entre elas estão: - ser usados para dar mais vida e enriquecer à
Simples narrativa, é a mais tradicional e antiga hora do conto. Para Garcia et.al. (2003), não é
forma de se contar histórias, pois não requer necessário saber tocar nenhum instrumento.
nenhum acessório ou recurso se processa Uma pequena batida num pandeiro pode criar
somente por meio da voz e expressão corporal no ouvinte a imagem de uma explosão. Uma
do narrador. Esta técnica trabalha diretamente mexida no chocalho pode representar uma
no imaginário da criança e estimula a cobrinha se aproximando... Só não se pode
criatividade dos ouvintes, pois existem exagerar e interromper a contação da história
histórias, nas quais a apresentação do livro é com muito barulho pode cansar e distrair as
indispensável e a criança sente um enorme crianças. Alguns instrumentos que podem ser

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

utilizados durante a hora do conto: - violão; - sequência. Tipos de histórias: - contos de fadas
reco-reco; - triângulo; - cocos; - caxixi; - com enredo simples; - histórias de animais,
pandeiro; - chocalho. brinquedos e outros objetos; - histórias de
repetição e acumulativas; - histórias da vida
INDICADORES PARA A real. Na faixa etária entre cinco e seis anos, as
crianças encontram-se no início do processo de
ESCOLHA DA HISTÓRIA: FAIXA socialização e possuem maior capacidade de
ETÁRIA E SEUS INTERESSES concentração, ou seja: - apreciam a companhia
Crianças até três anos demonstram aumento de outras crianças; - cooperam bastante; -
constante do vocabulário, utilizam sentenças formam grupos de amigos; - interessa-se por
simples e criam palavras para expressar suas histórias mais longas, com enredos simples; -
necessidades. Nesta faixa etária as crianças esperam a sua vez em conversas; Tipos de
gostam de: - ouvir histórias curtas e rimadas; - histórias: - contos de fadas com enredo simples;
observar as gravuras e ouvir músicas; - imitar - histórias de animais; - contos de humor; -
gestos e sons; - gostam de ouvir os adultos histórias com muita ação; - histórias que
repetir as sílabas que pronunciam; - encontram representam a realidade. Garcia, et.al. (2003),
grande satisfação em ouvir; - mudam com quem se deve concordar, observa: Há um
rapidamente de assunto; - possuem atenção verdadeiro tesouro de histórias que abre as
dispersiva; Tipos de histórias: - histórias de portas do imaginário, fazendo com que o
bichinhos, brinquedos e outros objetos aprendizado seja um momento rico e
humanizados; - histórias dramatizadas com prazeroso. Enfim, quando aprendemos por
sons e gestos; - histórias utilizando imagens. intermédio das histórias, nunca nos
Entre os três e quatro anos, as crianças estão esquecemos, pois esse é um aprendizado que
na fase do realismo imaginário. Para elas, a dura para sempre (GARCIA, et.al., 2003, p.10).
imitação representa a realidade e todas as
coisas são vivas e dotadas de sentimentos, as COMO COMEÇAR A CONTAR A
crianças nesta faixa etária: - apresentam maior
capacidade de concentração; - possuem maior
HISTÓRIA
É importante preparar o ambiente para a
concentração da sequência lógica; - gostam de
hora do conto, o local deve ser agradável,
brincar com jogos e adivinhas; - conquistam a
aconchegante e tranquilo. Se o local for aberto
própria linguagem. Tipos de histórias: - histórias
como no parque ou no pátio, deve-se escolher
rítmicas e rimadas; - histórias de objetos e
um lugar com sombra e pouca interferência de
animais humanizados; - histórias da vida real; -
sons. Se for em local fechado, o espaço deve ser
histórias de repetição.
amplo e arejado, pode-se colocar tapetes e
Crianças entre quatro e cinco anos possuem
almofadas para que o ambiente fique mais
uma capacidade de expressão verbal mais
confortável. Tahan (1960), apresenta algumas
desenvolvida e maior capacidade de
recomendações na hora de narrar a história: -
concentração, são capazes de ouvir histórias
fazer silêncio; - explicar o vocabulário
por um tempo maior e também repetir sua

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desconhecido; - incentivar os alunos para ouvir escolherá um dos alunos para adivinhar com
a história; - dizer o título; - iniciar a história, com quem está o anel. Se ele acertar será o próximo
naturalidade e ir modulando-a conforme o a passar o anel, se errar volta a sentar e outra
enredo, ora mais baixo ora mais alto, ora mais criança será escolhida para adivinhar. - Batata
depressa, outra mais devagar; - viver a quente, em roda um objeto é passado de uma
narração, procurando comunicar o sabor criança para outra, enquanto todas cantam:
patético, instrutivo, educativo ou dramático, Batata que passa quente, batata que já passou,
com sentimento e emoção; - viver os pontos quem ficar com a batata coitadinho se
culminantes da história, comunicando com queimou. A criança que ficar com o objeto
ênfase as partes mais importantes; - não quando a música terminar pagará uma prenda.
interromper a história para dar conselhos ou - Telefone sem fio, os alunos deverão
fazer observações; - não antecipar o desfecho e permanecer sentados na roda, voltados para o
nem explicitar a moral; - narrar com centro, a professora deve falar uma palavra ou
naturalidade, ênfase dramática, sem exagero, frase para a primeira criança, que deverá dizer
até emocionar-se caso possível; - apresentar no ouvido da segunda, e assim por diante, até
segurança durante a narração; - usar linguagem que a frase tenha passado por todas as crianças.
simples, voz agradável, dominando o enredo da A última deve falar a palavra ou frase que ouviu,
história e todas as suas minúcias; - terminar a e assim descobrirão se a palavra ou a frase está
história de uma maneira poética, procurando correta.
deixar o ouvinte envolvido em um atmosfera de Outra maneira de iniciar a hora do conto é
arte e beleza, alegria e satisfação; - comentar a cantar uma cantiga, de preferência com um
história, dirigindo perguntas individuais aos ritmo calmo para que as crianças percebam que
seus ouvintes, procurando, todavia, evitar as a história já vai começar, como por exemplo:
muito comuns como gostaram da história? (as Uma história bem bonita
perguntas coletivas são indisciplinadoras, pois Eu agora vou contar
conduzem os alunos a se expressarem todos Ficaremos bem quietinhos
juntos, de uma vez); - promover atividades de Para poder apreciar.
enriquecimento, que poderão partir da história Eu vou te contar uma história
narrada, como por exemplo: desenhar Agora atenção
personagens, formar sentenças, reproduzir a Ela nasce bem no meio
história, dramatizar a história. Na palma da sua mão
Com as crianças sentadas em roda, o Lá no meio tem uma linha
professor também poderá iniciar a hora do Ligada ao coração
conto com brincadeiras, como por exemplo: - Quem sabia desta história
Passa-anel, os alunos permanecem sentados e Antes mesmo da canção.
com as mãos unidas. Uma criança deverá ser Pedala, pedala, pedala pedalinho
escolhida para passar o anel. Ela deverá colocar Me leva pra longe bem devagarzinho
o anel dentro da mão de uma das crianças da O mar está bonito
roda sem que as outras percebam. Depois ela Está cheio de peixinhos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Pedala, pedala, pedala pedalinho. O encerramento da história é, por sua vez,


Como pode um peixe vivo tão importante quanto o início, é a hora de
Viver fora da água fria voltar para o mundo real. Garcia, et.al. (2003),
Como poderei viver, sugere diferentes maneiras para finalizar
Como poderei viver, histórias, entre elas: - Entrou por uma porta e
Sem a tua, sem a tua, saiu pela outra, quem quiser que conte outra...
Sem a tua companhia. - A baratinha fugiu, e a história acabou... - E
assim termina minha história. Se não gostou,
Com as crianças tranquilas e para ela arranje outro fim, mas não bote a culpa
confortavelmente acomodadas, é hora de em mim. - E assim viveram felizes durante anos
iniciar a história. Segundo Garcia, et. al. (2003), a fio, nunca beberam em copo vazio. - Entrou
O “Era uma vez...” é a senha mágica que tem o com pé de pato, saiu com pé de pinto, quem
poder de abrir as portas para o mundo quiser que conte cinco. - Entrou por uma porta,
fantástico das histórias, mas existem outras saiu pela outra, o rei, meu senhor, que lhe
formas de iniciar uma narrativa tão mágica conte outra. - O conto se acabou e o vento o
quanto o “Era uma vez...”, outras fórmulas levou, e todo o mal foi embora e o pouco bem
mágicas podem também ser usadas para iniciar que resta será para mim e para quem ouviu
a contar uma história: - Há muito, muito essa história. - Esta é minha história acabada e
tempo... - Foi uma vez... - Dizem que era uma minha boca cheia de goiabada. - O que disse
vez... - Era uma vez um reino que ficava atrás da está aqui. O que já vai, lá vai. Sapatinho de
montanha de cristal... - Esta história aconteceu manteiga escorrega, mas não cai. - Um dia a
no tempo em que a noite não existia... - Quando vaca Vitória deu um chute no vento e acabou-
as gatas usavam chinelas e as rãs colocavam se a história. - Pé de pato, pé de pinto, peço
toucas para dormir. agora que alguém conte cinco. - Trim, trim,
A história no seu desenrolar deve prender a trim... a história chegou ao fim. Acabou-se o
atenção da criança despertando sua que era doce, e quem comeu se regalou.
curiosidade e estimulado a imaginação, o que é Quando terminar a hora do conto, o
muito bem ilustrado na citação abaixo. Para professor pode promover uma atividade para
que a história realmente prenda a atenção da desenvolver a linguagem oral, conversar com as
criança, deve entretê-la e despertar a sua crianças sobre a história, fazendo perguntas
curiosidade. Contudo, para enriquecer a sua sobre os personagens e os fatos ocorridos na
vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la história. Também pode cantar a cantiga inicial
a desenvolver seu intelecto e a tornar claras para desfazer a roda.
suas emoções; estar em harmonia com suas
ansiedades e aspirações; reconhecer
plenamente suas dificuldades e, ao mesmo
tempo, sugerir soluções para os problemas que
a perturbam (BETTELHEIM, 2009, p.11).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao investigar a contação de histórias na Educação Infantil, constatou-se que é um
instrumento poderoso e fundamental para o professor utilizar em sala de aula, pois contribuem
de diversas maneiras na educação das crianças, despertando nelas a imaginação, a criatividade,
o interesse e o gosto pela leitura. Realizando este trabalho foi possível perceber que por meio da
contação de histórias o professor pode tornar a aprendizagem mais significativa e atraente para
os alunos da Educação Infantil. Além disso, considera-se que contar histórias para as crianças,
proporciona momentos de grande interação entre os alunos e o professor, é uma forma diferente
e significativa de ensinar. Toda a escola tem um papel importante a exercer: cuidar para que o
aprender seja uma conquista. E como um instrumento indispensável, pode utilizar a contação de
histórias nas diferentes situações. Quando o professor conta histórias para as crianças pequenas
está mostrando a elas como é o mundo em que vivem, ajudando a criança a pensar, olhar e
entender um pouco daquilo que as circunda.
É fundamental que a criança na Educação Infantil seja estimulada a todo tempo,
mantendo-se curiosa e criativa, aprendendo de forma estimulante e significativa. Por intermédio
das histórias a criança pode sentir emoções importantes como alegria, tristeza, bem-estar, medo,
tranquilidade e tantas outras, com toda a amplitude, significância e verdade que cada história faz
brotar.
O professor que utiliza a contação de história como recurso em sala de aula aguça a
imaginação das crianças, desenvolvendo nelas a capacidade cognitiva de percepção do livro como
instrumento de informação e descontração.
De acordo com os autores pesquisados pôde-se constatar que a contação de histórias
contribui para o desenvolvimento cognitivo, afetivo, e social, despertando a criatividade,
imaginação e curiosidade de forma mais prazerosa. Contudo, é importante desenvolver o hábito
pela leitura constantemente, neste estudo constatou-se que os pais sempre contam histórias para
os seus filhos e que as professoras estimulam cotidianamente este ato contando histórias e
mandando livros para casa, para inserir os pais no ambiente escolar.
Por intermédio da pesquisa realizada neste estudo foi possível compreender como é ampla
a utilidade da contação de histórias como um instrumento mediador em sala de aula contribuindo
significativamente para o desenvolvimento infantil. Constatou-se que contar histórias para as
crianças da Educação Infantil, contribui de forma intensa para o seu desenvolvimento e
aprendizagem. Com esta pesquisa espera-se despertar nos professores e educadores de Educação
Infantil um interesse maior por contar histórias em sala de aula, tornando-se assim investigadores
de novas descobertas e conhecimentos que conduzem a uma forma atraente e significativa de
ensinar e aprender.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Global, 1998. 29

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA FIGURA PATERNA PARA O


DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Aline Aparecida da Silva Souza 1

RESUMO: É comum os problemas de dificuldades de aprendizagem relacionadas às questões


familiares e emocional. Portanto o trabalho psicopedagógico objetiva a investigação de como
ocorrem esta falha que causam essa desorganização afetiva e escolar da criança. Na maioria das
sociedades, o envolvimento dos pais na educação dos filhos tem sido tradicionalmente
enquadrado como o papel de 'provedor' com as mães cuidando e cuidando das crianças com
orientação para tarefas. No entanto, nas últimas décadas, mudanças sociais, incluindo o rápido
aumento da proporção de mães que trabalham e mudanças nos regulamentos de emprego, como
aumento da licença de paternidade, resultaram em uma mudança em direção a que mais deveres
diretos dos pais sejam compartilhados por ambos os pais.

Palavras-Chave: Pai; Relações Pai-Filho; Participação.

1Professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Letras e Inglês.
E-mail: line_pedagoga1106@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO uma verdadeira sedução de suas pacientes do


sexo feminino pelo pai; em The Interpretation
Dentro dos padrões tradicionais e culturais a of Dreams (1900), fantasias inconscientes são
criança é parte integrante de uma família descobertas; Totem e Taboo introduz a noção
composta pelo pai e mãe. Neste sentido a figura da distinção entre o pai assassinado e o pai
paterna tem uma importância significativa em morto; e em Moses and Monoteheism (1939),
seu desenvolvimento afetivo e emocional. Freud apresenta sua noção de uma função
Quando essa participação da figura masculina paterna mais abstrata (STOLOFF, 2007).
abre uma fenda, no caso da ausência do pai, Lacan foi o primeiro psicanalista que deu
estruturalmente essa família se fragiliza status conceitual ao termo pai morto, utilizado
acarretando inúmeros problemas. por Freud em Totem e Taboo, estabelecendo a
Conforme Berthoud (2003): equação entre o pai simbólico e o pai morto.
a partir da década de 1970, começaram a Essa linha de pensamento foi desenvolvida por
surgir pesquisas sobre diversas questões Rosolato (1969), em sua distinção entre o pai
relacionadas à paternidade em periódicos idealizado e o pai morto.
americanos de prestígio na comunidade Totem e Tabu é feito para nos dizer que, para
acadêmica (p.23). que os pais subsistam, é preciso que o
a partir dos anos 80, é que se pode contar verdadeiro pai, o pai singular, o pai único, esteja
com literatura consistente sobre temas como a antes do surgimento da história, e que seja o
função paterna, a ausência paterna e as pai morto. Mais, ainda: que seja o pai
relações dos homens com seus filhos. O assassinado. E, realmente, como isso poderia
interesse pela temática parece ter decorrido, ser pensado fora do valor mítico? Pois, que eu
dentre outras razões, do número crescente de saiba, o pai em questão não é concebido por
separações e divórcios, que passou a evidenciar Freud, nem por ninguém, como um ser imortal.
a importância do pai para o desenvolvimento Por que é preciso que os filhos tenham, de certa
da criança, a partir das repercussões de sua forma, antecipado sua morte? E tudo isso, com
ausência, tanto física como psíquica que fim? Para, afinal de contas, interditarem a
(HENNIGEN & GUARESCHI, 2008). si mesmos o que se tratava de arrebatar a ele.
Em decorrência disso, as pesquisas se Não o mataram senão para mostrar que ele é
voltaram para a compreensão da relação pai e incapaz de ser morto (LACAN, 1995, p.215).
filho, reconhecendo a importância do papel que Compreender a natureza e o efeito do
os pais desempenham junto à prole, sem envolvimento dos pais na saúde e no bem-estar
desconsiderar as particularidades históricas e das crianças poderia, portanto, ajudar a
culturais. informar políticas destinadas a melhorar os
resultados psicológicos e de saúde da família.
FUNÇÃO PATERNA Pensa-se que a natureza dos pais nos
O trabalho de Freud elabora primeiros anos de uma criança desempenha um
progressivamente o papel do pai. Em Studies on papel importante na influência do bem-estar
Hysteria (1895), ele enfatiza a importância de imediato e de longo prazo e da saúde mental da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

criança, incluindo desenvolvimento social e maneira mais ampla, é multifacetado. Pode ser
resultados cognitivos e educacionais. Os anos caracterizada por: acessibilidade dos pais aos
da meia-idade que antecederam a adolescência filhos medida pela frequência de contato com a
representam um estágio de desenvolvimento criança, co-residência com a criança ou até
marcado pelo rápido crescimento físico, presença no nascimento da criança; seu
mudança cognitiva e desenvolvimento da envolvimento em atividades de acolhimento de
consciência e das habilidades sociais. crianças, como brincar, alimentar e tomar
De acordo com Noto (2001): banho; e sua demonstração de
ser o provedor, aquele que traz os recursos responsabilidade em prover o material e
do mundo externo, proporcionando as emocional necessidades de seus filhos. No
condições necessárias para que a mãe possa entanto, muitos estudos tendem a caracterizar
permanecer disponível para cuidar do filho. o envolvimento paterno como um construto
Cabe ao pai ser o suporte da mãe, tanto unidimensional. A falha em adotar uma
econômico como emocional, proporcionando- abordagem mais multidimensional pode
lhe então a tranquilidade necessária para que explicar por que as evidências para seu efeito
ela possa desempenhar o seu papel (p. 317). nos resultados de saúde mental em crianças
A natureza e a extensão do envolvimento dos não são claras.
pais na criação dos filhos podem mudar ao Os pesquisadores há muito sugerem que está
longo da vida de uma criança. No entanto, o surgindo uma “nova paternidade”, que permite
envolvimento paterno precoce é o equilíbrio entre as responsabilidades no local
frequentemente associado ao envolvimento de trabalho e no lar. Embora nenhum estado
contínuo e pode ser uma medida substituta do ofereça uma licença de paternidade distinta,
envolvimento geral. A paternidade precoce vários estados abordaram uma das principais
também pode afetar os resultados mais tarde barreiras para os pais em se despedir para
na vida. cuidar de crianças e família, estabelecendo
Segundo Levisky (1997): políticas de licença familiar remunerada.
o enfraquecimento da família intacta vem Embora a ausência do pai não seja um fator
tendo efeitos negativos sobre os seus elos mais de risco isolado, definitivamente pode afetar o
fracos. Mais do que a escola, a família é a desenvolvimento dos filhos. É importante
principal responsável pela transmissão social de observar isso, pois muitos argumentam que um
um sentido de valores que induz os mais jovens papel dos pais é mais significativo que o outro.
a desenvolver suas capacidades morais e Isso simplesmente não é verdade.
cognitivas (...) nada substitui a presença dos Que é o pai? Não digo na família... A questão
pais que cooperem ativamente na criação dos toda é saber o que ele é no Complexo de
filhos e valorizem o empenho escolar (...) A Édipo... é isto: o pai é uma metáfora...o pai é
família é a primeira, a menor e a mais um significante que substitui um outro
importante escola (p. 25). significante. Nisso está o pilar essencial, o pilar
O envolvimento paterno, assim como o único da intervenção do pai no Complexo de
envolvimento materno e o da família de Édipo. A função do pai no Complexo de Édipo é

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ser um significante que substitui o primeiro a mãe como primeiro objeto de amor e o pai
significante introduzido na simbolização, o como rival — e meninas — que teriam o pai
significante materno. Segundo a fórmula... da como primeiro objeto de amor e a mãe como
metáfora, o pai vem no lugar da mãe (LACAN, rival. Assim sendo, o primeiro impasse na teoria
apud, NASIO, 2007, p.139;140). freudiana sobre o pai pode ser identificado no
Na segunda parte da adolescência, os Édipo, tal como formulado em 1900. Nesse
adolescentes tendem a olhar para os colegas primeiro momento de sua teorização sobre o
sobre quem eles deveriam ser naquele pai, Freud (1969), considera que:
momento e para os pais sobre quem eles se a tristeza de um filho pela morte do pai não
tornarão. consegue suprimir sua satisfação por ter
Quando os filhos se tornam pais, eles olham finalmente conquistado sua liberdade. Em
para os pais sobre o que devem ou não fazer. nossa sociedade de hoje, os pais tendem a se
Para as meninas, em particular, seus pais agarrar desesperadamente ao que resta de
podem causar um enorme impacto em sua uma potestas patris famílias agora tristemente
autoestima e em como elas se tornam antiquada (FREUD, 1969, p. 284).
mulheres. Como pode se observar, já em 1900 Freud
Quanto mais positivo for o relacionamento, não só apontava a ambivalência do infans em
mais as crianças verão e entenderão como é um relação à figura paterna, como já chamava a
relacionamento romântico e colaborativo. atenção para a questão da ameaça de perda da
Quando os pais trabalham como uma equipe autoridade paterna. Cabe notar que a
que funciona bem, as crianças aprendem a concepção freudiana do Édipo de 1900 limita as
resolver as coisas. Obviamente, é natural que possibilidades de se pensar numa saída para a
os casais discutam. O principal é garantir que sintomatologia causadora de sofrimento
ambas as partes modelem uma atitude psíquico. O pai, sendo causa do sofrimento real,
respeitosa durante as divergências, para que é culpado. Logo, se a vivência não for
seus filhos aprendam a resolver conflitos de simbolizada pelo infans, não cessa de retornar
maneira saudável. sob a forma de angústia.
Sem a presença do Pai, não são possíveis a
UMA ANÁLISE fantasia, a elaboração mais complexa do
pensamento, a criação, a curiosidade tão
PSICOPEDAGÓGICA necessárias ao processo da aprendizagem da
Freud (1969), propõe uma analogia entre o leitura e da escrita. É a partir do contexto
que encontra na ficção e o que acontece na vida edípico que a metaforização se torna viável. O
psíquica dos homens. Faz uso da mitologia de pai é normatizador da estrutura mental e
Sófocles para obter uma confirmação de suas psíquica.
hipóteses teóricas e, em sua explicação do É tarefa da função paterna, presente tanto
desejo de morte contra os pais, ele remonta à na mãe quanto no pai, cortar este elo, dar
primeira escolha amorosa infantil, supondo condição de que o filho possa desejar e que ele
haver uma simetria entre meninos — que têm possa ir se apropriando da sua própria

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

construção em seu devido tempo. Sabemos que


a possibilidade de se exercer a função materna
sobre o viés da presença/ausência só é possível
quando a função paterna pode estar também
em operação para a mãe. A função paterna é
aquela que interdita a simbiose, que propicia o
aconchego sem fusão, que protege, mas não
oprime, que diz alternadamente sim e não, que
pode dar limites, bordas, contorno a um EU.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença do pai na vida da criança é fundamental para vários aspectos psico sociais, bem
como em seu processo durante a vida escolar.
Quando o convívio com um homem não acontece, largar a barra da saia da mãe pode se
tornar uma tarefa difícil. A tendência é a filha ou o filho se tornarem mais fechados e medrosos.
Isso também reflete na adolescência e na vida adulta. Muitas vezes intempestivos, os jovens, além
de buscar o acolhimento materno, desejam se deparar com os limites impostos pelo pai, que os
direciona e ajuda a formar valores.
No caso dos meninos, a presença do homem é ainda mais fundamental. O homem contribui
para a introdução da criança no mundo das diferenças, nos âmbitos social e sexual, o que favorece
a construção de relacionamentos e a confiança nos outros.
Com a participação do pai no sistema educacional dos seus filhos e a criação de atividades
nas escolas visando esclarecer as dificuldades e buscando soluções para as mesmas, é possível
que haja uma melhora significativa na aprendizagem escolar.
Considera-se, o pai mesmo que separado da mãe, sempre será peça fundamental na vida
de seus filhos. Por isso a importância de profissionais especialistas, como psicólogos,
psicopedagogos se faz necessária, principalmente na vida escolar.

289
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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291
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO
PROFISSIONAL
Roberto Domingos Minello 1

RESUMO: A formação profissional oferece várias formas e níveis de educação para graduados do
ensino fundamental e médio, trabalhadores recém-criados em áreas urbanas e rurais,
desempregados demitidos, empregados, trabalhadores rurais e outros membros da sociedade.
Uma parte importante do sistema é uma base para o desenvolvimento econômico e social
nacional. Promover a reforma e o desenvolvimento da educação profissional é uma maneira
importante de implementar a estratégia de rejuvenescer o país por meio da ciência e da
educação, promover o desenvolvimento econômico e social sustentável e melhorar a
competitividade internacional. É um requisito inevitável para ajustar a estrutura econômica,
melhorar a qualidade dos trabalhadores e acelerar o desenvolvimento de recursos humanos. O
objetivo da formação profissional é aprimorar as habilidades pessoais, moldar a independência e
a autoconfiança dos indivíduos e tornar os indivíduos aptos e adequados. Seja acadêmico ou
prático, a educação e o treinamento estão intimamente relacionados às mudanças no ambiente
externo, ao crescimento dos negócios e ao desenvolvimento da carreira.

Palavras-Chave: Formação Profissional; Competências; Treinamento.

1Professor de Matemática na Rede Centro Paula Souza.


Graduação: Licenciatura Matemática.
E-mail: minello@bol.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO de abertura; transformação tecnológica e seu


impacto nos processos produtivos; o papel
Atualmente, algumas questões parecem regulador atribuído ao Estado; a extensão da
centrais às preocupações de quem lida com o cobertura dos sistemas educacionais; as formas
problema da formação e do trabalho: a que a organização do trabalho adquire, entre
primeira, referente à necessidade de outras, são fatores que afetam diretamente as
reformular o conceito de formação atual, de demandas dos sistemas e programas de
acordo com os requisitos dos sistemas de formação profissional.
trabalho; produtivo e educacional; o outro, Nesse sentido, uma série de fenômenos foi
relacionado à urgência de projetar uma nova produzida refletindo-se nos desafios sem
estrutura institucional para treinamento que precedentes formulados. Tendo em vista, as
reflita o impacto da aparência de outros instituições nacionais de treinamento
protagonistas e atores no âmbito do esforço profissional, na medida em que há uma
nacional de treinamento. Olhando o problema explosão da oferta de treinamento proveniente
de outro ângulo, pode-se dizer que até do setor público e do setor privado.
recentemente a questão do treinamento era Ao mesmo tempo, verifica-se que o conceito
quase exclusivamente tratada por instituições de formação profissional utilizado há muitos
nacionais especializadas; Por outro lado, anos está perdendo sua validade.
atualmente, a formação profissional se tornou Consequentemente, se não há muito tempo,
assunto de debate entre os mais variados pensava-se que o treinamento profissional
setores econômico, social, trabalhista e nada mais era do que a transmissão sistemática
educacional; Assim, a formação profissional e ordenada de habilidades e conhecimentos, e
constitui um capítulo importante do diálogo o conhecimento tecnológico para
social estabelecido entre governos, trabalhadores que trabalhavam em ocupações
organizações de empregadores e de qualificadas e semiqualificadas, hoje se percebe
trabalhadores; de acordos nacionais sobre uma preocupação crescendo por outras
produtividade, emprego, competitividade e/ou dimensões, como aquelas ligadas a uma nova
qualidade; das políticas econômicas e sociais cultura de trabalho e produção, na perspectiva
implementadas pelos ministérios que atendem de um processo contínuo de treinamento,
a esses assuntos; das políticas do Estado em (CAMPOS, 2008).
relação às relações de trabalho e E, acima de tudo, é reconhecida a
desenvolvimento tecnológico; de acordos impossibilidade de continuar oferecendo
setoriais; negociação coletiva - por filial e programas de treinamento que não estejam
empresa - para citar apenas alguns desses intimamente ligados às instituições
espaços onde o diálogo em torno do tema da fundamentais dos sistemas de relações de
formação profissional ocorre, (FRIGOTTO, trabalho (emprego, remuneração, saúde
2008). ocupacional, condições de trabalho e meio
Os processos de globalização econômica e ambiente, previdência social, legislação
sua correlação em nível nacional das políticas trabalhista). Entre outros, os processos de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

transferência de tecnologia para as empresas e As condições e os desafios que o país


a preocupação com uma articulação enfrenta atualmente em termos de
substantiva com os sistemas de ensino treinamento e desenvolvimento de recursos
(principalmente com os processos de educação humanos são frequentemente tentados a
básica e educação continuada). conceber o novo contexto social e econômico
em que estão localizados, como algo que rompe
FORMAÇÃO PROFISSIONAL: radicalmente o passado. Daí os constantes
sinais de alerta sobre: obsolescência, tanto nas
CONTINUIDADE E MUDANÇA categorias de pensamento quanto nos aspectos
Formação Profissional é o conjunto de institucionais; a necessidade de conceber novas
modalidades sistematizadas de aprendizagem formas organizacionais e novas metodologias; a
que têm como objetivo a formação sócio imperiosidade de incorporar a mudança como
trabalhista, envolvendo desde nível de um dado permanente em qualquer atividade
qualificação de introdução ao mundo do ou a rotina da mudança permanente,
trabalho até alta especialização. É formado por (CIAVATTA, 2006).
diversas instituições, públicas e/ou privadas, Precisamente porque é interessante focar
especializadas em suas ofertas formativas em nas consequências e implicações das mudanças
modalidades de formação integral, integrativa que ocorreram e estão em andamento, é
e permanente e que focalizem suas ações da realizada uma breve abordagem à questão das
população-alvo e/ou do conhecimento relações entre o Estado e o setor privado na
profissional a transmitir, (DELUIZ, 1996). formação de recursos humanos, concebendo a
A formação profissional é composta por situação atual como um ponto de um processo
processos de ensino-aprendizagem de caráter de mudança, profundamente ligado a um
contínuo e permanente, integrada por ações desenvolvimento histórico que apresenta mais
técnico-pedagógicas, destinadas a recorrências do que se poderia pensar em
proporcionar oportunidades de crescimento princípio, (CAMPOS, 2008).
pessoal, profissional e comunitário, É nessa área que a nova estratégia de
proporcionando-lhes educação e treinamento desenvolvimento, com o objetivo de alcançar
sócio trabalhista, (VASCONCELLOS, 1988). uma transformação produtiva que permita
Os princípios que orientam os desenhos da elevar seus níveis de competitividade e
formação profissional e que se aprofundam na produtividade e equidade social, desempenha
definição proposta acima são: vários de seus principais papeis.
• Relevância, em termos de resposta às Pode-se afirmar, sem erro, que não é por
demandas atuais e potenciais das áreas acaso que os países que empreenderam os
ocupacional definido em termos de esforços mais bem-sucedidos de transformação
famílias profissionais. produtiva e modernização deram maior
• Respeito pelas vocações dos sujeitos importância ao desenvolvimento de seus
cognitivos. recursos humanos, em relação à formação
profissional, seja ele realizado dentro ou fora

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de empresas. O fato é de tal profundidade e Certamente, o conteúdo das políticas de


importância que, mesmo os países mais treinamento e educação deve ser elaborado à
avançados, atualmente revisam seus sistemas luz de que transferem competências altamente
de ensino e treinamento, a fim de aumentar sua flexíveis e proporcionam o maior grau possível
qualidade, vinculá-los com mais eficiência ao de adaptação às condições atuais dos mercados
desenvolvimento produtivo, científico e de trabalho e à evolução previsível dessas
tecnológico e direcioná-los como força motriz condições. No ponto ideal, devem ser
de uma capacidade produtiva e competitiva a competências que permitam uma rápida
cada dia maior, (CEITIL, 2002). reconversão e requalificação, (VARGAS, 2006).
Assim, é possível afirmar que: Não há dúvida, então, sobre a relação
• Algo que contribui significativamente positiva entre o nível de desenvolvimento
para a consolidação da nova ordem econômica econômico e tecnológico e a importância do
é - além do comportamento dos mercados de investimento em educação e formação
trabalho e do emprego no médio prazo - a profissional. Além disso, o outro lado da moeda
definição, pelo Estado, de funções de é igualmente válido: muitas pessoas associam a
treinamento e educação para o falta de produtividade e competitividade e, até
desenvolvimento de habilidades e mesmo, seu declínio - como está ocorrendo
competências que permitem não apenas entrar atualmente - com a existência de educação ou
no setor formal ou realizar atividades mais treinamento profissional ruim ou inadequado.
lucrativas, mas também ocupar empregos ou Mas reconhecer o vínculo estreito entre
realizar atividades de melhor qualidade. desenvolvimento e treinamento é uma coisa; e
• A importância estratégica dessa função outra é ser capaz de projetar e implementar
para o crescimento, dados os imperativos da sistemas ou instituições de formação
produtividade e competitividade internacionais profissional que respondam às necessidades e
e em condições cada vez mais intensivas em demandas de treinamento das sociedades,
conhecimento, é algo que tem sido cada vez mais baseadas em informações,
notoriamente destacado. conhecimentos científicos e inovações
• Mesmo que as estimativas sobre a tecnológicas, enquanto atuam como agentes
evolução da economia em direção a mudanças democratizadores na disseminação e produção
em sua estrutura, que implicam um aumento de conhecimento, (BASTOS, 1991).
significativo de postos de trabalho com mais O que está em segundo plano - e não há mais
conhecimento, possam ser conservadoras, é dúvidas - é promover uma política abrangente
necessário o aumento dos níveis de de preparação de recursos humanos, a fim de
treinamento e educação, para obter responder, de maneira ágil e adequada, aos
objetivamente graus mais altos de mobilidade desafios inescapáveis em que se baseia a nova
social, como forjar expectativas bem estratégia de desenvolvimento. Seria, quase,
fundamentadas de mobilidade social naqueles outro alerta que, em um mundo que está em
que hoje estão em condições de permanente mudança e nas sociedades em
marginalização. transição, não existem respostas pré-

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fabricadas, não existem modelos pré- • Aprofundar o treinamento básico e


determinados que possam ser seguidos para básico, a fim de oferecer um treinamento
guiar a ação, razão pela quais pessoas e certificado de qualidade e favorecer a
organizações são forçadas, a fim de aguçar sua reintegração voluntária para continuidade dos
percepção e concentrar sua atenção, para que estudos regulares nas diferentes etapas do
possa visualizar as novas direções pelas quais sistema educacional.
terá que alcançar, (PATRICK, 2000). • Estabelecer, em suas ações de
Realizar essas tarefas também implica treinamento, o desenvolvimento de
entender que a formação não é apenas um habilidades técnicas - profissionais versáteis,
fator fundamental para aumentar a em termos de conteúdo tecnológico e
produtividade e melhorar as condições transferibilidade conhecimento para diferentes
competitivas, mas também um instrumento ocupações do mesmo campo profissional.
essencial de políticas públicas, especialmente • Contribuir para a implementação de
aquelas voltadas para os setores mais formas específicas ou específicas de
vulneráveis: jovens, mulheres, desempregados, treinamento para participar demandas
trabalhadores em processo de conversão, entre pontuais de inserção no trabalho.
outros. • Promover a implementação de ações
Esse desafio múltiplo é de tal magnitude que que visem integrar os trabalhos para pessoas
não pode ser abordado com chances razoáveis com necessidades especiais.
de sucesso por nenhum ato exclusivo. O • Incluir vários grupos populacionais -
caminho mais apropriado parece ser a respeitando sua idiossincrasia, idade, nível de
construção de um consenso nacional que educação formal, histórico de trabalho, sexo,
envolva o Estado, trabalhadores e empresários, origem etc. - em ações de treinamento
incorporando a experiência e os recursos das profissional que personaliza o ensino em
instituições de formação profissional. Isso termos de necessidades de aprendizagem,
permitiria, ao mesmo tempo em que um espaço interesses profissionais e necessidades
para a coordenação de interesses em vista do nacionais e/ou regionais e/ou setoriais,
desenvolvimento econômico e social, a recuperação de habilidades básicas,
sustentabilidade política de longo prazo desses treinamento de habilidades profissionais, ritmo
projetos nacionais, (DUTRA, 1996). de aprendendo.
Objetivos da formação profissional • Promover formas inovadoras de
Tendo em vista o que foi afirmado no ponto gerenciar instituições de formação profissional
anterior, você deve considerar entre seus esse ponto para:
objetivos fundamentais: • Integração e participação ativa em
• Expandir treinamento básico e científico, projetos desenvolvimento institucional, local e
tecnológico, social e básico humanista do povo, provincial de recursos humanos.
a partir da contextualização técnico- • Otimizar o uso e o aprendizado das
tecnológica do conhecimento em áreas tecnologias disponíveis em cada região e os
ocupacionais específicas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

trocar possibilidades com as utilizadas em publicadas em documentos. Busca conhecer e


outros. analisar as contribuições culturais ou científicas
• Estabelecer mecanismos de consulta existentes sobre determinado assunto, tema ou
social que visem: problema.
• Definir as habilidades exigidas pela O levantamento das fontes de publicações
sociedade e pelo mundo do trabalho em cada será realizado por meio de pesquisa em bases
perfil profissional e avaliar sua necessidade e de dados de acesso via internet tais como as
oportunidade de atualização. bibliotecas, utilizando os termos: formação
• Avaliar os processos de ensino- profissional.
aprendizagem implementados para o De acordo com Marconi e Lakatos (2001), a
desenvolvimento de as competências metodologia qualitativa preocupa-se em
reconhecidas. analisar e interpretar aspectos mais profundos,
• Prestar assessoria técnico-pedagógica a descrevendo a complexidade do
instituições públicas e privadas que realizar comportamento. Nesse tipo de pesquisa dados
ações de formação profissional. como hábitos, atitudes e comportamentos são
• Promover a formação, atualização e analisados de forma mais detalhada, o que nos
reconversão de professores em estreita relação permite um maior embasamento no
com a dinâmica de transformação que opera no desenvolvimento deste.
mundo do trabalho. O presente trabalho foi realizado por meio
A Formação Profissional para orientação e do método tipo descritivo-exploratório. Neste
assistência técnica para a definição das tipo de estudo, os fatos são observados,
competências a serem desenvolvidas em cada registrados, analisados, classificados e
perfil profissional, bem como certificar as interpretados, sem que o pesquisador interfira
instituições autorizadas a transpor esses perfis neles. O trabalho foi desenvolvido com base em
nas estruturas curriculares e/ou promover uma revisão bibliográfica mediante o
ações de treinamento. Esses desenvolvimentos levantamento de obras na área, Tecnologias de
os currículos devem ser credenciados pelo Informação e Comunicação, bem como revistas
sistema educacional e garantir a certificação de e consultas a sites, especializado no assunto.
indivíduos por uma instância que integra
produção, trabalho e sistema educação na
avaliação de habilidades adquiridas, (SALES,
2011).

METODOLOGIA
Este estudo será realizado por meio de
pesquisa bibliográfica em artigos científicos,
livros, periódicos, internet. Segundo Santos
(2001), esta técnica procura explicar o
problema a partir de referências teóricas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por mais drásticas e radicais que as múltiplas mudanças na sociedade e na economia em
geral possam nos parecer, e na esfera do treinamento e desenvolvimento de recursos humanos
em particular, uma visão dinâmica e em perspectiva parece ser a mais apropriada para abordar a
questão e discussão dos desafios a enfrentar.
Todos os fatores relevantes que precisam participar das tarefas impostas pela nova
estratégia de desenvolvimento: Estados, instituições de treinamento, empresas, organizações de
empregadores e trabalhadores, têm uma história e têm seu trabalho no futuro. Todos eles
enfrentam o desafio de reformular suas formas organizacionais, suas funções e suas modalidades
de inserção na vida produtiva. Portanto, e não como fatores do passado ou do futuro, eles devem
ser concebidos como fatores em transição.
Cada um desses fatores tem um papel importante a desempenhar em relação à questão
da formação profissional, e essa é, por sua vez, uma questão central para cada um deles. Essa
centralidade deriva do fato de o capital humano ser a força essencial nesse momento de
mudança. Consequentemente, o mundo atual do trabalho enfatiza a importância do tipo de
treinamento para desenvolver recursos humanos que possam criar e realizar mudanças
construtivas.
Note-se, no entanto, que a atual coincidência na importância estratégica do treinamento
entre os diversos atores sociais e produtivos não facilita a tarefa de projetar e implementar
políticas nesse nível. Muito pelo contrário, é uma tarefa cada vez mais complexa, dada a
pluralidade de desafios que nossas sociedades e economias enfrentam atualmente.
Atualmente, aqueles que trabalham no campo da formação têm a obrigação de responder,
por um lado, aos requisitos que o setor produtivo impõe, em termos de aumento dos níveis de
produtividade e competitividade, e por outro, desenvolver a capacidade de atender grupos e
setores adiados, contribuindo para uma distribuição equitativa de oportunidades de treinamento
e, portanto, para a integração e coesão social.
Embora esses objetivos não sejam necessariamente conflitantes, sua compatibilidade é um
caminho árduo e é precisamente o que as experiências que procuramos analisar neste trabalho
vêm passando na prática diária. Essas, mesmo que possam ser consideradas incipientes, ou não
tão intensas e extensivamente desenvolvidas quanto seria desejável, é provavelmente a base
mais forte para a construção de consenso nacional sobre formação profissional, em prol de maior
competitividade e produtividade de nossas economias e aumento dos níveis de integração e
justiça social.
Um trabalho que busca fazer uma descrição mais detalhada das diferentes experiências
inovadoras em andamento, certamente explicaria a enorme diversidade que existe. No entanto,
quando se trata de encontrar um denominador comum, certamente teremos que escolher como
principal característica a busca sistemática de parcerias estratégicas entre Estados, instituições
de treinamento, empresas e organizações da sociedade civil, além de superar as barreiras
institucionais e disciplinares no amplo campo em que são realizadas ações de educação e
treinamento.

298
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Administração da USP, 26 (4), 87-102. 1991.

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VASCONCELLOS CS. Avaliação da aprendizagem: práticas de mudança. São Paulo:


Libertad; 1988.

299
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA FORMAÇÃO


DE PEQUENOS LEITORES NOS ANOS INICIAIS
Rita de Cassia de Oliveira1

RESUMO: No ensino fundamental a leitura e a escrita são consideradas prioridade no decorrer de


cada ano letivo. Espera-se que, no final dessa etapa, os alunos possam ler textos adequados à sua
idade de forma autônoma e fazer uso dos diversos recursos ao seu alcance para atingir este
objetivo. Espera-se também, que os mesmos tenham autonomia em suas escolhas quanto a
leitura, e que os mesmos possam exprimir opiniões sobre o que leram. Dessa forma, a pesquisa
tem como objetivo demonstrar o grande desafio da escola na promoção de uma leitura dinâmica,
capaz de seduzir os alunos desde a educação infantil, revendo estratégias e quebrando
paradigmas. A metodologia utilizada será a bibliográfica tendo como base teórica os diversos
autores que já escreveram sobre o tema. Espera-se que este trabalho, possa ampliar o
conhecimento dos professores referentes a leitura e propiciar novas estratégias de leitura
utilizadas em sala de aula objetivando a formação de jovens leitores encantados com a
diversidade de textos que circulam nos ambientes escolares.

Palavras-Chave: Ensino fundamental; Leitura; Professores; Escola.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Neuropsicopedagogia.
E-mail: ritacassiaoli25@gmail.com

300
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO elaborados ao longo da história para explicar o


processo de leitura. No primeiro se considera
Atualmente, um dos grandes desafios dos que o leitor, perante o texto, processa seus
professores, é fazer com que as crianças elementos componentes, começando pelas
consigam desenvolver habilidades e estratégias letras, continuando com as palavras, frases em
de leitura para assim ter condições de opinar um processo ascendente, sequencial e
sobre os mais diversos assuntos abordados no hierárquico que leva à compreensão do texto.
seu cotidiano. Compete ao professor trazer O modelo descendente – top down – afirma
para sala de aula uma diversidade de gêneros o contrário: o leitor não procede letra por letra,
que devem ser abordados de diferentes mas usa seu conhecimento prévio e seus
formas. A utilização de todos os ambientes da recursos cognitivos para estabelecer
escola, transforma-se em um excelente recurso antecipações sobre o conteúdo do texto,
no estimulo do prazer pela leitura. fixando-se neste para verificá-las.
Neste contexto, esse artigo objetiva O modelo interativo não se centra
demonstrar o grande desafio da escola na exclusivamente no texto nem no leitor, embora
promoção de uma leitura dinâmica capaz de atribua grande importância ao uso que este faz
seduzir os alunos desde a educação infantil, dos seus conhecimentos prévios para a
revendo estratégias e quebrando paradigmas. compreensão do texto.
Será abordado o processo de leitura em uma O uso das técnicas de leitura possibilita
perspectiva interativa, bem como a leitura na entender e deduzir por meio independente os
escola e por fim será apresentado o tema textos lidos e deseja estimular para a
código, consciência metalinguística e leitura. necessidade em desempenhar um trabalho
eficaz no sentido da constituição do leitor
O PROCESSO DE LEITURA: UMA independente, analítico e sensato.
Em conformidade com o PCN (1998), temos:
PERSPECTIVA INTERATIVA A leitura é um processo no qual o leitor
A perspectiva interativa afirma que a leitura realiza um trabalho ativo de compreensão e
é o processo mediante o qual se compreende a interpretação do texto, a partir dos seus
linguagem escrita. Para ler necessitamos, objetivos, de seu conhecimento sobre o
simultaneamente, manejar com destreza as assunto, sobre o autor, de tudo que sabe sobre
habilidades de decodificação e apontar ao texto a linguagem, etc. Não se trata de extrair
nossos objetivos, ideias e experiências prévias; informação, decodificando letra por letra,
precisamos nos envolver em um processo de palavra por palavra. Trata-se de uma atividade
previsão e inferência contínua, que se apoia na que implica estratégias de seleção,
informação proporcionada pelo texto e na antecipação, inferência e verificação, sem os
nossa própria bagagem, e em um processo que quais não é possível proficiência. É o uso desses
permita encontrar evidências ou rejeitar as procedimentos que possibilita controlar o que
previsões e inferências antes mencionadas. vai sendo lido, permitindo tomar decisões
Este modelo pressupõe uma síntese e uma diante de dificuldades de compreensão,
integração de outros enfoques que foram

301
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

avançar na busca de esclarecimentos, validar Bíblia, histórias inventadas tendo a gente como
no texto suposições feitas (BRASIL, 1988, personagem, narrativas de quando eles eram
p.69;70). crianças e tanta, tanta coisa mais...Contadas
Pelas indicações dos Parâmetros Curriculares durante o dia, numa tarde de chuva ou à noite,
Nacional (1988), no conhecimento inicial da antes de dormir, preparando para o sono
leitura a primeira alusão a ser rejeitada é aquela gostoso e reparador, embalado por uma voz
que enxerga a leitura meramente como amada...É poder rir, sorrir e gargalhar com as
decodificação de códigos. Diante dessa situações vividas pelos personagens, com a
formação improdutiva, resulta em milhares de ideia do conto ou com o jeito de escrever de um
leitores que tão somente conseguem autor e, então, poder ser um pouco cúmplice
decodificar qualquer tipo de texto, contudo, desse momento de humor, de gozação,
sequer conseguem dar sentido a eles, isto é, são (ABRAMOVICH, 1991, p.16;17).
alfabetizados, mas não são letrados. Vieira (2007), nos chama a atenção para o
De acordo com os Parâmetros Curriculares hábito de contar histórias, pois é por meio da
Nacionais (1988), mecanismo orientador de leitura que a concepção infantil se produz,
apoio as técnicas pedagógicas, na seção de solucionando os conflitos internos, e ao mesmo
prática de leitura, têm a seguinte explicação tempo deixa o sujeito mais acessível para
para a leitura. solucionar os problemas na vida cotidiana,
Pressupõe que, para ler, é necessário como identificar as diversidades que envolvem
dominar as habilidades de decodificação e as culturas.
aprender as distintas estratégias que levam à Contar histórias para formar leitores; para
compreensão. Também se supõe que o leitor fazer da cultura um fato; valorizar as etnias;
seja um processador ativo do texto, e que a manter a história viva; para se sentir vivo; para
leitura seja um processo constante de emissão encantar e sensibilizar o ouvinte; para estimular
e verificação de hipóteses que levam à o imaginário; articular o sensível; tocar o
construção da compreensão do texto e do coração; alimentar o espírito; resgatar
controle desta compreensão – de comprovação significados para nossa existência e reativar o
de que a compreensão realmente ocorre. sagrado, (BUSATTO, 2003, p.45;46).
Um dos múltiplos desafios a ser enfrentado
A LEITURA NA ESCOLA pela escola é o de fazer com que os alunos
aprendam a ler corretamente. Isto é lógico, pois
O prazer pela leitura é estimulado em nós
a aquisição da leitura é imprescindível para agir
por alguém, pois não é inato. Assim cabe o
com autonomia nas sociedades letradas, e ela
educador promover atividades variadas
provoca uma desvantagem profunda nas
(visuais, orais e escritas) que venham a
pessoas que não conseguiram realizar essa
conquistar modificando a leitura em prazer,
aprendizagem.
precisando ser reiterado a cada dia:
Portanto, um dos principais objetivos da
O primeiro contato da criança com um texto
escola é promover aos alunos todas as
é feito, em geral, oralmente. É pela voz da mãe
possibilidades na aquisição da leitura, a qual
e do pai, contando contos de fada, trechos da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

representa extrema importância na formação justamente ligado à leitura. Assim sendo, resta
dos mesmos. O saber ler e o entendimento do ao educador admitir seu papel de intercessor
que se lê é imprescindível para a vida social e no sistema ensino-aprendizagem, ocupando-se
cultural do indivíduo. Assim, levar os alunos a de teorias que deverão custear sua técnica
voltarem-se para o universo da leitura é, com pedagógica para aprimorar o ensino da leitura
certeza, o que de melhor a escola pode entre outros.
oferecer. Não se pode prescindir quanto a preparação
A leitura favorece a remoção das barreiras do ambiente escolar para possibilitar inúmeros
educacionais de que tanto se fala, concedendo diálogos com a língua oral e escrita. Contudo é
oportunidades mais justas de educação importante que os educadores, em especial, os
principalmente por meio da promoção do alfabetizadores, estejam envolvidos para o
desenvolvimento da linguagem e do exercício estimulo desta no dia a dia criança, atuando de
intelectual, e aumenta a possibilidade de forma para que os livros não façam parte
normalização da situação pessoal de um apenas no contexto escolar e sim, as
indivíduo, (BAMBERGER, 2008, p.11). acompanhe nas esferas da vida.
A preocupação com os dados relativos ao Deste modo, é possível assistir com certa
número de “analfabetos funcionais”, pessoas regularidade à reedição do eterno debate sobre
que, apesar de terem frequentado a escola e os métodos por meio dos quais se ensina as
tendo “aprendido” a ler e a escrever, não crianças a ler, à discussão em torno da idade em
podem utilizar de forma autônoma a leitura e a que deve ser iniciada a instrução formal em
escrita nas relações sociais ordinárias. leitura ou sobre os aspectos indicadores de
A leitura é uma maneira de se aprender o uma leitura eficaz.
que é escrever e qual a forma correta das Considera-se que o problema do ensino da
palavras. Para conseguir esse objetivo da leitura leitura na escola não se situa no nível do
é preciso planejar as atividades de tal modo que método, mas na própria conceitualização do
se possa realizar o que se pretende. A leitura que é a leitura, da forma em que é avaliada
não pode ser uma atividade secundária na sala pelas equipes de professores, do papel que
de aula ou na vida, uma atividade para qual o ocupa no Projeto Curricular da Escola, dos
professor e a escola não dedicam mais que meios que se arbitram para favorece-la e,
alguns míseros minutos, na ânsia de retornar naturalmente, das propostas metodológicas
aos problemas da escrita, julgados mais que se adotam para ensiná-la.
importantes, (CAGLIARI, 1994, p.173). A leitura e a escrita aparecem como
Observa-se que o autor mostra a objetivos prioritários da Educação
necessidade de a escola privilegiar a leitura, e Fundamental. Espera-se que, no final dessa
se empenhar menos com a escrita, etapa, os alunos possam ler textos adequados
especialmente com a ortografia, pois muitos para sua idade de forma autônoma e utilizar os
impedimentos de aprendizagem são recursos ao seu alcance para referir as
consequências da leitura, isto é, a ausência dificuldades dessa área – estabelecer
dela, tudo o que se ensina na escola está interferências, conjeturas; reler o texto;

303
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

perguntar ao professor ou a outra pessoa mais possibilitar aos alunos esta experiência como
capacitada, fundamentalmente -; também se uma janela que se abre para motivar o gosto
espera que tenham preferências na leitura e pela leitura e exibi-la como uma criação de
que possam exprimir opiniões próprias sobre o novos conhecimentos, que viabiliza a conquista
que leram. Um objetivo importante nesse da linguagem de forma prazerosa, natural e
período de escolaridade é que as crianças com relações positivas no convívio social.
aprendam progressivamente a utilizar a leitura [...]ouvir e ler histórias é também
com fins de informação e aprendizagem. desenvolver todo potencial crítico da criança. É
As metodologias empregadas por cada um se poder pensar, duvidar, se perguntar,
distinguem, tendo em vista que cada criança questionar [...]é se sentir inquieto, cutucado,
não absorve o conhecimento da mesma forma. querendo saber mais e melhor ou percebendo
[...] As estratégias de leitura são que se pode mudar de ideia...É ter vontade de
procedimentos e os procedimentos são reler ou deixar de lado de uma vez[...]
conteúdos de ensino, então é preciso ensinar (ABRAMOVICH, 1997, p.17).
estratégias para compreensão dos textos [...] E continua o autor:
no ensino elas não podem ser tratadas como É através de uma história que se pode
técnicas precisas, receitas infalíveis ou descobrir outros lugares, outros tempos, outros
habilidades específicas [...]por isso ao ensinar jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética,
estratégias de compreensão leitora, entre os outra ótica [...]é ficar sabendo história, filosofia,
alunos deve predominar a construção e o uso direito, política, sociologia, antropologia, etc.
de procedimentos de tipo geral, que possam ser sem precisar saber o nome disso tudo e muito
transferidos sem maiores dificuldades para menos achar que tem cara de aula,
situações de leituras múltiplas e variadas (ABRAMOVICH, 1997, p.17).
,(SOLÉ, 1998, p.70). Em geral, a leitura em voz alta pelos alunos
Atualmente, na escola e ao longo da etapa de um determinado texto – cada um deles lê
fundamental, dedicam-se várias horas por um fragmento, enquanto os outros
semana à linguagem, em que se situa uma parte “acompanham” em seu próprio livro; se o leitor
importante do trabalho de leitura (em geral, cometer algum erro, este costuma ser corrigido
costuma-se prever um horário de biblioteca nas diretamente pelo professor ou, a pedido deste,
escolas, tanto na sala de aula como nos por outro aluno. Depois da leitura elaboram-se
aposentos destinados a este objetivo). Além diversas perguntas relacionadas ao conteúdo
disso, a linguagem oral e escrita encontra-se do texto, formuladas pelo professor. A seguir,
presente nas diferentes atividades próprias das se preenche uma ficha de trabalho mais ou
áreas que constituem o currículo escolar. menos relacionada ao texto lido e que pode
Assim, para muitos professores, a linguagem é abranger aspectos de sintaxe morfológica,
trabalhada continuamente. ortografia, vocabulário e, eventualmente, a
É notório que ainda não foi desenvolvido a compreensão da leitura.
“fórmula mágica” para estimular o gosto pela Esta sequência merece alguns comentários.
leitura, mas o que se espera dos educadores é Em primeiro lugar, deve-se dizer que, embora

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

seja frequente encontrá-la ao longo do Ensino Formar leitores autônomos também significa
Fundamental, sua continuidade também leitores capazes de aprender a partir de textos.
parece garantida no atual Ensino Médio, o que Para isso, quem lê deve ser capaz de interrogar-
não quer dizer que este seja o tratamento se sobre sua própria compreensão, estabelecer
exclusivo que a leitura recebe na escola; não relações entre o que lê e o que faz parte do
devemos esquecer que, o texto escrito é um acervo pessoal, questionar seu conhecimento e
recurso de primeira linha em quase todas as modifica-lo, estabelecer generalização que
áreas. Além disso, à medida que se progride na permitam transferir o que foi aprendido para
escolaridade, a tipologia de textos se diversifica outros contextos diferentes, (SOLÉ, 1998, p.72).
e sua complexidade aumenta. Em segundo Constata-se que é uma incumbência difícil a
lugar, não reflete apenas o que costuma formação de leitores, contudo, necessária para
acontecer nas classes com relação ao trabalho que o indivíduo possa criar sentidos e instaurar
de leitura, mas resume bastante bem o que é comunicação com os mais variados gêneros
indicado nas orientações didáticas usadas ou textuais. Desta forma, não se pode limitar a
nas diretrizes que geralmente acompanham o leitura somente às aptidões e dinâmicas
material didático destinado às crianças. Em possíveis dentro da sala de aula.
terceiro lugar, na sequência há pouco espaço
para as atividades destinadas a ensinar CÓDIGO, CONSCIÊNCIA
estratégias adequadas para a compreensão de
textos. METALINGUÍSTICA E LEITURA
Nas etapas iniciais da leitura, os professores Quando na escola a criança se depara com a
dedicam grande quantidade de tempo e linguagem escrita, em muitos casos se encontra
esforços para iniciar os pequenos nos segredos diante de algo conhecido, sobre o que já
do código a partir de diversas abordagens. Esta aprendeu várias coisas. Parece-me que o
etapa costuma começar antes da escolaridade fundamental é que o escrito transmite uma
obrigatória, no nível II da Educação Infantil, e mensagem, uma informação, e que a leitura
por isso uma grande parte dos alunos dominam capacita para ter acesso a essa linguagem. Na
de forma incipiente a decodificação por volta aquisição deste conhecimento, as experiências
do primeiro ano do Ensino Fundamental. de leitura da criança no seio da família
O trabalho de leitura costuma se restringir desempenham uma função importantíssima.
àquilo que se relatou: ler o texto e, a seguir, Por outro lado, a criança pode assistir muito
responder a algumas perguntas sobre ele, precocemente ao modelo de uma especialista
geralmente referentes a detalhes ou a aspectos lendo e pode participar de diversas formas da
concretos. Deve-se assinalar que a atividade de tarefa de leitura (olhando as gravuras,
pergunta-resposta é categorizada pelos relacionando-as com o que se lê, formulando e
manuais, guias didáticos e pelos próprios respondendo perguntas, etc.). Assim constrói-
professores como uma atividade de se paulatinamente a ideia de que o escrito diz
compreensão leitora. coisas e que pode ser divertido e agradável
conhece-las, isto é, saber ler.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Antes de receber instrução formal na escola, Esta melhora da consciência metalinguística


qualquer criança de cerca de três anos – e propiciada pelo crescente manejo da leitura e
mesmo antes sabe que deve manter erguido o da escrita também se estende à sintaxe da
livro que lê/olha; sabe que se começa pela linguagem e aos seus aspectos pragmáticos.
primeira página e que se acaba pela última e Progressivamente a criança se dá conta de que
que se folheia uma de cada vez; sabe que a pode dizer a mesma coisa de muitas formas –
escrita segue a direção esquerda/direita e que utilizando diversas estruturas, por exemplo – e,
vai de cima para baixo – pelo menos em nossa ao mesmo tempo de que existem maneiras
cultura -; sabe que o que está escrito tem a ver mais adequadas de dizê-lo em função do
com o que está desenhado, e se lhe pedirmos – contexto concreto. Também se aprende a
e ela quiser -, poderá nos contar uma história misturar os significados que se pretende
que tem a ver com a gravura. Não terá transmitir, a dizer sem dizer exatamente, a
nenhuma dificuldade em diferenciar o desenho utilizar a ambiguidade da linguagem em
da escrita. determinadas ocasiões.
Além disso, algumas crianças terão
aprendido o nome de algumas letras, ou a
diferenciá-las, por alguma razão significativa.
No entanto, ainda há muito a aprender sobre
o sistema da língua escrita, embora
restrinjamos por enquanto esse “muito” ao
acesso à autonomia para explorá-lo, que, como
já ressaltamos, exige a capacidade de
decodificar – que se caracteriza pelo
estabelecimento de correspondências entre os
sons da língua e sua representação gráfica
convencional.
A consciência fonológica surge inicialmente
do interesse suscitado pela língua falada e por
algumas das suas propriedades, como a rima,
por exemplo, que leva a criança a explorar
semelhanças e diferenças entre palavra e
partes de palavras. Assim, com a ajuda do
adulto, pode estabelecer a diferença entre o
início e a rima e ter acesso aos fonemas
individuais. A partir daí, pode ser levada a fixar
a atenção em outros fonemas das palavras
mediante tarefas da segmentação fonêmica
(golpear, contar, etc.).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da leitura dos diversos autores citados, nota-se que formar leitores na escola é
um desafio necessário que deve ser transposto com cuidado, muito embora de forma persistente
e não permitindo que nossas crianças e jovens, percam o encantamento pelos livros,
principalmente pelos ditos tradicionais (impressos), já que na atualidade, diariamente, criam-se
inúmeros aparelhos que são capazes de alocar um livro com quantidade de páginas igual ou
superior aos impressos, estes, cabem na palma da mão.
A sala de aula deve ser um ambiente eficaz e motivador que ofereça os mais variados
recursos e suportes a serem explorados pelas crianças. Nesse contexto, quanto a exploração, cabe
ao professor o papel de observar a interação das mesmas com esse material, em especial com os
livros, fazendo as inferências quando necessárias.
Dessa forma, espera-se que esta pesquisa possa fornecer dados importantes sobre o
conceito de leitura e sua relevância em sala de aula, ampliar o conhecimento da mesma para os
professores que têm como proposta, formar leitores encantados com a diversidade de textos que
lhes são proporcionados no cotidiano escolar.

307
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Por uma arte de contar histórias In: Literatura infantil: gostosuras e
bobices. SP: Scipione, 1997.

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1991.

BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. 7. ed. São Paulo: Ática, 2008.

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Portuguesa: primeiro e segundo ciclos / Ministério da Educação. Secretaria da Educação
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CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Lingüística. 7. Ed. São Paulo: Scipione, 1994.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. Ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

VIEIRA, Kátia. Era uma vez... e conte outra vez: Arte de contar histórias e valores humanos.
Campinas: Komedi. 2007.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Ana Claudia da Silva Liberato 1

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo demonstrar a importância da literatura na


Educação Infantil, com o intuito do desenvolvimento integral da criança, atuando em aspectos
sociais, humanos e artísticos. O desenvolvimento da leitura deve ocorrer desde a mais tenra
idade. A participação da família é de suma importância, os primeiros contatos com histórias são
geralmente as contadas pelos pais. A literatura é fonte de prazer, alegria, desperta a curiosidade,
afetividade, imaginário, estimulando a criança a utilizar de conhecimento já adquiridos para
aquisição de novos conhecimentos. A literatura infantil forma futuros leitores, sendo assim, é de
fundamental importância fazer parte das ações pedagógicas desde os anos iniciais.

Palavras-Chave: Literatura infantil; Incentivo; Prática Pedagógica.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação Inclusiva com Ênfase em Atendimento
Educacional Especializado.
E-mail: anaclaudia895@yahoo.com.br

309
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO transmitir de maneira clara e concisa a


mensagem por meio de uma história, que
A temática em questão apresenta o esforço possam compreender aquilo que seja subjetivo,
constante em enfatizar a importância da leitura criando sentido e espaço para imaginação,
e literatura, suas vertentes e aquisição de criação e reinvenção.
diversos conhecimentos. A leitura oportuniza o
leitor a obter uma informação e assimilar com
LITERATURA INFANTIL
sua própria concepção do assunto abordado.
A literatura infantil contou com a influência
Quando no âmbito pedagógico contribui para
da época e seu contexto social. A semana de
desenvolvimento intelectual.
arte moderna consolida o Modernismo nos
A leitura oportuniza diversas oportunidades,
anos 20, e assim surge novas reformas e
por meio dela podemos ensinar, aprender e
debates educacionais estimulados por
conhecer diversas culturas, viajar para diversos
processos europeus, sendo importante para
lugares, além de uma imensa viagem no mundo
aquisição de novas perspectivas na literatura
da imaginação, pois é principalmente na
infantil.
infância que a imaginação e encantamento se
As décadas de 30 e 40 já foram significativas
faz latente.
pois atuaram no panorama político com
As Unidades educacionais devem assumir o
mudanças e composições econômicas e com
papel de mediadores na formação de leitores
essas mudanças surgem também novos olhares
ativos como uma de suas incumbências. Neste
pedagógicos com ênfase na Educação Nacional
âmbito é importante que se tenha um espaço
e criação do Ministério da Educação,
aconchegante para leitura, um acervo amplo
auxiliando em novos rumos para educação
que leve em consideração a faixa etária de seu
pública.
público. Além de enfatizar a importância da
Também nestas épocas surgem novos pilares
literatura infantil para seus educadores.
democráticos e com eles alterações que
O compromisso com a formação de futuros
abrangem a cultura dentre outros setores, com
leitores deve ser um compromisso de todos,
todas essas mudanças a literatura infantil surge
comunidade escolar- educadores, pais e alunos.
como algo considerável e a partir destas
Proporcionando ao educando diversas
inquietações surge em São Paulo a biblioteca
experiencias literárias, com diversidade em
infantil Monteiro Lobato, surge
gêneros literários, poesias, parlendas, peças
simultaneamente a ela novas produções da
teatrais, entre outras. É preciso que as
literatura infantil.
narrativas além de instigar a imaginação, seja
Nos anos 50 com a era da televisão surge
significativa e representativa.
uma adversidade na literatura com o
A leitura infantil cria como possibilidade a
crescimento e ampliação das informações,
formação de leitores e escritores competentes.
além do surgimento da era televisiva. Surge
Com o intuito de formar crianças que possuem
junto a esta era os quadrinhos e as revistas de
habilidades que irão além da mera leitura, mas
terror. Na década de 60 concomitante a
que compreendem o que foi lido, conseguem
tecnologia e computadores, surgem rumores

310
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de que os livros e professores serão obsoletos e assim a prática da leitura, torna se algo
em respeito as novas tecnologias. desafiador e instigante.
Os anos 70 e 80 são permeados por uma A leitura é uma prática primordial, mas
literatura que questiona e coloca as crianças a também existe outra prática que coloca a
par do mundo em que vivem. Mas apesar desta criança em contato com o mundo leitor, a
literatura indagadora o sistema de ensino sofre atividade de ouvir histórias, que muitas vezes é
com uma crise no ensino. Com exigências o início do contato de uma criança com
relacionadas à tecnologia e introdução de histórias e diferentes textos. E na maioria das
computadores nas escolas. vezes este mediador entre criança e histórias é
A literatura a exemplo de muitas situações e alguém de seu convívio próximo.
coisas, contou com imensuráveis modificações, Instigar a leitura na infância é um dos meios
mas é de suma importância que a literatura de contribuir e despertar para leitura. A criança
apesar das intercorrências sofridas deve amplia sua sensibilidade em relação as artes,
permanecer como algo que não poderá ser pois atua de maneira sem limites sua
superado pela tecnologia, a imaginação e o imaginação. É importante colocar à disposição
prazer da leitura deve ser algo imutável. da criança uma gama de personagens, clássicos
da literatura e histórias das quais as crianças se
A PRÁTICA DA LITERATURA NA reconheçam de maneira positiva.
A literatura infantil tem a capacidade de
INFÂNCIA trazer emoções, significados e sentidos, a
Essencial para formação do indivíduo, o criança que permeia por diferentes textos cria
habito da leitura na infância acende na criança uma relação positiva com a literatura, na fase
o senso crítico e auxilia no aprendizado. Mas escolar que a criança está no processo de
existe diferentes estratégias para que se forme aprendizado e desenvolvimento, necessita
um leitor ativo, e uma delas sem sombra de desta relação com a literatura, para que se
dúvida é a prática da leitura na infância. A tornem leitores críticos.
família e a escola, devem apoiar de maneira
ativa esta prática, pois a literatura é um dos
meios para o desenvolvimento cognitivo da
A IMPORTÂNCIA DO
criança. INCENTIVO A LEITURA
A infância é a fase marcada principalmente A família é o dos principais suportes para o
por descobertas, curiosidades, interação com o sucesso da criança no mundo leitor,
mundo de maneira própria e a leitura é um independente de outros incentivadores, sem o
desses desafios instigantes. No início o foco é apoio dos familiares conseguirá uma plena
aprender as vogais, consoantes e alfabeto, experiência com os livros. O apoio familiar além
sempre de maneira significativa e que abranja de possibilitar a formação de um leitor
os contextos da criança. E assim se inicia a contribui com o sucesso da vida escolar como
leitura de pequenas palavras, pequenos textos um todo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O incentivo das famílias a leitura nem A AÇÃO PEDAGÓGICA NA


sempre acontece de maneira significativa, por
diversos motivos, as vezes os familiares não FORMAÇÃO DE LEITORES
sabem ler, muitos familiares trabalham em A literatura infantil está estritamente
tempo integral, já no curto tempo que estão em interligada com a concepção de cultura infantil,
casa necessitam realizar as tarefas domesticas. concepção de criança e como ela deve ser
Por muitas vezes a família coloca na mão da educada. As ações que permeiam as práticas
escola a responsabilidade do incentivo à leitura, dos educadores, deve levar em consideração o
ou até mesmo não reconhecem o quanto é contexto do qual a criança está inserida, suas
importante e essencial a prática da leitura. histórias, vivências familiares e conhecimentos
A família pode incentivar de diversas formas, anteriores.
com a contação de histórias, promovendo A ação pedagógica que envolve literatura
assim maior contato com os pais e tornando a infantil ou qualquer outra ação, tem relação
leitura ainda mais significativa, além da com a cultura infantil, como a criança enxerga
possibilidade de deixar livros ao alcance da as coisas e interpreta, de acordo com a cultura
criança, para manuseio e familiarização. seja ela familiar, religiosa, escolar, especifico da
A escola também pode ser um lugar que faixa etária entre outros.
propicia experiências, mediando na A escola não pode determinar que uma
compreensão e interpretação, adquiridos com criança se comportará ou pensará de acordo
a leitura. Pois é um lugar diferentes trocas de com a cultura da qual está inserida. A escola
conhecimento. A escola possui uma importante deve atuar com a literatura infantil de modo a
ferramenta que é um acervo maior de livros e levar a criança a ampliar possibilidades, com
profissionais que reconhecem a importância da amplos repertórios e não colocar aquele gênero
leitura. literário como o melhor e sim como mais uma
O professor possui a importante atribuição possibilidade.
de formar cidadãos críticos e socialmente Desde o berçário pode se promover a
ativos. Seja no ensino superior ou na educação sensibilização acerca da literatura, colocando
infantil ele possui função de proporcionar livros a disposição para que possa sofrer
meios para que os educandos sejam capazes de manipulação, por meio dos diferentes sentidos,
desenvolver criticidade. O professor dos anos sendo mordido, amassado, cheirado e etc. O
iniciais tem como atribuição incluir a criança no livro deve conter as características especificas
mundo da leitura. Propiciando o entendimento para faixa etária, com material que possa
da criança ao que está ao seu redor, fazendo passar por processo de higienização,
conexões de maneira crítica e especifica, preferencialmente de pano e borracha, sem
proporcionando textos e leituras que sejam oferecer nenhum risco a criança.
adequados a sua idade. A rotina com o livro não necessita ser algo
rígido e constante, deve ser espontâneo, com
os livros sempre ao alcance dos bebês para que
possa ocorrer o manuseio, o educador deve

312
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

propor momentos únicos e significativos de


interações com os livros, para que cada novo
encontro com o livro seja prazeroso e
instigante.
Após a fase de descoberta, inicia a contação
de pequenas narrativas, podendo fazer uso de
brinquedos, fantoches, e objetos familiares a
criança. Ao longo do percurso as crianças
começam a demonstrar interesse por livros
com imagens, normalmente com imagens
grandes.
Os livros de papel passam a ganhar espaço a
partir do maternal, durante a contação de
histórias as crianças já demonstram
encantamento, inicia a contação de histórias de
faz de conta, com figuras amáveis, malvadas, e
personagens como bruxas e lobo ganham
destaque.
A contação das histórias na educação infantil
deve contar com uma preocupação extra, para
que os pequenos possam viajar e se emocionar.
As histórias devem contar com uma entonação
adequada, pausas, versões mais atuais de
narrativas, como a história do lobo mau, que
após contar sua versão fica claro que ele não
era tão mal assim. Lembrando que a contação
não se trata de uma mera leitura em voz alta.
O educador deve se planejar ao contar uma
história, fazendo a leitura antecipada para que
no momento possa fazer as interposições
necessárias, separação de materiais em
quantidades suficientes e atraentes para as
crianças. O clima no momento da história deve
ser contagiante para que possa contagiar a
todos.

313
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo demonstra a importância do incentivo à leitura na Educação Infantil, destacando
o papel da família, escola e educadores. Pois todos tratam se de cenários e atores principais na
formação de leitores ativos e críticos.
A leitura é primordial para aquisição de novos conhecimentos e aprendizagem, sendo
assim, é na Educação Infantil que a criança é apresentada a leitura de maneira mais formal, o
processo é mais fácil e prazeroso quando a criança já tem contato com a leitura em casa, pois já
se sente familiarizada e só aprimora o processo leitor.
Fica evidente que o contato com os livros e literatura deve ocorrer de maneira prazerosa,
lúdica e com escuta atenta aos interesses e curiosidades das crianças, promovendo a formação
de um leitor qualificado, competente, comprometido com os aspectos sociais, cognitivos e
inovadores.

314
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ARANA, A.R.A.; KLEBIS, A.B.S.O. A importância do incentivo à leitura para o processo de
formação do aluno. Seminário Internacional sobre Profissionalização Docente, 2015.

BITTENCOURT, R. C.L.; LUIZA, C.M. A importância do incentivo à leitura nos primeiros


anos da infância. Seminário Pibid, Puc, Rio de Janeiro, 2015.

COELHO, Kesia. A importância da leitura na educação infantil um estudo teórico. Autora,


Acadêmica do 8º Período de Pedagogia da Faculdade de Pimenta Bueno – FAP, 2015.

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: Teoria e Prática. São Paulo: Ática, 1998.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 49ª ed, São
Paulo: Cortez, 2008.

KAERCHER, Gládis E. P. da Silva. Brincando com os livros na escolarização inicial. IN:


DALLA ZEN, Maria Isabel H.; XAVIER, Maria Luisa M. (org.) Alfabeletrar: fundamentos e práticas.
Porto Alegre: Mediação, 2010.

LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre:
Artmed, 2002.

PEREIRA, Maria Suely. A importância da literatura Infantil nas séries iniciais. Revista
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SANTOS, P.F.P; OLIVEIRA, M.A.G. A Literatura infantil na educação infantil. Revista


Científica do ITPAC, Araguaína, v.5, n.2, Pub.5, abril 2012.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Marilda Pereira da Silva De León Alvez 1

RESUMO: Este ensaio aborda sobre a importância da Literatura Infantil no contexto da Educação
Infantil, abordando o incentivo da contação de história que deve ser iniciada em casa e ter
continuidade na escola. A hora do conto por ser uma atividade que estimula a curiosidade da
criança, desperta o imaginário e expande conhecimentos, precisa ocorrer diariamente, cabendo
ao professor estimular o hábito e gosto da leitura de seus alunos, contribuindo não só para a
formação do indivíduo, mas também para um futuro leitor.

Palavras-Chave: Literatura; Educação Infantil; Hora do conto; Fantasia; Futuro leitor.

1Professora de Fundamental e Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação Ambiental.
E-mail: familia.de.leon@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO [...] A literatura infantil deveria estar


presente na vida da criança como está o leite
Neste ensaio discutimos sobre a importância em sua mamadeira. Ambos contribuem para o
da literatura infantil para o desenvolvimento da seu desenvolvimento. Um, para o
criança incentivando a ter o hábito da leitura desenvolvimento biológico e o outro, para o
que deve começar em casa e ter continuidade desenvolvimento psicológico, nas suas
na escola. Baseando-se nas ideias de autores dimensões afetivas e intelectuais, (OLIVEIRA,
como Zilbermam (1985); Coelho 1996, p. 27).
(1985;2000;2005); Abromovich (2001), e Infelizmente em uma sociedade, na qual as
outros. tecnologias estão em alta, os livros acabam
A Literatura Infantil surge no século XVIII ficando de lado, com isso muitas crianças
quando foram escritos os primeiros livros acabam tendo o primeiro contato quando
destinados ao público infantil. Antes disso as chegam as escolas, precisamente na Educação
crianças viviam como adultos ouvindo as infantil. Nesta fase as crianças (3 a 6) anos são
mesmas estórias. […] Antes não se escrevia curiosas e a melhor maneira de repararmos
para elas, porque não existia infância, informação seria por meio do lúdico com
(ZILBERMAN, 1985, p. 13). histórias infantis.
Sabemos que as histórias fazem parte da vida Cabe ao educador oferecer oportunidades
das crianças desde pequenos, entram em como por exemplo
contato com um texto oral, pois por meio de na hora da história fazendo com que este
uma história contada pelos pais, avós e momento não seja somente a leitura de um
familiares. livro, na qual a criança acaba encarando-o
Em algumas civilizações existiam pessoas como um momento chato e cansativo, tendo
que passavam os ensinamentos para as assim sua atenção voltada para algo que julgue
crianças por meio das histórias, nos vem à mais interessante dentro da sala de aula como
mente a imagem de senhoras, avós, que os brinquedos ou outros colegas, mas sim
contavam histórias e as guardavam na levando este momento a sério com atividades
memória, já as haviam escutado de suas mães bem planejadas para a utilização dos contos
e avós. E foram elas, mulheres, que forneceram infantis de tal modo que as crianças sejam
a maior parte dos registros que temos até hoje, estimuladas a escutar e a imaginar podendo
(MEREGE, 2010, p.19). tocar, folhear o livro e tendo uma leitura de
Dentro da literatura infantil há diversos tipos forma prazerosa e significativa, desenvolvendo
de textos, tais como, fabulas, contos, histórias assim um hábito que poderá acompanhá-la
de aventuras e poesia e por meio delas as pelo resto da vida.
crianças aprendem a ouvir, observar e até a Com isso o objetivo deste estudo é identificar
lidar com os problemas e encontrar soluções a importância da literatura infantil e suas
ajudando assim na sua formação e contribuições para o incentivo à leitura e a
compreensão da realidade. aprendizagem da criança, por meio da
apresentação de um breve histórico da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

literatura. Em seguida enfatizo o quanto se faz tornou histórias como: “Chapeuzinho


necessário o incentivo à leitura no ambiente Vermelho”, “O Gato de Botas”, “Cinderela”, “O
familiar e escolar, apontando pontos Pequeno Polegar”, e outras. Nestes contos,
importantes sobre a Hora do Conto destacando havia narrativas recheadas de valores morais,
como deve ser realizado pelos professores para proporcionando uma reflexão a respeito da
que se alcance os objetivos propostos. criança passando está a ser valorizada e
protegida pela sociedade.
BREVE HISTÓRICO DA A Literatura Infantil tem seu início por meio
de Charles Perraut, clássico dos contos de
LITERATURA INFANTIL fadas, no século XVII. Naturalmente, o
As primeiras obras publicadas visando o consagrado escritor francês não poderia
público infantil aparecem primeira metade do prever, em sua época que tais histórias, por sua
século XVIII, pois antes não existiam não existia natureza e estrutura, viessem constituir um
espaço para a infância no mundo, e esta, por novo estilo dentro da Literatura, e elegê-lo o
isso não existiam livros para atender as criador da Literatura da Criança, (CARVALHO,
necessidades do público infantil, mesmo 1982, p. 77).
porque, as crianças eram vistas como adultos Os Irmãos Grimm surgem no século XIX
em miniatura, participando da vida social Influenciados pelo Romantismo, suas obras
adulta e usufruindo de sua literatura. tiveram como base as histórias orais populares
Embora no final do século XVII tenha sido folclóricas, cientificas e camponesas. Sua obra
escrito alguns livros destinados para o público mais conhecida foi publicada em 1812
infantil, não eram considerados literatura pois conhecida como “Histórias das Crianças e do
tinham como função específica, a de ensinar lar”, reunia 51 contos recolhidos pelos irmãos
valores, hábitos e a enfrentar a realidade social. Grimm; entre eles, “Branca de Neve e os Sete
A palavra literatura vem do latim “litteris” e Anões”, “A Gata Borralheira”, “Os Músicos de
significa “letras”, de acordo com o dicionário Bremen” e até mesmo, “João e Maria”. Hans
Aurélio, pode se dizer que literatura é “a arte de Christian Andersen, também escreveu diversos
escrever. Por intermédio dessa nova arte tipos de literatura, dedicando-se a obras
surgiram autores que se preocuparam em literárias voltadas para crianças e jovens
escrever para as crianças. adolescentes, dentre eles lançou seis volumes
Charles Perraul foi o responsável pelas de contos para crianças, entre os mais
primeiras obras literárias infantis e pelos contos divulgados estão “O Patinho Feio”, “O
de fadas que encantaram crianças e adultos, na Soldadinho de Chumbo”, “A Roupa do
qual usava os contos de fadas para relatar a Imperador”, “A Pequena Sereia”, que trazem
cultura do seu povo, traduzindo por meio da em sua narrativa modelos de comportamento
poesia os ensinamentos morais de sua época. que deveriam ser seguidos pela sociedade.
Ficou muito conhecido pelo seu primeiro Os seus contos encantavam a todos e
livro “Contos da Mamãe Gansa” de 1697, já aos percorreu todo o mundo, desde o século XIX até
setenta anos. Usando uma linguagem simples, os tempos atuais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A Literatura Infantil chega ao Brasil nos fins para o desenvolvimento da criança, pois por
do século XIX com Monteiro Lobato trazendo meio da Literatura Infantil a criança obtém
uma nova realidade, na qual por meio de seus auxílio na aquisição do gosto pela leitura e
personagens escrevia uma nova visão para a contribuição para o seu desenvolvimento
história literária, ainda inexistente direcionada infantil, pois resgata o lúdico na aprendizagem.
realmente à educação e a cultura das crianças. Por intermédio de livros a contação de
O seu primeiro livro para o público infantil foi histórias entra em mundos diferentes ao da sua
Narizinho arrebitado, que traz uma realidade, como afirma o Referencial Curricular
personagem que se impõe no seu contexto. Nacional para Educação Infantil (1998):
Dessa maneira, Lobato destaca-se com a A ampliação do universo discursivo da
publicação de sua grande obra, como aponta criança também se dá por meio do
Sandroni (1998): conhecimento da variedade de textos e
Com a publicação de A menina do narizinho manifestações culturais que expressam modos
arrebitado, em 1921, José Bento Monteiro e formas próprias de ver o mundo, de viver, de
Lobato inaugura o que se convencionou chamar pensar […] músicas, poemas e histórias são um
de fase literária da produção brasileira rico material para isso(BRASIL, 1998, p. 139).
destinada especialmente às crianças e jovens Na Educação Infantil as histórias despertam
(SANDRONI, 1998, p. 13). nas crianças desde pequenas, gostos e valores,
Após Monteiro Lobato, a literatura infantil pois quando se conta uma história tem-se
foi contemplada, no Brasil, com a contribuição vários objetivos entre eles, ensinar, instruir,
de novos autores, com algumas obras lançadas educar e divertir em um mundo do faz-de-
nas décadas de 80 e 90: O Menino Maluquinho, conta. É nesta fase de desenvolvimento e
de Ziraldo; Marcelo Marmelo Martelo, de Ruth descobertas que se deve proporcionar-lhe este
Rocha; Chapeuzinho Amarelo, de Chico contato com os livros, fazendo com que ela
Buarque; A Bolsa Amarela, de Lígia Bojunga perceba a sua real importância porque todos
Nunes; A Arca de Noé, de Vinícius de Moraes, e têm alguma moral de história, que traz algo
muitas outras, baseando-se em valores para ensinar para criança.
pedagógicos, com interesse no Mesmo que não saiba ler, é importante
desenvolvimento intelectual infantil, e na deixá-la ter contato com os livros, assim ela já
diversão infantil. faz a leitura de imagens e conhece a escrita.
Assim, a criança fica curiosa e passa a ter gosto
LITERATURA INFANTIL: pelos livros, e começa a conhecer as variedades
da literatura, que irá fazer com que ela ganhe
INCENTIVO Á LEITURA novos conhecimentos, os quais contribuem,
Atualmente a literatura está presente no passo a passo para o seu desenvolvimento. E
meio social de diferentes formas, por meio das também para a compreensão do mundo.
histórias contadas ou dramatizadas, que dão É de extrema importância que haja de forma
acesso às fantasias, a leitura, a escrita e até constante o incentivo para o contato com os
mesmo ao faz-de-conta, que são importantes livros que deve ter início em casa e de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

continuidade na escola. Pois o ato de contar escolar tomem gosto pela leitura de forma
história é uma tradição que existe desde muito prazerosa e não por obrigação.
tempo. Famílias tinham o costume de se O trabalho com a leitura se inicia na
reunirem para transmitir aos mais jovens as Educação Infantil como forma de despertar o
experiências de vida. É por meio de leituras de interesse das crianças pelos livros e estimular a
familiares que se estabelece o primeiro contato imaginação. Por meio da Contação de história é
com o mundo das histórias. possível despertar na criança o gosto pela
Tahan (1966, p. 22), afirma que “as histórias leitura não somente para repassar valores
consolidam os laços afetivos de morais como antigamente mais também
companheirismo e de amizade entre as crianças propiciar uma nova visão de realidade e
e os seus pais” compreensão de mundo.
Para conseguir despertar o gosto pela leitura
são necessários dois fatores: o exemplo e a A IMPORTÂNCIA DA HORA DO
curiosidade.
Devido estarmos vivendo um período em CONTO
que a mídia e as tecnologias estão cada vez A hora do conto ou a hora da história é uma
mais acessíveis às crianças. Os livros estão atividade de escuta, que propõe a interação da
sendo deixados de lado, as histórias estão criança com o texto, alimentando sua
sendo esquecidas, e os pais não leem mais para imaginação e assim possibilitando o trabalho de
seus filhos. E a curiosidade está voltada para as inúmeros conteúdos das várias áreas e de
tecnologias que fazem com que as informações diversos tipos de texto. Desta forma os contos
cheguem pelos meios de comunicação ajudam as crianças a trabalhar com situações
ampliando os horizontes e os conhecimentos. ou problemas de seu cotidiano, buscando
Muitos pais dão presente para as crianças, soluções por meio do simbolismo transmitido
brinquedos, e roupas, e esquecem que os livros pela história contada.
além de um presente educativo são essenciais Este é um momento valioso para as crianças
para a vida criança. Um livro infantil, para o fantasiarem sobre o mundo de encantamento,
quarto de uma criança, é mais indispensável do fascinação que o livro propicia. Nesta faixa
que o berço, (BERTUCH,2000, p.172). etária, de 3 a 6 anos os livros podem fazer com
Hoje em dia há diversos livros Infantis, com que as crianças adquiram o hábito de leitura de
fácil acesso, e valor acessível, já não é um forma prazerosa, atraente, criativa às crianças,
problema esse contato do livro com a criança, a começar pela seleção dos livros, que devem
mas sim falta o estímulo do adulto, não basta a ser adequados à faixa etária trabalhada, a partir
criança ter um livro em casa, os estímulos são do seu desenvolvimento cognitivo. Para cada
feitos por meio da leitura do adulto para a idade há uma característica de leitura:
criança. Aos 3 anos as histórias devem ser curtas, com
Desta forma se torna um desafio para o poucos detalhes e personagens. Nesta idade a
educador fazer com que as crianças em idade criança encara a história como se ela fosse real,
tudo tem vida e há comparação com sua

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

realidade e tentativas de explicar e mostrar as crianças, e dão os livros somente para as


como são. crianças brincarem e logo acabam rasgando,
Dos 4 aos 5 anos, a criança começa a exigir, porque não sabem a função que o livro tem, já
pouco a pouco, histórias mais elaboradas, de que o professor não passa esse o verdadeiro
simples compreensão, porém, com mais valor do livro.
riqueza de vocabulário. Nesta idade, a criança É de extrema necessidade resgatar as
ainda se assusta facilmente, pois ainda não histórias infantis tanto no ambiente familiar
consegue distinguir, por completo, realidade e como no escolar. No familiar com o intuito de
fantasia, por isso, é preciso tomar cuidado com se resgatar laços familiares em um momento
a entonação de voz. nesta fase é comum a prazeroso e descontraído cheio de
criança criar suas próprias histórias a partir de aprendizagem por meio de uma simples leitura
ilustrações e imagens. antes de dormir. Já no ambiente escolar
Dos 6 aos 7 anos, descobre-se um novo devemos resgatar as histórias infantis, evitando
momento literário nas crianças, pois é a fase transformá-las em meras tarefas escolares, pois
que a criança começa a aprender a ler, começa assim perdem sua função lúdica impedindo que
a tentar decifrar as palavras. As histórias as emoções sejam vivenciadas. Pois não é
continuam curtas, com um vocabulário simples contar uma história o que importa, mas sim a
e conhecido, e devem conter fatos que façam forma como isso é feito e sua finalidade dentro
parte do cotidiano, mesmo que de modo de uma instituição escolar. Essa atividade deve
subjetivo. ser realizada com descontração, prazer com
Nos momentos de leitura de qualquer livro, uma finalidade pedagógica.
é importante o preparo de um ambiente calmo,
no qual as crianças poderão escutar o professor
para que elas possam ter toda atenção nesse
momento.
Por isso, cabe ao professor instigar a criança,
utilizando recursos e formas criativas na hora
da contação da história.
Atualmente em muitas escolas a
preocupação dos professores está unicamente
voltada para o conteúdo e acaba-se
esquecendo da parte lúdica, que dá a criança a
oportunidade de brincar com sua imaginação,
incentivada por meio de histórias e brincadeiras
que envolvam os contos de fadas., se
esquecendo que o livro tem uma grande
responsabilidade no desenvolvimento infantil.
Muitos professores não fazem o uso do livro,
não gostam de fazer uma roda de história para

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste ensaio foi possível verificar a importância da literatura infantil, esta deve
ser incentivada pela família e pela escola. A literatura infantil deve ser aliada do professor no
interesse de incentivar o gosto da leitura da criança, não apenas em contar uma história quando
sobra tempo ou para distrair as crianças, mas sim como uma atividade planejada e incluída no
cotidiano delas com um fundo pedagógico. Para que este momento seja prazeroso e obtenha os
objetivos propostos cabe ao professor conhecer a história que vai ser contada, preparar o
ambiente, escolher um livro que condiz com a faixa etária e que apresente uma boa qualidade
literária.
Consideramos que por meio da leitura a criança compreenderá o mundo em que vive e
toda ação adulta é essencial no desenvolvimento da criança, e no estimulo para se tornar um
futuro leitor.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny - Literatura Infantil: Gostosuras e bobices. São Paulo Scipione.2001.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de janeiro: Paz e Terra, 2002.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – vol. 3. Ministério da


educação e do Desporto. Secretaria de educação fundamental. Brasília, MEC/SEF, 1998.

CARVALHO, Barbara Vasconcelos. Literatura Infantil: Visão histórica e critica. 2°Ed. São
Paulo, Ática, 1982

COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas: símbolos-mitos-arquétipos. SÃO PAULO. DCL


2005.

COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da literatura infantil/juvenil. São Paulo: 1985.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria – análise – didática. São Paulo: Moderna,
2000.

MEREGE, Ana Lúcia. Os Contos de Fadas: origens, histórias e permanência no mundo


moderno. São Paulo: Claridade, 2010.

SANDRONI, Laura. De Lobato à Década de 70. SERRA, Elizabeth. 30 anos de Literatura para
Crianças e Jovens: Algumas Leituras. Campinas, SP: Mercado
de Letras: Associação de Leitura do Brasil, 1998.

TAHAN, Malba. A arte de ler e contar histórias. Rio de Janeiro, Conquista, 1996.

ZILBERMAN, Regina. LAJOLO, Marisa. Literatura Infantil Brasileira: História e


histórias.1995.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE E DO
BRINCAR NO DESENOLVIMENTO INFANTIL
Marta de Araújo Carvalho1

RESUMO: Por meio das constantes observações dos processos de aprendizagens por meio das
ações das crianças e suas manifestações de ação no meio na qual está inserida, os meios pelas
quais a criança observa as ações ao seu redor e interage de suas próprias formas únicas e
individuais fomentando os processos de aprendizagens exclusivos de sua maturidade cognitiva.
Tal como se observam as necessidades de constantes estímulos à criatividade, que por meio das
simulações acessíveis por meio da ludicidade propiciam canais de interação com objetos e
pessoas a fim de sanar as possíveis problemáticas e situações com as quais possa ter de refletir
sobre suas ações. A ludicidade para a criança está em mesmo grau de necessidade das mais
corriqueiras para a existência humana, pois trata-se da sua principal ferramenta de ligação entre
o real e as transmissões de informações rápidas que suas mentes em desenvolvimento se utilizam
para a descoberta e busca de respostas para as mais variadas necessidades com as quais passará
a enfrentar. Explicações biológicas neurais podem explicar os processos cognitivos realizados no
cérebro, em momentos como a criança percebe os mais variados estímulos e reage de acordo
com suas maturações prévias e desenvolve estratégias para resolver as possíveis problemáticas
existentes.

Palavras-Chave: Ludicidade; Interação; Estímulos; Aprendizagens.

1Professora de Educação infantil e Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes; Especialização em Práticas Educativas.
E-mail: marthinhakitty.positivo@hotmail.com

324
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO será possível perceber os meios com as quais as


crianças aprendem brincando.
O termo lúdico refere-se diretamente ao
brinquedo, jogo na sua interação direta com o
METODOLOGIA
divertimento além de quaisquer outros
Utiliza-se neste artigo a metodologia
objetivos secundários, relaciona-se ao
bibliográfica, por meio de análise de pesquisa
imaginário, ao entretenimento, fantasia,
entre autores da área pedagógica
aspectos muito presentes na mentalidade
possibilitando compreensão do tema
infantil que tendem a estimularem-se
pesquisado.
constantemente com novas descobertas
Texto subdividido por meio de capítulos com
decorrentes de suas percepções do meio que as
citações e reflexões sobre as pesquisas
circundam. Deste modo a imaginação atrelado
realizadas.
à ludicidade pode ser estimulado pala ação de
brincar, de tal modo que a brincadeira ocorre
naturalmente para a crianças que desde ao SIGNIFICAÇÃO DO
perceber-se como agente de ação interage com IMAGINÁRIO INFANTIL
o espaço e objetos variados fazendo uso deles A mente humana aprende por meio das
de forma exploratória e imaginativa. sinapses ocorridas no cérebro perante aos
Observando-se as formas variadas de estímulos e transformações ocorridas ao seu
interação das crianças e suas aprendizagens redor, por meio de suas interações, ao se
variadas, analisar os meios pelas quais as observar as características referentes ao
brincadeiras são criadas e vivenciadas pelos pensamento humano deparamo-nos com a
indivíduos promove na criança, pela criança e subjetividade de sua virtualidade, sua não
com a criança. materialização física, mas comprovada
Suas manifestações são por si só os existência por meio dos reflexos no cérebro,
resultados e propostas das brincadeiras, e assim como estudado na Neuropsicopedagogia,
poderemos observar de quais formas elas as funções cerebrais superiores, na qual estão
ocorrem no desenvolvimento infantil e como situadas no córtex, principalmente no lobo
resultam nas aprendizagens significativas. parietal, área de Wérnick e área de Broca,
Particularidades como indivíduos, membros especificamente responsáveis pela construção
ou não das ações coletivas e como cada um da fala. Pode-se observar na imagem a seguir:
atua nas suas variações e intervenções no que
já foi criado, processos como apropriação de
realidades socias, representações fantasiosas
ou apenas manipulação de objetos para novas
representações.
Na observância das descobertas do universo
infantil e aprendizagens por meio do brincar

325
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

é uma tarefa terrivelmente difícil para a criança.


O brinquedo é uma forma de transição. Neste
momento, o cabo de vassoura (isto é, a coisa)
se torna um pivô para separar o significado do
cavalo real... uma das estruturas psicológicas
básicas que define a relação da criança com a
realidade é a mudança.
A criança não consegue ainda separar o
pensamento da coisa. Ela precisa ter um pivô
em outra coisa...Para pensar no cavalo, ela tem
de definir sua ação por este cavalo no cabo de
vassoura ou pivô...Eu diria que na brincadeira a
A criança até por volta dos três anos de criança opera de acordo com o significado que
idade, está baseando suas percepções na é separado das coisas, mas não separado da
materialidade do mundo, de tal modo a ações reais com objetos reais...Este é o caráter
contextualizar a partir do que pode tocar ou de transição do brinquedo. Isso é o que faz dele
ver, não relacionando ainda a imaginação da um elo intermediário entre a vinculação
criança, de tal modo que os objetos são puramente situacional da primeira infância e o
manipulados seguindo sua própria pensamento que é removido da situação real
funcionalidade real, passado este período, a (1978, p. 69;71).
criança passa a utilizar-se do faz-de-conta, os Os objetos adquirem significações diferentes
campos da percepção e da motivação separam- para a criança na proporcionalidade na qual ela
se, assim possibilitando noivas funções para se apropria do conceito de que a significação e
objetos outrora utilizados noutras funções o objeto em si distinguem de acordo com suas
próprias. Durante este processo a criança interações. A contextualização de
interage diretamente com os objetos e não independência do perceptual-imediato é
somente com suas funções, desenvolvendo característica que define o jogo imaginário,
então a percepção de mudança no tratamento embora isto não seja suficiente para definir que
da significação. isso desagregue as restrições da liberdade. Na
Segundo Vygotsky (1978), apud, por Kozulin interação do universo imaginário do faz-de-
(1994, p 52): conta, percebe-se ainda vínculo com a
O pensamento é separado da coisa porque realidade, trazendo representações das
um pedaço de pau começa a desempenhar o vivências cotidianas, porém sem regras
papel de uma boneca, um cabo de vassoura se determinadas de continuidade ou
torna um cavalo; ação de acordo com regras materialização concreta com o real. A
começa a ser definida a partir do pensamento capacidade de direcionar um pensamento
mais do que das coisas mesmas...A criança não ficcional para o objeto e construir histórias e
faz isso repentinamente. Separar o enlaces mentais num contexto real, abstraindo
pensamento (significado das palavras) da coisa

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para o imaginário exige um distanciamento conhecimento, que se redefine na elaboração


com as regras. constante do pensamento individual em
O processo imaginativo da criança flui compermutações constantes com o pensamento
coletivo, (ALMEIDA, 1995, p.11).
naturalidade, visto que o indivíduo da criança,
por si só traz consigo a neutralidade de não A criança faz distinção de objetos e realidade
possuir memórias anteriores de seu passado, por meio da imitação do universo adulto, ela
na qual inexistem lembranças que de qualquer reproduz ações, sons e gestos que percebe a
forma possam lhes proporcionar quaisquer sua volta, por sua vez desenvolve em si as
frustrações ou conflitos com situações a serem
possibilidades de resolução de problemas de
experimentadas no presente. O que a acordo com suas percepções. Por seus próprios
impossibilita também de atribuir juízo de meios de construções de entendimento do
valores sobre o que percebe ou não, sobre universo que a circunda a criança elabora suas
objetos ou pessoas a sua volta. As percepçõesestratégias mentais envolta num misto do real
que abstraem da realidade aparecem após ou e do imaginário, no qual na observação e
dois anos de idade, como citado anteriormente,
transformação de objetos e situações pode
até este período o universo existe para a buscar soluções para seus conflitos cotidianos.
criança na mesma proporcionalidade daquilo A criança necessita da imaginação como
que pode ver, sentir ou perceber, ou seja, o que
necessita de alimentar-se ou respirar, pois as
não vê não existe, não sobrepõe o material dopotencialidades imaginativas infantis estão
imaginário. Já a partir dos sete anos, a criança
profundamente atreladas a pertencimento ao
transpassa o processo de unicismo, mundo na mesma intensidade com que
compreende que as outras pessoas possuem experimenta o novo, cada indivíduo por si só
também necessidades, além de si mesmo, possui um tempo único e exclusivo para
como anteriormente percebia, sendo capaz de assimilação de conteúdos sejam eles de qual
ter maturidade para abstrair sobre o que os natureza forem, de tal modo que ela possa ser
outros indivíduos supostamente estão a protagonista das construções nas quais está
pensando, na qual dissocia que se ele mesmo éinserida e possa articular naturalmente suas
capaz de pensar o outro também é capaz do interferências com as situações.
mesmo. Por meio deste processo, a brincadeira Cada ser complexo é constituído por uma
é veículo para a condução da capacidade pluralidade de tempos, ramificados uns nos
imaginativa, criativa do indivíduo em formação.
outros segundo articulações sutis e múltiplas. A
história, seja a de um ser vivo ou de uma
A NECESSIDADE DO sociedade, não poderá́ nunca ser reduzida à
simplicidade monótona de um tempo único,
DESENVOLVIMENTO DA quer esse tempo cunhe uma invariância, quer
LUDICIDADE INFANTIL trace os caminhos de um progresso ou de uma
A educação lúdica é uma ação inerente na degradação, (PRIGOGINE e STENGERS, 1997, p.
criança e aparece sempre como uma forma 211).
transacional em direção a algum

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A individualidade inerente de cada ser, ainda conceitualização de jogo e vivências a criança


que estimulado tardiamente, propicia a passa a vivenciar experiencias tais como dadas
plenitude de conhecimento de si e do que por Vygotsky, afirma que o brinquedo, segundo
ocorre a sua volta, quando em ambiente sua teoria estabelece uma zona de
familiar os estímulos sociais advém dos pares desenvolvimento proximal, ZDP, que determina
que ali convivem e aos experimentar outras o intermeio entre o nível atual de
relações com pessoas de idades e histórias desenvolvimento da criança, que é
diferentes, passa a construir novas formações determinado por meio de sua capacidade para
de interações, possibilitando que suas a resolução de problemas atual de forma
características de personalidade sejam individual e a evolução deste processo por meio
fomentadas, a solidificação da compreensão de interação com seus pares e/ou sobre
das expressões afetivas e sentimentais, de tal mediação de adultos, em observância sobre os
modo que pode reagir a estímulos diferentes de meios pelas quais as crianças interagem para a
formas tão mais variadas ainda. Os conceitos de busca da resolução de seus conflitos diários
limites e regras podem e vão ser orientados sejam eles simples ou complexos, e deste modo
pelas práticas experimentadas por meio dos a criatividade sempre estimulada funciona
exercícios de ludicidade tais como: escuta e como combustível pata a criação de estratégias
leitura de histórias, rodas de conversas que visem suprir suas necessidades, anseios e
diversas, brincadeiras estruturadas ou não, expectativas, ainda que que resultantes de
atuação direta sobre percepções do cotidiano. frustrações isso decorre de uma percepção
Nos anos iniciais, as crianças que ampla de sucessos e fracassos, tentativas de
experimentam o ambiente escolar são acerto e erro.
introduzidas em perspectivas diferentes de seu O brincar, ainda que aparentando sua
ambiente original, muitas vezes se não simplicidade, são as ações que mais propiciam
obtendo atenção exclusiva, divide a mesma oportunidades com as quais as crianças imitam
com algumas crianças (irmãos, primos, etc.) situações cotidianas, reproduzindo ações,
porém em circunstancias, realidades e momentos entre outras manifestações socias
quantidades muito diferentes das com as quais cria estratégias para a resolução
experimentadas no ambiente escolar, das mais variadas problemáticas possíveis, sem
indivíduos de lares, vivencias, criações e as quais limita-se no ambiente infantil.
culturas que diferem das experimentadas Este fenômeno imitativo permeia os
originalmente. Os conflitos, grandes ou processos inerentes ao papel no processo
pequenos, são naturais e fomentam os interacional das crianças de 1 a 3 anos e a
aprendizados e conceitualizações, necessidade sequenciação da construção da função da
de obter atenção e espaço de individualidade representação, bem como da separação da
em meio ao coletivo estimulam as mais compreensão do indivíduo e do outro.
variadas reações, podendo ressignificar as A criança sente-se atraída por determinadas
compreensões anteriores sobre a realidade pessoas que chamam sua atenção sejam por
existente na vida da criança. Por meio da características próprias, seja pela proximidade

328
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

destas e desejam estar próximas, bem como as como brinquedo a transmissão do que foi
observa ativamente, desenvolve-se ativamente assimilado e reproduz:
de modo a emoldurar-se nas posturas e Por meio do lúdico e de sua história são
modelos nas quais se vê imerso, inicialmente recuperados os modos e costumes das
íntimo, desenvolve-se de modo a analisar as civilizações. As possibilidades que o ele oferece
características observadas, posteriormente se à criança são enormes: é capaz de revelar as
representam a oposição ao modelo, que contradições existentes entre a perspectiva
consiste na comparação, ainda que com a adulta e a infantil quando da interpretação do
imitação imediata, na presença do objeto brinquedo; travar contato com desafios, buscar
imitado, implicam nas confrontações com o saciar a curiosidade de tudo, conhecer;
modelo original. Outro estudioso que descreve representar as práticas sociais, liberar riqueza
de forma clara este processo imitativo é Wallon do imaginário infantil; enfrentar e superar
(1979), descreve que as etapas sucessivas da barreiras e condicionamentos, ofertar a
imitação: criação, imaginação e fantasia,
obrigam a reconhecer um estado do desenvolvimento afetivo e cognitivo, (FEIJÓ,
movimento, em que este deixa de se confundir 1992, p.185).
com as reações imediatas e - práticas que as Comprovadamente estimulante para o
circunstâncias fazem surgir dos seus processo de formação do raciocínio lógico, bem
automatismos, e um estado de representação como extremante benéfico no trato do
em que o movimento a contêm já antes de ela desenvolvimento sócio interacional do
saber traduzir-se em imagem ou de explicitar os indivíduo em formação o que vem de encontro
traços de que deveria ser composta com os princípios de desenvolvimento amplo e
(WALLON,1979,p. 137;138). global do ser humano, a criança se apropria de
A criança compreende o fato da imitação conhecimentos multi facetados no mesmo
antes mesmo de entendê-lo como progresso em que capacita sua mente para o
representação de ações realizadas por outros, e uso da criatividade e imaginação progressiva,
as interioriza de forma a agir como que por si de tal forma que sinta-se amplamente
só, o ato imitativo, segundo a interpretação respaldada em colocar suas capacidades
walloniana, entende-se como o processo de expostas para os outros indivíduos que o
imitação num enlace e diferenciação entre o circundam e realiza assim os processos de troca
sujeito e o modelo, que no caso o modelo é o de experiências entre os pares sejam eles
outro. outras crianças ou adultos que estejam no
O que já se sabe em meio à muitas pesquisas ambiente dividindo os momentos. Disserta
é a necessidade do lúdico para a estimulação e sobre esta proximidade do real com o
possível incentivo ao interesse das crianças no imaginário e suas trocas momentâneas e
ambiente escolar, bem como universo de livros cotidianas Geraldi (1996):
e textos, pois antes ainda destes a criança [...] interações em sua família, em seu grupo
manifesta no brinquedo ou nos objetos que faz amigos, em seu bairro e mesmo interações com
os meios de comunicação de massa, como rádio

329
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e televisão. Nestes processos interlocutivos é ações que necessitamos para perceber as


que a aprendizagem se deu, e antes deles não capacidades que não estão simplesmente na
havia uma linguagem pronta a que tivesse que, ação de “ver", mas sim em um "olhar"
não produtivamente, aceder. Ao contrário, nas carregado de intenções, (FAZENDA, 2002,
interações de que fez parte, seu trabalho foi p.219).
também constitutivo desta linguagem: Por meios das atividades, representação de
negociou sentidos, incorporou a seus imitação e jogos de convivência, na qual
conhecimentos prévios novos sentidos, podemos ampliar os materiais abstratos ou pré
constituiu-se como interlocutor, escolhendo formatados como fantoches, dedoches,
estratégias de interação. E compreendeu as bonecos, fantasias dentre outros recursos ou
falas dos outros, (GERALDI, 1996, p. 39). objetos, possibilitam ao usuário que construa
A estruturação mental da criança, como situações imagináveis e fomentação de
observado anteriormente, caminha em situações abstratas, que possibilitam suas
concomitância com inúmeros estímulos com as construções de regras e vivencias com as quais
quais está em contato constantemente sejam precisa desenvolver cronologia própria para
visuais, auditivos, sensórios, de tal modo a resolver as problemáticas decorrentes de suas
percebê-los e transformar internamente em ações e formular estratégias que vem de
suas próprias. encontro com as informações já armazenadas e
Os processos de assimilação de observações, reformulações de novas estratégias. Segundo
e reproduções por meio da imitação e dos jogos Morin, a identidade é presumida das
interpretativos possibilitam ainda a formulação experimentações advindas das diversas
de consenso sobre as necessidades e conjuntos situações nas quais o ser é exposto ainda que
de regras de atuação nas dramatizações de de forma não interacional direta, como
cenas cotidianas. Dados estes fatos que os anos espectador, por meio da observação dos que o
iniciais das crianças nas escolas estão rodeiam:
diretamente voltados para as múltiplas [...] mantém a identidade humana naquilo
aprendizagens por meio das interações das que tem de específico; as culturas mantêm as
crianças com as formas de representatividades, identidades sociais naquilo que tem de
nos diversos campos de aprendizagens são específico. as culturas são aparentemente
constantemente expostos a estímulos para fechadas em si mesmas para salvaguardar sua
exercerem suas próprias perspectivas sobre os identidade singular, mas, na realidade, são
conceitos e trocas. Os valores fundamentais também abertas: integram nelas não somente
para o pleno convívio social do ser em formação os saberes e técnicas, mas também ideias,
são possíveis de experimentações durante as costumes, alimentos, indivíduos vindos de fora,
mais variadas experiências: as assimilações de uma cultura a outra são
Respeito, coerência, capacidade, tolerância, enriquecedoras (MORIN, 2004, p. 57).
comprometimento de aprender e viver com o
diferente se faz necessário, possibilitando um
olhar para múltiplas direções, traduzido em

330
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A própria evolução e assimilação cultural


gradativa na qual a criança passa a interagir
constantemente e aprende conforme vive e
convive. Mesmo que em ambiente familiar, sua
ludicidade nas abstrações das situações que
presencia em casa, podem ou não ser
reproduzidas em ambientes diversos, ou
representados no próprio ambiente familiar, tal
como reproduz as tarefa de casa
desempenhadas por adultos, higieniza ao de
ambiente, cuidados com as crianças, atividades
corriqueiras de aquisição de bens como
produtos alimentícios (compras no mercado, na
feira, etc.), manutenções residenciais, enfim. A
criança absorve de forma sinestésica as
interações mais variadas dos pares com as
quais está interagindo e de tal modo que
aprende a reagir, raciocinar e constrói sua
própria personalidade pautado nos meios de
assimilação e acomodação cognitiva.
A criança como ser global, único e repleto de
transformações internas que ocorrem as todo
momento, e assim como aprende ainda que
não sendo por meios formais de escolarização
as aprendizagens, de forma geral e mais ampla,
a todo momento, nas quais suas interações são
direcionadas por tentativas, erros, estratégias,
repetições e transições de ações.

331
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da observação dos desenvolvimentos das crianças mediante as mais variadas
situações de vivências no cotidiano do ser em formação, são necessárias interações diretas que
possibilitem a busca por respostas e reações. Por intermédio das sinapses neurais ocorridas no
cérebro e os tempos de respostas das ações a criança desenvolve-se por meio do imaginário
estratégias possíveis de reações.
As possíveis construções de aprendizado obtidas em variadas situações que proporcionam
as interações entre os pares e suas descobertas advém de todas as possibilidades decorrentes das
interferências externas. O ser em constante aprendizado está imerso nas suas possibilidades
mentais, envolto de estratégias mentais de suas percepções de observações anteriores bem como
salientas os intermeios de formulações de novas estratégias. Suas criações em jogos
interacionistas, regulações de regras, que fomentam as habilidades necessárias para o convívio
social e plena compreensão da necessidade de reflexão das mesmas, a averiguação de tentativas
e erros, construindo conceitos próprios de ações entre os pares e reações possíveis. Viabilizam
também, a manutenção dos hábitos culturais, regionais, familiares, reavaliando em seu próprio
meio de convívio as tradições, construindo, desconstruindo e reconstruindo possibilidades de
convivência.
De modo linear ou não, as construções mentais antecedem todos os conceitos de
aprendizagens formais, a criança está em aprendizado á todo momento e quando descobre suas
possibilidades de abstração entre o real e o imaginário, endossa as características de suas próprias
construções individuais e coletivas, que adquire memórias e consciências e possibilita-lhe
ferramentas básicas para embasamentos para futuras aprendizagens com as quais se deparará
constantemente ao longo de toda a sua vida e a fomentação de criatividade possibilita ainda uma
mentalidade ampla que se estenderá ao longo da vida adulta.

332
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo:
Loyola, 1995.

DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. (Trad. De Hélder Godinho).


Lisboa: Presença, 1997/2007.

FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: dicionário em construção. São Paulo; Cortez, 2002.

FEIJO, O. G. O corpo e movimento: Uma psicologia para o esporte. Rio de Janeiro: Shape,
1992.

GERALDI, J. W. O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1996.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez;
Brasília; UNESCO,2004.

PINHEIRO, Marta. Fundamentos da Neurologia - Mestre Ibrahim Moussa.2010.Disponível em:


http://edespecial-neuropsicopedagogia.blogspot.com/2010/06/.Data de Acesso:12/03/2020.

PRIGOGINE, Ilya, STENGERS, Isabelle. A nova aliança: metamorfose da ciência. Brasília:


Editora Universidade de Brasília, 1997.

KOZULIN, Alex. La psicologia de Vygotsky. O conceito de atividade na psicologia soviética:


Vygotsky, seus discípulos, seus críticos. Madrid: Aliança Editorial,1994.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo. Martins Fontes, 1991.

WALLON, Henri Paul Hyacinthe Do Acto ao Pensamento: Ensaio de Psicologia


Comparada. Lisboa: Moraes.1979.

333
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE NO
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
Renata Ribeiro de Queiroz1

RESUMO: O artigo tem como objetivo identificar a importância e métodos de ludicidade a ser
trabalhado nos anos iniciais do Ensino Fundamental, sob o processo de alfabetização na
perspectiva de sua evolução e da ludicidade como ferramenta capaz de garantir a prática
satisfatória e prazerosa para o melhor desenvolvimento na alfabetização utilizando jogos e
brincadeiras. Muitos professores preocupados com a alfabetização tradicional, e querendo obter
resultados rápidos, porém mecânicos, esquecem que jogos e brincadeiras fazem parte desse
processo de alfabetização e que pode ter resultados mais satisfatório introduzindo jogos e
brincadeiras em sala de aula para o desenvolvimento de um aluno atuante na sociedade.
Professoras entrevistadas demonstram jogos realizados com os alunos e descrevam a evolução
de alunos no processo de aprendizagem no 1º ano do ensino fundamental e sua importância para
a alfabetização.

Palavras-Chave: Alfabetização; Ludicidade; Jogos; Aprendizagem.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: renatinhakation@gmail.com

334
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A alfabetização é algo complexo que precisa


de um bom planejamento para obter bons
A importância desse tema é mostrar por resultados. Trabalhar com o lúdico na a
meio da ludicidade pode ter uma alfabetização alfabetização é algo que está sendo muito
e um aprendizado prazeroso. Conforme a lei n.º falado por conta da inserção de alunos com seis
11.274/2006, as crianças com seis anos iniciam ano no ensino fundamental, mas será que dá
no ensino fundamental tendo que haver certo?
algumas modificações do currículo das práticas Por tratar-se de ação educativa, ao professor
pedagógicas e a implementação da ludicidade cabe organizá-la de forma que se torne
na aprendizagem da criança é de extrema atividade estimule auto estrutura do aluno.
importância já que ela inicia com 6 anos no Desta maneira é que a atividade possibilitará
ensino fundamental. Cabendo ao professor tanto a formação do aluno como a do professor
garantir o direito da criança de brincar, que, atento, aos “erros” e “acertos” dos alunos,
aprender de forma prazerosa e significativa. poderá buscar o aprimoramento do seu
Objetivamos demostrar a importância e as trabalho pedagógico, (KISHIMOTO, 1997, p. 85).
contribuições que a ludicidade tem para o A palavra lúdico é um adjetivo masculino
processo de alfabetização no ensino e com origem no latim ludos que remete para
aprendizagem da criança, especificamente no jogos e divertimento. Uma atividade lúdica é
período que antecede a entrada da criança no uma atividade de entretenimento, que dá
ensino fundamental. O professor também será prazer e diverte as pessoas envolvidas. O
destacado, já que ele é o responsável pela conceito de atividades lúdicas está relacionado
preparação do planejamento na utilização do com o ludismo, ou seja, atividades relacionadas
lúdico em sua prática e a aplicação pedagógica. com jogos e com o ato de brincar. Os conteúdos
O jogo como promotor de aprendizagem e lúdicos são muito importantes na
do desenvolvimento passa a ser considerado aprendizagem. Isto porque é muito importante
nas práticas escolares como importante aliado incutir nas crianças a noção que aprender pode
para o ensino, já que coloca o aluno diante de ser divertido. As iniciativas lúdicas nas escolas
situações lúdicas como o jogo pode ser uma boa potenciam a criatividade, e contribuem para o
estratégia para aproximá-los dos conteúdos desenvolvimento intelectual dos alunos.
culturais a serem vinculados na escola, O professor precisa promover tanto a
(KISHIMOTO, 1994 p.13). apropriação do Sistema de Escrita Alfabética
quanto a prática de leitura, escrita e oralidade
LUDICIDADE NA significativas na alfabetização. Conforme no
documento Orientações para a Inclusão da
ALFABETIZAÇÃO Criança de Seis Anos (2007, p.43), existem
O primeiro contato formal da criança com a inúmeras possibilidades de incorporar a
leitura e escrita inicializa na escola, no 1º ano ludicidade na aprendizagem, mas para que uma
do ensino fundamental a tarefa principal da atividade pedagógica seja lúdica é importante
escola é promover a aprendizagem da leitura e que permita, a fruição, a decisão, a escolha, as
da escrita significativa.

335
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

descobertas, as perguntas e as soluções por criatividade tendo os jogos, como propulsores


parte das crianças e dos adolescentes, do da imaginação, de resoluções de problemas,
contrário, será compreendida apenas como criação e recriação. A participação é, sem
mais um exercício. No processo de dúvida, fundamental para o desenvolvimento
alfabetização, por exemplo, os trava-língua, de habilidades que proporcionem crescimento
jogos de rima, lotos com palavras, jogos da integral à criança possibilitando a aprenderem
memória, palavras cruzadas, língua do pe e com alegria, entusiasmo e motivando-as a
outras línguas que podem ser inventadas, entre fazerem o que mais gostam e sabem fazer:
outras atividades, constituem formas brincar, emocionar-se, criar, sorrir, sonhar,
interessantes de aprender brincando ou de viver coletivamente e aprender.
brincar aprendendo. A ludicidade é importante para o ser
Durante os jogos e brincadeiras, as crianças humano, e não se pode ser vista apena como
adquirem diversas experiências, interagem diversão, mas como facilitadora da
com outras pessoas, organizam seu aprendizagem, no âmbito social, pessoal e
pensamento, tomam decisões, desenvolvem o cultural.
pensamento abstrato e criam maneiras
diversificadas de jogar, brincar e produzir LÚDICO COMO FERRAMENTA
conhecimentos.
Os jogos e as brincadeiras são instrumentos NA PRÁTICA DOCENTE
pedagógicos importantes e determinantes para O professor tem que se inserir no novo
o desenvolvimento e aprendizagem lúdica na método de ensino e sair do modo tradicional de
alfabetização, pois no jogar e no brincar as alfabetização e utilizar novos meios de didática
crianças desenvolvem habilidades necessárias para que a criança possa ser alfabetizada e
para o seu processo de alfabetização e letrada de modo mais significativo conforme o
letramento. No jogo a criança toma decisões, meio social que se está inserido utilizando as
resolve seus conflitos, vence desafios, descobre novas tecnologias e demais recursos para uma
novas alternativas e cria novas possibilidades aprendizagem crítica e de boa qualidade
de invenções, são capazes de lidar com utilizando o lúdico como recurso pedagógico
dificuldades, com a perda, conceitos de bem e propiciando espaços e situações de
mal, que são reflexos do meio em que vivem, o aprendizagem que articulem as capacidades
brincar é um direito da criança, reconhecido efetivas, emocionais, sociais e cognitivas das
por lei em nível mundial. crianças.
Para Piaget (1971), o jogo envolve não Ensina-se as crianças a desenhar letras e
apenas uma forma de desafogo ou construir palavras com elas, mas não se ensina
entretenimento para gastar energia das a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a
crianças, mas um meio que contribui e mecânica de ler o que está escrito que se acaba
enriquece o desenvolvimento intelectual. obscurecendo a linguagem escrita como
O jogo, portanto, além de ter importância na tal(VYGOTSKY, 1984, p. 119, apud, REGO, 2008,
vida da criança, é o verdadeiro impulso da p. 68).

336
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Mediante a afirmação exposta acima, pode- adultos, ampliam suas relações sociais,
se compreender, portanto, que o processo de interações e suas formas de comunicação.
alfabetização implica muito mais que aprender O professor mostrar à criança por meio da
letras e formar frases. O professor de forma atividade lúdica que a aprendizagem é ativa,
prazerosa para os alunos deve utilizar os jogos dinâmica e contínua. Assim a educação partirá
e brincadeiras como ferramentas pedagógicas das necessidades e dos interesses do aluno,
na aplicação de sua prática para a associação da estimulando sua atividade e o desenvolvimento
alfabetização, utilizando diversidades de jogos de sua criatividade, na conquista de sua
com diferentes objetivos, conflitos, regras e autonomia.
prazeres. É preciso que o professor tenha um olhar
Kishimoto (1994, p. 26), argumenta sobre a perceptivo para compreender que a educação
importância das experiências com jogos e é ato intencional. Requer orientação de sua
brincadeiras, dizendo que o suporte da parte, cujos caminhos podem ser viabilizados
aprendizagem não está apenas no raciocínio por instrumentos e materiais que podem ser
lógico. O jogo nos propicia experiências de utilizados para facilitar a construção do
êxito, pois é significativo, possibilitando a conhecimento por parte da criança. A criança
autodescoberta, a assimilação e a interação que brinca sempre, com determinação, pode
com o mundo por meio de relações e de certamente tornar-se um adulto determinado
vivências. capaz de promover o seu bem-estar e também
Portanto, não há como ignorar o valor da do outro.
ludicidade como recurso pedagógico. Por meio Kishimoto (2011), realça que as regras têm
dessa prática, professor e alunos devem papel muito importante no processo de
aprender juntos, construir uma aprendizagem aprendizagem, pois exige percepção, memória,
significativa, testar limites, questionar atenção, ações mentais integradas. Dessa
possibilidades e avançar rumo a uma educação forma a criança busca representações
de qualidade. simbólicas para expressar na brincadeira e
O professor precisa criar um ambiente aprende a simbolizar, a dar significado às coisas
estimulador no qual ler, escrever e resolver e situações, e aprende regras.
desafios e situações problemas tenham O professor precisa conhecer a criança, sua
significado para os alunos. A criança já nasce característica, seus interesses, bem como as
com capacidades afetivas, emocionais e necessidades de sua faixa etária para planejar
cognitivas. Desejam desde muito cedo estar sua pratica docente por meio do lúdico. Cabe ao
perto de pessoas, interagir e aprender com elas professor também planejar o espaço, tempo, os
de forma que possa entender e influenciar seu materiais e refletir sob sua pratica aplicada.
ambiente. Alfabetização tem início bem cedo e não
Para as crianças se sentirem mais seguras termina nunca. Nós não somos igualmente
para se expressar e aprender por meio das alfabetizados para qualquer situação de uso da
diversas trocas sociais com outras crianças e língua escrita. Temos a facilidade de lermos
determinados textos e evitamos outros. O

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conceito também muda de acordo com as marcada pelo distanciamento da realidade da


épocas, as culturas e a chegada da tecnologia vida comum, ainda que nela referenciada.
(FERREIRO, 2003, p. 14). O eixo principal em torno do qual o brincar
A sociedade muda a cada ano e se evolui deve ser incorporado em nossas práticas é o
mais, cada época com algo novo e na educação seu significado como experiência de cultura.
não é diferente, vai evoluindo cada dia mais, as Entrevista com professoras da rede
crianças estão cada vez mais espertas e Municipal de São Paulo da zona leste, dizem
inteligentes, já utilizam a tecnologia e o que semanalmente realizam atividades com
professor também tem que estar em constante jogos com seus alunos de 1º ano, e veem
evolução conforme as mudanças na sociedade. avanços no processo de aprendizagem na
O professor faz parte dessa evolução das alfabetização. Os alunos demonstram
crianças, e por meio do lúdico tem mais motivados em aprender e repassam para a
resultados significativos na aprendizagem no prática.
processo de alfabetização das crianças. No processo de alfabetização, por exemplo,
os trava-línguas, jogos de rima, logos com
JOGOS E BRINCADEIRAS NO palavras, jogos da memória, palavras cruzadas,
entre outras atividades, constituem formas
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E interessantes de aprender brincando ou de
SUAS CONTRIBUIÇÕES brincar aprendendo.
Segundo a Lei 10.172 de 2001, ressalta que o O objetivo na utilização dos jogos e
brincar envolve múltiplas aprendizagens. Um brinquedos em sala de aula é como objeto
primeiro aspecto que aponta é que o brincar facilitador para a aprendizagem da criança. Por
não apenas requer muitas aprendizagens, mas meio dos jogos e brincadeiras as crianças
constitui um espaço de aprendizagem. aprendem novas regras, desenvolvem o
Vygotsky (1987), afirma que na brincadeira comportamento, passam a perceber o mundo
“a criança se comporta além do ao seu redor e começam a participar desse
comportamento habitual de sua idade, além de mundo.
seu comportamento diário; no brinquedo, é Por meio dos jogos citados nas imagens, as
como se ela fosse maior do que ela é na crianças podem adquirir novos conhecimentos,
realidade” (p.117). Isso porque a brincadeira, habilidades, pensamentos lógicos, interagir
na sua visão, cria uma zona de desenvolvimento com os outros, promove a socialização e o
proximal, permitindo que as ações da criança respeito mútuo entre as crianças, estimula a
ultrapassem o desenvolvimento já alcançado aprendizagem, criatividade e concentração,
(desenvolvimento real), impulsionando-a a favorece o desenvolvimento da atuação da
conquistar novas possibilidades de memória e desenvolve diferentes habilidades
compreensão e de ação sobre o mundo. O do pensamento como: observar, comparar,
brincar supõe também o aprendizado de uma analisar e sintetizar.
forma particular de relação com o mundo Além desses jogos, podem se trabalhar com
letras manuseáveis do alfabeto inserido no

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

jogo, como jogo de montar palavras, caça


palavras, bingo de letras e palavras, etc. Jogos e
brincadeiras é que não falta para o professor
trabalhar com os alunos na alfabetização para
ter uma aula mais dinâmica e significativa,
basta o professor planejar e escolher
adequadamente conforme os avanços da
turma e suas realidades.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ludicidade se destaca como a ferramenta principal para a prática docente na
alfabetização, visto que se auxilia na aquisição do ensino-aprendizagem do educando com maior
eficácia. Aprender brincando torna a alfabetização mais prazerosa e significativa, dessa maneira,
vai construindo seu aprendizado.
Hoje o lúdico é o melhor aliado para o trabalho com alfabetização, pois proporciona tanto
para o professor quanto para o aluno o prazer durante o processo de aprendizagem e
principalmente na aquisição da escrita e linguagem durante essa etapa. Porém, é importante que
haja, da parte do professor, um planejamento diversificado almejando principalmente o amplo
desenvolvimento da criança levando-a ao aperfeiçoamento e avanço na sua aprendizagem. Cabe
ao professor, em seu papel de mediador, proporcionar atividades que desafiem seus alunos e o
desenvolvimento das crianças tornando-as mais críticas, autônomas, criativas e felizes. O
professor precisa criar situações significativas ao conhecimento do aluno, oferecer um ambiente
rico e variado. Nesse aspecto a ludicidade, assim com o trabalho com jogos e brincadeiras,
complementará o trabalho do professor que favorecerá as interações, as trocas e as construções
entre seus alunos.
A alfabetização se faz de forma continua e com a ludicidade como facilitadora do
aprendizado, havendo a motivação, interesse e avanços no desenvolvimento da criança de forma
significativa e prazerosa.

340
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica - Ensino Fundamental de
Nove Anos: Orientações para a Inclusão da Criança de Seis Anos, Brasília, 2007.

FERREIRO, Emília. Alfabetização em processo. São Paulo: Cortez, 2003.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação.


São Paulo: Cortez, 1997.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Livraria Pioneira
Editora, 1994.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Cengage Leatning,
2015.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo e letramento: crianças de 6 anos no ensino


fundamental. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.37, nº 1, 220, p.191-210, 2011.

REGO, Tereza Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação.


Petrópolis: RJ. Vozes, 2008.

RODRIGUES, Lídia da Silvia. Jogos e brincadeiras como ferramentas no processo de


aprendizagem lúdica na alfabetização, Brasília – DF, 2013.

SILVA, Adriana Raulino da. A Importância da Ludicidade na Alfabetização de Crianças de 2º


ano: Um estudo de Caso. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2011.

SOUZA, E. F. de. Alfabetização e o Lúdico: A importância dos Jogos na Educação


Fundamental. Trabalho de Conclusão de Curso, Centro Universitário Católico Salesiano, 2013.

VIEIRA, L. de S. e OLIVEIRA, V. X. de A Importância dos Jogos e Brincadeira para o


Processo de Alfabetização e Letramento, Fecilcam, PR, 2007.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

341
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA
NA EDUCAÇÃO
Daniela Gabriel Santiago dos Santos 1

RESUMO: Este artigo apresenta conceitos teóricos e práticos da neuropsicopedagogia e suas


contribuições para a aprendizagem. Considera-se que o desenvolvimento humano é um processo
que ocorre durante toda a vida e resulta de uma inter-relação de fatores biológicos, psicológicos,
culturais e ambientais. É importante o conhecimento do cérebro e reforça a busca das conexões
entre suas diferentes áreas, sendo assim proporcionando um maior e melhor desempenho e
saúde mental. O tema abordado nos revela a importância da neuropsicopedagogia no processo
de aprendizagem, as intervenções realizadas pelo profissional auxiliará por meio de ações a
cognição,estimulando o raciocínio lógico, a memória auditiva e visual, o rastreamento visual, o
desenvolvimento de estratégias, a coordenação visório motora, a lateralidade,
seqüencia,classificação e cálculo.Crianças com dificuldade de aprendizagens, com transtornos de
aprendizagem e mesmo aquelas com déficit de atenção e hiperatividade podem apresentar mau
funcionamento em um ou mais destes componentes importantes para o seu desenvolvimento
educacional,necessitando de uma atenção especial,de um profissional capacitado e
comprometido com suas aprendizagens.

Palavras-Chave: Neuropsicopedagogia; Cérebro; Aprendizagem; Desenvolvimento.

1Professora de Educação Infantil na Rede Prefeitura de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail:dani.fe@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO exemplo, não era tão simples com os (palavra


difícil) acreditavam.
Este artigo tem como objetivo tecer
contribuições sobre a neurociência na • Modelo de Luria
educação, conceitos de aprendizagens e a O próprio Luria (1992), acreditava que um
importância da neuropsicopedagogia no entendimento completo da mente teria que
processo de aprendizagem. incluir visões do conhecimento das pessoas a
A neuropsicologia e seu desenvolvimento respeito do mundo e das motivações que
acompanharam o progresso do estudo do fornecem energia à aplicação desse
cérebro, buscando compreender a relação conhecimento. Durante o século XX, as várias
entre o organismo e o processo mental ate ao áreas de pesquisa solidificam-se permitindo
estagio atual em que busca compreender como que conceitos psicológicos se somassem aos de
o sistema nervoso central modula nossas outras ciências e se constituísse a
funções cognitivas, comportamentais, neuropsicologia (ANDRADE e SANTOS, 2004).
motivacionais e emocionais. A busca de teorias
convincentes e evidencias para hipóteses sobre • Neurociências Definição
as funções cerebrais foi um grande desafio para A neurociência compreende o estudo do
os cientistas (LAMBERT e KISSSLEZ 2006), e para sistema nervoso e suas ligações com toda a
todos os que questionavam a influencia do fisiologia do organismo, incluindo a relação
cerebro do nosso comportamento, nossas entre cerebro e comportamento.
emoções e pensamentos. Atualmente é fato O controle neural das funções vegetativas –
notório ser o cérebro humano o órgão do digestão, circulação, respiração, homeostase,
pensamento (CANGUILHEM, 1990), mas nem temperatura das funções sensoriais e motoras
sempre o cérebro foi reconhecido como da locomoção, reprodução, alimentação e
morada da mente. ingestão de água, os mecanismos da atenção e
Com o passar dos anos a neurologia fez memória, aprendizagem, emoção, linguagem e
muitas outras descobertas que contruibuiram comunicação, são temas de estudo da
para a neuropsicologia. neurociência e do neuropsicopedagogia.

O INÍCIO DA • Neurociencias e Educação.


Estudos declaram que enquanto a
NEUROPSICOLOGIA neurociência constitui-se como ciência do
Após as origens filosóficas, utilizando-se do
cerebro, a Educação configura-secomo a
experimentalismo, a psicologia foi reconhecida
ciência do ensino e aprendizagem. Apresentam
como ciência. Durante a primeira metade do
relação de proximidade na medica em que o
século XX, foram lentamente surgindo
cerebro tem significância no processo de
evidencias mostrando que o modo de perceber
aprendizagem do individuo.
uma situação podia influenciar o
Segundo Consenza e Guerra (2011):
comportanmento, e que a aprendizagem, por

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As neurociências estudam os neurônios e nervos (espinhhais e cranianos) gangluos e suas


suas moléculas constituintes, os órgãos do terminações nervosas.
sistema nervoso e suas funções especificas e Segundo Krebs, et al (2013) , central e do
também as funções cognitivas e o temporal pelo sul latido. O giro pré central,
comportamento que são resultantes da localizado anteriormente ao sulco central,
atividade dessas estruturas, (CONSENZA e contem as áreas motoras primarias.
GUERRA ,2011, p.142). As áreas nas superfícies laterais e mediais
As neurociências cognitivas fornecem aos são essenciais não só para regular as atividades
profissionais de saúde e educação, as bases motoras ou comportamento voluntario, mas
teóricas sobre como funciona o sistema também para inicializar o comportamento
neurológico a plasticidade cerebral, o motor, ou seja, quais movimentos devem ser
desenvolvimento e a maturação cerebral, realizados (p.28)
subsídios esses que irão auxiliar na A causa mais comum desta lesão é a falta de
compreensão do processo ensino – oxigênio (hipoxia), mas também pode ocorrer
aprendizagem. por trauma, epilepsia, infecção, drogas e lesões
nos lobos occipitais. A alexia (área visual
• Componentes Celulares do sistema secundaria) é outro tipo de lesão da área
Nervoso: occipital. Refere-se a uma disfunção em que o
Os neurônios podem ser classificados em sujeito perde a capacidade de ler. Geralmente
termos de sua função, em três grupos: vem acompanhada com a perda da habilidade
sensoriais, motores e interneuronios. da escrita, mesmo com a pessoa entendendo a
Os neurônios motores dirigem os músculos língua falada.
para contrair, relaxar, produzindo assim o
movimento. São neurônios eferentes, pois • Neurofisiologia
sinais do cérebro são transmitidos para o corpo A neurofisiologia é o estudo de íons por meio
(GAZZANIGA e HEATHERTON, 2005.) de uma membrana. Esses movimentos podem
iniciar a transdução de sinal e a geração de
• Divisão do sistema Nervoso: potencial de ação; O estudo da neurofisiologia
O sistema nervoso divide-se em sistema também inclui a ação dos neurotransmissores
nervoso central SNC e sistema nervoso (KREBS, et al, 2013, p. 8). Um neurônio é
periférico SNP. O primeiro está localizado rodeado por uma membrana bicamada
dentro do esqueleto axial (cavidade craniana e fosfolipidica, que mantém concentrações
canal vertebral) e é composto pelo encéfalo e diferenciais de íons entre o espaço intra e
pela medula espinhal. No encéfalo temos extracelular. O movimento de íons por meio
cérebro, cerebelo e tronco encefálico dessa membrana gera uma gradiente elétrica
(mesencéfalo, ponte e buldo). O segundo para cada íon. A soma de todos esses
localiza-se no esqueleto aprendicular, mas para gradientes é o potencial de membrana também
fazer conxao como SNC penetra no crânio e chamado de potencial elétrico.
também no canal vertebral. É constituído por

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A oficina é o principal neurotransmissor doem desenvolvimento e o que modela seu


tronco cerebral e da medula espinhal, crescimento e maturação.
apresenta também propriedades excitatórias. A O sistema nervoso humano inicia seu
Glicéria é considerada o aminoácido mais desenvolvimento nas primeiras semanas de
simples pois só tem um átomo de hidrogênio vida embrionária até a vida adulta.
em sua cadeia lateral. Possui propriedades Segundo Consenza e Guerro (2011):
similares as do acido glutâmico e do GABA – o sistema nervoso é extremamente plástico
acido gama (g) aminobutirico no que se refere nos primeiros anos de vida. A capacidade de
a inibição de sinais neurotransmissores do SN.formação de novas sinapses é muito grande, o
Um déficit de glicena provoca um aumento de que é explicável pelo longo período de
rigidez muscular e morte por paralisia dos maturação do cérebro, que se estende até os
músculos respiratórios. anos da adolescência (CONSENZA e GUERRA
O fato é o neurotransmissor inibitório mais,2011, p.35).
frequente; os neurotransmissores inibidores Plasticidade cerebral ou neuroplasticidade, é
diminuem as chances de que um impulso a habilidade vitalícia de o cérebro reorganizar
nervoso seja disparado, a sua principal função é
suas vias neurais com base em novas
desacelerar a atividade cerebral. Alem disso, experiências (CRUZ & FERNANDES, 2007) . Essa
também está envolvido na visão, no sono e no capacidade está presente ao longo de toda a
tônus muscular e no controle motor. As vida do sujeito, mas para certas habilidades ela
doenças e os transtornos relacionados à é mais suscetível no inicio do desenvolvimento.
disfunção do GABA incluem autismo, Logo a capacidade de aprendizagem é
transtorno bipolar, depressão, esquizofrenia, mantida. Junk (2002), destaca a ação da
epilepsia, fibromialgia, meningite, alguns tipos
plasticidade cerebral:
de demência e alguns transtornos intestriais diante das imensas possibilidades de
(doença de gohn, câncer colorretal, síndrome realização do ser humano, essa plasticidade é
do intestino irritável – SC1 ; colete ulcerativa).
essencial: o cérebro pode servir a novas
Além disso, as doenças caracterizadas por funções criadas pela cultura na história do ser
movimentos involuntários, como o parkinson, a humano, sem que sigam necessárias
discinesia tardia e a doença de Huntington transformações na estrutura do órgão físico. O
também estão associadas a baixos níveis desse funcionamento cerebral é moldado tanto ao
neurotransmissor. longo da história da espécie como no
desenvolvimento individual, isto é, a estrutura
DESENVOLVIMENTO E e o funcionamento do cérebro não são inativos,
fixos e imutáveis, mas passam por mudanças no
PLASTICIDADE DO SISTEMA decorrer do desenvolvimento do indivíduo
NERVOSO CENTRAL devido a interação do ser humano com o meio
Os estudos de neurociências mostram que o físico e social (JUNK, 2002,p.3).
cérebro humano é capaz de gerar novas células
e que existe um sincronismo entre o cérebro

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Para Consenza e Guerra (2011), a grande O aprimoramento de repetição (“prening”)


plasticidade no fazer e no desfazer as também é um exemplo de memória implícita.
associações existentes entre as células
nervosas é a base da aprendizagem e • Cognição e o Córtex Cerebral
permanece, felizmente, ao longo da vida. Ela O cérebro é moldável pelos estímulos
apenas diminui com o passar dos anos, exigindo aderidos do próprio organismo, da
mais tempo para ocorrer e demandando um programação genética e do ambiente externo,
esforço maior para que o aprendizado ocorra além de coordenar suas funções internas.
de fato. Desta forma, podemos dizer que a A porção externa do cérebro é constituída
plasticidade ou neuroplasticidade é uma por uma camada de substancia cinzenta
habilidade vitalícia de o cérebro reorganizar conhecida como córtex cerebral. Este recebe
suas vias neurais com base em novas conexões relacionadas com as diferentes
experiências, costumamos classificar o modalidades sensoriais.
processo plástico em três estágios:
1) Desenvolvimento; • Funções cognitivas
2) Aprendizagem (Memória); As funções cognitivas estão distribuídas no
3) Pós – processo lesional. cortéx cerebral, que é dividido em quatro
O segundo estagio, aprendizagem/memória, regiões: o lobo frontal, que está envolvido com
pode ocorrer em qualquer fase do o planejamento e com o movimento voluntário;
desenvolvimento, na medida em que o lobo parietal, com as sensações da superfície
aprendemos algo novo e alteramos algum corporal e percepção espacial, o lobo occiptal,
comportamento frente a essa informação. com a visão; e o lobo temporal, com a audição,
Para Kandel e colaboradores (2000), a a percepção visual e a memória. Os processos
aprendizagem é o processo pelo qual se adquire mentais constituem os fundamentos da
conhecimento, enquanto a memória é a percepção, da atenção, da motivação, da ação
extensão desse conhecimento. Há dois tipos do planejamento e do pensamento, além do
diferentes de aprendizagem/ memória: próprio aprendizado e memória (SQUIRE &
1) Explicita; KANDEL, 2003).
2) Implícita.
A primeira envolve os processos empregados • Atenção
para lembrar informações especificas. A As áreas do córtex cerebral, implantadas no
informação recuperada, conhecida como processamento da atenção, incluem o córtex
memória declarativa, refere- se a informação pré-frontal, aspectos posteriores do córtex
cognitiva que pode ser caracterizada a menta, parietal, e a área transicional, entre o lobo
ou seja, o conhecimento que pode ser occipital e o temporal (MOSS & KELLIANY,
declarado. Usamos a memória explicita quando 1994).
tentamos lembrar o que comemos no jantar na Mesulan (1985), também relaciona o quadro
noite anterior. Pode envolver palavras ou de negligencia frontal a componentes motores
conceitos, imagens visuais ou ambos. já que este quadro pode ser conseqüência de

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comprometimento de região (campos é um construto isolado unitário. É composta de


adversivos frontais) responsável pelo controle sete inteligências distintas, relativamente
de movimento de cabeça e olhos. independentes uma das outras, embora
possam interagir a fim de produzir o que se
• Inteligência considera desempenho inteligentes.
O construto de inteligência tem sido 1) Inteligência Linguistica –
proposto para explicar e esclarecer o complexo utilizada para ler, escrever e
conjunto de fenômenos que justificam as compreender a palavra falada;
diferenças individuais em termos de 2) Inteligência lógica matemática –
funcionamento intelectual (MC GREW & utilizada para resolver problemas
FLANAGRAM, 1998, p.195). matemáticos e para raciocínio lógico;
Optamos por conceituar as definições para 3) Inteligência Espacial – capacidade para
inteligência por Sperman (1955) e Gardner manipular o espaço tem relação a si próprio e
(1983). aos objetos;
Paymond Catel ll (1971), propôs que a 4) Inteligência musical – capacidade de
inteligência geral compreende dois fatores compreender os símbolos musicais;
principais: a capacidade fluida (rapidez e 5) Inteligência anestesio corporal-
exatidao do raciocínio abstrato, especialmente capacidade de compreender as relações de
para novos problemas) e capacidade movimento corporal;
cristalizada (conhecimento e vocabulário 6) Inteligência Interpessoal – capacidade
acumulados). Agrupados nesses dois de relacionar-se com outras pessoas,
subfatores estão outros mais específicos. compreendendo do seu comportamento,
Carol (1993), apresenta um modelo... Da razoes e emoções;
inteligência, composto por três estratos: 7) Inteligência Intrapessoal – capacidade
1) Estrato l – inclui determinadas em compreender e identificar suas próprias
capacidades especificas (ex: capacidade de emoções e lidar com elas (resolução de
soletrar e rapidez de raciocínio); problemas).
2) Estrato ll – Abrange várias capacidades
gerais (ex: inteligência fluida e inteligência • Memória
cristalizada); Ao etudarmos, a memória podemos dizer
3) Estrato lll – é justamente uma que todas as regiões do cérebro estão
inteligência geral separada muito semelhante envolvidas de alguma forma no arquivamento
ao fator G de Spearman. No estrato IV alem da de memórias de um tipo ou de outro. A maioria
inteligência fluida e da cristalizada, inclui das experiências humanas inclui diferentes
também os processos de aprendizagem, modalidades sensoriais, tempos e espaço.
memória, percepção visual e auditiva,
produção fácil de idéias e rapidez de resposta. • Memória Imediata
Em Gardner (1983), temos a teoria da Refere-se ao conteúdo que pode ser mantido
Inteligência Múltipla, na qual a inteligência não de forma ativa na mente, começando no

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momento em que a informação é recebida, a situação social. São considerados desempenho


capacidade de memoria imediata é muito social e este pode ser caracterizado como
limitada, e deixará sua mente por poucos socialmente competente ou não. A
segundos. competência social é um atributo avaliativo
desse desempenho, que depende de sua
• Memória de trabalho- ou operacional funcionalidade e da coerência com os
Refere-se ao armazenamento da informação pensamentos e sentimentos do individuo.
nova, possuído capacidade limitada de
armazenamento e conservando, • Desenvolvimento e aprendizagem
temporariamente, as informações que podem Para a psicologia do desenvolvimento e
ser retidas por aproximadamente 15 segundos. hereditariedade e o ambiente, a maturação e a
Esta armazenagem de capacidade limitada, por aprendizagem são fatores do desenvolvimento.
meio de um trabalho consciente de repetição Isto quer dizer que, apara determinar o
de informação, pode passar para a memoria de processo de desenvolvimento em todas as suas
longo prazo. fases, as condições estruturais e orgânicas
ambientais (JOSÉ & COELHO 1999). No seu
• Memória de Longo prazo processo, o desenvolvimento inclui dois outros
Esta oferece maior capacidade de processos complementares: a maturação e a
armazenamento; a informação permanece de aprendizagem.
maneira mais estável e permanente sendo o Em relação a aprendizagem, Daris e Oliveira
esquecimento mais lento. (1994 p.20), a definem como o processo por
meio do qual a criança se apropria ativamente
• Linguagem do conteúdo da experiência humana, daquilo
Em relação aos componentes da linguagem que o seu grupo social conhece. Jean Piaget
Cevera – Merida e Ygual – Fernandez (2003), (1896 – 1980), pode ser considerado o mais
apontam quatro sistemas integrados: o conhecido dos teóricos que defendem a visão
Pragmático, que diz respeito ao uso integracionista de desenvolvimento.
comunicativo da linguagem num contexto Piaget (1896-1980), definiu o
social; o fonológico, que envolve a percepção e desenvolvimento como sendo um processo de
a produção de sons para formar palavras, o equilibraçoes sucessivas. Define em quatro os
semântico, as palavras e seus significados e o estágios evolutivos da inteligência: estagio de
gramático, que se refere as regras uni tatuais e inteligência sensório-motora, estagio do
morfológicas para combinar palavras em frases pensamento intuitivo ou pré operatório,
compreensíveis. estagio do pensamento operatório concreto e
estagio das operações formais. Vejamos como
• Habilidades Sociais se caracterizam:
Segundo Del Prette (2011), quaisquer • 1° Estágio da inteligência sensório
comportamentos ou sequencias de motora (0 a 2 anos) :
comprotamentos que ocorrem em uma

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É neste estagio que surgem as primeiras A fala egocêntrica é o estagio transitório na


tendências instintivas, as primeiras emoções, evolução da fala oral para a fala interior. Essa
os primeiros hábitos motores e os primeiros evolução ocorre de uma fala exterior para uma
sentimentos diferenciados. Nesta fase a fala egocêntrica e desta para um interior, ou
atividade intelectual da criança é natureza seja, do social para o individual.
sensorial e motora, sendo estas o fundamento Wallon (1879 - 1962), fundamente sua teoria
da atividade intelectual superior futura. em sua tese de doutorado apresenta o estudo
• 2° Estágio do pensamento intuitivo ou das patologias como possibilidade de
pré operatório (2 a 7 anos): atendimento da normalidade. Wallon (2007) ao
Nesta fase a criança, alem de fazer uso da estruturar as síndromes psicomotores,
inteligência pratica, inicia a capacidade de defendia a idéia de plasticidade cerebral,
representar uma coisa por outra e a formar deixando evidente a relação entre psiquismo e
esquemas simbólicos. Esta fase é marcada por motricidade.
transformações afetivas e intelectuais, alem do Para Wallon (1879 - 1962), o
aparecimento da linguagem oral segundo desenvolvimento da criança pode adotar uma
Rodrigues (1976). curva continua, na qual cada fase é um sistema
Com a conquista da linguagem, a ação passa de relações entre capacidade da criança e o
finalmente ao plano puramente perceptivo e meio, sendo cada etapa, ao mesmo tempo um
motor para reconstituir-se no plano intuitivo momento da evolução mental e um tipo de
das imagens e das experiências mentais. Agora comportamento. Destaca cinco estágios:
a ação pode ser interiorizada passível de ser 1°Impulsivo – emocional (0 a 1 ano
reconstituída por palavras. Isto permite a aproximadamente).
antecipação pela criança de suas ações futuras. Nesta fase, por meio dos instintos e
Instala-se o pensamento e com isso inicia-se emoções, abre-se um ciclo de relações
uma produtiva troca de idéias entre os generalizadas e difusas no comportamento do
indivíduos (RODRIGUES,1976, p.94). bebe. Os movimentos impulsivos vão dando
O pensamento pré operatório indica, lugar aos expressivos por meio da emoção.
portanto, inteligência capaz de ações A atividade cognitiva encontra-se vinculada
interiorizadas, ações mentais. O pensamento às repostas afetivas na linguagem emocional.
operatório recebe o nome de pensamento 2° Sensório motor e projetivo (1 a 3 anos
egocêntrico. No pensamento egocêntrico “a aproximadamente).
criança vê um objeto do seu ponto de vista, mas O primeiro período corresponde à
não consegue vê-lo pondo-se no lugar do seu exploração sensório-motora do mundo físico. A
interlocutor (BIAGGIO,1976, p.56). etapa projetiva é caracterizada pela capacidade
Para Vygostky (1896 – 1934), a fala do ato mental projetar-se em atos motores. A
egocêntrica tem um papel fundamental na atividade cognitiva esta relacionada ao mundo
atividade da criança: a função diretiva simbólico. Há o predomínio do cognitivo.
estratégica de transformar sua atividade em 3° Personalismo (3 a 6 anos).
um pensamento intencional.

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Fase responsável pelo processo de formação 2° Movimento autógeno ou ativo:


da personalidade. Predomina o sincretismo e a caracterizado pelos movimentos voluntários ou
imitação. Fase mareada por uma sucessão de intencionais do corpo ou parte dele;
conflitos interpessoais, esta fase externa o 3° Das reações posturais, caracterizadas por
dilema eu-outro na construção da identidade. mímicas e expressões corporais e faciais diante
Há predomínio da afetividade. das diferentes situações que os humanos
4° Categorial (6 a 12 anos enfrentam.
aproximadamente). O ato motor possibilita a expressão da
Com a consolidação da função simbólica e a emoção e é um recurso para o
diferenciação da personalidade, função diretiva desenvolvimento cognitivo. O conjunto
estratégica de transformar sua atividade em cognitivo oferece as possibilidades para
um pensamento intencional. aquisição, manutenção e transformação do
A fala egocêntrica é o estagio transitório na conhecimento, por meio de imagens, noções,
evolução da fala oral para a fala interior. Essa idéias e representações.
evolução ocorre de uma fala exterior para uma
fala egocêntrica e desta para um interior, ou DIFICULDADE DE
seja, do social para o individual.
5° Adolescência (a partir dos 12 anos APRENDIZAGEM
aproximadamente). As dificuldades de aprendizagem
Ruptura profunda se da em nível somático caracterizam-se por funcionamento
impondo uma reestruturação corporal. substancialmente abaixo do esperado
Estabelece-se a necessidade de abrir espaço às considerando a idade cronológica do sujeito e
novas definições. seu quociente intelectual, além de interferirem
Para Wallon (2007), as emoções estão significativamente no rendimento acadêmico
intimamente ligadas as manifestações ou na vida cotidiana, exigindo um diagnostico
orgânicas. Ele situa o centro das emoções na alternativo nos casos de déficits sensoriais,
região subcortical. (SÁNCHEZ, 2004).
Por intermedio da expressão emotiva, a Ocorrem quando os padrões normais de
subjetividade transforma-se em solvabilidade. aquisição de habilidades estão perturbados
Elas são uma reação ao meio que adquirem desde os estágios iniciais do desenvolvimento.
maior significação por meio da palavra. Eles não são simplesmente uma falta de
Em relação ao conjunto motor ou oportunidade de aprender e sim, dificuldades
movimento corporal, os estudos walloraianos decorrentes do processo de desenvolvimento
mostram três formas de deslocamento: neurológico.
1° Do corpo no tempo e no espaço em função São resquícios básicos para o diagnostico de
das leis da gravidade (movimento exógeno ou quais quer transtornos específicos de
passivo) aprendizagem:

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- Deve estar presente durante os problemas, planejamento, pensamento


primeiros anos de escolaridade e não ser abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica, e
adquirido mais tarde no processo educacional; aprendizagem pela experiência. Tais déficits
- Não haver fatores externos que possam resultam em prejuízos no funcionamento
fornecer uma razão suficiente para as adaptativo, de modo em que o individuo não
dificuldades escolares; consegue atingir padrões de independência
- Não devem ser diretamente decorrentes pessoal e responsabilidade social.
de problemas visuais ou auditivos não - Os Transtornos de comunicação. Incluem o
corrigidos; transtorno da linguagem, da fala, da
- Por outro lado, há crianças que não são comunicação social (pragmática) e da fluência
portadoras de transtornos específicos de com inicio na infância (gagueira). Os três
aprendizagem, mas podem apresentar primeiros caracterizaram-se por déficits no
dificuldades escolares, momentâneas ou não, desenvolvimento e no uso da linguagem, da fala
decorrentes de problemas sociais, doenças e da comunicação, respectivamente.
crônicas, distúrbios psiquiátricos, problemas Já o transtorno da fluência com inicio na
familiares geradores de estresse (pais infância caracteriza-se por perturbações da
violentos, conflitos familiares, falta de fluência normal e da fluência motora da fala,
estimulo) , uso de medicamentos, professores incluindo sons ou silabas repetidas,
desmotivados e despreparados , entre prolongamento de som de consoantes ou
outros. O numero de crianças identificadas vogais, interrupção de palavras, bloqueio ou
como portadores de distúrbios ou dificuldades palavras pronunciadas com tensão física
para aprender é extremamente variável e excessiva.
depende de fatores como o conceito utilizado, - O transtorno do espectro autista
a classificação adotada, o critério avaliativo e Caracteriza-se por déficits persistentes na
também as características da própria criança e comunicação social e na interação social em
do sistema de ensino no qual é inserida (CASIA, múltiplos contextos, incluindo déficits na
2000). reciprocidade social, em comportamentos não
Destacaremos abaixo as definições sobre verbais de comunicação usados para interação
transtornos do neurodesenvolvimento, atraso social e em habilidades para desenvolver,
global do desenvolvimento, transtorno do manter e aprender relacionamentos.
desenvolvimento intelectual, transtorno da - Distúrbios da fala: (mudez
comunicação, transtorno do espectro autista, ou mutismo) Diz respeito a incapacidade de
TDAH, transtornos motores do articular palavras. Geralmente decorrente de
neurodesenvolvimento e transtorno especifico transtornos do SNC.
da aprendizagem. - Fatores físicos:
- Deficiência Intelectual (transtorno do Atinge a formulação e a coordenação das
desenvolvimento intelectual) idéias e impede sua transmissão em forma de
Caracteriza-se por déficits em capacidades comunicação totalmente verbal.
mentais genéricas, como raciocínio, solução de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

- Fatores emocionais ou psicológicos: - Gama cismo (omite ou substitui os


Está presente em algu8mas formas de mudez fonemas K e G pelas letras D e T Ex: Tadeira por
como eletiva e é caracterizada pela negação da cadeira, dato por gato)
fala somente em certas situações e com - Lambda cismo (pronuncia o L de maneira
determinadas pessoas. defeituosa Ex: palanta por planta)
- Atraso da Linguagem: - Rotacismo (Substitui o R Ex: Tleis por
Os problemas de audição interferem em Três)
casos de atraso da linguagem. Psicológicos - Sigmatismo (usa de forma errada ou tem
também como traumas, carência afetiva, dificuldade em pronunciar as letras “S” e “Z” Ex:
superproteção e etc. caza por casa, acedo por azedo)
Por volta dos 7/8 anos os órgãos da fala têm
maturidade para produzir todos os sons - Distúrbio do ritmo ou disfluência
lingüísticos. Encontramos problemas de Referem-se à fala produzida com repetições
articulação em crianças de mais de 7 anos que de silabas, palavras ou conjunto de palavras,
não conseguem pronunciar corretamente prolongamento de sons, hesitações e bloqueios
todas as consoantes em suas combinações: – dificuldades para prosseguir a emissão de
3 anos (m, n, p) sons, mantendo-se a contração muscular inicial
4 anos (b, k, g, l) (Spinelli 1983 p 49).
5 anos (n, g, d) Desvios de assunto em uma conversa e a
6 anos ( l,r,t,cd,dr,cl,gl ) desorganização de relatos também podem ser
7/8 anos ( v,j,s,z,TR,st,sl,SP ). agregados as disfluências.

- Desvalia: caracterizada por falhas de - Gagueira


articulação. Origem: podem ser orgânicas ou Disfluência patológica: ocorrem por
funcionais. dificuldades perceptivas motoras orais ou por
Orgânica: Lábio leporino, feio na língua falhas lingüísticas. Disfluências de origem
curto, língua de tamanho acima do normal, emocional: estão ligadas a distúrbios de
defeitos na arcada dentaria. personalidade e conflitos nas relações afetivas.
- Omissão (não pronunciar sons Ex: Omei O preparo para iniciar a leitura e a escrita-
por Tomei) alfabetização depende de uma complexa
- Acréscimo (Introduz mais um sim Ex: integração dos processos neurológicos e de
atelântico por atlântico) uma harmonia evolução das habilidades
- Distorção (deixa a língua entre os dentes básicas, como percepção, esquema corporal,
ao emitir fonemas S e Z deformando-os ex: lateralidade, entre outras.
aproximar (S) – asa (Z) )
- Substituição (troca alguns sons por
outros Ex: telo por quero)

352
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AVALIAÇÃO a partir de esquemas anteriores, mais ainda se


essa diferenciação é função de todo passado
NEUROPSICOPEDAGOGICA desses esquemas, isso significa que o
Os estudos mostram que a abordagem conhecimento adquirido por aprendizagem não
quantitativa é fortemente baseada em normas é jamais nem puro registro, nem cópia, mas o
e analises fatoriais e estudos de validade. Os resultado de uma organização na qual intervém
testes formais são métodos estruturados em graus diversos o sistema total dos esquemas
aplicados com instruções especificas e normas de que o sujeito dispõe ( PIAGET ,1959,p.69).
derivadas de uma população representativa. Os O brincar é utilizado na intervenção
resultados são descritos a partir de mídia e Neuropsicopedagógica como outra forma de
desvio padrão, que permitem a utilização de explorar as funções cognitivas e de trabalhar os
cálculos para comparação e embora permitam aspectos do comportamento afetivo e social do
uma avaliação quantitativa, os três formais sujeito.
podem ser interpretados quantitativamente. Segundo Bomtempo (1997):
está claro que atividades de brincar e
• Intervenção Neuropsicopedagógica aprendizagem estão inter-relacionadas e que
Um dos trabalhos do neuropsicopedagogo é certos tipos de aprendizagem são facilitados
promover estratégias de aprendizagem por certos tipos de jogos e brincadeiras. O que
diversificados, definindo atividades ou varia é a intervenção do adulto que
operações mentais que o sujeito pode executar dependendo da atividade, pode ser mínima ou
para a facilitar e melhorar sua aprendizagem. altamente estruturada (BOMTEMPO,1997,
Segundo Beltrán (1993), as estratégias de p.115).
aprendizagem são operações mentais São várias estratégias de intervenção a que o
manipuláveis e suscetíveis de modificação. São neuropsicopedagogo pode recorrer. Seguem
classificadas como cognitivas e algumas sugestões de atividades:
metacognitivas. - Softwares educativos;
Na fase final da intervenção, reavalia-se o - Bingo ortográfico;
quadro. Se as metas foram alcançadas procede- - Ordenar palavras de modo que forma
se a alta. Caso ainda existam situações a serem uma oração;
trabalhadas, elabora-se um novo relatório, - Produzir rimas;
destacando-se primeiramente os ganhos da - Reconhecer Rimas;
criança. - Reconhecer plástica.
Embora nesse trabalho de intervenção a
medição do terapeuta seja ponto relevante no 1) exploração diferentes materiais
processo, não podemos deixar de validar o que (massa, argila e etc)
Piaget (1959), afirma sobre aprendizagem: 2) recorte com dedos ou tesoura (papel,
uma aprendizagem não parte jamais do jornal, papelão)
zero, quer dizer que a formação de um novo
habito, consiste sempre em uma diferenciação,

353
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

3) confecção de objetos e maquetes 4° Reprodução de traçados regulares e


utilizando técnicas varias de desenho, precisos
confecção de dobraduras. 5° Percepção das formas geométricas retas e
- Matemática curvas.
1° no bloco de bingo: marcar o antecessor de
7 e o sucessor de 10 2° Riscar todos os números
pares
3° Riscar todos os números impar
4° Atividades que explorem noções de
classes seriem noções de numero, noções
espaciais, topológicas e geométricas.
5° Organização de classes de elementos
segundo os atributos de: cor, forma, dimensão,
posição, quantidade, textura, peso.
6° Identificação de subclasses segundos os
atributos acima, para a aquisição do conceito
de inclusão de classe e outros.
- Esquema corporal, lateralidade, Ritmo.
1° Jogo do macaquinho (imitativo)
2° Brincadeira de Estátua
3° Musica com gestos imitativos
4° Abstraindo as partes do corpo: desenhar
no papel as mãos, os pés, o rosto
e etc.
5° Diga: as meias são usadas nos
6° Brincar de macaco, entre outros.
- Coordenação Visomotora
1° Fazer exercícios com labirintos
2° Fazer recortes a dedo ou com tesoura
3° Furar cartões com figuras, letras,
numerais, formas geométricas 4° Fazer
alinhares
5° Ligar pontos, formando figuras
- Grafismo
1° Traçados livres e garatujas
2° Coloração de partes de figuras com cores
diferentes, coordenando visão e habilidade
motora por meio de um modelo.
3° Desenhos livres e orientados

354
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudar sobre o cérebro e suas estruturas, neurociências, plasticidade cerebral, funções
cognitivas, neurociências na educação, desenvolvimento do sistema nervoso central é
fundamental, pois contribui para o planejamento relativo ao ensino aprendizagem e
consequentemente ao processo educacional.
Nesta perespectiva é fundamental estarmos atentos as dificuldades de aprendizagem, e
sempre que houver necessidade propormos intervenções neuropsicopedagogicas.

355
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ANDRADE, V.M.; SANTOS, F.H. Neuropsicologia Hoje. In Andrade V.M., Santos F.H., Bueno
OF.A, editores. Neuropsicologia Hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004.

BIAGGIO, Ângela M. Brasil. Psicologia do Desenvolvimento. Petrópolis: Vozes, 1976.

CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1990.

COSENZA, Ramon Moreira; GUERRA, Leonor Bezerra. Neurociência e educação: como o


cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.

DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1994.

KANDEL, ER. ; SCHNARTZ, JH, JESSEL, T. M. Fundamentos da neurociência do


comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.

LAMBERT, Kelly; Kinsley, Craig Howard. Neurociência Clínica - As Bases Neurobiológicas


da Saúde Mental.2006.

RUSSO Toler Margarida Rita. Neuropsicopedagogia Clinica.2006

VENTURA, Dora F. Um retrato da área da neurociência e comportamento no Brasil. Revista


Psicologia: Teoria e Pesquisa, 2012 Vol. 26 N° Especial.

PIAGET, J JNHELDER , B.A psicologia da criança. São Paulo: Bertrand Brasil, 1995.

356
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA PARCERIA ENTRE ESCOLA


E FAMÍLIA NO PROCESSO
ENSINO-APRENDIZAGEM
Simone Aparecida Brugugnoli 1

RESUMO: O presente artigo tem como finalidade abordar o modo da participação da família nos
ambientes escolares de seus filhos. Visualizando e entendendo a educação como algo
permanente, em toda a vida humana, como processo contínuo, na qual são inseridos além dos
alunos, todos os familiares, gestores, professores e a sociedade em geral. Objetivamos identificar
os motivos que os levaram até a escola. Utilizamos como metodologia a abordagem qualitativa
com pesquisas de autores que versam sobre o tema. Consideramos de fundamental importância
a participação da família na vida escolar, além de consequentemente incidir sobre a
aprendizagem, também reflete na construção de caráter solido.

Palavras-Chave: Alunos; Escola; Família; Processo ensino-aprendizagem; Comprometimento.

1 Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo; Professora de Educação Básica
II na Rede Estadual de Ensino de São Paulo.
Graduação:Licenciatura em Letras; Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Alfabetização e Letramento.
E-mail: simonejullye@hotmail.com

357
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INTRODUÇÃO A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA


A educação escolar é a primeira etapa para o PRESENTE NA ESCOLA
desenvolvimento intelectual dos seres O objetivo da família é educar os filhos para
humanos, a ausência dos pais ou responsáveis a vida, sendo responsável pela estruturação de
na escola, ocasiona muitos problemas, cada pessoa, essa pessoa nasce, cresce e se
dificuldades em impor limites a eles dentro e desenvolve de forma psíquica, emocional e com
fora da sala de aula. Isso é um desafio novo que personalidade.
vem tomando proporções cada vez maiores, Segundo Cury (2003):
um desafio a ser enfrentado por professores, Pais que não tem coragem de reconhecer
gestores e funcionários em geral e isso atinge seus erros nunca ensinarão seus filhos a
alunos de todas as classes sociais, tanto em enfrentar seus próprios erros e a crescer com
escolas públicas como particulares. eles. Pais que admitem que estejam sempre
A escola depende da família e o contrário certos nunca ensinarão seus filhos a
também é verdadeiro e benéfico, a educação transcender seus fracassos. Pais que não
em si começa em casa e a escola é apenas um pedem desculpas nunca ensinarão seus filhos a
complemento, os alunos precisam se sentir lidar com a arrogância. Pais que não revelam
seguros ao perceber que a família está sempre seus temores terão sempre dificuldades de
ao seu lado. ensinar seus filhos a ver nas perdas
Enfim, é necessário que pais ou oportunidades para serem mais fortes e
responsáveis, alunos, professores, gestores experientes (CURY, 2003, p.39).
trabalhem em parceria, trocando experiências, A família é o espaço principal de referência,
soluções, dificuldades, para que essa parceria socialização dos alunos independentemente de
tenha como foco o desenvolvimento por inteiro como essa família se apresenta na sociedade. É
do aluno, como cidadão consciente de seus a família que tem influência na formação de
direitos e deveres para que ao final possa valores morais, éticos, espirituais e culturais, os
ocorrer o processo ensino-aprendizagem de quais são transmitidos de geração em geração.
forma igualitária e completa, na qual a relação É vivendo no ambiente familiar que se forma o
escola e família sejam construídas com bases caráter da criança, para que tais valores
sólidas de respeito, confiança, sempre contribuam para o aprendizado escolar e a
administrando os conflitos de forma positiva, socialização.
mas obtendo experiências que enriqueçam Ao desconhecer as pessoas, suas formas de
essas relações da família com a escola, com vida, seus motivos, suas concepções, a escola
bases sólidas para ambas as partes, formando não percebe as diferenças que existem entre o
uma equipe com um só objetivo: formar eu e o outro perdendo a chance de dialogar
cidadãos plenos de direitos e deveres na com quem a frequenta.
sociedade atual. De acordo com Garcia (2006):
pode-se dizer que o que a escola faz por meio
de seus professores, é uma projeção do sujeito

358
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

anunciante sobre o universo, uma identificação no mínimo 04 encontros durante o ano letivo
entre meus valores e os valores deles. A escola além da escola, estar sempre à disposição dos
não fala diretamente ao outro, mas para o pais para o diálogo e com o foco no objetivo
outro, portanto não reconhece nele uma maior que é o processo ensino-aprendizagem.
qualidade de sujeito (GARCIA, 2006 p.12).
PAPEL E RESPONSABILIDAE DA
INTEGRAÇÃO ENTRE ESCOLA- ESCOLA
FAMÍLIA = COMPROMISSO DE É preciso convencer-se de que a
TODOS participação, diferenciada conforme o papel
que cabe a cada setor da comunidade
Nos últimos anos percebe-se claramente que
a família está atribuindo a escola o educacional, constitui ao mesmo tempo uma
manifestação de democracia social e uma
compromisso de educar as crianças, não há
uma integração entre a escola e a família com garantia de qualidade por certo não se pode
relação a aprendizagem dos alunos. É confundir a participação com qualidade em si
importante ressaltar que a relação entre escola da educação escolar, por que a qualidade refere
e família é compromisso de todos, pois a aos resultados educacionais alcançados pela
escola, enquanto participação é apenas um
sociedade, o meio em que as famílias vivem
meio.
atua direta e indiretamente nas crianças e por
consequência na escola e, sobretudo no Contudo, trata-se de um meio fundamental,
processo ensino-aprendizagem. Os pais não porque a educação não depende de si mesma,
necessitam ser convidados a frequentar a mas em grande parte do papel que
escola de seus filhos, a escola sempre estará desempenha a família dentro e fora da escola.
aberta, a importância da presença é Como se dá com outras habilidades humanas, é
imprescindível para as tomadas de decisões. participando que se aprende a participar
(LÓPEZ, p.83, 1999).
Segundo Lopez (1999):
Pais e mães devem comparecer sempre à
Os pais são responsáveis legais e morais pela
escola, não somente nas reuniões pré-
educação de seus filhos. Como a educação
escolar não os exime dessa responsabilidade, a determinadas para entrega dos boletins (final
participação dos pais é flagrantemente de cada bimestre), mas sim antes que qualquer
necessária para que continuem a exercer seu tipo de situação já esteja fora de controle.
papel de principais educadores dos filhos. Por Devido ao mundo globalizado, pais e mães
isso pergunto como deve ser tal participação, assumem um importante papel no mercado de
pois é indubitável sua necessidade, (LOPEZ, trabalho, deixando seus filhos o dia todo na
p.75, 1999). escola, passam sim a responsabilidade de
Por fim, pode-se afirmar que um dos mais “educar” somente para a escola. As famílias
importantes instrumentos de aproximação estão cada dia mais esquecendo que são os
entre a família do aluno e a escola, é a reunião responsáveis para a formação do caráter dos
de pais, organizadas no calendário escolar com filhos, para formação da personalidade de cada

359
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

indivíduo, aprendendo a agir e reagir na


convivência em sociedade.
É preciso que haja um envolvimento das
famílias melhorando o sentimento de
ligação/relação com a comunidade. Esse
envolvimento família/escola se efetivará para
uma educação com sucesso, para o sucesso e
sobretudo de sucesso.

360
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo expôs em linhas gerais que mesmo diante da modernidade, globalização,
a escola necessita das famílias para sua organização e interação com a comunidade, exaltando a
importância dessa relação para formação cultural dos alunos, principalmente nas séries iniciais
do Ensino Fundamental, pois envolve questões de conteúdo e valores.
A interação e integração entre família, comunidade e escola é extremamente saudável e
necessária, pois assim são formados alunos como seres humanos e não como seres que adquirem
conhecimentos abstratos, seres humanos esses capazes de aprender a aprender a vida como um
todo, convivendo numa sociedade igualitária, diversificada, na qual se convive e respeita as
diferenças, tornando-os cidadãos participativos no lugar em que vivem.

361
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9.394,
20/12/1996

BRASIL. Constituição Federal, Brasília, 1988.

CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro; Sextante,
2003.

GARCIA, E. E. Veiga, E.C. e (2006). Psicopedagogia e a teoria modular da mente. São José
dos Campos: Pulso.

LÓPEZ, Jaume Sarramona: Educação na família e na escola; o que é e como se faz. Ed.
Loiola, São Paulo, 1999.

TIBA, Içami. Quem ama educa. São Paulo: Gente, 2002.

362
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTICIDADE PARA


A EDUCAÇÃO INFANTIL
Cacilda Borges Pires de Castro 1

RESUMO: Este artigo tem por objetivo a importância da psicomotricidade na educação infantil e
de que forma a mesma pode contribuir para o desenvolvimento e aprendizagem da criança, além
de averiguar como se desenvolve o processo de construção de conhecimento. Este trabalho tem
como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica cuja finalidade é oferecer uma maior
familiarização com o problema, com intenção de torná-lo mais evidente e mostrar a suas
contribuições para o processo de aprendizagem de criança. Nota-se que a educação psicomotora
deve ser trabalhada a partir do momento que a criança entra na instituição psicomotora deve ser
trabalhada a partir do momento que a criança entra na instituição de ensino, já que serve como
base para aquisição de novos conhecimentos. Diante de tais constatações, é necessário que o
professor tenha compreensão do papel da educação psicomotora, pois a mesma exercerá
influência em toda a vida da criança desde os primeiros anos de vida, já que é por meio de
movimento e de contato com o meio que a criança se expressa. Diante desse fator, percebe-se a
necessidade de aprofundamento no assunto com o intuito de aprender mais sobre os mistérios
dos movimentos corporais que são fatores ligados diretamente com diversas áreas do
conhecimento, tal como, linguagem oral e escrita, raciocínio logico-matemático, artes visuais e
muitos outros. Acredita-se que esse estudo poderá ter uma importante contribuição para os
profissionais docentes preocupados com uma educação efetiva e de qualidade.

Palavras-Chave: Desenvolvimento motor; Educação Infantil; Psicomotricidade.

1Professora de Educação Básica na Rede Municipal de Itacajá.


Graduação: Mestranda em Ciências da Educação; Especialização em Psicopedagogia; Especialização em
Coordenação Pedagógica; Especialização em História Afrodescendente; Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura
em História.
E-mail: castro.cacilda@bol.com.br

363
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO psicomotricidade, as atividades escolares se


tornaram mais significativas, já que o conceito
Os educadores que atuam na área da é indispensável e de grande relevância no
Educação Infantil e anos iniciais são os processo de ensino aprendizagem.
principais responsáveis pelo desenvolvimento Os primeiros anos de vida são extremamente
pleno da criança. O estudo tem como foco, importantes para o desenvolvimento de
investigar a importância da psicomotricidade capacidade futuras, já que é a base do
na Educação Infantil e de que forma a mesma desenvolvimento da inteligência do indivíduo.
pode contribuir para o desenvolvimento e Le Boulch (1985, p. 221), observa que “75% do
aprendizagem da criança, além de investigar desenvolvimento psicomotor ocorrem na fase
como se desenvolve o processo de construção pré-escolar, e o bom funcionamento dessa área
de conhecimento de uma criança na educação facilitará o processo de aprendizagem futura”.
infantil, tentando compreender como se O primeiro objeto que a criança percebe é o
constrói o desenvolvimento motor e qual o seu próprio corpo e é por meio do mesmo que
papel da educação psicomotora na Educação a criança desenvolve seus primeiros
Infantil. conhecimentos, ou seja, a criança compreende
Acredita-se que psicomotricidade é um fator o mundo por meio do movimento, utilizam o
importante na vida da criança desde os corpo como um instrumento para criar novos
primeiros anos de vida, já que é por meio de conceitos, explorar o mundo, brincar, sentir,
movimento e de contato que a criança se aprender e imaginar. Cabe ao professor o papel
expressa e adquire novas aprendizagens, ou de fazer com que a criança explore ao máximo
seja, um bom desenvolvimento da educação seu corpo e suas potencialidades. Para isso, se
psicomotora é a base fundamental para o utilizará de jogos lúdicos, e brincadeiras que
processo de ensino-aprendizado da criança. auxiliem o desenvolvimento cognitivo da
Diante desse fator, a necessidade de criança. Vale relembrar que isso não é somente
aprofundamento no assunto com o intuito de uma função exclusiva do professor de educação
aprender mais sobre os mistérios dos física, mas de todos os profissionais
movimentos corporais que são fatores ligados preocupados com um ensino aprendizagem
diretamente com diversas áreas do eficiente.
conhecimento, tal como, linguagem oral e O presente estudo tem por objetivo
escrita, raciocínio logico-matemático, artes possibilitar a reflexão sobre a importância da
visuais e muitos outros. psicomotricidade na Educação Infantil, o
Este estudo é pertinente para os mesmo visa explanar como se compreende o
profissionais docentes preocupados com uma desenvolvimento motor e de que forma a
educação efetiva e de qualidade e também para mesmo pode contribuir para o
me tornar mais habilitada para executar minha desenvolvimento e aprendizagem da criança.
futura profissão de educadora junto a crianças Será apresentado algumas conceituações a
das quais serei responsável. Ao ter um respeito da psicomotricidade e também as
conhecimento prévio a respeito da fases do desenvolvimento motor de acordo

364
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com a ideia de Gallahue e Ozmun (2003), além visando melhorar a eficiência e diminuir o gasto
de investigar como se desenvolve o processo de energético.
construção de conhecimento. O trabalho tem A sociedade Brasileira de Psicomotricidade a
como procedimento metodológico a pesquisa conceitua como sendo uma ciência que estuda
bibliográfica cuja finalidade é oferecer uma o homem por meio do seu movimento nas
maior familiarização com o problema, com diversas relações, tendo como objetivo de
intenção de torná-lo mais evidente e mostrar a estudo o corpo e a sua expressão dinâmica. A
suas contribuições para o processo de Psicomotricidade se dá a partir da articulação
aprendizagem. movimento/corpo/relação.
A Psicomotricidade nada mais é que se
CONCEITUANDO relacionar através da ação, como um meio de
tomada de consciência que une o seu corpo, a
PSICOMOTRICIDADE mente e o espirito. A Psicomotricidade está
Existem várias definições que cercam o associada à afetividade e á personalidade, já
conceito de Psicomotricidade. Portanto, que o indivíduo utiliza seu corpo para
acredita-se que seja um erro dizer que existe demostrar o que sente (BARBOSA, 2007, p. 01).
uma conceituação fixa e acabada a respeito do De acordo com Queirós (1992, apud, ELMAN;
conceito. Porém, em todo o mundo é quase BARTH; UNCHALO, 1992, p. 12), “a motricidade
unânime que a Psicomotricidade é entendida é a faculdade de realizar movimentos e a
como a educação do homem pelo movimento. psicomotricidade é a educação de movimentos
Analisando a palavra etimologicamente, que procura melhor utilização das capacidades
teríamos: psique: mente. Motricidade: É a psíquicas”. Partindo dessas concepções cabe
propriedade que possuem certas células destacar novamente que o entendimento da
nervosas de determinar a contração muscular, psicomotricidade se torna indispensável para
ou seja, motriz estar relacionada a movimento. professores da Educação Infantil e deve ser
Psicomotricidade é o desenvolvimento do valorizada e trabalhada com os alunos a fim de
comportamento humano. tornar efetivo o seu verdadeiro significado de
Saboya (1995), define a psicomotricidade forma que traga benefícios para sua vida.
como uma ciência que tem por objetivo o Diante de tais fundamentações pode-se
estudo do homem, por meio do seu corpo em afirmar que a psicomotricidade, tem foco de
movimento, nas relações com seu mundo estudo o movimento humano, envolve toda
interno e seu mundo externo. Para Ajuriguerra ação que é desenvolvida e realizada pelo
(1970), é a ciência do pensamento por meio do sujeito. Dessa forma, a psicomotricidade ligada
corpo preciso, econômico e harmonioso. á motricidade desenvolvem os movimentos
Barreto (2000), afirma que é a integração do que de certa forma educa o corpo e estão
indivíduo, utilizando, para isso, o movimento e presentes de forma ativa em todas as áreas do
levando em consideração os aspectos conhecimento humano.
relacionais ou afetivos, cognitivos e motrizes. É Desde o seu surgimento no século XIX onde
a educação pelo movimento consciente, se iniciaram estudos a seu respeito e passou ser

365
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

considerado como objetos de estudo com estudos da via instintivo-emocional, com


sistemáticos e profundos no campo de os da linguagem, com os da imagem do corpo,
experimentação, já se tinha a ideia de que o com os aspectos perceptivo-gnósticos e toda
movimento é um componente essencial para o uma rede interdisciplinar, que vieram dar ao
desenvolvimento da estrutura do sujeito. O estudo do movimento humano uma dimensão
termo psicomotricidade foi usado pela primeira mais cientifica e menos mecanista (FONSECA,
vez em 1900 por Wemik como nomeação para 1983, p. 8).
uma doença: debilidade motora. E em 1909, Baseado em tais estudos, passa a se
Dupré, considerado o pai da psicomotricidade, compreender que a evolução da
neuro psiquiatria francês, foi uma figura de psicomotricidade do ser humano se dá de
grande importância no âmbito da forma natural, só precisa de estímulos e de
psicomotricidade, já que afirmou a auxílio para prevenir defasagens.
independência da debilidade motora com um Em uma primeira fase dos estudos sobre a
possível correlato neurológico. Diante de tais psicomotricidade teve sua pesquisa teórica
constatações a psicomotricidade passou a ser fixada, sobretudo no desenvolvimento motor e
uma ciência que estuda os indivíduos em no atraso intelectual da criança. Surgiram
função dos movimentos, nos quais a grande estudos sobre o desenvolvimento da habilidade
parte dos conhecimentos do sujeito, são frutos manual e aptidões motora em função da idade.
da relação que se tem com o meio. “A psicomotricidade é atualmente concebida
Mesmo surgindo há muito tempo, o estudo como a integração superior da motricidade,
sobre a psicomotricidade ainda é bem ativo na produto de uma relação inteligível entre a
atualidade e ouve um grande avanço á seu criança e o meio” (LIMA; BARBOSA, 2007, p.
respeito. Veem se afirmando pouco a pouco e 87). Hoje em dia os estudos ligados a
evoluiu em diversos aspectos que de certa psicomotricidade vão além dos problemas
forma voltam a se agrupar. Os estudos ligados motores: pesquisam também as ligações com a
ao conceito de psicomotricidade continuaram e lateralidade, a estruturação espacial e a
houve um fortalecimento da pesquisa, na qual orientação temporal por um lado e por, outro,
surgiram diversos trabalhos e inúmeras as dificuldades escolares de crianças de
publicações com variados pensamentos inteligência normal, fazendo assim, com que se
relacionados ao tema. A diversidade de tome consciência das relações existentes entre
pensamentos em relação á psicomotricidade o gesto e a afetividade.
deu origem há variadas abordagens teóricas Analisando a história da psicomotricidade,
como a do Behaviorismo, a da Psicologia mesmo com tantas definições á seu respeito
clássica entre outras. Diante de tais linhas cabe destacar que em todo o mundo é
teóricas que acabavam por dar á unanimidade afirmar que o exercício físico é
psicomotricidade um caráter reducionista e muito importante e necessário para o
separatista, ignorando assim sua dimensão. desenvolvimento mental, corporal e emocional
A psicomotricidade deixa de ser estudada do ser humano e em especial da criança.
isoladamente; hoje se encontra enriquecida

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No entanto, para aprofundar mais no em diversos aspectos que atualmente voltam a


assunto e compreender melhor a importância se agrupar. Em uma primeira fase, a pesquisa
da psicomotricidade na Educação Infantil, faz- teórica fixou-se, sobretudo no
se necessário, uma análise mais profunda em desenvolvimento motor da criança. Depois
relação ao desenvolvimento motor do estudou a relação entre o atraso no
indivíduo. desenvolvimento motor e o atraso intelectual
da criança. Seguiram-se estudos sobre o
COMPREENDENDO O desenvolvimento da habilidade manual e
aptidões motoras em função da idade sobre da
DESENVOLVIMENTO MOTOR deficiência. Hoje em dia, o estudo ultrapassa os
O processo de ensino/aprendizagem é um problemas motores: pesquisa também as
processo bastante complexo em que está ligações com a lateralidade, á estruturação
envolvido sistemas de habilidades diversas, espacial e a orientação temporal por um lado e,
inclusive as motoras. Grande parte das crianças por outro, as dificuldades escolares de crianças
que apresentam dificuldades durante o de inteligência normal e as que apresentam
processo de aprendizagem, a causa do deficiência mental. Faz também com que se
problema não está localizado onde a maioria tome e consciência das relações existentes
dos profissionais que trabalham na área da entre o gesto e a afetividade, como no seguinte
educação acha que está (no período escolar em caso: uma criança com deficiência ou não, se
que se localiza o nível das bases), ou seja, a estiver segura de si caminha de forma muito
estrutura do desenvolvimento. diferente de uma criança tímida.
Segundo Barreto (2000): Esses conceitos básicos são indispensáveis
O desenvolvimento psicomotor é de suma para o desenvolvimento de uma aprendizagem
importância na prevenção de problemas da de qualidade, pois os mesmos constituem a
aprendizagem e na reeducação do tônus, da estrutura da educação psicomotora. Em,
postura, da direcional idade, da lateralidade e Martin; Jauregui e Lopes (2004), “entende-se
do ritmo (BARRETO,2000, p. 1). como motricidade toda resposta motora
Diante de tal constatação, é importante que gerada pelo nosso corpo. E para que todo esse
o aluno, durante os anos iniciais de estudos processo ocorra de forma eficiente o corpo
creche/pré-escola, antes de introduzir a deve receber estímulos”. O desenvolvimento
sistematização do processo de alfabetização, motor requer uma participação efetiva do
adquiram determinados conceitos que iram de professor por meio de auxilio e estímulos. O
certa forma permitir e tornar mais fácil a problema é que, muitas escolas acabam por
aprendizagem e desenvolvimento da leitura e limitar essa função ao professor de educação
da escrita. física, ideia está errônea pois essa é trabalho de
O estudo da psicomotricidade é recente; todos os profissionais que se dispõem á
ainda no início ainda deste século abordavam - trabalhar com crianças a que estão envolvidos
se o assunto apenas o excepcionalmente. diretamente ao processo de ensino-
Afirmou-se. Pouco a pouco e evolui em e evolui aprendizagem.

367
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Estudos recentes comprovam que um bom com as habilidades conquistadas pelo


desenvolvimento motor repercute de forma individuo, independentemente de sua
ativa na vida futura da criança no que diz velocidade. Daí pode se concluir que o
respeito aos aspectos sociais, intelectuais e desenvolvimento motor se dar de forma
culturais. O desenvolvimento motor é resultado individual, pois cada sujeito tem suas próprias
da interação entre a psique humana, e os percepções e experiências que são únicas,
movimentos efetuados pelos músculos, ou seja, portanto, deve se respeitar o nível de
a mente humana manda as informações e o desenvolvimento de cada indivíduo.
corpo às reproduz. Essa ideia pode ser O desenvolvimento motor tem uma ordem a
observada na obra de Avelar quando o mesmo ser seguida, cada idade temos um estágio
menciona que: “Compreende-se diferente para ser superado, com o
desenvolvimento psicomotor como a interação conhecimento desses estágios podemos
existente entre o pensamento, consciente ou organizar planos de ensino fazendo com que a
não, e o movimento efetuado pelos músculos, criança evolua com mais facilidade, respeitando
com ajuda do sistema nervoso” (AVELAR, 1984, o seu limite tanto físico como mental (SILVA,
p. 23;24). 2005).
São muitos os autores que discutem O ambiente em que vive a criança exerce
questões ligadas ao desenvolvimento motor. grande influência no desenvolvimento motor.
Entre estes autores, destacamos Gallahue Cada pessoa possui habilidades motoras
(2005), que acredita que o desenvolvimento diferentes que se desenvolve e evoluem de
motor está associado diretamente às áreas acordo com as necessidades de cada sujeito em
cognitivas e efetivas do comportamento variados períodos de tempo.
humano: Segundo o Gallahue e Ozmun (2005):
O desenvolvimento motor está relacionado o desenvolvimento motor apresenta fases,
às áreas cognitivas e efetivas do estágios”. Isto é, processo de desenvolvimento
comportamento humano, sendo influenciado motor acontece de forma simultânea, pois
por muitos fatores. Dentre eles destacam os existem fases a serem seguidas, cada idade o
aspectos ambientais, biológicos, familiar, entre sujeito se depara com um estágio diferente a
outros. Esse desenvolvimento é a continua ser superado. Só que existe fatores externos e
alteração da motricidade, ao longo do ciclo da internos próprios do indivíduo que fazem com
vida, proporcionada pela interação entre as que o desenvolvimento motor do sujeito se dê
necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo de forma mais acelerada ou lenta provocando
e as condições do ambiente (GALLAHUE, 2005, assim diferenças entre cada pessoa. O quadro
p.03). abaixo apresentará resumidamente as fases e
Toda mudança continua no comportamento estágio do desenvolvimento motor (GALLAHUE
motor durante o ciclo da vida é que vai definir e OZMUN,2003,p54).
o desenvolvimento motor. O desenvolvimento É de grande importância que os educadores
motor deve se dar de forma continua sem pular da Educação Infantil conheçam cada fase da
etapas, pois o mesmo é conseguido de acordo criança e que a criança está em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento por isso deve ser respeitada e atingidos pela criança. Nesta fase a criança vai
estimulada a movimenta-se com atividades começar codificar e decodificar o mundo por
próprias para cada faixa etária. meio dos reflexos.
Segue-se com fase rudimentar, na qual se
Quadro 1. Fases do desenvolvimento motor tem um período maior de tempo, entre 06
Idade Sequência de desenvolvimento: meses a 2 anos de idade. Essa fase possui dois
aproximada Fases e estágios
Fase reflexiva: estágios á serem desenvolvida, o estágio de
0 a 6 meses - Estágio de codificação iniciação e inibição dos reflexos, no qual a
- Estágio de decodificação
criança começa a manifestar os movimentos
Fase rudimentar:
6 a 12 meses - Estágio de início de inibição de superando os reflexos, e o estágio de pré-
reflexos controle, a criança começa a ter o domínio do
1 a 2 anos -Fase rudimentar:
-Estágio de pré-controle próprio corpo, é a fase em que a criança
2 a 4 anos - Fase de movimentos começa a andar.
fundamentais:
-Estágio inicial e elementar A terceira fase, denominada, fase dos
4 a 6 anos - Fase de movimentos movimentos fundamentais, é desenvolvida
fundamentais:
-Estágio de maturação e maduro
entre 2 a 6 anos de idade. Essa fase é construída
7 a 10 anos -Fase de movimentos por dois estágios, o estágio inicial e elementar
especializados: e o estágio de maturação e maduro, no qual a
-Estágio transição
11 anos e -Fase de movimentos criança passa a explorar e experimenta seu
acima especializados: corpo de forma a descobrir suas possibilidades
-Estágio de aplicação
-Estágio de utilização e limites, daí surge uma variedade de
13 anos e -Fase dos movimentos específicos: movimentos.
acima -Estágio cultural e especificidade.
Fonte: Gallahue e Ozmun (2003)
As últimas fases, denominadas, fase de
movimentos especializados, e fase dos
O desenvolvimento motor da criança deve movimentos específicos, que são desenvolvidas
ser desenvolvido de acordo com sua idade, ou entre 7 e 13 anos de idade. Essas fases possuem
seja, o professor, que vai ser um dos três estágios a ser desenvolvido pela criança, o
estimuladores e auxiliador no desenvolvimento estágio de transição, estagio de aplicação,
motor da criança, deve aplicar atividades que estágio de utilização estágio cultural e
seja compatível com a idade e fase de especificidades. Essas fases são frutos das fases
desenvolvimento em que se encontra a criança, anteriores principalmente da fase dos
sempre acrescentando novos desafios que movimentos fundamentais. Nessas fases os
possibilite a mesma alcançar a o próximo movimentos, após um momento de transição,
estágio, mais sem que vá além da sua tornam-se uma ferramenta em que a criança
capacidade de superar. usará para desenvolver diversas atividades
O quarto vem explanar de forma bem motoras para atender suas necessidades do
suscita as fases de estágios do desenvolvimento dia-a-dia.
motor. Pode-se observar que se inicia com fase Cabe ressaltar que esses estágios nem
reflexiva, na qual existem dois estágios a serem sempre são seguidos de forma sequencial e na

369
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

idade mencionada. “Diversos fatores podem trabalhar, assim foi preciso criar creches para
colocar em risco o curso normal do cuidar dessas crianças. Essas escolas surgiram
desenvolvimento de uma criança” (GALLAHUE, como forma de dar assistência, cuidar da
2005, p.54). Uma criança pode muito bem higiene, alimentar as crianças enquanto
apresentar características da fase de estavam longe de suas mães e não como um
movimentos fundamentais, com a idade da fase trabalho educacional, de desenvolvimento
rudimentar. Gallahue apresenta vários fatores (OLIVEIRA, 2008).
que podem interferir no curso normal de Quando o “jardim de infância” chegou ao
desenvolvimento da criança, entre estas Brasil causou muitas discussões entre os
condições biológicas e ambientais. Fatores políticos daquela época, pois enquanto alguns
como baixo peso ao nascerem, distúrbios achavam que seria importante para o
cardiovasculares, respiratórios e neurológicos, desenvolvimento delas. Durante a polêmica,
infecções neonatais, desnutrição, baixo dizia-se que o objetivo dessas escolas
condições socioeconômicas, desnutrição, Por meio deles que as crianças podem se
prematuridade e entre outros. “Quanto maior expressar, se comunicar, criar, misturar
o número de fatores de risco atuantes, maior realidade e fantasia.
será a possibilidade do comprometimento do De acordo com Melo (2009), o jogo definido
desenvolvimento” (GALLAHUE, 2005, p. 55). como:
uma atividade ou ocupação voluntária, onde
MOMENTOS HISTÓRICOS DA o real e a fantasia se encontram, que possui
características competitivas, ocorre num
EDUCAÇÃO INFANTIL espaço físico e de tempo determinados,
De acordo com Oliveira (2008), durante desenvolve-se sob regras aceitas pelo grupo de
muito tempo o cuidar e educar eram de participantes, e são, em geral, a habilidade
responsabilidade da família, em especial da física, o desempenho intelectual diante das
mãe e outras mulheres, e a criança era vista situações de jogo, e ás vezes a sorte, os
como um pequeno adulto e quando deixava de componentes responsáveis pela determinação
depender de outras ela ajudava os adultos nas dos seus resultados. Com frequência, sua
tarefas cotidianas. prática se dá num clima de tensão e
A história da Educação Infantil no Brasil expectativa, principalmente face ao
segue a história do resto de mundo, não havia desconhecimento antecipado do resultado final
instituições que acolhessem as crianças (MELLO, 2009, p.61).
pequenas até meados do século XIX. Dois Antigamente os jogos eram vistos como uma
marcos importantes para a história da forma de recreação, apenas um passatempo
educação no Brasil foram: a abolição da 24 para as crianças sem qualquer objetivo
escravatura que fez com que o abandono de especifico, diferentemente dos dias de hoje,
crianças aumentasse e a entrada das mulheres quando eles estão sendo utilizados pelos
no mercado de trabalho, com isso elas não professores também como um recurso
tinham aonde deixar seus filhos para irem pedagógico.

370
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Hoje a perspectiva com relação aos jogos desenvolvimento da criança. Ainda segundo
infantis é outra. Educadores e outros Negrine (2010, p.95). Quando explica o papel
pesquisadores da Educação incentivam a do jogo no desenvolvimento da criança, chega
pratica do jogo como forma de aperfeiçoar o a algumas conclusões. Inicialmente, coloca que
desenvolvimento infantil. Pose-se afirmar que o jogo não é uma característica predominante
os jogos estão adquirindo gradualmente uma da infância, mas um fato básico no
nova dimensão. Vistos sob um enfoque de desenvolvimento.
integração aos currículos das escolas, deixam Para os vygotskianos, os jogos são condutas
de ser considerados atividade secundária e que imitam ações reais e não apenas ações
passam a ser pedagogicamente aceitos como sobre objetos ou uso de objetos substitutos.
parte dos conteúdos (MELLO, 2009, p.62). Não há atividade propriamente simbólica se os
De acordo com Antunes (2000), na busca por objetos não ficam no plano imaginário e são
um ensino onde os alunos se interessem pelo evocados mais por palavras que por gestos
conteúdo dos jogos ganharam espaço no (KISHIMOTO, 2008, p.42).
processo de ensino e aprendizagem. Levando Para Wallon (1879 -1962), existem cinco
em consideração se experiencias e descobertas estágios de desenvolvimento: Impulsivo-
das crianças, o professor deve criar “situações emocional que acontece no primeiro ano de
estimuladoras e eficazes”. Ainda segundo o vida e que predomina a afetividade; Sensório
autor “O jogo ajuda-o a construir suas novas Motor e Projetivo que vai até os três anos de
descobertas, desenvolve e enriquece sua idade e predomina a cognição; Personalismo
personalidade e simboliza um instrumento que é dos três aos seis anos e retorna a
pedagógico que leva ao professor a condição de afetividade; Categorial por volta dos seis anos
condutor, estimulador e avaliador da há influência do cognitivo e o Estágio da
aprendizagem” (ANTUNES, 2000, p.36)”. adolescência em que há uma influência
Para Vygotsky (2003), existem três zonas de funcional, existem momentos em que a
desenvolvimento: a zona de desenvolvimento afetividade que predomina e há momentos que
potencial, a zona de desenvolvimento potencial a cognição é quem predomina (GALVÃO, 1995).
é aquela que a criança ainda vai construir, está Sobre os jogos, Wallon (1879 -1962), afirma
voltada para seu futuro, a zona de que eles se confundem com as atividades
desenvolvimento real é aquilo que a criança já globais das crianças, e os classifica em: jogos
aprendeu e consegue dominar e na zona de puramente funcionais, que ele chama de
desenvolvimento proximal a criança faz algo elementares, são aqueles que as atividades têm
com auxílio de outro, mas depois de um tempo como intenção “mover dedos, tocar objetos,
ela poderá fazer sozinha. produzir ruídos e sons, dobrar braços e pernas”;
De acordo com Negrine (2010), Vygotsky não os jogos de ficção que é o famoso “faz de conta”
vê nos jogos uma atividade que possa ser e tem como exemplo o brincar de bonecas, de
definida apenas como uma atividade prazerosa, cavalo de pau, etc.; os jogos de aquisição que se
mas entende que por meio dos estímulos refere ao olhar, escutar, perceber e
propiciados por esses jogos há um progresso no compreender; e os jogos de fabricação onde é

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possível transformar, modificar e inventar das crianças (Art. 208), e dos pais e mães (artigo
novos objetos (NEGRINE e NEGRINE, 2010, 7) as creches e as pré-escolas.
p.71). A Educação Infantil – primeira etapa da
Analisando o estudo dos estágios propostos educação básica tem por finalidade o
por Piaget, Wallon fez inúmeros comentários desenvolvimento integral da criança até seis
onde evidenciava o caráter emocional em que anos de idade, em seus aspectos físicos,
os jogos se desenvolvem, e seus aspectos psicológicos, intelectual e social,
relativos á socialização. Interessou-se complementando a ação da família e da
particularmente pelo aspecto da descoberta e comunidade (BRASIL, 1996, s.p.).
da relação com o “outro” que o jogo é capaz de Para que se tenha esse direito garantido, é
propiciar (MELLO, 2009, p.68). indispensável o desenvolvimento de uma
De acordo com Maluf (2009), a criança se educação motora de qualidade, vendo que é na
desenvolve de acordo com a influência do Educação Infantil que ela deve ser iniciada. A
adulto que a sociedade quer formar, as suas educação psicomotora é indispensável para
potencialidades dependem da cultura, das formação da criança, pois é por meio de tal ação
ideias e do contexto social da criança. que a criança vai adquirindo conhecimento das
Para Antunes (1998), é por meio dos coisas que estão a sua volta, além de ser uma
jogos que a criança descobre a vida, a sua base determinante para a aquisição de novos
individualidade e ajuda do seu crescimento e conhecimentos e aprendizagens. As habilidades
seu desenvolvimento, ressalta ainda a psicomotoras que devem ser iniciadas na
importância de que os jogos sejam muito bem educação infantil são essenciais para que se
elaborados e que o professor tenha sempre a tenha um bom desempenho no processo de
noção de que o importante é a qualidade e não alfabetização.
a quantidade de jogos aplicados. Para crescer e aprender a criança precisa
desenvolver várias habilidades, entre elas a
PAPEL DA EDUCAÇÃO leitura e a escrita. Os exercícios psicomotores
são uma das aprendizagens escolares que deve
PSICOMOTORA NA EDUCAÇÃO ser desenvolvida na primeira infância, já que
INFANTIL são determinantes para a aprendizagem da
Educação Infantil é a base para outros leitura e da escrita. Na Educação Infantil a
conhecimentos, e deve ser efetivado da melhor prioridade é fazer com que a criança tenha uma
forma possível. Por lei o sistema de ensino percepção do mundo que o rodeia,
brasileiro desde 1996, determina a compreender suas possibilidades e limitações,
obrigatoriedade de creches e pré-escolas para além de auxilia-la à se expressar corporalmente
crianças entre 3 e 5 anos. A Constituição e aperfeiçoar suas competências motoras. Le
Federal (1988), acarretou ao Estado o dever de Boulch (1985, p. 221), observa que “75% do
fornecer uma educação formal para as crianças desenvolvimento psicomotor ocorrem na fase
de 0 a 6 anos de idade, implicados nos direitos pré-escolar, e o bom funcionamento dessa área
facilitará o processo de aprendizagem futura”.

372
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Portanto, estimular o desenvolvimento motor e corporal, estrutura temporal e organização


psicomotor na criança da Educação Infantil é de espacial. Esses aspectos podem ser
extrema importância, para que os mesmos não desenvolvidos por meio de atividades
apresentem dificuldades quando adultos. psicomotoras, que facilitará na melhor
O trabalho da educação psicomotora com as aprendizagem da criança.
crianças deve prever a formação de base Segundo Morães (2002):
indispensável em seu desenvolvimento motor, Um esquema corporal mal constituído
afetivo e psicológico, dando oportunidade para resultará em uma criança que não coordena
que por meio de jogos, de atividades lúdicas, se bem seus movimentos, veste-se ou despe-se
conscientize sobre seu corpo. Convém ressaltar com lentidão e as habilidades humanas lhe são
que, no caso das crianças com necessidades difíceis e a caligrafia é feia, sua leitura é
educacionais especiais, as atividades deverão a inexpressiva, não harmoniosa (MORÃES,2002,
ser adaptadas de acordo cos que se p.29).
apresentam. Por meio da recreação a criança O esquema corporal vai ser a consciência que
desenvolve suas aptidões perceptivas como no a criança terá sobre o seu próprio corpo.
meio de ajustamento. do comportamento Portanto, na Educação Infantil é importante
psicomotor. Para que a criança desenvolva o que se trabalhe com atividades que possibilite
controle mental de sua expressão motora, a a criança fazer diversas posições divergentes,
recreação deve realizar atividades que falem quais partes de seu corpo, fazer
considerando seus níveis de maturação diversos movimentos para que a criança
biológica. Recreação dirigida proporciona a entenda quais os limites de seu corpo e tente a
aprendizagem das crianças em várias atividades cada momento supera-los. Daí, a educação
esportivas que ajudam na saúde física, mental psicomotora passa a exercer grande influência
e no equilíbrio sócio afetivo. no desempenho escolar da criança.
Muitas das dificuldades apresentadas pelas Outro aspecto que é desenvolvido por meio
crianças relacionadas à escrita podem ser de atividades motoras é a lateralidade, que
prevenidas com a utilização de atividades também exerce grande influência no
motoras. A escrita necessita de um desenvolvimento da escrita. Em traçam a
desenvolvimento motor adequado, habilidades lateralidade, (MORÃES, 2002), pensiona,
como a temporal e espacial, são condições “Quando a lateralidade de uma criança não
necessárias para um bom desempenho da estar bem estabelecida, a mesma demostra
atividade. De acordo com Ajuriaguerra (1988), problemas de ordem espacial, não percebe a
além das habilidades cognitivas, as habilidades diferença entre seu lado dominante e o outro,
psicomotoras são essenciais para o ato de não aprende utilizar corretamente os termos
escrever e, pois, ele estar impregnado pela ação direita e esquerda, apresenta dificuldade em
motora de traçar corretamente cada letra e seguir direção gráfica da leitura e da escrita,
constituir a palavra. não consegue reconhecer a ordem em um
São vários aspectos que exercem influência quadro, entre outros transtornos”. Cabe
no momento da escrita, como, o esquema mencionar que a lateralidade não se limita

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

somente a diferenciação entre direita e Nesse sentido, a educação psicomotora deve


esquerda, mais sim toda a percepção que se ser trabalhada e valorizada desde a entrada da
tem em torno de seu corpo. Portanto, é criança na instituição de ensino, para que a
importante que o profissional docente aplique mesma possa conhecer de forma mais clara o
atividades que exija da criança a utilização dos seu corpo, suas limitações e possibilidades, algo
dois lados do corpo possibilitando um melhor que será útil para a aquisição de novos
desenvolvimento dos movimentos. Diversos conhecimentos e desenvolvimento da
são os problemas que podem ser prevenidos inteligência.
com a aplicação de uma boa educação A educação da criança na Educação Infantil é
psicomotora. desenvolvida em grande parte por meio de
Uma criança que possui uma estrutura movimento. A infância é a fase da brincadeira,
temporal mal desenvolvida pode apresentar e o professor da Educação Infantil deve usar
dificuldades em relacionadas ao tempo isso como uma das suas principais ferramentas,
cronológico, ou seja, ela não consegue ter a pois por meio delas a criança satisfaz, na
percepção de antes e depois, não tem a maioria das vezes, seus interesses,
preocupação com o tempo gasto para realizar necessidades e desejos, ou seja, por meio da
determinada atividade, podendo levar um brincadeira a criança irá refletir adquirir novos
longo período de tempo na execução da conhecimentos e conhecer o mundo que o
atividade e consequentemente impedindo a cerca. É percebível que o desenvolvimento
realização de outras. pleno da criança. A brincadeira é indispensável
Diante de tais constatações, o papel da para o desenvolvimento de uma boa educação
educação psicomotora na Educação Infantil se psicomotora.
torna irrelevante, para um bom desempenho O brincar esteve presente na vida das
escolar. Assim, Le Boulch (1985), aponta a crianças, contribuindo para seu processo de
importância da psicomotricidade na Educação desenvolvimento. O brincar tem um fim em si
Infantil: mesmo quando se caracteriza pelas
A educação psicomotora deve ser enfatizada espontaneidades, e é um meio de ensino,
na escola primária. Ela condiciona todos os quando busca alguns resultados [...] o brincar
aprendizados pré-escolares e escolares; leva a faz parte do conjunto do crescimento
criança a tomar consciência de seu corpo, da acumulados historicamente, a que damos o
lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar o nome de cultura, tendo um compromisso com
tempo, a adquirir habilmente a coordenação de a tradição, esse caracteriza como um recurso
seus gestos e movimentos, ao mesmo tempo metodológico capaz de permitir uma
em que desenvolve a inteligência. Deve ser aprendizagem espontânea e natural (ROLIM,
praticada desde a mais tenra idade, conduzida 2007, p. 300;301).
com perseverança, permite prevenir Oliveira destaca que “existe uma forte
inadaptações, difíceis de corrigir quando já relação entre o brincar e aprendizagem”.
estruturadas (LE BOULCH, 1985, p. 24). Entende-se brincar, como o viver, é o prazer da
ação, é a vivência da dimensão psíquica nas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

relações da criança com o mundo, onde ao A educação psicomotora será uma forma de
brincar a criança vive o prazer de agir preparação da criança para as necessidades
simultaneamente com o prazer de projetar-se que ela encontrará no decorrer de sua vida.
no mundo em uma dinâmica interna que Segundo Le Boulch:
promova a evolução e a maturação A educação psicomotora na idade escolar
psicomotora e psicológica dela “(OLIVEIRA, deve ser antes de tudo, uma. Experiência ativa
2008,01).Portanto grande parte do de confrontação com o meio. Dessa maneira,
desenvolvimento motor acontece em esse ensino segue uma perspectiva de uma
momentos de brincadeiras e possibilita a verdadeira preparação para a vida que se deve
aquisição de novos conhecimentos. O inscrever no papel de escola, e os métodos
movimento que a criança faz durante as pedagógicos renovados devem, por
brincadeiras exercem enormes influencias no conseguinte, tender a ajudar a criança a
seu futuro comportamento. A brincadeira desenvolver-se da melhor maneira possível, a
passa a um instrumento que pode ser usado tirar o melhor partido de todos os seus
como superado de dificuldades no processo de recursos, preparando para a vida social (LE
ensino aprendizagem. BOULCH, 1984, p. 24).
A educação psicomotora tem papel Ao contrário do que muitos pensam
importante na Educação Infantil, pois por meio finalidade da educação psicomotora não é
dela podem ser evitados diversos problemas somente a aquisição de habilidades gestuais,
com a falta de atenção da criança, dificuldade vai muito mais além, ela permite uma maior
em concretar-se em determinadas atividades, facilidade do desempenho de novas
confusão no conhecimento de letras e palavras, aprendizagens. Com a utilização de atividades e
como por exemplo, confundir a letra “b” com a jogos psicomotores, o professor estará
letra “d”, confusão relacionada a silabas e contribuindo para o futuro da criança, pois, no
várias outras dificuldades que podem interferir momento que a criança passa a aceitar as
no bom desenvolvimento do processo de regras que existem nas brincadeiras e jogos
alfabetização. psicomotores se tornará mais fácil a aceitação
Por intermédio das atividades psicomotoras das regras que o permite viver em sociedade,
com o auxílio de outras atividades, a criança além das diversas outras contribuições.
passa a adquirir uma noção de espaço e de Portanto, a educação psicomotora tem papel
lateralidade, além de passar a ter uma fundamental na Educação Infantil. E são na
orientação em relação ao seu corpo, aos escola que a criança deve vivenciar diversas
objetos, as pessoas, ou seja, ao mundo que o atividades motoras, para que ao se depararem
cerca. O aprendizado da criança é resultado da com necessidades do dia-a-dia possam superar
sua interação do seu corpo com o mundo que o facilmente. De acordo com Tabelo (2006), “a
cerca, portanto o seu corpo é um dos principais escola deve propiciar aos educadores diversas
instrumentos de aquisição de conhecimento. vivências, sejam elas corporais, visuais,
auditivas, para que se estimulem os sentidos
para que a criança desenvolva as habilidades

375
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

psicomotoras necessárias para o aprendizado,


principalmente o da linguagem escrita.
Segundo a autora, as brincadeiras e os jogos são
importantes o da linguagem escrita. Segundo a
autora, as brincadeiras e os jogos são
importantes para que a criança possa construir
significados mais adequados para o que é
ensinado na escola”.
As atividades psicomotoras são muito
importantes no desenvolvimento da criança, e
ainda ajudam no processo de
ensino/aprendizagem. É por meio dessas
atividades que a criança se conhece, conhece
seu corpo, aprende a se expressar por meio
dele, conhece o mundo em que vive, as pessoas
e os objetivos que a cercam. É o começo de
todas as suas conquistas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após os estudos consta-se que a educação psicomotora é indispensável para o
desenvolvimento de uma boa aprendizagem pois um bom desenvolvimento motor influenciará
na aquisição de novos conhecimentos, e de certa forma, é algo que serve de base para vida do
indivíduo.
Durante o longo período histórico, desde o seu surgimento no século XIX, com suas
variadas definições, os estudos no entorno da psicomotricidade vem se desenvolvendo de volta
eficaz, pois, percebeu-se a sua importância. Nota-se que, mesmo com suas variadas definições e
mudanças de foco, é unanimidade entre todos os teóricos que fazer discursões em torno da
psicomotricidade, que ela deve estar totalmente ligada ao movimento e deve ser trabalhada
principalmente na Educação Infantil.
Como menciona Le Bouch (1984), “a educação psicomotora atingirá seu objetivo quando
trabalhada na escola nas series iniciais, pois são nessa fase que a criança passa a conhecer a si,
seu corpo, suas vontades, controle sua personalidade, definindo conceito, pensamentos, ideias,
crenças, enfim torne-se um ser consciente” da ir vem a importância de uma boa educação
psicomotora, pois ao ser desenvolvida, exercerá influencia em toda a vida.
Cabe mencionar aqui a importância do professor nesse processo. É indispensável que a
escola tenha professores qualificados para desenvolver na criança uma boa educação
psicomotora. O professor deve ter conhecimento acerca da psicomotricidade já que o principal
agente motivador e auxiliador do desenvolvimento infantil. É importante que ele compreenda em
qual estágio de desenvolvimento motor a criança estar situada, para que não cometa o erro de
passar atividades avançadas em que a criança não conseguirá responder, ou atrasadas em que a
criança responderá com rapidez e facilidade. É importante que se aplique atividades que seja
compatível com a fase do desenvolvimento da criança.
Sendo assim, o professor da Educação Infantil tem um grande papel na escola, pois é o
principal mediador do conhecimento, e deve propiciar a criança, o que é lhe garantido por lei,
uma educação de qualidade, disponibilizando aulas prazerosas, lúdicas e proveitosas.
Diante de tais considerações, o estudo possibilitou entender profundamente sobre os
benefícios da psicomotricidade na Educação Infantil e conhecer a importância do movimento
corporal que estar ligado a várias áreas do conhecimento, como a linguagem oral e escrita,
conhecimento logico matemático, e etc. Além disso constatou-se que é necessário levar em
considerações a individualidade de cada aluno, pois mesmo sendo apresentados os estágios de
desenvolvimento da criança, cada uma tem sua hora para aprender, e isso deve ser respeitado.
Os jogos e as brincadeiras são essenciais durante a Educação Infantil, é por meio dessas
atividades múltiplas que a criança aprende a se expressar, a criar, a transformar, a conviver com
outras crianças, se socializar. A psicomotricidade defende essas atividades durante todas as fases
da vida da criança, dando ênfase na Educação Infantil, pois é nesse período do desenvolvimento
humano que temos a base para todo o desenvolvimento futuro.
Por tanto, no contexto da Educação Infantil, ressaltamos que as atividades psicomotoras
não devem ser realizadas de forma mecânica, visando apenas os aspectos funcionais, mais sim de

377
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

uma forma lúdica, com o objetivo de promover articulações entre as estruturas cognitivas e
afetivas das crianças. Nesse sentido, é preciso que se invista em projetos educativos na Educação
Infantil e contemplem as atividades em psicomotricidade, com o objetivo de promover uma
educação criativa, prazerosa, significativa e contextualizada para as crianças.

378
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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VYGOSTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,2003.

380
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA SALA DE RECURSOS


MULTIFUNCIONAL PARA A INCLUSÃO DE
EDUCANDOS COM DEFICIÊNCIA
AUDITIVA -SURDEZ
Miriam da Silva Frederico Santos1

RESUMO: Este artigo tem como objetivo observar o processo de inclusão dos educandos Surdos
na sala regular com apoio do professor da Sala de Recursos Multifuncionais. O interesse por este
tema surgiu durante observações de estágio de um curso de especialização em Educação Especial
com ênfase na deficiência auditiva/surdez foi possível observar como se dá o processo inicial de
inclusão desses educandos. Durante a realização deste trabalho alguns professores relataram
suas expectativas e dificuldades em trabalhar inicialmente com os educandos Surdos bem como
os avanços obtidos após a intervenção do Professor de Sala de Recurso por meio de formação
que subsidiaram e ampliaram suas práticas em sala de aula. Observamos que a primeira ação da
Equipe Educacional com o Público alvo da Educação Especial ocorre a partir do acolhimento dos
educandos e educandas juntamente com seus responsáveis, na qual a equipe gestora faz
inicialmente uma conversa com a família, recolhe os documentos médicos, como laudos e
atendimentos que os educandos realizam no âmbito da saúde. No segundo momento é feita uma
avaliação pedagógica desses educandos juntamente com o professor da Sala de Recursos
Multifuncionais que avaliam quais apoios à criança necessita para melhor desempenho na sala
comum. O professor de atendimento educacional especializado indica quais recursos serão
necessários para o melhor desenvolvimento cognitivo dos educandos e educandas público alvo

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Letras; Licenciatura em Pedagogia.
E-mail:miriamcefai@gmail.com

381
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

da Educação Especial. Entre esses recursos são apontados além do professor especialista, a
atuação do instrutor e do intérprete para os educandos surdos. A atuação de todos os envolvidos
no processo ensino e aprendizagem, quando trazem objetivos bem definidos, garantem o melhor
aproveitamento dos conhecimentos, além de contribuir para melhor desenvolvimento cognitivo
dos educandos. Surdos. Os resultados desta pesquisa convergem para a utilização, como
subsídios, para atuação do Professor da Sala de Recursos Multifuncionais e da sala comum em
relação ao desenvolvimento dos educandos. Surdos sem prejuízo em seu processo de ensino e
aprendizagem, bem como fornece estratégias de avaliação que inclua, adaptações que
privilegiem os saberes e as capacidades de cada um pautadas no direito universal à educação e à
cidadania e no respeito às diferenças.

Palavras-Chave: Professor especialista; Recursos humanos; Aprendizagem significativa

382
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO As ações desenvolvidas constituíram em:


encontros formativos com a equipe gestora
Quando nos referirmos a educação inclusiva (foco na coordenação pedagógica); encontros
pensamos nela como um direito humano, para formativos com os profissionais de apoio
que ela aconteça são necessárias mudanças e (instrutores e intérpretes de Libras); instrução
quebras de paradigmas. Em se tratando da acerca da Língua para os educandos; formação,
inclusão na sala comum temos a Sala de in loco, nos horários coletivos, a equipe
Recursos Multifuncionais para Inclusão de docente das Unidades Educacionais; formação
Deficientes Auditivos/ surdos que servirá como a equipe de apoio (agentes escolares, auxiliares
o favorecedor dessa aprendizagem, pois, a técnicos de educação – ATE, auxiliares de vida
partir de um estudo de caso realizado pelo escolar – AVE, equipe da cozinha, vigilantes,
professor da sala comum colaborativamente estagiários), conforme a organização das
com a equipe gestora e especialista que é Unidades Educacionais.
possível definir quais os recursos necessários É na escola que nós fazemos e nela que
para cada educando e educanda. precisamos olhar para o sujeito em busca de
A partir da identificação das necessidades é oferecer para estes condições de acesso ao
iniciado o processo efetivo em busca efetivação currículo que nós educadores utilizaremos este
da inclusão do educando, para tanto parte-se momento de relações interpessoais para nos
inicialmente em busca de respostas para alguns formarmos e buscarmos diferentes estratégias
questionamentos como: O que os professores de aprendizagem, abordagens e avaliação
entendem por inclusão; quais as maiores diferenciadas para educandos público-alvo da
dificuldades em trabalhar com educando com Educação Especial considerando que o acesso
deficiência auditiva/; quais apoios eles esperam ao currículo e direito subjetivo de todos.
receber do professor da sala de recursos Em se tratando dos educandos e educandas
multifuncionais que facilitem o acesso ao com surdez, destacamos a barreira
currículo do educando. comunicativa que exige uma atenção especial
Partindo dessas problematizações a que envolve comunicação gestual-espacial e a
pesquisadora preparou uma formação com língua de sinais. Vale ressaltar que a maioria das
foco na orientação explicando qual era a pessoas se comunica por meio da oralidade, o
importância dos recursos humanos como surdo acaba se deparando com uma realidade
Instrutor, Intérprete, esclarecendo a função de bilíngue, na qual este se vê na necessidade de
cada um, além de dar instruções didáticas para dominar duas línguas para conseguir interagir
assegurar a circulação da língua e o significativamente em uma sociedade
fortalecimento das práticas pedagógicas, para oralizada, ou ficará sujeito ao mundo das bocas
isso foram estruturadas diversas ações numa mudas, na qual as verão mexendo
perspectiva de capacitação dos envolvidos no incessantemente sem nenhum sentido para
processo de escolarização destes educandos e ele, nessa perspectiva, esse estudo tem como
educandas. foco a atuação dos professores da Sala de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Recursos Multifuncionais como eixo orientador A realidade de nossas escolas públicas ainda
para os professores da sala comum. deixa muito a desejar, pois se de um lado,
Objetivamos analisar a importância do temos professores que se dizem
trabalho do professor da Sala de Recursos despreparados, de outro temos falta de
Multifuncionais, numa proposta bilíngue de recursos humanos necessários para atender a
educação, por meio do trabalho colaborativo demanda de surdo que temos na rede. A
entre professor da sala de recursos e da classe pergunta que não quer calar: deixaremos
comum. nossos educandos no mundo das bocas mudas?
Visando à organização de trabalho Se estamos em busca de incluí-los não podemos
significativo vem se consolidando reforçar esse cenário, para isso algumas
gradativamente ações para atendimento a estratégias são fundamentais como explorar a
demanda de Educandos Surdos matriculados experiência visual na organização e
nas Unidades Educacionais, construindo uma desenvolvimento cognitivo dos nossos
proposta de Educação Bilíngue. As referidas educandos até que a Língua de Sinais se
ações buscam encontrar caminhos que estabeleça. O Surdo estará sempre imerso no
consolidem a Educação Bilíngue, procurando mundo de experiências visuais e por meio delas
deixar claros os objetivos e pontos de partida construindo ideias e pensamentos sobre a vida,
para alcance dos mesmos, apresentando fazendo sua leitura de mundo, criando
princípios e aspectos teóricos/práticos que conceitos, estabelecendo suas próprias regras.
caracterizem uma proposta de Educação para Porém ao se deparar diante do grupo
Surdos, a qual tem feito grande diferença na majoritário (ouvintes) “tenta” compreender e,
vida e processo de escolarização destes muitas das vezes, acompanhar um modelo
educandos e educandas. social que não contempla suas experiências
Enquanto gestores públicos, devemos visuais, mas que o impõe a se adaptar a um
pensar em propostas de atendimento aos contexto oral- auditivo, é aí que a Língua de
educandos, público-alvo da Educação Especial, Sinais deve ganhar espaço. Ainda que recheada
na perspectiva de Educação Inclusiva, de boas intenções, a proposta oralista de
ressaltando que os educandos surdos e com ensino fracassou em oferecer condições
deficiência auditiva não podem ficar à margem efetivas para a educação da pessoa surda, a
do processo educacional, enfatizando que estes partir disso a aquisição da língua oral como
possuem direitos de acessibilidade linguística única forma de comunicação e integração na
instituídos, que precisam ser respeitados para sociedade de ouvintes não cumpriu seus
que acessem o currículo e se desenvolvam objetivos pretendidos e ao invés de eliminar as
como cidadãos atuantes em sociedade, desigualdades como se pretendia acentuou a
modificando o status quo e quebrando o ainda mais. A falta de audição criou, para eles,
estereótipo de que a condição de “deficiente” a necessidade de realização de suas
impossibilita ser autônomo, construtor e potencialidades linguísticas por outro meio,
protagonista de sua própria trajetória. uma modalidade gestual-visual ou espacial-

384
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

visual: a língua de sinais, ainda que para alguns politicamente essa diferença” (SKLIAR, 1997, p.
fossem oferecidas tardiamente. 140).
Nesse viés de respeito a diferenças
LÍNGUA DE SINAIS COMO acreditamos que o trabalho do professor da
Sala de Recursos com o apoio do tradutor e do
FACILITATORA intérprete, cada qual, para a necessidade do
A língua de sinais é facilitadora da integração educando surdo, é essencial para uma
desse grupo ao mundo envolvente; entretanto, aprendizagem significativa, mas isso não basta
durante anos criou-se o mito de que essa língua se cada um não fizer seu papel. Para muitos
impediria a aquisição da linguagem oral pelas pode parecer utopia idealizar que todos os
crianças surdas, com o passar dos tempos e o envolvidos terão domínio de Libras, mas se não
avanço da ciência as pessoas de um modo geral reconhecermos nossa importância na vida de
começa a entender e reconhecer que a Libras nossas crianças surdas não avançaremos.
é um sistema linguístico verdadeiro e natural, Quando todos os envolvidos trabalham em
que nasce a partir da cultura surda e da processo de colaboração visando objetivos
experiência visual, por isso, seu aprendizado comuns que são gerenciados pelo coletivo os
acontece por vias visuais, espaciais e manuais. resultados são maiores no que tange a
Sendo assim, acreditamos que a proposta do interação, diálogos, ampliação de
Bilinguismo seja essencial para aprendizagem conhecimentos e transformação de práticas
dos educandos surdos, porém não docentes inovadoras.
necessariamente satisfatórias para aqueles O aperfeiçoamento da escola comum em
que, tendo necessidades especiais, necessitam favor de todos os educandos é primordial, os
de uma série de condições que, na maioria dos demais professores da Unidade Educacional
casos, não tem sido propiciada pela escola precisam conhecer a Língua permitir que a
(LACERDA, 2006). Libras circule dentro da escola, entretanto,
Numa escola realmente preocupada com a deve-se considerar que a simples adoção dessa
inclusão é preciso que toda a Comunidade língua não é suficiente para escolarizar o
Escolar tenha clareza que os educandos Surdos educando com surdez. Assim, a escola comum
aprendem de maneiras diferentes dos precisa implementar ações que tenham sentido
educandos ouvintes, a inclusão não pode ser para os alunos em geral e que esse sentido
concebida como mera inserção, alocação, possa ser compartilhado com os alunos com
integração do educando Surdo no espaço surdez Dorziat (1998).
escolar, mas como aquela que atente à Nessa perspectiva que entra em cena o
diversidade e contemple conhecimentos sobre professor da sala de recursos, pois é necessário
as especificidades de todos os educandos. E que os demais professores compreendam mais
nesta perspectiva é observado, também o que do que a utilização de uma língua, precisam ter
há de mais importante entre Surdos e ouvintes ciência que os educandos com surdez precisam
para a efetiva comunicação. “(...) compreender ainda mais de ambientes educacionais
a surdez como diferença significa reconhecer estimuladores, que desafiem o pensamento,

385
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

explorem suas capacidades, em todos os pois, se de um lado a Educação Especial dispõe


sentidos. Sabemos que se somente o uso de de serviços e recursos especializados para o
uma língua bastasse para o indivíduo aprender atendimento das especificidades dos
não teríamos tantos ouvintes com dificuldades educandos e educandas com deficiências, por
de aprendizagem, mas fazê-la viva é essencial, outro lado, o ensino comum responsabiliza-se
pois todo trabalho pedagógico que considere o pela escolarização desses educandos. Nesse
desenvolvimento cognitivo tem que considerar sentido, é estabelecida uma relação de parceria
a aquisição de uma primeira língua natural (este e colaboração entre os níveis educacionais e a
é o eixo fundamental do “bilinguismo”), tal modalidade de Educação Especial, na qual uma
como acreditamos que nosso educando será categoria depende da outra para a realização
beneficiado. do trabalho pedagógico, ou seja, cooperam
Brizolla (2009).
TRABALHO COLABORATIVO DO Nessa perspectiva busca-se no trabalho
colaborativo uma possibilidade de uma
PROFESSOR DA SALA DE aprendizagem significativa, na qual os
REUCURSOS MULTIFUNCIONAIS professores da sala de recurso juntamente com
o da sala comum organizam, planejam e
COM EDUCANDO SURDO avaliam estratégias que viabilizem o trabalho
O trabalho colaborativo que se pretende
com os educandos. No caso do especialista em
buscar nessa pesquisa visa favorecer a inclusão
Deficiência auditiva ele avalia se o educando
dentro da Unidade Educacional, para tanto
possui a Libras como primeira língua, se não
professor especialista como da sala comum
este indica um instrutor ou quando a dominam
devem se co-responsabilizar pelo
o intérprete, porém a presença desses
planejamento, execução e avaliação de
profissionais não exime o professor da sala
estratégias adotadas em prol da aprendizagem
comum do seu fazer pedagógico, e nem pode
dos educandos. O professor especialista em
ser confundida com o fazer de nenhum desses
colaboração com o professor da sala comum
profissionais.
elabora e organiza recursos pedagógicos e de
No trabalho colaborativo que pense em
acessibilidade que eliminem as s barreiras para
atividades compartilhadas entre Surdos e
a plena participação dos educandos,
ouvintes, nas quais se respeitem as diferenças
considerando suas necessidades específicas,
individuais levando em conta que o educando
com vista à autonomia e independência dentro
Surdo tem uma forma especial de ver,
e fora da Unidade Educacional.
perceber, estabelecer relações e valores que
Sabemos que o trabalho colaborativo é um
devem ser utilizados na sua educação em
desafio para os envolvidos, pois exige uma
conjunto com os valores culturais da sociedade
articulação pontual para rever sempre que
ouvinte, que em seu todo vão formar sua
necessário se as estratégias utilizadas estão ou
sociedade.
não surtindo efeito esperado.
Sob essa ótica de trabalho colaborativo é que
A Educação Especial e o ensino comum
professor da Sala de Recursos Multifuncionais e
devem estabelecer um trabalho de cooperação,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Sala Comum devem refletir sobre uma didática e os demais envolvidos, uma vez que ele tem
de trabalho pedagógico que ofereça o mesmo sido o propulsor deste trabalho dentro desta
conteúdo curricular respeitando as referida Unidade.
especificidades do educando Surdo sem perda Todos os professores da Unidade ressaltam
da qualidade do ensino e da aprendizagem. os avanços dos educandos após o trabalho do
Esses educadores em consonância com o professor da Sala de Recursos.
que, para quem e quando ensinar deve ter claro Assim, a educação inclusiva é um desafio, é
sobre o que estão tratando para que se tenha tarefa dos educadores, dos representantes
uma efetiva inclusão destes educandos Surdos governamentais e de todos os cidadãos, mas
em uma turma de ensino regular, levando em para se efetivar uma política inclusiva deve-se ir
conta que as experiências visuais dos além da análise e aplicação de documentos
educandos Surdos não são as mesmas dos legais. [...]estes aparatos legais, sem dúvida,
ouvintes, uma vez que estes privilegiam mais o são importantes e necessários para uma
canal visual enquanto os ouvintes o auditivo. educação inclusiva no ensino superior
Pensando nos benefícios do trabalho brasileiro, muito embora, por si só não
colaborativo entre professor da Sala de garantam a efetivação de políticas e programas
Recursos com o da sala comum ressaltamos a inclusivos. Uma educação que prime pela
importância de ensinar os “Surdos” numa inclusão deve ter, necessariamente,
proposta bilíngue de educação, na qual investimentos em materiais pedagógicos, em
pudemos observar os avanços na comunicação qualificação de professores, em infraestrutura
e aprendizagem, pois a medida que estes adequada para ingresso, acesso e permanência
começam a ter domínio da Libras seu e estar atento a qualquer forma discriminatória
aprendizado se torna mais significativo. Moreira (2005, p. 43)
Observamos que os educandos ao terem a Destacamos que o resultado desta pesquisa
aquisição da Libras começam a expor com mais demonstra que temos muito a avançar na
clareza seus anseios, sentimentos e desejos, formação dos professores, porém notamos um
permitindo que os educadores consigam avaliá- avanço, pois inicialmente o trabalho com os
los de maneira mais justa e igualitária podendo educandos surdos submergiam ao muro de
observar seu real desenvolvimento na sala lamentações, no qual se ouvia não sei o que
comum e nos mais variados espaços fazer como fazer, por onde começar? Mas com
educacionais. Sem conhecer e permitir essas o trabalho formativo iniciado com o Professor
peculiaridades inerentes aos educandos da Sala de Recursos Multifuncionais
surdos, o professor pode não conseguir traçar especialista em Deficiência Auditiva e com
objetivos significativos para sua aprendizagem, apoio do CEFAI (Centro de Formação e Apoio a
levando a uma possível inércia em seu Inclusão) com foco na formação em Lócus e
desenvolvimento. esclarecimento dos serviços, a Unidade
Vale ressaltar que a presença do professor da Educacional observada tem buscado caminhos
Sala de Recurso tem sido fundamental para para incluir os educandos, seja indo em busca
direcionar tanto a equipe gestora, educadores

387
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de aprender, ensinar a Libras, buscar especial o professor da Sala de Recursos com o


estratégias de ensino diversificadas etc. da sala comum numa proposta bilíngue de
O movimento de incluir os educandos educação tem demonstrado avanços na
público alvo da Educação Especial na escola é comunicação e aprendizagem, pois à medida
uma forma de tornar a sociedade mais que estes começaram a ter domínio da Libras
democrática, sendo papel de todos os cidadãos seu aprendizado vai se tornando mais
transformar as instituições de ensino em significativo.
espaços legítimos de inclusão. Portanto, a O trabalho colaborativo efetivo requer
inclusão é um processo complexo inserido na compromisso, apoio mútuo, respeito,
organização da educação nacional que flexibilidade e uma partilha dos saberes.
necessita de ações transformadoras de Ninguém deveria considerar se melhor que
perspectivas realistas frente a importância de outros. Cada profissional envolvido pode
fazer do direito de todos à educação num aprender e beneficiar-se dos saberes dos
movimento que deve ser coletivo. demais e, com isso, o beneficiário maior será
Durante a realização desta pesquisa foi sempre o aluno (CAPELLINI,2008, p.10).
possível notar que a formação e a circulação da Em suma podemos afirmar que o ensino
Libras dentro da Unidade têm se ampliado e colaborativo pressupõe oportunidades de
tem sido primordial para os educandos Surdos desenvolvimento pessoal e profissional do
tanto na comunicação como na socialização em professor e de todos os envolvidos no processo
todos os espaços da escola. ensino aprendizagem dos nossos alunos, sendo
A filosofia inclusiva encoraja os docentes a assim salientamos que a motivação,
provocarem ambientes de aprendizagem de compromisso pessoal e participação voluntária
entre ajuda, na qual a confiança e o respeito são ingredientes importantes para o sucesso do
mútuos são essenciais para o desenvolvimento ensino colaborativo e de um ensino qualitativo
de um trabalho em equipe. Aliás, um dos dos nossos educandos.
fatores, desde sempre, destacado para o
sucesso da inclusão é precisamente a
colaboração entre os professores, pais e todos
os agentes educativos. Por outro lado, a
implementação de parcerias e de redes com a
comunidade, designadamente com os serviços
sociais, de saúde e de reabilitação constituem
facilitadores imprescindíveis no
desenvolvimento de apoios para a inclusão de
educandos com necessidades educativas
especiais e o caminho que se deve enfatizar no
futuro (BRANDÃO; FERREIRA, 2013, p. 499).
O trabalho colaborativo entre todos os
envolvidos no processo de escolarização em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vale ressaltar que a presença do professor da Sala de Recurso tem sido fundamental para
direcionar tanto a equipe gestora, educadores e os demais envolvidos, uma vez que ele tem sido
o propulsor deste trabalho dentro desta referida Unidade.
Todos os professores da Unidade ressaltam os avanços dos educandos após o trabalho do
professor da Sala de Recursos.
Assim, a educação inclusiva é um desafio, é tarefa dos educadores, dos representantes
governamentais e de todos os cidadãos, mas para se efetivar uma política inclusiva deve-se ir
além da análise e aplicação de documentos legais. [...]estes aparatos legais, sem dúvida, são
importantes e necessários para uma educação inclusiva no ensino superior brasileiro, muito
embora, por si só não garantam a efetivação de políticas e programas inclusivos. Uma educação
que prime pela inclusão deve ter, necessariamente, investimentos em materiais pedagógicos, em
qualificação de professores, em infraestrutura adequada para ingresso, acesso e permanência e
estar atento a qualquer forma discriminatória Moreira (2005, p. 43)
Destacamos que o resultado da pesquisa demonstra que temos muito a avançar na
formação dos professores, porém notamos um avanço, pois inicialmente o trabalho com os
educandos surdos submergiam ao muro de lamentações, no qual se ouvia não sei o que fazer
como fazer, por onde começar? Mas com o trabalho formativo iniciado com o Professor da Sala
de Recursos Multifuncionais especialista em Deficiência Auditiva e com apoio do CEFAI (Centro
de Formação e Apoio a Inclusão) com foco na formação em Lócus e esclarecimento dos serviços,
a Unidade Educacional observada tem buscado caminhos para incluir os educandos, seja indo em
busca de aprender, ensinar a Libras, buscar estratégias de ensino diversificadas etc.
O movimento de incluir os educandos público alvo da Educação Especial, na escola é uma
forma de tornar a sociedade mais democrática, sendo papel de todos os cidadãos transformar as
instituições de ensino em espaços legítimos de inclusão. Portanto, a inclusão é um processo
complexo inserido na organização da educação nacional que necessita de ações transformadoras
de perspectivas realistas frente a importância de fazer do direito de todos à educação num
movimento que deve ser coletivo.
Durante a realização desta pesquisa foi possível notar que a formação e a circulação da
Libras dentro da Unidade têm se ampliado e tem sido primordial para os educandos Surdos tanto
na comunicação como na socialização em todos os espaços da escola.
A filosofia inclusiva encoraja os docentes a provocarem ambientes de aprendizagem de
entre ajuda, na qual a confiança e o respeito mútuos são essenciais para o desenvolvimento de
um trabalho em equipe. Aliás, um dos fatores, desde sempre, destacado para o sucesso da
inclusão é precisamente a colaboração entre os professores, pais e todos os agentes educativos.
Por outro lado, a implementação de parcerias e de redes com a comunidade, designadamente
com os serviços sociais, de saúde e de reabilitação constituem facilitadores imprescindíveis no
desenvolvimento de apoios para a inclusão de educandos com necessidades educativas especiais
e o caminho que se deve enfatizar no futuro (BRANDÃO; FERREIRA, 2013, p. 499).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O trabalho colaborativo entre todos os envolvidos no processo de escolarização em


especial o professor da Sala de Recursos com o da sala comum numa proposta bilíngue de
educação tem demonstrado avanços na comunicação e aprendizagem, pois à medida que estes
começaram a ter domínio da Libras seu aprendizado vai se tornando mais significativo.
O trabalho colaborativo efetivo requer compromisso, apoio mútuo, respeito, flexibilidade
e uma partilha dos saberes. Ninguém deveria considerar se melhor que outros. Cada profissional
envolvido pode aprender e beneficiar se dos saberes dos demais e, com isso, o beneficiário maior
será sempre o aluno (CAPELLINI,2008, p.10).
Em suma podemos dizer que o ensino colaborativo pressupõe oportunidades de
desenvolvimento pessoal e profissional do professor e de todos os envolvidos no processo ensino
aprendizagem dos nossos alunos, sendo assim salientamos que a motivação, compromisso
pessoal e participação voluntária são ingredientes importantes para o sucesso do ensino
colaborativo e de um ensino qualitativo dos nossos educandos.

390
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Messias Fialho Capellini, Eliana Marques Zanata, Verônica Aparecida Pereira In: CAPELLINI,
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JABLON, Judy R, DOMBRO, Amy Laura, DICHTELMILLER, Margo L. O poder da observação


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SKLIAR, C.B. Bilinguismo e biculturalismo. Uma Análise sobre as narrativas tradicionais


na educação dos surdos. Rio Grande do Sul: Programa de Pós Graduação em Educação, set.
1997.

391
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA


COMO PROPOSTA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA NO
CICLO DA ALFABETIZAÇÃO
Zilma Sales de Souza 1

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo demonstrar o exercício de atividades escolares
voltadas para a aplicação de sequências didáticas que contemplem os componentes curriculares
de Língua Portuguesa e Matemática. Visa os trabalhos pedagógicos voltados aos eixos: Grandezas
e Medidas, Leitura, Gênero Textual, (instrucional, receitas, informativos e rótulos. Arte e
Educação física. Pretende-se demonstrar os processos de construção de uma sequência didática,
seus processos elaborativos e suas. etapas necessárias para obtenção de resultados positivos e
organizados de acordo com os objetivos propostos no planejamento docente para a
aprendizagem dos estudantes de forma eficiente e trabalhando todos os componentes
curriculares.

Palavras-Chave: Gênero textual instrucional receita; Sequência Didática; Alfabetização e


Letramento.

1Professora da Educação Básica na Rede Estadual; Assessora do Ensino Fundamental e Médio na Diretoria
Regional de Educação de Gurupi–TO.
Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Orientação Educacional; Especialização em Educação
Especial; Mestranda em Ciências da Educação.
E-mail:zilmasalesdesouza@gmail.com

392
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Alfabetizar e letrar são duas ações distintas,


mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria
Pretendemos elencar subsídios teóricos para alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a
que possamos debater sobre como se constrói escrever no contexto das práticas sociais da
didático-pedagógicamente uma sequência leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se
didática e como podemos obter resultados tornasse, ao mesmo tempo alfabetizado e
positivos de cognitividade em sala de aula. A letrado (SOARES,1998, p. 47).
importância da utilização desta metodologia é No entanto, os mesmos envolvem
de fundamental importância para o professor, habilidades e competências específicas que
suas técnicas constituem um auxílio precisam ser compreendidas e desenvolvidas
considerável nos processos de ensino e com a compreensão do professor, não basta
aprendizagem escolar, principalmente, nas apenas executar uma ação didático-pedagógica
turmas de séries iniciais (alfabetização), em se não se compreende todo o seu processo da
nosso caso específico, por meio do letramento elaboração, aplicação e obtenção de
e numeramento dos estudantes. Diante do resultados.
exposto, foi realizada uma pesquisa Em relação à alfabetização matemática o
bibliográfica a partir das referências espaço físico da sala de aula, necessita ter um
apresentadas e da observação e análise de uma espaço específico para ser reconhecido como
prática pedagógica desenvolvida por uma um espaço alfabetizador em Matemática, já
docente no ciclo de alfabetização. Ao que todas as disciplinas precisam ter sua
analisarmos como se constitui uma seqüência exposição permanente para os alunos, assim, as
didática, abordamos as bases teóricas de Doz suas representações devem estar expostas com
(2004); Noverraz (2004); Schuneuwly (2004); instrumentos específicos utilizados, tais como,
Zabala (1998;2006); Fazenda (1995); Soares fontes de medidas, símbolos, objetos e imagens
(2003) e Smole (2003). pertencentes ao campo da Matemática escolar.
Iniciamos nossa análise observando o Smole (2014), ao comentar sobre a
alfabetizar letrando. Para muitos professores necessidade da relação entre o ambiente
esta proposta se torna um enorme desafio, o escolar e o uso da disciplina, apresenta-nos
professor alfabetizador pode operacionalizar que:
esse processo na sala de aula e como propiciar a aprendizagem matemática da criança se dá
à criança atividades que favoreçam um domínio a partir da curiosidade e do entusiasmo, por
quanto à apropriação do sistema de escrita meio de experiências desafiadoras que
alfabética e ao mesmo tempo, ofereçam às incentivem a exploração de ideias,
mesmas a capacidade para responder levantamento e testes de hipóteses, construção
adequadamente às demandas sociais pelo uso de argumentos de maneira cada vez mais
amplo e diferenciado da leitura, escrita e de sofisticada(SMOLE,2014, p. 01).
alfabetização matemática, por meio do E que o uso de jogos e as brincadeiras em sala
numeramento no espaço da sala de aula. de aula são indispensáveis para a saúde física,
De acordo com Soares (1998): emocional e intelectual e, é por meio deles que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a criança desenvolve a linguagem, o conosco nos auxiliam a elaborar propostas


pensamento, a socialização, a auto-estima e pedagógicas coerentes para serem aplicadas
auxilia no processo de ensino aprendizagem. em sala de aula.
Grando (2004), afirma que: Neste sentido, ao nos referirmos a Zabala
[...] o jogo representa uma atividade lúdica, (1998), afirma que a:
que envolve o desejo e o interesse do jogador [...] seqüência didática é uma proposta
pela própria ação do jogo, e mais, envolve a metodológica realizada por meio da ordenação
competição e o desafio que motivam o jogador e articulação de atividades que formam
a conhecer seus limites e suas possibilidades de unidades didáticas, que possuem um
superação de tais limites na busca da vitória, tratamento especial do professor em sua
adquirindo confiança e coragem para se elaboração, visando significados para seus
arriscar( GRANDO, 2004, p.24). alunos (ZABALA,1998, p.54).
Assim, ao utilizar de uma seqüência didática, Assim, o professor precisa levar em
o professor se apodera de novas formas de consideração os conhecimentos prévios dos
construção de saberes e os resultados obtidos alunos em relação aos objetos de
em sala de aula evidenciam que é possível conhecimentos a serem produzidos por suas
garantir, por meio de uma prática pedagógica propostas devem ter coerência didática e
estruturada a melhora da aprendizagem dos apresentar caminhos que facilitem os alunos a
alunos, assim, a partir do desenvolvimento das ter a sua compreensão. Assim, a relação de
habilidades dos alunos, relacionados à significação e função destes aos alunos, a
consolidação dos processos de alfabetização e adequação ao nível de desenvolvimento
letramento com a apropriação dos processos cognitivo, a criação de desafios que permitam o
de decodificação e codificação o professor pode avanço, a provocação de conflitos cognitivos,
avaliar o rendimento de seus alunos em para estabelecer relação entre novos
diversos momentos de sua prática escolar. conhecimentos, a motivação para o
envolvimento com relação a aprendizagem do
REFERENCIAL TEÓRICO- conteúdo, o estímulo a autoestima,
autoconceito e o desenvolvimento de
METODOLÓGICO habilidades relacionadas com o aprender a
O artigo se fundamenta em pesquisas aprender. Neste sentido, Freire (1996, p. 26),
desenvolvidas por Doz, Noverraz e Schuneuwly afirma que: Quem ensina aprende ao ensinar. E
(2004); Zabala (1998; 2006); Fazenda (1995); quem aprende ensina ao aprender.
Soares (2003); e Smole (2003). Estes autores Esta correlação entre processos didáticos
referendam os processos de ensino e também nos é apresentado por Noverraz,
aprendizagem nos contextos de letramento e Schnewuly e Dolz (2004), que, consideram uma
na construção matemática do pensar. Assim, ao seqüência didática como um processo, como
utilizarmos de suas premissas sobre seqüências uma finalidade de ajuda ao aluno, a dar-lhe
didáticas estes nos apontam caminhos seguros condições de dominar melhor os conteúdos,
a seguir e, ao compartilharem suas teorias por exemplo, um gênero de texto levando-o a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escrever ou falar de forma mais adequada e escrever, enquanto habilidades de


numa situação de comunicação. Para esses decodificação e codificação do sistema de
autores, o trabalho com uma sequência escrita, mas, sobretudo, de fazer uso real e
didática, requer um trabalho seguindo os adequado da escrita com todas as funções que
componentes de forma sequenciada, com a ela tem em nossa sociedade e também como
apresentação da situação, que visa expor aos instrumento na luta pela conquista da
alunos, de forma detalhada, a tarefa de cidadania plena(SOARES,1998, p. 33).
expressão oral ou escrita que será realizada e Como o professor alfabetizador pode
prepará-los para uma produção inicial, do operacionalizar esse processo e como propiciar
gênero que será trabalhado em etapas até se à criança atividades que favoreçam um domínio
chegar à produção final que se deseja. quanto à apropriação do sistema de escrita
[...] as crianças aprendem devido as alfabética e, ofereçam às mesmas a capacidade
interações sociais. Afirma a importância da para responder adequadamente às demandas
mediação no processo de aprendizagem e sociais pelo uso amplo e diferenciado da leitura,
acredita na possibilidade da criança aprender escrita e alfabetização matemática, no espaço
na troca de ideia com seus colegas, amigos, da sala de aula.
pais, etc. (VYGOTSKY,1985, p.97). Este processo escolar para Soares (2003),
Os componentes curriculares precisam ser baseia-se em ações educacionais, nas quais a:
contemplados de forma integrada, com o [...] alfabetização e letramento são processos
contexto de cada área de conhecimento. De distintos, de natureza essencialmente
acordo com Fazenda (2008, p. 28), a diferente, mas são interdependentes e
interdisciplinariedade é categoria de ação. A indissociáveis: os dois processos podem e
articulação entre as áreas de conhecimento no devem ocorrer simultaneamente, mas,
ciclo de alfabetização, pode ser trabalhada com envolvem habilidades e competências
Sequências Didáticas. O trabalho desenvolve específicas que precisam ser compreendidas
nas crianças habilidades e conceitos (SOARES,2003, p. 93).
diversificados de modo que sejam alfabetizados Esta distinção estrita a alfabetização, reside
e letradas, ampliando suas percepções do no processo, na qual estudante se apropria da
mundo que vivem com autonomia. Alfabetizar tecnologia da escrita, sendo um conjunto de
letrando é um desafio. técnicas, procedimentos, habilidades úteis para
Este “desafio” se torna tão premente aos a prática da leitura e da escrita. As habilidades
professores que a sua objetividade didática se de codificação de fonemas em grafemas e de
torna o principal ponto relacional entre decodificação de grafemas em fonemas, isto é,
professores e alunos, como alcançar os o domínio do sistema de escrita, habilidades de
objetivos propostos. uso de instrumentos de escrever, ler e
Segundo Soares (1998): manipular de forma correta e adequada os
Alfabetizar é dar condições para que o suportes em que se escreve e nos quais se lê,
indivíduo – criança ou adulto – tenha acesso ao tornam-se essenciais para o crescimento
mundo da escrita, tornando-se capaz não de ler individual da pessoa humana e a compreensão

395
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de Mundo, como são fundamentais para a Programa de Formação Continuada destinada


aquisição futura de novos conhecimentos. aos docentes do ciclo de alfabetização.
Já o letramento é o desenvolvimento das Foram realizados cinco momentos de
habilidades de leitura e de escrita nas práticas seqüências didáticas, com atividades que foram
sociais e profissionais. É usar a leitura e a escrita desenvolvidas em sala de aula, trabalhando os
para seguir instruções (receitas, bula de objetos de conhecimentos cotidianos dos
remédio, manuais de jogo), apoiar à memória alunos, contemplando os componentes
(lista), comunicar-se (recado, bilhete, curriculares de Língua Portuguesa, Matemática,
telegrama), divertir e emocionar-se (conto, Artes e Educação Física. O trabalho da docente
fábula, lenda), informar (notícia), orientar-se no aborda os conceitos e reconhecimento do eixo
mundo (o Atlas) e nas ruas (os sinais de grandezas e medidas, por meio de atividades
trânsito). Com isso, a prática escolar de uma lúdicas e criativas, com a utilização de
seqüência didática proporciona o trabalho com diferentes linguagens e tipologias textuais, com
gêneros integrando diferentes áreas do o propósito de ampliar a competência
conhecimento de forma interdisciplinar, com o comunicativa dos estudantes e possibilitando-
planejamento didático das atividades e a ordem os a produção de textos de diferentes gêneros,
do plano geral centrado no docente, que atendendo a diferentes finalidades, por meio
monitora o processo, articulando a ordem da atividade de um escriba que era a
sequencial das atividades e o nível de professora.
aprofundamento dos objetos de Inicialmente a docente fez a leitura de uma
conhecimentos selecionados. fábula, os alunos visualizaram o livro e também,
um painel com o desenho dos personagens da
O ESTUDO DE CASO DA história. Após a leitura, observou-se o desenho
da girafa que aparecia na fábula, foi exposto no
PRÁTICA ESCOLAR A PARTIR DA chão para que os alunos em grupos fizessem a
UTILIZAÇÃO DA SEQUÊNCIA medição do seu pescoço com diferentes
recursos. Ao promoverem diferentes medições,
DIDÁTICA NO PROCESSO DE pode-se perceber novos recursos para medir o
ALFABETIZAÇÃO comprimento do pescoço da Girafa e a
Apresentamos como relato de experiência relacionar a construção matemática por meio
de uma prática pedagógica com sequência de novas medidas não convencionais e
didática realizada em sala de aula, no processo convencionais.
de alfabetização com os alunos do 2º ano do No segundo momento da aula, foi realizada
ensino fundamental em uma Escola Estadual, uma pesquisa na turma para descobrir a
localizada no município de Alvorada – TO, preferência dos alunos em relação aos
horário vespertino, com duração de uma personagens da história, com os resultados da
semana, trabalho desenvolvido pela Professora pesquisa foi trabalhado a construção de uma
Alfabetizadora, esta ação ocorreu sob minha tabela e depois as informações serviram para a
supervisão como orientadora de estudos num

396
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

construção de gráfico referente aos dados


obtidos.
Quanto às questões de letramento, em um
terceiro momento foram desenvolvidas
atividades utilizando rótulos levados pelos
estudantes, e juntos confeccionaram cartazes
com o que compramos por: Quilo, Metro e
Litro.
Após esta atividade, associou-se as
construções acima para que fosse explorado o
gênero textual instrucional receita, com a
confecção de um cartaz com a escrita da receita
de uma mousse de pêssego e após a escrita e
leitura do texto que foi exposto na sala de aula,
aconteceu o momento culinário com a
produção e degustação da Mousse de Pêssego.
E por último foi desenvolvido um jogo de
alfabetização, com a realização de atividades
com a sequência numérica brincando com o
jogo 10: “A Bota de muitas léguas,” sugerido no
livro: Jogos na Alfabetização Matemática –
PNAIC/2014.
Assim, foi possível constatar que os
resultados foram satisfatórios, pois, os
objetivos foram atingidos, os objetos de
conhecimentos foram trabalhados de modo
interdisciplinar, com metodologias lúdicas e
criativas. Isto contribuí para que a criança tenha
um aprendizado significativo. A sequência
didática atingiu o objetivo proposto, porque
permitiu que os estudantes valorizassem o que
já sabia e consolidar o conhecimento empírico.
Ao final da realização das etapas das atividades
propostas na sequência didática foi possível
analisar que o trabalho contribuiu de forma
significativa no processo de alfabetização dos
estudantes e mostrar o relato de experiência da
prática pedagógica com sequência didática
realizada em sala de aula.

397
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho com sequência didática integrando diferentes áreas do conhecimento, por meio
da interdisciplinariedade. Não tem necessariamente um produto final. O planejamento didático
das atividades e a ordem do plano geral são centrados no professor, ou seja, é ele quem monitora
o processo todo, sabendo quais atividades articulares, quais atividades vem antes de outra e o
nível de aprofundamento do objeto de conhecimento selecionado é maior. O processo de
interação numa proposta de trabalho no ciclo de alfabetização, por meio de uma sequência
didática, faz com que os alunos possuam uma regulação maior sobre sua própria aprendizagem.
Assim, eles se tornam mais responsáveis pelas atividades escolares.
Essa regulação vinculada principalmente nos momentos de avaliação torna-se rica, pois
haverá um maior envolvimento nas atividades de reflexão sobre os modos de participação. A
motivação em participar dos diferentes momentos também é outro importante princípio
desenvolvido nessa proposta. Os estudos e a observação realizada sobre o relato de experiência
da sequência didática que foi desenvolvida pela professora nos mostram que o trabalho requer
ação que é quando o aluno toma as decisões, os saberes se tornam prática em busca da solução
de uma situação que foi planejada. Depois acontece a formulação que é o momento que as
estratégias utilizadas são explicadas, com o objetivo de validar as estratégias que foram
propostas.
Por fim, o trabalho é institucionalizado com a retomada que o professor faz de tudo que
foi realizado e sistematiza esse saber. Na experiência de uma prática desenvolvida com uma
sequência didática realizada pela Professora Raquel Salgado, foi possível constatar que foram
explorados interpretações de textos, a sequência numérica e a adição de maneira lúdica e
prazerosa, proporcionando uma aprendizagem significativa. A professora oportunizou atividades
que estimulava os alunos se expressarem oralmente com clareza e objetividade. E pudessem
conhecer os personagens do livro por meio de jogos, atividades interativas e criativas, bem como
lê e reconhecer, textos variados e diferentes gêneros.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa:
Apresentação. Brasília: MEC/SEB, 2014.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Pacto Nacional pela


Alfabetização na Idade Certa: Caderno de Jogos na Alfabetização Matemática. Brasília:
MEC, SEB, 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São


Paulo: Paz e Terra, 1996.

GRANDO, Regina Célia. O jogo e a matemática no contexto da sala de aula. São Paulo:
Paulus, 2004.

FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: História, teoria e pesquisa. 15 ed. Campinas, SP:


Papirus, 2008 [1994].

SOARES Magda. Letramento e Escolarização, in Ribeiro, V. (org) Letramento no Brasil. São


Paulo: Global, 2003.

SOARES Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Minas Gerais:
Autêntica, 1998 e 2006.

SMOLE, Kátia Stocco. Matemática na Educação Infantil. Disponível


em:http://www.grupoa.com.br/revista-patio/art igo/10083/matematica-na-educacao-
infantil.aspx.Data de Acesso:17/02/2020.

YOON, Ah-Haede, Quem vai ficar com o pêssego. Editora: Callis.

VYGOTSKY, L. Construção do pensamento e da linguagem. Tradução de Paulo Bezerra.


São Paulo: Martins Fontes, 2001.

399
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA O


DESENVOLVIMENTO COGNITIVO HUMANO
Rosimeri Maria Ricarte Paes 1

RESUMO: Este artigo discute a importância do brincar para o desenvolvimento cognitivo e social
dos sujeitos e também como método lúdico aplicado ao processo de aprendizagem das crianças
mesmo antes de ingressarem na escola. Para tanto, se fará uma análise sobre como as concepções
sobre o jogo e sobre a própria criança se constituíram ao longo do tempo dentro da nossa cultura
e educação, abordando algumas das ideias dos pensadores que influenciam na pedagogia atual,
bem como as reflexões sobre as práticas pedagógicas dos educadores, buscando salientar o uso
do brincar enquanto método para melhorar o desenvolvimento das atividades em sala de aula,
uma vez que jogos lúdicos compõem naturalmente nosso desenvolvimento social e podem
potencializar o desenvolvimento de múltiplas inteligências por parte das crianças, uma vez que
eles não podem ser analisados e trabalhados somente dentro das aulas de matemática, mas
inseridos no currículo escolar de forma a ampliar as metodologias desenvolvidas nas diferentes
áreas do saber.

Palavras-Chave: Brincar; Educação; Infância; Metodologia; Inteligências.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação Especial, Especialização em
Ludopedagogia.
E-mail: rosimeripaes@yahoo.com.br

400
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO E, para tanto, se abordou ideias e reflexões


sobre como as crianças assimilam o mundo ao
A elaboração deste artigo se deu por meio de redor, analisando como o brincar pode
uma pesquisa bibliográfica e a partir de beneficiar esse processo e,
reflexões sobre as teorias que contribuem para concomitantemente, foi possível investigar
diálogos e problematizações acerca do como as diferentes atividades lúdicas podem
desenvolvimento das crianças dentro e fora da favorecer a formação integral das crianças
escola, buscando principalmente ideias que dentro do ambiente escolar.
fundamentam a importância do brincar nesse Tais apontamentos se legitimam ao se
processo, como método lúdico utilizado em compreender que o brincar constitui uma parte
sala de aula, mas principalmente como parte do fundamental do desenvolvimento humano e
desenvolvimento humano. que, portanto, a ludicidade e a interação
Nesse sentido, a investigação buscou sociocultural promovidas nos contextos de
responder como o brincar pode estimular as brincar fora do ambiente escolar, quando
habilidades das crianças e favorecer o atreladas ao processo de escolarização tendem
aprendizado das mesmas, tanto na escola a ampliar o desenvolvimento cognitivo das
quanto em seu cotidiano social. crianças.
Brincar é uma atividade lúdica porque
desperta prazer, aplicado a uma prática
REFLEXÕES SOBRE COMO A
pedagógica ele pode envolver os alunos em
uma dinâmica, na qual aprendam mais porque CRIANÇA APRENDE
sentem prazer ao fazê-lo. Assim, ainda que no O reconhecimento de que as crianças
processo de escolarização o brincar possuem suas necessidades, seu
desempenhe papel como metodologia de desenvolvimento físico e psíquico próprio, têm
ensino, é preciso entender o seu papel para o suas características cognitivas e emocionais
desenvolvimento da inteligência humana, ao específicas, é parte (ou início) de um trabalho
propiciar o desenvolvimento da capacidade de que compreende que elas possuem
compreensão dos diferentes conteúdos que especificidades como qualquer outro sujeito.
compõem o currículo escolar, além de ampliar Correlata a tais princípios, uma nova
as habilidades de interação social e cultural organização se estabeleceu na educação e essa
com o mundo ao redor. se deu pela influência dos estudos da pedagogia
Logo, por meio desse trabalho se buscou e da psicologia e outras áreas de conhecimento
refletir sobre a importância de utilizar o brincar que se preocuparam em investigar o
para a maturação cognitiva dos indivíduos, desenvolvimento humano e, por conseguinte,
analisando como tal atividade está da criança.
naturalmente envolvida no desenvolvimento Ao estudar o desenvolvimento infantil, a
humano e como é importante que, em sala de Psicologia investigou como a criança aprende e
aula, ela seja usada como estratégia para constrói conhecimentos. Dentre os autores que
estimular as crianças a aprenderem. se dedicaram a tais estudos destacaremos Jean

401
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Piaget (1896 – 1980), utilizando suas Essa interação entre o sujeito e o meio ou o
construções teóricas para compreender o objeto concretiza o processo que Piaget
desenvolvimento da aprendizagem da criança denominou como “adaptação” e que é
que está ingressando no Ensino Fundamental complementado por outros aspectos: a
aos seis anos de idade. “assimilação” e a “acomodação”, duas
Primeiramente, é importante analisar como operações que também são “os dois polos de
as crianças constroem e aprendem diferentes uma interação que se desenvolve entre o
conhecimentos, o que de acordo com Piaget, organismo e o meio, a qual constitui a condição
ocorre à medida que a criança assimila o indispensável de todo funcionamento biológico
exterior a partir de sua predisposição interior, e intelectual” (PIAGET, 2003, p. 328). Para o
seja biológica ou neurológica, por isso, autor, esse processo, de adaptação do homem
enquanto se desenvolve, ela adapta e estrutura ao seu meio, se realizará pelas experiências que
seus conhecimentos. Os estudos realizados as interações com os objetos lhe possibilitarem.
pelo autor tinham por objetivo investigar não a Durante esse movimento de adaptação,
compreensão do conhecimento em seu Piaget (2003), afirma que o sujeito busca
momento final, mas, sim, em sua gênese e em assimilar um objeto exterior por meio de
seu processo de construção, seus estudos se experiências e, em seguida, acomodar o
orientaram em direção à análise de como os conceito e especificidades próprias que
indivíduos dão sentido ao mundo. incorporou. Um processo equilibrado que
Foi ao tecer essa investigação sobre como os movimenta o sistema cognitivo. Acontece que,
sujeitos constroem o próprio conhecimento em alguns contextos, ocorrem conflitos que
que Piaget elaborou a ideia interacionista, e por desestabilizam esse equilíbrio, levando os
meio dela analisou os vínculos e trocas que eles sujeitos a construírem novos processos que
mantêm com o meio e os objetos a fim busquem garanti-lo.
desenvolverem novos conhecimentos e, nesse De acordo com Piaget (2003), será nesses
processo, a inteligência estrutura essas repetidos processos de desequilíbrio e
interações. equilibração que o sujeito irá desenvolver
Segundo Piaget (1974): estruturas cognitivas que o auxiliem na
Com efeito, a vida é uma criação contínua de compreensão do mundo que o cerca,
formas cada vez mais complexas e uma ampliando sua capacidade de construir
equilibração progressiva entre essas formas e o conhecimentos.
meio. Dizer que a inteligência é um caso Em uma perspectiva da equilibração, deve-se
particular de adaptação biológica é, pois, supor procurar nos desequilíbrios uma das fontes de
que ela é, essencialmente, uma organização e progresso no desenvolvimento dos
que sua função consiste em estruturar o conhecimentos, pois só os desequilíbrios
universo da mesma forma que o organismo obrigam um sujeito a ultrapassar seu estado
estrutura o meio imediato. (PIAGET, 1974, atual e procurar seja o que for em direções
p.10). novas (PIAGET, 1977, p. 23).

402
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O autor também ressalta que Piaget (2003), descreve que entre os dois e
a partir do instante em que o equilíbrio é os seis anos de idade, a criança irá desenvolver
atingido num ponto, a estrutura integra-se num a capacidade da linguagem, o que lhe
novo equilíbrio em formação até ser alcançado possibilitará maiores interações individuais e
novo equilíbrio, sempre mais estável e de com o próprio meio, desenvolvendo de
campo sempre mais extenso (PIAGET, 1973, p. maneira mais ampla suas estruturas cognitivas,
65). sociais, físicas e emocionais, no entanto, a
Em seus estudos sobre como os indivíduos palavra em si ainda não representará um
constroem conhecimentos, Piaget elaborou conceito para ela, por isso, será comum fazer
quatro estágios de desenvolvimento cognitivo uso de imagens de sua realidade particular para
do ser humano: o Sensório-motor (0 a 2 anos), trabalhar com os significados reais (PIAGET,
o Pré-operatório (2 a 7 anos), o Operatório 2003).
concreto (7 a 12 anos) e o das Operações Ainda de acordo com as teorias de Piaget
formais (12 anos em diante), e para tanto (2003), nessa fase de desenvolvimento, a
considerou a idade biológica e a interação entre criança está em um período simbólico, no qual
os indivíduos e o objeto a ser assimilado, o que compreende a realidade por meio de
sempre promove uma relação de dependência representações, uma vez que ainda não
entre ambos. estruturou alguns esquemas e aspectos
Atendo-se ao foco de estudo para conceituais, por isso, ainda não organiza, muito
compreender como as crianças de seis anos bem, o pensamento com relação a regras e
desenvolvem-se e constroem conhecimentos, acaba reproduzindo situações (fazendo
se pode analisar o estágio “pré-operatório” imitação) ou entregando-se a fantasias.
elaborado por Piaget (2003), o qual descreve a Durante essas atividades, a criança construirá
maturação das crianças entre os dois e sete diálogos individuais falando sozinha e, às vezes,
anos. muito alto, mesmo em sala de aula, a criança
poderá utilizar desses artifícios para organizar
O DESENVOLVIMENTO seu pensamento.
Além disso, as crianças no estágio pré-
COGNITIVO DA CRIANÇA AOS operatório demonstram curiosidade e vontade
SEIS ANOS DE IDADE de aprender, mas também demonstram um
De acordo com os apontamentos já caráter intuitivo e egocêntrico e, logo, na maior
realizados acerca das teorias piagetianas, o parte das vezes elas são centradas em si
desenvolvimento do cognitivo envolve mesmas e não reconhecem posturas ou
processos de construção e reconstrução das pensamentos diferentes dos seus, (TAILLE,
estruturas desse sistema de maneira contínua, 1992).
logo, a maturação das crianças entre um É então, nesse período de desenvolvimento,
estágio e outro não se dá automaticamente, que a criança entre cinco e seis anos transita
mas por meio dos processos de adaptação e entre a Educação Infantil e o Ensino
equilibração já mencionados. Fundamental, o que fomenta a importância do

403
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

papel pesquisador do educador que as disso, por meio de um processo educativo


acompanha a fim de que compreenda esses lúdico, a criança é estimulada a ser autônoma,
aspectos do desenvolvimento cognitivo de seus a pesquisar, deduzir ou fazer inferências e,
educandos, sem estabelecer estereótipos de ainda, a concluir suas ideias.
suas relações e buscando facilitar esse O autor também acrescenta que a projeção
processo, que também se deve analisar. das atividades lúdicas se encaminha
concomitantemente às etapas de
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR desenvolvimento cognitivo do ser humano,
sendo vinculadas ao processo de construção da
PARA O DESENVOLVIMENTO inteligência dos mesmos, ou seja, cada fase do
COGNITIVO processo da evolução está relacionada a um
O brincar é uma atividade natural para a tipo de atividade lúdica que se sucede da
criança, é também espontânea e necessária mesma forma para todos os seres”, e assim a
para a formação de sua personalidade, a qual ludicidade se torna preponderante para o
se estrutura à medida que vivencia suas desenvolvimento humano, (PIAGET, 1978, p.
primeiras experiências de socialização. Dessa 97).
forma, o jogo infantil se constitui como um Nesse contexto de atividades lúdicas podem-
instrumento extremamente importante para o se discutir os termos brincadeira, jogo e
desenvolvimento do sujeito, e ainda uma brinquedo, refletindo sobre os papeis que os
ferramenta para a construção do mesmos desempenham na relação com a
conhecimento. criança e seu aprendizado, bem como podem
Segundo Machado(2003): ser utilizados pelos educadores. Sobre tais
Ao brincar, a criança pensa, reflete e apontamentos, Friedmann explica que:
organiza-se internamente para aprender aquilo Brincadeira refere-se, basicamente, à ação
que ela quer, precisa, necessita, está no seu de brincar, ao comportamento espontâneo que
momento de aprender; isso pode não ter a ver resulta de uma atividade não estruturada; jogo
com o que o pai, o professor ou o fabricante de é compreendido como uma brincadeira que
brinquedos propõem que ela aprenda(2003, p. envolve regras; brinquedo é utilizado para
37). designar o sentido de objeto de brincar;
Para Piaget (1978, p. 160), a atividade lúdica atividade lúdica abrange, de forma mais ampla,
é o berço obrigatório das atividades intelectuais os conceitos anteriores (FRIEDMANN, 1996,
da criança sendo por isso, indispensável à p.12).
prática educativa, já que ao brincar ou jogar a A autora, assim como outros estudiosos,
criança interage com situações espontâneas e defende o uso dessas atividades lúdicas tanto
desafiadoras, na qual troca saberes e para estimular o desenvolvimento da estrutura
experiências com o outro, aprendendo a cognitiva, quanto para garantir a realização de
socializar, a reorganizar mentalmente suas atividades significativas para o aprendizado de
experiências e a desenvolver sua criatividade, diferentes conhecimentos.
percepção visual e habilidade motora. Além

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Em paralelo, pode-se acrescentar que, de interage com elas, questionando e


acordo com Piaget (1976), ao brincar ou jogar a estimulando-lhes social e mentalmente para
criança completa uma operação de adaptação, que desenvolvam a própria aprendizagem,
uma vez que sintetiza os processos de reformulando e ampliando seus saberes. Além
assimilação e acomodação, o que ocorre de disso, nesses momentos ele também poderá
maneira mais difícil em outras situações. realizar avaliações que tanto indicam sobre o
As brincadeiras, os brinquedos e os jogos aprendizado de cada criança, quanto orientam
compõem o que Brougère (1998), define como sobre como melhorar sua prática e definir
cultura lúdica, a qual se constitui de fato pela novas propostas de planejamento.
interação da criança com o objeto (o Esses elementos qualificam e ressaltam a
brinquedo, o jogo), assim, se destaca o quão é importância das atividades dirigidas, nas quais
importante que essa cultura seja estabelecida o educador não somente oferta o objeto (jogo
dentro da escola a fim de garantir práticas e ou brinquedo), mas realiza encaminhamentos
procedimentos que garantam momentos de que ampliam a condição psicomotora e
brincar para as crianças. cognitiva dos alunos, um processo ativo que
Entretanto, para que a cultura do brincar se promove a reinterpretação do mundo em que
estabeleça é necessário que a escola e a se vive e estimula a produção de novos saberes.
comunidade compreendam que esta é uma De acordo com Borba (2006, p. 38):
atividade tão importante quanto às de É importante enfatizar que o modo próprio
linguagem e matemática porque jogando ou de comunicar do brincar não se refere a um
brincando a criança terá uma formação pensamento ilógico, mas a um discurso
integral, quer dizer, se desenvolve social, organizado com lógica e características
cultural e emocionalmente (BROUGÈRE, 1998). próprias, o qual permite que as crianças
Diante de tal contexto, o educador transponham espaços e tempos e transitem
contemporâneo não pode adotar uma postura entre os planos da imaginação e da fantasia
pedagógica tradicional e rígida e tampouco ser explorando suas contradições e possibilidades.
omisso quanto às inúmeras possibilidades de Assim, o plano informal das brincadeiras
recursos que pode utilizar em sala de aula, os possibilita a construção e a ampliação de
quais vão muito além de lápis, caderno, giz, competências e conhecimentos nos planos da
lousa e borracha. cognição e das interações sociais, o que
Da mesma forma, deve reconhecer que o certamente tem consequências na aquisição de
brincar também precisa ser observado, dirigido conhecimentos nos planos da aprendizagem
e problematizado, criando vínculos que formal.
fortaleçam a atividade lúdica como atividade Todavia, o trabalho com jogos ainda é
educativa, para Andrade (2008), quando o deficitário no cotidiano das escolas, pois a
educador se propõe a utilizar um método contemporaneidade da ludicidade esbarra na
lúdico, ele também deve brincar. condição minimizada em que, muitas vezes, o
Nessa perspectiva, o educador não só educador trabalha o que também ocorre por
observa suas crianças brincando, mas brinca e esse seguir um paradigma passadista quanto às

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tendências pedagógicas, de acordo com Piaget cognitivo, em busca de uma assimilação de sua
(1972): realidade. E ao longo da infância, Jean Jacques
O jogo é um caso típico das condutas Rousseau, iniciador da revolução romântica,
negligenciadas pela escola tradicional, dado o demonstrou que a criança tem maneiras de ver,
fato de parecerem destituídas de significado de pensar, de sentir e que ela não aprende nada
funcional. Para a pedagogia correta, é apenas senão por meio da conquista ativa (TAILLES,
um descanso ou o desgaste de um excedente 1992)
de energia. Mas esta visão simplista não explica Na verdade, nos jogos e brincadeiras em que
nem a importância que as crianças atribuem estão persuadidas, mesmo que não se trate
aos jogos e muito menos a forma constante de apenas de brincar, as crianças sofrem sem se
que se revestem os jogos infantis, simbolismo queixarem, rindo do que nunca sofreriam sem
ou ficção (PIAGET, 1972, p.156). derramar torrentes de lágrimas (TAILLES, 1992)
Logo, ao ingressar no primeiro ano, a criança Para Henri Wallon, nessa fase a imitação será
de seis anos precisa ser inserida em um a origem da representação que a criança faz do
ambiente de trabalho lúdico, que não promova mundo, como serão também as brincadeiras
uma ruptura brusca com relação à metodologia simbólicas que envolvem diferentes jogos.
de trabalho utilizada na Educação Infantil, Para Wallon (2004):
entendendo que embora o Ensino Fundamental O adulto batizou de brincadeira todos os
envolva o ensino da leitura e da escrita além de
comportamentos de descoberta da criança. Os
outros saberes, isso não exige que se trabalhe adultos brincam com as crianças e é ele
apenas com situações de aprendizagem inicialmente o brinquedo, o expectador ativo e
maçantes, mas que promova uma educação depois o real parceiro. Ela aprende, a
integradora. compreender, dominar e depois produzir uma
Para Kramer (2006), esses dois períodos da situação específica distinta de outras situações
educação básica não devem significar uma (2004.p.98
dicotomia, mas uma constante que envolva um A análise que realizou sobre o psiquismo
trabalho de respeito às etapas de infantil teve como base a interação social, o que
desenvolvimento cognitivo e as singularidades também é feito por Vygotsky (1998), que
da infância. Um trabalho pedagógico atento, distinguiu a atividade simbólica a partir da
que desenvolva na criança “conhecimentos e interiorização, colocando que nas atividades
afetos; saberes e valores; cuidados e atenção; lúdicas a criança irá utilizar elementos
seriedade e riso” (KRAMER, 2006, p. 810). adquiridos na sua interação sociocultural
(TAILLES, 1992)
A IMPORTÂNCIA DAS Conforme a teoria de Vygotsky(1998), para
uma criança de 3 anos o brincar é uma situação
ATIVIDADES LÚDICAS PARA UMA séria, pois ela não percebe a divisão entre o real
EDUCAÇÃO INTEGRAL e o imaginário, já uma criança em período de
Antes da idade escolar a criança já utiliza alfabetização consegue estabelecer essa
atividades lúdicas para o seu desenvolvimento dicotomia entre realidade e imaginação,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

criando relações entre significado e de amadurecimento cognitivo e, por isso, cada


significante, logo, o brincar para ela terá uma etapa pode ser ligada diretamente a uma
função totalmente diferente. atividade lúdica, a qual pode acontecer da
Dessa forma, é importante que as crianças mesma forma para todos os sujeitos.
recebam estímulos diferentes a cada fase de Desde o nosso nascimento passamos por
desenvolvimento, sendo incentivadas a avançar diferentes etapas de desenvolvimento, cujo é
em seus estágios de amadurecimento contínuo e envolve uma relação linear entre
cognitivo. diferentes estágios, por isso, a passagem por
Segundo Vygotsky (1998), o brincar pode ser cada um, garante à criança a aquisição de novas
preponderante para esse amadurecimento, habilidades necessárias a sua evolução
uma vez que: cognitiva.
O brinquedo cria uma zona de Ao estudar tal processo de desenvolvimento,
desenvolvimento proximal na criança. No Piaget (1978), organizou o mesmo em quatro
brinquedo, a criança sempre se comporta além etapas, as quais ele descreve:
do comportamento habitual de sua idade, além os períodos de desenvolvimento estão
de ser comportamento diário. No brinquedo é funcionalmente relacionados e fazem parte de
como, se ela fosse maior do que é na realidade um processo contínuo. As faixas etárias para
(VYGOTSKY, 1998, p. 134). cada período são idades médias nas quais as
E, além disso, “ao brincar, a criança assume crianças geralmente demonstram as
papéis e aceita as regras próprias da características de pensamento de período
brincadeira, executando, imaginariamente, (PIAGET, 1978, p.12).
tarefas para as quais ainda não está apta ou não Para Kishimoto (1997), a brincadeira ou jogo
sente como agradáveis na realidade” é sempre uma ferramenta de grande relevância
(VYGOTSKY, 1998) para aprendizagem das crianças, já que estas
Divergindo em alguns pontos das ideias de aprendem de maneira espontânea ao brincar,
Vygotsky (1998), principalmente quanto à fazendo com que o brinquedo passe a ter um
interação social ser o principal fator do significado essencial para sua formação e
desenvolvimento psíquico infantil, aprendizado.
Piaget(1978), analisou todo o desenvolvimento A autora, afirma ainda que:
psicogenético do ser humano, afirmando que O uso de brinquedo/jogo educativo com fins
os jogos se tornam mais significativos à medida pedagógicos remete-nos para a relevância
que a criança se desenvolve, adquirindo mais desse instrumento para situações de ensino-
imagens, acomodando-as e reconstruindo-as, aprendizagem e de desenvolvimento infantil.
pouco a pouco os jogos vão exigindo mais Se considerarmos que a criança pré-escolar
trabalho efetivo das crianças e garantindo a aprende de modo intuitivo, adquire noções
constituição da personalidade delas. espontâneas, em processos interativos,
Para Piaget (1978), a ludicidade está inserida envolvendo o ser humano inteiro com suas
em cada manifestação do desenvolvimento da cognições, afetividade, corpo e interações
inteligência e, logo, está relacionada às etapas sociais, o brinquedo desempenha um papel de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

grande relevância para desenvolvê-la


de conhecimentos, sendo o aluno um membro
(KISHIMOTO, 1997, p. 36). passivo e o professor o transmissor.
Atualmente sabe-se que não há ensino sem
De acordo com a autora, as brincadeiras e
jogos tradicionais desempenham aprendizagem, e que essa não ocorre sem a
um
fundamental papel no crescimento das transformação do percurso de busca de
crianças, isso por quê: conhecimentos, no qual o professor será
apenas um facilitador e o aluno a agente inicial
O jogo tradicional infantil é um tipo de jogo
da busca.
livre, espontâneo, no qual a criança brinca pelo
prazer de fazer. Por pertencer a categoria deEssa ideia tornou o educando um desafio à
experiências transmitidas espontaneamente competência do professor. Seu interesse é o
princípio da construção da aprendizagem, suas
conforme motivações internas da criança, ele
tem um fim em si mesmo e preenche a experiências e descobertas a força motriz de
seu progresso e o professor o gerador de
dinâmica da vida social, permitindo alterações
situações de estímulos eficazes.
e criações de novos jogos (KISHIMOTO, 1993, p.
16). Nesse contexto o lúdico ganha importância
Tem-se então que o lúdico faz parte do como ferramenta ideal à aprendizagem, pois
comportamento humano e ganhou muita força propõe a estimulação do interesse discente. E
ao ser relacionado ao brincar, como assim, as situações que envolvem brinquedos,
comportamento típico da infância. brincadeiras e jogos se tornam fundamentais
para o sucesso na evolução da escolarização
A brincadeira é uma situação privilegiada de
aprendizagem infantil, no das crianças.
qual o
desenvolvimento pode alcançar níveis mais Ressaltando a relevância do jogo, seja como
o brincar ou como o processo simbólico que
complexos, exatamente pela possibilidade de
interação entre os pares uma situação realizamos durante nosso desenvolvimento
imaginaria e pela negociação de regras de humano.
convivência de conteúdos temáticos. É pelo fato de o jogo ser um meio tão
poderoso para a aprendizagem das crianças
Da mesma maneira, o brincar é indispensável
que em todo o lugar onde se consegue
à saúde física, emocional e cognitiva da criança,
transformar o jogo a iniciativa da leitura ou da
pois irá contribuir, no futuro, para a eficiência e
ortografia, observa-se que as crianças se
o equilíbrio do adulto. Brincar, portanto, é uma
apaixonam por essas ocupações tidas como
atividade de educação do corpo e da mente, e
é ainda um momento de autoexpressão e maçantes (ALMEIDA, 1978, p. 21).
autorrealização. Nossas crianças vivem em constante
evolução, e neste processo realizam, a cada
O BRINCAR E SUA RELAÇÃO instante, novas descobertas e exploração de
habilidades. Portanto, a brincadeira infantil é
COM A APRENDIZAGEM uma forma de ela sanar suas necessidades
Historicamente o ato de ensinar foi interiores, não sendo atraída por forças
compreendido como processo de transmissão externas inerentes aos jogos e brincadeiras,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mas por uma interna, que busca no meio alienante, pois ele participa da elaboração
exterior, formas que satisfaçam as delas (ANTUNES, 1998).
necessidades de seu desenvolvimento
(ALMEIDA, 1978, p. 22).
Considerando tais apontamentos,
Friedmann (1996), destaca o caráter dinâmico
das brincadeiras e jogos, ressaltando como
podem ser transformados ou adaptados em
contextos diversos. A autora também afirma
que:
acredito no jogo como uma atividade
dinâmica, que se transforma de um contexto
para outro, de um grupo para outro: daí a sua
riqueza. Essa qualidade de transformação dos
contextos das brincadeiras não pode ser
ignorada (FRIEDMAN,1996, p.20).
O brincar, em sentido integral, é o meio mais
eficiente de estimulação da intelectualidade,
mas as situações didáticas que envolvem o
lúdico só alcançarão êxito se forem centradas
no indivíduo, pois qualquer jogo ou brincadeira
pode ser usado para muitas crianças, mas seu
efeito sobre a inteligência será sempre pessoal
e impossível de ser generalizado.
Será brincando que se estabelecerá a relação
do lúdico com a aprendizagem, “deixando de
lado a concepção bancária de ensino, partindo
para uma pedagogia problematizadora", que
envolva os alunos em diversas situações de
aprendizagem, onde eles aprendam brincando
ou jogando e sentindo prazer ao fazê-lo
(FREIRE, 1987, p.71).
Ao brincar o indivíduo pode ser quem quiser,
liberando seus desejos mais íntimos, fazendo
um elo entre o mundo inconsciente em que
gostaria de viver e o que vive. Socialmente,
pode adquirir, por meio das brincadeiras e
jogos, as regras sem qualquer estrutura

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que ao brincar ou jogar a criança interage com situações espontâneas e
desafiadoras, na qual troca saberes e experiências com o outro, aprendendo a socializar, a
reorganizar mentalmente suas experiências e a desenvolver sua criatividade e percepção visual e
motora. Além disso, por meio de um processo educativo lúdico, a criança é estimulada a ser
autônoma, a pesquisar, deduzir ou fazer inferências e, ainda, a concluir suas ideias.
Tais definições também destacam que não é coerente tratar a metodologia lúdica como
um elemento estranho ao processo de escolarização das crianças, uma vez que o lúdico
representa uma importante ferramenta para a garantia do sucesso do desenvolvimento delas,
nesse processo.
É evidente a compreensão de que ao brincar a criança recebe estímulos para desenvolver-
se integralmente, ou seja, por meio das interações com outras crianças e objetos envolvidos nas
atividades lúdicas a criança desenvolve-se social, emocional, físico e cognitivamente.
Nesse sentido, o desenvolvimento cognitivo será bastante favorecido e as crianças
conseguirão assimilar diferentes conteúdos (escolares ou não) com maior facilidade, pois,
enquanto joga, o indivíduo desenvolve seu cognitivo, ativa o domínio de suas inteligências e é
estimulado com relação ao seu emocional e sua sensibilidade, aprendendo de forma lúdica a lidar
com seus sentimentos, autonomia que garantirá sua formação adulta.
Assim, é no jogo que a criança de fato se torna protagonista da ação educativa, sendo
motivada e estimulada de diferentes formas a fim de garantir seu pleno desenvolvimento, que
integra sua saúde física, intelectual e emocional. Uma tríade que garante a educação integral das
crianças, ou seja, possibilita uma prática educativa que promove a sua formação física, social,
afetiva, motora, linguística, sensorial e cognitiva.
Por isso, é fundamental que a escola construa um planejamento que garanta o uso do
brincar no cotidiano da atividade escolar e que o professor utilize práticas lúdicas para realizar
suas intervenções pedagógicas, preocupando-se em organizar o tempo e o espaço de forma a
garantir às crianças diferentes experiências que enriqueçam a concretização do aprendizado
delas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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1º e 2º grau. São Paulo, Loyola, 1978.

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descobertas. 2 ed. Salto para o Futuro. Ano XVIII, Boletim 07, p. 57-64, maio/2008.

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Vozes, 1998.

BORBA, Ângela M. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: BRASIL, MEC/SEB
Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de
idade. Organização: Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Rangel, Aricélia Ribeiro do
Nascimento. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006.

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FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17° ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

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KRAMER, S. As crianças de 0 a 6 anos nas políticas educacionais no Brasil: educação


infantil e/é fundamental. Educação e Sociedade, Campinas, SP, v. 27, n. 96, out. 2006. Pag.
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MACHADO, M. M. O brinquedo-sucata e a criança. Edições Loyola, 2003.

PIAGET, J. A construção do real na criança. 3.ed. São Paulo: Editora Ática, 2003.

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro. 1978.

PIAGET, J. O Desenvolvimento do Pensamento: Equilibração das Estruturas Cognitivas.


Lisboa: Publicações Dom Quixote. 1977.
PIAGET, J. A equilibração das estruturas cognitivas: problema central do
desenvolvimento. Rio de Janeiro, Zahar, 1976.

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PIAGET, J. Problemas de Psicologia Genética. São Paulo, Florense, 1973.

PIAGET, J. Psicologia e pedagogia. 2ºed. Rio de Janeiro: Forense, 1972.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TAILLES, Ives de La e outros. Piaget, Vygotsky, Wallon, teorias psicogenéticas em


discussão. São Paulo, Sumus, 1992.

WALLON, Henri. Origens do pensamento na criança. São Paulo: Manda, 2004.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1998.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DO DESENHO NA EDUCAÇÃO


INFANTIL
Roger Luiz Franco 1

RESUMO: A partir das produções artísticas a criança desenvolve diferentes sensações. Ao praticar
atividades, vão utilizar materiais que favorecerão o desenvolvimento da percepção infantil, além
de permitir diversas sensações táteis, auditivas e visuais, que servem como recurso motivador,
levando a criança a produzir de acordo com as suas próprias conclusões mediante o material
apresentado e utilizado. Sendo assim, para que possamos identificar o seu desenvolvimento, seja
ele emocional, cognitivo, perceptivo, psicomotor e social, o desenho é utilizado. Dessa forma, este
estudo tem como objetivo conhecer algumas especificidades e a importância do desenho na
educação infantil, bem como descrever algumas características em momentos distintos da
história. A pesquisa bibliográfica foi a metodologia utilizada na elaboração da pesquisa,
referenciada por autores que já escreveram sobre o assunto, bem como pesquisa em sites
especializados em artigos acadêmicos. Portanto, espera-se que este artigo possa auxiliar os
profissionais que trabalham com as crianças na educação infantil a incentivar o processo de
criação desses pequenos desde a primeira etapa da educação.

Palavras-Chave: Desenho; Educação Infantil; Professores; Crianças.

1Professor de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Bacharel e Licenciatura em Ciências Biológicas; Especailização em
Cultivo de Plantas Medicinais.
E-mail: rlfc2014@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO PEQUENA HISTÓRIA DO


A maioria das crianças pequenas mostra DESENHO
interesse e prazer em desenhar. Nas creches e A partir do século XV, o desenho converteu-
nas escolas, professores tiram partido desse se em matéria essencial e relevante para a
entusiasmo acreditando que a atividade produção artística, já que o desenho neste
artística é parte importante do século, começou a simbolizar a cópia exata da
desenvolvimento infantil. Seus desenhos, realidade, contrária do que ocorria na Idade
executados de maneira ousada e descontraída, Média. Conforme Faria (2014, p.1), os desenhos
enfeitam as paredes das salas de aula e nesse período adquiriram mais realismo,
encantam a todos. Porém, embora se mostrem porque os mestres da pintura “eram
dispostos e desinibidos em desenhar, as desenhistas que utilizavam de seus
crianças se preocupam extremamente com que conhecimentos da anatomia para dar mais
os objetos que desenham, possam ser realidade por meio do uso de sombras,
identificados. proporções, luz e cores”.
A metodologia utilizada foi a pesquisa O vocábulo desenho surge pela primeira vez
bibliográfica, referenciada por autores que já no nosso idioma, no século XVI, com o objetivo
escreveram sobre o tema e leituras realizadas de desenho-desígnio, isto é, plano de guerra.
em sites especializados em trabalhos Mas somente, em meados do século XIX, é que
acadêmicos com um rico acervo relacionados se admite “que a criança não precisa copiar
ao assunto tratado. desenhos de adultos ou treinar habilidades
Este estudo tem como objetivo conhecer para conseguir alcançá-los e fazê-los
algumas especificidades e a importância do exatamente como são,” (IAVELBERG, 2013,
desenho na educação infantil, bem como p.8). Mas, produzi-los livremente a partir da sua
descrever algumas características em criatividade. A concepção de desenho infantil
momentos distintos da história. na educação seguiu os gêneros dos variados
A pesquisa tem início com uma pequena processos artísticos das épocas, tais como:
história do desenho; a seguir será abordado o Impressionismo, Expressionismo e até mesmo
tema, a construção de um novo paradigma; e o Modernismo(IAVELBERG, 2013).
por fim, a criança e a importância do desenho É sabido também, que o desenho, em sua
em sua vida. aplicação sempre esteve apontada a ação a
Dessa forma, espera-se que este breve qual a escola estava inclinada. Assim, a escola
estudo possa auxiliar profissionais que que adotava a pedagogia convencional, a qual
trabalham com crianças na educação infantil, sobreviveu no Brasil por longo tempo, o
incentivando-as a desenhar de forma que desenho tinha “ênfase na linha, no contorno,
possam expressar livremente a sua criatividade no traçado e na configuração,” (IAVELBERG,
com os materiais oferecidos para este fim. 2003, p.111). Isto é, o desenho era utilizado
para que as crianças reproduzissem modelos
sugeridos pelo educador. Modelo este, que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

perdurou nas instituições escolares. O desenho Os desenhos têm adequação para diversas
é uma forma por meio da qual a criança coisas, já que a criança desenha em diverso
expressa como aprende, porém, mesmo hoje,
se encontra escolas que empregam desenhos s momentos e para distintos objetivos.
mimeografados ou xerocados, os quais Entende Costa, et al (2012), que o desenho,
contribuem para que a criança continue por meio da ótica do desenho infantil, detém
aprendendo de forma restrita. fases de progresso da habilidade das crianças
A criança ao se deparar com o lápis e papel, em desenhar, visto que é utilizado no
compreende que é possível deixar nele algo significado geral para as crianças se
gravado, e na ausência dele, marca em manifestarem.
qualquer lugar, sendo na parede, no chão ou As fases de acordo com Costa, et al (2012),
mesmo em qualquer outro objeto doméstico. são:
O desenho, é para a criança uma reprodução Garatuja: São os rabiscos, sem
mental do instrumento real. Para Piaget e intencionalidade além do prazer cinético do
Inhelder (2011), o desenho é: movimento que gera cor, mas ainda não cria
[...] uma forma semiótica que se inscreve a formas, apenas ajuda a criança a se concentrar.
meio caminho entre o jogo simbólico, cujo Pré-esquemática: São rabiscos mais
mesmo prazer funcional e cuja mesma autotelia controlados, que já apresentam algumas
apresenta, e a imagem mental, com a qual formas, como círculos e quadrados, algumas
partilha o esforço de imitação do real (PIAGET; vezes concêntricos e que já começam a se
INHELDER, 2011, p.61). aproximar de representações, por exemplo, o
A maneira inicial da criança se comunicar é sol na forma de asterisco. Trata-se de uma fase
por meio do choro, e com o tempo, conforme em que crianças com deficiência mental
vai ocorrendo seu crescimento, ela vai criando demoram bastante para superar.
outra maneira de diálogo, até a ação de Esquemática: O desenho aqui ganha uma
desenhar. expressão mais pessoal, com a criança
De acordo com Silva e Tavares (2011): apresentando sua realidade, ou seja, a partir
A criança não nasce sabendo desenhar, o dessa fase é possível interpretar as imagens
meio que propicia este conhecimento a partir produzidas. Um traço muito identificável dessa
das estruturas mentais que possibilitam a fase é que se estabelece uma linha de
criança interpretar o mundo. Dessa forma, o composição (do chão, do céu, do mar)
conhecimento não resulta da relação da criança originando planos em que os elementos da
com os objetos, mas da sua interpretação e imagem se agrupem.
representação (SILVA; TAVARES, 2011, p.4). Realismo visual: A multiplicação das formas
A criança desenha o pai, desenha a mãe, ou permite estabelecer planos no desenho, em
os dois ao mesmo tempo e, esses desenhos que há muito mais detalhamento e menos
retratam a familiaridade da criança com o meio exageros nos tamanhos. A cor aqui ganha uma
no qual está inclusa. variação muito mais ampla e fica circunscrita ao
objeto traçado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Naturalista: O desenho nesta fase já começa Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade
a retratar o mundo temático de acordo com o (BRASIL, 1998).
sexo. O detalhamento já se estabelece com Aplicar a educação infantil exige que o
maior proporcionalidade dos tamanhos educador crie dinâmicas lúdicas, artísticas e
(sobretudo das formas humanas) e parece musicais, promovendo a ascensão de
maior intenção de representar movimento habilidades nas crianças as quais colaborem na
(COSTA, et al, 2012, p.67). alfabetização.
Desta forma, o desenho em várias fases Antecipadamente a criança passa a dialogar
auxilia não somente as crianças se e a retratar seu mundo por meio das variadas
exteriorizarem, mas para o progresso motor, linguagens. A criança que identifica a arte tem
emocional, perceptivo e além de tudo, para a probabilidade de formar conexões entre as
criança aprender e aprender se divertindo. Ele várias zonas do conhecimento, confrontando-
auxilia à aprendizagem das crianças as com sua rotina. O estudo da arte irá
encontrando a criança incluída ou não na sala incentivar, na criança, a proporção do sonho, da
de aula, observando que as convicções força de diálogo com objetos que a envolvem,
concernentes à infância se transformaram o timbre da poesia, as produções musicais, as
gradualmente, já que a criança não é mais vista cores, as formas e os gestos. De todos esses
como um adulto em miniatura. “A descoberta episódios, a arte permite à criança criar seu
de leis próprias da psique infantil, a jeito próprio de olhar o mundo, além de
demonstração da originalidade de seu elaborar técnicas pessoais para solução de
desenvolvimento, levaram a admitir a dificuldades e incentivar capacidades para a
especificação desse universo,” (MÈREDIEU, produção de textos (BRASIL, 1997).
2006, p.3). A arte não pode ser fornecida só com o
A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO PARADIGMA propósito de ocupar o tempo improdutivo, por
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da isso se recomenda vinculá-la verdadeiramente
Educação, Lei nº 9.394/1996, em seu artigo 2º, com diversas áreas do saber, instituindo a
a Educação Infantil, o primeiro período da relação socio-afetiva e com o progresso
educação básica, possui como objetivo o psicomotor das crianças.
progresso total da criança até seis anos de
idade, em seus enfoques físicos, psicológico, A CRIANÇA E A IMPORTÂNCIA
intelectual e social, acrescentando a atuação da
família e da sociedade (BRASIL, 1996). DO DESENHO EM SUA VIDA
A Educação Infantil não pode se limitar ao No transcorrer da história, o desenho era
emprego em somente duas áreas classificado pelos educadores como uma
fundamentais, que são as matérias de Língua prática de passatempo para as crianças. No
Portuguesa e de Matemática, mas considerar início do século XX, a educação do desenho era
também as linguagens do Referencial Curricular apontada como um mecanismo utilitário de
Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), tais elaboração técnica para o trabalho. Na
como Movimento, Música, Artes Visuais, realidade, o desenho era aplicado nas escolas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

primárias e secundárias de maneira a realizar crianças nas dinâmicas de desenho. Cabe ao


similaridade com o trabalho, de maneira, que professor criar conexões entre os exercícios de
considera o traço, o delineamento e a desenho e os acontecimentos vivenciados em
recorrência de modelos duplicados, de forma grupo, com experiências familiares ou com os
geral, de outros países. saberes apresentados em outras matérias.
Nesse sentido, Affonso e Souza (2007), Segundo Piaget (1952, apud, WADSWORTH,
reprovam as propostas descontextualizadas da 2001), as ações intelectivas são vistas como
educação do desenho infantil: práticas de “organização” e de “adaptação”,
O modo como as práticas de produção do que por meio da compreensão, adaptação e
desenho infantil vem sendo trabalhadas na produção de novas técnicas cognitivas, o
escola, tem desvalorizado o processo de criação conhecimento do indivíduo vai se tornando
das crianças, tendo em vista a obtenção de um cada vez mais conceitual.
produto final, elaborado a partir de modelos Para melhor compreensão:
prontos, ou de propostas descontextualizadas, De um lado temos o organismo com suas
sem significado para as crianças (AFFONSO; possibilidades, de outro o meio que o solicita. A
SOUZA, 2007, p.1). cada estímulo novo o organismo responde ou
Independentemente do método educacional assimilando-o, simplesmente, ou, modificando-
e da pedagogia preponderante em que a escola, se para vir a ser capaz de assimilá-lo no
o educador e o educando se encontrem momento seguinte (RAMOZZI-CHIAROTTINO,
inclusos, o desenho é essencial para a 2012, p.16).
aprendizagem. O desenho é relevante no E este estímulo para a aprendizagem é
progresso da criança, já que, por meio dele, as produzido a partir de quatro razões básicas; a
crianças conseguem registrar, falar e brincar. maturação do sistema nervoso central, a
Os estágios dos desenhos são, em sua maioria, estimulação do ambiente físico, a
muito análogos em todas as crianças, existindo aprendizagem social e a tendência ao
apenas alguma disparidade conforme sua idade equilíbrio. Todas as crianças transitam por este
e um pouco de sua cultura. sistema e seu progresso avançará por
É necessário destacar que o desenho foi específicas fases, qualificadas por períodos de
produzido antes mesmo da linguagem escrita, o desenvolvimento intelectivo.
que é confirmado nas pictografias (pinturas É intrínseco à personalidade humana, deixar
rupestres) nas cavernas realizadas por homens marcas pessoais. Alguns sujeitos já na infância,
ancestrais e povos prístinos, sendo observada inicia a se comunicar graficamente por meio do
como um linguajar que existe dos tempos mais desenho, independente de raça, sexo ou
longínquos das comunidades humanas. nacionalidade. Para Albano (2012), o desenho
O desenho é arte; arte é ludicidade. Os da criança, indica que:
educadores precisam permanecer Toda criança desenha. Tendo um
comprometidos em reorganizar sua atividade, instrumento que deixe uma marca: e a varinha
objetivando maior atenção com os propósitos e na areia, a pedra na terra, o caco de tijolo no
com o conteúdo das atividades sugeridas às cimento, o carvão nos muros e calçadas, o lápis,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o pincel com tinta no papel, a criança brincando industrial, ou na utilização mais preparada do
vai deixando sua marca, criando jogos, desenho industrial e da arquitetura, uma
contando histórias (ALBANO, 2012, p.15). acepção extrovertida na ilustração, nas
Assim, toda criança desenha, pois histórias em quadrinhos, por exemplo. Sendo
experimenta o prazer no gesto, no traço e assim, o desenho reivindica sua independência
especialmente na impressão criada por ela. e sua habilidade de englobamento como uma
Desde muito pequena, a criança principia a forma de comunicação, expressão e saber.
executar os primeiros traços, experimenta Boa parte das crianças pequenas,
brincando, suscitando uma maior atenção ao demonstram vontade e desejo em desenhar e;
observar diversas marcas. Os desenhos infantis nas creches e escolas, educadores tiram
são naturalmente identificáveis e não se proveito dessa euforia, crendo que o exercício
misturam com quaisquer outros tipos de artístico é parte relevante do progresso infantil,
manifestação plástica. embora nem sempre, possuam a proporção
O desenho é intrínseco do crescer, do específica de sua relevância.
desenvolvimento. Recentemente, os desenhos De acordo com Derdyk (2004), o desenho é a
das crianças são classificados como um meio expressão da inteligência. A criança passa a
singular para expressão e criação da elaborar explicações, hipóteses e teorias para
parcialidade da criança em desenvolvimento entender a realidade. O mundo para as crianças
(ALBANO, 2012). é constantemente reproduzido. Ela reorganiza
Desenhar consiste para as crianças, um suas suposições e potencializa sua habilidade
exercício fictício incorporador, que dispõe em cognitiva e projetiva, especialmente quando
jogo as inter-relações do olhar, do refletir, do encontram oportunidades e situações físicas,
realizar, e dá unidade aos campos perceptivos, emocionais e intelectuais para preparar estas
cognitivos, afetivo e motor. “teorias” sob forma de ações significantes.
A criança desenha, entre outras tantas Assim, para as crianças o desenho é tão
coisas, para se divertir. Um jogo que não exige simples como qualquer outra ação, o que
companheiros, a criança é dona de suas interessa para ela é o momento da atividade:
próprias regras. Nesse jogo solitário, ela vai pois assim como brinca, relaciona e evidencia,
aprender a estar só, “aprender a ser só”. O ela desenha de maneira natural e age
desenho é o palco de suas encenações, a arrebatadamente num interesse natural da
construção de seu universo particular (DERDYK, consequência da atividade.
2004, p.50). O progresso do desenho é a exposição da
Normalmente compreendemos o desenho natureza emocional e psíquica da criança, é a
como “coisa de lápis e papel”, como um plano sua expressão gráfica por meio da qual deixa
dependente à explanação de alguma ideia, à apontado suas ideias, vontades e fantasias.
interpretação de algum objeto. O desenho Assim, Longo (2005) afirma:
adquiriu um conceito mágico para o homem O desenho é um sistema de signos que
das cavernas, um conceito funcional para designam palavras, conceitos, relações, gestos,
produção de maquinários no princípio da era acontecimentos (cenas), os quais por sua vez,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

são signos das relações e entidades reais, crianças criarem livremente suas produções
dizendo respeito ao mundo da vida infantil. Tais sem nenhuma interferência pedagógica ou
sistemas de signos são carregados de fazê-la no sentido de elogiá-las sem critérios. As
sentimentos e juízo de valores, conforme a crianças desenham, pintam, colam, modelam,
idade de quem os produz (LONGO, 2005, p.30). constroem com sucatas durante um espaço de
O desenho não é unicamente a reprodução tempo e concluem. O educador guarda nas
do universo visível, mas um diálogo com pastas ou coloca nos pregos da sala de aula. O
particularidades próprias, que compreende processo é importante, o produto realizado é
definições particulares e concepções de um resultado que não é questionado (CUNHA,
culturas coletivas e, com outras mensagens 2002, p.15).
convincente, é uma ação do fantasioso. A Concepção pragmática: O educador acredita
criança “ao agilizar os conteúdos do imaginário, que as atividades de expressão gráfico-plástica
contracenando com os elementos da realidade devem servir para desenvolver a motricidade
física e cultural, inventa e repete figurações, e/ou preparar para a escrita, ou aprender a
configurações gráficas” (DERDYK, 2004, p.54). construir formas mais semelhantes ao real. As
A criança como qualquer outro ser humano, intervenções pedagógicas são no sentido de
um indivíduo ao sabor das mudanças, as quais domar o caos dos emaranhados com exercícios
acontecem continuamente e influem a maneira de contenção (recortar sobre linhas onduladas,
de pensar do sujeito. Por isso, tratar com pintar dentro de formas geométricas ou
correntes estanques representa desprezar outras); ou da produção de registros que visem
estas transformações e ser desatualizado por à resultados realistas referentes aos temas
elas, de maneira, a reprovar as capacidades de desenvolvidos (construir uma maquete após
desenvolvimentos de vida, educação, trabalhar sobre meio de transportes); ou de
sociedade, política e todos os outros métodos uma aprendizagem feita por meio de conceitos
de convívio e interferências que incluem o ser e não de vivências expressivas (por exemplo:
humano. ensinar as 3 cores primárias por meio da
Por isso, Cunha (2002), com relação ao informação e não da experiência expressiva por
segmento artístico, define dois princípios: meio da cor). Ao contrário da concepção
Concepção espontaneísta: O educador parte inatista, os educadores priorizam o produto e
do pressuposto que cada criança tem não o processo expressivo que conduziu o
capacidade inata para elaborar a linguagem aluno àquele resultado. De um modo geral, as
gráfico-plástica – alguns têm o dom para criar - produções servem para serem mostradas aos
, deste modo o meio (intervenções do pais, a fim de que eles percebam que seus filhos
educador, contato com a linguagem gráfico- têm controle motor e estão preparados para a
plástica e materiais expressivos) não importa escrita (CUNHA, 2002, p.15).
no processo de aquisição destes saberes.
Caberá ao professor encaminhar o processo da
criação por meio de atividades livres, no qual o
educador disponibilizará materiais e deixará as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Baseando-se nestes dois princípios, se torna [...] as crianças percebem que o desenho e a
clara a ênfase em suspendê-las como pilar para escrita são formas de dizer coisas. Por esse
a elaboração de novas ideias, que deverão por meio elas podem “dizer” algo, podem
meio da análise e exame dos contextos e representar elementos da realidade que
anseios infantis, compreender novas maneiras observam, e com isso, ampliar seu domínio e
de atividade no espaço escolar, ou seja, influenciar sobre o ambiente (ALMEIDA, 2003,
possuindo-as como base, excluir aquilo que se p.27).
tem como inapropriado nestes dois princípios. Para a criança, a arte de desenhar forma-se
É essencial que o educador esteja cônscio do naturalmente e não pode ser confrontada a
seu papel de intercessor de aprendizagens, talentos do adulto. Desta forma, as ideias
concordando/incitando a criança a viver próprias que brotarão no decorrer do desenho
experiências com todas as locuções para não a vão resultar muito da cultura, dos costumes,
dificultar em sua técnica de evolução e gostos dos anseios, das possibilidades, do modo de
em emprego de suas próprias experiências e vida e do meio em que o sujeito está incluso.
predileções. É necessário ainda, sondar sua Esta naturalidade acontecerá de maneira
percepção em relação ao desenho, positiva quando a criança tiver desejo e não se
posicionando-se como indivíduo apto a achar forçada a realizar algo que ela não deseja;
desenhar, recuperando convicções antigas, no afinal de contas, desenhar não é uma ação
esforço de encontrar o porquê de seu instantânea, já que é importante aplicação e
afastamento em relação a esta maneira de relacionar o mundo a sua volta para só assim
humana. decifrar o que foi de essencial e elaborar o
Ao perceber o desenho como necessário desenho.
para si, ou ao meditar sobre o porquê não Observa-se que desenho tem sido utilizado
apreciar desenhar, o educador estará talhado a pela maioria dos professores como maneira de
desempenhar uma nova conduta, passando a reconhecer possíveis obstáculos presentes nas
confiar no desenho como relevante também crianças que não estão perceptíveis a maioria
para a criança. das vezes, esse está sendo um novo valor, pois
Sendo assim, por meio dos desenhos as se torna uma forma de expressão da vida
crianças descobriram maneiras de falar coisas, mental pelo desenho, a criança evidencia seu
e devem ser utilizadas como elementos valiosos âmago sendo uma maneira de se manifestar.
no dia-a-dia do educador que ao decifrá-los, Contudo, aquilo que é falado enquanto se cria,
deve adquirir resultados que conseguirão colabora para a educação do olhar adulto que
possibilitar o progresso e a aprendizagem na ao qualificar referências, estudará e buscará
sala de aula, já que muitos usam o desenho encontrar possíveis resultados.
como um jeito de ganhar tempo e entreter as Faria (2002) ,declara que:
crianças, o desenho deve ser aplicado desde O desenho e a oralidade são compreendidos
que tenha um propósito como perceber como reveladores de olhares e concepções dos
possíveis problemas. pequenos e pequenas sobre seu contexto
Segundo Almeida (2003): social, histórico e cultural, pensados, vividos,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desejados. Saliento que tal perspectiva tomou repetição de exercícios de treino de


o cuidado de não “engessar” a produção habilidades, a questão técnica ocupava vasta
infantil, enquadrando-a em determinados área no que se entendia por criação em
padrões, tendo a opção de utilizar as falas de desenho, com ênfase no produto (LAVELBERG,
seus produtores no momento da produção 2013, p.15).
(FARIA, 2002, p.71). Compreende-se que o desenho da criança
O olhar é muito importante, já que a produto passa por fases e etapas que precisam ser
sozinho não existe, o desenho, visto por meio respeitadas e incentivadas. Em especial o
de um bom olhar exibe anseios e reflete a sua educador necessita estar alerta a estas
leitura, essencial na atividade pedagógica, já transformações e estimular seu aluno a
que se deve identificar questões por meio perseverar, para que assim tenha a evolução.
deles. O considerável é promover sentido ao
Ligado ao desenho surgem outras ações desenho, quando algum trabalho neste quesito
relatadas por Mantovani de Assis (2010, p.6), for posto à criança é essencial que tenha coesão
“O desenho é uma forma de função semiótica com o desejo dela, com a sua realidade e os
que se inscreve entre o jogo simbólico e a elementos que estão colocados ao seu redor.
imagem mental, visto que representa um
esforço de imitação do real”.
O professor precisa identificar a relevância
da pintura e do desenho como mecanismo
imperativo no método educacional uma vez
que na educação infantil as crianças não detêm
o controle da escrita, logo o desenho aparece
como uma das primeiras maneiras de
manifestação dos sentimentos, anseios e da
realidade. A criança precisa comunicar-se e
manifestar a sua criatividade, e encontra no
papel e no lápis a chance de exteriorizar tudo o
que está lhe importando.
Assim, o desenho, como todo o estudo, não
deve ser pautado no conceito transmissivo de
educação. Não se pode obrigar à criança o que
e como ela pode desenhar ou colorir alguma
coisa, ela precisa estar livre para exprimir a sua
arte particular da maneira que achar mais
adequado, segundo os seus anseios.
Na escola tradicional, o meio ditava a regra
de acomodação da criança a modelos para
aprender a desenhar, por intermédio da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa traz uma breve história sobre o desenho infantil com considerações de vários
autores que expressam como a criança se relaciona com essa atividade na etapa inicial da
educação e descreve as fases do desenho.
Os documentos oficiais como o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil,
(RCNEI,1998), objetiva esclarecer que a Educação Infantil não pode se limitar ao emprego
somente nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, mas considerar as linguagens
presentes neste documento como: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita,
Natureza e Sociedade.
E para finalizar, a pesquisa aborda a importância do desenho na vida da criança,
observando que a mesma, enquanto desenha, experimenta o prazer no gesto, no traço e
especialmente na impressão criada por ela. O olhar do professor é extremamente importante
para que a criança neste processo de criação, sinta-se confiante em executar suas atividades de
forma livre, expressando toda sua criatividade no desenho.
Desta forma, este estudo propiciou o entendimento de alguns aspectos referente ao
desenho na educação infantil que muitas vezes são encarados como um passatempo ou algo sem
valor, porém, buscou-se explicitar que por meio do desenho, as crianças se expressam de maneira
espontânea, sem esperar julgamentos ou avaliações de sua “obra”. O olhar atento dos
profissionais que trabalham com essas crianças é fundamental para incentivar cada vez mais o
processo criativo delas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NO


DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Darci Gonçalves dos Santos Paixão1

RESUMO: O artigo aborda a temática relativa a Importância dos Contos de Fadas no


Desenvolvimento Infantil, enfatizamos a importância que a contação de história e os aspectos
que ampliam o desenvolvimento infantil. A pesquisa bibliográfica apoiou a elaboração deste
artigo, no qual foram utilizadas concepções de importantes autores da literatura infantil.
Percebemos que a contação de história apresenta um rico aparato para o desenvolvimento das
habilidades da criança, no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-Chave: Contos de fadas; Contação de histórias; Ensino-aprendizagem; Desenvolvimento


Infantil.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Letras.
E-mail: dazinha-a@bol.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO como as crianças podem aprimorar suas


habilidades no momento de ouvir de histórias.
Este artigo tem o intuito de aprofundar sobre Utilizamos a pesquisa bibliográfica com
os contos de fadas e a contação de histórias, abordagem qualitativa, documentos, livros,
visando desenvolver capacidades, criatividade artigos e outros, possibilitando a
e novos aprendizados. fundamentação sobre o tema. A pesquisa
Ao verificar a bibliografia que utilizo neste documental ocorreu por meio da análise do
trabalho o autor Bettelheim evidencia que os Referencial Curricular Nacional para a Educação
contos de fadas são singulares, não só como Infantil (1998).
uma forma de literatura, mas como obra de Como aporte teórico utilizamos, entre
arte integralmente compreensível para a outros: Coelho (2003); Kupstas(1993);
criança, como nenhuma outra forma de arte o Bettlheim(1980); Abramovich(1991) e o
é. O autor afirma que o significado mais RCNEI(1998).
profundo dos contos de fadas será diferente
para cada pessoa e diferente para a mesma
A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS
pessoa em vários momentos de sua vida.
As concepções de Bettelheim (1980), fazem- DE FADAS NO
nos perceber que a contação de histórias, DESENVOLVIMENTO INFANTIL
dentre elas muitos contos de fadas, pode ser Para compreender os contos de fadas se faz
um momento mágico de aprendizado e de necessário a análise sobre a sua origem. No
contribuição para a formação humana. livro da autora Kupstas (1993), “Os sete contos
Ao pensar sobre isso, questiono: de que de fadas” ela afirma que os contos de fadas são
forma o professor pode fazer a contação de narrativas muito antigas e que, logo no começo,
história em sala de aula contribuindo não se destinavam às crianças, eram mitos
significativamente para o desenvolvimento da difundidos por inúmeros povos, como os
criança? hindus, os persas, os gregos e os judeus. Essas
O objetivo desta monografia é aprofundar primeiras histórias eram conhecidas como
sobre a origem dos contos de fadas com mitos e eram, na verdade, expressões
destaque nos mitos, fabulas e suas simbologias, narrativas de conflitos entre o homem e a
identificar a contribuição dos contos de fadas natureza.
na aprendizagem da criança e perceber os Conforme Coelho (2003), o mito perde-se
contos de fadas no processo formativo das nos princípios dos tempos e são narrativas que
crianças. nos falam de deuses, duendes e heróis
Segundo Kupstas (1993), a contação de fabulosos ou de situações em que o
histórias acontece no ambiente escolar há sobrenatural domina. Na verdade, os mitos
vários anos. A partir destes pressupostos este estão sempre ligados a fenômenos inaugurais
trabalho pretende identificar qual a como: a criação do mundo e do homem, a
contribuição da contação de histórias no explicação mágica das forças da natureza entre
desenvolvimento infantil, pretende-se analisar outros.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo esta mesma autora, essa revelavam amores estranhos, fatais e eternos.
necessidade de contar histórias surgiu quando Por volta do século II a.C até o século I da era
o homem primitivo sentiu a precisão de obter cristã, o povo celta acrescentou, a tantas
explicações racionais para o mundo, foi por histórias bem antigas, a presença forte das
meio do mito e nas narrativas fantásticas que fadas, que seriam mulheres iluminadas capazes
passa a compreender alguns fenômenos de prever o futuro de outra pessoa,
naturais, o que se percebe é que os contos de normalmente alguém especial a quem elas
fadas nada mais eram do que relatos de fatos protegiam. Assim, a imaginação popular dotou-
da vida de pessoas simples, recheadas de as de asas, varas de condão e diminuiu o seu
conflitos, aventuras e muitas vezes não eram tamanho, mas sempre as vendo como belas e
indicados a serem contados para as crianças, bondosas.
era entretenimento para os adultos. Importantes autores dos contos de fadas que
Muitos anos mais tarde a fadas é descoberta perduraram durante toda a Idade Média e
como a mulher perfeita, linda e poderosa, a Moderna para a literatura popular das
qual era dotada com poderes sobrenaturais, populações europeias em geral. A partir do
aliaram a figura feminina a educação das século XVII, essas narrativas foram sendo
crianças os contos e a fantasia contribuíam para reunidas e recontadas por escritores, como
a formação da personalidade dos pequenos. Perault, La Fontaine e os irmãos Grimm, que
Daí a importância dos contos de fadas para a lhes deram um estilo mais elegante e as
formação e a aprendizagem das crianças. traduziram da tradição popular para como as
Escutar histórias contribui de forma conhecemos atualmente.
significativa para o início da aprendizagem e A etimologia da palavra fada vem do latim
para que o indivíduo seja um bom ouvinte e um fatum (destino, fatalidade, oráculo). As fadas
bom leitor, mostrando um caminho fazem parte do folclore europeu ocidental (e
absolutamente infinito de descobertas e de dele emigraram para as Américas) e tornaram-
compreensão do mundo. se conhecidas como seres fantásticos ou
Segundo Coelho (2003), os contos abrem imaginários, de grande beleza, que se
espaços para que as crianças deixem fluir o apresentavam sob forma feminina sendo
imaginário e despertem a curiosidade, que logo virtuosas e poderosas.
é respondida no decorrer dos contos. Ela Conforme Coelho (2003), as fadas também
também, relata-nos o valor dos contos de fadas podem encarnar o mal e apresentarem-se
durante os séculos: como o avesso da imagem anterior, isto é,
Os contos de fadas fazem parte desses livros como bruxas. Segundo Coelho (2003), é
eternos que os séculos não conseguem destruir impossível determinar com exatidão o ponto
e que, a cada geração, são redescobertos e geográfico ou o momento temporal em que as
voltam a encantar leitores ou ouvintes de todas fadas teriam surgido. Entretanto, o mais
as idades (COELHO, 2003, p. 21). provável é que elas tenham surgido e se
Para Kupstas(1993), os contos de fadas são arraigado naquela fronteira ambígua entre o
de origem celta e surgiram como poemas que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

real e o imaginário, que vem, desde a origem descrevendo-as como seres fantásticos
dos tempos, atraindo os homens. dotados de beleza e inteligência:
Afirma que os esforços para descobrir o As fadas do ar dividem-se em: sílfides ou
possível local de nascimento das fadas é fadas das nuvens, criaturas altamente
grande, historiadores, arqueólogos, filósofos, desenvolvidas, que vivem nas nuvens e que
etnólogos, cronistas ou compiladores, buscam evoluíram da terra, da água e da experiência do
solucionar o mistério em torno das fadas por fogo, sendo por isso dotadas de elevada
meio de dados históricos, míticos e lendários. inteligência.
Para Coelho (2003), explica que entre os As fadas do vento e das tempestades,
pesquisadores não há dúvidas que as fadas espíritos dotados de poderosa energia, que
sejam de origem celta, porque desde a mais giram por cima das florestas e ao redor dos
antiga menção a tais seres, tudo leva a essa altos picos das montanhas.
certeza. As fadas da terra dividem-se em espíritos da
Conforme Pomponius Mela (Geógrafo que superfície e do subsolo: fadas dos jardins ou
viveu no século I) na ilha do Sena, nove virgens bosques (as de superfície) e gnomos ou fadas
dotadas de poder sobrenatural, meio ondinas dos rochedos (as do subsolo ou reino mineral).
(gênios da água) e meio profetisas, que com As fadas do fogo ou salamandras habitam a
suas imprecações e seus cantos, imperavam região do subsolo vulcânico e estão
sobre o vento e sobre o Atlântico, assumiam relacionadas com o relâmpago e as fogueiras
diversas encarnações, curavam enfermos e acima do solo. Têm mais força do que as fadas
protegiam navegantes. dos jardins, mis ficam mais distantes da
As primeiras referências às fadas, como humanidade.
personagens ou figuras reais, são comprovadas As fadas das águas ou ondinas habitam as
e também, aparecem na literatura cortesã- profundezas das águas e uma de suas principais
cavaleiresca surgida na Idade Média, nos Laís da tarefas é retirar energia do sol para transmiti-la
Bretanha e nas novelas de cavalaria do ciclo á água. Há ainda aquelas que vivem nas praias
arturiano, ambos de origem cético-bretã. e marés: são pequenas, alegres e mais
Coelho menciona a origem das fadas: conhecidas como bebês d’água (COELHO,2003,
Enfim, o que se divulgou, durante a Idade p.53).
Média até a Renascença, como peculiar ao Coelho (2003), ressalta como autores dos
espírito celta, levou os estudiosos a contos de fadas: Charles Perrault, Jean de La
determinarem, quase com exatidão, o povo no Fontaine, Hans Christian Andersen e os irmãos
seio do qual nasceram às fadas: o povo celta Grimm que segundo a autora contribuíram de
(COELHO, 2003, p, 33). forma bastante significativa para a recriação
Coelho (2003), cita Dora Van autora do livro dos contos de fadas como literatura infantil.
O Mundo Real das Fadas em seu livro “O conto Coelho (2003), esclarece as diferenças entre
de fadas” que afirma que fadas são criaturas os mitos, as fabulas e os contos de fadas, pois
que pertencem aos quatro reinos elementares: cada um apresentam abordagens e finalidades
ar, terra, fogo, e água classificando-as e diferentes, conforme a autora:

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O Mito seu significado vem (do grego Para Coelho (2003), a literatura infantil é,
mytbus- narração) e são narrativas primordiais antes de tudo, literatura: ou melhor, é arte:
que, sob forma alegórica, explicam de maneira fenômeno de criatividade que representa o
intuitiva, religiosa, poética ou mágica os mundo, o homem, a vida, por meio da palavra,
fenômenos básicos da vida humana em face da na verdade ela funde os sonhos coma e a vida
natureza, da divindade ou do próprio homem. prática, o imaginário é o real, os ideais e sua
Cada povo da Antiguidade (ou os povos realização.
primitivos que ainda sobrevivem em nossos Podemos afirmar que os contos de fadas são
tempos (tem seus mitos intimamente ligados à importantes para a formação e a aprendizagem
religião ancestral, ao começo dos mundos e dos das crianças. Escutar histórias é uma forma
seres e também à alma do universo. significativa para o início da aprendizagem e
As fábulas: (palavra derivada do latim fari, para que o indivíduo seja um bom ouvinte e um
falar, do grego pbaó, dizer”) Forma narrativa bom leitor, mostrando um caminho
breve que, tal como apólogo e a parábola, visa absolutamente infinito de descobertas e de
dar uma lição aos homens. Suas personagens compreensão do mundo e devem ser bem
são animais falantes que se comportam como contadas de forma que despertem o interesse
humanos. Nela, as situações narradas das crianças.
denunciam sempre erros de comportamento, Conforme Bettlheim (1980), uma história
que resultam na exploração do homem pelo realmente prende a atenção da criança, ao
homem. Desde os tempos arcaicos, a fábula foi ponto de entretê-la e despertar sua
dos gêneros narrativos mais difundidos em curiosidade, deverá enriquecer sua vida deve
todas as sociedades. Historicamente, teve no estimular-lhe a imaginação:
grego Esopo (séc. VI a.C) seu primeiro Ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a
criador/divulgador, seguido em Roma pelo tornar claras suas emoções: estar
grande fabulista Fedro (séc. d.C.). Na era harmonizadas com suas ansiedades e
clássica (séc. VIII), o grande fabulista foi La aspirações; reconhecer plenamente suas
Fontaine que recriou as fábulas originais e criou dificuldades e ao mesmo tempo, sugerir
outras (COELHO,2003, p.34). soluções para os problemas que a perturbam.
Os contos de fadas no Brasil e Portugal Resumindo, deve de uma só vez relacionar-se
surgiram, no final do século XIX, como contos com todos os aspectos de sua personalidade-e
de carochinha e tem uma característica isso sem nunca menosprezar a criança,
bastante relevante que diz respeito aos seus buscando dar inteiro crédito a seus
argumentos, pois eles desenvolvem-se dentro predicamentos e, simultaneamente,
da magia feérica como: reis rainhas, príncipes, promovendo a confiança nela mesma e no seu
princesas, fadas, gênios, bruxas, gigantes, futuro (BETTELHEIM, 1978, p, 20).
anões, objetos mágicos, metamorfoses, tempo No livro “A psicanálise dos contos de fadas”
e espaço fora da realidade conhecida etc. basta o autor aborda muitos aspectos relevantes para
lembrarmos dos contos de Monteiro Lobato. a compreensão do importante papel dos contos
de fadas para o desenvolvimento e

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aprendizagem da criança. Para este autor, o literatura é arte e, como tal, as relações de
conto de fadas esclarece a criança sobre si aprendizagem e vivencia que se estabelecem.
mesma, e favorece o desenvolvimento de sua Conforme o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 163), “As
personalidade. vivências sociais, as histórias, os modos de vida,
Segundo Bettelheim (2004): os lugares e o mundo natural são para as
Oferece significado em tantos níveis crianças parte de um todo integrado”.
diferentes, e enriquece a existência da criança O contador pode despertar a imaginação,
de tantos modos que nenhum livro pode fazer transportar para a fantasia, construir ideias,
justiça à multidão e diversidade de lugares, épocas, ações, curiosidade e resolver
contribuições que esses contos dão à vida da problemas. O que o contador de histórias deve
criança (BETTELHEIM, 2004, p. 20). ter em mente é que os contos de fadas, as
A partir destas ideias elencaremos como os fábulas, os mitos e outros, deixaram de ser
contos de fadas contribuem de forma vistos como fantasias, para serem pressentidos
significativa para a formação da criança e como como portas que se abrem para verdades
eles estão presentes desde muito cedo em sua humanas ocultas.
vida no desenvolvimento de suas habilidades, Salientamos que os contos de fadas, as
aprendizados e significações. lendas e os mitos entre outros, não devem ser
A contribuição da contação de histórias e dos vistos como “entretenimento infantil” e vêm
contos de fadas é imprescindível para despertar sendo redescobertos como autênticas fontes
na criança o lúdico, a imaginação, e a de conhecimento do homem e de seu lugar no
manifestação cultural, consequentemente o mundo (COELHO, 2004, p.17).
letramento e a alfabetização. Segundo Bettelheim (1980), a vida
Para Coelho (2003), é por meio dos contos de intelectual de uma criança, por meio da
fadas que existe a possibilidade de despertar história, dependeu de mitos, religiões, contos
nas crianças o prazer em ouvi-las, e isso é de fadas, alimentando a imaginação e
importante para a formação de qualquer estimulando a fantasia, como um importante
criança, pois estimula a criatividade, a agente socializador. A partir dos conteúdos dos
imaginação, a brincadeira, a leitura, a escrita, a mitos, lendas e fábulas, as crianças formam os
música, o querer ouvir novamente, conceitos de origens e desígnios do mundo e de
desenvolvendo dessa forma a oralidade nas seus padrões sociais. Podemos afirmar o
crianças desde de pequenas. letramento, pois os contos de fadas,
Os aspectos que contribuem para a formação apresentam fatos do cotidiano, não só de amor
do indivíduo são possíveis por meio da mais de muitas situações que vivemos na
literatura conforme Coelho (2003), a literatura realidade e isso incentiva uma reflexão sobre os
é sem dúvida, uma das expressões mais desafios que temos que enfrentar no dia a dia.
significativas dessa ânsia permanente de saber Por isso é muito importante que as crianças
e de domínio sobre a vida que caracteriza o saibam que os contos de fadas falam do lúdico,
homem de todas as épocas. Para esta autora do mágico, mais também tratam de coisas
reais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para Bettelheim (1980), os contos de fadas mais confiança e assim desenvolver de uma
fazem com que a criança se confronte com forma mais harmoniosa suas habilidades.
muitas características fundamentais no ser Os clássicos da literatura são referência em
humano, isso ocorre porque nos contos de qualquer época quando consegue despertar as
fadas existe um dilema existencial tratado de principais emoções humanas, pois o que as
maneira breve e decisiva, permitindo à criança crianças geralmente mais temem na infância é
compreender sua essência. As personagens dos a separação dos pais e esse conflito existencial
contos são ambivalentes, como o ser humano muitas vezes aparece logo no começo de
são na vida real. Essa polarização que domina algumas histórias consideradas referências na
os contos de fadas, também domina a mente da literatura.
criança. Independentemente da idade e sexo Ao lermos clássicos podemos despertar nas
do herói da história, afirma o autor. crianças o gosto pela viagem, pela imersão no
Salientamos que nesse processo de desconhecido e pela exploração da diversidade.
desenvolvimento das habilidades da criança é a Para Bettelheim (2004), a agressividade e o
relação social que ela mantém fora da escola, descontentamento com irmãos, mães e pais
principalmente em casa, onde os pais devem são vivenciados na fantasia dos contos: o medo
criar o habito de contar história de fazer com da rejeição é trabalhando em João e Maria, a
que a criança se interesse linguagem oral e rivalidade entre irmãos em Cinderela e a
escrita, tornando esse momento prazeroso e separação entre as crianças e os pais em
não algo obrigatório. Sendo assim Bettelheim Rapunzel e O Patinho Feio.
(1980), traz algumas considerações sobre a Salientamos que as leituras dos contos de
importância dos pais no processo de fadas no passado tinham como objetivo
aprendizagem: principal apontar padrões sociais para as
É exatamente tão importante para o bem- crianças. O que as moças ingênuas queriam era
estar da criança, sentir que seus pais encontrar um príncipe, como mostrado em A
compartilham suas emoções, divertindo-se Bela Adormecida e Cinderela. Nas histórias em
com o mesmo conto de fadas, quanto seu que as garotas desobedeciam a seus pais como
sentimento de que seus pensamentos no caso de Chapeuzinho Vermelho, deparava-
interiores não são conhecidos por eles até que se com situações dramáticas, como enfrentar o
ela decida revelá-los. Se o pai indica que já os Lobo Mau. Essa história tinha forte caráter
conhece, a criança fica impedida de fazer o moral na sociedade rural do século XII:
presente mais precioso a seu pai, o de camponesas não deviam andar sozinhas, assim
compartilhar com ele o que até então era muitas vezes os contos tinham a finalidade para
secreto e privado para ela (BETTELHEIM, 1980, instruir mais que divertir as pessoas por isso
p. 26 ;27). que num primeiro momento era para adultos e
A família é muito importante no processo de não crianças, era para mostrar alguns padrões
desenvolvimento da aprendizagem se faz do que era certo ou errado.
necessária para que a criança possa adquirir Devemos considerar que os clássicos são
clássicos porque se perpetuam, e as obras

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

infantis devem ser respeitadas como a diferenças entre as pessoas sejam valorizadas e
literatura para adultos, na verdade as histórias aproveitadas para o enriquecimento de si
mudam de acordo com a cultura e a época. próprios (BRASIL, 1998, p.11).
Canibalismo e incesto, por exemplo, foram Bettelheim (1980), afirma que os contos de
retirados de contos antigos. Na versão original fadas, melhor do que qualquer outra, história
de Chapeuzinho Vermelho, o lobo devora a infantil ensinam a lidar com os problemas
Vovó e a própria Chapeuzinho Vermelho, e o interiores e achar soluções. A criança, como ser
Caçador não existe. participante e atuante da sociedade, aprenderá
Cabe ao contador de histórias ter bom senso, a enfrentar e aceitar sua condição, desde que
segundo especialistas a tendência de retirar o seus recursos interiores lhe permitam.
mal, o medo e o castigo das narrativas são forte Abramovich (1991), afirma que os contos de
atualmente. As mudanças de enredo fadas falam de auto descobertas e da
apaziguam as emoções que precisam ser descoberta da própria identidade, o que é
vividas. Não é saudável evitar que as crianças fundamental para o crescimento das crianças,
enfrentem os conflitos assim, é possível usar e quantas histórias a ler e a compreender em
abusar de filmes que recontam A Bela e a Fera vários desses contos de fadas.
e O Patinho Feio, por exemplo, mas é preciso A partir destes autores podemos afirmar que
apresentar primeiro as obras que mais se os contos auxiliam no processo de construção
aproximam dos originais. da identidade da criança e no desenvolvimento
A Literatura infantil e os contos de fadas de suas habilidades sociais, culturais e
podem ser decisivos para a formação da criança educativas, porque é uma literatura e sua
em relação a si mesma e ao mundo à sua volta. intenção de estimular a consciência crítica do
O maniqueísmo que divide as personagens em leitor.
boas e más, belas e feias, poderosas ou fracas, O aspecto psicológico também é um fator de
etc, facilita a criança à compreensão de certos grande relevância no desenvolvimento das
valores básico da conduta humana ou convívio habilidades. A criança precisa atingir essa
social, culminará em formação da consciência compreensão, e com isto a habilidade de lidar
ética. O que as crianças encontram nos contos com as coisas, não por meio da compreensão
de fadas são, na verdade, categorias de valor e racional da natureza e conteúdo de seu
virtudes. inconsciente, mas familiarizando-se com ele
O Referencial Curricular Nacional para por meio de devaneios prolongados,
Educação Infantil (RCNEI), afirma que o reorganizando e fantasiando sobre elementos
desenvolvimento da identidade e da autonomia adequados, para isso se faz necessário escolher
estão intimamente relacionados com os um bom repertório de literatura:
processos de socialização. Nas interações É aqui que os contos de fadas têm um valor
sociais se dá a ampliação dos laços afetivos que inigualável, conquanto ofereçam novas
as crianças podem estabelecer com as outras dimensões à imaginação da criança que ela não
crianças e com os adultos, contribuindo pra que poderia descobrir verdadeiramente por si só.
o reconhecimento de outro e a constatação das Ajuda mais importante: a forma e estrutura dos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contos de fadas sugerem imagens à criança com Os contos de fadas têm a o papel de
as quais ela pode estruturar seus devaneios e incentivar a leitura e a fruição da literatura
com eles dar melhor direção à sua vida como arte, objetivando transmitir valores que
(BETTELHEIM, 1980, p. 16). determinam atitudes éticas, que possibilitam a
A importância dos contos de fadas para a melhor convivência no ambiente escolar.
formação da personalidade da criança e o seu A literatura infantil na escola representa um
desenvolvimento no processo de socialização e estimulo forte a aprendizagem da leitura. Ao
aprendizagem já que eles têm a capacidade de adquirir gosto pela leitura a criança apresenta
levar a criança a perceber outras dimensões, a um repertorio amplo de informações. No
usar a imaginação e principalmente a se mundo atual a literatura infantil surge como
descobrir, se reconhecer como parte integrante uma fonte de conhecimento que enriquece a
daquela história, na qual ela pode ser qualquer formação da criança desde o seu primeiro
um dos personagens, basta imaginar. contato com as histórias infantis.
Segundo Coelho (2000), é importante que ao De acordo com o RCNEI (1998):
realizar uma contação de histórias o objetivo é também por meio da possibilidade de
principal seja o de levar as crianças a formular suas próprias questões, buscar
desenvolverem a sua própria expressividade respostas, imaginar soluções, formular
verbal ou sua criatividade latente, e explicações, expressar suas opiniões,
consequentemente haverá uma dinamização interpretações e concepções de mundo,
na sua capacidade de observação e reflexão em confrontar seu modo de pensar com os de
face do mundo que o rodeia. outras crianças e adultos, e de relacionar seus
Os contos contribuem para desenvolver a conhecimentos e idéias a contextos mais
leitura. A contação de histórias tem o papel de amplos, que a criança poderá construir
incentivar a leitura e a fruição da literatura conhecimentos cada vez mais
como arte, objetivando-se transmitir valores elaborados(BRASIL, 1998, p.172).
que determinam atitudes éticas, que O professor como contador de histórias e
possibilitam a melhor convivência no ambiente mediador tem um papel essencial, pois a
escolar. Os contos abrem espaços para que as função pedagógica implica na ação educativa
crianças deixem fluir o imaginário e despertem do livro sobre o universo infantil.
a curiosidade, que logo é respondida no seu Por meio das histórias infantis o professor
decorrer. pode despertar a criatividade, a autonomia e a
Como citamos anteriormente a contação de criticidade da criança. Nesse aspecto a
histórias ocorre no ambiente escolar há muitos contação de histórias ajuda a desenvolver nas
anos, é importante identificar qual o momento crianças uma postura investigativa tornando-as
de audição de histórias, perceber também por assim capazes de construir identidade e
meio das histórias como elas podem auxiliar no autonomia.
processo de desenvolvimento individual das Os contos de fadas fazem com que a criança
crianças. vivencie o mundo do faz-de-conta, da
ludicidade, da magia, do encantamento,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

proporcionam um momento lúdico movido de Conforme o RCNEI (1998), o trabalho


imaginação. A mediação do adulto contador de educativo pode, assim, criar condições para as
histórias torna possível desenvolver crianças conhecerem, descobrirem e
habilidades, por meio da observação que lhes ressignificarem novos sentimentos, valores,
possibilitem contar suas histórias de maneira idéias, costumes e papeis (BRASIL, 1998, p.11).
mais elaborada, criando assim o hábito de ouvir Os professores devem compreender que a
histórias, estimulo ao diálogo entre as próprias literatura em sala de aula não é apenas um
crianças e o adulto educador, encorajando-as a instrumento para ensinar a ler, pois segundo
examinar e explicar suas opiniões, anseios e Bettelheim (1978), a aquisição de habilidades,
vontades. inclusive a de ler, fica destituída de valor
Podemos afirmar que a contação de histórias quando o que se aprendeu a ler não acrescenta
é uma forma de manifestação cultural. A nada de importante á nossa vida, isso por que o
literatura infantil deve estar marcada pelo autor afirma que todos tendemos a avaliar os
interesse literário e deve proporcionar à criança méritos futuros de uma atividade na base do
o exercício da imaginação. Meireles destaca a que ela oferece no momento.
importância da literatura infantil para a Cabe ao professor observar as histórias
formação da criança: contadas se as mesmas contribuem para
Insistimos na permanência do tradicional na enriquecer a vida da criança, porque o que na
literatura infantil, tanto oral quanto como verdade é importante para o seu
escrito, porque por ele vemos um caminho de desenvolvimento, é o que lhe é significativo
comunicação humana desde a infância que, naquele estágio em que ela se encontra. Assim
vencendo o tempo e as distâncias, nos permite o autor traz alguns aspectos que devemos
uma identidade de formação. Por essa perceber:
comunhão de histórias, que é uma comunhão Para que uma história realmente prenda a
de ensinamentos, de estilos de pensar, atenção da criança, deve entretê-la e despertar
moralizar e viver, o mundo parece tornar-se sua curiosidade. Mas para enriquecer sua vida,
fácil, permeável a uma sociabilidade que tanto deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a
se discute. A literatura tradicional apresenta desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas
esta particularidade: sendo diversa em cada emoções; estar harmonizada com suas
país, é a mesma no mundo todo. É que a mesma ansiedades e aspirações: Resumindo, deve de
experiência humana sofre transformações uma vez só vez relacionar-se com todos os
regionais, sem por isso deixar de ser igual nos aspectos de sua personalidade, e isso sem
seus impulsos e idênticas nos seus resultados. nunca menosprezar a criança, buscando dar
Se cada um conhecer bem a herança tradicional inteiro crédito a seus predicamentos e,
do seu povo, é certo que se admirará com a simultaneamente, promovendo a confiança
semelhança que encontra, confrontando-a com nela mesma e no seu futuro (BETTELHEIM,
a dos outros povos. (...) É um humanismo 1978, p. 13).
básico, uma linguagem comum, um elo entre as
raças e os séculos (MEIRELES, 1979, p. 64).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No RCNEI (1998), as crianças refletem e Para que desenvolva um trabalho


gradativamente tomam consciência do mundo significativo o professor precisa conhecer
de diferentes maneiras em cada etapa do seu literatura, a relação que o professor estabelece
desenvolvimento: com aquilo que ensina, é fundamental, pois
As transformações que ocorrem em seu contribuirá para a aquisição de conhecimento e
pensamento se dão simultaneamente ao aprendizagem.
desenvolvimento da linguagem e de suas
capacidades de expressões. À medida que
crescem se deparam com fenômenos, fatos e
objetos do mundo: perguntam reúnem
informações organizam explicações e arriscam
respostas: ocorrem mudanças fundamentais no
seu modo de conceber a natureza e a cultura
(BRASIL, 1998, p.169).
Os professores tem uma grande
oportunidade de por meio dos contos de fadas
contribuírem para esse desenvolvimento dos
alunos e de acordo com Coelho (2003):
A contação de histórias pode ser de maneira
lúdica, fácil, e subliminar, por que ela atua
sobre seu pequenos leitores, levando-os a
perceber e a interrogar a si mesmos e ao
mundo que os rodeia, orientando seus
interesses, suas aspirações, sua necessidade de
autoafirmação, ao lhes propor objetivos, ideais
ou formas possíveis (ou desejáveis) de
participação no mundo que os rodeia (COELHO,
2003, p. 123).
O RCNEI (1998), evidencia importantes
considerações de como o professor pode
trabalhar com a contação de história na escola:
Nas atividades sequenciadas de leitura,
podem se eleger temporariamente, textos que
propiciem conhecer a diversidade possível
existente dentro de um mesmo gênero, como
por exemplo, ler o conjunto de obra de um
determinado autor ou ler diferentes contos
sobre saci-pererê, dragões ou piratas ou várias
versões da mesma lenda (BRASIL, 1998, p. 155).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo abordou as perspectivas do RCNEI (1998), com o intuito de evidencias a
principais fontes sobre a origem, o desenvolvimento e a contribuição dos contos de fadas para a
formação da criança.
Brevemente salientamos a contextualização histórica, dos contos de fadas, como surgiram,
quais os principais autores e inicialmente a quem destinavam.
Ao longo da pesquisa percebemos que contar histórias não é apenas abrir um livro e ler
um monte de palavras ou mostrar várias figuras as crianças e sim despertar sua curiosidade,
estimular sua imaginação, desenvolver seu intelecto e suas habilidades, porque enquanto diverte
a criança, o conto de fadas favorece o desenvolvimento de sua personalidade e de diversos
fatores descritos aqui.
Compreendemos que as crianças se identificam com os contos de fadas porque eles
conduzem para a descoberta de sua identidade e comunicação e também sugerem as
experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais a formação do caráter.
Com base nas leituras bibliográficas para esta monografia percebemos a relevância que os
contos de fadas contribuem significativamente para o desenvolvimento das crianças,
considerando o aspecto cognitivo e da construção da personalidade.
Podemos afirmar também, que os contos de fadas situam o espaço, o tempo e as
personagens da história e o começo de um aprendizado, porque há uma ruptura, um desequilíbrio
gerado por um problema que surge no conto colocando o protagonista diante de uma
complicação e assim há uma resolução, superação e solução dos problemas vivenciados,
recuperando-se, assim, o equilíbrio.
O processo de desenvolvimento da aprendizagem das crianças, favorece a socialização e o
desenvolvimento das habilidades. Os contos proporcionam a oportunidade de a criança utilizar
seu inconsciente, condição básica para se conhecer o significado profundo da vida.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil Gostosuras e Bobices. 2º edição. São Paulo,
Scipione, 1991.

BETTELEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a


Educação Infantil. Brasília, DF, 1998.

COELHO, Betty. Contar Histórias Uma Arte Sem Idade. São Paulo. Ática, 1997.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil Teoria Analise Didática. 7º edição. São Paulo.
Moderna, 2005.

COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas Símbolos Mitos e Arquétipos. 2º edição. São
Paulo, Ática. 1991.

KUPSTAS Márcia. et ali. Sete faces do conto de fadas. São Paulo. Moderna, 1993. (Coleção
Veredas)

MEIRELES, Cecília. Criança, meu amor. 2a edição Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1977.
MEIRELES, Cecília. Problemas da Literatura Infantil. 3a edição. São Paulo, Summus, 1979.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL NAS


ESCOLAS REGULARES DE CAXIAS-MA
Francisca das Chagas Pereira da Silva Santos 1

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo a inclusão dos deficientes visuais nas escolares
regulares, visto que a inclusão plena ainda não é uma realidade na sociedade vigente que ainda
descrimina e trata de forma diferenciada o indivíduo que possui algum tipo de deficiência, pois
para a sociedade ser normal é ter todas as faculdades físicas e cognitivas em perfeitas condições.
O trabalho mostra que os alunos deficientes visuais são dotados de várias habilidades que os
alunos tidos como “normais” e que apesar de terem os mesmos direitos em sala de aula, esses
direitos não são respeitados. Outro aspecto a ser abordado é a falta inclusão na de pessoas
especializadas na área de educação especial, o que deixa muitos profissionais com receio em
trabalhar com deficientes de modo geral e não só o deficiente visual. A pesquisa foi desenvolvida
em escolas municipais regulares da cidade de Caxias-MA, com professores do ensino fundamental
maior do 6º ano com a finalidade de averiguar se está havendo de fato a inclusão nas escolas
pesquisadas. As atividades implementadas serão dentro de uma abordagem empírica por meio
de estudos teóricos, observação, e questionários com percentuais apresentados em gráficos.

Palavras-Chave: Deficiente auditivo; Inclusão; Escolas regulares; Sociedade.

1Coordenadora da Assessoria de Inclusão na Rede Municipal de Educação – Caxias -MA.


Graduação: Normal Superior; Licenciatura em Pedagogia, Especialista em Libras/Português e Interpretação e
Tradução.
E-mail: franciscalibras@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO não sintam-se isolados, nem fora do processo


de ensino e aprendizagem.
A educação é um meio para a pessoa se No entanto o presente artigo monográfico
tornar um cidadão consciente e capaz de tem como tema “A inclusão do deficiente visual
reconhecer o mundo que vive, pois por meio da na escola regular”, visando, por meio de
mesma o indivíduo poderá adquirir criticidade estudos bibliográficos, com fontes variadas de
para saber sobressair-se de diversas situações teóricos ligados à área, e de campo com a
inerentes a sociedade contemporânea. aplicação de questionário a professores que
No entanto, a educação inclusiva vem convivem diariamente com a realidade desses
ganhando espaço nessa sociedade, pois o alunos, mostrar a realidade desses alunos com
sistema educacional está cada vez mais cegueira e baixa visão na escola regular.
preocupado em inserir os alunos com
deficiência na escola regular. É uma tarefa
CONTEXTO HISTÓRICO DA
difícil, pois o mesmo sistema ainda não fornece
estrutura nem subsídios satisfatórios para que EDUCAÇÃO DO DEFICIENTE
haja tal inclusão e os alunos deficientes não VISUAL
podem mostrar um desempenho pleno pela O atendimento à pessoa com deficiência
falta também de profissionais habilitados para visual no Brasil teve início por meio dos
darem apoio a essas pessoas com problemas de institutos para cegos. O primeiro foi criado no
baixa visão e cegueira, incentivando a século XIX no Rio Janeiro e se chamava
cooperação e colaboração dos alunos tidos “Imperial Institutos dos meninos cegos”, que
como “normais” no âmbito escolar. persiste até nossos dias com a denominação
Para complementar a afirmação de Tessaro “Instituto Benjamin Constant”. Esse instituto foi
(2005), ressalta que: criado pela determinação do Governo Imperial,
A inclusão apenas poderá ocorrer a partir do por D. Pedro II, por meio do Decreto Imperial nº
momento em que a escola passar por uma 428 de 12 de setembro de 1854. Após trinta e
reestruturação, ou seja, quando ela estiver seis anos, Benjamin Constant na qualidade de
voltada para a comunidade, for uma escola de ministro, criou um novo regulamento
vanguarda, dar a oportunidade de um bom educacional visando uma melhor qualidade de
desempenho dos alunos, incentivar a ensino e de vida para o cego, pois ao mesmo
colaboração e cooperação, quando for capaz de tempo em que melhorasse sua via na escola,
oferecer ambientes educacionais flexíveis iria melhorar também no âmbito social. Dessa
(TESSARO, 2005, p. 48). forma, a educação do cego estava em vigor,
Porém, apesar de poucos recursos e porém com uma lenta expansão,
profissionais que possam auxiliar os alunos com acompanhando o sistema educacional
deficiência visual, é necessário que o professor brasileiro como um todo.
esteja acompanhando esses alunos, por meio Em meados do século XX, como ainda não
de metodologias que visem a integração dos existia a educação especial na rede regular de
mesmos, aumentando a autoestima para que ensino, a exemplo do “Imperial Instituto dos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

meninos cegos” que visava um melhor inclusive alunos que apresente algum tipo de
atendimento para o cego na sociedade, deficiência, para que possam participar da
começaram a surgir outros institutos para escola regular do meio social, como cognitivo.
cegos. Pois “os princípios do desenvolvimento
Somente no fim do século XX o Brasil humano são os mesmos para todos os sujeitos.”
começou a seguir as recomendações da Todo ser é educável. Todas as crianças devem
educação inclusiva mundial no sentido de que ser educadas” (VYGOTSKY, apud, LIMA, 2006).
todas as escolas estivassem preparadas para Nesse mesmo sentido, Chalita (2001, p. 102),
receber todos os alunos, inclusive os que afirma que:
apresentassem algum tipo de deficiência, A constituição de 1988 assegura igualdade
recomendações essas, que foram resultados de condições e a permanência na escola,
das discussões no encontro mundial de liberdade de aprender; ensinar; pesquisar e
Salamanca na Espanha em 1994, encontro que divulgar toda a produção artística, intelectual;
deu origem à Declaração de Salamanca(1994), valorização da autonomia e da participação
na qual o Brasil estava representado. Outro popular; a consagração do princípio de um país
grande avanço nesta década foi a promulgação plural que convive com todo o tipo de cultura e
da LDBEN 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da manifestação popular. Sem medo de ser
Educação Nacional, vigente até hoje. diferente com orgulho de suas diferentes
peculiaridades culturais.
INCLUSÃO ESCOLAR Dentro dos propósitos de educação escolar
para todos, cabe destacar alguns aspectos
Nessas últimas décadas a educação vem
relevantes para a democratização do processo
sendo repensada no sentido de atender
educacional.
integralmente os educandos,
independentemente de suas diferenças. Assim Primeiramente a escola precisa transformar-
estabelece a LDBEN/9394/96 – Lei de Diretrizes se para comprometer-se com a inclusão escolar
das pessoas com deficiência e ou dificuldades
e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 2006),
de aprendizado, pois esse comprometimento é
por meio do seu Capitulo V, concordando com
a nossa Constituição Federal de 1988, criando a inadiável e indispensável para a garantia da
Educação Especial que destaca medidas a cidadania dessas pessoas, independentemente
serem tomadas pelas escolas visando a da presença ou não da mesma, a escola precisa
importância e urgência de promover uma adequar-se e transformar-se tanto em sua
educação mais igualitária, assegurando a estrutura física como pedagógica a fim de
receber a todos que dela necessitarem,
educação como direito de todos por meio dos
removendo toda e qualquer parceria que se
sistemas de educação federais, estaduais,
municipais e a rede particular de ensino. imponha a esse fim já está deve ser um espaço
exemplar de aceitação as diferenças de
Nessa perspectiva, a legislação determina
solidariedade, formação de pessoas mais
que todos os indivíduos tenham direito ao
humanas, tolerantes, conscientes e abertas à
acesso a educação de qualidade,
preferencialmente na rede regular de ensino,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

construção de uma sociedade que vise o bem criar, opinar sobre sua própria vida em
comum a todos os que nela estão inseridos. determinados problemas.
Diante de todas essas perspectivas e outras Nos dias hodiernos ainda é necessário muita
existentes, para alguns não passam de uma luta contra a exclusão de uma minoria sem
utopia de uns poucos que sonham em tornar direito ao letramento e sua participação efetiva
esse mundo mais acolhedor para todos, na sociedade de forma geral, podemos ressaltar
observamos que nosso sistema educacional que ainda vivemos o momento da inclusão, na
está aberto para novas mudanças. qual temos a presença de alguns alunos na
Partindo dessas ideias foi desenvolvido esse escola regular, respaldada pela constituição e,
projeto com a temática: A Inclusão do cego na de seus direitos pôr uma educação justa,
escola regular; com o objetivo de identificar os igualitária e inclusiva, mas para que tenhamos
problemas vivenciados não só pelo próprio sucesso é preciso que não só o aluno busque
cego, mas também pelo corpo docente da sua inclusão, mas que todos nós abramos
escola regular e a todos envolvidos com a espaços para a inclusão do mesmo, viabilizando
inclusão, favorecendo mecanismo para autonomia do professor em buscar capacitação
desenvolver uma educação para todos e com para atender essa clientela, desarmando essa
qualidade, por meio de metodologias e técnicas ideia de reclusão, claro que só isso não basta,
de ensino dinamizadas para desenvolver uma deve haver uma sociedade para uma inclusão
educação para o cego sentir - se mais envolvido responsável, cabe também ao governo oferecer
durante a sua atuação em sala de aula, suporte, capacitação, salas de atendimento
facilitando para o professor o conhecimento educacional especializado,
sobre as reais limitações e dificuldades que o Portanto a educação inclusiva tem
cego enfrenta na sua vida pessoal, social e importante papel na vida da pessoa com
escolar, na qual todas essas informações, deficiência, o aluno, sujeito processo
conceitos vem somar ideias, conhecimentos, pedagógico deverá ser olhado em suas
para esclarecer algumas dúvidas em que as múltiplas possibilidades e limitações. Para
pessoas sem deficiências tem em relação a atender ás exigências desse alunado, o docente
pessoa com deficiência tem em relação a deve ser formado em dimensões plurais e
pessoa com deficiência visual oportunizando a abrangentes: ética, estética, reflexiva, crítica,
todos no contexto escolar a quebra de técnica e cientifica.
paradigma e a interação entre ambos. Para Machado (2006):
Contudo, sabe-se que a sociedade está A formação continuada, entendida como
mudando os conceitos em relação às pessoas dimensão, parte do princípio de que se o
com deficiências que eram tratados como professor se considera formado, ele perde a
animais, endemoniados, submetidos a possibilidade de continuar pesquisando e
humilhações pôr parte de seus familiares e da questionando sua área de conhecimento. Será
sociedade, viviam enclausurados sem direito de um profissional desatualizado, superado, sem
cuidados, dignidade, sendo impossibilitado de condições de dialogar com o seu campo de
atuação. Essa dimensão indica a necessidade de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o professor persistir, continuar estudando, se VYGOTSKY E A DEFICIÊNCIA


formando (MACHADO, 2006, p. 283).
A formação continuada teria, pois, como VISUAL
principal função, mobilizar os professores para A questão da educação de pessoas com
essa necessidade de busca de conhecimento deficiência visual constitui uma preocupação
contínuo para que possa estar sempre se recorrente de (Vygotsky, 1997), como naqueles
atualizando e adquirindo conhecimentos em em que se dedica especificamente ao problema
diversas áreas, principalmente relacionada a do desenvolvimento psicológico na presença da
pessoas com necessidades especiais que está cegueira. Ao revisar as perspectivas teóricas de
sendo uma das problemáticas enfrentadas pela seu tempo sobre o desenvolvimento e
sociedade contemporânea. educação de cegos, Vygotsky(1997), nega a
noção de compensação biológica do tato e da
audição em função da cegueira e coloca o
O CONCEITO DE DEFICIÊNCIA processo de social centrado na capacidade da
VISUAL linguagem de superar as limitações produzidas
A deficiência visual inclui dois grupos de pela impossibilidade de acesso direito à
condição visual: cegueira e visão subnormal. experiência visual.
Para fins educacionais e de reabilitação são O princípio de mediação semiótica do
utilizados os seguintes conceitos da Fundação funcionamento psíquico já ampara esse
Dorina Nowill para cegos-FDNC (2000): pressuposto, pois sustenta que a partir da inter-
Cegueira: ausência total de visão até a perda subjetividade o acesso à realidade se realiza por
da capacidade de indicar projeção de luz. meio da significação e pela mediação do outro
Visão subnormal: condição de visão que vai (GÓES, 1995, p.32).
desde a capacidade de indicar projeção de luz A propriedade da linguagem de conferir à
até a redução da acuidade visual ao grau que realidade uma existência simbólica é nesse caso
exige atendimento especializado. elevado à sua máxima potência. É questionável,
Ou seja, a cegueira uma condição visual em na deficiência visual de que 80% de nosso
que a pessoa perde toda a capacidade da conhecimento não e mero produto dos órgãos
habilidade de projetar cores, distinguir o claro sensoriais, embora estes possibilitem vias de
do escuro e qualquer sensibilidade a projeção acesso ao mundo. O conhecimento resulta de
de qualquer símbolo que seja relativo a um processo de apropriação que se realiza nas
contrastes. pelas relações sociais.
Já a visão subnormal os limites variam com De acordo com a concepção de Vygotsky
outros fatores, tais como visão cromática, (1997, p. 230):
adaptação ao claro e escuro, sensibilidades a O pensamento coletivo é a fonte principal da
contrastes. compensação das consequências da cegueira.
Trabalhando o pensamento coletivo,
eliminamos as consequências secundarias da
cegueira, rompemos em certo ponto, todas as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cadeias em torno em torno do defeito e pelo entendimento de sua deficiência básica:


eliminamos a própria causa do ajuste uma limitação perceptiva. As pessoas cegas são
incompleto das funciones psíquicas superiores portadoras de uma deficiência sensorial, a
em uma criança cega [...]. ausência de visão, que as limita em suas
Nesse sentido, as limitações ficam possibilidades apreensão do mundo dos
reservadas, para Vygotsky (1997), ao aspecto objetos, pessoas e coisas que as cercam.
da mobilidade e orientação espacial, visto que Como a visão domina praticamente todos os
os processos referentes ao desenvolvimento do estágios iniciais da aprendizagem, que
psiquismo, como a elaboração dos conceitos, constituem a base para muitos dos processos
ficam preservados e, inclusive, atuam na intelectuais superiores, torna-se necessários
superação das dificuldades secundárias à fornecer-lhes uma programação sistemática de
cegueira. experiência, dando ênfase à aprendizagem
concreta e à autoaprendizagem. Do ponto de
O DEFICIENTE VISUAL: BAIXA vista médico e educacional, os deficientes
visuais constituem um grupo de um conjunto
VISÃO E CEGUEIRA NA ESCOLA maior de indivíduos possuidores de problemas
REGULAR no órgão da visão, que vai desde a cegueira
A visão é considerada o mais importante total até a baixa visão, pessoas com acuidade
canal de relacionamento do indivíduo com o visual de 5 a 30% no melhor olho, após correção
mundo exterior. A cegueira, a mais limitante óptica.
das incapacidades físicas, foi sempre tratada, Independentemente do grau de perda da
por meio dos séculos, com medo, superstição e visão e da capacidade individual de cada um de
ignorância. As pessoas, de um modo geral, adaptação a essa perda da visão é aceito por
consideram o cego como sendo todos que a ação educativa dirigida a crianças
extraordinariamente incapacitado fisicamente, com aplicação de estratégias e técnicas
mas possuidor de dons sobrenaturais e de específicas, bem como, apoio e com a ajuda do
percepções extra-sensoriais; são conceitos que, professor itinerante.
por transmissão cultural, inexperiência e falta Segundo Martins (2003, p.269):
de conhecimento das reais possibilidades e Será preciso, pois que o aluno disponha de
capacidade da pessoa da deficiente visual, se todos os recursos necessários, para ter acesso
acham perpetuados e dominam a imaginação ao currículo comum, já que as dificuldades dos
do povo. alunos DV não está relacionada aos conteúdos
Rego (1995, p. 111), estudando a que devem ser adquiridos, mas nos meios com
contribuição de Vygotsky (1987), representa os quais conta o sistema educativo para ensiná-
uma de suas falas “as novas teorias não lo, podendo ocorrer o paradoxo de ter o aluno
valorizam a cegueira em si nem o defeito, mas integrado fisicamente na sala de aula, mas
a força contida nela, as fontes de superação nos carecendo de integração educativa
estímulos para o desenvolvimento do ser”. A propriamente dita.
compreensão dos sujeitos cegos deve iniciar-se

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A simples inclusão de alunos com atividades implementadas serão dentro de uma


deficiências em sala de aula no ensino regular abordagem empírica por meio de estudos
não resulta em benefícios de aprendizagem o teóricos, observação, e questionários com
ambiente deve proporcionar experiências e percentuais apresentados em gráficos.
apoio educacionais adequadas. Quando isto Autores como Berviam & da Silva (2007, p.
acontece, a inclusão funciona para todos os 60), enfatizam, mas claramente sobre essa
alunos com ou sem deficiências, em termos de abordagem de pesquisa, ou seja:
atitudes positivas, mutuamente desenvolvidas, A pesquisa bibliográfica procura explicar um
de ganhos nas habilidades educacionais e problema a partir de referências teóricas
sociais e de preparação para a vida na publicado em artigo, livros, dissertações e
comunidade. teses. Pode ser realizada independentemente
O aluno com deficiência visual, quando não ou como parte da pesquisa descritiva ou
possui um comprometimento associado, tem experimental. Em ambos os casos, busca-se
normalmente, uma excelente memória auditiva conhecer e analisar as contribuições culturais
e um alto nível de apreensão de informações ou cientificas do passado sobre determinado
transmitidas pelas emoções da voz. Por isso assunto, tema ou problema.
utilizam gravações em k7, CD softwares, dentre Ou seja, com a pesquisa bibliográfica buscou-
outros como, reglete, soroban, impressora se, por meio de fontes variadas (revistas,
braile, na educação, cultura e lazer. O grande jornais, artigos, livros) subsídios satisfatórios,
avanço tecnológico verificado nos últimos anos para coletar informações gerais ou específicas a
vem proporcionando, também a educação respeito de certo tema. Este tipo de pesquisa é
especial, recursos valiosos para o processo de grande relevância para a produção de
ensino- aprendizagem, inclusive com a qualquer trabalho científico, pois pode dar
utilização de equipamentos de informática. norteamentos, por meio de teorias para a
É garantido serviço de apoio especializado narealização do trabalho em desenvolvimento.
escola regular, para atender ao aluno com Já em relação à pesquisa de campo, Prestes
deficiência, conforme determina o § 1º do (2003, p. 27), afirma que é uma “pesquisa de
artigo 58 da lei Federal nº 9394/ 96, o poder caráter exploratório é aquela que o
público, havendo necessidade, é obrigado a pesquisador, por meio de questionários,
equipar a escola, visando ao atendimento eficaz entrevistas, protocolos verbais, observações,
da pessoa com deficiência. etc. Coleta seus dados investigando os
pesquisadores no seu meio.” Refere-se a uma
METODOLOGIA fonte de informações, que o pesquisador utiliza
de caráter exploratório para analisar o dia-a-dia
O referido Artigo Monográfico foi
do deficiente auditivo na escola regular, visto
desenvolvido em escolas municipais regulares
que é fundamental a inclusão destes.
da cidade de Caxias-MA, com professores do
ensino fundamental maior do 6º ano com a
finalidade de averiguar se está havendo de fato
a inclusão nas escolas pesquisadas. As

444
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

1.1 Questionário aplicado aos professores Gráfico II: O que você acha da Inclusão de
de escolas regulares da cidade de Caxias-MA pessoas com deficiência visual na sua escola?

Fonte: Escolas públicas municipais de Caxias-MA


Relacionada à pergunta sobre a
permanência de pessoas com deficiência visual
no ensino regular a maioria dos docentes
afirmaram que há uma ineficácia relacionada
ao ensino a esse público, pois o sistema
Fonte: Escolas públicas municipais de Caxias-MA educacional não dá subsídios para que haja
A princípio foi de grande relevância que se uma inclusão plena, então 60% dos professores
fizesse um diálogo com os com todos os relataram que a educação inclusiva em escolas
envolvidos na pesquisa para destacar o tipo de regulares não atende as expectativas
abordagem a ser desenvolvida, então foi esperadas, 20% acham essa inclusão necessária
aplicado o questionário aos alunos e e 20 restantes tem a mesma como relevante.
professores. As perguntas eram diferenciadas Gráfico III: Cite alguns benefícios do ensino
de acordo com o nível. As respostas foram inclusivo na sua escola.
colocadas em lacunas para que se pudesse
apresentar os percentuais nos gráficos.
Gráfico I: Para você o que é Inclusão?
O que se pode observar no gráfico é uma
variedade de respostas no que se diz respeito à
inclusão social, pois em sua maioria os
professores optaram pela alternativa “É estar
no meio social” que soma 35%, já 33%
acreditam que é importante que a pessoa com
deficiência seja reconhecida como gente, 32%
que o deficiente seja respeitado e 10% deram
outras respostas.
Fonte: Escolas públicas municipais de Caxias-MA

445
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Nesse questionamento grande parte dos


professores, atingindo 30% responderam o
maior benefício da inclusão é a igualdade, pois
a pessoa com deficiência não é diferente dos
demais, 30% disseram que o espeito é o maior
benefício do processo de inclusão e 10% que é
um ato de solidariedade.

Gráfico IV: Qual o tipo de deficiência tem o


seu aluno?

Fonte: Escolas públicas municipais de Caxias-MA


Como se vê no gráfico V, há quase uma
unanimidade em relação a pergunta, pois a
maioria dos educadores, 80% disseram que
suas metodologias são inclusivas e que chamam
a atenção de todos os que estão em sala de
aula, porém 20% expuseram que ainda não
estão conseguindo colocar aulas para esse
público, pois a escola, além de não dar cursos
para habilitá-los, não dispõe de materiais
satisfatórios para abranger todos os públicos, e
os 20% restantes afirmaram que vez ou outra
Fonte: Escolas públicas municipais de Caxias-MA conseguem materiais que para integrar a todos.
Gráfico VI: Você acha que a pessoa com
Os resultados obtidos foram os seguintes: deficiência visual tem capacidade de aprender
45% dos alunos são deficientes visuais, 45% na escola regular, juntamente com alunos com
deficientes auditivos e a minoria que soma 10 deficiência?
responderam que seus alunos têm outros tipos
de deficiências.

Gráfico V: Você aplica metodologias que


abranjam tanto os alunos deficientes quanto os
“normais”?

Fonte: Escolas públicas municipais de Caxias-MA

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

90% dos professores responderam que a


pessoa com deficiência possui habilidades até
maiores que muitos alunos da escola regular,
no entanto, somente haverá a inclusão se o
sistema educacional colaborar, mas esses
alunos têm potencial para estarem integrando
o sistema regular de ensino, já os 20% não
acreditam em uma educação inclusiva plena,
afirmando que muito se cobra e pouco se faz.

Gráfico VII: O que é comprometimento social


para você?

Fonte: Escolas públicas municipais de Caxias-MA

As respostas obtidas neste questionamento


foram as seguintes: 80% acreditam que
comprometimento social é um processo de
integração, visto que as pessoas com
deficiência sentem-se excluídas e muitas vezes
deprimidas por sentirem-se inferiores aos
demais, 10% acham que incluir é respeitar a
realidade e 10% dar oportunidades.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da pesquisa realizada nas escolas regulares de Caxias – MA, pode-se afirmar que os
ainda não se tem uma responsabilidade social no que diz respeito aos deficientes visuais, pois se
cobra muito no sistema educacional e não se oferecem subsídios satisfatórios e necessários para
acolher esse público que ainda não sentem-se a vontade em sala de aula.
O ideal é que se elabore projetos para viabilizarem uma melhoria no que diz respeito a
esses indivíduos que integram uma pequena escala do processo ensino-aprendizagem, porém,
torna-se necessário o acompanhamento de profissionais aptos a lidarem com essas pessoas, pois
mesmo que os docentes queiram favorecer a troca de experiências entre ouvintes e surdos, pela
falta de qualificação não conseguem ter uma comunicação produtiva.
O educador deve avaliar e auto avaliar-se, para fornecer um ensino melhor, caso contrário
não terá inclusão e tampouco o ato de se comunicar com os deficientes auditivos.
Para tanto, a integração do aluno cego no contexto escolar não acontece de forma
aleatória e rápida. É uma conquista que tem que ser feita com muito estudo, com a participação
efetiva da família e uma equipe multidisciplinar como: aluno surdo,, Psicólogos, Fonoaudiólogos,
Assistentes Sociais, alunos ouvintes e demais membros da escola, em todos os meios sociais,
favorecendo instrumentos para auxiliar o deficiente visual, como também os profissionais da
área.
O presente artigo não é de caráter conclusivo, mas poderá servir como suporte para
estudos futuros sobre a inclusão de alunos cegos no processo ensino-aprendizagem nas escolas
regulares, que ainda está sendo conduzida de maneira bem tímida, mas se houver uma
integração de todos nessa causa, a educação inclusiva acontecerá de forma efetiva.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.º 9.394 de 20 de dezembro
de 1996.

BERVIAN, P. A.; CERVO, A. L. Metodologia cientifica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2007.

CHALITA Gabriel. Educação: A solução está no afeto. 1º edição São Paulo: Editora Gente;
2001.

GÓES M. C. R. (1995). A construção de conhecimentos: examinando o papel do outro nos


processos de significação. Temas de Psicologia. Campinas: Papirus.

MACHADO, N. J. Educação: Projetos e Valores. São Paulo: escrituras Editora, 2006.

MARTINS, Manuel Bueno. Deficiência Visual: Aspectos Psicoevolutivos e Educativos. São


Paulo: Santos, 2003.

PRESTES, M. L. M. A pesquisa e a construção do conhecimento científico: do planejamento


aos textos, da escola à academia. 2. Ed. ver. Atual e ampl. São Paulo: Rêspel, 2003.

REGO, T.C. Vygotsky: Uma perspectiva histórico cultural na educação. Petrópolis: vozes,
1995.

TESSARO, Nilza Sanches. Inclusão escolar: concepções de professores e alunos da educação


regular e especial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

VYGOTSKY L.S. (1997e). La coletividade com fator de desarrolodel niño deficiente. Em L.S.
Vygotsky, obras escogidas v: fundamentos de defectología ( p.p 73 – 97). Madrid: visor.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A INCLUSÃO POR MEIO DE BRINCADEIRAS E


BRINQUEDOS
Debora Cristina Silva Pinheiro 1

RESUMO: Este artigo visa apresentar a importância da inclusão por meio das brincadeiras e
brinquedos para o desenvolvimento da criança, bem como destacar a importância da interação
como uma ponte para a inclusão, pois as crianças ao brincar não valorizam as diferenças, apenas
se divertem sem avaliar habilidade ou competência dos demais. Deste modo foram realizadas
pesquisas de diversos autores que versam sobre a temática. Objetivamos ampliar a visão do
processo de inclusão no Brasil, destacando os avanços, enfatizando a importância das
brincadeiras para as crianças independentes de suas características físicas ou mentais, levando
em consideração que a criança está em constante aprendizado, por isso a utilização do lúdico para
o aprendizado das crianças, sempre com ações que levem em consideração sua faixa etária e
nível de desenvolvimentos. Por fim o trabalho apresenta as características de alguns brinquedos
que ampliam os desenvolvimentos das crianças com diversas deficiências.

Palavras-Chave: Inclusão; Brincadeiras; Brinquedos.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
Email: deborazinha.pinheiro@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO qualificação dos profissionais no sentido de


buscar conhecimento para atender as pessoas
O presente artigo apresenta a inclusão por com as condição necessárias. No segundo
meio das brincadeiras e dos brinquedos, capitulo destaca as brincadeiras e brinquedos
enfatizando que todas as pessoas têm o direito enfatizando sua importância para crianças e
de brincar, independentemente de suas que por meio delas podem ocorrer muitos
características físicas ou mentais. Portando é avanços para o seu desenvolvimento, tanto nas
necessário levar em consideração alguns áreas afetivas como na cognitiva e na social.
aspectos como: Será se todas as crianças E por fim os brinquedos como recursos para
sempre tiveram as mesmas oportunidades trabalhar com as crianças especiais as crianças
educacionais? E possível utilizar brinquedos e com deficiências necessitam de maiores
brincadeiras para inclusão? Quais as cuidados e estímulos para desenvolver suas
características dos brinquedos ajustados para potencialidades.
cada tipo de deficiência? Pensando nessas
questões as brincadeiras tem um importante
HISTÓRICO DO SURGIMENTO
papel para inclusão, pois todas as crianças tem
algo em comum, que é o brincar, uma DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO
importante ferramenta para inclusão, pois ao BRASIL
brincar as crianças não valorizam as diferenças De acordo com Morais (2015), o surgimento
apenas se divertem sem avaliar habilidade ou da educação especial no Brasil se deu por volta
competência dos demais. do século XIX, com a criação da primeira
Objetivamos destacar o processo da inclusão instituição para pessoas deficientes visuais e
no Brasil, ressaltado as lutas e conquistas, auditivas que funcionava como um internato,
também enfatizando que a verdadeira inclusão, além dessa instituição, foi criado também a o
que não é necessário apenas de seguir as leis Instituto dos meninos cegos e o Instituto
que garante os direitos para crianças especiais, Nacional dos surdos ambos no Rio de janeiro.
mas também precisa haver mudança de No entanto essas instituições não foram
atitudes. Apresentar a importância das suficientes para suprir as necessidades
brincadeiras dos brinquedos como uma presente para aquele contexto social, pois de
oportunidade de interação. Descrever acordo com Morais (2015, p.2), “a criação de
utilização dos brinquedos como recursos no instituto ainda era muito precário
desenvolvimento integral das crianças. nacionalmente, devido ao grande número de
Apresentamos o histórico do surgimento da pessoas cegas e surdas”
educação inclusiva no Brasil, pontuando todo o Em decorrência as lutas surgiram às
processo para criação de leis que garantissem primeiras leis relacionadas a essa modalidade
essa modalidade de educação, destacando que de ensino na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
já realizaram muitas conquistas, no entanto Educação Nacional) nº 4.024/61, que apresenta
muitas coisas ainda necessita melhorar tanto a educação das pessoas com deficiência deve
nas estruturas físicas das escolas, quanto na enquadrar-se no sistema geral de ensino. Em

451
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

1971 na LDB 5.692/71 destaca deve haver um além de propor uma educação elaborada para
tratamento especial para os alunos com a pessoa com deficiência, também orienta as
deficiência física, mental e para superdotados. escolas a se adequar nas questões relacionadas
Na constituição de 1988 também aborda o a a estruturas físicas. A LDB de 1996 (Lei de
inclusão de pessoas com deficiências na rede Diretrizes e Base e Nacional) 9394/96, também
regular de ensino, lhes assegurado o direito a da bastante ênfase a educação especial
educação da mesma forma para todos os dedicando um capítulo inteiro tratando a esse
cidadãos. Embora todas essas leis surgiram em respeito.
benefício das pessoas com deficiência ainda Coelho (2010), destaca que quando
não foram o suficiente para garantir o pensamos em uma educação inclusiva é
atendimento necessária pensar nos alunos em todos os
Apenas em 1990, na Conferência da aspectos, e propor adaptação aos diferentes
Educação Mundial da UNESCO, Declaração ritmos de aprendizagem, bem como buscar
Mundial de Educação para todos em que o diferentes recursos para ensinar. Sendo assim a
Brasil aceitou o compromisso que foi autora afirma.
reafirmado em 1994 da Declaração de A educação inclusiva, não se resume na
Salamanca, nas questões que diz respeito à simples observância mecânica da lei, antes
educação especial. Nesse contexto a autora requer uma mudança de postura, de percepção
afirma: e concepção dos sistemas educacionais. As
A declaração de Salamanca defende que modificações necessárias devem abranger
todos os alunos precisam estar na escola e atitudes, perspectivas, organização e ações de
precisam ser respeitado em seus ritmos de operacionalização do trabalho educacional. Os
aprendizagem, apresentado deficiência ou não. educadores que se compromete com tais
Ela valoriza o trabalho escolar e as relações requisitos são capazes de transforma as salas
estabelecidas entre os alunos. Discute sobre de aula em espaços prazerosos (COELHO, 2010,
atenção educacional que deve ser prestada aos p.15;16).
alunos com necessidades educativas especiais, Em virtude disso essa modalidade de
enfatizando que todas as crianças, educação não trata de seguir somente de lei,
independentes de características, têm direito à mas também de mudança de atitudes, sendo
educação. E devem ser reconhecidas as suas assim as brincadeiras e brinquedos são
necessidades para a promoção de sua ferramentas importantes para a construção do
aprendizagem. Sugere que todos precisam conhecimento e para o desenvolvimento da
estar na escola, tendo ou não deficiência, a criança em todos os aspectos. Além de
escola precisa tomar uma atitude para bem promover a inclusão.
receber esses alunos, sendo que uma delas é
construir adaptações estruturais assim como
curriculares (MORAIS, 2015, p.3).
A Declaração de Salamanca (1994), foi um
dos grandes avanços da educação especial, pois

452
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A IMPORTÂNCIA DAS desenvolver os sentidos, proporciona a


reconhece os brinquedos e suas característica,
BRINCADEIRAS E DOS brincando ela interage, além de desenvolve
BRINQUEDOS PARA INCLUSÃO auto–estimas e a afetividade, sendo assim
As brincadeiras são de grande ajuda também adquirir novos conceitos de
importância para crianças, pois por meio delas forma prazerosa .
podem ocorrer muitos avanços para o seu Nesse sentido a autora destaca que:
desenvolvimento, tanto nas áreas afetivas As crianças precisam brincar,
como na cognitiva e na social, além viabilizar o independentemente de suas condições físicas,
desenvolvimento motor, também amplia a intelectuais ou social, pois a brincadeira é
interação social, pois ao brincar as crianças se essencial a sua vida. O brincar alegra e motiva
expressam com mais facilidades, permitindo as crianças, ajuntando-as e dando-lhes
que demonstre seus sentimentos, medos e oportunidade de ficar felizes, trocar
fantasias de modo simbólico. experiências, ajudarem-se mutuamente; as que
Segundo Morais (2015), as brincadeiras para enxergam e as que não enxergam, as que
as crianças representam sua realidade de forma escutam e as que não escutam, as que correm
prazerosa, demonstra que pertence a um grupo muito depressa e as que não correr(SIAULYS,
social, pois utiliza- se trocas de papeis, para 2006, p.9).
vivenciar diversas situações. Nesse contexto a As brincadeiras são de grande importância
autora afirma que: para todas as crianças, no entanto quando
com a brincadeira a criança descobre e pensamos em crianças com necessidades
vivencia a realidade de forma prazerosa. especiais, a brincar assume um papel ainda
Experimenta diferentes maneiras e situações mais importante, pois contribuem de forma
tenta compreender, fazendo, refazendo, significativa para reabilitação e ainda e
trocando de papéis. Brincado aprende. No faz proporciona mecanismo adaptativo e promove
de conta, vive no mundo concretamente, pois a inclusão por meio da interação, pois elas
confere aos brinquedos sentimentos reais de oportunizam que as crianças aprendam a
amor e agressão (MORAIS,2015, p.3; 4). brincar com as outras crianças.
O ato de brincar permite que as crianças De acordo com Silva (2011), ao se falar em
relacionem com maior facilidade, pois elas brincadeira, logo nos da ideia o que será
possibilitam respeitar os demais e si mesmo, utilizada para esse fim, ou seja, qual será o
bem como, ouvir e falar sua opinião, concorda objeto utilizado para brincar. O brinquedo pode
e discordar, com isso elas vão aos pouco, ser qualquer objeto que a criança manipula
compartilhando e construídos suas emoções e durante a brincadeira, além dos mais
aceitando as dos demais. convencionais como: bola, boneca, cavalo de
Siaulys (2006), destaca que por meio das pau, entre outros, porém na imaginação da
brincadeiras as crianças conhecer seu próprio criança tudo pode se torna um brinquedo,
corpo, compreender e identificar cores, como cabo de vassoura se torna um cavalo, ou
desperta a vontade de movimentar-se e ainda um prato um chapéu, os brinquedos são

453
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

objetos variados utilizados pelas crianças como utilizam da sua imaginação para reproduzir o
instrumentos de grandes descobertas do eu. objetos do mundo dos adultos e seu
Deste modo entende-se que: comportamento, desta forma elas preparam a
O brinquedo é parte indissociável do brincar comida, utilizando qualquer objetos que os
da criança, um produto cultural, objeto associa com panelas, dirigem, atendem
reconhecido por adultos e crianças como pacientes, portanto e no brinquedo que as
brinquedo, que, independente de estar sendo criança realiza a sua imaginação do mundo que
utilizado como “instrumento do brincar”, não o cerca. Desta forma o autor afirma:
perderia seu estatuto de brinquedo (SILVA, Ao brincar e criar uma situação imaginária, a
2011, p.167). criança pode assumir diferentes papéis: ela
Os brinquedos são objetos que auxilia as pode se tornar um adulto, outra criança, um
crianças a fazerem a leitura de mundo, pois o animal, ou um herói televisivo; ela pode mudar
mesmo na mão da criança podem ser o que elas o seu comportamento e agir e se comportar
decidirem ser, o que elas quiserem com isso a como se ela fosse mais velho do que realmente
imaginação da criança corre solta. é, pois ao representar o papel de “mãe”, ela irá
Sendo assim, eles não necessariamente seguir as regras de comportamento maternal,
devem ser o mais caro, ou mais lindo, ou o porque agora ela pode ser a “mãe”, e ela
melhor, mas o que atraia a criança e que a procura agir como uma mãe age (PEDROSO,
desafia e lhe proporciona descoberta, e deve 2008.p.16).
ser levada e consideração sua faixa etária e seu Neste contexto o brinquedo são ferramentas
desenvolvimento deste modo. que as crianças usem sua imaginação, que vai
O brinquedo deve estimular a criatividade e além do seu comportamento comum, pois
a imaginação, o mais importante é que muitas utilizam diversos objetos para que represente a
vezes isto pode ser feito com pequenos objetos realidade ao seu redor, além de usar a
como um pregador que se transforma em um imaginação, para trocar papeis, como sendo
avião ou um pedaço de pau que vira uma pai, mão, filho, entre outros com isso a criança
espada. O brinquedo que pode ser utilizado de desafia seu corpo e a imaginação, e isso as
várias maneiras é um convite à exploração e a possibilita a criatividade.
criatividade (SILVA, apud, ALMEIDA, 2012, s.p.) O brinquedo é oportunidade de
O brinquedo facilita a ampliar a imaginação desenvolvimento, por meio dele a criança
das crianças, o faz de conta, a fantasia, tem um aprende, inventa, gera autonomia, é um
papel importante no seu desenvolvimento e na momento de auto expressão e auto- realização,
idade escolar, em que a imaginação é em com isso ocorre a inclusão, pois ao brincar
constante, é responsabilidade da educação as crianças não valorizam as diferenças apenas
usar o brinquedo como objeto de interação, se divertem sem avaliar habilidade ou
companheirismo, amizade, respeito. competência dos demais.
De acordo com Pedroso(2008), afirma que
quando as crianças brincam elas agem não
apenas como criança, elas também querem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OS BRINQUEDOS COMO Deficiência auditiva: As crianças com essa


deficiência, geralmente aprende a comunicar,
RECURSOS PARA TRABALHAR por meios das brincadeiras.
COM AS CRIANÇAS ESPECIAIS • Brinquedos: Podem ser os mesmos
De acordo com Velasco (1996), as crianças oferecidos a qualquer criança, além de
com deficiências necessitam de maiores brinquedos com acompanhamentos sonoros e
cuidados e estímulos para desenvolver suas vibrações, luzes e movimentos
potencialidades, ainda é necessário Deficiência Mental: possuem dificuldades de
conhecimento teórico a respeito das abstração e assimilação e concentração.
especificidades de cada crianças, para que • Brinquedos: As escolhas podem variar
possam auxiliar de forma significativa na conforme o grau de comprometimento, mas
aquisição do conhecimento e estímulo geralmente elas brincam com brinquedos de
necessário. peças fácies de encaixar e de grandes
Segundo Gabaldón (2015), os brinquedos estruturas e gostam sempre com o mesmo
comuns podem ser utilizados por crianças com brinquedo que já sabe como funciona, pois elas
deficiências, deverão apresentar as seguintes na maioria das vezes desistem com muita
características: facilidade, pois apresentam medo do novo.
serem inquebráveis; não exibir extremidades
aguçadas; terem cores vivas; serem agradáveis Segundo Santos (2015), é nas brincadeiras
ao toque; apresentarem diferentes texturas; se que as crianças promovem a inclusão, pois ela
possível, emitir sons. possibilita as crianças a criar uma autonomia
A utilização de brinquedos como recursos para as pequenas atividades diárias.
para estimulação e aprendizagem é necessário Através do brincar, é possível ensinar coisas
levar em considerações alguns aspectos como essenciais para vida diária de uma criança com
idade mental, cronológicas e gosto das crianças necessidades especiais, atravessar uma rua,
para que as atividades realizadas corram de comer alimentos saudáveis, higiene pessoal,
forma prazerosa. Nesse sentido a autora sendo estes essenciais para um dia a dia
descreve algumas deficiências e enfatizando as independente, podendo realizar pequenas
características de alguns dos brinquedos que tarefas sem nenhuma ou com pouca ajuda
importantes para a estimulação. (SANTOS, 2015. p.6).
Deficiente visual: É necessário estimular a Diante do desafio que a inclusão traz, é
crianças cega a interagir com os abjetos para necessário que os profissionais busquem
que percebam o que são capazes de realizar. sempre recursos para utiliza-se dos mesmos,
• Brinquedos: É importante que os pois nem sempre irá conseguir respostas por
brinquedos tenham efeitos sonoros, e que meio de livros e de manual, porque as vezes e
tenha texturas fácies de identificar por meio do necessário conhecer a crianças para buscar
tato. diferentes tipos de abordagem, para que o
desenvolvimento ocorram de forma
significativa.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo proporcionou uma melhor compreensão a respeito do processo de inclusão
no Brasil, as dificuldade e lutas enfrentadas e longo processo para implantação de leis que
garantissem não só integração e permanecia da criança, Discute sobre atenção educacional que
deve ser prestada aos alunos com necessidades educativas especiais, enfatizando que todas as
crianças, independentes de características, têm direito a educação,bem as mudanças estruturais
e curriculares.
Nessa perspectiva o brincar está associado ao processo de inclusão além de ser uma fonte
de entretenimento e interação social, também é uma atividade educativa, pois quando a criança
brinca ela usa a imaginação, interage com os demais socializando, desenvolvendo a fala o convívio
entre outras.
Ressaltamos também o papel dos brinquedos com recursos para trabalhar com crianças
especiais para a construção do conhecimento, por ser um meio eficiente de ensinar a criança,
como resolver problemas e ainda estimular o corpo e a mente, pois os brinquedos tem
características que auxiliam as crianças a se aproximarem do mundo de valores, habilidades.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação, Cultura e Esporte. Referenciais Curriculares Nacionais para
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A INFLUÊNCIA DA EMOÇÃO NO
APRENDIZADO: O CÉREBRO PRECISA SE
EMOCIONAR PARA APRENDER
Maísa Amaral Dietrich1

RESUMO: O presente artigo analisa a influência da emoção no aprendizado, sobre o cérebro


precisar se emocionar para aprender. Com base nessa temática estuda-se sobre os fundamentos
da neuropsicopedagogia e suas contribuições para a educação e aprendizagem. Sendo a
justificativa para esta pesquisa a pretensão de aumentar os conhecimentos sobre o tema para
aplicação posterior na vida prática. Ao estudar sobre a neuropsicopedagogia e sua contribuição
com a educação e aprendizagem, realizando estudos sobre o cérebro e com este se comporta
diante da emoção para aprender, percebe-se que esta está relacionada ao entendimento de que
os educadores são degraus necessários, que os aprendizes precisam escalar para alcançar seus
objetivos. Nesse sentido, os professores que estão preparados com o conhecimento do
funcionamento do cérebro terão o incentivo e a motivação para contribuir e aplicar suas
descobertas em sala de aula. Sendo correto afirmar ainda que os professores podem ajudar os
estudantes a desenvolver seu potencial cerebral, independentemente do seu desempenho
anterior. Por meio do estudo bibliográfico percebeu-se que temos as oportunidades, como
educadores para ajudar os estudantes a mudar seus cérebros e a inteligência. Dessa forma, o
trabalho se desenvolve de maneira estruturada na revisão bibliográfica, por meio de pesquisas
em diversos meios, como em livros, periódicos e artigos científicos e acadêmicos relacionados ao
tema.

1Professora de Educação Básica I na Rede Estadual de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: amaralfortes@yahoo.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Palavras-Chave: Neuropsicopedagogia Aprendizagem; Educação; Cérebro; Emoção.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO de educação, ou seja, inserir novas ideias e


novas metodologias de ensino que sejam
Ao pretender pesquisar sobre os capazes de obter a colaboração da neurociência
fundamentos da neuropsicopedagogia, é por meio dos processos existentes na
importante entender que, no decorrer da neuropsicopedagogia.
história humana houve avanços significativos Diante disso, é perceptível o enfoque da
em relação ao estudo da mente. Nesse campo, neuropsicopedagogia, no sentido de contribuir
a neurociências contribui com a psicopedagogia com novos caminhos a serem trilhados pela
nos processos de aprendizagem junto aos educação em seus diversos estágios, tanto com
educadores e profissionais que trabalham e se crianças em nível de ensino básico, quanto com
preocupam com os problemas relacionados à adultos em nível de docência. Sendo assim, é
dificuldade de aprender e a melhores formas de fato que o processo de aprendizagem é
absorção dos conteúdos as serem aprendidos. imprescindível na sociedade humana, de forma
Diante disso, objetiva-se analisar a influência que se desenvolve de maneira natural, desde os
da emoção no aprendizado por meio do estudo primórdios. Entretanto, a contribuição da
sobre o cérebro precisar se emocionar par neurociência e os estudos relacionados ao
aprender. Não podendo ser possível estudar a sistema nervoso central, envolve uma
respeito dessa questão, sem adentrar amplitude de ocorrências que passa pelo
especificamente no plano das neurociências. entendimento acerca das emoções,
Portanto, objetiva-se especificamente estudar pensamentos, comportamentos e movimentos.
a temática sobre os fundamentos da Sendo certo que por meio da neurociência,
neuropsicopedagogia e suas contribuições para aliada aos processos psicopedagógicos, é
a educação e processos de aprendizagem, com possível obter-se um enorme avanço em
o intuito de conhecer e compreender os direção à efetividade e eficácia na educação,
fundamentos da neuropsicopedagogia para a construindo uma sociedade mais justa e
educação, de forma a abordar as suas principais equitativa.
características e embasamentos na literatura a
respeito do tema.
DA NEUROPSICOPEDAGOGIA
Nesse sentido, pretende-se responder ao
problema de pesquisa que é entender quais são AO APRENDIZADO POR MEIO DA
as contribuições da neuropsicopedagogia para EMOÇÃO
o processo de aprendizagem na questão do
envolvimento da emoção no aprendizado do • Neurociência e sua interligação com a
cérebro humano. Desenvolve-se a pesquisa aprendizagem
tanto na esfera do aprendizado e as A neurociência, segundo o que se depreende
dificuldades inerentes a esse, como ocorre com das lições de Diniz, Daher e Silva (2008), estuda
as crianças com dificuldades de aprendizagem, como o sistema nervoso se comporta em
quanto na esfera da contribuição para determinadas situações e para tanto, seu
promover melhorias nos processos existentes objetivo final é a compreensão das diversas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

funções que integram o sistema, como por Seguindo-se nesse entendimento, percebe-
exemplo, as emoções, os pensamentos e os se que a complexidade e a constante
movimentos. transformação do sistema nervoso, permitem e
Sendo assim, antes mesmo de adentrar na fazem com que o ser humano seja único e crie
temática principal a respeito da aplicação da novas habilidades psicomotriciais, cognitivas e
neurociência na psicologia e psicopedagogia, é emocionais, ou seja, possa aprender ou mudar
de extrema relevância compreender, mesmo o processo de aprendizagem.
que minimamente, o que é, e como funcionam Em suma, o sistema nervoso central tem a
os processos. Sabe-se que o sistema nervoso responsabilidade de controle do corpo
humano é capaz de se modificar por meio de humano. Sendo este, constituído pelo encéfalo
estímulos relacionados ao ambiente(FONSECA, e pela medula espinhal. De acordo com Flor e
2014). Carvalho (2011), pode-se apreender que o
Esse processo é denominado pela ciência, encéfalo é constituído pelo cérebro, que é o
segundo afirma Consenza (2011), como a mais comumente lembrado por todos, mas
plasticidade do sistema nervoso. Isso se dá em também se compõe de outras partes, como o
virtude da formação de novos circuitos neurais, tálamo, hipotálamo, cerebelo entre outras
assim também como tem relação com a partes. Sendo que, o cérebro é uma espécie de
reconfiguração da árvore dentrítica e à central de controle do sistema nervoso e
alteração na atividade sináptica de um grupo de consequentemente do corpo humano.
neurônios. O aprendizado, segundo Consenza e Guerra
Ao se estudar sobre a neurociência e buscar (2011), está localizado na parte do lobo frontal
sua conceituação, depreende-se da lição de cuja é responsável pelo aprendizado e
Diniz; Daher e Silva, que o termo neurociências cognição. A pesquisadora Maluf (2005).
é o “conjunto de ciências fundamentais e defende que o processo de aprendizagem deve
clínicas que se ocupam da anatomia, da passar pelo entendimento acerca do estudo das
fisiologia e da patologia do sistema nervoso neurociências, pois um não existe sem o outro
(DINIZ; DAHER; SILVA, 2008, p. 154). e se complementam nas tentativas de entender
Dessa forma, Beauclair (2014), ainda ensina o porquê de muitas vezes as pessoas terem
que a neurociência pode ser descrita como dificuldades de aprender. A autora ensina ainda
sendo uma: que, o processo de aprendizagem não está
congregação multidisciplinar e sistêmica de apenas ligado ao fator biológico, cerebral e
conhecimentos, onde os avanços da cognitivo. Mas além disso, está ligado ao apoio
Neurologia, da Psicologia e da Biologia - familiar que fornece base social e emocional.
referentes aos estudos do cérebro - nos Dessa forma, é relevante mencionar-se o que
elucidam sobre os aspectos fisiológicos e ensina Relvas (2009), ao dizer que, de acordo
bioquímicos relacionados ao seu com várias pesquisas já realizadas na área de
funcionamento (BEAUCLAIR, 2014, p.24). neurociências, ficou evidenciado que o
processo de aprendizagem se perfaz por meio
da necessidade de que:

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dos professores que pretendem contribuir com


[...] ocorram modificações permanentes nas seus alunos no processo de aprendizagem, uma
sinapses das redes neurais de cada memória vez que entender os motivos que levam uma
[...] a aprendizagem e a memória necessitam de criança, adolescente ou mesmo um adulto a
mecanismos neuronais mediados pelas não conseguirem aprender é primordial para a
sinapses nervosas. [...] podem ser afetadas por educação dessas pessoas.
estímulos neuropsicológicos, eletrofisiológicos,
farmacológicos e genéticas molecular, que • Conceito e fundamentos da
determinam alterações nos circuitos cerebrais neuropsicopedagogia
[...] (RELVAS, 2009, p. 37). Ao se buscar conceituar determinada ciência
é relevante entender no que se aplica tal
Diante do exposto, é possível estabelecer conhecimento no mundo de fato. Dessa forma,
que a neurociências buscou-se aprimorar as pode-se pensar que a neuropsicopedagogia é
especialidades existentes e expandir-se para uma área que ganha destaque por sua
demais áreas do conhecimento como é o caso aplicação interligada em conhecimentos da
da sua ligação com a psicologia e educação. psicologia cognitiva e pedagogia, o que dessa
Surgindo aí a neuropsicopedagogia. De acordo forma, contribui na compreensão da forma
com Beauclair (2014, p. 23), a como o cérebro grava as informações e gera o
neuropsicopedagogia é “um novo campo de aprendizado.
especialização profissional, de pesquisa, ação e Diante disso, a sociedade brasileira de
intervenção, baseados nos avanços das neuropsicopedagogia, SBNPp, por meio da
neurociências e suas aplicabilidades no campo resolução SBNPp nº 3/2014, editou o código de
da educação e psicopedagogia”. ética técnico profissional da
Segundo ensina Izquierdo, (2002, p. 9), é neuropsicopedagogia, determinando acerca de
“[...] importante ter-se o conhecimento das diversos conceitos e fundamentos sobre essa
informações cientificas essenciais para melhor área. Justamente no artigo 10 do capítulo 2
compreensão do aprendizado [...]”. Afirma que desse código de ética está transcrito o que é a
a “[...] percepção do mundo pelo homem neuropsicopedagogia como ciência:
constrói-se em sua memória [...]”, no qual é [...] Artigo 10. A Neuropsicopedagogia é uma
adquirido, formado e conservado a evocação ciência transdisciplinar, fundamentada nos
de informações. E, dessa forma, a aquisição de conhecimentos da Neurociências aplicada à
conhecimento ou informações, denominada de educação, com interfaces da Pedagogia e
aprendizagem só fica gravada quando é Psicologia Cognitiva que tem como objeto
aprendido. Diante do que ensina o autor, formal de estudo a relação entre o
percebe-se que a neuropsicopedagogia está funcionamento do sistema nervoso e a
intrinsecamente ligada com os processos de aprendizagem humana numa perspectiva de
aprendizagem e as formas de aquisição dessa. reintegração pessoal, social e educacional
Com isso, percebe-se que o sistema neural é (SBNPp, 2014, p. 3).
complexo e há necessidade de especialização

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Diante disso, fica evidenciada não apenas o conhecimentos e saberes (BEAUCLAIR, 2014, p.
significado e conceito da neuropsicopedagogia, 28).
mas além disso, registra-se sua importância Diante disso, percebe-se o avanço da
como ciência ligada à neurociência aplicada à neuropsicopedagogia que se estabelece na
educação e também à pedagogia e psicologia educação com intuito de contribuir com a
cognitiva. promoção da instrução, estabelece-se ainda na
A neuropsicopedagogia é descrita ainda por psicologia que envolve os aspectos psicológicos
Krug (2011, apud, Rodrigues (1996), como inerentes ao indivíduo e na própria
sendo: neuropsicopedagogia que estuda a teoria do
[...] Abordagem neurológica de distúrbios e cérebro de forma a elucidar as múltiplas
de incapacidades de aprendizagem. A inteligências.
Neuropsicopedagogia é de grande utilidade
para o psicopedagogo clínico, pois possibilita o • Contribuição da neurociência para a
diagnóstico de processos anormais na aprendizagem e educação
estrutura, na organização e no funcionamento A neurociência deve ser necessária para
do sistema nervoso central, por meio de testes todos os alunos para familiarizá-los com os
de avaliação neuropsicológica, aplicáveis a conceitos orientadores do campo, a cultura do
indivíduos portadores de problemas de mundo científico e as exigências especiais do
aprendizagem (KRUG, 2011, p.40) que se qualifica como pesquisa educacional de
Dessa maneira, percebe-se que a base científica.
neuropsicopedagogia já está sendo aplicada na Um exemplo é a pesquisa sobre a
prática há algum tempo. Exemplo disso é que neuroplasticidade do cérebro e as
desde 2009 já há menção a essa ciência como oportunidades que temos como educadores
disciplina de cursos de graduação (FORNER, para ajudar os estudantes a mudar literalmente
2009, p. 71;72). seus cérebros - e a inteligência. Para se tornar
É relevante dizer ainda que a um professor sem entender as implicações da
neuropsicopedagogia torna-se uma prática neuroplasticidade que altera o cérebro é uma
contundente, com aporte de estudos de grande perda para os professores e seus futuros
referenciais teóricos, mas não se confirma alunos.
como uma ciência de fato. Sendo este um Segundo ensinam Cosenza e Guerra (2011, p.
campo novo de atuação e intervenção nos 139), não é o papel da neurociência “[...] propor
processos de aprendizagem, afirma Beauclair nova pedagogia, nem resolver ou solucionar as
que é a neuropsicopedagogia: dificuldades de aprendizagem, contudo, seu
[...] Um novo campo de intervenção e papel é contribuir na fundamentação da prática
especialização, onde o conhecimento pedagógica que já se realiza com sucesso [...]” e
ultrapassa fronteiras e cria, com isso, novas orienta ideias para intervenções, com isso,
possibilidades de aprender sobre o aprender, demonstra-se que as estratégias de educação
ampliando olhares e oportunizando novas que respeitam a forma como o cérebro
formas de inter-relacionar informações, funciona tendem a ser mais eficientes.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Além de compreender a resposta exceção, a frutificação dos talentos e da


neurológica do cérebro ao estímulo - como a capacidade de criação, o que implica a
ativação e o uso das redes de memória os responsabilização individual por si mesmo e a
fortalecem - os professores precisam realização de seu próprio projeto pessoal
reconhecer como o estresse inibe a (DELORS, 1996, apud, ZABALA & ARNAU, 2010,
neuroplasticidade. É somente quando as p.60).
informações são processadas no córtex pré- Nesse sentido, por meio de varreduras de
frontal cognitivo do cérebro que o novo neuroimagem de estudantes durante os
aprendizado pode ser incorporado em redes de estados de estresse, como aquelas que se
memória conceitual de longo prazo (CHEDID, acumulam com tédio constante ou persistente
2007). (informação já dominada, sem relevância
Diante disso, Cosenza e Guerra (2011), evidente) ou frustração (repetidas falhas
ensinam que: passadas no assunto), oferecem respostas
[...] Os avanços das neurociências poderosas sobre a importância do clima e
possibilitam uma abordagem mais científica do diferenciação em sala de aula de instrução.
processo ensino-aprendizagem, fundamentada De acordo com o que ensina Relvas (2013), o
na compreensão dos processos cognitivos processo de aprendizagem é constante e
envolvidos. Devemos ser cautelosos, ainda que provém de vivencias emocionais, relacionais e
otimistas em relação às contribuições ambientais. Ou seja, está intrinsecamente
recíprocas entre neurociências e educação [...] ligado com todo o entorno da vida humana.
Descobertas em neurociências não autorizam Nesse sentido, é suficiente dizer que de fato, o
sua aplicação direta e imediata no contexto cérebro aprende pela emoção, pois há uma
escolar, pois é preciso lembrar que o mistura de processos e conjuntos de questões
conhecimento neurocientífico contribui com que auxiliam na aprendizagem, mas estímulos
apenas parte do contexto em que ocorre a emocionais são fatores cruciais para a guarda
aprendizagem. Embora ele seja muito do que se aprende.
importante, é mais um fator em uma Dessa forma, acrescenta-se que os recursos
conjuntura cultural bem mais ampla. [...] mais valiosos para melhorar a educação não
(COSENZA; GUERRA, 2011, p. 136). serão desenvolvidos em um laboratório, por
Dessa forma, não se pode dizer que a meio de avaliações de exames de imagens do
neurociência resolva o problema especifico de cérebro ou de outros tipos, mas sim, serão os
um ou outro indivíduo, contudo é plenamente educadores, com o conhecimento fundamental
possível afirmar que contribui sobremaneira sobre a ciência da aprendizagem, que estarão
para a resolução de questões mais complexas preparados para avaliar a validade e
que não eram tratadas ou pensadas para correlações educacionais potenciais da
resolver os problemas de aprendizagem por pesquisa de neurociências. Esses professores
exemplo. serão os profissionais da linha de frente que
Afinal, como ensina Delors “[...]” a educação reconhecerão possíveis aplicações da pesquisa
tem como missão permitir a todos, sem em laboratório e desenvolverão as estratégias

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que trazem os benefícios dessa pesquisa para afetividade e a emoção em sua vida cotidiana.
seus alunos. E esse fato é primordial para o entendimento
do processo de aprendizagem do indivíduo.
• A aprendizagem no cérebro pela Afirma que a afetividade está intrinsecamente
emoção ligada com a questão de construção do
Sabe-se que o mais importante órgão do conhecimento racional, estando por tanto,
corpo humano é o cérebro, tanto é verdade que ligada à questão do prazer, afeto e emoção.
o entendimento majoritário é pela vida humana Nesse sentido é a lição de Vygotsky (2003, p.
existir enquanto o cérebro responde a 121), ao afirmar que durante o processo
estímulos, e tendo morte cerebral não mais educativo há presença constante de emoções
existiria chances de manter o indivíduo. no comportamento humano, e isso faz com que
Dessa maneira, de acordo com a professora haja maior ou menor grau de absorção do
Mara Musa Soares Silveira (2004, p. 1), há aprendizado.
desenvolvimento de maior número de células Nesse caminho ensina Santos (2010, p. 15),
nervosas no córtex cerebral quando envolvidos que a emoção auxilia o raciocínio. Dando
com estímulos emocionais. Esse entendimento primordial atenção para quando há fator
vai de encontro a inúmeros estudos realizados pessoal envolvido na emoção pois até na
por estudiosos e cientistas da área em animais, questão da saúde biológica do corpo a emoção
mas que podem ser replicados em seres interfere. Não seria diferente, portanto, na
humanos. questão do cérebro e o processo de
Sabe-se que o cérebro divide-se em dois aprendizagem ligado por fatores emocionais.
hemisférios principais, mas há necessidade de É ainda a lição de Relvas (2012, p.1), ao
interligação desses para que o cérebro funcione afirmar que as habilidades relacionais
de forma adequada. De acordo com o que interferem na aprendizagem. Assim como a
ensina Grinspun (2004, p. 35), estudos que emoção comove o pensamento e o coração do
foram desenvolvidos por meio de análises de aluno, o cérebro emocionando-se, promove
neuroimagens funcionais, que é uma nova melhor aproveitamento e absorção do
técnica que examina como o cérebro se conhecimento.
comporta no sentido de que o hemisfério Como as emoções influenciam o aprendizado
esquerdo produz maior atividade quando se e os processos de memória no cérebro, é tema
está fazendo leituras de textos. relevante para a modernidade em que cada vez
Ainda para Grinspun (2004, p. 76), há mais o acesso à informação é amplo, mas ao
estudos que constatam que a atenção humana mesmo tempo não é gravado na mente da
para a aprendizagem está centrada no córtex pessoa. Estudo inovador aponta que as
pré-frontal do cérebro, que se liga por meio de emoções não são apenas o produto do
fibras nervosas atuantes quando há processamento de informações pelo cérebro,
envolvimento de emoção e motivação. mas também influenciam diretamente os
Segundo ensina Barros (2003, p. 1), o ser processos de aprendizagem e memória no
humano desde que nasce acompanha a cérebro. Acontece que diferentes emoções

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fazem com que o cérebro trabalhe de maneira A abordagem usual da aprendizagem, não via
diferente e em frequências distintas. nenhuma conexão entre emoções específicas e
(COSENZA; GUERRA, 2011). processos cognitivos, como a memória, de
Segundo pesquisadores compararam a modo que o cérebro deveria ter agido de
atividade cerebral durante comportamento maneira semelhante no caso de uma emoção
social com a atividade desencadeada por diferente. Expondo a uma emoção diferente,
estímulos não emocionais, como o encontro uma negativa associada à exposição a um
com um objeto inanimado. Embora no nível estimulante o cérebro funciona de maneira
comportamental também mostrem um alto diferente neste caso. Mais uma vez, foi
nível de interesse em tais estímulos, seus observada forte atividade rítmica e
padrões cerebrais não mostram o mesmo nível coordenação entre as diferentes áreas
excepcional de atividade rítmica coordenada associadas à memória social. No entanto, isso
observada no encontro com um desconhecido. ocorreu em uma frequência diferente e em um
Uma vez que um verdadeiro encontro social padrão rítmico mais lento. Parece que quando
emocional ocorre, o cérebro continua a a emoção é social e positiva, o cérebro diz às
trabalhar em um alto nível de coordenação por diferentes áreas para trabalhar de acordo com
algum tempo, mesmo após o encontro ter um protocolo de comunicação. Quando uma
terminado. Em outras palavras, o cérebro emoção diferente está envolvida, uma emoção
entrou em estado de excitação social (RELVAS, tão negativa de medo quanto em nosso
2013). experimento, o cérebro diz às mesmas áreas
Em outras palavras, encontra-se uma para usar um protocolo de comunicação
conexão entre a sensação de excitação, a diferente. Resta ainda a necessidade de
atividade rítmica em áreas específicas do estudos adicionais, incluindo estudos em
cérebro e o processo cognitivo de formação da humanos, no futuro, a fim de compreender as
memória. Uma vez que esteja familiarizado uns ramificações precisas de cada emoção na
com os outros, pode-se estar menos excitados memória. Mas em termos gerais a implicação é
e, consequentemente, as áreas distintas do clara. Diferentes emoções fazem com que o
cérebro trabalham com muito menos cérebro trabalhe de maneira diferente,
coordenação. Em essência, essa descoberta inclusive em termos de processos cognitivos,
explica por que as pessoas tendem a lembrar, como aprendizado e memória.
em particular, seu primeiro encontro com um O cérebro precisa ficar emocionado para
futuro amigo ou parceiro. aprender, não é uma metodologia, mas um
Segundo Relvas (2013), estudos recentes conjunto de conhecimentos que está
demonstram e buscam entender que, tendo contribuindo com a pesquisa científica no
encontrado a conexão entre excitação social e campo da neurociência e sua relação com os
memória social, os pesquisadores então processos de aprendizagem (RELVAS, 2013).
procuraram examinar se uma emoção diferente
também influenciaria a mesma rede de áreas
cerebrais da mesma maneira.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados alcançados pelo estudo proposto, são no sentido de que o levantamento de
informações sobre os fundamentos da neuropsicopedagogia envolvendo a influência da emoção
no aprendizado em que o cérebro precisa se emocionar para aprender, e suas contribuições para
a educação são úteis e de imensurável contribuição para a formação do profissional da educação
na contemporaneidade.
Isso porque, os processos que envolvem a aprendizagem não se encontram apenas no
espaço escolar, ultrapassam os limites físicos como os estudos por meio da internet por exemplo.
E isso faz com que haja preocupações em lidar com novos métodos de aprendizagem e por meio
da emoção, o estudo verificou que há estudos comprovando aos poucos a interligação entre a
aprendizagem e a emoção.
Por meio da revisão da literatura foi possível estabelecer que essa área de especialização
está composta por amparo cientifico da neurociência, além da psicologia e da pedagogia. Com
isso, verifica-se que os processos que envolvem a aprendizagem do educando estão mais
complexos e mais bem equipados do ponto de vista da avaliação da aprendizagem.
O embasamento cientifico trazido pela neurociências e aliado à psicologia e à pedagogia
fazem com que o neuropsicopedagogo seja um profissional essencial para o processo ensino
aprendizagem. Por meio dessa pesquisa, foi possível ter uma maior e mais efetiva compreensão
sobre o tema e como a ciência, por meio de estudos neurológicos envolvendo a educação e
processos de aprendizagem, ou seja, a neuropsicopedagogia pode ajudar nos processos de
aprendizagem da educação.
É inevitável afirmar que a há uma gama de aspectos a serem observados pelo profissional
que se dispõe a aprofundar seus conhecimentos a respeito da neuropsicopedagogia.
Notadamente em relação a sua intrínseca ligação com outras ciências como a psicologia,
educação e principalmente a neurociências.
Os processos de aprendizagem estão relacionados a diversos problemas existentes na vida
do educando, e estes devem ser considerados na avaliação a ser requerido pelo
neuropsicopedagogo. Percebe-se que a psicopedagogia e a neurociência estão relacionadas a
fatores primordiais que contribuem para o desenvolvimento do aluno, contudo, a junção dessas
áreas e, em conjunto com a neuropsicopedagogia estabelece-se que outros tantos pontos
positivos poderão advir dessa evolução.
Sendo assim, a neuropsicopedagogia como sendo uma área de conhecimento
multidisciplinar, estrutura-se nos estudos da neurociência aplicada à educação e pela obtenção
dos processos da psicologia e da pedagogia. Sendo assim, surge como um método útil e
contributivo para auxilio nos processos de aprendizagem.
O neuropsicopedagogo e sua atuação junto à neurociência, contribuem para elucidar
diversos problemas relacionados à aprendizagem na educação. Isso porque, contribui para o
conhecimento do cérebro e do comportamento humano, sendo essa junção de conhecimentos
uma ótima ferramenta para auxiliar nos processos inerentes à educação.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A neuropsicopedagogia não atua apenas no melhoramento do rendimento escolar, mas


também na provocação do desejo de aprender. Tendo como foco o indivíduo que precisa
aprender. Sendo que a principal diferença entre a neuropsicopedagogia e a psicopedagogia reside
no fato de que a primeira se estabelece no processo de aprendizagem por meio da leitura de
problemas, buscando entender a relação social, neural, motora, mental e comportamental.
Conquanto que a psicopedagogia, estabelece-se no estudo e diagnostico da aprendizagem
humana e suas inseguranças e peculiaridades.

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ZABALA, A; ARNAU, L. Como aprender e ensinar competências. Porto Alegre: Artmed,


2010.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A INFLUÊNCIA DA MOTIVAÇÃO NO PROCESSO


DE APRENDIZAGEM
Erika Tatiana Garcia de Oliveira Toledo 1

RESUMO: Este artigo aborda sobre a influência da motivação no processo ensino-aprendizagem,


socorrendo a métodos importantes para resolver os problemas que atrapalham ou impedem o
aprendizado do aluno, e trabalhar a importância da rotina pelo estudo, pois é fundamental uma
base solida para sua aquisição de conhecimento. Outro fato relacionado no pressente estudo é o
papel da escola no processo motivacional de seus alunos, uma vez que motivação é cooperação,
ambiente e operação. O intuito de motivar é o de preparar a criança para desenvolver coragem,
responsabilidade e esforço. Educar é uma tarefa séria e importante. Deve ser objeto de estudos
e reflexões constantes. Diversos são os motivos que incentiva uma pessoa a agir, motivar é um
fator intenso que integra o comportamento humano A escola tem um papel de destaque para
desenvolver da melhor forma possível este ofício, despertando assim em cada criança, o desejo e
a capacidade de edificar uma sociedade afetiva e igualitária para todos. A influência na
aprendizagem deve ser vista como algo aprazível e satisfatória.

Palavras-Chave: Motivação; Ensino; Aluno; Professor.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em educação Física; Especialização em Docência no Ensino Superior.
E-mail: erikagtoledo@gmail.com

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INTRODUÇÃO Outro ponto que merece destaque na


influência de motivação refere-se aos recursos
O objetivo deste artigo é possibilitar a didáticos utilizados, bem como as práticas
reflexão do papel da motivação na pedagógicas que já não seriam tão eficazes para
aprendizagem escolar, visando entender os imprimir no aluno o interesse pelas aulas.
fenômenos que interferem para que os alunos Insta salientar que a motivação para
se sintam desmotivados a trilhar a arte do aprendizagem deve acontecer de forma
caminho do conhecimento. natural, uma vez que o aluno motivado será
Para a psicologia e a filosofia, a motivação capaz de querer desenvolver-se em todos os
são aquelas coisas que incentivam uma pessoa aspectos, pois irá ultrapassar todas as barreiras
a realizar determinadas ações e a persistir nelas para alcançar seus objetivos.
até alcançar os seus objetivos A motivação e ensino estão ligados nesta
Não obstante os diversos entendimentos longa, dinâmica e fascinante caminhada que é
sobre os motivos que fazem com que uma o processo de ensino e aprendizagem.
pessoa queira agir, o que se sabe é que quando
se está motivado consegue-se atingir qualquer
A MOTIVAÇÃO EM SALA DE
objetivo, e com o aluno isso não é diferente.
A falta de motivação interfere AULA
negativamente no processo de ensino- O maior objetivo no ambiente escolar é a
aprendizagem, tornando necessário aprendizagem, para que o aluno tenha a
compreender os fatores determinantes para motivação para explorar o verdadeiro sentido
esta falta, no sentido de que a partir de então o da vivência escolar, aprendendo os
entendimento sobre esse assunto seja conhecimentos a ele apresentados.
ampliado e aprofundado. Por este fato os professores precisam saber
Para Friedmann (1996, p.66), “a motivação é motivar os alunos para que eles tenham
fator que influencia o desenvolvimento: se a interesse nas aulas ministradas. As atividades
motivação é grande, a criança irá se esforçar abordadas em sala de aula devem ser práticas e
para fazer as coisas mais complexas.” relacionadas com o dia a dia dos alunos para um
Partindo deste princípio o professor melhor aproveitamento. As experiências
precisará avaliar seu aluno, analisando e vividas pelos alunos não devem ser ignoradas
refletindo se há ou não dificuldade na pelos professores, assim os alunos irão se sentir
aprendizagem, papel este fundamenta. valorizado entre os colegas.
Desta forma, ao observar a participação, a Dinâmico, proativo, empático, atento são
disposição e integração do aluno levará o algumas das características que o professor
professor a refletir sobre seu trabalho, no qual precisa ter para uma melhor compreensão do
poderá alterar sua didática para que haja universo dos alunos. A metodologia utilizada
motivação e interação entre os alunos, deve abranger o aluno neste processo, para que
tornando as aulas mais atraentes. assim ele participante mais em sala de aula,
uma vez que não há Educação sem que o aluno

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participe, o mesmo precisa fazer parte deste aprender. Não se consegue ensinar de qualquer
processo e não ficar apenas como observador. jeito, aprender requer troca de conhecimentos,
Uma das muitas variáveis que induzem a e leva-se em consideração os limites e as
evasão escolar é a conduta de professores que habilidades de cada um. Sendo assim, para que
tornam os alunos passivos, distantes no o ensino seja um ato de conhecimento, é
processo de aprendizagem. Enfim, quando o indispensável que exista entre professor e
professor, consegue identificar as atividades aluno uma relação dinâmica.
profissionais desenvolvidas pelo aluno no dia a Não é difícil para o professor estar sempre
dia, ele passa a compreender melhor as retomando em suas aulas a importância e
diferenças existentes entre os alunos, utilidade que o conhecimento tem e poderá ter
conseguindo utilizar a melhor técnica para o aluno. “Somos sempre a fim de aprender
pedagógica que será adequada e motivadora, coisas que são úteis e têm sentido para nossa
para assim melhorar o nível de aprendizagem vida” (BOCK, 1999, p. 122).
dos alunos. Na realidade, as necessidades fisiológicas
É tarefa do professor descobrir as melhores estão relacionadas com a sobrevivência do
estratégias, recursos para fazer com que os indivíduo e com a preservação da espécie. São
seus alunos queiram aprender, devendo necessidades instintivas, que já nascem com o
proporcionar estímulos para que cada um se indivíduo. São as mais prementes de todas as
sinta motivado a aprender. Ao estimular o necessidades humanas: quando alguma dessas
aluno, o professor o mante em constante necessidades não está satisfeita, ela determina
desafio. fortemente a estrutura comportamental do
O ensino é puramente a ação, a arte de homem.
ensinar, de transmitir conhecimentos. É a Considerada por muitos a escrita como uma
orientação no sentido de modificar o das principais causas do aparecimento das
comportamento de alguém. civilizações modernas e do desenvolvimento
O ensino é uma forma de transferência de científico, tecnológico e social. Neste contexto,
conhecimento, de informação, de instrução, via ela assume o papel de “elemento de poder e de
de regra este conhecimento é transmitido nas dominação”. É nesta situação, na qual o
escolas. Existem várias teorias de domínio da leitura e escrita, passa a ser uma
aprendizagem que fundamentam a pedagogia, necessidade social definitivamente essencial
algumas dizem que aprender é uma questão de para a evolução do indivíduo no seu meio.
modificação do desempenho, em que o bom O letramento é o que as pessoas fazem com
ensino depende de organizar eficientemente as suas habilidades para leitura e escrita, no
condições estimuladoras de modo a que o contexto social em que atuam, e como essas
aluno sai da situação de aprendizagem habilidades se relacionam com as necessidades,
diferente de como entrou. valores e práticas sociais. Pode-se considerar
Bock (1999, p. 121), afirma que a que o letramento é uma forma de adaptação ao
preocupação do ensino tem sido a de criar meio.
condições tais, que o aluno “fique a fim” de

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Enfim, essas necessidades tomam formas e aprendizagem, a motivação precisa estar


expressões que variam de pessoa para pessoa. presente em casa, e não somente na escola.
Sua intensidade e manifestação também são Os pais precisam motivar seus filhos a
extremamente variadas, obedecendo às respeito da importância da responsabilidade,
diferenças individuais. respeito, solidariedade, compartilhar e viver
Deve-se, ficar atento aos sinais de mudanças em sociedade e aliado a isto, o professor busca
de comportamento, de interesse, de motivação didáticas e práticas pedagógicas que agregam
entre outros, pois serão indicadores da as habilidades e potencialidades existentes no
existência de dificuldades ou problemas aluno, com a finalidade de que ele se interesse
externos ao processo de aprendizagem. Essa e se envolva com os conteúdos das disciplinas,
mudança pode provocar consequências com os conteúdos que dizem respeito aos
adversas ao aluno, refletindo no seu conhecimentos, do mundo e da vida em
aprendizado e na sua própria maneira de se sociedade.
comportar em sala de aula, pois se sente
desmotivado, tornando-se muitas vezes um O PAPEL DO PROFESSOR E DA
aluno indisciplinado.
O desinteresse em estudar do aluno, a falta ESCOLA NO PROCESSO DA
de motivação, é um reflexo do que acontece em MOTIVAÇÃO
sua volta. Muitas vezes, as escolas não estão Segundo Bzuneck (2001, p. 23), “o papel do
preparadas para enfrentar essas dificuldades e professor e da escola em relação à motivação
de outros problemas atuais. dos alunos tem como elemento desencadeante
A escola precisa utilizar técnicas de trabalho a constatação de que existem problemas,
para serem colocadas em prática, impedindo potenciais ou reais”. Todavia o problema da
que os professores deem aulas monótonas, que motivação ou a falta dela, não é apenas do
tenham falta de estímulo para ensinar e o pior aluno; na realidade, ele é o maior prejudicado,
que os alunos tenham falta de interesse em tendo em vista, que muitas vezes, as
aprender. Um professor desmotivado não dará contingências em que vivem e que repercutem
uma boa aula. também em sua vivência escolar.
Muitas vezes o comportamento Quando o professor em sala de aula começa
desmotivado dos alunos está diretamente a trabalhar a motivação, é necessário que sua
ligado a aspectos relacionados à prática atenção esteja redobrada para as
pedagógica, mais especificamente a especificidades existentes na turma, pois a
ineficiência da prática desenvolvida. motivação de um poderá não ser a dos demais
É crucial frisar que a escola tem condições de alunos. Sendo assim, a “regra” é conhecer o que
suprir todas as carências existentes na cada aluno o que precisa e deseja.
formação educacional e cultural de seus alunos. Um aluno desmotivado em sala de aula é
Vale destacar que que o papel da família uma aluno indisciplinado. O aluno não
também é imprescindível no processo ensino- consegue entender o porquê da necessidade de
fazer silencio para que os demais possam

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estudar, uma vez que o mesmo não tem Analisar e reanalisar a didática em sala de
vontade de continuar ali. O aluno se mantem aula é fundamental o professor, pois só assim
disperso, não respeita mais o professor, colegas conseguirá alterar a rotina e poderá de fato,
de turma, diretores e demais membros da propor novos técnicas para que os alunos se
escola e não se interessam pelos conteúdos interessarem e aprender. O interesse mantém
aplicados em sala aula. É como se estivessem a atenção.
vivendo em outro mundo. Há dois tipos de motivação a intrínseca e a
Deverá o professor elaborar estratégias extrínseca. Um aluno extrinsecamente
adequadas que acendam nos alunos o desejo motivado é aquele que desempenha uma
pelo novo, pela exploração de conhecimentos, atividade ou tarefa interessado em recompensa
adotando novas práticas que se vinculem as ou para evitar alguma punição, esse aluno está
recompensas externas, porém, entendendo mais interessado na opinião dos outros, as
sempre que cada aluno representa um mundo atividades ou tarefas são realizadas a fim de
diferente, sob várias perspectivas. agradar na maioria das vezes os pais ou
O professor deve construir uma relação professores, cumpre seu papel de educando
amistosa com seu aluno, não poderá de forma por obrigação. Já um aluno intrinsecamente
alguma ignorar as diferenças existentes entre motivado, ele desempenha suas atividades
os alunos, visto que cada um tem uma e tarefas com a finalidade de crescer, de
caracteriza diferente, afinal ninguém é igual a realmente adquirir conhecimento. Portanto
ninguém. não há ensino aprendizagem sem motivação.
Insta salientar, que o fator da motivação em Motivação está na maioria das vezes
sala de aula não está relacionada apenas aos relacionada a aprendizagem humana, estando
alunos, mas também ao corpo docente, uma presente nos ambientes escolares, possuindo
vez que as suas atitudes e comportamentos assim um papel muito importante nos
refletem na classe, contribuindo para que haja resultados em que professores e alunos
momentos de motivação ou a falta dela. buscam alcançar.
O professor deve ser criativo, dinâmico, Desta forma, pode-se observar que a
utilizar de diferentes tipos de motivação, motivação é a energia para a aprendizagem, o
adotando para cada caso, isto é, cada aluno, os convívio social, os afetos, o exercício das
recursos adequados e convenientes às capacidades gerais do cérebro, da superação,
necessidades específicas. da participação, da conquista, da defesa, entre
Quando o professor faz certos outros.
questionamentos é induzido a uma reflexão se Consequentemente, a motivação é algo que
está ou não lecionando da maneira correta, vem de dentro, podendo ser criada e/ou
fazendo com que reveja que tipo de pedagogia modificada apenas pela própria pessoa. A
está sendo aplicado no ambiente escolar. Será educação carece de uma nova forma de
que está aplicando uma educação autoritária, abordagem para erradicar o conflito
fracassada, ultrapassada, tradicional? São relacionado à aprendizagem e o problema do
questionamentos validos para sua evolução. fracasso escolar. A educação deve ser planejada

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e desenvolvida para atender às necessidades qual pode ser muito eficiente se o professor
formativas dos alunos com o objetivo de torná- conseguir mobilizar a atividade interna do
los capazes e aptos para enfrentar as mudanças aluno para que ele venha a se concentrar e
e desafios da vida, que naturalmente irão pensar, combinando com outros
surgir. procedimentos como o trabalho independente,
Motivar para aprender consiste em lançar a conservação e o trabalho em grupo, além da
mão de recursos que não sejam exclusivamente conjugação com demonstração, ilustração e a
pontuais que obedeçam apenas a um momento exemplificação, possibilitando o
determinado. Com o intuito de motivar o aluno, enriquecimento da aula expositiva.
o professor deve relacionar o trabalho É preciso destacar que para chamar a
escolar com a experiência, com os interesses, atenção do aluno para o assunto abordado em
valores e expectativas do aluno. O professor sala de aula, convém estimular todos os
deve despertar motivação mediante incentivos, sentidos, assistir filmes sobre o assunto, aguçar
ou seja, transformar o assunto a ser ensinado a curiosidade dos alunos, quanto mais nova a
em necessidade pessoal do aluno. criança, maior a necessidade de se utilizar
A partir daí desencadeia-se todo um vários recursos para ter sua atenção.
processo, que gera uma reação do educando Vale destacar que só é possível pensar, fazer
para satisfazer a necessidade surgida; disso e emocionar na coletividade por meio da
decorrem as aprendizagens sem livro, sem motivação. Vale ressaltar que as escolas
professor, sem escola e sem uma porção de precisam ter mais estruturas para que o
outros recursos. Mesmo que existam todos professor consiga ministrar uma aula mais
esses recursos favoráveis, se não houver atraente, mais significativa e que, de fato, possa
motivação, não haverá aprendizagem ocorrer aprendizagem, proporcionando assim a
A motivação é algo essencial, porem deve ser autoestima do aluno, do professor e
usado de acordo com a realidade de cada turma consequentemente na qualidade do ensino.
e de cada aluno, cada contexto escolar e de A influência do professor intervém
aprendizado tem suas diferentes necessidades, diretamente no processo de aprendizagem do
e a motivação deve ter uma particular atenção aluno, daí a importância do professor estar
como forma para o processo de aprendizado. motivado para conseguir transmitir motivação
Para isso é preciso considerar que o para seus alunos, pois assim eles terão vontade
conhecimento é uma construção de aprender. É preciso ter noção que a
individual e coletiva e a escola sabe o papelmotivação parte do conhecimento do
de fornecer condições adequadas a essa professor. Professor desmotivo não consegue
construção. motivar nenhum aluno.
A maior fonte de motivação em sala de aula
MÉTODOS DE MOTIVAÇÃO é o professor, um espaço lúdico, recursos
audiovisuais, lazer, internet, informática,
Dentre os mecanismos que podem ser
apenas contribuem para às habilidades e
utilizados para motivação da criança, um dos
experiências do professor, que sabe aguçar a
mais citados é o método expositivo, o verbal, o

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curiosidade, e o interesse de cada aluno. Um conseguira dar início um bom trabalho


ambiente agradável e desafiador desperta no pedagógico.
aluno permanentemente, interesses e O professor não faz o ensino sozinho, ainda
motivações que seja a parte principal neste processo de
aprendizagem, é importante que tenha o
POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS respaldo da escola e o interesse do próprio
aluno em aprender, porem o professor tem que
DA MOTIVAÇÃO ter em mente que parte do interesse do aluno
O objetivo principal da educação é o de tem que ser despertado pelo próprio professor,
retirar o aluno do estágio inicial, ou seja da zona devendo fazer a ponte entre o conhecimento e
de conforto e fazer com que ele atinja um nível o aluno.
final, com isto superando de si mesmo,
descobrindo o prazer em buscar o novo, o
desconhecido, desconhecido este que logo se
tornara familiar, fazendo com que queira
buscar mais.
Quando o professor consegue fazer com que
o aluno mude de um nível para outro, então
terá registrado um processo de aprendizagem
daquele ser em construção.
Cabe ao professor oferecer circunstancias de
interação, que despertem no aluno a motivação
necessária para interação com o conhecimento,
com seus colegas de turma e com os próprios
professores. Afinal mesmo que a aprendizagem
ocorra na intimidade do sujeito, o processo de
construção do conhecimento dá-se na
diversidade e na qualidade das suas interações.
A ação educativa da escola deve
proporcionar ao aluno oportunidades para que
esse seja levado a um esforço intencional,
buscando resultados esperados e
compreendidos. Será necessário para que isso
aconteça uma conduta que envolva todo um
planejamento do professor com todo corpo
pedagógico da escola, uma vez que para que o
professor consiga desenvolver um bom
trabalho é primordial que a escola o apoie no
que for necessário, e é com essas condições que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A motivação é uma atividade que merece ter lugar central na prática escolar e dessa forma
ser ensinada por todo professor de qualquer área de ensino.
É fundamental que o professor atue como conciliador, buscando métodos para
desenvolver no aluno o gosto pelo estudo, principalmente quando a falta de motivação se faz
presente, dificultando uma sequência didática previamente planejada pelo professor.
Observando esta situação, o professor consegue desenvolver as habilidades e competências
dentro da sala de aula, para trabalhar a motivação entre os alunos.
O professor tornando sua aula mais dinâmica e atrativa mediante sua motivação, o aluno
se sentirá mais apto e capaz de desenvolver suas atividades em sala de aula ou fora dela,
provocando grandes emoções. A relevância de alunos motivados referem-se ao processo de
ensino-aprendizagem fator que poderá ser excelente para o professor em ver que o que propôs
foi válido e que sua aula teve importância e ao aluno que mediante sua motivação estará apto a
ter interesse e organização em suas atividades escolares.
Dessa forma, a motivação na aprendizagem, requer que seja levado em consideração um
estudo da realidade de cada aluno, uma vez que é necessário conhecer as características pessoais
de cada um, já que a motivação possui diversidades e características pessoais próprias.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BALANCHO, M. J. S.; COELHO, F. M. Motivar os alunos, criatividade na relação pedagógica:
conceitos e práticas. 2. ed. Porto, Portugal: Texto, 1996.

BOCK, Ana M. Bahia (org). Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13ª ed.
São Paulo: Saraiva, 1999.

BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. (orgs.). A motivação do aluno: contribuições da


psicologia contemporânea. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. (orgs.). A motivação do aluno: contribuições da


psicologia contemporânea. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

BZUNECK, J. A. As crenças de Auto-eficácia dos professores. In: F.F. Sisto, G. de Oliveira,


& L. D. T. Fini (Orgs.). Leituras de psicologia para formação de professores. Petrópolis, Rio de
Janeiro: Vozes, 2000.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar: Crescer e aprender. São Paulo: Moderna, 1996.

MORAES, Carolina Roberta; VARELA, Simone. Motivação do Aluno Durante o Processo de


Ensino-Aprendizagem. Londrina: Revista Eletrônica de Educação. Ano I, No. 01, ago. / dez.
2007.

PISANDELLI, Glória Maria Veríssimo Lopes. A teoria de Maslow, e sua relação com a educação de
adultos. Disponível em: http://www.psicopedagogia.com. br/artigos/artigo.asp?entrID=455. Data de
Acesso:20/02/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A LUDICIDADE COMO INSTRUMENTO


FACILITADOR DO PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM
Patrícia Aparecida da Silva Santos 1

RESUMO: Este artigo objetiva evidenciar a eficácia dos jogos e brincadeiras no processo ensino-
aprendizagem. Entende-se que a ludicidade nas atividades pedagógicas atua como facilitador da
aprendizagem, pois o ensino dos conteúdos é favorecido, caracterizando uma proposta eficiente
quando o trabalho é planejado e articulado com a realidade escolar. O propósito deste trabalho
é demonstrar que a ludicidade deve fazer parte das estratégias e métodos do professor para que
a aprendizagem seja conquistada ou ampliada pelos alunos.

Palavras-Chave: Ludicidade; Jogos; Ensino-aprendizagem.

1Professora de Ensino Fundamental I na Rede Municipal de Belo Horizonte-MG.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia; Especialização em Metodologia do
Ensino de Arte.
E-mail: patriciaaparecida@edu.pbh.gov.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO passividade, capaz de aumentar a frequência de


algo bom.
A palavra Lúdico vem do latim Ludus, que
significa jogo, divertimento. Esse brincar
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
também se relaciona à postura daquele que
joga, que brinca e se diverte. A função NA INFÂNCIA
educativa do jogo oportuniza a aprendizagem O brincar é inerente ao universo infantil. Por
do indivíduo: seu saber, seu conhecimento e meio dos jogos lúdicos, do brinquedo e da
sua compreensão de mundo. brincadeira, desenvolve-se a criatividade, a
Pode-se dizer que o ato de jogar é tão antigo capacidade de tomar decisões e ajuda no
quanto à própria humanidade e o brincar desenvolvimento motor da criança, além
inerente à infância. Por meio do jogo e do destas razões, tornam as aulas mais atraentes
brinquedo, a criança reproduz e recria o mundo para os alunos, são a partir de situações de
a sua volta. descontração que o professor poderá
O lúdico possibilita o estudo da relação da desenvolver diversos conteúdos, gerando uma
criança com o mundo externo, integrando integração entre as matérias curriculares,
estudos específicos sobre a importância do regras do jogo e vivências prévias das crianças.
lúdico na formação da personalidade. Por meio Desde os primeiros anos de vida de uma
da atividade lúdica e do jogo, a criança forma criança, os jogos e as brincadeiras cumprem um
conceitos, seleciona ideias, estabelece relações papel fundamental de auxiliar em seu
lógicas, integra percepções, faz estimativas desenvolvimento pessoal e sua educação. Não
compatíveis com o crescimento físico e somente para crianças, mas também para
desenvolvimento e, o que é mais importante, adultos e adolescentes, as atividades lúdicas
vai se socializando. proporcionam uma forma de diversão e,
A convivência de forma lúdica e prazerosa potencial, aprendizagem; tendo em vista que
com a aprendizagem proporcionará a criança atuam como motivadores e facilitadores do
estabelecer relações cognitivas às experiências processo de busca e fixação de conhecimento.
vivenciadas, bem como relacioná-la as demais Nesta perspectiva, o jogo não é o fim, mas o
produções culturais e simbólicas conforme eixo que conduz a um conteúdo didático
procedimentos metodológicos compatíveis a específico, resultando em um empréstimo da
essa prática. ação lúdica para a aquisição de informações.
A ludicidade entra no espaço da sala de aula Para Piaget (1998), até os dois anos de idade
como integrador e facilitador da aprendizagem, as principais brincadeiras da criança são os
como um reforço positivo, que desenvolve gestos, sons, sinais, e os exercícios de
processos sociais de comunicação, expressão e repetição, como rolar a bola, jogar o objeto no
construção de conhecimento; melhora a chão para o adulto pegar, estas são formas de
conduta e a autoestima; explora a criatividade linguagem da criança compartilhar com seu
e, ainda, permite extravasar angústias e mundo exterior. Nessa fase do
paixões, alegrias e tristezas, agressividade e desenvolvimento a criança constrói imagens de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

objetos, ela se torna capaz de representar diversão, prazer e até desprazer, quando
objetos ausentes, tornando os presentes no escolhido voluntariamente e função educativa:
momento desejado. Em seguida há a transição o brinquedo ensina qualquer coisa que
dos jogos simbólicos para os jogos de complete o indivíduo em seu saber, seus
construção que inicia a partir dos quatros anos conhecimentos e sua apreensão do mundo
de idade, e se estende aproximadamente até os (KISHIMOTO, 2000, p. 37).
sete anos. Ainda na evolução da brincadeira O brincar assume uma função qualificativa
vêm os jogos de regras, quando há a passagem na vida do aluno. Sua ação educativa é
do momento individual para o de cooperação. renovadora, envolvente e prazerosa. A
A criança mostra por meio do brincar o modo ludicidade permite ao indivíduo, ampliar sua
de interagir no mundo real, apresentando suas aptidão para o que mais lhe chama a atenção.
descobertas, usando o brincar com O brincar mexe com a mente e com o corpo
instrumento identificador de seu desejo. enriquecendo os seus conhecimentos.
O brincar, além de desenvolver a Afirma Vygotsky (1988):
socialização, facilita o desenvolvimento se as necessidades não realizáveis
cognitivo da criança, estimulando seu imediatamente, não se desenvolvem durante
pensamento, criatividade de forma prazerosa. os anos escolares, não existiriam os
Despertando nela o desejo de participar dos brinquedos, uma vez que eles parecem ser
jogos e brincadeira desenvolvida no âmbito inventados justamente quando as crianças
escolar. começam a experimentar tendências
A importância do brincar para o irrealizáveis (VYGOTSKY,1988, p. 106).
desenvolvimento infantil reside no fato de esta Há uma necessidade muito grande da criança
atividade contribuir para a mudança na relação pelo brinquedo, pois nele ela expressas seus
da criança com os objetos, pois estes perdem desejos, sua ansiedade. Essas tendências
sua força determinadora na brincadeira. A tornam o brincar um instrumento valioso para
criança vê um objeto, mas age de maneira o desenvolvimento cognitivo da criança.
diferente em relação ao que vê. Assim, é
alcançada uma condição que começa a agir O LÚDICO COMO
independentemente daquilo que vê
(VYGOTSKY, 1988, p. 127). INSTRUMENTO FACILITADOR DA
Vygotsky (1998), ressalta que o brincar APRENDIZAGEM
satisfaz a criança contribuindo para o Nas últimas décadas os jogos e as
desenvolvimento, usando seu imaginário para brincadeiras têm sido foco de muitos estudos e
realizar suas fantasias. Por meio do brinquedo, pesquisas, uma vez que muitos estudiosos já
de ações de faz-de-conta, colocando sua comprovaram a importância dos mesmos para
criatividade em ação. o desenvolvimento infantil.
Ao assumir a função lúdica e educativa, o O brincar é sem dúvida um meio pelo qual os
brinquedo educativo merece algumas seres humanos e os animais exploram uma
considerações: função lúdica: quando propicia variedade de experiências em diferentes

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

situações, para diversos propósitos. No O jogo utilizado como atividade pedagógica


contexto educacional propicia meios de tem o papel de atuar com desafios que
aprendizagens, bem como permite que os incentivam os alunos a realizarem de forma que
adultos sejam perceptivos e aprendam com as possam fazer suas construções, a função lúdica
crianças e suas necessidades, servindo de predomina e absorve o aspecto educativo
termômetro no desenvolvimento da definido pelo professor. Portanto, os jogos são
aprendizagem e possibilitando aos professores recursos considerados favoráveis à assimilação
planejar e promover novas aprendizagens seja de conteúdos com a demonstração do
no domínio cognitivo e afetivo por meio de aprendizado eficaz.
práticas para uma aprendizagem eficaz Para Santa (2008, p. 15), “a educação pela via
(MOYLES, 2002). da ludicidade propõe-se a uma nova postura
A ludicidade como forma de aprendizagem é existencial, cujo paradigma é um novo sistema
um estímulo para o educando, pois sabe-se que de aprender brincando inspirado numa
por meio da mesma consegue-se estimular concepção de educação para além da
várias áreas do desenvolvimento infantil, como: instrução”. No entanto, há necessidade de um
cognitiva, motora e afetiva, desperta também desempenho de função educativa que reflita o
as potencialidades por meio do meio em que a que foi planejado dentro da proposta
criança se encontra e dos conteúdos a serem pedagógica.
passados, de formas eficientes que causem Nesse contexto, o professor deve ser um
estímulos para o aprendizado (PIERS & gerador de situações estimuladoras e eficazes.
LANDAU, 1990). O foco do trabalho pedagógico deve estar
A criança ao brincar expressa seus voltado para o aluno, quando se remete a
sentimentos e seus conflitos em relação ao ensino e aprendizagem. A aprendizagem, por
mundo na qual está inserida, manifestando a sua vez, acontece pela transformação do aluno
forma como está organizando sua realidade e e pela ação mediadora do professor no
lidando com suas possibilidades, limitações e processo de busca e construção do
conflitos, já que, muitas vezes, ela não sabe, ou conhecimento, adotando em sua prática aulas
não pode descrever tais vivências. com o intuito de estimular a curiosidade do
Diante do contexto da aprendizagem, a aluno, motivá-lo a aprender, ou seja,
ludicidade torna-se uma ferramenta de grande transformar este ambiente num local adequado
importância na construção do conhecimento, para acontecer à aprendizagem. Os jogos e
pois sabe-se que o ato de brincar é algo brincadeiras quando utilizados
espontâneo da criança e por esse motivo a adequadamente, são recursos facilitadores da
prática educativa lúdica surge como uma peça aprendizagem, pois são capazes de instigar,
fundamental de mediação ao processo de provocar e desafiar o aluno levando-o a buscar
ensino, no qual o seu desenvolvimento torna- respostas e a construir seus saberes.
se importante para a construção e interação
social do aluno com o meio e fortalece as
relações interpessoais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A brincadeira é uma ferramenta de comunicação, em que envolve todos os participantes.
Tem ainda o poder de interagir no desenvolvimento cognitivo, motor e social da criança. Ele
exercita o corpo e a mente da criança, fazendo ela desperta para as atividades propostas. O
brincar estimula a criança a envolver-se de tal maneira que na maioria das vezes muda sua
maneira de perceber o ambiente ao seu redor, incentivando a compartilhar, ter autocontrole e
vontade de ser um competitivo ativo na brincadeira. Ensina também a respeitar as regras do jogo,
a preservar o seu ambiente, a ser líder e em outra ocasião ser apenas um participante.
O jogo, nessa perspectiva, é entendido como a ferramenta ideal da aprendizagem, na
medida em que propõe estímulo ao interesse da criança, na construção de novas descobertas,
desenvolve e enriquece sua personalidade, sua experiência pessoal e social, possibilitando maior
aprendizagem e trará de alguma maneira um conhecimento mais sólido e rico no que diz respeito
ao prazer de aprender.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo Mendes. Dinâmica lúdica jogos pedagógicos. São Paulo: Loyola. 1978.

ALMEIDA, Paulo Mendes de. Educação lúdica, técnicas e jogos pedagógicos. 10ª ed. São
Paulo: Loyola, 2000.

BRUNELLI, Rosely Palermo. O jogo como espaço para pensar. São Paulo: Papirus, 1996

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo:
Cortez, 2000.

KISHIMOTO, Tisuko Morchida. Jogos a Criança e a educação. Petrópolis: RJ, 1999. MOYLES,
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NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Prodil, 1994.

PIERS, M. W.; LANDAU, G. M. O dom de jogar e porque as crianças não podem prosperar
sem ele. São Paulo: Cortez, 1990.

PIAGET, Jean. A psicologia da criança. Rio de Janeiro: Bertrand, 1988.

VYGOTSKY, L. A formação social da mente. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes,1991.

VYGOTSKY, L. A formação social da mente. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

485
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MÚSICA COMO RECURSO METODOLÓGICO


NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NO 1º ANO
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Naira Denise Lopes 1
Priscila Pinheiro de Barros 2

RESUMO: A música é um elemento importante no ensino, pois desperta a atenção dos alunos e
promove uma aprendizagem de forma lúdica e criativa, sem perder a atenção, o raciocínio e a
interação com a alfabetização, desta forma compreendemos que a música é um instrumento
facilitador no processo de ensino aprendizagem.

Palavras-Chave: Música; Aprendizagem; Alfabetização.

1 Professora de Ensino Médio. na Rede Estadual.


Graduação: Licenciatura em Educação Física pelo Instituto Federal de São Paulo.
E-mail: naira-denise@hotmail.com
2 Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.

Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Arte Educação.


E-mail: priscila-pb@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO pelo melhor método para ensinar a ler, pois a


razão do insucesso poderia estar relacionada ao
No Ensino Fundamental I, especialmente no uso de métodos inadequados. De acordo com
1ºano, as crianças entram em um mundo Mortatti (2000), por conta dessas buscas foram
acadêmico, totalmente diferente do que estão criadas "As Cartilhas", baseadas no método de
inseridos nas EMEIS, os professores ainda usam marcha analítica (processos de palavração e
métodos tradicionais para esses alunos que não sentenciação), contribuições retiradas da
possuem maturidade suficiente para uma pedagogia norte-americana,
aquisição de conhecimento totalmente Nos anos 60, buscava-se no aluno a causa do
abstrato. fracasso escolar, muitas discussões e pesquisas
Os educandos passam de um mundo foram realizadas para compreender por que as
cercado pelo lúdico e caem em um universo, no crianças não aprendiam, supunha-se que os
qual as professoras os tratam com rigidez e com alunos não aprendiam porque não possuíam
muito conteúdo que para os mesmos não tem algumas habilidades, que tinham problemas
importância e nem contexto, tornando a cognitivos, psicológicos, perceptivo-motores,
alfabetização algo maçante e aflitiva de ser linguísticos, etc. PCN (LÍNGUA
aprendida. PORTUGUESA,1998, p. 19) "o que tinha sua
A música é instrumento bem conhecido pelas lógica, visto que para uma parte dos alunos o
crianças, tem uma contribuição considerável ensino parecia funcionar. Pensava-se que aos
nesse processo, porque facilita a alfabetização alunos que fracassavam devia faltar algo,
e letramento, por meio da interpretação de sendo, então, necessário compensar esse
uma música, a memorização, o envolvimento déficit para que pudessem aprender".
na aula tornando-as interessantes e prazerosas, No período dos anos 70, esse pensamento se
e principalmente aproximando esse aluno de espalhou e todas as crianças eram submetidas
um modo desenvolto ao mundo da escrita e da à realização de exames para saber se estavam
leitura da palavra, mas sobretudo uma leitura aptas para a alfabetização, ou seja, se estavam
de mundo, transformando esse aluno em um em estado de prontidão para aprender. Em
alfabético letrado. meados do mesmo ano começa-se a tentar
compreender como as crianças aprendem a ler
BREVE HISTÓRICO DA e escrever e o que pesam sobre a escrita.
Entretanto "desde o início da década de 80,
ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL E O o ensino de Língua Portuguesa na escola tem
FRACASSO ESCOLAR sido o centro da discussão acerca da
A discussão acerca da necessidade de necessidade de melhorar a qualidade da
melhorar a educação do país e diminuir os altos educação no País. (PCN, LÍNGUA
índices de analfabetismo não é de hoje. PORTUGUESA,1998, p. 19). "Começaram a
Na primeira metade do século XX, a circular, entre educadores, livros e artigos que
preocupação com o fracasso escolar no davam conta de uma mudança na forma de
processo de alfabetização, impulsionou a busca compreender o processo de alfabetização, (PCN

487
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

- LÍNGUA PORTUGUESA,1998, p. 20), A partir daí nasce um equívoco, o de que por


documentos esses que davam início aos meio do convívio com o material escrito as
resultados obtidos pelas investigações da crianças se alfabetizam, então a alfabetização
psicogênese da língua escrita. (aquisição do sistema convencional de uma
O trabalho de investigação coordenado por escrita alfabética e ortográfica) foi ignorada por
Emilia Ferreiro e Ana Teberosky - Psicogênese causa do letramento ,Soares( 2004), perdendo
da Língua Escrita trazido para o Brasil em 1985, sua especificidade. Mas, o que autora deixa
trouxe algumas mudanças na compreensão e claro é “defender a especificidade do processo
na didática do processo de alfabetização de alfabetização não significa dissociá-lo do
enfatizando que a escrita não é somente a processo de letramento”.
transcrição de códigos é preciso considerar os Sendo assim, a situação do fracasso escolar
conhecimentos prévios das crianças. quase não mudou, muitos alunos concluíram o
Essa pesquisa influencia e demonstra que a primeiro ano sem saber ler e escrever
escrita alfabética não se aprende por meio da confirmando o fracasso da escola.
memorização e repetição. Segundo Emilio Diante disso, a abordagem construtivista foi
Ferreiro (1985), a criança precisa entender muito criticada e responsabilizada pelo baixo
como funciona o sistema de escrita, para isso, é índice de leitura apurados pelas avaliações
necessário que se compreenda o que a escrita internas e externas realizadas em larga escala.
representa (grafia) e como é representada, ou Para Soares (2004), uma das causas mais
seja, entender que a escrita representa os sons relevante do fracasso atual da escola está
das partes das palavras e os sons menores que relacionada à perda da especificidade da
são os fonemas. alfabetização como mencionamos
De acordo com Ferreiro e Teberosky (1985), anteriormente, ao contrário do que acontecia
o processo de apropriação da escrita as crianças no passado pela a excessiva especificidade, na
passam por diferentes fases: a pré-silábica, qual era se dava por meio do método fônico.
silábica e alfabética. Esse processo se Outra causa que autora destaca seria a
desenvolve conforme a interação com a escrita implantação dos sistemas de ciclos, apesar dos
de maneira contextualizada, ou seja, ter aspectos positivos foi mal aplicado.
contato com textos significativos que tem a ver
com a realidade da criança. A MÚSICA E A CRIANÇA
Com a disseminação dessa teoria, nasce o
Não podemos explicar ao certo, quando
discurso de que é necessário a interação com
surgiu a música, mas podemos afirmar de
diferentes gêneros de textos desde a educação
acordo com Alencar (2003), que "a linguagem
infantil para que as crianças se apropriem do
musical tem sido interpretada, entendida e
sistema de escrita alfabética, dando origem a
definida de várias maneiras, em cada época e
um novo conceito: o Letramento - estado ou
cultura, em sintonia com o modo de pensar,
condição que assume aquele que aprende a ler
com os valores e as concepções estéticas
e escrever.
vigentes".

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para traduzirmos o que é música nos dias de momentos de avaliação, e principalmente a


hoje utilizaremos o auxílio dos dicionários, música pode ser usada como um recurso no
consultamos o Novo Dicionário Michaelis "sf aprendizado de diversas disciplinas.
(lat música) 1 Arte e técnica de combinar sons
de maneira agradável ao ouvido. 2 Composição ESTRATÉGIAS COM MÚSICAS
musical. 3 Execução de qualquer peça musical.
Conforme Alencar (2003), as histórias no
4 Conjunto ou corporação de músicos".
cotidiano das crianças são inquestionáveis.
Elaboramos uma introdução sobre o que é
Ouvindo e, depois, criando história, elas
música para demonstrar que o envolvimento da
estimulam, sua capacidade inventiva,
criança com o universo musical começa antes
desenvolvem o contato e a vivência com a
do nascimento, afirma Alencar (2003):
linguagem oral e ampliam recursos que incluem
Os bebes e as crianças interagem
o vocabulário, as entonações expressivas, as
permanente com o ambiente sonoro que os
articulações, enfim, a musicalidade da própria
envolve e-logo-com a música, já que ouvir,
fala (ALENCAR,2003, s.p).
cantar e dançar são atividades presentes na
Sendo a história algo tão maravilhoso para a
vida de quase todos os seres humanos, ainda
criança, imagina-se utilizando a história com a
que de diferentes maneiras (ALENCAR, 2003,
música. Mudando a entonação para tornar a
s,p).
história mais expressiva, fazendo as crianças
Logo , as diferentes cantigas, músicas de
querem ler, sentindo o gosto pela leitura, que é
ninar , rodas músicas, fazem com que as
a estrutura para uma boa alfabetização.
crianças interagem com o outro e com elas
mesmas, aumentando progressivamente seu
repertório cultural, e sua maneira de se
comunicar, assimilam , muito mais se ouvem
uma música , do que se falam para elas, cantam
muitas vezes sem saber o que estão cantando,
como se fosse uma brincadeira, até em
diferentes línguas. As crianças, adultos, cantam
certo, sem saber o real significado da música e/
ou palavra. Os bebês aprendem e
compreendem algo, brincando, por um
processo de ludicidade, torna-se a aquisição
mais significativa de tudo o que é conhecido, e
a música faz parte dessa obtenção de
conhecimento de forma lúdica expressiva e
intencional. Além de contribuir para deixar o
ambiente alegre para os alunos, oferece um
efeito calmante após atividade mais agitadas,
acredita-se também que reduz a tensão em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A música tem um grande poder de interação com o meio e com o outro, desde muito cedo
entre a criança e o adulto – educador e educando, adquirindo uma grande relevância na vida de
uma criança despertando sensações diversas, conhecimento prévios e resgatando saberes
adquiridos, tornando-se uma das formas de linguagem muito apreciada por facilitar a
aprendizagem e instigar a memória das pessoas.
A música proporciona para educadores a oportunidade de trabalhar o lúdico algo tão
importante para educação e para nossos alunos de todas as etapas de ensino, entretanto é
esquecido ou deixado de lado para ser inseridos conteúdos de uma forma maçante e cansativa.
Vale apena se aperfeiçoar nesse método e abusar de sua importância e relevância em nosso
cotidiano escolar.

490
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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BARRETO, Sidirley de Jesus; CHIARELLI, Ligia. Karina M. A importância da musicalização


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inteligência e a integração do ser. Blumenau: Acadêmica, 2004.Disponível em:
http://www.iacat.com/revista/recrearte/recrearte03/musicoterapia.htm.Data de
Acesso:20/02/2020.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Arte


Brasília: MEC/ SEF: 1998.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Língua


Portuguesa Brasília: MEC/ SEF: 1998.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vol.3. Secretária de


Educação.Mec ,1998.

GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de psicopedagogia musical. 3. Ed. São Paulo: Summus,
1988.

FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 2 ed. São Paulo: editora Contexto,
2002

SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Contexto, 2003.

FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Artmed 1999.

SEKEFF, Maria de Lourdes. Da Música seus usos e recursos – São Paulo 2007 – Unesp.

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Cartilha de alfabetização e cultura escolar: Um pacto


secular - Cadernos Cedes, ano XX, n 41 o 52, novembro/2000.

491
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MÚSICA E MOVIMENTO NO
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Daniela Rebelo Silva 1

RESUMO: Este artigo apresenta uma pesquisa bibliográfica e teórica sobre a utilização da música
no processo de desenvolvimento educacional infantil. Nesta perspectiva, o trabalho propõe
explorar e valorizar a música como uma disciplina e um recurso didático pedagógico de ensino e
aprendizagem da criança de forma lúdica, possibilitando a expansão dos aspectos físico, cognitivo
e emocional, propiciando a interação social na infância. Os dados e informações necessários para
obter resultados foram obtidos a partir da coleta e posterior análise de diversas fontes, como
entrevistas, materiais, programação e observação. Com tudo isso, pretende-se estabelecer
algumas bases e ideias para futuras pesquisas e propostas pedagógicas em torno da música na
etapa infantil.

Palavras-Chave: Educação Infantil Música; Atividades musicais; Educação musical.

1Professora de Educação Infantil e Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especializaçao em Educação Inclusiva.
E-mail: danielarebelo_silva@.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO desenvolvimento de certas habilidades físicas e


mentais do indivíduo, enriquece-o e fornece
O ponto de partida desta investigação é a instrumentos para que ele possa ser realizado
ideia de que o estágio da educação, é um ciclo como humano. "
fundamental e vitalmente importante dentro Além disso, Jimeno (2000, 22), afirma que a
do modelo educacional atual. educação musical alcança: "colocar em ação
É nesse ciclo que os alicerces de todo o para a criança inteira; suas dimensões
desenvolvimento subsequente do menino ou cognitivas, atitudinais e comportamentais,
menina, permitindo-lhe construir sua integrar o intelecto e os sentidos, o corpo, suas
personalidade, favorecer seu desenvolvimento emoções e sentimentos; para desenvolver
social e expanda suas experiências Juntos, o atenção e memória; fortalecendo a ação do
crescimento é um processo complexo, que é grupo inserindo comunicação com os outros. O
regulada por uma série de fatores, tanto de ritmo, a melodia, o movimento da vida. A
origem genética, como herança, o sistema música é um fenômeno que nos rodeia ".
neuroendócrino e fatores psicológicos; como Podemos afirmar, então, que a educação
de origem ambiente, incluindo o género, grupo musical deve ser reconhecida como papel
étnico e estatuto socioeconómico, entre outros primordial no ciclo da educação infantil, e é por
(PASCUAL, 2010). isso que, a partir de essa ideia, consideramos
A educação musical, no estágio de educação investigar como ou de que maneira essa
infantil, pode contribuir para o educação musical é realizada nas escolas, no
desenvolvimento harmonioso do cérebro total nosso caso, em um centro e sala de aula
e, portanto, para o desenvolvimento integral da específicos.
pessoa, tornando-se um instrumento didático A música tem um impacto direto na
de importância capital (SANJOSÉ, 1998), e é por tonalidade da criança, pois, para a criança, é
isso que "constitui um desafio para os sinônimo de movimento, brincadeira,
profissionais da psicologia, da música e a atividade, emoção. Em seus primeiros contatos
educação do presente e do futuro consideram com a música. A música, da mesma forma que
todas as contribuições feitas da neurobiologia a expressão corporal rítmica, não é apenas um
sobre como expandir o potencial oferecido pelo fator importante do desenvolvimento
desenvolvimento do cérebro, para projetar estimulante existente, mas também um meio
métodos de aprendizagem e teorias inestimável de acalmar as tensões e os
educacionais onde as pessoas podem alcançar, desequilíbrios, o excesso de energia da criança.
até certo ponto, o ideal do ser humano que De acordo com as características que a música
percebeu que anseia por qualquer modelo representa, poderia se tornar uma atividade
educacional "(JIMENO, 2000,p.19). habitual, integrada na vida escolar do menino e
Mas a música é um elemento importante da menina. A pedagogia musical destacou a
nesse estágio? Autores como Andreu, (2010, necessidade da criança se movimentar, estar
184), explica que: "consideramos a música ativa. O ritmo chegou a ocupar um lugar chave
como um elemento educação que afeta o dentro e fora das atividades musicais. A

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

influência da educação musical no nível inicial é San Agustín, e Boeccio, que apontou a
importante, pois dessa forma somos nutridos importância da música na educação.
pela sensibilidade e emoção das crianças, Apesar disso, ao longo da Alta Idade Média,
ensinando-as a conhecer a beleza e a descobrir a música foi ensinada na forma de música ou
o prazer estético. Por intermédio de uma prática com o órgão como instrumento, em
adequada educação musical em que as crianças mosteiros e igrejas, para acompanhar os
são ensinadas, elas podem ter um bom serviços religiosos mais do que como um ato
desenvolvimento da sensibilidade estética e de educativo.
uma vida emocional. Durante o período da Renascença, a música
começou a separar-se da poesia e liturgia, e os
BREVE HISTÓRIA DA papéis de compositor e intérprete emergem.
A música era socialmente valorizada e foi
EDUCAÇÃO MUSICAL criada para o desfrute de sentidos. Além disso,
Para entrar na educação musical, é uma boa eles começaram a aperfeiçoar instrumentos
ideia fazer um breve tour pela história, ecoando como chaves, violas e órgãos.
as ideias de Pascual (2006). A Contra-Reforma Luterana do século XVI e o
Na Idade Antiga, a música era considerada elevado respeito e admiração que Lutero
um elemento de grande valor devido à seu alto concedido à música; fazendo com que todos os
valor educativo. A Grécia Antiga considerou a jovens se eduquem musicalmente na escola
música como um elemento educação, e é por (considerando música um elemento de
isso que eles incluíram no sistema de ensino, a elevação para Deus) fez isso vai ter um papel
sociedade. importante.
Tanto Platão quanto Aristóteles coincidiram, A partir do século XVIII, a música deixa de ser
por um lado, com o valor da educação em patrimônio da Igreja ou da Corte, para ser uma
idades precoces; e, por outro lado, na arte mais popular. Figuras tão importantes
transcendência das canções de ninar como quanto Rousseau aparecem, considera a
introdutório ao mundo da música. música como a verdadeira linguagem universal,
Para Aristóteles, todo conhecimento vinha exaltando a importância de solfejo e
dos sentidos. Dentro do primeiro dos estágios aprendendo canções simples em crianças
dos quais o processo educacional é composto pequenas. Outros grandes pedagogos eram
(vida física, instinto e razão), o que Froebel, Decroly, Montessori e as irmãs Agazzi,
corresponderia de certa forma à atual Educação que reconheceu a importância da música na
Infantil, a música era entendida como uma educação infantil, e ousou dar ou oferecer
prática agradável e um método de certas diretrizes para trabalhar isso por meio de
experimentação e entretenimento. atividades.
Nas civilizações cristãs, cantar era uma das Mas, talvez seja no final do século XIX e início
formas de expressar sentimentos religiosos. do século XX que o maior progresso ou
Duas pessoas a enfatizar foram, por exemplo, inovações em termos de música, devido à
criação da "Escola Nova " Este reconheceu a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educação musical como uma educação que expressão. Ambos representam dois aspectos
incluía homem em sua totalidade, portanto, fundamentais da educação musical, e é por isso
uma educação ativa e participativa que é que eles são explicados abaixo.
direcionar a população como um todo. A música está sendo introduzida na
educação de crianças em idade pré-escolar
A MÚSICA NO devido à importância que ela representa em
seu desenvolvimento intelectual, auditivo,
DESENVOLVIMENTO INFANTIL sensorial, fonológico e motor. A música é um
A educação musical seria enquadrada na elemento fundamental nesta primeira etapa do
área da linguagem e, por sua vez, seria sistema educacional. A criança começa a se
considerada como tal. É por isso que, para expressar de outra maneira e é capaz de se
conhecer a influência disso como linguagem, integrar ativamente à sociedade, porque a
partimos da ideia de que a música desempenha música ajuda a alcançar autonomia em suas
um papel importante no desenvolvimento da atividades habituais, cuidar de si e do meio
personalidade da criança, especialmente em ambiente e expandir seu mundo de
sua faceta de linguagem. relacionamentos. A música tem o dom de
Tomando como referência Ruiz (2011), reunir as pessoas. A criança que vive em
podemos dizer que existe uma grande contato com a música aprende a coexistir de
variedade de linguagens (escritas, orais, maneira melhor com outras crianças,
artísticas, técnicas, etc.), com um propósito estabelecendo uma comunicação mais
comum, que seria expressar ou comunicar harmoniosa. Nessa idade, a música adora. Isso
ideias ou sentimentos. Seguindo essa mesma lhes dá segurança emocional, confiança,
linha, Ruiz (2011), afirma que: "A música é uma porque eles se sentem compreendidos quando
linguagem expressiva artística, que usa o som compartilham músicas, e imersos em um clima
como um meio, intangível, e cuja semântica é de ajuda, colaboração e respeito mútuo.
polivalente, ou seja, contém mais de um O estágio da alfabetização da criança é mais
significado. Como linguagem, pode expressar estimulado pela música. Por meio de canções
impressões, sentimentos e humores. A ideia infantis, nas quais as sílabas são rimadas e
musical é comunicada por meio da repetitivas, e acompanhadas de gestos que são
interpretação e improvisação. feitos ao cantar, a criança melhora sua maneira
Para Hernandez, Hernandez, De Moya, de falar e entender o significado de cada
(2011), a música promove o intercâmbio palavra. E assim, será alfabetizado de maneira
comunicativo entre as crianças / bem como o mais rápida. A música também é benéfica para
desenvolvimento das funções psicológicas a criança no que diz respeito ao poder de
básicas, tais como atenção, memória e concentração, bem como melhorar sua
percepção visual e auditiva. "O ponto de capacidade de aprender em matemática.
partida dessa reflexão é a ideia de que a música Música é pura matemática. Além disso, facilita
como linguagem teria dois aspectos, que que as crianças aprendam outras línguas,
seriam, por um lado, percepção e, por outro, melhorando sua memória. Com a música, a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

expressão corporal da criança é mais com a voz ou partes do corpo, aprendem


estimulada. Utilizam novos recursos para quando uma nota é alta ou baixa, e aprendem
adaptar o movimento do corpo aos ritmos de a escrever ou reconhecer notas musicais por
diferentes obras, contribuindo assim para o meio de jogos. De um modo geral, professores
fortalecimento do controle rítmico de seu de música para crianças trabalham com:
corpo. -Desenvolvimento da voz;
Por meio da música, a criança pode melhorar - Contato com fontes sonoras por meio de
sua coordenação e combinar uma série de diversos materiais: objetos e instrumentos;
comportamentos. Deite de costas e mova-os - O reconhecimento e representação do som
para que você possa dançar enquanto canta. em relação à sua duração, intensidade, altura,
Você pode carregar e abraçar no seu colo timbre, etc;
cantando ritmos de outras crianças. Crianças e - O desenvolvimento da percepção auditiva -
bebês não devem se limitar a ouvir O uso do movimento como meio de expressão
exclusivamente canções de ninar, porque eles e sensibilização motora, visual e auditiva, para
também têm a capacidade de apreciar e conhecer o próprio corpo, desenvolver o
lembrar da música clássica. Ouvir diferentes sentido rítmico e fomentar as relações sociais.
tipos de música os ajudará a aprender, A música é frequentemente usada em salas
reconhecer e aproveitar. Em geral, músicas de de aula e ambientes de ensino, mesmo quando
letras simples e repetitivas que incluem este não é o assunto da aula. Usar música
onomatopéias e canções infantis para dançar enquanto é ensinado a crianças pode ajudá-las
são recomendadas. No entanto, não é a alcançar muitos objetivos, incluindo melhorar
conveniente restringir o acesso à música para a a interação social cooperativa, aprender
criança, está provado que os bebés e as crianças conceitos educacionais e desenvolver a
são muito receptivos à música clássica de coordenação motora. Educação e
estrutura fácil e de curta duração. Você pode desenvolvimento cognitivo: A música pode
cantar para o bebê, bater palmas ou mostrar a melhorar a experiência de aprendizagem, pois
ele como bater palmas também. Isso ajudará é uma atividade divertida, ao mesmo tempo
você a aprender os ritmos e a cadência motivadora. Usar ritmo e rima pode ajudar a
diferente da música. memória e, além disso, muitas músicas
A criança deve entender que a música é uma possuem recursos mnemônicos. Por exemplo,
fonte de diversão, educação musical precoce, muitas pessoas aprendem o alfabeto cantando
que começa em crianças de 2 a 5 anos, visa a a música ABC. Aplaudir ou marcar o ritmo das
descoberta e desenvolvimento de expressivo, palavras pode ajudar na consciência fonológica.
musicais e psicomotoras habilidades da criança, Aprender as letras ajudará com vocabulário e
que posteriormente permitem a escolha de um compreensão. Os princípios da matemática,
instrumento musical, de acordo com as suas como frações, podem ser aprendidos
preferências e aptidões. Na maioria das escolas estudando os ritmos e ritmos da música.
de música, as crianças começam cedo com a Ensiná-los músicas de diferentes períodos
iniciação musical. Eles aprendem a fazer ritmos ensina-os sobre a história. Os objetivos da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educação musical e desenvolvimento cognitivo pode nascer no ventre da mãe se a mãe cantar
incluem melhorar as habilidades de escuta e ou ouvir música. Aos quatro meses e meio de
aprender novas palavras e conceitos. gestação o ouvido é funcional, a mãe deve
Desenvolvimento emocional e social: cantar músicas, colocar música clássica, para
Atividades musicais também ajudam o que a criança já esteja familiarizada com a
desenvolvimento social e emocional das música antes do nascimento, o que influenciará
crianças. Muitas das atividades que usam a o aprendizado subsequente da gestação. a
música envolvem a participação em grupo, de mesma.
modo que as crianças aprendem a interagir e A música é uma linguagem por meio da qual
cooperar umas com as outras durante certas nos comunicamos e nos expressamos. De
atividades musicais. As atividades de música e acordo com Hernandez (2011), os alunos de
movimento, como "o pátio da minha casa", são educação infantil devem desenvolver
particularmente úteis para alcançar os competências relacionadas com as primeiras
objetivos nessa área. manifestações de comunicação e linguagem e a
Atividades musicais e dança também ajudam descoberta de som do ambiente imediato em
as crianças a se tornarem conscientes de suas que vivem, formar uma imagem positiva e
emoções e formas saudáveis de expressar seus precisa de si mesmo e adquirir algum grau de
sentimentos, de modo que os objetivos dessas autonomia pessoal. Portanto, a música nesta
atividades são promover a expressão criativa etapa ajuda o desenvolvimento integral das
saudável e a cooperação em grupo. e a dança capacidades, porque seu objetivo principal é o
também melhora a consciência corporal da desenvolvimento integral ou a personalidade
criança. Por intermédio de canções como dos alunos. A música na Educação Infantil deve
"cabeça, ombros, joelhos e dedos", as crianças se tornar a base a partir da qual a música é
aprendem sobre as partes do corpo e ensinada na Educação Primária e Secundária,
conseguem uma coordenação motora total. portanto deve ser firme e consistente. Antes de
Tocando instrumentos e criando músicas que vir para a escola, suas experiências musicais são
fazem movimentos com as mãos como focadas em sua casa e em brincar com as
"aranha", melhoram a coordenação motora famílias por meio das quais os adultos se
fina. A música pode ser usada junto com aulas comunicam com as crianças.
de educação física. Essas experiências musicais fazem uma
A Educação Musical é necessária para diferença importante entre as crianças que
integrá-la como parte da educação geral da frequentam a Educação Pré-escolar. Aqueles
criança, dada sua excelente contribuição para a que tiveram uma relação com a música por
educação intelectual, corporal e emocional. meio de jogos ou músicas compartilhadas por
Zoltán Kodály ressalta que o som e a música são sua família, a escuta da música clássica (no
inatos para o homem e se apresentam nos útero até o nascimento) e depois do
primeiros meses de vida. Suzuki vai mais longe, nascimento, os jogos em que a música está
enfatizando que a criança é sensível a sons já no presente e aqueles que participaram de
útero da mãe. Portanto, a educação musical concertos, participaram ativamente da aula,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprenderam rapidamente as músicas, se ingênuas e precisos, embora poética e rica em


movimentaram ritmicamente, gostaram de imagens.
criar letras, entre outras coisas. No entanto, Em segundo lugar, se considerarmos o
aqueles cujo primeiro contato com a música é princípio didático que novo aprendizado está
feito quando chegam à escola, são inicialmente integrado no já aprendeu, quer por
mais relutantes em participar de atividades, conhecimento natural ou acadêmico,
têm problemas para memorizar músicas e não atualmente brinquedos infantis contêm
conseguem se expressar espontaneamente. melodias adaptadas música clássica: "Lullaby"
Tudo isso influencia negativamente a de Brahms, "Sleigh Ride", de Mozart, "o
aprendizagem musical e a comunicação em Moldau" por Smetana, "primavera" de Vivaldi,
geral, porque são menos participativas e se também na música clássica trabalho da escola,
sentem mais inseguras. que vai ajudar a desenvolver a sensibilidade e
Por intermédio da interação musical com a apreço em seus diversos aspectos. Educação
professora e com as outras crianças, essa Infantil, é de grande importância o
insegurança diminuirá à medida que o curso desenvolvimento de psicomotor e este é mais
progride. Geralmente essas experiências motivador por meio da música, especialmente
musicais são passados de geração em geração, quando os alunos chegam à escola precisa
portanto, está cultura popular tem uma série trabalhar com o ritmo porque o
de qualidades e valores inatos que ajudam a desenvolvimento rítmico é uma resposta que
desenvolver habilidades de linguagem, ajuda o controle e coordenação geral do corpo.
memória e motoras enquanto servia como Ligado ao ritmo é o espaço. Uma das atividades
atividade recreativa, uma vez por a por meio das quais o espaço funciona é o
musicalidade, a repetição de termos e os movimento livre enquanto ouve uma melodia
movimentos com os quais eles são ajuda os alunos a também trabalharem com
acompanhados são especialmente agradáveis audição e improvisação. Esta atividade é muito
para o menino e a menina repeti-los. Em apropriada para aqueles estudantes.
primeiro lugar, a escola deve ser uma
transmissora de canções infantis tradicionais,
uma vez que foram criadas pelas próprias
crianças e fazem parte da transmissão cultural
oral. As crianças têm a oportunidade de
conhecê-las e aproveitá-las em seu tempo livre,
motivando e estimulando sua criatividade,
originalidade e espontaneidade. Não nos
esqueçamos de que essas canções estão
relacionadas com jogos para crianças, como
canções correr, pular corda .... Dada a mente da
criança, você tem que escolher as músicas que
podem mais atenção, por seus temas simples,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A música é uma linguagem universal que está presente na história de todas as culturas e,
portanto, é uma emoção que se encontra em qualquer pessoa. Por meio da música nos
comunicamos e nos expressamos, demonstrando nossos sentimentos e emoções sem qualquer
dúvida. Esse fator que caracteriza a música promove a socialização e favorece a escuta.
A música é essencial na educação, é uma ferramenta de transformação. Não só ensina
músicas, danças ou jogos tradicionais, como também dá a oportunidade de conhecer outras
pessoas que vivem sua cultura musical. No entanto, esta qualidade não é apreciada por toda a
sociedade, porque não sabem criar um ambiente intercultural do ponto de vista musical. A
Educação Intercultural é fundamental hoje nas escolas, devido à grande diversidade que existe
em nossa sociedade.
A grande dúvida dos professores é como trabalhar com continuidade e isso é demonstrado
expressando suas dúvidas sobre essa forma de educação. As escolas favorecem o reconhecimento
da diversidade, sendo um agente socializador que permite sua integridade. Não adianta trabalhar
a interculturalidade quatro dias por ano. Esta é a razão que levou ao desenvolvimento desta
proposta musical a partir de uma perspectiva intercultural.
Nossa intenção é demonstrar que a educação intercultural pode ser trabalhada em sala de
aula como um fim em si mesmo ou um meio para atingir os objetivos e para a área de música
pode trabalhar. Como dissemos antes, a música é um elemento cultural e por meio dela podemos
incentivar o intercâmbio intercultural, desenvolver atitudes de respeito e tolerância pela
diversidade e promover o interesse em conhecer outras pessoas, compreender sua cultura e a
nossa também. Trabalhar a interculturalidade a partir da música não é tão difícil quanto parece,
requer apenas compromisso e trabalho para ser capaz de realizá-la. E você deve saber que não é
suficiente para interpretar a sua música ou ver suas danças, mas requer uma mudança a partir de
dentro a educação musical, adaptando e mudando os objetivos, o conteúdo e critérios de
avaliação do ano letivo.
Esta proposta não deve ser trabalhada somente onde há diversidade cultural, mas deve ser
implementada em qualquer centro para trabalhar a interculturalidade e o respeito pelos outros.
Finalmente, encorajamos a educar nossas escolas de uma perspectiva intercultural para
promover a compreensão e o respeito pelos outros na área, na qual a música pode trabalhar.
Como dissemos antes, a música é um elemento cultural e por meio dela podemos incentivar o
intercâmbio intercultural, desenvolver atitudes de respeito e tolerância pela diversidade e
promover o interesse em conhecer outras pessoas, compreender sua cultura e a nossa também.
Trabalhar a interculturalidade a partir da música não é tão difícil quanto parece, requer
apenas compromisso e trabalho para ser capaz de realizá-la. E você deve saber que não é
suficiente para interpretar a sua música ou ver suas danças, mas requer uma mudança a partir de
dentro a educação musical, adaptando e mudando os objetivos, o conteúdo e critérios de
avaliação do ano letivo.

499
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ANDREU DURAN, M., & Godall Castell, P. (2010). A importância da educação artística na
educação obrigatória: A aquisição de habilidades elementares básicas em um centro de
música integrado. Revista De Educativa, (p.357), (p.179).

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trilhas sonoras como base para a escuta ativa: Experiências educativas para o
desenvolvimento musical infantil. Revista da Faculdade de Educação de Albacete, (p.26).

JIMENO GRACIA, M. M. (2000). Música: da arte à educação. Revista de Música e Educação,


(41) Música na educação infantil. Um estudo de caso - LEI ORGÂNICA 2/2006, de 3 de maio,
sobre educação. (2006).

PASCUAL MEJÍA, P. (2010). Didáctica de la música para primaria (2ª edición ed.). Madrid:
Prentice Hall.

RUIZ, E. Expresión musical en educación infantil. orientaciones didácticas. Madrid:


EDITORIAL CCS. (2011).

SANJOSÉ Huguet, V. (1998). Los atributos musicales y el procesamiento cerebral. Revista


Música y Educación, (p.34).

500
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MÚSICA E O HOMEM: CONTRIBUIÇÕES NO


DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COGNITIVO NO
PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Jane Santos Pereira Molina 1

RESUMO: O artigo aborda a relação que há entre a música e o homem e também mostra a sua
grande influência na aprendizagem. Tal relação está calcada na dimensão que a música poderá
assumir no âmbito social, cultural e cognitivo da vida humana, a partir do instante em que o
homem se apropria deste bem cultural. Baseado nos incontáveis benefícios que a educação
musical poderá proporcionar ao indivíduo, surge um projeto de lei que insere a música também
no ambiente escolar, não servindo apenas como um instrumento didático, mas sim, de caráter
formador da cultura humana. Diante disso, observamos quais são os benefícios que a música faz
ao processo de ensino e aprendizagem.

Palavras-Chave: Música; Sujeito; Aprendizagem.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em História; Especialização em Psicopedagogia;
Especialização em Formação de Professores para o Ensino Médio, Técnico e Superior.
E-mail janesanto@hotmail.com

501
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO integração do aluno tornando-o mais ativo,


crítico, reflexivo e transformador no meio social
O presente artigo busca analisar a música e no qual está inserido.
sua contribuição na formação histórica social
do homem e também, sua importância
CONCEITO DE MÚSICA
relacionada aos aspectos cognitivos referentes
Daniel Barenboim, nascido em Buenos Aires
à aprendizagem.
em 1942 (é pianista e regente conhecido
Diante disso, é fundamental elencar algumas
internacionalmente), acredita que:
características que permeiam e constituem a
Veementemente seja impossível falar sobre
história da música, desde a antiguidade até a
música. Muitas definições de fato, apenas
contemporaneidade. Para tanto, é preciso
descrevem uma reação subjetiva a ela. Entende
compreender a música num sentido unilateral,
como sua única definição a de Ferruccio Busoni,
ou seja, contemplando desde os aspectos
o grande pianista e compositor alemão que
artísticos, na qual a subjetividade é exaltada;
disse que a música é ar sonoro, pois diz tudo e
até o caráter desmistificador que arremete sua
nada ao mesmo tempo. Schopenhauer, por sua
compreensão científica dotando a mesma de
vez, viu na música uma ideia de mundo. Dela,
criticidade e experimentos dentro da práxis. Daí
assim como da vida, só é realmente possível
sua importância dentro da formação do homem
falar tomando por base nossas próprias reações
como ser social, capaz de afetar a música e por
e percepções (2009, p.11).
ela ser afetado dentro desse processo formador
Conceituar música é uma tarefa complexa,
e transformador, chamado vida. Logo, é
afinal, os conceitos e definições mudam de
possível perceber o forte poder da música ao
acordo com cada contexto cultural e, portanto,
transformar o mais triste pranto, na mais bela
não apresenta uma ideia claramente definida.
canção, ou mesmo, em provocar no mais
Alguns estudiosos definem a música como uma
“bruto” dos seres humanos as mais profundas e
linguagem; outros, como uma sequência e
sensíveis emoções por meio de uma melodia ou
combinação de sons. Nicole Jeandot se dedicou
letra de canção.
ao estudo da música e apresenta a mesma
Nesse aspecto, aliar a música dentro dos
como Uma linguagem universal, mas com
processos e práticas educacionais emerge um
muitos dialetos que variam de cultura para
caráter mais que inovador, tornando uma ação
cultura, envolvendo a maneira de tocar, de
cultural em uma prática social, portanto
cantar, de organizar os sons e de definir as
significativa aos sujeitos contemplados por essa
notas básicas e seus intervalos. Este conceito
prática. Isso pressupõe a recente volta da
abrange informações também para o
música ao currículo escolar, visto dessa forma,
aprendizado profissional da música. Porém,
como uma contribuição para o aprimoramento
com base nas definições contidas nos
de diferentes áreas psíquicas do conhecimento
dicionários, definiremos nesta pesquisa a
por meio de um trabalho multidisciplinar, em
música como Arte e Ciência.
que a consideração das mais distintas
Arte porque traz a beleza dos sons, de suas
manifestações culturais pode promover a
combinações, e Ciência porque é a combinação

502
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de diversos valores musicais. Entretanto, por De acordo com autor que a música assumia
meio da música é possível transmitir nossos seu destaque desde os tempos de Homero (séc.
sentimentos, nossos afetos e nossas emoções. VIII a. C.), quando o estudo da lira e do canto
Dessa forma o homem é sensível à música. fazia parte da educação daquele povo. Platão
Podemos dizer que não há música sem o associava essa importância de tal forma que
homem, pois mesmo sendo ela também dizia: aquele que não sabe conservar o seu
manifestada pela natureza ela necessita do lugar num coro, não é verdadeiramente
homem para apreciá-la, da mesma forma o educado (GRANJA, 2010).
homem não existe sem a música, pois precisa Granja (2010), aponta dois mitos analisados
dela para satisfazer-se, para expressar-se, e por Schafer (1997), em que aponta
para poder dar continuidade à construção de características relevantes sobre a música até os
sua identidade. dias atuais. O primeiro mito narra o surgimento
O homem, segundo Ernst Fisher, é um da lira de Apolo, em que Hermes, ainda criança,
“mágico” capaz de modificar elementos da rouba a parte do rebanho de Apolo e sacrifica
natureza. Observamos nitidamente esta magia duas novilhas em homenagem aos deuses.
no encanto que a música é capaz de produzir na Usando as tripas das novilhas como cordas e o
vida humana, já que não é uma construção casco de uma tartaruga como caixa de
definitiva e enquanto Ciência, não está ressonância, Hermes constrói um instrumento
acabada, podendo sofrer alterações em suas musical: a lira. Ao ouvir o som da lira tocada por
combinações e interpretações. Hermes, Apolo fica encantado e ordena a este
que lhe dê o novo instrumento como forma de
MÚSICA NA ANTIGUIDADE compensação pelo roubo das novilhas. Apolo
passa a praticar a lira, tirando sons
O autor Carlos Eduardo Granja (2007), fez um
maravilhosos que encantavam os demais
excelente histórico sobre a marca da música na
deuses. Certo dia, Mársias, que tocava muito
antiguidade. Segundo ele em cavernas havia
bem a flauta, desafia Apolo para um duelo
registros de figuras que representavam
musical. Apolo vence a disputa e passa a ser
instrumentos musicais, ou seja, registros da
declarado pelas musas como o deus da música,
presença da música em civilizações extintas,
da poesia e da inspiração. A lira passa a ser o
tais como egípcia, babilônia e a assíria. Nesse
instrumento associado a Apolo e à sua música.
período a música aliou-se a educação de uma
Revela o autor que nesse momento a música
maneira especial na Grécia antiga, ao mesmo
surge da descoberta das propriedades
tempo aproximando-se também da filosofia, o
materiais dos objetos, fruto da ação racional do
curioso é que naquele tempo não havia a
homem sobre a natureza, desta forma a música
notação musical (o estudo da música: as notas
apolínea é serena, racional e contemplativa,
musicais, os valores musicais), sua
mais próxima da dimensão espiritual do que a
representação era oral, mesmo assim a música
corporal.
mantinha um papel de suma importância para
No segundo mito, a música surge do
a formação humana daquele período.
lamento, do interior do homem. Segundo esse

503
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mito apontado pelo autor, Palas Athenas fica principalmente nas cerimonias religiosas e
comovida ao ouvir o choro das irmãs de festividades.
Medusa após sua decapitação. Ela cria uma Elencando todos esses fatos existentes na
cantiga em sua homenagem, dando origem a Antiguidade, vemos desde cedo à ligação
música. Usando um osso de corvo seco, a deusa existente entre o homem e a música, em que
criou um instrumento de sopro: o aulos é mesmo inconscientemente satisfazia-se em
consagrado por Apolo ao deus Dionísio e se expressar seus sentimentos e emoções,
torna o instrumento típico dos festivais sentindo um prazer inigualável, por meio de
dionisíacos. Por esse instrumento ser de sopro, simples ruídos manifestados pelos mais simples
o aulos exige uma maior ação mais intensa e objetos muitas das vezes ignorados e
direta do corpo na música. Além disso, ele é desprezados por outros. Após essa reflexão fica
associado a Dionísio, que era o deus do vinho e dementemente claro a ligação indireta do ser
da embriaguez. Dionísio tocava o aulos em suas social sobre a combinação dos sons.
festas e orgias levando as pessoas ao transe e
ao êxtase. Ao contrário da música apolínea, a A MÚSICA E O HOMEM
música dionisíaca é emotiva, corporal e
Em 2008 foi sancionada uma lei que exige o
espontânea, sua força surge do inconsciente
estudo da música na Educação Básica, mas para
sem passar pela razão.
compreender o processo que culminou no
Nesse contexto a civilização grega dava
desenvolvimento do novo projeto de lei, que
grande ênfase aos mitos, pois colaboravam
institui o ensino da música na educação básica,
para o desenvolvimento e a formação daquele
é necessário entender toda trajetória para que
povo, segundo Granja (2010), influenciavam em
ocorresse a criação deste projeto. Tal trajetória
sua arte, história e pensamento, porém com o
está centrada na relação que há entre música e
surgimento da escrita esses foram perdendo o
homem desde tempos remotos.
seu respectivo lugar.
A música tem algo intrínseco à história do ser
Surge então um discurso racional e inovador
humano e por ser arte é quase tão antiga
de se pensar sobre o mundo caracterizado
quanto o homem. Arte que abrange as mais
como logos (na antiga filosofia grega, a
variadas manifestações criadas pelo homem de
racionalidade que controla o universo= razão).
acordo com sua cultura, dentre elas, a música.
Nesse aspecto, a verdade é algo que devemos
Por meio da música o homem encontra a si
descobrir por meio de nossos conhecimentos.
mesmo, e é sensibilizado de forma que seus
Passa-se então a considerar dois caminhos: O
sentimentos e emoções sejam traduzidos.
mito precisa ser sentido e vivido, e por outro
Como Ernst Fischer afirma: “O homem anseia
lado o logos deve ser estudado e analisado.
por unir na arte o seu “Eu” limitado com uma
Contudo, o logos aprofundou-se nas
existência humana coletiva e por tornar social
investidas racionais, sobretudo nas
sua individualidade.”
manifestações literárias, artísticas e religiosas;
Sendo a música uma representação artística,
a música e o mito se aproximavam do âmbito
a relação que o homem estabelece com ela, não
da manifestação sonora, presente
é apenas se divertir ou se emocionar, mas sim

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mudar a realidade social, usá-la como um se musicalmente, fazendo até mesmo,


instrumento riquíssimo capaz de transformar a distinção entre eles por causa da
sociedade, afinal, a música é também prática intencionalidade do uso da mesma. Nesse
social. Todavia, é imprescindível esclarecer que sentido Camargo e Meheire (2007), afirmam
cada ser humano possui particularidades, que “a atividade musical, enquanto integrante
fazendo com que a música seja manifestada em de uma cultura, criada e recriada pelo fazer
cada ouvinte de maneira diferente, já que está reflexivo – afetivo do homem, é vivida no
ligada a subjetividade do sujeito. contexto social, histórico, localizado no tempo
É o que aponta Nicole Jeandot (1993, p.15): e no espaço, na dimensão coletiva.”
A música não nasceu das reflexões de O homem, enquanto sujeito histórico-
Pitágoras, nem do estudo das cordas ou das cultural compartilha suas atividades musicais,
lâminas que vibram. Ela é resultado de longas e tornando a história da música e a relação desta
incontáveis vivências individuais com a música como uma possibilidade para contribuir na sua
e de civilizações musicais diversas. Não formação como ser integral.
podemos, portanto, nos espantar ao
depararmos com novas experiências que nos A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA
revelam as várias facetas – concretas e
abstratas – de que a música é constituída DIANTE DO PROCESSO DE
(JEANDOT, 1993, p.15). ENSINO E APRENDIZAGEM
A inserção da música na nossa cultura A música é uma arte tão antiga, porém tão
possibilita que a mesma tenha acesso aos mais completa que já fez parte da Educação na
diversificados tipos de letras e ritmos, antiguidade. No período Clássico, fazia parte da
ampliando o repertório cultural e abrindo Educação em Greta e Esparta, por meio de
muitas possibilidades de relação e aulas de coral. Manacorda (1989, p. 47),
interpretação entre o homem e a música, de discorre que “através desta iniciação (coral e
acordo com as particularidades existentes em social), efetuava-se a preparação dos
cada cultura. adolescentes para a vida adulta do cidadão”.
Quando se vivencia a música se estabelece Isto ocorria porque já entendia-se que a música
uma relação com a matéria musical em si era capaz de colaborar para vários aspectos da
(resultado da relação de seus elementos) e com vida humana. Dentre eles pode-se mencionar o
toda uma rede de significados construídos no desenvolvimento da linguagem, que foi sendo
mundo social (WAZLAWICK, CAMARGO & aperfeiçoado a partir da imitação de sons
MAHEIRIE, 2007, p.45). produzidos pela natureza. Herder (apud,
A partir desta afirmação, fica evidente que os FISCHER, 1987, p.32), esclarece que “O primeiro
significados são atribuídos a cada ser, vocabulário foi ampliado a partir do mundo dos
baseando-se nas vivências que cada indivíduo sons naturais.” Ainda hoje a música é capaz de
possui. Como a música deriva de um contexto, auxiliar não só no desenvolvimento da
além dela ser arte, ela também é história, pois linguagem, mas no desenvolvimento global
cada grupo social tem sua forma de expressar- enquanto ser integral.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Estudos concluíram que a música é uma pesquisas feitas ao longo da História, fica
grande arma auxiliadora para o evidente a importância da música na formação
desenvolvimento intelectual, moral e cognitivo do ser enquanto homem omnilateral - conceito
da criança. Isto decorre do fato de sermos de grande importância para a reflexão em torno
sujeitos históricos. do problema da educação em Marx o qual
Todo indivíduo enquanto ser social insere-se, refere- se a uma formação humana oposta à
desde o momento em que nasce, em um formação unilateral provocada pelo trabalho
contexto cultural, apropriando-se dele e alienado, ou seja, a ruptura com o homem
modificando-o ativamente, ao mesmo tempo limitado da sociedade capitalista. Homem
em que é por ele modificado (WAZLAWICK, unilateral não é definido pelo que sabe,
CAMARGO & MAHEIRIE, 2007, p.32). domina, gosta, conhece, mas pela sua
Baseado na importância que estes autores disponibilidade para saber, dominar, gostar e
atribuem à apropriação dos bens culturais, é conhecer (Dicionário da Educação Profissional
importante que o trabalho com a música em Saúde).
contemple todos os ritmos existentes no Provando a importância da música no
universo da música presentes em cada região, processo de ensino e aprendizagem, um
contemplando suas particularidades (samba, projeto de Lei 3732/08, proposto pela senadora
frevo, baião, forró, sertanejo, rock, jazz, blues, Roseana Sarney (PMDB–MA), no dia 18 de
gospel, entre outros), já que não se sabe qual o agosto de 2008, foi sancionado pelo presidente
repertório trazido pelo sujeito. O professor que da República Luís Inácio Lula da Silva (Lei nº
queira agir de acordo com esta pluralidade, 11.769, de 18 de agosto de 2008), tornando
deve inteirar-se dela inicialmente e saber que o obrigatório o ensino de música na Educação
que define fortemente essa diversidade é o Básica. Segundo ele proporcionará ao aluno um
próprio ritmo. Partindo daí, propor em melhor desempenho nos âmbitos sociais e
atividades práticas, ora com músicas apreciadas afetivos. Um dos argumentos utilizados para a
pelos estudantes, ora abrir o leque de outras implementação deste projeto se baseia nos
referências, articulando aquilo que é objetivos da Educação proposto pela Lei de
interessante e significativo em determinado Diretrizes e Bases da Educação Nacional
momento. 9394/96, sobre o qual a senadora Roseana
Como a música é arte, a releitura de Sarney (2006), diz que a música se configura
músicas, bem como regravações de músicas como veículo privilegiado para se alcançar as
antigas em ritmos atuais, poderá despertar um finalidades educacionais almejadas pela LDB
interesse ainda maior por músicas que antes, (1996).
não faziam parte da vida do sujeito. Esta A música é uma prática social, que constitui
articulação influenciará não somente no instância privilegiada de socialização, onde é
desenvolvimento da aprendizagem, mas na possível exercitar as capacidades de ouvir,
construção de cada indivíduo como ser social. compreender e respeitar o outro. Estudos e
Após estudar os benefícios elencados pesquisas mostram que a aprendizagem
nesta pesquisa e por meio dos estudos e musical contribui para o desenvolvimento

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cognitivo, psicomotor, emocional e afetivo e,


principalmente, para a construção de valores
pessoais e sociais de crianças e jovens (SARNEY,
2006, s.p).
A justificativa da senadora Roseana Sarney
enfatiza o desenvolvimento da criança em seu
sentido global, ou seja, a música contribui para
aprimorar distintas áreas, sendo elas psíquicas,
emocionais e afetivas.

507
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em todos os aspectos existentes em uma relação de identidade a música esteve, está e
sempre estará permanentemente interligada ao homem. Ao mesmo tempo em que se faz parte
da vida humana, em que é expressa por todos, a música representa ao indivíduo parte da sua
história e da sua cultura.
Por sua grande atuação, resultante de tantos benefícios em nosso interior, torna- se uma
importante ferramenta diante do processo de ensino e aprendizagem para o desenvolvimento
cognitivo, estabelecendo uma “ponte” entre todos os aspectos essenciais para o
desenvolvimento do sujeito e a aprendizagem, apropriando- se cada vez mais das propriedades
psíquicas, emocionais, motoras e afetivas, tendo como resultado uma aprendizagem significativa.
Contemplamos a música em toda a antiguidade ocupando lugar de destaque na educação,
sendo conhecida como elemento chave de suma importância para o desenvolvimento pleno dos
indivíduos, sendo uma linguagem subjetiva do homem. Então, por que hoje em diversos aspectos,
infelizmente é deixada por último quando se refere ao desenvolvimento humano? Ou sua
utilização seja apenas em momentos ociosos sem ser pensada com a sua grande influência na
formação do estudante como ser histórico cultural e social?
Cabe a nós, professores ter conhecimento referente a essa ferramenta tão poderosa, a
qual pode interferir no desenvolvimento pleno do indivíduo.

508
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
AGUERRA, Llorenç: Além da Inteligência emocional – As cinco dimensões da mente.
Cengage Learning Edições Ltda, 2009.

BARENBOIM, Daniel: A música desperta o tempo. São Paulo: Martins, 2009.

BRASIL. Lei n. 11.769, de 18 de agosto de 2008. Torna obrigatório o Ensino de música no


Currículo Escolar. Lex: Diário Oficial da União, São Paulo, agosto, 2008.

BRITO, Teca Alencar. Música na Educação Infantil – Propostas para a formação integral da
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FISCHER, Ernst. A necessidade da Arte. 9º edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987.

JEANDOT, Nicole. Explorando o universo da música. São Paulo: Scipione, 1993.

GRANJA, Carlos Eduardo: Musicalizando a escola: musica conhecimento e educação. São


Pulo 2ºed: escrituras, 2010.

JOURDAIN, Robert : Música, Cérebro e Êxtase: como a música captura a nossa


imaginação.- Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.

MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias. 5º


edição. São Paulo: Editora Cortez,2018.

SITE. Dicionário online de Português http://www.dicio.com.br/logos/. Acesso em


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SITE. Dicionário de Educação Profissional em Saúde.


http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.html. Acesso em 6/12/2020.

WAZLAWICK, Patrícia; CAMARGO, Denise, MAHEIRIE, Kátia. Significados e Sentidos da


música: uma breve “composição “a partir da Psicologia Histórico-cultural.

509
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MÚSICA E SUA RELEVÂCIA NA EDUCAÇÃO


INFANTIL
Eliana Fatima Rodrigues Nogueira Cimmino 1

RESUMO: Este artigo visa demonstrar a importância do ensino musical e suas contribuições na
faixa etária de 0 a 5 anos. A maioria das instituições escolares de Educação Infantil não oferecem
práticas pedagógicas que desenvolvam a percepção, sentimentos, experiências, criação, reflexão
e imitação, recursos estes que ampliam os saberes e a troca de conhecimentos. A música contribui
para o desenvolvimento integral da criança na Educação Infantil. Por meio da abordagem sobre
música, do diálogo com teóricos e a contribuição desta na dinâmica escolar, conjugando
expressão de sentimento e facilitadora da comunicação com o meio que está inserida.

Palavras-Chave: Criança; Educação musical; Contribuições.

1 Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia.
E-mail: elianacimmino@gmail.com

510
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Partindo de uma análise que considera que,


em sua essência, a música é jogo, o pesquisador
Música é uma linguagem universal, presente e educador francês, François Delalande,
na cultura humana. Imprescindível na formação relacionou as formas de atividade lúdica infantil
da criança, na capacidade de pensar e exercer propostas por Jean Piaget, a três dimensões
sua criatividade de maneira crítica e livre, é presentes na música:
fundamental na formação do corpo, alma e do • jogo sensório-motor - vinculado
caráter das crianças. exploração do som e do gesto;
Com base na publicação da Lei 11.769, de 18 • jogo simbólico - vinculado ao valor
de agosto de 2008, ficou estabelecida a expresso e à significação mesma do discurso
obrigatoriedade do ensino de música nas musical;
escolas de Educação Básica. De acordo com a • jogo com regras - vinculado a
LDB 9.394/96, art. 21, inciso I, a Educação organização e a estruturação da linguagem
Básica compreende a Educação Infantil e séries musical.
iniciais. Delalande (1984), relaciona os três tipos de
Dentro de um dos documentos, oficializado jogos à evolução das culturas musicais,
recentemente, tem-se a proposta pelo agrupando as correntes por sua função lúdica.
Ministério da Educação (MEC), neste caso a Há comprovação que as vivências sonoras
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na ocorrem desde quando o ser está no útero
qual há a preocupação que assegura a todos os materno.
brasileiros uma formação comum. De acordo com Ilari (2002, p.841), “a
Este artigo tem como foco a Educação aprendizagem musical pode iniciar ainda no
Infantil, assim, imposta compreender a útero materno quando os bebês expostos à
abrangência dessa fase da educação escolar. música durante a gestação, pois na fase
A educação musical é um dos eixos intrauterina os bebês já convivem com um
norteadores da Educação Infantil, portanto, ambiente de sons provocados pelo corpo da
precisa ser assegurada nesta faixa etária entre mãe, como o sangue que fui nas veias, a
zero e cinco anos para contribuir efetivamente respiração e a movimentação dos intestinos. A
no desenvolvimento integral da criança de voz materna também constitui material sonoro
maneira lúdica e prazerosa no aprendizado. É especial e referência afetiva para eles.
nesta perspectiva que o tema é abordado neste Os bebês e as crianças interagem
artigo. permanentemente com o ambiente sonoro que
os envolve e com a música, já que ouvir, cantar
DESENVOLVIMENTO e dançar são atividades presentes na vida de
O vigente artigo objetiva apresentação de quase todos os seres humanos, ainda que de
aproximar educadores, música e crianças e diferentes maneiras.
mostrar a importância da musicalização no Podemos afirmar que o processo de
desenvolvimento infantil das crianças até 5 musicalização dos bebês e crianças começa
anos. espontaneamente, de forma intuitiva por meio

511
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

do contato com toda a variedade de sons do Música é gesto, movimentação, ação.


cotidiano incluindo música. A área de Educação Infantil é um espaço
As cantigas de ninar, canções de roda, as educativo e de extrema importância,
parlendas e todo tipo de jogo musical, oferecendo interação entre crianças e adultos
estabelece interações e desenvolve um propiciando exploração do meio em que esta
repertório que permite comunicar-se pelos traz o lúdico à fantasia, levando-se em conta
sons e desenvolvendo aspectos afetivos e suas potencialidades, habilidades e toda
cognitivos e vínculos com os adultos e a música. bagagem independentemente da idade.
A criança é um ser “brincante” e brincando Nas brincadeiras infantis, as crianças usam a
faz música e assim se relaciona com o mundo música como forma de expressão e para
que descobre a cada dia. estabelecer regras, relações sociais, diversão,
O modo como as crianças percebem, alegria e aprendizagem por meio das interações
aprendendo e se relacionando com os sons, no criança/criança, criança/adulto e criança/meio,
tempo-espaço, mostra o modo como notam, construindo significados diversos de forma
aprendem e se relacionam com o mundo que ativa.
veem explorando e descobrindo a cada dia. Na escola o educador tem imensa relevância
O processo de aquisição da linguagem nesse processo, pois segundo Oliveira, o
também facilita a comparação com a expressão educador:
musical: da fase de exploração vocal à etapa de deve ser capaz de observar, reconhecer e
produção, criação e reconhecimento da grafia. avaliar o nível de desenvolvimento das crianças
Isto torna toda exploração, descobertas, e suas necessidades. Fundamental nesse
construções e hipóteses significativas em processo é a atitude de tentar colocar-se no
transformações e conquistas de lugar da criança para captar sua forma de ser e
conhecimentos. as hipóteses que está construindo sobre o
Segundo Delalande (1984), isso também mundo em cada momento (OLIVEIRA, 1999,
ocorre com a música. A garatuja sonora, p.73).
correspondente ao período de exploração O autor (Oliveira,1999), ainda fala sobre a
sensório-motora, isso foi apoiado nas pesquisas importância e como deve ser respeitada a
de Jean Piaget (1976). Educação Infantil, pois a contribuição no
Assim como o arquiteto realiza-se do corpo desenvolvimento integral da criança está nesta
humano para conceber as escalas de suas etapa, na qual aflora-se a individualidade e se
estruturas de vida cotidiana, a voz humana, em constrói cidadãos críticos e autônomos.
conexão como ouvido, deve fornecer os Hoje a música é vista como grande
referenciais para as discussões sobre o contribuinte da formação de seres humanos na
ambiente acústico saudável à vida (MURRAY & área da criatividade, sensibilidade e reflexão.
CHAFER,1991, p.207). Na faixa etária de 0 a 5 anos, é de extrema
Lugar comum dizer que a voz é o nosso importância a apresentação da música de
primeiro instrumento natural que é o meio de forma lúdica como já citamos. É por meio da
expressão e comunicação desde o nascimento. exploração de diferentes sons, pela interação,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pelo canto, brinquedos e jogos contados, Associação da música enquanto atividade


sonorização de histórias, apreciação e reflexão lúdica ligada a outros recursos dos quais
da produção musical que a criança experimenta dispõem o educador, facilita o processo de
e vivencia a música, tornando-a parte de sua ensino-aprendizagem, pois incentiva a
vida, incorporando estes conceitos, criatividade do educando por meio do amplo
naturalmente. leque de possibilidades que a música
É possível observar o processo de disponibiliza. Para Chiarelli (2005), a música é
apropriação da linguagem musical, nessa faixa importante para o desenvolvimento da
etária, também, ou talvez principalmente, em inteligência, da interação social e da criança e a
situações nas quais as crianças não estão harmonia pessoal, facilitando a interação e a
propriamente “fazendo música”, mas inclusão. Para ele, a música é essencial na
vivenciando-a de diversas outras formar: educação.
dançando, representando, imitando, O lúdico, o brincar, são traços fundamentais
fazendo gestos, brincando(SCHROEDER, 2011, e compõem as culturas infantis que
p.1080). possibilitam aprendizagens como também
O brincar faz a criança interiorizar-se na formas de recriar e transformar o mundo.
fantasia e na imaginação de vivências e Independentemente da época, da etnia, do
experiências reais e criando suas próprias gênero e da classe social, o lúdico faz parte da
regras. Isso acontece com a música, pois vida da criança, da descoberta de si mesmo, da
segundo Schroeder (2011, p.110), os processos possibilidade de experimentar.
de apropriação da linguagem musical passam No brincar, construímos regras e conceitos
necessariamente pela possibilidade de para a constituição da sociabilidade, aprende-
expressão individual da criança em diversas se a brincar nas relações com os outros, a
linguagens, não apenas na música. significar e compartilhar experiências.
O ensino de música na escola não tem como A proposta pedagógica que possa
meta final tomar as crianças músicos e/ou contemplar diferentes linguagens e os direitos
musicistas, mas despertar um olhar crítico da criança em suas múltiplas dimensões.
sobre a música que está ao seu redor, Segundo as “Diretrizes Curriculares
trabalhando elementos musicais ludicamente e Nacionais para a Educação Infantil (2010)”:
de maneira que possa transmitir prazer. Gainza Objetivos da Proposta Pedagógica: A
(1988, p.88), justifica que “a educação e, proposta pedagógica das instituições de
portanto, a educação musical, deve ser Educação Infantil deve ter como objetivo
considerada como uma contribuição garantir à criança acesso a processos de
sistemática ao processo de desenvolvimento apropriação, renovação e articulação de
integral (biopsicossocial) do ser humano”. conhecimento e aprendizagem de diferentes
A música tem sua importância e função linguagens, assim como o direito à proteção, à
educativa como todas as áreas do saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à
conhecimento. dignidade, à brincadeira, à convivência e a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

interação com outras crianças (BRASIL, NA EDUCAÇÃO INFANTIL É


2010,s.p).
As crianças desde o nascimento percorrem PRECISO BARULHAR
um caminho de descobertas, o adulto é um As escolas de Educação Infantil têm o desafio
sujeito significativo para a infância, pois são os de direcionar o foco das observações nas
adultos que apresentam o mundo às crianças, crianças e como se relacionam, sendo assim as
possibilitando que elas sejam autoras, instituições devem garantir que toda criança
redescobrindo e transformando esse mundo, tenha contato com a música em seu cotidiano
instigadas pelas suas curiosidades a ter o desejo na escola.
de explorar e aprender. Sendo a Educação Infantil a primeira etapa
De acordo com Faria e Salles (2012, p.109), da educação básica, as Diretrizes Curriculares
as crianças precisam se apropriar de elementos Nacionais da Educação Infantil (2010), afirma
básicos dos sistemas simbólicos criados pela em seu artigo:
humanidade e as linguagens necessitam estar Primeira etapa da educação básica, oferecida
presentes no cotidiano da Educação Infantil, em creches e pré escola, às quais se
mediando as relações com as crianças. caracterizam como espaços institucionais não
Nesse sentido, numa Instituição de Educação domésticos que constituem estabelecimentos
Infantil, é necessário que as crianças se educacionais públicos e privados que educam e
apropriem de alguns elementos básicos dos cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no
vários sistemas simbólicos criados pelos período diurno, em jornada integral ou parcial,
homens e que tenham acesso ao acerbo regulados e supervisionados por órgão
artístico-cultural produzido por meio desses competente do sistema de ensino e submetidos
sistemas. Ao mesmo tempo, as diversas a controle social (DCNEI, 2010,s.p.)
linguagens precisam estar presentes na I.E.I. Brincar é fazer música, nessa ação lúdica,
como práticas sociais reais, de forma segundo Lino (2010), acontece na diversão e na
significativa e criativa, mediando as múltiplas improvisação, nas mais diversas relações do
relações que são estabelecidas com e entre as brincar com a música, existe o desejo sensorial
crianças. É fundamental que essas linguagens de tocar o outro, a si mesmo e ao mundo.
possibilitem o compartilhamento de Nessas vivências lúdicas da música, são
significados entre todos os envolvidos e que a consideradas as entonações, os cantos, as
autoria das crianças seja garantida pela fala, interpretações, as composições, as
pelo gesto, pelo desenho, pela escrita ou por improvisações, as danças, os ritmos percutidos
alguma outra forma de registro Faria e Salles e a escuta. Portanto, a música adere ao som, ao
(2012, p.109), ruído, a mistura dos dois e ao silêncio. Fazer
música para as crianças é uma experiência
socializadora.
Ouvir uma música, aprender a cantar uma
canção, brincar com jogos de mão e
brincadeiras de roda são atividades que não

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

existem sem expressões e afetividades, de uma Entendendo-se cultura infantil como a


maneira prazerosa, estimulam e despertam o experiência, as descobertas, o fazer das
interesse das crianças pela musicalidade. crianças entre elas mesmos, buscando a si e ao
Com isso, a música e a brincadeira fazem outro em interação como mundo, ou seja, toda
parte da educação e da socialização do sujeito, multiplicidade e riqueza dos brinquedos de
sugerindo uma forma de refletir sobre si e sobre criança teremos que buscar compreensão da
a sociedade. música cultura infantil dentro deste mesmo
Dulcimarta Lino (2010), ajudou a contexto, como parte que é de um mesmo
compreender melhor o brincar e fazer música, corpo de conhecimento de um mesmo
portanto, barulhar é ser um corpo que brinca, é conhecimento como corpo, nele incluídas
um corpo sonoro. naturalmente a sensibilidade, a inteligência e a
Compreendo que ao fazer música brincando, vontade como dimensões da vida na sua
as crianças participam da experiência sonora complementaridade e inteireza. E, aos poucos
num tempo de conexões significativas entre os vão chegando os brinquedos cantados, cuja
acontecimentos suspendendo o automatismo ação dinâmica, com as suas variadas qualidades
das ações para entrar em relação como som, de movimentos, talha uma música de caráter e
matéria prima que provoca movimento perfil diferenciados. Finalmente, surgem as
aprendido pelo ouvido. Tal experiência sonora rodas de versos, verdadeiros ritos de passagem
requer interrupção, cultiva a escuta, mobiliza o em que o conteúdo poético, a atmosfera
corpo (LINO, 2010, p.83). própria e a movimentação mesmo guardando
Brincar quer dizer barulhar, utilizar a música dimensões da infância, apontam, cada vez mais,
nos momentos de brincadeiras divertidas e a expressividade da nova etapa a ser vivida. É
alegres que surge a necessidade de expressar preciso desenvolver uma inteligência sensível,
fazendo do corpo que brinca um corpo sonoro. encontrar caminhos para a alegria e afirmar a
vida na interligação. E se quisermos
CULTURA INFANTIL NA verdadeiramente fazer justiça às crianças
teremos que desafiá-las em sua graça e poder,
MÚSICA por meio de sua própria cultura (...)
Aproveitar as contribuições das crianças, Toda criança gosta de música, poesia,
significa especialmente colher produtos brinquedo... Não será, pois, oportuno,
musicais de diversas culturas ricas, que estão favorecer lhe a índole e levá-la a trocar seu
presentes no nosso meio. destino com confiança? (HORTELIO, 1977,
Cada região do nosso país tem suas próprias p.35).
tradições, um universo de ritmos, danças e Este texto acima apresenta a leveza e a
significados legítimos. importância que nos leva a refletir sobre
Ampliando o universo cultural e musical, questões simples. A música está presente em
estabelecemos, desde a primeira infância, uma todas as áreas e momentos que a criança está
consciência efetiva com relação aos valores inserida, muitas vezes, não se dá valor ou
próprios da formação e identidade cultural. percebemos a importância em valorizar estes

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momentos e a cultura que ali aparece no


Documento de “Música” do referencial
Curricular Nacional para educação infantil
valorizando a presença de brinquedos musicais
no cotidiano infantil, afirma que:
em todas as culturas as crianças brincam
com a música, jogos e brinquedos musicais são
transmitidos por tradição oral, persistindo nas
sociedades urbanas nas quais a força cultural de
massa é muito intensa, pois são fonte de
vivência e de desenvolvimento expressivo e
musical. Envolvendo gesto, o movimento, o
canto, a dança e o faz-de-conta, esses jogos e
brincadeiras são legítimas expressões da
infância. Brincar de corda, amarelinha, roda,
ciranda são maneiras de estabelecer contato
consigo próprio e com o outro, de se sentir
único e ao mesmo tempo, perto de estruturas e
formas musicais que se se apresentam em cada
canção e em cada brinquedo. Os jogos e
brinquedos musicais da cultura infantil incluem
os acalentos (cantigas de roda), as adivinhas, os
contos, os romances (BRASIL,1998, p.71).
Canção é o gênero musical que funde música
e poesia. Existem canções para todos os temas
e assuntos, tudo pode cantar, é importante
ampliar o contato das crianças com produtos
musicais diversos, enriquecendo seu
conhecimento acerca da produção cultural do
país.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Infantil, em especial, a educação musical aqui abordadas, tem a possibilidade
de contribuir para o desenvolvimento de uma visão escolar, como a música, o barulhar, sendo um
importante aliado para o desenvolvimento infantil.
O educador é um incentivador, motivador e mediador de conhecimento quando vivenciam
experiências diversas contribuindo para uma prática estendida aos educandos.
Na musicalização, resgatamos os sentimentos, emoções e expressões, sendo assim,
consequentemente refletimos na formação de sujeitos que possuem saberes, produzem cultura,
descobrindo a si e ao outro, em um mundo que compartilha e nota as singularidades.
A música necessita estar presente no cotidiano escolar, pois é a partir desta vivência que
expressamos sentimentos e emoções. Ademais, é concebida como um universo que conjuga
expressão de sentimentos, valores culturais e, assim, facilita a comunicação do indivíduo com ele
mesmo e com o meio em que vive, sendo um agente facilitador do processo educacional.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=comcontente&vienw=article&id=12745:ceb2009&cat
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Básica. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documentos/BNCC-
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GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de psicopedagogia musical. Tradução: Beatriz A.


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ILARI, Beatriz Senoi. Bebês também entendem de música: a percepção e a cognição


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LINO, Dulcimarta Lemos. Barulhar: a escuta sensível da música nas culturas da infância.
2008. 392 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
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<http://www.Abemeducacaomusical.org.br/Masters/.../revista24_artigo9.pdf.> Data de
Acesso:20/02/2020.

518
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

PIAGET, J. O Nascimento da Inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

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PEREIRA, Bruno Gomes. O papel cognitivo da música no processo de ensino na educação


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SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. Trad, Marisa T. de O. Fonterrada, Magda R. G. da Silva,


Maria Lucia Pascoal. São Paulo, ed. Unesp, 1991.

SCHROEDER, Silvia Cordeiro Nassif; SCHROEDER, Jorge Luiz. As crianças pequenas e seus
processos de apropriação da música. Revista da ABEM. Londrina, v. 19, n. 26. 105-118. Jul-
dez/2011.

519
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A NEUROCIÊNCIA E SUA IMPORTÂNCIA NA


FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Jacqueline Capel1

RESUMO: Esse artigo pretende buscar reflexões acerca da importância dos professores terem
conhecimento da Neurociência, podendo trabalhar de uma forma significativa com seus alunos
em sala de aula. A neurociência estuda como o cérebro aprende e o que influencia a aquisição
cerebral mais bem-sucedida e a aplicação da aprendizagem deve ser incluída em todos os
programas de formação de professores. Os professores precisam estar preparados com
conhecimento fundamental para entender, avaliar e aplicar a neurociência da aprendizagem.
Com esse conhecimento, eles poderão reconhecer as implicações futuras desse campo de
pesquisa em rápida expansão para aumentar a eficácia de seu ensino e construir e sustentar a
alegria de aprender dos alunos. A formação de professores precisa preparar os professores de
amanhã com o conhecimento e as ferramentas para preparar seus futuros alunos para a
globalização das realidades que mudam o jogo.

Palavras-Chave: Neurociência; Professores; Aquisição Cerebral.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail:capel.jack@hotmail.com

520
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO comportamentos dos alunos na sala de aula, os


educadores obtêm informações valiosas sobre
A neurociência está na vanguarda de os pontos fortes, fraquezas, interesses, estilos
produzir pesquisas de maior qualidade e de aprendizagem e comportamentos dos
aplicabilidade à educação. A neuroimagem alunos e são mais capazes de cultivar e
funcional nos dá uma ideia de quais promover um ambiente de aprendizagem
circunstâncias e insumos sensoriais promovem positivo.
com mais sucesso a aquisição de novos De acordo com Sassaki (1999, p. 42):
conhecimentos pelo cérebro. Entre esses A educação inclusiva tem como objetivo a
insights está a evidência de aumento da construção de uma sociedade para todos, e,
atividade metabólica em redes neurais assim, sua prática repousa em princípios até
identificáveis quando a informação é codificada então considerados incomuns, tais como: a
na memória, quando as memórias são aceitação das diferenças individuais, a
recuperadas e quando o uso das funções valorização de cada pessoa, a convivência
executivas está associado ao aumento da dentro da diversidade humana, a aprendizagem
atividade do circuito neural no córtex pré- por meio da cooperação.
frontal. Nosso cérebro está constantemente
Correlações à pesquisa em neurociência mudando e tudo o que fazemos fisicamente
produziram estratégias mais consistentes com muda isso. Nossos cérebros são considerados
o processamento de informações do cérebro “plásticos”. Isso nos permite mudar e moldar
agora "visíveis" com a neuroimagem funcional. nossos cérebros à medida que nosso ambiente
Por exemplo, quando a informação é muda e determina como nossas memórias
apresentada de maneiras que enfatizam os serão usadas no futuro. Isso é chamado de
relacionamentos com a memória armazenada neuroplasticidade e, como educadores,
existente, o próprio sistema de padronização precisamos perceber que nós (assim como os
do cérebro aumenta a aquisição bem-sucedida próprios alunos) realmente temos a capacidade
de memória. de mudar fisicamente seus cérebros - e sua
Os professores precisam entender o porquê inteligência. O cérebro se torna o que faz.
e não apenas como as estratégias de ensino Entender o cérebro e como ele funciona é
mais eficazes para ter motivação e expectativas fundamental para que nossos educadores se
positivas para melhor utilizar essas estratégias. tornem professores eficazes e de alto impacto .
Esses tópicos incluem como o cérebro “presta Ter um aluno em uma aula com um professor
atenção”, codifica novos dados para a memória que realmente não entende as implicações da
de trabalho, usa a neuroplasticidade para neuroplasticidade que muda o cérebro é como
construir memória de longo prazo, é mandar seu carro para consertar um mecânico
influenciada pelo estresse e desenvolve suas que não entende como o motor funciona.
redes neurais de funções executivas. Os educadores estudam o desenvolvimento
Compreendendo como o cérebro se da infância e, agora, à medida que o campo da
desenvolve e funciona, e como isso afeta os neurociência se expande, por que os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educadores não aproveitariam a oportunidade A ESCOLA DE EDUCAÇÃO


para explorar essa incrível profundidade de
conhecimento para aprimorar sua prática e INFANTIL E SUA IMPORTÂNCIA
suas interações diárias com seus alunos? PARA O DESENVOLVIMENTO DA
Quando os sentidos são estimulados, o
CRIANÇA
cérebro transforma esses dados em
O papel da escola de Educação Infantil no
informação. À medida que os neurônios (a
Brasil e no mundo vem modificando-se de
célula básica do cérebro) são ativados, a
acordo com a história e a concepção de criança
neuroplasticidade permite que novas vias
presente em cada momento histórico.
neurais sejam formadas. Este processo de
Com o início da industrialização no Brasil, o
codificação requer ativação de conhecimento
papel da mulher na sociedade vem se
prévio.
alterando, com a inserção desta no mercado de
A pesquisa em neurociência facilita a
trabalho de um sistema capitalista, foi se
identificação de alunos com dificuldades de
fazendo necessário a criação de um sistema de
aprendizagem e a realização de intervenções
atendimento organizado e público para seus
que podem ajudar significativamente os alunos
filhos menores de seis anos, enquanto estas
em seu desempenho acadêmico. Entender que
estivessem cumprindo suas jornadas de
a síndrome de Asperger, por exemplo, como
trabalho diárias.
um distúrbio neurológico, ajuda os professores
Segundo Sanches (1998, p.96):
a compreender por que o aluno age da maneira
A assistência à infância impõe-se como
como o faz e quais estratégias de ensino ainda
necessária à estabilidade social. As primeiras
funcionam melhor. Novos biomarcadores e
creches surgem para atender a camadas
estratégias de diagnóstico para deficiências de
pobres, indigentes, órfãos e filhos de
TDAH e dislexia foram identificados, levando a
trabalhadores, tirando-lhes da rua, fornecendo-
ações de intervenção precoce mais bem-
lhes abrigo seguro. Por iniciativa dos donos das
sucedidas.
indústrias são construídas as vilas operárias,
Entender que cada cérebro é único e
próximas às fábricas, com mercearias, escolas,
processa as informações de maneira diferente,
creches clubes esportivos, com patrocínio de
ajuda os professores a manter uma perspectiva
instituições filantrópicas, mulheres da alta
enquanto trabalham com uma variedade de
sociedade e do estado. O pressuposto era que,
alunos que estão tendo dificuldades em seu
atendendo bem o filho do operário, este
processo de aprendizado. Os educadores
trabalharia mais satisfeito e produziria mais.
também tendem a ser mais favoráveis quando
Nos anos 20, o Estado concede estímulos fiscais
o comportamento de seus alunos não está
ao atendimento da criança, fornece
necessariamente sob seu controle voluntário.
professores, funcionários, materiais
Isso ajuda a entender os alunos, permitindo que
pedagógicos e mobiliários escolar, cabendo a
eles tenham mais paciência e compreensão.
sociedade civil a manutenção e prestação de
serviços.

522
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Já nas décadas de 80 e 90, a educação aprovação de propostas para a inclusão de


destinada às crianças de zero a seis anos direitos às crianças na Constituição.
recebeu um impulso muito grande com o Hoje, essa distinção entre creche e pré-
estabelecimento, pela Constituição Brasileira, escola é feita exclusivamente pela idade das
do direito à educação desde o nascimento. crianças que as frequentam. Isso significa que,
Sobre esse direito, a LDBEN formulou uma nova segundo a LDBEN (1996), essas duas
concepção para a Educação Infantil instituições não se distinguem quanto à
objetivando-a (1996): finalidade, aos objetivos e ao conteúdo dos
o desenvolvimento integral da criança até os serviços prestados à criança.
6 anos de idade, em seus aspectos físico, O PNE (Plano Nacional de Educação,2014-
psicológico, intelectual e social, em 2020), tem um capítulo específico para a
complementação à ação da família e da Educação Infantil e propõe metas para faixa de
comunidade. zero a seis anos, sem separá-las por idade ou
Definida como a primeira etapa da Educação por tipo de instituição, a não ser quando se
Básica, a Educação Infantil passou a fazer parte referem às metas de atendimento por faixa
fundamental do processo educacional e, etária e à inclusão da creche no sistema de
consequentemente do processo de ensino, estatísticas nacionais. A idéia explicitada é de
sendo, então, descabível qualquer descaso que a Educação Infantil, do nascimento a
diante daquela que deve ser a base da entrada da criança do Ensino Fundamental, seja
educação. organizada segundo um processo contínuo e
A Constituição de 1998 não define que a global de seu desenvolvimento e aprendizagem
Educação Infantil deva ser realizada e não de acordo com modelos históricos
necessariamente em instituições reducionistas ou viciados por demandas
governamentais, afirmando que a educação parciais por condições econômicas e sociais
recebida pela família até os dois anos de idade excludentes.
é suficiente e adequada para dar conta das Vale ressaltar que a Educação Infantil,
necessidades da criança. segundo Winnicott (1982, p. 33):
A Educação Infantil em seu processo A função da escola maternal não é ser um
histórico foi dividida em 2 etapas: a creche com substituto para uma mãe ausente, mas
caráter assistencialista e a pré-escola com suplementar e ampliar o papel que, nos
caráter educacional. A LDBEN (1996), em seu primeiros anos da criança, só a mãe
texto manteve as instituições históricas, porém, desempenha. Uma escola maternal, ou jardim
introduziu o termo “instituições equivalentes”. da infância será possivelmente considerado, de
A opção de manter o termo creche foi modo mais correto, uma ampliação da família
deliberada, com a intenção de garantir seu ‘para cima’, em vez de uma extensão ‘para
significado social, sensibilizando os baixo’ da escola primária.
constituintes para a realidade da criança e da Com essa afirmação, aponta-se o fato de que
família trabalhadora, ajudando, assim, na ao entrar na escola, a criança não deixa de lado
sua vida afetiva, e sim, se pretende que ela

523
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

amplie suas relações. Portanto, cabe a escola ambiental, cultural e suas relações em busca de
de Educação Infantil criar um ambiente socio- uma construção autônoma.
afetiva saudável para a criança. Dentro desta concepção de
Com a redefinição da concepção de criança, desenvolvimento o RCNEI (1998), considera o
deixando essa de ser vista como objeto de Educar, como:
tutela e passando a ser um sujeito de direitos, a Educar significa, portanto, propiciar
Educação Infantil se deparou com a situações de cuidado, brincadeiras e
necessidade de rever seu papel e tentar acabar aprendizagens orientadas de forma integrada e
com a dicotomia entre cuidar – tarefa da creche que possam contribuir para o desenvolvimento
e o Educar – tarefa da pré-escola. das capacidades infantis de relação
Essa ideia de dicotomia vem de longe, de um interpessoal, de ser e estar com os outros em
passado em que se pensava que a criança uma atitude básica de aceitação, respeito e
pequena era uma tabula rasa na qual a família confiança, e o acesso, pelas crianças, aos
e sociedade inscreviam os conhecimentos, os conhecimentos mais amplos da realidade social
hábitos, os comportamentos – razão do apenas e cultural(BRASIL,1998,p.23).
educa ou da ideia inata de que tudo estava E o Cuidar, como:
adormecido, como germe ou potencialidade Cuidar significa valorizar e ajudar o
que aguardava o amadurecimento físico para desenvolver das capacidades. O cuidado é um
vir à tona. Bastava esperar. Portanto era ato em relação ao outro e a si próprio que
suficiente Cuidar da criança, para que possui uma dimensão expressiva e implica em
sobrevivesse às mudanças físicas, psicológicas e procedimentos específicos” (BRASIL, 1998, p.
sociais. O adulto desenvolvido seria uma 24).
consequência natural. Diante destes conceitos, percebesse o
Para quebrar esses paradigmas o RCNEI quanto estes são concomitantes, completando-
(1998) aponta: se a favorecer o desenvolvimento integral da
A necessidade de que as instituições de criança, e sua separação caracterizar-se-ia na
educação infantil incorporem de maneira fragmentação de um ser humano
integrada as funções de educar e cuidar, não individualizado. Assim, para essa unidade o
mais diferenciando nem hierarquizando os MEC (1994, p. 16), propõe em uma de suas
profissionais e instituições que atuam com diretrizes básicas:
crianças pequenas e/ou aqueles que trabalham As particularidades da etapa do
com as maiores (BRASIL,1998, p.23). desenvolvimento, compreendidas entre zero a
Considerando, então, que tanto na creche seis anos, exigem que a Educação Infantil
quanto na pré-escola, a criança tem cumpra duas funções complementares e
necessidade e direito de ser cuidada e educada, indissociáveis: cuidar e educar,
outros conceitos se fazem necessários. complementando os cuidados e a educação
O desenvolvimento da criança passa a ter realizados na família ou no círculo da família
uma conotação interacionista e global, (BRASIL,1994, p.16).
considerando, esta, em seu contexto social,

524
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Outro fator relevante no desenvolvimento questionados pelo professor - do que de reler e


da criança que englobas os fatores Cuidar e realçar o texto.
Educar é a importância da participação do Os psicólogos também mostraram que a
educador neste processo. Afinal, sabe-se que a compreensão de leitura tem muito mais a ver
criança se desenvolve por intermédio de trocas com o conhecimento de base e o vocabulário
afetivas e por meio de contato com o outro, e é de um leitor sobre um determinado tópico do
este, o educador, quem faz o papel de que com supostas habilidades gerais de
mediação entre a criança e o meio e a compreensão de leitura. Mas, como essas
facilitação da relação criança e criança. descobertas não são amplamente conhecidas,
Necessitando sempre haver a construção de os alunos têm mais probabilidade de reler e
um vínculo entre quem cuida e educa e quem é destacar do que de se auto questionarem, e os
cuidado e educado. professores do ensino fundamental têm maior
Tendo, então, como função a Educação probabilidade de se concentrar nas habilidades
Infantil e o profissional em que nela atua a ilusórias de compreensão. do que construir o
tarefa de: CUIDAR EDUCANDO E EDUCAR conhecimento dos alunos.
CUIDANDO! Portanto, é fundamental que o Quando a neurociência fornece apoio a uma
professor tenha ao menos um pouco de abordagem pedagógica particular, ela está
conhecimento a respeito da neurociência, que apenas confirmando algo que já conhecemos
o ajudará a trabalhar com o desenvolvimento da psicologia cognitiva. Por exemplo, estudos
dessas crianças desde a mais tenra idade. psicológicos mostraram que é mais eficaz
espelhar a aprendizagem ao longo de um
OS PROFESSORES E A período de tempo do que empinar para um
teste. Imagens cerebrais sugerem que o motivo
NEUROCIÊNCIA é “um ensaio de manutenção aprimorado” - ou,
A neurociência é atraente, em parte porque em linguagem simples, mais tempo gasto
os dados parecem incontroversos: basta olhar pensando no material.
como diferentes partes do cérebro "se Um foco no cérebro, e não na mente, às
acendem “. Mas há muito que as varreduras vezes não é apenas inútil, mas também
cerebrais não podem nos dizer - como se um positivamente prejudicial; pode impedir que os
aluno está realmente aprendendo alguma educadores explorem formas eficazes de
coisa, ou o que fazer se ela não é. Alterações no abordar as dificuldades de aprendizagem que
cérebro podem ou não ter um impacto no derivam da psicologia, e não da neurociência.
comportamento. Um caso em questão é a comunidade da
A psicologia cognitiva, em contraste, dislexia, que abraçou a neurociência que lança
produziu uma série de insights sobre o que luz sobre o aspecto da leitura chamada
torna o ensino e a aprendizagem eficazes. Está decodificação - isto é, conectando sons com
bem estabelecido, por exemplo, que os alunos letras. Há evidências de que os cérebros dos
obtêm um impulso maior de questionar a si disléxicos diferem em ativação e estrutura
mesmos sobre algo que leram - ou de serem quando comparados aos dos leitores típicos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Deixando de lado a questão de saber se esse que isso seja verdade - o que não está claro - os
tipo de evidência é necessário para resolver as próprios professores não são capazes de
dificuldades de decodificação, a orientação da escanear os cérebros de seus alunos para
comunidade para a neurociência tem sido prever quais estão em risco.
problemática quando se trata do outro O argumento mais forte para familiarizar os
componente importante da leitura: a professores com a neurociência é que ela pode
compreensão. Na medida em que os ajudá-los a lidar com alunos que sofrem de “
professores de alunos disléxicos se estresse tóxico ” - traumas crônicos,
concentraram na compreensão (que não é geralmente associados à pobreza, que podem
tanto), eles viram problemas em termos de afetar os cérebros dos alunos de maneiras que
déficits neurobiológicos em “função executiva”, interferem em sua capacidade de aprender.
compreensão da linguagem oral ou memória de Quando tais alunos agem na sala de aula ou têm
trabalho. Ou, como a maioria dos professores, problemas para se concentrar, os professores
eles viram uma falta de supostas habilidades de precisam entender que a melhor maneira de
compreensão, como a capacidade de fazer neutralizar os efeitos do estresse tóxico é
inferências ou visualizar imagens. O que eles proporcionar uma atmosfera calorosa e de
não focalizaram - pelo menos até recentemente apoio. Ao mesmo tempo, esse conhecimento
- está fornecendo aos alunos o que a psicologia pode não fazer muito bem se a abordagem
descobriu ser o fator mais importante na pedagógica de um professor for desinformada
compreensão: o conhecimento. pela psicologia cognitiva. Se os professores
Nada disso é para dizer que a neurociência usarem métodos que não funcionam, os alunos
não tem valor. Por todos os meios, os cientistas provavelmente ficarão frustrados e se sentirão
devem continuar a expandir nosso fracassados - assim como os próprios
conhecimento sobre o cérebro. Suas professores.
descobertas podem ajudar os diagnosticadores Os professores têm um trabalho duro, e
a determinar as causas das dificuldades de perdemos tempo suficiente com cursos de
aprendizagem e outros aspectos do educação e sessões de “desenvolvimento
comportamento humano. A questão é se os profissional” que lhes fornecem pouca
professores precisam dedicar seu tempo informação útil. Não vamos acrescentar ao
limitado para aprender sobre neurociência. problema exigindo que eles aprendam sobre
Um argumento é que, se os professores padrões de ativação no córtex pré-frontal,
soubessem mais sobre neurociência, seriam junção temporal-parietal bilateral e estruturas
menos suscetíveis aos “neuromitos” - crenças mediais posteriores. Eles precisam de
persistentes e difundidas que não têm base informações práticas sobre o que realmente
probatória, como a ideia de que diferentes ajuda os alunos a aprender.
alunos têm diferentes estilos de aprendizagem.
Outro argumento é que a neurociência pode
identificar distúrbios de aprendizagem antes
que eles apareçam no comportamento. Mesmo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em todas as fases da educação, desde os primeiros anos até a vida adulta, existem questões
cuja compreensão exige conceitos sobre a função cerebral. O debate sobre como este
conhecimento deve ser incluído no pensamento educacional tem apenas começou.
O ressurgimento atual do interesse educacional no cérebro reflete um incremento,
facilitando a crença entre alguns cientistas, bem como educadores, que a educação pode se
beneficiar de insights neurocientíficos em como nos desenvolvemos e aprendemos. Na última
década, várias tentativas foram feitas para avaliar as oportunidades oferecidas por essa nova
perspectiva e um novo diálogo interdisciplinar.
Entender o significado educacional dos achados neurocientíficos não requer um alto nível
de conhecimento especializado. Portanto os professores devem começar a estudar a neurociência
em prol de ajudar as crianças desde a mais tenra idade, para que assim crianças com algum
problema neurológico sejam diagnosticadas a tempo de fazer um tratamento adequado para seu
desenvolvimento.

527
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ARIES, Phillipe. História social da criança e da infância, Rio de Janeiro: editora Livros
Técnicos e Científicos, 1981.

AROEIRA, M. L. C. Didática de Pré Escola: vida criança: brincar e aprender, São Paulo:
editora FTD, 1996.

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BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nª 9394, de 20 de dezembro de


1996. Brasília, 1997.

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FERREIRA, Maria Clotilde R. (org.). Os fazeres na Educação Infantil, São Paulo: Cortez
Editora, 2003.

FREIRE, Madelena. A paixão de conhecer o mundo, São Paulo: editora Paz e Terra, 2002.

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PIAGET, Jean. A epistemologia genética, São Paulo: editora Abril Cultural, 1978.

PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança, Rio de Janeiro: editora Zahar, 1982.

UNESCO, Brasil, OCDE. Educação e na primeira infância: grandes desafios, Brasília,2002.

VYGOTSKY, Lev. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos


psicológicos superiores, São Paulo: editora Martins Fontes, 1991.

WINNICOT, Donald W. A criança e o seu mundo, Rio de Janeiro: editora Guanabara


Koogan,1982.

528
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A PARTICIPAÇÂO DA NEUROPEDAGOGIA NA
ESCOLA
Suzany Pepicelli 1

RESUMO: O desafio da educação é desenvolver o ser criativo que existe em cada criança e
adolescente a fim de prepará-los para desempenhar seu papel de cidadãos. Para que essa
intenção se processe devidamente, precisamos contar com um leque grande de profissionais
como psicólogos, neurologistas, fonoaudiólogos e professores, que estejam dispostos e
preparados para se submeterem diariamente às exigências e pressões que este processo exige.
Diariamente ele se depara com diversos desafios, entre eles podemos destacar: déficit de
atenção, violência e necessidades especiais, como autismo, Síndrome de Down, baixa visão,
baixas ou altas habilidades e outros. Com a convivência contínua, ele pode detectar bem cedo os
alunos com deficiências e, assim, lidar melhor com eles. Diariamente ele se depara com diversos
desafios, entre eles podemos destacar: déficit de atenção, violência e necessidades especiais,
como autismo, síndrome de Down, baixa visão, baixas ou altas habilidades e outros. Com a
convivência contínua, ele pode detectar bem cedo os alunos com deficiências e, assim, lidar
melhor com eles.

Palavras-Chave: Ensino; Aprendizagem; Professor; Psicologia.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: suzanyp@yahoo.com.br

529
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INTRODUÇÃO serem conhecidos não só apenas na realidade


do dia-a-dia escolar, mas no seu meio
A neuropedagogia se atêm a um princípio sociocultural de uma aprendizagem que
básico: como o cérebro humano aprende e acontece na " hora da concepção deste SER".
como guarda este aprendizado. Com está Sendo assim, deve-se levar em conta os 4
concepção, extremamente ligada a pilares definidores de estratégias para
neurociência, a neuropedagogia irá estudar e promover a verdadeira educação de qualidade
compreender o cérebro como propulsor do visando sempre o desenvolvimento humano,
aprendizado e levar isto para a escola são eles: Aprender a Ser; Aprender a Conviver;
considerando acima de tudo os métodos e Aprender a Fazer; Aprender a Conhecer.
metodologias que irão interferir de forma A visão da educação como desenvolvimento
significativa para o verdadeiro aprender. humano, concretiza a definição e o objetivo
A maior parte das transformações no maior da educação como a construção, pelos
cérebro ocorre nos primeiros 6 anos de vida. indivíduos, de competências e habilidades que
Como a criança nasce com mais neurônios do lhes permitam alcançar seu desenvolvimento
que vai precisar na vida adulta, nesse período pleno e integral. Os quatro pilares educacionais
ocorre o que é chamado de "poda" cerebral, servem, como princípios organizadores nesse
pelos neurocientistas, nesta fase as sinapses processo de construção do conhecimento
mais integradas ao sistema sobrevivem desenvolvendo as competências e habilidades.
enquanto as menos utilizadas são eliminadas. A neuropedagogia é uma ciência abrangente
Do primeiro ao quinto ano de vida, são que norteia de forma completa as melhores
eliminadas cerca de 100 mil conexões por considerações da aprendizagem humana. Suas
segundo. intervenções são de grande valia não só para
Esta porém, não é a única revolução que se estímulos em criança sem desenvolvimento
passa no cérebro, nessa época. Abrem-se "normal", mas principalmente para aquelas
também as "janelas" de oportunidades, que é com transtornos diversos que necessitam de
um período fértil de aprendizado de certas um olhar mais apurado em seu tempo de
habilidades, levando em consideração a faixa aprendizagem, tendo em vista que todo ser
etária de cada indivíduo é claro. Tudo tem uma humano aprende, não importando suas
idade e uma medida certa para ocorrer. A limitações.
criança de 2 anos por exemplo, está na fase Naturalmente que não é suficiente o
sensório motora que é a melhor fase para se professor apresentar uma aula motivadora a
desenvolver os sentidos e os movimentos e não seu aluno para que ele aprenda, existem outros
a lógica da abstração de símbolos gráficos. processos e estratégias de ensino que aliadas
Vale salientar que o aluno, sujeito da favorecem o contexto, como a apresentação de
aprendizagem, é um ser social, afetivo, conteúdos significativos, a relevância dos
cognitivo e com um desenvolvimento motor, conhecimentos prévios desse aprendiz, a
psicomotor e perceptivo a ser considerado. O participação da vivência nas atividades e a
ser humano é muito mais amplo, com fatores a

530
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

oportunidade de rever os conceitos ensinados informações adquiridas em ferramentas


de maneiras diferenciadas. necessárias par o seu aprender.
Compreender como ocorrem os processos
de aprendizagem e entender as possíveis O OBJETO DA
dificuldades situadas neste movimento.
Para tal, faz uso da integração e síntese de NEUROPEDAGOGIA
vários campos do conhecimento, tais como a A ciência vem estudando o cérebro humano
Psicologia, a Psicanálise, a Filosofia, a e suas funções, reações e tudo que ele possa
Sociologia, a Pedagogia, a Neurologia, a descobrir dessa “maquina magnífica” que nos
Neuropedagogia, entre outros. coordena os movimentos, sentidos, sensações
Todas as nossas ações e produções, por e emoções e ao mesmo tempo qual a
serem humanas, estão sempre em processo de associação dessas competências para as nossas
permanente abertura, colocadas num prisma relações no cotidiano. Relações essas que serão
próprio para novas interpretações e busca de importantes na construção do ser melhorando
significados e sentidos, situadas num sua qualidade de vida bem como capacitando o
movimento incessante de desconstrução e de para as adversidades que serão encontradas no
reconstrução. convívio em sociedade tendo que tomar
O objetivo deste trabalho é reconhecer a decisões e dando equilíbrio entre a razão e a
singularidade do ser humano por meio da emoção.
neuropedagogia, reconhecendo a importância E é por meio destes estudos que o homem
da mesma centrada no estudo sobre vai descobrindo como surgiu a inteligência
conhecimento o cérebro, procurando ajudar os humana, como se tornou o ser dominante de
alunos que necessitam de um olhar mais artes que os fazem ficarem no topo da
aguçado em suas aprendizagens. existência dos seres vivos.
Tem como principal objetivo a observação de Os cientistas baseiam se na observação das
uma aluna com dificuldade de aprendizagem mudanças do tamanho do cérebro humano
por meio do estudo de caso, fazendo as para analisar sua inteligência, além de se
possíveis interferências e o estudo das utilizar de artefatos fabricados pelos mesmos
patologias que dificultam a aprendizagem. como: ferramentas caça cooperativa, a guerra,
Sabemos que existem diferentes processos o uso do fogo e o desenvolvimento de várias
envolvidos na aprendizagem, bem como uma outras tecnologias que facilite sua vida, como
diversidade muito grande de maneiras de também saber por que outros seres não
ensinar, e dificuldades apontadas pelos tiveram a mesma evolução, daí surgindo várias
educadores, para buscar soluções para as explicações cientificas como as mudanças no
dificuldades dos aprendentes, assim a clima. Além do desenvolvimento intelecto se
neuropedagogia veio preparar-nos para intervir estuda o cultural, vendo no decorrer dos
nas estruturas cognitivas dos aprendentes, tempos um melhoramento na comunicação
buscando torná-los capaz de transformar as além de um cérebro cada vez mais flexível e
adaptado à capacidade de aprendizado.

531
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Com estes estudos vêm às descobertas dos se tornando-se um ser autônomo e competente
componentes da inteligência abrangendo, o em diferentes situações na história de sua vida.
mundo interno que é a cognição tratando do Devido à globalização, o mundo está em
que deve ser feito ou não, em seguida o mundo constante mudança e a função social da escola
externo tratando da percepção e ação das também vem se modificando a serviço das
adaptações e modelagem dos ambientes e por relações sociais que os homens estabelecem.
último a integração dos ambientes internos e Nesse sentido, a escola só se justifica e se
externos por meio da experiência que é legitima caso cumpra as finalidades para a quais
responsável pela habilidade de se adaptar a foi criada: ser formadora de sujeitos históricos
novas situações, os objetivos e planejamentos e ser um espaço que possibilite a construção do
e as mudanças dos processos cognitivos pela conhecimento, sendo este, um processo em
experiência externa. construção apoiado nas relações sociais.
As experiências que darão ao cérebro a Dessa forma, é preciso avaliar e reavaliar as
oportunidade de agir tendo que trabalhar a propostas do processo de aprendizagem para
razão e a emoção, nesse sentido que a escola que não sejam desassociadas da realidade
vai entrar para preparar o educando a esses daqueles com os quais estamos
desafios do progresso e da modernidade, tendo compartilhando algum conhecimento e que
a preocupação de preparar o educando com ocorra uma aprendizagem significativa,
senso crítico, construtivo, ecológico, enfim conforme postula Fonseca (1998, p.71), para o
capacitando-o para uma qualidade vida nesta qual:
existência contribuindo com o progresso O mediador (psicólogo ou professor,
humano em todos os sentidos. E claro deve se reeducador ou terapeuta) está incumbido, e
pensar também em como preparar esse culturalmente comprometido, de transmitir
educador em um mundo tão globalizado, significações. Sem tais atribuições, as tarefas de
cabendo as instituições de ensino superior o aprendizagem, por si só, não produzem a
papel de estimular a pesquisa e o desejada modificabilidade cognitiva
melhoramento continuo do educador. (FONSECA,1998, p.71).
É preciso, por meio da mediação, tornar a
CONEXÃO ENTRE aprendizagem significativa.
Sendo assim, para se obter eficácia no
NEUROPEDAGOGIA E FUNÇÃO processo ensino-aprendizagem, é essencial o
SOCIAL DA ESCOLA professor ter o embasamento teórico no que
O processo ensino-aprendizagem, para que diz respeito a como o cérebro aprende e como
haja sucesso nas ações empreendidas é guarda este aprendizado. Isso possibilitará uma
essencial a interconexão entre a aprendizagem mediação adequada, pois podem desenvolver
significativa, a neuropedagogia e a função melhor seu trabalho, fundamentar e melhorar
social da escola, uma vez que, partir dela, o sua prática diária, com reflexos no desempenho
indivíduo tem a possibilidade de individualizar- e na evolução dos alunos. Podem interferir de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

maneira mais efetiva nos processos do ensinar construção e apropriação do conhecimento


e do aprender (COSENZA, 2011, p.145). pelo sujeito.
É essencial, também, que haja a interface O afeto atravessa e transversaliza a
entre a prática pedagógica e o saber inteligência o tempo todo. Sendo assim, na
neuropedagógico, para que se busquem maioria dos casos não há problema do aluno
intervenções eficientes demonstrando que as em aprender, mas sim na nossa mediação
estratégias de ensino respeitam a forma como enquanto professor. Como eu ensino precisa
o cérebro funciona. ser substituído para como o aluno aprende. Ou
Diante dessas informações, podemos seja, levantar os tipos de estratégias para que o
concluir que ainda temos muito a caminhar no sujeito incorpore a aprendizagem e traga isso
processo educacional. A educação precisa para ele, proporcionando a construção de
evoluir, evitando atividades mecânicas e que esquemas e elaboração de estratégias por meio
exijam somente a habilidade de pensamento de da mediação. Explorar as formas de esquema
evocação. ajuda na aprendizagem significativa.
É preciso, segundo Fonseca (2008), ensinar o Esse processo parte da teoria da
indivíduo a aprender a aprender, aprender a metacognição que estabelece alguns passos
pensar, a aprender a estudar, a aprender a se essenciais na construção de uma aprendizagem
comunicar, e não apenas reproduzir e autônoma e realmente significativa, sendo eles:
memorizar informações, mas, sim, desenvolver verbalizar implica refletir; realização de auto
competências de resolução de problemas. perguntas; levantamento de estratégias;
Somente assim, a escola será um espaço de controle do processo de soluções e por fim,
experiências de sucesso significativas, sendo tomada de consciência da própria
estas em maior número do que as de menos aprendizagem (FONSECA,1995).
sucesso. Os professores também precisam conhecer
Uma nova perspectiva progressivamente como os conhecimentos evoluem e como a
vem-se instalando no contexto educacional inteligência se manifesta na organização de
transformando concepções e práticas, estratégias, ou seja, como os alunos aplicam
repensando principalmente o papel da escola conhecimentos, informações que já possuem
na formação integral desse sujeito. Nesse para adaptarem a situações novas e
contexto, questionamos alguns procedimentos desequilibradoras do pensamento e da
largamente aceitos na sociedade moderna, e ação.[...] sem a preocupação e a obrigação de
que são, no entanto, altamente prejudiciais encontrar a resposta exigida, mas aquela que
para a construção de uma aprendizagem corresponde a suas (do aluno) condições de
significativa. compreensão (FONSECA,1995,p.32).
A enxurrada de informações e estímulos é Encontramos nas teorias de Piaget (1896-
uma dessas práticas deturpadas, pois 1980), e Vygotsky (1896 - 1934), subsídios
esquecemos a qualidade da informação que importantes para a compreensão do
está sendo transmitida e, principalmente, não desenvolvimento da aprendizagem. Piaget fala
são realizadas práticas que permitem a dos processos de assimilação, acomodação,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

equilibração e adaptação, em que o sujeito Uma grande colaboração da neuroanatomia


construirá esquemas mentais de conhecimento à pedagogia foi trazer à luz os fatores que
de um objeto ou qualquer coisa mediante sua integram a aprendizagem. Segundo esta
interação com o ambiente, ou seja, abordagem, para a aprendizagem acontecer é
experimentando (FONSECA,1995). necessárias integridades básicas das funções
No processo de assimilação ocorrerá a psicodinâmicas (aspectos psicoemocionais),
incorporação do novo conceito ao integridade do sistema nervoso periférico
conhecimento prévio às estruturas cognitivas e (canais para aprendizagem simbólica),
acomodando novos esquemas. integridade do sistema nervoso central
Consequentemente temos os processos de (armazenamento, elaboração e processamento
equilibração e adaptação. A natureza da da informação).
construção está na desequilibração de Ou seja, ao aprender, o cérebro integra
conhecimento. Eu só desequilibro se eu fatores neurobiológicos: organização
problematizar, levando a novas assimilações, neurológica intrínseca; atenção-percepção-
acomodações e adaptações (FONSECA,1995) conceitualização; socioemocionais: interação
A teoria de Vygotsky (1896 - 1934), prioriza a mãe-filho, desenvolvimento perceptivo,
questão social como fundamento do padrões de adaptação, capacidade cognitivas,
desenvolvimento da aprendizagem. Nessa desenvolvimento da personalidade e
concepção a origem dos processos psicológicos socioculturais: envolvimento afetivo, nível
superiores parte de uma reconstrução interna socioeconômico, nutrição, cultura, facilidade
das atividades realizadas com o meio. Assim, de desenvolvimento. A par desse
entende-se que o conhecimento é construído conhecimento o professor poderá propor
pela aprendizagem com o outro, na cultura atividades mais coerentes, respeitando as
(FONSECA,1995). necessidades e características próprias dos
Entendemos que "[...] o professor não pode sujeitos. Delegando a outras áreas de atuação,
continuar a desconhecer que a aprendizagem a outros profissionais e demais setores da
[...] se opera no [...] sistema nervoso, segundo sociedade responsabilidades que são inerentes
conexões interiorizadas de estímulos e de à educação (FONSECA,1995).
respostas envolvidas numa dialética e numa A escola tem a função de ensinar, de
socialização progressiva" (OLIVEIRA, 1998). Isto promover condições propícias à aprendizagem
quer dizer que se torna fundamental para o e ao desenvolvimento psicossociais dos sujeitos
professor, buscar ao entendimento dos mediante práticas estimuladoras e conscientes.
processos de aprendizagem, sua natureza e "O insucesso escolar da criança é, antes de mais
suas relações em diferentes abordagens nada, um insucesso social do adulto. A
teóricas e suas interfaces com a neurociência transformação dessa realidade não pode dar-se
da atualidade; e a partir deste contexto, buscar só na criança (FERNÁNDEZ, 1990).
o diagnóstico, a intervenção das dificuldades e A esperada transformação da educação
os distúrbios relacionados a aprendizagem dos acontecerá somente quando reconhecermos
sujeitos. nossas responsabilidades e possibilidades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educacionais, repensando as velhas práticas e Neste aspecto, penso que os professores


instaurando novas como a podem se munir de aulas diferenciadas, criando
interdisciplinaridade. Acontecerá quando um ambiente específico para desenvolver
reconhecermos a importância da criatividade, habilidades de competência cognitiva das
da curiosidade e da coragem de percorrer crianças, como por exemplo, a habilidade
novos caminhos teóricos e metodológicos. motora pode ser desenvolvida ao construir
pipas, jogar bolinhas de gude, atividades que
A NEUROCIÊNCIA AO LADO DA transmitem informações sobre coordenação,
memória e capacidade de aprendizagem, ou a
EDUCAÇÃO habilidade de cantar contando histórias que
Sendo inteligência a capacidade mental que podem mostrar a competência para aprender
inclui o raciocínio, o planejamento, a resolução conteúdos verbais e transmiti-los.
de problemas, o pensamento abstrato, a Essas atividades auxiliam na construção de
compreensão de ideias complexas, o aprendizagem, uma vez que passa pelo
aprendizado e o uso das linguagens, o interesse nelas despertado. Daí, a importância
aprendizado e o uso da experiência acumulada, dos professores conhecerem o
talvez possa o professor não saber como avaliar desenvolvimento humano e os processos
e diagnosticar uma dessas dificuldades, mas cognitivos envolvidos na aprendizagem.
pode fazer encaminhamentos importantes para A palavra cognição significa de modo mais
que, quanto mais cedo, o aluno em questão simples aquisição de conhecimento. As funções
seja bem atendido e suas dificuldades cognitivas estão inter-relacionadas. Assim, para
diminuídas. Para isso o professor dispõe de suas que haja memorização é necessária a atenção e
próprias habilidades. para que haja atenção é preciso que haja
Alguns psicólogos, como Sonia Casarin, por percepção dos estímulos, e assim
exemplo, defendem a ideia de que os sucessivamente. Por isso, nosso cérebro tem
professores no quesito observação podem necessidade de usufruir de todas as funções:
detectar déficits acompanhando o percepção, atenção, memória, visuoconstrução
comportamento adaptativo de seus alunos em e praxia (Praxia e visuoconstrução referem-se a
diferentes fases de sua vida. Na infância, por uma gama de comportamentos, mais
exemplo, pode o aluno apresentar dificuldade especificamente, a capacidade de realizar atos
de dominar as atividades de autocuidado, como voluntários no plano concreto pelo uso de
alimentação e higiene, dificuldade de expressar atividades motoras). Funções executivas e
verbalmente pensamentos e emoções, linguagem.
teimosia, birra, irritabilidade, falta de controle Ao perceber as variações na inteligência dos
da própria agressividade, frustração, alunos, ou detectar necessidades educacionais
dificuldade de brincar com outra criança, especiais, cabe ao professor buscar formas de
dispersão durante explicações importantes e melhor atendê-los na sala de aula regular
até dificuldade de raciocínio e julgamento. (inclusão), e viabilizar a permanência, a
participação e o aproveitamento do aluno e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

encaminhá-los no caso de diferenças


significativas à equipe escolar que
providenciará avaliações mais precisas. Em caso
de detecção de deficiência intelectual ou altas
habilidades, providenciem para que possam
continuar em sala regular e, paralelamente,
recebam atendimento para suas devidas
necessidades. Os professores não precisam
fazer tudo sozinhos.

• E se seu aluno for autista?


Recentemente, um artigo da Revista NATURE
(2011), recentemente republicada pela Revista
Científica Ciência Hoje (2011), nos revelou que
essa doença pode estar relacionada a uma
mutação de uma proteína nos neurônios e essa
informação é corroborada com estudos feitos
em camundongos pela equipe de Guoping
Feng, do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (EUA), que criou camundongos
cujo gene que produz a proteína Shunk3 tinha
pedaços deletados. Esses animais
apresentaram comportamentos típicos do
autismo. Feng e colaboradores observaram que
os animais geneticamente modificados
apresentam defeitos nos neurônios estriatais
que conectam as regiões do córtex à área
estriatal. Os autores sugerem que defeitos
nestas regiões possam ter um papel importante
no autismo em humanos.

536
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para educar crianças, seja qual for seu grau de deficiência, é preciso que nos preparemos
para tal tarefa, já que cada caso é diferente, temos de ter olhares diferentes para cada criança em
particular, é também preciso que notemos qualquer diferença o mais cedo possível e quando
necessário, encaminhá-las para que outros profissionais especializados possam participar desse
processo tão importante de desenvolvimento na vida de cada um.
Durante o período escolar, muitas vezes os alunos não têm o rendimento de aprendizagem
esperado, em conformidade com a sua capacidade. Essa discrepância entre o rendimento e a
capacidade do aluno pode constituir um distúrbio de aprendizagem que pode ser relativo ao
tempo ou ao rendimento e que pode afetar a aprendizagem escolar como um todo.
A criança tem um potencial e em vista desse potencial esperamos que ela atinja
determinado nível de rendimento. Se isto não acontece, podemos supor que haja um distúrbio
ou dificuldade de aprendizagem. Assim as estratégias de aprendizagem, que são técnicas de
ensino, princípios e regras que facilitam a aquisição, a incorporação e a memorização da
informação em situações diversas, podem ser desenvolvidas por um profissional especializado
nos conhecimentos psicológicos e pedagógicos e que deve ser acionado quando uma criança
apresenta dificuldade de aprendizagem.

537
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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tipos de inteligência. 1ª edição. São Paulo: Editora Ática, 2011.

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FONSECA, V. Aprender a aprender: a educabilidade cognitiva. Porto Alegre:Artmed, 1998.

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Comportamento. 2ª edição. Edição Universitária. São Paulo: Artmed Editora, 2007.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A REGRA É CLARA:
O LÚDICO NÃO É SÓ BRINCADEIRA
Marialva Giannini de Mello 1

RESUMO: O artigo objetiva apresentar como as brincadeiras coletivas contribuem para o


desenvolvimento psicológico e para a aquisição de habilidades e competências necessárias para
o processo de aprendizagem infantil. A etapa da Educação Infantil é o período em que as
brincadeiras e os jogos são utilizados como estratégias de ensino, porém podem ser úteis em
todas as etapas e disciplinas do currículo escolar. As teorias pedagógicas e psicológicas sobre o
desenvolvimento infantil possibilitaram mudanças não somente nas políticas públicas
educacionais, como também no modo como encaramos as brincadeiras e jogos infantis. Mais do
que desenvolver a criatividade e a socialização, é por meio dos jogos mediados pelo professor que
as possibilidades de aprendizado de diferentes componentes do currículo escolar podem ser
plenamente absorvidas pelos alunos.

Palavras-Chave: Pedagogia; Ludicidade; Desenvolvimento Infantil.

1Professora Ensino Fundamental II e Médio na Rede Pública Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Matemática; Especialização em Metodologia do Ensino de Física; Especialização em
Educação Matemática.
E-mail: prof.marialva19@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO EDUCAÇÃO INFANTIL NÃO É SÓ


A Educação Infantil, vista durante muito BRINCADEIRA
tempo como um lugar, no qual as crianças eram A Educação Infantil, vista durante muito
cuidadas enquanto suas mães trabalhavam, é tempo como um lugar, no qual as crianças eram
entendida hoje como a primeira etapa da cuidadas enquanto suas mães trabalhavam, é
Educação Básica e tem como finalidade o pleno entendida hoje como a primeira etapa da
desenvolvimento físico, emocional, afetivo, Educação Básica e tem como finalidade o pleno
linguístico e social da criança de 0 a 6 anos. Os desenvolvimento físico, emocional, afetivo,
professores que nela atuam devem ser linguístico e social da criança de 0 a 5 anos. Os
graduados e ter conhecimentos específicos professores que nela atuam devem ser
sobre o desenvolvimento infantil. graduados e ter conhecimentos específicos
Por intermédio de pesquisa bibliográfica sobre o desenvolvimento infantil.
específica, percebemos que o desenvolvimento A hipótese que norteou este trabalho foi:
das funções mentais superiores e o uma Educação Infantil bem trabalhada ajuda no
aprendizado possuem caráter social e cultural. desenvolvimento das funções mentais
O brincar deve ser priorizado, pois por meio do superiores da criança e no futuro processo de
brinquedo a criança aprende a agir em esfera alfabetização. Para tanto, se faz necessário
cognitiva, e promove seu próprio professores com conhecimentos específicos
desenvolvimento no decorrer de todo o sobre a infância, que compreendam a
processo educativo. O professor deve ser um importância do brincar no processo de
facilitador deste processo, instigando, aprendizagem, que atuem como facilitadores
suscitando e possibilitando que a criança se neste processo, instigando e possibilitando
desenvolva e se supere, criando a zona de novas descobertas, que reconheçam a
desenvolvimento proximal. A leitura e a escrita singularidade das crianças, além de uma
devem ser trabalhadas na criança como algo didática adequada.
relevante à vida. Brincar, portanto, não é tarefa simples.
Por meio do brincar, da aventura de ouvir o Assim como educar também não é. Aliar
professor contar histórias, de compreender a brincadeira e educação parece tarefa hercúlea,
função dos diversos objetos de escrita, da mas como pretendemos demonstrar neste
interação com o outro, a criança vai se trabalho, vários teóricos estudiosos da infância
inserindo na sociedade e participando dela, e e do desenvolvimento infantil proporcionaram
assim, a Educação cumpre o seu papel. material que permite aproveitar uma atividade
tão natural para a criança que, por vezes, pode
ser exaustiva e desinteressante para ela.

BRINCAR E DESENVOLVER
A infância é o período da vida humana que
vai do nascimento até a adolescência, por volta

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dos doze anos. Biologicamente, é a fase de evolução humana, estudos da antropologia e da


desenvolvimento orgânico e cognitivo; é sociologia comprovam que as sociedades não
quando aprendemos a usar as habilidades são mais ou menos desenvolvidas, apenas
proporcionadas pelo aparelho corporal, fazem uso de diferentes tecnologias, e os
desenvolvemos as aptidões e os mecanismos instintos e comportamentos humanos podem
necessários para viver em sociedade. ser observados em todos os ambientes
Pelas definições que encontramos no humanos.
dicionário, “brincadeira” e “trabalho” seriam A teoria da prática ou do pré-exercício foi
conceitos antagônicos. Brincadeira tem um proposta por Karl Groos(1986), e baseou-se em
aspecto negativo, “coisa de pouca observações práticas das maneiras que animais
importância”, enquanto trabalho significa jovens e crianças brincavam e como as
esforço, esmero. A brincadeira seria, então, habilidades seriam necessárias na vida adulta
algo sem função produtiva, ou seja, inútil? eram apreendidas e exercitadas durante as
Por muito tempo, considerou-se como brincadeiras, Wallon (2010), parece concordar
brincadeira algo que as crianças faziam para com essa teoria, mencionando as brincadeiras
gastar energia. Essa ideia teve origem nos de meninos e meninas, e a predileção de cada
textos da Grécia Antiga, com o conceito de um, apontando como causas a ação dos
catarse formulado por Aristóteles. O filósofo hormônios e da cultura, balanceando as
alemão Friederich Friedrich Schiller definiu, no influências instintivas, biológicas e sociais.
século XVIII, a brincadeira como um gasto de Para Freud (apud, WALLON, 2010), as
energia sem propósito. brincadeiras, assim como os sonhos e as
No século XIX, propôs-se que a brincadeira psicopatias, seriam um disfarce para os
era uma maneira de recuperar a energia gasta conflitos decorrentes de recalques e
no trabalho. recriminações. Quando uma criança é privada
A teoria da recapitulação, postulada em 1920 de experiências realizadas por meio de
por G. Stanley Hall (apud, Brock, et al, 2011), foi brincadeiras na infância, pode desenvolver uma
baseada na teoria da evolução das espécies de necessidade patológica de realiza-las na vida
Darwin, e propôs que a brincadeira ajudava as adulta de forma distorcida.
crianças a trabalhar os instintos primitivos Berlyne (1960) (apud, BROCK, et al, 2011),
presentes no ser humano por meio do processo desenvolveu a teoria da modulação do
evolutivo, mas que não seriam mais úteis em interesse, segundo a qual a brincadeira era o
um modo de vida mais civilizado. resultado de um estímulo no sistema nervoso
Wallon (2010), refuta esta teoria sob o central para manter o interesse em um nível
argumento de que ela “leva a representar o ótimo. Para Ellis (1973) (apud, BROCK, et al,
comportamento do indivíduo como 2011), as crianças usam a brincadeira para
consequência imediata e de certa forma aumentar a estimulação e o nível de interesse.
mecânica de sua constituição psicofisiológica”. A teoria da modulação do interesse tem
Além de desconsiderar a influência do meio servido de base para a educação do século XXI.
social e exacerbar o papel do meio natural na Ao lado da visão econômica liberal, as crianças

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devem ser preparadas cada vez mais cedo para É essencial garantir que as crianças
tornarem-se adultos competitivos e aprendam habilidades transferíveis e tenham
preparados. Desta forma, é preciso ocupar o dia capacidade de ser criativas, além de
da criança com cada vez mais atividades, para alfabetizadas plenamente, de modo a se
evitar o tédio e o desinteresse. O problema é adaptar às exigências presentes e futuras.
que nem sempre os interesses da criança são Nos anos iniciais do ensino fundamental tem
levados em conta. Assim, Corsaro (1997, apud, início um percurso que será seguido pelos
BROCK, et al, 2011), sugere que nas sociedades alunos e que precisa levar em conta os
ocidentais modernas o tempo das crianças está objetivos gerais que se pretende alcançar ao
sendo cada vez mais absorvido por atividades final dessa etapa da escolaridade.
direcionadas por adultos, “colonizando” a Se temos interesse em valorizar as
infância. capacidades de pensamento dos alunos,
Se não houvesse nenhum benefício com a teremos que criar condições para que eles se
brincadeira, isso teria sido descartado no envolvam em atividades adequadas ao
processo evolutivo. A natureza investigativa e desenvolvimento dessas capacidades.
experimental da brincadeira permite a A ausência de elementos de compreensão,
aquisição de informação sobre o mundo, ao raciocínio e resolução de problemas nas
mesmo tempo em que estimula a criatividade e atividades dos alunos pode mesmo ser
a flexibilidade na resolução de problemas. responsável por grande parte das dificuldades
que muitos sentem em realizar procedimentos
CONTRIBUIÇÃO DOS JOGOS E aparentemente simples. Quando um aluno
realiza uma tarefa matemática de forma
BRINCADEIRAS NAS DEMAIS mecânica sem lhe atribuir qualquer sentido, é
ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA muito provável que ele seja incapaz de
A cultura e o ambiente influenciam como as reconstituir aquilo que parecia saber fazer
crianças brincam. Elas precisam de espaço, perante uma situação que apresenta alguma
objetos e da presença de um adulto para diferença ou que esteja colocada num contexto
modelar a brincadeira. A cultura reflete e é diferente.
refletida nos brinquedos e nas brincadeiras das Convém destacar que as competências dos
crianças, e assim sendo, a casa e a escola, sendo dois tipos – conhecimento de termos, fatos e
ambientes socioculturais, moldam as procedimentos, por um lado, e a capacidade de
experiências infantis. raciocinar e resolver problemas, por outro – se
A rede social da criança geralmente se inicia desenvolvem ao mesmo tempo e apoiando-se
na escola. Brincando, a criança amplia essa rede umas às outras. Além disso, convém salientar
de amigos, interagindo com indivíduos de níveis que certamente as crianças não aprendem algo
de desenvolvimento e experiências diferentes. de uma vez por todas. A aprendizagem é um
Assim, refina sua habilidade de agir em processo gradual de compreensão e
ambientes sociais mais complexos quando aperfeiçoamento.
adultos.

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A preocupação da pedagogia é a melhor


maneira de educar as crianças, e qual o tipo de
prática que mais contribui para o
desenvolvimento e aprendizagem. Muitas
teorias têm sido exploradas e experimentadas
na definição de políticas educacionais e do
currículo, tentando acompanhar o
desenvolvimento tecnológico e social das
comunidades.
A construção do currículo educacional
compreende a seleção e produção de saberes.
Deve proporcionar ao cidadão a consciência de
seus deveres e direitos, o respeito à
diversidade, o conhecimento de diferentes
culturas e o uso de materiais que possibilitem a
aquisição de habilidades.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos estudos sobre educação enfatizam o papel da criatividade no processo de ensino e
aprendizagem. Criatividade é fundamental para uma aprendizagem bem sucedida, sendo
importante ao longo de toda a vida, não só nos primeiros anos.
Nas crianças pequenas, permite que elas estabeleçam conexões entre as diversas áreas de
aprendizagem e ampliem sua compreensão.
As crianças precisam desenvolver o pensamento criativo e o pensamento crítico para
interessarem-se em descobrir e explorar coisas novas. Dessa forma, o senso de realização e
autoestima se desenvolve. Estimular a criança por meio de diálogos e questionamentos faz com
elas analisem e reflitam sobre as atividades que realizam.
A brincadeira estimula a criatividade, inspira a imaginação, ensina a resolver conflitos,
melhora a autoconfiança. A brincadeira mediada pelo adulto desenvolve a criatividade na medida
em que ele a estimule a refletir sobre o que está aprendendo.

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REFERÊNCIAS
BROCK, Avril, et al. Brincar: aprendizagem para a vida. Porto Alegre: Penso, 2011.

COLL, Cesar, et al. (org.). Desenvolvimento psicológico e educação. Porto Alegre: Artmed,
2004.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. São Paulo:
Cortez, 2010.

VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos


psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WALLON, Henry. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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A RELEVÂNCIA DAS ARTES VISUAIS NA


EDUCAÇÃO INFANTIL
Ana Elizabeth Torres Filgueira1

RESUMO: O eixo principal desta pesquisa é abordar a questão da utilização das artes visuais como
estratégias didáticas na educação infantil e como o trabalho com artes tem importância para a
aprendizagem da criança e seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e social. A finalidade desse
trabalho e mostrar que as artes visuais tem grande valor na construção do conhecimento, e é de
suma importância para o desenvolvimento das crianças. Por meio das artes visuais as crianças
aprendem de uma forma diferente, com maior interação e participação e de uma forma gostosa
e prazerosa para a criança. O trabalho com artes visuais promove a expressão, interação,
participação.

Palavras-Chave: Artes visuais; Importância; Desenvolvimento; Estratégias.

1 Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Bacharel em Secretariado Executivo; Especialização em Educação
Infantil.
E-mail: anabeth11@uol.com.br

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INTRODUÇÃO brincando, na primeira infância, será útil para


ele futuramente.
Este artigo tem por objetivo esclarecer Pretende-se analisar e verificar mudanças de
algumas dúvidas que temos a respeito do comportamento e postura das crianças quando
trabalho com artes visuais na educação infantil, submetidas a atividades com foco em artes
para ser mais especifico nas turmas de creche, visuais.
de 0 a 3 anos. Como questões centrais, elencamos: O que
Com o trabalho com artes visuais, a criança sabemos sobre arte? O que sabemos sobre o
aprende com interesse e descontração, pois é trabalho com artes visuais na educação infantil,
um trabalho que utiliza diferentes materiais e turma de 0 a 3 anos? O que sente uma criança
contextos. ao desenvolver atividades com materiais
As aulas de artes são mais dinâmica e diferentes, com meios e jeitos diferentes?
facilitam a relação entre professor e aluno e
promove a participação e expressão dos alunos.
O QUE É ARTE
As artes visuais na educação infantil são de
Não existe um conceito único para definir o
extrema importância, pois por meio do
que é arte. Em diferentes momentos da
trabalho agradável e prazeroso a criança
história, diferentes objetos foram ou ainda são
consegue expressar sentimentos, criar ações
admirados e tal admiração é reconhecida pela
novas, desenvolve conscientização e
cultura como arte, mas a verdade é que o que é
valorização do ser humano.
arte para uma localidade e período de tempo,
É possível notar mudanças no
não é para outro, isso também depende do
comportamento das crianças ao
conhecimento prévio do assunto, da forma com
desenvolverem atividades com artes, estas
que se analisa e para esta análise também se
mudanças podem ser refletidas no seu
inclui o conceito de belo e feio e o gosto a ser
cotidiano e indicar sentimentos que podem
discutido.
estar afligindo, causando dor, entusiasmo,
A arte é ligada a percepção individual dos
medo entre outros sentimentos que são
sujeitos de acordo com suas experiências
expressos por meio de atividades.
culturais ou as experiências culturais que
Objetivamos demonstrar que os jogos são
aceitam como legitimas. Também podemos
muito importantes para o aprendizado da
dizer que arte é aquilo que fazemos para
matemática, com ele a criança desenvolve o
execução de uma finalidade, é o conjunto de
cognitivo, afetivo, social, a observação, a
meios que utilizamos para chegar a uma
atenção, a coordenação motora, noções
finalidade, é um processo de criação.
numéricas com e sem intencionalidade,
É uma atividade humana que está ligada a
descriminação de cores, sequencias numéricas
uma manifestação de ordem estética, não
e raciocínio lógico, os quais vão promover
necessariamente feita por artista de formação.
maior facilidade para que a criança assimile
A arte está ligada a estética é considerada
esta matéria no futuro, o que ele aprende hoje
uma manifestação que produz satisfação
desinteressada.

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A arte está presente em nossas vidas desde a A arte se apresenta de várias formas:
pré história, quando o homem pintava plásticas, música, escultura, cinema, teatro,
momentos de sua vida nas paredes das dança, arquitetura e outros.
cavernas. A arte é um agente transformador, que leva
Segundo o autor Duarte (2008), a arte é o ser humano a construir um mundo melhor.
assim uma tentativa de se tirar um instantâneo
do sentir. Mais do que um instantâneo: um ARTE NO BRASIL
filme que procura captá-lo em seus
A arte sofreu várias alterações no decorrer
movimentos e variações (DUARTE, 2008, p. 44).
das décadas antes de ser considerada artes por
A arte é sempre a criação de uma forma.
assim dizer.
Toda arte se dá por meio de formas, sejam elas
Na escola tradicional a arte era voltada para
estáticas ou dinâmicas. Como exemplo de
o domínio técnico, no qual o professor
formas estáticas temos: o desenho, a pintura, a
trabalhava com atividades escolhidas e
escultura etc. e como exemplo de dinâmicas: a
selecionadas por ele e ou tirada de livros
dança (o corpo descreve formas no espaço), a
didáticos, dessa forma a criança não tinha a
música (as notas compõem formas sonoras), o
livre expressão, nessa fase as crianças não
cinema etc. Nas artes “dinâmicas”, as formas se
produziam suas próprias criações, o trabalho
desenvolvem no tempo, ao contrário das
era com base em copias.
“estáticas”, cujas formas não variam
Já sob a influência da escola nova, o ensino
temporariamente (DUARTE, 2008, p. 44).
da arte era voltado para o desenvolvimento
Podemos compreender que não existe um
natural da criança, valorizando sua forma de
conceito único para definir o que é arte, que
expressão, nesta buscava-se a espontaneidade
arte são algumas manifestações da atividade
e o crescimento progressivo da criança. As
humano a ser construtor de um mundo melhor,
atividades eram voltadas para a invenção,
mais humano, civilizado, valorizando tudo
autonomia e descoberta tinha base a auto
aquilo que é bom e eficaz para a vida.
expressão.
A arte está relacionada à cultura de diversos
O marco na evolução do ensino da arte no
povos existentes. Ela atravessa os tempos,
Brasil teve início na semana de arte moderna de
criando e contando passado e recriando o
São Paulo, que ocorreu no ano de 1922. Este
presente. A arte ETA presente à nossa volta e
ocorrido teve como característica o
com ela compomos a história da sociedade.
pensamento modernista. Após este corrido,
Uma definição que podemos usar para arte,
houve uma grande abertura para as novas
é que ela é o fruto da criação do homem e de
expressões nas artes plásticas, surgiram
seus valores junto à sociedade.
museus de arte moderna e contemporânea em
Podemos defini-la também como uma
todo país.
criação do homem, com valores estéticos que
Era muito comum que qualquer professor,
sintetizam as suas emoções, sua história, seus
com ou sem formação especifica na área,
sentimentos e sua cultura.
ministrassem aulas de artes, até os anos 60

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eram poucos os cursos de formação para carvão, ao pintar os objetos e até mesmo seu
professores de artes. próprio corpo, a criança pode utilizar-se das
Em 1971, foi incluído no currículo escolar a Artes Visuais para expressar experiências
disciplina artes, pela lei de diretrizes e bases da sensíveis (BRASIL,1998, p. 5).
educação infantil, porem era chamada de As artes visuais são aquilo que expressam
educação artística e era considerada atividade comunicam e atribuem sentidos, sensações,
educativa e não uma disciplina como é hoje em sentimentos, pensamentos e realidade por
dia. meio de criações que utilizam linhas formas,
Foi a partir dos anos 80 que constituiu-se o pontos e estes podem ser bi ou tridimensionais.
movimento arte-educação que tinha por As artes visuais são linguagens então
finalidade conscientizar e organizar os podemos dizer que é uma forma de
profissionais, após esse movimento permitiu-se comunicação e expressa, assim como a música
que se ampliassem as discussões sobre e o teatro.
valorização e aprimoramento do professor. As artes também são utilizadas por muitos
Em 1988 houve a promulgação da como exercício de coordenação motora e para
constituição, ocorrem discussões sobre a nova memorização, conforme vemos no RCNEI:
LDB. Ocorreram manifestações e protestos de As artes visuais tem sido, também, bastante
muito educadores que eram contrários a uma utilizada como reforço para a aprendizagem
versão da lei, que retirava a obrigatoriedade da dos mais variados conteúdos. São comuns as
área. práticas de colorir imagens feitas pelo adulto
Com a lei nº 9394/96ª arte foi considerada em folhas mimeografadas como exercícios de
obrigatória na educação básica. coordenação motora para fixação e
Hoje me dia a arte permanece importante no memorização de letras e números
currículo escolar, bem como com o professor (BRASIL,1998, p. 5).
formado na área especifica e é considerada tão Desta forma o trabalho não é significativo,
importante quantos as demais disciplinas pois somente o adulto desenvolve o trabalho, a
presentes no currículo. criança somente faz a parte de colorir, com o
tempo isso se torna chato, maçante e a própria
CONCETUANDO AS ARTES criança perde o interesse em desenvolver tais
atividades, por muitas vezes faz com pressa,
VISUAIS correndo para terminar logo, pois não é
As artes visuais estão presentes na vida do significativo para ele.
ser humano, principalmente na vida das Por muito tempo e ainda hoje é possível
crianças, conforme podemos observar no perceber que a arte é vista como um mero
RCNEI, (1998): passatempo, um momento em que a criança
As artes visuais estão presentes no cotidiano tem para elaborar enfeites para a sala, convites
da vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, e lembrancinhas de datas comemorativas, é
na areia e nos muros, ao utilizar materiais isso que nos mostra o RCNEI:
encontrados ao acaso (gravetos, pedras,

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Outra pratica corrente considera que o próximas caçadas, na qual ele já sabia como
trabalho deve ter conotação decorativa, deveria fazer para capturar o animal.
servindo apenas para ilustrar temas e datas Hoje em dia não é muito diferente de anos
comemorativas, enfeitar as paredes com trás, o homem também de expressa por meio
motivos considerados infantis, elaborar da arte.
convites, cartazes e pequenos presentes para Existem objetos do homem que representam
os pais e etc. nessa situação é comum que os os seus sentimentos, algo que muitas vezes não
adultos façam grande parte do trabalho, uma consegue questionar, somente considera a sua
vez que não consideram que a criança tem beleza. Tais objetos são conhecidos como obras
competência para elaborar um trabalho de arte, estes objetos fazem parte da cultura do
adequado(BRASIL,1998, p. 5). povo e são capazes de demonstrar situações
As artes visuais são consideradas linguagens que ocorrem na sociedade ou não.
e uma das formas importantes de se expressar Para se comunicar o homem precisa da arte
e se comunicar, tanto no mundo como na e da técnica e essa comunicação acontece por
sociedade, portanto são indispensáveis na meio do que se vê ou do que se ouve, ou até
educação, principalmente na educação infantil, mesmo dos dois, ver e ouvir ao mesmo tempo.
que é a base de toda a educação.
A ARTE NAS ESCOLAS
A ARTE COMO FORMA DE Por muito tempo a arte nas escolas foi
EXPRESSÃO considerada como um mero passatempo, no
A arte é uma das melhores formas que o ser qual era usada para cobrir falta dos professores
humano tem que permite sua expressão de de outras matérias consideradas mais
sentimentos ou emoções, ela pode estar importantes, também para enfeitar a escola e
representada de diversas maneiras, seja confeccionar lembrancinhas em datas
pintura, escultura, cinema, teatro, dança, comemorativas.
música e tantas outras formas. Como nos Hoje em dia a arte vem tomando seu papel
mostra cunha: importante na sociedade e principalmente nas
A arte reflete a cultura e a história escolas, tendo sido incluída na grade curricular
considerando os valores estéticos da beleza, do com tanta importância quanto as demais
equilíbrio e da harmonia. disciplinas.
Por meio da arte o ser humano demonstra A arte tem a função de favorecer a ação
seus sentimentos e suas emoções, podemos espontânea, facilitar a livre expressão e
verificar que a muitos anos atrás na época da permitir a comunicação, ela não deve ser
pré-história, o homem tinha necessidade em utilizada apenas para acalmar as crianças ou
representar a sua realidade e o fazia por meio descansar o professor.
de desenhos em paredes de cavernas, nesses Na escola a criança deve ser incentivada a
desenhos ele demonstrava por exemplo, como desenvolver varias atividades como desenhar,
fazia para caçar animais, isso ajudava assim nas modelar, pintar.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Há alguns anos o aluno era considerado um potencial, suas capacidades e habilidades, cabe
bom aluno quando ele fazia exatamente como ao professor criar esses desafios de forma que
o modelo, ou seja, copiava, porém aos poucos a criança sinta-se a vontade para se expressar
esse quadro tem se modificado dando lugar a sem medo.
expressão livre. O professor também precisa resgatara
Também era comum a alguns anos as aulas criação e fantasia da criança, permitindo que
de recreação, não eram consideradas ela expresse do seu jeito o que está sentindo ou
importantes. Hoje em dia as atividades pensando.
propostas devem ter um contexto, um objetivo, Nas aulas de artes o professor é mediador
para que não se tornem atividades soltas. entre a criança e o objeto de conhecimento, dos
É importante que o aluno tenha referência materiais, é ele quem propicia situações que
histórica, que produza de forma criativa, que irão despertar a curiosidade e o interesse da
consiga apreciar suas produções e de outros criança.
artistas, que se expresse colocando seus O papel do professor de artes na educação
sentimentos e suas emoções de modo que suas infantil é observar e compreender as pistas que
produções tenham seu próprio jeito e estilo, as crianças deixam ao desenvolver as
enfim que suas obras tenham sua marca. atividades. Cada criança é um universo potente
de expressão, que oferece alguns pontos de
O PROFESSOR COMO partida para o professor criar ações políticas e
momentos de orientação.
MEDIADOR NO PROCESSO DE O professor tem papel importante para que
CONHECIMENTO DA ARTE o ensino da arte proporcione momentos de
O professor será um dos primeiros, senão o interação e aprendizado, como nos mostra
primeiro por assim dizer, indivíduo a introduzir Barbieri:
a criança no mundo da arte. Como as crianças, cada professor é único e
Ele será o mediador que irá auxiliar a criança traz consigo vivencias que se expressão em sua
em suas ações e apresentando a meios maneira de ensinar. Cada ação que realizamos
diferentes de trabalho com artes, ele tem o está conectada a memória de tudo que
papel fundamental de observação, analise e sentimos e fizemos; todas as experiências de
intervenção nesse processo. uma área de nossa vida tocam as outras, e
O professor deve estar disponível na como a respiração, circulam, sempre em
mobilização da aprendizagem, disponibilizando movimento. Não há como separar. Somos, alem
matérias. de professores, mães, pais, avós, filhos,
O papel do professor no ensino da arte é de profissionais de outras áreas. E é esse todo que
extrema importância, ele precisa instigar a atua na sala (BARBIERI,2012, p. 20).
criança para que ela se expresse e represente O educador deve auxiliar a criança na
seus pensamentos, angustias, dores e medos. construção do seu conhecimento, ele deve
Em todo momento a criança deve ser auxiliar que a criança faça reflexões sobre as
desafiada, é com isso que ela irá perceber seu

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imagens de forma crítica, reflexiva e diversas, tintas, pinceis, lápis de diferentes


construtiva. cores, tamanhos e espessuras.
Mediar é proporcionar o acesso ao modo Nas aulas de artes visuais elas viajam por
como outras crianças e/ou artistas de outros muitos lugares sem sair do lugar, criam
lugares e tempos produzem ou produziam situações que gostariam de viver, se encaixam
artisticamente. em mundos fantasiosos que gostariam que
É importante que a todo momento a criança fizesse parte de sua vida.
seja desafiada, pois é dessa forma que ela vai Contam e recontam histórias, ilustram,
perceber seus potenciais, habilidades e sua pintam e se pintam, podem se sujar sem medo,
capacidade de compreender o mundo que está “fazer meleca” sem que isso lhe cause danos.
a sua volta. Nesse sentido o professor é A criança quando estabelece relação com as
importante pois ele precisa instigar a criança pessoas e o meio em que vive ela constrói seu
para que ela expresse e represente por meio da conhecimento e amplia suas hipóteses sobre o
arte o seu pensamento. mundo, bem como vemos no RCNEI (1988):
É possível encontrarmos professores eu A criança como todo ser humano, é um
esperam nos trabalhos das crianças um sujeito social e histórico e faz parte de uma
produção fiel ou semelhante ao real, tal como organização familiar que está inserida em uma
cores e formas, tendo em vista que o correto, sociedade, com uma determinada cultura, em
por exemplo, é que a arvore tenha folhas um determinado momento histórico. É
verdes e caule marrom, mas é preciso permitir profundamente marcada pelo meio social em
que a criança use de sua criatividade, mesmo que se desenvolve, mas também marca
por que nem toda arvore tem folhas verdes ou (BRASIL1998, p. 21).
caule marrom. As crianças tem suas próprias expressões,
Cabe ao professor proporcionar momentos idéias e interpretações sobre a arte e o fazer
em que desperte o prazer e o amor pela arte, artístico.
atividades mal sucedidas e/ou executadas
desmotivam a criança. A IMPORTÂNCIA DAS ARTES
VISUAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
AS CRIANÇAS E A ARTE As artes visuais estão inteiramente ligadas a
Arte é uma disciplina que a maioria das
educação infantil, para muitas pessoas, o que as
pessoas tem afinidade, gostam, pois ela
crianças de 0 a 3 anos fazem nas creches é
permite a expressão por meio de diferentes
apenas brincar, rabiscar com giz, jogar guache
tipos de atividades, trabalhos.
num pedaço de papel, como se isso não tivesse
Em especial as crianças gostam ainda mais, importância alguma para o desenvolvimento
pois alem da possibilidade de expressão, que desta criança.
elas muitas vezes nem tem consciência de que
Muitos tratam as criações das crianças como
está ocorrendo, é na arte que a criança entra
rabiscos sem importância alguma, mal sabem
em contato com diferentes materiais, folhas
que é por meio das artes visuais e destas

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criações que a criança expressa seus como uma linguagem e como uma forma de
sentimentos e mesmo aquelas que ainda não expressão.
falam conseguem se comunicar. Por meio da O trabalho com artes torna-se uma das
arte a criança expressa seus sentimentos muitas possibilidades de auxiliar a criança no
medos e frustrações. seu processo de aprendizagem.
O que se deve compreender é que o trabalho
com artes visuais tem objetivos muito mais
importantes que visam o desenvolvimento
cognitivo.
O trabalho com artes na educação infantil
ajuda cada criança a descobrir como é seu
mundo de invenções, aprende a imaginar e
fazer, propicia a criança que leiam e
interpretem do seu jeito o mundo que os rodeia
e assim se transforme e o transformem.
A partir de uma idéia ou da experiência com
materiais, o sujeito pode expressar o que sente,
pensa, observa, imagina e deseja.
Uma das principais atribuições da arte para a
educação infantil, é que ela auxilia a criança a
ampliar seus conhecimentos, suas habilidades e
a descoberta de suas potencias.
Quando pinta uma folha, uma parede ou até
mesmo uma tela, a criança está ampliando sua
relação com o mundo e desta maneira, ela se
apropria de várias linguagens adquirindo
capacidade e sensibilidade para lidar com
diversas formas, cores, imagens, gestos, fala,
sons e muitas outras formas de expressão.
O principal objetivo da arte na educação
infantil é formar o ser criativo e reflexivo,
proporcionando que possa relacionar-se como
pessoas. Também ensina a criança a questão da
valorização do seu próprio trabalho e do outro
respeitando a diversidade cultural, a criança
sofre influência da cultura por meio de diversas
produções artísticas, como: livros, revistas,
televisão, obras de ates, musica entre outros.
Desta forma as artes visuais devem ser aceitas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da arte podemos nos expressar, adquirimos novas habilidades e descobrimos
mundos novos, bem como conhecemos nossa cultura, de outros lugares e épocas.
A educação por meio da arte, auxilia em muitos aspectos em nossas vidas, bem como o
desenvolvimento criativo e estético e à medida que inserirmos a arte em nossas vidas nos
tornamos seres mais críticos e reflexivos, pensando dessa forma, as artes visuais na educação
infantil são importantes para que as crianças possam vivenciar suas experiências e desenvolver o
conhecimento em diferentes produções.
A arte nos proporciona valorizar a cultura e faz parte do papel do educador desenvolver
atividades que envolvam a arte em suas diversas formas.
As produções infantis devem ser valorizadas, pois cada um tem uma forma de criação e
não cabe ao educador fazer comparações ou críticas.
Cabe ao docente incentivar os trabalhos variados, as criações espontâneas e a expressão
de sentimentos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BARBIERI, Stela. Interações: onde está a arte na infância? São Paulo: Blucher, 2012.

BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC /SEF, 1998.

DUARTE JR, João Francisco. Por que arte-educação.19º Ed. São Paulo: Papirus, 2008.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A TEORIA DA PSICOPEDAGOGIA COMO APOIO


AO ALUNO COM DEFASAGEM DE
APRENDIZAGEM
Mislene Gonçalves do Nascimento 1

RESUMO: Este artigo versa sobre tema “A teoria da Psicopedagogia como apoio ao aluno com
defasagem de aprendizagem”, visando por meio de seus conceitos, refletir sobre a conduta do
profissional, na orientação processo necessário, para a ajuda necessária ao educando. A
psicopedagogia com área profissional em amplo crescimento tem o desafio de ajudar na
transformação da Educação, na busca de novos instrumentos de avaliação, orientação e pesquisa,
renovando saberes e criando novas perspectivas para o profissional e para a Instituição. Esta
estuda os processos e as dificuldades de aprendizagem, tanto de crianças e adolescentes como
dos adultos. Assim, é possível entender que a mesma faz o uso de diversas áreas como a
pedagogia, psicanálise, psicologia, e antropologia como meio de entendimento e conhecimento
para criar a sua identidade e campo de atuação própria, juntamente com a Associação Brasileira
de Psicopedagogia. Conhecida como aquela que atende crianças com dificuldades de
aprendizagem, é notório o fato de que as dificuldades, distúrbios ou patologias podem aparecer
em qualquer momento da vida e, portanto, a Psicopedagogia não faz distinção de idade ou sexo
para o atendimento. A mesma vem firmando no mundo do trabalho e se estabelecendo como
uma profissão, busca estudar casos de alunos com dificuldades de aprendizagem, que
apresentam baixo rendimento, conhecendo o modo em que este aprende e assim fazer um

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia.
E-mail: mislenegs@hotmail.com

556
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

trabalho junto à família e ou unidade escolar, criando possibilidades para reduzi-los ao menor
prejuízo possível no contexto educacional.

Palavras-Chave: Teoria Psicopedagógica; Dificuldade de Aprendizagem; Educando; Ambiente


Escolar.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO de Lei 7855/10,, e regulamenta a atividade de


psicopedagogo, e em conjunto com um
A Psicopedagogia é o ramo da psicologia que manifesto de aprovação, feito pela a ABPP -
tem em atenção os fenómenos de foro Associação Brasileira de Psicopedagogia, que
psicológico para chegar a uma formulação mais em dezembro de 2009 o projeto foi aprovado.
adequada dos métodos didáticos e Nos últimos anos houve um grande
pedagógicos. Trata dos fundamentos do sujeito crescimento na área de psicopedagogia. Pode-
e do objeto de conhecimento e da sua inter- se trabalhar em diversas áreas como: área
relação com a linguagem e a influência sócio clínica, educação continuada, orientação
histórica, dentro do contexto dos processos pedagógica, recursos humanos, entre outros.
quotidianos da aprendizagem. Por outras Assim, de acordo com todo o propósito já
palavras, é a ciência que permite estudar a relacionado, podemos afirmar que este artigo
pessoa e o seu meio envolvente nas várias também tem o caráter qualitativo, enfatizando
etapas de aprendizagem que abarca a sua vida. a contribuição dos aspectos afetivos do ponto
Por intermédio dos seus métodos, estuda o de vista Psicopedagógico.
problema presente ao entrever as Inserida no contexto geral da
potencialidades cognitivas, afetivas e sociais Psicopedagogia, a afetividade é um fator
para um melhor desenvolvimento nas importante no processo ensino-aprendizagem,
atividades que desempenha a pessoa. é o que motiva a criança a ser segura e ajustada,
A Psicopedagogia desenvolveu-se como facilitando a aquisição de conhecimentos e
disciplina científica a partir de meados do ajuda sua autonomia. Para tanto, não se pode
século XX, com um enfoque interdisciplinar e negar, a partir de vários estudos no campo
combinando conhecimentos da educação e da pedagógico e educacional e da psicologia
saúde mental, intervindo com sua escolar, que a falta da relação afetiva para a
estruturação, nos processos e nas dificuldades criança, interfere significativamente em seu
de aprendizagem, tanto de crianças e rendimento escolar, causando dificuldades em
adolescentes como dos adultos, sendo utilizada sua aprendizagem.
por diversas áreas como a Pedagogia, Atualmente, muito se tem discutido e
Psicanálise, Psicologia, e Antropologia. debatido sobre educação de qualidade,
Mas no campo da Pedagogia, o papel do inclusão e afetividade no ambiente escolar,
Psicopedagogo é atuar para prevenir e com estes, surge o interesse para o
trabalhar para tentar compreender o que está entendimento das questões afetivas nas
acontecendo, qual é a falha no processo de relações tanto de professor/aluno, quanto
aprendizagem de determinada pessoa. O afeto materno e familiar para a criança. Paulo
profissional está preparado para a prevenção, Freire, autor brasileiro, e um dos mais
diagnóstico e tratamento dos problemas. conceituados escritores sobre o tema educação
O interessante, é que a profissão do e Pedagogia e Henri Wallon, contribuíram com
Psicopedagogo que é de extrema importância o tema afetivo pedagógico, como ponto de
para as escolas, só foi regularizada pelo Projeto

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

partida para o bom desempenho do aluno em Parágrafo único: A intervenção


ambiente escolar. psicopedagógica é sempre da ordem do
Não há docência sem discência, as duas se conhecimento relacionado com o processo de
explicam, e seus sujeitos apesar das diferenças aprendizagem” (ABPP, 1996, s.p).
que os conotam, não se reduzem à condição de A Psicopedagogia desenvolve-se como
objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao disciplina científica a partir de meados do
ensinar, e quem aprende ensina ao aprender século XX, com um enfoque interdisciplinar e
(FREIRE, 1996, p.25). combinando conhecimentos da educação e da
saúde mental. Um profissional em
O CONCEITO DE psicopedagogia deve dominar as bases
epistemológicas do saber psicopedagógico,
PSICOPEDAGOGIA com as suas noções básicas e os eixos
Como conceito geral, a Psicopedagogia é o conceptuais. Da mesma forma, deve conhecer
ramo da psicologia que tem em atenção os as ciências auxiliares que contextualizam o seu
fenômenos de foro psicológico para chegar a desempenho profissional e todas as aplicações
uma formulação mais adequada dos métodos que estas abrangem relacionadas ao
didáticos e pedagógicos. Esta trata dos pensamento e ao desenvolvimento na sua
fundamentos do sujeito e do objeto de condição de ser humano. E ainda neste
conhecimento e da sua inter-relação com a contexto o Código de Ética (1996), afirma que:
linguagem e a influência sócio-histórica, dentro Estarão em condições de exercício da
do contexto dos processos cotidianos da Psicopedagogia os profissionais graduados em
aprendizagem. Por outras palavras, é a Ciência 3° grau, portadores de certificados de curso de
que permite estudar a pessoa e o seu meio, pós-graduação de Psicopedagogia, ministrado
envolvendo as várias etapas de aprendizagem em estabelecimento de ensino oficial e/ou
que compreende a sua vida. Por intermédio reconhecido, ou mediante direitos adquiridos,
dos seus métodos, estuda o problema presente sendo indispensável submeter-se à supervisão
ao entrever as potencialidades cognitivas, e aconselhável trabalho de formação pessoal
afetivas e sociais para um melhor (ABPP, 1996,s.p).
desenvolvimento nas atividades que Já para o site Wikipédia, a enciclopédia livre,
desempenha a pessoa. Psicopedagogia apresenta-se, no conceito de
De acordo com o código de ética da ABPp campo do saber que se constrói a partir de dois
(1996): saberes e práticas: a pedagogia e a psicologia.
A psicopedagogia é um campo de atuação O campo dessa mediação recebe também
em educação e saúde que lida com o processo influências da psicanálise, da lingüística, da
de aprendizagem humana; seus padrões semiótica, da neuropsicologia, da
normais e patológicos, considerando a psicofisiologia, da filosofia humanista-
influência do meio-família, escola e sociedade – existencial e da medicina.
no seu desenvolvimento, utilizando Desta forma cabe aos psicopedagogos
procedimentos próprios da Psicopedagogia. estudarem, prevenirem e fazer as intervenções

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

necessárias, para tentar corrigir as dificuldades Psicologia em Tolouse, também trabalhou para
que possa apresentar um indivíduo no processo a Unesco em missões de assessoria
de aprendizagem, ainda que este tenha um relacionadas a problemas de inteligência e
quociente de inteligência dentro dos aprendizagem.
parâmetros considerados normais mas que Pain (1992), define esta base como:
apresente dificuldades na sua aprendizagem. transmissão de conhecimentos e que a
Afirma-se ainda, que a psicopedagogia estuda o aprendizagem está sempre ligada sem sujeito e
fenômeno de adaptação que implica o nem sujeito sem aprendizagem. Nos
desenvolvimento evolutivo da mente, com o comentários da autora, conciliam-se ainda três
processo de ensino-aprendizagem. componentes importantes tais como aquele
A psicopedagogia está intimamente ligada à que aprende, aquele que ensina e aquele que
psicologia educacional, da qual uma parte é compartilha os conhecimentos. “A intervenção
aplicada à prática. Ela diferencia-se da do psicopedagogo deve ser sempre realizada
psicologia escolar, também esta uma em parceria com o professor porque é ele que
subdisciplina da psicologia educacional, sob no momento que propõe atividades para o
três aspectos: sujeito se torna o transmissor do
1. Quanto à origem - a psicologia escolar conhecimento”. E conforme exemplifica a
surgiu para compreender as causas do fracasso autora, cabe ao psicopedagogo na instituição
de certas crianças no sistema escolar enquanto escolar, além de várias outras funções:
a psicopedagogia surgiu para o tratamento de orientar os professores da melhor maneira
determinadas dificuldades de aprendizagem possível, colaborando na sala de aula com
específicas; aqueles alunos que apresentam dificuldades de
2. Quanto à formação - a psicologia escolar aprendizagem;
é uma especialização na área de psicologia, realizar um diagnóstico institucional para
enquanto a psicopedagogia é aberta a averiguar possíveis problemas pedagógicos que
profissionais de diferentes áreas; possam prejudicar o aluno no processo ensino-
3. Quanto à atuação - a psicologia escolar é aprendizagem;
uma área propriamente psicológica enquanto a encaminhar o aluno, quando necessário,
psicopedagogia é uma área plenamente para um profissional (psicopedagogo,
interdisciplinar, tanto psicológica como psicólogo, fonoaudiólogo etc.), a partir de suas
pedagógica. avaliações psicopedagógicas.
De acordo com Pain(1992), é importante conversar com os pais ou responsáveis para
afirmar algumas posições sobre os aspectos da que possam fornecer informações necessárias
Psicopedagogia. A autora, dedicou boa parte de à Instituição Escolar, dando-nos suportes,
sua vida a este estudo, Doutora em Filosofia orientações e outros (PAIN,1992, p.28).
pela Universidade de Buenos Aires e em Entre estes e outros aspectos a autora
Psicologia pelo Instituto de Epistemologia comenta que é muito importante que o
Genética de Genebra, professora da Psicopedagogo tenha conhecimento do que o
Universidade Paris XIII e da Faculdade de aluno aprende, para compreender o que ele

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tem interesse de aprender e conhecer e o quê Universidade de El Salvador e em psicologia na


para ele não interessa ou o que ele ignora, Universidade de Buenos Aires. Trabalha como
digamos, cabe ao psicopedagogo estar Orientadora Educacional, Supervisora e
preparado para lidar com situações tais como; Assessora de Atividades Psicopedagógicas e
bloqueios, sentimentos, lapsos, resistências, Coordenadora de "Grupos de Tratamento
dos nossos sujeitos. Cabe-nos também Psicopedagógico Didático para
entender nossa responsabilidade como Psicopedagogos" em Buenos Aires, São Paulo,
profissional da Psicopedagogia, a condição de Rio de Janeiro e Porto Alegre. Autora dos livros
nunca desistir da busca de conhecimentos, para “A mulher Escondida na Professora", "A
entender formas mais adequadas de Inteligência Aprisionada", “ O saber em jogo”,
intervenção, que em muitas vezes não “A Atenção Aprisionada” e “Os Idiomas do
correspondem às expectativas familiares, dos Aprendente”, as suas publicações tem
professores, entre outros. Segundo ainda as contribuído muito para o diagnóstico de
ideias da autora, o papel da Psicopedagogia problemas de cunho psicopedagógico com
entre fraturas do aprender e a aprendizagem alunos nas escolas de modo geral.
encontra neste lugar questões com os quais ele Para Fernández (2001):
precisa investigar. Sendo assim o objeto central A psicopedagogia vem para explicar também
do estudo da Psicopedagogia está em torno do que na fabricação do problema de
processo de aprendizagem humana: seus aprendizagem como sintoma intervém
padrões evolutivos normais e patológicos e a questões que dizem respeito à significação
influência do meio (família, escola, sociedade) inconsciente do conhecer e do aprender e ao
em seu desenvolvimento. Assim, pode-se posicionamento diante do escondido
afirmar que a Psicopedagogia está vinculada no (FERNÁNDEZ, 2001,p.35).
campo de conhecimento como também Segundo Fernández (2001), para que ocorra
atuando na Saúde e Educação, enquanto a aprendizagem, é preciso que quem aprende
prática clínica, transformando-se em campo de possa conectar-se mais com seu sujeito
estudos para os interessados no processo de ensinante do que com seu sujeito aprendente,
construção do conhecimento e nas dificuldades e quem ensina possa conectar-se mais com seu
que se apresentam diante dessa construção. sujeito aprendente do que com seu sujeito
Como prática preventiva, tem se buscado ensinante.
construir uma relação saudável com o De acordo com Fernández (2001), “desde o
conhecimento, para assim facilitar a sua início de sua existência, o bebê já está
construção e que o psicopedagogo ensina como constituindo o sujeito aprendente sempre em
aprender e para isso necessita aprender o relação com a modalidade de ensino e de
aprender e a aprendizagem. aprendizagem de seus pais". Possuidora de
Segundo Fernandez (2001), que é uma uma larga experiência de trabalho com famílias,
percussora da Psicopedagogia mundial, grupos e instituições de saúde e educação,
também com seu berço natal em Buenos Aires, construiu um modelo próprio de diagnóstico
formou-se em psicopedagogia pela psicopedagógico chamado DIFAJ (Diagnóstico

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Interdisciplinar Familiar de Aprendizagem em fato ao problema causador que afeta o


uma só jornada), utilizando-o em diversos psicológico do aluno em fase escolar.
hospitais públicos e privados de vários países Na escola, a afetividade vem sendo debatida
latino-americanos. e defendida há alguns anos por psicólogos,
Em seu livro “Os idiomas do aprendente” pedagogos, psicopedagogos, profissionais da
Alicia Fernandez aborda o papel do educação e saúde em geral, mas na prática
inconsciente na aprendizagem: “Não cabe ao Psicopedagógica, os educadores que incluíram
psicopedagogo buscar culpados, mas sim essa teoria no seu cotidiano apontam para os
investigar causas, fraturas e, acima de tudo, evidentes resultados positivos que
apontar caminhos, novas estratégias de ensinar conseguiram alcançar. Mas, antes de
e aprender”. Para a autora, estes caminhos pensarmos na escola como ambiente para
devem fugir de paradigmas, permitir o novo, o desenvolvimento da personalidade da criança,
criativo, o lúdico e que todos têm um potencial devemos alertar para o fato de que a
e uma modalidade particular de aprender. Para problemática emocional está ligada aos
o nosso propósito de estudo, a autora (2001), conflitos interiores e dispersão do indivíduo, o
afirma que: “o psicopedagogo estuda e cria que dificulta sua interação com o meio,
condições para uma melhor aprendizagem prejudica sua capacidade de atenção,
individual e grupal nas instituições educativas concentração e de relacionamento
ou em situações de aprendizagem individual, interpessoal. Assim é importante afirmar que a
grupal, institucional e comunitário”. figura materna tem papel decisivo na
Assim, conforme define os diversos autores "prevenção" dessas dificuldades. Na condição
em psicopedagogia, parece que em relação à de Mãe, o afeto que ela dedica à criança,
afetividade, a mesma se encontra em um especialmente nos cinco primeiros anos de
estágio superior, mas na prática dos vida, é responsável por grande parcela da sua
diagnósticos envolvendo alunos com personalidade de vida, pois a ligação mãe-filho
problemas de aprendizagem, as duas se nessa faixa etária é muito intensa e a criança se
completam, pois em muitos aspectos a causa é fixa na mãe, tendo-a como exemplo e modelo
encontrada na carência afetiva do aluno, para suas atitudes futuras.
principalmente a ausência da afetividade Novaes (1984), nos mostra que a carência
materna, que dependendo da idade em que afetiva determina uma série de fatores que
começa ser sentida, pode causar danos ao prejudicam o desenvolvimento global da
educando por um período prolongado. Desse criança, tanto no âmbito físico como psíquico.
modo, nos diagnósticos com aluno que possui Essa carência pode ser identificada pela
carência afetiva é quase impossível não incapacidade do indivíduo em manter trocas
assimilar a falta afetiva com os aspectos da afetivas normais com outros seres humanos.
psicologia. Por isso, é que em tantos momentos Segundo ela, esses sintomas diagnosticados na
os mesmos autores se misturam nos debates escola é consequência de um descontrole na
sobre tais temas, mas é preciso preparação do relação mãe-filho, pois tanto a carência como o
profissional envolvido para que se chegue de

562
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

excessivo cuidado pode acarretar problemas Alguns autores defendem que, se a as primeiras
emocionais graves na criança pequena. experiências escolares forem bem sucedidas, o
Considera-se que o desvinculamento da aluno construirá uma representação positiva de
criança da mãe, poderá desencadear sintomas si mesmo como alguém capaz de aprender todo
de angústia e mal-estar que variam conforme a o conteúdo, e se caso isso não se realize, o
sua idade, grau de dependência dos pais e, aluno poderá perder o interesse e a motivação
principalmente, quanto à natureza dos para aprender. Diante desta perspectiva, a
cuidados maternos. Essa angústia revela uma afetividade é um dos principais fatores que irão
relação emocional e afetiva normal entre a mãe nortear a prática educativa, como também
e a criança, pois retrata uma quebra no possibilitar vivências enriquecedoras para a
processo de afetividade que vem sendo aprendizagem.
construído por ambas. A falta de educação afetiva na escola ou em
Segundo Novaes (1984), na escola, a criança casa, e o desconhecimento das formas de
terá dificuldades de adaptação ao meio de interpretação e de respostas adequadas
acordo com o grau de relacionamento com a perante as atitudes, condutas e manifestação
mãe. Ao nascer, a criança se fixa naquela emotivas das demais pessoas deixando os
pessoa que ela considera de sua posse, no caso alunos à mercê das mazelas sociais, como a
a mãe. Na escola ela terá de se relacionar com falta de referencial para seguir, os vícios da
um número bem maior de pessoas ao qual está comunidade, em casos mais complexos, até à
acostumada e isso é um fator importante na marginalidade entre outros que são fatores que
avaliação do desenvolvimento emocional da corrompem a juventude.
criança, funciona como um teste. Por Não é recente a discussão sobre o papel da
intermédio dele podemos definir novos rumos afetividade na constituição da subjetividade
na educação da criança e dos seus pais. Enfim, humana. Inserida na história da filosofia, no
a angústia provocada, em crianças pequenas, contexto das relações entre razão emoção e
pela perda ou separação da figura materna sentimento, foi motivo de aquecidos debates
determina mecanismos de defesa que podem envolvendo grandes filósofos, que ora
comprometer e modificar a sua personalidade valorizavam os conflitos existentes entre razão
e tanto o excesso como a falta de afeto pode e sentimentos, ora a dicotomia ou o papel
prejudicar a aprendizagem. superior de um aspecto sobre o outro. Alguns
Quando a criança vai à escola, ela se filósofos, principalmente na origem grega
apresenta com grandes expectativas em filosófica, reiteravam que os sentimentos
relação ao ambiente, ao conteúdo e, residem no coração e que o cérebro tem a
principalmente, pela figura do professor, missão de esfriar o coração e os sentimentos
aquele que irá mediar esse processo. Neste nele localizados e que a supremacia da razão,
novo contexto, a percepção positiva de si e do construiu uma perspectiva negativa das
outro é essencial para o desenvolvimento de emoções e dos sentimentos, chegando a
vínculos e parcerias que irão nortear todo o afirmar que as paixões são a enfermidade da
processo de aprendizagem e conhecimento. alma. De um modo geral, oque se evidencia nos

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escritos dos filosóficos, da Grécia antiga até a tanto nas propostas presentes na legislação
modernidade, é uma concepção dissociada, na educacional vigente, a exemplo da Lei de
qual a razão quase sempre tem status superior Diretrizes e Bases (LDB) n.º 9.394/96, como
com relação aos sentimentos. Na psicologia, também em outras pesquisas e publicações, a
historicamente iniciada no séc. XIX, o cenário exemplo do jornal do MEC.
não foi muito diferente. Entendendo com este A Constituição Federal (1988), em seu artigo
ponto de vista que o comportamento humano 205, afirma que “a educação é direito de todos
foi considerado sujeito a princípios universais e e dever do Estado e da família”. No título II do
que se admitiu a ciência psicológica como artigo 1.º da LDB (1996), a redação é alterada
possível, alguns temas foram formulados de tal para “a educação é dever da família e do
maneira que se tornaram difíceis resolvê-los Estado”. Se a família passa a ter uma maior
“cientificamente”, pois a divisão entre razão e o responsabilidade com a educação, é necessário
emocional, às vezes é difícil se se entender. que as instituições família/escola mantenham
Ferreira (2001), explica que a criança atinge uma relação que possibilite a realização de uma
na idade escolar as funções neuro-sensório- educação de qualidade. O contexto familiar
motoras e as demais funções cerebrais constitui um âmbito fundamental para a
(sensação, percepção e emoção), que ainda identificação das necessidades dos alunos e, em
confusas. Por isso, a discriminação entre seu eu consequência disso, para se tomarem decisões
e sua experiência não se realiza apenas na quanto à resposta educativa. A avaliação
dimensão cognitiva. Segundo a autora, é psicopedagógica não é uma questão reservada
necessária a ação mediadora da educação, que exclusivamente a especialistas: todos os
deve tomar como sua função promover a profissionais e os pais devem participar do
construção da afetividade e a organização processo, evidentemente em graus distintos. É
dessas funções. Desta forma, o profissional de certo, porém, que as pessoas que ocupam um
Psicopedagogia intervém na instituição e no lugar relevante no processo de ensino-
planejamento das aprendizagens segundo aprendizagem não podem ser excluídas do
níveis evolutivos ou características psicológicas processo de avaliação.
de quem aprende, escolhendo o
assessoramento de metodologias que se
ajustem à ação educativa nas bases psicológicas
da aprendizagem e realizando o
assessoramento institucional de projetos de
aprendizagem dos alunos.
A Intervenção do Psicopedagogo na Relação
Escola e Família ou Família e escola vem no
contexto educacional, sendo discutida com
maior ênfase a necessidade de uma
participação efetiva das famílias na instituição
escolar. Tal preocupação pode ser visualizada

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face ao exposto a respeito da teoria existente na área da Psicopedagogia e suas
contribuições para o profissional psicopedagogo, oportunizando a todos que dele puder tomar
conhecimento, aspectos importantes sobre o papel da Psicopedagogia e sua relativa contribuição
no âmbito escolar.
Sabendo-se, que existe um elevado número de alunos com defasagem em aprendizado, é
tarefa desta área de conhecimento, oferecer recursos de ajuda aos educandos em questão.
O professor nem sempre consegue sozinho compreender todos os aspectos individuais do
aluno, principalmente aqueles que necessitam de ajuda, sejam elas psicológicas, social ou por
alguma deficiência, precisando de acompanhamento especializado na área pedagógica.
Neste contexto o profissional Psicopedagogo oferece sua colaboração na busca por
soluções, tentando entender, como o sujeito ultrapassa os obstáculos que surgem diante as
dificuldades encontradas e a partir das queixas apresentadas investigar as dificuldades do aluno,
buscar a melhor saída juntamente com a escola na solução devida e no momento adequado.
O psicopedagogo não deve ensinar-lhe as contas, deve desvendar por que é que a criança
não as aprende. Por outro lado, o educador deve ensinar, isto é, criar as condições pedagógicas
para uma aprendizagem possível e não fazer terapia. Em suma, as condições de aprendizagem
não são condições terapêuticas; então, quando ambas são misturadas, isso é apenas uma questão
publicitária (PAIN,1992, p.18).
É importante ressaltar que a sala de aula é um ambiente, no qual as emoções se expressam,
e a infância é a fase emocional por excelência. como em qualquer outro meio social, existem
diferenças, conflitos e situações que provocam os mais variados tipos de emoção.
O diagnóstico psicopedagógico é um instrumento que investiga os elementos que se
interpõem no processo de aprendizagem do sujeito, pois, pensar no sujeito aprendente, é pensar
que este sujeito encontra-se num espaço temporal, existencial, orgânico e emocional, espaço esse
que tem como problematização a família, a escola, o meio social e econômico. Nesse processo de
compreensão e contextualização da realidade se faz necessário a adaptação para sua realidade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Ana Rita Silva. A emoção na sala de aula. 5.ed. Campinas: Papirus, 2005.

BOSSA, Nádia. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre:


Artes Médicas Sul, 1994.

CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de diagnóstico psicopedagógico: o


diagnóstico clínico na abordagem interacionista. 1ª ed. São Paulo: Vetor,
2004.

FERREIRA, M. Ação psicopedagógica na sala de aula: uma questão de inclusão. São Paulo:
Paulus, 2001.

FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1986.

FERNANDES, Alícia. A inteligência Aprisionada. Porto Alegre: Artmed, 1990.

FERNANDES, Alícia. Os idiomas do aprendente. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.

FERNANDES, Alícia. O Saber em Jogo. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. São


Paulo: Paz e Terra, 1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1992.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.


Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

PAIN, Sara. Psicopedagogia operativa,1992.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo. (1991).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NOS ANOS


INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Célia Regina de Almeida 1

RESUMO: O artigo tem como finalidade apresentar teoricamente o processo de ensino e de


aprendizagem de alfabetização e letramento nos anos iniciais da educação básica. Alfabetização
e letramento são dois temas que estão diretamente ligados, de acordo com os Parâmetros
Curriculares Nacionais, o ensino da linguagem precisa ser em direção a três fundamentos básicos:
a leitura, a compreensão e a produção juntos relacionados ao contexto social. O objetivo geral
desse trabalho é apontar a necessidade e a importância de alfabetizar letrando nos anos iniciais
do Ensino Fundamental. Este artigo foi estruturado para pesquisa bibliográfica apoiada em
material apontado, tendo como auxílio os livros, estudos científicos e por meio ainda de
informações de arquivos eletrônicos obtidos por meio de acervos de bibliotecas virtuais e google
acadêmico. A pesquisa bibliográfica foi organizada em fundamentação teórica, para tornar mais
resoluta a pesquisa qualitativa, quando o tratamento dos dados ocorreu por meio de análise de
conteúdo, visualizando o que será realizado nesse estudo dos últimos 20 anos. Percebe-se que o
processo de alfabetização e letramento é complexo, amplo e de fundamental importância na
capacidade intelectual e em diferentes fatores de ordem social, psicológica, emocional e física da
criança, pois é por meio da interação com a escrita, a leitura e a oralidade que o aluno desenvolve
suas potencialidades e habilidades que auxiliam na socialização em seu convívio no meio em que
a criança está inserida.

Palavras-Chave: Alfabetização; Letramento; Aprendizagem; Sociedade; Cidadania.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Gestão Escolar; Especialização em Pedagogia
Empresarial.
E-mail: celiaeduardo@bol.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO intelectual e em diferentes fatores de ordem


social, psicológica, emocional e física da
O presente artigo tem como finalidade criança, pois é por meio da interação com a
apresentar teoricamente o processo de ensino- escrita, a leitura e a oralidade que o aluno
aprendizagem de alfabetização e letramento desenvolve suas potencialidades e habilidades
nos anos iniciais da educação básica. que auxiliam na socialização em seu convívio no
Alfabetização e letramento são dois temas que meio em que a criança está inserida.
estão diretamente ligados, de acordo com os Diante do exposto justifica-se a escolha
Parâmetros Curriculares Nacionais(1997), o deste enfoque de investigação, devido à busca
ensino da linguagem precisa ser em direção a por respostas das indagações despertadas em
três fundamentos básicos: a leitura, a relação a importância da alfabetização e
compreensão e a produção juntos relacionados letramento nos anos iniciais e compreende a
ao contexto social. função do professor frente a esse processo.
Alfabetizar, pode ser uma ferramenta que Diante dos fatos, procurou-se responder à
auxilia no processo político, propiciando a questão central: Qual o processo de ensino e de
cidadania e a autonomia aos alunos, quando aprendizagem de alfabetização e letramento
oferece condições de formarem sua união de nos anos iniciais da educação básica?
conhecimentos num conjunto vasto, assim Objetivamos apontar a necessidade e a
sendo ponderado e compreendido pela importância de alfabetizar letrando nos anos
dificuldade das diversas relações que as iniciais do Ensino Fundamental e os objetivos
pessoas e o ambiente envolvem. Devido à específicos são apontar o papel do professor
complexidade no processo de alfabetização e frente ao processo de alfabetização e
suas consequências no meio social, cognitivo, letramento; estudar possíveis efeitos das
cultural e na comunidade letrada, mostrou-se ametodologias no desenvolvimento efetivo dos
necessidade de utilizar um termo renovador: alunos; explorar teoricamente as melhores
Letramento. práticas a fim de instruir o professor.
O tema aqui contemplado, é pertinente e A pesquisa aqui exposta é descritiva e
relevante, visto que o analfabetismo mostra o qualitativa possuindo como foco primordial a
quanto é significativo da importância do procura do tema proposto no que se diz
alfabetizar letrando nos anos iniciais da respeito às referências já existentes.
trajetória escolar da criança, pensando que
esse processo é a realização contínua na
O PAPEL DO PROFESSOR
composição cognitiva por meio de acréscimos
no universo da escrita pelos convívios orais e FRENTE AO PROCESSO DE
sociais, motivando a definição que a escrita tem ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
no coletivo. Alfabetização e letramento são palavras
Percebe-se que o processo de alfabetização marcantes, na vida social é por intermédio da
e letramento é complexo, amplo e de alfabetização e do letramento que o aluno vem
fundamental importância na capacidade a integrar-se no desempenho de suas posições

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sociais. Alfabetizar passa a caracterizar o início O professor dos anos iniciais do Ensino
do aprendizado de escrita e leitura enquanto Fundamental é o principal responsável pelo
letrar mostra a consequência do ato de progresso da competência escritora e leitora
aprender ou ensinar a escrever e ler, é uma dessas crianças. Ele primordialmente necessita
condição que domina um grupo social. elaborar de modo objetivo e desenrolado,
Letrar é uma junção de práticas sociais, que hábitos de escrita e leitura com objetivos
utilizam a escrita, como sistema simbólico e definidos e trabalhar como mediador nesse
como tecnologia. É a habilidade de ler e procedimento. Diante dessa nova visão
escrever para alcançar objetivos distintos. A educativa de letramento, o professor além de
alfabetização é um processo que se inicia antes incentivador do processo educacional, ele faz a
da escola, por intermédio das leituras de mediação da aprendizagem e do ensino.
mundo que a criança vai compondo. A escrita O professor precisa estar atento é que o
apresenta-se nesse processo de edificação conceito de meio inclui o meio interpessoal e o
como objeto social e, desta forma, como a cultural. O professor não só é o mediador entre
leitura se fortifica pela utilidade de a cultura e o aluno, mas é o representante da
comunicação. As crianças ao iniciarem com seis cultura para o aluno. Na relação professor-
anos o Ensino Fundamental, estão favoráveis e aluno, é ele que acaba selecionando entre os
predispostas à alfabetização, o momento é saberes e os materiais culturais disponíveis em
incontestável. A autora afirma que: dado momento, bem como tornando ou não
Há crianças que chegam à escola sabendo saberes efetivamente transmissíveis; é ele que
que a escrita serve para escrever coisas faz a aproximação do aluno a cultura de sua
inteligentes, divertidas ou importantes. Essas época (ALMEIDA; MAHONEY, 2007, p. 82).
são as que terminam de alfabetizar-se na Assim sendo, o professor nessa fase trabalha
escola, mas começaram a alfabetizar muito como a primordial ligação que direciona seus
antes, através da possibilidade de entrar em alunos, primeiramente, aumentando os
contato, de interagir com a língua escrita. Há saberes já memorizados pela escrita. Sendo
outras crianças que necessitam da escola para que, quanto mais o aluno tiver desenvoltura
apropriar-se da escrita (FERREIRO, 2011, p.23). para ler, melhor seu estágio de letramento. A
Dessa forma, a introdução da criança no alfabetização e o letramento estão no contexto
universo da escrita acontece pela aquisição da do início do Ensino Fundamental, cabendo ao
tecnologia cercada no aprendizado de ler e professor escolher sua metodologia. Pensando
escrever; necessita usar e comprometer-se nas que:
tarefas de leitura e escrita e apoderar-se da A alfabetização desenvolve-se no contexto
prática do sistema de escrita. Porém, não basta de e por meio de práticas sociais de leitura e
apenas a criança saber decifrar o código escrita, isto é, por meio de atividades de
alfabético, se ela não dominar a compreensão letramento, e este, por sua vez, só se pode
da leitura. O ato mecânico não resolve em desenvolver no contexto da e por meio da
nada, caso não haja entendimento. aprendizagem das relações fonemagrafema,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

isto é, em dependência da alfabetização levar em conta a etapa de desenvolvimento da


(SOARES, 2001, p. 14). criança em questão e não se tomar como
Trabalhando como referência e modelo de referência. O que se enfatiza também é a
escritor e leitor para seus alunos, o professor importância do momento presente – cada
mediador instrui conhecimentos essenciais no etapa deve ser vivida com seus objetivos e
processo de alfabetização e letramento. necessidades, e o entendimento a eles deve ser
Quando as crianças dos anos iniciais escrevem a preocupação do educador. Por outro lado, os
e leem, o professor os direciona a analisar a si objetivos e necessidades vão variar conforme
mesmo no caminho do conhecimento. Assim, as condições de vida de que a criança dispõe. É
os auxilia na aquisição de novos estágios de responsabilidade do adulto, e principalmente
aprendizagem. Se o professor assumir a postura do educador, adequar o meio escolar às
de mediador de seus alunos, isso ajudará no possibilidades e necessidades infantis do
crescimento intelectual deles, pois o docente momento (ALMEIDA; MAHONEY, 2007, p.77)
enxerga em sua turma seres autônomos e com Assim, planejando atividades, o professor
grande potencial de aprendizagem. Nessa precisa pensar que as crianças que têm
concepção, as autoras afirmam que: conhecimento maior a respeito de leitura e
O apoio que o professor dará ao aluno nessa escrita tem grande potencial como parceiros
travessia de criança a adulto terá maior ou avançados e colaborar de fato para que as
menor relevância dependendo de ele olhar outras crianças evoluam nesse processo. Por
muitas vezes para trás para avaliar seu próprio meio do diálogo, pode-se aproximar esses
desempenho; de olhar seu aluno com alunos de maneira que um favoreça o outro
reverência ou acatamento, lembrado sempre sem constrangimento e mediado pelo
que a criança de hoje é o adulto de amanhã; de professor.
tomar em consideração, ter em conta suas A edificação da aprendizagem ocorre por
condições de aprendizagem e as de seu meio; meio de interações profundas, linguagens
de seguir as determinações, cumprir, observar, disponíveis e variadas da individualidade da
acatar o ritmo de desenvolvimento próprio de criança. A sociedade atual desenvolve-se em
sua etapa de formação (ALMEIDA; MAHONEY, novas exigências. A autonomia prometida nas
2007, p. 82). aulas necessita ter repercussão com as
Essa relação entre professor e alunos doutrinas de um recente paradigma, no qual o
necessita de programação e organização. Com indivíduo contribui e compõe seu
a constância dessa relação e interação, decerto conhecimento em interação e troca.
os alunos amplificarão a percepção a respeito
de seu desenvolvimento progressivo no METODOLOGIAS NO
domínio das práticas escritora e leitoras. Tudo
vem a seu tempo e cada aluno tem seu próprio DESENVOLVIMENTO EFETIVO
ritmo a ser respeitado. DOS ALUNOS
Cada etapa tem uma função própria, e o No Brasil, mesmo que tenha reduzido o
adulto, ao se propor conhecer a criança, tem de índice de analfabetismo, ainda tem-se um

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

número expressivo de pessoas iletradas ou decodificando a escrita. Hoje, esse termo


ainda que já frequentaram a escola, mas não alfabetização já foi resinificado e é centro de
dominam a leitura por completo. Porém, de várias discussões e correntes ideológicas que
acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de procuram esclarecer o que realmente é ser
Geografia e Estatística), a taxa de alfabetizado e quais as implicações deste
analfabetismo no Brasil em 2018 com pessoas processo no dia a dia dos sujeitos (TEIXEIRA,
de 15 anos ou mais caiu, mas está longe de ser 2008, p.12).
um bom resultado, como se vê: O quadro era vergonhoso e já se discutia em
Em números absolutos, a taxa representa posição internacional a questão da
11,5 milhões de pessoas que ainda não sabem alfabetização. Foi quando em 1990, na
ler e escrever. A incidência chega a ser quase Conferência Mundial Educação para Todos, em
três vezes maior na faixa da população de 60 Jomtien, na Tailândia discutiu-se a
anos ou mais de idade, 19,3%, e mais que o alfabetização como meio de conhecimento,
dobro entre pretos e pardos (9,3%) em relação quem não tem, é excludente e precisa
aos brancos (4,0%) (BRASIL, 2019, s.p). participar. A leitura e escrita passa a ser um
O ingresso em uma escola pública se deu direito da pessoa como cidadão. Começa-se a
efetivamente em meados dos anos de 1990, pensar em equidade educativa.
anteriormente pessoas entre 7 e 14 anos não se No tocante à Conferência Mundial Educação
encontravam nas escolas. A partir da para Todos, a concepção educacional passar a
Constituição Federal de 1988 o panorama ter outra feição mais humanizante, procurando
muda e os conceitos tomam outro formato, deixar de ser elitista. Em sua temática,
como se vê no seu Artigo 227: assegura-se o compromisso internacional de
É dever da família, da sociedade e do Estado manter o direito à educação, isto é, “satisfação
assegurar à criança e ao adolescente, com das necessidades básicas de aprendizagem”,
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à pois aqui reside o conceito que fundamenta a
alimentação, a educação, ao lazer, à reunião. Foram dez artigos que discorrem sobre
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao igualdade educacional e justiça social, como se
respeito, à liberdade e à convivência familiar e vê:
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 4. Um compromisso efetivo para superar as
a forma de negligência, discriminação, disparidades educacionais deve ser assumido.
exploração, violência, crueldade e opressão Os grupos excluídos – os pobres: os meninos e
(BRASIL, 1998,s.p). meninas de rua ou trabalhadores; as
Houve um período que pouco se discutia populações das periferias urbanos e das zonas
sobre o assunto, era como se o problema não rurais os nômades e os trabalhadores
existisse e o fracasso escolar fosse utópico. migrantes; os povos indígenas; as minorias
Durante muito tempo habituou-se a falar em étnicas, raciais e linguísticas: os refugiados; os
alfabetização. Ser alfabetizado significava saber deslocados pela guerra e os povos submetidos
as letras, saber juntá-las para ler, saber a um regime de ocupação – não devem sofrer
escrever o próprio nome, codificando e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

qualquer tipo de discriminação no acesso às surgiu o PNAIC – Pacto Pela Alfabetização na


oportunidades educacionais. Idade Certa, ou seja, a alfabetização continuada
5. As necessidades básicas de aprendizagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental até a
das pessoas portadoras de deficiências criança fazer oito anos, iniciando a
requerem atenção especial. É preciso tomar alfabetização e letramento aos seis anos.
medidas que garantam a igualdade de acesso à Alfabetizar e letrar são duas ações distintas,
educação aos portadores de todo e qualquer mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria
tipo de deficiência, como parte integrante do alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e
sistema educativo (UNESCO, 2009, s.p). escrever no contexto das práticas sociais da
Patrocinadores internacionais como da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se
Conferência Mundial de Educação para Todos, tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e
à Organização das Nações Unidas para letrado (SOARES, 2001, p. 47).
Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO), ao Assim, o Brasil determina em 6 de fevereiro
Fundo das Nações Unidas para a infância de 2006, cuja aprovação da Lei nº. 11.274, que
(UNICEF), ao Programas de Desenvolvimento modificados os Arts. 29, 30, 32 e 87 da LDBN
das Nações Unidas (PNUD) e ao Banco Mundial 9.394/96, dispõe sobre a extensão de nove
fazem um chamamento ao desenvolvimento anos para alunos do Ensino Fundamental. O
educacional pelos desprotegidos e indefesos. Distrito Federal, os Estados e Municípios
O Brasil não ficou alheio aos acontecimentos tiveram até 2010 para se ajustarem à lei. O
mundiais e se mobiliza também, foi quando a Parecer CNE/CEB nº 6/2005, considerado em 8
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de junho de 2006, afirma que:
(nº 9.394/96), os Parâmetros Curriculares Os sistemas de ensino deverão fixar as
Nacionais (PCNs) e o Plano Nacional de condições para a matrícula de crianças de 6
Educação (PNE) que projetava uma nova anos no Ensino Fundamental quanto à idade
abordagem educativa, tendo como Presidente cronológica: que tenham seis anos completos
da República Fernando Henrique Cardoso. As ou que venham a completar 6 anos no início do
mudanças que causaram um impacto aos ano letivo (BRASIL, 2006, p. 10).
menos favorecidos, foram corrigir a distorção Dentro desse novo formato, o que muda não
do ano escolar com a idade, o é somente a idade de entrar no Ensino
comprometimento da alfabetização e Fundamental, mas a conduta didática diante
letramento nos três primeiros anos do Ensino das novas ideias com uma metodologia mais
Fundamental, a criança estar alfabetizada até elaborada, projetos pedagógicos, conteúdos e
os oito anos de idade. atividades de um modo geral, além do preparo
À vista disso, as mudanças foram inevitáveis do professor e materiais didáticos adequados.
nesse período, novas conquistas e obstáculos Dentro dessa orientação, a autora fala que:
que brotam, com isso o professor vai se Uma nova proposta para a educação; um
ajustando pedagogicamente, ora pela novo currículo é um convite, um desafio, uma
necessidade de trazer todos para a escola, ora aposta. Uma aposta porque, sendo parte de
de corrigir a idade com a série. Dessa maneira uma dada política pública, contém um projeto

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

político de sociedade e um conceito de Alunos que são submetidos a um processo de


cidadania, de educação e de cultura. Portanto, alfabetização, seguindo o método das cartilhas
não pode trazer respostas prontas apenas para (com livros ou não), são alunos que são
serem implementadas, se tem em mira expostos exclusivamente ao processo de
contribuir para a construção de uma sociedade ensino. O método ensina tudo, passo a passo,
democrática, onde a justiça social seja de fato numa ordem hierarquicamente estabelecida,
um bem distribuído igualitariamente a toda a do mais fácil para o mais difícil. O aluno, seja ele
coletividade. Uma proposta pedagógica quem for, parte de um ponto inicial zero, igual
expressa sempre os valores que a constituem, e para todos, e vai progredindo, por meio dos
precisa estar intimamente ligada à realidade a elementos já dominados, de maneira lógica e
que se dirige, explicitando seus objetivos de ordenada. A todo instante, são feitos testes de
pensar criticamente esta realidade, avaliação (ditados, exercícios estruturais,
enfrentando seus mais agudos problemas. Uma leitura perante a classe), para que o professor
proposta pedagógica precisa ser construída avalie se o aluno “acompanha” ou se ficou para
com a participação efetiva de todos os sujeitos trás. Neste último caso, tudo é repetido de
– crianças e adultos, alunos, professores e novo, para ver se o aluno, desta vez, aprende.
profissionais não docentes, famílias e Se ainda assim não aprender, repete-se mais
população em geral -, levando em conta suas uma vez, remanejam-se os alunos atrasados
necessidades, especificidades, realidade. Isto para uma classe especial, para não
aponta, ainda, para a impossibilidade de uma atrapalharem os que 16 progrediram, até que o
proposta única, posto que a realidade é aluno, à força de ficar reprovado, desista de
múltipla, contraditória (KRAMER, 2006, p. 21). estudar, julgando-se incapaz. E a escola
Dessa forma, há de se pensar em um formato lamenta a chance que a criança teve e que não
de ensino que venha ao encontro com as soube aproveitar (CAGLIARI, 1993, p. 65).
aspirações didáticas (KLEIMAN, 2005, p.11), Por outro lado, o método construtivista tem
“não há um método padrão de ensino que outra visão, já que o aluno relaciona tudo que
atenda a todos, mas, sim, métodos diferentes, conhece e convive com sua aprendizagem
cabendo ao professor conhecê-los para saber escolar. Ele soma aquilo que ele já sabe com
quando e a quem aplicá-los sempre que novos conhecimentos. O aluno recebe uma
necessário”. interferência muito expressiva do meio social
Os dois métodos de ensino que se em que vive.
destacaram foram o construtivista e o Construtivismo significa isto: a ideia de que
tradicional. O tradicional foi severamente nada a rigor está pronto, acabado, e de que,
combatido por seu caráter rígido, pouco se especificamente, o conhecimento não é dado,
importando com questões individuais do aluno em nenhuma instância, como algo terminado –
que impediam a aprendizagem muitas vezes, é sempre um leque de possibilidades que
muito menos razões sociais, psicológicas e até podem ou não ser realizadas. É construído pela
mesmo intelectuais. As aulas eram voltadas à interação com o meio físico e social, com o
memorização de conteúdos. simbolismo humano, com o mundo das

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relações sociais. Construtivismo é, portanto, Não há um molde estabelecido, o professor


uma ideia, ou melhor, uma teoria, um modo de precisa encontrar seu próprio percurso didático
ser do conhecimento, ou um movimento do diante da realidade que tem. O professor tem
pensamento que emerge do avanço das total liberdade de encontrar seus meios
ciências e da filosofia dos últimos séculos pedagógicos para alfabetizar e letrar seus
(BECKER, 2001, p.72). alunos. Nesse viés, o processo de alfabetizar e
Tal método propõe um estudo por letrar uma criança é um compromisso do
intermédio do conhecimento prévio do aluno professor com a sociedade, já que é
somado com novas pesquisas, experiências, fundamental para que exerça a cidadania.
lógica. O professor na qualidade de mediador
do educacional também vai entender o EXPLORAÇÃO DE PRÁTICAS
conhecimento de mundo de cada criança e
valorizar. Para a autora PEDAGÓGICAS
Fato de que o problema da aprendizagem da Como se sabe a criança entra aos seis anos
leitura e da escrita tenha sido considerado, no no Ensino Fundamental e ainda tem
quadro dos paradigmas conceituais necessidade da ludicidade para desenvolver-se
“tradicionais”, como um problema, sobretudo satisfatoriamente, já que a criança nessa idade
metodológico contaminou o conceito de tem um enorme potencial imaginário e criativo
método de alfabetização, atribuindo-lhe uma a ser beneficiado. A escola tem a obrigação da
conotação negativa: é que, quando se fala em formação intelectual da criança e buscar meios
“método” de alfabetização, identifica-se, para que isso aconteça favoravelmente. É
imediatamente, “método” com os tipos irrefutável que a idade foi alterada e mudanças
“tradicionais” de métodos – sintéticos e precisam acontecer certamente para que haja
analíticos (fônico, silábico, global, etc.), como se um equilíbrio entre metodologia, conteúdo e
esses tipos esgotassem todas as alternativas faixa etária. O professor tem necessidade de se
metodológicas para a aprendizagem da leitura entender com esse novo conceito entre a
e da escrita. Talvez se possa dizer que, para a ludicidade e a alfabetização e o letramento.
prática da alfabetização, tinha-se Defendemos aqui o ponto de vista de que os
anteriormente, um método, e nenhuma teoria; direitos sociais precisam ser assegurados e que
com a mudança de concepção sobre o processo o trabalho pedagógico precisa levar em conta a
de aprendizagem da língua escrita, passou-se a singularidade das ações infantis e o direito à
ter uma teoria, e nenhum método (SOARES, brincadeira, à produção cultural tanto na
2001, p. 8). educação infantil quanto no ensino
Assim sendo, o Ensino Fundamental de Nove fundamental. É preciso garantir que as crianças
Anos recomenda um tratamento interativo em sejam atendidas nas suas necessidades (a de
somente dominar as letras não basta, é preciso aprender e a de brincar), que o trabalho seja
ir além, como Soares (2001, p. 97),afirma: planejado e acompanhado por adultos na
“alfabetizar é muito mais que apenas ensinar a educação infantil e no ensino fundamental e
codificar e decodificar”. que saibamos, em ambos, ver, entender e lidar

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com as crianças como crianças e não apenas os anos/séries iniciais do Ensino Fundamental
como estudantes. A inclusão de crianças de seis de nove anos (BRASIL, 2006, p. 9).
anos no ensino fundamental requer diálogo Assim sendo, por meio de práticas lúdicas a
entre educação infantil e ensino fundamental, criança melhora a memória e a criatividade se
diálogo institucional e pedagógico, dentro da aflora, os brinquedos se tornam aliados
escola e entre as escolas, com alternativas importantes na construção do imaginário
curriculares claras (KRAMER, 2006, p. 20). infantil. Ela vai brincando e se familiarizando
Pela pouca idade, a criança ao ir para a escola com o mundo educacional, porém sem
tem que se sentir motivada, caso contrário não pressioná-la, vem espontaneamente. O
será frequente. A criança precisa ser bem amadurecimento tende a acontecer de maneira
recebida e acolhida pelo professor, pois é nesse afetiva e cognitiva, por isso a razão do professor
ambiente escolar é que será alfabetizada e sempre resgatar o conhecimento prévio da
letrada. O professor precisa encontrar atrativos criança ao introduzir um conteúdo novo.
condizentes com a idade de seus alunos para Crianças pequenas alcançam a compreensão
que a escola passe ser um lugar encantado e por meio de experiências que fazem sentido
assim ela valorize. para elas e nas quais podem usar seus
Hoje, os profissionais da docência estão conhecimentos prévios. O brincar proporciona
diante de uma boa oportunidade de revisão da essa base essencial. É muito importante que as
proposta pedagógica e do projeto pedagógico crianças aprendam a valorizar suas
da escola, pois chegaram, para compor essa brincadeiras, o que só pode acontecer se elas
trajetória de nove anos de ensino e forem igualmente valorizadas por aqueles que
aprendizagens, crianças de seis anos que, por as cercam. Brincar mantém as crianças física e
sua vez, vão se encontrar com outras infâncias mentalmente ativas (MOYLES, 2006, p. 19).
de sete, oito, nove e dez anos de idade. Se assim A maneira como o professor recebe a criança
entendermos, estaremos convenci¬dos de que todos os dias, é uma maneira de prestigiá-la
este é o momento de re¬colocarmos no também. São fatores que contribuem para a
currículo dessa etapa da educação básica o aprendizagem, facilitam e aproximam aluno e
brincar como um modo de ser e estar no professor. Quando o professor se envolve no
mundo; o brincar como uma das prioridades de ato lúdico, está interagindo com seu aluno, esse
estudo nos espaços de debates pedagógicos, é um estímulo importante, pois ele adora a
nos programas de for¬mação continuada, nos contação de histórias, cantar, dançar, brincar,
tempos de planejamento; o brincar como uma correr, pular. É uma forma de afeto.
expressão legítima e única da infân¬cia; o Nesse sentido, quando o afeto e a segurança
lúdico como um dos princípios para a prática estão estabelecidos, a aprendizagem flui
pedagógica; a brinca¬deira nos tempos e melhor. A criança vai se estabilizando
espaços da es¬cola e das salas de aula; a intelectualmente sem ser forçada e coagida. A
brincadeira como possibilidade para conhecer ação lúdica pode colaborar na aprendizagem
mais as crianças e as infâncias que constituem em fase de alfabetização e letramento porque

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

é um modo de conquistá-la a apreender Haveria uma perda na infância, uma aceleração


brincando. de aprendizagem, isso incomodava.
No espaço escolar em fase de alfabetização e A prática da alfabetização, que tem por
letramento, a criança precisa se encantar pelas objetivo o domínio do sistema alfabético e
atividades práticas, para isso a motivação tem ortográfico, precisa do ensino alfabético e
que estar presente. Os jogos didáticos e as ortográfico, precisa do ensino sistemático, o
brincadeiras são ferramentas poderosas que que a torna diferente de outras práticas de
ajudam muito as crianças nesse período inicial. letramento, nas quais é possível aprender
A alfabetização é um passo importante, caso apenas olhando os demais fazerem (KLEIMAN,
vier paralelo ao letramento. Alfabetizar é uma 2005, p.14).
maneira da criança entender os códigos Nesse sentido, o professor precisa ter
escritos, mas de nada adianta decodificar sem domínio sobre a faixa etária do aluno que vai
entendimento. Muitos professores pensaram receber, no caso seis anos. Daí a razão da
que a alfabetização estava obsoleta, mas é formação contínua do professor, precisa
errôneo esse pensamento. A criança precisa estudar sempre. É necessário conhecer o aluno
dominar tanto a alfabetização quanto o que vai trabalhar. É uma exigência básica para
letramento. preparar e organizar as aulas.
Implica habilidades várias, tais como: O conceito de letramento abre espaço para
capacidade de ler ou escrever para atingir uma nova forma de conceber a relação entre
diferentes objetivos para informar ou informar- escrito e o oral. Foi postulada uma relação de
se, para interagir com os outros, para imergir no continuidade-não de oposição entre oral e o
imaginário, no estético, para ampliar escrito, perante as evidentes relações que
conhecimentos, para seduzir ou induzir, para existiam entre os usos da língua falada e escrita
divertir-se, para orientar-se, para apoio à (KLEIMAN, 1995, p.45).
memória, para catarse...: habilidades de Por essa razão, o professor ao assumir o
interpretar e produzir diferentes tipos e letramento, estará também se apropriando de
gêneros de textos, habilidades de orientar-se um ato político, pois seu aluno passa a ter voz.
pelos protocolos de leitura que marcam o texto Ele fez a alfabetização e posteriormente fará o
ou de lançar mão desses protocolos, ao letramento, assim cumprirá as fases sociais.
escrever: atitudes de inserção efetiva no
mundo da escrita, tendo interesse e
informações e conhecimentos, escrevendo ou
lendo de forma diferenciada, segundo as
circunstancias, os objetivos, o interlocutor
(SOARES, 2001, p. 92).
Com a inovação do Ensino Fundamental dos
nove anos, alguns professores questionaram se
estava na idade certa e com maturidade para
iniciar a alfabetização, pois teriam pouca idade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As crianças ao entrarem no Ensino Fundamental aos seis anos de idade, estão propensas a
iniciar o processo de alfabetização, muito embora esse procedimento comece bem antes delas
entrarem na escola, pois elas se relacionam com a escrita ao manusear uma revista, gibi, livro,
mesmos as que não têm acesso à cultura impressa, sabem da existência dela.
Por essa razão, não é suficiente que o aluno apreenda o código alfabético e leia e escreva
por meio dele, é necessário que ele compreenda a leitura, que faça o letramento. Nesse caso, a
alfabetização e letramento precisam caminhar juntos para que o aluno tenha competência leitora
e escritora no final do terceiro ano do Ensino Fundamental. O professor é o incentivador e
mediador da aprendizagem, ele buscará meios para tornar o ensino mais prazeroso e instigante
para o aluno.
À vista disso, o método de ensino que o professor vai escolher, é uma opção dele. Um
professor que se atualiza, provavelmente seguirá uma tendência construtivista, deixando os
moldes tradicionais de fora por terem sido muito criticados, eles priorizavam a memorização. A
escolha construtivista tem a vantagem da abertura de explorar o conhecimento prévio do aluno,
somando suas experiências, a lógica. O professor exerce a função de mediador educativo no
Ensino Fundamental nove anos e pretende-se que ele dê aos alunos uma abordagem interativa.
Cada professor deve idear seu próprio caminho pedagógico frente a seus alunos.
Portanto, para Cagliari (1993); Ferreiro (2011); Soares (2001), pela pesquisa feita, o método
que o professor vai utilizar independe, pois ele tem autonomia de cátedra para fazer suas escolhas
didáticas para alfabetizar e letrar seus alunos, mas sua escolha tem que ser bem feita, já que tem
consequência na vida educativa, aconselha-se a seguir a linha construtivista, porque a tradicional
é repetitiva e apela para a memorização. Entretanto, esse é um comprometimento do professor
com a sociedade, que espera que saiam dali cidadãos que saibam fazer uma compreensão textual
devidamente. Assim sendo, muitos recursos podem ser usados para atrair as crianças para
gostarem da escola, como as práticas lúdicas que valem-se do imaginário infantil. Não se pode
exigir que as crianças amadureçam rapidamente porque estão se alfabetizando, isso deve
acontecer no ritmo dela, por essa razão o desenvolvimento infantil deve ser motor, intelectual,
psicológico, educativo, social e afetivo para ser satisfatório.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula
obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 fev. 2006.

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UNESCO. Declaração de Jomtien. Conferência de mundial sobre educação para todos.


Jomtien, Tailândia, 1990.

578
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO:
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO E
APRENDIZAGEM DO USO DA LÍNGUA
Genilda Santos de Araújo1

RESUMO: Nos dias atuais é comum encontrar pessoas alfabetizadas, mas não letradas, que
aprenderam convenções da escrita sem se apropriar do seu uso social real, e pessoas letradas,
porém, não alfabetizadas. Uma participação efetiva na sociedade é mais do que ser alfabetizado,
está ligado ao uso social que a pessoa faz da língua nas diferentes modalidades. O presente artigo
buscou por meio de revisão bibliográfica referente ao assunto, diferenciar os termos alfabetização
e letramento e refletir acerca do ensino do uso da língua, cabendo á escola um alfabetizar
letrando, propiciar meios para que construam e se apropriem do sistema de escrita ao mesmo
tempo em que participam de práticas de letramento.

Palavras-Chave: Alfabetização; Letramento; Leitura; Escrita; Oralidade.

1Professora de Educação Infantil e Ensino fundamental I na Rede Municipal de São Paulo e Rede Municipal
Santo André.
Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
E-mail:genildaaraujo02@yahoo.com.br

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INTRODUÇÃO nenhum antecede ao outro, cabendo à escola


associá-los na prática educativa.
Muito se avançou na pedagogia alicerçada Se a escrita é um produto social, não há por
nas diversas ciências, entre elas a filosofia, que pensar que a criança quando chega à escola
psicologia e a psicolinguística, os métodos não tem nenhum conhecimento sobre a
deixaram de ser o centro do processo educativo estrutura da língua, pois em seu cotidiano,
para dar lugar ao aluno, a como ele aprende. observa adultos fazendo uso da leitura e da
Os métodos comumente utilizados até escrita, e vai construindo conceitos a respeito
algumas décadas, chamados tradicionais, da estrutura da língua.
entendiam que o processo de alfabetização A escola muitas vezes com o intuito de
começava na escola, que a criança era uma ensinar a “língua padrão”, desconsidera a
página em branco e o conhecimento pertencia vivência e conhecimentos que o aluno tem fora
ao professor, havia uma valorização do traçado, dela, e transforma o período de aquisição da
da disposição espacial e lateral das palavras na língua escrita como simples aquisição de
folha, e da cópia exata da produção do adulto. técnicas e normas ortográficas.
A partir da década de 80, começam Não basta alfabetizar, é preciso letrar,
discussões acerca dos métodos alfabetizadores desenvolver habilidades e competências do uso
por meio de uma perspectiva psicogenética, da língua em práticas sociais, formando leitores
propondo aos educadores refletir acerca da e produtores de textos orais e escritos, sujeitos
ação da própria criança nesse processo. capazes de interpretar a realidade a sua volta a
A alfabetização passa a ser entendida como partir de situações que envolvam a leitura e a
um processo no qual a criança vai se escrita nos mais diversos contextos.
apropriando do sistema de escrita, em que lhe Esse artigo propõe reflexões acerca do
são propiciadas oportunidades para á partir da processo de alfabetização em uma perspectiva
sua ação de ler e escrever, antes mesmo de o de alfabetizar letrando, em que o período inicial
fazer convencionalmente, possa refletir sobre o de aquisição da língua não deve estar associado
significado do sistema de escrita construindo apenas à aquisição do sistema de escrita, mas
conceitos e avançando em suas hipóteses para ao uso das habilidades de leitura e escrita em
o nível alfabético. um contexto social, objetivando a partir de
Percebeu-se então a necessidade de ampliar análise dos índices de analfabetismo funcional
o conceito de alfabetização para além do ler e existentes no Brasil, e os equívocos no ensino e
escrever, fazendo surgir o termo letramento aprendizagem inicial da língua oral e escrita,
para designar os comportamentos e práticas do discutir e diferenciar alfabetização de
uso do sistema de escrita em práticas sociais letramento, refletir para avaliar a qualidade
que envolvam a leitura e a escrita. desse processo considerando o seu impacto nas
A bibliografia estudada para este trabalho práticas sociais.
trouxe a compreensão de que alfabetização e
letramento são dois processos distintos, porém
inseparáveis, nenhum se sobressai ao outro, e

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CONCEITUANDO sentido próprio, específico: processo de


aquisição do código escrito, das habilidades de
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO leitura e escrita” (SOARES, 2010, p. 15), e que
O dicionário Melhoramentos define: pode ocorrer com enfoque em diferentes
“Alfabetização é a ação de alfabetizar, difusão ciências, o que resulta no método escolhido.
do ensino primário, restrita ao aprendizado da Alfabetização está relacionada ao
leitura e da escrita rudimentar” e “Alfabetizar é conhecimento das letras, dos sons e grafias das
ensinar a ler e escrever” (2007, p. 21). mesmas, da construção de palavras, ortografia,
Durante muito tempo buscou-se disposição do texto e leitura etc., e apesar de
compreender qual o melhor método a ser no cotidiano a criança estar em constante
utilizado na alfabetização, tornando contato com a língua escrita, é função da
importante a reflexão de que essa escolha escola, efetivar a aprendizagem considerando
depende da concepção de ensino não mais a aptidão ou prontidão do aluno em
aprendizagem do educador, de qual aspecto da tal processo, e sim o favorecimento de
aprendizagem ele destaca. descobertas que desencadeiem novas
Os métodos sintéticos estabelecem aprendizagens, por isso a não apropriação
correspondência entre o som da letra e a grafia, dessas habilidades no início do processo de
os analíticos partem das unidades completas escolarização, em especial nos anos iniciais do
para as menores, ou seja, das palavras,das Ensino Fundamental pode acarretar
frases e dos textos, o método alfabético ou dificuldades nos anos posteriores.
soletração começa pela memorização oral do Partindo de uma concepção psicogenética do
alfabeto, partindo para formar combinações desenvolvimento, propõem-se nos dias atuais
que paulatinamente avançarão para textos, nos que a criança construa por meio das
métodos fônicos primeiro se aprende a grafia e experiências com a leitura e a escrita suas
som das vogais e só depois das consoantes concepções a respeito do sistema de escrita,
(VISVANATHAN, 2008). com o qual está em constante contato.
O conceito de alfabetização não é o mesmo Segundo Ferreiro (1987), há uma dicotomia
para todas as pessoas e sociedades, pode na forma como a alfabetização é concebida, e
variar, se contrapor ou se assemelhar em considera alfabetização como construção feita
alguns aspectos. pela própria criança de um sistema de
Para Tfouni (2010), a alfabetização é um representação e não um código de transcrição
processo individual e que não se completa que se converte unidades sonoras em unidades
nunca, pelo fato de que a sociedade está em gráficas.
constantes mudanças e há necessidade de A consequência última desta dicotomia se
acompanhá-las. exprime em termos ainda mais dramáticos: se a
O processo de alfabetização é um fenômeno escrita é concebida como um código de
de natureza complexa que envolve um transcrição, sua aprendizagem é concebida
conjunto de habilidades para leitura e escrita, como aquisição de uma técnica; se a escrita é
“Toma-se, por isso, aqui, alfabetização em seu concebida como um sistema de representação,

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sua aprendizagem se converte na apropriação


avanço das ciências que essas mudanças
de um novo objeto de conhecimento, ou seja,
ocorrem, inclusive no âmbito educacional.
em uma aprendizagem conceitual (FERREIRO, A mudança na forma como o aluno era visto,
1987, p. 16). como se dava a sua aprendizagem, o seu
Á medida que o analfabetismo foi sendo desenvolvimento, gerou mudanças também no
eliminado, percebeu-se que embora muitas processo de alfabetização, tirando os métodos
pessoas fossem alfabetizadas, não sabiam fazer
do centro da aprendizagem e colocando o aluno
o uso da leitura e da escrita em contextoscomo sujeito no processo.
sociais, para escrever uma carta, procurar A partir dos estudos de Ferreiro e Teberosky
informações em uma lista, preencher (1981), surgem reflexões sobre a prática escolar
formulários etc., essa necessidade de ampliar o
de alfabetização. As duas autoras
conceito de alfabetização para além do ler e
compreendem que a alfabetização não é a
escrever fez surgir o termo letramento, transcrição do código alfabético, codificação e
É esse, pois, o sentido que tem letramento,
decodificação e sim um processo de criação de
palavra que criamos traduzindo “ao pé da letra”
uma representação e que seu avanço acontece
o inglês literacy: letra–do latim littera, e o
em hipóteses formuladas internamente pela
sufixo-mento, que denota o resultado de uma
própria criança. Pautadas em uma concepção
ação (como por exemplo, em ferimento, construtivista, consideram a importância do
resultado da ação de ferir). Letramento é, pois,
caminho que a criança utiliza para refletir e
o resultado da ação de ensinar ou de aprender
construir conceitualmente a estrutura do
a ler e escrever: o estado ou a condição que
sistema alfabético (FERREIRO; TEBEROSKY:
adquiri um grupo social ou um indivíduo como
1981).
consequência de ter-se apropriado da escrita Bem entendido: não se trata de que as
(SOARES, 2009, p. 18). crianças reinventem as letras nem os números
Letramento não é condição daquele que mas que, para poderem se servir desses
domina o código escrito, está ligado ao aspecto
elementos como elementos de um sistema,
social da escrita, ao indivíduo colocar-se como
devem compreender seu processo de
sujeito no uso da língua (ASSOLINI; TFOUNI,
construção e suas regras de produção, o que
2006), por isso é possível uma pessoa não coloca o problema epistemológico
alfabetizada ser letrada, pois no cotidiano
fundamental: qual é a natureza da relação
apreende o uso social da escrita e compreende
entre o real e a sua representação? (FERREIRO,
o seu valor oral. 1981, p. 13).
A escrita não é concebida como um código
A PERSPECTIVA de transcrição em que se valoriza a relação
fonema-grafema, o traçado das letras, sua
CONSTRUTIVISTA DE posição e disposição no papel apenas, em uma
ALFABETIZAÇÃO concepção construtivista, a escrita é concebida
A sociedade não é estática, ela muda o como uma aprendizagem conceitual, e o que
homem e é mudada por ele, e é por meio do importa é o caminho que a criança percorre

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para compreender as características, valor, Até há poucos anos as primeiras tentativas


função da lectoescrita (FERREIRO; TEBEROSKY, de escrever feitas pelas crianças eram
2007). consideradas meras garatujas, como se a
Ao ver a invenção da escrita como um escrita devesse começar diretamente com
processo histórico e social, Ferreiro acredita letras convencionais bem traçadas. Tudo o que
que é um erro pensar que a criança chega à ocorria antes era considerado como tentativas
escola sem nenhuma concepção sobre a de escrever e não como escrita real (...). Mais
estrutura da língua, já que no seu cotidiano vê ainda: quando as crianças começavam a traçar
placas, anúncios, cartas, revistas. letras convencionais, porém numa ordem não
Se pensarmos que a criança aprende só convencional, o resultado era considerado uma
quando é submetida a um ensino sistemático, e “má” reprodução de alguma escrita que, por,
que a sua ignorância está garantida até que por certo, teriam observado nalgum outro
receba tal tipo de ensino, nada poderemos lugar. (FERREIRO, 1987, p. 68-69).
enxergar. Mas se pensarmos que as crianças Segundo Ferreiro (1987), a escrita infantil
são seres que ignoram que devem pedir segue uma linha evolutiva regular que começa
permissão para começar a aprender, talvez com uma distinção do modo icônico e do não
comecemos a aceitar que podem saber, icônico, ou seja, a criança começa a diferenciar
embora não tenha sido dada a elas a desenhos de letra, depois começa a construir
autorização institucional para tanto (FERREIRO, formas de diferenciação entre as escritas, que
1987 p. 17). são intrafigurais, estabelecem que o texto
Crianças provenientes de meios não precisa de um mínimo de letras e com variação
alfabetizados chegam em hipóteses alfabéticas para poder ser lido e interfigurais, no qual a
mais iniciais, ou seja, se seu meio lhe propicia o escrita seguinte não pode ser igual a anterior, e
contato com variados portadores textuais, se num último momento passa a compreender e
observam adultos lendo e escrevendo e diferenciar o valor sonoro das letras na escrita.
participam com eles desses momentos, criarão Na apropriação do sistema de escrita, a
esquemas cognitivos que lhes permitirão criança avança no que Ferreiro (1987),
avançar em suas hipóteses e escrever e ler denomina de hipóteses, que representam os
convencionalmente (FERREIRO, 1987; estágios de desenvolvimento da lectoescrita,
FERREIRO, TEBEROSKY, 2007). sendo, pré-silábica, silábica (com valor sonoro e
Do ponto de vista construtivista, a criança é sem valor sonoro), silábica alfabética e
um ser cognoscente, que utiliza esquemas alfabética.
assimiladores por meio da própria ação no Pré- silábica: A criança faz tentativas de
objeto, os erros, não são erros propriamente construção da escrita buscando se assemelhar
ditos, são construções subjetivas das próprias a dos adultos, pode-se nessa hipótese utilizar
crianças relacionadas às hipóteses em que se garatujas ou rabiscos, desenhos, símbolos
encontram, desde as garatujas até a escrita misturados ou não com letras, números,
alfabética. associa o tamanho da palavra ao do objeto
representado e diferencia as palavras escritas

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pela quantidade de caracteres, mas muitas LETRAMENTO E LETRAMENTOS


vezes as palavras podem possuir a mesma
O conceito de letramento não é simples e
quantidade.
único, pelo contrário, carrega uma
Silábica: a criança descobre que a escrita
complexidade por englobar “um amplo leque
representa a fala, faz uso das letras inventadas de conhecimentos, habilidades, técnicas,
por ela ou de letras da escrita convencional, de valores, usos sociais, funções e varia histórica e
acordo o seu repertório para fazer espacialmente (SOARES, 2010, p. 30)”.
correspondência termo a termo.
Vê- se modelos que valorizam determinada
Silábica sem valor sonoro: atribui uma letra faceta mais do que a outra, que reduzem o
qualquer para escrever cada sílaba da palavra. letramento ao uso da leitura e escrita apenas,
Silábica com valor sonoro: percebe que a que valorizam o domínio de habilidades de
escrita representa os sons da fala, para escrever escrita considerando esse conhecimento como
cada sílaba utiliza uma letra que realmente o responsável pelo elevar do raciocínio, da
existe na sílaba, podendo ser a vogal ou a capacidade de tomar decisões, ou seja, os
consoante, encontra dificuldades para escrever analfabetos são iletrados
monossílabas ou dissílabas devido a quantidade Segundo a perspectiva etnocêntrica,
mínima de caracteres que considera correto somente com a aquisição da escrita as pessoas
para que a palavra possa ser lida.
conseguem desenvolver raciocínio lógico-
Silábica alfabética: em alguns momentos faz dedutivo, a capacidade para fazer inferências,
uso de uma letra para cada sílaba ou emissão para solução de problemas etc. Afirma ainda
sonora, em outros momentos vê a necessidade que o pensamento dos alfabetizados é
de acrescentar mais uma letra, ou seja, as duas “racional”, e por um deslizamento
que formam a sílaba. preconceituoso coloca também que os
Alfabética: a criança já sabe como a escrita é indivíduos não alfabetizados são incapazes de
representada, usa as letras existentes na raciocinar logicamente, de fazer inferências, de
palavra, já é possível compreender a sua efetuar descentrações cognitivas etc., bem
escrita, embora ainda seja comum o uso como que seu pensamento é “emocional”,
ortográfico e de composição de texto distante “sem contradições”, “pré-operatório” etc.
da escrita ortográfica convencional. (TFOUNI, 2010, p.25).
Entender que a criança constrói o seu Há também uma concepção sócio-histórica,
conhecimento sobre o sistema de escrita não (...) Letramento é um estado, uma condição:
significa que aprenderá sozinha, mas que usará o estado ou condição de quem interage com
de esquemas próprios para construir diferentes portadores de leitura e de escrita,
significado, a partir dos conhecimentos que já com diferentes gêneros e tipos de leitura e de
possui sobre o uso da língua, o professor será o escrita, com as diferentes funções que a leitura
mediador, criará condições para que possa e a escrita desempenham na nossa vida
avançar em suas hipóteses de lectoescrita (SOARES, 2009, p. 44).
(FERREIRO, 1987).

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Para Tfouni (2010), sócio-histórico porque conforme a situação de interlocução, que é o


depende da sociedade em que ocorre, das autor do discurso.
formas de comunicação desenvolvidas em cada As práticas escolares para fornecer essa
uma, da valoração do discurso escrito e de seu autoria deveriam segundo Tfouni (2010),
uso como objeto de dominação social. oferecer às crianças o uso de diversos gêneros
Não é preciso ser alfabetizado para exercer textuais, permitindo que criem textos orais e
cidadania, pois a construção da cidadania escritos, que exponham seus sentimentos,
segundo Soares (2010), ocorre pela prática experiências, aproximando o discurso
social e política. Mas, em uma sociedade produzido na escola do utilizado em contextos
grafocêntrica como a em que vivemos, o não reais.
saber ler e escrever (analfabetismo) gera certa Da mesma forma, a criança que ainda não se
exclusão social (SOARES, 2009). Mesmo assim, alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los,
é impossível pensar que pessoas não brinca de escrever, ouve histórias que são lidas,
alfabetizadas sejam incapazes de compreender está rodeada de material escrito e percebe seu
e dominar o uso da língua somente por não uso e função, essa criança é ainda “analfabeta”,
dominar o sistema de escrita já que muitas são porque não aprendeu a ler e a escrever, mas já
as ações em seu cotidiano que envolve direta penetrou no mundo do letramento, já é, de
ou indiretamente práticas de leitura e escrita e certa forma letrada (SOARES 2009, p. 24)
que na sociedade utilizam vocábulos O tipo e o grau de letramento variam
relacionados a escrita ( TFOUNI, 2010; SOARES, conforme a necessidade de uso pelo indivíduo
2009, 2010). e da complexidade das habilidades de escrita e
Sendo alfabetização e letramento processos oralidade exigidas no seu meio e do contexto
diferentes (porém indissociáveis na prática social e cultural em que o sujeito está inserido.
escolar) é possível falar não mais em
letramento e sim em letramentos ALFABETIZAR LETRANDO
(...) Isto é, não existe nas sociedades
Partindo do pré-suposto de que alfabetizar é
modernas o letramento “grau zero” que
ensinar a ler e escrever, desenvolver
equivaleria ao “iletramento”. Do ponto de vista
habilidades de leitura e escrita que envolva o
do processo sócio-histórico, o que existe de
conhecimento do alfabeto, sua grafia, traçado e
fato nas sociedades industriais modernas são
as demais convenções da leitura e da escrita, e
“graus de letramento”, sem que com isso se
no processo de alfabetização a criança constrói
pressuponha sua inexistência (TFOUNI, 2010, p.
uma representação do sistema de escrita do
24).
qual vai se apropriando conceitualmente e
Para Tfouni (2010) e Tfouni e Assoline (2006),
avançando até chegar a escrita alfabética e
o que caracteriza letrado não é o domínio da
letramento é condição de quem não apenas
língua, mas o do discurso, que pode ser tanto
sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as
escrito quanto oral, ou seja, a pessoa que se
práticas sociais que usam a leitura e a escrita,
coloca como sujeito do discurso expondo e
entende-se a necessidade de diferenciar e
amarrando ideias com coesão e coerência

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articular as práticas escolares que envolvem os ônibus etc.) dentro das paredes da escola
dois termos. assume um caráter falso, artificial,
(...) Assim, teríamos alfabetizar e letrar como descontextualiza-se: fazem-se “redações” ou
duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao “composições” com uma função puramente
contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou escolar (SOARES, 2010, p. 106).
seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das Quando a criança chega à escola, muitas
práticas sociais da leitura e da escrita, de modo vezes precisa desaprender o uso social que faz
que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, da língua para aprender o uso que a escola
alfabetizado e letrado (SOARES, 2009, p. 27). ensina. Esta impõe para a criança a linguagem
Segundo Soares (2004), o caminho para usada pelo grupo social dominante como
superar os problemas na alfabetização é a “linguagem padrão” levando-a à
articulação das várias ciências que envolvem aprendizagem/ desaprendizagem das funções
esse processo, sem considerar mais uma faceta da escrita, crianças de classes sociais menos
do que a outra, ou seja, mais o letramento ou favorecidas com pouco contato com livros
mais a aquisição do sistema alfabético e quando inseridas na cultura letrada dessa
ortográfico. forma, não aprenderão a articular palavras em
As crianças antes mesmo do período de um texto, apenas reproduzirão (SOARES, 2012).
escolarização participam da cultura escrita, de A escola oferece às crianças uma língua
situações que envolvem o uso das habilidades própria das práticas escolares que nada tem a
discursivas tanto na escrita quanto na ver com o uso da leitura e da escrita em um
oralidade. contexto social, o que serve para perpetuar
O domínio da língua está intrinsecamente privilégios de classes dominantes (SOARES,
ligado a participação social, do grau de 2010; TFOUNI, 2010; LERNER 2002).
letramento do indivíduo, por isso a necessidade É possível encontrar pessoas que passaram
de alfabetizar fazendo uso de textos e pela escola, aprenderam técnicas de decifração
produções orais e escritas de forma do código escrito e são capazes de ler palavras
significativa, pontuando que a escrita nem e textos simples, curtos, mas que não são
sempre representa a fala, ou seja, o texto capazes de valerem da língua escrita em
escrito e o texto oral muitas vezes possuem situações sociais que requerem habilidades
características diferentes dependendo da mais complexas. Essas pessoas são
situação de uso, devendo ser adaptados alfabetizadas, mas não letradas (BRASIL, 2006,
(BRASIL, 1997). p. 19).
A escrita que, fora das paredes da escola Na prática escolar a alfabetização não deve
serve para a interação social, e é usada em preceder o letramento, nem o letramento
situações de enunciação (escrevem-se cartas, preceder a alfabetização, os dois processos são
bilhetes, registram-se informações, fazem-se interdependentes e precisam ocorrer
anotações para apoio à memória, leem-se simultaneamente.
livros, jornais, revista, panfletos, anúncios, A tarefa não é fácil, porém é possível à escola
indicações de trânsito, nomes de ruas, de ensinar a ler e escrever de forma mais próxima

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do seu uso social, ou seja, alfabetizar letrando, pensamento, ter uma nova visão de mundo
tornar os alunos produtores de textos (LERNER, 2002).
compreendendo sua importância e forma de Desenvolver o hábito e o prazer pela leitura
uso em diversas situações, formando seres é algo que para algumas crianças só acontecerá
críticos, aptos para ler nas entrelinhas, na escola, devido o meio em que vivem, por isso
posicionar-se (LERNER, 2002). Nesse processo a é importante que o professor seja um modelo,
diferenciação dos dois conceitos por parte do que goste de ler e que mostre isso para seus
professor torna-se fundamental para que a alunos, que disponibilize uma amplitude de
metodologia proposta favoreça uma locais e portadores textuais possibilitando a
articulação entre alfabetização e letramento. criação desse gosto e hábito para além da
(...) é preciso reconhecer a possibilidade e escola (BRASIL, 2008).
necessidade de promover a conciliação entre Entretanto sabemos que muitos alunos
essas duas dimensões da aprendizagem da chegam à escola sem ter tido oportunidade de
língua escrita integrando alfabetização e conviver e de se familiarizar com os meios
letramento, sem perder, porém, a sociais de circulação da escrita. (...) Por isso é
especificidade de cada um desses processos, o que esse conhecimento deve ser tratado
que implica reconhecer as muitas facetas de um didaticamente em sala de aula, oferecendo
e outro e, consequentemente, a diversidade de possibilidades para que os alunos observem e
métodos e procedimentos para ensino de um e manuseiem muitos textos pertencentes a
de outro (SOARES, 2004, p. 15). gêneros diversificados e presentes em
diferentes suportes (BRASIL, 2006, p.20).
PRÁTICAS DISCURSIVAS O período de alfabetização deve ocorrer
promovendo a produção escrita e oral de textos
A compreensão da necessidade de
de forma significativa, inserindo a criança no
alfabetizar letrando gera reflexões acerca das
universo letrado conduzindo-a a entender e a
práticas de leitura e escrita difundidas na
usar a leitura, a escrita e a oralidade como
escola, em como ela ensina e qual o valor que a
objetos sociais de forma autônoma (BRASIL,
escola lhe confere para as práticas sociais.
1997).
As práticas de leitura e escrita adotadas pela
As práticas de leitura e escrita na escola
escola, não conduziam o aluno a aprendizagem
precisam estar voltadas a propiciar a
das funções discursivas de produção de texto,
participação autônoma de seus alunos na
valorizavam a apropriação de técnicas por meio
sociedade, o planejamento não deve mais estar
de repetições e memorizações de modelos
focado na apropriação, avaliação de
escritos e orais sem significação para o aluno,
conhecimentos ortográficos ou do sistema de
para as práticas sociais.
escrita apenas, as propostas didáticas precisam
O intuito nos dias de hoje é formar alunos
articular as duas finalidades, tanto a social
praticantes da cultura escrita, fazendo-se
quanto a educativa (LERNER, 2002).
necessário para isso uma transformação nas
Segundo Lerner (2002), o que se vê muitas
práticas de ensino em que ler e escrever
vezes é que esse conhecimento ainda é
possibilite aos alunos reorganizar o

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privilégio de certas classes sociais, que auxílio do professor que será seu escriba nas
aprendem por meio da escolarização a agir produções textuais e propiciará momentos de
sobre o mundo, ou seja, a escolarização que leitura em voz alta para seus alunos (BRASIL,
ocorre para as classes menos favorecidas 2006).
continua perpetuar o poder de determinadas Para aprender a escrever, é necessário ter
classes sobre outras. acesso à diversidade de textos escritos,
O desafio é conseguir que os alunos cheguem testemunhar a utilização que se faz da escrita
a ser produtores de linguagem escrita, em diferentes circunstâncias, defrontar-se com
conscientes da pertinência e da importância de as reais questões que a escrita coloca a quem
emitir certo tipo de mensagem em se propõe produzi-la, arriscar-se a fazer como
determinado tipo de situação social, em vez de consegue e receber ajuda de quem já sabe
treinar unicamente como “copistas” que escrever (BRASIL, 1997, p.48).
reproduzem - sem um propósito próprio - o
escrito de outros, ou como receptores - de ESCRITA
ditados cuja finalidade - também estranha - se
O desenvolvimento de capacidades de
reduz à avaliação por parte do professor
escrita na escola não deve visar apenas o
(LERNER, 2002, p.28).
período de alfabetização, mas sim uma ação
Faz-se necessário à escola abandonar essas
contínua no processo de escolarização a fim de
atividades mecânicas, que não têm nenhum
que o aluno participe de práticas letradas, ou
sentido real para as crianças, levando-as a
seja, a produção de textos na escola deve
compreender que leitura e escrita não são
objetivar o desenvolvimento de um escritor
obrigações escolares, mas sim forma de
autônomo, capaz de usar a escrita em práticas
enriquecimento pessoal, profissional e
sociais (BRASIL, 2008).
acadêmico. O desafio é que a escola deixe de
No trabalho com a escrita, é importante que
ser somente um objeto de avaliação, e que se
o aluno compreenda a estrutura e a finalidade
torne realmente objeto de ensino permitindo
de diferentes gêneros e portadores textuais,
aos alunos se apropriarem da escrita por
pois compreendendo suas especificidades
experiências (LERNER, 2002).
perceberá que existem formas diferentes de
Formar leitor e escritor competente vai além
escrita para cada tipo de situação e que não se
do domínio de convenções gráficas, fonéticas,
usa o mesmo tipo de discurso com
ortográficas, implica compreender os textos
interlocutores ou leitores diferentes e em
lidos, dar sentido às produções escritas,
situações distintas.
adequar o uso da língua aos diferentes
A produção de textos na escola deve ser feita
interlocutores e destinatários reais, e para isso
pelos alunos, com diferentes e reais finalidades,
o aluno precisará de condições para
podendo ser a produção de um convite, de
desenvolver habilidades e competências tanto
cartazes e textos informativos, a escrita de
leitoras quanto escritoras (BRASIL, 1997), o que
cartas e bilhetes com a finalidade de comunicar
pode ocorrer antes mesmo da criança saber ler
sentimentos ou acontecimentos para colegas
e escrever convencionalmente, por meio do

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ou outros leitores propostos (BRASIL, 1997; pistas para fazer a compreensão do texto e
BRASIL, 2008). durante a leitura vai checando a veracidade das
Aprender a escrever na escola inclui saber hipóteses levantadas e relacionando ás
escolher a variedade adequada ao gênero de situações reais o que vai lendo (BRASIL, 2006).
texto que se está produzindo, aos objetivos que Entre os recursos que empregamos para ler
se quer cumprir com o texto, aos fluentemente há importantes procedimentos
conhecimentos e interesses dos leitores de leitura, que podem ajudar na formulação de
previstos, ao suporte em que o texto vai ser hipóteses sobre o texto e na busca de
difundido (BRASIL, 2008, fascículo 1, p. 51). compreensão do que se lê. Por exemplo: O
O trabalho com a escrita em contexto de reconhecimento global e instantâneo de
letramento não anula a necessidade de palavras, a leitura de partes inteiras de frases, a
orientações e correções ortográficas e previsão do que virá em seguida, o apoio nas
gramaticais, porém é importante ter claro a pistas do texto ou de fatores não textuais
importância de que o aluno consiga fazer o uso (como imagens, ilustrações) (BRASIL, 2008,
adequado da escrita para a situação de fascículo 1, p. 42).
interlocução a que se propõe. O ensino dessas estratégias e
comportamentos leitores deve ocorrer desde a
LEITURA educação infantil, com o professor lendo em
voz alta e instigando com perguntas e ações a
Ler com fluência vai além de uma leitura
compreensão e o sentido do texto lido (BRASIL,
rápida e silenciosa, está ligado a uma leitura
2008).
que produz sentido ao texto lido, que gera
compreensão, e assim como na escrita, a escola
é responsável por ensinar comportamentos e ORALIDADE
capacidades leitoras, estratégias que levarão o O ensino da leitura e da escrita em uma
aluno a tornar-se leitor competente (BRASIL, sociedade em que cada vez mais se faz
2008). necessário não apenas ser alfabetizado, mas
Trabalhar com diferentes gêneros e também letrado, implica valorizar o discurso
portadores textuais, refletindo sobre a oral, visto que no cotidiano boa parte do tempo
estrutura e situação de uso social de cada um as interações acontecem por meio da
contribui também para que o leitor possa antes oralidade.
mesmo da leitura fazer antecipações sobre o Não é possível à escola ensinar os alunos a
assunto a ser lido. A antecipação também falar, visto que essa prática inicia desde cedo na
ocorre por meio da capa ou título do livro, de família, é importante, porém que ela crie
uma palavra ou desenho no caso do leitor condições que favoreça o desenvolvimento de
iniciante. capacidades de discurso oral para diferentes
Durante a leitura é importante que o leitor situações ou interlocuções, por meio da leitura
aprenda a fazer inferência, a utilizar seu em voz alta de diferentes tipos de textos, da
conhecimento de mundo para “ler nas realização de entrevistas, de discussões feitas
entrelinhas”, o leitor mais experiente procura em grupo, da permissão dada pelo professor

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para fazer perguntas e comentários sobre os


textos lidos (BRASIL, 2008).
Lerner (2002), porém, alerta que muitos
alunos adquiriram aversão à leitura em voz alta,
a falar em público, devido a valorização da
função avaliativa que a escola exerce em
detrimento da função ensinante.
A escola muitas vezes torna-se reprodutora
de ideologias dominantes socialmente quando
valoriza mais o discurso escrito, a língua
considerada padrão e inferioriza as
modalidades orais com suas variedades
dialetais assumindo a posição de “ensinar o
aluno a falar corretamente”(TFOUNI;
ASSOLINE, 2006).
Ao se trabalhar oralidade, é importante
também ensinar o respeito a variedade
linguística, pois as pessoas não falam da mesma
forma e os modos de falar variam nos grupos
sociais e nas diferentes regiões, o aluno
portanto deverá ser capaz de respeitar essa
variação, “de saber qual forma de falar utilizar,
considerando as características do contexto de
comunicação” (BRASIL, 1998, p. 26).
A questão não é falar certo ou errado, mas
saber qual forma de fala utilizar, considerando
as características do contexto de comunicação,
ou seja, saber adequar o registro às diferentes
situações comunicativas. (...) É saber, portanto,
quais variedades e registros da língua oral são
pertinentes em função da intenção
comunicativa, do contexto e dos interlocutores
a quem o texto se dirige. A questão não é de
correção da forma, mas de sua adequação às
circunstâncias de uso, ou seja, de utilização
eficaz da linguagem: falar bem é falar
adequadamente, é produzir o efeito pretendido
(BRASIL, 1997, p. 26).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É imprescindível nos dias atuais admitir a necessidade de mudanças estruturais reais no
processo de escolarização, no que diz respeito ao ensino e aprendizagem do uso da língua, no
reconhecimento do termo letramento e da importância de articulação das duas ações nas práticas
pedagógicas.
Muito se fala da necessidade de diminuir os índices de analfabetismo, mas se garantir plena
participação na sociedade é ensinar a ler e a escrever mecanicamente e somente, continuará a
ocorrer a perpetuação do poder de uma classe social sobre outra.
Nas últimas décadas mudanças começaram a despontar a partir de ideias construtivistas,
o aluno que antes era tratado como um copista memorizador, teoricamente passou a ser visto
como um sujeito capaz de produzir o seu próprio conhecimento, porém, ver o aluno como sujeito
do próprio conhecimento não significa que ele aprenderá sozinho, a escola é a instância
formadora capaz de sistematizar os conhecimentos para oferecer aprendizagem, o professor é o
facilitador do processo, e a partir dos conhecimentos que a criança tem a respeito do sistema de
escrita, organizará a prática pedagógica favorecendo o seu avanço.
Outro problema que se coloca, está relacionado ao papel que a leitura e a escrita exercem
na escola, aprende-se a ler e a escrever para não ser mais analfabeto, de forma
descontextualizada, quando na verdade deveria ocorrer promovendo a participação efetiva dos
alunos em práticas sociais que envolvam a leitura, a escrita e a oralidade, ou seja, o letramento.
É comum encontrar pessoas não alfabetizadas letradas, e pessoas alfabetizadas, mas que
não são letradas, não sabem colocar-se como sujeitos do seu discurso, não reconhecem as
especificidades do uso da língua em diferentes situações, não conseguem compreender e agir
sobre o mundo a sua volta, evidenciando que a escola muitas vezes tem formado analfabetos
funcionais.
Os aspectos teóricos apresentados neste artigo sinalizam mudanças e avanços necessários
no processo de ensino e aprendizagem do uso da língua, porém, a escola e o professor continuam
a ser objeto de perpetuação de poder de classes sociais dominantes valorizando sem refletir o
discurso que lhe é imposto, classificando as crianças como as que têm e as que não têm prontidão
para a aprendizagem, como as que são e as que não são capazes de avançar na aprendizagem
considerando a classe social a que pertencem.
Faz se necessário que as práticas da escola e do professor ocorram de fato por meio de
reflexões que favoreçam a aprendizagem real dos alunos, sua participação efetiva na sociedade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação básica. Pró letramento. Programa de formação continuada
de professores dos anos/series iniciais do ensino fundamental: alfabetização e linguagem.
Brasília: 2008.

BRASIL. MEC. Secretaria de Educação a Distância. Práticas de leitura e escrita. Brasília: 2006.

BRASIL, MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais de


língua portuguesa. Brasília: 1997.

FERREIRO, EMÍLIA e TEBEROSKY, ANA. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre:


Artmed, 2007.

FERREIRO, EMÍLIA. Reflexões sobre alfabetização. 10ª Ed., São Paulo: Cortez, 1987.

LERNER, DÉLIA. Ler e escrever na escola o real, o possível e o necessário. São Paulo:
Artmed, 2002.

SOARES, MAGDA. Alfabetização e letramento. 6ª Ed., São Paulo: Contexto, 2010.

SOARES, MAGDA. Um tema em três gêneros. 3ª Ed., Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

SOARES, MAGDA. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de


Educação, Jan/Fev/Mar/Abr de 2004. Disponível em
<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=27502502> Data de Acesso:12/03/2020.

TFOUNI, LEDA VERDIANI. Letramento e alfabetização. 9ª Ed., São Paulo: Cortez, 2010.

TFOUNI, LEDA VERDIANI; ASSOLINI, Filomena Elaine Paiva. Letramento e trabalho


pedagógico. Acolhendo a alfabetização nos países de língua portuguesa, Revista Eletrônica,
nº 001, ano 001, Setembro 2006/ Fevereiro 2007. Disponível em
<http://www.revistas.usp.br/reaa/article/viewFile/11446/13214>. Data de Acesso:12/03/2020.

VISVANATHAN, CHRISTIANNE. Como funcionam os métodos de


alfabetização. HowStuffWorks, Publicado em 22 de julho de 2008 . Disponível em
<http://pessoas.hsw.uol.com.br/metodo-de-alfabetizacao.html>. Data de Acesso:12/03/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALFABETIZAR LETRANDO
Cristiane Maria de Souza Menezes1

RESUMO: O artigo aborda os conceitos de alfabetização e letramento, propondo reflexões


relacionadas a novas concepções sobre a temática. Enfatiza-se as características da criança de
antes e de sua evolução, bem como conceitos necessários a prática docente.

Palavras-Chave: Educação; Alfabetização; Letramento.

1Professora de Educação infantil e de Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Letras.
E-mail: cristiane.msped@hotmail.com

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INTRODUÇÃO HISTÓRIA DO CONCEITO DE


Há tempos atrás, e, diga-se de passagem, um ALFABETIZAR
tempo nem tão passado assim, as concepções Quando se refere em alfabetizar, tem-se a
sobre o ensino da língua eram bastante sensação de que tudo está englobado dentro
unilaterais, davam grande foco a um desta palavrinha mágica, porém não está;
determinado ponto, como o traçado da letra, alfabetizar significa apenas ler e escrever, e é
por exemplo, mas não contextualizavam a nisso que se baseavam as concepções antigas
razão de tal aprendizado, o como aquilo seria de introdução no mundo escolar. “A criança
utilizado no futuro e no dia-a-dia; ou então se está no primeiro ano, logo estará alfabetizada.”
trabalhava o ano todo pautado nas sílabas, mas Mas e daí? Quando isso acontecer, poderemos
não instrumentalizava o aluno com frases então dizer que essa criança já possui domínio
comuns, que usamos o tempo inteiro. sobre a língua? A resposta é não, não basta
As famosas cartilhas para alfabetizar são apenas alfabetizar, é preciso instrumentalizar, é
uma prova disso. Não é que elas fossem preciso letrar essa criança. Letrar significa
ineficazes, mas sim incompletas, trabalhavam dominar uma língua, seus recursos e
pseudotextos com o intuito de preparar o aluno possibilidades, é ler e entender as entrelinhas
para os textos reais, porém, porque não do que foi lido.
mostrar-lhes desde sempre os textos reais, eles Muitas pessoas são alfabetizadas, mas
são capazes de aprender dessa maneira com poucas podem se considerar letradas de
grande habilidade e isso deve ser explorado verdade e isso é algo que precisa ser mudado o
amplamente. quanto antes e ao mesmo tempo com cautela e
Outro ponto que deve receber um olhar cuidado, pois só assim o indivíduo se sentirá
muito especial é a leitura, esta não deve ser livre para progredir psicologicamente.
como era antigamente, exigida apenas para fins Voltando um pouco no tempo, na década de
educacionais, é primordial despertar o desejo e 50, tinha-se por contexto social a segunda
o prazer pela leitura nos alunos. O desenvolver guerra mundial, momentos difíceis para adultos
da leitura deleite em sala de aula é uma forma e mais ainda para crianças, em 1950 o número
de se fazer isso, afinal para os alunos, ver que de crianças que abandonavam a escola eram
até na escola, na qual seu desenvolvimento imensos e foi então que o governo decidiu
educacional é o foco, há um momento de se ler começas a enxergar esses pequenos seres
por prazer, por que não em casa ou qualquer humanos. Desenvolveu-se então uma proposta
outro lugar, é bom ele saber que pode ler por de solução para esse problema: apresentar às
lazer, vontade, curiosidade ou sem razão escolas os melhores métodos de ensino
nenhuma aparentemente. possíveis.
Na década de 60 constatou-se o fracasso dos
métodos por meio de avaliações realizadas em
âmbito nacional, mas não se aceitava que a
culpa do fracasso fosse dos métodos, dizia-se

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

então que a culpa era das crianças. Elaborou-se Primeiro se avalia a Zona de
então o perfil do aluno fracassado, ele era desenvolvimento real (ZDR) do aluno para
predominantemente pobre, negro e depois analisar as expectativas de
descoordenado (não sabia segurar o lápis, por aprendizagem na Zona de desenvolvimento
exemplo). potencial (ZDP) que acontece na Zona de
Surgiu então a Teoria do déficit e a Teoria do desenvolvimento proximal (ZDP). Essa era a
pré-requisito, nesta, para se ter sucesso nova teoria da década.
educacionalmente falando era preciso ser Já nos anos 80 surge Emília Ferrero dizendo
branco, rico e coordenado. que alfabetização não era procedimento e sim
Como o governo não podia resolver o conceito, conteúdo conceitual, reflexão,
problema da cor e do status social, ele decidiu análise.
investir em coordenação motora fina, ou seja, o Para ela, criança não aprende treinando e
traçado da criança. Esse foi um período sim pensando na escrita. É a teoria da
preparatório para colher frutos futuros, mas Psicogênese da língua escrita.
somente isto não seria suficiente e para ajudar Agora a alfabetização é entendida como
nesse processo, na década de70 surgem os conteúdo conceitual.
estudos de Piaget que questionava: “Como se A escola sempre se preocupou com o estudo
aprende?”, ele pesquisou o amadurecimento da língua, mas é de suma importância trabalhar
cognitivo. Surgiu a Escola Comportamentalista, a contextualização e o meio social em que esse
na qual o professor era o transmissor de conceito aparece. Esse explicar em condições
conhecimento e o aluno uma tábua rasa e o sociais é o letramento.
meio social era determinante no aprendizado Alfabetização é todo recurso da língua em
do indivíduo. qualquer ano ou série.
Tempos depois aparece a Escola Inatista, que Letrado é a condição do sujeito que tendo
reza o aluno aprender sozinho, por suas aprendido os recursos da língua, faz uso destes
próprias experiências. em situações sociais reais.
E por fim a Escola Cognitivista e o bom senso Neste contexto surge o termo analfabeto
de Piaget ganham olhos, agora o meio social funcional, aquele que sabe os recursos da
auxilia no desenvolvimento, o ser humano é língua, porém não sabe como aplica-lo ao
visto como portador de singular potencial e social. A escola produz muito isso e o caminho
guardião de grande conhecimento prévio. A para a mudança está em focar no letramento
partir desse momento é reconhecido o do indivíduo.
potencial de aprendizado que todo ser humano
possui. Passa-se a crer que inteligente é quem LETRAR É DIFERENTE DE
pode vir a aprender e não quem já sabe, isso é,
potencial de aprendizagem. Porém esse ALFABETIZAR
potencial precisa ser mediado para ser Há que se lembrar de que alfabetizar nunca
desenvolvido, entra em campo o professor deve se confundir com o letrar, a primeira
mediador. envolve o ler e escrever, o contato básico com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o alfabeto e com os passos iniciais de sobre a educação dos filhos tem se tornado
aprendizagem; enquanto a segunda, ou seja, o bastante expressivo. Além disso, não é raro
letrar envolve algo mais amplo e profundo, é encontrar professores queixando-se do
fazer com que o indivíduo adquira comportamento de seus alunos e da dificuldade
competências linguísticas de uso da escrita e de conseguir a atenção deles.
leitura, não é apenas saber ler e escrever, mas, Os saudosistas costumam dizer que bons
além disso, saber fazer uso disto em diferentes eram os tempos antigos, pois o professor era
contextos. valorizado e respeitado. Parece que, de
Alfabetizar e letrar são dois processos repente, sem que ninguém percebesse o
distintos que se completam e caminham juntos, momento do acontecimento, educar ficou bem
cada um com sua função específica. mais difícil tanto para pais quanto para
professores.
Quebrando Tabus Fato é que as crianças mudaram muito nos
• Letramento não é um método, não tempos atuais, assim como o mundo em si
segue instruções específicas, nem vem com um mudou, estamos vivendo um momento ímpar
caminho pronto a ser seguido, o letramento na sociedade, na qual tudo é novo e não
desenvolve-se de modo singular entre os sabemos com exatidão como lidar com essas
indivíduos, havendo que se unir sempre a base novidades.
comum, que é o ler e o escrever à vida em A questão é que mudanças ocorreram no
sociedade do ser em desenvolvimento. contexto de desenvolvimento das crianças e
• Letramento não é alfabetização, pois não aconteceram de uma hora para outra.
não se preocupa com os conteúdos da língua e Assim, o interesse das crianças foi se
sim com a comunicação propriamente dita, diferenciando juntamente com a mudança
com a linguagem como instrumento de social geral.
socialização do ser humano. Pode-se dizer que essas mudanças englobam
• Letramento não é uma habilidade as facilidades proporcionadas pelo computador
porque na verdade é uma condição, a de se usar e principalmente pela Internet, o acesso
leitura e escrita em práticas sociais. constante à televisão, a revolução dos jogos
Alfabetizar sim, envolve diretamente o eletrônicos, além das necessidades econômicas
aprendizado dos conteúdos da língua, seus que obrigam os pais a trabalhar fora
conceitos, regras e singularidades. Engloba diminuindo o tempo de atenção aos filhos.
situações de interlocução em seus três Apesar disso, o paradigma de educação de pais
aspectos: locutor, locutário e discurso. e professores permaneceu o mesmo,
evidenciando um descompasso entre educador
A CRIANÇA DE ONTEM E e educado.
Não é fácil acompanhar a evolução das
ACRIANÇA DE HOJE crianças, é como se elas tivessem nascido em
O número de pais que procuram consultórios um mundo diferente do mundo em que vivem
de psicologia ou mesmo livros que discorrem os adultos e idosos, afinal tivemos acesso a uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

infância a qual elas jamais conhecerão. Elas psíquico dos jovens, causando esse
nasceram em tempos diferentes dos descompasso na educação.
vivenciados por seus pais e professores, somos É quase impossível competir com tanto
de uma geração X, buscando ensinar e educar estímulo oferecido ao jovem pela mídia em
uma geração Y, Isto é tarefa árdua e que requer geral, enquanto ela oferece algo gigante,
empenho, dedicação, boa vontade e paciência atrativo e até sonhador, pedimos ao jovem que
da nossa parte. faça algo que não compete à sua faixa etária:
Nesse sentido, o psiquiatra e diretor da que pensem no futuro, no que é certo e errado,
Academia de Inteligência Augusto Cury (2003), que trilhem o caminho estreito que o certo
argumenta em seu livro Pais brilhantes, oferece e abandonem a estrada larga da
professores fascinantes que a educação passa inutilidade oferecida pelas mídias.
por uma crise sem precedentes na História. Os É preciso que um novo modelo de educação
alunos estão alienados, não se concentram, não seja criado de modo que atinja os jovens de
têm prazer em aprender e são ansiosos. Cury pensamento acelerado e ansiedade exagerada.
(2003), sugere que os culpados disso não são É notório que o antigo modelo não funciona
nem pais nem professores, mas as causas mais, visto que a velocidade de pensamento
principais são frutos do sistema social que dos jovens de hoje é bem maior que dos de
estimulou de maneira assustadora os ontem. É preciso que pais e educadores sejam
fenômenos que constroem os pensamentos. criativos e inovadores, lançando novas
Desta maneira, este autor fala que, propostas de educação compatíveis com o novo
atualmente, as crianças, adolescentes e até contexto desenvolvimentista.
adultos são acometidos pela Síndrome do O que não é tarefa fácil, temos que com a
Pensamento Acelerado (SPA). Esta Síndrome, mente de ontem que possuímos, criar métodos
para Cury (2003), é grande geradora de futuros e pelos quais nunca passamos, é preciso
ansiedade e causa dependência constante de nos tornar cientistas da educação, Cury(2003).
novos estímulos e em maior quantidade. Em
função do excesso de estímulo recebido, AMBIENTE FORMAL E NÃO
principalmente da televisão, a qualidade e a
velocidade do pensamento mudam, causando a FORMAL DE APRENDIZAGEM
SPA. Em um ambiente formal de aprendizagem o
Então, como alerta Cury (2003), uma vez que professor tem um papel fundamental, pois ele
a televisão mostra mais de sessenta é o responsável pelo planejamento e
personagens por hora com as mais diferentes preparação do ambiente e pela avaliação e
características de personalidade, policiais certificação do processo. Ele também faz parte
irreverentes, bandidos destemidos, pessoas dos contratos assumidos entre os sujeitos que
divertidas, essas imagens são registradas na participam desse processo. Sendo assim, a
memória e competem com a imagem dos pais participação do professor é também um
e professores. O resultado é que os educadores indicador da classificação do ambiente.
perdem a capacidade de influenciar o mundo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Um ambiente não formal de aprendizagem da tecnologia, técnicas para exercer a arte e


posicionado no extremo da linha seria ciência da escrita.
totalmente fora de um espaço escolar, no qual É o que se prioriza nos anos iniciais dos seres
o aprendiz (normalmente descaracterizado do humanos na escola. É desde seus primeiros
papel de aluno) estivesse por vontade própria, contados com o idioma falado e escrito, até seu
ou até inconscientemente, aprendendo por domínio autônomo na leitura e escrita.
meio de observação, discussão, interação com
pessoas e/ou objetos e que ao final não se • Letramento
preocupasse em ser avaliado por aquilo que viu, É o estado ou a condição que adquire um
ouviu e participou. Na organização de um grupo social ou um indivíduo como
ambiente de aprendizagem, o professor pode consequência de ter-se apropriado da escrita. É
transitar entre o formal e o não formal, usar a leitura e a escrita para seguir instruções
dependendo de como desenvolve a prática (receitas, bula de remédio, manuais de jogo),
educativa. apoiar à memória (lista), comunicar-se (recado,
A classificação de um ambiente de bilhete, telegrama), divertir e emocionar-se
aprendizagem depende de uma caracterização (conto, fábula, lenda), informar (notícia),
da prática educativa realizada. Um ambiente de orientar-se no mundo (o Atlas) e nas ruas (os
aprendizagem escolar implica em uma sinais de trânsito).É não apenas saber ler e
estruturação prévia, uma intencionalidade que, escrever, mas mais que isso, é a condição que o
por sua vez, se expressa na prática educativa. indivíduo adquire de usar esses saberes nas
Um ambiente de aprendizagem escolar é práticas sociais de comunicação com fluência.
dinâmico e ainda socialmente construído.
É como trazer a aprendizagem informal para • Leitura
dentro da formal, ao menos seu método de É uma experiência pessoal, a qual não
acontecer, pois é sabido que por meio deste o depende somente da decodificação de
educando alcança êxito, não é, porém algo fácil, símbolos gráficos, mas de todo o contexto
rápido e natural, e sim novo e desafiador para ligado à história de vida de cada indivíduo, para
o professor aplicar em prática. que este possa relacionar seus conceitos
prévios com o conteúdo do texto, e desta forma
CONCEITUANDO construir o sentido. Assim, o sentido nasce da
intertextualidade entre o texto que se está
• Alfabetização lendo e os conhecimentos prévios de quem o lê,
É tomar o indivíduo capaz de ler e escrever. bem como a “ponte” que se cria entre isso tudo
A alfabetização se ocupa da aquisição da e a experiência de vida do leitor em questão.
escrita, por um indivíduo ou grupo de
indivíduos. É o processo pelo qual se adquire o • Escrever
domínio de um código e das habilidades de É um conjunto de habilidades e
utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio comportamentos que se estendem desde
simplesmente escrever o próprio nome até

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escrever uma tese de doutorado. Uma pessoa signos e símbolos, faz com que
pode ser capaz de escrever um bilhete, uma compreendamos o mundo em que vivemos.
carta, mas não ser capaz de escrever uma Assim, se uma criança cresce cercada por
argumentação defendendo um ponto de vista, adultos que se comunicam de modo claro, com
escrever um ensaio sobre determinado vocabulário vasto, igualmente será essa
assunto. Assim escrever é também um conjunto criança, ao passo que se ela viver rodeada por
de habilidades, comportamentos, quem fala, digamos de modo tropeçado e
conhecimentos que compõem um longo e errôneo, assim também será o falar da criança.
complexo continuo. Logo, pode-se concluir que E a alfabetização realmente não começa
existem níveis de proficiência na escrita, há quando a criança chega à escola, já começou
quem saiba escrever, mas apenas o básico e em seu lar desde seus primeiros meses de vida,
necessário e quem domine a escrita de gêneros ao aprender a falar por meio do ouvir.
diversos e mais complexos. Ambos podem dizer Na concepção atual, a alfabetização não
que dominam a escrita, porém em escalas precede o letramento, os dois processos podem
distintas. ser vistos como simultâneos, entendendo que
no conceito de alfabetização estaria
ALFABETIZAR LETRANDO compreendido o de letramento e vice-versa.
O desafio da alfabetização, hoje, é alfabetizar Assim, subentende-se que se ensina a ler e a
letrando. Além desse conhecimento, o escrever partindo do texto e seu uso e tendo
alfabetizador precisa entender que também ele como ponto de chegada, em outras
alfabetização é um processo complexo que palavras, acredita-se que alfabetizar e letrar são
inicia antes da alfabetização escolar, processos simultâneos, pois o material base
assumindo-se a escrita pela dimensão simbólica dessa dupla inseparável são os gêneros textuais
e enfatizando seus usos sociais. e suas situações de uso na sociedade, logo,
Por meio da mediação do adulto, a criança alfabetiza-se letrando.
vai identificando a natureza da linguagem Isto será possível se a alfabetização for
escrita, porém a qualidade das interações é que entendida além da aprendizagem grafofônica e
vão determinar as concepções que a criança que em letramento inclui-se a aprendizagem do
apresentará sobre a linguagem escrita no sistema de escrita. A conveniência da existência
futuro. É função de a escola dar continuidade a dos dois termos, que embora designem
esse trabalho, de forma sistematizada pelo processos interdependentes, indissociáveis e
contato com as diversas práticas sociais que simultâneos, são processos de natureza
participa. diferente, uma vez que envolve habilidades e
competências específicas, implicando, com
A alfabetização e o letramento são
isso, formas diferenciadas de aprendizagem e
fundamentos da educação e devem ser
encarados como essenciais para que as crianças em consequência, métodos e procedimentos
atinjam um nível satisfatório de compreensão diferenciados de ensino.
do mundo. É isso que a alfabetização e o
letramento fazem, além de demonstrar os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Alfabetizar e letrar acontecem ao mesmo atividades de leitura e escrita, executadas no


tempo, porém por caminhos distintos no plano da prática social, portanto em situação de
campo cognitivo do ser humano. dialogicidade.
Assim, a participação das crianças em Antigamente pedia-se para a criança levar
experiências variadas com leitura e escrita, recortes de “palavras ou expressões" contidas
conhecimento e interação com diferentes tipos em anúncios, jornais, rótulos, receitas, nessa
e gêneros de material, a habilidade de nova concepção de alfabetizar letrando pedir-
codificação e decodificação da língua escrita, o se-ia a ela que levasse o anúncio, jornal, rótulo
conhecimento e reconhecimento dos processos ou receita por completo e trabalhar-se-ia o
de tradução da fala sonora para a forma gráfica meio comunicativo em que tal palavra ou
da escrita implica numa importante revisão dos expressão está vinculada, além da palavra em
procedimentos e métodos para o ensino, uma si.
vez que cada fase desse processo exige Essa nova forma de alfabetizar letrando
procedimentos e métodos diferenciados, pois requer do professor que ele perceba as
cada criança e cada grupo de crianças necessidades de sistematizar o uso, refletindo
necessitam de formas diferenciadas na ação com a criança sobre este, para garantir que ela
pedagógica. saiba usar os objetos de escrita presentes na
A proposta de alfabetizar letrando rompe cultura escolar. Na verdade, o medo existe por
definitivamente com a divisão entre o não se saber como proceder. Buscam-se
‘momento de aprender’ e o ‘momento de fazer receitas, mas a má notícia é que elas não
uso da aprendizagem’. Estudos linguísticos existem; e a boa notícia é que há indicações de
propõem a articulação dinâmica e reversível caminhos, e que cada um poderá descobrir o
entre ‘descobrir a escrita’ (conhecimento de seu. Antes de o professor querer exercer esse
suas funções e formas de manifestação), papel de "professor- letrador" é necessário que
‘aprender a escrita’ (compreensão de regras e ele se conscientize e busque ser letrado,
modos de funcionamento) e ‘usar a escrita’ domine a produção escrita, as ferramentas de
(cultivo de suas práticas a partir de um busca de informação e seja um bom leitor e um
referencial culturalmente significativo para o bom produtor de textos. Mas para que se torne
sujeito). capaz de letrar seus alunos, é preciso que
No alfabetizar letrando, se resgata o papel do conheça o processo de letramento e que
professor como mediador, recuperando sua reconheça suas características e
figura de elo entre o educando e a matéria de peculiaridades.
conhecimento, interferindo no processo sem Alfabetizar letrando significa orientar a
desviá-lo nem desvirtuá-lo. A interação aluno- criança para que aprenda a ler e a escrever
conteúdo é um diálogo aluno-mundo mediado levando-a a conviver com práticas reais de
pelo professor e por outras pessoas. Nesse leitura e de escrita; substituindo as tradicionais
contexto, faz-se necessária uma retomada do e artificiais cartilhas por livros, por revistas, por
papel do professor alfabetizador cujo desafio é jornais, enfim, pelo material de leitura que
letrar os alunos por meio do trabalho com circula na escola e na sociedade, e criando

600
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

situações que tornem necessárias e


significativas práticas de produção de textos.
Se for apresentado ao aluno determinado
conteúdo sem mostrar-lhe a necessidade dele
na vida real, certamente ele o descartará, assim
todos nós fazemos, guardamos o que nos
parece útil e abrimos mão do que for supérfluo
ou desnecessário, o mesmo acontece com os
conteúdos escolares, mostre ao alunado a
importância e o uso social de determinado
gênero textual e ele percebendo o quão útil
aquilo será em sua vida, irá esforçar-se por
dominá-lo e incorporá-lo.
Como já foi mencionado acima, os alunos já
vêm para a escola com seus conhecimentos,
que não é só o professor que tem algo a
ensinar. Hoje em dia o professor além de ter
algo a ensinar também aprende muito com os
alunos e devemos deixar que eles
participassem cada vez mais investigando e
chegado as suas próprias conclusões, o
professor é mais um auxiliador do
conhecimento dos alunos.
Alfabetizar letrando é quando o professor
compreende o universo de seu aluno e aplique
todo o seu conhecimento e sabedoria com base
nessa realidade.
O professor não deve dissociar alfabetização
de letramento, pois deve trabalhar com seus
alunos de forma simultânea. Para melhorar
minha prática pedagógica, é preciso fazer os
alunos compreenderem e utilizarem a leitura e
escrita nas mais diversas situações do dia-a-dia,
a fim de repensar o ensino da língua.

601
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Métodos variados são usados na atualidade em busca da alfabetização na idade certa, mas
somente alfabetizar é algo incompleto, como um caminho percorrido pela metade, para que
ocorra o pleno desenvolvimento psicológico intelectual da criança é necessário o letramento de
mãos dadas ao alfabetizar.
Nesta perspectiva é fundamental que os professores se apropriem de conceitos relativos a
alfabetização e letramento, explicitando na prática ações que promovam a construção de saberes.

602
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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São Paulo: EPU, 1987 (Temas básicos de educação e ensino).

BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura. São Paulo: Cortez, 1990. (Coleção
magistério – 2º grau).

BRAGGIO, Silva Lúcia Bigonjal. Leitura e alfabetização, da concepção mecanicista à


sociopsicolinguista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

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603
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALGUMAS QUESTÕES PEDAGÓGICAS SOBRE O


ENSINO DA PRONÚNCIA, ORIENTADAS À
DIFICULDADE DE PERCEBER E PRODUZIR AS
VOGAIS / i: / E / I /
Luiz Cláudio Ribeiro Occhi1

RESUMO: Este estudo investiga alguns aspectos importantes no ensino de pronúncia, tais como
as razões pelas quais o ensino de pronúncia é frequentemente omitido, quais aspectos de
pronúncia trabalhar, quais tipos de atividades parecem ser mais adequadas ao desenvolvimento
de uma pronúncia clara dos alunos, quando ensiná-la e por que a devolutiva é importante. Além
disso, outro objetivo deste trabalho é sugerir procedimentos pedagógicos para tratar de uma
dificuldade comum que alunos brasileiros têm de perceber e produzir dois sons vocálicos
semelhantes, / i: / e / I /. Duas alunas do segundo ano do ensino médio da rede pública do estado
de São Paulo participaram e foram observadas durante as atividades.

Palavras-Chave: Ensino/aprendizagem; Pronúncia; Ortografia; Inglês, Conscientização; Pares


mínimos.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo e Rede Estadual de São Paulo.
Graduação:Licenciatura em Letras; Especialização em Língua Inglesa.
E-mail: louisocchi@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ABSTRACT: This study investigates some important aspects in teaching pronunciation, such as the
reasons why the teaching of pronunciation is often overlooked, what pronunciation features to
work on, what kinds of activities seem more suitable to developing learners’ clear pronunciation,
when to teach it and why feedback is important. In addition, another aim of this paper is to
suggest pedagogical procedures for dealing with a common difficulty which Brazilian students
have in perceiving and producing two vowel sounds, / i: / and / I /. Two second-year secondary
students of a public school in São Paulo state participated in and were observed during the
activities.

Palavras-Chave: Teaching/learning; Pronunciation; Spelling; English; Awareness; Minimal pairs.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Assim, os alunos precisam ser encorajados a


melhorar seu inglês também por meio da
Todos nós sabemos que, como aprendizes, é pronúncia, pois ela é um aspecto relevante da
comum enfrentar dificuldades ao aprender língua cujo aprendizado deve ocorrer
uma língua estrangeira. Tais dificuldades harmoniosamente e de uma maneira integrada
existem na nossa aprendizagem, especialmente com os outros aspectos linguísticos.
porque já possuímos nossa própria língua, a Situações como viagens, trabalho, lazer etc,
qual possui características próprias em suas exigem pessoas que, além de falarem inglês,
estruturas morfológicas, sintáticas e tenham uma pronúncia inteligível. É claro que,
fonológicas. Um desses problemas, enfrentado hoje em dia, não há a exigência de se falar como
por alunos brasileiros quanto à aprendizagem um nativo, pois o inglês se tornou uma língua
de língua inglesa, é o da pronúncia inadequada caracterizada pelo seu uso global. De acordo
de alguns sons vocálicos. com Kelly (2004), “o crescimento do uso do
Apesar da importância de aprender inglês, junto com a facilidade da comunicação
vocabulário, gramática e outras habilidades, pelo mundo inteiro, mostra que o inglês vem
como a comunicação e expressão oral e escrita, sendo utilizado cada vez mais como um meio
não podemos deixar a pronúncia de lado. de comunicação entre falantes cuja língua
Mesmo alunos com bom conhecimento de materna não é o inglês” 2. Contudo, devemos
vocabulário e gramática, não conseguem tomar cuidado para que isso não torne o
transmitir satisfatoriamente suas idéias aprendizado de pronúncia menos importante,
durante uma conversa por não possuírem uma pois a realidade nos mostra que um falante
pronúncia inteligível. não-nativo que possui uma pronúncia eficiente
Hewings (2004), afirma que “pode ser e compreensível se destaca em qualquer
frustrante e desmotivador para os alunos se situação em que esteja inserido. Portanto, é
têm repetido experiências em que a necessário que os alunos sejam orientados
comunicação falha devido a problemas com a eficazmente, para que possam obter uma boa
pronúncia do inglês”2 . No processo de aprender
1
pronúncia e, consequentemente, consigam se
inglês, pressupõe-se que os alunos venham a comunicar satisfatoriamente, sem grande
desenvolver um grande conhecimento de embaraços e desentendimento.
vocabulário, gramática, além de uma pronúncia Para a maioria dos alunos brasileiros, torna-
de fácil entendimento, aplicável em todas se trabalhosa a aprendizagem de pronúncia,
situações e tanto com falantes nativos quanto pois há alguns sons da língua inglesa que
não nativos. Isso quer dizer que, para que haja simplesmente não existem na língua
uma comunicação eficaz, todos os aspectos da portuguesa. E, como não existem, os alunos, ao
língua, sem priorizar nenhum deles, devem pronunciar sons específicos, tentam utilizar
estar envolvidos.

2 It can be frustrating and demotivating for students if they have repeated experiences where communication breaks
down because of problems with English pronunciation.
3
The growth in the use of English, together with the ease of communication worldwide, means that English is
increasingly being used as a medium of communication between speakers for whom it is not a first language.”

606
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sons próximos ou parecidos aos existentes em levar a falsos entendimentos, pois cada um
sua língua, como no caso do famigerado TH, possui um traço marcante responsável pela
que muitos deles pronunciam como o som de F diferenciação dos significados das palavras,
ou Z. Atos como esse, na maioria das vezes, leva como por exemplo, nas palavras leave e live.
à incompreensão por parte do ouvinte. Participaram deste trabalho duas alunas com
Já quanto ao ensino de pronúncia, o idade entre 16 e 17 anos que cursavam o
professor primeiramente precisa identificar segundo ano do ensino médio em uma escola
quais aspectos de pronúncia devem ser da rede pública do estado de São Paulo,
trabalhados com seu aluno ou grupo, assim localizada na cidade de São Bernardo do
como quais as atividades mais adequadas Campo. Ambas possuíam um conhecimento
poderão ser aplicadas. Não podemos esquecer pré-intermediário da língua inglesa e nunca
que tudo isso varia muito de aluno para aluno, haviam cursado inglês fora da escola regular.
ou de grupo para grupo. O que também é Para o que foi proposto neste trabalho,
importante, como apontam Lieff e Nunes utilizamos quatro aulas de trinta minutos, fora
(1996), “os professores que conhecem a língua do horário de aula, durante duas semanas.
nativa dos aprendizes estão numa posição
privilegiada, pois eles podem estabelecer um 2. ASPECTOS IMPORTANTES
plano de ação e decidir em que concentrar e
quando largar quando for o suficiente” 4 , e 1
NO ENSINO DE PRONÚNCIA
ajudá-los a notar semelhanças ou diferenças Antes de passarmos aos exercícios práticos e
entre a língua materna e a língua estrangeira. à discussão dos resultados, há alguns assuntos
Neste trabalho, pretende-se investigar os importantes que merecem ser abordados e
aspectos importantes no ensino de pronúncia, discutidos quanto ao ensino de pronúncia, que
e propor meios de orientar aprendizes servirão como embasamento para algumas
brasileiros quanto à dificuldade de perceberem ações tomadas durante a aplicação das
e produzirem os sons vocálicos / i: / e / I / da atividades.
língua inglesa, por meio da aplicação de a - Por que ensinar pronúncia?
exercícios práticos. Esses dois sons foram Como qualquer outro aspecto integrante de
escolhidos por meio da observação dos alunos uma língua, a pronúncia também tem sua
durante as aulas, por se tratar de vogais importância e merece ser ensinada da melhor
consideradas difíceis de serem percebidas e forma possível. Não pode haver uma
produzidas, pois não existem na língua dissociação do ensino de pronúncia de outros
portuguesa. Além disso, os alunos confundem aspectos linguísticos, pois ela está
esses dois sons, / i: / e / I / com o / i / da língua intrinsecamente relacionada a eles. Afinal, as
portuguesa, devido à proximidade sonora. A línguas são primeiramente expressadas na
produção não exata dos sons / i: / e / I / pode formal oral. Além disso, ao contrário da prática

4
Teachers who are familar with learners’ ative language are in a privileged position for they can establish a plan of
action and decide what to concentrate on and when to leave well enough alone.

607
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

comum de se ensinar e aprender a pronúncia b - O que impede o professor de inglês de


dissociada de contextos de comunicação, é ensinar pronúncia?
importante entendê-la como essencial ao A falta de conhecimentos de fonologia e
desenvolvimento das habilidades de expressão fonética da língua inglesa causa o despreparo
e compreensão orais. de muitos professores ao ensinar aspectos de
Muitas vezes nossos alunos possuem um pronúncia indispensáveis aos seus alunos. De
ótimo repertório vocabular e conhecimento acordo com Celce- Murcia (1996), “(...)
gramatical, o que os ajudam a compreender gramática e vocabulário têm sido muito melhor
muito bem quaisquer tipos de textos escritos. entendidos pela maioria dos professores de
Contudo, infelizmente, sabemos que isso nem língua do que pronúncia6 . Outro fato 2

sempre ocorre quando se trata de textos orais, alarmante, que muitos professores alegam, é a
ou seja, pode haver uma falha de comunicação falta de tempo, pois afirmam que há muito
devido à baixa compreensão oral, ainda mais conteúdo a ser “passado”, tornando a
em relação à língua inglesa na qual seu sistema gramática e o vocabulário como o foco das
sonoro é geralmente representado por uma aulas, enquanto o ensino de pronúncia torna-se
ortografia bem diversificada, o que dificulta o quase inexistente. Além disso, o ensino de
aprendizado da língua. pronúncia é visto como um assunto dissociado
Em geral, como afirma Lado (1973), “quando do ensino de outros aspectos lingüísticos e das
um aluno de uma língua estrangeira, que teve habilidades de comunicação. Ou então é visto
algum tipo de ensino de acordo com o método apenas como correção: ensina-se a pronúncia
habitual, e pela primeira vez ouve a língua esporadicamente por meio da correção de
falada, ele frequentemente não consegue erros.
entender o que foi dito. Ele geralmente alega
que o vocabulário do que foi dito é muito difícil c - O que trabalhar com os alunos? Quais
para ele. Quando um texto escrito é colocado tipos de atividades são mais adequadas/úteis
diante dele, ele pode, muitas vezes, interpretar para eles?
o mesmo material corretamente e reagir
conformemente. Isso não é então somente Primeiramente, sugere-se listar os tipos de
uma falta de conhecimento de vocabulário que erros e dificuldades que interferem na
está causando o problema. É a incapacidade do comunicação dos alunos. É claro que os tipos de
aluno de reconhecer os sons da língua. 5 ” 1
erros e dificuldades podem variar de aluno para
aluno, ou de grupo para grupo. Muitas vezes, o
que o professor também pode fazer, de acordo

5 When a student of a foreign language who has had some instruction according to the usual method first hears the
spoken language he often fails to understand what has been said. He usually claims that the vocabulary of the
utterance is too difficult for him. When a written text is placed before him he can, many times, interpret the same
material correctly and react accordingly. It is not, then, only a lack of knowledge of vocabulary items which is causing
the trouble. It is the inability of the student to recognize the sounds of the language”.
6 (...) grammar and vocabulary have been much better understood by most language teachers than pronunciation

(...).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com Kelly (2004), é “(...) antecipar as gramática ajudará o aluno a compreendê-la em


dificuldades de pronúncia de seus alunos que situações contextualizadas. Entretanto, utilizar
são mais prováveis de ocorrerem, e então aulas especificamente para trabalhar aspectos
planejar suas aulas de acordo7 ” . O segundo
1 de pronúncia talvez não seja totalmente
passo seria escolher quais aspectos de inadequado, pois essa escolha vai depender
pronúncia focaria prioritariamente. Um bom do perfil de cada aluno e da situação de
caminho é praticar um ou dois aspectos de aprendizado em que se encontra. Neste caso, o
pronúncia de cada vez, por exemplo, sons que ocorre realmente é a focalização do ensino
semelhantes como aqueles apresentados neste de língua na pronúncia, o que não impedirá que
trabalho, até sentir que os alunos estão mais os alunos aprendam outros aspectos
confiantes, e assim por diante. As atividades lingüísticos. Portanto, não podemos desprezar
também devem ser selecionadas de acordo essa possibilidade de ensino.
com o aluno ou grupo. Há muitas sugestões,
como as apresentadas neste trabalho, em e - Como desenvolver uma boa pronúncia?
Baker (1990), Celce-Murcia (1996), Hewings
(1998 e 2004), Kelly (2004) e Lado (1973). As atividades aplicadas pelo professor com o
objetivo de ajudar os alunos a superarem suas
d – Quando ensinar? dificuldades, de notar e produzir aspectos de
pronúncia, talvez não sejam suficientes. A
O professor deve ter autonomia em relação exposição à língua pode ser um fator que
a quando ensinar aspectos de pronúncia, ou contribui imensamente para o
seja, quando perceber dificuldades dos alunos desenvolvimento de uma boa pronúncia,
em produzir ou notar determinados sons ou dependendo da idade, interesse e aptidão do
outro aspecto de pronúncia. aluno. Mesmo que a grande maioria dos alunos
não tenha oportunidade de estar em contato
Há também a questão sobre ensinar com a língua, seja no trabalho, na escola, ou
pronúncia em aulas separadas ou incluí-la nas mesmo pelo simples fato de o Brasil não ser um
aulas. De acordo com Kelly (2004), “integrar o país falante de inglês, há outras maneiras de se
ensino de pronúncia totalmente com o estudo exporem à língua. Canções, filmes, salas de
de características gramaticais e lexicais traz um bate- papo, que disponibilizam áudio, algum
benefício maior, pois os aprendizes irão cada colega que também tenha interesse pela língua
vez mais valorizar a importância da e que queira praticá-la, são recursos que
pronúncia em determinar uma comunicação auxiliam no desenvolvimento de uma boa
bem sucedida8 ” . Integrar pronúncia com
2
pronúncia. Também parece ser relevante
outros aspectos da língua como vocabulário e trabalhar conjuntamente o desenvolvimento

7 They can anticipate the pronunciation difficulties their students are likely to experience, and further plan their lessons
accordingly.
8 Integrating pronunciation teaching fully with the study of grammatical and lexical features has the further incremental

benefit that learners will increasingly appreciate the signifance of pronunciation in determining successful
communication.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

nos alunos de habilidades indispensáveis para Hewings (1998), nos sugere também:
uma boa aprendizagem, ou seja, os alunos “tenham em mente que é importante oferecer
devem prestar atenção à pronúncia dos feedback tanto positivo quanto negativo para
falantes nativos e não-nativos, observando bem que os alunos saibam quando eles estão
como os sons são produzidos, dizendo alguma coisa corretamente10 .” Isso 2

para que assim, possam analisar eles mostra que seus esforços estão dando frutos de
mesmos se estão pronunciando de acordo. Isso alguma maneira. Mesmo que o retorno não seja
quer dizer que os alunos precisam estar tão satisfatório, isso provocará neles a reação
envolvidos e assumir a responsabilidade pelo de quererem sanar suas dificuldades.
seu progresso e aprendizagem. Obviamente, Um outro fator importante que precisa ser
cabe aos professores observar se eles estão se bem dosada é a correção dos erros de
esforçando e motivá-los a superarem seus pronúncia. Muitos professores costumam
obstáculos. Kenworthy (1994), afirma que corrigir seus alunos imediatamente após o erro.
“frequentemente os próprios aprendizes não Infelizmente isso pode causar constrangimento
conseguem dizer se eles mesmos entenderam e falta de concentração no aluno ao
bem; os professores devem fornecer-lhes interrompê-lo sempre. Talvez seria melhor
informações sobre seu desempenho9 ” . Isso nos
1 corrigi-lo no final da atividade, ou então limitar
mostra que os professores precisam estar o número de vezes de correção.
atentos, e tentar orientar seus alunos a se auto
monitorarem, para que eles mesmos percebam
seus erros e acertos. 3. ATIVIDADES PRÁTICAS
Em princípio não houve escolha ou algum
f - Feedback - por que é importante?
tipo de seleção de alunos para a participação
desse trabalho. O que houve realmente foi um
Avaliar o progresso dos alunos e dar-lhes convite a todos alunos da sala que gostariam de
retorno é um meio eficaz de motivá-los a participar do projeto, mas, infelizmente, por
continuar a melhorar sua pronúncia. Para que
motivo de disponibilidade, não puderam. Como
isso se torne mais significativo, o ideal seria que
estavam no fim do terceiro bimestre, ou seja,
o feedback fosse dado individualmente, pois em época de provas, achamos melhor, por
nem todos os alunos têm as mesmas facilidades motivo de falta de tempo, que as atividades
de pronúncia ou cometem os mesmos erros. fossem aplicadas fora do horário de aula. No
Poderia ser dado principalmente durante as total, foram utilizadas quatro aulas de trinta
atividades propostas, nas quais o professor
minutos, durante duas semanas.
costuma ficar circulando em sala.

9 Often learners themselves can’t tell if they’ve ‘got it right’; the teacher must provide them with information about
their performance
10 Keep in mind that it is important to offer positive as well as negative feedback so that students know when they are

saying something correctly.

610
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Como já mencionado anteriormente, os aluna repetiu duas vezes cada lista após o
participantes deste trabalho foram duas alunas professor.
entre 16 e 17 anos, que cursavam o segundo No exercício 3, distribuímos cartões
ano do ensino médio da rede estadual de contendo os pares mínimos, utilizados no
ensino de São Paulo. exercício anterior, com suas ilustrações.
Importante ressaltar que os alunos da sala na Pedimos a elas que prestassem muita atenção
qual vêm as duas alunas participantes desse enquanto repetiam as palavras, tentando
trabalho também estão estudando alguns distinguir as diferenças de cada som. Portanto,
aspectos de pronúncia, dentre os quais estão esse exercício teve como objetivo elucidar
inclusos os dois sons analisados neste trabalho, problemas de percepção das alunas, quanto à
/ i: / e / I /, os quais foram escolhidos de acordo produção dos sons, contrastando os dois sons
com a observação das dificuldades dos alunos por meio de pares mínimos.
em produzi-los corretamente, que nos mostrou Na segunda aula, iniciamos com o exercício
que estavam ocorrendo erros de pronúncia de 4, no qual as alunas tiveram de escutar algumas
várias palavras, como por exemplo, seat / sit e frases, que continham palavras da lista do
feel / fill, resultando vários desentendimentos exercício 1. Ao escutar as frases, tinham de
entre os alunos. identificar as palavras, ou com o som / i: / ou o
Na primeira aula, foram aplicados três som / I /. Já no exercício 5, as alunas escutaram
exercícios. O exercício 1 foi uma apresentação cinco frases, nas quais havia duas palavras em
dos dois sons a serem trabalhados, / i: / e / I /, itálico (pares mínimos). Tinham de circular
por meio de cartões de tamanho A4, contendo somente aquelas que haviam escutado. Após a
os símbolos fonêmicos e exemplos, com o correção, elas tiveram de repetir as frases O
objetivo de percepção dos pontos de objetivo desses dois exercícios foi distinguir e
articulação de cada som e a conscientização de identificar os sons / i: / e / I / não mais
que há diferenças entre eles. Houve a repetição isoladamente, mas sim em pequenos
de cada som e de seus exemplos, além da contextos, explorando aspectos auditivos e
explicação do vocabulário. Em seguida, houve visuais e produzir os sons com precisão. Para
uma explicação da diferença entre eles, terminar esta aula, passamos na lousa alguns
mencionando as posições de articulação de trava-línguas (exercício 6), pois sabemos que
cada um no aparelho fonador. Também esses são um meio divertido de praticar alguns sons
sons foram comparados com o som / i / da difíceis de se pronunciar. Mesmo ao reconhecer
língua portuguesa cuja posição de articulação é que eles não sejam um modo eficaz que auxilie
intermediária, ou seja, ocorre entre eles. Já no o aluno na transposição dos sons para fala
exercício 2, dá-se início à utilização de pares conectada, acreditamos que, pelo menos, eles
mínimos. A intenção desse exercício era o possam encorajar e desinibir alguns alunos
reconhecimento dos dois sons e suas posições durante a produção dos sons. A intenção do
de articulação. Foram apresentadas duas listas exercício era perceber se as alunas já
de palavras contendo os sons / i: / e / I /. Cada produziam os sons com mais desenvoltura e
acuidade. Antes perguntamos se as alunas

611
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conheciam alguns em português. Depois dos sons / i: / e / I /, que é a ortografia.


pedimos para que elas os lessem em voz alta e Explicamos às alunas que influência da escrita
três vezes em seguida. na pronúncia dos brasileiros é muito comum.
Na primeira parte da terceira aula, iniciamos Quanto ao som / i: / por exemplo, a maioria
com o exercício 7 (elaborado por mim), agora pronuncia a palavra monkey exatamente como
tendo como base um contexto maior, no caso se escreve. Para tentar sanar tal problema,
um diálogo sobre duas amigas conversando devemos nos conscientizar de que em inglês o
sobre novidades amorosas. O objetivo desse relacionamento entre ortografia e pronúncia é
exercício era o de que as alunas pudessem muito diferente do que em português. Sabemos
reconhecer e distinguir os sons em um contexto que em português há muito mais conexão entre
maior, pois até o momento só haviam visto em as letras e sons do que em inglês, na qual há
palavras e frases isoladas. Além disso, busquei muitas letras que possuem sons diferentes
relacionar o ensino de pronúncia com o ensino tanto em palavras isoladas, quanto em frases e
de vocabulário que, neste caso, foi sobre diálogos. Além disso, um único som pode ser
adjetivos para expressar opinião sobre pessoas. representado por diferentes letras. Os dois sons
Nesse exercício as alunas tiveram de ler o estudados neste trabalho são ótimos exemplos
diálogo e completá-lo com os adjetivos da lista, disso. A frequente exposição à língua nos ajuda
e de acordo com o som indicado entre barras. a notar esse relacionamento. Portanto, não
Ficou claro que, apesar de o ensino estar devemos só tentar pronunciar novas palavras
direcionado a um certo aspecto da língua, neste que encontramos ocasionalmente, mas
caso direcionado à pronúncia, percebeu-se que também escrevê-las corretamente, como um
sempre há uma integração com outros aspectos caminho de assimilá-las. Após essa explicação e
da língua, como vocabulário e gramática. conscientização, apresentamos às alunas todas
Infelizmente, as alunas não perceberam tal as representações dos sons / i: / e / I / e alguns
integração, talvez pelo fato de estarem muito exemplos.
focadas nos aspectos de pronúncia estudados. O som / I / pode ser representado pelas
Na segunda parte da aula, introduzimos um letras:
assunto muito importante para o aprendizado

a e e in d/ted ending i y ui u o
cottage deny ended his system build busy women
usage zero estimated sin mystery building business
passage behind decided ship physics guitar
village behave wanted if gym biscuit
courage begin meditated live cynic circuit
image even congratulated sit
linkage included risk
baggage acted list
surface intended wrist

612
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O som / i: / pode ser representado pelas letras:

e ea ee ei eo ey *
he sea see receive people key
be meat three believe money
genius leak cheese ceiling monkey
me dream bleed reinforce alley
appreciate leave meet being
veto breathe free receipt

e ... e i ie i ... e y
these ski chief machine easy
complete taxi belief police only
scene visa field amphetamine duty
athlete Argentina niece ravine cutlery
achieve tangerine
relief
*Except obey, grey
Quadros adaptados do livro Pronunciation Pairs: an introductory course for
students of English.

Na quarta aula, iniciamos o exercício 8, com 4. RESULTADOS OBTIDOS


o intuito de consolidar o aprendizado dos sons
No início da primeira, pudemos observar que
/ i: / e / I / por meio das letras que os
as alunas se sentiram pouco confortáveis
representavam, como foi visto na aula anterior.
quando tiveram de repetir os sons / i: / e / I /
As alunas receberam vários cartões com
das palavras contidas nos cartões A4, pois, no
figuras, todos embaralhados, os quais deveriam
primeiro momento, elas não haviam
ser agrupados de acordo com seus sons e
conseguido diferenciar os dois sons. Mas, logo
respectivas representações. Em seguida,
após, explicamos e demonstramos que a
receberam uma folha contendo as letras que
produção de cada som ocorria em pontos
representavam os sons / i: / e / I / para poder
diferentes no aparelho fonador, e, também,
organizar as palavras. No exercício seguinte (9),
comparamos tais sons com o / i / da língua
as alunas receberam a letra da canção
portuguesa. Com a realização dos dois
intitulada “Special Needs” do grupo musical
exercícios seguintes, houve uma melhora, pois
britânico Placebo, e, em seguida, assistiram ao
as alunas já conseguiam reconhecer os dois
clipe. No final do exercício todas cantaram. O
sons, todavia, a produção ainda falhava, pois
objetivo desse exercício era o reconhecimento
havia a interferência da língua materna
de palavras que continham os sons / I / e,
Na segunda aula, os resultados foram mais
especialmente, o som / i: /, por meio das letras
positivos, pois, por meio da exposição das
que os representavam, não mais isoladamente,
mesmas palavras, contidas nos exercícios da
mas sim em um contexto específico e produzi-
aula anterior, as alunas conseguiram finalizar os
los com mais naturalidade.
exercícios sem quase nenhum problema, salvo

613
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

algumas dúvidas referentes ao vocabulário clipe da canção “Special Needs” do grupo


encontrado nos trava-línguas. Percebemos musical britânico Placebo, cujo ritmo musical
também que mesmo no pequeno contexto, não foi muito apreciado. Mesmo num contexto bem
houve a dificuldade da produção e o maior que os anteriores, elas conseguiram
reconhecimento dos sons / i: / e / I /. identificar sem problemas todos as
Algumas dificuldades das alunas, na representações dos sons / i: / e / I / contidos na
realização do exercício da primeira parte da canção. Quanto à produção dos sons, elas já
terceira aula, vieram à tona devido ao novo conseguiam realizar com mais precisão.
contexto em que estavam inseridos os sons / i:
/ e / I /. Notamos que elas já conseguiam
reconhecer e produzir os sons, mas não os
haviam internalizado. Além de estarem em um
contexto maior, um diálogo, os sons foram
integrados a outros conhecimentos da língua,
como o vocabulário. Observamos que tal
exercício foi motivador, pelo fato de as alunas
utilizarem não só conhecimento de pronúncia,
mas também do uso de vocabulário em
contexto.
Na segunda parte da terceira aula, foram
apresentadas e explicadas as representações
por meio de letras (ortografia) dos sons / i: / e /
I / por meio de vários exemplos. No primeiro
instante, foi um choque, pois elas não tinham
muita noção disso. É provável que jamais
tiveram a atenção voltada a essa questão.
Fizeram questão de ler todos os exemplo, para
poder assimilá-los. Nesse instante, notamos
que elas estavam mais conscientes e
interessadas em poder diferenciar os sons por
meio de suas representações.
Na quarta e última aula, as alunas gostaram
muito de fazer o primeiro exercício, pois
estavam motivadas pela descoberta na aula
anterior. Houve um pouco de dificuldade em
distinguir as figuras das palavras visa e gym,
mas, em seguida, elas conseguiram terminá-lo
num instante. Quanto ao último exercício, o
clima estava ainda melhor, pois passamos o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho objetivou investigar aspectos importantes no ensino de pronúncia e superar
as dificuldades de alunos brasileiros ao produzirem os sons / i: / e / I / da língua inglesa por meio
de exercícios práticos. Pode-se afirmar que os resultados foram satisfatórios, pois por intermédio
de todas aulas, conseguimos observar o bom desenvolvimento das alunas, tanto na observação e
identificação, como na produção dos sons. Os fatores importantes que contribuíram no
desenvolvimento do aprendizado dos sons aqui estudados, além de todos os exercícios aplicados,
foram a conscientização das alunas de se monitorarem e perceberem as diferenças e semelhanças
entre sua língua materna e a língua estrangeira, no caso o inglês, que estão estudando.
Já por meio das questões discutidas neste trabalho, relacionadas ao porquê do ensino de
pronúncia, aos empecilhos, ao quê e quando ensinar, à boa pronúncia, e ao feedback, pudemos
observar que o ensino de pronúncia é algo ainda a ser repensado, pois ainda precisamos de tempo
para poder refletir e analisá-las mais profundamente. Contudo, acreditamos que muito ainda
pode ser feito para tentarmos preencher o esquecimento, ou melhor, eliminar essa falha, que,
infelizmente, ocorre muitas vezes no ensino de pronúncia. Por enquanto, pensamos em algumas
sugestões que poderão ser úteis no ensino-aprendizagem de pronúncia.
Uma boa preparação profissional já é um grande passo, pois, se um profissional se sente
despreparado, ele não conseguirá ensinar satisfatoriamente. E, se ele possuir experiência como
docente, saberá facilmente antever prováveis erros de pronúncia dos alunos, os quais nunca
deverão ser ignorados. A correção dos erros não precisa ser feita na hora, mas sim num momento
mais propício como no final de cada atividade, por exemplo.
Para que os alunos se sintam mais preparados na produção e prática oral, primeiramente
o professor precisa oferecer muitas atividades de compreensão auditiva para que os alunos
possam obter uma melhor percepção da pronúncia dos falantes de inglês. Lembremos que o
ensino é mais significativo se for contextualizado.
Também devemos estar atentos às necessidades individuais dos alunos quanto a sua
aprendizagem. Além de motivá-los e mostrar-lhes que há uma enorme importância em aprender
pronúncia para obter êxito na comunicação, assim, ao saber pronunciar bem as palavras, evitará
desentendimentos. Além disso, conscientizá-los das variedades linguísticas, para que assim
saibam pronunciar bem as palavras para evitar desentendimentos. Em suma, seria conscientizá-
los da importância de estudar os sons, a pronúncia correta, de se monitorarem e perceberem
quando cometem ou não algum tipo de erro, e por fim saibam saná-lo.
No geral, os resultados e as observações levantadas neste trabalho nos fez refletir, como
professores, que precisamos sempre rever nossos conceitos e visões sobre o
ensino/aprendizagem de pronúncia, a fim de dedicar-lhe mais atenção em nossa prática
pedagógica, contanto que haja uma harmonia com o ensino de outros aspectos lingüísticos. A
resistência que temos muitas vezes em ensinar pronúncia precisa ser evitada, para que não haja
uma defasagem no aprendizado de inglês de nossos alunos. Enfim, este trabalho nos mostrou, de
forma positiva, alguns caminhos e pensamentos relevantes no ensino/aprendizagem de
pronúncia.

615
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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English. C.U.P, 1990.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ALUNOS COM DISLEXIA:


DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
Ana Lucia Coutinho da Costa Lima1

RESUMO: O presente artigo tem como tema os desafios no ensino aprendizagem de alunos com
Dislexia na educação infantil. O objetivo, nesse artigo, é mostrar a necessidade em utilizar
específicas metodologias para que o desafio dos professores ao ministrar aulas seja praticamente
sanado quando refere-se atender alunos com esse transtorno dentro da sala de aula. A dislexia é
classificada como um parâmetro de transtornos de aprendizagem e decodificação ortográfica
pelo manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, tendo sua origem neurobiológica,
refletindo diretamente na dificuldade do processo de reconhecer as palavras, prejudicando o
fonológico do aluno. Saber como incluir a criança na fase da educação infantil é de extrema
importância, deste modo, é dever do professor oferecer um método de ensino inclusivo que
proporcione as condições da aprendizagem dos disléxicos nesse processo, visto como base da
futura aquisição de conhecimentos. No decorrer desse artigo citarei também sobre as
dificuldades encontradas pelos professores ao lecionar em sala de aula composta por alunos
regulares e disléxicos, bem como citarei sugestões e estratégias para que o professor tenha
melhor resultado na participação de seus alunos e que tenha mais conhecimento e habilidade
para desenvolver suas atividades em sala de aula.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Dislexia; Sala de Aula; Professor.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: analima1228@icloud.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Para Pedroso e Rotta (2006), há uma


distinção entre transtornos/distúrbios de
Esse artigo tem como objetivo inferir as aprendizagem e dificuldades de aprendizagem,
dificuldades atribuídas ao professor ao lidar na qual o primeiro é relacionado a fatores
com a aprendizagem de modo a incluir um internos, caracterizado como congênita ou
aluno com Dislexia, considerada um Transtorno adquirida, enquanto o segundo é ligado a
Específico da Aprendizagem (TEA), na educação fatores externos, podendo ser passageiro, e
infantil, sugerir estratégias para adequar o nível resultado do meio social, como problemas
de ensino, assim como reunir informações pessoais, escolares, familiares, falta de
relacionadas à complexidade quanto a leitura e motivação, entre outros.
escrita que crianças portadoras de dislexia As crianças disléxicas chegam a ter saltos de
apresentam e auxiliar no trabalho pedagógico a desenvolvimentos que trazem uma melhora
ser realizado pelo professor. acentuada. O cérebro continua formando
A dislexia é vista como um distúrbio nos novas conexões até o início da idade adulta, e
processos de aprendizagem e na linguagem, e existem casos em que os ‘circuitos’ necessários
um dos maiores problemas é a falta do para a leitura finalmente se completaram na
diagnóstico exato, uma vez que alguns fatores adolescência ou mesmo depois. O lema para o
podem estar correlacionados a outros ensino de habilidades de leitura, portanto, é
influenciadores. Portanto, esse artigo irá ‘jamais desista’. É necessário deixar as portas
discorrer sobre o quanto esse distúrbio da educação abertas por tanto tempo quanto
neurobiológico afeta as crianças que estão no possível, para que aqueles que amadurecem
nível educacional básico. tarde tenham a oportunidade de alcançar seu
Para que a desavença seja superada dentro pleno potencial (SMITH, 2001, p.55).
do ambiente escolar é impreterível que o corpo É muito importante pesquisar e analisar
docente assuma sua responsabilidade em motivos pelos quais professores e estudantes
analisar e observar possíveis detalhes que amarguram-se com as dificuldades de ensino
denunciem a dificuldade de um aluno nas áreas aprendizagem decorrentes da dislexia,
de leitura e escrita, utilizando-se psicólogos, portanto, propor técnicas para auxiliar o
fonoaudiólogos e pedagogos para que professor a lidar com essa situação é de suma
construam métodos para auxiliar ao máximo importância.
possível o aluno a elevar o potencial do
aprendizado de maneira equitativa. O apoio
LEGISLAÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO
familiar também é de tamanha importância,
reforçando para criança sua capacidade e ESPECIAL NO BRASIL
comunicando a escola informações necessárias A Lei nº 9394/96 da Lei de Diretrizes e Bases
para realização do diagnóstico e para da Educação Nacional (LDB) discorre em seu
preparação pedagógica, dessa forma sem artigo 58: “Entende-se por educação especial
alterar significativamente seus projetos para os efeitos desta Lei, a modalidade de
curriculares. educação escolar oferecida preferencialmente

618
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

na rede regular de ensino, para educandos com envolvendo estudo, pesquisa, criatividade e
deficiência, transtornos globais do experiências práticas realizados
desenvolvimento e altas habilidades ou individualmente ou em grupo, intra ou
superdotação.” e o artigo 4º garante que é extraclasse;
dever do Estado oferecer uma educação escolar e) Diários;
pública que assegure o atendimento f) Fichas avaliativas;
especializado gratuito aos educandos com g) Pareceres descritivos;
deficiência, transtornos do desenvolvimento, h) Observação de comportamento, tendo
em todos os níveis, etapas e modalidades, de por base os valores e as atitudes identificados
preferência na rede regular de ensino. nos objetivos da escola (solidariedade,
Essa lei também afirma no artigo 12, participação, responsabilidade, disciplina e
inciso I, que durante a elaboração e execução ética).
da Proposta Pedagógica, a escola deve: Consequentemente, assegura-se o direito ao
● Prover meios para a recuperação dos atendimento escolar adequado aos estudantes
alunos de menor rendimento; com necessidades educacionais, incluso os
● Organizar a educação básica em séries disléxicos, que têm sua vaga assegurada na
anuais, períodos semestrais e ciclos, rede pública que disponibilizar estratégias e
alternância regular de períodos de estudos, recursos para atenderem a demanda de
grupos não seriados, com base na idade, na aprendizagem necessária deles.
competência e em outros critérios ou por forma A criança e o adolescente têm direito à
diversa de organização; educação, visando ao pleno desenvolvimento
● Oferecer uma avaliação contínua e de sua pessoa, preparo para o exercício da
cumulativa, com a prevalência dos aspectos cidadania e qualificação para o trabalho,
qualitativos sobre os quantitativos e dos assegurando-se lhes: I – igualdade de condições
resultados ao longo do período. para o acesso e permanência na escola; II –
Por outro lado, a Proposta Pedagógica direito de ser respeitado pelos seus
conta com as possibilidades de: educadores; III – direito de contestar critérios
a) Provas escritas, com caráter operatório, avaliativos, podendo recorrer às instâncias
contendo questões objetivas e/ou escolares superiores(BRASIL,1990,s.p).
dissertativas, realizadas individualmente e/ou Em 2009, o Ministério de Educação (MEC),
em grupo, sem ou com consulta a qualquer dispôs em sua Resolução nº 4, artigo 5º, que o
fonte; atendimento desses alunos deve ser realizado
b) Provas orais, por meio de discurso, na sala de recursos multifuncional. A proposta
realizadas individualmente ou em grupo, sem de intervenção pedagógica escolar deve
ou com consulta a qualquer fonte; considerar todas as necessidades e dificuldades
c) Testes; quanto aos conteúdos trabalhados na sala de
d) Atividades práticas, tais como trabalhos aula comum, além de oferecer subsídios
variados, produzidos e apresentados por meio pedagógicos e métodos diferenciados para
de diferentes expressões e linguagens, visar melhor desenvolvimento intelectual dos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

alunos, influenciando em sua autonomia, Logo, Othon foi o criador do termo


independência e valorização, não necessitando Strephosymbolia para caracterizar a dislexia,
da criação de salas especiais somente para que significava símbolo invertido. Nota-se que
estes. os ambientes educacionais por muito tempo
Ao se referir ao Direito da pessoa com não facilitou para a criação de condições, nas
Dislexia, não há pesquisas, livros e artigos no quais essas crianças melhor aprendessem, visto
Brasil em abundância, muito pelo contrário. A que no século XX a importância que os
legislação brasileira e jurisprudência dos professores e psicólogos atribuíram a esse
tribunais são extremamente escassas, ainda problema era mínimo, da mesma forma que os
que a Constituição garanta o direito à educação médicos não validaram os acontecimentos
a todas, não há uma lei educacional específica dentro das salas de aula, carecendo o nível de
que envolve os indivíduos com transtornos de educação e ignorando as dificuldades dos
aprendizagem, dificultando ainda mais a alunos.
acessibilidade escolar, uma vez que existe uma No ano de 2004, Teles mostrou, por meio de
dificuldade de os pais solicitarem as escolas estudos recentes, teorias a respeito dos
mudanças adequadas para educar seus filhos. processos responsáveis pelas dificuldades
apresentadas pelos Disléxicos. Sendo estas:
ORIGEM DA DISLEXIA Teoria do Déficit Fonológico: nesse hipótese,
afirma eu a causa da dislexia é um déficit no
Ajuriaguerra afirmou em 1990 que o
sistema de processamento fonológico
distúrbio “Dislexia” foi identificado por Berklan
motivado por uma “disfunção” no sistema
em 1881, mas somente recebeu esse nome em
neurológico cerebral, ao nível do
1887 quando Rudolf Berlin Stuttgart, um
processamento fonológico. É responsável por
oftalmologista alemão, atendeu uma jovem
dificultar a discriminação e processamento dos
que tinha dificuldades de aprender, ainda que
sons da linguagem, a consciência de que a
seus níveis de inteligência e habilidades
linguagem é formada por palavras, as palavras
intelectuais não contavam com deficiências.
por sílabas, as sílabas por fonemas e o
Afirmou também que Samuel T. Othon foi um
conhecimento de que os caracteres do alfabeto
dos primeiros estudantes de dislexia que, por
são a representação gráfica desses fonemas.
ser neurologista, teve contato com vítimas de
Teoria do Déficit de Automatização: afirma
traumatismo. Em meados de 1925, notou que
que a dislexia é caracterizada por um déficit
um menino contava com sintomas similares a
generalizado na capacidade de automatização.
uma dessas vítimas e não sabia ler, portanto, ao
Os disléxicos manifestam evidentes
pesquisar mais sobre o caso, concluiu que os
dificuldades em automatizar a descodificação
traumas neurológicos não se relacionam com a
das palavras, em realizar uma leitura fluente,
deficiência de aprendizagem, deixando claro
correta e compreensiva.
que o fator responsável por esta não é a visão,
mas sim uma lateralização cerebral resultando Teoria Magnocelular: mostra que a dislexia é
em dominância cerebral. um déficit específico na transferência das
informações sensoriais dos olhos para as áreas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

primárias do córtex. Afirma que os indivíduos número quantitativo quanto as crianças com
com dislexia têm baixa sensibilidade face a dislexia no Estado porque certas ocasiões são
estímulos com pouco contraste, com baixas difíceis para os familiares obterem um lado
frequências espaciais ou altas-frequências concreto do transtorno, muitas devidas a falta
temporais. A teoria não identifica ou cita de obtenção gratuita de um atendimento
déficits de convergência binocular. profissional da saúde.
Um fator visto quadro epidemiológico da Assumindo que o diagnóstico também só
dislexia é que há maior número de meninos pode ser concluído após o 2 º ano do ensino
identificados como disléxicos. A diferença fundamental, após conclusão da criança na fase
estimada por Pennington (2009) é de 3 (três) a de alfabetização, a fonoaudióloga Carolina
4 (quatro) meninos para uma menina, Portugal, responsável pela Associação Nacional
enquanto esse número varia outros de Dislexia no Estado, afirma que os pais e
pesquisadores, como Flecher (2009), que professores devem estar atentos às seguintes
apontou uma proporção de 1,5 para 1. Logo situações:
após Shawitz (2006) e Smyther (2011), ● Dificuldade em reconhecer letras do
sugeriram que a possível explicação para a alfabeto;
diferença numérica seja o comportamento ● Dificuldade em identificar formas e
mais disruptivo dos meninos, o que os fazia ser cores;
alvos preferenciais de atenção e de ● Dificuldade em fazer rimas (interpretar
encaminhamentos para a realização de sonoridade).
diagnóstico. O Instituto ABCD criou o “Mapa da Dislexia”,
com objetivo de construir uma rede de apoio
DISLEXIA NO BRASIL visada em auxiliar as pessoas com dislexia, na
A Associação Brasileira de Dislexia (ABD) qual encontram-se centros de avaliação e
afirma que o distúrbio de maior incidência nas tratamento, tais como clínicas de atendimento
salas de aulas é a dislexia, atingindo entre 5% e próximas. Também é possível conhecer escolas
17% da população mundial. Além disso, e professores que trabalham com alunos
durante a pré-escola, percebem-se sinais como: disléxicos para trocar dicas, experiências e
• dispersão; informações.
• pouco desenvolvimento da atenção; Não existe receita de bolo para tratamento
dos TEA. Sabemos, comprovadamente, que
• atraso no desenvolvimento da
alguns fatores contribuem positivamente para
linguagem e fala;
um bom prognóstico: apoio incondicional da
• dificuldades nas atividades simples
família e da escola; avaliação, diagnóstico e
como montagem de quebra-cabeças;
acompanhamento de longo prazo por equipe
• desinteresse por livros;
interdisciplinar especializada (fonoaudiólogos,
De acordo com Eleonora Paes,
psicólogos, psicopedagogos, educadores,
superintendente de Desenvolvimento da
médicos), com revisão da prioridade de
Educação Infantil e Fundamental da Secretaria
de Estado da Educação (SEE), não há ainda um

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

abordagem de cada especialidade, sempre que fracas na manipulação de símbolos e


necessário (WR EDUCACIONAL, 2015,s.p). habilidades de sequência temporal.
Um levantamento recente feito pela ● 15% tiveram déficits em organização
Associação Brasileira de Dislexia (ABD) revelou espacial e perceptiva visual e coordenação
que 84% dos casos apresentam antecedentes visomotora.
familiares. Apesar disso, se um dos pais tiver a ● 18% tiveram características dos dois
condição, não quer dizer que os filhos a terão grupos anteriores.
necessariamente. Em 1971, Elena Boorder e Miklebust
• Classificações da Dislexia classificaram vários grupos:
Os estudiosos do tema tendem a dividir em 1. Dislexia Disfonética: visto como
grupos cada tipo de dislexia para que seja dificuldades auditiva, de análise e síntese, de
realizado um estudo mais abrangente. Por discriminação e temporais (quanto a percepção
exemplo, Myklebust classifica a dislexia em de sucessão e duração). Os sintomas mais
três: Dislexia Visual, Dislexia Auditiva e Dislexia comuns são as trocas de fonemas e grafemas
Mista; enquanto Ingram (1970), ao finalizar diferentes, as dificuldades com logatomas, as
uma pesquisa com crianças com dificuldades de alterações grosseiras na ordem das letras e
aprendizagem, separou-as em dois grupos: sílabas, as omissões e acréscimos, uma maior
a) Específicos: no qual a dificuldade é dificuldade com a escrita do que com a leitura,
somente limitada à leitura-escrita; as substituições de palavras por sinônimos, ou
b) Gerais: no qual há outras dificuldades trocas de palavras por outras visualmente
envolvidas, como em matemática conhecida semelhantes.
como discalculia. 2. Dislexia Diseidética: encaixam-se as
Bannatyne (1971), descreve que existem dificuldades visuais, na percepção guestáltica,
dois tipos: a Dislexia Genética e a Dislexia por na análise e síntese e dificuldades espaciais, na
Disfunção Neurológica Mínima. O primeiro qual há percepção das direções, localizações,
deles é tido como tendo dificuldades em relações e distâncias. Os sintomas mais comuns
discriminação auditiva, sequenciação auditiva e são a leitura silabada que não consegue a
associação do fonema-grafema. Em síntese, a aglutinação e fragmentação, a troca
contrapartida, o disléxico com disfunções por equivalentes fonéticos, uma maior
mínimas teria as conhecidas dificuldades viso- dificuldade para a leitura do que para a escrita.
espaciais, cinestésico-motoras, táteis e de 3. Dislexia Visual: caracterizada pela
conceitos. deficiência na percepção visual. Sintomas são a
Em 1970, Smith baseou sua tese em uma dificuldade na percepção visomotora e na
análise dos sub testes da WISC, testando 300 habilidade visual, pois não visualiza
crianças com dificuldades de leitura, para, em cognitivamente o fonema.
seguida, dividi-las em três grupos. Percebeu-se 4. Dislexia Auditiva: ocorre uma deficiência
que: na percepção auditiva. Os sintomas são a
● 67% mostraram-se bem nos sub testes, deficiente memória auditiva e deficiente
relacionados com habilidades espaciais, e discriminação auditiva.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De acordo com as instituições escolas mais conhecimento para conciliar os aspectos da


modernas e os teóricos mais atuais estudiosos sociedade.
da linguística, há a afirmação de que a Há estratégias de apoio aos sistemas de
linguagem escrita não ocorre somente como ensino apresentadas na Política Nacional de
transição da linguagem oral, tendo suas Educação Inclusiva (MEC/2008), visando
sequências particulares e deve ser vista como garantir o acesso, a participação e
uma nova linguagem com semântica aprendizagem dos alunos com deficiência,
enfatizada, não somente como decodificação e transtornos globais do desenvolvimento e altas
codificação – considerando que requerem habilidades/superdotação, a formação de
síntese e uma análise visual e auditiva, tal como professores para o atendimento educacional
discriminação tempo-espacial. especializado e demais profissionais da
Com base nos estudos, a classificação mais educação para a inclusão escolar, pois “para
utilizada internacionalmente é a da dislexia atuar na educação especial o professor deve ter
adquirida, que ocorre quando as habilidades de como base da sua formação inicial e
leitura anteriormente desenvolvidas são continuada, conhecimentos gerais para o
perdidas por conta de uma lesão cerebral; e exercício da docência e conhecimentos
dislexia do desenvolvimento, conhecida específicos da área”.
também por primária ou específica, na qual a A criação do Atendimento Educacional
falta de aquisição completa da leitura tem viés Especializado (AEE), regulamentado pelo do
constitucional. Decreto nº 6.571, de 18 de setembro de 2008,
A dislexia adquirida se divide em: profunda auxiliou por muito na formação do docente na
ou fonética; superficial; semântica ou educação básica. Para atuação no AEE, o
fonológica; auditiva; visual; dislexia congênita professor deve ter formação inicial que o
ou específica do desenvolvimento; evolutiva e habilite para o exercício da docência e
profunda. formação específica na educação especial,
inicial ou continuada. São atribuições do
FORMAÇÃO E APOIO AO professor do atendimento educacional
especializado:
PROFESSOR PARA EDUCAÇÃO ● Identificar, elaborar, produzir e
ESPECIAL organizar serviços, recursos pedagógicos, de
Há uma falta de um modelo teórico-prático acessibilidade e estratégias considerando as
na área de Educação Especial nos cursos de necessidades específicas dos alunos público-
licenciatura em Pedagogia representa uma alvo da educação especial;
certa contradição fundamental para ● Elaborar e executar plano de
compreensão da dificuldade de concretização atendimento educacional especializado,
de políticas organizacionais educacionais, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade
confirmando uma concepção fragmentada com dos recursos pedagógicos e de acessibilidade;
viés positivista da educação, que necessita
distintos modelos e metodologias para áreas do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

● Organizar o tipo e o número de por lei. Portanto, ainda há lacunas a serem


atendimentos aos alunos na sala de recursos preenchidas no currículo para formação
multifuncional; profissional dos docentes para poder ministrar
● Acompanhar a funcionalidade e a corretamente uma aula para alunos disléxicos,
aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de principalmente no ensino da educação básica,
acessibilidade na sala de aula comum do ensino podendo ter como base as atribuições
regular, bem como em outros ambientes da destinadas aos professores da AEE.
escola;
● Estabelecer parcerias com as áreas INTERAÇÃO PROFESSOR
intersetoriais na elaboração de estratégias e na
disponibilização de recursos de acessibilidade; ALUNO ESPECIAL NA SALA DE
● Orientar professores e famílias sobre os AULA
recursos pedagógicos e de acessibilidade Quando se comenta em uma educação para
utilizados pelo aluno; todos, é impreterível então realizar atos que
● Ensinar e usar recursos de Tecnologia valorizem a diversidade, capaz de dinamizar os
Assistiva, tais como: as tecnologias da grupos e enriquecer interações e relações
informação e comunicação, a comunicação sociais, acrescentando no aluno uma vontade
alternativa e aumentativa, a informática de aprender. Dessa forma, a escola não deve
acessível, o soroban, os recursos ópticos e não ser vista como um lugar onde reina o privilégio,
ópticos, os softwares específicos, os códigos e mas sim onde há mútuo respeito perante
linguagens, as atividades de orientação e todos.
mobilidade entre outros; de forma a ampliar Quando o diagnóstico da dislexia não é
habilidades funcionais dos alunos, promovendo realizado e não há uma identificação dos
autonomia, atividade e participação. professores, resultando na falta de intervenção
● Estabelecer articulação com os na aprendizagem, os alunos com dislexia estão
professores da sala de aula comum, visando a sujeitos a ser vistos como fracassados no
disponibilização dos serviços, dos recursos ambiente escolar, estigmatizados por terceiros
pedagógicos e de acessibilidade e das como péssimos alunos.
estratégias que promovem a participação dos Dessa forma, o reflexo dessa ação pode ser
alunos nas atividades escolares. visto quando as crianças disléxicas crescem e
● Promover atividades e espaços de perder autoestima ou vontade de aprender.
participação da família e a interface com os Pode ser visto uma grande dificuldade em
serviços setoriais da saúde, da assistência matérias básicas na educação infantil, como na
social, entre outros. disciplina de língua portuguesa, quando o
Infelizmente, os estudantes com TDAH, entendimento da leitura e interpretação de
dislexia, disgrafia, discalculia, depressão e textos são afetados.
outros transtornos não têm direito ao AEE. Sua O processo da leitura e escrita ocorre, por via
participação e aprendizagem são garantidos em de regra, de modo natural dentro e fora da
igualdade de condições com todos os demais escola. Quando no ambiente familiar, ocorre de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a criança ter contato com a linguagem escrita e É dever e responsabilidade do professor


falada, contando com a necessidade de escolher técnicas para lecionar que englobam
estímulo dos familiares para desenvolver-se ao todos os alunos, facilitando o aprendizado dos
longo do tempo, que tende por facilitar uma que precisam de uma inclusão. Há dicas do que
parte do trabalho do educador. de atos que o docente pode realizar na sala de
É importante que os professores percebam aula que auxiliam no aprendizado da criança
que, ao modificarem sua prática pedagógica com dislexia na educação infantil, como:
incorporando tecnologias e técnicas de ● Orientar o aluno a como se organizar e
trabalho em grupo, transformam-na em realizar atividades na carteira;
dinâmicas, que cativam o interesse e são ● Valorizar os acertos, estimulando-os;
motivacionais, gerando desdobramentos ● Estar atento nos momentos de execução
positivos para o favorecimento da melhoria da de tarefas escritas;
qualidade do trabalho escolar. ● Desenvolver hábitos a estimular o aluno
Uma vez que Cândido (2013), escreve que a a utilizar uma agenda para recados e lembretes;
criança com dislexia não é portadora de ● Utilizar linguagem direta, clara e objetiva
deficiência física, mental, auditiva, visual e na explicação e verificar se houve
múltipla, ou seja, de alto risco, entende-se que entendimento adequado;
ela não deve ser tratada como se tivesse uma ● Permitir o uso de tabuadas, material
doença gravíssima. Com exceção dos casos de dourado e ábaco;
Acidente Cérebro Vascular (AVC), a dislexia ● Aproximá-lo da lousa ou mesa do
ocorre por um componente genético. O professor, por favorecer o diálogo e orientação;
professor deve reconhecer, entender e ● Inserir o disléxico no grupo-classe
promover ações que estimulem o discreta e respeitosamente, para contribuir
desenvolvimento tanto oral quanto escrito da com sua interação.
criança. Dessa forma, percebe-se que as atividades
A Associação Nacional da Dislexia afirmou na sala de aula devem ser diversificadas,
em 2009 que o professor deverá oferecer mais podendo ser, por exemplo:
disponibilidade para um aluno com dislexia que Aulas cantadas: a música é responsável pelo
para os demais, visto que suas dificuldades são desbloqueio do sistema nervoso, atuação no
mais específicas. Deve-se sempre fazer o aluno sistema cardiopulmonar e outras áreas do
acreditar em si mesmo, espelhando sucessos organismo. A dislexia e música relacionam-se
futuros, atentando-se o que o aluno gosta de quando há uma transferência de habilidades
fazer e valorizando seus acertos, presentes no ritmo cerebral que contribui para
consequentemente, reforçando seus esforços. a diferenciação de sons. Dessa forma, a criança
Dessa forma, sempre respeitar o ritmo de pode ser capaz de ler corretamente devido aos
aprendizagem da criança disléxica, que em fonemas. É importante que fonoaudiólogos
todos os casos será inferior aos demais. acompanhem essas aulas para que o resultado
seja mais positivo.
• Técnicas Educacionais

625
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Aulas com jogos: o jornal Current Biology


apresentou uma pesquisa que informa que os
jogos eletrônicos de ação induziram as crianças
a aprimorarem a velocidade e tempo de reação,
melhorando sua leitura. Ao dosar corretamente
o tempo dos jogos no ambiente escolar, pode
utilizar-se desse mecanismo que prende a
atenção dos alunos. Ainda assim, jogos simples
como quebra-cabeças, jogo da forca e outros
também são uma maneira para estimular a
vontade de adquirir o aprendizado da criança.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que a dislexia é um distúrbio responsável por provocar certas dificuldades
nos momentos de aprendizagem de leitura e escrita, resultado de bases neurológicas, não
somente fatores genéticos ou adquiridos, e ainda não é tido como doença para a comunidade
médica.
É necessário ressaltar que quanto mais cedo possível realizar o diagnóstico da dislexia, mais
eficaz será para as crianças e educadores em encontrar um modo de trazer resultados positivos
para os tratamentos escolares, visto que ainda que tenham essa dificuldade para aprender, sua
inteligência é analisada no nível normal ou acima da média, em algumas pessoas.
Dessa forma, o trabalho pedagógico pode atingir graus satisfatórios de eficiência, atuando
de modo estratégico e construindo o conhecimento precocemente ao apresentar dinamismos ao
criar situações que reforcem o interesse do aluno pela aprendizagem, instigando o
desenvolvimento da autonomia, independência e capacidade de lidar com as frustrações na
educação infantil.
Como visto, ao adotar brincadeiras e jogos educativos em ambientes escolares, o
rendimento escolar tende a aumentar, justamente pois há uma influência no desenvolvimento da
criatividade, imaginação, autoestima e equilíbrio emocional. A partir do momento em que se
entende que a criança aprende a usar a linguagem falada quando se considera meio ambiente
compreensivo, estimulador e com paciência; trato das cordas vocais; organização mental; e
sensibilidade perceptual para falar os sons, é que se pode montar procedimentos pensados em
alunos disléxicos.
Para ser capaz de trabalhar competentemente com esses alunos, o professor deve formar-
se em cursos que aperfeiçoem seus conhecimentos, atribuindo-lhe uma segurança para transmitir
o conhecimento para terceiros e garantir que eles compreenderam e apreenderam. Uma vez que
os efeitos da dislexia ultrapassam a questão da inteligência, muito cuidado deve ser tomado para
não afetar negativamente a família, amigos e ideais futuros de vida. Para a falta de aprendizagem
não influenciar de modo negativo, não gerando uma baixa autoestima quando no
desenvolvimento da criança, é notável o quão grande é o papel do professor no processo
educativo, visto que se a criança tiver problemas mais tarde, é muito improvável recuperar os
anos perdidos.
Portanto, prestar atenção nos mínimos sinais é o que pode auxiliar o professor a perceber
transtornos de aprendizagem na infância, lecionando de forma especializada.

627
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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TELES, Paula. Dislexia. Como Identificar? Como Intervir? Artigo publicado na Revista
Portuguesa de Clínica Geral. 2004.

WR EDUCACIONAL. Transtornos Específicos da Aprendizagem. Disponível em:


https://www.wreducacional.com.br/cursos/educacao/nocoes-basicas-em-psicopedagogia. Data
de Acesso:12/03/2020.

628
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ANÁLISE DO ARTIGO DA Dra. GAMITO1 DE


ACORDO COM A UNIDADE CURRICULAR DE
BIO-SISTEMAS2
Alex Sandro Pires de Lima3
Profª. Dra. Sônia Borges Seixas4

RESUMO: Os Modelos de crescimento e seu uso em modelação ecológica: uma aplicação a uma
população de peixes (GAMITO,1998), consiste na comparação e análise descritiva entre os
modelos comumente usados por pesquisadores. Os modelos que geralmente utilizados em
pesquisa para descrever o crescimento populacional resulta da analisa e validação dos dados
empíricos aplicados a populações de peixes, mesmo que a adoção dos modelos possa apresentar
parâmetros parecidos no início e no final da pesquisa.Notadamente com a evolução
argumentativa da pesquisa entende-se de forma explicita a necessidade, ou a responsabilidade
que os futuros pesquisadores devem assumir diante das pesquisas, a autora de forma clara e
precisa registra e compara os modelos apontando para a reflexão e adoção de novas formas de
se entender a complexidade da temática. Por meio da comparação racional faz com que o leitor,

1 Sofia Gamito, Professora e Pesquisadora, UCTRA, University of Algarve, 8000, Faro, Portugal, autora do artigo:
Growth models and their use in ecological modelling: na application to a fish population.
2 Trabalho de conclusão da disciplina de Bio-sistemas do Programa de Segundo Ciclo: Mestrado Bioestatística e

Biometria pela Universidade Aberta de Portugal.


3 Professor Ensino Fundamental II e Médio; PAEE: Professor de Atendimento Educacional Especializado da

Secretaria Municipal de Educação - Prefeitura de São Paulo e Professor de Matemática da Secretaria da Educação
do Estado de São Paulo.
Graduação: Licenciatura em Ciências Físicas e Biológicas com Habilitação em Matemática, Especialização em
Ciências e Tecnologia; Especialização em Educação Especial: Deficiência Intelectual; Aluno do curso de Pós-
Graduação Segundo Ciclo: Mestrado em Bioestatística e Biometria – Universidade Aberta de Portugal/ Portugal.
4 Professora Doutora Sônia Borges Seixas, Docente da Universidade Aberta de Portugal, Departamento de Ciências

e Tecnologia, área Científica Biologia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pesquisador, reelabore suas concepções de modelos de Crescimento e de acordo com (CORREIA,


2009), Dinâmica dos Sistemas Biológicos e Fisiológicos, a autora desenvolve em registros
metodológicos a necessidade de estudos com maior complexidade, pois os modelos reduzem as
variáveis e não expressão populações em sua totalidade.Por certo que algumas espécies de peixes
o uso dos modelos de crescimento usualmente empregado satisfazem as etapas de validação e
ajustes, entretanto para as populações de Sparus aurata, pesquisadora Dra. Gamito demonstra
haver certas peculiaridades. Estas características são fortemente argumentadas no artigo e por
meio de uma metodologia comparativa valida o contexto especificando os ajustes adequados a
realizar.

Palavras-Chave: Modelos de Crescimento; Biossistemas; Sparus aurata.

ABSTRACT: Growth models and their use in ecological modeling: an application to a fish
population (GAMITO, 1998) consists of the comparison and descriptive analysis of the models
commonly used by researchers. The models generally used in research to describe the population
growth results from analyzes and validation of empirical data applied to fish populations, even if
the adoption of the models can provide similar parameters at the beginning and end of the study.
Notably with the argumentative development of research means so explains the need, or the
responsibility that future researchers should take on the research, the author clearly and
accurately records and compares the models pointing to reflection and adoption of new forms to
understand the complexity of the subject. Through rational comparison makes the reader,
researcher, rebuild their conceptions of growth models and according (CORREIA, 2009), Dynamics
of Biological and Physiological Systems, the author develops methodological records the need for
studies with more complex because the models reduce the variables and expressionless
populations in its entirety.Certainlysome fish species using growth models usuallyemployed
satisfy the validation steps and adjustments, but for the people of gilt-head bream, researcher Dr.
Gamito shows have certain peculiarities. These features arestronglyargued in the article and by a
comparative method validates the context specifying appropriate adjustments to be made.

Palavras-Chave: Growth Models; Biosystems; Sparus Aurata.

630
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO comparativa, tanto numérica como gráfica dos


estágios do crescimento das populações de
O artigo da Dra. Sofia Gamito, rompe com as peixes. Pode-se perceber a necessidade de
concepções de construção de Modelos envolver mais parâmetros ou variáveis
Populacionais Únicos, que na grande maioria múltiplas para descrever os Modelos de
adotam limitações devido à abordagem Interações Ecológicas.
simplificada, utilizando o menor número de As Dinâmicas Populacionais dos peixes de
variáveis, as variáveis são elementos teóricos, acordo com (Correia, 2009) são influenciadas
(x, y ou uma função), criados pelos estudiosos por fatores, fatores chamados de causas, as
para descrever fatores reais, uma vez causas também podem gerar Fatores
identificados podem criar ou oportunizar determinísticos ou previsões.
Modelos de Crescimento Populacionais, quanto Se pudermos prever com rigor os valores
maior o número de variáveis, mais complexa e futuros do estado, conhecido exatamente o seu
maior a proximidade do real e a representação estado inicial, estamos em presença de um
da espécie em estudo. sistema determinístico; caso contrário temos
No estudo de populações de peixes não é um sistema não-determinístico, ou
diferente, as variáveis envolvidas no probabilístico, ou estocástico (GOMES, 1993,
ecossistema são múltiplas, de acordo com p.12).
(CORREIA, 2009), são três os elementos Assim, as construções de modelos, nos quais
circulantes em sistemas modernos, há se leva em consideração número restrito de
complexas relações e inter-relações entre os fatores podem contribuir para a construção de
elementos do bioma, que alteram ciclo de vida modelos imperfeitos, Correia (2009), afirma
ou ciclo de crescimento tanto da massa sobre a qualidade de um bom cientista, ser
corpórea dos peixes em estudado. holístico, para que não elabore modelos não
Em muitos casos pesquisadores levam em correspondam com a realidade, contudo
consideração número restrito de variáveis, ou agregar o maior número de causas ou fatores
modelos únicos, que faz com que os modelos aumentará a Validação do Modelo estudado.
tornem-se cada vez menos úteis para a Os modelos geralmente empregados na
representação da realidade mesmo que em construção de Dinâmicas Ecológicas
consideração o tamanho inicial e final das Populacionais de Peixes acabam por adotar
observações, todos os modelos estudados fatores mínimos, assim a validação torna-se
possibilitaram estabelecer proximidades, por melhor compreendida, a complexidade como
meio da análise empírica, mesmo assim a que se desenvolvem as Dinâmicas Ecológicas
investigação realizada possibilita um olhar forçam o pesquisador a reavaliar os números de
aguçado, estabelecer que dentro da escala relações estabelecidas entre a pesquisa e o
tempo, todos eles se diferem, e quando ambiente, serão necessidades para representar
analisados com vigor estão descrevendo as populações estudadas.
parâmetros distantes da realidade. Processo Para ser um bom cientista de sistemas tem
demonstrado por análise e descrição que se ser simultaneamente holístico (olhar

631
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para o sistema como um todo) e reducionista longo dos períodos ou estágios de vida das
(ser capaz de compreender o sistema de modo populações de peixes, o trabalho adota a
mais detalhado, em cada uma das suas partes comparação sistemática entre os modelos
(GOMES, 1993, p.13). comumente empregados na literatura,
Acredita-se que Modelagem Matemática desconstruindo de forma argumentativa a ideia
torna-se uma poderosa ferramenta tecnológica de menor número de variáveis ou causas,
na Pesquisa que possivelmente pode auxiliar contribuído assim para a reflexão (GAMITO,
para Análise das Estruturas Estatísticas. 1998), afirma sobre a importância da escolha
do modelo adequado, no qual as interações
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA com o meio ambiente estarão integradas.
The choice of an appropriate growth model
O artigo faz alusão e reflexão da importância
may be important if that model is to be
do cuidado com a construção de modelos
integrated in an ecological model, where
ecológicos em populações de peixes, a
interactions with the environment and other
construção de modelos populacionais em
organisms are also included. Growth models
biossistemas, ou seja, desperta a
and their use in ecological modelling: an
responsabilidade na construção efetiva desses
application to a fish population (GAMITO, 1998,
modelos que muitos casos os cientistas acabam
s.p).
por de considerar que um crescimento
A abordagem comparativa adotada no artigo
populacional possa ser reduzido apenas por
entre os modelos exponencial e os outros
algumas variáveis, bem sabemos que o
modelos, se dá de forma analítica, comparação
crescimento populacional está envolvido em
numérica e comparação gráfica, evidenciando
um todo complexo conforme afirma Correia,
assim fragilidades entre os Modelos adotados.
que gera ainda assim estágios regulares de
A juvenile population of S. Aurata, from an
desenvolvimento.
initial mean weight of 2 g to a final mean weight
Os sistemas biológicos têm múltiplos e
of approximately 217 g, was considered in the
intrincados caminhos de feedback que
simulations of an annual period of growth,
viabilizam a vida (GOMES, 1993, p.05).
according to different growth models... Growth
Analisando a literatura adotada observa-se
models and their use in ecological modelling:
explicitamente a responsabilidade que a autora
on the application to a fish population(GAMITO,
carrega junto ao trabalho quando demonstra
1998,s.p.).
preocupação em avaliar os diferentes tipos de
As limitações dos Modelos Crescimento
crescimento populacionais de peixes,
Exponencial Crescimento Restrito, Crescimento
modalidades ou assunto que encontra maior
Logístico, o Crescimento Parabólico, a Equação
envolvimento e conhecimento biológico.
de Von Bertalanffy, a Equação Gompertz,
Podemos também observar que preocupação
Mortalidade e Fatores Ambientais. A
em compreender as influências dos fatores
conceituação é clara, objetiva e incisiva em
externos, alimentação dos peixes, no processo
demostrar os valores teóricos metodológicos
de ganho de peso e ganho de medidas
de cada modelo e revelando a ineficácia
alométricas, bem como o processo se dá ao

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quando adotados de forma a reduzi-los ao Nome científica: Sparus aurata (Linnaeus,


máximo possível. Nos leva a entender que 1758)
devemos ser cuidadosos e responsáveis na Família: Sparidae
elaboração de pesquisas, que não absorvem Ordem: Perciformes (Percas)
envolvimento empírico, etapas da coleta de Classe: Actinopterygii (peixes com raios nas
dados, evitando a construção de modelos com barbatanas)
análises puramente teórica sem envolvimento Tamanho máx. 70.0 cm TL; Peso máx.,
com o trabalho de campo (BASSANEZI e publicado: 17.2 kg; Idade máx. registada: 11
FERREIRA, 2006). anos
A modelagem de uma situação ou problema Ambiente: demersal; Estuarina; Marinhas;
real pode também ser simplificadamente intervalo de profundidade 1 – 150 m
visualizada no seguinte esquema: Temperatura subtropical; 62°N - 15°N, 17°W
Experimentação, Abstração, Resolução, - 43°E
Validação, Modificação e Aplicação. Equações Resiliência: Médio, tempo mínimo de
Diferenciais com Aplicações (BASSANEZIE duplicação da população 1,4 - 4,4 anos (K=0.28;
FERREIRA, 2006, p. 06). tmax=11; tm=2-3).
Vulnerabilidade: moderado.
2. FISIOLOGIA DOS PEIXES Distribuição: Este do Atlântico:Ilhas
A dourada, Sparus Aurata, (LINNAEUS,1758), Britânicas, Estreito de Gibraltar até o Cabo
é uma espécie que pelas suas características Verde e entorno as ilhas Canarias. Também no
biológicas e o elevado valor comercial ocupa Mediterrâneo.
um lugar de destaque, quer na pesca tradicional Morfologia: Espinhos dorsais (total): 11 - 11;
quer na piscicultura marinha. Em Portugal, com Raios dorsais moles (total): 13 - 14; Espinhos
especial relevo em toda a região a Sul do Tejo, anais 3;
a cultura da dourada encontra-se bastante Biologia: Normalmente em profundidades de
difundida e enraizada. 30 m, mas os adultos podem aparecer em
A capacidade de controlo de todo o seu ciclo profundidades de 150 m. Peixe sedentário, na
de vida em cativeiro associada a elevadas taxas maioria das vezes solitário, e se não pode
de crescimento e à resistência às condições aparecer em grupos pequenos. Principalmente
ambientais e de cultura (ARDIZONE, et aI., carnívoro, as vezes herbívoro. Alimenta-se de
1988), contribuíram grandemente para o lugar marisco.
Origem: Modelo, Ponta Delgada
de destaque que evidência, quer nos métodos
tradicionais e mais artesanais ainda praticados,
quer atualmente, nos sistemas de produção
que se desenvolveram desde 1986, no qual foi
empregue uma tecnologia mais avançada,
nalguns casos mesmo "de ponta" (SANTINHA,
1998).
Peixes Sparus Aurata: Fig. 01. – Dourada. Desenho científico (WITEHEAD, et al., 1987).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A Sparus aurata é a única espécie desta vasta


família que é atualmente cultivada em grande
escala. É comum em todo o Mediterrâneo,
evoluindo igualmente ao longo da costa do
Atlântico Este, do Reino Unido às ilhas Canárias.
O seu nome latino advém da característica lista
dourada que ostenta entre os olhos. Pode viver
em águas marinhas, bem como nas águas
salobras de lagunas costeiras. Embora viva
normalmente em fundos rochosos ou arenosos, Resultados do programa implementado em Matlab (Figura 1).
pode igualmente ser encontrada em pradarias
de ervas marinhas. Durante o período de Assim pode-se concluir que as diferentes
reprodução (de outubro a dezembro), as variações da temperatura ao longo do ano
douradas adultas deslocam-se para águas mais
causada pelos períodos de incidência de maior
profundas. Os alevins migram para águas
ou menor calor, torna-se fatores que
costeiras ou estuarinas no início da primavera.
influenciam no crescimento dos peixes
Esta espécie é hermafrodita: as douradas são
indicando assim um crescimento Sazonal.
machos no primeiro ou segundo ano de vida,
transformando se em fêmeas no segundo ou
terceiro ano. A dourada alimenta se de
moluscos, crustáceos e pequenos peixes5 . 1

4. DEFINIÇÃO DE
CRESCIMENTO SAZONAL
De acordo com (LOPES, 2005), a criação de uma
Variação de peso de um indivíduo Sparus
aplicação para modelar o crescimento da
aurata ao longo de um ano (20-22 ºC)
dourada (Sparus Aurata) em aquacultura – João
Sollari Lopes, a temperatura influencia (SANTINHA, 1998).
diretamente na atividade dos peixes, regulando A análise e observação minuciosa do
no desenvolvimento corporal. crescimento dos peixes se faz necessário para
entender a complexidade dos estudos
realizados.
Curva de crescimento de uma amostra de
douradas ao longo de cerca de um ano e meio,
comparada com a curva de crescimento teórica
obtida pelo programa em C++. (LOPES, 2005)

5
Fonte: Revista sobre A pesca e a Aquicultura na Europa, n°59, dezembro de 2012.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

construído de maneira a criar uma aplicação


finalizada e independente (LOPES, 2005, s.p).
Sazonalidade, Fotorrecepção: principal
aferência para sincronização dos osciladores
endógenos, Introdução à Cronobiologia.
Abaixo exemplo de como a quantidade de
luz, estações do ano e a sazonalidade, alteram
Gráfico do Crescimento da Dourada em Fazendas Marítimas o ciclo reprodutivo dos animais, interferindo de
forma acentuada sobre o desenvolvimento
Dados, obtidos por (LOPES, 2005), fisiológico e populacional.
consolidam as informações obtidos pela sra.
(GAMITO, 1998) sobre o crescimento da
“Dourado” ao longo do ciclo de vida, que não se
interrompe no período de um ano.

Bases Moleculares do Relógio Biológico Central

O relógio biológico dos peixes é um exemplo


dos períodos sazonais, interferindo sobre o
Gráfico do tempo de execução do programa em Matlab comportamento ou atividade do animal.
dependendo do número de dias considerado. Apresentação Nos peixes, a pineal está envolvida em
da curva de regressão.
inúmeras funções comportamentais e
fisiológicas que possuem padrões rítmicos
O modelo desenvolvido, conjunto dos
diários ou anuais. Entre essas funções,
modelos de temperatura da água e do
podemos citar a atividade locomotora
crescimento de Sparus aurata, foi estudado em
(incluindo a migração vertical), a procura por
dois tipos de aplicação diferentes. Uma
alimento, a preferência por temperaturas
construída em Matlab e outra em C++. O
adequadas, a osmorregulação, a pigmentação
programa em Matlab foi concebido para
da pele, a reprodução e o crescimento. O papel
estudar os dois modelos, permitindo alterar
da melatonina na reprodução dos peixes
facilmente os parâmetros e as interacções
teleósteos é o mais estudado, embora a grande
entre cada secção. Possibilita assim, não só a
variabilidade dos resultados obtidos entre
calibração, como também, a investigação
indivíduos de espécies diferentes ou até na
aprofundada dos modelos e das suas
mesma espécie considerando sexo, condições
componentes. O programa em C++ foi
de iluminação ou fase reprodutiva diferentes,

635
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

gerem muitas controvérsias (EKSTRÖM e realidade. Processo demonstrado por análise e


MEISSL, 1997; MAYER, 1997,p.214). descrição comparativa, tanto numérica como
gráfica dos estágios do crescimento das
5. MODELOS DE CRESCIMENTO populações de peixes. Pode-se perceber a
necessidade de envolver mais parâmetros ou
O artigo da Dra. Sofia Gamito*, rompe com
estabelecer ciclos temporais variáveis para
as concepções de construção de Modelos
descrever os Modelos de Crescimento de
Populacionais, que na grande maioria adotam
Peixes nas Interações Ecológicas.
limitações devido à abordagem simplificada,
5.01. Crescimento Exponencial:
modelos de crescimento criados pelos
Consequentemente, o crescimento individual é
estudiosos para descrever fatores reais,
descrito por uma expressão exponencial,
quando definidas oportunizam Modelos de
enquanto relacionando o peso do peixe para
Crescimento adequado a espécie escolhida.
em períodos (GAMITO, 1998).
A proximação do real e a representação da
the power of population is indefinitely
espécie em estudo depende não somente do
greater than the power in the earth to produce
uso de modelos, mas das observações das
subsistence for man. Population, when
variáveis envolvidas no ecossistema. (Variáveis
unchecked, increases in a geometrical ratio.
múltiplas, de acordo com (CORREIA, 2009), são
Subsistence increases only in an arithmetical
três os elementos circulantes em um sistema
ratio. A slight acquaintance with numbers will
modernos, há uma complexa relação e inter-
shew the immensity of the first power in
relações entre os elementos do bioma, que
comparison of the second. By that law of our
alteram ciclo de vida ou ciclo de crescimento
nature which makes food necessary to the life
tanto da massa corpórea quanto do
of man, the effects of these two unequal
crescimento populacional estudado.
powers must be kept equal. This implies a
Em muitos casos pesquisadores levam em
strong and constantly operating check on
consideração número restrito de variáveis e
population from the difficulty of subsistence.
utilizam modelos únicos para descrever todas
This difficulty must fall somewhere; and must
as etapas do desenvolvimento dos peixes,
necessarily be severely felt by a large portion of
fazendo com que os modelos se tornem cada
mankind. (GODWIN)Malthus and the obstacles
vez menos úteis para a representação da
to geometric growth (1798), p.31, Book: An
realidade, mesmo que levando em
Essay on the Principle of Population, as It
consideração o tamanho inicial e final das
Affects the Future Improvement of Society,
observações, todos os modelos estudados
With Remarks on the Speculations of Mr.
possibilitaram estabelecer parâmetros muito
Godwin.
próximos, por meio da análise empírica.
Crescimento Logístico: modelo de
Ainda assim a investigação realizada
crescimento relacionado ao conceito de peso
possibilita um olhar aguçado, estabelecer que
de máximo: Onde (w.max) é o peso de maximal
dentro da escala tempo, todos eles se diferem,
ou biomassa e k é umas espécies crescimento
e quando analisados com vigor estão
Restrito: Um matemático simples que
descrevendo parâmetros distantes da

636
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

considera uma taxa de crescimento A Equação Gompertz: O modelo de


decrescente com um aumento em peso de Gompertz utiliza uma taxa de inibição da
corpo (De SAPIO, 1996,s.p). variável de estado proporcional ao logarítmico
Crescimento Parabólico: Em o Modelo desta variável (BASSANEZI, 2006).
parabólico ou crescimento de alométrico Mortalidade: A mortalidade natural de uma
específico da taxa de crescimento C diminui população de peixe pode ser modelada
proporcionalidade a W. (WINBERG, 1971). usando, o número inicial de peixes e final
A Equação de Von Bertalanffy: Von (PAULY e YANEZ-ARANCÍCIA, 1994).
Bertalanffy (1960), assumiu aquele Fatores Ambientais: Em ecossistemas
metabolismo procedente a uma taxa temperados há variação sazonal das condições
proporcional para peso de corpo, considerando ambientais, com condições melhores para
que assimilação era assumida ser proporcional crescimento durante fonte e meses de verão e
para com a área, peso de corpo ou algum valor crescimento mais lento durante inverno
intermediário (REISS, 1989). (GAMITO, 1998).
In 1920 Lotka published an article entitled Além das comparações e restrições que cada
“Analytical note on certain rhythmic relations in modelo carrega em si, é perfeitamente possível
organic systems”. For some years already, he interagir em conjunto, contudo não
had been interested in some chemical reactions observando um equilíbrio cíclico podemos
that exhibited strange transitory oscillations in ainda assim determinar parâmetros de
laboratory experiments (LOTKA, 1920, s.p). crescimento caótico.
Um sistema caótico exibe movimento
contínuo. Não estaciona em equilíbrios
pontuais ou em ciclos periódicos simples. Pelo
contrário, observa-se uma trajetória que não se
repete e é em geral muito irregular. Pontos de
equilíbrio, a existirem, são, portanto instáveis.
Lotka, Volterra and the predator–prey system (1920– Existe, no entanto uma gama de valores dentro
1926, p.71).
da qual as variáveis de estado (e.g. a densidade
Lotka and stable population theory (1907–
populacional) permanecem variando de forma
1911): pag.55,Lotka was elected president of
aparentemente aleatória GOMES, 1993, p.15).
the American Statistical Association in 1942. He
retired in 1947 and died in 1949 in New Jersey.
A new edition of his 1925 book appeared in 8. METODOLOGIA
1956 with the slightly different title Elements of A metodologia adotada consiste da análise
Mathematical Biology(LOTKA, 1920,s.p) crítica, textual e gráfica dos modelos de
crescimento aplicados a populações de peixes,
a Sparus aurata, Dourada. A luz das
competências da unidade curricular de Bio-
sistemas.

637
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A pesquisadora Sofia Gamito, em seu artigo, 9. ANALISE DOS RESULTADOS


“Os modelos de crescimento e seu uso em
De acordo com (GOMES, 1993), a equação
modelação ecológica: uma aplicação a uma
logística dos reprodutores sazonais, constitui
população de peixes”, desenvolve em sua
uma das formas mais simples de incorporar os
pesquisa argumentações comparativas,
mecanismos de auto-regulação, contudo os
(textual, numérica e gráfica), desconstruindo a
estudos da pesquisadora aconselha evitar o uso
ideia de modelos Único de crescimento, estes
dos Modelos Logístico (GAMITO,1998),
por sua vez não incorporam ou não descrevem
aplicado a Modelação de Crescimento de Peixes
as variações de crescimento sazonais. O artigo
Dourada.
de forma gradativa reconstrói novas
Para a descrição da jovem crescimento de
abordagens do desenvolvimento de Modelos
peixes, a parabólica ou os modelos Gompertz
de Crescimento, descrevendo possibilidades de
parece ser o mais adequado. A equação de von
pesquisa e enfatizando os períodos de
Bertalanffy ou alguma forma modificado ou
crescimento, (curto, médio e longo prazo).
ajustado para o crescimento sazonal é
Em resumo Bio-sistemas engloba a natureza
preferível por tempo longos de vida dos peixe .
dos sistemas biológicos e das estruturas
Uma combinação dos primeiros dois modelos,
elementares de reabilitação que determinam
para descrever o crescimento primeiro ano ,
seu comportamento. Equações matemáticas de
com o modelo de von Bertalanffy , para
certos comportamentos de sistemas biológicos.
descrever os anos seguintes , pode ser
Alguns sistemas biológicos de auto regulação
necessário para uma descrição adequada do
(BIO-SISTEMAS, UAB).
crescimento em simulações de longo prazo
Os conteúdos usualmente explorados em (GAMITO, 1998,s.p).
Bio-sistemas são: Dinâmica dos processos
biológicos, Visão sistémica dos processos
biológicos, Mecanismos reguladores nos seres
vivos, Modelação e simulação de processos
biológicos celulares e Processos biológicos
controlado. Contudo algumas denominações
serão mais utilizadas do que outras, levando em
conta a necessidade da articulação de análise
do artigo da pesquisadora Sofia Gamito.
Tratando-se da Fisiologia dos peixes,
Dourada, o contexto será breve, para não
perder o foco principal da Análise do Artigo,
contudo, os processos de Modelação em bio-
matemática faz necessário aprofundar o
conhecimento da natureza do estudo,
potencializando a veracidade dos Modelos
propostos.

638
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Simulation of total food consumption of a juvenile S. ao próprio processo de medição (por exemplo
aurata, during 1 year according to: (a) Exponential,
Restricted and Logistic growth; and (b) Parabolic, Von
erros de amostragem, flutuações associadas a
Bertalanffy and Gompertz growth, considering a constant mudanças ambientais imprevisíveis) e outra são
feeding of 2%, or a decreasing feeding from 5 till 2%. as complexidades inerentes à dinâmica da
população que, como já vimos, podem ser de
O gráfico de análise de Crescimento da natureza caótica. (GOMES, 1983)
População de Peixes Sparus aurata. Observado A teoria fuzzy foi apresentada em 1964 por
a longo prazo revela dinâmicas mais complexas Lotfi A. Zadeh, professor no departamento de
do que a mera representação de uma função engenharia elétrica e ciências da computação
exponencial. da Universidade da Califórnia, em Berkeley,
quando ele trabalhava com problemas de
classificações de conjuntos que não possuíam
fronteiras bem definidas (ou seja, a transição
entre os conjuntos é suave e não abrupta).
“Aplicação da Teoria de Conjuntos Fuzzy a
Problemas da Biomedicina,” (SUGENO, 1974,
s.p).
Não há exagero nas comparações, a
Crescimento da dourada (Sparus aurata) em aquacultura, elegância das demonstrações se dá de forma
(LOPES, 2005) propositivos indicando as causas das
diferenças, os possíveis furos, as abordagens
10. ANÁLISE HOLISTICA DOS nas conclusões, características do trabalho ou
em cada pesquisa.
RESULTADOS
Os modelos de crescimento e seu uso em
Podemos considerar que existem outras
modelação ecológica: uma aplicação a uma
formas outros modelos complexos e
população de peixes desperta não só interesse
sofisticados que podem dar conta de toda essa
mas a percepção da complexidade ou a
complexidade ecológica, efetuar previsões com
simplicidade dos estudos deve-se ao fato da
séries temporais (GOMES, 1993). O artigo não
abordagem utilizada na pesquisa. O seu
responde, não se limita com propostas ou
modelo por mais próximo que ele possa
teoria prontas, a pesquisadora incita a
representar a realidade ainda assim não
necessidade de futuras trabalhos com interesse
podemos desprezar as séries de interações que
em se aprofundar no tema.
ocorrem no local ou habitat.
Quando se pretende efetuar previsões a
partir de séries temporais de observações de
variáveis ecológicas (e.g. abundância de uma 11. DISCUSSÃO DOS
população ao longo dos anos) existem duas RESULTADOS
fontes de incerteza que, em geral, conferem um Interação do Artigo com a disciplina de
aspecto "ruidoso" às referidas séries e nos Biossistemas se fez presente na análise da
dificultam a tarefa. Uma são os erros associados

639
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pesquisa pois a adoção de modelos de


crescimento engloba causas, que influenciam
no crescimento das populações, exemplos:
sazonalidade, descrevendo o crescimento
regulado por meio de períodos.
Novas Perspectivas foram alcançadas pois
nos leva a pensar nos parâmetros em que
devemos sempre estar atentos para não
cometer erros inconclusivos e inadmissíveis.
O artigo revela importância da leitura de
pesquisas qualificadas, nas quais o autor
destaca com clareza suas intenções
metodológicas e análises do procedimento.
Aprendizagens mediante as Pesquisas se
torna parceira, pois em cada situação a
diferentes pontos de vista e causas a serem
analisadas, despertando assim olhar atento
para os novos trabalhos.
Trajetória da Análise do Artigo, inicialmente,
havia escrito analise de forma indireta das
influências percebidas no processo, contudo ao
fazer o levantamento do Referencial
Bibliográfico, despertou a necessidade de
reescrever a análise, pois a leitura do material
mostrou-se altamente qualificado e as
intervenções da Dra. Gamito altamente
propositivas, gerando níveis de
responsabilidade maiores.

640
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise do estudo contribui de forma significativa para o conhecimento e para a
abordagem científica, por meio da análise de artigos de pesquisas feitas com populações de
peixes, tendo em vista a análise de crescimento sazonal conforme afirma (GOMES,1993).Períodos
esses em que a temperatura da água e a disponibilidade de alimento, causas interferem
diretamente sobre a reprodução dos peixes. Colaborando e fortalecendo a investigação das
verdadeiras causas, fatores, variáveis, adequados na construção de modelos de crescimento em
Modelação ecológica e aplicações adequadas.
A população tem então um equilíbrio cíclico, uma oscilação permanente, cujo período é
igual a duas unidades de tempo. (GOMES, p. 10).
O pesquisador antes de modelar de fazer qualquer prognóstico ou escrever qualquer tipo
de modelo, seja populacional, seja um modelo alimentar, modelo de crescimento físico ou
alométrico deve primeiramente conhecer toda a complexidade da vida do animal ou da espécie
em estudo, quais os parâmetros de maior impacto de menor impacto, no meio natural, como se
dá essa a dinâmica evolutiva e interativa buscando a construção de modelos de forma empírica e
se ainda não for suficiente empregar os modelos de crescimento habitualmente utilizados há
alternativas de pesquisas conforme afirma (GOLDBERGER e WEST,1993).
Outros autores (GOLDBERGER and WEST 1987), pelo contrário, encontraram evidência de
que os estados saudáveis têm uma natureza caótica, com uma aparente "aleatoriedade limitada",
rica de informações, enquanto o comportamento periódico, detectado em muitas patologias,
reflete perca de informação fisiológica e de variabilidade (GOMES, 1993, p. 10).
A leitura e da análise e interpretação do Artigo da pesquisadora Sofia Gamito, de acordo
com os Modelos de Crescimento e seu uso em Modelos ecológicos na Aplicação de Populações
de Peixes, desenvolve percepção da responsabilidade que pesquisadores devem assumir com
estudos que interagem com populações Ecológicas, biótico e abiótico, reforça a ideia de que o
pesquisador não pode de forma alguma desprezar as interações exercidas pelo meio, estudo da
modelagem de populações não se esgota e não se restringe a compilação de modelos de
crescimento somente, direciona a construção dos modelos Ecológico e suas aplicações para
estudos mais elaborados com complexidade.
Podemos considerar que existem outras formas outros modelos complexos e sofisticados
que podem dar conta de toda essa complexidade ecológica, efetuar previsões com séries
temporais (GOMES, 1993). O artigo não responde, não se limita com propostas ou teoria prontas,
a pesquisadora incita a necessidade de futuras trabalhos futuros com interesse em se aprofundar
no tema.
Quando se pretende efetuar previsões a partir de séries temporais de observações de
variáveis ecológicas (e.g. abundância de uma população ao longo dos anos) existem duas fontes
de incerteza que, em geral, conferem um aspecto "ruidoso" às referidas séries e nos dificultam a
tarefa. Uma são os erros associados ao próprio processo de medição (por exemplo erros de
amostragem, flutuações associadas a mudanças ambientais imprevisíveis) e outra são as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

complexidades inerentes à dinâmica da população que, como já vimos, podem ser de natureza
caótica (GOMES, 1993, p. 18.).
Por intermédio das discussões coletivas na unidade curricular, e do material
disponibilizado, na plataforma, em desenvolvimento da aprendizagem, biossistemas², Unidade
Curricular do Mestrado em Bioestatística e Biometria, identificou algumas modalidades de
pesquisas emergentes Lógica Fuzzy e Teoria do Caos.
A teoria fuzzy foi apresentada em 1964 por Lotfi A. Zadeh, professor no departamento de
engenharia elétrica e ciências da computação da Universidade da Califórnia, em Berkeley, quando
ele trabalhava com problemas de classificações de conjuntos que não possuíam fronteiras bem
definidas (ou seja, a transição entre os conjuntos é suave e não abrupta(SUGENO, 1974)
Não há exagero nas comparações, a elegância das demonstrações se dá de forma
propositivos indicando as causas das diferenças, os possíveis furos, as abordagens ou nas
conclusões, características do trabalho ou em cada pesquisa.
Os modelos de crescimento e seu uso em modelação ecológica: uma aplicação a uma
população de peixes desperta não só interesse, mas a percepção que por mais complexa ou mais
simples pesquisa, devemos considerar a abordagem utilizada na pesquisa. O seu modelo por mais
próximo que ele possa representar a realidade ainda assim não podemos desprezar as séries de
interações que ocorrem no local ou habitat.

ASPECTOS POSITIVOS
A análise do artigo da Professora e Dra. Gamito em concordância da Unidade Curricular de
Bio-sistemas despertou no contexto profissional responsabilidades e habilidades não
presenciadas anteriormente. Tendo em vista o fascínio sobre Modelagem Matemática de
Sistemas Biológicos, não havia alcançado, de forma holística, a grandeza e responsabilidade do
profissional pesquisador em Bio-sistemas. Geralmente as unidades curriculares solicitam ao aluno
a confecção de artigos, neste momento, ocorreu o inverso, fora solicitado pela Professora
Doutora Sónia Seixas a Análise Crítica do Artigo, o que causou estranheza inicial não tendo
desenvolvido a prática da Análise em sua plenitude.
Tornou-se claro e evidente, a atuação em Bio-sistemas, a prática da leitura e análise
investigativa de autores que sejam referência na área, desenvolveu assim habilidades de
investigação, pesquisa e estudo.
A tomada de decisão, que em muitos casos torna-se laço de confusão, é outra habilidade
a ser desenvolvida e apropriada para o profissional da área, é apresentada pela pesquisadora com
articulações precisas e gradativas, pois defini qual o caminho do trabalho.
Inicialmente havia escrito a análise valorizando os aspectos holísticos, contudo
esquecendo-se da unidade, o crescimento de peixes dourada, outra ênfase de grande importância
adquirida.
Acesso a uma variedade de artigos científicos da área com metodologias variadas e
assuntos diversos.
A leitura do referencial teórico, na primeira semana, não havia feito esta análise, e
mediante os prazos retomei o artigo, assim pude comprovar que a leitura do Artigo com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conhecimentos prévios é diferente da leitura do Artigo com busca do referencial teórico. Esta
segunda muda toda a análise de reflexão e entendimento. Pois a leitura do artigo somente nos
leva em muitos casos visão superficial e desconexa.
Apresentou de forma integral as formas da Construção do Conhecimento, pois levou a
busca de informações com relevância cientifica profissional de pesquisa da área em bio-sistemas.

ASPECTOS NEGATIVOS
Acesso ao referencial teórico e aos livros utilizados no artigo de análise teve prazo
reduzido tornou-se inviável a obtenção de literatura de base, contudo ficou como sugestão paras
a próximas pesquisas (livros);
O acesso a b-on, biblioteca do conhecimento online esteve inviabilizada, havia perdido a
senha e não consegui o tempo adequado para reportar a biblioteca, utilizando outros meios de
busca;
O acesso ao Google Acadêmico é uma alternativa, contudo restrita, a maioria dos
referenciais não estão disponibilizados virtualmente;
Existe na plataforma web material sugestivo e com forte argumentação demonstrativa,
contudo muitos foram descartados por não apresentarem autoria e referencial bibliográfico, que
pode levar o pesquisador a contradições;
Realizando busca exploratória, pode-se concluir que a disciplina ou unidade curricular de
Bio-sistemas é pouco utilizada nos cursos de graduação e pós-graduação, busca simples e em
algumas universidades do Brasil, e mesmo analisando o curso de Engenharia em Bio-sistemas, o
enfoque é outro, geralmente adota-se a versão em sistemas mecânicos.

NOTA PARA OS FUTUROS PESQUISADORES


De acordo com (LATOUR, 2011), o conhecimento cientifico evolui de tal forma que acaba
por seguir caminhos, nos quais não sabemos onde irá chegar, tal como uma “caixa-preta”, na
qual estão organizados todos os procedimentos adotados, contudo o resultado deve ser
analisado pois de acordo com a situação poderá fornecer respostas diversas.
A expressão caixa-preta é usada em cibernética sempre que uma máquina ou um conjunto
de comandos se revela complexo demais. Em seu lugar, é desenhada uma caixinha preta, a
respeito da qual não é preciso saber nada, senão o que nela entra e o que dela sai (LATOUR, 2011,
s.p).
Pesquisas em Biossistemas devem-se aperceber de metodologias própria da, conforme
(LATOUR, 2011), para que haja êxito na construção dos Modelos de crescimento.
A segunda regra, por sua vez, resulta do entendimento de que uma teoria ou um
equipamento bem-sucedido não depende exclusivamente dos tributos que possui, mas do
julgamento que a sociedade faz desses bens (LATOUR,2011, s.p).
Um bom Pesquisador conforme Correia (2009), afirma sobre a qualidade de um bom
cientista, ser holístico, para que não elabore modelos não correspondam com a realidade,
contudo agregar o maior número de causas ou fatores aumentará a validação ou veracidade do
Modelo estudado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A leitura e a análise de artigos se faz necessária aqueles que desejam tornarem-se


pesquisadores, a atualização bibliográfica da área e acompanhamento de autores renomados
fazem necessária, no sentido de ampliação da bagagem cientifica para o aprimoramento
profissional.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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645
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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http://www.ib.usp.br/cursodeinverno/old/2011/livro2011.pdf.Data de Acesso:12/03/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

APLICAÇÃO DA MUSICALIDADE NA EDUCAÇÃO


INFANTIL COMO ELEMENTO FORMATIVO
Kely Cristina Lima Reis1

RESUMO: Há muitos benefícios que a música proporciona para as crianças à medida que elas
continuam a crescer. Os benefícios que as crianças pequenas adquirem por meio da música
incluem habilidades sociais, habilidades de autorregulação emocional, benefícios cognitivos e
benefícios físicos. Socialmente, as crianças têm a oportunidade de aprender como se revezar e
brincar com os outros enquanto ainda tocam individualmente, por exemplo, um bando de
pequenos músicos, cada um tocando seu instrumento, mas ainda observando o grande quadro
de brincar com um grupo de amiguinhos também. A música também permite uma transição suave
durante as atividades diárias, seja em casa ou em sala de aula, as crianças têm a ideia da atividade
a seguir. Permitir que as crianças brinquem com outras pessoas, incluindo adultos ou irmãos mais
velhos, também lhes dá um impulso de autoestima. Além disso, músicas diferentes mostram às
crianças as diferentes palavras usadas para emoções e consciência corporal, além de ampliar seu
vocabulário em geral. Além disso, ao estender o vocabulário das crianças, elas também podem
aprender sobre diferentes linguagens e músicas culturais, para alguns o benefício de integrar o
lar em seu ambiente de prestação de cuidados.

Palavras-Chave: Educação; Musica; Desenvolvimento; Criança.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia; Especialização em Educação Infantil.
E-mail: kelyly@msn.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO capacidade de inglês ou necessidades especiais,


podem participar livremente de atividades
Desde o início da história humana, a música musicais.
tem sido usada como uma força para a cura. A musicoterapia moderna se desenvolveu
Aristóteles ensinou que "Quando ouvimos após as I e II Guerras Mundiais, com músicos
(música e poesia), nossa própria alma é viajando a hospitais para tocar música para
alterada." De Hipócrates aos homens da soldados que sofriam de traumas emocionais e
medicina nativa americana, as pessoas há físicos. Hoje, envolve o uso clínico de
muito tempo usam cantando e tocando intervenções musicais, como cantar, tocar,
instrumentos para curar. ouvir e mudar para a música para abordar áreas
Nos tempos modernos, os médicos individuais de necessidade. Provou-se benéfico
descobriram que os bebês expressam em áreas de desenvolvimento infantil;
preferência pelo mesmo tipo de música que transtornos do humor; recuperação de
ouviram enquanto estavam no útero. Muitos acidente vascular cerebral; doença cardíaca; e
estudos mostraram que a exposição de fetos e tratamento de distúrbios neurológicos, tais
bebês no útero à música ajuda a construir como esquizofrenia, doença de Alzheimer e
pontes neurais usadas para processar demência, amnésia e depressão.
pensamentos e informações. A música pode Embora o tratamento clínico não seja
estimular as ondas alfa do cérebro, o que cria necessário para todas as crianças, os pais
uma sensação de calma no ouvinte. Outros podem usar técnicas de musicoterapia para
estudos indicam que a exposição e a instrução melhorar o desenvolvimento de habilidades
musical precoce têm benefícios no cognitivas, emocionais e físicas em qualquer
desenvolvimento de habilidades perceptivas, o idade. Aqui estão algumas maneiras de
que afeta a linguagem e as habilidades incorporar música e ritmo à vida da criança;
literárias; raciocínio espacial, que está Fornecer instrumentos como agitadores de
relacionado a habilidades usadas para ovo, maracas e sinos, ajuda as crianças a
matemática e coordenação motora fina. mexerem seus corpos ao ouvir música, fazer
Ao contrário da linguagem, a música ativa associações entre músicas e atividades, como
todos os subsistemas do cérebro, incluindo as limpar, usar músicas bem conhecidas para
estruturas envolvidas na motivação e emoção. trabalhar o vocabulário e a memória cantando,
Isso faz com que seja especialmente eficaz na por exemplo, “Cabeça, Ombros, Joelhos e Pés”.
criação de laços entre indivíduos e em grupo e Nesse contexto podemos usar músicas e
pode contribuir para o bem-estar ao longo da vozes de músicas para contar histórias e
vida. facilitar as transições para novas atividades,
Fazer música com outras pessoas dá às como a hora da soneca e a hora do lanche, etc.
crianças uma maravilhosa sensação de Talvez o aspecto mais importante do uso da
pertencer ao grupo. As crianças que podem ter música para melhorar o desenvolvimento seja
dificuldades em participar de atividades com o fato de proporcionar às crianças atenção
outras pessoas por serem tímidas, terem pouca concentrada e sustentada dos adultos. Os pais

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

não devem deixar seus filhos brincando Sabemos que, as categorias movimento e
sozinhos com música ao fundo e assumir que contradição são essenciais para a explicação
isso estimulará automaticamente o dos fenômenos. Deste ponto de vista,
desenvolvimento. A interação é crucial. O entendemos que o desenvolvimento humano
envolvimento com a música pode melhorar a envolve, em um movimento contínuo, duas
autopercepção de uma criança apenas se ela forças que, apesar de contraditórias e
proporcionar uma experiência de independentes da perspectiva do senso
aprendizagem positiva e recompensadora. No comum, estão essencialmente inter-
presente artigo buscaremos enfatizar pontos relacionadas.
que sejam importantes para o desenvolvimento As esferas do desenvolvimento – natural e
infantil na escola por meio do uso dos estímulos cultural – coincidem e se fundem uma na outra.
musicais, para tanto conversaremos As mudanças que ocorrem em ambos os
bibliograficamente com autores que darão domínios intercomunicam e constituem, de
sustentação as nossas argumentações. fato, um processo único de formação social e
biológica da personalidade de uma criança.
FORMAÇÃO DA CAPACIDADE À medida que o desenvolvimento orgânico é
produzido em um domínio cultural, ele passa a
SENSORIAL DA CRIANÇA ser um processo biológico historicamente
O nascimento de todas as crianças condicionado. Ao mesmo tempo, o
representa um grande desafio para todos que desenvolvimento cultural adquire um caráter
são responsáveis por seus cuidados e educação. muito peculiar que não se compara a nenhum
Simultaneamente, representa a renovação da outro tipo de desenvolvimento, pois é
esperança de homens e mulheres, porque uma produzido simultaneamente e em conjunto
nova oportunidade para alcançar a plena com o processo de maturação orgânica, e
humanização dos indivíduos nascidos com ele porque o que tem tal caráter é o corpo mutante
também, com a consolidação das capacidades em crescimento e amadurecimento da criança.
práticas, intelectuais e artísticas, afetividade, Perceber a influência entre fatores biológicos
todos constituídos em sua integração à vida e sociais, atribuindo ao desenvolvimento
social e expressos em seu modo singular de ser, cultural o poder de interferir na formação de
sentir e agir. capacidades especificamente humanas, que
Os sons preenchem cada minuto do dia e as chama de funções psíquicas superiores, tem
pessoas vivem imersas num mundo de implicações diretas na maneira de ver o
vibrações sonoras, cujos apelos produzem trabalho pedagógico. Assim, entendemos que,
nelas, efeitos diferenciados dos outros como professoras, podemos fazer algo sobre o
estímulos sensoriais”. Isso se deve ao fato de desenvolvimento infantil, organizando espaços
que a música “fala ao mesmo tempo ao e tempos, estabelecendo relações e propondo
horizonte da sociedade e ao vértice subjetivo experiências envolventes e enriquecedoras
de cada um, sem se deixar reduzir às outras para o repertório cultural das crianças, para que
linguagens (WISNICK, 1989, p. 12). elas possam desenvolver atividades com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

objetos culturais e assim apropriados. À medida o adulto. Neste primeiro período do


que a atividade se torna mais complexa, as desenvolvimento psíquico, a atividade principal
capacidades intelectuais e a personalidade - a que promove um maior desenvolvimento
tornam-se também mais complexas, uma vez das capacidades intelectuais e práticas e da
que são formadas na e pela atividade. personalidade da criança é a comunicação
A criança é um espectador do mundo dos emocional que o bebê estabelece com pessoas
adultos e o resultado das relações sociais que em torno dele ou dela.
vê a sua volta. Primeiro, ela é espectadora e só Por causa disso, embora nos primeiros meses
posteriormente é que se transforma em ator, de vida os bebês não sejam capazes de se
como por exemplo, quando imita um adulto. A expressar por meio de conversas
imitação é um aspecto importante no convencionais, eles podem se comunicar com
desenvolvimento intelectual e afetivo da as pessoas ao redor. Por essa razão, eles usam
criança. A linguagem musical é um excelente outras linguagens, como chorar, sorrir,
meio para o desenvolvimento da expressão, do movimentos de atirar seus braços e corpo em
equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, direção ao adulto e aos objetos que desejam,
além de um poderoso meio de interação social fechar as mãos como se quisessem pegar algo
(GOÉS, 2009, p. 5). que não podem alcançar, etc. É importante
É importante destacar que a personalidade é observar que todos esses comportamentos do
uma formação complexa do psiquismo humano bebê têm um caráter afetivo, isto é, acontecem
que compreende capacidades cognitivas, porque as pessoas ao seu redor e os objetos
emoções, vontade, traços de caráter. apresentados a ele ou ela provocam emoções,
Personalidade é um sistema constituído de como a alegria de alcançá-los ou o prazer do
distintas funções psicológicas que, quando contato físico com o bebê.
integradas, caracterizam a forma singular que
cada indivíduo age no mundo. É um sistema MÚSICA E ESTÍMULOS
estável. Assim, a personalidade desenvolvida é
caracterizada por certas reações unívocas a MOTORES
eventos, unidade relativa de comportamentos, A música está sendo introduzida na
reação do indivíduo ao que acontece ao seu educação de crianças em idade pré-escolar
redor e por valores unitários. Isso significa que devido à importância que ela representa em
não é meramente reativo às situações. Pessoas seu desenvolvimento intelectual, auditivo,
com personalidade madura estão cientes de sensorial, fonológico e motor. A música é um
suas possibilidades, das razões de sua conduta elemento fundamental nessa primeira etapa do
e, acima de tudo, podem dominar ativamente sistema educacional. A criança começa a se
seu comportamento. expressar de outra maneira e é capaz de se
A formação psicológica central no primeiro integrar ativamente na sociedade, porque
ano de vida é a percepção. Permite a ajuda a obter autonomia em suas atividades
apropriação sensorial do mundo em um habituais, cuidar de si e do ambiente e expandir
processo comunicativo e emocional direto com seu mundo de relacionamentos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A música tem o dom de aproximar as melhorar sua coordenação e combinar uma


pessoas. A criança que vive em contato com a série de comportamentos.
música aprende a viver melhor com outras [...]inestimável benefício para a formação, o
crianças, estabelecendo uma comunicação desenvolvimento, o equilíbrio da personalidade
mais harmoniosa. Nessa idade, a música os da criança e do adolescente; o acesso à música
ama. Isso lhes dá segurança emocional, constitui-se nas possibilidades de criar, de
confiança, porque eles se sentem interpretar ou de ouvir, que podem ser
compreendidos quando compartilham músicas, estimuladas, desenvolvidas e educadas
e imersos em um clima de ajuda, colaboração e (FORQUIN e GAGNARD, 1982, apud, NICOLAU,
respeito mútuo. 1997, p. 251).
Quando a criança escuta uma música, ela se Crianças e bebês não devem se limitar a ouvir
concentra e tende a acompanhá-la, cantando e exclusivamente canções de ninar, porque eles
fazendo movimentos com o corpo. Isso também têm a capacidade de apreciar e
desenvolve o senso do ritmo nos pequeninos. lembrar da música clássica. Ouvir diferentes
Aprendendo a ouvir, a criança pode repetir uma tipos de música os ajudará a aprender,
música, recriando-a. É importante que nós, reconhecer e aproveitar.
educadores, valorizemos o ato de criação da Em geral, músicas de letras simples e
criança, para que ele seja significativo no seu repetitivas que incluem onomatopeias e
contexto de desenvolvimento (OLIVEIRA, canções infantis para dançar são
BERNARDES e RODRIGUEZ, 1998, p. 104). recomendadas. No entanto, não é conveniente
O estágio da alfabetização infantil é o mais restringir o acesso à música para a criança, está
estimulado pela música. Por intermédio de provado que bebês e crianças são muito
canções infantis, em que as sílabas são rimadas receptivos à música clássica de estrutura fácil e
e repetitivas, e acompanhadas de gestos que curta duração.
são feitos ao cantar, a criança melhora sua Podemos cantar para o bebê, bater palmas
maneira de falar e entender o significado de ou ensinar como também pode bater palmas.
cada palavra. E assim, será alfabetizado mais Isso o ajudará a aprender os ritmos e a cadência
rápido. A música também é benéfica para a diferente da música. A criança deve entender
criança em termos do poder de concentração, que a música é uma fonte de diversão.
além de melhorar sua capacidade de aprender A educação musical precoce, que se inicia em
matemática. A música é pura matemática. Além crianças de 2 a 5 anos, tem como objetivo
disso, facilita que as crianças aprendam outras descobrir e desenvolver as habilidades
línguas, melhorando sua memória. expressivas, musicais e psicomotoras da
Com a música, a expressão corporal da criança, que posteriormente permitem a
criança é estimulada. Podemos propor novos escolha de um instrumento musical, de acordo
recursos para adaptar o movimento do corpo com suas preferências e aptidões.
aos ritmos de diferentes obras, contribuindo Na maioria das escolas, as crianças começam
para o aprimoramento do controle rítmico dos desde cedo com a iniciação musical. Eles
corpos. Por meio da música, a criança pode aprendem a fazer ritmos com a voz ou com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

partes do corpo, aprendem quando uma nota é com vocabulário e compreensão. Os princípios
alta ou baixa, e aprendem a escrever ou da matemática, como as frações, podem ser
reconhecer notas musicais por meio de jogos. aprendidos estudando as bússolas e os ritmos
Em geral, os professores de música para da música. Ensiná-los músicas de diferentes
crianças trabalham com o desenvolvimento da períodos ensina-os sobre a história. Os
voz, o contato com as fontes sonoras por meio objetivos da educação musical e
de diversos materiais: objetos e instrumentos, desenvolvimento cognitivo incluem melhorar
reconhecimento e representação do som em as habilidades de escuta e aprender novas
relação à sua duração, intensidade, altura, palavras e conceitos.
timbre, desenvolvimento da percepção Pelo desenvolvimento de atividades
auditiva, bem como o uso do movimento como orientadas, como desenho, jogos de
meio de expressão e sensibilização motora, construção, aplicação, modelagem, trabalhos
visual e auditiva, para conhecer o próprio manuais, tarefas musicais, é que ocorre o
corpo, desenvolver o sentido rítmico e desenvolvimento de ações perceptivas. Ao
fomentar as relações sociais. A partir dos 6 anos perceber os objetos da realidade circundante, a
de idade, eles geralmente vão da iniciação criança aprecia cores, formas, tamanho, peso.
musical ao treinamento musical em que a Possibilitar a aprendizagem da percepção
criança faz contato direto com o instrumento. estética é formar na criança capacidades não
apenas de enumerar objetos e figuras
FUNDAMENTAÇÃO DO USO DA desenhadas, mas de captar o tema, observar
quadros, produzindo, por meio de vivências
MÚSICA EM SALA DE AULA estéticas, percepções em relação à cor e suas
A música é frequentemente usada em salas combinações, ritmo e elementos da
de aula e ambientes de ensino, mesmo quando composição (LAZARETTI, 2016, p. 138).
este não é o assunto da aula. Usar música ao Atividades musicais também ajudam o
mesmo tempo em que as crianças são desenvolvimento social e emocional das
ensinadas pode ajudá-las a alcançar muitos crianças. Muitas das atividades que usam a
objetivos, incluindo melhorar a interação social música envolvem a participação em grupo, de
cooperativa, aprender conceitos educacionais e modo que as crianças aprendem a interagir e
desenvolver a coordenação motora. cooperar umas com as outras durante certas
A música pode melhorar a experiência de atividades musicais, atividades de música e
aprendizado, já que é uma atividade divertida e movimento, são particularmente úteis para
motivadora. Usar ritmo e rima pode ajudar a alcançar os objetivos nessa área. Atividades
memória e, além disso, muitas músicas musicais e dança também ajudam as crianças a
possuem recursos mnemônicos. Por exemplo, se tornarem conscientes de suas emoções e
muitas pessoas aprendem o alfabeto cantando formas saudáveis de expressar seus
a música ABC. Bater palmas ou definir o ritmo sentimentos, de modo que os objetivos dessas
das palavras pode ajudar na consciência atividades são promover a expressão criativa e
fonológica. Aprender letras de músicas ajudará saudável e a cooperação em grupo.

652
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MÚSICA NA PRIMEIRA Faz-se necessário definir caminhos


pedagógicos nos tempos e espaço da escola e
INFÂNCIA da sala de aula que favoreçam o encontro da
A música gera experiências sensoriais que cultura infantil, valorizando as trocas entre
permitem que as crianças reconheçam seu todos os que ali estão, em que crianças possam
corpo, suas múltiplas possibilidades de recriar relações da sociedade na qual estão
movimento e desenvolvam coordenação e inseridas, possam expressar suas emoções e
equilíbrio. Também fortalece o formas de ver e de significar o mundo, espaços
desenvolvimento da linguagem por meio de e tempos que favoreçam a construção da
rimas, canções e onomatopeias, ao mesmo autonomia. Esse é um momento propício para
tempo em que se torna um espaço no qual as tratar dos aspectos que envolvem a escola e do
crianças socializam e internalizam diferentes conhecimento que nela será produzido, tanto
conceitos que fazem parte de seu cotidiano. pelas crianças, a partir do seu olhar curioso
A música como ferramenta pedagógica, que sobre a realidade que cerca, quanto pela
assume significado em diferentes momentos do mediação do adulto (BRASIL.2007, p.30,apud,
dia. É assim que músicas e rimas se tornam GODOI).
instrumentos que enriquecem a linguagem Além das canções infantis populares de uma
expressiva. Palmas das mãos, marchando, vida, repetidas à saciedade por décadas, de pais
batendo as mãos ou braços e todas as para filhos, a música é um pilar fundamental na
expressões corporais que acompanham essas educação infantil e uma maneira de expandir as
músicas tornam-se elementos que fortalecem a habilidades das crianças a vários níveis. Seu
coordenação motora, a atenção e a relação poder de estimular a inteligência emocional,
entre som e movimento. O ritmo, elemento bem como o desenvolvimento auditivo e
vital da música, também estimula o cognitivo desde a mais tenra idade, faz dela
movimento, fortalece o desenvolvimento das uma sólida fonte de informação, altamente
habilidades motoras e contribui para a benéfica para as crianças.
identificação de fonemas, elementos que fazem É por isso que mais e mais pais aderem à
parte dos processos de leitura e escrita. tendência de incutir em seus filhos a paixão por
Dia a dia as canções acompanham a criança um instrumento a partir da idade pré-escolar.
em seu crescimento. Há músicas para tocar, Compartilhar com eles a magia das notas
sonhar, imaginar, sentir, rir, dormir ou musicais quando se desdobra em uma partitura
simplesmente cantar. Algumas canções não só nos permite fortalecer os laços e visões
facilitam a compreensão de conceitos básicos abertas: os efeitos de aprender a tocar violino,
no desenvolvimento do pensamento, incluindo piano ou violão têm um impacto direto em sua
espaço, tamanho, forma, quantidade, tempo, capacidade de aprender, promovendo sua
intensidade ou cor. Graças às músicas, as compreensão de assuntos muito diferentes,
crianças conseguem internalizar esses como a matemática, e expandir os limites de
conceitos e incorporá-los em suas vidas diárias. sua imaginação, cultivando uma faceta mais

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sensível de sua personalidade para a vida próprio ritmo e o da música. Com seis anos, a
adulta. sincronização do ritmo corporal com a da
música será mais eficaz.
EXPRESSÃO CORPORAL E Algumas considerações didáticas do ritmo
dependem do movimento natural da criança,
MUSICALIDADE NA EDUCAÇÃO que será um ponto de partida no trabalho do
INFANTIL ritmo musical. Por intermédio do exercício
Possuir e sentir o ritmo são algo muito rítmico, especificado nas músicas, a
natural no ser humano para que esteja regularidade da pulsação será alcançada.
presente na maioria dos jogos infantis. O ritmo A música está presente em diversas
tem o valor de ser um regulador admirável dos situações da vida humana. Existe música para
centros nervosos, facilitando a relação entre as adormecer, dançar, chorar os mortos e
ordens do cérebro e sua execução pelas partes conclamar o povo a lutar, o que remonta a sua
do corpo. A precisão rítmica depende da função ritualística. Presente na vida diária de
capacidade da criança de dirigir, enquanto a alguns povos, ainda hoje é tocada e dançada
favorece, é um processo lento que deve ser por todos, seguindo costumes que respeitam as
progressivamente trabalhado. festividades e os momentos próprios de cada
O ponto de partida para a educação do ritmo manifestação musical. Nesses contextos, as
deve ser o corpo, tornando a maturação crianças entram em contato com a cultura
motora um fator determinante na capacidade musical desde muito cedo e assim começam a
de expressar ritmos diferentes. Nesse sentido, aprender suas tradições musicais (RENATO,
podemos afirmar que a verdadeira base do 1998, p.47).
ritmo é encontrada no movimento do corpo. O ritmo é, portanto, o elemento da música
Levando em conta, o desenvolvimento psico- que mais afeta a sensibilidade das crianças e é
evolutivo da criança, descobrimos que o ritmo por meio do movimento que a criança percebe.
ocorre desde a mais tenra infância, já que o O trabalho do ritmo divide-se em vários
sujeito é entregue a atividades de equilíbrio aspectos: Ritmo motor com ou sem som (Ritmo
rítmico, ajuste de objeto ou sincronização. Se corporal) e Ritmo musical (pulsação e figuras
fizermos um eixo cronológico, verificamos que: musicais). Esses aspectos são trabalhados ao
Depois de um ano e meio, a criança é capaz mesmo tempo.
de usar todo o seu corpo para responder à Por outro lado, as canções motoras
música ritmicamente. Por dois anos, suas constituem os meios pelos quais as duas áreas
habilidades motoras estão respondendo ao do conhecimento, a educação física e musical,
fenômeno musical batendo com os pés e são sintetizadas. O ritmo tratado pelas canções
balançando a cabeça. Com quatro anos a apresenta seus dois aspectos mais
criança adquire maior controle motor das significativos: o ritmo e o movimento, o ritmo e
extremidades inferiores. Aos cinco anos, a a palavra. Seguindo o espírito da reforma
maturação começa no desenvolvimento educacional, uma metodologia baseada na
musical da criança, começando a coordenar seu ação e globalização é apresentada como

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

elementos básicos da aprendizagem, por meio


de estratégias lúdicas baseadas na motivação e
interesses das crianças. As letras que
representam as músicas do motor permitem
que a criança conecte seu aprendizado com sua
experiência diária.
Para as crianças, o canto é uma necessidade
e constitui um ato espontâneo que desenvolve
a capacidade de expressão artística e afetiva,
contribuindo para o desenvolvimento global de
sua personalidade em suas três dimensões:
física, intelectual e afetiva. Quanto à melodia,
eles são simples, cativantes e fáceis de
memorizar. O timbre é a qualidade do som
emitido por uma voz ou um instrumento, que
por sua vez permite diferenciá-lo de outras
vozes ou instrumentos. Nas canções motoras
deve ser apresentada uma gravação
instrumental de grande variedade timbral para
que sejam atraentes para as crianças.

655
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades de expressão corporal requerem um desenvolvimento harmonioso do
movimento no qual o ritmo interno da pessoa deve ser manifestado. O objetivo principal é
promover o gesto como forma de expressão, sem que isso signifique negar a expressividade da
criança em outras formas de atividade física.
A criança pode expressar por meio do movimento do corpo: subjetividade, idéias, emoções
e sentimentos. Subjetividade, porque a criança deve ter a espontaneidade dos movimentos,
evitando o uso de gestos convencionais e aprendidos. São propostas atividades nas quais devem
comunicar emoções, sentimentos, identificando-se emocionalmente com a situação. Ideias: a
criança por meio do seu corpo pode comunicar um pensamento ou um significado, a sua
linguagem gestual é estimulada, propondo que ele representa uma ideia por meio do seu corpo.
Para expressar sentimentos, emoções e ideias em crianças, precisamos capacitá-las a
conhecer seu corpo, liberar segmentos corporais cujo movimento é significativo e enfatizar uma
área específica do corpo. Devemos, portanto, propor nossas atividades para que a expressão
corporal, o conhecimento e a consciência corporal progridam em paralelo.
Devemos também entender que respeitar a espontaneidade e os movimentos da criança
não significa que ela deva se mover livremente de acordo com sua inspiração. O movimento
natural da criança será um ponto de partida no trabalho do ritmo musical.
Por intermédio de exercícios rítmicos, jogos e músicas, a regularidade da pulsação será
alcançada andando ou batendo palmas. Há também uma coordenação de movimentos com ou
sem deslocamento.
Esses aspectos são trabalhados praticamente ao mesmo tempo, mas no estágio infantil os
mais importantes seriam a conscientização e internalização da própria pulsação e a capacidade
de sincronizá-la com diferentes estímulos e em diferentes velocidades. É preferível que estes
movimentos possam ser acompanhados de ritmo e melodia e, desta forma, podemos obter
velocidades diferentes, bem como nuances e outras variantes.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
GODOI. Luis Rodrigo. A Importância da Música na Educação Infantil. Trabalho de Conclusão
de Curso - Universidade Estadual de Londrina, Londrina (PR), 2011. Disponível em:
http://www.uel.br/ceca/pedagogia/pages/arquivos/LUIS%20RODRIGO%20GODOI.pdf .Data de
Acesso:11/03/2020.

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aprimoramento do código linguístico. Revista do Centro de Educação a Distância -
CEAD/UDESC. 2 (1), 27-43.

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NICOLAU, M. L. M. A educação pré-escolar: fundamentos e didática. 9ª ed. São Paulo: Ática,


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ROSSETI-FERREIRA, M. C. et all (Orgs.). Os fazeres na educação infantil. São Paulo: Cortez,
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WISNIK, José Miguel. O som e o Sentido: uma outra história das músicas. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

APRENDIZADO POR MEIO DO BRINCAR:


O LÚDICO COMO INSTRUMENTO DE BASE
Patrícia de Oliveira Jorge 1

RESUMO: É inquestionável que os jogos de alfabetização no universo infantil constituem bases


fundamentais para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo. Dentre os pioneiros da
educação infantil moderna, Maria Montessori (1870- 1952), já apresentava os jogos como
subsídio fulcral para as diversas fases da infância. Na pedagogia muita atenção é dada ao
acompanhamento e ao apoio no que se refere as prerrogativas do lúdico nas brincadeiras, bem
como ao material selecionado a cada tipo de atividade da criança, o jogo é explicitamente ou
implicitamente associado à aprendizagem. Para a Educação Infantil, o termo jogo é usado em
vários contextos relacionados as formas exploratórias de aprendizagem, isso expressa uma
estreita relação entre os jogos e aprendizagem. Da mesma forma é feita uma distinção entre os
arranjos moderados de aprendizagem e fases de jogo livre, sempre com referência aos aspectos
especiais (propósito e motivação).

Palavras-Chave: Lúdico; Jogos; Educação; Desenvolvimento; Crianças.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação Infantil.
E-mail: professorapatricia2013@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO incide sobre o modo que a leva a explorar –


construir, representar, medir ou mesmo
Na prática, a aprendizagem da criança por competir. A característica especial é o sentido
meio dos jogos é frequentemente percebida individual que dá a importância significativa a
enquanto apropriação obstinada com criança, que dificilmente pode ser reconhecido
referências nas complexidades do mundo e às ou compreendido às vezes para fora. Cada jogo
vezes, também como uma problematização tem objetivos, que podem ser pedagógicos,
interpretativa da vida da sociedade a qual se culturais ou de competição, isto deve ser
está inserida. O presente trabalho busca por demonstrado explicitamente (como regras),
meio da pesquisa bibliográfica delinear alguns para outros jogadores.
parâmetros acerca da problematização fruto da O processo de construção de um jogo é
nossa inquietação, desse modo buscamos complexo e deve seguir premissas e objetivos
expor algumas contribuições no que tange o predefinidos. Frequentemente, pode haver
lúdico e o processo de aprendizagem bem mudanças nas metas dentro das ações do jogo:
como suas ligações com outras ramificações as metas podem se expandir, mudar, reverter
acadêmicas. ou interligar. As ações do jogo podem estar no
Nesta observação, a grande variedade de contexto de tensão entre tradicional e novo. As
jogos para crianças se expressa, nos interesses, experiências e teorias existentes sobre o
habilidades, idade e relaciona-se ao mundo são incorporadas ao jogo, dando uma
desenvolvimento, mas também surgem as sensação de segurança, previsibilidade e
dimensões interculturais e interpessoais de competência. Os jogos são geralmente
heterogeneidade – os papéis de gênero, observáveis, porque são caracterizados por
dinâmicas de grupo e estados mentais internos uma dinâmica maior ou menor, em seus níveis
como manifestações comportamentais. No de ação. Dependendo da modalidade de jogo,
discurso pedagógico, portanto, a questão é de as ações podem ser rápidas e complexas ou
que forma o jogo - ou melhor a variedade de concentradas.
jogos – é levado em conta e entendido como
uma oportunidade de aprendizagem e pode ser
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO
apoiado, promovido e orientado de modo a
contemplar as necessidades pedagógicas. NA FORMAÇÃO DO SUJEITO
Podemos também levantar um Aprender por meio do brincar é um termo
questionamento no sentido de buscar usado em educação e psicologia para descrever
compreender o que caracteriza as como uma criança pode aprender a
diferenciações entre as especificidades dos compreender o mundo ao seu redor. Por meio
jogos. O jogo é um fenômeno extremamente do brincar, as crianças podem desenvolver
complexo, com múltiplas camadas, e difícil de habilidades sociais e cognitivas, amadurecer
conceituar quando ocorre o primeiro contato emocionalmente e ganhar a autoconfiança
na vida da criança. Cada jogo tem uma sensação necessária para se envolver em novas
que a criança exterioriza determina como ele experiências e ambientes.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os primeiros anos de vida são decisivos na clara, especialmente quando se coloca no


formação da criança, pois se trata de um contexto de uma sala de aula. A brincadeira
período em que ela está construindo sua pode ser definida como qualquer coisa que uma
identidade e grande parte de sua estrutura criança faça dentro do contexto social e, às
física, afetiva e intelectual. Sobretudo nesta vezes, é definida como apenas tempo livre.
fase, deve-se adotar várias estratégias, entre Existem definições confusas e conflitantes, mas
elas as atividades lúdicas, que são capazes de existem duas formas seguras de brincar no
intervir positivamente no desenvolvimento da contexto da educação, jogo e brincadeiras
criança, suprindo suas necessidades guiadas ou estruturadas. Grande parte da
biopsicossociais, assegurando-lhe condições confusão em torno da definição de brincar está
adequadas para desenvolver suas relacionada ao fato de que na literatura de
competências (MALUF, 2009. p.13). desenvolvimento infantil o termo brincar é
As principais formas que as crianças frequentemente usado para rotular a maioria
pequenas aprendem incluem brincar, estar com das formas de comportamento social e não
outras pessoas, ser ativo, explorar e novas social das crianças, independentemente de ser
experiências, conversar consigo mesmo, ou não brincadeira.
comunicar-se com outras pessoas, enfrentar O brincar é essencial para o desenvolvimento
desafios físicos e mentais, mostrar-se como porque contribui para o bem-estar cognitivo,
fazer coisas novas, praticar e repetir físico, social e emocional das crianças e jovens.
habilidades e ter Diversão. Brincar é a ferramenta que as crianças usam
O fato de a criança, desde muito cedo, poder para aprender sobre o mundo e a sociedade.
se comunicar por meio de gestos, sons e mais Por intermédio do brincar, suas necessidades
tarde representar determinado papel na sociais e cognitivas podem ser atendidas e
brincadeira faz com que ela desenvolva sua desenvolvidas. Brincar é o modo como as
imaginação. Nas brincadeiras as crianças crianças interagem com este mundo e criam
podem desenvolver algumas capacidades experiências para entender a sociedade e as
importantes, tais como a atenção, a imitação, a interações humanas. Sua prática permite que
memória, a imaginação. Amadurecem também as crianças criem e explorem um mundo que
algumas capacidades de socialização, por meio podem dominar, conquistando seus medos
da interação e da utilização e experimentação enquanto exercem papéis adultos, às vezes em
de regras e papéis sociais (BRASIL, 1998, p. 22). conjunto com outras crianças ou cuidadores
As crianças não apenas desfrutam de adultos. O jogo ajudará as crianças a se
brincadeiras, mas também se beneficiam dela tornarem solucionadoras de problemas auto
de muitas maneiras, assim, a importância do eficientes, porque durante as brincadeiras, as
brincar. Abaixo estão explicações baseadas em crianças criam e resolvem seus próprios
pesquisas sobre a importância do jogo e como problemas. Quando uma criança é solicitada a
incorporar o jogo na sala de aula da primeira resolver um problema acadêmico ou da vida
infância. O brincar pode ser um termo vago no real, ela poderá usar as habilidades que pratica
mundo educacional porque sua definição não é durante o jogo para encontrar uma solução.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

NOVAS COMPETÊNCIAS POR As crianças integram tudo o que sabem em


todos os domínios quando jogam, tudo torna-
MEIO NO LÚDICO se valioso para crianças pequenas,
O evidente auxílio que o brincar proporciona principalmente como meio de aprendizado.
às crianças, no que tange desenvolver novas A fim de implementar o jogo de forma
competências que levam a uma maior estruturada e eficaz, ele deve ter um lugar no
confiança e à resiliência de que precisam para currículo. Há muitos benefícios na construção
enfrentar os desafios futuros, contribui para o do currículo em jogo. Em primeiro lugar,
desenvolvimento global da criança. Por garante que o conteúdo seja adequado ao
intermédio de sua prática explora-se a desenvolvimento. Em seguida, cria
criatividade, habilidades físicas e cognitivas são diferenciação para os alunos. Isso ocorre
refinadas e fortalecidas. Usar o brincar como porque o jogo é determinado pelos alunos. Os
uma ferramenta para ensinar em sala de aula alunos decidem o que querem aprender ou
na primeira infância trará uma abordagem como aprenderão por meio do jogo. Uma
holística ao conteúdo e ajudará a desenvolver maneira de garantir que as atividades de
cada parte de cada criança. Permite que as educação sejam adequadas ao
crianças usem sua criatividade enquanto desenvolvimento e com conteúdo rico é por
desenvolvem sua imaginação, destreza e força meio do desenvolvimento de um currículo que
física, cognitiva e emocional. Brincar é se baseia nas brincadeiras das crianças. O
importante para o desenvolvimento saudável brincar tem um impacto positivo nos alunos em
do cérebro atuando como um elemento seu desenvolvimento, portanto, deve ser uma
essencial nos programas para a primeira grande parte do currículo nas escolas. Quando
infância, pois proporciona às crianças a as crianças são capazes de selecionar o que
oportunidade de expressar suas ideias e aprendem, elas estarão mais engajadas e
sentimentos, simbolizar e testar seus capazes de obter as informações.
conhecimentos sobre o mundo e adquirir apoio No brinquedo, a criança sempre se comporta
efetivo aprendizagem. além do comportamento habitual de sua idade,
Por intermédio do brincar, as crianças além do seu comportamento diário; no
podem sintetizar e internalizar as informações brinquedo é como se ela fosse maior do que ela
que aprenderam. Depois de ensinar uma lição, é na realidade. Como no foco de uma lente de
deixar as crianças brincarem irá ajudá-las a aumento, o brinquedo contém todas as
colocar as informações que acabaram de tendências do desenvolvimento sob forma
aprender em situações imaginárias do "mundo condensada, sendo ele mesmo uma grande
real". Se o plano não puder ser usado nas aulas fonte de desenvolvimento (VYGOTSKI, 2007,
para ensinar o conteúdo, é importante usá-lo p.134).
depois que o conteúdo for ensinado para ajudar O brincar permite que as crianças pequenas
as crianças a internalizar o que acabaram de selecionem seu aprendizado, especialmente se
aprender. isso facilitar a obtenção de uma ampla gama de
metas de desenvolvimento; portanto, deve ser

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

um componente vital no currículo de educação para experimentá-las e jogá-las ajudará a


infantil. As experiências de brincadeira das aprender sobre os conceitos matemáticos de
crianças os ajudam a aprender conceitos e maneira natural. Além disso, a criação de
habilidades acadêmicas. Um programa efetivo experiências como cozinhar, medir, construir,
de estudos por meio do lúdico oferece às etc., em um ambiente de jogo, aprimora seu
crianças o ambiente apropriado para que elas desenvolvimento matemático.
se tornem membros produtivos de uma Igualmente, no brincar relacionado ao
sociedade democrática. As crianças podem letramento, é o evento do faz-de-conta que
representar papéis em diferentes posições determina a natureza da resposta letrada, e não
políticas. As crianças podem ter eleições e uma página de um livro de exercícios que
oportunidades de voto, também visam ensinar arbitrariamente, decide focalizar a leitura ou a
as crianças sobre interação social, cultura e vida escrita (MOYLES, 2006, p.137).
doméstica. As crianças poderiam ter um lugar O jogo é suficientemente importante para as
para brincar de casinha e assumir papéis Nações Unidas, que é reconhecido como um
familiares. Existem muitas ideias diferentes direito específico para todas as crianças. As
para o currículo. crianças precisam da liberdade para explorar e
brincar. O brincar também contribui para o
TRABALHANDO A LINGUAGEM desenvolvimento do cérebro. Evidências da
neurociência mostram que os primeiros anos
NO CONTEXTO DAS PRÁTICAS do desenvolvimento de uma criança (do
EDUCATIVAS nascimento aos seis anos) estabeleceram a
O desenvolvimento da linguagem é outro base para a aprendizagem, o comportamento e
elemento que percebemos aqui pois, a a saúde ao longo da vida. Os caminhos neurais
linguagem se desenvolve por meio de de uma criança são influenciados em seu
contextos culturais e sociais. Muitos desenvolvimento por meio da exploração,
desenvolvimentos na linguagem ocorrem no pensamento, resolução de problemas e
contexto social. Portanto, quando as crianças expressão de linguagem que ocorrem durante
brincam juntas, elas estão praticando suas episódios de brincadeira. O jogo nutre todos os
habilidades linguísticas e se desenvolvendo aspectos do desenvolvimento infantil – forma o
mais. O currículo de idiomas e alfabetização alicerce das habilidades intelectuais, sociais,
pode ser integrado em todas as áreas. Se físicas e emocionais necessárias para o sucesso
houver uma abordagem baseada em na escola e na vida. O brincar abre o caminho
investigação para o ensino de ciências, a para o aprendizado.
brincadeira também será incorporada por meio A aprendizagem ocorre quando as crianças
de uma abordagem baseada na investigação, as brincam com blocos, pintam uma imagem ou
crianças podem explorar e brincar para brincam de faz de conta. Durante o brincar, as
encontrar as respostas para suas próprias crianças tentam coisas novas, resolvem
perguntas sobre esse mundo natural. Permitir problemas, inventam, criam, testam ideias e
que as crianças usem materiais no ambiente exploram. As crianças precisam de brincadeiras

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

não estruturadas e criativas; em outras atenção em elementos específicos da atividade


palavras, as crianças precisam de tempo para lúdica e fornece incentivo e retorno sobre a
aprender por meio de suas brincadeiras. aprendizagem das crianças. Quando as crianças
O brincar é um negócio sério para o se envolvem em atividades reais e imaginárias,
desenvolvimento de jovens em fase de o brincar pode ser um desafio no pensamento
desenvolvimento. Esse é um entendimento tão das crianças. Para estender o processo de
importante. Uma abordagem deliberada e aprendizagem, a intervenção sensível pode ser
eficaz apoia o desenvolvimento cognitivo de fornecida com apoio de adultos, quando
crianças pequenas. Quando bem projetada, necessário, durante a aprendizagem baseada
essa abordagem explora os interesses em jogos. Aprendizagem baseada em
individuais das crianças. Atrai as suas brincadeiras também pode ser definida como
capacidades emergentes e responde ao seu crianças ativas e envolvidas em seu
sentido de investigação e exploração do mundo aprendizado. As crianças aprendem melhor por
à sua volta. Ele gera crianças altamente meio de experiências, o propósito da
motivadas que desfrutam de um ambiente no aprendizagem ativa é que ela motiva, estimula
qual os resultados de aprendizagem de um e apoia o desenvolvimento de habilidades,
currículo têm maior probabilidade de serem conceitos, aquisições de linguagem, habilidades
alcançadas. de comunicação e Também oferece
O brincar não significa apenas recrear, é oportunidades para que as crianças
muito mais, caracterizando-se como uma das desenvolvam atitudes positivas e demonstrem
formas mais complexas que a criança tem de conscientização uso de aprendizado,
comunicar-se consigo mesma e com o mundo, habilidades e competências recentes e
ou seja, o desenvolvimento acontece por meio consolidem o aprendizado.
de trocas recíprocas que se estabelecem
durante toda sua vida. Assim, através do brincar BENEFÍCIOS DA ABORDAGEM
a criança pode desenvolver capacidades
importantes como a atenção, a memória, a LÚDICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
imitação, a imaginação, ainda propiciando à Existem vários benefícios da abordagem de
criança o desenvolvimento de áreas da aprendizagem lúdica no cenário dos anos
personalidade como afetividade, motricidade, iniciais, incluindo as crianças que usam e
inteligência, sociabilidade e criatividade aplicam seus conhecimentos, habilidades e
(OLIVEIRA, 2000, p. 67). compreensão de maneiras diferentes e em
O jogo desenvolve o conhecimento de diferentes contextos, e praticantes lúdicos
conteúdo das crianças e oferece às crianças a usam muitas abordagens diferentes para
oportunidade de desenvolver habilidades envolver as crianças em atividades que as
sociais, competências e disposição para ajudem a aprender e a desenvolver disposições
aprender. A aprendizagem baseada em positivas para o aprendizado. Os praticantes
brincadeiras baseia-se em um modelo podem e devem planejar brincadeiras infantis,
vygotskiano de no qual o professor presta criando ambientes de aprendizado de alta

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

qualidade e garantindo períodos ininterruptos criança e as oportunidades de aprendizagem e


para as crianças. desenvolvimento adicionais. A observação
O nível de brincadeiras infantis aumenta ajuda a identificar maneiras pelas quais os
quando adultos brincam com elas. A variedade adultos podem construir e guiar o aprendizado.
de brincadeiras que as crianças praticam Ouça, repita, amplie e faça perguntas no
também aumenta quando os adultos se juntam. momento certo, estenda a observação natural
A união é diferente do controle. O controle faz das crianças fornecendo a linguagem
com que as crianças sigam uma agenda necessária para ajudar as crianças a articular o
castradora e não leve a tanto desenvolvimento que elas vêm acontecer. Os adultos podem
cognitivo quanto quando os pais seguem o promover brincadeiras e oportunidades para
exemplo de seus filhos. Brincar é a moeda das descobertas expansivas; eles podem melhorar
crianças. Existem várias maneiras pelas quais os (ou facilitar) o brincar, encorajando as crianças
educadores, pais e responsáveis podem facilitar a trazer seus interesses e experiências para a
o aprendizado das crianças durante o brincar. brincadeira. Os adultos podem fazer perguntas
Os adultos podem modelar atitudes positivas para expandir e melhorar o jogo. Auxiliar as
em relação ao jogo, encorajando-o e crianças a reconhecerem os conceitos que
proporcionando um equilíbrio de brincadeiras surgem ao lidar com o ambiente, fazer
internas e externas ao longo do ano. Quando os hipóteses, reconhecer semelhanças e
adultos se juntam, devem guiar a forma, diferenças e resolver problemas. Fornecer
engajar-se e estendê-la, em vez de ditar ou conhecimento social, permitindo que as
dominar a ação. É necessário um ambiente crianças aprendam o conhecimento físico e
decidindo quais brinquedos, materiais e lógico-matemático que as ajuda a entender o
equipamentos serão incluídos nesse ambiente. mundo ao seu redor.
É importante oferecer uma variedade de Brincadeiras de faz-de-conta, envolve a
materiais e experiências em diferentes níveis criança a interpretar ideias e emoções. As
de dificuldade. A escolha dos materiais é crianças encenam histórias que contêm
importante, porque fornece a motivação para a diferentes perspectivas diferentes. Embora
exploração e descoberta das crianças. Ambas as alguns estudos mostrem que esse tipo de
experiências internas e externas devem brincadeira não aumenta o desenvolvimento
fornecer centros e espaços exploratórios. O infantil, outros descobriram que ele tem um
ambiente de jogo deve permitir que as crianças grande impacto no uso da linguagem das
façam escolhas e explorem as possibilidades de crianças e na percepção das perspectivas dos
jogo. O ambiente de jogo deve refletir as outros. O faz de conta também pode ajudar na
experiências de vida diárias da criança. autorregulação de uma criança nas áreas da
Observe cuidadosamente quando as crianças civilidade, atraso na gratificação, empatia e
começarem a usar os brinquedos, materiais e redução da agressão. Também pode melhorar
equipamentos. A observação é um processo as habilidades sociais, como empatia, resolução
contínuo, fornecendo informações sobre os de problemas e comunicação.
interesses, habilidades e pontos fortes da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão de porque as crianças estão prontas para jogar e aparentemente incansáveis é
frequentemente justificada pelas experiências acumuladas no cursos das vivências. Isso significa
um estado mental positivo que surge quando se está totalmente focado em uma atividade,
absorvido por ela, desse modo sujeito a perder a noção de tempo. Tal estado de espírito se instala
quando se refere a requisitos que estão de acordo com as próprias habilidades, pode-se, dessa
forma apresentar um novo desafio, mas ao mesmo tempo tem a tendência de ser controlado pelo
incentivo que surge intrinsecamente das próprias ações e que não é determinado pelo resultado
da ação.
Outra justificativa para mostrar que o brincar é a forma mais importante de apropriação
mundial e, portanto, também o motor do desenvolvimento infantil que resulta das necessidades
básicas humanas que guiam a percepção e a ação, a necessidade de apego, o relacionamento, a
necessidade de orientação, o controle, a autonomia, a necessidade de autoestima e a necessidade
de preservação do prazer. Quando as necessidades básicas, que são independentes e iguais umas
às outras, são satisfeitas nas ações lúdicas, uma sensação resulta de uma consistência e bem-
estar.
Ainda em tenra idade, as crianças vêm adquirindo ativamente experiências valiosas,
adquirindo muitas habilidades e formando, cada vez mais, consciência de sua própria identidade.
Neste contexto, os jogos educativos oferecem áreas de experiência nas quais lidam com os
requisitos que eles ainda não conseguem enfrentar na realidade. O enfrentamento da realidade
por meio dos jogos pode ocorrer de três formas: a reprodução da realidade, a transformação da
realidade e a mudança da realidade. Comparado com as atividades cotidianas, o jogo garante às
crianças uma certa zona de proteção, uma sala de manobra que garante o autodesenvolvimento
individual sem perturbações, como jamais seria de outra forma.
No nível real, os riscos podem ser tomados sem medo de consequências na realidade.
Habilidades podem ser testadas e desenvolvidas. No jogo, não apenas o teste de auto
pertencimento, mas também a experiência de novas competências, avançadas são possíveis, cada
um representando experiências de aprendizagem e contribuindo para o desenvolvimento do ser.
As crianças se sentem no jogo como competentes e auto eficazes, porque determinam sua própria
experiência em espaços de aprendizagem que o lúdico proporciona.

665
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial curricular nacional para a educação infantil: formação pessoal e social.
Brasília: MEC/SEF, v.01 e 02.1998. 85p.

MALUF, Angela Cristina Munhoz. Atividades lúdicas para a educação infantil: conceitos,
orientações e práticas. 2 Ed. Petrópolis, RJ: vozes, 2009(a).

MOYLES, Janet R. A Excelência do Brincar. Porto Alegre: Artmed, 2006.

OLIVEIRA, Vera Barros de (org). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e


aprendizagem. 10ª ed. São Paulo: Ícone, 2006.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ARTE E EDUCAÇÃO
Marilda José Coelho1

RESUMO: A arte tem um papel fundamental para o desenvolvimento humano. É forma de


expressão, comunicação e manifestação social, promove e provoca mudanças e transformações,
no ensino e na prática artística nas escolas. Antes a arte era vista apenas como passa tempo,
professores usavam as aulas de artes como recreação, hoje já se sabe seu valor e a arte na escola
tem por objetivo tornar o aluno protagonista do fazer artístico, ser capaz de olhar o mundo com
interesse, com olhar investigativo, sensível e aberto, acolhendo o pensar e o conhecer, para criar
a sua própria poética. Nesta perspectiva Barbosa (2002), afirma que somente a ação inteligente
e empática do professor pode tornar a Arte ingrediente essencial para favorecer o crescimento
individual e o comportamento de cidadão como fruidor de cultura e conhecedor da construção
de sua nação. O papel do professor é primordial para que o aluno se interesse e aprenda é preciso
inovar sempre e é preciso pensar no aluno como capaz de interferir no seu próprio processo de
aprendizagem, protagonista, produtor, todo aluno é artista.

Palavras-Chave: Arte; Educação; Aluno.

1Professora de. Educação infantil e Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
E-mail:marildaresende2010@bol.com.br

667
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO sempre se fez presente, mas durante a história


passou diferentes caminhos e seus professores
O referente artigo visa refletir sobre a arte por muitas adaptações.
como linguagem, como processo de ensino As aulas de artes eram confundidas com
aprendizagem. Trazer também a reflexão de lazer e passatempo e serviam para a decoração
arte- Educação como ferramenta essencial para das festas nas escolas, preencher desenhos
a formação do ser no processo de ensino xerocados, fazer lembrancinhas em datas
aprendizagem. comemorativas e cantar músicas. Essa prática
Colaborar para uma nova visão acerca das contemplava o ensino da arte na época e
aulas de arte, buscando desfazer alguns acredita-se que hoje em dia isso ainda possa,
modelos resistentes no tempo que mostra arte até ser feito, desde que contextualizado e
como passa tempo, formas de decoração, entre aplicado a um objetivo que tenha como centro
outras. Mostrando a visão de arte como o fazer artístico do aluno que deve ser
disciplina, linguagem, desenvolvimento e protagonista desse processo. O quadro ganhou
conhecimento, mostrando que todos somos novas cores na década de 1980 quando as
artistas. Cada época da história tem suas pesquisas avançaram em relação arte e surgiu a
exigências de acordo com suas necessidades e abordagem focada no tripé, apreciação-
a arte esta presente na história com uma produção- contextualização - a proposta
trajetória de muitas mudanças, nos dias de hoje triangular. Idealizada pela educadora Ana Mae
é vista como fonte de liberdade e Barbosa (2002), ela argumenta que o
transformação. aprendizado de arte ocorre com base na ligação
entre a leitura de obras (apreciação), a teoria e
A ARTE NA EDUCAÇÂO a história da arte (contextualização) e o fazer
Alguma vez você já se perguntou por que artístico (produção). Em vez de ficar restrito à
arte na escola? A maioria das pessoas acham reprodução de modelos predeterminados, o
importante, as aulas de matemática, língua estudante é exposto a diversas formas de
portuguesa e ciência e nunca duvidam da expressão, analisa produções e firma relações
necessidade de se aplicar estes conteúdos. Mas com o que já conhece para produzir. Nesta
e a arte? Será que o que se tem ensinado sobre mesma época aparece também o impulso da lei
arte nas escolas, é arte? de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Para entender é necessário voltar um pouco (LDB nº 9.394), a qual estabeleceu que “o
no tempo, desde o redescobrimento do Brasil, ensino da arte constituirá componente
recebemos influências de várias culturas, curricular obrigatório, nos diversos níveis da
configurando a diversidade da cultura brasileira educação básica, de forma a promover o
expressa nas nossas singularidades regionais, desenvolvimento cultural dos alunos”,
caracterizadas pela música, teatro, dança, conforme o seu artigo 26, parágrafo 2º.
folclore, formas e cores, como manifestações Com a publicação dos parâmetros
culturais gravadas nos sentimentos e Curriculares Nacionais - PCN's de Arte (1997),
pensamentos de um povo, a arte na verdade

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

foi dado espaço para as demais linguagens precisa ter seus potenciais e sua capacidade de
artísticas como dança, música e teatro. criação valorizados. O professor para ensinar
São características desse novo marco arte precisa apreciar e fazer arte, não se pode
curricular as reivindicações de identificar a área falar daquilo que não conhece, por isso se faz
por ARTE e não mais por educação artística e necessário que o professor esteja preparado.
de incluí-la na estrutura curricular como área
com conteúdos próprios ligados à cultura O PROTAGONISMO ARTÍSTICO
artística e não apenas como atividade (BRASIL,
Nos últimos anos os alunos deixaram de ser
1997, p.25).
meros espectadores e passam a ter um papel
A arte neste momento deixa de ser uma mais ativo dentro das instituições, passaram a
atividade isolada e passa a ser reconhecida ter uma participação cada vez mais efetiva e
como área de conhecimento e trabalho com as assim surge o protagonismo infantil, a criança
várias linguagem visando a formação artística e passa a fazer parte das tomadas de decisões,
estética dos alunos participa do planejamento, e faz parte de todo
o processo de construção, criando assim maior
DESPERTANDO O DESEJO PELA autonomia e responsabilidade. E é assim
ARTE também no protagonismo artístico a criança
deixa de seguir regras de seguir modelos pré
Aprender arte envolve ação em distintos
estabelecidos e passa a ter liberdade para
eixos de aprendizagem: fazer, apreciar e refletir
expressar por meio de suas atividades com
sobre a produção social e histórica da arte,
pintura dança, músicas e teatros seus
contextualizando os objetos artísticos e seus
sentimentos e emoções, por meio de atividades
conteúdos Para que se possa apreciar, refletir e
artísticas a criança percebe acontecimentos do
contextualizar é fundamental que o professor
seu cotidiano, interfere nos acontecimentos,
se apresente como aquele que organiza,
criando senso crítico capaz de interferir no
prepara, propõe, incentiva e nutre seu aluno
futuro da sociedade. A criança é um ser
para que ele continue seu caminho.
pensante, suas produções são carregadas de
O interesse por arte não necessariamente
significados. Ela cria por meio de suas
precisa partir diretamente do aluno, mas sim
observações e vivencias, tem uma forma de ver
das aulas motivadas e preparadas pelo
o mundo e por isso precisa de liberdade,
professor, o aluno precisa sentir que o
incentivo, tempo e material para produzir. Suas
professor acredita no seu potencial e que suas
linguagens, escrita, falada, gráfica, plástica,
expectativas em relação a ele é positiva, por
teatral, corporal e musical expressa na verdade
isso se faz necessário que o conteúdo da aula
sua realidade. Neste contexto a arte esperta a
valorize a cultura, o cotidiano do aluno. O
criatividade, desenvolve autonomia, gera
ambiente também é importante neste
confiança, segurança, reflexão,
processo, pois precisa esta interessante,
comprometimento social e possibilita
aconchegante e oferecer materiais necessário
intervenções futuras no contexto social,
para a criação do aluno. Também é importante
contribuindo assim para um futuro melhor.
que o aluno tenha espaço e tempo para
experimentar, explorar, interpretar e criar, ele

669
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante refletir sempre sobre a arte e seu percurso na Educação, percebendo o
contexto de cada acontecimento e mudança e buscando o conhecimento sobre a atualidade,
levando sempre em conta a necessidade atual, como o papel do professor na valorização da arte
na Educação e a capacidade do educando de atuar com O protagonismo do fazer artístico e com
o desejo de sempre aprender. Estas reflexões e acontecimentos nos remete a continuarmos nosso
trajeto em busca dos campos que conceituam a arte e a cultura na construção do saber.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos (org). Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte. São
Paulo: Cortez, 2002.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília, Ministério da Educação, 1997.


Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf. Acesso em: 10/02/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


A LINGUAGEM DA DANÇA
Eliana Oliveira de Souza1

RESUMO: O trabalho com as linguagens artísticas tem que ser considerado pleno, pois nos dá
uma dualidade, por agir como uma ferramenta de ensino e ao mesmo tempo de entretenimento,
na qual a fruição de sua execução proporciona as crianças uma forma lúdica de aprendizado.
Podendo elencar as disciplinas de forma mais prazerosa e inseri-las no conhecimento histórico
humano, contribuindo para um melhor aproveitamento dos conteúdos. Nesse sentido, partimos
do pressuposto que a dança como linguagem da arte, deve ser aplicada como forma de expressão
na educação infantil, por apresentar de forma lúdica os conhecimentos a criança, dando
possibilidade para uma maior interação com as diversas formas de conhecimentos, sendo um
instrumento de ensino que auxilia e possibilita a descoberta de novos saberes amplificando as
possibilidades da criança, promovendo um novo fôlego nas dimensões educacionais, por ser uma
manifestação inata do indivíduo, por dar liberdade ao ser, trabalhando de forma mais simplória o
movimento e o reconhecimento corporal entre outros saberes, aprimorando suas noções rítmicas
e espaciais. Rebuscando as relações dentro da escola afim de fornecer um processo de
humanização efetivo das relações de aprendizagem.

Palavras-Chave: Dança; Disciplinas; Reconhecimento Corporal.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: eliana.nutrir@hotmail.com

672
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO educação infantil, por apresentar de forma


lúdica os conhecimentos a criança, dando
A arte se faz presente durante o percurso da possibilidade para uma maior interação com as
nossa formação humana, a sua presença nas diversas formas de artes, sendo um
relações do homem traz uma importante instrumento de ensino que auxilia e possibilita
contribuição para que possamos nos expressar a descoberta de novos saberes artísticos e
com mais clareza em nossas relações, formar de se comunicar e de aprender.
propiciando maior facilidade para se falar das A compreensão do relacionamento da
emoções, desejos e anseios. história da arte com a educação acontece por
Traçando e moldando, um novo caminho meio de uma linha tênue e linear, pois por meio
para o exercício da cidadania, pois quando de movimentos históricos essa relação recebe
conseguimos superar as barreiras que temporalmente um valor diversificado, como
intimidam nossa expressão, podemos criar forma educacional, de expressão, de atividade
novas formas de mediarmos com a realidade de para chegar até a consideração atual de forma
forma crítica. de conhecimento.
Colaborando para a educação formal, A percepção da existência dessas
interferindo positivamente na qualidade do concepções que permearam a arte no sistema
ensino, por possibilitar uma diversidade das educacional, no caso brasileiro. Isso não
manifestações artísticas em suas facetas e impede, no entanto, a coexistência de
linguagens, seja por meio da arte, música, concepções, é a ideia de arte como atividade
dança ou teatro. que esteve presente durante a Escola Nova e
Auxiliando e integrando as diversas também durante a ditadura militar. Ou mesmo,
disciplinas, por uma forma lúdica diferenciada, a arte como expressão que desapontou no
trazendo aos momentos didáticos uma início do século XX e ainda hoje é muito
possibilidade de melhor assimilação e presente (SILVA e GALVÃO, 2009, p.2).
entendimento dos conceitos. Vemos a importância de se desenvolver as
Apoiando em conjunto com a LDB 9394/96 o práticas artísticas dentro dos muros escolares,
discurso da precisão do ensino da educação pois a arte influência as formas de expressão,
pela linguagem artística na escola, temos os integrando as diversas áreas dos
elementos dos Parâmetros Curriculares conhecimentos escolares, auxiliando o
Nacionais da Artes(1998), que contemplam a desenvolvimento das aptidões. Para isto não
fruição das crianças ao propor atividades de podemos aceitar que está disciplina seja
contato com a obra, promovendo uma maior aplicada de forma errônea na rotina escolar.
compreensão dos significados que as Encontramos em algumas instituições
produções e obras artísticas podem nas suas escolares do ensino regular, a aplicação da
diversas linguagens podem contribuir para a matéria de artes, por meio de uma forma
sua formação. Nesse sentido, parte-se do errônea desconsiderada a potencialidade que
pressuposto que a dança deve ser aplicada ela tem intrinsecamente em sua estrutura.
como forma de expressão da linguagem na Muitos profissionais usam as linguagens

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

artísticas como uma maneira de ocupar um uma possibilidade de melhor assimilação e


tempo disponível na carga horária do aluno, entendimento dos conceitos.
reduzindo sua prática a confecção de objetos e Apoiando em conjunto com a LDB(9394/96),
formas de entretenimento para as datas o discurso da precisão do ensino da educação
comemorativas, valorizando a cópia e execução pela faceta artística na escola, temos os
de modelos prontos. elementos dos Parâmetros Curriculares
As linguagens artísticas atribuem ao sujeito Nacionais da Artes(1998), que contemplam a
o, desenvolver de sua sensorialidade, fruição dos alunos ao propor atividades de
sensibilidade, criação e exercício de sua contato com a obra, promovendo uma maior
autonomia, ajudando-o a observar e analisar compreensão dos significados que as
conscientemente os conhecimentos, ofertados produções e obras artísticas podem contribuir
pela escola para sua formação. Franz e Kugler para a sua formação.
(2004, p.13), corroboram“pesquisas Aprender arte não envolve apenas uma
comprovam que estes atributos pessoais são atividade de produção artística pelos alunos,
cada vez mais adquiridos pelo processo de mas também a conquista da significação do que
aprendizagem e vivência com as linguagens fazem, pelo desenvolvimento da percepção
artísticas”. estética, alimentada pelo contato com o
Um fator importante que marcou fenômeno artístico visto como objeto de
valorizando a presença da arte como disciplina cultura através da história e como conjunto
obrigatória na formação dos, educando foi à organizado de relações formais(BRASIL, 1998,
publicação da LDB - Leis de Diretrizes e Bases da p.44).
Educação Nacional(9394/96), que instituiu a Podemos afirmar que historicamente a
arte como componente obrigatório no ensino vinculação da, artes como base fundadora para
regular em seus diversos níveis, afim de a expressividade dos alunos no ensino regular é
conceber aos indivíduos a promoção do importante, pois com suas linguagens propicia
desenvolvimento cultural. no universo escolar inculcar os princípios
estéticos, representativos contextualizados a
A ARTE COMO vida educacional dos seus, integrante com o
repertório cultural do seu grupo de
COLABORADORA EDUCACIONAL pertencimento.
A arte colabora para a educação formal, A Arte possui diversas formas de
interferindo positivamente na qualidade do interpretações e maneiras para expressar seus
ensino, por possibilitar uma diversidade das conteúdos aos indivíduos, pois os envolvem de
manifestações artísticas em suas facetas e um modo sincero que os ajudam a expressar
linguagens, seja por meio da arte, música, seus sentimentos e emoções. Em sua aplicação
dança ou teatro. Auxiliando e integrando as no contexto escolar a Arte deve abranger as
diversas disciplinas, por uma forma lúdica suas quatros linguagens a dança, as artes
diferenciada, trazendo aos momentos didáticos visuais, teatro e música.
Segundo os PCN’S (1998, p. 47):

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

espera-se que os alunos, progressivamente O aluno poderá desenvolver seu


adquiram competências de sensibilidade e de conhecimento estético e competência artísticas
cognição em Artes Visuais, Dança, Música e nas diversas linguagens da área de Arte (Artes
Teatro diante da sua produção de arte e no Visuais, Dança, Música, Teatro), tanto para
contato com o patrimônio artístico, exercitando produzir trabalhos pessoais e grupais como
sua cidadania cultural com qualidade para que possa, progressivamente, apreciar,
(BRASIL,1998, p. 47). desfrutar, valorizar e emitir juízo sobre os bens
Combinando com os diversos conteúdos artísticos de distintos povos e culturas
mediados para que trabalhem produzidos ao longo da história e na
simultaneamente contemplando os eixos que contemporaneidade(BRASIL, 1998, p. 47).
interligaram ações para a mobilização da As linguagens artísticas devem exercer uma
reflexão em ação. As concepções artísticas influência positiva na formação dos alunos,
foram construídas por meio dos tempos para auxiliando na compreensão, articulando sua
aprimorar a canalização do repertório cultural percepção, sensibilidade, autoconfiança,
formado pela sociedade, para que o sujeito contextualizando os diversos saberes, para que
tenha maior desenvoltura e utilize suas por meio de uma reflexão, aprimorem o
ferramentas para trabalhar a expansão de sua processo de aprendizagem.
criatividade. Promovendo a formação artística e estética
O objeto de estudo e de conhecimento de do aluno em suas futuras mediações sociais.
arte é a própria arte e o aluno tem de se Por motivar a coo-relação de todos os
confrontar com a arte nas situações de conteúdos, sendo possível o trabalho de forma
aprendizagem. Em outras palavras, o texto mais atenua e pacífica dos conceitos mais
literário, a canção e a imagem trarão complexos que as outras disciplinas, propõe em
conhecimentos ao aluno em situações de sua estrutura, pois por meio dos projetos que
aprendizagem, pois ele precisa ser incentivado serão desenvolvidos envolverão todos os
tanto a exercitar-se nas práticas artísticas e saberes, guiando as questões educacionais
aprender a fruir arte como exercitar a concretizando a produção educacional para a
contextualização que envolve pesquisar e saber finalidade de envolver o aluno e este ser o
situar o conhecimento de arte (BRASIL, 1998, criador de suas ações e decisões.
p.46).
Com a inclusão da Artes no currículo escolar A DANÇA NA EDUCAÇÃO
foi possível um exercício maior da reflexão e
Como referenciado anteriormente a Arte
experiências para exercitar o processo de
pode ser expressa dentro dos muros escolares
conhecimento, reconstruindo a compreensão
por meio de diversas formas e linguagens que a
dos significados com a combinação das
ajudaram no processo de formação integral do
linguagens artísticas com os conteúdos das
aluno, para que participe ativamente de forma
disciplinas regulares, propiciando ao alunado
crítica nas diversas atividades sociais que serão
uma ampla formação estética.
postas em sua formação.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As linguagens artísticas proporcionarão na formação técnica em dança, ou seja, na


bases sólidas e profundas diretamente ligadas a formação do bailarino, propiciam a formação
formação e produção do pensamento do do criador, do pesquisador e do professor. Isso
educando, ajudando-o, por ser consensual as tem possibilitado uma reflexão muito maior a
áreas ligadas ao saber. respeito do papel da dança na sociedade e
A expressão artística expande, diversificado o campo de atuação dos
acrescentando relativamente a potencialidade profissionais da área (STRAZZACAPPA, 2006, p.
da Arte na educação, tendo força para 90;91).
representar seu papel de discorrer por meio de Alguns objetivos que podemos justificar a
suas linguagens a democratização cultural. prática da dança na rotina escolar são a
Potencializando o ensino da aula de Arte o projeção do desenvolvimento afetivo,
processo de inserção será plenamente emocional, cognitivo, expressivo e a auto -
satisfatório para que o aluno atue em qualquer estima. Segundo Strazzacappa (2006, p. 5), “A
campo da área do conhecimento, investigando dança é como ferramenta para os
e ampliando suas perspectivas, conduzindo desenvolvimentos motor, psicológico, social e
discussões que fundamentarão seus momentos afetivo, ou para a apreensão direta de
de pesquisas, apresentando em suas conceitos de outras disciplinas”.
mediações diárias fragmentos que pré, Um dos principais conhecimentos adquiridos
condicionará o decorrer pedagógico escolar. por meio da dança ao educando é o
Uma das diversas linguagens da Arte é a reconhecimento do seu corpo que está em
dança que inserida no campo educacional intensivo contato com o meio, alterando-se
promove um novo fôlego nas dimensões conforme as mediações que são postas em sua
educacionais, por ser uma manifestação inata rotina. Contando em sua composição com a
do indivíduo, por dar liberdade ao ser, subjetividade do ser, acoplando no ensino suas
trabalhando de forma mais simplória o características biológicas, psicológicas e sociais.
movimento e o reconhecimento corporal entre Construindo as referências para a compreensão
outros saberes, aprimorando suas noções do processo criativo passando informações
rítmicas e espaciais. importantes para o processo educacional.
Apesar de grande importância para o Através da dança pode-se trabalhar e
desenvolvimento do aluno é uma área que investigar diferentes metodologias para
carece de estudos e pesquisas que valorizam agregar diferentes sujeitos, ou seja, uma
sua atuação no campo pedagógico, vinculando pluralidade de construções corporais, sem que
a sua prática a outra linguagem artística como a as mesmas sirvam como motivo para que o
música e a disciplina de educação física. sujeito seja colocado à margem deste tipo de
A dança, como área de conhecimento linguagem (STRAZZACAPPA, 2006, p. 101).
autônoma, vem ampliando seu espaço e A dança no ensino desencadeia reflexões
lutando pelo devido reconhecimento de seu sobre a prática pedagógica, pois privilegia o
valor, principalmente na área acadêmica. Os trabalho, discutindo as expressões,
cursos superiores de dança, além de auxiliarem movimentos e processos de criação durante a

676
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

composição dos atos e coreografias. Para que a


troca da aprendizagem seja significativa e
alcance a todos no processo de aprendizagem.
Auxiliando no processo de percepção da
identidade, expressividade, na composição de
diferentes produções e execuções de
movimentos, no tocante que atuam com sua
aplicação no espaço escolar. Uma estratégica
eficaz para a aprendizagem da dança na escola
é estabelecer os parâmetros, perspectivas, e
maneira para que o professor e o aluno se
expressem por meio do corpo, encontrando
diversas possibilidades que confronte a
plenitude desta linguagem, construindo seus
saberes de forma dinâmica e criativa.

677
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao praticar o domínio das linguagens artísticas a criança internalizará uma capacidade de
representação, para ordenar e definir seus conhecimentos, criando uma afinidade e sensibilidade
que desenvolverá uma consciência, trazendo mudanças para a sua formação.
As diferentes manifestações artísticas construirão uma consolidação na criatividade da
criança, por trazer embutida constantes inovações necessárias para um processo de ensino-
aprendizagem de qualidade. Tornando acessível a criança uma interpretação, criando uma
interação que integra os diversos conhecimentos para que assuma com propriedade o mundo
real com o imaginário.
Por meio da dança a criança expressará suas capacidades sensoriais, rítmicas, dramaturgas
e motoras, passando a ser compreendida como ser que produz um conhecimento significante
para o processo de troca de saberes com os seus familiares, professores e sociedade. Este
conhecimento traz mudanças, que influem no sujeito em diversos níveis, tirando as limitações
que outrora enclausurava a expressividade, tirando do indivíduo a capacidade de se renovar,
comunicar e refletir.
A criança alargará sua capacidade de criar, internalizando os aspectos imaginativos,
atribuindo uma nova gama de artifícios que trará consigo novos traços coordenados que
simbolizará a sua consciência e auto - crítica, sob as concepções das linguagens artísticas.

678
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BARBOSA, A. M. Pesquisas em Arte-Educação: recorte sociopolítico. Revista Educação &
Realidade, v. 30, n. 2, 2005.

BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental, (1998). Parâmetros curriculares nacionais:


Arte. Brasília: MEC/SEF.1998.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - Vol. 3 Música.


Departamento de Política da Educação Fundamental Coordenação Geral de Educação Infantil.
1998, p. 45-112.

FRANZ, T.S. KUGLER; KUGLER, L. M. Educação para uma compreensão crítica da arte no
ensino fundamental: finalidades e tendências. Da Pesquisa–Revista de investigação em
artes, v. 1, n. 2, 2004.

KISHIMOTO, TIZUKO M. A LDB e as instituições de educação infantil: desafios e


perspectivas. Revista Paulista de Educação Física. 1999, p. 7-13, 2001.

SILVA, M. B; GALVÃO, A. O. Concepções de arte na educação. Revista HISTEDBR,


Campinas, n. 35, p. 141-159, 2009.

STRAZZACAPPA, M. Dança na educação: discutindo questões básicas e polêmicas.


Revista Pensar a Prática, v. 6, p. 73-86, 2006.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AS EMOÇÕES NOS ADOLESCENTES


Gisele Saviani1

RESUMO: O conhecimento da forma e do funcionamento de áreas específicas do cérebro sempre


foi motivo de investigação na ciência para se compreender uma característica peculiar da espécie
humana: o pensamento. A palavra emoção deriva do latim movere, mover, ou seja, colocar em
movimento. As emoções motivam todas as escolhas importantes que fazemos, ou seja,
resumidamente, as pessoas desejam ser felizes. Transformações de carácter físico; social
(mudanças na relação com os pais, amigos, sexo oposto); e psíquico (mudanças ao nível cognitivo
e no modo de se ver a si próprio. Segundo a Organização Mundial de saúde (OMS), a adolescência
é uma fase do desenvolvimento humano que tem início aos 11 anos, porém o término desta nos
dias de hoje, é considerado incerto. Pode ser entendida como uma construção histórica, bem
como social; porém durante a fase da puberdade, esta é caracterizada pelas transformações
biológicas que levam à capacidade reprodutiva, e que certamente desempenha papel importante
nesse processo. Sendo assim, o objetivo desse artigo é o de tratar o assunto emoções, bem como
reconhecer que essas emoções estão dentro de nós e como conseguimos lidar com as mesmas,
especialmente durante a juventude. Portanto, a fase da adolescência é tão desafiadora quanto
prazerosa, e que deve ser vivida plenamente. É dever dos adultos que já passaram por essa fase
tentar tolerar as mudanças, e estimular no caso dos pais a autonomia dos filhos, além de fornecer
informações sobre as consequências de seus comportamentos e, principalmente, se dedicar à
construção de vínculos fortes com eles. A função dos professores é o de também estabelecer um
intercâmbio com os pais ou responsáveis, e com isso ajudar os adolescentes a conseguirem
enfrentar essa fase conflituosa, que é a adolescência. Lembrando que novos comportamentos
emocionais são adquiridos de forma contínua durante a vida e que são somados com os
anteriores. Dessa forma possibilita que nos adaptemos a quaisquer circunstâncias em que

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Ciências; Bacharel em Medicina Veterinária.
E-mail: giselevet@hotmail.com

680
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

vivemos. Tal situação ocorre porque as respostas emocionais estão ligadas não só ao passado
evolucionista, mas também ao passado pessoal e ao presente que ditará o futuro.

Palavras-Chave: Emoção; Adolescente; Família; Sociedade; Escola.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO manifestações, sem a necessidade de


alterações corporais visíveis (ALEXANDROFF,
O conhecimento da forma e do 2012, p. 38).
funcionamento de áreas específicas do cérebro, As emoções possuem em seu centro, ou seja,
é algo que fez com que houvesse sempre em seu núcleo a experiência de prazer ou dor,
investigação na ciência para se entender uma sendo que está inserida na consciência da
característica própria da espécie humana: o estrutura de significados de uma situação
pensamento. Assim, o homem constrói ideias colocada. Dessa maneira, a percepção da
sendo capaz de se comunicar através da pessoa em relação à situação e o significado
simbologia da fala e da escrita. Tal capacidade emocional oriundo dessa percepção
de pensar está ligada diretamente à emoção fundamentam as emoções e sua intensidade
(BARRETO; SILVA, 2010, p.387). (FRIJDA, 1995, apud, RUEDA; SISTO, 2007, p.
Segundo Tomkins, apud Ekman (2011), as 394).
emoções objetivam todas as escolhas A emoção é a fase mais arcaica, ou seja, mais
significativas que fazemos, ou seja, antiga do desenvolvimento. Ao sair do estado
resumidamente, as pessoas desejam ser felizes. estritamente orgânico, a pessoa é um ser
Afinal, não desejamos sentir medo, raiva, emocional, no qual, vagarosamente, surge o
aversão, tristeza ou aflição, a menos que seja racional. No início da vida, a afetividade e a
nas chamadas linhas seguras de um cinema ou inteligência estão misturadas, mas há
entre as páginas de um romance. Segundo supremacia do afetivo. Elas se alternarão e se
alguns cientistas, ou seja, em suas afirmações influenciarão reciprocamente, ao longo do
sempre há alguma emoção ocorrendo, mas ela desenvolvimento infantil, pois a afetividade
é muito sutil para que a percebamos ou para retrocederá para dar espaço ao cognitivo e vice-
que afete nossas ações. As emoções se versa. Com isso, em cada período ou estágio do
desenvolvem e nos preparam para lidar de desenvolvimento haverá a predominância e
maneira rápida com eventos essenciais de alternância de um destes aspectos
nossas vidas, sendo uma ideia simples, porém (ALEXANDROFF, 2012, p. 39).
fundamental (EKMAN, 2011). Segundo Wallon (1982), o desenvolvimento
O ser humano costuma permanecer por um de suas ideias, no que diz respeito à afetividade
longo tempo dependente dos outros que o pode se perceber como a dimensão humana
cercam. Entre a mãe e a criança estabelece-se facilita e até mesmo incentiva o processo de
uma linguagem de caráter emocional e, aos aprendizagem e cognição do indivíduo. O afeto
poucos, a consciência de si e do mundo vai é fundamental, como elemento básico da
sendo construída nesta relação. Dessa forma, afetividade humana, que é um “conjunto de
por meio da linguagem, são construídas a fenômenos psíquicos que se manifestam sob a
consciência e a cognição. A afetividade vai forma de emoções, sentimentos e paixões,
adquirindo independência dos fatores acompanhados sempre de impressão de dor ou
corporais, ao longo do desenvolvimento prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado
passando a ser expressa por palavras e outras

682
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ou desagrado, de alegria ou de tristeza” (CODO; desenvolver um entendimento sobre si mesma


GAZZOTTI, 1999, apud, BEZERRA, 2006, p. 20). durante o conjunto de lembranças com seus
Assim, segundo Galvão (1999), na obra de pais das experiências vivenciadas por ela. No
Wallon: “As emoções, assim como os entanto, ainda existem poucas informações
sentimentos e os desejos, são manifestações da disponíveis sobre os possíveis efeitos dessas
vida afetiva. Além disso, “o estudo da criança conversações na regulação de emoções em
exigiria o estudo dos meios onde ela se etapas posteriores, como no caso da pré-
desenvolve”. É impossível de outra maneira adolescência (MACEDO; SPERB, 2013, p. 133).
conseguir determinar exatamente o que é Para os autores Breinbauer; Maddaleno,
devido a este e o que pertence ao seu (2005, apud, MACEDO; SPERB, 2013, p. 133), o
desenvolvimento espontâneo” (WALLON, momento mais adequado para ser abordado
1982, apud, BEZERRA, 2006, p. 21). por programas de prevenção e promoção de
A vida cotidiana frequentemente apresenta saúde, é a pré-adolescência, pois os
situações que obrigam a pessoa a lidar com comportamentos que comprometem a saúde
suas emoções. Há eventos mais repletos ainda não se iniciaram ou são mais fáceis de
emocionalmente do que outros, mas mesmo mudar, como recomenda a Organização Pan-
eventos simples do cotidiano dão um certo tom americana da Saúde (OPAS). Segundo a OPAS a
emocional (FIVUSH & KUEBLI, 1997, s.p). pré-adolescência, refere-se à faixa etária de 9 a
O desenvolvimento da habilidade para 12 anos em meninas e de 10 a 13 anos em
regular as próprias emoções é uma meninos (MACEDO; SPERB, 2013, p. 133).
consequência da socialização, sendo Segundo a Organização Mundial de saúde
indispensável para que a criança possa se ligar (OMS), a adolescência é uma fase do
aos valores e padrões de convivência social desenvolvimento humano que tem início aos 11
(GRUSEC, 2002, s.p). anos, porém o término desta nos dias de hoje,
Vária pesquisas constataram que a é considerado incerto. Pode ser entendida
conversação sobre experiências emocionais como uma construção histórica, bem como
entre os pais e a criança ainda pequena tem social; porém durante a fase da puberdade,
uma função estratégica no desenvolvimento de esta é caracterizada pelas transformações
sua habilidade para identificar, compreender e biológicas que levam à capacidade reprodutiva,
expressar emoções (BURCH; AUSTIN; BAUER, e que certamente desempenha papel
2004; DUNN; BRETHERTON; MUNN, 1987, importante nesse processo. Nesse período, o
apud, MACEDO; SPERB, 2013, p. 133). corpo muda, e todos percebem (FONDELLO,
Segundo os autores Fivush (1991,2007), 2018, p. 01).
FIVUSH; HADEN; REESE( 2006 ,apud, MACEDO; Contudo, o cérebro muda mais ainda, e, com
SPERB, 2013, p. 133), os resultados de algumas ele, muda o jeito de pensar, sentir e agir
pesquisas têm mostrado que a criança daqueles que, até então, eram crianças
desenvolve um modelo para avaliar sua bastante dependentes dos pais. O cérebro
experiência, tais como aprender a lidar com as diferente do que se pode imaginar não nasce
emoções que a acompanham, bem como pronto; transforma-se ao longo dos anos. As

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conexões cerebrais vão se formando e que a tarefa central do desenvolvimento é


dependem do quanto são estimuladas, e sendo justamente a definição da identidade. Durante
assim, o amadurecimento total dessa complexa a infância, as aptidões que o indivíduo adquiriu
rede de neurônios só ocorre por volta dos 24 permitiram criar um rascunho da ideia de si,
anos. Por isso, é esperado que os adolescentes principalmente por meio do contato com
desenvolvam novas habilidades ao mesmo outros significativos. Dessa forma, vai ser
tempo em que são imaturos para tantas outras. durante a adolescência que o que foi adquirido
As reações emocionais também são intensas é reelaborado, criando assim uma identidade
nessa fase da vida. Mudanças repentinas e diferenciada dos outros, integrada, coerente,
imprevisíveis de humor, às vezes consolidada e com sentimentos de
acompanhadas de agressividade, são continuidade e de unidade.
frequentes; mas, em sua maioria, representam Sendo assim, o objetivo desse artigo é o de
a insegurança e a ansiedade diante de tantas tratar o assunto emoções, bem como
situações novas, que geram dúvidas e reconhecer que essas emoções estão dentro de
provocam transformações (FONDELLO, 2018, p. nós e como conseguimos lidar com as mesmas,
01). especialmente durante a adolescência.
A falta de perseverança que alarma os
familiares é a mesma que o adolescente sente DESENVOLVIMENTO
e com a qual nem sempre sabe lidar. Nesse
Segundo Ratey (2002, apud, BARRETO;
caso, surgem momentos de tristeza ou
SILVA, 2010, p.387), a palavra emoção deriva do
frustração que o levam a ficar sozinho em seu
latim movere, mover, ou seja, colocar em
quarto ou agir por impulso a fim de aliviar a
movimento. É fundamental compreender que a
própria sensação de impotência. É nesse
emoção é um movimento de dentro para fora,
contexto que o uso de drogas ou as
um modo de comunicar os nossos mais
“dependências não químicas” – fazer compras,
importantes estados e necessidades internas.
comer, jogar ou usar a internet de forma
No século XIX, Darwin (1872/1965), trouxe
excessiva – podem parecer alternativas de
como proposta um poderoso modelo de
enfrentamento, pois produzem efeitos
explicação “histórico-adaptativa” para a
imediatos. Entretanto, seus efeitos são tão
emoção ao estabelecer uma descrição
potentes quanto fugazes, e dessa maneira não
anatômica da expressão facial humana. Suas
resolvem os conflitos do adolescente sendo
investigações produziram a descrição dos
capazes de trazer prejuízos bem estabelecidos
detalhes da expressão facial e muscular que
para seu desenvolvimento cerebral
acompanham várias emoções. Foram sugeridas
(FONDELLO, 2018, p. 01).
homologias para reações em diferentes
Segundo os autores Erikson(1968), Wigfield;
espécies e possíveis funções da expressão,
Wagner(2005, apud, NUNES, 2011, p. 05), A
hoje, bem como no passado evolucionário.
fase da adolescência é, conforme esse modelo,
Sendo assim, a expressão da emoção seria um
é identificada como a quinta fase, ou seja, a da
vestígio das reações em espécies ancestrais
Identidade versus Difusão de identidade, em
(SANTOS, 2007, p. 176;177).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo Darwin (2009, apud, SIM, 2014, p. humanos só saberiam agir de forma impulsiva,
24), as emoções são operações mentais excitável, eufórica, episódica e sem
acompanhadas de uma experiência interior planejamento. Eis a razão por que o cérebro
característica e subjetiva, capaz de orientar o humano integra inúmeros e complexos
comportamento e realizar alterações processos neuronais de produção e de
fisiológicas como expressões faciais e regulação das respostas emocionais (FONSECA,
movimentos corporais, além de suor, 2016, p.366).
taquicardia, etc. Charles Darwin foi o primeiro a Segundo António Damásio (2000):
constatar que tanto em homens quanto em as emoções têm função social e papel
animais, as expressões comportamentais de decisivo no processo da interação. As emoções
emoções são inatas, podendo ser as emoções são adaptações singulares que integram o
positivas ou negativas relacionadas ao bem mecanismo com o qual os organismos regulam
estar do sujeito (DARWIN, 2009, apud, SIM, sua sobrevivência orgânica e social. Em um
2014, p. 24). nível básico, as emoções são partes da
É importante ressaltar que as emoções regulação homeostática e constituem-se como
raramente ocorrem de forma isolada ou de um poderoso mecanismo de aprendizagem. Ao
forma pura. Aquilo a que estamos reagindo longo do desenvolvimento, “as emoções
muitas vezes muda rapidamente no ambiente; acabam por ajudar a ligar a regulação
o que nos lembramos de e imaginamos a homeostática e os ‘valores’ de sobrevivência a
respeito da situação pode mudar; pois nossas muitos eventos e objetos de nossa experiência
avaliações mudam e podemos ter um afeto autobiográfica” (DAMÁSIO, 2000, p. 80).
sobre afeto. Em geral, as pessoas vivenciam um As emoções fornecem aos indivíduos
fluxo de respostas emocionais, porém, nem comportamentos voltados para a sobrevivência
todas iguais. Às vezes, as emoções podem estar e são inseparáveis de nossas ideias e
separadas por alguns segundos, de modo que sentimentos relacionados a recompensa ou
algumas das respostas iniciais chegam ao fim punição, prazer ou dor, aproximação ou
antes do começo das novas. Outras vezes, as afastamento, vantagem ou desvantagem
emoções ocorrem num tempo concomitante, pessoal etc (SANTOS, 2007, p. 175).
misturando-se (EKMAN, 2011). No entanto, evidência empírica atual
As emoções fazem parte da evolução da demonstra que a família é um dos contextos
espécie humana e, indiscutivelmente, do sociais mais importantes na vida de
desenvolvimento da criança e do adolescente, adolescentes. De maneira peculiar, os pais
constituindo parte fundamental da continuam a ser importantes agentes de
aprendizagem humana. Sem ordenar de socialização emocional e desempenham um
funções de auto regulação emocional, a história papel decisivo no sentido de facilitar ou
da Humanidade seria um caos, e a promover o desenvolvimento (BARIOLA, et al.,
aprendizagem da criança e do adolescente, um 2011; MORRIS, et al., 2007, apud, SILVA;
drama indescritível, as emoções tomariam FREIRE, 2014, p. 191). Ao comparar com o afeto
conta das funções cognitivas e os seres que foi experimentado, por exemplo, noutros

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contextos de vida, ou seja, quando os descobre um estímulo capaz de evocar


adolescentes estão com os membros da família, emoções (MACEDO; SPERB, 2007, p. 135).
relatam mais afeto positivo e menos ansiedade, Por outro, existe a possibilidade (sugerida
irritação e humor deprimido (SCHNEIDERS, et por alguns psicólogos do desenvolvimento e
al., 2006,apud, SILVA; FREIRE, 2014, p. 191). todos os psicanalistas, atualmente, apoiada
Segundo Helsen e colaboradores (2000, pela evidência crescente dos estudos do
apud, SILVA; FREIRE, 2014, p. 191) Investigação cérebro e da emoção) de que a primeira
acerca do apoio social percebido na infância é decisiva na formação da
adolescência comprova que embora se personalidade e da vida emocional. O que é
verifique um aumento do suporte dos pares em aprendido nessa época é mais forte e resistente
relação ao suporte parental, este último fica à mudança. Os gatilhos adquiridos em período
como um melhor indicador do tão decisivo podem produzir um período
desenvolvimento positivo dos adolescentes refratário mais longo (EKMAN, 2011).
que o suporte dos pares. Com isso, maior Os resultados de um determinado estudo
suporte parental percebido está associado ao mostraram que crianças de escola particular
relato de menos problemas emocionais pelos equivaleram emoção a sentimento, diferente
adolescentes. do que ocorreu com as crianças de escola
A sugestão de um determinado estudo foi pública, de nível socioeconômico mais baixo.
com base na possibilidade de o autocontrole Em suas associações livres, emoções estiveram
relacionar-se às emoções. Assim, partiu-se do relacionadas à tristeza, mas ao falarem das
objetivo de que crianças e adolescentes com próprias emoções, fizeram mais associações
um autocontrole elevado apresentariam com alegria. Os autores entendem que as
também uma pontuação elevada nas emoções crianças da escola particular perceberam as
consideradas negativas (tristeza e medo), peculiaridades das emoções, diferente do que
enquanto a pontuação nas emoções positivas aconteceu com as crianças de escola pública
(alegria e coragem) tenderia a ser menor. Além (MACEDO; SPERB, 2007, p. 135).
disso, pensou-se na possibilidade de obter uma É parte de nossa herança evolucionista
maior relação entre o autocontrole relacionado indicar o início de cada emoção. Pelo visto, ao
a sentimentos e emoções, no caso as emoções longo da história de nossa espécie, foi mais útil
estudadas do que com o autocontrole das para nós do que para as outras espécies saber a
normas e condutas sociais (RUEDA; SISTO, emoção que estávamos vivenciando sem ter de
2007, p. 399). contá-las (EKMAN, 2011).
Os autores utilizaram a distinção que Possivelmente existem inúmeros circuitos
Damasio (2004), faz entre emoção e para as muitas respostas que caracterizam cada
sentimento. Sentimento é a representação emoção. A evolução define previamente
mental do corpo funcionando de certa maneira, algumas das instruções ou sistemas de um
enquanto emoção é uma coleção de respostas circuito em nossos programas de afeto abertos,
químicas e neurais que forma um padrão gerando os sinais emocionais, a emoção que
específico, o que ocorre quando o cérebro impulsiona para a ação e as mudanças iniciais

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

na atividade do sistema nervoso autônomo. influência da família, se ele tem o hábito de


Estabelecem, também, um período refratário, e compartilhar e relembrar suas experiências em
assim interpretamos o mundo de acordo com a casa (MACEDO; SPERB, 2013, p. 134).
emoção que estamos sentindo (EKMAN, 2011). Sabe-se, no entanto, que a maneira de
A adolescência é um período de compreender emoções, e a decorrente escolha
desenvolvimento mais investigado, com de estratégias de regulação, sofre influência da
1.567.833 resultados na BVS. cultura (DIAS, et al., 2000); do momento
Justifica- se porque é um grupo etário histórico e da classe social em que a pessoa está
vulnerável e de risco para a depressão, inserida (ROAZZI, et al., 2011); do contexto em
transtornos de conduta, transtornos que ocorre a situação que evoca a emoção
alimentares, drogas e violência, como mostra (Santos, 2005); e da idade (DIAS, et al., 2000;
uma revisão das publicações brasileiras sobre ROAZZI, et al., 2011; SANTOS, 2005, apud,
saúde mental na adolescência (BENETTI, MACEDO; SPERB, 2013). A ação dessas
RAMIRES, SCHNEIDER, RODRIGUES, & influências e diferenças metodológicas pode
TREMARIN, 2007, p.34). explicar por que diferenças de gênero
No entanto, o início de alguns transtornos aparecem em algumas pesquisas e não em
mentais tem ocorrido antes desse período. outras. Quanto às diferenças culturais, Dias, et
Problemas tais como a depressão, por exemplo, al. (2000), compararam crianças de 5 a 9 anos
têm ocorrido cada vez mais cedo (BAHLS & de idade, brasileiras e norueguesas, com
BAHLS, 2002). Assim, é necessário intensificar respeito ao uso de estratégias para regular as
as investigações na pré-adolescência, para que emoções de tristeza ou raiva. Enquanto as
se possa criar e programar práticas preventivas crianças brasileiras mostraram preferência por
(MACEDO; SPERB, 2013, p. 133). buscar a ajuda dos pais para lidar com as duas
Foi observado também que durante a emoções, as crianças norueguesas preferiram
adolescência, o relacionamento com pares e buscar o apoio social dos amigos. Com relação
amigos, juntamente ao relacionamento com os ao nível socioeconômico, Roazzi, et al. (2011),
parceiros românticos, se transforma no verificaram que este pode influenciar a maneira
determinante mais forte do valor do self como a criança representa suas emoções
(SHAFFER & KIPP, 2009). Esse processo é (MACEDO; SPERB, 2013).
acompanhado de um afastamento natural do Por isso, é importante salientar que, a
núcleo familiar (WAGNER, FALCKE, SILVEIRA, & emoção tem tanta importância no início da vida
MOSMANN, 2002). Enquanto na pré- que, sendo por meio dela, que o corpo toma
adolescência, apesar de se verificar um forma e consistência. É o que Wallon(1982),
aumento da influência dos pares e amigos chama de atividade proprioplástica, ou seja,
sobre a maneira de ser e de compreender as designação que Wallon(1982), deu às
experiências (BREINBAUER & MADDALENO, expressões de emoção, às mímicas e aos fatos
2005), a família ainda exerce uma influência de imitação, que ao modelar o corpo através da
predominante. Assim, é possível que a maneira atividade muscular, permite a exteriorização
de regular a emoção do pré-adolescente receba dos estados emocionais e a tomada de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

consciência dos mesmos pelo indivíduo. Dessa se manifestam. Segundo Dantas (1992b: 85), a
maneira, pode-se afirmar que a emoção é emoção é ao mesmo tempo social e biológica
visível, através das modificações que ocorrem em sua natureza, pois realiza a transição entre
na mímica e na expressão facial o estado orgânico do ser e a sua etapa
(ALEXANDROFF, p. 39; 40). cognitiva, racional, que só pode ser atingida
As emoções serão, portanto, sempre através da mediação cultural, isto é, social
acompanhadas de reações neurovegetativas (BEZERRA, 2006, p. 21).
(aceleração do batimento cardíaco, mudança É importante salientar que existem
na respiração, secura na boca, perturbações concordâncias com as contribuições de Wallon
digestivas) e expressivas (alterações na enunciadas por DANTAS (1992a) em seu
postura, na mímica facial, na forma de trabalho, quando afirma que a escola comete
expressar os gestos). Por serem acompanhadas erros porque desconhece as várias fases de
de modificações exteriores, as reações desenvolvimento da mente humana; e erra
expressivas são altamente contagiosas e também, por não conhecer conteúdos culturais
mobilizadoras do comportamento do outro, que possam contextualizar concretamente os
pois “em todo arrebatamento emotivo, o alunos, e persiste no erro ainda mais, por
indivíduo extravasa de certa forma a sua desconhecer as histórias de vida de cada um.
sensibilidade. Suas reações emotivas Não que seja suficiente conhecer o universo
estabelecem entre o eu e o outro uma espécie cultural de convívio e sociabilidade dos
de ressonância e de participação afetivas” indivíduos, sobretudo das crianças, mas com
(WALLON, 1995, p. 164). certeza é indispensável para efetivar uma
Por isso, elas predominam no primeiro ano escolarização mais coerente perceber esta
de vida do bebê, e as atitudes modeladas pelo dimensão da realidade humana.
outro se constituem nas primeiras maneiras de Foi constatado que, quanto à interação
expressão (ALEXANDROFF, p. 39; 40). afetiva professor/aluno no processo de ensino
Por isso, é possível afirmar a partir das ideias aprendizagem Wallon considera a afetividade
de Wallon(1982), que a sociedade interfere no de especial relevância, uma vez que a tendência
desenvolvimento psíquico da criança, por meio intelectualista, generalizada na escola na
de suas experiências consecutivas e das atualidade, parece ignorar os determinantes
dificuldades – ou não – para vencê-las, já que afetivos e emotivos do pensamento e da
ela – a criança – depende para viver e conduta do aluno (BEZERRA, 2006, p. 24).
sobreviver durante muito tempo dos adultos Dessa maneira, outras estratégias de
que a cercam (BEZERRA, 2006, p. 21). enfrentamento incluem conhecer seus pontos
Dessa forma, a emoção ocupa um lugar frágeis e tentar prever as consequências de
importante nas concepções psicogenéticas de seus atos para evitar comportamentos
Wallon(1982), pois para ele a emoção é vista impulsivos indesejados. Assim, é possível
como instrumento de grande importância para buscar outras formas de se expressar, bem
a sobrevivência da espécie humana e por sua como socializar, regular emoção e, até mesmo,
vez também da afetividade, na qual as emoções “descarregar a raiva”, como por meio de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esportes ou também nas atividades artísticas. que crianças emocionalmente inteligentes são
Ao encontrar uma atividade na qual tenha mais prováveis de ter relações sociais positivas.
destaque, o jovem se sente, também, mais Segundo esse autor, ainda se a criança possuir
autoconfiante e realizado, motivando-se para competências de regulação emocional, estas
outros planos no futuro (FONDELLO, 2018, p. influenciaram o seu bem-estar social (OLIVEIRA,
03). 2008, p. 51).
A aprendizagem ocorre a partir de situações No caso da falta de recursos adequados para
que intercomunicam afetividade com enfrentar as tarefas nucleares do
intelectualidade. Godoy (1997, p.35), desenvolvimento, além de ter que lidar com as
estabelece a importância de alguns elementos exigências cotidianas poderá colocar o
que possibilitam a aprendizagem tais como: o adolescente em situação de vulnerabilidade e
autoconhecimento, a autonomia e a auto exposto ao sofrimento psicológico
regulação da conduta. Mas a autoestima é sem (DRYFOO,1990,1997; SNOW,1985, cit. In,
sombra de dúvida um dos elementos mais BIZARRO, 1999, apud, NUNES, 2011, p. 11).
importantes para facilitar o processo de A OMS (2011), calcula que em cada ano,
aprendizagem do indivíduo. Segundo Bean, et cerca de 20% dos adolescentes apresentam
al (1995), a autoestima afeta a aprendizagem. problemas de saúde mental, frequentemente
Pesquisas realizadas tomando como foco da depressão (KLEIN, DURBIN, & SHANKMAN,
análise a autoimagem e a relação com o 2008) ou ansiedade (VAN OORT, GREAVES-
desempenho escolar mostra forte relação entre LORD, VERHULST, ORMEL, & HUIZINK, 2009).
afetividade e a capacidade de aprendizagem de Esta prevalência de sintomatologia está
adolescentes e crianças. Em geral, aprende possivelmente relacionada com o esforço
mais rápido e com mais facilidade o aluno que adaptativo que o adolescente tem de
está bem afetivamente. Seu desempenho empreender para resolver os desafios próprios
tende a ser efetivamente positivo, pois a deste momento do seu desenvolvimento.
autoestima elevada leva a uma ação sobre a Apenas relativamente à ansiedade é que se
realidade mais firme e convicta (BEZERRA, verificou uma maior expressão por parte dos
2006, p. 25). pré-adolescentes, possivelmente indicando
Segundos os autores Greenberg; Snell que nesta faixa etária os jovens vivenciam de
(1997, apud, Downey, et al, 2008), acrescentam um modo mais intenso o despontar de
que à medida que o cérebro amadurece e se alterações físicas, psicológicas e relacionais
desenvolve ao longo da adolescência, bem (NUNES, 2011, p. 11; 25).
como o início da vida adulta, vai havendo De acordo com os determinados estudos
mudanças decisivas nas capacidades de realizados com adolescentes, foi possível
raciocínio e, como tal, é de esperar que os mostrar que nesse período que se segue à pré-
adolescentes possam não mostrar o mesmo adolescência pode haver dificuldades para
nível de competência na gestão e integração regular a tristeza e a raiva (BAPTISTA &
das emoções. Ainda Eisenberg e colaboradores OLIVEIRA, 2004; FORMIGA, 2004; FORMIGA,
(2000, apud, MAYER, et al, 2008), constataram CAVALCANTE, ARAÚJO, LIMA, & SANTANA,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

2007; REPPOLD & HUTZ, 2003; SOARES, da qualidade nos relacionamentos e um meio
ALMEIDA, COUTINHO, & MARI, 1999). Por isso, de aperfeiçoá-los, e que devido à presença
a depressão, por exemplo, ocorre três vezes desse espaço de conversa na família durante a
mais em adolescentes do que em adultos pré-adolescência pode fazer com que melhore
(SOARES, et al., 1999, apud, MACEDO; SPERB, a qualidade do relacionamento familiar, o que
2013, p. 135). funciona como um fator de proteção para o
A depressão está negativamente associada à desenvolvimento dos filhos (MACEDO; SPERB,
percepção de suporte familiar (BAPTISTA & 2013, p. 136).
OLIVEIRA, 2004). Reppold e Hutz (2003), Em um outro estudo realizado, com relação,
constataram que adolescentes com diagnóstico ao nível da Depressão não foram encontradas
provável de depressão (5,9% da amostra) diferenças significativas entre pré-adolescentes
reportaram baixa responsividade parental. A e adolescentes, o que sugere que os sintomas
regulação da raiva em adolescentes também foi da depressão vão ter um percurso
investigada em duas pesquisas brasileiras. relativamente estável ao longo desta fase do
Formiga, et al. (2007), verificaram que o desenvolvimento. Os resultados comparativos
comportamento agressivo físico e verbal, de entre os sexos foram mais elevados nas
raiva e hostilidade, está positivamente mulheres, que expressam mais alterações
relacionado à predisposição do adolescente em emocionais, tanto de ansiedade quanto de
buscar sensações de novidade e intensidade. depressão. Ao analisar esses dados, pode
Formiga (2004), constatou que há uma relação indicar que as mulheres parecem enfrentar
inversa entre as condutas antissociais e mais dificuldades emocionais do que os rapazes
delitivas e os indicadores positivos da relação ou que podem ter maior facilidade em
familiar (compreensão, confiança, afeto) reconhecer alterações emocionais, bem como
(MACEDO; SPERB, 2013, p. 135). assumir as suas dificuldades. Tais dados
Portanto, foi observado uma aproximação encontrados em diversos estudos, vão no
entre relacionamento familiar e o sentido padrão em que as mulheres
desenvolvimento saudável ou não, com relação apresentam quadros depressivos com mais
a habilidade para regular emoções. Segundos frequência do que os homens (COSTA &
os autores Reppold;Hutz (2003, apud, MALTEZ, 2005), e ansiosos (PAULINO &
MACEDO; SPERB, 2013, p. 135 ; 136), ao GODINHO, 2005, apud, NUNES, 2011, p. 25).
investigarem sobre a depressão na
adolescência, estes chamaram a atenção para a
necessidade de um espaço familiar para discutir
os problemas cotidianos, com vistas a criar
oportunidades para compreender os eventos
estressores vivenciados por esses jovens.
Para os autores Sillars; Canary; Tafoya,
(2004, apud, MACEDO; SPERB, 2013, p.136) foi
considerado que a comunicação é um indicador

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na literatura pesquisada pode ser constatado que o período da adolescência compreende
mudanças psicológicas, físicas e sociais. Dessa forma, o comportamento do adolescente acaba
tendo influência por tais alterações, porém o ambiente em que ele está introduzido tem grande
influência em sua forma de agir. Além disso, a falta de cuidados pode trazer um histórico de
privação emocional e tornar o indivíduo, depressivo, revoltado ou agressivo.
Devidos a diversos problemas, é que as crianças deveriam ter acesso à educação
emocional desde os primeiros anos de vida, aprendendo, por exemplo, a tomar consciência das
suas emoções, a saberem lidar e aprender administrar com as emoções de modo produtivas e
menos violentas, além de aprenderem também a serem empáticas e a controlar impulsos. Este
deveria ser o caminho para que não se deixe as lições emocionais ao acaso e que ocorra qualidade
emocional no futuro. Assim, as crianças de hoje serão adultos equilibrados, completos e felizes
amanhã.
Por isso, o papel da escola nesse contexto é o de procurar respeitar as emoções e as
necessidades individuais, trazendo desafios e atividades que levem esses alunos a aumentar sua
racionalidade. A escola deve também refletir e estar preparada para o desenvolvimento de
indivíduos principalmente os mais capazes bem como integralmente formados, pois corpo mente
e sentimentos são dimensões que não é possível separar do mesmo ser.
É importante ressaltar que outras estratégias que a escola enfrenta incluem conhecer os
pontos frágeis e com isso tentar prever as consequências de seus atos para evitar
comportamentos impulsivos que venham ser indesejados. Dessa forma, é possível buscar outras
formas e maneiras de se expressar, socializar, além de regular emoção e, até mesmo, auxiliar no
descarrego da raiva, que podem ocorrer por meio de esportes ou atividades artísticas. Afinal,
quando o jovem encontra uma atividade na qual tenha destaque, faz com que este passe a ter e
sentir mais autoconfiança e ter a sensação de realizar-se, motivando-se para outros planos no
futuro. Portanto, a fase da adolescência é tão desafiadora quanto prazerosa, e que deve ser vivida
plenamente. É dever dos adultos que já passaram por essa fase tentar tolerar as mudanças, e
estimular no caso dos pais a autonomia dos filhos, além de fornecer informações sobre as
consequências de seus comportamentos e, principalmente, se dedicar à construção de vínculos
fortes com eles. A função dos professores é o de também estabelecer um intercâmbio com os
pais ou responsáveis, e com isso ajudar os adolescentes a conseguirem enfrentar essa fase
conflituosa, que é a adolescência. Desde os primeiros anos de vida, o ideal seria que as crianças
pudessem ter acesso à educação emocional, aprendendo, por exemplo, a ter consciência das suas
emoções, a saberem lidar e gerir com as emoções de modo produtivo e menos violento deveriam
aprender a ter empatia e a controlar os seus impulsos, pois apenas dessa forma é que as crianças
de hoje possam se tornar adultos equilibrados, completos buscando serem mais felizes no futuro.
Essa fase da adolescência é o preparo para o desenvolvimento humano em que inúmeros
estímulos físicos, afetivos e sociais ocorrem para que haja a maturidade psíquica. Sendo a parte
cognitiva bem desenvolvida durante esse período. É importante salientar que as emoções
raramente ocorrem isoladamente ou de forma pura, pois a reação a algo, em várias ocasiões pode

691
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mudar rapidamente no ambiente. O que acostuma acontecer é que as pessoas vivenciam um


número grande de respostas emocionais, e que nem sempre são iguais. Afinal, as emoções em
determinados momentos podem estar separadas por alguns segundos, o que faz com que
algumas das respostas iniciais terminem antes do começo das novas. As emoções podem ocorrer
também num tempo coincidente, ou seja, acabam se misturando. Lembrando que novos
comportamentos emocionais são adquiridos de forma contínua durante a vida e que são somados
com os anteriores. Dessa forma possibilita que nos adaptemos a quaisquer circunstâncias em que
vivemos. Tal situação ocorre porque as respostas emocionais estão ligadas não só ao passado
evolucionista, mas também ao passado pessoal e ao presente que ditará o futuro.

692
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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693
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA COMO


INSTRUMENTO CONSTRUTIVO NO PROCESSO
DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Sandra Regina dos Santos Barbosa1

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo refletir sobre o conceito de avaliação na
aprendizagem escolar, além de analisar a importância avaliação diagnóstica como instrumento
construtivo no processo de ensino-aprendizagem. Para tanto, tal concepção só será possível, se
os educadores passarmos ter um novo olhar sobre a avaliação, propondo-a, sempre como um
diagnóstico para detectar a defasagem do aluno e a partir da mesma elaborar situações didáticas
que os ajudem a superar os obstáculos e a avançar cada vez mais.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Avaliação; Planejamento.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo; Professora de Educação Básica II na Rede
Estadual de São Paulo.
Graduação:Licenciatura em Matemática; Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva
E-mail: sandrathaue@bol.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO construção da aprendizagem e deixando de ser


um fator de exclusão no processo de ensino,
Nos últimos anos diversas mudanças como ocorreu no passado em escolas
ocorrerão na educação, a vida mudou, temos tradicionais, na qual sua função era aprovar ou
novas concepções do mundo. As visões reprovar e mensurar a capacidade humana
autoritárias e tradicionais transferiram lugar às para se tornar um instrumento construtivo de
visões modernas e democráticas. A avaliação inclusão da aprendizagem escolar, colaborando
assume um papel importante com a evolução, com o planejamento, prática docente e
quanto à democratização do ensino, surge da promovendo o conhecimento de maneira
necessidade de se subsidiar uma aprendizagem sólida e eficaz.
efetiva e significativa, buscando a formação do Desse modo, objetivo principal da avaliação
sujeito crítico de forma democrática sem é de ajudar o aluno a se auto avaliar, a perceber
submissão, mas com liberdade, sem medo, mas seus erros. Fazer com que se auto conheça, e ao
com espontaneidade. professor a tarefa diagnosticar a defasagem e
Dessa forma, a educação brasileira tem como de planejar atividades significativas que o ajude
grande desafio dentro do contexto da a avançar. E é isso que pretendo mostrar dentro
atualidade promover a aprendizagem de todos desta problemática sobre a avaliação.
os alunos e lhes assegurar uma trajetória de No decorrer desta pesquisa foi inserida uma
sucesso. Esta trajetória só será possível se o proposta metodológica qualitativa de pesquisa
aspecto pedagógico tido como central passar a bibliográfica sobre a avaliação, para que se
fazer parte de uma gestão que priorize formas pudesse investigar o papel, da mesma no
de pensar, sentir e atuar para garantir não só contexto escolar.
acesso como a permanência do aluno na sala.
Partindo desse pressuposto, torna-se
CONCEPÇÕES SOBRE A
fundamental a constituição de um conceito de
avaliação escolar que atenda às necessidades AVALIAÇÃO
de escolarização das camadas populares, Para uma reflexão detalhada sobre avaliação
porque são elas que mais têm sofrido com o é preciso, antes de tudo, entender o significado
modelo de escola atual. E, se o movimento desta palavra. Dentre os vários conceitos de
amplo da sociedade impõe um novo tipo de avaliação, o dicionário Aurélio (2004), traz o
escola, impõe, também, a necessidade de um seguinte:
novo referencial para os processos de Avaliação é um ato ou feito de avaliar é uma
avaliação. apreciação, uma análise, valor determinado
Nessa perspectiva, o presente artigo pelos avaliadores. Avaliar determina a valia ou
pretende demonstrar como a avaliação o valor de apreciar ou estimar o merecimento
diagnóstica é de suma importância na Educação de calcular, estimar e computar (p.77).
Básica principalmente no Ensino Fundamental A partir do momento em que se pensa em
I, no qual ocorre o processo de alfabetização avaliação da aprendizagem escolar, remete-se
atuando como instrumento de avanço na à noção de fazer uma reavaliação da avaliação,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ambas estão ligadas a valores morais, éticos, De acordo com a autora em referência, mais
sociais, culturais, entre outros. A avaliação da do que avaliar é preciso que o educador inove
aprendizagem é uma tarefa didática necessária em métodos e técnicas e principalmente que
e permanente para os professores, sendo contemple a ação, a interação do educando
considerada uma dinâmica complexa, na qual é com o meio e acima de tudo que o
preciso acompanhar os percursos individuais acompanhamento do seu processo avaliativo
que constituem no espaço coletivo. aconteça de forma gradativa, ou seja, passo a
Segundo Hoffman (1991), a dicotomia passo.
educação e avaliação, é uma grande falácia. É Em algumas escolas é muito comum
necessária a tomada de consciência e a reflexão utilizarem a avaliação unicamente como ato de
a respeito desta compreensão equivocada de aplicar provas, atribuir notas e classificar os
avaliação como julgamento de resultados alunos. Esse tipo de concepção é
porque ela veio se transformando numa extremamente tradicional e cruel, uma vez que
perigosa prática educativa. Neste contexto, a a avaliação deveria contribuir para o
autora nos remete ao seguinte pensamento: desenvolvimento intelectual, social e moral dos
A avaliação é essencial à educação. Inerente alunos. E ser sempre aplicada visando
e indissociável enquanto concebida como diagnosticar como a escola, e o professor estão
problematização, questionamento, reflexão trabalhando para isso, levando em
sobre a ação. Enquanto o educar é fazer ato de consideração que os alunos não são todos
sujeito, é problematizar o mundo em que iguais, e possuem níveis socioeconômicos
vivemos para superar as contradições, diferentes assim como características
comprometendo-se com esse mundo para individuais e aprendem de maneira distinta. A
recriá-lo constantemente. (HOFFMAN, apud avaliação é uma forma de ajudar todos os
GADOTTI, 1984, p.17). alunos a desenvolverem suas capacidades
Em consonância com a citação anterior, cognitivas e intelectuais. Ela deve perder as
percebe-se, que o educar, e o avaliar tem características de transmitir, verificar, registrar,
pontos em comum, levando-se em conta, que o evoluindo para uma avaliação reflexiva e
sujeito é o elemento fundamental para a desafiadora do educador no sentido de
engrenagem do processo de ensino e contribuir para que haja troca de ideias entre
aprendizagem de forma contundente. alunos e professores e entre alunos e alunos.
Portanto, nessa tarefa de reconstrução da A avaliação da aprendizagem é uma tarefa
prática educativa, deve-se observar que: didática necessária e permanente para os
A avaliação é reflexão transformadora em professores, sendo considerada uma dinâmica
ação. Ação essa que nos impulsiona para novas complexa, na qual é preciso acompanhar os
reflexões. Reflexão permanente do educador percursos individuais que constituem no
sobre a realidade e acompanhamento, passo a espaço coletivo. Avaliar não pode se deter em
passo do educando, na sua trajetória de apenas ditar regras, estar a serviço do
conhecimento (HOFFMAN, 1991, p.18). autoritarismo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O educador deve rever sua forma de A educação dos alunos parte de uma tarefa
avaliação, levando sempre em consideração as incluindo pais, educadores, gestores públicos e
informações, os conhecimentos trazidos a particulares da educação, especialistas em
partir da família, religião, cultura entre outros. educação, todos trabalhando juntos para
Assim sendo, o educando propicia um maior construir o conhecimento de cada um, com
crescimento para o seu desenvolvimento e seus valores e culturas respeitadas, não
construção de sua personalidade. A prática de podendo ser tirana, seletiva e cruel.
avaliar deve ser revista, dar notas, fazer provas, Para romper os limites desta prática de
avaliar (LUCKESI, 2005, p.48). avaliação educacional a serviço de um
Neste contexto, percebe-se que a prática de entendimento teórico e conservador da
avaliar do professor deve ser revista em termos sociedade é preciso colocar a avaliação a
de dar notas, ou seja, na aplicação dos critérios serviço de uma pedagogia que esteja
para avaliar melhor o aluno. E ainda rever as preocupada com a educação voltada para uma
formas de avaliar, é preciso que o professor se transformação social, cultural, intelectual,
atente ao conhecimento prévio ou de outra psicológica, entre outros. O ato de avaliar está
origem que o aluno já possui e aproveitá-lo em presente em todos os momentos na vida de
diversas situações cotidianas na sala de aula. cada um.
Jussara Hoffman(2000), em seu livro A todo instante é necessário tomar decisões
“Avaliação, Mito e Desafio”, defende que o que, na maioria das vezes são momentâneas ou
conhecimento deve ser construído entre duas duradouras. Portanto os profissionais da
partes: professor-aluno, exigindo do educador educação precisam de compromisso e
uma concepção de criança, jovens e adultos, preocupar com o ensino aprendizagem, refletir
como sujeitos de desenvolvimento inserido no sobre as controvérsias, polêmicas e discussões
contexto social e político, um cidadão capaz de que surgem em torno da avaliação.
construir sua opinião com confiança, colocando Diante deste contexto de profundas
o aluno para produzir e não ter as perguntas e transformações no sistema educacional, a
respostas prontas. escola precisa repensar sua prática, porém
Na história da avaliação educacional atualmente a maioria das avaliações utiliza
brasileira nota-se que educando e educadores métodos tradicionais, não diagnosticando
frequentemente tem sido alvo de interesse de quando necessita de uma intervenção
avaliadores, sobre várias perspectivas. Muitas adequada, ao contrário, classificam, tendo em
lutas vêm sendo assumidas por educadores vista os resultados de aprová-los ou reprová-
como forma de denunciar a função seletiva e los. O que se quer dizer é que o essencial não é
discriminatória das notas. Conforme explicita mais saber se o educando merece esta ou
Luckesi (2005), “a avaliação da aprendizagem aquela nota é fazer da avaliação um
no ensino escolar se faz presente na vida de instrumento auxiliar de um processo de
todos nós que, de alguma forma, estamos conquista do conhecimento ou um instrumento
comprometidos com atos e práticas que contribui para a melhoria da
educativas” (p.38). aprendizagem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O ato de avaliar implica sobretudo em situação com a intenção de tomar e executar a


oportunizar aos alunos, alternativas que decisão mais adequada a cada situação.
viabilizem a aquisição de conhecimento sem
causar frustrações futuras na vida deles. ORIGEM DA AVALIAÇÃO
Portanto, o ato de avaliar está muito além do
quantitativo, visa à obtenção de resultados de DIAGNÓSTICA
forma inovada e com qualidade. “É preciso A ideia de avaliação diagnóstica surgiu a
entender que para avaliar precisamos partir da abolição da repetência no ensino
diagnosticar, o mesmo que constatar, qualificar fundamental nas escolas públicas, com a
o objeto da avaliação. É muito mais que aplicar chamada progressão continuada, implantada
conteúdos, uma prova, fazer uma observação” com base nas recomendações contidas na Lei
(LUCKESI, 2005, p.42). de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996.
Neste contexto entende-se que a avaliação é É uma avaliação pedagógica e não punitiva,
um processo contínuo, envolvendo, não só o que vai além da prova clássica, cujo objetivo é
aspecto quantitativo, mas sim e, contabilizar acertos e erros, conforme definido
principalmente, informações para o processo por Yves de La Taille, professor do Instituto de
de ensino e aprendizagem. Enfim, deve-se Psicologia da Universidade de São Paulo. Com a
julgar o grau de acertos que foi escrito no avaliação diagnóstica, o professor deve ser
ambiente escolar, ou seja, ela é um controle de capaz de chegar à matriz do erro ou do acerto,
qualidade, medindo a efetividade, ou não, do interpretando a produção do aluno.
processo, para que mudanças possam ser De acordo com a avaliação diagnóstica, o
feitas. professor precisa localizar num determinado
De acordo com Luckesi (2005), o foco de toda momento, em que etapa do processo de
avaliação jamais deve ser centrado no construção do conhecimento encontra-se o
conteúdo trabalhado, mas na capacidade de estudante e, em seguida, identificar as
contextualização revelada pelo educando em intervenções pedagógicas que são necessárias
aplicar conceito, ou seja, por meio da para estimular o seu progresso. Esse
participação efetiva nas aulas (atividades orais diagnóstico, se avalia a qualidade do erro ou do
e escritas), a interação professor-aluno e acerto, permite que o professor possa adequar
também por meio de dinâmicas em grupo. suas estratégias de ensino às necessidades de
A avaliação é como investigação, se cada aluno.
apresenta como forma de obtenção de dados Atualmente nas escolas públicas do estado
sobre a realidade que permitam qualificá-la em de São Paulo esse tipo de avaliação recebe o
seu desempenho, ou seja, a avaliação contribui nome de sondagem e é muito utilizada pelos
para o educador levando-o a refletir professores do ensino Fundamental I, fase, na
continuadamente sobre a prática ou criação de qual ocorre a alfabetização. A sondagem é um
novos instrumentos de trabalho. A prática da tipo de avaliação diagnóstica que visa observar
avaliação é conduzir ao melhor resultado o tipo das hipóteses que a criança se encontra
possível, daí a importância de investigar a em relação à escrita e a matemática. Essa

698
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

análise acontece constantemente em sala com mediante um processo reflexivo de


objetivo de se verificar o processo de evolução planejamento-observação, análise-reflexão, e
da criança em cada situação didática proposta deixa de ter papel dominante no processo
e romper com as possíveis dificuldades e avaliativo, passando a ser um investigador que
dúvidas que surgem durante o processo de busca sempre, melhores resultados, utilizando
aprendizagem. critérios mais relevantes centrados em
dimensões qualitativas e não quantitativas,
O PAPEL DA AVALIAÇÃO NO proporcionando de maneira ampla uma
aprendizagem mais significativa para todos os
TRABALHO DOCENTE alunos, em condições iguais.
No trabalho docente essa avaliação
concebida como diagnóstica, tem como
finalidade determinar o grau em que o aluno
A AVALIAÇÃO COMO
domina os objetivos previstos para iniciar uma INSTRUMENTO CONSTRUTIVO
unidade de ensino. Além disso, ela compreende DA APRENDIZAGEM
em verificar se existem alunos que possuem A avaliação deverá garantir que o aluno se
conhecimentos e habilidades previstas a fim de torne totalmente autônomo, ou seja, condutor
orientá-los a outras oportunidades, novas
do seu próprio destino, fazendo uso dos bens
aprendizagens. Ou seja, a avaliação deverá ser
culturais de que se necessita para constituir se
assumida como um instrumento para detectar como sujeito. É a partir dos resultados das
eventuais dificuldades e para que o professor atividades realizadas em sala, que o aluno
compreenda o estágio de aprendizagem em avalia permanentemente as dimensões dos
que se encontra o aluno, tendo em vista tomar erros e acertos que comete e das dificuldades
as decisões suficientes e satisfatórias para que que enfrenta para se desenvolver como pessoa
ele possa avançar no processo de em sua sociedade. Precisamos fazer com que,
aprendizagem e auxiliar o professor na
em nossas escolas, a avaliação da
elaboração e organização de suas ações.
aprendizagem seja uma perspectiva
No planejamento, ela é ponto de partida, diagnóstica e não autoritária. A primeira coisa a
pois a parti da mesma é que se definem as ser feita para que a avaliação sirva à
necessidades a satisfazer, e os problemas que democratização do ensino é modificar a sua
impedem que estas necessidades sejam utilização de classificatória para a diagnóstica,
satisfeitas. Além disso, é também formativa, ou seja, a função da avaliação será possibilitar
pois busca entender como se está ao educador condições de compreensão do
desenvolvendo o processo ensino- estágio em que o aluno se encontra tendo em
aprendizagem, fornecendo elementos para vista poder trabalhar com ele para que ele saia
corrigir rumos e orientar o estudante em do estágio defasado em que se encontra e
relação ao seu aprendizado. possa avançar em termos dos conhecimentos
Com a avaliação diagnostica o professor se necessários.
transforma num mediador do conhecimento,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Ao definir a avaliação, Luckesi (2005), afirma Ela faz parte de seu modo de agir e, por isso, é
que é um ato amoroso porque é acolhedor, necessário que seja usada da melhor forma
integrativo e inclusivo, o professor escolhe uma possível” (LUCKESI, 2005, p. 118).
situação e lhe da qualidade e suporte Portanto no processo de ensino-
necessário para que os entendimentos e aprendizagem, a avaliação diagnóstica possui
mudanças sejam compreendidos como um ato uma importância elevada. Luckesi argumenta
diagnóstico que permite saber quem está que a avaliação deve ser diagnóstica, voltada
precisando de ajuda para que o professor possa para auto compreensão e participação do
criar condições de aprendizado para incluir o aluno.
aluno na construção do conhecimento, Luckesi (2005), defende que a avaliação deva
relacionando suas experiências de vida com as ser um instrumento auxiliar de aprendizagem
diversas aulas e assim oferecer-lhes condições (mais diagnóstica) e não para
de aprender o que ainda não sabe. aprovação/reprovação de alunos (menos
Defino a avaliação da aprendizagem como somativa):
um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, Que a avaliação ela seja um instrumento
por si, é um ato acolhedor, integrativo, auxiliar da aprendizagem e não um instrumento
inclusivo. Para compreender isso, importa de aprovação ou reprovação dos alunos... Este
distinguir avaliação de julgamento. O é o princípio básico e fundamental para que ela
julgamento é um ato que distingue o certo do venha a ser diagnóstica. Assim como é
errado, incluindo o primeiro e excluindo o constitutivo do diagnóstico médico estar
segundo (LUCKESI, 2005, p.172). preocupado com a melhoria de saúde do
A avaliação permite julgar e classificar, mas cliente, também é constitutivo da avaliação da
essa não é a sua função verdadeira e sim a de aprendizagem estar atentamente preocupada
diagnosticar para saber o que o aluno aprende, com o crescimento do educando. Caso
para tomar decisões de como melhorar o contrário, nunca será diagnóstica (p.39).
ensino, modificar a prática para que eles Outro aspecto interessante é sobre a ideia de
alcancem os conhecimentos e assim os Luckesi (2005), da função da avaliação, como
resultados esperados. instrumento de auto compreensão do
Luckesi (2005), afirma ser necessário uma professor, aluno e sistema de ensino,
pré-avaliação para poder compreender o permitindo descobrir os desvios:
processo e a fase em que o aluno se encontra No que se refere à proposição da avaliação e
na aprendizagem, podendo, assim, encaminhar suas funções, há que se pensar na avaliação
o aluno para um processo que o beneficie em como um instrumento de diagnóstico para o
seu aprendizado. A avaliação, nesse contexto, avanço e, para tanto, ele terá as funções de
seria para auxiliar o aluno usando meios para auto compreensão do sistema de ensino, de
que ele avance e prossiga na aquisição de auto compreensão do professor e auto
conhecimentos sendo que isso é importante compreensão do aluno. O professor, na medida
nesse processo do aprendiz: “A avaliação é uma em que está atento ao andamento dos seus
ferramenta da qual o ser humano não se livra. alunos, poderá, por meio da avaliação da

700
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizagem, verificar o quanto o seu


trabalho está sendo eficiente, e que desvios
está tendo. O aluno, por sua vez, poderá estar
permanentemente descobrindo em que nível
de aprendizagem se encontra, dentro de sua
atividade escolar, adquirindo consciência do
seu limite e das necessidades de avanço
(LUCKESI,2005, p42).
Luckesi (2005), também acrescenta que para
a avaliação funcionar como ferramenta de auto
compreensão, deve ter um caráter
participativo:
Para que a avaliação funcione para os alunos
como um meio de auto compreensão, importa
que tenha, também, o caráter de uma avaliação
participativa. Por participativo, aqui, não
estamos entendendo o espontaneísmo de
certas condutas auto avaliativas, mas sim a
conduta segundo a qual o professor, a partir
dos instrumentos adequados de avaliação,
discute com os alunos o estado de
aprendizagem que atingiram (LUCKESI,2005,
p.54).
Concluindo, Luckesi (2005), defende que a
avaliação diagnóstica possui elevado valor
didático, uma vez que permite uma correção de
rumos do sistema de ensino, do professor e do
aluno, durante o processo de ensino-
aprendizagem por meio da auto compreensão,
e que para que esta ocorra, deve ser
participativa, por meio de diálogo adequado
com os alunos.

701
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A avaliação, conforme foi apresentada ao longo deste artigo, é um processo abrangente,
que implica uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar seus avanços, suas
resistências e dificuldades a fim de possibilitar uma tomada de decisão sobre como superar
obstáculos que impedem a aprendizagem dos alunos.
Outra constatação que este estudo permitiu, consiste no fato de que a classificação, na
avaliação, não auxilia em nada o avanço e o crescimento da aprendizagem do educando, somente
com uma função formativa e diagnóstica, que ela pode ter esta finalidade. E para que ela participe
do processo de democratização e da melhoria da qualidade do ensino, é preciso modificar a sua
utilização e transformá-la de classificatória para diagnóstica. Ou seja, deverá ser assumida como
instrumento para que o professor compreenda em que estágio se encontra o aluno.
Desse modo, a avaliação não se constitui apenas como um mecanismo para aprovação ou
reprovação para mensurar o conhecimento, mas sim como uma ferramenta de reorganização da
ação pedagógica, e de encaminhamentos adequados para que verdadeiramente ocorra
aprendizagem.
Nessa concepção surge um desafio que exige mudanças por parte do professor. E como é
imprescindível toda e qualquer mudança requer muito estudo, reflexão e ação.
Cabe ao educador a busca pela inovação, exige diferentes posturas deste profissional
tanto em relação à avaliação propriamente dita, à educação e a sociedade que o limita. É por
meio das metodologias e dos processos avaliativos utilizados que o professor irá participar da
reprodução ou transformação da sociedade na qual estamos inseridos, podendo formar, ou não,
sujeitos críticos e emancipados para que possam nela conviver com equidade.

702
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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Moderna, 2003.

VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação da aprendizagem: práticas de mudança: por uma


práxis transformadora. São Paulo: Libertad, 2003

703
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AVALIAÇÃO: ANÁLISE HISTÓRICA


Rosângela Barbieri Mendes1

RESUMO: O artigo apresenta aspectos da história da avaliação, da Educação Infantil no Brasil e


da avaliação e suas teorias. Neste contexto se propõe um olhar diferenciado sobre os aspectos da
avaliação, compreendendo que a mesma vai para além do quantitativo e que os aspectos
qualitativos são os que possuem relevância no ato de aprender.

Palavras-Chave: Educação; Avaliação; Aprendizagem.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação Infantil.
E-mail: rosangelamendes832@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Um dos motivos que contribuíram para o


surgimento dessas instituições era para acolher
A avalição escolar, ainda algo a se os órfãos que eram abandonados pelas
desmistificar no cotidiano da escola. mulheres da corte que tinham filhos sendo
Durante muito tempo acreditava-se que solteira, essa era uma forma de descartar o
avaliar era apenas mensurar conteúdos de filho indesejado (RIZZO, 2003, p. 37).
forma reprodutivistas e mecanicista. Fatores como alto índice de mortalidade
Esta compreensão revestia a avaliação infantil, desnutrição e o significativo número de
enquanto um instrumento de punição, uma acidentes domésticos, fizeram com que alguns
ferramenta coercitiva. setores da sociedade, tais como: religiosos,
Nesta perspectiva e objetivando descontruir educadores e empresários começassem a
conceitos estabelecimentos para avalição que pensar num espaço que as crianças pudessem
se apresenta este artigo. ser cuidadas fora da família.
A temática justifica-se em virtude de sua Não podemos deixar de comentar o período
relevância e pertinência no âmbito da em que as crianças rejeitadas pelas suas mães
educação. eram deixadas na roda dos enjeitados ou dos
excluídos2 , que por muitas décadas antes da
1

EDUCAÇÃO INFANTIL NO criação das creches, foi uma das instituições


mais duradouras de atendimento à família,
BRASIL – BREVE HISTÓRICO servindo como assistência a criança
Para melhor entendimento do histórico da abandonada no Brasil, sendo efetivamente
Educação Infantil no Brasil, dividiremos em três extinta em meados de 1950.
momentos. A educação das crianças menores de sete
Num primeiro momento discorreremos anos tem uma história de cento e cinqüenta
sobre Educação Infantil até 1988, depois sobre anos. Seu crescimento aconteceu
a Educação Infantil após 1988 e, por último nos principalmente a partir dos anos 70 e vem se
dias atuais. acelerando.
Até 1988, na Constituição e legislação Muitas são as razões desse crescimento que
educacional vigente, o atendimento as crianças acontece no mundo inteiro, em razão de vários
até seis anos não era concebido como atividade fatores, tais como:
de natureza educacional. Nessa época, ainda se • a necessidade da família de um lugar que
entendia que a creche era exclusivamente para cuidasse e educasse seus filhos;
efeito de assistência, com o intuito de auxiliar • estudos que indicam a primeira infância
as mulheres que trabalhavam fora e as viúvas como período crítico do processo do
desamparadas. desenvolvimento humano;

2 Esse nome provém do dispositivo onde se colocavam os bebês abandonados e era composto por uma forma
cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória e fixado na janela da instituição ou das casas de misericórdia. Assim,
a criança era colocada no tabuleiro pela mãe ou qualquer outra pessoa da família; essa, ao girar a roda, puxava
uma corda para avisar a rodeira que um bebê acabava de ser abandonado, retirando-se do local e preservando sua
identidade.

705
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• a compreensão de que o ser humano pequena e passa a ser o de educar e cuidar,


tem direito ao cuidado e à educação desde o conforme a Lei da Reforma do Ensino de 1971.
nascimento; Educar significa, portanto, propiciar
• direito dos pais ou responsáveis à situações de cuidados, brincadeiras e
educação de suas crianças de zero a seis anos, aprendizagens orientadas de forma integrada e
conforme a Constituição Federal; que possam contribuir para o desenvolvimento
O entendimento do caráter assistencialista das capacidades infantis de relação
começou mudar a partir de 1996 com a interpessoal, de ser e estar com os outros, em
publicação da nova LDB, estabelecendo que os uma atitude de aceitação, respeito e confiança
sistemas de ensino velassem para que as e o acesso pelas crianças, aos conhecimentos
crianças de idade inferior a sete anos recebam mais amplos da realidade social e
conveniente educação em escolas maternais, cultural(BRASIL, 1988a, p.23).
jardins de infância e instituições equivalentes. Sobre o cuidar, é importante ressaltar que
Dessa forma foi transferida aos sistemas de deve ser entendido como parte integrante da
ensino, a incumbência de regulamentar a educação “cuidar de uma criança em um
educação nessa faixa etária, o que resultou na contexto educativo demanda a integração de
diversidade de normas educacionais. vários campos de conhecimentos e a
As pré-escolas funcionavam em instituições cooperação de profissionais de diferentes
de 1º. E 2º. Graus integravam os sistemas de áreas” (BRASIL, 1988a, p. 24).
ensino, enquanto que a pré-escola oferecida A partir de então a Educação Infantil passa a
em instituições privadas e as creches públicas e fazer parte da Legislação Educacional, com seus
privadas integravam os sistemas de saúde e/ou direitos. De acordo com Lei de Diretrizes e
assistência social. Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20
A partir de 1988 a Constituição Federal, art. de dezembro de 1996:
208, IV, inscreve o atendimento em creche e
pré-escola as crianças de zero a seis anos de TÍTULO III
idade, entre os deveres do Estado, Do Direito à Educação e do Dever de Educar
reconhecendo a creche como instituição Art. 4º. O dever do Estado com a educação
educativa. escolar pública será efetivado mediante a
Conforme a LDB lei nº 9.394 art. 29o, a garantia de:
Educação Infantil é a primeira etapa da IV - atendimento gratuito em creches e pré-
educação básica e tem como finalidade o escolas às crianças de zero a seis anos de idade;
desenvolvimento integral da criança até seis Seção II
anos de idade, em seus aspectos físicos, Da Educação Infantil
psicológico, intelectual e social, Art. 29º. A educação infantil, primeira etapa
complementando a ação da família e da da educação básica, tem como finalidade o
comunidade. desenvolvimento integral da criança até seis
Com essa mudança, o dever da instituição anos de idade, em seus aspectos físico,
educativa deixa de ser velar pela criança psicológico, intelectual e social,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

complementando a ação da família e da de implantação do ensino fundamental em


comunidade. nove anos, que implica na matrícula de alunos
Art. 30º. A educação infantil será oferecida de seis anos no ensino fundamental e não mais
em: na pré-escola
I - creches, ou entidades equivalentes, para
crianças de até três anos de idade; Tabela 2.1 - Número de matrículas da Ed.
II - pré-escolas, para as crianças de quatro a Infantil Brasil 2002-2010
seis anos de idade. Pré -
Ano Total Creche escola
Art. 31º. Na educação infantil a avaliação far-
se-á mediante acompanhamento e registro do 2002 6.130.358 1.152.511 4.977.847
seu desenvolvimento, sem o objetivo de 2003 6.393.234 1.237.558 5.155.676
promoção, mesmo para o acesso ao ensino 2004 6.903.762 1.348.237 5.555.525
fundamental (BRASIL,1996, s.p).
2005 7.205.013 1.414.343 5.790.670
A Educação Infantil é oferecida creches ou
entidades equivalentes3 para crianças de zero a
1
2006 7.016.095 1.427.942 5.588.153
três anos e nas pré-escolas para crianças de 2007 6.509.868 1.579.581 4.930.287
quatro a cinco anos. 2008 6.719.261 1.751.736 4.967.525
Atualmente, de acordo com o Resumo
2009 6.762.631 1.896.363 4.866.268
Técnico do Censo Escolar 20104 seguindo a
2

tendência de 2009, a creche continua sendo a 2010 6.756.698 2.064.653 4.692.045


∆%
etapa de ensino com maior crescimento no 2002/2010 10,2 79,1 -5,7
número de matrículas da educação básica, Fonte: MEC/Inep/DEED,2010.
registrando aumento da ordem de 9,0%, o que
corresponde a 168.290 novas matrículas. A maior participação na educação infantil
Comparando com o início dos anos 2000, o está nas redes municipais de ensino, e a pré-
crescimento ultrapassa 79% (ver Tabela 2.1). escola segue a mesma tendência. Os municípios
Isso se deve ao reconhecimento da creche detêm 74,8% do atendimento que, em termos
como primeira etapa da educação básica, absolutos, corresponde a 1.345.180 matrículas.
sobretudo com o advento do Fundo de A rede privada participa com 23,8%, seguida
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), das redes estaduais, com 1,4%, e a rede federal,
com a garantia de repasse de recursos a Estados que não tem uma participação significativa
e municípios. sobre o total de matrículas dessa etapa.
Já na pré-escola, a diminuição da matrícula
de 4.866.268 para 4.692.045, correspondente a
queda de 3,6%, pode ser atribuída ao processo

3 Entidades comunitárias, empresas públicas ou privadas, entidades filantrópicas ou confessionais, ou, ainda, em
casas de família, como no caso das mães crecheiras.
4 Todas as informações constantes deste Resumo estão disponíveis no site www.mec.gov.br

707
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO respeitar diferenças, saberes, raça. (Nessa


época não se usava o termo etnia)
Podemos citar também a precariedade de
Sabe-se que avaliação no Brasil já, tomou como era a avaliação na época do Império, nas
muitos rumos e agora vem se adequando escolas primárias e públicas, nesse período
conforme as necessidades que apontam a ainda não havia práticas avaliativas
educação. sistematizadas, uma vez que os alunos não
Atualmente a avaliação é um tema bem eram examinados regularmente.
discutido, por isso esse assunto tem Foi só no período Republicano que o ensino
desempenhado um papel central no processo se instituiu como atividade sistemática, tendo
ensino aprendizagem. No decorrer da história que respeitar algumas regras.
da educação, o termo AVALIAÇÃO sempre foi Nos novos tempos, a avaliação tem sido
ligado à ideia de aprovação ou reprovação. preocupação e fonte de pesquisas de muitos
Com um breve levantamento histórico que se preocupam com a educação. A avaliação
veremos que avaliação da aprendizagem tomou no Brasil já percorreu um grande percurso e os
diversas formas ao longo do tempo e pode-se educadores acreditaram ter mais para
ter panorama de como chegamos aos dias de percorrer.
hoje em relação no que diz respeito avaliação e Sousa (1998), desenvolveu um artigo5 sobre 1

que muitas dúvidas ainda assombram os a História da Avaliação no Brasil nestes últimos
educadores. 30 anos. Em sua pesquisa feita sobre Avaliação
Tudo começou com o ensino jesuítico: Educacional, mostra os desafios que o Brasil
centrado no universalismo do ensino, vem enfrentando desde a década de 90, e tenta
distanciando os alunos do mundo, trazendo ressaltar os problemas da avaliação. A mesma
resultados nada positivo para a vida prática. Foi autora informa, na pesquisa supracitada, que a
por meio de educação jesuítica que se instituiu, trajetória de alguns pesquisadores sobre esta
no Brasil, uma forma peculiar de avaliação. temática.
A avaliação no ensino jesuítico tinha, Rosales (1992), afirma que a avaliação é uma
portanto, a função de disciplinar os alunos e a área de conhecimento muito nova, mas que
educação era diferenciada para a elite e para as sofreu um desenvolvimento muito significativo
classes populares A elite tinha uma educação nos últimos anos. Até os anos 70, a avaliação
formativa que formação o cidadão para estar era apenas uma criança, nos anos 80 se tornou
em cargos de destaque fato que já não uma adolescente e que só, a partir dos anos 90,
acontecia com a educação das classes passou a caminhar para a idade adulta.
populares. Isso fez com que a educação Na década de 30, surgiu uma preocupação de
tomasse características elitistas e tradicionais, avaliar o desempenho escolar no Brasil, Alves
universalizando a transmissão da cultura sem (1930), foi quem defendeu os testes
pedagógicos, argumentando que sua

5Artigo: Descrição de uma trajetória na/ da Avaliação Educacional - Série Ideias n. 30. São Paulo: SDE, 1998, p.
161;164.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

objetividade seria mais adequada do que as Ana Maria Saul, Magda Soares e Pedro Demo
avaliações subjetivas que eram realizadas Alves que também não aceitavam esse tipo de
acreditava em uma avaliação que fosse orientação teórica predominante da avaliação
pensada com mais objetividade que olhasse educacional.
para o aluno com um todo. Juntamente com outros autores Magda
No entanto muitos autores posteriormente Soares e Pedro Demo, Sousa (1998) propunha
foram buscando aperfeiçoamento para essa que o aluno deveria ser avaliado em todo o
nova teoria. Entre eles, podemos citar Bloom contexto do curso e não somente como um
(1971); Gagné (1963); Mager (1962); Popham produto final. Todo esse processo pensado e
(1973) e Tyler (1949) com uma teoria mais preparado anteriormente possibilitaria analisar
sistematizada. aqueles que estavam se desenvolvendo com o
que fosse proposto para que o aluno avançasse
A AVALIAÇÃO E SUAS TEORIAS e os que não estavam para então fazer a
intervenção necessária no decorrer do curso.
Com as pesquisas realizadas por Bloom
Quando então é apresentado por Scriven
(1971), Gagné (1963), o processo de avaliação
(19637), o conceito de avaliação somativa e
foi criando forças e tomando sentido. Primeiro,
formativa trazendo grande impacto na década
os educadores tinham que saber o significado
de 70.
dessa questão tão discutida.
Já Parlett & Hamilton (1977), traziam a
Segundo, os avaliadores norte-americanos
avaliação iluminativa, criticando a avaliação
acreditaram nessa nova proposta de que a
tradicional, estes autores afirmavam que:
Avaliação tinha que deixar de ser superficial e
[...] a forma mais comum de avaliação, do
mais objetiva, e tinham um suporte positivista
tipo agro botânico; consiste em se verificar a
para eles avaliar, “consiste em comparar
eficiência de uma inovação, examinando se
resultados dos alunos com aqueles propostos
esta atende ou não os padrões ou critérios
em determinado plano” (CLARILZA SOUSA,
previamente definidos. Um pouco como se
1998).
fossem sementes, os alunos são pré-testados
Partindo desta fala, entende-se que a
(as sementes são pesadas e medidas) e, depois,
avaliação era apenas um processo superficial.
submetidas a experiências diferentes
Para realizar uma avaliação, o sujeito tinha que
(tratamentos). Após certo período, o seu
ser observado e só era avaliado o que fosse
rendimento é medido (“crescimento ou
observável.
produção”.) para se constatar a eficiência
O profissional da educação usaria o
relativa dos métodos utilizados (fertilizantes)(
instrumento que mais coubesse no momento,
PARLETT & HAMILTON,1977).
ou seja, provas ou testes como algo que
Macdonald (1977), assim como tantos outros
pudesse mostrar qualquer problema no
autores como Jussara Hoffmann traziam outros
comportamento do estudante.
tipos de avaliação, cada um defendendo a sua
Sousa (1998), não satisfeita com esses
ideia. Na verdade, o questionamento mais
resultados começou a questionar, e em
relevante da Avaliação Educacional somente
conjunto com os avaliadores brasileiros como

709
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

vai ser construído no Brasil na década de 80,


quando as contribuições da sociologia se
tornam efetivas na área educacional.
Na verdade todos estes autores acima
citados e outros de grande importância, assim
como os estudiosos brasileiros que procuram
novos modelos para os paradigmas da
avaliação conseguiram ampliar os olhares para
esse assunto.

710
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face ao apresentado é fundamental que a avaliação escolar se constitua em um
instrumento de aprendizagem e não em uma ferramenta de coerção.
Avaliar é um ato subjetivo, um ato que para além de um momento se constitui em uma
trajetória de aprendizagem, de evolução e de desenvolvimento.
Nesta perspectiva cabe aos docentes apropriar-se de novos paradigmas que revestem a
avaliação, compreendendo que a avaliação não se encerra em aspectos quantitativos, mas sim
em um olhar qualitativo do que se aprende.

711
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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715
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

BRINCAR É COISA SÉRIA


Rosimeire Matias de Oliveira1

RESUMO: Este artigo tem como objetivo refletir como o professor de educação infantil pode ter
uma visão global do trabalho por meio dos jogos e brincadeiras, partindo do resgate de suas
próprias experiências, ampliando o potencial de observação e de análise do cotidiano, elaborando
argumentos para refletir sobre as situações de ensino e aprendizagem, a partir de referenciais
teóricos e da fundamentação conceitual que está presente em toda concepção de ensino.

Palavras-Chave: Brincar; Jogos; Aprendizagem; Professor; Educação.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia Institucional; Especialização em de
Educação Inclusiva; Especialização em Práticas em Alfabetização e Letramento.
E-mail: rosimatiasos@gmail.com

716
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO ele responsável pelo enriquecimento ou


empobrecimento da atividade de brincar?
Reconhecer o direito da criança ao brincar Brincar: Qual sua origem e significado para as
implica numa preocupação com a formação crianças?
cultural e educacional dos adultos que dela se Perguntas tão abrangentes como as citadas
ocupam, sejam eles homens ou mulheres, acima, nos remetem a problemas concretos e
professores ou educadores. Isto porque, a cotidianos relativos ao trabalho educacional
representação que se tem da criança e de sua com crianças e sua atividade lúdica.
atividade vai resultar na maneira como o adulto É necessário refletir sobre a relação
se relaciona com o brincar infantil. contraditória existente entre a liberdade de
Em casa, nas creches, nos jardins de infância ação e escolha que vivem os pequenos ao
e nas escolas, tem surgido constantemente a brincar e a intervenção do adulto. Esta reflexão
pergunta sobre a importância da atividade poderá nos auxiliares a inserir o jogo ou a
lúdica para o desenvolvimento infantil e sobre brincadeira infantil no dia-a-dia das instituições
o lugar que esta deve ocupar na educação das de conhecimento e de estruturação como ser
crianças. humano.
Para além de uma questão puramente Para tanto, poderemos detalhar melhor
técnica ou metodológica, essa dúvida deve nossas dúvidas, começando por nos questionar:
incidir na maneira como se entende o Valorizamos a brincadeira das crianças?
conhecimento e a produção de cultura de cada Quanto tempo permitimos (ou não) que as
grupo social, assim como o lugar e os direitos da crianças brinquem?
infância em nossa sociedade. Isto porque, na Como organizamos os espaços?
busca em encontrar respostas, poderemos Quais objetos, entre brinquedos, livros,
definir, com clareza, nosso papel enquanto materiais de sucata, e tantos outros,
adultos na relação com os pequenos e suas oferecemos às crianças, e em que condições
brincadeiras. para que os explorem e utilizem livremente?
Conhecemos, nós mesmos, as brincadeiras e
O QUE É BRINCAR objetos com os quais as crianças inventam,
Brincar: É uma atividade inata na criança ou imaginam e vivenciam situações lúdicas?
uma experiência sociocultural específica, em No quadro dessas indagações é que
cuja transmissão o adulto e a sociedade algumas brinquedotecas brasileiras e européias
ocupam lugar preponderante? vem desenvolvendo trabalhos de formação
Brincar: É uma atividade puramente gratuita, permanente em serviço com grupos de
de divertimento, ou possui uma relação com o educadores e professores de diversas
processo de desenvolvimento afetivo, físico, instituições infantis.
cognitivo e social infantil? A perspectiva é de aprofundar a relação
Brincar: Sendo o brinquedo objeto sócio- criança / brinquedo e o brincar do ponto de
cultural produzido pelo adulto para a criança, é vista educacional.

717
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ARTICULAR TEORIA E PRÁTICA pode ser estudado, analizado e comparado com


o trabalho que cada um desenvolve na sua
Na formação dos profissionais de educação
instituição de origem. O adulto, a partir de
da criança pequena, seja nos cursos específicos
parâmetros teóricos definidos, aprende a
de pedagogia, aprende-se frequentemente
observar as crianças, entendendo a brincadeira
diversas teorias sobre o brincar e o
a partir das interações e experiências reais.
desenvolvimento infantil sem, no entanto,
Pode, assim, construir uma metodologia de
estabelecer uma relação com práticas
trabalho que estabelece um ir e vir da teoria á
educacionais e crianças reais. Geralmente, as
prática, baseado nas suas observações e nas
propostas transmitidas idealizam a infância,
leituras e análises feitas em grupo.
criando uma idéia, junto aos educadores, de
Explorar e conhecer para poder
que ora há nada fazer frente as brincadeiras,
compartilhar: o contato com brinquedos
ora estas devem ser aproveitadas de maneira
estritamente didática, transformando o jogo industrializados, artesanais e de sucata, assim
livre em exercício motor puro e simples. como o trabalho em oficinas de expressão
plástica e dramática, permite ao adulto um
A ausência de cursos de formação para
conhecimento mais profundo dos objetos com
profissionais de creche nos põe frente a
os quais as crianças estão em contato diário.
educadores que podem, intuitivamente,
Experimentando uma vivência lúdica, os
relacionar-se com as crianças de forma lúdica.
profissionais podem explicitar suas
Falta-lhes, no entanto, condições para
representações de infância, confrontando-as
enriquecer sua ação junto aos pequenos. A
com as dos colegas e construindo novas formas
ausência de sistematização e compreensão do
de aproximar-se da atividade infantil. Dessa
seu significado educativo e cultural dificulta a
maneira, o educador poderá definir melhor
transmissão de experiências interessantes nas
seus critérios de seleção, apresentação dos
instituições de atendimento.
materiais e propostas junto ás crianças, levando
Por diversas razões, financeiras, geográficas
em consideração sua faixa etária e interesse
ou culturais, os adultos desconhecem a forma
específicos.
de utilização dos vários brinquedos existentes
no mercado e com os quais as crianças mantém
contato, seja em casa, nas instituições ou por BRINCAR COMO ATIVIDADE
meio dos meios de comunicação de massa. SOCIAL
Portanto, resultado de fatores históricos e Parte-se da premissa de que o brincar infantil
sociais bem precisos, os profissionais da é uma atividade social interativa e cultural. De
educação da infância, no confronto com as uma parte, baseia-se na cultura do mundo
práticas educativas cotidianas, tem buscado adulto,sendo uma forma que a sociedade
resolver suas dúvidas em processos de
desenvolveu para socializar seus sucessos.
formação em serviço, junto a seus pares. Como toda atividade cultural, estabelece uma
Aprender a observar: o resultado das relação contraditória com seu repertório de
investigações e observações sistemáticas de origem, o que significa que o jogo é, ao mesmo
crianças brincando, seja em grupos ou sozinhas,

718
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tempo, a tentativa de reproduzir o mundo Apesar de diferenciar-se do trabalho e da


adulto (imitação) e a busca em superá-lo vida cotidiana, origina-se nestes como forma de
(imaginação). Brincar, é também uma pensá-los por meio da representação.
atividade fundamentalmente interativa É uma atividade imaginativa, ou seja, baseia-
(criança/objeto) criança/adulto, se simultaneamente na percepção objetiva do
criança/criança ou grupo, criança/consigo mundo, das pessoas e das coisas e na
mesma) e por isso mesmo, lugar de troca, de compreensão subjetiva destes elementos. Sua
discussão e construção de regras de característica imaginativa depende e está
convivência. condicionada á capacidade dos participantes da
brincadeira em assumirem diferentes papéis e
COMO RECONHECER O de se utilizarem de brinquedos.
É organizada aleatoriamente, em função de
BRINCAR necessidade e desejos daqueles que brincam.
Ao chegar à escola a criança já traz consigo Por isso dizemos que ela também é uma
um vasto repertório de conceitos (ainda não atividade livre, pois não tem compromisso nem
sistematizados) a respeito do mundo. Seu se obriga a obter um produto.
mundo cultural, a princípio, é constituído de Os participantes, enquanto brincam,
movimentos, de atividades lúdicas, criatividade constroem regras de convivência durante o
e fantasia. Por isso, em qualquer atividade processo e buscam entender aquelas que são
realizada com crianças pequenas, os jogos e/ou inerentes ás realidades que compõem o tema
brinquedos deveriam estar obrigatoriamente de suas brincadeiras.
presentes. A ludicidade não deveria acontecer Para brincar, os jogadores interagem entre
(quando acontece), apenas nas aulas de si, criando um sistema de comunicação e
educação física, mas em todas as atividades expressão singular própria ao grupo.
desenvolvidas, principalmente nas séries Brinquedo é utilizado aqui como sinônimo de
iniciais. Através das atividades lúdicas, que todo objeto que representa algo ou que pode
estão presentes em qualquer “movimento” das ser utilizado como substituto, tendo como
crianças desde o seu nascimento, é que elas se função a imagem que produz na brincadeira.
relacionam com o mundo, a princípio, o dos As classificações de jogos e brinquedos são
adultos. Ficamos cada vez mais convencidos de tão numerosas que seria impossível e mesmo
que nos espaços onde existe liberdade de desnecessário, citá-las todas. No entanto, elas
movimentos (interação pessoas-objetos- podem ser agrupadas em diversas categorias
conhecimentos) as pessoas se envolvem, que foram surgindo frequentemente no
desenvolvem e constroem seu conhecimento decorrer da evolução das diversas concepções
sobre o mundo em que vivem” do brincar, várias delas subsistindo e se
( SANTOS, 1998,p.34). superpondo.
Pistas para fazê-lo... Pode-se inferir como jogos, uma variedade
É uma atividade social, não é delírio! conhecidos, como: faz-de-conta, simbólicos,
motores, sensório-motores, intelectuais ou

719
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cognitivos, individuais ou coletivos, transmitindo assim somente um aspecto parcial


metafóricos, verbais, de palavras, políticos, de – e fracionado – do jogo.
adultos, de crianças, de animais, de salão e uma Algumas classificações chegam a ignorar
infinidade de outros mostrando a totalmente a função do jogo e classificam o
multiplicidade de fenômenos incluídos na brinquedo pelo brinquedo, como abjeto de
categoria “jogo” e cada um joga à sua maneira, coleção. Este raciocínio está bem distante do
pois tais jogos, embora recebam a mesma nosso, cujo objetivo (que não exclui a reflexão)
denominação, cada um têm suas é o de fornecer, simplesmente, o jogo infantil,
especificidades, dentro do contexto social, partindo logicamente também de uma hipótese
cultural em que estão inseridos(KISHIMOTO, (atualmente em fase de justificativas
1994,p.57). científicas) tão simples como genérica: o jogo é
Assim vamos observar: fonte de alegria, de equilíbrio e de
Classificações etnológicas ou sociológicas, desenvolvimento.
que analisam os brinquedos em função do Consciente de que não se pode, atualmente,
papel que lhes é atribuído (ou que a na área do jogo, partir para uma explicação
classificação lhes atribui) nas diversas geral do homem sem ser arbitrário, a
sociedades classificação evita estabelecer como
Classificações filogenéticas que analisam os fundamento um esquema teórico que leve a
brinquedos em função da evolução da criar categorias que ficariam vazias , ou a
humanidade, evolução esta reproduzida pela eliminar alguns brinquedos que não
criança em seus jogos encontrariam seu lugar. Seu caminho é duplo
Classificações psicológicas que se (para ser aberto e controlável):
fundamentam na explicação do 1 - Ela classifica o que existe: os brinquedos
desenvolvimento da criança e em função das 2 - Segundo o que a criança faz: seu jogo.
quais se estabelece uma hierarquia dos jogos Através desses jogos de reciprocidade
Classificações pedagógicas que distribuem os constrói-se, entre adultos e criança, um sistema
brinquedos seguindo diferentes aspectos e de expectativas recíprocas e um patrimônio de
opções dos métodos educativos. significados compartilhados. Salientam,
E muitas outras, sem falar nas mais simples, sobretudo, a qualidade e a coerência dos
mas também arbitrárias, como as de faixas cuidados prestados à criança e a importância
etárias ou a dos materiais com que se fabricam dos hábitos, ao comunicar-se com uma
os brinquedos. determinada criança, o que torna única e
Reconhecendo a importância de todas estas irrepetível a história social (NEWSON ,1974,
classificações, cada uma com sua contribuição p.39).
no estudo de jogo, é preciso admitir que elas se Esse caminho se baseia, portanto na
fundamentam numa hipótese (muitas vezes observação direta, apoia-se no uso cotidiano. É
apresentada como uma certeza pelo seu autor) verdade que este objetivo é modesto e
e só levam em conta um aspecto do homem prudente, evidencia nossa ignorância ainda
segundo a filosofia que a ele se aplica, grande do fenômeno do jogo (o que não

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

impede que se trabalhe para ter um melhor O valor de estruturação: Relaciona-se com o
conhecimento dele), mas cumpre seu objetivo desenvolvimento da personalidade da criança e
que é o de ser útil. abrange o “conteúdo simbólico” do jogo e do
Não é fácil ser simples, sobretudo partindo brinquedo, projeção, transferência, imitação.
de todos os pontos de vista enumerados, a esta Vestir uma fantasia pode parecer absurdo,
classificação não foi instituída em um dia, numa porem a criança é uma forma de experimentar
pincelada. um “modo de ser”. Esta função permiti
Sua elaboração é o resultado de uma longa assimilar emoções e sensações (ninar a
experiência, que é útil relembrar em algumas boneca), descarregar tensões (brinquedos ditos
palavras, para mostrar melhor o alcance e o agressivos). Estes valos dizem respeito a tudo
funcionamento desta visão do brinquedo por que concorre a elaboração da área afetiva.
meio da atividade da criança. O valor de relação: diz respeito á forma
O valor funcional: É caracterizado pelas segundo a qual o jogo ou brinquedo facilitam o
qualidades intrínsecas do brinquedo (dado estabelecimento de relações com outras
retomado em parte pelas normas de crianças e com os adultos, propondo o
segurança). Isto é válido para todo objeto aprendizado de regras (jogo de loto), de
visual, mas como o brinquedo se destina a seres comportamentos(jogos de comidinha), de
em desenvolvimento, seu valor funcional diz simulação (jogos de papéis e de empatia). A
respeito á sua adaptação ao usuário: em outros função de relação de um brinquedo pode ser
tempos, os primeiros jogos de construção eram objeto de uma experiência direta (aprender a
minúsculos, adaptados à mão da criança, jogar cada um na sua vez), mas
calmamente sentada frente a uma mesa; hoje a frequentemente, nesta área como em todos os
maioria deles está na escola da mesma da aspectos do jogo, a contribuição é sobretudo
mesma criança brincando no chão, com todo indireta (em segundo grau): o jogo de damas é
seu corpo. o único campo, na qual um filho pode vencer o
Valor experimental: Diz respeito àquilo que a pai e resolver assim situações familiares
criança pode fazer ou aprender com seu conflituosas.
brinquedo, em todos os níveis: fazer ruído, Cada brinquedo encerra estas quatro
rodar, encaixar, construir, medir, classificar... qualidades num maior ou menor nível,
Engloba todas as caixas de conteúdo técnico ou geralmente uma delas é dominante e é esta que
científico(por exemplo, a maleta de médico, a será usada para a classificação básica.
montagem de modelos reduzidos) e os jogos O objetivo lúdico está na moda: é
didáticos. Estes últimos foram durante muito programado, analisado, avaliado! Mas será que
tempo uma das raras formas de jogo admitida ainda serve para brincar? Escolher um
pela sociedade: o jogo de percurso da História brinquedo para a criança de hoje, torna-se uma
da França, o loto das sílabas... nos séculos XVIII tarefa cada vez exigente e, mesmo para alguns
e XIX, reforçavam o ensino, mas ignoravam a adultos, um verdadeiro desafio. É muito forte a
educação pré-escola. tentação de confundir o jogo com o jogador e
de esquecer que o objeto não substitui nem a

721
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ação nem o prazer gratificante de brincar só por


brincar.
O objeto lúdico, como qualquer outro de
produção comercial, tornou-se uma fonte de
consumo, de supervalorização, de exploração e
de interrogação. Os inventores e os fabricantes
dos objetos lúdicos sucedem-se a uma
velocidade vertiginosa, cada um deles
pretendendo possuir o brinquedo ideal e
apregoando os méritos das suas últimas
criações. No entanto é preciso não esquecer o
essencial desses objetos e a razão por que
foram fabricados. O brinquedo não deve ser um
fim em si, deve ser antes de tudo um objeto que
possa ajudar, facilitar e agir favoravelmente
sobre certas etapas do desenvolvimento da
criança. Nesta perspectiva é necessário poder
recorrer a um utensílio de trabalho que sirva de
base a observação e análise metódica dos
brinquedos.

722
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que um dos pontos mais assimilados pela pedagogia é que a intervenção do
psicopedagogo deve ser a mais interna possível à experiência infantil, deve evitar fraturas
demasiado profundas entre o adulto e a criança. A capacidade do adulto de entrar no jogo infantil
como um companheiro que deixa a criança livre na escolha dos temas, na distribuição dos papéis,
no controle do andamento e, ao mesmo tempo, participa do desenvolvendo um papel ativo, tem
feito uma grande diferença no atendimento psicopedagógico.
Para que aconteça um interação maior , é preciso que o psicopedagogo preste muita
atenção na progressão evolutiva da criança com quem brinca, que saiba não somente reconhecer
atividades lúdicas imediatamente satisfatórias para a criança, mas que saiba intuir quando a
criança está pronta para um salto de qualidade, intervindo com propostas de jogos inéditas ou
mais complexas. A cada vez, o educador deve ser um companheiro dócil, capaz de adaptar-se aos
papéis e ás situações propostas pela criança, e um aliado capaz de inventar jogos novos.
A capacidade que se cria entre o educador e a criança que brincam juntos não possui
somente o efeito de oferecer à criança uma gama de possibilidades lúdicas posteriores, em
relação àquela que poderia experimentar sozinha ou com colegas, mas também permite ao
educador a redescoberta de aspectos de sua infância esquecida.
A redescoberta, a compreensão, o reconciliar-se com a própria infância talvez seja um dos
aspectos do profissionalismo dos educadores, que no controle do jogo, possui papel central, pois
sem a identificação da realidade infantil torna-se difícil, se não impossível, permitir, facilitar,
potencializar também nas crianças aquele relacionamento satisfatório e criativo com o mundo
que é ativado pela dimensão lúdica.

723
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ABERASTRURY, Arminda. A criança e seus jogos. Rio de Janeiro: Vozes, 1972.

ANTUNES, Celso. O jogo e a Educação Infantil – São Paulo, Editora Vozes, 2003.

BETTELHEIM, Bruno. Uma vida para seu filho. Rio de Janeiro: Campos, 1988.

BROUGÉRE, Gilles. O Brincar e a Realidade , 1975 (Mestrado em Psicologia da Educação),


PUC/SP.

EONTIEV, Alex N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: Linguagem,


Desenvolvimento e aprendizagem. Trad. Maria da Penha Villalobos, 8.ed. São Paulo, Editora
Vozes, 2003.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo, o brinquedo e a educação. São Paulo:Cortez, 1996.

LEONTIEV. Alexis N. Os princípios psicológicos da brincadeira na pré-escola. 7.ed.São


Paulo, 2001.

MOTTA, Julia M.C. Uma proposta de conceituação de jogos. In: Jogos: Repetição Criação.
2.ed. São Paulo, Editora Agora, 2002.

PELLEGRINI, Denise. Grandes pensadores. Vygotsky. Revista Nova Escola, ed. 139,jan./
Fev. 2001.

WINNICOTT, Donalds Woods. O Brinquedo e a Cultura,1994.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

COMPONENTES DA EXPRESSÃO:
A MÚSICA ASSOCIADA A OUTRAS LINGUAGENS
ARTÍSTICAS
Luiza de Caires Atallah1

RESUMO: Este artigo demonstra por meio de um registro de performance denominado


“Componentes da Expressão: Gritos da Consciência2”, a importância da Música associada a outras
Linguagens Artísticas para o autoconhecimento e expressão do indivíduo. Estabelece também a
relação do estudo das Artes no processo de formação e desenvolvimento do indivíduo consciente
para benefício próprio e consequentemente para o convívio social.

Palavras-Chave: Música; Performance; Vertentes Artísticas; Expressão; Autoconhecimento.

1 Arte Educadora na Rede Municipal de São Bernardo e Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura Plena em Educação Artística - Habilitação em Artes Plásticas; Especialização em
Educação Musical; Especialização em Psicopedagogia.
E-mail: luizaatallahartes@gmail.com
2
Para aprofundamento acessar Componentes da Expressão - Gritos da Consciência - Performance Luiza
Atallah:Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=KF8yZpY9d9w.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO livre". Naquela época, os professores que


supriam as aulas de Arte, faziam cursos de seis
A utilização das Linguagens Artísticas meses para dar conta do conteúdo de oito anos,
concomitantemente e a verificação dos logo, contribuindo para a alienação
benefícios que o próprio indivíduo vivencia, populacional, era comum a prática do
deveriam ser prática constante. Aqueles que “Desenho livre”. No dia 23 de fevereiro de
usufruem das vertentes artísticas, sejam 2016, foi aprovado o Substitutivo da Câmara
estudantes, apreciadores, dos Deputados número 14/2015 pela Comissão
trabalhadores/artistas/artesãos, assim que de Educação no Senado, chegando à fase
desenvolvem um olhar crítico com relação ao conclusiva quanto à obrigatoriedade das
“eu”, percebem que por meio das Artes Linguagens das Artes Visuais, Música, Dança e
emergem soluções para o cotidiano, bem como Teatro na Educação Básica. A tendência
para o aprimoramento íntimo e social. daqueles que trabalham, estudam e/ou
Apropriar-se de música, por meio de sons e vivenciam Arte é integrar as vertentes
palavras, integrando o fazer artístico, permite artísticas. "A necessidade é sair da
maior aprofundamento emocional. fragmentação e realizar a integração, a conexão
A música, ao tocar na sensibilidade e na dos conhecimentos; é como tecer uma colcha
emoção, resgata o humano que há nas pessoas, de retalhos, no qual o todo é feito das partes e
construindo uma identidade. Quando nos as partes compõem o todo" (MENDONÇA,
alienamos de nós mesmos, quando nos 2009, apud, FARIA, 2011, p.02).
percebemos estranhos a nós próprios, ou Neste contexto, cabe esclarecer que
quando nos sentimos por vezes desagregados quaisquer vertentes artísticas não podem ser
internamente, a música, em especial e a arte desatreladas das demais; não existe Teatro sem
em geral, possibilitam-nos uma integração Artes Plásticas - cenário, figurino, maquiagem -
‘juntando nossos pedaços (SMITH 2013, p.24). ou sem Música; não existem Artes Plásticas sem
ritmo, fala, literatura ou contextualização
CONTEXTUALIZAÇÃO DA histórica.

INTEGRAÇÃO DAS VERTENTES


UM RECORTE DE
ARTÍSTICAS
A maneira formal de se ter o primeiro
"COMPONENTES DA
contato com o fazer artístico no Brasil é por EXPRESSÃO"
meio da escola regular; no entanto, há vestígios Este artigo terá como objeto de estudo um
da educação no período da Ditadura Militar, o recorte de trabalho acadêmico de conclusão de
principal vivenciado pelos Arte Educadores curso, realizado em 2012, na graduação
atuais, é o desinteresse de alguns pais, alunos e denominada Licenciatura plena em Educação
professores de outras disciplinas sobre outras Artística - Habilitação em Artes Plásticas,
Linguagens Artísticas, pois ainda existe a realizada na FAINC - Faculdades Integradas
mentalidade de que aula de Arte é "Desenho Coração de Jesus, em Santo André - São Paulo.

726
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

E tem por objetivo demonstrar a relevância da linguagens no fazer artístico, é possível verificar
música integrada ao fazer artístico, e associada a relação entre cada parte com o todo.
a outras linguagens, para que os benefícios das O vestido é uma peça extremamente
artes possam ser vivenciados por quem a faz. feminina, a cor escolhida que chamei de
O trabalho supracitado passou por diversas “creme” é o tom de tecido mais próximo a
linguagens Plásticas antes de haver a decisão de minha pele. Ao interferi-lo com vermelho é
que o trabalho final seria composto por uma possível associar o lado sexual da mulher,
Performance, um Registro de Performance, um menstruação – transição de menina para
Fotograma dividido em suportes 13x13cm, e os mulher, nascimento/aborto -fazer artístico
vestidos utilizados na Perfomance, que motivado pela paixão desordenada, excesso de
sofreriam intervenção de Action Painting.O sentimentos-. A escolha da cor preta é como a
livro “A Arte da Performance” de Jorge materialização das palavras duras, realistas,
Glusberg, apresenta um paralelo bastante como as escritas em meus trabalhos plásticos
pertinente entre a colagem e a performance e de forma desenfreada, apenas libertando as
demonstra um percurso que passa pela Action vivências enclausuradas que não tenho
Painting, “O que oportunizou que meu fazer controle -fazer artístico motivado por vazio e
artístico saísse do bidimensional e eu, fizesse pensamentos aleatórios-. O uso do preto e
literalmente, parte da obra emocional e vermelho no mesmo suporte é como explicitar
fisicamente" (ATALLAH, 2012, p.43). toda densidade emocional do estereótipo da
O processo de criação, portanto, parte de mulher Latina: Vísceras, gritos, sofrimento,
investigações variáveis para cada artista e as lágrimas, silêncio... -fazer artístico motivado
escolhas de cores, técnicas, formas, espaços; pela ansiedade/receio – explosões
estão atreladas à necessidade de expressão. momentâneas-.Com relação às músicas, nem
O processo artístico de criação está todas as pessoas que as ouvirem terão a mesma
diretamente relacionado com as vivências de reação ou associação de vivências compatíveis
cada indivíduo. com as minhas. Meu gosto musical,
normalmente, é instigado a partir das letras: 1-
O PROCESSO CRIATIVO O sentimento de paixão desordenada será
ativado através da memória da música Just a
MOTIVADO PELA MÚSICA EM Car Crash Away – Marilyn Manson que diz “O
"GRITOS DA CONSCIÊNCIA" Amor é um fogo que queima tudo o que vê,
Os sons têm poder de acessar o emocional queima tudo, tudo que você pensa, queima
dos indivíduos de maneiras distintas, tanto para tudo o que você diz. Ela me soprou seu beijo da
bagagens emocionais saudáveis, quanto morte [...] eu já posso sentir os vermes dela
sensações desagradáveis. Para o Registro da comendo minha espinha. Então como se explica
Perfomance em questão a artista fez a escolha esta solidão? É tudo o que nós temos para
dos suportes: vestidos; das cores: vermelho e nossas vidas? O amor é apenas mais doce
preto; e de três músicas. Na integração das quando um de nós morre? Então eu sabia que
nosso amor estava a apenas um acidente de

727
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

carro de distância”. 2- Amotivação para trazer à sozinhos”. 3- E as explosões momentâneas de


tona o vazio e os pensamentos aleatórios ansiedade e receio serão geradas com a música
partirá da música Danger - Keep Away - Esta Noche – Francisca Valenzuela, que
Slipknot, que menciona “Afaste-me da minha menciona “Esta noite algo que não reconheço e
própria mentira e retire a única coisa que está dividido entre meu amor e seu ódio [...]
estava certa. Aquele lugar em minha mente, é enfrentando mil vozes, fecho meus pulmões
o espaço que você chama de meu. Eu não vou sem deixar saber o que se sente ser (ATALLAH,
deixar você ir embora sem ouvir o que tenho a 2012, p.47).
dizer. Perigo nós também nos sentimos

Figura 1 - Série de registros da segunda parte da performance com a música Danger –


KeepAway – Slipknot.

Fonte: ATALLAH, 2012, p. 50.

A música faz emergir situações e executada e registrada. A finalização conta com


sentimentos que estão em nosso consciente e uma nova música para significar o trabalho.
também em nosso subconsciente, por isso nos O vídeo que foi gerado a partir da
afeiçoamos a determinadas canções, por suas performance reúne movimentos corporais e
letras, ou simplesmente pela sonoridade. “À expressões através das tintas, apresentando as
medida que se canta, os conteúdos das canções três partes da gravação de forma contínua,
vão sendo associados com os conteúdos dos utilizando a música Omen – The Prodigy apenas
indivíduos e, por meio dessa significação, é que instrumental, no entanto, é importante
se toma conhecimento de pontos enfatizar que a letra original diz “Agora! As
anteriormente encobertos, que escritas na parede não irão embora. É um
impossibilitavam um entendimento, um presságio”; mais uma vez, as palavras estão nas
equilíbrio maior do ser e de suas experiências entrelinhas do fazer artístico (ATALLAH, 2012,
vitais”(DREHER, 2005, p.59). p. 56).
Utilizando o gestual de escrita com a técnica
de Action Painting, a Performance foi

728
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificamos que tanto a música quanto todas as formas de expressão que se utilizam das
Artes, constroem uma bagagem de descobertas e emoções próprias e significativas. Para que haja
apropriação das Artes é preciso vivenciá-las cognitiva e afetivamente.
A partir do momento em que as pessoas aprenderem a se expressar de maneira saudável
(e para tanto, temos as linguagens artísticas), muitos conflitos do mundo contemporâneo
poderão ser amenizados e até mesmo sanados, como: a impaciência, a depressão, a falta de
vontade.
As artes despertam “o ser” para de fato “ser”. A partir do raciocínio de si mesmo, questões
relacionadas ao seu universo particular de inquietações se expandem para a compreensão do
outro e do mundo ao seu redor; também pode acontecer o movimento inverso, a partir da
compreensão do mundo exterior, transportar e resolver questões do “eu”, isto é possível devido
ao poder da liberdade de expressão sem julgamentos prévios, apenas escolhas de material,
espaço, música, observação/autoanálise, que são possibilitadas por meio das vivências artísticas.
Sendo assim, é inegável a importância do contato com as diferentes maneiras de se fazer
arte; a música em especial tem o poder de despertar sentimentos, sem necessariamente o uso de
outros recursos expressivos, locais ditos apropriados ou materiais e todos os seres humanos
podem vivenciá-la, mesmo que não esteja diretamente relacionada ao contexto artístico.

729
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ATALLAH, L. d C. Componentes da Expressão: Gritos da Consciência. Santo André: FAINC
- Faculdades Integradas Coração de Jesus, 2012.

ATALLAH, L. d C. Componentes da Expressão: Gritos da Consciência. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=KF8yZpY9d9w>. Data de Acesso:19/03/2020.

DREHER, S. C. A Canção: Um Canal de Expressão de Conteúdos Simbólicos e


Arquetípicos. 2005. Disponível em:
<http://www2.pucpr.br/reol/index.php/pa?dd99=pdf&dd1=177>. Data de Acesso:19/03/2020.

FARIA, A. F. Reflexões sobre as Experiências Investigadas: A educação musical na


integração das Linguagens Artísticas e a verticalização do conhecimento. 2011. Disponível
em:<http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=1&ved=0ah
ukewi50qlo2ljlahwdtjakhfnhdy4qfggcmaa&url=http%3a%2f%2fwww2.unucseh.ueg.br%2fceped
%2fedipe%2fanais%2fivedipe%2fpdfs%2fartes%2fco%2f354-d.y>. Data de Acesso:19/03/2020.

GLUSBERG, Jorge; COHEN, Renato. A arte da performance. São Paulo: Perspectiva, 1987.

SMITH, Maristela. Cognição Musical: Uma abordagem neurocientífica para o estudo da


musicoterapia - Parte II. Música e Terapia, São Paulo, a.7, n. 39, p.24-25, jul/ago.2013.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONCEITO DE INFÂNCIA POR MEIO DA OBRA


DE RUTH ROCHA
Andréa Cristina Dos Santos Viviani 1

RESUMO: Neste artigo abordamos, por meio de pesquisa bibliográfica, as diferentes concepções
de infância inseridas nas obras de Ruth Rocha (1931), e a maneira como ela difere da maioria do
conteúdo da literatura infantil, por estabelecer seu próprio projeto de comunicação com a
criança, transitando entre o universo mágico (típico da literatura infantil) e entre a crítica à
realidade social. Pela leitura de sua obra, a criança adquire poder social, aumentando seu
conhecimento como cidadão, passando a conhecer seus direitos e deveres. Analisa-se a forma
como alguns livros de Ruth Rocha (1931), abordam a criança como criadora de cultura de acordo
com a interlocução que fazem com seus pares no contexto histórico em que as crianças estão
inseridas.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Infância; Realidade social; Literatura infanto-juvenil.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Letras; Especialização em Psicomotricidade.
E-mail: acrisvivi@gmail.com

731
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO como agente social e histórico no contexto em


que vivemos, a pesquisa em questão se baseia.
Por meio deste estudo abordamos a A autora de livros infantis, Ruth Rocha
importância da leitura dos livros de Ruth Rocha (1931), se tornou companheira de contações
(1931), e o panorama social que demonstram o nas casas e nas escolas nas rodas de história por
universo das crianças. quase três gerações justamente por ser uma
Por que analisar a obra de Ruth Rocha autora brasileira que entendeu a necessidade
(1931)? Como pensam as crianças? Como veem das crianças mudarem seus olhares e se
a leitura? Qual a dimensão de compreensão das situarem corretamente em frente à realidade
crianças. social existente no país. Assim ela passou a
Desde muito pequenas, as crianças escrever seus livros, inserida no contexto
absorvem uma gama enorme de informações histórico de plena ditadura militar no Brasil,
dentro do mundo da contação de histórias. quando foi interrogada por sua filha, a respeito
É errôneo pensar que as crianças só se do porquê de todos negros serem pobres. Ela
prendem às gravuras dos livros. Desde o viu que alguma coisa precisava ser esclarecida
momento da escolha da história a ser contada, para a construção da percepção e visão da
a criança já entra no universo da leitura criança.
observando as capas, os cheiros, o momento de
concentração das pessoas que ouvirão e METODOLOGIA
contarão a história, até que se inicie a
Antes de elucidar suas obras, é necessário
apreciação e reflexão sobre o que vai ser lido.
buscar os conceitos sobre a Literatura infantil e
Nunca vi uma criança reclamar no momento
suas concepções, o caminho da narrativa, das
que antecede a contação. A criança que desde
reminiscências, da memória, das histórias.
cedo ouve histórias, as associa com as gravuras,
Em seguida, percorrer um caminho de
a época e as imagens criadas de acordo com sua
análise de suas obras a partir do despertar da
própria imaginação. Ela recria à revelia espaços,
própria Ruth Rocha(1931), desde o momento
personagens, tempos, músicas e
que ela escreve uma das primeiras histórias,
comportamentos notáveis dentro do enredo
aos 38 anos, em 1969, para revista Recreio: a
que mudariam ou não o destino de sua história.
história “Romeu e Julieta”, sobre duas
A criança ao ingressar em uma instituição de
borboletas diferentes que se apaixonam, desde
ensino começa a ter contato com o momento
aí trazendo o assunto da diferença à tona e
da roda de conversa, onde são contadas as
tendo como auxílio a dissertação de Mônica
histórias repetidas vezes durante todo ano. A
Marçal.
cada vez que a história é contada a criança vai
Com o objetivo de aprofundamento em sua
se atentando para cada detalhe e junto a seus
leitura, é aconselhável realizar a contação e
pares vão acrescentando mais conhecimento e
anotar observações de algumas dessas histórias
experiências àquelas histórias.
para os próprios filhos e para as crianças no
Por esta importância na construção das
ambiente escolar. Depois, a partir das
ideias das crianças e de como ela se reconhece
conclusões obtidas pela leitura dessas histórias,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

descrever o modo de ser, de sentir e estar no um processo investigativo em sua escrita que
mundo, a partir das narrativas de Ruth foi perpetuado por Rocha (1931).
Rocha(1931). O presente artigo descreve como Rocha (1931), ajudou a revolucionar a
essas narrativas abordam a concepção das literatura infantil elevando a qualidade dos
crianças como protagonistas de sua história, livros publicados e ensinando o mercado a
permeando suas relações sociais a partir da tratar com respeito o público infantil. Em um
discussão de valores éticos e culturais. Isto foi tempo em que criança mal tinha direito de
possível a partir das reflexões norteadoras dirigir a palavra a um adulto, mostrou o quanto
presentes nas dissertações e artigos de: Cipolini elas são dotadas de inteligência e senso crítico.
(2007), Marçal (2013) e Meller (2009). É engraçado notar como Ruth Rocha (1931),
possui a mesma ousadia e graça de uma
RESULTADOS E DISCUSSÃO criança. Ela nasceu em São Paulo, em 2 de
março de 1931 e desde criança se identificou
A literatura infantil surgiu somente no final
com a obra de Monteiro Lobato, “Reinações de
do século XVII, quando a infância passou a ser
Narizinho e Emília”, que foi lançado em 1931,
valorizada e recebeu um tratamento
ano de seu nascimento.
diferenciado. Os primeiros textos possuíam um
Na literatura infantil de Ruth Rocha (1931),
forte cunho educativo e por meio dos séculos,
está em cena o projeto de uma literatura
este segmento foi se diversificando e passou a
emancipatória, perseguida pela autora desde
privilegiar também o entretenimento, mas
suas primeiras publicações. Sua literatura é um
continuando a ser um instrumento
convite e um estímulo ao movimento, à
fundamental para o desenvolvimento
dinâmica que deve direcionar o pensamento
intelectual da criança.
criativo e curioso, sempre aberto à diversidade
A descoberta do mundo das letras, durante a
e às mais variadas formas de entendimento do
alfabetização, pode e deve ser um processo
mundo, por meio da construção de um texto
prazeroso para a criança. O uso dos diversos
atrativo, lúdico, a explorar criativa e
gêneros de literatura como auxiliares nesta fase
poeticamente as potencialidades da linguagem
é altamente motivador. Além de auxiliar no
como forma de imersão no universo
desenvolvimento da linguagem, trabalha a
infantil(ALVES, 2013, p. 13).
criatividade, o desenvolvimento emocional, o
Em 51 anos dedicados à literatura, Ruth
raciocínio lógico, a percepção, a expressão oral
Rocha escreveu mais de 130 títulos, sendo que
e escrita, de acordo com as diferentes técnicas
35 deles foram traduzidos para 25 idiomas.
que podem ser utilizadas pelos professores.
Escolhi 13 livros para trabalhar diferentes
“Porém a literatura não pode ser fechada para
temas abordados por ela e que dão
verdades absolutas e exatas, como se fosse um
continuidade a este trabalho:
mero instrumento a serviço do utilitarismo”
(BACHELARD, 1987, p. 119).
Diferente de uma abordagem mais
pedagógica, Monteiro Lobato (1882), iniciou

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ROMEU E JULIETA Em outro trecho da narrativa, Rocha (1969),


continua:
O primeiro livro analisado foi “Romeu e
E eles olharam dentro do riacho e gritaram: -
Julieta” (1969), publicado como conto, pela
Olhe as borboletas... - Dentro d’água,
revista Recreio em 1969 e desde então, Ruth
Rocha (1931), não parou mais de escrever. Mais molhadas... Ventinho riu muito: - São vocês
tarde em 2011, publicou a mesma história mesmos. A água é como um espelho (ROCHA,
desta vez como um livro de 38 páginas, 1969, p. 22)
lindamente ilustrado por Mariana Massarani e A segregação, apresentada na narrativa, era
que faz parte do Acervo do Programa Nacional ocasionada pela cor que gerava o isolamento,
Biblioteca na Escola – PNBE/2012 – 1º ao 5º ano mas essas diferenças não eram perceptíveis.
– Ensino Fundamental – Programa iniciado pelo Segundo Marçal, é preciso lembrar que as
Ministério da Educação em 1997 e que se segregações podem ter causas sociais, políticas,
destina às escolas de educação infantil, de filosóficas, religiosas, econômicas, sexuais,
ensino fundamental (anos iniciais) e de raciais e étnicas, e que muitas vezes elas estão
educação de jovens e adultos. veladas ou ocultadas, necessitando de
Este livro conta a história de duas borboletas visibilidade para serem desconstruídas
crianças que vivem cada uma com seus pais; a (MARÇAL, 2013, p. 9).
Julieta é amarela e vive num canteiro de
margaridas amarelas, com seus pais amarelos. DAVI ATACA OUTRA VEZ
Romeu vive num canteiro de miosótis azuis. Davi Ataca Outra Vez foi escrito em 1980 e
Tanto Julieta, quanto Romeu questionam seus publicado em 1982 pela editora Ática. Conta a
pais do porquê não poderem conhecer outros história de 6 crianças: Cassiano, Beto, Caloca,
canteiros, outros aromas, e seus pais Madalena, Mariana e Davi. Todos são vizinhos
continuam pregando a segregação como uns dos outros, e vivem diariamente situações
segurança e comodismo, como é divertidas. Mariana sempre corrige Davi,
descrito:“Lugar de borboleta azul é no canteiro carinhosamente, por ainda não saber falar
azul. Sempre foi assim” (ROCHA, 1969, p. 12). corretamente.
Até que Romeu aceita o convite de Ventinho Todos na faixa de 7 anos de idade a não ser
para passear e acaba conhecendo Julieta. Davi que é mais novo e ainda não sabe escrever,
Depois de algumas dificuldades, borboletas de porém não menos importante, pois é ele quem
todas as cores se misturam, assim como as é a peça chave da história pra que consigam
flores que passam a compor um jardim impedir que um hipermercado seja construído
harmoniosamente colorido com aromas onde há um parque que serve de cenário para
diferentes por toda parte. suas inúmeras brincadeiras; por isso esta
Este é um livro que leva as crianças a história mostra a criança como protagonista de
questionarem as diferenças e a novidade como sua história.
algo bom, que não seja causador de estranheza, Além disso, mostra situações que são muito
pelo contrário que acrescente novas comuns na vida das crianças e em suas culturas
experiências. de pares. Segue abaixo, trecho do livro em que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

nota-se uma linguagem inserida em um desde antes da escrita e chegando a ter hoje
contexto bastante comum das famílias hoje em mais de 3 mil línguas. Apresenta de forma
dia: sucinta, como que por meio das guerras,
Não sei qual dos pais e qual das mães estava explorações e comércio, o homem foi
mais bravo. O Caloca era mais feliz que a gente, aprendendo novas palavras e as acrescentando
porque a mãe dele é separada do pai, e o pai em seu vocabulário de forma que hoje existam
dele mora no Rio Grande do Sul e só tinha um palavras japonesas de origem portuguesa,
para brigar com ele (ROCHA, 1982, p. 32). palavras espanholas de origem chinesa,
palavras inglesas de origem indiana, palavras
O LIVRO DO PAPEL latinas e gregas em muitos idiomas. Além do
que, com a globalização, algumas palavras são
O Livro do Papel foi escrito em 1992 e faz
conhecidas oralmente no mundo todo, são
parte da coleção O Homem e a Educação.
elas: táxi, hotel, menu, TV.
Começa descrevendo o princípio da escrita
Situar a criança historicamente, promove
pelos diferentes povos espalhados em cada
maior tolerância com as diferenças em sua
continente, correspondendo-os aos materiais
cultura de pares de forma que elas entendam
utilizados desde pedras, barro, ossos, até o
as idiossincrasias existentes na sociedade.
papiro, o pergaminho e o papel. Conta como os
chineses esconderam por 800 anos a
descoberta do papel e como, pelas invasões dos OS DIREITOS DAS CRIANÇAS
árabes na Espanha e inserção de religião e SEGUNDO RUTH ROCHA
cultura, o papel foi introduzido na Europa. Os Direitos das crianças segundo Ruth Rocha
Explica como o papel substituiu, com o tempo,
(2002), aborda o universo da criança por meio
o vidro, a madeira, o pano, a louça, o vestuáriode estrofes de quatro versos cada, com rimas.
e até o dinheiro. E depois conclui que com toda A criança ouvindo o que diz o livro ou lendo-o
produção de papel é necessário que seja feito o toma conhecimento da linguagem e forma em
replantio de milhões de árvores todos os anos. que são escritos os poemas.
Caracteriza-se por ser um livro descritivo que Rocha (1931), apresenta os direitos das
situa a criança como participante das crianças em pequenos detalhes que nem
transformações históricas, ambientais e
sempre são valorizados. No trecho seguinte,
comportamentais.
vemos a questão da diversidade cultural e da
inclusão serem apresentadas de forma simples,
O LIVRO DAS LÍNGUAS natural e pedagógica:A criança tem direito Até
O Livro das línguas (1992), também faz parte de ser diferente. E tem que ser bem aceita. Seja
da coleção “O Homem e a Comunicação” e faz sadia ou doente (ROCHA, 2002. p. 16)
a criança refletir sobre a história do homem no
mundo desde as primeiras civilizações. O BARBA AZUL
Apresenta, de forma lúdica, como que a O Barba Azul (2010), é uma história de conto
linguagem foi se evoluindo e se espalhando de fadas clássica muito antiga e trágica de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Charles Perrault que Rocha (1931), a adaptou “Pêdra”. Depois que se destransformam,
em versos como outras histórias da coleção “Lê passam a se respeitarem mais e a fazerem mais
pra mim” de 1996. coisas juntos, de interesse dos dois, sem se
Possui a peculiaridade de ter duas morais da preocuparem com o que os outros vão pensar.
história ao final do livro, pra que a criança Segundo Sarmento e Pinto (2004, p. 23), as
entenda claramente o objetivo da história a ser relações de gênero juntamente com a classe
contada, como no texto abaixo: social da criança, o local de sua inserção (rural
Quem vive a vida em pecado, É bom que ou urbana), a pertença étnica, fazem parte de
fique sabendo, Que é melhor tomar cuidado! categorias que perpassam as identidades
Porque mais tarde ou mais cedo, Acaba pessoais e que marcam o lugar que a criança
sendo apanhado (ROCHA, 2010, p. 36). ocupa na estrutura social, diferenciando-as
profundamente entre si. Para Sarmento (2004),
FACA SEM PONTA, GALINHA a cultura de pares permite à criança apropriar,
reinventar e reproduzir o mundo que a rodeia,
SEM PÉ numa relação de convivência que permite
Faca sem ponta, Galinha sem pé (1983), faz exorcizar medos, construir fantasias e
parte da Coleção “Procurando Firme”, assim representar cenas do quotidiano, que assim
como “Davi ataca outra vez”, “Quando eu funcionam como terapias para lidar com
comecei a crescer” e “Procurando Firme”, experiências negativas, ao mesmo tempo em
abordados neste estudo. que se estabelecem fronteiras de inclusão e
Neste livro, Rocha (1931), aborda a vida do exclusão (de gênero, de subgrupos etários, de
casal de irmãos Pedro e Joana mostrando que status, etc.) que estão fortemente implicados
os problemas que eles têm não eram diferentes nos processos de identificação social.
dos problemas de todos os irmãos e os dilemas
das desigualdades de gêneros que existem na
PROCURANDO FIRME
educação e que representam a insegurança dos
Procurando firme (1984), é uma história
pais ao educar, como apontado, no trecho
engraçada que tem, como os outros contos de
abaixo, quando a mãe de Joana a repreende por
fadas, dragões, castelos, rei, rainha e uma
ter chutado a porta: Que é isso menina? Que
princesa. Só que neste reino, a princesa cansa
comportamento! Menina tem que ser delicada,
da vida de esperar o príncipe na torre do castelo
boazinha (ROCHA, 1983, p. 10).
e começa a ter aulas de luta, esgrima, corrida,
De forma divertida, Rocha (1931), traz à tona
tudo pra conhecer o mundo e sua infinidade de
as dúvidas que pairam sobre as mentes de
coisas de coisas a serem exploradas. E ela parte
meninos e meninas: Há mesmo coisas que
procurando, firme, ser feliz do jeito dela.
meninos podem fazer e meninas não? Ou vice-
Segundo Ferreira (2005, p. 9):
versa?
é preciso compreender as crianças como
Na narrativa, num dia ao passarem juntos
“atores sociais implicados nas mudanças e
embaixo de um arco-íris, trocam de sexo e aí
sendo mudados nos mundos sociais e culturais
Joana se transforma em “Joano” e Pedro em
em que vivem, e como protagonistas e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

repórteres competentes das suas próprias Em Marcelo, marmelo, martelo, Marcelo é


experiências e entendimentos. um menino muito curioso que questionava o
porquê das coisas terem o nome que têm. De
QUANDO EU COMECEI A forma lúdica, o livro apresenta a criatividade
das crianças a partir do próprio ponto de vista
CRESCER delas. Ele passa a inventar um jeito diferente de
Quando eu comecei a crescer (1983), é uma falar, dando novos nomes às coisas, por
história que se passa no Natal quando a exemplo, cadeira é sentador, leite é suco de
protagonista, de 7 anos, ouve um barulho no vaca, colher é mexedor. Sua família, no começo,
meio da noite e se surpreende com seus pais estranha um pouco, mas depois começam a
colocando seu presente sob a árvore de Natal e aprender o novo vocabulário de Marcelo. Ao
aí o encanto do Papai Noel desaparece, porém fim da história, Rocha (1931), sugere que o
ela faz outra descoberta, como é descrito no leitor invente um “jeito” diferente de falar,
trecho abaixo: escreva sua própria história e depois mostre à
Era por isso que as crianças mais pobres não professora.
ganhavam presentes tão lindos como nós. Não Esta história descreve um momento pelo
era porque nós fôssemos mais estudiosos, qual todas as crianças passam: a dos porquês.
melhores ou mais obedientes (ROCHA, 1983, p. Não são passivas. Estão entendendo mais a
18). dinâmica das coisas e já sabem se expressar
Uma grande verdade social é descoberta. pela linguagem. Vão conhecendo melhor o
Este momento, ao mesmo tempo em que é bairro em que moram, a relação de amizade e
sentido com pesar e desilusão, traz à criança respeito com as pessoas e com o mundo em
um sentimento de apropriação em se tornar que habitam. Elas têm inúmeras dúvidas e vão
uma criança maior, com mais entendimento aprendendo que muitas perguntas têm
das coisas e que passa a discernir entre o que é respostas, outras não e de que a vida é cheia de
fantasia e o que é realidade. mistérios.
O livro mostra que as crianças apreendem,
MARCELO, MARMELO, reinventam e reproduzem informações do
MARTELO E OUTRAS HISTÓRIAS mundo de maneira criativa e, interagindo com
adultos e crianças, produzem suas culturas
A série deste livro é composta junto com singulares (MELLER, 2009, p. 42).
mais quatro livros: “O Bairro do Marcelo” A segunda história deste livro é a “Teresinha
(2001), “A Escola do Marcelo” (2001), “A e Gabriela” (2001). Elas são duas meninas com
Família do Marcelo” (2001) e “A Rua do características bem peculiares e diferentes uma
Marcelo” (2001).
das outras.
São livros diferentes dos outros da autora, Gabriela é serelepe, muitos a chamam de
pois possuem atividades e perguntas para que “levada”, “encapetada” (ROCHA, 1999, p. 24).
as crianças respondam, se divirtam e reflitam
Podemos notar, neste trecho inserido no
um pouco mais sobre o que foi lido para tirarem
contexto da sala de aula, quando a professora
suas próprias conclusões.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pergunta a ela quem descobriu o Brasil e ela e o desejo pelo coletivo, pela convivência com
responde: o outro, o diferente e o igual de nós(CIPOLINI,
Ah, professora, isso é fácil, eu só queria saber 2008, p.2).
quem foi que cobriu” (ROCHA, 1999, p. 26). Este livro faz a criança refletir sobre o
Teresinha já é bem diferente, como descrito egoísmo e a importância de compartilhar.
neste trecho: Rocha (1976), ainda pergunta ao leitor se
Teresinha loirinha, bonitinha, arrumadinha. alguma vez já deu alguma coisa a seus amigos.
Teresinha estudiosa, vestida de cor-de-rosa. Os outros livros da série Marcelo, marmelo,
Teresinha. martelo, diferentes deste, são narrados em
Que belezinha (ROCHA, 1999, p. 29). primeira pessoa, como se o próprio Marcelo
No começo se estranham por serem tão estivesse apresentando a um novo amigo seu
diferentes, começam a se admirar bairro, sua escola, sua família e sua rua.
mutuamente, depois tornam-se amigas e Também trazem no final algumas atividades
passam a aprender muitas coisas juntas. É um para serem feitas em grupo ou
livro que aborda a diferença de forma muito individualmente.
engraçada.
No final da história, a autora questiona o QUEM TEM MEDO DE
leitor se ele tem amigos diferentes, o que
aprende com eles e eles com o leitor. Ainda MONSTRO?
sugere que o leitor invente um amigo com as Este livro da série “Quem tem medo?”
qualidades que ele gostaria de ver no amigo e (1986), é um livro com grandes e engraçadas
alguns defeitos também. ilustrações de Mariana Massarani. Aborda um
A terceira história é “O Dono da Bola” (1976), assunto de muito interesse deles de uma forma
e narra a trajetória de Calota, um menino que muito divertida e de rápida conclusão. Começa
possuía mais brinquedos que todos os outros com uma bruxa malvada que tinha medo de
amigos, porém era egoísta e ameaçava levar a bandido. Este bandido terrível tinha medo de
bola embora se os amigos não realizassem suas bicho-papão e assim sucessivamente. No final
vontades, até que os amigos cansam deste jeito do livro há uma nota de Ruth Rocha,
de ser dele e passam a jogar com uma bola de afirmamando que ela tem medo de algumas
meia mesmo. Calota acaba chegando à coisas e que o medo pode até ser bom, quando
conclusão que é muito chato brincar sozinho e impede que façamos coisas muito perigosas,
começa a chamar os amigos para brincarem em menos quando se trata de coisas que não
sua casa com seus outros brinquedos. Até que existem.
chega um dia que ele decide ceder a bola para
o grupo para que jogassem quando quisessem QUEM TEM MEDO DO
e durante o tempo que gostariam.
RIDÍCULO?
Ruth Rocha insere seus personagens em um
Ainda dentro da série “Quem tem medo?”
mundo moderno, individualista, mas é por meio
(1986), o livro “Quem tem medo do ridículo?”
disto que a autora vai reafirmar a necessidade
(2001), de forma lúdica faz a criança refletir

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sobre momentos em que fica sem graça ou que autoritários que vão ignorar as verdadeiras
a fazem se sentir ridícula ou quando a caçoam. necessidades de seu povo.
Ruth Rocha trata do assunto com muita
naturalidade para um assunto que parece ser
muito complexo, como notamos no trecho
abaixo:
Se pensarmos um bocado, chegamos à
conclusão, que ridículos são todos:
Depende da ocasião!
Por isso, cada um de nós será ridículo quando
ficar muito preocupado
Com o que os outros tão pensando (ROCHA,
2001, p. 23).

UMA HISTÓRIA DE RABOS


PRESOS
Uma história de rabos presos (1990), faz
parte da série “O Reizinho Mandão” (1978). De
forma engraçada, a autora satiriza os políticos e
os ricos. A história é indicada, pelo próprio site
de Ruth Rocha, às crianças de 10 a 13 anos e
possui linguagem bem peculiar e divertida,
como notamos neste trecho:
Em Egolândia, um lugar muito pequeno que
ficava no fiofó do mundo, quase todo mundo
tinha o rabo preso. Era favor do prefeito para o
coronel, do coronel para o prefeito, do
vereador para o secretário, e assim por diante
(ROCHA, 1990, p.4).
A criança começa a entender mais o meio
social em que vive, com suas mazelas e
imperfeições, e também a enxergar as
consequências de atos errados e tão
disseminados pela nossa cultura e que afetam a
todos. Começa a entender que a democracia e
a liberdade são bens difíceis de conquistar, mais
difícil ainda manter, pois sempre haverá sapos
querendo fingirem-se de reis e governantes

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a análise da escrita de Rocha (1931), ficou evidente que a criança é apresentada como
produtora de cultura e história inserida em sua realidade social.
Rocha (1931), reescreve formas e refaz conteúdos, desmanchando e refazendo clichês,
estereótipos e lugares comuns. Isso acontece quando ela vira de ponta-cabeça os contos de fadas
tradicionais, questionando junto com os leitores, convenções como a de que os reis sempre
sabem tudo, ou de que as princesas são sempre dóceis e obedientes. Como Freire (2002), afirma:
a educação deve ser subversiva; o professor em sua prática pedagógica não deve reprimir a
criança em suas iniciativas e investidas. Ruth nos convida no resumo de sua obra a “sentarmo-nos
na roda” junto com as crianças e permitirmos que elas participem ativamente como cidadãos de
direitos. Por sua proposta de constituição como espaço do exercício democrático, onde a fala e a
sua escuta são os principais instrumentos de participação, a Roda de Conversa torna-se uma
atividade "desafiante" para o adulto que proporciona a sua dinamização. Desafiante porque exige
que ele "tendo um papel de participante igual ao das crianças, tenha também o papel de
coordenador da conversa, sem, no entanto, impor suas ideias ao grupo, castrar a altivez das
crianças,como afirma Freire (2002), tolher sua forma de organizar e apresentar ideias". A própria
disposição física dos participantes da atividade (incluindo aí o adulto) – geralmente sentados em
forma circular – representa de forma tangível o sinal de pertença democrática ao grupo.
Com estímulo à criatividade e ao pensamento infantil, a autora leva o leitor ao
questionamento da realidade e a novas formas de ver e conceber o meio em que vive. Além de a
criança ter prazer em ler e descobrir tanta riqueza de informações, ela aprende e apreende, de
forma lúdica, um modo de ler o mundo, desfazendo medos, amenizando traumas, se sentindo
diferente, porém única e valorizada.
Pela maneira como as histórias de Rocha (1931), têm sido recebidas, nesses 51 anos, desde
que começou a escrever para o público infantil, temos prova de que a criança deve continuar a
ter acesso às histórias como estas que fazem as crianças serem questionadoras dos costumes
sociais e dos valores e das imposições da sociedade.

740
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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emancipação e crescimento. Centro de Letras e Ciências Humanas – Universidade Estadual
de Londrina (UEL).Disponível em:
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al (orgs.) Paulo Freire: a práxis político-pedagógica do educador. Vitória: EDUFES.

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Disponívelem:http://www.fazendogenero.ufsc.br/10/resources/anais/20/1386764923ARQUIVO_
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MELLER, A.K E. L. As concepções de infância em obras de Ruth Rocha. Campinas, S.P.


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ROCHA, Ruth. Entrevista ao Jornal Estadão em 30/05/2009. Disponível em:


(http://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,mundo-de-ruth-rocha-faz-40-anos,379306). Data de
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741
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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ROCHA, Ruth; Roth, Otávio. O livro do papel. (Coleção: O Homem e a Educação). São Paulo:
Editora Melhoramentos, 1992.

ROCHA, Ruth; Roth, Otávio. O livro das línguas. (Coleção: O Homem e a Educação). São
Paulo: Editora Melhoramentos, 1992.

ROCHA, Ruth. O Barba Azul / Adaptação de Ruth Rocha (Coleção: Lê pra mim. Série Vermelha).
São Paulo: FTD, 1996.

ROCHA, Ruth. Faca sem ponta, Galinha sem pé. São Paulo: Editora Ática, 1996.

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ROCHA, Ruth. Quando eu comecei a crescer. São Paulo: Editora Ática, 1996.

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ROCHA, Ruth. O Rei que não sabia de nada . São Paulo: Editora Salamandra, 2003. Rocha,
Ruth. Quem tem medo de monstro? São Paulo: Editora Global, 2004.

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Acessado em nov. 2007.Data de Acesso:29/02/2020.

SARMENTO, Manuel. Infância, Exclusão Social e Educação. Revista educação, Sociedade e


Cultura. Número 17. p. 13 – 32, 2002.

742
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTEXTUALIZANDO A AFETIVIDADE
SIGNIFICATIVA NO ESPAÇO ESCOLAR
José Armando Soares dos Santos1

RESUMO: O presente artigo aborda sobre os aspectos da afetividade significativa no espaço


escolar, perpassando sobre a importância da dialogicidade e consequentemente a construção
integral dos sujeitos. Nesta perspectiva enfatizamos o quanto o processo afetivo é instrumento
de mediação entre os atores da escola e seu papel qualitativo na formação cidadã, protagonista
e emancipatória.

Palavras-Chave: Educação; Afetividade; Aprendizagem.

1Professor de Ensino Fundamental I, atuando como Diretor de Escola na Rede Municipal de Aldeias Altas- MA.
Graduação: Mestrando em Ciências da Educação; Licenciatura em História; Especialização em Gestão Escolar.
E-mail: jarmandosantos@hotmail.com

743
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO recebe afeto dos outros vem crescer e a formar


sua personalidade com mais autonomia e
A afetividade representa muito na relação eficiência.
humana na sala de aula, por isso faz uma Conforme o Dicionário de Filosofia
diferença enorme no contato com o educando, ,Abbagnano(1998), a palavra afetividade
mesmo sabendo que o sentimento é designa o conjunto de atos como bondade,
importante para educar e ter laços afetivos inclinação, devoção, proteção, apego, gratidão,
poucas pessoas aplicam isso a sua prática em resumo, pode ser caracterizada sob a
pedagógica, a escola precisa ser um ambiente preocupação de uma pessoa por outra, por
acolhedor e propício para o exercício da outra, tendo apreço por ela, cuidando dela,
afetividade na vida dos alunos. assim, e a mesma corresponde positivamente
Segundo o Mini Dicionário Luft (2010, p. 37), aos cuidados ou a preocupação.
afetividade é a “qualidade de afetiv[o],
sentiment[o]; afeição profunda, o objeto dessa
A CONTRIBUIÇÃO DA
afeição, zelo, cuidado”. A palavra afeto vem do
latim affectur (afetar, tocar) e é o elemento AFETIVIDADE PARA UM
básico da afetividade. CONTATO MAIS SIGNIFICATIVO
Em relação ao significado do termo
afetividade, observa-se que trata- se de
COM O EDUCANDO
sentimentos, afeição, cuidado, afetar e tocar, Diante do exposto, a expressão afetividade
então para que ela aconteça é válido contato tem significados que levam a prática do bem,
direto com o educando, conversas, gestos e como: bondade, devoção, apego, gratidão e
ações, logo quem ama cuida e os alunos são preocupação, tudo isso são atitudes que
considerados sujeitos ativos do ato de educar. repassam valores e podem melhorar as
influência no comportamento e no aprendizado relações interpessoais na sala de aula entre
das pessoas juntamente com o docente e discente, que faz com que se tem
desenvolvimento cognitivo. Então o afeto é além da responsabilidade e compromisso
proveniente de desejos, interesses, tendências, social, a questão do apreciar a companhia dos
valores e emoções, no decorrer da vida e da alunos e acompanhar sua evolução, por meio
profissão que atua. Diante disso as pessoas de atos que demonstram apego ,carinho e pelo
passam a ver o mundo com outras visões e educando e ainda pelo processo de ensino
assim vem a mudanças perceptíveis de dentro aprendizagem, não há como está próximo e não
para fora e todos os fatos e acontecimentos que se envolver em laços afetivos que deixam o
houve na vida de uma pessoa traz recordações ambiente escolar mais leve e capaz de provocar
e experiências por toda a sua história. A mudanças significativas a aprendizagem do
escassez e a presença do afeto reflete em como mesmo.
se desenvolverá o educando. É necessário Como repassa Abbagnano (1998, p.53), a
resgatar a autoestima das pessoas a partir da afeição refere-se a:
infância, tendo em vista que uma criança que Afeição é usada filosoficamente em sua
maior extensão e generalidade, porquanto

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

designa todo estado, condição ou qualidade pois os sentimentos exprimem os interesses e


que consiste em sofrer uma ação sendo os valores das ações, das quais a inteligência
influenciado ou modificado por ela constitui a estrutura (PIAGET, 1985, p.271).
(ABBAGNANO, 1998, p.53). É notório que Piaget, ver o indivíduo como
Nota-se que a afeição transmite o estado de um ser social condicionado a interesse e valores
espírito de cada um, com isso o educador tenta das ações, para isso é favorável a troca de
se aproximar e mostrar sobre seu afeto com atitudes de apreciação tanto na vida pessoal
seus alunos, mas quando não é correspondido como profissional e os valores são considerados
em seu tratamento de diálogo e respeito, o fundamentais para um bom convívio social.
educador acaba se bloqueando em suas Para Wallon (2007), a afetividade trata-se de:
atitudes, com isso passa a ser mais rígido e a afetividade constitui um papel
distante em suas ações docentes em sala de fundamental na formação da inteligência, de
aula, devido o profissional docente também é forma a determinar os interesses e
dotado de sentimentos e afeição que necessita necessidades individuais do indivíduo. Atribui-
também de como tem sido o convívio no se às emoções um papel primordial na
cotidiano escolar. formação da vida psíquica, um elo entre o social
De acordo com Engelmann (1978), afirma e o orgânico (WALLON,2007, p.73).
sobre como compreender a afetividade: A afetividade ao ser bem aceita entre
[...] parece mais adequado entender o professor e aluno vem a trazer vantagens,
afetivo como uma qualidade das relações benefícios para aprendizagem e a inteligência
humanas e das experiências que elas evocam individual de cada indivíduo, logo facilita
(...).São as relações sociais, com efeito, as que totalmente a construção e a transmissão do
marcam a vida humana, conferindo ao conjunto conhecimento, além de tornar mais agradável a
da realidade que forma seu contexto (coisas, relação interpessoal e a socialização de saberes
lugares, situações, etc.) um sentido fica mais espontânea a cada momento na sala
afetivo(ENGELMANN,1978, p.130;131). de aula.
É válido mencionar que a afetividade ocorre Segundo Almeida (2004), deu ênfase à
por meio de atitudes que externamos, tendo afetividade ao relatar que:
em vista que é uma forma de transmissão de Como tudo que ocorre com a pessoa tem um
sentimentos internos, movidos pela a lastro afetivo, e a afetividade tem em sua base
sensibilidade e um condicionamento eficaz a emoção que é corpórea, concreta, visível,
para receber as afeições, que se estimulam na contagiosa, o professor pode ler o seu aluno: o
sala de aula e que são determinantes para ter olhar, a tonicidade, o cansaço, a atenção, o
relações sociais com mais êxitos. interesse, são indicadores do andamento do
Mediante Piaget (1985), tem argumentado processo de ensino que está oferecendo.
sobre a vida afetiva: (ALMEIDA, 2004.p.126).
A vida afetiva, como a vida intelectual é uma O professor e o aluno são protagonistas no
adaptação contínua e as duas adaptações são, que se refere ao conhecimento, justamente
não somente paralelas, mas interdependentes, pela conexão existente entre a cognição e a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

afetividade. Sabe-se que o olhar, a tonicidade, energia otimizadora capaz de motivar o aluno
o cansaço, a atenção e o interesse são durante o processo de ensino aprendizagem e
determinantes, para momentos agradáveis as atitudes, tanto do professor quanto dos
durante o processo de ensino e aprendizagem, alunos, para que ocorra o tão esperado sucesso
isso requer que a sala de aula tenha atividades escolar, isso faz a diferença porque é bom ter
interativas cada vez mais envolventes e cheias contato como o educando e ainda adentrar as
de ânimo ,para que ambas as partes estejam suas especificidades, como forma de
satisfeitas com o ato de educar e assim venha a acompanhar o processo de evolução da
obter resultados positivos sobre a aprendizagem do mesmo e intervir em casos de
aprendizagem e que as relações interpessoais dificuldades de aprendizagem ao educando,
sejam cheias de afeto, união e cooperação, pois que tem algum tipo de deficiência ou limitação
tudo na vida é bom que se tenha dedicação e no processo educativo vivenciado na sala de
compromisso social com que se almeja fazer e aula.
desenvolver na esfera educacional Há um processo de contribuição da
propriamente dita. afetividade no processo de ensino-
Considera-se que as estratégias pelas quais aprendizagem, tendo em vista que a mesma
os educadores utilizam na sala de aula são conduz a uma convivência agradável entre
inúmeras, mas que são de extrema importância todos os que nele estão envolvidos, facilitando
para se alcançar o resultado esperado. Vale gradativamente a formação integral do
ressaltar que imprimir um caráter de educando. Por isso, há uma relação harmoniosa
afetividade com a matéria também é uma entre a afetividade e a aprendizagem, tendo em
estratégia de relevância para envolver o aluno vista que é possível resgatar valores e atitudes
com o conteúdo (LEITE, 2011), pois este aluno voltada para o estado de motivação, a
terá maior facilidade de compreender segurança e benefícios ao desempenho escolar,
determinado assunto, seja em formas orais ou por meio de atividades interativas e repletas de
escritas. Quando se tratando da oralidade, o informações ao educando que busca
discente se sentirá mais seguro de se expressar empreendimento informacional, para se
oralmente perante os colegas de aula e formar, se capacitar e se reciclar
posteriormente na sociedade. Contudo, a continuamente, visto que as mudanças surgem
estratégia interacional mais recorrida é a da muito e nessa perspectiva é comum sempre
troca entre o professor e o seu aluno (LEITE, optar por métodos inovadores e que possibilite
2011), já que com isso possibilita ao aluno acesso e permanência na escola conforme os
interagir com mais segurança em determinadas anseios que se estabelece ao indivíduo
situações a que ele venha vivenciar tanto continuamente e o mercado de trabalho exige
dentro, quanto fora da sala de aula. educadores assim batalhadores e que estão
A estratégia de interatividade adotada pelos sempre em congressos, palestras e mensagens
docentes vem a fomentar a afetividade, que enriquecedoras ao educando.
subsidiarão respectivamente a inteligência e É conveniente a relação entre afetividade e
aprendizagem. A afetividade traz consigo cognição no desenvolvimento do educando e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

no contexto educacional, para que aconteça aproximar educando e educador, para


um bom desempenho escola. Não há nada fortalecer os laços afetivos ao longo do
melhor que sentir-se amada, valorizada e processo educativo incluindo os aspectos
respeitada, a fim de conseguir naturalmente a físicos e mentais mediante ser algo
autonomia e confiança e diante disso elevando determinante da formação e o equilíbrio da
a autoestima considerando que é um exemplo personalidade como tal.
de atitude positiva ,como forma de garantia do A afetividade propicia as inter-relações entre
reconhecimento e condições de se posicionar os sujeitos, assim como as com o meio no qual
diante do processo de luta pelo poder numa estão inseridos, ocasião está em que vivenciam
sociedade cheia de preconceitos e as emoções e os sentimentos, ou seja, reagem
discriminação, isso sim é ter fé e acreditar que afetivamente aos acontecimentos. É um
se Deus nos deu condições nos expressar ,nada elemento contagiante que nos torna capazes de
impede de conversar e agir de maneira “[...] afetar o outro a partir de
adequada ,embora esteja passando também comportamentos, sentimentos e reações”
por momentos difíceis e repleto de (LIMA, 2010, p. 53). Só o afeto é capaz de
condicionamento atualmente, daí me mobilizar e contagiar as pessoas existentes à
preocupar muito com o acompanhamento do nossa volta.
educando e o desenvolvimento das habilidades É previsto que a afetividade tende a dotar os
de ler e escrever na instituição de ensino. docentes de sentimentos e amor ao educando,
Segundo Capelatto (2005), a afetividade é a que é sujeito ativo na esfera educativa, assim o
dinâmica mais profunda e complexa da qual o que estiver ao redor atrapalhando o
ser humano faz parte. Surge a partir do rendimento do mesmo, o educador poderá
momento em que um sujeito se liga ao outro saber caso haja uma comunicação diariamente
por meio do amor. É a mistura de todos os com os alunos, por isso é recomendável que se
sentimentos: amor, ciúme, raiva, inveja, tenha metodologia que venham contagiar eles
saudade; e aprender a cuidar corretamente de a produzir e a ter boas relações no contexto
todas essas emoções é que vai possibilitar ao escolar.
sujeito uma vida emocional plena e equilibrada. A afetividade é o que transporta a nossa vida
O autor quis mostrar o quanto a afetividade — a alegria, a felicidade, a esperança, o
é considerada um instrumento favorável e útil, entusiasmo, a motivação, o prazer e o principal
que impulsiona as emoções, o amor e a força de de todos: o amor, que é o prolongamento do
vontade, como uma energia vital para a domínio, que é o coração. É inconcebível uma
existência. O educador ao repassar seu afeto ao educação em que não exista a afetividade em
educando, por conseguinte irá desempenhar sua composição, pois “[...] sem afeto não há
uma ação motivadora e capaz de gerar educação” (CHALITA, 2004, p. 149).
desenvolvimento influenciador da Busca-se iniciativas que faça uso da
aprendizagem afetividade na tentativa de causar estímulo,
É evidente que a afetividade ao ser aplicada motivação, felicidade, esperança e amor, esses
na escola, possa assumir o seu papel que sentimentos só vem a contribuir para o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educando que apresenta- se com vontade de Conforme Souza (2003), Piaget nos propõe
aprender, não obstante tem uma família que inteligência e afetividade são de naturezas
desestruturada, que não consegue distintas; a energia da conduta vem da
acompanhar o educando de maneira afetividade, e as estruturas vêm das funções
adequada, nesse caso é válido ter um contato cognitivas. O campo total inclui, ao mesmo
de proximidade maior entre educador tempo, o sujeito, os objetos e as relações entre
educando. sujeito e objetos.
Segundo Souza (2003), a abordagem Desse modo, se toda conduta possui um
piagetiana rompe com a dicotomia inteligência aspecto afetivo (energético) e um aspecto
e afetividade; ela apresenta o desenvolvimento estrutural (cognitivo), Piaget defende a ruptura
psicológico nas dimensões afetiva e cognitiva. da dicotomia entre afetividade e inteligência,
Piaget defende a relação entre as construções sendo fundamental abordar os dois aspectos
cognitivas e afetivas ao longo da existência do conjuntamente no desenvolvimento. Nesse
indivíduo. Ilustra a concepção de que sentido, os aspectos afetivos estão associados
inteligência e afetividade são dimensões às condutas relacionadas às pessoas; e os
indissociáveis e integradas no desenvolvimento aspectos cognitivos, às condutas relacionadas
psicológico; portanto, não sendo possível a sua aos objetos. Em ambos os tipos de conduta
separação. Sem afeto, não existe interesse, existe afetividade e inteligência.
necessidade nem motivação. Diante do exposto, surge a real necessidade
De acordo com a autora Souza em suas de construir um sistema educativo atual, que
especulações sobre Piaget teve relações entre supere a clássica divisão e oposição entre
afetividade e cognição no desenvolvimento afetividade e cognição, razão e emoção, que
mental do educando em se tratando do definitivamente rompa a concepção que
funcionamento da inteligência, que é carente prioriza o desenvolvimento do intelecto, dos
de sucessivas observações e ações que aspectos cognitivos e racionais, os quais têm
priorizem o bem estar do educando ao possuir um papel de destaque na educação, e
a consciência que veicula a satisfação durante consequentemente os aspectos emocionais e
os estudos desenvolvidos e utilizados para afetivos são cada vez mais extintos de nossa
reduzir os entraves que são considerados vida.
barreira para a aprendizagem em uma rotina É conveniente que os alunos estão em seu
estressante e enfadonha, sendo assim nada estado de aperfeiçoamento e formação para
melhor que tornar as aulas mais planejadas estar apto ao sucesso, tendo em vista que há
,proveitosas e que instiguem a curiosidade dos decepções e fracassos que podem surgir na
discentes totalmente num clima de sala de aula, professores diante de uma
motivacional capaz de modificar a uma prática convivência afetuosa, verdadeira e calorosa,
de ensino humanizadora e repleta de ações que segundo se almeja aprender e a obter uma
possam desmistificar que educador e educando educação com afeição e perspectiva de
estão em patamares diferentes. crescimento progressivo no que diz respeito as
relações interpessoais com bons fluídos e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

condicionamento para ter um rendimento melhor estabelecer a disciplina, o respeito e o


capaz de superar as dificuldades, discriminação rendimento escolar, desta forma o aluno vai
e preconceitos, logo a sociedade exige um perfil compreender que a escola é boa, agradável e
que educador e educando tenta cumprir para traz benefícios ao mesmo como tal. Mesmo o
não deixar de seguir as regras, princípios e educador ainda enfrentando dificuldades na
valores que venham a mostrar a todos que a remuneração, recursos e estresse ainda tenta
afetividade se relaciona com a cognição, a fazer um ensino eficiente, apesar de muitos
partir de uma conduta voltada para os padrões demonstrarem com ações docentes
culturais e éticos que a escola tem realizado no enfadonhas e desanimadoras.
seu Projeto Político Pedagógico(PPP). Mediante Tiba (2007), olhar a atuação
O afeto é de extrema importância para o docente por esse anglo, não é admitir que os
processo educativo, logo traz consigo alunos pudessem ser atingidos com o mau
vantagens e benefícios para a aprendizagem, humor e os problemas do professor, mas,
sabe-se que é na sala de aula que se fortificam tornar o ensino mais humano. Cuidar do
os laços com todos os envolvidos com o profissional é, muitas vezes, a melhor solução
mesmo, para obter um desenvolvimento para o problema da “criança difícil”. As reações
crescente no aspecto cognitivo ,é indispensável sentimentais variam conforme cada aluno
que se tenha boas relações afetivas, por isso podendo surgir atração ou repulsão como
educador sempre deve demostrar carinho e resultado do confronto entre eles.
amor ao educando, com a finalidade de ter O autor afirma que o docente ao passar por
resultados significativos no rendimento escolar salários baixos e carência de recursos acaba
e nas relações interpessoais. refletindo em sua prática e isso deixa o ensino
Nada melhor que tratar bem o aluno e está sem atingir seus objetivos, pois um professor
sempre atento ao que ele vem fazendo, pois um motivado.
clima agradável, positivo e cheio de Conforme Wallon (2006), ressalta que a
entusiasmo poderá desenvolver as habilidades afetividade, emoção e sentimento são
do educando com mais naturalidade, tendo em inconfundíveis, o sentimento vem de uma
vista que o educando está em processo de ideologia e é duradouro, a emoção é um estado
formação e fica moldando sua personalidade fisiológico. A afetividade é mais abrangente,
na maioria das vezes a do professor, por engloba as relações afetivas que são:
considerá-lo como alguém presente na sua vida sentimento, paixão e emoção. A emoção é a
e que está sempre próximo para auxiliar em expressão própria da afetividade. O sentimento
suas tarefas escolares diariamente. é puramente psicológico, pode-se dizer que a
A afetividade entre educador e educando cólera é emoção e o ódio um sentimento.
deve fazer parte da rotina, como algo que De acordo com que expôs Wallon (2006), o
facilita o ensino e ainda serve como base sólida educador ver a afetividade como algo
para a questão emocional no que se refere a envolvente na educação e para causar
autoestima, cooperação e união no contexto transformações necessárias que educando,
escolar. A família e a escola juntas conseguirão logo a afetividade traz emoções e um laço forte

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de amizade e respeito conduzirá a uma espécie O DIÁLOGO COMO PROCESSO


de sentimento. A afetividade é psicológica, mas
podemos demonstrá-la com atitudes e boas OTIMIZADOR DO
relações na sala de aula. O educador precisa RELACIONAMENTO ENTRE
mostrar que a escola é um ambiente acolhedor
EDUCADOR- EDUCANDO-
e capaz de estabelecer regras para uma boa
convivência social ,bem como pode GESTOR
proporcionar valores ,disciplina e respeito É conveniente que o processo de
diante das situações que ocorrem diariamente aprendizagem para ocorrer dentro dos padrões
,isso trata-se da questão do estimular ,se você de eficiência, deve-se estabelecer a interação
pratica ações com dedicação ,amor ,respeito e social e a mediação do educando, tendo em
limites o educando consequentemente irá ser vista que o diálogo é um mecanismo facilitador
levado a essa iniciativa. das relações interpessoais entre professor-
Na sala de aula acontece rivalidades e nessa aluno, logo é imprescindível para que ocorra o
hora que o profissional docente terá que atuar sucesso no ato educativo. Para isso, é
com esclarecimento e conscientização, para importante a valorização da comunicação em
evitar possíveis conflitos. O diálogo é sala de aula, como um instrumento na
fundamental nas relações interpessoais, muitos constituição dos sujeitos. A prática educativa
professores apenas castigam, porém é bom dar dialógica por parte dos educadores passa a dar
uma lição de moral para que eles entendam o credibilidade ao diálogo, além de refletir e agir
motivo da punição. dos docentes no ambiente educativo.
O afeto é importante sempre tanto na escola Em se tratando do diálogo Freire (2005), deu
como fora da escola, o mundo precisa de uma definição, ao afirmar que:
sentimento e fé para contagiar as pessoas, que [...], o diálogo é uma exigência existencial. E,
só pensam em violência ,desse modo inicia-se se ele é o encontro em que se solidarizam o
na escola que deve-se imaginar que quando há refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao
conflitos em que pode acabar ,nesse caso a mundo a ser transformado e humanizado, não
tarefa é árdua do educador de repassar valores pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de
,princípios morais e dignidade humana, para um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se
que o educando venha saber obedecer ,cumprir simples troca de ideias a serem consumidas
regras e a ser realmente um cidadão ativo que pelos permutantes (FREIRE, 2005, p. 91).
cumpre seus direitos e deveres sociais. O profissional docente deve reconhecer a
O bem estar físico e psicológico precisa ser dimensão do diálogo, que é um instrumento
uma preocupação da família e da escola para indicado para um novo perfil em sala de aula,
saber atuar diante disso, nesse sentido é bom por meio de um planejamento inovador e
repassar carinho, emoção, entusiasmo e cheio de avanço em relação aos alunos, para
motivação, para acreditar que a educação ainda despertar interesse e curiosidade para
transforma e deixa o mundo cada vez melhor modificar o meio pelo qual estamos inseridos.
repleto de dignidade. O professor precisa orientar e ter contato

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

direto com o educando ,por meio do diálogo, processo educativo, pois não há na da melhor
pois não basta ser somente transmissor de que ter relações interpessoais saudáveis e
conhecimentos, todavia um mediador, capaz humanizadoras, com base na aceitação e no
de articular as experiências dos alunos com o ouvir ao educando, bem como ter um elo de
mundo e ter laços afetivos ,para criar um clima ligação entre educador e educando.
de confiança e satisfação em sala de aula Mediante Castro (2015), a comunicação
diariamente. interpessoal é um processo pelo qual duas
Mediante Bakhtin (2000), nos convida a pessoas emitem significado, enviando e
assumir a responsabilidade do outro que me recebendo simultaneamente mensagens
constitui, adotar a não indiferença pelas simbólicas. Os elementos da comunicação
crianças e começar a olhá-las e a tentar interpessoal são semelhantes aos outros tipos
compreendê-las como outro, num exercício de de comunicação: as pessoas trocam significado
alteridade e diálogo. por meio de mensagens verbais e não verbais.
Tem-se compreendido que ação Emissor e receptor não agem livremente no
desempenhada na escola, leva em processo de comunicação interpessoal, são
consideração a aprendizagem e o diálogo, para influenciados, positivamente ou
haver mais respeito às singularidades do negativamente, pelas posições que ocupam no
educando em suas atividades, que precisam ser contexto sociocultural, além da influência das
direcionadas primordialmente ao sujeito da características pessoais.
aprendizagem, para viabilizar o crescimento Trata-se de se comunicar sempre para ter um
intelectual, social e cognitivo de todos os relacionamento interpessoal cada dia melhor e
envolvidos neste processo. O diálogo, como mais eficaz, porque tudo ficará mais fácil de
ferramenta dar chance de fazer novas compreender as informações na sala de aula,
interpretações, de reinventar algo, voltado desde que a educação seja inclusiva e use a
para estabelecer comunicação e aprendizagem linguagem verbal e não verbal, á medida que
em sala de aula. aconteça o processo interativo.
Quanto à abordagem sociocultural, temos Como argumenta Chiavenato (2003),
Paulo Freire afirmando que "a dialogicidade é a comunicar-se não se trata somente de falar,
essência da educação" (FREIRE, 1974, p.63). A mas, de saber ouvir o próximo, um meio de
relação professor-aluno é horizontal e não interagir e ter êxito no ambiente corporativo.
imposta. Há preocupação com cada aluno em Conforme expõe o autor a comunicação
si, com o processo e não com resultados facilita as relações interpessoais, nesse caso dar
padronizados. O diálogo é desenvolvido, ao contato e proximidade as pessoas, tendo em
mesmo tempo em que são oportunizadas a vista que sempre necessitamos um do outro
cooperação e a união. "Os alunos participam do nessa vida, portanto, é indispensável que se
processo [ensinoaprendizagem] junto com o estabeleça diálogo na sala de aula e na
professor" (MIZUKAMI, op. cit., p.99). sociedade.
Percebe-se que a dialogicidade refere-se à Segundo Gadotti (1999), o educador para pôr
comunicação e a interatividade durante o em prática o diálogo, não deve colocar-se na

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

posição de detentor do saber, deve antes, frequência de situações em que o contato


colocar-se na posição de quem não sabe tudo, acontece e todos passam a ter amizades
reconhecendo que mesmo um analfabeto é saudáveis e cheias de sentimentos positivos.
portador do conhecimento mais importante: o O caminho em direção a uma escola
da vida. democrática é longo. No nosso dia a dia, nós
Observa-se que o educador ao ter uma tentamos sempre atuar considerando a
postura interativa, por meio do diálogo, importância do diálogo, mas essa não é uma
espontaneidade e estudos com motivação a tarefa nada fácil. Por outro lado, a escola é um
aprendizagem passa a ser mais prazerosa e ambiente que favorece esse tipo de situação,
espontânea, com isso visando á qualidade e pois a convivência entre pares acontece o
que o educando tem conhecimentos prévios e tempo todo, e a própria forma de organização
que a interação entre educador e educando no em grupos, com interesses e possibilidades de
ensino/aprendizagem haverá mediante relacionamentos muito próximos, contribui
estudos, preparação, organização e para que os conflitos surjam. Essas são
sistematização didática dos conteúdos e excelentes situações para se estimular o
estratégias de ensino, para proporcionar um diálogo entre os alunos, mediados pelo
aprendizado eficiente aos alunos. professor, que tem como objetivo ensinar a
O diálogo é considerado um processo argumentar e a respeitar o outro, ouvir os
otimizador do relacionamento entre educador, colegas, formular e reformular argumentos.
educando e gestor, mas ambos precisam ser Geralmente a escola influencia a dar os
dotados de paciência e tolerância, para saber primeiros passos em direção ao diálogo, porém
reduzir situações de conflitos e divergências com a mediação do profissional docente torna-
,que aparecem no cotidiano escolar, é uma se mais fácil o educando se expressar e a
tarefa árdua nem sempre professores e alunos transmitir sua herança cultural, portanto trata-
conseguem encontrar o equilíbrio entre o ouvir se de um exercício constante de interatividade
,ceder, por isso o gestor escolar também pode com um trabalho sistemático e contínuo na sala
fazer suas devidas intervenções e chegar a um de aula, com alegria, brincadeiras e dinâmicas o
consenso. Diante dessas situações complicadas ensino e o diálogo ficarão mais criativos e
é conveniente que educador seja firme e atue fluentes.
direcionando e orientando os alunos, para que É válido realizar atividades interativas, como
participem das soluções dos problemas, por trabalho em grupo discussões de temas
meio do diálogo e não com violência. trazidos pelos alunos, além de jogos divertidos
Ao fazer diálogo em sala de aula o educando que combinam com o conteúdo explorado,
aprende a defender seus pontos de vista, ouvir nota-se que serviram para debater, conversar e
e considerar o do outro e reformular suas a resolver conflitos para não interferir também
convicções. Ter boas relações interpessoais não nas questões institucionais da escola.
é simples, contudo é possível basta se Sabemos que existe diálogo quando o falar e
aproximar e demonstrar sempre preocupação, o ouvir estão presentes. A relação não é de
além de dar oportunidade de participar com poder e a hierarquia não existe. O respeito, o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

comprometimento, a responsabilidade, o explicitou, isso traz melhorias significativas


crescimento e a confiança são sentimentos para as relações interpessoais
importantes que o verdadeiro diálogo desperta O educador necessita ser um agente
nas pessoas (BUENO, 2002). humanizador, o qual valoriza a interioridade e
Compreende – se que educador, educando e as relações que o aluno estabelece. Quando
gestor escolar podem ter um bom utiliza o diálogo, ele transforma a educação em
relacionamento, mas deve partir um processo de humanização (BUENO, 2003).
principalmente do diálogo em sala de aula nada Para se ter um ensino mais participativo e
melhor que falar e saber ouvir, no entanto, é que seja harmonioso, é válido fazer o uso do
bom que tenham como foco o diálogo na perspectiva de humanizar o
respeito,responsabilidade,crescimento educando e deixá-los entender que as pessoas
,comprometimento e confiança, pois estes precisam de atenção, respeito e troca de
critérios são favoráveis para uma boa informações diariamente, para que todos
comunicação ,que priorize os sentimentos mais sintam-se importantes no processo de ensino
saudáveis e apropriados para o contexto aprendizagem.
escolar. A relação dialógica rompe as práticas
Segundo Gadotti (1995), analisa essa educacionais e culturais domesticadoras,
questão e ressalta ser fundamental o papel do substituindo-as por um trabalho cultural
educador de ensinar a falar, expressar-se, humanizado. A prática educativa desenvolve-se
opinar, fazer a sua própria diferença. não pela subordinação, mas por meio do
Acrescenta que se a fala foi tirada do currículo diálogo, da comunicação e solidariedade
é porque falar, numa sociedade silenciosa autêntica entre educador e educando (FREIRE,
como é a sociedade opressiva, é um ato de 2001, p. 135).
subversão. Ler e escrever implicam no exercício A concepção dialógica de Freire os
do ouvir e do falar, como formas de expressão, educadores apresentam-se comprometidos
ou seja, quando o educador estabelece diálogo com a escola dialógica e acreditam que existem
com seu aprendiz, além de alfabetizá-lo, ele outras lógicas possíveis, para compreendem
está proporcionando momentos para que o que o mundo é maior, que seus saberes, por
aluno possa adquirir habilidades que isso há sempre o que aprender, por isso
despertarão o prazer para o aprendizado e que também há sempre o que ensinar. Nesse
também facilitarão e melhorarão seus sentido o diálogo servirá para externar sobre
relacionamentos. algo conforme a apreciação crítica do educando
O poder do professor na sala de aula é e suas experiências com os demais.
enorme, porque o mesmo faz com que a O diálogo em Freire é um ato consciente que
comunicação aconteça desde quando entra o/a educador/a assume politicamente. Por isso
cumprimentando a todos até na questão de é que, sendo um ato cognoscente, o diálogo
imposição de limites e disciplina, tendo em não tem nada que ver, de um lado, com o
vista que o ouvir é indispensável, para depois monólogo do educador “bancário”; de outro,
saber argumentar referente ao que outro com o silêncio espontaneísta de certo tipo de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educador liberal. O diálogo engaja ativamente O diálogo serve como apoio para as relações
a ambos os sujeitos do ato de conhecer: entre educador ,educando e gestor,assim fica
educador-educando e educando-educador mais fácil entender se os objetivos foram
(FREIRE, 2002, p.61). alcançados em sala de aula e analisar o que
O diálogo ao ser feito com pode ser modificado, para atuar conforme a
comprometimento, o educando passa a ser realidade do educando, a escola e a família
consciente e vem a exercer a cidadania, isso devem ser aliadas sempre na tentativa de
devido a participação efetiva na discussão, com favorecer a aprendizagem e de orientar para a
isso o educador possibilita o desenvolvimento vida dentro dos padrões éticos ,como forma de
de uma democracia plena. A educação não obter sucesso na aprendizagem e ainda para
pode ser autoritária com relações de poder entender especificamente o processo de
excludentes que subalternizam o outro, que evolução dos mesmos, a fim de estimular o
ignoram ou desqualificam os saberes de seus educando a aprender e ser persistente, com
educandos, o diálogo precisa ser baseado na isso evitando a evasão escolar.
solidariedade e na concepção liberal, para ser Deve-se estabelecer comunicação em sala de
realmente consciente e democrático na aula, como forma de interatividade entre
integra. professores e alunos, é fundamental no
O diálogo tem significação precisamente processo ensino-aprendizagem, devido
porque os sujeitos dialógicos não apenas propiciar um ambiente harmonioso e repleto
conservam sua identidade, mas a defendem e de afetividade, para reduzir as dificuldades de
assim crescem um com o outro. O diálogo, por aprendizagem e ainda obter estímulos e
isso mesmo, não nivela, não reduz um ao outro. motivação aos alunos, para atuarem no
Nem é favor que um faz ao outro (FREIRE, 1999, mercado de trabalho cada vez melhor e com
p.118). êxitos, para isso é indispensável ter boas
Nota-se que o diálogo assume um papel relações diante de aulas atraentes ,com o
facilitador da aprendizagem e que serve como lúdico, brincadeiras ,estudos em grupos ,aulas-
forma de veículo de comunicação, tendo em passeio e todos os envolvidos dialogando e
vista que ele não nivela, mas traz consigo a buscando cada vez mais algo para investir na
capacidade de transformação, isso faz pensar educação.
em transformar o meio que vivemos conforme O diálogo é viável para qualquer situação da
a necessidade da construção de uma escola vida não somente na escola, pois busca-se
democrática. Pode-se afirmar que a educar o aluno para ter uma boa convivência na
dialogicidade na escola conduz a formação de sociedade e conhecer as barreiras e desafios
cidadãos realmente inclusos na sociedade na que acontecem para saber lidar com essas
convivência real, interessada, e respeitosa com adversidades, logo não existe só momentos
o outro, além de preservar sua identidade e bons e fáceis de se resolver.
respeitar a dos outros, por notificar que cada A socialização serve para desenvolver a
um tem sua concepção. linguagem, adquirir conhecimentos, conhecer
novas concepções e a ter possibilidades de

754
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

crescimento, então o diálogo por sua vez nos


coloca diante de situações concretas, que
podem ser refletidas para ter discernimento do
certo e errado, para fazer escolhas certas.
Muitos alunos ao apresentarem trabalhos na
sala de aula só conseguem por dialogar, ter
oralidade e conhecer as regras ortográficas,
tem como relação a timidez, que precisa
aprender a falar sem ficar com medo e assim
transmitir segurança sobre o que está falando.
O diálogo também facilita as relações
interpessoais, que é algo envolvente e na escola
tem tudo isso, por isso olhar as pessoas e
cumprimentar mais principalmente em sala de
aula fortifica as relações ,desse modo o
ambiente escolar passa a ser considerado
melhor, saudável e divertido ,nesse caso o
educando vai desenvolvendo de forma eficaz
suas habilidades e potencialidades realmente.
Ao dialogar percebe-se o quanto é
espontâneo, que a voz e as palavras aparecem
naturalmente, portanto a conversa entre
educador e educando dão sustentabilidade ao
ensino, bem como a afetividade e a motivação
necessária para os desafios enfrentados na
escola.
A família também tem a mesma liberdade
para estabelecer diálogo na escola em busca de
vantagens e benefícios para o educando, pois
estudar faz o educando se sentir útil e capaz de
enfrentar a vida, para isso as relações
interpessoais vão assumir um papel
fundamental.

755
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ressaltamos que os aspectos abordados neste artigo leva-nos a considerar que a
afetividade é para além do espontaneísmo, pois possui caráter relacional e é construído no
cotidiano da escolas pelos sujeitos que nela atuam.
O afeto é a tessitura que possibilita a aproximação entre os sujeitos e estabelece
mediações fundamentais na formação cidadã, e consequentemente na construção de uma
educação de qualidade e de uma sociedade mais justa e igualitária.

756
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761
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTEXTUALIZANDO A DISLEXIA
Silvana Possato Olivo1

RESUMO: O artigo aborda a temática dislexia, suas implicações, seus aspectos. Nesta perspectiva
enfatiza-se o papel da escola, dos professores e da família, enquanto agentes que para além da
compreensão desta dificuldade, ou seja, ter um olhar apurado para o diagnóstico precoce.

Palavras-Chave: Educação; Dislexia; Diagnóstico.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagoga.
E-mail: sp.olivo@hotmail.com

762
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO processo normal de aprendizagem e aquelas


compatíveis com o distúrbio (MELO, 2009).
Comumente a dislexia é uma síndrome Estas reflexões pretendem promover uma
caracterizada por problemas na leitura: ao ler a atitude menos excludente, em que o
pessoa não entende bem os códigos da escrita, “diferente” seja considerado e atendido
podendo inclusive não reconhecer as palavras adequadamente e não continue a aumentar os
mais familiares. Os disléxicos têm inteligência índices do fracasso escolar.
normal e condições adequadas em seu meio e
em seu ensino, não apresentando doenças
DISLEXIA E DISTÚRBIOS DE
neurológicas ou psiquiátricas e ou alterações
significativas auditivas e visuais. LEITURA2 1

Então, por que tratar como uma necessidade A dislexia é definida como sendo um
especial? distúrbio ou transtorno de aprendizagem na
A Professora Maria Conceição Gomes de área da leitura, escrita e soletração,
Melo explica que: diagnosticada geralmente no início do processo
Estima-se que, no Brasil, cerca de 15 milhões de alfabetização. A dislexia pode ser causada
de pessoas têm algum tipo de necessidade por vários fatores que são desde
especial. As necessidades especiais podem ser hereditariedade até alterações nos hemisférios
de diversos tipos: mental, auditiva, visual, física, cerebrais, subdividindo-se em dislexia do
conduta ou deficiências múltiplas. Deste desenvolvimento ou adquirida. A criança com
universo, acredita-se que, pelo menos, noventa suspeita de dislexia deve ser avaliada pela
por cento das crianças, na educação básica, equipe multidisciplinar, composta por vários
sofram com algum tipo de dificuldade de profissionais de diversas áreas.
aprendizagem relacionada à linguagem: Após seu diagnóstico, o professor deve usar
dislexia, disgrafia e disortografia. Entre elas, a diferentes estratégias até mudar o método de
dislexia é a de maior incidência e merece toda ensino para adaptá-lo objetivando uma
atenção por parte dos gestores de política melhoria da aprendizagem do aluno com
educacional, especialmente pelos professores dislexia.
(MELO,2009, p.21). Como colocado como objetivo secundário
A autora em questão destaca, ainda que o não é o aluno que necessita se adaptar a
observa-se frequentemente que o despreparo apreensão do conhecimento, mas o sistema
do professor da escola fundamental para escolar necessita se moldar ao problema
compreender as questões patológicas da buscando juntamente com os pais diferentes
linguagem o tem levado a dificuldades em lidar meios para que se objetive o processo de
com aquelas que envolvem o processo de ensino aprendizagem.
aprendizagem, sendo necessário esclarecer as A dificuldade de conhecimento e de
diferenças entre as alterações pertinentes ao definição do que é Dislexia, faz com que se
tenha criado um mundo tão diversificado de

2
Fonte: In http://www.dislexia.com.br/ Data de Acesso:18/03/2020.

763
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

informações, que confunde e desinforma. Além O PROCESSO DE LEITURA


do que a mídia, no Brasil, as poucas vezes em
A leitura é uma competência cultural
que aborda esse grave problema, somente o faz
específica que se baseia no conhecimento da
de maneira parcial, quando não de forma
linguagem oral, é, contudo, uma competência
inadequada e, mesmo, fora do contexto global
com um grau de dificuldade muito superior à da
das descobertas atuais da Ciência.
linguagem oral.
Dislexia é causa ainda ignorada de evasão
A linguagem existe há cerca de 100 mil anos,
escolar em nosso país, e uma das causas do
faz parte do nosso patrimônio genético.
chamado "analfabetismo funcional" que, por
Aprende-se a falar naturalmente sem
permanecer envolta no desconhecimento, na
necessidade de ensino explícito. Os sistemas de
desinformação ou na informação imprecisa,
escrita, sendo produtos da evolução histórica e
não é considerada como desencadeante de
cultural, são relativamente recentes na história
insucessos no aprendizado.
da humanidade, existem apenas há cerca de 5
Hoje, os mais abrangentes e sérios estudos a mil anos.
respeito desse assunto, registram 20% da
A escrita utiliza um código gráfico que
população americana como disléxica, com a
necessita de ser ensinado explicitamente. Para
observação adicional: "existem muitos
decifrar o código escrito, é necessário tornar
disléxicos não diagnosticados em nosso país".
consciente e explícito, o que na linguagem oral
Para sublinhar, de cada 10 alunos em sala de
era um processo mental implícito.
aula, dois são disléxicos, com algum grau
Os processos cognitivos envolvidos na
significativo de dificuldades. Graus leves,
produção e compreensão da linguagem falada
embora importantes, não costumam sequer ser
diferem significativamente dos processos
considerados.
cognitivos envolvidos na leitura e na escrita.
Dislexia é uma específica dificuldade de
A procura de uma explicação neurocientífica
aprendizado da Linguagem: em Leitura,
cognitiva, para a leitura, tem sido objeto de
Soletração, Escrita, em Linguagem Expressiva
uma imensa quantidade de estudos.
ou Receptiva, em Razão e Cálculo Matemáticos,
Mas a realidade é que os resultados têm sido
como na Linguagem Corporal e Social. Não tem
convergentes apresentando um conjunto
como causa falta de interesse, de motivação, de
bastante consistente de conclusões.
esforço ou de vontade, como nada tem a ver
com acuidade visual ou auditiva como causa
primária. Dificuldades no aprendizado da COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS
leitura, em diferentes graus, é característica À APRENDIZAGEM DA LEITURA
evidenciada em cerca de 80% dos disléxicos. Aprender a ler não é um processo natural.
Dislexia, antes de qualquer definição, é um Contrariamente à linguagem oral a leitura não
jeito de ser e de aprender; reflete a expressão emerge naturalmente da interação com os pais
individual de uma mente, muitas vezes arguta e e os outros adultos, por mais estimulante que
até genial, mas que aprende de maneira seja o meio a nível cultural.
diferente.

764
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para aprender a ler é necessário ter uma boa um conhecimento consciente destas unidades
consciência fonológica, isto é, o conhecimento linguísticas, apresentam um déficit a nível da
consciente de que a linguagem é formada por consciência dos segmentos fonológicos da
palavras, as palavras por sílabas, as sílabas por linguagem, um déficit fonológico.
fonemas e que os caracteres do alfabeto As crianças que apresentam maiores riscos
representam esses fonemas. de futuras dificuldades na aprendizagem da
A consciência fonológica é uma competência leitura são as que no jardim-de-infância, na pré-
difícil de adquirir, porque na linguagem oral não primária e no início da escolaridade
é perceptível a audição separada dos diferentes apresentam dificuldades a nível da consciência
fonemas. Quando ouvimos a palavra “pai” silábica e fonêmica, da identificação das letras
ouvimos os três sons conjuntamente e não três e dos sons que lhes correspondem, do objetivo
sons individualizados. da leitura e que têm uma linguagem oral e um
Para ler é necessário conhecer o princípio vocabulário pobres.
alfabético, saber que as letras do alfabeto têm Os fatores motivacionais são muito
um nome e representam um som da linguagem, importantes no desenvolvimento da
saber encontrar as correspondências grafo - capacidade leitora dado que a melhoria desta
fonêmicas, saber analisar e segmentar as competência está altamente relacionada com o
palavras em sílabas e fonemas, saber realizar as querer, com a vontade de persistir, pese
fusões fonêmicas e silábicas e encontrar a embora, as dificuldades sentidas e a não
pronúncia correta para aceder ao significado obtenção de resultados imediatos. Para ler,
das palavras. uma pessoa deve adquirir um certo número de
Para realizar uma leitura fluente e habilidades cognitivas e perceptivo-linguísticas:
compreensiva é ainda necessário realizar • Habilidade para focalizar a atenção,
automaticamente estas operações, isto é, sem concentração e seguir instruções;
atenção consciente e sem esforço. • Habilidade para entender e interpretar a
A capacidade de compreensão leitora está língua falada no cotidiano;
fortemente relacionada com a compreensão da • Memória auditiva e ordenação;
linguagem oral, com o possuir um vocabulário • Memória visual e ordenação]habilidade
oral rico e com a fluência e correção leitora. no processamento (decodificação) de palavras;
Todas as competências têm que ser • Análise estrutural e contextual da língua;
integradas por meio do ensino e da prática. • Síntese lógica e interpretação da língua;
• Por que é que tantas crianças têm • Desenvolvimento e expansão do
dificuldades em aprender a ler? Quais os vocabulário;
déficits que a dificultam esta aprendizagem? • Fluência na leitura à primeira vista e
As dificuldades na aprendizagem da leitura habilidades de referência.
têm origem na existência de um déficit Chall (1967), resume o processo de leitura
fonológico. como “percepção (reconhecimento da palavra),
As crianças com dislexia embora falem compreensão e interpretação, apreciação e
utilizando palavras, sílabas e fonemas, não têm aplicação” (CHALL 1967, p.54).)

765
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A leitura, portanto, é uma forma complexa exemplo, de quadros afásicos, de dificuldades


de aprendizagem simbólica, na qual mudanças de linguagem oral.
relativamente triviais em uma palavra podem Ele entende ainda que para o diagnóstico de
alterar completamente sua pronúncia e dislexia adquirida é fundamental que o
significa. É um processo que envolve linguagem indivíduo nessa situação seja letrado, tenha
escrita, atenção, habilidade motora, vários aprendido a ler e sido alfabetizado. As
tipos de memória, organização de texto e síndromes relacionadas às dislexias de
imagem mental; um processo “no qual a desenvolvimento acometem crianças em idade
pronunciabilidade de uma palavra influencia escolar, crianças que estão começando o
sua percepção, como o fazem o significado e a processo de alfabetização. Eu mencionei que
estrutura da sentença na qual a palavra era um sintoma, uma síndrome e talvez uma
aparece” (ROSINSKI 1977, p.181-82). doença porque existem determinadas
situações da síndrome disléxica de
A SÍNDROME DISLÉXICA desenvolvimento que permitiriam pensar ser
ela uma entidade com etiologia, fisiopatologia
Para o Doutor Claudio Guimarães dos
e quadro clínico específicos, como a meningite
Santos3 :
1

meningocócica, por exemplo. Essa classificação


Dislexia é tanto o nome de um sintoma,
merece, porém, estudo mais detalhado. Ele
como de uma síndrome e talvez de uma
afirma ainda que a dislexia pode ser tanto um
doença. Como sintoma, designa a dificuldade
sintoma quanto uma síndrome4 .
para ler e pode acometer tanto a criança
2

O processo de leitura em si varia de indivíduo


quanto o adulto e o idoso. Evidentemente, o
para indivíduo, dependendo de fatores tais
indivíduo que é cego ou tem miopia não
como: idade e maturação, sexo,
corrigida e não consegue ler, não é disléxico;
hereditariedade, experiência cultural,
tem problemas visuais, sensoriais. Como
instrução, prática e motivação. Vallet (1978),
síndrome, a dislexia faz parte de uma série de
discute muita das habilidades cognitivas
situações deficitárias que podem ser
intrínsecas à leitura. Mas, a maioria das
decorrentes de lesões adquiridas ou de
habilidades cognitivas está baseada em
desenvolvimento, daí a divisão entre dislexias
destrezas perceptivo-linguísticas
adquiridas e dislexias de desenvolvimento. As
fundamentais, como a integração auditivo-
adquiridas acompanham lesões encefálicas,
visual e ordenação. É exatamente nessas
como o acidente vascular cerebral (AVC) ou
habilidades básicas que a pessoa disléxica é
traumas, e o paciente apresenta dificuldade de
mais deficiente.
leitura que pode ser pura, a chamada alexia
Essas deficiências já foram especificadas
sem grafia, ou pode ser acompanhada, por
clinicamente há algum tempo. Em 1917, o

3
Neurocientista da Universidade Federal de São Paulo, trabalha na reabilitação de pacientes com disfunções
cognitivas.
4 Fonte: Disponível em: http://drauzio.mediaibox.com.br/ExibirConteudo/774/dislexia/pagina1/conceito-e-
classificacao- Data de Acesso:18/03/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cirurgião oftalmologista escocês James


Hinshelwood detalhou distorções perceptivas
em crianças que não conseguiram reconhecer IDENTIFICANDO A DISLEXIA
ou compreender palavras impressas. Ele
Ao contrário do que muitos pensam, a
concluiu que a causa mais provável deste grave
dislexia não é o resultado de má alfabetização,
distúrbio9 de leitura é um defeito congênito no
desatenção, desmotivação, condição sócio-
cérebro, afetando a memória visual de palavras
econômica ou baixa de QI. Ela é uma condição
e de letras. O tratamento sugerido por este
hereditária com alterações genéticas.
pesquisador pioneiro era o de ensino
Apresentando ainda alterações no padrão
diagnóstico-prescritivo individual, dependente
neurológico. Por esses múltiplos fatores é que a
do grau de deficiência de memória visual e
dislexia deve ser diagnosticada por uma equipe
auditiva.
multidisciplinar, sobre a qual falaremos mais
Em 1928, Samuel Orton, publicou um
tarde.
trabalho clínico, que muitas crianças faziam
Esse tipo de avaliação dá condições de um
inversões e imagem espetacular de letras e
acompanhamento pós diagnóstico mais
palavras. Sugeriu que esse fenômeno era
efetivo, direcionado às particularidades de cada
provocado por imagens competitivas nos dois
aluno, ou resultados concretos.
hemisférios cerebrais, devido à falência em
Muitas vezes, a criança apresenta condições
estabelecer dominância cerebral unilateral e
intelectuais normais, porém poderá ler com
consistência perceptiva.
deficiência e transformar ou deformar as
Ele denominou essa condição de
palavras. É comum o disléxico apresentar algum
estrefossimbolia (símbolos invertidos), aceita
déficit no domínio da ação, da motricidade, da
como um dos principais sinais de diagnóstico de
organização tempo - espaço, da capacidade de
dislexia.
globalização no domínio do esquema corporal,
Hirscg (1968), enfatiza a importância das
na dominância lateral, podendo ser
disfunções psicológicas, tais como: má
acrescentados distúrbios de atenção e da
memória para detalhes, reprodução distorcida
memória.
de configurações espaciais e problemas visual-
Para facilitar o reconhecimento da dislexia a
motores, refletindo desorganização e
Dra. Maria Regina A. A. Oliveira5 preparou
1

perturbação. De Hirsch conclui que tanto o


algumas dicas importantes para educadores e
retardamento da dominância cerebral quanto
responsáveis:
os distúrbios de linguagem podem refletir
atraso de maturação ou disfunção, e que a
1. Educação Infantil
educação formal para a leitura deveria ser
• Desenvolvimento da atenção;
adiada para essas crianças, até que seja
• Imaturidade na idade cronológica;
alcançado sucesso com instrução perceptivo-
• Atraso significativo no desenvolvimento
motora e com linguagem oral.
da fala e da linguagem;

5 Fonte: http://www.sistemanervoso.com/equipe.php .Data de Acesso:18/03/2020.

767
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Atraso significativo no desenvolvimento Dificuldade com análise e síntese do som de


visual; uma palavra;
• Desenvolvimento da coordenação • Criança desatenta e dispersa;
motora comprometida; • Dificuldades para cópias;
• Dificuldades nos jogos lúdicos. Ex: • Dificuldade no ditado, na escrita
quebra cabeça; espontânea trocas visuais, auditivas e espaciais
• Dificuldades na leitura com os livros inversões e aglutinações de fonemas e
impressos; logatomas;
• Dificuldades em assimilar rimas e • Dificuldades na coordenação motora
canções; fina, disgrafia desenhos pinturas outros e
• Dificuldades em escrever letras e coordenação grossa, dança ginástica e outros;
números corretamente; • Criança muito desorganizada, em seu
• Dificuldades em ordenar as letras do material e atrasos de entrega nos trabalhos
alfabeto, meses do ano e sílabas de palavra escolares;
maiores; • Dificuldades visuais posturas erradas da
• Dificuldade em distinguir entre direita cabeça ao escrever.
esquerda. • Confusão entre direita e esquerda;
Para diagnosticar a dislexia é necessário uma • Dificuldade em manusear mapas,
análise quantitativa e qualitativa das atividades dicionários, livros em geral;
motoras. • Vocabulário com poucas palavras, frases
O diagnóstico geralmente é feita a partir do curtas e imaturas ou frases longas e sem nexo;
momento que a criança se alfabetiza( • Dificuldade em aprender sequências
geralmente por volta dos 6 anos ou 7 anos) diárias como meses do ano, alfabeto, estações
porém alguns profissionais hoje em dia fazem do ano e outros;
diagnóstico antes dessa idade. • Dificuldade com a memória imediata,
O diagnóstico deve ser feita por profissionais instruções dígitos, tabuadas, fonemas, outros;
especializados, que utilizarão recursos variados • Dificuldades para ordenar e resolver
de trabalho no processo de avaliação. problemas de matemática discalculia e
desenhos geométricos;
2. Idade Escola- Ensino Fundamental I • Dificuldade em aprender língua
Nesta fase, se a criança continua estrangeira;
apresentando alguns ou vários sintomas como • Problemas de conduta na sala de aula
estes, é necessário um diagnóstico e exibicionismo ou timidez;
acompanhamento adequado para que possa • Grande desempenho em avaliações
prosseguir seus estudos junto com sua sala de orais;
aula e não tenha desconfortos emocionais: • Cuidados com o adulto- ele ainda
• Dificuldade na aquisição e apresentará dificuldades;
desenvolvimento das habilidades lingüística; • Ainda apresenta muita dificuldade na
leitura e escrita;

768
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Dificuldade para soletrar; Essa avaliação não só identifica as causas das


• Dificuldade de lateralidade; dificuldades apresentadas, assim como permite
• Dificuldade em aprender a segunda um encaminhamento a cada caso, por meio de
língua; um relatório por escrito.
• Dificuldade em planejar e organizar seus No caso da dislexia, o encaminhamento
trabalhos; orienta o acompanhamento consoante as
• Comprometimento emocional. particularidades de cada caso, o que permite
que este seja mais eficaz e mais proveitoso, pois
DIAGNÓSTICO DA DISLEXIA o profissional que assumir o caso não precisará
daquele tempo, para identificação do
Identificando o problema na avaliação
problema, bem como terá ainda acesso a
escolar ou sintomas isolados, que podem ser
pareceres importantes para o caso.
percebidos na escola ou mesmo em casa, deve
Conhecendo as causas das dificuldades e os
se procurar ajuda especializada.
potenciais do aluno, o professor pode utilizar a
Uma equipe multidisciplinar deve iniciar uma
linha pedagógica que achar mais conveniente.
investigação minuciosa. Essa mesma equipe
Os resultados irão aparecer de forma
deve ainda garantir uma: maior abrangência do
consistente e progressiva.
processo de avaliação, verificando a
Ao contrário de que muitos pensam, o
necessidade do parecer de outros profissionais,
disléxico sempre contorna suas dificuldades.
como neurologista, oftalmologista e outros ,
Ele responde muito bem a tudo que passa para
conforme o caso.
o concreto. Tudo que envolve os sentidos é
A equipe de profissionais deve verificar todas
mais facilmente absorvidos. O disléxico
as possibilidades antes de confirmar ou
também tem sua própria lógica, sendo muito
descartar o diagnóstico de dislexia. É o que
importante o bom entrosamento entre
chamamos de avaliação de exclusão.
professor e aluno.
Outros fatores deverão ser descartados,
Outro passo importante a ser dado é definir
como déficit intelectual, disfunção ou
um planejamento de conteúdos significativos
deficiência auditiva e visual lesões cerebrais,
para a sua aprendizagem, em etapas e somente
desordem afetivas anteriores ao processos de
passar para a etapa seguinte, após confirmar
fracasso escolar( com os constantes fracassos
que a anterior foi devidamente absorvida e
escolares o disléxico irá apresentar problemas
sempre retomando as etapas anteriores.
emocionais, mas estes são conseqüência, não
E é de extrema importância haver um bom
causa da dislexia), e outros distúrbios de
relacionamento e trocas de informações entre
aprendizagem, como: o déficit de atenção , a
os profissionais escola e família.
hiperatividade, lembrando que a hiperatividade
a) Dicas Dislexia na escola
também pode ocorrer em conjunto com a
Dê ao aluno disléxico um resumo do curso.
dislexia.
Avise no primeiro dia de aula o desejo de
Neste processo ainda é muito importante :
conversar com o aluno individualmente.
tomar o parecer da escola, dos pais e levantar o
histórico familiar e de evolução do paciente.

769
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Use vários materiais de apoio para e fotofobia, após um intervalo relativamente


apresentar o trabalho do dia, ex: lousa, curto na leitura.
projetor, filmes, demonstrações práticas Embora a causa da dislexia da leitura esteja
multimídia, e outros. relacionada às alterações neurobiológicas no
Introduza um vocabulário novo, de acordo processamento cerebral, problemas oculares
com a necessidade do aluno, ou técnico, de contribuem significativamente para os
forma contextualizada. sintomas da dislexia.
Evite confusões, isto é instruções orais e De acordo Lanhez e Nico (2002), o
escritas ao mesmo tempo. diagnóstico é feito por exclusão de
b) Quanto à leitura: possibilidades e por isso deve ser feito por uma
Anuncie os trabalhos com antecedência, equipe multidisciplinar, formada por psicólogo,
para que o aluno disléxico tenha tempo de se fonoaudiólogo e médico. E quando necessário,
organizar. se faz encaminhamento para outros
Proponha dinâmica de grupo, entrevistas e profissionais, como oftalmologista,
trabalho em campo. neurologistas, etc.
Dê exemplos de perguntas e respostas para O psicólogo faz uma entrevista com os pais
estudos de avaliações. da criança ou com a pessoa que vai ser avaliada.
Diversifique a avaliação com métodos Quando o avaliado frequentar a escola, é
alternativos. encaminhado para o professor um
Autorize o uso de tabuadas, calculadoras, questionário.
dicionários durante as avaliações. Serão realizados testes que avaliam o nível
Leia a avaliação em voz alta para ter certeza de inteligência, para determinar as habilidades
de que todos entenderam. globais de aprendizagem da pessoa, tais como:
Dessa forma a escola e o professor estará visomotor, neuropsicológicos e de
contribuindo para amenizar as dificuldades do personalidade, que revelam possível
disléxico. comprometimento na inteligência, indícios de
Em resumo a Dislexia de Leitura afeta lesões neurológicas ou conflitos emocionais.
pessoas de todas as idades, com inteligência Psicopedagogo realiza teste de lateralidade,
normal ou superior à média e está relacionada leitura e linguagem. São pedidos ainda, testes
a uma desorganização no processo cerebral das oftalmológicos e audiométrico.
informações recebidas pelo sistema visual,
devido ao esforço despendido, a leitura torna-
se mais lenta e segmentada, o que compromete
a velocidade de cognição e a memorização,
produzindo cansaço, inversões, trocas de
palavras e perda de linhas no texto,
desfocamento, sonolência, distúrbios visuais,
dores de cabeça, irritabilidade, enjoo, distração

770
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É necessário que diagnóstico da dislexia seja precoce, isto é, os pais e educadores se
preocupem em encontrar indícios de dislexia em crianças aparentemente normais, já nos
primeiros anos de educação infantil, envolvendo as crianças de 4 a 5 anos de idade.
Quando não se diagnostica a dislexia, ainda na educação infantil, os distúrbios de letras
podem levar crianças de 8 a 9, no ensino fundamental, a apresentar perturbações de ordem
emocional, efetiva e lingüística.
Uma criança disléxica encontra dificuldade de lê e as frustrações acumuladas podem
conduzir a comportamentos antissociais, à agressividade e a uma situação de marginalização
progressiva.
Os pais, professores e educadores devem estar atentar a dois importantes indicadores para
o diagnóstico precoce da dislexia: a história pessoal do aluno e as suas manifestações lingüísticas
nas aulas de leitura e escrita.

771
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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psicólogo, 1997.

BLOCH, Pedro. Falar é viver. Rio de Janeiro: Nórdica, 1980.

COLTON, R. & CASPER, Janina. Compreendendo os problemas de voz. Porto Alegre: ART
MED, 1996.

FORISHA, Bill E.; MILHOLLAN, Frank. Skinner x Roger: Maneiras contrastantes de encarar a
educação. São Paulo: Sumus Editorial, 1972.

GONÇALVES, Neide. A importância do falar bem. A expressividade do corpo, da fala e da


voz valorizando a comunicação verbal. São Paulo: Lovise, 2000.

KYRILLOS, Leny (org.). Expressividade. Da teoria à prática. São Paulo: Revinter, 2005.

LANHEZ, M.E e NICO. M.A. Nem sempre é o que parece: Como enfrentar a dislexia e os
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MARTINET, André. Elementos de Lingüística Geral. Lisboa: Sá da Costa Editora, 1985.

MORAES, A.M.P. Distúrbios da aprendizagem: Uma abordagem psicopedagógica. São


Paulo: EDICON, 1997.

NOVARINA, Valère. Diante da palavra. Rio de Janeiro: 7 Letras , 2003.

QUINTEIRO, Eudósia. Estética da voz: uma voz para o ator. São Paulo: Summus, 1989.

NUNES. T e cols. Dificuldades na aprendizagem da leitura: Teoria e prática. 3.ed. São Paulo:
Cortez, 2000.

772
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA
MATEMÁTICA
Marcia de Oliveira Gonçalves Capitani1

RESUMO: O presente artigo discorre sobre a relação entre a História da Matemática, sendo um
elo para que consigamos construir uma nova proposta de ensino, por meio do conhecimento do
passado, para que o presente faça sentido na aprendizagem e impacte diretamente no futuro
das pessoas. Em particular, a necessidade de educação matemática para todos os alunos desde o
início da escolaridade obrigatória não está em discussão, ao contrário do que está acontecendo
na educação científica. Este ensino não é necessariamente satisfatório, mas é acessível a todos os
alunos que frequentam a escola, portanto, quando trazemos a História para o ensino de
matemática procuramos traçar um paralelo, no qual verificamos a importância da História para o
ensino de Matemática. Objetivamos apontar algumas contribuições da História da Matemática
para a reflexão educacional. O ponto de partida é a consideração que, em estudos históricos sobre
desenvolvimento de conceitos, elementos lógicos e epistemológicos para o processo de
constituição da teoria são evidenciados. Esses elementos não apenas melhoram a compreensão
do conceito, mas também revelam aspectos característicos da atividade matemática da
construção que merece ser considerada nas propostas educacionais dos professores, mostrando
que a matemática, como construção humana, está ligada a diferentes dinâmica.

Palavras-Chave: História; Matemática; Aprendizagem; Ensino.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Matemática.
E-mail: marcia-capitani@hotmail.com

773
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO No campo sociocultural, é interessante


refletir sobre as condições e situações que
No processo de ensino e aprendizagem tem motivaram o desenvolvimento de um
sido constante, ao longo da história, a busca por conhecimento matemático, de uma
estratégias de planejamento, mediação e demonstração ou teste, ou seja, quais
avaliação que levem o aluno à apropriação do circunstâncias impulsionaram o
conhecimento, a um aprendizado significativo, desenvolvimento dessa disciplina.
ao desenvolvimento do pensamento crítico ou A História da matemática fomentou
complexo. reflexões de tipo filosófico em termos dos
O pensamento crítico é entendido como elementos que estimularam a construção de
pensar em quais juízos de avaliação baseados um novo conceito, ou que, ao contrário,
no raciocínio lógico são emitidos. Nesse constituíram um obstáculo a tal construção.
sentido, um pensador crítico gera formas de São várias arestas para análise ou estudo da
comprovar suas afirmações. O História da matemática, de fato a podemos
desenvolvimento do pensamento crítico é um apontar aqui a existência de uma tipologia da
dos procedimentos tradicionais da história. história da matemática, com base nas
É possível distinguir pelo menos três razões classificações de produto de investigação e
pelas quais a História é importante para a vida, análise histórica, por meio de vários critérios.
vamos nos concentrar em dois deles. O ser Algumas tipologias referem-se à atenção ou
humano precisa de história, porque, como não dos aspectos socioculturais e ao
pessoa que pensa e age, muitas vezes exige desenvolvimento de um trabalho matemático,
modelos, padrões que lhe permitem resolver também no nível de profundidade do produto
problemas ou tomar decisões. Além disso, é da História da Matemática.
importante manter em nossa memória todas Independentemente do tipo em que
aquelas memórias que de alguma forma se analisamos a História da Matemática, um
associam às nossas experiências de aspecto fundamental para definir quando a
crescimento e desenvolvimento que se História da matemática envolvidos no processo
tornaram hábitos, estilos de vida, e têm de ensino é determinar a maneira pela qual ela
contribuído para o nosso treinamento. foi abordada, contida em si mesma, como uma
Em particular, o conhecimento da História da ferramenta para o ensino dessa disciplina, ou
Matemática tem contribuído para várias então, como um elemento que contextualiza os
discussões ou reflexões de natureza filosófica, estudos culturais sobre a matemática, com sua
sociocultural ou epistemológica. No nível imagem pública ou papel social.
epistemológico, permitiu questionar as
tendências ao longo da História sobre a
CONCEPÇÕES SOBRE A
natureza da matemática e suas crenças ou
concepções, particularmente as relações entre MATEMÁTICA
a matemática e seu ensino. A origem da matemática vem de muito
longe, mas para todo o tempo que precede a

774
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

invenção da escrita, parece difícil enunciar suas fórmulas métricas eram quase sempre
qualquer coisa além de generalidades, apenas aproximadas; todavia, legaram aos métodos
apoiadas indiretamente por alguma evidência gregos cuja tradição foi preservada até a queda
arqueológica (sucessões de entalhes ou marcas do Império Bizantino.
que podem fazer você pensar em uma Quanto à tradição matemática ocidental,
contagem, etc.) ou analogias que podem ser devemos buscar sua origem na Grécia antiga,
extraídas de estudos etnológicos: saber como onde a disciplina é inteiramente constituída
contar; vários sistemas de numeração que como uma ciência abstrata.
poderiam ser usados (decimal, duodecimal, A palavra matemática vem do grego
sexagesimal, etc.). materno, que tem o senso geral de ciência que
É impressionante notar que a invenção da é ensinado; o significado técnico remonta à
escrita está em toda parte intimamente ligada escola pitagórica, na qual existem quatro
a preocupações matemáticas, ou pelo menos matematizes. "Existem quatro graus de
contábeis. Começou com o registro dos sabedoria, aritmética, música, geometria,
números e os relacionamentos que existem esférica, linhas 1, 2, 3, 4." (PSEUDO-
entre eles. Colocados e resolvidos de forma PITÁGORAS, DE DITS, AVILA,1989).
muito rudimentar na Mesopotâmia e no Egito, Deste período (século V a.C), o caráter
esses problemas já delineiam os contornos de especial dessas ciências é, portanto,
uma aritmética, uma álgebra, uma geometria determinado, e elas são classificadas de acordo
(DE GUZMAN,1992). com o desenvolvimento então recebido por
Em todos os campos, o conhecimento dos seus vários ramos.
babilônios era expresso principalmente na Nos gregos, as ciências matemáticas
forma de listas. Assim, conhecemos tabuletas desenvolveram-se rapidamente e assumiram
de argila nas quais, do período sumério (3º uma forma clássica bem conhecida, a de um
milênio AC), são encontradas listas de conjunto de proposições isoladas, mas
quadrados ou cubos de números em rigorosamente demonstraram uma pela outra a
correspondência, nos quais podemos ver uma partir de definições ou axiomas em pequeno
forma arcaica da noção função atual. Estas número.
tabelas permitiram calcular as superfícies e os Thales (nascido em 600 A.C), é o primeiro
volumes, mas também a resolução das nome conhecido a abstrair conceitos
equações do 1º e 2º graus. Matemáticos geométricos, triângulos semelhantes da teoria
mesopotâmicos deu (Pi) o valor aproximado 3. é atribuída a ele, e a proposta, ele não mostra
A relação, conhecida de Pitágoras entre o (e que está indevidamente nomeado Teorema
quadrado da hipotenusa e a soma dos de Thales) que determinam duas linhas
quadrados dos lados de um triângulo retângulo paralelas na interseção segmentos
era conhecido por eles, era extremamente já proporcionais.
difundida Pitágoras, é o primeiro a reivindicá-lo,
Os métodos de cálculo dos antigos egípcios fazendo dos números o princípio de tudo. Um
eram menos avançados que os dos babilônios: dos primeiros pitagóricos estabeleceram a

775
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

proposta do quadrado da hipotenusa e a escola Encontrar a relação da circunferência ao


consegue tirar algumas consequências: assim, diâmetro, Archimedes dá os primeiros
mostra a irracionalidade da raiz quadrada de 2, exemplos de um problema resolvido por
e, geralmente, estamos considerando a aproximação. Ele ainda nos dá um Tratado
questão das magnitudes incomensuráveis sobre espirais, a proporção da esfera e do
entre eles (DE GUZMAN,1992). cilindro circunscrito, a cubagem de esferoides e
Platão introduz o método analítico, a teoria conóides, e a descoberta da quadratura
das seções cônicas e a doutrina dos lugares rigorosa. O curso seguido por Arquimedes é o
geométricos. Ele define a questão da inscrição método de exaustão (já esboçado por Euclides),
em uma esfera dos cinco poliedros regulares no qual o método dos limites e o cálculo
(os cinco corpos platônicos ou os cinco corpos diferencial estão em germe (CHAVES E
de Euclides, diremos mais adiante) em uma SALAZAR,2003).
esfera. Os escritos de Apolônio de Perge (por volta
Ele também fornece uma solução simples e de 250 a.C), estão relacionados principalmente
elegante da duplicação do cubo. Essa questão, à geometria da forma. O principal deles, parece
que os antigos chamam de problema de Delos, ser o Grande Tratado das Cônicas. É ele, diz-se,
já havia capturado a inteligência de Hipócrates quem primeiro aplicou a essas curvas os nomes
de Quios e Arquitas. de parábola, elipse e hipérbole, sob as quais
Aristóteles, discípulo de Platão, aborda as eles sempre foram designados desde então.
questões do infinito e do contínuo. Sua lógica Os árabes emprestaram álgebra e dígitos
será a única que os matemáticos conhecerão numéricos da Índia. Sendo provavelmente ao
até o século XIX. Eudoxe desenvolve a teoria extremo leste que eles tomaram emprestados
das proporções, Menechme estuda as seções os germes do conhecimento dos quais seus
cônicas. Siga-o: seu irmão Dinostrate, Autolycus matemáticos são mostrados. De fato, as
de Pitane, etc. Matemática Alexandrina. matemáticas da China e da Índia já têm uma
Ao coletar as descobertas de seus longa história (CHAVES e SALAZAR,2003)
antecessores e de seus próprios, Euclides de O Yijing (ou I Ching Y-rei), antigo livro de
Cnido estabelece a ligação entre a escola filosofia chinesa contém conceitos
platônica e a escola matemática de Alexandria. matemáticos única bastante básico: não
Ele uniu as proposições que haviam sido manipula com as trigramas, a noção de
descobertas por seus antecessores e compôs permutação, mas sem teorizar de forma
seu famoso trabalho dos Elementos (DE explícita; existe também uma forma de
GUZMAN,1992) numeração binária (baseada em yin e yang),
O trabalho, no qual aparece pela primeira mas também é muito implícita.
vez, o método de redução ao absurdo, consiste O Zhoubi Suanjing (Chou Pei Suan King),
em quinze livros, os treze primeiros foram também da grande antiguidade (como o
escritos pelo próprio Euclides, e os dois últimos anterior é difícil de datar, mas provavelmente
parecem ter sido adicionados por Hipólito de foi composto no curso do primeiro milênio AC),
Alexandria. é especialmente dedicado aos cálculos

776
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aritméticos e astronômicos. Ele descreve as Quando os árabes são o conhecimento da


propriedades dos triângulos retângulos (com matemática orientais, os índios, com
uma demonstração ilustrada por um gráfico do declarações de teoremas sobre superfícies ou
teorema de Pitágoras) e as frações são usadas. figuras simples volumes já estão na posse de
Suan shù shu (Escritos sobre o cálculo) e uma geometria original, e, acima de tudo, ter
Jiuzhang Suanshu (As Novas seções - ou nove também distinguiram-se em sua pesquisa sobre
capítulos - sobre os procedimentos propriedades de números e de transformações
matemáticos) com trabalhos mais recentes (a algébricas.
última foi concluída no início de nossa era). No A partir do século IV AC, Apâsthamba
primeiro, encontramos um método para compôs o Sulvasûtra, um tratado destinado a
calcular raízes quadradas. Quanto ao segundo, reunir o conhecimento necessário para a
ele aborda de forma mais sistemática (e construção dos templos, e no qual se encontra,
pedagogicamente) todas as áreas em que a em particular, uma formulação do teorema de
matemática intervém. Trata da resolução de Pitágoras. No quinto século ap. J-C Aryabhatta
sistemas de equações lineares, ou a resolução foi o autor de um livro (o Aryabhâtiyam), no
de equações do segundo grau (CHAVES e qual aparecem os primeiros relatórios de
SALAZAR,2003). tempo que mais tarde serão chamados sinusal
A partir do terceiro século, vários nomes de (os gregos iriam recorrer apenas à noção de
matemáticos são conhecidos por nós. Podemos cordas).
citar: Liu Hui (Liou Houi), comentarista das Nove Há também uma mesa sinusoidal expressa
Seções, e que, por volta de 263, deduz do em verso, e, portanto, supostamente fácil de
estudo de um polígono de 172 faces uma memorizar. Finalmente, Brahmagupta, em
aproximação de igual a 3,14159; Zu Chongzhi meados do século VII, foi o autor de um tratado
(Tsu Ch'ung-Chih, 430-501), que administra por que em breve terá uma grande importância
sua vez a 3.1415926 << 3.1415927; e entre os árabes, o siddhana.
especialmente Zhu Shijie (Chou Chi-kie, 1280- Mais tarde Bascora Acharay (ou Bhaskara),
1303), autor do precioso Espelho dos quatro nascido em 1114, escreveu o Lilavati (em
elementos. homenagem a sua filha), em que veremos os
Os contatos muito antigos dos chineses com primeiros quatro operações em números
os gregos, e os mais próximos e mais contínuos inteiros e frações comumente realizada, a regra
com os indianos, sugerem que a influência da de três, extração raízes quadradas e cúbicas,
matemática chinesa sobre os gregos pode ter como fazemos hoje (Chaves e Salazar,2003).
existido, e que pode ter desempenhado um Desde o reinado de Al-Mammoun (813-834),
papel significativo na evolução da matemática graças ao trabalho de seu bibliotecário, Abu-
indiana. Seja como for, a partir do século XV, as 'Abdallah el-Khâr zmî, a herança matemática
influências externas, começando com a do dos gregos começa a ser verdadeiramente
Ocidente, ocorreram na direção oposta, e a conhecida e enriquece o conhecimento
matemática chinesa acabou perdendo seu adquirido pelos matemáticos indianos.
próprio caráter.

777
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Ele estudou o sânscrito Siddhanta, revisou as matemática reaparece no quadrivium das artes
tabelas de Ptolomeu e escreveu sobre tratados liberais das universidades, seguindo a antiga
de álgebra que a Idade Média se traduziria classificação pitagórica. Roger Bacon declarou a
latin.C'est em el-Khârizmî (de cujo nome matemática o instrumento mais poderoso para
também deriva a palavra algoritmo), que penetrar nas ciências, a ciência que precede
remonta o termo álgebra, cujas fortunas eram todas as outras e nos dispõe a compreendê-las.
singulares, e que, além do mais, tinha no início Mas muito poucos ainda são aqueles que
apenas um significado restrito; o nome pensam como ele. Hildebert du Mans, um
completo do qual deriva a palavra (al-djebr wa'l poeta de grande renome neste momento, está
moukâbala, restituição e oposição) mais próximo do estado de espírito do
originalmente refere-se al-Khwarizml duas momento, compondo um poema em quinze
operações claramente descritas em Diophantus canções, chamado Matemático, para
como o primeiro a ser submetido às equações ridicularizar astronomia e astrônomos
(GONZALES,2004). (GONZALES, 2004).
Uma restituição consiste em passar as No século XII, os árabes, fundadores das
quantidades negativas de um membro para o Universidades de Granada e Córdoba, deram a
outro, de modo que só restem termos conhecer no Ocidente os Elementos de
positivos; o outro (oposição), para reduzir Euclides. Eles receberam dos cristãos da Síria os
termos semelhantes em ambos os lados. tesouros da ciência grega e indiana: eles os
No Ocidente, na virada da Antiguidade e da transmitiram para a Europa latina; graças a
Idade Média, pode-se, na melhor das hipóteses, traduções realizadas especialmente na
referir Boécio (d.C. 480-524), autor de Espanha.
Aritmética, que é apenas uma cópia, mal Hermann o dálmata, conhecido o
digerida pelo caminho, de Nicômaco de Gerase. planisphere de Ptolomeu (1183), Gerard de
E há também sob o seu nome (mas a atribuição Cremona traduziu o Almagesto (1173). Por sua
é contestada) um Ars Geometriae, contendo vez, Campano, que vive após o ano de 1200,
em particular uma tradução literal dos quatro comenta Euclides e estuda a teoria dos planetas
primeiros livros de Euclides, mas onde as e a quadratura do círculo.
manifestações foram omitidas. Mas é acima de tudo que as necessidades
Cerca de um século mais tarde, Isidore, o práticas do comércio estão se desenvolvendo,
visigodo bispo de Sevilha em seus Etymologies, especialmente na Itália, que um novo ímpeto
explica que "a multiplicação da geometria da está chegando. Leonardo de Pisa, Fibonacci diz,
natureza", que distingue aritmética "cujo é dito ter, em um tratado sobre aritmética
fundamento é a adição". Este é o lugar onde a (Liber Abaci), publicado em 1202, incluindo
matemática apareceu naquele momento álgebra, como era conhecida, ensinada ou
(CHAVES e SALAZAR,2003). melhor propagado o uso de algarismos arábicos
Após um longo período de obscuridade, que ele chama o número indiano.
durante o qual o cálculo pascal foi o ápice do Ele indica o valor relativo ou posição.
conhecimento desejável, o ensino da (GERBERT, por volta do ano 1000, e um pouco

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mais tarde Adélard de Bath, já conhecia ferramentas que lhe dariam todo o seu poder.
números numéricos e aritmética baseados no Ela adquiriu suas ferramentas em etapas. Luca
sistema árabe, mas sua introdução no Ocidente Paciuolo começa dando métodos para reduzir
teve um impacto muito limitado) (GONZALES, todas as equações do segundo grau a três
2004). casos. Em seguida vem Niccolò Fontana,
Empregado na alfândega de Bejaia (atual conhecido como Tartaglia, Cardan e Ferrari,
Argélia), Fibonacci recolheu tudo o que se sabia que estão começando a resolver o problema
sobre aritmética no Egito, Grécia, Síria, Sicília, e geral de resolver as equações de terceiro e
ele compôs um tratado. Zero, segundo ele, quarto grau (GONZALES, 2004).
deriva da palavra árabe Zephirum; mas seu Depois deles, Viète é o primeiro a aplicar a
maior mérito é ser o primeiro entre os latinos a álgebra à geometria e, assim, estabelece as
escrever sobre álgebra e de tal maneira que três bases para uma análise moderna.
séculos de trabalho duro não tenham
acrescentado nada ao que ele ensinou. Ele • Álgebra, uma linguagem em busca de
aplica-se à resolução de problemas comerciais seu vocabulário
sem fazer a mais leve alusão a operações Desde o início do século XVI, a álgebra foi
mágicas, e isso numa época em que eles faziam cultivada por um grande número de
as mentes mais distintas desfazerem-se. matemáticos. Scipio Ferrero, professor de
A partir desse momento a ciência parece ter matemática em Bolonha (1505), a primeira
sido estudada com alguma diligência na Itália, quebra as barreiras que, até então, álgebra foi
que podem ser citados Paul dall'Abaco, preso e consegue resolver um problema do 3º
matemático qualificados, representando, grau, mas não fazem pública sua descoberta.
utilização de máquinas, todos os movimentos Algum tempo depois, Tartaglia (1500-1557),
das estrelas que ensina matemática em Veneza, está ciente
de um desafio, segundo a moda da época, pelo
ANOS MODERNOS DA matemático Fiori (ou Fior); o segundo, que
possui, diz ele, um processo de resolver a
MATEMÁTICA equação do terceiro grau (talvez venha de
O renascimento da matemática segue a Ferreo), comete uma soma de dinheiro contra
captura de Constantinopla pelos turcos (1453). quem quer que resolva trinta perguntas
No entanto, o principal trabalho do século formando casos particulares de esta equação.
XVI é a criação da álgebra em sua forma atual. Tartaglia propõe um método mais simples e é
Esse ramo da matemática existia na tradição facilmente vencedor resolvendo em menos de
ocidental pelo menos desde Diofante, e duas horas as questões propostas.
sabemos que já poderíamos encontrar as bases Girolamo Cardano descobriu o resultado
entre os babilônios, o Egito, a Índia e assim por deste jogo científica. Ele rasga seu segredo para
diante. Tartaglia, jurar sobre os Evangelhos nunca
Mas, estando muito ligado a números, ligado revelam isso, mas essa promessa solene não o
a casos particulares, ele ainda não tinha as impede de publicá-lo em sua carta magna, ao

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fazê-lo é a verdadeira justiça para os inventores por um novo símbolo; em uma palavra, o
anteriores (GONZALES, 2004). cálculo algébrico não existia.
Além disso, enquanto Tartaglia sabia Por cartas que representam todos os valores
resolver a equação cúbica, como no caso de conhecidos e desconhecidos e submetê-los a
uma única raiz real, Cardan, mente sutil e todas as operações que foram feitas em
brilhante matemático, diz que quando a números, estando em sua forma moderna
fórmula resolução contém imaginária, a destes símbolos de ciência e álgebra, em
equação admite três raízes reais: este é o conjunto a linguagem com um mecanismo e, de
primeiro exemplo da conexão entre fato, um meio de nova expressão e um novo
quantidades reais e quantidades imaginárias, instrumento de descoberta.
que encontrarão seu pleno desenvolvimento Assim, transformando a fórmula do
no século XIX. raciocínio particular na lei, que ajuda a
Aos vinte e três anos, a Ferrari, aluna de desenvolver o poder de métodos matemáticos.
Cardan, resolve a equação do quarto grau. Estudou-se equações algébricas de qualquer
Assim, adquirimos a resolução algébrica das grau e ele imagina a maioria das simplificações
equações dos primeiros quatro graus, as únicas sofridas, a ser resolvida em breve, equações
que podemos, no caso geral, resolver por algébricas (GONZALES, 2004).
extrações de raízes, como o matemático Abel Provavelmente conhecemos a fórmula em
demonstrou no século XIX. desenvolvimento (a + b) n; ele encontra as
A álgebra ainda é, no entanto, apenas uma fórmulas expressando sin x cos x em função da
coleção de receitas isoladas, cada uma das sen x cos x e aplica-los para o estudo de certas
quais tem como objetivo resolver um problema equações algébricas. Ele dá expressão na forma
específico. De fato, Tartaglia e Cardan não dão de um produto infinito que, sem valor para o
fórmulas de resolução no sentido que cálculo prático, é o primeiro exemplo concreto
atribuímos hoje a essa palavra. As regras de deste uso desenvolvimentos ilimitados, o
Tartaglia são colocadas em três versos de nove próximo século irá marcar um grande progresso
versos, cada um dedicado a descrever a da análise matemática. Na geometria, ele
continuação, operações destinadas a resolver resolve com elegância singular o problema de
cada uma das formas de equação levar um círculo tangente a três círculos dados.
(GUACANEME,2011). Vamos acrescentar, para terminar com a
Seu trabalho essencial é a criação do matemática do renascimento, graças ao
mecanismo algébrico; completando assim o extraordinário progresso dos métodos de
método analítico de Platão, ele dá à álgebra, Van Roomen, mais conhecido sob o
matemática sua linguagem, ao mesmo tempo nome de Adrianus Romanus (nascido em
analítica e sintética. Antes dele, os matemáticos Leuven em 1561, morreu em Mainz em 1615),
calculavam apenas números, e o desconhecido, calculado o número (Pi) da circunferência ao
com seus poderes, era representado por sinais; seu diâmetro, com quinze casas decimais,
não fizemos operações com as letras e o 3.141. 592. 653. 589. 793 (GONZALES, 2004).
produto de duas quantidades foi representado

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Aritmética, álgebra, geometria e mesmo o tabela de logaritmos de números de 1 a 1000


velho herdada dos gregos, voltará a fazer novos com 14 decimal (1618).
progressos, mas as criações capitais do Em sua Arithmetica logarithmica (1624), ele
matemática do século XVII são geometria completa este ensaio dando os logaritmos de 1
analítica, devido a Descartes e que trata as a 20.000 e 90.000 a 100.000. Em 1628, Vlacq
propriedades geométricas de um FIG utilizando preenche a lacuna de 20.000 a 90.000,
métodos comuns de álgebra e cálculo estabelecendo mesas para 10 casas decimais,
especialmente preparado por Cavalleri (por que contém, além dos logaritmos de 1 números
transformar o método de Arquimedes para 100.000, os logaritmos de Sines, tangentes
exaustão, que conduz à sua geometria e secantes, calculados a cada minuto para cada
indivisível) e Fermat e Barrow (método grau de quarto círculo (1633).
tangentes) e fundada por Newton e Leibniz, e
que aumentarão prodigiosamente o poder da CIVILIZAÇÃO NA MATEMÁTICA
matemática para abrir novas áreas para eles,
A matemática é uma criação humana, que
não apenas na matemática pura, mas também
vem se desenvolvendo há mais de quatro mil
na mecânica e na física.
anos. Surgiu como uma resposta a diferenças
Embora frações aritméticas e decimais
sociais e econômicas e necessidades de
pontuação indianos reduzir os cálculos
civilizações como Babilônia, Egípcio, Indiano,
numéricos para o maior grau de simplicidade,
chinês, grego, romano, para citar apenas um
estes cálculos seria ainda frequentemente
poucos (FAUVEL,1991).
muito difícil e até mesmo impraticável em
Nas civilizações anteriores, a solução para a
comprimento, se Napier teria dado um novo
matemática com tipos de problemas
instrumento para computadores em
encontrados na pesquisa empírica, foram
imaginando os logaritmos, por meio dos quais
aplicados. O desenvolvimento histórico da
todas as operações são reduzidas, por assim
matemática salienta que a matemática é uma
dizer, em um grau, descoberto em seu
ciência que sempre foi ligada ao econômico e
Logarithmorum canonis descriptio
contexto social e desenvolvimento da
(EDIMBURGO, 1614), mas sem expor os meios
sociedade.
empregados para alcançá-lo(GONZALES, 2004).
A sociedade moderna é mais do que nunca
São simplesmente considerações mecânicas,
dependente sobre mudanças tecnológicas e
e até mesmo os logaritmos agora referidos
fases de seu desenvolvimento não pode ser
como neperianos parecem ter sido imaginados
imaginada sem matemática (GONZALES, 2004).
por Speidel. Após a morte de Néper, seu filho
Se olharmos para o desenvolvimento de
publica seu Mirifici logarithmorum canonis
outras ciências como física, química ou biologia,
constructio (LYON, 1620), que revela os
podemos notar que a matemática
processos implementados por seu pai. Então
desempenhou um papel importante em cada
Henry Briggs, professor de Gresham College,
umas delas. Nós, podemos dizer isso, como
Oxford, teve a ideia de levar 10 como a base do
entendimento do mundo é baseado em teorias
sistema de logaritmos, e calcula a primeira
científicas, matemáticas que representa uma

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parte importante da cultura humana e herança matemática contemporânea, pode ser


científica. entendido somente no contexto de realizações
Alguns cientistas reconhecem apenas o lado matemáticas do passado (CHAVES e SALAZAR,
de estudar história da matemática, eles não 2003).
reconhecem outros benefícios que vamos Outros exemplos sobre a natureza da
discutir em breve, e colocar a história da matemática na Grécia antiga, a matemática era
matemática na ciência histórica. Na opinião uma ciência sobre relações espaciais e
deles, novos conhecimentos e ideias não quantitativas, mas hoje as estruturas são
dependem do passado, o passado só pode dominantes e objetos de pesquisa é muito mais
impedir o progresso, e muitos teorias estão amplo.
desatualizadas. O limite e a função do termo foram
Esta é a visão da história da matemática anteriormente conectados à análise
afirmamos que um progresso vem apenas com matemática, mas hoje esses conceitos
novas idéias que não existiam no passado, e excederam esse aplicativo.
que o estudo do passado não é necessário no Tanto a teoria de medida quanto a
estudo de matemática Se abrirmos um livro integração têm suas raízes profundas na
histórico ou livro didático usado em ambientes matemática antiga. O que estamos tentando
educacionais na Sérvia, raramente dizer é que, para conhecer a matemática, é
encontraremos algo sobre um matemático ou preciso conhecer sua história; como Newton
descrição histórica de uma descoberta de expressou metaforicamente ele tinha visto
matemática (CHAVES e SALAZAR, 2003). mais do que outros por estar sobre os ombros
Pode-se generalizar que, em grande escala, dos gigantes (CHAVES e SALAZAR, 2003).
na história da filosofia, apenas matemáticos do Parece, portanto, que para aprender
mundo antigo e suas obras são descritas em matemática, é importante seguir as mudanças
qualquer profundidade. Felizmente, muitos históricas na matemática. Além de conhecer o
grandes matemáticos entenderam a caminho histórico de idéias, conceitos e fatos,
necessidade de estudar a história da que nos ajudam a formar um caminho
matemática metodológico, podemos criar a base para
Nossa crença é que é necessário que um melhor compreensão de conceitos
homem saiba o que provocou o contemporâneos e visões em matemática, que
desenvolvimento da matemática e suas idéias, modernizará metodicamente direções, que
quais métodos de estudo foram utilizados foram frequentemente desatualizadas.
passados e como os problemas que foram No processo de ensino, a atenção especial
colocados eram resolvidos. deve ser dada ao desenvolvimento de atitudes
As respostas a estas questões não possuem positivas dos estudantes para a matemática.
apenas o significado histórico, mas são Uma das maneiras de conseguir isso é mostrar
importantes para o desenvolvimento da ciência e convencer os alunos de que o conhecimento
contemporânea. Características matemáticas matemático pode tornar sua vida mais fácil e
de uma certa época, mas também da melhorá-la (CHAVES e SALAZAR, 2003).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É muito importante para a escola que professores de matemática conheçam a gênese dos
conceitos e declarações matemáticas e muitos estudos e pesquisas apontam para isso
No ensino e aprendizagem de matemática, os estudantes muitas vezes formam conceitos
na forma como estes conceitos têm foram formados: contagem direta, medição, observação, etc.
dos objetos reais.
No ensino de matemática nos graus mais baixos da escola primária e, mais tarde, os
professores podem usar fatos da história da matemática para obter alunos interessados no tópico
que ensinam.
Contextualizar o ensino da história da Matemática com a Matemática é uma ferramenta
valiosa no processo de aprendizagem, abrindo o horizonte para novas perspectivas de
aprendizagem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTEXTUALIZANDO E COMPREENDENDO A
DEFICIÊNCIA
Juliana Koga Vieira1

RESUMO: O presente artigo apresenta um percurso histórico das pessoas com deficiência na
conquista de seus direitos. Também aborda a trajetória de como a deficiência é vista na
sociedade, o que altera significativamente a maneira como são tratadas as pessoas com
deficiência; esta forma passou de exclusão para assistencialismo, na sequência, integração e, por
fim, a inclusão. Partindo destes temas, este trabalho dialoga a respeito da presença da pessoa
com deficiência e como todos os ambientes se adaptam para atender a diversidade.

Palavras-Chave: Deficiência; Direitos; Escola inclusiva.

1Professora de Ensino Fundamental II, na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Letras; Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia;
Especialização em Neuropsicopedagogia; Especialização em Educação Especial e Inclusiva.
E-mail: jukoga7@gmail.com

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INTRODUÇÃO Segundo Rocha (2000), para compreender a


maneira como a pessoa com deficiência tem
A educação inclusiva implica a participação encontrado atendimento nas instituições, em
de todos, trata-se de um processo contínuo e especial, na escola regular, é importante que se
dinâmico; todos significa escola, família e o analise, nas diferentes épocas, a imagem
próprio aluno. A escola inclusiva é uma escola formada socialmente deste sujeito, o que
que inclui todos, percebe e valoriza a conduz a avaliar como as características
diversidade. Uma escola inclusiva oferece a peculiares e as diferenças individuais
todos oportunidades iguais e estratégias colaboraram para o atual parâmetro de
diferentes de acordo com as necessidades tratamento e assistência à pessoa com
individuais. deficiência.
Até se chegar na perspectiva da educação Na era primitiva, quando, no sistema de
inclusiva, a trajetória foi longa e a luta por sobrevivência, prevaleciam os mais fortes e
direitos da pessoa com deficiência permanece. com recursos fisiológicos aptos à adaptação, a
É preciso olhar para este percurso para pessoa com deficiência não tinha espaço. A
compreender que a pessoa com deficiência foi pessoa com deficiência não resistia à imposição
saindo da invisibilidade à medida que seus da natureza; era natural, também, o grupo
direitos foram sendo conquistados. desfazer-se da criança com deficiência, pois lhe
Neste âmbito, é preciso considerar a representava um fardo (GUGEL, 2008).
importância da escola regular inclusiva e No Egito Antigo, há mais de cinco mil anos,
observar o impacto positivo que a escola conforme revelam variadas formas de arte,
regular exerce na aprendizagem e no registro da história e estudos acadêmicos em
desenvolvimento de um aluno com deficiência. restos biológicos, a pessoa com deficiência era
A temática justifica-se em virtude de sua integrada à sociedade. Pessoas com nanismo,
pertinência e relevância no campo educacional. por exemplo, participavam, principalmente, na
música e na dança (GUGEL, 2008).
CONTEXTO HISTÓRICO SOBRE Na Grécia, para se manter o padrão de
fortaleza dos exércitos, a pessoa com
DEFICIÊNCIA deficiência era eliminada, por exposição,
A posição ocupada pela pessoa com abandono ou eram atiradas das montanhas. As
deficiência na sociedade passou por muitas cidades eram, inclusive, planejadas constando
mudanças; o histórico social deste sujeito o critério de eliminação das pessoas
alterou-se e a maneira como este é visto tem “disformes” (GUGEL, 2008).
passado pelo crivo da conscientização e do Na Roma Antiga, era direito dos pais eliminar
respeito à diferença. Têm-se conquistado para a vida de um filho com deficiência, afogando-o.
a pessoa com deficiência os espaços que Observou-se, porém, outra prática: o
compreendem da aceitabilidade à abandono. As crianças com deficiência eram
oportunidade. postas em cestos e atiradas ao rio. Se
sobrevivessem e fossem encontradas,

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geralmente eram exploradas como pedintes ou Nesta mesma época, o olhar para a pessoa
atração de circo. Com o advento do com perturbações mentais, tratadas com
cristianismo, doutrina que pregava o amor ao discriminação e humilhação, teve seu foco
próximo, a classe excluída foi favorecida por mudado. Philippe Pinel (1745-1826) explicou
este novo olhar; a prática de eliminação da que se tratava de pessoas doentes e não
pessoa com deficiência foi proibida e, no século aberrações. No século XIX, um método de
IV, foram inaugurados hospitais que abrigavam leitura para cegos surge sem tal pretensão. De
os indigentes e os deficientes (GUGEL, 2008). início, era apenas um código desenvolvido por
Na Idade Média, a pessoa com deficiência Charles Barbier (1764-1841), a pedido de
era vista como castigo divino ou obra de Napoleão, para comunicação nas batalhas à
feitiçaria e bruxaria, de maneira que eram noite. Porém foi rejeitado pelos soldados por
eliminadas sob a crença de exterminar um mal. sua complexidade. Apresentou-o, então, no
Este período é marcado por extremismos entre Instituto Nacional dos Jovens Cegos de Paris.
bem e mal, Deus e o demônio. A ignorância Um aluno, Louis Braille (1809-1852) sugeriu
científica dava espaço às explicações de ordem aperfeiçoamento, contudo não foi atendido
sobrenatural, repletas de atitudes punitivas e pelo criador. Resolveu fazê-lo por si e, assim,
de exterminação segundo a vontade de Deus criou o sistema de escrita padrão para cegos: o
(ROCHA, 2008). BRAILLE (GUGEL, 2008).
Já na Idade Moderna, século XV, o Nesta época, ainda sob influência das ideias
humanismo, representado nas artes, na música humanistas, foi-se percebendo a necessidade
e defendido na ciência, colaborou para a de atenção especial à pessoa com deficiência e
transformação da visão de mundo, pois trouxe não apenas atendimento hospitalar e abrigo, de
inúmeras ideias de renovação e de maneira que são criados asilos, orfanatos e
aprimoramento da sociedade. Com isso, a lares para crianças com deficiência (GUGEL,
pessoa com deficiência passou a ser visto de 2008). Além disso, havia forte defesa de que os
outra forma, sem rejeição, e muitas criações mutilados de guerra fossem reabilitados ao
favoreciam sua participação na sociedade. As trabalho em postos nos quais pudessem atuar.
pessoas com deficiência auditiva passaram a ter A visão de reabilitação difundiu-se e constituiu
acesso à educação, graças ao código de sinais lei em 1884, instituída pelo chanceler alemão
desenvolvido pelo médico e matemático Otto Von Bismarck (GUGEL, 2008).
Gerolamo Cardomo (1501-1576), um Em 1854, no Brasil, foi criado o Instituto dos
instrumento que chamou a atenção do monge Meninos Cegos, atual Instituto Benjamim
beneditino Pedro Ponce de Leon (1520- 1584), Constant, e, em 1857, o Imperial Instituto de
que, com isso, desenvolveu um método Surdos Mudos, atual INES – Instituto Nacional
educacional para estas pessoas. Nos séculos de Educação de Surdos (GUGEL, 2008).
XVII e XVIII, os hospitais passaram a ter atenção O Século XX foi marcado por muitas
especial com deficientes, em especial os mudanças de paradigmas. A pessoa com
mutilados de guerra, as pessoas surdas e as deficiência passou a ter espaço na sociedade,
cegas. (GUGEL, 2008) podendo exercer sua cidadania, com direitos e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

deveres. A Declaração Universal dos Direitos como os recursos necessários ao seu


Humanos, 1948, instituiu em lei, artigo que desenvolvimento (CARDOSO, 2004).
amparava a pessoa com deficiência, fato que O conceito de integração não tinha como
não apenas impulsionou movimentos em crítica proposta reorganizar o ambiente ou a
à discriminação, no intuito de enfrentar as comunidade, para atender a pessoa com
barreiras ainda impostas à pessoa com deficiência; caracterizava-se para garantir
deficiência e para melhor atendê-la, como serviços e recursos que facilitassem e
também promoveu a conscientização dos modificassem a participação do sujeito nas
direitos humanos e, por sua vez, a necessidade atividades, no intuito de que se sentissem
de se possibilitar a integração e a participação iguais aos demais cidadãos. A integração
da pessoa com deficiência na sociedade. garantia a estada do aluno com deficiência na
Artigo XXV: 1. Toda pessoa tem direito a um escola regular, oferecia-lhe recursos para que
padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua este se adaptasse ao meio. O aluno, por sua vez,
família saúde e bem estar, inclusive tornava-se responsável por sua aprendizagem e
alimentação, vestuário, habitação, cuidados a escola não tinha a incumbência de adaptar-se
médicos e os serviços sociais indispensáveis, e para recebê-lo (NOGUEIRA, 2009).
direito à segurança em caso de desemprego, A integração, unicamente, não solucionaria a
doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros segregação; a defesa dos direitos humanos e
casos de perda dos meios de subsistência fora civis dos indivíduos com deficiência estava
de seu controle. 2. A maternidade e a infância fundamentada no ideal da normalização, que
têm direito a cuidados e assistência especiais. constituía em encontrar no sujeito a mudança,
Todas as crianças nascidas dentro ou fora do ou seja, trabalhar sua deficiência de forma a
matrimônio, gozarão da mesma proteção social aproximá-lo, o máximo possível, dos padrões
(UNESCO, 1948, s.p). de normalidade. Nas instituições que se
Até a década de 50, no Brasil, falava-se em destinavam a este trabalho, a pessoa com
educação de ANEE (aluno com necessidades deficiência era treinada para realizar as
educacionais especiais), em que se diversificava atividades da vida diária, práticas bem como
o atendimento nas escolas para estas crianças, outras que lhes fossem necessárias a sua
então chamadas excepcionais. Na década de sobrevivência e sua independência (ARANHA,
70, são criadas as classes especiais em 2001).
instituições públicas e privadas. Mas, nesta Considerando que o conceito de integração
mesma época, movimentos em países da focava-se no sujeito e sua adaptação,
Europa e das Américas voltaram-se à defesa de questionava- se se sua prática acabava por
atendimento educacional ao aluno com promover a separação entre os normais e os
deficiência em escola regular, de forma que, que não atendem a este padrão. Segundo
nos anos 80, foi instituída a integração Kassar (1999), as classes especiais procuravam
educativa, com a finalidade de se poder analisar separar os “normais” dos “anormais”, no
o potencial de aprendizagem deste aluno, bem intuito de se estabelecerem salas de aula
homogêneas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Logo, este conceito sofreu barreiras e sistemas educacionais deveriam ser


críticas; o Paradigma do Suporte, então, é designados e programas educacionais
estabelecido como referência de atendimento deveriam ser implementados no sentido de se
à pessoa com deficiência. Este paradigma levar em conta a vasta diversidade de tais
pressupõe que a pessoa com deficiência tem características e necessidades,
direito de desfrutar de todos os recursos aqueles com necessidades educacionais
disponíveis aos demais cidadãos, de forma que especiais devem ter acesso à escola regular,
se faz necessário identificar o que lhe garante que deveria acomodá-los dentro de uma
esta participação. Desta maneira, diferentes Pedagogia centrada na criança, capaz de
tipos de suporte (social, econômico, físico e satisfazer a tais necessidades,
instrumental) foram viabilizados para atendê- escolas regulares que possuam tal
la. O Paradigma de Suporte, então, focava-se orientação inclusiva constituem os meios mais
em adaptar ambiente e comunidade para eficazes de combater atitudes discriminatórias
atender a pessoa com deficiência, de maneira criando-se comunidades acolhedoras,
que esta pudesse participar de um ambiente construindo uma sociedade inclusiva e
em comum, a inclusão social (ARANHA, 2001). alcançando educação para todos; além disso,
No ano de 1994, foi realizada a Conferência tais escolas proveem uma educação efetiva à
Mundial sobre Necessidades Educativas maioria das crianças e aprimoram a eficiência e,
Especiais, em Salamanca, na Espanha, evento em última instância, o custo da eficácia de todo
decisivo para encorajar e impulsionar a o sistema educacional. (UNESCO, 1994, s.p).
Educação Inclusiva em todo o mundo. A A inclusão social, então, passou a ser o
Declaração de Salamanca, tal como é princípio norteador de uma educação para
conhecida, discutia a atuação do sistema todos, fundamentada nos ideais de justiça
educacional, o qual acabava por excluir os social e sociedade democrática, um processo
diferentes e privilegiar os normais. Ressalta, que incentiva a sociedade a adaptar-se para
também, que os alunos com deficiência devem incluir a pessoa com deficiência em todas suas
receber apoio suplementar que lhe assegure práticas (SASSAKI, 1997). Cada indivíduo
ema Educação eficaz e aposta na Educação prepara-se para exercer seu papel na
Inclusiva como “a melhor forma de promover a sociedade, e a educação é o pilar para seu
solidariedade entre os alunos especiais e desenvolvimento, para o exercício da cidadania
aqueles considerados normais” (CARDOSO, e para a inserção nos diferentes meios e
2004). culturas.
toda criança tem direito fundamental à Sanchéz (2005), cita os quatro pilares básicos
educação, e deve ser dada a oportunidade de da educação estabelecidos pela Comissão
atingir e manter o nível adequado de Internacional sobre a Educação para o século
aprendizagem,toda criança possui XXI.
características, interesses, habilidades e O primeiro pilar constitui o “Aprender a
necessidades de aprendizagem que são únicas, Conhecer em que se propõe ajudar cada
pessoa, por meio de instrumentos que se

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

apresentem necessários, a compreender o garante a inclusão por meio de leis, decretos,


entorno, pelo exercício da atenção, da memória pois não se tratam de obrigações a serem
e do pensamento, a partir do princípio de que a cumpridas e, quanto aos alunos com
aquisição do conhecimento está sempre em deficiência, de serem aceitos nas escolas
aberto, preparada para transformar o novo em regulares. Presenciar estes alunos em sala de
saber, sem necessidade de conceitos pré- aula não significa, imediatamente, que são
estabelecidos e formulados. incluídos. É preciso observar como o entorno
O segundo pilar, “Aprender a Fazer”, refere- está preparado para garantir seu acolhimento.
se à possibilidade de agir sobre o meio; o aluno O aluno precisa ser acolhido com generosidade,
deve ser estimulado a colocar em prática seus solidariedade e consciência cidadã por parte da
conhecimentos e adaptar-se ao meio, pela comunidade escolar. Precisa se sentir parte do
habilidade de interagir com o outro em grupo e ter as mesmas oportunidades em seu
diferentes circunstâncias e meios sociais, na processo de aprendizado.
solução de conflitos. A escola, em sua totalidade, o que significa
O terceiro pilar, “Aprender a Viver Juntos”, professores, funcionários, alunos e pais, deve
representa um dos principais objetivos da estar preparada para este novo conceito, pois a
educação atual, pois trata do princípio básico prática da exclusão é realizada pelos que a
para a convivência: a compreensão do outro. compõem, pelo que se faz necessário pregar a
Pressupõe o desenvolvimento da capacidade inclusão. A exclusão ocorre no silêncio, é
de cooperar, respeitar os valores do pluralismo repleta de barreiras atitudinais compostas pelo
e praticar a paz, ideais que enfrentam a nosso preconceito e discriminação. É
exclusão e favorecem a conscientização da necessário que se entenda a diferença como
diferença. inerente a todos, não sendo a deficiência
O último pilar,” Aprender a Ser”, relaciona-se aspecto que a determine.
com o sentido de existência, que dota a pessoa Lidar com a diferença e exercer a inclusão
de referenciais, para que cada indivíduo possa requer saber como lidar com aqueles que
exercitar o pensamento, formular seus promovem preconceito. A escola precisa
conceitos, correlacionar, compreender, formar desenvolver projetos que envolvam todos e
sua opinião para desenvolver plenamente sua abordem temas diversos em que preconceito
cidadania. está presente. A conscientização sobre valores
O novo paradigma Inclusão Escolar surge, essenciais à vida como amor, solidariedade,
então, com um novo modelo de atendimento e generosidade, respeito, individualidade,
é uma reação contrária ao princípio de compreensão, cooperativismo precisam ser
integração. Sua efetivação prática, contudo, trabalhados de maneira contínua para se
vem gerando muitas controvérsias e estruturar os alunos contra qualquer prática
discussões. O exercício pleno da inclusão que evidencie a discriminação, o preconceito, a
requer uma nova concepção de escola e de violência.
aluno, o que exige, também, diferentes olhares Outra inversão de olhar colabora para a
acerca do ato de ensinar e de aprender. Não se prática da inclusão. Não se trata de como se

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

deve ensinar, mas sim de como o aluno


consegue aprender. A partir desta mudança de
foco, é possível enfrentar os desafios do
processo de ensinar e aprender com qualidade
para todos.
O professor tem papel fundamental no
processo: ensinar a todos e ter atenção
diferenciada para amenizar e superar as
dificuldades no processo de aprendizagem dos
alunos. Trata-se de tornar a sala de aula,
também, um ambiente de escuta, no qual o
aluno tenha espaço para ser ouvido e perceber-
se atuante na construção de seu conhecimento.
Essencial, também, para o êxito da inclusão,
é a parceira entre os pais e a escola. Os pais
precisam ter consciência de que sua
participação na educação do filho é
fundamental e de sua responsabilidade.
A lei garante o acesso de todos à escola, um
espaço que deve privilegiar as relações sociais.
A maior transformação precisa acontecer
dentro de cada um, no intuito de se refletir
acerca das necessidades e diferenças do
"outro" para se construir, a cada dia, uma
educação de qualidade para todos, uma
educação acolhedora, que flexibiliza métodos
de ensino e avaliações.
A pessoa com deficiência tem sua
participação na sociedade, seja na escola, no
trabalho, nos grupos sociais, amparada por lei.
Constitui-se, então, um direito como cidadão.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar o posicionamento da sociedade com relação às pessoas com deficiência ao
longo da história, é possível observar e pontuar árduas conquistas que foram proporcionando-
lhes espaço, respeito e direitos. Não se tratou, apenas, de se fazerem percebidas pela presença,
mas houve de se recorrer aos direitos humanos para que a comprovação de sua capacidade de
aprender, de conviver, de interagir fizesse-se valer.
Importante ressaltar que legislação não garante a execução dos direitos; ainda há muita
luta para que se apliquem as leis. Contudo, a inclusão é um caminho no qual, graças à legislação,
não se caminha mais para trás.

793
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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CONTEXTUALIZANDO O BULLYING
Paula Regina Messias Afonso1

RESUMO: O presente artigo com aborda um assunto de suma importância para o âmbito
educacional e para a sociedade. Apresenta-se o desenvolvimento do bullying, seus aspectos, a
atuação do governo na sua participação ativa para prevenir e combater o bullying nas escolas e
entidades não governamentais, até os dias atuais, com a criação da Lei Nº 13.185, de 06 de
Novembro de 2015.

Palavras-Chave: Educação; Bullying; Desafios.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Letras; Bacharel em Direito.
E-mail: paula.afonso@bol.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO CONCEITUANDO O BULLYING


Conceitua-se por Bullying, um anglicismo
Há muito se pratica o bullying, mas um
cada vez mais habitual no Brasil, palavra de
assunto de tamanha importância levou um bom
origem inglesa que é usada em seu país de
tempo para ser analisado como um olhar mais
origem para definir o desejo premeditado de
profundo pela sociedade e pelo poder
ofender e maltratar o outro. Tipifica-se pela
judiciário. No Brasil, de acordo com Roberto
intimidação sistemática e os atos de agressões
Macedo, o Dicionário Houaiss, da Língua
verbais, físicas ou psicológicas de repetição ao
Portuguesa, indica a palavra "bulir" como
longo do tempo. Este tipo de violência atinge
equivalente a “mexer com tocar, causar
crianças e adolescentes entre os 12 e os 15
incômodo ou apoquentar, produzir apreensão
anos, e, às vezes, se ampliam a outras faixas
em, fazer caçoada, zombar e falar sobre, entre
etárias.
outros”. Caracterizado por agressões verbais ou
Pode-se definir o bullying como um
não, de repetição constante contra alguém ou
comportamento cruel intrínseco nas relações
contra um grupo, o bullying é o
interpessoais, no qual os mais fortes
comportamento agressivo que ocorre na
transformam os mais frágeis em objetos de
maioria das vezes no âmbito escolar, ocorrido,
diversão e prazer, por meio de “brincadeiras”
em sua maioria, entre crianças e adolescentes.
que disfarçam o propósito de maltratar e
O presente trabalho aborda numa revisão
intimidar (FANTE, 2005, p.29).
minuciosa versando sobre o tema do Bullying
Comportamentos desse tipo são
Lei 13.185/2015 Programa de Combate à
caracterizados como bullying, palavra inglesa
Intimação Sistemática relatando fatos
derivada de bully, que significa “valentão” e
ocorridos nos dias atuais, o combate ao bullying
refere-se a “brutalizar”, “tiranizar” e, também,
e suas ações para prevenção do mesmo.
de modo mais amplo, maltratar, tratar
A Lei Nº 13.185, de 06 de Novembro de
abusivamente, afetar pela força ou coerção,
2015, criada para prevenir e punir as ações de
usar linguagem ou comportamento
práticas de bullying, também prevê a realização
amedrontador ou intimidar(FANTE,apud,
de campanhas educativas contra o bullying, o
MAIDEL 2011, p. 2).
fornecimento de assistência psicológica, social
A maioria dos casos de bullying ocorre por
e jurídica as vítimas e aos agressores, além
abuso de poder, por quem o pratica, no qual o
disso, a lei preconiza que os professores e
agressor se sente forte, independente, dessa
equipes pedagógicas deverão ser capacitados
força ser real ou subjetiva. O bullying, além das
para programar ações de prevenção e soluções
características citadas, está relacionado
do bullying, já que o mesmo como já descrito
diretamente ao sofrimento, como
no parágrafo anterior ocorre em sua grande
consequência das ações de quem o pratica,
maioria no âmbito escolar.
podendo acarretar danos gravíssimos à vítima
como: Dor, angústia, mágoa, traumas que
podem afetar a vida da vítima por toda a vida.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De acordo com Silva, (2010, s.p),os problemas Centro de Pesquisa de Promoção da Saúde, da
mais comuns são: Universidade de Bergen, na Noruega. A
Desinteresse pela escola; problemas pesquisa, realizada em 1970, por Dan Olweus,
psicossomáticos; problemas comportamentais considerada como o primeiro estudo científico
e psíquicos como: Transtorno do pânico, sobre Bullying, ele entrevistou mais de oitenta
depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, mil estudantes e, por volta de quatrocentos
fobia social, ansiedade generalizada, entre professores. Entrevistou, também, aos pais dos
outros. O bullying, também, pode agravar alunos, dos quais foram testemunhas e vítimas
problemas preexistentes, devido ao tempo de bullying e também dos seus agressores, os
prolongado de estresse a que a vítima é bullies. Essa pesquisa, que foi um projeto de
submetida. Em casos mais graves, podem-se grande escala, foi publicada, no livro
observar quadros de esquizofrenia, homicídio e Escandinávia, em 1973 e, em 1978, nos Estados
suicídio (SILVA,2010, s.p). Unidos, sob o título “Agressão nas escolas:
Apesar de o bullying ser um assunto bastante Bullies e Chicote Boys”.
comentado nos dias atuais, ele é considerado Na década de 1980, o Dr. Olweus realizou o
um episódio muito antigo, que sempre ocorreu primeiro estudo sistemático de intervenção
- e ocorre - em diversos segmentos da contra o bullying no mundo, que documentou
sociedade, tais quais: Escolas, clubes, igrejas e uma série de efeitos bastante positivos do que
empresas. Salienta-se, porém, que é no âmbito hoje é o Programa de Prevenção Olweus
escolar, nas “brincadeiras” entre as crianças e Bullying (OBPP). Ele também foi o primeiro a
adolescentes, que ocorre sem distinção de estudar o problema do bullying de alunos pelos
classe social, que se observa a maioria das professores.
ocorrências de bullying. Dr. Olweus é geralmente reconhecido como
um pioneiro e fundador da pesquisa sobre
A HISTÓRIA problemas de bullying e como especialista líder
mundial nesta área, tanto pela comunidade
O bullying tem ocorrido mundialmente em
científica e pela sociedade em geral. Seu livro
escolas e universidades. Com a expansão dos
"Bullying na Escola: O Que Sabemos e o Que
meios de comunicação, o ato se tornou popular
Podemos Fazer" já foi traduzido para 15 línguas
e mundialmente conhecido. No século passado,
diferentes. Dr. Olweus recebeu uma série de
no início dos anos 70, surge um interesse da
prêmios e reconhecimentos por seu trabalho
sociedade Sueca, de acordo com os estudos,
de pesquisa e de intervenção, incluindo as
após complicações entre uma vítima e o
"distintas contribuições para Políticas Públicas
agressor, no país.
para Crianças" prêmio pela Sociedade de
Após o decorrer dos anos, estudos sobre o
Pesquisa em Desenvolvimento Infantil. Ele tem
assunto, dos quais estudiosos deram ênfase a
sido um membro do Centro de Estudos
esse fenômeno. De acordo com Cléo Fante
Avançados em Ciências do Comportamento,
(2005) se iniciou a pesquisa, em seu foco
em Stanford, Califórnia.
principal, na ‘escola’, no qual o pesquisador Dan
Olweus, professor de psicologia, afiliado com o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Após a pesquisa do Dr. Olweus, vários países


O bullying é comum nas escolas e, por
começaram a criar campanhas de prevenção ocorrer com vítimas crianças e adolescentes,
contra o bullying. Outras várias pesquisas foram
possui maior visibilidade, mas existe em outros
estudadas, em todo o mundo, para promover o
ambientes também, como o profissional, o
combate ao Bullying, apontando seus aspectos
esportivo, o religioso, o militar, etc. (CALHAU,
e característica, pois, sua ocorrência, de acordo
2011, p.23),
com os estudos, é maior que se imaginava e O bullying ocorre de acordo com Dan
suas consequências podem ser prejudiciais por
Olweus, de maneira sutil, em sua maioria,
toda a vida do indivíduo que o pratica e daquele
passando despercebido nas escolas pelos
que o sofre. profissionais da Educação. Devido a isso o
Já no Brasil, por volta de 1997, foi feita uma
governo passou a capacitar seus profissionais,
pesquisa pela pesquisadora e professora Marta
para que os mesmos, possam ter um olhar mais
Canfield, da Universidade Federal de Santa
ativo e perceptível ao ato do bullying.
Maria, estudou crianças de escolas públicas, do
De acordo com Calhau:
Rio Grande do Sul. Ser professor é cada vez mais difícil, pois se
Conforme estudos para compor o presente
exige cada vez mais do profissional e pouco se
trabalho, entende-se que casos de Bullying são
vez na melhora de suas condições de trabalho.
pesquisados, constantemente, para combater
O bullying acaba sendo mais um problema, um
aos atos que o tipifica, bem como preveni-los.
círculo vicioso dentro do ambiente escolar, em
O Ministério da Educação, por intermédio de
que os agressores sempre tentam arrastar mais
campanhas educativas, as quais visam orientar
vítimas para seu campo de ação. O problema
e capacitar aos professores e todos cai quase sempre nas mãos dos professores.
profissionais da Educação para que haja uma
São eles que tomam contato primeiro com o
melhor compreensão do que é, e como problema, ora sendo procurados pelas vítimas,
combater ao bullying nas escolas. O combate
ora percebendo que um conflito está no ar
efetivo ao bullying tornou-se uma preocupação
(CALHAU,2011, p.34).
da sociedade, portanto. O bullying, geralmente, de acordo com os
No Brasil, como grandes pesquisadoras do
estudos, pode acontecer diretamente ou
assunto pode-se citar: Cléo Fante, no bullying
indiretamente, ou seja, quando ocorrem
escolar; e Margarida Barreto, no caso de agressões físicas e verbais é considerada direta.
bullying no ambiente de trabalho (ou assédio
A forma indireta é aquela, na qual ocorre
moral), ambas são grandes precursoras de discriminação da vítima, desqualificação, isolar
estudos sobre esse fenômeno. a vítima dos grupos, entre outros. As vítimas do
bullying podem ser de acordo com Fante
• Como se desenvolve o Bullying (2005), apud, Dan Olweus, distribuídas e ou
A escola é, de acordo com a presente classificadas como segue:
pesquisa, o local propício e com maior Vítima típica: Aluno pouco sociável que
ocorrência de bullying, como cita Calhau sofre, repetidamente, as consequências dos
(2011): comportamentos agressivos de outro colega e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que não possui recursos e nem habilidades para De acordo com os pesquisadores do tema
reagir às agressões; percebe-se que os professores também tem
Vítima provocadora: Aquela que provoca e sido vítimas de bullying, devido às dificuldades
atrai reações agressivas, mas não consegue que a Educação passa no Brasil e também pela
lidar contra elas com eficiência. Ela tenta falta de interesse da família em participar da
revidar quando atacada, porém geralmente de vida efetiva dos filhos nas escolas.
maneira ineficaz. Pode ser hiperativa, inquieta,
dispersiva e ofensora, é de modo geral tola e • Tipos de Bullying
imatura, com costumes irritantes, e quase Os comportamentos e as ações decorrentes
sempre é responsável por causar tensões no do bullying foram classificados de acordo com o
ambiente em que se encontra; grau de agressão e há várias formas de
Vítima agressora: É aquela que reproduz os manifestações do mesmo.
maus tratos sofridos. A vítima agressora é Para Carpenter e Ferguson (2011, p.33), os
aquele aluno que passou por situações de tipos mais encontrados são: Verbal, físico,
sofrimento na escola e tende a buscar social, em relacionamentos, emocional,
indivíduos mais frágeis do que ele, para agredir, extorsão, direto, indireto e cyberbullying.
aumentando assim os casos de bullying; Apresentamos as características de cada
Agressor: Aquele que vitimiza aos mais uma delas e suas classificações de acordo com
fracos. O agressor, de ambos os sexos, costuma Silva:
ser um indivíduo que manifesta pouca empatia; Verbal: Insultar, ofender, falar mal, fazer
Espectador: É o aluno que presencia o gozações, colocar apelidos pejorativos, fazer
bullying, porém não o sofre e nem o pratica. piadas ofensivas e zoar; Forma Física e Material:
Representa a grande maioria dos alunos que Bater, chutar, espancar, empurrar, ferir,
convive com o problema e adota a lei do beliscar, roubar, furtar ou destruir os pertences
silêncio, por temer se transformar em novo alvo das vítimas e atirar objetos contra as vítimas;
para o agressor(FANTE, apud, OLWEUS,2005, Forma Psicológica e Moral: Irritar, humilhar e
p.38). ridicularizar, excluir, isolar, ignorar, desprezar
Constantini (2004), atenta, conforme suas ou fazer pouco caso, discriminar, aterrorizar e
várias pesquisas apontam, na maioria das ameaçar, chantagear e intimidar, tiranizar,
vezes, que as vítimas do bullying não se dominar, perseguir, difamar, passar bilhetes e
recuperam do trauma sofrido. A vítima, em sua desenhos entre os colegas de caráter ofensivo,
maioria, por medo de falar o que acontece, e, fazer intrigas, fofocas ou mexericos (mais
ou por falar e não ser levado a sério por um comum entre as meninas); Forma Sexual:
adulto - sente-se vulnerável à situação. Por isso, Abusar, violentar, assediar e insinuar; Forma
o trauma é tão grave e, muitas vezes, Virtual: Usar a internet para caluniar, maltratar
irreversível. Dessa forma para o autor, a vítima entre outras atitudes, já descritas, contra o
para “sair deste papel significa se emancipar de próximo (2009, p.22-24).
uma situação de sofrimento e de absoluta De acordo com os autores Carpenter e
impotência psicológica” (p. 74;75). Ferguson (2011), o bullying Físico:

800
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pode ocorrer mesmo sem agressão física (2011 p.39), descrevem o bullying social como
propriamente dita. Um bullying pode fazer “aquele em que a vítima se sente excluída ou
gestos ameaçando socar a vítima; atirar longe maltratada em virtude de sua posição social”.
um livro, para impressionar, ou mesmo invadir De acordo com Calhau (2011), “o
sua privacidade. É um jogo de dissimulação cyberbullying ocorre com a utilização de meio
para intimidar e assustar... outra forma de eletrônico como instrumento de agressão no
bullying físico está relacionado ao assédio bullying”. É uma agressão virtual, de acordo
sexual ou a ações que intimidam. Um bullie com os estudos, no qual o agressor faz envio de
pode levantar a saia de uma menina, baixar as imagens, mensagens utilizando-se de redes
calças de um menino (CARPENTER e sociais, nos meios eletrônicos. ”A internet é um
FERGUSON, 2011, p. 37). instrumento muito importante para o
Para Lopes (2005, p. 169), afirma que o desenvolvimento da humanidade e, tal qual o
bullying psicológico: As crianças, que sofrem o avião, pode ser utilizado tanto para o bem
bullying, estão mais propensas a sofrer danos à como para o mal. As agressões, por meio
saúde, tais como: Depressão, ansiedade, eletrônico, são uma evolução das antigas
irritabilidade, agressividade, pânico, desmaios, pichações em muros de colégio, casa ou até nos
insônia, estresse entre outros sintomas. banheiros das escolas.”
Insultar ou falar mal de forma repetitiva ou O cyberbullying, de acordo com os estudos, é
criar apelidos que humilham os colegas que considerado um dos mais perigosos, devido à
caracteriza o bullying verbal. Allan Beane repercussão rápida do ocorrido e pelas
afirma que: “Apelidos ofensivos. Comentários proporções que o mesmo pode tomar.
insultuosos e humilhantes. Provocação
repetida. Comentários racistas e assédio. A ESCOLA E O BULLYING
Ameaças e intimidação. Cochichar sobre as
No século passado, pesquisadores
crianças pelas costas” (BEANE, 2010, p.21).
observaram um aumento da violência nas
Bullying Sexual: Assediar, induzir ou abusar
escolas. Porém, foi constatada, de acordo com
de alguém, de acordo com os estudos, ocorre
as pesquisas, que essa violência é decorrente
com crianças mais velhas, nas quais possui
dos problemas sociais que a sociedade, em si,
comentários sexuais desagradáveis. Essa
enfrenta, e refletem-se nas escolas.
conduta de bullying é muito grave e pode ser
A desigualdade social, a desestruturação
considerado assédio sexual. As crianças, que
familiar, a cultura do consumismo desenfreado,
cometem este tipo de bullying, não tem em sua
a desvalorização da Educação e a banalização
maioria a noção da periculosidade e da
da vida, refletem-se na perda dos valores
seriedade do que se trata e podem enfrentar
basilares humanos e sociais, os quais compõem
consequências sérias.
a sociedade. Observar-se-á um conjunto de más
O Bullying Social, de acordo com Chalita
influências constantes, que derivam do
(2008 p. 105), é uma “manipulação feita
crescimento desenfreado da violência e
frequentemente para dificultar a aceitação
resultam na falta de interesse dos alunos pela
dentro de um grupo”; Carpenter e Ferguson
escola.

801
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os meios de comunicação influenciam as com o agravamento do quadro, rotulando com


crianças que, muitas vezes, estão sem a apelidos pejorativos ou reagindo de forma Há
supervisão dos pais ou responsáveis. Filmes, também os que contribuem para a prática do
desenhos violentos, que exibem a agressão, na bullying no ambiente escolar, incentivando,
maioria das vezes, há a violência como mesmo que indiretamente, a intolerância ao
resultado final - em contexto pouco explicativo, próximo. São aqueles professores que não
que viola totalmente o valor da vida humana. medem palavras no momento de corrigir um
Segundo Silva (2006): aluno, são cruéis com as palavras: “Você é
A educação do jovem, no século XXI, tem se muito devagar!”, “Você é burro!”, “Você nunca
tornado algo muito difícil, devido à ausência de vai ser nada na vida!”, “Você não tem jeito
modelos e de referenciais educacionais. Os pais mesmo!”, “Seu relaxado!” (SILVA,2006, s.p.).
de ontem, mostram-se perdidos na educação É notório, nas leituras realizadas para
das crianças de hoje. Estão cada vez mais compor o presente trabalho, que a maior parte
ocupados com o trabalho e pouco tempo das escolas, mesmo nos dias atuais, não se
dispõem para dedicarem-se à educação dos encontram totalmente preparadas para
filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou combater o bullying escolar. De acordo com os
em caso de famílias de menor poder aquisitivo, estudos, os Estados de Santa Catarina e São
os filhos são entregues à sorte. Os pais não Paulo tem sido percursores, por intermédio das
conseguem educar seus filhos emocionalmente suas respectivas Secretarias da Educação no
e, tampouco, sentem-se habilitados a combate ao Bullying. Por intermédio de
resolverem conflitos por meio do diálogo e da projetos pedagógicos, eficientes, que valorizam
negociação de regras. Optam muitas vezes pela a comunicação entre comunidade, família e
arbitrariedade do não ou pela permissividade escola e uma educação cidadã pautada na
do sim, não oferecendo nenhum referencial de criança e adolescente como sujeitos de direito.
convivência pautado no diálogo, na As leis que compõem as Diretrizes e as Bases
compreensão, na tolerância, no limite e afeto. da Educação, diz que a educação é dever da
A escola também tem se mostrado inabilitada a família e do Estado, inspirada nos princípios de
trabalhar com a afetividade. Os alunos liberdade e nos ideais de solidariedade
mostram-se agressivos, reproduzindo muitas humana, tem por finalidade o pleno
vezes a educação doméstica, seja por meio dos desenvolvimento do educando, seu preparo
maus-tratos, do conformismo, da exclusão ou para o exercício da cidadania e sua qualificação
da falta de limites revelados em suas relações para o trabalho. (Art.2º da LDB, Lei nº 9.394,
interpessoais. Os professores não conseguem 1996).
detectar os problemas, e muitas vezes, também Sendo assim, as Escolas, ONGS e instituições
demonstram desgaste emocional com o de ensino em geral, de acordo com a Lei 13.185,
resultado das várias situações próprias do seu de 06 de Novembro de 2015, devem capacitar
dia sobrecarregado de trabalhos e dos conflitos o corpo docente, tanto emocionalmente
em seu ambiente profissional. Muitas vezes, quanto intelectualmente, devendo também
devido a isso, alguns professores contribuem realizar ações de prevenção ao bullying.

802
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Devido o bullying ser um problema social é


de suma importância que a escola tenha uma
parceria com as famílias, incentivando valores,
solidariedade e aceitação ao próximo. E,
importantíssimo ressaltar, que nos casos em
que se detecta caso de bullying seja feito um
trabalho individual e em grupo para que esse
comportamento mude.

803
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo do presente artigo é ampliar o conhecimento ao que se refere à prática do
bullying, mostrando seu real conceito, as consequências, o âmbito jurídico a que ele compete e
suas formas de prevenção e reforçar proteção às pessoas que sofrem intimidação sistemática.
Um tema que abrange vários âmbitos, principalmente, a esfera escolar, na qual o Direito
deve atuar para o Estado fazer valer as leis de proteção às crianças e aos adolescentes. Urge que
por intermédio do Direito, que é ciência de suma importância para a sociedade alicerçar-se na
Justiça, para que cada cidadão possa ser sujeito de direitos, que preze pela construção de uma
cultura, na qual haja o respeito às diferenças plurais existentes em nossa sociedade. O Programa
de Combate à Intimidação Sistemática, Lei 13.185/2015, representa um grande avanço no
combate ao fenômeno Bullying, devendo ser instituído nos projetos pedagógicos de todas
instituições de ensino brasileiras.
Expor a problemática do bullying, apontando as causas, consequências e, principalmente,
a legislação, que o compete, é de fato a parte mais importante deste trabalho. O bullying, ainda,
é visto de maneira muito superficial, porém, deixou de ser “uma palavra na moda” e ou
relacionado à “brincadeira de criança” para virar “assunto de polícia” constantemente relatado
pela mídia.
Por isso, a Lei 13.185/2015 vem ser uma importante aliada à educação cidadã para a paz,
na qual todos são sujeitos de direito. Torna-se urgente que a sociedade seja atuante na aplicação
desta lei educativa, para que se findem casos de autotutela. O Programa de Combate à
Intimidação Sistemática deu um importante apoio para que as instituições de ensino possam
atuar de uma forma mais eficiente para ser capazes de sanar problemas de Bullying em todo
âmbito nacional. Escolas que possuem projetos que envolvam a sua comunidade para o exercício
da cidadania em seus projetos pedagógicos tem mostrado bons resultados no combate ao
Bullying, melhorando o relacionamento interpessoal o que reflete no bom aprendizado dos
alunos e resultam em uma maior participação da comunidade dentro das escolas diminuindo
casos de criminalidade no entorno.

804
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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SITE VEJA NA ÍNTEGRA. Novos Vídeos do Atirador de Realengo 15/04/2011. Produtora:


Worldnewsbrasil, ano 2011. Duração: 14 minutos e 16 segundos. Disponível em:
<<https://www.youtube.com/watch?v=d3aZzq4G-Hs >>. Data de Acesso:17/03/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTRIBUIÇÃO DA PSICANÁLISE NAS


INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS
Letícia Oliveira Macedo1

RESUMO: O objetivo deste artigo é abordar a prática psicopedagógica na perspectiva


psicanalítica, por meio de dados obtidos por pesquisa bibliográfica. A perspectiva psicanalítica
trouxe elementos, buscando novas formas para uma compreensão mais abrangente do processo
de aprendizagem, levando em consideração a formação integral do ser, visando aspectos da
realidade interna e externa. Foi também salientada a psicopedagogia numa abordagem
pedagógica, assim como a formação de profissionais da educação e de outras áreas cujo currículo
não contempla a teoria psicanalítica. Focaliza-se diferentes abordagens psicopedagógicas sobre
aprendizagem e intervenções nas dificuldades de aprendizagem. Enfatiza-se, ao final, a
importância da teoria psicanalítica no que concerne à leitura do inconsciente, por meio da
comunicação verbal e de outras formas de comunicação, revelando ser o referencial que
possibilita conhecer o inconsciente humano, investigar e compreender os conflitos da criança. No
processo de aprendizagem torna-se necessário ter uma visão global, para melhor avaliar e
compreender o interjogo dos vários fatores envolvidos.

Palavras-Chave: Psicopedagogia; Psicanálise; Pedagogia; Formação psicopedagógica.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes Visuais; Especialização em Psicopedagogia.
E-mail: leticia.macdo@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO conhecer a estrutura do mundo mental e sua


organização.
A temática aborda a Psicopedagogia pelo Em minha primeira experiência como
olhar da Psicanálise, buscando novas formas de professora de Educação Infantil em um estágio
compreender as dificuldades de aprendizagem escolar, deparei-me com muitas dificuldades ao
por meio da investigação do inconsciente. Os lidar com crianças que apresentavam
significados implícitos de palavras, de ações, de dificuldades de aprendizagem. Deparei-me com
produções imaginárias podem causar angústia uma lacuna em minha formação em Pedagogia,
e sofrimento na criança e desencadear pois pouco tinha ouvido falar em Psicanálise
problemas de aprendizagem, que podem ser como meio para entendimento da
elucidadas pelo conhecimento proposto pela aprendizagem e das dificuldades de
Psicanálise. aprendizagem.
O interesse por esta pesquisa se deu devido Percebe-se a necessidade de ter um
a uma inquietação: como psicopedagogos com conhecimento mais aprofundado, resolvi então
formação em pedagogia, ou em outras áreas iniciar o curso de especialização em
afins, podem ajudar uma criança com Psicopedagogia. Acredito que para trabalhar a
dificuldade de aprendizagem, sem ter tido em aprendizagem é necessário conhecer, além de
sua formação, um referencial teórico para outros teóricos, o campo da psicanálise, uma
compreender algo que está implícito ou oculto? vez que auxilia o entendimento do ser humano
Muitas causas das dificuldades de e como ele interage com o meio e assim dizer
aprendizagem são devidas a algo que está com a aprendizagem.
oculto, implícito no universo da criança. A Durante o curso de Psicopedagogia, dei-me
Psicanálise é uma área do conhecimento que conta que o mundo mental não é tão simples
pode contribuir para detectar essas causas. como acreditava que era. Percebi assim, a
Neste sentido, esta pesquisa bibliográfica pode necessidade de aprofundar-me na teoria
auxiliar pedagogos formados em Pedagogia e psicanalítica. Nos problemas de aprendizagem,
em outras áreas que não possuem em sua as dificuldades cognitivas geralmente não vêm
formação a instrumentação psicanalítica. A desvinculadas da problemática emocional,
visão psicanalítica pode oferecer algo mais aos tanto manifesta como latente.
profissionais da educação, por ser um Objetivamos refletir sobre o atendimento
referencial teórico fundamental para o psicopedagógico na orientação psicanalítica,
entendimento da psique humana. Possibilita por ser um referencial teórico importante que
conhecer o ser humano, a estrutura de sua possibilita conhecer o inconsciente humano.
personalidade, de que modo os seus valores Entender como o indivíduo se percebe como
foram interiorizados e de que forma se pessoa, qual o seu envolvimento com o mundo
expressam em seu comportamento, à maneira ao seu redor e com a aprendizagem.
peculiar de lidar com o seu desejo, seus As teorias psicanalíticas também
impulsos e suas defesas. Enfim, permite possibilitam investigar e compreender os
conflitos e angústias da criança, abrindo um

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

leque de possibilidades para se diagnosticar as falta no currículo de uma disciplina, como a


possíveis fontes que geram dificuldades de Psicanálise, traz uma enorme lacuna na
aprendizagem. Todas essas condições devem formação desses profissionais.
auxiliar o psicopedagogo a dar um significado No entanto, nenhuma corrente teórica,
particular ao vínculo com o seu cliente tomada isoladamente, pode dar conta do
considerando a vida interna fantasmática dele, processo educativo, que envolve uma
ou seja, o seu inconsciente. multiplicidade de fatores.
A compreensão das dificuldades de Em uma pesquisa realizada por Scoz (1994),
aprendizagem por meio da Psicanálise, foi constatado que o número de alunos com
certamente irá ampliar o conhecimento da reais problemas de aprendizagem é bem maior
dinâmica familiar, diminuindo ou evitando do que se poderia esperar, isto porque suas
conflitos, cujo cerne é atribuído à dificuldade de dificuldades iniciais não foram detectadas,
aprendizagem da criança. Neste sentido, um lar atendidas e desenvolveram vínculos negativos
bem estruturado favorece o desenvolvimento com o objeto de conhecimento e passaram,
sadio de seus filhos, que possivelmente se efetivamente, a ter problemas para aprender.
tornarão cidadãos úteis à sociedade. Em sua dissertação de mestrado, Scoz
(1994), entrevistou “sobre a compreensão dos
FORMAÇÃO DO problemas de aprendizagem”, coordenadoras
pedagógicas e professoras de escolas públicas
PSICOPEDAGOGO de São Paulo. As respostas obtidas referiram-se
As matrizes curriculares dos cursos de à aspectos cognitivos, socioafetivos e orgânicos
graduação em educação, nas modalidades de do aprender.
Licenciaturas, contemplam disciplinas como De acordo com resultados da pesquisa de
Psicopedagogia da Educação e Psicologia do Scoz (1994), afirma-se:
Desenvolvimento, cujo conteúdo, na maioria deram conta que as coordenadoras
das vezes, explora autores construtivistas, pedagógicas e as professoras confundiam
socioconstrutivistas, empiristas, além da problemas de aprendizagem com dificuldades
descrição das mudanças maturacionais e de normais do processo de desenvolvimento, e,
crescimento, em função do desenvolvimento e não consideravam os padrões culturais e
da idade. A Psicologia do Desenvolvimento linguísticos diferentes daqueles valorizados
versa sobre as diferentes fases do pela escola (SCOZ,1994, p. 151).
desenvolvimento cognitivo, físico, motor, A autora observou também que o trabalho
emocional da criança desde bebê até a de recuperação de conteúdos programáticos
adolescência. dessas escolas, eram feitos com exercícios
Embora as atividades de ensino abordem os repetitivos e inadequados, que não ajudavam
vários aspectos internos e externos do no problema ou prejudicavam a aprendizagem.
aprendiz, não mencionam a importância dos Scoz (1994), ainda pontuou que as
aspectos inconscientes motivando o professoras julgam o construtivismo como
comportamento do indivíduo. Parece que a melhor prática para aprendizagem, porém foi

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

observado que a prática construtivista é ABORDAGEM PEDAGÓGICA NO


aplicada de maneira imprópria e, conclui que,
devido a estrutura e funcionamento dessas PROCESSO DE APRENDIZAGEM
escolas públicas, e a formação profissional Neste item abordamos sobre o processo de
deficiente da equipe técnica, as professoras aprendizagem no âmbito do construtivismo e
estão inseguras com o próprio desempenho. de autores que focalizam a aprendizagem e
No final de sua dissertação, a autora sugere suas dificuldades por uma visão
que os educadores aprofundem o seu multidimensional.
conhecimento sobre teorias de ensino e De acordo com Piaget (apud, DAVIS, 1990,
aprendizagem. A escola precisa oferecer p.37):
condições para que os educadores discriminem é preciso haver um determinado nível de
os problemas que podem ser solucionados pelo desenvolvimento para que certos tipos de
professor, dos que exigem a intervenção de aprendizagem sejam possíveis. O
profissionais especializados. desenvolvimento cognitivo é um processo que
As idéias de Scoz(1994), fazem eco em todos ocorre em estágios e está sujeito a influências
os educadores, pois as falhas na estrutura (maturação, equilibração, experiência e
dessas grades curriculares de muitos cursos da interação social). O desenvolvimento é a
área da educação, principalmente da rede condição para a aprendizagem.
particular do ensino superior, desfavorecem o Para a teoria piagetiana, a inteligência é uma
trabalho desses profissionais e os impedem de adaptação entre assimilação e acomodação. A
detectar prontamente as dificuldades das assimilação incorpora dados da experiência do
crianças e ajudá-las a superá-las. Neste sentido, indivíduo, enquanto na acomodação, o sujeito
é necessária uma formação que os capacite não modifica suas estruturas mentais para
só para perceber as dificuldades decorrentes do incorporar os novos elementos da experiência.
processo educativo, mas para intervir nelas. Segundo Flavell, (1975, p. 86), “Piaget
É evidente que a Psicanálise contribui para considera que o sujeito tem formas diferentes
várias formas de compreensão, que está além de interagir com o ambiente nas diversas fases
do visível, do imediato, do evidente. Assim, o do desenvolvimento”. Segundo este autor, os
profissional ganha com este saber um olhar períodos são os seguintes:
dinâmico sobre a criança possibilitando a Período sensório-motor (0/2 anos): O bebê
abertura de um espaço para que os conflitos e ao nascer não consegue realizar uma
insatisfações venham à tona, permitindo que diferenciação entre o eu e o mundo exterior, dá
esses sentimentos sejam compreendidos em início a esta fase com alguns reflexos, e se
toda sua dimensão. desenvolve para uma organização
relativamente coerente de ações sensório-
motoras diante do ambiente imediato. A
atividade cognitiva neste período, baseia-se
principalmente, na experiência imediata por
meio dos sentidos em que há interação com o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

meio, tornando-se uma atividade prática. Na Ao final do período pré-operacional a


ausência de linguagem para designar as linguagem torna-se mais socializada mostrando
experiências e assim recordar os a tendência ao desenvolvimento.
acontecimentos e idéias, as crianças ficam Período operatório concreto (7/11 anos): No
limitadas à experiência imediata, e assim veem estágio inicial do período, começa um novo
e sentem o que acontece, porém não ciclo relacionado à vida escolar. Percebe-se na
conseguem organizar este acontecimento. Esta criança a queda do egocentrismo e
organização, no entanto, é inteiramente gradualmente tem um crescimento intelectual,
prática, pois abrange ajustamentos perceptivos levando-a pensar de maneira lógica. A
e motores simples, às coisas, e limitada em suas capacidade para raciocinar torna-se
possibilidades intelectuais, a criança encontra o gradativamente lógica e menos sujeita às
equilíbrio por meio de uma inteligência influências das contradições aparentes. Os
sensório-motora. afetos adquirem uma medida de estabilidade e
O segundo período de desenvolvimento é o consistência. Pode ser destacado, segundo
pré-operacional (2/7 anos): Este período tem Piaget, dois elementos fundamentais no
início com as primeiras simbolizações, já desenvolvimento deste estágio: “a vontade e a
presentes no final do período anterior. Por autonomia”.
volta dos dois anos de idade, a criança estará Período das operações formais (12 anos em
desenvolvendo a linguagem, e com o auxílio diante): Se no período anterior ainda existia
dos esquemas sensório-motores, estará alguma limitação, neste novo período, deixa de
ampliando a formação dos esquemas existir. Agora o jovem é capaz de formar
simbólicos, que seria a capacidades de esquemas abstratos e por meio deles realiza
representar uma coisa pela outra. Neste operações mentais que seguem os princípios da
período, a criança ainda tem uma tendência lógica formal. Por intermédio da flexibilidade
egocêntrica porque apresenta uma visão de pensamento é capaz de discutir valores
distorcida da realidade, confundindo-a com a morais e construir os próprios, adquirindo
fantasia. Esta época coincide com a fase escolar autonomia, essas mudanças no
e os padrões de pensamento variam para um comportamento irão ao futuro auxiliar o
incremento da capacidade de usar símbolos e adolescente na busca da própria identidade. Ao
imagens dos objetos do meio ambiente. A atingir essas capacidades, o adolescente atinge
criança desenvolve a linguagem, as imagens a sua forma final de equilíbrio, sendo capaz de
mentais, os jogos simbólicos, assim como pensar de modo lógico e abstrato.
muitas habilidades motoras, mas mesmo assim, Costa (1997), em um de seus escritos sobre
o pensamento e a linguagem estão reduzidos, Piaget, relata que ele oferece à intervenção
no geral, ao momento presente e aos psicopedagógica uma conceituação sobre a
acontecimentos concretos. No aspecto social, inteligência, ao demonstrar que ela é
começará a interessar-se por crianças da construída. Ele entende que o sujeito
mesma idade, ao brincar, elas interagem entre epistêmico “se constrói ao construir” sua
si, mas ainda há o predomínio do egocentrismo. inteligência mediante a construção do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conhecimento. A inteligência então se constrói o bebê é um ser biológico que nasce com
na relação sujeito-objeto. A intervenção potencialidades (aptidões, habilidades,
psicopedagógica é uma relação mediadora inteligência, personalidade) que precisam ser
entre o sujeito e o objeto na construção do aprendidas e se desenvolvem a partir da
conhecimento, da inteligência. A criança interação com o seu meio. A interação com
constrói a inteligência por meio de sua ação. A indivíduos mais experientes permite a criança
intervenção mediadora do psicopedagogo se aprimorar da cultura de seu grupo,
encontra-se no centro da relação sujeito-objeto interiorizá-la, transformá-la em um produto
ao propor desafios, acompanhar as único, singular, por meio dos processos de
construções, orienta-se pela operatoriedade da subjetividade e intersubjetividade.
inteligência, pela formação de conceitos: tal é a A linguagem é um instrumento de mediação
universalidade em que a inteligência se simbólica fundamental nesse processo,
constitui. produzida social e historicamente e, por esse
Na pedagogia, concepções diferentes de meio a criança pode representar a realidade e
teorias dão origem a práticas pedagógicas desenvolver o seu pensamento.
diferentes, conforme Weisz (2000, p.60): Para Vygotsky, apud, Mello (2004, p.7), “o
Para os construtivistas – diferentemente dos desenvolvimento da inteligência e da
empiristas, para quem a informação deveria ser personalidade é extremamente motivado, ou
oferecida da forma mais simples possível, uma seja, é resultado da aprendizagem”. As
de cada vez, para não confundir aquele que características inatas do indivíduo são
aprende – o aprendiz é um sujeito, protagonista condições essenciais para o seu
do seu próprio processo de aprendizagem, desenvolvimento, mas não são suficientes, pois
alguém que vai produzir a transformação que não tem força motora em relação a esse
converte a informação em conhecimento desenvolvimento. Para a teoria histórico-
próprio. Essa construção se dá a partir de cultural, na ausência da relação com a cultura,
situações nas quais ele possa agir sobre o que é o desenvolvimento tipicamente humano não
objeto de seu conhecimento, pensar sobre ele, ocorrerá. Isso significa que a relação entre
recebendo ajuda, sendo desafiado a refletir, desenvolvimento e aprendizagem ganha uma
interagindo com outras pessoas. nova perspectiva: não é o desenvolvimento que
Vygotsky(1992), representante da Psicologia antecede e possibilita a aprendizagem, mas, ao
Sócio-Histórica, Marta K. de Oliveira (1992), contrário, é a aprendizagem que antecede,
chama atenção para as funções psicológicas possibilita e impulsiona o desenvolvimento.
superiores, que incluem pensamento, Sem o contato da criança com a cultura, com os
memória, percepção, atenção, consciência, que adultos, com as crianças mais velhas e com as
são de raiz sociocultural e emergem de gerações mais velhas, a criação das capacidades
processos de origem biológica, por meio da e aptidões humanas não ocorrerá. Dito de oura
interação da criança com pessoas mais forma, o desenvolvimento fica impedido de
experientes da cultura. Em outro trecho, ocorrer na falta de situações que permitam o
Oliveira (1992, p.78) esclarece que: aprendizado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De acordo com Mello (2004), ao estudar as com o outro, que é mediador da cultura
formas tradicionais de avaliação do (BOCK,1999, p. 126)
desenvolvimento psíquico, ou seja, do De acordo com a teoria sócio-histórica, a
desenvolvimento daquelas funções como a aprendizagem ocorre mediada por um outro
linguagem, o cálculo, o pensamento, a mais experiente pertencente à cultura do
memória, o controle da conduta, aprendiz. Neste sentido, para lidar com as
Vygotsky(1992), percebeu que, para avaliar defasagens de aprendizagem, também é
esse desenvolvimento, utilizava-se apenas necessário à mediação de um outro, no caso,
daquilo que a criança era capaz de fazer de cabe ao psicopedagogo. Na linha do
forma independente, ou seja, sem a ajuda de pensamento do construtivismo e da visão
outros. Vygotsky (1992), chamou esse nível de sociocultural, o, psicopedagogo, em sua
desenvolvimento de zona de desenvolvimento intervenção, deve fazer perguntas à criança que
real, uma vez que expressa o nível de levem a construção do conhecimento,
desenvolvimento psíquico já alcançado pela observando os meios que ela utiliza para
criança. No entanto, percebeu a existência de resolver o problema. O psicopedagogo analisa
um outro indicador que precisava ser as respostas da criança, favorecendo para que
necessariamente considerado ao lado do a criança encontre outra saída para o mesmo
desenvolvimento real já alcançado pela criança. problema. O erro será sempre construtivo,
Esse outro indicador foi chamado nível ou zona porque o importante é a ação do sujeito sobre
de desenvolvimento próximo e se manifesta o objeto. Se em dado momento, a criança ainda
por aquilo que a criança ainda não é capaz de não tenha condições de assimilar determinado
fazer sozinha, mas já é capaz de fazer em assunto, o psicopedagogo irá facilitar o
colaboração com um parceiro mais experiente. conhecimento utilizando estratégias,
Para Vygotsky (1992), ao fazer com a ajuda de instrumentos psicopedagógicos como o jogo de
um parceiro mais experiente aquilo que ainda regras.
não é capaz de fazer sozinha, a criança se
prepara para, em breve, realizar a atividade por ABORDAGEM PSICANALÍTICA
si mesma. Dessa forma, só há aprendizagem
quando o ensino incidir na zona de NO PROCESSO DE
desenvolvimento próximo. Se ensinarmos para APRENDIZAGEM
a criança aquilo que ela já sabe, não haverá A Psicanálise é uma área do conhecimento
nem aprendizagem nem desenvolvimento. instituída por Sigmund Freud. Alguns autores
Nesse sentido, Bock (1999), afirma: não tratam a Psicanálise como ciência,
(...) partir das concepções de Vygotsky, a enquanto outros, a consideram dentro do
aluno jamais poderá ser visto como alguém que maior rigor científico por possuir em sua
não aprende, possuidor de algo interno que lhe estrutura uma teoria (noção de inconsciente
dificulta a aprendizagem. Todos são dinâmico), um método (via de acesso ao
responsáveis no processo. Aprender é estar inconsciente) e uma técnica (interpretação do
material inconsciente).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Como doutrina científica, a Psicanálise deu na memória (sensoriais e afetivas) são evocadas
origem a teorias que derivam de observações de tal forma que novos objetos passam a
clínicas e que procuram ordenar, compreender representar os objetos originais.
e explicar o comportamento humano. O que Winnicott (1975), denominou esses objetos
chamamos de teoria psicanalítica é, portanto, de objeto transicional. Segundo Winnicott
um corpo de teorias a respeito do (apud Salamone, 1990, p. 228).
funcionamento e do desenvolvimento da O simbolismo começa aqui. O indivíduo
mente do homem. começa a perceber que o objeto transicional
A Psicanálise contribui para a prática simboliza a mãe e não é mais sua mãe
psicopedagógica na avaliação, compreensão e propriamente dita”. É por meio desta atividade
tratamento da problemática apresentada pela que se edifica a relação do indivíduo com o
criança que compromete o seu mundo externo, com a vida criativa, com o
desenvolvimento escolar, e ou do grupo no qual pensar
ela esteja inserida. De acordo com Freud (apud, KUPFER, 2001),
Desde a época em que Freud postulou a sua afirmou que:
teoria, por mais difícil que seja o seu (...) as emoções ou afetos não sofrem a ação
entendimento, ou por “feridas” que traga ao do recalque e, portanto, não se tornam
amor próprio do homem, não há como negar a inconscientes. Não existem afetos
evidência do inconsciente e a importância da inconscientes, e sim representações
sexualidade para a compreensão do ser inconscientes: idéias e imagens que, uma vez
humano. O homem na concepção psicanalítica tornadas inconscientes, podem insistir em
é sujeito a uma ordem inconsciente e movido retornar, e o que fazem sob forma de sonhos,
por desejos que desconhece. de atos falhos, associações livres ou de outras
Os psicanalistas tem formulado teorias que formações inconscientes (2001, p. 48),
permitam a compreensão das funções Podem retornar sobretudo sob a forma de
simbólicas, da organização do pensamento e do sintomas. O que está em questão é o sentido
desenvolvimento psicossexual da que estas idéias e imagens tomaram na história
personalidade. Pelas teorias também se deduz da criança, o campo da psicanálise, trata não
que esses processos psíquicos mantem estrita apenas de observar, mas compreender para
relação com as funções ligadas à aprendizagem. interpretar.
O simbolismo, base fundamental para o Na Psicanálise de Lacan, autor que fez a
desenvolvimento da vida psíquica e da releitura dos textos freudianos, o que se
comunicação humana, está diretamente ligado evidencia é a linguagem, não a linguagem
à vida afetiva. A partir das primeiras relações comum, mas a que se deixa propagar por meio
entre a mãe e o bebê se estabelece os primeiros de seus efeitos de sentido: sintomas, sonhos e
vínculos afetivos: as primeiras gratificações e formações diversas.
frustrações, os sentimentos de si mesma e de Segundo Kupfer (2001, p. 27):
confiança básica no outro. Na ausência do Analisar alguém não é tratar de suas
objeto provedor, as experiências armazenadas emoções, mas cuidar para que se coloquem as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

condições necessárias a que o paciente persiga sentimentos de amor, ódio e rivalidade ficam
as representações que estão recalcadas e reprimidos no inconsciente. Decorrente das
produzindo seus efeitos. É claro que esse identificações com os pais, acriança internaliza
paciente sofre por causa de seu sintoma, mas o as proibições, moral e valores culturais,
sofrimento é um produto secundário, não é a trazendo como conseqüência a formação do
causa do sintoma. Ao dizer secundário, não se superego.
está afirmando que não seja importante, mas É em torno do complexo de Édipo que ocorre
que de nada adiantará “atacar” as emoções se a estruturação da personalidade.
elas são as dimensões fenomênicas, aparentes, Barone (1990, p.32), acredita que “a partir da
do que está em transcurso em uma outra resolução do complexo de Édipo, conseguido
dimensão, mais propriamente a dimensão pelo temor da castração, que a criança vai
inconsciente (KUPFER ,2001, p. 27). poder assumir sua identidade sexual e ter
Para entender melhor o que se pretende acesso à cultura, pela internalização das leis e
neste capítulo, será necessário introduzir proibições que regem”.
alguns conceitos teóricos, formulados pela A resolução edipiana é crucial no processo de
psicanálise, principalmente como Freud os aprendizagem. A criança que tem elaboração
concebeu (FREUD, apud, SANDLER, 1986). da fase edipiana ineficiente, não interioriza
Em torno dos quatro aos seis anos de idade, eficientemente normas e valores, que vão estar
o menino se defronta com um conflito presentes na aprendizagem escolar, uma vez
denominado Complexo de Édipo, referente aos que a criança tem de se submeter a regras e
seus desejos e relações objetais. Em síntese, normas para aprender a ler e a escrever.
trata-se do desejo do menino de ter relações A criança frente às primeiras experiências de
sexuais com sua mãe e eliminar o seu pai desta aprendizagem revive e expressa sua maneira
relação, até mesmo fantasiando a morte do pai. pessoal, particular de lidar com a realidade,
Porém, esses intensos desejos entram em repetindo a história de suas relações passadas,
conflito com o amor que o menino sente pelo vividas na fase edipiana. Assim, as experiências
pai, e também com o temor de ser rejeitado ou de fracasso na aprendizagem podem ser
ser retaliado em seus órgãos genitais, influenciadas por esta condição pessoal da
conhecido como Complexo da Castração. O criança.
temor da castração leva a criança a renunciar a Concepções psicanalíticas ligadas às
esse amor sexual e se identificar como influências do inconsciente sobre a vida
progenitor do mesmo sexo, e assim, resolver o consciente, ao investimento afetivo, ansiedade,
seu Complexo de Édipo. Na menina, ocorre algo mecanismo de defesas, características da
semelhante, em relação ao pai. A menina estrutura do ego, capacidade de suportar
deseja um filho de seu pai e também eliminar a frustações, discriminação entre sujeito e
sua mãe. Tanto nos meninos quanto nas objeto, controle da agressividade, regressões,
meninas, existem as mesmas configurações. fixações, inibições e desenvolvimento
Resolvido o complexo de Édipo, o qual a criança simbólico entre outras, participam na
jamais se lembrará, uma vez que esses compreensão dos processos pedagógicos.

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INTERVENÇÕES afastar-se de objetivos que levem em


consideração o processo de aprendizagem.
PSICOPEDAGÓGICAS Independente dos fatores envolvidos e da
Este item descreve sucintamente as várias corrente teórica abraçada, Rubinstein (1999, p.
vertentes ou modalidades de intervenções 36), assinala que “a construção da autonomia é
psicopedagógicas, como entendido pelos resultado de uma relação mediada pelo
autores da área. psicopedagogo, com quem a criança se
Rubinstein (1999), leva em consideração nas identifica e vai construindo sua identidade e sua
intervenções psicopedagógicas, aspectos independência”.
internos e externos do aprendiz, as Fazendo um breve histórico do
modificações internas provocarão uma forma desenvolvimento da Psicopedagogia no Brasil,
distinta de manifestarem-se em relação ao cujo pioneirismo se deve a Reeducação,
conhecimento e a cultura, mas nem sempre se Parente (2008), lembra que alguns
manifestam imediatamente após as reeducadores mais sensíveis observaram que a
experiências vividas. Muitas vezes elas custam superação das dificuldades de aprendizagem
a aparecer e então se devem investigar as ocorria não somente devido aos exercícios, mas
resistências ou dificuldades específicas. principalmente pela relação que se estabelecia
Segundo Rubinstein (1999, p.26), “Para entre o psicopedagogo e o aluno, formalizando
aprender é preciso não somente raciocinar, a modalidade Psicopedagogia Clínica. Vale
como desejar aprender. O desejo será a mola ressaltar a importância de assinalar as
propulsora do interesse pelo conhecimento”. diferenças entre essas concepções que dão
A autora critica as intervenções voltadas origens a distintas práxis em Psicopedagogia, o
somente para os aspectos pedagógicos, que permite clarear ao futuro psicopedagogo
deixando de lado às necessidades específicas com qual modalidade profissional de identifica
da criança e o que a fez fracassar. O conteúdo e assim direcionar a sua formação profissional.
pedagógico não deve ser descartado, mas A Reeducação Psicopedagógica ou
utilizado como recurso mediador. É relevante a Psicopedagogia Construtivista propõe o
sensibilidade do psicopedagogo para ouvir a desenvolvimento da dimensão cognitiva. A
criança tendo em mente, não só os aspectos Psicopedagogia Clínica é o processo que
objetivos, aparentes que produziram os considera a aprendizagem relacionada às duas
sintomas. Em outro trecho, a autora aponta dimensões do pensamento: dimensão afetiva e
também para os riscos de uma intervenção dimensão cognitiva em uma perspectiva
voltada apenas para os aspectos da psicanalítica. Uma outra modalidade é a
subjetividade ou do inconsciente, ficando Psicopedagogia Multifatorial, amplamente
“aprisionado” somente nesta leitura, deixando utilizada na clínica, possibilitando a junção
de “ler” outros aspectos importantes. O perigo entre as modalidades Reeducação e a
de uma leitura parcial é de não favorecer o Psicopedagogia Clínica, e leva em conta uma
desenvolvimento de aspectos cognitivos e de intervenção mais abrangente, multifatorial,
envolvendo os diferentes fatores (familiar,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

social, o significado do sintoma, etc.) e um para as demandas do aprendiz. Lidar com o erro
trabalho de reeducação. construtivo se defronta com a falta, com a
Cada uma dessas vertentes ou modalidades incompletude do ser, e manejar situações
de psicopedagogia pode ser usada tanto em inéditas colocadas pela criança a todo instante,
uma ação preventiva como em uma ação é o grande desafio para o psicopedagogo.
terapêutica, tanto na instituição (escola,
hospital, etc.), quanto nos consultórios. O que A PSICOPEDAGOGIA NUMA
define uma e outra não é o local em que essa
ação se desenrola, mas as características do ABORDAGEM PSICANALÍTICA
fenômeno observado. Outro aspecto é a leitura Como já mencionado, os indivíduos possuem
deste fenômeno que sem dúvida, está limitações, fobias, angústias e sofrimentos, que
relacionada com a formação e a possibilidade por vezes, interferem e desencadeiam
do profissional de fazer um tipo de diagnóstico, dificuldades no processo de aprendizagem. A
seja dos diferentes fatores envolvidos em uma Psicopedagogia desempenha um papel de
determinada situação institucional, seja na grande importância, por ser uma área de
dinâmica do funcionamento de uma criança. estudo quem vem contribuir na superação das
Independente da abordagem adotada, existe dificuldades de aprendizagem. O
um arsenal de instrumentos que auxiliam o psicopedagogo pode buscar na Psicanálise os
psicopedagogo no diagnóstico e na elementos necessários para esclarecer a origem
intervenção. O construtivismo contribui com os das dificuldades de aprendizagem, por meio de
jogos de regras; as teorias dinâmicas com o uma escuta especializada, que faz emergir as
desenho e com o brinquedo. A Psicanálise fontes inconscientes da problemática que aflige
interpreta o desenho a partir da associação a criança.
livre da criança, e vê o jogo da criança e a Neste sentido, a Psicanálise pode contribuir
brincadeira associados ao papel do conflito e da na compreensão da esfera afetiva da criança e
fantasia, o que exige uma interpretação. Se a amenizar o seu sofrimento. Como formanda em
aprendizagem é estruturalmente semelhante à Psicopedagogia, tenho refletido sobre a prática
brincadeira, como propõe a Psicanálise, psicopedagógica, na qual haja espaço para a
fornece pistas sobre a aprendizagem do sujeito, revelação do sentido inconsciente das
revelando a importância da posição ativa sobre dificuldades de aprendizagem.
o objeto do conhecimento.
A interdisciplinaridade na psicopedagogia LEDA MARIA BARONE E O
também é fator primordial, a análise de uma
dificuldade de aprendizagem é muito complexa
MÉTODO RAMAIN
Barone (1990), propõe a junção de Método
e envolve uma gama de fatores: sociais,
Ramain, com a leitura psicanalítica. O Método
culturais, pedagógicos, psicológicos e médicos.
Ramain constitui um conjunto de exercícios
Na intervenção psicopedagógica, é
com o objetivo de romper condicionamentos
importante o educador vivenciar a angústia de
de hábitos por meio do desenvolvimento da
“não saber”, no sentido de não se ter resposta
atenção interiorizada. O ponto central desse

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

método está relacionado à estruturação da SARA PAIN NA VISÃO DE


criança por meio da experiência. É apresentada
uma atividade à criança na qual ela irá SONIA MARIA PARENTE (2000)
experimentar a tentativa de resolução do Inspirada em sua mestra, Parente (2000),
problema, gerado pela atividade. Esse exercício sugere que a não aprendizagem não é o
leva a criança à desestruturação e ruptura de contrário de aprender. Como sintoma está
sentimentos, de execução, provoca uma cumprindo uma função positiva tão integrativa
situação de desequilíbrio e estimula o impulso como o aprender. Por conseguinte, é
para a descoberta de novas possibilidades. Não necessário o psicopedagogo compreender o
há a finalidade de acerto na execução do universo da criança para decodificar o
exercício, pois o importante no processo é a significado que o aprender adquiriu para ela.
vivência. O psicopedagogo não ensina e não O termo problema de aprendizagem
aponta o erro, permite que o erro apareça, segundo Pain apud Parente (2000) é usado para
condição para que surja o desejo de aprender. referir-se a uma problemática intrapsíquica, ou
No final do exercício pede-se que a criança fale seja, refere-se à desarticulação entre a
o que sentiu, a sua vivência. dimensão cognitiva e a dimensão do desejo no
A intervenção do psicopedagogo consiste em pensamento do aprendiz.
propor à criança a realização de diferentes Segundo Parente (2000, p. 56), Sara Pain:
tarefas e acompanhá-la na execução, tendo enfatiza duas dimensões do pensamento: a
como foco de atenção, não a tarefa em si, mas dimensão afetiva ou subjetivante na qual opera
as diferentes reações da criança frente a ela, a lei do desejo que permite dar um significado
como os lapsos, as hesitações, bloqueios, à ignorância, fundamentando-se na teoria
repetições, sentimentos e angústias presentes psicanalítica, e a dimensão objetivante que
tanto na execução como verbalização. O permite a construção e a apropriação do
psicopedagogo deve facilitar à criança entrar conhecimento, baseada na teoria da
em contato com essas reações suas, inteligência de Jean Piaget.
desconhecidas, relacionadas à realização de Porém, nada mais distante do pensamento
tarefas. Essa condição interpretativa abre desta psicopedagogo do que juntar as duas
espaço psicanalítico da intervenção teorias. As duas dimensões do pensamento
psicopedagógica sugerida por Barone. Em suas devem funcionar de forma independente e
palavras: “Assim, como ciência do inconsciente, simultânea para que uma não aprisione o
a Psicanálise poderá iluminar a compreensão funcionamento da outra. Essas duas dimensões
de diferentes manifestações humanas e auxiliar se unem por meio da função da ignorância,
outras práticas” (BARONE, 1990, p.8) definida como um “espaço opaco e vazio”, que
ao mesmo tempo, separa e une essas duas
dimensões, de forma uma desconhecer e
ignorar a existência da outra, permitindo que
cada uma faça aquilo que é sua função. O
problema de aprendizagem se dá, justamente,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

porque a ignorância que deve existir entre um Parente (2000, p.51), reafirma que “o
nível e outro não funciona como deveria. problema de aprendizagem é considerado
O diagnóstico recomendado por Pain, apud como o sintoma que expressa algo e possui uma
Parente (2000): mensagem”, isto é, a criança expressa algo que
(...) é o diagnóstico multifatorial, no qual se não vai bem na sua forma de se relacionar com
devem verificar as articulações entre os o mundo. O psicopedagogo deve compreender
múltiplos fatores que intervêm na dificuldade e interpretar a mensagem do sintoma contida
de aprendizagem. A hipótese sobre a no problema de aprendizagem.
articulação funcional do problema de Inspirada em sua mestra, Parente (2000),
aprendizagem deve ser observada na entrevista sugere que a não aprendizagem não é o
o “motivo da consulta”, na qual se pode avaliar contrário de aprender. Como sintoma está
as fantasias dos pais acerca da doença e da cumprindo uma função positiva tão integrativa
cura, e verificar as expectativas em relação à como o aprender. Portanto, é necessário que o
intervenção do psicopedagogo. O diagnóstico psicopedagogo compreenda o universo da
psicopedagogo busca compreender em que criança para decodificar o significado que o
momento o prazer de aprender foi substituído aprender adquiriu para ela, por exemplo, a
(PARENTE,2000, p.48). criança com dificuldades de aprendizagem
recebe mais atenção dos pais indo mal na
A CONTRIBUIÇÃO DE SONIA escola.
Tendo como referencial o diagnóstico
MARIA PARENTE multifatorial, Parente (2000), investiga os
A proposta de intervenção psicopedagógica vários fatores que interferem e ocasionam a
de Parente tem suas raízes na Psicanálise e o dificuldade de aprendizagem. O objetivo da
leme na teoria de Sara Pain, de quem é “hora do jogo” é o de observar como a criança
discípula. usa o material disponível para brincar, construir
Parente (2000, p. 29), “supõe que a origem algo, expressando suas idéias e realizando seus
do problema de aprendizagem pode estar projetos, porque isso também revela a
relacionada com as primeiras relações possibilidade da criança tirar proveito da
vinculares da criança com sua mãe”. Esse aprendizagem. As sessões de intervenção
modelo de relação vincular tende a ser psicopedagógica posteriores tem uma
reproduzido na escola. Assim, a autora marcante influência no modelo da
considera a aprendizagem como um processo Psicopedagogia Clínica.
que se desenvolve na relação com o outro e por
intermédio do mecanismo de identificação. A
base do processo de aprendizagem é a
DIFAJ E A INTERVENÇÃO DE
discriminação, ou seja, é preciso que exista um ALICIA FERNANDEZ
sujeito diferenciado de um objeto com o qual a Segundo Alicia Fernandez (1991, p. 83),
criança possa se identificar. psicopedagoga radicada na Argentina, “o
sintoma problema de aprendizagem expressa o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

atrape do aprender por desejos inconscientes”. manutenção do sintoma, dificuldades de


Tendo por base as idéias de Sara Pain e o aprendizagem. Todos devem ser ouvidos e
diagnóstico centrado na família, Fernandez tratados, se necessário.
(1991), relaciona a aprendizagem a quatro O psicopedagogo deve compreender,
níveis que são a etiologia do sintoma: analisar e intervir no ponto da articulação entre
organismo, corpo, inteligência e simbólico o estrutural e o dinâmico. O aspecto estrutural
(desejo). Toda aprendizagem passa pelo corpo se refere à estrutura interna do paciente, e o
e pelo corpo nos apropriamos do organismo. O aspecto dinâmico se detém nos vínculos do
organismo transversalizado pela inteligência e sistema familiar. Nessa intervenção
pelo desejo irá se mostrar num corpo, e assim psicopedagógica, é necessário a presença da
intervém na aprendizagem. A inteligência é família real para se trabalhar o significado da
uma estrutura de caráter biológico e lógico que família simbólica, que é o papel dinâmico que
vai se construindo em interação com o meio, cada membro assume na família. Além disso, no
enquanto a dimensão do desejo é simbólica, DIFAJ, não existe uma única causa, mas uma
significante e ilógica, tendo suas raízes no pluricausalidade, isto é, várias causas são
inconsciente. Desse modo, o nível simbólico responsáveis pelo sintoma e nem há uma
organiza a vida afetiva e ávida das significações. situação que determine o problema de
O sintoma dificuldades de aprendizagem tem aprendizagem. Busca-se a relação da criança
um caráter diferente em relação aos outros com o conhecimento e o significado do
sintomas, uma vez que está atrapada a aprender.
possibilidade de aprender e está se instala na Como foram visto neste item, os diferentes
tenra infância, as dificuldades nesse aspecto modelos de intervenção psicopedagógica
perturbarão, consequentemente, o apresentados ajudam a criança a superar as
desenvolvimento da estrutura cognitiva e da suas dificuldades de aprendizagem e todos tem
imagem corporal. Para Fernandez (1991) o que um denominador comum: a leitura
se aprisiona é a inteligência, mais precisamente psicanalítica. Tudo indica que seria a
a capacidade de aprender. A aprendizagem é modalidade mais abrangente de intervenção
uma função em que participam tanto a psicopedagógica nas dificuldades de
estrutura inteligente como a estrutura aprendizagem, por tratar essas dificuldades
desejante, ambas influenciadas pelo como sintoma que comunica um conflito
inconsciente. inconsciente. Este conflito se expressa na
Fernandez (1991), sugere uma atuação criança pelo “não aprender”, comprometendo
interdisciplinar para diagnosticar a dificuldade uma dimensão lógica, objetiva di
de aprendizagem – DIFAJ (diagnóstico funcionamento mental. A intervenção
interdisciplinar familiar da aprendizagem em psicopedagógica orientada pela Psicanálise
uma só jornada). Além do paciente, inclui a atua sobre a esfera consciente, na medida em
família e a instituição escolar na intervenção, o que vai se esclarecendo o conflito intrapsíquico,
que alivia o peso do problema sobre a criança. a dimensão cognitiva recebe mais investimento
Todos são responsáveis pela causa e energético para uma reestruturação e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

superação da dificuldade presente. Neste


sentido, penso numa prática psicopedagógica,
na qual há espaço para revelação do sentido
inconsciente das dificuldades de aprendizagem
e também uma prática que surge a partir da
necessidade de profissionais que buscam
respaldo teórico para intervir junto aos
indivíduos que apresentam dificuldades em seu
processo de aprendizagem. Por intermédio
desta busca é possível articular várias áreas do
conhecimento para entender a natureza
humana determinada pelo inconsciente, que
por si, acaba este mesmo inconsciente,
determinando nossas escolhas, ações e
aprendizados, gerando pulsões que motivam o
indivíduo e influenciam sua aprendizagem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo apresentamos que a formação em Pedagogia e áreas afins não fornece os
subsídios necessários para o conhecimento da teoria e prática psicanalítica, de modo a permitir
que esses profissionais se apropriem da práxis psicopedagógica orientada pela Psicanálise. Cabe
ao profissional a decisão do trabalho psicopedagógico norteado por teorias pedagógicas e
construtivistas, ou optar por um estudo mais compreensivo da Psicanálise, em cursos de
especialização. O aprimoramento destes profissionais pode auxiliar as crianças no processo de
elaboração e desenvolvimento de suas capacidades estruturais e dinâmicas, na elaboração dos
conflitos conscientes e inconscientes. Abrindo um parêntese, se fosse abordado os conceitos
centrais da Psicanálise no curso de graduação em Pedagogia, certamente os pedagogos
aproveitariam mais intensamente a especialização em Psicopedagogia.
A Psicanálise considera que há sempre uma mensagem inconsciente em toda comunicação
verbal ou não verbal (comportamentos, atitudes, alteração na face, etc.). Neste sentido, é possível
fazer a leitura do inconsciente por meio da análise do discurso da criança, para se descobrir os
possíveis significados subjacentes à dificuldade de aprendizagem apresentada por ela. E, assim
entender, sob um outro ponto de vista, este mais abrangente, o que está impedindo de continuar
a aprender.
A importância de uma educação que busque a formação integral da criança obriga o
educador a lidar com os contrastes da realidade interna e externa. Somente aqueles educadores
que permitem o desafio da mudança pela análise pessoal, poderão ir construindo degraus na sua
formação, buscando neste processo o autoconhecimento tão necessário para investigar e intervir
nas dificuldades de aprendizagem da criança sem mesclar com as suas próprias.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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São Paulo. Tese de Doutorado, IPUSP, 1990.

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Paulo:1990.

FERNANDEZ, A. A inteligência aprisionada. 2ª Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

FLAVELL, John. A Psicologia do Desenvolvimento de Jean Piaget. São Paulo: Moderna,


1975.

KUPFER, Maria C.M. Educação para o futuro. Psicanálise e educação. 2ª ed. São Paulo:
Escuta, 2001.

LA TAYLLE, Yves; OLIVEIRA, Marta K. e DANTAS, Heloisa. Piaget, Vygotsky, Wallon- Teorias
psicogenéticas em discussão. 18ª edição, São Paulo: Summus, 1992.

MELLO, Sueli A. A escola de Vygotsky in Carrara, Kester Introdução à Psicologia da Educação:


seis abordagens. São Paulo: E. Avercamp, 2004.

PARENTE, S. M. Pelos caminhos da ignorância e do conhecimento. São Paulo: Casa do


Psicólogo, 2000.

RUBINSTEIN, E. Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São Paulo, Casa do


Psicólogo, 1999.

SANDLER e Col. O paciente e o analista. Rio de Janeiro: Imago, 1986.

SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar. Petrópolis: Vozes, 1994.

WEISZ, T. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 2000.

WINNICOTT, D. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTRIBUIÇÕES DE EMÍLIA FERREIRO NA


ALFABETIZAÇÃO INFANTIL
Regina Mara Curtolo Belem1

RESUMO: Hoje no Brasil encontramos muitas dificuldades em relação a educação, entre elas o
fracasso escolar, famílias ausentes, escolas precárias, má formação dos professores e
desvalorização de professor. Pensando em diminuir o alto índice de fracasso escolar, o professor
alfabetizador deve ter em mente os processos de aquisição da língua escrita que a criança passa,
saber diagnosticar as hipóteses que cada aluno se encontra e construir ambientes que motivem
e estimulem as crianças, pois o confronto do tradicionalismo com o construtivismo, fez com que
Emília Ferreiro(1980), por meio de suas pesquisas, conseguisse mostrar que as crianças são
capazes de construir diferentes idéias, resolver problemas e elaborar soluções. O erro da criança
é sempre valorizado, pois o professor consegue diagnosticar em que fase a criança se encontra e
o que deve ser proposto de atividade. O uso da cartilha passou a ser repensado pois era priorizado
a memorização, a cópia, as crianças não tinham permissão de pensar, existiam vários textos sem
sentido, que não agregavam nenhum valor para a criança. Foi a partir de Emília Ferreiro (1980), e
outros estudiosos que o Brasil passou a valorizar a educação, diminuindo o nível de fracasso
escolar existente.

Palavras-Chave: Alfabetização; Fracasso escolar; Professor; Desenvolvimento, Construção.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Prefeitura de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: reginacurtolo@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O analfabetismo no Brasil também é um


desses problemas, tendo um número bem
Por meio de suas pesquisas Emilia Ferreiro alarmante. Infelizmente parece que o governo
(1980), refez totalmente as concepções do colocou crianças em escolas com o único
sujeito aprendiz da escrita e de suas relações objetivo de elevar a posição do Brasil no índice
com esse objeto de aprendizagem, a língua de desenvolvimento humano (IDH). O governo,
escrita. não está se importando com o que essas
Apresenta-se o papel ideal do professor crianças estão aprendendo e se estão
alfabetizador, que passa a ser fundamental aprendendo.
quando começa a compreender o que as As escolas não estão preparadas para
crianças precisam para evoluir em suas receber crianças com dificuldade de
construções e avançarem em suas hipóteses. aprendizado, estão sem materiais didáticos,
Passa a ter um papel de mediador promovendo com professores desqualificados e muitas vezes
questões sobre as concepções de leitura e de cansados de trabalhar em mais de uma escola
escrita trazidas pelas crianças. para conseguir um melhor salário. Estas
Aborda-se as idéias e as contribuições de consequências acabam prejudicando as
Emilia Ferreiro para a alfabetização infantil no crianças, que sofrem por causa do sistema
Brasil, a importância de diagnosticar o que os social. Muitas famílias carentes não têm acesso
alunos sabem e qual o nível em que as crianças a uma boa escola e seus filhos ficam sujeitos a
se encontram, quais hipóteses possuem sobre uma educação cansada, mal organizada e
a língua escrita e o caminho que vão percorrer desestimulante.
até compreender o sistema e estarem As dificuldades encontradas na sala de aula
alfabetizados. são inúmeras, vários alunos com dificuldade de
Com o diagnóstico o professor pode aprendizado, no qual o professor deveria
organizar projetos adequados para atender a trabalhar com estratégias que fizesse com que
diversidades de saberes de seus alunos. os alunos se interessassem em aprender. A
A partir desta questão norteadora temos educação infantil é uma etapa fundamental.
como objetivamos apresentar os principais Emília Ferreiro (1980), contribuiu para
aspectos da alfabetização segundo Emilia alfabetização das crianças, pois ela vê a criança
Ferreiro (1980). como centro e agente da aprendizagem, como
A educação em nosso país está passando por sujeito ativo e inteligente.
problemas muito sérios, e há muito tempo. Um É importante colocar a criança em situação
deles é o fracasso escolar, e esta de aprendizagem, em que possa utilizar suas
responsabilidade está sendo dividida entre próprias elaborações sobre a linguagem, sem
família, escola e estado. O sistema educacional que se exija dela ainda o domínio das técnicas e
para se livrar dessa responsabilidade se ocupa convenções da norma culta. O objetivo de
em encontrar um culpado, alguém que possa Ferreiro é integrar o conhecimento espontâneo
assumir essa situação. da criança ao ensino, dando-lhe maior
significado (FURTADO, 2008, p.129).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nos fez rever o uso de cartilhas, os modos de livremente com criatividade, pois são capazes
avaliação e promoção de alunos. Para ela o disso.
importante é compreender o desenvolvimento
das idéias da criança sobre a escrita como um O PAPEL IDEAL DO PROFESSOR
processo evolutivo. Recomenda aos
alfabetizadores que nunca desprezem a ALFABETIZADOR
bagagem de conhecimentos sobre a escrita que Neste item apresentamos o papel ideal do
a maioria das crianças leva para a escola. professor alfabetizador, que durante muito
foi necessário rever as concepções nas quais tempo não era valorizado pois há muitos anos
se apoiavam as alfabetizações. Já não é mais no Brasil as creches tinham a função apenas de
possível conceber a escrita exclusivamente guarda, protegendo a criança e preservando-a
como um código de transcrição gráfica de sons, de viver uma situação de extrema miséria na
já não é mais possível fechar os olhos para as sua família. Os profissionais na área precisavam
consequências provocadas pela diferença de apenas de saber cuidar bem da criança e gostar
oportunidades que marca as crianças de dela, compreender o papel materno, podendo
diferentes classes sociais. Portanto, já não se assim substituir a mãe enquanto trabalhava.
pode mais ensinar como antes (ROSA, 2008, Com inúmeras pesquisas no campo da
p.92). Psicologia do desenvolvimento infantil,
A criança com mais estímulo e motivação observou-se que a criança já traz consigo uma
tem maiores chances de construir suas idéias e bagagem bastante produtiva, a creche então
hipóteses sobre ler e escrever, para que se passou a ter uma importância maior, e a ter um
apropriem da real função da língua e de seus espaço privilegiado para o desenvolvimento
usos. Infantil.
Ao percebermos a dificuldade que os antes de entrar na escola, a criança já vem
professores têm para sanar o fracasso escolar desenvolvendo hipóteses e construindo um
ou a dificuldade que os alunos apresentam em conhecimento sobre o mundo, o mesmo
sala de aula decidimos apontar as idéias de mundo que as matérias ditas e escolares
Emília Ferreiro como instrumento de trabalho procuram interpretar no início da alfabetização
para ajudar ou auxiliar o professor, com isso irá (DAVIS; OLIVEIRA, 1994, p.23).
contribuir também com os alunos. Em função disso, a creche mereceria ter uma
Com algumas referências teóricas estrutura e um funcionamento mais adequado,
verificamos que vários autores defendem as assim como um profissional bem preparado e
mesmas idéias de Ferreiro (1980), como: Weisz com maior nível de conhecimento sobre o
(2001), Teberosky (2009), Piaget (2002), Freire desenvolvimento infantil.
(1996), entre outros. A LDB (1996), considera que uma educação
Emília Ferreiro (1980), apresenta uma de qualidade depende principalmente da ação
proposta pedagógica construtivista, pedagógica desenvolvida em sala de aula e à
proporcionando às crianças que se expressem formação do professor. Ela nos mostra a
importância da formação de um professor.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A formação de docentes para atuar na A atuação do professor alfabetizador, com o


educação básica far-se-á em nível superior, em auxílio de Paulo Freire(1996) e Emília
curso de licenciatura, de graduação plena, em Ferreiro(1980), deixa de ser somente
universidades e institutos superiores de reprodução de métodos e torna-se mais crítica
educação, admitida, como formação mínima e consciente.
para o exercício do magistério na educação O educador deve estar consciente de cada
infantil e nas quatro primeiras séries do ensino atitude e de cada escolha, ele deve ter claro o
fundamental (BRASIL,1996,s.p). seu conceito de alfabetização. Quando
É preciso que o professor vá em busca de seu considera que alfabetizar é ajudar alguém a dar
aperfeiçoamento, sejam participando de sons às letras e sílabas, dá prioridade à
cursos, seminários, reuniões pedagógicas, de repetição e a memorização. Já quando
livros, revistas ou programas da TV educativa. compreende que alfabetização é um processo
A formação continuada tem a função de em que a criança cria hipóteses, estabelece
proporcionar ao professor a atualização com as relações e constrói conceitos, irá buscar
mais recentes pesquisas sobre as didáticas das situações que façam o alfabetizando pôr em
diversas áreas, além de reflexão sobre a prática prática suas conclusões, que seja capaz de
(REVISTA NOVA ESCOLA, 216, 2008, p. 54). produzir e refletir sobre esta ação.
Essa é a única forma de crescer pessoal e O método piagetiano de exploração das
profissionalmente. Os alunos precisam de noções infantis por meio de um diálogo,
professores que tenham respostas para as suas durante o qual o experimentador elabora
questões ou pelo menos que indiquem os hipóteses sobre as razões do pensamento da
caminhos para obter essas respostas. É criança, provoca perguntas e cria situações para
importante que o aluno perceba que seu testar, no próprio momento, suas hipóteses, o
professor também se empenha em aprender. que acaba sendo - neste campo como em
Ele deverá refletir constantemente sua muitos outros - o mais frutífero método
prática e aperfeiçoar-se sempre, buscando o (TEBEROSKY, FERREIRO, 1999, p.11).
desenvolvimento profissional e ser um Ciente dessa concepção criará desafios,
pesquisador continuo. colocará o alfabetizando na condição de autor,
O professor que não leve a sério sua tendo o papel de propor atividades, na qual a
formação, que não estude que não se esforce escrita apareça como instrumento de
para a altura de sua tarefa não tem força moral interação, pois a aquisição da leitura e escrita
para coordenar as atividades de sua classe” e ocorre quando é usada de forma real e
também diz que “a incompetência profissional concreta, não de forma artificial e simulada.
desqualifica a autoridade do professor Nesta concepção alfabetizando e alfabetizador
(FREIRE,2009, p.92). compartilham saberes e experiências, numa
Muitos até possuem competências forma conjunta de ensinar e aprender
científicas, porém não sabem aplicá-las em sala coletivamente.
de aula.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Quando entro na sala de aula devo estar Iniciar com escrita de seus próprios nomes
sendo um ser bem aberto a indagações, à de forma convencional auxilia servindo como
curiosidade, às perguntas dos alunos, as suas referência para o aluno identificar as letras,
inibições; um ser crítico inquiridor, inquieto em pois seu nome será visto em vários lugares
face da tarefa que tenho – a de ensinar e não como: em seus materiais, lancheiras, mesas,
de transferir conhecimento (FREIRE, 2009, utensílios, etc.
p.47). Escrever o próprio nome de forma
O professor deve investigar o que a criança convencional é um dos primeiros conteúdos
sabe, atuando como observador e interprete presentes na pré-história da escrita na
dos comportamentos da criança, e a partir ontogênese e oferece um rico material de
desse conhecimento deve ser elaborado o seu confronto entre a escrita espontânea e a
trabalho na sala de aula. Segundo Teberosky convencional (AZENHA, 1993, p.93).
(2009, p.8), “É aprendendo sobre o aprender da A criança estará em situação de
criança que poderá dar outro sentido ao seu aprendizagem, utilizando suas elaborações
ensinar.” O profissional da educação Infantil sobre a escrita, escrevendo e lendo, mesmo
deve saber mediar às experiências da criança antes de dominar todas as convenções e
pequena de modo a contribuir positivamente normas da língua escrita. Se familiarizando
para seu desenvolvimento e sua aprendizagem, então, com as letras do seu próprio nome, e
auxiliar a criança a utilizar suas diferentes com a construção convencional de palavras.
linguagens para aprender sobre si mesma e A existência e o conhecimento dessas
sobre o mundo que a cerca. elaborações Infantis não podem continuar
Assim como simbolizar suas experiências e desconhecidos para o alfabetizador. Conhecer
expressar sobre o que sente sobre ela e se como a criança aprende permite integrar o
comprometer com o bem estar do aluno e seu conhecimento espontâneo infantil ao ensino
desenvolvimento. sistemático, e essa é uma tarefa importante
Portanto, antes de chegar a uma conclusão para dar maior significado ao ensino escolar
de o que o professor deve ensinar, primeiro (AZENHA, 1993, p.94).
deve-se saber quais são as idéias e A alfabetização, seguindo esse processo,
conhecimento dessa criança, e até se for deixa de ser restrita só às letras, e passa a
preciso mudar o rumo de suas ações. pensar no que há por trás delas.
Muitas vezes é preciso mudar o rumo das Mais do que simplesmente transmitir
coisas para dar conta do processo real que se informações, conteúdos aos seus alunos, são
apresenta, de situações ou contextos não importante que o professor saiba apontar
previstos quando a atividade foi planejada – já caminhos.
que os alunos, quando tem como proposta É a adversidade das situações em que os atos
realizar uma determinada tarefa, põem-se a de ler e escrever estão integrados, que oferece
fazê-lo conforme-lhes é possível em cada tanto a possibilidade da criança reconhecer os
momento (WEISZ, 2001, p.83). conflitos que o sistema de representação
alfabética inevitavelmente criará para ela,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quanto à possibilidade de sua apropriação realmente possui, e lutando para que a


(TEBEROSKY, FERREIRO, 1999, p. 09). profissão seja devidamente respeitada.
A alma do ofício é essa: ensinar a buscar Acreditando no importante papel que o
informação, acompanhar e apoiar o aluno professor alfabetizador exerce, e o
nessa busca e ensinar a selecionar esta desenvolvimento de hipóteses que a criança
informação. cria para construir seu próprio conhecimento,
Para um bom andamento de seu trabalho, é Ferreiro contribui com vários caminhos que
importante que o professor registre suas auxiliarão o educador neste percurso.
experiências por escrito, pois isso lhe ajudará a
construir uma prática e sua reflexão do que já AS IDÉIAS DE EMÍLIA FERREIRO
foi trabalhado dentro da sala de aula e por meio
A partir dos anos 80 sua concepção da
de seu registro poderá fazer uma análise de seu
alfabetização causou grande impacto, pois ela
trabalho, permitindo trazer novas idéias e
não concordava com o método tradicional
construir uma experiência de reflexão,
aplicado na época, que não visava o conteúdo
produzindo um conhecimento mais
já adquirido pelos alunos, não permitiam erros,
aprofundado sobre a prática.
introduziam palavras simples sem significados,
Escrevendo tive a oportunidade de refletir
faziam com que o aluno se preocupasse
sobre essas questões (e outras) e de dar formas
somente em memorizar.
a elas. Através da escrita era possível organizar
Devido toda essa falha do método
ideias, transformar algumas concepções e criar
tradicional, o índice de fracasso escolar era
novas formas de compreensão (WEISZ, 2001, p.
muito maior, o baixo nível de escolaridade,
130).
despreparo da rede de ensino.
O registro é uma ferramenta que auxilia
Diante desses problemas, o Brasil precisou
bastante o professor organizar suas ideias,
rever os conceitos de alfabetização, adotando o
práticas e possíveis transformações, porém não
livro Psicogênese da Língua Escrita de Emília
é a única ferramenta existente. Cada professor
Ferreiro.
possui a sua maneira de se organizar, e sempre
O assunto que o livro apresenta se tornou
em busca de melhorias para sua atuação.
essencial nos meios pedagógicos e se
O professor deve ter a consciência e o
espalharam pelo Brasil com rapidez.
comprometimento do seu papel, do seu valor,
Ela não veio apresentar nenhum método
sua importância perante a sociedade. Como
pedagógico, e sim revelar os processos de
Freire diz “quanto mais penso sobre a prática
aprendizado da criança, tornando-se uma
educativa, reconhecendo a responsabilidade
referência para a Educação Brasileira. A
que ela exige de nós, tanto mais me convenço
pesquisa feita por Emilia e Piaget estudou os
do dever nosso de lutar no sentido de que ela
mecanismos cognitivos relacionados à leitura e
seja realmente respeitada”(2007, p. 96)
a escrita. Segundo eles, a criança tem o papel
,portanto, o professor deve colocar em prática
ativo no aprendizado, construindo seus
todo o seu conhecimento, suas capacidades,
próprios conhecimentos, chamado então de
mostrando para esta sociedade o valor que
construtivismo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Hoje o construtivismo é a fonte da qual (1993, p.37), “Os erros sistemáticos, regulares e
derivam várias diretrizes oficiais no Ministério recorrentes chamam a atenção das
da Educação. pesquisadoras e levam-nas a perguntar se não
Os resultados dessas pesquisas contribuíram seriam indícios de certa forma de compreender
decisivamente para a proposição e divulgação a linguagem escrita”. Acredita-se que o erro
do que, entre nós, passou a ser conhecido como não se trata de um problema e sim nos mostra
“o construtivismo de Emília Ferreiro”, principal o raciocínio de uma determinada faixa etária, e
característica do que denomina “quarto deve ser visto como ponto de partida para
momento crucial” na história da alfabetização novas práticas.
no Brasil (MELLO, 2007, p.12). O erro faz parte do processo de
Depois de estudado e compreendido, hoje o alfabetização, e o professor pode utilizar a
construtivismo é mais aceito e conhecido sondagem para diagnosticar.
mundialmente. Com o auxílio desta pesquisa, a A sondagem é um recurso que auxilia muito
educação é repensada, e passa-se a dar mais os professores para diagnosticar as hipóteses
valor para o que a criança traz consigo de de escrita alfabética que o aluno se encontra.
conhecimentos. É um momento em que a criança recebe um
O construtivismo vem se fortalecendo cada desafio de escrever, no qual deve refletir sobre
vez mais e se tornando uma linha pedagógica a escrita e colocar no papel o que compreende
inovadora. sobre ela, ciente do que, e para que esta
Com o passar do tempo, surgiram novas escrevendo.
propostas pedagógicas, que também foram O professor que aprende a interpretar as
inspiradas na teoria de Emília Ferreiro (1980). produções de seus alunos aprende também a
O termo construtivismo vem da importância respeitar a criação e os esforços destas
da construção do conhecimento que é crianças. Ele será um mediador e fornecedor de
adquirido pela criança. pistas para o aprendiz se tornar alfabético.
Uma concepção construtivista da Quando uma criança escreve tal como
inteligência, como acentua Piaget, incluiria a acredita que poderia ou deveria escrever certo
descrição e a explicação de como se constroem conjunto de palavras, está nos oferecendo um
as operações intelectuais e as estruturas da valiosíssimo documento que necessita ser
inteligência, que, mesmo não determinadas por interpretado para poder ser avaliado[...]
ocasião do nascimento, são gradativamente Aprender a lê-las – isto é, a interpretá-las – é
elaboradas pela própria necessidade lógica um longo aprendizado que requer uma atitude
(AZENHA, 1993, p.23). teórica definida (FERREIRO, 1985, p. 16;7).
É reconhecido por estudos que a criança vai A sondagem deve ser feita pelo professor no
construindo gradativamente suas estruturas início do ano, e finais dos semestres, para que
cognitivas. seja assim, possível analisar o processo de
Essa linha pedagógica não condena a criança alfabetização.
pelos seus erros, e sim os utiliza para seu O professor deve escolher palavras que
próprio crescimento, como mostra Azenha fazem parte do vocabulário cotidiano dos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

alunos (como brinquedos, alimentos, animais, A criança apresenta fases ou níveis quanto ao
etc). A lista deve conter palavras que variam na seu desenvolvimento na linguagem escrita.
quantidade de letras e o ditado deve ser feito O primeiro nível da criança é o pré-silábico, e
da maior palavra para a menor, e deve-se evitar este é dividido em três fases.
também palavras que repitam vogais, para A primeira é a fase Pictórica, na qual os
evitar conflitos para as crianças. primeiros rabiscos tentando imitar a escrita dos
No final do ditado, deve-se ditar uma frase adultos são de muita importância para o
em que apareça uma das palavras da lista, para professor, pois sabe-se que a criança mostra as
que se observe se a palavra foi escrita de forma concepções que possuem da escrita por meio
igual, mesmo fazendo parte de uma frase. desses rabiscos.
A série de palavras propostas para a escrita Nesta fase a criança ainda não descobriu que
mantinha entre si uma relação semântica, para se escrever é necessário utilizar letras e
fazendo parte de um mesmo conjunto de que as mesmas dão os sons das palavras.
significados ou um mesmo tema, como, por A criança registra garatujas, desenhos sem
exemplo, nomes de animais, brinquedos, figuração e, mais tarde, desenhos com
objetos escolares, etc. Após cada palavra a figuração. Normalmente a criança que vive em
criança deveria ler a própria produção, um ambiente urbano, com estimulação
indicando onde a leitura estava sendo lingüística e disponibilidade de material gráfico
processada (AZENHA, 1993, p.45). (papel, lápis) começa a rabiscar e experimentar
É importante que o professor dite as palavras símbolos muito cedo (por volta de 2 anos).
normalmente sem silabar. Muitas vezes, ela já usa a linearidade,
A folha entregue ao aluno não deve conter mostrando uma consciência sobre as
linhas para que se observe o alinhamento e a características da escrita (CÓCCO; HAILER,
direção de escrita do aluno. 1996, p. 39).
A entrevista deve ser individual; o professor A criança sabe que o que está no papel quer
não deve dar dicas e nem intervir de maneira dizer algo, só não entende o que é.
indutiva; ditar as palavras sem marcar as sílabas A segunda fase é chamada de Gráfica
(escandir); ditar uma lista do mesmo campo Primitiva, na qual a criança começa a utilizar
semântico (animais, frutas, material escolar, letras e números sem consciência do significado
festa, partes do corpo e outras); evitar palavras de cada letra, misturam desenhos, letras e
com letras repetidas (bolo, bala, gata, vaca, números.
pasta, ovo e outras); ditar na ordem: A criança registra símbolos e pseudoletras,
polissílaba, trissílaba, dissílaba, monossílaba e misturadas com letras e números. Já demonstra
uma frase; usar letras móveis se necessário; se linearidade e utiliza o que conhece do meio
possível, ficar em frente ao aluno; o professor ambiente para escrever (bolinhas, riscos,
deve fazer as anotações (num caderno à parte) pedaços de papel). Nesse momento, há um
da escrita e da leitura do aluno (CUNHA, 2009, questionamento sobre os sinais escritos. Ela
p. 34). pergunta muito ao adulto sobre a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

representação que vê em sua comunidade A fase intermediária 1 caracteriza-se por um


(CÓCCO; HAILER, 1996, p. 39). conflito. A criança foi provocada a repensar a
Nesta fase o questionamento aos adultos certeza do nível pré-silábico e fica sem saída,
ajuda na compreensão das letras. pois não consegue ainda entender a
A terceira é chamada propriamente de Pré- organização do sistema linguístico (CÓCCO;
Silábica. HAILER, 1996, p. 40).
A criança começa distinguir as letras de A criança já consegue reconhecer algumas
desenhos, símbolos e números. letras, mas ainda ela está imatura para
Na fase pré-silábica propriamente dita, a compreender todo processo de escrita.
criança começa a diferenciar letras de números, No período silábico a criança já se sente mais
desenhos ou símbolos e reconhece o papel das segura na escrita, compreende que cada sílaba
letras na escrita. Percebe que as letras servem deve ter um som, representado por uma letra,
para escrever, mas não sabe como isso ocorre tendo ou não valor sonoro.
(CÓCCO; HAILER, 1996, p. 39). EX: bola = OA – com valor
Elas adquirem a percepção que as letras XD – sem valor
servem para escrever, porém ainda não Ela acrescenta ou diminui letras por conta
compreendem como isto ocorre, não própria, e na escrita de frases geralmente usa
distinguem fonemas e grafemas, não dão uma letra para cada palavra, e nesta fase tem
importância para as ordens das letras, faz a mais precisão com relação ao som e letra.
assimilação do tamanho da palavra com o Este nível está caracterizado pela tentativa
tamanho do objeto e acredita ser impossível de dar um valor sonoro a cada uma das letras
escrever uma palavra com poucas letras. que compõem uma escrita. Nesta tentativa, a
Quando questionada se a palavra sol pode criança passa por um período da maior
ser lida, a criança diz que não, porque tem importância evolutiva: cada letra vale por uma
poucas letras. O mesmo ocorre quando se sílaba. É o surgimento do que chamaremos a
mostra a sequência lá-lá-lá-lá. Nessa fase, é hipótese silábica. Com esta hipótese, a criança
comum a criança dizer que para escrever dá um salto qualitativo com respeito aos níveis
elefante ela precisa de muitas letras, porque precedentes (FERREIRO; TEBEROSKY, 2008,
elefante é grande, e para escrever formiguinha p.209).
ela precisa de poucas letras, porque formiga é Assim a criança compreende a escrita, mas o
pequena (CÓCCO; HAILER, 1996, p. 40). adulto não consegue entender.
No nível intermediário um a criança ainda Cada criança nesta fase consegue interpretar
não consegue entender a forma correta da as letras de sua maneira, atribuindo o valor
escrita, ainda surge um conflito no sistema para cada sílaba.
linguístico, ela começa entender alguns valores O essencial da fase silábica é a sonorização
sonoros convencionais, e algumas sílabas das da escrita, o que não ocorria nas fases
palavras, e já consegue compreender a letra anteriores.
que se inicia e termina a palavra. No silábico alfabético ou intermediário 2 a
criança percebe que o adulto não entende o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que ela escreve, com isso ela entra mais uma Nesse momento escreve fazendo relação
vez em conflito, pois nesta fase é utilizado mais entre som e letras, seu próximo passo é
vogais, daí ela nota que mais de uma palavra caminhar em direção a correção da ortografia
pode ser escrita com as mesmas letras. gramatical.
EX: cabelo = AEO Por intermédio de toda essa pesquisa
camelo = AEO realizada, precisou ser reavaliado o uso as
Percebendo isso a criança começa a cartilha na alfabetização, por ter sido elaborada
acrescentar letras, enriquecendo a escrita. pela visão de um adulto, o que eles acreditam
a criança abandona a hipótese silábica e ser difícil para a criança, sem pensar no
descobre a necessidade de fazer uma análise conhecimento prévio do aluno. Eles
que vá "mais além" da silaba pelo conflito entre acreditavam que a criança não era capaz de
hipótese silábica e a exigência da quantidade compreender um texto todo, por isso
mínima de granas (FERREIRO; TEBEROSKY, quebravam textos em frases, frases em
2008, p.214). palavras, palavras em sílabas, acreditando estar
Neste nível percebemos que a criança está facilitando a aprendizagem da criança, com isso
muito perto de se tornar alfabética, superando limitava o aluno a memorização e repetição.
aos poucos os obstáculos da alfabetização. As frases e textos utilizados nas cartilhas não
No alfabético a criança vence todas as etapas exigiam reflexão do aluno, eram muito
da escrita, já compreende que a escrita artificiais.
corresponde aos sons de cada letra, mas isso Analisando qualquer cartilha, inclusive
não quer dizer que todas as dificuldades foram aquela pela qual minha professora de 1º série
superadas, pois ainda tem um longo caminho tentou me alfabetizar, posso ver que aquele
para percorrer comas dificuldades da material era conjunto de atividades destinadas
ortografia. a demonstrar que, para escrever um som que
Nesta fase ela já sabe que a junção de uma produzimos em uma única emissão, como um
vogal mais uma consoante formará uma sílaba, PA ou um BA, precisamos de pelo menos duas
que juntando sílabas, formarão uma palavra e letras. Isto é, a intenção era demonstrar o
juntando palavras construirá frases. funcionamento do sistema alfabético no
Ela ainda não divide a frase corretamente, português. As cartilhas trabalham com palavras
mas sim da maneira que ela fala. que se dividem em sílabas, e com essas sílabas
Ex: Omininu comeum doci. depois se constroem novas palavras. É o que se
Neste estágio a criança venceu todos os tornou conhecido como método da análise-
obstáculos conceituais para a compreensão da síntese, ou da palavra geradora (WEISZ, 2001,
escrita – cada um dos caracteres da escrita p.20).
correspondente a valores sonoros menores que Acreditava-se que era fundamental a
a sílaba – e realiza sistematicamente uma presença de um adulto, pois sem ele a criança
análise sonora dos fonemas das palavras que não era capaz de aprender. Com o uso da
vai escrever (PIAGET, 1993, p.85). cartilha, o aprender a ler era somente
identificar letras, sílabas, palavras e frases, o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aluno só seria capaz de ler depois de estar O aluno deveria sempre respeitar
alfabetizado. cuidadosamente a forma das letras e a
Para o alfabetizador é preciso ter acesso à ortografia, apenas reproduzi-las e sempre
língua escrita (tanto com para aprender a falar tomando cuidado para não errar, pois não se
é necessário ter acesso á língua oral) e é isso era permitido.
que está ausente nas famosas cartilhas ou Existem crianças que conseguiram aprender
manuais “para aprender a ler”. Nesses manuais utilizando cartilhas, pois tinham uma família
apresentam-se orações estereotipadas, presente e contato com livros, já a maioria
impossíveis de encontrar em textos com função sentia dificuldade porque não compreendiam e
comunicativa, informativa ou puramente não tinham acesso à leitura.
estética: “ Minha mamãe me ama’, “O boi Esses estudos permitiram que
baba”, “O dedo de Dudu dói” são pseudo- compreendêssemos que a metodologia das
enunciados que só existem nos manuais cartilhas pode fazer sentido para crianças
escolares, que não comunicam nada, que não convencidas de que para escrever BA bastaria
informam acerca de nada e que as crianças uma letra, que para escrever macaco seriam
devem aceitar sem perguntar “que quer dizer” necessárias três letras: COM ou ACO ou MAC,já
(FERREIRO, 2008, p.34). para aquelas que ainda cultivam idéias muito
Neste processo de alfabetização, nem mais simples a respeito da escrita, sem se quer
sempre o aluno tem contato com textos reais e estabelecer relação entre o falado e o escrito, o
com linguagem do seu cotidiano. esforço de demonstrar que uma sílaba
Os planejamentos de aula se mantinham geralmente se escreve com mais de uma letra
iguais todos os anos e em qualquer classe, pois não faz nenhum sentido. E são exatamente
não havia mudanças na cartilha, não essas as crianças que não aprendem com as
acompanhavam a evolução das crianças e o cartilhas e ficam repetindo a primeira série,
erro era rigorosamente punido, devendo assim chegando muitas vezes a desistir da escola
ser evitado. (SANCHEZ, 2001, p.20;21).
O processo de alfabetização por meio da O trabalho com a cartilha não era pensado
cartilha era cumulativo, o conhecimento nas concepções que a criança tem sobre a
deveria ser adquirido pouco a pouco, do escrita, sobre o processo evolutivo que elas
simples para o complexo. passam para adquirir o entendimento da leitura
A escola se converteu em guardiã desse e da escrita.
objeto social que é a língua escrita e solicita do A reelaborarão da cartilha foi mais uma das
sujeito em processo de aprendizagem uma contribuições de Emilia Ferreiro para a
atitude de respeito cego diante desse objeto, alfabetização, assim como sua pesquisa
que não se propõe como um objeto sobre o publicada no livro da Psicogênese da Língua
qual se pode atual, mas como um objeto para Escrita que mostrou os processos de
ser contemplado e reproduzido fielmente, sem construção que a criança passa para adquirir a
modificá-lo(FERREIRO,1992, p.21). escrita.

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a psicogênese da língua escrita contribuiu construção da escrita pela criança em fases


para romper este impasse ao mostrar que é facilitando o entendimento da criança e
possível explicar o processo de aprendizagem auxiliando o trabalho do professor.
daquele que era considerado o mais escolar dos Os resultados obtidos com as crianças de
conteúdos escolares, utilizando um modelo quatro a seis anos nos permitem definir cinco
teórico construtivista-interacionista. Com isso níveis sucessivos (que propomos,
abriu um enorme campo de pesquisa, tanto no provisoriamente, como níveis ordenados,
que se refere à aprendizagem dos inúmeros sujeitos as retificações e aos complementos
aspectos da língua escrita que ultrapassam a que suscitem as atuais investigações em curso
questão da escrita alfabética quanto dos outros (FERREIRO; TEBEROSKY, 2008, p.193).
conteúdos escolares (FERREIRO; TEBEROSKY, O professor quando compreende os níveis de
2008, p.09). aprendizagem, consegue acompanhar a
O conteúdo desse livro tornou fundamental evolução de seus alunos em cada etapa do seu
e se espalhou rapidamente nos campos desenvolvimento, ciente de que é importante
pedagógicos no Brasil, pois o país se encontrava um ambiente alfabetizador e que todas as
com alto índice de fracasso escolar e crianças, não importa a classe social nem o
analfabetismo. conhecimento prévio que já possuem, tem o
As cifras oficiais (UNESCO, 1974), mostram direito e a capacidade de aprender a ler e
que: _ Do total da população compreendida escrever.
entre o sete e doze anos, em 1970, 20% a maior contribuição das autoras foi
encontravam-se fora do sistema educacional; exatamente explicitar desta rede de atos de
De toda a população escolarizada, apenas leitura e escrita que hoje chamamos ambiente
53% chegam a quarta série-limiar mínimo alfabetizador. Foi mostrar que a diferença no
indispensável para uma alfabetização definitiva desempenho escolar inicial entre as crianças
– ou seja, a metade da população abandona sua pobres das escolas públicas e as de classe média
educação, sem regressar à escola, ainda no não tinha origem em nenhum tipo de déficit
momento muito elementar no ensino intelectual, linguístico ou cultural. Que
fundamental; nenhuma criança entra na escola regular sem
Dois terços do total de repetentes estão nada saber sobre a escrita e que o processo de
situados nos primeiros anos de escolaridade, e alfabetização é longo e trabalhoso para todas,
em torno de 60% dos alunos egressos da escola não importa a classe social (FERREIRO;
repetiram o ano uma ou mais vezes (FERREIRO; TEBEROSKY, 2008, p. 08).
TEBEROSKY, 2008, p.18). No campo pedagógico suas contribuições e
Foi por meio desses dados que Ferreiro idéias inovadoras, mesmo após muita
iniciou suas pesquisas, que auxiliaram a resistência, são fundamentais para o
alfabetização, mudando muitos conceitos. desenvolvimento da educação no Brasil.
Ela mostrou a necessidade do professor
rever sua postura perante o aluno, seus
métodos, e sua formação. Dividiu o processo de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face ao apresentado considera-se que é de extrema importância valorizar e respeitar o
tempo e o conhecimento que a criança traz consigo, e é a partir daí que o professor consegue
elaborar e trabalhar suas aulas. Ele deve conhecer, entender e respeitar o seu aluno, pois é na
educação infantil que se estabelecem as bases da personalidade humana, o desenvolvimento e a
socialização.
Família e escola devem formar uma parceria em busca do aprendizado, criando um
ambiente agradável e motivador, assim a criança se sentirá mais segura para essa nova etapa.
As crianças necessitam de professores que busquem se atualizar e se aperfeiçoar, que
estejam realmente preparados para entrar em uma sala de aula, que tenham o
comprometimento profissional buscando a confiança e respeito de seus alunos.
Muitos profissionais ainda adotam o perfil tradicionalista, porém o construtivismo já é mais
aceito e trabalhado nas salas de aula, por meio dele foi quebrada a barreira da relação entre
professor-aluno, fazendo com que tenha uma maior aproximação e afetividade dentro de uma
sala de aula.
Ferreiro (1980), foi a pioneira do construtivismo no Brasil, contribuiu muito para uma
melhoria na educação fazendo com que professores revissem seus métodos. Suas pesquisas
ajudaram os professores a compreender melhor os níveis de conhecimento da leitura e da escrita
que as crianças vão adquirindo. Aumentou os recursos pedagógicos que auxiliam a criança a
superar seus conflitos cognitivos, reavaliou o uso das famosas cartilhas, mostrou que o erro deve
ser valorizado, pois é a partir dele que a criança constrói o conhecimento.
Percebe-se que a partir das idéias de Emilia Ferreiro (1980), e outros pesquisadores o Brasil
passou a valorizar e se preocupar com a educação e os índices do fracasso escolar diminuíram.

837
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DESAFIOS DO PROFESSOR NO PROCESSO


ENSINO APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM
SÍNDROME DE BOURNEVILLE
(ESCLEROSE TUBEROSA)
Cleyton Silva Ferreira1
Maria de Fátima de Sousa2

RESUMO: O artigo apresentado tem como objetivo analisar os desafios de uma professora de sala
regular com uma aluna diagnosticado com síndrome de Bourneville (ou esclerose tuberosa) por
meio de um relato de experiência. A professora atua na U.E.M Emília Costa, localizada na Zona
Urbana da cidade de Caxias - MA, a qual trabalha em sua sala regular de 2 ano do Ensino
Fundamental. Para este empreendimento, discorreu-se sobre o que é a Síndrome de Bourneville
e suas descrições clínicas, em seguida é apresentado à importância da Educação Inclusiva e as
principais leis que garantem esse direito. Por fim, é apresentado o relato de experiência,
articulado com o trabalho colaborativo entre os profissionais do ensino regular e o atendimento
especializado (AEE).

Palavras-Chave: Inclusão escolar; Gestão; Síndrome de Bourneville; Ensino Aprendizagem.

1 Professor de Ensino Fundamental na Rede Municipal de Educação de Caxias/MA.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: cleytonsilvaf13@gmail.com
2 Coordenadora da Assessoria Multiprofissional na Rede Municipal de Educação – Caxias/MA.

Graduação: Mestranda em Ciências da Educação.


E-mail: amitaf2012@live.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Para a tessitura deste artigo, escolhemos


privilegiar o olhar sobre a Síndrome de
Segundo dados do Ministério de Educação e Bourneville. A escolha desse objeto foi feita
Cultura (BRASIL/MEC/INEP, 1998; 2014), o mediante contato com uma professora da Rede
número de crianças com algum tipo de Municipal de Educação da Cidade de Caxias-
deficiência ou necessidade especial na rede Maranhão, que possui uma aluna de 12 anos
regular de ensino do País, cresce a cada ano. Em que é portadora da síndrome e está inserida no
1998, cerca de 200 mil pessoas estavam ensino regular e com acompanhamento no
matriculadas na educação básica, sendo que Atendimento Educacional Especializado - AEE.
apenas 13% em classes comuns. Em 2014, eram Neste artigo, torna-se necessário pensar as
quase 900 mil matrículas e 79% delas em possibilidades de desenvolvimento de pessoas
turmas comuns ao passo que em 2014 os dados com síndrome de Bourneville e sua efetiva
do Censo Escolar indicam crescimento inclusão para o exercício e a construção de um
expressivo em relação às matrículas de alunos mundo mais humano, pois uma sociedade para
com deficiência na educação básica regular: ser mais justa, pode ser construída sem os
698.768 estudantes especiais foram traços do preconceito por meio da busca
matriculados em classes comuns. constante de conhecimento e informação.
Diante dos dados apresentados e É de extrema importância, que essas crianças
considerando-se somente as escolas públicas, sejam inseridas no processo educacional e que
observa-se que o percentual de inclusão sobe promova sua criatividade e melhore a
para 93% em classes comuns e esse capacidade cognitiva. Um dos meios de investir
crescimento não é casual, mas resultado da nas possibilidades de desenvolvimento da
mobilização da sociedade brasileira. criança com síndrome de Bourneville é a
A Constituição Federal de 1988 no Artigo 208 compreensão que o conhecimento adequado e
garante o acesso ao ensino fundamental práticas articuladas com o Atendimento
regular a todas as crianças e adolescentes, sem Educacional Especializado - AEE podem
exceção, deixando claro que a criança com estimular suas potencialidades cognitivas.
necessidade educacional especial deve receber Neste ínterim, o artigo discorrer sobre o que
atendimento especializado complementar, de é a Síndrome de Bourneville, tece
preferência dentro da escola. Da mesma forma, considerações acerca da importância do
a Declaração de Salamanca, 1994, afirma que trabalho colaborativo entre os profissionais do
todas as crianças possuem necessidades e ensino regular e o atendimento especializado
aprendizagens únicas, e tem direito de ir à (AEE) e analisar a atuação de uma professora do
escola de sua comunidade, com acesso ao Ensino Regular com uma aluna portadora da
Ensino Regular, portanto os Sistemas síndrome.
Educacionais devem implementar programas,
considerando-se a diversidade humana e
desenvolvendo uma pedagogia voltada para a
criança.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SÍNDROME DE BOURNEVILLE vez em 1880 por Bourneville que a denominou


de Esclerose Tuberosa:
(ESCLEROSE TUBEROSA) [...] uma doença manifestada por retardo
A síndrome de Bourneville é uma desordem mental, epilepsia e lesões de pele, com causa
genética e, portanto, uma doença não básico desconhecida, apresentando
contagiosa, causadas por anomalias nos genes predomínio 2 ou 3 vezes maior no sexo
TSC1 ou TSC2, dos cromossomos 9 e 16 masculino que no feminino (LEFEVRÉ,
respectivamente. DIAMENT, 1980, p.215).
Conforme estudos de Geraldini, et al. (2012), Geraldini, et al. (2012), aponta que embora
a esclerose tuberosa é uma doença genética um caso de Esclerose Tuberosa já houvesse sido
que apresenta uma incidência estimada entre 0 anteriormente relatado por Friedrich Daniel
(um) para cada 10.000 (dez mil), tendo como von Recklinghausen, em 1862, a descrição
sintoma principal o comprometimento do minuciosa da síndrome se deve ao neurologista
sistema nervoso central do paciente e francês Désiré-Magloire Bourneville (1840-
apresentando também a ocorrência de 1909), e ao dermatologista inglês John James
sintomas cutâneos, oculares e de outros órgãos Pringle (1855-1922).
e sistemas. Segundo a literatura médica (REIS FILHO, et
Durante uma análise de 24 (vinte e quatro) al., 1998; YACUBIAN, et al. 1983), os sintomas
casos pediátricos de Esclerose Tuberosa no que os portadores da esclerose tubular
Hospital Pequeno Príncipe em Curitiba-Paraná, manifestam está relacionada à formação de
Geraldini et al. (2012, p. 2), perceberam que hamartia (tecido malformado), hamartomas
“embora se trate de uma entidade de (crescimentos benignos) e, em raros casos,
transmissão autossômica dominante, hamartoblastomas cancerosos.
aproximadamente dois terços dos casos são Quando pacientes com esta síndrome
esporádicos”. desenvolvem tumores benignos (hamartomas)
Assim, tem-se os genes hamartina (TSC1 - nos rins, estes recebem o nome de
localizado no cromossomo 9q34) e tuberina angiomiolipomas e comumente provocam
(TSC2 - localizado no cromossomo 16p13.3) são hematúria. Embora sejam benignos, quando
implicados na gênese da ET e apresentam ultrapassam 4 cm de diâmetro podem levar a
efeitos inibitórios sobre o crescimento, uma severa hemorragia (REIS FILHO, et al.,
proliferação e migração celular (LEFEVRÉ; 1998).
DIAMENT, 1980). As consequências do surgimento destes no
De forma geral, a doença é caracterizada cérebro são sintomas neurológicos, como, por
pela proliferação e diferenciação celular exemplo, ataques epilépticos, atraso no
anormal e, em ambiente clinico pela tríade desenvolvimento e alterações de
epilepsia, deficiência mental e adenoma comportamento (REIS FILHO, et al., 1998;
sebáceo. YACUBIAN, et al. 1983).
A síndrome de Bourneville ou Esclerose Quando no coração, estes tumores são
Tuberosa, síndrome foi descrita pela primeira definidos como rabdomiomas, que surgem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quase que exclusivamente durante a gestação • Constituição Federal (1988): Assegura


ou no primeiro ano de vida da criança, podendo que é objetivo da republica do Brasil “promover
levar à obstrução, arritmia cardíaca e murmúrio o bem de todos, sem preconceitos de origem,
(YACUBIAN, et al., 1983). raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação” (Artigo 3; IV). Em seu artigo
EDUCAÇÃO ESPECIAL 5o, a constituição garante o princípio de
igualdade.
Durante muito tempo, a pessoa com
• Lei n°7853/89: Prevê a oferta obrigatória
deficiência sempre foi considerada alguém fora
e gratuita da Educação Especial em
dos padrões histórico-cultural, pois a sociedade
estabelecimentos públicos de ensino,
ao longo dos anos sempre adotou critérios para
considerando crime a recusa de alunos com
a normalidade. Muitos termos foram usados
deficiência em estabelecimentos de qualquer
para identificar pessoas com deficiência e
curso ou grau público ou privado.
atravessaram décadas buscando assumir um
• Declaração mundial de educação para
sentido de inovação na busca pela superação
todos (1996): foi aprovada em Jomtien,
desses preconceitos que ainda existem nos dias
Tailândia, em 1990. Essa declaração tem como
atuais. De acordo com Mazzota (1996), a
objetivo garantir o atendimento as
educação especial no Brasil é marcada por dois
necessidades básicas das aprendizagens de
períodos: de 1854 a 1956, com iniciativas
todas as crianças, jovens e adultos.
oficiais, particulares e isoladas e de 1957 a 1993
com iniciativas oficiais e de âmbito nacional. • Declaração Salamanca de (julho de
1994): reafirma o direito de “Educação para
A educação especial passa, no final do século
todos”.
XX e no início do século XXI, por grandes
reformulações, crises e mudanças. Foram • Lei de Diretrizes e Bases da Educação
muitos avanços, para a conquista da igualdade Nacional (LDBEN) n° 9394/96: Aponta que a
e do exercício dos direitos da pessoa humana, educação de pessoas com deficiência deve dar-
por meio de marcos legais nacionais e se preferencialmente na rede regular, sendo
internacionais que vieram fortalecer a política um dever de estado e da família promove-la.
nacional da Educação Especial na perspectiva • Convenção da Guatemala, 2001:
da inclusão. Convenção interamericana para a eliminação
Merecem destaque: de todas as formas de discriminação contra as
pessoas portadoras de deficiência.
• Lei n°4024/61: Aponta que a educação
dos excepcionais deve no que for possível, • Convenção sobre os direitos das
enquadra-se no sistema geral da educação. pessoas com deficiência (2006):
• Lei n°5692/71: Prevê “tratamento Em seu Artigo 24 reconhece o direito a
educação sem discriminação e com a igualdade
especial aos excepcionais”.
de oportunidades das pessoas com deficiência
• Parecer n° 848/72 do CFE: Sugere a
“adoção” de medidas urgentes para que • Decreto n°6.571/2008: Regulamenta no
também o campo de ensino e amparo ao parágrafo único do Artigo 60 da Lei 9394/1996
excepcional seja dinamizado destinando recursos do Fundo Nacional de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Desenvolvimento da Educação Básica - FUNDEB investigador, ou seja, aquele que ouve, vê e


ao atendimento educacional especializado de procura compreender o potencial de cada
alunos com deficiências matriculados na rede criança com quem trabalha”.
pública de ensino. Dessa forma, não se pode deixar
• Decreto n°6.949,25 de agosto de 2009: despercebidos à importância e necessidade de
promove, protege e assegura o exercício pleno acompanhamento multidisciplinar para criança
e equitativo de todos os direitos por sua com síndrome de Bourneville que poderá
dignidade inerente. desencadear o seu desenvolvimento no
Mediantes tantos avanços e conquista ambiente educacional. A aprendizagem escolar
adquiridos no exercício de direitos e deveres, não se processa de forma isolada, pois um
devemos então conviver, respeitar, tolerar, trabalho efetivo implica, portanto, na
acolher e aceitar as diferenças, e para que isso realização de atividades diversificadas que
se faça necessário, tem que ser fomentado para permitam a interação desses alunos com meio
as crianças desde a mais tenra idade e todos os social.
níveis do sistema educacional, uma atitude de
respeito para com os direitos das pessoas com SÍNDROME DE BOURNEVILLE
deficiência. Para que se tenham adultos que
valorizem e respeitem a igualdade como um OU ESCLEROSE TUBEROSA NO
direito básico de todo cidadão e não como algo CONTEXTO ESCOLAR
a ser conquistado. A Esclerose Tuberosa costuma provocar
Quando se pensa na possibilidade do perda cognitiva gradual, sendo que 15% dos
desenvolvimento da criança com a síndrome pacientes com retardo mental se
Bourneville não se limita apenas nos conceitos desenvolveram bem nos primeiros anos de
abstratos ou diversas disciplinas, mas, vida, aparecendo os primeiros sinais de
sobretudo em ações que estimule a autonomia deterioração intelectual entre 8 e 14 anos de
do aluno para sua melhor qualidade de vida. idade. Dos pacientes diagnosticados, 60%
Nesse contexto, é importante que a escola apresentam retardo mental e alguns distúrbios
tenha no seu planejamento diário, atividades de comportamentos são observados. E em 15%
que exijam do sujeito com síndrome trabalho dos casos aparecem tumores cerebrais.
de: cooperação, organização, movimentos, Segundo Lefévre e Diament (1980), as
exploração de proposta lúdica e materiais manifestações principais são as cutâneas e as
diversos para que a criança possa realizar neurológicas, sendo que as manifestações de
atividades motoras como: correr, pular, etc. adenoma sebáceos, retardo mental e
Essas ações contribuíram para o convulsões variam muito de um caso para o
desenvolvimento social, afetivo, motor, além outro, dependendo da idade em que a doença
de estimular a oralidade. Quanto maior for sua se manifesta, da gravidade das lesões e da
estimulação, mais internalizados serão os seus progressão da doença.
domínios. Nesse sentido, Alves (2007, p.39), A síndrome costuma apresentar variações de
afirma que “cabe, portanto ao professor ser uma pessoa para outra, sendo que segundo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Schaartzman (2009), 50% dos casos, os toda comunidade escolar e consegue manter
pacientes têm inteligência normal, 25% um bom convívio com todos, apesar de suas
apresentam prejuízos mentais que variam de limitações, por outro lado, a escola ajuda no
leve a severo, 25% apresentam quadro de que diz respeito a impor limites a ela, pois os
autismo e síndrome de Asperger. Observa-se direitos devem ser garantidos e os deveres
também que transtorno do déficit de Atenção e também devem ser exigidos, garantindo o
Hiperatividade são comuns nas crianças, respeito pelos seus colegas e deixando claro
enquanto que a ansiedade, depressão e que sua limitação não lhe dar direito a abuso de
paranoia são comuns nos adultos. preferência e poder, promovendo a igualdade
A professora Arleide Silva dos Santos que entre todos.
trabalha com a aluna portadora da síndrome, Nesse contexto, Paulo Freire (2001, p. 30),
relatou que ela já faz parte desta instituição há afirma que: “a inclusão não é uma utopia, mas
três anos e que ao longo desses anos, em seu uma oportunidade a ser realizada, desde que
processo de escolarização, não conseguiram todos iniciem uma luta contra nossos
alfabetiza-la, informando que ela possui uma preconceitos e formas mais mascaradas de
doença neurológica. práticas de inclusão”. Portanto é fundamental
Segundo as informações repassadas pelos que os professores, alunos considerados
pais da aluna à professora e por meio do “normais” e o poder público cumpram cada um
arquivo escolar, na qual se encontra laudo o seu papel de instâncias críticas da realidade e
médico e todas as informações do dia a dia da a escola de formadora de cidadãos que possam
aluna. Foi possível constatar que a síndrome participar de forma integral da sociedade,
apresentou-se de forma branda nos primeiros exercendo sua cidadania plena, garantindo a
anos, com o primeiro sinal com um ano de paz social, na qual todas as crianças devem ter
idade. As primeiras manifestações foram com oportunidade de tornarem-se membros
episódios de convulsão. Logo após dois anos a regulares da vida educacional e social.
jovem foi diagnosticada com a síndrome de A escola deve atuar como facilitadora das
Bourneville ou Esclerose Tuberosa. Iniciou-se comunicações e da difusão de informações
então o tratamento, com o uso de sobre deficiência, visando estimular a inclusão
medicamentos para o controle das convulsões. social, a melhoria da qualidade de vida e o
Considerando a prática pedagógica da exercício da cidadania das pessoas com
professora na sala regular de ensino com a deficiência seja ela mental, intelectual ou física.
aluna com síndrome de Bourneville, percebeu- Portanto, a inclusão é uma inovação e muitas
se que seu o primeiro desafio com a aluna com vezes seu sentido tem sido distorcido e
necessidades especiais é o afetivo, precisa-se polemizado por diferentes segmentos
criar um vínculo, no qual a estudante se sinta educacionais e sociais. No entanto, inserir
acolhida e aceita na sala de aula e em todos os alunos com déficits de toda ordem permanente
ambientes da escola. ou temporários, mais graves ou menos severos
Durante a pesquisa, foi possível perceber o no ensino regular nada mais é do que garantir o
quanto essa aluna é querida e respeitada por

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

direito de todos à educação assegurado pela diversificados e interacionista que possibilita


Constituição. mudanças significativa nos alunos.
Segundo Mantoan (1988, p. 15): A profissional especializada da escola que
Inovar não tem necessariamente o sentido atende na sala de AEE relata que o atendimento
de inusitado. As grandes inovações estão especializado deve acontecer nas escolas
muitas vezes na centralização do obvio, do regulares, porém os alunos com deficiência
simples, do que é possível fazer, mas que devem estar matriculados nas salas regulares,
precisa ser desvelado, para que possa ser isso trará benefícios para esses educandos, o
desvelado, para que possa ser compreendido que contribuirá para a inclusão, evitando atos
por todos e aceito sem outras resistências, se discriminatórios. O atendimento de um
não aquelas que dão brilho e vigor ao debate especialista tem como objetivo trabalhar as
das novidades (MANTOAN,1988, p. 15). reais necessidades dos alunos, respeitando os
Vale ressaltar, que os instrumentos ritmos e estilo diversos de aprendizagem,
utilizados para prática educacional eram bem desenvolvendo a autonomia do aluno e
acessíveis, contribuindo para o seu facilitando a aquisição de conhecimento,
desenvolvimento social e motor. Como instigando seus sistemas de valores
exemplo dessas atividades destaca-se: favorecendo a compreensão de conhecimentos
recortes, colagens, teatros, leitura e escrita são relacionados a situações de vida que eles
atividades riquíssimas no processo ensino precisam saber conduzir, contribuindo assim
aprendizagem de alunos com deficiência para desenvolvimento das potencialidades, do
mental tal, levando em consideração suas autoconhecimento na expressão das emoções
limitações. Todos os profissionais da educação e o desenvolvimento de habilidades inter e
precisam estar atentos para as particularidades intrapessoais, além disponibilidade para
dos alunos com deficiência, respeitando-os aprender e o desejo de ser livre e feliz
como cidadãos capazes, detentores dos facilitando o seu pleno exercício da cidadania.
mesmos direitos que os demais alunos dentro O princípio democrático da educação só se
de uma sociedade igualitária. evidencia nos sistemas educacionais que se
Na mesma instituição em estudo a especializam em todos os alunos, não apenas
professora da sala de recursos multifuncionais em alguns deles, os alunos com deficiência.
AEE trabalha em parceria com os professores A inclusão como consequência de um ensino
regulares da mesma, entre elas a professora da de qualidade para todos os alunos provoca e
aluna com a síndrome de Bourneville, a qual é exigem das escolas brasileiras novos
objeto de estudo do presente artigo. A posicionamentos e é um motivo a mais para
professora de atendimento especializado AEE que o ensino se modernize e que os professores
relata que este trabalho realizado com os aperfeiçoem as suas práticas. É uma inovação
professores da sala regular é de extrema que implica no esforço de atualização e
importância para o aluno e o seu bom reestruturação das condições atuais da maioria
desenvolvimento no dia a dia educacional. É um de escolas públicas do nosso país.
trabalho lúdico, com materiais pedagógico

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Em entrevista com a professora do ensino METODOLOGIA


regular ela pontuou que para vencer os
O método torna-se um caminho que o
obstáculos propostos precisam-se buscar
pesquisador deverá trilhar para alcançar seus
estratégias inovadoras que rompam essas
objetivos. Para o desenvolvimento deste artigo
barreiras. Apostar na formação continuada ou
foi necessário à definição de algumas etapas,
buscar na pós-graduação argumentos e
procedimentos e instrumentos que nortearam
estratégias para poder avaliar melhor os seus
o trabalho.
alunos com a síndrome ou outras deficiências.
No primeiro momento, foi necessária a
Conforme Carvalho (1996, p. 113), a
realização de uma pesquisa bibliográfica para
formação de nossos professores ainda não
consultar a literatura relativa ao assunto e
contempla suficiente, o respeito à diferença e a
verificar como se encontram a discussão sobre
prática de ensino sã, geralmente para crianças
a temática, para isto, recorremos a livros,
ditas Normais.
revista científica e artigos científicos publicadas
A professora afirmou no seu relato de na internet.
experiência que a aluna com síndrome de
Marconi e Lakatos (2000), definem a
Bourneville frequenta a escola regularmente
pesquisa bibliográfica como o levantamento de
participando das atividades da escola
toda a bibliografia já publicada, em forma de
juntamente com seus colegas e que há
livros, revistas, publicações avulsas e imprensa
realmente um processo de inclusão efetiva com
escrita.
a mesma.
Para os autores a pesquisa bibliográfica tem
Relatou a professora que a adolescente tem
por finalidade fazer com que o pesquisador
12 anos em sua idade cronológica, mas em sua
entre em contato direto com todo o material
idade mental é projetada a faixa etária de seus
escrito sobre um determinado assunto,
colegas que são dentre 7 e 8 anos, e, eles têm
auxiliando o pesquisador na análise. Na
um relacionamento humanizado
produção do artigo essa etapa foi necessária,
excepcionalmente de respeito e amizade dando
pois a nível local é não existem trabalhos que
a ela dignidade humana.
discutem o assunto.
Ao ser direcionado a falar sobre sua
Foi necessária a realização de um estudo
concepção a respeito da síndrome de
descritivo acerca de um relato de experiência.
Bourneville, a professora comenta que o
Assim, a discussão perpassa pelo relato de
conhecimento do problema e a estimulação são
experiência da professora Arleide Silva dos
os principais instrumentos para seu
Santos da U.E.M Emília Costa, localizada na
enfrentamento, pois é uma doença rara e
Zona Urbana da cidade de Caxias - MA, a qual
pouco conhecida de difícil diagnostico é uma
trabalha em sua sala regular de 2 ano do Ensino
tendência evolutiva que pode afetar ambos os
Fundamental.
sexos de todas as raças e grupos étnicos.
Na referida sala, a professor possui uma
aluna de 12 anos de idade portadora da
síndrome de Bourneville e que também é
atendida na sala de Atendimento Educacional

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Especializado - AEE, na mesma instituição de O tipo de entrevista por pautas apresenta certo
ensino. grau de estruturação, já que se guia por uma
O relato de experiência foi extraído por meio relação de pontos de interesse que o
da técnica de pesquisa da Entrevista por pautas. entrevistador vai explorando ao longo de seu
Segundo Gil (1999), as entrevistas podem ser curso. As pautas devem ser ordenadas e
classificadas em: informais, focalizadas, por guardar certa relação entre si.
pautas e formalizadas.

ESTRUTURA DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA


1. O estudo tem como objetivo, compreender os seus desafios e suas práticas
pedagógicas, bem como os instrumentos utilizados para o desenvolvimento da
criança com a síndrome de Bourneville. Nesse sentido, quais os limites e as
possibilidades que você encontra dentre os desafios e o desenvolvimento em sua
pratica pedagógica?
2. A aluna participa efetivamente da escola. Deste modo, como você avalia o
desenvolvimento de sua aluna, pois participa ativamente no período matutino e faz
contra turno no atendimento especializado.
3. Sobre o desenvolvimento da aluna, como adolescente de 12 anos está em uma
sala do 2o ano, com crianças entre 7 e 8 anos, o que você pensa a esse respeito?
4. Qual concepção que você possui sobre a Síndrome de Bourneville?
5. O estudo tem como objetivo, compreender os seus desafios e suas práticas
pedagógicas, bem como os instrumentos utilizados para o desenvolvimento da
criança com a síndrome de Bourneville. Nesse sentido, quais os limites e as
possibilidades que você encontra dentre os desafios e o desenvolvimento em sua
pratica pedagógica?
6. A aluna participa efetivamente da escola. Deste modo, como você avalia o
desenvolvimento de sua aluna, pois participa ativamente no período matutino e faz
contra turno no atendimento especializado.
7. Sobre o desenvolvimento da aluna, como adolescente de 12 anos está em uma
sala do 2o ano, com crianças entre 7 e 8 anos, o que você pensa a esse respeito?
8. Qual concepção que você possui sobre a Síndrome de Bourneville?

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As práticas pedagógicas voltadas para a Educação Especial sempre foram temas
recorrentes nos estudos em educação, na perspectiva inclusiva e no contexto político educacional
vigente, essas práticas são elementos fundamentais para subsidiar a aprendizagem e acompanhar
o processo de escolarização de alunos com deficiências sejam mentais ou físicas em sala
regulares.
A inclusão cresce a cada ano e o desafio de garantir uma educação de qualidade para todos
também acompanha esse crescimento. O que se busca é uma escola em que os alunos aprendam
a conviver com a diferença e se tornem cidadãos solidários.
Nesse contexto, o professor é fundamental nesse processo, pois é ele quem conduzirá
suas aulas de modo a garantir os direitos de aprendizagem dos alunos, tornando a educação um
meio de acesso a vida social para todos.
Dessa forma, a Educação Inclusiva apresenta uma proposta de ações pela igualdade e não
discriminação ao garantir para todos, igualmente, o acesso à educação, à participação e a
igualdade de direitos e deveres, diminuição diferenças e contribuindo para eliminação de
preconceitos.
Esse é um processo de desafios a fim de satisfazer as necessidades de aprendizagem de
todos os educandos das escolas de ensino regular.

848
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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<http://www.scielo.br/pdf/anp/v56n3B/1786.pdf>.Data de Acesso em: 20/02/2020.

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Neuropsiquiatria, v. 41, n. 2, 1993. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/anp/ v41n2/06.pdf>.
Data de Acesso em:20/02/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DESAFIOS NO ENSINO DA LÍNGUA


PORTUGUESA PARA SURDOS
Marcos Serafim dos Santos1

RESUMO: Neste artigo investigamos as atitudes do professor em relação à inclusão do surdo


segundo a teoria do letramento, em que a aquisição de conhecimento e habilidades de
construção de textos por parte do último devem se afastar dos padrões pedagógicos do certo e
errado, que engessam a inserção social. Sugerimos que a inclusão do surdo aconteça em duas
etapas: por intermédio de procedimentos do ensino de Libras em sala de aula e por meio de
estratégias para o ensino da Língua Portuguesa a partir da Libras. Verificamos que em ambas as
etapas o professor é a pessoa chave para implementar a educação inclusiva com sucesso pois são
necessárias criatividade e assertividade cognitiva, afetiva e comportamental por parte dele ao
trabalhar uma língua de percepção visual e espacial fazendo-a corresponder a elementos
sintáticos e semânticos que veiculem significados. Mostramos que é possível ao surdo ser bilíngue
e que isso o habilita a usar aplicativos de telefone, expandir seu círculo de amizades e garantir
maior qualidade de vida. Esse resultado vem ao encontro do que estabelece a lei brasileira da
Pessoa com Deficiência ao assegurar um sistema educacional inclusivo que proporcione o máximo
desenvolvimento possível em seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais.

1Professor de Língua Brasileira de Sinais no Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Amazonas
na Rede.
Graduado: Licenciatura em Letras;Licenciatura em Pedagogia, Mestrado em Saúde e Educação pela UNAERP-
Universidade de Ribeirão Preto/SP; Especialista em Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de
Sinais;Docência em Libras e Educação Especial; Experiência na área de Educação Inclusiva com Ênfase em Ensino-
Aprendizagem, atuando principalmente nos seguintes temas: Linguística aplicada a Libras, Ensino de Língua
Portuguesa como Língua Materna e Segunda Língua para Surdos.
E-mail: marcosmais_20@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Palavras-Chave: Libras; Língua Portuguesa; Formação do Profissional; Bilinguismo.

ABSTRACT: In this article we investigate the teacher's attitudes regarding the inclusion of the deaf
according to the theory of literacy, in which the acquisition of knowledge and skills of text
construction by the latter should move away from the pedagogical standards of right and wrong,
which impinge social insertion. We suggest that the inclusion of the deaf happen in two stages:
through the teaching procedures of Libras (Brazilian Sign Language) in the classroom and through
strategies for teaching the Portuguese language from Libras. We verified that in both steps the
teacher is the key person to implement successful inclusive education because it requires his
creativity and his cognitive, affective and behavioral assertiveness while working a visual and
spatial perception language to make it correspond to syntactic elements and semantics that
convey meanings. We have shown that it is possible for the deaf to be bilingual and that this
enables him to use messaging apps for mobile expanding his circle of friends and providing a
better quality of life. This result meets the requirements of the Brazilian Law of the Person with
Disabilities, ensuring an inclusive educational system that brings the maximum possible
development in their physical, sensorial, intellectual and social abilities and talents.

Keywords: Libras (Brazilian Sign Language); Portuguese language; Professional Training;


Bilingualism.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO estabelecimento de ligações entre palavras,


segmentos, orações, períodos e parágrafos e na
O ensino é uma profissão que demanda organização sequencial do pensamento lógico.
muito do professor, especialmente quando se A grande dificuldade está em traduzir para o
trata de ensinar línguas com diferenças surdo a língua de sinais visual com a qual ele
estruturais, como a língua de sinais e a língua convive para uma estrutura peculiar de
oral. Essa tarefa desafiadora tem sido alvo, cada sequência combinatória no eixo metonímico da
vez mais, de políticas públicas brasileiras. Por linguagem escrita. O impedimento dos surdos
esse motivo, um número cada vez maior de quanto ao registro de sons causa empecilhos à
pesquisadores tem se debruçado sobre o compreensão de uma língua com unidades
estudo da qualidade da educação inclusiva. morfológicas e fonológicas (QUADROS e
Neste artigo investigamos as atitudes do KARNOPP,2004). Essa disparidade de processos
professor em relação à inclusão do surdo no de construção da escrita e de sentidos tem
processo de ensino da Língua Portuguesa, qual levado muitos docentes a acreditarem que
é a eficácia de seus procedimentos em sala de textos produzidos por pessoas surdas não têm
aula e qual o impacto de qualidade da educação coerência. É exatamente dessa mediação do
inclusiva: os professores são as pessoas chave professor em sala de aula no sentido de
para implementar a educação inclusiva com estabelecer uma transição em direção à
sucesso (BOER, PIJL & MINNAERT, 2010, p. 1). inclusão que pudemos tirar conclusões sobre a
O trabalho de mediação do professor acomodação de habilidades heterogêneas dos
depende da compreensão minuciosa das alunos no sentido de estabelecer eficácia na
atitudes por ele tomadas e dos efeitos delas no educação inclusiva ao ponto de os alunos
educando. A complexidade dessa tarefa surdos estarem hábeis a se comunicar por meio
quando o assunto é surdez recai no fato de que de mensagens de aplicativo no celular,
as línguas de sinais diferenciam-se das línguas estratégia de inclusão bem sucedida.
orais por utilizarem um meio ou canal visual- A base para o aprendizado da Língua
espacial e não o oral auditivo (FELIPE, 1988). Portuguesa por crianças surdas como segunda
Dessa forma, articulam-se espacialmente e são língua depende do conhecimento de sua
percebidas visualmente, ou seja, usam o espaço primeira língua, a Libras, reconhecida pela Lei
e as dimensões que ele oferece na constituição Federal nº 10.436/2002 e regulamentada pelo
de mecanismos que corresponderiam aos Decreto Federal nº 5.626/2005. Essa tarefa
elementos fonológicos, morfológicos, sintáticos cabe primariamente ao docente e, por esse
e semânticos para veicular significados. Os motivo investigamos se, durante a formação
sentidos, na língua de sinais, são percebidos por destes, há a previsão de carga horária suficiente
meio das dimensões espaciais. Essa é uma das dedicada à disciplina de Libras. Questionamos
dificuldades apresentadas pelo surdo em sua se o ensino de Libras para docentes seria
produção textual em português, pois a suficiente ou se seria necessário propor novos
diferença estrutural na aprendizagem de ambas processos de ensino para que esse mesmo
se reflete na escrita do surdo, no docente fosse capacitado a ensinar uma língua

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

visual e traduzi-la para a gramática da Língua que possui uma língua, uma identidade e uma
Portuguesa. cultura, desde o Egito antigo, em que os eles
Propomos neste artigo que o fato de os eram respeitados e adorados como deuses. Na
docentes serem submetidos ao aprendizado China havia a tradição de lançar os surdos no
dos parâmetros da Libras como, Configuração mar como presente aos deuses (CARVALHO,
das Mãos2 , Pontos de Articulação3, Orientação4
1 2 3 2007). No ano 360 a.C, Sócrates admitia que os
, Movimento5 e Expressão Facial e/ou
4 surdos poderiam se comunicar tanto com as
6
corporal , de acordo com os apontamentos de
5 mãos como com o corpo (CARVALHO, 2007).
Ferreira-Brito (1995) e Quadros e Karnopp Segundo Mazzota (2005), a história da
(2004, p.54), não seriam suficientes para que educação de pessoas surdas no Brasil teve início
alfabetizem surdos na Língua Portuguesa. Há no período Imperial, com a vinda da família
diferenças estruturais no ensino de ambas que real. O imperador D. Pedro II tinha um neto
precisam ser estabelecidos e contornados por surdo, filho da princesa Isabel. Preocupado com
meio de atitude assertiva do docente, uma vez a quantidade de surdos existentes no país,
que não há correspondência entre as unidades convidou o professor francês Ernesto Huet,
mínimas da língua visual-espacial (gestos em também surdo, para cuidar da educação dos
Libras) e as unidades mínimas da gramática da mesmos. Com respaldo na Lei nº 839 em 26 de
Língua Portuguesa (morfemas e fonemas). setembro de 1857, foi fundada a primeira
Além de buscarmos estabelecer uma proposta instituição dedicada à educação de surdos no
de ensino que considere a transformação de Brasil, o INES, Instituto Nacional de Educação
movimentos articulados no espaço (em frente de Surdos (MAZZOTA, 2005, p. 16).
de uma região do corpo ou até mesmo tocando Honora (2009), relata que Hernest Huest, ex-
regiões corporais) para signos verbais aluno surdo do Instituto de Paris, trouxe o
abstratos, reforçamos que atitudes mediadoras alfabeto manual francês e a Língua Francesa de
do professor é que irão proporcionar a Sinais. Essas foram as origens da língua
efetividade do aprendizado. Brasileira de Sinais, que sofreu grande
influência da Língua Francesa, dando origem a
1. Aspectos Históricos e Institucionais da importantes documentos que se prestariam à
Educação de Surdos educação dos surdos, embora não houvesse
O ensino da Língua Portuguesa como escolas especiais. Somente em 26 de setembro
segunda língua para os surdos tem suas origens de 1857, pela Lei nº 939, de autoria do então
em vários acontecimentos históricos imperador, foi criado o Imperial Instituto dos
destinados a estabelecer os surdos como grupo

2Refere-se a formas das mãos, que o emissor ou sinalizador usa podendo ser da datilologia (alfabeto manual) ou
outras formas feitas por uma ou ambas as mãos.
3Lugar onde os sinais são produzidos, podendo este tocar alguma parte do corpo ou em um espaço neutro, ou seja,

fora do corpo.
4Direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal sua inversão pode constituir ideia de oposição.
5Os sinais podem ou não ter um movimento.
6A combinação dos quatro parâmetros acima supracitada aliada às expressões faciais e corporais são elementos

imprescindíveis na formação de palavras e estas formam as frases em um determinado contexto.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Surdos-Mudos7 , em que o Professor francês


6 ouvinte. Os gestos? Que fossem banidos. As
Ernest Huet passou a lecionar. Em 1957, por práticas bimodais que utilizavam sinais em
meio da Lei nº 3.198, esse instituto passou a simultaneidade com a fala também foram
denominar-se Instituto Nacional de Educação rejeitadas. O oralismo puro, como acordado por
de Surdos (INES). grande parte dos mais de 170 membros do
Quando o ensino da Língua Brasileira de Congresso (em sua quase totalidade ouvintes),
Sinais, LIBRAS, já estava em curso no Brasil, em foi apontado como a melhor abordagem para a
1880 surgiu a proibição de seu uso em razão de educação de surdos (EIJI, 2016, p. 1).
um acordo que foi levado a efeito no II Dessa forma, não mais os professores
Congresso de Milão realizado na Itália, de 06 a surdos, mas os professores ouvintes passaram
11 de setembro daquele ano, contando com a a ensinar os alunos surdos e o ensino era
participação de 182 pessoas, em sua maioria focalizado na fala, resultando em um grande
ouvintes e provenientes de países como: retrocesso para o meio acadêmico. Mais tarde
Alemanha, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, finalmente foram votadas resoluções em que
França, Inglaterra, Itália, Suécia e Rússia. (Silva se ressaltava o uso da língua gestual
et. al, 2006). simultaneamente com o da língua oral, no
Segundo Skliar (1997, p. 109), esse congresso ensino de surdos, o que afetaria a fala, a leitura
foi um divisor de águas na educação de surdos, labial e a clareza dos conceitos, e, em razão
pois tinha como objetivo decidir qual seria ao disso, a língua articulada pura deveria ser
método mais eficaz para a educação de surdos: preferida (SKLIAR, 1997, p. 109).
O Oralismo ou a Língua de Sinais. Da Diante dos baixos índices de aprendizagem
possibilidade de votação foram excluídos os dos indivíduos surdos surge, no final da década
professores surdos, pois a comissão do de 1970, uma nova filosofia denominada
congresso era composta de ouvintes Comunicação Total, cujo foco era a
defensores do oralismo que excluíram aquele comunicação deixando de lado a língua na
da participação. Essa atitude teve como modalidade falada. Segundo Ciccone (1990),
consequência a escolha do oralismo como essa filosofia valorizava a comunicação e a
método mais adequado à educação dos surdos interação, defendendo o uso de todos os
pela maioria dos representantes dos países, o recursos linguísticos: língua de sinais,
que persistiu do final do século XIX até boa linguagem oral e códigos manuais. Essa nova
parte do século XX. estratégia não foi bem sucedida pelo fato de
Sete dias de discussões, apresentações e que, quando duas línguas são usadas ao mesmo
votações, entre 6 e 11 de setembro de 1880, em tempo, privilegiamos apenas uma, no caso a
Milão, Itália, coroaram os pressupostos materna, deixando de lado a Língua de Sinais.
oralistas. As resoluções foram quase unânimes, Quadros (1997), explica o bilinguismo,
contando com poucas, e isoladas, oposições: às proposta de ensino usada por escolas que se
escolas de surdos cabia o ensino da fala como propõem a tornar acessível à criança duas
meio de inserção do surdo em um mundo línguas no contexto escolar - língua materna

7Denominação antiga atribuída ao indivíduo Surdo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

/Libras -, respeitando a autonomia da língua de quando esta última for adotada nas
sinais, como um plano educacional que leva em transmissões de conhecimento.
consideração a experiência psicossocial e as Entende-se como Língua Brasileira de Sinais
habilidades linguísticas da criança com surdez. (Libras) a forma de comunicação e expressão,
No Brasil há uma grande mobilização da em que o sistema linguístico de natureza visual-
comunidade surda, de acordo com o Jornal da motora, com estrutura gramatical própria,
Câmara (2019), e com o Plano Nacional da constitui um sistema linguístico de transmissão
Educação (BRASIL, 2014), PNE, que está de ideias e fatos, oriundos de comunidades de
consciente dos seus direitos por uma educação pessoas surdas do Brasil (BRASIL, 2002, s.p).
mais justa, que vise a uma aprendizagem de Chegou-se à conclusão, na carta, que é
qualidade e inclusão educacional dos surdos na necessário que escolas adotem a língua de
sociedade. No dia 08 de junho de 2012 foi sinais como primeira língua para os alunos
publicada uma carta escrita pelos únicos sete surdos, a fim de que a instrução seja eficaz e
doutores surdos brasileiros, destinada ao então isso repercuta no convívio social. Dessa forma,
Ministro da Educação, na época o Sr. Aloísio os surdos doutores proclamaram que a escola
Mercadante (CAMPELLO, et al., 2012). Na para surdos deveria ser bilíngue,
referida carta, os atuantes da área da educação compreendendo a utilização de duas línguas: a
relatam que, embora a educação inclusiva Libras como primeira e a Língua Portuguesa
tenha permitido a interação de todos os alunos como segunda. Eles reivindicaram ainda que as
na escola, esta não estava garantindo um escolas bilíngues fossem contempladas pelo
ensino de qualidade aos surdos, uma vez que as Plano Nacional da Educação, o MEC. Por fim, os
aulas estavam sendo ministradas por meio de autores da carta enfatizam que essa, sim, é uma
uma língua não plenamente acessível a eles. ação verdadeiramente inclusiva, pois é uma
Apesar de os surdos já estarem incluídos nas garantia aos surdos do acesso ao conhecimento
escolas regulares, a língua utilizada na e à sua inclusão na sociedade.
instrução, a Língua Portuguesa, estava se
destacando em relação à Língua de Sinais 2.1 Filosofias Educacionais noBrasil
brasileira na ministração das aulas, De acordo com Goldfiel de Ciccone
possibilitando o desenvolvimento da (1990;1997), são filosofias educacionais:
competência na primeira destinada à leitura, a) Oralismo: se preocupa com o ensino da
convivência social e ao aprendizado. Os autores língua oral através de vários métodos, tais
da carta afirmaram também que a escola como: verbo tonal, leitura labial e outros. No
regular não é o único espaço, no qual todas as Brasil, as pessoas que seguem a filosofia
pessoas surdas podem ter acesso ao oralista, só ensinam a Língua Portuguesa e
conhecimento de qualidade. Eles afirmam que geralmente não aceitam a Língua de Sinais.
a comunidade surda, por possuir uma língua b) Comunicação Total: procura desenvolver
própria, considerada como sua língua materna, todas as habilidades da comunicação como: a
terão as chances de aprendizado aumentadas fala, a audição, os sinais, leitura, escrita e
outros recursos. No Brasil e em outros países, a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

comunicação total usa muito o “Bimodalismo”,


que é a utilização simultânea das duas A linguagem é a aptidão natural de
modalidades de língua: a oral-auditiva e a comunicação inerente ao ser humano, que
gestual-visual, misturando-as e deformando-as. pode acontecer por meio de palavras, imagens,
c) Bilinguismo: concentra-se no uso de gestos, sons, cores, expressões corporais e
duas línguas por uma pessoa. O surdo que sabe faciais. A linguagem pode ser verbal ou não
a língua de sinais e o português é “bilíngue”. A verbal. A língua, por sua vez, vai além da
escola que ensina as duas línguas tem uma individualidade, depende de um processo de
educação bilíngue. aprendizado e faz parte do domínio de uma
c.1) Bilinguismo Social: ocorre quando a comunidade específica. Assim como o
comunidade precisa usar duas línguas por Português (brasileiro) é língua oficial de uma
imposição de alguma norma; comunidade de pessoas que nasceram no
c.2) Bilinguismo Individual: neste, o indivíduo Brasil, a LIBRAS é a língua de uma comunidade
aprende outra língua além da primeira língua de pessoas surdas nascidas no Brasil. Nem uma
(materna), por vontade própria; nem outra se restringe a uma pessoa, mas, sim,
c.2.1) PIDGIN (Português Sinalizado): desenvolvem-se no âmbito de uma sociedade.
consiste na utilização de palavras de uma língua
com a estrutura de outra língua. Há PIDGIN 2. Inclusão e Educação dos surdos no
quando surge o intercâmbio de uma língua com ambiente escolar
outra. Os estabelecimentos de ensino são
c.2.2) Sinais Icônicos: acontecem quando há responsáveis pela inclusão de acordo com a lei
a criação de uma palavra nova na Língua de da Pessoa com Deficiência (BRASIL, Lei nº
Sinais. Os surdos criam substantivo, verbo ou 13146/15), que, em seu artigo 27 assegura à
adjetivo para expressar algo particular. pessoa com deficiência um sistema educacional
c.2.3) Alfabeto Datilológico: consiste no inclusivo com a finalidade de proporcionar a ela
alfabeto da Língua Portuguesa, mas com a o máximo desenvolvimento possível em seus
particularidade de estar escrito com as mãos. talentos e habilidades físicas, sensoriais,
intelectuais e sociais. Essa inclusão acontece
2.2 Linguagem e Língua quando se assegura e promove, em condições
A língua difere da linguagem. Enquanto a de igualdade, o exercício dos direitos e das
língua é única e delimita uma comunidade liberdades fundamentais da pessoa portadora
linguística, a linguagem é um sistema formado de deficiência (BRASIL, Lei 13146/15, Art 1º),
por unidades linguísticas que têm significante e entre eles, o aprendizado da língua. Observa-
significado, promovendo a comunicação entre se, no entanto, que a falta de qualificação de
os indivíduos, representando o mundo. profissionais é um dos empecilhos para que
Segundo Saussure (1995, p. 17), “Língua não se esse objetivo seja alcançado em sua
confunde com linguagem: é somente uma parte completude.
determinada, essencial dela, A inclusão escolar se refere ao processo de
indubitavelmente”. educar o indivíduo com alguma dificuldade de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizado, dentro de uma sala de aula do A informação sobreo significado dos termos
curso regular. A integração desse aluno é uma “surdo”, “deficiente auditivo” e “mudo” não
busca antiga feita por pais, professores e pelo tem grande divulgação pelas Instituições de
sistema educacional, com consequências que Ensino, que deveriam ser as primeiras a abraçar
se refletem na vida dos deficientes nela por completo todos os parâmetros da lei da
interessados. Antes do avento da lei da Pessoa Pessoa com Deficiência a elas impostos como
com Deficiência, a falta de organização das obrigação, a fim de proporcionar ao aluno
informações interferia negativamente no qualidade na educação. A Secretaria de
impacto de ações de inserção social. No período Educação Especial do Ministério da Educação
pós lei da Pessoa com Deficiência as escolas tem promovido debates que enfatizam a
devem providenciar os serviços e o apoio de qualidade do ensino voltado para os alunos
que essas pessoas precisam. deficientes de um modo geral e sugere
Para Bianchetti (1998), as escolas hoje mudança na grade curricular do ensino nos
insistem na realização de uma multiplicidade de cursos de graduação em licenciatura. Essas
atividades na tentativa de atender às medidas atenderiam ao que a lei determina e
necessidades individuais dos portadores de preveniriam dificuldades como, por exemplo, o
deficiência, acreditando que isso pode propiciar modo de avaliação das produções dos alunos
a eles o todo desenvolvimento desejado. Há deficientes auditivos.
também situações em que escolas preparam No Brasil, os alunos surdos permaneceram
atividades para trabalhar com alunos fora das preocupações do sistema educacional
deficientes, mas apenas contornam as até por volta de 2002, ocasião em que a Libras
dificuldades, sem enfrentar o problema de cada foi implantada pela Lei 10.436, como sendo a
um deles como causa da marginalização. língua oficial dos surdos brasileiros. Apesar
Segundo Botelho (2002), a educação de desse fato, não havia regulamentação sobre
surdos não tem oferecido condições favoráveis como e por quem ela seria ensinada e também
de acesso às complexidades cognitivas, o que é como seria a formação dos profissionais
agravado pelo fato de os professores e os envolvidos na educação dos surdos. Somente
alunos surdos não compartilharem uma mesma em 2005, com a assinatura do Decreto 5.626,
língua. Observa-se, assim, que o ensino dos torna-se obrigatória a disciplina de Libras nos
surdos se mostra aquém das expectativas que cursos de licenciatura.
levariam à inclusão. A isso soma-se o fato de O fato de até 2005 não haver atendimento
surgirem contendas sobre o ensino dos surdos. educacional especializado em Libras gerava
Historicamente, a população dos surdos era uma evasão em massa dos alunos surdos das
tida pela sociedade como uma aberração escolas; ou a escola os mantinha na mesma
porque se acreditava que um surdo não poderia série sem que obtivessem êxito. Essa prática os
ser alfabetizado e/ou receber educação igual à levava a se tornarem apenas copistas ou
de uma pessoa considerada “normal” ou analfabetos funcionais, impedindo-os de
ouvinte. desenvolverem atividades letradas. Faz-se
necessária uma formação adequada para que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

os docentes, que atuam na Educação Básica, de naturezas diversas como, por exemplo,
desenvolvam a construção de saberes e linguística, conhecimento sociocultural e
competências fundamentais, de práticas outras, que provocam a inserção desse
metodológicas para o letramento de alunos indivíduo na sociedade brasileira. No caso do
surdos. surdo, o sucesso de sua inserção social depende
No Brasil, o direito de crianças surdas a uma essencialmente de sua produção escrita.
educação bilíngue é garantido pelo Decreto
Federal nº 5626, de 22 de dezembro de 2005, 3. A importância da Formação do
que estabelece o oferecimento obrigatório aos Professor no desenvolvimento de saberes e
alunos surdos, desde a educação infantil, da competências de indivíduos surdos
Língua Brasileira de Sinais, Libras, como a O Artigo 62 da LDB (9.394/96), trata da
primeira língua, e a Língua Portuguesa, na formação de docente do ensino básico ofertada
modalidade escrita, como a segunda. Sugere-se nas instituições de ensino superior, seja ela
que a modalidade oral da Língua Portuguesa pública ou privada, tendo como formação
seja trabalhada fora do espaço escolar. mínima o exercício do magistério.
Considerar a língua de sinais como a primeira Posteriormente esse artigo foi regulamentado
língua do surdo significa que os conteúdos pelo Decreto nº 3279/99, cujo teor afirma que
escolares devam ser trabalhados por meio dela, somente a formação em magistério não é
e que a Língua Portuguesa, na modalidade suficiente para atuar na profissão de docente.
escrita, seja ensinada com base nas habilidades O professor é visto pela lei como mediador de
interativas e cognitivas já adquiridas pelas conhecimento, alguém que dá condições ao
crianças surdas através de suas experiências aluno para construí-lo:
com a língua de sinais (QUADROS, 1997). O professor é um profissional do humano
O bilinguismo é definido como o uso de duas que: ajuda o desenvolvimento pessoal,
ou mais línguas, sendo possível afirmar que a intersubjetivo do aluno; um facilitador ao
maioria das pessoas surdas, que usa a língua de acesso do aluno ao conhecimento / um ser de
sinais e a língua pátria, pode ser considerada cultura que domina de forma profunda sua área
bilíngue (GROSJEAN, 1996). É a língua de sinais de especialidade e seus aportes para
que, por ser visual/espacial, desempenha, para compreender o mundo. Um analista crítico da
elas, o mesmo papel que a língua portuguesa na sociedade, portanto que nela intervém com sua
modalidade oral tem para os ouvintes. Por atividade profissional (LIBÂNEO, 1999, p.262).
viverem numa sociedade de maioria ouvinte, as Assim como Libâneo (1999), Freire (1997,
pessoas surdas sofrem influência da língua p.22), também afirma que “[...] ensinar não é
pátria, ainda que possam ter dificuldades transmitir o conhecimento, mas criar
acentuadas na compreensão e no uso da possibilidades para a sua produção, para a sua
mesma. construção”. Ambos têm a mesma linha de
A produção oral ou escrita na língua raciocínio quando se referem ao processo de
materna, por uma pessoa que não porte ensino e aprendizagem. É importante ressaltar
deficiência, requer o trabalho com informações que os alunos também passaram a ser vistos de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

outra maneira. Antes eles eram considerados Segundo Nóvoa (2009), o professor reflexivo
seres que chegavam à escola sem é aquele que estuda cada caso como se fosse
conhecimento algum. Hoje são vistos como único em busca de respostas para o insucesso,
indivíduos que carregam uma bagagem repleta avalia as práticas docentes; é aquele que
de conhecimentos. O professor, por sua vez, desenvolve sua metodologia objetivando
precisa respeitar e moldar esse conhecimento e atender às expectativas dos discentes, assume
criar meios para a produção de outros, compromisso com a sociedade e tem sede de
conforme Freire: mudança.
[...] pensar certo coloca ao professor ou, O professor, além de intermediador de
mais amplamente, à escola o dever de não só conhecimentos, também é responsável por
respeitar os saberes com que os educandos promover a socialização e a inclusão no
chegam a ela, mas também de discutir com os ambiente escolar na perspectiva de uma escola
alunos a razão de ser de algum desses saberes para todos, baseada nas oportunidades de
em relação com os ensinos dos construídos [...] direitos iguais à educação, buscando a inclusão
(FREIRE, 1997, p. 33). de pessoas com necessidades educacionais
É no contexto de constantes transformações especiais. O Art. 58 da LDB - Leis de Diretrizes e
que os currículos dos cursos de formação de Bases da Educação Nacional (9.394/96), define
professores precisam ser atualizados quanto às o que é essa educação especial: “[...] a
mudanças que vêm ocorrendo nos espaços modalidade de educação escolar, oferecida
escolares. É necessário que a formação de preferencialmente na rede regular de ensino,
profissionais da educação esteja aberta para as para educandos portadores de necessidades
diversidades, disposta a mudar práticas de especiais”. O direito a ela também é
ensino, de forma que possam ser aprimoradas mencionado nos Parâmetros Curriculares
e que, acima de tudo, haja a preocupação com Nacionais – (PCN’s,1997). Por isso é importante
a qualidade do ensino. Podemos classificar os que em sua formação o professor tenha
professores reflexivos como profissionais que preocupação com desenvolvimento de saberes
se preocupam com a realidade da educação e e competências do sujeito que apresenta
refletem sobre as possíveis mudanças para necessidades educacionais especiais.
solucionar o insucesso da educação. A atitude
positiva do professor em relação à dificuldade 3.1 Desafios do ensino da Língua
do aluno no aprendizado vai interferir em suas Portuguesa para surdos: saberes e
relações com esse aluno, predispondo-o a agir competências necessários no processo de
de maneira também positiva. O melhor formação de professores
resultado da conduta do professor será obtido Este artigo tem como foco refletir sobre a
se ele tiver conhecimento mais aprofundado a formação dos profissionais da área da educação
respeito das causas que interferem no sentido de possibilitar mudanças no
negativamente nas habilidades de seus alunos processo educativo que tragam solução ao
(BOER, et al, 2010, p. 3). insucesso do letramento de surdos. Para isso,
discutiremos o conceito de letramento

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estabelecido por Tfouni (1992, 2005), e iremos escrita, alinhando, em um continuum, nuances
propor, baseados em saberes construídos na ligadas à habilidade da escrita que vão desde os
convivência com a comunidade de surdos, não-alfabetizados até os alfabetizados que se
práticas docentes e metodologias que busquem expressam pelo raciocínio silogístico: a posição
atender às necessidades deles quanto ao que o indivíduo ocupa nesse continuum
aprendizado da Língua Portuguesa, demonstra seu grau de letramento. Nesse
promovendo sua inclusão social. sentido, os saberes e competências dos
É necessário esclarecer que a sociedade professores devem estar focados no
baseia-se fundamentalmente em práticas aprendizado (letramento) do aluno surdo e,
escritas (TFOUNI, 1994, p. 61), o que significa não, na alfabetização deste, com repetição
melhores chances de trabalho e sucesso para automática de estruturas gramaticais. Para
quem as domina, marginalizando, por sua vez, atingir essa meta, o professor deve estar atento
aqueles que não têm domínio da escrita. Essa às circunstâncias do aprendizado, valorizando o
“barreira linguística” (TFOUNI & CARREIRA, contexto social na construção textual do aluno,
2007, p. 155), seleciona os indivíduos segundo sendo criativo para atender às suas
o domínio dos níveis abstratos e complexos da necessidades oferecendo-lhe os recursos
escrita, ou seja, segundo a habilidade que o necessários no momento em que a questão da
indivíduo tem de se expressar por meio do construção da escrita ocorre. Ele deve estar
raciocínio silogístico. apto a criar as condições necessárias para que
Existem, portanto, duas maneiras de avaliar o aluno adquira os conhecimentos, as
o funcionamento discursivo (língua falada ou habilidades, os valores culturais e emocionais
escrita): a avaliação daquele que se expressa relacionados à atividade de construção do texto
bem por meio da escrita usando escrito em Língua Portuguesa. O seu
adequadamente as regras gramaticais e, conhecimento profissional deve estar voltado
portanto, produz um texto descontextualizado; para a criação de soluções de avaliação
e a avaliação daquele que necessita das adequadas às diferentes situações enfrentadas
informações do contexto social para se no cotidiano do ambiente escolar do surdo,
expressar, por não dar conta da compreensão e afastando-o dos padrões pedagógicos de certo
utilização de operações de indução e inferência e errado, que engessam a inserção social
de maneira abstrata (LURIA, 1977; MONTE- (SIGNORINI, 2001).
SERRAT, 2010). A situação da escrita dos alunos Os saberes profissionais, para serem bem
surdos neste artigo é analisada segundo a sucedidos quanto à sua aplicação, devem ser
última opção, segundo o conceito de desenvolvidos levando em conta a cultura
Letramento de Tfouni (1992, 2005), que dá pessoal do professor no exercício das suas
importância ao contexto para o exercício da atividades na escola, de modo que resultem em
atividade da escrita (GINZBURG 1989). conhecimentos disciplinares e sistematizados,
Para Tfouni (1992, p. 26), letramento é uma ou seja, os conhecimentos didáticos e
prática social, um processo sócio-histórico que pedagógicos conduzidos pelos programas
reúne variados graus de conhecimento da escolares são somados à experiência de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

trabalho. A prática da docência no universo deve acontecer por meio de textos e músicas
escolar, por envolver responsabilidades e por que estejam ligados a um contexto, a fim de
influenciar a formação de pessoas, deve ter transmitirem maior compreensão e
como prioridade a conscientização de seu papel entendimento de uma mensagem. Mais
formativo e social e, não, as regras pedagógicas importante do que a reprodução ou cópia de
do que é considerado certo e errado morfemas que construam palavras é o
(SIGNORINI, 2001). entendimento daquilo que leram ou
escreveram. Dessa forma, o letramento
3.2 Propostas metodológicas para o acontece de maneira eficaz.
letramento de alunos surdos O professor deve ter como foco não a
Segundo a teoria da Análise do Discurso correção de adequação morfossintática, mas,
(PÊCHEUX, 1988), e do Letramento (TFOUNI, sim, dos erros gramaticais que possam aparecer
1992, 2005), a estratégia mais adequada na na escrita de seu aluno com surdez,
educação dos alunos surdos é a que se trabalhando como um mediador entre o texto
desenvolve levando em conta o contexto sócio- e a aprendizagem do aluno na Língua de Sinais,
histórico em que eles estão inseridos. Esse a fim de que este último seja capaz de transpor
desafio torna possíveis impactos na qualidade as ideias para a Língua Portuguesa na sua
da educação inclusiva, pois as mudanças na forma escrita.
educação estão atreladas à compreensão dos Uma das preocupações dos professores de
efeitos e da eficácia de atitudes dos alunos com surdez é a de inseri-los em
profissionais da área direcionadas à atividades cada vez mais contextualizadas, a
heterogeneidade dos alunos. fim de que eles sejam capazes de construir sua
O aluno com surdez, em regra, nasce em uma escrita com encadeamento lógico em lugar de
família de ouvintes que não conhece a Língua escreverem palavras e frases isoladas,
Brasileira de Sinais. Há casos em que seus conforme se ensina normalmente a gramática
familiares tentam impedi-lo de se comunicar da Língua Portuguesa. O ensino de regras
por meio de Libras. Portanto, é muito comum gramaticais a partir da Língua de Sinais para a
que o primeiro contato do aluno surdo com a Língua Portuguesa deve ocorrer por meio de
Língua Brasileira de Sinais aconteça por ocasião textos e, não, por meio de regras gramaticais a
de seu ingresso na escola, o que torna serem seguidas. Exercícios que estimulem o
necessária sua imediata inserção em uma sala aluno a descobrir num texto quais as regras
de Atendimento Educacional Especializado gramaticais aplicadas e como funciona a Língua
(AEE). Portuguesa em sua modalidade escrita, são
A aquisição de Língua Portuguesa na meios de fazer intercâmbio entre as duas
modalidade escrita nesse caso deve ser línguas partindo sempre da Língua de Sinais. O
realizada no convívio com a língua como desafio da construção de novos textos constitui
atividade discursiva, e, não, em tarefas um momento de reflexão sobre um texto
descontextualizadas de mera repetição de escrito, situação que leva oo educando a
palavras e frases. O aprendizado dos surdos formular hipóteses, o que deve ser valorizado.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Fazer com que o aluno surdo compreenda o conhecimento de mundo, entre outros fatores
uso da Língua Portuguesa escrita de maneira que podem ser determinantes no processo de
efetiva e com bom aproveitamento, a fim de escolha do texto de modo a despertar seu
que não se torne um mero repetidor, interesse em aprender a escrita. Essas são
memorizador e copista de palavras ou frases algumas das propostas metodológicas que
sem sentido para ele, é o nosso objetivo. Cabe podem proporcionar o letramento do aluno
ao professor, em sala de aula, fornecer textos surdo.
na Língua Portuguesa e incentivá-los a fazer Seguindo essas estratégias, um aluno surdo,
associações entre as duas línguas partindo que frequenta o segundo ano do Ensino Médio
sempre da língua de sinais. O professor pode escreveu:
estabelecer situações que esclareçam a Publicidade Infantil
construção do texto, chamando a atenção dos Crianças vários compra qualquer coisa loja
alunos para os elementos textuais que eles produtos crianças não tinha dinheiro para
porventura tenham usado. comprar mas sua família presica eninsa
Outro ponto que pode ser trabalhado é o de responsabilidade para crianças porque só
fazer associações com outros textos já pensar vontade querer comprar vários todos
apresentados em sala de aula, recorrendo a sua vida tem dinheiro para pagar primeiro
eles sempre que necessário. É muito aluguel casa, mercado, elerito, remido, roupa
importante que o professor verifique como está etc. Então presica saber crianças importante
a compreensão do aluno sobre o conteúdo do aprender desenvolver bom muito saber a
texto por meio de perguntas e respostas ou família futuro não conseguir compra loja ou
reconto na Língua de Sinais. coisa talvez de poderoso ser pobre a família que
A partir da apropriação da Língua de Sinais, o também outro programa televisão criança ve
professor pode inserir atividades envolvendo a assistir gosto apresetar ele chefe empresa para
Língua Portuguesa na sua forma escrita por televisão ela quero também compra ou sua
meio de bilhetes em que se mesclam desenhos mãe falar de explica menina compra não depois
e escrita; ou pode traduzir um conto infantil por mês ganhar salario assim compro pra ela.
para Libras oferecendo, ao mesmo tempo, a todos mundo pessoas algum filho vende
observação do texto escrito, leitura de frases pessoas crianças pra comprar de dinheiro darra
fazendo associação entre Libras e escrita. Pode seu filho porque não etica educação tudo ao
ainda apresentar uma lista de compras com mundo mas ten algum política leis todos pais
desenhos associados a Língua de Sinais. bebê crianças vender. Faltar respeito sua
O mais importante nesse processo é que o família presica importante enisar criança por
aluno faça a aquisição da Língua Portuguesa que depois acabar dinheiro não tem como
escrita e entenda a mensagem como um todo, comprar apos que hora muito curioso de
e, não, que somente seja capaz de ler palavra ansicio para ca lojas então elapensa do parar
por palavra. Outro aspecto ao qual se deve melhor calma dar posica dinheiro loza ou
prestar atenção é a faixa etária do aluno com mercado comida.
surdez, seus interesses pessoais, seu

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Escola ensuida criança desenvolver concluir com Signorini (2001, apud, MONTE-
experimentar e ensinar entender por que SERRAT, 2013, p. 108), que “as atividades da
pessoas a família aras ajuda para estudar escrita trazem embutido um trabalho
depois ela não saber coisa aprender (ALUNO, ideológico dos sentidos” acarretando como
s.a, s.p). consequência a falta de visibilidade desses
Observa-se que há compreensão do textos.
conteúdo e que, embora o sintagma se A explicação desse processo é dada por
apresente truncado, a ideia principal é Signorini (2001, p. 110;112), ao afirmar que o
transmitida ao leitor. Existe coerência, pois o erro e o acerto estão fundados em uma noção
autor segue o encadeamento lógico da ideia a de hierarquização que funciona como
partir do título e mostra que a família e a escola instrumento de medida, vinculando o
são responsáveis por ensinar a criança a fazer desenvolvimento psico-sócio-cognitivo dos
escolhas. indivíduos ao desenvolvimento social, o que
A primeira frase traz elementos no lugar caracteriza uma vinculação ideológica entre o
preconizado pela gramática, com pequenas desempenho na elaboração de um texto e o
alterações: “Crianças vários compra qualquer desenvolvimento de capacidades individuais.
coisa loja produtos crianças não tinha dinheiro Para a autora SignorinI (2001, p, 124), o
para comprar mas sua família presica eninsa aprendizado deve se ancorar no conceito de
responsabilidade para crianças porque só prática social, o que desmistifica os “princípios
pensar vontade querer comprar vários todos da unicidade, autonomia e intrínseca
sua vida tem dinheiro para pagar primeiro racionalidade da comunicação escrita”.
aluguel casa, mercado, elerito, remido, roupa
etc”. O aluno colocou, na oração principal, o
sujeito “crianças”, o verbo “compra”, o objeto
“qualquer coisa”, o advérbio “loja produtos”; e
as conjunções subordinativas “mas” e “porque”
ligando as orações subordinadas, dando
encadeamento lógico, de causa e consequência
à sua ideia. Embora não haja correção
gramatical, não se pode ignorar o fato de que
ele transmitiu a sua ideia sobre o tema.
Segundo Pinker, (1994;2000, p. 186), a escrita,
embora seja uma invenção artificial que
conecta visão e linguagem, tem um mínimo de
lógica. Ao compararmos a escrita do surdo -
apresentando esse mínimo de lógica
mencionado por Pinker, - a qual está fora do
modelo proposto pelas regras gramaticais e
adotado pelas instituições escolares -, podemos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação, em sentido amplo, significa desenvolvimento e socialização (contexto social e
cultural) do indivíduo, baseada no reconhecimento, na valorização e no respeito mútuo. Pais de
alunos com necessidades especiais matriculam seus alunos em cursos regulares por pensar que a
inclusão está lá. A escola, porém, reflete princípios ideológicos que adotam valores uniformes
para a avaliação do aprendizado, igualando a medida de apreciação de desempenho dos alunos,
tenham eles dificuldade ou não, o que gera marginalização dos alunos surdos, que tratamos neste
artigo.
Como solução para esse problema, os Parâmetros Curriculares Nacionais, PCN (BRASIL,
1997, p. 62), estimulam que o aluno desenvolva a capacidade de posicionar-se criticamente
diante de uma situação e/ou conhecimento, de ter discernimento, saber cooperar em atividades
coletivas, a fim de considerarem diferenças individuais e contribuírem para o respeito e o
desenvolvimento da capacidade de aprendizado de todos que fazem parte do grupo. Além disso,
os PCN (1997), valorizam a intervenção do professor na aprendizagem dos conteúdos específicos
necessários à formação do indivíduo, assumindo o papel de mediador, promovendo a
confrontação das respostas, interferindo no pensamento e na agilização do raciocínio dedutivo
do pupilo, proporcionando um ambiente de trabalho que o estimule a criar, comparar, discutir,
rever, perguntar e ampliar ideias.
As diferenças existentes entre a língua de sinais e a língua portuguesa (oral e escrita), não
são obstáculo para que esses objetivos sejam alcançados, desde que o mediador seja melhor
qualificado para compreender e criar condições para que o deficiente seja capaz de apreender o
conteúdo ensinado. Fizemos algumas sugestões no sentido dessa qualificação, pois acreditamos
que a comunidade de surdos necessita de renovação no processo de ensino-aprendizagem para
que lhes seja oferecida a alfabetização em Língua Portuguesa como segunda opção de
comunicação. Esse aprendizado proporciona maior inserção dos surdos, permitindo até mesmo
que façam uso de aplicativos de telefone.
A formação do professor quanto à aquisição de competências para o ensino de Libras na
Educação Básica passou a ser objeto de interesse de muitos a partir do momento em que a Língua
de Sinais foi reconhecida oficialmente. Essa formação proporciona uma integração parcial do
surdo, por se restringir ao grupo de indivíduos que se comunicam em Libras. A nossa proposta de
ensino da Língua Portuguesa a partir da Libras se mostra possível, apesar da complexidade desta
última, que apresenta características espaciais. Esse desafio faz com que a educação inclusiva
saia da sala de aula e tenha como foco a comunidade, proporcionando meios para que os surdos
participem de eventos sociais, de redes sociais, enfim, que possam expandir o círculo de amizades
e as oportunidades de estudo e emprego, obtendo maior qualidade de vida.

864
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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867
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DA
CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN
Michelle Soares Nascimento 1

RESUMO: A Síndrome de Down é decorrente de uma alteração genética que causa limitações no
indivíduo. Este trabalho presta-se a revisar bibliografia e investigar como ocorre o
desenvolvimento e a aprendizagem de crianças com esta síndrome. Encontramos posições que
definem que estas crianças são capazes de se desenvolver mesmo que de forma mais lenta e
apontam intervenções necessárias no trabalho pedagógico.

Palavras-Chave: Síndrome de Down; Inclusão; Aprendizagem.

1Professora de. Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Letras- Inglês; Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: rafa.mi17@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO de ensino e aprendizagem em crianças com


Síndrome de Down enfatizando suas
A Síndrome de Down é decorrente de uma dificuldades, mas também apresentando
alteração genética e provoca alterações na posições que acreditam na aprendizagem.
estrutura corporal e desenvolvimento Após percebermos a possibilidade de
cognitivo. É necessária uma proposta inclusiva promover a aprendizagem desses alunos
que atenda essas crianças possibilitando apresentamos uma proposta que tem como
intervenções que promovam a aprendizagem. principal objetivo uma educação inclusiva.
Este trabalho presta-se a apresentar estudos Apresentamos em etapas a proposta curricular
sobre intervenções pedagógicas e o processo e descrevemos outros objetivos que
de ensino e aprendizagem das crianças com direcionam intervenções pedagógicas que
Síndrome de Down em classes regulares contribuem para o desenvolvimento e
buscando uma educação inclusiva. aprendizagem. Foi importante salientar que o
A justificativa para a escolha deste tema se professor também deve atender as
ampara na importância da educação especial características específicas de cada aluno,
para a formação e desenvolvimento de crianças propiciar o desenvolvimento do seu equilíbrio
com de Síndrome de Down e a necessidade de emocional, autoconfiança, capacidade de
intervenções pedagógicas para a promoção da criação e expressão.
aprendizagem. A inclusão dos alunos com Síndrome de
De um lado estão as limitações genéticas que Down em classes heterogêneas permite a
determinam o pouco que se pode fazer para socialização e o desenvolvimento cognitivo
superá-las, do outro, as possibilidades de desde que suas potencialidades sejam
intervenções na aprendizagem no âmbito estimuladas e o currículo seja adequado
escolar. Procuro então, doravante descrever a atendendo as necessidades individuais.
criança com Síndrome de Down, suas
possibilidades e limitações, intervenções
POLÍTICA NACIONAL DE
pedagógicas e o seu processo de aprendizagem,
embasada por reflexões e pesquisas EDUCAÇÃO ESPECIAL
bibliográficas. Os fins da educação nacional, expressos no
Apontamos inicialmente, embasada na art. 1° da Lei n° 4.024/61, refletem os ideais de
política nacional de educação especial, o direito liberdade, solidariedade e valorização do
à educação e exercício da cidadania como são homem, que devem orientar toda educação no
fatores que precisam ser sobrepostos nas país. Mantendo estes princípios a Lei n°
práticas educacionais. Em seguida descrevemos 5.692/71, no seu art. 1°, estabelece o objetivo
o que é a Síndrome de Down, suas causas e geral do ensino. De forma geral, consiste em
quais as implicações no desenvolvimento físico proporcionar ao educando a formação
e cognitivo da criança. necessária ao desenvolvimento de suas
Posteriormente, descrevemos de acordo potencialidades, autorrealização, qualificação
com alguns estudiosos como ocorre o processo

869
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para o trabalho e preparo para o exercício da A SÍNDROME DE DOWN


cidadania.
A Síndrome de Down “S.D.” é decorrente de
A política nacional de educação especial
uma alteração genética que acontece durante
consiste de objetivos gerais e específicos
ou imediatamente após a concepção. Engloba
necessários que fundamentam e orientam o várias desordens genéticas sendo que a
processo de educação especial, visando trissomia do cromossoma 21 é a mais
garantir o atendimento educacional ao aluno frequente, pois ocorre em 95% dos casos. O
portador de necessidades especiais. distúrbio genético se caracteriza pela presença
Os objetivos formulados pela política de de um cromossomo 21 extra, total ou parcial. A
educação especial são: Promover a interação trissomia 21 é a presença de uma terceira cópia
social; desenvolver práticas de educação física; do cromossoma 21 nas células do indivíduo
atividades físicas e sociais; promover direito de afetado. Porém outras desordens desta
escolha; desenvolver habilidades linguísticas; síndrome também incluem a duplicação do
incentivar autonomia e possibilitar o mesmo conjunto de genes.
desenvolvimento social, cultural, artístico e A S.D. provoca alterações na estrutura
profissional das crianças especiais. corporal e no desenvolvimento. O indivíduo
Para assegurar a educação especializada com S.D. pode apresentar todas ou algumas das
algumas medidas devem ser tomadas como: seguintes características: Déficits auditivos,
aumento da oferta de serviços de educação problemas cardiológicos congênitos,
especial com equipamentos, equipe anormalidades do aparelho digestivo,
qualificada, material didático especializado e problemas oculares, obesidade,
espaço físico adequado às necessidades, assim hipotireoidismo, ligamentos frouxos,
como criação de programas de preparo para o problemas imunológicos, dedos curtos, ponte
trabalho, estímulo à aprendizagem informal e nasal achatada, língua posicionada para fora da
orientação à família. No entanto, a falta deste boca, pescoço curto, flexibilidade excessiva nas
atendimento, a carência de recursos e equipe articulações, também é comum a redução do
qualificada, inadequação do ambiente físico, peso e tamanho do cérebro (microcefalia) e
falta de novas propostas de ensino, falta de controle motor para articulação dos
desigualdade de recursos e oportunidades vem sons da fala, além de um atraso no
dificultando o acesso de muitas crianças com desenvolvimento da linguagem. A S.D. traz
deficiência ao ensino especializado. anormalidades estruturais e funcionais em
É importante ressaltar que a educação vários sistemas do organismo, as mais
especial também é prevista na Constituição frequentes e importantes estão relacionadas ao
Federal como dever do Estado com a garantia Sistema Nervoso Central. Sendo assim o déficit
de: Atendimento Educacional Especializado aos cognitivo está presente na maior parte dos
portadores de deficiências, preferencialmente indivíduos provocando a deficiência mental de
na rede regular de ensino (Art. 208, Caput III, leve à moderada. Vale ressaltar que apesar da
CF, p.121;122). síndrome resultar em múltiplas deficiências

870
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para o indivíduo não há um padrão entre elesindivíduos. Em muitas áreas do


quanto à presença e o grau de alterações. desenvolvimento observa-se um atraso se
Recentemente concluiu-se que a trissomia comparados às pessoas que não tem síndrome.
do 21 é muito frequente e decorre de erros que A presença da hipotonia muscular contribui
propiciam a formação de gametas com dois para o atraso motor, com isso tosos os marcos
cromossomos 21, normalmente é comum em do desenvolvimento desta área, como se sentar
mulheres de idade avançada: sozinho, ficar de pé e andar acontecerão mais
Estima-se que a incidência da Síndrome detarde o que provavelmente interfere no
Down seja de um em cada 660 nascimentos, o desenvolvimento de outras áreas.
que torna esta deficiência uma das mais Quanto ao brincar, Schwartzman (1999,
comuns de nível genético. A idade da mãe p.62), estudos mostram que o padrão é
influencia bastante o risco de concepção de semelhante ao das crianças de modo geral, com
bebê com esta síndrome: em idade de 20 é de pequenas diferenças relacionadas à exploração
1/1925, em idade de 25 é de 1/1205, em idadee manipulação e uso do faz-de-conta. Este
de 30 é de 1/885, em idade de 35 é de 1/365,quadro reforça a importância da estimulação
em idade de 40 é de 1/110, em idade de 45 é de
advinda do meio para o favorecimento de uma
1/32 e aos 49 de 1/11. Hook EB. Rates of atividade lúdica mais apropriada.
chromosomal abnormalities at different No que diz respeito à linguagem,
maternal ages (WIKIPÉDIA, s.a, s.p). principalmente oral e escrita, maiores atrasos
Os cuidados com a criança com S.D. não sesão observados. É perceptível a dificuldade na
diferem dos que devem ser oferecidos às aquisição das regras gramaticais e construção
crianças sem a síndrome. É importante das sentenças, muitas vezes as sentenças são
estimular seus esforços e iniciativas, observar o
compostas por substantivos, verbos e poucos
que são capazes de realizar sozinhas, criar adjetivos, sendo difícil a utilização dos
situações que favoreçam sua independência e o
elementos de ligação. Segundo Fowler, a
cuidado consigo mesma, também é comunicação social é menos prejudicada
extremamente importante o convívio social enquanto as dificuldades gramaticais sintáticas
com outras crianças, portanto é fundamental a
são mais severas. A hipotonia e a língua podem
inclusão da criança com S.D. nas escolas e em
ser responsáveis por dificuldades articulatórias,
classes regulares para que possam se socializar
porém, tais dificuldades não os impede de fazer
e ser tratadas como as outras crianças, com uso funcional da linguagem, porém a
carinho atenção e respeito. dificuldade de comunicação não quer dizer a
falta dela.
DESENVOLVIMENTO E Conforme Flórez (2003), devido às diferenças
no sistema Nervoso Central, a conduta
APRENDIZAGEM DA CRIANÇA cognitiva também se altera:
COM SÍNDROME DE DOWN Em relação à atenção e iniciativa, apresenta
As múltiplas deficiências da Síndrome de tendência à distração, escassa diferenciação
Down podem alterar o desenvolvimento destes entre estímulos antigos e novos, dificuldade

871
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para manter atenção e continuar com uma Partindo de uma perspectiva piagetiana, os
tarefa específica, menor capacidade para se indivíduos com deficiência mental pensam com
auto inibir e menor iniciativa para intervir. lógica e raciocinam dentro de uma
Quanto à memória em curto prazo e representação concreta, abstendo-se do acesso
processamento da informação, demonstram à lógica formal com grande regularidade,
dificuldades para processar diferentes formas passam pelos mesmos estágios de
especificas de informação sensorial, processá- desenvolvimento, porém de forma mais lenta e
la e organizá-la como resposta. sem se desligar do estágio anterior,
No que se refere à memória em longo prazo, conservando a marca dos níveis anteriores.
há diminuição da capacidade de consolidar e Piaget (2007), afirma ainda que os indivíduos
recuperar a memória, redução nos tipos de nascem apenas com potencialidades
memória declarativa. (capacidade inata), a capacidade de aprender.
No que diz respeito à correlação e análise, Assim, todo conhecimento da criança depende
observa-se dificuldades para interpretar a da exposição ao meio e dos estímulos advindos
informação, organizar uma integração deste. Para Piaget (2007), a base do
sequencial nova e deliberada; realizar uma conhecimento é a transferência e assimilação
conceitualização e programação interna, de “estruturas”. Assim um conhecimento, um
conseguir operações cognitivas sequenciais, estímulo do meio é encarado como uma
elaborar o pensamento abstrato e operações estrutura que será “assimilada” pelo indivíduo
numéricas (SAAD,2003, p.74;75). por meio de sua capacidade de aprender.
Diante deste atraso mental Vygotsky (1995), A aprendizagem é realizada com sucesso se
afirma que as crianças com deficiência mental capacidades de assimilação, reorganização e
tem o mesmo desenvolvimento que as crianças acomodação, estiverem íntegras, assim vão se
ditas normais, apresentando apenas alterações dando as aquisições ao longo do tempo. Estes
na organização da estrutura durante o curso do três processos acontecem para que um
desenvolvimento. Segundo ele, a base do indivíduo esteja sempre adquirindo novas
desenvolvimento é a mesma, o atraso não afeta informações, assim, quando se depara com um
todas as funções e a todas as crianças dado novo, para a internalização do mesmo, o
igualmente. indivíduo deve reorganizar as aquisições já
Devido à alteração dos processos sensoriais, adquiridas, para acomodar os novos
intelectuais, afetivos, volitivos e correlação das conhecimentos sendo por este processo que a
funções psíquicas varia: umas funções linguagem e a cognição se desenvolvem.
desaparecem ou se retardam muito no A criança com Síndrome de Down possui
desenvolvimento, outras se desenvolvem de dificuldades de aprendizagem que na maioria
um modo compensador sob influência do dos casos são generalizadas, pois afetam todas
exercício independente e do ensino que por sua as capacidades: linguagem, autonomia,
vez influem sobre outros aspectos da atividade motricidade e integração social. Estas podem se
psíquica e da personalidade da criança com manifestar em maior ou menor grau.
deficiência( SAAD,2003, p.70).

872
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Schwartzman (1999, p.61), comenta sobre PROPOSTA PARA UMA


estudos de Dunst que demonstram que as
crianças com a Síndrome passam pelos mesmos EDUCAÇÃO INCLUSIVA
períodos sensório-motores e na mesma A maioria dos estudos sobre a Síndrome de
sequência do que a observada nas crianças Down apontam apenas suas limitações e pouco
normais, porém de forma mais lenta. se fala sobre suas possibilidades. Diante deste
Em relação à aquisição da língua escrita, quadro muitos profissionais que trabalham no
estudos realizados por Boneti, mostraram que ensino das crianças com esta síndrome utilizam
as crianças com deficiência mental metodologias e estratégias que apenas
apresentavam esquemas de interpretação da reforçam o que já são capazes de fazer dentro
linguagem escrita e passavam por conflitos de suas limitações.
semelhantes aos descritos por Emília Ferreiro É muito importante que inicialmente a escola
nas crianças “normais”, Mantoan (1997, p.170). conheça as dificuldades e habilidades da
Apesar de possuir as mesmas estruturas, a criança. É preciso identificar os rendimentos,
criança com síndrome de Down muitas vezes atitudes, motivação, interesse, relações
possui o esquema que permite uma pessoais, forma de assumir tarefas e enfrentar
interpretação coerente da língua, mas tem situações. A partir dos resultados desta
dificuldade em aplicá-lo numa situação precisa. observação é necessário planejar intervenções
Demonstram assim dificuldades na utilização que favoreçam o desenvolvimento e a
da capacidade de resolução de problemas, mas aprendizagem.
ao mesmo tempo os sinais da presença destes Uma intervenção no ensino consistiria em
esquemas de interpretação, representam uma conhecer as peculiaridades das funções
evolução conceitual. cognitivas do aluno, sua forma de aprender, seu
Alguns autores defendem a ideia de que a potencial de aprendizagem e os determinantes
criança com Síndrome de Down apresenta o de um rendimento melhor (SAAD, 2003, p.71)
mesmo padrão de desenvolvimento com A proposta curricular deve ser desenvolvida
respostas semelhantes, em sequência em quatro etapas que se desdobram em
semelhante, porém com uma estrutura e objetivos integradores.
modalidade de aprendizagem diferente. É Na primeira etapa trabalhamos o “corpo”, os
fundamental que desde os primeiros anos de objetivos principais são:
vida ela seja estimulada levando-se em • Identificar diferentes movimentos do
consideração seus diferentes ritmos de seu corpo posicionando-se no espaço;
aprendizagem em função de suas necessidades, • Identificar as diferentes partes do corpo
pois o seu comportamento e sua personalidade e suas funções correspondentes;
são resultantes da interação com o meio. • Orientar-se no tempo e espaço;
• Desenvolver hábitos de vida em grupo.
Na segunda etapa trabalhamos a
“expressão”, os objetivos principais são:

873
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Expressar suas necessidades, seus • Reconhecer a importância da vida em


interesses e sentimentos utilizando diferentes grupo;
formas de linguagem; • Representar seu mundo criativamente.
• Desenvolver a percepção e Não acreditamos em um trabalho único para
discriminação visual; todos, mas um trabalho amplo que possibilite
• Desenvolver funcionalmente seu desenvolver as habilidades e potencialidades
vocabulário; de cada um. Alguns princípios básicos devem
• Criar hábitos e atitudes de ser considerados em relação ao ensino de
relacionamento e comunicação interpessoal. crianças com Síndrome de Down:
Na terceira unidade os “objetos”, os • As atividades devem ser centradas em
objetivos são: coisas concretas que devem ser exploradas
• Descobrir propriedades comuns dos pelos alunos;
objetos; • As experiências devem ser adquiridas no
• Reconhecer a utilidade das diferentes ambiente próprio do aluno;
coisas do mundo; • Situações que possam provocar estresse
• Descobrir que as coisas se transformam; devem ser evitadas;
• Explorar o potencial dos objetos por • A criança deve ser respeitada em todos
meio de experiências criativas; os aspectos;
• Evidenciar as aquisições dos conceitos • A família da criança deve participar do
de propriedades e cooperação. processo educativo.
Na quarta etapa o “mundo”, os objetivos Sem dúvida nenhuma a inclusão dos alunos
principais são: com Síndrome de Down em classes
• Reconhecer que o mundo é dinâmico e heterogêneas permite o desenvolvimento, não
diversificado; só social como cognitivo, por meio das
• Distinguir uma situação real de uma interações. Tendo como base a teoria sócio
imaginária; interacionista, acredito assim como Saad, em
• Situar-se como pessoa num mundo de um trabalho que atue diretamente na zona de
pessoas; desenvolvimento proximal dessas crianças,
• Passar do egocentrismo à aceitação de buscando perceber o que já fazem de forma
referenciais externos; autônoma e investir nos processos e
• Ampliar perspectivas espaço-temporais; habilidades que ainda necessitam de mediação.
• Situar o mundo de pessoas numa área Se o conteúdo escolar estiver além dela, o
geográfica determinada; ensino fracassará porque a criança é ainda
• Identificar produções econômicas e incapaz de apropriar-se daquele conhecimento
culturais de sua comunidade; e das faculdades cognitivas a eles
• Reconhecer que o trabalho do homem correspondentes. Se, no outro extremo, o
modifica o meio; conteúdo escolar se limitar a requerer da
• Preservar o ambiente e o equilíbrio entre criança aquilo que já se formou em seu
seus diversos elementos; desenvolvimento intelectual, então torna-se

874
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

inútil, desnecessário, pois a criança pode


realizar sozinha a apropriação daquele
conteúdo e tal apropriação não produzirá
nenhuma capacidade intelectual nessa criança(
DUARTE, in, SAAD,2003, p. 128).
Em uma educação inclusiva as intervenções
pedagógicas devem ser de forma consciente,
por meio do conhecimento das estruturas de
funcionamento e modalidades de
aprendizagem de cada aluno, buscando o
desenvolvimento das habilidades, estimulando
as potencialidades e priorizando um currículo
adequado que atenda às necessidades
individuais e que tenha por principal objetivo a
inclusão social.

875
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As dificuldades atribuídas à deficiência no processo de ensino e aprendizagem são reais e
vividas pelos participantes. Suas opiniões acerca desse assunto, suas dificuldades e necessidades
devem ser consideradas quando se pensa em estruturar um trabalho efetivo nessa área, pois os
professores são atores importantes no cenário da inclusão da criança com Síndrome de Down.
Ao final desta trajetória fica claro que os objetivos desta proposta foram alcançados
destacando-se a importância da inclusão tanto para promover a aprendizagem quanto o
desenvolvimento geral do indivíduo com S.D. Conhecer a Síndrome e suas repercussões permite
entender quem são estes alunos que integram o ambiente de sala de aula. Mas só isso não basta,
é preciso também investigar aqueles que estão a sua volta e que possibilitarão por meio das
interações o desenvolvimento próprio e de seus colegas, aparentemente tão diferentes.
A proposta de ensino para crianças com Síndrome de Down ressalta a importância da
qualidade nas práticas pedagógicas. Incluir é enxergar este ser além de suas limitações e acreditar
em seu desenvolvimento. Todos os profissionais da instituição precisam estar envolvidos,
principalmente professores, num trabalho de reflexão sobre a aprendizagem, a construção do
conhecimento humano e das modalidades de aprendizagem, examinando os diferentes caminhos
para a promoção do conhecimento e para uma prática inclusiva.
A grande importância das intervenções se dá pela necessidade da criança vivenciar
experiências que permitam seu desenvolvimento, respeitando suas limitações e explorando suas
habilidades. Partindo deste trabalho, o olhar para o aluno se modifica, a necessidade de enxergar
e trabalhar com o aluno de uma forma mais global, considerando seus aspectos cognitivo-afetivo-
social e corporal, enxergando o erro como fonte de pesquisa.

876
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília. Seção I, p. 208.

BRASIL. Lei n° 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Diário Oficial da República Federativa.


Poder Executivo, Brasília. Seção I, p.1.

BRASIL. Lei n° 5.692, 11 de agosto de 1971. Diário Oficial da República Federativa. Poder
Executivo, Brasília. Capítulo I, p. 3.

BRASIL. Lei n° 9394 de Diretrizes de Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro


de1996. Diário Oficial da República Federativa. Poder Executivo, Brasília.

FERRERO, Emília. A Representação da Linguagem e o Processo de Alfabetização. In:


FERRERO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1985.

MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Inclusão Escolar - O que é? Por quê? Como Fazer? São
Paulo: Moderna, 1995.

MORETTI, Giorgio. Educar a criança deficiente. Suzano: Fundação Orsa, 2005.

PIAGET, Jean. Epistemologia Genética. Tradução: Álvaro Cabral. 3ª ed. Martins Fontes: São
Paulo, 2007.

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky – Uma perspectiva histórico cultural da educação.


Petrópolis: Vozes, 1995.

SAAD, Suad Nader. Preparando o Caminho da Inclusão: Dissolvendo mitos e preconceitos


em relação à pessoa com Síndrome de Down. São Paulo: Vetor Editora Psicopedagógica,
2003.

SCHWARTZMAN, José Salomão. Síndrome de Down. São Paulo: Mackenzie, 1999.

VOIVODIC, Maria Antonieta M. A. Inclusão de Crianças com Síndrome de Down. Petrópolis:


Vozes, 2004.

877
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

DIÁLOGOS E REFLEXÕES A RESPEITO DA


INDISCIPLINA NA ESCOLA
Rogério Tadeu Gonçalves Marinelli1

RESUMO: O objetivo desse artigo é debater e refletir sobre a indisciplina em sala de aula a partir
das contribuições de autores como. Arroyo (2002;2011) e Aquino (1996;1998;2000), que
enfatizam elementos que permitem olhar para essa questão de uma forma mais humana.
Compreendemos que esta abordagem possui um prisma diferente, ou seja, como um desafio na
atividade docente que possibilite uma reorientação da ação educativa no cotidiano escolar e
consequentemente enfatizar a qualidade da educação como elemento constitutivo dessa
problemática.

Palavras-Chave: Indisciplina; Escola; Sala de aula.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em História; Bacharel em História; Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: rogerio.marinelli13@gmail.com

878
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Situações de indisciplina, violência, miséria,


nos remete sempre a interrogação – a dúvida –
No livro Imagens e Auto imagens, Arroyo de que para alguns a compreensão deve ser
(2002), afirma que: deixada a margem. Isso é um desafio gigantesco
Pela própria experiência humana, pelo na profissão docente.
convívio com filhos(as), netos(as), na família,
pela proximidade com a infância nas salas de
CONTRIBUIÇÕES DE AUTORES
aula sabemos que ninguém nasce feito. Nos
fazemos, nos tornamos gente. Não nascemos SOBRE A TEMÁTICA
humanos, nos fazemos. Aprendemos a ser Os autores citados, neste ensaio nos
(ARROYO,2002, p. 53). permitem debater e refletir sobre possíveis
Reduzir essa tensa história da Educação causas da indisciplina na sala de aula. Não
Básica universal ao domínio das habilidades, acredito que as soluções acima citadas têm
saberes, competências pontuais é empobrecer como causa uma ausência de politização do
essa história. É empobrecer o ofício dos nosso papel (ARROYO,2002, p. 203). O exemplo
profissionais desse direito (ARROYO,2002). bem recente de nossa história foi a luta pela
Reconhecemos toda complexidade da questão. democracia no país, depois do golpe de 1964,
Será que nós, professores que, ao insistir com a no qual as categorias de profissionais da
educação a partir dessas questões estaremos se educação de ombros dados com outras a partir
isentando e excluindo parte considerável de das suas inquietações e críticas ao ensino no
nossas crianças e jovens ao direito básico: a país.
educação? Os docentes apontam várias razões que
Ao adentrar nessas reflexões durante a contribuem com a indisciplina. Razões que
prática docente verificamos soluções como a justificam o fracasso escolar na figura do
advertência, suspensão, transferência, “aluno-problema” (AQUINO,2000), ou seja,
expulsão. Poucas dessas questões e soluções aquele que “não aprende, porque apresenta
exemplificadas acima perpassam pela tentativa algum tipo de distúrbio, de carência, de falta de
de compreensão da situação da escola pública pré-requisito”.
em geral e das necessidades individuais das Aquino (2002), afirma que esses alunos com
crianças e jovens. suas atitudes indisciplinares são instrumentais
Outro elemento que torna a profissão importantes para a afirmação da ação docente
docente – o ofício – peculiar é que a matéria e que esse necessita de um “repensar nossos
prima é constituída por gente (crianças, jovens posicionamentos”.
e adultos). Isso coloca uma responsabilidade Aquino (2002), aponta algumas hipóteses
histórica sem precedentes. defendidas que buscam explicar a indisciplina:
Assim a reflexão central deste artigo é : Até “aluno desrespeitador”, “aluno sem limites”,
que ponto estamos, como educador, buscando “aluno desinteressado”. No caso do “aluno
a humanização das relações na escola? desrespeitador”, o autor afirma que muitos
dizem que a falta de respeito não do aluno não

879
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tinha espaço na escola de antigamente. Aquino ação educativa deveria não silenciar ou
(2002), afirma que a comparação com a escola reprimir, mas sim aproveitar essa situação para
do passado o respeito – dito pelos professores a produção do conhecimento.
– tem relação com “o medo e coação” devido Ao apontar como forma de reflexão e
ao formato ou papel social de castigo e ameaça. superação da problemática dos limites, Aquino
Para o autor é urgente e necessário (2000), discorre sobre a função e
“estabelecer outro tipo de relação civil em sala responsabilidade das famílias confundidas com
de aula”. Portanto, o respeito que a função social da ação educativa na escola. E
nostalgicamente professores e professoras que ao confundir um e outro o professor perde
indicam como um passado com saudades na ou abandona sua função como professor.
verdade era fruto “de uma espécie de
submissão e obediência cegas a um ‘superior’
na hierarquia escolar” (AQUINO,2000). A
avaliação “habita silenciosamente” o espaço
escolar e tomou o lugar da ameaça e punição
capaz de frear a indisciplina em sala de aula.
Podemos constatar em reuniões de Conselho
de Classe, Conselho de Escola, conversas na sala
de professores que as atitudes dos alunos têm
um caráter privilegiado nas avaliações dos
próprios alunos. Aquilo que Groppa chama de
“educação atitudinal”.
As hipóteses explicativas cometem um
engano, já de largada, que é o de tomar a
disciplina como um pré-requisito para a ação
pedagógica, quando na verdade, a disciplina
escolar é um dos produtos ou efeitos do
trabalho cotidiano de sala de aula (AQUINO,
2000, p.34).
Outro elemento abordado por Aquino
(2000), é o argumento de que os alunos não
têm limites ou que são completamente sem
interesses. Essas explicações não se sustentam
– para o autor – nos fatos. Não se sustentam
porque na primeira explicação as regras são
conhecidas pelos alunos, portanto conhecem
os limites. E que ao trabalho docente cabe
encará-las como “excelentes ingredientes para
o trabalho em sala de aula”. Nesse sentido a

880
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que os autores, Arroyo (2011) e Aquino (2000), se complementam, pois é
fundamental a necessidade de conhecermos os alunos, o que nos permite enxergá-los como de
fato são (ARROYO,2011, 53). A indisciplina é uma forma de enxergar a atitude do aluno, mas
também esconde que é uma forma de “vê-los para ignorá-los e desfigurá-los”, como aborda
Arroyo (2011).
Arroyo (2011), há uma aposta de ver os alunos de outro jeito para que coletivamente se
construa uma escola verdadeiramente humana e democrática. Perceber a indisciplina com outros
olhares é uma necessidade para a própria sobrevivência da relação ensino-aprendizagem.
Arroyo (2011), nos demonstra que os olhares que muitos professores têm dos alunos são
consequências da “visão de uma espécie de inferioridade cognitiva e até moral”
Podemos constatar que refletir sobre a indisciplina é uma forma do aluno ser um sujeito
na relação com o professor e não um objeto, conforme, Arroyo (2011), “no mundo sendo-não-
sendo no mundo”.
Atrás da constatação de aluno-problema, aluno indisciplinado está escondido uma forma
romântica de concepção da educação sem contraditórios, sem crises, sem interlocutores, sem
sujeito, sem direitos e sem ser humano.

881
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
AQUINO, Julio Groppa. Confrontos na sala de aula: uma leitura institucional da relação
professor aluno. Summus Editorial. São Paulo. 3ª Edição. 1996.

AQUINO, Julio Groppa. A indisciplina e a escola atual. Publicado em Revista da Faculdade de


Educação, vol. 24, nº 2, São Paulo July/Dec. 1998.

AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina: o contraponto das escolas democráticas. Moderna.


2000.

ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Editora Vozes, Petrópolis,


RJ, 5ª edição 2002.

ARROYO, Miguel G. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Editora


Vozes, Petrópolis, RJ, 6ª edição 2011.

ARROYO, Miguel G. Paulo Freire: O legado global. Educação em Revista. Belo Horizonte. v.
35. 2019

882
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL:
CONSTRUÇÃO DE HORTA NA ESCOLA
Sonia Rejes de Simoni1

RESUMO: Este artigo visa colocar em prática a Educação Ambiental no âmbito formal,
desenvolvendo uma ação educativa, como método de sensibilização dos alunos a esse respeito e
com a construção de uma horta na escola, mostrar que é possível melhorar a qualidade de vida
dos seres humanos. A possibilidade de adotar a prática do cultivo ecológico na escola é uma
forma de proporcionar aos alunos a curiosidade e a preocupação em cuidar do ambiente
melhorando as condições de vida da comunidade, além de divulgar o conhecimento sobre a
necessidade de intervenção humana na busca de alternativas para a reconstrução de uma melhor
visão de mundo com possibilidades de ação e conservação. O educador tem o papel estratégico
e decisivo na intervenção da educação ambiental no cotidiano escolar, qualificando os alunos para
um posicionamento crítico face à crise socioambiental, tendo como horizonte a transformação de
hábitos e práticas sociais e a formação de uma cidadania ambiental que os mobilize para a
questão da sustentabilidade no seu significado mais abrangente.

Palavras-Chave: Educação ambiental; Horta escola; Sustentabilidade.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Ciências Biológicas; Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Manejo de
Animais Silvestres; Especialização em Gestão Escolar: Supervisão e Orientação.
E-mail: srsimoni@hotmail.com

883
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO parte do tempo, e os programas de educação e


saúde podem ter repercussão.
O contato com áreas preservadas e o acesso A prática do cultivo de alimentos por meio
aos recursos naturais básicos que disponham do plantio sempre esteve presente na vida do
da qualidade mínima para a sobrevivência, ser humano a fim de assegurar o seu sustento.
tornou-se distante da maioria dos indivíduos. Com o passar do tempo, esta técnica sofreu
Para o reverso desta situação é essencial que a muitas modificações, a utilização de
população mundial possa perceber mais do que substâncias químicas, como os agrotóxicos e
o lado “romântico” das idéias fertilizantes, a irrigação, novas variedades
preservacionistas, compreendendo como as genéticas e outras intervenções humanas, o
perturbações ambientais podem atingir na que acabou de certa forma agravando a
prática, cada indivíduo e suas gerações degradação ambiental e a produção de riscos
(PRIMACK & RODRIGUES, 2001). aos seres vivos. A aplicação indiscriminada dos
A Política Nacional de Educação Ambiental agrotóxicos acarretou inúmeros problemas,
Brasileira – Lei número 9.795 – foi aprovada em tanto para saúde dos aplicadores como para o
1999 e regulamentada em 2002, e em seu art. meio ambiente (GARCIA, 1991).
4º define como princípios básicos: o enfoque Segundo Ruscheinsky (2002), tudo indica que
humanista, democrático e participativo; a é indispensável deixar de lado a agricultura
concepção de meio ambiente em sua convencional e caminhar em direção de uma
totalidade, considerando a interdependência agricultura mais autossustentável e menos
entre o meio natural, o socioeconômico e o agressiva à natureza. A agricultura ecológica
cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; o apresenta-se como um espaço em construção
pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, que pode trazer amplos benefícios para quem
na perspectiva da interdisciplinaridade e consome e para o conjunto do meio ambiente.
multidisciplinaridade; a vinculação entre ética, A pesquisa realizada teve como objetivos
a educação, o trabalho e as práticas sociais; a proporcionar um ambiente investigativo em
garantia de continuidade e permanência do sala de aula; estimular para a observação de
processo educativo; a permanente avaliação tudo que o cerca e para a coleta de dados
crítica do processo educativo (MEC, 2005). relacionados com os meios: abióticos e bióticos
Baseado neste contexto, a Educação presentes na comunidade em estudo;
Ambiental passa a ter uma relevante sensibilizar o aluno acerca da importância de
importância para o indivíduo, a escola, capaz de propiciar conhecimentos sobre Educação
colaborar com as tomadas de decisões sobre os Ambiental, agricultura e uso de agrotóxicos,
problemas da sociedade, transmitindo às relacionando-os com os problemas causados ao
crianças e jovens informações necessárias para ser humano e ao ambiente; despertar para a
a solução de problemas. Isso porque, a escola é preocupação em conservar e restaurar o
um dos espaços sociais, no qual muitas pessoas ambiente em que vivem, de modo a melhorar a
convivem, aprendem e trabalham, os qualidade de vida; preparar o aluno para que
estudantes e os professores passam a maior esteja apto a tomar atitudes e agir diante de

884
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

problemas em defesa do meio ambiente; METODOLOGIA


construir uma horta orgânica na escola como
O projeto envolveu a participação de 90
um laboratório vivo para diferentes atividades,
crianças do Ensino Fundamental I e 90
proporcionar uma variedade de alimentos com
adolescentes do Ensino Médio. Contou
baixo custo e de grande importância
também com o auxílio dos docentes dessa
nutricional, estimular a mudança de hábitos
Unidade Escolar para a realização de um
alimentares mais saudáveis e promover a saúde
trabalho interdisciplinar, a diretoria do colégio
do indivíduo e da comunidade escolar.
que disponibilizou um local para a construção
da horta orgânica, os materiais utilizados para
MATERIAIS E MÉTODOS o plantio e promoveu a divulgação do trabalho
Área de Estudo: O projeto foi desenvolvido para a comunidade, na qual até o momento
no Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo, atual foram desenvolvidas as etapas abaixo:
localizado na Rua Campos Novos, nº 153, A) Primeira Etapa: Levantamento dos temas,
inserido no município de São Paulo, SP. O dos potenciais locais, dos objetivos, da
colégio particular pertence à Congregação das identificação do público alvo, recursos
Irmãs Franciscanas da Providência de Deus, disponíveis e instrumentos de avaliação. Este
estabelecida em Pittsburgh, em 1922, nasceu levantamento foi realizado por meio da
da necessidade de se ensinar crianças de discussão sobre a implantação da horta na
descendência lituana em escolas paroquiais. O escola com os professores e funcionários de
ministério de Educação Cristã, em escolas diferentes segmentos do colégio nas reuniões
paroquiais, nos Estados Unidos, se expandiu pedagógicas, com os alunos em sala de aula,
quando, em 1938, as Irmãs fizeram uma com a comunidade escolar nas reuniões com os
fundação em São Paulo, no bairro da Vila Zelina, pais; sendo definidas as espécies que seriam
o atual Colégio Franciscano São Miguel Arcanjo, cultivadas, área de plantio, forma de obtenção
ministra aulas da Educação Infantil ao Ensino das sementes e a metodologia a ser utilizada;
Médio. essa seleção de espécies levou em conta o clima
da região, a estação de plantio e o tamanho da
área selecionada.
Nas reuniões foram tomadas algumas
decisões, os alunos envolvidos deveriam
cultivar temperos e verduras de crescimento
rápido (alface, couve, nabo, chicória, salsa,
cebolinha, manjericão e plantas medicinais)
que inicialmente seriam plantadas em
sementeiras ou diretamente no solo,
dependendo da espécie. Para o 3º ano do
ensino médio em específico ficou estabelecido
que os alunos devessem se responsabilizar pela
Figura 1- Localização do Colégio Franciscano São Miguel
Arcanjo (SAMIAR). classificação das plantas, estatísticas do tempo

885
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de desenvolvimento e número populacional de apresentadas como a umidade visível no


cada espécie, fazendo relatórios sobre o interior do terrário. Discussão sobre cadeia
crescimento e regulação populacional da horta. alimentar, foram utilizados esquemas, jogos e
As turmas do Fundamental I, responsáveis pela textos complementares retirados diversos
construção da horta com o auxílio e o livros didáticos esclarecendo os conteúdos
monitoramento dos alunos do ensino médio. relacionados.
Durante esta etapa houve a seleção dos Durante esta etapa foi realizada uma
instrumentos de avaliação. avaliação formativa.
B) Segunda Etapa: Criação de atividades para C) Terceira Etapa: Mobilização dos alunos do
alcançar os objetivos, elaboração de um Fundamental I, para a coleta de dados dos
cronograma de atividades, capacitação de diferentes ambientes dentro do colégio,
pessoal envolvido. A confecção de terrários inclusive do local destinado a horta orgânica;
como um recurso para despertar o estímulo das discussão sobre reaproveitamento de materiais
turmas, por meio do estudo do descartáveis, a importância da alimentação de
desenvolvimento das plantas, o ciclo da água, qualidade para a manutenção do organismo, o
decomposição, ciclo do oxigênio, fotossíntese, tipo de solo adequado para o cultivo das
brotamento e surgimento de fungos. Com esse sementes escolhidas e a importância dos
recurso também foi possível discutir os fatores vegetais para o equilíbrio do planeta em relação
abióticos e bióticos, além da importância da à produção de oxigênio. Nessa etapa os alunos
temperatura e luz solar para o da 4º série foram submetidos a uma oficina de
desenvolvimento das plantas. Referente aos reaproveitamento de garrafas pet orientados
conteúdos teóricos mencionados, durante o pelos alunos do 1º ano do Ensino Médio e
desenvolvimento dessa etapa, esses foram professores, no qual foram confeccionados os
expostos com auxílio de livros didáticos, por recipientes para a plantação de temperos,
meio de esquemas (fotossíntese, ciclo da água, abrindo a discussão sobre reaproveitamento e
ciclo do oxigênio, ciclo do carbono), aulas a ameaça do acúmulo de lixo no meio
expositivas e textos complementares ambiente. Os alunos do Fundamental I
(decomposição e aparecimento de fungos). prepararam o solo, fizeram o cultivo das
É importante destacar que todos os sementes e o plantio no solo.
conteúdos relacionados foram reforçados com Nesta etapa foi realizada uma avaliação
base nos relatos apresentados pelos alunos do formativa e também somativa.
1º e 2º anos do ensino médio, por meio da D) Quarta Etapa: Nessa etapa foi realizada
observação dos terrários, apresentados em uma análise dos resultados esperados e
forma de relatórios escritos e depoimentos em inesperados, utilização dos resultados para
sala de aula abrindo espaço para apoio e disseminação dos resultados. Foi
esclarecimentos, dúvidas e curiosidades. organizado com os alunos de diferentes turmas
Durante a apresentação dos relatórios sobre o e interessados, um rodízio com os objetivos
desenvolvimento dos terrários confeccionados relacionados à irrigação da horta e combate às
pelos alunos, algumas curiosidades foram possíveis pragas. É importante mencionar que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

esse projeto não tem tempo de duração pré- realizadas naturalmente surgiram a partir de
estabelecido, pois a cada ano novos alunos e fatos que ocorreram na instituição no período
turmas participarão dessa atividade de intervenção a por meio de questionamentos
estabelecendo um rodízio entre funcionários de feitos pelos professores e pelas próprias
apoio, professores e direção para garantir a crianças e adolescentes.
manutenção desse projeto, tornando esse A observação pertinente é a de que os alunos
espaço um patrimônio da escola, na qual a cada do colégio mostram envolvimento e muito
início de ano letivo, novos caminhos e interesse nas atividades práticas e utilizam a
estratégias deverão ser definidos para garantir horta como espaço de aprendizagem e
a permanência de uma área viva, de imensa inspiração para mudanças de comportamento
relevância para a comunidade interna e alimentar e demonstram atitudes melhores em
externa. relação ao meio ambiente.
No processo de construção da horta, a
Materiais Necessários: observação foi muito importante para a
- Pá de concha: abaulada, é ideal para a aprendizagem, por meio da investigação do
remoção da terra, para a mistura de estercos. solo, do ar, da água, milhares de
- Sacho: um enxadão pequeno, muito útil na microorganismos e outros seres vivos que
limpeza do mato, para a abertura de pequenas cavam buracos e túneis no solo, muitas dúvidas
covas e sulcos no canteiro. foram esclarecidas na prática.
- Enxada: múltiplo uso, usada na preparação O acompanhamento, o desenvolvimento e a
final do canteiro. observação do crescimento dos vegetais
- Colher de jardineiro: indispensável na realizados diariamente, a verificação da
retirada de mudas das sementeiras. presença de pragas, realização da rega diária,
- Mangueira: facilita o trabalho de rega nas enfim, o envolvimento no projeto: Construção
áreas maiores. de Horta Orgânica na Escola tem como um
- Carrinho de mão: muito útil em todas as ótimo resultado a participação de diversos
fases de plantio, na preparação do composto membros da comunidade escolar, esse trabalho
até a colheita. coletivo fortalece a relação da comunidade com
- Regador: seus esguichos são delicados o o colégio, aproximando os sujeitos sociais e
suficiente para não quebrar a haste delgada das desenvolvendo o senso de responsabilidade e
plantas frágeis que estão saindo da terra, e de cooperação entre os alunos e demais
também para não descobrir as sementes. participantes.
- Sementes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Vindo de encontro com Kramer (1997), que
diz que “uma proposta pedagógica é um
caminho, não é o lugar, sendo construída no
caminho, no caminhar”, as atividades

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A horta durante seu processo de implantação mobilizou pais, alunos e funcionários,
possibilitando a aquisição de novos conhecimentos, no qual todos por meio da pesquisa e prática
puderam exercer uma atividade dinâmica, que favoreceu o ensino de ecologia, incentivando a
pesquisa e discussão de temas como: cadeia alimentar, ciclos da matéria, decomposição, fluxo de
energia, entre outros, além de garantir a interação entre outras disciplinas, estabelecendo a
discutida interdisciplinaridade que ao somar os conhecimentos abriu caminhos para o
desenvolvimento da aprendizagem. Essa atividade também contribuiu para a valorização das
experiências e saberes comuns aos alunos e as comunidades em questão, possibilitando o
exercício da cidadania, por meio da inclusão social em um espaço que deveria ser compreendido
como de todos.
A distribuição de responsabilidades referente à implantação e manutenção da horta,
contribuiu para o resgate e valorização de uma atividade depreciada por ambas as comunidades,
que procuraram analisar por meio dos conhecimentos adquiridos a importância desse espaço
como um campo de estudo vivo, na qual a interação homem/meio ambiente se realizou, sendo
este homem capaz de compreender sua ligação na teia de interações com os demais seres vivos.
Essa proposta de trabalho enriqueceu a exposição dos conteúdos, além de contribuir de forma
positiva para o fortalecimento e manutenção das relações professor/ aluno, escola/comunidade
e homem/ meio ambiente, tornando nesse sentido a escola um espaço democrático,
comprometida com o resgate e construção de valores fundamentais para a conquista do cidadão
participativo.

888
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
DALY, H. Políticas para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Cortez Editora, 1997.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra;2001.

FREIRE, P. O educador: vida e morte – escritos sobre uma espécie em perigo – Rio de
Janeiro: Edições Graal; 1998.

PELICIONI, AF. Educação Ambiental: limites e possibilidades de uma ação


transformadora. São Paulo; 2002.

GARCIA, E. G. Agrotóxicos e Prevenção – Manual de treinamento. São Paulo: Fundacentro,


1991.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1991. REIGOTA, M.;
POSSAS, R.; RIBEIRO, A. Trajetórias e narrativas através da Educação Ambiental. DP&A, 2003.

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SCHEINSKY, A. Educação Ambiental, abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO E AUTOESTIMA
Elisabete Córdova Lima Pennachi1

RESUMO: Esse artigo tem por objetivo investigar a importância do autoconceito e da autoestima
em crianças e adolescentes e seus reflexos no desenvolvimento da aprendizagem. Por meio de
uma pesquisa bibliográfica foram reunidos vários autores e teorias sobre a relação autoestima-
aprendizagem. Além disso, mediante um estudo sobre neurociências constata-se como a
autoestima elevada pode aumentar a produção de neurotransmissores positivos.

Palavras-Chave: Autoestima; Autoconceito; Crianças; Adolescentes.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo e Rede Estadual de São Paulo.
Graduação:Licenciatura em Letras; Especialização em Neurociências Aplicada à Aprendizagem.
E-mail: bete_cordova@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO afetar sua aprendizagem. Por outro lado,


quanto maior for a quantidade de estímulos
Os muitos problemas de aprendizagem positivos melhor será a relação do sujeito com
ocorridos no ambiente escolar têm feito com ele mesmo e dele com o meio, as
que pesquisadores e educadores busquem aprendizagens dessa forma, serão positivas.
cada vez mais ferramentas que possam auxiliar Objetivamos pesquisar a importância do
no trabalho docente. Porém, no processo estímulo à autoestima, por parte do
ensino-aprendizagem, como o próprio termo profissional docente, como mais uma
deixa claro, existem dois lados: o ensinar e o ferramenta a ser utilizada no processo ensino-
aprender. Nesse processo, além do professor se aprendizagem em crianças e adolescentes.
apresentar preparado e capacitado, o aluno
também tem que estar receptivo às novas
AUTOESTIMA:
informações e orientações.
Os aspectos físicos-cognitivos são os COMO ENTENDER ESTE
principais fatores que influenciam diretamente CONCEITO
na questão da aprendizagem. No entanto, não Segundo Moysés (2009), a autoestima é a
são os únicos. Existem outros fatores de igual percepção do valor que cada um tem de si. Esse
relevância que devem ser levados em valor é a somatória de uma série de outros
consideração. Os fatores emocionais, afetivos, conceitos que se fundem e se desenvolvem no
autoconceito positivo, sentimento de íntimo de cada indivíduo ao longo de sua vida.
pertencimento, autoestima elevada, dentre Está relacionada ao seu autovalor, à sua
outros, são igualmente responsáveis por esse importância, ao grau de satisfação que possui
desenvolvimento. de si mesmo. Também, à capacidade de se
Dessa forma, a neurociência apresenta sentir parte do contexto, a confiança para
subsídios norteadores na busca por soluções e enfrentar problemas, de ser merecedor dos
otimização do processo ensino-aprendizagem, resultados produzidos por seus esforços e da
uma vez que amplia o leque de pesquisas no conquista da felicidade. É a autoestima que
campo educacional, pois aborda tanto aspectos torna as pessoas capazes de enfrentar desafios
somáticos como os psíquicos. e seguir em busca de seus sonhos e ideais.
Para Cosenza e Gerra (2011), é no A formação da autoestima, explica
cérebro que processamos, comparamos e Scartezini, Rocha e Pires (2013), acontece ainda
elaboramos respostas às informações que no útero da mãe, pela ligação unitária mãe-
recebemos por meio dos sentidos, adquirindo filho. O feto absorve todas as expectativas da
assim novos conhecimentos. Essa assimilação mãe, seus altos e baixos, suas dúvidas, suas
ocorre o tempo todo. No entanto, esses incoerências, sua preferência em relação ao
estímulos nem sempre são favoráveis, pois bebê sobre gênero, aspectos físicos etc. A
podem apresentar significados negativos que, própria autoestima da mãe é de grande
vão ao longo do tempo causar um déficit no influência para o bebê. Dessa forma a
autoconceito do sujeito e consequentemente autoestima já é semeada antes mesmo do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

nascimento e é a partir deste momento que Nesse sentido Mendes, et al. (2012), propõe
todas as relações estabelecidas pela criança que se criem, dentro do ambiente escolar,
serão determinantes para a formação de uma situações que estimulem o autoconhecimento,
elevada ou uma baixa autoestima. autoconceito e autoestima de alunos e
Guilherme (2012), afirma que, a afetividade, professores.
o respeito, as opiniões, a autonomia Conhecer-se efetivamente requer constante
condicionada às regras de ética, a honra e autorreflexão. A pessoa que se autoconhece
respeito, são fatores que devem ser sabe de seu potencial e onde estão suas
alimentados constantemente, pois a fraquezas e dessa forma pode se ajudar e
autoestima não é algo que se adquire e se ajudar seu próximo.
mantém estável, pelo contrário ela pode variar
de acordo com o momento em que se vive. • Autoconceito
Os valores/conceitos que vão compor a Principal ponto para a construção da
autoestima são: autoconhecimento, autoestima. É “a forma como nos vemos ou
autoconceito e autoconfiança. percebemos a nós mesmos como indivíduos ou
pessoas” (VOLI, 1998, p. 77). A partir da
• Autoconhecimento inferência do outro e das relações sociais, tende
é a capacidade inata que nos permite a ser positivo ou negativo.
perceber, de forma gradativa, tudo que Mendes, et. al. (2012), afirma que o
necessitamos transformar. Ao mesmo tempo, autoconceito configura-se por meio das
amplia a consciência sobre nossos potenciais relações interpessoais, ou seja, que a
adormecidos, a fim de que possamos vir a ser percepção que o sujeito tem de si mesmo, está
aquilo que somos em essência (NETO, 2003, p. relacionado diretamente com a percepção que
61). o outro tem sobre ele.
Autoconhecer-se é descobrir onde buscar a Nesse sentido, Voli (1998), afirma que o
força e a coragem para estar sempre de cabeça autoconceito varia de acordo com o indivíduo,
erguida mesmo diante das dificuldades. pois a percepção de si sob a ótica do outro se
Para Aragão (2016), o autoconhecimento é dá na psique e depende também de fatores
um processo que possibilita saber sobre as genéticos e predisposições.
vulnerabilidades e potenciais. Perceber que se Mendes, et al. (2012), ainda coloca que os
têm fraquezas, mas saber exatamente onde profissionais da educação que possuem um
elas estão, e como lidar com elas. Definir as autoconceito positivo podem servir de
qualidades e investir nas aptidões. Ainda para referências aos seus alunos e propiciar um
Aragão (2016), o autoconhecimento permite o ambiente educativo de melhor qualidade. Da
controle das emoções. O indivíduo que mesma forma que a autoestima, o
realmente se autoconhece sabe elencar os autoconceito é adquirido muito cedo por meio
pontos positivos e negativos de sua da interação da criança com as pessoas que lhe
personalidade e utiliza-los a seu favor e em prol são referências.
do bem comum.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A autora ainda coloca que o ambiente chamado de moral heterônoma e é muito


escolar é um lugar privilegiado para a saudável e eficaz somente entre 2 e 6 anos de
construção do autoconceito, uma vez que as idade. A partir daí a criança começa a
relações interpessoais acontecem o tempo desenvolver a autonomia. Aos 12/15 anos a
todo. A avaliação que recebe dos outros é criança está na fase moral autônoma. É nessa
revertida na avaliação que fará de si mesmo, fase que ela deve aprender a assumir
quanto maior e melhor for seu autoconceito responsabilidades sobre si e sobre seus atos. As
maior será sua autoestima. Por isso a consequências da moral heterônoma na vida
importância de como o adulto descreve, adulta são bastante prejudiciais, pois dá origem
adjetiva e age com a criança. a pessoas limitadas, dependentes e/ou com
tendências a delinquência.
• Autoconfiança Conforme coloca Guilhardi (2002), a
Autoconfiança é acreditar e se sentir seguro autoconfiança não é genética e nem privilégio
de si mesmo. Conforme Guilhardi (2002), a de algumas pessoas. Ela é aprendida e
pessoa autoconfiante é assertiva, expressa suas desenvolvida durante a vida toda, por meio de
opiniões com facilidade, não tem medo de atitudes que produzam reforços negativos ou
enfrentar novos desafios, consegue manter a positivos. Para que tenha êxito e não se deixar
sensatez mesmo sob pressão, consegue dominar por monstros da insegurança, a
transmitir confiança aos outros sem parecer autoconfiança deve ser cultivada em todas as
arrogante. fases da vida e regada de exercícios que
Seu desenvolvimento começa na infância e é, superem os medos e as fragilidades. O estímulo
ainda segundo Guilhardi (2002, p. 13), do adulto para que a criança acredite em seu
“produzida por uma história de reforçamento potencial e não se sinta inferior às outras é
(positivo ou negativo)” de grande influência dos essencial para atingir esse resultado.
adultos, principalmente dos pais. A pessoa segura de si e de suas possibilidades
Cordeiro (2013), afirma que pais atreve-se a agir e, agindo, obtém resultados,
superprotetores e autoritários resultam em mesmo que seja apenas uma aprendizagem
filhos inseguros e imaturos que terão para que o mesmo erro não se repita em outra
dificuldades em assumir as responsabilidades ocasião (VOLI, 1998, p. 70).
da fase adulta. Essa superproteção, conforme a
autora, pode causar um bloqueio na SEMEAR A AUTOESTIMA PARA
aprendizagem da criança.
Cordeiro (2013), também propõe que, pais COLHER RESULTADOS
que estimulam a autonomia e a capacidade de Após a definição e a conceituação do que é
seus filhos, auxiliam sua autoconfiança. Isso autoestima e como ela se constrói, surgem
remete aos estágios de desenvolvimento moral novos questionamentos: Como aplicá-la na
segundo Piaget. educação? Qual tipo de aluno se quer formar?
Para Piaget (1994), o estágio, no qual há Quem serão os responsáveis em plantar as
maior controle das crianças pelos adultos é sementes da autoestima para que essas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

crianças colham os frutos no futuro? Segundo • Junto aos professores


Souza (2002), o ambiente familiar e a escola, Hoje em dia é comum ouvir queixas dos
desempenham papel fundamental na professores em relação a profissão: que o
construção da autoestima da criança, pois essa salário é baixo; que na escola não há
construção não está pautada apenas nos infraestrutura adequada; que os alunos estão
aspectos cognitivos, mas também, e cada vez mais rebeldes; que não há incentivo
principalmente, em aspectos afetivos. Nesse nem motivação. Para Pedro e Peixoto (2006, p.
sentido os responsáveis por essa semeadura 248), essa insatisfação se caracteriza “como o
são aqueles que estão próximos às crianças, as conjunto de efeitos permanentes de carácter
pessoas em quem elas se espelham e confiam, negativo que vão afetando a personalidade dos
ou seja: pais e professores. professores em virtude das condições
Para Guenther (1997, p.97), a autoestima psicossociais em que estes exercem a sua
está ligada diretamente ao autoconceito, ao eu profissão”. A ansiedade do docente na
e nesse sentido o “eu é o centro de todas as realização plena de seu trabalho o deixa cada
realizações e de todas as ações da pessoa”. vez mais suscetível ao fracasso e frustrações.
Para a autora, o autoconceito é um processo Obstáculos e dificuldades existem em todas
cognitivo e assim, seu desenvolvimento sofre a as profissões principalmente na educação, no
ação também de fatores externos. Dessa forma qual o material de trabalho são seres humanos
entramos na teoria de Vygotsky(1994), do ainda em formação. Conforme Rosa e Castelo
sujeito sócio-histórico que diz que todo (2009), a falta de estrutura na educação, a
desenvolvimento cognitivo é mediado por uma evasão escolar e as dificuldades de
ação externa: aprendizagens que aumentam cada vez mais,
Vygotsky tem como um de seus pressupostos faz com que o professor se sinta cada vez mais
básicos a ideia de que o ser humano constitui- culpado e frustrado com sua profissão. O
se enquanto tal na sua relação com o outro docente internaliza em si o fracasso e nesse
social. A cultura torna-se parte da natureza sentido, não se sente merecedor de respeito e
humana num processo histórico que, ao longo de amor.,
do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, Ainda para Rosa e Castelo (2009), a forma
molda o funcionamento psicológico do homem. como o professor se enxerga afeta diretamente
(OLIVEIRA, 1992, p. 24). seus relacionamentos, inclusive com seus
Assim, de acordo com Guenther (1997), o alunos, pois esses seguem seus passos.
autoconceito vai depender de como o sujeito se Professores são orientadores, mas também
enxerga a partir da percepção que ele próprio referências e modelos. O que o professor faz,
faz sobre o que os outros acham dele. Conceitos como age e como se comporta influencia
externos, ele irá trabalhar de uma maneira diretamente os alunos. Voli(1998), em seu livro
muito particular. Dessa forma o autoconceito “A autoestima do professor”, afirma o seguinte
pode ser positivo ou negativo. A partir daí, ou sobre este assunto:
seja, da descoberta do que se é (autoconceito)
origina-se o que se vale (autoestima).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Na relação aluno/professor, portanto, não que é orientar os educandos na aquisição de


está presente apenas o caráter acadêmico e de novos conhecimentos.
transmissão de conhecimento, mas algo muito Também, nesse ponto de vista Pontarolo
mais profundo, que envolve as características (2008), afirma que o relacionamento
psíquicas de ambas as partes. Na base do harmonioso entre professor e aluno é essencial
ensino escolar existe uma prática de abertura, para se atingir objetivos favoráveis na
comunicação intra e interpessoal, de aprendizagem. No entanto, na observação da
compreensão e continuidade, com um autora, essa relação é bastante conflituosa,
substrato psicológico consciente e uma vez que professores e alunos culpam um
subconsciente do professor e de seus alunos. A ao outro pelo fracasso escolar.
personalidade do professor projeta-se na O professor que possui consciência de sua
criança e intervém em sua formação para a vida importância, de sua responsabilidade, de seu
(1998, p.13). valor, é, conforme Voli (1998), possuidor de
Por esse motivo, e conscientes da autoestima elevada e que acredita em si vai
responsabilidade frente aos alunos, o docente transmitir para seus alunos uma visão otimista,
deve buscar recursos para melhorar sua segura e confiante de lidar com a vida e com os
atuação na formação do desenvolvimento de problemas que ela apresenta.
pessoas. Ressalta Oliveira (2000), apud, Pedro e Portanto, o profissional da educação tem
Peixoto (2006), que grande parte das que ser exemplo positivo a ser seguido.
dificuldades de aprendizagens dos alunos não Precisamos reforçar o conceito de que,
se deve a problemas físico-cognitivos, mas sim desde a escola, os professores devem projetar
a desestrutura no campo educacional, que nas crianças a personalidade de adulto
recai, injustamente, na figura do professor. seguros, abertos, eficientes, claros, serenos,
Buscar motivação para continuar como agentes compreensivos e realizados, e podem fazê-lo.
de desenvolvimento pessoal, passa a ser Além disso, está claro que se sentir melhor
prioridade nessa profissão. consigo mesmo é muito mais gratificante que
Para Voli (1998), abraçar essa profissão com se sentir mal ou inconformado por não fazer
otimismo talvez seja a principal ferramenta que nada para melhorar nossa visão da vida e,
o professor deva utilizar. E por meio dessa sobretudo, por continuar sentindo-se vítima do
ferramenta acreditar na sua capacidade; sistema (VOLI, 1998 p. 25).
estimular com segurança as relações Voli (1998), ainda ressalta que é possível, por
professor/aluno; compartilhar interesses e meio de uma mudança de atitudes e de
frustrações; incentivar a autoestima de seus métodos, alterar a relação professor/aluno –
alunos, respeitar e valorizar as peculiaridades ensino/aprendizagem para melhor. Unir essas
de cada um deles, utilizar o conhecimento e “duas perspectivas”, atitudes e métodos, trará
aptidões que possuem e valorizar suas histórias resultados motivadores e promissores na
de vida. Por intermédio dessas atitudes o profissão docente e também ao educando.
profissional, preocupado com seu
aperfeiçoamento, chegará a seu objetivo final

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Junto aos alunos ásperas, mesmo que pronunciadas por


Dantas (1992), em seu artigo, “A Afetividade descuido, podem causar grandes malefícios na
e a Construção do Sujeito na Psicogenética de psique infantil, ao passo que a palavra dita com
Wallon” (1997), afirma que, assim que nasce, o carinho, o gesto doce e amistoso, um toque
ser humano começa a se relacionar com o suave pode, pelo contrário, ser a semente de
mundo por meio da afetividade. É ela que valores e estímulos positivos.
estabelece vínculos entre ele e os outros que o Moysés (2009), afirma que é bastante
cercam. É justamente essa afetividade que vai prejudicial à autoestima, quando a criança é
se elevar e abrir espaço para o evidenciada pelos seus defeitos e dificuldades.
desenvolvimento motor e cognitivo. Nesta fase, Isso faz com que ela se perceba como algo
inteligência e afetividade estão juntas, mas o negativo e sem valor. Esses rótulos acabam por
predomínio é da segunda. Aos poucos e com a criar raízes dentro da criança e cresce junto com
interferência do mundo sócio/cultural o ser ela, sufoca seu autoconceito e sua autoestima
humano vai cada vez mais desenvolver sua como ervas daninhas. Esse cuidado, que se faz
inteligência e racionalidade. Isso não quer dizer maior e mais preocupante na primeira infância
que o lado afetivo/emocional fica esquecido, deve estender-se por toda a vida estudantil da
ele está presente durante a vida toda e se criança.
relaciona o tempo todo com o cognitivo, mas Sabino e Roque (2006), colocam a
sua importância é maior quanto mais jovem for preocupação de Howard Gardner em saber
o sujeito. mais sobre o potencial das crianças com
A afetividade, nesta perspectiva, não é dificuldades de aprendizagens em sua Teoria
apenas uma das dimensões da pessoa: ela é das Inteligências Múltiplas. Essa teoria
também uma fase do desenvolvimento, a mais pressupõe vários tipos de inteligências
arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida possíveis (linguística, lógico/matemática,
puramente orgânica, um ser afetivo. Da cinestésica, espacial, musical, interpessoal,
afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida intrapessoal e naturalista), que podem e devem
racional. Portanto, no início da vida, afetividade ser utilizadas como estratégias para valorizar
e inteligência estão sincreticamente cada indivíduo em suas especificidades e,
misturadas, com o predomínio da primeira também, aplicadas como um caminho para
(DANTAS, 1992, p. 90). atingir um método de ensino mais eficaz.
Silva, Schiavelli e Costa (2010), ressaltam que Professores/educadores lidam o tempo todo
as primeiras aprendizagens se realizam pela da com diferentes tipos de crianças. Nesse sentido
afetividade. Daí, a importância dos professores, Sabino e Roque (2006), enfatizam que cada
principalmente os da primeira infância (creche criança é única; possuem habilidades,
e educação infantil), em ter o cuidado no trato peculiaridades e históricos de vida que as
com seus pequenos alunos. As palavras, os diferenciam uma das outras. Essas diferenças
gestos, o toque, vem carregado de indícios que estão presentes também em seu potencial
demonstram sua intencionalidade e são cognitivo. Umas aprendem mais rápido e com
interpretado pela criança. Gestos ou palavras

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mais facilidade. Outras apresentam necessária à busca por recursos para trabalhar
dificuldades de várias ordens. com as diferenças.
para desenvolver um ensino de qualidade Crianças com necessidades educacionais
diferenciada seria desejável que, na concepção especiais confirma Menezes (2001), são
de ensino e aprendizagem, fossem levados em aquelas que possuem dificuldades de
conta aspectos individuais, pessoais, aprendizagem de vários tipos como: deficiência
característicos de cada aluno, com o intuito de mental, deficiência física (visual, auditiva),
poder, desta forma, reconhecer-lhe um perfil comportamental (transtorno de déficit de
pedagógico particular (SABINO e ROQUE, 2006, atenção, hiperatividade), ou altas habilidades,
p. 417). pois exigem respostas específicas. A Declaração
Buscar diferentes estratégias com o objetivo de Salamanca sobre Princípios, Política e
de possibilitar a aprendizagem por parte de Práticas na Área das Necessidades Educativas
todos de uma maneira concreta, e lidar com Especiais, de 1994, com publicação em 1998,
cada criança como realmente são, possibilitará proporcionou um novo olhar para a educação
extrair, de maneira positiva, sempre o melhor das crianças com necessidades especiais o que
de cada uma delas. provocou o desejo de se repensar o modelo do
Se a preocupação em transformar sujeitos sistema educacional vigente na época.
capazes é relevante, por parte do professor, A partir de então a inclusão ganha um espaço
este tem que pesquisar ou buscar estratégias, cada vez maior na busca pelo direto à educação
ferramentas e recursos que possibilitem a das crianças público alvo de educação especial,
realização desses objetivos sem agredir o nas redes de ensino regular.
autoconceito e a autoestima dos alunos. Todas as crianças necessitam de cuidados e
atenção, no entanto, as crianças portadoras de
AUTOESTIMA: limitações precisam de muito mais. Para Rocha
e Cruz (2017), a afetividade é um facilitador na
PRIORIDADE NA EDUCAÇÃO aprendizagem, pois propicia um ambiente
ESPECIAL acolhedor.
A educação inclusiva pode andar a passos O professor que efetiva essa prática em sala
muito lentos no Brasil, mas é uma realidade de aula consegue obter de seus alunos
para a qual o professor/educador tem que se superações de barreiras e bloqueios que o
preparar da melhor maneira possível, mesmo impedem, muitas vezes, de aprender. O aluno
porque a inclusão já é prevista em lei conforme com deficiência, ao sentir-se acolhido sente-se
a Resolução SE 61 de 11/11/2014, em segurança, melhora sua autoestima e sua
fundamentada nos artigos 58, 59 e 60 da LDB autoconfiança. Esse domínio afetivo
9394/96. O professor/educador que pretende complementa o desenvolvimento cognitivo
trabalhar com educação tem que ter claro que (ROCHA e CRUZ, 2017, p.1086).
a diversidade em sala de aula está cada vez Trabalhar a autoestima dessas crianças,
maior e exige muito mais comprometimento do afirma Macedo (2015), é fundamental para
profissional desta área, o que torna ainda mais alcançar alguma melhoria, pois elas são

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

colocadas à prova o tempo todo devido ao seu Dessa forma o professor/educador tem que
comportamento muitas vezes visto como estar com um olhar atento não para as
desajeitado, inadequado e até desafiador. dificuldades e desconforto que a inclusão pode,
Nessa perspectiva Moysés (2009), afirma num primeiro momento, proporcionar, mas
que a autoestima, é um processo de construção principalmente para os benefícios que ela pode
de si mesmo a partir da ação do outro, ou seja, causar em cada um de seus alunos portadores
determinado pelo comportamento de pais, de necessidades especiais ou não. É mister
professores e responsáveis, a atuação com lembrar os alunos que são as diferenças que
crianças com necessidades especiais deve caracterizam cada indivíduo. A identidade de
caminhar no sentido de valorizar cada ação de cada um está justamente naquilo que se tem de
progresso realizada por essas crianças. Cabe singular. Valorizar as diferenças é valorizar a si
aos professores viabilizar ferramentas que e aos outros.
permitam que elas possam exteriorizar suas
potencialidades e diminuir suas limitações,
também orientar os pais para a promoção de
situações aprendizagem e valorização de cada
ato produzido. A criança com necessidades
específicas tem que se sentir amada, feliz,
acolhida e principalmente capaz.
Dentro do ambiente escolar as crianças com
necessidades especiais deve fazer parte
integrante da sala de aula. Elas têm na medida
de suas limitações, que interagir com o restante
dos alunos e essa interação deve ser promovida
e incentivada pelo professor/educador. A
relação entre as crianças é extremamente
benéfica para todos, pois lidar com as
diversidades e respeitar as diferenças são
valores que devem ser adquiridos desde muito
cedo.
Ambiente humano de convivência e de
aprendizado são plurais pela própria natureza
e, assim sendo, a educação escolar não pode
ser pensada e realizada senão a partir da ideia
de uma formação integral do aluno, segundo
suas capacidades, talentos e de um ensino
participativo, solidário, acolhedor (MANTOAN,
2003, p.8).

898
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face ao apresentado considera-se que é de fundamental importância que os docentes
compreendam que desenvolver atividades relativas ao autoconceito e autoestima contribui
efetivamente para a construção de saberes.
Novos paradigmas que envolvem os aspectos da autoestima devem ser agenda das escolas,
e também deve ser privilegiado na construção coletiva do Projeto Político Pedagógico, não apenas
sendo contemplado de forma esporádica no cotidiano escolar, mas sim se tornando parte efetivo
deste cotidiano, garantindo uma educação qualitativamente humana e saudável.

899
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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903
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO E LUDICIDADE
Fátima Aparecida Malos Espirito1

RESUMO: A experiência lúdica faz parte do desenvolvimento humano, é por meio dos jogos e
brincadeiras que a criança constrói sua estrutura e obtém seus parâmetros, tornando-se um ser
completo em todos os âmbitos. Os jogos quando inseridos no contexto didático influenciam
diretamente no desenvolvimento cognitivo da criança e é um grande aliado como apoio
pedagógico. Nas aulas quando trabalhamos com uma proposta pedagógica o lúdico tem uma
firme contribuição no processo de ensino-aprendizagem enriquecendo e proporcionando fixação
e conhecimento dos conteúdos a serem atingidos.

Palavras-Chave: Lúdico; Corpo e movimento; Educação infantil.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Estudos Sociais; Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação para
Diversidade e Cidadania; Práticas em Alfabetização e Letramento.
E-mail: f_malos@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A IMPORTÂNCIA DAS


O lúdico faz parte da vida humana e tem um ATIVIDADES LÚDICAS
papel importante em seu desenvolvimento. Por Com relação ao jogo, Piaget (1998), acredita
intermédio de jogos educativos o professor que ele é essencial na vida da criança. De início
transmite conhecimento, idéias, conceitos, é tem-se o jogo de exercício que é aquele em que
uma forma de conduzir conhecimentos sem a a criança uma determinada situação por puro
abordagem tradicional, resultando em uma prazer, por ter apreciado seus efeitos. Em torno
aula descontraída, alcançando resultados de 2-3 e 5-6 anos nota-se a ocorrência dos jogos
propostos. simbólicos, que satisfazem a necessidade da
O movimento para a criança pequena criança de não somente relembrar o
significa muito mais do que mexer partes do mentalmente o acontecido, mas de executar a
corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se representação. Em período posterior surgem os
expressa e se comunica por meio dos gestos e jogos de regras, que são transmitidos
das mímicas faciais e interage utilizando socialmente de criança para criança e por
fortemente o apoio do corpo. A dimensão consequência vão aumentando de importância
corporal integra-se ao conjunto da atividade da de acordo com o progresso de seu
criança. Pode-se dizer que no início do desenvolvimento.
desenvolvimento predomina a dimensão Para Piaget (1998), o jogo constitui-se em
subjetiva da motricidade, que encontra sua expressão e condição para o desenvolvimento
eficácia e sentido principalmente na interação infantil, já que as crianças quando jogam
com o meio social, junto às pessoas com quem assimilam e podem transformar a realidade. Já
a criança interage diretamente. "A Vygotsky (1991), diferentemente de Piaget,
externalização de sentimentos, emoções e considera que o desenvolvimento ocorre ao
estados íntimos poderão encontrar na longo da vida e que as funções psicológicas
expressividade do corpo um recurso superiores são construídas ao longo dela. Ele
privilegiado” (BRASIL, 1998, p.18). não estabelece fases para explicar o
Para o Referencial Curricular Nacional desenvolvimento como Piaget, e para ele o
(BRASIL, 1998, p. 15), o movimento é uma sujeito não é ativo nem passivo: interativo
importante dimensão do desenvolvimento e da Assim, a criança usa as interações sociais como
cultura humana, visto que, "as crianças se formas privilegiadas de acesso a informações:
movimentam desde que nascem adquirindo aprendem a regra do jogo, por exemplo, por
cada vez maior controle sobre seu próprio meio dos outros e não como resultado de um
corpo e se apropriando cada vez mais das engajamento individual na solução de
possibilidades de interação com o mundo". problemas.
Desta maneira, aprende a regular seu
comportamento pelas reações, quer elas
pareçam agradáveis ou não. Enquanto Vygotsky
(1991), refere-se do faz de conta, Piaget fala do

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

jogo simbólico, e pode-se dizer, segundo alcança por meio do adulto e pode-se dizer que
Oliveira (1997), que são :: "ascendentes. “O a fase estende-se até em torno dos sete anos. A
brinquedo cria uma Zona de Desenvolvimento segunda fase é caracterizada pela imitação, a
Proximal. criança copia os modelos dos adultos. A terceira
A zona de desenvolvimento real é a do fase é marcada pelas convenções que surgem
conhecimento já adquirido, é o que a pessoa de regras e convenções a elas associadas.
traz consigo, já a proximal, só é atingida, de Vygotsky (1991, p. 109), ainda afirma que:
início, com o auxílio de outras pessoas mais É enorme a influência do brinquedo no
“capazes", que já tenham adquirido esse desenvolvimento de uma criança. É no
conhecimento. Para Vygotsky (1991), as brinquedo que a criança aprende a agir numa
maiores aquisições de uma criança são esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual
conseguidas no brinquedo, aquisições que no externa, dependendo das motivações e
futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação tendências internas, e não por incentivos
real e moralidade. fornecidos por objetos externos.
Piaget (1998), afirma que a atividade lúdica é A noção de “zona proximal de
o berço obrigatório das atividades intelectuais desenvolvimento" interliga-se, portanto, de
da criança, sendo, por isso, indispensável à maneira muito forte, à sensibilidade do
prática educativa. professor em relação às necessidades e
Na visão sócio-histórica de Vygotsky capacidades da criança e à sua aptidão para
(1991),o lúdico é uma atividade especifica da utilizar as contingências do meio a fim de dar-
infância, em que a criança recria a realidade lhe a possibilidade de passar do que sabe fazer
usando sistemas simbólicos. Essa é uma para o que não sabe (VYGOTSKY, 1991). As
atividade social, com contexto cultural e social. brincadeiras que são oferecidas à criança
Para Vygotsky, apud, por Wajskop (1999, p.35): devem estar de acordo com a zona de
A brincadeira cria para as crianças desenvolvimento em que ela se encontra. No
uma zona de desenvolvimento proximal que processo de educação o papel do professor é de
não é outra coisa senão a distância entre o nível suma importância, pois é ele quem cria os
atual de desenvolvimento, determinado pela espaços, disponibiliza materiais, participa das
capacidade de resolver independentemente brincadeiras, ou seja, faz a mediação -a
um problema, e o nível de desenvolvimento construção do conhecimento.
potencial, determinado por meio da resolução A desvalorização do movimento natural e
de um problema, sob a orientação de um espontâneo da criança em favor do
adulto, ou de um companheiro mais capaz. conhecimento estruturado e formalizado
Vygotsky, citado por Lins (1999), classifica o ignora as dimensões educativas da brincadeira
brincar em algumas fases: durante a primeira e do jogo como forma rica e poderosa de
fase a criança começa a se distanciar de seu estimular a atividade construtiva da criança. É
primeiro meio social, representado pela mãe, prioritário e necessário que o professor procure
começa a falar, andar e movimentar-se em ampliar sempre a vivência do aluno em relação
volta das coisas. Nesta fase, o ambiente a ao ambiente físico, com brinquedos,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

brincadeiras e com outras crianças. O jogo, o sentimento de grupo, para imaginação e se


compreendido sob a ótica do brinquedo e da autorrealiza.
criatividade, deverá encontrar maior espaço Teles (1999), acrescenta que criança que não
para ser entendido como educação, na medida brinca e, que desenvolve muito :edo. a noção
em que os professores compreenderem melhor do “peso" da vida, não tem condições de se
toda sua capacidade potencial de contribuir desenvolver de maneira sadia e que de alguma
para com o desenvolvimento da criança. forma, esta lacuna irá se manifestar em sua
Negrine (1994, p.20), em estudos realizados personalidade adulta. Se não se tornar
sobre aprendizagem e desenvolvimento completamente neurótica, percebe-se, em seu
infantil, afirma que "quando a criança chega à comportamento, traços neuróticos e até
escola, traz consigo toda uma pré-história, psicóticos e, muitas vezes, esta pessoa
construída a partir de suas vivências, grande carregará sempre a vida como se esta fosse
parte delas por meio da atividade lúdica". uma provocação, um sacrifício, um dever a ser
Segundo esse autor, é fundamental que os cumprido. Dificilmente conseguirá soltar-se, ser
professores tenham conhecimento do saber feliz com as pequenas coisas e sentir um prazer
que a criança construiu na interação com o genuíno.
ambiente familiar e sociocultural, para formular Teles (1999), explica que brincando a criança
sua proposta pedagógica. Entende- se, a partir também coloca para fora as suas emoções e
dos princípios aqui expostos, que o professor personaliza os seus conflitos. O brincar estimula
deverá contemplar a brincadeira como a criatividade, a imaginação, aprofunda, para a
princípio norteador das atividades didático- criança, a compreensão da realidade.
pedagógicas, possibilitando às manifestações Conforme Teles (1999), a brincadeira, o jogo
corporais encontrarem significado pela e o humor colocam o indivíduo em estado
ludicidade presente na relação que as crianças criativo. Entretanto, se a brincadeira que
mantêm com o mundo. estimula a criatividade só pode florescer num
ambiente de liberdade e flexibilidade
O LÚDICO NO psicológicas, de busca de prazer, de
autorrealização, deve-se concluir que o
DESENVOLVIMENTO DO desenvolvimento daquela encontra-se
INDIVÍDUO profundamente vinculado aos objetivos
Os jogos e as brincadeiras infantis são formas educacionais.
da criança manejar experiências, criar situações O brinquedo não só possibilita o
para dominar a realidade e experimentá-la. desenvolvimento de processos psíquicos, por
Segundo Teles (1999), brincar se coloca num parte da criança, como também serve como
patamar importantíssimo para a felicidade e instrumento para conhecer o mundo físico (e
realização da criança, no presente e no futuro. seus usos sociais) e, finalmente, entender os
Brincando, ela explora o mundo, constrói o seu diferentes modos de comportamento humano
saber, aprende a respeitar o outro, desenvolve (os papéis que desempenham como se
relacionam e os hábitos culturais). Para que as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

brincadeiras infantis tenham lugar garantido no Lara (2004), afirma que os jogos,
cotidiano das instituições educativas é ultimamente, vêm ganhando espaço dentro das
fundamental a atuação do educador. É escolas, numa tentativa de trazer o lúdico para
importante que as crianças tenham espaço para dentro da sala de aula. Acrescenta que a
brincar, assim como opções de mexer no pretensão da maioria dos professores com a
mobiliário; que possam, por exemplo, montar sua utilização é a de tornar as aulas mais
casinhas, cabanas, tendas de circo, etc. O agradáveis com o intuito de fazer com que a
tempo que as crianças têm à disposição para aprendizagem tome-se algo mais fascinante;
brincar também deve ser considerado: é além disso, as atividades lúdicas podem ser
importante dar tempo suficiente para que as consideradas como uma estratégia que
brincadeiras surjam se desenvolvam e se estimula o raciocínio, levando o aluno a
encerrem (REGO, apud, TELES, 1999, p.16). enfrentar situações conflitantes relacionadas
A escola e os pais muitas vezes limitam esse com o seu cotidiano.
brincar espontâneo nas crianças, ao invés de Jogos bem elaborados e explorados podem
darem liberdade e estimularem esse brincar ser vistos como uma estratégia de ensino,
que é tão importante para o seu podendo atingir diferentes objetivos que
desenvolvimento saudável e feliz. variam desde o simples treinamento, até a
De acordo com Teles (1999), o construção de um determinado conhecimento,
reconhecimento, o apoio e o incentivo, por afirma Lara (2004).
parte de pais e professores, é condição A aprendizagem por meio de jogos, como
essencial para o bom funcionamento da criança dominó, palavras cruzadas, memória e outros
criativa, de autoestima positiva, segura e permite que o aluno faça da aprendizagem um
equilibrada. processo interessante e até divertido. Para isso,
Teles (1999), afirma que a brincadeira, além eles devem ser utilizados ocasionalmente para
dos mil motivos da importância da vida da sanar as lacunas que se produzem na atividade
criança, é o verdadeiro impulso da criatividade escolar diária. Neste sentido verificamos que há
e que não existe adulto criativo sem criança que três aspectos que por si só justificam a
brinque. incorporação do jogo nas aulas. São estes: o
caráter lúdico, o desenvolvimento de técnicas
ATIVIDADES LÚDICAS NO intelectuais e a formação de relações sociais.
(GROENWALD e TIMM ,2002) citado por Lara
CONTEXTO ESCOLAR (2004, p.23)).
Jogos educativos podem facilitar o processo Inúmeros jogos oferecidos pelo computador
de ensino-aprendizagem e ainda serem ajudam a desenvolver o pensamento, o
prazerosos interessantes e desafiantes. O jogo raciocínio e ainda questões de matemática, de
pode ser um ótimo recurso didático ou ciências, de escrita, físicas, psicológicas,
estratégia de ensino para os educadores e sociais... Hoje em dia encontra-se uma
também ser um rico instrumento para a infinidade de jogos educacionais e tipos.
construção do conhecimento. Segundo Valente (1993), a pedagogia por trás

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dos jogos educacionais é a de exploração interessantes. Destaca-se o Portal dos Jogos


autodirigida ao invés da instrução explícita e Cooperativos Computacionais (Jogos
direta, está filosofia de ensino defende a idéia Cooperativos Computacionais, 2006), que vem
de que a criança aprende melhor quando ela é ao encontro desta proposta de jogos
livre para descobrir relações por ela mesma, ao colaborativo e cooperativos. O objetivo
invés de ser explicitamente ensinada. principal do projeto que mantém este portal é
Valente (1993), acrescenta que existe uma o de disponibilizar livremente jogos
grande variedade de jogos educacionais para cooperativos computacionais, desenvolvidos
ensinar conceitos que podem ser difíceis de pelos alunos do curso de Bacharelado em
serem assimilados e o fato de não existirem Ciência da Computação da Universidade
aplicações práticas mais imediatas, como o Federal de Lavras (UFLA), e pelo Grupo de
conceito de trigonometria, de probabilidade, Desenvolvimento de Jogos Cooperativos
etc. Entretanto, destaca também, que o grande Computacionais do Núcleo de Estudos e
"problema com os jogos é que a competição Pesquisas Multidisciplinares (NEMU), do
pode desviar a atenção da criança do conceito Departamento de Ciência da Computação (DCC
envolvido no jogo. - UFLA), para que seja utilizado como
Lara (2004), também coloca que a ferramenta de apoio ao ensino em escolas de
competição pode trazer efeitos negativos se ensino fundamental e médio, geralmente com
não se souber lidar com a mesma de maneira versões dos jogos tanto para o sistema
positiva. Acrescenta que nem todos os jogos operacional Linux, como para o Windows.
trazem a competição em primeiro lugar e Valente (1993), aponta também que muitos
muitas vezes é o professor quem sem nem se jogos exploram conceitos extremamente
dar conta enfatiza um vencedor ou um triviais e não tem a capacidade de diagnóstico
perdedor. Caberá aos educadores mostrarem das falhas do jogador e a maneira de contornar
que o objetivo do jogo é fazer com que todos estes problemas é fazendo com que o aprendiz,
atinjam um desenvolvimento adequado e que após uma jogada que não deu certo, reflita
certas habilidades devam ser adquiridas, sobre a causa do erro e tome consciência do
motivando, assim, os alunos a se interessarem erro conceituai envolvido na jogada errada.
pelo jogo, reconhecendo suas dificuldades e Nessas análises é muito importante à
detectando suas falhas e erros na tentativa de interacção e mediação dos professores,
saná-los. Trabalhar também com a perda e a fundamental neste processo para que os
vitória são importantes, pois em situações reais objetivos dos jogos não passem a ser
da vida algumas vezes se ganha, outras se unicamente vencer no jogo, deixando de lado
perde. Também se podem desenvolver jogos as questões de aprendizagens com o mesmo.
colaborativos, ao invés de competitivos, no Existem diferentes tipos de jogos e
qual um ajude ao outro a resolver a questão do aplicabilidades. Lara (2004), diferencia-os em
jogo. quatro tipos. Jogos de construção, de
Atualmente encontra-se também uma treinamento, de aprofundamento e
infinidade de portais de jogos e alguns bem estratégicos, que podem ser perfeitamente

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aplicados também na classificação dos jogos Todo jogo deve ser analisado pelo professor
computacionais. antes de ser aplicado com os alunos também
Jogos de construção, conforme Lara (2004), acrescenta Lara (2004), que não se deve tornar
são aqueles que trazem aos alunos um assunto o jogo algo obrigatório sempre buscar jogos em
desconhecido fazendo com que, por meio da que o fator sorte não interfira permitido que »='
sua prática o aluno sinta a necessidade de :a aquele que descobrir as melhores
buscar novos conhecimentos para resolver as estratégias; estabelecer regras, que podem ser
questões propostas pelo jogo. Jogos desse tipo codificadas no decorrer do jogo; trabalhar a
permitem a construção do aprendizado, frustração pela derrota na criança, sentido de
despertando a curiosidade e levando o minimiza-la; estudar o jogo antes de aplicá-lo e
educando a procura de novos conhecimentos. analisar as jogadas :e depois da prática.
Jogos de treinamento também são muito O jogo na sala de aula pode ser um rico
úteis, pois se sabe que mesmo que o educando recurso de aprendizagem, explorado de
tenha construído o conhecimento por meio do maneiras diferenciadas de acordo com as
seu pensamento ele precisa exercitar para situações e objetivos almejados, favorecendo
praticá-lo, estendê-lo, aumentar a sua os processos de ensino-aprendizagem.
autoconfiança e familiarização com o mesmo. Oliveira (2001), aponta que os jogos
O treinamento pode auxiliar no educacionais têm como objetivo possibilitar
desenvolvimento de um pensamento dedutivo entretenimento para o usuário, podendo
ou lógico mais rápido. Muitas vezes, é por meio ademais influenciar o seu desenvolvimento
de exercícios repetitivos que o/a aluno/a socio-afetiva e cognitivo.
percebe a existência de outro caminho de Podem apresentar situações que contenham
resolução que poderia ser seguido, simulações, tutoriais ou sistemas inteligentes,
aumentando, assim, suas possibilidades de mas o que evidencia esse tipo de software é seu
ação e intervenção. [...] pode ser utilizado para caráter de divertimento, de prazer. Uma
verificar se o/a aluno/a construiu ou não situação de jogo oferece aos usuários intensa
determinado conhecimento, servido como um interatividade, permitindo ampliar as relações
termômetro que medira o real entendimento sociais no ambiente de ensino, cativando o
que o aluno obteve. interesse dos alunos em relação a temas muitas
Os Jogos estratégicos como Dama, Xadrez, vezes difíceis de ser apresentados por outras
Freecell, Batalha Naval, Campo minado e muito abordagens. A essência do jogo educacional é
outros são: aprendizagem com prazer e a criatividade com
Jogos que fazem com que o/a aluno/a crie diversão (OLIVEIRA, 2001, p.81).
estratégias de ação para uma melhor atuação Segundo Oliveira (2001), a Informática na
como jogador/a, onde ele/a tenha que criar Educação pode proporcionar uma nova
hipóteses e desenvolver um pensamento dinâmica ao processo de construção do
sistêmico, podendo pensar múltiplas conhecimento. Se até há pouco tempo livros,
alternativas para resolver um determinado apostilas, jornais e revistas era a principal fonte
problema (LARA, 2004, p.27). de pesquisa, hoje também se integram a esses

910
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

recursos os Cd’s e as páginas de Internet, bem


como o áudio e videoconferências. Se a
biblioteca era a referência para pesquisas nas
diversas áreas do conhecimento, o próprio
conceito de biblioteca hoje muda com os
sistemas de pesquisas on-line nas bibliotecas
digitais e virtuais. As tecnologias inseridas no
processo educacional abrem novos caminhos
para a construção do conhecimento, com mais
interação, colaboração, trocas, práticas on-line
nas bibliotecas digitais e virtuais.
Oliveira (2001), acrescenta que mesmo
reconhecendo a comunicação como uma das
condições basilares para a interação humana,
não se pode entender a produção de materiais
pedagógicos para o processo de ensino-
aprendizagem dos saberes culturais como uma
simples transmissão de um conhecimento por
parte de alguns e a recepção por parte de
outros, mas como construções e reconstruções
inerentes ao conhecimento e por meio de jogos
é possível também construir e reconstruir
conhecimento.
A construção de materiais pedagógicos, além
disso, precisa levar em conta que a tarefa do
professor não se restringe à atuação no âmbito
da sala de aula, mas inclui aspectos de gestão e
de manejo de relações humanas no contexto da
escola, tendo em vista o caráter social e
socializador da educação escolar (COLL,1996,
p.8).
Os jogos educativos tanto computacionais
como outros são, com certeza, recursos
riquíssimos para desenvolver o conhecimento e
habilidades se bem elaborados e explorados.
São uma estratégia de ensino podendo atingir
diferentes objetivos e áreas do conhecimento.

911
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O lúdico é utilizado para chamar e atrair os alunos, incluindo-os, no processo pedagógico,
com probabilidade significativa de sucesso, esta Proposta tem como pressupostos uma visão
positiva das possibilidades dos alunos e uma aposta no crescimento da competência da escola.
Identificadas às necessidades dos alunos, o trabalho deverá desenvolver-se de maneira
flexível, mas sem desvios de rumo, dentro de um padrão metodológico que se sustente em
princípios norteadores claros. Assim, mobilizar interesses, ativar a participação, desafiar o
pensamento, instalar o entusiasmo e a confiança, possibilitar acertos, valorizar os avanços e
melhorar a autoestima passam a ser diretrizes da atuação do professor em sala de aula, numa
busca de tornar significativo o processo de ensino aprendizagem. Pode-se afirmar que a escola
seja um ambiente, ou lugar de tomadas de decisões. Decisões que muitas vezes são levadas para
o resto de uma vida.
São das relações humanas e suas decisões que surgem o êxito ou fracasso escolar, as
dificuldades e as barreiras a serem vencidas durante todo o processo de ensino. A construção do
saber inicia-se com a reorganização da estrutura escolar e de sua comunidade interna, dos pais e
alunos. A comunidade escolar de modo geral precisa conhecer e conscientizar-se sobre os
princípios que norteiam suas práticas e o que interfere diretamente no comportamento dos
alunos, das intervenções que o processo ensino/aprendizagem sofre, de como esses elementos
externos (culturais, políticos e sociais), alteram ou contribuem na ação pedagógica e na
aprendizagem da criança.
A prática pedagógica deve partir de referenciais teóricos que contemplem o
desenvolvimento pleno da criança, no crescimento de suas habilidades para que efetivamente
aproprie-se de conhecimentos básicos e que possam vir a construir outros saberes a partir desses.
Esse é o projeto educativo que realmente traz significações ao ensino, pois visa primeiramente à
aquisição e produção do saber, sem provocar violência tanto intelectual quanto afetiva, que
inviabilizam toda a dinâmica do ambiente escolar.

912
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. T. P. Jogos divertidos e brinquedos criativos. Petrópolis: Vozes, 2004.

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Petrópolis: Editora Vozes, 2004.

BASSEDAS, Eulália; HUGUET, Tereza; SOLÉ, Isabel. Aprender ensinar na educação infantil,
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1988.

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Santos, SP: ReNovada, 1999.

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quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.

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1990.

WINNICOTT, D. W. O brincar & a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

913
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO E MODERNIDADE:
AS REFORMAS EDUCACIONAIS
DO MARQUÊS DE POMBAL
Daniel Mendes Gomes1

RESUMO: As reformas educacionais implementadas por Sebastião José de Carvalho e Melo


quando esteve à frente do comando administrativo do governo português prefiguraram um
modelo de educação pública até então inexistente na história lusitana e quiçá na Europa. Essa
nova escola que surgiu após a segunda metade do século XVIII também foi implantada no Brasil,
quando ainda era colônia portuguesa e se estendeu até o século XIX, passando pelo processo de
independência finalizando com o Ato adicional a Constituição de 1834.

Palavras-Chave: Reformismo português; Liberalismo; Cadeiras públicas.

1Professor Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de Educação de São Paulo.


Graduação: Bacharelado em Geografia; Licenciatura em Geografia pela Universidade de São Paulo.
E-mail: mendesgomes2206@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Outra vertente de estudos em História da


Educação marcou profundamente as décadas
Em 28 de Junho de 1759 os jesuítas foram de 1980 até os dias atuais. Para autores como
expulsos dos domínios portugueses pelo Alvará Kenneth Maxwell, Laerte Ramos de Carvalho e
Régio de 1759, assinado pelo Rei D. José I, Rômulo de Carvalho, houve educação no século
fortemente influenciado pelo seu ministro XIX. Mesmo que não tenha sido bem sucedida,
Sebastião José Melo de Carvalho. Esse evento, no período pós-expulsão jesuítica houve um
juntamente com a reforma dos estudos forte debate educacional e aulas régias, escolas
maiores em 1772, marcou profundas confessionais e outras. Portanto, as reformas
modificações no cenário educacional tanto em pombalinas marcam outro momento da
Portugal quanto no Brasil, que no caso é sobre História da Educação no Brasil.
esse último que temos maior interesse. É a luz dessa segunda corrente de
Para entendermos o que foram tais pensamento que pretendemos entender o que
mudanças nos faz necessário um recorte foi a educação na modernidade, ou seja, a
histórico para uma análise do contexto político educação dentro de um contexto cultural
e social do final do século XVIII. Preocupam-nos conhecido como o iluminismo juntamente com
saber quem foi Pombal, quais suas intenções a ascensão de novo grupo formada por
com a reforma dos estudos em Portugal e por comerciantes e industriais, a burguesia. Isso
da expulsão dos jesuítas. Como o Marquês de significa entender a educação na ótica do
Pombal conseguiu tamanha força para liberalismo.
enfrentar uma ordem religiosa? Como Portugal
e seus domínios inseriam-se na ordem mundial
ILUMINISMO E LIBERALISMO
vigente?
Ao final do século XVIII Portugal não mais
A bibliografia em História da Educação nos
possuía o prestígio de outrora. Após a
aponta para duas correntes de estudo do século
Unificação Ibérica – 1580-1640 – esse país
XVII. Uma que entende que a expulsão dos
começa a passar por um profundo declínio. Há
jesuítas e as reformas pombalinas como o fim
problemas de demarcação de fronteiras nos
do sistema ensino no Brasil. Essa linha de
territórios na América causando conflitos com a
pensamento é muito bem representada pela
Espanha. Portugal passa também por uma
obra de Fernando de Azevedo e marcou os
profunda crise devida sua dependência da
meados da década de 1950. Para Fernando de
Inglaterra como podemos verificar no do
Azevedo, os avanços educacionais ocorreram
Tratado de Methuem em 1703. Os portugueses
somente na educação jesuítica e a partir da
foram obrigados a comercializar
chamada Geração de 20 com os também
exclusivamente com a coroa britânica produtos
chamados Pioneiros da Educação. O Período
têxteis manufaturados o que acabou num
que vai a partir da metade do século XVIII e
rombo na balança comercial portuguesa.
alcança todo o Império no século XIX trata-se de
A partir da segunda metade do século XVII,
um vazio educacional.
novas idéias começam a surgir e a circular por
vários cantos da Europa. Era o velho mundo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

feudal que, muito atacado nos últimos Diderot. Poderíamos também mencionar como
duzentos e cinquenta anos, começa a sucumbir expressão do pensamento iluminista Rosseau,
por vez. A burguesia, que ressurgira do Voltaire e Montesquieu.
Renascimento, lentamente conquista o seu Devido valorização do conhecimento
espaço social e neste momento, segunda científico, a educação se apresenta com um
metade do século XVIII, almeja o poder. O papel importante nessa nova sociedade que
comércio multiplicava-se, assim como a estava se constituindo. Aos poucos uma
manufatura. Esse novo burguês, rico, porém demanda por novos profissionais
sem o status de nobre, questionava a sociedade especializados, técnicos e pessoas letradas foi
estamental. ganhando volume.
O liberalismo vai ao encontro dessa
necessidade burguesa, ou seja, o homem passa O DESPOTISMO ESLARECIDO
a ter direitos de indivíduo, direito de igualdade.
Era por meio do trabalho que teríamos a PORTUGUÊS
distinção social, não mais pela origem. Nessa Enquanto uma parte da Europa estava
direção temos a obra “A Riqueza das Nações”, bebendo da fonte do Iluminismo, Portugal
de Adam Smith que, juntamente com David ainda se encontrava em posição periférica
Ricardo, trouxeram as idéias liberais para o nesse processo. Porém sob a influência de
campo da economia. O liberalismo trouxe-nos a grandes intelectuais portugueses que não
idéia do enriquecimento como gerador de viviam em seu país teremos profundas
prosperidade para todos os indivíduos, daí a mudanças no Estado português, o iluminismo
necessidade de libertar o comércio de suas português, chamado pela historiografia, devido
amarras, em outras palavras, deixar que a “mão as suas particularidades, de Despotismo
invisível” controle os preços e os mercados. Ilustrado ou Esclarecido.
“Deixo-os fazer, deixo-os passar”. O liberalismo Em 1750 assume o trono português o rei D.
vem para libertar o homem dos nós do José I. Como já mencionado anteriormente,
feudalismo, da predestinação divina. Portugal vivia sob uma grave crise financeira e
Nesse mesmo momento histórico temos um atraso cultural. Para implantar uma política
forte avanço no campo da filosofia e na ciência reformista, o rei teve como principal apoio o
em geral, um conjunto de novos pensamentos ministro Sebastião de Carvalho e Melo, o
caracterizado pela ênfase na experiência e na Marquês de Pombal.
razão, pela desconfiança em relação à religião e Pombal era um dos grandes intelectuais
nas idéias tradicionais. Apesar de ter tido muito portugueses de sua época, passara muito
avanço já no século XVII com as cartas de tempo fora de seu país. Foi embaixador de
Descartes e os textos de Bacon e Hobbes, é no Portugal em Londres de 1739 a 1743,
século XVIII que o Iluminismo tem o seu frequentou o círculo da Royal Society. Também
completo florescimento. É nesse século que assumiu cargo diplomático na Áustria,
temos as obras de Kant e Hume, assim como a (CARDOSO 2002). Em 1755 Pombal volta para
criação da Enciclopédia por D’Alembert e Portugal para ser o mais poderoso ministro de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

D. João I. Dentre as políticas adotadas por formação, mas sim o domínio da disciplina a ser
Pombal o que nos interessa nesse trabalho são lecionada.
as reformas educacionais. Os professores régios deveriam usar de
As reformas pombalinas mostram harmonia metodologia e material de ensino próprios da
com pensamento iluminista. Pombal estava concepção de ensino dos iluministas, muito
calcado no Iluminismo Europeu, reconhecia o influenciado pelos oratorianos como o uso
atraso português e entendia que era mister obrigatório do Catecismo de Montpellier e a
uma reforma educacional. Porém não podemos utilização do Verdadeiro Método de Estudar,
entender as reformas educacionais de Portugal tema que será aprofundado mais adiante.
como algo isolado, elas estavam dentro de um Temos também a proibição da língua geral,
projeto maior que era o de modernização do usada pelos índios e a imposição da língua
Estado Português. portuguesa.
O reformismo ilustrado de Pombal propunha Vemos que tais medidas foram de encontro
uma um combate à escolástica, a secularização ao ensinamento jesuíta, esses eram
e criação de um sistema púbico de ensino no responsabilizados pelo atraso cultural do país.
âmbito educacional e a racionalização do Segundo Laerte Ramos de Carvalho (1773, p.
comércio, a demarcação das fronteiras nas 28):
colônias e a soberania do Estado no âmbito
geral. Na esfera dos problemas da educação e, no
Com o alvará de 1759 temos a expulsão dos sentido mais amplo, da cultura, atribuiu-se aos
Jesuítas do todo território português, com isso jesuítas a responsabilidade pelo atraso e, que
governo teve que criar aulas para substituir o se encontravam as letras portuguesas no século
vazio deixado pela ordem inaciana, lembrando XVIII. Os jesuítas seriam, desta forma, os
que eram eles que cuidavam de grande parte principais fatores da resistência à introdução
das escolas. Temos a partir desse evento a das idéias novas e da “boa” filosofia em
criação de aulas régias em todo reino, aulas de Portugal.
ler, escrever e contar e cadeiras avulsas de Ainda para agravar a situação dos Jesuítas no
Gramática, Latim, Grego, Hebraico, Retórica e Brasil Colônia, ocorreu um forte embate
Poética. político entre governo e Jesuítas devido à
De acordo com a reforma dos ensinos questão da emancipação do índio. Segundo a
menores, deveria haver em cada cabeça de Coroa Portuguesa, o índio passaria a condição
comarca aulas avulsas secundárias para de cidadão. Esse problema estava diretamente
meninos. Ou seja, temos a concepção mesmo relacionado com as questões de manutenção
que precária de um sistema público de ensino do território, racionalização da economia e
baseado em aulas régias. A partir daí os povoamento.
professores deveriam ser devidamente A política portuguesa tinha como um de seus
legalizados por meio de concurso público para objetivos otimizar o comércio português, para
assumir uma cadeira. Não era necessária isso, uma das medidas de Pombal foi a criação
da Companhia do Grão Pará e Maranhão no

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

território amazônico e a nomeação do seu extinção da Ordem feita pelo papa Clemente
próprio irmão, Francisco Xavier de Mendonça XIV em 1773.
Furtado, para o controle daquela região. Portanto, o conservadorismo da Companhia
Conforme foi dito anteriormente, Portugal de Jesus passou a ser um sério problema na
dependia da Inglaterra e por isso era obrigado implementação das reformas, isso explica a
a manter negociações mesmo que perseguição aos inacianos pelo Governo de
desfavoráveis com aquele país. A criação da Portugal.
Companhia foi uma maneira diplomática de
expulsar os comerciantes estrangeiros, A REFORMA DOS ESTUDOS
inclusive os próprios ingleses da Região
As aulas régias introduzidas pela reforma
Amazônica sem causar conflitos com a
educacional de 1759 possuíam uma
Inglaterra.
organização metodológica e curricular muito
Entretanto para que essa reestruturação
influenciada pela Ordem Oratoriana a
comercial se concretizasse era mister povoar o
principalmente pelos trabalhos de Luís Antônio
território da colônia. Pelo fato de Portugal ser
de Verney.
um país de população escassa, Pombal autoriza
Verney era filho de lojistas lisboetas de
o casamento entre índios e colonos e eleva o
ascendência francesa, estudou primeiramente
status do indígena a condição de cidadão o que
com jesuítas e depois com os oratorianos.
acabou num forte conflito entre o governo
Cursou teologia em Évora e em 1736 partiu
português e os jesuítas.
para Roma entrando assim em contato direto
Outro embate ocorre também na porção
com o pensamento ilustrado. Mesmo longe de
meridional da colônia. Em 1750 temos o
sua nação escreve dezesseis cartas intituladas
Tratado de Madri assinado entre as coroas de
“O Verdadeiro Método de Estudar” com o
Espanha e Portugal que definiu os limites entre
intuito de modernizar a educação portuguesa,
esses dois países. Com o tratado os Jesuítas
como bem coloca Carvalho (2002 p. 67):
espanhóis são obrigados a deixar a colônia de
A obra em questão destinava-se a uma
Sete Povos das Missões o que gera um conflito
reforma geral do ensino, incluindo métodos
entre jesuítas e índios guaranis contra o
pedagógicos, compêndios, programas e
governo português.
preparação dos mestres. Autêntico
Segundo Maxwell (2002), os problemas
representante da mentalidade ilustrada,
ocorridos no Brasil colônia foram fundamentais
defendia um programa de estudos baseado na
para a extinção da ordem jesuítica no restante
história da filosofia, lógica, ética, e
do mundo. Segundo esse autor, Portugal foi a
principalmente a física em lugar da metafísica e
primeira nação a expulsar os jesuítas e tal
da filosofia escolástica.
pioneirismo se dá devido aos problemas
Além de Verney, Pombal estava amparado
ocorridos na Amazônia e no Sul. Após o
por outros intelectuais iluministas portugueses
ocorrido em Portugal todas as demais nações se
que embora também não vivendo em Portugal
apressaram em seguir o exemplo português até
tinham grande preocupação com os caminhos
de sua nação. É o caso de Antônio Ribeiro

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nunes Ribeiro Sanches, médico português e outros textos começam a ser escrito em
prestigiado por toda a Europa, estudou na Português, que aos poucos vai substituindo o
Universidade de Leida e trabalhou dezesseis Latim.
anos na Rússia o restante de sua vida em Paris, Entretanto, apesar do forte debate em torno
(CARVALHO 2002). Sanches escreveu em 1759 da educação no período estudado, o que
as “Cartas Sobre a Educação da Mocidade” no ocorreu efetivamente no Brasil Colônia foi a
intuito de levar a educação da portuguesa ao criação de um pequeno número de aulas régias
caminho das luzes. em estabelecimentos precários com poucos
Porém, ao contrário de Verney, esse professores e mal remunerados. Como já
intelectual entendia que a educação era algo sabemos, deveria haver cadeiras isoladas em
somente de uma elite. Para Sanches, cada cabeça de comarca, porém o projeto
estabelecer colégios nas áreas rurais e pobres pombalino atinge somente a uma ínfima
poria em risco a estabilidade social, fazendo parcela da sociedade.
com que filhos de camponeses almejassem As aulas eram, na maioria dos casos, dados
outro ofício senão o do campo. O próprio autor na casa do professor e nem sempre era o local
escreve que: mais adequado. Além do local, o professor
Todo rapaz ou rapariga que aprendeu a ler e também deveria fornecer todo o material para
a escrever, se há de ganhar o seu sustento com a realização da aula, em muitos casos, para os
seu trabalho, perde muito a força enquanto professores iniciantes. A coroa adiantava o
aprende e adquire um hábito de preguiça e de salário para a compra de material. Em 1772,
liberdade desonesta... Perdem a força dos com a reforma dos estudos maiores, foi criado
membros, aquela desenvoltura natural, porque o Subsídio Literário, que tinha por finalidade o
a agitação o movimento e a inconstância é pagamento dos professores. Mas mesmo com a
própria da idade da meninice; e não convém criação desse imposto as aulas eram escassas,
uma educação tão mole a que há-de servir à sendo o somente 5% das aulas criadas no reino
República, de pés e mãos, por toda vida português destinadas ao Brasil.
(SANCHES, apud, BOTO, 2004, p.).
Mesmo havendo diferenças entre essas duas
concepções, tanto Verney quanto Sanches
possuem um projeto de mudança pautado no
iluminismo e contrário à educação que até
então era feita em Portugal. Dentre as
mudanças, temos a extinção da língua geral,
falada pelos índios no Brasil e a imposição da
língua portuguesa falada e escrita. A gramática
da Língua Portuguesa passa a ser uma disciplina
obrigatória e essa nova necessidade ocorre não
só no âmbito educacional, mas também nas
outras esferas sociais. Documentos oficiais, leis

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reformas educacionais de Pombal tiveram forte influência nos anos posteriores, até
mesmo após a saída do ministro e de seu rei D. José I. Concordamos com a nova corrente de
estudos em História da Educação que entende o período pombalino como mais um momento da
História em que se discutiu e se fez educação. Porém não podemos perder de vista que, o novo
projeto de educação para Portugal e seus domínios teve vários problemas e a educação ficou
muito restrita, somente nas maiores concentrações urbanas.
Outro ponto importante das reformas foi a mudança no currículo e da pedagogia, calcado
no pensamento iluminista. Mesmo que muitos estudantes no Brasil, filhos da aristocracia rural,
que tiveram a oportunidade de estudar nas grandes universidades renovadas como aqueles que
estudaram na Universidade de Coimbra, entraram em contato com o pensamento liberal,
banharam-se nas luzes do iluminismo, mas não modificaram a estrutura paternalista,
escravocrata do Brasil. O pensamento renovado no Brasil corroborou para que a aristocracia
rural mantivesse seu prestígio nobre e a ordem vigente.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Anita C. Lima de. Nota sobre as reformas pombalinas dos estudos menores no
Brasil. In: MAGALI, A.M. et alii (orgs). Educação no Brasil: história, cultura política. Bragança
Paulista-SP: EDUSF, 2003, p.99;116.

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BASTOS, M. Helena; STEPHANOU, Maria. (orgs.) Histórias e memórias da educação no Brasil
– sécs. XVI-XVII, vol. I. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

CARDOSO, Tereza Rolo Fachada Levy. As Luzes da Educação: fundamentos, raízes


históricas e prática das aulas régias no Rio de Janeiro. 1759-1834. Bragança Paulista-SP:
EDUSF, 2002.

CARVALHO, Laerte Ramos de. As reformas pombalinas da instrução pública. São Paulo:
EDUSP. 1978.

MAXWELL, Kenneth. A Amazônia e o fim dos jesuítas. In: Mais malandros; ensaios tropicais
e outros. São Paulo: PAZ & Terra, 2002.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA
Luziane Bomfim da Silva1

RESUMO: O artigo propõe uma reflexão sobre a temática educação e tecnologia. Em uma época
em que as mudanças estão acontecendo de forma mais acelerada em todos os ambientes que
permeiam a sociedade. Com a educação não é diferente, pois ela é um ambiente social, no qual
ocorre a sistematização do conhecimento formal. São diversas as propostas pedagógicas, as
reestruturações no Projeto Político Pedagógico e nos currículos, no material didático, na demanda
de alunos, enfim, ações para que a educação acompanhe o ritmo da evolução e atenda toda a
comunidade escolar com qualidade.

Palavras-Chave: Educação; Tecnologia; Aprendizagem.

1Professora de Ensino Fundamental I na Rede Municipal de Caxias -Ma.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Filosofia, Sociologia e Ensino Religioso.
E-mail: luziannypedagogia@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO capacitar quanto à utilização dos softwares


educacionais.
A escolha deste objeto de estudos deu-se Nas propostas pedagógicas, o uso das
pela necessidade de despertar o interesse do tecnologias na educação é um dos fatores que
leitor sobre mostrar a importância dos propõe facilitar a busca por novos
softwares educacionais no processo de conhecimentos e informações nos ambientes
aprendizagem dos alunos e sua aplicabilidade sociais. Com efeito, as escolas são estimuladas
de forma diversificada. a adotar um recurso importante ao uso do
Nota-se que o computador é um dos computador em sala de aula, que passou a ser
recursos que está inserido no cotidiano da vida ferramenta de auxílio na construção do
escolar, visto que já está inserido no dia- a- dia conhecimento, desenvolvendo nos alunos o
de todos. O computador é uma alternativa mais raciocínio lógico matemático, a capacidade de
viável, prático e com melhores resultados para concentração, coordenação motora fina,
atrair e motivar os alunos em ambientes criatividade, orientação espacial, por meio dos
educativos. editores de texto, de apresentação, jogos
Como o computador é um dos elementos interativos, entre outros, que favorecem a
inovadores que podem auxiliar no processo de aprendizagem ativa.
aprendizagem dos alunos, por se tratar de uma
máquina com múltiplas funções e também traz
A TECNOLOGIA DA EDUCAÇÃO
informações que pode ser considerado como
um elemento integrador no processo de ensino
• O Professor, a Tecnologia e o Processo
aprendizagem. E uma das funções que abrange
Ensino-aprendizagem
o computador é dos softwares educacionais.
A tecnologia da educação é a soma total das
Os softwares educacionais são um dos
atividades que fazem com que a pessoa
recursos inovadores no âmbito escolar, é um
modifique seus ambientes externos (materiais)
assunto novo que os profissionais da área da
ou interno (comportamento). Uma aplicação
educação apavoram-se quando são
sistemática dos recursos do conhecimento
pressionados a lidar com equipamentos
científico do processo que necessita que cada
eletrônicos, porque a maioria não sabe usar
indivíduo adquire e utilize o conhecimento.
esse recurso. Estudos já comprovaram que a
Quando superficialmente se fala de "novas
escola que ensina por meio de computadores é
tecnologias", estamos usando incorretamente
melhor e prepara os alunos para a sociedade
um adjetivo, já que os novos confundem com o
informacional. E para o ensino ser de qualidade
último "a última palavra na aplicação de
precisa que a escola inove a sala de aula, pois
técnicas" (LUDKÉ, 2006, p. 47).
vários professores da área da informática já
Uma enciclopédia na internet não perde o
comprovaram que o software educacional é um
seu carácter de enciclopédia, o que muda é sua
bom recurso para facilitar a aprendizagem dos
forma de utilização, a facilidade e a velocidade
alunos. Os professores devem sempre se
na gestão, qualidade, mobilidade e sonorização
de suas ilustrações.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Muitos docentes não sabem como usar um docentes que necessitam lidar com a rápida e
computador ou navegar na internet e muito constante evolução em matéria económica,
menos têm sequer um e-mail. Este é um social, cultural e tecnológica; a adequação dos
primeiro obstáculo na integração da tecnologia modelos pedagógicos para serem capazes de
no processo de ensino-aprendizagem. trabalhar com crianças e jovens que exigem
Aparentemente poderiam representar um alto novas formas de interação e exibem outros
custo económico a formação desses comportamentos, valores e interesses; o
professores. domínio restrito da ciência e o conhecimento
Para Sancho (2001), uma sugestão é que os para o ensino que cada vez aumenta a distância
docentes formados em áreas tecnológicas entre os avanços recentes na evolução da
capacitem seus colegas, em tempo destinados ciência e da tecnologia; a pouca versatilidade
a atualização e nos períodos entre os do professor para abordar novas divisões do
semestres. Com isto não somente se anula um trabalho no socioeducativo: pré-escolar,
gasto econômico, mas também permite a primário, secundário, etc.
interação entre os próprios professores. Do mesmo modo devem ser implementadas
Os projetos de formação de professores propostas pedagógicas que incorporam todos
devem ser formulados pelos próprios diretores os meios ao seu dispor para encorajar o
das escolas de acordo com as necessidades de processo de ensino-aprendizagem e uma forte
seus professores. Aliás se pode configurar e eficiente formação de professores em uma
sistemas de formação que permitem que o fase cultural caracterizada pelo
professor para adquirir conhecimento pessoal, desenvolvimento tecnológico, a diversidade de
pedagógico e suporte técnico. Alguns alunos formas de comunicação e transformações nos
podem saber mais do que os professores em modos de trabalho.
um computador, mas não sobre os processos Peters (2003), assevera que é necessário
de aprendizagem e a interação dos professores. para a capacitação de professores no uso da
O docente deve se atualizar para o tecnologia que irá permitir que o domínio dos
desenvolvimento tecnológico, por que se não novos meios de comunicação e a sua integração
souber aprender como vão ser capazes de no currículo e ensino. A integração de
ensinar as crianças e os jovens a aprender? O tecnologia pode gerar mudanças a curto, a
uso da tecnologia deve ajudar o professor a médio e a longo prazo nas salas de aula de
compreender que o ensino e a aprendizagem maneiras que beneficiem o processo de
são duas faces da mesma moeda; porque só se aprendizagem do aluno.
ensina o que se sabe e só dá o que se tem e se Estes recursos podem gerar atividades de
não tiver a iniciativa e atitude de aprendizagem trabalho atrativas e inovadoras que sem a sua
não poderá ter um desempenho adequado existência seria impossível programar. No
para o desenvolvimento da sociedade em seus entanto, esse recurso por si só não pode gerar
diferentes aspectos. uma grande mudança na educação. É o docente
De acordo Soares (2011), deparamos com quem deve e pode causar uma mudança na sala
uma preparação insuficiente para com os de aula e auxiliado por esses recursos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A tecnologia que ainda é utilizada materiais didáticos baseados na tecnologia.


normalmente pelo professor em sua prática Não é necessário ou indispensável as
consiste em: giz, pincel, marcadores, apagador, importações de tecnologia, aqui no nosso país,
quadro negro e quadro branco. Em algumas existem muitos docentes com criatividade e
ocasiões, torna o uso de computadores, talento.
internet, multimídia, slides, documentários, Alguns professores, como Gonzalez (2005),
jornais, filmadoras, scanners, câmeras digitais, elaboram o seu material didático, mesmo que
variedade de programas educativos CD-ROM, permanece no anonimato, esquecidos, em um
músicas, desenhos animados, filmes e muitos canto, é necessário salvar estes materiais e ao
outros. mesmo tempo promover o trabalho de muitos
Muitas vezes deslumbramos com modelos, professores. É necessário motivar e
propostas e fórmulas concebidas no exterior. reconhecemos o seu trabalho de forma a sentir
Tendemos a imitá-los e a copiá-los tal e como que o seu esforço não é em vão.
se desenvolvem nesses países sem levar em É certamente uma maneira de avaliar o
conta que as condições socioculturais são trabalho. A questão não é apoiar todas as
diferentes. criações. É apoiar os relevantes e que podem
Teríamos de ter uma compreensão materializar propostas viáveis e contribuir para
abrangente dos modelos de referência. Temos superar as dificuldades do ensino e da
esquecido que nós podemos projetar e aprendizagem nos diferentes níveis do sistema
sistematizar propostas inovadoras mais de ensino.
próximo para o nosso ambiente, para a nossa A integração da tecnologia no processo
realidade. O exemplo mais recente é ensino-aprendizagem não deve ser uma moda,
encontrado no construtivismo. uma oferta promovida pela tecnologia de
Soares (2011), afirma que não conseguimos fabricantes ou como algo passageiro e
obter os mesmos resultados como em outros inconsequente.
países onde tem sido aplicado. A questão é O uso de tecnologia por si só não resolve os
simples: as condições e o ambiente são problemas da educação, embora a sua
diferentes das nossas. Nestes países os grupos utilização pode contribuir para evidenciá-los,
são pequenos, cada sala de aula tem um buscar alternativas e levar a novas situações de
computador, uma televisão e um projetor de ensino-aprendizagem.
vídeo e o mais importante o cultural, Com a integração da tecnologia iria
económico, emocional, ideológicos e as transformar o processo de ensino-
necessidades de formação são diferentes para aprendizagem. A tecnologia deve ser uma fonte
os jovens brasileiros. de acesso ao conhecimento e as atividades de
A proposta para a integração de tecnologias investigação e a prática na comunidade
para a educação consiste em dois aspectos. O educativa. A integração da tecnologia irá
primeiro a utilizar a tecnologia acima, no permitir ao aluno lidar com êxito com a sua vida
processo ensino-aprendizagem. O segundo e pessoal, acadêmica e profissional.
mais importante; é o desenvolvimento de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De acordo com Sorares (2001), com propostas inovadoras que envolvam a


possivelmente o uso da tecnologia, por um utilização de tecnologia.
lado, representa uma melhoria no aprendizado O conteúdo curricular é o que deve ditar as
do aluno, mas por outro lado, implica para o necessidades tecnológicas e não vice-versa.
docente um encargo adicional, nem sempre é Seria olhar para o desenvolvimento de novas
reconhecido e apoiado pela própria competências para a utilização da tecnologia
comunidade, educacional e administrativa. em suas atividades de ensino.
Uma proposta inovadora desta natureza Soares (2001), afirma que a integração da
requer sem dúvida um grande apoio tecnologia no processo de ensino-
institucional. Os professores com aprendizagem não deve ser como algo extra,
preocupações, ideias e propostas para renovar mas como ferramenta integrante na
e melhorar a educação com o uso da tecnologia aprendizagem dos alunos. O uso da tecnologia
se sentem prisioneiros de estruturas na educação pode inspirar os interesses dos
organizacionais e administrativas. alunos e a motivação que irá conduzir a uma
Neste sentido, de acordo com Gonzalez aprendizagem emocionante, significativas e
(2005), é necessário promover e reconhecer as relevantes. O fato dos estudantes gostarem de
iniciativas por meio de estruturas que trabalhar com a tecnologia pode ser um
favoreçam e não se reprima. A proposta é criar benefício a longo prazo.
uma estrutura que permite a criação de um A integração da tecnologia na educação pode
departamento dedicado à avaliação de conduzir a benefícios em dois sentidos no
tecnologia educacional. aluno: uma melhor compreensão e acumulação
A implementação deste projeto irá organizar, de conhecimentos e a capacidade e a
encontrar e avaliar as diferentes propostas habilidade de utilizar e aplicar a tecnologia.
apresentadas pelos professores. Dessa forma, A inovação desta proposta reside na
se estará apto a escolher e a apoiar a mais construção de conhecimentos que ocorre no
viável e mais adequada para melhorar o mundo científico e acadêmico. A aquisição de
processo de ensino-aprendizagem. competências para a resolução de problemas e
Devem ser propostas que envolvem a o manuseamento de ferramentas para pensar e
imagem, som, texto, oralmente e por escrito. criar por meio das novas tecnologias. No futuro
Trabalhar no projeto de multimídia, espacial, podem ser criadores de novas aplicações que
visuais, auditivas e linguísticas. Para este fim, respondam às necessidades educacionais,
cada subsistema educacional teria de ter o seu sociais e culturais do nosso país.
departamento e recursos próprios que Nestes tempos em que a tecnologia tem
favorecem o seguimento e a divulgação do crescimento acelerado, não devemos esquecer
mesmo. e ignorar a potência e o alcance da mídia.
A finalidade do uso da tecnologia é melhorar De acordo com Soares (2011), o uso da
a formação do aluno e incentivar a criação de tecnologia pode causar alterações significativas
material didático representante de cada em:
sujeito. Se deve vincular o conteúdo curricular

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Os processos de comunicação, interação e A convergência dos meios tecnológicos (ao


colaboração entre aluno-professor e professor- contrário do conceitual, que parecem tender
aluno; para a diversidade), a integração de serviços
A forma de entender o conhecimento e como os de telecomunicações, tv a cabo e
acesso à informação; Como avaliar os processos internet, traz um bom prognóstico para uma
de aprendizagem (SOARES,2011, s.p). plataforma sólida no futuro imediato.
Os docentes não devem esquecer que uma A globalização tem permitido, e muitas vezes
das funções da educação, talvez a mais tem promovido uma mudança radical na
importante é a integração do indivíduo na concepção da educação, associada a
sociedade. A tecnologia faz parte da sociedade expressões tais como "a era da informação, as
e, portanto, se deve integrar o âmbito autoestradas da informação ou sociedade do
educativo. conhecimento" (GONZALEZ, (2006, p. 49).
Sobretudo em tempos de globalização, em Hoje, mais do que nunca, se pode perceber
que o desenvolvimento tecnológico é uma as limitações da abordagem da educação
constante e característica do período que vive formal, focada no ensino, focada na aula física
se. Se tem que usar a tecnologia de uma forma e com um instrutor a frente. Esta já é uma
positiva para o bem da sociedade e para realidade que prevalece em muitos países.
oferecer e dar uma melhor educação para Peters (2003), quando um aluno conhece
crianças e jovens do Brasil. A tecnologia não outros ambientes e pessoas, como vivem, o que
deveria servir para isolar a se mesmo, mas para pensam, os problemas que enfrentam, se
se comunicar. diferentes ou semelhantes dos deles e
descobre como é fácil fazer lições como de
O DESENVOLVIMENTO anatomia ou frias equações de segundo grau.
A educação global exige uma mudança de
TECNOLÓGICO NO MUNDO atitude nas pessoas e uma modificação das
GLOBALIZADO políticas nas instituições, especialmente na
A globalização tem sido favorecida e é educação e nos governos.
acompanhada por um amplo e vigoroso Castells (2002), afirma que os governos
desenvolvimento tecnológico, vinculado aumentam timidamente os recursos
especialmente para as "novas tecnologias da financeiros para o setor da educação. Aqui está
informação" e a internet, mas não é a o problema, a educação é concebida como um
tecnologia em si. Que, infelizmente, muitas “setor” que agora requer mais dinheiro do que
vezes é confundido com muita frequência. antes. Existe uma explicação linear insuficiente.
No entanto, é praticamente disponível a Investir na educação (instrução para ser mais
qualquer pessoa ou instituição de um conjunto preciso) das crianças de hoje aprender o que a
de ferramentas de hardware e de software para sociedade vai precisar delas amanhã.
apoiar a atividade individual e organizacional O trabalho para o qual professores e
no âmbito de uma concepção global. qualquer outro profissional, cada dia, são
menos competentes. O foco das instituições

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educacionais, no qual foi realizado era sempre A virtualidade do conhecimento não é um


possível – para ter acesso a todos – encontrar saber mais ou saber menos, melhor ou pior,
os "recursos educacionais" necessários para a tampouco um saber de segunda categoria. Em
formação do aluno, hoje é obsoleto. Uma vez vez disso, corresponde a uma transformação
que os atuais recursos educacionais são dos processos por meio dos quais se aprende,
encontrados na vida quotidiana e se alastrou constata e explica o mundo, “os processos que
por todo o mundo. estão em sintonia com o nível de dependência
Até mesmo o papel do "facilitador" ou e de desenvolvimento dos meios tecnológicos
"mediador" que parece agora ser aproveitados do atual momento histórico” (LUDKÉ, 2006, p.
para o professor, pode ser insuficiente ou 52).
erroneamente feitos quando a educação Por esta razão, é cada vez mais necessário a
escapar para as escolas, quando as crianças concepção de novos cenários e ações
também aprendem e formam na vida educativas, que é propor uma política
quotidiana, em casa, na rua, na TV, no trabalho, educacional específica para um Cyber ambiente
na internet. (ambiente virtual).
Entre os benefícios mais claros que os meios Embora o direito à educação universal só
de comunicação social contribuem para a pode ser plenamente alcançado em alguns
sociedade é o acesso à cultura e à educação, o países, por conseguinte, é necessário continuar
progresso tecnológico e os benefícios da era da a desenvolver ações de alfabetização e de
comunicação em que vivemos mostra um ritmo educação no ambiente real. Isto exige a
e uma previsão extremamente positiva. concepção de novas ações educativas.
No entanto, alguns especialistas têm Conforme Peters (2003), deve-se propor
garantido que deve existir uma relação entre a capacitar as pessoas para que possam atuar
informação fornecida e a capacidade de competentemente nos diversos cenários deste
assimilação do mesmo por parte de quem ambiente. Portanto, além de ter que aplicar as
manuseia o computador. novas tecnologias para a educação, é preciso
Conforme Ribeiro (2003), o saber muda o projetar novos contextos educativos, nos quais
mundo e o nosso mundo está mudando com a os alunos possam aprender a mover e intervir
prontidão do conhecimento. Por essa razão no novo espaço tecnológico.
atinamos apenas para dizer que o nosso tempo Redes de ensino virtuais são as novas
é diferente para esta educação, que deve unidades básicas do sistema educativo, que
repensar os seus objetivos e suas metas, suas inclui a concepção e a construção de novos
pedagogias e seu ensino se quiser cumprir a sua cenários educativos, a elaboração de
missão no século XXI. Esta nova educação – instrumentos educativos eletrônicos, e de
tecnológica – fornece satisfações para as formação de educadores especializados no
necessidades do homem, como Bill Gates em ensino em novo espaço social.
que traz o futuro nas mesmas forças Lüdke (2003), diz que no novo milênio, as
tecnológicas que torna o aprendizado tão redes telemáticas são a expressão mais
necessário, agradável e prático. desenvolvidas do ambiente virtual devido ao

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

seu carácter de mídia muito importante para Todo o ambiente será muito diferente. O
fins educativos, e o grau de interatividade. grande desafio será o de preparar e aprender a
Segundo Peters (2003), as novas tecnologias viver neste novo ambiente. Antes de toda esta
têm surgido de armazenamento, arquivamento dinâmica, o sistema educativo tem um desafio
e documentação e a realidade virtual e abre muito importante. Deve questionar a se
novas possibilidades para o desenvolvimento mesmo, de repensar os seus princípios e
de processos perceptuais e sensoriais. objetivos, reinventar as suas metodologias de
Por meio de redes eletrônicas é possível a ensino e seus sistemas organizacionais.
tele comutação a si mesmo, investigar e fazer Para Moran (2000), é preciso repensar o
arte, entre muitas outras coisas. O ambiente conceito de relação aluno - professor e o
virtual é um novo espaço social porque as processo de aprendizagem do currículo, além
atividades sociais podem ser desenvolvidas em disso, uma revisão crítica dos modelos mentais
redes, não só nos lares, instituições ou que inspiraram o desenvolvimento dos
empresas. sistemas educativos.
Para apoiar uma política educacional Por isso a necessidade de repensar uma e
específica para a aula virtual não se pretende outra vez algumas das ideias inovadoras sobre
que venha substituir a que já tem lugar na a qual houve um certo consenso ao longo dos
sociedade de hoje. Universidades e escolas anos, embora com resultados muito limitado
continuarão a existir. O que pode acontecer é mesmo no sistema educativo, do ensino
que os centros acadêmicos estão sobrepostos primário ao ensino universitário.
de redes educacionais digitais por meio do qual Por exemplo: a autonomia dos centros
se poderiam desenvolver processos educativos educativos, a qualidade no ensino de todos os
do ambiente virtual, complementar os aspectos interdisciplinares, especialmente na
ambientes do mundo real, isto é, do mundo educação avançada, a utilização plena e correta
físico. das novas tecnologias na aprendizagem,
O direito à educação universal tem de ser formação profissional depois de cada um dos
ampliado, porque os espaços sociais foram níveis da educação como um complemento de
expandidos. O que é certo é que o ambiente um ensino geral sólido que formas de vida, ou
digital emergente exige a concepção de novas de educação para "aprender a ser, a fazer, a
ações educativas, complementando às já viver e a conviver" (MORAN, 2000, p. 46), são
existentes. todos parte desta longa lista de numerosas
As transformações já se vislumbram e outras tentativas lamentável que tenha acontecido,
que nem sequer podemos imaginar. Temos de carregados de frequentes frustrações quantos
nos preparar para este novo ambiente cheio de de nós têm dedicado a estas questões na nossa
oportunidades, mas também de incertezas. A vida profissional, em particular durante as três
tecnologia e telecomunicações em todas as últimas décadas.
suas formas estão mudando a maneira de viver, Torna-se cada vez mais estendida essa
trabalhar para produzir, para comunicar, inquietude em busca de um novo paradigma
comprar, vender. educacional neste novo século. Esse profundo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

repensar não pode ser realizado pelos serviços AS NOVAS TECNOLOGIAS E A


do sistema educacional como um todo nem por
níveis ou modalidades que não estão EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI
regulamentados. Nas últimas duas décadas, há muitos autores
As abordagens por parte dos educadores e e pesquisadores que têm cunhado o termo
do compromisso de responsáveis por cada um "sociedade da informação" para se referir a
dos estudantes, isto é, daqueles que são os uma série ou conjunto de transformações
verdadeiros "clientes", o processo de econômicas, sociais e culturais, que irá alterar
aprendizagem em conformidade com a substancialmente a nossa sociedade. Talvez a
mentalidade prevalecente e linguagem transformação mais espetacular seja oferecida
inspirado pelos princípios da livre economia de pela introdução generalizada de novas
mercado ou social. tecnologias de informação e comunicação em
Para Gadotti (2000), a sociedade do século todas as áreas de nossas vidas.
XXI certamente vai reafirmar que a Estas tecnologias estão mudando a maneira
aprendizagem é a mais importante fonte de de fazer as coisas em todas as áreas da
riqueza e bem-estar, da capacidade de sociedade e em todos os níveis, e pode até
competir e cooperar em paz. Como resultado, mesmo mudar à nossa maneira de pensar e de
cada instituição de ensino tem de começar por agir.
aceitar a necessidade de se transformar numa O aumento de novas tecnologias no último
organização competitiva para facilitar a terço do século XX tem despertado grande
aprendizagem pessoal e coletiva neste novo esperança à humanidade para colocar em suas
século. mãos poderosos instrumentos da comunicação
O maior esforço deve ser dedicado hoje, que pode promover o desenvolvimento e a
portanto, ao projeto de instituições realmente extensão da cultura, educação, democracia e
capazes e desejosas de evoluir para adaptar os pluralismo (GADOTTI, 2000, p. 74).
seus recursos às novas necessidades sociais e A relação entre os seres humanos e as
individuais com vista para o futuro, a dupla tecnologias não é uma tarefa fácil. Entre outras
exigência de estabelecer umas dimensões razões pelas quais os homens transformam o
adequadas e críticas, assim como um âmbito nosso ambiente, adaptando às nossas
suficientemente versátil para garantir uma necessidades, mas no final estas
oferta abrangente. transformações podem mudar a nós mesmos e,
Tais instituições, se prosseguem com por conseguinte a sociedade em que atuamos.
compromisso de uma qualidade total, E as tecnologias têm colaborado de forma
merecem a máxima autonomia e o maior apoio extraordinária nesta adaptação do ambiente
público e privado possível, embora sempre para a satisfação de nossas necessidades e por
dentro de um marco normativo comum que isso têm desempenhado e continuam a
assegure uma plena harmonia e maior eficácia. desempenhar um papel importante na
formação de nossa sociedade e a nossa cultura.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para Castells (2002) não se deve olhar para o Castells (2002), comenta que embora as
exemplo das tecnologias que nos rodeiam que mudanças na educação sejam mais lentas do
já estão estabelecidas na sociedade pelo tempo que em outras instituições e setores da
que tomam parte de nós, pois são tão sociedade, não podemos deixar de esquecer
perfeitamente integradas em nossas vidas, que nas últimas décadas, elas têm sofrido uma
como uma segunda natureza que se tenham mudança significativa, não só em termos da
tornado invisível. Nós as usamos sem perceber, reforma dos métodos de ensino, conteúdos e
de tal forma que não temos conhecimento de estratégias, mas também no que nos interessa,
como elas contribuíram para mudar as coisas e os recursos pedagógicos que o professor teve à
praticamente só as percebemos quando, por sua disposição para desenvolver a sua atividade
algum motivo, faltam. profissional.
É evidente que na sociedade de hoje Atualmente, o interesse na introdução
qualquer instrumento tecnológico só é produtiva de novas tecnologias no sistema
percebido quando é suficientemente novo, educacional e especialmente da base formativa
depois que ele se enquadra no ambiente ainda de nossos professores é evidenciado de forma
é percebido como tecnologia. significativa.
Para Ribeiro (2003), obviamente, a educação Dependendo do que é estabelecido pelo
também tem sido afetada por numerosas Ministério da Educação para obter os títulos
transformações produzidas pela inclusão dos professores, em todas as suas
destas tecnologias; portanto, estamos vendo especialidades, os alunos devem estudar o
mudanças nos modelos educacionais, nos tema principal chamado "novas tecnologias
usuários de formação, em cenários, nos quais a aplicadas à educação", em que os seguintes
aprendizagem ocorre e essas alterações não conteúdos serão ministrados, principalmente:
podemos deixar para aqueles que têm sido recursos didáticos e novas tecnologias:
desenvolvidos na sociedade, relacionados à utilização na sua publicação de diferentes
inovação tecnológica, com as mudanças nas aplicações didáticas, organizacionais e
relações sociais e com uma nova concepção das administrativas. Utilização do computador
relações, a tecnologia e a sociedade, como o principal e dos instrumentos audiovisuais
conjunto de que todos eles irão moldar as (PETERS, 2003, p.81).
relações entre tecnologia e educação. Segundo Gadotti (2000), do outro lado das
De acordo com Sancho (2001), as novas ciências da educação, os currículos da
tecnologias de informação e comunicação com licenciatura em pedagogia rejeitam o tema
as transformações que estão a ser introduzidas denominado "tecnologia educacional", que de
na sociedade e em todos os seus domínios, acordo com o Ministério da Educação tem
tornam-nos capazes de conceber um sistema como conteúdo básico: a concepção, aplicação
educacional, e menos se estiver em um e avaliação dos recursos tecnológicos no
processo de reforma e inovação como o que ensino. Modelos de projetos multimídia no
ignora os benefícios, desafios e riscos que essas processo de ensino-aprendizagem; mudança
tecnologias trazem com eles. tecnológica e inovação pedagógica.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A introdução de novas tecnologias nos graus modificação, transformação e distribuição dos


científicos da educação é apoiada por um meios de comunicação em massa; Criação de
grande impulso e reconhecimento da novas possibilidades de expressão e
comunidade educacional internacional, no comunicação; desenvolvimento de novas
entanto, a sua implantação nas qualificações do formas de expansão da comunicação global.
magistério é muito mais satisfatório do que na A importância que as novas tecnologias, em
pedagogia. geral, e a ciência da computação, em particular,
Exprime um confronto entre os termos de têm adquirido na sociedade contemporânea é
"novas tecnologias na educação ou aplicadas à tanto, que são poucos os países que ainda não
educação" e "Tecnologia Educacional", implementaram um ou fizeram projetos para a
primeiro, como tem sido comentado sua introdução em instituições de ensino para a
anteriormente para consultar os indivíduos formação e o aperfeiçoamento profissional dos
incluídos nos currículos escolares das diversas membros da comunidade educativa.
especialidades da docência, e, segundo, para Para Beherens (2000), podemos efetuar a
estudos de graduação nas áreas de pedagogia. integração de novas tecnologias de da
As comparações entre os dois termos não são informação e da comunicação no currículo e em
limitadas para o quadro conceptual entre qualquer processo de ensino-aprendizagem a
"Tecnologia Educacional e as Novas partir de diferentes linhas: um recurso didático,
Tecnologias", mas cobrindo a maior e mais um objeto de estudo, elemento de
completa condicionalismos a enfrentar comunicação e de expressão, como um
também os termos "tecnologia antiga" e instrumento para a organização, Gestão
"Novas Tecnologias". Para diferenciar as duas, Educacional e administração, e como uma
podemos falar das antigas tecnologias tais ferramenta para a investigação, e cada um
como os que foram descobertos e foram usados desses formulários serão postos em prática
na primeira metade do século XX: filmes, rádio com diferentes funções.
e televisão. A interatividade entre o emissor e o A contribuição mais importante para as
receptor, individualização, universalização e novas tecnologias no campo da educação, é
integração interdisciplinar do conhecimento sem dúvida a eliminação de barreiras de espaço
científico e tecnológico (CASTELLS, 2002, p. 91). temporário tanto sob a forma de educação a
Quando analisam as novas tecnologias, distância como em sala de aula; especialmente
pesquisadores tendem a se concentrar em dois na educação à distância, no que se tem vindo a
aspectos básicos, por um lado, as possibilidades ser conhecido como virtual ou tele ensino,
e as capacidades das tecnologias para a perspectiva a partir da qual uma aprendizagem
transmissão de informações; e do outro os posta em prática em um verdadeiro espaço
efeitos sociais e culturais da introdução dos físico, como é o ciberespaço.
meios de comunicação na sociedade. Qualquer uma das modalidades contidas
De acordo com Castells (2002), o papel que neste ensino virtual pode ajudar a resolver
as novas tecnologias têm nos domínios alguns dos problemas e limitações do ensino
comunicativo da sociedade é distribuído em: a tradicional presencial, em todos os níveis, mas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sobretudo na educação não formal e de porém esta concepção está evoluindo, e hoje,
formação contínua. Parece óbvio o diz Gadotti quando falamos de alfabetização tecnológica
(2000) que a instituição educacional tradicional ou ciência da computação, chegamos a referir a
está entrando em uma crise e impõe uma uma formação geral das várias atividades que
formação caracterizada por ser: mais podem ser feitas por meio do computador.
individualizada, mais flexível, baseada em Entre estas elaborações estão a formação em
recursos, acessível, remota e interativa. utilizações específicas da tecnologia da
informação, formação na sua utilização como
FORMAÇÃO E ALFABETIZAÇÃO uma ferramenta para a resolução de
problemas, processamento e análise de dados,
EM NOVAS TECNOLOGIAS planilha, formação na cultura informática,
Por vezes, a nossa escola não tem limitações dos computadores, a capacidade de
conhecimento da necessidade de alfabetizar os lidar com diferentes programas.
alunos para a assimilação e aceitação crítica de No entanto, a escola é a instituição que
mensagens que a mídia e as novas tecnologias desempenha um papel mais significativo nesta
oferecem e transmitem. É evidente uma formação tecnológica que irá gerar atividades
necessidade de tal alfabetização como tendo de formação específicas dentro e fora do
em conta o papel que os meios de comunicação currículo escolar obrigatório. A escola tem a
desempenham no processo de socialização. A capacidade de formar seus alunos transmitindo
grande quantidade de vezes que estamos métodos, estratégias e valores próprios de cada
expostos às mensagens dos meios de centro de educativo; assim, uma escola onde o
comunicação na sociedade que nos rodeia e a método de ensino é autoritário e onde o aluno
manipulação exercem sobre nós, um mal é socializado a obedecer às normas, tende a
manuseio que provavelmente poderia ser formar alunos que consomem não-criticamente
evitado com a alfabetização tecnológica crítica a informação que vem através da mídia, e,
pertinente. portanto, serão consumidores passivos de
De acordo com Beherens (2000), a formação todos os meios, sem qualquer critério de
e a alfabetização em novas tecnologias seleção das informações recebidas (SOARES,
dependerão também da escola, do professor, 2011, p. 76).
da família, o ambiente social e cultural, os Também influenciará a diversidade de mídia
fatores econômicos, fatores que podem ser que cada instituição educacional coloca à
determinantes para educar o aluno para "com" disposição dos estudantes e o uso didático que
e "em que" a mídia irá influenciar as atitudes é realizado com eles. Uma escola, no qual o
que novos usuários (estudantes) têm em aluno pode contar com diversos e numerosos
relação a elas. meios, e na qual diferentes funções são
É interessante esclarecer que o conceito ensinadas dentro da estrutura do currículo.
usual de alfabetização tecnológica ou ciência da Desta forma, a escola estará formando
computação é focada em estudantes que estudantes mais críticos com as mensagens
dominam alguma linguagem de programação, transmitidas, e mais dispostos a interagir e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

adquirir informações por vários meios. É Um grande número de autores prevê a


preciso também, eliminar atitudes negativas mudança que a escola terá de fazer para
que impedem a interação com certos atender às demandas, necessidades e desafios
instrumentos tecnológicos, informações e vias da atual sociedade tecnológica. As exigências
de conhecimento. que são materializadas por meio dos
Segundo Moraes (1997), é preciso ter em instrumentos fornecidos pelas novas
mente que muitas vezes os problemas da tecnologias e as mudanças que o uso do mesmo
educação em novas tecnologias e meios de implica, especialmente no que diz respeito à
comunicação não são dependentes do que tem aprendizagem.
sido ensinado e transmitido para o aluno, mas
que pode vir no que não é ensinado ou A GERAÇÃO “NET”
comunicado, pode levar a uma falha como para
Tajra (1998), apresenta uma caracterização
deficiências na abrangência de tecnologias ou
dos alunos universitários do novo milênio em
mídias expostas em todo o seu
universidades de várias partes do mundo.
desenvolvimento escolar.
Salienta os seguintes aspectos:
Como é deduzido de vários estudos, as
Giram em torno de atividades grupais.
atitudes que temos para a mídia é condicionada
Se identificam com os valores de seus pais e
pela interação que estabelecemos com estes
se sentem próximo deles.
meios, e pelas experiências que cada aluno tem
Estão fascinados pela tecnologia.
com o mesmo em seu ambiente próximo. E,
Dão grande importância à inteligência.
claro, também será influenciado pelo professor,
Destacam a importância das notas e
uma vez que influencia tanto as suas atitudes
desempenho acadêmico.
para com os meios de comunicação e os usos e
Executam um grande número de atividades
propostas que se realiza em sala de aula.
extracurriculares (TAJRA,1998,p,34).
Mas não podemos esquecer que o papel
Como resultado de sua interação com o
fundamental nesta formação de mídia é o
computador e a internet, esses estudantes
professor. Influencia tanto as atitudes em
desenvolvem uma mente “hipertextual”,
relação aos meios de comunicação como os
caracterizada por ter a capacidade de ler
usos e propostas que faz com eles na sala de
imagens visuais, desenvolver habilidades
aula. Cada docente usuário de novas
espaço-visual, aprendizagem por descoberta,
tecnologias deve conhecer e implementar
executa várias tarefas ao mesmo tempo e
todos os requisitos que facilitem a integração
responde rapidamente ao longo do tempo.
dos meios de comunicação e os conteúdos a
Dessa forma, o aluno se torna alfabetizado
que se relacionam. Um uso mais inteligente e
digitalmente porque usa um conjunto de
crítico dos meios de comunicação exige que o
ferramentas, dispositivos digitais e permanece
professor desenvolva uma capacidade crítica
conectado à internet. Esta conexão torna-os
inteligente em meios de comunicação em
mais sociais e ligados a comunidades virtuais,
massa em seus alunos (PETERS, 2003, p.94).
nas quais eles interagem constantemente. A
precedente deriva de uma série de implicações

934
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ao nível do Ensino Superior relacionado com os • Compreender e utilizar sistemas de


estilos de processamento de informações e tecnologia.
estilos de aprendizagem, que se opõem em • Selecionar e usar os aplicativos de modo
grande parte aos de seus professores. eficiente e produtivo.
Para Gadotti (2000), a geração net acredita • Resolver problemas de sistemas e
que a aprendizagem é um processo aplicativos.
participativo, baseado no trabalho de grupo. • Corrente de transferência de
Em outras palavras, o aprendizado é um conhecimentos para a aprendizagem de novas
processo que deriva da experiência, ação e tecnologias.
trabalho colaborativo virtual e físico. Os alunos estabelecem novas formas de
Neste contexto, é importante definir a interagir com as informações, que geraram
literacia digital. Esta definição é apoiada por mudanças na forma de como aprender.
três princípios baseados no uso da tecnologia, Salientam que as mudanças pedagógicas que
na compreensão crítica do mesmo e na criação foram geradas variam de uma visão de
e comunicação de conteúdos digitais em uma atividades discretas e complementares no
grande variedade de formatos. A compreensão ensino e aprendizado a um entendimento de
crítica das TIC's é a capacidade de que o ensino e a aprendizagem são aspectos
compreender, de contextualizar e avaliar interdependentes de uma atividade; de uma
criticamente os conteúdos digitais e de mídia estrutura sequencial a uma estrutura orgânica
com os quais interagem. Que permite às de experiências de aprendizagem; de um
pessoas criar consciência para minimizar riscos aprendizado individualizado para a
e maximizar a participação em uma sociedade aprendizagem comunicativa; a partir de uma
digital, tendo em conta os direitos de visão do papel do professor como um
propriedade intelectual e fazendo uso das organizador de experiências de aprendizagem,
práticas que facilitem o desenvolvimento um como um criador de experiências de
profissional. A criação e a comunicação do aprendizagem de qualidade; de uma visão, na
conteúdo digital são a concorrência que um qual o contexto de aprendizagem é confinado à
indivíduo tem de criar conteúdo e seleciona sala de aula controlada pelo professor a uma
ferramentas tecnológicas de acordo com a visão, na qual o contexto de aprendizagem é
audição e aos contextos que são orientados, imerso no contexto cultural baseado no
desempenham um papel importante na suporte interativo de todos.
utilização da tecnologia onde as pessoas podem De uma perspectiva onde a tecnologia é
criar e compartilhar uma variedade de concebida como uma ferramenta ou um tutor
conteúdo utilizados vários meios de hipertexto, que faz parte de um processo interativo
simuladores, jogos e redes sociais (CASTELLS, complexo com os alunos onde, por vezes,
2002, p. 81). geram ideias; em outros, eles fornecem
Os alunos demonstram uma boa recursos para pesquisar ou apoiar processos
compreensão de conceitos de tecnologia, criativos. Neste contexto, é necessário redefinir
sistemas e operações: o papel do professor, onde deve assumir as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

seguintes características: profissionais: aprendizado, como aprender fazendo,


confiança, respeito, apoio e desafio do ensinando outros e realizando atividades
pensamento: pensamento analítico ou pragmáticas.
pensamento conceitual; de planejamento e
geração de expectativas: a motivação para a
melhoria contínua, espírito de investigação e a
iniciativa; liderança: flexibilidade,
gerenciamento de grupo, paixão de
aprendizagem e de responsabilidade nos
estudantes; características sociais: impacto e
influência sobre os outros, trabalho em equipe
e a compreensão para com os outros (SOARES,
2011, p.71).
É possível destacar que a pedagogia foi
transformada não só por mudanças
tecnológicas que ocorreram na última década,
mas também por avanços em relação aos mais
recentes desenvolvimentos da investigação na
área da cognição, metacognição e
neurociências.
Em relação a este aspecto Gadotti (2000),
destaca que a aprendizagem multimodal é mais
eficaz do que a aprendizagem unimodal. O
primeiro envolve a aprendizagem com uma
grande quantidade de mídia, níveis de
interação, estilos de aprendizagem.
Assim como a pedagogia ajustada a um
conjunto de circunstâncias particulares que
leva em conta os princípios da neurociência
relacionados com o funcionamento do cérebro
e como os alunos aprendem melhor por meio
do uso de elementos multimídia que promove
uma aprendizagem mais significativa com base
no uso de estratégias metacognivas que levam
a processos de aprendizagem profunda e ao
desenvolvimento de habilidades de
pensamento de alta ordem.
O segundo, ou seja, unimodal, é aquele que
favorece o uso de um ou dois tipos de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de softwares educativos como suporte das atividades desenvolvidas nas aulas
de informática, sem dúvida é um diferencial relevante para o processo da aprendizagem,
ajudando alunos na compreensão dos conteúdos por meio de mídias, por possibilitarem ao aluno
a interatividade com os programas relacionados aos conteúdos teóricos adquiridos em sala de
aula, despertando o interesse principalmente pelo fato de aprenderem de forma divertida.
Contribuir no processo de aprendizagem por meio da utilização dos recursos tecnológicos
com os softwares educativos permitindo a participação do aluno de forma ativa nas atividades
propostas nas aulas de informática, além propor cursos de capacitação de docentes permitindo
uma melhor interação entre o aluno e a tecnologia, além de maximizar a eficácia dos processos
de ensino.
Os alunos têm muito contato com variados aspectos da vida cotidiana, que envolvem a
Tecnologia da Informação. Esse é o caso de telefones celulares, computadores pessoais,
eletrodomésticos e mesmo brinquedos, todos sendo itens nos quais a Tecnologia da Informação
se apresenta de modo marcante. Assim, a forma de os alunos pensarem e de reagirem perante
situações-problema, pode ser influenciada pelo cotidiano de suas vidas.
Nas escolas é necessário que seja implantado um projeto de gestão de capacitação para os
professores no laboratório de informática, esses professores consigam ter um ambiente funcional
e adequado que possibilite aos professores utilização dos softwares educacionais junto aos
alunos. Exemplo desse projeto; Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo). O
programa leva às escolas computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais. Em
contrapartida, estados, Distrito Federal e municípios devem garantir a estrutura adequada para
receber os laboratórios e capacitar os educadores para uso das máquinas e tecnologias. Também
sugerir que a tecnologia seja de fato incorporada no currículo escolar.
Uma das contribuições importantes é que os professores perceberam que eles precisam e
necessitam de capacitação para utilizar laboratório de informática, para que possa ser usado para
melhorarem a qualidade de ensino dos alunos e a grande motivação para usar as ferramentas
apresentadas, o que representa uma quebra de paradigmas nas formas tradicionais de ensino.
Contata-se que as novas tecnologias da informação trazem novas possibilidades à
educação, e exige uma nova postura dos educadores, que prevê condições para o professor
construírem conhecimento sobre as novas tecnologias, entender por que e como integrar estas
na sua prática pedagógica, possibilitando a transição de um sistema fragmentado de ensino para
uma abordagem integradora de conteúdo, voltada para a solução de problemas específicos do
interesse de cada aluno.
Nesse momento de transformação do cenário escolar, com relação ao uso dos recursos
tecnológicos no processo educacional, o professor assume um papel relevante ao se tornar
mediador e parceiro de seus alunos no momento de construção de seus conhecimentos.
Evidencia-se a necessidade de aprofundar os estudos sobre o tema, uma vez que a escola
não adota o uso do computador em sua metodologia de ensino. A expectativa é de que possa
haver maior investimento com relação ao uso da tecnologia em benefício da educação.

937
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO ESPECIAL E A INCLUSÃO:


UM OLHAR SOBRE O MUNICÍPIO DE AMPARO
SÃO PAULO
Sara Luz Silveira Costa1

RESUMO: Durante muito tempo as pessoas com deficiência foram afastadas das escolas, mas as
transformações sociais, principalmente aquelas voltadas para os direitos humanos, possibilitaram
uma nova perspectiva para a inclusão das pessoas com deficiência em todas as áreas sociais,
incluindo a educação. Neste artigo, buscou-se, por meio de uma análise pessoal e com base em
alguns referenciais teóricos, apresentar um breve histórico da educação inclusiva, mas
principalmente, nossas observações sobre a implantação desta nova perspectiva de educação no
município de Amparo/SP. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e de observações pessoais sobre
a temática. Verificou-se durante a pesquisa que a maior parte das educadoras do município lutam
para que o projeto da educação inclusiva continue, pois ele tem apresentado excelentes
resultados, porém a nova gestão municipal ainda não o conhece.

Palavras-Chave: Inclusão; Educação Especial.

1Professora de Educação Básica na Rede Municipal de Amparo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Neuropsicopedagogia.
E-mail:saraluzsilveiracosta@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO educacional especializado com uma formação


contínua, que atenda a todas as necessidades
A inclusão escolar é um debate atual que especiais.
demanda a organização de várias propostas de Os métodos que utilizados para iniciar a
trabalho, pelas especificidades inerentes à pesquisa foram a própria vivência com crianças
pessoa humana e pelas diversas barreiras do com deficiência e a pesquisa bibliográfica. Por
contexto escolar. De acordo com Sassaki intermédio da leitura de revistas, obras e sites
(2006), a integração propõe a inserção parcial pude aprofundar meus conhecimentos. Para
do sujeito, enquanto que a inclusão propõe a esta pesquisa utilizaremos principalmente os
inserção total. Para isso, a escola precisa estudos de Mazzota e textos da Revista Escola.
romper com a perspectiva homogeneizadora e O presente artigo está organizado em três
adotar estratégias para assegurar os direitos de partes. Na primeira apresentamos a definição
aprendizagem de todos. da educação inclusiva. Na segunda parte
Há cinco anos como educadora na rede evidenciamos os aspectos históricos da
municipal de ensino, trabalhando com crianças educação inclusiva e a influência deste
e adolescentes, deparei-me com inúmeras processo na consolidação de novas leis sobre a
questões que despertaram o interesse de inclusão de pessoas com deficiência nas escolas
aprofundar as pesquisas sobre o regulares. Na segunda apresentamos nossas
comportamento e as necessidades observações sobre o município de Amparo - SP,
educacionais de algumas crianças. para explicitar como a educação inclusiva foi
Foi então que surgiu a preocupação de implantada na rede municipal de ensino.
compreender o que de fato constituiria a
dimensão de um tratamento efetivo, no sentido
DEFININDO A EDUCAÇÃO
de cuidado e assistência que habilitassem ou
reabilitassem essas crianças e adolescentes ESPECIAL
para uma educação de melhor qualidade. A Educação Inclusiva é o processo de
Neste sentido, os objetivos da pesquisa inclusão de alunos com necessidades especiais
foram direcionados para: compreender o que ou de distúrbios de aprendizagem na rede
vem a ser um atendimento educacional comum de ensino em todos os seus graus
especializado; ressaltar que para que haja (SASSAKI, 2006).
inclusão é necessário um atendimento Para que aconteça uma educação inclusiva é
educacional especializado com uma formação importante a colaboração e cooperação de
contínua, que atenda a todas as necessidades todos os envolvidos: família, escola e
especiais; identificar como a educação inclusiva comunidade como também o apoio de políticas
é realizada no município de Amparo - SP. públicas. Família e escola devem caminhar
Objetivamos ainda, compreender o que vem juntas para apoiar, estimular e acompanhar no
a ser um Atendimento Educacional processo ensino-aprendizagem da criança para
Especializado; enfatizar que para que haja que haja uma interação integral e efetiva. Por
inclusão é necessário um atendimento intermédio das leis estabelecidas pelo poder

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

público há novas oportunidades para que as sentido de instigar os filhos com qualquer
crianças com necessidades especiais tenham deficiência.
seus direitos cumpridos, como é o caso do que Dessa luta surgiu a Educação Especial, que se
se estabelece no Estatuto da Criança e do torna um sistema paralelo a Educação Regular,
Adolescente(1990). o que trouxe certa negatividade, pois de início
É preciso oferecer uma infraestrutura fortaleceu o rótulo, a segregação entre
adequada às crianças que precisam de recursos deficientes e não deficientes, entre “normais” e
materiais e físicos, além de oferecer recursos “anormais”.
psicológicos e didáticos para que os educandos Este quadro as Escolas das APAES já
especiais ou não saibam lidar com todas as começaram a alterar, pois a Inclusão Escolar
adequações necessárias. Para isso, além de se deve significar que todas as crianças e jovens
modificar a estrutura física das escolas é preciso em idade escolar frequentem a mesma escola,
pensar também no preparo dos profissionais que deverá estar organizada para atender às
para que possam dar a essas crianças e jovens necessidades educacionais especiais de todos
um atendimento no mínimo razoável, caso os seus alunos. Porém o que se pretende
contrário elas estarão sendo discriminadas atualmente é que mesmo crianças
dentro das salas de classe comum. “A Educação consideradas “deficientes” sejam incluídas nas
deve ser plural como as pessoas e suas ideias; escolas comuns, o que significa garantir que
encaminhar a pessoas para vida, para também os alunos com deficiência tenham
realização de seus projetos, para serem felizes” acesso à escola, e nela permaneçam e, sejam
(MATTOS, 2003, p.21). bem sucedidos.
A Inclusão Escolar faz parte da inclusão social Portanto, esse movimento deve ir muito
de todos os que, ao longo da história, foram além da “Inclusão” física apenas. Deve haver
discriminados, segregados e afastados, da uma permanente interlocução entre Escola
convivência com outras pessoas consideradas Regular e Escola Especial.
“normais”. Essas pessoas: pobres, feias, negros,
abandonadas, com deficiência encontram HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO
dificuldades em participar de grupos sociais,
religiosos, de amigos e até nas escolas. A escola INCLUSIVA
também os discriminou, porque não sabia lidar Os primeiros movimentos a favor da inclusão
com suas diferenças e, não estava amparada se iniciaram na Europa, depois foram levados
para tal situação. ao E.U.A., Canadá e posteriormente a outros
As sociedades sofreram modificações, e países, inclusive o Brasil. A primeira obra
foram se tornando mais democráticas, abriram- impressa sobre educação de deficientes teve
se caminhos para que grupos de pessoas e suas autoria de Jean Paul Bonet, editada na França
famílias pudessem se organizar começando a em 1.620 com o título: “Redação das letras e
exigir seus direitos. Assim, as famílias com Arte de ensinar os mudos a falar”. A primeira
pessoas deficientes iniciaram sua luta, no Instituição especializada para educação de
surdos-mudos foi fundada pelo abade Charles

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

M. Epée em 1.770 na cidade de Paris. O abade primeiro manual de educação de retardados:


Epée inventou o método de sinais. Sua obra “D’l Education d’um Home Sauvage”.
mais importante foi publicada em 1.776 com o Outros pesquisadores como: Edward Seguin
título: A verdadeira maneira de instruir (1.812-1.880) – Estabeleceu o primeiro
surdo/mudos. Internato público da França para crianças
Samuel Heinecke (1.729 – 1.990) – Alemão, retardadas mentais. Usava cores, músicas além
inventou o chamado método oral para ensinar de sua técnica neurofisiológica. Johan J.
os surdos/mudos a ler e falar mediante Guagenbül (1.816-1.863) tornou-se famoso por
movimentos normais dos lábios. Valentim Haüy seu trabalho em um internato em Abendberg,
se destacou no atendimento de deficientes nos Alpes Suíços. Maria Montessori (1.870-
visuais, fundando o Institute Nationale de 1956) – Enfatizou a autoeducação pelo uso de
Jeunes Aveugles (Instituto Nacional de Jovens materiais didáticos (blocos, encaixes, recortes,
Cegos), no ano de 1.784. Haüy já se utilizava objetos coloridos, e letras em relevo). Alice
letras em relevo para o ensino de cegos. Charles Descocudes – Defendia a ideia de que as
Barbier (oficial do exército francês) idealizou atividades educativas deveriam ser
um processo de escrita próprio para desenvolvidas em ambiente natural. Reverendo
transmissão de mensagens no campo de Thomas H. Gallaudet – Fundou a American
batalha à noite, o processo de escrita codificada School em 1.817. Esses pesquisadores tiveram
e expressa por pontos salientes. grande importância no trabalho de
Em 1.829 um jovem cego francês Louis atendimento as pessoas com deficiência. Em
Braille (1.809-1.852), fez adaptação do código 1.837 fundou-se a primeira escola para cegos
militar de comunicação; de início foi subsidiada pelo Estado, a “Ohio School” que
denominada sonografia, e, mais tarde de braile. abriu os olhos da sociedade para obrigação do
Contando hoje com simbologia específica para Estado para com os deficientes. Mas, foi apenas
Matemática, Música, Química, Física, mais do a partir de 1.940 que surgiram várias
que um código este importante meio de leitura associações como: New York State Cerebral
e, escrita compõe o sistema braile. Em relação PalsyAssociation e a NARC ambas formadas por
aos com deficiência física registra-se em 1.832, pais de crianças com deficiências especiais. E
Munique uma instituição encarregada de serviram como influência as APAES no Brasil.
educar, os coxos, manetas, paralíticos. Também Martinho Lutero, reformador religioso alemão,
nessa época iniciou-se o atendimento aos acreditava que os deficientes mentais eram
deficientes mentais (MAZZOTA, 1996). diabólicos e, por isso precisavam ser castigados
O médico Jean Marc Itard (1.774-1.838), para atingirem a purificação. No século XVI, a
mostrou a educabilidade de um “idiota”. Itard Humanidade insistia no isolamento social dos
trabalhou durante cinco anos com Vítor, uma deficientes ou diferentes, apenas no século XX
criança de doze anos, menino selvagem a sociedade passou a olhar o portador de
capturado na floresta de Aveyron no sul da deficiência como cidadão, muito embora a ótica
França por volta de 1.800. Em 1.801 publicou o da caridade prevalecesse sobre a igualdade. Em
1948, A Declaração Universal dos Direitos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Humanos determinou: Todo ser humano tem toda criança possui características,
direito à Educação (MAZZOTA, 1996). interesses, habilidades e necessidades de
Esses grandes pesquisadores da história da aprendizagem que são únicas,
inclusão social nos mostraram que por meio da sistemas educacionais deveriam ser
dedicação e experiências grandes equívocos designados e programas educacionais
foram descobertos, pois hoje essas pesquisas deveriam ser implementados no sentido de se
mostram como antes a sociedade discriminava levar em conta a vasta diversidade de tais
e excluía as crianças especiais, eram tratadas características e necessidades,
como retardadas, loucas e até possuídas por aqueles com necessidades educacionais
demônios, porém esses conceitos foram especiais devem ter acesso à escola regular,
revistos e mudados. Hoje já existem que deveria acomodá-los dentro de uma
profissionais especializados em melhorar cada Pedagogia centrada na criança, capaz de
vez mais a educação inclusiva e vemos o quanto satisfazer a tais necessidades,
eles têm contribuído para o bem dessas escolas regulares que possuam tal
crianças concedendo-lhes direitos à educação e orientação inclusiva constituem os meios mais
a interação social. eficazes de combater atitudes discriminatórias
Além das pesquisas apresentadas no criando-se comunidades acolhedoras,
contexto histórico da educação inclusiva, construindo uma sociedade inclusiva e
tivemos outros aparatos legais, ou tratados alcançando educação para todos; além disso,
internacionais, que contribuíram, tais escolas proveem uma educação efetiva à
sobremaneira para que a educação inclusiva maioria das crianças e aprimoram a eficiência e,
fosse implementada em muitos países, ou que, em última instância, o custo da eficácia de todo
ao menos, o debate sobre essa questão fosse o sistema educacional(UNESCO, 1994,s.p).
ampliado. Uma destas normativas é a A Declaração de Salamanca(1994)
Declaração de Salamanca (UNESCO): demonstrou uma visão sobre os direitos de
Procedimentos-Padrões das Nações Unidas todos, mas infelizmente ainda encontramos
para a Equalização de Oportunidades para lugares que não estão proporcionando esses
Pessoas Portadoras de Deficiências, direitos aos cidadãos, porém no Brasil ela teve
A/RES/48/96, Resolução das Nações Unidas uma grande repercussão, trouxe reflexão e
adotada em Assembleia Geral, que dispõe debates para que esses direitos fossem
alguns elementos importantes, e que de forma cumpridos, já avançamos muito em muitos
muito específica contribuíram para o combate quesitos e estamos caminhando para
a discriminação de crianças com deficiência. melhorarmos ainda mais a igualdade entre
De acordo com a referida Declaração de todos.
Salamanca (1994): Concordamos com as declarações de
toda criança tem direito fundamental à Salamanca, mas é preciso informar e formar os
educação, e deve ser dada a oportunidade de pais sobre os direitos de seus filhos para que
atingir e manter o nível adequado de essa conquista seja realmente plena, pois
aprendizagem,

944
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

muitos ainda não conhecem seus direitos e isso formar professores para o AEE e demais
prejudica ainda mais o cumprimento da lei. professores para a inclusão;
As leis são fundamentais para que se exerça prover acessibilidade arquitetônica, nos
a cidadania, e todos têm direito a elas, basta o transportes, nos mobiliários, comunicações e
conhecimento e o esforço de todos os informação;
envolvidos para que se torne eficiente. Em estimular a participação da família e da
Amparo a questão da educação inclusiva desde comunidade;
2005 a integração estava sendo feita, mas promover a articulação Inter setorial na
atualmente ela está em discussão pela nova implementação das políticas públicas
gestão municipal, que parece não conhecer educacionais;
muito sobre inclusão. Os professores e oferecer o Atendimento Educacional
familiares estão lutando para que o projeto Especializado (BRASIL,2008, s.p).
continue transformando vidas e a lei seja As diretrizes da Política de Educação Especial
devidamente cumprida. (2008), se fundamentam na diferenciação para
Influenciada pelas orientações da Declaração incluir e são é extensivas a todas as ações e
de Salamanca (1994), a Política Nacional de serviços da educação especial, devendo estar
Educação Especial de 2008 trouxe novas presentes transversalmente, em todas as
concepções à atuação da educação especial, modalidades e níveis de ensino.
em nossos sistemas de ensino. De substitutiva A Educação Inclusiva trouxe para o Brasil
do ensino comum para alunos com deficiência, novas perspectivas de ensino, um novo olhar
a educação especial se volta atualmente à para a criança com deficiência, proporcionando
tarefa de complementar a formação dos alunos a todos os educandos direitos iguais,
que constituem seu público-alvo, por meio do quebrando paradigmas tradicionais e
ensino de conteúdos e utilização de recursos implantando a escola inclusiva que dá direito a
que lhes conferem a possibilidade de acesso, todos uma educação de qualidade,
permanência e participação nas turmas comuns independente de quaisquer diferenças sociais,
de ensino regular, com autonomia e físicas ou morais. As escolas se adequaram às
independência. novas leis tornando o currículo flexível e
Os objetivos da educação especial na transformando o espaço físico, além de formar
perspectiva da educação inclusiva asseguram a os professores por meio de cursos específicos e
inclusão escolar de alunos com deficiência, formação continuada.
transtornos globais de desenvolvimento e altas As mudanças sobre a educação inclusiva
habilidades/superdotação, orientando os ocorreram aos poucos e ainda são necessárias
sistemas de ensino para: muitas transformações para acompanhar as
garantir o acesso de todos os alunos ao necessidades educacionais dos alunos e que
ensino regular (com participação, essa proposta de educação se estenda por todo
aprendizagem e continuidade nos níveis mais o mundo. Infelizmente não são todas as escolas
elevados de ensino; que estão comprometidas com essa nova
proposta de educação, mas espera-se que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

todos tenham consciência desse novo olhar conhecimento sobre a diversidade do ser
para a educação. A Inclusão social é um tema humano, considerando as semelhanças e a
atual, que está sempre em debates, pois é interdependência de todos e cabe a sociedade
polêmico do ponto de vista da prática como um todo fazer valer os seus direitos,
educacional e envolve o âmbito social. exigindo políticas públicas adequadas a todos,
Documentos, como por exemplo, a pois é sabido que a inclusão de alunos com
Declaração de Salamanca (1994), defendem necessidades educacionais especiais é um tema
que o princípio norteador da escola deve ser o cercado de desdobramentos controversos. Se,
de propiciar a mesma educação a todas as de um lado, declarações mundiais e políticas
crianças, atendendo às demandas delas. Nessa públicas discutem e orientam os quesitos para
direção a inclusão traz como eixo norteador a que a inclusão aconteça, do outro estão as
legitimação da diferença (diferentes práticas escolas que sofrem o impacto cotidiano de sua
pedagógicas) em uma mesma sala de aula para implementação em meio a outros tantos
que o aluno com necessidades educacionais desafios.
especiais possa ter acesso a um ensino de
qualidade. Acompanhando o processo de A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO
mudanças, as Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica, MUNICÍPIO DE AMPARO - SP
Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, A sociedade, no transcorrer dos tempos, tem
determinam que: adquirido novas formas de ver e lidar com as
Os sistemas de ensino devem matricular deficiências dos indivíduos, de acordo com a
todos os alunos, cabendo às escolas organizar- cultura, a época e até mesmo os valores
se para o atendimento aos educandos com vigentes. Na busca desta perspectiva se
necessidades educacionais especiais, evidenciam inúmeros esforços teóricos,
assegurando as condições necessárias para técnicos, políticos, operacionais, para a
uma educação de qualidade para todos. construção de uma educação inclusiva que dê
(MEC/SEESP, 2001). conta da amplitude das transformações que um
A sociedade atual vê a escola como um lugar processo como este implica.
de igualdade na qual todos terão a O trabalho com a inclusão em Amparo,
oportunidade de desenvolver competências e interior de São Paulo, cuja população aproxima-
habilidades, as crianças com necessidades se de quase 70.000 habitantes, tem sido
especiais educacionais também são vistas como modelo para várias cidades da região “Circuito
capazes e atuantes na sociedade. das Águas”, pois foi o primeiro município a
Segundo Kullok (2002), tratando da relação implantar o projeto “Educação para todos”. Nas
professor-aluno, afirma que o desafio da salas que possuem crianças com necessidades
educação atual é aprender a viver junto, educacionais especiais lecionam duas
levando em conta a descoberta progressiva do educadoras, sendo uma delas capacitada para
outro e a participação em projetos comuns. auxiliar e trabalhar no desenvolvimento da
Portanto é missão da educação transmitir criança especial e ajudá-la na interação social,

946
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cognitiva e física, ou seja, contribuindo de aumentando à procura por vagas nas escolas
forma significativa para que todos possam lidar municipais, por ser referência na região, há
e aprender com as diferenças. No município de casos de famílias que se mudam para Amparo
Amparo há 26 escolas incluindo Educação por encontrar uma escola para todos.
Infantil (creches também), Ensino Fundamental Tivemos acesso ao projeto quando o mesmo
I e Educação para Jovens e Adultos (1.º ao 5.º) estava sendo implantado, e nas formações
e há tutores para todos os alunos especiais direcionadas aos professores da rede, mas o
dessas escolas, há também o apoio da sala de projeto faz parte do Plano Educacional
recursos AEE em período contrário do horário Municipal. Devido à mudança de partido
regular que o aluno estuda. político e automaticamente de prefeito está
Portanto a Educação Inclusiva em Amparo acontecendo muitas mudanças e o partido
tem sido muito eficaz e vem contribuindo com atual não pretende continuar com o projeto,
qualidade para os habitantes do município que ele está em discussão. Por mudanças ocorridas
têm visto excelentes resultados. no final do ano passado e no início deste ano,
Atualmente o município de Amparo atende não está sendo possível ter acesso aos
aproximadamente 40 alunos com necessidades documentos da antiga gestão da secretaria de
educacionais especiais. O município possui educação.
cinco centros especializados que são chamados As propostas para a educação inclusiva têm
de AEE (Atendimento Educacional sido implementadas com sucesso, mas isso não
Especializado), Comunicação Alternativa, Libras quer dizer que o processo de implementação
e atendimento profissional especializado como desta política tenha sido fácil para todos os
Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, atores que estão contribuindo para a efetivação
Fisioterapia, Nutrição, Psicologia e desta política pública.
Psicopedagogia. A Política da Escola Inclusiva Atuamos como professoras efetivas no
faz parte das Políticas Públicas do Município. referido município e a escola em que
Todas as escolas municipais seguem a mesma lecionamos todas as salas possuem alunos com
diretriz, ou seja, o Projeto da Escola Inclusiva faz necessidades educacionais especiais.
parte das políticas públicas do município ele Acompanhamos mais de perto da realidade de
está inserido na educação municipal. uma aluna com deficiência mental, e nós,
Em 2006 o projeto “Educação para Todos” foi juntamente com uma tutora, trabalhamos de
iniciado. A demanda no município foi muito forma diversificada para que todos na sala se
grande e famílias, comunidade e escola se desenvolvam integralmente e aprendam com
reuniram para implantar novas práticas de as diferenças.
ensino. As reuniões se tornaram constantes e Uma das maiores dificuldades foi a
por meio de conselhos e autoridades permanência da criança na sala de aula, pois a
municipais o projeto foi aprovado na Câmara aluna só queria ficar andando pela escola. Ela
Municipal. Aos poucos as escolas foram era muito agressiva com as educadoras, com as
fazendo adequações para receber esses alunos crianças e demais funcionários da escola, essas
e percebe-se que cada vez mais vem foram as dificuldades que mais prejudicaram o

947
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento da aluna no primeiro pois já havia feito graduação e especialização


bimestre, hoje a interação com todos é sobre educação inclusiva e já trabalhava com
excelente e já permanece na sala como os esses alunos há mais de seis anos. Juntas,
demais alunos. A tutora recebe toda semana conseguimos trabalhar com a sala e a aluna e
capacitação específica e me orienta no dia a dia. hoje já temos excelentes resultados.
A interação da aluna melhorou muito, já Ao elencar os objetivos, ainda não
interage muito bem com todos na escola. Na conhecíamos o quanto o município de Amparo
medida do possível os pais procuram está avançado no atendimento às crianças com
acompanhar o desenvolvimento da criança, necessidades especiais, pois durante as
mas ainda é preciso uma maior compreensão pesquisas observamos a satisfação das famílias,
sobre a educação inclusiva para que haja o progresso das crianças atendidas e a
melhores resultados. realização dos profissionais envolvidos.
A escola sempre promove eventos, palestras As famílias estão sempre presentes na escola
e reuniões para que a educação inclusiva seja e acompanham de perto o passo a passo do
realmente uma prática, e os pais sempre desenvolvimento e progresso da criança. Além
participam de todos os eventos. As palestras das reuniões realizadas pela escola há também
sempre envolvem o tema educação inclusiva e convocações aos pais, pois nem sempre os
procuram orientar os pais sobre como funciona horários são compatíveis. A sociedade apoia o
essa nova visão escolar e qual a melhor forma trabalho da educação, mas ainda não participa
de informar-se sobre as mudanças e os direitos de forma eficaz nesse projeto escolar, são
do cidadão com necessidades educacionais poucos cidadãos que participam dessa causa,
especiais. É falado e mostrado também todos geralmente só as famílias com crianças com
os resultados de um trabalho feito em equipe e necessidades educacionais especiais. Não há
com a parceria dos pais e familiares atingirá os uma participação efetiva da sociedade,
objetivos almejados. somente um representante vai às reuniões para
Nossa maior dificuldade, na atuação prática, depois passar aos outros sobre o que está
foi nos primeiros meses de aula, pois a aluna sendo proposto aos cidadãos, também há
era muito agitada e não aceitava ficar na sala de divulgações no jornal oficial da cidade.
aula, também era muito agressiva com todos, Geralmente acontecem reuniões na Secretaria
tudo isso deixava os alunos assustados e da Educação, mas devido às mudanças
desatentos, dificultando a aprendizagem de eleitorais, este ano só ocorreu uma reunião
todos. O aprofundamento teórico obtido por com todos os representantes, mas as
meio de cursos de especialização e professoras tutoras têm quinzenalmente, pois
capacitações realizadas pelo próprio município, são capacitações. Todo esse trabalho vem se
têm nos auxiliado a compreender melhor como concretizando no município de forma produtiva
lidar com esse desafio. A tutora também e eficaz. Sabemos que o caminho é longo, mas
contribuiu muito. A professora tutora, com sua por meio do empenho de todos
experiência e dedicação, fez todo um trabalho conquistaremos novas práticas de ensino e a
voltado para a integração da aluna com todos,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educação inclusiva será plena, pois estamos no


caminho certo.
Portanto, por meio de minha vivência diária
pude perceber a necessidade da especialização
do profissional ao se deparar com a nova
realidade da educação, pois é fundamental que
o educador entenda as necessidades de seus
alunos e contribua para seu desenvolvimento
global.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão escolar faz parte da inclusão social de todos os que, ao longo da história, foram
discriminados, segregados e afastados, da convivência com outras pessoas consideradas
“normais”. Essas pessoas: pobres, feias, negros, abandonadas, com deficiência encontram
dificuldades em participar de grupos sociais, religiosos, de amigos e até nas escolas. A escola
também os discriminou, porque não sabia lidar com suas diferenças e, não estava amparada para
tal.
As sociedades sofreram modificações, e foram se tornando mais democráticas, abriram
caminhos para que grupos de pessoas e suas famílias pudessem se organizar começando a exigir
seus direitos. Assim, as famílias com pessoas deficientes iniciaram sua luta, no sentido de instigar
os filhos com qualquer deficiência.
Dessa luta surge a Educação Especial, que se torna um sistema paralelo a Educação Regular,
o que trouxe certa negatividade, pois de início fortaleceu o rótulo, a segregação entre deficientes
e não deficientes, entre “normais” e “anormais”. Este quadro as Escolas das APAES já começaram
a alterar, pois a Inclusão Escolar deve significar que todas as crianças e jovens em idade escolar
frequentem a mesma escola, que deverá estar organizada para atender às necessidades
educacionais especiais de todos os seus alunos. Porém o que se pretende atualmente é que
mesmo crianças consideradas “deficientes” sejam incluídas nas escolas comuns, o que significa
garantir que também os alunos com deficiência tenham acesso à escola, aí permaneça e, sejam
bem sucedidos.
Portanto, esse movimento deve ir muito além da “Inclusão” física apenas. Deve haver uma
permanente interlocução entre Escola Regular e Escola Especial.
Para isso, além de se modificar a estrutura física das escolas é preciso pensar também no
preparo dos profissionais para que possam dar a essas crianças e jovens um atendimento no
mínimo razoável, caso contrário elas estarão sendo discriminadas dentro das salas de classe
comum. Para entender melhor e esclarecer como a Educação Especial vem sendo estudada
passarei a dissertar sobre algumas medidas tomadas pelos líderes que se destacaram e tiveram
importância relevante na educação especial no Brasil e, no mundo, fazendo um paralelo entre o
que se faz e o que a Lei determina.
Essa pesquisa proporcionou-nos uma grande experiência e mostrou-nos a importância da
educação inclusiva, em que se dá a oportunidade a essas crianças de participarem de um
ambiente antes desconhecido. Percebemos que na maior parte a escola disponibiliza recursos e
tecnologia assistiva, a fim de promover condições de acessibilidade assegurando, assim, a
participação e possibilidade de aprendizagem às crianças com necessidades educacionais
especiais. Os objetivos preliminares da pesquisa foram alcançados, pois aprendemos muito e já
nos sentimos preparadas para dar continuidade ao trabalho que realizamos na educação
inclusiva.
Observou-se durante a pesquisa que a maior parte das educadoras do município lutam
para que o projeto da educação inclusiva continue, pois ele tem apresentado excelentes
resultados, porém a nova gestão ainda não o conhece. Verifica-se nesse sentido, que há a

950
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

necessidade de ampliar a divulgação sobre os objetivos e resultados do projeto, para que todos
conheçam esse trabalho que vem sendo desenvolvido para depois tomarem alguma decisão
sobre sua continuidade ou sua exclusão.
Durante a pesquisa, não conseguimos estabelecer as dificuldades que os pais têm com
locomoção, materiais e alimentação, há também as dificuldades com infraestrutura e outros tipos
de profissionais envolvidos nessa causa, como por exemplo, psicólogos suficientes para
acompanhar a criança e a família principalmente, pois há famílias que não aceitam e discriminam
o próprio filho, o que seria uma fonte para novas pesquisas sobre essa temática no referido
município.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
AMPARO. SP – Secretaria da Educação- Ciranda da Inclusão: Professores da Rede Pública
Municipal, 2007.

BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas


especiais. Brasília: UNESCO, 1994.

ONU. Organização das Nações Unidas. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, Sede das Nações Unidas, Nova Iorque, agosto de 2006. Revista Reviva, Ano 4 –
2007, PRODIDE.

BRASIL. Ministério da Educação. Plano de Desenvolvimento da Educação: razões,


princípios e programas. Brasília: MEC, 2007.

KULLOK, Maisa Gomes Brandão. Relação professor-aluno: contribuições à prática


pedagógica. Maceió: Edufal, 2002.

MAZZOTTA, Marcos José Silveira. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas.
São Paulo: Cortez, 1996.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 7 ed. Rio de
Janeiro: WVA, 2006.

UNESCO. Declaração de Salamanca. Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das


Necessidades Educativas Especiais. Procedimentos-Padrões das Nações Unidas para a
Equalização de Oportunidades para Pessoas Portadoras de Deficiências, A/RES/48/96,
Resolução das Nações Unidas adotada em Assembleia Geral, em Salamanca, Espanha, entre
7 e 10 de junho de 1994. Disponível
em:<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf> Data de Acesso:02/03/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO INFANTIL:
ESPAÇO DE BRINCADEIRAS
Zenóbia Silva Pereira Paiva1
Cacilda Borges Pires de Castro2

RESUMO: Este artigo tem como objetivo principal analisar a importância das brincadeiras no
desenvolvimento dos alunos da Educação Infantil em um CEMEI-Centro Municipal, localizado em
Itacajá-TO. Em relação a metodologia usou-se revisão bibliográfica, elaboração e aplicação de um
questionário. Com esse trabalho buscou-se ainda conhecer a importância das brincadeiras para a
educação infantil, precisamente na pré-escola o foco da pesquisa, como ferramenta de
aprendizado nessa instituição; e identificar as metodologias usadas pelos professores na sala de
aula. Objetivou-se com o mesmo conhecer a importância das brincadeiras na pré escola, quais as
metodologias usadas pelos docentes, se os mesmos têm consciência da importância de trabalhar
com jogos, brincadeiras, e atividades lúdicas, observou-se a forma com que os professores
avaliam o trabalho realizado como ferramenta de aprendizagem. Para coletar os dados que
norteiam o trabalho, elaborou-se questionário com perguntas abertas que investigaram a
respeito das práticas realizadas nessa fase escolar que contribui muito para entender a
problemática levantada e os meios que constituem o ambiente lúdico na instituição pesquisada.
Os dados foram analisados de forma qualitativa e para embasar os estudos obtidos foi feito uma
pesquisa bibliográfica que confirmou que meio as atividades lúdicas devem fazer parte do

1 Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de Itacajá-TO.


Graduação: Mestranda em Ciências da Educação-IESVA, Especialização em Psicopedagogia; , Especialização em
Coordenação Pedagógica e Gestão; Licenciatura em Pedagogia; Graduação em Normal superior; Licenciatura em
Letras.
Email: zenobiamis@hotmail.com
2 Professora de Educação Básica na Rede Municipal de Itacajá-TO.

Graduação: Mestrando em Ciências da Educação; Especialização em Psicopedagogia; Especialização em


Coordenação Pedagógica; Especialização em História Afrodescendente; Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura
em História.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contexto educacional infantil. Verifica-se que na fase infantil os alunos precisam ser orientadas
durante as brincadeiras e jogos, mesmo que as atividades sejam livres é necessário que o docente
observe se todos estão socializando, participando e respeitando os limites, o respeito e as
individualidades de cada criança.

Palavras-Chave: Educação infantil; Brincadeiras; Aprendizagem; Professor; Criança.

ABSTRACT: The main objective of this research is to analyze the importance of play in the
development of early childhood students at CEMEI Center, in Itacajá-TO. Regarding the
methodology, a bibliographic review, elaboration and application of a questionnaire were used.
This work also sought to know the importance of games for early childhood education, precisely
in the preschool the focus of research as a learning tool in this institution. and identify the
methodologies used by teachers in the classroom. The aim was to know the importance of playing
in preschool, what are the methodologies used by teachers, if they are aware of the importance
of working with games, games, and activities, it was observed the way teachers evaluate the work
done as a learning tool. r the data that guide the work, a questionnaire with open questions was
elaborated that investigated about the practices carried out in this school phase where it
contributes a lot to understand the raised problem and the means that constitute the playful
environment in the researched institution. The data were analyzed qualitatively and to support
the studies obtained, a bibliographic research was done that confirmed that the playful activities
should be part of the educational context of children. It is verified that in the childhood phase the
children need to be oriented during the games and games, even if the activities are free it is
necessary for the teacher to observe if everyone is socializing, participating and respecting the
limits and individualities of each child.

Palavras-Chave: Early childhood education; Just kidding; Learning; Teacher and child.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO saber a opinião deles sobre os recursos


didáticos e as dificuldades enfrentadas na
O interesse em pesquisar essa temática instituição, realizou-se ainda visitas in loco e
surgiu a partir das inquietações sobre as entrevistou-se a gestora e coordenadoras
metodologias realizadas no ensino da pedagógicas, suas falas serão identificadas por
educação infantil em um CEMEI-Centro números (1,2,3,4). Analisou-se ainda a proposta
Municipal. Trata-se de uma pesquisa que visa pedagógica para Educação Infantil do CEMEI
entender desde o planejamento a execução das está aliada a BNCC (2018). E por último foi
aulas com os alunos dessa modalidade. observado as aulas nos períodos matutino e
De acordo com as pesquisas nota-se que vespertino nas turmas de maternal, Infantil I e
desde o final século XIX que as brincadeiras e os II e pré-escolar.
jogos passam por mudanças na vida das É sabido que a educação infantil é o começo
crianças, pois a cultura se modifica de acordo dos estudos formais de toda uma educação
com o passar dos anos. Nos últimos tempos básica e tem como norteio desenvolver várias
com a mudança com os estudos da BNCC habilidades e competências nos alunos
(2018), entende-se que há uma preocupação pequeno e muito pequeno de acordo com a
maior com o ensino nas escolas de educação BNCC (2018), de uma forma integral
infantil sobre o brincar. Surge assim, uma desenvolvendo os aspectos do corpo, a mente,
inquietação sobre a importância de valorizar o a emoção, a inteligência e a interação com o
ensino por meio das brincadeiras. Sendo que o colegas, pais e comunidade escolar. Nessa
mesmo estar atrelado ao cuidar e também perspectiva deve-se contar com um quadro de
educar. O brincar tem se tornado um dos profissionais qualificados para desenvolver
principais fatores educativos na vida da mesma, suas funções para que o processo ensino e
pois é por meio das brincadeiras que as crianças aprendizagem ocorra de fato.
expressam emoções, sentimentos e valores. A motivação em escrever sobre este tema
Atualmente com a BNCC-Base Nacional Comum começou desde 2013 , na qual apreciou-se o
Curricular para Educação infantil (2018), trabalho inicial do CEMEI e acompanha-se a
coloca-se as brincadeiras como ponto crucial da cada ano o desenvolvimento do mesmo,
aprendizagem. observando as rotinhas dos professores
O objetivo desse artigo é verificar como as constatou-se que todas ás vezes que era
brincadeiras estão sendo trabalhado no CEMEI. utilizado algum tipo de brincadeira as aulas se
Descreve-se a atuação do educador e se os tornavam diferentes e os alunos se tornavam
mesmos se encontram preparados para lidar motivados. Isso me instigou a conhecer como
com as crianças desta faixa etária, e também deve ser trabalho o lúdico e como as crianças
quais os recursos que a instituição tem para aprendem brincando.
organizar um ambiente acolhedor de Diante de observações na instituição CEMEI-
aprendizagem para as crianças. Centro Municipal de Educação Infantil do
Ao longo da pesquisa realizou-se entrevistas município de Itacajá-TO que é uma obra do
semiestruturadas com alguns professores para

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

FNDE3 PROINFÂNCIA –Escola Infantil Tipo B. A


1 clientela não era atendida, com exceção a pré
mesma tem uma boa estrutura, muito bem escola que era atendida na rede municipal em
planejada, porém pelo visto não teve uma escola de ensino fundamental, hoje o
manutenção a partir da sua construção. Tem CEMEI atende 240 (duzentos e quarentas
salas com infiltração, e a mesma é muito crianças).
carente no imobiliário. Não tem mesas para as Assim sendo, reflete sobre a importância de
crianças lancharem no refeitório, não tem investir na educação infantil e garantir uma
bebedores em sala, as crianças bebem em litro educação de qualidade, na qual as crianças
de refrigerantes reutilizados, não tem possam adquirir suas habilidades de forma
computadores na sala dos professores, apenas segura, sadia e com prazer em um ambiente, no
um na sala da diretora que se utilizam para qual realmente possa marcar suas vidas de
todos os serviços da escola, algumas turmas as maneira positiva.
crianças sentam no chão porque não tem Para os embasamentos teóricos houve se a
mesas e cadeiras suficientes. Apenas algumas necessidade de realizar várias análises
salas tem um ar condicionado que não é bibliográficas, na qual teve-se como subsídios a
suficiente para climatizar as salas BNCC (2018), e autores que versam sobre a
superaquecida pelo calor do verão temática.
principalmente nos meses de agosto a
novembro, na qual até mesmo as aulas são 1. A IMPORTÂNCIA DAS
menores devido ao superaquecimento das
salas de aulas. O Centro de Ensino atende com BRINCADEIRAS PARA O
6 salas de aula, no período matutino e 6 salas DESENVOLVIMENTO DAS
de aula, no período vespertino de forma
parcial. Existem, um quadro de professores
CRIANÇAS
com 12 professores regentes e quatro Segundo Friedmann (2012), o brincar está
classificado de várias maneiras. Neste trabalho,
auxiliares, atendendo as seguintes
modalidades: Maternal I (01 anos a completar), privilegia-se uma abordagem com destaque na
questão educacional e antropológica
infantil I (02 anos completar), Infantil II (03 anos
justamente para contribuir com a recuperação
a completar) e pré –escolar I (quatro anos a
completar) e pré-escolar II (cinco anos a e preservação do patrimônio lúdico-cultural e
completar). conhecer as atividades do brincar no contexto
escolar.
Essa instituição possui uma grande
Reflete-se qual o significado da expressão
importância para a comunidade de Itacajá -TO
lúdico? Para este mesmo autor trata-se de um:
porque no município não tem escolas
particulares e os pais precisam que seus filhos Um adjetivo masculino com origem no latim
estudem, apesar da mesma atender somente ludus que remete para jogos e divertimentos.
de forma parcial, mas sua utilidade para as Uma atividade lúdica é uma atividade de
crianças e pais tem um mero valor, pois essa entretenimento, que dar prazer e diverte as

3
FNDE- Fundo nacional de desenvolvimento da educação.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pessoas envolvidas. O conceito de atividades brincadeiras. Portanto, é mais cômodo deixar


lúdicas está relacionado com o ludismo, ou seja, as crianças caladas na frente de uma tela, isso
atividades relacionadas com jogos e com o ato não muito contribui para o crescimento de
de brincar, (FRIEDMANN, 2012, p. 66). crianças, um fator que concretiza essa ideia é
Os conteúdos lúdicos são importantes para a que as crianças crescem sem saber socializar,
criança aprender de forma prazerosa, isso dividir os brinquedos, interagir umas com as
porque ficam mais fácil e agradável quando a outras e se tornam assim, se tornam menos
escola ensina de maneiras diversificadas, e para criativas, acredita-se que a escola é o lugar de
não se tornar enfadonhas as aulas, o autor plantar a sementinha da mudança e trabalhar
destaca que o professor pode usa músicas, juntamente com os pais para incentivar o
artes, entre outras. brincar na vida da criança como um todo.
Como diz Mario Quitanda “a criança não Este resgate é uma necessidade urgente,
brinca de brincar, ela brinca de verdade, sendo pois o contato da criança com o ambiente
assim, a escola precisa inserir a criança no possibilita o desenvolver da personalidade e da
universo infantil e a deixar aproveitar a inteligência além de contribuir no
infância”, portanto, a criança só passa por essa desenvolvimento do senso moral que cerca o
etapa uma única vez na vida, por isso deve ser mundo em ela vive.
respeitada e priorizada. Nos últimos anos surgiu uma maior
Muitos brinquedos surgiram bem na preocupação dos estudiosos com a criança e
antiguidade em várias civilizações. Entre eles ato de brincar, por isso se dedicaram as
destaca-se a bola de couro cheia de crena e de pesquisas. Sabe-se que tem muitas creches que
palha, bonecos feitos de madeira, barro cozido, funcionam em ambiente inadequado, no qual
pedra ou metal, tabuleiros como o de xadrez, há pouco espaço para as brincadeiras, que
bolinha de gude, peões, arcos e gangorras somado aos investimentos das indústrias de
todos com a atenção dada à atividade brinquedos que tem investido em materiais
recreativa. Chama-se a atenção que trata se de eletrônicos e as influências por meio da mídia
brinquedos simples e com preços acessíveis, principalmente a internet, percebe-se que
mas que nas escolas pouco percebe suas surgiu uma realidade, na qual a criança perdeu
existências. sua autonomia para criar seus brinquedos e
Nota-se que em casa os pais deixam as suas brincadeiras.
crianças passar muito tempo assistindo Sendo assim, as brincadeiras podem partir da
televisão, além de a mídia influenciar na sociabilidade entre eles, as experiências de
compra de brinquedos eletrônicos que troca que enriquece o ensino e traz vida e
incentivam as crianças há ficar muito tempo harmonia no ato de aprender, passa a não
entretido sem brincar fisicamente,pois elas existir mais.
ficam sentadas assistindo vídeos ou filmes O brincar, tem sido alvo das instituições:
horas seguidas. E poderiam estarem brincando creches e escola de educação infantil, ou pelo
de bola, de boneca, de bolinhas de gude, de menos deveriam estar. Estudos mostram que
peteca, de casinha, de pega-pega entre outras no Brasil houve maiores pesquisas sobre a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

problemática estudada nesse trabalho, nota-se de forma correta. O seu sucesso depende da
que a mesma é motivo de reflexão nos intenção do adulto e como o brinquedo que foi
ambientes escolares e estão passando por um oferecido para a criança. Quanto mais
novo processo para se reorganizarem e se estruturado ele for menos socialização da
adaptarem as novas metodologias da BNCC criança com o mesmo, ou seja, o contato
(2018). Desde metrópoles até pequenas corporal e linguístico é menor. Isso significa que
cidades, comunidades indígenas, escolas rurais, se pode analisar o brincar infantil de várias
quilombolas, inúmero grupo de entusiasmados formas:
educadores tem se debruçado nessa temática. Brincar diz respeito à ação prazerosa, seja
(Houve uma quebra na ideia do texto, precisa brincadeira ou jogo, com ou sem ouso de
haver uma melhor conexão do mesmo). brinquedo ou outros materiais e objetos.
De acordo com a professora 1 - Pré escolar Brinca-se também usando o corpo, a música, as
2,em entrevista realizada em 20 de agosto de artes e as palavras; jogo dar possibilidade de
2019 : mudanças de ações por ter que obedecer às
Nessa instituição há muito o que melhorar no regras; Brincadeira refere-se ao ato de brincar,
que diz respeito a aquisição de materiais e quando a criança brinca livremente e sem
instrumentos de brinquedos diversos para área estrutura; Brinquedo é qualquer coisa que a
interna (sala de aula) como bolas, jogos, criança pega e usa para brincar(FRIEDMANN,
alfabeto móvel, para manusear, boneca, 2012, p. 64).
carrinhos e outro básicos, na área externa tem Observa-se que ocorre em sala de aula
um escorregador, uma casinha apenas. Não restrição no que se refere ao educador
piscina de bolinha, parque de areia que é algo desenvolver jogos, muitas vezes usam um
básico e essencial. Sendo assim docentes objeto como jogo, porém o mesmo está
precisam ser bem criativos e corajosos para ocupando a função de objeto pedagógico e não
inventar e reinventar para criar sugestões que de jogo.
ajude a criança a brincar como foi criado o dia As escolas devem trabalhar com as crianças
do brinquedo na sexta feira algumas crianças de forma integral, embora ainda não esteja
trazem de casa os brinquedos, mas nem todas acontecendo na maior parte das unidades de
as crianças trazem porque muitas são carentes ensino infantil, uma vez que existem horas para
e não tem brinquedos em casa. Há necessidade cada coisa acontecer. Hora do jogo, hora da
de pensar em projetos maiores para arrecadar música, hora do descanso, outra para a
brinquedos por meio de empresas e linguagem e outra para brincar sobe orientação
comunidade, precisa partir da gestão do educador.
(PROFESSORA 1 - PRÉ ESCOLAR 2). O raciocínio da criança não acompanha essas
Diante da situação relatada é fundamental situações determinadas, cada uma em seu
que os docentes garantam as brincadeiras tempo. Para ela brincar ocorre quando se tem
mesmo sem a existência dos brinquedos no vontade e descansar quando está cansada. São
CEMEI, porém, tudo será em vão se não existir os adultos que deve proporcionar situações
uma valorização e uma compreensão do brincar para as motivações para que aconteça o brincar

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de forma correta. Neste sentido a escola Destaca-se que quando se realiza jogos, as
contribui muito para isso, uma vez que ela aulas fogem do normal do dia a dia, a rotina de
contribui para incentivar o indivíduo a organização se supera nas diversas formas de
desenvolver seu caráter de cidadão. participação dos educandos, pois os jogos
Há um aspecto ao qual a prioridade básica no permitem maior movimentação para realizar as
planejamento é fundamental, pois as se atividades.
ministrar aulas com atividades com jogos, é Assim, para Piaget, o jogo é:
preciso que eles sejam aplicados de forma A expressão de uma das fases dessa
adequada, pois o principal intuito é o resgate da diferenciação progressiva: é o produto da
espontaneidade que é importante para o assimilação, dissociando-se da acomodação
desenvolvimento integral da vida das crianças. antes de se reintegrar nas formas de equilíbrio
E esse trabalho merece cuidado ao planejar permanente que dele farão seu complemento,
para que realmente desenvolva aprendizagem no nível do pensamento operatório ou racional.
e diversão. (...) O jogo constitui o polo extremo da
Quando a criança é assegurada a participar assimilação do real ao eu (PIAGET, 1971, p.
diariamente de momentos lúdicos ela pode 217).
criar e recriar, mudando assim a realidade em Seguindo as ideias de Piaget (1971),
vive. Incentiva ainda a independência e compreende-se que o trabalho com os
autenticidade nas tomadas de decisões. É no pequenos nas creches e escolas de Educação
brincar com outras pessoas que ela descobre o Infantil deve-se pelo menos uma vez por
mundo que o cerca e as novas perspectivas que semana realizar atividades com jogos, pois por
a vida oferece por meio dos objetos. As meio deles a criança terá oportunidade de ter
brincadeiras e as diferentes formas de brincar contato com o concreto e demonstrar nessas
oferecem possibilidades riquíssimas para situações a desenvoltura no raciocínio, na
desafiar os alunos às novas descobertas. E dar atenção, no equilíbrio das ideias formuladas a
oportunidades de participação e expressão partir das interações com o outro e consigo
para todas as crianças independente da sua mesma.
idade, ela aprende com os estímulos por meio Verifica-se, que nos CEMEI’s ainda há lacunas
dessas atividades. referente ao ensino e aprendizagem lúdica,
À medida que o sujeito repete suas condutas sendo que o espaço da sala de aula é mais
(sugar, agarrar), ele incorpora os objetos de priorizado que o espaço de ensinar conteúdos
sugar, de segurar às ações em que essas voltados para preparar o aluno para chegar
condutas se tornam atrativas. bem no ensino fundamental e esquece que o
Esses dois processos formam parte de todas mesmo tem quatro anos para aprender nessa
as ações, aparecem em todos os estágios do nova modalidade.
desenvolvimento. Às vezes, um predomina No entanto existem algumas pessoas quando
sobre o outro; outras vezes, eles se encontram pensam em jogo, logo já relaciona com bolas ou
em equilíbrio. outro instrumento que joga, isso influencia no
desenvolvimento psicológico, a inteligência e a

959
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

socialização dos pequenos aprendizes que vai recurso didático na sala de aula. É preciso que
muito além de atividades que envolva a bola. todas as partes do artigo tenham conexão.
Segundo Piaget (1971, p.123), “os jogos Perguntou-se a professor 1 da turma do pré
simbólicos - Caracterizam a fase ou estágio que escolar de 5 anos como a música é inserida de
vai desde o momento em que surge a forma lúdica no cotidiano das crianças do
linguagem, por volta de 1 (um) ano e meio de CEMEI, a mesma declarou:
idade, até aproximadamente os 6-7 (seis a sete) A música é muito importante na vida escolar
anos”, a criança nessa idade saindo do CEMEI das crianças. Eu uso a música todos os dias tem
para a escola de Ensino Fundamental e precisa momentos com música como cantiga de roda,
terem adquiridos habilidades cognitivas que se brincadeiras cantadas como parlendas, no
consegue jogando e brincado, sendo que as momento da historinha também eu gosto de
mesmas vão influenciar no desenvolvimento da cantar para deixa-las tranquilas antes da
aprendizagem alfabética nos anos seguintes. história, canto com as crianças na acolhida para
Na definição de Piaget (1971), os jogos de socializar, gosto de cantar quando as crianças
regras são combinações sensório-motoras estão indisciplinadas e agitadas para se
(corridas, jogo de bolinhas de gude, de bola) ou acalmarem, com instrumentos confeccionados
intelectuais (cartas, xadrez), com competição e com garrafinhas de refrigerante gosto de
cooperação entre indivíduos, regulamentados dançar e cantar como os pequenos para se
por um código transmitido de geração a movimentarem e ensinar valores como amor,
geração ou por acordos momentâneos. Jogos companheirismo, amizade e alegria. Uso a
de exercícios sensório-motores que se música para criar fundo musical para narrar
tornaram coletivos, por exemplo, pular sela, histórias e também para dançarem ouvindo
apostar corrida; músicas. Música é cultura e deve ser sempre
Com relação aos jogos de regras deve-se ter priorizada (PROFESSORA PRÉ ESCOLAR 1-
consciência sobre como explicar, elas não CEMEI, 2019, s.p).
entendem regras longas, nesse sentido Piaget Compreende-se que um fator de grande
distingue em quatro estágios, sendo que é influência no desenvolvimento do indivíduo
fundamental levar em consideração a que está em crescimento é a música. Os sons e
linguagem no momento de explicar, é preciso as músicas intrigam, divertem, chamam
ser bem claro e curto os enunciados para atenção das crianças. Além da voz humana, as
melhor assimilação, dependendo da fase da crianças logo descobrem e passam a explorar
criança ela não consegue entender. outros sons de seu cotidiano. À medida que
crescem pegam as vasilhas do armário e batem
1.1 A musicalidade faz parte das no chão para ouvir o som que faz e acham
brincadeiras das crianças divertidos. Assim os objetos passam também a
É interessante que inicie o texto de outra ser pesquisados como fontes sonoras e
forma, porque ficou sem conexão. Comecem instrumento musical em potencial.
falando da importância da música como um Oliveira, et al (2012), relata que:

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A creche ou escola podem se tronar locais usando tons de vozes diferenciados ou\gestos.
privilegiados para as crianças explorarem Sendo que uma rima ele pode transformar
formas de reproduzir sons e de ampliar o muna melodia ou recitar com a voz
repertório musical que já possuem e que diferenciada para chamar atenção dos
trazem de casa, já que no ambiente da pequenos.
instituição novos sons e músicas passarão a 1.2 A dimensão lúdica é educativa
fazer parte de seu cotidiano. Nesse contexto, é O perfil do professor nesta etapa determina
importante que o professor dessa faixa etária um grande percentual da qualidade educativa,
conheça as preferências musicais das crianças, ou seja, a criança precisa de um professor que
o que costumam ouvir e qual repertório musical além de ser formado em Pedagogia, tem
de sua família (OLIVEIRA, 2012, p. 146). habilidade em trabalhar com as crianças,
Nessa linha de pensamento destaca-se que principalmente amor pelos pequenos, pois
as informações sobre as crianças podem ser nessa fase elas precisam muito da afetividade
compartilhadas nas reuniões de pais e contribui para aprender e se desenvolverem. Mais nesse
para a formação integral da criança e para o parágrafo vocês não falaram de jogos, não
fortalecimento de novos vínculos entre entendi por que já colocar uma citação sobre
professor e criança e desenvolvimento integral jogo aqui. A citação ela precisa dar
da mesma. continuidade ao texto.
O professor deve saber que sua própria voz Em relação ao jogo, Piaget (1998), afirma
ao falar ou brincar com as crianças é uma que:
ferramenta de comunicação muito especial, e Acredita que ele é essencial na vida da
que as canções e as brincadeiras cantadas criança, existe jogo de exercício onde a criança
fazem parte da vidinha delas desde quando repete determinadas situações de prazer por
nasceram. Interessante é que a instituição ter apreciado efeitos, jogos simbólicos
conte com um acervo de música cantado e utilizados pelas crianças de 02 a 06 anos
instrumentos, do qual façam peças da satisfazendo suas necessidades. Onde não
comunidade local de diferentes culturas, que as somente relembra o acontecido, mas executa a
crianças poderão ouvir em diferentes apresentação. O jogo é uma ponte que dá
momentos da jornada na creche ou na escola. condição para trabalhar o desenvolvimento
A face do explicado sobre a ludicidade nota- infantil em realidade (PIAGET, 1998, p. 11).
se que a literatura infantil se deve de forma
prazerosa, priorizar a musicalidade ao contar as Sabe-se que o jogo implica mudanças
histórias, para as crianças os contos narrados significativas no processo de ensino e
sem sonoridade dos personagens como aprendizagem com a criança, pois permite
mudança de voz ou som dos objetos ficam sem alterar o modelo tradicional das creches que
sentido e desmotivador. tinha a visão de apenas cuidar das crianças.
Contar história exige que o professor seja Hoje se tem a preocupação de ensinar de forma
dinâmico e criativo o suficiente para interagir integral e o jogo é um recurso muito importante
com os pequenos e com os personagens para desenvolver a linguagem, o raciocínio

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

lógico e o processo de interação entre as Winnicott (1997), explica a seguir que a


crianças. escola não deve podar a criatividade dos
É com o lúdico que surge as surpresas no pequenos e som investir em recursos lúdicos.
aprender, possibilidades de fazer de novo, de A brincadeira é a prova evidente e constante
querer participar para superar as dificuldades da capacidade criadora, que quer dizer
ou as citadas indisciplinas entre as crianças, vivenciar, de modo que os adultos contribuem,
pois as mesmas ficam eufóricas e agitadas. Isso nesse ponto, pelo reconhecimento do grande
cria restrições para efetivar os jogos nas lugar que cabe a brincadeira e pelo ensino de
atividades no CEMEI. brincadeiras tradicionais, mas sem obstruir e
Portanto, entende-se que a dimensão lúdica nem adulterar a iniciativa própria da criança
está relacionada com a dimensão educativa. No (WINNICOTT, 1997, p. 163).
momento do jogo é ideal que seja trabalhado o Ainda de acordo com (1997), na fase infantil
erro como um caminho para a aprendizagem. elas imitam os adultos e são norteados por um
Até mesmo nos conflitos entre as crianças o grande desejo: o de ser adulto. Poderia o leitor
jogo pode ser orientado para diminuir as brigas imaginar por quê? A resposta é relativamente
e atitudes egocêntricas como querer a bola só simples: porque a criança acredita que o adulto
para si mesmo, e a (o) educador (a) pode pode tudo, ou seja, que ele é onipotente, que
direcionar chuta a bola para o colega tal e a tem domínio sobre a realidade. Ao se colocar
criança vai aprendendo que no jogo ela pode no espaço imaginário do jogo, a crianças
falhar e ter sucesso em alguns momentos. consegue ascender a tão desejada onipotência
Nesse mesmo pensamento o jogo não pode que acredita ao adulto. Assim, ela pode
ser realizado apenas para preencher um reorganizar a realidade de forma diferente, na
determinado tempo da aula, mas precisa ser qual construa suas ideias e sobre a qual ela
planejado com objetivos e finalidades para tenha domínio.
alcançar aprendizagem da criança que participa O brincar deve ser o destacado na vida
das atividades lúdicas. O jogo não deve ser escolar do educando qual essa adquire
apresentado apenas como mais uma atividade experiências tanto interna como externa como
corriqueira e sem planejamento, assim sendo, nas brincadeiras de faz de conta e nas
se torna enfadonho e sem significados. invenções com objetos.
Vygotsky (1989, p.31), para ilustrar a Destaca-se que as brincadeiras tradicionais
característica, o autor comenta um caso nas que fazem parte da cultura popular não devem
quais duas irmãs de cinco e sete anos decidem ser esquecidas, pois é cultura e as novas
brincar de ser irmãs, o que é, na verdade, a gerações precisam vivenciar para não deixar
realidade do seu relacionamento. “As crianças morrer a história, mesmo sofrendo alterações
no ato de brincar mostram o comportamento em algumas coisas, porém a essência não se
como agressividades, afetividades, amor, pode mudar.
ansiedade, dúvidas e amizades”. O uso dos jogos infantis na escola muitas
vezes é criticado considerando sua natureza
espontânea, muitos acreditam que as crianças

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quando brincam não aprendem, é perda de infantil como consequência da consolidação


tempo. Muitos religiosos, por exemplo, dos sistemas nacionais de ensino na Europa e
partidário do ensino fradesco era contrário a América do século XIX (conhecida como escola
esse tipo de ensino. tradicional), que tinha por objetivo transmitir o
Para o autor: conhecimento científico e cultural acumulado,
É somente sendo criativo que o indivíduo valorizando o professor como figura do
descobre seu eu. Viver criativamente como processo pedagógico. Essa educação valorizou
propõe, exige manter vivo o canal de ligação demasiadamente o conhecimento pela razão
entre a realidade interna e externa expressa em desprezando a emoção (VASCONCELOS, 2006,
sua capacidade de lidar com o desejo e sua p. 61).
negação, próprios da complexidade humana Desse modo, é visto como uma figura central
(WINNICOTT, 1975, p. 79). pelo pequeno aprendiz, é um exemplo a ser
Sendo assim, os estudos sobre o brincar seguido e tem uma responsabilidade muito
trouxeram respostas positivas e continua sendo grande em dar bons exemplos tanto na escola
objeto de pesquisa, pois ainda precisa de como fora dela. E educador ganha força para
comprovação para explicar o quanto é incentivar a criança, pois sabe da sua
importante para o aprendiz às brincadeiras e os importância para o crescimento pessoal e social
jogos, uma infância sem o lúdico pode tornar dela, fica prazeroso quando ele entende esse
um adulto vazio ou infantilizado porque foi papel e quando faz tudo com dedicação e
podado de participar de sua vida infantil como carinho, posto isso recebe reciproca ajuda a ter
deveria. um ambiente de aprendizagem.
Observa-se no dia a dia das escolas de Concluindo-se que o lugar das brincadeiras e
educação infantil ainda há muito o que se atividades lúdicas deve ocupar uma posição de
mudar, os pais e professores em épocas atrás destaque nas escolas e creche. Antes
como tudo se restringia ao tradicional referente desvalorizada, passa a ser reconhecida como
aos brinquedos e nota-se que essa história tem atividades fundamentais para o pequeno
fragmentos deixados na cabeça de alguns educando, basta deixar brincar que
educadores que não valoriza o jogo como naturalmente desenvolve-se.
deveria no trabalho diário com os educandos.
Constatando-se que muitos pais ainda
questionam o uso dos jogos e brincadeiras
alegam que seus filhos frequentam a escola
para aprender e não para brincar, alguns ainda
não compreenderam que brincando também se
aprende e consideram as atividades lúdicas
como de caráter fútil.
Destaca Vasconcelos (2006), que:
O brincar na atualidade continua sendo visto
pelos professores como lazer e passatempo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se com esse estudo que ao falar do lúdico no ambiente escolar é impossível não
falar da importância de uma boa formação, de educadores que surpreende com seu trabalho
diferenciado e voltado para o brincar, com os objetivos que leva à aprendizagem com sucesso.
Portanto, o trabalho com a criança deve ser muito bem planejado e bem estruturado para assim,
concretizar o ensino lúdico com o foco em cuidar, brincar e ensinar como está previsto pela BNCC
(2018).
Considera-se que o brincar além de oferecer à criança atividades que amenizem as
deficiências de habilidades motoras finas como recortar imagens e palavras e colar pedaços de
papeis em desenhos que podem ser referentes à temática de um livro lido ou datas
comemorativas, visto que uma das dificuldades das crianças é não sabe usar tesouras.
Nota-se que o uso de brincadeiras no ambiente educacional tem restrição de muitos
professores porque alegam que isso ocasiona muita bagunça na aula; por conta disso, acabam
deixando os alunos sentados por muitas horas e fazendo atividades mecânicas como pintar.
O ambiente estrategicamente montado para atender de forma lúdica cada criança deve
ser monitorada pela equipe pedagógica para não cair na rotina. Constantemente deve ser
reavaliado se o conceito exposto às crianças. Ao realizar esse trabalho sentiu-se muito prazer nos
estudos produzidos, pois se pode compreender um pouco do mundo da criança. Falar de creche
ou de pré-escola é muito mais que falar de uma instituição, de sua organização, de suas
qualidades e defeitos, das suas necessidades sociais e de sua importância educacional.
Falar da criança é algo mais enriquecedor ainda, pois se trata de um ser especial, que
mesmo pequeno tem seu jeito singular, suas características e personalidades, uma dádiva de Deus
que merece ser bem cuidada, tratada e ter um ambiente acima de tudo com profissionais que
gostem de crianças e sejam capacitados para saber trabalhar bem com esses seres indefesos e
que acreditam no professor como uma pessoa especial.
Nessa continuação, deve ser levado em consideração que o professor participe de
momentos de formação continuada para pensar na prática pedagógica no âmbito da escola,
possibilitando a experimentação do novo, do diferente, por meio de experiências profissionais e
socialização de trabalhos de sucesso, que podem apoiar novas ideias. E que o docente precisa ter
uma visão crítica e saber argumentar sobre o que é importante para que o ambiente lúdico
prevalece, cobrar dos gestores que invistam nessa modalidade de ensino garantido que a
educação ocorra efetivamente de forma integral.
Acima de tudo, a formação continuada leva o docente dessa modalidade infantil a
compreender diferentes estratégias metodológicas que consideram o lúdico algo de grade valor
no meio educativo. Por exemplo, oficina de jogos é um meio de confeccionar jogos que muitas
vezes o docente não tem tempo de fazer durante as aulas. E nesse trabalho prepara materiais e
venha atender as diferentes faixas etária, pois cada uma tem seu jeito próprio de fazer as suas
descobertas, o seu tempo de aprender e isso deve ser estimulado e respeitado.
Considera-se que umas aprendem com mais rapidez, outras no seu ritmo próprio, e que é
necessário a ação docente, quando o professor pode direcionar as descobertas do novo. Assim,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

afirma-se que o mesmo deve ser bem preparado para contribuir de maneira consciente do que
está executando e saber a direção de como ensinar as crianças a descobrirem o mundo, formando
pessoas conscientes, com amor e respeitos aos desejos e, além disso, criando uma relação de
proximidade, entrelaçada pela afetividade.
Verificou-se com essa pesquisa que o ser humano, criança, é um sujeito complexo, por essa
razão não pode ser educada de uma única forma, por meio de um padrão disjuntivo ou mesmo
de partes separadas que devem ser juntadas para entendê-la. Às metodologias lúdicas diferencia
as formas de ensinar e aprender. O jogo e as brincadeiras dão alegria nas descobertas e o aluno
pode verificar o erro e transformar em aprendizagem.
Deixam-se aqui experiências de uma pesquisa que contribuirá ainda que de forma modesta
para aqueles que atuam na Educação infantil e subsídios para novas pesquisas nessa área que é
um campo vasto de conhecimento e descobertas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL, BNCC-Base Nacional Curricular. Ministério da Educação, Brasilia,2018.

FRIEDMANN. Brincar na Educação Infantil: observação, adequação e inclusão. 1ª Ed. São


Paulo; Moderna; 2012.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo, sonho, imagem e


representação. Rio de Janeiro: Zabar,1971.

PIAGET, Jean., Jean. A psicologia da criança. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

OLIVEIRA, Zilma Ramos. Et al. O trabalho do professor na Educação Infantil: trabalhos e


práticas pedagógicas. São Paulo, Biruta, 2012.

WINNICOTOTT, D.W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

VASCONCELOS, M.S. Ousar brincar. In: ARANTES, V.A. (Org.) Humor e alegria na
educação. São Paulo: Summus Editorial, 2006.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇAO INFANTIL:
POSSIBILIDAES E DESAFIOS DE PROJETOS
INTEGRADOS
Adriana Souza da Cruz Santos1

RESUMO: O artigo propõe compreender a mediação do educador da Educação Infantil,


especificamente aqueles que atuam com à criança de 1 a 2 anos. Nesta perspectiva é fundamental
o diálogo com autores que versam sobre o tema. Fruto deste artigo realizamos uma pesquisa de
campo em Intuição pública objetivando a aproximação de teoria e prática, o que resultou em
proposta de projetos integrados para desenvolvimento nessa modalidade de ensino.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Cuidar e educar; Projetos.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia.
E-mail: adrianasouzadacruz@hotmail.com

967
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO objetivos e práticas pedagógicas qualificadas e


significativas para a criança.
O processo cuidar←→Educar passou a ser Esse estudo foi permeado pelos seguintes
visto como eixo importante Educação Infantil, objetivos:
uma vez que teorias e estudos significativos - Ampliar a concepção de ensino e
sobre o desenvolvimento e a aprendizagem aprendizagem aprofundando o olhar e a escuta
tem ressaltado a importância do para crianças de 1 a 2 anos.
Cuidar←→Educar tanto na escola quanto na - Refletir sobre o papel de cuidar←→ educar
família. no espaço pedagógico, discutindo a
Nessa ótica as indagações que nos instigaram importância da mediação do educador e as
e que parecem permear o cotidiano da concepções que a instituição tem para este
Instituição pesquisada foram: Como a medição processo educativo.
do educador de creche pode favorecer os - Sensibilizar os educadores para a
processos de cuidar←→Educar? Que caminhos importância do Cuidar←→Educar no primeiro
trilhar para que a criança de 1 a 2 anos possa estágio de desenvolvimento (1/2 anos).
verdadeiramente aprender e se desenvolver de Esse é o desafio que nos propusemos nesse
maneira significativa, considerando o espaço estudo, que muito enriqueceu a nossa
escolar? trajetória, tanto profissional como pessoal.
O interesse pelo tema Cuidar←→Educar A pesquisa é qualitativa, uma vez que
justifica-se em primeiro lugar por termos oportunizou uma relação dinâmica entre o
trabalhado durante cinco anos em uma creche. mundo real e os sujeitos da pesquisa,
A experiência acumulada nesses anos, o desejo investigando os principais acontecimentos do
enorme de compreender melhor, os processos cotidiano escolar.
de cuidar←→Educar, e, sobretudo, nos Reconhecemos que essa é uma trajetória
aprofundarmos na importância da mediação do que está só iniciando, Todavia, reconhecemos
professor nessa faixa etária, foram também que ao identificarmos um problema na
determinantes para definir nossa trajetória, Instituição, vamos também assumindo o
nesse momento, de alunas-pesquisadoras. compromisso de superar as necessidades
Parece claro que a concepção do professor básicas dos pesquisados, assumindo-as
de educação infantil, a respeito da faixa etária também como nossas principais necessidades,
que queremos estudar, tem se modificado com estabelecendo parcerias, de modo a
o passar do tempo. Hoje já se sabe que a criança compreendermos melhor a estreita relação
aprende e se desenvolve de maneira entre o Educar←→Cuidar.
significativa nesse estágio. Desta forma, apoiadas nos estudos de Ludke
A importância da mediação do educador, (1986), André (1985), a observação ocupou um
que deve ser bem fundamentada teoricamente, lugar privilegiado nas novas abordagens de
corrente, afetiva, competente, planejada. pesquisa educacional. Usada como principal
Para tanto, é necessário que os profissionais método de investigação ou associada a outras
sejam capacitados e bem formados, com técnicas de coleta, a observação nos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

possibilitou também um contato pessoal e Nessa ótica, Bodgan e Biklen (1982),


estreito com o fenômeno pesquisado, o que ressaltam que a pesquisa qualitativa tem o
apresentou uma série de vantagens e ambiente natural como fonte direta de coleta
possibilitou o desenvolvimento dessa pesquisa. de dados e o pesquisador como principal
instrumento.
TRAJETÓRIA METODOLÓGICA Segundo os dois autores, a pesquisa
qualitativa supõe o contato direto e prolongado
do pesquisador com o ambiente e a situação
- Sujeitos da pesquisa
que está sendo investigada, via de regra por
- Instrumentos de coletas de dados
meio do trabalho intensivo de campo.
- Análise dos dados
Dessa forma, como já foi dito fizemos no
A pesquisa foi realizada em uma Instituição,
início da investigação, um levantamento de
conveniada com a Prefeitura de São Paulo. A
dados com questionários compostos de 09
creche tem como objetivo promover o
(nove) questões abertas, com duas professoras
desenvolvimento infantil em todos os seus
que trabalham com a faixa etária estudada, a
aspectos: - físico, afetivo, cognitivo e moral,
fim de conhecê-las melhor, dar oportunidade
assim como proporcionar à criança proteção,
de expressarem suas ideias, seguindo seus
alimentação, cultura, saúde e lazer.
próprios erros rumos narrativa e podermos
Os sujeitos de nossa pesquisa, são crianças
compreender melhor o significado do
de 1 a 2 anos de nível sócio econômico baixo,
problema.
que estão desde o berçário na creche, e os
Percebemos que durante a resposta ao
professores na maioria possuem formação no
questionário, as professoras sentiram-se
Magistério e somente 1 com nível superior em
inseguras, exigindo de nós, muita mediação,
pedagogia.
motivação, sem, no entanto, conduzi-las às
Uma das nossas preocupações estava na
respostas.
escolha dos instrumentos de coletas de dados
As perguntas, muitas vezes, precisavam ser
que verdadeiramente, pudessem apreender as
modificadas, simplificando a linguagem,
concepções dos educadores acerca do tema,
permeando-a com afeto e compreensão. Nem
além de oportunizar um novo olhar para as
todas as questões foram respondidas num 1º
relações de educador / criança.
momento, o que exigiu de nós uma maior
Assim sendo orientadas pelos estudos de
proximidade, reformulação das questões e
Ludke e André (1986), optamos pela
muita observação.
observação em sala de aula e em outros
A observação tem um roteiro pré-
espações da creche e pelo questionário, com
estabelecido para oportunizar a análise do
um roteiro pré-estabelecido, como
tema, no entanto nos detivemos em alguns
instrumentos principais de coleta de dados.
aspectos mais importantes para a análise.
A opção por esses instrumentos deu-se, por
Ao serem perguntadas quais as dificuldades
acreditarmos que permitem uma proximidade
que elas encontravam no seu trabalho
com os sujeitos da pesquisa e um maior
afirmaram que nesta fase do egocentrismo, fica
entendimento de seu discurso e prática.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

um pouco complicado trabalhar a ideia do que dificuldade de estabelecer uma relação de


é próprio e do que não é próprio e ao mesmo compreensão, com diálogo e uma escuta
tempo controlar a agressividade. As apurada. O que nos parece é que a mediação do
dificuldades são as mordidas, e quando as educador para favorecer compreensão e
crianças batem nas outras. propiciar o processo de ensino e aprendizagem
De acordo com as nossas observações é sempre de fundamental importância. As
constatamos que os educadores sentem respostas das educadoras parecem afirmar que
dificuldades de estabelecer a mediação entre as a maior preocupação é resolver os conflitos, no
crianças. momento das brincadeiras.
Percebemos que a forma das crianças se No entanto, pudemos observar que durante
relacionar é muito difícil, pois a agressividade e o momento que as crianças se encontram
as brigas estão presentes no cotidiano escolar. brincando, os educadores não fazem a
A escuta, o diálogo, a intervenção do educador mediação e intervenção nesse processo, uma
nesse processo parecem estar comprometidos vez que as brincadeiras não são planejadas com
exigindo mais, reflexão e objetivos de mudança. intencionalidades e como eixo pedagógico para
Segundo Piaget (2001), a criança 0 a 2 anos propiciar a construção do conhecimento.
está na fase do sensório-motor, tendo um Nesse aspecto, a teoria nos diz que quanto
comportamento totalmente egocêntrico sendo mais aprendizagem, maior o desenvolvimento.
incapaz de se colocar no lugar de outra criança, Para Vygotsky (1997), a criança já nasce no
exigindo que o educador ofereça meios que mundo social e desde o nascimento vai
propiciem contato direto com os diferentes formando uma visão desse mundo por meio da
objetos e situações ao seu redor, o que irá interação com adultos ou crianças mais
favorecer um novo patamar de conhecimento. experientes.
Ao ser perguntada como elas tentam Desta forma, a mediação do educador torna-
resolver problemas encontrados e quais os se fundamental para o seu desenvolvimento,
fatores que interferem, elas afirmaram que pois a intervenção pedagógica também
tentam resolver da melhor maneira possível, favorece a aprendizagem das crianças. O
conversando com as crianças e mesmo sendo ambiente influencia no desenvolvimento,
pequenas, procuram mostrar que não pode portanto o educador deve propiciar situações
bater nem morder o amiguinho, ressaltando de aprendizado com significado.
que os brinquedos (ou objeto em questão) Nessa ótica, o aprendizado e o
pertencem a creche, que devem ser usados sem desenvolvimento têm grandes significações no
estragar ou brigar com o amigo. As brigas contexto cultural da criança e devem ser
ocorrem geralmente por causa de brinquedos, valorizados e discutidos e a mediação fornece
mas, segundo as educadoras fazem parte do pistas e dá suporte necessário para a criança
desenvolvimento. alcançar suas tarefas.
Analisando as respostas dadas pelas Em relação à questão 3, que indaga o perfil
educadoras na questão dois (2), e observando a de uma criança de um a dois anos e o que
sua prática, percebemos que sentem caracteriza esse momento, as educadoras

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

responderam que a criança gosta de brincar de educativa” (p.36). O faz-de-conta para a autora
esconde-esconde (buscar um objeto permite não só a entrada no imaginário, mas a
escondido), imita atitudes e sons, já consegue expressão das regras implícitas que se
pensar em meios de alcançar um objeto que materializam no tema brincadeiras.
está fora do alcance. Segundo ressalta Santos (1995), a criança já
A criança se desenvolve por meio dos é capaz de construir imagens dos objetos,
estímulos, por meio de atividades realizadas inclusive dos seus deslocamentos no espaço. O
nas salas, no contar histórias, nas brincadeiras objeto mesmo fora do seu campo visual
com jogos, recreações e também com suas continua existindo em sua mente, têm
capacidades. preferência por brinquedos especiais e as
De acordo com nossas observações, tentativas de imitar o adulto abrindo caminhos
verificamos que o período em que as crianças para a independência.
permanecem na creche, o brincar está muito Em relação ao perfil e as características da
presente. Mas as brincadeiras não são criança de 1 a 2 anos é muito importante que as
propostas pedagógicas, não são planejadas, creches não tenham um espaço simplesmente
mediadas e apresentadas como conteúdos de cuidado, ao contrário, o cuidado e
significativos. aprendizado devem estar integrados desde o
A criança nessa fase tem muito interesse pela início, sendo necessário um profissional
brincadeira, mas é necessário o educador ter qualificado e trabalhos pedagógicos que
objetivos claros, para que a brincadeira não seja favoreçam o desenvolvimento da criança,
vista apenas como um meio para gastar podendo ser mudada e transformada com
energia, sem mediação e planejamento significações e assim educar deixa de ser
cuidadosos. apenas cuidar, assistir e higienizar.
Verificamos que na Instituição, as Sendo assim, a Educação Infantil deve
educadoras não fazem a mediação durante as cumprir duas funções indissociáveis e
brincadeiras, não observavam e nem complementares: Cuidar ←→ Educar, parceria
organizavam um espaço estimulador para o em busca de uma educação com qualificação e
desenvolvimento das mesmas. Utilizavam as significação.
brincadeiras para preencher os horários em Sabemos que nessa fase, totalmente
que não havia atividades planejadas dentro da dependente do adulto, a criança pequena
proposta pedagógica, deixando as crianças precisa de cuidado, segurança, afetividade.
livres em suas brincadeiras, sem observação ou Quanto mais a criança brinca, mais ela explora,
com desafios que pudessem ampliar suas experimenta, descobre, vai construindo as suas
capacidades, por meio das intervenções relações com o mundo, harmonizando-se com
pedagógicas. ele, aprendendo a lidar com o meio, a dominar
Segundo Kishimoto (2000), “Quando as habilidade e adquirir confiança.
situações lúdicas são intencionalmente criadas Ao ser perguntados sobre a função do
pelos adultos com vistas a estimular certos educador, os sujeitos de pesquisa responderam
tipos de aprendizagem surge á dimensão que o educador, como elemento mais

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

diretamente ligado à criança, estabelece assim, Nesta perspectiva, é que o


maior número de interações, auxilia na Cuidar←→Educar, sendo importante também a
construção da autonomia e o fortalecimento da relação de confiança entre professor e aluno,
identidade, sendo agentes importantes de de modo a ter uma relação educativa entre
socialização. aquele que ensina, aquele que aprende e o que
A função é ser mediador, desenvolver ensina e o que se aprende.
trabalhos educativos, que as crianças possam Ao ser perguntada sobre qual a função da
aprender e se desenvolver dentro da sua faixa creche nos dias atuais, as educadoras
etária. responderam que a creche não é um depósito
No entanto, observamos que na prática, os de crianças, no qual os pais deixam para irem
educadores encontram dificuldades para trabalhar. Mas sim, um lugar no qual as crianças
concretizar esses princípios, pois percebemos aprendem boa conduta.
que ambas sabem da importância da sua “(É a forma de se comportarem lá fora com
função, mas necessitam de propostas as outras pessoas)”.
pedagógicas, que verdadeiramente, possam Funciona como uma instituição que
favorecer o desenvolvimento das crianças. cuida←→educa a criança, trabalha em parceria
Para tanto, a escola precisa adequar o com as famílias, visando o desenvolvimento
currículo, desenvolver um trabalho contínuo, harmônico da criança e de acordo com as
mas flexível, redimensionar recursos necessidades físicas e psicológicas próprias da
pedagógicos, diversificar as ofertas educativas. faixa etária.
Para Vygotsky (1997), “o conceito de Fica muito claro nessa resposta que os
mediação, em termo genérico, é o processo de educadores reconhecem que a creche não é
intervenção de um elemento intermediário maios vista como um lugar de abrigo, que a
numa relação, a relação deixa de ser direta e parceria com a família é importante, mas a
passa a ser mediada por esse elemento”(p. 26). grande dificuldade parece-nos estar na prática,
Portanto compreendemos, para que neste espaço no qual as crianças ficam a maior
aconteça a mediação entre o sujeito e o parte do tempo.
indivíduo é necessário que haja uma relação Segundo Oliveira (1992), a creche é um dos
direta e a intervenção pedagógica do educador. contextos de desenvolvimento da criança, pois
Quando acontece a mediação com além de prestar cuidados físicos, ela cria
intencionalidade pelo educador, a mediação condições para o seu desenvolvimento
passa a ser internalizada, tornando-se cognitivo, simbólico, social e emocional.
fundamental no processo de educar, sendo A creche é um espaço educativo, que deve
importante também a relação de confiança; o propiciar a interação de todos os agentes que
diálogo, a escuta entre educador e educando lidam com educação, não pode, portanto, ser
sendo que, a bagagem de conhecimento, as vista como um lugar de abrigo, de higienização
diversidades e as histórias de vida do educando e de assistência a essas crianças, precisa sim de
são aspectos para serem refletidos em sala de profissionais capacitados, com metodologia
aula. significativa e com visão totalmente voltada à

972
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

criança para que assim possam atender às qualificar a prática pedagógica, trocar
necessidades dos mesmos. experiências de modo a buscar caminhos mais
Na questão (6) ao serem perguntadas, significativos para a aprendizagem da criança.
porque escolheram a instituição para trabalhar, Em relação à questão (8) ao serem
responderam porque havia uma vaga na perguntadas se participavam das discussões
instituição e essa é a sua profissão. Um outro sobre a mediação do educador no processo de
motivo foi o desemprego e o outro foi à busca Cuidar ←→Educar, considerando crianças de 1
de uma nova experiência: trabalhar em uma a 2 anos, elas alegaram que já participaram e
creche e com crianças pequenas, pois antes só acham muito importantes, embora achem
havia trabalhado com ensino fundamental. complicado Cuidar ←→ Educar ao mesmo
O que nos parece é que a falta de opção tempo, porque isso exige tempo e preparo para
muitas vezes, “ronda” a vida do profissional, fazer um bom trabalho.
que acaba fazendo escolhas que não O que nos chamou muita atenção nessa
correspondem à sua formação e nem segue às resposta é que as educadoras colocam o Cuidar
suas necessidades reais de crescimento, como ←→ Educar em posições diferentes não
as educadoras, muitas vezes afirmaram. percebem que Cuidar ←→ Educar caminham
Compreendemos que o profissional de juntos, são conceitos que se interligam, pois
educação infantil precisa ter clareza de seus observamos que uma das dificuldades da
objetivos, para trabalhar com criança, pois seu creche está na associação entre os conceitos,
compromisso é com a aprendizagem, mas precisam vir refletidos em boas propostas
compromisso com a qualidade de ensino e com pedagógicas e bons mediadores.
as oportunidades de desenvolvimento. Nesse Uma das educadoras alega que Cuidar ←→
sentido, são muito importantes a formação do Educar precisa de tempo, e que é necessário
educador e sua capacitação permanente. que o educador tenha conhecimento claro dos
Em relação à questão (7) ao serem objetivos nas atividades propostas em sala de
perguntadas se participavam das reuniões de aula e que a parceria com a família favorece a
capacitação, as educadoras responderam que compreensão do Cuidar ←→ Educar e todo os
sempre que têm oportunidades sim e que os eu processo, pois quem cuida, educa e quem
cursos oferecidos pela prefeitura refletem educa, está necessariamente cuidando.
sobre os temas desenvolvimento e Compreendemos que o Cuidar ←→ Educar
aprendizagem das crianças. caminham juntos, mas desde que tenham uma
Com as observações que realizamos na intencionalidade na prática pedagógica.
Instituição, percebemos que a mesma oferece Segundo Oliveira (1992), os familiares e os
cursos de capacitação, mensalmente e, nas educadores estão ligados a um afeto comum,
reuniões com os professores são abordados que á a criança, e a creche é o seu lugar de
vários temas relacionados às crianças e expressão.
dificuldades encontradas no trabalho. A criança de 1 a 2 anos precisa de proposta
Acreditamos que esses momentos de pedagógica que garanta seu processo de
reflexão coletiva são muito importantes para

973
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

construção de conhecimento e percebemos que essas atividades não estão


desenvolvimento global da criança. engajadas dentro do projeto político
Segundo Campos (1994), o cuidado inclui pedagógico e que a mediação não é feita
todas as atividades que são integrantes ao constantemente.
educar: alimentar, lavar, trocar, curar, proteger De acordo com a afirmação de Vygotsky
e consolar. (1998), aprendizagem e o desenvolvimento são
Compreendemos que cuidar ←→ educar aspectos que precisam de muita reflexão no
devem ser parcerias, pois são faces da mesma ambiente escolar, uma vez que a escola é
moeda. Até a promoção do desenvolvimento grande facilitadora para que esses processos
orgânico não está separada das atitudes e dos ocorram, favorecendo a chegada da criança em
procedimentos que ajudam a criança na zona de desenvolvimento real.
construção do conhecimento. Portanto, é a Partindo desses pressupostos, a
partir dessa parceria entre o cuidar ←→ educar comunicação da criança com as pessoas ao seu
que os educadores vão buscar diferentes redor é muito significativa desde cedo, pois se
formas de propor caminhos de aprendizagem, expressa por várias formas por meio de gestos,
com significação. expressão facial, e verbal, e até mesmo por
Assim, o cuidar ←→ educar define-se como choro.
aprendizagem de si mesmo, do outro, do Enquanto mediadores, devemos dar muita
ambiente em que vive possibilitando a importância a esse processo de conhecimento
construção da identidade, autonomia e a e estarmos atentos às crianças nesses níveis de
socialização. aprendizagem.
Em relação à questão (9) ao serem Durante alguns dias tivemos oportunidade
perguntadas como se dá a mediação para a de observar no cotidiano escolar, a prática das
criança de 1 a 2 anos para favorecer o seu educadoras e o movimento das crianças para
desenvolvimento e aprendizagem, melhor fundamentar essa análise. Percebemos
responderam que a criança tem uma ao comparar, os discursos das professoras
curiosidade insaciável e empolgação pela obtidos com os questionários, que muitas de
descoberta e conhecimento e essa sede de suas afirmações com tendência construtivistas,
conhecimento torna-se mais evidente quando com aspectos mediadores, focados no cuidar
começam a falar. ←→ educar não se aproximam da realidade.
É importante a interação com as crianças, no Por intermédio das observações,
brincar, no observar, no contar histórias, percebemos que na prática os educadores
estando atenta aos gestos e atitudes da criança, sentem dificuldade de estabelecer uma relação
de modo a participar com as mesmas das de compreensão, sentindo dificuldade de
brincadeiras, dos jogos, das músicas, estabelecer a mediação com os alunos.
procurando extrair delas tudo de bom que Desta forma, nos propusemos a discutir com
possuem em todos os momentos. as professoras novos caminhos que pudessem
Observamos que as educadoras alegam que redirecionar as relações e a mediação com as
a mediação se dá a partir das brincadeiras, mas crianças, oportunizando momentos ricos de

974
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizagem, desenvolvimento e mediação educativo, ocasionando uma melhor interação


para todos aqueles envolvidos no processo entre educador e educando, a fim de favorecer
ensino-aprendizagem. o processo de ensino e aprendizagem. Além
disso, pretendemos demonstrar aos
PROPOSTA PEDAGÓGICA educadores a importância do cuidar na
educação da criança, como fonte de construção
A partir dos dados levantados elaborados
do conhecimento.
uma proposta de intervenção que esperamos
Temos como objetivo principal sensibilizar os
possibilite algumas mudanças no cotidiano da
educadores para que conheçam e busquem
creche.
novas estratégias para obter uma
Preparamos um vídeo e dicas de leituras com
aprendizagem significativa.
sugestões de atividades para os educadores da
Pretendemos discutir alguns caminhos, que
creche, que serão recursos que poderão
possam minimizar os problemas, que
favorecer a reflexão, permitindo que os
permeiam a aprendizagem e o
educadores vivenciem novas experiências e
desenvolvimento da criança de 1 a 2 anos.
coloquem em prática o que aprenderam.
Planejamos uma intervenção que possa, ao
Sabemos, no entanto que todas as crianças
nosso ver, não só responder às necessidades
têm direito à educação e um ensino de
dos sujeitos pesquisadores, mas também às
qualidade. O educador vivenciando esses
nossas inquietações.
momentos de reflexão na sua prática docente
poderá proporcionando novas ideias,
✓ Público Alvo: Os Educadores.
conhecimentos e novos saberes.
A creche no decorrer de sua trajetória passou
por muitas modificações, hoje já se sabe que ✓ O produto: A fita de vídeo e as dicas de
não é apenas um lugar de abrigo para atender leitura com atividades para os educadores
essas crianças. O vídeo vem dá ênfase na da creche abordam a importância de
mediação e na formação do educador para mediação do educador no processo de
estabelecer esse novo olhar educacional entre cuidar ←→ educar, de modo a proporcionar
cuidar ←→ educar. a reflexão sobre suas práticas pedagógicas
dentro do espaço educativo.
Nessa ótica, temos como objetivo formar
crianças ativas com senso-critico, com Procuraremos oferecer aos docentes
personalidade e autonomia. A formação algumas ideias, assim como possibilidades de
docente é necessária para ressignificar cada vez mediação e reflexão que possam favorecer a
mais a prática pedagógica, portanto o educador aprendizagem de crianças de 1 a 2 anos.
conhecendo novas estratégicas de trabalhar e A fita de vídeo também foi elaborada em
proporcionar formas significativas com crianças forma de flashs no qual irão conter imagens de
poderá desenvolver bom trabalho pedagógico. atividades pedagógicas, momentos que as
A partir da proposta elaborada queremos crianças estejam envolvidas nas brincadeiras e
que os docentes reflitam sobre suas práticas a mediação dos educadores nesse processo.
pedagógicas, suas condutas dentro do espaço

975
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O objetivo ao mostrar essas imagens é TEMA: CUIDAR ←→ EDUCAR:


discutir com os professores as diversas
possibilidades de oferecer um ensino de SÃO FACES DA MESMA MOEDA
qualidade e com significados para a faixa etária Participantes: Educadoras que lecionam no
estudada. Maternal
As dicas de leitura com atividades com Objetivo Geral: Demonstrar aos educadores
atividades para os educadores foi elaborado as mediações que articulam o cuidar ←→
por meio de temas com embasamento teórico educar dentro do espaço educativo.
e sugestões de atividades pedagógicas: Desenvolvimento: A palestrante aborda
brincadeiras, jogos, entre outros, para orientar temas importantes sobre cuidar ←→ educar,
os educadores em sua mediação, auxiliando as educadoras a refletir sobre as
sensibilizando-os que o cuidar ←→ educar suas mediações no cotidiano escolar. Os
estão presentes no cotidiano escolar. tópicos da palestra serão discutidos e
Assim o projeto de intervenção é proposto organizados com a palestrante.
por temas, seguindo dois semestres, tendo seis
encontros como segue o cronograma abaixo: TEMA: O EDUCADOR COMO
ATOR PRINCIPAL NA FORMAÇÃO
TEMA: A CRECHE Atividade Desenvolvimento
Atividade Desenvolvimento Abertura da reunião Os objetivos da reunião
Abertura da reunião Os objetivos da proposta: e discussão do objetivo serão colocados na lousa
Discussão sobre os Registro na Lousa e a do tema
Objetivos da Proposta entrega do Manual Dinâmica: O corpo
humano -------------------------------------
Dinâmica: O jogo da
----------------------
Confiança ----------------------------
Discussão sobre as Individualmente as
expectativas do grupo em educadoras irão levantar
Discussão sobre o Individualmente as
relação ao tópicos relacionados ao
tema educadoras anotam em folha
desenvolvimento do tema
de sulfite qual o papel da
tema. Dificuldades
creche
encontradas para
proporcionar um ensino
Socialização da leitura Em roda ler juntos sobre o
com qualidade
do texto: A creche tema abordado e expor com
Socialização da leitura: O Em roda irão ler o texto e
as anotações que foram
educador como ator cada educadora terá
feitas na folha de sulfite e
principal na formação momento de expor suas
expor em papel Kraft
ideias, discutir o papel do
Fechamento da No momento em que as
educador nos dias atuais e
reunião educadoras estiverem
como se ente exercendo
Por intermédio da ouvindo a história irão fazer
essa função.
história uma avaliação considerando
Fechamento da reunião Por meio do texto fazer
Conflitos autor os tópicos
por meio do texto Vida uma avaliação do dia.
desconhecido Importantes, por meio das
três perguntas que a história de educador é fogo Mirian
pede. Celeste Martins

976
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TEMA: VYGOTSKY: UMA TEMA: OFICINA DE SUCATAS


ALIANÇA QUE FAZ SENTIDO Participantes: Educadoras que lecionam no
Maternal
Objetivo Geral: Proporcionar às educadoras
Atividade Desenvolvimento
Abertura da reunião Os objetivos da reunião a diversidade de diferentes materiais
E discussão do tema serão registrados em papel pedagógicos para a construção do
abordado Kraft
conhecimento dos educandos.
Dinâmica: palavra- Em roda as educadoras irão
chave mediação falar uma palavra que defina Conteúdo: Dentro de uma abordagem
o conceito de mediação que participativa, a oficina busca além dos modelos
será registrado no papel
Kraft prontos, visa uma descoberta, um recurso
Leitura/Reflexão Leitura será individualmente diferente, um estímulo útil e significativo para a
sobre o texto: e depois aberto para
Vygotsky: uma socialização / discussão.
prática diária do educador.
aliança que faz Desenvolvimento: Iremos realizar uma
sentido
oficina por meio de diversos materiais que
Assistir ao vídeo As educadoras irão assistir
ao vídeo e fazer serão tragos pelos educadores. Em um espaço
levantamento dos tópicos adequado as educadoras irão confeccionar
principais relacionando com
o texto. vários materiais.
Fechamento da A reunião será finalizada
reunião com a avaliação sobre o
Retomando os tema abordado
conceitos por meio
de registros

TEMA: UM MERGULHO PARA


AS ATIVIDADES LÚDICAS
Participantes: Educadoras que lecionam no
Maternal
Objetivo Geral: Proporcionar e despertar nas
educadoras o interesse pelas atividades lúdicas,
mostrando sua importância no processo de
ensino-aprendizagem.
Desenvolvimento: A palestrante irá por
meio da oficina, auxiliar as educadoras
construir materiais que poderão ser utilizados
em sala de aula. Os conteúdos e o material de
apoio da oficina serão discutidos com a
palestrante.

977
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos o desenvolvimento do estudo de suma importância, especialmente as
propostas de projetos integrativos, objetivando ressignificar conceitos fundamentais ao cuidar e
educar, bem como ao papel institucional na Educação Infantil, além do envolvimento da família
com foco na relação escola x comunidade.
A reflexão do educador sobre as práticas em sala de aula, interpretando as ações dos seus
alunos e buscando tomar atitudes adequadas, é de extrema relevância para alcance da educação
de qualidade.
Nesta caminhada procuramos mobilizar ações voltadas para construção de um projeto que
realmente pudesse contemplar as dificuldades e as fragilidades encontradas na Instituição,
verificamos que o trabalho com projetos contribui diferencialmente no cotidiano escolar.

978
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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zero a seis anos. 2. Ed. São Paulo: Moderna, 1999.

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desafios e alternativas) n.09. São Paulo: Papirus, 1980.

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São Paulo: Cortez, 2000.

LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São


Paulo: EPU, 1986.

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professor – Questões atuais. São Paulo: Papirus, (coleção magistério: Formação e trabalho
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Professores. Porto: editora, (coleção ciências da educação). 1994.

NÓVOA, Antônio. (Coord). Os professores e a sua formação. Lisboa, Dom quixote: Instituto de
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histórico. São Paulo: Scipione, 4. Ed. (Pensamento e ação no magistério). 1997.

OLIVEIRA, Zilma Ramos. Educação Infantil: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez,
(coleção docência em formação). 2002.

OLIVEIRA, Zilma Ramos. (Org.). Creches: crianças, faz-de-conta & cia. Petrópolis. J.: Vozes,
2003.

PIAGET, Jean e INHELDER, Barbel. A psicologia da criança. Tradução Octavio Mendes


Cajado. 17. Ed. Rio de Janeiro: Brasil, 2001. 11-29p.

REVISTA AVISA LÁ. Formação de profissionais de Educação Infantil e séries iniciais do


ensino fundamental. São Paulo: nº 16, outubro d 2003.

REVISTA AVISA LÁ .Formação de profissionais de Educação Infantil e séries iniciais do


ensino fundamental. São Paulo: nº 12, outubro 2002.

REVISTA NOVA ESCOLA. Fundação Victor Cibita. São Paulo: nº 142, maio 2001.

RIZZO, Gilda. Creche Organização, montagem e Funcionamento. 3. Ed. Rio de Janeiro:


Francisco Alves, 1984.

SANCHES, Emília Cipriano. Creches Realidades e Ambiguidades. Rio de Janeiro: Vozes,


2003.

SEMIÓNOVITCH, Vygotsky Liev. A formação Social da mente: o desenvolvimento dos


processos psicológicos superiores. Tradução Cipolla Neto. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes,
(Psicologia e Pedagogia). 1998.

979
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO INFANTIL: ASPECTOS HISTÓRICOS


Carla de Oliveira Rosa1

RESUMO: O objetivo deste artigo é analisar como e de que maneira se deu a trajetória histórica
e atual da Educação Infantil, a fim de compreender as transformações ocorridas e os avanços.

Palavras-Chave: Perfil docente; Formação docente; Educação Infantil.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: carla.oliveirarosa@yahoo.com.br

980
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO DA
Historicamente, os professores de Educação EDUCAÇÃO INFANTIL:
Infantil já foram entendidos como cuidadores, ASPECTOS HISTÓRICOS
chamados de tios (as) e vistos em substituição Com o passar do tempo houve
às mães. Por isso, observa-se um movimento e transformações na Educação Infantil e no perfil
uma luta legítima para o reconhecimento do professor atuante neste nível de ensino.
destes profissionais e da etapa educacional em Pensando nessas transformações, aborda-se o
que trabalham. desenvolvimento desta etapa educacional no
O reconhecimento social estaria ligado à Brasil, apresentando seu percurso histórico
identidade docente, isto é, como estes desde o período colonial, suas características
professores se veem enquanto educadores de no Brasil republicano, passando pelo século XX
crianças e como as pessoas entendem esse e chegando aos novos tópicos da Educação
papel assumido. Reconhecer esta função, Infantil brasileira já no século XXI.
enquanto responsabilidade das esferas Segundo Oliveira (2002), a Educação Infantil
públicas e privadas de ensino, diz respeito ao tem sofrido grandes modificações ao longo dos
modelo de formação docente que será adotado anos. Até meados do século XIX, não existia um
nos cursos de licenciaturas, envolvendo os atendimento oficial, ou seja, creches para
conhecimentos necessários para a atuação do atender as crianças pequenas no Brasil, porém
professor na Educação Infantil. esta situação começou a mudar a partir da
Nesta perspectiva, também compreende o abolição da escravatura.
desenvolvimento profissional como um De acordo com Arce (2001), a abolição da
processo contínuo, que se inicia muito antes da escravatura desencadeou um aumento no
entrada nestes cursos de formação inicial, mas abandono de crianças, filhos de escravos e
que o acompanha desde a escolarização e pobres, o que levou a criação de instituições
durante todo o exercício profissional. assemelhadas a creches, asilos e internatos,
Observa-se, ainda, que qualidades e mas de caráter somente assistencialista, ou
características pessoais fazem parte da seja, com o intuito de cuidar.
constituição docente, mas que para ensinar e Segundo Saviani (2009), durante todo o
ser professor é preciso considerar o seu período colonial, não havia uma preocupação
desenvolvimento profissional, as suas explícita com a questão da formação de
concepções e crenças, assim como, os professores. O autor completa que foi na Lei
conhecimentos necessários para a sua atuação das Escolas de Primeiras Letras, promulgada em
efetiva. 15 de outubro de 1827, que essa preocupação
Objetivamos investigar os processos apareceu pela primeira vez ao determinar que
históricos na constituição da Educação Infantil. o ensino, nessas escolas, deveria ser
desenvolvido pelo método mútuo, ou seja:

981
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os alunos de toda uma escola se dividem em Instituto de Proteção e Assistência à Infância e


grupos que ficam sob a direção imediata dos o Departamento da Criança de iniciativa
alunos mais adiantados, os quais instruem a governamental. Ainda segundo a autora, um
seus colegas na leitura, escrita, cálculo e dos primeiros jardins de infância no Brasil, foi
catecismo, do mesmo modo como foram criado em 1896, anexo à antiga Escola Normal
ensinados pelo mestre horas antes. Estes do Estado, Caetano de Campos, na cidade de
alunos auxiliares se denominam como São Paulo e, em 1908, foi criada a primeira
monitores (SAVIANI, 2009, p. 59). escola infantil em Belo Horizonte e o primeiro
Segundo o autor, após a promulgação do jardim-de-infância municipal do Rio de Janeiro.
Ato Adicional de 1834, que colocou a instrução Estes jardins da infância possuíam um trabalho
primária sob responsabilidade das Províncias sistemático com crianças pequenas baseado
do Rio de Janeiro, institui em Niterói, em 1835, em jogos e brincadeiras, com objetivo de
a primeira “Escola Normal” do país, que visava formação moral das crianças sem que elas se
à preparação de professores para as escolas tornassem adultos.
primárias. As “Escolas Normais” preconizavam Segundo Corrêa (2007), em 1935, em São
uma formação específica que deveriam guiar-se Paulo, sob a direção de Mário Andrade,
pelas coordenadas pedagógico-didáticas, idealizador do projeto, foram estabelecidos os
portanto o que se pressupunha era que os parques infantis que atendiam crianças de 3 a 6
professores deveriam ter o domínio daqueles anos e também de 7 a 12 anos, com o objetivo
conteúdos que lhes caberia transmitir às de recrear essas crianças, pois as mesmas de 7
crianças, desconsiderando-se o preparo a 12 anos frequentavam o ensino regular.
didático-pedagógico. Até o momento, foi traçado o percurso
Segundo Oliveira (2002), no final do século histórico da Educação Infantil no Brasil. Com
XIX, começou o Movimento das Escolas Novas e base na retomada realizada, faz-se necessário
com ele a implantação dos jardins-de-infância, discutir o perfil do professor atuante nesse
influenciados pelos estrangeiros. Em 1875, no nível de ensino, com destaque para alguns
Rio de Janeiro e, em 1877, em São Paulo, foram momentos importantes da história. O debate
criados os primeiros jardins-de-infância será centralizado, especialmente, na formação
privados e apenas anos depois os públicos, que o educador de crianças recebia e o seu
voltados para a classe social alta e com uma impacto.
pedagogia inspirada em Froebel. Mas em 1885, Segundo Saviani (2009), os professores na
os jardins-de-infância foram confundidos com década de 1930 até meados de 1980 tinham um
as salas de asilo francesas e uma forma precoce currículo centrado nas disciplinas de cultura
de escolaridade, então, foram admitidos geral, ou seja, os cursos normais como os de
apenas para os filhos de mães trabalhadoras. licenciatura e Pedagogia, centravam a
De acordo com Oliveira (2002), no ano de formação no aspecto profissional, garantido
1889, com a proclamação da República, por um currículo composto, por um conjunto de
ocorreram grandes modificações no disciplinas a serem frequentadas pelos alunos,
atendimento de questões sociais: fundaram o dispensada a exigência de escolas-laboratórios.

982
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Sendo assim, segundo explica o autor, o mesmas escolas e desenvolver e propagar os


aspecto pedagógico-didático ficou apenas conhecimentos e técnicas relativas à educação
representado pelo curso de didática e encarado da infância.
como uma mera exigência formal para a Segundo Nadal (2007), com a Lei de
obtenção do registro profissional de professor. Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
Para Saviani (2009), com a reforma instituída aprovada em 1961 (Lei 4024/61), houve
pelo decreto n. 3.810, de 19 de março de 1932 marcantes mudanças na educação em geral,
e as novas grades curriculares inseridas, a partir principalmente, na educação das crianças
da década de 30, o educador passou a ter o pequenas. Logo, o perfil educador nesse
perfil mais próximo do que conhecemos hoje contexto histórico ampliou-se para uma figura
em dia, em que ele era o centralizador de ambígua, nos aspectos socioculturais, pois além
conhecimentos, sendo um especialista em uma de ser uma figura centralizadora de
ou mais áreas, direcionando e influenciando conhecimentos, o professor também haveria
diretamente nos perfis dos alunos, de lidar com questões étnicas, geográficas,
especialmente em uma sociedade patriarcal, na culturais, etc., que o colocava como ponto
qual não era incomum apenas o pai ser a chave desta miscigenação que o país sofria
referência intelectual das crianças à época. pressionado também pelas circunstâncias
Segundo Oliveira (2002), no início do século econômicas.
XX, com a urbanização e industrialização Para Nadal (2007), a LDB chega a fim de
intensificadas, modificou-se a estrutura familiar definir e regularizar o sistema de educação
tradicional, as mulheres começaram a trabalhar brasileiro, com base nos princípios presentes na
nas fábricas, pois a maioria da mão de obra Constituição. Foi citada pela primeira vez na
masculina estava na lavoura. Todavia, a Constituição de 1934. O primeiro projeto de lei
responsabilidade de cuidar dos filhos foi encaminhado pelo Poder Executivo ao
permaneceu com as mães, que passaram a Legislativo em 1948 e levou treze anos de
deixá-los com parentes ou mulheres debates até o texto chegar à sua versão final. A
conhecidas como “criadeiras”, que cuidavam primeira LDB foi publicada em 20 de dezembro
das crianças em troca de dinheiro, aumentando de 1961, pelo presidente João Goulart, seguida
assim, a taxa de mortalidade infantil, devido às por outra versão em 1971, em pleno regime
condições sub-humanas em que estas eram militar, que vigorou até a promulgação da mais
expostas. recente de 1996.
De acordo com Nadal (2007), a organização Oliveira (2002), traça o percurso histórico da
da Escola Normal foi oficializada pelo decreto- Educação Infantil trazendo novos elementos
lei nº 8.530, de 2 de janeiro de 1946, que para a discussão. Tal como ela apresenta, no
estabelecia as finalidades do ensino normal e período dos governos militares pós-1964, as
indicava como prover a formação do pessoal políticas adotadas em nível federal, por
docente necessário às escolas primárias, bem intermédio de órgãos, como Departamento
como também ficava responsável em habilitar Nacional da Criança, a Legião Brasileira de
administradores escolares destinados às Assistência e a Fundação Nacional do Bem Estar

983
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

do Menor (FUNABEM), continuaram a divulgar De acordo com Oliveira (2002), vigorosos


a ideia de creche e mesmo de pré-escola como debates nacionais sobre os problemas das
equipamentos sociais de assistência à criança crianças provenientes dos extratos sociais
carente. desfavorecidos afirmavam que o atendimento
Oliveira (2002), diz que com as novas pré-escolar público seria elemento
mudanças na Consolidação das Leis do fundamental para remediar as carências de sua
Trabalho, ocorridas em 1967, o atendimento clientela, geralmente mais pobre. Segundo essa
aos filhos das trabalhadoras foi tratado apenas perspectiva, o atendimento às crianças dessas
como uma questão de organização de berçários camadas em instituições como creches,
pelas empresas, abrindo espaço para outras parques infantis e pré-escolas, possibilitaria a
entidades, afora a própria empresa superação das condições sociais a que estavam
empregadora da mãe. Assim, poucas creches e sujeitas, mesmo sem a alteração das estruturas
berçários foram nelas organizados. sociais geradoras daqueles problemas. A autora
Oliveira (2002) acrescenta que, em 1971, completa que tais propostas visavam à
houve o crescimento do operariado; o começo estimulação precoce e ao preparo para a
da organização dos trabalhadores do campo alfabetização, mantendo, no entanto, as
para reivindicar melhores condições de práticas educativas geradas por uma visão
trabalho; a incorporação crescente também de assistencialista da educação e do ensino.
mulheres da classe média no mercado de Para Oliveira (2002), a entrada cada vez
trabalho; a redução dos espaços urbanos maior de mulheres das camadas médias da
propícios às brincadeiras infantis, como os população no mercado de trabalho, produziu
quintais e as ruas, fruto da especulação um crescimento significativo de creches e pré-
imobiliária e do agravamento do trânsito; a escolas, principalmente as de redes
preocupação com a segurança, elementos que particulares. Como consequência aumentou o
contribuíram para que a creche e a pré-escola número de creches, de classes pré-primárias e
fossem novamente defendidas por diversos de jardins de infância no país. Com isso,
segmentos sociais. completa que as novas instituições trouxeram
Oliveira (2002), completa que na década de novos valores, tais como a defesa de um padrão
70, teorias elaboradas nos Estados Unidos e na educativo voltado para os aspectos cognitivos,
Europa sustentavam que as crianças das emocionais e sociais da criança pequena.
camadas sociais mais pobres, que sofriam de De acordo com Oliveira (2002), em 1974, o
privação cultural. Conceitos como carência, Ministério de Educação e Cultura criou o
marginalização cultural e educação Serviço de Educação Pré-Escolar e, em 1975, a
compensatória foram então adotados, sem que Coordenadoria de Ensino Pré-Escolar.
houvesse uma reflexão crítica mais Enquanto isso, segundo a autora, um programa
aprofundada sobre as raízes estruturais dos nacional de educação pré-escolar de massa, o
problemas sociais, sendo que isso passou a Projeto Casulo foi criado em 1977, para liberar
influir também nas decisões de políticas de a mãe para o trabalho, tendo em vista o
Educação Infantil. aumento da renda familiar. Ele foi implantado

984
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

não pelo MEC, mas pela Legião Brasileira de anterior do curso, uma vez em que nessa época
Assistência, sendo que esse projeto orientava o país sofreu com o regime militar, nos anos 70
monitoras (formação no, então, segundo grau e 80 e, naturalmente haveria um controle
de ensino) para coordenarem atividades muito maior dos militares para os assuntos
educacionais, que conviviam com medidas de relacionados à educação, como a inclusão e
combate à desnutrição. A autora completa que extinção de processos para a metodologia
o Projeto Casulo foi organizado em muitos educacional no Brasil.
municípios brasileiros, atendendo em período No início da década de 80, com base em
de quatro ou oito horas diárias, contando com Oliveira (2002), muitos questionamentos foram
um número gigantesco de crianças. O governo feitos pelos técnicos e professores, acerca dos
federal também se utilizou da Fundação Mobral programas de cunho compensatório e da
para competir com a Legião Brasileira de abordagem da privação cultural na pré-escola,
Assistência pela mesma clientela infantil. acumulavam-se evidências de que as crianças
Iniciativas como essas, no contexto da época, das classes populares não estavam sendo
serviram para amenizar desigualdades e assistir efetivamente beneficiadas por esses
necessidades básicas, e não para promover programas. Ao contrário, eles estavam servindo
aprendizagens. apenas para uma discriminação e
Segundo Corrêa (2007), a Escola Municipal marginalização, e as pré-escolas continuavam
de Educação Infantil (EMEI), surgiu na década limitadas às práticas recreativas e assistenciais,
de 70 na cidade de São Paulo, adotada pelos em virtude da falta de oportunidades reais para
parques infantis em 1975, sendo que até nos seus professores absorverem as programações
dias atuais possui essa denominação. Ainda propostas.
com base na autora, a partir de meados da Segundo Corrêa (2007), passamos para uma
década de 70, a expansão na oferta de creches nova década, ao “novo milênio”, com uma
e pré-escolas deu-se em função da pressão da discussão em torno dos conceitos de Educação
demanda, por outro lado, porque o governo Infantil, sob o ponto de vista das práticas, sob a
militar que dirigia o país na época temia por ótica das famílias e profissionais que atuam na
uma enorme camada popular, já que o nível de área, que não foram o bastante. Isso porque a
pobreza se acentuava. Educação Infantil sofreu uma diminuição de
Retoma-se brevemente a questão da investimento em função da criação de Fundo de
formação docente a partir de Castro (2002), Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
que diz que foi a partir de 1970, com a Fundamental (Fundef) e os recursos foram
promulgação da LDB para o ensino de 1º e 2º vinculados apenas à matrícula do Ensino
graus, Lei nº 5692/91, que o Curso de Fundamental, restando muito pouco para
Magistério transformou-se em “Habilitação aquela que passou a ser reconhecida como a
Específica” para o Magistério, em nível de primeira etapa da educação básica nacional
segundo grau. O autor discute que essa pela nova LDB.
mudança extinguiu a formação de professores Segundo Corrêa (2007), a década de 1980 foi
regentes, descaracterizando a estrutura marcada por importantes discussões teóricas

985
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

acerca do papel da Educação Infantil, bem em alguns pontos, dentre eles a ampliação do
como pela organização da sociedade civil em conceito de educação básica, que passou a
favor desse atendimento. Além disso, durante abranger a Educação Infantil, o Ensino
o movimento da Constituinte, se discutiam os Fundamental e o Ensino Médio; ela atribui
pontos a serem embarcados pela nova Carta flexibilidade ao funcionamento da creche e da
Magna do Brasil, o engajamento dos pré-escola, permitindo a adoção de diferentes
profissionais da área por meio de associações formas de organização e práticas pedagógicas;
representativas foi bastante intenso no sentido define níveis de responsabilidade sobre a
de conquistar direitos para as crianças de 0 a 6 regulamentação da educação infantil; cria
anos. As conquistas garantidas pela mecanismos que possibilitam dar maior
Constituição Federal não se deram sem uma visibilidade do atendimento dos gastos para o
forte e necessária mobilização e sem que as gestor da educação e para os usuários do
condições históricas as favorecessem, nas quais serviço.
estavam presentes no movimento da Com base na LDB, em seu artigo 62, sugere-
sociedade. se que o perfil do profissional que atua na
Segundo Oliveira (2002), a década de 1990 Educação Infantil tivesse relação com:
assistiu a alguns novos marcos, um deles foi a A formação de docentes para atuar na
promulgação do Estatuto da Criança e do educação básica far-se-á em nível superior, em
Adolescente (ECA), em 1990, que concretizou curso de licenciatura, de graduação plena, em
as conquistas dos direitos das crianças universidades e institutos superiores de
promulgados pela Constituição. Na área de educação, admitida, como formação mínima
Educação Infantil, o debate que acompanhou a para o exercício do magistério na Educação
discussão de uma nova LDB, na Câmara de Infantil e nas quatros primeiras séries do Ensino
Deputados e no Senado Federal, impulsionou Fundamental, a oferecida em nível médio na
diferentes setores educacionais, modalidade Normal (CORRÊA, 2007, p. 28).
particularmente universidades e instituições de No final do século, segundo Oliveira (2002),
pesquisa, sindicatos de educadores e houve a diminuição das taxas de natalidade da
organizações não governamentais, à defesa de população até 6 anos, especialmente dentro de
um novo modelo de Educação Infantil. famílias com maior escolaridade, bem como a
De acordo com Oliveira (2002), nesse inclusão de alunos de 6 anos já no Ensino
período, a Coordenadoria de Educação Infantil Fundamental. Além disso, segundo este estudo,
(Coedi) do MEC teve um importante papel de novas concepções acerca do desenvolvimento
articulação de uma política nacional que da cognição e da linguagem modificaram a
garantisse os direitos da população até 6 anos a maneira como as propostas pedagógicas para a
uma educação de qualidade em creches e pré- área eram pensadas. Assim, um Referencial
escola. Curricular Nacional para a Educação Infantil
Esses fatos prepararam o ambiente para a (1998), foi formulado pelo MEC e Diretrizes
aprovação da nova LDB, Lei 9.394/96. Essa lei Nacionais para a Educação Infantil foram
propõe a reorganização da educação brasileira definidas pelo Conselho Nacional de Educação.

986
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De acordo com Oliveira (2002), a partir do


RCNEI (1998), o professor passa a trabalhar
mais em função das habilidades mostradas pela
criança e em seu desenvolvimento, do que
propriamente atuando como um centralizador,
como citado nas décadas anteriores.
Nesse novo quadro, é fundamental que haja
um contato maior com a família e outras
referências do aluno, para um melhor
desenvolvimento das mesmas, abrangendo
novas possibilidades de abordagem que o
professor possa desempenhar em suas funções.

987
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo teve como principal objetivo investigar a trajetória constitutiva da
Educação Infantil.
Considera-se que ao longo da história a Educação Infantil, ora não constituída como de
direito e de fato aos sujeitos que dela fazem uso, ora concebida como apenas espaços de
convivência , no qual a função era o “tomar de conta” e na atualidade, enquanto real
conhecimento das crianças , e a ascensão dos conceitos, criança, brincar e educar, sendo estas
concepções um salto qualitativo , enquanto real espaço de construção de saberes.
É fundamental que os docentes que atuam nessa modalidade de ensino compreendam sua
história, como possibilidade de conhecimento e reconhecimento de seu relevante papel.

988
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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e anexos da lei municipal nº 6.316, de 12 de dezembro de 2013, altera o anexo 15 da lei municipal
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991
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAR PELA BRINCADEIRA NO CONTEXTO


DA PSICOMOTRICIDADE
Thaís Pagan Simões Pugliesi1

RESUMO: O presente artigo visa desenvolver a motricidade na criança e todos os aspectos que a
envolvem para que possa, por meio da arte de desenhar e de atuar nas mais diversas esferas da
educação, contribuir com o corpo sendo um instrumento a favor do intelecto, bem como da saúde
física do indivíduo. O desenho em si é pano de fundo na pesquisa, uma vez que ela foi descrita de
maneira a apresentar o que é preciso desenvolver no corpo para que contribua com o imagético
e daí criar artisticamente tudo o que o imaginário da criança permitir.

Palavras-Chave: Psicomotricidade; Condicionamento intelectual e físico.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Letras; Bacharel em Fonoaudiologia; Especialização em
Docência do Ensino Superior; Especialização em Arte Africana.
E-mail: thais_pugliesi@hotmail.com

992
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Os educadores devem seguir as atitudes


motoras que acompanham a idade cronológica
O corpo é uma forma de expressão da da criança, segundo Gallahue e Ozmun (2005),
individualidade. A criança percebe-se e percebe estas fases apresentam idades aproximadas
as coisas que a cercam em função de seu para ocorrer, sendo denominadas como fase
próprio corpo. Isto significa que, conhecendo-o, motora reflexiva, fase de movimentos
terá maior habilidade para se diferenciar, para rudimentares, fase de movimentos
sentir diferenças. Ela passa a distingui-lo em fundamentais e fase de movimentos
relação aos objetos circundantes, observando- especializados (a partir dos 7 anos de idade).
os, manejando-os. Para Romero (1988), a lateralidade é o
O desenvolvimento de uma criança é o predomínio de um lado do corpo sobre o outro,
resultado da interação de seu corpo com os sendo utilizada com maior regularidade para
objetos de seu meio, com as pessoas com quem referir-se a predominância de uma mão sobre a
convive e com o mundo, no qual estabelece outra, por ser mais frequente.
ligações afetivas e emocionais. O corpo, De acordo com Negrine (1986), o aspecto
portanto, é à sua maneira de ser. É por meio fundamental no desenvolvimento da
dele que estabelece contato com as entidades lateralidade é que a criança não seja forçada a
do mundo, que se engaja no mundo, que adotar esta ou aquela postura, mas que se
compreende os outros. Todo ser tem seu criem situações em que ela possa expressar
mundo a partir de suas próprias experiências espontaneidade e, a partir da experiência
corporais. vivenciada com o próprio corpo, definir seu
As habilidades motoras estão relacionadas a lado dominante sem pressões de qualquer
experiências vividas pelo indivíduo, sendo ordem do meio exterior.
melhorada pela prática por meio dos Este estudo se fundamenta no seguinte
movimentos motores complexos, que, com os questionamento: Existe relação entre
treinamentos diários, melhoram o desenvolvimento motor, lateralidade? Mas,
desempenho. que se fundamenta na questão do desenho
O processo de desenvolvimento motor infantil pela motricidade e qual importância
revela-se basicamente por alterações no isso visa.
comportamento motor. É possível perceber Como forma de responder a essa questão,
diferenças desenvolvimentistas neste utilizemos neste trabalho como procedimento
comportamento em função de diversos fatores: metodológico a revisão bibliográfica. Esse tipo
do próprio indivíduo, do ambiente e da tarefa de estudo, que tem como foco a análise crítica
em si (GALLAHUE e OZMUM, 2001). das publicações correntes sobre uma temática
O desenvolvimento motor da criança, além específica, objetiva reunir conhecimentos de
de proporcionar as várias experimentações dos forma a promover um melhor entendimento do
mais variados tipos de movimentos, sendo os tema em análise. Como ressalta Weatherall
profissionais de educação os mais indicados (1990, p.20), “o trabalho de pesquisa não é de
para auxiliar os jovens, sem prejudicar o natureza mecânica, mas requer imaginação
desenvolvimento dos movimentos motores criadora e iniciativa individual”.
com a especialização precoce.

993
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A expressão psicomotricidade pode ser pouco a pouco e evoluiu em diversos aspectos


entendida como a função de ser humano que que atualmente voltam a se agrupar. Em uma
sintetiza psiquismo e motricidade com o primeira fase, a pesquisa teórica fixou-se
propósito de permitir ao indivíduo adaptar-se
sobretudo no desenvolvimento motor da
de forma flexível e harmoniosa ao meio que ocriança. Depois estudou a relação entre o
cerca. A psicomotricidade quer destacar a atraso no desenvolvimento motor e o atraso
relação existente entre motricidade, mente e a
intelectual da criança (DE MEUR; STAES, 1991,
afetividade assim como a abordagem global dap. 6).
criança e o mundo externo. Sendo assim, os estudos da evolução e da
Pode ser entendido como uma técnica cuja expressão de psicomotricidade pretendem
organização de atividades possibilita à pessoa
estudar o corpo nos variados contextos
conhecer de uma maneira concreta seu ser e históricos da humanidade. Pode-se observar
seu ambiente de imediato para atuar de que a psicomotricidade, inicialmente, tinha um
maneira adaptada (DE MEUR; STAES, 1992). campo de estudo restrito, mas por meio da
O desenvolvimento global da criança evolução das pesquisas acerca do
depende de fatores como o desenvolvimento desenvolvimento do indivíduo, a
corporal e motor. Neste aspecto, a área de conhecimento relacionado aos
psicomotricidade integra o movimento aos aspectos da psicomotricidade foi ampliado.
fatores psíquicos e sociais do indivíduo, Bueno (1998), afirma que as escolas europeias
e americanas contribuíram de maneira efetiva
proporcionando um caráter holístico, ou seja,
uma visão ampla de sua abordagem, para a evolução da psicomotricidade,
contribuindo para novas descobertas nas sobressaindo-se a escola francesa, a qual
dificuldades de aprendizagem (HAETINGER, influenciou no direcionamento que a
2005). psicomotricidade vem seguindo até os dias
A psicomotricidade como objeto de atuais.
pesquisa, principiou seus estudos na década de Alguns pioneiros na área da
psicomotricidade são destacados por Fonseca
60, mas teve seu auge, no âmbito cientifico e
acadêmico, somente nos anos 70 e 80. (1995), dentre eles, Dupré, em 1909, concedeu
Anteriormente, o movimento humano era destaque ao termo psicomotricidade, após
estudado apenas nos aspectos físico e motor,relacionar perturbações psicológicas às
perturbações motoras. Outro pioneiro no
porém, nos dias atuais, os estudos relacionados
ao desenvolvimento corporal e motor, estudo da psicomotricidade, no campo
passaram a enfatizar o indivíduo nos seus científico, foi Henri Wallon, médico, psicólogo e
pedagogo, que em 1925 principiou os estudos
aspectos globais, e assim, os fatores psíquicos e
sociais, foram introduzidos ao movimento da reeducação psicomotora no
(HAETINGER, 2005). desenvolvimento psicológico da criança e
também introduziu o senso de identidade
EDUCAR PELA BRINCADEIRA corporal. Wallon ocupa-se do movimento
humano dando-lhe uma categoria fundante,
O estudo da psicomotricidade é recente;
como instrumento na construção do psiquismo,
ainda no início deste século abordava-se o
permitindo assim relacionar o movimento ao
assunto apenas excepcionalmente. Afirmou-se

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos conhecimento para uma promoção integral do
hábitos do indivíduo. Assim a teoria walloniana desenvolvimento humano.
influenciou ao longo dos anos vários campos de O conceito de psicomotricidade, nos seus
atuação como psicologia, pedagogia, primórdios, entendia o corpo nos seus aspectos
psiquiatria, medicina e educação física. neurofisiológicos, anatômicos e locomotores,
Ainda de acordo com Fonseca (1995), vivenciados em um determinado tempo e
Edouard Guilmain, neurologista, desenvolveu espaço, com objetivos únicos, emitir e receber
em 1935 um exame psicomotor para fins de significados.
diagnóstico, de indicação da terapêutica e de Atualmente, o termo psicomotricidade é
prognóstico. Ajuriaguerra, em 1947, redefiniu o visto como o relacionar-se por meio da ação, ou
conceito de debilidade motora, considerando-a seja, como uma maneira de unir o corpo, a
como uma síndrome com suas próprias mente, o espírito e a sociedade. Assim, ela está
particularidades. Foi ele quem delimitou os associada à afetividade e a personalidade do
transtornos psicomotores que oscilam entre o indivíduo, pois o mesmo utiliza-se do corpo
neurológico e o psiquiátrico. Por fim, na década para expressão de sentimentos e pensamentos.
de 70, autores soviéticos como Ozeretsky, Segundo Fonseca (2004), atualmente a
Vygotsky, Bernstein, Zaporozhets, Elkonin, psicomotricidade é compreendida como uma
Galperin e Luria, definiram a psicomotricidade forma de integração superior da motricidade,
como uma motricidade de relação, ou seja, a resultado da relação existente entre a criança e
origem do movimento humano não está ligada o meio. É um instrumento significativo, por
somente ao organismo, mas também às meio do qual a consciência se forma e se
experiências vividas pelo indivíduo. Já no Brasil, materializa.
os estudos referentes à psicomotricidade, Haetinger (2005), afirma que a
assemelham-se à história mundial, tendo os psicomotricidade compreende as habilidades
mesmos pesquisadores, locais e fatos, sendo motoras relacionadas aos fatores psicológicos e
que, na década de 50, surgem os primeiros ambientais. Desta forma, o desenvolvimento
documentos históricos. Algumas correntes psicomotor não envolve somente ações
permeiam também a evolução da motoras, como também, prioriza as habilidades
psicomotricidade no Brasil, como a e expressões corporais, vinculadas às
organicistas, primeiramente e depois afetivas e experiências do sujeito ao meio em que vive.
sociais. De acordo com Barreto (2000), a
Segundo Fonseca (1995), a psicomotricidade é a integração do sujeito, no
psicomotricidade, tem a necessidade de ser qual se utiliza do movimento para
reconceitualizada, ou seja, por meio da compreender os aspectos relacionais ou
integração transdisciplinar do saber, o conceito afetivos, cognitivos e motrizes.
de psicomotricidade se colocará no futuro de O desenvolvimento da psicomotricidade vai
maneira evolutiva e atualizada. além dos aspectos motrizes. A mesma também
Sendo assim, a psicomotricidade deve ser proporciona a socialização entre os indivíduos e
visualizada e trabalhada transdisciplinarmente, auxiliam na aquisição de aprendizagens como
ou seja, envolvendo várias áreas de leitura, escrita e pensamento lógico-
matemático. Este desenvolvimento tem papel

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fundamental nos primeiros anos de vida escolar pleno desenvolvimento do ser, uma vez que,
da criança, pois é nesta fase que se observam tem por objeto de estudo o movimento
possíveis desvios das capacidades motoras, humano associado ao ambiente, à cognição, à
evitando então, futuras dificuldades de emoção e às significações. Por ser uma área
aprendizagem. estudo multidisciplinar, relaciona cada
A prática psicomotora respeita, então, as movimento com seu contexto. As múltiplas
potencialidades de cada indivíduo e seu direito dimensões existentes em cada expressão,
de ter um lugar na sociedade. De acordo com gesto, ato e movimento, devem ser observados
esse marco, a criança pode se expressar por durante a mediação das experiências
meio de uma grande variedade de canais de proporcionadas aos educandos.
comunicação, expressão e criação, entre os As atividades desenvolvidas na educação
quais a motricidade é o principal (SANCHES, psicomotora objetivam propiciar a ativação de
MARTINEZ e PEÑALVER, apud, HAETINGER, processos como: vivenciar experiências para
2005, p.114). distinguir partes do corpo exercendo um
Para Fonseca (2004), a psicomotricidade controle sobre ele; vivenciar o corpo por
envolve uma mediatização corporal e inteiro; vivenciar a organização espaço-
expressiva, na qual, os profissionais envolvidos, temporal; vivenciar situações necessárias à
estudam e relacionam condutas inadequadas e aprendizagem do cálculo, da leitura e escrita;
inadaptadas em situações distintas, aquisição de um ajuste tônico; adquirir uma
normalmente relacionadas a problemas de melhor imagem corporal para um equilíbrio
desenvolvimento psicomotor, de psicossomático.
aprendizagem e comportamento psicoafetivo. Por conseguinte, a psicomotricidade é um
“A psicomotricidade subentende uma campo transdisciplinar que tem por objetivo o
concepção holística do ser humano, e estudo do homem relacionado às suas ações
fundamentalmente de sua aprendizagem, que motoras, cognitivas, afetivas, culturais e sociais.
tem por finalidade associar dinamicamente o O movimento integrado e organizado é uma
ato ao pensamento, o gesto à palavra e as das bases da concepção psicomotricista, no
emoções aos símbolos e conceitos” (FONSECA, qual o sujeito é concebido integralmente, por
2004, p. 10). meio de suas experiências vividas decorrentes
O desenvolvimento psicomotor ocorre em de suas ações individuais e coletivas.
conjunto com os aspectos motor, intelectual,
emocional e expressivo, objetivando assim a
formação de um indivíduo comunicativo,
criativo e operativo. Para que uma pessoa se
exprima, enquanto corpo que se realiza mais
livremente seus próprios desejos, é necessário
que ela cresça não em sua individualidade
absoluta, mas em suas relações com os outros
e o mundo (BUENO, 1998).
Segundo Haetinger (2005), a
psicomotricidade tem uma ligação direta com o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel do educador e dos pais é fundamental na evolução, crescimento e habilidades que
as mesmas vão adquirindo com o passar do tempo. As brincadeiras, as dramatizações, enfim
atividades livres constituem-se importantes práticas pedagógicas, pois trabalham com
movimento do corpo, com o imaginário, a fantasia. Estes são ingredientes indispensáveis para o
desenvolvimento da criança, desde que seja dada liberdade para se tiver, assim, um resultado
positivo, sendo que a criança poderá seguir seus passos, outras formas de realização e produção
de conhecimento.
Toda criança necessita de um tempo para ter o seu desenvolvimento total, é preciso
conscientização tanto dos professores quanto dos familiares da necessidade de estar atento ao
desenvolvimento da criança oferecendo opções para que ela possa desenvolver sua totalidade de
maneira lúdica e agradável.
A consciência do próprio corpo e de suas partes, dos movimentos, da postura é necessária
para que a criança consiga adaptar-se ao meio ambiente.
Pode-se observar que a lateralidade se torna mais evidente na criança entre os 6 a 8 anos
de idade, idade esta que coincide com a fase motora especializada, estágio de transição que
começa aos 7 e vai até os 10 anos de idade como nos mostra Gallahue e Ozmum (2005), em sua
ampulheta com as fases do desenvolvimento motor, e também vão de encontro com a iniciação
esportiva em que Almeida (1996), cita a fase motora geral de base que começa aos 7/8 e vai até
os 9/10 de idade.
Como se pode observar neste estudo, o desenvolvimento da lateralidade, do
desenvolvimento motor possuem relação quanto a idade entre as fases, que vão dos 6 aos 10
anos no desenvolvimento perceptível da lateralidade até os 10 anos do desenvolvimento motor
na fase especializada passando pela fase do início do aprendizado esportivo que vai entre os 7 e
10 anos de idade.
Outra correlação entre lateralidade, desenvolvimento motor é a característica de algumas
fases do início destes, como na lateralidade não serem forçadas a tomar esta ou aquela postura,
mas que se criem situações para que a lateralidade se expresse espontaneamente, a partir das
experiências vivenciadas. Já no desenvolvimento motor com a fase dos movimentos
fundamentais que representa um período no qual as crianças estão ativamente envolvidas na
exploração e na experimentação das capacidades motoras de seus corpos.
Também se observam alguns problemas relacionados com a especialização precoce como
estresse, lesões e desinteresse na prática esportiva entre outros.
Conforme a proposta deste estudo nota-se por meio dos relatos dos autores que há
algumas correlações entre o desenvolvimento motor, a lateralidade como a busca por meio da
experimentação e vivência de movimentos para o desenvolvimento das habilidades motoras.

997
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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ROMERO, Eliane. Lateralidade e rendimento escolar. Revista Sprint, vol. 6,1988.

WEATHERALL, M. Método científico. São Paulo: Polígono, 1990.

998
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ENSINAR MATEMÁTICA POR MEIO DE


RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Elvis Vieira da Silva1

RESUMO: Vivemos uma época em que a escola tem por objetivo a formação integral dos alunos.
Para tal foi necessário trabalhar a aprendizagem de conhecimentos diversos, modelos
interpretativos do mundo natural, habilidades, técnicas e estratégias como, ler, escrever, calcular,
medir, descrever, analisar etc. Este conjunto de aprendizagens é denominado, conteúdos de
aprendizagem, e segundo Zabala (1999), esta expressão inclui tudo o que é objeto de
aprendizagem em uma proposta educacional. Assim o objetivo deste artigo é subsidiar o processo
ensino-aprendizagem da matemática por meio de resolução de problemas, mostrando a
importância e benefícios do plano de ensino contemplar aulas de resolução de problemas
estimulando a curiosidade, propiciando o gosto pela descoberta da resolução, ampliar o interesse
pela matemática, desenvolver nos alunos uma forma de pensar construtiva, consciente e
reflexiva.

Palavras-Chave: Formação; Ensino-aprendizagem; Matemática; Resolução de problemas.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio. na Rede Municipal de São Paulo e Rede Privada de Ensino – SP.
Graduação:Licenciatura em Matemática; Licenciatura em Física; Especialização em Gestão Escolar.
E-mail: elvis.vieira@rededecisao.com.br

999
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO mostrar às etapas da resolução de um


problema matemático segundo George Polya
Este artigo pretende mostrar a importância (1995), a todos envolvidos no processo ensino-
de ressignificar à prática mais frequente nas aprendizagem e as várias e possíveis maneiras
aulas de matemática que resume-se em ensinar de se resolver um problema matemático
um conceito, procedimentos ou técnicas e tornando a aula de matemática mais
depois passar uma atividade, geralmente interessante e desafiadora a todos.
exercícios de fixação, para verificar se os alunos
seriam capazes de reproduzir exatamente
AFINAL O QUE É UMA
conforme ensinado. Por intermédio de
experiência, prática e conhecidas técnicas e SITUAÇÃO PROBLEMA?
procedimentos de professores e Segundo o dicionário Priberam da Língua
principalmente tomando como referência Portuguesa problema é uma questão
maior George Polya(1995), considerado o matemática proposta para se achar uma
maior solucionista de problemas de todos os solução - questão, dúvida - é o que é difícil de
tempos e professor de professores de explicar. No processo ensino-aprendizagem, o
resolução de problemas, para mostrar que por que é um problema matemático, segundo
meio da resolução de problemas, podemos dar Silveira (2001), um problema matemático é
significado aos conteúdos aplicados em sala de toda situação requerendo a descoberta de
aula para a vida cotidiana dos alunos, pois no informações matemáticas desconhecidas para
contexto da educação matemática, no que diz a pessoa que tenta resolvê-lo, e/ou a invenção
respeito ao processo ensino- aprendizagem um de uma demonstração de um resultado
bom problema, pode fazer nascer no aluno o matemático dado. Assim não devemos
gosto pelo trabalho mental, despertar o gosto confundir exercício com um problema, pois
pelo raciocínio independente, desafiar à exercício, segundo definição do dicionário
curiosidade e oferecer ao aluno o prazer pela Priberam da língua Portuguesa é uma “lição em
descoberta da resolução, e neste sentido, que se exercita uma teoria ou regra
podem ainda estimular a curiosidade do aluno precedentemente estudadas”, assim é
fazendo-o interessar-se mais pela matemática. indubitável que se trata de uma atividade de
Portanto a escolha do tema procede, pois adestramento, no uso de alguma habilidade
conforme concepções apresentadas por Dante com conhecimento matemático já conhecido,
(2002), o ensino da matemática por meio da geralmente como a aplicação de um
resolução de problemas pode contribuir para a procedimento, um algoritmo conhecido ou de
formação de um cidadão reflexivo, autônomo, uma fórmula. O exercício envolve mera
e participativo na sociedade, que não se limita sistematização e aplicação de um
a regras e definições, mas deve estar voltado procedimento já o problema necessariamente,
para a construção de conhecimentos úteis para está caracterizado quando a resposta não pode
o aluno compreender e transformar a ser rapidamente recuperada da memória
realidade. Assim articulamos o conceito de (STERNBERG, 2000). Envolve várias etapas para

1000
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sua resolução, diferentes estratégias, planos, DESMITIFICANDO ALGUMAS


metas, investigação, analise do resultado
obtido, invenção, criação etc. CARACTERÍSTICAS EMPREGADAS
AOS PROBLEMAS MATEMÁTICOS
DIFERENTES TIPOS DE Antes de prosseguir com as características e
etapas da resolução de problemas
PROBLEMAS MATEMÁTICOS matemáticos, cabe aqui desfazer alguns mitos
Indubitavelmente existem diversos tipos de criados em torno da matemática e mais
situações problemas e segundo Resnick (1923 - especificamente no processo ensino-
2014), podemos sintetizar em: aprendizagem em se resolver um problema. Ao
• Problemas em que o caminho da resolução longo do tempo infelizmente foi se tornando
é desconhecido, ao menos, boa parte. (Sem hábito comum às pessoas que não tem
Algoritmização). afinidade com a matemática, adquirir
• Situações problemas que necessitam vários preconceitos e atribuir à matemática status de
pontos de vista (Complexos). ciência elitista. Boa parte destes preconceitos
• Os que a solução só é atingida depois de foram e são criados no processo do ensino-
intenso trabalho mental; embora o caminho aprendizagem desde muito cedo, ainda na pré-
possa ser curto, ele tende a ser difícil(Exigente). escola, pois um plano de ensino de matemática
• Alguns começam com uma aparente que não contempla aulas de resolução de
desordem de idéias e é preciso adotar problemas é um dos fatores mais relevantes do
padrões que permitirão construir o caminho insucesso escolar. Com freqüência
até a solução (Necessitam de lucidez e encontramos pessoas que manifestam aversão
paciência). à disciplina baseadas em boa parte no senso
• Outros problemas nem sempre todas as comum, que a matemática é difícil ou para
informações necessárias estão poucos, ou em motivos referentes às
aparentes; por outro lado, pode existir dificuldades para realizar desde as atividades
conflito entre as condições estabelecidas pelo mais simples do dia a dia e até associadas a
problema (Nebulosos). atividades profissionais, dentre os mitos mais
• E ainda, normalmente ocorre de existirem comuns temos:
várias maneiras de se resolver um dado • A matemática da escola não tem nada a
problema; no entanto, pode acontecer de não ver, ou não está associada ao mundo real.
existir uma melhor solução ou até de não haver • As regras da matemática são muito
uma solução – ou seja, resolver um problema formais, tornando irrelevante o processo de
não é o mesmo que achar a resposta (Não há criação, descobrimento e invenção.
resposta única). • Os problemas matemáticos têm uma e
somente uma resposta correta.
• Existe somente um caminho ou forma
correta de resolver um problema
matemático.

1001
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Normalmente o melhor caminho ou o mais professores têm um papel importante no


correto para resolução de um desenvolvimento das disposições para
problema matemático é seguir o caminho ou resolução de problemas dos estudantes,
regra apresentada na última aula pelo criando e mantendo ambientes na sala de aula,
professor. desde a educação infantil, nos quais os
Fica a ressalva que se faz necessário que o estudantes são encorajados a explorar, se
professor desfaça estes mitos trazendo para a arriscar, compartilhar fracassos e sucessos e
sala de aula situações e exemplos que questionar um ao outro.
contradizem os acima citados, mostrando o Nesses ambientes de apoio mútuo, os
verdadeiro significado e importância da estudantes desenvolvem confiança em suas
matemática como ciência e no nosso dia a dia, habilidades e disposição para engajar e explorar
é necessário que o professor organize seu problemas, e eles terão mais facilidade em
trabalho em sala de aula, a fim de permitir que expor problemas e persistir com problemas
o aluno aprenda não apenas os conceitos e a desafiadores. Nesse momento, podemos
maneira de pensar em matemática, mas que antecipar um pressuposto básico para o
desenvolva as competências de leitura, escrita, trabalho docente com a resolução de
interpretação, analise, avaliar vantagens e problemas.
desvantagens e produção de textos.
Uma maneira de isto ser feito é propor aos BONS PROBLEMAS PARA O
alunos atividades como:
• Iniciar o texto de um problema e pedir para ENSINO-APRENDIZAGEM DA
os alunos que finalizem o enunciado e, depois o MATEMÁTICA
resolva. Como já citado anteriormente, problemas
• Partir de um problema resolvido, criar matemáticos existem muitos e de variados
outro parecido e depois resolvê-lo. tipos e características, mas vamos aqui nos
• Depois de dar o enunciado do problema, concentrar nos bons problemas que podem ser
sugerir que os alunos criem uma utilizados no processo ensino-aprendizagem da
pergunta que possa ser respondida por esse matemática e que possam contribuir com a
problema. matemática, quando digo isso quero dizer que
• Dada uma imagem ou figura, criar uma os bons problemas não são somente aqueles
pergunta que possa ser respondida apenas com desafiadores e intrigantes, mais sim aqueles
a imagem ou figura. que podem contribuir para um melhor
Assim o professor estaria criando um espaço entendimento da matemática ou ainda que
próprio na aula para que os alunos possa contribuir para desenvolvimento de
comuniquem idéias, façam colocações, vários ramos da matemática, derrubar mitos,
investiguem relações e na troca de idéias com contribuir para o surgimento de novos
os colegas, adquiram confiança na capacidade problemas e amadurecer o solucionista,
de aprendizagem, pois ainda segundo acrescentando novas habilidades na resolução
Romanatto (2012), pesquisador FCL/UNESP. Os de problemas.

1002
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Dessa maneira os bons problemas para o o conceito até então novo para ele de fração
processo de ensino-aprendizagem são aqueles algébrica.
que tenham um enunciado fácil e acessível para • Problemas de aprendizagem: para reforçar
o aluno, que desenvolva o pensar matemático, e familiarizar o aluno com um novo conceito;
exija estratégia e criatividade na sua resolução, Exemplo: Um “bolão” esportivo rendeu x
que seja uma maneira mais ambiciosa do aluno reais. Dessa renda, foram gastos y reais para
consolidar idéias ou conceitos matemáticos despesas gerais. Sabendo-se que n pessoas
importantes e que acima de tudo não seja participaram desse “bolão”, qual expressão
muito fácil ou ainda muito difícil para manter o matemática que representa a quantia que cada
aluno naturalmente interessado em prosseguir ganhador recebeu?
na sua resolução. O professor deve deixar claro Comentário: Já apresentado ao conceito de
para seu aluno que resolver um problema não fração algébrica, por exemplo, o aluno irá
deve ser o mesmo que um jogo, no qual o resolver este problema com conhecimento
solucionista é desafiado a vencer sempre, mais adquirido do seu dia a dia este problema vai
sim encarar o problema como uma atividade exigir do aluno um pouco mais de interpretação
prática, na qual é necessário para ambos e organização, de modo que monte a expressão
conhecerem o objetivo, conhecer as regras e se que satisfaça a condição fornecida pelo
utilizarem das melhores estratégias para sua enunciado.
resolução e que necessariamente não há • Problemas de análise: para a descoberta
vencedor ou derrotado neste processo. de novos resultados derivados de conceitos já
Os problemas matemáticos para o ensino de aprendidos e mais fáceis que os problemas de
matemática podem ser divididos em quatro sondagem.
tipos: Exemplo: Uma das regras do Voleibol
• Problemas de sondagem: para a profissional diz que em uma partida de voleibol
introdução natural e intuitiva de um novo não pode haver empate. Por este motivo, o
conceito. regulamento de um campeonato amador
Exemplo: Um caderno custa x reais, sendo x marca dois pontos por vitória e um ponto por
um divisor de 40. Escreva a expressão derrota. Disputando este campeonato amador,
matemática que indica o número máximo de uma equipe jogou 7 partidas e somou 12
cadernos que você pode comprar se tiver 40 pontos. Quantas partidas a equipe venceu e
reais. quantas partidas ela perdeu nesse
Comentário: Perceba que o enunciado campeonato?
fornece as informações de maneira simples Comentário: Pela quantidade de informação
com uma linguagem acessível ao aluno, com o que o enunciado traz, fica claro que se trata de
intuito de que ele perceba que se trata de uma um problema de análise, na qual a curiosidade
divisão, na qual a incógnita está no do aluno por sua resolução é o principal
denominador, resolvido o problema sem auxílio atrativo, pois para que o aluno venha a resolver
do professor o aluno ganha um acréscimo de precisará criar uma estratégia, utilizar conceitos
conhecimento e pensar matemático, e aprenda

1003
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

já estudados, fixar conceitos e por fim A HEURÍSTICA DE RESOLUÇÃO


aprofundar o seu conhecimento matemático.
• Problemas de revisão e aprofundamento: DE PROBLEMAS DE GEORGE
para revisar os tópicos já vistos e aprofundar POLYA
alguns conceitos. Primeiro definiremos o que este termo
Exemplo: Um ônibus, desenvolvendo certa heurístico representa, pois se trata de termo
velocidade média, percorreu x quilômetros, grego heurísko (descobrir, inventar, obter)
distância essa que separa as cidades Paulistas muito utilizado em sala de aula, convém
de Dracena e Barretos, em 5 horas. Se o salientar, mais pouco conhecido por
motorista tivesse aumentado em 20 Km/h sua professores e alunos.
velocidade média, teria percorrido a mesma Assim por definição do dicionário Priberam
distância em uma hora a menos, ou seja, em 4 da Língua Portuguesa heurística pode ser
horas. Qual é a distância entre essas duas definido como:
cidades? 1. Arte de inventar ou descobrir.
Comentário: Esta situação problema ao 2. Método que pretende levar a inventar,
passo que leva o aluno a revisão dos descobrir ou a resolver problemas.
conhecimentos sobre fração algébrica e 3. Processo pedagógico que pretende
equação fracionária de 1° grau, ele possibilita encaminhar o aluno a descobrir por si mesmo o
ao aluno a descoberta de uma nova situação, que se quer ensinar, geralmente por meio de
que vai exigir que o aluno coloque em prática perguntas.
sua capacidade de invenção, aprofundando Segundo Polya (1957):
mais nas propriedades e conceitos Resolver problemas é uma habilidade
matemáticos. prática, como nadar, esquiar ou tocar piano:
Convém aqui deixar claro que o estudante é você pode aprendê-la por meio de imitação e
o protagonista e o ser ativo central neste prática. Se você quer aprender a nadar você
processo de construção do conhecimento. Ele é tem de ir à água e se você quer se tornar um
quem deve interpretar as relações bom „solucionista de problemas ‟, tem que
estabelecidas, confrontar os dados, não apenas resolver problemas (POLYA, 1957, s.p).
constatar soluções, aprender a equalização dos George Polya nascido na Hungria 1897 foi um
cálculos empregados. Num nível mais elevado dos matemáticos mais importantes do século
produzir suas próprias estratégias de cálculo, XX, morreu aos 88 anos de idade e passou a
expor seu pensamento, discutir e argumentar maior parte do seu tempo pesquisando na
com os demais colegas e professor. universidade de Stanford nos Estados Unidos
devido à situação política da Europa durante a
Segunda Guerra Mundial. Fez pesquisa em
vários ramos da matemática, mais sua maior
contribuição está relacionada à heurística de
resolução de problemas matemáticos com
várias publicações relacionadas ao assunto.

1004
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Uma das suas obras em especial - How To Solve - Ler cuidadosamente o problema, se
It (como resolvê-lo) de 1957 – vendeu mais de necessário várias vezes.
um milhão de cópias. - Compreender o significado de cada termo
Polya é um dos matemáticos do século utilizado.
passado que considera a Matemática uma - Reescrever o problema.
“ciência observacional” na qual a observação e - Identificar, claramente, as informações de
a analogia desempenham um papel que necessita para resolvê-lo.
fundamental; Ele também afirma que há Nesta etapa é importante fazer perguntas
semelhança do processo criativo na como: Qual é a incógnita? Quais são os dados?
Matemática e nas ciências naturais. Polya foi o Quais são as condições? É possível satisfazer as
primeiro matemático a apresentar uma condições? Elas são suficientes ou não para
heurística de resolução de problemas específica encontrar a incógnita? Existem condições em
para a matemática, para ele, resolver um excesso ou contraditórias? Construir esquemas
problema consiste em encontrar um caminho, ou figuras a situação proposta no exercício
no qual a princípio não se conhecia; encontrar sempre é muito útil, sobretudo introduzindo-se
uma saída para uma situação difícil; vencer um notação adequada. Sempre que possível,
obstáculo, alcançar um objetivo que não pode procurar separar as condições em partes.
ser alcançado de imediato por meios • Estabelecimento de uma estratégia de
conhecidos. Ressaltando que a existência de resolução.
dificuldade não é uma característica que faz -Encontrar a conexão entre os dados e a
parte de um problema, pois depende também incógnita com o objetivo de definir uma
dos conhecimentos e das experiências de quem estratégia ou plano de resolução.
vai resolvê-lo. Por isso, Polya representa uma -Poderá ser necessário considerar problemas
referência no assunto, uma vez que suas idéias auxiliares ou particulares.
representam uma grande inovação em relação Nesta etapa as perguntas mudam, mas se
às idéias de resolução de problemas existentes fazem necessárias: Você já encontrou ou
até então. resolveu este problema ou um parecido? Você
conhece um problema semelhante? Você
AS ETAPAS NA RESOLUÇÃO DE conhece teoremas, relações ou fórmulas que
possam ajudar? Analise a incógnita e tente
UM PROBLEMA SEGUNDO achar um problema familiar e que tenha uma
POLYA incógnita semelhante.
Polya sugeriu que à resolução de problemas • Execução da estratégia ou plano de
era um processo sequencial, divididos em solução.
quatro etapas fundamentais. Na verdade, essas -Compreender e executar a estratégia
etapas são depois subdivididas, sendo definida.
sugeridas inúmeras estratégias que podem ser -Verificar a correção de cada etapa
utilizadas. percorrida.
• Entender o Problema

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Geralmente esta é a etapa mais fácil do possibilidade de aumento do poder de fogo do


processo de resolução de um problema. solucionista. Feito por um matemático
Mesmo assim alguns alunos tendem a pular talentoso, esse trabalho de abstração
esta etapa por acharem que é irrelevante, e representa a possibilidade de fertilização da
acabam se dando mal. Outro erro comum é Matemática da solução do problema.
elaborar uma estratégia inadequada e se Resolvendo uma equação do 2° grau
complicar terrivelmente na execução e, deste completando quadrado por meio do método
modo, acabam sendo obrigados a voltar para a de Polya.
etapa anterior e elaborar uma nova estratégia. Vamos começar explorando uma situação
Ao executar a estratégia, você deve se particular, que servirá para auxiliar na
atentar se consegue cada passo verificar sua compreensão de outros problemas.
precisão, e/ou ainda se consegue mostrar que Gabriela recortou, em cartolina, um
cada um deles está correto? quadrado de 3cm de lado e quatro
• Revisar a solução. retângulos de medias 3 e 1cm, como a figura
-Implica uma reflexão sobre a resolução do a seguir. Usando o quadrado e os quatro
problema, “revendo-a e discutindo-a”. retângulos, Gabriela formou a seguinte figura:
-Procurar utilizar o resultado, ou o método, Agora, Gabriela quer formar um novo
em outros problemas. Nesta etapa devemos quadrado. Para isso, terá de acrescentar
examinar a solução obtida, verificando os quadrinhos a figura.
resultados e os argumentos utilizados. O ideal é • Quantos quadradinhos ela vai precisar?
se perguntar se podemos obter a solução de • Qual é a área de cada um desses
algum outro modo? Qual a idéia principal do quadradinhos?
problema e do método de resolução aplicado? • Qual é a área do novo quadrado?
Qual a utilidade deste resultado? O objetivo desta situação dentre outras, é
Segundo Polya a revisão da solução é a etapa dar ao aluno oportunidade de aplicar a
mais importante, pois é esta etapa que propicia matemática em situações reais e servirá como
uma depuração (o objetivo é verificar a “gatilho” para resolução de problemas de
argumentação usada, procurando simplificá-la; equações do 2° grau completando quadrados
pode-se chegar ao extremo de buscar outras aplicando o método de Polya mais complexos,
maneiras de resolver o problema, como exemplo a seguir:
possivelmente mais simples, mais ou menos Sugestão:
intuitivas e só agora acessíveis ao solucionista) Os alunos poderão ser separados em duplas
e uma abstração (agora, o objetivo é refletir no e desafiados a explorarem a resolução de uma
processo de resolução procurando descobrir a equação do 2° grau com uma incógnita
essência do problema e do método de utilizando um processo de resolução baseado
resolução empregado; tendo-se sucesso nessa na Geometria, semelhante aos processos já
empreitada, poder-se-á resolver outros conhecidos pelos antigos gregos.
problemas mais gerais ou de aparência
bastante diferente. Ela representa a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Desafio Assim espera-se que percebam se


Uma empresa de advocacia quer inovar e “completarmos a figura obtida com um
mandou confeccionar um cartão retangular quadrado de lado 3 cm, formaremos um
completamente diferente dos encontrados no quadrado maior, de lado x + 3 e área 100
mercado hoje em dia. Enquanto os cartões de cm2(os 91 cm2 do cartão original mais os 9 cm2
visita tradicionais em sua maioria têm área de do quadrado que utilizamos para completar)
superfície de 38,25 cm2, está empresa quer que Logo podemos escrever: (x +3) . (x+3) = 91 +
seja confeccionado um cartão de visita com 91 9
cm2 de área de superfície para seus advogados (x+3)2 = 100
se diferenciarem no mercado. A exigência é que x + 3 = ± 100
a medida da base tem que superar a medida da x + 3 = -10 (não serve, por se tratar de um
altura em 6 cm. problema de cálculo de medida e área) x + 3 =
Quais deverão ser as dimensões desse cartão 10 x = 7
respeitando as exigências da empresa? Assim as medidas do cartão são:
Sugestão de Resolução x = 7 cm e x + 6 = 13 cm
Primeiramente deixaremos os alunos
explorarem a situação, a sugestão é pedir para A IMPORTÂNCIA PEDAGÓGICA
os alunos fazerem uma representação em
forma de figura da situação. Espera-se que os DA RESOLUÇÃO DE BONS
alunos construam a seguinte representação: PROBLEMAS MATEMÁTICOS
Logo depois, pedimos para que explore O aluno ao enfrentar uma situação
algebricamente a situação, fazendo a seguinte problema, que não possui uma resolução que
pergunta: “como é que se expressa à área de se compreende desde logo, exige que ele
um retângulo?” Espera-se que os alunos combine seus conhecimentos e decida pela
respondam: maneira de usá-los em busca da solução. Assim
Medida da base x Medida da altura =Área é indispensável que o professor incentive o uso
Então para nossa situação temos: (x + 6) . x = de diferentes estratégias de resolução,
91 acabando com a idéia de que cada problema
Agora, vamos sugerir aos alunos que dividam possui apenas uma forma de resolução, ou um
o cartão em um quadrado de lado x e dois modelo a ser seguido. Incentivar os alunos a
retângulos iguais de lados 3 e x, conforme buscar caminhos próprios para resolução dos
representação abaixo: problemas propostos inclui, trabalhar com
Depois de feito, vamos reorganizar as partes tentativas e erros, figuras, tabelas, gráficos,
do cartão: busca de leis de formação, simetria de figuras,
Seria interessante lançar a seguinte pergunta analogias, esquemas, entre tantas outras
para que pensem: formas de resolução.
- Que figura precisar para montar um É claro que o método se completa com
quadrado? Quais as dimensões dessa nova atitudes positivas do professor, ao responder a
figura? perguntas simples: Qual é seu objetivo? O que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

você espera desenvolver no seu aluno? Se a Assim ao utilizarmos a resolução de


resposta for alguma coisa como: Tornar nossos problemas para o ensino da matemática, aliada
alunos seres autônomos, transformando-os em com estratégias de ensinar os alunos a
autodidatas. assistirem aula e conscientizar os alunos da
Se fará necessário utilizar algumas importância e benefícios de se criar um habito
estratégias para alcançar esse objetivo. Que de estudo diário, estaremos dentre outros
entendo que as mais relevantes são: benefícios conquistando nossos objetivos de:
• Ensinar os alunos assistirem aula: • Incentivar o aluno a enfrentar situações
Todos os professores devem ter uma atitude novas;
uniforme e coerente de não admitir nenhum • Desenvolver o raciocínio e a criatividade do
tipo de desordem durante a aula. Se o aluno;
momento é de explicação, exigir silêncio e não • Dar ao aluno a oportunidade de aplicar a
continuar a explicação enquanto não houver matemática em situações reais;
silêncio total. Falar mais alto para superar o • Mostrar o valor da matemática como
ruído das conversas é a atitude mais instrumento para compreender melhor o
vergonhosa que um professor pode tomar mundo em que vivemos;
como estratégia de aula. Devemos interagir • Motivar os alunos, tornando as aulas de
intensamente com as famílias dos alunos para matemática mais interessantes e desafiadoras;
que juntos estabeleçam normas de • Desenvolver o hábito de leitura e pesquisa;
comportamento e conscientizar os pais que • Permitir a troca de idéias com os colegas.
eles devem ser os primeiros a exigir um
comportamento disciplinado dos filhos.
• Ensinar os alunos a estudar:
É sem dúvida a parte mais importante do
processo. O aluno deve ser conscientizando
pela escola e por todos os professores de que a
lição de casa é a parte mais importante do
processo, mais para isso o professor não pode
se permitir dar uma aula sem que ela venha
acompanhada de uma tarefa ou lição de casa.
Este trabalho deve ser de conscientização não
de coação, o aluno deve perceber que o hábito
de estudo diário é um benefício para ele, e não
uma regra imposta pelo professor ou a escola,
ou ainda que seja premiada com uma nota.
E por fim orientar o aluno sobre a
importância do fazer. Sempre estudar com um
lápis na mão, sempre estudar fazendo.

1008
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As considerações feitas ao longo deste trabalho tinham a intenção de chamar a atenção
para a importância didática que o ensino da matemática por meio de aulas de resolução de
problemas tem na formação dos alunos. Claro de que não se trata de um manual, nem mesmo a
heurística de resolução de problemas de George Polya(1995), o é.
Trata-se mais de orientações e exemplos de que resolver problemas é uma atividade
matemática prática, que se faz necessário o conhecimento de conceitos e regras, mais resolver
ou se tornar um solucionista de problemas requer o desenvolvimento de habilidades - habilidades
estas que deve ser desenvolvida desde os ciclos mais básicos, com a finalidade de ir
amadurecendo o aluno, e fazendo ele se tornar mais experiente.
Exatamente como é ser habituado a dirigir, primeiro é necessário o estudo de conceitos e
regras, mais só é habilitado aqueles que conseguem desenvolver a habilidade de aplicar os
conceitos e regras em situações reais e práticas, tendo que tomar a decisão do que fazer e quando
fazer na hora certa.
Demonstra-se ao longo do trabalho os possíveis caminhos a serem trilhados, diferentes
tipos de situações problemas, como estimular o aluno a aprender com situações desafiadoras
com um nível adequado de dificuldade para manter–lo interessado pela resolução, criar em sala
um ambiente de apoio e aprendizado mútuo e no fim o desenvolvimento do prazer pela
descoberta, quando atingida à etapa de revisar a solução, isso tudo, alem de sua importância
pedagógica, importância está descrita na proposta curricular do estado de São Paulo de se
desenvolver a habilidade de saber ler e escrever em todas as disciplinas.

1009
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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ZABALA, Antonio. A prática educativa: como ensinar.1999.

1010
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ENSINO RELIGIOSO: CONTEXTO HISTÓRICO


José Saraiva da Silva1

RESUMO: O estudo e pesquisa da religião como área do conhecimento e sua importância como
tal, é o que se pretende abordar nesse artigo. O ensino religioso, assim como o seu contexto
histórico na educação básica brasileira vem sendo motivo de afloradas discussões e debates nos
círculos educacionais, mostrando que que sempre existiram conflitos na nas tentativas de
normatização da disciplina de Ensino Religioso. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) em seu artigo 33
diz que: o ensino religioso é de matrícula facultativo, isto é, optativo, como “parte integrante da
formação básica do cidadão”. Objetiva-se, portanto, a sensibilização para o conhecimento acerca
do ensino religioso escolar no Brasil.

Palavras-Chave: Religião; Educação; História.

1Professor de Ensino Fundamental e Médio na Rede Municipal de São Paulo e Rede Estadual de São Paulo.
Graduação:Licenciatura em Artes pela Faculdade Belas Artes; Especialização em Filosofia pela Universidade
Federal de São Carlos.
E-mail: saraiva-silva@hotmail.com

1011
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO homem que leva a sério tal relação, que faz dela
a orientação básica de seu projeto de vida.
A Pessoa Humana a cada passo de sua Visto que o homem é histórico, sua
história busca incessantemente sua experiência religiosidade é exteriorizada dentro dos
com o Transcendente. A cada momento de uma sistemas formais próprios do seu espaço
forma diferente, expressando este caminho por existencial; isso constitui-se religião.
meio de ritos, construções, objetos, textos, De acordo com a grande maioria das
orações, instituições. O Ensino Religioso religiões, o que constitui o sentido radical da
dentro de seu contexto histórico teve no seu existência humana é Deus. Por isso, Deus é um
transcorrer uma íntima ligação com a Igreja, a dado indiscutível a partir do qual é organizado
história do nosso país demonstra. Por isso todo o discipulado: objetivos, métodos,
acredito ser importante apresentar o que é o conteúdos.
Ensino Religioso dentro das propostas que O objetivo do Ensino Religioso escolar é
contemplem os Parâmetros Curriculares proporcionar ao aluno experiências,
Nacionais e o estudo da Catequese/EBD para informações e reflexões que o ajudem a cultivar
fazer uma comparação e uma análise minuciosa uma atitude dinâmica de abertura ao sentido
se a mesma está dentro dos objetivos próprios, mais profundo de sua existência em
e se a escola tem claro o seu papel de educar e comunidade e a encaminhar assim, a
não evangelizar, verificando ainda como o organização responsável do seu projeto de
Ensino Religioso é vivenciado pelos docentes e vida.
como a escola o concebe. Visa-se, portanto, a ajudar o aluno a formular
E no esforço de compreender a pessoa existencialmente, em profundidade, o
humana como ser religioso que atravessa a questionamento religioso, e a ir dando a sua
diversidade dos tempos, alguns pesquisadores resposta devidamente informada, responsável,
trabalham na construção do senso religioso engajada.
desse processo de desenvolvimento. Desta A aula de Ensino Religioso ajudará a vivenciar
forma a história da pessoa humana se torna um práticas transformadoras; a compreender as
espaço de observação. diversas expressões religiosas; a valorizar a
Considerando o homem como um ser própria crença, e respeitar a dos outros.
constituído por várias dimensões: psíquica, O Ensino Religioso não pode perder de vista
social, política, somática, religiosa, etc., a contextualização da pessoa humana no
pretendo refletir sobre a dimensão religiosa tempo e no espaço, já que a visão que dela se
dele, como ser profundamente necessitado e tem, influencia profundamente a postura do
sequioso do transcendente. Homem frente a SOCIEDADE, e garante ou
O religioso é uma categoria que supõe questiona a relação PESSOA HUMAMA – DEUS.
alguma relação entre o homem e o sagrado; ou, Não é função da Educação Religiosa escolar
mais genericamente, entre o homem e o promover conversões, mas oportunizar
sentido radical, mais profundo, de sua ambiente favorável para a experiência do
existência. Religioso, nesta acepção, será o Transcendente, em vista de uma educação

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integral, atingindo as diversas dimensões da Assim, a História do Ensino Religioso no Brasil


Pessoa. tem raízes no início da colonização, e
prosseguimento em todo o processo
ENSINO RELIGIOSO: CONTEXTO civilizatório brasileiro.
Uma rápida visão panorâmica dos
HISTÓRICO quinhentos anos desse ensino no Brasil
A regulamentação do Ensino Religioso como contribui para a busca de compreensão de sua
o elemento normal do sistema escolar razão de ser, hoje, um imaginário que ainda
brasileiro não é tranquila. Os debates que a permanece, ao ser tratado como elemento
precedem, em todos os períodos constituintes, eclesial na escola e não como disciplina normal,
são polêmicos e ocupam boa parte da discussão integrante do sistema escolar, como as demais,
no Congresso Nacional, envolvendo por conta das relações Estado-Igreja e Política-
parlamentares e setores da sociedade, quase Religião, presentes no desencadear de tal
sempre representados por entidades religiosas processo.
interessadas, ou grupos com estas
relacionados. Simultaneamente atuam setores • Na Colônia (1500-1800):
contrários e outros a favor da inclusão ou O Ensino Religioso é concebido como
permanência dessa disciplina nas escolas da evangelização, segundo os esquemas da época,
rede pública oficial. ou seja, a cristianização por delegação
A ausência de clareza quanto a sua natureza pontifícia, justificativa do poder estabelecido,
e papel na escola e a não participação efetiva em decorrência do regime do padroado.
da sociedade, como um todo, no processo de Mantido em função dos acordos
sua implementação e implantação, a não estabelecidos entre o Sumo Pontífice e o
apropriação pelos diversos segmentos dessa Monarca de Portugal, tem em vista, em sua
sociedade da linguagem usual dos grupos que primeira fase, a evangelização dos gentios; na
refletem sobre as novas propostas pedagógicas segunda fase do regime, a ênfase é dada à
para o referido ensino em escolas públicas, doutrinação também dos escravos, passando
fazem gerar um ciclo vicioso de conflito em que pelo crivo da inquisição, segundo o modelo
as partes interessadas, a favor ou contra a sua original das normas tridentinas. A trivial
permanência ou inclusão na rede pública, como repetição deverá passar ritualmente por
elemento normal do sistema, se mantêm numa diversas gerações. O principal objetivo é a
postura extremista. adesão de índios e negros à fé católica.
Este é, pois, um fato que se repete ao longo • Na Monarquia Constitucional (1823-
deste século, tendo como pano de fundo a 1889):
matriz sócio-político-cultural-religiosa, que deu O Ensino Religioso é submetido ao esquema
origem a um imaginário coletivo, presente nos do protecionismo da Metrópole, em
quinhentos anos de formação do povo decorrência do regime regalista oficialmente
brasileiro, tendo a escola um espaço implantado no período.
privilegiado de educação.

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Entrando em vigor o regime imperial, a cidadãos capazes de exercitar a liberdade de


religião passa a ser um dos principais aparelhos crença, de culto e de consciência.
ideológicos do Estado, concorrendo para o No Brasil, juristas republicanos demonstram
fortalecimento da dependência da Igreja ao ter a mesma intenção, ao redigir o texto
poder político. Dessa forma, a instituição constitucional, afirma Névio Campos,
eclesial é o principal sustentáculo do poder lembrando Rui Barbosa, autor do projeto da
estabelecido, tendo como fio condutor o primeira Constituição da República:
juramento, contido no texto da Carta Magna de Foi pela liberdade religiosa, de acordo com a
1824, em manter a Religião Católica Apostólica hermenêutica americana, que nós escrevemos
Romana, a Religião oficial do Império, nos a Constituição Brasileira (...) A Constituição
termos de seu artigo 5º. bebeu ali, não em França. Não ali, é que lhe
• Na implantação do Regime Republicano havemos de ir buscar as lições, as decisões, as
(1900-1930): soluções – irritantes, reacionárias, violentas na
O Ensino Religioso passa pelos mais política francesa – e na americana, equitativa,
controvertidos questionamentos, uma vez benéfica, pacificadora. E continua adiante: Ora,
tomado como principal empecilho para a nos Estados Unidos não existe a neutralidade
implantação do novo regime, em que a que nos querem impingir, como forma de
separação entre Estado e Igreja se dá pelo viés liberdade de consciência (CAMPOS, 2011, p.
dos ideais positivistas. 68).
A expressão será leigo o ensino ministrado Ao comentar o espírito da Constituição, Rui
nos estabelecimentos oficiais de ensino é o Barbosa, reconhece que as instituições de 1891
único dispositivo da primeira Constituição da não se destinam a matar o espírito religioso,
República a orientar a educação brasileira mas a depurá-lo, emancipando a religião da
gerida pelo sistema estatal. Tal enunciado dá dominação oficial.
origem ao mais polêmico debate da história do No período de transição (Revolução de
Ensino Religioso no Brasil. Tal fato decorre da 30/Reação ao regime da 1ª República) e
interpretação dada ao dispositivo, segundo os seguinte: 1834-1937 – Consolida-se o novo
princípios da liberdade religiosa propugnados período republicano decorrente da Assembleia
pela corrente republicana francesa, ainda que o Nacional Constituinte de 1933 e promulgação
texto constitucional brasileiro se tenha da Carta Magna de 1934
inspirado na Carta Magna dos Estados Unidos O Ensino Religioso é inicialmente admitido
da América do Norte. em caráter facultativo, por meio do Decreto de
Na América do Norte, o direito à liberdade 30 de Abril de 1931, por conta da Reforma
religiosa é salvaguardado desde a declaração da Francisco Campos, centralizadora dos impulsos
Virgínia. Em Lei Maior, mantém as instituições da própria revolução. Na Constituição de 1934
religiosas livres do jugo estatal, e, é assegurado nos termos do artigo 153.
consequentemente, a liberdade religiosa é Ao assumir o governo da Revolução, Getúlio
assegurada, passando pela concepção de Vargas encontra respaldo no Pacto
Lateranense, que incluía o Ensino Religioso nas

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escolas da rede oficial, como função própria da escolar; diferente das demais disciplinas do
religião e esta atrelada as Igrejas. currículo. Acaba sendo administrado por dois
Por outro lado, o Manifesto dos Pioneiros da setores com bases e vértices diferenciados: o
Escola Nova reflete a insistência do grupo Estado e a Entidade religiosa interessada.
contrário a inclusão da referida disciplina na Transcrevemos o primeiro texto a figurar numa
escola, ou seja, deles mesmos, os chamados Lei Maior: Art. 153:
escolanovistas, por conta dos princípios da O Ensino Religioso será de matrícula
laicidade, obrigatoriedade e gratuidade do facultativa e ministrado de acordo com os
ensino público, aqui defendidos. princípios da confissão religiosa do aluno,
O tipo de educação pleiteado por esses dois manifestada pelos pais e responsáveis, e
setores antagônicos os leva à disputa pelo constituirá matéria dos horários nas escolas
mesmo objeto, ou pelo mesmo espaço, no qual públicas primárias, secundárias, profissionais e
deverão concretizar seus ideais, via escola normais (BRASIL, 1934).
pública, levando em conta o tipo de sujeito da Este é o marco fundante de todas as
educação pleiteada e de sociedade projetada. concepções sobre o Ensino Religioso presentes
Ao ser incluído na legislação brasileira, desde nas discussões sobre a matéria, nos sucessivos
a Carta Magna de 1934, o Ensino Religioso períodos de sua regulamentação desde a Carta
figurará, ao longo de todo o século como duplo de 1934 à Lei maior vigente, e da nova Lei de
monstruoso: é algo de fora que está dentro; e Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
é, ao mesmo tempo, algo de dentro, mas aprovada recentemente pelo Congresso
tratado como elemento de fora. A eficácia do Nacional.
texto constitucional de 1934 a 1988, que o • No Estado Novo (1937-1945):
inclui e ao mesmo tempo exclui, vem por conta É efetivada a Reforma Francisco Campos. O
da insistência de entidades e outros grupos de Ensino Religioso perde o seu caráter de
interesse, que atuam por meio de negociações obrigatoriedade, uma vez que não implica
ou lobbies, resultando tal ensino em disciplina obrigação para mestres e alunos, nos termos do
estranha ao sistema escolar brasileiro, gerido Art. 133 da Constituição de 1937.
pelas instituições oficiais. A educação no período é utilizada como
O exercício de poder das partes, ora auxilia principal aparelho ideológico do Estado e visa a
no sentido de apontar novos caminhos para a solução dos problemas nacionais. É um de seus
referida disciplina como elemento normal do objetivos formar individualidades condutoras,
sistema escolar, ora dificulta a compreensão da tendo como princípios ou marcos norteadores
sua natureza no ambiente da educação, ao a exaltação da nacionalidade, a capacitação
tratá-lo como o elemento eclesial metido na profissional e a formação militar. A Semana da
conjuntura escolar. Em virtude do princípio da Raça e da Pátria reflete a ideologia vigente.
liberdade, é obrigatório de um lado e • No Regime Liberal – Terceiro Período
facultativo do outro. Isto por ser compreendido Republicano (1946-1964):
como elemento eclesial, atrelado às O Ensino Religioso é contemplado como
instituições religiosas, alheio ao sistema dever do Estado para com a liberdade religiosa

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do cidadão que frequenta a escola, mas A Lei de Diretrizes e Bases para o ensino de
discrimina o professor da disciplina, negando- 1º e 2º grau, de nº 5692/71, em seu Art. 7º
lhe o direito de sua inclusão no sistema como parágrafo único, repete o dispositivo da Carta
profissional da educação. Magna de 1968 e Emenda Constitucional nº
É esse outro momento histórico de 1/69, voltando a incluir o Ensino Religioso no
significativa relevância, pois tem em vista a sistema escolar da rede oficial, nos respectivos
redemocratização do país, até então regido por graus de ensino. Abre espaço para o professor
um sistema de governo autoritário, incluindo os da disciplina como profissional da educação,
quatrocentos anos consecutivos, anteriores a uma vez revogado o dispositivo da LDB anterior,
República e maior parte do período seguinte, que não permita a sua remuneração pelos
Apesar da Lei Maior pretender orientar o cofres públicos. Compreende-se que tanto a Lei
processo de tal redemocratização e garantir o 5692/71, como a Lei 7044/82 que lhe sucede,
espaço do Ensino Religioso na escola, a reconhecem o professor como profissional do
regulamentação do dispositivo constitucional sistema, se também no exercício da função na
na Lei de Diretrizes e Bases de nº 4024/61, referida disciplina. O que o distingue, porém,
limita tal espaço e exclui do sistema o professor dos demais é a atribuição dada a autoridade
da disciplina, ao acrescentar a expressão sem religiosa de credenciar, acompanhar e treinar o
ônus para o Estado ao texto transportado, referido professor para o exercício da função
quase na íntegra, da Carta de 1934. em tal conteúdo. O seu espaço é garantido de
Como nos anos 20 e 30, a influência de dois um lado e dificultado de outro, uma vez que
grupos antagônicos em pontos de vista e não lhe é concedida a possibilidade de, na
concepções sobre educação é marcante, no função, ter acesso a um plano de carreira como
período constituinte e pós-constituinte. Outra Professor de Ensino Religioso.
polêmica se desencadeia em todo o processo A obrigatoriedade do Ensino Religioso,
de elaboração da LDB: os defensores do porém, impulsiona o desencadear de uma
princípio de que o Ensino Religioso é um direito ampla reflexão sobre a disciplina, sua
do cidadão, como ser religioso que frequenta a metodologia própria, sua identidade no
escola pública. Compreende-se a laicidade do ambiente da educação, diferenciada da
Estado como legítima, mas não excludente do identidade e metodologia da evangelização ou
tipo de educação pleiteado pelo cidadão que ensino da religião, próprias da comunidade de
frequenta a escola pública. fé ou credo a que pertence o cidadão. Acontece
• No quarto Período Republicano (1964- no período um grande esforço de renovação da
1984): prática pedagógica desse conteúdo, por
O conceito de liberdade passa pela ótica de intermédio da criação de programas de
segurança nacional. Nesse contexto, o Ensino formação do professor. Elaboração de
Religioso é obrigatório para a escola, currículos em que se privilegia o aspecto sócio-
concedendo ao aluno o direito de optar pela político, cultural, antropológico, de modo a
frequência ou não, no ato da matrícula. superar as práticas divorciadas da experiência e
demais conteúdos curriculares.

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Nos últimos dez anos (1986-1996) – Vigora o A Constituição Federal em vigor, promulgada
novo regime liberal, com novas tendências de em 1988, garante no Art. 210 parágrafo 1º do
redemocratização do país, sob a ótica da Capítulo III da Ordem Social, o Ensino Religioso
reconstrução nacional. O Ensino Religioso nos seguintes termos: O Ensino Religioso, de
busca a sua definição e reconhecimento como matrícula facultativa, constituirá disciplina dos
disciplina normal do conjunto curricular, de horários normais das escolas públicas de ensino
modo a superar os desafios que sustentam a fundamental.
discriminação do professor da disciplina e A inclusão do dispositivo anteriormente
emperram o processo de renovação da prática citado não se deu sem uma significativa
educativa, desde o seu tratamento como mobilização nacional, resultando na segunda
elemento normal do sistema ao plano de maior emenda a entrar no Congresso em
carreira do profissional no exercício da função número de assinaturas, perdendo apenas para
nesse conteúdo. a Reforma Agrária, como primeira colocada.
Atualmente, no início do processo Nos respectivos Estados e no Distrito Federal, o
constituinte em 1985, a tramitação do projeto referido ensino é incluído no texto
da nova Lei de Diretrizes e Bases no Congresso constitucional, sendo que em alguns, além do
Nacional; nesse momento, o Ensino Religioso ensino fundamental, é contemplado também
volta a ser objeto dos discursos pronunciados no ensino médio. Em São Paulo, é acrescentada
nas respectivas fases anteriores de a expressão sem ônus para o Estado, refletindo
regulamentação da matéria, principalmente as tendências dos anos 1950 e 1960, voltando a
dos setores contrários a sua permanência ou discriminar o professor da disciplina. Este é um
inclusão no sistema escolar. Por outro lado, dado que vem a influenciar significativamente
surgem novos argumentos e propostas em vista no atual projeto LDBN, a circular no Congresso
de sua permanência no currículo, não como Nacional. O parecer nº 30/96 do Senado
Ensino da Religião ou de conteúdos próprios Federal regulamenta a matéria e acrescenta
das respectivas denominações e concepções também ao dispositivo constitucional o termo
religiosas, mas como disciplina a permitir ao sendo oferecido sem ônus para os cofres
educando ter, na escola, a oportunidade de públicos.
desenvolver a dimensão do seu ser religioso No entanto, ao lado dos inúmeros desafios
como função nata, inerente à psique, que permanecem, percebe-se grande esforço
permitindo-lhe encontrar respostas aos seus em todo o país, em se tratando da renovação
questionamentos existenciais mais profundos, do conceito de Ensino Religioso, da sua prática
descobrindo e redescobrindo, na convivência pedagógica, da definição de seus conceitos,
com os demais, de diferentes credos, natureza e metodologia adequada ao universo
concepções religiosas e filosóficas, bem como escolar.
nas experiências realizadas no conjunto das Cada Estado adota um sistema de
disciplinas, o sentido da vida, a razão de buscar coordenação. É quase total a manutenção de
o sempre mais, ao que o transcende e sustenta, uma equipe a serviço do Ensino Religioso nas
em vista de sua plena realização. Secretarias de Educação dos Estados e em

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outros órgãos com elas relacionados. significados, destruindo o sentido que temos da
Normalmente, são representativas de vida.
diferentes confissões. Outras se encontram em Contudo, a história nos mostra a todo
fase de organizar ou redefinir a forma de atuar. momento que os seres humanos ainda são
A atenção dada a qualificação do Professor, em capazes de difundir em nome de crenças
vista de seu melhor desempenho pedagógico é religiosas, guerra, holocausto... É necessário
intensificada de norte a sul do país. ficarmos atentos e entender que vivemos em
Esta qualificação acontece nas mais variadas uma sociedade formada por várias culturas,
formas, mas a ênfase é dada, nesses dois com valores e ideologias que se influenciam
últimos anos, aos Cursos de Graduação e de mutuamente.
Pós-Graduação em Pedagogia, com carga Segundo Alves (1984), psicólogos, filósofos,
horária específica de Metodologia do Ensino cientistas sociais e profetas citados no livro “O
Religioso e conteúdos afins. Com igual interesse que é Religião”, alguns acusam a religião como
e esforço de atualização, são reelaboradas as algo sem nexo; ilusória, ideológica, que vicia os
Propostas Curriculares e Programas de pobres oprimidos pelos poderosos. Outros a
Conteúdos Básicos da referida disciplina. defendem, afirmando que sem a religião o
Alguns Estados procuram traçar novas mundo não existiria.
diretrizes para esse ensino. Outros atualizam as Diante de tantas dúvidas, o desafio maior
suas normas, por meio da própria legislação que temos pela frente, em termos de
específica para o Ensino Religioso, renovada e experiência religiosa é muito grande, e
voltada para o melhor desempenho das partes podemos concluir que tanto a ciência como a
em nível central, regional e local, tendo a escola religião tem como objeto explicar o sentido da
como principal espaço de sua efetivação. vida, só que ambas com visões diferentes: a
religião por meio da religiosidade, enquanto a
AMPLIANDO HORIZONTES ciência, utilizando todo seu conhecimento
teórico e tecnológico.
Para a Religião, coube o papel de explicar
aquilo que a ciência por meio dos
conhecimentos dos homens nunca conseguiu...
entender o significado, o sentido e a finalidade
da vida. As religiões nos falam dessas questões
baseadas em vários elementos como: fé,
esperança, rituais, cerimônias e procissões,
todas no fundo têm uma proposta parecida,
porque necessitamos destes símbolos para
criar, construir, transformar, dando significados
a tudo que nos rodeia.
Ao contrário da religião, a ciência nos leva a
um mundo mecanizado, vazio e sem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Ensino Religioso faz parte da vida do brasileiro e, consequentemente, da Educação,
desde quando o Brasil foi colonizado por Portugal. Na história da Educação brasileira as
instituições religiosas e o processo educativo sempre estiveram em uma constante relação.
A experiência profunda da pessoa humana conduz à experiência de Deus, à busca do
sentido da vida que reorienta novas vivências e conduz à organização em religiões.
Possibilitar a cada indivíduo a experiência da dimensão religiosa, o sentido radical da vida
humana, para uma posterior organização das próprias idéias e do compromisso como uma das
múltiplas e diversificadas formas de expressão da religiosidade humana é o grande desafio que a
história apresenta aos educadores que atuam na área do Ensino Religioso.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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16 de julho de 1934. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm. Acesso em: 3 jan. 2020.

CAMPOS, Névio. Debate sobre o ensino religioso na capital paranaense: entre a tribuna e
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GRUEN, Wolfgang. O Ensino Religioso na Escola. Petrópolis: Vozes, 1997.

HENDRICKS, Howard. Ensinando para Transformar Vidas. Venda Nova: Betânia,1991.

JUNQUEIRA, Irmão Sérgio. O Desenvolvimento da Experiência Religiosa. Petrópolis: Vozes,


1995.

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SILVA, Valmor da (org.). Ensino Religioso. São Paulo: Paulus, 2004.

WREN, Brian. Educação para a Justiça. São Paulo: Loyola,1979.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ESCOLA: AMBIENTE LEGÍTIMO DE


APRENDIZADO, CONSTITUIÇÃO DA PESSOA E
DE POSSIBILIDADES PARA A TRANSFORMAÇÃO
SOCIAL
Marcia Regina Corrêa1
Rosemeire Gomes dos Santos Jangrossi2

RESUMO: Este artigo aborda a escola como ambiente legítimo de aprendizado, constituição da
pessoa e de possibilidades para a transformação da vida em sociedade. Está organizado em quatro
tópicos a fim de facilitar o entendimento e a discussão sobre o assunto. O primeiro tópico aborda
a escola e sua função social, o trabalho e a democratização do conhecimento, buscando entender
como ela estabelece relações com os demais atores sociais e relaciona o trabalho como o
conhecimento distribuído de maneira democrática entre a população; o segundo tópico, aborda
a formação para a cidadania e a diversidade, a escola como espaço privilegiado de encontros
entre os diferentes; o terceiro tópico questiona o que move a ação educativa no intuito de
explanar o que está por trás da prática educativa cotidiana do professor; e no último tópico o
assunto é a formação de professores, buscando compreender as necessidades do profissional do

1 Professora Universitária – Área Educação na Rede Privada de Ensino.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Geografa, Especialização em Gestão Ambiental;
Especialização em Docência do Ensino Superior; Especialização em Tecnologias e Educação a Distância,
Mestranda em Educação Currículo pela PUC/SP.
E-mail: correa.marc.correa@gmail.com
2 Supervisora Pedagógica e Diretora Escolar no Instituto Jêsue.

Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação Infantil; Especialização em Educação


Inclusiva e Deficiência Mental; Especialização em Educação Especial e Deficiência Auditiva; Mestranda em
Educação Currículo pela PUC/SP.
E-mail: rosemeirejangrossi@terra.com.br

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ensino ter boa base de conhecimento, a fim de que possa realizar seu trabalho de maneira mais
eficiente. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, buscando compreender o que
outros autores já disseram acerca do tema.

Palavras-Chave: Educação; Formação; Escola.

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INTRODUÇÃO é o local primoroso e processual, capaz de


promover o desenvolvimento humano,
Nos tempos atuais a educação escolar passa conduzindo-o ao desempenho ativo à
por uma série de contrassensos e desafios, poistransformação ou passivo ao acatamento.
apesar de ter surgido como instituição de É no ambiente escolar que a educação pode
promoção do desenvolvimento humano para propiciar a pessoa a formação de conceitos com
uma melhor vida pessoal e em sociedade foi ideais de liberdade, igualdade, participação e
mantida por muitos tempos pela classe pertencimento social, que se reconhece como
dominante e de forma mandatória, com ser autônomo, cidadão de direitos, motivando
objetivos determinantes para atender e mobilizando as condições indispensáveis para
demandas sociais, econômicas e políticas, o seu ativo e responsável papel como membro
formando pessoas passivas e subalternas. da sociedade. Contudo esta mesma escola
Ocorre também, desde os tempos mais também pode inverter os objetivos de uma
remotos, um grande cenário de batalhas, lutas educação para a cidadania, desrespeitando a
indagações e indignações em busca contínua identidade do aluno, impedindo a construção
pela mudança desta condição de dominação de melhorias para manter-se como uma
social. máquina que funciona para atender aos
O ambiente escolar, espaço legitimo e interesses dominantes.
repleto de possibilidades para a transformação Entendendo que a educação é um
da vida humana e da sociedade, grandes instrumento de progresso e melhorias, devido
movimentos para a manutenção da dominação a sua capacidade de promover mudanças
ou emancipação acontecem sociais, culturais e econômicas na vida das
concomitantemente. O professor é um dos pessoas e na sociedade, entendemos também
profissionais de maior proeminência neste que é no espaço escolar que este prodigioso
cenário, pois é quem no dia a dia está ao lado desenvolvimento pode efetivar-se, pois é na
dos alunos, direcionando e influenciando os instituição escolar que se encontra o centro do
processos de desenvolvimento econhecimento, capaz de mover e transformar a
aprendizagem, a ele é indispensável uma realidade.
formação crítica e humanizada, com clareza
cultural e social sobre para que e a serviço de
1. A ESCOLA E SUA FUNÇÃO
quem está o trabalho educacional que realiza.
A vida social limitada pela dominação ou SOCIAL, O TRABALHO E A
motivada para a transformação possui uma DEMOCRATIZAÇÃO DO
relação totalmente intrínseca entre a educação
escolar, a sociedade e o mundo do trabalho,
CONHECIMENTO
pois é por meio do trabalho na sociedade que o Na atualidade a educação escolar passa por
homem se estabelece e se constitui como amplos contrassensos e incoerências quanto ao
pessoa, tornando-se capaz de prover seu papel na formação e desenvolvimento do
transformações para si e na sociedade. A escola aluno e na sua função social.

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Até a Idade Média a educação era somente organizando-a com ensino limitado para os
oferecida no seio das famílias, e o trabalho filhos das pessoas das camadas populares,
educativo destinado exclusivamente aos filhos oferecida em escolas públicas pouco
abastados. A escola para todos pública e instrumentalizadas e mal preparadas, e com
gratuita surgiu por volta do século XVII, após uma formação ampliada oferecida em escolas
um conjunto de mudanças originadas pela particulares, bem estruturadas para os filhos
ruptura do modelo social feudal, que possuía das pessoas das camadas sociais de maior
uma economia predominantemente rural com poder aquisitivo.
pouco movimento comercial, para um modo A escola submetida ao domínio estatal não
capitalista de produção que fez surgir o modelo foi sistematizada para a propagação de
industrial com o trabalho assalariado. A conhecimentos e preparação do aluno para a
sociedade feudal fechada reestruturou-se em criticidade, superação de desafios e
torno do Estado moderno com novas classes transformação social, foi regulada deste o
sociais. currículo, administração e funcionamento a
Com a estabilização das relações sociais e a preparar alunos para a manutenção do sistema
propriedade privada gerando riquezas no meio de produção capitalista dominante, mal
social para o Estado por meio de impostos, instruídos e despreparados para a oposição
tornou-se possível a efetivação e financiamento social dominante.
de políticas públicas fundamentais, dentre as Embora tenha sido idealizada para a
quais a educação, visando inclusive o equilíbrio promoção do desenvolvimento pessoal e social
social para a continuidade do desenvolvimento do aluno, visando instrumentalizá-lo e prepará-
do capital. Nesse contexto foi estabelecida a lo para o exercício consciente da cidadania, a
escola para o povo. escola reproduziu e intensificou a divisão social.
A função da escola é formar o aluno por Com investimentos cada vez mais intensos e
inteiro, de corpo e alma, por meio de efetivos no capital, por meio da produção que
informações uteis, oferecendo-lhes os gera riquezas e poder, o modo de produção
conhecimentos necessários a vida cidadã, seja capitalista evoluiu, passando a exigir cada vez
qual for sua profissão. mais trabalhadores especialistas, permitindo
À escolarização foi atribuída a função de que o capital se apropriasse das habilidades e
promover o pleno desenvolvimento do aluno, do conhecimento, e passasse a servir quase que
em seus aspectos físicos e cognitivos, sua exclusivamente a seus interesses.
participação e inserção social para o exercício Os meios de produção capitalista foram
da cidadania, gerando o bem-estar e realização radicalmente afetados pelo surgimento,
pessoal. inserção e mudanças decorrentes das
Apesar da grandeza deste ideal conquistado transformações tecnológicas, que integraram a
após muitas lutas e batalhas, o Estado moderno produção de atividades menos burocráticas,
instituiu a escola e efetivou de forma velada o com menor tempo de fabricação, maior
objetivo de usá-la como um importante produção e comercialização. Essas mudanças
aparelho para civilizar e controlar o povo, tecnológicas difundiram rápida e amplamente o

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conhecimento, a comunicação e o somente o cidadão ativo tem em si essa visão e,


processamento de informações, produzindo por isso mesmo, ele não se cala diante dos
impactos nas diferentes áreas sociais. desafios, mas se faz ouvir exigindo o que lhe é
No contexto da sociedade do conhecimento direito e oferecendo o que lhe é dever.
e da informação, a formação escolar necessária Já por diversidade pode-se pensar na
passou a incluir e valorizar habilidades multiculturalidade presente na sociedade
intelectuais no desenvolvimento do aluno, com brasileira e que carece de conviver de modo
capacidade para processar informações, tomar mais ou menos harmônico. Para tanto o
decisões, exercer liderança e executar novas respeito é o azeite que permite às diferenças
tarefas. E é por este motivo que se faz relacionar-se entre si, extraindo dessa relação a
imprescindível e necessária a reconstrução do essência para o seu próprio crescimento e
sistema educacional, que prepare os alunos desenvolvimento.
para se tornarem ao mesmo tempo um Na mesma direção, Sacristan (1999), afirma
especialista e um generalista, munido de que “a educação é um motor de transformação
conhecimentos e habilidades para o exercício pessoal, cultural, econômico ou de progresso
do seu trabalho. em geral.” Ou seja, ela está na base de toda
atividade humana, realizando as
2. A FORMAÇÃO PARA A transformações necessárias à evolução do
cidadão, de sua cultura e de suas tecnologias.
CIDADANIA E A DIVERSIDADE Sem ela não são possíveis tais evoluções a não
É um discurso corrente o de que o ensino ser de maneira muito lenta, o que não
formal oferecido pela escola visa, em primeira permitiria o desenvolvimento satisfatório.
instância, à formação para a cidadania e à Nesse particular a educação atua como
diversidade; contudo, há que se perguntar se acelerador já que ao capacitar o homem
isso ocorre de fato ou se continua apenas no tecnologicamente, seja no campo do
plano da teoria. Para constatar tal resposta é pensamento abstrato, seja no da técnica
necessário lançar um olhar para a realidade do propriamente dita, ela desbrava novos
ensino e indagar, dos que formulam as políticas horizontes de possibilidades.
educacionais, o que vem a ser formação para Também nesse sentido, a diversidade pode
cidadania e diversidade. ser tomada como uma capacidade que o
A título de explanação sobre a formação para homem dotado de saberes tem de atuar em
a cidadania, podemos observar o que afirma ambientes diferentes e conviver com visões de
Nadal (p.32), “a escola tem a função social de mundo distintas dos suas, agindo de maneira
garantir uma formação básica, também o papel solidária com seu semelhante. Ao mesmo
de viabilizar a inserção crítica no mundo social tempo em que circula entre diferentes,
e do trabalho, numa perspectiva de aprende a recepcionar as críticas com
pertencimento e de solidariedade.” Nesse resiliência e a criticar com inteligência, na busca
sentido, a formação para a cidadania se pelo aperfeiçoamento tanto seu como de
condensa na expressão pertencimento, pois outrem.

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Segundo afirma Sacristan (1998), “a história, partícipe das transformações


diversidade entre os seres humanos ou entre necessárias na sociedade, cada um a seu modo.
grupos e a singularidade individual entre os Contudo, há que se ter em mente que o
sujeitos, a questão da diferença aparece como enaltecimento da diversidade não signifique a
uma dimensão que está sempre presente em manutenção da desigualdade, pois conforme
qualquer problema que abordemos em expressa Sacristan (2013).
educação.” Desse modo, não é possível falar Todas as desigualdades são diversidade,
sobre educação sem que essa temática venha à ainda nem toda a diversidade suponha
baila, porque a escola é o espaço por excelência desigualdade. Por isso, devemos estar atentos
da diversidade, do encontro dos diferentes e, ao facto de que, sob o chapéu da diversificação,
como tal, ela precisa, necessariamente, ser a não se esteja a encobrir a manutenção ou a
condutora do debate a partir de uma visão provocação da desigualdade. As políticas e as
integradora e inclusiva. práticas a favor da igualdade podem anular a
Por isso a escola, é o espaço adequado de diversidade. Quiçá as políticas e as práticas
onde deve emanar essa formação. É bem inspiradoras da diversidade consigam em
verdade que ela não é a única; mas, como lugar determinados casos, manter e fomentar
de debate e de encontro entre as diversas algumas desigualdades. (SACRISTAN, 2013, p.
ciências que permeiam a vida humana, ele se 70;71).
torna o palco onde discursam os grandes Assim a escola, ao construir o discurso da
pensadores, no qual se adquire os primeiros diversidade e da cidadania, precisa, em suas
rudimentos do conhecimento científico. práticas, deixar claro que não se pretende
O mesmo autor supracitado, ainda padronizar comportamentos e expressões
discorrendo acerca da diversidade, nota que culturais, mas sim, oportunizar que toda a
A diversidade determina a circunstância dos diversidade, seja ela nos campo dos sujeitos ou
sujeitos como seres distintos e diferentes (algo dos grupos, possa ser respeitada e ouvida na
que numa sociedade tolerante, liberal e sociedade, posto que ela mesma é a
democrática, é digno de ser respeitado). Por construtora dessa sociedade.
outro lado, faço ainda alusão de que a diferença
– nem sempre neutra – seja, na realidade 3. O QUE MOVE A AÇÃO
desigualdade, na medida em que as
singularidades dos sujeitos ou dos grupos lhes EDUCATIVA
permitam alcançar determinados objetivos O que move a educação? Esta é uma
dentro e fora das escolas, de forma desigual pergunta que deve ser feita constantemente
(SACRISTAN, 2013, p. 70). pelos profissionais da educação! Sobretudo
Isso implica dizer que a formação oferecida professores, que estão em uma das pontas do
nas escolas deve acolher as diferenças não para processo educacional, transformando
tentar criar uma padronização, mas para pensamentos e teorias em práticas cotidianas
potencializar cada indivíduo dentro de suas de ensino e ligando o sistema de educativo ao
capacidades, a que seja autônomo e ator de sua aluno na outra ponta. Como já citado, Sacristan

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(1999), afirma que “a educação é um motor de instituições e especialização dos agentes sociais
transformação pessoal, cultural, econômico ou envolvidos nas esferas do pensamento, da
de progresso em geral.” decisão e da ação na educação. De alguma
Porém, a ação educativa está mais do campo forma, o conteúdo da confrontação teoria-
da prática do professor na sua relação direta prática é delimitado a partir das percepções
com seu aluno, com seus colegas e com a entre os “teóricos” e os “Práticos”, dentro dos
comunidade. Nesse sentido, há que buscar a contextos respectivos nos quais uns e outros se
resposta a essa pergunta nessa relação, na qual desenvolvem e trabalham. O que resulta ser um
a teoria se faz matéria nas mãos do professor e problema complexo entre a ação e a
do aluno. Desse modo, antes de tudo, é compreensão tende a reduzir-se às relações
necessária a tomada de consciência de si e de dos dois, como se se fizesse a cada um deles
seu papel no processo educativo. possuidor de todo o conteúdo que cabe em
Nessa perspectiva, Freire (2006), afirma que: cada um dos termos da polaridade teoria-
A conscientização implica, pois, que prática: a prática é o que fazem os professores,
ultrapassemos a esfera espontânea de a teoria é o que fazem os filósofos, os
apreensão da realidade, para chegarmos a uma pensadores e os pesquisadores da educação.
esfera crítica na qual a realidade se dá como Essa suposição é claramente errônea: nem os
objeto cognoscível e na qual o homem assume primeiros são donos de toda a prática, nem os
uma posição epistemológica (FREIRE, 2006, p. segundos o são de todo o conhecimento que
30). orienta a educação (SACRISTAN, 1999, p. 21).
A partir dessa conscientização é que o Nesse sentido, a ação educativa precisa estar
professor e a escola passam a discutir seu papel voltada para a transformação da vida do aluno
e o que os levam a realizar as práticas que na medida em que lhe capacita a olhar
realizam. Assim, a ação educativa é movida pela criticamente para as necessidades sociais.
relação entre teoria e prática, mas não na É nesse mesmo sentido que Sacristan (1998),
simplicidade da expressão, muito ao contrário; afirma que:
tal expressão esconde em si um número muito a prática se entende como a atividade
grande de atores envolvidos e que não podem dirigida aos fins conscientes, como ação
ser ignorados ou alijados da reflexão. transformadora de uma realidade; como
Existe, contudo, uma forte tensão entre os atividade social, historicamente condicionada,
professores e os teóricos da educação, pois em dirigida à transformação do mundo; como a
dado momento parece haver uma disputa razão que fundamenta nossos saberes, o
sobre quem dirige quem. Porém, Sacristan critério para estabelecer sua verdade; como a
(1999), afirma que essa tensão é inútil, pois o fonte de conhecimentos verdadeiros; o motivo
que há é uma relação contributiva entre entes dos processos de justificação do conhecimento
interdependentes entre si. (SACRISTAN, 1998, p.33).
A localização onde se formula e se percebe o Como se observa, a ação educativa se pauta
encontro-desencontro de tal relação tem muito por uma intencionalidade, pois não é algo
a ver, então, com a divisão entre profissões, espontâneo, mas criado e planejado para que

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atinja um fim determinado. Daí a prática ofertada aos alunos. Desde então, essa
docente é dependente de uma série de fatores discussão tem tomado a atenção das
e atores que circulam a educação de maneira universidades que passaram a ver com
geral e pode ser percebido desde as atividades preocupação a qualidade do profissional que
políticas que decidem legislativamente, até o elas mesmas colocam no mercado a cada ano.
aluno que recebe e assimila os conteúdos De acordo com Feldmann (2009, p. 74), a
científicos. formação de professores na atual sociedade
Em suma, a ação educativa é resultado do mundial “é defrontar-se com a instabilidade e
esforço do pensamento teórico, mas também a provisoriedade do conhecimento, pois as
prática educativa alimenta esse mesmo esforço verdades científicas perderam o seu valor
teórico ambos têm limitações de alcance de absoluto na compreensão e interpretação de
maneira que assim como pensamento teórico diversos fenômenos.” Para a autora é muito
não consegue ir muito além sem a experiência difícil o processo de formação, existem
da prática, também está, sem a orientação elementos cuja articulação é muito custosa; nas
teórica perde-se porque lhe faltam as suas palavras “o problema da articulação entre
considerações das pesquisas e das discussões o pensar e o agir, entre a teoria e a prática,
políticas e filosóficas. configura-se como um dos grandes desafios
para a questão da formação de professores.
4. FORMAÇÃO DE Vivemos num tempo de incertezas e
inseguranças.”
PROFESSORES Isso quer dizer que a formação somente será
Sempre que se trata da ação educativa ou da eficiente se for permanente, pois do contrário
educação escolar o tema da formação docente ela pode cair numa cristalização permanente e
ressurge com recorrência nas pautas dos perder o rumo numa sociedade que muda com
pesquisadores e filósofos da educação. Apesar muita constância e rapidez. Justamente por
disso, esse é um assunto que até pouco tempo causa dessa rápida e constante transformação
despertava pouco interesse dos pensadores por a formação permanente permite o
diversos motivos, mas, sobretudo, porque não acompanhamento e a atualização do
raras vezes o foco do ensino estava no conhecimento.
conteúdo. Porém logo que esse foco se Quando sai da universidade o professor traz
deslocou do conteúdo para o aluno, passou-se consigo uma gama de conhecimento teórico
a pensar de maneira mais sistemática na básico, mas que perde parte de encanto tão
maneira como o professor era formado. logo ele entra na sala de aula e se depara com
O próprio professor começou a se preocupar uma realidade bastante distinta do que lhe foi
com a qualidade do ensino que deveria mostrado pela teoria. Assim se percebe que a
oferecer com sua pratica. A escola também, a formação inicial, por mais ampla que seja,
partir desse deslocamento do foco e com o sozinha, não consegue capacitar o profissional
processo de mercantilização do ensino passou por muito tempo, por esse motivo a formação
a preocupar-se com a qualidade da educação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

deve ser continuada, para acompanhar as que o diálogo seja construído para desenvolver
mudanças que ocorrem. a ação educativa como o local onde sujeitos são
Para Freire (2001), o ser humano é formados constantemente.
inacabado, por isso carece de se refazer Feldman (2009), também afirma que:
constantemente, nesse sentido ele afirma que: As investigações recentes nacionais e
A educação é permanente não porque certa internacionais sobre a formação de professores
linha ideológica ou certa posição política ou apontam a necessidade de tomar a prática
certo interesse econômico o exijam. A pedagógica como fonte de estudo e construção
educação é permanente na razão, de um lado, de conhecimento sobre os problemas
da finitude do ser humano, de outro, da educacionais, ao mesmo tempo que se
consciência que ele tem de sua finitude. Mais evidencia a inadequação do modelo
ainda, pelo fato de, ao longo da história, ter racionalista-instrumentalista em dar respostas
incorporado à sua natureza não apenas saber às dificuldades e angústias vividas pelos
que vivia, mas saber que sabia e, assim, saber professores no cotidiano escolar, embora seja
que podia saber mais. A educação e a formação esse o paradigma mais presente em nossas
permanente se fundem aí (FREIRE, 2001, p.12). escolas (FELDMANN, 2009, p.75).
Feldman (2009), também, discorrendo sobre Como se percebe o professor clama por
a formação de professores afirma que nunca é amparo nas salas de aula, porque não consegue
suficiente, mas sempre um fragmento a ser ver mais os frutos de seus esforços; nesse
completado. sentido as mudanças têm de tomar como
Uma tarefa inconclusa e perspectiva. É parâmetro a prática pedagógica para reflexões
sempre uma forma fractal de interrogar o acerca das necessárias mudanças, pois hoje se
mundo, perspectiva essa perpassada pelos vive numa sociedade muito complexa, na qual
nossos valores, concepções e ideologias. os valores éticos e morais estão fragmentados.
Entender esse ato é tomá-lo em sua Ao mesmo tempo, o discurso e a prática
concretude, em sua manifestação histórica, inclusivos, tão em voga, exigem do profissional
política e social. É sempre um processo um esforço maior no cumprimento de uma
relacional e contextual. Envolve relações entre tarefa para o qual ele não foi devidamente
as pessoas, projetos e processos que se preparado.
produzem mutuamente, contraditoriamente Dessa maneira, para que a escola ofereça
embasados na visão de homem, mundo uma formação para a cidadania e a diversidade,
sociedade (FELDMANN, 2009, p.72). conforme vimos no tópico anterior, o professor
Atualmente, o ensino que se oferece nas precisa de uma formação que lhe capacite a
escolas é muito diferente do que se oferecia há responder a realidade atual com segurança e
20 anos, de modo que a prática de 20 anos atrás conhecimento. Feldman (2009), lembra que “os
não serve mais para hoje, senão para orientar professores, em suas ações educativas, lidam
as necessárias mudanças. O multiculturalismo e com a apropriação do conhecimento
o interculturalismo é a nova visão que sistematizado, os significados, a cultura, a
influenciam o currículo e que dita o rumo para construção dos próprios saberes escolares e a

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dinâmica da própria organização do contexto


escolar.” Portanto, têm muito a dizer sobre as
reais necessidades de formação.
Na mesma linha, a autora discorre que:
o trabalho docente mostra-se um espaço
privilegiado para a compreensão das
transformações atuais do mundo do trabalho,
por se constituir em uma profissão de
interações humanas que objetiva mudar ou
melhorar a situação humana das pessoas, qual
seja, um trabalho interativo e reflexivo com as
pessoas, sobre as pessoas e para as pessoas
(FELDMANN, 2009, p.76).
Assim, esse trabalho deve ser sempre
considerado ao se pensar as políticas de
formação de professores, afinal aqueles que
conhecem as agruras da atividade em seu
cotidiano é o melhor conselheiro para os
processos de formação.
O ofício docente tem sido compreendido,
muitas vezes, apenas por sua dimensão técnica,
esquecendo-se que o professor não pode ser
entendido à margem de sua condição humana.
Não se pode discutir a ação do professor na
escola apenas pelo seu caráter instrumental,
desconsiderando-se a importância da sua
identidade pessoal e profissional no processo
educativo (FELDMANN, 2009, p.78).
O professor é um profissional que bem podia
ser chamado de completo, no sentido de que
ele, em sua prática educativa da sala de aula se
presta a múltiplos papeis, que transcendem o
de simples educador; como docente ele assume
muitas vezes o papel de pai, de psicólogo, de
conselheiro, de amigo e até de médico. Como
cientista e pesquisador sua matéria de trabalho
é a vida de pessoas que ele tem como maior
objetivo ajudar a transformar.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O olhar para a escola como ambiente legítimo de aprendizado, da constituição da pessoa
e de possibilidades para a transformação da vida em sociedade precisa perpassar os diversos
atores que ali se relacionam, e considerar os fazeres distintos que ali acontecem e têm influência
permanente na vida das pessoas.
Como espaço de encontro de diferentes a escola cumpre uma função social, a de
transformar a vida pessoas, fazendo-as compreender a importância do conhecimento na
construção social e para a compreensão do mundo do trabalho que transforma em bens os
esforços coletivos ou de grupos no intuito de que a riqueza cultural e mesmo econômica se um
valor social que constrói um mundo melhor. Também é função da escola realizar a
democratização do conhecimento ao passo que distribui estes como bens acumulados e dos quais
todos têm direito a uma porção generosa.
A formação para a cidadania e a diversidade é o objetivo principal da escola. O aluno que
passa por ela deve sair transformado em cidadão crítico, participativo, cumpridor de seus deveres
e exigente de seus direitos, portanto, apto para conviver em uma sociedade plural e diversa, na
qual os diferentes se encontram e se inter-relacionam para construir uma sociedade solidária e
harmônica.
A busca pelo que move a ação educativa é uma constante da ação do professor e da escola,
e esta como espaço do saber deve conhecer o que a impulsiona na sua prática e na prática de
seus professores, uma vez que o fazer educacional é uma tarefa realizada pela escola, professor,
alunos, e também pela comunidade que é participe, ainda que indiretamente dessa ação
educativa movida pela relação nem sempre harmônica da teoria e da prática.
A formação de professores é outra preocupação constante da escola, pois é alvo de
contínua cobrança pela eficiência na aplicação dos métodos de ensino e, portanto, pelos
resultados esperados pela sociedade que a mantem com os recursos necessários. O professor
bem formado terá melhores condições de oferecer um ensino de qualidade e fazer da escola um
verdadeiro ambiente de formação humana, um lugar de transformação de vidas e de encontro
com o conhecimento.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
FELDMANN, M.G. (org.). Questões Contemporâneas: Mundo do Trabalho e Democratização
do Conhecimento. In SEVERINO, A. J. E FAZENDA, I. Políticas Educacionais: O Ensino
Nacional em Questão. São Paulo: Papirus Editora, 2003.

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Paulo: Editora Senac, 2009.

FELDMANN e BRITO. Formando Pedagogos: uma arquitetura curricular diferenciada.


Revista e-Curriculum (PUCSP), V.2, 2011.

FELDMANN, M.G. (org.) Formação de Professores: Currículo, Contexto e Culturas. Curitiba,


Appris Editora, 2018.

FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

FREIRE, Paulo. Política e educação: ensaios. 5. Ed. São Paulo, Cortez, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2006.

SACRSITAN, José Gimeno. O Currículo Uma reflexão sobre a Prática. Artmed. Editora, 1998.

SACRSITAN, José Gimeno. Poderes Instáveis em Educação. Porto Alegre, Artmed


Editora,1999.

SACRSITAN, José Gimeno. Educar e Conviver na Cultura Global. Porto Alegre, Artmed
Editora,2003.

SACRSITAN, José Gimeno. A construção do discurso da diversidade e suas práticas. In


Paraskeva João M (org.). Educação e Poder Abordagens Críticas e pós estruturais. Edições
Pedagogo Portugal, 2013.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ESPAÇO ≠ AMBIENTE
Denise Emmett da Silva Leite1

RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar conceituais que indicam a diferença entre
espaço e ambientes e o potencial de cada um. Apontando locais de interação entre criança e
professor. E como tais agem em prol de uma possibilidade de território, dando a criança
pertencimento e voz. Explanando sobre ambos, ressaltando o espaço como álibi pra que se crie e
oportunize um ambiente democrático para as crianças.

Palavras-Chave: Espaço; ambiente; Potencialidade.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Docência Superior.
E-mail: denizesp1@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO á ela autonomia e garante o direito a aprender


e se desenvolver de forma integral.
Buscando entender a potência do espaço e Saí o espaço e surge um ambiente, e depois
do ambiente escolar na construção de da interação, criação, pertencimento, nascendo
territórios exploratórios para as crianças. E o que se denomina território do brincar, lugar
colocando o professor neste cenário como demarcado pela imaginação, criação, recriação,
também protagonista, na evidência de que o das falas, das expressões, dos conflitos, das
próprio não é só mediador e provedor de mediações.
aprendizagens. Ambientes devem ser vistos como local de
Tirando essa responsabilidade das produção, interação, integração, diversidade,
expectativas de aprendizado, o professor autonomia, equidade, humanização,
entendendo essa diferença entre espaço e protagonismo e escuta e ricos de
ambiente e as suas potencias serão de grande intencionalidade.
relevância para a produção de conteúdo
pedagógico, planejamento, registro e
ESPAÇO
observação.
No entendimento do que é espaço, temos
Percebendo sua importância dentro desse
que é uma extensão ideal, sem limites, que
espaço e a seu potencial na elaboração desse
contém todas as extensões finitas e todos os
ambiente, agindo como protagonista neste
corpos ou objetos existentes ou possíveis.
momento, na intencionalidade de possibilitar
Falando de um espaço de acolhimento infantil,
territórios para a criança e para o professor,
espaço é onde possam chegar, brincar,
pois a essência das interações é quando o
interagir, expressar-se, aprender, comer,
professor brinca junto com sua criança.
realizar as necessidades fisiológicas e até
Um espaço por si só sem criança e professor,
mesmo dormir.
não é local de potência e interação,
E dentro desse espaço denominado
pertencimento é apenas um espaço físico com
pedagógico, há também interversões humanas,
mobília, brinquedos, decoração e afins.
feitas por todos na unidade, desde a decoração,
Quando este espaço é preparado pelo
como a limpeza e manutenção estrutural, visto
professor com brinquedos, diferentes cantos,
que a estética do espaço é importante, mas não
possibilidades, esse espaço é transformado em
é o suficiente para garantir que seja acolhedor ,
ambiente pois foi potencializado pelo
e que cause tanto no professor como na criança
professor, portanto é protagonista. Quando sua
a sensação de nem estar e pertencimento.
criança entra em contato com esse ambiente e
Vejamos esse espaço físico como uma potência
na mediação do professor, eis que protagoniza
de ação pedagógica, e de construção de novos
essa criança, com liberdade de voz, de escuta e
territórios e ampliações dos que já existem
de criação e recriação.
dentro de cada criança.
A preparação desse ambiente é importante
Os espaços não são simples arranjos físicos,
salientar que com base da escuta da criança, da
são também arranjos conceituais e simbólicos,
constituem-se em campos semânticos nos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quais e com os quais aqueles que os habitam dos painéis, não se vê, por exemplo, E.V.A. (
estabelecem determinados tipos de relações, emborrachados), material tão comum nas
emoções, atitudes. Espaço é um elemento instituição de educação infantil( e tão frio, e tão
constitutivo do pensamento e, portanto, pobre!).
converte-se em ação pedagógica indireta, Reforçando com a fala de Ostetto referente
requerendo atenção. Dessa forma, os materiais as decorações dos espaços educativos que são
utilizados e as imagens pregadas nas paredes na verdade, repertórios visuais, estéticos e
de creches e pré-escolas não são neutros, revelam preferencias e concepções do
portam um discurso, contam, denotam leituras professor, quando na verdade é alvo dessa e
e modulam os modos de ver (CUNHA, 2005). preparação do espaço é da criança.
Para ser mais objetivo referente a campos
semânticos citado acima por Cunha (2005), AMBIENTE
literalmente é trabalhar os sentidos, visão,
O significado literal da palavra ambiente é
audição, tato, olfato e até o paladar são
um meio físico e social e envolve o ser humano
condicionados por uma dada configuração
e materiais. Revela-se um local de
espacial (HOYUELOS 2006).
potencialidade, no qual se propõe, como
O espaço físico não pode ser considerado um
estratégias: saber escutar, observar, responder,
espaço de interação sem a presença humana e
imitar, prolongar variar, complexificar, propor
suas intervenções. Quando há tais presenças, o
modificando o contexto segundo, afirma
espaço já fora preparado antes pelo educador,
Hoyuelos (2003 p. 121).
desde murais de E.V.A com personagens que
Segundo o enfoque de Reggio Emilio (2012),
fazem parte ou não do cotidiano da criança.
podemos criar diferentes zonas destinadas a
Mesmo sendo de sua cultura, não significa que
abarcar distintos interesses das crianças. Cria
aquele espaço pertence a criança, pode ser até
uma zona para ler cômoda para as crianças,
acolhedor, e é feito com toda boa intenção.
com luz, se possível natural, com almofadas e
Porem tem muito sentido para o professor e
com os livros situados a seu alcance. criar uma
nenhum para a criança.
zona de arte dramático, não faz falta que tenha
Pois não pertencimento, o que é sugerido de
muito espaço nem materiais, com uns quantos
acordo com o Currículo de São Paulo, é que se
retalhos de vários tipos de tecidos coloridos,
faca uma assembleia com as crianças e nela seja
alguma fantasia, roupa velha que já não
discutida de qual forma podemos decorar o
utilizamos, algum complemento como chapéu,
espaço e convida-los na seguinte fala: Como
colares etc. E umas pinturas para a cara será
podemos decorar o nosso espaço. Afirmando
suficiente. E tudo isso pode estar dentro de
Ostetto, a intencionalidade na montagem dos
uma caixa ou de um baú.
murais em exposição evidencia-se no tipo de
O ambiente na sua singularidade é onde
suporte e na forma adotada; tecidos, papelão,
acontece a democracia, e a preparação desse
plásticos transparente que admite a
ambiente com tais materiais, sugeridas pela
sobreposição de outros tantos materiais sem
proposta de Reggio Emilio (2012), é de fato cria
danificara pintura da parede na composição
um ambiente democrático.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para sondar e ter a certeza se este ambiente (2012 p. 113), que compartilhar a
é de fato democrático e apropriado, cabe a documentação representa participar de um
reflexão e observação, se este ambiente verdadeiro ato de democracia, dando suporte á
promove equidade, se é inclusivo e não só visibilidade e a cultura da infância, tanto dentro
falando de acessibilidade e afins, e se esse quanto fora da escola, participação
ambiente atende a criança de forma integral e democrática, ou “democracia participante” que
dá voz a ela. é resultado da troca e da visibilidade.
Não da pra falar de ambiente sem falar de
materialidade, os materiais são de suma
importância, e devem estar ligadas a intenção
do professor, mas sempre com o foco na escuta
das crianças. E decorações dos espaços
educativos são, na verdade, repertórios visuais,
estéticos e revelam preferencias e concepções
do professor, quando na verdade é alvo dessa
decoração e preparação do espaço é da criança.
Como afirma Cunha (2005), dessa forma, os
materiais utilizados e as imagens pregadas nas
paredes de creches e pré-escolas não são
neutros, portam um discurso, contam histórias
e tal um texto visual, denotam leituras e
modulam os modos de ver.
E a proposta de um ambiente com
pertencimento é quando a criança tem suas
criações em evidência, e que se possibilita as
interações e integrações, que a criança faça
aquilo que ela ainda não consegue sozinha.
Ambiente são aspectos mais subjetivos, locais
onde as atividades são realizadas, as relações
que ne se estabelecem, local onde há interação,
integração, é onde há vida, inclusive com os
materiais.
Este ambiente todo trabalhado na escuta da
criança facilita para o professor registrar e
documentar toda essa ação de envolvimento e
desenvolvimento , e também a importância de
compartilhar as produções em murais externos
, para que outras crianças de outras faixas
etárias possam vivenciar , como afirma Rinaldi

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ampliando a concepção sobre espaço escolar podemos ver que é o princípio e pode ou não
ganhar significado, precisando do professor como protagonista e não como mediador, pois só
espaço sem pessoas não acontecem interações, diálogos. E que nesse primeiro momento o
espaço precisa do professor protagonista, na preparação, na escolha de materiais, na disposição
dos cantos e ate mesmo na decoração estética da sala. E que a ação de protagonizar é uma ação
em conjunta entre espaço, professor e escuta. Sim de escuta, quando a criança tem na sala suas
criações e expressões criativas este espaço é protagonizado pela criança e pelo professor pois
deixou de lado suas preferencias decorativas pra atender a criança e o direto de pertencimento
daquele espaço, garantindo a cultura da infância a qual tanto ouvimos falar.
Quando partimos para a transformação desse espaço todo potencializado, rico de
intencionalidade em ambiente , é visto e notado claramente que a criança transforma em
territórios de brincar, inventar, de falar e se escutado, dialogar com o ambiente, com o material.
Claro que não deixa de ser também um ambiente propicio a conflitos , disputa de brinquedo e
espaço . Neste caso o professor entra como mediador, pois se pensamos no professor só como
mediador, deixa pra traz toda uma essência e mérito a qual deve dado. A proposta é que o
professor apareça como protagonista e depois mediador, pois é nesse ambiente democrático que
o professor dará a primeira vivencia da criança ao que é democracia. A potência do ambiente está
em transforma-lo em mais que um espaço para brincar, e sim espaço onde aconteça democracia.
E como isso acontece, nos territórios estabelecidos pelas crianças sempre a outra criança
querendo entrar neste território e nem sempre é aceita, e quando o professor entra como
mediador para estabelecer um acordo democrático entre ambos. Procurando estabelecer um
diálogo entre crianças e professor, para que se chegue ao um consenso e a criança entenda que
ali é um ambiente democrático e que é direito de todos e que esse território irá ficar muito melhor
quando é compartilhado.
Considerando que a educação fundamentada em valores, princípios, explicitam uma
intencionalidade e que é deve ser movida por integração, diversidade, autonomia, equidade,
humanização, protagonismo (professor-aluno) e escuta. Nesta linha de pensamento o ambiente
democrático é o caminho para ser alcançar uma educação para equidade, inclusiva e integral.

1037
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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ação, v.13 n.1, Jan-Jun Santa Cruz, pp 133-149.

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criança. Porto Alegre: Artmed, 1999 (p.159-176).

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Tese de Doutorado. Capinas: Faculdade de Educação da Unicamp.

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In: OSTETTO, L. E. (Org.) Educação infantil: saberes e fazeres da formação de professores.
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pedagógica. Campinas: Papirus, 2017.

RINALDI, C. Diálogos com Reggio Emilia: escutar, investigar e aprender. São Paulo: Paz e
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relazione. Reggio Emilia: Reggio Children pp 114-120.

1038
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ESTRATÉGIAS E MANEJOS EDUCACIONAIS EM


CRIANÇAS COM TRANSTORNOS DO ESPECTRO
DO AUTISMO
Tamara Cristina Pellini1

RESUMO: Intencionamos ao escrever esse artigo auxiliar estudantes, professores, pais e


interessados em compreender as funções do psicopedagogo e em autismo. No século XIX, na
França, estudiosos pesquisavam acerca das dificuldades de aprendizagem e as metodologias
educacionais envolvidas. Logo, percebem que as diversas áreas da ciência podem ajudar a
identificar, analisar, elaborar métodos e tratar as dificuldades de aprendizagem. O autismo é um
distúrbio do desenvolvimento humano que intriga e angustia famílias, educadores e especialistas
e suas causas são desconhecidas.

Palavras-Chave: Educação; Autismo; Psicopedagogo.

1Professora de Ensino Fundamental I na Rede Municipal de Presidente Prudente.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia, Especialização em Educação
Especial; Especialização em Letramento.
E-mail:tamarapellini@hotmail.com

1039
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO comportamentos, mediar ações, compreender


e assimilar o processo de desenvolvimento
A inclusão de crianças com autismo, o desse indivíduo, com interação com a
trabalho pedagógico, o ambiente escolar, e a sociedade conforme suas condições e
prática educacional, pode ser compreendida limitações num relacionamento com um
como parceria no processo de aprendizagem mundo diferente do seu. A partir do momento
dos alunos com Transtorno do Espectro do em que se entendem e percebem a grande
Autismo (TEA) que apresentam dificuldades de relevância do papel fundamental do
aprendizagem. Precisamos primeiramente psicopedagogo no desenvolvimento em todos
considerar que a sala de aula precisa ser os aspectos dos estudantes, hipóteses são
organizada para conseguir atender às construídas e permitem aceitar novos desafios.
necessidades desses estudantes. Tais Compreendermos que esse trabalho
informações devem ser repassadas aos demanda ramificações e pode difundir em
professores por profissionais que possuem caráter preventivo, clínico, terapêutico ou de
habilidades em trabalhar com autistas. treinamento, o que amplia a importância desse
Sendo uma área de conhecimento profissional dentro do próprio ambiente
interdisciplinar, ou seja, tem como objetivo de escolar. Pode-se então refletir sobre a atual
estudo, fazer-se a compreensão do dinâmica do processo ensino-aprendizagem
desenvolvimento do aluno. Assim, é função como uma tarefa que deve fazer parte do
desse profissional é auxiliar o professor com planejamento diário de todos os professores
ferramentas que potencialize e atenda às que estão envolvidos no conjunto de
necessidades do estudante que apresenta indagações sobre a prática metodológica
dificuldades em seu processo de aprendizagem. relativo ao futuro do sistema de ensino
Por ser um profissional de investigação na educacional em nosso país.
relação da criança com a aprendizagem e suas Objetivamos refletir sobre o comportamento
dificuldades, ele identifica e atua nas causas autista e como os professores são auxiliados no
que promovem esse insucesso, orientando os ambiente escolar, bem como analisar as
profissionais envolvidos com a criança e seus contribuições que os professores pode oferecer
familiares, tornando a vida dessa criança mais aos estudantes autistas na aquisição da
saudável. Compete ao psicopedagogo conhecer aprendizagem, no desenvolvimento da
as características da criança com o (TEA), para autoestima e na formação da personalidade.
que este tenha condições de planejar uma Sabendo sobre o crescente índice de fracasso
intervenção que venha atingir as necessidades escolar, bem como todos os fatores que
e os aspectos afetivos, cognitivos e contribuem para as dificuldades da
comportamentais. Tendo o psicopedagogo o funcionalidade de formar bons alunos,
papel de intervenção e de interferência, pensantes, críticos, indagadores e conscientes
tratando da causa, a intervenção do do seu papel em sociedade, levantamos a
psicopedagogo nos estudantes que apresentam seguinte questão: como mudar essa realidade
(TEA), tem o objetivo de orientar

1040
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sobre as péssimas condições que formamos dias de vida, embora alguns pais relatem que a
nossos alunos? criança passou por algum período de
normalidade antes de manifestarem os
AUTISMO OU TRANSTORNO sintomas. O guia prático do AMA, 2007, p. 22
(Associação de Amigos do Autista) apresenta a
DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) definição do autismo como um distúrbio do
Mello (2007), a autora descreve que o comportamento que apresenta as dificuldades
autismo foi detalhado pela primeira vez em de comunicação, de socialização e de
1943 pelo Dr. Léo Kanner (médico austríaco). imaginação.
em seu artigo, o médico refere-se a autísticos O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
do contato afetivo e descreve onze casos, em é uma condição geral para um grupo de
1944 Hans Asperger, escreve um outro artigo desordens complexas do desenvolvimento do
com o título psicopatologia autística da cérebro, antes, durante ou logo após o
infância, descrevendo crianças com nascimento. Esses distúrbios se caracterizam
comportamentos semelhantes às descritas pelo pela dificuldade na comunicação social e
dr. Kanner. hoje Kanner e Asperger são os comportamentos repetitivos. Embora todas as
responsáveis pela identificação do autismo. pessoas com TEA partilhem essas dificuldades,
segundo Mello (2007, p. 18), a definição de o seu estado irá afetá-las com intensidades
autismo é: diferentes. Assim, essas diferenças podem
Autismo é um distúrbio do desenvolvimento existir desde o nascimento e serem óbvias para
que se caracteriza por alterações presentes todos; ou podem ser mais sutis e tornarem-se
desde a idade muito precoce, tipicamente mais visíveis ao longo do desenvolvimento.
antes dos três anos de idade, com impacto O autismo é uma condição permanente, a
múltiplo e variável em áreas nobres do criança nasce com autismo e torna-se um
desenvolvimento humano como as áreas de adulto com autismo. Assim como qualquer ser
comunicação, interação social, aprendizado e humano, cada pessoa com autismo é única e
capacidade de adaptação(MELLO, 2007, p. 18). todas podem aprender. As pessoas com
Estudos recentes apontam que o autismo autismo podem ter alguma forma de
seria quatro vezes mais frequentes em crianças sensibilidade sensorial. Isto pode ocorrer em
do sexo masculino e que podem afetar famílias um ou em mais dos cinco sentidos – visão,
de diferentes raças, crenças e classes sociais e audição, olfato, tato e paladar – que podem ser
suas causas são desconhecidas, Mello(2017), mais ou menos intensificados. Por exemplo,
acredita que a origem esteja em anormalidades uma pessoa com autismo pode achar
em alguma parte do cérebro ainda não definida determinados sons de fundo, que outras
de forma conclusiva e provavelmente de pessoas ignorariam, insuportavelmente
origem genética. A autora reforça que barulhentos. Isto pode causar ansiedade ou
hipóteses sobre rejeição materna foi mesmo dor física. Alguns indivíduos que são
descartada há tempos pelos especialistas. O sub sensíveis podem não sentir dor ou
autismo pode se manifestar desde os primeiros temperaturas extremas. Algumas podem

1041
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

balançar rodar ou agitar as mãos para criar neurônios. Outros, ainda, determinam a
sensação, ou para ajudar com o balanço e gravidade dos sintomas. Quanto aos fatores
postura ou para lidar com o stress ou ainda, externos que possam contribuir para o
para demonstrar alegria. surgimento do transtorno estão a poluição do
ar, complicações durante a gravidez, infecções
AS CAUSAS DO AUTISMO causadas por vírus, alterações no trato
digestório, contaminação por mercúrio e
O autismo é um transtorno de
sensibilidade a vacinas (VINOCUR,2016,s.p).
desenvolvimento que geralmente aparece nos
A American Academy of Pediatrics e The
três primeiros anos de vida e compromete as
Institute of Medicine dos EUA (VINOCUR,
habilidades de comunicação e interação social.
2016), concordam que nenhuma vacina ou
Em 2013 foi lançada a quinta edição do manual
componente dela é responsável pelo número
diagnóstico e estatístico de transtornos
de crianças que atualmente são diagnosticadas
mentais (DSM-V). Nesse manual, o autismo,
com autismo. Eles concluíram que os benefícios
assim como a Síndrome de Asperger foi
das vacinas são maiores do que os riscos. A
incorporado a um novo termo médico,
autora relata que a maioria dos pais de crianças
chamado de Transtorno do Espectro do
com autismo suspeita que algo está errado
Autismo (TEA). Com essa nova definição, a
antes de a criança completar 18 meses de idade
síndrome de Asperger passa a ser considerada,
e busca ajuda antes que ela chegue a idade de
portanto, uma forma mais branda de autismo.
2 anos e ainda aponta que as crianças com
Dessa forma, os pacientes são diagnosticados
autismo normalmente têm dificuldade em
apenas em graus de comprometimento e o
brincar de faz de conta, interações sociais e
diagnóstico fica mais completo. Vinocur (2016).
comunicação verbal e não verbal e outras
As causas do autismo ainda são
crianças com autismo parecem normais antes
desconhecidas, mas a pesquisa na área é cada
de um ou dois anos, mas de repente "regridem"
vez mais intensa. Provavelmente, há uma
e perdem as habilidades linguísticas ou sociais
combinação de fatores que levam ao autismo.
que adquiriram anteriormente. Esse tipo de
Sabe-se que a genética e agentes externos
autismo é chamado de autismo regressivo.
desempenham um papel chave nas causas do
transtorno. De acordo com a Associação
Médica Americana, as chances de uma criança AUTISMO E ESCOLA
desenvolver autismo por causa da herança A escola deve acolher todas as crianças,
genética é de 50%, sendo que a outra metade independentemente de suas condições sociais,
dos casos pode corresponder a fatores físicas, emocionais, intelectuais, etc.
exógenos, como o ambiente de criação. De Assegurando condições de acesso,
qualquer maneira, muitos genes parecem estar aprendizagem, participação de todos os
envolvidos nas causas do autismo. Alguns estudantes, em um espaço que reconheça e
tornam as crianças mais suscetíveis ao valoriza as diferenças de cada um. Santos
transtorno, outros afetam o desenvolvimento (2008), afirma que a escola tem um papel
do cérebro e a comunicação entre os importante na investigação diagnóstica, uma

1042
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

vez que é o primeiro lugar de interação social O atual modelo educacional está ancorado
da criança separada de seus familiares. A escola na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
é o espaço em que a criança vai ter maior Nacional, sancionada pelo então presidente
dificuldade em se adaptar às regras sociais, o Fernando Henrique Cardoso, baseada no
que é muito difícil para um autista. princípio do direito universal à educação para
Conforme Santos (2008): todos, nela veio à inclusão da educação infantil,
A escola recebe uma criança com básica e educação especial. Descrito no
dificuldades em se relacionar, seguir regras Capítulo V, Educação Especial, nele fica
sociais e se adaptar ao novo ambiente. Esse explícito sobre a inclusão de alunos com de
comportamento é logo confundido com falta de necessidades especiais, serviços de apoio,
educação e limite. E por falta de conhecimento, desde zero a seis anos de vida na educação
alguns profissionais da educação não sabem infantil, assegurando a todos os educandos com
reconhecer e identificar as características de necessidades especiais: currículos, métodos,
um autista, principalmente os de alto técnicas, recursos educativos e organização
funcionamento, com grau baixo de específica, para atender às suas necessidades,
comprometimento. Os profissionais da os professores deverão estar capacitados para
educação não são preparados para lidar com a integração desses educandos nas classes
crianças autistas e a escassez de bibliografias comuns, acesso igualitário aos benefícios dos
apropriadas dificulta o acesso à informação na programas sociais suplementares disponíveis
área (SANTOS, 2008, p. 9). para o respectivo nível do ensino regular.
É de responsabilidade do professor a atenção Parágrafo único. O Poder Público adotará
especial e a sensibilização dos alunos e dos como alternativa preferencial, a ampliação do
envolvidos para saberem quem são e como se atendimento aos educandos com necessidades
comportam esses alunos autistas. Santos especiais na própria rede pública regular de
(2008), ainda alerta que o autista pode ensino, independentemente do apoio às
apresentar uma reação violenta ao ser instituições previstas neste artigo
submetido ao excesso de pressão, no entanto (BRASIL,1996, s.p).
se o programa de aprendizagem está sendo Com base na lei LDBEN de 1996, trabalha-se
positivo ou se há necessidade de realizar com a inclusão escolar tratando-se de um
alguma mudança. É utilizado no Brasil um processo de questionamentos e revisão de
método de ensino com o objetivo de atender as postura e prática no ambiente escolar, para
necessidades do autista utilizando as melhores garantir o acesso, permanência e o sucesso do
abordagens e métodos disponíveis, é o método aluno com necessidades educacionais especiais
TEACCH, sendo um grande aliado do professor na sala de aula do ensino regular é preciso que
que busca eficiência e eficácia no processo de os professores estejam capacitados a lidar com
aprendizagem de seu aluno autista, pois esses estudantes. Na escola inclusiva deverá ser
trabalha com o autista e toda a sociedade que garantida ao aluno a qualidade de ensino
o envolve. educacional reconhecendo e respeitando a
diversidade e respondendo a cada um de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

acordo com suas potencialidades e a escola, o aprendizado escolar é elemento


necessidades (ARANHA, 2004, p.26). central no seu desenvolvimento (OLIVEIRA,
Há algumas diferenças na educação inclusiva 1993, p. 61; 62). Com os métodos mais usuais,
e inclusão total, na educação inclusiva a escola tipos de intervenção e abordagens de educação
tem a função de promover o desenvolvimento especializada em crianças diagnosticadas com
pleno de habilidades e conhecimentos, já na Transtorno do Espectro do Autismo existentes
inclusão total é de garantir que os alunos atualmente, como por exemplo, o TEACCH -
desenvolvam suas habilidades de socialização e Tratamento e educação para crianças com
mudar a visão estereotipada sobre a autismo e com distúrbios correlatos da
deficiência. Segundo as Diretrizes Nacionais comunicação, ABA - Análise aplicada do
para a Educação Especial na Educação Básica comportamento ou o PECS - Sistema de
(apud, Brasil, 2001, p. 55), as escolas especiais comunicação por meio da troca de figuras,
que oferecem atendimento educacional para Mello (2007), geralmente faz-se de forma inicial
alunos que necessitam de atenção um processo de avaliação a fim de estabelecer
individualizada no que se refere à vida quais métodos mais usuais deverão ser
autônoma e social, tem que se capacitarem utilizados para se chegar aos objetivos
para oferecer as flexibilizações e adaptações almejados de acordo com o desenvolvimento
mencionadas anteriormente. O benefício dessa da criança.
inclusão é de que a convivência com alunos com O método TEACCH foi desenvolvido na
deficiência com alunos saudáveis podendo década de sessenta no Departamento de
assim desenvolver a compreensão, o respeito e Psiquiatria da Faculdade de Medicina na
aprender a considerar como naturais às Universidade da Carolina do Norte, nos Estados
semelhanças e as diferenças entre os indivíduos Unidos, representando, na prática, a resposta
do governo ao movimento crescente dos pais
O MÉTODO TEACCH que reclamavam da falta de atendimento
educacional para as crianças com autismo na
A educação pode ser considerada uma das
Carolina do Norte e nos Estados Unidos. O
maiores ferramentas que visa orientar crianças
método foi implantado em salas especiais em
diagnosticadas com Transtorno do Espectro do
um número muito grande de escolas públicas
Autismo, senão a maior delas (MELLO, 2007),
daquele país. A implantação do método se deu
assim, tanto em crianças sem o diagnóstico
com tal empenho, tanto dos professores
como em crianças com ele, a educação terá o
quanto do Centro TEACCH da Carolina do
papel de contribuir para a construção de seus
Norte, que permitiu que esse
projetos de vida e também para os projetos da
método fosse sendo aperfeiçoado por meio
sociedade em que estão inseridas.
do intercâmbio permanente entre a teoria do
Se o aprendizado impulsiona o
Centro e a prática nas salas de aula.
desenvolvimento, então a escola tem um papel
O ponto de partida foi o estabelecimento de
essencial na construção do ser psicológico
uma visão realista dessa criança, a princípio
adulto dos indivíduos que vivem em sociedades
muito inteligente, mas “fechada em uma
escolarizadas. [...] Para a criança que frequenta

1044
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

redoma de vidro”, isto é, incomunicável por Horizonte em Porto Alegre, Rio Grande do Sul e
decisão dela própria. Em 1967, quando os vem sendo ampliada para outros estados. A
testes foram iniciados em crianças com pratica consiste em metas definidas e áreas de
expectativas mais baixas, constatou-se que na atuação, buscando respostas. O programa
maioria dos casos que posteriormente foram também desenvolveu escalar para a avaliação e
identificados como pertencentes ao autismo diagnóstico do autismo infantil que colaboram
estavam presentes dificuldades reais de em identificar crianças com autismo, classificar
aprendizagem e de comunicação que o nível de acometimento e viabilizar o plano
precisavam ser levadas em conta nas salas de terapêutico. São utilizados recursos variados,
aula. O objetivo é promover adaptação de cada como os estímulos visuais, fotos, cartões e
indivíduo de duas maneiras, melhorar as figuras, estímulos corporais, movimentação
habilidades para viver e aceitar essa deficiência. corporal, gestos, estímulos áudio-sinestésico-
O método TEACCH utiliza uma avaliação visuais, palavras, som, movimentos associados
denominada PEP-R (Perfil Psicoeducacional às imagens. As estratégias de trabalho e
Revisado) para avaliar a criança e determinar atendimento têm como objetivo:
seus pontos fortes e de maior interesse, e suas Conforme Schwartzman (1995), propiciar um
dificuldades, e, a partir desses pontos, montar desenvolvimento adequado e compatível com
um programa individualizado e se baseia na as potencialidades de cada indivíduo e com sua
adaptação do ambiente para facilitar a faixa etária; funcionalidade.
compreensão da criança em relação a seu local Por intermédio de uma compreensão
de trabalho e ao que se espera dela. Por aprofundada, das ferramentas que lhe serão
intermédio da organização do ambiente e das possibilitadas, o professor poderá adaptar as
tarefas de cada aluno, o TEACCH visa o ideias e recursos disponíveis, sendo
desenvolvimento da independência do aluno fundamental que capacitações sejam
de forma que ele precise do professor para o oferecidas pela rede de ensino.
aprendizado de atividades novas, porém
possibilitando-lhe ocupar grande parte de seu MANEJO COMPORTAMENTAL
tempo de forma independente. Partindo do
ponto de vista de uma compreensão mais EM SALA DE AULA
aprofundada do estudante e das ferramentas Devemos nos atentar, de que não basta
de que o professor dispõe para lhe dar apoio, colocar a criança diagnosticada com transtorno
cada professor pode adaptar as ideias gerais do espectro do autismo em uma escola regular
que lhe serão oferecidas ao espaço de sala de e pensar que ela naturalmente irá apresentar
aula e aos recursos disponíveis, e até mesmo às melhoras significativas, uma vez que devemos
características de sua própria personalidade, levar em conta suas limitações e em especial a
desde que, é claro, compreenda e respeite as sua preparação para essa inclusão. estudantes
características próprias de seus alunos. com (TEA) apresentam dificuldades de
No Brasil a utilização do método iniciou em linguagem, interação social, interesses restritos
março de 1991, no centro TEACCH Novo etc. a participação desses nas diversas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

atividades deve acontecer sempre respeitando quando um comportamento inadequado


suas singularidades e escolhas. no guia de ocorrer, é importante entender, analisar a
orientações para professores, Khoury (2014), função desse comportamento, o que ocorreu
traz orientações que podem colaborar com a antes e depois desse comportamento,
adaptação, convívio social e a participação em utilizando elogios, recompensas e agrados
atividades propostas em sala de aula: sempre que após a ocorrência de um
Uso de instruções claras, diretas e simples comportamento adequado. Os currículos com
para cada tarefa; Uso de estímulos visuais para (TEA) que têm deficiência intelectual precisam
o estabelecimento de rotina e instruções; que seus currículos possuam as metas da escola
Ensino de comportamentos de obediência a para a idade e o ano escolar, em que a crianças
regras; Ensino de comportamentos de esteja frequentando, sendo essencial o uso de
solicitação; Estímulos ao desenvolvimento da dicas textuais, auditivas, gestuais e textuais.
autonomia e da independência; Uso de Conforme Khoury (2014):
avaliação da funcionalidade do Dificuldade de relacionamentos; humor
comportamento; Utilização de reforçamento oscilante, Dificuldade de interagir com o outro;
positivo para modificação de comportamento; pobre contato visual; não processa ou não
Alunos com TEA que têm deficiência intelectual entende os significados das mensagens e sinais
precisam de currículos adaptados dos outros; Não consegue prever planos;
(sobrepostos)( KHOURY, 2014,p.43). Apresenta dificuldades para funcionar em
O professor ao dar os comandos a seus grupos etc (KHOURY, p. 47, 2014).
alunos como, abrir o caderno, copiar, ler os Ao levar em conta todas ou algumas das
enunciados e responder o que se pede, pode dificuldades citadas acima, é possível
causar ao estudante autista problemas em compreender as dificuldades de uma criança
entender e realizar várias instruções ao mesmo autista em prestar atenção e aprender da
tempo, chegando a não obter sucesso com o mesma maneira que uma criança com
que foi pedido porque muitas vezes, esse aluno desenvolvimento típico aprende.
pode estar tentando entender o primeiro ou o É preciso atender prontamente toda vez que
segundo comando da professora. Utilizar a criança autista solicitar e tentar o diálogo, a
estímulos visuais e treinar os estudantes com interação é essencial para esse convívio escolar.
(TEA) pode auxiliá-lo a cumprir a rotina e as Conforme, Peeters (1998):
regras estabelecidas. O conteúdo do programa de uma criança
Em alguns casos, estudantes autistas não autista deve estar de acordo com seu potencial,
conseguem solicitar ajuda de maneira de acordo com sua idade e de acordo com o seu
adequada, sendo importante ensinar a estes o interesse. Se a criança estiver executando uma
comportamento adequado para solicitar o que atividade nova de maneira inadequada, é
precisam, sendo que o professor precise importante a intervenção rápida do professor,
conhecer meios que antecedem os mesmo que para isso seja necessário segurar a
comportamentos desses estudantes, o que mão da criança ou até mesmo dizer-lhe a
pode facilitar o desempenho da criança e resposta (PEETERS, 1998, s.p).

1046
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Atualmente é muito difícil abordar o tema


inclusão do aluno com autismo, pois incluir é
inserir o aluno em um contexto diferentemente
do que está, porque esse aluno apresenta
comportamentos estereotipados (movimentos
repetitivos) tornando-se bizarros e diferentes
diante da sociedade que despertam em si o
temor e a desconfiança dos mesmos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que a escola deve conhecer as características da criança e prover as
acomodações físicas e curriculares necessárias; treinar os profissionais continuamente e busca de
novas informações; buscar consultores para avaliar precisamente as crianças; preparar programas
para atender a diferentes perfis visto que os autistas podem possuir diferentes estilos e
potencialidades; ter professores cientes que inclusive a avaliação da aprendizagem deve ser
adaptada; educadores conscientes que para o autismo, conhecimento e habilidades possuem
definições diferentes; analisar o ambiente e evitar situações que tenham impacto sobre os alunos,
alterar o ambiente se for possível; a escola deverá prover todo o suporte físico e acadêmico para
garantir a aprendizagem dos alunos incluídos; atividade física regular é indispensável para o
trabalho motor; a inclusão não pode ser feita sem a presença de um facilitador e a tutoria deve
ser individual; um tutor por aluno; a inclusão não elimina os apoios terapêuticos; necessidade de
desenvolver um programa de educação paralelo à inclusão e nas classes inclusivas o aluno deve
participar das atividades que ele tenha chance de sucesso, especialmente das atividades
socializadoras; a escola deverá demonstrar sensibilidade às necessidades do indivíduo e
habilidade para planejar com a família o que deve ser feito ou continuado em casa.
Sabendo que o nível de desenvolvimento da aprendizagem do autista geralmente é lento
e gradativo, portanto, caberá ao professor se adequar o seu sistema de comunicação a cada
aluno. O estudante deve ser avaliado para colocá-lo num grupo adequado, considerando a idade
global, desenvolvimento e nível de comportamento. É de responsabilidade do professor a atenção
especial e a sensibilização dos alunos e dos envolvidos para saberem quem são e como se
comportam esses alunos autistas.

1048
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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SEESP/MEC Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial - Brasília, S.n.], 2004.

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bases da educação nacional. Brasília, Diário Oficial da União - Seção 1 - 23/12/1996, Página
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em condição de inclusão escolar: guia de orientação a professores. São Paulo: MEMNON,
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EXPERIÊNCIAS E PRÁTICAS EDUCATIVAS SOB A


PERSPECTIVA DO FILME “ESCOLA DA VIDA”
Vitor Sergio de Almeida1
Ryhã Henrique Caetano e Souza2

RESUMO: O presente artigo é concebido por uma abordagem documental-bibliográfica,


sustentada em uma análise teórica de autores clássicos; como Luckesi (1990); Mizukami (1992) e
Freire (1982;1987); a qual é disposta frente as práticas educativas apresentadas por dois
professores personagens do filme canadense-americano “Escola da Vida”, de 2005. Tem-se como
objetivo central suscitar reflexões acerca das iniciativas escolares estabelecidas ao longo da
produção cinematográfica, relacionando-as com as tendências (abordagens) pedagógicas Liberal
(em suma com as concepções tradicional e tecnicista) e a Progressista (perpassando o valor da
formação crítica). Dentre os achados do trabalho, sentencia-se que as tendências pedagógicas
não são imutáveis ou exclusivas, mantendo, inclusive, um grau de associação entre elas. É
percebido também a necessidade dos docentes, mesmo diante da disposição de muitos
contratempos profissionais, buscarem enraizar em suas ações (e serem incentivados a isso) uma
reflexão da própria postura educativa. Assevera-se ainda à importância de, no ensino atual,

1 Professor de Políticas Educacionais, Jornalismo e Linguagem na Rede pública e privada.


Doutor em Educação pela Faculdade de Educação (Faced), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Membro do grupo de pesquisa Políticas, Educação e Cidadania (Polis) da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU).
E-mail: vitor_sergio@hotmail.com
2 Professor de História na Rede pública e privada.

Graduação: Licenciatura em História, Instituto de História (Inhis), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Membro do grupo de pesquisa Políticas, Educação e Cidadania (Polis) da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU).
E-mail: ryhasouza@gmail.com

1050
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

promover uma educação humanística, almejando, com isso, a construção de uma formação crítica
e um engajamento social por parte dos discentes nas ações escolares e em sociedade.

Palavras-Chave: Práticas educativas; Tendências pedagógicas; “Escola da Vida”.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO pedagógicas5 : a Liberal (ao contrário do que o


3

nome sugere, trata-se da pregação de uma


A educação escolar é uma prática preparação – ou, em um tom mais áspero, de
humanística3 contínua e cumulativa a fim de
1
um adestramento – intelectual, cultural e moral
proporcionar, em especial, uma formação para que os discentes ocupem espaços pré-
crítica4 , bem como gerar experiências e
2
estabelecidos e sejam dispostos a uma
proatividades aos indivíduos diante de um estruturação estratificada do conhecimento e
arcabouço de aprendizado histórico, natural, da sociedade) e a Progressista (quando a escola
físico, social. Diante disso, o estudante deve ser assevera a mediação e a inserção do estudante
estimulado, via professor, a relacionar aquilo ao meio social, destacando, assim, as
que aprende com aquilo que já faz parte do seu finalidades sociopolíticas da educação sob a
cotidiano e com aquilo que se torna relevante intenção de uma formação crítico-construtiva).
para a sua constituição na sociedade. Em Mizukami (1992), como executado por
contraponto, receber uma gama de Luckesi (1990), relaciona as abordagens
conhecimento de modo pré-determinado, pedagógicas (expressão alcunhada por ela, a
acrítico e não problematizar o contexto qual equivale as tendências pedagógicas de
histórico, as informações que recebe e as Luckesi) com o aparato histórico e da realidade
fontes propagandeadoras e a realidade que os escolar, logo, para isso, a referida autora
permeia, induz a uma situação de total conceitua cinco abordagens: tradicional,
ineficiência da escola e, em demasia, de uma comportamentalista, humanista, cognitivista e
formação crítica. sociocultural. Por fim, Mizukami (1992),
Essa educação formal, segundo Luckesi esclarece que essas teorias6 não são as únicas
4

(1990), apresenta duas concepções

3 Entende-se por uma educação humanística um processo de ensino e aprendizagem igualitário (no sentido da
relação professor e aluno, obviamente moldado pelo respeito e cooperativismo) em que há oportunidade de troca
de conhecimento e experiência, alicerçados em uma ciência histórica, vinculada a uma realidade fundante, assim,
propiciando uma prática harmônica, de envolvimento e ativa.
4 A formação crítica é vista com o desenvolvimento da consciência, do desvelamento da história e da realidade e do

ato de conhecimento social. Isso implica em ajudar o estudante a ser proativo em sociedade, dando condições para
que ele seja protagonista da sua própria história e não aceite toda e qualquer disposição de conteúdo e informação,
o que o caracteriza como um mero receptor ou um agente passivo.
5 Luckesi (1990), afirma que essas concepções pedagógicas teóricas visam compreender e propiciar a orientação

da prática educacional em diversos momentos e circunstâncias da história. Desse modo, “estaremos aprofundando
a compreensão da articulação entre filosofia e educação, que, aqui, atinge o nível da concepção filosófica da
educação, que se sedimenta em uma pedagogia. [...] Essa discussão tem uma importância prática da maior
relevância, pois permite a cada professor situar-se teoricamente sobre suas opções, articulando-se e autodefinindo-
se.” Para desenvolver a abordagem das tendências pedagógicas, Luckesi (1990) utilizou como critério a posição
que cada tendência adota em relação às finalidades sociais da escola. Desse modo, o referido pesquisador elencou
o conjunto das pedagogias em dois grupos, os quais consistem em: l. Pedagogia liberal (1.1 tradicional, 1.2 renovada
progressivista, 1.3 renovada não-diretiva e 1.4 tecnicista) e 2. Pedagogia progressista (2.1 libertadora, 2.2 libertária
e 2.3 crítico-social dos conteúdos).
6
A partir de uma visão integradora, é apontado que o conhecimento, sendo apresentado sob diferentes referenciais,
pode ser explicado em sua gênese, bem como desenvolvido e condicionando a construção de variadas
conceituações. Explica-se que determinadas abordagens têm um referencial filosófico e psicológico, enquanto
outras são intuitivas, alicerçadas na prática educativa ou na imitação de modelos prontos. Sob esse prisma, torna-

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fontes de respostas possíveis e finaliza paradigmas e até instituindo uma metodologia


atentando para a necessidade de considerar a humanizadora (até então inovadora na escola)
relação teoria e prática e as relações entre as entre os professores das diversas áreas do
próprias abordagens. conhecimento. Destaca-se o contraponto na
Transcorrida essa apresentação inicial acerca história, o professor de Biologia Matt Warner
das concepções pedagógicas, torna-se (cuja interpretação cabe a David Paymer) que
relevante associar as tendências tradicional, usa uma metodologia tradicional, totalmente
tecnicista – disposta por Mizukami (1992), conservadora. Desse modo, a estória aborda
como comportamentalista ou behaviorista – e efusivamente o paralelo de ensino desses dois
Progressista (sociocultural) com o filme “Escola educadores.
da Vida”. Acredita-se que esse produção deve O docente Matt Warner está sedento pelo
ser vista como um arcabouço de reflexão, pois, prêmio de professor do ano, o qual foi
contempla tais temáticas, mesmo que a conquistado pelo seu pai, Stormin Norman
discussão central não seja o enfoque teórico- (cujo ator é John Astin), por 43 anos seguidos.
pedagógico e que não exista uma sustentação A ânsia por essa conquista é desencadeada com
metodológica para isso. a morte de Stormin Norman, o qual, antes de
falecer nos braços do filho, disse para ele lutar
CONTEXTUALIZAÇÃO DO FILME pelo reconhecimento profissional e para ser um
exemplar professor. Assim, Matt Warner se
E ENTRELAÇAMENTO DELE COM coloca determinado a ganhar o prêmio de
A PRÁTICA ESCOLAR melhor docente da escola – mais por pura
Dirigido por Willian Dear, de produção de vaidade e menos pela memória do pai. Todavia,
Rosanne Milliken e roteirizado por Jonathan com o Senhor D na disputa, o professor Matt
Kahn, o filme canadense-americano “Escola da Warner vê as suas oportunidades diminuírem,
Vida”, cuja titulagem original é “School of Life”, uma vez que os alunos nutrem grande simpatia
de 2005, com 110 minutos de duração, e confiança (pessoal e profissional) pelo
contempla os gêneros comédia, drama e professor de História, um exemplo disso é que
aventura. O cerne narrativo retrata a disposição o próprio filho do docente de Biologia teima em
profissional (e até pessoal) do professor de idolatrar o jovem mestre ao invés de ter o pai
História (Michael “D” Angelo chamado, como exemplo de professor.
popularmente, de “Senhor D”, interpretado por Ao perceber a popularidade do Senhor D,
Ryan Reynolds) um recém-chegado à Matt Warner tenta abarcar algo que explicasse
tradicional instituição Fallbrook Middle School o porquê do colega ser popular na escola. Desse
(de educação básica). Tal professor, no seu modo, Matt resolveu investigar o Senhor D e
primeiro dia de trabalho, já na apresentação, descobre que ele, além de ser querido na
passa a revolucionar as atividades pedagógicas escola, também é popular na sociedade, ou
da escola, suscitando reflexões, mudanças de seja, presta ajuda as pessoas necessitadas de

se relevante elencar a complexidade da realidade educacional, para que ela não seja trabalhada sem vínculo com
uma formação crítica (MIZUKAMI, 1992).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

apoio financeiro e emocional, mostrando para ou melhor, por uma sociedade de bem comum,
elas o valor e os direitos que elas têm no de contribuir para a formação e a inserção dos
convívio social. Em sua investigação, o docente indivíduos (alunos e professores), constituindo,
de Biologia percebe também que o Senhor D nesse aspecto, uma educação mais
estava doente, com câncer pulmonar, tinha humanizada.
poucos dias de vida e que escondia essa Feita a contextualização do artigo e do filme,
informação na escola para não se vitimizar, a próxima seção trata dos dois paradigmas de
além disso, esses poucos dias de convívio atuação docente: o Liberal e o Progressista.
simbolizam a vivacidade e a intensidade de
estar ao lado de outros indivíduos e auxiliá-los, “ESCOLA DA VIDA” E A
mesmo que por simples gestos e palavras, em
seus intentos (escolares e pessoais). PRÁTICA EDUCATIVA LIBERAL
Diante dessa descoberta, houve uma catarse O professor de Biologia, Matt Warner, em
em Matt Warner, uma vez que ele se desfaz do boa parte da trama, pode ser visto como uma
espirito de competitividade, da inveja e do síntese da abordagem (da pedagógica Liberal)
autoritarismo, passando a ter uma visão mais tradicional e tecnicista. Desse modo, citam-se
sensível, humanizada e crítica da situação (não algumas práticas docentes padronizadas (as
apenas no aspecto escolar). Destaca-se que o quais parecem ser hegemônicas, ou seja, não
Senhor D estudou em Fallbrook Middle School existe a possibilidade natural dele desvincular
e tem como exemplo de postura educativa o delas) executadas sistematicamente (e não
professor Stormin Norman, que o tinha como eventualmente) por tal profissional, as quais
símbolo de um aluno de bastante são: 01- pautar na aula expositiva; 02- ter os
envolvimento. Tal fato também influenciou na exercícios de repetição e de memorização
mudança de paradigma de Matt Warner. como única forma de atividade de consolidação
Diante disso, as metodologias de Matt do conteúdo; 03- reportar sem uma
Warner mudaram, passando a se relacionar ressignificação os exercícios; 04- demonstrar
melhor com seus educandos, criando um que a execução das tarefas consiste em mera
espaço na sala de aula de compreensão em que obrigação (propagando a ideia de punição pelo
todos participam do processo, promove não cumprimento); 05- usar de modo
métodos em que os alunos se sintam como dogmático a prescrição conteudista (material
protagonista do processo. Conclui-se que o didático), tendo-o como um símbolo inconteste
então vilão Matt Warner passa a aferir a do fervor curricular; 06- não conceder o direito
história de dificuldade e dedicação do Senhor D de reflexão e ou de explanação do ponto de
a fim de melhorar a si, tanto pessoalmente vista e ou de sugestão de conteúdos aos
como profissionalmente e, assim, ser discentes; 07- dispor os alunos em filas de
considerado um professor exemplar. modo impositivo e hierarquizado; 08- impor o
Já no final do filme, o Senhor D tem o seu silêncio como sinônimo de disciplina,
problema de saúde agravado e falece. Ele deixa caracterizando como uma suposta harmonia e
o aprendizado de que vale lutar por um ensino, convivência; 09- cultuar um relacionamento

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

impessoal, demonstrado uma superioridade de O professor já traz o conteúdo pronto e o


níveis do professor para com o discente; 10- aluno se limita, passivamente, a escutá-lo. O
não saber, se quer, os nomes dos alunos, ponto fundamental desse processo será o
muitos menos o contexto familiar, social e produto da aprendizagem. A reprodução dos
econômico deles. conteúdos feita pelo aluno, de forma a
Percebe-se nas práticas do professor Matt automática e sem variações, na maioria das
Warner, bem como na maioria dos docentes da vezes, é considerada como um poderoso e
escola, a presença da concepção tradicional. Tal suficiente indicador de que houve
corrente é caracterizada por uma transmissão aprendizagem e de que, portanto, o conteúdo
de conteúdos de forma expositiva7 – “nas 1 está assegurado. A didática tradicional quase
demonstrações do professor à classe, tomada que poderia ser resumida, pois, em “dar a lição”
quase como um auditório” (MIZUKAMI, 1992, e tomar “a lição” [...]. (MIZUKAMI, 1992, p. 14).
p. 14). Essa prática contribui para tolher as
No método expositivo [...] o professor é o experiências, habilidades e talentos dos
agente, o aluno é o ouvinte. O trabalho educandos, fazendo com que eles sejam meros
intelectual do aluno será iniciado, receptores (em vários casos, eles ficam
propriamente, após a exposição do professor, entediados e desinteressados pela aula). Tal
quando então realizará os exercícios propostos. ação ajuda a relacionar a pedagogia tradicional
[...] Tal tipo de método tem por pressuposto a prática puramente enciclopédica (LUCKESI,
basear a aprendizagem no exercício do aluno 1990).
[no caso, exercício de natureza repetitiva]. A Vislumbra-se nas ações do professor de
motivação para a realização do trabalho escolar Biologia que os jovens são considerados adultos
é, portanto, extrínseca e dependerá das em miniaturas. Já a figura do professor é
características pessoais do professor para intocável, no topo da hierarquia da sala de aula
manter o aluno interessado e atento e despojada de afetividade.
(MIZUKAMI, 1992, p. 14). Ignora-se as diferenças individuais ou as
A concepção de escola adotada pelos questões da pessoalidade, um exemplo disso,
profissionais instalados em Fallbrook Middle extraído no filme, é que ao montar uma aula de
School é tida por um víeis catequético. Assim, anatomia em um laboratório, Matt Warner não
impera-se a metodologia de receituário em que observa as especificidades de cada aluno, logo
o professor dirige, via verbalismo, a classe a um um passa mal durante a demonstração do
resultado desejado, seguindo um percurso pré- funcionamento do pulmão, mostrando que o
estabelecido (e que não pode sofrer professor, antes da experiência, tinha que ter
contestações ou alterações) para atingir os procurado informações sobre os estudantes a
objetivos pedagógicos ansiados. fim de evitar problemas como esse e não

7 Reafirma-se que a aula expositiva, inserida, delineada e justificada em um contexto pedagógico, bem como

muitas técnicas da perspectiva Liberal não são desabonadoras. Entretanto, critica-se é o excesso e, especialmente,
a utilização sem uma correlação humanística e crítica.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

meramente impor a participação de todos os em que a disposição de uma é em certa


educandos na atividade. dosagem em completude com outra(s). Isso
No quesito curricular, a avaliação tradicional deve ser entendido como algo natural. Vê-se
é vista como uma forma de: que, mesmo com uma ou outra técnica
[...] da reprodução do conteúdo comunicado pertinente para os diversos contextos
em sala de aula. Mede-se, portanto, a educacionais, as tendências com afinco Liberal
quantidade e exatidão de informações que se devem ser secundarizadas, dependo do caso
consegue reproduzir. Daí a consideração de até anuladas, em uma sociedade democrática
provas, exames, chamadas orais, exercícios que despende uma educação humanística e
etc., que evidenciam a exatidão da reprodução busca uma formação de criticidade.
da informação (MIZUKAMI, 1992, p. 17). Percebe-se nas práticas do professor Matt
Em uma concepção passível de educação, o Warner, bem como da maioria dos docentes da
conhecimento (no sentido literal do termo), escola, a intenção de formar comportamentos
mesmo sendo de direito de todos os indivíduos, úteis e desejáveis segundo a classe dominante.
deve ser acessível a poucos, aos detentores do Tal perspectiva é uma das principais ações
poder (econômico e ideológico). Desse modo, behaviorista (MIZUKAMI, 1992). Então, há
garante-se a perpetuação do domínio vigente, modelagem experimental do comportamento e
uma vez que é nítido que o conhecimento gera o trabalho de um conhecimento programado e
inconformismo e rebeldia com os atos abruptos imposto.
estabelecidos. Num sistema social harmônico, orgânico e
Na visão “bancária” da educação, o “saber” é funcional, a escola funciona como modeladora
uma doação dos que se julgam sábios aos que do comportamento humano, através de
julgam nada saber. Doação que se funda numa técnicas específicas. À educação escolar
das manifestações instrumentais da ideologia compete organizar o processo de aquisição de
da opressão - a absolutização da ignorância, habilidades, atitudes e conhecimentos
que constitui o que chamamos de alienação da específicos, úteis e necessários para que os
ignorância, segundo a qual esta se encontra indivíduos se integrem na máquina do sistema
sempre no outro (FREIRE, 1987, p.67). social global (LUCKESI, 1990, p. 58).
Oportuniza-se ressaltar que as tendências Dentro da tendência Tecnicista, assevera-se
pedagógicas não são promovidas de forma a necessidade de quantificar o conhecimento
exclusiva e sem interrelação com outras transmitido, sendo assim, as avaliações, como
abordagens. Luckesi (1990), e Mizukami (1992), se observa no filme, tem um caráter
dispõem que uma determinada concepção basicamente numérico.
pode acontecer em inúmeras abordagens, Métodos de ensino - Consistem nos
utilizando-se de pontos em comum, como: procedimentos e técnicas neces¬sárias ao
sujeito, objeto e articulação entre os dois, haja arranjo e controle nas condições ambientais
vista a integralidade em que esses pontos se que assegurem a transmissão/recepção de
articulam. Essa associação é vista no informações. Se a primeira tarefa do professor
envolvimento da Tradicional com a Tecnicista, é modelar respostas apropriadas aos objetivos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

instrucionais, a principal é conseguir o


comportamento adequado pelo controle do “ESCOLA DA VIDA” E A
ensino; [...] A comunicação professor-aluno
tem um sentido exclusivamente técnico, que é PRÁTICA EDUCATIVA ATIVA
o de garantir a eficácia da transmissão do O professor de História, o Senhor D,
conhecimento. Debates, dis¬cussões, estabelece uma metodologia humanizada e
questionamentos são desnecessários, assim ativa (inclusive intercalando aulas práticas e
como pouco importam as relações afetivas e interdisciplinares) usando; não em todas as
pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ocasiões, mas com frequência; das seguintes
ensino¬ aprendizagem. [...] o ensino é um ações: 01- ignorar o lugar (a carteira) marcado
processo de condicionamento através do uso para que o aluno sente, assim, os próprios
de reforçamento das respostas que se quer discentes escolhem os seus lugares –
obter. Assim, os sistemas instrucionais visam ao autonomia; 02- dispor a sala em círculos,
controle do compor¬tamento individual face fazendo com que todos se olhem e troquem
objetivos preestabelecidos. Trata-se de um experiências verbais e não verbais; 03-
enfoque diretivo do ensino, centrado no aproveitar o conhecimento prévio dos alunos,
controle das condições que cercam o sendo que nas indagações feitas pela classe, ao
or¬ganismo que se comporta (LUCKESI, 1990, p. invés de apresentar um conceito pronto e
61; 62). acabado, constrói-se uma nova conceituação
No decorrer do processo, pontuam-se os pautada na participação dos discentes; 04-
comportamentos ensejados e, por fim, visa-se estabelecer aulas práticas em conexão com o
compreender se tais comportamentos conteúdo e levando em conta a realidade dos
realmente foram permeados pelos discentes discentes e a questão infraestrutural da escola;
(metodologia de transmissão cultural, modelo 05- demonstrar amorosidade, respeito e
experimental do comportamento humano, conhecimento em relação aos alunos (inclusive,
programação e controle das ações). o Senhor D sabe o nome dos seus aprendizes
Constata-se também que perdura, ao menos antes mesmo de começar as aulas); 06-
em uma boa parte do filme, uma absoluta acreditar que cada estudante tem uma
ausência de reflexão da ação docente por parte individualidade (capacidade pessoal) e uma
de Matt Warner. potencialidade, a qual ele, enquanto professor,
Por fim, intenciona-se mostrar que tais tenta despertar; 07- solicitar a participação dos
práticas, mesmo não focando em uma educandos, desse jeito, prezando o
educação humanística e uma formação crítica, envolvimento deles, possibilitando a
sendo até consideradas maçantes e inibidoras oportunidade de não serem meros
do conhecimento crítico, ainda são uma espectadores da construção do conhecimento;
constância, por diversos motivos, na realidade 08- fazer da avaliação um momento de
educacional, mesmo havendo diversas individualidade e de compromisso do
inovações legislativas, de relacionamentos e estudante com ele e dele com o professor,
tecnológicas. dessa maneira, privilegia-se o entendimento e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

a interpretação do conteúdo, e não uma A prática educativa é algo mais do que a


reprodução sistêmica do assunto estudado. expressão do oficio dos professores, é algo que
Em dicotomia as práticas do professor de não lhes pertence por inteiro, mas um traço
Biologia, ao implantar uma metodologia de cultural compartilhado, assim como o médico
ensino diferenciada; a qual instiga à produção não possui o domínio de todas as ações para
do conhecimento, a valorização das vivências e favorecer a saúde, mas as compartilha com
o despertar de um pensamento crítico; o outros agentes, algumas vezes em relação de
Senhor D assusta o professorado conservador, complementaridade e de colaboração, e em
ressignificando o sentido de aprendizado outras, em relação de atribuições.
perante a esse grupo e aos alunos. Dessa forma, Nas palavras de Freire (1982, p. 85), entende-
torna-se relevante elencar o pensamento de se que estudar não é um ato de consumir ideias,
Munby (1982), de que os docentes possuem o porém de criá-las e recriá-las. Tal atitude
poder de mudar as suas práticas e essa procura expandir o conhecimento dos
alteração tem que partir deles, sendo que eles estudantes tendo como base a subjetividade e
são os protagonistas. Ressignificar a prática a criatividade. Com isso, dá-se oportunidade de
implica não somente em observá-la, como envolvimento e manifestação desses
também aprender a reconhecer a si a e ao seu aprendizes. Pela concepção Progressista é
contexto e, em decorrência, julgar os princípios preconizado que
e crenças básicas que perduram sobre o ensino Por um esforço próprio, o aluno se
e a postura docente. reconhece nos conteúdos e modelos sociais
Destaca-se que a autoanálise dentro da apresentados pelo professor; assim, pode
prática docente deve ser uma iniciativa a ser ampliar sua própria experiência. O
exercida com enorme constância. Não apenas conhecimento novo se apoia numa estrutura
contemplando as práticas, como também cognitiva já existente, ou o professor provê a
permeando que a sociedade e a educação estão estrutura de que o aluno ainda não dispõe. O
em sublimes (re)transformações, logo, grau de envolvimento na aprendizagem
(re)adequar ou seguir essas novas disposições dependa tanto da prontidão e disposição do
se torna elementar em um processo aluno, quanto do professor e do contexto da
educacional. sala de aula (LUCKESI, 1990, p. 72).
O professor, dentro de sua prática Saviani (2000, p.17), afirma que a educação
pedagógica, facilita a aprendizagem do é concebida como “produção do saber”, pois o
educando, quando mergulha prazerosamente homem é capaz de elaborar ideias, possíveis
no conteúdo estudado, compartilha e interage atitudes e uma diversidade de conceitos. Neste
com ele. O Senhor D faz com que o aluno se contexto, a escola visa mediar o conhecimento
sinta inserido no processo, um sujeito crítico e entre o aluno e a realidade, preocupando-se
detentor de autonomia, contribuindo para a com a formação de habilidades e posições,
aplicação do que aprendeu em seu cotidiano. tornando os alunos críticos, ou seja, os pontos
Tal análise está em consonância com os dizeres de partida e chegada apontam para a direção
de Sacristán (2000, p. 91):

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que o processo educativo é uma prática social e aliás, estabelece uma relação mais harmoniosa
vice-versa. com o discente. Esse fato exposto mostra que
O Senhor D não visa extinguir os conteúdos, corriqueiras ações (relacionadas a questão
e sim, usá-los de maneira que os alunos tenham escolar ou não) precisam ser valorizadas em
o direito de questionar e interpretar a uma educação humanística.
informação que lhe é apresentada. Diante Outra passagem impregnada de
disso, nota-se a possibilidade de inovar, ser ensinamento é quando o Senhor D adoece,
autônomo e estabelecer a criticidade perante o ausenta-se do trabalho e é substituído por uma
respeito da base curricular. professora, que utiliza métodos tradicionais de
O que o educando aprende não deve ter aprendizagem, tais como: a repetição das
impacto somente no instante em que está lições, ausência do diálogo entre os estudantes
abordando determinado assunto, e sim ser e entre eles e o professor. Infere-se, então, que
parte fundamental da construção do seu a metodologia dinâmica implementada pelo
conhecimento e do seu futuro. Essa mestre anterior já está internalizada pelos
transmissão de conhecimento não pode alunos ao ponto deles sentirem de imediato a
consistir em simplesmente reportar e abstrair secundarização do papel deles. Diante dessa
informações (LARROSSA, 2001). explanação, torna-se relevante associá-la com
A informação não é experiência. E mais, a o pensamento de Sacristán (2000, p.74):
informação não deixa lugar para a experiência, A ação pertence aos agentes, a prática
ela é quase o contrário da experiência, quase pertence ao âmbito social do social, é cultura
uma antiexperiência. Por isso a ênfase objetivada que, após ter sido acumulada,
contemporânea na informação, em estar aparece como algo dado aos sujeitos, como um
informados, e toda a retórica destinada a legado imposto aos mesmos (...).
constituir-nos como sujeitos informantes e Neste artigo foi elencado a questão da
informados (LARROSSA, 2001, p. 36). formação crítica, logo, cita-se o protagonismo
Dentre os inúmeros trechos interessantes do que ela possui em uma pedagogia Progressista.
filme, cita o momento em que um dos alunos, Aprender é um ato de conhecimento da
Jimmy, pede para que o professor de Biologia, realidade concreta, isto é, da situação real
Matt Warner, esquente o seu lanche no micro- vivida pelo educando, e só tem sentido se
ondas instalado na sala dos professores, ele resulta de uma aproximação crítica dessa
recebe uma resposta negativa, uma vez que realidade. O que é aprendido não decorre de
não é habitual, em nome da figura de uma imposição ou memorização, mas do nível
autoridade e da impessoalidade profissional, crítico de conhecimento, ao qual se chega pelo
que os docentes estabeleçam uma relação processo de compreensão, reflexão e crítica. O
extra sala de aula com os discentes. Por outro que o educando transfere, em termos de
lado, o docente Michael “D” Angelo atende conhecimento [...] (LUCKESI, 1990, p. 66).
com prestatividade ao pedido do aluno, Por fim, o Senhor D, usando ações simplórias
expondo que ao aquecer o lanche não se perde e até informais perante o ambiente escolar
a autoridade ou sistematiza a impessoalidade, vigente, inova no processo de ensino e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizagem, não o restringi ao


tradicionalismo e tecnicismo, produz cenários e
faz com que seus alunos se envolvam em uma
aprendizagem que realmente faz sentido para
eles, e é, consequentemente, significativa.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O filme “Escola da vida” propaga vários reflexões, dentre elas, destaca-se o fato dos
educadores, mesmo que as tantas dificuldades que assolam a carreira (tal afirmação está cada
vez mais recorrente na literatura especializada sobre trabalho docente) contribuam para isso, não
devem se embasar (tão somente) nas tendências tradicional e comportamental, isto é, eles
precisam procurar métodos que despertem a efetivação de um espaço democrático e ativo na
sala de aula em prol da construção de amplo conhecimento, o que, além de gerar mais satisfação
profissional, pois o aprendizado tende a fluir de forma harmônica e com envolvimento, também
elenca um espírito crítico nos participantes, uma vez que o estudante é alçado ao papel de
protagonista, junto com o professor, na interlocução do processo de ensino e aprendizagem.
Reverbera a importância do docente ter um “olhar para si”, isto é, dele saber refletir sobre
a própria prática pedagógica, bem como ser instigado a isso. Desencadeando, dessa maneira, a
constituição de um professor ativo – preponderante no combate aos métodos acríticos e
tecnicistas tão presentes na educação atual.
Por meio do filme, nota-se que a didática de um professor pode mudar a concepção de
uma escola, dos seus pares e dos discentes quanto a receptividade de um conteúdo e de uma
ampla formação.
Em relação as tendências (abordagens) pedagógicas, constata-se que elas, como é o caso
da tradicional e da tecnicista, não se apresentam de modo indissociável, mantendo, inclusive, um
certo grau de relação entre elas, o que deve ser visto como uma associação natural, sendo que
uma não se apresenta como mais importante que a outra, e sim permeando uma relação de
completude e interdependência conforme a necessidade, o objetivo e a filosofia educacional e
mercadológica do sistema, da instituição e do professorado.
Por fim, ressalta-se que, mesmo elas tendo uma ou outra técnica pertinente em
consonância com objetivos educacionais bem-intencionados, a concepção Liberal deve ser
sobrepujada em uma sociedade democrática e que referencia uma formação crítica dos cidadãos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
DEAR, Willian; MILLIKEN, Rosanne; KAHN, Jonathan. Filme Escola da Vida. Direção: Willian
Dear. Produção: Rosanne Milliken. Roteiro: Jonathan Kahn. Estados Unidos: California Filmes,
2005. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KktwsRIT-Ls. Data de
Acesso:20/02/2020.

FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 6 ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra. 1982, p. 09-12.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1990.

MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: E.P.U.,
1992.

MUNBY, H. The place of teachers’ beliefs in research on teacher thinking and decision
making, and alternative methodology. Instrucional Science, 11, p. 201-235, 1982.

SACRISTÁN, José Gimeno. Currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto alegre: Artmed.
2000.

SAVIANI, Demerval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações polêmicas do


nosso tempo. 7 ed. São Paulo. Autores associados, 2000.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

FRACASSO ESCOLAR
Débora Aline Trajano Santos1

RESUMO: Este artigo tem por objetivo refletir alguns problemas que envolvem os alunos no
decorrer de sua vida escolar, bem como, esclarecer o que se caracteriza de fato “fracasso escolar”.
O trabalho é apresentado em três partes. A primeira constitui-se de uma reflexão sobre a
importância da família diante do insucesso escolar, tendo em vista que a instituição familiar é a
primeira comunidade de aprendizagem. A segunda refere-se à realidade do aluno X escola,
ressaltando a importância do Projeto Político Pedagógico claro e eficaz. A terceira aborda o
esclarecimento acerca do que é de fato fracasso escolar. Ao final do trabalho, foi elaborado
reflexões que promovam a conscientização e mudanças das práticas pedagógicas, maior atuação
das famílias na vida escolar de seus filhos, tendo como objetivo principal, uma possível
transformação e reversão dos altos índices de fracasso escolar.

Palavras-Chave: Fracasso escolar; Realidade do aluno; Realidade escolar.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Letras; Especialização Ensino Lúdico.
E-mail:deborart@ig.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO mais ampla do processo ensino-aprendizagem


e principalmente romper com a ideia de que o
O tema fracasso escolar tem sido muito fracasso escolar é exatamente do aluno.
discutido e vivenciado na escola. Hoje
provavelmente o maior empecilho à
AUSÊNCIA DA FAMÍLIA NA
democratização das oportunidades de acesso e
permanência da grande massa da população VIDA ESCOLAR DOS FILHOS
em nossas instituições escolares. É nesse O tema família é um assunto bastante
sentido, o maior sintoma da crise de nossas discutido nos dias atuais, ainda mais,
escolas. Somos capazes de perceber que a percebendo que a instituição familiar está cada
repetência e a evasão, são sim, um fracasso vez mais ausente da vida escolar dos seus filhos,
escolar, não necessariamente só do aluno, mas devido à necessidade dos pais se ausentarem
também das instituições escolares que têm sido para trabalhar. Nesse contexto, o fracasso
incapazes de lidar com os segmentos da escolar é algo quase que comum na vida dessas
população a que elas se destinam. crianças, uma vez que entendemos a
A pesquisa se desenvolveu baseada nos importância da família, sendo ela mesma, a
estágios de observação e reflexões acerca de primeira comunidade de aprendizado.
duas graduações na área da Educação, Kaloustian (1988), afirma que:
permitindo-me observar alguns problemas no A família é o lugar indispensável para a
cotidiano escolar de diversas escolas públicas garantia da sobrevivência e da proteção
de São Paulo, dentre eles, podemos destacar: integral dos filhos e demais membros,
• Muitas crianças chegam ao final do independentemente do arranjo familiar ou da
Ensino Fundamental I e II sem saber ler e forma como vêm se estruturando. É a família
escrever, não sabendo resolver operações que propicia os aportes afetivos e, sobretudo
básicas de matemática, etc; materiais necessários ao desenvolvimento e
• A falta de acompanhamento do bem estar dos seus componentes. Ela
desenvolvimento do aluno na escola por parte desempenha um papel decisivo na educação
da família; formal e informal, é em seu espaço que são
• Superlotação das salas de aula, tornando absorvidos os valores éticos e humanitários, e
ainda mais difícil o atendimento individualizado onde se aprofundam os laços de solidariedade.
ao aluno, bem como, a capacitação dos É também em seu interior que se constroem as
profissionais a fim de trabalharem de forma marcas entre gerações e são observados
eficaz nas diversas dificuldades de valores culturais. (KALOUSTIAN, 1998, p.22).
aprendizagem apresentadas. O que nos custa entender é que é no
Este artigo tem por objetivo conscientizar e ambiente familiar que acontece as primeiras
humanizar os profissionais da educação e aprendizagens de afeto, carinho, apoio e
família sobre o problema “fracasso escolar”, instrução e vivência de valores éticos e morais.
proporcionar aos professores uma reflexão A família é a influência mais poderosa para o
sobre sua prática pedagógica, tendo uma visão desenvolvimento da personalidade e do caráter

1064
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

das pessoas. Portanto, não basta colocar as Porém, vale ressaltar que não se pretende
crianças na escola, se isso fosse a solução, já aqui solucionar o problema do fracasso escolar,
teríamos solucionado todo o desafio do mas sim, de trazer possibilidades concretas
fracasso escolar, pois atualmente as famílias para sua solução. Entende-se que para ser
colocam as crianças nas creches e escolas cada evitado o fracasso escolar, a escola deve no
vez mais cedo, mas o que realmente poderá mínimo, problematizá-lo a partir de um projeto
favorecê-los, dependerá do acompanhamento político pedagógico autônomo: “Se a própria
familiar na vida escolar de seus filhos. escola não for capaz de se debruçar sobre seus
A família é a grande mediadora entre a problemas e de se organizar para resolvê-los,
criança e a sociedade que a cerca. Nossas ninguém fará isso por ela” (AZANHA, 1995, p.
crianças necessitam sentir a viver na prática o 24).
que é ser pertencente a uma família, sendo ela Segundo Medel (2008, p. 42;43), o Projeto
a base para qualquer ser humano. Político Pedagógico sempre parte do que já
existe na escola e propõe outros significados à
REALIDADE DO ALUNO X sua realidade. [...] A escola necessita pensar,
planejar coletivamente ações, enxergando com
ESCOLA clareza o aluno na sua singularidade,
A falta de compatibilidade entre o que é organizando sua metodologia e seus conteúdos
pretendido pela escola e o que é desejável ou levando em consideração questões
possível, para seus alunos, provocada dentre socioeconômicas, sociocultural e estrutural de
outros fatores pelo processo de cada unidade escolar portanto, somente um
democratização do acesso de diferentes grupos compromisso simultâneo de toda escola e
à escola, é fonte indiscutível de fracasso também do aluno permitirá uma formação
escolar, como já tem sido amplamente escolar com êxito.
discutido nos meios educacionais. Há uma
grande incapacidade de estabelecer uma ponte
entre o conhecimento formal que se deseja
FRACASSO ESCOLAR
transmitir e o conhecimento prático do qual a Mas o que é realmente o fracasso escolar?
criança, pelo menos em parte, já dispõe. Segundo Carvalho (1997), diversas vezes
associamos erro e fracasso, como se fossem
Quando uma criança fracassa na escola é
causa e consequência. Por vezes, nem sequer
porque há muitas vezes uma incompatibilidade
percebemos que, enquanto em termo – o erro
entre a proposta desta e as necessidades e
características da criança. A ideia de respeito à – é um dado, algo objetivamente detectável,
realidade do aluno é bastante pertinente neste por vezes até indiscutível, o outro – o fracasso
tema. Por isso, é muito bom esclarecer a – é fruto de uma interpretação desse dado,
importância de um projeto educativo adequado uma forma de o encararmos e não a
consequência necessária do erro.
às necessidades da realidade escolar e que
indique, com clareza, as diretrizes e metas a Para Aquino (1997), é preciso reinventar os
serem seguidas. processos de avaliação, pois eles certamente

1065
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

representam o nó górdio da fabricação


pedagógica do erro/fracasso escolar.
Carvalho (1997), também diz que a segunda
questão intrigante é que, curiosamente, o
fracasso é sempre o fracasso do aluno. A
constatação de um erro não nos indica de
imediato, que não houve aprendizagem,
tampouco nos sugere inequivocadamente
fracasso, seja da aprendizagem, seja do ensino.
Portanto, há erros de diferentes tipos que
podem nos sugerir diferentes interpretações.
Ele pode ser visto como uma oportunidade de
ensino, se associa com esperança,
conhecimento e êxito, e não necessariamente
com fracasso.
Não há fracasso sem erro, e, no erro, o
fantasma do fracasso se insinua. Assim,
segundo o autor abordado (CARVALHO, 1997),
o fracasso escolar é um efeito cumulativo do
erro.
Desse modo, o fracasso escolar exige
respostas urgentes de nós e para que isto
ocorra, é necessário que a escola seja colocada
em cheque, pois entendemos que a escola é o
único meio que conhecemos capaz de
assegurar a amplitude e exequibilidade de tal
tarefa.

1066
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por inúmeras razões, viabilizou-se a necessidade de desenvolver um trabalho no qual o
tema se encaixa com a realidade atual da educação. Na verdade, percebe-se que fracassam todos,
pois muitos educadores atribuem aos pais as causas dos problemas de aprendizado e
comportamento dos alunos e vice-versa, muitos pais culpam a escola por uma aprendizagem mais
significativa. Temos ainda que relevar diversos fatores externos à instituição de ensino.
Nesse jogo de isenções de culpas, a criança é a mais prejudicada, colocando-a numa
situação desfavorável sem ter a quem recorrer.
Para que exista a capacidade de aprender, é necessário que todos se comprometam:
escola, família, alunos e comunidade escolar. Destaco aqui a importância da família, sendo a base
de tudo, ela é mediadora de todo esse processo. Família que vai além de laços sanguíneos, família
que se reflete em laços de afeto, num conjunto de pessoas que se unem pelo anseio de estarem
juntas. É por meio dessa relação que qualquer ser humano com dificuldade de aprendizagem,
trilhará o caminho da superação de obstáculos sendo sempre motivado e estimulado.
A escola por sua vez, precisa entender que sua responsabilidade está em educar
integralmente. Nesse contexto, todas as oportunidades de conflitos e obstáculos, serão situações
de aprendizagem, levando a mesma a avaliar processos, identificar as causas de problemas e atuar
na resolução dos mesmos. A escola precisará enxergar o que de fato se caracteriza um fracasso
escolar, deixando de lado preconceitos, interrompendo esse ciclo de erros na vida escolar do
aluno, levando-o ao êxito escolar.
Ao pensarmos nos alunos como seres pensantes e capazes, veremos que impossível
colocar à parte escola, família e sociedade, pois a responsabilidade de educar é de todos esses.
Com o envolvimento de todos, os obstáculos serão vistos como oportunidades de aprendizagem,
tornando possível uma transformação e reversão dos altos índices de fracasso escolar.

1067
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
AQUINO, Julio Groppa. Erro e Fracasso na Escola, In: O mal estar na escola Contemporânea.
São Paulo: Sumus, 1997.

CARVALHO, José Sérgio Fonseca de. Erro e Fracasso na Escola, In: As Noções no
Contexto Escolar: Algumas Considerações. São Paulo: Sumus, 1997.

KALOUSTIAN, S. M. (org) Família Brasileira, a Base de tudo. São Paulo: Cortez; Brasília, DF:
UNICEF, 1998.

MEDEL, Cássia R. M. Projeto Político – Pedagógico: construção e implementação na


escola. SP: Autores Associados, 2008.

PINTO, Heloysa Dantas de Souza. Erro e Fracasso na Escola, In: As fontes do Erro. São Paulo:
Sumus, 1997.

OLIVEIRA, Marta Kohl. Erro e Fracasso na Escola, In: Sobre Diferenças Individuais e
Diferenças Culturais. O Lugar da Abordagem Histórico-Cultural. São Paulo: Sumus, 1997.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

GAMIFICAÇÃO: ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA


CONTRA O ABANDONO E/OU EVASÃO
ESCOLAR E POR UMA EDUCAÇÃO FINANCEIRA
VIA GAMES
Eliane Alves de Souza1

RESUMO: Este artigo tem como objetivo geral analisar sobre os rendimentos escolares obtidos
em escolas que adotaram a gamificação como estratégia metodológica de promoção à motivação
e engajamento do corpo discente nas atividades escolares e na assimilação do conteúdo curricular
escolar. Por intermédio de pesquisas de experiências concretas do uso da gamificação em sala
de aula, concluiu-se que esta é uma ferramenta pedagógica importante para o engajamento de
discentes do ensino fundamental ao universitário, as práticas tradicionais de ensino, o monólogo
do professor em sala de aula, já não atraem a atenção de uma geração imersa em tecnologias.
Como objetivo específico, este trabalho procurou levantar experiências vividas por escolas que
adotaram a gamificação como ferramenta pedagógica na ministração da disciplina Educação
Financeira; nos casos estudados concluiu-se que a disciplina foi melhor assimilada por meio de
jogos, o que despertou maior interesse nos alunos.

Palavras-Chave: Gamificação; Jogo; Aprendizado.

1Funcionária Pública Federal; Mestranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia – Asunción-Py;
Especialista em Administração Estratégica pela Universidade Estácio de Sá-UNESA, Rio de Janeiro – RJ, Brasil;
Bacharel em Ciências Contábeis pela Federação das Faculdades Celso Lisboa, Rio de Janeiro – RJ, Brasil.
Email: elianealves44@yahoo.com.br

1069
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RESUMEN: Este estudio tuvo como objetivo analizar el rendimiento escolar obtenido en las
escuelas que adoptaron la gamificación como una estrategia metodológica para promover la
motivacional y la participación del alumnado en las actividades escolares y la asimilación del
contenido del currículo escolar. A través de la investigación sobre experiencias concretas del uso
de la gamificación en el aula, se llegó a la conclusión de que esta es una herramienta pedagógica
importante para la participación de los estudiantes de la escuela primaria a la universidad, las
prácticas de enseñanza tradicionales, el monólogo del maestro del aula. , ya no atraen la atención
de una generación inmersa en la tecnología. Como objetivo específico, este trabajo buscó
aumentar las experiencias vividas por las escuelas que adoptaron la gamificación como una
herramienta pedagógica en la disciplina de la Educación Financiera; En los casos estudiados se
concluyó que la disciplina se asimilaba mejor a través de los juegos, lo que despertó un mayor
interés en los estudiantes.

Palabras clave: Gamificación; Juego; Aprendizaje.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO médio, no período de 2014-2018: aprovação,


reprovação e abandono. Esses dados foram
Um dos grandes desafios da área da coletados pelo Censo Escolar 2018. Pode-se
Educação brasileira ainda é o combate ao verificar, nos dados da tabela abaixo, que
abandono e/ou evasão do ambiente escolar. houve melhora nos níveis de todas as taxas:
Estão disponíveis para consulta no Portal do diminuição na reprovação, aumento na
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas aprovação e o abandono manteve-se em queda
Educacionais Anísio Teixeira – Inep2 as taxas de ou estável.
rendimento escolar nos ensinos fundamental e

Fonte: MEC/Inep/Deed

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas A narração, de que o educador é o sujeito,


Educacionais Anísio Teixeira – Inep faz uma conduz os educandos à memorização mecânica
diferenciação entre os conceitos de “evasão” e do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os
“abandono” escolar: O termo “abandono” transforma em “vasilhas”, em recipientes a
significa a situação em que o aluno se desliga da serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais
escola, mas retorna no ano seguinte, enquanto vá “enchendo” os recipientes com seus
“evasão” o aluno sai da escola e não volta mais “depósitos”, tanto melhor educador será.
para o sistema escolar. Quanto mais se deixem docilmente “encher”,
São inúmeras as razões que levam alunos a tanto melhores educandos serão. Desta
abandonarem e/ou se evadirem do espaço maneira, a educação se torna um ato de
escolar; não é objetivo deste trabalho dissertar depositar, em que os educandos são os
sobre essas razões, mas é notório que, de uma depositários e o educador o depositante. Em
forma geral, existe uma crise motivacional por lugar de comunicar-se, o educador faz
parte do corpo discente quanto aos recursos “comunicados” e depósitos que os educandos,
e/ou métodos educacionais tradicionais. Há meras incidências, recebem pacientemente,
uma rejeição ao método que Freire (1996), memorizam e repetem. Eis aí a concepção
critica e chama de “Educação Bancária”, em “bancária” da educação, em que a única
várias de suas obras como, por exemplo, em margem de ação que se oferece aos educandos
Pedagogia do Oprimido: é a de receberem os depósitos, guardá-los e

1071
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

arquivá-los. Margem para serem brasileiros com idade entre 25 e 29 anos


colecionadores ou fichadores das coisas que estavam endividados; na faixa etária entre 18 e
arquivam (FREIRE, 1996, p.37). 24 anos a porcentagem de jovens endividados
Os avanços tecnológicos do Século XXI era de 19%. Somando os dois grupos, 12,5
demandam a superação dos métodos milhões de pessoas estavam com as contas no
tradicionais de ensino e a busca de novas vermelho naquele ano. Em fevereiro de 2019,
técnicas de motivação e encantamento de um foi divulgado um estudo feito pela Associação
corpo discente cada vez mais conectado em Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC)5 , na 3

Rede. O estudante inserido na Era Digital não se qual demonstra que a inadimplência está
satisfaz e não se adapta ao que Freire (1996) atingindo cada vez mais cedo as novas
chamou de “Educação Bancária”, na qual o gerações. Diversos estudos sobre
educando é um mero depósito de informações endividamento apontam a Educação Financeira
recebidas e arquivadas. A geração conectada desde os primeiros anos escolares como
em Rede recebe a informação, testa, vivencia, solução.
experimenta, participa, “aprende fazendo”, Até este ponto da introdução deste artigo
erra e torna a fazer até acertar e alcançar o verificamos alguns desafios da área
conhecimento que é a informação aplicada. educacional, que são os problemas a serem
Segundo Mattar (2010): pesquisados neste trabalho, como:
saber aprender (e rapidamente), trabalhar 1) o combate ao abandono escolar e a
em grupo, colaborar, compartilhar, ter necessidade de encontrar novas estratégias
iniciativa, inovação, criatividade, senso crítico, metodológicas para a motivação e
saber resolver problemas, tomar decisões engajamento dos estudantes inseridos na Era
(rápidas e baseadas em informações digital;
geralmente incompletas), lidar com a 2) o combate ao endividamento precoce
tecnologia, ser capaz de filtrar a informação etc. por meio da ministração da Educação
são habilidades que, em geral, não são Financeira desde os primeiros anos escolares.
ensinadas nas escolas. Pelo contrário: as Em pleno Século XXI, a tecnologia da
escolas de hoje parecem planejadas para matar informação e da comunicação tornou-se parte
a criatividade (MATTAR ,2010, p. 14). importante do processo educacional; neste
Outro desafio da área educacional deveria contexto, a Gamificação tem sido pesquisada
ser o combate ao endividamento precoce. No como uma ferramenta alternativa em sala de
ano de 2018, segundo dados divulgados pela aula para promover a motivação, o
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas engajamento dos alunos na assimilação do
(CNDL)3 e pelo Serviço de Proteção ao Crédito
1 conteúdo curricular escolar. A Gamificação
(SPC Brasil)4 , cerca de 46% dos jovens
2 busca motivar, engajar e, idealmente, modificar

3Fonte: Disponível em: https://www.cndl.org.br/.Data de Acesso:20/02/2020.


4Fonte: Disponível em: https://loja.spcbrasil.org.br/.Data de Acesso:20/02/2020.
5Fonte:Disponívelem: https://www.anbc.org.br/lermais_materias.php?cd_materias=136&friurl=_-Quatro-em-cada-
dez-brasileiros-endividados-pertencem-as-geracoes-jovens-_#.Xc2pItVKiM8.Data de Acesso:20/02/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

positivamente o comportamento de um metodológica e os resultados obtidos nos


determinado público-alvo por meio do uso de rendimentos escolares de seus alunos quanto à
recursos e elementos do mundo dos jogos motivação e engajamento nas atividades
(DETEREING, 2011). escolares, inclusive quanto à melhor
A presente pesquisa tem como objetivo geral assimilação da Educação Financeira.
analisar sobre os rendimentos escolares Encerra-se o trabalho com a Conclusão,
obtidos em escolas que adotaram a gamificação Bibliografia e Notas Bibliográficas.
como estratégia metodológica de promoção à
motivação e engajamento do corpo discente 1. GAMIFICAÇÃO E TEORIA DO
nas atividades escolares e na assimilação do
conteúdo curricular escolar. Como objetivo FLOW: CONCEITOS E PONTOS DE
específico, este trabalho procurou levantar INTERSEÇÃO
experiências vividas por escolas que adotaram
a gamificação como ferramenta pedagógica na
1.1 Gamificação – Conceito
ministração da disciplina Educação Financeira.
Gamificação é uma tradução do termo em
A elaboração deste trabalho justifica-se pela
inglês Gamification, criado pelo programador
importância dos temas “evasão escolar” e
britânico Nick Peeling. Segundo Fadel, et al
“combate ao endividamento precoce” e,
(2014), o termo gamificação compreende a
também, pela falta de material didático
“aplicação de elementos de jogos em atividades
disponível que atraia a atenção das crianças
de não jogos”. Tolomei (2017), explica que “o
para um conteúdo de Noções de Educação
processo de gamificação é relativamente novo,
Financeira no ensino básico.
derivado da popularidade dos games e de todas
Segundo Gil (2010), esta é uma pesquisa
as possibilidades inerentes de resolver e
básica pura, pois é destinada unicamente à
potencializar aprendizagens em diferentes
ampliação do conhecimento; em relação aos
áreas do conhecimento”. Fardo (2013),
seus objetivos é
conceitua gamificação como “um fenômeno
classificada como descritiva e documental
emergente, que deriva da popularidade dos
com consultas a relatórios de pesquisa e tabelas
games e de suas capacidades intrínsecas de
estatísticas.
motivar a ação, resolver problemas e
O artigo está dividido em cinco seções, com
potencializar as aprendizagens nas diversas
esta introdução.
áreas do conhecimento e na vida dos
A segunda seção reúne definições sobre
indivíduos”. Kapp (apud, Borges et al. 2013),
gamificação encontradas na literatura, ainda
define Gamificação como a aplicação de
limitada sobre o assunto, e apresentam-se
elementos utilizados no desenvolvimento de
pontos de interseção entre a Teoria da
jogos eletrônicos tais como: estética,
Gamificação e Teoria do Flow.
mecânicas e dinâmicas; em outros contextos
Na terceira seção apresentam-se alguns
não relacionados a jogos.
relatos de experiências e resultados da
Especificamente na área educacional
utilização da gamificação como estratégia
constata-se uma dificuldade muito grande em

1073
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

despertar a motivação nos alunos utilizando-se Flow7 (em português: fluxo) é um estado
2

recursos educacionais tradicionais. Segundo mental de operação em que a pessoa está


Freire (1996), de nada adianta o discurso totalmente imersa no que está fazendo,
competente se a ação pedagógica é caraterizado por um sentimento de total
impermeável a mudanças. A busca por envolvimento e sucesso no processo da
ferramentas tecnológicas na área educacional, atividade.
que incentivem os educandos na assimilação do Em “Gamificação e Teoria do Flow”, Diana et
conteúdo curricular, é de fundamental al (2014) 8 buscaram associar possíveis relações
3

importância numa era em que as crianças entre as características da Gamificação e os


interagem com as novas tecnologias desde elementos que compõem a Teoria do Flow. Por
muito cedo. Ensinar não é adestrar ou depositar intermédio do método da Revisão Sistemática
“letra morta” no cérebro de um educando. de Literatura, a pesquisa selecionou artigos de
Freire (1996), explica que ensinar não é forma que houvesse relação ao uso da
transferir conhecimento, mas criar as gamificação na educação e como a Teoria do
possibilidades para a sua produção ou a sua Flow estaria relacionada a este contexto, mas,
construção. Busarello (2014) explica que o foco sem sucesso na busca dessa relação proposta
da gamificação é o envolvimento emocional do pela pesquisa, partiu-se para a análise e estudo
indivíduo por meio da utilização de de literatura complementar. A pesquisa
mecanismos provenientes de jogos, identificou características e relação entre a
favorecendo a criação de um ambiente propício gamificação e os elementos da Teoria do Flow.
ao engajamento do indivíduo. Segundo Fadel, A pesquisa concluiu o seguinte:
et al (2014), “Um ambiente educacional ou “A relação da gamification com o Flow
corporativo deve chamar a atenção e manter o mostra que nos jogos ou em dinâmicas em que
foco dos participantes naquilo que é relevante, habilidades e desafios estão presentes a
então é possível usar a gamfication como sensação de plenitude, de bem-estar, de sentir-
alternativa de comunicação.” se no fluxo é importante. Assim, cenários
educacionais, profissionais ou de
1.2 Teoria do Flow entretenimento que considerem fortemente
O que torna uma pessoa feliz? Mihaly determinados elementos terão mais
Csikszentmihalyi, um psicólogo nascido na possibilidades de sucesso.
Hungria e professor de Psicologia e Gestão da Este estudo mapeou elementos como o
Claremont Graduate University6 - Califórnia,
1 deslumbramento, a diversão, o controle
criou em 1991 a Teoria do Flow, que busca (antecipação), as metas, o equilíbrio (justiça), as
explicar o que torna uma pessoa feliz. oportunidades e a curiosidade como sendo

6 Fonte: Disponível em: https://www.cgu.edu/.Data de Acesso:20/02/2020.


7 Fonte: Disponível em: Csikszentmihalyi, Mihaly. (2009). Flow : the psychology of optimal experience. New York :
Harper [and] Row, 2009.Data de Acesso:20/02/2020.
8 Fonte: Disponível em: DIANA, J. B.; GOLFETTO, I. F. ; BALDESSAR, M. J. ; SPANHOL, F. J. . Gamification e

Teoria do Flow. In: Luciane Maria Fadel; Vania Ribas Ulbricht; Claudia Regina Batista; Tarcísio Vanzin. (Org.).
Gamificação na educação. 1ed.São Paulo: Pimenta Cultural, 2014, v. , p. 38-73. Data de Acesso:20/02/2020.

1074
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

imprescindíveis ao sujeito durante o experiência da utilização de jogos digitais


planejamento e execução de uma atividade. educativos no processo de alfabetização de 87
Eles fazem com que as pessoas inseridas nessas estudantes com idade entre 6 e 7 anos em uma
dinâmicas sintam-se desafiadas o suficiente escola de Educação Básica brasileira, visando
para que fiquem excitadas, em Flow, ou no verificar o impacto desses jogos no
controle da situação ao se envolverem com a desempenho dos estudantes. Para isso, foi
tarefa (DIANA, et al,2014, p. 38;73). utilizada uma abordagem qualitativa com
ênfase na observação participante como
2. Gamificação como estratégia técnica de coleta de dados. Como resultados,
pedagógica: alguns relatos de experiências e verificou-se que o uso de jogos digitais
resultados. educativos aumentou a motivação,
Medeiros, et al (2018), descreve em engajamento, atenção e impactou
“Gamificação como estratégia para o positivamente no desempenho de
engajamento de estudantes no ensino de aprendizagem dos estudantes.
commodities: um relato de experiência com Martins e Gouveia em “Uso da Ferramenta
alunos do 9º ano do Ensino do Fundamental” Kahoot Transformando a Aula do Ensino Médio
uma experiência vivenciada pelos alunos por em um Game de Conhecimento” apresentaram
meio de uma proposta gamificada intitulada uma atividade elaborada na plataforma digital
“Geogamification”. Os resultados da pesquisa Kahoot e analisaram seu potencial na
apontam que a utilização do modelo proposto aprendizagem. O Kahoot foi utilizado para
propiciou maior engajamento e motivação dos inserir um recurso tecnológico interativo que se
estudantes, sendo mensurados por meio dos apropria de elementos dos jogos (gamificação)
dados obtidos com a avaliação de reação buscando engajar os alunos na aprendizagem.
aplicada ao final do experimento. Essa atividade foi aplicada para sessenta e oito
Gomes e Tedesco (2017), em “Gamificando a alunos das disciplinas de programação web e
sala de aula: desafios e possibilidades em uma autoria web do curso técnico em informática
disciplina experimental de Pensamento para Internet. Constatou-se por meio dos
Computacional no ensino fundamental” relatos dos alunos e observações que esta
relatam uma experiência em andamento que atividade pode melhorar a aprendizagem.
investiga o uso da Gamificação em uma PIRES, et al (2019), em “Gamificação no
disciplina de pensamento computacional no ensino de Ciências: um relato de experiência”
ensino fundamental. Os resultados iniciais descreve uma experiência sobre a aplicação da
encontrados mostram que a abordagem gamificação nos processos de ensino e
desenvolvida, apesar de ser considerada aprendizagem em uma turma dos anos finais do
divertida, não se mostra suficientemente Ensino Fundamental. Para desenvolvimento
engajadora para os alunos mais velhos. desta experiência, foi elaborada uma atividade
Santana e Oliveira (2019), em “Jogos pedagógica gamificada, fundamentando-se em
Educacionais como Ferramenta de Auxílio ao revisão de literatura concernente ao tema
Processo de Alfabetização” relatam a anteriormente citado, assim como

1075
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

observações, entrevistas e grupo focal. Como financeira de uma forma dinâmica,


resultados, foram identificados aumento na proporcionando aos alunos do ensino médio a
motivação e envolvimento dos alunos percepção sobre a importância do
investigados e interesse na atividade proposta planejamento financeiro e o valor do dinheiro
pelos estudantes de outras turmas. e, principalmente, conscientizando-os dos
Guarda, et al (2019), em “Jogo Corrida das benefícios de uma compra equilibrada. Com
Frações – Ludicidade e Pensamento base em teorias cognitivistas, esses conceitos
Computacional” relata uma experiência acerca foram inseridos implicitamente durante toda a
de um jogo lúdico “Corrida das Frações”. A execução do jogo e em sua construção, como
experiência foi oriunda do conjunto de também na aplicação em sala de aula com a
atividades do projeto de pesquisa participação do intermediador (professor). Ele
“Logicamente”, cujo enfoque é desenvolver foi executado primeiramente entre as autoras e
uma metodologia educacional e objetos de posteriormente na Escola Classe do Gama, no
aprendizagem utilizando as premissas das Distrito Federal, como pré-teste.
aprendizagens criativas, pensamento Posteriormente foi aplicado aos alunos de
computacional, cultura maker, computação mestrado em Design na Universidade de
desplugada e robótica educacional como Brasília, no ano de 2015 (DURANTE e
pilares para a Educação Básica. Neste sentido, o CARVALHO,2016, s.p).
jogo explora de maneira criativa e lúdica as Ao término da aplicação do jogo Rodada
frações matemáticas em suas diferentes Financeira nas turmas de ensino médio e de
vertentes desenvolvendo conjuntamente mestrado, as autoras concluíram que é possível
habilidades do pensamento computacional. A obter resultados surpreendentes na
experiência foi considerada exitosa e o reforço transmissão de determinados tipos de
matemático dos conteúdos abordados um conhecimentos, uma vez que esses jogos
diferencial. elevam o participante ao mais alto nível de
envolvimento com a aprendizagem e com o
3.1 A Gamificação como estratégia no tema proposto, neste caso, a educação
ensino da Educação Financeira financeira. Concluíram também que o jogo
Durante e Carvalho (2016), em “Rodada proposto foi um objeto de aprendizagem que
Financeira: jogo de educação financeira para auxiliou e integrou todo o grupo, fato que ficou
adolescentes” relatam a experiência da claro durante a execução do projeto, a
construção e aplicação de um jogo com fins construção e aplicação do jogo aos
didáticos aos alunos do ensino médio e de adolescentes.
mestrado, no Distrito Federal, no ano de 2015: A dissertação de Mestrado “Henrique e o
O jogo Rodada Financeira foi construído Robô Dim: Gamebook para apoiar o processo
exclusivamente com fins didáticos, visando de ensino e aprendizagem de Educação
transmitir conhecimentos de educação Financeira infantil” 9 , de autoria de Felipe da
1

9Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Profissional em Tecnologias Educacionais em Rede, da


Universidade Federal de Santa Maria.

1076
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Cunha de Mello (2016), investigou como o


gamebook pode ser uma importante
ferramenta no ensino-aprendizagem da
Educação Financeira infantil. A pesquisa,
desenvolvida na cidade de Santa Maria/RS,
sobre educação financeira infantil identificou
como esta é trabalhada nas escolas.
Inicialmente, foi desenvolvido um objeto de
aprendizagem que pudesse atuar como
ferramenta pedagógica no ensino da Educação
Financeira. Percebe-se, com a pesquisa, que os
meios tecnológicos e midiáticos constroem o
caminho do conhecimento e que a ludicidade é
um dos principais recursos utilizados para atrair
a atenção das crianças. Integrar elementos de
jogos com as características de um livro,
vinculando tradição e tecnologia, trazendo
inovação para a sala de aula e adaptando o
ensino a nova realidade é uma estratégia
inteligente de imersão, concentração dos
alunos. Assim, foi desenvolvido o gamebook
“Henrique e o Robô Dim”. O gamebook foi
aplicado a alunos de 5º ano de uma escola
particular e de uma escola pública de Santa
Maria/RS como objetivo de avaliação do
mesmo. Observou-se uma maior participação
dos alunos durante as aulas, concluindo-se que
quando a tecnologia é utilizada como
ferramenta de ensino, principalmente quando
envolve a ludicidade como estratégia
pedagógica, os resultados são muito positivos.
Promoveu-se um debate entre os estudantes
sobre Educação Financeira.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo teve como objetivo geral analisar sobre os rendimentos escolares obtidos em
escolas que adotaram a gamificação como estratégia metodológica de promoção à motivação e
engajamento do corpo discente nas atividades escolares e na assimilação do conteúdo curricular
escolar. Por meio de pesquisas de experiências concretas do uso da gamificação em sala de aula,
concluiu-se que esta é uma ferramenta pedagógica importante para o engajamento de discentes
do ensino fundamental ao universitário, as práticas tradicionais de ensino, o monólogo do
professor em sala de aula, já não atraem a atenção de uma geração imersa em tecnologias.
Como objetivo específico, este trabalho procurou levantar experiências vividas por escolas
que adotaram a gamificação como ferramenta pedagógica na ministração da disciplina Educação
Financeira; nos casos estudados concluiu-se que a disciplina foi melhor assimilada por meio de
jogos, o que despertou maior interesse nos alunos.

1078
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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a Sistemática de Jogo: conceitos sobre a gamificação como recurso motivacional. In:
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1079
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1080
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

GESTÃO DEMOCRÁTICA:
OS RELACIONAMENTOS PROFISSIONAIS QUE
CONTRIBUEM PARA UMA ESCOLA
DEMOCRÁTICA
Tatiane Leite da Silva Comini1

RESUMO: O artigo apresenta um breve histórico sobre os relacionamentos profissionais existente


entre a direção e os demais agentes da o unidade escolar, a necessidade de uma gestão
democrática, o papel que todos devem assumir e como cada um pode contribuir para tornar essa
relação favorável ao bom andamento do cotidiano na unidade escolar. Sabendo que a Unidade
Escolar (como o próprio nome pressupõe) é singular, e que nela existem e atuam diferentes
grupos (equipe administrativa, agentes escolares, corpo docente...). Cada grupo com diferentes
funções, mas que almejam um objetivo central que é o desenvolvimento integral da criança.
Neste universo escolar, refletimos sobre o papel de cada um, suas atribuições, seus
comprometimentos e como cada profissional desenvolve no dia a dia suas funções. Observamos
que ambos os cargos são de grande importância no processo educacional, atentando para a
necessidade de estabelecer uma gestão democrática, como uma das condições para a melhoria
da qualidade do trabalho escolar.

Palavras-Chave: Gestão democrática; Competências; Liderança; Relacionamento; Participação.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental. I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Direito educacional; Especialização em Alfabetização e
Letramento.
E-mail: tati.comini@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Desta forma pretendeu-se, analisar a relação


existente entre esses atores do contexto
Este artigo apresenta como ponto escolar e a contribuição de cada um para
fundamental a reflexão sobre como as relações realizar uma gestão democrática, por meio de
pessoais podem influenciar positivamente ou questionários e entrevistas pode se coletar
não, em uma gestão democrática. dados que resultaram na composição de três
Os relacionamentos profissionais têm hoje tópicos, em que o primeiro traz um breve
grande influência no desenvolvimento do ser histórico sobre as atribuições de cada um
humano. (informações diretor, agente escolar,
Percebemos que a forma de lidar com conselho), no segundo caracteriza a realidade
pessoas vêm causando um desconforto da escola pesquisada e na sequência, traz
crescente nos indivíduos. No ambiente escolar, informações sobre a gestora da escola e sua
tal desconforto reflete o descompasso administração.
existente especificamente nas relações entre a
direção e os agentes escolares.
PARTICIPAÇÃO E
Desse modo, é necessário e urgente
repensar em como cada indivíduo pode agir de COMPROMETIMENTO
tal maneira que seus atos façam o outro Para que uma escola se adéquo ao princípio
crescer, deixando de lado as diferenças da gestão democrática, esta deve ter como
individuais. base o incentivo à participação e à autonomia.
É fundamental ter em mente que todo Como nos mostra Libâneo (2005), ao afirmar
trabalho desenvolvido é de extrema que a “participação, o diálogo, a discussão
importância para o perfeito andamento da coletiva, a autonomia são práticas
Unidade Escolar. indispensáveis da gestão democrática”. E esta
Preliminarmente cabe entender que uma afirmação é reforçada por Gadotti (1994), ao
gestão democrática é aquela, na qual se destacar a autonomia como opositora da
destaca e valoriza as competências de cada um, uniformização: A autonomia se refere à criação
sempre priorizando a participação, o diálogo, a de novas relações sociais que se opõem às
discussão coletiva, a autonomia, que são relações autoritárias existentes. Autonomia é o
praticas indispensáveis dessa gestão. oposto da uniformização. A autonomia admite
Não podemos nos esquecer de que todas as a diferença e, por isso, supõe a parceria. Só a
pessoas têm qualidades e defeitos, fazem igualdade na diferença e a parceria são capazes
coisas certas e coisas que não dão certo, dessa de criar o novo. Por isso, escola autônoma não
forma, para a construção de um ambiente significa escola isolada, mas em constante
favorável ao desenvolvimento educacional, intercâmbio com a sociedade (GADOTTI, 1994,
devemos identificar erros como oportunidades p. 5).
de aprendizado, sempre olhar para o outro A escola tem como objetivo primordial a
com um olhar de empatia, assim podemos formação do cidadão ético. A participação e
construir uma gestão democrática eficaz. democratização dentro desta instituição é uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

forma prática para a formação da cidadania. • Atribuições fundamentais: Elaborar seu


Uma escola que incentiva a participação de regimento interno; elaborar, aprovar,
todos em suas decisões, não está apenas acompanhar e avaliar o projeto político-
transmitindo conhecimentos predeterminados, pedagógico; criar e garantir mecanismos de
mas, está promovendo, em seus alunos e participação efetiva e democrática da
demais colaboradores, o senso crítico-social, comunidade escolar; definir e aprovar o plano
rumo à autonomia do pensar e do agir. de aplicação financeiros da escola; participar de
outras instâncias democráticas, como
CONSELHOS ESCOLARES conselhos regional, municipal, e estadual da
estrutura educacional, para definir,
O Conselho Escolar (CE) é um colegiado
acompanhar e fiscalizar políticas educacionais.
formado por membros de todos os segmentos
• Normas de funcionamento: O Conselho
da comunidade escolar com a função de gerir
Escolar deverá se reunir periodicamente,
coletivamente a escola.
conforme a necessidade da escola, para
Com suporte na LDB, lei nº 9394/96 no Artigo
encaminhar e dar continuidade aos trabalhos
14, que trata dos princípios da Gestão
aos quais se propôs; a função do membro do CE
Democrática no inciso II – "participação das
não será remunerada; serão válidas as
comunidades escolar e local em conselhos
deliberações tomadas por metade mais um dos
escolares ou equivalentes", esses conselhos
votos dos presentes da reunião.
devem ser implementados para se ter uma
Composição: Todos os segmentos existentes
gestão democrática.
na comunidade escolar deverão estar
Porém, como afirma Carlos Drummond
representados no CE, assegurada a paridade
Andrade: "as leis não bastam. Os lírios não
(número igual de representantes por
nascem das leis" (SEED 1998, p. 44).
segmento); o diretor é membro nato do
Dessa forma, os Conselhos Escolares podem
conselho.
servir somente para discutir problemas
• Processo de escolha dos membros: A
burocráticos, ser compostos apenas por
eleição dos membros e suplentes deverá ser
professores e diretor(a), como um ‘Conselho de
feita na unidade escolar, por votação direta,
Classe’, mas se estiver dentro dos princípios da
secreta e facultativa.
Gestão Democrática esse Conselho terá que
• Presidência do Conselho Escolar:
discutir politicamente os problemas reais da
Qualquer membro efetivo do conselho poderá
escola e do lugar que ela está inserida com a
ser eleito seu presidente, desde que esteja em
participação de todos os sujeitos do processo.
pleno gozo de sua capacidade civil.
Para que se garanta a constituição de um
• Critérios de participação: Participam do
Conselho Escolar com essas características,
Conselho com direito a voz e voto todos os
Antunes (SEED, 1998), aponta alguns
membros eleitos por seus pares; os
parâmetros importantes a serem considerados:
representantes dos estudantes a partir da 4ª
• Natureza do Conselho Escolar: Deve ser
série ou com mais de 10 anos terão sempre
deliberativa, consultiva, normativa e
direito a voz e voto, salvo nos assuntos que, por
fiscalizadora.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

força legal, sejam restritivos aos que estiverem esteja presente na realidade escolar, algumas
no gozo de sua capacidade civil; poderão características são fundamentais:
participar das reuniões do Conselho, com • Comunicação eficiente: Um projeto
direito a voz e não voto, os profissionais de deve ser factível e seu enunciado facilmente
outras secretarias que atendam às escolas, compreendido.
representantes de entidades conveniadas, • Adesão voluntária e consciente ao
Grêmio Estudantil, membros da comunidade, projeto: Todos precisam estar envolvidos. A
movimentos populares organizados e corresponsabilidade é um fator decisivo no
entidades sindicais. êxito de um projeto.
• Mandato: Um ano, com direito à • Suporte institucional e financeiro: Tem
recondução. que ter vontade política, pleno conhecimento
de todos e recursos financeiros claramente
PROJETO POLÍTICO definidos.
• Controle, acompanhamento e avaliação
PEDAGÓGICO (PPP) do projeto: Um projeto que não pressupõe
Assim como o Conselho Escolar, o PPP constante avaliação não consegue saber se seus
também tem leis para assegurá-lo. Na LDB, o objetivos estão sendo atingidos.
Artigo 12 dispõe: "Os estabelecimentos de • Credibilidade: As ideias podem ser boas,
ensino (..) terão incumbência de: (Inciso I:) mas, se os que as defendem não têm prestígio,
elaborar e executar sua proposta pedagógica". comprovada competência e legitimidade, o
Também no Artigo 13º das incumbências dos projeto pode ficar bem limitado.
docentes, o Inciso I lê: "participar da elaboração
da proposta pedagógica do estabelecimento de
ensino"; e o Inciso II lê: "elaborar e cumprir
COMPETÊNCIAS DO DIRETOR E
plano de trabalho, segundo a proposta DOS AGENTES ESCOLARES
pedagógica do estabelecimento de ensino". O diretor da escola é um líder institucional.
Percebe-se, porém, que a palavra ‘político’ é Dirigir uma unidade escolar é um desafio
descartada, como se qualquer PPP não tivesse bastante complexo, tarefas para poucos
uma ideologia e concepções que o cerceiem. membros do quadro de magistério.
Dessa forma, a lei assegura que se faça um Sendo o elo entre os níveis educacional
Projeto Pedagógico da escola, mas deixa aberto superiores e a Unidade Escolar, sua função
para que se faça um documento somente operacional é repleta de pressões, conflito e
técnico, sem a devida discussão, que muitas mudanças que partem tanto do cotidiano
vezes é feito só para cumprir a lei, tornando-se escolar, do sistema educacional e também da
assim um instrumento meramente burocrático sociedade.
e bem longe da realidade esperada. Há necessidade de liderança na unidade
Para que se tenha êxito em fazer um escolar. E esta é inerente ao diretor de escola.
Projeto Político-Pedagógico, com a participação O diretor deve ser um facilitador de interação,
da comunidade, e para que sua implementação um mediador de conflitos e consensos, enfim,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

um articulador educacional com funções práticas democráticas na escola, visando o


operacionais generalizadas no âmbito da desenvolvimento intelectual dos alunos.
escola. E, como líder, deve inclusive, delegar No que tocante respeito à legislação, o
competências e designar comissões nas varias diretor de escola deve conhecê-la
tarefas que envolvem o contexto escolar. perfeitamente. O conhecimento das leis,
Administrar uma escola é algo que supõe decretos, portarias, instruções e regulamentos
domínio técnico de procedimentos tanto permitem ao diretor encontrar respostas para
quanto qualquer outro empreendimento uma grande quantidade de questões práticas
social. É dar abertura para novas idéias, usar da como: processos individuais, registro e
franqueza, receber opiniões, refletir sobre fichários, requerimentos, contabilidade,
diferentes pontos. A troca de idéias deve relatórios, etc.
ocorrer de um clima positivo alargando o As ações, palavras e atitudes da direção da
envolvimento de todos nos processos de escola são muito importantes. A coerência tem
mudanças necessárias. de estar presente, uma vez que manter o
Existem indivíduos que despontam ambiente propicio ao desenvolvimento do
naturalmente para exercer essa liderança e trabalho, tratando a todos com urbanidade, é
certamente o farão se o ambiente favorecer. condição vital para o relacionamento, e sempre
Mas mesmo eles precisam de orientação para manter adequada postura no tato com as
empregar essa habilidade e toda a energia em pessoas.
nome do bem coletivo. Trata-se de um exercício É possível perceber que as atribuições do
associado à consciência de responsabilidade diretor de escola são mais de caráter
social. A gestão é democrática e participativa, organizacional e administrativo, as exigências
He a oportunidade de desenvolver essa são altas para o cargo, pois se pressupõe que
característica em diversos agentes. Somente ele é um profissional especializado. Contudo
governos e organizações autoritários e nota-se que o diretor não é um sujeito isolado,
centralizados não permitem isso. E a escola, é ele precisa constantemente estar inserido a
claro, não deve ser assim. uma ação cooperativa e diferenciada, se deseja
A maneira como o diretor é escolhido para o obter bons resultados dentro do complexo
cargo é da seguinte maneira: há concurso processo der ensino-aprendizagem. O diretor
público em um sistema de pontuação que desempenha um papel caracterizado pela
permite ao melhor classificado optar pela liderança, que se faz necessário devido sua
escola de sua preferência. Cabe ao diretor, função.
assumir responsabilidades inerentes aos (...) é importante reconhecer que todo
compromissos educacionais, buscar como trabalho em educação, dada a sua natureza
mediador entre aluno-escola, professor-escola, formadora, implica ação de liderança, que se
aluno-professor, equipe administrativa-equipe constitui na capacidade de influenciar
pedagógica e escola-comunidade, o positivamente pessoas, para que, em conjunto,
envolvimento de todos no planejamento das aprendam, construam, conhecimento,
propostas escolares para a realização de desenvolvam competências, realizem projetos,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

promovam melhoria em alguma condição, e até competências as escolas, uma vez que uma
mesmo divirtam-se juntas de modo influência a outra.
construtivo, desenvolvendo as inteligências De acordo com Dutra (2001):
sociais e emocionais (LUCK, 2008, p 17). [...] competência é compreendida por muitas
O agente escolar é um profissional que atua pessoas e por alguns teóricos da administração
em diversas áreas do ambiente de ensino. Nem como um conjunto de conhecimentos,
todos, porém, sabem exatamente o que este habilidades e atitudes necessárias para que a
profissional faz ou o que se espera dele. Com pessoa desenvolva suas atribuições e
funções bastante abrangentes e importantes, responsabilidades (DUTRA,2001, p.34).
esse profissional precisa estar pronto para E segundo o dicionário Aurélio (2002),
ajudar em várias áreas. Antes sua função era competência: Faculdade que a lei concede a
realizar: limpeza, higiene, conservação e funcionário, juiz ou tribunal para apreciar e
manutenção do prédio escolar e de suas julgar certos pleitos ou questões. Capacidade,
instalações, equipamentos, materiais, aptidão. Alçada, jurisdição.
preparação e distribuição das refeições e
merenda aos educandos. Como a prefeitura GESTÃO COMPARTILHADA
terceirizou esses serviços, cabe ao agente
O diretor deve ser o principal orientador das
escolar nova função.
diretrizes da escola. Mas, apesar disso, essa
Segundo a Portaria 3681 de 28 de agosto de
atuação não deve ser exclusividade dele.
2008, são elas:
A escola precisa trabalhar para se tornar ela
I – Auxiliar no atendimento e organização
própria uma comunidade social de
dos educandos nas áreas de circulação
aprendizagem também no quesito liderança,
interna/externa, nos horários de entrada,
tendo em vista que a natureza do trabalho
recreio e saída;
educacional e os novos paradigmas
II – Prestar atendimento aos educandos nas
organizacionais exigem essa habilidade.
atividades desenvolvidas fora de sala de aula;
Para que isso aconteça, é primordial a
III – Auxiliar no atendimento aos educandos
atuação de inúmeras pessoas, mediante a
que apresentam necessidades educacionais
prática da coliderança e da gestão
especiais;
compartilhada.
IV – Desempenhar as atividades de portaria;
Em vista disso, atuar como mentor do
V – Prestar atendimento ao público interno e
desenvolvimento de novas lideranças na escola
externo, com habilidade no relacionamento
é uma das habilidades fundamentais para um
pessoal e transmissão de informações
diretor eficiente.
(2008.s.p).
Podemos mencionar em níveis ou
Ao especificar as atribuições de cada um, o
abrangências. Num primeiro nível, ela se
que quero mostrar é que ambos são de suma
circunscreve à equipe central, geralmente
importância para o perfeito andamento da
formada pelo diretor, o vice ou o assistente de
Unidade Escolar. Cada um possui competências
direção, o coordenador ou o supervisor
individuais, que devem estar atreladas às
pedagógico e o orientador educacional.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nesse âmbito, é necessário praticar a Administrar hoje é sair dos manuais e


coliderança, ou seja, uma liderança exercida em descobrir caminhos rapidos e eficazes para
conjunto e com responsabilidade sobre os atingir resultados.
resultados da escola. Isso significa uma grande oportunidade de
Para isso, é importante haver um descobertas de uma nova visão, a visão da
entendimento contínuo entre esses gestão compartilhada.
profissionais. Num sentido mais amplo, a É importante destacar a diferença entre ter
gestão compartilhada envolve professores, autoridade e ser autoritário.
alunos, funcionários e pais de alunos. É uma Todo profissional deve ter autoridade para
maneira mais aberta de dirigir a instituição. exercício de suas responsábilidades.
Para isso funcionar, é preciso que todos os E em nenhuma profissão ela é conseguida
envolvidos assumam e compartilhem pelo cargo, mas sim pela competência.
responsabilidades nas múltiplas áreas de Já o autoritarismo é constutuido pelo
atuação da escola. comando com base na posição ocupada pela
Num contexto como esse, as pessoas têm pessoa que, não tendo a dvida competência,
liberdade de atuar e intervir e, por isso, se determina e obriga o cumprimento de tarefas
sentem à vontade para criar e propor soluções sem fazer com que os envolvidos
para os diversos problemas que surgem, compreendam adequadamente os processos e
sempre no intuito de atingir os objetivos da as implicações envolvidos na realização do
unidade escolar. Estimula-se assim a trabalho. Quando identifica essa situação, a
proatividade. tendência da equipe é passar a agir sem
Hoje um novo paradigma de gestão se comprometimento, gerando um ambiente de
estabelesce, em que as palavras chave são trabalho conturbado, cujos resultados são
“alternativa” “possibilidade” e “envolvimento” sempre menos efetivos do que poderiam ser.
no lugar de obediência cega. O desenvolvimento das potencialidades
Administrar, neste contexto exige muito administrativas do gestor, pode gerar atitudes
mais do que habilidades tecnicas e analiticas. na sua equipe educacional como autonomia,
Significa sim, a capacidade de enfrentar análise e reflexão assenciais à formação do
exigencias, riscos e incertezas diferentes e mais cidadão. Assim a gestão escolar refere-se ao
desafiantes. trabalho aplicado na busca de soluções de
O grande desafio da administração não é determinadas problemáticas apresentadas no
mais somente o ajustamento das pessoas ao dia-a-dia da escola. Por meio deste artigo
cumprimento das funções previstas nas buscou-se identificar o desenvolvimento da
descrições de cargos, mas com o gestão escola, em função da eficiência e clima
desenvolvimento das pessoas e o cultivo de entre todo o grupo, verificando como os
suas maiores habilidades para escolher mesmos auxiliam a equipe escola, a superar as
caminhos e enfrentar a realidade exterior dificuldades encontradas de maneira positiva e
dinâmica e em continua transformação. cooperativa. Quando isso acontece, todos se
sentem partes do processo e o sucesso é certo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A escola que almeja alcançar qualidade no


trabalho, precisa desenvolver a motivação com
seus funcionários e ter um líder que acredite
nas pessoas com quem trabalha, pois somente
com a ação efetiva delas é possível promover a
transformação desejada.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discutir a gestão democrática da escola traz à tona questões ligadas ao exercício da
cidadania e postura política dos envolvidos no cotidiano escolar. Desta forma pode-se observar
na presente pesquisa que para uma efetiva gestão democrática, vários aspectos devem ser
considerados sendo que o gestor escolar deve perceber-se como articulador desse processo
político, e os agentes escolares por outro lado sentirem-se importantes nesse processo.
O conceito de gestão já pressupõe a idéia de participação, isto é, de trabalho associado de
pessoas analisando situações, decidindo sobre seu encaminhamento e agindo sobre elas em
conjunto. Isso porque o êxito de uma organização depende da ação coletiva conjunta de seus
componentes, pelo trabalho associado, mediante reciprocidade que cria um todo orientado por
uma vontade coletiva. Cada indivíduo deve ser objeto da ação educativa. Entendemos que a
gestão pressupõe liderança, e essa liderança para ser eficaz, tem que ser democrática. O líder
democrático procura sempre que possível a participação dos membros do grupo na formação de
programas de ação. Estimula e orienta discussões e decisões, dá a todos os participantes ampla
perspectiva da razão e da continuidade das atividades sugerindo uma melhor execução do
trabalho, faz de maneira a sempre permitir alternativas. O líder não procura educar e instruir cada
funcionário individualmente.
Sua ambição é estimular e orientar cada pessoa no sentido de que ela passa realizar-se em
sua plena potência e sentir-se membro importante do grupo. Liderança em seu sentido
democrático, deve ser um elo que faz com que um grupo de trabalho não seja apenas uma coleção
de indivíduos. Exercer liderança deve ter como objetivo maior planejar, orientar, coordenar e
controlar os esforços de todos a fim de que em conjunto possam alcançar seus objetivos mais
eficientes. O líder democrático procura sem cessar estabelecer situações favoráveis para que cada
pessoa possa desenvolver-se ao máximo, e para que possa alcançar sucesso e satisfação no
trabalho.
Portanto, o caminho para se obter um relacionamento profissional saudável e desejável
dentro de uma unidade escolar, é aquele, na qual todos possam caminhar lado a lado, suas
opiniões são ouvidas e respeitadas, por meio dos quais as ideias da maioria e da minoria possam
estar integradas de tal maneira que as decisões tomadas represente a vontade do todo. Nesse
modelo as pessoas (direção, agentes escolares, e todos que fazem parte deste contexto) deverão
agir construtivamente, uma vez que não haverá democracia sem a contribuição efetiva de cada
um de seus elementos.

1089
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1090
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

GESTÃO E LEGITIMAÇÃO DO CURRÍCULO NOS


PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Sirley Girardi Barbosa1

RESUMO: O sistema de educação brasileiro vem sofrendo transformações e mudanças ao longo


dos tempos influenciados pela evolução social, política e econômica. Uma dessas mudanças tange
à gestão, que antes era definida apenas como administração de bens materiais e humanos, no
decorrer da história passou a ser concebida como uma nova forma de administrar, focando numa
liderança democrática baseada na comunicação e diálogo de todos os envolvidos no processo
ensino aprendizagem. Busca-se com esta pesquisa uma compreensão maior do que é uma gestão
democrática, como ela acontece, quem são os seus componentes e qual a sua função na
legitimação de um currículo real e funcional. Procurou-se uma fundamentação pela legislação em
vigor e os pareceres de especialistas em educação para um melhor entendimento da articulação
existente entre gestão democrática, Projeto Político Pedagógico e Currículo. Concluindo-se que
uma gestão somente é democrática se baseada na participação coletiva e atender às necessidades
e contexto da comunidade escolar, sendo possível por meio da construção do Projeto Político
Pedagógico que irá promover e legitimar um currículo fundamentado pela base nacional comum
e adequado à realidade local e diversidade, atendendo aos direitos de aprendizagem e
desenvolvimento humano.

Palavras-Chave: Gestão democrática; Projeto Político Pedagógico; Currículo.

1Professora de Educação Básica Fundamental I na Rede Municipal de Arujá e Mogi das Cruzes.
Graduação: Licenciatura Plena em Pedagogia; Especialização em Alfabetização: Especialização em Letramento;
Especialização em Gestão Escolar; Especialização em Educação Inclusiva.
E-mail: sirleygirardibarbosa@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO aconteça realmente a legitimação deste tipo de


gestão no meio escolar e como atingir os
Este artigo busca uma definição mais objetivos pedagógicos mediante a definição de
delimitada do tema gestão, seus protagonistas um currículo que tenha uma base nacional
e suas atribuições, conduzindo a um comum. Neste contexto, torna-se primordial a
entendimento maior da importância concebida participação ativa da gestão democrática em
pela função e a necessidade de uma boa definir de acordo com os documentos oficiais, o
formação contínua para dispor de currículo em toda a sua complexidade e
conhecimentos no seu exercício. dimensão, que irá melhor atender às
Já existia desde muito antes uma necessidades de sua comunidade, dentro de
preocupação, às vezes claras, outras ocultas em uma situação dialógica, buscar a legitimação de
ter uma escola com maior autonomia em suas um currículo que vise não apenas à aquisição de
decisões. Desde o manifesto dos pioneiros de uma base mínima de conteúdos que deverão
1932, que já expressavam a necessidade em compô-lo, mas ir além do proposto e
organizar um ensino adequado à sociedade, complementá-lo de acordo com as habilidades
que atendesse a todos de maneira igualitária, a serem trabalhadas e desenvolvidas de acordo
sendo a educação pública um dever do Estado, com o contexto escolar.
não poderia apenas privilegiar a classe elitista. Objetivamos compreender o que é gestão
O manifesto dos pioneiros vislumbrava um democrática, quais meios para alcançá-la e a
modelo de educação que bem mais tarde viria relação entre gestão democrática e currículo;
a ser garantido pela Constituição Federal de explicar o significado de gestão educacional
1988, embora até os dias atuais ainda democrática; identificar o quadro de
permaneça em implantação. composição da gestão; interpretar as leis que
Prosseguindo o curso da história, foi na regem a gestão democrática e o currículo;
CF/88 que apareceu uma menção clara ao tipo descrever a legitimação do currículo por uma
de gestão que seria necessária para que a gestão democrática. Objetivamos
educação atingisse os objetivos que visavam Ao longo da história da educação brasileira,
melhoria de qualidade, igualitarismo e sempre se fizeram presentes várias ideologias,
universalidade. fruto dos fatos sociais, da política ou da
A gestão escolar visualizada seria aquela que situação econômica vivenciada no período, que
trouxesse uma participação e colaboração influenciaram e até mesmo modificaram os
maior de todos os envolvidos no processo, que rumos que foram tomados. Sabe-se que é na
as decisões partissem de uma discussão escola e pela escola que se promovem as
coletiva, mediada pelo conhecimento científico transformações necessárias para o
e que o resultado fosse a prol de uma educação desenvolvimento da sociedade. Com base
melhor e adequada à comunidade em que nessa afirmativa, desde a Escola Nova, os
estivesse inserida. estudiosos e sociedade civil em geral ansiavam
Já definido o que se espera de uma gestão por uma educação que fosse moldada para
democrática, ressaltam-se os meios para que atender as necessidades locais, que tivesse uma

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autonomia maior de decisão, sendo o meio atividade e capacidade humana de estabelecer


para tal uma escola em que estivesse presente os objetivos cumpridos”, (PARO, 2006,
uma democracia, que seria praticada pela p.18;19). Ao olhar para os recursos utilizados
participação coletiva e mediada por profissional no ato de administrar, quais são? São eles
competente. Surge neste contexto as primeiras recursos materiais e os recursos humanos.
ideias de gestão democrática, currículo Com o passar do tempo gestão passou a ser
nacional unificado e uma escola mais cidadã. utilizado no contexto educacional e a partir dos
Como questão norteadora elencamos: Qual anos 90 ganhou nova significação, sendo
é o papel da gestão democrática na utilizado como um meio de superação das
implantação e implementação de um currículo limitações do conceito de administração, sendo
de base nacional comum, que promova uma assim:
aprendizagem contextualizada e garanta os (...) gestão educacional corresponde ao
direitos de aprendizagem previstos nos processo de gerir a dinâmica do sistema de
documentos oficiais? ensino como um todo e de coordenação das
escolas em específico, afinado com as diretrizes
GESTÃO ESCOLAR e políticas educacionais públicas, para
implementação das políticas educacionais e
Uma forma de conceituar gestão é vê-la
projetos pedagógicos das escolas,
como um processo de mobilização da
compromissados com os princípios da
competência e da energia de pessoas
democracia e com métodos que organizem e
coletivamente organizadas para que, por sua
criem condições para um ambiente educacional
participação ativa e competente, promovam a
autônomo com soluções próprias, no âmbito de
realização, o mais plenamente possível, dos
suas competências de participação e
objetivos de sua unidade de trabalho, no caso,
compartilhamento de resultados, autocontrole
os objetivos educacionais (LUCK, 2006, p.21).
e transparência (demonstração pública de seus
Gestão escolar é uma forma de
processos e resultados)(LUCK, 2006, p. 35;36).
administração de instituição escolar, gerindo
Fica evidenciado que o tema administração
pessoas, delegando responsabilidades, funções
passou do sentido de uma ação vertical, na qual
e obrigações, orientando os demais
quem detém o poder é quem organiza, decide
componentes da equipe escolar e zelando pelo
e faz; para o horizontal, na qual quem detém o
cumprimento da legislação de acordo com os
poder, organiza, decide e faz em atuação
princípios educacionais.
coletiva com os outros membros que fazem
Tratando de administração escolar o
parte daquele quadro de funcionários. De
dicionário Aurélio traz a seguinte definição:
acordo com Lück (2006), o conceito de gestão
administração e gestão estão definidas como
“já pressupõe, em si, a ideia de participação,
uma ação que tem por finalidade governar uma
isto é, do trabalho associado e cooperativo de
empresa ou órgão público.
pessoas na análise de situações, na tomada de
A administração é a utilização racional de
decisão.”
recursos para a realização de fins
determinados, ou seja,” ela se organiza com a

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De fato, em qualquer tipo de instituição conhecimento que afetam as organizações do


privada ou pública existe a necessidade de uma trabalho e o perfil dos trabalhadores, na
gestão para administrar os recursos materiais, qualificação profissional e consequentemente
que estão relacionados ao financeiro, nos sistemas de ensino e nas escolas. Essas
estruturação e manutenção de bens transformações caracterizam novas realidades
consumíveis e não consumíveis; e os recursos sociais, políticas, econômicas, culturais e
humanos, que se relacionam ao pessoal que geográficas.
compõe todo o quadro funcional, envolve Nesse cenário, a educação tem o desafio de
liderança, cooperação e participação coletiva, assimilar todas essas mudanças, de forma a
delegar obrigações, cobrar e avaliar resultados. buscar um trabalho contextualizado, efetivo e
No âmbito escolar a gestão sempre esteve significativo.
intimamente ligada às políticas de educação, As formas educativas a que se objetiva o
porque são por meio da gestão que são currículo têm a tarefa de entender o contexto
colocados em funcionamento ou praticados as histórico, político e social no qual atua para que
metas e objetivos estabelecidos pelas políticas sua ação seja incisiva no que tange a formação
públicas. Dessa maneira, o gestor é responsável crítica-reflexiva dos indivíduos que agregam a
pela parte legal, administração da escola de estas formas. Assim, é de suma importância
acordo com as diretrizes comuns, que se conheça conceitos bases que sustentam
hierarquicamente estabelecida pelos órgãos a educação, para que o trabalho se desenvolva
governamentais. Qualquer mudança no quadro de forma direcionada, competente e
político, econômico ou social interfere ou altera transformadora. É necessário refletir sobre o
a administração. critério de seleção para tal cargo, que segundo
A gestão pelo que definido, implica em gerir, Demo (2008), é requerido uma série de
administrar, conduzindo a um enfoque maior conhecimentos e habilidades:
de organizar, mobilizar e articular recursos Não é, porém, o caso da escola, porque seu
materiais e humanos em prol dos objetivos diretor tem como tarefa principal cuidar da
estabelecidos para que aconteça o pleno aprendizagem dos alunos, zelar pelo corpo de
desenvolvimento dos alunos. A gestão escolar professores e funcionários, equipar e promover
tem um papel importantíssimo na sociedade, tecnicamente o espaço físico, manejar
porque é ela quem poderá diagnosticar os tecnologias educacionais etc. o que afasta,
problemas, promover ações e criar estratégias desde logo, a possibilidade de “qualquer um”
para os melhoramentos necessários. Por esse tornar-se diretor, mesmo que seja
motivo o gestor escolar tem várias atribuições estrondosamente bem eleito. Muitos haveriam
que necessitam conhecimentos que devem ser de defender, então, que a eleição poderia ser
fruto de muito estudo e formações contínuas precedida de alguma prova técnica, ou algo
ao longo de sua carreira. parecido, como elaboração e defesa de um
As instituições escolares estão diante de projeto pedagógico, para dar espaço adequado
mudanças como: avanços científicos e à qualidade formal (DEMO, 2008, p.38).
tecnológicos, mudanças no mundo do

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Nota-se que o autor demonstra certa mesmo tempo, encontra as fontes de seus
preocupação na formação daquele que poderia condicionantes (PARO, 2005, p.13).
exercer uma função que exige habilidades Na LDBEN 9394/96 (1996), consta que a
específicas e mobilização de conhecimentos e gestão nas escolas deve atuar
experiências, não distante da realidade democraticamente, conforme artigo 3º, inciso
vivenciada nas escolas, muitas vezes a equipe VIII “gestão democrática do ensino público, na
gestora é nomeada por meio de concursos, que forma desta Lei e na legislação dos sistemas do
não garantem qualidades necessárias à ensino”. E ainda rege o artigo 14:
execução da função. Ou, ainda, podem ser Art. 14 Os sistemas de ensino definirão as
nomeados seguindo critérios subjetivos normas da gestão democrática do ensino
“trocamos diretores impostos pela esfera público na educação básica, de acordo com as
político-partidária por outros inventados suas peculiaridades e conforme os seguintes
através de processos unilaterais de eleição” princípios:
(DEMO,2008, p.39). I- Participação dos profissionais da educação
na elaboração do projeto pedagógico na escola;
GESTÃO DEMOCRÁTICA II- Participação da comunidade escolar e
A gestão deve ser um ato democrático, local em conselhos escolares ou equivalentes
possibilitando a participação de todos, (BRASIL,1996, s.p).
transparência do trabalho e a democracia nos Uma gestão democrática já vem sendo
atos e decisões. Sendo assim, para que uma defendida nas escolas públicas há muitos anos,
gestão seja democrática necessita-se que a por configurar como uma demanda social que
mesma esteja descentralizada, na qual a ação busca melhoria da qualidade do ensino, um
seja planejada e efetuada de forma não currículo que atenda a realidade local, um
hierarquizada, contando com a participação maior comprometimento de toda a equipe
coletiva da comunidade escolar (alunos, envolvida no processo e uma cooperação e
professores, funcionários, pais etc.) e maior participação da comunidade na vida
mostrando transparência em seu trabalho. escolar.
Conforme Paro (2005): Não é uma tarefa fácil trazer para a escola a
A atividade administrativa não se dá no democratização, fazer com que todos os
vazio, mas em condições históricas envolvidos no processo se empenhem e
determinadas para atender a necessidades e tenham uma participação ativa, mas caberá ao
interesses de pessoas e grupos. Da mesma gestor criar um ambiente propício que estimule
forma, a educação escolar não se faz separada trabalhos conjuntos, articulando todos os
dos interesses e forças sociais presentes numa setores, orientando as decisões e conduzindo à
determinada situação histórica. A cooperação mútua.
administração escolar está, assim, A gestão democrática se concretiza pelo
organicamente ligada à totalidade social, onde exercício da participação, convivência e
ela se realiza e exerce sua ação e, onde, ao respeito às diferenças, considerando a
realidade da escola, suas necessidades e

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sempre buscando as soluções dos problemas De acordo com Paro, apud, Saviani (p.104,
por meio de análises e decisões coletivas. 2006), a escola é um espaço onde devemos
Quando se pensa em participação coletiva, procurar um consenso, um bem comum,
deve-se considerar que essa só será efetiva se fortalecendo as relações coletivas em prol de
aqueles que compõem a comunidade escolar objetivos comuns. É pela educação que
conhecerem as leis que regem o sistema, conseguiremos transformar realidades e
tiverem acesso as propostas governamentais, libertar a classe menos favorecida do domínio
definirem o tipo de escola que querem da dominante.
construir, projetarem os objetivos a serem Onde a adoção dos mecanismos gerenciais
alcançados e traçarem as metas para tal. Assim, da administração capitalista na escola
realmente estarão engajados na vida escolar, repercute de forma especialmente singular é
preparados para discutir e decidir o melhor precisamente no papel desempenhado pelo
para a sua comunidade, participar ativamente diretor escolar, que passa a assumir, nesse
na formulação do seu Projeto Político processo, posição bastante contraditória, já
Pedagógico. que tem de exercer duas ordens de funções, em
A concentração de um projeto na escola não princípio, inconciliáveis: como educador ele
é só responsabilidade do gestor, mas parte da precisa cuidar da busca dos objetivos
participação da comunidade escolar, para educacionais da escola; como gerente e
tanto, é necessário que se faça um diagnóstico responsável último pela instituição escolar, tem
da escola em suas dimensões: história, alunos, de fazer cumprir as determinações emanadas
comunidades, sociedade, recursos dos órgãos superiores do sistema de ensino
físicos/materiais/financeiros/ humanos, que, em grande parte, acabam por concorrer
problemas pedagógicos, legislação, políticas para a frustração de tais objetivos (PARO, 2006,
educacionais públicas. p. 133).
O projeto da escola depende, sobretudo da Entende-se que uma gestão democrática
ousadia dos seus agentes, da ousadia de cada deveria direcionar-se a um trabalho coletivo
escola em assume-se como tal, partindo com participativo, atribuição que se opõe às
sua coragem, com o seu cotidiano e o seu realidades vivenciadas no meio educacional, no
tempo, espaço-espaço (GADOTTI, 2000, p.22). qual existe uma falsa participação ou uma
Portanto, cabe a cada escola olhar para sua participação passiva e uma
clientela e criar situações propícias para que a “pseudodemocracia”, em que os principais
construção do Projeto Político Pedagógico seja interessados em emitir opiniões e decisões são
fruto de uma participação coletiva e ativa em induzidos a apenas concordar com decisões que
todas as suas etapas, pensando no espaço já foram previamente tomadas pelo grupo
como uma ponte que irá proporcionar às gestor. A realidade escolar está entrando em
crianças permearem o presente e passado na uma nova época de imediatismos, em que se
construção socialmente vivenciada em seu tomam decisões previamente, para “adiantar”
cotidiano. os trabalhos que serão realizados. Lück nos

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alerta sobre estas situações em que existe uma Segundo Lück, (p. 50, 2006), são os valores
falsa democracia na postura da gestão: que orientam a ação participativa hábil em
Isto é, realizam-se reuniões, debates, educação: a ética, a solidariedade, a equidade e
seminários em que são apresentadas para o compromisso. Nesta visão deve existir na
discussão questões a partir de decisões e ideias escola uma ação participativa solidária de
já formadas antecipadamente a respeito, ou todos, um engajamento da equipe, visando
então que se tem a oportunidade de falar à democratizar uma escola que respeite e faça as
vontade, de exercer o “direito de voz e escolhas no coletivo e para o coletivo.
opinião”, sem esforço pelo aprofundamento da Uma gestão democrática deve conhecer suas
compreensão sobre as questões tratadas e pela atribuições e estabelecer seus objetivos no
construção de compromissos coletivos em meio escolar em que estiver inserida. Não
torno delas. Participação, portanto, não é existe democracia no espaço que não considera
discussão, nem mera expressão de aval a as opiniões e reflexões do grupo. Na busca por
decisões (LUCK, 2006, p.24; 25). uma participação ativa, a equipe gestora deve
Não se pode aceitar uma escola aprisionada direcionar, orientar todos os colaboradores,
em conceitos já ultrapassados de uma falsa para os objetivos que norteiam a instituição
democracia, em que as decisões são tomadas escolar.
pela minoria e aceita pela maioria, Segundo Lück (2006), essa orientação é
passivamente, sem uma participação efetiva, primordial para o êxito do trabalho de todos os
negando o exercício da cidadania conquistada e envolvidos:
garantida pela nossa CF/88, LDBN 9394/96 e Portanto, cabe alertar que a promoção da
pelo novo PNE/2014. São muitas as leis criadas participação deve ser orientada e se justifica na
para nos garantir direito à democracia e medida em que seja voltada para a realização
cidadania, porém é um processo complexo e de objetivos educacionais claros e
exaustivo sua prática em um meio tão arraigado determinados, relacionados à transformação
pelo ranço da ditadura, do autoritarismo. da própria prática pedagógica da escola e de
Os sistemas de ensino definirão as normas da sua estrutura social, de maneira a se tornar
gestão democrática de ensino público na mais efetiva na formação de seus alunos e na
educação básica, de acordo com as suas promoção de melhoria de seus níveis de
peculiaridades e conforme os seguintes aprendizagem. Estes aspectos constituem-se
princípios: em objetivos maiores e indicadores da
I – participação dos profissionais da qualidade de ensino e efetividade das
educação na elaboração do projeto político- participações promovidas (LUCK, 2006, p.52).
pedagógico da escola; Percebe-se inserido no meio escolar um jogo
II - participação das comunidades escolar e de poderes, que correspondem à posições
local em conselhos escolares ou individualistas, tendenciosas, muitas vezes
equivalentes(BRASIL, 1996,s.p). oportunistas que não conduzem e nem
interessam para a boa funcionalidade e êxito de
uma gestão democrática e participativa que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

vise ao objetivo e objeto principal de toda a regulamentações ou projetos alheios à sua


intencionalidade da instituição escolar, a realidade, mas que devem ser agregados sem
aprendizagem do aluno. É uma das atribuições uma reflexão do contrapeso funcional ou não
do gestor, segundo Lück (2006, p. 102), funcional ao contexto.
“perceber, compreender e atuar sobre o jogo Pedro Demo (2008), reflete sobre outra
de poder que existe em seu contexto, de modo situação em que às vezes o ato democrático
a poder influenciar essa energia positivamente perde o seu sentido e toma rumos de
e encaminhá-la para as realizações discriminação e distanciamento cultural dentro
educacionais”, parafraseando seria perceber e da própria escola, pela tomada de decisão sem
direcionar estas energias negativas a fim de o real conhecimento das forças de poder
convertê-las positivamente aos objetivos ocultamente enraizadas e pela busca de
educacionais. soluções a curto prazo.
Atribuições de horários, turmas, privilégios Dentro da escola temos outros horizontes de
relacionados ao tempo do exercício ou confusão possível, como é a questão curricular
concessões pessoais, de maneira a considerar e da avaliação. É sempre possível que as
alguns em detrimento a outros, sem uma boa famílias dos alunos, talvez até com a maior boa
reflexão do perfil, aperfeiçoamento ou vontade, compareçam para pedir que se retire
qualificação na profissão, servem para matemática do currículo, já que seria um
exemplificar o uso de poderes que muito tormento para os filhos, ou que se mude a nota
acontecem no contexto escolar. para poder passar. As iniciativas atuais em
Ainda segundo Lück (2006, p.104), uma das torno da promoção automática e da correção
formas de manifestação de poder é a expressão do fluxo não estão longe deste risco: já que a
de poder por referência, em que o indivíduo se escola não tem tido competência técnica
sente mais “cheio de direitos”, devido ao tempo satisfatória para fazer o aluno aprender,
de exercício da profissão, ou pela situação e descamba-se para arranjos políticos, que, no
atribuições que foram conferidas, mas sem fundo, apenas empurram para frente sem a
nenhuma legitimação da organização escolar. devida aprendizagem. Existe algo importante e
Outro seria, a expressão de poder de muito defensável, quando se trata de evitar que
competência, que sinteticamente, relaciona-se alguém seja reprovado por qualquer coisa ou
ao poder de liderança agregado às habilidades de manter a autoestima do aluno. Entretanto, o
adquiridas, que tornam o indivíduo capaz de que pode parecer democrático para com o
influenciar positivamente o grupo, quando bem aluno pobre, acaba prejudicando sobretudo o
direcionado aos propósitos educacionais. E por aluno pobre, que, mais do que ninguém, precisa
último, a prática do contrapoder na escola, que de aprendizagem inequívoca. Na escola, muitas
resume-se em muitas metas, delegadas por vezes denomina-se democrático algo que é
organismos externos, a serem cumpridas, que apenas coisa pobre para o pobre. Fabrica-se um
criam uma situação conflitante no meio escolar; coletivo empobrecedor (DEMO, 2008, p. 41).
os profissionais têm sempre sua rotina e seus
trabalhos direcionados em função de

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Observa-se com estas reflexões que existe Surge, como uma das muitas atribuições dos
um paradoxo entre os objetivos que devem ser gestores, a responsabilidade em implantar no
alcançados e os caminhos traçados para ambiente escolar uma democracia
alcançá-los, quebra-se a autonomia tão verdadeiramente dentro do seu conceito
sonhada e garantida por várias instâncias da advindo do grego demos, “povo”, e kratos,
legislação. “autoridade” uma forma de organização
política que reconhece a cada um dos membros
PROFISSIONAIS QUE da comunidade o direito de participar da
direção e gestão dos assuntos públicos (BARSA,
COMPÕEM O QUADRO DA 2005). Os profissionais da educação devem ser
GESTÃO E SUAS ATRIBUIÇÕES os primeiros a buscar um trabalho mais
Embora entenda-se que a gestão escolar vai reflexivo, respeitando as opiniões e buscando
muito além do âmbito escolar, faz-se sempre o bem comum.
necessário entender como se compõe o quadro Já o coordenador pedagógico tem a sua
de gestão, quem são os responsáveis e em que função estritamente ligada ao professor e ao
são responsáveis. As mudanças que já vem diretor, ao primeiro pelo apoio que deve dar
acontecendo na educação há décadas, para transformar a escola no espaço, no qual
conduzem para a construção de uma escola realmente aconteça a aprendizagem; e ao
com maior autonomia, que consiga delimitar segundo por ser uma ponte entre a realidade da
seus objetivos e alcançá-los. E para tal, fazem- vida escolar, as metas a serem atingidas e as
se necessários indivíduos preparados e dotados ações a serem implantadas, ou seja, o
de certas habilidades específicas para orientar, coordenador pedagógico é um mediador entre
direcionar e até mesmo delegar funções dentro o que acontece no processo ensino-
da instituição. aprendizagem e o que deveria acontecer.
A busca de se alcançar bons resultados de Vera Placco (2008), defende que o
aprendizagem conduziram pesquisas a profissional tenha perfil apoiado em três
analisarem que, somente o trabalho solitário do pilares: ser um formador, um articulador e um
professor em sala de aula não fosse o transformador. Articulador, no que tange a
suficiente, que se faz necessária a atuação de oferecer condições adequadas para que o
outros profissionais para suporte, orientação e professor trabalhe coletivamente o currículo,
direcionamento deste trabalho. contextualizando-o a sua realidade. Formador,
É necessário o entendimento de que é do ofertar ao professor condições para que se
diretor o papel principal nessa hierarquia de aprofunde em sua formação e tenha mais
poder, ele é quem lidera, organiza e articula os segurança na função. E por fim, transformador,
trabalhos no âmbito escolar para que sejam ajudar o professor no processo reflexivo-crítico
atingidas as metas educacionais. Também é o em sua prática, tornando-se capaz de buscar
diretor quem responde pela escola e pelos seus mudanças em sua atuação. Em entrevista ao
resultados. Salto para o Futuro ela relata:

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Do ponto de vista pedagógico, se nós escolas. É responsável por uma assistência ao


tivermos na escola um profissional que seja professor no exercício da profissão, em sua
mediador entre o trabalho do professor com o formação continuada, criando uma parceria no
conhecimento, com o aluno, e com os objetivos processo ensino aprendizagem. É um
do projeto político pedagógico, sem dúvida orientador, aberto ao diálogo, capaz de
alguma que isso será muito mais eficiente, conduzir os trabalhos por meio de parcerias e
muito mais satisfatório, do ponto de vista dos compartilhamentos, focando nos objetivos
resultados do aprendizado do aluno. O que nos educacionais.
interessa na escola é a aprendizagem do aluno. Sua função relaciona-se a assessorar,
Todo o resto é em função dessa aprendizagem. acompanhar, orientar, avaliar e controlar os
Portanto, se alguém puder fazer essa mediação, processos educacionais implementados nas
se alguém puder constituir com os seus diferentes instâncias do sistema educacional,
professores uma equipe, para que o trabalho segundo a Resolução SE 90, de 3-12-2009, da
coletivo da escola se volte para os objetivos da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
educação, e de uma educação de qualidade, Assim fica evidenciado que o supervisor
sem dúvida alguma que nós teremos um Brasil escolar é um articulador entre as decisões e
diferente(PLACO,2008,s.p). ações educacionais, sendo o centro e o
O coordenador pedagógico tem uma função responsável em supervisionar o atendimento
importantíssima no meio educacional, além de ao disposto pela legislação oficial e demanda
estar estritamente envolvido no pedagógico, local.
tem ainda a incumbência de resolver Na formação da equipe gestora existe uma
problemas de conflitos relacionados à articulação entre as funções que requer uma
organização do trabalho coletivo, da disciplina colaboração mútua envolvida em um trabalho
e intervenções junto à família. coletivo e participativo para que aconteça um
Para cumprir com todos estes requisitos que bom funcionamento de todo o sistema
demandam a função de coordenador educacional, em concordância com os objetivos
pedagógico, assim como diretor, é necessária a serem alcançados.
uma formação contínua, um entrosamento
com a equipe escolar e comunidade, buscar ir GESTÃO ESCOLAR E O
além dos conhecimentos teóricos,
concebendo-se que para acompanhar, mediar CURRÍCULO
o trabalho pedagógico e estimular a Primeiramente é relevante conhecermos as
participação de todos é fundamental uma boa definições e conclusões dadas ao termo
percepção e sensibilidade, identificando as currículo diante do espaço educativo. A palavra
principais necessidades da equipe. currículo segundo Goodson (1995), vem do
O supervisor, terceira peça do trio gestor, latim Scurrere, que se refere a curso ou pista de
geralmente é um educador a serviço da corrida. Já para Pacheco (2005), “trata-se de
Secretaria de Educação que presta serviços de conceito que não tem um sentido unívoco, pois
apoio técnico, administrativo e pedagógico às se situa na diversidade de relações de forças e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de conceitos em função das noções que se resumem apenas a propostas e práticas


adotam, o que implica, por vezes, alguma enquanto documentos escritos, mas incluem os
imprecisão acerca da natureza e do âmbito do processos de planejamento, vivenciados e
currículo”. Percebemos pela primeira definição reconstruídos em múltiplos espaços e por
que o currículo é concebido como um curso a múltiplas singularidades no corpo social da
ser seguido, pressupondo-se uma relação de educação (BRASIL, 2013, p.23;24).
conteúdos a serem estudados. Pela segunda Novamente é realçada a importância em se
definição, mais enquadrada à nossa realidade, pensar num currículo que realmente atenda às
o currículo é muito mais complexo, abrange e necessidades da comunidade escolar em que
envolve ideias relacionadas à organização, está inserido, conduzindo aquele que aprende
estruturação, avaliação, considerando em tudo a uma significação maior do conteúdo que lhe é
seu objeto e objetivo fundamental que é o ensinado, visando a uma aprendizagem que ao
aluno. longo dos anos se aprofunde e consolide,
Não se pode negar que o currículo deve ter deixando de ser apenas algo temporário que se
uma parte mais sistematizada, composta de aprende e se esquece, sem aplicabilidade na
propostas necessárias ao desenvolvimento da resolução de problemas diários. Busca-se um
aprendizagem gradual do aluno, mas também currículo que relacione e articule os conteúdos
deve estar contextualizado ao cotidiano oficiais prescritos à realidade de vida do aluno,
daquele que aprende, enredado a realidade da promovendo o enriquecimento de seus
comunidade escolar, deixando de ser uma conhecimentos e desafiando-o à assimilação de
reprodução condicionada para tornar-se uma novos conhecimentos que lhe serão primordiais
proposta norteadora na formação de cidadãos durante a sua formação.
mais conscientes e capazes de desenvolver suas Ainda analisando as Diretrizes (2013), vale
habilidades. ressaltar a importância de uma gestão
De acordo com as Diretrizes Curriculares democrática que valorize a participação
Nacionais da Educação Básica (2013), o coletiva e que busque a organização do espaço
currículo é definido como um conjunto de escolar em função deste conceito de currículo:
práticas que proporcionam a produção, a Cabe, pois, à escola, diante dessa sua
circulação e o consumo de significados no natureza, assumir diferentes papéis, no
espaço social e que contribuem, intensamente, exercício da sua missão essencial, que é a de
para a construção de identidades sociais e construir uma cultura de direitos humanos para
culturais: preparar cidadãos plenos. A educação destina-
Toda política curricular é uma política se a múltiplos sujeitos e tem como objetivo a
cultural, pois o currículo é fruto de uma seleção troca de saberes, a socialização e o confronto
e produção de saberes: campo conflituoso de do conhecimento, segundo diferentes
produção de cultura, de embate entre pessoas abordagens, exercidas por pessoas de
concretas, concepções de conhecimento e diferentes condições físicas, sensoriais,
aprendizagem, formas de imaginar e perceber intelectuais e emocionais, classes sociais,
o mundo. Assim, as políticas curriculares não se crenças, etnias, gêneros, origens, contextos

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socioculturais, e da cidade, do campo e de instalada nos meios sociais, por outro lado
aldeias. Por isso, é preciso fazer da escola a estão muitos professores necessitados de
instituição acolhedora, inclusiva, pois essa é formação e aperfeiçoamento para próprio
uma opção transgressora, porque rompe com a conhecimento na área, dificultando seu papel
ilusão da homogeneidade e provoca, quase de mediador no processo ensino
sempre, uma espécie de crise de identidade aprendizagem. Se no passado existia um
institucional (BRASIL, 2013, p. 25). exercício de poder e controle por parte dos
Com base no apresentado sobre currículo, professores, hoje se encontra uma educação
destaca-se a importância em trazer para a democrática que visa novos rumos no que diz
escola saberes que estejam de acordo com a respeito ao ensino aprendizagem.
vida social atual, com todo o seu processo de Mais uma vez fica bastante perceptível a
globalização, vive-se uma rede cada vez mais complexidade de um currículo para atender as
entrelaçada e movida pelo imediatismo das necessidades de uma sociedade globalizada e
inovações tecnológicas que devem ser atrelada à corrida desenfreada da
consideradas nas propostas curriculares. informatização. Se antes o problema
Os alunos têm contato fora da escola com apresentava-se com conteúdos
um mundo sem fronteiras gerenciado pela contextualizados e estratégias diferenciadas à
informatização, que nem sempre tem seu clientela, agora complica-se envolvendo os
espaço respeitado no âmbito escolar devido a meios e instrumentos para o alcance dos
certa limitação que muitos estabelecem em objetivos, cada vez mais enriquecidos e
nome do currículo. Percebe-se um paradoxo, diferenciados.
se por um lado configura-se a abolição de uma Quando se busca nos documentos oficiais
escola tradicional que enfatizava somente a referências ao que seja “currículo”, constata-se
transmissão de conteúdos de maneira que na CF/1988, não existe uma referência
sistemática e programada, por outro a direta à expressão currículo escolar, embora
instituição escolar não acompanhou ao ritmo sinalize para a questão da educação ser
acelerado da modernização, principalmente no incentivada pela sociedade e defenda o
que tange ao emprego das tecnologias de pluralismo pedagógico que relaciona-se às
informação, que estão sendo agregada como experiências prévias dos alunos, conforme
instrumento de aprendizagem de forma rápida artigo 206, inciso III: "pluralismo de idéias e de
e contextualizada no meio social. concepções pedagógicas, e coexistência de
Surge uma dificuldade de assimilar o instituições públicas e privadas de ensino”. Já
processo de informatização que a escola vem pela LDB/96, o currículo deve contemplar as
enfrentando frente à globalização, com a experiências sociais dos alunos, quando cita
realidade da educação básica brasileira, como sendo abrangências da educação as
principalmente no que diz respeito às escolas manifestações sociais e culturais da sociedade
públicas. Formou-se um quadro preocupante, e o ensino deve ser ministrado valorizando as
se por um lado os alunos estão cada vez mais experiências extraclasses, relatado no artigo 1º
dominantes da tecnologia que encontra-se : A educação abrange os processos formativos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que se desenvolvem na vida familiar, na permanente de que trata o § 5º do art. 7º desta


convivência humana, no trabalho, nas Lei, a implantação dos direitos e objetivos de
instituições de ensino e pesquisa, nos aprendizagem e desenvolvimento que
movimentos sociais e organizações da configurarão a base nacional comum curricular
sociedade civil e nas manifestações culturais. do ensino fundamental(PNE,2014-2024,s.p).
Por outro lado, a LDB (1996), quando trata “Do A ideia, segundo o secretário de Educação
Direito à Educação e do Dever de Educar”, Básica do MEC, Manuel Palácios, é "que sejam
esclarece que o ensino deve ser ministrado especificados, por ano e por componente
levando em consideração vários itens, dentre curricular, os objetivos de aprendizagem do
os quais o da valorização da experiência governo federal”. Ainda segundo o Portal Brasil:
extraescolar. Nota-se uma tendência a favor da Na prática, a Base Nacional apresenta os
formação de um currículo escolar pautado no conteúdos mínimos a serem vistos em sala de
cotidiano extraclasse, no cotidiano aula para as áreas de linguagem, matemática,
sociocultural, situações fundamentais à ciências da natureza e ciências humanas em
educação. cada etapa escolar do estudante.
E finalmente relata-se no PNE (2014- Segundo o documento preliminar, a BNC terá
2024), uma determinação para que seja 60% dos conteúdos a serem aprendidos na
formulada uma Base Nacional Comum Educação Básica do ensino público e do
Curricular, estabelecida anteriormente pela privado, e os 40% restantes serão
LDB/96, Artigos 26, 27 e 28: determinados regionalmente, com abordagem
Meta 2: universalizar o ensino fundamental que valorize peculiaridades locais e também
de 9 (nove) anos para toda a população de 6 que considere escolhas de cada sistema
(seis) a 14 (quatorze) anos e garantir que pelo educacional sobre as experiências e
menos 95% (noventa e cinco por cento) dos conhecimentos a serem oferecidos aos
alunos concluam essa etapa na idade estudantes ao longo do processo de
recomendada, até o último ano de vigência escolarização(BRASIL,2015,s.p).
deste PNE. Vale a pena ressaltar a visão de Libâneo
Estratégias: (1994), que vê nos programas oficiais uma
2.1) o Ministério da Educação, em oportunidade de assegurar um ensino
articulação e colaboração com os Estados, o igualitário e menos discriminante quando
Distrito Federal e os Municípios, deverá, até o elaborado para atender em âmbito nacional e
final do 2o (segundo) ano de vigência deste reelaborado de acordo com as diversidades
PNE, elaborar e encaminhar ao Conselho locais:
Nacional de Educação, precedida de consulta Uma das responsabilidades do poder público
pública nacional, proposta de direitos e é a elaboração de planos e programas oficiais
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de instrução, de âmbito nacional, reelaborados
para os (as) alunos (as) do ensino fundamental; e organizados nos estados e municípios em face
2.2) pactuar entre União, Estados, Distrito de diversidades regionais e locais. Os
Federal e Municípios, no âmbito da instância programas oficiais, à medida que refletem um

1103
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

núcleo comum de garantia da unidade cultural exercem influências, ditam as regras a serem
e política da nação, levam a assegurar a todos seguidas, de maneira muitas vezes
os brasileiros, sem discriminação de classes tendenciosa, comprometendo a relação
sociais e de regiões, o direito de acesso a professor-aluno, considerada por ele, a peça
conhecimentos básicos comuns (LIBÂNEO, mais importante no processo ensino
1994, p.228). aprendizagem. Já se passaram 30 anos e ainda
Percebe-se pela análise das várias leis que permanece como dantes, o professor continua
regulamentam sobre o currículo que, embora sendo submetido às exigências que emanam
exista uma preocupação em garantir os direitos dos superiores, sem ser realmente considerado
de aprendizagem significantes ao aluno, ainda às necessidades a quem se destina todo o
permanece em nossa sociedade, ocultamente, processo, o educando.
a ideia de nivelar pelo mínimo, estabelece-se o O professor bem preparado e conhecedor
mínimo que deverá ser ensinado, sabendo-se desta rede de influências, tem a
que deste, a probabilidade de objetivos responsabilidade e autonomia de adequar as
atingidos não chegará a cem por cento, sendo metas estabelecidas pelos documentos oficiais,
hoje a média de aprovação cinquenta por à realidade e necessidade de sua clientela. É
cento. Assim, o mínimo será fracionado para nesse momento que prevalece a organização
baixo. do trabalho coletivo, que todos analisam e
A responsabilidade em projetar para além decidem o que ensinar, como ensinar e quando
deste mínimo a base curricular a ser ministrada ensinar, atendendo ao estabelecido, porém
nas escolas ficará a critério do gestor, que readaptando-o às necessidades do grupo
sendo um gestor democrático e consciente de atendido. O professor engajado em uma escola
sua responsabilidade social se beneficiará da democrática, que valoriza as experiências
própria lei que permite adequações prévias, as habilidades, e promove o
complementares no currículo para atender às desenvolvimento gradual dos alunos, terá
necessidades da comunidade escolar. posicionamento acolhido pela gestão
(...) Tal gestão consiste no envolvimento de democrática.
todos os que fazem parte direta ou Diante do exposto, caberá ao gestor, quando
indiretamente do processo educacional no em exercício de suas atribuições, organizar toda
estabelecimento de objetivos, na solução de a equipe escolar em suas funções de maneira a
problemas, na tomada de decisões, na atender as necessidades prioritárias para o bom
proposição de planos de ação, em sua funcionamento de toda a engrenagem que
implementação, monitoramento e avaliação, envolve a administração escolar.
visando os melhores resultados do processo
educacional(FREITAS, GIRLING & KEITH, apud,
LUCK,2006, p. 22).
Segundo Martins (p.35, 1985), a escola não
está isolada da sociedade, é mantida pelo
governo ou outras instituições sociais, que

1104
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AS TOMADAS DE DECISÃO DA intelectual. É neste contexto que surge a


atuação de uma gestão democrática, que
GESTÃO ESCOLAR PARA deverá avaliar os programas oficiais,
GARANTIR ÊXITO NOS convertendo-os para situações específicas,
adequando-os à realidade local, Libâneo
OBJETIVOS ESCOLARES
(1994), deixa bem claro esta posição de
Primeiramente é necessário definir que tipo
converter, reelaborar, reavaliar os programas
de escola a sociedade atual necessita, depois
oficiais para que atendam às necessidades e
ter a certeza sobre a direção que se quer dar ao
demandas da clientela em que a escola está
processo educativo, que papel terá a escola na
inserida:
formação dos alunos. A partir disso, projetar os
Os planos e programas oficiais de instrução
objetivos a serem atingidos, traçar as
constituem, portanto, um outro requisito
estratégias para alcançá-los. E qual será o papel
prévio para o planejamento. A escola e os
da gestão escolar para que todo esse processo
professores, porém, devem ter em conta que os
aconteça e alcance ao final o êxito tão
planos e programas oficiais são diretrizes
esperado?
gerais, são documentos de referência, a partir
Para tal análise, é necessário um pequeno
dos quais são elaborados os planos didáticos
mergulho em nossa história, uma avaliação de
específicos. Cabe à escola e aos professores
como tem sido vista a educação no Brasil ao
elaborar os seus próprios planos, selecionar os
longo dos anos. A escola pública atual não é
conteúdos, métodos e meios de organização do
muito diferente da escola do passado, antes era
ensino, em face das peculiaridades de cada
organizada para receber os filhos das famílias
região, de cada escola e das particularidades e
das camadas alta e média da sociedade, que
condições de aproveitamento escolar dos
quando eram ingressados na escola, já traziam
alunos (LIBÃNEO, 1994, p.244).
certos conhecimentos prévios advindos do
A escola que a sociedade pleiteia e necessita,
ensinamento doméstico, recebendo desta
é a democrática, que possibilita a todos a
escola uma formação geral e intelectual; já os
assimilação de conhecimentos científicos e o
pobres que, privilegiados, conseguiam uma
desenvolvimento de suas capacidades
vaga nesta mesma escola, eram preparados
intelectuais, tornando-se funcional ao presente
para o trabalho físico, não sendo necessários
e futuro, ao proporcionar ao aprendiz
conhecimentos mais aprofundados.
condições para uma vida social ativa.
Percebe-se a semelhança entre este modelo
É partindo deste pressuposto que se espera
tido como ultrapassado e o modelo que está
uma gestão democrática que utilize-se dos
sendo visualizado pelo novo currículo com base
documentos oficiais como referência, para
nacional comum, aquele que frequenta a escola
nortear o planejamento e construção de um
pública receberá um ensino pelo mínimo
currículo local que respeite as diferenças, ao
nivelado (conforme já citado na reportagem do
mesmo tempo garantindo ao aluno uma base
Portal Brasil) e concorrerá com aquele que
única, porém que seja progressiva à sua
pode pagar por um ensino que lhe oferece uma
assimilação dos conhecimentos, sem negar-lhe
formação progressiva ao seu desenvolvimento

1105
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

condições para se aprimorar para a vida conta com a participação ativa de todos os
cotidiana, propiciando-lhe meios de uma envolvidos em sua formulação e aplicação. E
constante aprendizagem. pedagógico, quando o foco estiver em ensinar,
Surge a necessidade de toda gestão no atendimento ao aluno.
democrática colocar em prática a legitimação Alguns elementos podem favorecer para que
de um documento construído pelo coletivo, o o PPP tenha êxito como: comunicação eficiente,
PPP (Projeto Político Pedagógico), o qual adesão voluntária e consciente, bom suporte
possibilitará uma análise detalhada das institucional e financeiro, controle,
necessidades da comunidade escolar, no qual acompanhamento e avaliação, um bom
serão elencados os objetivos educacionais referencial teórico para estruturar o projeto.
gerais, a estrutura curricular, as diretrizes, o O projeto político pedagógico deve ser
sistema de avaliação, dentre outros pontos construído e propor novos rumos, com metas e
importantes. estratégias para alcançar objetivos que
conduzam a uma escola diferente. Todas os
PROJETO POLÍTICO questionamentos que envolvem o que fazer,
como fazer e quando fazer e as suas relações
PEDAGÓGICO, UM DIREITO E UM com o currículo, conhecimento e com a função
DEVER social da escola, obriga a momentos de
Projeto Político Pedagógico ajuda a organizar discussão, reflexão e decisão de todos que os
a administração e a democratizar as decisões, envolvidos neste processo. Que conhecimentos
nele são definidas as metas e o que precisa ser os alunos, oriundos de diversas partes e
feito para alcançá-las. A sua construção está dotados de especificidades peculiares
diretamente ligada à gestão escolar com precisarão ter, para de fato exercer a sua
participação coletiva e legitima a democracia e cidadania, nesta sociedade tão cheia de
cidadania, possibilitando diagnosticar conflitos. Conflitos estes que estão presentes
problemas do presente e preparar estratégias no espaço escolar, nas relações pessoais, no
para possíveis soluções. Para sua formulação confronto das ideias, e também do surgimento
deve-se levar em conta a história da escola, de de novas concepções, das dúvidas e da
toda a equipe envolvida no processo educativo, necessidade do diálogo entre os sujeitos
a realidade da instituição e sua proposta aprendentes (professores, pais, alunos).
educativa, assim como também as diferenças Tais situações serão apresentadas no
culturais, bem como as contribuições de cada decorrer da construção deste documento, nas
uma. linhas e nas entrelinhas de cada parágrafo,
É projeto porque possui uma ação resgatando a o aspecto histórico de como cada
intencionada que possui um objetivo único da momento foi sendo produzido e construído.
escola em sua totalidade e a comunidade, Pois este documento deve ser o resultado de
projetado ou planejado para acontecer num um esforço conjunto dos profissionais da
certo período de tempo e se findar, educação da unidade escolar com o objetivo de
apresentando resultados. É político, quando

1106
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

respaldar as ações administrativas e


pedagógicas no âmbito da escola.
A elaboração do projeto político pedagógico
deve ser de acordo com a LDB nº 9394/96, nos
seus artigos 12, 13 e 14 por meio de uma ação
coletiva entre profissionais da educação,
professores e comunidade. É essencial a
liderança do diretor para fazer jus as suas
atribuições em uma gestão democrática, no
que tange a organizar, orientar o trabalho e
resguardar o aspecto legal do documento.

1107
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes a escola atendia uma clientela mais homogênea e elitizada, buscava-se uma
educação voltada para classificação, em que não era pensada a formação para uma vida plena,
mas para exercer uma profissão. E a gestão correspondia às necessidades demandadas pela
época, tomando características de dirigir, controlar.
Mas com o passar dos tempos e exigências sociais, a gestão escolar que antes tinha como
função apenas repassar informações, controlar, supervisionar o trabalho escolar, passou por
transformações e teve sua função mais legitimada, sendo-lhe competida a responsabilidade de
organizar e gerir toda a equipe escolar para que o trabalho pedagógico atinja seus objetivos
educativos.
A gestão democrática envolvida numa boa organização do trabalho pedagógico é um
instrumento para conscientizar e ampliar os conhecimentos dos futuros pedagogos, sobre a
importância em se organizar, planejar e projetar o trabalho escolar dentro de um respeito à
autonomia, ao diálogo, motivando e buscando participação coletiva de todos os envolvidos no
processo ensino aprendizagem, sendo por meio de um Projeto Político Pedagógico a possibilidade
de se concretizar essas ideias, e uma gestão democrática o meio para atingir esses objetivos.
O Projeto Político Pedagógico deve ser concebido e construído pela participação coletiva,
para atender ao coletivo, tendo como objeto e principal objetivo o aluno e suas necessidades. É
nele que o currículo será legitimado, ao atender ao previsto pela legislação oficial, às diversidades
locais e principalmente transcender o local para incluir novos saberes de outras culturas que são
primordiais ao desenvolvimento do ser humano, enquanto ser social e político.
Ao longo dos tempos, os profissionais da educação sempre se mantiveram dispostos a
trabalhos que conduzissem a uma melhor aprendizagem do aluno, porém muito destas, como é
o caso do Projeto Político Pedagógico, que deveria ser colocado em prática, perde-se na
monopolização do poder do gestor, que ainda se prende no autoritarismo de controlar sua
equipe, se fechando para o diálogo. O Projeto Político Pedagógico das escolas acaba ficando
fechado nas gavetas, servindo apenas como um cumprimento de exigência das secretárias, muito
raramente é formulado com a participação e para a participação do coletivo.
Atualmente existe uma preocupação crescente em torno de uma gestão democrática e a
construção de um currículo que favoreça o desenvolvimento pleno do indivíduo, proporcionando-
lhe acesso a conhecimentos científicos. Currículo este, que deve visar à formação humana,
orientado pela inclusão de todos ao acesso ao conhecimento, à sua cultura e as demais, está
voltado para a diversidade e não se esgota ao local, mas transcende pela necessidade natural de
aquisição de novos saberes.
Em se tratando de currículo, vale utilizarmos a concepção atual de que são todas as
atividades, situações vividas pelo aluno dentro e fora da escola, as quais contribuem para uma
formação construtiva do cidadão. O currículo que no passado era considerado uma série de
conteúdos escolares fragmentado pelas disciplinas, de acordo com a instituição de ensino passa
agora a ter uma nova roupagem devendo ser uma construção social, cultural e servir-se num
papel socializador.

1108
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Ressalta-se a responsabilidade delegada à gestão na organização de um trabalho coletivo


para a construção de um currículo moldado às necessidades emanadas pela legislação e forjadas
às especificidades e contexto social ao qual deve atender e promover.

1109
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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em:http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Data de Acesso:08/03/2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação


Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.

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educação: o desafio da aprendizagem, da formação moral e da avaliação. 2. ed. Porto
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 3. ed.


Curitiba: Positivo, 2004 .

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LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

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PACHECO, José Augusto. Escritos curriculares. São Paulo: Cortez, 2005.

PARO, Vitor Henrique. Administração Escolar: introdução crítica. 14ª. ed. São Paulo: Cortez,
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em:http://tv escola.mec.gov.br/tve/salto/Data de Acesso:08/03/2020.

SITE, InfoEscola. Gestão Escolar. Disponível em:http://www.infoescola.com/educacao/gestao-


escolar/Data de Acesso: 08/03/2020.

1110
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

GESTÃO, FORMAÇÃO PEDAGÓGICA,


DOCENTES NO CURRÍCULO DA CIDADE DE SÃO
PAULO
Claudineide Batista dos Santos1

RESUMO: O artigo objetiva por meio da pesquisa qualitativa tratar do tema da importância do
Currículo da Cidade de São Paulo junto aos Gestores, Coordenadores Pedagógicos e os Docentes,
apresenta um painel da importância da reflexão e da implantação do novo currículo, para uma
nova abordagem das práticas pedagógicas nas Unidades Educacionais do Município de São Paulo
com o foco na democratização do conhecimento, na Inclusão e na qualidade da educação. Com o
apoio de livros, revistas e especialistas que abordam o tema e com apoio do BNCC (2017),
respaldados pela legislação nacional e vigor e pelo PNE (2014). Buscando fazer a interface entre
as atividades pedagógicas, a gestão e a práxis docente. Objetivando alcançar uma educação de
qualidade, na qual à mediação dos educadores na relação com o educando, a Coordenação
Pedagógica e a gestão possam contribuir e efetivar uma base cultural sólida e eficaz. Apontamos
aspectos que são fundamentais para o envolvimento de todos com o currículo da Cidade de São
Paulo atualizando a linguagem didática e ao mesmo tempo buscando qualificar e dar sentido ao
ensino por meio dos diversos temas contidos no programa.

Palavras-Chave: Gestores; Coordenadores Pedagógicos; Docentes; Currículo.

1Professora de Ensino Fundamental II, na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Letras; Licenciatura em Filosofia; Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: claudineide.bs19@gmai.com

1111
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO objetivos definidos no currículo, além de


exemplos de práticas avaliativas. Foram
O objetivo principal desse artigo e produzidos 11 volumes, sendo um por
refletir sobre a importância do currículo como componente – à exceção da Matemática, que
instrumento de aprendizagem e ferramenta possui dois volumes – e um caderno dedicado
para a melhoria da democratização do ao coordenador pedagógico. As orientações
conhecimento visando um ensino significativo para professores dos três ciclos do Ensino
para o Ensino Básico, tendo como referência o Fundamental – Alfabetização (1º ao 3º ano),
currículo da cidade de São Paulo. Valorizar o Interdisciplinar (4º ao 6º ano) e Autoral (7º ao
ensino das diversas áreas do conhecimento 9º ano) concentradas no mesmo material. Os
dentro do cotidiano da criança, jovens e docentes tomarem ciência do conteúdo
adolescentes que já interagem na nossa contidos nos cadernos do currículo da Cidade e
sociedade com expressões, objetos e produtos apropriar-se desse conhecimento de fato será
que se utilizam de uma variedade muito grande de grande proveito para que as Unidades
de formas de comunicação. Levando em conta Educacionais possam dar um salto na qualidade
ainda que o currículo possui um caráter de ensino com uma metodologia atualizada e
formativo e cidadão para que o aprendizado facilitadora no que diz respeitos ao aspecto
possa melhorar a qualidade da educação tanto didático. Aos gestores cabe apoiar, incentivar e
nas etapas inicias quanto finais do ensino. Com promover as condições necessárias para que a
nove volumes – um por componente –, o comunidade escolar se aproprie dos benefícios
currículo traz objetivos de aprendizagem do currículo da Cidade. Assim, os gestores
apresentados ano a ano para o 1º ao 9º ano do escolares devem saber da importância para o
Ensino Fundamental. Há uma parte professor fazer a formação e lembrar que isto
introdutória comum a todas as áreas, que inclui não é uma perda de tempo; é um ganho da
uma Matriz de Saberes (na linha das mesma forma que entender e incorporar o
competências gerais da BNCC) e temas Currículo da Cidade na prática escolar, além do
inspiradores trazidos dos Objetivos de seu aspecto legal também possui um aspecto
Desenvolvimento Sustentável (ODS), pactuados inovador no que tange à forma como o docente
na Agenda 2030 por países membros das e a própria escola vai encaminhar a
Nações Unidas. O currículo de cada metodologia de aprendizagem. O Currículo da
componente é único, ou seja, não há cadernos cidade de São Paulo é um documento que tem
separados para os anos iniciais e finais do seu suporte legal na LDB 9394/96, - Lei de
Ensino Fundamental. Diretrizes e bases da Educação Nacional,
Não podemos nos esquecer de que o também no PNE – Plano Nacional de Educação,
material do currículo da Cidade contempla e no BNCC - Base Nacional Comum
ainda Material de apoio para os educadores, Curricular(2017), que entre outras coisas
contendo propostas de como organizar o aponta a necessidade de atualização do
cotidiano das aulas, em situações diversificadas currículo Nacional com vista à melhoria na
de ensino que possibilitem a aprendizagem dos

1112
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

qualidade do ensino eixo fundamental da COMO FOI ELABORADO O


Constituição Federal de 1988.
Quando se trata das questões de currículo CURRÍCULO DA CIDADE DE SÃO
não convém nunca deixar de associar conteúdo PAULO
e forma de ensinar. Se a condição para o No dia 15 de dezembro de 2017, a Base
educando aprender é que ele seja sujeito, Nacional Comum Curricular (BNCC), teve
então, por mais abstrato e complexo que seja aprovado o seu texto final. Pela primeira vez, o
determinado conteúdo cultural (conhecimento, país passou a ter um documento normativo que
valor, arte etc.), o aluno só aceita o convite do define o conjunto de conhecimentos essenciais
educador para apropriar-se dele, se se fizer que todos os alunos devem desenvolver,
autor, ou seja, ele só aprende na forma de progressivamente, ao longo da Educação
quem age orientado por sua vontade. E isto não Básica. Prevista no Plano Nacional de Educação
é uma questão apenas teórica, mas prática. (PNE-2014), a BNCC se tornou uma referência
Corolário disso é que o educador também não comum para todas as redes de ensino e escolas
pode ser um mero repetidor de conteúdos, mas do país, públicas e privadas, elaborarem ou
deve buscar a forma mais adequada para criar reverem seus currículos, de modo a
no educando a vontade de aprender. É nisso proporcionar as aprendizagens a que cada
que tem investido toda a Didática, aluno tem direito.
historicamente: criar métodos, técnicas, Na mesma data da aprovação da Base
procedimentos, que produzam no aluno a Nacional, o município de São Paulo lançou o seu
vontade de aprender. Essa questão da Currículo da Cidade, o novo documento
associação entre forma de ensinar e conteúdo orientador da rede para o Ensino Fundamental.
que se ensina se torna ainda mais proeminente, A Secretaria Municipal de Educação de São
quando não se trata apenas de conhecimentos Paulo (SME-SP), foi uma das primeiras do país e
a serem adquiridos, mas de valores e posturas realizar sua revisão curricular à luz da BNCC,
a serem assumidos. Não se pode, por exemplo, levando em conta a 3ª versão da Base Nacional
ensinar democracia com base em formas e todo o processo de discussão para sua
autoritárias de ensinar. É nessas situações que elaboração. A atualização do currículo
mais claramente se percebe que, em educação, municipal foi feita durante o ano de 2017 e a
a forma é conteúdo. Falar do currículo da escola implementação teve início logo no início de
fundamental é falar do conteúdo do ensino, 2018. Dessa forma foram mobilizadas:
mas de uma forma mais ampla do que • 13 Diretorias Regionais de Educação
usualmente se entende. (DRE’s) - que compõem a rede, atuando como
braços da Secretaria, nas várias regiões da
cidade, ao longo de todo o processo;
• 304 professores que participaram dos
Grupos de Trabalho (GT’s) para redação do
currículo, representando os 31.610 educadores
do Ensino Fundamental no município. Quase

1113
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

metade deste total também respondeu a uma além de dar início à sua
pesquisa online para ajudar a compor a implementação(CPP,2018,s.p.).
estrutura do documento;
• 21 consultores externos que BASE NACIONAL COMUM
assessoraram a escrita do documento;
• 43.655 estudantes – 10% do total de CURRICULAR E SUAS
alunos do Ensino Fundamental da rede – que, COMPETÊNCIAS
por meio de uma pesquisa, forneceram O texto da BNCC (2018), destaca as
informações sobre que escola gostariam de ver competências gerais a serem desenvolvidas de
refletida no currículo; forma integrada aos componentes curriculares:
• 8 especialistas (pelo menos) que fizeram 1. Conhecimentos;
a leitura crítica do novo currículo, antes que 2. Pensamento cientifico, crítico e criativo;
fosse finalizada a sua redação. 3. Senso artístico e cultural;
QUADRO EXPLICATIVO 4. Comunicação;
555 ESCOLAS (1º ao 9º ano) 5. Cultura Digital;
6. Autogestão;
ANO INICIAIS TOTAIS PÚBLICO 7. Argumentação;
1º AO 5º 230.950 ALUNOS 8. Autoconhecimento e autocuidado;
1º AO 5º 12.737 PROFESSORES 9. Empatia e cooperação;
10. Autonomia.
ANOS FINAIS TOTAIS PÚBLICO
Com base nas competências apresentadas
6º AO 9º 197.395 ALUNOS pode-se observar que a autogestão é uma das
6º AO 9º 18.873 PROFESSORES
características que permeia todas as outras.
Dessa forma pode - se observar que a Gestão é
Fonte: Portal SME-SP2 :
1

uma das competências que fazem parte do


O Centro do Professorado Paulista (CPP) contexto global da Base Nacional Comum
posicionou-se favoravelmente à implantação Curricular. A Base Nacional Comum Curricular
do Currículo da Cidade São Paulo, segundo o (2018), é um documento com os
CPP: conhecimentos essenciais que todos os alunos
da Educação Básica devem aprender, ano a ano,
A Secretaria Municipal de Educação de São
em qualquer lugar do país.
Paulo (SME-SP) compartilhou a publicação “O
Currículo da Cidade de São Paulo”, que traz um Conforme a LDB 9394/96:
relato da experiência paulistana de traduzir as Art. 26. Os currículos do ensino fundamental
definições da Base Nacional Comum Curricular e médio devem ter uma base nacional comum,
(BNCC), em um currículo com a cara da rede, a ser complementada, em cada sistema de
ensino e estabelecimento escolar, por uma

2 Disponível em: https://bit.ly/2Hoo4GE.Data de Acesso:04/03/2020.

1114
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

parte diversificada, exigida pelas características vinculada ou concentrado nas mãos do Gestor,
regionais e locais da sociedade, da cultura, da como deve um currículo descontruir essa ideia
economia e da clientela. de poder concentrado? Qual a importância do
§ 5º Na parte diversificada do currículo será currículo na democratização da escola?
incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta A Constituição Federal, promulgada em
série, o ensino de pelo menos uma língua 1988, em seu Artigo 205, destaca a importância
estrangeira moderna, cuja escolha ficará a da escola no seio da sociedade, reforçando a
cargo da comunidade escolar, dentro das relevância de esforços sociais, pois:
possibilidades da instituição (BRASIL,1996, s.p). a educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e
O CURRÍCULO E A GESTÃO incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
A organização do currículo se tornou
seu preparo para o exercício da cidadania e sua
necessária porque, com o surgimento da
qualificação para o trabalho (BRASIL, 2004, p.
escolarização em massa, precisou-se de uma
121).
padronização do conhecimento a ser ensinado,
Dessa forma e resguardada o texto legal, o
ou seja, que as exigências do conteúdo fossem
gestor torna-se o gerenciador de resultados.
as mesmas. No entanto, o currículo não diz
Podemos dizer que o papel do Gestor escolar é
respeito apenas a uma relação de conteúdos,
bastante complexo nas instituições de ensino,
mas envolve também as relações de poder
pois na gestão de bens públicos e dos recursos
tanto nas relações professor/aluno e
humanos disponíveis nas escolas, ele deve
administrador/professor, quanto em todas as
traçar estratégias para que os objetivos e metas
relações que permeiam o cotidiano da escola e
sejam alcançados, aliado ao espírito de
fora dela, ou seja, envolve relações de classes
liderança para gerir os diversos recursos. É de
sociais. Sendo assim o Gestor e o currículo
suma importância observar que o diretor
possuem uma relação intrínseca.
alinhado ao princípio legal e moral da gestão
Um currículo que se diz democrático deve ser
democrática deve ser um líder nato e não o
construído de forma a que haja participação e
chefe aquele impõe condições quanto às
não uma mera execução de guias curriculares
políticas institucionais, limitando autonomia e
distribuídos nas escolas pelo governo, uma vez
conhecimento em um meio que deve ser de
que a seleção dos conteúdos a serem inseridos
constante evolução e aprendizado profissional
no currículo é um processo que ultrapassa os
para atual com os nossos alunos que devem ser
limites da técnica, pois envolve juízo de valores
o foco do trabalho pedagógico e observando as
ao se determinar quais saberes serão
regras de um currículo que possa ser
selecionados como válidos na produção do
incorporado aos saberes da vida prática e
conhecimento. Desse modo, dependendo da
quotidiana.
visão que a equipe formadora desse currículo
Nesse sentido além do respaldo da
possuir o mesmo poderá assumir um papel
Constituição Federal de 1988 a Lei de Diretrizes
transformador ou conservadora. Se o domínio
representa o poder, e o poder nas escolas está

1115
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e Bases da Educação Nacional (LDB, de 1996), comportamentos no relacionamento com os


destaca que: outros e também o currículo escolar.
Os sistemas de ensino definirão as normas de É nesse contexto que se enquadra o Gestor
gestão democrática do ensino público na democrático que além de um incentivador
educação básica, de acordo com as suas critico na implantação do currículo é
peculiaridades e conforme alguns princípios igualmente um dos responsáveis pela
como: A participação dos profissionais da participação de todos nesse processo.
educação na elaboração do projeto pedagógico
da escola; participação da comunidade escolar O CURRÍCULO E A
e local em conselhos escolares ou equivalentes
(BRASIL, 2001, p. 17). COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
Ao falarmos dos condicionantes materiais de O Coordenador Pedagógico alcança uma
uma gestão participativa na escola, estamos função de destaque no contexto escolar. Isso
nos referindo às condições objetivas em que se porque suas funções são de articulação,
desenvolvem as práticas e relações no interior formação e de transformação. Esse profissional
da unidade escolar. Embora não se deva age como mediador entre o currículo e os
esperar que mesmo condições ótimas de professores, bem como entre pais de alunos e
trabalho proporcionem, por si, a ocorrência de corpo docente. Dessa forma a articulação deve
relações democráticas e cooperativas, da levar em conta os aspectos de um currículo
mesma forma não se deve ignorar que a participativo e que possa atender as
ausência dessas condições pode contribuir para necessidades educacionais dos educandos além
o retardamento de mudanças no sentido do de ser um guia aos docentes orientados pelo
estabelecimento de tais relações. O que parece Coordenador Pedagógico para as práticas de
se dar na realidade de nossas escolas públicas é ensino.
que, na medida em que, para a consecução de O Coordenador Pedagógico pode ser
seus objetivos com um mínimo de eficácia, interpretado como o guardião do Currículo
faltam recursos de toda ordem, o esforço sendo um dos responsáveis pela aplicação,
despendido para remediar tais insuficiências construção e renovação dos conteúdos a serem
tem competido com o que se poderia empregar aplicados. Para isso torna-se necessário que os
para se modificarem as relações autoritárias Coordenadores Pedagógicos tenham domínio
que vigem dentro da instituição escolar. A do material curricular a ser trabalhado de forma
participação democrática na escola pública reflexiva, critica e democrática.
sofre também os efeitos dos condicionantes Nesse sentido o Currículo da Cidade de São
ideológicos aí presentes. Por condicionantes Paulo é o instrumento a ser estudado,
ideológicos imediatos da participação, estamos incorporado e estimulado pelos Coordenadores
entendendo todas as concepções e crenças Pedagógicos das Unidades Escolares da cidade
sedimentadas historicamente na personalidade de São Paulo. Associa-se a esse fator que o
de cada pessoa e que movem suas práticas e Currículo da Cidade deve ser um instrumento
para a construção de uma gestão democrática

1116
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uma vez que o conhecimento estará sendo na construção de ações integradoras da equipe
compartilhado por todos e para todos. A Gestão escolar. Ele também desempenha o papel de
Democrática pressupõe a articulação, articulador, oferecendo condições para que os
participação e envolvimento de toda a professores trabalhem coletivamente as
comunidade escolar. A gestão Pedagógica uma propostas curriculares e auxiliando no
das partes essenciais da Gestão Democrática é planejamento de estratégias mais adequadas à
a responsável pela disseminação do conteúdo realidade específica dos alunos, de modo que o
curricular afim de que esse possa ser processo ensino-aprendizagem seja favorecido.
incorporado no quotidiano da escola e os Finalmente podemos reafirmar o papel
Coordenadores Pedagógicos possuem papel fundamental do Coordenador Pedagógico
fundamental nessa ação. como articulador e guardião do Currículo.
Na escola, o coordenador é um profissional
dinâmico que orienta o trabalho coletivo. Além O CURRÍCULO E OS DOCENTES
disso, ele tem o papel de fazer a conexão entre
A incorporação das novas tecnologias no
todos os indivíduos envolvidos no meio
ensino tornou-se um dos principais debates da
educacional. Dessa forma, as atribuições de um
educação na atualidade. Robótica, jogos
coordenador passaram a ser focadas na rotina
eletrônicos, inteligência artificial e realidade
pedagógica da instituição de ensino. Logo, suas
aumentada são apenas algumas das novidades
funções também passaram a ser diretamente
que têm movimentado o mercado educacional
ligadas à sua atuação junto aos professores e,
e sido inseridas nas escolas, especialmente na
consequentemente, à aplicação de princípios
rede privada. Na realidade da sala de aula,
que resultem em um ensino de qualidade aos
porém, ainda há muita discussão sobre como
alunos. É função do coordenador avaliar a
integrar as novidades ao dia a dia escolar. Por
conexão entre o currículo e a prática diária dos
mais que a desconfiança docente com relação
professores na sala de aula. É claro que ele deve
ao uso das novas tecnologias venha
fazer isso sem a pressão de um fiscalizador, no
diminuindo, ainda há muitos desafios para
papel de observador. Agora, diferentemente do
incorporar essas ferramentas de forma efetiva,
que acontecia antes dos anos 90, ele verifica
contribuindo para a aprendizagem dos alunos.
com mais flexibilidade se os professores estão
Para compreender quais são esses obstáculos,
acompanhando o que foi decidido no projeto
Educação ouviu professores da educação
pedagógico da escola.
básica, que falaram sobre o panorama da área
Compreende-se que o papel do coordenador
e compartilharam suas experiências com o uso
pedagógico, na rotina escolar e nos processos
dos recursos tecnológicos em sala de aula.
de ensino-aprendizagem, tem como foco a
Entre as principais dificuldades apontadas pelos
mediação na construção de ações coletivas,
educadores está a formação docente
seja na busca da aplicação prática do Projeto
insuficiente para a área.
Político Pedagógico (PPP), seja na reflexão de
Com as Novas Tecnologias da Informação
ações que visem à superação de situações
abrem-se novas possibilidades à educação,
problemas do contexto da escola e, sobretudo,
exigindo uma nova postura do educador. Com a

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utilização de redes telemáticas na educação, Hoje se observa que o interesse dos


pode-se obter informações nas fontes, como estudantes pelos conteúdos educacionais
centros de pesquisa, Universidades, disponíveis para sua aprendizagem é
Bibliotecas, permitindo trabalhos em parceria desconectada da realidade e não atende ás
com diferentes escolas; conexão com alunos e necessidades ou interesses imediatos das
professores a qualquer hora e local, crianças, jovens e adolescentes. As mudanças
favorecendo o desenvolvimento de trabalhos climáticas, as alterações geográficas motivadas
com troca de informações entre escolas, por catástrofes naturais ou causadas pela ação
estados e países, por meio de cartas, contos, humana, as guerras enfim, estão alterando a
permitindo que o professor trabalhe melhor o constituição original do planeta. O avanço
desenvolvimento do conhecimento. É nesse tecnológico a internet e a globalização
sentido que a necessidade da atualização de um mudaram de vez o perfil do homem do século
currículo que contemple as novas tecnologias XXI. O que se deve ensinar e o que é importante
se faz necessário. ensinar e para que ensinar passa a ter nos dias
A Secretaria Municipal de Educação de São atuais um significado diferente de outras
Paulo no dia 28 de janeiro de 2019 publicou as épocas. Os currículos de outrora atendiam a
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade - outros tipos de necessidades social, cultural,
Ensino Fundamental visando subsidiar o econômica e pessoal. Assim a Escola precisa
trabalho dos professores e coordenadores mudar o foco do que é importante colocar em
pedagógicos da Rede, apontando alguns seus currículos. O que deve ser trazido e como
indícios didáticos que articulam os objetivos de deve ser oferecido ao educando que atenda
aprendizagem e desenvolvimento às práticas suas necessidades imediatas e futuras.
possíveis de sala de aula. Com essa iniciativa o O docente face aos novos desafios da
Currículo da Cidade de São Paulo procura ser contemporaneidade do século XXI precisa de
um uma escola e com ela de um currículo escolar
Aos docentes cabe a incorporação do que lhe seja significativo. O currículo da cidade
currículo, mas também sua construção e de São Paulo como vem no quadro explicativo
atualização. A participação e o entendimento envolveu um número significativo de alunos e
da importância desse instrumento que é um ouviu especialistas, educadores e comunidade
guia para as práticas pedagógicas. Os escolar para elaborar um documento moderno
professores são fundamentais na definição de atualizado e atraente.
como os conteúdos serão trabalhados em sala
de aula. Nesse momento, é fundamental ter em
mente aonde se quer chegar - ou seja, explicitar
as chamadas expectativas de aprendizagem
para poder pensar nas melhores formas de
trabalhar cada um dos conteúdos do Currículo
da Cidade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa busca como resultado levar à reflexão o papel e a atuação dos Gestores,
Coordenadores Pedagógicos e Educadores levando-se em conta os desafios da atualização do
Currículo escolar tendo como referência o Currículo da Cidade de São Paulo no contexto da Base
Nacional Comum Curricular (2018).
Nessa perspectiva e com base na legislação em vigor, por meio de pesquisa qualitativa em
sites, revistas e artigos publicados, oferecer um quadro das necessidades de atualização e
formação dos Profissionais de Educação, que atuam na mediação com os educandos tendo como
instrumento de referência o conceito e os conteúdos do Currículo da Cidade de São Paulo
amparado pela legislação em vigor. Essa iniciativa é importante na elaboração de uma práxis
pedagógica que atenda às necessidades das crianças, jovens e adolescentes inseridos numa
sociedade, multicultural e em constante transformação. Buscando uma descrição sequencial do
tema traduzindo por meio da pesquisa bibliográfica o diferencial de cada elemento trançando
com isso os pontos convergentes e divergentes entre eles. A pesquisa qualitativa abordou pontos
para uma reflexão sobre a atuação dos profissionais de Educação envolvidos com o tema e sua
mediação com o educando no que tange aos aspectos do conhecimento e da aprendizagem
reforçando a importância do Currículo da Cidade como ferramenta democrática e atualizada para
a construção do conhecimento.
Esse artigo tratou de apresentar um perfil de como deve ser compreendido o Currículo da
Cidade amparado pela legislação especifico e pela Base Nacional Comum Curricular traçando um
paralelo entre ambos. Dessa forma apresentar à criança e ao adolescente, aspectos fundamentais
da educação, levando em conta suas expectativas e sua capacidade cognitiva tendo como
pressuposto de ação a práxis do Educador e o direito à educação de qualidade.
Na expectativa de que essa reflexão possa contribuir para alcançar resultados mais
satisfatórios, apresentados por meio dos autores citados, nessa pesquisa possam resultar em
elementos práticos e de reflexão da dimensão educativa que se pretende atingir, na qual o
Currículo da Cidade de São Paulo possa de forma harmoniosa e eficaz qualificar o ensino-
aprendizagem de nosso educandos contribuindo para torna-los cidadãos conscientes de suas
competências e responsabilidade na sociedade.
O presente estudo permitiu observar que o currículo, assim como a gestão escolar, a
coordenação pedagógica e principalmente os docentes são fundamentais na implantação de um
currículo que atenda as expectativas dos discentes e para isso o Currículo da Cidade procurou
envolver todos os segmentos das Unidades Educacionais a fim de elaborar um documento mais
próximo possível das necessidades dos educandos.
A transformação dessa realidade só é possível, porém, a partir de uma visão crítica
comprometida com a democracia e a aquisição do saber historicamente acumulado, pois a
realidade existente nos espaços escolares é a de uma administração comprometida com as teorias
das administrações empresariais, a qual age como simples consumidora dos guias curriculares
fornecidos por meio das políticas públicas impostas pelos governos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. MEC/SEB, 2012. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.
Proposta preliminar,2012.

BRASIL. MEC/SEB. Ministério da Educação. Elementos conceituais e metodológicos para


definição dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento do ciclo de alfabetização (1º,
2º e 3º anos) do Ensino Fundamental. 2007.

BRASIL. MEC/SEB. Ministério da Educação. Indagações sobre o Currículo: currículo,


conhecimento e cultura. Brasília: MEC/SEB, 2007.

BRASIL. MEC/SEB. Ministério da Educação. Indagações sobre o Currículo: currículo e


avaliação,2007.

BRASIL. República Federativa. Constituição Federal do Brasil, 1988.

BRASIL.L.D. B (EN) – 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,1996.

CONTI, Celso Luiz Aparecido; LIMA, Emília Freitas de; NASCENTE, Renata Maria Moschen. O
currículo e a gestão em foco. Disponível em:
https://www.edufscar.com.br/farol/edufscar/produto/o-curriculo-e-a-gestao-em-
foco/603457/.Data de Acesso:04/03/2020.

FONTOURA, Juliana . Quais os desafios dos professores para incorporar as novas


tecnologias no ensino. Disponível em: https://revistaeducacao.com.br/2018/05/09/quais-os-
desafios-dos-professores-para-incorporar-as-novas-tecnologias-no-ensino/.Data de
Acesso:04/03/2020.

FRANÇA, Luísa. As Principais Funções do Coordenador Pedagógico. Disponível em:


https://www.somospar.com.br/as-principais-funcoes-do-coordenador-escolar/.Data de
Acesso:04/03/2020.

PARO, Vitor Henrique. Gestão da escola pública: a participação da comunidade. Revista


Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v. 73, n. 174, p. 255-290, maio/ago. 1992.

PARO, Vitor Henrique. O currículo do ensino fundamental como tema de política pública: a
cultura como conteúdo central. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação.
Rio de Janeiro, v. 19, n. 72, p. 485-508,

SÃO PAULO. Cidade, Currículo da - Ensino Fundamental: Tecnologias para Aprendizagem.


Disponível em:http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/45273.pdf.Data de
Acesso:04/03/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

GESTOR COMO LÍDER EDUCACIONAL


Manoel Cicero da Silva Filho1
Maria Violêta Lima Macêdo2

RESUMO: Este artigo aborda a relevância da contribuição do gestor como líder no contexto
escolar, reconstituindo de forma sucinta o percurso de toda historicidade do papel do gestor
democrático que se encontra inserido no processo histórico dentro de uma determinada
realidade no setor educacional. O fundamento aqui assumido busca socializar estudos e
inquietações relacionados à temática em questão, relevância e contribuições como gestor na
liderança escolar, também verificar por meio de abordagens bibliográficas predominando
pesquisas qualitativas baseadas em autores que postulam por uma liderança em gestão
democrática eficaz. A partir desse pressuposto as mudanças ocorridas no cenário educacional
vem contribuído bastante de certa forma com o comportamento e a forma de agir do gestor,
frente as mudanças ocorridas nas políticas educativas e organizativas nas transformações das
esferas econômicas, políticas, culturais, históricas e geográficas que caracterizam o mundo
contemporâneo. A amostra representativa desta pesquisa será socializada na íntegra, não terá
gráficos, pois é o aspecto qualitativa e bibliográfica de maneira que explicitem a realidade na visão
dos gestores e educadores, além de proporcionar um panorama geral do tema contribuindo de
certa forma para uma reflexão crítica.

Palavras-Chave: Administração escolar; Gestão; Liderança; Gestão democrática.

1 Professor de Ensino Fundamental I, na Rede Municipal de Educação de Caxias/MA.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia, Licenciatura em Filosofia.
E-mail: mcicerosrocha@hotmail.com
2 Psicopedagoga na Rede Municipal de Educação – Caxias/MA.

Graduação: Mestranda em Ciências da Educação; Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica;


Especialização em Supervisão, Gestão e Planejamento Educacional; Especialização em Filosofia, Sociologia e
Ensino Religioso Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: mvioletamacedo@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO aos direitos e deveres e conhecimento da nova


literatura da realidade atual.
Pretende-se com este trabalho analisar os O levantamento histórico sobre esta questão
fatores que interferem para uma liderança constata-se que apesar da importância do
eficaz e eficiente no contexto escolar, para gestor deveriam se pensar antes de todo no
melhor entendimento e compreensão, faz-se perfil desse profissional, pois busca-se alguém
necessário a apresentação de alguns aspectos ativo, articulador e integrador com as
históricos próprios das décadas de 1950 a 1990.demandas dessa nova sociedade e
Esta pesquisa busca verificar o papel do gestorprincipalmente com as habilidades e
como líder educacional, a abordagem competências do perfil proposto que se espera
bibliográfica predominante no
do gestor, entre outras coisas, a compreensão
desenvolvimento das pesquisas foi qualitativa, da organização, planejamento, o conhecimento
de acordo com as proposições de Bertolo da legislação para utilização em situações reais
(2011), Clovis (2012) e outros. e a favor da população escolar, tomada de
A intenção deste não é apresentar os decisões, comunicação e diálogo, visando a
resultados específicos das referidas pesquisas,articulação e participação do coletivo,
mas socializar as inquietações que emergiram estimulando a autonomia, a formação, levando
no decorrer desta pesquisa. A partir desse em consideração as diretrizes educacionais que
pressuposto as mudanças ocorridas no cenário trazem os princípios que sinalizam as ações do
educacional vem contribuído bastante de certa gestor para a efetivação de uma educação de
forma com o comportamento e a forma de agir qualidade.
do gestor, frente as mudanças ocorridas nas A esse respeito, faz-se notório enfatizar a
políticas educativas e organizativas nas reflexão sobre esses fatos que permite
transformações das esferas econômicas, conhecer o entendimento do papel do gestor
políticas, culturais, históricas e geográficas que
como líder democrático. Assunto que continua
caracterizam o mundo contemporâneo. merecer novos estudos em face da
Diante disso, está à frente de um trabalho complexidade que envolve atenção desse
complexo como administrador de uma escola agente escolar e da necessidade urgente que
não é fácil, porém não é impossível. É sábio que
tem de encontrar referencias para dar sentido
o gestor como líder educacional é o principal a sua pratica e transforma-la em práxis criadora
responsável pelo sucesso da instituição, pois e reflexiva.
sabe-se que ela é formada basicamente por
cinco círculos unidos entre-se direção geral,
ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR:
pedagogia, administração financeira, marketing
de qualidade, sobre estas questões, as reais UM BREVE HISTÓRICO
razoes, das inquietações relacionam-se a falta Como este trabalho pretende-se rever as
de comunicação, compromisso, ausência de etapas históricas da administração escolar e em
conhecimento da legislação a falta de respeito diferentes contextos para compreender o fio
condutor e discutir os pressupostos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

epistemológicos que fundamentam os estudos bastante propicio a mudanças de volta na área


organizacionais dando ênfase nos quatro da docência e gestão educacional. O diretor de
grandes paradigmas como as tendências escola deveria ter um perfil adequado para
(Teoria Clássica, Escola de Relações Humanas, trabalhar a nova realidade soco educacional.
Escola Estruturalistas e pelo Poder e da Política) Entenderam os governantes da época,
que influenciaram no novo modelo de gestão assessorados pelos técnicos educacionais, que
da época e ainda hoje de certa forma está as mudanças deveriam começar pela forma de
enraizado refletindo nas práticas, o que leva os provimento dos cargos (LOPES, 2002, p. 67;8).
estudos organizacionais a se (re)configurarem Entretanto, o taylorismo domina o mundo do
em função destas mudanças. Nesse sentido faz produto, até meados do século XX, na qual a
necessário fazer uma retrospectiva do diretor, direção era designada hierarquicamente, num
no exercício de sua função. processo de comunicação vertical, na qual o
Santos (2002, p. 57), nas observações afirma ensino-aprendizagem era centrado na figura do
que “retomar a origem do cargo de diretor de professor, ou seja, educação bancaria. Nesse
escola, seu histórico, pode ajudar a sentido, a nova Escola de Relações Humanas se
compreender melhor qual o seu significado estrutura via novas premissas e novos
hoje”. Compreende-se que no século XIX, esse guardiões de manutenção da máquina humana.
profissional da educação estava interligado Ressaltando que esta nova tendência tinha a
com as instituições particulares, porem nas função o ajustamento da mão de obra para
públicas, surgiu a partir de demandas que adapta-los ao processo de trabalhos
foram aparecendo no interior da escola, nesse organizados. É relevante salientar, embora
período tinhas características das que ainda permaneça como uma corrente
conhecemos atualmente: quem assumia este secundaria no campo organizacional, emerge
cargo recebia o nome de professor-diretor e com uma certa força, que se fortalece nas
tinha atribuições de coordenador pedagógico. contradições do modelo taylorista-fordista, e
Então a partir de 1920 até início de 1930, abre caminho para uma outra realidade – o
surge o Manifesto dos Prisioneiros com a funcionalismo estrutural.
preocupação da formação desse profissional, Nesse contexto, no ano de 1960 existe um
mas não havia, de direito, uma carreira de aumento do atendimento educacional à
magistério, não era exigido de acordo com as população e m meio a essas novas
normas legais a formação do administrador preocupações voltadas no setor econômico do
escolar, nem cursos, porém foi um período pais, que refletia também na necessidade de
importante para a educação no país. formação de pessoal técnico para atuar nas
Segundo Lopes (2002), em relação as industrias, trazendo novas demandas à escola.
mudanças no contexto educacional e ainda A outra preocupação com a administração da
contribui dizendo: escola se confira no contexto da função
Nesse clima de renovação, com novas assistencialista da educação, conforme trata o
propostas e teorias pedagógicas, estabeleceu- Artigo 91, da LDB:
se no país um quadro geral de educação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A assistência social escolar deve ser prestada transformadas pela prática social (GIDDENS,
nas escolas, sob orientação dos respectivos 1998, p.87).
diretores, através de serviços que atendam ao Desse modo, a LDB estabelecia que a
tratamento dos casos individuais, a aplicação preparação dos administradores escolares, não
de técnicas de grupo e à organização social da era obrigatório e só foi valorizado a partir da
comunidade. Assim sendo, compete ao diretor LDB (5.540/68 e 5.692/71) ,que determina que
garantir que a escola se torne palco para a o preparo de especialistas – administradores –
realização de políticas sociais assistencialistas acontecesse em nível superior. Em relação as
(LOPES, 2002, p. 29). duas LDB anteriores, Santos acrescenta que,
Considerando esta abordagem entre as O diretor de grupo escolar desaparece a
organizações, Reed afirma que: partir da regulamentação da Lei 5.692/72,
o funcionalismo estrutural e a teoria de devido à integração do antigo curso primário e
sistemas também fizeram uma “despotilização” ginasial, que passaram a constituir ensino de
eficaz dos processos de tomada de decisão por primeiro grau e o antigo colegial. A mesma
meio dos quais estabelece uma adaptação nomenclatura de diretor de escola continua nos
funcional adequada entre a organização e o seu dias atuais, e sua atuação ocorre na educação
ambiente. Certos “imperativos” funcionais tais básica, conforme a LDB Nº 9.394/96 (SANTOS,
como a necessidade de equilíbrio a longo prazo 2002, p. 72).
do sistema para a sobrevivência, Pelo parâmetro legal, fica em evidência que
presumivelmente eram impostos a todos os diante de um período de desafios e
atores organizacionais, determinando os modificações políticas e sociais, com a
resultados dos projetos produzidos por seu aprovação da Constituição Federal de 1988,
processo decisório (REED, 1988, p.71). efetivou-se a redemocratização da sociedade
Nesse sentido, alguns autores colocam-se na trazendo à escola uma nova forma de gestão,
merma logica da abordagem do estrutural- também novas exigências para o exercício do
funcional clássico, porem de maneira cargo de diretor de escola.
diferenciada o poder, fornecendo novos Portanto, partindo desse pressuposto
elementos ideológicos e epistemológicos que verifica-se que o cargo do diretor sofreu
contrastam, profundamente com os modelos algumas mudanças tanto no aspecto histórico
até então analisados e um dos autores anterior quanto atual, pois constatou-se entre
aprofunda, afirmando, outras coisas, que mesmo conhecendo as bases
O poder propala uma lógica de organização e legais, a um certo descompasso entre as
do organizar enraizada analiticamente em atribuições e competências diante das
concepções estratégicas de poder social e dificuldades do dia a dia e as tomadas de
intervenção humana que são sensíveis à decisões, contradições e incoerências, pois
dinâmica dialética existente, entre as limitações ainda se faz necessário uma reflexão sobre a
estruturais e a ação social, à medida que molda atuação de quem se coloca hoje a frente de
as formas institucionais reproduzidas e uma gestão.

1124
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONCEPÇÃO DE GESTÃO relacionadas a gestão, conhecer todo processo


acima mencionado a respeito da gestão escolar
Os modernos conceitos de gestão,
é de extrema relevância definirmos a palavra
contrariamente ao proposto pela
gestão, Rios (2010), define gestão como:
administração não separam o planejamento da
execução, de tal forma que não se pode pensar O ato ou efeito de digerir, gerenciar,
em dois grupos distintos de trabalhadores. Uma administrar. Podemos então subtender que
das premissas dessa concepção clássica é que gestão é um ato administrativo na unidade
ao dividirem-se responsabilidades entre escolar, cargo que exige capacidade de
aqueles que concebam, ou planejam, e aqueles liderança organizacional para que todas as
que executam o que foi planejado, se isenta o tarefas sejam cumpridas rigorosamente em
tempo e modo necessário (RIOS, 2010, p. 266).
trabalhador da responsabilidade pelo sucesso
ou fracasso constatado nos resultados finais do Verifica-se que as afirmações acima citadas
seu trabalho. Compreender gestão escolar se pelo autor ficam claro que as modificações tem
traduz no ato político, pois sabe se que na gerado tipos de problemas sociais,
contemporaneidade a escola passa por desafios necessitando então que os gestores revejam
que ela mesma, a partir de seus atores, não está suas ações, criem alternativas, dê vez e voz para
sabendo lidar com situações do dia a dia que os excluídos que desenvolvam hábitos e
atingem. atitudes democráticas. Diante disso, outros
autores postulam que:
Nesse sentido, essas modificações nos
setores econômicos, políticos, sociais e Que a escola deve funcionar como tempo de
culturais tem refletido no atual cenário vivências socialmente desejáveis. Para tanto, a
educacional, por meio das demandas vindo das rede de relações dentro da escola necessita
situações do cotidiano aja vista que a maioria: estar fundada em valores e princípios, éticos e
problemas de conduta, de valores negativos e morais suficientemente fortes para oferecer as
comportamentais do ser humano. Além disso, crianças e jovens uma experiência positiva de
algumas pesquisas apontam as precárias convivência (TEIXEIRA, 2003, p. 04).
administrações de atuais gestores que ainda Desse modo, cabe ao gestor escolar ter em
usam de autoritarismo, para deixar claro para mente uma visão de conjunto das dimensões de
os colaboradores que o diretor é que manda. gestão escolar, como liderança profissional;
Partindo desse pressuposto, a figura do visão e metas compartilhadas pelos agentes
gestor deve estar pautada na construção de educativos; ambiente de aprendizagem;
relacionamentos em que ações do tipo: ouvir concentração no processo ensino-
pessoas, aceitar sugestões, articular com a aprendizagem; ensino estruturado com
equipe as decisões e saber “lidar” com diversos propósitos claramente definidos; expectativas
colaboradores ganhem um dinamismo de elevadas; reforço positivo de atitudes;
solidariedade, assiduidade e compromisso sem monitoramento do progresso; direitos e
ferir a legislação para uma boa gestão por deveres dos alunos; parceria família-escola;
excelência. Nesse sentido, uma escola, com organização orientada à aprendizagem. Às
bom gestor deve possui excelentes praticas demais unidades deste manual remeterão a

1125
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estes aspectos, para cuja efetivação na escola, esse cargo ter virtudes e algumas são
muito depende a competência do diretor. primordiais, tais como: eficácia (levar o grupo a
Portanto, nunca é demais advertir que o atingir objetivos e metas definidos pela
trabalho de gestão não comporta separação organização), saber ouvir (ouvir atentamente
das tarefas administrativas e pedagógicas nos os seus liderados, filtrar os assuntos
moldes em que costuma ocorrer. Mesmo importantes e deixar que as melhores ideias
porque, o trabalho administrativo somente prevaleçam criando assim um ambiente de
ganha sentido a partir das atividades que inovação), saber delegar tarefas (não
constituem as atividades-fim, ou propósitos da centralizar tudo, saber delegar é praticar a
organização escolar. Ressaltando que essa seja confiança no grupo) e desenvolver o grupo
uma pratica comum nas escolas de Educação (contribuir para o desenvolvimento de cada
Infantil e Fundamental, observa-se que ela indivíduo do seu grupo, formar líderes e
reforça o caráter individualista da atividade sucessores).
docente ao invés de abrir espaço para uma ação Além disso, segundo Maxwell (2007), a
coletiva que possibilitaria trazer para a liderança vem combinada com vários fatores e
discussão outros problemas comuns a vários que podem ser divididas em cinco níveis que
professores, os quais nem sempre são são: Posição, Permissão, Produção,
encorajados a fazê-lo. Nesse sentido, a melhor Desenvolvimento Pessoal e Personalidade.
forma dos gestores favorecerem a construção Partindo desse pressuposto, a Liderança
de um ambiente saudável e estimulante para os segundo o autor está dividida em cinco níveis
professores é por meio do trabalho que se caracterizam da seguinte maneira como
colaborativo e da formação de equipes de apresenta o autor: 1-) Posição (Direito). As
trabalho. Situações como essas reduzem as pessoas seguem devido ao seu cargo ou posição
distancias entre gestores, professores, alunos, que exerce na organização; 2-) Permissão
funcionários e comunidade, proporcionando (Relacionamento). As pessoas seguem você
que todos possam atuar como sujeitos da porque querem. Este nível está baseado no
educação, rompendo com as barreiras criadas relacionamento, ou seja, a pessoas te seguem
pela hierarquia e isso é importante porque o devido à relação que você tem com as mesmas;
trabalho educativo é produto de uma interação 3-) Produção (Resultados). As pessoas seguem
em que todos os envolvidos participam e são você em razão daquilo que fez pela
influenciados de alguma forma. organização. Neste nível o resultado positivo
que você obteve durante o período que você
LIDERANÇA tem trabalhado na organização faz com as
pessoas te sigam, ou seja, uma referência
Na contemporaneidade ser líder é pra
dentro da empresa; 4-) Desenvolvimento
poucos, porém tem uma função importante na
Pessoal (Reprodução). As pessoas seguem você
organização, mas antes de tudo quem ocupa
em razão daquilo que fez por elas. Neste quarto
tem que ter bastante humildade, porque vai
nível as pessoas te veem como líder devido ao
lidar com pessoas, que tem sentimentos,
que você contribuiu no crescimento pessoal de
sonhos, por isso é relevante pra quem ocupa

1126
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cada um de seus liderados. 5-) Personalidade dificilmente terá tempo para sua equipe, e uma
(Respeito). As pessoas seguem você em razão equipe sem um líder perde o rumo do seu
de quem você é e do que você representa. Este objetivo. Pode se perceber que o depende
último nível está baseado na sua experiência muito do perfil de quem está liderando e para
comprovada de sucesso em liderança. Este é o alcançar o sucesso, é necessário que tenha
nível mais complexo e mais difícil de alcançar. alguns pré-requisitos em relação ao
Também, o autor postula que para ser líder conhecimento da realidade no qual está
deve-se possuir virtudes fundamentais tais inserido e também possua características
como: iniciativa, determinação e proatividade. relevantes como: o primeiro grande passo de
E ressalta que, saber ouvir é uma virtude um líder de sucesso é o autoconhecimento,
primordial para um líder, porém é necessário saber reconhecer seus 12 pontos fortes e
também filtrar as estratégias e objetivos. fraquezas, identificar para onde se quer ir,
Ouvindo sua equipe, ele consegue criar um influenciar as pessoas e traze-las para junto de
vínculo de relacionamento, tornando mais forte si, formando equipes altamente engajadas e
a sua influência. Ouvindo sua equipe, um líder produtivas, capacidade de adaptação a
consegue criar um vínculo de relacionamento, mudanças, a acompanhar as tendências,
tornando mais forte a sua influência. estimular as pessoas no processo de mudança
Gaudêncio (2007), afirma que: dentro de suas equipes e liderança servidora.
O líder deve focar no mundo externo Dessa forma, o líder de sucesso não sabe
enquanto o gerente precisar ficar atento ao apenas como administrar os recursos da
mundo interno da organização, tornando empresa, mas acima de tudo, sabe reconhecer
realizáveis as ideias revolucionarias do líder, as individualidades de cada pessoa, sabe como
organizando a estrutura, alocando recursos e extrair o máximo delas, aumentando a
mantendo o controle operacional. Líderes eficiência do grupo e da organização como um
lidam com visões inspiradores e gerentes com todo. Nesse sentido muitos dos líderes atuais
sistemas de avaliação de desempenho, planos e são reconhecidos pela posição ou pelo cargo
orçamentos (GAUDENCIO, 2007, p. 17). que ocupam dentro das empresas, então essa
Nesse sentido, liderança não é posição normalmente os coloca em situação de
gerenciamento, pois juntos se completam e são superioridade e, com frequência, abusam do
fundamentais, enquanto um tem a capacidade poder como forma de manter a autoridade e
de liderar, de influenciar as pessoas e motiva- esta forma de poder e de liderança
las o outro possui o controle detalhado do que normalmente traz consigo um forte
foi planejado. Além dessa característica “sabe individualismo, isolamento e consequente
ouvir”, existem outras marcantes como: perda de autoridade.
Aprender a delegar, é essencial que o líder Nesse contexto, Krames (2006, p. 60),
delegue tarefas e responsabilidades para sua acrescenta dizendo que “o colaborador que
equipe de trabalho. Desse modo, para delegar, tiver a capacidade de enxergar a mudança
um líder precisa confiar em seus liderados, como uma oportunidade, não como problema,
assim como os liderados sobrecarregados terá maior sucesso na carreira do que seus

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

colegas conservadores, que temem qualquer competências necessárias para concretização


novidade”. do um líder de sucesso na atualidade.
Como parte das habilidades conceituais, o
administrador tem que saber conviver, GESTÃO DEMOCRÁTICA
compreender e lidar com situações complexas
A gestão democrática tem se tornado alvo
e ambíguas. Isto requer maturidade,
frequentes, no campo educacional, de debates,
experiência e capacidade para analisar pessoas
discussões, reflexões e iniciativas publicas a fim
e situações.
de dar sequência a um princípio
Com base nesse princípio Maxwell (2007),
constitucionalmente e reposto na Lei de
afirma dizendo em relação ao líder que:
Diretrizes e Base da Educação Nacional.
A primeira responsabilidade de um líder é
A democrática estabelecida na Constituição
definir a realidade de quem eles são. Os líderes
Federal de 1988 trouxe uma inovação para a
ajudam-nos a reconhecer seus pontos fortes e
educação ao incorporar, forma da lei (Artigo
fracos e isso é importante se quisermos ajudar
206, Inciso VI), como um princípio do ensino
os outros. Saber destacar as qualidades e
público. Assim, ao fazê-lo, a Constituição
trabalhar na melhoria dos defeitos, o líder irá
institucionalizou, no âmbito federal, praticas
contribuir para ao desenvolvimento pessoal de
que já vinham ocorrendo em vários sistemas de
cada participante da sua equipe (MAXWELL,
ensino estaduais e municipais, algumas delas
2007, p. 252).
amparadas por instrumentos legais emanados
Todo e qualquer profissional desempenha
pelas respectivas casas legislativas ou pelos
um conjunto de funções, associadas entre si,
executivos locais. Com efeito, a promulgação
para cujo desempenho são necessários da Constituição, em 1988, tornou obrigatória a
conhecimentos, habilidades e atitudes adaptação das Constituições Estaduais e das
específicos e articulados entre si. A definição de Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos
padrões de que os sistemas de ensino possam municípios às novas determinações, dentre elas
selecionar os profissionais com as melhores
a do princípio da gestão democrática do ensino
condições para o seu desempenho, tal como é
público.
sua responsabilidade, assim como orientar o
A realização da gestão democrática é um
continuo desenvolvimento do exercício dessas
princípio definido na Lei de Diretrizes e Bases da
competências e realizar a sua avaliação para
Educação Nacional (Art. 3º. Inciso VIII), e na
orientar o seu aprimoramento.
Constituição Federal (Art. 206, inciso VI). O
Portanto, cabe ao diretor escolar ou mesmo se assenta no pressuposto de que a
pretendente ao exercício dessas funções,
educação é um processo social colaborativo
adotar estratégias, nas quais o primeiro passo,
que demanda a participação de todos da
diz respeito a te uma visão abrangente do seu
comunidade interna da escola, assim dos pais e
trabalho e do conjunto das competências da sociedade em geral. Dessa participação
necessárias para o seu desempenho, também conjunta e organizada é que resulta a qualidade
definir como estratégia de automonitoramento do ensino para todos, princípio da
e avaliação, para o desenvolvimento das democratização da educação.

1128
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Portanto, a gestão democrática é proposta decisão baseado na participação e na


como condição de: i) aproximação entre escola, deliberação publica, a gestão democrática
pais e comunidade na promoção de educação expressa um anseio de crescimento dos
de qualidade; ii) de estabelecimento de indivíduos como cidadãos e do crescimento da
ambiente escolar cidadania, seguindo o sociedade enquanto sociedade democrática.
exemplo dos adultos. Sobretudo, a gestão Por isso a gestão democrática é a gestão de
democrática se assenta na promoção de uma administração concreta. Por que
educação de qualidade para todos os alunos, de concreta? Porque o concreto (cum crescer e, do
modo que cada um deles tenha a oportunidade latim, é crescer com) é o nasce com e que
de acesso, sucesso e progresso educacional cresce com o outro. Este caráter genitor é o
com qualidade, numa escola dinâmica que horizonte de uma nova cidadania em nosso
oferta ensino contextualizado em seu tempo e pais, em nossos sistemas de ensino e em nossas
segundo a realidade atual, com perspectiva de instituições escolares (CURY, 2002).
futuro. Dessa forma, conceber uma gestão
Nesse sentido, a gestão democrática escolar democrática na escola implica na autonomia e
é exercida tanto como condição criadora das participação de todos os envolvidos no
qualificações necessárias para o processo educativo. Porem a escola ainda
desenvolvimento de competências e enfrenta muitas limitações e os obstáculos que
habilidades especificas do aluno, como também dificulta o poder de decisão e a democratização
para a criação de um ambiente participativo de das decisões no âmbito escolar. Quando a
vivencia democrática, pela qual os alunos gestão democrática do ensino público ainda
desenvolvem o espirito e experiência de não tinha sido incorporada à Constituição de
cidadania, caracterizada pela consciência de 1988, a mobilização em torno de sua
direitos em associação a deveres. Dessa forma, introdução na LDB foi iniciada. Assim,
as oportunidades de participação se justificam apresentou-se um projeto de lei à Câmara
e se explicam, em decorrência, como uma Federal, partindo de um estudo de Demerval
intima interação entre direitos e deveres, Saviani (1990), publicado na revista da ANDE
marcados pela responsabilidade social e substituindo o componente sobre
valores compartilhados e o esforço conjunto financiamento da educação por um texto mais
para a realização de objetivos educacionais. detalhado, baseado em estudos já realizados.
Com essa perspectiva, com ela, se criam O projeto “apresentado não continha
condições e se estabelece, as orientações nenhuma referência explícita sobre a gestão
necessárias para que os membros de uma democrática como princípio do ensino público,
coletividade, não apenas toem parte, de uma apesar de, naquele momento, este já ser um
forma regular e continua, de suas decisões mais ponto conquistado na Constituição
importantes, mais assumam os compromissos recentemente promulgada” (GADOTTI, 1990, P.
necessários para a sua efetivação. Isso porque 68).
a democracia pressupõe segundo Cury (2002), Neste sentido, incorporaram-se importantes
que afirmava que: voltava para um processo de avanços no campo da democratização da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educação, inclusive de sua gestão democrática,


por meio de mecanismos como autonomia
pedagógica e administrativa e de gestão
financeira das unidades escolares, bem como
de descentralização dos sistemas de ensino.
Uma gestão escolar democrática se
desenvolve e se realiza por meio da efetiva
participação comprometida, tendo o gestor
escolar papel fundamental na orientação e
efetivação desse processo. Para tanto, torna-se
imprescindível o fortalecimento de um aporte
teórico, a habilidade para lidar com pessoas,
detectar e solucionar problemas, bem como ter
a sensibilidade para intervir de maneira
dinâmica e produtiva, com o intuito de
contribuir para a melhoria da qualidade da
educação.

1130
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao escolher o tema Gestor como Líder Educacional foi observado e analisado as diferentes
abordagens de cada teórico diante de alguns aspectos históricos de décadas diferentes. Por meio
de estudos bibliográficos apoiados em Boccia (2011); Cury (2002); Gadotti (1990); Gaudêncio
(2007); Krames (2006); Lopes (2002); Lück (2010); Maxwell (2007); Rios (2010); Santos (2002),
dentre outros, detectamos que os principais obstáculos enfrentados no processo democrático
originaram-se no microssistema das relações internacionais do mercado que influenciou para
determinação da tipologia de democracia e emancipação desejadas.
Porém, por meio deste trabalho voltado para o papel do gestor como líder educacional,
seu comportamento e forma de agir diante as mudanças ocorridas nas políticas educativas e
organizativas nas transformações, culturais, históricas e geográficas que caracterizam o mundo
contemporâneo.
É de grande relevância refletirmos se realmente há um compromisso democrático de todos
que fazem a escola, uma gestão compartilhada, na qual todos trabalham em benefício da
qualidade no ensino. Ressaltando que, por meio da consciência de ambos, evidenciando-se e
respeitando a legislação é necessário que escola de fato possa ser uma instituição que explicite a
socialização exercendo uma liderança democrática para formação da comunidade escolar coesas
e comprometidas com a educação.

1131
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALONSO, M. Gestão escolar: revendo conceitos. São Paulo, PUC-SP, 2004.

BOCCIA, Margarete Bertolo. Os papeis assumidos pelos diretores de escola. São Paulo:
Pulsar, 2011.

CURY, C. R. J. Gestão democrática da educação: exigências e desafios. In: Revista Brasileira


de Política e Administração. São Bernardo do Campo. V. 18. N. 2, 2002.

GADOTTI, M. Uma só escola para todos. Petrópolis – RJ: Vozes, 1990.

GAUDÊNCIO, Paulo. Super dicas para se tornar um verdadeiro líder. São Paulo: Saraiva,
2007.

KRAMES, Jeffrey. Os princípios de liderança de Jack Welch: 24 lições do maior executivo do


mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. 73p.

LOPES, Natalia F.M. A função do diretor do ensino fundamental e médio: uma visão histórica
e atual. Campinas, SP, 2002. Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas.
(Dissertação – Mestrado em Educação).

LUCK, Heloisa. Liderança em gestão escolar. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.

RIOS, Dermeval Ribeiro. Minidicionário escolar de língua portuguesa. São Paulo: DCL, 2010.

SANTOS, Clovis Roberto dos. O gestor educacional de uma escola em mudança. São Paulo:
Pioneiro Thomson Learning, 2002.

TEIXEIRA, Hélio Janny. Da administração geral à administração escolar: uma revalorização


do papel do diretor da escola pública. São Paulo-SP: Blucher Ltd, 2003.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL


Carla Renata Wilhans Barbosa1

RESUMO: A Educação Especial tem passado por inúmeras transformações nas últimas décadas,
vários estudos tem sido como forma de melhor compreender essas mudanças. Este estudo
apresenta como objetivo geral analisar o processo histórico da Educação Especial. Sendo assim
por meio dos objetivos específicos busca-se descrever o processo histórico da Educação Especial
e apresentar os principais documentos internacionais sobre a inclusão. Esta pesquisa caracteriza-
se como exploratória de cunho bibliográfico. Conclui-se que a partir da década de 1980 houve um
grande avanço na história da Educação Especial, em principal, com a Declaração de Salamanca
em 1994, a proposta de um novo modelo educacional para as pessoas com necessidades
especiais, permite a essa população melhores condições de vida e acesso de forma indiscriminada
a todos os recursos ofertados pela educação a fim de que eles possam desfrutar de forma plena
e favorável de seu direito à cidadania.

Palavras-Chave: Educação; Educação Especial; Necessidades Educacionais Especiais.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de ensino de Maringá.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes Visuais.
E-mail: carlarenatawilhans@gmail.com.

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INTRODUÇÃO De acordo com o Estatuto da Criança e do


Adolescente (1990), o qual ainda complementa
Atualmente a sociedade em que vivemos no Capítulo IV, artigo 53:
sofre constantes transformações econômicas, A criança e o adolescente têm direito à
sociais e políticas, consequentemente estas educação, visando ao pleno desenvolvimento
mudanças repercutem na Educação e em todos de sua pessoa, preparo para o exercício da
os seus setores, sendo que algumas áreas cidadania e qualificação para o trabalho [...]
passam a ser mais ou menos valorizadas estabelecendo que nenhuma criança ou
conforme os interesses de classes e o contexto adolescente não pode ser discriminada por ser
em que está inserida. diferente (BRASIL, 1990, s.p).
O discurso de inclusão tem sido temas de Ainda de acordo com o artigo 205 da
fóruns, estudos, palestras, cursos, assembléias Constituição Federal de 1988, a educação é um
entre outros, contudo somente será possível direito de todos e dever do Estado e da família,
entender esta temática conhecendo o histórico e deve ser promovida e incentivada com a
da Educação Especial, afinal, as ações de hoje, colaboração da sociedade, objetivando o pleno
são apenas resultados de lutas e desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
reinvindicações de tempos passados. exercício da cidadania e sua qualificação para o
Antes o indivíduo era avaliado apenas do trabalho.
ponto de vista biológico e depositário de todos Essas menções são resultado de lutas de
os instintos, priorizando a disciplina, hoje na educadores, terapeutas, médicos, pais, enfim
área da Educação fala-se muito em Educação de pessoas envolvidas e preocupadas com o
Especial, mas todo percurso que foi construído, desenvolvimento não só físico, mas também
as lutas e conquistas, as grandes contribuições cognitivo e social das pessoas com
devem ser divulgadas e valorizadas como necessidades especiais, que não eram
marco importante. Para que seja valorizada e atendidas de forma que suprisse as suas
reconhecida sua importância é essencial que necessidades educacionais.
fique evidente qual é o seu papel, sua A educação escolar era sistematizada de
importância. forma que contemplasse as crianças
No momento em que se pretende construir a consideradas “normais” dentro do padrão
escola inclusiva, o conhecimento deste estabelecido pela sociedade, as atividades não
histórico permitirá uma reflexão mais coesa do eram direcionadas para aquelas crianças que
tema, afinal diariamente a pessoa com apresentasse características diferentes da
necessidades especiais depara-se com um maioria do grupo.
mundo novo do qual ela deverá participar. A sociedade moderna deparou-se com a
Diante disto, a questão relevante é: Como necessidade de realizar um trabalho
eram tratadas as pessoas com necessidades diferenciado para com aquelas crianças que
especiais? Como valorizar e reconhecer a não estavam enquadradas no grupo daqueles
importância de algo que não conhecemos sua que suas necessidades eram consideradas
origem e fundamentos? normais. Diante de tantos avanços e conquistas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

na Educação não era mais concebível ou viável Afirmava-se também que o comportamento
que as crianças com necessidades especiais diferente da pessoa com necessidade especial
continuassem à margem da sociedade, era conseqüência de forças sobrenaturais,
internadas ou encarceradas em instituições criando um estereótipo de que a deficiência
assistencialistas que não promoviam o tinha sua origem nas forças demoníacas, mais
desenvolvimento e a inclusão deste indivíduo especificamente, da deficiência mental.
no meio social. Na idade média fortaleceu-se a crença no
Com base nisto, esperamos com este sobrenatural e algumas necessidades especiais
trabalho apresentar o histórico da luta pela eram tratadas de forma diferenciadas, como
Educação Especial, a fim de que a mesma tenha por exemplo, os cegos foram considerados
seu valor entendido e reconhecido, a fim de videntes, profetas ou adivinhos; os psicóticos e
promover um entendimento da construção da epiléticos possuídos pelo demônio e alguns
história de luta pela Educação Especial. estados de transe eram entendidos como
Conforme Gil (2007), as pesquisas podem ser possessão divina.
classificadas tendo como referencial o objetivo Nas sociedades antigas era normal o
geral e o delineamento a ser adotado. Este infanticídio quando se observavam
projeto trata-se de uma pesquisa exploratória anormalidades nas crianças. Durante a idade
com o objetivo principal de aprimorar ideias, média a igreja condenou o infanticídio, mas,
promovendo melhor compreensão do por outro lado acalentou a ideia de atribuir a
problema, tornando-o mais explícito. Será causas sobrenaturais as anormalidades de que
realizada uma pesquisa bibliográfica padeciam as pessoas. Considerou-se possuídas
considerando o planejamento da pesquisa pelo demônio e outros espíritos maléficos e
priorizando os procedimentos técnicos de submetia-as a práticas de exorcismo (FERREIRA
coleta e análise de dados. e GLAT, 2003; p. 22).
A partir do século XVIII, com o
PROCESSO HISTÓRICO DA desenvolvimento da Ciência, surgem as
explicações naturalistas e os dogmas religiosos
EDUCAÇÃO ESPECIAL E são questionados, resultando em estudos mais
PRINCIPAIS DOCUMENTOS sistemáticos na tentativa de explicar as
deficiências, fazendo com que a pessoa com
INTERNACIONAIS SOBRE A
necessidade especial fosse objeto de estudo.
INCLUSÃO Com base nesses estudos descobre-se que
Conforme Nascimento (2007), na idade algumas necessidades especiais eram
antiga, as pessoas com deficiências eram resultados de lesões ou disfunções do
associadas às feitiçarias, bruxarias, ao diabo e organismo, dando origem à concepção
até mesmo ao pecado, diante desta situação organicista que explicava a necessidade
tais pessoas eram isoladas, deixadas à margem especial como sinônimo de doença.
da sociedade, abandonadas pelos familiares. Os séculos XVII e XVIII foram marcados pela
segregação, afinal com o objetivo de submeter-

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

se ao tratamento médico a pessoa com ditados pelas normas culturais. Estava lançada
necessidade especial era internada em asilos, a base para o aparecimento do atual conceito
manicômios, prisões, orfanatos e hospitais em das chamadas “necessidades educacionais
que se buscava categorizar as necessidades especiais” (MENDES, 2002; p. 58).
especiais e diferenciar a doença mental da Ainda de acordo com Mendes (2002), no
deficiência (MARQUEZINE; ALMEIDA; TANAKA, início do século XX o método Binet (teste de QI),
2001). excluiu da escola regular aqueles alunos
A crença na hereditariedade da condição e o considerados fracos, atrasados ou menos
organicismo radical marcaram os séculos XVIII e inteligente, surgem então, as diferentes
meados do século XIX. Neste período a pessoa rotulações para as crianças que são
com necessidade especial era classificada como encaminhadas a Centro Escolar e classes
deficitária, periculosa, anormal e ameaçadora, especiais.
justificando assim a segregação social e o medo Com a Segunda Guerra Mundial muitas
que as pessoas sentiam em relação a elas, pessoas foram mutiladas, dando origem a uma
porém neste período surgem as primeiras filosofia mais humanista, que valorizava a
tentativas educacionais. pessoa com necessidade especial, tendo como
Conforme Jiménez (1993), A Educação aliada as descobertas cientificas, pois, esses
Especial tem sua origem no final do século XVIII cidadãos eram cumpridores de seus deveres e
e princípios do século XIX, com a consciência da seu direito de cidadania não poderia ser
necessidade de apoiar as pessoas com roubado pelas circunstâncias, fazendo com que
necessidades especiais, embora fosse um apoio a necessidade especial a partir de então fosse
de caráter assistencialista. O século XIX é entendida como uma condição determinada
marcado pela criação de escolas especiais para por variáveis orgânicas e ambientais.
cegos, surdos e deficientes mentais. Na década de 1950 começam a surgir novas
A Revolução Industrial culminou em novas propostas para o atendimento às pessoas com
necessidades para a sociedade, entre elas a necessidades especiais, especialmente na área
escolarização que se tornou obrigatória, educacional. As propostas de integração
tornando evidente a situação daqueles que espalharam-se pelo mundo, originárias da
aparentemente não apresentavam nenhuma Escandinávia por meio do princípio de
necessidade especial, porém, encontrava normalização de Wolferberger (1972),
dificuldades no aprendizado, resultando em defendendo que toda pessoa com necessidade
mudanças no conceito de deficiência na época. especial tem direito de usufruir das condições
[...] Se antes o conceito de deficiência se de vida mais comuns ou normais possíveis na
restringia aos casos de incapacidades mais comunidade, na qual vive.
severas e generalizadas, na nova ordem social Conforme Jiménez (1993), em 1959 tem
começam a ser considerado também como início a normalização na Dinamarca seguida
deficiente, indivíduo com incapacidade menos pela Europa e América do Norte, com o objetivo
perceptíveis, sem anormalidades orgânicas de integrar as pessoas com necessidades
comprovadas e com base em critérios mais

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

especiais no mesmo ambiente escolar e laboral A proposta educacional baseada no sistema


das outras pessoas consideradas normais. de cascata de provisões de serviços estruturou
[...] no Canadá é publicado pelo Instituto de forma paralela o processo de integração
Nacional para deficiência mental, o primeiro com serviços que iam desde o ensino em
livro sobre o princípio de normalização. O seu classes comuns aos serviços em centros
autor Wolfensberger (1972), define este hospitalares, com o objetivo de adequar essas
princípio como “o uso dos meios normalizantes crianças as classes comuns sem mudanças no
do ponto de vista cultural, para estabelecer sistema de ensino.
e/ou manter comportamentos e características Na segunda metade do século XX,
pessoais o mais normalizantes possíveis especialmente a partir da década de 70, [...]
(JIMÉNEZ, 1993; p.28). fase que constitui a fase da integração, quando
Até os anos de 1960 as pessoas com o portador de deficiência começou a ter acesso
necessidades especiais eram atendidas em à classe regular, desde que adaptasse e não
centros especiais ou escola regular com causasse nenhum transtorno ao contexto
conexão, porém, na segunda metade da década escolar. Embora a Bandeira da integração já
de 1960 surge a ideia de uma Educação Especial tivesse sido defendida a partir do final dos anos
escolar integrada ao sistema regular de ensino 60, nesse novo momento houve uma mudança
com acesso ao ensino primário, desta forma filosófica em direção à ideia de educação
fortalecendo algumas organizações e integrada, ou seja, escolas regulares aceitando
movimentos educativos preocupados com este crianças ou adolescentes deficientes nas classes
tipo de atendimento. comuns ou, pelo menos, em ambientes o
De acordo com Sassaki (2005), foi no final da menos restrito possível (PERANZONI; FREITAS,
década de 1960 que a integração fortaleceu-se 2000).
baseada na inserção da pessoa com Neste contexto de consolidação, de
necessidade especial no espaço físico comum, respostas mais amplas da sociedade em relação
sem mudanças ou alterações e sua inserção em às questões que abrangiam a educação das
ambientes próprios como escolas especiais, pessoas com necessidades especiais, surgiram
sendo que, após esta inserção essas pessoas muitas das iniciativas que atualmente são
poderiam exercer suas atividades como contempladas nos princípios da escola
estudar, trabalhar, cabendo à sociedade inclusiva, como também impulsionou a busca
recebê-las, e a elas tornar-se mais aceitável por por um novo modelo educacional com o apoio
meio da reabilitação, da educação especial ou de movimentos populares ou categorias que
até mesmo por meio de cirurgias. reivindicavam mais acesso e qualidade na
A partir da década de 1970, crianças ou educação da pessoa com necessidade especial,
adolescentes com necessidades especiais iniciando desta maneira o movimento de
foram integradas em escolas comuns nas quais inclusão social (FERREIRA, GLAT, 2003).
frequentavam classes comuns ou classes O paradigma da inclusão tem suas bases no
especiais ou de recursos, exibindo com isso o livreto “Declaração de princípios de 1981”, que
modelo de serviços. apresenta uma nova proposta de educação

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

diferente das formas antigas de inserção todos - promovendo serviços às necessidades


propondo mudanças nas perspectivas pela qual básicas de educação, trazendo as bases para o
a educação deve ser entendida. conceito de Necessidades Educacionais
O processo de inclusão deve ser contínuo e Especiais, bem como a necessidade de inclusão
concomitante, no qual a sociedade precisa da própria Educação Especial na estrutura de
acolher todas as pessoas independentes de Educação para todos”, que foi oficializada neste
qualquer questão, portanto há necessidade de encontro (SANTOS, 2007).
mudanças na estrutura a fim de que ela Em 1993 a Organização das Nações Unidas
entenda que é capaz de atender as (ONU) lança o documento “Normas de
necessidades de seus membros, como afirma Equiparação de oportunidades”, estas normas
Sassaki (2005). foram adotadas pela Assembleia Geral das
A partir de 1980 tem início o movimento de Nações Unidas em sua 48ª sessão em 20 de
auto advocacia no qual as pessoas com dezembro de 1993 (resolução 48/96).
necessidades especiais mental, físicas e Estas normas asseguravam às pessoas com
sensoriais uniram-se na luta pelo direito à necessidades especiais o direito de exercer os
cidadania, sendo que este movimento existe mesmos direitos e deveres que as outras
até os dias de hoje de forma bem estruturada pessoas, equiparando as oportunidades a essas
em alguns países. Este movimento teve como pessoas, sendo este esforço o resultado de
objetivo equipar essas pessoas para que elas esforços mundiais de mobilização de recursos
gerenciem suas vidas, fazendo valer a sua humanos.
opinião nas decisões referentes a elas. O encaminhamento das diretrizes básicas
Nos anos de 1990 tem início à educação para a formulação e reforma de políticas e
inclusiva, como afirma Mendes (2002), sistemas educacionais fez com que fosse
propondo uma reestruturação da sociedade, a retomada a discussão sobre as necessidades
fim de que fosse possibilitada a convivência dos educacionais especiais, em 1994, na
diferentes e no sistema educacional a busca por Conferência de Salamanca, que culminou na
qualidade para todos independente de qual “Declaração de Salamanca”, na qual a
fosse à necessidade especial. expressão “Necessidades Educacionais
A proposta de inclusão estabelece que as Especiais” aparece e é conceituada.
diferenças humanas devem ser consideradas A Declaração de Salamanca (1994), traz uma
normais, contudo reconhece que a escola no interessante e desafiadora concepção de
momento atual acentua as desigualdades Educação Especial ao utilizar o termo “pessoa
associadas a existência de diferenças de origem com necessidades educacionais especiais”
pessoal, social, cultural e política, sendo neste estendendo-o a todas as crianças ou jovens que
sentido a proposta de reestruturação do têm necessidades decorrentes de suas
sistema educacional com o objetivo de características de aprendizagem. O princípio é
promover uma educação de qualidade. que as escolas devem acolher a todas as
Em 1990, em Jomtiem, Tailândia aconteceu a crianças, incluindo com deficiências,
Conferência Mundial sobre Educação para superdotadas, de rua, que trabalham de

1138
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

população distante, nômades, pertencentes a


minorias linguísticas, étnicas ou culturais, de
outros grupos desfavorecidos ou
marginalizados. Para isso sugere que se
desenvolva uma pedagogia centrada na relação
com a criança, capaz de educar com sucesso a
todos, atendendo às necessidades de cada um,
considerando as diferenças existentes entre
elas (PAULON; FREITAS; PINHO, 2007. p.21).
A declaração de Salamanca promoveu entre
os países do mundo a implantação de políticas
de inclusão dos alunos com necessidades
educacionais especiais no ensino regular, como
forma democrática de efetivação e ampliação
das oportunidades educacionais, unificando o
sistema regular de ensino e o especial, tendo
como princípio o mesmo valor e direito dos
seres humanos e utilizando sempre que
necessárias práticas diferenciadas para que tais
direitos sejam garantidos.
Sendo assim, as escolas especiais
funcionariam como centros de apoio e
formação para a escola regular, coordenando
os serviços de educação, saúde e assistência
social. Os fundamentos teóricos da Educação
Especial atualmente não a apresentam mais
como um sistema paralelo ao ensino regular,
mas como um instrumento de apoio à inclusão
escolar.

1139
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecer o processo histórico no qual a luta pela Educação Especial foi construída permite
um reconhecimento dos esforços e luta na busca por mudanças nos modelos educacionais
objetivando as pessoas com necessidades especiais acessa a todos os recursos e benefícios que
em muitas situações não lhes são permitidos devido a sua própria condição.
A necessidade da escolarização para esta população tornou-se relevante, uma necessidade
urgente da sociedade que mobilizou diversas camadas populares em todo mundo, resultando no
modelo educacional em que todos são acolhidos e preparados para exercer seu papel como
cidadão.
Apesar de todas as lutas e vitórias ainda testemunhamos nos dias de hoje, situações em
que as necessidades especiais do cidadão não são respeitadas e muitas vezes são ignoradas por
instituições ou até mesmo por alguns órgãos do poder público.
Presenciamos uma busca intensa pela adequação dos diferentes ambientes para receber
e acolher as pessoas com necessidades especiais, como calçadas rebaixadas, transportes públicos
adaptados, rampas, ética. Como também no comportamento das pessoas em relação a essa
situação, evidenciando uma mudança positiva no comportamento da sociedade de uma forma
geral.
Contudo não podemos recusar que ainda hoje, as pessoas com necessidades especiais
ainda sofrem discriminações e em alguns casos são deixados à margem da sociedade. Mesmo
com toda luta pela inclusão, ainda é preciso haver mudanças e ajustamentos na sociedade que
vive em constantes mudanças.

1140
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais –
Educação Física. Brasilia, 1997.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: Promulgada


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Especial. Outubro, 2005.

SANTOS, Mônica Pereira. A inclusão da Criança com Necessidades educacionais


Especiais. 2007.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

HORTA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Raphaela Rui Riveros1

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo abordar o trabalho com a geração Alpha e sua
relação com a horta escolar. O mesmo vem ganhando cada vez mais destaque em escolas de
Educação Infantil, por suas diversas colaborações no desenvolvimento dos pequenos, também
por incentivar o cuidado com o meio ambiente, alimentação saudável e outras áreas importantes
do desenvolvimento infantil. Apresentando também sua definição, os instrumentos e as
estratégias que podem ser utilizadas pela escola e professores para trabalhar e desenvolvê-la.

Palavras-Chave: Geração Alpha; Horta; Educação Infantil; Estratégias.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: raphaela.riveros@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO contato presencial ainda está longe de ser


compreendido. Por isso, é importante
A nova geração de crianças nascidas a partir lembrarmos que a interação olho no olho, a
de 2010 conhecida como Geração Alpha se conversa entre crianças e adultos são
distingue das gerações anteriores pelo fato de extremamente importantes para o
crescer cercado por smartphones, máquinas desenvolvimento saudável.
inteligentes, assistentes de voz, tablets, Essa é a geração com o qual lidamos dia a dia
brinquedos conectados à internet, robôs em salas de aula atualmente, um grupo
companheiros e tecnologias imersivas, estes extremamente novo e em pleno
estão moldando a formação cerebral, social e desenvolvimento, não tendo ainda modelos de
psicológica desta nova geração. Antes, as educação bem definidos ou pré-estabelecidos,
gerações eram definidas a partir de um dos maiores desafios dos educadores no
acontecimentos históricos ou sociais século XXI é se adequar a maneira como está
importantes. Hoje, são delimitadas pelo uso de nova geração pensa, age e se relaciona, o que
determinada tecnologia, Balague(2010). se sabe é que seguimos cada vez mais para uma
De acordo com alguns sociólogos, estás forma de ensino que busca suprir as
crianças desde muito pequenas, estão inseridas necessidades e interesses dos alunos, um
em um cotidiano rodeado pela tecnologia, com padrão menos sistematizado que
muito mais estímulos sensoriais, auditivos, anteriormente. Deste modo podemos citar
perceptivos e visuais, por isso muito mais Piaget (1980), quando afirma que, cabe ao
atentas e observadoras. Alguns acrescentam professor acreditar na potencialidade de seus
que serão crianças que terão menos interações alunos, e organizar experiências que lhes
pessoais por meio de histórias narrativas e possibilitem interagir com os saberes
menor intercâmbio de linguagem, o que formalizados.
provocará mais problemas de Desta forma, professores passam a ser
intercomunicação oral do que antes, assim mentores, com foco maior na orientação de
como maior incidência de transtornos uma geração que possui acesso as informações
oftalmológicos e de déficit de atenção, na palma da mão. Pensando em explorar novas
causados pelo longo tempo em frente à tela. vivências e priorizar áreas do desenvolvimento
Em contrapartida, segundo estudos tendem principalmente na educação infantil, muitas
a ser pessoas muito mais independentes e com escolas passaram a elaborar o projeto horta,
um potencial muito maior de resolver uma boa estratégia para vivenciar a teoria vista
problemas do que seus antepassados. As novas em sala de aula em exemplos reais no ambiente
tecnologias devem auxiliar o nosso lado escolar.
humano de forma mais eficaz em um mundo
cada vez mais tecnológico. Observando as
características dessa geração entendemos que
o impacto do ritmo acelerado, das mudanças
constantes, da ultra conectividade e da falta de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

HORTA ESCOLAR E SEUS méritos está aproximar os alunos da natureza,


gerando uma importante relação de afeto com
BENEFÍCIOS a mesma, conscientizando-os sobre a
Fica claro que com tanta relação com o importância de cuidarmos das plantas e do
mundo digital as crianças têm tido cada vez meio ambiente, ponto muito importante diante
menos contato com a natureza, o que é a situação e preocupação mundial sobre os
essencial na formação do indivíduo. Quando a rumos de nosso planeta e futuro dessa e das
criança interage com a natureza, o próximas gerações, incentivando os pequenos a
desenvolvimento dos sentidos e de habilidades amar e cuidar da natureza.
é estimulado, além de ser um fator favorável à O ato de plantar, zelar pelas plantas
imaginação infantil e potencializador da enquanto estão crescendo, colher e comer o
criatividade deles. Pensando em tudo que foi fruto ensina aos alunos que ao cuidarmos do
apontado até aqui inicia-se uma corrente para meio ambiente, ele pode nos retribuir
ampliarmos esse contato com a natureza em positivamente. O resultado do projeto horta
nosso dia a dia escolar, uma ótima estratégia nessa etapa da escolarização são alunos mais
para esse contato é a horta. conscientes que levam para a vida
Segundo o dicionário, Aurélio, “horta ou ensinamentos ecológicos, demonstrando a
horto é um local em que são cultivados legumes necessidade de uma mudança de pensamento
e hortaliças. Nela também podem plantar-se que deve ser implantada na sociedade com
temperos e ervas medicinais. As hortas relação à natureza.
geralmente localizam-se em um terreno que Durante todo esse contato, atividades como
recebe sol o dia todo, plano ou levemente cavar, plantar, regar e colher ajudam no
inclinado, com terra fértil que possa ser desenvolvimento motor infantil, de maneira a
adubada”. otimizar a movimentação e o equilíbrio dos
O plantio de uma horta cria situações de pequenos e deixando suas ações mais precisas.
aprendizagem reais e diversificadas, o que Além disso, a atividade contribui com o
permite ampliar a inserção e as discussões dos desenvolvimento cognitivo e sensório-olfativo,
temas trabalhados dentro da sala. Por esse e uma vez que os alunos percebem a natureza,
muitos outros motivos cada vez mais escolas tocando, visualizando e comendo aquilo que
colocam em seus Projetos Político Pedagógico a plantam. Dentre os benefícios pode-se citar que
horta escolar, como uma protagonista. o contato com a natureza pode aumentar a
Segundo uma pesquisa realizada pelo Royal diversidade de micróbios intestinais e
Horticultural Society em parceria com a promover melhorias na saúde imunológica,
National Foundation for Educational Research promovendo o desenvolvimento saudável do
(NFER,2010), as crianças que fazem atividades indivíduo.
na horta da escola melhoram o seu Ao longo do projeto o trabalho em equipe é
desempenho acadêmico, físico e mental essencial, a tomada de decisões, as escolhas do
quando comparadas aos alunos que não que plantar, como fazer, os cuidados e até
possuem essa experiência. Dentre seus maiores mesmo a colheita são feitos em grupo. Esse

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estímulo do trabalho em conjunto ajuda na ● Espaço tempo, quantidades, relações e


socialização dos alunos com os seus colegas de transformações – por meio da observação e
turma, possibilitando que eles aprendam a organização do espaço para o plantio,
ouvir, debater, trocar ideias e a colaborar com contagem das mudas, cronograma dos dias e
os demais. Demonstrando a importância de meses acompanhando a germinação, entre
considerar opiniões, necessidades, trabalho em outras.
equipe e o respeito pelos outros.
Esse projeto consegue abordar uma gama de ALIMENTAÇÃO MAIS
temas importantes para a formação dos
pequenos, desenvolvendo todos os campos de SAUDÁVEL E CONSCIENTE
experiências estabelecidos na Base Nacional Nos dias em que vivemos está cada vez mais
Comum Curricular da Educação Infantil(1998), difícil incentivar as crianças a terem hábitos
são eles: Eu, outro e o nós; Corpo, gestos e alimentares saudáveis, competir com alimentos
movimentos; Traços, sons, cores e formas; de fácil acesso, práticos e saborosos acaba se
Escuta, fala, pensamento e imaginação e tornando grande desafio para família e escola.
Espaço tempo, quantidades, relações e Esse tipo de alimento industrializado costuma
transformações. vir cheio de aditivos químicos, gorduras e
Alguns exemplos de como podemos explorar açúcar para ficar mais palatáveis e gostosos,
esses eixos são: estes são os grandes responsáveis pelo excesso
● Eu, outro e o nós – por meio de de peso na infância, riscos de desenvolver
discussões sobre diversos temas, rodas de hipertensão e níveis altos de triglicérides.
conversa, rotina para o cuidado da horta, Outros problemas que podem ser acarretados
hábitos alimentares saudáveis, hábitos de pelo consumo desses alimentos são gastrite,
higiene, trabalho em grupo, observação da desnutrição, anemia ferropriva e aumento do
germinação, importância da água, alimentação colesterol.
cultural já que cada cultura tem características Uma boa maneira de abordar esse tema é
diferentes e isso está diretamente relacionado com a implantação da horta pedagógica, em
com seus hábitos alimentares, regras e que as crianças poderão diariamente cuidar da
combinados e rodas musicais; horta, regando e acompanhando o crescimento
● Corpo, gestos e movimentos – com todo e desenvolvimento das plantas, aprendendo
o contato com a natureza e toda a dinâmica de também quais são as escolhas mais adequadas
plantar, cuidar e colher; para seu desenvolvimento saudável. Afinal a
● Traços, sons, cores e formas – com a promoção da saúde permite que as pessoas
representação da horta e sua decoração e adquiram maior controle sobre sua própria
disposição, entre outras; qualidade de vida, influenciando não só os
● Escuta, fala, pensamento e imaginação - indivíduos, mas também suas famílias e
listas de materiais, do que será plantado, comunidade.
histórias e poesias com o tema abordado, Baseado nesse conceito de integração entre
cantigas, parlendas, entre outras; grupos de indivíduos, a Organização Mundial da

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Saúde define que uma das melhores formas de doenças e os torna conscientes sobre a
promover a saúde é por meio da escola. Isso importância de comer bem.
porque, a escola é um espaço social, no qual Entre os benefícios alcançados com o projeto
muitas pessoas convivem, aprendem e horta escolar, se destacam a produção e
trabalham, e os estudantes e os professores consumo de alimentos naturais pelos alunos,
passam a maior parte de seu tempo. Além atividades ligadas à culinária na escola, troca de
disso, é na escola que os programas de conhecimentos, inserção de assuntos como a
educação e saúde podem ter a maior economia doméstica, a influência nas escolhas
repercussão, beneficiando os alunos na infância alimentares das crianças, além de apresentar
e na adolescência. Nesse sentido, os na prática as consequências que ações do
professores e todos os demais profissionais homem têm em relação ao meio ambiente.
tornam-se exemplos positivos para os alunos, Outra ideia bastante significativa neste
suas famílias e para a comunidade na qual estão processo é cada turma realizar um cardápio
inseridos. semanal da merenda incluindo algo que foi
A alimentação equilibrada e balanceada é plantado e colhido na horta, despertando a
um dos fatores fundamentais para o bom curiosidade de experimentar o que eles
desenvolvimento físico, psíquico e social das mesmos plantaram e a intencionalidade de
crianças. A alimentação de todos os indivíduos pensar em refeições saudáveis no cotidiano
deve obedecer às “Leis da Nutrição” descritas escolar.
por Pedro Escudero (1937), apud, Mota (2010). As crianças e famílias podem realizar uma
Segundo essas leis, deve-se observar a pesquisa de receitas de preparações de
qualidade e a quantidade dos alimentos nas hortaliças para comê-las de outra maneira ou
refeições e sua adequação nutricional. com outros ingredientes. Em seguida, o
Dessa forma o estímulo da alimentação professor faz um concurso na sala para escolher
saudável propicia um excelente com as crianças, a melhor receita para ser
desenvolvimento físico e mental. A formação e preparada e saboreada pela turma na cantina
a adoção dos hábitos saudáveis deve ser da escola. Nessa atividade, o professor aborda
estimulada em crianças, pois é durante a todos os passos para o cultivo da hortaliça e
primeira infância que ela estará formando seus reforça a sua conservação e higiene.
hábitos e costumes, inclusive alimentares. Ao Outra sugestão bastante significativa para as
colocarem a mão na terra e plantarem frutas e crianças é convidar as famílias para
verduras na escola, os alunos se familiarizam participarem do momento simbólico da
com os alimentos, compreendem do que eles primeira colheita, deixando as crianças
são feitos e como podem contribuir para uma responsáveis por apresentar o projeto, suas
alimentação saudável, ajudando-o a distinguir o etapas e objetivos, depois cada família leva
tipo de alimento que lhe faz bem dos que não uma pequena amostra dos produtos colhidos
trazem benefícios para a sua saúde. Isso para sua casa.
diminui os riscos de desenvolvimento de A horta escolar acaba por propiciar aos
alunos e suas famílias uma grande variedade de

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alimentos a baixo custo e incentiva que a vasinhos, jardineiras, feitas em canos de PVC,
comunidade se envolva nos programas de tudo para adequar o projeto para os locais
alimentação e saúde desenvolvidos na escola, disponíveis na unidade escolar.
sendo incluídos no ambiente escolar com Algumas ferramentas são essenciais para o
facilidade, dessa maneira disseminando o preparo da terra e plantio das hortaliças, como
aprendizado adquirido durante as aulas. por exemplo, enxada para capinar, abrir sulcos
e misturar adubos, regador para irrigar a horta
HORTA ESCOLAR e ancinho para remover torrões, pedaços de
pedra e outros objetos, além de nivelar o
O primeiro passo para começar uma horta
terreno; estas ferramentas podem ser
escolar é fazer um projeto, para que a direção,
confeccionadas com materiais recicláveis.
os pais e a comunidade entendam os benefícios
Antes de iniciar a preparação dos canteiros,
da iniciativa e colaborem com a aprovação e
deve-se limpar o terreno, retirando pedras e
implantação do projeto. Para começar a horta
outros objetos, nivelando o terreno, depois
escolar o ideal é encontrar alguém que tenha
deve-se iniciar a demarcação dos canteiros com
conhecimento prático sobre cultivo de
auxílio de estacas e cordas, em seguida
hortaliças, para ajudar, como algum funcionário
colocaremos adubo na terra que podem ser
da escola ou pais que se disponibilizem para tal.
resíduos vegetais e animais, tais como palhas,
A escolha das hortaliças deve ser de forma
galhos, restos de cultura, cascas e polpas de
diversificada, garantindo uma grande variedade
frutas, pó de café, folhas, esterco e outros,
de cores, formas, diferentes nutrientes e com a
quando acumulados apodrecem e, com o
participação das crianças.
tempo, transformam-se em adubo orgânico ou
Outro ponto importante é que as diferentes
húmus, também conhecido por composto ou
turmas devem ter uma escala de preparo,
natural.
plantio e cuidado dos canteiros, isso garante
É necessário decidir o que será plantado,
que elas se envolvam no projeto de forma
quanto de espaço é necessário e como ele será
direta e vivenciem tudo que foi planejado para
utilizado. Então, o primeiro cuidado é pensar no
tal; por meio da participação direta das crianças
formato do jardim, se o plantio será feito direto
proporcionando motivação para o trabalho e
no solo, em caixas, camas de plantio ou dentro
para o aprendizado.
de recipientes. Com a escolha do formato feita,
Devemos nos preocupar em encontrar e
é possível idealizar com as crianças por meio de
preparar um local apropriado para a o cultivo
representação deles como a horta vai ficar,
das hortaliças, como por exemplo, um terreno
pensando na disposição. Para escolher o que
plano, terra revolvida e adubada previamente,
plantar na horta é melhor dar preferência a
boa luminosidade, bastante exposição solar,
alimentos nativos da região, pois estás se
acessibilidade aos alunos e professores, ter
adaptam melhor, pesquisar quais são as
uma fonte de água próxima, um espaço longe
características de cada uma, bem como os
de sanitários e esgotos; com pouco trânsito de
cuidados necessários para a sua manutenção.
pessoas e animais. Hoje em dia, existem várias
opções de hortas, como as verticais, em

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Quanto aos cuidados, de modo geralmente a


horta deve ser regada duas vezes ao dia, o que
varia de região para região, pela diferença de
clima entre elas, porém o solo não pode ficar
encharcado para evitar o aparecimento de
fungos. A horta tem que ser mantida limpa, as
ervas daninhas e outras sujidades devem ser
retiradas. A cada colheita, deve ser feita a
reposição do adubo para garantir a qualidade
da terra e das hortaliças.
É importante ressaltar que o cultivo de
alimentos é algo que foge ao controle próprio,
o plantio está à mercê das condições climáticas
e isso pode significar alguns percalços no Figura 1 – Esquema do minhocário
caminho. Estes podem ser utilizados como Fonte: Blog Sítio do Herdeiro2
1

experiências, forma de aprendizado para o


projeto e também para os alunos, que devem Segundo Costa, as minhocas são de extrema
estar envolvidos em todas as etapas. utilidade para o meio ambiente, com sua
Um trabalho que complementa a horta é o habilidade de transformar resíduo orgânico em
de compostagem de resíduos orgânicos adubo incomparável. Neste processo, ocorre a
gerados na própria escola, em que é construído oxigenação e a oxidação da matéria orgânica.
um minhocário que é abastecido resíduos Por esses motivos o minhocário é uma
vegetais e animais, tais como palhas, galhos, alternativa pra minimizar o resíduo orgânico e
restos de cultura, cascas e polpas de frutas, pó para a produção de adubo orgânico de boa
de café, folhas, esterco e outros, que se tornam qualidade. O húmus de minhoca, além de ser
humus e servem como um riquíssimo adubo rico em nutrientes para as plantas, ajuda a
para a horta. Minhocário trabalha a melhorar as características físicas do solo, tais
conscientização do fim adequado para os como a aeração e retenção de água (EMBRAPA,
resíduos sólidos, principalmente um tipo de 2007).
resíduo sólido em particular, o resíduo
orgânico, que é bem difícil se dar um fim
adequado.

2
Disponível em : http://estagiositiodosherdeiros.blogspot.com/search?updated-max=2017-07-21T10:03:00-
03:00&max-results=26&reverse-paginate=true&start=63&by-date=false.Data de Aesso:14/02/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A geração com que lidamos em sala de aula mudou, seus interesses mudaram e não faz
mais sentido fazermos as mesmas coisas que eram feitas antigamente. A horta escolar é uma
possibilidade de múltiplas ideias, vivências e experiências que contribuem plenamente para o
desenvolvimento das crianças.
O contato com a natureza auxilia e promove um desempenho acadêmico superior,
trazendo um desenvolvimento integral como ser cidadão que cuida do meio ambiente e tem
consciência de como deve ser uma alimentação saudável. Além disso, as crianças que tem contato
com terra, água, vegetais, minhocas, sementes estabelecem mais relações com o meio na qual
estão inseridas, desenvolvendo consciência do cuidado e preservação.
O projeto da horta na educação infantil aproxima as crianças de atitudes sustentáveis e
mais conscientes, pois eles aprendem a importância de cultivar alimentos sem o uso de insumos
químicos, como cuidar da natureza e todos os processos envolvidos nesse cultivo e os demais
elementos naturais. Além disso, as crianças que cultivam hortas em ambientes escolares
conhecem melhor verduras e legumes, ampliando o seu repertório também nos momentos da
refeição.
Os benefícios de uma horta para as crianças são muitos, podemos ressaltar o trabalho em
equipe, a paciência, dedicação, responsabilidade, contato continuo com a natureza e a
interdisciplinaridade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Educação Infantil e Ensino Fundamental, 2018.

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alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 210p.

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Data de Acesso:20/02/2020.

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ba.com.br/nutricao/dicas/17-Leis%20da%20Alimenta%C3%A7%C3%A3o.pdf.Data de
Acesso:20/02/2020.

PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Tradução: Dirceu Accioly Lindoso e Rosa Maria
Ribeiro da Silva. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1980.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

IMPORTÂNCIA DA QUÍMICA NA FORMAÇÃO


DO PROFISSIONAL FARMACÊUTICO:
UM ESTUDO DE CASO SOBRE A PERCEPÇÃO DE
GRADUANDOS
Alexandra Regina do Nascimento1
Amanda Silva de Lima2
Rosilene Maria da Silva3
Alamisne Gomes da Silva4
Loiva Liana Santos Borba5

RESUMO: É comum entre estudantes de cursos de graduação em Farmácia ter dificuldade em


aprender química. Expressões como “não gosto de química” ou “é uma matéria muito difícil” são
frequentes entre graduandos. Incertezas sobre a importância e necessidade desta disciplina,
como parte do currículo acadêmico, são evidentes. O objetivo deste trabalho foi estudar a
importância de química para os estudantes de farmácia em um Centro Universitário da região
metropolitana do Recife. A metodologia utilizada foi por meio de entrevista com questionário
composto por nove questões fechadas referentes à química do ensino superior no curso de

1 Discente do Curso de Farmácia no Centro Universitário Joaquim Nabuco.


Email: alexandra_regy@hotmail.com
2 Discente do Curso de Farmácia no Centro Universitário Joaquim Nabuco.

Email: amanndhasl@gmail.com
3 Discente do Curso de Farmácia no Centro Universitário Joaquim Nabuco.

Email: neyaporto@hotmail.com
4 Docente Orientadora; Centro Universitário Joaquim Nabuco.

Email: farmacia.plt@joaquimnabuco.edu.br
5 Docente Co-orientadora; Centro Universitário Joaquim Nabuco.

Email: loivaliana@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

farmácia. Os resultados mostram dados alarmantes, mesmo os estudantes entendendo que a


química é essencial no seu curso e para sua formação, eles não se identificam, não gostam da
disciplina em questão. Consideramos que há necessidade de um trabalho de conscientização para
os educandos, mostrando a necessidade da química para se tornarem bons farmacêuticos.

Palavras-Chave: Ensino; Química; Farmácia; Graduandos.

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INTRODUÇÃO Estes questionamentos dos graduandos de


farmácia podem ser vistos também nos
Nos primórdios do século XVIII, a química era estudantes dos níveis fundamental e médio da
destinada ao uso da medicina, predominava educação. Ao se depararem com a disciplina de
entre os estudiosos da ciência antiga. Mais química, estes se encontram com um drástico
tarde, com as novas descobertas e avanços dos impedimento na compreensão da ciência exata.
estudos nas demais áreas de atividades Desta forma Vieira (2019), relata em seu
tecnológicas, surge então a química atual. A estudo, que “a Química é vista por alunos do
química era então ensinada nas universidades ensino médio como uma disciplina abstrata e
dos séculos XVII e XVIII por médicos e complexa.” Nota-se que esta mesma visão
farmacêuticos. Havendo interdisciplinaridade e permanece entre estudantes do nível superior
multidisciplinaridade em tempos remotos, ao ingressarem em seus respectivos cursos.
assim como descrito por Maar Juergen Heinrich Há dificuldade de assimilação do conteúdo
(2004), não havia distinção entre química pura de química, quando a deficiência da
e medicina, mas sim a miscigenação de ambas aprendizagem se encontra no
as ciências. Estudava-se química em todas as desconhecimento de meras operações básicas
áreas e a mesma era explorada integralmente de matemática e interpretação de texto. Tal
com o funcionamento do corpo humano e suas situação impede que o estudante possa
patologias. Até o século XVIII não existiam compreender o estudo abordado, transmitindo
professores universitários dedicados, único e a falsa impressão de complexibilidade. Esta
exclusivamente ao estudo da química. Ainda deficiência pode ser motivada pela ausência de
segundo Maar Juergen Heinrich (2004),a estimulação adequada ou por processos de
alquimia é considerada um dos fundamentos da aprendizagem precários.
história da química. Tal atribuição deve-se a O curso de graduação em Farmácia está
dois fatores: as doenças eram tratadas de entre os que mais apresentam disciplinas de
acordo com os fundamentos de Paracelso, que Química das relações de dependência entre
se baseava na união da química com a estrutura química e atividade biológica, e das
medicina; e a formulação de medicamentos de propriedades físico químicas com os processos
acordo com as práticas alquimistas, na qual produtivos.
seus métodos de cura possuíam mais caráter Esse trabalho avaliou a percepção de
religioso do que medicinal. graduandos do curso de Farmácia de uma
É comum entre estudantes de cursos de Instituição particular de Ensino Superior da
graduação em Farmácia, terem dificuldade em região Metropolitana do Recife, quanto à
aprender química. Expressões como “não gosto importância da disciplina de química na
de química” ou “é uma matéria muito difícil” formação do profissional farmacêutico. Assim
são frequentes entre graduandos. Incertezas como analisar a relação da química com áreas
sobre a importância e necessidade desta afins da graduação de farmácia, como também
disciplina, como parte do currículo acadêmico, salientar a relevância da química e suas
são evidentes. aplicações na profissão farmacêutica.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

METODOLOGIA programa estatístico Excel para análise


quantitativa. A análise foi subdividida em:
Trata-se de um estudo do tipo transversal, de
ordenação, classificação e análise
caráter quantitativo com aplicação de
propriamente ditam. O trabalho realizado não
questionário estruturado especificamente para
trouxe riscos, uma vez que os questionários
mensurar a relevância da química para a
aplicados foram anônimos, não podendo haver
profissão farmacêutica sob o olhar dos
então qualquer relação de constrangimento. A
graduandos em farmácia de uma IES privada da
Aplicação do questionário foi realizada nas
região metropolitana do Recife. O
turmas do 6º período da manhã e noite, do
recrutamento dos sujeitos se fez de forma
curso de bacharel em farmácia, a quantidade de
individualizada, nas dependências da IES, nos
perguntas totalizou em torno de 09 questões
períodos diurno e noturno. O total de alunos
de múltipla escolha, para quantificar e avaliar a
analisados foi 71; nos quais 18 foram da turma
importância da química na profissão
da manhã e 53 da turma da noite. Na ocasião
farmacêutica, para melhor fundamentação da
foi feito carta de aceite e solicitada a assinatura
análise, foi realizado também revisão
do termo de consentimento livre e esclarecido,
bibliográfica nas principais bases de dados a
explicando sobre a pesquisa e seu objetivo,
respeito da importância da química.
deixando claro o anonimato do entrevistado.
A coleta de dados com aplicação do
questionário que contém questões fechadas RESULTADOS E DISCUSSÃO
sobre a química, ocorreu no início do mês de
Os resultados abaixo mostram que a maioria
novembro de 2019 para os alunos do 6º
dos estudantes mesmo estudando farmácia
período do curso de Farmácia. Foram excluídos
que é uma disciplina essencial, possui
da amostra os alunos que não cursaram ou com
dificuldade.
reprovação na disciplina de química.
Tabela 1 – Pesquisa dos graduandos
Para o tratamento dos dados foi utilizado o

1154
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Como resultado identificou-se que dos 53 desempenho superior aos que estudam à noite.
entrevistados do turno da noite, apenas 21% Sabemos que o desempenho acadêmico é
dos discentes acharam estar preparados para influenciado pelos recursos didáticos utilizados
assumir o mercado de trabalho, tendo como pelos professores.
base fundamental o aprendizado de química. O estudo realizado pelo turno da manhã
Porém, 98% dos entrevistados afirmam que apresentou cerca de 94% dos discente não tem
precisa da química para assumir atividades no dificuldade com as disciplinas de química, 89%
ramo farmacêutico, como conseguir sintetizar entende a importância da aplicabilidade da
fármacos. Esses dados mostram que essa química na síntese dos fármacos e 89% se sente
deficiência poderá resultar em um despreparo preparados para atuar no mercado de trabalho,
de futuros profissionais que irão atuar no o total de entrevistados foram 18 alunos,
mercado de trabalho. A química é essencial gráfico 1. De acordo com Miranda et al.(2013),
para formação do farmacêutico. A tabela 1 o desempenho acadêmico está relacionado
apresenta esses resultados, o mais agravante é com a qualificação do corpo docente; com as
que 57% não gostaram das disciplinas de metodologias de ensino e recursos didáticos;
química no curso, o contraditório é que 94% com características da instituição de ensino,
acreditam que a química possui relevância para como: estrutura física, bibliotecas, espaço das
o curso de farmácia, indicando que esses salas de aulas, laboratórios de informática,
estudantes no mercado de trabalho terão forma de organização do ensino, tamanho da
dificuldade de exercer a profissão, por não se turma, carga horária da disciplina, carga-
empenharem nas disciplinas. A pesquisa horária do período, horário da disciplina,
mostra que cerca de 79% dos graduandos não quantidade de professores por disciplina,
estão preparados para atuar no campo monitoria; além de características dos
profissional. O baixo desempenho acadêmico estudantes, como: características sociais,
geralmente são alunos de escola pública, econômicas e a maneira que utilizam seu
escolarização anterior insuficiente, pressões tempo. Desse modo, existem três grupos
econômicas, necessidade de conciliar o curso principais que afetam o desempenho
de graduação com trabalho e lacunas de acadêmico: o corpo docente, a instituição e o
aprendizagem dos conteúdos em decorrência corpo discente (CORBUCCI, 2007).
de um ensino básico de baixa qualidade. O Esses resultados são preocupantes, pois
desempenho médio anterior do discente mostram que atualmente os futuros
influencia o desempenho no curso, profissionais farmacêuticos que chega no
possivelmente os alunos que obtiveram bom mercado de trabalho, apesar de estar sendo
desempenho no ensino médio, mantiveram o habilitados para o exercício profissional numa
bom desempenho do ensino superior; os dinâmica multiprofissional, ainda não possuem
resultados indicaram que os entrevistados que habilidades importantes para capacidade
estudam no horário da manhã apresentaram associativa efetiva, capaz de integrar os

1155
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conhecimentos da química às demais processos de formação permanente e de


disciplinas do curso. desenvolvimento profissional de seus docentes
A competência está no cerne de toda ação por meio de palestras, seminários, semanas
humana individual ou coletiva. Frequenta-se o pedagógicas, entre outras iniciativas. Contudo,
ensino superior para poder utilizar todo o estas não devem ocorrer de forma isolada, mas
conhecimento e tudo o que aprendemos, na sim articuladas a um processo de construção
vida pessoal, política, cultural, associativa, coletiva de estratégias sistematicamente
econômica e profissional. organizadas que permitam a constante reflexão
Outro ponto a merecer destaque, é crítica sobre o papel da universidade, os
considerar que a abordagem pedagógica por projetos pedagógicos e os saberes docentes
competências não passa de um deslocamento inerentes ao processo de ensino-
conceitual da qualificação à competência. aprendizagem.
Jobert (2002), preocupado com essa Se uma vida acadêmica dos estudantes de
"simplificação" da noção de competência, tenta farmácia fosse significativa, ela estaria
distingui-la da noção de qualidade: ser associada à capacidade, liberdade de
qualificado significa que o indivíduo possui expressão, de compreensão, leitura, de
saberes e as habilidades codificadas para argumentação na negociação de acordos, no
ocupar uma função ou cargo, desse modo, a discurso e na ação de referir os conhecimentos
qualificação aparece como uma construção disciplinares a contextos específicos ao
social cujo fundamento é o saber, mas um saber enfrentar situações-problema, de ir além dos
relativamente separado de suas condições diagnósticos e projetar ações transformadoras
efetivas e concretas de Aplicação. sobre a realidade, então a formação pessoal
Dentro deste contexto, a formação contínua deverá estar associada ao desenvolvimento
dos professores se faz essencial, o que não dessas competências9. Sem esse tipo de
acontece muitas vezes nas universidades. A atuação o estudante sai da universidade um
docência superior, de acordo com Isaias (2006), mero repetidor, sem saber discernir e utilizar a
é um processo complexo que se constrói no química no cotidiano.
decorrer da trajetória docente, a qual envolve
três dimensões inter-relacionadas: a dimensão
pessoal, a profissional e a institucional. O
processo formativo do professor compreende,
portanto, desde suas relações interpessoais até
suas experiências profissionais em instituições
de ensino ao longo de sua carreira. Logo,
envolve o desenvolvimento de esforços
pessoais e institucionais. As instituições de
ensino superior (IES) têm buscado organizar

1156
21%

Você se acha preparado


em química para
aplicação no mercado de
trabalho?
81%

As disciplinas de química
estudada nos períodos
tiveram relevância na sua
formação acadêmica?
57%

Você gostou das


disciplinas de química do
seu curso?

1157
98%

A química apliacada nas


sínteses de fármacos?
85%

Na disciplina de
farmacologia você
Gráfico1. Respostas dos graduandos

reconhece a interação
com a química?
94%

Você reconhece a
utilidade da química em
farmácia?
92% A química é importante
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para o curso de farmacia?


91%
Você Acha que a química
tem relação com outras
disciplinas no curso de
farmácia?

85%
Você tem dificuldade em
química?
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo analisou duas turmas do curso de Farmácia de uma IES, a percepção dos
respectivos acadêmicos no tocante das disciplinas de química desenvolvida durante o processo
de formação acadêmica.
As percepções identificadas na pesquisa com os discentes contribuíram para expandir a
compreensão acerca da formação generalista de farmacêuticos
Em suma, a dificuldade acadêmica, possibilita ao professor refletir sobre sua ação
pedagógica e perceber as demandas ensino-aprendizagem. O profissional deve ter estratégia de
ensino a partir de uma reflexão, análise e problematização da sua conduta como mestre, para
poder identificar dificuldades dos alunos e construir soluções, favorecendo aos discentes sucessos
acadêmicos.
Os resultados deste estudo não são absolutos e podem ser discutidos por novas pesquisas
afim de confirmar as conclusões aqui expostas, levando em consideração outros pontos de vista,
com o intuito de contribuir para o processo de construção do conhecimento acadêmico e assim
melhorar o desempenho dos discentes.

1158
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
CORBUCCI, Paulo Roberto. Desafios da educação superior e desenvolvimento no Brasil.
IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2007.

CUNHA MB. Jogos no Ensino de Química: Considerações Teóricas para sua Utilização em
Sala de Aula. Quím. Nova na Escola Rio de Janeiro.2012; 2(34).

ISAIA, Silvia Maria de Aguiar. Desafios à docência superior: pressupostos a considerar.


In: Docência na educação superior. Brasília: Inep , 2006. p. 63-84. (Coleção Educação Superior
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JOBERT G. A profissionalização: entre a competência e reconhecimento social. In: Altet M,


Paquay L, Perrenoud P, Paquay L. A profissionalização dos formadores de professores.
Traduzido por Murad F. Porto Alegre: Artmed; 2003. p. 221;32.

JONNAERT, P; Borght CV. Criar condições para aprender: o socio construtivista na


formação de professores. Traduzido por Murad F. Porto Alegre: Artmed; 2002.

MAAR,Juergen Heinrich. Aspectos históricos do ensino superior de química. Sci.Stud. São


Paulo; 2004 Mar;2(1):33;84.

MACHADO NJ. Sobre a idéia de competência. In: Perrenoud P, Thurler MG, Macedo L,
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professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed; 2002. p. 137;55.

MERRIAM SB: MINAYO, MCS, et al. Qualitativeresearchand case study applications in


education. São Francisco (CA): Jossey-Bass, 1998.Pesquisa social: teoria, método e
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RJ: Vozes, 1994. 80 p.

MIRANDA, Gilberto José et al. Determinantes do Desempenho Acadêmico na Área de


Negócios. In: Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade - ENEPq, 7,
2013, Brasília. Anais. Disponível em:
http://www.anpad.org.br/evento.php?acao=trabalho&cod_edicao_subsecao=989&cod_evento
_edicao=70&cod_edicao_trabalho=16665.Data de Acesso:20/02/2020.

SANTOS ACS. Complexidade e Formação de Professores de Química. 2005.


SANTOS, Nálbia de Araújo. Determinantes do desempenho acadêmico dos Alunos dos
Cursos de Ciências Contábeis. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo. 2012.

SILVA, AM. Proposta para tornar o Ensino de Química mais atraente. 2011Disponível em:<
http://www.abq.org.br/rqi/2011/731/RQI-731-pagina7-Proposta-para-Tornar-o-Ensino-de-
Quimica-mais-Atraente.pdf >.Data de Acesso:20/02/2020.

VIEIRA L. Química, Saúde & Medicamentos.1996.

1159
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INCLUSÃO ESCOLAR COM ENFASE NO ALUNO


COM DEFICIÊNCIA
Andreia Pereira1
Joelma Oliveira Dias2

RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar contribuições reflexivas que abordará a
história de luta de movimentos a favor da pessoa com deficiência, políticas públicas pensadas
para a presença e permanência do educando com qualquer tipo de deficiência no contexto
escolar. No decorrer aponta-se pontos positivos e negativos, e algumas ferramentas disponíveis
que poderiam ser mais utilizadas de forma que o aluno como centro de tudo possa atingir seu
maior desafio, uma educação igualitária de qualidade e humanizada. Trata-se de questões ligadas
ao poder público, comunidade, e profissionais da educação, e de maneira cada item citado tem
seu papel neste processo. Aborda-se de que forma cada indivíduo poderá influenciar no
desenvolvimento do educando com deficiência, levando em consideração que cada indivíduo ser
é único, e tem suas singularidades. Nesta perspectiva analisa-se até que ponto laudos e padrões
podem ser um caminho e de que maneira o trabalho do profissional é limitado a partir do mesmo,
e o educando sendo limitado durante todo processo e impedindo de vencer suas limitações.

Palavras-Chave: Inclusão; Deficiência; Educando; Políticas públicas.

1 Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental na Rede Privada de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: andreiavenus302@gmail.com
2 Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: diasxjoelma@hotmail.com

1160
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO políticas públicas educacionais que foram


pensadas para que a inclusão e permanência
Ao longo deste artigo aponta-se fatores que deste aluno em especial e analisar se são
ajudaram com que esta nova realidade escolar suficientes ou usada e aplicada de maneira
acontecesse, e de que maneira o cotidiano do devida, e as dificuldades de lidar com
dia adia pode interferir nesse processo. diferenças deficiências e suas singularidades,
Analisamos a princípio da discussão profissionais despreparados, familiares
destacamos a trajetória de mobilização em ausentes juntamente com blocos culturais
defesa dos direitos deste público-alvo. distintos, finalizando com definições, práticas
Refletimos sobre cada mudança de termos teóricas, e a importância individual de cada um
usados, e apontamos se não houver mudanças como cidadão.
no comportamento social, enfrentamento e
mobilização da população, práticas
INCLUSÃO ESCOLAR E O
desenvolvidas a partir de muita pesquisa
teórica por parte dos profissionais da educação ALUNO COM DEFICIÊNCIA
e mudanças individuais de cada envolvido, A inclusão de alunos com deficiência não é
termos e palavras acabam perdendo o sentido apenas um processo ou um contexto na
das “práxis”. produção de conteúdos direcionados para a
Desta forma os órgãos públicos, profissionais educação dos mesmos, indo além deve
da educação, comunidade e família, promover a convivência e desmitificar padrões,
protagonista da sua própria existência tem desconstruir preconceitos, inserir a diversidade
como objetivo fazer com que esta inclusão e entender a singularidade de todos.
aconteça. A indiferenciação entre o processo de
Ambientes humanos de convivência e de integração e o de inclusão escolar é a prova
aprendizado são plurais pela própria natureza dessa tendência e reforça a vigência do
e, por isso, a educação escolar não pode ser paradigma tradicional dos serviços
pensada nem realizada senão a partir da idéia educacionais (MANTOAN,2015, p.24).
de uma formação integral do aluno – seguindo A Educação Inclusiva trouxe para os alunos
suas capacidades e seus talentos com deficiência um universo de possibilidades
(MANTOAN,2015, p.32) e autonomia, e aos profissionais e comunidades
Neste contexto caber a qualquer Unidade a possibilidade de abarcar métodos reflexivos
Escolar sendo ela pública ou privada oferecer para que esses educandos possam se
ao aluno com deficiência uma formação empoderar de tudo que é seu por direito, além
humanizada e eficiente, tratando a inclusão de trazer para a população algo fascinante, a
escolar como um processo que não requer especificidade humana, mudando todo
resultados emergentes, investindo comportamento de uma nação.
gradualmente na organização e em um Projeto As diferenças culturais, sociais, religiosas e
Político Pedagógico que pense também neste de gênero, entre outras são cada vez mais
educando. Ainda nesta vertente tratamos de desveladas e destacadas, sendo esse

1161
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

descortinar condição imprescindível para • 1994 – Declaração de Salamanca


entender como aprendemos e como apresenta e traz para a realidade princípios
aprendemos o mundo e nós mesmos. essenciais, política e pratica em Educação
(MANTOAN, p.21, 2015). Especial, proclamada na Conferência Mundial
A inclusão escolar do aluno com Deficiência De Educação Especial Sobre Necessidades
não acontece apenas a partir de leis, decretos e Educacionais Especiais, reafirmando todo o
mobilização política, se não houver uma compromisso da “Educação Para Todos”, tendo
desconstrução interna de cada indivíduo definido nortes importantíssimos:
envolvido. Entretanto requer a mobilizações Cada criança tem características, interesses,
sociais, inserção de movimento político a favor capacidades e necessidades de aprendizagem
das pessoas com deficiência resultando nas que lhe são próprias;
políticas públicas atuais, e as decorrentes na Os sistemas educacionais devem ser
história, detalhadas a seguir: projetados e os programas aplicados de modo
• 1948 – Declaração Universal de Direitos que considerem toda a gama de diferentes
Humanos (ONU) estabelece que os direitos características e necessidades;
humanos sejam para todos os indivíduos, tais As pessoas com necessidades educacionais
quais – integridade física, direito à liberdade, especiais devem ter acesso às escolas
direito a igualdade, a dignidade e o direito a regulares, que deverão integrá-las numa
educação; pedagogia centralizada na criança e que seja
• 1971 – Declaração dos Direitos das capaz de atender suas necessidades. A
Pessoas Mentalmente Retardadas proclama os Declaração de Salamanca foi um marco, se
direitos de pessoas com deficiência intelectual; tornando uma das mais importantes para a
• 1980 – Carta para a década de 1980, a inclusão do aluno com deficiência em todo
ONU cria e estabelece metas para garantir a mundo (UNESCO,1994, s.p)
igualdade de direitos e oportunidades para • 1999 – Declaração de Washington
pessoas com deficiência; apresenta as perspectivas globais em vida
• 1993 – A ONU, promove padrões independente para o próximo milênio,
minimamente assertivos, afins de que os afirmando o fomento com a responsabilidade à
diretos à educação em todos os níveis para educação inclusiva e igualitária, com a presença
crianças, jovens e adultos com deficiência de 50 participantes.
sejam feitos em ambientes inclusivos. Ainda no • 2002 – Declaração de Caracas, a Rede
mesmo ano formalizasse a Declaração de Ibero Americana de Organização Não-
Manágua, onde delegados de 39 países das Governamental de Pessoas com Deficiência e
Américas exigem inclusão curricular da suas Famílias.
deficiência em todos os níveis da educação, -Declaração de Sapporo, foi representada
formação de profissionais e medidas e assegure por 109 países, 3 mil pessoas na sua maioria
o acesso aos serviços públicos, incluindo saúde, com deficiência, na VI Assembleia Mundial da
educação formal, cultura e todos os níveis de Disabled Peoples Internacional (DPI), incita os
trabalho significativo para os jovens; Governos em todo o mundo a erradicarem a

1162
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

educação segregadora e estabelecer uma descriminação destituindo cada vez mais a


política educação inclusiva. segregação da comunidade.
• 2004 – Declaração de Montreal
ocasionou um novo conceito de Deficiência A IMPORTÂNCIA DO
Metal para Deficiência Intelectual.
• 2013 – Declaração de Durban, foi a PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO E
terceira conferencia contra o racismo, AS POLÍTICAS PÚBLICAS
discriminação racial, xenofobia, ódio aos Adverte-nos para que não sejamos
estrangeiros e formas de correlatas de desanimados, e sim convictos de nossas
intolerância pela ONU. certezas e que todo novo conhecimento possa
Num pensar dialético, ação e mundo, mundo superar o já existente, sendo assim primordial
e ação, estão intimamente solitários. Mas a que o educador sempre busque em sua
ação só é humana quando, mais que um puro essência do habito da pesquisa como um bem
fazer, é um quefazer, isto é, quando também para seu crescimento e de toda humanidade. É
não se dicotomiza da reflexão (FREIRE, p.40, necessário que o profissional da educação
2002). busque sua própria capacitação para
Repensamos que ações são desenvolver a promoção social evitando assim
importantíssimas para que ajam mudanças tornar-se obsoleto, transcendendo todo seu
concretas em fatores na sociedade, porém a conhecimento adquirido aos seus alunos
reflexão e a aplicabilidade têm que ser promovendo à curiosidade dos mesmos
abrangente aos objetivos apresentados, desta transitando da ingenuidade do senso comum a
maneira levantou a possibilidade de que o epistemologia.
principal responsável pela a ação em si somos Refletimos que ao se tratar de um aluno com
nós mesmos. Sendo assim cada indivíduo tem deficiência o ato de ensinar deve exigir do
um lugar de participação responsável para que educador uma ação de envolvimento mais
tudo ocorra conforme sucintamente foi acentuado procurando entender o indivíduo a
descrito. frente de laudos médicos visando todo o
A ação de cada um na implementação da potencial do mesmo, tendo uma visão ampla de
inclusão do aluno com deficiência faz com que possibilidades ressaltando todo o seu
toda uma cultura de desvalorização dos grupos conhecimento acadêmico e de humanitário,
tratados como minoria atue na sociedade e trazendo uma realidade formativa eficaz e
tenha acesso as políticas públicas destinadas a continua.
todos, sem excluir ninguém independente de O ambiente escolar deve ser confortável
qualquer deficiência, religião, etnia, gênero, para o aluno com deficiência para que a
classe social tornando a diversidade uma aprendizagem se torne algo prazeroso e não
questão que não traga desconforto para a um dever ou castigo, segundo, Nóvoa(1999), “o
nação. Ainda no mesmo contexto verificamos a aprender se concentra em dois pilares: a
transformação interna de aceitação do própria pessoa como agente, e a escola, como
diferente, podendo alcançar outras formas de lugar de crescimento profissional permanente.

1163
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O ideal seria dispor de um programa de • 2007- Plano de Desenvolvimento da


formação de professores continuada Educação (PDE) Site externo: recomenda a
remunerado, possibilitando a acesso a todos acessibilidade arquitetônica dos prédios
esses profissionais, resultando em uma escolares, a implantação de salas de recursos
prestação de serviço de qualidade, já que o multifuncionais e a formação docente para o
educador é um do agente final para que a atendimento educacional especializado (AEE);
formação dos alunos com deficiência aconteça • 2007-Decreto nº 6.094: Implementa o
com qualidade, o professor é um agente Plano de Metas Compromisso Todos pela
transformador e sua teoria acadêmica sua Educação, que destaca a garantia do acesso e
ferramenta de trabalho juntamente com as permanência no ensino regular e o
políticas públicas que o cercam. Seguindo esse atendimento às necessidades educacionais
raciocínio o educador como sujeito de criação especiais dos alunos para fortalecer a inclusão
e o educando com deficiência sujeito do seu educacional nas escolas públicas;
potencial é necessário que o profissional esteja • 2011- Plano nacional dos direitos da
especializado na área que se refere, podendo pessoa com deficiência (Plano viver sem limite),
assim avaliar a construção do saber do aluno no art. 3º, estabelece a garantia de um sistema
levando-o a aprender e a se relacionar educacional inclusivo como uma das diretrizes.
socialmente, pois o profissional que dará os Ele se baseia na Convenção sobre os direitos
instrumentos necessários o receptor construirá das pessoas com deficiência, que recomenda a
seu desenvolvimento transformador da equiparação de oportunidades. O plano tem
realidade social. quatro eixos: educação, inclusão social,
Quantos aos dispositivos legais, temos: acessibilidade e atenção à saúde. O eixo
• 1999 - Decreto nº 3.298 Site externo: educacional prevê:
dispõe sobre a Política nacional para a Implantação de salas de recursos
integração da pessoa portadora de deficiência. multifuncionais, espaços nos quais é realizado o
A educação especial é definida como uma AEE;
modalidade transversal a todos os níveis e Programa escola acessível, que destina
modalidades de ensino; recursos financeiros para promover
• 2001 - Resolução CNE/CEB nº 2 Site acessibilidade arquitetônica nos prédios
externo: institui as diretrizes nacionais para a escolares e compra de materiais e
educação especial na educação básica. Afirma equipamentos de tecnologia assistiva;
que os sistemas de ensino devem matricular Programa caminho da escola, que oferta
todos os alunos, cabendo às escolas transporte escolar acessível;
organizarem-se para o atendimento aos Programa nacional de acesso ao ensino
educandos com necessidades educacionais técnico e emprego (Pronatec), que tem como
especiais, assegurando as condições objetivo expandir e democratizar a educação
necessárias para uma educação de qualidade profissional e tecnológica no país;
para todos; Programa de acessibilidade no ensino
superior (Incluir);

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Educação bilíngue – Formação de mídias da época, nomes de instituições com o


professores e tradutores-intérpretes em Língua significado de indivíduos sem valor, chegando
Brasileira de Sinais (Libras); ao ano de 1960 com o termo incapacitados,
BPC na escola (BRASIL.2011, s.p). seguindo á indivíduos sem capacidade ou
• Decreto nº 7.611: declara que é dever do indivíduos com capacidade residual, foi
Estado garantir um sistema educacional significativo o avanço a sociedade perceber que
inclusivo em todos os níveis e em igualdade de a pessoa com deficiência poderia ter
oportunidades para alunos com deficiência; capacidade, mesmo sendo limitada. No
aprendizado ao longo da vida; percorrer do tempo os termos foi se alterando
• Nota Técnica MEC/SEESP/GAB nº 06 : e trazendo significado as pessoas com
Dispõe sobre avaliação de estudante com deficiência, de 1960 à 1980 vários termos foram
deficiência intelectual. Estabelece que caiba ao usados entre eles: os defeituosos significava
professor do atendimento educacional indivíduos com deformidades, os deficientes,
especializado a identificação das indivíduos com diversas formas de deficiências
especificidades educacionais de cada estudante tais quais, física, intelectual, auditiva, visual ou
de forma articulada com a sala de aula comum. múltipla, e por fim os excepcionais que tinha
Por meio de avaliação pedagógica processual, como significado pessoas com deficiência
esse profissional deverá definir, avaliar e intelectual. De 1981 a 1987 pela primeira vez
organizar as estratégias pedagógicas que em todo mundo o substantivo “deficiente”
contribuam com o desenvolvimento passou a ser usado como adjetivo acrescentou-
educacional do estudante, que se dará junto se o substantivo “pessoas” desta forma
com os demais na sala de aula. É, portanto, igualando aos outros membros da sociedade,
importantíssima a interlocução entre os Pessoas Deficientes. No decorrer segue-se
professores do AEE e da sala de aula regular. alterando o modo de se reconhecer esses
indivíduos, de 1988 a 1993 pessoas portadoras
O ALUNO COM DEFICIÊNCIA E de deficiência, pessoas deficientes e portadores
de deficiência, a partir de 1990 surge o termo
PARADIGMAS SOCIAIS pessoas com necessidades especiais, trocando
Entende-se que esse grupo de educandos deficiência por necessidades chegando
pode ser excluído por vários fatores que estão portadores de necessidades especiais, pessoas
presentes em nossa sociedade por séculos, hoje especiais ou pessoas com necessidades
fazendo parte de uma cultura segregadora, especiais.
racista e preconceituosa em vários aspectos. Atualmente usamos Pessoas com
Seguimos na investigação de fatores que Deficiência, podendo ser mudado no decorrer
primeiramente acentuaram toda parte da história.
discriminatória, e logo seguindo a fazer valer a Todos os termos usados refletiram na vida
vontade da parte citada. escolar e social na vivencia do educando com
Durante séculos no começo da história, deficiência, mudando o olhar de toda
eram mencionados como inválidos, pelas população, alterando de maneira positiva a

1165
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

inclusão desses indivíduos, variadas ações se


deram juntamente em uma analogia sistêmica.
Uma crise de paradigma é uma crise de
concepção, de visão de mundo; quando as
mudanças mais radicais têm as chamadas
revoluções científicas (MANTOAN, 2015,p.21).
Analisamos e refletimos a ação de se cada
um na sua perspectiva para a inclusão do aluno
com deficiência seja feita de forma
responsável, todas as possibilidades de inclusão
será bem sucedida, levando ao educando uma
vida de autonomia e realização pessoal.
A educação inclusiva é um marco na história
do país, conquistado esse direito
gradativamente, temos que todos teriam que
ter acesso e permanência de forma
humanizada e permanente, partiu dessa
premissa que para ser efetuado as leis e
decretos para a conclusão de uma Inclusão
integral.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer deste artigo refletimos que cada indivíduo tem um papel importantíssimo para
que a inclusão escolar do aluno com deficiência em todo seu contexto, profissionais inseridos na
unidade escolar, família, sociedade, governo, todos pertencentes como mantedora deste ato. Do
que faz valer tantos esforços e mobilizações se o produto final “o indivíduo”, não está preparado
para mover e usar a favor do educando. Ainda neste contexto se temos uma estrutura sólida
temos que ter como dirigi-la ao caminho final, o aluno com deficiência e proporcionar uma
formação de qualidade igualitária e minimamente competitiva aos demais estudantes, e que
todos tenha assegurado seus direitos segundo a Lei 9394/96 da LDB (1996).
Analisamos que cada um tem que buscar sua própria desconstrução individual de
paradigmas, preconceitos, cultural e religiosa partindo assim para a responsabilidade de uma
educação justa, colocando todos em uma posição de acordo com suas vontades e limitações, mas
buscando sempre o aprimoramento pessoal partindo para uma transformação de valores
adquiridos no decorrer de sua vida como cidadão.
A inclusão escolar do aluno com deficiência chega mudando todo um passado separatista
padronizado por uma ética desumana e cruel, trazendo para todos a oportunidade de rever
conceitos criados em nossa formação como pessoa, no escoar do tempo impregnado na nossa
cultura.
Desta forma toda contribuição nos trará retorno, uma nova visão de mundo e de retratar
e desta maneira fazer um trabalho inclusivo verdadeiramente eficaz.
Cada um como cidadão tem que procurar seu lugar como protagonista da inclusão escolar
desse público alvo, conforme afirma Freire (2001), a educação não muda o mundo, a educação
muda as pessoas, e pessoas mudam o mundo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL.Lei de Diretrizes e Bases Da Educação Nacional,1996.

BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil Brasília - Senado Federal, 1988.

BRASIL.MEC.Ministério de Educação - Secretaria de Educação Especial POLÍTICA Nacional


De Educação Especial, Brasília MEC – SEEDSP, 1994.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm Data de Acesso:16/03/2020.

BRASIL.MEC. Decreto nº 6.094, de 24 de abriL de 2007.


http://www.planalto.gov.br/ccivil/_03/Ato2007-2010/2007/decreto/D6094.htm. Data de
Acesso:16/03/2020.

BRASIL.MEC. Decreto nº 7.612, de 17 de Novembro de


2011.http://www.planalto.gov.br/ccivil/_03/ato20112014/2011/decreto/d7612.htm . Data de
Acesso:16/03/2020.

BRASIL.MEC. Decreto nº 7.611, de 17 de Novembro de 2011.


http://www.planalto.gov.br/ccivil/_03/ato2011-2014/2011/decreto/d7611.htm - Data de
Acesso:16/03/2020.

BRASIL, Banco. Mídia e Deficiência. Brasília Andi, Fundação Banco do Brasil - série
Diversidade,2003.

MANTOAN, Maria Teresa Égler, Inclusão Escolar -O Que É?-Por quê?-Como Fazer? 1.
Reimpressão- São Paulo: Summus, 2005.

MANTOAN, Maria Tereza Égler e Colaboradores, Integração de Pessoas Com Deficiência -


editora Memnon Edições Científicas Ltda, 1997.

FREIRE, Paulo- Educação Como Prática De Liberdade,25° editora Paz E Terra,2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro, 33° editora Paz E Terra,2002.

UNESCO. Declaração De Salamanca E Linha De Ação Sobre Necessidades Educativas


Especiais - Brasília, Corde, 1997.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INDISCIPLINA:
CONCEPÇÕES E DESAFIOS NA EDUCAÇÃO
Daniela Dantas Esteves Berte1

RESUMO: O presente trabalho propõe a reflexão sobre a problemática da indisciplina em sala de


aula, um desafio pedagógico constante da profissão do professor, buscando melhor compreender
essa situação e formas de combater o problema, transformando em meio de aprendizagem
significativa dos alunos na construção do caráter e cidadania, desenvolvendo um trabalho efetivo
dentro da sala de aula.

Palavras-Chave: Educação; Desafio; Indisciplina.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: danivan21@hotmail.com.

1169
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO modificações no currículo escolar,


aprendizagem mediada por novas tecnologias,
Os seres humanos são bastante diferentes teorias que estão inovando o cotidiano das
uns dos outros e muito complexos. Assim, uma salas de aula, práticas que enfatizam a
criança ou um pré-adolescente apresenta construção da autonomia, competências e
diferentes comportamentos conforme o cidadania. Avançar tornou-se um dos principais
ambiente e a situação em que se encontra. verbos da educação neste início de século.
Muitas vezes, o aluno "excessivamente Enquanto avançam as reflexões, teorias e
agitado" não se apresenta assim em todos os práticas em diversas áreas da educação
ambientes. É bastante comum que surjam persistem alguns desafios seculares dentro das
queixas realizadas por professores de uma escolas, entre os quais destacamos a
escola e que não apresentam respaldo de todos indisciplina, que vem tirando o sono de muitos
os educadores da entidade. Há alunos que são professores há séculos.
agitados e inconvenientes para uns professores A profissão docente requer novas
e apresentam-se de forma bastante distinta em competências, para superar contextos de
outras aulas. Resta-nos avaliar se o fator que faz indisciplina, exercer liderança e, afinal, ensinar.
com que a falta de atenção e o comportamento Em meio a esse contexto de incerteza, o
inadequado do aluno não provém do próprio conceito de autoridade está em processo de
comportamento do professor. revisão nas escolas. Também estamos
Muitas vezes, a proposta educacional, ou redefinindo e resgatando fontes dessa
seja, o plano pedagógico da escola não dá autoridade.
margem ao diálogo. Os alunos nunca têm voz A dificuldade de modificar os fundamentos
ativa e pouco participam de decisões. Assim, os de tais práticas revela muito mais que uma
alunos mais "sensíveis" (de acordo com uma resistência de reorientação teórica. A
visão que tenta ser politicamente correta de coexistência de orientações tão distintas,
alguns educadores, mas que reforça o dentro de uma mesma escola, para o processo
preconceito) reagem negativamente, causando de ensino-aprendizagem, de um lado, e para
boicotes e tornando-se inadequados. Os lidar com a indisciplina, de outro, aponta mais
educadores, por sua vez, não podem usar uma crise e possível transição de paradigma.
criatividade e tentar incluir, da melhor maneira A organização pedagógica da escola é a base
possível, os alunos tidos como "problemáticos" essencial para prevenir problemas de
em suas aulas. indisciplina e de absentismo. Se a escola não é
O coordenador pedagógico tem uma capaz de reflectir sobre a forma como funciona,
responsabilidade muito grande em assumir um não pode gerar um clima propício a um bom
papel de delimitador, criando junto com os trabalho escolar. A noção de clima escolar está
professores projetos que auxiliem nesse relacionada como uma espécie de
contexto. personalidade, de maneira de ser, que é
Esta é uma época de transição na educação característica do estabelecimento,
brasileira. Novas políticas educacionais, determinada por uma série de variáveis, entre

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

as quais a estrutura, o processo organizacional A motivação é a chave que abre a porta para o
e os comportamentos individuais e de grupo. desempenho com qualidade em qualquer
Estruturalmente, para além do apoio situação, tanto no trabalho, como em
ministerial, as escolas poderão abrir-se à atividades de lazer, e também em atividades
comunidade e encontrar no exterior fontes de pessoais e sociais.
financiamento e de suporte a vários níveis. Entretanto, esta valorização é uma tarefa
Diversas experiências já realizadas mostram que demanda percepção, observação e
como é falsa a ideia que só o poder central pode comunicação, para conseguir enxergar no outro
resolver as carências dos estabelecimentos. A sua essência enquanto ser humano, não se
estrutura da escola deverá estar em relação balizando somente nas competências ou
com um projecto educativo que faça sentido deficiências que o professor apresente.
aos agentes comunitários que a circundam. No extremo oposto tem-se o aluno, que
precisa de acompanhamento incessante para
DESENVOLVIMENTO formar-se integralmente enquanto cidadão do
mundo. Mais uma vez entra em cena a figura do
Propiciar momentos de estudos para e com
Coordenador Pedagógico, fazendo as
os educadores com os quais trabalha, num
intervenções necessárias junto aos alunos,
processo de educação continuada dentro do
professores e pais. Ao atuar como catalisador e
ambiente escolar, é atividade primordial do
mediador das relações
Coordenador Pedagógico. Ele deve incumbir-se
pais/professores/alunos, evitando o desgaste
de garantir, orientar e auxiliar esta formação, a
entre estes polos da escola, agindo com
fim de que os professores desenvolvam e
equilíbrio e ponderação, orientando cada qual
aperfeiçoem suas habilidades, renovando
em busca da melhor solução para os problemas
conhecimentos, repensando a práxis
e otimizando as relações interpessoais da
educativas, buscando novas metodologias de
comunidade escolar, determina-se, como
trabalho, aliando teoria e prática, uma vez que
desejo último, o bem-estar e o progresso
não existe a possibilidade de dicotomia entre
escolar dos educandos dentro do processo de
uma e outra, pois toda ação humana é
ensino-aprendizagem.
intencional, tenha-se consciência disto ou não.
Outra função inerente a este cargo é a
Esta atitude traz como consequência a
elaboração do Projeto Político Pedagógico da
obrigatoriedade de se realizar periódicas
unidade escolar em parceria com a direção e o
avaliações acerca do desempenho dos
corpo docente, dentro de uma visão
professores bem como da própria ingerência
democrática de gestão escolar. Esta elaboração
neste campo, sendo um feedback fundamental
conjunta permite que o PPP, considere os
para a melhoria da qualidade do ensino
anseios de seus pares em busca de melhores
oferecida pela escola.
caminhos, auxiliando no processo de
A valorização e consequente motivação dos
estabelecimento de metas e objetivos a serem
professores, também é incumbência crucial. A
alcançados por todos, oportunizando uma
motivação é o empurrão ou a alavanca que
relação de co-responsabilidade por parte dos
estimula as pessoas a agirem e a se superarem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

professores, tanto para os acertos quanto para


as dificuldades ou falhas que possam advir. Esta
iniciativa remete ao desenvolvimento de uma
cultura escolar de cooperação, agregando
imensos benefícios à escola e ao processo de
ensino-aprendizagem, haja vista que a causa
passa a ser comum a todos, num clima de
reciprocidade e confiança. Outros sim, sugerir à
Direção da escola a implantação de projetos
que viabilizem atitudes e posturas inovadoras
no processo de formação e aquisição de
conhecimentos, com vistas ao
desenvolvimento global da unidade escolar, é
outra iniciativa desejável.
Assim, constata-se que, a despeito de ser
uma presença recente no meio escolar, o
Professor Coordenador Pedagógico tornou-se
indispensável, uma vez mantendo-se numa
postura equânime, consegue articular todos os
integrantes do processo ensino-aprendizagem.

1172
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola é o único lugar que garante efetivamente a relação de cidadania; nela a criança
pode estabelecer pactos, contratos, reações sociais, não se limitando à sua singularidade de
ensinar a ler, escrever, fazer contas, raciocinar.
É preciso dar lugar ao discurso coletivo da instituição na qual o aluno está inserido; à
dinâmica escolar. E a escola é um cenário propício a equívocos: quer homogeneidade, mas as
diferenças se revelam e saltam aos olhos dos professores. Há uma espécie de contradição do
próprio sistema, que fomenta a competição e quer homogeneidade.
Na escola os alunos estão dentro do circuito das trocas sociais e a própria lógica de
funcionamento social tende a excluir os que têm problema. Agindo por dever o professor vai
educar e mostrar o que é certo, que, em última instância, significa colocar para fora o aluno que
está atrapalhando e reprovar o que não aprendeu os conteúdos necessários à série seguinte.
Na prática educativa diária, podemos perceber claramente que os alunos que hoje
frequentam os bancos escolares apontam, embora de forma inconsciente, que não aceitam o
ensino da forma que está. Com essa recusa, ao mesmo tempo estão provocando uma
transformação da nossa prática educativa, pois nos estimulam/impulsionam a refletir sobre o
nosso papel enquanto educadores, bem como na urgência que temos em nos reciclar e adotar
posturas seguras, condizentes com os desafios que se nos apresentam.
Para a formação que se deseja, os alunos precisam, não apenas aprender a obter
informações, mas, necessariamente, saber selecioná-las, dotando-as de valores que lhes
permitam se posicionar na vida. Para tanto, precisam olhar o professor e acreditar que aquilo que
ele lhes ensina serve para interpretarem seus problemas e assumirem uma posição.

1173
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Laurinda R.; BRUNO, Eliane B. G.; CHRISTOV, Luiza Helena da S. (Org.) O
Coordenador pedagógico e a formação docente. São Paulo: Loyola, 1999.

FERREIRA, Naura S. Carapeto (Org.). Gestão democrática da educação: atuais tendências


e desafios. São Paulo, 1998.

FULLAN, Michael. HARGREAVES, Andy. A escola como organização aprendente. Buscando


uma educação de qualidade. Porto Alegre: Artmed, 2000.

GUIMARÃES, Ana Archangelo et al. O Coordenador pedagógico e a educação continuada.


São Paulo, Loyola. 7. ed.,2004.

LÜCK, Heloísa et al. A escola participativa o trabalho do gestor escolar. Rio de


Janeiro, DP&A. 6. ed., 2002. 166 p.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO


Barbara Lygia Monteiro dos Santos1

RESUMO: Este artigo demonstra a importância de trabalhar com o lúdico, jogos e brincadeiras
para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças na Educação Infantil, pois, é assim que as
crianças desenvolvem o pensamento, a imaginação e a criatividade. A criança necessita
experimentar, vivenciar e brincar para adquirir conhecimentos que futuramente lhe ajudará a
desenvolver de maneira mais eficiente um aprendizado formal. Por meio das brincadeiras a
criança acaba explorando o mundo a sua volta livremente, pois é a partir daí que ela constrói seu
aprendizado, e é nesse espaço que a criança acaba criando um mundo de fantasias e manifesta
seus sentimentos, se sentindo cada vez mais segura para interagir. É brincando também que a
criança aprende a respeitar regras, a ampliar o seu relacionamento social e a respeitar a si mesmo
e ao outro. Para realizar esse trabalho, contamos com uma bibliografia ampla, com leituras de
livros, artigos, revistas e sites sobre o tema abordado, além de pesquisar grandes autores e
pensadores. Desta forma poderemos evidenciar o quão importante é o brincar na vida da criança.

Palavras-Chave: Brincar; Aprendizagem; Desenvolvimento infantil; Educação infantil.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: baby_monteiro@yahoo.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Quando a criança entra na escola já carrega


uma ampla bagagem de conhecimentos
Muito discute-se a questão dos jogos e prévios. As crianças aprendem brincando, pois,
brincadeiras como processo de o mundo em que vive é descoberto por meio de
desenvolvimento na Educação Infantil, e sua jogos que vão dos mais fáceis até os mais
finalidade no universo lúdico, e como esse variados. Os jogos para as crianças são uma
contexto influencia o desenvolvimento preparação para a vida adulta, são por meio das
psicomotor da criança. Por fim, iremos brincadeiras, e seus movimentos e a interação
identificar a contribuição dos jogos e com outras crianças e com os objetos, que elas
brincadeiras como, ferramentas de estimulação vão desenvolver suas potencialidades. O jogo
no processo de aprendizagem e não pode ser visto apenas como divertimento
desenvolvimento integral da criança na ou apenas como brincadeiras para distração,
educação infantil, sendo assim, determinar os ele favorece o desenvolvimento físico,
objetivos precisos para que o processo cognitivo, afetivo e a interação com amigos,
pedagógico aconteça eficazmente, como jogos e brincadeiras trabalham de forma lúdica
agente facilitador e enriquecedor, respeitando e estimula o raciocínio lógico da criança, eles
o desenvolvimento da criança em suas funcionam como facilitadores na
especificidades. aprendizagem.
Segundo o Referencial Curricular Nacional
para Educação Infantil (1998) , o brincar é uma
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO
das atividades fundamentais para o
desenvolvimento da identidade e da autonomia NA EDUCAÇÃO INFANTIL
da criança, além de desenvolver capacidades De acordo com Costa (2000), a palavra lúdico
como atenção, imitação, memória, imaginação vem do latim ludus e significa brincar. Neste
e socialização. De que forma o uso de jogos e brincar estão incluídos jogos, brincadeiras e
brincadeiras podem ajudar no brinquedos e é relativa à conduta daquele que
desenvolvimento da criança na Educação joga brinca e se diverte.
Infantil? A partir dessa questão podemos Segundo Almeida (2008), o lúdico é qualquer
pensar como o professor sendo mediador fará atividade que nos dar prazer ao executa- lá. Por
com que esses instrumentos contribuam para a intermédio do lúdico a criança aprende a
formação de valores sociais como o respeito, ganhar, perder, conviver, esperar sua vez, lidar
cooperação, interação e auxiliando também na com as frustrações, conhecer e explorar o
construção do conhecimento de tal forma que mundo. As atividades lúdicas têm papel
a criança a leve para a vida toda. Acreditamos indispensável na estruturação do psiquismo da
que a partir dos jogos e brincadeiras as crianças criança, é no ato de brincar que a criança
se desenvolvem de uma maneira mais desfruta elementos da realidade e fantasia, ela
prazerosa. Sabemos que se isolarmos as começa a perceber a diferença do real e do
crianças das brincadeiras estaremos ignorando imaginário. É por meio do lúdico que ela
esta fase de descoberta e dos conhecimentos. desenvolve não só a imaginação mas também

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fundamenta afetos, elabora conflitos, explora No século XX entre as décadas de 20 e 30,


ansiedades à medida que assume múltiplos estudiosos como Piaget e Vygotsky
papeis, fecunda competências cognitivas e identificaram a importância do ato de brincar
interativas. no desenvolvimento integral da criança pois ela
Almeida (2008), afirma que os jogos se apropria do conhecimento por meio da
contribuem de forma prazerosa para o brincadeira, possibilitando a sua ação no meio
desenvolvimento global das crianças, para em que vive.
inteligência, para a efetividade, motricidade e Segundo Kishimoto (1990), quando a criança
também sociabilidade. Por meio do lúdico a brinca, a criança entende o mundo à sua
criança estrutura e constrói seu mundo interior maneira, sem engajamento com a realidade,
e exterior. As atividades lúdicas podem ser pois sua interação com o objeto não depende
consideradas como meio pelo qual a criança da natureza do objeto, mas da função que a
efetua suas primeiras grandes realizações. criança lhe atribui.
Como toda atividade humana, o brincar se Piaget (1990), afirma que as atividades
constituiu na interação de vários fatores que lúdicas fazem parte da vida da criança, entre
marcam determinado momento histórico outras atividades lúdicas, estão os jogos. Piaget
sendo transformado pela própria ação dos identifica três tipos de jogos: jogos com regra,
indivíduos por suas produções culturais e jogos exercícios e jogos simbólicos.
tecnológicas. A brincadeira e jogo são O lúdico é formado por um conjunto
processos que envolvem o indivíduo e sua linguístico que funciona dentro de um contexto
cultura adquirindo especialidades de acordo social; possui um sistema de regras e se
com cada grupo. Eles têm um significado constitui de um objeto simbólico que designa
cultural muito marcante, pois é através do também um fenômeno. Portanto, permite ao
brincar que a criança vai conhecer, aprender e educando a identificação de um sistema de
se constituir como um ser pertencente ao regras que permite uma estrutura sequencial
grupo, ou seja, o jogo e a brincadeira são meios que especifica a sua moralidade (PIAGET, apud,
para construção de sua identidade cultural. Os WADSWORTH, 1984, p. 44).
jogos e as brincadeiras são, assim, Vygotsky (2009), considera que a brincadeira
transformados continuamente (LIMA,1992, é uma atividade social da criança. Por
p.18). intermédio dos jogos, a criança adquire
Como afirma Lima (1992), o lúdico é um princípios essenciais para a estruturação de sua
instrumento de instigação prática utilizada em personalidade e percepção do seu contexto
qualquer etapa no desenvolvimento da social. Vygotsky explica que por meio de uma
psicomotricidade é uma forma global de conduta imaginária surge a possibilidade da
expressão que envolve todos os domínios da criança dirigir seu comportamento, isso ocorre
natureza. Apresenta grandes benefícios do não apenas pela percepção imediata dos
ponto de vista intelectual, físico, social e objetos, mas também colocar nessa situação.
didático para criança. A brincadeira desenvolve Desta forma a criança estabelece regras de
a criatividade e a espontaneidade da criança. comportamento no seu cotidiano em situações

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

imaginárias, na evolução do processo da brinquedo ensina qualquer coisa que complete


brincadeira podem seguir regras explícitas ou ao indivíduo em seu saber, seus conhecimentos
não. e sua apreensão do mundo.
Bomtempo (2007), observa que para Segundo Almeida (1995), educar
Vygotsky, o brincar tem sua origem na situação ludicamente não é jogar lições empacotadas
imaginária criada pela criança, nas quais as para educando aplicar passivamente, educar
vontades irrealizáveis podem ser realizadas. A ludicamente é um ato consciente e planejado,
função do brincar é ao mesmo tempo, construir é tornar o sujeito feliz, é seduzir os seres
uma maneira de acomodar a conflitos e humanos ao prazer de conhecer, é resgatar o
frustrações da vida real. Para Piaget (1990), o verdadeiro sentido da palavra ¨escola¨ lugar de
brincar retrata uma etapa do desenvolvimento alegria, prazer, satisfação, prazer intelectual e
da inteligência, marcada pelo domínio da desenvolvimento. Para que o educador atingir
assimilação sobre a acomodação, tendo como esse meio é necessário que o educador repense
função consolidar a experiência vivida. sobre a sua prática pedagógica, se suas
Afirma Bomtempo (1997), que a partir das ferramentas pedagógicas estão alcançando
abordagens de Piaget e Vygotsky, compreende- objetivos e metas.
se a necessidade da incorporação de jogos, Almeida (1995), afirma que a escola e
brincadeiras e brinquedos na prática principalmente a Educação Infantil devem usar
pedagógica, é um recurso rico que pode o lúdico amplamente para atuar no
contribuir para o desenvolvimento infantil. A desenvolvimento e na aprendizagem da
intervenção do professor é fundamental no criança. Para manter um equilíbrio com o
processo de ensino aprendizagem, além da mundo a criança precisa criar, inventar e
interação social ser importante para a aquisição brincar, com as atividades lúdicas, jogos e
do conhecimento. brincadeiras. Desta forma a criança desenvolve
Kishimoto (2003), considera o jogo uma seu raciocínio e conduz seu conhecimento de
atividade lúdica relevante no processo forma descontraída e espontânea.
educativo, pois a sua finalidade no ambiente
escolar traz muitos benefícios para o processo A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO
de ensino-aprendizagem. O jogo é um estímulo
natural e influência no processo de NA EDUCAÇÃO INFANTIL NA
desenvolvimento dos esquemas mentais. Seus VISÃO DOS TEÓRICOS
benefícios permitem a integração de várias A teoria froebeliana, ao considerar o brincar
ações como: a afetiva, a social motora, a como uma atividade espontânea da criança,
cognitiva, a social e a afetiva. Existem algumas concebe suporte para o ensino e permite a
considerações sobre a função lúdica e variação do brincar, ora como atividade livre,
educativa do brinquedo. A função lúdica do ora orientada. As concepções froebeliana de
brinquedo promove prazer, diversão e até educação, homem e sociedade estão
mesmo desprazer, quando escolhido intimamente vinculados ao brincar. Froebel
voluntariamente, com função educativa o introduz o brincar para educar e desenvolver a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

criança; sua teoria metafísica pressupõe que o instintivos. O brincar é um impulso natural da
brincar permite o estabelecimento de relações criança, que aliado à aprendizagem tornar-se
entre os objetos culturais e a natureza, mais fácil à obtenção do aprender devido à
unificado para o mundo espiritual. Assim, o espontaneidade das brincadeiras por meio de
brincar como atividade livre e espontânea, é uma forma intensa e total. O mundo infantil é
responsável pelo desenvolvimento físico, diferente do mundo adulto, nele podemos
moral, cognitivo, os dons ou brinquedos, encontrar o faz-de-conta, o mundo da fantasia,
objetos que subsidiam atividades infantis. sonhar e descobrir. Por meio das brincadeiras,
Entende também que a criança necessita de que é uma ação comum da infância, a criança
orientação para o seu desenvolvimento, tem a oportunidade de se conhecer e de se
perspicácia do educador levando-a a constituir-se socialmente.
compreender que a educação é um ato Para Kishimoto (2009), a brincadeira, o jogo,
institucional que requer orientação. e o brinquedo, as atividades lúdicas devem se
A brincadeira é uma atividade espiritual fazer presentes como recursos didáticos no
mais pura do homem neste estágio e, ao processo educacional, principalmente na
mesmo tempo, típico da vida humana Educação Infantil, e as séries iniciais.
enquanto todo – da vida natural/interna do Compreender esse universo lúdico tornar-se
homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, indispensável para o bom desenvolvimento do
liberdade, contentamento, descanso externo e trabalho pedagógico efetivado pelo professor
interno, e paz com o mundo. que é o mediador destas ações. O jogo
Conforme Kishimoto (2009), a criança ao educativo é essencial, pois possibilita a criança
brincar e jogar, se envolve com a brincadeira, se uma aprendizagem por meio das vivências, por
entusiasma, que coloca na ação seu sentimento meio das quais podem experimentar sensações
e emoção. Pode-se dizer que a atividade lúdica e explorar as possibilidades de movimentos do
funciona como um elo integrado entre os seu corpo e do espaço adquirindo um saber
aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais globalizado a partir de situações concretas.
portanto a partir do brincar desenvolvem-se a A atividade lúdica é um instrumento que
facilidade para a aprendizagem, o possibilita que as crianças aprendam a
desenvolvimento social, cultural e pessoal e relacionar-se com outras crianças, promove o
contribui para uma vida saudável, física e desenvolvimento da linguagem e da
mental. Também é possível enxergar nele um concentração consequentemente gera uma
pouco de representação do real no momento motivação a novos conhecimentos. O eixo da
em que a criança elege como um substituto do infância é o brincar, sendo um dos meios para o
objeto utilizando nas ações reais do dia a dia crescimento, e por ser um meio dinâmico, o
tornando-se, em alguns momentos, um brinquedo oportuniza o surgimento de
representante da realidade. Ao brincar a comportamentos, padrões e normas
criança também adquire a capacidade da espontâneas. Caracteriza-se por ser natural,
simbolização permitindo que ela possa vencer viabilizando para a criança há uma exploração
realidades angustiantes e domar medos do mundo exterior e interior.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Entretanto, Vygotsky (apud, LEONTIEV e aquisição da representação simbólica,


LURIA, 1998), toma como ponto de partida a impulsionada pela imitação. Desta maneira, o
existência de uma relação entre um jogo pode ser considerado uma atividade muito
determinado nível de desenvolvimento e a importante, pois por meio dele a criança cria
capacidade potencial da aprendizagem. uma zona de desenvolvimento proximal, com
Defende a ideia de que, para verificar o nível de funções que ainda não amadureceram, mas
desenvolvimento da criança, temos que que se encontram em processo de maturação,
determinar pelo menos, dois níveis de ou seja, o que a criança irá alcançar em um
desenvolvimento. O primeiro deles é o nível de futuro próximo. Aprendizado e
desenvolvimento efetivo, que se faz por meio desenvolvimento estão inter-relacionados
dos testes que estabelecem a idade mental, isto desde o primeiro dia de vida, é fácil concluir que
é, aqueles que a criança é capaz de realizar por o aprendizado da criança começa muito antes
si mesma, já o segundo deles se constitui na dela frequentar a escola. Todas as situações de
área de desenvolvimento potencial, que se aprendizado que são interpretadas pelas
refere a tudo aquilo que a criança é capaz de crianças na escola já têm uma história prévia,
fazer com a ajuda dos demais, seja por isto é, a criança já se deparou com algo
imitação, demonstração, entre outros. O que a relacionado do qual pode tirar experiências.
criança pode fazer hoje com a ajuda dos adultos Ao discutir o papel do brinquedo Vygotsky
ou dos iguais certamente fará amanhã sozinha. (apud, LEONTIEV e LURIA, 1998), refere-se
Assim, isso significa que se pode examinar, não especificamente à brincadeira de faz-de-conta,
somente o que foi produzido por seu como brincar de casinha, brincar de escolinha,
desenvolvimento, mas também o que se brincar com um cabo de vassoura como se fosse
produzirá durante o processo de maturação. um cavalo. Faz referência a outros tipos de
A brincadeira, o jogo são atividades brinquedos, mas a brincadeira faz-de-conta é
específicas da infância, na quais a criança recria privilegiada, em sua discussão, sobre o papel do
a realidade usando sistemas simbólicos. É uma brinquedo no desenvolvimento. No brinquedo,
atividade com contexto cultural e social. O a criança sempre se comporta além do habitual,
autor relata sobre a zona de desenvolvimento o mesmo contém todas as tendências do
proximal como a distância entre o nível atual de desenvolvimento sob forma condensada,
desenvolvimento, determinado pela sendo ele mesmo uma grande fonte de
capacidade de resolver, independentemente, desenvolvimento.
um problema, e o nível de desenvolvimento A criança se torna menos dependente da sua
potencial, determinado por meio da resolução percepção e da situação que a afeta de
de um problema, sob a orientação de um imediato, passando a dirigir seu
adulto, ou de um companheiro mais capaz. comportamento também por meio do
Para Vygotsky (apud, LEONTIEV e LURIA, significado dessa situação, Vygotsky (1998),
1998), jogo simbólico é como uma atividade relata que “No brinquedo, no entanto, os
típica da infância e essencial ao objetos perdem sua força determinadora. A
desenvolvimento infantil, ocorrendo a partir da criança vê um objeto, mas age de maneira

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

diferente em relação àquilo que vê. Assim, é acordo com Vygotsky (apud, LEONTIEV e LURIA,
alcançada uma condição em que a criança 1998), um dos principais representantes dessa
começa a agir independentemente daquilo que visão, o brincar é uma atividade humana
vê.” No brincar, a criança consegue separar criadora, na qual imaginação, fantasia e
pensamento, ou seja, significado de uma realidade interagem na produção de novas
palavra de objetos, e a ação surge das ideias, formas de construir relações sociais com outros
não das coisas. sujeitos, crianças e/ou adultos. Tal concepção
Vygotsky (apud, LEONTIEV e LURIA, 1998), se afasta da visão predominante da brincadeira
relata novamente que quando uma criança como atividade restrita à assimilação de
coloca várias cadeiras uma atrás da outra e diz códigos e papéis sociais e culturais, cuja função
que é um trem, percebe-se que ela já é capaz principal seria facilitar o processo de
de simbolizar, esta capacidade representa um socialização da criança e a sua integração à
passo importante para o desenvolvimento do sociedade.
pensamento da criança. Brincando, a criança O jogo é importante para o
exercita suas potencialidades e se desenvolve, desenvolvimento, físico, intelectual e social, ele
pois há todo um desafio, contido nas situações vem ampliando sua importância deixando de
lúdicas, que provoca o pensamento e leva as ser um simples divertimento e tornando-se
crianças a alcançarem níveis de ponte entre a infância e a vida adulta. Vygotsky
desenvolvimento que só as ações por (1984), afirma que o jogo infantil transforma a
motivações essenciais conseguem. Elas passam criança, graças à imaginação, os objetivos
a agir e esforça-se sem sentir cansaço, não produzidos socialmente. Assim, seu uso é
ficam estressadas porque estão livres de favorecido pelo contexto lúdico, oferecendo à
cobranças, avançam, ousam, descobrem, criança a oportunidade de utilizar a
realizam com alegria, sentindo-se mais capazes criatividade, o domínio de si, à formação da
e, portanto, mais confiantes em si mesmas e personalidade.
predispostas a aprender. O brinquedo surge a A criança deve ser compreendida como um
partir de sua necessidade de agir em relação ser em pleno desenvolvimento, é importante
não apenas ao mundo mais amplo dos adultos. que as escolas e os educadores, incentivem a
Entretanto, a ação passa a ser guiada pela prática do jogo, como forma de aperfeiçoar
maneira como a criança observa os outros esse desenvolvimento infantil.
agirem ou de como lhe disseram, e assim por Os jogos grupais aproximam as crianças e é a
diante. À medida que cresce, sustentada pelas partir deles que elas aprendem a trabalhar em
imagens mentais que já se formou, a criança equipe, passam a entender que a competição é
utiliza-se do jogo simbólico para criar necessária em relação ao desafio e a superação,
significados para objetos e espaços. Assim, devem saber ainda que as regras existem para
seguindo este estudo os processos de estabelecer uma ordem, e que se trabalharem
desenvolvimento infantil apontam que o em grupo, poderão obter mais sucesso. O ato
brincar é um importante processo psicológico, de jogar nada mais é que a construção do
fonte de desenvolvimento e aprendizagem. De conhecimento aliada ao prazer.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para Piaget (1978), brincando e jogando a importantes para que se trabalhe diferentes
criança também tem acesso a novas tipos de sentimentos e a forma de lidarmos
descobertas se desenvolve mais rápido, pois os com eles.
jogos são classificados por três etapas que As fases do desenvolvimento da criança,
correspondem às três fases do determinadas por Piaget, se apresentam em
desenvolvimento infantil. uma sequência necessária e esses estágios não
Fase sensório-motora (do nascimento até os devem ser interrompidos, já que uma etapa
2 anos aproximadamente): a criança brinca prepara a outra. Isso acontece também com os
sozinha, sem utilização da noção de regras. jogos. Em cada etapa do desenvolvimento
Fase pré-operatória (dos 2 aos 5 ou 6 anos infantil um tipo de jogo se apresenta mais
aproximadamente): As crianças adquirem a adequado. A criança deve ser compreendida
noção da existência de regras e começam a como um ser em pleno desenvolvimento, é
jogar com outras crianças jogos de faz-de- importante que as escolas e os educadores,
conta. incentivem a prática do jogo, como forma de
Fase das operações concretas (dos 7 aos 11 aperfeiçoar esse desenvolvimento infantil.
anos aproximadamente): as crianças aprendem Para Wallon (1981), o fator mais importante
as regras dos jogos e jogam em grupos. Esta é a para a formação da personalidade não é o meio
fase dos jogos de regras como futebol, damas, físico, mas sim o social. Destaca o emocional, o
etc. afetivo e elege a afetividade como algo
Assim, Piaget (1978), classificou os jogos intimamente ligada a motricidade, como
correspondendo a um tipo de estrutura mental: desencadeadora da ação e do desenvolvimento
Jogo de exercício sensório-motor; Jogo psicológico da criança.
simbólico; Jogo de regras. Por meio do seu corpo e de sua projeção
Jogo do exercício sensório-motor: é um jogo motora, a criança estabelece a primeira
em que sua finalidade é o próprio prazer do comunicação (diálogo tônico) com o meio,
funcionamento, constitui-se em repetição de apoio fundamental do desenvolvimento da
gestos e movimentos simples como agitar os linguagem. Ou seja, a motricidade é ligada às
braços, caminhar, pular, ao descobrir suas emoções, que levam a representação e que,
funções, há um sentimento de felicidade. simultaneamente, precedem a construção da
Jogos Simbólicos: Consistem em satisfazer o ação, na medida em que significam um
“eu” por meio de uma transformação do real investimento, em relação ao mundo exterior.
em função dos desejos, ou seja, tem a função Nesta concepção infantil é sinônimo de lúdico.
de assimilar a realidade, ela incorpora a seu Toda atividade da criança é lúdica, no sentido
mundo, objetos, pessoas ou acontecimentos que se exerce por si mesma antes de poder
significativos e os reproduz por meio de suas integrar-se em um projeto de ação mais
brincadeiras. extensivo que a subordine e a transforme em
Jogos de faz de conta possibilita a criança meio.
sonhar e fantasiar revela angústias, conflitos e A personalidade humana é um processo de
medos aliviando tensões e frustrações são construção progressivo, no qual se realiza a

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integração de duas funções principais: a um jogo são feitas para que a criança adquira
afetividade, vinculada à sensibilidade interna e valores que possam ser usados durante toda a
orientada pelo social e a inteligência, vinculada sua vida, é por isso que ao fazer as atividades o
às sensibilidades externas, orientada para o educador deve pensar quais são os objetivos
mundo físico, para a construção do objeto. daquele jogo para aquela faixa etária e para a
Ao classificar os jogos infantis, Wallon realidade a que pertence aquele aluno. Na
(1981), apresenta quatro categorias de jogos: infância os jogos são essenciais para o
Jogos funcionais: caracterizam-se por desenvolvimento de construção, estimulando
movimentos simples de exploração do corpo, todos os sentidos tais como: psicomotor,
por meio dos sentidos. cognitivo, social e emocional, desenvolvendo a
Jogos de ficção: atividades lúdicas capacidade de pensar, refletir, abstrair,
caracterizadas pela ênfase no faz de conta, na organizar, realizar e avaliar. Quando a criança
presença da situação imaginária. joga, ela libera e realiza suas energias e tem o
Jogos de aquisição: inicia desde que o bebê, poder de transformar uma realidade
“todo olhos, todo ouvidos”, como descreve proporcionando condições de liberação de
Wallon, se empenha para compreender, fantasia.
conhecer, imitar canções, gestos, sons, imagens De acordo com Wajskop (2001), a
e histórias. brincadeira pode ser um espaço privilegiado de
Jogos de fabricação: jogos que a criança se interação e confronto de diferentes crianças
entretém com atividades manuais de criar, com pontos de vistas diferentes. Nesta vivência
combinar, juntar e transformar objetos. criam autonomia e cooperação
Conforme Antunes (2004), a aprendizagem é compreendendo e agindo na realidade de
tão importante quanto o desenvolvimento forma ativa e construtiva. Ao definirem papéis
social e o jogo constituem uma ferramenta a serem representados nas brincadeiras e no
pedagógica ao mesmo tempo promotora do processo de duração e do espaço nos diferentes
desenvolvimento cognitivo e o do social. O jogo temas de jogos, as crianças têm possibilidades
pedagógico pode ser um instrumento da de levantar hipóteses, resolver problemas e a
alegria. Uma criança que joga, antes de tudo o partir daí construir sistemas de representação,
faz porque se diverte mas dessa diversão de modo mais amplo, no qual não teriam
emerge a aprendizagem e a maneira como o acesso no seu cotidiano.
professor após o jogo, trabalhar suas regras
pode ensinar-lhes esquemas de relações O JOGO NA EDUCAÇÃO
interpessoais e de convívio ético.
Trabalhar com jogos é fazer com que a INFANTIL
criança aprenda de forma prática, interativa e s jogos infantis são importantes para o
alegre, ou seja, participando de atividades mais desenvolvimento e aprendizagem da criança,
descontraídas o aluno se sente feliz e motivado muitas pessoas desconhecem essa prática
e ao mesmo tempo adquire o seu pedagógica. Os jogos na educação infantil
conhecimento de forma prazerosa. As regras de significam para o campo do ensino e da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizagem condições para ampliar a jogos de Educação Infantil, no desenvolvimento


construção do conhecimento, introduzindo as integral das crianças.
propriedades do lúdico, do prazer, da O ato de jogar segundo Kishimoto (1994),
capacidade de iniciação e ação ativa, ajuda a criança no seu desenvolvimento físico,
espontânea e motivadora da criança. afetivo, social e intelectual, pois, por meio das
Segundo Ferrari (2008), em entrevista à atividades lúdicas, a criança forma conceitos,
revista Escola, Ed.216, 01 de outubro de 2008, relaciona ideias, estabelece relações lógicas,
as técnicas utilizadas na Educação Infantil desenvolve a expressão oral e corporal, reforça
devem muito a Froebel. Segundo ele, os jogos e habilidades sociais, reduz a agressividade,
as brincadeiras são o primeiro processo no integra-se na sociedade e constrói seu
caminho da aprendizagem, não são apenas autoconhecimento.
diversão ou apenas para passar o tempo, mas Para Oliveira (1996), parte-se da concepção
sim um modo de criar representações do de que os jogos, na Educação Infantil, são
mundo concreto com a finalidade de entendê- fundamentais para o desenvolvimento do
lo. Com base na observação das atividades dos processo de ensino aprendizagem. A falta de
pequenos com brinquedos e jogos, Froebel foi capacitação e a não compreensão da
um dos primeiros pedagogos a falar em importância dos jogos no método de ensino
autoeducação com suas teorias na educação aprendizagem é o que leva o educador a não
infantil, no século XX, durante as décadas de 50, utilizá-los.
e 70, devido ao movimento da Escola Nova. Está estabelecido na forma da lei o Estatuto
O jogar está nos documentos oficiais da da Criança e do Adolescente (ECA), em seu
educação infantil, de acordo com o Referencial artigo 16, que a Educação Infantil é um direito
Curricular Nacional para a Educação Infantil da criança iniciando assim, como a primeira
(1998), na Educação Infantil, as brincadeiras e etapa da Educação Básica e deve ser oferecida
os jogos devem ser bem planejados pelo pelos sistemas de ensino gratuitamente e
educador, pois, se bem utilizadas no processo logicamente em ação e parceria da família e
de ensino aprendizagem, se tornam um grande comunidade, de forma que compreendam as
aliado na introdução dos conteúdos. Assim, os ações pedagógicas ministradas no âmbito
jogos e as brincadeiras ganham cenário e escolar.
espaço na rotina escolar das crianças da Para Kishimoto (1994), o interesse pela
educação infantil e penetram nas instituições temática dos jogos para a formação de
infantis criadas a partir de então. conceitos na criança a partir das estratégias
Conforme Kishimoto (1994), O presente metodológicas utilizadas pelo professor, auxilia
trabalho, atem-se para a compreensão da no processo de desenvolvimento da criança,
importância de se trabalha r ludicamente com pois jogos fazem parte da vida da criança, por
brincadeiras e jogos na educação infantil, tem meio dos jogos, a criança vê e constrói o
por finalidade compreender a prática mundo. Em função disso, é necessário que os
pedagógica do professor e a importância dos professores busquem as atividades lúdicas, na
pré-escola, de forma que esse processo possa

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

trabalhar com a diversidade cultural e desperte crianças demonstram por meio das
a criatividade e a vontade para aprender. brincadeiras e dos jogos como veem e
Ronca (1989), afirma que o aprendizado constroem o mundo a sua volta, como
acontece de maneira continuada e progressiva gostariam que ele fosse, quais são as suas
requerendo ferramentas que possibilitem seu preocupações e quais são os problemas que
desenvolvimento, o brincar pode ser uma estão atormentando. Expressam na brincadeira
dessas ferramentas, aliando o prazer com o o que têm dificuldade de expressar com
aprender. palavras.
Nos dias atuais a tecnologia avança Aliar atividades e situações lúdicas ao
aceleradamente inclusive na educação, sendo processo de ensino e aprendizagem para as
necessário pensar ações pedagógicas que crianças da educação infantil são de grande
acompanhem essas tecnologias e que façam valia, para o desenvolvimento da criança. O
com que os alunos se interessem, mas as professor precisa propor atividades lúdicas nos
atividades lúdicas não podem ser esquecidas na diferentes momentos do seu planejamento e o
porque a alternativa de trabalhar de maneira que vai aplicar em sala de aula. Lembrando que
lúdica em sala de aula é muito atraente e as brincadeiras e os jogos exigem partilhas,
educativa. confrontos, interações, negociações e trocas,
Por meio dos jogos a criança aprende com promovendo conquistas cognitivas, sociais e
muito mais prazer e facilidade, desenvolvendo emocionais. Destacando ainda mais a
a capacidade de cumprir e criar regras, importância do lúdico.
estabelecendo papeis e permitindo-se criar e Conforme Kishimoto (2000), a verdade é que
inovar, destacando também que o brinquedo é quando observamos, que a criança sente e
o caminho pelo qual crianças compreendem o expressa sua curiosidade e o quanto é
mundo em que vivem. É a oportunidade de importante a consciência de que viver é brincar.
desenvolvimento, pois com o jogar e o brincar Ao brincar, a criança conhece a si mesma e aos
a criança experimenta, descobre, inventa, outros, realiza a dura tarefa de compreender
exercita sua imaginação vivendo assim uma seus limites e capacidades e de inserir-se em
experiência que enriquece sua sociabilidade e a seu grupo.
capacidade de se tornar um ser humano Quando propomos brincadeiras e jogos para
criativo, “As crianças formam estruturas as nossas crianças elas aprendem e
mentais pelo uso de instrumentos e sinais. A internalizam normas sociais de
brincadeira, a criação de situações imaginárias comportamentos e os hábitos fixados pela:
surge da tensão do indivíduo e a sociedade. O cultura, pela ética e pela moral. Fica a questão
lúdico liberta a criança das amarras da do porquê, não investir mais em jogos e
realidade, (VIGOTSKY, apud, REGO, 2001, p.84). brincadeiras na educação infantil. De acordo
Para Kishimoto (2000), as atividades lúdicas com o Referencial Curricular Nacional Para
propiciam à criança a possibilidade de conviver Educação Infantil:
com os diferentes sentimentos e situações, os As brincadeiras, os jogos e os brinquedos
quais fazem parte da vida e de seu interior. As podem e devem ser objetos de crescimento,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desde que bem acompanhados e sendo bem a utilização dos jogos. Dentro da realidade
contextualizada pelo professor, possibilitando à brasileira qualquer instituição que tenha como
criança a exploração do mundo. finalidade potencializar atividades lúdicas ou de
Segundo o Referencial Curricular Nacional aprendizagens terá por si mesma um grande
Para Educação Infantil (1998), “as atividades significado social.
lúdicas, por meio das brincadeiras favorecem a Kishimoto (1994), acrescenta que os jogos
autoestima das crianças ajudando-as a superar devem ser utilizados com o objetivo de ajudar o
progressivamente suas aquisições de forma aluno no desenvolvimento do raciocínio lógico,
criativa”. Descobrir-se, entender-se, para que ele tenha clareza nas funções sociais
posicionar-se e se fazer ouvir em relação a seus existentes no nosso dia a dia. Para uma
pensamentos, avanços, receios e medos diante utilização eficiente e completa do professor
de toda uma sociedade é o que espera a com jogos educativos é necessário realizar
formação lúdica. Desta forma torna-se natural previamente uma avaliação, observando como
estimular o desenvolvimento das habilidades conduzir cada aluno nesse processo de
importantes do aluno, seja na socialização ou socialização, analisando tanto aspectos de
na resolução de problemas, resultando grandes qualidade como aspectos pedagógicos e
avanços no desenvolvimento infantil: fundamentalmente a situação pré-jogo e pós-
Segundo Ronca (1989), o lúdico está jogo que se deseja atingir.
relacionado a tudo o que possa nos dar alegria Para Kishimoto (1994), brincar é um ato
e prazer, desenvolvendo a criatividade, a reconhecido principalmente pelas crianças e
imaginação e a curiosidade, desafiando a assim, acaba sendo um ato espontâneo e
criança a buscar soluções para problemas com natural que se cria, basicamente, em um
renovada motivação. Os jogos não são apenas sistema que integra a vida social das crianças.
uma forma de entretenimento ou meio em que Considera-se o fato de que possa se passar de
os adultos se libertam das crianças, ou ainda geração a geração, de acordo com as
oferecem as crianças para elas gastem suas necessidades de cada grupo social e época.
energias, mas meios que enriquecem o Pelas definições acima expostas, podemos
desenvolvimento intelectual, e que contribuem compreender que há grande dificuldade em se
significativamente para o processo de ensino e encontrar uma harmonia sobre o que significa
aprendizagem das crianças e em todas as áreas o modo de brincar.
de saberes no processo de socialização. Segundo Oliveira (1996), o brincar e o jogar é
Conforme Kishimoto (1994), um dos a ligação da ficção com mundo real em que ela
principais objetivos da escola é promover a vive. Ao brincar, as crianças trabalham com
socialização, por esse motivo não devemos informações, dados e percepções da realidade,
deixar as crianças isoladas em suas carteiras, mas na forma de ficção. Assim, vão crescendo e
devemos ser um incentivador dos trabalhos em introduzindo a representação que fazem da sua
grupos e promover a interação entre elas. realidade, do aprendizado e adquiridos e de
Deve-se incentivar a troca de ideias e a suas necessidades e sentimentos.
cooperação o que acontece naturalmente com

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Kishimoto (1994), afirma que o jogo lúdico é infantil natural, que pudesse representar algum
uma atividade que tem valor educacional valor em si.
intrínseco. Jogar educa, assim como viver Segundo Wajskop (2009), o brincar é uma
educa: a utilização de jogos educativos no atividade especialmente humana, sendo o
ambiente escolar traz muitos benefícios para o principal modo de expressão da infância. Desde
método de ensino e aprendizagem. a antiguidade diversas culturas já produziam
Por intermédio do jogar e do brincar que as brinquedos infantis, o que indica que brincar é
crianças se expõe ao mundo exterior e cria uma atividade natural ao homem
possibilidades de se reinventar, aprender a se independente da sua origem e de sua época.
preparar no imaginário para compreenderem o Brincando a criança se humaniza e se constitui
real, passa a compreender o futuro e se um sujeito histórico-social.
preparar para superar obstáculos, tanto A brincadeira caracteriza-se por sua
cognitivos quanto emocionais. organização e pela utilização de regras; a
O jogo é um vínculo que une pessoas, nesse brincadeira é uma atividade que pode ser tanto
caso crianças, com a vontade, necessidade e o coletiva quanto individual, no qual as
prazer durante a realização de uma atividade, existências das regras não limitam a ação
ao longo de uma brincadeira, um esporte. O lúdica, a criança pode modificá-la, quando
ensino utilizando meios lúdicos, prazerosos e desejar, incluir novos membros, retirar e
harmoniosos criam ambientes favoráveis para a modificar as próprias regras, ou seja, existe
aprendizagem. uma liberdade da criança agir sobre ela. Para a
A relação entre o jogo e o desenvolvimento autora, a brincadeira se constitui em uma
da criança, tanto no meio familiar como no atividade em que as crianças, sozinhas ou em
meio escolar, deve procurar integrar o jogar e o grupo, procuram entender o mundo e as ações
aprender, encontrando nesta relação a humanas nas quais estão inseridas no seu dia a
essência da criatividade. dia
Após os humanistas do renascimento, por
A BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO volta do século XVII ao perceber que os jogos e
brincadeiras contribuíam para Educação,
INFANTIL começaram a utilizá-los como maneira de
De acordo com Wajskop (2009), a conservar a moralidade das crianças, que até
brincadeira esteve presente na vida do ser então eram considerados, “adulto em
humano desde os primórdios, em todos os miniatura”, a partir daí começaram a proibir
tempos e diversos lugares. A brincadeira, desde aqueles jogos que considerados inapropriados
a antiguidade, sempre foi usada como um para as crianças e orientar os que consideravam
recurso para o ensino, porém a sociedade tinha bons.
o brincar como forma de negação ao trabalho. Ainda conforme Wajskop (2009), alguns
A sociedade considerava a brincadeira como pesquisadores como Comenius, Rousseau e
fuga ou recreação, e a imagem social da Pestalozzi, influenciaram para o
infância não aceitava um comportamento reconhecimento da infância. Fundamentando-

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se numa concepção idealista e defensora da como uma ação livre e natural. A brincadeira
criança proporcionaram uma educação dos era observada como uma demonstração dos
sentidos, apoiando-se no uso de brinquedos e sentimentos, necessidades e interesses da
concentrada na recreação. Iniciaram, assim, a criança. As convicções da Escola Nova
preparação por meios próprios para a educação ganharam intensidade no Brasil por volta da
infantil. A partir destas idéias é que se começou década de 20. Neste período os jogos também
a observar a educação das crianças pequenas começaram a ser utilizados como forma de
como portadoras de características específicas, ensino. Foi por volta das décadas de 60 e 70, no
deixando de ser considerada uma educação dos século XX que a psicologia do desenvolvimento
adultos em miniatura, como eram considerados e da psicanálise colaborou para que se
até então. Wajskop (2009), afirma que: Os observasse a infância como o período
pesquisadores Comenius, Rousseau e primordial do desenvolvimento do ser humano,
Pestalozzi deram início a educação sensorial, destacando o papel da brincadeira na educação
usando os jogos e os materiais didáticos. Eles infantil.
foram os primeiros pedagogos da educação Para Wajskop (2009), a brincadeira infantil
pré-escolar a romper com a educação verbal e pode se constituir em uma atividade em que as
tradicionalista de sua época. Sugeriram a crianças sozinhas ou em grupo procurem
educação sensorial, tendo como base a compreender o mundo e as ações nas quais
utilização dos jogos e dos materiais didáticos, estão inseridas no seu dia a dia. É uma atividade
que teria que traduzir por si a crença em uma predominantemente infantil, é a forma pela
educação natural dos instintos infantis. qual se começa aprender. A brincadeira
Segundo Kishimoto, apud Santos (2009), aparece sempre como uma situação
Froebel foi o primeiro educador que apontou o organizada, exigindo para aquele que brinca
uso do brincar no processo educativo. Seu olhar decisões que precisam ser tomadas, mesmo
pedagógico associava o ato de brincar como um numa situação imaginaria, quando as crianças
elo de suma importância para a educação. interagem com diferentes objetos atribuindo-
Entendendo que o brincar, pelo ato de brincar lhes outros significados, existe a escolha
estimula os fatores físicos, moral e cognitivo, constante por parte da criança. É uma
dentre outros, porém ele justifica, que característica importante que exerce influência
também, seja importante a orientação do no desenvolvimento do autocontrole da
adulto para que ocorra o desenvolvimento da criança.
criança. Neste sentido as escolas adotaram suas Na perspectiva Histórico-Cultural elaborada
teorias, percebendo o brincar como atividades por Vygotsky, apud, Rego (2013), e seus
orientadas e também livres. Os brinquedos parceiros, a brincadeira evidencia um trabalho
passaram a ser vistos como base para a atuação primordial no desenvolvimento dos processos
do brincar nas escolas, possibilitando assim a psicológicos da criança. Ao debater a
obtenção de capacidades e saberes. importância das brincadeiras no
Wajskop (2009), afirma que Dewey, discípulo desenvolvimento da criança, o autor dá
da Escola Nova, observava o ato de brincar relevância significativa à brincadeira de faz de

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conta. A brincadeira de faz de conta tem grande além da hora em que a professora vai conduzir
privilégio em sua discussão sobre a importância uma brincadeira com os seus alunos.
papel do brinquedo no desenvolvimento da Para Wajskop (2009), é imprescindível a
criança. garantia do espaço para o momento da
Para Rego (2013), a brincadeira obtém um brincadeira, dando direito de uma possibilidade
papel extremante importante na formação da de educação da criança em uma concepção
criança, no sentido que considera a meio social criadora, voluntária e consciente. É no
como maneira de aprendizagem do ser momento do brincar, que as crianças
humano. Neste sentido, e no ato de brincar que constroem a consciência do real, e também ao
a criança socializa seus pensamentos e produz mesmo instante tem uma oportunidade de
situações imaginárias que introduz elementos modificá-la. A brincadeira é um momento
do contexto cultural do qual faz parte. privilegiado da aprendizagem infantil, na qual o
Para Rego (2013), a criança quando nasce já desenvolvimento pode atingir níveis mais
está inserida em um contexto social, e a sérios, precisamente por meio da probabilidade
brincadeira torna-se um passo importantíssimo de interação entre as duplas em uma
para que ela se aproprie do mundo, na circunstância imaginária e pela negociação de
internalização dos conceitos desse ambiente regras de convivência e de conteúdos
externo a ela. Neste sentido podemos entender temáticos.
que a brincadeira é algo muito importante para De acordo com Wajskop (2009), a
que a criança se desenvolva e o autor confirma brincadeira precisa abranger um espaço
essa afirmação, ao falar que o ato de brincar é essencial na educação infantil, sabendo que o
uma atividade que incentiva a aprendizagem, professor é a peça mais importante para ajudar
pelo fato, de criar uma zona de que isso aconteça, partilhando das brincadeiras
desenvolvimento proximal na criança. A ideia das crianças, é por meio das ações do professor,
de zona de desenvolvimento proximal que a criança conseguirá adicionar às culturas e
demonstra também a relevância da mediação maneiras de vida dos adultos de modo criativo
durante a brincadeira. e social.
Wajskop (2009), afirma que, no ambiente Percebe-se que, durante a idade em que a
das escolas de educação infantil esse assunto criança frequenta a Educação Infantil, a
tem que ser bem analisado ao refletir na atividade de imitação e que faz por meio dos
qualidade das brincadeiras a serem propostas brinquedos e brincadeiras, deve ser
naquele ambiente. É importante levar em considerada como uma das atividades guia do
consideração que tudo em volta da criança desenvolvimento infantil, que oportuniza para
poderá de estimular e enriquecer as a criança realização de ações que estão longe
brincadeiras, ou o contrário. Pensar na de suas reais capacidades, contribuindo para a
mediação é algo imprescindível no momento de sua aprendizagem e aumentando a capacidade
organização e também do comprar dos cognitiva infantil.
brinquedos, organizar a sala, brincar no parque, O incentivo de atividades que conceda o
envolvimento da criança em brincadeiras,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

especialmente aquelas que favoreçam a Neste sentido, podemos compreender que a


elaboração de situações imaginárias, tem criança usa os objetos domésticos, para
notória função pedagógica. A escola, introdução de novas descobertas, como por
particularmente a educação infantil deveriam exemplo: entrar em caixas, ao descobrir
se apropriar deliberadamente desse tipo de texturas, puxar e empurrar carrinhos etc. estas
situações para intervir no processo de são algumas ações que se tornam experiências
desenvolvimento infantil. interativas e motoras, desta forma a criança
Para Oliveira (2010), a partir da Lei de pode aprender e brincar pela repetição de suas
Diretrizes e Bases de 1996, pesquisas e ações. Para a autora é importantíssimo
documentos são escritos no intuito de se compreender que os brinquedos são de
determinar um espaço educacional para as fundamental importância para o
crianças pequenas, que associe ato do cuidado desenvolvimento e educação da criança, pelo
com a questão da educação, ou seja, do ensino fato de proporcionar o desenvolvimento
dos saberes produzido pelo ser humano. Nesse simbólico, incentivar a sua imaginação, a sua
sentido, a brincadeira se volta como um dos possibilidade de raciocinar e de ampliar a sua
recursos mais oportunos da educação de autoestima.
crianças que estudam na educação infantil. Rego (2013), ao abordar sobre a função do
Em relação às atividades escolares, toda brinquedo para o desenvolvimento da criança,
escola de educação infantil precisa ter clareza dar destaque importante à brincadeira de “faz
do que quer desenvolver na criança, pois é de conta”, como por exemplo: o brincar de
preciso preocupar-se se as crianças estão casinha, brincar de escolinha, brincar utilizando
usando brinquedos e materiais que realmente um cabo de vassoura imaginando um cavalo
lhes possibilite um avanço em seu etc. Essas brincadeiras são características
desenvolvimento, tanto nas brincadeiras mais especificas nas crianças que aprendem a falar e,
livres, como nas brincadeiras planejadas, no entanto, já tem capacidade de representar
dirigidas pelo professor. simbolicamente e de envolver-se em um
Segundo Kishimoto (2009), as práticas contexto ilusório. Pelo do ato de brincar, a
pedagógicas precisam assegurar experiências criança adquire a construção de novas
variadas. Para a autora, em primeiro instante a possibilidades de ação e maneiras diferentes de
criança conquista o conhecimento de si e do organizar os elementos do ambiente. Os
mundo por meio das experiências sensoriais, determinados objetos que são manipulados
expressivas e corporais para movimento amplo, pelas crianças durante as brincadeiras, são
para expressar sua individualidade e utilizados particularmente de maneira
consideração pelos ritmos e desejos da criança. simbólica, como um substituto para outros
Esta oportunidade de conquistar diversos tipos imaginados, por meio de gestos reprodutivos
de experiências e autoconhecimento contribui das posturas, expressões e verbalizações que
para que as crianças se apropriem de futuras sucedem no meio em que a criança está
aprendizagens. inserida.

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Durante a brincadeira a criança transforma situação imaginária que a criança vive ao


qualquer objeto em outro, sem limitações, pois brincar, torna-se um pré-requisito para que
no momento da brincadeira, a criança estrutura assim tornem-se conscientes das possíveis
hipóteses para a resolução de seus problemas e regras que existem nas brincadeiras.
também consegue tomar decisões além do Oliveira (2007), considera que aquilo que na
comportamento normal para a sua idade, é vida real é comum e passa despercebida, na
neste momento que acontece a transformação brincadeira vira regra e contribui para que a
do significado dos objetos de acordo com suas criança compreenda o universo próprio dos
vontades, sem haver preocupação em adaptar- diversos papéis que representa.
se à realidade, desenvolvendo a sua identidade, Para Vygotsky (2013), é por meio do ato de
pelo fato de vivenciar outras formas de ser e de brincar que a criança estabelece suas
refletir. necessidades para se aproximar do mundo dos
Para Rego (2013), ao brincar a criança adultos. O autor ainda ressalta que ocorrem
começa a criar uma situação imaginária é desta mudanças em seu desenvolvimento cognitivo e
forma que ela começa a satisfazer seus desejos desta forma a criança torna-se preparada para
não realizáveis. A criança brinca pela vontade aceitar novos componentes na brincadeira,
de atuar em relação ao mundo mais extenso obedecem às regras e constrói significado a
dos adultos e não apenas agir ao universo dos objetos que lhe permitem realizar a mesma
objetos no qual tem contato. ação próxima do real.
Kishimoto (2009), afirma que o brincar é uma Segundo o Referencial Curricular Nacional
ação na qual a criança deve agir livremente. O para a Educação Infantil (1998), a brincadeira é
brincar pode surgir a qualquer hora, é a criança uma das atividades essenciais para que ocorra
que tem que iniciá-la e conduzi-la, é necessário, o desenvolvimento da identidade e da
dá prazer, não é preciso impor como condição, autonomia da criança. É por meio da
um produto final, ou seja, a brincadeira faz com brincadeira que ela compreende, observa e
que a criança relaxe, e aprenda regras, interage com outras pessoas ampliando sua
linguagens, também desenvolva habilidades, e imaginação. Porém quando usa a linguagem do
a conduza ao mundo imaginário. faz de conta, a criança avança sua concepção
De acordo com Vygotsky (apud, FONTANA e sobre os objetos e as pessoas ao realizar
CRUZ, 2007), a brincadeira é essencial para diversos papéis sociais ou personagens,
ampliar o pensamento da criança, pois ela proporcionando um cenário no qual a criança é
trabalha vários aspectos que contribuem no capaz de imitar a vida como também de
desenvolvimento emocional e cognitivo. Afirma transformá-la. A brincadeira é considerada um
ainda, que por meio da brincadeira, a criança espaço pelo qual se pode observar o controle
atua nos objetos como adultos. Assim, as das experiências prévias das crianças e aquilo
brincadeiras das crianças pequenas são que os objetos manuseados insinuam ou
caracterizadas pela imitação de ações do ser estimulam no momento presente. Percebe-se
humano realizadas sobre os objetos. Sendo que para a criança aprender formas diferentes
assim é indispensável salientar, portanto que a de brincar, ela necessita obter contato com

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outras crianças, e com pessoas mais velhas em futuramente, ser usadas para o entendimento
espaços variados, dentro e fora da instituição da realidade. A brincadeira proporciona
infantil. Rego (2013), afirma que é na também o desenvolvimento do
brincadeira, por meio da aproximação com as autoconhecimento, aumentando a auto estima,
situações da realidade que a construção do oportunizando o desenvolvimento físico-
desenvolvimento mental da criança vai se motor, também o raciocínio e a inteligência. É
expandir e se transformar. Ao copiar um adulto, brincando que as crianças demonstram suas
a criança procura na brincadeira as necessidades e desejos construídos em toda
características do seu personagem e dá nova sua vida, brincar é de extrema relevância para o
forma aos pequenos objetos em seres que desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e
completam o quadro de sua fantasia. É curioso social da criança, quanto maiores forem às
analisar a maneira de brincar da criança e as oportunidades que a criança tiver de brincar
imitações que ela faz com sua realidade e a mais natural será o seu desenvolvimento.
organização de sua imaginação. De acordo com Oliveira (2002), por
Para Rego (2013), é de extrema importância intermédio das brincadeiras, ocorre o estimulo
que as crianças possam usufruir determinados do desenvolvimento cognitivo da criança. É por
espaços na escola que permita o meio do brincar, que a criança consegue uma
acontecimento dos mais variados tipos de experiência real, percebe-se assim um universo
brincadeiras, pois compreendemos que é por mágico, imaginário, criativo, estimulante para
intermédio dos jogos e das brincadeiras que a as habilidades, à curiosidade e em especial para
criança aumenta sua curiosidade, atenção, a independência da criança. Ao elaborar suas
autonomia, e sua capacidade de solucionar hipóteses a criança organiza suas próprias
problemas. Tudo isso faz parte da idéias sobre o mundo que a rodeia,
aprendizagem da criança, e são primordiais reproduzindo com isso o seu desenvolvimento
para o desenvolvimento da particularidade da psicológico e cognitivo em que se encontra.
criança. Segundo Oliveira (2002), o ato de brincar não
Vygotsky (apud, WAJSKOP, 2009), afirma significa especialmente apenas diversão sem
que, é por intermédio da brincadeira que a fundamento e razão, caracteriza-se como uma
criança pode vencer seus limites e consegue das maneiras mais complexas da criança
viver experiências que vão mais adiante de sua comunicar-se consigo mesma e com o mundo,
idade e realidade, fazendo com que ela ou seja, o desenvolvimento acontece por
desenvolva sua consciência. Dessa maneira, é intermédio de trocas experimentais mútuas de
na brincadeira que se deve sugerir à criança toda sua vida. Sendo assim, por meio da
desafios e questões que a façam refletir, propor brincadeira, a criança consegue desenvolver
soluções e resolver problemas. conhecimentos relevantes, como, por exemplo,
Wajskop (2009), acredita que é por meio do memória, imitação, atenção, imaginação, entre
brincar que as crianças conseguem aumentar outros, que proporcionem à criança o
sua imaginação, além de criar e respeitar regras desenvolvimento de determinadas áreas da
de organização e convivência, que deverão, personalidade, a saber: afetividade,

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motricidade, inteligência, sociabilidade e amadurecimento, que será importantíssimo


criatividade. Em sua teoria, Vygotsky, apud, para o início de suas atividades cultural e social.
Rego (2013), partiu do princípio que o sujeito se Wajskop (2009), afirma que a criança
estabelece nas relações com os outros, por desenvolve-se por meio de experiência
intermédio de atividades essencialmente adquirida pelas interações social que
humanas, mediadas por ferramentas técnicas e estabelecem, desde cedo no meio em que
semióticas. Neste sentido, a brincadeira da vivem, e aprendem por meio das experiências
criança representa uma posição de privilégio sócio histórica que observam por intermédio do
para a análise do processo de construção do convívio com os adultos e do mundo por eles
sujeito, quebrando as barreiras com o olhar criado. Dessa maneira, a brincadeira é uma
tradicional de que está é uma atividade atividade humana pela qual as crianças são
espontânea de satisfação de instintos infantis. inseridas construindo um modo de assimilar e
O autor ainda fala da brincadeira como uma de recriar a experiência sociocultural dos
forma de expressão e adaptação do mundo das alunos.
relações, das funções e das ações dos adultos. Mesmo vivendo imersos em novas
Neste sentido, Kishimoto (2009), afirma que tecnologias e tendo dificuldades de encontrar
durante a brincadeira, a criança não se um espaço para brincar, é necessário
preocupa com os resultados que possa obter na reconhecer que as brincadeiras em coletivo,
brincadeira algo possível de ser observado no que o corpo se faz presente em um grupo são
momento e após a brincadeira. O que a consideradas de grande valor para o
impulsiona a explorar e descobrir o mundo é o desenvolvimento da interação social da criança.
prazer e a motivação que surgem da Com relação aos benefícios do brincar,
necessidade de aprender por meio dos podemos dizer que estão ligados ao
exemplos dos pais, amigos ou pessoas desenvolvimento infantil. Tanto o brincar pelo
próximas, desde que seja está uma de seus brincar, quanto o brincar dirigido, toda
atuais referenciais de comportamento de brincadeira só faz bem à criança, é essencial
mundo. para seu desenvolvimento em todos os
Para Winnicott (1975), o local em que a sentidos. Mas é necessário divulgar entre os
experiência cultural se situa está no espaço pais, responsáveis, profissionais da educação, a
potencial que existe entre o indivíduo e o meio importância que a brincadeira traz para o
ambiente (originalmente, o objeto). Dessa desenvolvimento das crianças. Quando as
mesma maneira ocorre a brincadeira, pois para crianças são estimuladas, seu desenvolvimento
o autor a experiência criativa começa a partir é imenso. Os Pais devem exercer um papel de
do momento em que se pratica essa grande importância na brincadeira dos seus
criatividade e isso aparece em primeira filhos, pois podem estimular e desafia-los para
instância por meio da brincadeira. Contudo, novas conquistas.
para a autor é essencial que o adulto não De acordo com Wajskop (2009), as diferentes
interfira durante estes momentos, pois as abordagens pedagógicas baseadas no brincar
descobertas que ocorrem levam ao bem como os estudos de psicologia infantil

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

direcionados ao lúdico, permitiram a batata quente, passa anel, vivo morto, telefone
constituição da criança como um ser brincante, sem fio entre outras. São brincadeiras
e a brincadeira deveriam ser utilizados como transmitidas de geração para geração ou
uma atividade essencial e significativa para a aprendidas nos grupos infantis, na rua, nos
educação infantil. parques, escolas etc. Que variam as regras
Percebe-se então que o brincar para a dependendo de cultura ou de grupo, contudo o
criança não é uma questão apenas de pura conteúdo do que é objetivo básico da
diversão, mas também de educação, brincadeira permanece. Existem vários tipos de
socialização, construção e pleno brincadeiras, é de fundamental importância
desenvolvimento de suas potencialidades. que as crianças brinquem na educação Infantil,
Portanto, o brincar deve ser valorizado, sendo devemos ressaltar, porém, que as formas de
visto como um meio na educação infantil para brincar devem existir de maneira equilibrada,
desenvolver a criatividade e o raciocínio critico dada a contribuição que cada uma delas exerce
de maneira prazerosa pelas crianças. no desenvolvimento infantil.
O brincar é um direito da criança, e este é Neste sentido a brincadeira deve ser
reconhecido em declarações, convenções e leis, considerada como parte integrante da
como a convenção sobre os direitos da criança educação Infantil, além de fonte de prazer,
de 1998, adotada pela Assembleia das Nações lazer, alegria, é simultaneamente fonte de
Unidas, a Constituição Brasileira de 1998 e o conhecimento. A criança aprende brincando e
estatuto da criança e do adolescente de 1990. brinca aprendendo.
Todos estes documentos colocam o brincar
como prioridade e direito.
De acordo com Carneiro (2008), existem
vários tipos de brincadeiras e atividades lúdicas.
A brincadeira livre é uma destas atividades, a
criança tem liberdade de escolher o que quer
realizar, sendo uma opção de testar hipóteses,
possibilidades a criança descobri o mundo ao
seu redor, solucionando problemas e
experimentando seus limites e possibilidades.
Há também brincadeiras em grupo, que são
muito importantes, pois as crianças
estabelecem contatos entre si e sentem-se
parte do grupo. A brincadeira em grupo auxilia
na socialização, a criança começa a aceitar
críticas, dividir, respeitar regras e normas de
convivência. Segundo Carneiro (2008), dentre
as brincadeiras existentes podemos citar:
queimada, corre cotia, estátua, amarelinha,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que realmente os jogos e a brincadeiras inseridos de forma planejada ou
livre, são de grande relevância para o desenvolvimento integral da criança e também para o
processo de ensino e aprendizagem Verificou-se que os jogos e brincadeiras possibilitam à criança
a oportunidade de realizar as mais diversas experiências e preparar-se para atingir novas em seu
desenvolvimento. No entanto cabe à escola se atentar ao desenvolvimento e aprendizado dos
alunos cumprindo a função integradora, oferecendo oportunidade para a criança desenvolver seu
papel na sociedade, colaborando para uma socialização adequada, por meio de atividades em
grupo, atividades recreativas e jogos de forma que capacite o relacionamento e a participação
ativa da mesma caracterizando em cada uma o sentimento de sentir-se um ser social. Nosso o
objetivo era investigar qual a importância dos jogos e brincadeiras para Educação Infantil. E por
meio desta pesquisa podemos perceber que é de extrema importância que a criança tenha a
oportunidade de se desenvolver por meio dos jogos e brincadeiras, pois ambos proporcionam a
ampliação das habilidades motoras, e também dos aspectos sociais e emocionais.
Cabe também ao profissional da Educação Infantil a responsabilidade em proporcionar
momentos bem planejados envolvendo jogos e brincadeira, atuando como organizador,
participante e observador, dando a oportunidade para que a criança possa criar desenvolvendo
sua autonomia. Ao longo desta Pesquisa foi possível destacar, portanto, a importância em
propiciar as crianças situações de jogos e brincadeiras para que as crianças se apropriem de forma
lúdica de conhecimentos diversos. Pois compreendemos que é na Educação Infantil que a criança
recebe estímulos para e se desenvolverem nos diferentes aspectos, como: afetivo, motor,
cognitivo, entre outros. Nesta perspectiva podemos destacar a importância do ensino infantil,
como uma das etapas mais importante para o desenvolvimento integral da criança. Nesta
pesquisa também pudemos observar a relevância que os jogos e brincadeiras têm para que a
criança construa seu conhecimento.
É uma ferramenta essencial para os professores que queiram inovar sua prática, tenham
nos jogos e brincadeiras aliados permanentes, possibilitando às crianças uma forma de
desenvolver as suas habilidades intelectuais, sociais e físicas, de forma prazerosa e participativa.
Por intermédio de pesquisas, e questionários feitos com professores de educação infantil de uma
escola pública e uma escola de uma escola privada pode concluir que todas as professoras de
ambas as escolas, concordam com a inserção do jogo como aliado na educação infantil. Todas as
professoras entrevistadas concordam que os jogos e brincadeiras realmente contribuem para a
construção da inteligência, desde que sejam usados em atividade lúdica prazerosa, respeitando
as etapas de desenvolvimento intelectual da criança. Os benefícios de uma infância bem vivida
em termos lúdicos fazem-se sentir ao longo da existência do indivíduo. As múltiplas possibilidades
de autoconhecimento possibilitadas pelas brincadeiras contribuem para tornar a criança mais
segura, autoconfiante, consciente de seu potencial e de suas limitações. Também concluímos
que os jogos e brincadeiras não são apenas um entretenimento, mas uma atividade que possibilita
e facilita a aprendizagem, que muito mais que importante, brincar é essencial na vida das crianças.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As contribuições de Piaget (1990), afirmam que “os programas lúdicos na escola são berço
obrigatório das atividades intelectuais da criança”. Os jogos, os brinquedos e as brincadeiras são
sempre elementos fundamentais à infância, no qual o brincar tem função primordial no processo
de desenvolvimento da criança, principalmente nos primeiros anos de vida.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO


Maria Teresa Panchame1

RESUMO: O objetivo deste artigo é apresentar a evolução histórica dos jogos e brincadeiras e sua
importância na formação do desenvolvimento infantil, pesquisar como os educadores se
preocupam com esse tema, pesquisar sobre brincadeiras tradicionais, como atividade lúdica e
como instrumento metodológico de ensino, também sensibilizar os professores de educação
infantil do importante papel que os jogos, as brincadeiras e os brinquedos exercem no
desenvolvimento da criança. Para tanto foi elaborada pesquisa bibliográfica, dando
fundamentação teórica vários autores. Definir Jogos e Brincadeiras na Educação Infantil, não é
tão simples, até ao pronunciar a palavra jogos muitos entendem de forma diferente, levando em
consideração apenas o esforço físico, não se dando conta de que a criança aprende ao brincar e
brincando ela cria seu próprio mundo.

Palavras-Chave: Jogos; Brincadeiras; Desenvolvimento infantil; Criatividade; Ludicidade.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: teka_panchame@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO ao seu desenvolvimento e aprendizagem de


forma significativa.
Brincar é uma importante forma de
comunicação, é por meio deste ato que a
O BRINCAR
criança pode reproduzir o seu cotidiano, facilita
Brincar é tão importante quanto estudar,
o processo de aprendizagem da criança, pois
quando brincamos, conseguimos de maneira
possibilita a construção da reflexão, da
natural sem muitos esforços, encontrar
autonomia e da criatividade, estabelecendo,
respostas a várias indagações, podemos sanar
desta forma, uma relação estreita entre jogo e
dificuldades de aprendizagem, bem como
aprendizagem.
interagirmos com nossos semelhantes.
A importância do brincar para o
O brincar permite aprender a lidar com as
desenvolvimento integral do ser humano nos
emoções. Por meio das brincadeiras, a criança
aspectos físico, social, cultural, afetivo,
equilibra os conflitos gerados de seu mundo
emocional e cognitivo, faz se necessário
cultural, formando sua subjetividade, sua
conscientizar os pais, educadores e sociedade
marca pessoal e sua individualidade.
em geral sobre à ludicidade que deve estar
Segundo Kishimoto (2011, p.32), “ao
sendo vivenciada na infância, ou seja, de que o
atender necessidades infantis, o jogo tornar-se
brincar faz parte de uma aprendizagem
forma adequada para a aprendizagem (...)”.
prazerosa não sendo somente lazer, mas sim,
Brincar desenvolve os músculos, a mente, a
um ato de aprendizagem.
socializa, desenvolve a coordenação motora e
Neste contexto, o brincar na educação
além de tudo deixa qualquer criança feliz.
infantil proporciona a criança estabelecer
Podemos dizer que brincar é uma
regras constituídas por si e em grupo,
necessidade interior tanto da criança quanto do
contribuindo na integração do indivíduo na
adulto. Por consequência a necessidade de
sociedade. Deste modo, à criança estará
brincar é inerente ao desenvolvimento.
resolvendo conflitos e construindo hipóteses
• Por que brincar?
de conhecimento e, ao mesmo tempo,
O brincar é importante porque incentiva a
desenvolvendo a capacidade de compreender
utilização de jogos e brincadeiras. No brincar
pontos de vista diferentes, de fazer-se entender
existe necessariamente, participação e
e de demonstrar sua opinião em relação aos
engajamento, com ou sem brinquedo, sendo
outros. É importante perceber e incentivar a
uma forma de desenvolver a capacidade de
capacidade criadora das crianças, pois está se
manter- se ativo e participante.
constitui numa das formas de relacionamento e
É importante a criança brincar, pois ela irá se
recriação do mundo, na perspectiva da lógica
desenvolver per por relações cotidianas, a e
infantil.
assim vai construindo sua identidade, a imagem
Objetivamos analisar a importância do
de si e do mundo que a cerca.
brincar na Educação Infantil, pois, segundo os
Para Cunha (1994), brincando a criança
autores pesquisados, este é um período
desenvolve suas potencialidades. Os desafios
fundamental para a criança no que diz respeito
que estão ocultos no brincar fazem com que a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

criança pense e alcance melhores níveis de desenvolver a motricidade, a atenção e a


desempenho. Por intermédio do brincar a imaginação de uma criança, brincando com ela.
criança prepara-se para aprender. O lúdico é o parceiro do professor.
Quando brincamos exercitamos nossas O professor é quem cria a oportunidade para
potencialidades, provocamos o funcionamento que o brincar aconteça de uma maneira sempre
do pensamento, adquirimos conhecimento educativa.
sem estresse ou medo, desenvolvemos a Pode- se afirmar que o brincar, enquanto
sociabilidade, cultivamos a sensibilidade, nos promotor da capacidade da potencialidade da
desenvolvemos intelectualmente, socialmente criança, deve ocupar um lugar especial na
e emocionalmente. prática pedagógica, tendo como espaço
Assim também ocorre com as crianças: elas privilegiado a sala de aula. A brincadeira e o
mostram que são dotadas de criatividade, jogo precisam vir à escola.
imaginação e inteligência. Desenvolvem Muito pode ser trabalhado a partir de jogos
capacidades indispensáveis a sua futura e brincadeiras contar e ouvir histórias,
atuação profissional, tais como atenção, dramatizar, jogar com regras, desenhar é uma
concentração e habilidades psicomotoras todo infinidade de outras atividades constituem
aprendizado que o brincar permite é meios prazerosos de aprendizagem.
fundamental para a formação da criança, em Santos (1997), afirma: “Brincar é a forma
toda as etapas da sua vida. mais perfeita par perceber a criança e estimular
• Brincando na escola o que ela precisa aprender e se desenvolver.”
Hoje o brincar nas escolas está ausente não É necessário apontar para o papel do
havendo uma proposta pedagógica que professor na garantia e enriquecimento da
incorpore o lúdico como eixo do trabalho brincadeira como atividade social do universo
infantil. infantil. As atividades lúdicas precisam ocupar
É rara a escola que insiste neste aprendizado. um lugar especial na educação. Entendendo
A escola simplesmente esqueceu a brincadeira. que o professor é figura essencial para que isso
Na sala de aula ou ela é utilizada com um papel aconteça, criando os espaços, oferecendo
didático, ou é considerada uma perda de materiais adequados e participando de
tempo. momentos lúdicos. Agindo desta maneira, o
Algumas escolas já estão valorizando o professor estará possibilitando as crianças uma
brincar. Estão levando cada vez mais as forma de assimilar a cultura e modos de vida
brincadeiras, os jogos e os brinquedos para a adultos, de forma criativa, prazerosa e sempre
sala de aula. participativa.
Os professores, aos poucos, estão buscando Devemos ter espírito aberto ao lúdico,
informações e enriquecendo suas experiências reconhecer a sua importância enquanto fator
para entender o brincar e como utilizá-lo para de desenvolvimento da criança. Seria
auxiliar na construção do aprendizado da importante termos na sala de aula um cantinho
criança. Quem trabalha na educação de com alguns brinquedos e materiais para
crianças deve saber que podemos sempre brincadeiras. Na verdade, qualquer sala de aula

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disponível é apropriada para as crianças criança, indo muito mais além de uma intenção
brincarem. educativa.
Também merece destaque as confecções dos Imaginando e fantasiando a criança irá
brinquedos. Podemos ensinar as crianças a vivenciar os desafios que instigará a sua
confeccionar brinquedos, o que ocorre curiosidade e será mais criativo.
geralmente nas escolas é que o trabalho de As atividades lúdicas deveriam ser alvo de
construir brinquedos com sucatas fica restrito planejamento, na descoberta do aprender, pois
somente ás aulas de arte, enquanto os quando a criança brinca ela reorganiza
professores poderiam desenvolver também pensamentos e emoções.
este trabalho nas áreas de teatro, música, A tendência atual na educação é não perder
ciências, etc., promovendo a integração dos de vista o lúdico. Atividades prazerosas já fazem
diferentes conhecimentos que são trabalhados. parte do dia-a-dia das crianças. As crianças
A sucata é um recurso, mostra-se como lixo comunicam-se por meio do brincar e por meio
e, depois transforma-se em algo, passa a ser um dele tornam-se cooperativos.
objeto expressivo e um possível brinquedo. O brincar é uma ferramenta para se chegar
É necessário que, desde a pré-escola, as ao desenvolvimento integral da criança, não é
crianças tenham condições de participarem de possível conhecer a escola apenas como
atividades que deixem florescer o lúdico. mediadora de conhecimentos, e sim como um
Quanto mais a criança participar de atividades lugar de construção coletiva do saber
lúdicas, novas buscas de conhecimento se organizado no qual professores e alunos a
manifestam, seu aprender será sempre mais partir de suas experiências, possam criar, ousar,
prazeroso. buscar alternativas para suas práticas, ir além
A relação entre a brincadeira e o do que está proposto, inovar.
desenvolvimento da criança permite se que se
conheça com mais clareza importantes funções BRINQUEDO
mentais, como o desenvolvimento do
Segundo Brougère (2010), brinquedo é:
raciocínio, da linguagem.
produto de uma sociedade dotada de traços
É preciso que o professor se coloque como
culturais específicos [...] é menos uma
participante acompanhado todo o processo,
representação do real que o espelho da
mediando os conhecimentos por meio da
sociedade, quer dizer das relações entre
brincadeira, do jogo e outras atividades.
crianças e adultos. Não condiciona a ação da
É por meio do brincar que a criança vai
criança [...], trata‐se antes de tudo, de um
diferenciando seu mundo interior do seu
objeto que a criança manipula livremente,
exterior, que é a realidade por todos
sem estar condicionado a regras ou princípios
compartilhada. Cada criança expressa os seus
de utilização de outra natureza [...] ele é
desejos fantasias vontades e conflitos. Faz- se
também um objeto de investimento afetivo, de
necessário que o professor estabeleça entre o
exploração e de descoberta, sem se inserir
prazer, o brincar e aprender. O correrá uma
num comportamento lúdico. É o suporte para
estimulação da imaginação e da fantasia da
a brincadeira (BROUGÉRE, 2010. p. 7).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Brinquedos e seus mistérios brinquedo, é muito mais difícil realizar uma


Qual o objetivo principal de um brinquedo? brincadeira, pois é ele que faz com quem as
Segundo Vygotsky (1984), “o brinquedo tem crianças simulem situações.
um papel importante, preenche uma atividade O brinquedo não é apenas um objeto que as
básica da criança, ou seja, ele é um motivo para crianças usam para se divertirem e ocuparem o
ação.” seu tempo, mas é um objeto capaz de ensina-
O brincar envolve regras, que embora nem los e torna-los felizes ao seu tempo.
sempre definidas, se originam da imaginação, • O brincar e a matemática
mostrando que o papel que a criança Na Educação infantil, várias noções
representa e a sua ligação com o objeto serão matemáticas são desenvolvidas pela criança ao
originados sempre nas regras que a criança brincar. Essas brincadeiras devem ser
mesmo cria. propostas em grupo, seguindo e respeitando
Devido a emancipação do processo de cada fase da criança e utilizando brinquedos
industrialização, os brinquedos tornaram-se que façam parte da cultura familiar da mesma.
sofisticados, diversificados e foram perdendo o Ensinar por meio de jogos é um bom começo
vínculo com a simplicidade e o primitivo. para o professor desenvolver aulas mais
Ponto que também merece atenção e em interessantes, descontraídas e dinâmicas,
relação ás partes externas, de construção dos podendo competir em igualdade de condições
brinquedos. É importante que sejam fortes para com os inúmeros recursos que o aluno tem
não desapontar a criança, quebrando logo que acesso fora da escola, despertando ou
ela começa a brincar com eles. Se forem frágeis, estimulando sua vontade de frequentar
poderão abalar a segurança da criança e assiduamente a sala de aula e incentivando seu
constranger sua vontade de experimentá-los. envolvimento no processo ensino
O brinquedo é um meio de demonstrar as aprendizagem, já que aprende e se diverte, ao
emoções e criações da criança. No brinquedo o mesmo tempo.
modo de pensar e agir de uma criança são Existem várias propostas de brincadeiras,
diferentes do modo de pensar e agir de um que o professor pode para trabalhar noções
adulto. Isso acontece quando as crianças, por matemáticas, nas quais as crianças podem
exemplo, desconsideram brinquedos mais explorar ambientes diversos, lidar com
caros e sofisticados e se apegam a outros mais situações problemas, destacando ainda que os
simples, e que as vezes elas mesmas fabricam. jogos com regras constituem-se importante
Os brinquedos são parceiros silenciosos que desafio para as crianças.
desafiam as crianças, eles permitem que as Dificilmente um professor de matemática
crianças experimentem importantes funções deixaria de ressaltar o valor das atividades
mentais, como o desenvolvimento do raciocínio físicas para dar destaque ao papel de sua
abstrato e da linguagem. disciplina na formação das crianças,
É verdade que o brinquedo é apenas suporte apresentando o quanto pode ser importante à
para a brincadeira, e é possível brincar com motricidade para o desenvolvimento da
imaginação. Mas é verdade também que sem inteligência (FREIRE, 2002, p.182).

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A matemática pode ser adaptada à aula de Definindo o homem não como "Homem
Educação Física. E será de grande proveito, pois Sapiens" e sim como "Homo Ludens", considera
a criança desenvolverá a matemática de uma o jogo como: "Toda e qualquer atividade
maneira mais dinâmica e alegre. Para ela, o humana. [...] e Homo Ludens. O jogo é uma
aprender será uma grande alegria. “É bom para realidade original, uma das noções mais
a criança aprender a contar, ler e escrever em primitivas e enraizadas na realidade humana,
numerais, mas é muito mais importante que ela sendo que do jogo nasce a cultura.
construa a estrutura mental do número” O jogo pode dar-se fora da cultura, pois
(FREIRE, 2002, p.185). existe antes da cultura humana, visto
O professor deve ter consciência de seu encontrar-se também entre os animais,
papel na formação do indivíduo e, assim, (HUIZINGA, 2001), Homo Sapiens - classificação
contribuir para a formação do pensamento biológica, à origem da espécie humana. Do
científico. Latim, para homem sábio, racional.
Para que a criança concretize o raciocínio Para Huizinga, jogo é:
lógico matemático é importante que o docente uma atividade ou ocupação voluntária,
estimule e proporcione diferentes maneiras de exercida dentro de certos e determinados
“brincar” com a Matemática, com isso ocorrerá limites de tempo e espaço, segundo regras
a assimilação entre pensamento e ação. livremente consentidas, mas absolutamente
As situações problemas para melhor obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo,
exploração das atividades lúdicas podem acompanhado de um sentimento de tensão e
ocorrer por meio de uma intervenção oral com alegria e de uma consciência de ser diferente da
questionamento ou pedidos de justificativas de vida cotidiana (HUIZINGA, 2001. p. 33).
uma jogada que está acontecendo, uma De acordo com Orlick (1978):
remontagem de um momento do jogo, ou Os jogos são reflexos da sociedade em que
ainda, um registro escrito. vivemos, mais também servem para criar o que
No trabalho com os alunos, é interessante é refletido. Muitos valores importantes e
propor, sempre que possível e adequado à modos de comportamentos são aprendidos por
idade, diferentes possibilidades de análises, meio das brincadeiras e dos jogos esportivos
apresentando novos obstáculos a serem (ORLICK,1978, p.23).
superados. Desta forma o jogo não apresente apenas as
experiências vividas, mas prepara o indivíduo
para o que está por vim, pois exercita
habilidades e, principalmente estimula o
convívio social. Por isso, ressaltamos o grande
JOGOS E BRINCADEIRAS NA valor educativo do jogo e a importância de se
trabalhar esse conteúdo nas escolas, de uma
EDUCAÇÃO/ EVOLUÇÃO E forma comprometida com a formação física,
HISTÓRIA intelectual, moral e social do aluno.
• Contribuições dos Jogos na Educação

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Vamos refletir sobre os motivos que levam as por pesquisadores e educadores são muitas
crianças a dedicarem grande parte de seu vezes, negligenciado no universo escolar, sendo
tempo ao jogo, à brincadeira. Pesquisamos substituído por tarefas “mais sérias”,
sobre como é importante os jogos na Educação enfatizando-se, excessivamente, a aquisição do
Infantil e na prática pedagógica do professor de saber sistematizado como única finalidade da
crianças de 3 anos. Para isto, as contribuições educação.
de Piaget,(1974), Vygotsky(1995), entre outros Este é um pensamento equivocado, afinal a
pensadores da Educação apresentam atividade lúdica é importante aliada no
experiências concretas na realidade que processo de aprendizagem, influenciando a
permitem uma perspectiva em que se priorizam parte intelectual, emocional e corporal da
na Educação Infantil as bases primeiras da criança, levando-a a liberdade de expressão,
formação para a cidadania, percebendo-se a mesmo porque a ação é algo inerente ao
criança como ser humano pleno. homem desde o seu nascimento, e é por meio
Para atuar na Educação Infantil é necessário dela que ele se desenvolve, experimenta,
conhecer as crianças, suas características e seus organiza a sua realidade interna e o seu mundo
direitos, conhecer a metodologia própria para externo. Mostra a sua preocupação e a
atuar com mediador, bem como a legislação capacidade em como sobreviver, ter prazer,
que possibilite a formação de um cidadão na resolver problemas e se relacionar.
atualidade e que respalde um verdadeiro A educação, enquanto área do
trabalho pedagógico na Educação Infantil. conhecimento refere-se à experiência da ação
Associar à educação da criança a brincadeira como fator fundamental ao desenvolvimento
não é algo novo. As brincadeiras são de habilidades e à aprendizagem. Nela pode-se
experiências que ajudam as crianças, tanto no citar Piaget, que considera a criança como um
sentido de recreação como no de aprender ao ser que se desenvolve a partir de sua ação sobre
mesmo tempo. o mundo e da interação com o meio físico e
A relação entre brincadeiras e a educação social. Para ele “o desenvolvimento psicológico
são antigas, Gregos e Romanos já falavam da não é dado à criança, naturalmente, ao nascer.
importância do jogo para educar a criança. É ela que irá construir, ativamente, seu
Portanto a partir do século XVIII, percebe-se a desenvolvimento, a partir do crescimento
necessidade de se expandir a imagem da orgânico (da maturidade neurológica e
criança como ser distinto do adulto: o brincar fisiológica), das experiências que vivência
destaca-se como típico da idade. quando interage com o ambiente físico e social
O maior desafio da Educação Infantil e de e de atividades internas denominadas
seus profissionais está em compreender, equilibração”. Freinet (1975), por meio da
conhecer o jeito particular das crianças serem e pedagogia pelo trabalho, também aponta que é
estarem no mundo. a “ação” a base para a construção do
As relações entre brincadeira, pensamento e para e desenvolvimento
educação e o desenvolvimento global da intelectual.
criança são antigas. Embora seja reconhecido Para Kishimoto (1994):

1205
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Afirma que quanto mais se permite à criança aprendizado e criar espaço para a construção
explorar, mais ela está perto do brincar. O das atitudes necessárias ao pleno exercício da
brinquedo será entendido sempre como cidadania.
objeto, suporte de brincadeira, brincadeira Contrapondo-se a estes, outros
como a descrição de uma conduta estruturada, pesquisadores assumem uma postura
com regras e jogo infantil para designar tanto o essencialista, e defendem o lúdico enquanto
objeto como as regras do jogo (KISHIMOTO lúdico, dissociado de objetivos instrucionais,
1994, p.7). enfatizando o resgate do prazer, do lazer;
Neste contexto, a ação infantil é traduzida enxergando nessa ação uma possibilidade de
pelo brincar, que tem como um dos principais transformação e construção de novos saberes e
elementos a fantasia. Ao realizá-la a criança cria de uma nova realidade social.
uma realidade paralela, diferente da vida
cotidiana, na qual o lúdico se processa, é o
mundo do “faz-de-conta” presente nas
experiências infantis. O termo lúdico vem da
palavra latina “ludo”, que significa jogo,
divertimento. Uma teoria quanto à sua função
é de um treinamento para o desenvolvimento
da inteligência, adquirida de forma prazerosa e
descontraída. Assim, o brincar é próprio do ser
humano, e tal postura se manifesta de forma
marcante nas crianças.
O lúdico mostra-se como uma das mais
eficazes formas de ensino, de transmissão de
valores culturais, porém a maior divergência
relaciona-se quanto ao emprego de atividades
lúdicas na educação envolvendo diretamente
ou não indiretamente na ação docente.
Há pesquisadores que defendem o lúdico
como mediador no processo de ensino-
aprendizagem, como elemento catalisador.
Para estes, a adoção de uma postura lúdica
(brincadeiras, poesias, histórias, músicas,
jogos), associada a objetivos instrucionais serve
para desenvolver comportamentos que
propiciam a formação de estruturas cognitivas,
psicomotoras e afetivas, capazes de dar suporte
e embasamento aos conhecimentos formais,
além de estimular habilidades para o

1206
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível perceber que a atividade lúdica e o jogo intervêm no aprendizado da criança
na sala de aula. O jogo é agradável, motivador e enriquecedor, possibilitando o aprendizado de
várias habilidades e também auxiliando no desenvolvimento mental, na cognição e no raciocínio
infantil. A ludicidade precisa ser trabalhada por todos os professores, independente da disciplina
que atuam, dentro e fora da sala de aula.
A ludicidade, quando usada de maneira correta, serve como um meio de crescimento
individual e coletivo, auxiliando o educador. Destaca-se também, que para realmente acontecer
a ludicidade nas salas de aula é necessário termos professores preparados e conscientes de seu
papel como educador. Para isso, os profissionais da educação devem ter acesso a cursos
formadores com bases curriculares instrumentalizadas pelo lúdico, afim de que, bem preparados,
possam desempenhar seu papel com segurança e, assim, obter melhores resultados.
Nesse sentido, a ludicidade deve ser um suporte proporcionando uma reflexão contínua
sobre sua prática e sobre como acontece o desenvolvimento infantil, pois que o lúdico faz parte
da vida da criança já sabemos. O importante é sabermos como utilizar esta sabedoria infantil em
prol de um processo de ensino-aprendizagem com qualidade e eficácia. Já não é mais valorizado
o professor que desconhece as necessidades e expectativas das crianças quanto ao seu modo
particular de se apropriar do processo de conhecimentos.
Sabemos que o desenvolvimento humano passa por diversas fases e desta forma precisa
vivenciá-la intensamente cada uma no seu tempo abstraindo dela o que lhe é significativo para o
seu pleno desenvolvimento.
O tema lúdico é muito amplo e complexo, enquanto professoras pesquisadoras
percebemos que é impossível falar do lúdico sem pensar no sujeito enquanto protagonista deste
espaço, neste caso a criança.

1207
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 9ª edição. São
Paulo: Loyola, 1998.

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creche. In: OLIVEIRA, Zilma de M.R. DE (org.) Educação Infantil: muitos olhares. São Paulo:
Cortez, 1994.

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1999, p. 16.

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Alegre, 12 (46): 36-40, abr./jun. 1996.

MACHADO, Marina Marcondes. Atividades e materiais O brinquedo-sucata e a criança:


Importância do brincar. São Paulo: Edições Loyola, 1989, p. 27.

NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. VOL. 2, Perspectivas


psicopedagógicas. Porto Alegre: Prodil, 1994.

OLIVEIRA, Zilma de M.R. de. Jogos de Papéis: uma perspectiva para a análise do
desenvolvimento humano. Tese de doutorado, São Paulo: IPUSP, 1988.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Pensar a educação: contribuições de Vygotsky. São Paulo: Editora
Ática, 1998.

REGO, Tereza Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação.


Petrópolis: Vozes, 1995, p. 83.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. Colaboradores José


Augusto de Souza Perez... (et al.). 3ª ed – 12 reimp – São Paulo: Atlas, 2011.

SANTOS, Marli Pires dos Santos (org.). Brinquedoteca: O Lúdico em diferentes contextos.
11 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

SANTOS, Marli Pires dos Santos (org.). O Lúdico na Formação do Educador. 7 ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

1208
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO


INFANTIL
Karina Gomes Alves Cardoso1

RESUMO: Os jogos e as brincadeiras são as atividades importantes na Educação infantil. Na


Educação está pratica sempre estive ligada às atividades lúdicas, fundamentais na formação das
crianças e verdadeiras facilitadoras dos relacionamentos e das vivências dentro da sala de aula.
Atividades lúdicas são aquelas que promovem a imaginação a participação ativa principalmente,
as transformações do sujeito em relação ao seu objeto de aprendizagem. O caráter de integração
e interação contido nas atividades lúdicas fez com que a Educação Infantil utilizasse desse meio
constantemente em suas atividades para integrar o conhecimento com a ação prática dos nossos
educandos.

Palavras-Chave: Jogos; Brincadeira; Educação Infantil.

1Professora de Educação Infantil e Fundamental I na Rede Municipal de Educação de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagoga.
E-mail karinagacardoso@gmail.com

1209
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Sabemos que Piaget (1976), aborda e


valoriza, em suas fases de desenvolvimento da
O consenso encontrado em vários textos de inteligência na criança, os tipos de jogos mais
autores da Educação, ao que se refere ao jogo adequados para cada uma dessas fases. E isto é
e as brincadeiras diz ser indispensável no ato de verdadeiro: o jogo é diferente para cada idade,
aprender e ensinar de forma vivencial. cultura e meio, para a comunidade a qual está
Referindo-se às crianças, os autores são inserida.
unânimes quando dizem que o jogo é a base Vygotsky (1984), apesar de não ter se
epistemológica da Educação, o Brincar, jogar, dedicado ao estudo específico do
criar, recriar, relacionar, viver, imaginar e desenvolvimento infantil, tem muitas
aprender. contribuições que podem ser usadas na
Desde os primeiros anos de vida, os jogos e educação dessas crianças. Ele afirma, por
as brincadeiras são nossos mediadores na exemplo, que os fatores biológicos são
relação com as coisas do mundo, aprendemos a predominantes sobre os sociais no início do
nos relacionar com o mundo por meio dos jogos desenvolvimento humano. E, pouco a pouco, a
e brincadeiras. Por esse motivo, o jogo tem um integração social torna-se fundamental para o
papel de fundamental na Educação Infantil, desenvolvimento do pensamento. E assim a
pois é a base do desenvolvimento cognitivo e criança é introduzida no mundo adulto pelo
afetivo do indivíduo. O jogo possui aspectos jogo e sua imaginação (estimulada por meio
fundamentais para a aprendizagem racional e dos jogos) pode contribuir para expansão de
emocional. suas habilidades conceituais.
Ao acompanharmos a evolução das Mas qual a importância do jogo no processo
pesquisas sobre o jogo, o brincar e o brinquedo educacional em sala de aula?
no universo infantil, encontramos os O jogo é muito importante porque promove
fascinantes pensamentos de Piaget (1976) e a aprendizagem, seja ela
Vygotsky (1984). Nos textos desses autores, informal ou formal. O jogo, o brincar e a
encontramos muitos fatores que aproximam brincadeira acontecem dentro e fora da escola.
um do outro, e isso desmistifica a ideia de que Quando propomos um jogo, além dos
temos de seguir uma linha na Educação. objetivos cognitivos a serem alcançados,
Voltando à questão do jogo, Piaget (1971), esperamos que nossas crianças sejam capazes
ilustra muito bem o seu caráter abrangente e de:
imaginativo: • respeitar limites :desenvolver hábitos e
quando brinca, a criança assimila o mundo à atitudes, respeitar o outro, melhorar o
sua maneira, sem compromisso com a comportamento social, trabalhar a competição
realidade, pois sua interação com o objeto não como parte e não como essência do jogo (saber
depende da natureza do objeto, mas da função perder e ganhar);
que a criança lhe atribui (PIAGET, 1971, p. 97). • socializar –aprender a viver e conviver
em sociedade, criando vínculos verdadeiros
com os colegas, ampliando o sentimento de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

grupo, gerando um ambiente de colaboração e transformação cultural das últimas gerações,


cooperação, promovendo relações de Essas modificações culturais afetaram as
confiança entre todos os participantes; crianças, que foram as mais atingidas pela troca
• criar e explorar a criatividade –o jogo de paradigmas proposta pela modernidade:
proporciona o desenvolvimento do A criança também é educada pela mídia,
pensamento criativo, e desse modo nossos principalmente pela internet e televisão.
alunos podem inovar e descobrir formas para Aprende a informar-se, a conhecer os outros, o
se relacionarem com a aprendizagem; mundo, a si mesma, a sentir, a fantasiar, a
• interagir –criar uma real interação relaxar, vendo, ouvindo, “tocando” as pessoas
envolvendo o sujeito e o objeto de na tela, pessoas estas que lhe mostram como
aprendizagem, de forma alegre e lúdica, viver, ser feliz e infeliz, amar e odiar. A relação
gerando vetores em todos os sentidos; com a mídia eletrônica é prazerosa, ninguém
• aprender a pesquisar (aprender a obriga que ela ocorra; é uma relação feita por
aprender)–desenvolver nos educandos o gosto meio da sedução, da emoção, da exploração
pela busca, pela iniciativa e pela tomada de sensorial, da narrativa aprendemos vendo as
decisões. histórias dos outros e as histórias que os outros
E a partir do jogo e da brincadeira o educador nos contam. Mesmo durante o período escolar
deverá estar consciente dos objetivos que a mídia mostra o mundo de outra forma mais
deseja atingir e a relação da atividade proposta fácil, agradável, compacta sem precisar fazer
com os mesmos. A observação da participação esforço. Ela fala do cotidiano, dos sentimentos,
da criança durante a brincadeira poderá ser de das novidades. A mídia continua educando
grande valor para o processo pedagógico. como contraponto à educação convencional,
Consequentemente, à estruturação do educa enquanto estamos entretidos (MORIN,
conhecimento. Caberá ao educador propiciar a 2000, p. 30).
utilização dos jogos e brincadeiras, de tal forma Pensando então sobre esta nova criança.
que possibilite à criança descobrir, vivenciar, Lembramos que ela possui importantes
modificar e recriar. características, tornando-a diferente das
crianças do passado, ela não para de mudar e
A NOVA GERAÇÃO transformar-se completamente com o uso das
mídias em casa e na escola. Este cenário
Quando nos referimos a Educação Infantil,
ampliou as diferenças e gerou nessa nova
nos referimos principalmente as crianças. Elas
criança características fundamentais: hoje ela
são o foco, a razão, a causa e o efeito de nosso
está aprendendo a aprender sozinha, a
trabalho. Mas como entender as crianças dessa
interagir e construir conhecimentos a partir da
nova geração? A saída é conhecer esta nova
pesquisa e de acordo com seus próprios
criança e as características específicas que a
interesses.
tornam um ser único e não um pequeno adulto.
Os educadores normalmente decidem sobre
A televisão e a internet foi certamente as
o que as crianças gostam, pensando e
grandes ferramentas dos últimos tempos, a
planejando atividades sem ouvir a opinião
responsável direta pela formação e a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

delas, cometendo erros de julgamento e


avaliação, distanciando conteúdos e ideias da
realidade e do interesse das crianças. Outras
vezes, é utilizado como referência um modelo
de infância ultrapassado, são propostas de
atividades que não causa interesse e nem a
participação ativa de todos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante conhecer e ingressar no mundo das crianças, para que possamos planejar e
propor atividades e interações que realmente promovam a participação e a integração.
Mas como fazer isso?
A resposta para essa pergunta está em saber ouvir as crianças. Ouvi-las com um ouvido
atento, sem usar o papel de educador como uma forma de imposição de ideias. Isso significa
facilitar ao invés de dirigir, e estar atento ao que passa ao nosso redor de maneira aberta e ampla.
Sempre que usar um jogo ou atividade em sua sala de aula, é fundamental observar o jogo
sob o ponto de vista dos alunos e realizar as alterações necessárias para estar na mesma “língua”
das crianças tornando a aprendizagem um momento prazeiroso.

1213
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
Haetinger, Daniela; Günther Max. Jogos, brinquedos e brincadeiras. 1. ed. Curitiba, PR :
IESDE Brasil, 2013.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Brasil: Cortez, 2000.

MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas
Tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas: Papirus, 2000.

PIAGET,JEAN. Psicologia e Pedagogia. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1976.

VYGOTSKY,Lev.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1984

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO INFANTIL:
JOGOS E BRINCADEIRAS
Joyce Barbosa dos Santos Lima1

RESUMO: O objetivo do presente trabalho é apontar e destacar a importância das brincadeiras e


dos jogos no processo ensino aprendizagem. A brincadeira na Educação Infantil é uma importante
ferramenta lúdica, no entanto, na visão da maioria dos pais e professores desatualizados, a
mesma é tratada como algo irrelevante, e o impacto disso pode afetar todas as etapas na vida
educacional da criança. A criança na sociedade moderna assume uma identidade própria e é
reconhecida como um indivíduo que possui desejos, anseios, dificuldades e emoções. À criança
cabe o brincar, como sendo uma prática inata e inseparável da infância. A infância é a idade dessas
brincadeiras e por meio dela a criança se satisfaz como um ser individual, independentemente da
idade. Reconhecer a importância da brincadeira, e dos jogos no desenvolvimento infantil é
fundamental para a organização de práticas pedagógicas e a aplicação metodologias no processo
de ensino-aprendizagem. Considerando que o brincar é mais que uma necessidade da criança, um
direito, é necessário que as instituições de ensino infantil organizem o tempo de acordo com as
características das crianças, buscando a valorização da brincadeira em seus espaços.

Palavras-Chave: Brincar; Brincadeira; Jogos; Lúdico; Educação Infantil.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Ludopedagogia.
E-mail: joycebsl@yahoo.com.br

1215
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A brincadeira é entendida como uma


atividade universal, presente nos diferentes
A sociedade moderna adentra o século XXI grupos humanos em diferentes épocas e
com grandes avanços nos campos essenciais da períodos históricos, em diferentes aspectos
vida cotidiana, a comunicação, a tecnologia, econômicos e culturas.
maiores ofertas de emprego e maiores A infância é a idade dessas brincadeiras e da
desenvolvimentos educativos. busca por trocas, interações e apropriações.
Todo esse avanço que cerca a vida cotidiana Por meio dela, a criança se satisfaz como um ser
também traz consequências, o crescente uso de individual e que possui desejos pessoais,
tecnologias também por crianças tem independentemente da idade.
diminuído a quantidade de espaços destinados A infância vem sofrendo um encurtamento
à brincadeiras comuns da infância. de duração devido à grandes alterações, que
Assim, o planejamento urbano esqueceu-se traz a adolescência muito mais rápida, e o
de jardins, praças e parques, transformando brincar passa a ter significados diferentes.
quase tudo em concreto. Os espaços tornaram- As crianças brincam o tempo todo e em
se violentos, impedindo o acesso de crianças e qualquer lugar. Não é raro ver adultos
famílias que nelas passeavam e levavam seus literalmente correndo atrás delas, buscando
filhos para brincar e desfrutarem das um jeito de limitá-las em seus movimentos,
brincadeiras. ruídos, fala, etc., demonstrando uma
Assim também as casas perderam seus imobilização social que é imposta, tratando a
quintais para compactos apartamentos; as atitude de brincar como bagunça e desordem
mães que participavam da maioria das (NAVARRO, PRODOCIMO, 2012).
brincadeiras dos filhos, passaram a ter menos
tempo por conta do mercado de trabalho e suas
POR QUE A CRIANÇA PRECISA
carreiras profissionais cada vez mais exigentes
(MAGNANI, 1998). BRINCAR
Ainda que a criança tenha O brincar tem uma natureza que ultrapassa a
comprometimentos mentais e físicos para fantasia, para uma criança o brincar é uma
brincadeiras, possuem condições de descoberta do mundo á sua volta por meio de
desenvolvimento dessas brincadeiras, contudo seus sentidos, é uma zona de desenvolvimento
necessitam de espaços adequados. proximal, uma maneira de internalizar as regras
Jogos, brincadeiras e brinquedos são sociais, um processo de desenvolvimento
próprios da criança e marcam a infância. humano.
Entretanto essa afirmação só é possível graças É de suma importância que professores e
à visão social de que brincar é uma atividade pais deixem as crianças livres para conhecerem
inata. Desta forma, sempre que se pensa em novas experiências, e aceitarem novos desafios
criança faz-se referência à brincadeira ou ao que surgem no decorrer de cada brincadeira e
brinquedo. jogos, pois são elementos fundamentais para o
desenvolvimento de uma criança. Motiva o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

autoconhecimento, a criança irá conhecer seus Na Educação Infantil, o brincar é de suma


limites e potenciais, encoraja suas importância para o desenvolvimento completo
competências socioemocionais, sendo uma da criança, em seu aspecto afetivo, social,
necessidade biológica, fortalecendo suas cultural, físico, emocional e cognitivo, tornando
relações socioafetivas, por meio das a vivência em grupo expressiva no processo
brincadeiras a criança cria uma superação em ensino aprendizagem.
relação a frustração em perder um jogo, isso irá A brincadeira por ser uma linguagem infantil,
auxilia-lá a se adequar a realidade do dia a dia, possui uma ligação com a imaginação das
sabendo lidar com certas decepções do crianças, e com a realidade que cada uma
cotidiano,ensina o respeito ao outro e conviver vivencia, ou seja, ocorre uma junção da
com as diferenças, desenvolve a atenção e o imaginação e da realidade. Por meio da
autocontrole,estimula o trabalho em equipe, as brincadeira a criança faz o intermédio da teoria
brincadeiras e jogos são ótimas ferramentas á prática, facilitando seu entendimento nos
para o convívio, cooperação, limites, respeito, aspectos sociais (culturais, ambientais,
essenciais para o futuro das crianças, por fim comportamentais, etc.), consequentemente
promove a criatividade e a imaginação. aprimorando e ampliando seus conhecimentos.
Segundo Wajskop (1995), estudiosa das Quando uma criança brinca, tudo a sua volta
ideias de Vygotsky (1994). ganha outro sentido, diferente da realidade, ao
A criança desenvolve-se pela experiência brincar, transformam os acontecimentos que
social, nas interações que estabelece, desde lhes deram origem as brincadeiras.
cedo, com a experiência sócio-histórica dos O documento Referencial Curricular para a
adultos e do mundo por eles criado. Dessa Educação Infantil (1998), relata a importância
forma, a brincadeira é uma atividade humana no desenvolvimento da criança, destacando:
na qual as crianças são introduzidas A brincadeira favorece a autoestima das
constituindo-se em um modo de assimilar e crianças, auxiliando-as a superar
recriar a experiência sociocultural dos adultos. progressivamente suas aquisições de forma
(WAJSKOP, 1995, p.25). criativa. Brincar contribui, assim, para a
O brincar é um exercício do modo de ser interiorização de determinados modelos de
adulto, assim, a perspectiva do brincar é um adultos, no âmbito de grupos sociais diversos.
instrumento de construção do conhecimento, Essas significações atribuídas ao brincar
que prepara o sujeito para enfrentar as transformam-no em um espaço singular de
adversidades da vida social adulta. constituição infantil (BRASIL,1998, s.p).
O brincar é essencial como meio de É necessário proporcionar diversos
comunicação dos bebês e das crianças, é por momentos para que as crianças brinquem, mas
meio desse momento da brincadeira que elas é indispensável que professores e pais
podem reproduzir as suas vivencias. Quando colaborem de outras formas, entre elas é ser
brincam facilitam a aprendizagem, criam um bom exemplo, pois como mencionamos
autonomia e convivem com outras crianças. anteriormente, a criança se espelha no adulto e
em sua realidade, faz se necessário, que ambos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mostrem para as crianças, que o brincar é algo todos brincam seja criança como o adulto
atrativo e divertido, chamando dessa forma a também, com o passar do tempo se tornou algo
atenção das mesmas, e participando de sua individual, sendo as brincadeiras antigas
imaginação. deixadas de lado, quando não eram extintas,
Piaget diz “a criança não se limita a realizar ocorriam modificações na sua execução
uma simples réplica do modelo, a atividade (FRIEDMAM, 1998).
lúdica é muito mais rica, pois, permite um Para Friedmam (1998), cada geração de
contínuo criar e recriar e, acima de tudo, um crianças transforma brincadeiras antigas, ao
representar, dos processos esses que mesmo tempo as suas próprias específicas.
constituem a base do significado” (apud, A brincadeira deve ser levada com seriedade,
CARNEIRO, 2003,p.50). pois, é importante para a saúde física,
intelectual e emocional do indivíduo
O BRINCAR (FRIEDMAM, 1998).
Ao brincar a criança faz com que as coisas se
Brincar é uma das atividades fundamentais
tornem possíveis no mundo a sua volta, além de
para o desenvolvimento da identidade e da
trazer significados, expressando sentimentos e
autonomia. O fato de a criança, desde muito
lhe oferecendo conflitos (FRIEDMAM, 1998).
cedo, poder se comunicar por meio de gestos,
sons, e mais tarde representar determinado Brincar é uma atividade essencialmente
papel na brincadeira faz com que ela humana, principal modo de expressão da
infância. É marcada por um diálogo que o ser
desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as
humano estabelece consigo próprio, com o
crianças podem desenvolver algumas
capacidades importantes, tais como a atenção, outro ou com um ou mais objetos, não se
a imitação, a memória, a imaginação, restringindo, então, somente às brincadeiras
amadurecem também algumas capacidades de orientadas ou aos jogos de regras. É a
socialização, por meio da interação e da ferramenta por excelência para a criança
aprender a viver, revolucionar sua experiência
utilização e experimentação de regras e papéis
e criar cultura. Brincando, a criança se
sociais (BRASIL, 1998, p. 22).
humaniza e se constitui como sujeito histórico-
O brincar é uma atividade universal, desde
social (SÃO PAULO,2006, p. 45).
antigamente por variados grupos humanos.
Mesmo não havendo brinquedos, as crianças se Segundo a Secretaria Municipal de Educação
divertiam com os recursos que possuíam no (2006), a brincadeira representa a infância,
momento, como fazer carrinhos com carretel para tanto envolve a brincadeira, o brinquedo,
os jogos, proporcionando a interação e a
de linha, entre outros, utilizavam a imaginação,
comunicação, a forma de expressão.
a criatividade, criavam e recriavam meios de se
divertirem com o que tinha (FRIEDMAM, 1998). A brincadeira é uma linguagem infantil que
Com o passar dos anos, as brincadeiras se mantém vínculo essencial com aquilo que é o
modificaram, por meio da tecnologia, “não – brincar”. Se a brincadeira é uma ação
brinquedos foram criados, a cada dia ficando que ocorre no plano da imaginação isto implica
mais modernos. Assim, como antigamente que aquele que brinca tenha o domínio da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

linguagem simbólica. Isto quer dizer que é No faz-de-conta, as crianças aprendem a agir
preciso haver consciência da diferença em função da imagem de uma pessoa, de uma
existente entre a brincadeira e a realidade personagem, de um objeto e de situações que
imediata que lhe forneceu conteúdo para não estão imediatamente presentes e
realizar-se. Nesse sentido, para brincar é perceptíveis para elas no momento e que
preciso apropriar-se de elementos da realidade evocam emoções, sentimentos e significados
imediata de tal forma a atribuir-lhes novos vivenciados em outras circunstâncias. Brincar
significados. Essa peculiaridade da brincadeira funciona como um cenário no qual as crianças
corre por meio da articulação entre a tornam-se capazes não só de imitar a vida como
imaginação e a imitação da realidade. Toda também de transformá-la. Os heróis, por
brincadeira é uma imitação transformada, no exemplo, lutam contra seus inimigos, mas
plano das emoções e das idéias, de uma também podem ter filhos, cozinhar e ir ao circo
realidade anteriormente vivenciada (BRASIL, (BRASIL, 1998, p. 22).
1998, p. 27). O faz de conta proporciona à criança a
imitação, a utilização da imaginação, da
O FAZ DE CONTA representação e da comunicação de forma
especial, ou seja, realizando trocas de papéis,
O jogo infantil inclui as características:
personagens, se transformando em animal,
simbolismo: representa a realidade e atitudes;
objeto. Desta maneira, se tornam protagonistas
significação: permite relacionar ou expressar
de determinadas situações, criam, elaboram,
experiências; atividade: a criança faz coisas;
interpretam de sua maneira, sem que mintam
voluntário ou intrinsecamente motivado:
ou tenham ilusões. Repetem situações
incorporar motivos e interesses; regrado:
cotidianas, por meio de conhecimentos já
sujeito a regras implícitas ou explicitas, e
adquiridos anteriormente, assim, criando novas
episódico: metas desenvolvidas
situações e condições, realizando uma
espontaneamente (FROMBERG 1987, p.36).
transformação em cada uma (BRASIL, 1998).
O faz de conta ou o jogo simbólico é realizado
Segundo o Referencial Curricular Nacional
por regras, por meio da imaginação, que por
para a Educação Infantil (1998), por meio da
sua vez propicia impulsos instantâneos e ao
utilização do faz de conta, a criança possui uma
próprio controle. Seu aspecto é a criação, ou
ajuda na sua identidade ao experimentar
seja, realizar uma atividade de forma
situações e pensamentos, tendo uma
imaginária. (S.M.E, 2006).
ampliação nos seus pensamentos no que diz
No faz de conta se faz presente a troca de
respeito aos personagens, os papéis por o
papéis, fantasiando situações da sua própria
sujeito criado. Ao brincar experimenta de
vivência, sendo assim, as crianças brincam
forma concreta a elaboração e a negociar as
recriando e imitando papéis como se fossem
regras do seu convívio, assim realizando a
pai e mãe, médico, enfermeiro, motorista,
representação dos seus sentimentos, de suas
super heróis entre outros (BRASIL, 1998).
emoções e construções.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A brincadeira de faz de conta tem um papel A dificuldade aumenta mediante a definição


de extrema importância na formação da do que é e o que não é jogo, pois cada indivíduo
criança. Pois, é por meio do brincar que a tem sua cultura, assim, Kishimoto introduz uma
criança entende o mundo e suas comparação da cultura indígena que tem
complexidades. Ao brincar o indivíduo faz hábito de utilizar arco e flecha para caçar,
representações do mundo do adulto, utilizando sendo assim, para eles seria por uma
recursos disponíveis no momento, porém necessidade, um costume até mesmo de
utilizando a imaginação para criar, inventar. Na sobrevivência, para outras pessoas de
brincadeira a criança tanto se inspira na determinadas culturas, seria apenas uma
fantasia como também cria o seu mundo brincadeira de acertar no alvo(KISHIMOTO,
particular, reproduzindo atividades de sua 2000).
rotina e conflitos vividos no cotidiano. Assim, “Enfim, cada contexto social constrói uma
possibilita expressar sentimentos, imagem de jogo conforme os seus valores e
inquietações, dramatizando quilo que lhe modo de vida, que se expressa por meio da
oferece desconforto, medos, inseguranças linguagem” (KISHIM0TO, 2000, p. 17).
(ZATZ, et. al., 2006). Com a modernidade do século XXl, a mídia
A imaginação estimula a curiosidade da causa transformações por meio da tecnologia
criança e enriquece suas vivências. Dá a ela na forma de jogar, o que antes era um jogo de
oportunidade de dramatizar situações de sua tabuleiro, com o avanço o jogo de videogame,
vida cotidiana bem como de exercer sua jogos em computadores dominam em pleno
criatividade, dando vida a personagens e século (ZATZ, et. al., 2006).
histórias fantásticas. Por isso, é fundamental Os jogos eletrônicos não substituem o jogo
incentivar desde cedo a brincadeira de faz de de tabuleiro, pois o superam em todos os
conta (ZATZ, et. al., 2006, p. 74). aspectos. O jogo eletrônico aproveita e utiliza
elementos que estavam contidos no jogo
JOGO tradicional, como competição, desafio,
raciocínio, busca de soluções... Podemos
Se o ato de inteligência culmina num
equilíbrio entre assimilação e a acomodação, considerar que ele traz avanços em alguns
enquanto que a imitação prolonga a última por aspectos: velocidade, multimídia, destreza etc.
si mesma, poder- se-á dizer, inversamente, que Mas também é a verdade que ele deixar desejar
o jogo é essencialmente assimilação, ou em outros quesitos, como interação humana,
assimilação predominando sobre a busca soluções criativas, imaginação e respeito
a regras (ZATZ, et. al., 2006, p. 104).
acomodação (PIAGET, 1975, p. 115).
Para Kishimoto (2000), definir o jogo não é
algo fácil, pois cada um tem uma interpretação
de sua maneira. Ao falar em jogo pode-se
pensar em várias possibilidades, como o jogo de
xadrez, amarelinha, dominó, quebra-cabeça,
entre outros.

1220
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Por meio dos jogos eletrônicos, não é exigido solucionando os conflitos, inventando e
à criatividade e a imaginação, mas também tem fantasiando (CARNEIRO, 2003).
sua importância. Proporciona ao indivíduo a O jogo é considerado como algo prazeroso e
agilidade e soluções rápidas (ZATZ, et. al., gratuito. Uma forma de se expressar, auxiliando
2006). na criação, na interação e na imitação. Também
Ao jogar um jogo de tabuleiro a criança influência no equilíbrio mental e físico
interage com demais crianças, tornando-se um (CARNEIRO, 2003).
ato prazeroso, exigindo concentração e Se, por um lado, o jogo contribui para o
habilidade, criação de estratégias, assim, é desenvolvimento da socialização, propiciando
possível notar que os jogos tradicionais devem uma evolução na linguagem, e, por outro,
ser preservados (ZATZ, et. al., 2006). propicia o aparecimento de atitudes
Os jogos tiveram sua origem por meio de cooperativas e a possibilidade de experiências
ritos religiosos, em festas culturais, ou seja, grupais, há de se considerar que ele pode ser
mediante aos costumes populares, se analisado sob ótica pedagógica, quando
relacionavam às práticas religiosas, estações do assume a função didático-metodológica. Nesse
ano (CARNEIRO, 2003). caso, ele passa a ser visto como atividade-meio
“Retomar à história dos jogos é adentrar pelo e não como fim, ou seja, sua utilização ocorre
mundo maravilhoso das origens do homem, é para que se atinja um determinado objetivo. É
explorar suas reminiscências, é dar vida ao dessa forma que ele é utilizado na escola, pois
passado” (CARNEIRO, 2003, p. 12). acaba sendo uma estratégia do professor para
Antigamente se praticavam os jogos por motivar os alunos, ao ensinar conteúdos
meio de oráculos em transe, ou astros, também específicos (CARNEIRO, 2003, p. 39).
por sinais da natureza. (CARNEIRO, 2003). Jogar é mais que uma atividade sem
É importante salientar que, antes de se consequência para a criança. Ao jogar a criança
constituírem em divertimento, as práticas não apenas se diverti, mas recria e interpreta o
lúdicas constituíram-se em ritos e mitos que mundo a sua volta, a sociedade e sua cultura se
manifestaram os costumes e a crenças dos relacionam com este mundo. Jogando a criança
diversos povos. Não havia, portanto, jogos aprende.
específicos para crianças, pois o processo A criança evolui com o jogo e o jogo da
educativo ocorria no seio da família e tais criança vai se ajustando ao seu
atividades eram por elas imitadas (CARNEIRO, desenvolvimento, construindo novas
2003, p. 25). descobertas, desenvolvendo e enriquecendo
Ao pronunciar a palavra jogo, requer pensar sua personalidade, pois o jogo simboliza um
em regras fixas, no que já a brincadeira instrumento pedagógico que da ao professor a
pressupõe normas mais flexíveis, que se condição de condutor, estimulador e avaliador
transforma de maneira fácil ao mudar objetos da aprendizagem.
(CARNEIRO, 2003). Os jogos pedagógicos são desenvolvidos com
Quando joga a criança transfere seus sonhos a intenção explicita de provocar uma
para a realidade, de maneira indireta os aprendizagem que proporcione significado a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

criança, estimulando a um novo conhecimento sossegados. Mas há também os que são ideias
e, principalmente, despertar o para o pátio e põem as crianças para correr.
desenvolvimento de uma habilidade Está atividade tem a finalidade de desenvolver
operatória. o raciocínio e a concentração, além disso, fazer
Todos conhecemos o grande papel que nos com que as crianças saibam conviver com
jogos da criança desempenha a imitação, com regras em sua vida.
muita frequência estes jogos são apenas um Os jogos tem uma influência na vida da
eco do que as crianças criam e escutaram aos criança, cada um aprende de sua maneira,
adultos, não obstante estes elementos da sua porém de forma significativa, pois aquilo que o
experiência anterior nunca se reproduzem no individuo aprende de maneira dinâmica,
jogo de forma absolutamente igual e como prazerosa, fica guardada em sua mente, e
acontecem na realidade. O jogo da criança não futuramente se lembrará de tais momentos
é uma recordação simples do vivido, mais sim a vividos no passando, não sendo somente uma
transformação criadora das impressões para a copia, mas algo que ele aprendeu mesmo.
formação de uma nova realidade que responda É possível visualizar cada jogo e sua função
as exigências e inclinações da própria criança no que se diz respeito ao aprender, não
(VYGOTSKY, 1999, p.12). somente para passar o tempo, porém,
Podem ser adaptados jogos como: o jogo das aprender de maneira divertida, brincando,
sílabas. Com este jogo a criança deve dizer uma interagindo com os demais, assim também
palavra qualquer. A seguinte tem que falar amenizando os problemas cotidianos, as
outra palavra que comece com a última sílaba frustrações vividas em determinado momento,
da palavra dita. Por exemplo: gato. O seguinte por devida circunstância.
pode dizer tomate, o próximo, tenente e assim
por diante, fazendo uma competição. A RELEVÊNCIA DO LÚDICO NO
Incluir a matemática o dominó, as crianças
terão que fazer as contas de somar, subtrair, DESENVOLVIMENTO DA
dividir e multiplicar, desta maneira, ajudando APRENDIZAGEM INFANTIL
as crianças e prestarem atenção e assim Por meio das brincadeiras e dos jogos a
melhorando e aprendizagem. criança organiza e constrói seu universo. O
Os jogos sempre fascinaram a humanidade. brincar propicia o desenvolvimento, não sendo
Os antigos fenícios, quatro mil anos a.C. já se apenas um instrumento didático, os jogos e as
entretinham com esse tipo de passatempo. Na brincadeiras atuam nas áreas do
pista dos nossos ancestrais, educadores vêm desenvolvimento infantil como: motricidade,
criando e adaptando jogos que além de divertir inteligência, sociabilidade, afetividade e
crianças e adolescentes, trabalham noções de criatividade. Podemos observar que a criança
organização, planejamento e cooperação. As joga e brinca desde os seus primeiros anos de
opções para crianças a partir de quatro anos, se vida. O lúdico traz felicidade e realização para a
adaptam a diferentes gostos e momentos: os criança, facilitando o processo de ensino
jogos de tabuleiro são preferidos dos mais

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizagem, deixando o mesmo interessante realidade e construção do mundo, pois a


e desafiante para as crianças. dinâmica de ensino aprendizagem flui a partir
A brincadeira tem uma enorme relevância no da curiosidade da criança. A partir disso, Fidelis
desenvolvimento das crianças, ao brincar a (2005), ressalta que o importante é que a
mesma aprende, realiza e compreende os criança possa, também transportar para a sua
princípios sociais. Quando o professor utiliza o realidade as atividades e, assim, com os novos
lúdico em suas atividades, em seus projetos, o conhecimentos ser capaz de transformar a sua
mesmo se aproxima da criança, conhecendo realidade.
cada vez mais sua realidade. Para se obter um Brincar, para a criança, é uma atividade
ensino eficaz é necessário adequar novas imaginativa e interpretativa que compreende o
maneiras didáticas atualizadas, fazendo sempre corpo e a mente e revela experiências que
atividades lúdicas, prazerosas e inovadora. envolvem os sentidos de modo a favorecer que
O jogo e a brincadeira tem uma importância o mundo ganhe sentido e significados próprios
muito grande para o desenvolvimento infantil, para a criança (S.M.E., 2006, p. 45).
ambos colaboram para a formação da A maneira que as crianças criam papéis, a
personalidade da criança. organização que possuem, a maneira que
Através do lúdico, a criança resolve dialogam, modifica cenários, é uma forma
problemas, desenvolve a linguagem e suas particular de inserir um novo contexto e uma
relações pessoais. Brincando, desencadeia o nova realidade, assim, expressando
seu próprio desenvolvimento, construindo e sentimentos (S.M.E., 2006).
adaptando-se ás mais diversas formas de Quando brinca a criança recria, por meio de
conhecimento. A partir do brincar, portanto, sinais, gestos, objetos e mediante aos espaços
desenvolve habilidades cognitivas que não só tem um significado representativo, mesmo não
dependerão do conhecimento e perícia sendo o que aparenta (BRASIL, 1998).
específicos, mas também do ambiente que Ao brincar assumem papéis, vivenciando
facilitará o processo de brincar (FIDELIS, situações do seu cotidiano, porém por meio da
TEMPEL, 2005, p.24). representação, modificando sua forma de ser,
Segundo Ferreira e Coelho (2001, p. 120), no assume identidades diferentes, por intermédio
brincar, a criança interpreta variados papéis, de objetos disponíveis naquele momento
assumem responsabilidades, estabelece (BRASIL, 1998).
relações, desenvolve atitudes de respeito e A brincadeira favorece a autoestima das
cooperação, aprimorando etapas do crianças, auxiliando-as a superar
desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e progressivamente suas aquisições de forma
psicomotor. criativa. Brincar contribui, assim, para a
O jogo possui um papel fundamental na vida interiorização de determinados modelos de
das crianças, não podendo ser utilizado apenas adulto, no âmbito de grupos sociais diversos.
como algo sem valor, somente para brincar ou Essas significações atribuídas ao brincar
preencher tempo vago, mas deve ser transformam-nos em um espaço de
compreendido como forma de assimilação da constituição infantil (BRASIL, 1998, p. 27).

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Na brincadeira a criança utiliza do imaginário, usando a criatividade, assim, a


conhecimento prévio para transforma suas deixando curiosa para conhecer cada vez mais,
brincadeiras. Ou seja, o indivíduo imita uma ser melhor da próxima vez, ir além, e buscar
situação já presenciada na vida real, novas estratégias para ganhar tal brincadeira.
transferindo para o brincar. Para tal é Desta maneira, a brincadeira é fundamental
necessário a criança ter liberdade de escolha para a aprendizagem, pois instiga a busca do
tanto de papéis, tanto de seu grupo que deseja novo constantemente, inovando a cada dia.
brincar, deixar que seja utilizada a imaginação e
tentar solucionar os problemas, os conflitos
(BRASIL, 1998).
A brincadeira para a criança não é somente
diversão. Também desde a infância auxilia no
desenvolvimento seja físico, intelectual e social
(ZATZ, et. al., 2006).
Ao brincar a criança conhece o mundo a sua
volta, aprende a se defender mediante as
variadas situações corriqueiras do dia a dia,
interagindo com o que está a sua volta. Em tudo
que a criança faz, o lúdico está presente, assim,
aprende enquanto brinca também (ZATZ, et.
al., 2006).
O ato de brincar é intrínseco à vida e ao
aprendizado. Essa experiência essencialmente
natural não é exclusiva do homem, pois é
sabido que os animais também brincam. Os
mamíferos aprendem quase tudo o que
necessitam saber para a sua vida adulta por
meio de brincadeiras, em que as crias
experimentam, entre si e com adultos,
capacidades e habilidades que serão
necessárias no futuro. Desenvolvem, assim, as
técnicas de caça (brincam de se esconder e
assustar o outro, de morder, de fugir) e de luta
também (brincando de brigar e lutar, rolando
peão chão) (ZATZ, et. al., 2006, p.11).
É possível ver a importância das brincadeiras
e dos jogos na vida de uma criança. Pois,
quando brinca a criança se diverti, se distrai,
esquece os problemas, vivendo em um mundo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ato de brincar compõem consideravelmente o desenvolvimento cognitivo da criança,
além de suas experiências sociais e afetivas, nas quais ela usa o imaginário como ferramenta para
expressar suas emoções e pensamentos.
Verificou-se que diversos autores apontam para a falta de espaços e ambientes destinados
ao ato de brincar, seja na residência da criança, seja na escola.
Considera-se que à escola cabe proporcionar referências às crianças em um espaço que
não teriam oportunidade senão dentro dela, incluindo a forma de minimizar as desigualdades. A
importância e principalmente a necessidade da brincadeira na Educação Infantil, que requer
equilíbrio, preparo e planejamento do educador, incluindo a extensão dessas atividades no
contexto familiar com a participação dos pais.

1225
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1227
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

JOGOS E BRINCADEIRAS NO CONTEXTO


EDUCACIONAL
Karina Antunes de Lima1

RESUMO: O artigo apresenta uma reflexão sobre a importância das atividades lúdicas no
desenvolvimento infantil, enfatizando a relevância do brincar na infância, a história da educação
lúdica, as diferenças entre jogos, brinquedo e brincadeiras e suas contribuições como recursos
pedagógicos no processo de aprendizagem.

Palavras-Chave: Jogos; Escrita; Desenvolvimento infantil; Recurso pedagógico; Educação.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Alfabetização e Letramento; Especialização em
Educação Infantil.
E-mail: karinantunes_lima@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O CONCEITO DE LÚDICO E SUA


A criança idealiza um mundo construído IMPORTÂNCIA NA INFÂNCIA
sobre o olhar da inocência, visto que a realidade O lúdico tem sua origem na palavra latina
da vida cotidiana em muitos casos ainda não é "ludus" que significa jogar. Dentro das
compreendida claramente por ela. Contudo a atividades lúdicas estão incluídos: jogos,
escola, em diversos, momentos, busca brinquedos e brincadeiras e a palavra é relativa
controlar a criança, modelando-a de acordo também ao comportamento daquele que joga.
com as normas e regras que o sistema Inúmeros podem ser os exemplos de atividades
legitimou, resultando em algumas ocasiões na com caráter lúdico: uma dinâmica de
perda da formação do ser humano autônomo e integração grupal ou de sensibilização, um
emancipado socialmente. Na escola, a criança trabalho de recorte e colagem, uma das muitas
permanece durante muitas horas em carteiras expressões dos jogos dramáticos, exercícios de
escolares nada adequadas, em salas pouco relaxamento e respiração, uma ciranda,
confortáveis, observando horários e movimentos expressivos, atividades rítmicas,
impossibilitada de mover-se livremente. Pela entre outras tantas possibilidades. Mais
necessidade de submeter-se à disciplina importante, porém, do que o tipo de atividade
escolar, muitas vezes a criança apresenta certa é a forma como é orientada e como é
resistência em ir à escola. O fato não está vivenciada, e o porquê de estar sendo realizada.
apenas no total desagrado pelo ambiente ou A palavra “lúdico” teve uma evolução
pela nova forma de vida e, sim, por não semântica que não se limitou apenas as suas
encontrar canalização para as suas atividades origens, de modo que a definição deixou de ser
preferidas. o simples sinônimo de jogar e acompanhou as
O crescimento, ainda em marcha, exige pesquisas de Psicomotricidade. As implicações
maior consumo de energia e é muito difícil para da necessidade lúdica extrapolaram as
a criança permanecer por longo tempo, demarcações do lúdico como ato de brincar ou
trancafiada na sala de aula, calma e quieta, jogar, estudos e pesquisas têm comprovado a
quando o que ela mais necessita é movimento. importância das atividades lúdicas, no
Considerando a realidade da criança, os desenvolvimento das potencialidades humanas
educadores da atualidade precisam refletir das crianças, proporcionando condições
sobre a importância de utilizar-se do lúdico adequadas ao seu desenvolvimento físico,
como um recurso atrativo em suas práticas motor, emocional, cognitivo e social.
pedagógicas, pois ao separar o mundo adulto O lúdico faz parte das atividades essenciais
do infantil e ao diferenciar o trabalho da da dinâmica humana. Segundo Luckesi (2000),
brincadeira, a humanidade observou a lúdicas são aquelas atividades que propiciam
importância da criança que brinca. uma experiência de plenitude, em que nos
envolvemos por inteiro, estando flexíveis e
saudáveis. São ações vividas e sentidas, não
definíveis por palavras, mas compreendidas

1229
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pela fruição, povoadas pela fantasia, pela determinante para um objeto ser considerado
imaginação e pelos sonhos que se articulam um brinquedo?
como teias urdidas com materiais simbólicos. As palavras jogo e brincadeira possuem um
Na atividade lúdica não importa somente o significado comum na definição feita nos
resultado, mas a ação, o movimento dicionários, pois ambas podem ser sinônimos
vivenciado. de divertimento. Porém a ambigüidade entre os
Durante uma atividade é possível se termos se consolida com o uso que as pessoas
expressar, assimilar conhecimentos e construir
fazem dela. Como definir se uma criança está
a realidade enquanto está a praticá-la. Elabrincando ou jogando?
também espelha a sua experiência, Baptista da Silva (2003), afirma que os verbos
modificando a realidade de acordo com seus brincarem e jogar não tem significados tão
gostos e interesses amplos. A mesma autora aborda que, no
Em suma, brincar é viver. Mesmo quando se
cotidiano da língua portuguesa, os verbos
é adulto, o lúdico não desaparece de nossa brincar e jogar podem ter outros sentidos,
experiência. Apresenta-se de formas
entretanto, seu significado principal está
especializadas. E enquanto existir vida, sempre
relacionado à atividade lúdica infantil. Ainda na
existirá brincadeiras. língua portuguesa, existe uma falta de
De acordo com Luckesi (1994): discriminação na utilização dos termos brincar
e jogar. Mesmo estando o termo jogar
O lúdico significa a construção criativa da
vida enquanto ela é vivida. É um fazer o diferenciado de brincar pelo aparecimento das
caminho enquanto se caminha; nem se espera regras,como no caso do xadrez, do jogo de
damas, a utilização de ambos, muitas vezes, se
que ela esteja pronto, nem se considera que ele
confunde.Pois o brincar também possui regras
ficou pronto; neste caminho criativo foi feito
implícitas, como na brincadeira de faz de conta,
(esta sendo feito) com a vida no seu ir e vir, no
seu avançar e recuar. O lúdico é a vida se em que a menina se faz passar pela mãe que
construindo no seu movimento (LUCKESI,1994,cuida da filha.Existem regras internas, ocultas,
p.115). que organizam a brincadeira.
A brincadeira e o jogo são diferenciados por
CONTROVÉRSIAS CONCEITUAIS uma linha muito tênue. Pesquisadores como
Friedmann (1996), Baptista da Silva (2003),
SOBRE: JOGOS, BRINQUEDOS E Biscoli (2005) e o próprio Vygotsky (1991), não
BRINCADEIRAS fazem diferenciação semântica entre jogo e
Nos dias atuais observamos que há uma brincadeira. Estes autores utilizam ambas as
diferença entre jogo e brinquedo e entre palavras para designar o mesmo
brincadeira e brinquedo, porém em algumas comportamento, a atividade lúdica.
situações de acordo com a intenção que o
brinquedo é utilizado ele perde sua função O SIGNIFICADO DO JOGO
lúdica, dando margem a dúvidas sobre a Kishimoto (1994), faz algumas indagações
definição do termo. Qual seria o fator sobre a variedade de fenômenos considerados

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

como jogo e prova a complexidade da tarefa de peculiaridades que os aproximam ou


definir o que de fato é jogo, brinquedo e distanciam (KISHIMOTO ,2003, p. 15).
brincadeira. Para isso ela cita o exemplo de um Para começar a esclarecer as contradições
tabuleiro com piões que é um brinquedo existentes entre os termos: brinquedo,
quando usado para fins de brincadeira. E então brincadeira e jogo, pesquisadores do
ela questiona se esse recurso teria o mesmo Laboratoire de Recherche su Le Jeu ET Le Jouet,
significado caso fosse usado, por exemplo, da Université Paris-Nord, como Gilles Brougère
como recurso de ensino destinado à (1981; 1993) e Jacces Henrior (1983, 1989),
aprendizagem de números. Além disso, ela apontam três níveis de diferenciação para
lança outro questionamento, no caso de um caracterizar termo jogo.
tabuleiro de xadrez feito de material nobre O jogo pode ser visto como: resultado de um
como o cobre ou mármore, exposto como sistema lingüístico que funciona dentro de um
objeto de decoração. Teria o significado de contexto social; um sistema de regras e um
jogo? objeto.
A boneca, por exemplo, é considerada No primeiro caso, o sentido do jogo depende
brinquedo para uma criança que brinca de da linguagem de cada contexto social.
“filhinha”, mas para certas tribos indígenas, Enquanto fato social, o jogo assume a imagem,
conforme pesquisas etnográficas é símbolo de o sentido que cada sociedade
divindade, objeto de adoração. lhe atribui. Dependendo do lugar e da época,
Segundo Kishimoto (2003, p. 15), a os jogos assumem significações distintas.
dificuldade da definição do que é jogo aumenta Nas palavras de Kishimoto (2003: 17):
quando se percebe que um mesmo Se o arco e flecha hoje aparecem como
comportamento pode ser visto como jogo ou brinquedos, em certas culturas indígenas
não- jogo.Para contextualizar sua idéia ela cita representam instrumentos para a arte da caça
o seguinte exemplo: e da pesca. Em tempos passados, o jogo era
Se para um observador externo a ação da visto como inútil. Como coisa não-séria. Já nos
criança indígena que se diverte atirando com tempos do Romantismo, o jogo aparece como
arco e flecha em pequenos animais é uma algo sério e destinado a educar crianças
brincadeira, para a comunidade indígena nada (KISHIMOTO,2003, p.17).
mais é que uma forma de preparo para a arte No segundo caso, existe um sistema de
da caça necessária à subsistência da tribo. regras no jogo, uma estrutura seqüencial que
Assim atirar com arco e flecha, para uns, é jogo, permite especificar em um jogo sua
para outros, é preparo profissional. Uma modalidade. As estruturas seqüenciais de
mesma conduta pode ser jogo ou não- jogo em regras permitem diferenciar cada jogo, ou seja,
diferentes culturas, dependendo do significado quando alguém joga, esta executando as regras
a ela atribuído. Por tais razões fica difícil do jogo e, ao mesmo tempo, desenvolvendo
elaborar definições de jogo que englobe a uma atividade lúdica. Um exemplo é o jogo de
multiplicidade de suas manifestações buraco e tranca, o que os diferencia são as
concretas. Todos os jogos possuem regras características de cada jogo.

1231
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No terceiro caso o jogo é representado pelo cultura tem uma maneira de ver a criança e
objeto que o caracteriza. Independente que o educá-la.O uso do brinquedo é uma forma de
pião seja confeccionado de casca de fruta, relacionar-se, de estar com e de encontrar o
madeira ou plástico mundo físico e social.
, ele é contextualizado pelo objeto destinado Para Didonet (1982):
na brincadeira de rodar pião. É uma verdade que o brinquedo é apenas o
Os significados atribuídos pelas diversas suporte do jogo, do brincar, e que é possível
culturas ao jogo, as regras estabelecidas e os brincar com imaginação. Mas é verdade,
objetos que os caracterizam, são três aspectos também, que sem brinquedo é muito mais
que permitem uma inicial compreensão do difícil realizar a atividade lúdica, porque é ele
jogo. que permite simular situações (DIDONET,1982,
p.28).
REFLEXÕES SOBRE O
• A brincadeira
BRINQUEDO A brincadeira é considerada por muitos
O brinquedo foi objeto de estudo de autores como uma atividade livre, que não
filósofos, psicólogos, psicanalistas, teólogos, pode ser delimitada e que, ao gerar prazer,
antropólogos, médicos, terapeutas, possui um fim em si mesma. Bom tempo e Cols
educadores e pais, portanto, nos mais diversos (1986), colocam que a brincadeira é uma
campos das ciências e das práticas sociais. E isso atividade espontânea e que proporciona para a
talvez decorra do fato de que o brinquedo e criança condições saudáveis para o seu
parte intrínseca da vida infantil. Entender seu desenvolvimento biopsicossocial. Friedmann
significado é um caminho muito útil, senão (1996), inclui que a brincadeira tem
mesmo necessário, para conhecer a própria características de uma situação não
criança e seu processo de desenvolvimento. estruturada. Para Kishimoto (1999), o brincar
Deferindo do jogo, o brinquedo possibilita tem a prioridade das crianças que possuem
uma indeterminação quanto ao uso, não existe flexibilidade para ensaiar novas combinações
um sistema de regras para organizar sua de idéias e de comportamentos. Alves (2001),
utilização, uma boneca, por exemplo, pode ser afirma que a brincadeira é qualquer desafio que
utilizada por uma criança para brincar de é aceito pelos simples prazer do desafio, ou
“mamãe e filhinha” ou pode ser utilizada para seja, a teoria confirma que o brincar não possui
que a criança represente a si mesma na um objetivo próprio e tem um fim em si
brincadeira. O brinquedo possibilita a mesmo.
representação e a expressão de idéias que Vygotsky (1991), afirma que a brincadeira,
remetem a realidade, por meio do brinquedo a mesmo sendo livre e não estruturada, possui
criança tem um substituto dos objetos reais regras. Para o autor todo tipo de brincadeira
para que possa manipulá-los.O fabricante do está embutido de regras, até mesmo o faz-de-
brinquedo ao construí-los introduz imagens conta possui regras que conduzem o
que são de acordo com a sua cultura.Pois cada

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

comportamento das crianças de acordo com a corresponde a um impulso da criança, e este


influência cultural que possuem. sentido, satisfaz uma necessidade interior, pois
Segundo o autor toda a brincadeira possui o ser humano apresenta uma tendência lúdica.
além da regra outras duas características: a Vygotsky (1991), ressalta que a brincadeira
imaginação e a imitação. Estas características cria as zonas de desenvolvimento proximal e
estão presentes nos mais diversos tipos de que estas proporcionam saltos qualitativos no
brincadeiras infantis, nas tradicionais, naquelas desenvolvimento e na aprendizagem infantil
de faz-de- conta, nas que se utilizam de Elkonin (1998) e Leontiev (1994), ampliam esta
brinquedos de montar, encaixe, etc. Podem teoria afirmando que durante a brincadeira
aparecer também no desenho, como atividade ocorrem as mais importantes mudanças no
lúdica. desenvolvimento psíquico infantil. Para estes
autores a brincadeira é o caminho de transição
A IMPORTÂNCIA DAS para níveis mais elevados de desenvolvimento.
Nas palavras de Vygotsky (1992):
ATIVIDADES LÚDICAS NO É na brincadeira que a criança se comporta
DESENVOLVIMENTO INFÂNTIL além do habitual de sua idade, além de seu
O entendimento da importância da comportamento diário. A criança vivência uma
ludicidade no desenvolvimento infantil é experiência no brinquedo como se ela fosse
imprescindível para que atividades lúdicas maior do que a realidade, o brinquedo fornece
sejam utilizadas como recurso pedagógico na estrutura básica para mudanças das
Educação, para compreender o universo necessidades e da consciência da criança
infantil e as necessidades da criança. (VYGOTSKY,1992, p.117).
Cada criança tem o seu ritmo próprio de A ludicidade se apresenta como fator
desenvolvimento e características pessoais que essencial na construção da personalidade
a diferem das demais. Embora os estágios do integral da criança. Quando a criança brinca,
desenvolvimento, pelos quais toda criança joga, explora e manuseia tudo aquilo que está a
passa, sejam semelhantes, a época e a forma sua volta, por meio de esforços físicos e mentais
como eles se processam podem variar e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a
bastante. desenvolver sentimentos de liberdade e
A brincadeira é a atividade principal da satisfação pelo que faz. Isso favorece a auto-
infância. Essa afirmativa se dá não apenas pela estima das crianças, auxiliando-as a superar
freqüência de uso que as crianças fazem do progressivamente suas aquisições de forma
brincar, mas principalmente pela influência que criativa. Brincar, para a interiorização de
esta exerce no desenvolvimento infantil. determinados modelos de adulto, no âmbito de
A ação de brincar segundo Almeida (1994) é grupos sociais diversos.
algo natural na criança e acaba sendo a própria Em um jogo individual ou coletivo, por
expressão de vida da criança. exemplo, a criança ao escolher ou recusar uma
Rizzi e Haydt (1987, p.14), convergem para a atividade, ao decidir qual a forma de realizar
mesma perspectiva quando afirmam:o brincar essa atividade, ao demonstrar sua capacidade

1233
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de continuidade e de esforço, estará No brincar, ocorre um processo de troca,


espelhando sua personalidade. Daí resulta a partilha, confronto e negociação, gerando
importância da ludicidade no desenvolvimento momentos de desequilíbrio e equilíbrio, e
infantil. propiciando novas conquistas individuais e
Do ponto de vista psicológico, Vygotsky coletivas. Constatamos, então, que a ação de
(1991), atribui ao brinquedo um papel brincar é fonte de prazer e ao mesmo tempo,
importante, aquele de preencher uma de conhecimento. Pois a criança constrói seu
atividade básica da criança, ou seja, ele é um conhecimento do mundo de modo lúdico,
motivo para a ação. transformando o real com os recursos da
Segundo o autor, a criança pequena, por fantasia e da imaginação. E dá vazão aos
exemplo, tem uma necessidade muito grande aspectos emocionais importantes para a saúde
de satisfazer os seus desejos imediatamente. psíquica.
Quanto mais jovem é a criança, menor será o Para Friedmann (1996) e Dohme (2002), as
espaço entre o desejo e sua satisfação. Na crianças têm diversas razões para brincar, uma
infância há uma grande quantidade de destas razões é o prazer que podem usufruir
tendências e desejos não possíveis de ser enquanto brincam. Mas além do prazer, as
realizados imediatamente, e é nesse momento crianças também podem, pela brincadeira,
que os brinquedos são inventados, justamente exprimir a agressividade, dominar a angústia,
para que a criança possa experimentar aumentar as experiências e estabelecer
tendências irrealizáveis. contatos sociais. Portanto a carência de
A impossibilidade de realização imediata dos atividades lúdicas na infância pode favorecer
desejos cria tensão, e a criança se envolve com neuroses infantis que se desencadearão até a
o ilusório e o imaginário, no qual seus desejos fase adulta, uma vez que não foram superados
podem ser realizados. É o mundo dos suficientemente níveis de agressividade e
brinquedos. competitividade.
Segundo Vygotsky (1991), a imaginação é um A ludicidade torna-se fundamental na vida da
processo novo para a criança, pois constitui criança como instrumento indispensável ao seu
uma característica típica da atividade humana pleno desenvolvimento, enquanto recurso de
consciente. É certo, porém, que a imaginação integração, socialização e de superação de
surge da ação, e é a primeira manifestação da inúmeros desajustes de ordem psicossocial, ao
emancipação da criança em relação às mesmo tempo em que estimula a criatividade,
restrições situacionais. Além disso, a criança raciocínio e investigação.
brinca porque tem um papel, um lugar Essas significações atribuídas ao brincar
específico na sociedade, e não apenas porque o transformam-no em um espaço singular de
faz-de-conta - como o brincar de cavalo, em que constituição infantil.
a criança se utiliza do cabo de vassoura - parte
da natureza de tal criança. A brincadeira é a
forma que as crianças encontram para
representar o contexto em que estão inseridas.

1234
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio desse estudo foi verificado que o potencial dos jogos como recurso pedagógico
deve-se ao fato da reunião de alguns pontos essenciais no âmbito educacional. São eles: cultura,
o jogo é um objeto sócio-cultural-histórico, o interesse do aluno, já que o brincar é a atividade
principal da criança e a diversidade de conhecimentos que podem ser desenvolvidos na criança,
haja vista que diferentes jogos podem expressar diferentes conteúdos. Outro aspecto que deve
ser levantado, se refere às relações e interações sociais mobilizadas pelo jogar em grupo, nessa
situação a criança vivencia regras, discute, faz negociações, levanta e testa hipóteses e, sobretudo
aprende com o outro (um colega mais experiente, o professor ou o jogo mesmo) e consigo
próprio.
Porém é importante enfatizar que assim como qualquer outro recurso pedagógico, as
atividades lúdicas exigem planejamento por parte do professor. Pois ele é o mediador, o
organizador do tempo, do espaço, das atividades, dos limites, das certezas e até das incertezas
do dia-a-dia da criança em seu processo de construção de conhecimento. É ele quem cria e recria
sua proposta pedagógica e para que ela seja concreta, crítica e dialética, este professor deve ter
competência para fazê-la. Introduzir atividades lúdicas, brincadeira e jogos, como elemento
dinamizador de uma proposta pedagógica requer, no mínimo, que este acredite verdadeiramente
na eficácia de tais atividades para que haja dedicação.

1235
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LANGUE E PAROLE:
CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS IDEIAS DE
SAUSSURE E OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS
CONTEMPORÂNEOS
Valdemir Melo de Souza1

RESUMO: Este artigo objetiva refletir a língua e fala (langue ou parole) dentro do Curso de
Linguística Geral, fazendo algumas considerações acerca das ideias de Saussure e os estudos
linguísticos contemporâneos. A relevância da pesquisa se configura na revisitação da obra do
mestre genebrino Ferdinand de Saussure, bem como a importância da permanência de suas ideias
até os dias atuais, especialmente a difusão de tais teorias como alicerce na a formação de futuro
linguistas. A metodologia trata-se de uma pesquisa exclusivamente bibliográfica e interpretativa,
buscando fornecer uma compreensão da relação entre a língua e a fala (langue e parole) dentro
da teoria Saussuriana, com base nas teorias de Saussure (2013); Câmara (1986); Benveniste
(2005), entre outros autores.

Palavras-Chave: Saussure; Langue e parole; Linguística Contemporânea.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede de Ensino do Estado de Pernambuco.


Graduação Licenciatura em Letras pela Universidade Católica de Pernambuco/UNICAP - Mestre em Linguística e
Ensino pela Universidade Federal da Paraíba/UFPB.
E-mail: valmelosouza@yahoo.com.br

1239
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Como objetivos específicos temos: a) discutir


sobre as teorias de Saussure e seus
Quando se refere a linguística, é muito difícil desdobramentos nos estudos da área da
não tocar no nome de Ferdinand de Saussure e linguagem, b) verificar como as ideias do
suas postulações teóricas quer seja para o chamado ‘pai da linguística’ perpetuam nos
estudo especificamente dos fundamentos que estudos linguísticos modernos. A relevância
originaram a linguística como ciência, quer seja desse estudo se configura na revisitação da
apenas para tomar como ponto de partida para obra desse mestre genebrino, bem como a
outros tipos de análise. De fato, é inegável o importância da permanência de suas ideias até
papel desse gênio e a revolução linguística os dias atuais
provocada por ele. Para que a linguística se Ademais, abordam-se também um breve
tornasse ciência, era preciso estabelecer o histórico sobre a vida e obra de Ferdinand de
objeto de estudo e um método. É nesse Saussure e o CLG. Por fim, têm-se as
contexto que Ferdinand de Saussure, um considerações sobre a língua e a fala apontando
genebrino que tinha paixão pelas línguas surge, suas principais características, sutilezas,
instituindo o método e objeto de estudo da interfaces e pontos de incongruências dessa
linguística. dicotomia dentro das ideias Saussuriana.
Saussure definiu a língua como objeto da
linguística. E mais tarde desponta também o
METODOLOGIA
Curso de Linguística Geral, doravante CLG. Uma
Este estudo tem um caráter exclusivamente
obra póstuma organizada pelos seus discípulos
bibliográfico e interpretativo, buscando
produto do curso que tiveram ao longo da
fornecer uma compreensão da relação entre a
permanência com o mestre. O CLG é Fruto do
língua e a fala (langue e parole) dentro da teoria
curso de linguística ministrado por Saussure aos
Saussuriana, bem como a importância da
seus discípulos que entre eles encontravam-se
permanência das ideias de Saussure na
Charles Bally e Abert Sechehaye que na
linguística contemporânea.
intenção de difundir aquilo que seria as ideias
do mestre publicaram a referida obra.
O CLG e as dicotomias de Saussure se SAUSSURE – VIDA E OBRA
tornaram forte instrumento de análise que Não que se queira colocar em xeque a
permitiram outros caminhos para novas genialidade de Ferdinand de Saussure,
pesquisas linguísticas. Esta obra, ainda constitui entretanto não se pode negar a influência das
base teórica para várias pesquisas que tem a ciências naturais, o contexto social, todo
língua e o seu sistema como foco de análise. arcabouço que deram ao mestre genebrino tal
Este artigo tem como objetivo geral refletir bagagem científica que pudesse chegar ao
sobre a língua e fala (langue ou parole) dentro objeto e um método para que a linguística fosse
do Curso de Linguística Geral, fazendo algumas considerada ciência. Nascido em 1957, na
considerações acerca das ideias de Saussure e Europa, especificamente, em Genebra na Suíça
os estudos linguísticos contemporâneos. de família nobre, filho de naturalistas,

1240
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Ferdinand de Saussure foi cedo encaminhado discípulos, sofreu duras críticas o que também
para os estudos de química e física. Naquela trouxe inúmeros benefícios na difusão do que
época, tradicionalmente, os homens da família seriam as teorias Saussurianas.
aplicavam-se aos estudos das ciências naturais, As críticas sobrevieram, possivelmente,
entretanto Saussure muito jovem já se entre outras coisas, pelas marcas pessoais dos
interessava pelas línguas e dedicava-se, mesmo organizadores (comentários e esclarecimentos
que informalmente, a elas. Conhecia o Inglês, ao que se consideravam pontos obscuros na
Alemão, Francês, Grego e o Sânscrito. obra) e pela possível ordem que deram às
Em 1877, com apenas 20 anos, Ferdinand de reflexões apresentadas na tentativa de
Saussure publicou seu livro, fruto de um reproduzir aquilo que seriam as ideias do
importante estudo em linguística comparativa, mestre. É importante ressalvar também a
sobre o sistema primitivo das vogais nas línguas relevância histórica desta obra, pois o CLG
indo-europeias, sua dissertação. Com essa despontou Saussure como "pai da linguística
obra, o mestre genebrino teve grande sucesso moderna" como afirma (CULLER, 1979, p.1). E
e aceitação na sociedade linguística de Paris, alguns conceitos desta obra serviram também
passando a gozar de boa reputação diante como base para o movimento estruturalista.
dessa sociedade. Em Leipzig, publicou a tese de
doutorado sobre o emprego do genitivo em SAUSSURE E A DICOTOMIA
sânscrito no ano de 1880. Saussure fez apenas
duas publicações em vida. A dissertação do LÍNGUA E FALA DENTRO DO CLG
mestrado e a tese do doutorado. As demais Saussure foi quem primeiro estabeleceu as
publicações inclusive o CLG organizado Abert relações entre a língua e a fala. Foi quem
Sechehaye e Charles Bally foram obras primeiro descreveu as questões da língua sem
póstumas. lançar mão aos estudos do método
comparativo. Para Saussure, tudo dentro de
língua precisa ter uma sistematização, uma
O CURSO DE LINGUÍSTICA organização, ele vai relacionar tudo o que
GERAL (CLG) transmitir em cima de dicotomias que são duas
Apesar de a linguística ter alcançado certo formas, dois lados que se opõe dentro de um
nível de evolução nos dias atuais, o CLG mesmo fenômeno, mas que mantém uma
continua sendo uma fonte indispensável nas relação de interdependência. As famosas
pesquisas que envolvem o estudo da língua e dicotomias são: Langue e Parole "língua e fala",
está longe de ser uma obra ultrapassada. Na significante e Significado relacionado ao Signo
verdade, ele vai se renovando com o tempo. Linguístico, Sintagma e Paradigma, Diacronia e
Suas considerações são dinâmicas e eficazes Sincronia. As dicotomias se completam e todas
abrindo novos caminhos e sendo uma forte elas estão sempre presentes na língua
base para novas pesquisas no campo da enquanto sistema.
linguística. Como o CLG não foi publicado pelo Ele considera a língua um sistema de signos,
próprio Saussure, mas organizado pelos seus que não tem significação sozinha, mas com a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

relação com outros signos que a compõem. língua, que é social em sua essência e
Estabelece uma visão diferenciada em sua independente do indivíduo; esse estudo é
época dividindo os fenômenos a partir de pares unicamente psíquico; outra secundária, tem
opostos como é o caso das dicotomias por objeto a parte individual da linguagem, vale
distinguindo, por exemplo, a língua e a fala. dizer, a fala inclusive a fonação e é psicofísica
Institui o estruturalismo como método de (SAUSSURE, 2006, p.26).
análise desses fenômenos. Mattoso Câmara Dentro do CLG, a langue é o sistema de uma
afirma: língua, a língua como sistema de formas
(...) é uma nova forma de encarar os enquanto a parole é a fala real. A ação de falar
fenômenos linguísticos porque faz com que a tornado possível pela língua. A langue é um
significação dependa, completa e conjunto de forma que o falante absorve
exclusivamente, das suas relações íntimas e quando adquire uma língua. Um “tesouro
liberta esta concepção de outros postulados, depositado pela prática da fala em todos os
falsos ou unilaterais, que tinham sido indivíduos pertencentes à mesma comunidade,
explicitamente enunciados e através dos quais um sistema gramatical que existe virtualmente
se devia deduzir a existência de relações vagas em cada cérebro. ” (SAUSSURE, 2006 p.21).
e indistintas (CAMARA, 1979, p. 110). Parole, por sua vez, é o lado em que a língua
Apesar de as dicotomias serem importantes se realiza, a qual o falante exprime seu
fenômenos linguísticos nas teorias pensamento pessoal por meio da utilização do
Saussurianas, será enfatizada, na presente código. A distinção entre a langue e a parole é
pesquisa, a dicotomia língua e fala. É um princípio relevante, entre outros, para
importante ressaltar que as dicotomias foram entender o porquê que Saussure optou pela a
instituídas por Saussure para esclarecer e língua como objeto da linguística. A relação de
elucidar o funcionamento da língua enquanto confrontação entre esses dois elementos é
sistema. Portanto, são categorias de análise necessária do ponto de vista em que uma
dentro da teoria saussuriana. denúncia a presença da outra demonstrando as
A língua é social, coletiva ela só existe por características e peculiaridades de ambas na
meio de uma coletividade, ou seja, nenhum qual só uma delas se encaixa como objeto, um
falante é possuidor exclusivo da língua. Ela é fator social dentro de uma sistematização.
um instrumento de domínio e só existe na A fala possui algumas características
mente dos falantes. É uma abstração da peculiares como o uso individual e particular
realidade que se concretiza por meio da fala. A que se faz da língua. Ela tem toda uma
distinção entre língua e fala constitui a base da criatividade. Pode-se criar ou inventar tudo que
teoria estrutural da linguagem. Segundo se quer dentro dos limites que a língua
Saussure, a língua é um fato social, assim como estabelece. Ela é multifacetada em sua
a fala, um ato individual, contudo, uma não natureza e heterogênea, cada pessoa escolhe
existe sem a outra. com que signo vai exprimir suas ideias
O estudo da linguagem comporta, portanto, escolhendo o melhor significante para cada
duas partes: uma, essencial, tem por objeto a situação.

1242
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Quando se afirmar que a fala é o uso a um conceito. Ela é a parte social da


individual, afirma-se que cada indivíduo tem linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só,
um modo típico, próprio e exclusivo de se não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não
manifestar. É isso que faz toda a diferença existe senão em virtude duma espécie de
embora a língua seja a mesma, a fala utilizando- contrato estabelecido entre os membros da
se dessa língua sempre é expressa de forma comunidade (SAUSSURE, 2006, p. 22).
diferente. Enquanto a língua é sistemática em Como sendo exterior ao indivíduo, ela não é
sua estrutura, a fala como concretização da concebida por ele. O indivíduo não pode criá-la
língua é mais versátil e dinâmica, aproveitando- nem a modificar, apenas, serve-se dela. Como
se de diversas maneiras para expressar-se um grande dicionário virtual, a língua apresenta
usando a criatividade no momento da um conjunto de possibilidades, nas quais o
comunicação. Há muitos pontos de interface falante (indivíduo) faz suas escolhas dentro do
entre a língua e a fala, entretanto Saussure grande modelo que ela oferece. Ela é
deixa claro que a tarefa basilar e estratégia de sistemática, ou seja, apresenta-se como um
distinção entre a língua e a fala é isolar o objeto sistema de valores e como sistema de valores a
de investigação linguística. língua é um fato social estabelecido por um tipo
de ajuste formal, pacto ou convenção entre os
A OPÇÃO PELA LÍNGUA COMO falantes que dela se serve. Um instrumento de
interação. Ela só existe por este acordo social
OBJETO DA LINGUÍSTICA entre os próprios falantes que a utilizam.
SAUSSURIANA As considerações dentro do CLG dizem que
A língua tem sido alvo de muitas Saussure ao falar sobre o objeto concreto e
investigações por aqueles que se interessam integral da linguística afirma que a questão é
pelo campo da linguística bem como o que o difícil e esclarece as dificuldades. É importante
levou Saussure a optar por esse fenômeno entender que, diferentes de outras ciências,
linguístico. Entretanto, no CLG há explicações, provavelmente comparando a linguística com
não poucas, sobre isso. A língua tem as ciências naturais que já se haviam
características bem específicas. Ela é social, estabelecido na época, nessas ciências, os
resultado coletivo do consenso das pessoas objetos são dados primeiro e depois são
sobre o seu signo. É sistemática exterior ao analisados, estudados e em seguida
indivíduo um sistema de signos que exprime considerados por vários pontos de vista. Na
ideias, é coletiva, é aquilo que se tem de linguística, o acontecimento é diferente como
homogêneo é aquilo que une os falantes de afirma Saussure (2006 p.15), “Bem longe de
uma mesma coletividade, por exemplo, os dizer que o objeto precede o ponto de vista
falantes da língua portuguesa. diríamos que é o ponto de vista que cria o
Ela é um objeto bem definido no conjunto objeto”.
heteróclito dos fatos da linguagem. Pode-se Dentro dessa perspectiva, pode-se dizer que
localizá-la na porção determinada do circuito para Saussure a língua é um sistema de valores
em que uma imagem auditiva vem associar-se estabelecido por via de acordo social. Ou seja,

1243
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que o componente da língua isoladamente não também, e de igual modo, a contraparte dos
tem valor nenhum. A língua é um sistema em outros signos da língua. (...) A língua [é] um
constante mutação e que seus elementos não sistema em que os termos são solidários e o
têm significado por si só, mas por suas relações valor de um resulta tão-somente da presença
com outros elementos que a compõe. simultânea de outros (SAUSSURE, 2006, p.133).
Essa afirmação fica mais clarificada quando A noção de sistema que Saussure estabelece
Saussure toma por exemplificação comparando ao que parece é o cerne da questão. Falar, já
a língua com o sistema monetário. Imagine uma que o objetivo é a comunicação, só é possivel
cédula de cinco, dez e vinte reais. com base em um sistematização. É o que
Independentemente do material que essas diferencia um código decifrável da ação de só
notas são feitas, seja papel ou metal, cada nota emitir sons ou até mesmo produzir rabiscos. A
representa uma grandeza. O valor de cada nota língua seria então, essa base, esse apoio virtual
é dado ao que ela representa comparando as ao qual sem ela a fala não existiria. Diferente do
demais notas do sistema e concomitantemente objeto de estudo das outras ciências, a língua é
ao que ela pode ser trocada. Essas relações um sistema abstrato de signos inter-
entre as notas é o que denuncia o valor de cada relacionados, de natureza social e psíquica.
uma delas dentro do sistema monetário. Da É importante saber que a fala com suas
mesma forma, é a língua. As relações entre seus peculiaridades e características individuais não
elementos resultam em um sistema. Não é um caberia para a finalidade de Saussure, pois ela
objeto independente como o das outras se manifesta como uso particular do indivíduo.
ciências. Por sua vez, a língua possui uma organização
Outro aspecto no tocante ao objeto da fundada sobre uma ordem de prioridade entre
linguística afirma Saussure (1996, p. 15), "o os elementos de um conjunto, é hierarquizada
fenômeno linguístico apresenta e social. E que como sistema uniforme e
perpetuamente duas faces que se hierarquizado de caráter coletivo, a língua,
correspondem das quais uma não vale se não provavelmente, assiste aos propósitos de
pela outra". Então, com base nessa afirmação é Ferdinand de Saussure no tocante à
da natureza deste fenômeno o atributo das necessidade de instituir o objeto de estudo da
duas faces, ou dois lados que é a característica linguística. Por outro lado, a fala enquanto
do signo linguístico. O signo funciona como um realização da língua sendo de caráter individual
guardador de ideia dentro da língua que faz a acidental, entre outros aspectos, não é possível
união de sentido com a imagem acústica como abranger as necessidades e dimensões que a
o corpo e a alma da ideia o significante e o língua oferece dentro da teoria saussuriana.
significado um não vive sem o outro. A língua é No CLG, observa-se que Saussure optou pela
um conjunto de signos linguísticos. língua, embora não tenha desconsiderado fala
De um lado, o conceito nos aparece como em seus estudos. Apenas instituiu a língua a
contraparte da imagem auditiva no interior do parte essencial, na linguística. “a linguística tem
signo, e, de outro, este mesmo signo, isto é, a por único e verdadeiro objeto a língua” (CLG
relação que une seus dois elementos, é 2006, p. 271).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

AS IDEIAS DE SAUSSURE E LA. A linguística aplicada principiou em meados


da década de 40, especificamente no período
ESTUDOS LINGUISTICOS da II guerra mundial. Atualmente, a L A vem
CONTEMPORÂNEOS tomando cada vem mais autonomia como
Não se pode negar o avanço da linguística no campo de pesquisa frente à linguística teórica
século XX, os estudos da linguagem têm chamada de núcleo duro.
progredido de forma vertiginosa. Os avanços e As fronteiras entre essas duas áreas, a saber
interseções com outras áreas de a linguística teórica e linguística aplicada nem
conhecimentos e com inúmeras ciências que sempre se dão de forma harmoniosa. Signorini
coadunam com a linguística são expressivos. (2006, p. 99;100) afirma que a:
Mesmo com a ascensão das correntes Linguística aplicada (LA) tem se configurado
pragmáticas em comparação ao estruturalismo, também, e cada vez mais, como uma espécie de
a influência dos estudos saussurianos continua interface que avança por zonas fronteiriças de
configurando fortes bases para os estudos e diferentes disciplinas, não somente na área dos
pesquisa dentro da linguística nos dias atuais. estudos da linguagem, como também na da
Instituir a linguística como ciência, entre Psicologia, da Sociologia, da Antropologia, da
outros aspectos de sua teoria, fez parte do Pedagogia, da Psicanálise, entre outras. Nesse
legado de Ferdinand de Saussure. Tal feito, até sentido, tem-se também constituído como uma
os dias contemporâneos, produz área feita de margens, de zonas limítrofes e
desdobramentos no que concerne as pesquisas bifurcações, onde se tornam móveis as linhas
sobretudo no campo da linguagem ou a de partilha dos campos disciplinares e são
diversos estudos e teorias que absorve dessa deslocados, reinscritos, reconfigurados, os
fonte. Segundo Saussure (1995, p. 13), “a constructos tomados de diferentes tradições e
linguística tem relações bastante estreitas com áreas do conhecimento.
outras ciências, que tanto lhe tomam Entretanto, é importante destacar entre as
emprestado como lhe fornecem dados. Os nuances da Linguística Aplicada, que a referida
limites que a separam das outras ciências não área de estudo, não se estabeleceu na sua
aparecem sempre nitidamente”. As palavras do essência como interdisciplinar ou
mestre genebrino ainda ecoam nos estudos transdisciplinar por natureza. Só na da década
linguísticos de pesquisadores atuais e, de 1980, que a LA vem estabelecendo pouco a
provavelmente, continuará trazendo valiosas pouco sua emancipação epistemológica em
contribuições para as pesquisas de linguistas relação à Linguística teórica. Embora a
futuros, sendo concretizada pelos diversos linguística tenha avançado em seus estudos e
caminhos que as análises científicas da pesquisas, é importante revisitar as
linguagem têm se conduzido com diferente contribuições de Saussure e suas ideias,
estudo dentro da própria linguística. fazendo reflexões de sua teoria aos dias atuais.
A exemplo dessas ramificações e de capo de Dessa forma, pode-se observar que as teorias
pesquisa que vem se estabelecendo na de Saussure não ficaram antiquadas ou
linguística está a linguística aplicada chamada irrelevantes, pelo contrário, permanecem

1245
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

como fonte de pesquisa e inspiração para


aqueles que se interessam em estudar a língua.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com as considerações realizadas no presente
estudo, foi possível perceber as influências do
pensamento de Saussure, bem como suas
contribuições no que concerne aos estudos
linguísticos modernos. O desenvolvimento do
referido tema permite afirmar que as teorias de
Saussure foram e continuam sendo de suma
importantes para as pesquisas atuais na área da
Linguística.
O olhar de Ferdinand de Saussure para
linguagem de forma científica contribuiu para
que outros pesquisadores pudessem
desenvolver seus próprios métodos de estudo,
mesmo sendo a linguística, em relação a
algumas áreas do conhecimento, uma ciência
relativamente nova, constitui um campo fértil
para inúmeras pesquisas realizadas. O estudo
desse trabalho evidenciou, como esperado, a
fundamental importância do pensamento de
Saussure nos trabalhos linguísticos atuais como
ponto de partida para o descobrimento de
outros fenômenos da linguagem.

1246
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de vários estudos e considerações feitas acerca dos elementos língua e fala, há
muito ainda o que se pesquisar sobre estes dados linguísticos. Trata-se de um campo perene, rico
e inesgotável de fenômenos a serem desbravados.
As considerações por esses elementos feitas por Ferdinand de Saussure fomentam
discussões até hoje e constituem verdadeiro corpus para futuras pesquisas e estudos no que se
refere à linguagem, bem como o CLG e as famosas dicotomias que longe de estarem ultrapassados
ajudam a compreender o funcionamento da língua enquanto sistema na teoria saussuriana.
Entretanto, como uma fonte que não cessa, faz-se necessário uma releitura dessa obra
principalmente as apreciações no toante à língua e à fala desde o início de sua organização, a
definição de língua proposta por Saussure. Principalmente o que o levou a optar pela língua como
objeto de estudo da linguística.
Por fim, a língua como instrumento social e elemento de domínio entre os povos, sempre
será alvo de investigações no campo da linguagem. E as considerações de Ferdinand de Saussure
junto com o CLG apresentam-se como uma fonte fecunda de pesquisa nessa área. Em razão dos
pontos questionáveis no CLG, devido às marcas pessoais dadas por seus organizadores é
necessário um estudo profundo e minucioso para se entender os mistérios desse tesouro que é a
língua que passa de geração a geração.

1247
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Campinas: Pontes, 2005.

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CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica/Castelar


de Carvalho.- 7ed. Ver. e ampl.com exercícios e um estudo sobre as escolas estruturalistas. -
Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

CHOMSKY, N. Aspectos da Teoria da Sintaxe. Tradução José Antônio Meireles e Eduardo P.


Raposo. 2. ed. Coimbra, Portugal: Armênio Amado Editor, 1965.

CULLER, Jonathan. As ideias de Saussure. Trad. FONSECA, Carlos Alverto da. São Paulo:
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RODRIGUES, Rômulo da Silva Vargas. Saussure e a definição da língua como objeto de


estudos. ReVEL. Edição Especial n.2, 2008.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Linguística Geral. Trad. Bras. Antônio Cheline et al. 27ª
Ed. São Paulo: Cultrix , 2006.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LETRAMENTO DIGITAL:
REFLETINDO ACERCA DA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL
(ANOS INICIAIS)
Carlos Mometti1
Adriana Bigido2

RESUMO: O artigo propõe reflexões acerca do letramento digital e a formação de professores por
meio de um relato de experiência de formação continuada promovida para um grupo de
professores do ensino fundamental (anos iniciais). Tal formação deu-se para um grupo de
professoras no município de São Paulo e foi dividido em dois momentos, aqui chamados de
momentos 1 e 2, totalizando oito horas. Sua organização está dividida em duas partes, sendo a
primeira de foco teórico, no qual os conceitos digitais atuais foram apresentados e, a segunda,
orientada com a mediação de uma reflexão acerca dos conceitos digitais vistos e seus
desdobramentos na prática pedagógica e formação dos alunos. As reflexões realizadas ao longo
do trabalho foram corroboradas com a aplicação da análise do discurso sobre relatos extraídos
durante a formação. Como resultados obtivemos conceitos relacionados à noção de
temporalidade, qualidade da prática desenvolvida e desenvolvimentos metodológicos quando na
utilização das tecnologias digitais para alunos do ensino fundamental. O curso evidenciou a

1 Pesquisador em Educação e Doutorando em Ensino de Física (USP).


Email:carlosmometti@usp.br
2 Coordenadora de Projetos Educacionais (Mentes Notáveis) e Mestranda em Ensino de Ciências

(UFABC).
Email:abigido@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contínua necessidade para a inserção das chamadas TIC's para professores de modo a promover
o letramento digital neste nível de ensino.

Palavras-Chave: Letramento digital; Formação de professores; Ensino fundamental.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO específicos e que seja integrado com sua


formação e desenvolvimento enquanto
Tornou-se consenso na sociedade indivíduo.
contemporânea que a tecnologia assume, a Neste sentido, quando estudamos a
cada dia, papel protagonista em todos os tecnologia e seus usos na sala de aula fazemos
âmbitos da vida cotidiana. Seja no trabalho, na referência ao conceito de letramento digital. A
saúde ou na alimentação nota-se a presença perspectiva que adotamos neste trabalho
contínua de aparatos tecnológicos voltados acerca de sua definição é a mesma defendida
para a melhoria da qualidade do que é por Serim (2002), o qual traz por letramento
ofertado. Neste sentido, a Educação por ser digital o uso de tecnologias, ferramentas de
uma das áreas de maior relevância social não informação e comunicação (TIC) para integrar,
estaria isenta de tal utensílio. gerenciar e transformar elementos associados
Seu uso na área educacional se deve ao com a informação e aplicar tais usos na
contínuo desenvolvimento de produtos digitais sociedade.
educacionais voltados para o emprego de novas Assim, seu uso contínuo pela sociedade
metodologias e, que ao final, busquem modificou, numa perspectiva estrutural, o
excelência de resultados. Deste modo, a modus operandis das relações de produção e
inserção do universo digital no cotidiano social trabalho. Como consequência, o pensamento
não poderia deixar de afetar aos professores, social transformou-se e readaptou as
de todos os níveis, uma vez que estes atuam estruturas sociais conforme Giddens (2009)
diretamente com os sujeitos educandos, foco inicialmente nos propõe quando trata da
principal de seu trabalho. dualidade agência humana e estrutura social.
A propósito disso, tornou-se comum na Desse modo, a inserção das tecnologias digitais
atualidade observarmos crianças utilizando nas sociedades modernas demandou novas
aparatos tecnológicos, tais como celulares, formas de pensar, ler, escrever e se comunicar.
tablets e computadores portáteis. Isso, há duas Neste contexto, foram exigidas habilidades
décadas, era restrito ao universo dos adultos e para o manuseio dessas tecnologias e
a seus trabalhos. Desta forma, a criança da incorporados novos usos e práticas sociais de
contemporaneidade tem em suas mãos a ponte leitura e escrita às atividades diárias dos seres
para o mundo, seja conectando-se com outras humanos (CHARTIER, 1999; LÉVY, 2003;
crianças de outros lugares, seja por meio de ARAÚJO, 2007).
jogos e vídeos disponíveis na rede digital. Ademais, no que tange às tecnologias digitais
Este ponto, todavia, identifica-se um grau de aplicadas ao ensino podemos destacar alguns
extrema responsabilidade de todos os elementos presentes na Base Nacional Comum
envolvidos no processo de formação destes Curricular (BNCC), a qual traz à luz o objeto da
sujeitos, pois não há como impossibilitarmos a presente discussão por meio da competência
utilização dos objetos tecnológicos, mas sim geral 5, aludindo:
trabalhar pedagogicamente como utilizá-los e, Compreender, utilizar e criar tecnologias
quando utilizá-los, selecionando conteúdos digitais de informação e comunicação de forma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

crítica, significativa, reflexiva e ética nas Nota-se, todavia, que a importância dada ao
diversas práticas sociais (incluindo as escolares) uso das TIC's está tomando espaço nos
para se comunicar, acessar e disseminar documentos educacionais, conforme
informações, produzir conhecimentos, resolver supracitado com as competências geral e
problemas e exercer protagonismo e autoria na específica. Porém, não basta termos um
vida pessoal e coletiva (BRASIL, 2017,s.p). referencial para a elaboração de materiais
Outrossim, a competência geral estabelece a didáticos e produção de metodologias, a
necessidade de se trabalhar as tecnologias necessidade maior encontra-se na formação
digitais em todos os níveis de ensino, inicial e continuada de professores.
assumindo-a em todos os conteúdos Desta forma, há de se ter um planejamento
disciplinares. Deste modo, o documento - pedagógico alinhado com a produção dos
referência para a construção de currículos, bem conteúdos didáticos e, também, da formação
como materiais didáticos, prevê a inserção dos docente. Pois, esta última tem sido objeto de
sujeitos educandos no mundo digital além de muitos debates na comunidade acadêmica,
sua utilização na vida diária. haja visto os resultados de avaliações externas
Não obstante, os conhecimentos acerca da aprendizagem e suas correlações -
trabalhados nos diversos conteúdos deverão muitas vezes superficiais e sem metodologias
abordar, de alguma forma, o uso das TIC's. adequadas de análise.
Contudo, isso varia de acordo com o nível de Todavia, o Plano Nacional de Educação (PNE)
ensino, uma vez que como já mencionado prevê em sua meta 15 uma política voltada para
anteriormente os alunos chegam na escola - a reelaboração dos projetos de formação de
muitas vezes ainda na primeira infância - já professores no que tange às metodologias,
sabendo que existe e alguns aspectos básicos processos didáticos, uso de materiais e
de tecnologias digitais. Tomando como desenvolvimento de atividades na etapa que
referência o nível fundamental (anos iniciais), a antecede a conclusão do curso. Assim, os
sexta competência específica determina a cursos de formação inicial - e continuada -
inserção, uso e trabalho pedagógico com as devem abordar conteúdos relacionados ao uso
tecnologias digitais. Assim, de acordo com o das TIC's na educação, ou seja, deve-se realizar
documento oficial, temos: uma reformulação nos currículos dos cursos de
Compreender e utilizar tecnologias digitais licenciatura e pedagogia do país.
de informação e comunicação na forma crítica, Deste modo, dizemos que um professor é
significativa, reflexiva e ética nas diversas letrado digitalmente na medida em que faz uso
práticas sociais (incluindo as escolares), para se das tecnologias digitais (inclusas redes) para
comunicar por meio de diferentes linguagens e transformar seus procedimentos e suas
mídias, produzir conhecimentos, resolver práticas pedagógicas. Consequentemente, tal
problemas e desenvolver projetos autorais e transformação da práxis refletir-se-á na
coletivos (BRASIL, 2017,s.p). aprendizagem dos alunos e no seu trabalho em
sala de aula.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Assim, falarmos de tecnologia na sala de aula O escopo de tal iniciativa foi o de inserir os
não nos remete pura e simplesmente à um professores dos referidos níveis no universo
debate acerca de qual ou quais recursos digitais digital e promover uma reflexão sobre os
serão disponibilizados, tampouco o como tais impactos que tal movimento trará para a
recursos serão manuseados do ponto de vista formação da criança contemporânea.
metodológico. Precisamos, antes de mais nada,
colocarmos em pauta a formação daqueles que CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA
estarão diante de tais pressupostos, ou seja, as
O curso de formação com professores do
professoras e os professores, de modo que
ensino fundamental (anos iniciais) deu-se num
estejam preparados e orientados para sua
colégio privado do município de São Paulo,
utilização.
Brasil, no decorrer do segundo semestre do ano
No mundo digital em que vivemos, há um
de 2019. O grupo contou com vinte e cinco
fácil acesso à informação e viabilização e
professores inscritos, todos do sexo feminino e
expansão da cultura digital. Diante disso,
de faixas etárias diversificadas. Todas as
surgiram dois perfis: os chamados nativos
participantes deste curso desenvolviam seus
digitais e os migrantes digitais. Os primeiros
trabalhos neste colégio há um tempo
nasceram nesta “era digital”, são aqueles que
considerável, fato este que motivou a gestão a
acompanharam sua criação e expansão desse
buscar a formação continuada tomando como
universo abrangente. Já os segundos, são
foco o letramento digital.
aqueles que tiveram que se adaptar ao ritmo
No que se refere à instituição na qual o
frenético e acelerado das novas tecnologias da
presente curso foi ministrado, esta se localiza
informação, que precisam conviver e interagir
na região norte da cidade de São Paulo, num
com os nativos digitais e, além disso,
bairro com pouco comércio, pouca circulação
necessitam aprender a conviver em meio a
de pessoas e com risco social elevado. O
tantas inovações tecnológicas. Podemos dizer
alunado é constituído por crianças desde os 3
que, neste contexto o docente enfrenta o
anos até jovens de 18 anos, dos níveis infantil
desafio de apropriar-se desses recursos
ao ensino médio. A faixa de renda de todos os
tecnológicos e utilizá-los de forma significativa
alunos é caracterizada como média e, além
no processo ensino - aprendizagem.
disso, uma pequena parcela habita nas
Nesta perspectiva, expomos neste artigo
proximidades.
reflexões realizadas a partir de uma experiência
Já o corpo docente para o qual este curso de
de formação continuada de professores do
formação foi proposto, como já mencionado, é
ensino fundamental (anos iniciais) voltada para
heterogêneo no que tange à faixa etária, mas
o letramento digital. Além disso, por meio dos
homogêneo quando o assunto é envolvimento
discursos coletados dos professores
e integração. Como será apresentado mais
participantes realizamos uma análise do
adiante, mesmo frente a dificuldades com
discurso com a finalidade de obtermos uma
termos específicos e técnicos da área de
visão ampla deste grupo docente em específico
tecnologia, todas as professoras se “ajudavam”,
acerca do tema em pauta.
o que evidenciou uma das características

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fundamentais para quem faz e atua em repensarmos aspectos relacionados à


educação: solidariedade. Neste sentido, construção do saber docente – considerando o
assumimos para os sujeitos participantes deste nível específico no qual trabalhamos este tema
trabalho como um grupo de solidariedade. do letramento digital.
Já com relação à estrutura da instituição, O curso foi organizado em duas partes, cada
esta continha todos os aparatos necessários uma delas pensada para ser desenvolvida em
para o desenvolvimento do curso, bem como quatro horas. Seu desenvolvimento deu-se nos
um amplo espaço para sua evolução. períodos da manhã e tarde. No primeiro
momento os aspectos teóricos foram trazidos,
ORGANIZAÇÃO E tais como definição de TIC, objetos
tecnológicos, sua evolução e inserção na
METODOLOGIA DO CURSO educação contemporânea. Já no segundo
O curso de formação continuada proposto momento, todavia, direcionamos o curso para
para a equipe de professores tinha por tema uma reflexão sobre o uso destas tecnologias no
“Letramento digital na Educação”. Seu escopo ensino fundamental.
foi o de promover a inserção dos professores de Ambas as partes do curso foram distribuídas
ensino fundamental (anos iniciais) no universo em tópicos, sendo que na primeira priorizamos
digital, de modo a reduzir o distanciamento a exposição de ideias e conceitos e, na segunda,
entre aquilo que as crianças estão vivendo em o foco foi na discussão entre o próprio grupo de
seu mundo social e o que vivem na escola. professores. Os conceitos apresentados na
Como perspectiva teórica inicialmente primeira parte foram: letramento digital,
adotada, consideramos que a escola é um definições da Web e seus usos, sítios
espaço reprodutor de culturas e eletrônicos para o ensino e metodologia de
comportamentos sociais (MOMETTI, 2018). ensino digital.
Deste modo, a sala de aula passa a ser A segunda parte, por sua vez, tinha por
entendida como um palco onde reinam direcionamento a promoção de uma reflexão e
diversas culturas, as quais se relacionam e se discussão entre os professores. Estas eram
transformam, influenciando constantemente a mediadas por assuntos geradores, os quais
prática pedagógica do professor. foram apresentados na primeira parte. Apesar
Assim, o mesmo pode servir-nos como um da organização inicialmente proposta para a
espelho fidedigno da realidade na qual segunda parte, todo o debate girou ao redor de
vivemos. Considerando tal elemento, todas as questões-chave, as quais serão apresentadas e
informações obtidas durante a realização da discutidas adiante.
prática e, posteriormente, transformada em
dados para análise foram extraídas de um
ambiente naturalizado. Isso quer-nos dizer que
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme mencionado anteriormente, o
o contato com os referidos professores foi de
modo horizontal e permitiu-nos, certo modo, curso foi organizado em dois períodos, sendo o
extrair observações relevantes para primeiro destinado para apresentação dos
conceitos tecnológicos e, o segundo, para uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

reflexão guiada, seguida de discussão, entre os Neste ponto, ainda, podemos perceber que a
participantes do mesmo. Cabe ressaltar, dificuldade em lidar com aparatos tecnológicos
contudo, que aqui entendemos por reflexão faz-se presente para estas professoras e que,
guiada o processo por meio do qual um assunto no momento de sua formação o cenário
ou tema é proposto e, a partir dessa proposição pedagógico era outro. A noção de tempo na
são elucidados ideias, noções e entendimentos. prática pedagógica dos professores alude, certa
Este procedimento é característico de um medida, para dois pontos distintos: i) tempo
ambiente naturalizado de pesquisa, pois como referência à experiência docente e ii)
auxilia-nos na detecção de informações que tempo como inimigo da qualidade do trabalho.
poderiam estar omitidas em outras formas de No primeiro tópico encontramos a ideia
registro. tradicional do ensino, aquela em que quanto
Num primeiro momento, observamos que ao mais tempo estou atuando como professor
longo da exposição dos conceitos relativos à melhor será meu trabalho em sala de aula. Isso
tecnologia digital algumas das professoras vem em decorrência do entendimento do
sentiam-se desconfortáveis, fato este que foi ser/atuar do professor como uma profissão
corroborado pelas falas da professora que única e exclusivamente destinada à sua prática.
neste texto será indicada pela letra A: O que não é aqui conferido como bom ou ruim,
“[...]nunca ouvi falar disso!” e “[...]estou apenas para caráter de análise e reflexão da
ficando velha (seguida de risos)” (PROFESSORA prática docente em formação continuada.
A). Como citado, o grupo de participantes do
Na primeira destas falas observa-se um curso trabalha no colégio há pelo menos cinco
desconhecimento do universo tecnológico, anos. Deste modo, todas as docentes já
situação esta que não se torna única e exclusiva incorporaram um modus operandi
deste segmento de ensino. O uso do advérbio característico daquela instituição o que reflete,
"nunca" na primeira fala não nos remete ao de acordo com Sewell Jr. (2015), numa
entendimento de que a docente não nota a reprodução cultural inerente ao espaço em que
tecnologia em sua vida, uma vez que está se dá a aula. Pois, de acordo com o referido
inserida na sociedade e, por sua vez, presencia autor, todos as aspectos culturais inerentes a
situações sociais permeadas pelo universo um dado grupo são reproduzidos e
digital. No entanto, o uso dessa expressão transformados quase que concomitantemente.
evidencia o "não uso cotidiano", a sua "não Além disso, ainda nesta perspectiva, cultura é
familiaridade" com o que tivera sido exposto. entendida como uma estrutura, nos moldes da
Já na segunda fala podemos verificar a noção apresentada por Giddens (2009).
presença da noção de tempo, evidenciada pelo Ainda sobre a segunda fala destacada da
uso dos termos “ficando velha”. Estes refletem professora A, a noção de tempo está
o distanciamento de uma geração analógica, a relacionada à idade e esta, por sua vez, com a
dos migrantes digitais, com a geração virtual qualidade do trabalho desenvolvido. Isso quer
supracitada como nativos digitais. dizer que, quanto maior a idade mais distante
dos novos surgimentos tecnológicos se está e,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

consequentemente, mais “desatualizado” se desde o infantil até o médio – que promovemos


fica. Este fato fez-nos chegar a uma nova para nossos alunos e alunas. Para exemplificar,
questão: a inserção da tecnologia no ensino há alguns anos ensinar numerais para as
afere qualidade para o trabalho docente? crianças estava restrito a objetos simples e
Esta questão, todavia, gerou uma discussão músicas de memorização. Atualmente, tal
muito rica, na medida em que o termo gerador procedimento dá-se por meio de softwares e
foi "qualidade". Se partirmos do pressuposto de jogos matemáticos inteligentes gamificados,
que qualidade se relaciona com o ensino ser pensados para crianças a partir dos quatro anos
"bom" ou "ruim" corremos o risco de tornar o de idade.
debate genérico e de subjetivarmos o trabalho Não obstante, pudemos notar que no debate
desenvolvido na escola, seja ele docente, de promovido no segundo momento houve um
gestão ou aplicação de paralelo com a alfabetização. Isso significa que,
metodologia/conteúdos. Deste modo, o que se lidar com a tecnologia digital atual é o mesmo
encontra presente na discussão atual acerca do que começar a escrever as sílabas, sendo que
tema é que utilizar tecnologia aplicada ao muito rapidamente já se chega às palavras,
ensino torna-o necessariamente melhor. conforme ressalta outra professora, neste
Deste modo, ao perceberem tantos trabalho identificada pela letra C, em sua fala:
conceitos e um mundo inteiramente novo “[...] vejo tantos sites para ensinar percebo
chamado de “tecnologias da informação e que sou analfabeta nesta área... o bom da
comunicação” as professoras operaram com a tecnologia que se aprende muito rápido!”
noção de tempo e orientaram todo o debate do (PROFESSORA C).
segundo momento para o distanciamento Já na fala da professora acima nota-se, pelo
entre sua formação inicial e as atuais uso do termo "sou analfabeta “que a mesma
perspectivas do ensino. Para tanto, a dúvida não domina a linguagem digital. Ao contrário,
acima citada foi colocada em discussão e uma sua prática pedagógica está baseada na
das falas que mais causou debate, neste oralidade e na noção de tempo de trabalho.
trabalho identificada pela professora B, foi: Além disso, percebe-se que há um
“[...] eu não consigo lidar muito bem com os enfrentamento de desafios, o que é aludido
aplicativos e internet, meu aluno joga no tablet pela frase "o bom da tecnologia é que se
da mãe dele e mexe como se fosse a coisa mais aprende muito rápido!".
fácil do mundo” (PROFESSORA B). Isso quer-nos dizer que o mundo digital a
Ao trazer para a discussão esta fala, a sensibiliza a tal ponto de conviver e adicionar os
professora destaca não apenas o novos recursos digitais para o ensino à sua
distanciamento que há entre sua formação e prática. Aprender e aplicar novos
atuação com os atuais aparatos tecnológicos, conhecimentos por meio das tecnologias com
mas também a vivência que seu aluno os alunos torna-se, neste sentido, um fator
contemporâneo possui, o que pode ser desafiador para o docente migrante digital.
evidenciado pelo uso dos termos "não consigo Além disso, adaptar-se às novas e complexas
lidar". Isso faz-nos refletir sobre a formação – demandas educacionais originárias das novas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tecnologias, exige do professor inovação. Exige


criatividade e mudança de paradigmas no
processo de formação e do trabalho
pedagógico.
Neste sentido o letramento digital, na
formação deste grupo de professoras em
específico, seria a ponte entre um mundo
analógico e o mundo digital, no qual o uso das
novas tecnologias para o ensino visto que o
“lúdico “faz parte deste processo de
aprendizado e o quão ele é importante para os
sujeitos educandos neste processo.
Deste modo, por mais que no início possa
parecer difícil e trabalhoso, o aprendizado
torna-se efetivo na medida em que o uso passa
a ser contínuo. Tais elementos corroboram com
a perspectiva apresentada por Freitas (2010),
quando afirma:
Os professores precisam conhecer os
gêneros discursivos e linguagens digitais que
são usados pelos alunos, para integrá-los, de
forma criativa e construtiva, ao cotidiano
escolar. Quando digo integrar é porque o que
se quer não é o abandono das práticas já́
existentes, que são produtivas e necessárias,
mas que a elas se acrescente o novo (p. 340).
Assim, a perspectiva indicada por Freitas
(2010), vai ao encontro com a proposição inicial
do curso de formação continuada proposto
para este grupo de professoras. O conhecer a
realidade de seus alunos é de extrema
importância, não apenas para se integrar mais
facilmente como, também, para conhecer o
como estas crianças estão vivendo e
aprendendo na contemporaneidade, sendo
esta repleta de inovações e tecnologia.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, o curso de formação continuada teve por objetivo promover a inserção
das professoras de ensino infantil e fundamental no universo digital. A princípio, o
desenvolvimento do curso foi orientado para expor os conceitos tecnológicos atuais bem como
as principais ferramentas para uso em sala de aula. Contudo, não foi realizada nenhuma aplicação
prática do que fora exposto na primeira parte do curso, conforme citado, mas durante o segundo
momento pudemos perceber que ideias surgiam aliadas ao medo de errar.
Elementos como noção de tempo foi o que norteou as falas durante a discussão no
segundo momento, como podemos perceber no item anterior. Tal fato deve-se à insegurança e
ao distanciamento da formação inicial destas professoras com o advento das tecnologias atuais.
Neste ponto, o foco do curso foi atingido, uma vez que trabalhar conceitos digitais e promover
uma reflexão acerca de seu uso na sala de aula para crianças equivale a iniciar o processo de
letramento digital para professores em serviço.
Neste sentido, faz-se necessário implementar nos cursos de formação de professores da
educação básica, de todos os níveis, ferramentas metodológicas que tragam tecnologias digitais
voltadas para a inserção, uso e desenvolvimento no ensino. Isso se justifica, pois, a o sujeito
educando - foco da escola uma vez que está submetido a um processo de formação social e
intelectual - está imerso num mundo cada vez em transformação. Assim, como reflexo da
sociedade, a escola precisa estar alinhada às transformações do mundo, de modo a promover a
formação integral do sujeito.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1259
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS:


MUDANÇAS PARA O SÉCULO XXI
Eliete Braga1

RESUMO: Este artigo tem como objetivo refletir sobre a prática do professor no ensino da
Matemática, bem como essa disciplina deve ser apreendida por cada um que se dedica a
transmitir seus conhecimentos nessa área. Destaca também algumas metodologias para o ensino
da Educação Matemática. Para isso este trabalho sugere formação continuada para os
professores que instruirão os futuros profissionais dos anos iniciais. A metodologia utilizada foi a
pesquisa bibliográfica. Concluiu-se que não basta oferecer os cursos para os professores do ciclo
I sem ao menos oferecer recursos tecnológicos, didáticos, metodológicos, além de, na tentativa
de minimizar os traumas adquiridos na infância, mostrar que a Matemática é uma disciplina como
outra do currículo, com possibilidades de desenvolvimento avançado em cada um dos educandos.

Palavras-Chave: Educação Matemática; Metodologias de Ensino; Formação Docente.

1Professora de Ensino Fundamental II, na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Matemática.
E-mail: eliete.braga@hotmail.com

1260
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO pode ser feito, nos anos iniciais, que mude


esses mesmos índices, futuramente.
Ensinar Matemática, na Educação Básica, é Quais as formações adequadas voltadas aos
um desafio do século XXI. A formação no campo professores de Matemática dos anos iniciais,
da Educação Matemática é objeto de diversas em pleno século XXI, para que as crianças
pesquisas. Analisar o contexto histórico do tenham um melhor desempenho no processo
desenvolvimento profissional do docente, da Educação Básica?
facilita o entendimento para sustentação de Além disso, a democratização do ensino
algumas caminhadas em torno do tema. permite o acesso de um novo público à escola e
Segundo André (2011), “a formação da as tecnologias de informação e de comunicação
Educação Matemática continua a ser um ocupam o espaço escolar, fazendo com que os
conhecimento parcelado, incompleto.” professores precisem se adequar a essa nova
Principalmente quando o pedagogo vai abordar realidade.
a Matemática aos anos iniciais, pois é um dos Segundo Pires (2001), existe algo em comum
primeiros contatos do educando com essa área a todo professor da educação básica e isso
do conhecimento que, mais para frente, focará favorece a formação dos mesmos, e,
em diversos temas, no ciclo II e Médio, que consequentemente, há competências
dependerá dos conceitos apreendidos no início profissionais que todos eles precisam
do processo, que é justamente quando o desenvolver.
professor é o generalista. Com base nesse contexto, é necessário
Este artigo fez uma análise sobre o contexto analisar os cursos de Pedagogia na questão do
histórico do magistério até a necessidade da ensino da Matemática dos anos iniciais do
graduação em Pedagogia para lecionar aos Ensino Fundamental. Levar em conta a
anos iniciais, bem como a ponte com o ensino singularidade do ensino e da aprendizagem
no século XXI, no qual a formação do docente, pelas crianças e as particularidades dos
utilizando a tecnologia da informação e a professores que atuam nesse setor da
atuação do aluno como formador do seu educação.
próprio processo, se faz necessária, para que o
processo de ensino/aprendizagem ocorra de
A FORMAÇÃO E A REFLEXÃO
maneira mais eficaz.
A formação do professor vem sendo
Justifica-se este estudo, o fato de que as
desenvolvida e estudada desde o século XIX. A
crianças saem dos anos iniciais, rumo os ciclos
ideia de formar um profissional completo, com
autorais e ao Ensino Médio, sem a formação
visão de mundo, passou a ser o foco das
básica do ciclo/série, o que reflete nos índices
Universidades até porque elas eram cobradas
anuais da Educação Básica. Os casos mais
por isso.
relevantes são em conhecimentos
Formação no sentido de desenvolver
indispensáveis de Língua Portuguesa e
experiências, considerando trajetórias,
Matemática. A base é o foco desse artigo: o que
processos e percursos; pensar a formação do
sujeito-professor, para o próprio

1261
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento. Interpretar a própria A reflexão é importante porque, por


existência como um ato de construção de diversas vezes, os futuros professores formam-
sentidos. se com as mesmas maneiras de pensar de
A formação não se resume à aplicação quando entraram na Universidade. Tentam se
mecânica da técnica; o ideal é buscar outras adaptar, mas com a certeza de que quando
metodologias para se explicar algo sem a tiverem sua própria turma, o impacto em
intenção de agir mecanicamente. “Para relação ao processo de ensino-aprendizagem
aprender a conhecer no objeto o outro de si da Matemática não pode ter o efeito que teve,
próprio e com isso tanto quanto um pouco o quando os mesmos eram alunos. A didática
outro” (GADAMER, 1997, p.81). precisa ser motivo de reflexão para que não
O mecânico tem um significado interessante continue o processo de “analfabetismo” da
no dicionário; “que se faz sem vontade ou Matemática. Reflexão para que o acesso aos
reflexão; maquinal, automático”. Segundo alunos seja facilitado, com novas metodologias
Bicudo (2003, p.39), “é pelo movimento de que tornem essa disciplina mais acessível a eles.
reflexão que a consciência volta-se Nas décadas de 60 e 70, o ensino da
atentivamente sobre as vivências vividas”. Matemática era estimulado por ideias
Quando um aluno de Pedagogia demonstra modernistas do movimento mundial conhecido
dúvidas, incertezas e inseguranças com relação como Movimento da Matemática Moderna.
à Matemática, é necessário quebrar barreiras, De acordo com Fiorentini (1995, p.16), a
analisar a relação de cada um com a disciplina educação brasileira era marcada pelo
em questão. tecnicismo pedagógico, com maior importância
Segundo Oliveira (2000): nas tecnologias de ensino e técnicas de ensino
As aprendizagens situadas em tempos e como a instrução programada.
espaços determinados atravessam a vida dos Então, se por um lado a Matemática
sujeitos. O acesso ao modo como cada pessoa mecanicista a demonstrava como um conjunto
se forma, como a sua subjetividade é de técnicas, regras e cálculos matemáticos, sem
produzida, permite-nos conhecer a a necessidade de justificá-los, a forma moderna
singularidade da sua história, o modo singular era veiculada pelos livros didáticos, pelas
como age, reage e interage com os seus fórmulas, aspectos estruturais e suas definições
contextos (OLIVEIRA, 2000, p.15). em contraposição à essência e o significado dos
Reconstruir as vivências e as lembranças de conceitos.
professores que foram essenciais no caminho Já nas décadas de 1980 e 1990, o uso da
escolar, constituem-se numa prática docente tecnologia, como, por exemplo, a calculadora,
de formação. Os futuros professores dos anos já se fazia presente nas pautas de discussões
iniciais assumem um conhecimento de aula e dos estudiosos da Educação, mas tal uso estava
um hábito pedagógico que não são tomados bastante distante da sala de aula.
como objeto de reflexão, apenas trabalham de Perez (1999) destaca:
acordo com o que observaram em seus anos de entender a formação do professor de
formação, inclusive, desde a Educação Infantil. Matemática na perspectiva do

1262
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento profissional é admitir que as No artigo 1º direciona os procedimentos que


transformações que se fazem necessárias no devem ser analisados para organizar uma
ensino dessa disciplina só serão possíveis se for instituição em cada etapa do processo de
instaurado uma nova cultura profissional desse Educação Básica.
professor, que conterá a reflexão crítica sobre e A coerência da formação oferecida e a
na sua prática, o trabalho colaborativo, a prática do professor é tratada no artigo 3º, pois,
investigação pelos professores como prática nele, há um fundamento que norteia o
cotidiana e a autonomia (PEREZ,1999, p.280). exercício da profissão e como atingir essas
O importante é fazer uma análise do competências.
contexto histórico e levar essa pauta para a A análise do currículo e da avaliação
formação Matemática do pedagogo com a juntamente com a organização da instituição e
finalidade de reflexão na disciplina a ser da gestão da escola é abordado nos artigos 4º e
desenvolvida. 5º da resolução, levando-se em conta o projeto
pedagógico de cada curso e o que é necessário
A LEGISLAÇÃO E A EDUCAÇÃO na formação do professor, na medida em que
englobe diferentes âmbitos de conhecimento
MATEMÁTICA profissional.
É relevante citar que a constituição do curso Para se construir um curso de formação de
de licenciatura, no momento atual, tem professores precisa-se definir as competências
identidade própria, com critérios curriculares profissionais necessárias, como, por exemplo:
voltados às funcionalidades do curso. compreensão do papel social da escola, noção
A Lei 9394/1996 define a legislação atual e do conhecimento pedagógico, processos de
foi estabelecida pelo então presidente da investigação que facilitem a prática e a
República Fernando Henrique Cardoso, em 20 competência dos conteúdos a serem
de dezembro de 1996. Essa lei trata das desenvolvidos.
diretrizes e bases da Educação Nacional A resolução oferece essas competências que,
(LDBEN). aparentemente direcionam apenas os
Mesmo com toda organização na estrutura professores mas, na verdade, auxiliam também
escolar, a formação de professores passou a os alunos porque oferecem especificidades a
fazer parte das discussões no Conselho cada etapa do educando.
Nacional (CNE) e, inclusive, durante debates Os conhecimentos exigidos devem
dentro das próprias instituições. contemplar a cultura geral, conhecimento das
Um dos documentos desenvolvidos para especificidades de cada aluno, conhecimento
demonstrar o fortalecimento da formação de das dimensões da educação, os próprios
professores no Brasil é a Resolução de conteúdos que serão objetos de ensino, o
Diretrizes Curriculares Nacionais para a conhecimento pedagógico e a experiência.
formação de Professores da Educação Básica, Em 6 de novembro de 2001, o CNE instituiu o
em nível superior e do curso de Licenciatura. parecer Nº 1302 que coordena as Diretrizes

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Curriculares Nacionais para o curso de escolha de conteúdos, dos espaços da


Bacharelado e Licenciatura em Matemática. formação, da avaliação, contudo pode se
Esse parecer diferencia o ensino da aprofundar nos conceitos e na articulação com
Matemática para os cursos de Bacharelado e os outros conhecimentos afim de ampliá-los.
de Licenciatura, o primeiro existe para preparar Segundo Ponte (2001), os saberes do
para a carreira de Ensino Superior e o segundo professor devem incluir os objetos de ensino,
existe para formar professores para a Educação mas devem ir além, tanto no que se refere à
Básica. profundidade dos conceitos como à sua
As diretrizes propõem competências e historicidade e articulação com outros
habilidades comuns aos cursos de Bacharelado conhecimentos e tratamento didático,
e Licenciatura, tipo: capacidade de trabalhar ampliando, assim, seu conhecimento da área.
em equipe, capacidade de utilizar novas ideias De acordo com a legislação para a formação
e tecnologias na resolução de problemas, de professores, é possível debater e formular os
aprendizagem constante pois sua prática é cursos de licenciatura do país. O problema está
fonte de conhecimento, relacionar a em como a instituição pode abordar o conceito
Matemática com outras áreas do de “analfabetismo matemático” que chega às
conhecimento, formação continuada e pós Universidades, no contexto atual.
graduação. Portanto, as opções metodológicas que
Ainda há habilidades e competências mudaram o perfil dos cursos de licenciatura em
específicas ao professor de Matemática, como Pedagogia, por meio das legislações, mostram
elaborar propostas de ensino da Matemática que o primordial é desmistificar a disciplina da
para a Educação Básica, saber selecionar, Matemática para que, talvez, os atrasos de
analisando e/ou produzindo materiais didáticos aprendizagens de conceitos básicos diminuam
e utilizar estratégias que favoreçam a nas próximas décadas e a procura de pessoas
autonomia e a criatividade dos educandos. que queiram ser professores de Matemática
Segundo Pires (2000), é necessário aumentem.
considerar especificidades próprias dos
professores polivalentes e outras dos A MATEMÁTICA NA
especialistas, em função do segmento em que
atuam, do domínio de conteúdos a ensinar e EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
quanto ao papel da docência em cada etapa da A Educação Matemática vem, atualmente,
escolaridade. É fundamental que se repense trabalhando com pesquisas e práticas com
sobre os cursos de magistério para os relação ao contexto histórico, didático e
professores polivalentes, partindo do pedagógico do processo de ensinar e aprender
pressuposto da formação para ensinar Matemática. Agora, com relação a formação
Matemática. matemática inicial dos professores no curso de
A Educação Matemática dos professores tem Pedagogia, não há uma presença tão marcante.
a finalidade de orientar os objetivos da É um campo de estudo que analisa a relação
formação para o ensino de Matemática, com a ensino e aprendizagem, professor e educando,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

compara e agrega outras áreas que dependam Para se adequar ao que se pede nas
do conhecimento matemático. diretrizes, considerando as necessidades dos
O cuidado com a educação faz com que a alunos, os professores das séries iniciais do
Educação Matemática seja uma possibilidade Ensino Fundamental devem ter conhecimento
do aluno estruturar, entender e modificar seu da ciência Matemática e dos processos de
mundo de maneira lógica, englobando as áreas aprendizagem dos mesmos.
de Ciências Naturais e Sociais (antropologia, A ciência deve ser o embasamento de uma
sociologia, matemática, filosofia, psicologia) prática educativa que precisa estar
para que o professor tenha uma postura fundamentada pois, sem essa clareza, ocorre o
diferente e quebre paradigmas para ensinar comprometimento dessa prática e não há a
Matemática. solução para o objetivo considerado. Todas as
Segundo a concepção de Burak (2010, p.12), práticas que decorrem de fundamentos
a conduta educacional do professor que vai incertos e inadequados podem acarretar em
trabalhar Matemática do ponto de vista da práticas incertas e inadequadas também.
Educação Matemática, relaciona-se a: O ensino básico deve certificar que todos
toda prática é fruto de uma forma particular tenham direito a ele, em condições iguais de
de ver, de pensar e de compreender o mundo oportunidades, com alcance aos bens culturais,
que nos cerca. É, também, da forma particular ao desenvolvimento das qualificações
de se ver a Matemática como objeto de individuais e sociais, à construção da cidadania,
conhecimento a ser ensinado e admitir que esta à conquista da integridade humana e da
visão inclui não ter apenas uma única forma de liberdade intelectual e política.
ser ensinada; saber que as ações estão Assim, as práticas pedagógicas devem
embasadas em uma visão epistemológica respeitar os tempos de aprendizagem dos
explícita ou implícita do professor e não ignorar alunos para que o ensino e a aprendizagem
as consequências que decorrem dessas visões sejam concretos e atinjam o objetivo principal
no âmbito da sala de aula, na realização de uma que é o entendimento do que se precisa e quer
prática educativa (BURAK,2010, p.12). oferecer aos educandos.
Com o surgimento da Educação Matemática A ciência matemática bem como a ciência
como ensinamento, observa-se que as didáticas pedagógica precisam ser bem compreendidas
deixaram de ser pensadas em perspectivas pelo professor para que haja um ensino
antigas, no qual o ensinar era visto como matemático de qualidade com o propósito de
repassar os conteúdos e passaram a ser vistas os alunos terem a oferta de situações de
como favorecer o aluno a buscar estratégias aprendizagem que modifiquem seus
para a compreensão do conteúdo dessa preconceitos com relação a essa disciplina.
disciplina. “O professor que ensina Matemática é o
Segundo Paraná (2008, p.45), o aprender profissional que mais sofre críticas.”
Matemática faz com que o aluno estabeleça (FIORENTINI, 2003). Essa afirmação leva em
relações, crie, por meio de estratégias que o conta uma forma natural de se achar a
façam construir significados às ideias postas. disciplina difícil se comparada a outras.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

E é por isso que a Educação Matemática Segundo Ponte, Brocardo e Oliveira (2005), a
passa a ser vista como uma área que aprofunda Investigação Matemática possibilita ao
os conhecimentos em Matemática. O que se educando construir conceitos matemáticos,
passa e como se oferece o aprendizado levantando conjecturas, validando provas,
depende da prática de quem vai compartilhar o discutindo e argumentando suas justificativas
saber e, principalmente, de seus objetivos ao sobre os saberes da ciência matemática.
desenvolver o tema abordado. Entretanto, devem seguir algumas etapas
para que o processo investigativo seja
ALGUMAS METODOLOGIAS concretizado. São elas: planejamento e
organização de materiais, introdução do objeto
APLICADAS EM EDUCAÇÃO de estudo, desenvolvimento e conclusão.
MATEMÁTICA Essa metodologia também vem ganhando
A resolução de problemas é uma espaço para se ensinar Matemática nos anos
metodologia que provoca as informações da iniciais do Ensino Fundamental, sendo
realidade do educando, possibilitando a analisada como excelente pelos educadores,
ampliação dos saberes matemáticos, com base em seus resultados anuais.
desenvolvendo a singularidade e a As Mídias Tecnológicas são processos
interpretação de situações problematizadoras. metodológicos contemporâneos, pois o uso das
Relaciona a Matemática com as questões tecnologias está cada vez mais presente no
práticas da vida do educando. Com base nisso, cotidiano e essa metodologia faz com que a
Vianna (2002, p.2), ratifica: qualidade do sistema educacional seja de
É problema tudo o que, de uma maneira ou excelência.
de outra, implica da parte do aluno a Esteve (2004, p.184), mencionou a
construção de uma resposta ou de uma ação importância das tecnologias e das formações
que produza certo efeito. A noção de problema para o professor, na atualidade:
não tem sentido se o aluno não puder aplicar o uso dessas novas tecnologias não suporia
um sistema de respostas inteiramente prescindir do professor, ao contrário, permitiria
constituído (VIANNA,2002, p.2). que ele se centrasse nas tarefas mais
Essa metodologia é a mais usada nos anos importantes que pode desempenhar e, nas
inicias porque trabalha com o pensamento quais é absolutamente imprescindível: ensinar
matemático e, nessa fase escolar, traz ao aluno o valor do que é aprendido, ajudá-lo a
facilidades e melhor aproveitamento de relacionar a nova aprendizagem com
estudos. aprendizagens anteriores e integrar as novas
A Investigação Matemática também é uma aprendizagens nos esquemas conceituais com
metodologia bastante usada na Educação os quais vive sua vida e interpreta os
Matemática porque pode ser trabalhada em acontecimentos do mundo que o rodeia(
grupo ou mesmo individualmente. Além de ESTEVE, 2004, p.184).
contextualizar os conteúdos, interagem com os
variados objetos esmiuçados.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A História da Matemática é uma metodologia Essa metodologia atende necessidades da


efetiva para o ensino da Matemática, nos sociedade atual com uma visão ampliada para
moldes da Educação Matemática, pois assegura o futuro, pois promove a liberdade dos alunos
uma simetria entre os fatos históricos, nos na construção do conhecimento, pois há uma
quais os conhecimentos matemáticos foram escolha do tema, uma pesquisa exploratória, o
construídos e a utilização deles atualmente. levantamento dos problemas, a resolução dos
A Matemática é melhor entendida quando mesmos, o desenvolvimento do conteúdo
analisada a história das ideias matemáticas, matemático no contexto do tema e a análise
envolvendo e permitindo que o aluno crítica das soluções.
reconheça os conceitos e processos históricos
da Matemática que surgiram na busca de
resolver problemas do cotidiano e relacioná-los
ao contexto contemporâneo. Com base nesse
contexto, Pacheco (2010), aponta:
A história da Matemática é, portanto, a seara
onde se encontram informações acerca da ação
humana no tempo, relativamente à
Matemática. Adentrar nesse campo é
perscrutar fatos que, aos olhos de historiadores
da Matemática, foram e são considerados
relevantes para se perceber o movimento do
pensamento matemático no tempo. Pelo
estudo da história da Matemática é possível
compreender as origens de ideias que geraram
muitos conceitos, bem como observar nos
contextos, os aspectos sobre maneira humanos
no desenvolvimento do conhecimento
matemático (PACHECO, 2010, p.27).
A Modelagem Matemática é uma das
tendências metodológicas que propõe
mudança pedagógica do ensino e da
aprendizagem dos conhecimentos
matemáticos que atendem a perspectiva da
Educação Matemática, pois, segundo Kluber
(2010, p. 108;109), “[...] uma possibilidade de
ruptura com a linearidade do currículo, pois não
são conteúdos que determinam os problemas
ou as situações, mas os problemas ou situações
que determinam os conteúdos”.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando-se em conta o que foi observado, é necessário que se repense os cursos de
formação em Pedagogia, inclusive quando a disciplina trabalhada for a Matemática, pois muitos
dos traumas relatados por meio da literatura, deixa claro a fragilidade do educador quando se
tem uma abordagem voltada a Educação Matemática. O que se apreende é o que se transfere,
inclusive os traumas e medos da disciplina em questão.
A intenção é sempre buscar outras formas para se explicar algo sem o propósito de agir
mecanicamente. Tendo em vista que o professor observa, enquanto aluno, em seus anos de
formação na Educação Básica, a forma como o seu professor age, as metodologias que ele utiliza
e sua didática e, futuramente, reproduz esses métodos, que, antigamente, eram formas
totalmente mecanicistas.
A legislação vigente trata de diretrizes para o profissional que faz bacharelado e o
profissional que faz a licenciatura em Matemática, mas em alguns pontos, colocar as
competências comuns a esses dois cursos, o que poderia ser pensado de forma diferente por
considerar que a didática é primordial a quem vai levar a formação Matemática aos diversos
alunos que iniciam seus cursos em Educação Básica mas vão até as Universidades com falhas na
alfabetização Matemática.
Uma solução apropriada pode ser a Educação Matemática, que trabalha com pesquisas
que relacionam desde a história da Matemática até o processo final que é ensinar e aprender a
Matemática. Compreende o lúdico na resolução de problemas, além de relacionar o
conhecimento matemático às questões práticas da vida do aluno.
Facilita o entendimento pelo aluno porque busca ferramentas que façam a disciplina ter
sentido em seu dia-a-dia, como quando consegue-se modificar o seu próprio mundo de maneira
lógica. Traz a prática e a relaciona a vida do educando, o que sugere que tenha mais sucesso, pois
essa metodologia não deixa a ciência Matemática tão distante do mundo real dos alunos.
A prática vem da forma como o ser humano enxerga e compreende o mundo. Na análise
da Matemática, o objetivo de conhecimento precisa ser observado como algo que pode ser
ensinado de diversas formas. A investigação Matemática ganhou campo nos cursos de Pedagogia
porque é um processo que contextualiza os conteúdos matemáticos, interagindo com os objetos
a serem estudados.
Há muitas metodologias atuais que colocam o aluno como sujeito de seu aprendizado
porque relacionam suas realidades aos saberes matemáticos. Outra metodologia muito atual são
as mídias tecnológicas pois o uso da tecnologia está cada vez maior no mundo, inclusive alguns
sistemas de ensino incorporam plataformas online para diversas disciplinas, até mesmo em cursos
de anos iniciais.
Há uma forma natural de se achar que a o professor de Matemática tem problemas para
transmitir o conteúdo que precisa ministrar e isso, de alguma forma, acaba generalizando esses
profissionais. É necessária uma educação de qualidade ao educando e, uma das formas para que
isso ocorra, é ofertando cursos de formação para os docentes, pois é sabido que, associar as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

competências com as habilidades faz com que os processos de ensino-aprendizagem ocorram de


maneira mais natural possível, respeitando as especificidades de cada aluno.
Por fim, os anos iniciais precisam ser melhor trabalhados pelos profissionais da área,
inclusive oferecendo objetos de discussões aos alunos, na tentativa de contextualizar os temas
abordados, em todas as áreas do conhecimento, mas, principalmente em Língua Portuguesa e
Matemática, que são disciplinas básicas para a formação do cidadão.

1269
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1270
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MULTILETRAMENTO UM DESAFIO PARA O


DOCENTE NA ATUALIDADE
Elmenton dos Santos Fernandes da Silva1
Rodrigo Fernando Campos2

RESUMO: Este artigo tem por tema a abordagem de uma proposta de ensino inovador que está
em evidência, o letramento, cuja variações se dividiu em multiletramentos. Hoje as características
dos comportamentos e relações dos indivíduos na sociedade são influenciadas pelas novas
tecnologias no cotidiano e os muitos desafios em virtude da globalização. A nova geração de
alunos são nativas nesse contexto e cabe ao professor, além de estar contextualizado, ter
competências e habilidade para agregar conhecimento ao valor educacional, para resolver os
problemas complexos do mundo real. Assim, entendemos que o professor deve repensar sua
prática de ensino e adquirir novas competências, em razão das mudanças provocadas pelo mundo
digital na sociedade, e incorporar o letramento que atenda as demandas da sociedade conectada
no processo de formação pedagógica. Objetivamos verificar ferramentas e métodos utilizados,
analisar a matriz curricular do ensino superior relativa à formação pedagógica. Utilizamos a
pesquisa bibliográfica como aporte teórico de autores que versam sobre a temática.

Palavras-Chave: Multiletramento; Docente; Multimodal.

1 Professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental I.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
Email: elmentonsilva@gmail.com
2 Professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental I.

Graduação: Licenciatura em Pedagogia.


Email: rodrigofcbastos@gmail.com

1271
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO comunicam, por via de diversas mídias à um


imediatismo e velocidades que diminuíram as
Estamos vivendo em uma época em que os distâncias e o tempo, ultrapassando os
novos modos de produção e informação territórios que se globaliza imediatamente. O
causados pelo uso das novas tecnologias, estão mundo vivencia um período alinhado com os
influenciando os comportamentos, interações, avanços sócio históricos e econômicos a partir
formas de comunicação e linguagem entre os do cultivo da internet que estabeleceu a
indivíduos. O contexto socioeconômico vem comunicação um paradigma de um mundo sem
sofrendo profundas transformações fronteiras. Diante desse contexto, entendemos
provocadas pela tecnologia digital e a rede a necessidade de formar professores durante o
mundial de computadores. curso de licenciatura para formação docente.
Podemos observar como vem ocorrendo a
crescente utilização de aparelhos e da internet
CONCEITUANDO
pela população brasileira. Por via do resultado
de pesquisa realizada pelo IBGE (2018). o MULTILETRAMENTOS
número de internautas cresceu cerca de 10 De acordo com a análise do tema proposto é
milhões de pessoas em relação ao ano anterior. necessário a definição de alguns conceitos,
O Brasil em 2017, teve aproximadamente 126 antes de conceituar multiletramentos devemos
milhões de usuários a partir dos 10 anos de começar por um termo chamado “contexto”.
idade que usam a internet, em 2.017, 64,7% Segundo Van Dijk (2012):
estavam online. A informação afirma que 69% usamos a noção de ‘contexto’ sempre que
dos brasileiros e 70,5% dos lares estão queremos indicar que algum fenômeno,
utilizando a internet. Os dados ajudam a evento, ação ou discurso tem que ser estudado
entende o nível de envolvimento da população em relação com o seu ambiente, isto é, com as
brasileira com as novas tecnologias. O estudo condições e consequências que constituem o
apresenta algumas características, como por seu entorno (VAN DIJK, 2012, p. 19).
exemplo, o principal meio de conectar com a De acordo com esta analise chegamos a
internet é por via do aparelho celular, sendo definição que quando nos referimos a contexto
responsável por 98% dos acessos. Devido a estamos nos referindo a realidade social, de
facilidade cada vez maior de uso, vem determinado grupo aonde o texto foi criado,
ampliando sua difusão. O Facebook, Instagram isto é, se quisermos ter uma interpretação
e WhatsApp, são os principais canais para precisa, clara e objetiva de determinado texto
enviar e receber mensagens de texto, vídeo, devemos nos ater ao o que está no entorno do
áudio e imagens (IBGE, 2018). texto ou seja a sociedade em redor ex:
Estamos vivendo a era da informação e o uso princípios e valores, ética e moral, crenças e etc.
das tecnologias da informação e comunicação Outro termo posterior a contexto nos chama
(TICs) apresenta um novo paradigma da a atenção, “ letramento” que de acordo com
sociedade de produzir e compartilhar Soares(2005):
informações. As pessoas do mundo inteiro se

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Letramento é, pois, o resultado da ação de método acaba se tornando hibrido pela ponte
ensinar ou aprender a ler e escrever: o estado entre escola e comunidade, isto é, o docente
ou a condição que adquire um grupo social ou tem a oportunidade de alfabetizar letrando.
individuo como a consequência de ter-se Letramento se aplica no processo de
apropriado da escrita (SOARES, 2005, p 18). aprendizagem, já o contexto na pratica de
Diferente do termo alfabetização que interpretação de textos diferenciando ambos
segundo o dicionário Aurélio vem do termo apesar de serem muito parecidos, mas
alfabetizar que literalmente se diz “ensinar ou promovendo a leitura de mundo.
aprender a ler e a escrever”, que se dá somente Definindo o conceito multiletramentos o
na junção, leitura e percepção dos códigos ( mais apropriado neste artigo é o que afirma
letras do alfabeto) no seu contexto técnico, a ROJO (2012):
preocupação aqui é somente a alfabetização E como fica nisso tudo os letramentos?
feita por meio do método tradicional “ Tornam-se multiletramentos: são necessárias
bancário”. novas ferramentas – alem das da escrita
O método tradicional “ bancário”, segundo manual (papel, pena, lápis, caneta, giz e lousa)
Freire (1968), se trata de um método no qual os e impressa (tipografia, imprensa) – de áudio,
conteúdos aplicados em aula são repassados na vídeo, tratamento de imagem, edição e
forma de depósito, repetição, no qual os alunos diagramação. Requeridas novas práticas:
são coagidos a aprender, neste método a maior (a) de produção, nessas e em outras, cada
motivação se dá nas notas e o não vez mais novas ferramentas;
constrangimento de repetir de ano, mas hoje (b) de análise crítica como receptor (ROJO,
em dia estes aspectos já não são mais motivos 2012, p 21).
para motivar o aluno. Sobre esta definição entende-se que
De acordo com Valente (2015), só método multiletramentos não se trata de uma
tradicional não acompanha mais a sociedade e sim de todas as outras existentes,
aprendizagem de alunos no século XXI é isso é possível? Sim, pois o ambiente web por
necessário o método hibrido que é a junção do meio da rede mundial de computadores nos
tradicional com métodos ativos. proporciona esta possibilidades por meio da
A alfabetização e letramento apesar de aquisição de conhecimento de ferramentas
serem palavras distintas as duas precisam essenciais e acessíveis que podem facilitar e
caminhar juntas, pois uma completa a outra, estreitar o relacionamento professor, aluno.
isto é, alfabetização se dá na leitura e escrita
dos textos, já o letramento está na leitura de FERRAMENTAS E MÉTODOS
mundo.
Nesta perspectiva, o docente observa os QUE FACILITAM A
saberes adquiridos fora da escola e usa como APRENDIZAGEM
exemplificações e ferramentas de Quando nos referimos a ferramentas no
aprendizagem para que a aula tenha mais ambiente dos multiletramentos, logo
significado na vida escolar do aluno, este pensamos em computadores e outros meios de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

comunicação no contexto web, e, logo nos vem possibilidades para que esse público possa ter
à mente que está realidade não cabe a alunos acesso e também as empresas estão
que vivem nos subúrbios periféricos, mas nos customizando estes aparelhos para que
enganamos, pois segundo Maia(2016),por meio moradores de periferia possa ter acesso a
de uma música de Gilberto Gil “Pela internet” o internet.
mesmo coloca em pauta um debate pela rede Considerando está realidade o autor afirma
entre várias pessoas do mundo em 1997, na que sujeitos periféricos entram em contato
qual a internet no Brasil era alçada somente com as TIC’s e passam por esse processo de
pelas classes A e B menos de 3% da população desterritorialização e reterritorialização entre si
em 2005 tinha acesso à internet, de acordo com por meio das ideias de Garcia Canclini (2008,
pesquisa realizada pelo Comitê Gestor de p.1997), apud, Maia (2016), afirma que a partir
Internet no Brasil, que afirmava que esses que:
números e classes iriam aumentar. o morador de periferia tem acesso às rede
No ano de 2012 o Ibope apresenta uma ocorre uma saída de seu território geográfico
pesquisa, na qual as TIC’s ( Tecnologias da para outros contextos e também os meios
Informação e Comunicação ) já alcançava a através do fornecimento barateado como
classe C em 83,4 milhões de brasileiros, e, 66% smartphone, computadores e até lanhouse
classe C e outras classes com acesso a saem do seu território a elite para a periferia. A
lanhouse, após alcança 14% da classe D. Neste periferia traz um grande avanço para o seu
contexto o debate de Gilberto Gil já pode ter processo de reterritorialização onde adotam
participação de moradores de regiões signos na fala através de sua facilidade em ater
periféricas. Está aí, a emergência com o com processos híbridos, já os grupos de poder
hibridismo, no qual deve ser adaptado aos não têm essa facilidade por causa do
contextos periféricos para que as TIC’s possam tradicionalismo. São através dessas novas
se harmonizar na rede. Está mentalidades na periferia que surgem os novos
contemporaneidade abre espaço para três letramentos.
análises a seguir desterritorialização, Quanto a descoleção Maia(2016), afirma
descoleção e gêneros impuros. que nos tempos, nos quais textos formais eram
Desterritorialização, segundo Maia(2016), venerados cultuados pelas coleções
hoje num contexto urbano os objetos de consequentemente restritos as gamas mais
comunicação como rádios e televisões estão humildes da população gerando um certo
sendo substituídos por computadores, tablets, preconceito, mas a proposta de Garcia
laptops e smartphones, no qual os mesmo por Canclinié, apud, Maia(2016), a hibridação
meio de uma conexão com a internet oferecem desses textos com os considerados
o domínio das ferramentas de informações por marginalizados garantido o acesso a todos e
meio da internet, já nos ambientes periféricos isso só as TICs podem oferecer.
engana-se quem acha que esses público não Santaella ( 007,p. 132), apud, Maia(2016),
está sendo alcançado, pois as lanhouse e centro traz uma proposta sobre o termo híbrido , no
comunitários de acesso a rede estão trazendo qual este se dá por meio de transições de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contextos específico mas sua visão se torna história. O multiletramento proporciona muitas
espacial trazendo o termo híbrido que se trata possibilidades com gêneros de discurso.
de um contexto planetário, no qual só mesmo Segundo Thadei( 2013), a teoria de gêneros
as TIC’s trazem está possibilidade, por meio de discursos apresenta-se como uma teoria que
destas mentalidades o ethos orientador de será sempre inacabada que sempre surgirá
práticas sociais e contemporâneas trazem uma novas estruturas textuais se tratando de
atenção em especial para os letramentos espaços web, isso se dá por meio da hibridação
híbridos. Os moradores das periferias vão dos gêneros que por meio das mesmas vão
ganhando força por meio desta hibridação e nascendo novos gêneros. Existem muitos
cibridação, pois suas ideias, realidades e métodos e ferramentas que podemos usar, mas
letramentos alcançam todos os lugares do iremos nos ater as ferramentas AVA e o método
mundo por meio da rede oferecida pelas TICs. PDG.
Quanto a gêneros impuros, Maia (2016), traz A abordagem deste tema traz as
um conceito de espaços físico que por funcionalidades e cooperações dos ambientes
intermédio das TIC’s podem se comunicar AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) e PE
transitar em grupos de diferentes lugares por (Portal da Editora), segundo Borges (2013),
meio de dispositivos móveis como dispõe de aprendizagens por meio de materiais
smartphones tudo isso num ambiente digital. autodirigido, autossuficientes estímulos
Por meio das redes sociais os gêneros impuros cognitivos, estudos de casos, resolução de
periféricos transitam entre os gêneros problemas, colaborativa e representação
tradicionais os periféricos além de expor seus visual.
gêneros entram em contato seus com os O AVA segundo Borges e Mello (2013). são
tradicionais neste espaço intersticiais ambientes digitais com materiais que
oferecidos pelas redes sociais por meio da rede contribuem muito para iletrados digitais
e as TIC’s móveis a periferia mostra seu valor e aprenderem também a usarem esses
seus letramentos contribuindo para a ambientes que se tornam híbridos, linkando o
sociedade. tradicional com digital, mas pode se tornar
enfadonho para aqueles que já estão
• Ferramentas AVA e o método PGD familiarizados com o ambiente. Essas
O professor habilitado desde o primeiro até plataformas são construídas sobre três
o quinto ano do ensino fundamental tem a estruturas ferramenta de coordenação
responsabilidade de ministrar aulas e (dinâmica do curso, leitura, materiais de apoio
desenvolver atividades dentro de uma e etc.), ferramentas de comunicação (correio,
perspectiva interdisciplinar, na qual as bate papo, fóruns de discussão e etc.),
disciplinas responsáveis pela alfabetização ferramentas de administração (inscrições,
língua portuguesa e matemática são essenciais, convites, acompanhamento de atividades e
mas não devemos descartar disciplinas como etc.) Levando-se em consideração também os
ciências naturais e humanas, geografia e três tipos de leitores que são contemplativos (
leitos da idade pré-industrial, da era do livro

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

impresso), movente( que já nasce num tratado(s) seja(m) realmente usado(s) para a
contexto urbano que acompanha as mudanças prática social( KERSCH,2016,p.43).
de perto), imersivos( leitores que emergem Entende-se que os gêneros textuais são um
neste contexto de virtualidade). ponto de partida para que os alunos possam se
Estes ambientes ajudam os contemplativos e interagir com a sociedade levando em
os moventes, mas em pouco contribui para o consideração que a LDB 9394/96 afirma no seu
imersivo, a ideia é que docentes façam estas ART 1°§ 1, “ a educação escolar devera vincular-
formações para que possam se encaixar no se ao mundo do trabalho e a pratica social”
mundo destes nativos digitais. sendo assim o docente deve levar em
Um docente que compreende a proposta se consideração a interação social, nesta temática
depara com algumas limitações que não caibam existe uma ferramenta que pode ser usada por
na aprendizagem, a mesma tem de ser sempre quase todos as sociedades para que o PDG
acompanhada por um tutor ou professor para possa ser usado de uma forma mais eficaz que
não sair do ambiente, evita utilização excessiva são as “Redes Sociais,” Kersch (2016), afirma: “
de fóruns on-line trazendo sempre a discussão Em suma num PDG, lê-se para agir no/sobre o
e sala de aula e trabalhar com letramentos mundo, para resolver problemas, para
educacionais evitam possíveis atuações e interagir, criticar, elogiar, para escrever, para se
decoreba. divertir, para aprender. A leitura mexe como o
A hibridação no âmbito educacional fica por leitor, requer dele uma resposta, uma atitude
conta do docente ao mesmo cabe a ativa.
responsabilidade de indicar links de textos, E como a tecnologia pode viabilizar esta
links para reforçar o aprofundamento da teoria. interação autor-leitor-texto?”
Tendo o domínio dos métodos que hoje estão Em resposta a esta pergunta podemos usar
em evidência pode possibilitar um ensino uma história que Kersch (2016), conta de uma
agradável a todos os leitores, se não houver professora que resolveu fazer mestrado usou a
uma intervenção do docente, o ambiente AVA, rede social, facebook, para ensinar língua
pode se tornar uma sala tradicional, é portuguesa para alunos sem rendimento
fundamental que o professor não se atenha escolar, com problemas sociais muito
somente ao AVA e sim a outras home-pagers constantes na região periférica onde a escola
que podem auxiliar o desenvolvimento e era localizada. A mesma fez um grupo fechado
trabalhar autonomia. no facebook e colocou esta descrição no dia
Outro aliado do professor é o método PDG 19.04.2013:
(Projeto Didático de Gênero) que segundo Este grupo tem como objetivo de mostrar
Kersch (2016), é: como as aulas de língua portuguesa saem do
uma proposta metodológica de didatização papel e podem ganhar muita vida! Nosso
de gêneros. Apresenta como diferencial o fato objetivo é escrever, opinar, transformar muitos
de ser um projeto voltado para uma sequência fatos em notícias e entrevistas! Nossos reportes
de atividades que se realizarão dentro e fora da juvenis colocaram as palavras em ação!(
escola, de forma a garantir que o(s) gênero(s) KERSCH, 2016,p. 55).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A professora entrega a responsabilidade • Cultura Digital aluno ou docente?


para os alunos serem não somente leitores, De acordo com a reportagem da TV Cultura
mas sim autores dos seus próprios textos que no programa “ De olho na educação” a Base
não são somente redações, mas textos que Nacional Comum Curricular (BNCC), gira em
trazem para o aluno uma “atitude responsiva” torno de 10 competências que o professor deve
(BAKHTIN,2003, apud, KERSCH, 2016), estando despertar no aluno, entre elas está a “Cultura
cientes de que seus textos serão comentados, Digital”, em uma outra reportagem do mesmo
discutidos e criticados despertando no aluno programa entrevistada Ghisleine Trigo membro
autonomia, empatia e autoestima do Conselho Estadual de Educação(CEE), da
É interessante para o docente estabelecer uma ênfase na cultura digital, enfatizou a
princípios, criar novas formas de aprendizagens tecnologia e declarou como as crianças lidam
que acompanhem o contexto atual é com os equipamentos tecnológicos, dá ênfase
interessante citar alguns princípios que a inclusão das tecnologias tem que ser
pedagógicos estabelecidos por Goleman; tratada como política pública para que seu
Senger (2015): acesso seja garantido. Ela ainda diz que as
Respeitar a realidade e os processos de crianças devem ser educadas nesse aspecto
compreensão do aluno. enfatizando as fake News como prejudicial na
Focar em questões que sejam reais para o internet, é na escola que a criança tem que
aluno; fazer a leitura crítica e a análise pra que elas
Permitir que os alunos os próprios modelos e tomem decisões fundamentadas em fatos
conceitos e testem as próprias maneiras de concretos.
compreender problemas; No documento da BNCC (2017), dentre as 10
Trabalhar e aprender juntos; competências vamos utilizar as 5º e a 9º não
Manter o foco na ação e no pensamento, no descartando a importância das outras 8. A 5º
modo como eu ou nós precisamos agir ou nos competência afirma:
comportar de forma diferente, não apenas Compreender, utilizar e criar tecnologias
pensar de forma diferente; digitais de informação e comunicação de forma
Construir a competência dos alunos para que crítica, significativa, reflexiva e ética nas
sejam responsáveis pelo próprio aprendizado; diversas práticas sociais (incluindo as escolares)
Encorajar dinâmicas de pares em que os para se comunicar, acessar e disseminar
alunos ajudem uns aos outros a aprender; informações, produzir conhecimentos, resolver
Reconhecer os professores como projetistas, problemas e exercer protagonismo e autoria na
facilitadores e tomadores de decisão (mais do vida pessoal e coletiva(BRASIL,2017,p.9).
que “passadores de conteúdo”). Isso exige que De acordo com esta competência não se
os professores tenham profundo conhecimento trata só a utilização dos artifícios tecnológicos,
do currículo, a ser continuamente mas que o aluno tenha a capacidade de usar
desenvolvidos mediante redes robustas de habilidades críticas e significativas para que
aprendizado entre seus pares (GOLEMAN; possam refletir e se tornar protagonista e
SENGER, 2015, p. 98; 99).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

autores do que escreve tendo ele a estabelecendo interação e uma reflexão


responsabilidade sobre seus escritos. coletiva.
Na 9º competência, temos: Ensinar africanidade, histórias e cultura das
Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de nações indígenas que habitavam o Brasil, antes
conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e dos colonizadores portugueses, colabora e
promovendo o respeito ao outro e aos direitos valoriza a cultura negra e nativa, combatendo o
humanos, com acolhimento e valorização da preconceito, racismo, estigma e estereótipos,
diversidade de indivíduos e de grupos sociais, que ocorre de maneira velada em nossa
seus saberes, identidades, culturas e sociedade e também na escola entre alunos,
potencialidades, sem preconceitos de qualquer pais e professores.
natureza(BRASIL, 2017,p.10). Propondo a ideia e entendimento de
O exercício da empatia é fundamental para democracia e valorização da diversidade
da crítica e reflexão, este aspecto faz a cultural brasileira encontrada no cotidiano dos
diferença, pois dará a possibilidade do aluno alunos.
respeitar as diferenças se colocando no lugar do Os alunos realizarão pesquisando fontes de
outro, cabe a ele pensar antes de escrever ou informações e investigando, na própria
postar que texto discriminatório ou até mesmo plataforma, na qual encontrão uma vasta
fake News. disponibilidade por meio das páginas web, para
Muitos docentes não estão preparados para a produção de textos e imagens coordenada
trabalhar a 5º competência cultura digital e pelo professor, considerando a renovação
como podemos resolver? didática da tecnologia.
Os alunos serão incentivados a comunicação
• Proposta de Sequência de aula interativa, dentro do grupo e a propagação de
Como proposta para trabalhar com o recurso ideias e discursos da produção de seu próprio
da tecnologia digital, especificamente as redes conhecimento. Assim como o pensamento
sociais, utilizando como ferramenta o Facebook crítico.
no processo de ensino-aprendizagem, na O Objetivo inicial consiste em conscientizar
disciplina de história explorando a temática os alunos da importância da diversidade e os
étnica racial. valores étnicos, histórico e cultural dos nativos
Objetivo inicial consiste em conscientizar, brasileiros e incentivar os alunos a navegar pela
refletir e construir senso crítico dos alunos, dá internet pesquisando sites, links e acervo de
importância da diversidade e os valores étnicos, fotografias.
história e cultura dos povos nativos do Brasil,
assim como suas colaborações na formação de • Escrevendo notícias
nossa sociedade. Os estudantes realizam a leitura do texto
O plano tem o aporte teórico da proposta extraído da web, site de relacionamentos
construtivista que possibilita a construção, Facebook especificamente da charge de uma
desconstrução e reconstrução dos saberes, família de índios presos em um cercado de
arame farpado com a frase: “Índios não terão 1

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cm de terra”. A ideia é fazer com que os alunos 1. Em uma roda de conversa, perguntar aos
escrevam artigos noticiosos curtos baseados na alunos e discutir sobre a interpretação da
interpretação da charge. charge que está projetada na lousa.
2. Perguntar aos alunos se eles têm algum
conhecimento da situação atual dos índios. Se
já viram notícias dos índios e em quais foram as
fontes de informação que eles assistem, leram
ou ouviram? (jornal, revista, televisão, rádio,
internet e outros)
3. Mostrar no telão notícias atuais, online,
relacionado ao tema. Também pode ser
distribuída em forma impressa.
4. Os alunos são incentivados a construir
um texto informativo na estrutura de notícia
sobre a situação atual dos índios. Poderão
acrescentar no texto informações, se em sua
cidade habita ou habitavam índios, que traços
da cultura indígena podem serem observados
Fonte: Beto Cartuns (s.a, s.p) em seus cotidianos? Se tiver algum parente ou
conhecido que seja descendente
Esta atividade desconstrói um gênero de
Manchete, autor, data, história e ordem dos
texto e depois solicita que os alunos o recriem.
fatos, com o conteúdo de seis perguntas
Estimulando como um texto é montado e
jornalísticas: Sobre o que se trata? O que
disponibilizado na online. E mostra como as
aconteceu? Quando aconteceu? Onde
habilidades do letramento impresso tradicional
aconteceu? Por que aconteceu? Como
também pode ser realizado na internet.
aconteceu?
Objetivo: Examinar determinada publicação
na internet, identificar o gênero textual e
Apresentação
recria-lo.
No texto os alunos podem inserir fotos,
Tempo: duas aulas de 45 minutos.
vídeos, links e anúncios.
Ferramenta: Blog.
Os textos podem ser produzidos em papel e
Recursos:
colados no mural da sala e podem ser
Um computador com acesso à internet para
comparados na versão digital e impresso.
o professor e um projetor; computadores com
A avaliação é realizada por meio dos
acesso à internet para os estudantes ou
portfólios
dispositivos móveis (um por grupo).
Com esta atividade propomos uma inclusão
Metodologia
do tema multiletramento na disciplina de língua
Escolha do texto da internet (Facebook),
portuguesa considerando tudo que já foi citado
certificando que o tema pode ser usado na aula
neste artigo.
de história e assuntos étnicos raciais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se a necessidade de formar profissionais que tenham conhecimento e saibam
atuar na docência enfatizando a educação para o exercício da cidadania, diante das constantes
transformações pela qual passa a sociedade contemporânea.
É fundamental que professores possuam agendas reflexivas, críticas e analíticas,
principalmente de sua formação e competência, da importância da linguagem, no contexto das
TIC’s como fenômeno sócio histórico.
Entre a necessidade e preocupação da formação dos professores para a alfabetização das
linguagens decorrentes das interações via internet e mídias digitais, considera-se a importância
os saberes para a vida e inclusão do aluno na sociedade.

1280
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1282
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Rosemeire Gomes Clemente1

RESUMO: Esse artigo tem como foco apresentar quais as influências que a música exerce dentro
das escolas de Educação Infantil. Quais os caminhos que as professoras buscaram para entender
que a música precisa fazer parte da vida dos pequenos desde cedo já que a mesma contribui para
o seu próprio desenvolvimento. E as reações das crianças ao se depararem com esse universo tão
maravilhoso que é a música. E no momento dessas escolhas, as professoras respeitam a faixa
etária e a fala dos envolvidos já que possuem diversas crianças com diferentes gostos e culturas.
Quais são os caminhos que percorrem para atingir os objetivos que desejam com a turma e como
as professoras que não possuem formação nessa área conseguem trabalhar com música já que
existem diferentes melodias, timbres, diferentes instrumentos, ritmos e sons.

Palavras-Chave: Escola; Música; Educação Infantil.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura Plena em Pedagogia; Pós Graduanda em Ensino Lúdico.
E-mail: roromeire@yahoo.com.br

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INTRODUÇÃO tenhamos um resultado positivo em relação à


aprendizagem da música. Trabalhar com
O projeto “Música na Educação Infantil” tem música deve ser um trabalho bem planejado
como objetivo descobrir como a música é para que não fiquem lacunas, pois isso acaba
trabalhada dentro das escolas de educação resultando em um trabalho com resultado
infantil, quais os critérios utilizados para a insatisfatório.
escolha dessas músicas e como as crianças É interessante trazer para a sala de aula
reagem às músicas disponibilizadas na escola. músicas que fazem parte do cotidiano das
A pesquisa aborda os tipos de músicas crianças, porém isso não impede de trabalhar
escolhidas e se essa escolha deve respeitar a outros estilos musicais. Ainda relata em sua
faixa etária de cada criança. entrevista que uma aula de música mal
Esclarecemos a respeito de como a elaborada pode acarretar em prejuízos para a
professora consegue atingir seus objetivos aprendizagem da criança ou até mesmo do
quando trabalha o tema música na educação adolescente, ou seja, a criança acaba perdendo
infantil. o interesse pela música.
Acreditamos ser importante tratar desse Para trabalhar a música é preciso um
assunto porque a música segundo os PCNS processo, no qual temos que ter um olhar bem
(1998), deve estar inserida na Educação Infantil, atencioso para saber como podemos
então partindo desse ponto algum benefício à prosseguir e como devemos retomar, para que
mesma trás quando bem trabalhada nessa fase nenhum aluno se sinta perdido e acabe
que é tão importante para as crianças. perdendo o interesse. Também devemos
As escolas trabalham a música com as respeitar a opinião dos alunos e trabalhar
crianças, porém não levam em conta o diversos gêneros e que todos se sintam
benefício que a mesma traz para o ensino- satisfeitos em ter a sua opinião levada em
aprendizagem das mesmas. conta.
A música é uma linguagem universal, pois De acordo com Alencar (2003), a música
desde que o mundo é mundo sempre existiu a deve ser incluída dentro das salas de educação
música trazendo mais prazer à vida das pessoas infantil, mesmo que os educadores
independentes da cultura e que vivemos. responsáveis por essas crianças não tenham
Tudo que trabalharmos com crianças nessa tido uma formação nesta área, pois os mesmos
fase influenciará pelo resto de sua vida, já que sabem a importância de trabalhar a
essa fase da educação infantil será a principal musicalização nessa fase da vida. A música faz
na vida desse ser. De acordo com Swanwick com que a criança imagine, ou seja, sai do seu
(2010), cada aluno tem sua própria opinião em mundo real e interaja com os outros, escutam
relação ao que gosta de fazer quando o assunto opiniões de outras crianças e também expõem
é música, ou seja, existem pessoas que as suas próprias opiniões e deixa claro que
preferem tocar e vice versa e de acordo com antes de ensinar música temos que procurar
sua pesquisa é necessário respeitar os estágios descobrir o que as crianças pensam a respeito
de desenvolvimento das crianças para que do assunto. Então partindo desse diálogo é

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

preciso passar para as crianças o que é música, quatro escolas diferentes com educadores
quando foi a sua origem, falar sobre os infantis para saber como esses professores
diferentes tipos de sons, deixando claro que trabalharam a música na educação infantil
este conhecimento faz parte da vida do ser dentro da sala de aula, e como serão as aulas,
humano para que este possa estar em contato ou haverá uma diferença em relação ao ensino,
com o meio em que vive. A criança quando faz as crianças se relacionam com as atividades e
algum tipo de som preocupar-se em sentir projetos elaborados pela escolar.
aquele momento independente de seguir um O trabalho com a música desenvolve a
modelo. habilidade física, lógica e cultural das crianças.
O educando deve saber a importância de Acompanhamos junto as crianças para verificar
colocar as crianças em contato com a música como foi sua adaptação e aceitação que iremos
mesmo não tendo tido uma formação nessa apresentar esta pesquisa e seu
área, pois nesse momento a criança desenvolvimento.
desenvolve-se em todo seu aspecto, ou seja, Abordamos o significado da musicalização e
emocional, emocional e afetivo. seus benefícios para desenvolvimento dos
A pesquisa será qualitativa e será feita alunos dos alunos, apresentação dos
pesquisa de campo e entrevistas, junto com instrumentos e os sons de cada um. Falaremos
professores de Educação Infantil (berçário I e II também sobre a expectativa dos alunos, e as
e mini grupo). criações de sons musicais na sala de aula a
Abordamos o significado da musicalização e partir do que possuímos dentro da mesma.
seus benefícios para desenvolvimento dos Abordamos também o repertorio e sua
alunos, apresentação dos instrumentos, os sons diversidades por regiões culturais e suas
diferenciados e notas de cada um e seu tradições por exemplo: bumba meu boi que sua
significado. Falaremos também sobre a origem do Maranhão, boi bumba tem sua
expectativa dos alunos, e as criações de sons origem do Para boi de Mao tradicional de Santa
musicais na sala de aula a partir do que Catarina e o maracatu de origem
possuímos dentro da sala de aula. Pernambucana.
A proposta de musicalização é a diversidade,
Objetivamos apresentar como a música é de instrumentos usados e tocados, quando
trabalhada dentro das escolas de educação apresentado o repertorio as crianças sentem
infantil, quais os critérios utilizados para a com liberdade de cantar, dançar, com
escolha dessas músicas e como as crianças movimentos e expressões, é assim que
reagem às músicas disponibilizadas na escola. trabalharemos com eles. Quando colocamos a
linguagem e percebemos a importância e
METODOLOGIA necessidade que os bebês tem quando
conversarmos, cantamos para eles notamos
Optamos pela pesquisa bibliográfica de
suas satisfações balançando os bracinhos e
cunho qualitativo e também a pesquisa de
tentando gesticular.
campo juntamente com os professores de
educação infantil, realizamos entrevistas em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A pesquisa de campo tem como cenário pois durante essas duas horas além da
quatro CEIS situadas na zona leste de São Paulo, educadora responder as perguntas fez uma
nas quais entrevistamos Professores de atividade com música.
Educação Infantil. As crianças sentaram em roda e foi colocado
Elaboramos um questionário para verificar o um CD de música infantil que falava da
que os educadores pensam a respeito de formiguinha que subiu em todas as partes do
trabalhar a música com crianças na educação corpo de uma pessoa que foi ao mercado fazer
infantil. compra.
Como essas educadoras trabalham à música A segunda entrevista foi realizada no dia 22
dentro da sala com as crianças, de que maneira de setembro com uma professora de Berçário II
é o desenvolvimento da música dentro da , em uma escola privada.
educação, como elas fazem à escolha dessas Após a entrevista com a docente, a mesma
músicas, o que levam em consideração para a aplicou a atividade da seguinte forma:
escolha e os tipos de músicas que fazem parte Pediu que os alunos sentassem em roda e
do dia a dia das crianças quando estão nas CEIS. começou a cantar a música da pantera cor de
rosa as crianças acompanhavam a educadora
ANÁLISE DE DADOS fazendo os mesmos gestos.
A primeira entrevista foi realizada com uma O CEI possui sete salas de aula, quatro são
para o berçário atende 13 crianças no total,
professora do berçário I no CEI, que atende
duas salas são para o mini grupo com um total
crianças de 0 a 6 anos de idade e fica situado a
de 22 crianças e uma sala para o primeiro
Rua São Pedro de Jequitinhonha, 27ª São Paulo.
estágio que atende 15 crianças.
O CEI possui sete salas sendo três berçários,
o berçário I atende 14 crianças e o berçário II e Dos 7 educadores que trabalham no CEI
III atende 18 crianças cada um. São dois mini apenas 4 possuem curso de graduação e os
grupos, o mini grupo I atende 12 crianças, o outros três possuem apenas o magistério.
mini grupo II atende 24 crianças e o primeiro Para propiciar um ambiente agradável para
estágio atende 20 crianças. as crianças o CEI possui um parque, um
refeitório amplo onde as crianças possam se
Os professores totalizam 8, sendo 4 com
sentir acolhidas, uma televisão, uma vez por
graduação e três quatro cursando a graduação.
semana cada sala utiliza para assistirem vídeo.
Além dos oito educadores o quadro de
funcionários é composto por uma diretora, uma A terceira entrevista foi realizada com uma
coordenadora, três auxiliares de classe e uma professora do mini grupo no CEI atende criança
auxiliar de limpeza. de zero a seis anos de idade.
No primeiro momento conversamos com a Após o término do questionário respondido
professora explicando qual o motivo da os alunos participaram de uma atividade com
música, a professora colocou um CD da música
entrevista que estávamos fazendo, pois a
diretora já havia autorizado, a educadora do peixinho fora da água, crianças logo
concordou em responder o questionário que começaram a dançar e algumas assim que
durou cerca de duas horas para a conclusão,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ouviram a música já olharam em direção ao Durante as atividades realizadas


rádio. observaremos se as músicas utilizadas são
O CEI possui 8 salas de aula, 01 banheiro para cantadas ou apenas tocadas, quando realizam
os professores, 02 banheiros para o uso das esse trabalho, também trabalham a expressão
crianças no piso inferior, 03 banheiros para o corporal e como essas crianças reagem no
piso superior sendo um para o uso do banho momento que estão tendo esse contato.
das crianças do berçário menor, 01 refeitório na Observaremos às crianças para saber a
parte inferior e 01 na parte superior, 01 pátio, reação e a opinião delas quando o assunto em
01 parque, 01 sala de direção, 01 sala para pauta é trabalhar a musicalização.
materiais pedagógicos, 01 secretaria e 01 sala
de estimulação.
O CEI possui dois berçários menor com 12
crianças cada, quatro berçários maior com 9
crianças cada, dois mini grupos 1 com 24
crianças e o outro com 36 crianças.
O grupo de funcionários uma diretora, 01
coordenador pedagógico, 01 auxiliar
administrativo, 01 cozinheira, 02 auxiliares de
cozinha, 02 auxiliar de limpeza e 8 professores
de educação infantil.
A quarta entrevista foi realizada com uma
educadora do mini grupo no CEI.
Também foi aplicada pela professora uma
atividade com música após responder o
questionário, as crianças fizeram uma roda para
cantar a música da ciranda cirandinha.
O CEI possui 11 salas, sendo 4 berçários, 2
mini grupos, 1 mini grupo, 1 diretoria, 1
refeitório, 1 cozinha e 1 banheiro.
O grupo de funcionários é composto por uma
diretora, uma coordenadora, sete professoras,
duas auxiliares, uma cozinheira, uma auxiliar de
cozinha e uma auxiliar de limpeza.
Durante todas as entrevistas realizadas as
educadoras realizaram uma atividade de
música com as crianças, na qual pudemos
observar a reação das mesmas quando estão
participando de atividades que envolvem a
músicas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do apresentado é visível a importância da música para o desenvolvimento da
criança.
Na Educação Infantil notamos que os ritmos, as canções e o repertório estão cada vez mais
presentes na vida das crianças.
Trabalhar com a música é minucioso e curioso ao apresentar um repertório para as crianças
precisamos ter cautela, porque culturalmente em alguns casos as palavras são de baixo nível.
Apresentamos as cantigas de roda, canções de ninar e as parlendas, todas estas etapas
entra na musicalização de diversas formas, cantadas, contadas e brincadas por meio de
instrumentos.
A música é cantada e descoberta pelas crianças que podem ser tocadas por diversos
instrumentos prontos e criados de próprio punho.
Com todos estes artifícios as crianças percebem a música por meio de seus sentidos e deixa
ouvir, assim de imediato vem o reconhecimento, na dança com movimentos corporais,
memorização, juntamente com a capacidade de imaginação e integração.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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SWANWICK, Keith. Aprender música exige tocar, ouvir e compor. São Paulo, entrevista
concedida a revista nova escola, 2010.

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NIETZSCHE E A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO


Claudia Regina Aparecida de Oliveira Werneck1

RESUMO: O presente artigo utiliza como metodologia a revisão bibliográfica da obra de Friedrich
Nietzsche (1844 -1900). Partimos, pois, do pressuposto de que as ideias de Nietzsche (1844 -1900)
são frutos de sua época e sua vida e que evidenciam seu sofrimento e decepção filosófica em
relação a educação sobre cuja crítica o autor se debruça. E é por meio da vontade de potência
(Der Wille zur Macht) que o super-homem (Übermensch), aplica a transvaloração dos valores
deturpados pela educação na sociedade cristã ocidental. Para Nietzsche (1844 -1900), a educação
deve ser pensada de forma individual para que o indivíduo possa expressar toda sua vontade de
potência por meio dela e não ser uma educação moralizante e castradora, dentro dos ditames da
moral dos fracos. Há uma clara contraposição entre a educação individual e aristocrática e a
educação democrática que é a educação da massificação humana. Apresentaremos, pois a
fundamentação da educação aristocrática na compreensão das emoções antagônicas dos seres
humanos. Essa educação aristocrática tem como pressuposto a individualidade e o destaque em
relação aos demais membros da sociedade. E se faz necessário que esse indivíduo faça uma
autocrítica em relação à essa suposta supremacia para superar sua mesquinhez e seu medo.

Palavras-Chave: Nietzsche; Educação; Filosofia.

1Historiadora; Professora de História formada pela USP, Especialização em Metodologia do Ensino de História e
Geografia.
E-mail: clwerneck@yahoo.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO pauta das reivindicações das massas que


grassaram o século posterior.
A obra de Nietzsche (1844 -1900), é, sem Por tratar-se de uma educação aristocrática
dúvidas, de árduo entendimento devido e, portanto, uma educação da exceção
principalmente à sua escrita pouco elementos como medo e o aprisionamento são
argumentativa e ao uso de aforismos. Como suscitados resultando num ser humano
resultado disso, sua obra resultou em inúmeras medroso e mesquinho reverenciado,
e diversas interpretações, muitas delas, entretanto, pela sociedade. O autor faz, pois,
antagônicas. Sua concepção intempestiva de uma crítica não propriamente a esse ser
educação se abstém de oferecer um modelo humano envaidecido de sua própria condição
educacional a ser seguido pelo Poder Público social mas a sociedade que está condicionada a
mesmo porque ele questiona o tempo todo os prostrar-se diante do mesmo. Esse tipo de
limites da mesma, as falácias da educação educação está pautada na distinção e
dogmática e o que é possível ou não de ser diferenciação social.
ensinado. Necessário pois, indagarmo-nos acerca do
Posto isso, quando Nietzsche (1844 -1900), entorpecimento humano acerca da sua posição
reflete sobre educação ele o faz da perspectiva social num mundo absolutamente desigual não
do indivíduo singular, o que em certa medida exercendo sua vontade de potência (Der Wille
remete-nos à sua própria educação zur Macht ) na sociedade, mantendo-se
aristocrática europeia do século XIX, bem como submisso e submetido, num estado de
sua trajetória pessoal de superação de massificação e domesticação, ou seja, aquele
obstáculos e autocrítica. que tem os valores típicos da moral dos
escravos, sem exercer seu poder nem expressar
NIETZSCHE E A FILOSOFIA DA sua individualidade no mundo. Com sua
vontade de potência (Der Wille zur Macht)
EDUCAÇÃO aprisionada ou entorpecida ele está
Não obstante, consideramos suas ideias condicionado pela educação massificadora e
acerca da educação extremamente atuais. comporta-se como um rebanho, recebendo os
Nietzsche (1844 -1900), ao discorrer sobre a condicionamentos externos e comportando-se
educação aristocrática começa por distingui-la apenas como consumidor e não como cidadão.
como sendo uma educação invulgar e própria Ele aponta a educação aristocrática, dos
da elite. A elite é um estado de exceção no seio filósofos, em contraposição à educação das
da sociedade e a educação aristocrática seria massas em sua obra “Além do bem e do mal”,
uma expressão da vida da elite, expressão esta pois estes se mantêm anestesiados em relação
solitária e individual cuja superação somente ao mundo, comportando-se como rebanho.
poder-se-á acontecer por meio da crítica a esse Nesse sentido, sentem-se aprisionados e sua
individualismo exacerbado e sua superação. É ignorância não é fruto da educação massificada
pois, uma ode a si mesmo, uma reverencia ao e sim por não buscarem exercer sua vontade de
eu em contraposição a educação para todos, potência e sim, a dominação. A educação

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aristocrática distancia-se disso pois o filosofo nos aturdimos com a vida em sociedade. O
que a busca não teme o caminho árduo a homem se livra ainda mais da visão do
percorrer. A maioria prefere o que é fácil e não sofrimento que ele mesmo experimentou;
sai da sua zona de conforto, ainda que está lhe fixando para si objetivos sempre novos, ele
seja extremamente desconfortável, sem resistir procura esquecer o que se estende atrás de si
à vulgaridade e tentando sempre se assemelhar (NIETZSCHE, 2007, p. 65).
aos demais. Para submeter-se aos rigores da Assim sendo, a vida social é preferível ao
educação aristocrática o homem tem que homem vulgar que vive sob os ditames da
esforçar-se para superar seus limites, de forma moral dos fracos, à vida individual e singular,
individual e solitária e esse é um preço alto para ele associada à solidão e tristeza. Na
demais para as massas. coletividade o homem permanece distante de
O medo de sua própria singularidade é um si mesmo e projeta no outros sua vida interior,
dos obstáculos a serem transpostos por meio suas aspirações e frustrações. Sua singularidade
da educação aristocrática. E é esse medo que, é diluída entre as inúmeras outras
se não transposto, o impede de exercer sua singularidades que compõem a massa, sem que
vontade de potência. Para Nietzsche (1844 - essa almeje emancipação e libertação desse
1900), o homem não tem vontade de potência estado de coisas uma vez que o homem teme a
ele é vontade de potência. E esse medo o expressão de sua vontade de potência. Em suas
distancia de sua essência, daquilo que há de palavras o homem prefere ser “humano,
humano em si mesmo, das forças dialéticas demasiadamente humano” em detrimento a
internas e internas. Der Wille zur Macht vida singular e solitária que permitiria que o
pressupõe conflito e superação por meio da homem expressasse sua vontade de potência,
destruição. O medo da vontade de potência ou seja, aquilo que ele realmente é.
mantem o homem longe de si mesmo e dessa Desta forma não há como a vida social ser
forma o homem vulgar busca apoio, empatia e autêntica e verdadeira uma vez que os
compreensão em seu semelhante o que o membros dessa sociedade não expressam sua
mantem ainda mais atado ao rebanho. Dessa singularidade. A isso não atribuímos nenhum
forma, ele não ousa ser ou pensar diferente juízo de valor, já que autenticidade não significa
pois isso o colocaria numa posição diferente, algo intrinsecamente bom mas sim carregado
antagônica talvez às massas. Mantando-se da vontade de potência com suas forças de
longe dos conflitos da vida, das suas forças construção e destruição e suas pulsões
interiores de construção e destruição, ele se carregadas de vida.
mantem em sua zona de conforto e dela não Assim a educação aristocrática é a educação
pretende esgueirar-se por temor à solidão e da rigidez e do destaque, que busca o
exclusão. A esse homem serve a educação das fortalecimento de si mesmo e a expressão da
massas. vontade de potência, sendo, pois, uma
Tememos, quando estamos sós e educação para poucos, mesmo porque as
silenciosos, que algo nos seja murmurado no massas não só não a aspiram. Ela é feita para
ouvido, e é por isso que detestamos o silêncio e aqueles que não temem o trabalho solitário da

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autossuperação e da transvaloração dos entre si! Há mais indivíduos como jamais houve,
valores. Mas por que o homem comum não que não se tenha ilusões! Mas eles não são tão
aspira uma educação aristocrática para si e para pitorescos e tão sumariamente visíveis quanto
seus filhos? Segundo Nietzsche (1844 -1900), eram antes (NIETZSCHE, 2007, p. 141).
porque ele prefere viver sem expressar a O medo de si mesmo faz com que escolha a
vontade de potência, abre mão dela moral dos fracos por ser esta mais útil à sua
voluntariamente pois prefere buscar um mentalidade de rebanho. O que há de mais
sentido para vida por meio dos outros, por mesquinho e insignificante em si justifica sua
intermédio dos valores socialmente massificação e aprisionamento, uma vez que
estabelecidos do que atribuir ele mesmo estas são características das massas. A
sentido a vida e fazer a transvaloração dos abundância de pessoas com esse perfil fala por
valores. Prefere fazer parte do rebanho. si mesma e isso se dá em qualquer época ou
(...) é duro ver os homens serem incluídos, contexto histórico. Daí podemos concluir que
cruamente e sem metáforas, entre os animais; essa é a natureza do vulgo.
e não se estará longe de nos imputar o crime de Se o vulgo rechaça a singularidade, um
aplicar aos defensores das „ideias modernas sistema educacional criado para o mesmo não
‟os termos „rebanho‟, „instinto gregário‟ e poderia ser diferente. Desta forma o
outros do mesmo gênero (NIETZSCHE, 2007, p. desenvolvimento em todos os âmbitos do
200). estudante não vai além de meros dados
Podemos fazer uma analogia com a estatísticos que têm por natureza encobrir as
educação pública brasileira que se classificaria singularidades. Isso explica o perfil dos alunos
como educação de rebanho. Veremos que na educação de rebanho e seu natural
embora o discurso do mainstream seja em prol tendência a não questionar o significado do
de uma educação de qualidade, os próprios conhecimento, não s e importando mesmo com
educandos preferem que a mesma seja fácil e o mesmo, sendo a escola mais um local de
sem reprovação, ou seja, para todos, até para socialização e de alocação de pessoas que não
aqueles que não estão dispostos a se auto teriam onde ou com quem ficar. Para eles a
superarem. Mesmo porque eles não almejam função social da escola é apenas “social”. Não
uma autossuperação e sim inserção no há um significado maior ou além deste que a
rebanho. valide como elemento de construção de
[...] há muitas morais atualmente: o conhecimento para além dos discursos políticos
indivíduo escolhe involuntariamente aquela esvaziados de significado.
que lhe é mais útil (ele tem de fato medo de si o fato de que a massa seja enganada, por
próprio), quer dizer, ele acolhe exemplo, em qualquer democracia, é
necessariamente o erro, na medida em que é extremamente significativo: deseja-se tornar o
um animal mais ou menos perigoso. – homem menor e mais governável: isto é
Antigamente, quando os homens de uma considerado como sendo progresso
mesma raça eram iguais, também uma só moral (NIETZSCHE, 2007, p. 215).
bastava. Agora, os homens são muito desiguais

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Em contrapartida a educação aristocrática possibilitar ao indivíduo expressar sua vontade


constrói o tempo todo novos valores por meio de potência. Ele não pretende acabar com a
da transvaloração uma vez que não se encontra educação de rebanho, uma vez que ela e a
aprisionada no mundo por meio dos agentes antítese da educação aristocrática e,
do Estado e também determina os rumos da dialeticamente, a justifica. A educação
sociedade pois nela o homem assume sua aristocrática combate o embotamento da
individualidade e singularidade. O caráter de vontade de potência do homem uma vez que
experimentação da filosofia de Nietzsche (1844 provoca a transvaloração dos valores e por
-1900) estende-se também a sua concepção de meio da autossuperação da pequenez do vulgo
educação uma vez que o entendimento é capaz de forjar no filósofo um espirito
pressupõe o “sentir” e “vivenciar” como deixa verdadeiramente livre.
explícito no trecho a seguir: [...] ensinar o futuro do homem como sua
Do meu Zaratustra acredito que seja a obra vontade, um futuro que será dependente da
mais profunda existente em alemão, e a mais sua vontade, para realizar grandes
perfeita quanto a linguagem. Mas para sentir o empreendimentos de educação e seleção, e
mesmo serão necessárias gerações inteiras, com isso pôr um fim a esse terrível domínio
que primeiro façam as suas vivências interiores absurdo e do acaso que foi até agora chamado
às quais esta obra teve origem (NIETZSCHE, de “história” – o absurdo do “maior número” é
1995, p.132). apenas a sua última forma de expressão –: para
Sobre o efeito rebanho Melo Sobrinho o cumprimento desses atos, seria preciso haver
(2007), afirma: um dia um nova espécie de filósofos
[...] no decorrer do tempo, a cristalização de comandantes, diante dos quais todos os
hábitos e costumes traz como resultado a espíritos ocultos, terríveis, benévolos,
estagnação e embrutecimento da cultura, pois parecerão pálidos e mesquinhos (NIETZSCHE,
impede o surgimento daqueles homens 2007, p. 203).
desvinculados, independentes e moralmente Assim sendo, a educação aristocrática, por
fracos de quem depende de resto o progresso, meio da vida solitária, da autocrítica e da
condenando-os muitas vezes ao autossuperação ao colocar o homem diante de
desaparecimento. A onipresença do Estado, si mesmo, ou seja, diante de sua vontade de
por sua vez, fulmina a possibilidade de potência faz do homem um espirito livre do
surgimento do indivíduo, e desse modo impede entorpecimento das massas e em
a mudança, esteriliza o progresso e torna a vida contraposição á elas. Ela se justifica por meio da
social estagnada e decadente (MELO superação da mesquinhez e decadência e no
SOBRINHO, 2007, p.16). distanciamento do rebanho, numa busca
Para Nietzsche (1844 -1900),não é a incessante por uma vida repleta de
educação das massas que enfraquece o autenticidade. Somente a superação das
indivíduo antes disso é a vida na coletividade dificuldades propicia a resistência moral e,
que o faz e isso reflete-se na educação das portanto, a força. Portanto a marca do rebanho
massas por isso defende a importância da seria a fraqueza e o ressentimento.
educação aristocrática em contraposição à
educação de rebanho, por ser a única a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nietzsche (1844 -1900), reiteradamente faz uma contraposição dialética entre a educação
das massas e a educação aristocrática. Para ele a educação está pautada na busca de si mesmo,
de sua autossuperação e de um sentido para vida por meio da transvaloração dos valores.
A própria ideia de vontade de potência que são as forças que regem a natureza estão
continuamente em dialética transmutação o que, por si só já descaracterizaria a educação
aristocrática como um modelo a ser seguido pois o próprio fundamento da educação está no
devir. Sobre o conceito nietzschiano de aristocratismo.
Marton (2006), afirma que:
O homem nobre a que se refere não se reduz a mero conceito; em contextos muito
precisos, acredita deparar com ele. Julga que existiu nos séculos XVII e XVIII com a nobreza
francesa, no Renascimento com a comunidade aristocrática de Veneza e, sobretudo, na Antiga
Grécia, com a aristocracia guerreira. Então, conceber a existência como um duelo leal era
condição inerente ao forte. Não se podia guerrear quando se desprezava e não havia por que
fazê-lo quando se dominava. Para que houvesse o confronto, era preciso que existissem
antagonistas; para que perdurasse, era necessário que os beligerantes não fossem aniquilados
(MARTON, 2006, p. 50).
Muito embora para Nietzsche (1844 -1900), a educação de rebanho (inclusive a nível
superior) seja incapaz de fazer a transvaloração dos valores não há na educação aristocrática um
modelo propositivo a ser seguido pelo Poder Público. Isso porque a função da educação das
massas é favorecer o rebanho e, nesse sentido, ela cumpre sua função social. A educação
aristocrática em si não seria uma educação voltada para o público abastado e sim voltada para a
excelência. Nesse sentido seria uma educação individual, intempestiva voltada para a
autossuperação, ou seja, para a expressão do ser humano que em sua visão é a própria vontade
de potência.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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NIETZSCHE, F. Jenseits von Gut und Böse. Berlin: Goldmann, 1999.

NIETZSCHE, Friedrich. Ecce Homo – Como alguém se torna o que é. São Paulo: Cia das
Letras, 1995.

NIETZSCHE, Friedrich.. Will to Power. Trad. Walter Kaufmann. New York: Vintage Books,
1968.

1296
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O APRENDIZADO MATEMÁTICO ALIADO A


TECNOLOGIA E AULAS INTERATIVAS NO
FORMATO DE EAD
Samantha Savina Albanez1

RESUMO: O presente artigo tem o objetivo compreender como ocorre a construção do número
para criança e levantar as possíveis intervenções para possibilitar ao alunado uma aprendizagem
significativa. A pesquisa traz uma análise sobre como a intervenção pode auxiliar no processo de
aprendizado matemático, tentando minimizar as possíveis dificuldades de aprendizagem dessa
área nos alunos do ensino fundamental I. A metodologia utilizada é pesquisa bibliográfica,
descritiva de natureza qualitativa, por meio de subsídios teóricos sobre a aprendizagem na área
de matemática descrita pelos principais autores relacionando ao tema e também artigos
científicos nas bases de dados do Scielo.

Palavras-Chave: Matemática; Intervenções; Prevenções; Jogos.

1Professora de. Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.
Graduação: Licenciatura Pedagogia e Psicopedagogia.
E-mail:Samantha.savina@gmail.com

1297
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO ordenar juntamente a uma metodologia que


permita às crianças encontrarem suas próprias
A Matemática desempenha um papel soluções; que as debatam com os seus pares,
importante no desenvolvimento da sociedade; num pequeno grupo, ou mesmo com o todo o
diante disso, é necessário que o ensino na área grupo, apoiando a explicação do porquê da
ocorra de forma coerente e correta, para, resposta num processo de reflexão (BURGO,
assim, diminuir as possíveis dificuldades de 2000, p.2).
aprendizagem. Os professores poderiam refletir e planejar
Segundo os Parâmetros Curriculares as suas aulas aproximando os conteúdos
Nacionais (1997), a comprovação da sua matemáticos com as práticas cotidianas dos
importância apoia-se no fato de que a seus alunos, tornando as matérias mais
Matemática desempenha papel decisivo, pois significativas, buscando reverter um ensino
permite resolver problemas da vida cotidiana centrado em procedimentos mecânicos.
com muitas aplicações no mundo do trabalho e Percebe-se urgência em reformular objetivos,
funciona como instrumento essencial para a rever conteúdos e buscar metodologias
construção de conhecimentos nas diversas compatíveis com a formação de que hoje a
áreas curriculares. Do mesmo modo, interfere sociedade demanda.
fortemente na formação de capacidades Segundo D’Ambrosio (1989, p.1), os
intelectuais, na estruturação do pensamento e professores em geral mostram a Matemática
na construção do raciocínio dedutivo do aluno como um corpo de conhecimento acabado e
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2000, p.19). polido. Ao aluno não é dado em nenhum
O sistema numérico tornou-se um momento à oportunidade ou não é gerada a
instrumento cultural central em nossa necessidade de criar nada, nem mesmo uma
sociedade, do qual a criança se apoia solução mais interessante. O aluno, assim,
juntamente às características culturais passa a acreditar que na aula de matemática o
específicas desse sistema. Assim, as noções seu papel é passivo e desinteressante, além de
matemáticas envolvidas podem ser construídas acreditar que a solução de um problema
a partir de situações do dia a dia, cabendo ao encontrada matematicamente não estará,
educador apropriar-se no pensamento lógico necessariamente, relacionada com a solução do
matemático por meio de pesquisas. mesmo problema numa situação real.
Como aponta Kamii (1990), é possível Conforme Kamii (1990), as escolas ensinam,
proporcionar a construção do pensamento tradicionalmente, a obediência e as respostas
numérico utilizando jogos em grupo e situações corretas. Desta forma, sem perceber, elas
do cotidiano, que podem ser o conteúdo da evitam o desenvolvimento da autonomia das
vida das crianças e das situações de sala de crianças. Diante disso, é possível notar que
aula. falta aos alunos uma flexibilidade de solução e
Esses momentos são proporcionados por a coragem de tentar soluções alternativas,
meio de experiências diversificadas que diferentes das propostas dos professores, como
promovam habilidades de classificar, seriar e afirma Kamii (1989), podendo, em alguns casos,

1298
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

gerar algum tipo de dificuldade de é, quando adquire a dimensão de significado ou


aprendizagem. de vivência significativa(COLL, 1997, apud,
PORTO, 2009, p.66).
O APRENDIZADO Diante da importância do processo de
aprendizagem para a sobrevivência do homem
MATEMÁTICO ALIADO A na sociedade, cada vez mais as escolas e as
TECNOLOGIA E AULAS tecnologias estão se aperfeiçoando para
INTERATIVAS NO FORMATO DE tornarem a aprendizagem mais eficiente,
cabendo ao psicopedagogo institucional
EAD assessorar esse processo. Da mesma maneira,
O ensino de Matemática costuma provocar para o aprendizado tornar-se formativo não
duas sensações contraditórias, tanto por parte poderá ficar restrito somente à aquisição de
de quem ensina como por parte de quem conhecimento, informações e destrezas. Ele
aprende: de um lado, a constatação de que se precisa estar voltado para capacitar o sujeito na
trata de uma área de conhecimento execução de atividades por meio de processos
importante, de outro, a insatisfação diante dos mentais e ressignificação (PORTO, 2009 p.66).
resultados negativos obtidos com muita Frente a isso, percebe-se que há
frequência em relação à sua aprendizagem para necessidade de algumas mudanças nos
a mesma norma. planejamentos das aulas de Matemática dos
Nesta perspectiva, é usual verificar se os alunos do Fundamental I para que o ensino
professores estarão preparados e dispostos a dessa área torne-se realmente significativo.
mudar a sua didática, refletir sobre sua prática Diante desta perspectiva,
docente, conhecer melhor os objetivos e Nesta perspectiva, o presente artigo tem
propostas da sua instituição. Cabe ao como problema investigar: de que forma as
psicopedagogo institucional auxiliar, como intervenções psicopedagógicas podem ajudar
aponta Porto (2009), no resgate da identidade alunos do ensino Fundamental I a desenvolver
da instituição com o saber mediando e raciocínio lógico matemático e usar a
resgatando o processo de ensino- autonomia na aprendizagem matemática?
aprendizagem. Ela ainda destaca a importância A fundamentação teórica tem como hipótese
de se trabalhar as questões pertinentes às as intervenções com jogos e as participações
relações vinculares entre professor e aluno e nas aulas em EaD auxiliariam os alunos e
redefinir os procedimentos pedagógicos, professores no aprendizado eficaz do conteúdo
integrando o afetivo e o cognitivo, por meio da matemático.
aprendizagem dos conceitos às diferentes áreas Assim, os principais objetivos deste estudo
do conhecimento. são: demonstrar possíveis estratégias de
Refletir que o conhecimento é fruto de intervenções para o ensino da Matemática,
alguma experiência e está só se transforma em diminuindo as dificuldades de aprendizagem
um conhecimento pleno quando se converte dessa área do conhecimento; compreender
em ‘autêntico’ para aquele que aprendeu, isto como ocorre a construção do raciocínio lógico

1299
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

matemático; aliar com a autonomia no


processo de ensino-aprendizagem e pensar em
aulas interativas EaD como auxílio da fixação
dos conteúdos, buscando formar professores
com uma nova visão de tecnologia aliada aos
conteúdos, tornando assim suas aulas
atraentes e eficazes.

1300
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que trabalhar com jogos e com experiências e vivencias do cotidiano faz com
que as crianças construam o pensamento lógico matemático, tornando assim o conhecimento
matemático mais significativo.
Por intermédio dos jogos matemáticos, com seu caráter lúdico é um recurso indispensável
para desenvolver habilidades cognitivas. Portanto, propiciar situações com jogos é investir no
prazer, no desafio e no melhor desempenho dos alunos.

1301
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BURGO, O.G. Uma avaliação do conhecimento acerca da construção do número na
perspectiva Piagetiana em professores da educação infantil. Maringá, 2007.

D’AMBROSIO, B. S. Como ensinar matemática hoje? Temas e Debates. SBEM, Ano II, n.2,
pág.15-19. Brasília, 1989.

KAMII, C. A criança e o número: implicações educacionais da teoria de Piaget para a


atuação junto aos escolares de 4 a 6 anos. Papirus, Campinas,1990.

KAMII, C.;DECLARK. G. Reinventando a aritmética. Papirus, Campinas, 1996.

PORTO, O. Psicopedagogia Institucional: Teoria, Prática, Assessoramento


Psicopedagógico. WAK, Rio de Janeiro, 2009.

1302
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O BRINCAR E A APRENDIZAGEM
Sandra Roberta de Andrade Silva1

RESUMO: O presente artigo tem por finalidade discutir a importância do lúdico no processo de
ensino e aprendizagem durante a fase de alfabetização e letramento. Essas atividades ajudam na
construção do conhecimento bem como no desenvolvimento das crianças e podem ser
compreendidos como situações em que as crianças possam demonstrar seus diferentes tipos de
sentimentos, podendo aos poucos aceitar a existência do outro. São por meio das brincadeiras
que tende a melhorar o convívio entre as crianças, fazendo com que vivam situações de
colaboração, trabalho em equipe e respeito. É preciso conceituar o papel do educador nesse
processo lúdico de aprendizagem e ainda os benefícios que o brincar proporciona. Dessa forma,
espera-se oferecer uma leitura mais consciente acerca da importância do brincar na vida da
criança.

Palavras-Chave: Educação; Brincar; Aprender.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Alfabetização e Letramento.
E-mail: sandrarobertaandrade@hotmail.com

1303
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO brincar, mas sim, atribuir significado


pedagógico e social para a criança, fazendo com
O presente artigo visa analisar os jogos e as que o aprender passe a ser prazeroso e não um
brincadeiras no processo de alfabetização e meio punitivo imposto pelo professor, já que
letramento da criança, efetivando com isso as para a criança o aprender a ler e escrever não
práticas da alfabetização por meio do lúdico. possui um significado real, se não um método
Na busca incessante de resultados tortuoso aplicado pelo professor, na visão da
positivos na alfabetização é importante que o criança, a escola é o castigo atribuído a ela por
ambiente esteja adaptado ás necessidades seus pais e os professores são os detentores
apresentadas pelo aluno, no entanto, conforme dos meios “cruéis” do castigo.
será abordado no referido estudo, as
informações sociais trazidas do seio familiar
LÚDICO NO BRASIL
pela criança colabora substancialmente para a
Houve no Brasil uma grande mistura de raças
alfabetização, pois, será por meio de pré-
nos últimos séculos, uma vez que cada povo
conceitos estabelecido em suas raízes
trouxe consigo sua cultura, crença e educação,
familiares que determinará situações
maneiras diferentes de desenvolver o lúdico
acadêmicas, que poderão ou não desencadear
entre eles, e todas essas formas foi o que
de maneira satisfatória a alfabetização.
tornou nosso país ainda mais rico, cultural e
É necessário que a criança encontre
educacionalmente falando.
motivação e seja estimulada positivamente
Todo legado cultural e educacional deve ser
para desenvolver sua cognição, percepção de
utilizada para o aprendizado que venha se
mundo e sociabilização, os jogos e brincadeiras,
estender a todos nossos alunos.
terão não apenas essa função, como exercerão
Os jogos e brincadeiras que temos
de forma positiva esse estímulo, permitindo á
atualmente são provenientes dessa
criança o “aprender brincando”.
miscigenação, mas não se pode afirmar de qual
A busca pela motivação sem causar qualquer
povo exatamente seriam suas origens. O que se
tipo de trauma, bem como aprender a respeitar
deve destacar é justamente que, o que temos
regras de convívio social sem constranger ou
atualmente são materiais muito importante
reprimir, são pilares que baseiam esse estudo,
que foi deixado como legado, ou melhor, uma
evitando a rotina cansativa e conteudista
herança de nossos antepassados e que deve ser
apresentada de maneira em geral na educação
preservada e valorizada.
infantil e fundamental.
Sendo então de suma importância a
Aborda-se o brincar da criança não como
utilização desse legado nos ensinos de nossos
uma atividade complementar a outras de
alunos, e sempre estimular o resgate histórico
natureza dita pedagógicas, mas sim como
que cada um nos trouxe.
atividade fundamental para a constituição de
Inicialmente temos os índios, que sempre
sua identidade cultural e de sua personalidade,
valorizaram seus costumes para ensinar e
bem como nas instituições escolares o brincar
educar seus filhos na pesca, na caça, na dança e
não pode ser colocado como brincar por
no brincar, dessa maneira eles estimulavam o

1304
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ensino, sendo essa uma maneira lúdica de professores para ministrar alguns cursos como
aprendizado que representa a cultura, a de álgebras.
educação e a grande tradição de seu povo. Já no século XX, foram lançadas algumas
Os brinquedos dos seus filhos são eles propostas novas como o ensino da Pedagogia,
próprios que constroem com materiais e assim, ajudaria a estruturar um novo rumo
extraídos da própria natureza, eles pescam e para o ensino. No século XX, em suas primeiras
caçam com olhar totalmente diferente dos seus décadas, foi surgindo o “aprender fazendo”,
pais e com outros objetivos que são o de brincar pesquisas que investigaria, redescobertas e
sem nunca perde a real necessidade de alguns métodos de soluções de problemas,
sobreviver. férias e alguns clubes de ciências que foram
Os negros trouxeram seus costumes, uma das grandes mudanças que ocorreu no
parecidos com os dos índios, fazendo o ensino que não tinha preocupações.
necessário para que as crianças aprendessem a Quando a Primeira República chegou ao fim
nadar, pescar, caçar e a construir seus próprios com a Revolução de 1930, o lúdico se tornou o
brinquedos. A cultura, educação e suas movimento mais importante no Brasil, e
tradições eram desenvolvidas de uma forma consequentemente para a Educação brasileira.
muito criativa e lúdica também e assim como os Os padres da Igreja Católica que pertencia a
índios, também satisfazia as necessidades para Companhia de Jesus, de 1534 por meio de
sua sobrevivência. Inácio de Loiola, valorizavam muito o papel, e
Com a chegada dos filhos dos portugueses no esse era o objetivo deles em barrar os avanços
Brasil, por não ter contato algum com o lúdico das reuniões das igrejas no mundo a educação
baseado em atos de sobrevivência, tinham no deveria cumprir para sua realização,
lúdico o lazer e grande aumento intelectual. Os coerentemente com o seu horizonte
costumes dos portugueses eram muito ideológico.
diferentes dos existentes no Brasil, o qual foi O Ministério da Educação e Saúde Pública foi
passado pelos índios e trazido pelos negros em então criado e já nomearam o primeiro
sua bagagem nos grandes navios vindos da Ministro da Educação Francisco Campos. Foi
África para o Brasil. importante esse passo a partir das grandes
No final da Idade Média e já no início da necessidades do sistema econômico, logo após
Idade moderna, próximo ao século XV foi à a Revolução de 1930 foi à grande abertura do
igreja Católica responsável por aniquilar os Brasil para o mundo capitalista de produção e
jogos da educação por serem considerados foram acumulando muito capital, assim,
desrespeitosos a santidade. Foi com os jesuítas passaram a investir no mercado interno e na
que seu ensino voltou a ter um leve destaque, produção industrial. E foi a partir das produções
mas não demorou muito, pois em meados de que surgiu à necessidade de mão de obra e por
1758 foram expulsos, nesse momento o Brasil isso precisaram investir na educação, devido a
ficou sem nenhum sistema que organizaria o necessidade de especialização para os
ensino. Às vezes Portugal enviava alguns indivíduos.

1305
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Já em 1932 um grupo de educadores, Foram publicadas várias técnicas e alguns


criaram os Manifestos dos Pioneiros da métodos para o ensino da matemática, e elas
Educação Nova, fazendo documentos sobre a foram criadas de acordo com as pesquisas e
diversidade teórica e ideológica, com ideias que estudos realizados por matemáticos e
foi destacado algumas ideias conscientes de especialistas desse movimento,
melhoria, lançaram uma proposta de Defendiam que a matemática e sua história
reconstrução educacional em âmbito nacional e fizesse parte dos grandes conteúdos a serem
assim surgia o princípio das escolas públicas, desenvolvidos com as crianças na sala de aula,
com ensino obrigatório gratuito para ambos os e assim eles compreenderam toda a evolução
sexos. matemática e o porquê de estar aprendendo a
Em 1934 na Constituição a educação passa a matemática.
ser direito de todos e deveria ser ministrada Os professores ao ensinar matemática
pela própria família e pelos Poderes Públicos. fizeram um movimento importante e
Chegando às décadas de 1930 até 1950, não fundamental para esse ensinamento, era
houve muitas alterações no nosso ensino de necessário levar em consideração as
matemática, embora em 1955, com o primeiro experiências vividas por eles em contatos com
Congresso Brasileiro de ensino de Matemática, a matemática, no seu cotidiano, de alguma
passou a ser admitido que o segundo currículo forma as crianças sempre tiveram contato com
precisasse ser atualizado, com o propósito de a matemática, é de suma importância torná-la
ser compatível com o conteúdo do ensino significativa para essas crianças, a esse
universitário. movimento dá-se o nome de etnomatemática.
Em 1953 foi atribuído o nome de Ministério Há uma valorização exagerada por parte dos
da Educação e Cultura que passa a apoiar professores, do ensino formal, sem que possam
disfarçadamente as grandes mudanças se desprender dele para um aprofundamento
provocadas pela matemática moderna. maior na etnomatemática.
Em meados de 1970 temos a criação de um Na verdade é mais importante o que a
novo movimento chamando-se de Movimento criança pode fazer com um instrumento que
de Educação Matemática, que seriam trouxe de sua vida anterior à escola do que dar
organizados por estudos e pesquisas. Os instrumentos novos. Com o que ela já sabe de
pensamentos sobre o ensino da matemática casa pode fazer muito e ser feliz.
como estava sendo realizado, segundo os É muito importante para eles usarem seus
especialistas, estava muito ultrapassado, a conhecimentos, que com isso será mais fácil de
partir de então começam a estudar a psicologia assimilar e se desenvolver atrás dos seus
de desenvolvimento do conhecimento da poucos conhecimentos, segundo o autor
criança, e assim, também de como fariam para supracitado, apenas quando o aluno sentir que
avaliar os professores, o ensino da matemática necessita de algo novo é que o educador deve
juntamente com a realidade vivida pelas intervir cultivando e explorando esse desejo de
crianças em sua aprendizagem. saber e fazer mais. Neste momento o professor

1306
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pode dizer: ‘você parou ai, vou mostrar como ir Nacionais PCN, onde eram propostos os
adiante’. objetivos que deveriam ser alcançados no final
Os computadores mesmo que precário seria de cada ciclo em que as crianças estudassem,
muito útil no movimento da educação com os conteúdos e quais deles deveriam ser
matemática, e que pudesse ser pensado, pois desenvolvidos.
na época não era acessível como nos dias Seriam usados alguns mecanismos de
atuais, onde todos têm acesso a computadores avaliação e de orientações didáticas para os
e o mesmo servia como instrumento para o professores, com algumas matérias muito bem
ensino da matemática. elaboradas e que seja disponibilizado pelo
Segundo Takahashi (2004): Ministério de Educação.
Pensar a educação na sociedade da No entanto diante de muitas contribuições
informação exige considerar um leque de históricas que vimos cada qual em sua época
aspectos relativos às tecnologias de informação para buscar atingir um melhor ensino da
e comunicação, a começar pelo papel que elas matemática, acredita-se que as últimas
desempenham na construção de uma décadas do século XX foram as que trouxeram
sociedade que tenha a inclusão e a justiça social os grandes avanços e muitos deles significativos
como uma das prioridades principais a esse ensino.
(TAKAHASHI 2004, p.23). Quanto o uso do lúdico no ensino da
Nos anos 80 foi produzido um documento matemática, embora seja muito utilizado em
que ficou conhecido como Agenda para Ação todas as épocas, passando por vários sistemas,
pelo NCTM (National Council of Teacher of se fortaleceu com as pesquisas e estudos nas
Mathematics) dos Estados Unidos, onde foram áreas das ciências humanas que trata do
feitas propostas para a melhoria do ensino, desenvolvimento cognitivo da criança.
houve discussão como resolução de problemas Por intermédio dos estudos pela Psicologia, a
com um mecanismo de aprendizagem Pedagogia e até mesmo a Sociologia o convívio
significativo, por exemplo. social das crianças influencia no seu
As propostas defendidas na década de 70 aprendizado, dando ênfase à utilização do
pelo movimento da educação de matemática lúdico como objeto de estudo e pesquisa para o
observam que ao se ensinar matemática existe desenvolvimento da criança.
alguns aspectos onde deveria ter total Foi a partir daí que passamos a ter estudos
relevância para que esse fato de aprender publicados que se tratava da educação lúdica,
ocorresse. Alguns aspectos como os sociais, não com o simples fato de brincar, ou sem
cognitivos, linguísticos e antropológicos, foi qualquer relação com o desenvolvimento do
algo que não havia sido discutido dentro do ser humano, e assim passa a ser considerado
processo das construções das propostas em qualquer fase da vida um instrumento real
educacionais. de conhecimento.
Houve um avanço muito significativo no O lúdico pode ser desenvolvido como uma
Brasil no final do século XX nos últimos anos ação isolada ou coletiva ou até mesmo indireta
com a publicação dos Parâmetros Curriculares com o ato de conhecimento. E assim, venha se

1307
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolver em um pensamento crítico indivíduo se torne um sujeito crítico, ambicioso


reflexivo, vindo ser ativo no ser humano, e na busca de uma sociedade mais justa, sendo
passa a estar enriquecendo seu senso de por aí que se busca seus conhecimentos
responsabilidade e cooperativismo, provenientes do seu processo de
proporcionando a este uma apropriação das desenvolvimento educacional, e possam assim
funções cognitivas e sócias para seu de fato inseri-lo na sociedade como um ator
desenvolvimento. principal de transformações.
Nas últimas décadas do século XX, com o Observando que o jogo sempre esteve
Movimento de Educação Matemática as teorias presente na vida, não só na vida das crianças,
das Ciências Humanas para o ensino e como também dos adultos, são instrumentos
aprendizagem e o uso do lúdico para o ensino importantíssimo que pode ser utilizado para o
da matemática se tornou mais valorizado como desenvolvimento de qualquer pessoa, e deve
um instrumento metodológico. Com a ser levado em consideração pelos professores
exaltação total da sua inserção nos Parâmetros em qualquer nível de ensino.
Curriculares Nacionais de 1997, tais parâmetros Aprendemos que qualquer atividade lúdica
passaram a orientar o atual modelo de ensino provoca estímulos nas pessoas, em qualquer
no Brasil. idade, explorando vários sentidos vitais e
A Formação de professores deve psicomotores, assim proporciona o
acompanhar essas mudanças estruturais do desenvolvimento completo das suas funções
ensino da matemática aonde se estreita relação cognitivas.
entre a teoria e a proposta de mudanças com a Kishimoto (1994), alerta:
prática docente, acerca da falta de Se quisermos aproveitar o potencial do jogo
investimentos para a formação do professor como recurso para o desenvolvimento infantil,
pode-se dizer que dificulta o avanço que se faria não poderemos contrariar sua natureza, que
necessário para tal estreitamento na educação. requer a busca do prazer, a alegria, a
Existe uma grande distância entre o ensino exploração livre e não-constrangimento.
que foi proposto pelos PCN (1997), e o que é completo das suas funções. (KISHIMOTO, 1994,
praticado em sala de aula, o que o torna essa p.34).
pratica sem rumo quanto aos seus parâmetros. Não se pode deixar de aproveitar o potencial
Quanto à etnomatemática e o seu uso, seria que o jogo traz para o desenvolvimento e
na modelagem matemática, a resolução de aprendizagem das crianças e até mesmo dos
problemas relacionais, o lúdico matemático, a adultos.
tecnologia como instrumentos, precisa ser algo O educador tem um papel fundamental
comum na pratica docente. Se existisse uma nesse contexto para a exploração das
política de formação para os professores que atividades lúdicas, com o objetivo de que seus
possibilitasse a estes um mergulho nos alunos possam ter um aprendizado matemático
métodos e técnicas de ensino, isso possibilitaria significativo, e assim outras atividades não
um aprendizado matemático significativo. Este venham perder suas essências, e resulte no
aprendizado irá contribuir para que cada esperado.

1308
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERENCIAL CURRICULAR intencionais ou aprendizagens orientadas pelos


adultos.
NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO É importante ressaltar, porém, que essas
INFANTIL aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem
• Educar de maneira integrada no processo de
Nas últimas décadas, os debates em nível desenvolvimento infantil. Educar significa,
nacional e internacional apontam para a portanto, propiciar situações de cuidados,
necessidade de que as instituições de educação brincadeiras e aprendizagens orientadas de
infantil incorporem de maneira integrada as forma integrada e que possam contribuir para
funções de educar e cuidar, não mais o desenvolvimento das capacidades infantis de
diferenciando nem hierarquizando os relação interpessoal, de ser e estar com os
profissionais e instituições que atuam com as outros em uma atitude básica de aceitação,
crianças pequenas e/ou aqueles que trabalham respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças,
com as maiores. aos conhecimentos mais amplos da realidade
As novas funções para a educação infantil social e cultural.
devem estar associadas a padrões de Neste processo, a educação poderá auxiliar o
qualidade. Essa qualidade advém de desenvolvimento das capacidades de
concepções de desenvolvimento que apropriação e conhecimento das
consideram as crianças nos seus contextos potencialidades corporais, afetivas,
sociais, ambientais, culturais e, mais emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva
concretamente, nas interações e práticas de contribuir para a formação de crianças
sociais que lhes fornecem elementos felizes e saudáveis.
relacionados às mais diversas linguagens e ao • Aprendizagem
contato com os mais variados conhecimentos A criança é um ser social que nasce com
para a construção de uma identidade capacidades afetivas, emocionais e cognitivas.
autônoma. Tem desejo de estar próxima às pessoas e é
A instituição de educação infantil deve tornar capaz de interagir e aprender com elas de
acessível a todas as crianças que a frequentam, forma que possa compreender e influenciar seu
indiscriminadamente, elementos da cultura ambiente. Ampliando suas relações sociais,
que enriquecem o seu desenvolvimento e interações e formas de comunicação, as
inserção social. Cumpre um papel socializador, crianças sentem-se cada vez mais seguras para
propiciando o desenvolvimento da identidade se expressar, podendo aprender, nas trocas
das crianças, por meio de aprendizagens sociais, com diferentes crianças e adultos cujas
diversificadas, realizadas em situações de percepções e compreensões da realidade
interação. também são diversas.
Na instituição de educação infantil, pode-se Para se desenvolver, portanto, as crianças
oferecer às crianças condições para as precisam aprender com os outros, por meio dos
aprendizagens que ocorrem nas brincadeiras e vínculos que estabelece. Se as aprendizagens
aquelas advindas de situações pedagógicas acontecem na interação com as outras pessoas,

1309
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sejam elas adultos ou crianças, elas também processo de diferenciação dos outros e
dependem dos recursos de cada criança. consequentemente sua identidade.
Dentre os recursos que as crianças utilizam, • Brincar
destacam-se a imitação, o faz-de-conta, a Brincar é uma das atividades fundamentais
oposição, a linguagem e a apropriação da para o desenvolvimento da identidade e da
imagem corporal. autonomia. O fato de a criança, desde muito
• Imitação cedo, poder se comunicar por meio de gestos,
A percepção e a compreensão da sons e mais tarde representar determinado
complementaridade presente nos atos e papéis papel na brincadeira faz com que ela
envolvidos nas interações sociais é um aspecto desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as
importante do processo de diferenciação entre crianças podem desenvolver algumas
o eu e o outro. O exercício da capacidades importantes, tais como a atenção,
complementaridade está presente, por a imitação, a memória, a imaginação.
exemplo, nos jogos de imitação típico das Amadurecem também algumas capacidades de
crianças. É visível o esforço das crianças, desde socialização, por meio da interação e da
muito pequenas, em reproduzir gestos, utilização e experimentação de regras e papéis
expressões faciais e sons produzidos pelas sociais.
pessoas com as quais convivem. Imitam A diferenciação de papéis se faz presente
também animais domésticos, objetos em sobretudo no faz de conta, quando as crianças
movimento etc. brincam como se fossem o pai, a mãe, o
Na fase dos dois aos três anos a imitação filhinho, o médico, o paciente, heróis e vilões
entre crianças pode ser uma forma privilegiada etc., imitando e recriando personagens
de comunicação e para brincar com outras observados ou imaginados nas suas vivências. A
crianças. A oferta de múltiplos brinquedos do fantasia e a imaginação são elementos
mesmo tipo facilita essa interação. A imitação é fundamentais para que a criança aprenda mais
resultado da capacidade de a criança observar sobre a relação entre as pessoas, sobre o eu e
e aprender com os outros e de seu desejo de se sobre o outro.
identificar com eles, ser aceita e de diferenciar- No faz de conta, as crianças aprendem a agir
se. em função da imagem de uma pessoa, de uma
É entendida aqui como reconstrução interna personagem, de um objeto e de situações que
e não meramente uma cópia ou repetição não estão imediatamente presentes e
mecânica. As crianças tendem a observar, de perceptíveis para elas no momento e que
início, as ações mais simples e mais próximas à evocam emoções, sentimentos e significados
sua compreensão, especialmente aquelas vivenciados em outras circunstâncias. Brincar
apresentadas por gestos ou cenas atrativas ou funciona como um cenário no qual as crianças
por pessoas de seu círculo afetivo. A tornam-se capazes não só de imitar a vida como
observação é uma das capacidades humanas também de transformá-la. Os heróis, por
que auxiliam as crianças a construírem um exemplo, lutam contra seus inimigos, mas
também podem ter filhos, cozinhar e ir ao circo.

1310
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Ao brincar de faz de conta, as crianças sempre individual e depende dos recursos


buscam imitar, imaginar, representar e emocionais de cada criança que são
comunicar de uma forma específica que uma compartilhados em situações de interação
coisa pode ser outra, que uma pessoa pode ser social.
uma personagem, que uma criança pode ser Por meio da repetição de determinadas
um objeto ou um animal, que um lugar “faz de ações imaginadas que se baseiam nas
conta” que é outro. polaridades presença/ausência, bom/mau,
Brincar é, assim, um espaço no qual se pode prazer/desprazer, passividade/ atividade,
observar a coordenação das experiências dentro/fora, grande/pequeno, feio/bonito etc.,
prévias das crianças e aquilo que os objetos as crianças também podem internalizar e
manipulados sugerem ou provocam no elaborar suas emoções e sentimentos,
momento presente. Pela repetição daquilo que desenvolvendo um sentido próprio de moral e
já conhecem, utilizando a ativação da memória, de justiça.
atualizam seus conhecimentos prévios, • Oposição
ampliando-os e transformando-os por meio da Além da imitação e do faz de conta, a
criação de uma situação imaginária nova. oposição é outro recurso fundamental no
Brincar constitui-se, dessa forma, em uma processo de construção do sujeito. Opor-se,
atividade interna das crianças, baseada no significa, em certo sentido, diferenciar-se do
desenvolvimento da imaginação e na outro, afirmar o seu ponto de vista, os seus
interpretação da realidade, sem ser ilusão ou desejos.
mentira. Vários são os contextos em que tal conduta
Também tornam-se autoras de seus papéis, pode ocorrer, sua intensidade depende de
escolhendo, elaborando e colocando em vários fatores, tais como características
prática suas fantasias e conhecimentos, sem a pessoais, grau de liberdade oferecido pelo
intervenção direta do adulto, podendo pensar meio, momento específico do desenvolvimento
e solucionar problemas de forma livre das pessoal em que se encontra.
pressões situacionais da realidade imediata. É comum haver fases em que a oposição é
Quando utilizam a linguagem do faz de mais intensa, ocorrendo de forma sistemática e
conta, as crianças enriquecem sua identidade, concentrada. A observação das interações
porque podem experimentar outras formas de infantis sugere que são diversos os temas de
ser e pensar, ampliando suas concepções sobre oposição, os quais tendem a mudar com a idade
as coisas e pessoas ao desempenhar vários — por exemplo, disputa por um mesmo
papéis sociais ou personagens. Na brincadeira, brinquedo, briga por causa de um lugar
vivenciam concretamente a elaboração e específico, desentendimento por causa de uma
negociação de regras de convivência, assim ideia ou sugestão etc. Embora seja de difícil
como a elaboração de um sistema de administração por parte do adulto, é bom ter
representação dos diversos sentimentos, das em vista que esses momentos desempenham
emoções e das construções humanas. Isso um papel importante na diferenciação e
ocorre porque a motivação da brincadeira é afirmação do eu.

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• Linguagem As histórias que compõem o repertório


O uso que a criança faz da linguagem fornece infantil tradicional são inesgotável fonte de
vários indícios quanto ao processo de informações culturais, as quais somam-se a sua
diferenciação entre o eu e o outro. Por vivência concreta. O Saci Pererê pode ser, por
exemplo, a estabilização no uso do pronome exemplo, uma personagem cujas aventuras
“eu” em substituição à forma usada pelos façam parte da vida da criança sem que exista
menores que costumam referir-se a si mesma concretamente na realidade.
pelo próprio nome, conjugando o verbo na • Apropriação da imagem corporal
terceira pessoa — “fulano quer isso ou aquilo” A aquisição da consciência dos limites do
— sugere a identificação da sua pessoa como próprio corpo é um aspecto importante do
uma perspectiva particular e única. Por outro processo de diferenciação do eu e do outro e da
lado, a própria linguagem favorece o processo construção da identidade. Por meio das
de diferenciação, ao possibilitar formas mais explorações que faz, do contato físico com
objetivas e diversas de compreender o real. Ao outras pessoas, da observação daqueles com
mesmo tempo em que enriquece as quem convive, a criança aprende sobre o
possibilidades de comunicação e expressão, a mundo, sobre si mesma e comunica-se pela
linguagem representa um potente veículo de linguagem corporal.
socialização. • Jogos e brincadeiras
É na interação social que as crianças são Alguns jogos e brincadeiras de parque ou
inseridas na linguagem, partilhando quintal, envolvendo o reconhecimento do
significados e sendo significadas pelo outro. próprio corpo, o do outro e a imitação, podem
Cada língua carrega, em sua estrutura, um jeito se transformar em atividades da rotina. Bons
próprio de ver e compreender o mundo, o qual exemplos são “Siga o Mestre” e “Seu Lobo”,
se relaciona a características de culturas e porque propõem a percepção e identificação de
grupos sociais singulares. Ao aprender a língua partes do corpo e a imitação de movimentos.
materna, a criança toma contato com esses Podem ser planejadas articulações com
conteúdos e concepções, construindo um outros eixos de trabalho, como, por exemplo,
sentido de pertinência social. pedir que as crianças modelem parte do corpo
Por meio da linguagem, o ser humano pode em massa ou argila, tendo o próprio corpo ou o
ter acesso a outras realidades sem passar, do outro como modelo. Essa possibilidade pode
necessariamente, pela experiência concreta. ser aprofundada, se forem pesquisadas
Por exemplo, alguém que more no sul do Brasil também obras de arte em que partes do corpo
pode saber coisas sobre a floresta ou povos da foram retratadas ou esculpidas.
Amazônia sem que nunca tenha ido ao É importante lembrar que neste tipo de
Amazonas, simplesmente se baseando em trabalho não há necessidade de se estabelecer
relatos de viajantes, ou em livros. Com esse uma hierarquia prévia entre as partes do corpo
recurso, a criança tem acesso a mundos que serão trabalhadas. Pensar que para a
distantes e imaginários. criança “é mais fácil” começar a perceber o
próprio corpo pela cabeça, depois pelo tronco e

1312
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

por fim pelos membros, por exemplo, pode não função das necessidades de cada enredo. Nesse
corresponder à sua experiência real. espaço pode ser afixado um espelho de corpo
Nesse sentido, o professor precisa estar inteiro, de maneira a que as crianças possam
bastante atento aos conhecimentos prévios das reconhecer-se, imitar-se, olhar-se, admirar-se.
crianças acerca de si mesmas e de sua Pode-se, ainda, agregar um pequeno baú de
corporeidade. Outra orientação de atividades objetos e brinquedos úteis para o faz de conta,
tem a ver com o reconhecimento dos sinais que pode ser complementado por um cabideiro
vitais e de sua alteração, como a respiração, os contendo roupas velhas de adultos ou
batimentos cardíacos, como também de fantasias. Fundamentais, também, são os
sensações de prazer ou desprazer que qualquer materiais e acessórios para a casinha, tais como
atividade física pode proporcionar. Ouvir esses uma pequena cama, um fogão confeccionado
sinais, refletir, conversar sobre o que acontece com uma velha caixa de papelão, louças,
quando se corre, ou se rola, ou se massageia um utensílios variados etc. É importante, porém,
ao outro; pedir às crianças que registrem essas que esses materiais estejam organizados
ideias utilizando desenhos ou outras linguagens segundo uma lógica; por exemplo, que as
pode garantir que continuem a entender e se maquiagens estejam perto do espelho e não
expressar pelo movimento de forma dentro do fogão, de maneira a facilitar as ações
harmoniosa. simbólicas das crianças.
Responder como e quando o professor deve No entanto, esse espaço poderá
intervir nas brincadeiras de faz de conta é, transformar-se em um “elefante branco” na
aparentemente, contraditório com o caráter sala, caso não seja utilizado, arrumado e
imaginativo e de linguagem independente que mantido diariamente por crianças e
o brincar compreende. Porém, há alguns meios professores. Não se pode esquecer, porém, que
a que o professor pode recorrer para promover apesar da existência do espaço, ao brincar, as
e enriquecer as condições oferecidas para as crianças se espalham e espalham brinquedos e
crianças brincarem que podem ser observadas. objetos pela sala, usam mobiliários e o espaço
Para que o faz de conta torne-se, de fato, externo. É recomendável que isso ocorra, e, na
uma prática cotidiana entre as crianças é medida em que crescem, as crianças poderão
preciso que se organize na sala um espaço para organizar de forma mais independente seu
essa atividade, separado por uma cortina, espaço de brincar. Sempre auxiliadas pelo
biombo ou outro recurso qualquer, no qual as professor e rearrumando o material depois de
crianças poderão se esconder, fantasiar-se, brincar, as crianças podem transformar a sala e
brincar, sozinhas ou em grupos, de casinha, o significado dos objetos cotidianos
construir uma nave espacial ou um trem etc. enriquecendo sua imaginação.
Nesse espaço, pode-se deixar à disposição das Nesse sentido, brincar deve se constituir em
crianças panos coloridos, grandes e pequenos, atividade permanente e sua constância
grossos e finos, opacos e transparentes; cordas; dependerá dos interesses que as crianças
caixas de papelão para que as crianças apresentam nas diferentes faixas etárias. Ainda
modifiquem e atualizem suas brincadeiras em com relação ao faz de conta, o professor poderá

1313
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

organizar situações nas quais as crianças dão o valor necessário para a forma eficaz que
conversem sobre suas brincadeiras, lembrem- é o lúdico. Infelizmente tem essa atividade
se dos papéis assumidos por si e pelos colegas, como um período para descanso, uma forma
dos materiais e brinquedos usados, assim como para as crianças gastarem energia, essas
do enredo e da sequência de ações. escolas têm que entender a real importância
Nesses momentos, lembrar-se sobre o que, dessa hora de brincadeira e jogos, para o
com quem e com o que brincaram poderá desenvolvimento das crianças.
ajudar as crianças a organizarem seu Ainda segundo Wajskop (1995):
pensamento e emoções, criando condições Os jogos fazem parte do ato de educar, num
para o enriquecimento do brincar. Nessas compromisso consciente, intencional e
situações, podem-se explicitar, também, as modificador da sociedade; educar ludicamente
dificuldades que cada criança tem com relação não é jogar lições empacotadas para o
a brincar, caso desejem, e a necessidade que educando consumir passivamente; antes disso
tem da ajuda do adulto. é um ato consciente e planejado, é tornar o
indivíduo consciente, engajado e feliz no
BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS mundo(WAJSKOP, 1995,p.32).
É por meio dessa atividade que o educando
Por meio dos brinquedos e brincadeiras as
irá estimular a imaginação das crianças, e assim
crianças conseguem se sentir livre para criar,
que suas ideias e questionamentos venham ser
imaginar e experimentar coisas novas, ou seja,
despertados nas crianças. O educador deve
aprender. Elas criam autonomia por meio de
atentar-se ao comportamento das crianças, a
brinquedos, jogos e brincadeiras, onde elas têm
forma que elas reagem com as outras em sala
a oportunidade de se desenvolver.
de aula, para que todas tenham as mesmas
Desenvolver suas curiosidades e a
oportunidades nas brincadeiras. Sempre estar
autoconfiança. O brincar vem contribuindo
atentos e quando necessário interferir e
para que elas se tornem um adulto eficiente e
ensinar que jogos brincadeira são coletivos e
equilibrado, respeitando as regras de
que deve haver respeito entre a criança e seus
convivência, bem como o mundo em que está
colegas.
inserido.
Enfatizar para as crianças sobre a tolerância,
Segundo Wajskop (1995), qualquer
o respeito pelo próximo, a justiça, a
conteúdo que venha ser apresentado em uma
solidariedade, a aceitação e o reconhecimento
sala de aula se for apresentado em forma de
do valor das diferenças, cabe nesse contexto
jogo ou de brincadeira, as crianças vão
aos professores dar exemplo para elas, pois as
aprender com mais eficiência. Pois é durante as
crianças têm todo o seu aprendizado e
brincadeiras que elas constroem, pensam,
desenvolvimento baseado em imitações.
aprendem, experimentam e dominam suas
O ato de brincar manifesta- se por meio de
angustias, em outras palavras, compõe sua
jogos, brinquedos, em forma de objetos, em
própria personalidade.
reuniões de amigos, confecções de brinquedos
Ainda hoje existem algumas escolas que
entre outras formas. O brincar continua sendo
vêem o lúdico apenas como passatempo e não

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

uma das maiores e melhores formas que as


crianças usam para expressar suas emoções e
comunicação.
O brinquedo é apenas um instrumento que
facilita o desenvolvimento das atividades
lúdicas, e esse instrumento poderem ser
utilizados em diferentes situações, mas o ato de
brincar não precisa estar com algum brinquedo,
mas sim o brincar com a imaginação, o brincar
espontâneo, brincadeiras uns com os outros.

1315
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante o apresentado sobre o lúdico na aprendizagem podemos considerar a importância
que ele tem, como um instrumento eficaz na promoção da aprendizagem significativa, uma vez
que se encaixa nos requisitos básicos desta teoria, por ser um material potencialmente
significativo, que possibilita a aprendizagem e o desenvolvimento no cotidiano das crianças e por
manifestar nelas uma predisposição para aprender, não só na sala de aula como no seu dia-a-dia.
O lúdico nesse momento de aprendizagem gera momentos de alegria e prazer.
As atividades lúdicas não levam somente ao desenvolvimento de competências e
habilidades, mas também motivam as crianças perante as aulas ministradas pelos professores,
pois o lúdico é integrador de várias dimensões das crianças. É ali que as crianças manifestam suas
emoções e reações que possibilitam o seu desenvolvimento.
O lúdico e sua importância no dia a dia da vida escolar das crianças, e onde a ludicidade
possibilita à criança transcender tendência por meio de raízes em suas motivações primitivas e
biológicas, o jogo só existe por seu caráter funcional, sendo ele um meio de suprimir necessidades
e desejos que não são realizáveis.
Por intermédio das atividades lúdicas (jogos e brincadeiras) como um meio de possibilitar
a aprendizagem para que as crianças possam compreender, acompanhar e avançar no dia a dia
da escola e com a ajuda dos professores auxiliando, e vendo o desenvolvimento da criança. É fato
que por meio dos jogos observamos as transformações dos planos emocionais.
É notório que o fracasso escolar aumenta a cada dia, mas utilizando o lúdico primasse pela
diminuição do mesmo, alguns educadores buscam incessantemente novas metodologias de
ensino e aprendizagem, para contribuir com o desenvolvimento infantil.
O jogo também sanou algumas dificuldades encontradas no ensino como a superação do
modelo tradicional, desta forma, a transmissão do conhecimento deixou de ser unidirecional, e
os estudantes passaram a receber e armazenar as informações de modo ativo e significativo.
Considera-se ainda que os conceitos sejam imprescindíveis para uma eficaz compreensão
do mundo que nos cerca, este método alternativo para o ensino infantil, permitiu que os alunos
se apropriassem de conhecimentos sobre o aprender, o cérebro das crianças ficarão estimulados
a aprendizagem e para o desenvolvimento será mais eficaz, além de curiosidades que envolvem
no seu cotidiano.

1316
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BECKER, Fernando. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre. Artmed. 2001.

BECKER, Fernando. Educação Infantil: Cuidar, Educar e Brincar. São Paulo. Fundação Padre
Anchieta. 2011.

BRASIL. Referenciais Curriculares para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.


Disponível em:
http://books.google.com.br/books?id=iK3UejO34YYC&printsec=frontcover&hl=pt-
R&source=gbs_ge_summary_r#v=onepage&q&f=false. Data de Acesso:11/03/2020.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacional- PCN. Disponível em


https://pedagogiaaopedaletra.com/ldb-e-pcn-uma-visao-legal-sobre-a-educacao-brasileira/.
Data de Acesso:11/03/2020.

FORTUNA, T. R. Sala de aula é lugar de brincar? In: XAVIER, M. L. M. e DALLA ZEN, M. I. H.


(org.) Planejamento em destaque: análises menos convencionais. Porto Alegre: Mediação,
2000. (Cadernos de Educação Básica, 6) p. 147-164. Disponível em:
http://brincarbrincando.pbworks.com/f/texto_sala_de_aula.pdf. Data de Acesso:11/03/2020.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar, crescer e aprender- o resgate do jogo infantil. São Paulo.
Editora Moderna. 1996.

KISHIMOTO, Tizuki. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo. Pioneira. 1984.

KISHIMOTO, Tizuki. O brincar e suas teorias. São Paulo. Pioneira. 2002.

KISHIMOTO, Tizuki. UNIVESP TV. A importância do brincar. São Paulo: Fundação Padre
Anchieta, 2011a. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=HpiqpDvJ7-8. Data de
Acesso:11/03/2020.

SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Ler e escrever: livro de textos do aluno/ secretaria da
Educação, Fundação para o Desenvolvimento da Educação: seleções de textos, Ed. São
Paulo : FDE, 2013.

WAJSKOP, Gisela. O brincar na educação infantil. São Paulo. Cortez, 1995.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O CONTRIBUTO DOS JOGOS E BRINCADEIRAS


NO ENSINO DA MATEMÁTICA
Luciene Suzarte Santos1
Maria José Silva Almeida Trindade2

RESUMO: Partindo do pressuposto que as atividades lúdicas facilitam tanto no progresso da


personalidade integral da criança, como o de cada uma das suas funções psicológicas, intelectuais
e morais as crianças necessitam do aprender brincando com atividades lúdicas e brincadeiras,
espera-se que as crianças desenvolvam a coordenação motora, a atenção, o movimento ritmado,
e o conhecimento quanto a posição do seu corpo, direção a seguir e outros; participando do seu
desenvolvimento nos seus aspectos biopsicosocial; desenvolva livremente a expressão corporal,
favoreça a criatividade, estimule as suas funções orgânicas, visando o equilíbrio e a saúde,
desenvolva o espírito de iniciativa, tornando-se capaz de resolver eficazmente imprevistos que
acontecem no ambiente escolar e familiar.

Palavras-Chave: Jogos; Brincadeiras; Desenvolvimento.

1 Professora de Educação Básica na Rede Municipal de Caieiras.


Graduação: Mestranda em Ciências da Educação; Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes Visuais;
Licenciatura em História; Especialização em Psicopedagogia.
E-mail: lusantossuzarte@gmail.com
2 Professora de Educação Básica na Rede Municipal de Caieiras e na Rede Municipal de Franco da Rocha.

Graduação: Mestranda em Ciências da Educação; Licenciatura em Pedagogia. Especialização em


Psicopedagogia; Gestão Escolar; Alfabetização e Letramento; Arte, Educação e Terapia e Educação Especial.
E-mail: mariajose.trindade@yahoo.com.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO expressão corporal, favoreça a criatividade,


estimule as suas funções orgânicas, visando o
É comum encontrarmos crianças nas salas de equilíbrio e a saúde, desenvolva o espírito de
aula como se fossem mini adultos, sentados em iniciativa, tornando-se capaz de resolver
fileiras, copiando extensas listas de exercícios eficazmente imprevistos que acontecem no
sem entender a real necessidade da ambiente escolar e familiar.
aplicabilidade matemática nas situações do A matemática deveria ser ensinada por meio
cotidiano. Ao ingressar na escola, as crianças de brincadeiras, para Vygotsky (2000), a
sofrem um considerável impacto, pois até aprendizagem e o desenvolvimento estão
então, sua vida era exclusivamente dedicada estritamente relacionados, sendo que as
aos brinquedos e ao ambiente familiar, na qual crianças se inter-relacionam com o meio, o
vivenciou as primeiras experiências objeto social, internalizando o conhecimento
matemáticas. advindo de um processo de construção.
As experiências vivenciadas antes do A presente pesquisa tem como objetivo geral
ingresso à escola geralmente são apresentar a relevância das atividades lúdicas
desconsideradas pelos professores e as na contribuição para o ensino efetivo da
crianças perdem o interesse pela matemática, matemática e como objetivos específicos
pois esta não é apresentada de forma discorrer sobre jogos brinquedos e as múltiplas
desafiadora. inteligências; abordar o papel do professor na
Os efeitos do brincar consideram a ação utilização dos jogos e discorrer sobre a
lúdica como metacognição, ou seja, a avaliação dos jogos e brincadeiras nas aulas de
possibilidade da criança compreender o matemática.
pensamento e a linguagem de si próprio. Este trabalho foi desenvolvido por meio de
Portanto, o brincar implica uma relação pesquisa bibliográfica do tema com consultas
cognitiva e representa a potencialidade e em livros, revistas e artigos impressos e/ou
contribui para o desenvolvimento infantil, além publicados na internet. Assim foi realizado um
de ser um instrumento para construção do levantamento teórico com o objetivo de
raciocínio-lógico matemático dos educandos. analisar e compreender como os jogos e
As atividades lúdicas facilitam tanto no brincadeiras podem auxiliar a aprendizagem
progresso da personalidade integral da criança, das crianças nas aulas de matemática.
como o de cada uma das suas funções Nesta perspectiva a problemática trabalhada
psicológicas, intelectuais e morais. Com foi o trabalho lúdico no nas aulas de
atividades lúdicas e brincadeiras, espera-se que matemática e a importância dos jogos e
as crianças desenvolvam a coordenação brincadeiras no processo de aprendizagem do
motora, a atenção, o movimento ritmado, e o aluno.
conhecimento quanto à posição do seu corpo,
direção a seguir e outros; participando do seu
desenvolvimento nos seus aspectos
biopsicosocial; desenvolva livremente a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

JOGOS DIVERTIDOS E brincar no desenvolvimento da criança. A


aprendizagem e o desenvolvimento devem ser
BRINQUEDOS CRIATIVOS estimulados de forma prazerosa,
O jogo e o brinquedo fazem parte do nosso transformadora e alegre.
patrimônio lúdico, por estarem presentes em Segundo Almeida (2007, p. 20), “A educação
todas as épocas e culturas, sendo lúdica esta distante das concepções ingênua de
importantíssimo para as coordenadas da vida passatempo, brincadeira vulgar, diversão
humana. O brincar representa uma forma superficial”. Por meio de uma brincadeira de
diferente de viver o presente, pensar no futuro criança pode-se compreender como ela vê e
e resgatar as tradições lúdicas do passado. constrói o mundo, mesmo quando participa de
Hoje, a maioria dos filósofos, sociólogos, e uma brincadeira, em parte para preencher
antropólogos concordam em compreender o momentos vagos, brincar é importante, porque
jogo como uma atividade que contém em si enquanto estimula o desenvolvimento
mesma o objetivo de desafiar os enigmas da intelectual da criança, também ensina
vida e de construir um momento de entusiasmo conteúdos matemáticos sem que ela perceba.
e alegria na aridez da aprendizagem e da É necessário perceber e refletir que por meio
caminhada humana pela evolução biológica. do lúdico as crianças têm chances de crescerem
Assim, brincar significa extrair da vida nenhuma e se adaptarem ao mundo coletivo. É
outra finalidade que não seja ela mesma. Em importante conhecer diversas técnicas de sala
síntese, o jogo é o melhor caminho da iniciação de aula, sendo que um dos métodos mais
ao prazer estético, a descoberta da estimuladores são os jogos que além de
individualidade e a meditação individual dinâmicos desenvolvem o raciocínio lógico da
(ANTUNES, apud, SANTOS, 2000, p. 38). criança.
As crianças de hoje são sobrecarregadas com Os jogos constituem um fator indispensável
atividades diversas e todas essas devem ser para o desenvolvimento intelectual, motor e
desenvolvidas com responsabilidade, afetivo da criança. É fundamental que o
tornando-os adultos competentes e bem professor procure métodos de ensino que
sucedidos no futuro. chamem atenção das crianças para que os
Almeida (2007), alerta os pais e profissionais mesmos possam adquirir o prazer de brincar se
das diversas áreas do conhecimento humano, envolvendo nas atividades diversas.
que devemos ajudar as crianças a serem O jogo deve ser compreendido como um
crianças, ter comportamentos próprios, brincar importante instrumento no desenvolvimento
e ser felizes, como só as crianças conseguem cognitivo da criança. O “ser” do jogo não está
ser. E só assim podemos refletir e imaginar que na consciência ou na conduta de quem joga
o resgate lúdico se faz extremamente mais sim na criatividade de quem ensina. Por
necessário para todos nós. isso, ao selecionar as atividades lúdicas o
Um aprofundamento científico desse tema professor pode optar entre três modalidades
surgiu no século XIX com estudos realizados por de jogos.
Froebel (1982), despertou a importância do

1320
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os jogos apresentam a possibilidade de Os jogos devem ser utilizados com um


exercer funções cognitivas, afetivas e sociais. objetivo a ser alcançado buscando melhorar a
Os jogos em sua individualidade envolvem aprendizagem de forma qualitativa, sendo que
todos os aspectos no desenvolvimento global um método bem aplicado trará o interesse por
da criança e de acordo com a característica de parte da criança formando entre ambos um ato
cada um pode se classificar como jogos lógicos, de cumplicidade e companheirismo, pois o jogo
jogos afetivos e jogos sociais. Os jogos lógicos é visto como um ato estimulador fazendo entre
são excelentes para potenciar a mente, aqueles que o compreende criar estratégias
desenvolvendo o raciocínio. Os jogos afetivos divertidas e imaginarias que facilitem ainda
estimulam as emoções, já os jogos sociais mais sua compreensão.
facilitam a aquisição dos conhecimentos, Nenhuma inteligência é estimulada de forma
atitude e habilidade. isolada, mas existem algumas experiências que
favorecem mais uma do que outra. O mesmo
OS JOGOS E BRINQUEDOS E AS autor ressalta que:
Um jogo jamais deve ser interrompido e, se
MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS sempre que possível, o aluno deve ser
Os jogos lógicos colocam em exercício estimulado a buscar seus próprios caminhos.
operações cognitivas como a classificação, a Além disso, todo o jogo precisa sempre ter um
seriação, a antecipação, a conservação, a começo, um meio e fim e não ser programado
compensação dentre outros, de uma forma cheio de duvidas sobre as possibilidades de sua
amena, porque unem as operações à emoção. integral consecução (ANTUNES, 1998, p.42).
É notório como as mesmas operações que se Os jogos desenvolvem no ser humano
praticam com entusiasmado, em um jogo, são múltiplas inteligências e todos eles são
rechaçadas, quando são realizadas com prática importantes para o desenvolvimento humano.
de treinamento, em que a emoção está ausente Todo e qualquer jogo só é valido na
ou reprimida. aprendizagem se for usado na hora certa. O
Para Antunes (1998), nem todo o jogo é um caráter desafiador do jogo, o interesse do aluno
material pedagógico, pois existem outros com e o objetivo proposto pelo educador devem
caráter lúdico. está bem explicito para ser trabalhado o bom
Jogos ou brinquedos são desenvolvidos com desenvolvimento do educando. Ou seja, o jogo
a intenção explicita de provocar uma é por si só um motivador.
aprendizagem significativa, estimulando a Na escola o jogo precisa ser visto como
construção de um novo conhecimento e, estratégia global dos educandos, permitindo
principalmente, despertar o desenvolvimento assim a integração de diferentes áreas do
de uma habilidade operatória [...] aptidão ou conhecimento.
capacidade cognitiva e apreciativa específica, A resolução de problemas exige que ao jogar,
que possibilita a compreensão do individuo nos as crianças coloquem em prática diferentes
fenômenos sociais e culturais que ajudem a procedimentos, no qual os educadores tratarão
construir conexões (ANTUNES, 1998, p.38). de adiantar a evolução de procedimentos de

1321
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

maneira que o grupo construa novos objetivos que devem ser desenvolvidos com
conhecimentos e habilidades. crianças na primeira e segunda infância nessa
O jogo é nas mãos do educador, um fase a criança precisa:
excelente meio para desenvolver a criança e é Estabelecer aproximações a algumas noções
para criança a coisa mais importante da vida! matemáticas presentes no seu cotidiano, como
Por estas duas razões todo educador deve não contagem, relações espaciais, etc. Comunicar
só se fazer jogar como também utilizar a força ideias matemáticas, hipóteses, processos
educativa do jogo. E para isso é preciso certa utilizados e resultados encontrados em
habilidade, senão dificilmente conseguirá situações- problema relativo a quantidades,
algum êxito junto aos alunos (JACQUIM, 1960, espaço físico e medida, utilizando a linguagem
p.38). oral e a linguagem matemática. Ter confiança
Segundo Kishimoto (1998), qualquer jogo em suas próprias estratégias e na sua
utilizado pela escola surge sempre como capacidade para lidar com situações
recursos para a prática dos objetivos educativos matemáticas novas, utilizando seus
e também é um elemento indispensável para o conhecimentos prévios (BRASIL, 1998, p.215).
desenvolvimento integral da criança, no jogo o Portanto, os jogos e brincadeiras estão
educando afirma a sua personalidade, estritamente ligados na aprendizagem escolar e
autonomia, criatividade, domínio de esquemas todo desenvolvimento cognitivo moral e
que lhes serão muito úteis na vida adulta. afetivo da criança, o jogo traz satisfação para o
Portanto a criança precisa ser trabalhada de educando, despertando assim o que de melhor
forma correta desde a primeira infância. Já que existe na criança, suas múltiplas inteligências.
Piaget, segundo Kamii (1991), destaca em sua Considerando que a atividade de jogar se
teoria existências de dois tipos de abstrações: bem orientada, tem papel importantíssimo no
Abstração empírica e abstração reflexiva. Na desenvolvimento de habilidades, de raciocínio,
empírica a criança consegue abstrair uma organização, atenção e concentração,
propriedade física e, portanto, visível dos necessário para o aprendizado do ser humano.
objetos. Por intermédio dos jogos é possível analisar
A abstração reflexiva envolve a construção comportamentos, atividade mental de um
de relações entre objetos. Para que o processo jogador, todas as habilidades envolvidas no
de aquisição de números esteja completo em processo de determinado jogador exige do
uma criança, não basta que ela saiba mesmo, observar, analisar, conectar, verificar,
reconhecer conjuntos que possuam a mesma compondo assim de forma adequada a seu
quantidade de elementos. É necessário que ela raciocínio lógico que é fundamental, ou seja,
saiba e consiga comparar quantidades com imprescindível na aprendizagem de
outras quantidades. Ou seja, é preciso que matemática.
entenda que dois conjuntos podem formar um Para Borin (2004), outro fato importante
mesmo conjunto. para introdução de jogos nas aulas de
O Referencial Curricular Nacional para a matemática é a possibilidade de diminuir os
Educação Infantil (1998), apresenta vários bloqueios apresentados pelos educandos em

1322
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

relação à matemática, que é considerada uma participação nas aulas, que para eles não são
matéria de difícil compreensão, deixando interessante.
perceber que são incapazes de assimilar os Muitas escolas não trabalham jogos por
conteúdos por se tratar da matemática, mas se acharem que não traz nenhuma evolução, e sim
o professor tiver domínio do que aplica para tira a concentração dos alunos em relação aos
seus alunos, os mesmos perceberão que a conteúdos preparados, mesmo que um
matemática é como qualquer outra disciplina, conteúdo seja interessante e estimulador não
podendo assim, apresentar um melhor substitui um jogo.
desempenho e atitudes mais positivas frente No jogo está inserida a interdisciplinaridade,
aos seus processos de aprendizagem. ou seja, pode ser trabalhada de várias maneiras
O jogo constitui em desenvolver estratégia e formas, pois dentro do jogo está o ensino da
global, ou seja, permitindo a integração de língua portuguesa, matemática e acima de tudo
diferentes áreas do conhecimento. A criança a artes, que é um instrumento para que a
evolui com o jogo e o jogo da criança vai criança desenvolva sua imaginação do que ver,
evoluindo paralelamente ao seu sente e assimila. Assim sendo, o jogo tem o
desenvolvimento, ou melhor, vai integrando ao poder de transformar um conteúdo
seu desenvolvimento independente da época considerado “chato” em algo satisfatório e
cultural e classe social. Os jogos e brincadeiras prazeroso para a estimulação do seu
precisam de certa forma fazer parte do desenvolvimento cognitivo.
cotidiano escolar da criança independente da
sua idade ou série em curso. Jogando as O PAPEL DO PROFESSOR NA
crianças exploram os objetos, que o cercam,
melhoram a agilidade física, sentidos e seus UTILIZAÇÃO DOS JOGOS
pensamentos. A participação do professor durante a
O jogo precisa ser visto pela escola e aplicação dos jogos é muito importante,
docentes como um elemento cultural, que durante a aula, ele pode observar
remete na formação de conceitos como características importantes como: identificar as
produtos de conhecimento mental, social e principais dificuldades existentes no jogo,
cultural, pois o jogo desenvolve estratégias de auxiliar as outras crianças com menos
comportamentos elevados, possibilitando que autonomia, organizar grupos de crianças para
os alunos interajam entre si um modo de se ajudar umas as outras no desenvolvimento dos
trabalhar com o jogo de maneira dinâmica jogos, criando assim um ambiente estimulador
voltada para a educação, muitos acham que facilitando ainda mais no aprendizado de cada
trabalhar jogos em escolas é apenas um um, porque o jogo requer parceria para uma
passatempo, mas devia perceber que um melhor evolução e aprendizado dos demais.
simples jogo pode fazer a diferença não só por Ao jogar, as crianças entram no mundo da
ser animado, mas por despertar na criança imaginação criando a partir dos jogos
prazer de aprender, além de também motivar a personagens que além do prazer de está
brincando ela também perde a noção da

1323
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realidade em que vive, ou seja, passa a viver AVALIANDO OS JOGOS E


apenas do jogo enquanto joga, mostrando que
ambos têm seus significados e cabe a cada BRINCADEIRAS NAS AULAS DE
sujeito saber como usufruir de pensamentos MATEMÁTICA
que os levem a desenvolver atividades diversas O trabalho em grupo com o professor como
com criações estimulantes e empreendedoras. mediador de conhecimentos é de suma
Jogos e brincadeiras devem ser apresentados importância para o desenvolvimento cognitivo
antes de um novo conteúdo para que da criança, levando em conta que a união de
despertem no aluno o interesse e a curiosidade seus amigos, exercita seus pensamentos
de querer saber do que se trata, pois desde o positivos fortalecendo suas opiniões em
momento que o professor fala que uma parte relação ao jogo, o professor deve analisar e
de sua aula será baseada em jogos eles já jogar cada jogo, antes de levá-lo para as aulas
começam imaginar do que irão brincar e como de matemática e ser modelo, para que a partir
fazer criando expectativas positivas tanto para dos erros e acertos possa formular
si como para os demais amigos, levando a questionamentos para ser trabalhados em sala
criança a refletir sobre possíveis erros e a de aula detectando qual método deve ser
entender as suas dificuldades, intervir nos erros melhorado, pois o importante é o processo
alheios, tornando a aula mais divertida e como você apresentou e não o produto final,
animada, pois a cada erro eles irão querer fazer pois nada é perfeito. É errando que nos
novamente necessitando da ajuda dos colegas, tornamos vencedores.
criando uma parceria para melhor O professor precisa construir um ambiente,
compreensão. no qual exista a reflexão a partir de observações
Por meio do jogo, podemos analisar que a e análises, a troca de opiniões entre docentes e
atividade mental de um jogador disposto a discentes, a criação de oportunidades para que
ganhar é a mesma de um cientista em busca de todos se expressem de uma forma organizada.
solucionar seus problemas, pois em relação ao Neste processo para avaliar a aprendizagem
ensino de matemática e as suas diversas dos alunos, o que ela assimila ou não do
maneiras de compor o raciocínio lógico é que conteúdo proposto, não é necessário provas ou
ela requer conhecimentos para um melhor testes escritos, mas os próprios jogos que é um
entendimento, por que os jogos que método que o aluno aprende brincando e o
especialmente chamamos estratégicos têm professor intervém nas dificuldades dos alunos
como meta o raciocínio dedutivo que aparece de maneira lúdica.
frequentemente no momento de escolhas, é a Para Moura (1996), o jogo é visto como um
partir daí que as crianças saberão qual jogo é processo educativo, como introdutores ou
adequado para aprimorar seus conhecimentos. desencadeadores de conceitos. A sua relação
com a resolução de problema e o jogo pode ser
entendido assim:

1324
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O jogo tem fortes componentes da resolução


de problemas na medida em jogar envolve
uma atitude psicológica do sujeito que, ao se
predispor para isso, coloca em movimento
estruturas do pensamento que lhe permitem
participar do jogo. O jogo, no sentido
psicológico, desestrutura o sujeito, que parte
em busca de estratégias que o levem a
participar dele. Podemos definir jogo como
problema que envolve a atitude pessoal de
querer jogar tal qual o resolvedor de
problemas, que só os tem quando estes lhes
exigem busca de instrumentos novos de
pensamento (MOURA, 1996, p.52).
Ao analisar o erro e o acerto do aluno de
forma dinâmica e efetiva o professor tem
condições de analisar e avaliar o raciocínio da
criança e dinamizar a relação ensino-
aprendizagem por meios de questionamentos,
formalizando assim a avaliação.

1325
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste foi possível observar a importância dos jogos e brincadeiras como estímulo
a inteligência, a linguagem, a concentração e no desenvolvimento global da criança, por meio
dessas ferramentas lúdicas, a criança põe em exercício as suas operações cognitivas, estimulando
seu crescimento cognitivo, vence desafios, cria estratégias e adquire reflexões.
Logo, o professor que trabalha as jogos e brincadeira nas aulas de matemática, contempla
o real papel da educação, que é o de formar cidadãos pensantes, críticos, participativos, criativos,
autônomos, preparados para o mercado de trabalho e para a vida.
Vale ressaltar a importância do professor e do método de avaliação utilizado na hora das
atividades, pois cabe a ele definir sua finalidade objetiva e faixa etária com que se pretende
trabalhar. Neste contexto o professor além de possuir funções pedagógicas, possui também as
funções psicológicas.
O professor deve e precisa está imerso no mundo cultural, social e político em que
vivermos, e o educando como cidadão, usar os recursos de jogos durante as aulas de matemática
como auxílio frequente no desenvolvimento cognitivo de sua própria aprendizagem. O docente
tem que se posicionar como mero pesquisador em sala de aula, fazendo uso de uma didática que
contemple aspectos sociológicos, psicológicos e pedagógicos, procurando relacionar matemática
e sociedade como dois aspectos importantes no desenvolvimento dos discentes.

1326
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo, SP:
Loyola, 2007.

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VIGOTSKI, L.S. A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos


Psicológicos Superiores. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

1327
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O ENSINO DA ARTE
Claudia Torres de Moraes1

RESUMO: Ao longo dos anos a Educação Brasileira passou por grandes mudanças, surgindo aí um
novo currículo, após a Lei de Diretrizes e Bases, o ensino da arte passa a ser visto como
responsável por conduzir os alunos a um desenvolvimento das suas aptidões artística,
incentivando e aperfeiçoando suas habilidades, resultando na criação de uma diversidade de
expressão da arte.

Palavras-Chave: Artes; Criação; Comunicação; Interdisciplinaridade.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo


Graduação: Licenciatura em Pedagogia: Especialização em Psicopedagogia Institucional.
E-mail: claudiatmoraes2011@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Em 1816 D. João VI trouxe a missão francesa


com intuito de formar uma Escola de Arte, que
A arte engloba uma variedade de linguagens teve os seus trabalhos iniciados dez anos mais
e formas de representação, no qual saberes tarde, mas devido ao custo elevado, eram
acumulados pelo homem, vem evidenciar a poucos que tinham a oportunidade de estudar
clareza dos pensamentos dos indivíduos Arte.
envolvidos no processo de aprendizagem. É um A partir da década de 1870, períodos de
processo que privilegia a aproximação entre grandes transformações culturais, a arte foi
indivíduos de culturas diversas, favorece o voltada para formação de desenhistas.
reconhecimento de semelhanças e diferenças, Em 1922, com a semana da Arte moderna, a
num plano que vai além do discurso verbal. Arte-Educação no Brasil teve um grande
A procura de uma alternativa para prática de impulso, com as ideias de livre expressão.
livre expressão do ensino da arte. Essa é uma Em 1948 o artista plástico Augusto
proposta ao qual pretendemos verificar em Rodrigues, após saber que uma mostra de arte
nossos estudos. infantil foi excluído por ter interferência adulta
Aborda-se a aplicabilidade de todas as e alguns clichês resolveu criar a Escolinha de
formas de expressão artística na rede regular Arte, que era valorizada a capacidade criadora.
de ensino. A partir dos anos 50, além do desenho,
O artigo traz estudos de diversos autores, os passaram a fazer parte do currículo escolar das
quais estão relacionadas à disciplina de arte no matérias: música, canto Orfeônico e trabalhos
ensino médio, na Educação Infantil e no ensino manuais, que mantinham de alguma forma o
fundamental, sendo que aprofundaremos caráter e a metodologia do ensino artístico.
nossas pesquisas no ensino fundamental. O ensino e a aprendizagem estavam
Pesquisa-se o surgimento da disciplina de concentrados na transmissão de conteúdos a
arte na educação brasileira desde os primórdios serem reproduzidos, não se preocupando com
da sua integração ao currículo. a realidade social e nem com as diferenças
individuais dos alunos, ou seja, a chamada
O SURGIMENTO DA DISCIPLINA Pedagogia Tradicional.
Até o início da década de 70, fase da
DE ARTE NA EDUCAÇÃO Pedagogia Nova, que tinha como ênfase a livre
BRASILEIRA expressão e a espontaneidade e pela Pedagogia
Desde os primórdios da humanidade a arte é Tecnicista, na qual o aluno e o professor tinham
usada como forma de expressão. No Egito as um papel secundário, tendo como elemento
imagens, era usada para reafirmar a divindade principal, o sistema técnico de organização.
dos faraós e manter seu poder, na era bizantina Neste período, nas aulas de arte, os
e no Renascimento obras de arte com imagens professores enfatizam um saber construir
de santos eram usada para converter e manter reduzido dos aspectos técnicos e do uso
os fiéis submissos a igreja. diversificado de materiais, caracterizando

1329
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

pouco compromisso com o conhecimento da universal as obras realizadas por um criativo


linguagem artística. despertam sintonias e ressonâncias também
Em 1971 iniciou uma Pedagogia libertadora, em outros. Na maior parte dos casos o criativo
graças aos ideais do grande educador Paulo experimenta prazer tanto em criar uma obra
Freire, que era voltada para uma perspectiva de surpreendente como em constatar como ela
consciência crítica da sociedade. provoca nos outros uma, surpresa análoga à
A arte foi incluído no currículo escolar, desde sua própria (BRASIL,1997,39).
1971, com o nome de Educação Artística, por Manipular, organizar, compor, significar,
meio de Lei de Diretrizes e Bases da Educação decodificar, interpretar, produzir, conhece
Nacional, ainda como atividade educativa e não imagens visuais, sonoras e gestuais| corporais
como disciplina. são requisitos indispensáveis ao cidadão
A partir dos anos 80, passam-se a discutir contemporâneo. A leitura de mundo, o
novas técnicas educacionais, segundo Barbosa letramento vão além do texto escrito.
(1994), o ensino da arte deve seguir o que Busca-se a construção do cidadão
chama de Metodologia triangular que é consciente, participativo, crítico e
composta pela história de arte, pela leitura da transformador da sociedade, na qual os limites
obra, do fazer artístico ou seja a pessoa que da linguagem e da criação resulte na elaboração
aprende arte, pela leitura da obra, não apenas de diferentes formas de criação de arte.
fazer algo, mas também saber onde veio e Envolvendo tanto a experiência de
naquilo que ele está fazendo. apropriação de produtos artísticos quanto o
Além disso, ao criarem suas obras artísticas desenvolvimento de configurar situações
poderão criar algo que transmita uma mediante a realização de formas artísticas.
mensagem, dando sentido a Arte. A Arte não é apenas básica, mas fundamental
De acordo com o Parâmetros Curriculares os na educação de um país que se desenvolve.
currículos nacionais (1997). Arte não é enfeite. Arte é cognição, é profissão,
No transcorrer do ensino fundamental, o é uma forma diferente da palavra para
aluno poderá desenvolver sua competência interpretar o mundo, a realidade, o imaginário,
estética e artística e artística nas diversas e é conteúdo. Como conteúdo, arte representa
modalidades da área de arte(Artes Visuais, o melhor trabalho do ser humano
Dança, Música e Teatro) ,tanto para produzir (BARBOSA,2002, p.4).
trabalhos pessoais e grupais, quanto para que É fundamental esse contato com a arte, isso
possa progressivamente, apreciar, desfrutar, acontece desde cedo, na qual o ser humano a
valorizar e julgar os bens artísticos de distintos todo instante tem contato com alguma forma
povos e culturas produzidas ao longo da de arte.
história e na contemporaneidade, mas a Na educação infantil isso acontece como
criatividade é universal também porque exclusivamente, o único meio de inseri-lo ao
ninguém cria do nada, cada um utiliza os conhecimento. Isso acontece por meio do
materiais depositados em seu próprio desenho, das cantigas, das brincadeiras, de
inconsciente. E uma vez que o inconsciente é apresentação de fantoches.

1330
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Essa ludicidade que os leva ao aprendizado, A escola, local privilegiado, no qual os


dentro de um modo mágico, que ao longo dos saberes acumulados pelo homem e aqueles que
anos tendem a ficar em segundo plano, pois ao serão produzidos coletivamente são
ingressar em um nível mais elevado, como compartilhados na busca da construção do
ensino fundamental. cidadão consciente, participativo, crítico,
Posteriormente o ensino médio, esse sensível e transformador da sociedade, não se
contato com diversas formas de expressão da completa se não contemplar em seu currículo o
arte dão lugar á outras disciplinas. ensino competente nas linguagens artísticas.
Muitas vezes essa mudança brusca,
principalmente nas primeiras séries iniciais FORMAS LIVRES DE
causam um impacto doloroso para as crianças.
Sair do mundo da fantasia, das brincadeiras EXPRESSÃO DA ARTE NA ESCOLA
e entrar num currículo cheio de obrigações, a Há de se destacar que essa disciplina deve
princípio não causa uma grande aceitação, por contemplar a oportunidade de liberdade de
esse motivo que o contato com a diversas expressar os seu pensamentos, desenvolvendo
formas de expressão da arte devem sempre suas habilidades.
estar presente. De acordo com Coli (1995), a arte tem assim
A arte é fundamental num país que se uma função que poderíamos chamar de
desenvolve, não é um enfeite, serve de conhecimento, de aprendizagem.
comunicação quando a palavra ainda não é Seu domínio é o do não racional, da
entoada pela boca, ou quando por algum sensibilidade: domínio sem fronteiras nítidas,
motivo, os olhos não consegue ver ou os muito diferente do mundo da ciência da lógica,
ouvidos não consegue ouvir. Sempre podemos da teoria. Domínio fecundo, pois nosso contato
recorrer à alguma forma de linguagem artística com a arte nos transforma.
para fazer ser entendido e entender os outro. O objeto artístico traz em si habilmente
A educação brasileira ao longo dos anos organizados, os meios de despertar em nós, em
sofreu várias influências, de diversas culturas, o nossas emoções e razão, reações culturalmente
que faz a nossa arte ter uma riqueza de ricas, que aguçam os instrumentos dos quais
culturas. nos servimos para aprender o mundo que nos
Podemos viajar por diversos lugares dentro rodeia.
da sala de aula, conhecer pinturas, histórias e Entre a complexidade do mundo e a
lugares diferentes. complexidade da arte existe uma grande
A construção da identidade do indivíduo afinidade (COLI,1995, p.109).
dependem de todas essas questões, pois a arte A apropriação de diversas formas de
é um fenômeno que transforma vidas, nas quais expressar a arte e domínio das habilidades
os sonhos e a realidade fazem parte da artísticas devem estar integrados a fim de
realidade de todos os indivíduos e segundo concretizar a produção da obra de arte.
Barbosa, representa o melhor trabalho do ser A educação em arte propicia o
humano. desenvolvimento do pensamento artístico e da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

percepção estética, que caracterizam em modo percepção estética é a chave da comunicação


próprio de ordenar e dar sentido à experiência artística.
humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade,
percepção e imaginação, tanto ao realizar • Música
formas artísticas, quanto na ação de apreciar e A arte de combinar os sons de maneira lógica
conhecer as formas produzidas por ele e pelos e coerente, na qual se propicia um contexto
colegas, pela natureza e nas diferentes culturas sonoro rico em significados. A linguagem
( BRASIL,1997,p.19). musical transcende as palavras, sendo
O contato com a experiência de interpretar, originada a partir da combinação de sons e
de refletir uma obra de arte por meio de um pausas. Assim, a música definitivamente não é
olhar crítico e sensível, faz surgir no letra.
comportamento dos indivíduos uma conduta As letras em músicas cantadas são artifícios
que acarreta uma melhoria no seu cotidiano associados à música, que procuram tornar
diário, tanto em relação a vida escolar, como na óbvio o significado da mesma.
rotina familiar. A música ajuda a pessoa a manter contato
Entretanto cabe aqui ressaltar se a liberdade com a realidade e o sentido da totalidade, não
de expressão que propicia tal mudança nas somente com aspectos abstratos do
ações, vem acontecendo dentro da sala de aula pensamento, mas em múltiplas formas que
nas escolas públicas brasileiras. demonstram uma transformação e
A disciplina que por muitos não tinha uma entendimento de novas criações musicais,
função primordial na aquisição do podendo chegar às palavras e a verbalização.
conhecimento, hoje servido com ponte para Os educadores afirmam que a música
ajudar o retorno de alunos que se evadiram da proporciona um desenvolvimento pleno do ser
escola. humano. Ela amplia o campo de conhecimento
A oportunidade de expressar seus desejos e possibilitando a intercomunicação e a
vontades por meio de alguma forma de arte convivência na diversidade, por meio das
como por exemplo: a música, a dança o diferentes sonoridades, mobilizando o corpo,
desenho e o teatro. sentimentos, afetividade, imaginação e
expressividade (BRASIL,2002, p.26).
• Formas de Artes, Linguagem e O contanto com a música estabelece uma
Comunicação relação de troca de benefícios, nos quais requer
A obra de arte suscita uma interpretação na uma adequação constante, desenvolve e
qualidade de uma contemplação amplia as habilidades, capacitando pessoas,
desinteressada e desvinculada dos moldes trabalhando no campo emocional e
culturais. estimulando a coordenação motora.
Consiste também na percepção de um bem Essa forma de representação da arte transita
cultural contextualizado esteticamente e por todos os ciclos da educação desde a
historicamente, carregando consigo uma gama educação infantil até o ensino médio.
de possibilidades de conhecimentos, na qual a Conseguindo arrebatar uma grande quantidade

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de adeptos, que se contagiam com sons e • Artes Visuais


ritmos, pode acalmar um ambiente, pode As artes visuais é um conjunto de
contagiar, enfim pode evidenciar todos os composições artísticas: desenho, pintura,
sentimentos dos indivíduos por meio das letras gravura, colagem, modelagens, trabalhos com
e dos ritmos. imagens fotográficas e televisiva.
No ensino médio o contato com a música no De uma maneira ou de outra, os paradigmas
ambiente escolar, vem ao encontro da históricos visuais influenciaram as imagens
formação de estilos de vida, na qual se escolhe destinadas as crianças. Além disso, o próprio
um a partir de novos conceitos, de ideologias conceito de criança é alterado: hoje, ilustrações
que estão sendo refletidas, para assumir uma e os textos visuais convocam as crianças a
nova conduta. Consequentemente surge novas conhece-los, a percorrê-los e raciona-los com
tribos, nas quais cada grupo tem suas uma realidade maior, imaginada ou real
preferências musicais. É nesse momento que o (CUNHA, apud, PILLAR,2001, p.164).
que serve para unir, como é a música. Serve A todo momento nossas crianças são
também para separar, pois alguns grupos expostas a uma infinidade de imagens, de todos
tendem a se relacionar somente com pessoas os tipos, de todas as cores. Imagens que foram
com a mesma preferência musical. destinadas a elas e outras que não, estas
Esse é um lado negativo, pois deve-se desconhecidas da sua realidade momentânea,
respeitar as preferências de cada um, mas, induz a criação a utilizar a imaginação para
entretanto, isso não impede que haja decifra-la.
entrosamento entre todos os grupos. Percorre-se então ao mundo do imaginário,
da fantasia, da criação, na qual se levanta
• Dança hipóteses, na tentativa de entender o que diz
A dança é uma das formas de expressão de tal imagem. Um universo que ainda não possui
sentimentos mais antigas usadas pelo homem, a aquisição da leitura e da escrita, tudo é
desde a antiguidade. Sua forma de movimentar imagem, é desenho. Uma letra é um símbolo,
expressivamente o corpo seguindo um desenho e nada mais, até que consegui
movimentos ritmados, em geral ao som de aprender o verdadeiro significado das letras.
música, podemos considerar como a mais Entretanto muitas outras funções tem a
completa das artes, pois envolve elementos imagem, o desenho em si, as cores e as formas
artísticos como a música, o teatro, a pintura, e etc. Podendo transmitir o que o indivíduo está
sendo capaz de exprimir tanto a mais simples, sentido no momento dos seus medos,
quanto a mais fortes emoções. frustações e alegrias.
Pode ser um meio de adquirir conhecimento,
como opção de lazer, fonte de prazer, • Teatro
desenvolvimento da criatividade e importante É uma forma de arte que combina discurso,
forma de comunicação. gestos, sons, música e cenografia. O termo
Socializa e atua na disseminação da cultura e teatro deriva do grego Theatron, que significa”
principalmente das diversidades folclóricas. lugar para contemplar”.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Proporciona ao aluno criar personagens, O enriquecimento intelectual e cultural,


cenários e diversas interpretações do cotidiano ocasionado pela liberdade de expressão é um
e também de diversas culturas. fator determinante para conquista de uma vida
O contato com o ambiente teatral, ajuda no adulta, muitos males podem ser evitados,
comportamento, pois é muito procurado para quando o seu dia.
ajudar pessoas com elevada postura de timidez. Assumir que é capaz de fazer, de questionar,
de relacionar o que aprendeu com uma questão
• A aplicação da arte na educação a ser resolvida, é uma grande evolução, que
humana eres humanos exercer a cidadania, lutando
A aplicação de todos as formas de arte pelos seus direitos, rompendo barreiras da
devem ser contempladas em toda sua imaginação, transformando sonhos em
extensão. realidade.
Os elementos que geram acontecimentos
significativos são experiências de singularização
para aqueles que envolvidos no processo,
instauram para suas interações com a vida uma
pedagogia do cuidado, da atenção, da
compreensão eventual e afetivo (MEIRA,2007,
p.125).
A educação exerce um papel primordial no
desenvolvimento do ser humano, a realidade
muitas vezes é hostil e violenta.
Ao lidar com as experiências significativas
que envolvem o amplo processo, que as
diferentes formas de arte lhes proporcionam, o
indivíduo tem a oportunidade de fazer uma
releitura da própria vida, a fim de compreender
as eventualidades e dissociar-se dos problemas
que afetam afetivamente sua vida.
Em conformidade com Freinet (1994):
A livre expressão facilita a criatividade da
criança, no desenho, na música, no teatro,
extensões naturais da atividade infantil,
progressivamente responsável por seus
comportamentos afetivos, intelectuais e
culturais. Eis aí um começo seguro para a
conquista de uma vida
adulta(FREINET,1994,p.30).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A arte assume uma importância crucial no desenvolvimento dos alunos, desde a educação
infantil estendendo por todos os ciclos da educação escolar.
Busca-se a obtenção de um aprendizado qualitativo e o desenvolvimento da autonomia na
elaboração da sua própria obra de arte.
Simultaneamente a interdisciplinaridade da Arte com as demais disciplinas está a aplicação
da Arte, de maneira que englobe todas suas formas de expressão e não somente se foca na
reprodução de copias de obra de algum artista.
Procura utilizar recursos para que o aluno seja o sujeito produtor das suas próprias ideias.
Todos devem ter a oportunidade de poder criar, de utilizar instrumentos que viabilizem a
concretização plena das suas habilidades.
Entretanto podemos notar que a aplicabilidade dos conceitos artísticos, em toda sua ampla
extensão, ainda não acontece de maneira que sirva como uma alavanca que introduza o indivíduo,
à dispor dentro do ambiente escolar ,o contato com diversos materiais e equipamentos para que
possa consolidar todas as possibilidade que a produção artística oferece.
Convergências tanto na elaboração do Projeto Político Pedagógico como na formação do
corpo docente, que por sua vez não agrega em seus conhecimentos, uma experiência que
possibilita articular meios de conseguir um aprendizado significativo que transforme a imaginação
em criação e por fim os coloque num patamar que possibilite expressar-se livremente, saindo de
uma posição adormecida para exercer por completo suas potencialidades.
A escola deve transformar o aluno em um ser pensante, criativo e transformador, para
tantos objetivos e conteúdos devem contribuir para essa superação.
Na sala de aula, devemos reconhecer em cada criança, um artista que faz arte de maneira
específica, cada um tem sua individualidade, o essencial é saber entender e direcionar,
fomentando o respeito e a valorização de todo e qualquer criação, seja no desenho, na dança, na
música, etc.
Do contato a produção existe um caminho a percorrer, considerando que as descobertas
acontecem gradativamente. E por meio do olhar, da comunicação entre diversas culturas e
gêneros que a aprendizagem acontece.
Entretanto no ambiente escolar, podemos perceber que muitas vezes a disciplina de arte
serve apenas como uma reprodução da arte pronta, ou seja apenas é uma cópia de um desenho
ou uma simples pintura.
O estudo serviu para refletirmos, entendendo que a Arte é um conhecimento que gera
criatividade, que representa o mundo e vida por meio de alguma forma de expressão.
Acreditamos que a participação e o contato com a arte gera consciência política e social.
Embora ainda muitos ainda resistem em aceitar como verdade os benefícios que ela ocasiona.
Fazer arte, expressa e define a essência do homem em todas as fases da vida. Dentro de
uma prática pedagógica, na qual se tem uma diversidade cultural, todas as artes contribuem para
a maior de todas as artes, a arte de viver.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A educação continua sendo uma área que carece de maiores investimentos, seja na
disponibilidade de recursos para que as pessoas possam continuar os estudos, seja na formação
dos educandos e na melhor preparação da classe trabalhador docente que atua em todas as áreas
do conhecimento e principalmente os que exercem a disciplina de Arte.
Os objetivos de promover o contato com a produção artística ,sobre educação para todos
foram: satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem, expandir o enfoque, universalizar o
acesso à educação e promover a equidade, concentrar a atuação na aprendizagem, ampliar os
meios e o raio de ação da educação básica, propiciar um ambiente adequado a aprendizagem,
fortalecer as alianças, desenvolver uma política contextualizada de apoio, mobilizar os recursos,
fortalecer a solidariedade.´
Podemos perceber que os resultados propostos para desenvolver um ensino da arte que
desperte as habilidades dessa parcela da população que se matricula nas primeiras séries iniciais
do ensino fundamental, vem se tornando cada vez mais escasso.
A problemática a qual levantamos para entender os motivos que ocasionam essa situação
estariam ligados a falta de materiais adequados, o despreparo do corpo docente e também a
pouca exposição da disciplina de Arte.
Existe uma qualidade primordial que o educador, como profissional deve assumir: postura
de libertador.
Valorizar cada aprendizado, contribuir para propiciar a identificação do que já é praticado
pelo aluno na sala de aula, o que se faz necessário é identificar esse conhecimento relacionando-
o ao método acadêmico que é aplicado no ambiente escolar, afim de consolidar a produção da
obra de arte.
Ainda persiste contraditórias metodologias que não agrega valores ao ensino da arte,
oferecendo poucos os conhecimentos aos alunos. Esses alunos são tratados como pobres
cognitiva e culturalmente produzindo como resultado uma produção de meras cópias, que não
expressa nenhuma significação.
Entretanto destacamos que reformulações curriculares dentro de uma perspectiva de
impulsionar o ensino da arte, vem caminhando a passos lentos, em busca de uma evolução
qualitativa.
Seria uma conquista para educação, se as concepções adotadas pelas Diretrizes Nacionais
fossem algo que reflita positivamente no ambiente escolar
A luta por uma formação continuada do corpo docente é uma ponte para possibilitar uma
conquista, a fim desenvolver todas as formas de expressão da arte.
Acredita-se que a exposição à Arte conduz a uma participação social, consciência política.
A aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos, como norteadora do
exercício das práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem são fatores que alguns
autores testificam, o que de fato deveria acontecer no ensino da disciplina de arte.

1336
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. A Imagem no Ensino da Arte. São Paulo. Max Limonad,2007 Nacionais:
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Brasília, MEC, SEF, 1997.

BRASIL. LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Câmara dos
Deputados, Coordenação de Publicações 2001.

CAVALCANTI,M. Vinte Dicas para Dominar as Modernas Práticas Pedagógicas. Disponível


em: http revista escola. Abril.uol.com.br .Acesso:19/03/2020.

ENGELMAN, Ademir Antônio. Filosofia da Arte.Curitiba:Ibpex,2008

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GOMBRICH,E.H. A História da Arte. Trad: Álvaro Cabral 16ª ed.

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MEIRA, Marly Ribeiro. Filosofia da Criação: Sobre o Sentido do Sensível. Porto Alegre:
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OSTROWER, Fayga. A Construção do Olhar. In: Novaes Adauto( Org.).São Paulo: Cia das
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PILLAR, Analice Dutra. A Educação do Olhar no Sentido das Artes. 3 ed. Porto Alegre:
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SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker Ferreira. Freinet. Evolução História e Atualidades.2 ed. São
Paulo: scpione,1994

SÃO PAULO. Secretaria do Estado da Educação de Normas Pedagógicas. (CEND). Proposta


Curricular para o Ensino Artístico. Primeiro grau. São Paulo.1999

1337
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O ENSINO DE LÍNGUAS NO BRASIL:


DO LATIM AO FRANCÊS
Edson José Barbosa1

RESUMO: Este artigo tem o objetivo de analisar o ensino da língua Francesa no período pré-guerra
(2ª guerra mundial) buscada pela elite brasileira para agrega-la como capital cultural valorizado
neste período e o ensino pelo viés religioso Católico do Latim ao enfoque da literatura e da
filosofia na grade curricular do ensino regular da época. Para tanto buscamos informações em
autores que tratam deste tema e também pesquisamos alguns trabalhos e artigos cujos enfoques
eram de investigação no uso e na aprendizagem da língua francesa e do Latim na educação
secundária como também suas características metodológicas.

Palavras-Chave: Educação; Latim; Escola; Língua francesa.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo e Professor de Ensino
Fundamental II – EJA na Rede Municipal de São Bernardo do Campo.
Graduação: Mestre em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo; Licenciatura em Letras;
Especialização em Sociologia; Especialização em Filosofia.
E-mail: edsonere48@gmail.com

1338
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO de Jesus perderam a primazia do ensino do


latim que tinha um viés religioso sendo agora
Quando nos referimos no ensino de línguas feito por profissionais da educação que tinham
estrangeiras o latim teve uma grande por objetivo ensinar o latim na literatura e na
importância no Brasil colonial como língua filosofia.
estrangeira a ser ensinada as elites como Durante a União Ibérica, nos anos de 1581 a
exemplo de idioma culto o qual era ministrado 1640, os espanhóis consideraram os jesuítas os
basicamente pelos jesuítas. Fica evidente que o principais incentivadores da resistência aos
latim tinha um laço bem apertado com o nativos aldeados na demarcação do Tratado
catolicismo romano, pois toda liturgia seguia-se de Madri (1750), nas Guerras Guaraníticas.
em latim. Devido a esse e outros fatores, os Jesuítas
A pedagogia católica se instalou no país, foram expulsos do território português na
primeiro na versão do plano de Nóbrega que eu América. Em 1759, o Marquês de Pombal
chamaria de “pedágio brasílica”, pois procura instituiu o sistema de ensino régio no Brasil,
se adequar as condições específicas da colônia, que atribuía ao Estado a responsabilidade da
e depois, na versão da “Ratio Studiorum”, cujos contratação de professores não religiosos. O
cânones foram adotados pelos colégios jesuítas latim e o grego continuavam a integrar o
do mundo inteiro (SAVIANI, 2005,p.46). currículo, e eram considerados de suma
O ensino do latim no Brasil teve um viés importância para o Desenvolvimento do
humanista, pois um dos objetivos era a pensamento e da literatura (MULIK, 2012,
formação do indivíduo além dos dogmas p.23).
judaico-cristã. Uma das referências mais Era ressaltada também a importância do
importantes foi o poeta Italiano Petrarca que estudo do latim como apoio ao entendimento e
visava um retorno da valorização do período compreensão da formação da língua
clássico greco-romano que outrora foram portuguesa, pois a própria etimologia da
apagados pelo período medieval. O homem maioria das palavras do vernáculo português
passara a ser valorizado e a cultura tinha ligação direta com as palavras do latim.
renascentista se elevava como o ascender do Outra pesquisadora, Maria Heck (2013, p.13),
ser humano no foco de importância e o latim também ressalta a importância do aprendizado
aparece como forma de entendimento dos do latim na compreensão das línguas modernas
clássicos para elevação da consciência do românicas e neolatinas, pois se originalizam na
homem. fala do povo. Porém, segundo a pesquisadora,
o modelo de ensino do latim dentro do matiz
DO LATIM RELIGIOSO AO religioso gerava no aluno uma grande repulsa,
pois o modelo de ensino era baseado na
FRANCÊS COMO LÍNGUA memorização das regras gramaticais que não
FRANCA exigia dos alunos uma reflexão daquilo que era
Depois da reforma na educação feita pelo aprendido.
Marques de Pombal, os jesuítas e Companhia

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Outros autores que estudaram Latina mediante as culturas vigentes. As obras


profundamente o latim justificam a literárias mais importantes que tratavam e
importância deste idioma no sentido tecnicista diversos assuntos culturais de vital importância
como podemos ver neste trecho escrito por eram lidas em francês e assimiladas pela elite
Nóbrega: brasileira que tinham acesso a esses bens
a) aumentar a capacidade de compreender o culturais.
significado exato de palavras portuguesas O ensino obrigatório da língua francesa na
derivadas do latim e maior precisão no seu escola secundária brasileira teve início no
emprego; século XIX, em 1837, com a criação do Colégio
b) aprimorar a habilidade na grafia de Pedro II, instituição imperial destinada à
palavras portuguesas derivadas do latim; formação secundária e cujos currículos,
subsidiar o estudo histórico do português; enciclopédicos, apresentavam-se com uma
c) propiciar maior conhecimento dos feição dominantemente literária. Em um de
princípios da gramática portuguesa e aprimorar seus primeiros programas de ensino (1856, in
a habilidade em falar e escrever corretamente VECHIA, 1998, p.28), o francês consta como
o português; uma das principais disciplinas, a ser ensinada já
d) aumentar a capacidade de ler o português no primeiro dos sete anos do curso
com uma compreensão correta; (PIETRARÓIA, 2008).
e) desenvolver a capacidade de pensar e A língua francesa foi introduzida no Brasil
expressar o pensamento através do processo com a finalidade de instruir a elite agrária
de tradução do latim para o português brasileira, pois somente no segundo grau
vernáculo; haveria um contato com o idioma estrangeiro.
f) propiciar maior apreciação dos elementos Portanto a massa não tinha acesso ao
do estilo literário empregado na prosa e poesia aprendizado do francês.
portuguesas (NOBREGA, 1962, p.82). Segundo Pietraróia (2008), os textos tinham
Fica bem evidente que o autor acima citado o caráter moralizante da educação e também
vê no ensino do latim uma grande vantagem ao havia o aprendizado dos clássicos no idioma
auxílio da aprendizagem da língua portuguesa, original francês.
porém de forma mecânica que leva em conta a Com o protagonismo do Colégio Pedro II no
transposição de uma língua para outra como século XIX o idioma francês marcou a educação
espécie de uma muleta de apoio. Desta forma brasileira adotando assim os padrões europeus
este autor foi muito criticado por sua conduta de educação. Todavia é no começo do século XX
mecânica e tecnicista do ensino do latim. que se inicia uma modernização das disciplinas
O ensino do francês foi um alicerce humanas, na qual se estavam substituindo as
fundamental para a criação da sociedade línguas mortas pelo idioma francês. Entretanto,
intelectual no século XIX até meados do século com a reforma de Francisco Campos fica
XX. Segundo Antônio Candido (1977), o ensino evidenciado a penetração dos estudos da língua
do francês teve grande importância no francesa no currículo na educação brasileira.
desenvolvimento das nações jovens da América

1340
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Pelo artigo 10º da Reforma Francisco O ensino da língua francesa teve um papel
Campos, definiu-se que os programas de ensino importante na instrução da elite agrária no
secundário e as instruções sobre os métodos de Brasil. Porem após o termino da segunda guerra
ensino seriam expedidos pelo Ministério da ficou evidente a hegemonia norte-americana e
Educação e Saúde Pública e as propostas a penetração da língua inglesa como língua
submetidas pela Congregação do Colégio Pedro franca. Em 1961 houve uma reforma nas
II. A importância concedida às línguas instituições educacionais no Brasil extinguindo-
estrangeiras pela Reforma Francisco Campos é se a obrigatoriedade no ensino das línguas
ressaltada por Casemiro (2005, p.62), por ter a estrangeiras, ficando apenas o inglês e o
referida Reforma “[...] reformulado, repensado Frances.
e devidamente valorizado [...]” o ensino de Comparada à Reforma Capanema e à LDB
línguas, no que tange a qualidade do ensino que veio em seguida, a lei de 1961 é o começo
com um método científico específico para as do fim dos anos dourados das línguas
línguas estrangeiras, além de preocupar-se com estrangeiras. Apesar de ter surgido depois do
a atualização e apropriação do método para a lançamento do primeiro satélite artificial russo,
realidade educacional do país (OLIVEIRA,2002). que provocou um impacto na educação
O Brasil estava deixando as raízes agrárias e americana, com expansão do ensino das línguas
se amoldando ao capitalismo industrial. Isso estrangeiras em muitos países, a LDB do início
refletia diretamente nos conteúdos elencados da década de 60, reduziu o ensino de línguas a
nas instituições púbicas e o idioma francês menos de 2/3 do que foi durante a Reforma
vinha ao encontro deste novo pensamento Capanema (LEFFA, 1999, p.20).
humanista. Em 1932 no colégio Pedro II um Porém, em pouco tempo o ensino do Frances
grupo de professores, segundo Oliveira (2002), caiu em desuso ficando prioritariamente o
adotavam um conceito de ensino chamado ensino da língua inglesa nas instituições
Instruções, cujo objetivo era ensinar o idioma públicas no território brasileiro. Em 1971
francês desde o primeiro contato nos anos segundo Leffa (1999), outro recorte foi
iniciais utilizando o próprio idioma estrangeiro. introduzido diminuindo ainda mais a
O Método Direto Intuitivo não devia ser obrigatoriedade do ensino das línguas
realizado na língua materna e sim na língua estrangeiras no Brasil:
estudada. Para a explicação do vocabulário, o Menos de dez anos depois da LDB de 1961,
professor devia se utilizar de gestos, desenhos era publicada a nova LDB, Lei 5.692, de 11 de
e simulação, mas em hipótese nenhuma agosto de 1971. O ensino é reduzido de 12 para
traduzir o conteúdo, pois o objetivo era fazer o 11 anos, introduzindo-se o 1o. grau com 8 anos
aluno pensar na língua estrangeira e, para isso, de duração e o segundo com 3. se a formação
as aulas eram compostas de exercício oral com especial com ênfase na habilitação profissional.
perguntas e respostas fechadas, pela escuta e O Conselho Federal de Educação (artigo 4o.,
repetição (OLIVEIRA ,2002,apud ,CESTARO, parágrafo 3o.) ficava encarregado de fixar
1997). "além do núcleo comum, o mínimo a ser exigido
em cada habilitação profissional ou conjunto de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

habilitações afins". A redução de um ano de


escolaridade e a necessidade de se introduzir a
habilitação profissional provocaram uma
redução drástica nas horas de ensino de língua
estrangeira, agravada ainda por um parecer
posterior do Conselho Federal de que a língua
estrangeira seria "dada por acréscimo" dentro
das condições de cada estabelecimento. Muitas
escolas tiraram a língua estrangeira do 1o. grau,
e no segundo grau, não ofereciam mais do que
uma hora por semana, às vezes durante apenas
um ano. Inúmeros alunos, principalmente do
supletivo, passaram pelo 1º. e 2º graus, sem
nunca terem visto uma língua estrangeira.
(LEFFA, 1999, p.22).
Pode-se observar que na década de 80 já não
havia mais o ensino do francês na grade do
currículo nacional havendo apenas algumas
raras exceções. A língua inglesa já reinava
quase por completo dividindo apenas uma
pequena fatia com a língua espanhola que foi
anexada ao currículo na LDB de 1996 a qual fez
uma reforma substancial no currículo da
educação brasileira.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constata-se que o ensino de línguas estrangeiras na grade curricular da educação brasileira
é muito anterior ao ensino do Inglês como língua franca nos dias atuais.
É notório que o ensino do latim teve a princípio a herança do catolicismo e da igreja no
início da educação Brasileira tendo logo depois como justificativa o estudo da gramática,
literatura e filosofia balizando o estudo do latim dentro da grade curricular. Entretanto podemos
constatar que os estudos de línguas estrangeiras modificam-se de acordo com o status quo
dominante e seus interesses como no caso do francês requisitado pelos grandes latifundiários do
café ainda no império.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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um estudo exploratório. Dissertação (Mestrado) - UFRN, Natal, 1997.

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LEFFA, Vilson J. O ensino de línguas estrangeiras no contexto nacional. Contexturas,


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NÓBREGA, V. L. Metodologia do latim: vida cotidiana e instituições. Rio de Janeiro: Livraria


Acadêmica, 1962.

OLIVEIRA, Stella Sanches. A presença da disciplina escolar língua francesa na legislação


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PIETRARÓIA, Cristina Casadei. A importância da língua francesa no Brasil: marcas e


marcos dos primeiros períodos de ensino, 2008. Disponível em < A importância da língua
francesa no Brasil: marcas e marcos dos primeiros períodos de ensino> Data de
Acesso:12/03/2020.

SAVIANI, Dermeval. As Concepções Pedagógicas Na História Da Educação Brasileira,


Campinas, P. 1-38, 2005. Disponível em
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Acesso:12/03/2020.

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O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Carlene Aguiar Pereira1

RESUMO: O artigo aborda a respeito do lúdico, especificamente na Educação Infantil. Enfatiza-se


aspectos relativos à evolução do jogo, a socialização e a escola, a gênese e a evolução o jogo e a
socialização e o jogo e a socialização, enfocando as contribuições dos jogos e brincadeiras no
desenvolvimento cognitivo das crianças em sua forma integral.

Palavras-Chave: Educação; Lúdico; Aprendizagem.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Educação na Perspectiva Interdisciplinar.
E-mail: carleneap@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO processos psicológicos, sociabiliza-se quando


brinca e a educação poderá utilizar este recurso
O lúdico faz parte de nossas vidas desde a para facilitar a aprendizagem e ampliar o
mais tenra idade, por intermédio do brincar desenvolvimento infantil.
desenvolvemos habilidades e competências O brincar passa por transformações
relativas a juízo de valores, regras, imaginação, conforme o desenvolvimento vai evoluindo, no
socialização e especialmente a habilidades primeiro momento a criança brinca
relativas ao eu ao outro. manipulando objetos sem a simbolização, em
Na Educação Infantil a brincadeira assume seguida entra em um estágio imaginário, no
papel fundamental no desenvolvimento qual a simbolização está presente, nesta etapa
cognitivo das crianças, possibilitando que a o imaginário está explícito e as regras estão
criança de forma integral interaja ocultas e por último ocorre o brincar com
coletivamente. regras, o imaginário está oculto e as regras
Objetivamos apresentar os aspectos teóricos passam a ser explícitas.
conceituais sobre o lúdico, enfatizando seus A criança muito pequena é imediatista ela
aspectos. quer realizar seus desejos quando quer algo
A temática justifica-se em virtude de sua não consegue esperar. Já na idade pré-escolar
pertinência e relevância no campo educacional. esta situação muda, a criança começa a ter
desejos que não consegue realizar
A EVOLUÇÃO DO JOGO, A imediatamente. Para que consiga entra em
uma situação imaginária chamada de
SOCILIZAÇÃO E A ESCOLA brincadeira:
Brincar Para resolver esta tensão, a criança em idade
Brinquedo, alegria, infância. Estado, pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e
responsabilidade, profissão. Construção de imaginário onde os desejos não realizáveis
ruas e trincheiras, que garantem proteção. podem ser realizados, e esse mundo é o que
Saber abrir brechas, sem perder a segurança. É chamamos de brinquedo (VYGOTSKY, 2002,
difícil de fazer...É arriscado ousar...Mas dentro p.122).
da profissão...Desta “certa” profissão...É A imaginação passa a ser um estágio novo na
preciso voltar a brincar. Mesmo com inibição. vida da criança é um processo psicológico
Isto é um aprendizado a conquistar! especificamente humano e não está presente
(PAVANELLI, 1977,p.6). nas crianças muito pequenas (até
aproximadamente dois ou três anos de idade)
• A gênese e a evolução das brincadeiras não conseguem fazer uma distinção daquilo
O jogo contribui com o desenvolvimento que veem, não são capazes de dar outro
infantil e a socialização da criança para que significado a informação perceptual presente:
futuramente ela consiga assumir papéis é impossível para uma criança muito
atuantes em seu contexto social, mudando sua pequena separar o campo do significado da
maneira de brincar conforme amadurece seus percepção visual, uma vez que há uma fusão

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

muito íntima entre o significado e o que é visto Assim é alcançada uma condição em que a
(VYGOTSKY, 2002, p.127). criança começa agir independente daquilo que
Nesta etapa as crianças manipulam os vê” (VYGOTSKY, 2002,p.127), salientando que a
objetos, encaixam peças as jogam é uma criança não planeja como vai utilizar o objeto
brincadeira, na qual não conseguem separar as antes da brincadeira começar no decorrer dos
coisas dos seus significados reais, são os objetos acontecimentos os objetos vão tendo o seu
que vão determinar a ação: um cabo de significado.
vassoura não será um cavalo para uma criança Em uma experiência realizada por Elkonin e
pequena, pois esta não consegue fazer uma analisada por Leontiev (1998), ele deixa claro
dissociação daquilo que vê com a sua maneira que as crianças pequenas não conseguem
de agir. respeitar as regras:
Na idade pré-escolar esta situação começa a O pesquisador está brincando de esconde-
mudar, já distingue o significado da ação esconde com uma criança de três anos. Depois
perceptual, a partir deste ponto o pensamento de a criança se esconder, o pesquisador não a
infantil passa a ser regido pelas ideias, dá-se “acha” imediatamente. Ele espera, de
início ao processo de simbolização. Agora o propósito perto da criança, durante um ou dois
cabo de vassoura pode se tornar um cavalo, o minutos, fingindo não ser capaz de encontrá-la.
campo da visão e do significado já estão Ai a criancinha não consegue conter-se e
dissociados, começam a utilizar os objetos infringe a regra e, quase imediatamente,
como suporte de coisas que estão ausentes, começa a gritar: tio, eu estou aqui. Já uma
uma vareta pode ser uma injeção quando a criança de seis anos brinca de esconde-esconde
criança brinca de médico, pedaços de papel de forma completamente diferente. Para ela o
tornam-se dinheiro, fazem de conta que estão mais importante é sujeitar-se as regras
comprando algo. Vygotsky (2002), chama estes (LEONTIEV, 1998, p134).
objetos de pivô, pois por meio deles fazem uma Enquanto a criança não conseguir trabalhar
separação entre o significado e o real, para que com os jogos regrados, suas brincadeiras serão
consigam imaginar um cavalo, necessitam de baseadas nos papéis sociais existentes no meio
um objeto para que isso ocorra. em que vive e por meio da brincadeira de faz
O brinquedo fornece um estágio de transição de conta às crianças vão se subordinando as
nessa direção sempre que um objeto (um cabo regras, até chegarem aos jogos regrados (pega-
de vassoura, por exemplo) torna-se um pivô pega, amarelinha, barra-manteiga, queimada,
desta separação (no caso, a separação entre o entre outros).
significado “cavalo” de um cavalo real Com essa evolução cada vez mais as regras
(VYGOTSKY, 2002, p.128). explícitas são incorporadas aos jogos, estas
Conforme as brincadeiras vão evoluindo a regras fazem com que as crianças se
situação imaginária também evolui e a criança comportem de uma maneira mais avançada
vai aumentando sua capacidade de que o habitual criando a zona de
simbolização: “a criança vê um objeto, mas age desenvolvimento proximal, segundo Vygotsky
de maneira diferente em relação aquilo que vê. (2002), as regras fazem com que as crianças

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tenham uma maior atenção com relação ao O JOGO E A SOCIALIZAÇÃO


jogo, e gradativamente as regras vão se
A criança desde seu nascimento é inserida
tornando mais complexas e elaboradas
em um contexto social, ela interage com os
conforme o desenvolvimento infantil vai
adultos o tempo inteiro, a mãe (ou outra pessoa
evoluindo.
responsável pela criança) é a primeira pessoa a
Segundo Leontiev (1998), quando uma envolvê-la em brincadeiras.
criança domina as regras do jogo ela começa a
A criança começa por se inserir no jogo
dominar seu próprio comportamento, aprende
preexistente da mãe mais como um brinquedo
a controlá-lo e subordiná-lo a um propósito
do que como uma parceira antes de
definido, outro fator importante é que as
desempenhar um papel mais ativo, pelas
crianças começam a se auto avaliar,
manifestações de contentamento que vão
comparando com a maneira de brincar de
incitar a mãe a continuar brincando
outras crianças. Uma criança ganha o pega-
(BROUGÈRE, 2002, p.22).
pega porque corre mais, essa comparação é
Conforme a criança vai interagindo com a sua
muito importante para a autonomia do
mãe vai aprendendo alguns aspectos dos jogos,
pensamento, além disso, os jogos com regras
nesta etapa o jogo dá prazer à criança, a mãe
começam a introduzir um elemento moral na
brinca com a criança e está se sente feliz, por
vida da criança.
causa deste aspecto de prazer a mãe irá brincar
Pode-se concluir que os jogos e brincadeiras
novamente com o seu filho, com o passar do
são uma fonte de desenvolvimento:
tempo a criança vai adquirindo consciência
Como no foco de uma lente de aumento, o sobre a brincadeira, sabe que quando está
brinquedo contém todas as tendências do brincado de esconder sua mãe não vai
desenvolvimento sob forma condensada, desaparecer verdadeiramente, que está
sendo ele mesmo uma grande fonte de situação é um faz de conta, em um certo estágio
desenvolvimento (VYGOTSKY, 2002, p.135).
dos jogos a criança começa a inverter os papéis,
Os jogos contribuem para criarem a zona de brinca que é a sua mãe assumindo suas
desenvolvimento proximal, pois impulsionam características, por meio dos jogos de papéis
processos que estão em desenvolvimento, a vários conceitos sociais serão desenvolvidos
criança por meio do brinquedo começa a ter um que futuramente a criança utilizará em outras
novo modo de percepção, fornece estruturas brincadeiras e em ações envolvendo a vida real,
básicas para as mudanças das necessidades de além disso várias regras sociais vão sendo
consciência, inicia-se o processo de aprendidas pelas crianças.
simbolização que futuramente ajudará o
A brincadeira infantil está empreguinada de
processo de linguagem escrita por meio dos
cultura, uma criança do Brasil não brinca da
jogos a criança aprende a imaginar e criar novas mesma maneira que uma criança da China, pois
situações realizam seus desejos, criam novas os valores culturais de cada País são diferentes,
relações entre situações de pensamento e não é necessário ir tão longe para analisar este
situações reais. fato, basta analisar a diferença das brincadeiras
entre meninos e meninas quando estão

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

brincando cada um assume seu papel que físico, cognitivo, afetivo e social, para que isso
futuramente irão exercer quando se inserirem ocorra o educador deve ter claro em sua
no mundo dos adultos: “Meninas e meninos formação os conceitos do desenvolvimento
não farão as mesmas experiências e interações infantil.
(com os brinquedos que ganham p.ex.) não A psicologia contribuiu muito para que os
serão as mesmas” (BROUGÈRE, 2002,p.28). jogos chegassem a educação, principalmente a
Quando a criança brinca com outras crianças abordagem sócio interacionista, pois esta
vai adquirindo hábitos e atitudes importantes concepção relata que quando a criança brinca
para o seu convívio social que são observados se desenvolve psicologicamente e socialmente
pelas crianças por meio do convívio com os na medida que interage com o meio e vai
adultos, ela transpõe para a brincadeira aquilo assumindo papéis preexistentes: “ São as
que observa, no jogo muitas vezes as crianças contribuições da psicologia de cunho sócio
tem que lidar com problemas (quem vai ser o interacionista que vem estabelecer novos
primeiro a jogar?, Quais vão ser as regras do paradigmas para utilização do jogo na escola”
jogo?), por meio destas situações problemas (Moura, 2001:79).
elas terão que discutir, que chegar a um acordo Segundo esta abordagem o educador deve
para resolverem seus conflitos. ser um mediador com relação às brincadeiras
Algumas das atitudes que permeiam o jogo infantis criando ambientes que facilitem a
como cooperação e competição social (a realização das mesmas e dos jogos:
criança deve aprender tanto a ganhar como Ao educador cabe a organização do espaço
perder), serão utilizadas em seus futuros físico, social e cultural de modo a permitir a
convívios sociais. Assim, o jogo tem um papel criança recriar situações imaginárias que
importante no processo de socialização, por contribuam para o seu desenvolvimento
meio deste a criança transporta o real para o (KISHIMOTO,1997, p.2).
imaginário e consequentemente inculca Cabe a instituição escolar possibilitar
valores presentes na sociedade, que instrumentos que favoreçam a imaginação da
futuramente farão parte de sua vida. criança como brinquedos, livros, histórias, que
poderão manipular os objetos. O ideal é que no
O JOGO NA SALA DE AULA mesmo espaço onde se realiza a aprendizagem,
ela tenha materiais para brincar, espaço
Como já foi relatado a criança vem perdendo
adequado e outras crianças para interagir em
seu espaço para brincar, a escola passa a ser um
suas brincadeiras sendo que em alguns
espaço facilitador da brincadeira, tanto jogos
momentos as faixas etárias podem ser variadas
“livres” (sem a intenção de transmitir algum
favorecendo a zona de desenvolvimento
conteúdo para a criança) e os jogos, nos quais o
proximal, na interação uma criança mais
professor tem a intenção de ensinar algo para a
experiente pode ajudar outra menos
criança.
experiente.
O jogo deve ser visto pelo educador como
Além disso, dependendo da faixa etária das
um divertimento para a criança e um
crianças o professor poderá introduzir noções
instrumento que favorece o desenvolvimento

1349
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de algumas disciplinas por meio dos jogos e atenção com que acontece em sua sala
brincadeiras, isso não significa que só por meio avaliando as suas táticas pedagógicas, sua
do jogo é que a criança aprende na infância, prática e reformulando aquilo que não está
mas a cultura lúdica faz parte do universo dando certo em seu trabalho, deve ter claro
infantil e torna o ensino mais prazeroso, o que a escola precisa estar sempre em
professor deve ter consciência que nem sempre movimento, que a educação não deve ser
terá os resultados (com relação à cristalizada e muitas vezes o professor deve
aprendizagem) que idealizou, pois o jogo é uma mudar sua postura pedagógica.
ação livre e não deve ser imposto. Um empecilho para a realização de espaços
Jogos como amarelinha, bola de gude poderá pedagógicos onde os jogos estão presentes são
ser utilizados nos conceitos de matemática, as as dificuldades financeiras das escolas públicas
histórias, parlendas e músicas contribuirão para de educação infantil: “Por dificuldades
o desenvolvimento da linguagem, o essencial é financeiras as creches e pré-escolas não
que o professor por meio da observação das dispõem de brinquedos que facilitem as
brincadeiras de seus alunos, saiba interferir na brincadeiras” (KISHIMOTO, 1997, p.8).
brincadeira para trabalhar com certos Para contornar este empecilho os
conteúdos. educadores podem construir brinquedos junto
O educador deve participar das brincadeiras, com os educandos utilizando materiais com
interagindo com as crianças, mediando os custos financeiros baixos ou sucatas, as crianças
jogos, tentando evitar conflitos entre seus tem prazer quando constroem seus próprios
alunos: “Na interação adulto criança, o brinquedos e o educador deve ser criativo para
professor não deve ficar na posição de dar aula burlar os obstáculos que vai encontrar em sua
de pé, mas como parceiro” (KISHIMOTO, prática educativa.
1997:8). Para que os jogos sejam incluídos na
Por intermédio do envolvimento do educação infantil será necessário que o
educador nas brincadeiras infantis, as crianças educador conheça os tipos de jogos como eles
terão uma maior facilidade para interagir e o podem ser utilizados em sala de aula, e ter
vínculo afetivo irá se fortalecer. O professor noções sobre o desenvolvimento infantil.
deve analisar as brincadeiras dirigidas em sala
de aula e fazer uma reflexão para observar
porque a situação funcionou ou não:
Distante da postura o professor como
investigador registra suas observações, avalia o
trabalho e replaneja os espaços e formas de
interação com as crianças (KISHIMOTO, 1997,
p.6).
O educador não deve realizar as brincadeiras
para ganhar tempo ou realizar outras tarefas
enquanto seus alunos brincam, ele deve ter

1350
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em virtude do apresentado e considerando a relevância do lúdico fica evidenciado que
desenvolver atividades que envolvam brincadeiras e jogos é fundamental na educação Infantil,
pois promove a aprendizagem.
Brincar não é apenas uma atividade não intencional, neste contexto o papel do docente
relativo ao planejar é de extrema importância, pois cabe ao mesmo intencionalmente elaborar
atividades que envolvam o lúdico em suas múltiplas formas e que promovam a aprendizagem
significativa.

1351
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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1353
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O MEIO AMBIENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL:


A CONSCIENTIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO NA
FORMAÇÃO DE UMA SOCIEDADE
SUSTENTÁVEL
Amanda de Oliveira Cardoso1

RESUMO: O presente artigo versa a respeito do Meio Ambiente na Educação Infantil: A


conscientização e preservação na formação de uma sociedade sustentável tem como objetivo
principal promover a conscientização das crianças sobre a importância da preservação ambiental
como meio de reduzir os impactos ambientais causados pelo homem, implantando uma formação
de agentes multiplicadores desta cultura de preservação ambiental. Este estudo justifica-se pela
necessidade de conscientização dos cidadãos, desde a fase da Educação Infantil, a fim de se
reconhecerem como sujeitos responsáveis pela preservação e proteção do meio ambiente, por
meio da mudança de comportamento de forma sustentável. A metodologia utilizada no
desenvolvimento deste trabalho foi a pesquisa bibliográfica de livros, dissertações e artigos que
trazem o Meio Ambiente como tema, a fim de buscar resposta para o questionamento de como
a Educação Ambiental pode ser trabalhada na Educação Infantil, provocando conscientização e
mudanças no comportamento sócio cultural.

Palavras-Chave: Meio Ambiente; Educação Ambiental; Educação Ambiental na Educação Infantil.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail:amanda_oli87@hotmail.com

1354
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO para a sociedade e saúde do homem, além de


traçar práticas pedagógicas que promovam a
Ao longo da história, a humanidade foi formação do o aluno como um multiplicador de
fazendo uso dos recursos naturais em prol de ações de preservação ambiental.
suas necessidades e sobrevivência. Todavia, A questão norteadora é: Como a Educação
percebe-se que o uso desenfreado desses Ambiental pode ser trabalhada na Educação
recursos causaram grande impacto ao meio Infantil, provocando conscientização e
ambiente e, assim, quanto maiores os prejuízos mudanças no comportamento sócio cultural?
aos recursos do planeta, maiores serão as
consequências negativas relacionadas à
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
qualidade de vida e, consequentemente, à
A Educação Ambiental nasceu da
saúde de todos.
preocupação mundial com os aspectos a
O não preservar o meio ambiente, a exemplo
respeito do meio ambiente, que nas últimas
de desmatar, promover queimadas, consumir
décadas vem sofrendo frequentes catástrofes
água em excesso, descartar lixo em lugares
naturais, além da escassez dos recursos não
impróprios, trazem consequências visíveis
renováveis. Diante deste cenário, muitas
como enchentes e aquecimento global, bem
reflexões e ações de conscientização são
como possibilita o aparecimento de diversas
desenvolvidas com toda a população, de todos
doenças.
os lugares do mundo a fim de conscientizar,
É neste sentido que a Educação Ambiental
sensibilizar, proteger e preservar o planeta de
orienta o aluno e todos os cidadãos a
forma sustentável.
desenvolver suas ações na sociedade e adotem
No final do século XIX, em 1866, surgiu a
novas posturas pessoais e comportamentos
Ecologia, área do conhecimento, proposto pelo
sociais que lhe permitam viver numa relação
biólogo Haeckel. Tratava-se de um novo ramo
ambientalmente sustentável entre si e com seu
das Ciências Naturais, cujos estudos eram
meio, protegendo e preservando todas as
voltados para a ecologia humana e a economia
manifestações de vida no planeta.
ecológica. Desta época para cá, este termo tem
Objetivamos conscientização e preservação,
sido utilizado constantemente como sinônimo
visando formação de uma sociedade
de meio ambiente.
sustentável é promover a conscientização das
Décadas mais tarde surge outra palavra de
crianças sobre a importância da preservação
grande expoente neste tema: o ecossistema,
ambiental como meio de reduzir os impactos
compreendida como o “conjunto de interações
ambientais causados pelo homem,
desenvolvidas pelos componentes vivos
implantando uma formação de agentes
(animais, vegetais, fungos, protozoários e
multiplicadores desta cultura de preservação
bactérias) e não vivos (água, gases
ambiental, bem como identificar quais são as
atmosféricos, sais minerais e radiação solar) de
causas dos impactos ambientais que estamos
um determinado ambiente”, de acordo com a
sofrendo nos últimos anos e reconhecer os
Secretaria do Meio Ambiente.
malefícios que esses danos ambientais causam

1355
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os primeiros debates e movimentações a do indivíduo na sociedade em relação aos


respeito da Educação Ambiental começaram elementos naturais, à biodiversidade, à
por volta de 1970. Dois anos depois, aconteceu, natureza, enfim, às questões de
na Suécia, o maior evento sobre meio sustentabilidade.
ambiente, a Conferência de Estocolmo, Nesta ocasião criou-se a agenda 21, um
realizada pela Organização das Nações Unidas instrumento de planejamento participativo
(ONU) e que abriu caminho para muitas outras para o desenvolvimento sustentável do país,
conferências e debates sobre o planeta e a resultado de uma vasta consulta à população
proteção de seus recursos, como por exemplo, brasileira.
a conferência Rio – 92 que aconteceu no Rio de Segundo a Agenda 21, a Educação Ambiental
Janeiro, em 1998. é definida como um processo que busca:
Cascino (2000), destaca que a Conferência de (...) desenvolver uma população que seja
Estocolmo, além de promover práticas consciente e bastante preocupada com o meio
ecológicas, deu abertura a um possível diálogo ambiente e com os problemas que lhes são
entre países industrializados associados. Uma população que tenha
e países em desenvolvimento, com atenção conhecimentos, habilidades, atitudes,
voltada às práticas do crescimento econômico, motivações e compromissos para trabalhar,
destacando os pontos de poluição dos bens individual e coletivamente, na busca de
globais, como ar, água e oceanos. soluções para os problemas existentes e para a
Já a Conferência conhecida como Rio-92 é prevenção dos novos (MARCATTO, 2002, p.14).
considerada a mais importante da história Todavia, foi em 1975, com a realização do
sobre a temática ambiental. Nesta ocasião Seminário de Belgrado que foi elaborado o
estavam presentes importantes chefes de primeiro documento intergovernamental com
Estado que tinham o objetivo de abrir as finalidades, os objetivos, os conceitos-chave
discussões sobre ações sustentáveis, para e os princípios gerais da Educação Ambiental.
finalmente iniciarem um verdadeiro processo Este documento ficou conhecido
de combate aos resultados negativos que o mundialmente como “Carta de Belgrado”.
crescimento econômico gerava ao meio Neste sentido, Lima (1984), comenta que:
ambiente. Na carta de Belgrado estão explicitadas as
Milhorance (2012), ressalta que as metas e os objetivos da Educação Ambiental,
discussões que aconteceram na Rio- 92 onde o princípio básico é a atenção com o meio
representaram mudanças no comportamento natural e artificial, considerando os fatores
da sociedade, sobretudo, em questões que ecológicos, políticos, sociais, culturais e
envolviam consumo e a exploração dos bens estéticos. Determina também que a educação
globais, além da modificação dos espaços e deve ser contínua, multidisciplinar, integrada
uma educação de ações sustentáveis das dentro das diferenças regionais, voltada para os
gerações futuras. interesses nacionais e centrada no
Consequentemente, vem à tona uma nova questionamento sobre o tipo de
linguagem com uma participação mais efetiva desenvolvimento. Tem como meta prioritária a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

formação nos indivíduos de uma consciência caráter social em sua relação com a natureza e
coletiva capaz de discernir a importância com os outros seres humanos, visando
ambiental na preservação da espécie humana potencializar essa atividade humana com a
e, sobretudo, estimular um comportamento finalidade de torná-la plena de prática social e
cooperativo nos diferentes níveis das relações de ética ambiental.
inter e intranações (LIMA, 1984, p.18). A Educação Ambiental é retratada na Lei nº
Este mesmo documento aponta que a 9.795/99, de 27/04/1999, que institui a Política
Educação Ambiental visa: Nacional, que a define em seu artigo 2º como:
[...] formar uma população mundial Artigo 2º Um componente essencial e
consciente e preocupada com o ambiente e permanente da educação nacional, devendo
com os problemas que lhe dizem respeito, uma estar presente, de forma articulada, em todos
população que tenha os conhecimentos, as os níveis e modalidades do processo educativo,
competências, o estado de espírito, as “em caráter formal e não formal”. Se não existir
motivações e o sentido de participação e um impacto social com as demais instituições
engajamento que lhe permita trabalhar sociais, inclusive as famílias somadas às
individualmente e coletivamente para resolver reformas necessárias ao seu desenvolvimento,
os problemas atuais e impedir que se não será possível formar cidadãos nos valores
repitam(SEARA FILHO, 1987, p. 43). propostos pelos PCN’s, sobretudo em relação à
A Educação Ambiental tem o objetivo de Transversalidade Ambiental (BRASIL, 1999, s.p).
formar cidadãos conscientes, que possam Segundo Layrargues (2004):
contribuir positivamente para a construção de Educação Ambiental é um vocábulo
uma sociedade mais sustentável e preocupada composto por um substantivo e um adjetivo,
com o seu meio. que envolvem, respectivamente, o campo da
Outra definição que se pode encontrar é da Educação e o campo Ambiental. Enquanto o
Lei nº 9795/1999, em seu artigo 1º, coloca que: substantivo Educação confere a essência do
Artigo 1º: Entendem-se por educação vocábulo “Educação Ambiental”, definindo os
ambiental os processos por meio dos quais o próprios fazeres pedagógicos necessários a esta
indivíduo e a coletividade constroem valores prática educativa, o adjetivo Ambiental anuncia
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e o contexto desta prática educativa, ou seja, o
competências voltadas para a conservação do enquadramento motivador da ação pedagógica
meio ambiente, bem de uso comum do povo, (LAYRARGUES, 2004, p.7).
essencial à sadia qualidade de vida e sua Neste contexto, entende-se que a Educação
sustentabilidade (BRASIL, 1999,s.p). Ambiental está baseada em reflexão e ação,
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais num movimento coletivo em toda a sociedade.
para a Educação Ambiental, em seu artigo 2º, a Ela deve ser crítica e provocar nos alunos um
Educação Ambiental é: sentimento de reconhecimento pelo meio em
Artigo 2º [...] uma dimensão da educação, é que vive e assim, conscientizar os alunos para a
atividade intencional da prática social, que deve transformação social, sobretudo,
imprimir ao desenvolvimento individual um socioambiental, com valores e atitudes

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

necessários para trabalhar com as situações- Contudo, cabe à escola oportunizar


problemas e encontrar soluções sustentáveis. atividades educacionais, debates e ações
Outrossim, a Educação Ambiental propõe conscientizadoras sobre este tema para que
estimular a criação de culturas, criando uma todos os cidadãos possam saber a importância
inter-relação entre natureza e sociedade, com de se viver em um ambiente sadio e
vistas ao conceito da sustentabilidade. compreender as relações sociedade-natureza e
A Educação Ambiental busca incentivar intervir sobre os problemas e conflitos
atitudes conscientes e participativas ambientais, como alerta Carvalho (2004, p. 18).
relacionadas com a conservação e utilização
adequada dos recursos naturais existentes. E, O MEIO AMBIENTE NOS
neste prisma, Medina destaca que a Educação
Ambiental: PARÂMETROSCURRICULARES
É um instrumento imprescindível para a NACIONAIS
consolidação dos novos modelos de Os Parâmetros Curriculares Nacionais
desenvolvimento sustentável, com justiça (1998), são um documento elaborado a fim de
social, visando a melhoria da qualidade de vida traçar informações gerais para “respeitar
das populações envolvidas, em seus aspectos diversidades regionais, culturais, políticas
formais e não formais, como processo existentes no país e, ainda, considerar a
participativo através do qual o indivíduo e a necessidade de construir referências nacionais
comunidade constroem valores sociais e éticos, comuns ao processo educativo em todas as
adquirem conhecimento, atitudes, regiões brasileiras.” (p. 20)
competências e habilidades voltadas para o O objetivo é “criar condições, nas escolas,
cumprimento do direito a um ambiente que permitam aos nossos jovens ter acesso ao
ecologicamente equilibrado em prol do bem conjunto de conhecimentos socialmente
comum das gerações presentes e futuras elaborados e reconhecidos como necessários
(MEDINA, 2002, p. 52). ao exercício da cidadania”. (p. 25)
Resumidamente, a Educação Ambiental Neste contexto é que se pensou em trabalhar
envolve vários aspectos tanto sociais, o Meio Ambiente por meio da transversalidade
econômicos, naturais, culturais e ambientais e, de assuntos que representassem as
por se tratar de um processo global, deve preocupações da sociedade brasileira de hoje.
expandir-se por todos os ambientes, não A escolha desses temas transversais surgiu
somente em escolas. de múltiplos aspectos e diferentes dimensões
Com a Constituição de 1988, a Educação da sociedade, como a urgência social de certas
Ambiental se tornou exigência a ser garantida questões que afligem o ser humano, assuntos
pelos governos federal, estaduais e municipais de abrangência nacional, possibilidade de
(artigo 225, § 1o, VI), todavia, até meados da ensino e aprendizagem, além de serem temas
década de 90 não havia sido definida uma que favoreçam a compreensão da realidade e a
política nacional de Educação Ambiental. participação social.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A propósito desses temas transversais, conflitos quanto ao uso dos recursos naturais e
temos o Meio ambiente que surge da sua reposição.
necessidade de se trabalhar, nas escolas, a É importante deixar claro que não se pode
reflexão a respeito de mudança de atitudes na apenas usar os recursos. Há de se ter em mente
interação com o patrimônio básico para a vida que é preciso renová-los. Como ressaltam os
humana. PCN’s (1998):
Atitudes como jogar lixo na rua, atear fogo Os rápidos avanços tecnológicos viabilizaram
no mato indiscriminadamente, pescar peixes- formas de produção de bens com
fêmeas prontas para reproduzir talvez sejam consequências indesejáveis que se agravam
frutos de uma leitura de mundo equivocada na com igual rapidez. A exploração dos recursos
qual os indivíduos não se sintam parte naturais passou a ser feita de forma
responsáveis pelo mundo em que vivem e, é demasiadamente intensa, a ponto de pôr em
neste sentido, que o tema transversal Meio risco a sua renovabilidade. Sabe-se agora da
Ambiente deve ser trabalhado no ambiente necessidade de entender mais sobre os limites
escolar. da renovabilidade de recursos tão básicos como
Por essas razões, vê-se a importância de a água, por exemplo. Recursos não renováveis,
incluir Meio Ambiente nos currículos escolares como o petróleo, ameaçam escassear. De onde
como tema transversal, permeando toda se retirava uma árvore, agora se retiram
prática educacional. É fundamental, na sua centenas. Onde moravam algumas famílias,
abordagem, considerar os aspectos consumindo escassa quantidade de água e
físicos e biológicos e, principalmente, os produzindo poucos detritos, agora moram
modos de interação do ser humano com a milhões de famílias, exigindo a manutenção de
natureza, por meio de suas relações sociais, do imensos mananciais e gerando milhares de
trabalho, da ciência, da arte e da tecnologia toneladas de lixo por dia(BRASIL, 1998, p.
(BRASIL, 1998, p. 168). 174;175).
.
• A questão ambiental • A educação e a transformação da
Nas últimas décadas, temos nos deparado consciência ambiental – papel da escola e do
com uma sociedade baseada na era da professor
industrialização, com do desenvolvimento de Sabe-se que a melhor maneira de minimizar
novas tecnologias e a mecanização da os problemas que afetam o meio ambiente é
agricultura, com o uso intenso de agrotóxicos e investindo numa mudança de mentalidade e
a concentração populacional nas cidades, além conscientização dos grupos humanos quanto à
da transformação constante da matéria-prima necessidade de adotar novos pontos de vista e
em produtos destinados a suprir as demandas novas posturas diante da preservação,
mundiais. Se por um lado isto é positivo para a proteção e utilização dos recursos naturais.
sociedade, por outro lado, quanto mais o
Homem intervém na natureza, maiores são os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

orientador desse processo é de importância


O que se espera da Educação Ambiental no fundamental.
Brasil, como obrigação nacional pela Ao professor cabe conhecer o assunto e
Constituição promulgada em 1988 é a buscar o máximo de informação para sugerir
“construção de um mundo socialmente justo e atividades e discutir propostas de intervenção.
ecologicamente equilibrado”, o que requer Neste panorama, os PCN’s(1998), sugerem
“responsabilidade individual e coletiva em que os professores:
níveis local, nacional e planetário”. (p.180) (...) precisam conhecer o assunto e buscar
Neste prisma, torna-se função da escola com os alunos mais informações, enquanto
proporcionar um ambiente escolar saudável e desenvolvem suas atividades: pesquisando em
coerente com as noções de Meio Ambiente que livros e levantando dados, conversando com os
o indivíduo deve conhecer, contribuindo pra a colegas das outras disciplinas, ou convidando
formação de cidadãos conscientes, capazes de pessoas da comunidade (professores
decidir e atuar na realidade socioambiental. especializados, técnicos de governo, lideranças,
Cabe à educação o desafio de incutir nas médicos, agrônomos, moradores tradicionais
pessoas o compromisso com a vida, com o que conhecem a história do lugar etc.) para
bem-estar de cada um e da sociedade, local e fornecer informações, dar pequenas
global, por meio de atividades simples como entrevistas ou participar das aulas na escola.
hábitos de higiene pessoal e de ambientes, Ou melhor, deve-se recorrer às mais diversas
gestos de solidariedade, enfim, ações que fontes: dos livros, tradicionalmente utilizados,
façam com que o ser humano reconheça suas até a história oral dos habitantes da região. Essa
responsabilidades em relação ao meio heterogeneidade de fontes é importante até
ambiente e as atitudes de proteção e melhoria como medida de checagem da precisão das
em relação a ele. informações, mostrando ainda a diversidade de
Cabe à escola garantir situações em que os interpretações dos fatos (BRASIL, 1998, p. 188).
alunos possam pôr em prática sua capacidade Interessante observar que por se tratar de
de atuação, por meio de informações, um assunto relativamente novo na esfera
explicitação e discussão do tema. Assim, a escolar, os Parâmetros Curriculares trazem
escola deve promover atividades que sugestões de uma linha metodológica para o
possibilitem uma participação concreta dos professor desenvolver seu trabalho:
alunos, com objetivo, metodologia, escolha de Para tê-lo disponível ao abordar assuntos
materiais didáticos a serem usados, a fim de gerais ou específicos de cada disciplina, vendo-
construir um ambiente democrático e o os não só do modo analítico tradicional, parte
desenvolvimento da capacidade de intervenção por parte, mas nas inter-relações com outras
na realidade no meio em que eles vivem. áreas, compondo um todo mais amplo;
Se a escola exerce grande influência neste Para ter maior facilidade em identificar e
processo de ensino, o papel do professor não é discutir os aspectos éticos (valores e atitudes
menor. Na verdade, o papel do professor como envolvidos) e apreciar os estéticos (percepção e
reconhecimento do que agrada à visão, à

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

audição, ao paladar, ao tato; de harmonias, ou indiretamente, o planeta. Portanto, para


simetrias e outros) presentes nos objetos ou que os alunos possam compreender a
paisagens observadas, nas formas de expressão complexidade e a amplitude das questões
cultural etc. ambientais, é fundamental oferecer-lhes a
Para obter novas informações sobre a maior diversidade possível de experiências e
dimensão local do ambiente, já que há contato com diferentes realidades.
transformações constantes seja qual for a O ambiente escolar é fundamental no
dimensão ou amplitude. Isso pode ser de processo de ensino aprendizagem de valores
extrema valia, se, associado a informações de sociais, todavia, também é essencial que a
outras localidades, puder compor informações comunidade escolar conheça o tema Meio
mais globais sobre a região (BRASIL, 1998, p. Ambiente, saiba quais são os objetivos e a
188;189). função de cada um (professores, funcionários,
Entretanto, em detrimento das sugestões alunos e pais) no desenvolvimento desse
elencadas no fragmento acima é que se sabe trabalho.
que o professor deve estar em constante Mais uma vez recorremos às sugestões do
processo de estudo e a escola também deve PCN’s (1998), em termos de atividades que
contribuir na construção das condições escola e professores podem realizar,
necessárias à desejada formação atuante e resumidamente:
participativa do cidadão. • Definir corretamente o lixo, sem
E mais ainda, escola e professor devem estabelecer relação com a situação real de
oferecer um aprendizado realmente limpeza da escola, do bairro, de estado, ou
significativo, com o qual os alunos possam ainda, com o contexto concreto das relações
estabelecer ligações entre o que aprendem e a sociais que engendraram a problemática do
sua realidade cotidiana, e o que já conhecem, lixo.
contribuindo para que os alunos possa refletir • A saída dos alunos para passeios e visitas
sobre os problemas que afetam a sua vida, a de a locais de interesse dos trabalhos em Educação
sua comunidade, a de seu país e a do planeta. Ambiental.
E, a partir de então, iniciar um processo de • Um levantamento de locais como
mudança de comportamento. parques, empresas, unidades de conservação,
Assuntos significativos para os alunos, serviços públicos, lugares históricos e centros
certamente referem-se à realidade mais culturais, e se estabeleça um contato para fins
próxima, ou seja, sua comunidade, sua região, educativos.
que são a realidade imediata deles. Todavia, é • Promover situações no interior da escola
fundamental que eles saibam que as questões que promovam a articulação com os problemas
ambientais estão presentes em todo o planeta, locais, e, se possível, estimular a participação
e apesar de se começar atuando em seu próprio de pessoas da comunidade ou de outras
bairro, comunidade, eles devem ter condições instituições nessas situações.
de repensar atividades em nível global, a fim de
expandir atitudes para salvar e proteger, direta

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

• Hortas comunitárias, viveiros de mudas, Conhecer e compreender, de modo


escolas de artesanatos e pesca agricultura integrado, as noções básicas relacionadas ao
orgânica, que começaram no espaço escolar. meio ambiente;
Perceber, em diversos fenômenos naturais,
• Objetivos do trabalho com o tema Meio encadeamentos e relações de causa/efeito que
Ambiente condicionam a vida no espaço (geográfico) e no
A Educação Ambiental visa fazer com que o tempo (histórico), utilizando essa percepção
aluno desenvolva suas potencialidades e adote para posicionar-se criticamente diante das
novas posturas pessoais e comportamentos condições ambientais de seu meio;
sociais que lhe permitam viver numa relação Compreender a necessidade e dominar
ambientalmente sustentável consigo mesmo e alguns procedimentos de conservação e
com seu meio, protegendo e preservando todas manejo dos recursos naturais com os quais
as manifestações de vida no planeta. E para interagem, aplicando-os no dia-a-dia (PCN,
isso, os PCN apontam objetivos: 1998, p. 197;198).
Identificar-se como parte integrante da
natureza e sentir-se afetivamente ligados a ela, • Conteúdo do meio ambiente
percebendo os processos pessoais como A escolha dos conteúdos é de grande valia
elementos fundamentais para uma atuação para o professor e deve abranger a
criativa, responsável e respeitosa em relação ao complexidade da temática ambiental e a
meio ambiente; diversidade da realidade brasileira.
Perceber, apreciar e valorizar a diversidade Em se tratando da Educação Ambiental na
natural e sociocultural, adotando posturas de Educação Infantil, não se pode deixar de lado
respeito aos diferentes aspectos e formas do que os conteúdos trabalhados, quaisquer que
patrimônio natural, étnico e cultural; sejam escolhidos, devem partir de ações que
Observar e analisar fatos e situações do visem à construção de valores sociais, situações
ponto de vista ambiental, de modo crítico, voltadas para a preservação do meio ambiente,
reconhecendo a necessidade e as conhecimentos e habilidades.
oportunidades de atuar de modo propositivo, E é importante considerar que a criança
para garantir um meio ambiente saudável e a possui conhecimentos prévios que aliados aos
boa qualidade de vida; conhecimentos adquiridos na escola e na
Adotar posturas na escola, em casa e em sua vivência extraescolar servirão de base para a
comunidade que os levem a interações formação de opiniões e transformação de
construtivas, justas e ambientalmente ações voltadas para a proteção e preservação
sustentáveis; do planeta, o que implica na interação da
Compreender que os problemas ambientais criança como indivíduo atuante na sociedade,
interferem na qualidade de vida das pessoas, desde cedo.
tanto local quanto globalmente; Assim, os conteúdos selecionados são
aqueles que contribuem para a conscientização
de que os problemas ambientais são

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

responsabilidade de todos e para serem acesso aos órgãos locais e às instâncias públicas
solucionados precisam de postura participativa de participação, tais como Conselhos Estaduais,
conjunta. Além disso, os conteúdos devem Conselhos Municipais, Consórcios
proporcionar sensibilização e motivação para Intermunicipais etc., nos quais são debatidos e
um envolvimento afetivo, além de possibilitar o deliberados os encaminhamentos das questões
desenvolvimento de atitudes e a aprendizagem ambientais, e ainda,
de procedimentos e valores fundamentais para o acompanhamento das atividades das
o exercício pleno da cidadania. ONG’s (Organizações Não-Governamentais) ou
Ademais, estes conteúdos, além de de outros tipos de organizações da sociedade
relevantes na problemática ambiental do Brasil, que atuam ativamente no debate e
devem contribuir para uma visão integrada da encaminhamento das questões ambientais.
realidade, desvendando as interdependências O primeiro bloco, A natureza “cíclica” da
entre a dinâmica ambiental local e a planetária, Natureza, trata da compreensão de atitudes
descobrindo as implicações e causas dos pessoais e de processos coletivos coerentes,
problemas ambientais. como dormir e acordar, alimentar-se, ver as
Nos PCN’s (1998), encontram-se as divisões árvores florescer e os pássaros se
dos conteúdos do Meio Ambiente em três reproduzirem, ver a agua sair da torneira ou
blocos: observar a água de um riacho e tem como
✓ A natureza “cíclica” da Natureza principal objetivo fazer com que o indivíduo
✓ Sociedade e meio ambiente perceba a dinâmica da natureza e as suas
✓ Manejo e conservação ambiental constantes transformações, como se pode ver
Esses três blocos englobam alternativas resumidamente neste ponto do PCN(1998):
variadas de expressão e divulgação de ideias e A finalidade dos conteúdos deste bloco,
sistematização de informações como realização portanto, é permitir ao aluno compreender que
de cartazes, jornais, boletins, revistas, fotos, os processos na natureza não são estanques,
filmes, dramatização, desenvolvimento de nem no tempo nem no espaço. Pelo contrário,
técnicas de pesquisa em fontes variadas de há sempre vários fluxos de transformações,
informação (bibliográficas, cartográficas, com a reincorporação de materiais a novos
memória oral, etc.), análise crítica das seres vivos, com a modificação de energias nas
informações veiculadas por TV, jornais, suas diferentes formas, enfim, com interações
revistas, vídeos, filmes comerciais etc., além da que engendram mudanças no mundo que, a
identificação das competências, no poder local, partir de praticamente os mesmos materiais,
para solucionar os problemas ambientais tanto se transformou nesses 3,5 bilhões de
específicos. anos de vida na Terra (BRASIL, p. 206,s.p).
Os blocos também incluem identificação das Fazem parte desse bloco, os conteúdos a
instituições públicas e organizações da Compreensão da vida, nas escalas geológicas de
sociedade civil em que se obtêm informações tempo e de espaço, a Compreensão da
sobre a legislação ambiental e possibilidades de gravidade da extinção de espécies e da
ação com relação ao meio ambiente, formas de alteração irreversível de ecossistemas, e por

1363
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

fim, a Análise de alterações nos fluxos naturais povos do mundo comportam diversos
em situações concretas. conjuntos de técnicas que vêm sendo pratica
O segundo bloco, Sociedade e Meio das gerações após geração desde que o ser
Ambiente, trata do respeito às sociedades humano descobriu o fogo, aprendeu a construir
Industriais e o contato com outras formas de e a utilizar instrumentos e passou a domesticar
organização social, de culturas e suas formas animais e a cultivar plantas, criando a
respectivas de relação com a natureza. agricultura e a pecuária(BRASIL, 1998,p. 219).
Refere-se à compreensão da influência entre Este bloco trabalha a valorização do manejo
os vários espaços e aborda gravidade da sustentável como busca de uma nova relação
degradação, que não proporciona condições sociedade/natureza, incentivando o homem a
sanitárias minimamente satisfatórias para a buscar formas de preservação e de
vida humana, entre outras questões. conservação.
Este bloco também e envolve o É neste cenário que se aplica o conhecimento
conhecimento e valorização do planejamento do uso de agrotóxicos, plantio, controle
dos espaços como instrumento de promoção biológico de pragas, de melhores sistemas de
da melhoria da qualidade de vida, por meio do irrigação, visando, desta forma, a reflexão
contato com as diferentes fases do processo de crítica quanto ao uso de técnicas
produção de atividades econômicas, incompatíveis com a sustentabilidade.
identificando a matéria-prima, o gasto de Também se sugere o intenso trabalho de
energia, os subprodutos intermediários, os debate dos problemas como a extinção de
efluentes e rejeitos finais, o transporte, o plantas e animais, a degradação dos solos, o
armazenamento e o consumo do produto. assoreamento dos cursos de água, as mudanças
Consequentemente, acontece uma análise climáticas locais e regionais, a perda de
crítica de atividades de produção e práticas de biodiversidade, etc. proporcionando um
consumo. posicionamento mais crítico do aluno.
É neste contexto, também, que se busca Como resultado dessa reflexão no âmbito
trabalhar as relações entre ser escolar, é possível despertar o desejo de
humano/natureza e ser humano/ser humano participação, a despeito da amplitude que
no cotidiano da vida pessoal e das práticas possam ter esses problemas culminando com a
sociais, por meio de debates na escola sobre o importância de se conhecer técnicas básicas
questionamento de valores e hábitos para reposição de cobertura vegetal nativa,
negativos, do ponto de vista da conservação manutenção e germinação de sementes,
ambiental, como o consumismo, o desperdício, transporte e/ou plantio ou replicação de mudas
etc. e principais cuidados de manutenção.
Finalmente, o último bloco, Manejo e Outrossim, por meio deste bloco , os alunos
conservação ambiental, trata das ações dos terão conhecimento dos problemas causados
seres humanos para suprir suas necessidades. pelas queimadas nos ecossistemas brasileiros e
As formas de manejo do meio ambiente a valorização de alternativas para a utilização
historicamente estabelecidas pelos diferentes dos recursos naturais. Além disso, terão

1364
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conhecimento e valorização de práticas que zero a três anos, deve ser iniciado pela
possibilitem a redução na geração e a correta observação e exploração do meio em que ela
destinação do lixo e de algumas áreas está inserida. Assim, a criança terá suas
tombadas como Unidades de Conservação, primeiras noções organizadas a respeito das
bem como o reconhecimento das instâncias do pessoas, seu grupo social e das relações
poder público responsáveis pelo humanas de modo geral.
gerenciamento das questões ambientais. Na escola podem-se desenvolver projetos
interdisciplinares com o intuito de integrar as
PRÁTICA DE EDUCAÇÃO diversas disciplinas do currículo, e neste
sentido, planejar ações que envolvam os
AMBIENTAL NA ESCOLA DE professores, alunos e toda a comunidade
EDUCAÇÃO INFANTIL escolar. Uma atividade que pode ser muito
De acordo com o Referencial de Educação produtiva e envolver a todos é o plantio de
Infantil(1998), para crianças de zero a três anos hortas e jardins no espaço escolar.
e quatro a cinco anos organizam-se algumas Um pequeno jardim, uma horta, um pedaço
considerações quanto à preparação dos de terra, é um microcosmo de todo mundo
conteúdos que devem apresentar importância natural. Nele encontramos forma de vida,
social, grau de significado para o aluno, recursos de vida. Processo de vida. A partir dele
possibilidade de construir uma visão de mundo podemos reconsceitualizar nosso currículo
de modo incorporado, assim como a ampliação escolar. Ao construí-lo e cultivá-lo podemos
de repertório para conhecimentos que aprender muitas coisas. As crianças o encaram
condizem com o mundo social e natural como fonte de tantos mistérios! Ele nos ensina
(BRASIL, 1998). os valores da emocionalidade da Terra: a vida,
Parafraseando Dias (2003), reconhece-se a morte, a sobrevivência, os valores da
que a Educação Ambiental presente na paciência, da perseverança, da criatividade, da
Educação Infantil, encontra-se também na Lei adaptação, transformação, da renovação
n° 9.795 capítulo II – Da Política Nacional da (GADOTTI, 2010, p.70).
Educação Ambiental, Seção II – Da Educação Essa atividade, além de transformar o espaço
Ambiental no Ensino Formal, Artigo 9º, que agradável, transforma o espaço ocioso em
indica que os currículos das instituições tanto espaço verde e favorece o conhecimento dos
públicas quanto privadas, devem visar a prática ciclos vitais da natureza, os cuidados com os
de Educação Ambiental, iniciando pela seres vivos e despertar para a importância de
educação básica: Educação Infantil, Ensino uma alimentação saudável.
Fundamental, e Ensino Médio, se estendendo Por meio do desenvolvimento dessas
para Educação Superior, Educação Especial, atividades são trabalhadas com as crianças os
Educação Profissional e Educação de Jovens e conteúdos curriculares sobre animais, plantas,
Adultos. alimentos, culinária, higiene, família na escola,
Neste caso, é importante reconhecer que o entre outros que oportunizaram a
trabalho a ser desenvolvido com crianças de

1365
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

aprendizagem por meio de pesquisa científica, cedo o indivíduo conscientizar-se e perceber


questionamentos e experiências. que suas ações podem transformar, mais
A escola deve incluir os alunos, a família dos compromissadas serão suas atitudes e trabalho
alunos e toda a comunidade escolar a fim de na busca de um mundo melhor, mais sadio e
que todos tenham conhecimentos sobre as limpo.
questões ambientais, e assim, desenvolver uma Frise-se que tais ações desenvolvidas na
consciência que favoreça a elaboração de escola com os alunos de como usufruir dos
abordagens curriculares relacionadas ao meio recursos oferecidos pela natureza e de plantar
ambiente, como reforça Cascino: e cuidar necessita da participação da família e
Isto pode significar, ou não, uma de toda a comunidade na qual a criança está
orquestração afinada das práticas curriculares. inserida, pois não se trata de um assunto
Muitos educadores, preocupados com somente dentro dos muros da escola, mas de
problemática ambientalista, concordam que ações que devem estender-se a todos, e em
educação ambiental é a realização de todos os lugares.
atividades voltadas à formação de uma
consciência ambientalista estrita,
conservacionista e/ou preservacionista
(CASCINO, 2003, p. 53).
A educação ambiental visa conscientizar as
pessoas que é necessário viver em um mundo,
transformador, harmônico e equitativo. E as
atividades da educação ambiental se dão por
meio de atividades que envolvem a riqueza do
lúdico multidisciplinar.
Assim, é essencial que a escola oportunize
atividades que valorizem o respeito a todas as
formas de vida, capacitando e orientando os
alunos e a comunidade a compreender e
exercitar as ações que protegem o meio
ambiente.
Trata-se, portanto da formação de valores. A
escola é responsável por retratar as
necessidades do ser humano e a importância de
se cuidar do meio ambiente por meio de
atitudes que favoreçam a adoção de novos
comportamentos e hábitos pró-ambientais.
Neste sentido, sublinhe-se a importância de
se trabalhar a temática do meio ambiente com
crianças da Educação Infantil. Quanto mais

1366
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constata-se que a problemática ambiental exige mudanças de comportamentos, de
discussão e construção de formas de pensar e agir na relação com a natureza. Isso torna
fundamental uma reflexão mais abrangente sobre o processo de aprendizagem daquilo que se
sabe ser importante sobre o meio ambiente: os recursos oferecidos pelo planeta e a forma como
aproveitá-los e renová-los, mas que não se consegue compreender suficientemente só com lógica
intelectual.
A questão ambiental exige que a sociedade busque novas formas de pensar e agir,
individual e coletivamente, a fim de garantir a sustentabilidade ecológica. Para que isso aconteça,
é necessário educar os indivíduos com ações de conscientização voltadas à preservação do meio
ambiente, buscando mudanças de comportamento pessoal e atitudes e valores de cidadania que
podem ter importantes consequências sociais.
As práticas pedagógicas relacionadas à Educação Ambiental exigem constante reflexão.
E mais que isso, escola e professores acabam sendo responsáveis pela formação de valores.
A escola retrata as necessidades do ser humano e a importância de se cuidar do meio ambiente
por meio de atitudes que favoreçam a adoção de novos comportamentos e hábitos pró-
ambientais. Enquanto isso, o professor fazer com que aluno e toda comunidade escolar entendam
que quanto mais cedo o indivíduo conscientizar-se que suas ações podem transformar o mundo
num lugar melhor, mais sadio e limpo, mais qualidade de vida todos terão.
A escola e os professores devem proporcionar atividades, situações e espaço para se
realizar atividades que explorem o conceito e objetivo da Educação Ambiental no âmbito escolar,
e principalmente, fazer com que a toda a comunidade escolar participe das ações para assim,
colocarem em prática, na vivência do cotidiano, as ideias de preservação e proteção do Meio
Ambiente.
Cabe à escola e ao professor contribuir na formação de indivíduos com habilidades e
atitudes voltadas para a preservação do meio ambiente, valores sociais, conhecimento e
criticidade, tendo em vista o bem comum.
Diante disto, é importante que a escola assuma seu papel de multiplicadora das ações de
preservação do meio ambiente, com o envolvimento de todos os profissionais que nela atuam. É
necessário que também os professores da Educação Infantil façam um trabalho de informação e
formação com o tema meio ambiente e saúde com as crianças, possibilitando desde cedo a
conscientização da importância de preservá-lo.

1367
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Referencial curricular nacional para a educação infantil: conhecimento de mundo. Brasília:
MEC/SEF, v.03. 1998.

BRASIL, Constituição (1999). Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Capítulo I da Educação


Ambiental. Brasília. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Data de
Acesso:05/03/2020.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. v 1,3. Brasília, 1998.

CASCINO, Fabio. Educação Ambiental: princípios, história, formação de professores.


02.ed. São Paulo: SENAC, 2000.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 8. ed. São Paulo: Global,
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GADOTTI, Moacir. Carta da terra. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2010.

GUERRA, Antonio Fernando; GUIMARÃES, Mauro. Educação Ambiental no Contexto


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Disponível em: <http:// www.conhecer.org.br/> .Data de Acesso:05/03/2020.

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MARTINS, Nathalia. A Educação Ambiental na Educação Infantil. 2004. 50 f. TCC


(Graduação) - Curso de Licenciatura em Pedagogia, Universidade Federal de São Carlos, São
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MILHORANCE, Flávia. O que foi a Rio 92. O Globo. 30 maio 2012. Disponível em:
<http:// www.oglobo.com.br/>.Data de Acesso:05/03/2020.

PEDRINI, A. G.; SILVEIRA, D. L.; DE PAULA, J. C.; VASCONCELLOS, H. S. R.;CASTRO, R. S..


Educação ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis: Vozes, 1997.

RUSCHEINSKY, Aloísio, et al. Educação Ambiental Abordagens Múltiplas. Porto Alegre:


Artmed, 2007.

WEISSMANN, HILDA (ORG.). Didática das ciências naturais: contribuições e reflexões.


Porto Alegre: ArtMed, 1998.

1368
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O PAPEL DAS ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Maria Luiza Soares de Campos1

RESUMO: O artigo tem como objetivo tornar visível a importância das Artes Visuais para crianças
em idade pré-escolar (entre 0 e 6 anos) e analisar as contribuições da arte para a formação dos
alunos. O ensino de arte constitui um importante meio para o desenvolvimento da criança,
porém, necessita-se que os professores estejam capacitados e a prática educativa seja
remodelada para, assim, tornar a aprendizagem significativa. Por meio da arte-educação, a
criança se apropria das diversas linguagens artísticas, adquire sensibilidade estética e desenvolve
a criatividade, a coordenação motora e a capacidade cognitiva. Para isso, deve haver a mediação
do educador durante o processo de aprendizado, para que a criança conheça a arte ao mesmo
tempo em que faz arte.

Palavras-Chave: Artes; Educação Infantil; Aprendizagem Infância.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes Visuais.
email:marialuizascampos@gmail.com

1369
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO completas, com mentes pensantes, criativas e


independentes.
Milhares de anos antes de ser denominada O estresse, o acúmulo de tarefas e a
como "arte", as expressões artísticas já estavam homogeneização das características pessoais,
presentes na vida dos que antecederam a raça presentes na sociedade contemporânea, não
humana. Desde então, as linguagens artísticas permitem que os indivíduos reflitam com a
tornaram-se instrumentos essenciais na frequência necessária sobre os
construção da identidade cultural dos seres acontecimentos, sobre si mesmos e sobre o
humanos. Pode-se não notar, mas o mundo mundo. O tempo não para. E, assim, a
está cercado de arte que influencia as pessoas sensibilidade e a reflexão tornam-se distantes
o tempo todo. do cotidiano humano. Nesse caso, a arte tem a
Portanto, por tratar-se de uma instituição função, dentre tantas outras, de superar os
corresponsável pela formação intelectual e limites do tempo. É nesse sentido que se
humana das pessoas, a escola precisa fazer com defende a introdução da arte no âmbito
que a arte esteja presente no processo de educacional, especificamente na educação
ensino, desde o início da escolarização. Não infantil, fase em que se inicia a construção do
somente como um meio de estimular a saber, do fazer, do inventar e do apreciar,
criatividade, mas como uma forma de alicerces essenciais para a construção da vida.
linguagem, como complemento às outras Diante de tais considerações, levantou-se
atividades e, também, como maneira de neste estudo a importância da arte vinculada ao
estimular o desenvolvimento motor dos alunos. ensinar e ao aprender na educação infantil, as
Este artigo aborda a importância da arte na contribuições das artes para a vida, para o
educação de crianças de 0 a 6 anos de idade, aprendizado e para a socialização do aluno,
durante a fase escolar conhecida como assim como, a influência da arte na formação
Educação Infantil. A questão central denomina- intelectual e humana da criança.
se: qual a contribuição da arte para a Educação Segundo Freire (1996):
Infantil? Como questão secundária temos: [...] somos os únicos seres que, social e
inserir a arte no processo educacional pode historicamente, nos tornamos capazes de
contribuir para a formação humana das apreender. Por isso somos os únicos em quem
crianças? aprender é uma aventura criadora, algo por isso
A sociedade no geral está acostumada a mesmo muito mais rico que meramente repetir
encarar a arte apenas como entretenimento, e, a lição dada. Aprender para nós é construir,
até mesmo, como algo inútil. Essa sensação se reconstruir, constatar para mudar, o que não se
reflete no ambiente escolar, em que a faz sem abertura ao risco e à aventura do
educação artística costuma ser menosprezada espírito (FREIRE, 1996, p. 69).
e deixada de lado. Existe a necessidade de
incorporar com tenacidade as Artes Visuais na
educação das crianças, a fim de formar pessoas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONTEXTUALIZANDO A ARTE comunicação em sociedade (CAMPOS e


ZOETTL, 2012).
A arte está presente no cotidiano de cada
Assim, podemos considerar a arte como
pessoa de formas diferentes e, por esse motivo,
uma das formas mais antigas de comunicação.
cada ser humano a enxerga de maneira
subjetiva. Sendo assim, não é fácil obter uma O filósofo Fritz Heinemann (1993, p.19), afirma
resposta exata para a pergunta "o que é arte?", que "[...] a arte pode ser compreendida como
mas levando em consideração o impacto dessa uma linguagem ampliada e generalizada".
manifestação na humanidade, pesquisadores Antes mesmo do surgimento da escrita, as
de diversas áreas – como história, arqueologia, pinturas e as esculturas já faziam parte do
filosofia, linguagens e antropologia – chegaram cotidiano dos hominídeos primitivos. Ao
estudar a evolução humana e o
a algumas conclusões sobre o assunto.
desenvolvimento das civilizações, notamos que
Duarte Jr. (1985), afirma que a arte é a
a história da humanidade está diretamente
criação de formas, que podem ser classificadas
associada à história da arte.
como estáticas ou dinâmicas. Como exemplos
de formas estáticas de arte, podemos citar a
pintura, a escultura e o desenho. Já como CRONOLOGIA DA ARTE
formas dinâmicas, temos a dança, a música e o Desde os primórdios a arte assumiu um
cinema. Além disso, o autor ainda pontua que a papel importante na sociedade humana. As
arte tem o poder de instigar sentimentos, sem diversas manifestações artísticas datadas do
pretensão de formar conceitos, mas apenas período Paleolítico2 , por exemplo, serviam ao
1

despertar emoções. homem pré-histórico como parte importante


Segundo Campos e Zoettl (2012), na arte, de rituais mágicos de caça. Analisar a arte
independente da função a ela atribuída, rupestre, encontrada em sítios arqueológicos
encontramos uma linguagem estética que abre ao redor do mundo, nos possibilitou entender o
espaço para um diálogo cultural. modo como o homem compreendia a vida, a
A arte, entendida de forma genérica como o natureza e o Universo naquela época.
patrimônio estético, material e imaterial de De acordo com o historiador H. W. Janson
uma comunidade, sempre foi alvo da (1996):
curiosidade dos antropólogos. [...] Através de É nos últimos estágios do Paleolítico, que
sons e imagens o homem vai atribuindo sentido teve início há cerca de trinta e cinco mil anos,
àquilo que o rodeia. Independentemente dos que encontramos as primeiras obras de arte
juízos de valor estético que façamos acerca dos conhecidas. [...] Como se desenvolveu essa
objetos culturais, que em última instância arte? A quais objetivos atendia? E como
definem aquilo que é ou não é arte, há que sobreviveu intacta por tantos milhares de anos?
reconhecer que esta vitalidade criativa é um A última pergunta pode ser facilmente
elemento de crucial importância para a respondida: as pinturas raramente encontram-

2O Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, refere-se ao período da pré-história que aconteceu cerca de 2,5 milhões
a.C., quando os antepassados do homem começaram a produzir os primeiros artefatos em pedra lascada.

1371
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

se próximas à entrada das cavernas, onde expressar seus costumes, mitologias e tradições
poderiam ser vistas (e destruídas) com por meio de pinturas, afrescos, esculturas, etc.
facilidade, mas sim em seus recessos mais Entre os principais estilos artísticos da
escuros, tão afastadas da entrada quanto Antiguidade, podemos destacar as esculturas
possível. Ocultas como estão, nas entranhas da em pedra, (em especial as esculpidas em
Terra, essas imagens devem ter-se prestado a mármore), com precisão anatômica,
um objetivo muito mais sério do que a simples comumente encontrada na Grécia e no Império
decoração. Na verdade, quase não há dúvida de Romano e as pinturas de formas humanas em
que faziam parte de um ritual mágico cujo representações pictóricas presentes na arte
propósito era o de assegurar uma caça bem egípcia.
sucedida. (JANSON, 1996, p.14).
Figura 2 - Vênus de Milo
Figura 1 - Bisão da Caverna de Altamira

Gravura da era paleolítica encontrada na Caverna de


Altamira, na Espanha.
Fonte: Rame Essos3 1

Já durante a Idade Antiga4 , nas grandes


2

civilizações, como Grécia, Egito e Roma, as artes Estátua grega, datada de 100 a.C.
Fonte: Museu do Louvre/Anne Chauvet5
visuais se desenvolveram tecnicamente e novos
3

métodos artísticos surgiram. A arte deixou de


servir somente como parte de rituais religiosos
e ganhou status cultural. Cada povo passou a

3
Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5569986>.Data de Acesso:08/03/2020.
4
A Idade Antiga ou Antiguidade foi o período da história que se desdobrou desde a invenção da escrita (4000 a.C. a 3500 a.C.)
até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.).
5
Disponível em: <http://www.louvre.fr/departments/antiquites-grecques-etrusques-et-romaines>. Data de Acesso:08/03/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Figura 3 – Nefertari diferente da arte antiga. Umberto Eco (2010),


afirma:
A Idade Média tirou da antiguidade clássica
grande parte de seus problemas estéticos, mas
conferiu a tais temas um novo significado,
inserindo-os no sentimento do homem, do
mundo e da divindade, típicos da visão cristã.
Em consequência, sua especulação estética
desenvolveu-se num plano de indiscutível
originalidade (ECO, 2010, p.17-18).
Apesar de possuírem características
distintas, os dois principais estilos do início da
Idade Média – arte cristã primitiva e arte
bizantina – seguiam um princípio comum: a
reprodução artística dos ensinamentos do
cristianismo.
Figura 4 - Mosaico de Justiniano72

Pintura pictórica do túmulo de Nefertari.


Fonte: Directmedia Publishing GmbH6 1

Com a ascensão do cristianismo, após a


queda do Império Romano do Ocidente, teve
início uma nova era da história: a Idade Média6,
e, consequentemente, o começo de uma nova
fase artística.
Segundo. Janson (1996), a revolução artística
Mosaico Bizantino com o imperador Justiniano e o bispo
da época, não se deve somente à divisão
Maximiano8 . Fonte: José Luiz Bernardes Ribeiro9
3 4

política, mas principalmente à cisão religiosa


em duas igrejas, a Católica Ocidental e a
No período entre os séculos XI e XIII,
Ortodoxa Oriental. Apesar da grande influência
destacou-se a arte românica, principalmente na
romana, a arte medieval tomou um caminho
arquitetura. Em mosteiros e basílicas,

6Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=154295>. Data de Acesso:08/03/2020.


7
A Idade Média (ou Medieval) foi o período da história da Europa entre os séculos V e XV. Iniciou-se com a Queda
do Império Romano do Ocidente e terminou durante a transição para a Idade Moderna.
8
Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=52512238>. Data de Acesso:08/03/2020.
9
Flávio Pedro Sabácio Justiniano (em latim: Flavius Petrus Sabbatius Justinianus) conhecido como Justiniano I,
Santo Justiniano ou Justiniano, o Grande, foi imperador bizantino de 1° de agosto de 527 até a sua morte, em 14
de novembro de 565.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

prevaleceu o uso dos arcos de volta-perfeita. As coloridas, primeiros indícios do estilo que
construções eram pesadas e fortificadas, no sucederia a arte gótica.
caso dos castelos, a intenção era proteger a A transição entre a Idade Média e a Idade
nobreza de ataques inimigos. Já nas igrejas, as Moderna12 foi marcada por uma efervescente
3

paredes deveriam ser resistentes para evitar a renovação artística que culminou no
entrada de "forças malignas". surgimento da Arte Renascentista, cujo ápice
ocorreu na Itália do século XVI. Entre os
Figura 5 - Igreja Notre-Dame La Grande de Poitiers101 principais artistas da época estão Leonardo da
Vinci, Michelangelo, Donatello, Sandro
Boticelli, Rafael, Giotto di Bondone, entre
outros.

Figura 6 - O Nascimento de Vênus

Exemplo de igreja no estilo românico localizada em


Poitiers, na França.
Fonte: Paul M.R. Maeyaert112 La Nascita di venere, pintura do italiano Sandro Boticelli.
Fonte: Google Art Project134

O estilo gótico prevaleceu nos últimos


séculos da Idade Medieval (final do século XIII Inspirados na Antiguidade, os artistas do
ao XV) e tinha algumas particularidades. As Renascimento concebiam a arte como uma
igrejas tornaram-se mais altas e imponentes, imitação da natureza, colocando o homem no
com paredes mais finas e adornadas. Nas centro privilegiado desse panorama. Outra
esculturas, os artistas buscavam dar aspecto característica do estilo foi a união da arte com
humano às figuras como anjos e santos. Já na a ciência, usada para representar o meio com
pintura, apesar da permanência da temática perfeição matemática, criando perspectiva e
religiosa, as obras eram mais expressivas e

10
Chama-se arco de volta perfeita, arcos que formam um semicírculo inteiro, apoiados em duas extremidades e fechados por
uma única pedra em forma de cunha, que pressionava os demais.
11
Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Poitiers,_Eglise_Notre-Dame_la_GrandePM_31852.jpg> .Data de
Acesso:08/03/2020.
12
A Idade Moderna foi o período da história de 1453 (tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos), até 1789 (Revolução
Francesa).
13
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=22507491.Data de Acesso:08/03/2020.

1374
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

efeitos tridimensionais e, assim, aproximando Em oposição ao neoclássico, surge o


as manifestações artísticas do real humano. Romantismo Alemão, com início nos últimos
Outros movimentos artísticos relevantes anos do século XVIII, o movimento acreditava
nascidos no período foram o Barroco e o que as obras de artes deveriam expressar o
Rococó. O primeiro, influenciado pelo estilo do artista.
Renascimento, tratava da mesma temática com Avançando no tempo, surge o Realismo,
uma interpretação mais exuberante. O vertente fortemente influenciada pela
segundo, voltado para a nobreza, surgiu na industrialização, que retratava a realidade
França e valorizava a ornamentação exagerada social da época e teve destaque entre 1850 e
dos espaços. 1900, principalmente na França.
A Revolução Francesa (1789-1799), a No início do século XX, o Impressionismo
Primeira (1914-1918) e segunda (1939-1945), surge para transformar a arte. Ao invés de
Guerras Mundiais e a Guerra Fria (1945-1991), retratar fielmente a realidade, os artistas desse
foram os principais acontecimentos da Idade movimento buscavam capturar, de forma leve,
Contemporânea, que segue até os dias atuais. a variação de luz e cor da natureza. O nome da
Os impactos advindos de tais momentos vertente artística foi derivado da obra
históricos, revolucionaram também a arte. Impression, soleil levant de Claude Monet.
Na Europa do século XVIII, nasce o
Neoclassicismo, estilo que, apesar de pregar Figura 8 - Impressão, nascer do sol
um retorno aos princípios clássicos e
renascentistas, deu início a diversas novas
formas de produção artística.

Figura 7 - O Juramento dos Horácios

A pintura Impression, soleil levant, do francês Claude


Monet
Fonte: Wartburg College15 2

Obra de Jacques-Louis David, considerado um dos artistas


mais influentes do Neoclassicismo. Fonte: Web Art Gallery 14
1

14
Disponível em: <http://www.wga.hu/art/d/david_j/2/200david.jpg >.
15
Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5504881>.Data de Acesso:08/03/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INFÂNCIA E EDUCAÇÃO pequena parcela das crianças: as pertencentes


às classes mais ricas.
Para debater as propostas curriculares e
De acordo com Ariès (1981), os principais
pedagógicas existentes para a Educação Infantil
educadores do século XVIII repudiavam a ideia
(EI) atualmente, faz-se necessário compreender
a definição de infância, além de rever o de ensino universal e igualitário. Eles apoiavam
histórico mundial em relação à educação para uma educação diferenciada, definida de acordo
crianças, para que, assim, a discussão atual com o status social e que seguia um
dialogue com os avanços e as dificuldades pensamento comum à época: separar as
vividas anteriormente. pessoas responsáveis pelas tarefas braçais
daquelas que desenvolviam trabalhos
No Referencial Curricular Nacional para a
intelectuais.
Educação Infantil - Vol. 1 (1998), encontramos
a definição de criança: Com as transformações políticas,
econômicas e sociais do final do século XVIII e
A criança, como todo ser humano, é um
início do século XIX, como a urbanização
sujeito social e histórico e faz parte de uma
intensificada e a introdução da mulher no
organização familiar que está inserida em uma
mercado de trabalho, surge na Europa a
sociedade, com uma determinada cultura, em
necessidade de criar instituições para assistir as
um determinado momento histórico. É
crianças pequenas (de 0 a 3 anos) durante o
profundamente marcada pelo meio social em
período de trabalho das famílias. A creche
que se desenvolve, mas também a marca
como instituição nasce de uma necessidade
(BRASIL, 1998, p. 21).
atrelada ao crescente capitalismo e possui
Segundo o historiador Ariès (1981), a
apenas função assistencialista.
concepção de infância como um período
Segundo Faria (1999, p. 31), “A criança,
característico da vida humana surgiu apenas no
assim, não é uma abstração, mas um ser
final da Idade Medieval. Anteriormente, as
produtor e produto da história e da cultura”.
crianças eram consideradas "pequenos
Enxergar a criança como ser que já nasce
adultos" à espera de atingir a estatura ideal.
pronto ou como sujeito conhecedor, cujo
Com o avanço do pensamento científico na
desenvolvimento se dá por iniciativa própria e
Idade Moderna, pesquisadores e educadores
por meio da capacidade de ação, foram,
passaram a analisar a infância sob o aspecto
durante muito tempo, percepções amplamente
social e psicológico. Ariès (1981), diz que à
aceitas na EI até o surgimento de bases
época a criança era vista como um ser inocente
epistemológicas para fundamentar o ensino
e divertido, servindo apenas como
para a infância como é atualmente.
entretenimento para os adultos.
Ainda segundo Faria (1999), os novos
Por um longo período de tempo, as escolas
conceitos englobam a história, a antropologia,
europeias da Idade Moderna ignoraram as
a sociologia e a psicologia, resultando em uma
diferenças de idades entre os alunos,
definição de criança como um ser competente,
concentrando-se apenas em discipliná-los, com
capaz de interagir e produzir cultura no meio
um ensino rígido e de ordem religiosa. À época,
em que se encontra.
ir à escola era um direito reservado a uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Tiriba (2005),afirma que entre as habilidades juntamente ao Estado um plano de assistência


imprescindíveis aos profissionais de Educação às populações desfavorecidas.
Infantil, estão: entender as necessidades que os Assim, com o patrocínio de instituições
bebês demonstram antes mesmo de filantrópicas e do estado, os donos das
aprenderem a falar; observar as ações e indústrias brasileiras passam a construir vilas
reações das crianças; decifrar os desejos e operárias, próximas às fábricas, equipadas com
motivações dos pequenos; além de estudar e clubes recreativos, escolas, creches e
envolver-se com as diversas áreas do mercearias. De acordo com Sanches (2004), o
conhecimento que incidem sobre essa faixa pressuposto era que atender bem o filho do
etária. operário aumentaria a satisfação destes e, em
A Educação Infantil é a primeira fase da consequência disso, a produtividade também
Educação Básica, à partir do conhecimento nela cresceria.
adquiridos, as crianças estabelecem as bases da Os jardins de infância no Brasil,
personalidade humana, da socialização e da independentemente de serem da iniciativa
inteligência. As primeiras experiências da vida privada ou da iniciativa pública, possuíam
são as que marcam mais profundamente a caráter educativo e assistencialista. Com o
pessoa e, por esse motivo, é extremamente passar dos anos, o caráter assistencialista foi
importante que sejam positivas e construtivas. substituído pela função compensatória. Ou
seja, a pré-escola passa a ter a função de suprir
EDUCAÇÃO INFANTIL NO as carências culturais, linguísticas e afetivas das
crianças de classes economicamente menos
BRASIL favorecidas.
Segundo Sanches (2004), a creche no Brasil Nas décadas de 1970 e 1980, seguindo o
surge no fim do século XIX, em consequência do fluxo mundial, o Brasil intensifica o processo de
início do processo de urbanização e industrialização e urbanização. Devido à
industrialização do país. No período, acontece pressão dos movimentos sociais em prol da
um crescimento acelerado das cidades criança, o atendimento educacional foi
localizadas nas regiões mais ricas, devido a ampliado, principalmente às crianças na faixa
migração de pessoas das áreas mais carentes etária de 4 a 6 anos.
em busca de emprego e melhores condições de Já nos últimos anos da década de 1980, com
vida. o fim da ditadura militar e o processo de
Com o aumento da população pobre nos redemocratização do país, a educação ganha
polos brasileiros, agravam-se o desemprego e o impulso em diversas frentes. Surgem novas
subemprego. Sanches (2004), afirma que, na pesquisas e debates teóricos sobre a
tentativa de conter o desenvolvimento importância da educação e passa-se a discutir o
desenfreado, alguns ícones da alta sociedade, papel legal do Estado em relação à educação.
como médicos, juristas, e, até mesmo,
membros da igreja católica, articulam

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA A passagem da responsabilidade das


instituições de Educação Infantil para as
EDUCAÇÃO BRASILEIRA Secretárias de Educação – ao invés de
A Educação Infantil, segundo Faria (2007), permanecerem ligadas às Secretarias de
apesar de ter mais de um século de existência, Assistência Social, como previsto nas
limitava-se ao cuidado extradomiciliar. legislações anteriores– ratifica a função da EI de
Somente na década de 1990, mudanças educar e cuidar de forma indissociável e
pertinentes ocorreram, graças a promulgação complementar das crianças.
da Lei de Diretrizes de Base da Educação De acordo com a nova lei, a Educação Infantil
Nacional, Lei nº 9394 de 20 de Dezembro de se divide em duas fases: creches, para bebês e
1996, (LDB). crianças de 0 a 3 anos e pré-escolas, para
Pela segunda vez na história, o Brasil pode crianças de 4 a 6 anos. Esse direito à educação
contar com uma lei que regulamentou todos os deve ser garantido pelos municípios e, apesar
níveis de educação. A primeira LDB foi de gratuito, não é obrigatório.
sancionada 30 anos antes, em 1961 (LDB nº A inclusão do ensino infantil na Educação
4024/61). A nova legislação, vigente até os dias Básica, como sua primeira etapa, foi um marco
atuais, regulamenta o sistema educacional para o desenvolvimento educacional do Brasil,
(público ou privado) do Brasil, desde a ao reconhecer que a educação começa nos
educação básica até o ensino superior. primeiros anos de vida e é essencial para o
Além de reafirmar o direito à educação, a cumprimento de sua finalidade. Como
LDB de 1996 estabelece as responsabilidades podemos ler no Art. 22 da LDB nº 9394/96,
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos A educação básica tem por finalidades
Municípios em relação à educação pública. A desenvolver o educando, assegurar lhe a
Lei ainda mudou a posição da criança diante à formação comum indispensável para o
família e à sociedade. Ao invés de objeto de exercício da cidadania e fornecer-lhes meios
tutela, a criança passa a ser sujeito de direito. para progredir no trabalho e nos estudos
Além disso, o Ensino Infantil, para crianças de posteriores (BRASIL, 1996, p. 8).
0 a 6 anos, passa a ser direito das crianças e Na nova LDB (1996), a Educação Infantil
dever do Estado. Dessa forma, aqueles que recebeu destaque, inexistente nas legislações
optam por partilhar com o Estado a educação anteriores. Tratada na Seção II, do capítulo II
dos filhos terão, por direito, acesso a vagas em (Da Educação Básica), nos artigos 29, 30 e 31,
creches e pré-escolas públicas. nos seguintes termos:
Outro benefício da Lei foi a inclusão das Art. 29. A educação infantil, primeira etapa
instituições de Educação Infantil na Educação da educação básica, tem com finalidade o
Básica, juntamente com o Ensino Fundamental desenvolvimento integral da criança até os seis
e o Ensino Médio, que passaram a ser anos de idade, em seus aspectos físico,
responsabilidade das Secretárias de Educação psicológico, intelectual e social,
dos municípios. complementando a ação da família e da
comunidade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Art. 30. A educação infantil será oferecida fundamentos: I - a associação entre teorias e
em: práticas, inclusive mediante a capacitação em
I – creches ou entidades equivalentes, para serviço; II - aproveitamento da formação e
crianças de até três anos de idade; II – pré – experiências anteriores em instituições de
escolas para crianças de quatro a seis anos de ensino e outras atividades.
idade. Art. 62. A formação de docentes para atuar
Art. 31. Na educação na educação básica far-se-á em nível superior,
infantil a avaliação far-se-á em curso de licenciatura, de graduação plena,
mediante acompanhamento e registro de seu em universidades e institutos superiores de
desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, educação, admitida, como formação mínima
mesmo para o acesso ao ensino fundamental. para o exercício do magistério na educação
(BRASIL, 1996, p.11). infantil e nas quatro primeiras séries do ensino
Com a nova visão da lei sobre a Educação fundamental, a oferecida em nível médio, na
Infantil, tornou-se evidente a necessidade de modalidade Normal (BRASIL, 1996, p. 20).
promover o desenvolvimento da criança como Deve-se destacar ainda, dois artigos da LDB
um indivíduo em todos os aspectos, desde os nº 9394/96 com extrema importância para os
primeiros anos de vida, construindo um alicerce profissionais e instituições de Educação Infantil.
para o desenvolvimento completo do O primeiro é o artigo 89 (Das Disposições
educando. Transitórias) com relevância ímpar para a
Com papel complementar à família e à educação infantil, diz a Lei que “as creches e
comunidade, a educação infantil precisa pré-escolas existentes ou que venham a ser
articular-se, por meio de constante diálogo, criadas, no prazo de três anos, a contar da
juntamente com os pais e a sociedade. publicação desta lei, integrar-se-ão ao
Propondo também, como função específica das respectivo sistema de ensino” (Art. 89).
instituições de educação infantil, a ampliação O segundo ponto a ser destacado é a criação
das experiências, dos conhecimentos, do da Década da Educação, com início um ano
interesse pelo ser humano, pelos processos da após a publicação da Lei, em que estabelece-se
natureza e pela convivência em sociedade. que "até o fim da Década da Educação somente
Outro aspecto importante da Lei nº 9394/96 serão admitidos professores habilitados em
são os artigos referentes aos profissionais da nível superior ou formados por treinamento em
educação. Em sete artigos, a lei estabelece serviço" (Art. 87 §4º).
diretrizes sobre a formação e valorização destes Para ajudar no cumprimento dos artigos da
profissionais. Lei citados acima, o Ministério da Educação
Como podemos ler nos artigos 61 e 62: (MEC), responsável pela educação em todo o
Art. 61. A formação de profissionais da território brasileiro, em trabalho conjunto com
educação, de modo a atender aos objetivos dos o Ministério do Trabalho e o Ministério da
diferentes níveis e modalidades de ensino e às Previdência e Assistência Social, apoia projetos
características de cada fase do que estimulem a formação de profissionais
desenvolvimento do educando, terá como

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

atuantes na educação infantil e que não da reprodução de conteúdos pré-definidos e na


possuem a escolaridade mínima exigida. autoridade absoluta do professor, a Escola
Nova priorizava os interesses e necessidades do
ENSINO DAS ARTES VISUAIS aluno.
Nesse contexto, a arte na escola tem a
• A valorização da arte como área de
intenção de permitir que o aluno expresse seus
conhecimento
sentimentos e libere suas emoções. A arte,
Atualmente, ao pensar nas áreas de
portanto, não é ensinada, mas expressada. Sem
conhecimentos estudadas nas escolas, as Artes
interferir diretamente no processo criativo dos
Visuais com certeza farão parte dessa lista, mas
alunos, o professor torna-se apenas um
esse é um acontecimento relativamente
facilitador de experiências, que proporciona o
recente. Por muito tempo, a escola usou a arte
ambiente e materiais necessários para o livre
apenas como um recurso de expressão e
desenvolvimento das crianças.
comunicação que auxiliaria o ensino de outras
Apesar de trazer à tona ideais educacionais
áreas. Como técnica, a arte permitia a
que revolucionaram o ensino em diversos
construção de habilidades motoras que
aspectos, ao transformar a arte em uma técnica
serviriam para desenvolver outras formas de
apenas para expressão de sentimentos, a
representação, como a escrita, por exemplo.
Escola Nova distanciou os alunos dos
A arte sempre se fez presente na educação
elementos que compõem as linguagens
escolar, mas nem sempre com as mesmas
artísticas. No cronograma das escolas, as
finalidades. O significado atribuído a arte na
ciências faziam parte do universo cognitivo e a
educação não dependeu somente dos
arte era parte do domínio das emoções e dos
educadores e pesquisadores da área, mas o
sentidos. O aluno não era levado a refletir e
conteúdo e a própria história da arte permitiam
construir uma ligação entre a própria produção
que lhe fossem atribuídas sentidos e funções
artística e o repertório cultural da arte da
diferentes, de acordo com a época.
época.
Segundo Biasoli (1999), o conceito de arte
Com o passar do tempo, alguns princípios da
foi objeto de diferentes interpretações: arte
educação mudaram e a arte também sofreu
como técnica, como produção de materiais
transformações conceituais. A Arte
artísticos, como lazer, como liberação de
contemporânea retoma a presença e a
impulsos, como expressão, como linguagem e
influência de imagens no ato criador, ao
como comunicação. Enquanto linguagem
contrário do modernismo, que valorizava a
forjada no movimento cultural, a arte envolve a
originalidade e a independência em relação ao
expressão individual e coletiva de sentimentos
meio. Desse modo, surge uma concepção de
e valores da cultura.
arte que não nega a presença da história e das
Com os avanços da psicologia e da educação
influências culturais na criação artística.
democrática do século XIX, nasce o movimento
Barbosa (1991), resgata a importância da
da Escola Nova, que propôs uma revolução no
presença de imagens nos processos de ensino,
fazer pedagógico. Contestando a escola
tradicional, que acreditava no ensino por meio

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

para a formação do fruidor16 em arte. É


1 não estamos fazendo educação cognitiva, nem
consenso, entre os autores que buscam a emocional(MARQUES, 1999, p. 34).
valorização da cognição nas Artes Visuais, que a Embora sejam necessárias ações cognitivas
emoção, para se tornar sensível, passa por um na construção do pensamento em arte, em
fazer que é inteligível, o artista se vê diante do contraponto ao espontaneísmo oriundo da
desafio de encontrar o vocabulário para sua Escola Nova, defender a arte como um
emoção e o faz influenciado pela história da conhecimento não exclui suas outras
arte, por sua história pessoal e pela cultura em dimensões. Para Barbosa (1991), o principal
que atua. objetivo da inclusão da arte na escola é formar
Contudo, a mudança nas artes não foi o indivíduo conhecedor, fruidor e decodificador
prontamente assimilada pelas escolas. A de arte.
presença das Artes Visuais na escola ainda se
relacionavam apenas à espontaneidade, à
expressão de sentimentos e ao
desenvolvimento da criatividade, mantendo-se
longe de ser motivo de reflexão e de
construções voltadas para a aprendizagem.
Com a intenção de estabelecer a arte como
uma área de conhecimento com a mesma
valorização e espaço que as outras áreas,
alguns educadores estruturaram movimentos
de resgate da arte na escola. Entre eles,
podemos destacar o DBAE (Discipline Based Art
Education), nos EUA e a Abordagem Triangular
de Ensino da Arte, desenvolvida por Ana Mae
Barbosa, no Brasil.
Segundo Marques (1999):
A causa da arte no currículo escolar, tanto
do DBAE norte-americano quanto da proposta
triangular de Barbosa, aparece como uma
batalha epistemológica a fim de dissocia-la do
espontaneísmo e emparelhá-la às outras
disciplinas do currículo como forma de
conhecimento, pois, se arte não é tratada como
conhecimento, mas como um grito da alma,

16
Fruição, refere-se à reflexão, conhecimento, sensação e ao prazer advindo da ação que a criança realiza ao se
apropriar dos sentidos e emoções gerados no contato com as produções artísticas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Artes Visuais somadas às habilidades infantis revelam variadas possibilidades para o
ensino. Talvez não seja possível mensurar todos os benefícios do ensino da arte para crianças no
período pré-escolar, mas, durante a execução deste trabalho provou-se que o ensino da arte
desperta o senso estético, auxilia no desenvolvimento da motricidade fina, afina as capacidades
cognitivas e intelectuais, estimula a criatividade e a imaginação, proporciona a formação cultural
dos alunos, contribui para o alargamento da autonomia, ajuda na socialização das crianças,
desenvolve a noção espacial, oferece conhecimentos em relação à reciclagem e reutilização de
materiais, entre outras incontáveis contribuições.
Portanto, considera-se que se obteve é que a arte pode mudar a forma como uma criança
se desenvolve e transformar o destino desta. Se a arte for trabalhada com afinco em ambiente
escolar, levando em consideração as características individuais de cada aluno, ao disponibilizar
todas as possibilidades de linguagens artísticas, o educador oferece a criança o primeiro passo
para o crescimento humano. À medida que adquire gosto pela arte, a criança começa uma jornada
para tornar-se um ser mais crítico e reflexivo.

1382
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PROFESSOR DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL


ESPECIALIZADO FRENTE ÀS NECESSIDADES
EDUCATIVAS
Ilza Carla Colombo Vieira1

RESUMO: Os registros aqui relatados surgiram a partir do aprimoramento da própria prática


pedagógica, sendo possível, também, compreender que as diretrizes dadas aos profissionais de
Atendimento Educacional Especializado devem estar de acordo com o currículo da unidade
escolar. A pesquisa é resultado da investigação sobre os conceitos e tratamentos dado ao aluno
com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade -TDAH e busca responder os principais
questionamentos a respeito dessa síndrome, como por exemplo, identificar quais as melhores
ações educativas planejadas para efetivar a inserção desse educando no processo de ensino
aprendizagem. O objetivo desse trabalho é demonstrar a importância da relação interativa entre
o professor e o aluno com TDAH no ensino regular e verificar as vantagens do acompanhamento
psicopedagógico para o aluno com dificuldades de aprendizagem, tratando, assim, de um assunto
amparado legalmente, ou seja, com plenos direitos a uma educação assistiva. Procurou-se,
também, analisar e conceituar essa necessidade educativa, transmitindo informações atualizadas
sobre este transtorno do desenvolvimento e propondo, ainda, um maior interesse da sociedade
sobre o conhecimento e as características que acompanham o educando em sua trajetória
educacional.

1Professora de Educação Fundamental I e II na Rede Municipal de Amparo – SP.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Matemática; Especialização em Educação Especial;
Especialização em Arte e Educação.
E-mail: fadinha01@hotmail.com

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Palavras-Chave: Atendimento Educacional; Transtornos de Déficit de Atenção/Hiperatividade;


Ensino Regular; Aprendizagem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO do docente, das famílias e do próprio aluno,


tem sido foco de investigação e preocupação,
O trabalho apresentado propõe algumas por conta da sua inserção e da vontade e
reflexões e questionamentos a respeito do necessidade em atender suas expectativas de
papel do professor no processo de ensino- aprendizagem. Por sua vez, a Escola, ao deter
aprendizagem, as vantagens do seu olhar sobre os diagnósticos, acabou por
acompanhamento psicopedagógico para o deixar de lado um importante recurso que pode
aluno com dificuldades de aprendizagem, melhorar a aprendizagem do aluno com TDAH:
especialmente àqueles com Transtorno de a prática pedagógica em sala de aula.
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), de Objetivamos demonstrar a importância da
forma que possamos identificar e modificar relação interativa entre o professor e o aluno
posturas que não contribuem para o com TDAH no ensino regular, sobretudo por
aprendizado desses alunos. A intenção é conta da realidade dos sistemas de ensino e das
aprofundar e conhecer as causas que levam ações concretas de implementação de práticas
muitos alunos a apresentarem dificuldades de cada vez mais eficazes para um ensino com
aprendizagem e como os educadores podem significados.
auxiliá-los neste processo. Sabemos que, hoje, o TDAH é definido como
Para isso, o desenvolvimento desse estudo um transtorno neurobiológico e
parte da revisão bibliográfica exploratória, por neuropsiquiátrico que acontece em crianças,
meio de consultas de livros, artigos científicos e adolescentes e adultos, independente de país
web sites especializados no assunto ensino- de origem, nível socioeconômico, raça ou
aprendizagem. O objetivo da pesquisa é religião. E reconhecido pela Organização
explorar um problema ou uma situação para Mundial de Saúde e registrado oficialmente
prover critérios e compreensão. pela Associação Americana de Psiquiatria, no
A escolha do tema demonstra uma Manual Diagnóstico e Estatístico de
preocupação em relação aos professores que Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical
trabalham com alunos que possuem Manual of Mental Disorders – DSM), que está
necessidades educacionais especiais, o qual na sua 5ª edição.
será exposto a importância de uma formação Assim, Barkley, et al (2008), caracteriza o
continua mais aprofundada sobre a educação TDAH como sendo:
inclusiva, sobre as características do educando (...) um transtorno mental válido,
com TDAH e sobre os aspectos que podem, em encontrado universalmente em vários países e
certos casos, retardar a aprendizagem do que pode ser diferenciado, em seus principais
aluno. sintomas, da ausência de deficiência e de
A educação escolar tem seus objetivos outros transtornos psiquiátricos (BARKLEY, et
fundamentados na promoção de um ensino de al, 2008, p.123).
qualidade, procurando desenvolver as Ainda que este transtorno esteja sendo cada
capacidades e a apropriação de determinados vez mais divulgado, inclusive em tantos meios
conteúdos da cultura. A situação da inquietação de comunicação, na qual a disseminação das

1388
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

informações é bem mais rápida, como a uma “reconstrução” da comunidade educativa,


Internet, permanecem muitas concepções sobre a inserção do educando com TDAH.
errôneas a respeito do tema, principalmente no
contexto escolar. A MISSÃO DO PROFESSOR E
Sendo os sintomas da hiperatividade, da
desatenção e da impulsividade, características SUAS RESPONSABILIDADES
comuns de comportamento em crianças na fase A ATUAÇÃO DO PROFESSOR E
de desenvolvimento e aprendizagem, ressalto a
importância desse estudo para os profissionais
O MÉTODO DE
da educação que atuam e se relacionam com as ENSINO/APRENDIZAGEM
crianças que apresentam estes sintomas. Muitos são os fatores que fazem com que o
Entretanto, em alguns casos, o despreparo e aluno apresente dificuldades de aprendizagem.
a falta de informação de profissionais da A defasagem de conteúdo, distúrbios de
docência podem contribuir para que essas aprendizagem, falta de adaptação no ambiente
características se acentuem de forma excessiva, escolar e falta de vínculo afetivo com o
por não serem associadas ao TDAH, e sim, a professor são os fatores de maior relevância no
outros transtornos que dificultam a âmbito escolar (PAIN, 1986; CARVALHO, 2004).
aprendizagem, tornando a qualidade do tempo A dificuldade de aprendizagem pode ser
escolar delas muito ruim, desgastante e sujeito momentânea, sendo constatada somente
ao abandono. É comum, também, que esses quando a criança entra em contato com um
mesmos profissionais se sintam despreparados novo conhecimento, ou pode persistir por
para estimulá-los, no sentido de diminuir o algum tempo. O trabalho efetivo e pontual em
impacto causado por esse transtorno. sala, a intervenção e a retomada do conteúdo
Existem diversas maneiras de estimular um pode auxiliar na aprendizagem dessa criança.
aluno a ler e a escrever, a solucionar problemas A defasagem de conteúdo ocorre a partir do
matemáticos e tantas outras questões momento que as lacunas começam a aparecer
relacionadas ao processo de ensino e na aprendizagem, pois, se a dificuldade de
aprendizagem. No caso do aluno com TDAH, aprendizagem apresentada anteriormente não
esses procedimentos devem ser registrados a receber a atenção devida por parte dos
cada passo. À primeira vista pode parecer educadores, ou seja, for “ignorada”, estas
estranho repensar a prática do docente de AEE, lacunas ocasionarão a referida defasagem e o
visto que muitos têm procurado uma aluno estará sempre em déficit com os
especialização adequada. Mas, ao definir a conteúdos, visto que os trabalhos vão se
urgência de como agir com esses educandos, tornando cada vez mais complexos. Por isso, é
justifica-se a escolha do tema deste estudo, necessário investigar em qual momento a
buscando um trabalho dentro de um contexto criança começou a apresentar determinada
organizado, no qual o desafio é atingir os dificuldade, para que se possa voltar atrás e
diversos níveis educacionais e então compor recuperar o que ficou falho. Muitas crianças
com defasagem de conteúdo acabam sendo

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

reprovadas durante anos, o que acarreta, além A escola deve ser uma instituição séria e
de baixa autoestima, sentimento de culpa. comprometida, com objetivos claros e que
O distúrbio de aprendizagem está sempre esteja sempre buscando conhecimento para
relacionado com alguma causa clínica (por dar suporte ao seu corpo docente. Este, por sua
exemplo, o Transtorno de Déficit de Atenção e vez, deve ser comprometido com a
Hiperatividade, que é o foco desse estudo) ou aprendizagem dos alunos, independente das
distúrbios neurológicos. dificuldades e fatores externos (AQUINO,
A falta de adaptação no ambiente escolar 1986). A qualidade do ensino deve ser o
ocorre geralmente com as crianças de primeira principal objetivo da escola e de seus
série, saídas recentemente da Educação professores.
Infantil. Ao cobrar do aluno as A criança que possui dificuldade em
responsabilidades do Ensino Fundamental, o aprender deve se sentir acolhida e necessita
professor deve considerar o momento de muito do auxílio direto do professor, para que
adaptação da criança na nova etapa escolar, possa questionar e se expor de diferentes
pois, o excesso de cobrança pode causar, na formas, sem se sentir coagida pela sala.
criança, medo; bloqueio com a escola; baixa A dificuldade de aprendizagem deve ser
autoestima, por sentir e achar que não vai investigada desde o primeiro indício, para que
nunca aprender; distúrbios de comportamento, não se torne uma defasagem mais complexa e
antes não presenciado pelos pais; frustrações e mais sofrível para o aprendiz, cabendo,
ainda falta de interesse (PATTO, 1996). especialmente aos professores, oferecer apoio
Sobre a falta de vínculo afetivo, para e atenção com todos os seus educandos, além
Marchand (1985), ser afetivo não significa do suporte necessário àqueles que apresentam
proximidade física e manifestações excessivas características de dificuldade.
de carinho entre professor e aluno, muito
menos construir uma relação permissiva. A O PAPEL DO EDUCADOR
construção da afetividade deve estar pautada,
Para André (1999), o professor, muitas vezes,
principalmente, na conquista da confiança e no
não tem claro qual seu papel na instituição
respeito, inclusive diante dos medos da criança,
escolar e em sala de aula. Para o bom
assim como seus anseios. O educador deve ser
desempenho da escola é necessário que a
amável, demonstrando a importância daquela
Proposta Político Pedagógica seja elaborada
criança em sua vida e, também, compreender
com toda a equipe da unidade escolar, pois, a
seu universo. A ausência de afetividade, tanto
partir do momento que a proposta é construída
de um lado como de outro, gera dificuldades de
coletivamente, as conquistas e avanços são
aprendizagem, indisciplina e até desrespeito,
cada vez mais visíveis, visto que o professor vai
pois o aluno transforma o desprezo e a falta de
solucionando suas dúvidas e administrando
atenção do professor em revolta, prejudicando
eventuais problemas ao longo do processo,
não só a sua aprendizagem, mas também a da
para que, posteriormente, coloque em prática
sala, bem como a imagem e autoridade do
as propostas e diretrizes.
professor frente aos demais alunos.

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É muito importante que o professor organize efetivo e pontual desde o início do primeiro ano
seu plano de trabalho visando a qualidade do certamente diminuirá as chances de o aluno
ensino e, ao mesmo tempo, despertar o apresentar uma defasagem acentuada ao final
interesse dos alunos. Diante da diversidade em do ciclo.
sala de aula é preciso, também, mudar o A proposta de trabalho da escola deve ser
enfoque das atividades de acordo com o grau estudada a fundo e o professor capacitado para
de dificuldade de cada um, bem como a atuar de acordo com ela, com
avaliação precisa ser um instrumento de acompanhamento direto em sala de aula. Uma
averiguação da aprendizagem e, igualmente, da atuação psicopedagógica com foco na
atuação do professor, levando o aluno a prevenção, orientando o trabalho pedagógico,
construir seu conhecimento. As aulas devem a organização do currículo e do plano de
ser dinâmicas e o educador necessita buscar trabalho, é a melhor forma de prevenir maiores
novos caminhos e ferramentas, mudando, intervenções com o aluno, inclusive
inclusive, alguns conceitos, se necessário for intervenções clínicas.
(BRANDÃO, 1982). A instituição escolar (incluindo a educação
Para os casos de baixo rendimento escolar, o especial e inclusiva) deve viabilizar para todos
artigo 24, inciso V, da Lei 9.394/96, garante os os alunos o contato com outras ferramentas de
estudos de recuperação, que deve ocorrer, de ensino, como Internet, livros, artigos
preferência, paralelamente ao período letivo e jornalísticos e textos de diversos gêneros,
serem disciplinados pelas instituições de ensino vídeos, teatro, cinema, etc. Não podemos nos
conforme seus regimentos. esquecer dos alunos com distúrbios
No momento em que a criança recebe um neurológicos e de comportamento, os quais
conceito insatisfatório é importante verificar a devem ser incluídos efetivamente nos
origem dessa dificuldade e, por meio de análise trabalhos diários e também nas atividades
de desempenho, propor mudanças em suas extracurriculares, incluindo, por exemplo, os
práticas curriculares, visando sempre melhorar alunos com TDAH.
a aprendizagem do aluno. Um ponto Por muito tempo a escola e a sociedade
importante para se levar em conta é a seguiam caminhos diferentes. Hoje, a escola
formulação das avaliações, pois provas mal está abrindo portas para a comunidade e,
elaboradas prejudica todo os processos de principalmente, para a família do aluno, pois
aprendizagem, levando, inclusive, bons alunos uma precisa da outra, visto que a família tem o
a obterem maus resultados. direito e dever de participar ativamente da vida
Sobre os grupos de apoio, Barbosa escolar da criança, cabendo a ela também
(2006),afirma que eles devem atender os ajudar a organizar a escola.
alunos com defasagem de conteúdo, porém, Para podermos nos aprofundar em uma
muitos professores encaminham casos análise que tenha como objetivo apontar
desnecessários para esse atendimento, ou seja, caminhos para a melhoria da educação, há uma
alunos que apresentam dificuldades específicas necessidade evidente de compreender as
em determinados conteúdos. Um trabalho políticas educacionais formuladas e

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implementadas, pois nos últimos anos, a diferentes problemas que surgem no dia-a-dia.
Pedagogia sofreu muitas mudanças. A Para isso, o professor deve propor atividades
compreensão das políticas públicas atuais de estimulantes e desafiadoras, que levem o aluno
formação de professores é extremamente a desenvolver o senso crítico.
necessária para que se construa uma política
pedagógica adequada e com base em uma O PROFESSOR DE AEE FRENTE
fundamentação acadêmica sólida.
No decorrer da história moderna, a educação ÀS NECESSIDADES EDUCATIVAS
passou por um processo de mudança profundo, As escolas de educação especial continuam
já que, hoje, para formar o aluno, o professor se expandindo. A universalização da oferta
precisa conhecer profundamente os aspectos educacional nos países desenvolvidos
sociais, econômicos e políticos da sua época, considera positiva a existência de classes ou de
conhecer as necessidades de seus alunos e escolas específicas para alunos com
compreender a pedagogia em vigor. Hoje, o deficiências, devido o grande número de alunos
aluno precisa de um professor com por sala de aula, à existência de edifícios
conhecimentos em todos os campos e capaz de específicos e adaptados e à possibilidade de
não só transmitir seus conhecimentos, mas uma atenção educativa mais especializada.
também de criar situações para que o aluno Por muito tempo, a educação especial tem se
construa e compreenda sua própria capacidade organizado no sentido de dar ao educando com
de aprender, desenvolva suas habilidades e NEE todo o apoio necessário para sua
prepare-se para enfrentar a política social de formação. Mas, para chegar até este patamar
sua época com autonomia e consciência de educacional, iniciam-se nos anos de 1940 a
seus conhecimentos (CUNHA, 2001). 1950 sensíveis mudanças e questionamentos
O Referencial Curricular para a Formação de constituídos de um aprofundamento dos
Professores (RCFP) espera formar um professor ambientalistas e dos behavioristas (COLL, et al,
reflexivo, crítico, criativo, capaz de 2006).
compreender o que lê, um professor As questões vão mais além do campo da
preocupado com o que acontece ao seu redor e pedagogia, pois abrem caminho com mais força
com a qualidade da formação de seus alunos. O no campo das necessidades. Assim, vão se
sistema educacional precisa oferecer, aos tornando determinantes e levando em conta as
nossos alunos, um ensino de qualidade e o RCFP influências sociais e culturais pelas quais
serve para nortear os conteúdos, porém, deve passavam as pessoas com deficiências.
ser adaptado à realidade de classe, para que o Então, paralelamente, as escolas de
professor possa oferecer, aos educandos, um educação especial continuaram a se expandir. E
ensino que vá de acordo com sua realidade e foi assim que, em 1960 a 1970 surgiram
necessidades. instituições específicas, como relata Coll, et al
Segundo Nóvoa (1998), a sociedade, hoje, (2006),que a partir da década de 60, produz-se
necessita de jovens que sejam capazes de um movimento muito forte, impulsionado por
pensar, criar, opinar e saber solucionar os âmbitos sociais diversos, que irá provocar

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profundas transformações no campo da deve estar atenta para que todas as


educação especial, sendo elas: 1. Uma nova possibilidades de interação e integração da
concepção dos transtornos do criança no espaço escolar ocorra de maneira a
desenvolvimento e da deficiência; 2. Uma compor a maioria dos procedimentos
perspectiva distinta dos processos de curriculares.
aprendizagem e das diferenças individuais; 3. A De qualquer forma, é um distúrbio de
revista da avaliação psicométrica; 4. A presença comportamento mais frequente na educação
de um maior número de professores infantil e nas primeiras séries do ensino
competentes; 5. A extensão da educação fundamental, o qual, ultimamente, o número
obrigatória; 6. O abandono escolar. de diagnósticos tem aumentado
Embora também se tenha assinalado que as sensivelmente. E da mesma forma, por falta de
categorias podiam centrar a atenção nas conhecimento, aumentou o número de
necessidades de diferentes grupos de crianças encaminhamentos nas escolas. “Essas crianças
e ajudar a respeitar os direitos das crianças com parecem sempre estar em movimento, não
deficiência, o peso das razões contrárias foi conseguem ficar paradas, ainda que as outras
determinante. Por essa e outras razões que a pessoas as pressionem neste sentido e exerçam
Resolução 004/10 veio conceituar a educação uma força enorme nesta direção” (ROSA, et al.,
especial sendo capaz de modificar outros 2008, p.22).
conceitos antigos e, então, ter um importante Se qualquer docente for questionado a
papel que assinala os direitos dessas pessoas. respeito de qual aluno lhe causa maior
No pensar de Siluk (2012): preocupação, certamente vai declarar sobre
Vivemos um grande paradoxo. A escola aquele que não se concentra, que não tem
tende a ignorar a sociedade, que vive cada vez interesse por nada do que é apresentado em
mais informatizada, ignorando, também, a sala de aula, que perturba seus colegas, etc.
necessidade de se discutirem as De acordo com os estudos da referida
transformações impostas por tal autora, várias fases podem ser distinguidas:
informatização, como se estivesse ausentando Até os dois anos de idade, a atenção é
da responsabilidade de formação dos alunos controlada e dirigida por determinadas
para essa tal sociedade (SILUK ,2012, p.19). configurações de estímulos, não existindo
controle voluntário por parte da criança. Entre
CONHECENDO E ENTENDENDO dois e cinco anos, surge o controle voluntário
da atenção. A criança já consegue concentrar-
MELHOR O TDAH se, de forma seletiva, em alguns aspectos da
Nos estudos de Kuczynski (2012), em pleno estimulação externa, mas a sua atenção, ainda,
século XXI alguns ainda insistem em afirmar que é dominada pelas características mais centrais
o transtorno de déficit de atenção e e “salientes” dos estímulos; é por isso que, de
hiperatividade não passa de um transtorno de certa forma, continua sendo dirigida para o
“construção social”. Por isso que, ao exterior (ROSA, et al., 2008, p.114).
diagnosticar uma criança com TDAH, a família

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A partir dos seis anos, ocorre uma mudança concentrar sua atenção durante períodos
notável na criança. O controle da atenção passa contínuos de tempo. Por outro lado, o processo
a ser interno e ela já é capaz de desenvolver de evolução não chega a ser controlado por
estratégias para atender, seletivamente, os estratégias internas, que ajudariam a criança a
estímulos que ela considera relevantes para a se concentrar, de forma seletiva, nos aspectos
solução de determinados problemas, sejam ele pertinentes para a solução eficaz dos
os aspectos mais centrais da estimulação problemas; ao contrário, o processo de atenção
externa. continua sendo dirigido à estimulação externa.
De acordo com Oliveira, et al (1994), para Estas dificuldades intensificam-se nas
uma verificação se a criança apresenta ou não situações grupais, já que elas exigem atenção
distúrbio hiperativo, é necessário: mais sustentada e seletiva, para poder manejar
Conhecer o desenvolvimento normal da a grande quantidade de informação que é
criança, tendo muito presente as grandes gerada.
variáveis comportamentais existentes, frutos Nos estudos de Kuczynski (2012), viver com
da interação de diversos fatores como: idade, TDAH significa correr alto risco de apresentar as
sexo, fatores genéticos, contexto familiar e seguintes características:
social, e etc.; Reconhecer a existência de • Baixo desempenho escolar (afinal,
padrões de condutas que têm um caráter muitos docentes, por desconhecerem as causas
totalmente transitório e que não envolverá desse transtorno, julgam que a criança - já no
uma evolução psicopatológica; Avaliar, quando início do ano letivo - não virá a ter boas notas,
possível, até que ponto as alterações das tampouco, conseguir aprender os conteúdos
condutas estão sempre interferindo ou de certa mínimos para prosseguir seus estudos);
forma, dificultando a aquisição do • Prejuízo significativo na relação com
desenvolvimento de algumas das principais familiares e amigos (já que, até em seu círculo
capacidades e habilidades cognitivas sociais da social, muitas vezes a criança não conta com
criança, bem como a ligação das consequências pessoas que se interessam em compreender as
desses distúrbios no meio em que se causas desse ou daquele comportamento);
desenvolve. Tudo isso faz com que se tenha • Ansiedade (sabendo que o trabalho do
cautela no momento de se estabelecer o docente e do professor de AEE segue também
diagnóstico, entendendo este não como uma em outros momentos - até quando a criança
mera atribuição de rótulos, senão como um está fazendo seu lanche no intervalo das aulas
processo de conhecimento das potencialidades ou em qualquer outra atividade extraclasse -
e necessidades especiais da criança (OLIVEIRA, pois essa característica pode provocar,
et al, 1994, p.113). inclusive, enjoos, devido ela se alimentar
Os resultados de estudos experimentais, rapidamente, etc.);
realizados com indivíduos hiperativos, • Depressão (visto que, em alguns casos,
demonstram que estes processos encontram- por não se conhecer mais profundamente as
se alterados. Por um lado, pode-se afirmar que possibilidades de intervenções com esses
estas crianças apresentam dificuldades para educandos, os mesmos acabam vivenciando o

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abandono escolar, sendo essa uma das grandes desorganizada acima dos padrões e que, com
causas da depressão em alunos hiperativos); frequência, não possui um objetivo concreto. É
• Baixa autoestima (o docente precisa exatamente esta ausência de finalidade que
estar atento também a essa questão, não permite diferenciá-la das demais atividades,
somente com esses educandos, mas com todo observado no desenvolvimento normal da
o grupo, pois elogiar faz parte das regras de criança em certas situações.
convivência); De acordo com Rosa, et al (2008):
• Problemas de conduta (isso pode ser A oscilação do controle - seja de atenção,
traduzido como um agravante seja de conduta - que caracteriza o TDAH,
comportamental, no entanto, quando a escola determina em geral, uma relação empobrecida
se organiza para receber um educando com da pessoa com o meio familiar, social, escolar e
TDAH, espera-se que toda a equipe seja profissional, promovendo restrições em
informada de como agir em casos, quando a diferentes graus e aspectos, no acesso ao
conduta da criança não esteja de acordo com as desenvolvimento potencialmente esperado de
regras estabelecidas na escola ou em sala de crianças e jovens sem déficits intelectuais
aula); (ROSA, et al, 2008, p.114).
• Delinquência (essa característica já é Juntamente com esta atividade motora
apresentada aos pais na educação infantil, desmedida, costuma surgir dificuldades em
junto com orientações a respeito de seu nível de motricidade grossa (por exemplo,
comportamento. Vale ressaltar que a dificuldades de coordenação visual e manual),
delinquência acomete muitos jovens em nossa observando-se, com certa frequência,
sociedade, e é fruto de um trabalho de movimentos involuntários dos dedos
aceitação e cumprimento de regras, das quais (sincinesias) que interferem na realização de
vai além do diagnóstico de TDAH, ou seja, um certas tarefas (HERBERT, 1978).
comportamento não justifica o outro); Com relação a sua impulsividade ou falta de
• Experimentação, uso abusivo ou controle, o comportamento de toda criança é
dependência precoce de substâncias inicialmente controlado pelos adultos,
psicoativas. seguindo certas normas que, frequentemente,
Todos nós precisamos ser acreditados, vão contra seus desejos; tais normas impostas
motivados e impulsionados a resolver acabam sendo internalizadas no decorrer do
problemas desde cedo. É extremamente seu desenvolvimento, de forma que o controle
importante para qualquer pessoa, mais ainda externo dá lugar ao autocontrole. Este processo
para as que possuem TDAH, uma convivência encontra-se alterado nas crianças hiperativas,
saudável com seus grupos sociais, seja na de forma que a conduta impulsiva constitui um
escola, em casa, no clube, no trabalho, enfim, dos aspectos mais relevantes do distúrbio;
em todos os ambientes por onde circula. observando-se uma tendência à satisfação
A atividade motora excessiva, que imediata de seus desejos e pouca tolerância à
caracteriza as crianças hiperativas, manifesta- frustração. Essas crianças podem aprender,
se por meio de uma atividade corporal mas necessitam de intervenção, pois podem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sofrer, constantemente, situações adversas, aprendizagem, à luz de outros


inclusive rejeição, até mesmo de seus familiares aprofundamentos teóricos sobre esse
(ROSA, et al., 2008). transtorno.
A maioria dos casos, muitas vezes, iniciam na
O DIAGNÓSTICO DE TDAH E Educação Infantil e vão até o final do Ciclo I do
Ensino Fundamental sem receber sequer um
SUAS BARREIRAS atendimento ou acompanhamento mais
De acordo com os escritos de Kuczynski comprometido e especializado. A interação da
(2012), crianças com TDAH ainda apresentam criança com TDAH e a comunidade escolar
prejuízos na coordenação motora e atrasos na possibilita um trabalho que leva a criança a
aquisição de autonomia do dia-a-dia. pensar, seguir regras, reduzir a agitação e
O desenvolvimento da noção tempo-espaço ampliar a concentração (GROSSI & BORDIN,
também é mais lento, resultando em 1992).
dificuldades no desenho e uma incapacidade de Estas crianças, nas palavras de Rosa, et al.
diferenciar símbolos gráficos semelhantes, que (2008), parecem sempre estar em movimento,
se diferenciem apenas por sua disposição não conseguem ficar paradas, ainda que as
espacial (como as letras b e d). A coexistência outras pessoas as pressionem neste sentido, e
de outros transtornos, principalmente na vida exerçam uma força enorme nesta direção.
adulta (como transtornos de conduta, Se de um lado estão os professores, os
depressão, abuso e dependência de familiares e a sociedade de modo geral,
psicotrópicos, etc.) é frequente, o que dificulta exigindo um comportamento mais calmo e
mais ainda seu diagnóstico diferencial, devendo sereno de seus filhos, do outro lado está a
ser adequadamente detectada, para que a criança, resistente a todas as tentativas de
abordagem seja a mais eficaz possível. Assim, mudanças de atitudes.
não é rara a confusão com quadros de autismo No entanto, quem mais chega a sofrer com
pela existência, em ambos, de uma dificuldade as ‘reclamações’ é a família, principalmente os
de atenção associada a uma disfunção pais ou responsáveis. Esse comportamento
executiva. Entretanto, nestas crianças não inquieto torna as reuniões de pais mais difíceis
observamos um prejuízo marcado na Teoria da de se chegar a um acordo.
Mente (ou metacognição, que é a habilidade de Nem todos os docentes, obviamente, não
inferir no que os outros pensam - crenças, seguiram esse processo, assim como nem todos
intenções e desejos - com o objetivo de explicar os alunos com TDAH assimilarão da mesma
ou predizer os seus comportamentos), nem as forma os aspectos que fundamentam o
dificuldades relacionais que podemos verificar processo de ensino e aprendizagem. Para
nos Transtornos Invasivos. Hernández (1998), o aluno aprende melhor
A primeira reação do professor ao perceber quando a informação e os conhecimentos que
que o aluno tem dificuldades e que recebeu um se apresentam na sala de aula se tornam
diagnóstico com TDAH é ficar atento aos fatores significativos.
determinantes necessários para examinar sua

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para a programação de uma sequência de instrumentalização. Entre eles, estão


aprendizagem, deve-se adotar o fonoaudiólogos, psicólogos, neuropediatras,
enquadramento oferecido, por exemplo, pela psicopedagogos, terapeuta ocupacional,
teoria da elaboração, com adaptações otorrinos, psiquiatras, arte terapeutas,
específicas para esse aluno, para que possa musicoterapeutas, entre outros. Com ações em
refletir e praticar, de forma lúdica e prazerosa, conjunto, a equipe deve estar preocupada com
os conteúdos do currículo (HERNÁNDEZ, 1998). todos os aspectos que interferem na
Inicialmente, o professor deve ter como aprendizagem, organizando novas práticas
ponto de partida as próprias reflexões (por pedagógicas e atendendo às necessidades
meio de relatórios) do comportamento desse educativas desse aluno.
aluno durante as propostas de atividades. A discussão da obra de Piaget (1976), sobre
Durante todas as aulas (inclusive de outras o desenvolvimento infantil, contempla as
disciplinas, como Educação Física, Artes e descrições qualitativas das mudanças que
Inglês, que fazem parte do currículo do Ensino ocorrem na medida em que amadurecem as
Fundamental), nos intervalos das aulas, nos capacidades cognitivas da criança. Mas, no caso
passeios, na interação com a escola e a família, de alunos com TDAH, há a necessidade de um
enfim, é importante que seja registrado todas tratamento psicoterápico na maioria dos casos,
as situações que fugirem ao controle do para que ele desenvolva padrões de
professor. comportamento, de pensamento e de
O aspecto decisivo do processo experimental motivação, a fim de construir outros
é que permite avaliações exatas e precisas dos mecanismos para melhorar suas condições de
efeitos de tratamentos e práticas realizadas em aprendiz (MUSSEN, 1978).
salas de educação especial ou até mesmo no E para que todos estes profissionais possam
ensino regular direcionadas a alunos com NEE. contribuir com a aprendizagem e a interação do
Infelizmente, há muitos problemas aluno com TDAH com o restante da turma, é
importantes de Psicologia da Criança que necessário considerar as colocações de Rosa, et
literalmente não podem ser estudados al. (2008), afirma:
experimentalmente. Por exemplo, é De qualquer forma, é um dos distúrbios de
importante verificar exatamente os efeitos de comportamento mais frequentes na educação
rejeição dos pais no desenvolvimento da infantil e nas primeiras séries do ensino
personalidade da criança, mas dificilmente fundamental. Caracteriza-se por um nível de
podemos esperar que trabalhem atividade motora excessiva e crônica, déficit de
coerentemente sem antes conhecer as causas atenção e falta de autocontrole. Inicialmente
do transtorno. Evidentemente, em problemas foi definido por um distúrbio neurológico,
desse tipo é necessário empregar outros vinculado a uma lesão cerebral (disfunção
métodos (MUSSEN, 1978, p.21). cerebral mínima). As dificuldades para objetivar
Em qualquer etapa educacional do aluno a existência dessa lesão provocaram uma
com TDAH o ideal é que ele seja atendido por mudança importante na conceituação do
profissionais com a devida formação e distúrbio (ROSA, et al, 2008, p.116).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Para melhor compreensão dos distúrbios da Alguns autores acham que o efeito destes
atenção vinculados à hiperatividade, pode ser estimulantes é devido à alteração nos
útil a referência ao desenvolvimento normal do mecanismos dos neurotransmissores, como
controle da atenção, no qual se pode distinguir serotonina, dopamina ou norepinefrina, o que
várias fases. coincide com algumas hipóteses sobre as
Nos estudos feitos por Mussen (1978), as causas.
crianças pobres entram na escola com uma As crianças com TDAH frequentemente se
desvantagem inicial, pois, em média, elas isolam, já que são discriminadas pelos colegas,
obtêm piores resultados em tarefas intelectuais instalando-se, muitas vezes, depressão e baixa
e em testes de inteligência, quando autoestima. Por isso, a necessidade de uma
comparadas às crianças que possuem mais prática pedagógica eficiente, que o professor
condições de estarem em constante contato conheça os benefícios de uma prática lúdica,
com a cultura e com brinquedos interativos e interativa e que possa contribuir com o avanço
pedagógicos. cognitivo deste aluno, em todos os sentidos.
No entanto, ele também faz uma ressalva Vários dados confirmam a ideia de que os
com relação às crianças com TDAH: há diversos fatores genéticos contribuem para a
meios para superar as deficiências cognitivas determinação de necessidades educativas, mas
por meio da instrução, e com bons resultados, esse diagnóstico só é apontado por meio de
visto que, para elevar o nível intelectual, é exames minuciosos.
necessário, também, colocá-lo no meio social e A consideração dos problemas de equilíbrio,
então propor maior interação. segundo Piaget, é, portanto, indispensável para
Como a espécie humana apresenta, entre as explicações biológicas e psicológicas. Não se
outras características, um padrão de conduta deve insistir nesta necessidade no que se refere
anti-seletivo, a preocupação com estas às teorias da aprendizagem, pois ela é óbvia,
dificuldades existe. Assim, quando essas desde que se caracterize a aprendizagem como
dificuldades persistem (apesar do emprego de modificação duradoura (equilibrada) do
recursos didáticos e de um meio apoiador, o comportamento, em função das aquisições
que nem sempre é garantido a estas crianças), devidas à experiência. O desenvolvimento é
somos levados a diagnosticar um Transtorno de progressivo, uma passagem contínua de um
Aprendizagem (ASSUMPÇÃO & KUCZYNSKI, estado de menor equilíbrio para um estado de
2003, p.337). equilíbrio superior (PIAGET, 2009).
O tratamento psicofarmacológico é feito
com o uso de estimulantes, como a
dextroanfetamina (dexedrina) e do
metilfenidato (ritalina). Os mecanismos de ação
destas substâncias ainda são desconhecidos,
mas, muitas pesquisas demonstram eficácia,
porque a pessoa com TDAH têm uma
subestimulação do Sistema Nervoso Central.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A forma como o professor trabalha reflete, diretamente, no ambiente da sala de aula,
interferindo, significativamente, na maneira como o aluno se posiciona diante dos conflitos e
impactando no desenvolvimento moral que a criança irá construir ao longo de seu
desenvolvimento.
A dificuldade em formar profissionais que fazem uso do conhecimento como meio
transformador da realidade de quem estão educando, remete à identificação das causas de
fracassos como: a má-formação dos profissionais de educação; a desvalorização da profissão de
docência; a consequente baixa remuneração de suas atividades; e o pouco investimento em
programas de educação continuada para os professores.
O cotidiano escolar é uma referência para a criança. Nele estão inseridos o compromisso
do professor com sua aprendizagem e a construção de conhecimentos e valores que ele levará
para a vida toda. Sendo assim, a sala de aula também deve ser um espaço de amizade e troca de
experiências e novas ideias.
O professor deve orientar, direcionar, focalizar, ampliar, questionar e enriquecer o olhar e
a interpretação dos alunos, em relação ao texto que está sendo trabalhado, auxiliando-os a
considerarem também outros aspectos que não haviam percebidos, a levarem em consideração
as ideias e opiniões de outros, a estabelecerem relações com outros textos, com sua realidade e
com diferentes conhecimentos.
Uma das principais limitações que o professor encontra em sua prática pedagógica é a
ausência de materiais e de subsídios teóricos sobre ludicidade para alunos com Transtornos de
Déficit de Atenção/Hiperatividade. É preciso mais pesquisas e investimento em atividades
práticas diárias, para que estes alunos tenham maior autonomia e independência.
É preciso considerar que a interação é uma das possibilidades para que o aluno com TDAH
reconheça-se na ação e identifique o outro como colaborador na sua aprendizagem. Portanto, é
de fundamental importância a prática individual de atividades lúdicas com brinquedos e jogos
pedagógicos, bem como sucatas, dobraduras e recortes de papel, fantoches etc.
Em suma, são muitos os caminhos a seguir com a criança que possui TDAH. Os profissionais
de educação dos primeiros anos do Ensino Fundamental devem procurar entender melhor o que
significa essas ações lúdicas para alunos com TDAH, para que sejam garantidos os melhores
aproveitamentos dos conteúdos e, consequentemente, sua inserção na sociedade e o direito ao
prosseguimento dos seus estudos.
Como demonstram os estudos de prevalência do TDAH, já se pode considerar a pesquisa
segregada por gênero. Assim, é possível cercar melhor as variáveis relevantes ao desenvolvimento
social da criança com TDAH, identificando os casos diagnosticados.
Investigações relacionadas ao nível socioeconômico e etnia também se fazem necessárias,
bem como a atenção às comorbidades, ou seja, quando duas ou mais patologias estão
etiologicamente relacionadas. Tudo isso é crucial para um melhor entendimento e estudo do
TDAH.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Ao mesmo tempo em que as pesquisas avançam, contornando obstáculos e buscando


melhores resultados, o diálogo com a sociedade se faz necessário. Pais e educadores também são
importantes aliados no atendimento a esse público e na melhoria de sua qualidade de vida.

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REFERÊNCIAS
ANDRÉ, M.E.D.A. Pedagogia das diferenças na sala de aula. Campinas: Papirus, 1999.

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1402
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O SUDESTE ASIÁTICO AOS OLHOS DE


HOLLYWOOD: ANÁLISE DOS FILMES O REI E EU
(1956) E ANNA E O REI (1999)
Ligia Lemos Sousa Nery de Castro1

RESUMO: Este artigo propõe uma análise comparativa entre duas produções cinematográficas
hollywoodianas - O Rei e Eu (1956) e Anna e o Rei (1999). Defende-se que ambos os filmes
participam da construção de uma visão hegemônica sobre o Oriente, especificamente sobre o
Sudeste Asiático, ajudando a promover e reforçar estereótipos por meio de um produto cultural
de massa. Acreditamos que as considerações aqui realizadas podem auxiliar o trabalho de
professores que, constantemente, fazem uso de filmes históricos em sala de aula, destacando a
importância da análise crítica das narrativas cinematográficas.

Palavras-Chave: Cinema; Hollywood; Sudeste Asiático; Filmes históricos.

1Professora de Ensino Fundamental II, na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em História; Especialização em Educação e Tecnologias.
E-mail: ligia.lemos01@gmail.com

1403
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO levar em conta tanto os aspectos mais


explícitos como os mais implícitos, estes,
Este artigo propõe uma análise comparativa segundo a autora, os mais reveladores das
entre duas produções cinematográficas ideologias que a narrativa deseja inculcar.
hollywoodianas - O Rei e Eu (1956) e Anna e o Após a realização destas etapas, o
Rei (1999), partindo do entendimento de que expectador-pesquisador estaria pronto para
ambos os filmes participam da construção de uma última etapa, que propiciaria a produção
uma visão hegemônica sobre o Oriente, de um conhecimento histórico sobre o filme.
especificamente sobre a Tailândia (antigo Sião), Esta etapa “consiste na comparação do
país localizado no Sudeste Asiático. conteúdo apreendido do filme com os
Antes de passarmos propriamente à análise conhecimentos histórico-sociológicos acerca da
dos filmes, é importante nos determos, ainda sociedade que produziu o filme e com outros
que brevemente, à especificidade da tipos de filme” (Idem, p.5;6).
abordagem do cinema como fonte histórica. Em relação aos filmes que são objeto de
Segundo Nova (1996): estudo neste trabalho mais um aspecto
Foi somente a partir da década de 1970 que importante deve ser considerado. Trata-se de
o filme começou a ser visto como um possível filmes históricos: obras que, a partir de um
documento para a investigação histórica. Isso determinado presente, constroem
se deu em consequência de um processo de representações “históricas” sobre um
reformulação do conceito e dos métodos da determinado passado. Dentre as diferentes
História, iniciado com o desenvolvimento da tipologias de filmes históricos elencadas por
Escola dos Anais, na França. O filme, seja qual Nova, consideramos que os filmes aqui
for, desde então, passou a ser encarado analisados se enquadram na categoria das
enquanto testemunho da sociedade que o “reconstruções históricas”, que corresponde
produziu, como um reflexo — não direto e aos filmes que:
mecânico — das ideologias, dos costumes e das abordam acontecimentos históricos cuja
mentalidades coletivas (NOVA, 1996, p.1). existência é comprovada pela historiografia e
Ao formular um modelo geral para o estudo que contam com a presença de personagens
de filmes por analistas não muito familiarizados históricos reais no seu enredo (interpretados
com a teoria do cinema ou aprofundados na por atores), cuja fidelidade é relativa e se
leitura dos estudos históricos sobre o tema, modifica de um filme para outro. Não se trata
esta historiadora propõe um roteiro bastante apenas dos filmes em que se realiza uma
útil. Em sua proposta, deve-se partir da “crítica reconstrução audiovisual do passado (o que
externa do filme” (o estudo do contexto dificilmente é levado às últimas consequências)
histórico em que o filme foi produzido, ou mesmo dos fatos, mas também daqueles em
levantamento da equipe de produção e das que são esboçadas interpretações históricas,
agências financiadoras, entre outros aspectos) utilizando fatos comprovadamente reais (IDEM,
para depois chegar à “crítica interna” (ao p.11).
conteúdo do filme). Esta segunda etapa deve

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os dois filmes baseiam-se em roteiros Acreditamos que as considerações aqui


adaptados de uma mesma obra literária: o realizadas, por meio da análise de alguns
romance Anna and the King of Siam, publicado aspectos dos dois filmes mencionados, podem
em 1944 pela escritora estadunidense auxiliar o trabalho de professores que,
Margaret Landon. Este, por sua vez, é baseado constantemente, fazem uso de filmes históricos
nos diários de Anna Leonowens, uma em sala de aula, muitas vezes na tentativa de
governanta britânica que vai para o Sião (atual tornar alguns conteúdos curriculares da
Tailândia) durante os anos 1860, contratada disciplina História mais atraentes para os
para ser preceptora dos filhos do Rei Mongkut. estudantes por meio da narrativa audiovisual.
O mesmo enredo já tinha dado origem a outra Por vezes, no processo de ensino com este tipo
produção cinematográfica, o filme Anna e o Rei de suporte, estamos sujeitos a reforçar
do Sião (1946), mas ganha projeção e representações estereotipadas se não fizermos
popularidade a partir do musical da Broadway um estudo prévio e aprofundado, tanto sobre
produzido em 1951 pela bem sucedida dupla os filmes a serem utilizados como sobre o
Richard Rodgers e Oscar Hammenstein. cinema de modo geral.
A existência de tantas obras relacionadas a Partindo destas considerações,
uma mesma narrativa em comum - o cotidiano apresentamos este exercício de análise,
de uma governanta ocidental trabalhando na buscando encarar os dois filmes - O Rei e Eu
corte de um rei oriental - revela a persistência (1956) e Anna e o Rei (1999), como documentos
no tempo de uma representação que é o históricos e procurando perceber as
argumento central desta história: a existência transformações e permanências do argumento
de um choque de civilizações entre Oriente e do choque de civilizações que acreditamos ser
Ocidente, representação esta que caracteriza o o fio condutor de ambas narrativas.
caráter cristalizador do discurso orientalista, na
acepção defendida por Edward Said. O REI E EU (1956)
Para Said (2007), a teoria do choque de
O Rei e Eu (1956), é, sem dúvida, um dos mais
civilizações é insustentável dado o caráter
famosos musicais do cinema de Hollywood,
extremamente essencialista e imutável de suas
gênero de grande sucesso nos Estados Unidos
generalizações acerca da cultura.
entre as décadas de 1940 e 1960. Dirigido por
Isso é um absurdo, pois um dos grandes
Walter Lang, a grandiosa produção da 20th
progressos na moderna teoria cultural é a
Century Fox teve cenas totalmente gravadas
percepção, quase universalmente reconhecida,
em estúdio, o que exigiu um grande
de que as culturas são híbridas e heterogêneas,
investimento na detalhada reconstrução do
e de que, como argumentei em Cultura e
que imaginavam ser o reino do Sião em 1862 na
Imperialismo, as culturas e as civilizações são
Los Angeles da década de 1950. A produção
tão inter-relacionadas e interdependentes a
perdeu o Oscar de melhor filme, mas levou os
ponto de irem além de qualquer descrição
prêmios de melhor ator principal, direção de
unitária ou simplesmente delineada de sua
arte, trilha sonora e figurino, além do Globo de
individualidade (SAID, 2007, p.460).
Ouro de melhor filme.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Estrelam o filme Deborah Kerr, como Anna, e a hegemonia econômica norte-americana


Yul Brynner, no papel do rei Mongkut. É (GUERRA, 2011, p.103).
interessante como a trajetória de Brynner se A indústria cinematográfica de Hollywood -
confunde com a deste personagem. Este foi o grande veículo homogeinizador e propagador
principal papel de sua carreira, que da ideologia norte-americana - funcionaria,
representou nos palcos ao longo de 30 anos segundo Guerra (2011), como justificativa
(estava no musical de Rodgers e Hammenstein perante o grande público para interesses dos
desde a estreia em 1951), e também na Estados Unidos em uma região tão distante e
televisão em uma série na década de 970. Sua desconhecida pela maioria dos cidadãos.
interpretação se tornou sinônimo de como O filme de 1956 transpõe para as telas a
tratar comicamente a figura de um “déspota versão do musical de Rodgers e Hammenstein.
oriental”. Nela, o caráter cômico e leve são os mais
Em um artigo que compara os filmes Anna e ressaltados. Tudo gira em torno do embate
o Rei do Sião (1946) e O Rei e Eu (1956), Guerra entre os personagens Anna, uma governanta
(2011), traça um panorama do contexto inglesa contratada para ser preceptora do
geopolítico do tempo de produção, enfatizando herdeiro do trono, e Rei Mongkut.
os interesses dos Estados Unidos no Sudeste Diferentemente da versão de 1999, trata-se de
Asiático no período pós Segunda Guerra um musical. Não há grandes diálogos e as
Mundial. inquietações dos personagens sempre acabam
A situação política siamesa associada ao servindo como mote para a entrada de canções.
momento que Anna descreve nas suas Como não é nossa intenção aqui reconstituir
memórias, é a cifra do que estava acontecendo detalhadamente o roteiro do filme,
no Sudeste Asiático no seu todo, por altura da destacaremos alguns pontos que consideramos
estreia de ambos os filmes: em 1946, em plena pertinentes para perceber as representações
II Guerra Mundial a se desenvolvendo no sobre o Oriente que o filme oferece.
Pacífico, sua frente mais dramática, e dez anos Em seu primeiro encontro com Anna, depois
mais tarde, em 1956, antecedendo a invasão dela passar pelo estranhamento com a
norte-americana ao Vietnam, em mais uma população siamesa a beira do porto, o rei
investida no pós-guerra. (...) A vitória dos explana suas intenções: “Faz parte de um plano
Aliados na II Guerra Mundial e o advento da geral que eu tenho trazer para o Sião o que há
Guerra Fria lançaram os EUA, em meados de 40, de bom na cultura ocidental. Já tenho máquinas
à conquista de bases asiáticas que servissem impressoras!”. O desejo do Rei é colocar o Sião
sua política externa tanto no que à contenção entre as nações modernas por meio do
do avanço do comunismo soviético dizia pensamento científico representado por Anna,
respeito, como que lhes permitisse consolidar o gesto comum a outros reinos e impérios não
sistema econômico liberal à escala planetária, europeus ao longo do século XIX dentro da
implicando para tal a supressão das economias dinâmica do imperialismo. Assim, imitar os
tradicionais asiáticas, consolidando deste modo dominadores, por meio de processos de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

reforma, seria aproximar-se destes, evitando a obediência ao rei. Na construção desta


dominação. oposição, a história paralela da princesa Tuptim
Contudo, as intenções deste rei são ganha sentido, já que ela sofre por um amor
mostradas no filme sempre de forma cômica. que não consegue consumar, pois é esposa do
Mongkut é o personagem mais engraçado do rei - no Oriente, nem o amor é possível.
enredo. Suas ideias são tolas (quer mandar A questão do amor conjugal é só um
elefantes para ajudar o Presidente Lincoln na elemento dentro de um contraste maior, entre
Guerra Civil Americana); seu conhecimento é privação e liberdade, também abordado
limitado (desconhece as diferenças entre quando o filme trata do tema da escravidão.
pensamento científico e religioso); seu Afinal, o Ocidente é a terra da liberdade,
comportamento é infantil (sintetizado na discurso que oculta tanto o tratamento das
repetição incessante da expressão “etcétera, populações não escravizadas nos domínios
etcétera, etcétera” que se tornou marca imperiais ingleses no século XIX -(época
registrada do filme). Essa imagem infantilizada retratada no filme), como a realidade da
se contrapõe à figura do rei como déspota, que política de segregação racial nos Estados
também marca o filme: o ato de curvar-se ao Unidos no período no qual o filme foi
chão perante sua presença, o açoitamento de produzido.
uma de suas esposas, a presença de escravos, a Anna também é o que podemos chamar de
exigência de que tudo seja feito conforme sua personagem-metáfora. Mais do que um
vontade. indivíduo, ela representa a visão do Ocidente
O contraponto à figura do rei é Anna, a sobre o Oriente. É ela quem ensina o distante
professora inflexível que, quebrando todos os reino oriental a modernizar-se. Inicialmente,
protocolos, desafia as designações do rei a ela quer apenas conhecer uma cultura
ponto de conquistar sua confiança, inclusive diferente da sua, desejo inocente expresso na
para lhe sugerir o que deve ou não ser feito no canção Getting to know you (Deixe-me
reino do Sião. Ela também representa o ideal da conhecê-los) que Anna canta com seus alunos
mulher moderna - não da Europa do século XIX, durante uma aula de geografia, na qual intenta
mas a dos Estados Unidos dos anos 1950. Anna mostrar a miudeza do Sião diante da
é independente e tem opinião própria. Sua grandiosidade do mapa mundi. Mais adiante,
personalidade ganha ainda mais força dentro ela se vê responsável pelos destinos do Sião:
da narrativa do filme, pois é posta em oposição não pode deixar o país, mesmo repugnando as
à representação ocidental sobre a mulher do atitudes incivilizadas do rei, encarnando a
Oriente. versão feminina do fardo do homem branco.
Em O Rei e Eu também há um harém, no qual Por fim, a morte do rei Mongkut leva ao ápice
vivem as inúmeras esposas e concubinas do rei a ideia do choque de civilizações. No filme, o rei
Mongkut. O jogo de oposição colocado pelo cai doente após não conseguir açoitar a esposa
filme é entre o amor livre - Anna escolheu se que lhe traiu, Tuptim, pois sente vergonha
casar com seu falecido esposo - e os diante de Anna, por quem está apaixonado. O
casamentos arranjados - as esposas devem amor que sente por Anna, embora

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

correspondido, é impossível de ser blockbuster, como Para Sempre Cinderela


concretizado dadas as diferenças culturais, (1998), Doce Lar (2002), e Hitch - Conselheiro
entendidas no discurso do filme como Amoroso (2005).
estanques e essencializadas. Anna sempre será Mesmo com um grande orçamento,
uma mulher inglesa de princípios e dona de si, estimado em 75 milhões de dólares, cenas
enquanto que Mongkut sempre será um filmadas na Malásia, figurino premiado com o
déspota, não importa os esforços que faça. Oscar e a estrela Jodie Foster no papel principal,
O rei também tem que morrer para tornar Anna e o Rei não alcança o sucesso de seu
possível a modernização do Sião. Na cena final, predecessor. Talvez porque, buscando alcançar
enquanto a personagem Anna segura a mão do os fãs filme, a versão de 1999 tenha se afastado
rei em seus derradeiros suspiros, o príncipe demais da anterior. O que assistimos em Anna
herdeiro dita suas primeiras proclamações, e o Rei (1999), é um filme dramático, ainda uma
sendo uma delas a proibição da saudação ao rei história de amor impossível entre civilizações
ajoelhando-se ao chão. Na fala do pequeno que se chocam, mas que objetiva construir uma
monarca, os homens devem ficar de pé, em representação no estilo “como realmente deve
igualdade, mostrando dignidade perante os ter sido”.
outros. Embora traga diversos elementos em caráter
Trocando “homens” por “nações”, a fala de homenagem à produção de 1956 (há cenas
deste último personagem serve de indicativo e diálogos praticamente idênticos), o filme de
sobre qual deveria ser a postura da política 1999 traz diversos elementos que não estão
internacional do Sião de um rei treinado por presentes na narrativa de 1956 e que são
uma tutora inglesa: tentar colocar-se em pé de reveladores do tempo de produção do filme.
igualdade com as potências europeias, dando Assistindo ao filme ficamos com a sensação
continuidade ao processo de reformas, para constante de que ele intenta corrigir seu
não ajoelhar-se diante delas, mantendo os antecessor, já que o conceito de que existem
“ideais de independência” que os Estados civilizações superiores e inferiores, bastante
Unidos afirmar defender pelo mundo, presente no filme de 1956, não é mais
sobretudo no contexto da Guerra Fria no qual o universalmente aceito - ou, pelo menos, não é
filme foi produzido. politicamente correto, ainda que a política de
relações internacionais reforce a opinião em
ANNA E O REI (1999) contrário.
Exemplar dessa mudança é a caracterização
Quarenta e três anos depois os estúdios Fox
do personagem do rei Mongkut. Este nos é
resolvem, atentos ao público fiel que durante
apresentado como alguém extremamente
gerações vinha seguindo a história de Anna
sábio e sensato, conhecedor da cultura
Leonowens nos palcos e nas telas do cinema e
ocidental sem perder a centralidade de sua
televisão, produzir uma nova versão para o
cultura, baseada na filosofia budista, excelente
clássico de 1956. Assim, em 1999 é lançado o
estrategista militar e político, tanto que
filme Anna e o Rei, dirigido por Andy Tennant,
consegue manter a independência de seu país,
diretor de filmes românticos do gênero

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

enquanto seus vizinhos caem ora como mito; o rei Mongkut tem muitas esposas
protetorados britânicos (Burma, atual porque o Sião é, assim como a Grã-Bretanha,
Myanmar), ora domínios territoriais franceses uma monarquia que precisa de sucessores. Ela
(Vietnã e Camboja, no século XIX Indochina chega a rejeitar o Império Britânico nos trechos
Francesa). finais do filme, quando discorda as estratégias
Em Anna e o Rei (1999), em paralelo à trama ardilosas da Inglaterra pra dominar a região.
do romance entre os protagonistas, corre o Por esses e outros pontos, podemos
enredo que tenta mostrar ao público a perceber que a narrativa do filme tenta,
dinâmica imperialista no Sudeste Asiático: rei sistematicamente, construir uma
Mongkut tem que articular uma rede tensa de representação do contexto no qual teria se
relações com seus vizinhos, as potências dado a relação entre os personagens Anna e
europeias e as tentativas de golpe dentro do Mongkut, buscando esclarecer os conflitos
próprio reino. A grande cena do banquete, ligados ao imperialismo que justificariam as
também existente no filme de 1956 - servindo, ações de ambos os personagens. Ao fazê-lo, o
naquela ocasião, tanto para tornar ainda mais filme atribui a personagens do século XIX
risível a postura do rei como para propiciar um valores e debates que começam a se afirmar a
espetáculo de teatro clássico tailandês - é usada partir da segunda metade do século XX, quando
na versão de 1999 para clarificar diante o o processo de descolonização e o surgimento
expectador o jogo de forças das relações dos chamados estudos culturais colocam em
políticas na região. cheque a afirmação da superioridade ocidental
Durante o banquete, seguindo a tradição das e a existência de culturas puras.
cortes europeias, o rei Mongkut propõe um Por estes e outros elementos o filme seduz o
tópico para discussão: os convidados devem expectador acostumado a assistir
falar sobre a instauração do poder imperial por representações mais grotescas do Oriente.
meio do comércio. No auge da controvérsia, Anna e o Rei (1999) toca em algo fundamental
respondendo a um representante de uma a respeito do Sião que o filme o distingue de O
companhia comercial, a personagem Anna se Rei e Eu (1956): a força de um reino asiático
levanta e afirma: “Não me recordo se alguém que, a duras penas, consegue se manter
tem o direito de julgar qual cultura é superior, independente mesmo sendo acossado o tempo
especialmente quando os que julgam o fazem todo pelas potências ocidentais. Contudo, este
na ponta de uma baioneta”. encantamento não pode disfarçar o fator do
A personagem Anna também se torna mais lugar pelo qual a narrativa está sendo pensada:
complexa. Logo nas primeiras cenas, sua o ponto de vista ainda é ocidental.
nacionalidade britânica é questionada por seu Isso fica ainda mais claro quando
filho, já que eles sempre viveram na Índia. No acompanhamos o desenvolvimento do enredo
trabalho com seus alunos ou nos diálogos com da personagem Tuptim. Novamente temos a
seu filho, várias vezes a personagem estabelece submissão oriental feminina contraposta à
paralelos entre o Sião e a Inglaterra: ambos liberdade de Anna. Assim como no filme de
possuem lendas, afinal Camelot também é um 1956, ela é descoberta por trair o rei. Mas ao

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contrário do que acontece naquele filme, sua


execução, com todos os requintes de crueldade
e suntuosidade ritual, é destacada em uma
longa cena que alterna três espaços: o local
onde Tuptim está sendo decapitada, a angústia
de Anna em sua casa, e o sofrimento do rei no
templo budista por ser obrigado a fazer o que
não quer em nome da tradição.
O desfecho feliz - Mongkut não morre e o
Sião segue independente - esconde a força da
dominação ocidental na região. O amor entre
os dois continua sendo impossível, já que eles
fazem parte de civilizações opostas, não
importa o quão culto e atraente seja o rei
Mongkut. Anna segue para a Inglaterra para
fugir do amor que sente pelo rei.
Após a última cena - uma valsa em silêncio
entre os dois protagonistas - uma mensagem é
inserida sob o fundo preto da tela,
demonstrativa da importância dos valores
ocidentais para o progresso do Sião e outro
elemento de ligação entre os dois filmes, ao
apostar na promessa do príncipe herdeiro
educado dentro dos princípios ocidentais.
Graças à visão de seu pai, Rei Mongkut, e aos
ensinamentos de Anna Leonowens, o Rei
Chulalongkorn não só manteve a
independência do Sião, mas também aboliu a
escravidão, instituiu a liberdade religiosa e
reformou o sistema judicial (TENNANT,1999,
s.p).
Continua a concepção de que os ocidentais -
tanto Anna como aqueles que educaram o rei
Mongkut - são os responsáveis por levar justiça
e liberdade ao mundo, tarefa que, na virada
para o século XXI, estaria sob responsabilidade
dos Estados Unidos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final deste exercício de análise comparativa, pudemos perceber o quão relevante é o
estudo das produções cinematográficas para o entendimento da construção de representações
hegemônicas em relação ao Oriente. Ao lado da mídia jornalística, talvez seja o cinema o grande
garantidor da longevidade do discurso orientalista. Com o estatuto de verdade propiciado pelas
imagens - eu vi, portanto isto é real - o filme leva adiante visões de mundo contorcidas por
conceitos pré-estabelecidos. Mesmo nos filmes mais “inocentes” - um musical adorado e um
romance “água-com-açúcar” - percebemos a reprodução de estereótipos e ideologias.
Tais considerações sobre os filmes históricos não devem passar despercebidas pelos
professores que, constantemente, fazem uso de filmes deste tipo em contexto de sala de aula, na
tentação de querer ilustrar determinados conteúdos curriculares, tornando-os mais atraentes
para os estudantes. Portanto, é preciso aprofundamento e estudo, para compreender que filmes
históricos são documentos que devem ser analisados em dupla perspectiva.
Como fontes primárias, ambos os filmes revelam elementos do momento em que foram
produzidos (respectivamente, 1956 e 1999). Enquanto fontes secundárias, nos oferecem
representações de passado variadas sobre um mesmo processo histórico. Como ocorre em outros
filmes chamados de históricos, “o retorno ao passado funciona como um instrumento de
ocultação de um conteúdo presente que se deseja passar para o espectador” (NOVA, 1996, p.8).
Esperamos ter conseguido explorar pelos menos alguns destes elementos ocultos.

1411
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1412
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O TRABALHO DOCENTE:
RELAÇÕES PERCEBIDAS ENTRE O FILME “ENTRE
OS MUROS DA ESCOLA” E O TEXTO “SOBRE
JEQUITIBÁS E EUCALIPTOS”
Catia Cristina de Melo Ferreira1

RESUMO: A obra cinematográfica Entre os Muros da Escola, Cantet (2008) e o texto Sobre
Jequitibás e Eucaliptos Alves (1980), nos mostra os desafios da escola e do professor em
conseguirem se tornar interessantes para o aluno, para estabelecer uma relação de ensino-
aprendizagem concreta, na qual nenhum currículo universal se sobreponha à realidade cotidiana,
ou seja, a busca para uma educação que faça sentido.

Palavras-Chave: Educação; Cinema; Aprendizagem.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Geografia.
E-mail: c.catinha17@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO imprimindo determinado juízo de valor


negativo. Assim, quando o professor de história
O filme Entre os muros da escola (2008), e geografia propõe trabalharem em conjunto
propõe um interessante debate do trabalho com um livro de Voltaire (Cândido) ele indica
docente, centrando seu roteiro no Professor de não achar que a turma conseguiria realizar a
francês François Marin e na sua turma da 7ª leitura. Da mesma forma, ele se surpreende
série. A escola está localizada no subúrbio de quando uma aluna indica ter lido A república de
Paris e tem o alunado formado principalmente Platão, nesse sentido observa-se um
por adolescentes oriundos da África e Ásia ou movimento de nivelamento por baixo por parte
pertencentes à famílias com ascendência em do professor.
tais regiões. Assim, a referência à cultura árabe
é tratada fortemente durante o filme.
ANALISE COMPARATIVA:
O filme se inicia com uma espécie de reunião
pedagógica, na qual a coordenação da escola “ENTRE OS MUROS DA ESCOLA”
apresenta os docentes às suas turmas. Neste E “SOBRE JEQUITIBÁS E
momento vemos alguns professores
classificarem os alunos como bem
EUCALIPTOS”
comportados, mal comportados, muito mal O filme demonstra em vários aspectos que o
comportados. Um dos professores, ao se comportamento dos alunos e seu rendimento
apresentar deseja força aos novos colegas, escolar são muitas vezes derivados de sua
indicando que logo irá se aposentar. tal fato é condição social. em determinado momento o
indicativo que a tarefa docente é vista é como Professor Marin realiza reunião com a mãe de
algo árduo e penoso, que requer força. um aluno oriundo do Mali no qual fica claro que
A questão da identidade cultural é muito a mulher não fala e nem compreende o francês.
fortemente trabalhada no filme, a maior parte Assim, ela está completamente apartada da
dos alunos da turma do senhor Marin é de vida escolar do filho, não podendo atuar neste
ascendência árabe, vindos de países como Mali, cenário.
Marrocos e Costa do Marfim. A turma se O Professor, apesar de defender muito
mostra muito ligada às questões de sua cultura fortemente a hierarquia em sala de aula e ser
original, questionando o uso de referências à rígido, demonstra grande interesse pelo
cultura europeia e americana por parte do desenvolvimento das capacidades de seus
professor e demandando uma adaptação a seus alunos, destacando as características
valores culturais. O professor parece se individuais de cada um e tentando valorizá-las.
atrapalhar com este indicativo, mas tenta Em reunião de conselho com os demais
contornar a situação de embate cultural professores é enfático ao dizer que as
derivada da discussão em sala de aula. avaliações devem ir além das médias
Outro aspecto interessante do filme é que aritméticas e levar em conta o indivíduo e sua
em certos momentos o Professor Marin parece potencialidade. Apesar disso, parece haver uma
subestimar a capacidade de seus alunos, distância instransponível entre o professor e os
alunos, como se pertencessem a mundos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

diferentes. De um lado o docente, invisível e denso, que se estabelece a dois.


representante das normas e da cultura Espeço artesanal.
(civilizadora e imperialista) francesa, do outro, Mas professores são habitantes de um
os alunos, fortemente marcados pela cultura mundo diferente, onde o “educador” pouco
árabe e que tentam a todo o momento, mesmo importa, pois o que interessa é um “crédito”
com atos de indisciplina, reforçar esta cultural que o aluno adquire numa disciplina
identidade própria, como que se negando a identificada por uma sigla sendo que, para fins
serem integrados à lógica da escolarização institucionais, nenhuma diferença faz aquele
francesa. Os alunos indicam que os conteúdos que a ministra. “Por isto mesmo professor são
passados pelo professor são anacrônicos e entidades “descartáveis”, da mesma forma
deslocados de sua realidade e o professor como há canetas descartáveis, coadores de café
demonstra frustração por não conseguir descartáveis, copinhos plásticos de café
acessar e desenvolver as potencialidades do descartáveis (ALVES ,1980, p.13).
grupo. No filme de Cantet (2008) vemos esse
Em Entre os Muros da Escola (2008), dilema, vivenciado em um só individuo, lutando
podemos observar o dilema do professor x para ser educador em uma instituição que quer
educador proposta por Alves em Sobre professores. Levando em conta o pensamento
Jequitibás e Eucaliptos (1980). O senhor Marin de Alves, podemos estender também o
busca ser educador, valorizando as conceito de descartável também aos alunos,
características individuais dos alunos, uma vez que aqueles que não se encaixam no
adaptando metodologias que objetivam padrão preestabelecido pela instituição são
promover a reflexão e o desenvolvimento das expulsos, deixando de existir naquele universo
capacidades, mas, ao mesmo tempo, está preso e sendo substituídos por outros alunos.
à estrutura do ensino oficial francês, que tem o Alves (1980), deixa claro em seu texto que a
castigo como medida para questões relação educador-professor não é dicotômica,
comportamentais e a nota como medida para no qual um fator exclui o outro, mas sim uma
aferição de aprendizagem de conteúdos. Ele se relação dialética, na qual as duas formas se
vê frustrado por não corresponder nem ao ideal manifestam no mesmo individuo, da maneira
de educador e nem ao ideal de professor. que vemos personificada no professor Marin.
Alves (1980, 13), indica que: Assim, ele é o educador heroico quando no
Eu diria que os educadores são como velhas conselho de professores discursa em prol de
árvores. Possuem uma face, um nome, uma uma educação que vá além de notas e que
“estória” a ser contada. Habitam um mundo em valorize as características individuais dos
que o que vale é a relação que os liga aos alunos, mas é também o professor repressor
alunos, sendo que cada aluno é quando se prende as formas da hierarquia
uma“entidade”sui generis, portador de um vigente e é convivente com a expulsão do
nome, também de uma “estória”, sofrendo aluno.
tristezas e alimentando esperanças. E a Uma das cenas finais do filme é
educação é algo para acontecer neste espaço emblemática: uma aluna indica ao professor

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que não aprendeu nada durante o ano letivo,


pois nenhum conteúdo faz sentido para ela, ela
simplesmente não compreende. Neste
momento observamos uma tentativa de
subversão do quadro pelo professor, que
afirma ela certamente aprendeu algo, contudo
sente-se a angústia e a frustação do docente.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O afastamento entre conteúdo escolar e realidade vivenciada pelos alunos e a dificuldade
de aproximação entres estas dimensões para uma real significação do conhecimento é também
abordado por Alves(1980), quando ele indica que “o discurso da escola ficou, progressivamente,
como algo solto no ar, que não se liga. pelo desejo, nem aos que fazem e conta que ensinam nem
aos que fazem de conta que aprendem”. Os saberes escolares não conseguem significar algo
relevante para os alunos.
Os filmes Entre os Muros da Escola (2008), e de Sobre Jequitibás e Eucaliptos(1980),
refere-se sobre a necessidade de a escola e o professor, por meio dos conteúdos ministrados,
conseguirem se tornar interessantes para o aluno, despertando e prendendo sua atenção,
estabelecendo uma relação de ensino-aprendizagem concreta, na qual as individualidades sejam
levadas em conta e que nenhum currículo universal se sobreponha à realidade cotidiana. A
educação precisa fazer sentido.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALVES, R. Sobre Jequitibás e Eucaliptos. In: Conversa com quem gosta de ensinar. São
Paulo, Cortez, 1980.p. 9;26.

CANTET, Laurent. Direção de: Entre os Muros da Escola (Entre Les Murs, França),2008.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA


APRENDIZAGEM UNIVERSITÁRIA
Edileuza da Conceição Ferreira1

RESUMO: Desde o início do século XXI, podemos perceber as grandes mudanças e transformações
que vem ocorrendo em nossa sociedade, e estas mudanças vem acontecendo em diferentes
esferas, principalmente na educação. Mas será que a educação está acompanhando essas
transformações em seus diferentes níveis. No que se refere ao ensino superior essas mudanças e
transformações significam novos desafios, tanto aos docentes, quanto às instituições, mediante
ao novo modelo de sociedade e ao avanço tecnológico. Hoje em dia os alunos possuem acesso as
informações por diferentes meios e um dele é o tecnológico. Estão todo tempo conectados e
muitas vezes trazem assuntos para a sala de aula, dados que o professor ainda desconhece. Se o
aluno tem acesso a todos esses meios, se torna necessário o professor se capacitar para tal,
precisa desconstruir algumas teorias de que sempre foi adepto para construir novas
possibilidades. O professor deve procurar um meio da tecnologia estar a favor da aprendizagem
e não lidar com esses meios como um concorrente.

Palavras-Chave: Docência; Aprendizagem; Tecnologia.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Letras/Português e Inglês.
E-mail: ediferreirasp@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO desenvolvimento da autonomia, criatividade,


comunicação e cooperação.
As tecnologias da informação, querendo ou O receio que existe, segundo Serra (2007), é
não, fazem parte na nossa vida, portanto que na utilização da internet, na qual se
devemos estar atentos as suas facilidades e encontra todo tipo de informação das mais
dificuldades. Elas foram criadas para facilitar, variadas fontes, o aluno do ensino superior
diminuir o nosso tempo de pesquisa, aumentar escolha por procurar sínteses de cada
a eficiência e a segurança, agilidade no direcionamento de ideias, sem uma reflexão
desempenho de tarefas e principalmente mais profunda a respeito de cada conceito.
acesso rápido a informação em tempo real. Assim, o professor do ensino superior deve
Portanto devemos estar atentos a alguns estar preparado para tais desafios, deve
fatores que se não soubermos utilizar as procurar melhorar o olhar de seu aluno para
tecnologias podemos nos prejudicar como, não estas inovações, direcionar seu aluno para a
sabermos diferenciar o seu uso livre do seu uso criticidade, fazê-lo entender o que a Era da
educacional e profissional, sobrecarga de Informação pode ter de positivo e negativo e ao
informações ou mesmo informações mesmo tempo mostrar a importância da
infundadas. Na verdade, a tecnologia é uma reflexão, da leitura, do conhecimento de outros
ferramenta, e seu bom uso vai depender de meios de informação. Portanto cabe as
quem a manipula, por isso se faz necessário instituições de nível superior se apropriar
conhecimento e aprendizagem. desses meios tecnológicos, saber usá-los, mas
Massetto (2003), chama a atenção para o sem se esquecer dos clássicos, das teorias, pois
fato de que: por meio destes o aluno pode se entender
[...] a sociedade brasileira vive, em diversos como parte pertencente da história e da
níveis, o desenvolvimento tecnológico que humanidade e as diferentes transformações ao
afeta dois aspectos que são o coração da longo do tempo.
própria universidade: a produção e divulgação
do conhecimento e a revisão das carreiras
ENSINAR E APRENDER
profissionais.(...) Hoje, sabemos que as funções
Consideramos agora neste processo ensino
de produzir e socializar o conhecimento podem
aprendizagem o que é ensinar, o que é
ser realizadas por outras organizações, outros
aprender e quem são esses novos alunos e
centros, ambientes e espaços, tanto públicos
professores na atualidade e seus desafios.
como particulares( MASSETTO, 2003, p. 13).
A relação de ensinar e aprender que se
As instituições de ensino superior devem
estabelece na relação professor-aluno é muito
perceber a importância e a necessidade de se
mais complexa do que a simples transmissão de
abrir para novos conhecimentos, novas formas
conteúdos, como alguns pensam e fazem.
de possibilidade de produção e construção das
Segundo Freire (2007):
aprendizagens e de pesquisa, utilizar a
É neste sentido que ensinar não é transferir
tecnologia como aliada no processo e
conhecimentos, conteúdos nem formar é ação
pela qual o sujeito criador dá forma, estilo ou

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há professor possa levar em consideração as


docência sem discência, as duas se explicam e experiências que seus alunos possuem, suas
seus sujeitos apesar das diferenças que os vivências e história.
conotam, não se reduzem à condição de objeto Sob essa perspectiva, salientamos a
um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar concepção de Anastasiou (2003), que considera
e que aprende ensina ao aprender (FREIRE, o verbo ensinar como portador de duas
2007, p.23). dimensões: uma utilização intencional e uma de
Dizemos que é complexa e desafiadora por resultado, ou seja, a intenção de ensinar e a
ser esta relação mediada por diferentes fatores efetivação dessa meta pretendida. Essa autora
e está inserida e diversos contextos, social, também identifica a diferença entre os termos
cultural, político e psicológico. O ato de ensinar aprender e apreender. Podemos afirmar que
revela uma experiência ampla, como já nos dois verbos há uma relação entre os
falamos, por ser um processo de construção de sujeitos do conhecimento.
identidade, de conhecimento, uma relação Para apreender é necessário agir, exercitar-
social, na qual envolve diferentes personagens. se, capacitar-se, já aprender significa tomar
Ensinar então significa comunicar, mas não conhecimento, reter na memória mediante
apenas. Ensinar, de acordo com Nóvoa (2007), estudo, receber a informação. Sendo assim,
vai além, pois o docente não pode se posicionar Anastasiou (2003), considera que é importante
no senso comum, preparando a mesma aula distinguir quais ações estão presentes na meta
diariamente, utilizando como referências as que estabelecemos ao ensinar.
mesmas estratégias que observou seus Segundo Freire (2007):
próprios professores utilizarem em outras Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e
épocas e realidades ou, ao ouvir seu colegas foi aprendendo que socialmente que,
comentando sobre a defasagem de historicamente, mulheres e homens
conhecimento dos alunos e sobre o descobriram que era possível ensinar. Foi
desinteresse que apresentam em sala de aula, assim, socialmente aprendendo, que ao longo
preparar unicamente aulas expositivas e dos tempos mulheres e homens perceberam
automáticas, pois considerar que de qualquer que era possível – depois, preciso – trabalhar
forma, se empenhando ou não na busca de maneiras, caminhos, métodos de ensinar.
estratégias capazes de auxiliar no processo de Aprender precedeu ensinar, ou, em outras
aprendizagem de seus alunos, estes não se palavras, ensinar se diluía na experiência
interessarão. realmente fundante de aprender. Não temo
Segundo Freire (2007), ensinar não é dizer que inexiste validade no ensino de que
transferir conhecimento, mas criar a não resulta um aprendizado em que o aprendiz
possibilidade para sua produção e construção. não se tornou capaz de recriar ou de refazer o
Assim ensinar é possibilitar ao aluno o ensinado que não foi apreendido não pode ser
conhecimento da existência de diferentes tipos realmente aprendido pelo aprendiz(2007,
de ferramentas, no qual o professor é o p.24).
mediador neste processo. É necessário que o

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O que vem acontecendo com os cursos científico e senso comum, ciência e cultura,
oferecidos nas universidades, a grande teoria e prática; explorar novas alternativas
quantidade de ingressantes e no decorrer do teóricas- metodológicas em busca de
curso o enorme número de evasão. Podemos possibilidades de escolha; procurar renovação
destacar inúmeros fatores para tais problemas, da sensibilidade ao alicerçar-se na dimensão
Fatores institucionais, sociais e outros estética, no novo, no criativo, na inventividade;
relacionados ao próprio aluno. e atribuir aética um significado importante a ser
Os fatores institucionais se referem a cursos lembrado no espaço educacional.
não atrativos, professores despreparados, Diante da teoria da autora é necessária que
insuficiência de infraestrutura, ausência de o professor inove, que abandone teorias que
motivação. Aspectos sociais: o horário de hoje não fazem mais sentido, que não dão
trabalho do aluno é incompatível com os significado a realidade do aluno. Para que a
horários das aulas, famílias desestruturadas, aprendizagem seja significativa, a instituição de
condições insuficientes. Quanto ao aluno ensino superior, o professor tem que ter como
podemos citar desinteresse, estresse, um dos objetivos desenvolver a autonomia do
indisciplina, defasagem no ensino de base entre aluno, fazendo com que tenha autogoverno em
outros. Também não podemos nos esquecer todas as esferas de sua vida, isto é, dar
dos meios tecnológicos, muitos professorem possibilidade do indivíduo tomar suas próprias
possuem dificuldades em manusear, de lidar decisões, com base em seu conhecimento, em
com as novas tecnologias, pois o aluno já vem suas reflexões, em seus valores e cultura. Freire
com acesso a um conjunto de dados e muitas (1996), em seu livro “Pedagogia da Autonomia”
vezes o professor não sabe o que fazer diante refere-se ao processo de contínua construção
destas novas situações. da autonomia, como um processo “inconcluso”
Podemos perceber o grande desafio no de formação de ser homem. O “inconcluso” do
ensino superior no processo ensinar e ser humano é um movimento permanente de
aprender. Cabe tanto as instituições e aos aprendizagem e formação.
alunos um novo olhar, uma nova postura diante A autonomia é assim, o estado do indivíduo
de tantas mudanças e obstáculos no processo pleno como pessoa e profissional e não
de aprender. O modelo tradicional de ensino, preparar o aluno para a autonomia no mundo
baseados na transmissão de conteúdos por de hoje, no qual a comunicação é um dos
meio de aulas expositivas não criam principais fatores de ação política, profissional
possibilidades de aprendizagem. É preciso e pessoal é fazer com que esse aluno seja
oportunizar novas condições de aprendizagem escravo do sistema, um cidadão que não sabe,
Veiga (2006), sugere algumas ações a serem não consegue usar seus direitos, um cidadão e
efetivadas pelos docentes para melhorias do até mesmo um profissional sem a capacidade
processo educativo, sendo elas: romper com a de pensar e opinar. Somente um aluno, um
forma conservadora de ensinar, aprender, indivíduo autônomo possui as condições de
pesquisar e avaliar; reconfigurar saberes, entender o mundo em que vive e suas
buscar superar dicotomias entre conhecimento transformações, e se transformar numa pessoa

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

questionadora, crítica e criativa. Assim para que sabem o que dizem e o que fazem, capazes de
o aluno não se desinteresse pelas aulas e por decidir com autonomia o bem-estar de todos os
seu curso, se faz necessário que ao produzir envolvidos afetados por suas decisões por meio
conhecimento também possa adquirir do resultado de seu trabalho.
autonomia, visto que que aprender é composto O conceito de ensinagem está explicitado em
por condições internas e externas, também é Anastasiou (2003), e foi adotado e foi adotado
importante que o espaço de aprendizagem para significar uma situação de ensino da qual
possa favorecer possibilidades e necessariamente decorra a aprendizagem e na
oportunidades de reflexões. qual a aula expositiva não deva ser a única
Outro desafio na construção das forma de ensinar, apesar de também ser válida
aprendizagens são as aulas monótonas e com como uma das estratégias de ensinagem.
métodos e técnicas ultrapassadas. Muitos Mostrarão a necessidade de renovação
alunos no curso superior além de estudar desse conteúdo. Entretanto, ainda que os
enfrentam uma árdua jornada de trabalho e métodos possam ter um ciclo de vida cada mais
depois de um longo dia, chegar em sala de aula curto quanto à sua forma, o propósito inicial
e encontrar o professor somente transmitindo que fundamenta a adoção dessas novas
conteúdo se torna chato e desmotivador. Esse práticas em sala de aula permanece o mesmo:
é um grande desafio de professores e a aprendizagem de nossos alunos. Essa é a
universidades. razão pela qual é fundamental ter claro o
Mediante esta complexidade ensinar no objetivo de aprendizagem antes da opção por
ensino superior deve ser um processo criativo, um dos métodos apresentados (ANASTASIOU,
no qual o aluno possa se sentir vivo, sinta prazer 2011, p.154).
e interesse em aprender. Alunos e professores Portanto o docente de ensino superior na
devem ser desfiados a todo instante, no qual atualidade deve assumir o papel de mediador,
um sinta vontade de procurar o outro, e, os dois precisa constantemente repensar suas práticas
possam se perceber como partes desse e metodologias de ensino e se adequar as novas
processo de construção do conhecimento. O mudanças e transformações da sociedade e de
professor tem o desafio de mostrar aos seus seus alunos, assim, necessita de metodologias
alunos, que ensinar no ensino superior na inovadas frente a complexidade da sociedade
atualidade, diante da concorrência profissional, em que está inserido.
política e econômica, que existem outros Para Anastasiou (2013), há uma necessidade
mundos, além daqueles que já conhece, e sim de renovação do modelo de ensino. De acordo
caminhar com eles a procura de novas com a autora, cada geração traz consigo
fronteiras, quebrando alguns rótulos que são capacidades e habilidades diferentes, sejam
impostos pela sociedade. elas auxiliares ou complementares, porém,
Além dos alunos se capacitarem novas. É necessário que o professor entenda
profissionalmente é necessário que adquiram que o aluno de hoje costuma fazer diferentes
ferramentas mínimas para que participem coisas ao mesmo tempo, dificultando também
ativamente da sociedade como cidadãos que seu tempo de concentração e atenção,
principalmente quando o assunto, ou

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

precisamente a aula não desperta muito Diante de tantos desafios e transformações,


interesse. tanto a escola quanto as instituições de ensino
Outro desfio enfrentado na atualidade e que superior devem estar abertos a novas
muitos professores ainda sentem dificuldades é propostas, novas formas de aprender e ensinar.
o manuseio e entendimento das novas Cabe ao professor ensinar o aluno ir além da
tecnologias como auxilio e ferramenta da sala de aula, e cabe ao aluno desconstruir
aprendizagem. Vivemos hoje em uma alguns conceitos que tem sobre aprender. Esta
sociedade que cada vez mais, lida com grande ação é possível com o que Alves (2005), chama
volume e volatilidade de informações de “desensinar”, que seria trabalhar a visão
Considerada por Georgen (2006, p.80), como “curta” e limitada com o qual o aluno chega ao
tecnociência, a tecnologia atrelada à educação ensino superior para aprender ao novo e
científica deve ser coerente com os objetivos a enxergar além daquilo que já existe.
serem atingidos pelo professor. Segundo o Na verdade, o aluno precisa sentir, estar
autor a tecnologia deve pautar “[...] não de aberto para aprender o novo, tem que ser
desenvolvimento autêntico, não de tecnologia despertado nele o interesse em buscar, em
avançada, mas de tecnologia apropriada”, pesquisar em ir além das ideias apresentadas.
assim, sua relevância deve ter pertinência para Pois aprender requer ânimo, vontade e
que não seja apenas uma ferramenta como também consciência da necessidade de
tantas outras, mas que de fato possa estar humanização do aprendizado, sem direcioná-
disponível como um auxílio eficaz para a los apenas e compulsivamente com finalidade
construção das aprendizagens. utilitária do interesse de mercado de trabalho
É importante lembrar que as tecnologias não (MORIN, 2003).
podem ser vistas como modismo, mas como um Aprender então requer do aluno esforço,
meio para atingir um objetivo e sua introdução dedicação, curiosidade, questionamentos,
no ensino superior exige formação do pesquisa, não pode deixar com que esta ação
professor, pois não basta criar condições para de aprender se torne algo mecânico e chato,
dominá-las, mas sim, auxiliar o professor a precisa ir além, entender algo de tal forma que
desenvolver conhecimento sobre o próprio possa transformá-lo ou até mesmo modificá-lo.
conteúdo e como podem ser integradas no Assim como para Maturama e Varela (2004),
desenvolvimento desse conteúdo. Assim o uso que afirmam que aprender não é adquirir o que
de novas tecnologias abre novas possibilidades existe, mas transformar em coexistência com o
à educação, pede nova postura do professor, outro e o próprio mundo de que se dispõe,
dando-lhe condições de melhorar seu trabalho, tendo como ferramenta mais poderosa a
suas aulas no que se refere ao desenvolvimento reflexão consciente, é necessário que os alunos
das aprendizagens. se sintam responsáveis pela sua construção de
De acordo com Frigotto (1996), a integração aprendizagem e percebam que o exercício de
do trabalho com novas tecnologias no currículo, aprender precisa ser construído coletivamente.
como ferramentas, exige a reflexão sistemática E tenham inequívoco em suas mentes que
acerca de seus objetivos, suas técnicas, dos aprender, muitas vezes é desaprender e
conteúdos escolhidos, das habilidades, enfim, começar tudo novamente, e, por meio do
do próprio significado da educação. embasamento teórico de tudo o que já

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

conheceram, sejam capazes e estejam esperança, abertura à justiça” ( FREIRE, 1996,


dispostos a fazer história e a produzir p.36).
conhecimento: a aprender. O professor no ensino superior deve
Para Bolzan e Isaia (2010), é importante que repensar sempre sua prática, buscando
o conhecimento seja compartilhado de dois compreender se aquilo que está propondo tem
modos: pela aprendizagem colaborativa e pela ou não significado, ou se fazem sentido neste
aprendizagem docente colaborativa. Quanto a período em que vivemos. Portanto, deve
aprendizagem colaborativa, os autores sempre se lembrar de que sua prática deve
entendem como uma relação de troca entre estar amparada por conhecimentos científicos
professor e aluno, na qual o professor não é o lógicos e possíveis. Conforme Vasconcellos e
único que detém o saber, mas que as Oliveira (2011, p.7), “o compromisso que o
aprendizagens são edificadas ao longo do docente tem com o seu trabalho, seus alunos,
processo educativo. Já a aprendizagem sua instituição e com a educação é revelado por
colaborativa docente é entendida como “[...] o meio de suas atitudes no cotidiano de sua
processo pelo qual o professor apreende a prática pedagógica”.
partir da análise e da interpretação de sua É preciso que nesta sociedade em vivemos
própria atividade e dos demais via todos possam repensar seus papéis, o aluno, o
compartilhamento de ideias, saberes e fazeres” professor e também a universidade. A
(BOLZAN; ISAIA, 2010, p.18). Instituição tem que rever sua filosofia, seu
Podemos considerar, que após papel e sua história. O professor tem que
compreendermos os desafios do professor no superar algumas de suas práticas em vista de
processo ensino aprendizagem, que as melhorias, utilizar estratégias motivadoras que
constantes mudanças e transformações na instigue o aluno a aprender, na verdade ensinar
sociedade geram posturas novas e diferentes e aprender estará sempre diante de desafios e
do professor no ensino superior, como do aluno obstáculos, mas vale a todos a constante
também, nas quais o mesmo possa se sentir reflexão para mudanças, nas quais estas
participante ativo na construção do contribuirão para maior qualidade de ensino.
conhecimento. É necessário que haja constante De acordo Freire (1996), o professor jamais
reflexão, diálogo, olhar e escuta apurados. pode entender a educação como uma
Freire (1996, p.32), considera que “faz parte experiência fria em que os sentimentos, as
da natureza da prática docente a indagação, a emoções, os desejos, e os sonhos devam ser
busca, a pesquisa”. No contexto de uma prática reprimidos. É preciso compreender que tanto
reflexiva crítica, ele chama a atenção para a os professore como os alunos são seres que
importância do profissional, como sujeito possuem sonhos, emoções e desejos, ávidos
histórico-cultural, que produz uma prática por ensinar e aprender.
pedagógica rica e significativa e que considera
valores como “amorosidade, respeito aos
outros, tolerância, humildade, gosto pela
alegria, gosto pela vida, abertura para o novo,
disponibilidade à mudança, persistência na
luta, recusa aos fatalismos, identificação com a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É no ensino superior que o docente se forma em uma área especifica, e acaba, deixando
outras dimensões de lado, como a política, a cultural, a social, a o emocional. Na verdade, não
possui uma formação pedagógica e desse modo não consegue diversificar sua aula. Por isso a
tecnologia vem para inovar os conhecimentos tanto específicos como os gerais, envolvendo o
docente e o educando no processo mais completo de aprendizagem; garantindo a autonomia e
a construção conhecimento de forma dinâmica.
Portanto, se faz necessário o uso das tecnologias como ferramenta, que auxilia na
construção das aprendizagens, mas para isso o professor deve procurar acompanhar esses
avanços e se capacitar para usar estes recursos para qualificar suas aulas.
O professor consciente deve ser capaz de exercer sua profissão aprimorando, buscando e
pesquisando sobre novos conhecimentos. Garantindo ao educando uma formação de qualidade.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Ensinar, Aprender, Apreender e processos de
ensinagem. In: ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos; ALVES, Leonir Pessate. Processos
de Ensinagem na Universidade. Joinville, SC: Editora Univille, 2003.

ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência na universidade ultrapassa preparação


para o mundo de trabalho. Disponível em<www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/artigos>
Data de Acesso:22/02/2020.

FREIRE, Paulo: Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática


educativa.36ªed.São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2007.

GAETA, Cecília; MASETTO, Marcos T. O Professor Iniciante no Ensino Superior: Aprender,


Atuar e Inovar. Editora Senac. São Paulo, 2013.

MASETTO, Marcos. Docência na Universidade. Campinas: Papirus, 1998.

MASETTO, Marcos Tarciso. Competência Pedagógica do Professor Universitário. São


Paulo: Summus, 2003.

RANKEI, Luiz Fernando; STAHLSCHMIDT, Rosângela Maria. Profissão Docente. Curitiba:


Iesde Brasil, 2016.

SIÉCOLA, Márcia: Legislação Educacional. Curitiba: Iesde Brasil,2016.

SILVA, Léa Ribeiro. Docência na Contemporaneidade: Desafios para Professores no Ensino


Superior. Disponível em< www.docêncianacontemporaneidade> Data de Acesso:22/02/2020.

VASCONCELLOS, M. M. M.; OLIVEIRA, C. C. Docência na Universidade: compromisso


profissional e qualidade de ensino na graduação. Santa Maria, Educação, v.36, n.2, p.219-
234, maio/ago. 2011.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O USO DE JOGOS E BRINCADEIRAS COMO


RECURSO NA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS
COM DEFICIÊNCIA NOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL
Rosilene de Souza dos Santos1

RESUMO: Este artigo tem como temática o uso de jogos e brincadeiras como recurso na
aprendizagem de crianças com deficiência nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para tanto,
torna-se pertinente a seguinte questão: Como os jogos e brincadeiras podem favorecer o
processo de aprendizagem das crianças com deficiência no Ensino Fundamental? Assim, objetivo
deste estudo é investigar a contribuição dos jogos no processo de aprendizagem de crianças com
deficiências nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Objetiva também descrever o processo de
inclusão e aprendizagem da criança deficiente, analisar o processo de aprendizagem das crianças
deficientes na sala de aula, bem como refletir sobre o desenvolvimento da criança por meio das
atividades com jogos. A metodologia utilizada neste estudo é de caráter bibliográfico, elaborado
por meio da coleta de dados pesquisados de artigos nacionais de revistas indexadas e livros
relacionados ao tema. Assim, considera-se que, por meio da metodologia com jogos a
aprendizagem do aluno com deficiências pode ser bem sucedida, bem como o processo inclusivo
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, uma vez que seja proporcionada formação inicial e
continuada aos professores, baseada na compreensão crítica da superação do modelo de

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Letras; Especialização em Inclusão.
E-mail: rosesantos270@hotmail.com

1428
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

integração social, psíquica, cognitiva e cultural, promovendo acesso aos jogos por meio de
momentos lúdicos no entendimento mais complexo da inclusão no cotidiano escolar.

Palavras-Chave: Crianças Deficientes; Ensino Fundamental; Jogos; Brincadeira; Inclusão.

1429
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO e aprendizagem da criança deficiente, analisar


o processo de aprendizagem das crianças
Os jogos e brincadeiras são estratégias deficientes na sala de aula, bem como refletir
metodológicas que proporcionam a sobre o desenvolvimento da criança por meio
aprendizagem por meio de materiais concretos das atividades com jogos.
e de atividades práticas, na qual a criança cria, Acredita-se que, por meio de atividades com
reflete, analisa e interage com seus colegas e jogos nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
com o professor de forma dinâmica e a criança deficiente desenvolverá melhor sua
descontraída. aprendizagem de forma mais dinâmica e
Entretanto, devemos considerar que nos proveitosa, visto que por meio dos jogos, ela
anos iniciais do Ensino Fundamental a conseguirá interagir melhor com a professora e
aprendizagem das crianças se torna um fator com os demais colegas da classe, bem como se
muito discutido pelo fato de que há hoje em dia apropriará de temas e conteúdos da mesma
o processo de inclusão de crianças com vários forma que as demais crianças, contribuindo
tipos de deficiências. também com o processo de inclusão escolar.
Desta forma, este estudo se justificará pela A metodologia utilizada neste estudo é de
necessidade de compreender como as crianças caráter bibliográfico, elaborado por meio da
com deficiências podem dispor de uma coleta de dados pesquisados de artigos
aprendizagem com qualidade, pensando nas nacionais de revistas indexadas e livros
diferenças e equidade juntamente com as relacionados ao tema. Trata-se de uma
demais crianças que interagem durante as pesquisa aplicada e de caráter descritiva, pois
aulas no ambiente escolar. Assim, os estudos objetiva retratar as características do objeto
podem oferecer relação à valorização do jogo estudado, expondo com precisão os fatos ou
como mais um recurso da aprendizagem de fenômenos, para estabelecer a natureza das
crianças. relações entre as várias variáveis delimitadas
Contudo, a temática desse artigo será sobre no tema.
o uso de jogos e brincadeiras como recurso na
aprendizagem de crianças com deficiência nos
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
anos iniciais do Ensino Fundamental, uma vez
Essa fundamentação teórica aborda
que surgiu da preocupação diária, como
primeiramente o processo de inclusão da
professora, em lidar com a aprendizagem de
criança deficiente no contexto escolar. Em
crianças com deficiência, procurando saber
seguida, discorre sobre a importância dos jogos
como elas aprendem no seu dia a dia e
e brinquedos no desenvolvimento da criança
favorecer o processo de inclusão dos alunos no
deficiente. Aborda também os jogos
contexto escolar.
brinquedos e brincadeiras como recurso
Objetivamos investigar a contribuição dos
pedagógico para a aprendizagem das crianças
jogos no processo de aprendizagem de crianças
deficientes. E, por fim, as considerações finais,
com deficiências nos anos iniciais do Ensino
que retomam as questões e objetivos do
Fundamental, descrever o processo de inclusão
trabalho e apresenta um resumo das principais

1430
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

contribuições da pesquisa. Por fim, ao final com deficiência o atendimento educacional


desta pesquisa pretende-se contribuir de forma especializado, que lhe é de direito.
positiva para que a inclusão dos alunos seja Conforme a Política Nacional de Educação
realmente efetivada e também que possamos Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva:
compreender como os jogos e brincadeiras O atendimento educacional especializado
podem favorecer o processo de aprendizagem identifica, elabora e organiza recursos
das crianças com deficiência no Ensino pedagógicos e de acessibilidade que eliminem
Fundamental. as barreiras para a plena participação dos
alunos, considerando as suas necessidades
O PROCESSO DE INCLUSÃO DA específicas. As atividades desenvolvidas no
atendimento educacional especializado
CRIANÇA DEFICIENTE NO diferenciam-se daquelas realizadas na sala de
CONTEXTO ESCOLAR aula comum, não sendo substitutivas à
De acordo com a Constituição Federal escolarização. Esse atendimento complementa
(1988), todos têm direitos iguais perante a Lei, e/ou suplementa a formação dos alunos com
e o princípio de inclusão começa a partir dos vistas à autonomia e independência na escola e
direitos à Educação para todos os cidadãos, fora dela. O atendimento educacional
independentemente das diferenças de cada especializado disponibiliza programas de
indivíduo. enriquecimento curricular, o ensino de
Contudo, a Constituição Federal, também linguagens e códigos específicos de
assegura novas diretrizes a Educação Especial, comunicação e sinalização, ajudas técnicas e
garantindo que o direito à Educação seja para tecnologia assistiva, dentre outros. Ao longo de
todos e é dever do Estado e da família garantir todo processo de escolarização, esse
em condições de igualdade o acesso e a atendimento deve estar articulado com a
permanência no contexto escolar evitando proposta pedagógica do ensino comum
qualquer tipo de discriminação (BRASIL, 1998, (BRASIL, 2008, p.16).
p.2). De acordo com Salamanca (1994, p.6), “o
O Plano Nacional de Educação (PNE), desafio para uma escola inclusiva é o de
estabelece a obrigatoriedade de pessoas com desenvolver uma pedagogia capaz de educar
deficiência e com qualquer necessidade com sucesso todos os alunos, incluindo aqueles
especial de frequentar ambientes educacionais com deficiência e desvantagens severas”.
inclusivos. No ano de 2007, é lançado a Política A Declaração de Salamanca (1994), ressalta
Nacional de Educação Especial na Perspectiva que as escolas para serem realmente inclusivas,
da Educação Inclusiva – MEC (2008), um devem adotar um sistema flexível e adaptativo,
documento que integramos marcos históricos e levando em consideração a necessidade de
normativos da Educação Especial, com o cada um, para sim, contribuir para um sucesso
objetivo. As leis vêm para garantir a educação e educacional e inclusivo. Assim, “enfatizou a
a cidadania, assim, para que todos os cidadãos necessidade de uma abordagem centrada na
tenham um ensino de qualidade, e as pessoas criança objetivando a garantia de uma

1431
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

escolarização bem-sucedida para todas as educação, pois não se resume apenas aos
crianças” (BRASIL, 1994, p.8). alunos com deficiência, mas a todos que
Sendo assim, o desafio da escola inclusiva apresentam dificuldades de aprendizagem e a
desde a educação infantil significa pensar em todos os demais, para que adquiram maior
seus espaços, tempos, profissionais, recursos sucesso na corrente educativa de forma geral.
pedagógicos etc. Necessita-se também pensar Nesse contexto, Mantoan (2006) e Moriña
nas possibilidades de acesso e permanência, (2010), concordam com a ideia de que a
bem como no desenvolvimento pleno dos inclusão é um caminho que possibilita a luta
alunos com deficiência. pelas práticas de exclusão, com o intuito de
A educação que visa à inclusão consiste em proporcionar a escolarização de todas as
um trabalho que tem por objetivo desenvolver crianças em um único sistema de ensino, no
as oportunidades para que todos tenham qual elas possam ter as mesmas oportunidades
acesso ao ensino, apoiando com recursos de aprendizado.
pedagógicos que respeite a diversidade, as A ideia da inclusão é mais do que a garantia
diferenças, promovendo a construção do do acesso dessas crianças nas instituições de
conhecimento e a inserção desta criança. ensino. O objetivo é eliminar obstáculos que
Percebe-se que o autor corrobora com o fato limitam a aprendizagem e a participação dos
de que os primeiros anos de vida de uma alunos no processo educativo. Diante disso,
criança são os momentos mais críticos de sua Mantoan (2006, p. 42), acredita que, “a
vida, pois é o momento de socialização, de inclusão escolar deve ser encarada como um
interação, de formação da personalidade, da processo, na medida em que soluções vão
inteligência, e, não tomando o devido cuidado sendo determinadas para enfrentar barreiras
nessa fase, pode ser fatal para a sua formação. impostas à aprendizagem dos alunos”.
Sendo assim, fica claro que os autores aqui Dessa forma, a inclusão garante que todos os
mencionados concordam que as crianças com membros desse modelo de educação são
deficiência, em contato com crianças sem importantes e que devem participar de todos os
deficiência, aprendem mais rapidamente, pois processos da aprendizagem de forma global.
encontra nos colegas um modelo positivo de A inclusão pode ser entendida como um
aprendizagem. modelo de educação que promove escolas
Dessa forma, a inclusão deve atender todas onde todas as crianças possam participar como
as crianças em todas as situações e, partes muito importantes delas. Refere-se a
principalmente durante toda a época escolar, uma filosofia e prática de educação que
para tanto, a Educação Inclusiva é composta permeia melhorar a aprendizagem e a
para a cidadania de modo geral, completa, sem participação de forma ativa de todos os alunos
preconceitos e, principalmente que tenha em um contexto educativo comum (MORIÑA,
como visão a valorização das diferenças. 2010, p.17).
Para Mantoan (2006, p. 19): A inclusão escolar se originou a partir do
a ideia de Educação Inclusiva se refere ao principal foco das pessoas em situação de
fato de que é necessária uma mudança na deficiência e insere-se hoje nos grandes

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

movimentos contra a exclusão social. Segundo Por meio do brincar, a criança desenvolve
Reis (2012, p.25), muitos estudos e críticas vêm elementos fundamentais na formação da
a ser realizados no sentido de tornar a inclusão personalidade, visto que aprende, experimenta
destas crianças cada vez mais real e de forma situações, organiza suas emoções, processa
positiva. informações, constrói autonomia de ação,
A educação inclusiva propõe uma parceria de entre outros.
convivência com a diversidade que contribui Ressalta-se que o brinquedo a ser utilizado
principalmente para a busca da tolerância e do pela criança deficiente, não é diferente de um
respeito mútuo e para o combate aos brinquedo utilizado por qualquer outra criança.
preconceitos. Os brinquedos não são especiais, mas o
Para isso, é preciso tratar a educação momento de seleção deles é de extrema
inclusiva como uma proposta para a sociedade importância.
em geral e se projetar na garantia do direito à O ideal é que a seleção seja realizada de
educação, que não acontece ainda pelo fato de acordo com o nível de desenvolvimento motor
ocorrerem práticas que, muitas vezes, e cognitivo da criança. Segundo pesquisadores,
carregam elementos de homogeneização e nem sempre a idade sugerida na embalagem do
normalização. A educação inclusiva teve início, brinquedo condiz com a capacidade motora e
sobretudo, da invenção, na escola, das práticas cognitiva da criança.
pedagógicas que apostam na experiência como Segundo Kishimoto (2002), "questões
um princípio organizador do trabalho cognitivas estão estreitamente relacionadas
pedagógico e na pedagogia da procura, cuja com a cultura e a educação".
aposta é a que busca, na e pela relação, consiste Ao descobrir regras, em episódios altamente
nos processos de construção de interação circunstanciados, a criança aprende a falar,
consigo, com o outro, com o saber e com o iniciar a brincadeira e alterá-la. A aprendizagem
mundo. da língua materna‚ mais rápida, quando se
inscreve no campo lúdico. A mãe, ao interagir
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E com a criança, em situações lúdicas, cria um
esquema previsível de interação que funciona
BRINQUEDOS NO como microcosmo, um mundo de significações
DESENVOLVIMENTO DA bastante simples, que permite comunicar e
compartilhar realidades (KISHIMOTO, 2002, p.
CRIANÇA DEFICIENTE
142).
É nítida a importância dos brinquedos no
Baseado na maturidade cerebral, a criança
desenvolvimento da criança, pois auxiliam no
apresenta habilidades motoras íntegras e com
desenvolvimento cognitivo e motor. Os
isso tem iniciativa de ir até o brinquedo e
brinquedos são considerados importantes
explorá-lo de diversas maneiras. Crianças que
aliados no processo de aprendizagem das
apresentam deficiência geralmente não
crianças, em especial as que apresentam certa
apresentam essa capacidade. A participação
deficiência.
dos pais e professores é fundamental, visto que

1433
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

eles apresentam a elas o complexo mundo das JOGOS BRINQUEDOS E


brincadeiras, auxiliando-as a explorar o
brinquedo da melhor forma possível. BRINCADEIRAS COMO RECURSO
De acordo com Kishimoto (2002, p.146), “por PEDAGÓGICO PARA A
ser uma ação iniciada e mantida pela criança, a
APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS
brincadeira possibilita a busca de meios, pela
exploração ainda que desordenada, e exerce DEFICIENTES
papel fundamental na construção de saber Brincar é fundamental para todas as
fazer.” crianças, inclusive para as crianças deficientes,
As brincadeiras são formas mais originais que mesmo com certas limitações, o universo lúdico
a criança tem de se relacionar e de se apropriar traz uma série de benefícios. O brincar
do mundo. É brincando que ela se relaciona aproxima a criança deficiente com o meio em
com as pessoas e objetos ao seu redor, que vive, ajuda a interagir socialmente e
aprendendo o tempo todo com as experiências possibilita que ela se percebe como igual a
que pode ter. São essas vivências, na interação todas as outras crianças.
com as pessoas de seu grupo social, que Para Sassaki (1997), “a inclusão é o processo
possibilitam a apropriação da realidade, da vida pelo qual a sociedade se adapta e se prepara
e toda sua plenitude. Tudo tem que ser muito para a convivência com pessoas que
bem avaliado e planejado de forma bem apresentam necessidades especiais”.
coerente, atingindo o objetivo que um Sendo assim, a inclusão não acontece de um
determinado brinquedo propõe bem como momento para outro, mas é um processo que
desenvolver a capacidade motora. depende da conquista nas ações e relações,
A questão do brincar é tão séria, que um dos tanto dos portadores de deficiências como das
princípios da Declaração Universal dos Direitos pessoas que pertencem à comunidade, sendo
da Criança diz que: “Toda criança tem direito à um trabalho coletivo e participativo.
alimentação, habitação, recreação e assistência De acordo com a Declaração de Salamanca
médica!” Sugere-se que toda pessoa em (1994):
especial, pais e profissionais que fazem parte da O princípio fundamental da escola inclusiva é
formação de uma criança, tenham em mente o o de que todas as crianças devem aprender
quanto é importante repensar na forma de juntas, sempre que possível,
apresentar, oferecer, ou proporcionar certo independentemente de quaisquer dificuldades
brinquedo ou uma brincadeira à criança, ou diferenças que elas possam ter. Escolas
avaliando o que poderá lhe proporcionar. inclusivas devem reconhecer e responder às
necessidades diversas de seus alunos,
acomodando ambos os estilos e ritmos de
aprendizagem e assegurando uma educação de
qualidade a todos através de um currículo
apropriado, arranjos organizacionais,

1434
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estratégias de ensino, uso de recurso e parceria expressa no movimento próprio da criança que
com as comunidades (BRASIL, 1994). a conduz em direção ao outro e ao meio
A Declaração de Salamanca (1994), bem com ambiente, sendo esta uma condição básica para
Sassaki (1997), expressam à necessidade das a aprendizagem.
crianças aprenderem juntas, Enquanto a dimensão social envolve as
independentemente de suas diferenças; obriga diferentes formas de receber ou aceitar o
as escolas a estarem preparadas e a atenderem movimento da criança deficiente.
as crianças em suas necessidades, garantindo A inclusão é um processo bilateral que
uma educação de qualidade por meio de um pressupõe a participação e a ação partilhada,
currículo adaptado e de envolvimento com a ao mesmo tempo dividida e somada. É um
comunidade. movimento de conquista de espaço, tanto
As crianças para tanto, se preparam para daquele que pertence ao chamado grupo
assumir seus papeis na sociedade, encontrando minoritário quanto dos demais participantes da
na mesma, o caminho propício para o seu comunidade (SASSAKI, 1997, p. 86).
desenvolvimento, por meio da educação e da Desta forma, o educador, ao desenvolver sua
qualificação para o trabalho. prática pedagógica empregando o lúdico com
As crianças deficientes não são menos crianças deficientes, precisa entender que todo
desenvolvidas que as ditas normais, mas se esse processo irá contribuir para o
desenvolvem de maneira diferente. Pois, o desenvolvimento do seu potencial, mas
desenvolvimento de cada pessoa ocorre de somente se houver estimulação adequada.
forma única e singular, nem por isso são No entanto, o professor deve estar
incapazes de assumir seus papeis na sociedade consciente de que os jogos ou brincadeiras
também, mesmo com suas limitações. pedagógicas devem ser desenvolvidos como
Sendo assim, pode-se afirmar que: provocação a uma aprendizagem significativa e
A inclusão social, portanto, é um processo estímulo à construção de um novo
que contribui para a construção de um novo conhecimento com o desenvolvimento de
tipo de sociedade, através de transformações novas habilidades.
pequenas e grandes, nos ambientes físicos Para tanto, de acordo com o Ministério da
(espaços interno e externo, equipamentos, Educação e Cultura (BRASIL, 2003), os
aparelho e utensílio, mobiliários e meios de brinquedos devem ser adequados ao nível de
transporte) e na mentalidade de todas as desenvolvimento da criança, e ao serem
pessoas, portanto do próprio portador de confeccionados devem ser cuidadosamente
necessidades especiais (SASSAKI, 1997, p.42). feitos de modo a poderem ser utilizados como
Como vimos é impossível negar a recursos de aprendizagem, até mesmo em
importância do brincar, dos brinquedos e dos níveis mais elevados (BRASIL, 2003, p.21).
jogos no universo das crianças deficientes, Nesse contexto, Oliveira (2004) conclui que a
contudo, de acordo com Sassaki (1997), a atividade lúdica favorece o envolvimento do
inclusão aparece sob duas dimensões: a aluno nas atividades escolares facilitando assim
individual e a social. A dimensão individual se avanços no seu processo de aprendizagem e

1435
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

também em seu desenvolvimento intelectual e


motor.
Portanto, quando valorizamos as atividades
lúdicas, percebemos como a atividade natural,
espontânea é favorável para o aluno, pois,
assim, o aluno pode exercer sua capacidade de
criar e é imprescindível que haja riqueza e
diversidade nas experiências que lhes são
ofertadas. Diante disso a atividade lúdica pode
contribuir para melhorar o processo de
aprendizagem da criança deficiente e sua
inclusão no ambiente escolar.

1436
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A concepção do professor sobre inclusão pode determinar a ação dele no processo que
envolve, principalmente, o aluno. Ela determinaria não só as expectativas do professor, mas
também a oferta de oportunidades para desenvolver-se, oferecida aos alunos com deficiência. É
possível que o interesse mostrado pela busca de conhecimentos seja reflexo da consciência
demonstrada de que o problema está no sistema educativo e não na criança ou no seu contexto.
Apesar do número de alunos por turma, das limitações de recursos e da grande pressão a
que estão sujeitos, muitos professores mantêm atitudes positivas, otimistas e entusiastas. É
fundamental que haja na escola uma equipe que dê atenção, apoio emocional e estímulos aos
professores. Esta atitude é muitas vezes fator decisivo para um melhor resultado na dinâmica de
trabalho. Aproveitar a mudança que se apresenta, oferecendo cursos e programas que não só
informam, mas que possibilitam o aprendizado, a reflexão e a troca de experiências de práticas
de avaliação e intervenção que propiciariam a permanência e o sucesso da criança com deficiência
no sistema escolar.
Por meio deste trabalho pode-se identificar as facilidades e dificuldades na incorporação
dos jogos e brinquedos na prática docente e descrever os benefícios que o lúdico trouxe para o
processo ensino-aprendizagem dos alunos deficientes dos anos iniciais do ensino fundamental de
acordo com o nível de conhecimento esperado e objetivos da investigação. Para a incorporação
do lúdico faz-se necessário uma política educacional que garanta a formação do profissional.
Desta forma, poderá oportunizar ao educador e ao educando, importantes momentos de
aprendizagens em vários aspectos, no sentido de que esta é uma realidade a ser construída por
meio de políticas públicas de educação e práticas pedagógicas eficazes, preocupadas sempre com
a sociedade.
Considera-se que por meio da metodologia com jogos a aprendizagem do aluno com
deficiências pode ser bem sucedida, bem como o processo inclusivo nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, uma vez que seja proporcionada formação inicial e continuada aos professores,
baseada na compreensão crítica da superação do modelo de integração social, psíquica, cognitiva
e cultural, promovendo acesso aos jogos por meio de momentos lúdicos no entendimento mais
complexo da inclusão no cotidiano escolar.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 10. ed. Brasília, DF: Senado, 1998.

BRASIL. Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.


Brasília, DF, 7 de janeiro de 2008.

BRASIL. Ministério da Educação. Declaração de Salamanca sobre princípio, política e


práticas na área das necessidades educativas especiais. MEC, 1994.

BRASIL. Ministério Da Educação. Secretaria de Educação Especial. Dificuldade 1 -


Dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de
desenvolvimento. O brincar e o brinquedo. Brasília, 2003.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. (org.). O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneirathonson
Learning, 2002.

MANTOAN, M.T.E. Inclusão escolar – O que é? Por quê? Como fazer. São Paulo: Editora
Moderna, 2006.

MORIÑA, A. Traçando os mesmos caminhos para o desenvolvimento de uma educação


inclusiva. Inclusão: Revista da Educação Especial, Brasília: Secretaria de Educação Especial,
v. 5, n. 1, p. 16-25 Janeiro/julho 2010.

OLIVEIRA, P. S. O que é Brinquedo? São Paulo, Brasiliense. 2004.

REIS, Vânia Alexandra dos Santos. O envolvimento da família na educação de crianças com
necessidades educativas especiais. Lisboa, 2012.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro,
WVA, 1997.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O VIDEOCLIPE COMO LINGUAGEM


AUDIOVISUAL
Rogério Fraulo1

RESUMO: A introdução de novas tecnologias na educação e a presença cotidiana de novas mídias


na sociedade requerem que o educador se atualize constantemente e se torne fluente na
linguagem e entendimento de mundo do jovem educando. Assim, o presente artigo propõe
apresentar uma forma de produção artística muito popular entre os alunos, o videoclipe - a junção
audiovisual de música e performance -, e um breve histórico de seu desenvolvimento ao decorrer
dos anos como forma de introdução à sua aplicação prática em sala de aula. Diferente do que se
pode imaginar, apesar da popularização dessa prática criativa ter se dado nos anos 1980, a
produção de videoclipes não é um fenômeno recente, tendo se desenvolvido gradativamente
concomitante ao aprimoramento das tecnologias audiovisuais.

Palavras-Chave: Arte, Música; Dança; Performance; Videoclipe; Audiovisual.

1Professor de Ensino Fundamental na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Educação Artística; Especialização em Fundamentos da Cultura e da Arte.
E-mail: rogeriofraulo@yahoo.com.br

1439
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO característica mais marcante, os clipes – que


funcionavam como uma espécie de teaser de
O objetivo do presente artigo é relatar hoje em dia – eram feitos com imagens
brevemente a história do videoclipe, narrar as frenéticas, sem obrigação de uma linearidade e
condições de emergência do mesmo como muitas vezes era tão somente a justaposição de
gênero audiovisual e fazer um mapa mínimo imagens para vender o artista e sua música.
das concepções mais gerais que permitam Por ser um instrumento de divulgação não só
verificar aproximações e diferenças do que é o da música, mas da imagem de um determinado
videoclipe na busca da produção de sentido. artista, o videoclipe, na grande maioria das
Por se tratar de um objeto próprio do campo vezes é repleto de conceitos ideológicos,
das experimentações, a tentativa de funcionando com ferramenta mercadológica,
classificação em gêneros ou subgêneros torna- influenciando comportamentos e ditando
se bastante dificultosa, sendo relevante apenas modas. Hoje em dia, muitas marcas querem
para os pesquisadores da área com o intuito de estar associadas à figura de determinado artista
tratar de expedientes muito específicos. e é cada vez mais comum a aparição explícita de
A produção de videoclipe é um campo de logomarcas nos videoclipes, como podemos
trabalho que oferece inúmeras possibilidades observar no vídeo de Britney Spears, Hold it
de atuação profissional, aproximando-se das against me.
criações cinematográficas, além de ser um
instrumento importante de análise da cultura Imagem 1: Frames do videoclipe Hold it against me, com
contemporânea. detalhes para o mershandising 2
1

O QUE É UM VIDEOCLIPE
O termo videoclipe só começou a ser
utilizado na década de 1980. A palavra deriva
de clipping, recorte, pinça ou grampo, que se
refere à técnica midiática de recortar imagens e
fazer colagens em forma de narrativa em vídeo.
A colagem de imagens retrata contemporânea
de velocidade, por meio de recortes do
cotidiano mesclados com outras produções de
Os roteiros foram ficando cada vez mais
massa, com intuito comercial. No início, mais
elaborados, podendo ser lineares ou não, ou
do que hoje em dia, o clipe era rápido e
até completamente non sense, habitando no
instantâneo, com prazo de validade, já que era
campo da experimentação artística. Desde a
produzido principalmente para a divulgação de
década de 1980, as histórias lineares foram se
um produto musical. Sendo assim, como
aperfeiçoando, chegando a constituir “mini

2
Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=-Edv8Onsrgg.Data de Acesso:12/03/2020.

1440
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

filmes”, tamanha a dedicação e rigor das audiovisual que agrega valores de outros
produções. Em 1982, Micheal Jackson lançou o gêneros. Em 1995, a banda Smashing Pumpkins
antológico Thriller, com 14 minutos e mais lançou o premiado Tonight Tonight,
recentemente If I were a boy, da cantora reproduzindo no roteiro e imagens, o clássico
Beyoncé. Viagem à lua, de Georges Mélies; em 2010, o
fenômeno pop Lady Gaga, protagonizou o clipe
Imagem 2: Frame do videoclipe Thriller, considerado um Telephone, com uma clara referência estética
precursor do videoclipe3 cinematográfico
1

aos filmes de Quentin Tarantino.

Imagem 4: Frame do videoclipe Tonight, Tonight, com


referências ao filme Viagem à lua, de Georges Mèlies, de
19025
3

Imagem 3: Frame do videoclipe If I were a boy, de


Beyoncé42

Imagem 5: Frame do videoclipe Telephone, citação


estética ao cineasta Quentin Tarantino6 4

A citação cinematográfica passou a ser cada


vez mais decorrente, o que contribui cada vez
mais para a elevação da produção de
videoclipes a um patamar artístico como o
cinema. Apesar de ser um formato televisivo e
comercial, tanto para a TV quanto para a
Na composição do clipe, as imagens se
indústria fonográfica, o videoclipe é um gênero
relacionam com maior ou menor intensidade

3 Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=sOnqjkJTMaA.Data de Acesso:12/03/2020.


4 Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=AWpsOqh8q0M.Data de Acesso:12/03/2020.
5 Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=NOG3eus4ZSo.Data de Acesso:12/03/2020.
6 Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=EVBsypHzF3U.Data de Acesso:12/03/2020.

1441
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

com a letra da música. A dimensão imagética é A referência em tom de documentário pode


criada na fusão entre a sonoridade e as ser observada em vários clipes, que buscam
possíveis traduções em forma de imagens que denunciar violências ou injustiças, fazendo um
cada música suscita; a tradução semiótica não é comentário social. Muitos dos clipes dos
uma obrigação desse gênero. O abstrato, o non Racionais MC’s tem esse teor, ou como no
sense, o experimental são utilizado tanto exemplo abaixo de A minha alma, de O Rappa.
quanto o realismo ilustrativo. O cenário Imagem 8: Frame do videoclipe A minha alma, retratos da
realidade brasileira9
contemporâneo caracteriza-se por uma intensa 3

hibridação entre formatos, suportes, gêneros e


técnicas. No campo da experimentação é
possível destacar a cantora Björk e suas
imagens surrealistas, como em Army of Me.
Como exemplo de clipe ilustrativo podemos
apresentar Segue o Seco, de Marisa Monte.
Imagem 6: Frames do videoclipe Army of me, exemplos
de uma distopia surrealista7 1

A fotografia, assim como a iluminação, pode


seguir os moldes da publicidade dando ênfase a
planos próximos e detalhados ou sequências
que acompanhem a evolução do roteiro como
acontece no cinema, que inicia com planos mais
abertos para localizar o espectador e segue
mostrando o decorrer da história. Também
Imagem 7: Frame do videoclipe Segue o seco, onde as
existe a possibilidade da filmagem em plano
imagens reforçam o texto 8
2
sequência; a banda Paralamas do Sucesso fez
um clipe chamado La Bella Luna, que foi todo
realizado em plano sequência, ou seja,
completamente sem cortes e edição.

7 Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=6KxtgS2lU94.Data de Acesso:12/03/2020.Data de


Acesso:12/03/2020.
8 Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=d4NygABRrmA.Data de Acesso:12/03/2020.
9 Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=vF1Ad3hrdzY.Data de Acesso:12/03/2020.Data de

Acesso:12/03/2020.

1442
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Imagem 9: Frame do videoclipe La bela luna, produzido retrata questões do cotidiano, da conjuntura
em plano sequência10
histórica à qual está inserido.
1

As técnicas e teorias da criação em vídeo vêm


do cinema e da publicidade, por ter um formato
televisual utilizado para promover a venda da
música. Portanto, essa criação não pode ser
analisada somente pelo aspecto artístico. É
importante ressaltar que em sua origem existe
a promoção e divulgação de um produto nas
condições de circulação dos bens simbólicos, no
modo de produção capitalista fazendo parte do
processo de venda e consumo.
As opções de transição entre uma tomada e
outra vão desde o corte seco até à fusão de
BREVE HISTÓRIA DO
imagens; a primeira opção dá agilidade e a
fusão sobrepõe imagens. Além da captação de VIDEOCLIPE
imagens, outra forma recorrente de se produzir O cinema, em seus primórdios, no século XIX,
videoclipe, é por meio da animação em 3D, teve seus filmes apelidados de “fotografias
como a banda Gorillaz, que não faz animadas”, já que as imagens não eram
apresentações presenciais por seus músicos acompanhadas de sonoridade. A necessidade
serem desenhos de animação. de uma trilha sonora foi se tornando cada vez
11
Imagem 10: Integrantes “virtuais” da banda Gorillaz 2
mais urgente e embora a evolução das técnicas
ligadas à imagem galopava, o som seguia a
passos lentos; foram várias tentativas: em 1877
foi criado o fonógrafo, depois o kinetophone,
mas só em 1902, com a invenção do
chronophone, conseguiu-se um resultado
satisfatório. A partir de 1911 houve um
consenso de que a música era o
acompanhamento ideal para as imagens. Em
meados de 1920, a Warner Bros e a Fox Films
apresentaram aparelhos que sincronizavam
Os exemplos mostram que o videoclipe, som e imagem e a partir daí, surgiram os
assim como outros gêneros do audiovisual, primeiros filmes números musicais filmados,
que logo se tornaram longa metragens.

10 Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=pWEHfOA4eyg.Data de Acesso:12/03/2020.


11Fonte: Disponível em:
https://www.google.com/search?q=integrantes+%e2%80%9cvirtuais%e2%80%9d+da+banda+gorillaz&sxsrf=alekk
02x0izx3kfab166nvnobzcnqahzsa:1584030574412&source=lnms&tbm=isch&sa=x&ved=2ahukewijz83drzxoahv4llk
ghxe5dteq_auoaxoeca8qaw.Datade Acesso:12/03/2020.

1443
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Ao constatar a necessidade da música para frequência e então surgem vários programas,


filmes, os Estúdios Disney produzem, na década em diversas emissoras, sobre o gênero e o
de 1940, o desenho animado Fantasia, no qual modo de consumo de música é transformado
se observa uma relação muito próxima entre pelo videocassete.
música e imagem. A estreia da MTV (Music Television), canal
A década de 1950 ficou marcada pelos dedicado a exibir exclusivamente videoclipes,
números musicais da TV e do cinema, que foi no ano de 1981. No início era canal a cabo,
passaram a render cifras para a indústria depois passou a ser um canal aberto. O
fonográfica. Nesse período surge o fenômeno primeiro videoclipe exibido foi Killed the Radio
de mídia Elvis Prestley e os vários musicais que Star, da banda Buggles. Dois anos mais tarde, é
ele estrelou. criado o American Video Awards, festival que
Na Inglaterra, a rede de televisão BBC, lança premiava os clipes. Em 1987 a MTV abre uma
o programa 6’5 Special, que mostrava filial europeia, e sua primeira exibição é de
exclusivamente apresentações musicais. Em Money for Nothing, da banda Dire Straits.
1960, surge na França o scopitone, aparelho Segundo o antropólogo Nestor Garcia
semelhante ao jukebox, que tinha a ele, Canclini, “a MTV (...) conquista a audiência de
acoplado, um projetor de 16 mm; enquanto a jovens de quase todo o mundo, graças à sua
música tocava, as imagens em preto e branco capacidade de combinar várias inovações:
passavam no projetor. mistura gêneros e estilos, de rebeldias
Em 1964, os Beatles criaram vídeos roqueiras a melodias hedonistas e ‘pensamento
chamados “promos” – promocionais – para liberal normalizado’, associa-se a ‘grandes
poderem aparecer em mais de um canal de TV causas’ (lutas contra a pobreza, analfabetismo,
ao mesmo tempo. AIDS e poluição), propondo exercícios de
Ainda na década de 1960, o movimento de cidadania internacionalizados compatíveis com
vídeo arte, mais especificamente na figura do o sentido moderno e sensual da vida
coreano Nam June Paik, impulsionou a criação cotidiana”12 .1

de vídeos musicais. Para contextualizar a história do videoclipe,


A banda Queen lança em 1975 Bohemian a MTV tem papel primordial, pois é com ela que
Rhapsody, o primeiro videoclipe da história esse gênero audiovisual ganha notoriedade
com intuito publicitário de venda do disco. A pública. A MTV revolucionou o modo de ouvir
exibição frequente do clipe no programa Top of música que deixou de ser apenas um apelo
the Pops, da BBC, fez com que o disco chegasse sonoro para estimular todos os sentidos a partir
ao topo de vendas na Inglaterra. da visão. O videoclipe passou a ser obrigatório
No Brasil, o primeiro videoclipe nacional foi em qualquer lançamento de CD. A forma de
exibido pelo Fantástico, em 1975, América do fazer clipes, os cortes rápidos, o dinamismo e a
Sul, de Ney Matogrosso. Mas é nos anos 1980 criatividade tomaram a publicidade, o cinema e
que os clipes passam a ser exibidos com mais a televisão em geral e isso criou um impacto na
estética da música e de outras mídias.

12 Fonte: CANCLINI, Néstor Garcia. A globalização imaginada. São Paulo: Iluminuras, 2003, p. 150.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Com o advento das práticas da cibercultura,


o acesso a textos, fotos, vídeos e videoclipes
tornou-se amplo. Na era digital o referencial
imagético tornou-se imprescindível à produção
musical, fazendo do videoclipe um importante
veículo de divulgação da música. Além dos
canais de televisão, o público passou a ter
acesso a vídeos em seus computadores e
aparelhos de telefonia celular. No espaço
cibernético temos uma ferramenta de
comunicação muito diferente da mídia clássica,
porque é nesse espaço que todas as mensagens
se tornam interativas, ganham plasticidade e
tem uma possibilidade de metamorfose
imediata. Videomakers, músicos e atores criam
vídeos especialmente para serem veiculados no
site utilizando o espaço virtual para
experimentar linguagens audiovisuais, e
divulgar e distribuir obras.

1445
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por ser um dos produtos audiovisuais com o formato mais livre, o videoclipe oferece
inúmeras possibilidades de criação. Firma-se como espaço da experimentação, do rompimento
das estruturas clássicas da narração e como referência para outros gêneros audiovisuais. Escreve
Arlindo Machado:
O sistema digital dá o modelo estrutural para o videoclipe, liberando-o dos modelos
narrativos ou jornalísticos que constituem a substância da programação habitual de TV, de modo
a situá-lo como um espaço de experimentação e descoberta no seio da televisão
(MACHADO,1997, p.169).
A discussão sobre o gênero videoclipe pode ganhar pertinência na medida em que a
produção audiovisual se conjuga com a produção musical contemporânea.
O videoclipe torna sensível um fenômeno ao qual nunca prestamos a devida atenção antes:
a unidade indecomponível do som com a imagem no vídeo, que nos permite falar
verdadeiramente e com toda a propriedade de um meio audiovisual (MACHADO,1997,p.173).
O videoclipe é um gênero audiovisual com várias possibilidades de classificação. Nele
estão agregados conceitos que remetem também a outras linguagens audiovisuais: cinema,
televisão e publicidade. Além de ser uma peça da estratégia de venda da indústria cultural com
fins comerciais, ele se apresenta também em sua dimensão no campo das artes. O videoclipe
trouxe consigo não só uma nova concepção estética da música como produção artística, mas
também uma nova concepção de consumo dessa música. Tanto o artístico como o comercial se
remontam às lógicas do capitalismo, que determinam o direcionamento de certos artistas da
música pop dentro da indústria fonográfica.

1446
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual. São Paulo: Pioneira, 2000.

CANCLINI, Néstor Garcia. A globalização imaginada. São Paulo: Iluminuras, 2003.

COHEN, Renato. Performance como Linguagem. São Paulo: Perspectiva, 2004.

GLUSBERG, Jorge. A Arte da Performance. São Paulo: Perspectiva,2005.

LEMOS, André. Cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2002.

MACHADO, Arlindo. A arte do vídeo. São Paulo: Brasiliense, 1997.

PEDROSO, Maria Goretti; MARTINS, Rosana. Admirável mundo MTV Brasil. São Paulo:
Saraiva, 2006.

RODRIGUEZ, Ángel. A Dimensão Sonora da Linguagem Audiovisual. São Paulo: Senac,


2006.

RUSH, Michael. Novas Mídias na Arte Contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

SOARES, Thiago. A estética do videoclipe. João Pessoa: UFPB, 2013.

SOARES, Thiago. Videoclipe: o elogio da desarmonia. Recife: Livro Rápido, 2004.

ZUMTHOR, Paul. Performance, Recepção e Leitura. São Paulo: Educ,2000.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OS EFEITOS DA ATIVIDADE FÍSICA NA


APRENDIZAGEM E NO DESENVOLVIMENTO
MOTOR INFANTIL
Renato Ilton da Silva Aragão1

RESUMO: O artigo aborda os efeitos da atividade física na aprendizagem e no desenvolvimento


motor infantil. Enfatiza-se a relação entre a aprendizagem e os benefícios da atividade motora
neste processo.

Palavras-Chave: Educação; Atividade física; Aprendizagem.

1Professor de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Educação Física.
E-mail: renatoaragao31@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO doença coronariana, osteoporose, câncer de


cólon, depressão, etc. (JENOVESI, et al., 2004).
Tornou-se de conhecimento geral os E a prática regular de atividade física é bem
benefícios da prática de atividade física regular conhecida por promover várias mudanças
por qualquer ser humano. Sabe-se que esta positivas na saúde, incluindo benefícios
prática, em um âmbito geral, proporciona cardiovasculares respiratórios, aumento da
diversos benefícios biológicos, fisiológicos e até densidade mineral óssea e menor risco de
mesmo psicológicos. Entre eles podemos incluir doenças crônicas degenerativas (GARBER, et
benefícios cardiopulmonares, aumento da al., 2011).
densidade mineral óssea, diminuição do risco Abaixo podemos visualizar um esquema da
de doenças crônico-degenerativas, controle de relação entre atividade física e saúde:
peso, redução da pressão arterial e elevação da
lipoproteína de alta densidade (HDL), entre
outros. No aspecto psicológico, ocorre melhoria
da autoestima, autoconceito, autoimagem e
diminuição da ansiedade e depressão.
Dados epistêmicos mostram que a
inatividade física é provavelmente um fator de
risco para a hiperlipidêmica, hipertensão,
obesidade e o diabetes. Pessoas inativas, em
geral, são mais hipertensas, hiperlipidêmicas,
com a maior percentual de gorduras e
propensão de tornarem-se diabéticas não
dependentes de insulina. Ao passo que, Fig. 1 - Relação entre atividade física e saúde
Fonte: ARAÚJO e ARAÚJO, p.194-203 (2000)
pessoas ativas fisicamente tem maiores
possibilidades de prevenir essas patologias
(ACHOUR, 1996). Já é de conhecimento também, que uma
Segundo a Organização Mundial de Saúde - criança ativa, possivelmente será um adulto
OMS (2010), a falta de atividade física foi fisicamente ativo e consequentemente terá
identificada como o quarto principal fator de menor predisposição às doenças (GUEDES,
risco para a mortalidade global (6% das mortes 2001).
em todo o mundo). Além disso, a inatividade Segundo a Organização Mundial de Saúde
física é estimada como a principal causa para (2010), também constata-se que jovens
aproximadamente 21-25% de câncer de mama fisicamente ativos adotam mais rapidamente
e cólon, 27% de diabetes e aproximadamente outros comportamentos saudáveis (como
30% de doença cardíaca isquêmica. evitar o uso de tabaco, álcool e drogas) e
Visto isto, sabe-se que o sedentarismo traz apresentam um melhor desempenho escolar.
consequências negativas, e está ligada ao Destacando a ótica de saúde pública e medicina
desenvolvimento várias doenças, tais como: de prevenção, proporcionar meios para a
realização de atividade física na infância e na

1449
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

adolescência, instaura uma estreita relação além dos níveis de repouso, podendo ser
para a redução da predominância de exemplificada por jogos, lutas, danças,
sedentarismo em adultos, contribuindo desta esportes, exercícios físicos, atividades laborais
forma para uma melhor qualidade de vida e deslocamentos.
(LAZZOLI, et al., 1998). É compreendida também como brincadeira,
Relacionando com o desempenho cognitivo, utilizando brinquedos e jogos, pois é um
tem sido sugerido que a atividade física provoca
momento em que a criança desenvolve sua
efeitos benéficos sobre este. A atividade física
parte cognitiva, social e intelectual. Pode ser
parece influenciar a cognição promovendo entendida como qualquer movimento corporal,
melhora do desempenho de diversas produzido pela musculatura esquelética, que
habilidades cognitivas como, por exemplo, na resulta em gasto energético, tendo
memória, raciocínio lógico, entre outras. Além
componentes e determinantes de ordem
disso, há evidência do efeito da atividade física
biopsicossocial, cultural e comportamental.
sobre o desempenho acadêmico. Vale ressaltar Caspersen, et al. (1985, p.126;31), e
que há diferença entre desempenho acadêmico posteriormente Shephard (1999, p.963;72),
e desempenho cognitivo. definem atividade física como qualquer
Considera-se desempenho acadêmico a movimento corporal produzido pelos músculos
esqueléticos que resultem em gasto
parte do cotidiano infantil que está relacionada
ao desempenho nas atividades escolares, e energético, não se preocupando com a
desempenho cognitivo a capacidade de magnitude desse gasto de energia,
diferenciando atividade física e exercício físico
adquirir conhecimento; diz respeito à razão, à
memória e à inteligência emocional. Então, nopela intenção do movimento, considerando
presente trabalho pretende-se buscar que o exercício físico é uma atividade física
planejada, estruturada e repetitiva, tendo
evidências sobre os efeitos da atividade física
sobre aspectos cognitivos e motores em como propósito a manutenção ou a otimização
crianças com idade escolar, por meio de uma do condicionamento físico (apud, ARAUJO;
revisão integrativa de literatura e artigos. ARAUJO, 2000, p.194;203). A prática de
atividade física deve ser um hábito presente em
Sendo o principal foco neste trabalho associar a
prática de atividade física, independente de pessoas de todas as idades, inclusive nas
qual seja, com o desempenho cognitivo e crianças, pois faz parte do desenvolvimento
motor, bem como seu impacto no desempenho humano, e muitos benefícios começam com
escolar. sua prática na fase da infância. A atividade física
regular é bem conhecida por promover várias
2. DESENVOLVIMENTO mudanças positivas na saúde, incluindo
benefícios cardiovasculares respiratórios,
aumento da densidade mineral óssea e menor
2.1 Atividade Física
risco de doenças crônicas degenerativas
O termo atividade física, baseado na
(GARBER, et al., 2011).
literatura, pode ser definido, como qualquer
atividade que tenha uma demanda energética

1450
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Além dos benefícios físicos, como o transpassar para idades adultas. Segundo o
desenvolvimento da coordenação motora, Colégio Americano de Medicina Esportiva
equilíbrio, força muscular, flexibilidade e (ACSM, 2007), a aptidão física para a criança e
função cardiorrespiratória; e da promoção à adolescente deve se propagar como um meio
saúde, atuando na prevenção da obesidade, de incentivo a adesão de um estilo de vida
hipertensão, diabetes, doenças adequado com a prática de exercícios por toda
cardiovasculares, ansiedade, depressão e a vida, com o intuito de manter e potencializar
osteoporose; na infância, os esportes ajudam a condicionamento físico suficiente para
desenvolver a inteligência, a formação de melhoria da capacidade funcional e da saúde.
caráter e a afetividade, estimulam a A atividade física tem um impacto sobre as
socialização, oferecem melhora na qualidade habilidades motoras, o bem-estar psicológico,
de vida, auxiliando no domínio do próprio as competências sociais e a maturidade
corpo e no aumento da autoestima. emocional. Ao contrário, os comportamentos
No estudo de Jenovesi, et al. (2004), sedentários são considerados uma ameaça para
verificou-se que a atividade física contribui de o desenvolvimento cognitivo das crianças.
forma notável para a economia de gastos em Crianças em idade pré-escolar, que são inativas
saúde pública, pois interfere na prevenção e no fisicamente correm mais riscos de ter
tratamento direto para saúde dos efeitos dificuldades cognitivas na escola, como déficit
deletérios decorrentes do sedentarismo. Em de atenção, competências de linguagem
algumas regiões do Brasil a prevalência de limitadas, resultados escolares fracos.
sedentarismo em adultos é em torno de 70% A infância é o momento ideal de
(OMS, 2014). A criança que é ativa fisicamente proporcionar estímulos que causarão
tem mais chance de se tornar um adulto ativo. mudanças físicas e até mesmo genéticas, diz a
Destacando a ótica de saúde pública e medicina Epigenética que consiste a ideia de que hábitos
de prevenção, proporcionar meios para a cotidianos e o ambiente podem alterar algumas
realização de atividade física na infância e na características genéticas sem alterar a
adolescência, instaura uma estreita relação sequência de DNA. Então, uma criança que foi
para a redução da predominância de estimulada durante a sua infância e
sedentarismo em adultos, contribuindo desta adolescência a fazer exercícios, provavelmente
forma para uma melhor qualidade de vida vai se tornar um adulto mais ativo. Deve se
(LAZZOLI, et al., 1998). considerar também que a prática de atividade
Devido aos seus efeitos favoráveis à saúde e física por crianças devem gerar oportunidades
ao desenvolvimento infantil é de suma de vivências variadas, proporcionando um
importância encontrar meios de estimular as aumento de seu repertório motor; e não menos
crianças a desenvolverem hábitos de vida importante, esta, quando inserida de forma
saudáveis logo na primeira infância. Guedes, et planejada e sistemática, deve ser orientada por
al. (2001), destacam que a prática de atividade um professor de educação física para que não
física de forma regular, agregados durante a gere malefícios.
infância e adolescência possivelmente irão

1451
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

2.2 Aprendizagem conhecimentos e modos de ação física e


Define-se como aprendizagem o processo mental, organizados e orientados no processo
contínuo, que ocorre durante toda a vida de um ensino aprendizagem para compreendê-los e
indivíduo, relacionado ao ato de aprender. É aplicá-los consciente e autonomamente; é a
uma modificação do comportamento do criação de uma forma de conhecimento
indivíduo como resultado da experiência humano – relação cognitiva entre aluno e
(PIAGET, 1974). No ramo da etologia humana, a matéria de estudo – desenvolvendo-se sob as
aprendizagem é a fixação na memória das condições específicas do processo de ensino,
impressões ambientais, e é baseada na que não existe por si mesmo, mas na relação
modificação de mecanismos do sistema com a aprendizagem, e está diretamente
nervoso central que, posteriormente, influem relacionada com o desenvolvimento cognitivo
na conduta do ser. (DÍAZ, 2011).
Toda experimentação que gera um Atualmente, a aprendizagem é entendida
aperfeiçoamento motor ou cognitivo é como um processo global, dinâmico, contínuo,
classificada como aprendizagem, sendo individual, gradativo e cumulativo. De acordo
conceituada como resultado da interação das com as características escolares, há a
estruturas mentais com o meio ambiente, necessidade de que o aluno seja um
fazendo com que haja uma mudança no processador ativo da informação que lhe é
comportamento obtido por meio dessa transmitida, não basta apenas ser um receptor
experimentação. Essa aprendizagem é passivo do conhecimento, o aluno precisa
constituída por fatores emocionais, decodificar o que lhe é ensinado e assim
neurológicos, relacionais e ambientais, absorver este conhecimento. Portanto, permite
viabilizado pela plasticidade dos processos ao sujeito ter melhor compreensão das coisas
neurais cognitivos (BOMPA, 2002; ANDRADE, et que estão à sua volta, seus companheiros, a
al., 2004). natureza e a si mesmo, capacitando-o a ajustar-
A aprendizagem escolar se distingue pelo se ao seu ambiente físico e social (ANDRADE, et
caráter sistemático e intencional e pela al., 2004).
organização das atividades (estímulos) que a Segundo Piaget (1974), em sua teoria
desencadeiam, atividades que se inserem em cognitiva o desenvolvimento cognitivo se
um quadro de finalidades e exigências originava da adaptação da criança ao seu
determinadas pela instituição escolar. ambiente, e assim buscando promover sua
Conforme Díaz (2011), é preciso que sobrevivência por meio da tentativa de
aconteça o estímulo para que a aprendizagem aprender sobre seu ambiente. Isso transforma
tenha valor. E a aprendizagem ocorre quando a criança em alguém que busca o conhecimento
se torna significante para o aprendiz, e a compreensão do mundo, mas com uma
transformando-se no prazer da descoberta. característica importante, que é o fato da
A aprendizagem é individual e deve ser criança operar ativamente sobre este mundo.
provocada. Assim, a aprendizagem é um Para Vygotsky (1978), a aprendizagem está
processo de assimilação ativa de determinados sempre relacionada com o desenvolvimento.

1452
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Ambos são expressões que se inter-relacionam processo de aperfeiçoamento e aquisição das


reciprocamente, e que não é possível um habilidades que vão sendo escritos ao longo da
acontecer sem o outro. O desenvolvimento experiência.
pleno e complexo do ser humano depende da
aprendizagem que se realiza em um dado grupo Fig. 2 - Fatores que interferem no desenvolvimento
motor
cultural, a partir da interação com os outros
indivíduos (FONSECA, 2007).

2.3 Desenvolvimento Motor


O desenvolvimento geral do indivíduo será
resultado de seu potencial genético e,
sobretudo, das habilidades aprendidas durante
as várias fases da vida. É um processo que se
inicia na concepção do ser e cessa apenas no
final de sua vida; e revela-se, principalmente,
por mudanças no comportamento dos
movimentos ao longo do tempo. (GALLAHUE; Fonte: GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY (2013, p.49).
OZMUN; GOODWAY, 2013).
O desenvolvimento motor é a mudança O desenvolvimento infantil se inicia ainda na
contínua do comportamento motor ao longo do vida uterina, com o crescimento físico, a
ciclo da vida, provocada pela interação entre as maturação neurológica, a construção de
exigências da tarefa motora, a biologia do habilidades relacionadas ao comportamento e
indivíduo e as condições do ambiente. as esferas cognitiva, afetiva e social (VINHAES;
O desenvolvimento e o refinamento de TREVISAN, 2014). Tem como produto tornar a
padrões motores e de habilidades motoras são criança competente para responder às suas
influenciados de maneiras complexas. necessidades e às do seu meio, considerando
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). seu contexto de vida.
Para Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), o Ainda, segundo Vinhaes e Trevisan (2014), a
desenvolvimento motor se caracteriza pelas primeira infância, que abrange a idade entre
mudanças progressivas no comportamento do zero a cinco anos, é a fase em que a criança se
movimento, envolvendo a maturação do encontra mais receptiva aos estímulos vindo do
sistema nervoso central e a interação com o ambiente e o desenvolvimento das habilidades
ambiente por meio dos estímulos
motoras ocorre muito rapidamente. (...)na
proporcionados durante as fases iniciais da vida
segunda infância e idade escolar, segundo
e sofrerá alterações por toda ela, aprimorando
Lineburguer, et al. (2004, p. 20;5), há um
o movimento e a capacidade de movimentar-
incremento nas aptidões física e motora,
se. Esse desenvolvimento se traduz em um
quando a criança desenvolve consciência de si

1453
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e do mundo exterior, conquistando sua O estudo do desenvolvimento motor perpassa


independência e adaptação social, os campos da fisiologia do exercício,
caracterizando rápidos progressos na biomecânica, aprendizado e controle motor,
aprendizagem. assim como os campos da psicologia do
De acordo com Rosa Neto (1996), isso mostra desenvolvimento e da psicologia social
que a aquisição de um bom controle motor (THOMAS; THOMAS, 1989). "Tanto o processo
permite à criança construir as noções básicas (como ocorre) quanto o produto (movimento
para seu desenvolvimento intelectual (apud, observável) de um movimento de um indivíduo
ROSA NETO, 2007, p.45;51). De acordo com estão enraizados em um ambiente
Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), a criança experimental e genético peculiar, conectados
bem desenvolvida motoramente não vai ser às exigências específicas da tarefa motora"
beneficiada apenas pela execução uniforme (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
dos movimentos, mas por toda a vida, sendo
menos suscetível a desenvolver doenças de 2.4 Atividade física, Aprendizagem e
cunho psicológico devido a isolamento e Desenvolvimento Motor
exclusão, assim como a propensão a continuar Os efeitos da prática sistemática da
a prática da atividade física na juventude, atividade física, do esporte, das brincadeiras e
evitando dessa forma desenvolver patologias jogos podem ser constatados em todas as
ligadas ao sedentarismo como a obesidade e etapas de nossa vida. A prática de esportes e as
doenças cardiovasculares tão comuns hoje no brincadeiras ao ar livre aprimoram não só o
âmbito infantil. Uma observação a ser feita, é autoconhecimento do ponto de vista físico, mas
que, o desenvolvimento está relacionado com a também a habilidade que cada jovem tem de
idade, mas não depende dela, cada ser tem sua raciocinar e tomar decisões. O movimentar-se é
individualidade. de grande importância biológica, psicológica,
A herança genética (ontogenia), e a social e cultural, pois é por meio da execução
similaridade (filogenia) entre os seres dos movimentos que as pessoas interagem com
humanos, que é a predisposição de o o meio ambiente, relacionando-se com os
desenvolvimento humano acontecer de outros, apreendendo sobre si, seus limites,
maneira ordenada e previsível, são fatores capacidades e solucionando problemas. (ROSA
biológicos que afetam esse padrão previsível do NETO, et al., 2007, p. 45;51)
desenvolvimento motor (GALLAHUE; OZMUN; O movimento corporal assume um papel
GOODWAY, 2013). Consideram-se três grandes importante na formação global da criança, pois
áreas de desenvolvimento infantil: motor, irá intervir nos fatores físicos, cognitivos e
cognitivo e emocional. Estas três grandes áreas sociais, ampliando os aspectos relevantes ao
de desenvolvimento interligam-se, desenvolvimento dela (HAGEMANN;
influenciam-se e acontecem simultaneamente. RODRIGUES, 1991).

1454
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Tanto a prática regular de esportes, quanto o importante o trabalho de ação motora e


esforço físico decorrente das brincadeiras, psíquica com a intenção de aperfeiçoar o
podem contribuir bastante com a capacidade desenvolvimento da aprendizagem,
de aprendizado de crianças, e adolescentes (LE beneficiando os estudantes.
BOULCH, 1985). Vale ressaltar que atividade A prática da educação motora tem influência
física pode ser entendida e compreendida no desenvolvimento de crianças com
também como brincadeira, utilizando dificuldades escolares, como problema de
brinquedos e jogos, pois é um momento em atenção, leitura, escrita, cálculo e socialização.
que a criança desenvolve sua parte cognitiva, Além disso, promovendo a aptidão física e a
social e intelectual. saúde metabólica, o exercício físico pode
A criança que não brinca é fechada para si, contribuir para a melhoria de funções
não se desenvolve intelectual e socialmente cognitivas específicas em adultos (MASLEY, et
como precisa. A criança que não participa de al., 2009) e crianças (CHADDOCK, et al., 2011;
atividades físicas é introspectiva e pode DIAMOND e LEE, 2011).
apresentar defasagem em seu Entre os benefícios cognitivos de um estilo
desenvolvimento. Recentemente tem sido de vida ativo, parece que o exercício físico pode
sugerido que a atividade física estimula o beneficiar especificamente as funções
desempenho cognitivo infantil. A atividade executivas (HILLMAN et al., 2008), que
física parece influenciar a cognição compreendem controle inibitório,
promovendo melhora do desempenho de planejamento, memória operacional, tomada
diversas habilidades cognitivas como, por de decisão e flexibilidade cognitiva (MIYAKE, et
exemplo, na memória, raciocínio lógico, entre al., 2000). Mais especificamente, as funções
outras. Além disso, há evidência do efeito da executivas principais são inibição, memória de
atividade física sobre o desempenho trabalho e flexibilidade cognitiva (DIAMOND,
acadêmico. Vale lembrar que há diferença 2013). Essas funções cognitivas são necessárias
entre desempenho acadêmico e desempenho para o desempenho das atividades diárias,
cognitivo. Considera-se desempenho sendo particularmente importante para o
acadêmico a parte do cotidiano infantil que desenvolvimento cognitivo e motor (MIYAKE, et
está relacionada ao desempenho nas atividades al., 2000).
escolares, e desempenho cognitivo a
capacidade de adquirir conhecimento; diz
respeito à razão e a memória. Conforme
sugerido por Cezário (2008), as atividades
físicas são propícias para um trabalho cognitivo
bem consolidado e um bom desempenho
acadêmico de crianças. Portanto, se torna

1455
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Fig. 3 - Modelo de fatores associados ao melhor desempenho acadêmico

Fonte: Donnelly e Lambourne (2011).

De maneira geral, a prática de esportes e músculos ainda mais eficiente. Esta capacidade
atividades físicas estimula a criança a se desenvolve ao longo dos anos e facilita o
desenvolver não só a capacidade de reconhecer processo de aprendizagem em diferentes níveis
seu corpo, suas limitações e o seu potencial cognitivos e motores. Lopes, et al. (2011),
físico, mas também a sua habilidade de alertam que o papel do movimento para o
raciocinar e de tomar decisões; isso porque a desenvolvimento das crianças é por vezes
criança acaba criando um caminho de muito subestimado; a falta de movimento pode
condução do estímulo entre o cérebro e os não só restringir o corpo do seu

1456
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento motor, como também com Tarantino e Oliveira (2012), o incremento


influenciar aspectos da personalidade como a da circulação também estimula a comunicação
percepção, a cognição, o discurso, as emoções mais eficiente entre os neurônios.
e o comportamento social. Gregório, et al. A atividade física aumenta ainda a produção
(2002, p. 250;255), declaram ainda que a e a liberação de neurotransmissores. Os
neurotransmissores dopamina e serotonina,
prática da educação motora tem influência no
por exemplo, são responsáveis pela liberação e
desenvolvimento de crianças com dificuldades
controle de hormônios que auxiliam na da
escolares, como problema de atenção, leitura, qualidade do sono, autoestima, cognição,
escrita, cálculo e socialização (apud, ROSA aprendizagem, concentração, reduzem a
NETO, et al., 2007). ansiedade e os riscos de depressão (Fig. 4).
Diversos motivos têm levado ao aumento Fig.4 Principais neurotransmissores beneficiados pelos
exercícios físicos:
pelo interesse nos estudos e competências a
respeito do desenvolvimento motor. É possível
evidenciar as relações existentes entre ele e o
desenvolvimento cognitivo. Há uma forte
associação entre o que a criança aprende por
meio do fator cognitivo e o que realiza usando
o seu fator motor (ROSA NETO, et al., 2010).
As relações entre exercícios e cérebro estão
no centro das atenções da neurociência por
suas implicações agudas e crônicas na vida das
pessoas. As vantagens começam com a
elevação na oxigenação e no fluxo sanguíneo no
Fonte: Tarantino e Oliveira (2012).
corpo como um todo.
Segundo Tarantino e Oliveira (2012), há Torna-se importante o estímulo à a atividade
maior produção de neurônios e um aumento física como também a preocupação pela
das substâncias que atuam na nutrição e redução dos tempos de educação física nas
desenvolvimento dessas quando submetidos a escolas, que acaba por ter um impacto
atividades regulares. O exercício aumenta a prejudicial não só na forma física das crianças
capacidade do cérebro de se adaptar e criar como no seu desempenho acadêmico. Para que
novas conexões, a chamada neuroplasticidade. ocorra, seja qual for o tipo de aprendizagem,
Em estudos com ressonância magnética feitos seja ela de leitura, de escrita ou de operações
em indivíduos foi possível também observar lógico‑matemáticas, torna-se importante uma
que quem se exercita regularmente produz estreita relação perceptivo‑motora
uma intensa atividade no hipocampo, região desenvolvida entre a criança e o meio.
relacionada à memória e à aprendizagem, e lá O aperfeiçoamento perceptivo motor por
estão armazenadas as células-tronco que darão parte da criança proporcionará circunstâncias
origem aos novos neurônios. Ainda de acordo que beneficiam o amadurecimento de suas

1457
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

disposições cognitivas (ALVIM, 2009). Nessa - Artigos científicos de revistas indexadas


relação, Maciel, et al. (2010), ressaltam a em português e inglês que abrangem o período
importância de a criança ter acesso a vivências de 2013 a 2017; - Artigos que descrevam ou
direcionadas para evolução motora, de forma mencionem o tema abordado;
satisfatória, tanto no ambiente escolar quanto 3.3 Critérios de exclusão
fora. Deve-se atentar para oferecer bases - Artigos científicos nos demais idiomas; -
requeridas para o estímulo e prática de domínio Estudos realizados com animais - Artigos de
das habilidades fundamentais do movimento, revisão
envolvendo também as demais bases 3.4 Estratégia de busca
necessárias à formação global do ser como um O principal descritor utilizado foi “Atividade
todo (cognitivo afetivo e psicomotor). Quanto Física” a partir dos Keywords de artigos. No
maior o número de experiências motoras e entanto, outros descritores foram usados,
psicossociais que a criança experimenta menor como: “Desenvolvimento motor”,
vai ser sua dificuldade em aprender as “Aprendizagem”, “Desempenho escolar”.
habilidades escolares (FONSECA, 2007; ROSA Acrescenta-se que, para otimização da pesquisa
NETO, 2007; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, os descritores foram combinados em cada
2013). banco de dados. Na estratégia de busca
O desenvolvimento motor e a aprendizagem utilizada na base de dados PubMed, os
do sujeito serão influenciados pelo meio, pois descritores utilizados foram "physical activity"
apenas os conteúdos genéticos não são AND "motor development"; "physical activity"
suficientes para explicar como isso ocorre ao AND "school performance"; e "physical activity"
longo do tempo (VIGOTSKY, 1978). Visando AND "learning" AND "motor development"
discutir e esclarecer alguns dos aspectos do Na estratégia de busca utilizada na base de
desenvolvimento motor e da aprendizagem dados SciELO e Capes, os descritores utilizados
escolar, a proposta é buscar uma associação foram "atividade física" AND "desenvolvimento
entre estes à prática de atividade física. motor"; "atividade física" AND
3. MATERIAIS E MÉTODOS "desenvolvimento motor" AND
Trata-se de um estudo de revisão de "aprendizagem"; e "atividade física" AND
literatura, realizado nas bases de dados "desenvolvimento motor" AND
multidisciplinares e nas bases específicas da "aprendizagem" AND "desempenho
área de saúde no período de Abril de 2017 a acadêmico" Devido à carência de estudos que
Maio de 2017. abordam o tema, outra estratégia de busca
3.1 Bases de Dados consultadas: As bases adotada foi acrescentar artigos por meio de
de dados usadas foram: - Medical Literature autores ou de referências citados em artigos
Analysis and Retrieval System Online científicos.
(MEDLINE/ PubMed); - Scientific Electronic
Library Online (SciELO); 4. RESULTADOS
3.2 Critérios de inclusão
Foram encontradas publicações nas bases
PubMed (21), Scielo (13), e 16 por meio de

1458
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

referências, somando um total de 50 artigos. Correlates with Academic Achievement and


Após excluídas aquelas que se encontravam em Cognitive Function in Children ,Coordenação
duplicidade (6), mantiveram-se 44 estudos. Das Motora se correlaciona com a realização
publicações restantes procedeu-se a análise acadêmica e função cognitiva em crianças
dos títulos e resumos, das quais foram excluídas (FERNANDES, V. R., et al. 2016).
25, por não atenderem a proposta do estudo.
Em seguida foi realizada a leitura na íntegra, das
quais 8 foram removidas por não atenderem
aos objetivos delineados; por serem artigos de
revisão; por conterem estudos em animais; e
sem grupo controle, permanecendo 4 estudos
para composição da amostra final, conforme
exposto no Quadro 1.
Quadro 1 – Fluxograma: etapas de seleção
das publicações a compor a revisão sistemática
Artigos em bases de dados: PubMed (21);
Scielo (13) Total (34)
Estudos removidos por não atenderem aos
objetivos delineados; por serem artigos de
revisão; por conterem estudos em animais; e
Frontiers in Psychology, 7, 318. 2016
sem grupo controle (8)
PUBMED Investigar a relação entre
Identificação Triagem Elegibilidade
habilidades motoras, função cognitiva e
Estudos incluídos na revisão (4)
desempenho escolar. Estudo transversal, com
Inclusão 45 alunos com idade de 8-14 anos, para avaliar
Publicações por meio de referências (16) a coordenação motora (Touch Test Disc), a
Artigos restantes após remoção dos agilidade (Shuttle Run Speed - corrida de ida e
duplicados (44) volta), o desempenho escolar (Academic
Estudos mantidos após análise de título e Achievement Test), o teste Stroop e seis sub-
resumo (19) testes do Wechsler Intelligence Scale for
Estudos excluídos com base no título e Children-IV (WISC-IV). Os dados indicam que a
resumo (25) coordenação motora visual e a atenção seletiva
Estudos acessados na íntegra a partir dos visual, mas não a agilidade, podem influenciar o
critérios iniciais de elegibilidade (11) desempenho acadêmico e a função cognitiva.
Os resultados destacam a importância de
Tabela 1 – Publicações que investigaram os investigar a correlação entre habilidades físicas
efeitos da atividade física na aprendizagem e no e diferentes aspectos da cognição. Associação
desenvolvimento infantil Título do artigo Autor entre o nível de atividade física de lazer e o
/ Periódico Base de Dados Objetivos desempenho cognitivo em crianças saudáveis
Metodologia Resultados Motor Coordination MEREGE FILHO, C.A.A. et al. 2013 Rev. Bras.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Educ. Fís. Esport., v.27, n.3, p. 355-361. São educação física escolar Os resultados
Paulo. Jul./Set. 2013 demonstraram que ocorreu uma diferença
SciELO Avaliar a associação da atividade significativa entre os grupos nos testes de
física de lazer sobre o desempenho cognitivo função executiva [F(1, 118)= 13.768; p = .001],
em crianças saudáveis. Estudo transversal, no tempo de reação [F(1, 118)= 18.352; p = .001] e
qual 100 crianças (10,8 ± 0,6 anos) foram atenção seletiva [F(1, 64)= 14.531; p = .001].
divididas em dois grupos: "Insuficientemente Desse modo, foi observado que, o grupo que
Ativos" (IA) e "Ativos" (A). O desempenho sofreu intervenção melhorou não somente o
cognitivo foi avaliado pelo Teste de Memória e aspecto motor, mas também melhorou de
Aprendizagem de Figuras, o Teste de Stroop e o forma significativa o desempenho das funções
Teste de Trilhas. Foi observada uma diferença cognitivas testadas. Associação da aptidão
estatisticamente significante entre os grupos física e desempenho acadêmico de escolares
para a condição de memória incidental do Teste FERRARI, G.L. M. et al., 2014 Rev. Bras. Ci. e
de Memória e Aprendizagem de Figuras (IA: 6,6 Mov. v. 22, n. 4, p. 37-46. 2014
± 1,37 versus A: 7,1 ± 1,24; p = 0,03). Avaliar a associação entre a aptidão física e
Entretanto, não foram observadas diferenças o desempenho acadêmico em escolares do
estatisticamente significativas entre os grupos município de Ilhabela. A amostra consistiu em
para todas as outras variáveis. Esses achados 226 escolares (119 meninos e 107 meninas)
revelam uma influência positiva da atividade com idade entre 10 e 15 anos. As variáveis
física de lazer sobre a memória incidental de antropométricas analisadas foram: índice de
crianças saudáveis, mas não a memória tardia, massa corporal, circunferência de cintura,
a flexibilidade mental e o controle inibitório. somatória das sete dobras cutâneas
Estudos com maiores amostras e medidas (subescapular, bicipital, tricipital, supra ilíaca,
diretas de avaliação de nível de atividade física axilarmédia, abdominal e panturrilha medial).
precisam ser conduzidos para confirmar esses As variáveis neuromotoras da aptidão física
achados. Efeito de um programa escolar de foram: força de membros superiores e
estimulação motora sobre o desempenho da inferiores, agilidade e força abdominal. O
função executiva e atenção em crianças desempenho acadêmico (satisfatório vs. não
(CARDEAL, C.M.,2013,p. 44;56). satisfatório) foi analisado por meio das
SciELO Verificar o efeito da estimulação disciplinas de matemática, português, leitura e
motora, nas respostas da função cognitiva de ciências cursadas no primeiro semestre de
crianças na faixa etária de 6 a 10 anos, de 2013. Os resultados corroboram com a
escolas públicas do Distrito Federal, Brasil. literatura atual, indicando uma associação
Foram formados 2 grupos controle (n = 40) e entre um componente da aptidão física (força
experimental (n = 40), avaliados antes e depois muscular) e o desempenho escolar (disciplina
da intervenção, as variáveis analisadas: de ciências) de crianças e adolescentes.
motricidade, função executiva, tempo de Programas de incentivo à prática de atividade
reação e atenção seletiva. A intervenção física, especialmente na escola, devem ser
ocorreu durante 7 meses com aulas de estimulados a fim de proporcionar os diversos

1460
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

benefícios da atividade física a essa população, coordenação bilateral do corpo, coordenação


como por exemplo, a possível melhora no mão-olho e coordenação pé-olho) com
desempenho escolar. desempenho cronometrado, permitindo a
avaliação da velocidade, atenção e qualidade
5. DISCUSSÃO do desempenho nas tarefas. Além disso,
avaliará a influência das habilidades físicas na
Os achados de Fernandes, V. R. et al. (2016),
cognição e no desempenho acadêmico. Os
sugerem que um aspecto específico das
resultados encontrados por Merege Filho,
habilidades motoras, a saber, a coordenação
C.A.A., et al. (2013), sugerem que um maior
motora, está diretamente relacionado ao
nível de atividade física no tempo de lazer pode
desempenho acadêmico e, entre as variáveis
influenciar positivamente a memória
investigadas, o melhor preditor foi a
incidental, porém não afeta as demais tarefas
coordenação motora avaliada pelo Touch Test
cognitivas avaliadas nesse estudo .Tendo em
Disc (TTD). Nenhum dos testes de avaliação
vista que os níveis de atividade física
neuropsicológica apresentaram correlação
geralmente se correlacionam positivamente
significativa com Touch Test Disc (TTD) ou
com níveis de aptidão física, é possível
Agilidade. E viu-se que a Agilidade não se
especular que os achados deste estudo vão de
associa ao desempenho acadêmico e às
encontro aos da literatura que demonstram
habilidades cognitivas. A correlação entre
uma associação entre a aptidão física e o tempo
coordenação motora e realização escolar,
de reação em tarefas que requerem um alto
verificada neste estudo, parece estar
poder de controle inibitório, flexibilidade
relacionada à capacidade motora e à percepção
cognitiva e ativação cortical em crianças. No
visual necessária para a identificação e
estudo, apenas a memória incidental mostrou-
localização do objeto.
se susceptível a um maior nível de atividade
Existem algumas limitações que precisam
física no tempo de lazer (p = 0,03). Esse e outros
ser consideradas. Em primeiro lugar, o IMC teve
achados sugerem que crianças mais
uma grande variabilidade entre os indivíduos.
assiduamente engajadas em atividades físicas
No entanto, não houve diferença significativa
esportivas no tempo de lazer têm maior
entre os grupos de IMC entre as variáveis
desempenho na memória de curto prazo.
dependentes. Outra limitação é a falta de
Neste estudo, contudo, não foi possível avaliar
informações sobre a maturação das crianças,
dados de desempenho escolar, bem como
uma vez que houve uma grande variação de
casos individuais de desinteligências
idade (8-14anos). Por fim, o presente estudo
domiciliares, os quais poderiam auxiliar na
concluiu que a coordenação motora visual e a
explicação dos nossos achados. Além disso, faz-
atenção seletiva visual, mas não a agilidade,
se necessária a realização de estudos com
podem influenciar o desempenho acadêmico e
amostras maiores, evitando possíveis erros
a função cognitiva. Porém viu-se a necessidade
estatísticos do tipo 2 (relato de ausência de
de pesquisas futuras que investiguem a relação
significância, quando, de fato, a mesma existe).
entre diferentes habilidades motoras
As crianças fisicamente ativas apresentaram
complexas (habilidades motoras finas,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

melhor desempenho cognitivo do que aquelas aspecto motor, mas também melhorou de
insuficientemente ativas numa tarefa de forma significativa o desempenho nos testes de
memória incidental. Contudo, o nível de função executiva e atenção seletiva, ou seja, o
atividade física no tempo de lazer pareceu não raciocínio ainda que baseado nas operações
afetar as demais respostas cognitivas, tais como concretas tornou-se mais rápido requisitando
a memória tardia, a flexibilidade mental e o menos tempo para solucionar um problema.
controle inibitório. A partir dos resultados Ferrari, G. L. M., et al., (2014), avaliaram a
obtidos na avaliação motora, por Cardeal, C.M., associação entre a aptidão física e o
et al. (2013), observa-se que o esquema desempenho acadêmico de escolares de
corporal, a organização espacial e a organização Ilhabela. Os resultados apontam para uma
temporal foram as que apresentaram o maior associação entre a força de membros inferiores
grau de defasagem para ambos os grupos. O e o desempenho satisfatório na disciplina de
processo de desenvolvimento do esquema ciências. Esses achados corroboram com as
corporal ocorre plenamente durante a infância, evidencias presentes na literatura, mostrando
no qual, a criança toma consciência das partes uma associação entre a força muscular e o
que constituem o corpo e como essas podem se desempenho escolar (disciplina de ciências) de
movimentar. Na sua fase final (entre 7 e 8 anos crianças e adolescentes.
de idade), está intimamente associada com o O estudo apresenta algumas limitações. As
desenvolvimento espacial. Tal estudo escolas avaliadas pelo estudo disponibilizaram
encontrou diferenças significativas entre dois informações quanto ao desempenho escolar de
grupos no que se refere ao tempo de reação, forma dicotômica: satisfatória e não
que pode estar associado com a atividade física, satisfatória. Entretanto, a categorização dessa
corroborando com (CHADDOCK, et al., 2012). variável, que é fundamentalmente contínua,
Quanto à função executiva foi observado, apresenta várias limitações como: a) perda de
que o grupo experimental obteve melhores informação; b) indivíduos próximos aos pontos
respostas no momento pós-intervenção de corte definidos pelas categorias são
motora quando comparado com o grupo considerados muito diferentes, quando na
controle. Adicionalmente, a função executiva é verdade são semelhantes; c) perda de poder
fundamental para todas as formas de estatístico e estimativa imprecisa; d)
comportamento e é uma estrutura impossibilidade de analisar relações lineares.
fundamental para o desenvolvimento. É Além disso, o delineamento transversal limita a
importante para o comportamento em sala de possibilidade de analisar uma relação causal
aula, para a aprendizagem e também para a entre a aptidão física e o desempenho
auto regulação. Assim a atividade física, aqui acadêmico por não levar em conta a
representada pela educação física escolar, tem temporalidade das relações. Contudo, os
o potencial de promover o desenvolvimento resultados do estudo, em conjunto com os da
por meio do seu impacto direto na função literatura citados, sugerem que a atividade
executiva. Foi observado que, o grupo que física no ambiente escolar pode ter um impacto
sofreu intervenção melhorou não somente o sobre as habilidades cognitivas e

1462
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

comportamento acadêmico, os quais são


componentes importantes na melhoria do
desempenho acadêmico.

1463
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se da importância da prática de atividades físicas, principalmente vinculada aos seus
efeitos benéficos à saúde. Vários estudos comprovam que a prática da atividade física, é um dos
elementos fundamentais para a aquisição ou manutenção do estado da saúde, considerado
adequado, tanto nos aspectos físicos como mentais. Conforme algumas pesquisas realizadas
recentemente, existem evidências de que há certa influência da atividade física com relação ao
desenvolvimento humano. Portanto o presente trabalho buscou abordar a questão da atividade
física no contexto mais amplo, a conter desde atividades de lazer até atividades sistematizadas,
relacionando-a com o desenvolvimento motor e aprendizagem infantil. Nesse contexto, embora
existam algumas dificuldades e obstáculos, principalmente para avaliação de resultados, parece
que atividade física realmente é uma ferramenta capaz de influenciar positivamente no
desenvolvimento motor e na aprendizagem infantil, podendo ser observado por meio do
desempenho acadêmico, os quais se relacionam entre si. Dada a importância do assunto, faz-se
necessário o desenvolvimento de mais formas de avaliar o desempenho motor, mas
principalmente o cognitivo a fim de tornar o estudo do tema mais notável e influente, podendo
assim fazer-se mais evidente para grande população, que poderá usufruir dos prós da atividade
física.

1464
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1468
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

OS MUSEUS E A ACESSIBILIDADE
Adriana Sampaio Ramiro Sabadini1

RESUMO: O presente artigo apresenta reflexões sobre a importância da acessibilidade em


museus, partindo dos pressupostos da Nova Museologia. Pretende se abordar a compreensão
desse conceito pelas instituições culturais e suas aplicações e ressalvas nesses espaços. Discute
ainda as tipologias de acessibilidade e as possíveis soluções dadas, trabalhando numa perspectiva
mais a interação de diversos públicos num mesmo espaço, sendo reconhecidas e respeitadas as
suas diferenças. Este artigo promove diversas reflexões sobre a linguagem e suas referências à
corporalidade e à construção de significado. Se propõe considerar na elaboração de projeto
educacional dentro do a linguagem museográfica como ferramenta fundamental processo
comunicativo e educativo do museu.

Palavras-Chave: Arte; Museus; Acessibilidade.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Artes; Licenciatura em Pedagogia; Especializaçao em Gestão Escolar; Especialização
em Artes; Especialização em Educação Especial.
E-mail: adrisamp@yahoo.com.br

1469
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO O contexto definido e determinado por


relacionamentos e interações com os outros e
No contexto dos museus, a linguagem até com o ambiente, materiais, cores, luz e sons
museográfica é o meio fundamental de determina as possibilidades e qualidades dos
comunicação e é essa linguagem de objetos, processos de aprendizagem que cada indivíduo
espaços, ambientes e até sons definitivamente escolhe produzir dentro do contexto.
humanos em sua impressão e leitura que A Educação Inclusiva tem recebido,
permite ou proibi, convida ou censura, bloqueia progressivamente, a atenção de pesquisadores,
ou participa dos processos de aprendizagem. pois ainda precisamos vencer alguns estigmas
Portanto, o espaço do museu é definido que impomos às pessoas com deficiência.
como um lugar onde múltiplas dimensões No que tange especificamente ao museu, a
coexistem, até mesmo algumas opostas. É um educação de pessoas com deficiência em seus
ambiente híbrido, no qual o espaço é moldado espaços vai muito além das convenções que
pelas relações que se formam dentro dele. nos levaram ao desenho universal e à
Quando se fala de espaço de relações, adaptação dos espaços físicos.
refere-se a um espaço integrado no qual as Por meio de processos educativos somos
qualidades não são necessariamente estéticas, ensinados sobre nossa própria cultura.
mas mais próximo dos conceitos performáticos. a educação e a cultura aparecem como faces
Essas relações não resultam de único rigorosamente recíprocas e complementares
projeto, mas uma estratificação de muitos de uma mesma realidade: uma não pode ser
projetos, atividades e relacionamentos que pensada sem a outra e toda a reflexão sobre
podem até ser opostos. Então, esse espaço de uma desemboca imediatamente na
aprendizagem não é um laboratório isolado consideração da outra (FORQUIN, 1991, p.14).
localizado no meio da complexidade do museu, Percebe-se que a educação e a cultura
mas um lugar onde essa complexidade e a da caminham lado a lado e por isso, deve-se
própria sociedade torna-se uma experiência preocupar com a acessibilidade nos museus e a
formativa. inclusão de pessoas com deficiência nas visitas
O espaço museográfico é então uma culutrais.
superfície reflexiva que reenvia ao protagonista
e protagonistas os traços de suas próprias
A ACESSIBILIDADE NOS
ações, incentiva o ato de compartilhar; como
está sendo conhecido (VECHI, 2013, p. 31). MUSEUS
A singularidade de cada cérebro faz com que . A acessibilidade surgiu por volta da segunda
o ato de aprender individual e original um ato metade do século XX, na Europa, a partir das
de auto aprendizagem. É o próprio indivíduo décadas de 60/70, na qual tem início um
que, ao interagir com a realidade, constrói e questionamento em relação às funções
reconstrói essa realidade fazendo desempenhadas pelos museus.
transformações e criando conexões ao redor do De acordo com Sarraf (2008):
experiências vividas.

1470
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

o uso excessivo de recursos visuais e oferecidos pelos equipamentos culturais


informações intelectualizadas, (...) questionado devem estar ao alcance de todos os indivíduos,
desde 1960, tanto pelo pensamento de perceptíveis a todas as formas de comunicação
Debord1 que influenciou o meio estudantil e com sua utilização de forma clara, permitindo
ligado à revolução cultural, quanto pelos a autonomia dos usuários. Os museus para
artistas contemporâneos influenciados pelas serem acessíveis, portanto, precisam que seus
criações e conceitos de Marcel Duchamp serviços estejam adequados para serem
(SARRAF, 2008, p.58). alcançados, acionados, utilizados e vivenciados
No Brasil, a acessibilidade surgiu por volta por qualquer pessoa, independente de sua
dos anos 80, com um projeto de Waldisa Russio condição física ou comunicacional (SARRAF,
Camargo Guarnieri para o Museu da Indústria, 2006, p.38).
Comercio e Tecnologia. Nota-se que mesmo amparada por leis e
Segundo Cohen (2009), apud, Santos (2014): recomendações direcionadas, a acessibilidade
A acessibilidade compreende muito mais do é ainda pouco compreendida no âmbito
que a preocupação com a eliminação de cultural do país.
barreiras, o espaço deve permitir a todos a É fundamental propiciar condições para que
opção de experimentar e vivenciar todo o o público se sinta bem-vindo no museu e que se
ambiente, deve permitir a entrada e circulação sinta parte daquele lugar. E quando se fala em
em todas as áreas do museu, transmitindo acessibilidade, não nos referimos apenas aos
segurança e liberdade que permitam ao problemas sociais, que rondam esse uso
visitante estabelecer uma relação harmoniosa elitizado do museu, mas também o acesso de
com os espaços. A teoria Cartesiana que apenas pessoas com deficiência nesse espaço.
previa os impedimentos físicos do espaço há De acordo com Decreto Federal Brasileiro nº
muito que se encontra a recuar face a um novo 5.296 (2004), a acessibilidade é a:
conceito e paradigma que envolve o corpo em Condição para utilização, com segurança e
movimento, as expressões corporais, sensoriais autonomia, total ou assistida, dos espaços,
e cinestésicas, trata-se da possibilidade de mobiliários e equipamentos urbanos, das
sentir, de se deixar envolver nessas emoções e edificações, dos serviços de transporte e dos
sensações na procura da identidade e de dispositivos, sistemas e meios de comunicação
pertença ao que nos rodeia (COHEN, 2009, e informação, por pessoa portadora de
p.70, apud, SANTOS, 2014, p.314). deficiência ou com mobilidade reduzida
Portanto, deve-se preocupar com os espaços (BRASIL,2004, s.p).
nos museus para que se tenha adequação no Sendo assim, garantir a acessibilidade não se
sentido de receber diversos tipos de inclusão. resume apenas ao público com deficiência.
De acordo com Sarraf (2006): O acesso à cultura é realizado por meio de
Acessibilidade em museus significa que as conquistas, que se faz com lutas e
exposições, espaços de convivência, serviços de enfrentamentos renovados. Mesmo nas
informações, programas de formação e todos sociedades nas quais a acessibilidade está
os demais serviços básicos e especiais garantida por lei, deve-se fazer valer os direitos.

1471
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Atualmente existe um documento chamado Por meio desse quadro percebe-se que a
de Plano Nacional Setorial de Museus (PNSM) preocupação com a acessibilidade é cada vez
que foi criado em 2009/2010, que faz parte do maior nos museus, para que se possa haver
Plano nacional de Cultura, ao qual a realmente uma inclusão de pessoas que não
acessibilidade se articula com a tenho fácil acesso à cultura e aos museus.
sustentabilidade ambiental, conforme o quadro
a seguir: OS MUSEUS PAULISTAS
Eixos Setoriais Diretriz
“Garantir a acessibilidade física, social, Em São Paulo existem três museus
informacional e estética a todos os tipos
de público aos museus de arte,
centenários: Pinacoteca do Estado, que foi
Museus de arte
compreendendo este fator como de fundada em 1905, no qual possui um acervo
importância para a sustentabilidade
socioambiental.” com “seis mil obras, é composto por pinturas,
“Assegurar medidas eficazes de esculturas, desenhos, gravuras, fotografias e
acessibilidade aos museus e às
Museus de
informações museológicas, incluindo objetos de artistas brasileiros e estrangeiros, do
informações conscientizadoras sobre
história
desenvolvimento sustentável e sua
século XIX até a atualidade” (MENESES, 1992,
relação/ integração com o meio ambiente, a). O Museu Paulista da Universidade de São
para todo e qualquer tipo de público.
Museus de “Ampliar a acessibilidade e a Paulo, fundado em 1893 como um museu de
culturas sustentabilidade ambiental dos museus.” história natural, é desde a década de 1930 um
militares
Museus de “Estabelecer políticas de incentivo à museu de história do Brasil, com destaque para
ciências e acessibilidade e à sustentabilidade
tecnologia ambiental em museus.
o Estado de São Paulo;
“Garantir o desenvolvimento de ações Embora possua acervo abarcando peças
Museus voltadas para a acessibilidade em
etnográficos museus que promovam a desde o fim do século XVII, o Museu Paulista
interculturalidade.” coloca como prioritário o período de 1850 a
“Fortalecer e incentivar os museus de
Museus
arqueologia a atuarem de forma dinâmica, 1950 para aquisição de acervo e pesquisa. Essa
intra e extramuros, com acervos, sítios e
arqueológicos
áreas de forma participativa e
proposta foi explicitada por Ulpiano Bezerra de
sustentável.” Meneses durante sua gestão como diretor,
“Assegurar políticas inclusivas com
Museus programas de acessibilidade que além das três linhas de pesquisa: “cotidiano e
comunitários e considerem os limites físicos, simbólicos e sociedade”, “universo do trabalho “e “história
ecomuseus cognitivos, além da sustentabilidade
ambiental, local e regional.” do imaginário” (MENESES, 1992b, p. 7;10).
Museus da “Transformar tais museus em unidades
imagem e do exemplares em acessibilidade e
Temos também, entre esses principais
som e de novas sustentabilidade ambiental, tornando-os Museus, o “Museu de Zoologia se destaca como
tecnologias referência.”
“Garantir a acessibilidade física e virtual, um centro de pesquisas e depositário de
Arquivos e
ampliando a disseminação da informação coleções zoológicas, com cerca de oito milhões
do patrimônio cultural nacional de forma
bibliotecas de de exemplares de espécies animais, sendo
sustentável, que integrem os acervos
museus
arquivísticos e bibliográficos dos
museus.”
referência para a pesquisa sobre a fauna
Fonte: Instituto Brasileiro de Museus/Ministério da neotropical” (SANTOS, 1998).
Cultura. Plano Nacional Setorial de Museus. Brasília. (2010. Os estudos de público e avaliações de
p.25)
exposições em museus encaram o visitante
como um participante ativo da relação museal.
Por meio de observação, entrevistas,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

questionários, depoimentos, conversas Assim, por exemplo, na Inglaterra vitoriana


telefônicas, esses estudos têm trazido a “voz” e, mais ainda, nos Estados Unidos, os
do visitante de museus, na busca do fundadores de museus exploraram a estética,
aperfeiçoamento do processo comunicacional nos museus históricos e antropológicos, para
promovido pelas exposições (ALMEIDA, 2002; industriar e formar disciplinarmente o povo em
STUDART, et al., 2003). geral e as classes operárias em particular e,
Em séculos anteriores os Museus eram num segundo momento, para reafirmar – nos
ecléticos, ou seja, não havia uma EUA – valores americanos como contraponto
separação/direção para cada disciplina, como aos riscos da imigração e, em seguida, estímulo
ocorre nos dias atuais, ao qual começou a exigir ao progresso. Quanto aos museus
olhares distintos para cada Museu. antropológicos, sempre foram acusados de se
Ainda no século XIX, os grandes museus de apropriarem ideologicamente de “outras
história natural apresentavam exposições de culturas”, estetizando-as. E os museus de “artes
Ciências Naturais, Exatas, Antropologia, decorativas” muitas vezes constituíram um
Arqueologia e eventualmente Arte. Durante o modelo variante de museu histórico (MENESES,
século XX, a maior parte deles foi fragmentada 1994a, p. 16).
em diferentes museus e centros de pesquisa: Portanto, os Museus Paulistas direcionam os
Zoologia, Botânica, Geologia, Arqueologia, públicos de acordo com seus interesses,
Antropologia, entre outros (ALMEIDA, 2003, p. havendo um ponto positivo nisso tudo, que é o
24). prazer em visitar um Museu e adquirir mais
Fazendo a distinção dos Museus, cada qual cultura.
com a sua “disciplina”, percebe-se que o Os Museus sempre estarão expressando a
público também é direcionado, a cada qual com cultura de um povo, seja qual for o
o seu olhar a respeito de seu interesse ao visitar direcionamento.
um Museu. Percebe-se que anteriormente os Museus
As trajetórias dos museus de arte e de ciência eram todos iguais, não havendo uma separação
no tempo foram solidificando as noções de que entre as disciplinas, mas ao perceberem que
a Arte faz parte de um mundo acima da poderiam receber um acervo maior de obras
realidade cotidiana, que é superior e só pode quando direcionados para determinado
ser compreendida por uma minoria iniciada, Museu, começaram a fundar um Museu para
que conhece sua história, enquanto a Ciência é cada disciplina.
altamente voltada para o mundo prático e Em São Paulo, como citado nessa pesquisa,
imediato e não exige o conhecimento de sua há três museus centenários, os quais
história para a compreensão dos fenômenos direcionam seu tipo de público.
estudados (ALMEIDA, 2003, p. 23).
De acordo com Meneses, sempre houve uma
relação que permitirá diferentes
interpretações:

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DOCUMENTOS A RESPEITO DA reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à


cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à
ACESSIBILIDADE AOS MUSEUS informação, à comunicação, aos avanços
Segundo a lei brasileira nº 11.904/2009, que científicos e tecnológicos, à dignidade, ao
institui o Estatuto de Museus, artigo segundo, respeito, à liberdade, à convivência familiar e
inciso V, é um princípio dos museus “promover comunitária, entre outros decorrentes da
a universalidade do acesso, o respeito e a Constituição Federal, da Convenção sobre os
valorização à diversidade cultural”. Direitos das Pessoas com Deficiência e seu
De acordo com a Declaração Universal de Protocolo Facultativo e das leis e de outras
Direitos Humanos (1948), prevê em seu artigo normas que garantam seu bem-estar pessoal,
XXVII que: “toda pessoa tem o direito de social e econômico.
participar livremente da vida cultural da Então, percebe-se que a acessibilidade e a
comunidade, de fruir as artes e de participar do inclusão estão garantidas por leis, mas nem
processo científico e de seus benefícios”. sempre são cumpridas, daí a importância que
Segundo a Associação Brasileira de Normas se tem das pessoas procurarem valer seus
Técnicas (ABNT), a acessibilidade “É a direitos.
possibilidade e condição de alcance, percepção Atualmente, a acessilbidade nos museus
e entendimento para utilização com segurança procede da seguinte maneira:
e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, Estacionamento: Segundo a lei 10.098/2000,
equipamento urbano e elementos” (ABNT, NBR todo estabelecimento público ou privado deve
9050/2004, p.2). reservar no mínimo 2% das vagas em seu
Portanto, precisa se ficar atento e procurar estacionamento para pessoas com deficiência
entender um pouco mais de que forma o (Art.7º), essas vagas devem estar próximas ao
trabalho com os Museus pode contribuir de local de circulação de pedestres.
uma forma significativa para que a Espaço externo: Os pisos das áreas externas
acessibilidade realmente seja implantada e ao museu também precisam de adaptações
garantir os direitos das pessoas que possuem para serem considerados acessíveis, para isso
algum tipo de deficiência possa usufruir dessa devem ser antiderrapantes, e ter pisos com
acessibilidade, como a questão do espaço sinalização tátil (piso guia e piso de alerta),
físico, sendo função do Estado de aplicar e esses devem ser cromo diferenciados do piso
fiscalizar essas adaptações físicas no espaço, adjacente e também possuir textura diferente.
como consta na lei 13.146/2015: O piso tátil direcional é aquele cuja função é
Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da guiar a pessoa com deficiência visual por meio
família assegurar à pessoa com deficiência, com de um percurso livre de barreiras, assim
prioridade, a efetivação dos direitos referentes evitando acidentes. Junto ao piso de sinalização
à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e tátil direcional, existe o piso de sinalização tátil
à maternidade, à alimentação, à habitação, à de alerta, ao qual o dever é alertar a pessoa
educação, à profissionalização, ao trabalho, à com deficiência visual de uma barreira ou
previdência social, à habilitação e à obstáculo presente em seu percurso.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nas rampas além da sinalização tátil de alerta Em 14 de janeiro 2009 surge a Lei 11.904, na
em seu início e fim, é obrigatório o uso de qual institui o Estatuto de Museus: […]
corrimãos com bordas arredondadas, em considera como um dos princípios
ambos os lados e durante todo seu percurso. fundamentais dos museus a universalidade do
Espaço Interno: deve-se observar o interior acesso, o respeito e a valorização à diversidade
de sua arquitetura. As portas dos museus são cultural.
preferíveis que sejam de largura mínima de No Artigo 2º, o documento coloca como
1,40m, feitas de material leve e possuam princípios fundamentais dos museus:
maçanetas tipo alavanca. Portas de vidro
devem ser sinalizadas com faixas de cor I – a valorização da dignidade humana;
contrastante. As janelas seguem padrões II – a promoção da cidadania;
semelhantes às portas, serem feitas de material III – o cumprimento da função social;
leve, de abertura em único movimento, e IV – a valorização e preservação do
devem estar instaladas em peitoril com altura patrimônio cultural e ambiental;
de 0,80m. V – a universalidade do acesso, o respeito e a
O piso dentro do museu deve seguir as valorização à diversidade cultural.
mesmas recomendações do piso do percurso A acessibilidade atualmente se faz presente
externo. em forma de Leis e documentos que
A NBR 9050/2004 define três formas de possibilitam às pessoas com deficiência a terem
sinalização - a tátil, a sonora e a visual - ainda fácil acesso à cultura e entretenimento.
havendo seus tipos - permanente, direcional,
de emergência e temporária.
AS DESIGUALDADES SOCIAIS E
A preocupação em fazer com que os museus
adequem seus espaços para a acessibilidade é A ACESSIBILIDADE
cada vez mais constante, mas precisa se ter um A acessibilidade existe para minimizar ou
esclarecimento melhor em relação as leis de eliminar as barreiras das desigualdades sociais.
acessibilidade. Segundo Sassaki (2010):
De acordo com a Lei 13.146, Lei Brasileira de o processo pelo qual a sociedade se adapta
Inclusão da Pessoa com Deficiência - Estatuto para poder incluir, em seus sistemas sociais
da Pessoa com Deficiência. (2015), § 2°: gerais pessoas com deficiência (além de outras)
O poder público deve adotar soluções e, simultaneamente, estas se preparam para
destinadas à eliminação, à redução ou à assumir seus papeis na sociedade (SASSAKI,
superação de barreiras para a promoção do 2010, p.39).
acesso a todo patrimônio cultural, observadas Portanto percebe-se que nos museus e
as normas de acessibilidade, ambientais e de outras formas de acesso à cultura precisa se ter
proteção do patrimônio histórico e artístico a colaboração da sociedade na forma de incluir
nacional. pessoas com deficiência ou que tenham
dificulade de acesso.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

De acordo com Decreto nº 3.298/1999, que 1. IGUALITÁRIO – Uso Equiparável –


regulamenta a Lei nº 7.853/1989 (Política Equiparável = tornar igual, igualar. Por em
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora paralelo. São espaços, objetos e produtos que
de Deficiência) as deficiências que necessitam podem ser utilizados por pessoas com
de acessibilidade são: diferentes capacidades, tornando os ambientes
I - deficiência – toda perda ou anormalidade iguais para todos.
de uma estrutura ou função psicológica, 2. ADAPTÁVEL – Uso FLEXIVEL – Flexível =
fisiológica ou anatômica que gere incapacidade que pode dobrar, curvar, alterar. Maleável,
para o desempenho de atividade, dentro do adaptável. Design de produtos ou espaços que
padrão considerado normal para o ser humano; atendem pessoas com diferentes habilidades e
II - deficiência permanente – aquela que diversas preferências, sendo adaptáveis para
ocorreu ou se estabilizou durante um período qualquer uso.
de tempo suficiente para não permitir 3. ÓBVIO – Uso simples e intuitivo – Intuitivo
recuperação ou ter probabilidade de que se = que se conhece facilmente. ‘Incontestável,
altere, apesar de novos tratamentos; e claro, evidente. De fácil entendimento para que
III - incapacidade – uma redução efetiva e a pessoa possa compreender, independente de
acentuada da capacidade de integração social, sua experiência, conhecimento, habilidades de
com necessidade de equipamentos, linguagem ou nível de concentração.
adaptações, meios ou recursos especiais para 4. CONHECIDO – Informação de fácil
que a pessoa portadora de deficiência possa percepção – Percepção = ato ou efeito de
receber ou transmitir informações necessárias perceber. Combinação dos sentidos de
ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de reconhecimento de um objeto. Quando a
função ou atividade a ser exercida. informação necessária é transmitida de forma a
Embora as adequações arquitetônicas atender as necessidades do receptor, seja ela
visando à inclusão das pessoas com deficiência uma pessoa estrangeira, com dificuldade de
sejam as medidas mais visíveis e concretas, a visão ou audição.
acessibilidade não se limita exclusivamente à 5. SEGURO – Tolerante ao erro – Tolerante =
acessibilidade física ou arquitetônica, mas que tolera, que perdoa. Sensibilizado ao erro.
abarca muitos outros tipos. Todos eles Previsto para minimizar os riscos e possíveis
possuem valor e dimensão política capazes de consequências de ações acidentais ou não
garantir, proteger e efetivar o direito intencionais.
constitucional das pessoas com deficiência em 6. SEM ESFORÇO – Baixo esforço físico –
acessar, em permanecer e se apropriar dos Baixo esforço físico = economia de energia. Fácil
bens culturais. manipulação.
Alguns conceitos foram adotados por 7. ABRANGENTE – Dimensão e espaço para
programas de acessiblidade, que de acordo aproximação de uso – Dimensão = sentido em
com Carletto, Cambiagui (2008, p. 12;17), são que se mede a extensão para avaliar. Medida,
os seguintes: tamanho.

1476
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Esses conceitos orientam a acessibilidade


para dimensões e espaços adequados às
pessoas com deficiência e à inclusão.
Pode-se considerar que o exercício pleno da
cidadania é conquistado por meio do embate
diário entre os diferentes segmentos da
sociedade, caracterizados por forças nem
sempre equivalentes.
De acordo com algumas matérias a respeito
de acessibilidade nos museus, percebe-se que a
nossa sociedade está começando a se
preocupar mais com as diversas culturas,
tentando fazer com que a inclusão se torne
parte desse processo. O museu é o lugar
símbolo da Cultura, que existe para nos lembrar
que a nossa cultura é um processo de criação e
conexão com o que somos, sendo assim se tem
a necessidade de haver cada vez mais acesso à
essa cultura tão importante nos dias atuais.

1477
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A acessibilidade aos museus é um assunto que precisa ser tratado de forma mais ampla,
por meio de debates e discussões, nas quais a sociedade deve procurar contribuir, entendendo
mais sobre as leis que amparam a acessibilidade.
Este artigo tentou abordar alguns exemplos de leis à respeito da acessibilidade e da
inclusão e a importância das mesmas dentro dos espaços culturais, como os museus.
As políticas de cultura no Brasil passaram por muitas fases e foram marcadas por evoluções
e involuções, desde quando se considera a política cultural como uma política oficializada pelo
Estado.
A importância da acessibilidade nos Museus ainda é um desafio audacioso que vai ao
encontro dos anseios de um segmento da população e vai de encontro à vontade política da
sociedade que se mostra disposta a tornar-se mais plural e democrática.
É importante que o público passe a ter mais conhecimentos a respeito dos Museus, nos
quais sempre irão contribuir para o desenvolvimento da cultura de um povo. Infelizmente ainda
estamos marcados por uma sociedade na qual não se tem acesso com tanta facilidade para
cultura, bem como as visitas aos Museus. Ainda há necessidade de termos uma política que invista
mais em nossa cultura.
Tornar um museu acessível, não envolve apenas possibilitar o acesso ao seu interior, mas
possibilitar que esse prédio e seu acervo se mostre sob diferentes formas e se deixe apreender e
modificar à medida que com ele interage diversos públicos.

1478
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1479
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PEDAGOGIA DA OPRESSÃO NO ESPAÇO


ESCOLAR: RESGATE DE MEMÓRIAS DE
EXPERIÊNCIAS COM A HOMOFOBIA NA BUSCA
DE FORMAS DE RESISTÊNCIA1
Marcos Andrade Alves dos Santos2
Mário Cézar Amorim de Oliveira3

RESUMO: Argumentando que as disposições e dinâmicas escolares estão centradas na


heteronormatividade, objetivamos nesse ensaio explicitar como essas disposições se
materializam em violências no cotidiano escolar a partir de relatos das vivências dos autores 4
como estudantes da educação básica no Ceará. Historicamente, o aparato escolar foi cúmplice da
manutenção e do funcionamento estrutural da LGBTQfobia, tendo em vista que a discriminação

1 Esse texto é uma versão ampliada e revisada do trabalho apresentado e publicado nos anais do III Congresso
Nacional de Educação (III CONEDU), em 2016. Anais disponíveis em
https://www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/resumo.php?idtrabalho=2156
2 Mestrando em Sociologia no Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Estadual do

Ceará (UECE). Especialista em Gênero e Diversidade na Escola pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Licenciando em Ciências Biológicas pela Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI-UECE).
E-mail: marcos.andrade@aluno.uece.br
3 Doutorando em Ensino, Filosofia e História das Ciências (PPGEFHC-UFBA/UEFS). Professor do Curso de

Licenciatura em Ciências Biológicas da Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI), campus da Universidade


Estadual do Ceará (UECE).
E-mail: mario.amorim@uece.br
4 Alertamos a/o leitor/a que, a todo momento, o texto transitará entre as primeiras pessoas do singular (eu) e plural

(nós), em virtude do diálogo dos autores nas convergências e divergências vivenciadas ao longo da vida escolar. O
plural aponta experiências vivenciadas por ambos, enquanto o singular indica especificidades vivenciadas pelo
primeiro autor.

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contra a comunidade LGBTQ+, tão comum nos espaços jurídico e social, não está distante,
tampouco ausente, do espaço escolar. Ao contrário, o exercício escolar de princípios
heteronormativos preenche esse espaço de significados e violências simbólicas contra
determinados modos de vida desde sempre exposto à precariedade e à violência. Argumentamos
a favor da abordagem de assuntos ligados à sexualidade, gênero e, principalmente, direitos
humanos na educação formal, como estratégia que desestabilize os regimes de opressão na
escola pública e garanta minimamente uma educação que contribua para uma sociedade mais
justa e equitativa.

Palavras-Chave: Heteronormatividade; Educação Básica; Pedagogia do Armário.

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INTRODUÇÃO Na construção de uma educação que


respeite e desenvolva as potencialidades de
A escola é um palco onde ensaiamos nossos crianças, adolescentes e jovens, a escola tem
papeis sociais. As mais diversas e conflitantes sido objeto de olhares e críticas, visto que,
situações que vivenciamos no ambiente escolar segundo Junqueira (2012), configura-se como
nos ensinam muito mais do que os conteúdos instituição que cultiva e ensina preconceitos e
curriculares previstos, elas inscrevem marcas e discriminações. Por outro lado, por ter se
estilos em nossos corpos, nos ensinam como constituído como espaço disciplinador e
ser, como sentir, como expressar, e como agir historicamente ter atuado como braço de
diante da diversidade imersa no tecido escolar, normalização do Estado, Miskolci (2016),
produzindo efeitos nas formas que nos aponta que a escola consiste num espaço
relacionamos conosco e com as pessoas. adequado ao trabalho com as diferenças, o qual
Ao refletir sobre suas experiências escolares, esteja voltado para a desnaturalização das
Louro (2005), argumenta que a forma como nos violências e práticas desumanizantes.
construímos socialmente possui estreita Percebendo que as disposições da escola,
relação com as situações vivenciadas na escola enquanto aparelho de disciplinamento e
e nosso desempenho nelas; a autora reflete sujeição, estão capilarmente situadas em
que o investimento básico da educação está processos heteronormativos, seja na afirmação
voltado à fabricação de homens e mulheres “de e normalização da heterossexualidade como
verdade”, a quem mais tarde vai qualificar única forma de entendimento e vivência da
como heterossexuais. Para ela, nossas sexualidade, seja na fabricação do sujeito
lembranças escolares estão associadas à forma heterossexual e abjeção de indivíduos
como constituímos nossas identidades sociais, dissidentes da norma, o objetivo desse ensaio é
especialmente as afetivo-sexuais e de gênero. explicitar como essas disposições se
Situar-se dentro do espaço escolar implica materializam em violências no cotidiano escolar
em reconhecer as múltiplas negociações e a partir de relatos das vivências dos autores
disputas sociais que permeiam sua construção como estudantes da educação básica no Ceará.
como espaço social hierarquizado. As disputas Neste esforço pretendemos refletir sobre as
de diferentes grupos sociais pelo espaço articulações entre a experiência vivida como
político da escola objetivam codificar valores, meninos afeminados na escola e o dito e o não
crenças, subjetividades, preconceitos em dito do currículo, os discursos, gestos e ações
currículos administrados com um ideal de dos professores e demais profissionais da
educação para todos. No atual contexto político escola, as relações de poder entre os alunos e
brasileiro observamos, portanto, como os com a comunidade escolar.
grupos hegemônicos buscam efetivar suas Esse texto é fruto de inquietações de seus
lógicas que patrocinam a exclusão e o autores acerca dos processos disciplinares
silenciamento no espaço escolar, por meio de vivenciados no interior das escolas
projetos que reiteram ideais de apagamento frequentadas quando estudantes da educação
social dos grupos subalternizados. básica. Neste contexto, essa abordagem foi

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

construída por meio do relato de experiência, Neste contexto, o currículo se constitui em


metodologia que se aproxima da pesquisa um instrumento de institucionalização e
autobiográfica (SOUZA, 2006; FREITAS; legitimação da violência LGBTQfóbica. Segundo
GHEDIN, 2015; PESSEGGI, 2016). Junqueira (2012), o currículo heteronormativo
é um artefato político, discursivo,
CURRÍCULO automaticamente cultural. Para ele, entender
que as disposições curriculares estão
HETERONORMATIVO imbricadas pela heteronormatividade se faz
A heteronormatividade permanece no cerne necessário à medida que notamos que uma
das mais diversas situações de aprendizagem série de atividades propostas na escola tem
no dia-a-dia da escola, produzindo efeitos como intuito ensinar que a heterossexualidade
normalizadores no tecido escolar. Em artigo é a única possibilidade legítima de
que discute sobre a diferença na escola, experimentação da sexualidade.
buscando evidenciar como as disposições Instituindo a heterossexualidade como
heteronormativas instituem regimes de posição normal de sexualidade, a escola, ao
desigualdade e de abjeção dos diferentes à mesmo tempo, demarca a posição a ser
norma heterossexual, Bento (2011), reflete que alcançada por todos e os limites para quem não
os efeitos da heteronormatividade incidem a atinge. Deixando evidente que o “outro” é
mais violentamente sobre uns que outros, todo aquele que não se adequa as exigências
agindo de distintas e contingentes maneiras na heteronormativas. Para estes “outros”,
formação dos sujeitos, construindo e autoriza-se uma série de pedagogias não
visibilizando os corpos dissidentes num explicitadas no currículo prescrito, mas que
processo que simultaneamente os nega e os integram o currículo em ação operado na escola
apaga. (JUNQUEIRA, 2012). Desse modo, piadas,
Nesse sentido, Bento (2011), tensiona aquilo insultos, degradações, humilhações, assédios,
que compreendemos por evasão escolar, ameaças, violências, desumanizações se
argumentando que determinadas pessoas que constituem em experiências didáticas que se
escapam das normalizações de gênero e articulam entre o currículo e o cotidiano, em
sexuais, apesar de serem adensadas nos índices operações que objetivam normalizar a todos,
de evasão escolar, de fato sofrem um processo mesmo que seus alvos prioritários sejam os
de expulsão da escola. Isso é importante, pois “diferentes”. 5 1

tende a mudar o olhar sobre a experiência de Nestes termos, essa reflexão situa que a
LGBTQ+ em processo de escolarização, aprendizagem acontece dentro dos parâmetros
particularmente de transgêneros, que são alvos do currículo heteronormativo, ou seja, ela
de uma contínua violência na escola, sendo ultrapassa os limites do prescrito, da
expulsos do sistema escolar sob o discurso da formalidade, constituindo-se nas mais diversas
evasão. situações de aprendizagem, (re)produzindo

5Entenda-se por diferentes, as mulheres, os negros, os LGBTQ+ e aqueles dissidentes em relação ao padrão do
homem branco, masculino, urbano, burguês e cristão.

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sujeitos e marcas, identidades e formas, Os sujeitos que não se conformam aos


saberes e ignorâncias, diferenças e igualdades, ditames da heteronormatividade e
hierarquias e marginalização (JUNQUEIRA, performatizam outros modos de existência são
2012). Portanto, a análise das memórias desse submetidos diariamente nos espaços de
ensaio dialoga e expõe as movimentações do responsabilidade da escola a outras
discurso heteronormativo nas práticas de pedagogias, não prescritas no currículo formal,
professores e nas relações com os outros mas que se constituem a partir da permissão da
alunos e a comunidade escolar. escola e de seus saberes heterocêntricos.
Nesse sentido, Louro (2005), indica a
PEDAGOGIA DA OPRESSÃO inscrição nos corpos de uma pedagogia da
sexualidade, que Junqueira (2012),
COMO EXPRESSÃO DA especificamente para as homossexualidades,
VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA passa a nomear de Pedagogia do Armário.
A homofobia constitui-se como um Estudos recentes apontam para a homofobia
fenômeno marcante da experiência gay na como um fenômeno social, e não somente
sociedade. Essa forma de violência possui individual, como era entendido anteriormente
interseções com outras violências. Como (PRADO; MACHADO, 2012; JUNQUEIRA, 2012;
destaca Borrillo (2010), a homofobia está FIPE, 2009). Socialmente, a homofobia atua
intimamente relacionada com as lógicas pelas como vigilante das normas de gênero. Neste
quais operam o racismo, a xenofobia, a ponto, situa-se a presença formadora do
misoginia, isto é, atua desumanizando o outro armário gay (SEDGWICK, 2007), e suas
e tornando-o radicalmente diferente. Essa dinâmicas relações com a pedagogia do
forma de violência, traduzida sob a forma de armário que acontece no ambiente educativo
injúria por Eribon (2008), constrói a da escola.
subjetividade gay profundamente marcada Essa pedagogia pode ser traduzida em ações,
pela humilhação, pela violação, pela exclusão e gestos e discursos, como insultos, assédios,
pela interiorização da violência social. exclusões, silenciamentos, coerções, violências,
Não é por acaso que homens gays enfrentam desumanizações e abjeção que perseguem
tantos problemas para sobreviver em sujeitos distanciados das pretensões de gênero
sociedade, estando constantemente expostos à e sexualidade pautadas pela
violência e à precariedade, ao lado de outras heteronormatividade. Corroborando com o
populações marginalizadas. Essa precariedade termo pedagogia do armário (JUNQUEIRA,
pode ser sentida a cada vez que um gay procura 2012), a pedagogia da opressão possui suas
acessar o sistema de saúde, o mercado formal raízes fincadas na homofobia estrutural da
de trabalho, o espaço escolar e sente que suas instituição escolar, que apoiada na matriz
chances de prosperar nestes espaços estão heteronormativa obstina-se na produção de
radicalmente limitadas pela homofobia da uma sexualidade normal (LOURO, 2005),
sociedade. enquanto marginaliza, vigia, e persegue a

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outras manifestações de sexualidades Essa análise da violência homofóbica contra


humanas. meninos afeminados não está distante do que
Eribon (2008), compreende dentro do
O EXERCÍCIO DA PEDAGOGIA horizonte da injúria, que constrói a
masculinidade e se constrói contra a
DA OPRESSÃO NAS homossexualidade, ou pela eliminação de
EXPERIÊNCIAS COMO MENINOS qualquer traço de feminilidade do corpo
masculino, como destaca Junqueira (2012).
AFEMINADOS NA ESCOLA Nesse sentido, a injúria se constitui como uma
Identificar-se como sujeito diferente é um
sanção contra os homossexuais, mas que
processo mediado pelo olhar do outro. A
produz efeitos sobre todos os corpos, a fim de
diferença é reforçada cotidianamente por
garantir sua conformação às (hetero)normas de
outros sujeitos imersos no espaço social. A
gênero.
diferença não pode ser tomada como algo
Nessa discussão, ainda quando crianças na
imediatamente ruim, o problema acontece
escola, percebemos a confluência de olhares
quando essa diferença serve como princípio de
disciplinares endereçados aos nossos corpos.
instituição de hierarquias, nas quais as posições
Esses olhares partiam de todos os lados na
são desiguais e alguns indivíduos estarão mais
instituição escolar, ganhando destaque os
expostos aos efeitos da diferenciação (BENTO,
olhares de reprovação de professores e colegas
2011).
de sala. Simultaneamente, piadas
A escola é um espaço onde se inscrevem
discriminatórias acerca de nossa (homo)
tecnologias de controle de gênero, as quais
sexualidade6 1 dominavam os discursos
instituem diferenças geralmente binárias
(particularmente, dos meninos) e eram
(masculino/feminino) e que tendem a unir em
promulgadas como verdades declaradas pelos
sequência sexo/gênero/sexualidade. A
nossos comportamentos feminilizados.
experiência de Cornejo (2016), demonstra
Estas “pequenas brincadeiras”, em fala de
como as tecnologias de gênero atuam sobre o
uma professora, eram para chamar a atenção e
corpo masculino, sendo instrumentalizadas
poderiam ser relacionadas ao fato da nossa
pelos profissionais da escola, pelos alunos e
socialização ocorrer predominantemente com
numa relação com a família. O sociólogo discute
as garotas e não procurar aproximações com o
como a subjetividade do menino afeminado é
universo dos meninos. A sugestão apresentada
marcada pela violência normalizadora da
correspondia basicamente a uma adequação às
escola, ancorando sua análise na prescrição dos
exigências reguladoras do padrão aceitável de
psicólogos escolares que insistiam que sua mãe
masculino, distanciando o menino de qualquer
havia falhado por tê-lo criado como um menino
expressão naturalizada como feminina.
afeminado.

6
Cabe dizer que o gênero geralmente é percebido como sexualidade no senso comum. Assim, quando uma pessoa
parece representar comportamentos e papeis de um gênero, e não outro, isso comumente é apontando como se
essa pessoa estivesse assumindo publicamente determinada sexualidade (geralmente a homossexualidade).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Essa tática de culpabilização da vítima pela Logo a participação na aula se tornou um


violência sofrida corresponde numa estratégia desafio para o primeiro autor. Voz fina, corpo
que traz diferentes implicações àquele que a esguio, riso fácil e trejeitos femininos. Todos
vivencia. Ela cumpre, ao mesmo tempo, o papel estes caracteres produziam uma imagem
de não problematizar a violência sofrida e negativa do seu corpo, pois lhe afastava da
naturalizá-la na experiência cotidiana, como figura masculina exposta nas expectativas
ocorre com a homofobia. É comum que um binárias de gênero, como descrita por Louro
menino afeminado não compreenda em que (2005). O olhar intimidador da professora de
consistem os desvios pelos quais é acusado na matemática confirmava essa impressão, e sua
escola. Entretanto, é ainda mais comum que postura a punha em prática. Quando buscava
seja severamente castigado pelos colegas pronunciar minhas dúvidas às questões
dentro do espaço escolar, sem que isso se torne propostas na aula, sistematicamente eu era
objeto de enfrentamento pela instituição. ignorado, diferentemente do que acontecia aos
Desse modo, recordamos que meninos masculinos.
gradativamente as piadas de nossos colegas Entretanto, é insuficiente manter o menino
evoluíram para pancadas, que passaram a ser afeminado silenciado, assim como às travestis e
acompanhadas de fragmentadas explicações às transexuais, mecanismo pelo qual o corpo
sobre suas causas. Estes discursos deveria permanecer invisível frente os outros. É
desorganizados revelavam a base que garante a preciso também garantir o conformismo com a
sustentação da matriz heteronormativa invisibilidade imposta. Isso ocorre por meio da
presente na escola, isto é, a homofobia. Os interiorização da injúria e da homofobia em
discursos homofóbicos, nesse sentido, eram suas formas mais cruas, de modo que a luta
utilizados para afirmar nossa inferioridade pelo espaço público e pelo aparecimento social
como meninos afeminados, em virtude da de homossexuais passa por um doloroso
superioridade de nossos agressores, que se processo de ressignificação da violência
apresentavam como homens masculinos e (ERIBON, 2008).
heterossexuais. De acordo com Junqueira (2012), as
Assim, a pedagogia da opressão se exercia de tecnologias de poder empregadas pela
distintos modos. Imputada de forma ora instituição heteronormativa no ajustamento
grosseira, ora silenciosa. Claramente estes compulsório dos indivíduos à masculinidade
mecanismos institucionais ou isolados hegemônica, com obrigação à
objetivavam o controle das expressões de heterossexualidade, passa pela rejeição à
nossos corpos, entendidos no espaço escolar feminilidade e à homossexualidade. Dessa
como perigosos, por desestabilizar a ordem forma,
institucional admitida. Não obstante, era Tratamentos preconceituosos, medidas
preciso, além de corrigir o corpo, também discriminatórias, ofensas, constrangimentos,
deixá-lo invisível a todos os outros, para que a ameaças e agressões físicas ou verbais têm sido
“diferença” não afetasse a constituição dos uma constante na rotina escolar de um sem-
demais meninos como masculinos. número de pessoas, desde muito cedo expostas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

às múltiplas estratégias do poder (JUNQUEIRA, era diversificada: vigia, alunos, pais de alunos,
2012, p. 7). professores que se dirigiam a suas casas. Todos
Durante um prolongado período, caminhar sabiam, todos viviam aquela violência, mas não
pelos corredores da instituição tornou-se uma se interferia. Ocorre que quem interfere, pode
tarefa árdua para um menino afeminado. Os ser exposto à mesma forma de violência. Por
insultos, xingamentos, humilhações, prisões no outro lado, não interferir é consentir que
banheiro e ameaças de violência sexual formas de violência integrem a prática
configuravam-se em elementos integrantes do educativa. Nesse aspecto, a escola se nega a
currículo em ação ofertado pela escola. O medo admitir que consinta com discursos e práticas
de sucumbir à violência estrutural destes que ensinam e legitimam a homofobia.
“castigos” permeia, muitas vezes, a Assim, não é aleatório perceber em nossa
participação do menino afeminado nas experiência a conivência da instituição e seus
atividades curriculares. gestores com discursos de ódio e práticas
O interior da sala de aula se assemelha mais violentas que sofríamos no próprio espaço
a um campo de suplícios que a um ambiente de escolar. Quando gestores e professores
aprendizagem para aqueles que fogem às conhecem o cotidiano de violência ao qual
normas de gênero e ensaiam outras estão expostas determinadas populações na
performatividades. Os risos e a piadinhas escola e não tomam atitudes que construam
tinham por objetivo atestar a traição de meu um espaço escolar humanizado e respeitoso,
corpo à masculinidade presumida pelo sexo então estão sendo coniventes com a violência.
biológico e os ensinamentos dos professores Desta forma, corredores, pátio, banheiro, sala
constantemente remetiam a uma origem de aula, tornaram-se gradualmente campos de
natural das diferenças entre homem/mulher e batalha, nos quais foi difícil sobreviver. Quando
seus papéis específicos. movido pela cultura violentamente homofóbica
Os episódios vividos nas portas da escola criada no interior e nos arredores da escola,
ganharam significado diferencial para o adotei um comportamento agressivo em
primeiro autor. Compreendemos este espaço reposta ao silenciamento imposto pela direção
como integrante da instituição escolar, da escola quando lhe reportava as ocorrências.
percebendo que os alunos administravam Quase foi expulso.
grande autonomia nas relações de poder em Corriqueiramente, observamos análises que
que se exercia o discurso de ódio e práticas discutem sobre o baixo nível de escolaridade de
violentas de homofobia. Sem dúvidas, o fato de indivíduos que se ausentam da escola
sair da escola, conferia uma ideia de liberdade confirmar que a evasão escolar também está
aos indivíduos para aplicar sem medo o que já relacionada à sexualidade. As Travestis e
era permitido, ainda que isso não fosse Transsexuais comprovadamente possuem
claramente reconhecido, dentro da escola. menor tempo de estudo, estão expostas à
Muitas vezes experimentei situações em que morte prematura e a ocupação em
fui agredido por ser um menino afeminado. A subempregos ou na prostituição. A cultura de
plateia que assistia as agressões, sem interferir, violência que se institui contra essas atrizes

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sociais dentro da escola impacta Isso me custou à aparente liberdade de


definitivamente na sua permanência no permanecer em sala de aula. Ela pegou em meu
sistema de ensino, obrigando-as a se braço e enquanto eu chorava me levou porta
despedirem do espaço escolar e entrarem no afora. Entretanto, não fui encarcerado na
fenômeno que Bento (2011), reflete como direção, como de costume. Fui conduzido à
expulsão dos diferentes da escola. biblioteca, onde meu castigo seria copiar uma
soma de textos até o fim da aula e depois
VIOLÊNCIA ESCOLAR CONTRA poderia ir para casa. Simultaneamente ao
castigo, a professora bastante nervosa se dirige
O MENINO AFEMINADO à sala dos professores (próxima à biblioteca) e
Ainda insistindo na tentativa de encontrar e desabafa com uma colega que posteriormente
discutir, a partir de experiências escolares, a incrementa o espetáculo de humilhação que
estreita ligação da pedagogia escolar com a protagonizei.
violência homofóbica, destacamos a Essa jovem profissional, aparentemente
necessidade de relatar uma situação vivenciada recém-formada, parecia inábil com as palavras,
no interior da biblioteca escolar pelo primeiro ao adentrar o espaço da biblioteca em que me
autor. Um menino afeminado está exposto às encontrava, me interpelou com uma série de
condições desiguais da hierarquia escolar. Isso perguntas pelas quais não demonstrei
ganha expressão e concretude não apenas na interesse. Sentia raiva em ser castigado por
relação com os outros alunos, mas também causa de minha insistência em ser ouvido e
com os profissionais da escola. No meu caso, a respondido. Frente a minha recusa em
professora de Matemática do ensino responder, a profissional pareceu ter se
fundamental expunha em suas ações a minha irritado, pois ouvi nitidamente seu resmungo
diferença e informava cotidianamente que eu pejorativo: “VIADO IGNORANTE”.
estava em uma posição desigual em relação aos Nessa palavra, os sujeitos daquela instituição
outros alunos. Isso ficava claro quando ignorava encontravam segurança para me classificar,
minhas perguntas, mas respondia aos outros definir, explicar, anormalizar e por fim garantir
alunos. a legitimidade da hegemonia heterossexual no
Certo dia, enquanto explicava o assunto, fiz interior da escola. Nas relações de poder a que
uma pergunta à professora. Ela não respondeu, estávamos imersos, era essa palavra a
ficou em silêncio e continuou sua explicação. responsável por determinar minha posição
No entanto, não me conformei com aquela inferior em relação aos demais indivíduos
situação e insisti na questão. Nesse momento, normalizados, considerando a
a professora se irritou como minha insistência e heterossexualidade o elemento regulador dos
diante de toda a turma proferiu o seguinte lugares determinados dos sujeitos na
discurso: “Eu não suporto esse menino!”. hierarquia sexual admitida ali.
Inconformado com essa reação, respondi com Essa palavra assimiladora funciona como
um insulto. injúria e possui o poder de nomear e atribuir
um lugar específico no mundo àquele a quem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

se dirige (ERIBON, 2008). A injúria como uma Por outro lado, minha recusa em aceitar o
experiência de violação e desapossamento, estigma poderia desestabilizar o regime,
expõe aqueles que performatizam modos de desorganizar a noção de heterossexualidade
vida gay ou o menino afeminado à abjeção, ao presumida, romper os limites normalizados do
escrutínio social, à desumanização. Embora espaço escolar, bagunçar as evidências
essas palavras possam ser ressignificadas e esperadas dos indivíduos. Ainda assim, o
experimentadas como símbolo de afirmação e insulto, na forma de injúria, funciona como o
orgulho, não era assim que eu compreendia à elemento regulador, tomando a premissa de
época. que nenhum adolescente ciente de seu
Resisti ao enquadramento naquele estigma e significado ousaria desejar ocupar o lugar
gritei com a profissional: “Não me chame de conferido pela palavra – o lugar da abjeção.
VIADO!”. Entretanto, o alarde voltou-se contra Carregado de estigma e preconceito, o insulto
mim. Logo o espaço foi invadido pela diretora não poderia representar orgulho imediato aos
que me encaminhou para casa porque a sujeitos que reconhecessem seu significado
história que lhe contei parecia absurda. nebuloso, antes era rejeitado por qualquer um
Naquela situação, não cabia desacreditar a que desejasse ser aceito.
professora, mas a vítima da injúria da violência Historicamente, o aparelho escolar esteve
homofóbica. comprometido com o funcionamento
Avalio que este processo eufêmico de estrutural da homofobia, a discriminação que
silenciamento é extremamente necessário para assola a sociedade não se mantém distante,
a manutenção da disciplina coercitiva presente tampouco ausente do ambiente de
no espaço escolar, uma vez que acionar a voz aprendizagem, pelo contrário, preenche este
de defesa do sujeito revelaria a possibilidade de espaço de significados e violências simbólicas
conceder forma a uma estratégia de resistência que se manifestam de distintas formas. Dados
e enfrentamento ao poder disciplinar. Assim, confirmam o assustador índice de evasão
dar vazão à defesa corresponderia, no escolar pontuado por indivíduos de
contexto, questionar a ordem na qual a escola sexualidades incongruentes a norma sexual que
se sustenta (a fabricação do heterossexual). Da por meio de complexos processos conduz os
mesma forma, desvelaria o princípio usado sujeitos a heterossexualidade compulsória
para a politização da palavra contagiosa, que ao (BUTLER, 2000). Esses processos são resumidos
mesmo tempo todos deveriam conhecer o em dois alelos da normalização, a homofobia e
significado e não a usar, a não ser em defesa da o heterossexismo.
masculinidade ideal. São essas Em 2009, uma pesquisa realizada pela
performatividades que surgem em discurso no Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
espaço escolar para imediatamente serem (FIPE), em parceria com o Ministério da
apagadas e excluídas, expulsas! (BENTO, 2011). Educação (MEC) constatou que o bullying
A palavra ‘viado’ apareceu e imediatamente escolar está intimamente relacionado à
desapareceu assim que saí da escola, para que orientação sexual das vítimas. Esses dados
não houvesse debate diante da situação. revelam a crueldade do sistema educacional

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

em fornecer possibilidade aos sujeitos para beirando o anormal. Fazia-se necessária uma
discriminarem, perseguirem, amedrontarem constante vigilância.
outros em razão do fortalecimento da Concederam-me essa possibilidade na
desigualdade histórica mantida pela hierarquia disciplina de Educação Física: davam-me notas,
sexual (PRADO; MACHADO, 2012), escolar que as quais não merecia, somente para não sofrer
individualiza e delega posições de sexualidade a agressões indo à aula de Educação Física
partir do esquema binário durante todo o fundamental.
homossexual/heterossexual, no qual a De todo modo, o regime de vigilância que se
homofobia se enraíza. materializava nas aulas atravessava outros
Jamais consegui participar das aulas práticas contextos de aprendizagem. O intervalo entre
de Educação Física, pedia constantemente para uma aula e outra, “o recreio”, era o principal
ser dispensado alegando problemas de saúde ambiente de socialização dos alunos. O recreio
inexistentes, ao constatar que professores não constituía-se num palco de negociações,
me defendiam frente aos insultos sofridos. O disputas e enfrentamentos. A intensidade das
discurso era sempre o mesmo: “você precisa piadas ganhava poder de reforçar as marcas e
jogar como os outros meninos”. Sobre isso, estilos que compunham nossas identidades.
Junqueira (2012), resgata duas perguntas: Não somente reforçar positivamente, mas ao
Quantas vezes, na escola, presenciamos contrário, promover a ridicularização, a
situações em que um aluno “muito delicado”, humilhação, a perseguição a traços que não se
que parecia preferir brincar com as meninas, enquadrem na expectativa de gênero para cada
não jogava futebol, era alvo de brincadeiras, corpo.
piadas, deboches e xingamentos por parte dos Comigo, as perseguições mais relevantes
colegas? Quantas são as situações em que nestes horários me fazem recordar as muitas
meninos se recusam a participar de vezes que fui molhado no bebedouro enquanto
brincadeiras consideradas femininas ou buscava tomar água e ainda as vezes que fui
impedem a participação de meninas e de ridicularizado e agredido por brincar com as
meninos considerados gays em atividades meninas. Diariamente impunham-se na escola
recreativas “masculinas”? (JUNQUEIRA, 2012, sanções à minha conduta feminilizada baseadas
p. 7). em suspeitas de homossexualidade; afinal de
O meu armário era transparente. As contas, brincar com as meninas configurava
elucidações que a aproximação de minhas elemento suficiente para confirmar minha
expressões a das meninas consistia na transgressão à ordem sexual e de gênero
referência básica para que escondesse dentro instituída. O discurso homofóbico se fazia eficaz
do armário minhas expressões e silenciasse na manutenção da heteronormatividade.
meus pronunciamentos públicos. Contudo, Contar sobre meus desejos de brincar com as
mais do que está dentro do armário, era garotas no recreio era reprimido pelas risadas
necessário garantir que meu corpo não dos meninos que, ao chamarem isso de
obtivesse confiança; assim, os discursos me “viadagem”, distorciam a imagem positiva da
enquadravam na posição exótica, diferente, brincadeira, fazendo-me trepidar entre manter

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

silêncio dos meus desejos ou externá-los e ficar


sujeito à intimidação. Tal relação faz-me refletir
a circulação de preconceitos no espaço escolar
como condição necessária à garantia de
heterossexualização dos corpos (JUNQUEIRA,
2012).
Nestes episódios, o jogo de poder pretendia
me forjar como subjetividade inferiorizada,
enquadrando meu corpo num lugar inferior ao
da mulher, por performatizar uma feminilidade
a partir de um corpo construído culturalmente
como masculino. Assim, a construção social do
homem passa pela negação da feminilidade e
da homossexualidade, num processo doloroso.
Era interessante para o discurso
heteronormativo forjar minha compreensão
sempre em um lugar subalterno e
estigmatizado. Nesta perspectiva, o espaço
escolar se tornou uma máquina de ensinar, mas
também de vigiar, de hierarquizar, de
recompensar, como denuncia Foucault (1987).
As inúmeras situações de aprendizagem
assumem, nos processos curriculares, as tarefas
de construir saberes, sujeitos, identidades,
desigualdades, hierarquias e aprofundam
processos de marginalização e exclusão
(JUNQUEIRA, 2010).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pedagogia da sexualidade (LOURO, 2005), vivenciada no espaço escolar, inscreve marcas
duradouras em nossos corpos. Marcas que, ao invés de estarem associadas a conteúdos
curriculares, são corporificadas como medo e insegurança propiciados pelo currículo em ação da
escola. Na tentativa de conformar os corpos à heterossexualidade compulsória (BUTLER, 2000),
nos mais diversos ambientes sociais da escola, a pedagogia da sexualidade traduziu-se em
pedagogia da opressão, e seus efeitos ultrapassaram os limites discursivos, materializando-se nos
corpos e nas subjetividades.
Cada gesto detinha-se na vigilância, cada palavra tentava esconder a voz fina, cada ação
era silenciada por sanções advindas dos olhares atentos na observância dos desvios da fronteira
de gênero. E isso remonta às experiências de um sem número de pessoas que convivem
diariamente com a homofobia na escola e na sociedade.
A pedagogia da opressão não possui um agente específico para operá-la, mas se tivesse,
certamente a escola negaria sua responsabilidade sobre os processos de desumanização que
ocorrem em seu interior. Percebemos que geralmente carregamos o estigma de mau aluno
somente por não nos conformarmos com as imposições de invisibilidade, resistindo ao
enquadramento heteronormativo. O fracasso escolar precisa ser repensado sob a ótica das
condições desiguais com as quais os alunos são tratados.
Acostumar-se a insultos rotineiros ou enfrentá-los sozinho? Correr ou apanhar na frente
dos colegas e professores? Ausentar-se da aula ou continuar com o tormento? Como enfrentar o
assédio moral, contar para família seria uma solução? Como chamar a atenção da gestão escolar
para essas e outras situações de agressão? Estas foram algumas questões recorrentes daquela
época, para as quais não encontramos respostas, tampouco apoio. Vivemos intensamente esses
conflitos como meninos afeminados e certamente que eles persistem com outras roupagens
quando nos tornamos homens gays, afeminados ou não.
Para evitar a violência homofóbica dentro da escola criamos estratégias: corríamos pelos
corredores, apressávamo-nos no bebedouro, distanciávamo-nos do banheiro, procurávamos
abrigo na biblioteca. Entre chacotas, humilhações, deboches, pancadas, tínhamos que usar a
invisibilidade como estratégia para escapar, daí sair correndo quando a aula terminasse, antes
que qualquer um pudesse nos alcançar. A escola tinha se tornado um lugar ignorante em relação
a mim e a outros e outras como eu.
A educação pode se tornar um palco de desumanizações. Contra isso, pretendemos que
outras pessoas que vivenciaram experiências semelhantes a estas e, principalmente, que a
comunidade escolar, seja capaz de refletir sobre o dia-a-dia da escola, os processos violentos que
constituem seu cotidiano e seus efeitos no tecido social.
Sujeitar pessoas à lógica da heteronormatividade no espaço escolar produz efeitos na
forma como vemos a nós mesmos e ao outro e como somos autorizados a nos relacionarmos com
esses outros. De toda sorte, somos impelidos a vigiar a nós e ao outro, tendo à disposição um
arsenal de violências pronto a tentar corrigir quem se afasta da norma sexual e de gênero.
Portanto, emerge a necessidade de tratar sexualidade, gênero e, principalmente, direitos

1492
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

humanos na escola, mesmo que esses temas não sejam mais de abordagem obrigatória, por
terem sido retirados do Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024).
Admitir que a escola é conivente e, por vezes, ensina homofobia, é o primeiro passo na
direção de assegurar que a educação possua um caráter humano. Argumentamos que a escola,
como espaço público e de formação cidadã, tem o papel fundamental de problematizar os
regimes naturalizados de opressão como medida que atue na construção de uma sociedade justa.
Um passo importante nessa direção é a de esclarecimento da comunidade escolar do significado
da equiparação da homofobia e transfobia ao crime de racismo, aprovada em junho de 2019 pelo
colegiado do Supremo Tribunal Federal, por 8 votos a 3 (COELHO, 2019). Em outras palavras,
LGBTQfobia no Brasil é crime!

1493
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Florianópolis, v. 19, n. 2, p. 549-559, maio-ago. 2011.

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de Acesso:15/02/2020.

1495
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

POLÍTICA PAULISTANA DE EDUCAÇÃO


ESPECIAL: O ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO NO CENTRO DE EDUCAÇÃO
INFANTIL
Alzenir Maria Ribeiro de Sousa1

RESUMO: Este artigo tenciona apontar a realidade do Atendimento Educacional Especializado nas
unidades educacionais do município de São Paulo, salientando as contribuições a partir da
implementação da Política Paulistana de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
- (PPEEPEI). São abordados os temas Educação Infantil - EI, sobretudo nos espaços dos Centros
de Educação Infantil - (CEI), apontando os estímulos e as possibilidades do atendimento integral
de 10 horas e as contribuições do trabalho de estimulação. O AEE(Atendimento Educacional
Especializado), descortina o novo campo de atuação da Educação Especial tornando-se um
sistema de suporte permanente e efetivo para os alunos com deficiências, bem como para os
professores. Porém, na primeira infância o trabalho itinerante e colaborativo garantido e
assegurado pela Portaria vigente, esbarra com as divergências na aplicação da Legislação
referente ao AEE. Os serviços de atendimento educacional especializado ofertado por meio da
Salas de Recursos Multifuncionais - (SRMs) ou o apoio das instituições parceiras, garantidos e
assegurados pela Política Paulistana de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva,

1Professor de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Mestrado em Ciências Humanas; Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia;
Especialização em Libras; Especialização em Educação Especial; Especialização em Neurociência da Educação;
Especialização em Gênero e Diversidade; Especialização em Autismo; Especialização em Atendimento Educacional
Especializado.
E-mail: Alzenir_ribeiro@ig.com.br

1496
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

choca-se com a realidade dos CEIs no que diz respeito ao período integral de atendimento às
crianças.

Palavras-Chave: Atendimento Educacional Especializado; Política Paulistana; Educação Especial;


Educação Infantil.

1497
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Para o desenvolvimento da pesquisa serão


utilizados material documental: Diretrizes de
No panorama atual das escolas municipais estimulação precoce (2016), Política Nacional
do estado de São Paulo são apresentas práticas de Educação Especial na Perspectiva da
orientadas pelos pressupostos da educação Educação inclusiva (2008), e principalmente a
inclusiva, que garante o atendimento Portaria nº 8.764 (2016), que regulamenta o
educacional especializado, de forma Decreto nº 57.379.
complementar ou suplementar, no e institui no sistema municipal de ensino a
contraturno, proporcionando os recursos Política Paulistana de Educação Especial, na
necessários para inclusão e reestruturação das Perspectiva da Educação Inclusiva.
condições e introdução da criança no mundo Pensando em uma estrutura hierárquica
social. para organização e atendimento de escolas
Considerando como “instrumento de inclusivas, que integram este estudo temos:
prevenção” e tomando por foco o público alvo Prefeitura do Município de São Paulo – (PMSP),
da educação especial, diversos diálogos, Secretaria de Educação do Município de São
debates e reflexões procuram resgatar a pessoa Paulo – (SME SP), Diretoria Regional de
com deficiência como objeto de conhecimento Educação – (DRE), Diretoria Pedagógica –
nas suas múltiplas articulações em diferentes (DIPED) e o Centro de Formação e
esferas, categorias e estruturas da sociedade. Acompanhamento à Inclusão – (CEFAI).
A Educação Especial é um tema polêmico e Deste modo, será possível verificar como as
durante muito tempo configurou-se como um fontes significam e impactam (ou não) o
sistema paralelo de ensino, restrito as pessoas atendimento especializado frente as
com necessidades especiais em instituições deficiências e a interdisciplinaridade.
especializadas, com meios técnicos e humanos
de modo a compensar as deficiências, num
POLÍTICA PAULISTANA DE
ritmo que possa ir ao encontro das
necessidades do indivíduo de maneira a EDUCAÇÃO ESPECIAL:
completar o processo de aprendizagem. ATENDIMENTO EDUCACIONAL
O propósito desse estudo é aprofundar na
análise das legislações, bem como a proposta
ESPECIALIZADO COMO SUPORTE
de organização e a aplicação da Política Pública NO DESENVOLVIMENTO
dentro dos espaços dos Centros de Educação INFANTIL
Infantil. O objetivo do presente é explorar a
Para dar conta dessa nova lógica, o
Portaria nº 8.764/2016 “Política Paulistana de
Atendimento Educacional Especializado,
Educação Especial na Perspectiva da Educação
organizado com aporte da educação especial e
Inclusiva - (PPEEPEI)” considerando o
oferecido por meio da organização das Salas de
Atendimento Educacional Especializado - (AEE),
Recursos Multifuncionais, torna-se uma
a organização e sua aplicabilidade nos Centros
modalidade de serviço exclusiva de nosso país.
de Educação Infantil.

1498
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Foi instituído pelo Decreto 7.611, em 17 de O AEE, quando previsto no PPP, precisa ser
novembro de 2011, depois de tensões entre os organizado conforme o artigo 10 da Resolução
partidários da política de inclusão total e os nº 04/2009:
defensores da inclusão com manutenção dos I – sala de recursos multifuncionais: espaço
suportes mais restritivos (classes especiais e físico, mobiliário, materiais didáticos, recursos
escolas especiais). Esse serviço, oferecido pedagógicos e de acessibilidade e
mediante a dupla matrícula dos equipamentos específicos; II – matrícula no AEE
alunos público-alvo da educação especial, de alunos matriculados no ensino regular da
segundo o Art. 2º, parágrafo 2º do Decreto própria escola ou de outra escola; III –
supracitado, deve: cronograma de atendimento aos alunos; IV –
De acordo com Glat e Fernandez (2005): plano do AEE: identificação das necessidades
Neste contexto é que se descortina o novo educacionais específicas dos alunos, definição
campo de atuação da Educação Especial. Não dos recursos necessários e das atividades a
visando importar métodos e técnicas serem desenvolvidas; V – professores para o
especializados para a classe regular, mas sim, exercício da docência do AEE (BRASIL,
tornando-se um sistema de suporte 2015,s.p).
permanente e efetivo para os alunos especiais Depois da Constituição de 1988, a Lei
incluídos, bem como para seus professores. 7.853/89, que dispõe sobre o apoio às pessoas
Como mencionado, a Educação Especial não é com deficiência, também assegurou, entre
mais concebida como um sistema educacional outras coisas, o amparo à infância mediante
paralelo ou segregado, mas um conjunto de oferta da educação especial como modalidade
recursos que a escola regular deverá dispor educativa:
para atender à diversidade de seus alunos A inclusão, no sistema educacional, da
(GLAT e FERNANDEZ, 2005, p. 5). Educação Especial como modalidade educativa
O atendimento educacional especializado é que abranja a educação precoce, a pré-escolar,
definido como um serviço que identifica, as de 1º e 2º graus, a supletiva, a habilitação e
elabora e organiza recursos pedagógicos e de reabilitação profissionais, com currículos,
acessibilidade. etapas e exigências de diplomação própria.
Art. 5º Para os fins do disposto neste (BRASIL, 1989, p. 1).
decreto, considera-se Atendimento O professor do AEE elabora o plano de
Educacional Especializado - AEE o conjunto de atendimento individual, que define o tipo de
atividades e recursos pedagógicos e de atendimento destinado à criança, identifica os
acessibilidade organizados institucionalmente, recursos de acessibilidade necessários, produz
prestado em caráter complementar ou e adequa materiais e brinquedos. O professor
suplementar às atividades escolares, destinado do AEE também se articula com as demais áreas
ao público-alvo da Educação Especial que dele de políticas setoriais, visando o trabalho
necessite (PORTARIA 8.764/2016). colaborativo entre os pares.
Sob esta perspectiva, o atendimento que é
feito à criança com deficiência é deslocado da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sala de recursos multifuncionais para o


contexto da instituição de educação infantil. EDUCAÇÃO INFANTIL:
Para atender a demanda do AEE, com
objetivo de apoio à organização e à oferta, ESTIMULOS E POSSIBILIDADES
prestado de forma complementar ou CONTRIBUINDO COM O
suplementar, foi criado o Programa de
DESENVOLVIMENTO DA
Implantação de Sala de Recursos
Multifuncionais, assegurando ao público-alvo CRIANÇA DO CEI
da educação especial condições de acesso, A criança, considerada um sujeito histórico e
participação e aprendizagem. de direitos, desenvolve-se nas interações,
A unidade educacional disponibiliza espaço relações e práticas cotidianas a ela
físico e um professor para atuar na SRM e disponibilizadas e por ela estabelecidas com
recebe os recursos materiais necessários. O adultos e crianças de diferentes idades, nos
acesso ao Programa se dá pela SME, por grupos e contextos culturais aos quais se insere.
intermédio do CEFAI. A alimentação, o momento do sono, as
Na Educação Infantil o AEE é uma ferramenta brincadeiras e as interações com outras
de fundamental importância para o pessoas, o movimento e o contato corporal que
desenvolvimento das crianças com deficiência ela reconhece nas pessoas que a tratam, o tom
desde os primeiros anos de vida, promovendo de voz, os objetos que manipula, o modo como
acessibilidade física e pedagógica aos conversam com ela, são elementos da história
brinquedos, aos mobiliários, às comunicações e de seu desenvolvimento em uma cultura.
informações, utilizando-se da tecnologia A cada atividade desenvolvida ela afirma sua
assistiva como recurso e estratégias de singularidade, atribuindo sentidos à sua
acessibilidade, ou seja, possibilita que as experiência por meio de diferentes linguagens,
crianças com deficiências tenham um acesso à como meio para seu desenvolvimento em
educação. O AEE e a prática docente nos CEIs, diversos aspectos (afetivos, cognitivos, motores
frente a Política Paulistana de Educação e sociais).
Especial, tem a estimulação precoce como Assim, ela busca compreender o mundo e a
ponto comum, favorecedor do si mesma, testando as significações que
desenvolvimento pedagógico. constrói, modificando-as continuamente em
O atendimento às crianças com deficiência é cada interação, reconstruindo, seja com outro
feito no contexto da instituição educacional, ser humano, seja com objetos. Em outras
que requer a atuação do professor do AEE nos palavras, a criança desde pequena se apropria
diferentes ambientes, tais como: berçário, de uma cultura de um modo próprio.
solário, parquinho, sala de recreação, O ambiente físico, exercem uma grande
refeitório, entre outros, onde as atividades influência sobre a qualidade a maneira como as
comuns a todas as crianças são adequadas às pessoas que trabalham em CEI percebem o seu
suas necessidades específicas (BRASIL, 2015, p. trabalho e sobre a qualidade das práticas e
5). experiências oferecidas às crianças. O espaço

1500
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

acolhedor e confortável, deve levar em processo devem ser realizadas durante as


consideração a função dupla de combinar brincadeiras, a rotina e as atividades, que
conforto e aprendizagem, permitindo à criança ocorrem ao longo do período que permanece
o movimento livre, usar todo o ambiente e no espaço educacional, buscando o
experimentar diferentes espaços, garantindo a desenvolvimento integral por meio de sua
tomada de decisão responsiva, inclusiva, inserção no meio social.
participativa e representativa. A partir da discussão da LDB, em 1996, a
Outro ponto importante em relação à Educação Infantil teve seu espaço como uma
aprendizagem infantil considera que as estrutura dentro do contexto escolar. Isso
habilidades para a criança discriminar cores, apresenta vantagens, quando respeitadas as
memorizar poemas, representar uma paisagem especificidades que a Educação Infantil deve
por meio de um desenho, consolar um ter, referentes a organização de tempo e
coleguinha que chora, são produzidas nas espaço. É fundamental olhar a criança como
relações que as crianças estabelecem com o construtora de cultura, dando a ela um espaço
mundo material e social. Assim, as experiências de fala e escuta.
vividas no espaço de Educação Infantil devem De acordo com o currículo da cidade
possibilitar o encontro de explicações, pela educação infantil, pensar a educação integral é
criança, sobre o que ocorre à sua volta e estar comprometido com a integralidade e
consigo mesma enquanto desenvolvem formas inteireza dos sujeitos, como seres integrais
de sentir, pensar e solucionar problemas. desde o nascimento, considerando diferentes
Nesse processo, é preciso considerar que as dimensões e linguagens. A articulação de
crianças necessitam envolver-se com diferentes diferentes saberes e conhecimentos, a
linguagens e valorizar o lúdico e as culturas formação humana completa, envolvendo as
infantis. Não se trata assim de transmitir à vivências das diferentes práticas sociais.
criança uma cultura considerada pronta, mas Manter a coerência entre o dito, o feito e a
de oferecer condições para ela se apropriar de prática, por meio de uma prática pedagógica
determinadas aprendizagens. integradora, partindo da escuta, da observação
O trabalho desenvolvido na Educação Infantil e da conversa.
deve primar pelo compromisso com as práticas Ao considerar bebês e crianças em sua
integradas de formação e o desenvolvimento inteireza humana, o Currículo Integrador da
global. Importa estar comprometido com a Infância Paulistana propõe a integração dos
integralidade do sujeito, articulação dos espaços coletivos na Educação Infantil e no
diferentes saberes, coerência entre a teoria e a Ensino Fundamental com a vida que pulsa para
prática e currículo integrador. Ainda, além dos muros as Unidades Educacionais e
considerar a criança no centro dos processos com o conhecimento humano que deve ser
educativos, problematizar o currículo e compartilhado e usufruído por toda a
contemplar tempos, espaços e interações. sociedade, incluindo bebês e crianças (SÃO
Desta forma, as intervenções com as crianças PAULO, 2015, p.13).
(com ou sem deficiência) inseridas nesse

1501
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As crianças na faixa etária de 0 a 4 anos


exploram o mundo com os cinco sentidos,
desenvolvem suas habilidades motoras,
cognitivas e sociais e o aprendizado, além de
possibilitar o exercício das funções, enfrentar
desafios e investigação de mundo. É também a
fase em que elas imitam as atitudes e atividades
das pessoas com quem mais convivem: pais,
familiares diretos e educadores.

1502
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A trajetória histórica de organização do Atendimento Educacional Especializado,
considerando os contextos de influência em âmbito municipal, deixa evidente que o movimento
de inclusão se originou do contexto de produção de texto advindo da instância federal. Ou seja,
à medida que novas leis e programas foram criados pelo Governo Federal e pelos movimentos
internacionais, este movimento se organizou para dar conta dos direitos que se consolidavam em
meio ao embate entre as perspectivas dos grupos participantes acerca da educação básica, da
inclusão e da necessidade do AEE.
A apuração dos dados reunidos acerca do contexto histórico-social que compõe a
fundamentação teórica desta investigação, adicionada às análises dos documentos oficiais que
imprimem o contexto das normas, expressam o imperativo de praticar e a necessidade de
ressignificar a política em uso pelos profissionais responsáveis pela implementação da Política,
fortalecendo o ensino inclusivo na educação infantil da rede municipal por meio do Atendimento
Educacional Especializado.
A análise da Portaria nº 8.764/2016 - Política Paulistana de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva e dos textos normativos que versam sobre o Atendimento
Educacional Especializado e a Educação Infantil em âmbito nacional, considerando o Atendimento
Educacional Especializado e a aplicabilidade da PPEEPEI nos Centros de Educação Infantil, aponta
condição desfavorável às crianças matriculadas nos CEIs, pois o atendimento em um período de
10 horas torna inviável frequentar o AEE no contraturno.
As ideias aqui discutidas corroboram com a afirmação de que a PPEEPEI se configura como
um marco destacável na história brasileira da educação das pessoas com deficiência. Apresentar
a Educação Especial como uma modalidade educativa transversal ao ensino comum, não
enquadrada num reducionismo tecnicista, bem como propor o AEE como um dispositivo
articulador e padronizado, demonstra sua aposta numa inovação.
A organização e a aplicabilidade do AEE, na modalidade da Educação Infantil, nos Centros
de Educação Infantil, possibilitam o acompanhamento terapêutico e de estimulação dentro da
unidade educacional, no período de atendimento, em caráter colaborativo, sem acarretar
prejuízos no trabalho e no desenvolvimento pedagógico. A combinação do trabalho de
interdisciplinaridade entre educação e saúde, realizado por meio das parcerias com as redes de
apoio, amplia os benefícios no desenvolvimento infantil, bem como contribui com a formação
docente no que diz respeito ao trabalho com as crianças com deficiências.
A complexidade das situações vividas por crianças com deficiências matriculadas CEIs e
professores, com relação ao atendimento educacional especializado, pode ser diminuída em seus
efeitos negativos e aprimorada em sua eficácia por meio de uma organização educacional
interdisciplinar, reconhecendo e assegurando a intervenção do especialista em caráter
colaborativo, somado ao trabalho de estimulação precoce.
Assim, contemplar a especificidade do primeiro segmento da educação básica, incluindo
de fato a realização do trabalho colaborativo, consiste em reconhecer a eficácia da junção entre
o trabalho de estimulação precoce, que faz parte do processo educacional nos CEIs, e a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

disponibilização de fato do que garante e assegura a Legislação vigente. Ou seja, a intervenção do


especialista em caráter itinerante e colaborativo, bem como a interdisciplinaridade presente no
trabalho junto às redes de apoio parceiras.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Nacional. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, 1996.

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BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Paulistana de


Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2016.

BRASIL. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o


atendimento educacional especializado e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, 18 nov. 2011. Disponível em:
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BRASIL. Ministério da Educação. SEF/SEESP. Referenciais Curriculares Nacionais para a
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necessidades educacionais especiais. Brasília-DF: MEC/SEF/SEESP, 2000.

GLAT, R.; FERNANDES, E. M. Da Educação Segregada à Educação Inclusiva: uma Breve


Reflexão sobre os Paradigmas Educacionais no Contexto da Educação Especial
Brasileira. Revista Inclusão, MEC/2005.

SÃO PAULO - Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da


cidade: Educação Infantil. – São Paulo: SME / COPED, 2019.

1505
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

POVO INDÍGENA GUARANI


Daniela Rita Nardi1

RESUMO: O artigo apresenta a temática relativa ao povo indígena Guarani, sua cultura, seus
costumes, agricultura, arte, brincadeiras, artesanato. Objetivamos enfatizar a importância da vida
deste povo na nação brasileira e reflexões acerca de sua resistência e luta por manter sua cultura
e raízes. É fundamental a compreensão destes aspectos se quisermos a efetiva dos processos
inclusivos.

Palavras-Chave: Povo; Indígena; Guarani.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Gestão Escolar; Especialização em Psicomotricidade.
E-mail: danielaritanardi@gmail.com

1506
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO No Brasil quando se fala em Terras indígenas,


devemos lembrar das leis. Está presente na CF
Segundo a mitologia o responsável pela (Constituição Federal) de 1988 destaca que “os
criação do mundo é o Deus Tupã, que é índios são os primeiros e naturais senhores da
representado pelo trovão; segundo as tradições terra. Esta é a fonte primária de seu direito, que
ele e a deusa Araci, representada pela Lua, é anterior a qualquer outro.
desceram na região de Areguá (cidade de Consequentemente, o direito dos índios a uma
artesanatos localizada no Paraguai), e de lá terra determinada independe de
criaram os rios, as florestas, os mares, os reconhecimento formal” cita-se no parágrafo
animais, as estrelas e o primeiro casal, Rupave primeiro do artigo 231.
e Sipave, respectivamente, “pai e mãe dos O povo Guarani leva em conta sua cultura
povos”. Deste casal analogia bem semelhante milenar, baseada em seus ancestrais, na sua
ao casal Adão e Eva. Concordam, nasceram história. Mas vem sendo meramente
vários filhos, que “fundaram” o povo guarani modificada com a presença dos “não índios”, os
(CABRAL, 2012, s.p). brancos. Foram adquirindo novos saberes e
No Brasil, é comemorado em 09 de agosto o costumes.
Dia dos Povos Indígenas. A língua denominada Guarani é falada por
Esse povo vive grande parte na América do todos os grupos, inclusive os do Paraguai,
Sul: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Uruguai, Argentina e Bolívia.
Habitam em territórios próximos ao litoral. As crianças que vêm sendo alfabetizadas em
Em nosso estado, a maior parte da guarani são muito novas e devido a isso acabam
população indígena (91%) vive na zona urbana, perdendo a fluência da língua vigente do país.
fora das Terras Indígenas. Além disso, esses índios conservam uma
Ao todo são 280 mil pessoas Guaranis que linguagem diferenciada e bem elaborada para
estão distribuídos em 1461 comunidades, os seus rituais, como “ayvu porã que significa
aldeias, bairros urbanos ou núcleos familiares “belas palavras”, pronunciada em ocasiões
em 4 países. A maior parte vive no Brasil com especiais.
85 mil pessoas, seguido de 83 mil na Bolívia, 61 Suas atividades econômicas são as
mil no Paraguai e 54 mil na Argentina. confecções e venda de artesanato, cestaria com
(Conselho indígena Missionário/2017). tampa e cipó, estátuas de madeira e colares
Infelizmente, muitos povos indígenas são com sementes nativas e também à coleta de
invisíveis ao poder público. raízes, ervas e frutos silvestres e o plantio de
Vivem atualmente em espaçosas casas de suas sementes tradicionais.
madeira com parede de pau a pique, lutando,
dançando e cantando para que suas terras ARTESANATO DO POVO
sejam remarcadas judicialmente, com a ajuda
da FUNAI (Fundação Nacional do Índio). GUARANI
Cestos: Seus cestos tem vários tamanhos e
funções.

1507
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

✓ Os grandes com tampas – serve para Esses instrumentos serviram para


guardar suas vestimentas. comunicação entre os índios enquanto estavam
✓ Os grandes sem tampa com alças – trazer o divididos na mata explorando e descobrindo
milho da roça, também batata doce, novos pássaros, plantas e espécies diferentes
amendoim, aipim. Guardar o milho de animais.
debulhado para levar o pilão. Hoje se usa para rituais e comunicação só
✓ Cesto baixo – trazer o peixe ou caça menor. para chamar o Deus Anderum.
✓ Balaio menor – para guardar sementes,
colares, linhas, agulhas e CHOCALHO:
✓ cachimbos
Feito de porongo, que acompanha o violão.
Porongo cucurbitácea (também chamada
ESCULTURA DE MADEIRA de porangueiro), cujo frutos se faz cuias ou
(BICHINHOS DE MADEIRA) cabaças.
Alguns fazem para terem em casa, mas a O chocalho também é queimado com riscos
maioria faz para comercialização. Todos os e desenhos de animais até mesmo sol, folhas e
tipos que se vê na mata é uma tarefa árvores. Dentro do porongo se coloca
dominante dos homens. Ele busca a madeira, pedrinhas para ele fazer barulho. Quem toca é
corta e faz. A mulher no caso só entraria para o homem. A mulher ajuda a confeccionar.
vender.
Corta-se a madeira no formato do bicho a ser COLAR
esculpido, usando faca e ferro quente para A principal função do colar é proteção para
queimar vão dando a forma. Quando tem os índios contra espíritos mal da mata e rio. Os
iniciante aprendiz na confecção das esculturas, colares são feitos de vários tipos de sementes,
sempre tem um adulto para supervisionar. de cipós e plantas. A semente mais usada é
Aguaí e Yvau. A semente branca capiá.
FLAUTA
Instrumentos musicais também são ARCO E FLECHA:
artesanatos. E também feita pelo homem. A Feita para caça e pesca. Mas atualmente
mulher ajuda na preparação para rapar a serve mais para comercialização.
taquara a cortar nos pedacinhos certos.
A flauta antigamente era feita para as COSTUMES
mulheres tocarem, em tempo de alegria e ano
Agricultura:
novo (arapiau). O ano novo se divide em dois
Cultivam, milho, batata doce, aipim,
tempos iniciais em metade de julho e termina
amendoim, erva mate. Alimentam-se de
na metade de agosto. Convida outras aldeias,
alimentos retirados na natureza; peixe, carnes
se tiver rituais na Upã, danças e onde as
de animais, frutos, legumes.
crianças recebem seu nome em Guarani.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Hoje em dia há uma grande dificuldade em ✓ Hihi


adquirirem bons alimentos, além de algumas Tem como base a mandioca, por fora lembra
terras serem proibido à caça e pesca, a uma pamonha, pois é embrulhada por folhas,
qualidade de alimentos vem diminuindo por (folha e bananeira), depois de ralada, ela é
conta do mercado alimentício. fervida por duas vezes.
Essa realidade gera um cenário de
insegurança alimentar e afeta a autonomia dos ✓ Moqueca de peixe
povos indígenas em nosso estado. Mesmo os Apesar de ter recebido importantes
povos com terras já regularizados. alterações dos portugueses e africanos que
O órgão da ONU (Organização das Nações vieram para o Brasil, à moqueca é um prato
Unidas) recomenda que as ações brasileiras se tradicional indígena. Vem da língua tupi,
voltem: pokeka, e quer dizer “assado de peixes”.
especialmente aos grupos mais vulneráreis, Consumida junto com o pirão, que tem base
como as comunidades indígenas, ri ribeirinhas, de farinha de mandioca e caldo de peixe. A
povos tradicionais, quilombolas e a população moqueca, salvas as variações de cada região,
rural. Essas são populações que precisam ser hoje é um cozido de peixe. Entretanto,
respeitadas, mantendo as tradições e os originalmente era feita assada, em áreas
costumes. As políticas de segurança alimentar e cobertas de cinzas e em grelhas com varas.
nutricional, portanto, devem ser específicas e ✓ Pipoca
direcionadas (FAO, 2015, p.4). Popular no mundo inteiro, a pipoca tem
origem indígena. Inicialmente, as espigas de
milho eram colocadas inteiras, diretamente
CULINÁRIA TÍPICA INDÍGENA sobre a fonte de calor. Somente com o passar
✓ Beiju
do tempo é que os grãos foram colocados
Muito semelhante tapioca. É típico aos índios separadamente. Além de alimento também já
que morar em Pernambuco.
foi usado como adereço corporal e cabelo.
Enquanto a tapioca é feita do amido da
Os europeus descreveram-na como um
mandioca, o beiju é feito a partir da massa da salgado de milho.
mandioca. Esta, ao ser e espalhada em uma
Pipoca – do Tupi Guarani pi(ra)- pele; poca-
frigideira forma uma espécie de crepe seco.
rebentar; a pele rebentada. É o produto dos
Entre os recheios mais comuns, estão o coco, a
grãos de milho, estourados/arrebentados em
carne seca e o queijo coalho.
panela, no calor do fogo (eles explodem,
quando aquecidos).
✓ Imu yanisa kiyauriri
Este prato é uma espécie de mingau feito a
base de tapioca. Além de leite de coco, açúcar BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS
e água. INDÍGENAS
É um prato quente, consumido no desjejum
por sua função de potencial energético.
✓ Kyringue mbya onheovanga regua

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Yma’ma kyringue kuery onheovanga raka`e pescam, vão no mato para caçar, as vezes
pindo guyre mandi’o va’e. trazem tatu e gambá. E quando as meninas
Onheovanga vy mandi’o va’e vy ma opeixa, viram mocinhas fazem muitas coisas e fazem
petein oiko rã kyrin va`e ojogua va’e rã comida para os homens que trabalham, e
mandi’o,ha`e vy ma oipora vora natalina ve depois de jantar vão na casa de reza para cantar
va’e, ha’e vyma omboí petein mandi’o. e dançar.
Xamõi ijayvu vy ma mba’e xa pa yma As meninas falavam para os meninos pra ir
kyringue onheovanga raka’e, omombe’u ta no mato buscar a lenha e pra trazer algumas
mba’exa pa onheovanga yma kyringue ikuai coisinhas, pilão e tatu, sagui e gambá. E as
va’e kuery, oiporu avakue`i raka’e guyrapa, meninas faziam pamonha e mbojape.
mbaraka, mbaraka mirim’in, ravé’i, angu’a Antigamente as crianças dançavam e cantavam
pu,ha’e gui nhandepo py guá,Há’e gui no espaço da casa de reza, e depois quando
kunhangué ma oiporu raka’e takuapu ri ve. chegava à noite as crianças entravam na casa de
Ava’e py ma inhe’enguxu va`e kuery ha`e gui reza e pulavam.
inhengue ramo va’e rembiapo. Inhe’enguxu
ramo va’e ma ogueru jape’a ,pira ojopoi SOL E LUA ou PASSARÁ DE
ka’aguyre oo há’é gui ogueru tatu’i,
mynkunren. Kunhatain kuery ma avakue pe BOMBARÉ (üacü rü tawemüc’ü)
ombojy va’e rã ogueru ramo, ha`e gui oityru avã
ombojy.Ha’e gui kova`e ojapo pa ma vy oo ju Crianças dispostas em coluna por um,
opy’i re oporai aguã.( COSTA, et al, s.a,sp.) segurando na cintura do que está à frente. Duas
outras crianças representando o Sol e a Lua,
fazem uma “ponte, mantendo as mãos dadas
BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS2 1
acima. Cantando vão passando sob a ponte
Antigamente as crianças guaranis brincavam várias vezes. Numa das vezes o Sol ou a Lua
de mandioca embaixo das palmeiras. prende o último ou os dois últimos,
Brincavam assim: Uma criança era perguntando pra que lado querem ir? A criança
comprador de mandioca e escolhia a mandioca escolhe a vai colocar-se atrás do Sol ou da Lua.
que é mais fácil de tirar e depois tirava uma por E assim continuam até terminar. Quando todos
uma. passarem formam-se assim dois times. A dupla
Pajé contava como era as brincadeiras das mantém os braços dados, e todos mantêm-se
crianças guarani de antigamente. Os meninos segurando na cintura do colega da frente. Vão
usavam arco e flecha e violão, chocalho, puxar-se até que um dos times consegue
tambor, rabeca. As meninas usavam bastão de derrubar o outro. O time que cair primeiro
bambu. perde a brincadeira.
Quando os meninos estão virando
adolescentes trabalham trazendo a lenha e

2
Tradução da citação acima :COSTA, et al. Disponível em: http://www.iela.ufsc.br/indigena-digital/brincadeira-das-
criancas-guarani-pirai. Data de Acesso: 03/10/2019.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CABAS (Maë) Cabas significa das crianças e todos saem em disparada para
não serem apanhados. Quem for apanhado
vespa/inseto. passa a ser presa do Curupira ou vai
As crianças são divididas em dois grupos. Um desempenhar o seu papel.
de roçadores e o outro que representa as cabas.
Sentam-se frente a frente numa pequena roda,
cada um segurando na parte de cima da mão do
ALGUNS BRINQUEDOS
outro, como se fosse o ninho de cabas. Cantam INDÍGENAS
e balançam para cima e para baixo. Os
roçadores fazem movimentos com os braços, • Pião (Y´ym)
como se estivessem roçando sua plantação até • Perna de pau (myýta)
chegar próximo ao ninho de caba. Um deles, • Helicóptero (y´epem)
sem perceber bate no ninho e as asas saem a • Peteca (popok)
voar e a picar os roçadores.
O helicóptero é feito com uma plantinha
MELANCIA (woratchia) local, usada para construir o brinquedo que é
Crianças ficam no chão em posição de feto, lançado para o alto com a fricção do caule.
espalhadas pelo terreno. Existe o dono da
plantação de melancia que fica cuidando e mais TINTA QUE VEM DA NATUREZA
duas crianças que serão os cachorros; e tem Os índios costumam pintar-se e enfeitar-se
outro grupo que representarão os ladrões. em ocasiões especiais. A pintura corporal e
Esses vêm devagar e experimentam as facial indica um lugar na sociedade e se
melancias para saber quais estão no ponto de relaciona com forças naturais e sobrenaturais.
colheita, batendo com os dedos na cabeça das Ela tem vários significados como ritos de
crianças. Quando encontram uma melancia passagem, proteção do grupo ou do indivíduo,
boa, enfiam-lhe num saco e saem correndo com casamento, luto, cura de doenças, quando se
ela. É aí que os cachorros correm atrás do preparam para caçar, guerrear ou rito religioso.
ladrão para evitar o roubo. Os grafismos aparecem não só nos corpos,
mas em objetos utilitários, casas, e até papel.
CURUPIRA Cada grupo indígena possui um repertório de
Uma criança fica cm os olhos vendados. A técnicas e padrões que estão associados à sua
outra vem e faz com que aquela dê três voltas organização social e relações com a natureza, o
girando. Depois ela pergunta: “que que tu mundo sobrenatural e até com seus inimigos.
perdeste?” E ela responde “perdi uma agulha”; Os pigmentos na maioria são o vermelho, o
“perdi um terçado” ... E todas as crianças fazem azul escuro quase preto, o preto e o branco. O
perguntas. Quando chega a última criança, esta vermelho é feito com o pó da semente de
pergunta-lhe o que o Curupira quer comer. urucum e o azul escuro, com a polpa do
Quando o Curupira tira a venda e vê que não jenipapo verde fervido, o preto com pó de
tem a comida que ele pediu, sai correndo atrás carvão e o branco com calcário. As tintas são

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aplicadas com as mãos, chumaços de algodão,


palha, pincéis diferentes e até com cachimbos
feitos co coco da palmeira babaçu.
Esse tipo de pintura desaparece após alguns
banhos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face ao apresentado, consideramos de fundamental importância a compreensão,
conhecimento sobre a cultura indígena, especialmente quando nos retratamos ao processo de
inclusão de direito e de fato.
As escolas devem inserir em seus currículos e debates, agendas que permeiem sobre a
temática deste povo que resiste em manter sua cultura, seus costumes e acima de tudo sua forma
na construção de saberes.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BEACH CO. Bertioga: Índios Guaranis preservam sua cultura em Boraceia. – 2018.
Disponível em:www.beach.costanorte.com.br/experiências/passeio/18783/Bertioga-indios-
guaranis-preservam-sua-cultura-em-boraceia. Data de Acesso: 20/02/2020.

BETIM, Felipe. São Paulo. Encurrala os índios Guarani que ainda resistem na cidade.-2017.
Disponível. http://brasil.elpaís.com/brasil/2017/09/01/politica/1504276246_722967.html. Data de
Acesso: 20/02/2020.

CABRAL, Vinícius. Os Guaranis. 2012. Disponível em: https://www.historiazine.com/2012/04/os-


guaranis.html. Data de Acesso: 20/02/2020.

CIM.Conselho Indigenista Missionário 2017 . 280 mil indígenas Guarani vivem em quatro
países da América do Sul, diz pesquisa que será apresenta hoje no ATL. Disponível em:
https://cimi.org.br/2017/04/39488/ Data de Acesso: 20/02/2020.

INDÍGENA, Digital. Brincadeiras das Crianças – Aldeia Piraí– 2019. Disponível em:
www.iela.ufsc.br/indígena-digital/brincadeiras-das-crianças-guarani-piraí. Data de
Acesso:20/02/2020.

ISA.Povos Indígenas do Brasil. 2019. Disponível em;


https:/www.suapesquisa.com/musicacultura/povos_indígenas . Data de Acesso: 20/02/2020.

REVISTA. Nova Escola. A tinta que vem da natureza. 2007. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/1286/a_tinta_que_vem_da_natureza. Data de Acesso:
20/02/2020.

SITE, Google. Artes Indígenas. Pintura Corporal. 2019. Disponível em:


https://sites.google.com/site/cp2arteindígena/pintura-corporal.html Data de Acesso: 20/02/2020.

SITE, Wikistori. Guarani. 2015. Disponível em:


https://wikistoriaenciclopedia.wikidot.com/wiki:guarani Data de Acesso: 20/02/2020.

1514
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSICOMOTRICIDADE: POSSIBILIDADES E
DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE
CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA (TEA)
Celeste Nascimento Cruz1

RESUMO: Existe grandes dificuldades relativas aos docentes no que tange ao desenvolvimento
de atividades psicomotoras para alunos autistas. Sendo assim, o presente estudo tem por
objetivo pesquisar e contextualizar, a partir de uma pesquisa teórica, a relevância da
Psicomotricidade, sobretudo, das atividades psicomotoras para o desenvolvimento de crianças
acometidas pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA). A metodologia utilizada foi de caráter
bibliográfico, e, buscou-se como subsídio autores como: Cunha; Zino e Martin Ischkanian (2014);
Le Boulch (2002), entre outros. Foi possível constatar que o autismo é caracterizado por atrasos
no desenvolvimento da linguagem, na interação social, comportamentos e interesses repetitivos
que geram déficits de aprendizagem. Desse modo, a Psicomotricidade apresenta-se como
possibilidade e desafios ao educador uma vez que, esta área de conhecimento investiga e atua
nas relações entre corpo, mente e movimento, de forma que possa colaborar, atuando nestes
atrasos do desenvolvimento com intuito de minimizar estes déficits de aprendizagem.

Palavras-Chave: Psicomotricidade; Desafios; Possibilidades; Crianças; Autismo.

1Professora de Desenvolvimento Infantil na Rede Municipal de Osasco.


Graduação em: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicomotricidade.
Email: celestekiss@gmail.com

1515
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO desenvolvimento do aluno autista, pois de


acordo com o RCNEI (BRASIL, 1998), o trabalho
Considerando-se a problemática enfrentada intencional com o movimento deve acontecer
pelos docentes na aplicação de atividades que desde os primeiros anos de vida, respeitando os
possam contribuir com o desenvolvimento limites das atividades conforme de faixa etária.
psicomotor dos alunos autistas, debruçar- Contudo, o RCNEI, salienta que:
nos-emos em refletir e elencar algumas É muito comum que, visando garantir uma
possibilidades de atividades para a prática atmosfera de ordem e de harmonia, algumas
pedagógica. Para isso, destacaremos a práticas educativas procurem simplesmente
relevância da capacitação dos educadores, suprimir o movimento, impondo às crianças de
visando atender qualitativamente, e de diferentes idades rígidas restrições posturais.
maneira inclusiva, a criança autista, conforme Isso se traduz, por exemplo, na imposição de
elucidam Borba e Barros (2018). longos momentos de espera — em fila ou
Por outro lado, acreditamos nas grandes sentada — em que a criança deve ficar quieta,
possibilidades e também nos desafios que sem se mover; ou na realização de atividades
apresenta a Psicomotricidade para colaborar mais sistematizadas, como de desenho, escrita
com o desenvolvimento de crianças com “TEA”. ou leitura, em que qualquer deslocamento,
A partir das pesquisas de Rossi (2012), gesto ou mudança de posição pode ser visto
constatamos que o trabalho realizado a partir como desordem ou indisciplina. Até junto aos
da Psicomotricidade propicia ao aluno maior (e bebês essa prática pode se fazer presente,
melhor) assimilação de aprendizagens quando, por exemplo, são mantidos no berço
escolares, desta forma, defenderemos a ou em espaços cujas limitações os impedem de
importância de alguns aspectos da expressar-se ou explorar seus recursos motores
Psicomotricidade para o planejamento de (BRASIL, 1998, p. 17).
atividades para atender alunos com o Apresentaremos algumas propostas como
transtorno autista. Nesse sentido, ressaltamos possibilidades para o desenvolvimento do
que o objetivo geral deste trabalho se volta aluno autista. Acreditamos, por conseguinte,
para analisar e contextualizar a contribuição de que por meio deste artigo, possamos
alguns aspectos da Psicomotricidade em apresentar possibilidades e contribuir para
relação ao Transtorno em questão. Para uma possível reflexão sobre novos desafios
estabelecer uma relação das partes com o aos docentes e outros profissionais que atuam
todo, faz-se necessário primeiramente diretamente com o processo de aprendizagem
sintetizar e descrever sobre a Psicomotricidade de crianças Autistas.
e o autismo abordando sua caracterização mais Desta maneira, o presente artigo resgata, de
geral, e as consequências deste Transtorno a forma sucinta, o conceito de Psicomotricidade
partir da análise do levantamento de alguns e TEA e abordará algumas propostas e
dados segundo pesquisas. orientações que possam supostamente
No segundo momento, analisaremos a contribuir para o desenvolvimento do aluno
importância da Psicomotricidade para o com Transtorno de Espectro Autista.

1516
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Em virtude dos conceitos


CONCEITUAÇÃO: apresentados, faz-se necessário evidenciar a
contribuição da “educação psicomotora”, que
PSICOMOTRICIDADE E AUTISMO deve ser levada com responsabilidade desde as
OU TRANSTORNO DE ESPECTRO séries iniciais para o desenvolvimento das
crianças autistas. Como afirmamos, o “TEA” se
AUTISTA “TEA”
caracteriza por imobilidades, atrasos e
Partindo do conceito de Psicomotricidade
comprometimentos no desenvolvimento,
segundo Ferreira (2009, p.1654), significa “a
nesse sentido, acreditamos que a área da
capacidade de determinar e coordenar
Psicomotricidade, que investiga e atua nas
mentalmente os movimentos corporais; a
relações entre corpo, mente e movimento,
atividade ou conjunto de funções motoras.”
poderá contribuir para que o educador repense
Para exemplificar, compreendemos que esta
suas ações e o seu planejamento mediante aos
área do conhecimento constitui-se como base
desafios propostos pelas características
de extrema relevância desde a educação
específicas deste transtorno. Le Boulch (1984,
primária, no processo de aprendizagem das
p. 24), afirma que a educação psicomotora
crianças para que possuam controle e domínio
permite a criança “[...] tomar consciência de
corporal. De acordo com Santos (2015), a
seu corpo, da lateralidade, a situar-se no
Psicomotricidade é um campo transdisciplinar,
espaço, adquirir coordenação dos seus gestos e
uma vez que, estuda e investiga as relações e
movimentos, ao mesmo tempo que desenvolve
influências recíprocas e sistêmicas entre o
a inteligência.”
psiquismo e a motricidade.
Constatamos nas palavras de Lemos (2018),
que o Autismo ou “TEA” é um transtorno PSICOMOTRICIDADE,
psíquico de origem genética, caracterizado DESENVOLVIMENTO E
pelo acometimento de uma tríade de
sintomas: o atraso da linguagem
APRENDIZAGEM
(comprometendo o desenvolvimento da Na prática educativa é notório a
relevância da Psicomotricidade no
mesma), comportamentos e interesses
repetitivos (incluindo movimentos com as desenvolvimento e aprendizagem das
mãos, cabeça e outras partes do corpo) e a crianças autistas, uma vez que, constitui-se
imobilidade social em que a capacidade de para conhecimento e domínio do próprio corpo
interagir da criança é pouco desenvolvida ou (SILVA; TAVARES, 2010). Sendo assim, é
prejudicada. Segundo a especialista em proeminente destacar os déficits de
aprendizagens em decorrência aos níveis de
autismo e “TDH” - Transtorno de Atenção com
autismo e estes podem ser: leve, moderado e
Hiperatividade, no Brasil, a cada 100 pessoas
uma é autista, convém ressaltar que este severo.
Transtorno acomete mais os meninos, significa Segundo Lemos (2018), após o
dizer que a cada 10 crianças, 8 são meninos diagnóstico segundo critérios do Manual de
(80% dos casos no Brasil). Diagnósticos e Estatísticas (DSM-V) e a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

confirmação por meio da Classificação b) Graves problemas para manter relações –


Internacional de Doenças (CID-10), o Isso pode envolver uma completa falta de
Transtorno de Espectro Autista pode ser de interesse em outras pessoas, as dificuldades de
nível leve no qual, o indivíduo apresenta jogar fingir e se engajar em atividades sociais
autonomia para executar algumas tarefas apropriadas à idade e problemas de adaptação
como fazer o uso do toalete por exemplo, a diferentes expectativas sociais.
obtendo algumas habilidades preservadas. Já o c) Problemas de comunicação não verbal – o
nível moderado, conforme a especialista, é que pode incluir o contato anormal dos olhos,
caracterizado pela linguagem menos postura, expressões faciais, tom de voz e
desenvolvida, mas, em alguns casos, pode-se gestos, bem como a incapacidade de entender
falar, contudo, necessita de um apoio e esses sinais não verbais de outras pessoas.
acompanhamento substancial. Por fim, o nível Comportamentos repetitivos e restritivos são:
severo caracteriza-se pela comunicação não a) Apego extremo a rotinas e padrões e
verbal, o atraso na fala, entretanto, os resistência a mudanças nas rotinas
indivíduos neste nível ouvem, mas, de certa b) Fala ou movimentos repetitivos
forma, não interagem e apresentam c) Interesses intensos e restritivos
incapacidade para socializarem. d) Dificuldade em integrar informação
Levando-se em conta os níveis de autismo, é sensorial ou forte procura ou evitar
possível constatar que os déficits de comportamentos de estímulos sensoriais
aprendizagem podem ocorrer na interação (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014,
social, na comunicação, nas funções cognitivas, s.p.)
no aspecto comportamental e no sensorial. Assim, o educador ou “(...) o psicomotricista
Sabemos que a criança autista apresenta deverá traçar um plano individual de
grandes dificuldades para conduzir seu corpo, intervenção, de acordo com as
seus movimentos e suas emoções o que particularidades que cada criança apresenta”
consequentemente, trará um impacto ao modo (SILVA e SOUZA, 2018). A Psicomotricidade está
como ela relaciona-se e comunica-se com as presente em todas as atividades que envolvem
pessoas ao seu redor, comprometendo o seu a motricidade, desde os pequenos gestos ou
aprendizado. Conforme o DSM-V, referente ao ações de uma criança. Ela possibilitará ao
TEA (apud, CUNHA, ZINO e MARTIM, 2015), os autista vivencias e experiências de forma a
déficits sociais e de comunicação são: significar um corpo fragmentado.
a) Problemas de interação social ou De acordo com Souza e Silva (2018):
emocional alternativo – Isso pode incluir a Frente às considerações feitas sobre o corpo
dificuldade de estabelecer ou manter o vai e da criança autista, salienta-se que a proposta da
vem de conversas e interações, a incapacidade Psicomotricidade para este sujeito é de
de iniciar uma interação e problemas com a contribuir, na medida do possível, para o
atenção compartilhada ou partilha de emoções processo de significação desse corpo
e interesses com os outros. fragmentado. Assim, essa criança terá uma
possibilidade maior de sentir e vivenciar seu

1518
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corpo. A proposta dessa intervenção é oferecer Lemos (2018), esta equipe é composta por
à criança autista o prazer de vivenciar suas fisioterapeuta, pediatra, neurologista,
experiências, por meio de seu corpo, nas várias fonoaudiólogo, psicoterapeutas, psiquiatra
relações que esta desenvolverá (SOUZA e dentre outros profissionais.
SILVA, 2018, p.507).
Mediante as considerações feitas até aqui, POSSIBILIDADES E DESAFIOS
convém destacar que, o processo de “educação
psicomotora” contribuirá como um alicerce, PARA O EDUCADOR
uma base para todo o processo de ensino e Considerando a educação psicomotora para
aprendizagem da criança com TEA, visando crianças autistas, deparar-nos-emos com
minimizar os déficits de aprendizagem já alguns desafios nos quais o “professor
citados, de acordo com os níveis do autismo. primeiramente precisa conhecer sobre o
Rossi (2012), esclarece que os elementos desenvolvimento infantil e as funções
básicos da psicomotricidade necessitam ser psicomotoras, para posteriormente organizar o
bem trabalhados senão, poderá prejudicar a seu planejamento de aulas” (ROSSI, 2012,
aprendizagem uma vez que: p.12). Conforme Ischkanian2 (2015), são
1

O desenvolvimento psicomotor evolui do possibilidades eficazes no processo de


geral para o específico. No decorrer do aprendizagem de crianças com TEA, assim:
processo de aprendizagem, os elementos O lúdico: jogos, brinquedos e brincadeiras na
básicos da psicomotricidade (esquema construção do processo de aprendizagem da
corporal, estruturação espacial, lateralidade, criança com TEA/TGD, é uma perspectiva
orientação temporal e pré-escrita) são educacional excelente. Os brinquedos, as
utilizados com frequência, sendo importantes brincadeiras e os jogos, são recursos para
para que a criança associe noções de tempo e facilitar a aprendizagem, essa perspectiva deve
espaço, conceitos, ideias, enfim adquira ser mediada de maneira lúdica, para a criança
conhecimentos. Um problema em um destes com TEA/TGD. Adquirir um aspecto significativo
elementos poderá prejudicar a aprendizagem, e afetivo no curso do desenvolvimento de suas
criando algumas barreiras. (ROSSI, 2012, p. 02) habilidades, já que ela se modifica de ato
Contudo, embora o autismo não tenha cura, puramente transmissor ao ato transformador,
é relevante mencionar que o tratamento, o em ludicidade, denotando-se, portanto, em
mais breve possível, propicia uma evolução ao jogos e brincadeiras (ISCHKANIAN, 2015, p.4).
indivíduo, conforme a gravidade do Transtorno. Sendo assim, ainda é possível constatar,
Além do mais, os docentes devem ser segundo a especialista, que por meio dos jogos
sensibilizados e observar a relevância da a aprendizagem, a formação humana e o
parceria família-escola, bem como da mediação desenvolvimento integral (aspectos físico,
de uma equipe multidisciplinar no cognitivo, motor e social) das crianças com TEA
acompanhamento do aluno. De acordo com tornam - se significativos, pois, “desde os mais

2Especialista em Educação Infantil e em Neuropsicopedagogia, Mestra em Ciências da Educação e autora do


Projeto: Autismo e Educação, atividades lúdicas que trabalham o corpo em movimento (psicomotricidade).

1519
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

funcionais até os de regra, os jogos e as mão, ou músicas que envolvam um lado do


brincadeiras proporcionam experiências, corpo dominante.
possibilitando a conquista e a formação da Nesse sentido, a orientação ou
identidade infantil,” (ISCHKANIAN, 2015, p.4). estruturação espacial, na qual Ischkanian
Deve-se levar em consideração que ao propor refere-se é a percepção do “Eu” no espaço, ou
uma educação psicomotora, visando o seja, quando a criança percebe-se e
desenvolvimento de crianças autistas, a consequentemente percebe o outro neste
mesma vislumbra algumas metas que são: espaço. A autora sugere atividades que
[...] a aquisição do domínio corporal, envolvam os conceitos e noções em
definindo a lateralidade, a orientação espacial, cima/embaixo, maior/menor, dentro e fora,
desenvolvimento da coordenação motora, perto e longe dentre outras. A orientação
equilíbrio e a flexibilidade; controle da inibição temporal nas palavras da especialista diz
voluntária, melhorando, o nível de abstração, respeito a:
concentração, reconhecimento dos objetos por [...] noção de que existe um tempo objetivo,
meio dos sentidos (auditivo, visual, etc.), fundamental para a organização do
desenvolvimento socioafetivo, reforçando as pensamento. Atividades: noção de
atitudes de lealdade, companheirismo e manhã/tarde/noite, figuras de sequência lógico
solidariedade (ROSSI, 2012, p. 08). temporal para o aluno montar, envelhecimento
Para a aquisição destas metas acima (linha do tempo), música (ritmo:
elencadas, Ischkanian (2014), propõe algumas lento/moderado/acelerado), estações do ano,
possibilidades de atividades que podem ser estimular o aluno a avaliar o tempo que usa
trabalhadas com o corpo, de acordo com a para desenhar/escrever seu nome etc.
psicomotricidade, por meio da estimulação (ISCHKANIAN, 2015, p.18).
sensorial. A especialista, considera que, o Certamente Ischkanian (2015), não poderia
domínio ou esquema corporal é a percepção da deixar de mencionar a cognição/memória que
criança em relação ao próprio corpo. A partir é “a capacidade de registrar e recordar
desses conhecimentos, cabe ao educador estímulos” (ISCHKANIAN, 2015, p.25). Nota-se
propiciar atividades psicomotoras com segundo o entendimento da especialista que:
diferentes tipos de desenhos em papéis a) Memória visual: capacidade de reter e
também diferenciados, jogos que envolvam o de recordar com precisão, experiências visuais
corpo (individuais e coletivos) e a anteriores.
movimentação do mesmo. b) Memória auditiva: capacidade de reter
Já a lateralidade é a “predominância de um e de recordar informações captadas
lado do corpo em relação ao outro,” auditivamente.
(ISCHKANIAN, 2014, p.16). Assim, ela sugere c) Memória visomotora: capacidade de
atividades que englobam o ato de desenhar, reproduzir com movimentos dos segmentos
colorir; jogos que estimulem correr, chutar, corporais experiências visuais anteriores
pular com um membro dominante sendo pé ou (ISCHKANIAN, 2015, p.26).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A autora sugere atividades que possam


intencionalmente contribuir com o
desenvolvimento da memória, tais como:
quebra-cabeças, jogo da memória, sequencial e
também, contar e recontar histórias pequenas,
dramatizações de pequenas cenas, cantar
músicas dentre muitas outras propostas.

1521
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer desta pesquisa teórica, foi possível constatar que algumas das dificuldades
enfrentadas pelos docentes referentes a como desenvolver atividades para alunos autistas,
dependem do conhecimento de aspectos do desenvolvimento infantil e as funções psicomotoras.
Observamos que de acordo com Lemos (2018), que existem déficits de aprendizagem
conforme os níveis de autismo e estes se apresentam na interação social, nas funções
cognitivas, na comunicação e também nos aspectos comportamental e sensorial.
Sendo assim, a partir das pesquisas de segundo Ischkanian (2015), foi possível refletir a
respeito de algumas possibilidades ao educador (e também os desafios conforme foram
mencionados) visando ampliar e enriquecer o planejamento de suas aulas. A especialista destaca
que por meio de propostas lúdicas, tanto os jogos, quanto as brincadeiras são possibilidades de
atividades que apresentam grande eficácia no processo de ensino e aprendizagem de crianças
com o Transtorno de Espectro Autista.
Em síntese, foi possível analisar que por um lado o Autismo é caracterizado por
imobilidades, atrasos e comprometimentos no desenvolvimento da criança, por outro, a
Psicomotricidade apresenta-se como uma área de conhecimentos que pode propiciar diferentes
possibilidades, visando trabalhar ou minimizar atrasos ou déficits de aprendizagem, investigando
e atuando nas relações de corpo, mente e movimento.

1522
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BORBA.M.M.C.; BARROS, R.S. Ele é autista: como posso ajudar na intervenção? Um guia
para profissionais e pais com crianças sob intervenção analítico comportamental ao
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construção do processo e aprendizagem das crianças com Transtorne de Espectro
Autista/ Transtorno Global do Desenvolvimento. Disponível em: <
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LEMOS, Érica Fernanda Ursulino. Autismo. In:Programa UNIFIEO 60 minutos. Disponível


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ROSSI, Francieli Santos. Considerações sobre a psicomotricidade na educacação infantil.


Vozes dos Vales, Diamantina, n. 1, p.1-18, 2012. Disponível em:
http://www.ufvjm.edu.br/site/revistamultidisciplinar/files/2011/09/Considera%C3%A7%C3%B5es
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SANTOS, A.C.A. Psicomotricidade método dirigido e método espontâneo na Educação


Pré-escolar. 2015. 99f. Dissertação (Mestrado – Jogo e Psicomotricidade na Infância) Instituto
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Revista da Católica, v. 2, n. 3, p. 348-363, 2010.

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intervenção. Pretextos: Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas. Editora PUC
Minas, 2018.

1523
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL
PREVENTIVA: UM OLHAR TRANSFORMADOR
PARA A PRÁTICA DOCENTE
José Aparecido de Farias Leite1

RESUMO: O artigo aborda questões relativas a Psicopedagogia Institucional, enfatizamos seu


papel principal que é exclusivamente para prevenir possíveis dificuldades de aprendizagem no
âmbito escolar. Logo, este trabalho será norteado por estas questões a fim de refletir sobre a
problemática que cerca o trabalho docente na primeira infância.

Palavras-Chave: Educação; Psicopedagogia; Docente.

1Professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia.
E-mail: aparecido.farias@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO no olhar atento. Para iluminar esta pesquisa


traremos à tona um recorte dos estudos da
A Psicopedagogia Institucional volta-se Izabel Galvão (2013), sobre o Henri Wallon e
exclusivamente para prevenir possíveis sua concepção dialética do desenvolvimento
dificuldades de aprendizagem no âmbito infantil, Michel Cole, et al. (2007), sobre Lev
escolar. Logo, este trabalho será norteado por Vygotsky e a formação social da mente e Eloísa
estas questões a fim de refletir sobre a Quadros Fagali (2011), e a Psicopedagogia
problemática que cerca o trabalho docente na Institucional aplicada, uma vez que estes
primeira infância. autores trazem em seus trabalhos de pesquisas,
Seguiu-se esta linha de pesquisa uma vez que a fundamentação teórica sobre as etapas
alguns fatores observados em sala foram vividas pelo ser humano durante seu
motivos de incômodo, de questionamento: Por desenvolvimento e o quão relevante é este
que falar assim com a criança? Por que ela faz entendimento e compreensão para auxiliar os
desta forma e não daquela outra? O que fazer alunos no seu desenvolvimento saudável.
para a equipe docente olhar com outros olhos Voltado para este olhar objetiva-se o
para as crianças? Como fomentar a equipe a ter desenvolvimento de um trabalho que valoriza
um olhar de qualidade para as reais as ações discentes, explorando todas as
necessidades das crianças, ajudando-as a linguagens das crianças, promovendo uma
crescerem e desenvolverem-se com respeito às aprendizagem significativa. Com isso os alunos
suas particularidades? serão pessoas mais calmas, confiantes,
Com o intuito de promover a transformação envolvidas e que dificilmente terão dificuldades
preventiva no olhar docente sobre o grupo de de aprendizagem, de relacionamento com os
alunos, será utilizada para a elaboração deste colegas uma vez que estão sendo ouvidos,
trabalho a pesquisa bibliográfica e percebidos com um ser potente e respeitados
observações feitas em sala de aula de educação como um ser que já é um cidadão.
infantil e práticas docentes equivocadas sobre
as reais ações de serem desenvolvidas com os
HISTÓRICO DE TEMA
alunos. Para esta análise, o trabalho de
pesquisa e reflexão será organizado por ABORDADO: RELATOS PESSOAIS
capítulos visando facilitar a compreensão dos DE OBSERVAÇÃO
dados discutidos e trazer ao leitor uma maior
notoriedade do tema abordado, estabelecendo
ao longo dos capítulos um paralelo entre a • Identificação do problema que
teoria e prática, com a exemplificação de sustentou a pesquisa.
algumas vivências e as possibilidades de ação Na minha vida profissional, como professor
diante delas. de Educação Infantil, sempre me deparei com
E juntos traçaremos a integração dos dois crianças que apresentavam diferentes
conceitos procurando apresentar elementos comportamentos, o que é claramente comum,
válidos que fundamentem o trabalho pautado afinal somos todos seres individuais, cada um
com suas qualidades e características

1525
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

singulares, mas o que me deixava com vários


vivenciados pelas crianças e professores,
questionamentos, era o porquê de algumas partiu-se para a pesquisa teórica, a luz da
crianças apresentarem súbitos
Psicopedagogia, que tem como função
comportamentos de agressividade com os entender como acontece a aprendizagem
colegas e os docentes de sala não humana.
compreenderem tais ações das crianças, nem Segundo Beauclair (2014):
saberem lidar com estas situações. [...] A psicopedagogia é um campo do
Esses repentinos acontecimentos se não conhecimento que se propõe a integrar, de
bem orientados, podem causar sérios modo coerente, conhecimentos e princípios de
problemas a estas crianças envolvidas e diferentes Ciências Humanas com a meta de
dificultar seu futuro estudantil. adquirir uma ampla compreensão sobre os
Diante destes acontecimentos me
variados processos inerentes ao aprender
perguntava de que maneira poderia contribuir
humano. Enquanto área de conhecimento
como profissional e também acadêmico, com o
multidisciplinar, interessa a Psicopedagogia
presente e com o futuro escolar das crianças,
compreender como ocorrem os processos de
sabendo-se que era preciso intervir aprendizagem e entender as possíveis
primeiramente na forma de olhar da equipe dificuldades situadas neste movimento
docente para esse grupo e conseguinte ajudar
(BEAUCLAIR,2014, s.p).
esses pequenos a desenvolverem-se com A Psicopedagogia possui vários caminhos
tranquilidade, vivenciando todas as etapas de
para seguir e entre estes surgiu a
vida que todo ser humano passa. Psicopedagogia Institucional que se volta
Toda investigação parte de um problema, de
exclusivamente para o estudo de como
algo que incomoda e que precisa ser prevenir possíveis dificuldades de
solucionado, logo, partiu-se daí toda a pesquisa
aprendizagem dos alunos no âmbito escolar,
realizada, tendo como intuito de contribuir
refletindo sobre maneiras de reintegrar o aluno
dentro do âmbito educativo para que a equipe
à sala de aula, trazendo-o para o grupo, para a
de docentes tenha o seu modo de olhar inserção no processo de aprendizagem,
transformado, passando a olhar para as conforme afirmam Fagali e Do Vale (2011, p. 9).
crianças, a enxergar as crianças como um ser A partir da definição de Psicopedagogia
potente, um ser capaz de aprendizagem, quePreventiva é possível estabelecer um paralelo
tem vez e voz, e que merece ser ouvido em entre as ações que acontecem na sala de aula,
todas as suas súplicas e desejos, respeitado e
neste caso de educação infantil e as
contemplado com tudo aquilo que é próprio de
transformações possíveis de ocorrer para que
sua idade. as crianças sejam vistas e valorizadas como um
ser que está em constante desenvolvimento e
• Psicopedagogia Institucional que precisa vivenciar diferentes propostas de
Preventiva. aprendizagens.
Com as observações feitas dentro da
Instituição e com possíveis problemas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

No desenvolvimento humano podemos É preciso enxergar as crianças como seres de


identificar a existência de etapas claramente vários potenciais, mas para isso acontecer é
diferenciadas, caracterizadas por um conjunto preciso que “o educador tome consciência do
de necessidades e de interesses que lhe seu papel profissional e passe a se distanciar de
garantem coerência e unidade. Sucedem-se uma postura até então centrada no “piloto
numa ordem necessária, cada uma sendo a automático’” (CORTEZ, 2012, p. 152).
preparação indispensável para o aparecimento Crianças potentes no sentido de que
das seguintes (GALVÃO, 2013, p. 39). possuem múltiplas linguagens e que podem
Com base nesta citação de Galvão (2013), aprender facilmente desde que o professor
percebe-se que todo ser humano passa por saiba lidar com elas, e para tal é necessário
etapas durante toda a sua vida, com as crianças, fomentar na equipe de professores este olhar
torna-se mais evidente a percepção deste transformador para elas. Olhar de
processo, uma vez que elas passam por estágio transformação. Olhar de mudança da prática.
de desenvolvimento, evoluindo Olhar de quem acredita nas potencialidades
gradativamente o seu físico, intelectual, social e dos pequenos.
emocional e sendo assim o professor que passa Isso se faz fundamental uma vez que só a
várias horas do dia com este aluno tem papel partir do momento que se acredita naquilo que
fundamental na vida deles, de forma que faz é possível promover a mudança na maneira
poderá contribuir tanto positivamente quanto de ver o outro, de enxergar o outro, e em se
negativamente no seu processo de tratando de crianças que “são sinestésicas, ou
desenvolvimento humano. seja, todos os seus sentidos estão despertos a
Claramente sabe-se que enquanto cada momento. Elas são chamadas por aquilo
profissionais de educação o dever é contribuir que lhes interessa, por uma curiosidade que as
de modo positivo para que as crianças avancem põe em movimento” (BARBIERI, 2012. p. 25),
estas etapas da vida com sutileza, respeito e torna-se cada vez mais evidente.
exploração de tudo que for possível de vivência Sempre foi um fato incômodo quando se
e aprendizagem. ouvia colegas falarem: “esta criança não tem
Pensando assim, defende-se a ideia de que jeito, é caso perdido”. É uma fala que
dentro de uma instituição escolar de educação desrespeita totalmente a criança como ser
infantil, um dos primeiros pontos preventivos é humano e o impede de desenvolver-se com
o trabalho com a equipe docente, visando qualidade, uma vez que ao ouvir comentários
trabalhar com a mesma questão na equipe, a de como este, é o mesmo que dizer para ela que
que todo ser humano é possível de não é capaz, sendo que não é verdade, que
aprendizagem, é possível de ser visto como um todas são capazes sim, desde que a elas sejam
ser diferente dos demais, que possui oferecidos situações em que as mesmas
competências e habilidades que necessitam de vivenciem diferentes experiências de
mediação e orientação a fim de que a clientela exploração, com base nas suas competências e
de alunos desperte para a aprendizagem. necessidades.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Como já ressaltado anteriormente, precisa- estadia no ambiente educacional, visando o


se desenvolver um trabalho formativo com o desenvolvimento completo, sabendo-se que
corpo docente, propiciando a ela uma reflexão nesta fase tão importante de sua vida ela está
que permita olhar para as crianças e suas reais em pleno crescimento e formação e para tal
necessidades. Muitas vezes depara-se com necessita explorar os diferentes campos
estes profissionais que veem a criança e a possíveis de experiências tendo a oportunidade
instituição escolar como algo oferecido para de transformá-las em aprendizagens.
passar o dia, e que elas podem brincar com Para que isso ocorra, é imprescindível que os
qualquer coisa, em qualquer canto, sem o educadores da primeira infância transformem
devido valor e cuidado, estético e educativo. suas práticas em sala de aula, modificando
Uma vez oferecida às crianças, vivências sem primeiramente o seu olhar, é preciso que ao
qualidade, sem um olhar cuidadoso para as olhar para a criança, tenha-se um olhar
suas necessidades, permite-se que elas atuem transformador. E que olhar transformador seria
em sala com liberdade sem direcionamento, o este?
que acarreta conflitos entre as crianças, O olhar transformador do corpo docente é
agressividades, falta de exploração de aquele que oferece ao mesmo um novo jeito de
experiências. Isso foi possível verificar ver as coisas, é um olhar que permite entender
conversando-se com alguns profissionais da a criança com um ser único, com necessidades
área. coletivas e ao mesmo tempo singulares, que
Durante estas conversas e observações, precisam explorar diferentes experiências
surgem alguns relatos dos professores: transformando-as em aprendizagens. Só a
Eles são muito pequenos, basta um canto de partir desta transformação do olhar será
bonecas e carros no chão! (PROFESSOR A). possível entender cada criança que habita a sala
Elas não sabem brincar. Elas não param num de aula e ajudar a passar por estes conflitos que
canto para brincar!(PROFESSOR B). emergem no dia a dia de maneira saudável e
Não dá para deixá-las livres, que elas necessária, encarando as divergências como
destroem tudo, brigam, machucam-se! algo necessário para o desenvolvimento
!(PROFESSOR C). humano. “O conflito é o fator mais influente na
Elas são muito pequenas, não conseguem! aquisição de novas estruturas de
!(PROFESSOR D). conhecimento. Os conflitos podem, portanto,
Estas são falas corriqueiras que se escuta de ser vistos como uma fonte de progresso no
professores que não tem uma formação desenvolvimento” de acordo com Devries e Zan
continuada voltada para o trabalho com os (1998, apud ,PIAGET, 1975;1985. p. 91).
pequenos, que acreditam que os mesmos Pensar na Psicopedagogia Institucional
contentam-se com o pouco que oferecem. Mas preventiva é justamente isso que se tratou até
ao contrário disso, os pequenos, as crianças de aqui, é transformar a ação em sala de aula com
educação infantil, que se trata nesta reflexão, as crianças, sendo conhecedor de que se tem
são seres que precisam e tem o direito de enquanto profissional da educação da primeira
vivenciar diferentes experiências em sua infância que mudar de hábitos, mudar ação,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

mudar concepções, tornando-se um Como o próprio texto traz à tona, o homem


profissional que desenvolve suas é superior, pois antes de construir algo
competências, visando o auxílio e mediação nas fisicamente ele já o fez mentalmente,
situações de aprendizagens de tal maneira, a representando o tamanho de inteligência
favorecer as vivências diárias das crianças no humana e reforçando que todos são capazes de
momento em que estão na instituição ao aprender desde que bem mediados e instigados
mesmo passo em que, contribuem para que com bons exemplos e boas situações de
futuramente quando ingressarem na educação exploração.
básica, apresentem o mínimo possível de “[...] estar aberto e não trazer suas
problemas e conflitos consigo mesmo e com o interferências, pré-conceitos, respostas. Não
outro, e, se apresentarem, que seja aqueles ter respostas, não ter expectativas, ansiedades.
conflitos normais vivenciados por cada O que vem tem que ser acreditado, respeitado”
indivíduo em uma etapa da vida. E para que (MEIRELES, 2015, p. 36).
esse trabalho aconteça e apresente resultado Meireles (2015), como observadora sensível
satisfatório, Fagali e Do Vale (2011, p. 9) e competente traz para a reflexão em questão
afirmam que é necessário ter como meta a um conceito do olhar que deve fazer parte das
reflexão e o desenvolvimento de projetos atribuições de todos os profissionais da área,
pedagógicos-educacionais, enriquecendo os uma vez que se torna tão simples, o trabalho.
procedimentos em sala de aula, as avaliações e Agir com competência, com afastamento das
planejamentos [...]. situações, com o olhar limpo e livre de
conceitos pré-concebidos. Isso faz com que se
QUE OLHAR TRANSFORMADOR tenha a chance de ver as crianças como
construtoras de seu próprio saber. Para isso é
É ESTE QUE TANTO SE FALA? necessário que o professor esteja perto
A aranha realiza operações que lembram o cuidando e zelando pela segurança e bem estar
tecelão, e as caixas suspensas que as abelhas de sua clientela e ao mesmo tempo mantenha-
constroem envergonham o trabalho de muitos se afastado da tal maneira a não interferir nas
arquitetos. Mas até mesmo o pior dos criações das crianças e sim, observar e coletar
arquitetos difere, de início, da mais hábil das elementos válidos para proposições seguintes
abelhas, pelo fato de que, antes de fazer uma de experiências diversificadas de
caixa de madeira, ele já a construiu aprendizagens.
mentalmente (VYGOTSKY, 2007, apud, KARL Quando mencionado que enquanto
MARX, p. VII). educador de crianças deve-se ter sempre um
É com esta bela citação que serão tratadas olhar diferenciado para elas, um olhar
sobre as respostas ao questionamento acima transformador, fala-se que não se pode
que percorreu todo o trabalho formativo na diminuir as potencialidades das crianças em
instituição escolar discutido até o presente aprender, não se pode trabalhar com a
momento. hipótese de que porque são pequenos as
crianças não precisam vivenciar momentos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ricos de saberes, de experiências, de Vale uma ressalva de que os Professores de


possibilidades. Erroneamente muitos pensam Educação Infantil são promotores de
assim, que por serem pequenos não precisam competência, conceito simplificado nesta
de muito. Ao contrário, elas precisam sim de citação, como a ação de:
muito, mas de um muito saudável, de um muito Favorecer que as crianças façam coisas por si
rico em qualidade, rico em crédito de confiança só, sem a vigilância constante do adulto, de
em suas capacidades de aprendizagem. forma segura e prática, como pegar brinquedos
É preciso olhar para as crianças e enxergar em estantes baixas, recostar-se num cantinho
nelas um ser pequeno, mas com grande aconchegante quando querem descansar, [...],
potencial no que diz respeito aos modos de comer uma fruta com as mãos, promove o
aprender. desenvolvimento de competência e de
Ao se deparar em sala de aula com a primeira confiança básica em si mesmo (ORTIZ;
infância precisa-se ter em mente que ela está CARVALHO, 2012, p. 66).
em plena formação, tanto física quanto mental Logo, para oferecer as crianças essa
e social, e assim sendo é imprescindível que o promoção de suas qualidades e habilidades
professor que a acompanha entenda os citada anteriormente na fala da Ortiz e Carvalho
processos porque passa a criança e ofereça a (2012), é preciso o olhar atento para o grupo,
ela elementos que fomentem o seu para as suas questões, para aquilo que as
desenvolvimento. crianças pedem. Quando se tem este olhar
Ao respeitar as fases de desenvolvimento perceptivo em sala com os pequenos, fica mais
das crianças com este olhar cuidadoso para as fácil observar e entender os pedidos das
necessidades de cada indivíduo, tem-se a crianças. Lembrando-se que elas pedem de
chance de oportunizar um crescimento diferentes modos, explorando as suas múltiplas
saudável e com os conflitos sendo resolvidos linguagens, seja pela fala, por gestos, pela
paulatinamente na medida em que surgem de expressão corporal, pelo olhar direcionado ao
modo natural e atencioso, permitindo que cada adulto. Há de se ter atenção para interpretar
uma viva esta fase também de crises estes pedidos, estas necessidades de
necessárias para o amadurecimento pessoal. exploração, que elas têm a oferecer ao grupo,
É no que diz respeito a esta fase de uma gama de proposições diversificadas
amadurecimento infantil, que o professor visando estas vivências e aprendizagens.
precisa estar atento com um olhar observador A atuação com a Psicopedagogia
e sensível, e com isso o docente em sala, terá institucional preventiva no âmbito escolar
menos desafios a enfrentar, já que as crianças volta-se justamente ao desenvolvimento de um
percebem quando são vistas, ouvidas e trabalho que previna possíveis problemas de
respeitadas. Elas precisam do acolhimento do aprendizagem das crianças.
adulto. E cabe a este dar a atenção que Cabe ao professor atento, observador e
precisam sempre com cautela, de modo a mediador de aprendizagens, desenvolver um
contemplar seus desejos e anseios. trabalho em sala com as crianças visando o
desenvolvimento de tais competências já

1530
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

citadas, porém, sabe-se que isso só é possível grupo, partindo de suas apreciações das
por meio da formação, uma vez que fica nas necessidades de cada um.
mãos da equipe escolar, direção, coordenação
em parceria com o psicopedagogo, que atuará
na descoberta de possíveis casos que possam
atrapalhar o desenvolvimento saudável dos
alunos.
Todo indivíduo desde o momento que nasce
já é conhecedor de algo, por mais simples que
seja. E sendo assim não se pode tratar as
crianças como alguém que não sabe nada. Ao
contrário, elas já sabem e muito e tem uma rica
variedade de conhecimento a ensinar para os
adultos, e é partindo deste conhecimento
prévio das crianças que o trabalho com elas
deve ser baseado.
Além de lhe permitirem realizar este contato
inicial com o novo conteúdo, [...]
conhecimentos prévios são os fundamentos da
construção dos novos significados. Uma
aprendizagem é tanto mais significativa quanto
mais relações com sentido o aluno for capaz de
estabelecer com o que já conhece [...] e o novo
conteúdo que lhe é apresentado como objeto
de aprendizagem (MIRA, 2006, p. 60).
Este conceito deve ser utilizado como ponto
de partida para refinar o seu olhar, as suas
observações, seguindo alguns
questionamentos: O que ela já sabe? O que
precisa saber? Como posso contribuir para que
avance no seu aprendizado? Como posso
incentivá-la a descobrir nos caminhos? Estou
propondo desafios a elas, que as ajude a
crescerem, amadurecerem?
São questionamento deste tipo, e outros
tantos possíveis de serem citados, que podem
e devem ser feitos durante seus momentos de
observação e olhar atento para o grupo, pois
assim terá elementos favoráveis para propor ao

1531
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitas são as indagações que surgem quando se trabalha na Educação Infantil e
concomitantemente, se faz um curso de Pós-graduação.
O artigo visa encontrar possíveis respostas para estas indagações, uma vez que precisava
compreender como acontecia este processo de descobertas das crianças, e enquanto aluno
concluinte de uma especialização precisava ser conhecedor dos fatores que acometam o
desenvolvimento das crianças na Educação Infantil envolvendo os profissionais ligados
diretamente.
A questão central era encontrar um direcionamento para o trabalho psicopedagógico
Institucional preventivo, dentro do âmbito escolar de tal maneira que esta prevenção partisse da
formação docente, afinando-se o olhar para a clientela de alunos, passando a partir desta
prevenção a olhar para eles com uma nova forma de ver, entendendo-o com um ser em pleno
desenvolvimento de suas capacidades que precisa de um olhar respeitoso, que acredita em sua
potencialidade, em sua criatividade, em sua capacidade de exploração das propostas oferecidas.
Um olhar que permita às crianças vivenciarem diferentes proposições transformando-as em
aprendizagens.
Considera-se que é possível transformar este olhar, e ser para as crianças, nesta primeira
etapa de sua vida estudantil, uma referência de quem acredita em sua possibilidade de ampliação
de competências.

1532
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Cristina Capareto Lavrador Alves (org.). São Paulo: Blucher, 2012. p. 25.

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Técnica: Sônia Barreira. 6. ed. São Paulo: Ática, 2006. 221p.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

PSICOSES NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA:


AUTISMO E ESQUIZOFRENIA
Regina Célia Gonçalves Mateus1

RESUMO: O presente estudo, de metodologia qualitativa, baseado em pesquisas bibliográficas,


tem como objetivo refletir brevemente sobre algumas psicoses permeadas na infância e
adolescência, em especial, o autismo e esquizofrenia. No Brasil, pouco se sabe sobre a etiologia
dessas psicopatologias, que cada vez mais estão presentes nas escolas e clínicas
psicopedagógicas, na busca por uma intervenção de qualidade, capaz de garantir a aprendizagem
desses sujeitos. No entanto, a ausência de elementos concretos que permitam um diagnóstico
rápido e claro acerca dessas psicoses, faz com que muitos especialistas divirjam opiniões, o que
não permite avanços expressivos no tratamento desses transtornos, bem como nas intervenções
psicopedagógicas. No artigo, fazemos uma breve definição acerca do conceito de psicose. Em
seguida, apontamos as classificações diagnósticas do Transtorno do Espectro do Autismo e seu
quadro sintomático. De igual modo, na sequência, discorremos sobre a classificação da
Esquizofrenia, sintomas e tratamentos dessa patologia dentro das fases da infância e
adolescência. Ainda, brevemente, são consideradas algumas questões sobre o tratamento dessas
psicoses. O estudo apresenta uma visão primária sobre essas patologias, pois tem como
pretensão apenas situar o leitor acerca das diversas concepções teóricas desse assunto
inesgotável. Reflete-se, por fim, que a falta de estudos sobre o tema aponta a necessidade
urgente de investimentos e pesquisas constantes sobre o assunto.

Palavras-Chave: Psicoses; Autismo; Esquizofrenia; Infância; Adolescência.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em Artes Visuais; Especialização em Práticas em
Alfabetização e Letramento; Especialização em Educação Infantil.
E-mail: reginacgmateus@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO considerados na identificação e intervenção


destas psicoses, de forma que possibilite a
Há muito se discute acerca das psicoses na construção de novos conhecimentos que, por
infância e adolescência, na tentativa de elucidar sua vez, garantam uma atuação mais precoce e
aspectos dicotômicos existentes, ainda hoje, efetiva no tratamento do autismo e da
em seu prognóstico, haja vista a complexidade esquizofrenia.
da distinção entre o real e o fantástico nesta
faixa etária.
DA DEFINIÇÃO DE PSICOSE
Por intermédio deste trabalho,
Segundo Tengan e Maia (2004), podemos
apresentaremos registros de pesquisas
entender a psicose “como uma desordem
recentes sobre a Psicose na Infância e
mental, na qual o pensamento, a resposta
Adolescência, tendo como foco o subtema
afetiva e a capacidade em perceber a realidade
Autismo e Esquizofrenia.
estão comprometidos”. Esse conjunto de
Dentro deste viés, debruçamos o nosso olhar
fatores interfere significativamente no
primeiramente sobre o entendimento de que a
relacionamento social dos indivíduos que
Psicose é uma desordem mental que
carregam esses sintomas.
compromete a organização do pensamento,
Embora não haja uma regra no conjunto
bem como interfere na percepção de mundo
sintomático da psicose, existem características
dos sujeitos autista e esquizofrênico, afetando
peculiares que possibilitam o reconhecimento
significativamente suas relações interpessoais,
da doença. Para Tengan e Maia (2004), “as
seu convívio social, sua identidade e
características clássicas da psicose são: prejuízo
autonomia, provocando um distanciamento da
em perceber a realidade de forma adequada,
realidade.
presença de delírios, alucinações e ilusões”.
Investigando estes transtornos, a pesquisa
Os autores apontam, ainda, a imprecisão
promoveu uma aproximação com a
termo psicose e a necessidade de justificar
classificação destas patologias, segundo os
constantemente a referência teórica do termo
órgãos oficiais que regulamentam, também,
adotado, haja vista as diferentes concepções
suas causas, sintomas, bem como estrutura o
acerca do assunto. As maiores correntes
processo de identificação, observação e
conceituais se dão no campo psicodinâmico,
intervenção nestas síndromes.
psiquiátrico ou por determinação de autores
Na dinâmica das pesquisas, identificamos
afins.
que os estudos sobre o Transtorno do Espectro
No geral, embora as diferentes concepções
do Autismo (TEA) e da Esquizofrenia ainda não
sobre o assunto, os conceitos em si são
atenderam às demandas acadêmicas e sociais
coerentes uns com os outros, tendo sua
sobre o assunto, devido à complexidade das
diferenciação apenas na discussão acerca da
causas e dos sintomas que permeiam estes
etiologia da doença. Algumas linhas teóricas
transtornos, fazendo-se necessário a
partem da premissa de que as psicoses advêm
continuidade de pesquisas. Assim, muitos sãos
da perda do contato afetivo com a realidade, ou
os quesitos que ainda precisam ser
afastamento temporário e/ou definitivo da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

realidade objetiva, ou uma perturbação Os estudos recentes, feitos pelos autores


psíquica grave que leva eventualmente à Zanon, Backes, Bosa e Alves (2014), apontam
desintegração das estruturas de personalidade para uma incidência quatro vezes maior de
(TENGAN e MAIA, 2004). meninos com autismo do que em meninas, de
Cumpre ressaltar que a quantidade de maneira que tem sido crescente a estatística
correntes teóricas presentes a respeito da mundial de pessoas diagnosticadas com este
psicose, contribuiu durante muito tempo para a transtorno. Segundo os autores, o retardo na
negação da existência dessa patologia na intervenção e na identificação dos primeiros
infância, tendo em vista que, nesta fase, sintomas e dificuldades da criança se dá, devido
diferenciar o real e o fantástico exige uma ao fato das crianças com TEA, na maioria das
análise extremamente complexa, já que a vezes, serem diagnosticadas somente na fase
criança precisa dessa oscilação para a escolar, não obtendo uma atenção específica
construção de sua personalidade. Também antes do 5 anos de idade.
podemos subdividir as psicoses em dois Skilos e Kerns (2007), citados no artigo de
grandes grupos: agudas e crônicas. Zanon (2014), corroboram com pesquisas
acadêmicas, nas quais enfatizam a existência de
CLASSIFICAÇÃO DO fatores que influenciam na demora do
diagnóstico sendo estes: variáveis na expressão
TRANSTORNO DO ESPECTRO DO dos sintomas, limitações na avaliação escolar,
AUTISMO (TEA) ausência de profissionais qualificados para
Em conformidade com a quinta edição do reconhecer os sintomas e restrição de serviços
Manual Diagnóstico e Estatístico de especializados disponíveis a população. Estes
Transtornos Mentais (DSM-5) o Transtorno do entraves resultam no encaminhamento da
Espectro de Autismo propõe uma classificação criança com TEA a especialistas somente
em substituição a Transtornos Globais de quando é verificado um atraso significativo na
Desenvolvimento. Esta recente nomenclatura fala, negligenciando as dificuldades motoras e
vem sendo utilizada nas publicações científicas sociais nos primeiros anos de vida.
para se referir as perturbações
neurodesenvolvimentais que incluem o O RECONHECIMENTO DOS
transtorno autístico.
Para Rutter (2011), o Transtorno do Espectro
INDICADORES E SINTOMAS DO
do Autismo é uma síndrome comportamental TRANSTORNO DO ESPECTRO DO
caracterizada por causas múltiplas que AUTISMO (TEA)
incorporam fatores genéticos e ambientais, os Barber e Morgan (2008), em seus estudos,
quais ocasionam dificuldades no direcionam para o reconhecimento dos
desenvolvimento sociocomunicativo, restrições primeiros sintomas pelos pais, por meio do
quanto a interesses e atividades, bem como desenvolvimento da comunicação e da
limitações na vida cotidiana deste indivíduo. linguagem, evidenciando o sintoma
mencionado de forma mais frequente,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

seguindo com preocupações sobre o o olhar, o sorriso, quando a criança não atende
desenvolvimento motor, da alimentação e do com o olhar, não responde ao chamado pelo
sono. Outro fator importante, relatado pelos nome, não responde a separação dos pais e não
cuidadores corresponde a uma regressão na se importa quando os pais a deixam. Identificar
fala, ou seja, existem casos em que a criança ações de ansiedade, aversão, medo,
autista perde e desaprende palavras que já indiferença com outras pessoas.
estavam incorporadas ao seu cotidiano ou Barber e Morgan (2008), relatam, também,
recusam-se a falar. que dentre todos os sintomas, os mais
Alguns estudiosos concluíram que, mais precocemente observados foram relacionados
precisamente aos 9 meses de idade, a criança ao desenvolvimento da linguagem e
começa a desenvolver habilidades posteriormente comportamentos sociais
sociocomunicativas e passa a se relacionar e repetitivos e os estereotipados.
interagir mais com as pessoas e os objetos, Dentro deste contexto, o diagnóstico ainda
experimentando descobertas, por meio do na primeira fase da infância fica prejudicado,
olhar, dos gestos, da expressão emocional. em grande parte, pelo fato dos pais associarem
Entre os 13 e 15 meses de vida as crianças com a falta de interação da criança com aspectos da
TEA já apresentam comportamentos sociais personalidade do filho, como timidez,
que são indicadores para um diagnóstico como introversão e ausência de estímulo. Mais uma
atraso no desenvolvimento, sinais perceptíveis vez, se faz necessário reiterar a importância do
no pouco contato ocular, a falta de orientação olhar dos pais e educadores para a primeira
ao ser chamado pelo nome, ausência de infância, a fim de identificar os primeiros passos
interações e falta de atenção compartilhada. da criança, atentando-se aos sintomas precoces
Estes sintomas evidenciam a necessidade de do TEA, viabilizando, então, uma intervenção
observar as crianças com uma percepção eficiente e integral no que diz respeito a pleno
investigativa. desenvolvimento da criança.
Quando os sintomas iniciais passam Apesar do aumento das demandas de
despercebidos pela primeira instituição da portadores do TEA dentro das instituições de
criança (a família), a escola assume um papel ensino, ainda estamos carentes de estudos
importantíssimo, auxiliando no diagnóstico, por aprofundados que facilitem o diagnóstico desse
meio das observações no desenvolvimento da transtorno. No Brasil, atualmente, existem
linguagem e social. Nesta fase, os fatores pouquíssimas dissertações sobre o tema.
principais a serem observados estão associados Embora reconheçamos a importância da obra
à interação. Os profissionais devem se atentar de Montenegro e Mercadante (2007), que
para o atraso da fala, o atraso na comunicação desenvolveram “O Protocolo da Comunicação
gestual, atraso no balbucio e à mudanças de Social Inicial”, construindo um método para
comportamentos que provoquem o auto observar, estruturar a intervenção social na
isolamento. Com relação ao comprometimento atenção compartilhada.
social, deve-se prestar atenção na interação da Devido à complexidade do diagnóstico desse
criança com os colegas e o ambiente, observar transtorno, o acesso à informação fica muito

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prejudicado, de modo que apenas famílias idade. A mesma é entendida como precoce
letradas, de níveis econômicos elevados, têm quando acometida antes dos 17 anos. Seu
recursos adequados para reconhecer os diagnóstico em crianças é muito raro, embora
sintomas do TEA durante os dois primeiros anos possa acontecer. Neste sentido, o ponto
de vida, fato importante para a integração importante a ser considerado, para a eficiência
destas crianças no universo social, bem como o do diagnóstico, são os critérios utilizados para a
acesso ao acompanhamento clínico, realização do mesmo.
terapêutico e educacional com maior eficácia. Dentro dessa perspectiva, entretanto, vários
Desta forma, o panorama brasileiro no que teóricos têm questionado os critérios utilizados
se refere aos indicadores para a validação do no diagnóstico de crianças e adultos, por se
TEA são muito recente e demandam a urgência tratar dos mesmos testes. Para eles, é
de trabalhos e estudos que amparem os necessário desenvolver uma linha alternativa
cuidadores e profissionais no diagnóstico dos para o diagnóstico na infância, devido à
sintomas desde a primeira infância, no sentido formação das estruturas psíquicas ainda não
de expandir as possibilidades da criança autista estarem totalmente formadas. Além disso, o
de obter um diagnóstico precoce, bem como delírio e as alucinações não seriam indícios
um tratamento especializado que colabore dessa patologia na infância, por entenderem
para o seu desenvolvimento físico, emocional, que, no universo infantil, essas características
psicológico, social e educacional. compõe um processo natural, muitas vezes
situado, apenas, no campo da fantasia.
ESQUIZOFRENIA NA INFÂNCIA Outra discussão de extrema importância que
permeia as críticas em relação à esquizofrenia
E ADOLESCÊNCIA no universo infantil dá-se na etiologia da
Na visão da organização Mundial da Saúde doença. A polêmica já é bastante difícil no
(OMS), “a esquizofrenia é uma patologia que universo adulto, por não entenderem se ela é
leva a distorções no pensamento, percepções e desencadeada por fatores genéticos,
emoções” (TENGAN e MAIA, 2004). Na maioria congênitos ou estruturais. Isso no universo
dos casos, o diagnóstico é muito difícil e fazem- infantil se intensifica, pois devem considerar,
se necessários inúmeros testes e exames, até também, os fatores ambientais, familiares,
que se chegue a um diagnóstico preciso. maus tratos, autoestima ou negligência.
Essa patologia, em sua forma “clássica” Para Tengan e Maia (2004):
apresenta sinais de delírio e alucinações, sejam Na esquizofrenia, os fatores biológicos são
elas auditivas ou visuais. A desorganização do primários, e os fatores psicossociais têm
pensamento faz com que o sujeito tenha a influência muito importante. O componente
sensação (aparentemente real) de perseguição genético é comprovado por estudos de família,
ou que alguém o está fazendo mal. adoção e gêmeos. Atualmente, pesquisas mais
Segundo pesquisas (TENGAN e MAIA, 2004), refinadas em biologia molecular e técnicas
a esquizofrenia atinge, em média, 1% da moleculares mapeiam os genes que tornam os
população, surgindo entre os 15 e 30 anos de

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indivíduos suscetíveis à esquizofrenia (TENGAN associada ao fator comportamental, isto é, a


e MAIA, 2004, p.43). criança tem um nível elevado de inaptidão
De acordo como descrito pelos autores, além social, apresentando posturas inadequadas,
dos fatores já elencados por teorias da isoladas e incomuns.
vanguarda psiquiátrica, ainda há novas Segundo Bursztejn (2005), os primeiros
pesquisas que tentam aprimorar os critérios de sintomas que se mostram na infância são os
análise, para a obtenção e um diagnóstico negativos: isolamento social, rebaixamento no
preciso. rendimento escolar, afetos rebaixados ou
inapropriados, pobreza no discurso e perda de
ESQUIZOFRENIA: CRITÉRIOS E iniciativa. O autor entende que, principalmente
nos casos precoces, isto é na infância, o
DIAGNÓSTICO prognóstico da doença é desfavorável em
Há uma proximidade nos critérios relação ao tratamento. Para ele, em nível
estabelecidos por dois grandes órgãos que adulto, o prognóstico da doença é mais
regulamentam o diagnóstico da doença. Tanto específico e os sintomas predominantes são os
a Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV, positivos.
1994), quando a Organização Mundial da Saúde Outro aspecto imprescindível a ser
(OMS, 1992), que reconhece a doença no CID- fomentado em relação à esquizofrenia na
10, estabelecem critérios rigorosíssimos para infância é a questão do gênero que esse tipo de
este fim, apontados no trabalho de Tengan e patologia atinge em maior incidência, sendo
Maia (2004), que destacam: predominante o masculino. Não existe
Para o diagnóstico, são necessários pelo nenhuma teoria comprovada acerca do
menos dois dos seguintes sintomas: delírios, assunto, mas Tengan e Maia (2004), salientam
alucinações (sintomas positivos), discurso a questão da seguinte maneira:
desorganizado, comportamento A maior diferença entre a esquizofrenia de
grosseiramente desorganizado ou catatônico início na infância e na idade adulta é a
ou sintomas negativos (apatia marcante, preponderância do sexo masculino. Enquanto
pobreza do discurso, embotamento ou na população adulta a proporção entre homens
incongruência de respostas emocionais, e mulheres é praticamente a mesma, na
retraimento social). Esses sintomas iniciais população infantil os meninos são duas vezes
duram pelo menos 1 mês (ou menos se tratados mais acometidos que as meninas. Vários
com sucesso). É importante ressaltar que o estudos têm apontado diferenças no curso da
diagnóstico é evolutivo, sendo necessário um doença entre os sexos. A esquizofrenia em
mínimo de 6 meses de doença, incluindo a fase homens inicia-se de um modo geral mais cedo
ativa (TENGAN e MAIA, 2004, p.22). que em mulheres, tem um maior
Faz-se necessário, também, elucidar os comprometimento cognitivo e, de modo geral,
aspectos e particularidades da esquizofrenia na uma pior evolução (TENGAN e MAIA, 2004,
infância que, quando iniciadas antes dos 12 p.27).
anos de idade, pode estar fortemente

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Bursztejn (2005), corrobora com os autores desenvolvimento ou em imigrantes, onde os


quando aponta as diferenças notáveis da fatores externos favorecem o desenvolvimento
esquizofrenia infantil em relação à acometida da psicose (TENGAN e MAIA, 2004, p.34).
na fase adulta, a saber: predominância Em suma, não existem regras comuns em
masculina; maior propensão de indícios relação ao desenvolvimento desta patologia,
insidiosos; menos delírio; predomínio de principalmente no universo infantil. O
anomalias neuro-desenvolvimentais nos prognóstico da doença é bastante variado e
antecedentes; maior proporção de pode sofrer influências por diversos fatores,
antecedentes familiares com esquizofrenia; que por sua vez desencadeiam essa patologia
prognóstico desfavorável; maior resistência ao como a idade, o tipo de esquizofrenia
tratamento antipsicótico. Para o autor, esses desenvolvida, gênero, fatores ambientais,
pontos são característicos da esquizofrenia na fatores individuais entre outros.
infância e merecem atenção, principalmente, No geral, os sintomas que acarretam um
do ponto de vista clínico. prognóstico favorável da doença seriam: início
De um ponto de vista pedagógico e clínico, tardio; antecedente social desfavorável;
podemos levantar questões acerca do presença de sintomas depressivos; ser casado;
rebaixamento intelectual que as crianças com delírio e alucinações; boas condições familiares
sintomas de esquizofrenias apresentam, o que e sociais. Já os sintomas desfavoráveis seriam:
geralmente leva a hipóteses que envolvam o início precoce; fatores pré-mórbidos; sintomas
diagnóstico de outras psicoses. Neste sentido, negativos; pouco suporte familiar e social;
podemos destacar que a esquizofrenia infantil muitas recaídas e extensão do período
foi, durante um longo período, confundida com sintomático, Tengan e Maia (2004).
o autismo. Somente com pesquisas bastante
avançadas é que se fez a distinção dessas DO TRATAMENTO
psicoses.
O tratamento dessas patologias enreda de
Tengan e Maia (2004), além de reiterar essa
modo comum, o aspecto farmacológico e
ideia, ainda afirmam:
socioeducativo. O tratamento farmacológico
A esquizofrenia na infância se diferencia das
envolve neurolépticos ou antipsicóticos. No
demais psicoses por ter um caráter mais
entanto, não há comprovação da eficácia
crônico e com maior comprometimento não só
destes medicamentos no tratamento da
intelectual, mas em diversas áreas. De um
esquizofrenia infantil, até mesmo por falta de
modo geral, as psicoses reativas ou
estudos na área, devido à raridade da doença
psicogênicas têm uma resposta bastante
nesta faixa etária. Estudos indicam que a
favorável e rápida à medicação. Um fator
olanzapina2 também vem sendo utilizada no
1

estressor é facilmente observado nessas


tratamento de psicoses infantis, com boa
crianças. As psicoses reativas têm sido descritas
resposta.
com maior frequência em países em

2
Medicamento classificado como antipsicótico, que age no Sistema Nervoso Central.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Sobre o tratamento socioeducativo, Tengan


e Maia (2004), destacam:
Parece que ações socioeducativas voltadas
ao funcionamento da família, soluções de
problemas e habilidades de comunicação têm
sido mais efetivas na diminuição das crises. No
nosso meio, o tratamento desses casos em nível
de hospital/dia (HD) tem mostrado uma
evolução mais favorável. De um modo geral, a
criança permanece no HD cerca de duas a cinco
vezes por semana, por meio período, onde é
assistida por uma equipe multidisciplinar
(TENGAN e MAIA, 2004, p.48).
Na visão dos autores, não há indicadores de
bom desempenho no tratamento com
psicoterapias individualizadas. Portanto, a
orientação familiar e a terapia familiar têm se
mostrado melhores alternativas na
recuperação de esquizofrênicos. A pouca
estrutura das famílias e a falta de informações
a respeito do curso e prognóstico da doença
acarretam em conflitos, tanto na família quanto
para o paciente. Sendo assim, busca-se uma
terapia familiar no intuito de integra e interagir
os agentes envolvidos. Principalmente na
infância, esse tipo de tratamento é crucial, pois
os conflitos familiares advindos juntamente
com o desencadeamento da doença, agravam,
e muito, o prognóstico da doença. A terapia,
neste sentido, auxilia na resolução desses
conflitos e ameniza os danos colaterais.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do desafio de imergir em pesquisas científicas realizadas sobre a Psicose na Infância
e na Adolescência com foco no autismo e na esquizofrenia podemos concluir, a partir do contexto
histórico destas patologias, que ambas causam uma desorganização mental, decorrente de
perturbações no sistema nervoso central, periférico e autônomo. A dificuldade de organizar os
pensamentos ocasiona, nestes sujeitos, um distanciamento da realidade, deficiências na
linguagem oral, corporal e afetiva, bem como a ausência de reciprocidade nas interações sociais.
Na tentativa de desvelar as causas e sintomas destes transtornos, Kanner, em 1943, propõe
a classificação do autismo como uma manifestação da primeira infância possibilitando novas
descobertas quanto ao isolamento social do transtorno autístico. Esta classificação contrapõe a
visão de Bleuler (1911), de que o autismo tinha os mesmos sintomas da esquizofrenia.
As recentes pesquisas proporcionam avanço na compreensão destas psicoses, dissociando
o autismo da esquizofrenia. Embora esses transtornos apresentem semelhanças no quadro
sintomático, cada um deles possuem singularidades e especificidades, que apontam causas,
sintomas e etiologias diferentes, que demandam tratamentos específicos.
No que diz respeito ao autismo, as pesquisas apresentam que seus sintomas ficam mais
evidenciados a partir dos 03 anos de idade, com restrições na oralidade, falas repetitivas e
estereotipadas, resistência a aproximações, dificuldades de convívio social, problemas
comportamentais, distanciamento do brincar, ausência de contato ocular, de forma a interferir
nos interesses do indivíduo e nas suas atividades cotidianas, caracterizando uma postura solitária
e sistemática.
Quanto à esquizofrenia na infância e adolescência suas manifestações ocorrem de forma
mais acentuada a partir dos 11 anos com manifestações similares a dos adultos desencadeando
delírios, alucinações, discurso desorganizado, embotamento afetivo, avolição e retraimento por
um período mínimo de um mês.
Desta forma, tanto o autismo como a esquizofrenia comprometem significativamente o
desenvolvimento físico, cognitivo, psicológico, emocional, educacional e social destes sujeitos,
fato que demanda uma intervenção clínica para possibilitar o tratamento e a integração destes
sujeitos nos diferentes grupos sociais que estão inseridos, garantindo a qualidade da vida
humana.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; MAHONEY, Abigail Alvarenga. (Org.). Afetividade e
aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. São Paulo: Loyola, 2007.

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Paris. Vol. III. Set. 2005. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf. Data de Acesso:22/02/2020.

COLL, Cesar, Palacios, J. e Marchesi, A. (org). Desenvolvimento Psicológico e


Educação. Psicologia da Educação. Vol.3. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ELKIS, Hélio. A evolução do conceito de esquizofrenia neste século. Rev. Bras. Psiquiatr.
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TENGAN, Sérgio K.; MAIA, Anne K.. Psicoses funcionais na infância e adolescência. J.
Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre, v. 80, n. 2, supl. Abr. 2004. Disponível em:
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ZANINI, Márcia H. Psicoterapia na esquizofrenia. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 22, supl.
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ZANON, Regina Basso; BACKES, Bárbara; BOSA, Cleonice Alves. Identificação dos primeiros
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Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php? Data de Acesso:22/02/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RECURSOS DIDÁTICOS NA EDUCAÇÃO DE


JOVENS E ADULTOS
Amanda Manzoli Bertucci Bernardini1

RESUMO: Este artigo foi baseado em pesquisa bibliográfica e tem como objetivo refletir sobre os
recursos didáticos para a educação de jovens e adultos. Com este estudo foi possível analisarmos
a trajetória das produções didáticas existentes na educação de jovens e adultos, e assim pudemos
constatar que muitas vezes estas são inadequadas para essa modalidade de ensino da Educação
Básica. No geral, são produções que não levam em consideração a realidade de seus sujeitos, os
jovens e adultos.

Palavras-Chave: EJA, Recursos; Livro Didático.

1Professora de Educação Básica I na Rede Municipal de Amparo – SP.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Bacharel em Administração de Empresas; Especialização em Educação de
Jovens e Adultos; Especialização em Gestão Escolar; Especialização em Supervisão Escolar; Especialização em
Educacao Inclusiva.
E-mail: amandambb@hotmail.com

1544
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO nomenclaturas para os "suportes didáticos",


tornando confusa a definição dos mesmos.
Este estudo tem como objeto principal a Este trabalho está dividido em dois itens, no
Educação de Jovens e adultos (EJA), uma primeiro, “Recursos didáticos”, definimos
modalidade de ensino que garante o acesso de material, recurso e livro didático, no segundo,
pessoas com idades mais avançadas à escola. “Recursos didáticos na Educação de Jovens e
Ou seja, abrange em sua maioria a camada Adultos", apresentamos a trajetória das
popular, aqueles que por motivos variados não produções didáticas na EJA, a perspectiva das
puderam ou não tiveram oportunidade de reflexões de Paulo Freire sobre as produções
frequentar a escola na idade considerada como didáticas e refleti sobre a produção de
certa. materiais e recursos adequados para esta
Embora esteja previsto na Lei de Diretrizes e modalidade de ensino.
Bases da Educação (Lei 9394/96) que deverão A intenção com estudo é contribuir para a
ser oferecidas oportunidades educacionais reflexão e melhoria do ensino na Educação de
apropriadas às características dos alunos, a Jovens e Adultos.
realidade no interior das escolas, na maioria das
vezes é outra.
RECURSOS DIDÁTICOS
Realizamos um levantamento bibliográfico
de textos para embasamento para
embasamento teórico. • Livro Didático
Dentre os estudos que contribuíram, estão: O livro didático talvez pareça ser o material
Freire (1967;1981); Mello (2010); Funari (2008); mais simples de se identificar e conceituar. De
Lajolo (1996); Cavalcante (2009), entre outros. acordo com Bueno(2007), em seu
Também foram analisados diversos minidicionário da língua portuguesa, livro é
documentos, como leis, diretrizes e Planos "uma reunião de folhas impressas ou
Nacionais. Várias obras, principalmente o manuscritas em volume (2007, p.476) e,
estudo realizado pelo professor Osmar Fávero, didático é "relativo ao ensino; próprio para
publicado em DVD com o título Educação instruir", derivada da palavra didática que é
Popular (1947 – 1967). "doutrina do ensino e do método; direção da
Percebemos que há pouco conteúdo sobre aprendizagem"(p. 257).
os recursos didáticos para Educação de Jovens É basicamente assim, na maioria das vezes,
e Adultos. Os autores, assim como as políticas que se compreende o que é livro didático, um
públicas preocupam-se mais com um dos conjunto de folhas, como qualquer livro, porém
muitos "suportes didáticos", os livros com conteúdos que colaborem com o processo
impressos, já que existem diversos programas de ensino-aprendizagem.
federais regulamentando-os, assim como Alguns autores trazem definições
diversas pesquisas analisando-os. Também pertinentes sobre o livro didático. Rojo (2005,
constatamos que são usadas diversas p.35;36), por exemplo, afirma em seu artigo

1545
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

“Livros em sala de aula - modo de usar”, meio digital, magnético e ótico, para uso
baseado no pesquisador Choppin (1992), que: exclusivo de pessoas com deficiência visual".
Os manuais ou livros didáticos, quer dizer, Porém, mesmo com o surgimento de muitos
“utilitários da sala de aula”, obras produzidas "suportes tecnológicos", o livro impresso ainda
com o objetivo de auxiliar no ensino de uma é o principal instrumento didático utilizado
determinada disciplina, por meio da dentro das escolas, e o "suporte" didático mais
apresentação de um conjunto extenso de "privilegiado" quanto ao número de programas
conteúdos do currículo, de acordo com uma do governo que objetivam sua manutenção. Na
progressão, sob a forma de unidades ou lições, rede pública, o acesso a esses suportes que
e por meio de uma organização que favorece efetuam a leitura de livros digitais, ainda é
tanto usos coletivos (em sala de aula), quanto pequena e a manutenção dos poucos que nela
individuais (em casa ou em sala de aula). existem são precárias.
Apesar de concordarmos com a autora Além da precariedade do ensino público, Eco
acima, acreditamos ser necessário, diante do e Carrière (2009), nos mostra no livro "não
avanço incontrolável da tecnologia, que rompe contem com o fim do livro", motivos que os
os muros das escolas, acrescentar a estas fazem acreditar que o livro impresso não
definições a existência de livros digitais, morrerá. Os autores trazem fatos que, segundo
inclusive livros didáticos digitais, que podem ser eles, manterá a permanência destes entre nós.
lidos em notebooks, tabletes ou até mesmo Para esses autores, a criação descontrolada
celulares smartphones. de suportes tecnológicos torna aparelhos que
Uma diferença significativa em relação ao pareciam modernos em ultrapassados, como a
passado é que, agora, os vários materiais substituição de discos, fitas cassetes, Cd’s e
didáticos à disposição do professor têm vários Dvd’s, por pen drives, tecnologia bluetooth,
suportes, não só o do papel. Temos “materiais wifi, inteligência artificial, etc, e que,
concretos” de madeira e plástico, entre outros; provavelmente, não demorará muito também
fitas cassete e DVDs; filmes; e, por fim, o serão substituídos.
computador, por vezes com acesso à Internet, Essa produção em grande escala de suportes,
o que muito amplia suas potencialidades gera um consumismo incontrolável, uma
(CARVALHO, 2005, p.45). grande produção se lixo eletrônico que para
A Lei nº 10.753, de 30 de outubro de 2003, conseguirmos executar objetos antigos,
que institui a política nacional do livro, teríamos que fazer de nossas casas, verdadeiros
considera em seu capítulo 2, artigo 2º que livro museus de aparelhos, pois os novos já não
é "a publicação de textos escritos em fichas ou fazem leitura de discos e fitas, por exemplo, ou
folhas, não periódica, grampeada, colada ou seja, gera uma situação incabível.
costurada, em volume cartonado, encadernado Outra hipótese dos autores em defesa do
ou em brochura, em capas avulsas, em livro impresso é que, se um dia passarmos por
qualquer formato e acabamento". um blecaute, o livro ainda poderá ser lido na luz
Em seguida, no parágrafo único, equipara o do dia ou a luz de velas à noite.
livro a outros materiais, inclusive a "livros em

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Apesar de termos bons motivos para didáticos são publicações produzidas, carregam
acreditar na sobrevivência do livro impresso, é um caráter ideológico em defesa de uma classe
inegável o atual e desenfreado avanço dominante. Como objeto produzido, não deixa
tecnológico que também se faz presente nas de ser uma mercadoria, que gera disputa entre
escolas. Por isso, acreditamos que não editoras, que se preocupam majoritariamente
podemos mais compreender o livro didático com suas necessidades empreendedoras.
apenas como reunião de folhas impressas ou Estes livros reúnem uma série de conteúdos
manuscritas. Está na hora de acrescentar em curriculares, apresentados por meio de
suas definições, os livros didáticos digitais. métodos de aprendizagem, ilustrações, textos,
Para Côrrea (2000, p. 13), os livros didáticos exercícios, tabelas etc., sempre com intuito de
"são veículos de circulação de ideias que contribuir com o processo de ensino-
traduzem valores, como já dito, e aprendizagem, seja ele impresso, manuscrito
comportamentos que se desejou fossem ou digital.
ensinados". Mediante todas essas críticas em torno do
O livro didático, portanto, carrega com ele caráter ideologizante do livro didático, e deste
interesses políticos. Por isso, veicula conteúdos enquanto mercadoria, temos que ter
que a classe dominante deseja que sejam consciência de que como já citamos acima, o
ensinados, muitas vezes apresentando apenas livro didático ainda é o instrumento mais
a versão dos "vencedores". presente nas escolas brasileiras. E, enquanto
o livro didático não é um simples espelho: ele educadores, ao invés de aboli-lo, devemos
modifica a realidade para educar as novas analisá-lo e aproveitar o que neste há de
gerações, fornecendo uma imagem deformada, melhor, não o tomando como o único material
esquematizada, modelada, [...] toda didático, mas aliando-o com tantos outros
controvérsia é deliberadamente eliminada da materiais e recursos disponíveis. Deve-se levar
literatura escolar (CHOPPIN, 2004, p. 557, apud, "[...] em consideração que se trata de mais um
FUNARI, 2008, p.69;70). instrumento, e não o único, de que o professor
Também não podemos nos esquecer do livro dispõe para ensinar, e o aluno, aprender"
enquanto mercadoria, no qual se torna (FUNARI, 2008, p.71).
“simultaneamente um instrumento do universo
escolar e uma mercadoria sujeita às disputas • Material didático X Recurso didático
entre editoras, no grande negócio em que o Ainda há um conflito de definições e até
setor didático se tornou" (FUNARI, 2008, p.71). mesmo nomenclaturas quando se trata de
Para Freitas (2007, p.27;28), "a produção de materiais didáticos e recursos didáticos. Na
materiais e equipamentos didáticos deriva mais maioria das vezes, ambos são referidos como
dos interesses dos fabricantes e dos tudo aquilo, qualquer instrumento, todo objeto
fornecedores do que da necessidade dos que será utilizado como facilitador, como
educadores e dos educandos". mediador no processo de ensino-
Diante de toda argumentação exposta, aprendizagem.
compreendemos primeiramente que os livros

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Quando afirmamos que qualquer coisa o seu rendimento didático (RANGEL, 2005, p,
utilizada no processo de ensino aprendizagem 25;26).
é um material didático ou quando se considera Com este exemplo, Rangel afirma que
material didático qualquer recurso utilizado qualquer objeto que, utilizado com uma
neste processo, torna-se confuso o conceito intencionalidade de mediar o processo de
específico de cada termo. ensino aprendizagem, é um material didático.
Então, iremos distinguir e conceituar ambos Porém, dentro do mesmo exemplo, ele usa ora
os termos, com o objetivo de deixar claro a que a palavra material, ora a palavra recurso,
estamos nos referindo quando citarmos tornando, mais uma vez, uma confusão entre os
materiais didáticos ou recursos didáticos. termos.
Rangel (2005), afirma em seu artigo, um O grau de especialização e intencionalidade,
exemplo interessante. Segundo ele, sobre o pois, como ele cita, uma caneta que não foi
que torna um material didático: criada com um objetivo didático e nenhum
A caneta que o professor aponta para os cunho pedagógico pode se tornar um
alunos, para exemplificar o que seria um instrumento facilitador no processo de
referente possível para a palavra caneta, compreensão de tal conteúdo se o docente
funciona, nessa hora, como material didático. tiver esta intencionalidade. Ou seja, a caneta ou
Assim como o globo terrestre, em que a qualquer outro objeto pode se tornar um
professora de Geografia indica, circulando com recurso. Porém, como ele mesmo cita, o globo,
o dedo, a localização exata da Nova Guiné. Ou as pranchas (cartazes) com conteúdos expostos
a prancha em tamanho gigante que, pendurada são materiais que já foram criados com uma
na parede da sala, mostra de que órgãos o intencionalidade didática.
aparelho digestivo se compõe, o que, por sua Existem inúmeros os materiais didáticos
vez, está explicado em detalhes no livro de disponíveis. Tentando entender suas
Ciências. A diferença entre cada um desses semelhanças e diferenças, a autora classifica os
recursos é apenas o grau de especialização: a materiais didáticos em (1) suportes de
caneta não foi criada para servir de exemplo informações e (2) documentos.
para a noção de referente, mas, em graus Sobre os suportes de informação Bittencourt
crescentes de especialização e intencionalidade (2004), entende que:
didáticas, o globo, a prancha e o livro, sim. correspondem os materiais com o discurso
Assim, há uma quantidade e uma diversidade produzido, tendo a intenção de comunicar e
literalmente indeterminadas de materiais transmitir o saber das disciplinas escolares. Os
didáticos à nossa disposição. Quanto menos suportes informativos são produzidos pela
especializados eles forem, maior o grau de indústria cultural e destinados à escola, com
elaboração e de intencionalidade pedagógica linguagem e discurso especificamente escolar.
do professor. E vice-versa. Em ambas as A extensão, formatação e construção técnica
alternativas, quanto mais adequado estiver o do material, respeitam os princípios
material, em relação à situação de pedagógicos, que levam em consideração a
ensino/aprendizagem em que se insere, melhor linguagem e idade do público escolar(p.28).

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Silva (2013), afirma: compreender melhor este assunto sobre


Há uma vasta produção de livros didáticos e "suportes" didáticos. É a intencionalidade
paradidáticos, atlas, dicionários, apostilas, depositada no objeto que o torna didático.
cadernos, vídeos, cd´s, dvd´s, programas de Diante de toda essa discussão, buscamos
computadores, dentre outros materiais explicitar a compreensão sobre o assunto e
destinado ao espaço escolar, utilizados para alcançar o objetivo inicial que seria conceituar
fins didáticos (SILVA, 2013, p.2). livros, materiais e recursos didáticos, para que
Sobre o segundo grupo de materiais não precise mais utilizar o termo "suporte", os
didáticos, os documentos: generalizando.
a autora pondera que é o conjunto de signos Portanto, quando citar materiais didáticos,
visuais e textuais que são produzidos sem uma estaremos nos referindo a tudo aquilo que já foi
finalidade escolar e que posteriormente passa criado com um cunho pedagógico, com o
a ser utilizado didaticamente. São objetos objetivo de ser utilizado nas escolas, com uma
produzidos para um público amplo que, pela linguagem escolar, para transmitir
mediação pedagógica do professor, se conhecimentos escolares. Esta
transformam em materiais didáticos. Esses intencionalidade prévia os fará materiais
materiais não são necessariamente produzidos didáticos, independente da situação. Como
pela indústria cultural e são selecionados de livros didáticos, apostilas, dicionários, globos
diferenciadas formas, de acordo com a opção terrestres, atlas, cartazes expositivos de
pedagógica do professor ou projetos conteúdos, Dvd’s, Cd’s, programas de
pedagógicos da escola. São diversos materiais computadores, etc. Enfim, tudo aquilo que já
como contos, lendas, filmes, documentários, foi pensado com um objetivo de colaborar
músicas, poemas, pinturas, revistas, jornais, como facilitador e mediador do processo de
leis, cartas, romances e outros (SILVA, 2013, ensino- aprendizagem.
p.3). Quando mencionarmos recursos didáticos,
Para a autora, suportes de informações é estaremos nos referindo a tudo aquilo que não
tudo aquilo que já foi produzido com uma foi criado com intuito didático, mas que a
intencionalidade didática. E documentos é tudo intencionalidade que lhe é depositada o torna
aquilo que existe, criado para outros fins, mas didático. Como uma música, um filme, a
que de acordo com a intencionalidade que lhe televisão, o aparelho de som, o data show, um
é depositada se torna um material didático. passeio, uma caneta etc. Objetos que não
As citações da autora são pertinentes e de foram criados preliminarmente com caráter
grande contribuição para reflexão em torno de didático, mas que passam a tê-lo quando
todos os "suportes" didáticos. assumem um papel de instruir, de facilitar o
Baseada em tudo que lemos a respeito de processo de ensino aprendizagem.
"suportes" didáticos, a teoria da A palavra recurso, segundo um
intencionalidade didática, presentes nos minidicionário de língua portuguesa, quer dizer
estudos de Rangel (2005) e Bittencourt (2004), "ato de recorrer; apelação judicial; reclamação;
é uma grande contribuição para nos ajudar a auxílio; meio empregado para vencer uma

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dificuldade ou um embaraço" (BUENO, 2007, Freire (1981), criticava este método


p.660). mecanicista, de depósito de conhecimentos,
Com os recursos didáticos não é diferente, ao sem reflexão. Além de possuírem cunho
enfrentar uma dificuldade de aprendizagem ideológico, pois tentam impor um modelo de
dentro da sala de aula o professor pode sociedade e apresentam uma realidade
procurar diferentes auxílios para resolvê-lo, inexistente, por meio da ingenuidade, tentam
encontrar meios que vão além dos materiais mostrar que aprender a ler os levariam a um
didáticos já prontos. Os recursos possibilitam bom emprego. Freire, no entanto, mostra-nos
ao docente impor a intencionalidade que que apenas isto não basta. Que juntamente
deseja naquele recurso, de acordo com as com o processo escolar, os alunos devem ter
peculiaridades de seus alunos. Sendo assim, consciência da verdadeira realidade, na qual
muitas vezes o mesmo recurso pode assumir são marginalizados pela classe dominante, e
papéis didáticos diferentes, variando de acordo que isto vai além do espaço físico, mas também
com o objetivo que lhe é imposto. historicamente, socialmente, economicamente
e culturalmente.
RECURSOS DIDÁTICOS NA Sendo assim, Freire (1981), visava uma
alfabetização dialógica, indo além da
EDUCAÇÃO DE JOVENS E decodificação e sim, objetivando a tomada de
ADULTOS consciência dos alfabetizandos. Tirando os
alunos da condição de ingênuos para críticos,
• Produções didáticas e Paulo Freire conscientes que fazem parte da construção da
Muitos movimentos criaram materiais sociedade, que contribuem com esta assim
didáticos, dentre estes destacavam-se as como os já letrados.
cartilhas, inspirados em Paulo Freire (1981). Mas para que o diálogo realmente
No entanto, ao lermos algumas de suas comunique algo, é necessário que haja
obras, fica claro que este autor é contra o confiança, esperança, fé e humildade entre
método aplicado nas cartilhas. Para ele, as suas extremidades (alunos/professores). O
cartilhas traziam palavras, frases e textos diálogo deve ser linear e horizontal, nunca de
desconexos da realidade dos adultos, muitas cima para baixo. E, para isso, o professor não
vezes até mesmo infantilizadas. pode se achar o detentor do saber e sim
[...] tanto as palavras quanto os textos das reconhecer que os educandos estão imersos na
cartilhas nada têm que ver com a experiência sociedade, cheios de experiências de vida e
existencial dos alfabetizandos. E quando o tem, saberes.
se esgota esta relação ao ser expressada de Freire (1981), acredita numa alfabetização
maneira paternalista, do que resulta serem sem imposição do educador, e sim que este seja
tratados os adultos de uma forma que não apenas um colaborador. Buscava um método,
ousamos sequer chamar de infantil (FREIRE, no qual o educando analfabeto fosse o sujeito
1981, p.12). neste processo e não apenas um objeto a seguir
modelos e repetir frases e palavras sem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sentido. E para isso, o autor pensa em palavras linguagem multimídia no processo de ensino e
geradoras. aprendizagem.
Para que se consiga chegar nestas palavras, Com este método o autor rompe com os
o autor detalha seu método no livro "Educação materiais didáticos produzidos, que não levam
como prática da liberdade". em consideração o aluno local, pois são
Precisa-se iniciar por meio de conversas produzidos em grande escala, e como já vimos,
informais com o grupo a trabalhar, fazendo um mesmo que este algumas vezes esteja tentando
levantamento do vocabulário usado por seus trazer textos para adultos, por trás tem um
integrantes, tanto daquelas palavras cunho ideológico que escapa da verdadeira
carregadas de emoções e sentido existencial, realidade.
quanto daquelas típicas da região. Esta é uma O autor objetiva que a educação de adultos
fase importante, pois se inicia a relação entre ultrapasse a mera decodificação dos fonemas,
educadores e educandos. e sim que os alunos compreendam a realidade
A seguir se deve escolher as palavras dentre social que os cercam. E para que isso se
as selecionadas nas conversas. Esta escolha concretize, os professores e até mesmo a
segue os critérios: riqueza fonética; escolas devem
dificuldades fonéticas (das menores para as não só respeitar os saberes com que os
maiores); maior diversidade de ajustes da educandos, sobretudo os das classes populares,
palavra numa dada realidade social, cultural, chegam a ela – saberes socialmente
política etc. construídos na prática comunitária –, mas
Após se deve criar situações que são típicas também, [...], discutir com os alunos a razão de
do grupo. Situações desafiadoras, cheias de ser de alguns desses saberes e relação com o
elementos a serem decodificados pelo grupo ensino dos conteúdos (FREIRE, 2013, p.31).
com o auxílio do educador. Situações que
proporcionarão a discussão de possíveis • Almanaques do Aluá
problemas daquela região ou até mesmo em Algumas produções chamaram a atenção
âmbito nacional. pela sua estrutura e organização. São eles, os
A partir disso criam-se fichas-roteiros para Almanaques do Aluá, que já possuem três
auxiliarem os coordenadores no trabalho. Seu edições. A número zero (Sem data de
uso deve ser flexível e não uma regra lançamento), a número uma lançada em 1998 e
incontestável. a número dois em 2006.
Por fim, são criadas fichas, nas quais as O Almanaque do Aluá é um material didático
palavras geradoras são decompostas em fomentado pelos Serviços de Apoio à Pesquisa
sílabas, e a partir desta são formadas as famílias em Educação (SAPÉ) com apoio do MEC. Ele faz
fonéticas e com estas estimula-se o parte de uma política deste último que
alfabetizando a formar novas palavras. incentiva a produção de materiais didáticos
Estas fichas são feitas em cartazes ou até específicos para alunos e docentes da Educação
mesmo slides ou stripp-filmes (fotograma). O de jovens e adultos.
autor foi um dos primeiros a usar esta

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Sua distribuição é gratuita e controlada. Conforme a discussão feita no primeiro item


Segundo o site do MEC, receberão os desta pesquisa, os Almanaques Aluá são
Almanaques os alfabetizadores cadastrados no perfeitos exemplos de materiais didáticos, pois
Sistema do Brasil Alfabetizado, e ainda aqueles já foram produzidos com o intuito de ensinar
envolvidos em programas da Secretaria de algo e possuem um cunho pedagógico. Esta
Educação Continuada, Alfabetização e intencionalidade prévia o fará sempre um
Diversidade (SECAD), como Saberes da Terra, material didático.
Trabalho Doméstico Cidadão, Projeto Formar, Apesar deste material estar em formato de
Alfa Inclusão e Educação no Sistema Presidiário. livro, no sentido deste substantivo masculino,
Primeiramente, acreditamos ser "reunião de folhas impressas ou manuscritas
interessante destacar o significado das palavras em volume" (BUENO, p.476, 2007), o mesmo
que compõe o nome deste material, pois não pode ser considerado um livro didático,
justifica sua escolha. A palavra almanaque é como definido no item anterior.
uma "publicação que, além de calendário Um livro didático tradicional, que é
completo, contém matéria recreativa distribuído gratuitamente anualmente aos
humorística, científica, literária e informativa". alunos nas escolas, possuem uma estrutura
(Almanaque do Aluá nº2, apud, Novo Dicionário peculiar, apresenta os conteúdos curriculares e
da língua Portuguesa, 1986). dificilmente fogem destes, por meio de
E Aluá, de acordo com Bueno, em seu métodos de aprendizagens, exercícios, tabelas
minidicionário da língua portuguesa (2007, p. sempre "padronizados".
51), significa "Bebida refrigerante feita no Além disso, o livro didático tradicional pode
Norte, de farinha de arroz ou milho torrado ser considerado uma mercadoria, pois há uma
com água, e fermentada com açúcar em potes disputa de editoras, por trás do processo de
de barro". escolha dos mesmos que chegarão às escolas.
A edição zero afirma que "o Almanaque do Diferentemente, os Almanaques Aluá são
Aluá não quer ser nada mais do que esse pote frutos do SAPÉ em parceria com o MEC, visando
de barro, feito do nosso chão. Dentro dele, à produção de materiais mais adequados a
muita coisa fermentando: ideias, culturas, modalidade de ensino aqui discutida.
experiências, vidas" (p.2). No entanto, como vimos, estes são
E os Almanaques do Aluá são exatamente distribuídos a docentes cadastrados em alguns
isso, é uma mistura de gêneros textuais, com programas e não aos alunos.
letras de músicas, poesias, receitas, Por sua diversidade, desde temas até a
horóscopos, dicas, calendário de feriados, linguagem, pode ser um bom material para ser
informações diversas, curiosidades, adivinhas utilizado em salas de aula da EJA, mas assim
etc. Tratam dos mais variados temas, futebol, como qualquer outro "suporte", deve ser
pão, filhos, a língua barroca, gestação e muitos avaliado previamente pelo docente regente da
outros. turma, e até mesmo direcionado de acordo
Ao folheá-los digitalmente temos a sensação com a realidade local.
que uma coisa vai puxando a outra e que estes
discretamente passeiam entre o conhecimento
popular e o formal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Infelizmente, na maioria dos casos, a educação pública no Brasil ainda não é sinônimo de
educação de qualidade. Falta muito investimento em políticas públicas para isso ser alcançado.
Enquanto isso não acontece, os alunos de camadas populares ficam as margens da sociedade,
enquanto os de camada dominante são ensinados a comandar. A Educação de Jovens e adultos
(EJA), sem dúvida, é uma modalidade de ensino para atender a camada popular que não teve
acesso à escola na idade considerada adequada, visando diminuir o índice de analfabetismo no
Brasil.
Freire (1981), consciente disso, mostra-nos, por meio de seus estudos, que para mudarmos
essa realidade, enquanto educadores, não basta ensinarmos nossos alunos a decodificar, e sim
devemos juntamente com este processo escolar, objetivar a tomada de consciência dos
alfabetizandos. Tornando-os cidadãos críticos, conscientes que fazem parte da construção da
sociedade e que contribuem com esta.
Mas como alcançar isto?
Por meio de uma educação dialógica, que leve em consideração a realidade dos alunos.
Sendo assim, os recursos, materiais ou livros escolhidos para serem utilizados com a EJA tem um
papel de suma importância neste momento.
Visando contribuir para o repensar dos educadores sobre a escolha adequada dos
inúmeros "suportes didáticos" disponíveis e devido o conflito de definições e nomenclaturas em
torno destes "suportes", os defini, para que possam saber do que estou me referindo durante a
leitura, e compreendam melhor a discussão.
Sucintamente, material didático é tudo aquilo que já foi criado com intuito pedagógico.
Recurso didático é tudo aquilo que não foi criado com intuito pedagógico, mas que, conforme a
intencionalidade que lhe é depositado se torna um. Livro didático é uma mercadoria, que carrega
um caráter ideológico e reúne conteúdos curriculares apresentados por meio de métodos de
aprendizagem padronizados, este pode ser impresso, manuscrito ou digital.
Como vimos, os livros apresentam um caráter ideológico, que não se preocupa em
trabalhar a realidade dos alunos com o intuito de atentá-los sobre as injustiças sociais e torná-los
críticos. Até porque um livro didático tradicional não pode atender inúmeras regiões, ou no
âmbito menor, nem mesmo comunidades dentro de um mesmo município, já que as experiências
variam de uma para outra. Constatamos também que há materiais didáticos criados em parceria
com o MEC, como os Almanaques do Aluá, que possuem uma estrutura muito diferente de um
livro didático, pois não trazem atividades padronizadas. Pelo contrário, trás diversos gêneros de
textos, receitas, poesias, notícias, calendário, dicas etc. Tratando de diversos temas desde a
linguagem popular a erudita.
Acreditamos que materiais assim são mais adequados a EJA, devido a diversidade de
linguagens que ele apresenta e por tratar de inúmeros assuntos. Mas, infelizmente, são
distribuídos controladamente para os docentes, ou seja, os alunos não o recebem. E nem sempre
o docente opta por utilizá-lo, até porque reconhecemos ser um material que necessitaria de um

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empenho, ou até mesmo formação para que os docentes possam aplicá-lo adequadamente,
aproveitando tudo que este proporciona.
Diante de tudo isto, considera-se que os recursos didáticos sejam uma boa opção para
Educação de Jovens e Adultos, já que estes proporcionam ao professor a escolha do que é mais
adequado para sua turma, pois para este passar a ser didático, dependerá da intencionalidade
depositada pelo docente e será feita de acordo com as necessidades dos alunos, tornando a
aprendizagem mais prazerosa e significativa.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB Nº 9.394/96. Brasília –1996.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Básica. Guia PNLA:


Brasília, 2008.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental.


Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília: Parecer
CNE/CEB nº 11/2000 e Resolução CNE/CEB nº 01/2000.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,


Diversidade e Inclusão. Guia dos Livros Didáticos do PNLD EJA 2014 / Ministério da
Educação. Secretaria de Educação Continuada, alfabetização, diversidade e inclusão. – Natal:
EDUFRN, 2014.

CAVALCANTE, V. C. ; FREITAS, M. L. Q. . Um olhar sobre os materiais didáticos de leitura


da educação de jovens e adultos. 2010. (apresentação de trabalho/congresso). Disponível em:
http://www.escavador.com/pessoas/4634669#producoes.Data de Acesso:20/02/2020.

FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade: a sociedade brasileira em transição.


Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2000.

FREIRE, PAULO. Ação cultural para a liberdade. 6ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

FREITAS, Olga. Equipamentos e materiais didáticos. / Olga Freitas. – Brasília : Universidade


de Brasília, 2007. 132 p.

FUNARI, Sueli. Caminhos da educação de adultos no município de São Paulo: o livro didático
e a abordagem do texto literário. São Paulo: s.n., 2008. Disponível em:
<www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde.../sueli_funari.pdf>.Data de
Acesso:20/02/2020.

MELO, G. N.S. Construção da aprendizagem características de estudantes do ensino


Fundamental – Campinas – Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia. PUC –Campinas
– (2005).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFLETINDO SOBRE O BRINCAR


Mara Regina Alcasas1

RESUMO: O artigo propõe a reflexão sobre o ato de brincar e sua relação com o desenvolvimento
integral da criança. Nesta perspectiva apresentamos a concepção de brincar, de aprendizagem
englobando as teorias de Piaget (1972) e Vygotsky (1994), bem como enfatizamos a importância
do brincar na Educação Infantil. O artigo é uma revisão de literatura no qual utilizamos como
aporte teórico, entre outros: Campos (1987); Fortuna (2004); Lima (2003).

Palavras-Chave: Educação; Brincar; Aprendizagem.

1Diretora de Escola na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Mestrado em Educação; Especialização em Educação Ambiental.
E-mail: cp.mara@yahoo.com.br.

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INTRODUÇÃO mais divertida, que permanecem por muito


mais tempo em sua memória, sem aquela
Há algum tempo a educação vem passando necessidade de “decorar”.
por mudanças significativas em relação ao Desta forma, este artigo tem como objetivo
ensino aprendizagem. O brincar vem se discutir a importância do brincar nas escolas de
destacando como essencial para o
Educação Infantil. Demonstrar que a
desenvolvimento e o aprendizado da criança. brincadeira torna o espaço agradável, de forma
As brincadeiras possibilitam a reflexão das a permitir que o educador alcance sucesso em
crianças sobre o mundo. Imprimindo suas sala de aula. Que o ato de brincar cria vínculo
ideias, desenvolvendo sua linguagem, os com o novo aluno e quebra as barreiras que
conhecimentos que têm sobre si mesmas e possam existir para a aceitação desse novo
outra pessoa, o mundo adulto, sobre lugares espaço de aprendizagem.
distantes e/ ou conhecidos. Para se obter o exposto acima, este trabalho
Para Piaget (1972), afirma que o jogo é a traz uma revisão bibliográfica, por meio de
construção de conhecimento e
autores que falam sobre o assunto e que
desenvolvimento que é prazeroso para a tiveram suas ideias registradas em livros,
criança. revistas e internet, que de acordo com
Vygotsky (1994), acrescenta que é Severiano (2002, p. 77), é ao levantamento
importante para o desenvolvimento da criança bibliográfico que se devem recorrer quando:
que ela possa criar, imaginar, falar e isso ajuda
“se visa elaborar a bibliografia especial
o adulto a descobrir o quanto aquela criança járeferente ao tema do trabalho. Fala-se de
sabe e o quanto precisa aprender. bibliografia especial porque a escolha das obras
É fato que alguns pais e professores ainda deve ser criteriosa, retendo apenas aquelas que
não compreendam o papel importante que a interessem especificamente ao assunto
brincadeira tem no desenvolvimento da tratado”.
criança, acreditando que elas devem ficar Assim, este trabalho estará estruturado em
dentro da sala de aula realizando atividades emtrês itens, no primeiro será disseminado o que
folhas com conteúdos típicos do ensino é brincar e suas principais características; no
fundamental, sem ter o direito de expressar o segundo abordamos sobre a definição de
que sentem. aprendizagem de acordo com o estudo dos
Brincar com criança não é perder tempo, e teóricos Piaget e Vygotsky. No terceiro se
ganha-lo; se é triste ver meninos sem escola, demostramos como é importante a criança
mais triste e vê-los enfileirados em salas sem ar,
brincar para aprender, o quanto é gratificante e
com exercícios estéreis, sem valor para a significante para ela.
formação homem (DRUMMOND, s.a, s.p).
O ato de brincar nos faz criar sistemas de O QUE É BRINCAR
ações e estratégias para explicar e
Brincar é uma ação natural do
compreender melhor o mundo e a vida.
comportamento das crianças. Quando brinca,
Brincando a criança assimila conceitos de forma
ela dá asas à sua imaginação, criando uma

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história. Uma situação, proporcionando, a sim sons e mais tarde representar determinado
mesma, um estímulo para essa ação. Tudo que papel na brincadeira faz com que ela
a rodeia pode ser motivo de estimulo a essa desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras,
imaginação, a essa vontade de explorar a as crianças podem desenvolver algumas
brincadeira. capacidades importantes, tais como a atenção,
Assim, brincar é criar, imaginar, interagir a imitação, a memória, a imaginação.
com o outro. A brincadeira não só desenvolve o Amadurecem também algumas capacidades de
lado motor da criança, como promove socialização, por meio da interação e da
processos de socialização e descoberta do utilização e experimentação de regras e papéis
mundo. sociais (RCNEI, 1998 p.21).
Brincar é um direito das crianças, por meio Em outra parte da RCNE (1998), enfatiza que
das atividades lúdicas elas exploram o seu as importantes contribuições para a
mundo interior, imitam aspectos da vida adulta conscientização da importância do brincar na
para compreendê-la. O brincar tem funções vida da criança, como segue:
lúdicas e educativas ambos com valor A brincadeira é uma linguagem infantil que
pedagógico. A brincadeira pode ser livre ou mantém um vínculo essencial com aquilo que é
dirigida, mas o importante é que o educador o “não brincar”. Se a brincadeira é uma ação
consiga equilibrar estas funções para que que ocorre no plano da imaginação isto implica
aconteça o aprendizado. que aquele que brinca tenha o domínio da
Segundo Kishimoto (2001, p. 52), o brincar linguagem simbólica. Isto quer dizer que é
infantil não é apenas uma brincadeira preciso haver consciência da diferença
superficial desprezível, pois no verdadeiro e existente entre a brincadeira e a realidade
profundo brincar, acordam e avivam forças da imediata que lhe forneceu conteúdo para
fantasia, que, por sua vez, chegam a ter uma realizar-se. Nesse sentido para brincar é preciso
ação plasmadora sobre o cérebro”. apropriar-se de elementos da realidade
Sendo assim, pode-se mencionar que o imediata de tal forma a atribuir-lhes novos
brincar é o ato de movimentar-se e é de grande significados. Essa peculiaridade da brincadeira
importância biológica, psicológica, social e ocorre por meio da articulação entre a
cultural, pois é por meio da execução dos imaginação e a imitação da realidade. Toda
movimentos que as pessoas interagem com o brincadeira é uma imitação transformada, no
meio ambiente, relacionando-se com os outros, plano das emoções e das ideias, de uma
aprendendo sobre si, seus limites capacidades realidade anteriormente vivenciada (RCNEI,
e solucionando problemas. 1998 p.27).
De acordo com o Referencia Curricular Assim, ao brincar, a criança assume papeis
Nacional para Educação Infantil – RCNEI (1998): significativo, seja ela o personagem principal ou
Brincar é uma das atividades fundamentais não. Um bom exemplo disso é quando a criança
para o desenvolvimento da identidade e da brinca de casinha ou de escolinha, escolhendo
autonomia. O fato de a criança, desde muito o papel que mis lhe agrada. É nessa escolha que
cedo, poder se comunicar por meio de gestos,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ela deixa transparecer seus sentimentos, suas conhecimentos provem da imitação de alguém
aprendizagens e relações sociais. ou de algo conhecido, de uma experiência
De acordo com Vygotsky (1994) esse faz de vivida na família ou em outros ambientes, do
conta das brincadeiras ajuda a criança a relato de uma colega ou de um adulto, de cenas
resolver conflitos internos, levando em conta assistidas na televisão, no cinema ou narradas
que a mesma elabora hipóteses e cria soluções em livros, etc. A fonte de seus conhecimentos é
para situações que, na vida real, não saberia múltipla, mas estes encontram-se, ainda,
resolver sozinha. Com isso ela acaba moldando fragmentas. É no ato de brincar que a criança
sua personalidade, pois pode tomar decisões estabelece os diferentes vínculos entre as
que, muitas vezes, diferem-se das decisões características do papel assumido, suas
tomadas pelos adultos. competências e as relações que possuem com
Assim, ao estabelecer critérios para outros papéis, tomando consciência disto e
distinguir o brincar da criança de outras formas generalizando para outras situações (RCNEI,
de atividade, concluímos que no brinquedo a 1998 p.28).
criança ria uma situação imaginária. Esta não é Diante do exposto, percebe-se que o ato de
uma ideia nova, na média em que situações brincar é essencial na vida das crianças, pois
imaginárias no brinquedo sempre foram influencia positivamente o seu
reconhecidas; no entanto, sempre foi vista desenvolvimento e a sua aprendizagem.
somente como um tipo de brincadeira. A Segundo Kishimoto (2001 p.59), “[...] quando
situação imaginária não era considerada como brinca, a criança assimila o mundo à sua
uma característica definidora do brinquedo em maneira, sem compromisso com a realidade,
geral, mas era tratada como um atributo de pois sua interação com o objeto não depende
subcategorias especifica do brincado da natureza do objeto, mas da função que a
(VYGOTSKY, 1994 p.41). criança lhe atribui”.
Desta forma, fica evidente que na vivência da Na Educação Infantil, as brincadeiras
brincadeira a criança mesmo sem estar facilitam a aprendizagem da criança, fazendo
consciente disso, interage com problemas e com que o conhecimento aconteça de forma
soluções. Os problemas muitas vezes vêm prazerosa. O brincar pode ter diversos tipos de
acompanhados da própria convivência que a estruturação utilizando-se de regras ou não. Há
criança trás de casa e que não são resolvidos em brincadeiras que possuem regras estabelecidas
seu lar, às vezes lhe proporcionando angustia como Pega-Pega, Esconde-Esconde etc. Mas
ou desconforto. existem os momentos em que a criança usa o
O RCNEI (1998), enfatiza que: faz- de- conta para expressar suas emoções
Na brincadeira, as crianças transformam os criando suas próprias regras exercitando sua
conhecimentos que já possuíam anteriormente imaginação e explorando as diferentes
em conceitos gerais com os quais brinca. Por representações sociais.
exemplo, para assumir um determinado papel A brincadeira estimula a criança a
numa brincadeira, a criança deve conhecer desenvolver a atenção, a memória, a
alguma de suas características. Seus autonomia, a capacidade de resolver

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

problemas, se socializar, desperta a curiosidade mais velhas, ela nomeia objetos, imita pessoas
e a imaginação, de maneira prazerosa e como ou outros elementos que observou, traça
participante ativo do seu processo de desenhos, formula perguntas, elabora
aprendizagem. respostas, constantemente significando o
Na brincadeira infantil a criança assume e mundo a sua volta, influenciando-o e sendo
exercita os vários papéis com os quais interage influenciado por ele.
no cotidiano. Ela brinca, depois, de ser o pai, o Segundo Coria-Sabini e Lucena (2004), a
cachorro, o motorista, jogando estes papéis em aprendizagem em um sentido bem amplo pode
situações variadas (OLIVEIRA, 1995 p.57). ser considerável como adquirir habilidades,
Desta maneira, é fundamental o ato de hábitos, preferencias, ou seja, adquirir
brincar na Educação Infantil, pois além de dar desempenhos às respostas aos desafios
prazer, a criança aprende a conviver melhor, a ambientais.
interagir no mundo. Fica claro que a capacidade que o ser tem em
Porém, é fato que algumas instituições de aprender, traduz a aprendizagem. É um
ensino ainda não valorizam o aprendizado por aprender necessário para a adaptação de todo
meio da brincadeira. No entanto, é primordial o ser vivo no mundo, o processo de
que as práticas pedagógicas nas salas de aula aprendizagem é essencial para o estudo
envolvam brincadeira para que a criança sinta comportamental de qualquer ser.
prazer em aprender, como também em ir para Desta forma, segundo pesquisas de Vygotsky
a escola, desenvolvendo assim, o raciocínio (1984) e Wallon (1990), apud, Campo (1987), os
lógico, social e cognitivo. desenvolvimentos infantis apontam que as
crianças nascem com condições para interagir
APRENDIZAGEM PARA JEAN com parceiros mais experientes como seus pais,
outros familiares, os educadores, outras
PIAGET E VYGOTSKY crianças mais velhas que apresentam novas
formas de se relacionar com o mundo para
Aprendizagem compreendê-lo e transforma-lo.
A aprendizagem está relacionada com a Acredita-se que a criança bem estimulada
troca de significações a partir de linguagens durante a infância, terá grandes chances de
diversas, uma construção social que envolve a melhor desenvolver a sua inteligência e lidar
pessoa como um todo e se fundamenta nas com situações emergentes durante a vida
múltiplas interações entre os parceiros, infantis escolar e/ou familiar.
e adultos, no contexto educativo.
É fato que a criança tem voz própria e deve • A aprendizagem segundo Jean Piaget
ser ouvida, pois tem conhecimento, tem cultura Para Jean Piaget (1972), apud, Campos
e tem uma identidade pessoal de acordo coma (1987), a aprendizagem e fundamental para o
s experiências vividas até no momento. desenvolvimento dos processos internos e a
Por meio da interação que a criança interação do ser com outros seres.
estabelece com adultos ou até com crianças

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Os ambientes que estes seres estão vivendo novo para ultrapassa-/a em seguida, cada vez
influenciam nas internalizações das atividades mais amplamente... Essa integração de
cognitivas de modo que gera o estruturas sucessivas, cada uma das quais
desenvolvimento, esse desenvolvimento conduz a construção da seguinte, permite
cognitivo só pode ocorrer por meio do processo dividir o desenvolvimento em grandes períodos
de aprendizagem. ou estádios e em subperíodos ou sub estádios
Existem vários fatores levantados por Piaget (CORIA-SABINI, 2004 p.15).
(1972), apud, Kishimoto (2001), para que Piaget (1975), afirma que o desenvolvimento
aconteça a aprendizagem. São eles onde a do indivíduo acontece por meio do que ele já
aprendizagem e construída internamente, aprendeu, seria a soma de todas as suas
depende do nível de desenvolvimento de cada aprendizagens.
indivíduo, é um processo de organização e Desta forma, pode-se concluir que de acordo
reorganização cognitiva, os conflitos cognitivos com Piaget, o processo de aprendizagem
são importantes para seu desenvolvimento, à envolve a assimilação e a acomodação. Na
interação. medida em que participamos ativamente dos
Para Piaget (1975), apud, Coria-Sabini e acontecimentos, assimilamos mentalmente as
Lucena (2004), o indivíduo não é passivo diante informações sobre o ambiente físico e social e
as influências do meio, ele procura adaptar-se a transformamos o conhecimento adquirido em
elas como uma atividade organizadora. Os formas de agir sobre o meio. O conhecimento
estímulos são interpretados por ele, assim assimilado para constituí-la a bagagem de
antes que o indivíduo mande a respostas, ele a experiências que nos permite enfrentar as
percebe, interpreta e faz intervenções se novas situações, assimilar outras experiências e
necessário para sua qualificação. O indivíduo formular novas ideias e conceitos. As novas
recebe uma informação interpreta de acordo aprendizagens baseiam-se nas anteriores
com o que entendeu e depois transmite uma assim, a inteligência humana desenvolve-se:
resposta de acordo com o que aprende. aprendizagens simples servem de base a outras
Ele rejeita a ideia de que o estimulo e a aprendizagens mais complexas.
resposta seja por associação Ele acredita que a
aprendizagem é um processo adaptativo se • A aprendizagem segundo Vygotsky
desenvolvendo com o tempo, em função das Para Vygotsky (1984), apud, Oliveira (1997),
respostas do sujeito a um conjunto de a aprendizagem está ligada ao
estímulos anteriores e atuais. Assim, o desenvolvimento de cada um, acredita que a
desenvolvimento se dá através da aprendizagem desperta o desenvolvimento
aprendizagem como afirma Piaget e lnhelder, psicológico.
apud, Coria-Sabini e Lucena (2004, p. 15): Existe um percurso de desenvolvimento, em
O desenvolvimento mental da criança surge, parte definido pelo processo de maturação do
em síntese, como sucessão de três grandes organismo individual, pertencentes à espécie
construções; cada uma das quais prolonga a humana, mas é o aprendizado que possibilita o
anterior reconstruindo-a primeiro num plano despertar e processos internos de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

desenvolvimento que, não fosse do indivíduo aprender. E a distância entre o nível atual de
com certo ambiente cultural, não ocorreriam desenvolvimento e o nível que se pretende
(VYGOTSKY, 1984, apud, OLIVEIRA, 1997, p.56). alcançar com novas experiências com
A aprendizagem é considerável um processo problemas e suas resoluções.
puramente externo que avança à medida que o As interferências devem ser de acordo com o
desenvolvimento da criança cria condições para nível de desenvolvimento de cada um, ou seja,
a absorção de novos estímulos com maior deve atingir a zona de desenvolvimento
complexidade. proximal, pois só assim se alcança o
O processo de aprendizagem se reduz, à aprendizado. Por exemplo, ensinar um bebe a
aquisição de respostas que vão substituindo as amarrar o sapato está muito longe de atingir a
respostas inatas e que se tornam cada vez mais zona de desenvolvimento proximal, seria mais
complexas a medida que o desenvolvimento da conveniente ensinar a engatinhar por exemplo.
criança avança. Vygotsky (1984), apud, Wajskop
Para Vygotsky (1974), apud, Coria-Sabini e (2001),afirma que há dois níveis de
Lucena (2004), a aprendizagem e o desenvolvimento proximal, um refere-se a
desenvolvimento estão interligados desde distância entre o nível de desenvolvimento
primeiro dia de vida da criança: atual, são as soluções de problemas pela
O aprendizado não é desenvolvimento, criança, sem ajuda de alguém mais experiente
entretanto, o aprendizado adequadamente e o nível potencial de desenvolvimento é por
organizado resulta em desenvolvimento mental meio das soluções de problemas sob a
e põe em movimento vários processos de orientação de adultos ou em colaboração com
desenvolvimento que, de outra forma, seriam crianças mais experientes.
impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado Para ele segundo Wajskop (2001), a
é um aspecto necessário e universal do aprendizagem confira-se no desenvolvimento
processo de desenvolvimento das funções das funções superiores por meio da
psicológicas culturalmente organizadas e internalização e apropriação dos signos e
especificamente humanas (VYGOTSKY, 1974, instrumentos no contexto da interação. A
apud, CORIA-SABINI e LUCENA, 2004 p. 23). aprendizagem no ser humano é um processo de
Para a criança ou o adulto aprender é mediação da vida intelectual daqueles que tem
necessário atingir a zona de desenvolvimento ais convivência.
proximal de cada um. A zona de Existem estudos que acreditam que as
desenvolvimento proximal significa a distância brincadeiras atingem com mais facilidade e
do desenvolvimento real, ou seja, o processo de prazer à zona de desenvolvimento proximal, ou
aprendizagem. seja, a aprendizagem.
A zona de desenvolvimento proximal é o
percurso de desenvolvimento para o indivíduo
aprender, para isso acontecer devemos fazer as
interferências necessárias dentro do que o
indivíduo já sabe e o que ele ainda precisa

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O BRINCAR E A A Educação Infantil é a fase das


brincadeiras, é o momento em que as crianças
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO estão descobrindo o mundo, criando,
INFANTIL experimentando.
A brincadeira passou a ser valorizada no A escola, enquanto instituição que tem uma
espaço da educação depois do fim dos tempos função social a desempenhar na organização da
romântico, porque era considerada como sociedade, participando do processo de
recreação ou uma fuga e a imagem da infância constituição dos homens, situa-se como um
não aceitavam os comportamentos infantis, ambiente de relações sociais, representando
espontâneos com algum significado (LIMA, um espaço possível e privilegiado, no qual a
2003). brincadeira seja concretizada.
A valorização da brincadeira na infância O brincar dá prazer e para as crianças isto é
apoia-se de que a criança é natural, verdadeira fundamental, pois por meio da brincadeira ela
e que o seu brincar está desligado de qualquer aprende. Para profissionais da educação é
contexto social e da razão. essencial que haja uma relação entre os
A brincadeira é uma atividade de todo o ser objetivos que precisam ser alcançados com a
humano na qual a criança é introduzida forma lúdica de ensinar.
constituindo-se em criar e assimilar as Em algumas situações é possível perceber
experiências socioculturais dos adultos. que o educando só consegue entender um
Uma definição de brincadeira que nos faz conceito, chegar ao conhecimento, se este for
cria um vínculo com as funções pedagógicas da trabalhado dentro de uma brincadeira. Ao
escola e que é uma atividade social especifica e contrário ele não acompanha e acaba se
fundamental para garantir a interação e desinteressando.
construção do conhecimento. O ambiente escolar é um espaço que precisa
Na situação da brincadeira podem-se colocar ser explorado, é importante que o educador
desafios e questões que estão além do não utilize somente uma sala para ensinar, a
comportamento diário da criança, levando-as a criança necessita conhecer espaços diferentes,
compreender problemas que são propostos por sentir o gosto dos alimentos, tocar, visualizar. E
outras pessoas e em qual realidade ela em uma brincadeira é possível trabalhar
interage. Ao mesmo tempo ela desenvolve a inúmeros conceitos como as cores, as formas
imaginação, linguagem oral, constroem geométricas, dentro/fora, grande/pequeno,
relações reais entre elas e elaboram regras de cheio/vazio e outros.
convivência e de organização. De acordo com Macedo (2004 p.17), ao
Nas brincadeiras as crianças podem discutir a importância da brincadeira na escola,
desenvolver algumas capacidades importantes, coloca que esta pode ser considerada uma
como a atenção, a imitação, a memória. E experiência fundamental ao indivíduo, pois
amadurecem as capacidades de socialização, possibilita maior intimidade com o
por meio da interação, utilização e conhecimento, construção de respostas por
experimentação de regras e papéis. meio de um trabalho lúdico, simbólico e

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operatórios integrados “a brincadeira tem um brincadeira evolui na sua estruturação, fazendo


sentido espiritual, filosófico, cognitivo, cultural, com que haja uma evolução mental da criança.
simbólico e operatório”. As atividades lúdicas não só dão prazer como
Por isto, a importância da Educação Infantil, também prepara o sujeito para viver em
pois com seus mecanismos, suas ferramentas e sociedade, impulsiona o indivíduo a buscar
suas estratégias pedagógicas visa à criação de soluções para situações de conflitos do dia-dia.
condições para satisfazer as necessidades Viver de acordo com sua natureza, tratada
básicas da criança, oferecendo-lhe um clima de corretamente, e deixada livre, para que use
bem-estar físico, afetivo, social e intelectual, todo seu poder. [...] A criança precisa aprender
mediante a proposição de atividades lúdicas cedo como encontrar por si mesmo o centro de
que levam a criança a agir com espontaneidade, todos os seus poderes e membros, para agarrar
estimulando novas descobertas. e pegar com suas próprias mãos, andar com
A criança, portanto, tende explorar o mundo seus próprios pés, encontrar e observar com
que a cerca e tirar dele informações que lhe são seus próprios olhos (FROEBEL, 1912c, p. 21,
necessárias. Nesse processo, o professor deve apud, FRIEDMANN).
agir como interventor e proporciona-lhe o A criança ao brincar desenvolve habilidades
maior número possível de atividades, materiais físicas, é capaz de respeitar regras, desperta a
e oportunidades de situações para que suas vontade de socialização, ajuda no aprendizado
experiências sejam enriquecedoras, e na criatividade. A Educação Infantil é o
contribuindo para a construção de seu “berço” das descobertas, é uma fase em que
conhecimento. Sua interação com o meio se faz não podem faltar estímulos. Sendo assim, o
por intermédio de brincadeiras e jogos, da lúdico é a peça essencial no processo ensino–
manipulação de diferentes materiais, utilizando aprendizagem.
os próprios sentidos na descoberta gradual do Rabioglio (1995, p.75), defende a brincadeira
mundo. (ARANÃO, 2004, p. 16, apud, como um recurso à serviço do processo ensino-
PASQUALI, et al., 2011). aprendizagem, dessa forma, “[...] não basta
O brincar é a primeira linguagem da criança, brincar, é preciso haver um projeto pedagógico
a partir das atividades lúdicas é que ela irá se que considere a introdução da brincadeira na
desenvolver facilitando seu processo de classe, até sua realização, análise e avaliação”.
socialização, comunicação, construção de Assim, fica claro que a brincadeiras precisam
pensamentos. No primeiro momento a criança ocupar seu lugar no processo de ensino-
brinca sozinha, representando vários papéis, aprendizagem para que não fiquem tão
dando vida aos objetos, atribuindo-lhes largadas dispensando o educador, dando
sensações e emoções. Aos poucos ela começa a margem a práticas educativas espontâneas que
sentir necessidade de interagir com as outras sacralizam o ato de brincar, nem tão dirigida
crianças e a partir disto, a brincadeira começa a que deixe de ser brincadeira (RAMOS, apud,
se tornar mais complexa. O educando começa a FORTUNA, 2004). O educador deve
ter que respeitar a vontade do outro. E assim a desempenhar o seu papel em relação ao brincar

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

na Educação Infantil e é imprescindível que metodologia adequada para cada faixa etária.
saiba como fazer isso. Por isto a participação do professor neste
Brincar é uma atividade paradoxal: livre, ambiente lúdico é essencial, ele será um
imprevisível e espontânea, porém, ao mesmo incentivador e mediador das atividades, e
tempo, regulamentada: meio de superação da quando necessário irá intervir no processo
infância, assim como modo de constituição da ensino-aprendizagem.
infância; maneira de apropriação do mundo de
forma ativa e direta, mas também por meio da
representação, ou seja, da fantasia e da
linguagem (WAJSKOP, 2001 p.47).
Desta forma, pode-se concluir que a ação do
educador sobre o brincar infantil não é apenas
a simples oferta de brinquedos. O educar
infantil precisa realizar um trabalho pedagógico
na perspectiva lúdica observando as crianças
brincando e fazer isso à ocasião para reelaborar
suas hipóteses e definir novas propostas de
trabalho.
Assim, pode-se afirmar que na Educação
Infantil é preciso de algo a mais, algo que seja
prazeroso, envolvente. Por isto o lúdico é
indispensável no ambiente escolar.
[...] prazeroso, devido a sua capacidade de
absorver o indivíduo de forma intensa e total,
criando um clima de entusiasmo. E este aspecto
de envolvimento emocional que o torna uma
atividade com forte teor motivacional, capaz de
gerar um estado de vibração e euforia. [...] As
atividades lúdicas integram as várias dimensões
da personalidade: afetiva, motora e cognitiva.
[...]. O ser que brinca e joga é, também, o ser
que age, sente, pensa, aprende e se
desenvolve. (TEIXEIRA, 1995, p. 23, apud,
FELTRIN, 2010).
Conforme exposto cada fase tem sua
característica e objetivos a serem alcançados. E
na Educação Infantil o aprendizado se dá
também por meio das brincadeiras, sendo estas
pautadas em fundamentos teóricos e em uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos no decorrer deste estudo que o brincar envolve inúmeros aspectos de
desenvolvimento do educando, sendo ele físico, afetivo, cognitivo e social. Neste sentido é
fundamental que a escola, pais e professores estejam comprometidos com a educação.
As escolas devem proporcionar um espaço harmonioso que atenda a ludicidade necessária
à faixa de idade da Educação Infantil. Sabe-se que a o objetivo da Educação Infantil é o
desenvolvimento integral da criança, entende-se que ela seja a base para as demais etapas do
processo educacional, e que toda a proposta pedagógica deve estar direcionada às experiências
e às vivências do educando, viabilizando assim a formação do indivíduo.
O brincar é coisa séria, sendo assim é fundamental o papel do professor como mediador
deste processo ensino- aprendizagem.
Um professor mediador precisa ter competência acadêmica quanto à psicologia do
desenvolvimento humano, conhecer diferentes metodologias didáticas, ser um incansável
pesquisador para estar criando, inovando e contextualizando com a atualidade.
O educador deve estar comprometido com os princípios éticos, políticos e estéticos da
educação. As atividades pedagógicas precisam ter fundamentos e objetivos a serem alcançados.
O brincar livre e o brincar dirigido contribuem para o aprendizado. A criança até mesmo
em uma atividade livre está aprendendo a criar, montar, desmontar, encaixar, etc. É o momento
em que o educador precisa estar atento, observar e fazer anotações se for preciso, porque dentro
da atividade livre é possível identificar a criança mais tímida, a líder, a que tem dificuldades de se
socializar, e outros.
Não basta apenas deixar as crianças brincarem, é importante que em alguns momentos,
esta brincadeira seja direcionada para que ampliem suas capacidades dos conhecimentos
necessários ao seu pleno desenvolvimento.
A Educação Infantil deve se preocupar em desenvolver habilidades e capacidades do
educando, levando o sujeito, envolvido no processo educacional, a buscar realizações nos vários
aspectos sociais, econômicos, político, cognitivo e emocional, para que seja capaz de ser membro
da sociedade, com possibilidades, inclusive de transformá-la.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1998.

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KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo e a educação. São Paulo: Cortez, 2001.

LIMA, E.S. A criança pequena e sua linguagem. São Paulo: Ed. Sobradinho, 2003.

MACEDO, Lino de. Faz-de-conta na escola: a importância do brincar. Revista Pátio –


Educação Infantil. Ano 1 nº 3. Dezembro de 2003/março de 2004. Ed. Artmed.

OLIVEIRA, Z. M. Creches: Crianças Faz de Conta & Cia. Petrópolis: Vozes, 1995.

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São Paulo: Scipione, 1997.

PASQUALI, Genessi de Fátima; LAVISON, Claucimera Curmelatto; MACHADO, Rosimeri


Lazaretti Bastos A importância dos Jogos e Brincadeiras na Educação Infantil. Slideshare.
Disponível em:
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SEVERIANO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. Ed. Revisada e


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VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Mantins Fonte, 1994.

WAJSKOP, G. Brincar na pré-escola. São Paulo: Cortez, 2001.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFLEXÃO SOBRE O RACISMO, ABORDAGEM


NECESSÁRIA PARA UM PROCESSO DE
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVO E ADEQUADO
Helena Furtado1

RESUMO: A Sociedade hoje é repleta de diversas formas de manifestações de racismo, vivemos


em uma sociedade extremamente preconceituosa, na qual há muita dificuldade em aceitar a
diversidade, sendo da mesma forma enorme a busca pelo empoderamento de diversos grupos
sociais, entende-se então que o preconceito está presente em todos os cantos da sociedade , e
claro na escola ele também se torna uma realidade. A discriminação é presente em ambientes
que permitem a pressão de uns sob os outros e a escola é um lugar que favorece este tipo de
pressão , pois a competitividade permite que seus pares procurem se sobressair sob os outros,
criando o bullying, ou até excluindo os ditos diferentes, podendo assim denominar tal pratica
como racista. O interessante desta reflexão é que a criança não nasce racista, ela diante do que o
meio oferece de conhecimento apropria-se de uma atitude que a faz se sentir diferente e até
superior a outros, o que nos faz concluir que o racismo é uma doença social, que é criada para
que alguns sintam-se mais fortes ou se sobressaiam socialmente, imaginando-se melhores ou
superiores a determinado grupo. A escola tem o papel de orientar e apresentar esta realidade de
forma a modificar esta realidade, desenvolvendo dentro de seu núcleo escolar um espaço para
compreender a sociedade e perceber que todos independente da sua cor, etnia, ou clero somos
iguais perante a lei, e aos homens.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Licenciatura em História; Especialização em Docência do Ensino Superior.
E-mail: helen_fur@hotmail.com

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Palavras-Chave: Sociedade; Racismo; Criança; Desenvolvimento; Aprendizagem.

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INTRODUÇÃO situações desconfortáveis, oferece apelidos,


agride, ri, e deixa a pessoa que sofre tais
A escola é o local das primeiras relações agressões, em difícil condição de proteção.
sociais sendo estas verificadas sob várias Diversos são os pontos que levam a uma
formas, tais como as depredações físicas, o pessoa a praticar de racismo com os colegas,
racismo de forma velada, danos ao patrimônio, transformando esta prática em problema de
formas mais graves de violência como os saúde pública, não distinguindo a classe social e
assassinatos de alunos, professores e o nível econômico da pessoa que perpassa pelo
funcionários, dentre outras formas (CROCHÍK, problema (ARAMIS,2005).
2014). Fante (2005), em seus estudos afirma que
Este tema torna-se pertinente devido a esta ação, pode ser confundida com uma
pesquisas que indicam que cerca de 20% dos brincadeira, mas deve ser visto com muita
adolescentes (em todo mundo) apresentam seriedade, pois a prática causa uma sensação
problemas de ordem mental e de insegurança, uma vez que a escola não está
comportamental, sendo que metade das preparada para proteger o vulnerável, e por
ocorrências dos transtornos mentais inicia-se vezes não percebe o que ocorre dentro dela.
antes dos 14 anos (WHO). Neste sentido, entendemos que é preciso
Estes diversos casos de racismo que lutar em favor de uma educação de qualidade,
envolvem crianças e jovens de idade entre 9 e pois é um direito de todos, mas, é relevante que
14 anos que se encontram em situações que esta luta seja para uma educação inclusiva e
ocasionam não só agressões, mas morte por não para excluir, que ‘contemple a diversidade’,
todo mundo, sendo necessário a discussão da que promova a civilidade em seus alunos, isto
questão para refletir sobre os caminhos é, a possibilidade de conviverem pacificamente
possíveis de minimizar as estatísticas. (CROCHÍK, 2014).
Segundo Fante (2005), durante estas idades, Entende-se tal necessidade ao perceber que
os jovens estão condicionados a vida escolar, na vítima do racismo, pode ter a autoestima
qual passam a maior parte do seu tempo, e afetada e denegrir tanto seu estado emocional,
neste mesmo local, é onde ocorre a maioria das podendo chegar a vias de cometer ou tentar
práticas de racismo sofrida por eles, segundo a suicídio, por se sentir minimizado e
autora, as atitudes violentas que envolvem ridicularizado de forma tão extrema que não
situações morais e físicas com real intenção de oferecem reação positiva a questão tendo
ofender, agredir, ou diminuir, sendo estes atos assim constantes episódios de tristeza,
repetitivos, causados por uma única pessoa ou ansiedade, e depressão, que pioram muito com
diversas, ocasionando então dor, revolta, medo a sensação de impunidade que envolvem as
e angustia de quem se vê no lugar de vítima. pessoas que praticam estes atos deixando-o
O Racismo se caracteriza como um tipo de indefeso, tendo episódios frequentes e
tortura que ocorre dentro de uma relação repetitivos das agressões levando-os a pedir
dolorosa de desigualdade de poder pois quem transferência de suas escolas, ou criando
se considera mais forte, ridiculariza, cria episódios de pavor a cada vez que necessitam

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voltar as escolas, ocasionando assim um Entende-se então que que a prevenção do


número significativo de abandono escolar racismo entre estudantes constitui-se em uma
(AMADO e FREIRE, apud, CORRÊA 2017). necessária medida de saúde, capaz de
Esta artigo torna-se relevante devido a possibilitar o pleno desenvolvimento de
necessidade de compreender a realidade social crianças e adolescentes, habilitando-os a uma
em que os alunos vivem e se relacionam dentro convivência social sadia e segura.
da escola buscando compreender os atuais
problemas sociais e de comportamento que REFLEXÃO SOBRE O RACISMO,
acabam desencadeando o racismo no ambiente
escolar . ABORDAGEM NECESSÁRIA PARA
Esta reflexão ajuda a compreender que a UM PROCESSO DE
escola tem um papel importante no debate e na
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVO
busca de solução para o combate do racismo,
pois esta não é só um órgão educacional, mas é E ADEQUADO
uma extensão social que contribui para o No Brasil produziu-se a forma mais perversa
desenvolvimento das crianças e dos de racismo que existe no mundo” essa
adolescentes, sendo necessário refletir sobre o afirmativa repetida muitas vezes por lideranças
assunto, para reprimir e identificar os do movimento negro chega a ser chocante,
agressores e proteger as vítimas da sociedade. porém muito atual para a sociedade brasileira,
Partindo dessas premissas, que apontam a que desde o final do século passado
problemática do racismo no ambiente escolar acostumou-se a representar-se por meio da
como um dos problemas que permeiam as imagem de um paraíso racial (AMADOR, 1991).
instituições educacionais, procura-se Criado por elites brancas e disseminado no
desenvolver uma análise que têm por objetivo dia a dia da sociedade conhecido com o mito da
pautar-se bibliograficamente a luz de alguns democracia racial que se supõe existir no Brasil
pesquisadores estão analisando o fenômeno se transformando um dos mais poderosos
que envolve a questão, para identificar as mecanismos de dominação ideológica já
possíveis alternativas de correção de produzidos no mundo. Apesar de toda crítica
problemas que envolvem o ambiente escolar, que a ele foi feita, até então permanece
uma vez que a situação social destas crianças e bastante atual. Por meio dele ressalta-se o
o ambiente ao qual estão inclusas podem vir a caráter miscigenador da sociedade brasileira:
criar situações que incentivem a agressividade um povo mestiço, misturado, tolerante, aberto
no ambiente escolar. aos contatos inter-raciais (AMADOR, 1991).
Nesse sentindo, o propósito deste tema será Nesse contexto, o critério cor passou a ser
apresentar algumas possibilidades de muito útil, pois houve a necessidade do
reorganização e correção do espaço escolar estabelecimento de barreiras mais precisas que
para que se minimize consideravelmente o impedissem a “humanização” dos escravos
problema. africanos. A pele branca foi imbuída de novos
significados como um meio de controle. À

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crença da superioridade dos brancos foi dado da escola em um lugar de sofrimento e medo
status de ciência, e o domínio europeu da maior para os que são vítimas dessa prática escola ao
parte do mundo reforçou isso. Inventa-se o invés de ser um ambiente de aprendizado e
conceito de “brancura” que significava interação social.
superioridade e privilégio e em contraparte, Os motivos que levam a este tipo de violência
qualquer cor de pele que não possua a pois o racismo é um tipo de violência são
qualidade da brancura será desvalorizada e os muitos dentre eles temos as experiências
seus possuidores são transformados nos vividas por cada aluno dentro do ambiente
“outros” (AMADOR, 1991). familiar ou dentro do grupo social que
A escola é um espaço organizacional convivem.
constituído por pessoas diferentes advindas da Atualmente o racismo dentro da unidade
sociedade de modo geral, com o objetivo de escolar é uma preocupação para os
receber e transmitir valores sociais que possam educadores, pais e toda a sociedade. Várias
contribuir para a formação da vida adulta, ou medidas de segurança são tomadas com
partilhar conceitos sociais, educacionais e relação ao racismo objetivando prevenir as
profissionais. situações desagradáveis, e procurando evitar
As fronteiras da violência baseadas no esta “violência explícita” (FANTE, 2012, p. 21).
racismo que envolvem a sociedade em relação A necessidade de mudança para transformar
ao tempo e espaço se tornam difíceis de serem a educação é notória uma vez que para se obter
definidas. É por isso que, muitas vezes, ele, o um ideal revolucionário é preciso modificar a
racismo pode ser confundido como agressão e realidade da educação, e favorecer aulas
indisciplina, quando se manifesta na esfera agradáveis e construtivas.
escolar. Entende-se que é por meio de uma proposta
A escola é vista como “marco inicial para um dialógica que se constrói o conhecimento, esse
processo de crescimento pessoal, conduzindo a realiza a análise de todos os pontos de vista
um padrão de vida melhor e contribuindo para considerando as opiniões do entorno. A falta
o sucesso profissional”, mas, atualmente o seu deste diálogo necessário apresentado por
papel vai além da formação profissional Freire cria um caminho direto para a dominação
causando um “período de crise na educação”, e este é entendido como caminho direto para o
pois devido as diversas funções sociais fim das relações principalmente as
assumidas o seu ambiente se apresenta cada educacionais, impedindo o desenvolvimento,
vez mais desagradável, “inseguro e excludente” favorecendo as relações violentas.
(SCHOTTZ; SILVA, 2014, p. 126). O papel da escola é transformar a realidade,
O racismo no ambiente escolar acontece valorizar as ideias dos indivíduos, favorecendo
quando existem comportamentos agressivos e a construção de novos saberes e assim libertar
antissociais, conflitos interpessoais, atos o mundo dos opressores que nele se
criminosos e vandalismo. O modelo do mundo encontram, imagina-se que o preconceito esta
fora da escola tem cada vez mais sido imitado envolto somente as diferenças raciais, mas há
no interior da escola, transformando o espaço outros tipos de discriminações dentro do

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ambiente escolar que são tão grandes e tão ganhar um bebê, nas ruas policiando e dando
perigosas quanto a diferença de raça. segurança à sociedade elas só atrapalham jogar
Na sociedade contemporânea, o gênero está futebol isso é coisa para homens e se apitar um
diretamente ligado à heterossexualidade, este jogo ouvem muitas piadinhas.
também é uma das causas de racismo, pois logo Sendo importante ressaltar que em uma
que a criança nasce é educada e disciplinada sociedade não se devem observar os sexos, mas
para adquirir o gênero “correto”. Para assim sim tudo o que foi construído sobre os sexos.
estar dentro dos padrões, ela obrigatoriamente Nas escolas é ensinado frequentemente as
tem que se sentir atraída por uma pessoa do diferentes culturas dos povos, e essa não seria
sexo oposto. uma ‘cultura diferente’ de uma sociedade como
Para muitas pessoas, o uso do termo a do Brasil, com várias culturas.
homossexualidade, a linguagem sexista ou No nascimento de uma criança, o pai, ao ter
expressões pejorativas direcionadas a pessoas certeza de que seu bebê é um menino, já
pertencentes a outros grupos étnicos, por idealiza e traça a sua história, afirmando que ele
exemplo, não é expressão de uma prática seguirá a sua profissão, compra o uniforme do
preconceituosa, a linguagem também revela as seu time, coloca o menino na escola de futebol,
apropriações que o imaginário social nos e nos finais de semana, leva o filho para pescar,
oferece sempre no processo ao qual somos. esquecendo-se de que a criança deve construir
O gênero como categoria de análise implica sua própria história e ter suas vontades.
em conhecer, saber mais sobre as diferenças Como afirma Louro (1997, p.48;49), vê o
sexuais, entender como são produzidas pelas gênero como molde social cuja marca é
culturas e sociedades nas relações entre estampada na criança, como se as
homens e mulheres. Portanto, como nos diz personalidades masculinas saíssem, como uma
Scott (1995), gênero pode ser entendido como fábrica de chocolate, da ponta de uma esteira”,
a “organização social da diferença sexual”. onde todos pensam da mesma forma e com os
Na época de 1970 foi discutida a orientação mesmos preceitos.
sexual, por causa da grande mudança no Para Abramowicz (2006, p12), “diversidade
comportamento sexual dos jovens naquela pode significar variedade, diferença e
época, com outros adventos da modernidade, multiplicidade. A diferença é qualidade do que
por exemplo, a libertação sexual, em função da é diferente; o que distingue uma coisa de outra,
descoberta da pílula anticoncepcional e dos a falta de igualdade ou de semelhança”. Nesse
movimentos feministas. Nota-se que as sentido, podemos afirmar que onde há
mulheres ainda se deparam com a diversidade existe diferença.
desigualdade dos sexos, tanto no senso Reconhecer que somos diferentes para
comum, quanto científico. estabelecer a existência de uma diversidade
Mulher, seres frágeis, sensíveis, inocentes, cultural no Brasil, não é suficiente para
pois, existem aqueles que ainda dizem que combater os estereótipos e os estigmas que
lugar de mulher é em casa, não no escritório, no ainda marginalizam milhares de crianças em
hospital somente se estiver doente ou para

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nossas escolas e milhares de adultos em nossa conclui-se que o combate à discriminação


sociedade. também deve chegar aos professores e demais
Maria Vera Candau (2005), afirma que: “Não profissionais direta e indiretamente envolvidos
se deve contrapor igualdade a diferença”. “De no processo educativo (INEP,2009)
fato, a igualdade não está oposta à diferença, e Entende-se que é por meio de uma proposta
sim à desigualdade, e diferença não se opõem dialógica que se constrói o conhecimento, esse
à igualdade, e sim à padronização, à produção realiza a análise de todos os pontos de vista
em série, à uniformidade, a sempre o “mesmo”, considerando as opiniões do entorno. A falta
à mesmice” (CANDAU, 2005, p. 19). deste diálogo necessário apresentado por
Como nos alerta Silva (2000), a diversidade Freire cria um caminho direto para a dominação
biológica pode ser um produto da natureza, e este é entendido como caminho direto para o
mas o mesmo não se pode dizer sobre a fim das relações principalmente as
diversidade cultural, pois, de acordo com autor, educacionais, impedindo o desenvolvimento,
a diversidade cultural não é um ponto de favorecendo as relações violentas.
origem, ela é em vez disso um processo O papel da escola diante deste tema é
conduzido pelas relações de poderes transformar a realidade, valorizar as ideias dos
constitutivos da sociedade que estabelece indivíduos, favorecendo a construção de novos
“outro” diferente do “eu” e “eu” diferente do saberes e assim libertar o mundo dos
“outro” como uma forma de exclusão e opressores que nele se encontram.
marginalização. Diante disso as estratégias utilizadas para
É certo que as manifestações desenvolver atitudes consideradas inclusivas
discriminatórias não aparecem de maneira que garantam o respeito as diferenças gira em
explicita na escola, pois estas acontecem de torno de debates, brincadeiras, contação de
forma velada e de certa forma escondida em histórias com bonecos, o reconhecimento de
brincadeiras e atos que acabam passando situações discriminatórias, bem como a
despercebidos aso olhos dos professores. incorporação de narrativas que tragam os
Uma pesquisa realizada sobre o preconceito negros como protagonistas.
pelo Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa A falta de maturidade para identificar a
(INEP), em 2009, mostrou que 93,3% dos importância da escola na vida do indivíduo
entrevistados possuíam algum tipo de prejudica muito a construção de uma sociedade
preconceito racial, socioeconômico, de gênero, digna, com a falência da instituição Família, e
orientação sexual ou territorial. Essa com o despreparo das entidades educacionais,
porcentagem corresponde a mais de 18 mil os educandos encontram-se desprovidos de
pessoas em 500 escolas do país, incluindo não fatores morais e com isto não possuem
apenas estudantes, como também pais, sentidos básicos de cooperação,
educadores e funcionários da instituição. responsabilidade, solidariedade, respeito,
Diante desses números e do fato de que o reciprocidade etc.
preconceito dos jovens pode ser entendido Conscientizar os alunos sobre seus próprios
como um reflexo das atitudes dos adultos, preconceitos é oferecer-lhes a percepção de

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que o aprendizado acontece numa via dupla Os conceitos de gênero, e etnia ao serem
que favorece por meio da percepção tornar-se trabalhados na sala de aula em uma perspectiva
tolerante modificando suas atitudes e sua da valorização da(s) identidade(s) dos múltiplos
realidade, transformando a sociedade. sujeitos que convivem no mesmo espaço da
Tais mudanças tornam-se importante pois, escola devem ter um posicionamento político,
ao realizá-las influencia-se espaços que são a fim de desconstruir os estereótipos e os
normalmente discriminatórios, e que podem estigmas que foram atribuídos historicamente
ser extremamente influenciados pelo convívio a alguns grupos sociais.
dos alunos que trabalhados de forma Assim a questão vem sendo discutida de
esclarecedora transformarão o meio. acordo com a necessidade do ser humano de
Para que a escola realize seu papel de saber até que ponto as pessoas são
desmistificadora é necessário uma ação dissimuladas. De acordo com Foucault (1979,
pedagógica realmente pautada na diversidade p.10),“no espaço social, como no coração de
cultural, tendo como princípio uma política cada moradia, um único lugar de sexualidade
curricular da identidade e da diferença, que reconhecida, mas utilitário e fecundo: o quarto
tem por obrigação ir além das declarações de dos pais.”
boa vontade para com a diferença, ela coloca Toda essa ideia modifica-se com o passar do
em seu centro uma teoria que permita, não só tempo, na certeza de que não só o adulto, mas
reconhecer e celebrar a diferença, realizando as crianças têm uma sexualidade, uma vontade,
questionamentos que permitam perceber pois são seres pensantes que sentem frio, calor,
como ela discursivamente está constituída. choram, sorri por todos esses adjetivos elas
Para Stuart Hall (2000), tais conceitos devem passaram de adultos em miniaturas, a direito
ser historicizações para perceber como eles são de serem crianças.
construídos dentro de uma prática discursiva É preciso ainda considerar que estas
que se envolve nas relações assimétricas de questões de racismo têm sido muito pouco
poder. discutidas nas escolas, nos cursos de Pedagogia
Os professores e as professoras que e nos cursos de formação de professores em
percebem em sua ação pedagógica como os geral. A pedagogia pode ser responsabilizada
conceitos de gênero, raça e etnia são ética e politicamente pelas estórias que produz,
socialmente construídos e discursivamente Shirley Steinberger (1997), aponta para a
usados para marginalizar o “outro” estarão, de necessidade de que pais, mães, professores
fato, contribuindo para a constituição de uma psicólogas/os infantis e demais profissionais
diversidade cultural que não seja apenas voltados para o cuidado e educação de crianças
tolerante, mas que perceba que “eu” e o que tenham uma visão de infância, criança que
“outro” temos os mesmos direitos e devemos dê conta dos efeitos da cultura popular em suas
ter a mesma representatividade, tanto nos autoimagens e suas visões de mundo.
conteúdos escolares quanto nas instituições Examinar os materiais didáticos e
sociais. paradidáticos voltados para as crianças
pequenas, bem como os diversos objetos

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culturais - brinquedos, filmes, etc., são e dos docentes da área de ciências ou de saúde;
fundamentais para perceber de que forma eles e no Parecer nº 2. 264/74 do Conselho Federal
trazem concepções de gênero, sexualidade, de Educação, os programas de saúde do antigo
raça/etnia, geração, nacionalidade, pautadas segundo grau deveriam ter como objetivo o
muitas vezes pela desigualdade. Em um mundo desenvolvimento do ensino que trabalhe com
marcado pela diversidade, é fundamental não as diversidades.
compactuarmos com a ideia de que as Sabe-se que grande parte da comunidade, da
diferenças sejam transformadas em sociedade, do país respeita e cumpre quando
desigualdades. há registros autenticados nas leis e o não
Dentre a rotina corriqueira das escolas, os cumprimento traz consequências indesejáveis.
professores devem oferecer ensino de Com o objetivo de atingir maiores números de
qualidade, estar atento à adaptação escolar, conscientiza dores, movimentos sociais eram
respeitar o conhecimento de mundo das realizados frente à abertura política, para que o
crianças, socialização com o novo, entre outras, papel da escola e de seus conteúdos fosse
são inúmeros olhares que devem ter para estar repensado.
mais próximo de uma escola ideal. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
E sabe-se que a escola e os professores (PCNs,1997), com o objetivo comum de dar
encontram dificuldades com o sentido da embasamento para os profissionais da
palavra racismo. As escolas discutem a educação, escola e pais traz Temas
temática a respeito, mas torna-se contraditória Transversais. Que Faz parte do currículo escolar
alegando que o ‘diferente’ mostra-se mais não mais como uma matéria específica a cargo
violento verbalmente e fisicamente. de um único professor, mas de
Uma determinada sociedade dita o que é responsabilidade de todos, professores e
ético e moral, na relação sexo, sexualidade e professoras abordando suas diversas dúvidas
gênero, comportamentos que vai contrário ao em todas as áreas do conhecimento.
que dizem ‘correto’ são discriminados e Todos os dias os professores e as professoras
julgados. Fala-se tanto em respeitar as encontram em seu cotidiano escolares, tabus e
diferenças, seja ela qual for, e esquece-se de preconceitos dizendo: isso é “coisa de homem”
que as pessoas fazem suas escolhas e são como e isso é “coisa de mulher”, menino joga futebol
são querendo no mínimo de respeito. e é bom em matemática, menina joga vôlei e é
Sendo o tema ainda muito polêmico para a boa em português. As práticas rotulam as
escola e os professores, a maioria prefere calar- crianças sem ser percebido, o que tratará
se e fechar os olhos do que buscar auxílio para consequências mais tarde.
fazer o mundo de quem é ‘diferente’ mais As brincadeiras e os brinquedos enfatizam
digno. A educação busca amparo nas leis que os paradigmas já existentes de que os meninos
discutem a questão em pauta, e se depara com montam e desmontam seus carrinhos e as
a Lei nº 5. 692/1971 que os trabalhos meninas cuidam de suas bonecas como se
relacionados com a educação são de fossem bebês.
responsabilidade dos educadores educacionais

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O Referencial Curricular Nacional para a


Educação Infantil, elaborado pelo MEC,
considera que: A sexualidade tem grande
importância no desenvolvimento e na vida
psíquica das pessoas, pois, independentemente
da potencialidade reprodutiva, relaciona-se
com o prazer, necessidade fundamental dos
seres humanos. Seu desenvolvimento é
fortemente marcado pela cultura e pela
história.
Torna-se importante trabalhar as questões
de racismo em seu contexto, de forma lúdica,
divertida e não só informativa, mas afetiva,
carinhosa e amorosa. Pois, a criança irá adquirir
conhecimentos sobre espaço e tempo,
expressão e comunicação, pessoas e meio
ambiente, cuidados com a saúde e a
sexualidade entre outros.
Entretanto, deve-se responder as perguntas
das mentes pequenas de forma sábia e sem
rodeios. Tratar com naturalidade é sempre uma
boa alternativa, sabe-se que ao longo do
tempo, as pessoas vêm sendo classificadas,
indicadas e definidas pela leitura de seus
corpos, a partir de padrões e referências,
valores de uma determinada cultura. E
esquecem que a maior parte de homens e
mulheres são marcados por anormalidade
social, cognitiva e afetiva.
A escola deve buscar parcerias com as
famílias para obter sucesso acerca da
orientação já que muitos pais temem que
converse sobre este assunto podem levar a
uma vida sem preconceitos entre os
adolescentes, no entanto esse não é o objetivo
da escola.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta reflexão abre espaço para que sejam observadas situações que proporcionam e
motivem profissionais da área da educação e aos pais, para que possam mudar o seu modo de
ver o racismo na infância até a juventude.
Para as crianças das séries iniciais é preciso romper concepções que educadores e pais
tendem a dizer: isto é proibido ou não posso dizer, pois tirarei a inocência de meu aluno ou filho.
E para os adolescentes, é necessário deixar que eles falem mais, discutam suas dúvidas em
embasamentos de pesquisas que eles realizaram, a criança é um ser pensante, ativo, autônomo
e curioso, privá-las das informações que o mundo traz é impossível, e estas vêm carregadas de
violência, sensualidade, evolução e imortalidade da espécie humana e animal, tecnologia,
mentiras, crimes, ideias culturais.
Os pais e educadores tem certa responsabilidade pela formação crítica, autônoma,
sociocultural, afetivo-emocional dos alunos e filhos, aos pais cabe conversar, participar, observar
de perto a vida emocional, educativa, afetiva, ideais para o futuro, sexualidade dos seus filhos. Já
a escola, deve dispor de projetos para crianças e adolescentes, preparando pais e professores
para temas acerca do racismo.
Para o educador fazer parte do mundo que os alunos estão inseridos e vivem, devem trazer
como recursos pedagógicos o que a mídia expõe, pois será mais proveitoso do que entrar em
conflito com as informações selecionadas por alguém que entende a cabeça dos jovens e crianças
atuais.
É muito importante que os educadores de modo geral, juntos, pesquisem a nível mundial
as diversidades para que assim possam lidar melhor com cada situação, e que projetos sejam
construídos e desenvolvidos para tratar do tema em questão.
Observa-se que para combater este fenômeno conhecido por racismo é necessário que se
tenha intervenções frequentes e efetivas, favorecendo por meio de ações que contribuam com a
transformação do todo, modificando os agressores protegendo as vítimas.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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REFLEXÕES SOBRE O DIAGNÓSTICO DA


CRIANÇA AUTISTA
Niris Katyane de Lacerda Pessoa1

RESUMO: Este artigo apresenta reflexões sobre o diagnóstico da criança autista, buscando
demonstrar de que forma pode ocorrer o diagnóstico precoce e a sua contribuição para o
desenvolvimento dessas crianças com o transtorno desde os primeiros anos de vida; a
importância dos profissionais da saúde em conhecer os principais sintomas do Espectro autista;
as diversas formas de promover um diagnóstico precoce e após desenvolver um plano de
tratamento específico para cada caso. Para finalizar, apresentamos como é relevante analisar o
tratamento por meio de medicamentos e os efeitos colaterais causados por esse tipo de
intervenção.

Palavras-Chave: Autismo; Diagnóstico precoce; Tratamento; Medicação.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia.
E-mail: niriskatyane@hotmail.com

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INTRODUÇÃO seu filho e a falta de atualização dos


profissionais de saúde.
Este artigo tem como objetivo principal Assim, comovido com tudo o que estava
desenvolver uma reflexão e apresentar em vivendo, uniu forças ao ver outros pais que
quais aspectos o diagnóstico precoce poderá passavam pelo mesmo desafio, e mais tarde,
contribuir no desenvolvimento de uma criança depois de muita luta ajudou a construir a Lei
com transtorno do espectro autista. Será que prevê uma série de direitos ao indivíduo
apresentada a importância de se fazer o com o transtorno do espectro autista. Um
diagnóstico nos primeiros anos de vida da desses direitos e mais importante trata do
criança autista, por meio de estímulos e diagnóstico precoce, que é o foco deste
intervenções e não apenas de tratamentos trabalho.
medicamentosos como veremos mais tarde. Existem também Leis que garantem e
Cunha (2015), menciona que “intervenção é promove o acesso dessas crianças a escolas
diferente de tratamento”. regulares comuns, a Lei 9.349/96 – LDBEN.
Sabendo que o autismo é um transtorno Porém, acreditamos que para essa criança
global do desenvolvimento que afeta crianças e chegar a frequentar uma escola, há todo um
adolescentes em todo o mundo, sentimos a trabalho a ser feito partindo desde o
necessidade de fazermos essa reflexão sobre diagnóstico precoce para desenvolver
como se dá o diagnóstico nessas crianças e a habilidades que possa favorecê-la no período
importância de se fazer no precocemente. escolar.
Para isso, utilizamos alguns teóricos que nos Cunha (2015), afirma que o “aluno aprende.
ajudaram a desenvolver este trabalho; Costa O aluno com transtorno do espectro autista
(2013); Cunha (2016); Rodrigues (2015), aprende”. Assim apresentaremos que as
Teixeira (2016), entre outros. intervenções podem contribuir para o
O diagnóstico precoce no autista precisa ser desenvolvimento da criança autista e que o
mais divulgado na sociedade, informando de tratamento com medicação merece um olhar
que maneira poderá contribuir na vida da atento e cauteloso por parte dos profissionais
pessoa com o transtorno. envolvidos.
Teixeira (2016), menciona que, “a nossa
sociedade está despreparada em relação a este
BREVE HISTÓRICO
assunto e que o considera como um problema
Leo Kanner, um médico austríaco apresenta
de saúde pública”.
a primeira definição sobre o autismo no ano de
Isto posto, observamos a relevância de
1943, ao estudar um grupo de crianças com
refletirmos sobre o que é garantido às pessoas
características distintas e diferentes daquelas já
autistas e vimos que por meio da luta de um pai
conhecidas no meio da psiquiatria. Ao analisar
de uma criança autista, nasceu a Lei
os casos dessas crianças desde os primeiros
12.764/12.Na época que se iniciou a luta pouco
meses de vida, Kanner publicou um artigo sobre
se sabia sobre o diagnóstico precoce, Cunha
o seu estudo apresentando a definição das
(2016), relata a dificuldade para diagnosticar o

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características observadas como: Distúrbios restritos. Essas características são essenciais


Autísticos do Contato Afetivo. para que ocorra o diagnóstico e estão presentes
O aspecto mais marcante nos estudos iniciais em todos os indivíduos com o transtorno
de Kanner descrevia marcante uma (TEIXEIRA, 2015, p.18).
anormalidade inata no comportamento social, De acordo com o autor citado, as
“o isolamento social ou o afastamento social”, características estão presentes em todo o
que denominou retraimento autístico, notável indivíduo que apresenta o transtorno, porém
desde os primeiros períodos do veremos mais a frente que existem alguns
desenvolvimento (RODRIGUES, 2015, p.17; 18). sintomas que diferenciam o grau de dificuldade
Mais tarde ao prosseguir com seus estudos do autista.
Kanner refere-se ao quadro como Autismo A criança autista apresenta sinais e sintomas
Infantil Precoce (KANNER, 1943, apud, que podem aparecer antes dos 30 meses,
RODRIGUES, 2015). De acordo com os estudos alterações na afetividade rejeita carinho, não
de Kanner, esse distúrbio apresenta tem interesse em brincar, apresenta
dificuldades de contato social, alteração na dificuldades na fala, preferem ficar isolados do
linguagem e no comportamento. Mais tarde meio social. Para Teixeira, (2015), essa
viríamos conhecer como o Transtorno do dificuldade de relacionamento e interação
Espectro autista. social nos dá a impressão de que a criança está
fechada no seu mundo particular e não
CONCEITO consegue interagir com outras pessoas.
O transtorno do espectro autista pode ser
Existem muitos conceitos sobre o autismo,
definido como um conjunto de condições
porém, é importante ressaltar que o autismo
comportamentais caracterizadas por prejuízos
não é uma doença e sim, um transtorno do
no desenvolvimento de habilidades sociais, da
desenvolvimento. Atualmente é utilizado o
comunicação e da cognição da criança. O
termo Transtorno do Espectro Autista (TEA)
aparecimento dos sintomas se dá nos primeiros
para o indivíduo que apresenta características
anos de vida (TEIXEIRA, 2015, p.24)
relacionadas ao transtorno.
Assim, o transtorno do espectro autista é um
O autismo compreende a observação de um
distúrbio do desenvolvimento, que pode
conjunto de comportamentos agrupados em
apresentar condições distintas em cada caso.
uma tríade principal: comprometimentos na
Para Teixeira (2015, p.24), essas condições
comunicação, dificuldades na interação social e
podem se apresentar de diversas formas,
atividades restrito-repetitivas (CUNHA, 2009,
compreendendo um universo de
p.20).
possibilidades, cada caso apresentando
O transtorno do espectro autista é uma
particularidades que merecem cuidados e
síndrome de início precoce caracterizada por
intervenções individualizadas.
alterações no desenvolvimento da linguagem e
De acordo com o autor mencionado, no
da interação social. Há também a presença de
autismo cada caso é diferente, assim se faz
comportamentos estereotipados e repetitivos,
necessário iniciar um acompanhamento
rituais, alterações sensoriais e interesses

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frequente e precoce. É verdade o que esse se alguns estereótipos, percebem-se alguns


teórico afirma, porque o quanto antes for comportamentos ritualísticos, encontram-se
garantido um atendimento de qualidade para a desempenhos de aprendizagem satisfatórios e,
criança com o transtorno, mais chances ela terá em algumas atividades, a linguagem expressa
de desenvolver diversas habilidades que está presente.
poderão ser prejudicadas se o atendimento for Nesse sentido, podemos compreender que
tardio. esse transtorno causa sim dificuldades nas
habilidades sociais, comunicativas e
CARACTERIZAÇÃO comportamentais, mas não quer dizer que o
autista seja rotulado como incapaz.
Para compreender melhor o transtorno
Assim afirma Cunha, (2015, p.23), o
autista, veremos como ele apresenta
Transtorno do Espectro Autista apresenta um
semelhança a outros transtornos como o:
conjunto de comportamentos agrupados em
Transtorno de Rett, o transtorno desintegrativo
uma tríade principal: 1) comprometimento na
da infância e o transtorno de Asperger.
linguagem, 2) dificuldade na interação social, 3)
atividades restritas e repetitivas (uma forma
• Transtorno do espectro autista
rígida de pensar e estereotipias).
O dicionário online de Português define o
autismo como transtorno do desenvolvimento,
• Transtorno de Rett
caracterizado pela incapacidade de interação
O Transtorno de Rett é um distúrbio
social, pela dificuldade na comunicação verbal,
neurológico incapacitante com grau de
ou uso da linguagem, e pela concentração
severidade considerável, de início precoce,
excessiva em pensamentos e sentimentos
provoca a gradual regressão do
pessoais em detrimento do mundo exterior.
desenvolvimento psicomotor de meninas
Já no dicionário Aurélio apresenta o
previamente normais. Rodrigues (2015, p.57).
significado do autismo como estado mental
De acordo com a autora, esse transtorno é
caracterizado pela tendência a alhear-se do
diagnosticado somente em meninas, o
mundo exterior e ensimesmar-se. São
desenvolvimento inicial parece normal, mas a
definições diferentes, porém incompletas ou
evolução do transtorno se agrava
equivocadas, pois o autista não é incapaz de
progressivamente. Apresenta algumas
desenvolver-se, o que é necessário um
características semelhantes ao autismo como o
atendimento e acompanhamento frequente
isolamento afetivo, estímulos ambientais,
logo quando se faz o diagnóstico precoce que é
comprometimento nos movimentos
o que defendo com esse trabalho.
psicomotores e ocorrem também as
Rodrigues (2015, p.55), considera que a
estereotipias.
definição do autismo é um conceito sempre em
Crianças que trazem consigo as
construção. Para a autora não importa os
características da síndrome de Rett podem
termos observados, mas sim o atendimento
receber diagnósticos da síndrome autística,
dado a esses indivíduos. Segundo a autora está
devido às deficiências nas relações sociais. Mas
relacionado ao transtorno autista: Identificam-

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ao analisar o curso dos dois transtornos, ficam • Síndrome de Asperger


definidas as diferenças (RODRIGUES, 2015, A síndrome de Asperger foi descrita pela
p.59). primeira vez em 1944, pelo médico pediatra
As diferenças encontradas são citadas por austríaca Hans Asperger. Ele relatou crianças
Rodrigues (2015, p.60), no transtorno de Rett, com comportamento rígido, interesses
as crianças perdem por completo suas aptidões específicos e déficit na linguagem e na
verbais, já os indivíduos autistas usam uma comunicação (TEIXEIRA, 2016, p.77).
linguagem desprovida de desvios. As crianças descritas com essa síndrome
Rodrigues (2015, p.60), destaca ainda que, as apresentam características semelhantes ao
anormalidades respiratórias e as convulsões autismo como, a dificuldade em se relacionar,
observadas no transtorno de Rett não são vistas manter contato visual, isolamento. Porém,
no autismo, exceto possíveis convulsões que apresentam desenvolvimento cognitivo e
ocorrem na adolescência. intelectual, e pouca dificuldade na linguagem.
O desenvolvimento da criança parece normal
• Transtorno Desintegrativo da Infância a princípio, pois ela demonstra inteligência e
Rodrigues (2015, p.61), descreve como uma não há atraso significativo na aquisição da
deterioração lenta das funções intelectuais, linguagem; contudo, no decorrer dos anos seu
sociais e da linguagem, os Transtornos discurso torna-se monótono e peculiar. Esse
Desintegrativos, envolvem um conjunto de padrão diferente de fala pode dar a impressão
problemas associados a evolução global do de que a criança se comunica de maneira muito
indivíduo. formal, sem utilizar gírias ou vícios de
As características desse transtorno se linguagem, preferindo palavras consideradas
relacionam com o autismo, porém são difíceis e rebuscadas (TEIXEIRA, 2016, p.79).
associados a causas neurológicas. Dentro desse contexto, apresentam um
Percebe-se a presença do desenvolvimento aspecto muito peculiar que pode parecer
normal nos primeiros anos de vida. No decorrer importuno, por demonstrarem intenso
do tempo, o relacionamento social, o interesse por determinado assunto, estudam
desenvolvimento da comunicação e as práticas profundamente quase que por exagero,
comportamentais para a construção da acabam se tornando conhecedores, porém
elaboração do raciocínio e das emoções são repetitivos nos diálogos. Quando gostam de
significativamente reduzidas (RODRIGUES, algo se dedicam intensamente.
2015, p.61). Assim, os portadores do transtorno de
Segundo a citação, podemos compreender Asperger, conseguem ter uma vida escolar
que no transtorno desintegrativo da infância, a dentro da normalidade, mas apresentam
criança nasce com as habilidades e com o comprometimentos nas relações sociais e no
passar do tempo elas vão diminuindo por isso, comportamento.
pode ser confundida com o autismo. Com tantas semelhanças ao espectro autista
a síndrome de Asperger foi incluída à categoria
dos transtornos globais de desenvolvimento

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

recentemente e considerada como autismo de Autista, existe há menos de quatro anos e é


grau leve. importante mostrar para as pessoas, pois é
possível que exista ainda alguém que
REPENSANDO O DIAGNÓSTICO desconheça os direitos que a lei garante as
pessoas autistas.
PRECOCE Sabemos que um diagnóstico precoce é
Uma criança que apresenta características essencial para fazermos um tratamento em
semelhantes ao autismo necessita de vários qualquer tipo de patologia, porém vale
especialistas para juntos chegarem a um salientar que o autismo não é uma doença, mas
diagnóstico precoce e cauteloso. necessita desse diagnóstico precoce para
A falta de iniciativas dos órgãos de governo e assim, a criança ter mais chances de
dos demais membros de nossa sociedade, para desenvolver suas habilidades por meio de um
reparar esse grave dano causado às pessoas tratamento de intervenções e
com autismo e a seus familiares, aumentava acompanhamento com vários profissionais.
ainda mais a dor dessas famílias por Teixeira (2016, p.20), expõe o seguinte: O
perceberem que “os autistas não existem para diagnóstico precoce é fundamental no processo
a sociedade”, “a sociedade ainda não entende de tratamento. Crianças diagnosticadas
o que é um autista”, os médicos pediatras e precocemente tem uma chance muito maior de
neurologistas ainda desconhecem o apresentarem melhorias bastante significativas
diagnóstico precoce, os profissionais de nos sintomas do transtorno ao longo da vida.
educação e os espaços escolares ainda não A criança que tem um diagnóstico precoce
estão preparados para receberem os autistas terá a possibilidade de se adaptar no meio
(COSTA, 2013, p.66). escolar ou social com mais facilidade. Porém,
Costa (2013), menciona ainda: vimos na pode ocorrer do profissional acreditar que não
dificuldade para diagnosticar nosso filho uma há nada de anormal com a criança como cita
completa falta de atualização dos profissionais Teixeira (2016, p.58), o discurso de um
de saúde (pediatras/psiquiatras/neurologistas), profissional: “Não há nada incomum, a criança
que deveriam estar cientes de que quanto mais tem o tempo dela, vamos esperar”.
precoce se identifica uma doença, melhor será Diante disso, a criança perde a chance do seu
o seu prognóstico. problema ser identificado precocemente por
Este desabafo foi feito pelo autor e também não ter sido atendida por um profissional
pai de um autista, ao perceber que na nossa capacitado.
sociedade não havia atendimento especializado Falta uma política de saúde em que o
para os autistas. Começava então uma luta a pediatra tenha conhecimento das etapas do
favor dos autistas, que mais tarde veio dá desenvolvimento e dos fatores de risco do
origem a Lei 12.764. autismo. Eles poderiam aplicar questionários
A lei 12.764, de 27 de dezembro de 2012 – sobre o comportamento das crianças que
institui a Política Nacional de proteção dos podem acender ou não o sinal vermelho e
Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro encaminhar para o tratamento”, disse ainda

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que como esse cuidado não acontece de de diversas deficiências, o Transtorno Global do
maneira uniforme, uma forma de diagnóstico Desenvolvimento em que se enquadra o
objetivo poderia ajudar a reconhecer autismo Autismo.
cada vez mais precocemente (COSTA, Sabendo que existem leis que apoiam a
2013,p.78). pessoa com autismo, precisamos observar e
Para Teixeira (2016), a precocidade do refletir se elas realmente estão acontecendo ou
diagnóstico e do tratamento são fundamentais se falta o interesse de nossas autoridades em se
para ajudar no prognóstico e permitir que a cumprir esses direitos.
criança seja tratada desde a idade pré-escolar.
Quanto mais cedo identificado o problema O DIAGNÓSTICO PRECOCE
melhor. O autor menciona na pág. 41, que é de
fundamental importância que o médico IDEAL
pediatra tenha conhecimento psicopatológico Para Teixeira (2016), o diagnóstico do
para conduzir bem os casos de autismo que autismo é clínico, depende de uma minuciosa
diariamente aparecem em seu consultório e avaliação comportamental da criança e de
ambulatório médico. entrevista com os pais. Caso a criança já esteja
Assim, muitas mães ao desconfiar que há inserida em um programa educacional, a
algo errado com seu filho, levam ao pediatra avaliação pedagógica escolar será também
cheias de dúvidas e angústias e pode ocorrer muito importante. De acordo com o autor, se a
que este profissional desconheça os sintomas criança estiver sendo assistida por uma Lei ou
do autismo e, assim não ocorrerá o diagnóstico programas, ficará mais fácil de incluí-la no
precoce dessa criança nesse momento. ambiente escolar. É importante ressaltar que é
Portanto, pais, familiares, responsáveis e fundamental um atendimento com um
pediatras precisam estar atentos para alguns profissional qualificado.
sinais de alerta para a possibilidade do Normalmente, os médicos mais indicados
transtorno do espectro autista. A presença de para essa avaliação são psiquiatras especialistas
um desses sintomas não significa que a criança na infância e adolescência, neurologistas da
tenha autismo, mas deve sinalizar para a infância ou neuropediatras. Entretanto, reforço
importância de uma avaliação comportamental que seria de fundamental importância que
detalhada a ser realizada por um médico médicos pediatras tivessem profundo
especialista em desenvolvimento infantil conhecimento sobre desenvolvimento infantil.
(TEIXEIRA, 2016, p.40; 41). Dessa forma, a grande maioria dos casos
É preciso diante disso tudo, fazermos uma poderia ser identificada de forma precoce e não
reflexão e repensarmos sobre o diagnóstico do perderíamos oportunidade de tratar
espectro autista no nosso país. Existe a Lei precocemente o transtorno do espectro autista
12.764/12 que garante o direito e a proteção à (TEIXEIRA, 2016, p.52).
pessoa autista, outra Lei de inclusão e direitos é A identificação precoce como destaca o
a lei 51.778 conhecida como Educação Especial, autor, poderia ser o principal objetivo dos
que entre o público a ser atendido destaca além profissionais de saúde, ao atenderem uma

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

criança que apresente sinais de algum desenvolvimento de crianças com autismo ou


problema de desenvolvimento. com transtornos correlacionados da
Basicamente, durante a avaliação comunicação.
comportamental o médico faz um A identificação precoce do autismo poderia
rastreamento do desenvolvimento da criança, ocorrer de forma mais eficaz se os profissionais
buscando identificar se ela está aprendendo as envolvidos no desenvolvimento infantil
habilidades básicas referentes à fala, à colocassem em prática no dia a dia do seu
linguagem corporal e ao comportamento social. trabalho essas escalas que foram apresentadas
Um atraso em qualquer dessas áreas pode ser acima. Vimos a importância que cada uma
sinal de um problema de desenvolvimento destaca e o quanto essas crianças podem
(TEIXEIRA, 2016, p.52). ganhar se essa avaliação for realizada
Para realizar o diagnóstico precoce do precocemente.
autismo existem quatro escalas consideradas Existe também um Manual Diagnóstico e
mais conhecidas, que podem ser utilizadas Estatístico dos Transtornos Mentais – DSM,
durante a avaliação, utilizamos as ideias de publicado pela Associação Americana de
Teixeira (2016): Psiquiatria.
CARS – Childhood Autism Rating Scale O diagnóstico depende de uma combinação
(avaliação do autismo na infância) é uma escala de vários critérios determinados. No DS-IV, é
com 15 itens que auxiliam no diagnóstico e na preciso estabelecer critérios (seis itens em cada
identificação de crianças com autismo. grupo de avaliação: interação social,
M-CHAT – Modified Checklist for Autism in comunicação e comportamento) para
Toddlers (Autismo em Crianças Pequenas). É diagnóstico. Já circula entre os profissionais
uma escala de rastreamento que pode ser interessados, o DSM-V, com componentes mais
utilizada em todas as crianças durante visitas sintetizados de informações objetivando
pediátricas, com o objetivo de identificar traços agilizar o diagnóstico. Para viabilizar um
de autismo e crianças de idade precoce. Essa atendimento mais eficaz, sugerimos trabalhar
escala deve ser aplicada nos pais ou as pessoas com os dois (RODRIGUES, 2015, p.20).
que cuidam da criança, sendo autoaplicável e Depois de realizada toda a avaliação e
simples. identificado o transtorno do espectro autista, o
ABC – Autism Behavior Checklist (Lista de médico deverá criar um Plano Individual de
Comportamento Autista) é um questionário Tratamento (PIT).
com 57 itens elaborados para avaliação de O primeiro passo para o tratamento do
comportamentos autistas em pessoas com autista é a criação do Plano individual de
deficiência intelectual e que ajuda na Tratamento (PIT). Esse PIT consiste em um
identificação de diagnóstico diferencial de projeto de tratamento que leva em
autismo. consideração todas as necessidades individuais
PER-R – Psychoeducational Profile Revised da criança com autismo. Lembre-se de que o
(Perfil Psicoeducacional Revisado) é um transtorno do espectro autista engloba uma
instrumento de medida da idade de série de possibilidades e cada paciente

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

apresenta necessidades diferentes do outro com outras famílias, com o objetivo de partilhar
(TEIXEIRA,2016, p.56). experiências e aprender diferentes maneiras de
Nesse sentido se faz necessário identificar as ajudar seus filhos (RODRIGUES, 2015, p.125).
necessidades de cada criança com autismo,
pois, por meio dessa investigação poderá ser TRATAMENTO
criado um plano individualizado o qual possa
estimular as potencialidades dessa criança. MEDICAMENTOSO
Cada criança terá um plano específico. No cenário atual em que vivemos, estão
Teixeira (2016, p.56), destaca ainda que a inseridos profissionais que no seu ambiente de
criação do PIT deve considerar diversos fatores, trabalho adotam práticas de tratar o seu
incluindo as necessidades específicas de cada paciente - no nosso caso a criança autista -
criança, o grau de gravidade dos sintomas, a mesmo bem pequena com medicamentos.
disponibilidade e a adesão da família ao O Fórum sobre medicalização da Educação e
tratamento. da sociedade (2015), baseada na literatura da
Salientamos que cada criança, como área de sociologia, Medicina e Psicologia define
qualquer outra criança, é mais ou menos a medicalização:
desenvolvida de acordo com o meio, os Medicalização é o processo que transforma,
estímulos e a atenção que recebe. Com o artificialmente, questões não médicas em
autista, isso não é diferente; menciona problemas médicos. Problemas de diferentes
Rodrigues, 2015, pág.26. ordens são apresentados como “doença”,
Por isso, é crucial possibilitar um diagnóstico “transtornos”, “distúrbios” que escamoteiam
precoce à essas crianças mesmo não havendo as grandes questões políticas, sociais, culturais,
cura para o autismo, há diversas possibilidades afetivas que afligem a vida das pessoas
de estímulos para incentivar que elas questões coletivas são tomadas como
desenvolvam algumas habilidades. individuais; problemas sociais e políticos
Rodrigues (2015), afirma, à proporção que as passam a ser considerados como biológicos.
crianças autistas se desenvolvem, vão Nesse processo que gera sofrimento psíquico, a
evidenciando avanços tímidos e incertos nos pessoa e sua família são responsabilizadas
padrões qualitativos de comportamento, o que pelos problemas, enquanto governos,
não quer dizer cura. Nesse sentido, quando autoridades e profissionais são eximidos de
ocorre o diagnóstico precoce da criança com suas responsabilidades (SÃO PAULO, 2016, p.
sinais de autismo e esta é acompanhada pelos 63).
profissionais especializados, a criança poderá Após toda a dificuldade apresentada em se
ter uma vida dentro da normalidade, porém a diagnosticar o autismo precocemente, o
autora ressalta que não há cura. profissional deverá elaborar um plano de
Porém para que isso ocorra tratamento em que poderá incluir ou não o
conscientemente, os membros da família tratamento com medicamentos. Como vimos
precisam conhecer seus filhos, devem ir a acima medicar envolve várias questões que
palestras, cursos de formação, se comunicar precisam ser muito bem analisadas por esses

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

profissionais que oferecem essa forma de neurolépticas (conhecidas como antipsicóticos)


tratamento. não tem influência favorável na pessoa
De acordo com a Secretaria Municipal de portadora de retardo mental e raramente ajuda
Educação SP (2016), medicar é atribuir ao o autista.
indivíduo questões que estão para além dele e Um dos problemas das drogas neorolépticas
que precisariam ser resolvidas, modificadas, está na redução das capacidades mnêmicas e
revisada em outros âmbitos, por serem de aprendizagem, no entanto estudos provam
atinentes ao campo das políticas públicas, da que o efeito de embotamento cognitivo tem
cultura, da sociedade. origem nas dosagens administradas em níveis
Definimos como responsabilidade ética toda desproporcionais. Nestas pesquisas, houve a
atitude daquele que lida com pacientes inclusos comprovação de que, em certos pacientes
no Espectro Autístico que busca diligentemente autistas e sob condições muito particulares, há
averiguar as causas associadas aos sintomas melhoras na aprendizagem porque diminuem
dos distúrbios, avaliando a Psicopatologia da os sintomas, como hiperatividade, inquietação,
pessoa e a extensão da toxidade da droga no irritabilidade, afeto e estereotipias. Segundo a
organismo (RODRIGUES, 2015, p.101). opinião do pesquisador Carl King, professor de
Ao adotar uma terapia medicamentosa o farmacologia, da universidade de Tulane,
profissional terá que informar aos pais e recomenda-se usar neurolépticos em uma
responsáveis todos os efeitos que a droga duração média de dois a três meses no máximo,
poderá causar no paciente com autismo, pois em casos muito bem selecionados
este profissional ao utilizar este método de (RODRIGUES, 2015, p.102).
tratamento é responsável pelas consequências Dessa forma, cabe ao profissional analisar se
que poderão ocorrer. realmente o paciente necessita desse
A sinceridade na relação do profissional com tratamento farmacológico, pois existem outras
os pais ou os responsáveis, explicando por meio formas de intervenção que poderão ajudar ao
de palavras acessíveis a necessidade do uso de autista a se desenvolver. O tratamento com
algum medicamento, suas particularidades e remédios poderá desenvolver vários efeitos
possíveis efeitos, com a devida cautela, levando colaterais.
em consideração condições emocionais e Os principais efeitos colaterais das drogas
culturais, ainda é o caminho viável para evitar neurolépticas são: disforia e sensação de mal-
reações temerosas motivadas pelo estar; depressão; sedação profunda; discenia
desconhecimento (RODRIGUES, 2015, p.101). tardia, reação que pode demorar a desaparecer
É necessário que tudo seja explicado com e consiste em movimentos involuntários,
clareza aos pais para que eles saibam o que distúrbios psíquicos refletidos na motilidade, na
estão fazendo, se a medicação poderá ajudar contração de músculos, nos tremores de mãos
ou prejudicar o estado do seu filho. e em uma sensação difusa de querer saltar para
Rodrigues (2015, p.102), destaca: A fora do próprio corpo (RODRIGUES, 2015,
academia Americana de psiquiatria notifica p.102).
oficialmente em 1979, que as drogas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

São Paulo (2016), destaca:


Ao transformarmos as questões sociais em
patologias individuais, introduzimos um
desdobramento bastante grave: a possibilidade
de utilização de terapias medicamentosas! A
medicação passa, então a fazer parte da vida de
crianças, adolescentes e adultos que possuem
os supostos transtornos (SÃO PAULO,2016,
s.p).
Teixeira (2016), enfatiza que não existem
medicações que possam tratar especificamente
o autismo.
Sabendo disso, o profissional poderia
oferecer as diversas formas de intervenções
como a orientação familiar e psicoeducação,
terapias, acompanhamento fonoaudiólogo
entre outros métodos, para incentivar a criança
autista excluindo as drogas do plano de
tratamento.
Teixeira (2016), destaca que essas
intervenções são bem sucedidas quando
realizadas com crianças de até 4 anos de idade.
Portanto, se o diagnóstico precisa ser
precoce, as intervenções devem vir em seguida,
de nada adiantaria comprovar que a criança
tem autismo se não for garantido um
tratamento adequado e precoce.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitas crianças poderiam ter uma vida com qualidade se fosse realizado o diagnóstico
precoce logo no começo do transtorno. Acontece que quando os pais desconfiam que há algo
errado e levam o filho ao pediatra, este por desconhecer os sinais acaba falando que ainda é cedo
ou, que cada criança tem o seu tempo.
Assim, o tempo vai passando e a criança vai perdendo chances de se desenvolver, pois os
estímulos e intervenções também precisam ser precoces para que a criança autista possa ser
alcançada e não ficar presa no seu mundo.
O transtorno do espectro autista é muito complexo e ainda pouco divulgado. O que me
deixou assustada, foi a diferença preocupante ao saber que nos Estados Unidos a idade média
para o diagnóstico do autismo é de cerca de três anos de idade, já no nosso país, os diagnósticos
são feitos por volta dos oito anos de idade, o que é muito tarde e não garante um prognóstico
adequado.
Neste sentido ao se realizar uma avaliação tardia, a criança já perdeu grandes chances de
desenvolver diversas habilidades que seriam estimuladas por meio da ajuda de uma equipe
multidisciplinar. O que pode ocorrer com tudo isso, os pais desesperados na tentativa em ajudar
o filho com o transtorno, vão ao médico e aceita de cara um tratamento com medicamentos.
Acreditam estar fazendo o melhor, mas o tratamento com remédios nada mais é que dá drogas
ao filho. Os remédios são muito fortes e podem desencadear outros problemas.
O propósito não é culpabilizar, mas enfatizar a necessidade de haver mudanças na
formação dos profissionais de saúde, mais preparação profissional porque só assim, poderemos
exigir um bom atendimento e garantir um excelente tratamento que não necessariamente precisa
ser com medicamentos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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transtornos globais do desenvolvimento/José Ferreira Belisário Filho, in Patrícia Cunha.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; Fortaleza UFC, vol.9,2010.

COSTA, Ulisses. Autismo no Brasil: um grande desafio. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2013.

CUNHA, Eugênio, Autismo e Inclusão. Psicopedagogia e práticas educativas na escola e


na família. 3ª ed. Rio de Janeiro. Wak editora, 2011.

CUNHA, Eugênio. Autismo na Escola: um jeito diferente de aprender, um jeito diferente de


ensinar. 3ª Ed.Rio de Janeiro. Wak Editora, 2015.

DAVID, Viviane Felipe. Autismo e Educação: a constituição do autista como aluno da rede
municipal no Rio de Janeiro/Viviane Felipe David. Rio de Janeiro: UFRJ/FE/PPGE,2012.

BRASIL, Lei 12.764/12, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção


dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

BRASIL, Lei 51.778, 14 de setembro de 2010.Institui a Política de atendimento de Educação


Especial.

MELLO, Ana Maria S. Ros de; Andrade, Maria América; Ho, Helena; Souza Dias, Inês de.
Retratos do autismo no Brasil, 1ed. São Paulo: AMA 2013.

RODRIGUES, Janine Marta Coelho; Spencer Eric. A criança autista, um estudo


psicopedagógico. 2 Ed.Rio de Janeiro .Wak editora ,2015.

SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Núcleo de


Apoio e Acompanhamento para Aprendizagem Caderno de debates do NAAPA: questões
do cotidiano escolar. – São Paulo: SME/COPED, 2016.

SILVA, Evaldo Alves da. Os desafios do autista no cotidiano escolar.UnB/Brasília 2011.

TEIXEIRA, Gustavo. Manual do autismo. 1ed. - Rio de Janeiro: Best Seller, 2016.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REGISTRO: FERRAMENTA PARA A PRÁTICA


DOCENTE E AUXILIAR NA AÇÃO DO
PSICOPEDAGOGO
Wiviane Santos de Camargo1

RESUMO: A análise que permeia este estudo refere-se a uma prática crítica e reflexiva, na qual o
Registro do Educador é visto como um dos instrumentos auxiliadores na busca por melhoria
contínua no seu próprio trabalho e como ferramenta auxiliar na atuação do psicopedagogo
institucional. Esta reflexão pauta-se na necessidade de formação e autoformação do professor,
tendo em vista o contexto escolar atual, sujeito ao movimento e evolução que se fazem presentes
em nossa sociedade e transpassam os muros da escola. Recorre-se, a um estudo teórico cujos
pressupostos contribuem para o alargamento da visão a respeito do Registro do Educador, bem
como a sua utilidade no desenvolvimento da ação psicopedagógica.

Palavras-Chave: Observação; Registro; Prática; Reflexão; Professor.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de Mauá.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia; Especialização em Psicomotricidade.
E-mail: wivi.camargo@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO civilizações, cenas cotidianas sem mensagens


precisas e não possibilitando uma compreensão
Este artigo busca refletir o papel do registro da intencionalidade do homem ao registrar.
do professor em sua prática diária, pois os No decorrer da história o homem serviu-se
acontecimentos na sala de aula, as evoluções e do registro de diversas maneiras que se
dificuldades do aluno, enfim a magia que modificava de sociedade para sociedade e
envolve a educação, tudo isso precisa ser passou a utilizá-lo também para controle,
escrito, analisado e ressignificado. anotações comerciais e informações gerais.
O registro do professor pode ser ainda um Uma nova maneira de escrever surge quando a
importante auxiliar na ação do psicopedagogo. intenção não é mais somente mostrar ações,
É essencial a este profissional o apoio dentro da mas reproduzir o som da fala.
instituição, o psicopedagogo pode incentivar
esta prática promovendo discussões e análises
O USO DO REGISTRO EM
individuais e coletivas sobre a aprendizagem e
suas dificuldades. NOSSA SOCIEDADE
Atingir os objetivos propostos no Partindo de uma breve observação nos mais
planejamento, as expectativas de cada diversos setores da nossa sociedade
educando e motivá-los no caminho da contemporânea, percebe-se a presença
aprendizagem, é árdua tarefa, exigindo todo o constante de registros que variam desde
tempo, reflexão e reinvenção da arte de anotações cotidianas como uma lista de
ensinar, pois o professor que anteriormente supermercado utilizada por uma dona de casa,
atuava no papel de transmissor e detentor do obras de arte, fotos, jornais, revistas até as
conhecimento, atualmente vivencia um novo infinitas burocracias do setor público. Um bom
papel, caminha em conjunto com o aluno, exemplo são os Registros Hospitalares que
auxiliando-o no processo de aprendizagem e coletam dados de todos os pacientes
necessitando cada vez mais adquirir novos atendidos, referem-se às queixas dos pacientes,
conhecimentos e ampliar o que já sabe. conduta médica e dados gerais em relação ao
Sendo assim, busca-se salientar a atendimento prestado. A documentação
hospitalar possibilita análises para o
importância e contribuição do registro crítico e
reflexivo como forma de avaliar a prática, suaplanejamento hospitalar e por meio do registro
relevância no processo educacional e na são coletados dados e utilizados para pesquisas
formação contínua do educador. científicas que auxiliaram e auxiliam em
melhorias constantes.
Sabe-se que em empresas privadas,
OS PRIMEIROS REGISTROS
escritórios de contabilidade, de advocacia, de
Há muitos anos atrás, o homem começa a
cobrança, as anotações e arquivos estão
registrar deixando sua marca impressa em
sempre presentes. Planilhas para controle de
pedras, argila, e outros espaços que faziam
produção, organização financeira, metas,
parte de seu ambiente. Os desenhos primitivos
apenas mostravam a vivência em determinadas

1594
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

objetivos que acabam por definir o plano de atenção a experiência da cidade de Reggio
ação das empresas. Emilia, situada ao norte da Itália onde as
Há muitos tipos de registro, em linguagens instituições dedicadas a primeira infância
verbais e não verbais; todas, quando utilizam o registro como instrumento de
socializadas, historificam a existência social do reflexão sobre a prática, conforme (EDWARDS,
indivíduo. Mediados por nossos registros, CAROLYN, FORMAN, 1999, p. 25):
reflexões, tecemos o processo de apropriação Os educadores perceberam que documentar
de nossa história, a nível individual e coletivo sistematicamente o processo e os resultados de
(FREIRE, 1996, p.23). seu trabalho com as crianças serviria
É por meio do registro que os autores sistematicamente a três funções cruciais:
expressam o que sentem, pensam e como oferecer às crianças uma memória concreta e
observam o mundo a sua volta. Ao ter contato visível do que disseram e fizeram, a fim de servir
com esses registros, o nosso modo de olhar e como ponto de partida para os próximos passos
de sentir “conversa” com o do autor e com os na aprendizagem; oferecer aos educadores
dos outros leitores, assim a ideia ou o uma ferramenta para pesquisas e uma chave
pensamento, deixa de ser só de quem fez o para melhoria e renovação contínuas; e
registro e passa a ser coletiva. oferecer aos pais e ao público informações
O registro escrito guarda partes do nosso detalhadas sobre o que ocorre nas escolas,
tempo que consideramos dignas de como um meio de obter suas reações e apoio.
permanecerem vivas, e é graças ao registro Embora os autores apresentem a questão do
escrito que hoje podemos conhecer a história registro de maneira abrangente, este estudo
da humanidade. focaliza o registro tendo em vista a sua
contribuição para a reflexão do docente sobre
O REGISTRO NO ÂMBITO e na sua prática como ferramenta para as
reformulações necessárias.
ESCOLAR
O registro também faz parte do contexto
escolar, indiferente da forma ou do objetivo
AS MUITAS FACES DO
para o qual é utilizado, está presente em REGISTRO
praticamente todos os setores escolares. Da Indefere a forma de registro ou
documentação geral da secretária, fichas de documentação, o importante é escrever sobre
matrícula, calendários anuais, controle de a prática, dificuldades, vitórias, pois segundo
professores, arquivos de documentos, projeto Beuclair (2009), “escrever para poder estudar é
político pedagógico às burocracias diárias que o um método de investigação” e todo educador
diretor envia para órgãos responsáveis. tem que ser um cientista da educação.
Todo o registro até este momento citado não Há muitas formas de registrar, todas tem seu
direciona à prática reflexiva, indicando significado, algumas são mais apropriadas para
somente a uma prática de documentação, um determinado objetivo, outras mais usuais,
porém quando se refere ao professor chama a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

talvez por serem mais práticas, menos -Terapêutica: conto para o papel minhas
exigentes. dúvidas, meus problemas;
No meio de tantas possibilidades, o registro - Reflexiva: pensei que seria assim;
escrito se tornou um dos mais importantes - Introspectiva: para si;
instrumentos de aprimoramento do professor. - Criativa: poemas, rimas;
Segundo Sena (2006), ressalta as diferentes - Burocrática: conta o que está fazendo,
formas do registro: reconto das ações. Não conta o que pensa, faz
Existem vários meios e funções para o ato de ou sente.
registrar. O meio mais comum é o registro Esses diferentes tipos de escrita por
escrito. Temos o registro fotográfico, o registro atenderem determinadas especificidades
sonoro, pictórico – pinturas, desenhos, etc, orientam o professor na elaboração de seus
registros cinematográficos – filmes em vídeos e registros escolares ou diários de aula, pois
DVD, registro mental – nossas memórias etc. fornecem explicações técnicas que contribuirão
No que se refere ao ato de registrar por escrito, para subsidiá-lo no que deve ser documentado
destacamos três formas: a dissertativa, a e como escrever esse documento. O registro
narrativa e a descritiva (SENA, 2006, s.p.). bem elaborado fornecerá ao professor
Uma das formas mais ricas se registro são os elementos significativos para sua reflexão.
diários de aula. Os diários são espaços Uma das possibilidades para a reflexão é o
narrativos dos pensamentos, ações e portifólio, pois possibilita o acompanhamento
sentimentos dos professores, requerem escrita, das atividades realizadas e do resultado obtido
reflexão e descrição e servem para romper a com as mesmas. Porém é essencial que o
pressão, e sair da ação. Afrontando seus professor tenha consciência de que não é
próprios dilemas. Conforme vai escrevendo o possível fazer uma abordagem padronizada,
professor vai descobrindo o que mais o mas sim individualizada, pois cada criança é
preocupa, mais o incomoda, portanto, com o considerada separadamente e esta forma de
passar do tempo pode observar como vai se registro passa a ser auxiliadora nas ações do
resolvendo no enfrentamento de suas educador em prol da aprendizagem da turma e
dificuldades. Os diários são recodificações de cada indivíduo.
mentais, no qual o autor é protagonista, ele A ação de registrar e refletir exige métodos,
conta e é contado ao mesmo tempo, lê a si disciplina e rigor para que não se restrinja a
mesmo, tem melhor autoconhecimento e desabafos ou mera comprovação do que foi
relata coisas não observáveis. realizado em sala de aula, portanto, é
Para Holiday (apud, ZABALZA, 2004), existem necessário que o professor tenha como
os seguintes tipos de escrita: objetivo a melhoria contínua da compreensão e
- Jornalística: escreve sobre coisas, descreve; da autocompreensão do processo educativo e
- Analítica: conta e analisa; social que envolve o ambiente escolar.
- Avaliativa: Queria assim, saiu assim; O exercício de sistematização é um exercício
- Etnográfica: contando característica de um claramente teórico; é um esforço rigoroso que
determinado grupo; formula categorias, classifica e ordena

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

elementos empíricos; faz análise e síntese, superficialidade da formação profissional


indução e dedução; obtém conclusões e as favorecendo o acúmulo de saberes, preparando
formula como pautas para sua verificação para uma revolução ética e política, oferecendo
prática. A sistematização relaciona os processos meios para trabalhar sobre si mesmo,
imediatos com seus contextos, confronta o aumentando a cooperação entre colegas e
fazer prático com os pressupostos teóricos que possibilitando a capacidade de inovação.
o inspiram. Assim, o processo de sistematização Porém há dificuldades em registrar, o
se sustenta em uma fundamentação teórica e professor precisa de estímulo, determinação,
filosófica sobre o conhecimento e sobre a tempo disponível e segurança quanto ao uso de
realidade histórico-social (HOLLIDAY, 2006, p. seu relato.
36). Para Perrenoud (2002), os fatores
Quando se propõe uma ferramenta de motivadores da reflexão são muitos:
melhoria para o fazer docente, é preciso Problema a resolver, crise a solucionar,
considerar o constante movimento que ocorre decisão a tomar, ajuste do funcionamento,
no âmbito educacional, a relação direta do autoavaliação da ação, justificativa junto a um
professor com sua história, sua relação com os terceiro, reorganização das próprias categorias
educandos, com a comunidade, com a mentais, vontade de compreender o que está
instituição, enfim com a sociedade. É preciso acontecendo, frustração ou raiva a superar,
pensar no papel deste sujeito diante das prazer a ser salvaguardado a qualquer custo,
modernidades de um mundo inconstante, no luta contra a rotina ou contra o tédio, busca de
qual tudo muda o tempo todo. sentido, desejo de manter-se por meio da
É preciso que haja um verdadeiro interesse análise, formação, construção de saberes,
para a superação das dificuldades e para resistir busca de identidade, ajuste das relações com o
à tentação de manter-se inerte dentro de um outro, trabalho em equipe, prestação de
cotidiano cego, paralisante, no qual a rotina e a contas(PERRENOUD, 2002, p.34).
correria diária incitam a agir e não pensar. A superação das dificuldades vem com a
Porém ao sentir-se criador e autor de sua prática contínua quanto mais registra e reflete,
prática o professor pode e deve perceber sua mais o professor vai incorporando este saber ao
contribuição dentro do sistema educacional e seu fazer docente. E mais norteador vai se
para a sociedade na qual está inserido. tornando o processo, refletindo na ação e sobre
Alguns professores afirmam que o registro é a ação adquirindo assim uma postura sempre
importante para refletir a situação da reflexiva, formando e auto formando-se
educação, para verificar se o aluno aprendeu ou continuamente.
não, mas não o consideram uma ferramenta
para aprimorar sua prática, nem tampouco
como mais um aliado no processo de formação
contínua.
Segundo Perrenoud (2002), pode-se esperar
que a prática reflexiva compense a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O REGISTRO COMO Quando o professor escreve a respeito de


sua atuação ou de acontecimentos diários além
DOCUMENTO PARA APRIMORAR avaliar o processo e de perceber-se como
A PRÁTICA DOCENTE, E COMO sujeito, também passa ao papel de avaliado,
pois toda sua história, seus dilemas e suas
ASSESSOR NO DIAGNÓSTICO E
dificuldades imprimem-se em sua escrita e
INTERVENÇÃO acabam por expor sua pratica pedagógica e
PSICOPEDAGÓGICOS com olhar mais profundo acabam por expor sua
Quando o professor utiliza o registro de forma de pensar, seus valores e crenças. Porém
forma crítica e reflexiva, passa de mero o registro pode criar “oportunidade de um
executor para sujeito responsável por sua ação, reencontro consigo mesmo enquanto
tornando-se parte da ciência da educação e da aprendente, de modo que se possam criar
teoria, confrontando-se com sua prática por novos significados para o já vivido, revendo
meio da reflexão. suas experiências e trabalhando com suas
Ao escrever se inicia um diálogo particular frustrações, desejos e sonhos” (BEAUCLAIR,
que oportuniza a reflexão e a avaliação sobre 2009).
nossas ações, permitindo pensar em futuras Quando o professor propõe-se a entrar em
intervenções o que segundo Perrenoud (2002), contato com seus problemas, incômodos ou
a análise da prática do professor e a sua escrita ganhos ocorre um processo complexo em que
reflexiva, o incitam a aceitar que não é um herói se faz necessário um encontro consigo mesmo,
que sabe tudo, que resolve tudo, pelo uma análise que confirma ou nega sua ação e
contrário, o permite aceitar sua condição de que embase novas ações.
trabalho e de atuação. Nessa perspectiva, a Segundo Zabalza (2004), as decisões
análise e reflexão sobre a prática também inteligentes requerem fundamentação
permite ao professor assumir suas adequada, não baseada, apenas na intuição ou
preferências, suas falhas, seus preconceitos, em razões afetivas, devendo o professor
seus saberes, suas frustrações e comemorações valorizar a pertinência de ações baseadas em
tornando-o mais próximo da realidade, e documento analisados de forma crítica, para
proporcionando mais prazer em realizar seu que iluminem o processo e permitam revisar o
trabalho. trabalho para então propiciar os ajustes
Escrever sobre o que estamos fazendo como necessários.
profissional (em aula ou em outros contextos) é Na concepção de Perrenoud (2002), pode-se
um procedimento importante para nos esperar que a prática reflexiva compense a
conscientizarmos de nossos padrões de superficialidade da formação profissional
trabalho. É uma forma de “distanciamento” favorecendo o acúmulo de saberes, preparando
reflexivo que nos permite ver em perspectiva para uma revolução ética e política, oferecendo
nosso modo particular de atuar. É além disso meios para trabalhar sobre si mesmo,
uma forma de aprender (ZABALZA, 2004, p.10). aumentando a cooperação entre colegas e
aumentando a capacidade de inovação.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Há uma inter-relação entre registro da incomoda (seus dilemas) com o passar do


prática, a prática reflexiva, a formação contínua tempo pode observar como vai se resolvendo,
e a história de vida. O registro permite superar quais são os dilemas comuns.
os limites, construir novos significados para a Ao registrar e refletir o professor percebe
prática vivida fora do calor do acontecimento, que não é possível saber tudo, que não acerta
pois ao registrar e refletir o professor somente, mas que erra e tem dúvidas, passa
descarrega suas emoções e acaba por por momentos de frustração e grandes alegrias.
compreender a situação, analisando-a de forma Vai sentindo-se e segundo Zabalza (1994), vai
cientifica e objetiva. dialogando consigo mesmo acerca de sua
Há uma necessidade de instrumentos que atuação como docente.
auxiliem, organizem e orientem o dia a dia em Quando o professor registra, vai percebendo
sala de aula e vê-se no registro essa ferramenta, o que pode melhorar, deixa de pensar que tudo
porém o tempo escasso e as dificuldades da está bem e refletindo direciona sua ação, cresce
rotina acabam por criar duas formas distintas como profissional além de criar possibilidades
de registro: de argumentação embasada na realidade para
1 – O registro diário, aquele realizado em buscar melhorias no seu trabalho.
diários de aula, agendas ou formulários;
2 – Relato de uma situação, período, SISTEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA
atividade ou caso especial.
Ambos são produtos da prática, porém DO REGISTRO
parecem ferramentas completamente À medida que a reflexão vai sendo
diferentes, enquanto o primeiro é feito incorporada ao fazer docente, o professor vai
correndo, num segundo de tranquilidade para adquirindo uma postura reflexiva e refletir
constar ou com intenção de documentar, o passa a ser algo inerente a sua vivência.
outro é mais um desabafo, uma revisão, uma Não reflete somente um dilema ou fracasso,
análise mais íntima e até difícil de partilhar, pois mas também quando tudo está bem,
traz em si toda a intencionalidade, a vivência da simplesmente pela vontade e necessidade de
narração tornando difícil partilhar, o que acaba fazer o melhor, de crescer, de ver seus
por prejudicar sua transparência. educandos progredirem e principalmente de
A prática do registro possibilita compreender ser ético.
como o professor se percebe, como percebe os Quando o professor se dispõe a registrar sua
educandos e o desenrolar da atividade docente, prática ou algum aspecto ligado a ela , depara-
possibilitando um encontro da teoria com a se com várias questões: como organizar o
prática vivenciada que contempla os tempo para sentar, anotar, escrever, refletir,
sentimentos, os valores, as ações e possibilita documentar? Da mesma forma que
um distanciamento, uma separação do observamos os diversos tipos de registros,
problema ou resultado para nortear futuras podemos notar que existe uma grande
ações. Conforme vai escrevendo o professor vai quantidade de meios, de formas e de caminhos
descobrindo o que mais o preocupa, mais o para a sua realização.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Cada um deve buscar a forma mais


apropriada ao seu jeito, ao seu tempo e as suas
intenções. Assim, este profissional reflete sobre
o todo, mas reflete também sobre si, sua ação
e reação, sobre sua relação com outras pessoas
e permite-se errar e acertar, mantendo seu
foco sempre em melhorar, superar-se a cada
dia e tornar-se mais competente.

SOCIALIZAÇÃO DOS REGISTROS


E O CRESCIMENTO
PROFISSIONAL COLETIVO
Freire (1999), refere-se a necessidade da
constituição de um espaço, no qual se
desenvolvam práticas de observação, registro,
reflexão e discussão permanentes para que o
crescimento se dê mediante as experiências,
trocas práticas e teóricas da equipe, em que
todos tenham a oportunidade de partilhar
vivências, refletir e propor ações de melhoria,
utilizar em sua prática o que dá bons resultados
para seus pares.
Dessa forma, a socialização torna-se fator
essencial para apoiar o professor, na busca por
melhoria contínua de seu fazer. Utilizando
registros individuais como instrumentos para
discussão em grupo, a instituição propicia um
ambiente de autoformação.
A Instituição aberta à troca de idéias motiva
seus educadores a registrar e a buscar
constantemente o aprimoramento de sua
prática, tendo como objetivo a reflexão, porém
considerando que a observação, a
sistematização e o tempo disponível são
elementos para o psicopedagogo em seu
campo de atuação.

1600
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao refletir o papel do Registro Crítico e Reflexivo realizado pelo professor esta pesquisa
reforça sua importância e contribuição na prática diária da sala de aula e no processo de formação
e autoformação do educador.
O Registro torna-se rico instrumento para melhoria da qualidade da prática educativa e à
medida que registra e reflete o professor vai aprimorando seu fazer e ampliando sua experiência
e potencial de reflexão. Conforme observa e reflete vai incorporando mudanças em sua prática e
melhorando-a a cada dia.
Diante desta pesquisa abre-se a possibilidade de um registro sistemático e questionador
que observe o todo e não somente recortes simplórios de uma vivência tão complexa na qual há
uma construção e reconstrução diária. Fica saliente ainda o quanto este fazer enriquece a ação
do professor, que à medida que reflete deixa de ser um mero executor, tornando-se sujeito de
sua prática.
Para o psicopedagogo o registro do professor quando bem elaborado e sincero possibilita
uma visão muito rica da dinâmica da sala de aula e do desenvolvimento do aluno, este
conhecimento no momento da intervenção poderá facilitar o trabalho de orientação do
professor, além de uma visão mais detalhada e real das dificuldades de aprendizagem.

1601
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BEAUCLAIR, João. Oficinas Pedagógicas e Subjetividade: movimentos de vida situados no
ser e no saber. Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos-pdf902/oficinas-
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HOLLIDAY, Oscar Jara. Para sistematizar experiências / Tradução de: Maria Viviana V.
Resende. 2. ed., revista. – Brasília: MMA, 2006.

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WEFFORT, Madalena Freire. Observação, Registro, Reflexão. Série Seminários Espaço


Pedagógico. São Paulo - 1996.

ZABALZA, Miguel A. Diários de Aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento


profissional./Tradução de: Ernani Rosa. - Porto Alegre: Artmed, 2004.

1602
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RELAÇÃO DIRETOR E PROFESSOR POR


INTERMÉDIO DO TRABALHO COLETIVO E DA
LEGISLAÇÃO
Sandy Katherine Weiss de Almeida1

RESUMO: O presente artigo investiga de que maneira a afetividade e as legislações, com ênfase
nas relações interpessoais entre o diretor e os professores, afetam o desenvolvimento do
trabalho coletivo na escola, mais especificamente, de que maneira essas relações interferem no
fazer pedagógico do professor e os sentimentos de frustração/ satisfação e motivação/desânimo
que envolve o trabalho docente no interior da escola e, também, como são percebidos no discurso
de diretores e professores os efeitos da afetividade nas relações interpessoais.

Palavras-Chave: Relações Interpessoais; Legislação; Gestão democrática.

1Professora de Ensino Fundamental II e Médio na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Letras – Português / Inglês.
E-mail: sandyweiss_6007@hotmail.com

1603
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO Objetivamos investigar de que forma o


diretor poderia despertar no professor o desejo
O presente artigo apresentou as relações de ensinar com motivação a partir das relações
interpessoais por meio das primeiras interpessoais, aliado as legislações, bem como
manifestações de afetividade que envolve a investigar como são percebidos pelos diretores
criança e a como as mesmas se encontram no e professores os efeitos da afetividade, como
âmbito familiar, pois desde seu nascimento a ela perpassa as relações interpessoais entre
criança reage à sensação de sofrimento e de esses agentes educacionais e, ainda, de que
prazer que estão relacionados à satisfação, ou maneira essas relações influenciam no trabalho
não, de suas necessidades mais básicas. coletivo da escola e perpassam pelas
Segundo Almeida (2004), a afetividade está legislações.
ligada à capacidade e disposição de o indivíduo Para justificar as razões pelas quais este
ser afetado pelo mundo e externamente com trabalho pode ser considerado válido,
sensações agradáveis e desagradáveis. inicialmente por haver poucas pesquisas sobre
Por sua vez, é comum notarmos na escola a afetividade e legislações no ambiente escolar.
comportamentos voltados à agressividade e A gestão democrática exige que se lance um
neste contexto muito se coloca sobre a olhar cuidadoso sobre as relações interpessoais
formação do professor e esquecendo-se do entre todos os atores envolvidos na educação,
coordenador e da direção, e ainda desde os funcionários até a equipe gestora.
especialmente da formação humana no campo Uma das atribuições do diretor é criar um
das relações interpessoais. ambiente propício para o desenvolvimento de
Neste contexto, nosso referencial teórico relações interpessoais entre todos os agentes
está dividido em três partes, sendo a primeira educacionais para que o trabalho coletivo seja
contendo aporte na educação, sociedade e eficaz a ponto de influenciar e estimular os
mundo, aliando conceitos de gestão e a professores a desenvolverem uma relação
legislação na escola como espaço de relações interpessoal positiva com seus alunos,
democráticas. contribuindo, assim, para o seu
Na segunda parte são colocadas as relações desenvolvimento emocional e,
interpessoais e como a afetividade e as consequentemente, cognitivo. Cabe a ele,
emoções podem afetar esse contexto. Na também, formar os coordenadores e
terceira parte concentramos na formação professores e desenvolver nestes profissionais
continuada do educador, nas relações habilidades voltadas para as relações
interpessoais e como o trabalho coletivo interpessoais na escola, ajudando sua equipe a
influencia a instituição escola, abrangendo para formar alunos capazes de relacionar-se com o
a crise da profissão docente e o resultado das conhecimento a partir do desenvolvimento de
transformações sociais na crise da desta boas relações afetivas.
profissão. Finalizando com o papel do diretor Na perspectiva relacional, é importante que
como articulador das relações interpessoais na os educadores sejam constantemente
escola. incentivados pela equipe gestora, para que os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

professores busquem uma transformação da Segundo Freire (2005), a educação, do ponto


realidade, no uso de suas atribuições como de vista social, pode assumir duas concepções:
docente, transferindo aos alunos, de alguma a reprodutora, a qual serve de instrumento de
forma, o mesmo tratamento e a mesma manipulação e de dominação do ser humano, já
motivação recebidos da equipe gestora. Desta que está de acordo com a ideologia da
maneira, é possível criar uma política de burguesia. Por outro lado, a concepção da ação
formação sistematizada por parte do diretor transformadora, a qual promove a
buscando o aprimoramento das relações conscientização crítica capaz de libertar os
interpessoais entre o diretor, coordenadores e oprimidos, também desestrutura o senso
professores e como consequência, entre comum para que possa atingir o bom senso, a
professores e alunos. partir do qual é possível ocorrerem as
Apoiamos a pesquisa em Wallon (2010); transformações.
Almeida (2010); Nóvoa (2009), entre outros. Neste sentido, Freire (2005), entende que o
Dividimos o trabalho em três partes, o primeiro educador tem de oferecer caminhos políticos e
capítulo apresenta o referencial teórico sobre a éticos aos educandos, para que as pessoas não
educação, a gestão e a escola como um espaço só construam conhecimentos, mas também, se
de relações democráticas. No segundo capítulo formem cidadãos críticos e reflexivos da sua
abordamos as relações interpessoais, realidade.
envolvendo a afetividade e as emoções e no
terceiro capítulo a formação continuada do A GESTÃO
professor e suas condições de trabalho. Por fim
Inicialmente vamos colocar o significado de
as considerações finais sobre o presente artigo.
gestão segundo Freire (2005), que significa gerir
Como questão central, elencamos de que
algo, dirigir, governar e administrar,
forma o diretor poderia despertar no professor
especificamente na gestão escolar assume o
o desejo de ensinar com motivação a partir das
sentido de exercer o controle sobre os recursos
relações interpessoais desenvolvidas no
da escola, materiais financeiros e humanos,
interior da escola, apoiado na legislação
tendo em vista o aprimoramento e/ou melhoria
vigente.
da qualidade do processo de ensino-
aprendizagem.
A EDUCAÇÃO, A SOCIEDADE E Dessa forma, se a sociedade está em
O MUNDO constante mudança, então, a escola tem de
Entendemos que o ser humano é a única acompanhá-la, única forma, aliás, dela garantir
espécie que necessita ser educada, já que por a necessidade da própria existência. Mas, para
meio da educação que o mesmo se humaniza. uma mudança significativa na educação
A educação abre o horizonte do ser humano promovida pela escola, é preciso considerar
vários aspectos importantes para a dinâmica de
fazendo com que ele pense e reflita sobre si e
seu funcionamento, aspectos esses que podem
sobre seu meio social.
realmente torná-la eficaz.

1605
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A ESCOLA COMO ESPAÇO DE coletivos, de se integrar à realidade de seu


tempo, apreendendo-a e contribuindo para
RELAÇÕES DEMCORÁTICAS E transformá-la em favor de todos os homens.
LEGISLAÇÕES Assim, o planejamento participativo pode ser
A escola segundo Freire (2005), tem como uma ação transformadora, na qual todos
objetivo explícito e aprimoramento das podem viver na condição de sujeito, sem que
potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos existam as classes do dominante e do
alunos, o que se dá por meio da aprendizagem dominado. Nessa medida, o planejamento é
de conteúdos conceituais, procedimentais e uma metodologia coletiva e corresponsável de
atitudinais, mas, também, pelo tomadas de decisões sobre objetivos,
desenvolvimento de competências e estratégias e organização de uma ação que será
habilidades, de atitudes e de valores capazes de assumida por todos e o papel do gestor escolar
torna-los cidadãos participativos. é o de articulador de sujeitos flexíveis,
Assim, o objetivo maior da escola é a autônomos e reeducadores, que constroem
aprendizagem dos alunos. Para que ele se juntos uma escola mais libertadora e
efetive, é necessário que a organização escolar corresponsável.
favoreça a atuação e o trabalho dos
professores, já que existe uma RELAÇÕES INTERPESSOAIS
interdependência entre os objetivos e as No momento de introduzirmos as
funções da escola com o desempenho de seus concepções das relações interpessoais
profissionais e com a forma de gestão do precisamos iniciar com os conceitos de
trabalho escolar segundo Freire (2005). afetividade e emoção para darmos o suporte
Para ser democrática, segundo Freire (2005), necessário a este contexto.
a educação precisa ter características de As relações interpessoais segundo Almeida
equidade e qualidade. Equidade significa (2003), estão relacionada à maneira como
igualdade de oportunidades e implica somos afetados por outras pessoas,
considerar que todos têm direito de frequentar perpassando a afetividade. Para Almeida
uma escola, de desenvolver-se e se realizar (2003), as relações pessoais nos apresenta uma
como pessoa. Qualidade implica na oferta de concepção sobre relações interpessoais, já que
um ensino que possibilite o crescimento se as mesmas são positivas nos ajudam a
humano, só possível quando facultam ao aluno constituir como pessoa ao longo de nossas
o direito de apropriar-se de bens culturais e vidas.
tornar-se capaz de produzir outros. A escola Muitas pesquisas vêm acontecendo
democrática visa oferecer, para todos, ensino segundo Almeida (2003), com relação a
de qualidade que permita, por meio de afetividade no processo de ensino-
conteúdos e de metodologias adequados, uma aprendizagem do aluno, todavia
educação que liberte o homem, tornando-o primeiramente temos que tratar sobre as
capaz de se construir como tal, de satisfazer relações interpessoais entre o professor e o
suas necessidades individuais, de buscar fins

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

diretor, já que o último tem a incumbência de produtividade do professor, alcançando a


formar o professor e este de formar o aluno. satisfação pessoal e a motivação do trabalho
Diante de nossa referência bibliográfica, pedagógico.
Wallon (2010), propõe que a formação do Neste contexto, a formação continuada do
indivíduo seja integral por meio dos conjuntos educador vai se fortalecendo, já que a mesma é
funcionais: motor, afetivo, cognitivo e pessoa. o momento pelo qual o educador é provocado
Neste contexto, o diretor se torna o articulador a reflexão tanto dentro quanto fora de sala de
do coletivo na escola, buscando maneiras de aula, buscando uma bagagem cultural ampla.
formar o corpo docente em todas as suas A formação do educador é compreendida
dimensões, sobretudo, na dimensão afetiva, como meio para a promoção das
pois esta é responsável pelo desenvolvimento transformações e não como instrumento
das outras dimensões. técnico, neste viés, Nóvoa (2009) compreende
que a formação é um ciclo que abrange desde a
O PAPEL DO DIRETOR COMO experiência do docente como aluno até
profissional.
ARTICULADOR DAS RELAÇÕES Esta formação deve ir além do domínio dos
INTERPESSOAIS NA ESCOLA saberes específicos da área do conhecimento,
Um diretor que administra bem os conflitos pois necessita saber lidar com seus alunos e
e propicia um ambiente harmonioso na escola, com a realidade que está inserido.
contribui para o desenvolvimento profissional Neste contexto devemos ter em mente o
de sua equipe e, por conseguinte, cria um termo “gestão democrática”, a qual implica
ambiente propício à aprendizagem dos alunos, uma certa organização que deve incorporar
pois em um ambiente positivo, a construção de alguns componentes básicos: a constituição do
conhecimento se dá de forma mais natural. Conselho Escolar, a elaboração do Projeto
O professor que trabalha para a formação e Político-Pedagógico de maneira coletiva e
crescimento de seus alunos tem, pois, um participativa, a definição e fiscalização da verba
importante papel no seu desenvolvimento. da escola pela comunidade escolar, a
Dessa forma, o diretor influencia na prática divulgação e transparência na prestação de
transformadora do professor, uma vez que contas, a avaliação institucional da escola, dos
depende dele a criação de condições de professores, dos dirigentes, dos estudantes, da
trabalho e formação de acordo com as equipe técnica.
necessidades reais do professor, embora não
seja papel apenas do diretor, mas ele pode
propiciar condições para que isso ocorra.
Libâneo (2005), coloca que além da visão
administrativa, as escolas devem conceber um
espaço também de relações interpessoais e por
meio do papel do diretor é possível
implementar mudanças que influenciem a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As relações interpessoais devem ser compreendidas como fios condutores da educação,
sendo professores e alunos atores principais desse processo educacional, pois o professor não é
só o mediador entre a cultura e o aluno, mas o representante da cultura para o aluno.
Estabelecendo assim, a forma como o professor se relaciona com os alunos influencia
diretamente na maneira como o aluno aprende.
Ressaltamos que a pesquisa trouxe uma importante contribuição ao fazer pedagógico,
especialmente com o embasamento teórico, renovando o olhar sobre as relações sociais na
escola.
Assim, a formação centrada nas relações interpessoais no âmbito escolar deve culminar no
bem estar docente, na elevação da autoestima, levando o professor a refletir sobre sua atuação
em sala de aula.
Neste contexto, entendemos também que o diretor é o facilitador, formador principal dos
professores, portanto cabe a ele a responsabilidade pela formação dos professores, por meio do
aprimoramento do trabalho coletivo, sendo o mesmo necessário para promover reuniões
pedagógicas que reúnam, na medida do possível, o maior número de professores de todos os
períodos.

1608
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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1610
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E PERSPECTIVAS


PARA O ENSINO DE NÚMEROS FRACIONÁRIOS
Robson Abel Lopes1

RESUMO: O artigo contempla a resolução de problemas no Ensino Fundamental II. Ao longo do


desenvolvimento serão buscados métodos didáticos para que os alunos possam absorver o que é
um problema, como o aluno pode resolvê-lo e também as abordagens que o professor deve fazer
para que o aluno consiga entender todas as etapas da resolução de problemas. Será feita neste
trabalho uma breve passagem pela história do tema destacando os principais pesquisadores da
época sobre o assunto. Também são verificadas as orientações dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (1998) e da Proposta Curricular do Estado de São Paulo (2008), para o ensino de
Resolução de Problemas. Apresentamos uma abordagem sobre o conteúdo matemático
escolhido e também tratamos do processo ensino-aprendizagem por meio da resolução de
problemas com o objetivo investigar as variáveis envolvidas, expondo os problemas, limitações e
perspectivas para o ensino de números fracionários.

Palavras-Chave: Ensino Fundamental; Resolução de Problemas; Frações; Aplicação.

1Professor de Matemática na Rede Municipal da Cidade de São Paulo


Graduação: Licenciatura e Bacharelado em Matemática Aplicada / Licenciatura em Pedagogia
E-mail: robson.alopes@sme.prefeitura.sp.gov.br

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO inserção no ensino da Matemática, pois, como


salienta George Polya (1887-1985):
Os problemas ocupam um lugar central nos A Heurística moderna esforça-se por
currículos desde a antiguidade, mas a resolução compreender o processo de resolução de
de problemas não. Só recentemente problemas, especialmente as operações
apareceram educadores matemáticos mentais, tipicamente úteis nesse processo.
aceitando a ideia de que o desenvolvimento da Dispõe de várias fontes de informação,
capacidade de resolução de problemas merece nenhuma das quais deve ser desprezada. Um
especial atenção. Nesta focagem sobre a estudo consciencioso da heurística deve levar
resolução de problemas tem havido confusão. em conta tanto as suas bases lógicas quanto as
O termo resolução de problemas transformou- psicológicas, não deveria negligenciar aquilo
se num slogan englobando diferentes visões da que autores antigos como Pappus, Descartes,
educação, da escolaridade, da Matemática e Leibniz e Bolzano disseram sobre o assunto,
das razões por que devemos ensinar mas muito menos deveria negligenciar a
Matemática em geral e resolução de problemas experiência imparcial. A experiência na
em particular. resolução de problemas e a experiência na
Como atesta a história da humanidade, o observação dessa atividade por parte de outros
homem desde a era mais remota é levado a devem ser a base em que a heurística é
resolver seus problemas, e o progresso da construída. Nesse estudo, não deveríamos
humanidade pode ser atribuído a essa descurar de nenhum tipo de problema, e
capacidade do ser humano de resolver deveríamos buscar os aspectos comuns na
problemas de situações diárias. maneira de tratar de problemas de toda a sorte:
Para expor um pouco da história da deveríamos visar aos aspectos gerais,
resolução de problemas, é muito importante independentemente do assunto do problema.
termos uma ideia clara sobre o significado da O estudo da heurística tem objetivos práticos:
palavra heurística. uma melhor compreensão das operações
Consultando o dicionário Ferreira (2006), a mentais tipicamente úteis na resolução de
palavra heurística possui alguns contextos problemas poderia exercer uma influência
importantes; no contexto científico o benéfica sobre o ensino, especialmente sobre o
significado é “que tem utilidade na descoberta ensino da Matemática(POLYA, 2006, p.99;100).
científica”, no contexto pedagógico “que leva o Segundo Pereira (2001), o estudo inicial da
aluno a aprender por si mesmo a verdade que heurística está relacionado com os filósofos,
se lhe quer ensinar”; e no contexto de geômetras e matemáticos gregos da
problematização, “uma hipótese de trabalho antiguidade. Nos estudos que realizaram sobre
adotada provisoriamente, como ideia diretriz, os processos de resolução de problemas
na pesquisa dos fatos”. geométricos, eles determinaram duas
Feitas as considerações com relação ao características importantes para o estudo da
significado da palavra heurística, justifica-se a heurística, que foram denominadas análise e
síntese. Uma descrição completa desses

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

métodos pode ser encontrada no livro Coleção ser aplicadas a resolução de problemas, já
Synagoge, escrito por Pappus de Alexandria (+- antecipando ideias de Polya (2006), como, por
300 d.C.), por volta do século IV. exemplo:
As primeiras ideias um pouco mais positivas Regra IV: “É necessário método para
e razoáveis no sentido da heurística de descobrir as leis da natureza”, ressaltando a
resolução de problemas vem com filósofo e importância da sistematização;
matemático francês René Descartes (1596- Regra III: “as únicas coisas que devemos
1650) (PEREIRA, 2001). aceitar são aquelas que ou podemos ver com
Ainda segundo Pereira (2001), o importante clareza ou podemos deduzir com certeza”,
em Descartes são suas ideias sobre relevando a importância da argumentação ao
‘pensamento produtivo’ que tinham um papel invés do uso da autoridade;
importante no projeto de construção de um Regra VII: “Se chegarmos a um ponto onde
método geral de resolução de problemas. não conseguimos entender o que está
Descartes chegou a escrever dois volumes (o acontecendo, devemos fazer uma pausa e não
segundo incompleto) – dentre três planejados - prosseguir em um trabalho inútil”, mostrando
do Rules for the Direction of the Mind (Regras que é importante mantermos controle sobre o
para a Direção da Mente), escrito por volta de que estamos fazendo sob pena de se perder em
1630, no qual procurava expor em detalhes um trabalho infrutífero (PEREIRA, 2001, p. 9).
como, segundo seu método, seria possível Posteriormente, na tentativa da
resolver qualquer problema. Em resumo, sistematização da heurística, destacou-se
Descartes vê o processo de resolução de Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716),
problemas em três fases: provavelmente, o primeiro matemático que
Na primeira fase de reduzir todo problema argumentou que a matemática era uma
algébrico a um problema contendo apenas disciplina essencialmente lógica, uma vez que,
equações; na segunda fase de reduzir todo para ele, as verdades eram determinadas por
problema matemático a um problema meio da síntese, que era um processo
algébrico; e na terceira fase de reduzir qualquer construído com a utilização de teoremas
problema a um problema matemático (ABBAGNANO, 1999).
(PEREIRA, 2001). Entretanto somente em 1837, uma
Podemos notar que Descartes objetivou publicação chamada A Teoria da Ciência de
reduzir todo problema que existe no mundo a Bernard Bolzano (1781-1848), faria uma
um problema matemático, fica claro, o caráter descrição detalhada sobre a lógica e a
irrealista do projeto, a começar pela ideia de heurística, assunto que foi abordado em pouco
reduzir todo problema a um problema mais de 250 páginas e teve como objetivo
matemático (o que, sinceramente, nem sempre formular em linguagem clara o processo
é possível). heurístico, convencionalmente utilizado pelo
Entretanto, Pereira (2001), afirma que solucionador de problema, ainda que de forma
Descartes apresentou algumas ideias de valor e inconsciente (PLURES, 2009).
relevância relacionadas ao ensino e que podem

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O matemático francês Henry Poincaré (1854- O matemático húngaro George Polya (1888-
1912), conciliava, a seu modo, elementos de 1983), foi o que teve a visão mais profunda e
empirismo e convencionalismo, e essa visão era mais compreensiva da resolução de problemas
bem peculiar, ele pregava que o raciocínio por nos currículos escolares de Matemática – a
recorrência é o responsável pela criação do visão da resolução de problemas como arte –
conhecimento científico, em especial na emergiu do trabalho de Polya (2006), que
matemática (PATY, 1999). reviveu no nosso tempo a ideia da heurística (a
Esta argumentação é tratada no trecho do arte da descoberta). Ficou para ele a tarefa de
livro Ciências e Hipótese, no que diz respeito a reformular, estender e ilustrar várias ideias
característica de como a heurística envolvida no acerca da descoberta matemática de tal modo
processo de descoberta científica está, algumas que os professores as pudessem compreender
vezes, além dos dados propriamente científicos e usar (POLYA, 2006).
(PATY, 1999). Em 1980, o National Council of Teachers of
Um dos maiores matemáticos do século XX, Mathematics — NCTM —, dos Estados Unidos,
o francês Jacques Hadamard (1865-1963), se apresentou recomendações para o ensino de
debruçou sobre o problema da criatividade em Matemática no documento “Agenda para
matemática, e com o seu livro A psicologia da Ação”. Nele destacava-se a resolução de
invenção no campo matemático (1945) problemas como foco do ensino da Matemática
defendeu que o pensamento criativo em nos anos 80. Também a compreensão da
matemática é frequentemente acompanhado relevância de aspectos sociais, antropológicos,
por imagens mentais compactas, cuja forma linguísticos, na aprendizagem da Matemática,
varia de pessoa a pessoa. Enfatiza os processos imprimiu novos rumos às discussões
inconscientes e subconscientes que produzem curriculares (PCN, 1998).
soluções súbitas de problemas não resolvidos
nas fases de esforço consciente (HADAMARD, PARÂMETROS CURRICULARES
2009).
Imre Lakatos (1922-1973), em sua filosofia NACIONAIS E PROPOSTA
da matemática discutiu a construção do CURRICULAR
conhecimento matemático destacando o No final do Ensino Fundamental, pela
caráter heurístico dessa ciência. Assim temos Proposta Curricular do Estado de São Paulo
que a filosofia da matemática discutida por (2008), o aluno deverá reconhecer e saber
Lakatos está preocupada em apresentar como operar no campo numérico real, o que
se dá o desenvolvimento, os avanços e a criação constituirá a porta de entrada para
da matemática. Lakatos discute a construção aprofundamentos, sistematizações e o
do conhecimento matemático apresentando o estabelecimento de novas relações no Ensino
método das provas e refutações como Médio. O estudo de sucessões numéricas,
possibilidade e engrenagem motora do números irracionais e aproximações racionais
desenvolvimento matemático (LAKATOS, usadas em problemas práticos, bem como a
1978). extensão do campo numérico para os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

complexos, constituem o mote central para o como aplicação da aprendizagem, a partir de


desenvolvimento do eixo números no Ensino listagem de problemas cuja resolução depende
Médio. basicamente da escolha de técnicas ou formas
Segundo o PCN (1998) os objetivos gerais do de resolução memorizadas pelos alunos (PCN,
ensino de Matemática para o ensino 1998).
fundamental visam à construção da cidadania e Todavia, tradicionalmente, os problemas não
que leve o aluno a: têm desempenhado seu verdadeiro papel no
• identificar os conhecimentos matemáticos ensino, pois, na melhor das hipóteses, são
como meios para compreender e transformar o utilizados apenas como forma de aplicação de
mundo à sua volta e perceber o caráter de jogo conhecimentos adquiridos anteriormente pelos
intelectual, característico da Matemática, como alunos (PCN, 1998).
aspecto que estimula o interesse, a curiosidade, A resolução de problemas, na perspectiva
o espírito de investigação e o desenvolvimento indicada pelos educadores matemáticos,
da capacidade para resolver problemas; possibilita aos alunos mobilizar conhecimentos
• resolver situações-problema, sabendo e desenvolver a capacidade para gerenciar as
validar estratégias e resultados, desenvolvendo informações que estão a seu alcance. Assim, os
formas de raciocínio e processos, como alunos terão oportunidade de ampliar seus
intuição, indução, dedução, analogia, conhecimentos acerca de conceitos e
estimativa, e utilizando conceitos e procedimentos matemáticos bem como de
procedimentos matemáticos, bem como ampliar a visão que têm dos problemas, da
instrumentos tecnológicos disponíveis; Matemática, do mundo em geral e desenvolver
• interagir com seus pares de forma sua autoconfiança (PCN, 1998).
cooperativa, trabalhando coletivamente na Segundo PCN (1998), a resolução de
busca de soluções para problemas propostos, problemas, como eixo organizador do processo
identificando aspectos consensuais ou não na de ensino e aprendizagem de Matemática,
discussão de um assunto, respeitando o modo pode ser resumida nos seguintes princípios:
de pensar dos colegas e aprendendo com eles. • a situação-problema é o ponto de
Na aprendizagem da matemática, os partida da atividade matemática e não a
problemas são fundamentais, pois permitem ao definição. No processo de ensino e
aluno colocar-se diante de questionamentos e aprendizagem, conceitos, ideias e métodos
pensar por si próprio, possibilitando o exercício matemáticos devem ser abordados mediante a
do raciocínio lógico e não apenas o uso exploração de problemas, ou seja, de situações
padronizado de regras (PCN, 1998). em que os alunos precisem desenvolver algum
No entanto, a abordagem de conceitos, tipo de estratégia para resolvê-las;
ideias e métodos sob a perspectiva de • o problema certamente não é um
resolução de problemas ainda é bastante exercício em que o aluno aplica, de forma quase
desconhecida da grande maioria e, quando é mecânica, uma fórmula ou um processo
incorporada à prática escolar, aparece como operatório. Só há problema se o aluno for
um item isolado, desenvolvido paralelamente levado a interpretar o enunciado da questão

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

que lhe é posta e a estruturar a situação que lhe Análise Inicial


é apresentada; Independentemente da nossa atividade
• aproximações sucessivas de um conceito prática e do grau de conhecimento, quase que
são construídas para resolver um certo tipo de diariamente, somos submetidos a resolver
problema; num outro momento, o aluno utiliza situações-problema que envolva
o que aprendeu para resolver outros, o que conhecimentos matemáticos.
exige transferências, retificações, rupturas, Considerando, no âmbito escolar, a
segundo um processo análogo ao que se pode Resolução de Problemas, o processo ensino-
observar na História da Matemática; aprendizagem torna-se mais dinâmico quando
• um conceito matemático se constrói o aluno, agente de sua produção, utiliza
articulado com outros conceitos, por meio de diferentes formas de resolução dos problemas
uma série de retificações e generalizações. propiciando o estabelecimento de conexões
Assim, pode-se afirmar que o aluno constrói um matemáticas.
campo de conceitos que toma sentido num Definir o que se compreende por problema
campo de problemas, e não um conceito pode dar margem a várias perspectivas: um
isolado em resposta a um problema particular; problema é um estado subjetivo da mente,
• a resolução de problemas não é uma pessoal para cada indivíduo, um desafio, uma
atividade para ser desenvolvida em paralelo ou situação não resolvida, cuja resposta não é
como aplicação da aprendizagem, mas uma imediata, que resulta em reflexão e uso de
orientação para a aprendizagem, pois estratégias conceituais e procedimentais,
proporciona o contexto em que se pode provocando uma mudança nas estruturas
apreender conceitos, procedimentos e atitudes mentais.
matemáticas. Esse trabalho tem como finalidade investigar
Considerados esses princípios, convém as estratégias de resolução de problemas
precisar algumas características das situações envolvendo frações e a motivação para isso
que podem ser entendidas como problemas. está diretamente ligada a prática pedagógica
Um problema matemático é uma situação atual.
que demanda a realização de uma sequência de Atuando como professor há mais de dois
ações ou operações para obter um resultado, anos nas séries iniciais do Ensino Fundamental
ou seja, a solução não está disponível de início, II (6º. Ano / 7º. Ano) enfrento muitas
mas é possível construí-la (PCN, 1998). dificuldades para tentar fazer os alunos
Além disso, é necessário desenvolver entenderem o uso de frações nas diversas
habilidades que permitam provar os resultados, situações-problema do Sistema Anglo de
testar seus efeitos, comparar diferentes Ensino, material adotado pela Instituição de
caminhos para obter a solução. Nessa forma de Ensino em que trabalho há mais de 10 anos.
trabalho, a importância da resposta correta Analisando o material adotado atualmente,
cede lugar a importância do processo de os conteúdos são abordados em espiral, ou
resolução (PCN, 1998). seja, conceitos e procedimentos essenciais são
constantemente retomados e ampliados em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

níveis progressivamente mais complexos, o que fração como quociente”, o qual trabalham os
vai de encontro às orientações da Proposta contextos de divisão de quocientes inteiros e
Curricular do Estado de São Paulo (2008). decimais, a fração como quociente de dois
Acreditamos que um mesmo tema números naturais, tipos de frações e a
matemático possa ser trabalhado em diversas transformação de fração imprópria em número
escalas diferentes, o que, de certa forma, misto e vice-versa. Em outro capítulo, ainda no
justifica a lógica de organização espiral dos 6º. ano são trabalhados outros contextos de
conteúdos. Nesse sentido, de acordo com a números racionais, como a retomada da fração
importância de um tema inserido no como relação parte-todo, a localização de
planejamento da disciplina, ele poderá ser números racionais na reta numérica e a
tratado em uma aula, uma semana de aula, um exploração do todo-referência para frações.
mês de aula ou até mais tempo. A escolha da No final do 4º. bimestre o conteúdo ensinado
escala de tratamento do tema estará é sobre fração equivalente e suas propriedades,
diretamente relacionada com os objetivos fração irredutível, cálculo do mínimo (menor)
didático pedagógicos do professor e, feita essa múltiplo comum, comparação de frações,
opção, sempre será possível amplificar ou redução de frações ao mesmo denominador e
reduzir a atenção dada a determinado operações com frações (adição e subtração).
conteúdo no bimestre. Um conteúdo de No 7º. ano os conteúdos só são trabalhados
relevância, e que esteja plenamente justificado no final do 1º. bimestre com a retomada da
na perspectiva curricular de desenvolvimento fração como relação parte-todo e como
de competências, poderá se estender para medida.
além do bimestre sugerido na grade, assim Posteriormente no final do 2º. bimestre, os
como o contrário também poderá ocorrer, com conteúdos abordados são sobre multiplicação,
a redução do tempo dedicado a um conteúdo divisão e potenciação e só aí então, depois de
menos significativo para os projetos da mais três módulos, é trabalhado um pouco
disciplina( 2008, p. 10). sobre resolução de problemas, exatamente três
Para possibilitar uma análise mais criteriosa, aulas, sobre todo o conteúdo ensinado até
no entendimento das dificuldades dos alunos, aquele momento.
para a resolução de problemas, e para tentar Essa diluição do conteúdo em praticamente
identificar as dificuldades, analisamos o dois anos, aliada a falta de uma proposta
conteúdo ensinado no Ensino Fundamental II concreta e eficaz na resolução de problemas,
até o 7º. Ano pelo Sistema Anglo de Ensino e faz com que os alunos tenham uma extrema
também da Coleção Araribá da Editora dificuldade com os problemas envolvidos nos
Moderna. cadernos da apostila.

Sistema Anglo de Ensino Projeto Araribá – Editora Moderna


No 6º. Ano os alunos só retomam com mais No segundo bimestre do 6º. ano é
intensidade os conteúdos sobre frações no apresentada na 7ª. unidade os números
começo do 3º. bimestre com o conteúdo “A fracionários na forma de frações, situações que

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

envolvem frações, equivalência e comparação símbolo na senda intricada da verdade oculta,


entre frações. recompensando-nos, depois, com a alegria da
Na 8ª. unidade é apresentada as operações solução obtida(p.42).
(adição, subtração, multiplicação e divisão) com Kantowski (1980), considera que um
números racionais na forma de fração e problema é uma situação com que uma pessoa
porcentagem. se depara e para a realização da qual não tem
Posteriormente na 11ª. unidade é trabalhada um procedimento ou algoritmo que conduza à
a transformação de um número decimal para a solução. Refere ainda que o que é problema
forma de fração, e não há resolução de para um indivíduo poderá ser exercício para
situações problemas nesta unidade. outro ou ainda uma frustração para um
No 7º. Ano, na unidade 3, são retomadas as terceiro.
operações com números racionais e a A dificuldade de encontrar uma definição
representação na reta numérica, e ampliadas as clara do que seja um problema torna a tarefa
operações com a potenciação usando os do professor, no contexto de sala de aula, uma
expoentes inteiros não negativos e negativos e tarefa árdua e desgastante no processo de
fecha o conteúdo de frações no 7º. ano com resolução e compreensão das situações-
radiciação de frações. problema.
A Coleção Araribá traz a cada final de Portanto, no atual trabalho será adotada a
capítulo um Programa de Resolução de definição de Krulik e Rudnik (1993), problema é
Problemas com o tema abordado no capítulo, uma situação, quantitativa ou outra, com a qual
com o objetivo de propor maneiras de se confronta um indivíduo ou grupo, na procura
solucionar problemas. de uma solução, para a qual não tem
prontamente resposta.
METODOLOGIA Estes autores distinguem ainda entre
questão (uma situação que apela à capacidade
de memória), exercício (uma situação em que é
O Problema
necessário treinar ou reforçar algoritmos já
Antes de analisar todos os exemplos
aprendidos) e problema (onde é necessário
tomados anteriormente, precisamos saber com
raciocinar e sintetizar o que já foi aprendido).
clareza o que é um problema. Torna-se cada vez
Os professores de matemática deparam
mais comum vermos nos livros didáticos a
constantemente em sala de aula com alunos
inclusão de desafios matemáticos dirigidos ao
que não conseguem retirar do enunciado dos
aluno, e que tipicamente não correspondem
problemas matemáticos dados para a sua
diretamente ao conteúdo em ensino e, assim,
resolução ou identificar o que o problema está
muitos pensam que se trata de problemas.
questionando. Uma das causas dessa
Segundo David Hilbert (2014):
dificuldade, que pode ser chamada de
um problema matemático deve ser difícil, a
dificuldade de interpretação, é a falsa ideia de
fim de nos provocar; todavia, não deve ser
que para estudar matemática não é preciso ler.
inteiramente inacessível, a fim de não troçar de
nosso esforço; por fim, deve constituir um

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A facilidade de interpretação está A Resolução


diretamente ligada à leitura. O aluno que possui A resolução de problemas é concebida por
um hábito regular de leitura terá uma facilidade diversos autores como um processo sequencial
maior em compreender um problema no qual se estabelecem diversas fases. Existem
matemático. diferentes estratégias de resolução de
Por meio da resolução de problemas, problemas, também designadas como
inserida num ambiente propício e favorável, o heurísticas.
aluno verifica a validade dos conceitos Polya (2006), aponta o fato de, a resolução
matemáticos, realiza conjecturas, relaciona os de problemas revelar um aspecto importante
conceitos, generaliza, estimula os da matemática: o de ciência experimental,
procedimentos num contexto significativo, indutiva, diferente do aspecto rigoroso em que
toma uma atitude reflexiva e desenvolve a normalmente os fatos matemáticos são postos
capacidade de raciocínio e o pensamento em sala de aula.
matemático. É bom lembrar ainda, que a proposta de
Segundo PCN (1998), um dos objetivos George Polya (2006) não é um livro de receitas
principais do ensino de Matemática visa a sobre resolução de problemas, nem tampouco
resolução de situações-problema, validando pretende apresentar regras infalíveis para a
estratégias e resultados, desenvolvendo formas descoberta da solução de um problema
de raciocínio e processos, como intuição, matemático, a esse respeito Polya (2006) se
indução, dedução, analogia, estimativa, e manifesta:
utilizando conceitos e procedimentos Regra de descoberta infalíveis, que levem a
matemáticos, bem como instrumentos resolução de todos os problemas matemáticos,
tecnológicos disponíveis seriam mais preciosas do que a pedra filosofal,
Assim, um bom problema deverá geralmente em vão procurada pelos alquimistas. Tais regras
possuir três características: fariam milagres, mas não há milagres.
• ser desafiante e interessante a partir de Encontrar regras infalíveis, aplicáveis a toda
uma perspectiva matemática; sorte de problemas é um velho sonho filosófico,
• ser adequado, permitindo relacionar o que nunca passará de sonho (POLYA, 2006,
conhecimento que os alunos já têm de modo p.133).
que o novo conhecimento e as capacidades de Segundo Polya (2006), a resolução de
cada aluno possam ser adaptadas e aplicadas problema inclui quadro quatro etapas:
para completar tarefas; 1ª - Compreender o problema: Nesta etapa é
• ser problemático, a partir de algo que faz importante fazer perguntas, identificar qual é a
sentido e onde o caminho para a solução não incógnita do problema, verificar quais são os
está completamente visível. dados e quais são as condições entre outros.
2ª - Construção de uma estratégia de
resolução: Nesta etapa devemos encontrar as
conexões entre os dados e a incógnita, caso seja

1619
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

necessário considerando problemas auxiliares decimal (números com vírgula) do que na forma
ou particulares. fracionária.
3ª - Execução da estratégia: A aprendizagem dos números racionais, no
Frequentemente, esta é a etapa mais fácil do entanto, supõe rupturas com ideias construídas
processo de resolução de um problema. pelos alunos acerca dos números naturais e,
Contudo, a maioria dos principiantes tende a portanto, demanda tempo e abordagem
pular esta etapa prematuramente e acabam se adequada. Neste sentido, PCN (1998), propõe,
dando mal. como um trabalho interessante, o uso da
4ª - Revisando a solução: Exame da solução calculadora em atividades em que os alunos são
obtida e verificação dos resultados e dos convidados a dividir 1 por 2, 1 por 3, 1 por 4,
argumentos utilizados (p.135). etc., levantando hipóteses sobre as escritas que
Na Metodologia de Ensino-Aprendizagem- aparecem no visor da calculadora, iniciando a
Avaliação de Matemática por meio da interpretar o significado dessas representações
Resolução de Problemas o problema é ponto de decimais. Utilizando a calculadora, os alunos
partida e, na sala de aula, por meio da resolução podem perceber que as regras do sistema de
de problemas, os alunos devem fazer conexões numeração decimal, utilizadas para representar
entre diferentes ramos da Matemática, números naturais, podem ser aplicadas para se
gerando novos conceitos e novos conteúdos. obter a escrita dos números racionais na forma
A atividade de resolução de problemas, se decimal. A abordagem dos números racionais
bem orientada, tem papel importante no deve ser iniciada pela sua representação
desenvolvimento das habilidades de raciocínio, decimal, uma vez que essa representação
organização, atenção e concentração, tão aparece com mais frequência na vida cotidiana
necessárias para o aprendizado, em especial na do aluno (PCN, 1998).
Matemática, e para a resolução de problemas O PCN (1998), destaca que a representação
em geral. fracionária é bem menos frequente na vida
cotidiana limitando-se a metades, terços,
As Frações e os PCNs quartos e mais pela linguagem oral do que das
Para o PCN (1998), o objetivo principal na representações.
abordagem dos números racionais é levar os A prática mais comum para explorar o
alunos a perceberem que os números naturais conceito de fração é a que recorre a situações
são insuficientes para resolver determinados que envolvem a relação parte-todo, como no
problemas. Neste sentido, recomendam que a caso da divisão de chocolate, ou de uma pizza,
construção da ideia de número racional esteja em partes iguais. A fração indica a relação que
relacionada à divisão entre dois números existe entre um número de partes e o total de
inteiros. Sugerem que a introdução do estudo partes.
dos números racionais seja feita pelo seu Outro significado das frações é o de
reconhecimento no contexto diário, quociente; baseia-se na divisão de um número
observando que eles aparecem no cotidiano natural por outro (a ÷ b; ; b 0). Para o aluno, ela
das pessoas, muito mais na sua representação se diferencia da interpretação anterior, pois

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

dividir um chocolate em 3 partes e comer duas analisarmos do ponto de vista da construção do


partes é uma situação diferente daquela em conceito de fração. Essa inovação é traduzida
que é preciso dividir 2 chocolates para 3 pela ênfase dada pelos Parâmetros ao ensino
pessoas. (PCN, 1998). de fração baseado na resolução de situações-
Uma terceira situação, diferentes das problema, levando-se em consideração dois
anteriores, é aquela em que a fração é usada aspectos fundamentais: os significados que a
como uma espécie de índice comparativo entre fração poderá assumir em cada situação e as
duas quantidades de uma grandeza, ou seja, diferentes formas para sua representação.
quando é interpretada como razão, como, por
exemplo, no trabalho com mapas (a escala é de Análise
1 cm para 600 m). Segundo Behr (1983), a aprendizagem de
Além dessas três interpretações, já descritas, frações não se dá com definições prontas,
acrescenta-se mais um significado da fração: nomenclatura obsoleta e pseudoproblemas
operador, ou seja, quando ela desempenha um sobre pizzas e barras de chocolates. Os
papel de transformação em que atua sobre professores deveriam ter atenção para as
uma situação e a modifica. Essa ideia está complexidades que envolvem conceito tão
presente, por exemplo, num problema do tipo delicado. Os obstáculos à aprendizagem são
"que número devo multiplicar por 3 para obter muitos e de várias naturezas. A começar pelo
2?" (PCN, 1998). fato de que a palavra fração estar relacionada a
Especificamente no terceiro e quarto ciclos muitas ideias e construções.
(6º e 7º anos), a abordagem dos números
racionais deve ter como objetivo levar os
alunos a perceber que os números naturais são
insuficientes para resolver determinadas
situações-problema, como as que envolvem
medidas de uma grandeza e o resultado de uma
Quadro demonstrativo2
divisão (PCN, 1998).
1

O PCN (1998), recomenda que, para abordar Frações são assim consideradas, um
o estudo dos números racionais, deve-se “megaconceito”, por diferentes subconceitos,
recorrer aos problemas históricos, envolvendo aquilo que chamamos de interpretações do
medidas, de forma a possibilitar bons contextos conceito.
para o seu ensino. A sugestão é que esse tipo É importante destacar que estamos
de problema seja explorado e discutido com os considerando em nossa análise apenas as
alunos atividades que tinham como foco a
As recomendações feitas pelo PCN (1998), representação da fração, isso explicitamente e
propõem uma inovação para o ensino, se as analisando todos os livros (quatro ao todo),

2
Fonte: (BEHR, et al., 1983).

1621
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

encontramos alguns problemas que realizada a aplicação de um questionário junto


trabalhavam com a representação fracionária a dois professores, sujeito da pesquisa, e foi
do número racional. traçado o perfil dos mesmos. Num segundo
O que fica completamente evidente é que momento, foram analisados os livros didáticos
nenhum dos dois materiais analisados trabalha utilizado nas salas de aula, por estes
com um método claro, eficaz e consistente na professores, relacionando-os com o conteúdo
prática de resolução dos problemas de frações, dos seus planos de aula e, por último, utilizado
os materiais ficam restritos a problemas com também das observações as aulas desses
objetivos semelhantes e repetitivos. professores.
Fica uma dúvida, por que não usar problemas O tema de investigação da pesquisa segundo
mais diversificados? Por que não usar jogos Araújo (2010), no processo de ensino de
para introduzir um conceito de fração mais frações, foi fundamentado na busca de
abrangente? Desenvolvendo assim a possíveis respostas para os seguintes
linguagem, criatividade e raciocínio dedutivo e questionamentos:
na argumentação necessária durante a troca de • Que práticas pedagógicas sobre
informações que é o que recomendam os números fracionários estão presentes na sala
documentos oficiais. de aula, nas séries iniciais do Ensino
Fundamental II?
REFERENCIAL TEÓRICO • Como o livro didático norteia o processo
de desenvolvimento do ensino de números
Como referência apresentamos uma
fracionários?
pesquisa realizada como dissertação de
• O que aponta o referencial teórico
mestrado que teve como objetivo central
pertinente?
identificar os possíveis problemas, limitações e
perspectivas para o ensino de números Araújo (2010), reforça que para concretizar o
fracionários nas séries iniciais do Ensino objetivo geral, foi percorrido os seguintes
Fundamental II. objetivos específicos:
Levantar o referencial teórico construído por
Araújo (2010), verifica nesta pesquisa uma
autores da Educação Matemática, relativo ao
análise e as abordagens metodológicas
processo de ensino-aprendizagem de números
adotadas por docentes do Ensino Fundamental
de uma escola cajazeirense, a fim de analisar fracionários;
como são ensinados os conteúdos relativos aos Analisar a abordagem do tema nos livros
números fracionários nesses anos. didáticos adotados para o 5o e 6o anos do
Araújo (2010), salienta que a pesquisa é Ensino Fundamental que acompanhamos na
também de natureza qualitativa, com base em pesquisa;
um Estudo de Caso, visando ampliar nossa Observar o desenvolvimento do conteúdo
compreensão acerca das causas das nessas turmas de Ensino Fundamental de uma
dificuldades de aprendizagem os alunos, escola pública de Cajazeiras, em particular
considerando o viés da prática metodológica do quanto as práticas pedagógicas adotadas pelos
professor em um primeiro momento foi docentes acompanhados na investigação;

1622
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Analisar os dados coletados na observação, fracionários, de acordo com autores diversos,


considerando o referencial adotado abordando referências ao ensino dos números
(ARAÚJO,2010, s.p). fracionários, considerando seu conceito formal
e os diferentes significados atribuídos as
Campo de Investigação frações, principalmente no contexto escolar.
Araújo (2010), relata que a pesquisa foi feita Araújo (2010), discute também as
com um professor de Matemática do 5o ano e recomendações do PCN (1998) e apresentado
um de 6o ano do Ensino Fundamental de uma dados da Prova Brasil, divulgados pelo Índice de
Escola Estadual de Ensino Fundamental, Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB),
localizada na cidade de Cajazeiras, na Paraíba. utilizados pelo MEC para aferir o nível de
O critério adotado na pesquisa nestes anos de qualidade de cada escola e de cada rede de
escolaridade deu-se em razão de serem neles ensino a respeito da disciplina Matemática, nos
que estão concentrados boa parte dos finais do Ensino Fundamental I e II.
conteúdos relativos ao estudo das operações O terceiro capítulo contém uma descrição
básicas com números fracionários, ponto no detalhada da metodologia utilizada, com a
qual foi focado o estudo. Os dados caracterização do campo de pesquisa; os
considerados na investigação foram procedimentos adotados para a coleta de
provenientes da observação sistemática das dados; a apresentação, discussão e análise dos
aulas dos dois professores; da estrutura e dados.
conteúdo dos livros didáticos adotados; da
análise dos planos de cursos e planos de aulas; O Processo de Ensino de Números
e do questionário aplicado aos professores. Racionais
Os critérios que adotados por Araújo (2010), Araújo (2010), relata que conceito de frações
na pesquisa para a análise dos dados foram tem sido apontado por professores e
construídos a partir da leitura do referencial pesquisadores como um dos mais
teórico e situam-se basicamente na problemáticos conteúdos na aprendizagem da
constatação da presença ou ausência das matemática nas séries iniciais. Com análise
recomendações metodológicas apontadas epistemológica realizada acerca da construção
pelos autores, na pratica dos professores que do conceito de fração, foram encontrados
acompanhamos, as quais são detalhadamente alguns obstáculos, como os relativos a sua
expostas e comentadas. representação simbólica, conquistada a partir
O texto foi organizado em quatro capítulos. das representações individuais de cada povo.
No primeiro deles foi apresentado o objeto de O obstáculo denominado como negação da
pesquisa; os objetivos gerais e específicos; e a necessidade das quantidades fracionárias
metodologia utilizada. corresponderia a dificuldade de aceitação das
No segundo o capitulo Araújo (2010), frações como números, constituindo os
apresenta o referencial teórico, enfocando conhecimentos relativos aos naturais um
aspectos históricos e metodológicos relativos impedimento para a aprendizagem dos
aos números naturais e aos números números fracionários, uma vez que o aluno tem

1623
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

como modelo de referência o conjunto dos reconhecessem as frações associadas a cada


naturais e tende a estender as propriedades caso.
destes para outros conjuntos numéricos.
Segundo Araújo (2010), as pesquisas
apontam, ainda, os seguintes fatores como
elementos complicadores do processo de
elaboração do conhecimento acerca dos
números fracionários: Atividade diagnóstica3
1

a) Os números fracionários estão pouco


presente em nossa cultura, o que implica em Araújo (2010), relata que os alunos deram
pouca ou nenhuma vivência dos alunos com respostas corretas relativas aos dois primeiros
eles. Não obstante, esses números têm grande retângulos. Quanto ao terceiro retângulo, 56%
importância na Matemática, relacionando-se a dos alunos escolheram 1/7 como a fração
razões, raciocínio proporcional, ao cálculo correspondente; 12% escolheram 2/8 e 4%
algébrico, a probabilidades, entre outros; indicaram tanto 1/4 quanto 2/8. Com esses
b) A falta de desenvolvimento do significado resultados, constatou-se que as crianças
e da lógica subjacente aos tópicos desse tema, podem usar a linguagem das frações sem
na maioria das propostas de ensino atuais; compreender completamente sua natureza.
c) As propostas curriculares estaduais muito Araújo (2010), salienta para a importância
extensas sobre o tema, que se refletem nos que os professores estejam atentos, se querem
conteúdos de muitos livros didáticos. A levar as crianças a aprenderem as primeiras
apresentação é feita como se os alunos noções acerca das frações na construção desse
pudessem adquirir competências de conhecimento, procurando: aproveitar toda
compreender esses números, estabelecer oportunidade em que aparecem divisões de
relações, operar com eles e resolver problemas coisas ou objetos; aproveitar toda
contextualizados no seu cotidiano. Esse oportunidade de objetos já divididos num certo
dimensionamento inadequado traduz uma número de partes iguais, dando-se destaque a
concepção de Ensino Fundamental que visa a situação e ensinando o nome dessa parte; fazer
formação do aluno-calculador. Não importa o as crianças observarem que todas as partes
que ele entenda ou não, o importante e que obtidas valem a mesma quantidade; e levar as
consiga realizar qualquer operação com os crianças a perceberem que as partes podem
números naturais, fracionários ou decimais aparecer em uma ordem aleatória. Esta última
(ARAÚJO,2010, s.p). observação diz respeito ao fato de, nos livros
Nessas pesquisas, Araújo (2010), apresentou textos, a maioria das indicações das
três figuras para que alunos de 6° Ano representações fracionarias nas figuras

3
Fonte: Nunes e Bryant (1997 p. 193).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

obedecer a uma ordem linear (todas as partes Araújo (2010), apresenta que as
pintadas estão juntas, quase sempre da constatações discutidas anteriormente
esquerda para a direita). sugerem que a construção do número
A compreensão de quantas partes iguais a fracionário exige um razoável período de
certa fração dada são necessárias para tempo, tendo em vista que as crianças devem
constituir o todo, será útil ao longo de toda a ter diferentes contatos com experiências que
elaboração do conceito de fração. Ela permite permitam a compreensão e a necessidade
identificar de que fração se trata, assim como a desse tipo de número em suas vidas. É
unidade tomada como referência. O frequentemente falado que a compreensão da
importante, no estudo de frações como, aliás, divisão pelas crianças se inicia com o significado
em toda a Matemática, é evitar a memorização de distribuição. Mesmo crianças com 5 anos,
de definições e regras, sem compreensão. Todo podem dividir conjuntos de objetos em
o trabalho com frações pode ser feito a partir quantidades iguais, usando o simples
de situações-problema, isto é, desafios para procedimento “um–para-mim-um–para–você”,
que os alunos descubram soluções e construam sem risco de erro. A maioria dessas crianças vai
seu próprio conhecimento (ARAÚJO, 2010). adiante, fazendo inferências sobre a igualdade
dos conjuntos obtidos dessa forma.
OS DIFERENTES SIGNIFICADOS Araújo (2010), afirma que a introdução
precoce do conceito de fração leva o aluno a
ATRIBUÍDOS ÀS FRAÇÕES decorar regras, sem que haja condições de
Araújo (2010), salienta que os números compreensão. Eles também falam da
racionais podem ser interpretados pelos importância de oferecer à criança uma
diferentes possíveis sentidos de fração, com oportunidade de manipular materiais variados,
diferentes significados nos diversos contextos, no início do trabalho com números racionais,
os quais que são chamados de subconstrutos: em vez de ficar apenas colorindo figuras.
uma comparação entre parte-todo, um Araújo (2010), percebe, assim, que é preciso
número, uma razão, um quociente ou divisão estabelecer a diferença entre o que é distribuir
indicada, um operador multiplicativo, uma e o que é dividir. A partir do momento em que
probabilidade e uma medida. Para ilustrar é as crianças são levadas a se preocupar com o
apresentado sucintamente uma descrição de fato de distribuir, dependendo de quais são as
cada significado, em quantidades contínuas variáveis envolvidas, elas se preocupam em
(quantidades passiveis de serem divididas estabelecer quantidades iguais para cada
exaustivamente, sem que percam suas receptor. A invariável na distribuição e a
características) e quantidades discretas correspondência termo-a-termo entre os
(quantidades enumeráveis, contáveis, que conjuntos distribuídos, enquanto que, na
dizem respeito a um conjunto de objetos). divisão, as invariáveis são mais complexas: elas
referem-se as relações entre o dividendo
Ampliando Olhares Sobre os Estudos de (número que está sendo dividido), o divisor
Números Fracionários (número por que está se dividindo) e o

1625
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

quociente (o número resultante da divisão) – Apresentação e Análise de Dados da


que em nossa discussão optou-se por não Pesquisa
incluir, além disso, a questão do resto, mas Araújo (2010), relata que os sujeitos da
tratar apenas de divisões exatas. pesquisa são duas professoras de Matemática,
Araújo (2010), indica que no exemplo 45÷9 = sendo uma do 5o e outra do 6o Ano do Ensino
5, temos que 45 e o dividendo, 9 e o divisor e 5 Fundamental. Ambas lecionam em uma Escola
e o quociente. No tocante a uma relação de Estadual localizada na zona urbana da cidade de
distribuição, visualizar problemas de divisão Cajazeiras, na Paraíba.
envolve considerar as relações entre o número A escola selecionada foi denominada como
que será dividido e o número por quem se quer Escola X, e funciona nos três turnos, atendendo
dividir. Neste sentido, se queremos saber qual aproximadamente 1026 alunos (dados de
é a compreensão das crianças acerca dessas 2009), em uma etapa posterior, para coleta de
relações necessitamos saber se elas dados específicos, Araújo (2010), selecionou
compreendem e entendem que existe uma uma turma do 5o ano da escola, pois nessa série
relação inversa entre o número de receptores e o aluno trabalha de modo sistemático e formal
o tamanho das partes. Em outras palavras, com o conceito de número fracionário, e uma
precisamos saber se as crianças entendem as do 6° ano, quando o aluno retoma esse
consequências do tamanho de n em n cortes, conceito de forma mais analítica, ou seja, o
ou seja, quanto maior o número n de partes em mesmo deverá trabalhar com as operações
que se divide uma unidade, menores serão os envolvendo frações ― adição, subtração,
tamanhos dessas partes, e vice-versa. multiplicação e divisão ― fazendo uso dos
Uma das questões que foi levada em conceitos que tiver elaborado anteriormente.
consideração por Araújo (2010), ao analisar a As duas turmas funcionaram no período
compreensão que as crianças têm de divisão, e vespertino, no ano de 2009.
se as crianças novas podem entender essas Segundo Araújo, (2010), relata que a coleta
relações em uma situação de divisão mesmo de dados foi realizada com base na observação
antes de poder, no real, calcular totais de uma direta e sistemática das aulas; nos planos de
divisão. Até o momento foi verificado curso e de aula; nos livros-didáticos usados
repetidamente que as crianças compreendem pelas professoras das duas séries e do
relações antes que possam realmente lidar com questionário a elas aplicados. As duas
valores absolutos; isto é verdade para medida, professoras foram nomeadas de “Professora A”
comparações em situações aditivas, e “Professora B”, e manteve suas identidades
correspondência um ― para ― muitos e preservadas, de acordo com a recomendação
quantidades intensivas. do Conselho de Ética.
Araújo (2010), introduz na pesquisa muitos
exemplos de atividades envolvendo frações de Análise geral das aulas das professoras
outros pesquisadores e suas respectivas Araújo (2010), analisou que de acordo com
análises e os resumos dos resultados. as observações das aulas do 5o Ano, levando
em consideração os “problemas e perspectivas

1626
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

do ensino dos números fracionários”, quanto à comprometem sua formação em um


prática pedagógica, foi percebido que a importante objetivo da Matemática para a
professora A apresentou diversas dificuldades Educação Básica. Este foco é utilizado pelo IDEB
em sala de aula. A forma como o estudo e para avaliação do processo de
introduzido, não oportuniza ao aluno entender ensino/aprendizagem dessa disciplina, mas,
frações de maneira contextualizada, mesmo havendo nas Escolas uma
relacionada com o seu cotidiano. recomendação de que esse elemento seja
Araújo (2010), aponta também as trabalhado em sala de aula, na pratica isso não
deficiências de formação relativas ao vem acontecendo. Em nosso campo da
tratamento do conteúdo matemático em tela, pesquisa, especificamente no ensino de
por não ter uma formação especifica reforçada números fracionários, foi constatada uma
pelo fato da escola não promover a formação grande lacuna quanto a essa questão. Ficou
continuada do quadro, o que poderia contribuir compreendido que uma importante
para diminuir um pouco o problema e melhorar justificativa para o problema esteja relacionada
sua pratica pedagógica. à formação inicial e continuada dos professores
Segundo Araújo (2010), a Professora B de Matemática, que talvez não contemplem
reproduz a mesma sistemática que e apontada essa perspectiva de ação metodológica com a
como problema no PCN (1998), que apontam as profundidade que deveriam. Outro aspecto
necessidades do professor organizar seu considerado diz respeito a lacunas na formação
trabalho, de modo que os alunos desenvolvam do aluno, não apenas quanto a conteúdos
sua própria capacidade para construir anteriores de Matemática que funcionem como
conhecimentos matemáticos e interagir de base para a elaboração de novos
forma cooperativa com seus pares, na busca de conhecimentos, mas também quanto a sua
soluções para problemas, respeitando o modo capacidade de leitura e interpretação de textos.
de pensar dos colegas e aprendendo com eles, É Destacamos, nesse sentido, que há críticas
pois é importante que os alunos sejam diversas relacionadas aos critérios utilizados
estimulados a construir e analisar diferentes para avaliar o desempenho dos alunos em
processos de resolução de situações-problema Matemática, em avaliações oficiais, mas,
e compará-los. apesar das críticas, avaliações de grande
Araújo (2010), salienta que além dos abrangência territorial, como as que têm
problemas relativos à notação, em nenhum acontecido, servem para identificar um perfil
momento as duas professoras estimularam o geral da situação do ensino brasileiro, pelo
desenvolvimento de atividades pelos alunos, menos nos aspectos considerados nas
em pequenos grupos, ou discutiu como haviam avaliações. No caso especifico de nossa
resolvido quais as dúvidas que tiveram, entre pesquisa, o baixo índice alcançado pela Escola,
muitos outros direcionamentos possíveis. no IDEB, considerando-se o valor mais alto que
Araújo (2010), ressalta que as duas poderia ser alcançado, revelou coerência com
professoras, ao não estimularem nos alunos a os resultados que encontramos, apontando
capacidade de resolverem problemas, problemas diversos no ensino de Matemática,

1627
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ainda que relativos a um conteúdo especifico, elementos, isto é, possibilitar a construção de


no caso, frações. Em todo caso, faz-se significado para aquilo que o aluno aprende. A
necessário não definir o perfil de uma Escola elaboração de significados auxiliará o
apenas com base nos dados do IDEB, e estabelecimento de relações entre conceitos
considerar outros parâmetros, relativos a matemáticos e sua aplicabilidade em situações
outros tipos de conhecimento. fora da sala de aula.
Araújo (2010), ressalta a importância de que
Conclusão da Pesquisa o conhecimento matemático seja apresentado
Araújo (2010), relata que o objetivo central aos alunos como sendo historicamente
foi identificar os possíveis problemas, construído e em permanente evolução, em
limitações e perspectivas para o ensino de contraposição a prática mais frequente no
números fracionários no 5° e no 6° anos do ensino de Matemática, na qual o professor
Ensino Fundamental de uma escola apresenta o conteúdo partindo de definições,
cajazeirense, a fim de analisar como são exemplos e demonstrações de propriedades,
ensinados os conteúdos relativos aos números seguindo-se um conjunto de exercícios de
fracionários nesses anos. Em particular, fixação. Tal estrutura tem como proposta a
verificaram-se as práticas de ensino dos aprendizagem pela reprodução mecânica. Essa
professores que promoviam a aplicação desses prática de ensino mostrou-se ineficaz, pois
conhecimentos a conteúdos de outras poderá no máximo indicar se o aluno é capaz de
disciplinas ou situações do cotidiano ou se a reproduzir respostas em situações semelhantes
elas faziam referência. às que lhe foram apresentadas, mas não
De acordo com a análise dos dados, Araújo apontam se, e até onde ele compreendeu o
(2010), realizou uma investigação, afirmando conteúdo estudado.
que a melhoria da formação matemática dos Araújo (2010), destaca que os professores,
alunos da Educação Básica e, em particular, do alunos e conteúdo que fizeram parte do estudo,
Ensino Fundamental, não depende de ações registraram algumas considerações que foram
isoladas, mas de um conjunto de ações que consideradas particulares no estudo de caso,
visem a dinamização do ensino de Matemática. mas generalizáveis para muitos outros
A peça chave e o professor, que necessita professores e conteúdos do Ensino
assumir um novo papel no processo de ensino- Fundamental, feitas as ressalvas necessárias.
aprendizagem, o de mediador ou facilitar da Uma delas diz respeitos às dificuldades
elaboração do conhecimento para o aluno. observadas em relação ao ensino de
Araújo (2010), afirma que o fazer pedagógico Matemática, foi constatada que a presença de
do professor precisa ter como objetivo levar o problemas de diversas ordens, dentro eles, os
aluno a perceber que a Matemática faz parte do relacionados ao domínio conceitual do
seu dia-a-dia, uma vez que no contexto conteúdo a ser trabalhado com os alunos.
sociocultural no qual o aluno está inserido os Araújo (2010), enfatiza que uma vez que,
elementos matemáticos estão sempre sem o domínio adequado dos elementos
presentes, e promover a compreensão de tais conceituais não é possível estabelecer critérios

1628
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

adequados de escolha metodológica para a No que se refere ao desenvolvimento dos


abordagem de um conteúdo, os problemas se processos de ensino no âmbito das relações
somaram. Deste modo, torna-se muito difícil fracionárias, Araújo (2010), evidencia a falta de
que o professor consiga fazer da Matemática domínio matemático do professor sobre o
uma disciplina que desperte o interesse dos tema, especialmente em relação a resolução de
alunos e, sobretudo, possa torná-la uma ciência problemas envolvendo frações, bem como
que ajude a resolver problemas com os quais relativos as operações fracionárias, destacando
lidamos em nosso cotidiano. como mais acentuada a divisão de um número
Araújo (2010), esclarece que o referencial inteiro por um número fracionário.
teórico apontou na direção da possibilidade de Araújo (2010), demonstra os muitos fatores
ampliação da compreensão conceitual na que influenciam (negativamente) a
Matemática, em particular de conceitos básicos aprendizagem do aluno na disciplina, dentre
trabalhados nos anos iniciais do Ensino eles o despreparo do professor em relação a
Fundamental, utilizando-se de materiais sua formação matemática, o que é agravado
concretos e atividades lúdicas, que permitiam o pelo fato de termos professores de outras áreas
estabelecimento de relações entre a teoria e a ensinando Matemática. Tais deficiências de
prática e possibilitou ao educando melhores formação levam a falta de criatividade do
condições de aprendizagem. Mas para que o professor em explorar as experiências que a
uso de materiais manipulativos e lúdicos criança traz para a sala de aula e em
tenham qualidade é preciso que o professor desenvolver o raciocínio lógico do aluno, uma
tenha uma formação adequada e compreenda vez que explora adequadamente a relação
que o aluno possui uma dinâmica própria de entre aquilo que o aluno aprende e os
elaboração de conceitos, potencial na busca de problemas e situações numéricas presentes no
novos níveis de conhecimentos, que é ativo e cotidiano.
necessita de motivação para aprender. Araújo (2010), salienta que ao iniciar o
Araújo (2010), considera, particularmente, ensino dos números fracionários, é preciso
no ensino de frações que é necessário que o pensar práticas, métodos, metodologias e
professor compreenda sua importância não só estratégias de ensino a serem utilizadas, sendo
para o desenvolvimento matemático do aluno, tal reflexão essencial para a definição do ponto
mas também porque os esquemas de de chegada no ensino e aprendizagem desse
pensamento utilizados na aprendizagem dos conteúdo, sem esquecer o ponto de partida dos
números fracionários são diferentes dos alunos, constituídos por suas experiências
necessários para o trabalho com os números anteriores com a operação de divisão, as
naturais, devido a própria natureza desses noções de metade e a relação das partes com o
números. Assim, seu estudo pode proporcionar todo.
um desenvolvimento cognitivo mais amplo, Araújo (2010), afirma que propor situações
possibilitando novos recursos para resoluções em que o aluno é levado a fazer subdivisões de
de outros tipos de situações, além das que o um mesmo inteiro, comparações entre essas
aluno já conhece. subdivisões, problemas de divisão em que o

1629
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

resto às vezes pode ser subdivido, às vezes não, organizado – o professor sabendo o que, para
são exemplos de atividades que se bem que, para quem e como ira ensinar.
exploradas no início do estudo de frações,
podem levar o aluno a reconhecer e utilizar
adequadamente a escrita dos números
racionais, ainda que de forma não
convencional. O domínio da representação
auxiliará a construção de significado para as
operações, o que se dará na sequência e, nesse
momento, o acompanhamento do trabalho
realizado pelo aluno é de fundamental
importância para que o professor possa atuar
como mediador da aprendizagem.
Araújo (2010), evidencia que o diagnóstico
dos avanços e dificuldades que persistem na
aprendizagem dos números fracionários
encaminhará na direção da proposição de
atividades e na seleção de metodologias
adequadas à aquisição de novos conceitos
matemáticos pelo aluno. Mesmo entendendo
que o planejamento das estratégias de ensino
pode se dar com o auxílio de guias curriculares,
livros didáticos e materiais instrucionais,
creditamos ao professor o protagonismo do
processo, pois são eles que irão agir na
transformação do conteúdo, adaptando o saber
escolar já determinado a um saber que deverá
ser ensinado, conciliando os objetivos de
ensino com os conhecimentos prévios dos
alunos e organizando-os para que ele se dê de
modo gradual e significativo.
Araújo (2010), conclui defendendo que os
conceitos matemáticos podem e devem ser
elaborados a partir de experiências já
adquiridas pelos alunos e se caracterizam por
sua generalidade, diferenciação, abstração e
simbolização, passíveis de elaboração, uma vez
que o espaço educativo esteja devidamente

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisamos várias vertentes na resolução de problemas com números fracionários. Na
primeira parte foram analisadas duas coleções do Ensino Fundamental II e por meio destas,
procuramos uma proposta concreta e eficiente para tal objetivo.
As coleções analisadas, apesar de estarem de acordo com o PCN (1998), no qual os
conceitos são constantemente retomados e ampliados em níveis progressivamente mais
complexos, deixavam a desejar na sua diversidade. De modo geral os objetivos propostos são
praticamente os mesmos e isso torna o processo limitado e frustrante, pois faz com que os alunos
não criem conexões matemáticas importantes no ensino de frações por meio da resolução de
problemas.
Apresentamos como referencial teórico, uma investigação consistente em que fosse
analisada a resolução de problemas, ensino de frações e análise dos docentes no processo como
um todo.
O estudo das frações é de grande importância, pois é um dos conteúdos essenciais no
processo de aprendizagem do ensino fundamental, e analisando todo o trabalho, ficou evidente
que a proposição de atividades, as metodologias inadequadas e principalmente a falta de uma
política de desenvolvimento profissional do professor, acaba tornando o conteúdo de frações
muito desinteressante e frustrante para o aluno.
Em relação à resolução de problemas, que é um método eficaz para desenvolver o
raciocínio e para motivar os alunos para o estudo da Matemática, evidenciamos que ainda não há
um processo eficiente e concreto na educação brasileira.
É importante salientar que o conhecimento matemático deva ser apresentado aos alunos
como sendo historicamente construído e em permanente evolução, assim facilitando o ensino e
oportunizando momentos únicos em que os alunos tenham uma participação efetiva na
construção de seu próprio conhecimento.

1631
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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FORMAÇÃO DO ENGENHEIRO
Sarah Gomes Silveira Guimarães1
Ernande da Costa e Silva Filho 2
Daniele de Castro Pessoa de Melo 3
Loiva Liana Santos Borba 4

RESUMO: Com o aumento da tecnologia e a necessidade do crescimento social, tecnológico e


econômico a necessidade de preservar o meio ambiente tornou-se cada vez mais evidente, sem
o meio ambiente seria impossível extrair os recursos necessários para o desenvolvimento. Em
todas as profissões é necessário estudar e participar do desenvolvimento ambiental, mas o
engenheiro tem a necessidade muito maior de promover o desenvolvimento sustentável, é um
padrão esperado na formação do engenheiro. O objetivo deste trabalho foi discutir sobre a
responsabilidade ambiental por meio de uma revisão bibliográfica na formação do engenheiro,
enfatizando no que seria essa responsabilidade, os fatores que comprometem o meio ambiente,
o papel da universidade no desenvolvimento da responsabilidade ambiental e sua importância da
mesma na formação do profissional de engenharia.

Palavras-Chave: Meio ambiente; Formação profissional; Engenharia.

1 Graduando de Engenharia Elétrica da UNIBRATEC.


E-mail: sarahgsg@hotmail.com
2 Graduando em Engenharia Elétrica da UNIBRATEC.

E-mail:ernandef@gmail.com
3 Docente Orientadora de Nível superior da UNIBRATEC.

Graduação: Engenharia Química.


4 Docente Orientadora; Centro Universitário Joaquim Nabuco.

Email: loivaliana@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO engenheiro é componente primordial. A


questão da sustentabilidade colocam os
A Necessidade de proteção ao meio engenheiro sem condições específicas para que
ambiente fica evidente quando estudamos as a capacitação cada vez mais melhore, além do
mudanças climáticas e os desastres ambientais treinamento e execução de normas
nas últimas décadas. Várias profissões tem se relacionadas ao meio ambiente em sua
engajado na busca de soluções sustentáveis profissão (GUTIERREZ-MARTIN; HUTTENHAIN,
para os impactos da ação humana, entre estes 2003).
setores podemos destacar a engenharia O incentivo à pesquisa na área de engenharia
(CREMASC, 2011). A engenharia é uma das assim como em algumas outras áreas tem
grandes causadoras de impactos ambientais, apontado diversas alternativas na busca de
acentuando-se devido ao aumento da soluções sustentáveis. Um exemplo é o
população que necessidade de mais moradia, biodiesel, opção sustentável que atinge
saneamento básico. Com relação à moradia o diretamente os engenheiros. Pensou-se com o
aumento do poder aquisitivo impulsionou o biodiesel em uma opção de matéria-prima
mercado imobiliário, fazendo do ramo um setor menos poluente, gestão e redução dos
em expansão, provocando mais
resíduos, tratamento, reaproveitamento e
desmatamentos e ocupações indevidas. reciclagem (CIB, 2000). Esses conceitos
Podemos enfatizar também que a engenharia é exemplificados devem ser levados para todas
um dos setores que mais gasta recursos as áreas da engenharia, além de projetos que
naturais e que se não tivermos controle com o levam em consideração a importância de áreas
passar do tempo podem ficar escassos arborizada, reaproveitamento de águas
(SHEBAIJ, 2008). pluviais.
O desenvolvimento de uma sociedade Devido à grande necessidade de se conhecer
sustentável tem como premissa à utilização a necessidade da responsabilidade ambiental
desses conceitos na engenharia, pelo setor serna formação do engenheiro e a baixa produção
um dos grandes consumidores de energia e bibliográfica na área, foi elaborado este
recursos naturais. A engenharia também é uma trabalho que tem por objetivo discutir a
potencial geradora de resíduos e a diminuição respeito da responsabilidade ambiental na
e reutilização é essencial para o
formação do engenheiro, esperando contribuir
desenvolvimento sustentável do setor (SILVA etcom uma nova postura desse profissional
al., 2003). A evolução do tema sustentabilidade
quando se refere ao meio ambiente
de uma forma geral na sociedade, e (CREMASCO, 2011).
especificamente no setor da engenharia,
determina a importância e mostra que a
RESPONSABILIDADE
sociedade está preocupada com o meio
ambiente (JOHN et al., 2001). AMBIENTAL
Segundo Gutierrez-Martín e Dahab (1998), a O primeiro conceito de sustentabilidade foi
educação ambiental na formação do elaborado Conferência das Nações Unidas

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

(1972) sobre o meio ambiente, realizada em em nosso cotidiano, elas devem partir desde
Estocolmo/Suíça. O objetivo foi discutir simples ações individuais até grandes ações
medidas que chamassem atenção internacional empresariais e governamentais. Os fatores que
para as questões da degradação ambiental com comprometem o meio ambiente em geral são:
a presença de representantes governamentais, • Poluição da água, ar e solo.
líderes empresariais, representantes da • Queimadas.
sociedade e membros da comissão mundial • Desmatamento
sobre meio ambiente e desenvolvimento da • Geração de resíduos sólidos.
ONU (Organização das Nações Unidas). • Desertificação do solo.
Em 1987 houve divulgação das definições de Sendo assim, deve-se ter consciência
desenvolvimento sustentável que segundo o ambiental voltada para reduzir esses fatores
Relatório Brundtland é o desenvolvimento que que são nocivos não só pro meio ambiente
satisfaz as necessidades presentes, sem como também para toda a sociedade atual e
comprometer a capacidade das gerações futura.
futuras de suprir suas próprias necessidades. Já
a sustentabilidade é uma expressão utilizada
O ENGENHEIRO
para definir ações e atividades humanas ela
Os engenheiros devem compreender e
está relacionada ao desenvolvimento
corresponder aos desafios do desenvolvimento
econômico e material sem agredir o meio
sustentável, devido aos riscos ambientais,
ambiente. O objetivo é usar os recursos
resultantes de mudanças ambiental, social e
naturais de uma forma para que as gerações
tecnológica. A engenharia é percebida como
futuras não sofram com a falta (LICÓRIO, et al,
uma das principais áreas contributivas para a
2014).
formação de uma sociedade sustentável
A palavra sustentabilidade vem de sustentar
(LICÓRIO, et al, 2014).
que segundo o dicionário Aurélio significa
A engenharia forma o profissional que
“suportar, apoiar, manter “. Neste contexto a
combina conhecimentos empíricos, científico,
sustentabilidade se apoia em três pilares:
matemáticos, técnicos e da economia para
ambiental, econômico e social. As ações
solucionar problemas técnicos, modificando
“sustentáveis” devem assegurar a preservação
mecanismos, produtos, estruturas, processos,
da biodiversidade e dos ecossistemas naturais.
de forma adequada a suprir às necessidades
Atuando do ponto de vista social, econômico e
dos seres e do ambiente que o cerca. Esses
ambiental (Organização das Nações Unidas,
profissionais devem estar preparados para
1972).
elaboração e implementação de projetos
Segundo à Organização das nações unidas,
ambientais viáveis, que demande soluções para
1972, podemos dizer que o conceito mais usado
os problemas atuais, para que as gerações
de Responsabilidade Ambiental é: um conjunto
futuras não sofram (LEANDRO; NEFTA, 2014).
de atitudes de sustentabilidade, voltado para o
A educação em engenharia propõe uma nova
desenvolvimento sustentável do planeta. Ter
forma de ensinar por meio de metodologias
responsabilidade ambiental são fundamentais
criativas, inovadoras e articuladas com as

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

demandas emergenciais da sociedade para que As faculdades de engenharia proporcionam aos


o aluno desenvolva suas tarefas com total estudantes não só disciplinas específicas para
responsabilidade, seja qual for à área de meio ambiente, mas também é preciso um
atuação da engenharia, transcendendo olhar interdisciplinar, para que as outras
discursos e modelos teóricos para disciplinas não fiquem dissociadas do tema.
implementação de uma sociedade sustentável Dessa forma entende-se que a universidade é
(LEANDRO; NEFTA, 2014). um pilar importante na construção da
Segundo Sattler (2000), à inserção da consciência ecológica e no incentivo das ações
sustentabilidade nas práticas da engenharia ecologicamente corretas do engenheiro. A
dependem não só do profissional, mas de todo universidade é reconhecida como o espaço de
um setor necessitando de conhecimento e grande relevância para a produção do saber
envolvimento dos profissionais que nele atuam. intelectual, na qual sua função não se restringe
A tendência é que alternativas sustentáveis em apenas propagar o conhecimento e
sejam cada vez mais frequentes na engenharia preparar profissionais (LICÓRIO, et al, 2014).
e é de extrema importância que os futuros Contudo, segundo Davison et al. (2007),
profissionais tenham consciência e poucas escolas de engenharia fizeram grandes
conhecimento sobre o assunto (LIBRELOTTO e atualizações para os seus cursos e currículos ao
FERROLI, 2008). longo das últimas décadas. Só recentemente é
Portanto, o aprimoramento dos cursos de que as faculdades começaram a incluir tópicos
engenharia quanto à educação e de engenharia sustentável em seu material,
conscientização dos alunos é premissa para a como a avaliação do ciclo de vida, conceitos de
formação de profissionais informados e energia renovável e métodos de minimização
conscientes, capazes de contribuir para a de resíduos. A quantidade de tempo
inserção da sustentabilidade no setor (CIB, necessária para atualizações nos currículos é
2000). bastante grande. Estas alterações são
normalmente dificultadas em função de os
RESPONSABILIDADE currículos dos cursos já estarem lotados, e pela
a falta de um senso de prioridade sobre tais
AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DO alterações (BOYLE, 1999). A essência da
ENGENHEIRO universidade está em manter uma atmosfera
A consciência ambiental cresceu do saber, para preparar o homem e o
significativamente nas últimas décadas. Na desenvolver de forma a conservar o saber vivo
engenharia, observamos que os consumidores e de formular a experiência humana de forma
têm dado preferência a condomínios intelectual. Nas palavras de Anísio Teixeira,
ecologicamente corretos e preferem o trabalho apud, Castro, Ronaldo Souza de (2000):
de empresas que prezam pelo meio ambiente. A universidade é, em essência, a reunião
Não se pode esquecer a necessidade do papel entre os que sabem e os que desejam aprender.
que a universidade desempenha para que o Há toda uma iniciação a se fazer. Essa iniciação
engenheiro tenha uma formação nesse sentido. (...) se faz em uma atmosfera que cultive,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

sobretudo, a imaginação... Cultivar imaginação asfalto borracha. Essas são alternativas para
é cultivar a capacidade de dar sentido e diminuição de impactos ambientais causados
significado ás coisas. (...); a vida humana é... à pelo acumulo de pneus no meio ambiente.
sublime inquietação de conhecer e de fazer. É Também possuindo mais resistência que os
essa inquietação de compreender e de aplicar métodos convencionais de construção
que encontrou afinal a sua casa. A casa de onde (LICÓRIO, et al, 2014).
se acolhe toda a nossa sede de saber e toda a Então, a importância da responsabilidade
nossa sede de melhorar é a universidade ambiental na formação do engenheiro é
(TEIXEIRA & NUNES, 1998, p. 88;9). indispensável, pois é na formação dos
A universidade é a instituição de profissionais que se deve das iniciativas às
fundamental importância não só na formação práticas, que o tornam consciente das boas
de engenheiros com consciência de práticas de éticas e responsabilidade ambiental
responsabilidade ambiental, como também na (LICÓRIO, et al, 2014).
formação de outros profissionais com esta
consciência. (CASTRO, 2000). METODOLOGIA
Um exemplo de “selo verde”, que é dado
A metodologia utilizada se baseou em uma
pelos engenheiros a construção civil é o LEED,
pesquisa bibliográfica em periódicos
certificado criado pela ONG americana USGBC
especializados, por meio dos bancos de dados
(United States Green Building Council, 2014), o
do LILACS e PERIÓDICOS CAPES.
certificado concede pontuações a itens de
Os descritores usados foram: formação do
sustentabilidade na construção de edificações.
engenheiro, engenharia sustentável, Legislação
Para se conseguir o certificado de Green
ambiental aplicada a engenharia. Os artigos
Building (Construção Verde) é necessário se
repetidos foram eliminados.
seguir pré-requisitos básicos do certificado, tais
como:
• Trata em reduzir a poluição nas atividades RESULTADOS
de construção. Como resultado da revisão bibliográfica
• Ele estabelece economia de energia para o podemos descrever que de acordo com os
prédio e seus sistemas. artigos que as atividades nos diversos
• Tem como objetivo também não destruir a segmentos da engenharia, visam melhoria das
camada de ozônio, não usando CFC (Composto condições de vida da população. O engenheiro
químico que contêm carbono, cloro e flúor, nos precisa aperfeiçoar métodos e técnicas de
sistemas de ar condicionado das edificações). construção como de uso e ocupação do solo,
• Prever no projeto das construções espaços quer seja ele rural ou urbano. Existem projetos
para coleta seletiva de lixo. inadequados que não se preocupam com os
No Brasil, temos a USGBC é representado impactos ambientais, têm frequentemente
pelo GBC Brasil, que apoia e difunde a resultado em sérios prejuízos para a
certificação LEED. Essa organização apoia e humanidade, muitas vezes irreversíveis (MOTA,
diminui impostos de construções de edificações 2000).
de alvenarias feitas de tijolos de pneus
recicláveis e estradas com pavimentação de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A universidade é sem dúvidas a principal fonte encaminhadora do processo de
desenvolvimento da responsabilidade ambiental na formação do engenheiro. O engenheiro deve
estar atento às mudanças na situação ambiental em que se encontra, adaptando-se a elas,
buscando novas soluções, novos projetos para os problemas encontrados. A responsabilidade
ambiental do engenheiro não é somente um diferencial, é uma obrigação do engenheiro.

1639
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Production, v. 7, p. 83;87, 1999.

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CREMASCO, Marcos Aurélio. A responsabilidade social na formação de engenheiros. 4. ed.


Cortez editora, 2011.

CROFTON F.S. Educating for sustainability: opportunities in undergraduate Engineering.


In: Journal of Cleaner Production, v. 8, p. 397;405, 2000.

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Santa Catarina, 2009.

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no NORIE/UFRGS. In: CIB Symposium on Construction & Environment - Theory into Practice,
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1640
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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SHEBAIJ, V. L. Responsabilidade social do engenheiro, do arquiteto, do engenheiro


agrônomo. Nº 06, Curitiba, 2008.

1641
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SER PROFESSOR UNIVERSITÁRIO


Maria Aparecida da Cruz de Meira Moreira1

RESUMO: Este artigo tem o objetivo de fazer um breve relato do que é ser um professor e ainda
professor universitário, como surgiu e ocorreu a formação do professor universitário no Brasil,
seus reflexos no sistema educacional, sua identidade e ainda as relações aluno e professor no
ambiente escolar.

Palavras-Chave: Docência no Ensino Superior; Formação docente; Prática docente; Relação


professor-aluno.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em História; Especialização em Gestão Escolar.
E-mail: meiramoreira@hotmail.com

1642
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO aprendizagem, ressaltando o contexto afetivo e


emocional na interação em sala de aula.
O que é ser professor e ainda o que é ser Diante dos desafios contemporâneos da
professor que “prepara” outros professores! A profissão de professor, convém uma prática
profissão de professor no Brasil começou como reflexiva tanto da dimensão pessoal quanto da
uma necessidade para suprir o aumento de dimensão social, pois nas profissões que lidam
vagas abertas pelas Instituições e Faculdades diretamente com pessoas é preciso aceitar que
de Filosofias. Os interessados deveriam fazer haverá fracassos, mas que o professor, como
um curso de bacharel para depois fazer ator social insubstituível da relação pedagógica,
disciplinas pedagógicas e mesmo assim, o conta acima de tudo consigo mesmo e, assim
sistema educacional não era atrativo. sendo, precisa constantemente se auto avaliar.
Dentro do exercício da docência é exigido do
professor algumas qualificações e,
BREVE HISTÓRIA DO ENSINO
especificamente no ensino superior,
observamos a valorização das qualificações SUPERIOR
acadêmicas, pesquisas e titulações, em O ensino superior no Brasil começou em
detrimento das qualificações pedagógicas e 1930, especificamente em São Paulo e no Rio
interpessoais. de Janeiro, por meio do Decreto 19.8512 de 11
1

Este artigo aborda primeiramente a de abril de 1931, do Ministro da Educação e


problemática profissional do professor no Saúde Pública Francisco Campos, dando
ensino superior, quanto à afirmação de sua responsabilidades as Universidades na
identidade e as condições do exercício formação de predecessores do ensino
profissional resultantes de uma ausência de secundário, hoje conhecido como ensino
uma formação inicial e continuada que sele a médio.
capacidade autodidata do professor, Foi criada a Faculdade Ciências e Letras com
constatada como insuficiente frente ao novo o objetivo de formar professores secundários
modelo de sociedade e seus paradigmas com a produção de conhecimento e a pratica de
emergentes. pesquisa.
Considerando as interfaces subjacentes a A reforma de Francisco Campos abrangia em
essa discussão, retoma-se a importância da sua organização dois momentos: a formação
universidade em investir na formação pelo sistema oficial, mantidos pelos órgãos
continuada calcada no ensino, pesquisa e públicos e particulares e outra por institutos
extensão, conforme as metas e objetivos do isolados, fazendo que o próprio Francisco
projeto pedagógico. Campos afirmasse: “O ensino no Brasil é um
E também levanta a discussão em torno da ensino sem professores, isto é, em que os
importância das relações interpessoais entre professores criam a si mesmos, e toda a nossa
professores e alunos no processo ensino- cultura é puramente autodidata” (Exposição de
motivos do ministro Francisco Campos sobre a

2
Dispõe sobre o Ensino Superior no Brasil.

1643
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

reforma do ensino superior, Diário Oficial, de 15 Educação de São Paulo foi incorporado à
de abril de 1932, apud CACETE, 2010). Universidade de São Paulo.
Segundo Cacete (2010), a Faculdade de Não havia uma formação especifica das
Educação e Letras teria que ser um Instituto de faculdades para a formação de professores,
Educação, com função: eles teriam que primeiro fazer o bacharel para
• Formação de professores para escola depois cursar as disciplinas de licenciatura,
secundária; estabelecendo assim, uma hierarquização dos
• Produção de conhecimento; estudos em que a formação pedagógica tinha
• Pratica da pesquisa. um caráter complementar e prático.
Faculdade de Educação e Letra, não “saiu do Provocando desprestigio os próprios cursos de
papel”, sendo criadas as faculdades ciências e formação de professores.
letras, que tinham seus princípios no modelo Neste sistema, os futuros professores
alemão e tendo como ideologia as ciências e as frequentam nos institutos ou departamentos
humanidades e sendo preparatória para a exatamente os mesmos cursos que seus
teologia, direito e medicina. colegas pretendentes a outras carreiras que
uma tentativa de dar organicidade e um não o magistério. (...) Só então passam a
caráter de universalidade ao incipiente ensino frequentar a Faculdade de Educação,
superior brasileiro. O ideal da pesquisa preparando para a carreira escolhida
científica pura em um sistema tradicionalmente (LAUWERYS, p. 313;314, apud, CACETE, 2010).
profissionalizante e a introdução dos estudos Em 1960 com acentuadas críticas com
pedagógicos como condição para a formação relação à formação de professores secundários
de professores para a escola secundária em nas faculdades de filosofias e com o seu
nível superior configuravam o ineditismo da crescimento, principalmente no setor privado
reforma, que, entretanto, não se concretizou. do ensino superior , faltavam professores para
Assim, a ideia de uma unidade universitária suprir esse crescimento e os mesmo não iam
especialmente voltada à formação pedagógica para carreira do magistério, fazendo que
não se efetivou (CACETE, 2010, p. 1064). qualquer um que tivesse um curso superior
Em 1934 surge a Universidade de São Paulo, poderia exercer a função de professor.
produto de projetos políticos e ideológicos da Essa situação que era para ser emergencial e
elite paulista, talvez, justifique até hoje a acabou tornando um regime permanente de
segregação da USP com relação às classes emergências (CACETE 2010), fazendo com que
menos favorecidas. Cacete (2010), a mudanças deveriam ser feitas no sistema
Universidade se implantava com uma missão, estrutural das faculdades de filosofia, surgindo
que era formar as elites intelectuais e os institutos e faculdades que assumissem a
dirigentes do país. Não tinha cursos para formação profissional nas áreas de
formação de professores (educação), eles conhecimento, além da criação do Conselho
começaram a aparecer, por situações Federal de Educação (CFE). Fazendo com que a
(pressões) da época, quando o Instituto de licenciatura e o bacharelado seriam diferentes
e ainda não era mais exigido a presença de

1644
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

faculdade de filosofia para a constituição das dificuldades que não são previsíveis e passíveis
universidades (LDB 4.024,1961). ao exercício da prática docente.
Consolidava-se, assim, uma tendência de No geral, os professores que por razões e
separação de licenciatura e bacharelado, interesses variados, adentram no campo
buscando promover as mudanças exigidas em universitário, são de variados conhecimentos e
função das críticas formuladas (CACETE, 2010, áreas de atuação e em sua maioria, não tiveram
p.1072). nenhum contato anterior com os
conhecimentos nas áreas das Ciências humanas
IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO e sociais, para compreender, interpretar e
aplicar a prática, numa perspectiva filosófica e
NA DOCÊNCIA DO ENSINO política de educação como processo e produto
SUPERIOR que as várias correntes de pensamento dão a
No contexto de ampla discussão acerca da esses termos.
formação do professor universitário e as Partindo desse princípio, percebemos a
condições pelas quais esses profissionais vivência efetiva que as universidades
ingressam na vida acadêmica, surgem reflexões enfrentam quando o seu corpo docente é
sob os diferentes enfoques e paradigmas composto, em sua maioria, de principiantes na
relativos aos saberes pedagógicos e docência do ensino superior e nunca tiveram
epistemológicos que mobilizam a docência contato com uma formação pedagógica que
gerando assim, uma tensão explícita no bojo abarcasse os conhecimentos teóricos e práticos
das universidades que cada vez mais têm relativos às questões do ensino e aprendizagem
recebido professores sem experiência prévia na em sua contextualização, tais como: o aluno –
função de docente do ensino superior, além dos sujeito do processo de socialização do saber; o
diversos professores que, apesar de esboçarem professor – agente de formação, e o contexto-
um excelente referencial teórico, necessitam, lócus, no qual ocorre o saber e as relações que
entretanto, rever sua prática pedagógica. se travam entre suas interdependências.
Retomar essa temática implica Dessa forma, no percurso de suas ações e no
aprofundarmos nossa discussão em torno das âmago do seu senso comum pedagógico, o
exigências cada vez mais complexas na docente aloca sua práxis educativa,
preparação dos professores universitários para desarticulada com as finalidades sócio político
o ingresso no magistério superior que sobre e culturais do processo educativo.
passa a formação inicial numa área específica Sendo assim, é preciso apontar algumas
do conhecimento. Ficando nítido, portanto, saídas entre as quais, o desenvolvimento
que a ausência dessa formação pedagógica vem profissional, como aporte para o domínio dos
delegar um peso enorme a esses professores saberes didático e o entrelaçamento da
frente às interfaces do “que ensinar” “como competência acadêmica com a competência
ensinar” e a “quem ensinar”, os quais ao didática.
transitarem entre o amadorismo profissional e Atentos a essa questão, Pimenta e
a profissionalização, confrontam com várias Anastasiou (2002), referindo-se ao processo de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

docência do ensino superior, dizem que: O A formação pedagógica, pensada em termos


avançar no processo de docência e do acadêmicos e didáticos, surge num panorama
desenvolvimento profissional, mediante a de compreensão sobre qualidade do trabalho
preparação pedagógica não se dará em docente no recinto da sala de aula, ou seja, no
separado de processos de desenvolvimento contexto da ação, que não se restringe aos
pessoal e Institucional: este é o desafio a ser saberes, mas na capacidade do docente de agir
hoje, considerado na construção da docência em circunstâncias previstas ou não em seu
no ensino superior (p.259). plano de ação. Nesse sentido, os pressupostos
Essa constatação favorece a discussão da de Perrenoud (2002), quando define
formação continuada em serviço que deve competência como a faculdade de mobilizar um
referenciar a pessoa do docente como sujeito conjunto de recursos (cognitivos), visando
que ocupa espaços determinantes à abordar uma situação complexa e quando
transformação da sociedade, deslocando, referência em seus escritos as dez novas
assim, em primeira instância, sua preparação competências essenciais ao ensino do professor
pedagógica à conquista desse momento como enfatiza o administrar sua própria formação
espaço institucionalizado, no qual seu como âncora para que o docente possa navegar
desenvolvimento pessoal possa percorrer os os mares mais seguros do ensinar uma vez que,
diferentes espaços universitários. Para tanto, as turbulências da era globalizada, vão exigindo
faz-se necessário considerar, a princípio, que a destas mobilizações maiores para a ação,
especialidade da docência oriunda do projeto considerando que são os mesmos que
institucional, cuja habilitação deve vir constroem e reconstroem seus conhecimentos
articulada e legitimada pelo mesmo, a partir da práxis.
concedendo-lhe, assim consistência para o Acreditamos que, sem uma qualificação na
cultivo da competência didático - universitária. perspectiva da “pedagogia da competência”,
Retomando nossa linha de pensamento, fruto da vontade e do comprometimento
compreendemos que a função própria da inovador, nada é possível, porque é na
universidade é proporcionar momentos de dinâmica do saber e do agir que o docente
reflexões cujo objetivo seja a mediação à reconstrói os saberes do mais simples ao mais
construção e reconstrução dos conhecimentos, complexo, apoiado na qualidade organizada do
conjugando a qualidade formal com a saber, saber fazer e saber refazer sua prática de
qualidade política, componentes intrínsecos à modo crítico e criativo em face da realidade.
formação docente para delineá-lo do saber Entendemos por competência a condição de
pensar como condição subjetiva do homem de não apenas fazer, mas de saber fazer e
fazer sua história para a história; sobretudo de refazer permanentemente nossa
potencializando sua individualidade, relação com a sociedade e a natureza, usando
acreditando, como Demo (1998), que a como instrumentação crucial o conhecimento
universidade é, sobretudo sinônima de inovador. Mas que fazer oportunidade, trata-se
mutações, desafios, adversidades e confrontos de fazer-se oportunidade (DEMO, 1998, p.13).
com o mundo real.

1646
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Diante dessas afirmações, torna-se ensinado, se sua opção política é uma opção
imperativo que as universidades invistam na transformadora e se você é coerente com sua
formação efetiva do corpo docente para que opção (...), se e substantivamente democrática,
estes possam transformar as instituições em você não renuncia a seu trabalho de educador,
lócus de produção de ensino, pesquisa e você se afirma nele e desafia o educando a
extensão. Enfim, despertar a consciência de assumir-se como sujeito do processo de
uma nova identidade docente que leve e eleve conhecer (FREIRE 1990, p. 43).
a ampliação das concepções de ensino, Poucas profissões, em todo o mundo, gozam
permitindo um novo olhar e de tanto prestígio junto à sociedade quanto os
consequentemente, um novo docente. Freire professores, transmitir conhecimento à
(2002), compartilha com a opinião de que crianças ou adultos, é tido como um sacerdócio
ensinar exige rigorosidade metódica cuja tríade pela maioria das pessoas, como toda a
ensinar/ aprender/pesquisar são elementos sociedade, porém, o trabalho realizado pelos
inseparáveis uma das condições indispensáveis docentes - em todas as fases da vida estudantil
à valorização do conhecimento pedagógico. - sofreu profundas alterações nos últimos anos.
Reiteramos que o aprender e o ensinar são As bases para as transformações estão na
atividades unificadas pela relação que se própria evolução vivida no mundo e não apenas
estabelece entre o agente formador (professor) tecnológica, mas também de comportamento.
e o aprendiz (aluno) centrado em duas bases De certa forma, embora o próprio governo
unidirecional: interação e respeito. Sobre tenha tomado iniciativas para melhorar o nível
interação apontamos a relação gerada no dos professores, os grandes agentes de
âmbito do recinto da sala de aula, quando transformação têm sido os próprios. A rotina
apoiada na confiança e empatia mútua vivida dentro da sala de aula tem levado os
encontra no antagonismo de seus interesses e docentes a repensar métodos pedagógicos,
necessidades caminhos que os guiem ao instrumento de ensino usa de tecnologias e o
encontro harmonioso do eu-outro como relacionamento com os alunos.
condição inerente às aprendizagens. Quanto à Em meio à crise surgida pela deficiência da
segunda base, reflete as conquistas adquiridas Educação Básica, o professor ainda precisa lidar
nas circunstâncias vivenciadas e que foram se com os problemas normais da profissão. Em
consolidando por meio das relações e do determinados momentos, elementos
equilíbrio entre as emoções e os valores. "benéficos" como o avanço tecnológico ou a
velocidade da informação passam a ser uma
SER PROFESSOR, E PROFESSOR espada de dois gumes. Ao mesmo tempo em
que dão aos profissionais novas opções de
UNIVERSITÁRIO atuação, abrindo caminhos desconhecidos,
a opção política de alguém vai reveste-se de exigem constante renovação.
pedagogia (...). Se você tem uma política Mesmo adaptados ao uso da tecnologia,
reacionária, não há dúvida de que o papel do porém, os professores destacam a necessidade
educador é ensinar e do educando é ser de um contato efetivo com o aluno, pois por

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meio do contato pessoal obtém se mais Em uma aula, na qual o professor é


chances de aprendizagem. extremamente teórico, os alunos muito pouco
As apostilas dos cursos muitas vezes são conseguem assimilar a sua matéria, devido sua
confeccionadas por pessoas que não tem falta de experiência prática, sendo que os bons
conhecimento da disciplina pretendida por ele professores são aqueles que em sua prática
aos alunos e com isso as mesmas são pedagógica cotidiana mostra como principais
confeccionadas com base em teorias profundas características pessoais uma ‘boa didática’, o
extrapolando o raciocínio dos alunos sendo que ‘domínio do conteúdo’, sendo ‘respeitador’, ‘e‘
o autor da apostila deveria se preocupar mais criativo’.
em ensinar a prática aos alunos. Esta ideia de aliar teoria e prática ainda é um
tabu a ser discutido, pois não há mais
PRÁTICA DOCENTE possibilidade de fornecer ao mercado de
trabalho, profissionais apenas detentores de
Para formar um profissional competente, os
conhecimentos com teorias, sem capacidades
primeiros ensinamentos vêm da sala de aula
de produção em sua área de atuação.
por meio da experiência vivida do docente. Se o
Uma aula ministrada referenciando teoria e
docente só tem teoria, que tipo de profissional
prática causa um grande impacto positivo
ele lançará no mercado, visto que é
dentro e fora de sala de aula, pois o professor
responsabilidade dele o futuro de seus alunos?
que detém a prática da disciplina que ministra
As Universidades formadoras de docentes só
é mais respeitado pelos alunos e cria-se um
ensinam teorias e não levam os futuros
canal de comunicação entre os alunos e o
professores a desenvolver exercícios teórico-
professor. Os alunos demonstram certo
práticos para que sintam exercendo sua
respeito ao mestre pois sempre admira a sua
profissão, ou seja, fazendo um trabalho para
aula e tem o seu mestre como modelo de
provar suas competências à sua futura função.
profissional.
A importância da prática no ensino superior
Apesar da dificuldade em se quebrar
é indispensável pois é por meio dela que o
paradigmas, e, em se processar transformações
futuro formando irá adquirir embasamento
nas estruturas do ensino universitário, a
teórico para compor seu trabalho de conclusão
ruptura do processo de dissociação entre teoria
de curso e até mesmo se preparar para ser um
e prática precisa ser perseguido com empenho,
profissional diferenciado no mercado de
a fim de ser possível melhoria na qualidade do
trabalho.
ensino oferecido pelas Universidades atuais.
As Universidades por não proporcionarem
Com esta imensa necessidade, adverte-se o
esses desafios acabam formando professores
mundo acadêmico da real preocupação em unir
teóricos no que, por sua vez ,dificulta a aula do
de forma definitiva as teorias apreendidas nos
futuro professor e coloca em xeque a qualidade
bancos escolares com as atividades exercidas
do ensino, e na verdade a culpa toda seria do
no mundo empresarial globalizado e carente de
professor das Universidades por não
profissionais que detenham a capacidade de
trabalharem tal habilidade.

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sistematizar situações que abrangem um desafio dos mestres que assumem essa grande
universo cada vez maior de informações. responsabilidade diante do mercado de
O professor precisa transmitir não somente a trabalho.
teoria mas também a prática preparando o Também, as Universidades para elevar a
formando para solucionar os problemas qualidade do quadro de docentes dão
quando ingressarem no mercado de trabalho. preferência para contratação de professores
A prática pedagógica é muito importante, mestres e doutores, pois a maior parte desses
pois alguns professores detêm teorias e prática professores nunca exerceu uma atividade
da matéria proposta, mas não tem didática, prática em sua área de atuação e também
sendo que o bom professor na opinião dos obviamente não conseguirá transmitir o
alunos é aquele que tem a teoria, a prática, conhecimento que o futuro profissional
sabe transmitir os conteúdos e gosta do que necessita para enfrentar o mercado
faz, ou seja, tem paixão pelo seu trabalho, pois competitivo de trabalho.
os professores podem conseguir motivar os Muitas empresas antes de contratar o
seus alunos por meio da didática e da profissional, realizam uma entrevista e uma
apresentação prática de sua matéria. avaliação teórica e prática do futuro
Tendo como base a globalização, na qual a funcionário a ser contratado, pois a maioria das
concorrência é desleal, pois muitas vezes vezes os candidatos são reprovados nas
faltam vagas de emprego para tantos avaliações práticas porque são apenas
profissionais que as Universidades formam, na detentores de teorias e as empresas
qual quem detém conhecimento prático ainda necessitam de profissionais com teorias e
não é contratado e sim, é escolhido para um práticas para executarem seus trabalhos.
processo de seleção, e quem não detém Os professores precisam ter consciência e se
conhecimento prático é eliminado na primeira preocupar com a inserção da prática no
entrevista, sendo que diariamente, identificam- momento de preparar o seu plano de aula, e
se várias situações que requerem do também no instante que o mesmo vai propor as
profissional experiência prática do trabalho a atividades aos alunos, portanto, não devem
ser executado, e, muitas vezes o profissional é esquecer-se de cumprir com o que está no
recém-formado e teve a infelicidade de estudar plano de aula no quesito à prática de
com um professor extremamente teórico. laboratórios.
O emprego está em alta no País Brasileiro, A capacidade de habilitar, treinar e preparar
segundo as pesquisas, mas a dificuldade está milhares de jovens para as atividades
em preencher determinadas vagas oferecidas profissionais a serem executadas após o
pelas empresas, em funções que exigem término do curso superior sempre foi um dos
pessoal qualificado, principalmente técnicos objetivos das Universidades, no entanto, pode-
especializados. se observar que ultimamente esta exigência
Para dar conta do crescimento sustentável tem sido efetivamente cobrada, não somente
do País é preciso formar novos profissionais e pelos estudiosos da pedagogia, como também
qualificar a mão de obra disponível. Esse é um pelos já atuantes profissionais que passam a

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recrutar os recém-formados, como também Por intermédio das pesquisas realizadas por
pelos próprios acadêmicos na busca incessante alunos ou até mesmo formandos e professores
por uma oportunidade no competitivo mercado de Universidades, é o que contribui para o
de trabalho. crescimento do país, pois sempre mantém
Os professores de docência também devem atualizados com novas definições e opiniões
se preocupar com os trabalhos de pesquisa pois sobre um determinado assunto. Só se aprende
são por meio deles que despertam o interesse e só se ensina pela efetiva prática da pesquisa.
à leitura, e à medida que aumenta a leitura, em É preparando o bom pesquisador que se
consequência disso aumenta o conhecimento e prepara o bom professor universitário e
a qualidade no trabalho apresentado. qualquer outro profissional.
Os professores devem aliar as pesquisas A importância da pesquisa no ensino técnico,
com os trabalhos práticos para que os alunos superior e outros níveis de educação, é
façam pesquisa de um determinado assunto e processo fundamental para os alunos, pois é
aplique na prática o novo conhecimento por meio da pesquisa que os alunos adquirem
adquirido. novos conceitos e muitas vezes novas fórmulas
Os professores precisam sempre participar de resolver ou analisar um determinado
de seminários, palestras, cursos e outras assunto, mas a pesquisa sempre deve estar
atividade que agregam conhecimentos para atrelada a interesses políticos, pois a medida
que ele transmita esse tal conhecimento e que aumenta a pesquisa, gera dúvidas,
habilidade aos alunos, pois quando o aluno questionamentos por parte de quem está no
percebe que o professor tem conhecimento do comando da nação ou muitas vezes no
assunto abordado e possui as habilidades comando de uma Universidade pois pode
necessárias para transmitir o conteúdo, os comprometer tal definição defendida até o
alunos se motivam nas aulas desses momento para o tal, mas por sua vez desperta
professores. o interesse pelo assunto pesquisado aos alunos,
Os professores precisam se manter com isso aumenta a criatividade dos alunos em
atualizados porque ainda existem profissionais sala e fora dela.
da educação que concluíram sua faculdade, Alguns professores são chamados para
prestou um concurso e se estabilizou, tanto em ministrarem aulas que não é de sua graduação,
conhecimentos quanto em habilidades para baratear os custos às entidades
(didática) para transmitir os conteúdos aos educacionais, pois por meio desses
alunos, ou seja, se mantém na mesmice e ainda profissionais corajosos conduzem suas aulas
dizem aos alunos que ele (professor) já sem qualidade e motivação a seus alunos,
aprendeu, e, se os alunos quiserem aprender, porque os mesmos apenas transportam para os
eles (alunos) que devem se esforçar, pois alunos o que está escrito em livros ,e ou,
esquecem que o maior responsável para que apostilas de forma cumprir sua carga horária,
atinjam o ápice do conhecimento do aluno é mas esquecem que está trabalhando com o ser
exclusivamente o professor. humano e precisa fazer bem feito o seu
trabalho e ao mesmo tempo saber que o

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homem precisa de técnicas para que o mesmo CONCEITOS DE EDUCAÇÃO


aprenda um conteúdo ou conhecimento, mas
A educação é um termo que sempre foi
para que isso aconteça, é necessário ter
muito discutido pelas pessoas, pois ela inicia
didática no momento de ensinar e inspiração
desde o nascimento da criança e vai até a
no trabalho proposto, mas ninguém, sem
morte. O ser humano nunca para de aprender e
possuir conhecimento aprofundado de tal
em todos os setores da vida das pessoas o
assunto consegue ter inspiração naquilo que
termo educação é empregado, tanto faz na
faz.
casa, no trabalho, na igreja, na escola, ou seja,
Os professores que detém conhecimento em qualquer repartição que as pessoas
prático da matéria ministrada, são os mais frequentam ocorrem a educação.
preferidos dos alunos porque quando se trata
Existe um tipo de educação que acontece
de ensinar a prática, os alunos ficam mais
dentro de casa quando os pais transmitem aos
motivados e o rendimento da aula aumenta e a
filhos as suas regras e ensinamentos, como
satisfação do aluno e do professor também
proceder diante de pessoas idosas, como se
cresce.
portar em um local público, na hora das
Quando uma Universidade vai contratar um refeições, etc.
profissional da educação, a mesma coloca em
Outro tipo de educação acontece na escola
primeiro plano a formação acadêmica do
quando os mestres transmitem conteúdos que
profissional, deixando para segundo plano o
servirá de aprendizado e crescimento no futuro
conhecimento e vivência prática sendo que o
da vida da criança, mas existem pais que
profissional que só tem conhecimento teórico
pensam que a escola deve propor a educação
não sabe as dificuldades que um profissional
escolar propriamente dita para os alunos e
enfrenta, e, com isso não sabe transmitir a
também proporcionar a educação que deveria
experiência devida aos alunos.
ser feita em casa, dessa forma terceirizando a
Os profissionais da educação necessitam de
educação familiar para a escola.
ter sensibilidade com seus alunos, valorizando
Uma das razões dos jovens da atualidade
mais a parte humana do que a parte do
estar despreparado para encarar o mercado
conteúdo, pois existem vários alunos que
competitivo de trabalho, é a carência daquela
sofrem problemas psicológicos em casa e
educação que deveria ter recebido dentro de
quando chega na escola se não tiver o apoio em
casa, portanto, os jovens sofrem
massa dos professores, o rendimento do
demasiadamente pela falta de preparo
mesmo é quase zero, por isso, nos cursos para
educacional que não recebeu dentro de casa.
formação de professores deve-se ter esse
A educação não se compra, mas é
cuidado para poder conscientizar os futuros
transmitida por meio de ensinamentos,
professores a adquirir essas habilidades de
culturas, crenças na qual a todo o momento o
modo que sua aula tenha um ótimo rendimento
ser humano está submetido a recepção de
e os conteúdos transmitidos aos alunos seja
conhecimentos.
com qualidade.
A educação escolar não se deve ao mérito de
apenas um professor, mas é a junção de todos

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

os ensinamentos de vários professores que ao RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO


longo de vários anos passam pela vida de seus
alunos, ou seja, o mérito se deve à escola. NO PROCESSO DE ENSINO
Educar não é um produto e também não é APRENDIZAGEM
feita de belas frases, é por meio de métodos e Como seres sociais que somos, precisamos
culturas que o ser humano é educado, e , por do convívio com as pessoas para construir a
meio da educação o ser humano consegue se nossa personalidade e interagir com o mundo
interagir e relacionar com pessoas do seu meio. ao nosso redor. Dentro do universo acadêmico
Em cada região existe um tipo de cultura, e, da universidade, não podemos ignorar a
para cada cultura há um tipo de educação, pois importância da interação entre professores e
tem costumes e crenças diferentes, por isso os alunos e as relações decorrentes deste
educadores precisam ouvir os educandos de convívio.
forma criar um clima favorável para a Sabemos que a sala de aula não pode apenas
aprendizagem de forma coletiva. ser um lugar de transmissão de conteúdos
Existem inúmeras maneiras de educar, desde teóricos, mas também de aquisição de valores,
que respeite o processo de ensinar e aprender, de comportamentos, portanto, as relações
porque não é todo momento que o mestre está estabelecidas entre professores e alunos
ensinando, pois ocorrem momentos que os tornam-se um determinante muito decisivo no
mestres também aprendem com os seus processo pedagógico. Freire, na reflexão sobre
discípulos e então ocorre o processo de ensino- ensinar exige querer bem aos educandos,
aprendizagem. ressalta que: Não é certo, sobretudo do ponto
Normalmente, a educação ocorre entre de vista democrático, que serei tão melhor
pessoas, pois a educação é exercida em professor quanto mais severo, mais frio, mais
diferentes partes, seja para a socialização do distante e “cinzento” me ponha nas minhas
indivíduo ou para adequação do indivíduo a um relações com os alunos.
grupo religioso, seja qual for o ambiente ocorre A afetividade não se acha excluída da
educação em todo relacionamento entre cognoscibilidade. O que não posso obviamente
pessoas. permitir é que minha afetividade interfira no
A educação faz parte do desenvolvimento cumprimento ético de meu dever de professor
social da criança para conduzir a mesma, a no exercício de minha autoridade. Não posso
condição de um adulto, ou seja, uma pessoa de condicionar a avaliação do trabalho escolar de
sucesso que venha respeitar os seus limites e um aluno ao maior ou menor bem querer que
também saber impor no momento de defender tenha por ele (FREIRE, 1996, p.159;160.)
os seus direitos. A relação professor-aluno pode tanto
produzir resultados positivos quanto negativos,
pois professor e aluno formam um par
complementar complexo e dinâmico. As
dificuldades acadêmicas não podem ser
focalizadas apenas no aluno, é preciso investir

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

tanto no aluno como no professor para que não estudada. (1914, v. XXIII p.286). Para Morgado
se instale um círculo vicioso: professor- (2002), as relações transferenciais (hostilidade
problema, aluno-problema, pois diante de tudo ou afetividade) do aluno para com o professor,
o grande prejudicado normalmente é o aluno. a figura de autoridade que simbolizam os pais,
Na atividade profissional do professor, tende a acontecer na sala de aula.
muitas vezes ouvimos as afirmações: “é preciso O que o professor precisa é não reagir a ela
separar o lado afetivo do lado profissional”, (contratransferência), pondo o conhecimento
“temos que deixar nossos problemas pessoais como o legitimador da autoridade pedagógica.
em casa”. Será que é possível fazer essa Não se pode negar a complexidade que
separação? É possível fragmentar-se tanto? Na envolve o ser humano e no que se refere ao
nossa ótica, essa separação não existe, o que processo ensino-aprendizagem, as implicações
pode ocorrer é o desenvolvimento da sociais, culturais, orgânicas, cognitivas e
capacidade de manter-se equilibrado diante também emocionais e espirituais. Em se
dos conflitos, pois os laços afetivos entre tratando dessa multireferencialidade, é
professores e alunos, alunos e colegas, necessário a compreensão e tratamento do ser
professores e colegas, têm sido um elemento humano enquanto ser – pessoa - aluno-
de fortalecimento da aprendizagem. educador. Nessa reflexão Perrenoud (1993),
Geralmente, a dificuldade de manter afirma ser a profissão docente uma “profissão
relacionamentos harmoniosos e duradouros é impossível”, na medida em que está sempre
reflexa de perdas e decepções que podem gerar entre aquelas que trabalham com pessoas e
defesas inconscientes. É imprescindível diante assim sendo sujeita a conflitos, ambiguidades e
de problemas de aprendizagem procurar a defesas.
verdadeira causa, isto porque as mesmas Para construir uma competência na relação
apresentam diversos níveis de complexidade e com os alunos, é preciso investir no
tendem a ficar camuflados em muitas autoconhecimento, pois o professor acima de
racionalizações. tudo conta com ele mesmo. É necessário sair da
A trajetória do aluno sempre aponta a figura posição autoritária e ter a coragem de
do professor como sendo a mais importante e, submeter-se ao olhar crítico de quem está
portanto, mais que um profissional, um amigo, diretamente sendo o alvo da sua atuação – o
ou seja, alguém com quem possa ter um aluno, como também o olhar crítico dos colegas
relacionamento, no qual a emoção esteja e pessoas mais próximas, e até mesmo de
presente. Neste sentido, é fundamental e profissionais especializados. O professor
urgente tratar da vida pessoal do professor precisa também sair da posição de
para que ele possa lidar com o aluno deixando invulnerabilidade e síndrome do sucesso,
marcas positivas em sua história. procurando compreender sua humanidade,
Na visão de Freud em suas reflexões sobre a suas potencialidades e fragilidades evitando
Psicologia do Escolar, ao que parece, a permanecer na posição defensiva de que “eu
personalidade do professor exerce mais sou assim mesmo”, pois isso contraria a própria
influência no aluno do que a disciplina posição de facilitador da aprendizagem.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nesta reflexão pode-se observar a alunos é preciso atentar para as atitudes


contribuição do pensamento de Marco: O que tomadas no exercício da “autoridade docente”.
é mais importante não é o discurso ou o Em muitos casos observa-se um abuso de
método do educador e sim o que ele é e sente, poder, no qual a avaliação (prova) é
pois qualquer método pedagógico tem a instrumento de punição e acerto de contas.
intensidade relacionada ao valor pessoal de Na relação professor-aluno é preciso
quem o utiliza. Observamos assim a estabelecer um nível de comunicação
importância da pessoa do professor na autêntica. Ser autêntico neste sentido não é
dinâmica relacional em sala de aula. Uma das simplesmente dizer o que pensa, delegando
coisas mais difíceis na vida é estabelecer todas as frustrações e preconceitos, mas acima
mudanças. A mudança que o outro precisa para de tudo pensar no que diz. A sala de aula é um
nós é muito óbvia, porém a nossa própria espaço de construção do conhecimento, mas
mudança é permeada de muita resistência. É sem negar a expressão das emoções e valores,
preciso determinação e persistência para com transparência e respeito mútuo.
desaprender hábitos e atitudes que prejudicam Cada nova disciplina, cada novo professor,
a trajetória profissional e aprender novas cada nova turma gera expectativas tanto no
posturas que por certo trarão novas aluno quanto no professor. Quando ocorre uma
perspectivas. frustração das expectativas surge o
Nessa dinâmica do relacionamento desinteresse, a irreverência, o desgaste
professor-aluno temos consciência atualmente emocional. Neste sentido a comunicação
de um descaso com a figura do professor, com autêntica, juntamente com a liderança sábia do
a perda de prestígio e respeito, principalmente professor para administrar as vivências,
diante do mundo globalizado capitalista. atitudes e expectativas, pode romper qualquer
Quanto aos alunos, principalmente nas entrave.
instituições privadas de ensino, o professor é Conflitos podem surgir, é normal na
visto como seu funcionário. Ele paga e pode convivência humana, mas como resolver os
escolher exigir e determinar o professor que ele conflitos é que se torna importante. Como
quer. Em contrapartida vemos professores professores e líderes na relação pedagógica é
ansiosos e inseguros que com ignorância e necessária uma postura autocrítica para
arrogância mantêm um afastamento do aluno, perceber que se um determinado tipo de
utilizando práticas pedagógicas tradicionais, se conflito tem persistido ao longo do tempo na
achando o dono do saber, desprezando a carreira docente, é necessário tratar a real
construção do relacionamento com o aluno, causa fugindo das justificativas, pois o primeiro
criando um clima de medo em sala de aula. passo para a mudança é o reconhecimento da
Cada professor tem suas vivências na necessidade de mudar e o segundo é a tomada
formação acadêmica e constrói sua identidade de decisão de fazê-lo a despeito do outro ou das
vocacional e profissional na interação com os circunstâncias.
alunos por meio de uma prática reflexiva na
experiência cotidiana. Nessa interação com os

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação do profissional do Ensino Superior no Brasil foi a “tranco e barrancos”, ou seja,
começou com as faculdades de filosofias, nas quais os profissionais tinham que fazer o
bacharelado e depois mais um ano de matérias pedagógicas (didáticas), e nem assim não
preenchiam as vagas de professores, os profissionais iam para outras funções e qualquer um com
diploma poderia ensinar.
A partir de 1960 houve uma grande mudança na estrutura da formação de professores,
inclusive desprestigiando as faculdades de filosofia. Tivemos o aumento significativo nas
matriculas nas instituições privadas e aumentando as ofertas no ensino superior, provocando
déficit de profissionais qualificado para trabalharem e mesmo assim não houve melhora da
qualidade de ensino.
Consciente de que as universidades são produtos das relações humanas, faz-se necessário
fortalecer o debate sobre as possibilidades de estabelecer uma política de formação continuada
para os professores universitários.
A universidade que visa à qualidade aponta para uma virtude dialética reconstrutiva dos
conhecimentos a serviço do processo educativo que fundamentalmente deve se processar nas
competências humanas e sua base alicerçada no patrimônio histórico, social, cultural e político
estrutural do recinto universitário.
A formação do professor tem enfatizado mais os conhecimentos científicos e tecnológicos
dando pouca ênfase às questões de relacionamento interpessoal. A relação professor-aluno é
paradoxalmente a maior produtora de tensões como também de recompensas e gratificações.
Qualquer prejuízo nessa relação desarticula a tranquilidade do professor no ensino e a
receptividade do aluno na aprendizagem.
Não há como esgotar um assunto de tão grande envergadura. A formação para a docência
no ensino superior não pode contrariar a unidade teoria-prática, ou seja, é preciso uma
qualificação para o exercício docente que ultrapasse o domínio do conhecimento específico na
área, e se articule com o preparo pedagógico, para superar situações desafiadoras em sala de
aula.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. Leis e Decretos. Lei n° 4.024. 20 dez.1961. Estabelecem as diretrizes e base da
educação nacional.

BRASIL. Lei n° 9.394, 20 dez. 1996. Estabelece as diretrizes e base da educação nacional.

CACETE, Núria Hanglei. Breve história do ensino superior brasileiro e da formação de


professores para a escola secundária. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ep/v40n4/aop1109.pdf Data de Acesso:11/03/2020.

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 3 ed. Campinas, SP: Autores associados,1998.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25 ed.


São Paulo: Paz e Terra, 2002.

FREUD, Sigmund. Algumas considerações sobre a psicologia do escolar(1914). IN: Edição


Standart Brasileira das obras psicológicas de Sigmund Freud.Trad. De Themira de Oliveira e
outros. Rio de Janeiro: Imago, s/d, XXIII, p.281-288.

MAUCO, Georges. Psicanálise e educação. Lisboa: Moraes, 1967.

MORGADO, M.A. Da sedução na relação pedagógica: professor-aluno no embate com


afetos inconscientes. 2 ed. São Paulo: Sumus, 2002.

PERRENOUD, Philliph. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas


sociológicas. Lisboa: Dom Quixote,1993.

PERRENOUD, Philliph.. Dez novas competências para ensinar: Porto Alegre,RS: Artmed,
2002.

PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Lea das Graças Camargo. Docênciano ensino
superior. São Paulo: Cortez, 2002.

1656
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SISTEMA VISUAL BAIXA VISÃO E


APRENDIZAGEM
Luciene Barbosa Sampaio1

RESUMO: O artigo apresenta conceitos teóricos e descritivos sobre o sistema visual de baixa visão.
Enfatiza-se a Fisioanatomia, funções visuais, acuidade visual e o campo visual, com
especificidades e detalhamento, possibilitando assim sua compreensão.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Baixa visão; Acuidade Visual.

1Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Psicopedagogia.
E-mail: luciene_lg13@yahoo.com.br

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INTRODUÇÃO
Visão é o sentido pelo qual se consegue
perceber o mundo exterior que se relacionam
com ele. Tudo o que se enxerga é fruto da
tradução, feita pelo cérebro, dos estímulos
luminosos que atingem os nossos olhos.

Figura 2: Representação esquemática da estrutura do


• Fisioanatomia olho humano
Conforme Doenças e Cirurgia (2007), o globo
ocular está situado dentro de uma cavidade De acordo com Gardner; Gray; O Rahilly
óssea e possui aproximadamente 24mm de (1988), o bulbo do olho apresenta três
diâmetro anteroposterior e 12mm de largura. revestimentos concêntricos: uma túnica fibrosa
Os anexos oculares, as sobrancelhas, os cílios e
externa, de proteção, uma túnica vascular ou
as pálpebras são protetores do globo ocular. média, que é pigmentada e uma túnica nervosa
Impedem que partículas, como poeira, caiam interna, que é denominada retina.
dentro do olho. As pálpebras também têm Cada túnica possui componentes, formando
como função a distribuição de lágrima, ocorridaa estrutura do olho humano, (Figura 2), que são
durante o piscar. descritas a seguir:
A túnica fibrosa externa é composta pela
córnea e pela esclerótica.
A córnea é clara e transparente é a maior
superfície de refração do olho e sua função é
manter a superfície do olho lisa e transparente,
enquanto protege o conteúdo intra-ocular
(MARTÍN; BUENO, 2003).
Esclera é a túnica externa branca e fibrosa do
Fonte: Visão Laser, 2007 globo ocular, popularmente chamada de
Figura 1: anexo do globo ocular
"branco do olho". É opaca e contém fibras de
colágeno e elastina (GARDNER; GRAY; O
Segundo Martín; Bueno (2003), o olho está
RAHILLY, 1988).
localizado no plano sagital em ambos os lados,
A túnica vascular é a camada intermediária,
tem como proteção as pálpebras, os cílios e as
frequentemente denominada úvea é composta
lágrimas.
pela íris, coróide e corpo ciliar. (GARDNER;
GRAY; O RAHILLY, 1988).
A coróide situa-se entre a esclera e a retina,
é composta por vasos sanguíneos que a deixam
de cor parda, tendo como função nutrir a
Fonte: Iida, 2005, p. 83

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

retina, o corpo vítreo e o cristalino. (MARTÍN; tecidos proximais, coróide, corpo ciliar e a
BUENO, 2003). retina.
Corpo ciliar é o espessamento da túnica
média, conecta a coróide com a íris (GARDNER; SISTEMA VISUAL BAIXA VISÂO
GRAY; O RAHILLY, 1988).
Íris é uma membrana que possui cor variável,
• Funções visuais;
com forma circular e no centro dele localiza a
• Acuidade visual.
pupila. Seu tamanho varia pela ação dos
músculos controlando a quantidade de luz que
Segundo Iida (2005), a acuidade é a
entra no olho (MARTÍN; BUENO, 2003).
capacidade visual para discriminar pequenos
A túnica nervosa é a camada interna,
detalhes. Ela depende de muitos fatores, sendo
também denominada retina.
que os dois mais importantes são o
Retina é uma membrana fina, composta por
iluminamento e o tempo de exposição.
dez subcamadas transparentes, é a camada
Acuidade Visual (AV) é o grau de aptidão do
mais profunda do olho. Possuem dois
olho, para discriminar os detalhes espaciais, ou
componentes neuronais, os cones e os
seja, a capacidade de perceber a forma e o
bastonetes que são os órgãos terminais da
contorno dos objetos. Essa capacidade
visão, os cones competem à acuidade visual e a
discriminatória é atributos dos cones (células
discriminação das cores com iluminação de
fotossensíveis da retina), que são responsáveis
grande intensidade, os bastonetes
pela acuidade visual central, que compreende a
correspondem à visão com iluminação escassa
visão de forma e a visão de cores (ACUIDADE
(MARTÍN; BUENO, 2003).
VISUAL, 2007,s.p).
Conforme Martín; Bueno (2003), existe ainda
A visão pode ser dividida em visão periférica
o aparelho refringente do olho que
e central:
compreende a córnea, humor aquoso,
a) Segundo Martín; Bueno (2003), a visão
cristalino e corpo vítreo ou humor vítreo.
periférica é aquela quando a imagem de um
O humor aquoso é um líquido que contribui
objeto não incide sobre a mácula, ocasionando
para a manutenção da pressão intra-ocular e
uma visão sem nitidez, porém de grande
facilita o metabolismo do cristalino e da córnea.
importância para a leitura, para ver imagens de
O cristalino está localizado entre a câmara
grande tamanho, para o deslocamento e outras
aquosa e vítrea, é uma esfera oca de células
atividades de segurança e guia.
epiteliais. Sua função junto com a córnea é de
b) De acordo com Cavalcante (1995), visão
focalizar os raios para formar uma imagem
central é aquela na qual a imagem cai no centro
sobre a mácula.
da retina, e capta imagens com exatidão. É
Corpo vítreo é uma massa transparente,
importante na leitura para perto, para longe e
incolor, de consistência mole que ocupa a
nas atividades que exigem percepção de
cavidade posterior do globo ocular. Constitui o
detalhes.
volume mais amplo do olho, nutrido pelos

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Conforme Acuidade Visual (2007), a As tabelas de optotipos para avaliação da


acuidade visual central é medida mostrando-se acuidade visual de longe são oferecidas em
objetos de diferentes tamanhos a uma duas versões. A primeira é similar à versão
distância padrão de 5 metros do olho. Por clássica de Snellen (Figura 4), a segunda,
exemplo, "Tabela de Snellen" é composta de indicada para testes de crianças e adultos
uma série progressiva de fileiras menores de iletrados, e formada por versões da letra E em
letras aleatórias usadas para medir a visão à uma de quatro posições (Figura 3).
distância. Cada linha na tabela diz respeito a A acuidade visual não corrigida é medida sem
uma graduação que representa a acuidade a ajuda de óculos ou lentes de contato.
visual.
• Campo visual
A expressão "Campo Visual" refere-se a toda
a área que é visível com os olhos fixados em
determinado ponto, isto é, o campo visual de
um dos olhos de um indivíduo é a área passível
de ser vista para a frente, para as laterais direita
e esquerda, para cima e para baixo, quando
este mantem o olho que está sendo examinado,
imóvel em um ponto fixo, em uma linha reta
horizontal paralela ao solo. CAMPO VISUAL,
2007,s.p).
Fonte: Vejam.com.br, 2007
Segundo Campo Visual (2007), para se
Figura 3: Tabela de Optotipos
verificar o campo visual utiliza-se entre outros
exames a campimetria, utilizado para medir o
campo visual, indicando os campos cegos que
existem no olho, sendo que a perda da visão
periférica é irreversível e progressiva.

• Outras funções visuais


Cavalcante; Galvão (2007), descrevem
algumas outras funções visuais:
a) Sensibilidade aos contrastes - é a
capacidade que o sistema visual possui em
detectar a diferença de brilho (luminância)
Fonte: Vejam.com.br, 2007 entre duas superfícies adjacentes.
Figura 4: Tabela de Snellen
b) Visão de cores - é a capacidade de
perceber e distinguir diferentes
sombreamentos (nuances). A presença de cor

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no ambiente visual aumenta o significado dos c) Reage a cores diferentes;


objetos. d) Atenção a objetos apenas quando
c) Adaptação visual é a habilidade que o manipula.
sistema visual possui para se adaptar a
diferentes condições de iluminação. 04 meses
d) Visão binocular é o resultado da a) Fixa os olhos sobre a mão e permanece;
coordenação de imagens dos dois olhos, b) Interesse em objetos pequenos e
percebidas simultaneamente, resultando em brilhantes;
noção de profundidade. c) Tenta mover-se em direção aos objetos
e) Visão tridimensional ou estereoscópica no campo visual.
possibilita a percepção da posição dos objetos 05 meses
no espaço, o cálculo da distância entre eles e a a) Desenvolve coordenação olho-mão:
noção de profundidade. Ocorre quando há esforços sucessivos do
binocularidade. agarrar;
f) Funções oculomotoras são responsáveis b) Procura intencionalmente os objetos
por controlar a posição e os movimentos dos próximos de seus olhos;
olhos e do olhar. c) Examina os objetos com os olhos.
1.1. Desenvolvimento visual 06 meses
É importante o conhecimento do a) Atenção em um objeto entre dois ou
desenvolvimento global da visão em crianças três;
de visão normal, para facilitar a identificação de b) Reconhece pessoas;
possíveis necessidades da criança com baixa c) Tenta alcançar objetos;
visão. d) Vira os olhos para a direita e esquerda.
Escala de Desenvolvimento Visual (GESELL, 07/08 meses
apud, CAVALCANTE,1995) a) Manipula objetos: batendo, pegando;
0 mês b) Tenta pegar objetos além do alcance;
a) Qualquer estímulo no campo visual, c) Convergência dos olhos;
exceto luz; d) Vira o objeto na mão e explora
b) Algum grau de fixação. visualmente
01 mês 09 meses
a) Segue movimento lento de objetos; a) Pode ver pequenas peças (2 a 3 mm)
b) Começa a coordenação binocular. colocadas próximo;
02 meses b) Observa expressão das pessoas
a) Atenção a objetos a 20 cm ou mais. próximas e tenta fazer o mesmo;
03 meses c) Pega peças de 7 mm.
a) Aperfeiçoa o movimento dos olhos e a 01 ano
visão binocular; a) Boa A.V. para longe e para perto;
b) Aperfeiçoa a acuidade visual-observa b) Boa visão binocular;
pequenos objetos; c) Focalização e acomodação.

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1 ½ ano Nascimento; Bruno; Ordeiro


a) Orientação vertical: constrói 02 ou 03 (1988), descrevem a sequência do
blocos; desenvolvimento visual da seguinte maneira:
b) Junta objetos idênticos;
c) Aponta figuras num livro. a) Sensação: atenção, fixação,
02 anos movimento. Depende do ângulo da visão, do
a) Inspeciona objetos; campo visual, distância e luz.
b) Imita movimentos dos outros; b) Percepção de formas: objetos concretos
c) Procura visualmente objetos ou pessoas tangíveis, bi e tridimensionais. Focalização de
perdidas. curvas, linhas, cantos, pontos e contornos.
03 anos Depende das formas, cores e intensidade
a) Junta formas simples, faz contornos de (claro/escuro)
formas simples ou monta quebra-cabeça c) Representação de formas:
usando ainda algumas pistas táteis; representação de objetos em diferentes
b) Tenta pegar figuras da página de um posições e relações espaciais. Diminuição de
livro; tamanho e formas, figuras planas e
c) Pode desenhar um círculo. desenhadas, detalhes de objetos e em figuras.
04 anos d) Representação de figuras e cenas:
a) Faz discriminação acurada de tamanho descrição e reconhecimento de ações e
juntando objetos de formas idênticas pelo situações (perto/ longe).
tamanho; e) Análise e síntese visual: capacidade de
b) Livre coordenação. analisar, juntar e separar.
05 anos f) Simbologia abstrata: discriminação,
a) Coordenação matura: pega e cola bem reconhecimento, associação e interpretação de
objetos; letras, palavras e frases.
b) Colore, corta e pinta;
c) Controle muscular fino • Baixa visão
06 anos Caracteriza-se pela capacidade, quando
a) Manipula e tenta usar instrumentos e menos, para a percepção de massas, cores e
materiais; formas, e por limitação para ver de longe,
b) Cópia e escreve letras maiúsculas, mas embora com possibilidade para discriminar e
apresenta reversões; identificar objetos e materiais situados no meio
c) Pode desenhar um triângulo; próximo a uma distância de poucos
d) Começa a ler sentenças. centímetros; quando mais, a poucos metros. O
resíduo visual pode permitir a leitura de
• Sequência do desenvolvimento visual grandes cartazes, embora não se dê a leitura
O uso do sistema visual segue sequências funcional em tinta, inclusive com meios
progressivas sob o ponto de vista perceptivo e específicos(MARTÍN; BUENO, 2003, p. 43).
de aprendizagem (MARTÍN; BUENO, 2003).

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Sintomas que indicam a baixa visão (BAIXA retinopatia diabética, coriorretinite macular,
VISÃO, 2007,s.p): degeneração macular senil, retinose pigmentar,
a) dificuldades na visão noturna; glaucoma, atrofias do nervo ótico e alta miopia.
b) visão turva ou duplicada; Em crianças, são mais comuns a coriorretinite
c) linhas onduladas na zona central da macular, catarata congênita, atrofia ótica e
visão; glaucoma congênito.
d) perda da visão periférica; Fonseca; Pianetti; Xavier (2002), relatam que
e) pontos flutuantes; estudos epidemiológicos sobre baixa visão
f) flashes de luz; mostram que muitos desses portadores,
g) manchas claras ou escuras que surgem principalmente crianças, são prejudicados, pois
ou estão permanentemente no campo visual. a maioria dos profissionais não sabe o que fazer
Conforme S. Hugonnier-Clayette et al. após o tratamento clínico ou cirúrgico, nem
(1989), as principais causas da baixa visão não como reabilitá-los para usar sua visão residual.
são conhecidas. Nos indivíduos jovens, as Dados de 1990 da Organização Mundial da
cataratas congênitas, degenerações Saúde revelam a presença de cerca de 1,5
tapetorretinianas e os nistagmos congênitos milhões de crianças cegas no mundo, estando
parecem estar no primeiro plano, com a miopia 90% em países em desenvolvimento.
forte. No adulto, atrofias ópticas, deslocamento Acrescenta-se que 70% dos considerados cegos
da retina, diabetes e traumatismos oculares apresentam visão residual, e 30% a 70% dos
parecem desempenhar o papel mais portadores de deficiência visual apresentam
importante. outras deficiências associadas.

• Epidemiologia DISFUNÇÕES QUE CAUSAM A


A Organização Mundial de Saúde relata que,
anualmente, cerca de 500.000 crianças ficam
BAIXA VISÃO
cegas no mundo. Destas, 70 a 80% morrem
durante os primeiros anos de vida, em • Alterações do campo visual
consequência de doenças associadas ao seu As alterações no campo visual afetam muito
comprometimento visual (MASINI, 1999). mais a capacidade funcional do indivíduo que a
Estudos populacionais indicam baixa própria acuidade visual, sendo elas as
prevalência da cegueira infantil, de 0,2 a 0,3 por limitações periféricas e os escotomas (MARTÍN;
1000 crianças em países desenvolvidos e de 1,0 BUENO,2003, p. 38).
a 1,5 por 1000 crianças em países em Para Martín; Bueno (2003), as limitações no
desenvolvimento. Já a prevalência de baixa campo visual podem afetar toda a periferia por
visão é estimada como sendo três vezes maior, igual ou podem afetar uma porção desigual,
segundo a OMS Banco de Dados Mundiais com redução superior e inferior ou de um dos
sobre a Cegueira. lados. Os escotomas se manifestam por
Segundo Willemann (2004), as causas manchas de lacunas de visão no interior do
comuns da baixa visão em adultos são

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campo visual de maneira que diminuem a caracterizado por opacidade da córnea;


percepção da luz ou anulam. astigmatismo; perda de visão periférica, com
• Alteração na percepção das cores aumento de distorção em todo o campo e
Segundo Martín; Bueno (2003), a visão diminuição progressiva da acuidade visual.
distorcida das cores, é geralmente congênita e Albinismo: íris translúcida por diminuição ou
de transmissão hereditária, se apresenta com ausência de pigmentação. É caracterizado por
perda de percepção de uma ou duas cores fotofobia variável; nistagmo; acuidade visual
fundamentais e perda de cada uma das cores diminuída por hipoplasia macular; anomalias de
primárias. Não se discrimina uma cor da outra. refração (astigmatismo e miopia,
Os defeitos de percepção das cores são preferencialmente); pele pálida, cabelo
sintomas de enfermidades oculares, afecções embranquecido, loiro ou castanho claro, da
da mácula e zonas centrais, ou advindas de mesma forma que sobrancelhas e cílios, em
lesões de nervo óptico. decorrência da hipopigmentação.
• Anomalia relacionada à luminosidade Coloboma: defeito ou ausência de estruturas
ambiental por fechamento imperfeito da fenda fetal,
De acordo com Martín; Bueno (2003), a existindo uma única cavidade da íris,
fotofobia é uma sensibilidade anormal à luz, geralmente na porção inferior, ou abrangendo
encontrada em pessoas com inflamações nos sua totalidade. É caracterizado por nistagmo,
olhos ou pouca pigmentação para absorver a estrabismo, fotofobia, fenda e ausência de
claridade excessiva. Algumas anomalias tecido, acuidade visual diminuída e perda
determinam essa inadaptação à luz, como: periférica do campo visual.
ceratite, albinismo, glaucoma, que serão Cataratas congênitas: opacidade congênita
descritas no item a seguir. de etiologia hereditária, embriopática (rubéola)
• Afecções oculares ou metabólica (galactosemia) que afeta o
Martín; Bueno (2003), descrevem afecções cristalino. São caracterizadas por microftalmia;
oculares como sendo aquelas que causam as acuidade visual variável em relação à coloração
perdas e anomalias das funções visuais e as e densidade da catarata; visão noturna
repercussões nas diversas facetas do normalizada; perda de visão periférica; miopia;
comportamento. São algumas delas: perda da percepção de profundidade.
Ceratite: inflamações da córnea associadas a Coriorretinite: inflamação da retina,
traumatismos, infecções, transtornos da associada à inflamação da coróide, produzida
nutrição corneana, exposições prolongadas a como manifestação de uma enfermidade geral
agentes externos. É caracterizada por dor, de etiologia variável (como toxoplasmose), de
fotofobia, lacrimejamento, diminuição da visão, origem congênita ou adquirida. É caracterizada
sobretudo à distância, opacidade corneana. por diminuição variável da acuidade visual;
Ceratocone: caso de distrofia corneana anomalias na visão periférica de diferentes
caracterizada por uma córnea cônica tipos; diminuição do senso de luminosidade;
(abaulamento), por afinamento e desvio fotofobia.
gradual do vértice para baixo e para dentro. É

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Degeneração macular: anomalia de diminuição da acuidade visual; movimentos ou


desenvolvimento e processo degenerativo que oscilações oculares iguais em natureza, direção
afeta a mácula. Produzem-se em qualquer e freqüência (se não existirem outros tipos de
idade (congênita, juvenil ou senil). É lesões).
caracterizada por visão central reduzida; perda Estrabismo: consiste no desvio manifesto do
progressiva, na infância e na adolescência, da paralelismo dos olhos nas posições primárias e
acuidade visual até 1/10; nistagmo; fotofobia; cardinais dos olhos, de maneira que enquanto
dificuldade para discriminar cores e ausência de um olho fixa, o outro se desvia para dentro
percepção de detalhes a distância. (estrabismo convergente) ou para fora
Retinopatia diabética: alteração da retina (estrabismo divergente).
por tratamentos prolongados insuficientes ou Hipermetropia: é uma anomalia congênita,
por repetidos tratamentos deficientes do com freqüência hereditária, produzida em
diabetes. É caracterizada por hemorragias de conseqüência de um encurtamento do
vítreo e retina, observáveis nos exames diâmetro ântero-posterior do globo ocular, por
médicos; acuidade visual variável; distorção da alterações dos meios refringentes, entre as
imagem; anomalias no campo visual central; quais está a ausência de cristalino.
visão noturna defeituosa. Miopia: está associada a um aumento do
Atrofia óptica: degeneração das fibras diâmetro ântero-posterior do olho, ou a um
ópticas associada a lesões cerebrais. É aumento de refração do cristalino ou a uma
caracterizada por diminuição da acuidade maior curvatura da córnea. Raramente
visual; diminuição do senso luminoso; dilatação congênita, embora exista forte tendência
e imobilização progressiva da pupila; hereditária. A miopia produz visão imperfeita à
progressão rumo à cegueira. distância.
Glaucoma: aumento da pressão intra-ocular Astigmatismo: é devido, geralmente, a uma
por anomalias no fluxo de saída do humor alteração na curvatura da córnea, a um
aquoso, provocando defeitos do campo visual encurtamento ou alargamento do eixo ântero-
atribuído à atrofia das células ganglionares posterior, ou a um defeito na curvatura do
retinianas e do nervo óptico. Apresenta-se cristalino. Normalmente é congênito e, com
congênito ou associado a outras anomalias freqüência, hereditário.
congênitas, ou secundário a enfermidades,
traumatismo ou intervenções cirúrgicas • Tipos de baixa visão
oculares. É caracterizado por fotofobia; Fonseca; Pianetti; Xavier (2002), afirmam
lacrimejamento; aumento do diâmetro que a associação da deficiência visual com
corneano; aumento da pressão intra-ocular; outras deficiências pode alterar a capacidade
diminuição geral da capacidade visual; visão da criança de usar as informações visuais. Se a
noturna diminuída; pode evoluir para cegueira. visão só for usada casualmente, sem a análise
Nistagmo: oscilação curta, rápida e de seu conteúdo, passam a ser mínimas as
involuntária do globo ocular que conduz a uma chances de um bom desenvolvimento da
visão imperfeita. É caracterizado por função visual. Isso ocorre porque a visão não

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depende apenas da estrutura e do para ser instituída uma terapia especializada.


funcionamento dos olhos, mas compreende Além disso, o acompanhamento do
muitas partes do sistema visual e do cérebro, desenvolvimento visual permitiria determinar
assim como de outros sistemas e do exercício com segurança o grau de déficit visual
de ver. existente; cegueira ou baixa visão.
Se a visão não for exercitada nos primeiros “A ocorrência de desenvolvimento visual
anos de vida, o que ocorre muitas vezes pelo atípico de origem cerebral ou cortical tem
seu comprometimento, e os estímulos visuais grande chance de ser aumentada devido à
não chegarem às células nervosas, não ocorrerá hipóxia perinatal e a um tempo de gestação
a formação de sinapses e o desenvolvimento muito reduzido” (FONSECA; PIANETTI; XAVIER,
das vias ópticas e do córtex visual estará 2002, p. 951).
comprometido (FONSECA; PIANETTI; XAVIER, Conforme Fonseca; Pianetti; Xavier (2002),
2002, p. 950). as crianças portadoras de baixa visão
Em oftalmologia, ciência médica que trata do associadas a outras deficiências podem
estudo dos olhos e das suas doenças, são apresentar comprometimento de memória,
considerados diversos níveis de baixa visão, de reconhecimento e compreensão da imagem,
acordo com a acuidade visual (AV) ou com o devido a alteração cognitiva da função visual. É,
campo visual (CV), segundo Centro principalmente, nessas crianças que é
Especializado em Baixa Visão (BV), 2007: detectada a ocorrência de deficiência visual
a) BV Moderada AV 3/10 (0,3) a 1/10 cortical (DVC), que pode ser definido como
(0,1) e CV 20º. distúrbio da visão causado pelo
b) BV Severa AV 1/10 (0,1) a 1/20 comprometimento da função retroquiasmática
(0,05). do sistema visual. Nesses casos, o
c) BV Profunda AV 1/20 (0,05) a 1/50 desenvolvimento visual é diminuído pelo déficit
(0,02) e CV entre 5º e 10º. na entrada, saída e processamento da função
d) Cegueira Quase Total AV < 1/50 visual.
(0,02) e CV < 5º. As crianças portadoras de deficiência visual
e) Cegueira Total Ausência total de cortical não são, geralmente, confundidas com
percepção luminosa. crianças cegas. Elas apresentam um olhar fixo
“O termo baixa visão compreende os graus 1 para a luz, movimentam seus olhos lentamente,
e 2 dos itens acima e os termo cegueira os graus mas sem direção, tendem a desviar o olhar do
3, 4 e 5”. (CID-10, 2003, p. 442-3) contato, e suas faces são pouco expressivas. A
Segundo Veitzman (apud, FONSECA; visão periférica parece ser mais eficiente que a
PIANETTI; XAVIER, 2002), nem sempre é central, e magnificada em ambientes
possível detectar os atrasos do familiares, seu uso espontâneo se faz por curtos
desenvolvimento visual infantil e nem todos intervalos de tempo, pois se cansa rapidamente
mantêm um ritmo regular de evolução, o que durante o aprendizado visual, os objetos, para
seria importante tanto para decidir qual a serem vistos, devem ser aproximados, mas a
melhor conduta clínica a ser seguida quanto

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

visão é desviada quando é feito o alcance


(FONSECA; PIANETTI; XAVIER, 2002, p. 952).
Segundo Fonseca; Pianetti; Xavier (2002),
pode não ocorrer o reconhecimento de objetos
estáticos e faces, sendo mais fácil a
identificação de cores. Seu alcance não é
preciso, pois suas estimativas de distância é
pobre, precisando, muitas vezes de fazer
movimentos de busca com as mãos. A visão,
muitas vezes, é compensada pelos outros
sentidos, principalmente pelo tato, ocorrendo
constantemente o abandono dela para que
outros sentidos sejam usados.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face ao conceitual teórico apresentado considera-se de fundamental importância a
compreensão dos aspectos relativos a baixa visão, atrelando as dificuldades de aprendizagem.
Nesta perspectiva o papel docente viabiliza seu diagnóstico, por ser o professor o sujeito
de maior proximidade do aluno.
O diagnóstico precoce contribui para dirimir as dificuldades da criança com baixa visão,
contribuindo qualitativa com a vida escolar.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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1671
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

SUSTENTABILIDADE E CONSUMO CONSCIENTE


NO CONTEXTO INFANTIL
Inez Gissele Weiller dos Santos1

RESUMO: O artigo trata sobre o crescente do consumismo infantil e os danos que este
comportamento desenfreado provoca ao bom desenvolvimento da infância.

Palavras-Chave: Consumismo; Infância; Propaganda.

1Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação: Formação Magistério.
E-mail: inez.gissele@gmail.com

1672
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO A PROPAGANDA
Essa falta de questionamento leva a muitas
É preciso olhar pelos nossos pequenos,
distorções, estudos recentes demonstram que
compreendo o que realmente queremos para
dentro da indústria cultural, o que mais
esta infância.
interfere na educação infantil são as
Muitas crianças hoje em dia têm mostrado
propagandas e que em cerca de 70% dos casos
um consumismo desenfreado e pouco apreço
as crianças são até mesmo capazes de
pelas coisas naturais e encantadoras da vida.
influenciar a decisão de compra de suas
Infelizmente nossas infâncias tem se mostrado
famílias. Influência sutil, mas que pode mudar a
atrás do "Querer” mais do que "O Ser".
cor da roupa, o tipo de perfume e até mesmo a
São infâncias consumistas excessivamente,
marca do carro.
até mesmo aqueles que não tem condições
Percebendo este solo fértil o marketing se
mostram uma necessidade de ter, de mostrar o
utiliza cada vez mais dessa dependência e ilusão
que se tem e gerar uma competição de quem
infantil, pois segundo o IBOPE de 2015 (Painel
tem o melhor.
Nacional de Televisores) revela que as crianças
Acredita - se, que aos pais e aos professores,
brasileiras ficavam em média 5 h 35 min. em
cabe sempre a orientação de informar aos
frente aos televisores (sem considerar outras
nossos pequenos a real necessidade daquilo
mídias correspondentes), número
que se quer.
excessivamente maior ao apresentado na
O consumismo desenfreado quase sempre
consulta anterior em 2004, na qual as crianças
leva a criança a um temperamento
ficavam uma média de 4 h 43 min. em frente
desgovernado, imediatista e intencionalmente
aos aparelhos.
sem apego por aquilo que se tem. Permitindo
Alguns programas como: "criança e
que nossas infâncias possuam muitos
consumo" do Alana. Chamam a atenção para o
resquícios de sofrimento pelo excesso do
combate de qualquer tipo de comunicação
querer.
mercadológica e levantam estudos sobre o
Infelizmente em alguns casos vemos até
tema polêmico, desmistificando não só o
situações de bullying entre as crianças
consumo desenfreado de objetos, mas também
motivados pela condição do que se tem, (a
de uma indústria alimentícia cruel, que além de
marca, o mais caro, o melhor) e isso, não gera
problemas relacionados à insatisfação
na infância a compaixão necessária para o
emocional, podem causar uma dependência
cuidado com o próximo, ou seja, o consumismo
alimentar de produtos inviáveis para consumo
desenfreado acaba sendo muito perigoso,
excessivo de bebês e crianças.
podendo levar as crianças a desacreditar na
capacidade alheia e julgar o outro pelo valor
monetário e não moral do que apresenta. POR QUE AS CRIANÇAS
EXERCEM ESTE PODER
Por fim, cabe-nos o maior questionamento
investigativo referente a esse assunto:

1673
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

-O que será que desencadeia tamanho CONSUMO CONSCIENTE NO


desempenho dos pais para manter o consumo
destes pequenos? CONTEXTO INFANTIL
Acredita-se que o relacionamento estreito Diante dos fatos aqui colocados, pais e
dos pais com a demanda de seus respectivos professores que realmente estejam
trabalhos tolhem o tempo acolhedor que preocupados com a saúde emocional na
poderiam dispensar aos filhos, fazendo com infantil, tendo por foco:
que se sintam culpados, e assim, queiram ● A necessidade de comprometer-se a
compensar as suas ausências em formato de apresentar às nossas infâncias um mundo vivo,
presentes e mimos, gostos algumas vezes em que nossos bebês e crianças, sejam levados
muito extravagantes para seres tão incapazes a parques, tenham uma rotina que lhes
de avaliar desejos e emoções. permitam brincar no quintal ou no play do
Pois é, a resposta quase que imediatamente prédio onde moram, (tendo acesso a realidade
da compra do referido produto e objeto de de diferentes tipos de infância).
desejo gera na infância duas consequências que Uma humanização do olhar infantil para
distorcem os conceitos do bom perceber o quanto eu tenho sorte em possuir o
desenvolvimento infantil: que podem me dar é muito relevante para o
1- A criança não domina o processo de bebê e a criança, que ainda tem dificuldade de
frustração, (resiliência), pelo fato de não haver avaliar o mundo além do seu próprio bem estar.
uma espera para obter o que se quer. ● Estimular o consumo consciente,
2- A perda do interesse breve pelo objeto deixando sempre claro avaliação do quanto e
adquirido, um efeito desastroso, que faz com do quando se é necessário obter determinado
que se desperte em nossas crianças, um produto. Ensinando também que se ele(a)
acúmulo de objetos momentâneos de consumo desejar muito determinado presente deverá ter
irrefletido. consciência que terá que abrir mão de outro
Segundo especialistas da área de psicologia objeto de seu agrado, ou seja, precisamos ser
infantil este consumismo desenfreado pode capazes de ajudar as nossas crianças a
desencadear sintomas como alergias, reconhecer que não poderão ter tudo o tempo
depressão, agressividade, hiperatividade, todo.
ansiedade, além de febre e irregularidades do É preciso que o adulto auxilie os pequeninos
sono, ou seja, toda essa atmosfera de compras a lidar com frustrações e até mesmo com
e de ilusões faz com que nossas crianças perdas, pois elas fazem parte da história
estejam emocionalmente abaladas, e apesar de humana.
muitas vezes terem seus desejos atendidos, ● Delegar aos pequenos o ato de recolher
sofrerem de certas angústias e desencantos. seus pertences, guardá-los adequadamente, e
Muitos pais utilizam-se do limitar o uso da até mesmo doar brinquedos e roupas que já
televisão ou aparelhos eletrônicos a castigos, não lhe sirvam mais.
mas para o bem de seus filhos deveriam fazê-lo
para recentralizar suas crianças evitando expô-
los há uma emoção viciante "precisando de
cada vez mais, para sentir cada vez menos ".

1674
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, os pais, não devem ter medo de dizer não aos seus filhos, pois muitas vezes, eles
não precisam de mais tempo com você, mas que você esteja presente o tempo em que estiver
com ele, ou seja, a qualidade é mais importante que a quantidade. As crianças muitas vezes não
querem objetos, bens materiais, e sim o que se faz quando está com ele.
O consumo pelo consumo, expõe a um estudo de fatores que muito podem prejudicar as
nossas infâncias e ao mesmo tempo convida educadores e pais para um relacionamento mais
consciente com nossos bebês e crianças, um relacionamento atrelado a consciência e a
importância do Obter x o Ser, para fatorar o produto de uma civilização mais humana, íntegra e
emocionalmente saudável.

1675
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
INSTITUTO ALANA. Criança e Consumo. Disponível em: https://criancaeconsumo.org.br/.Data
de Acesso:20/02/2020.

INSTITUTO ALANA. Tempo de crianças e adolescentes assistindo TV aumenta em 10 anos.


Disponível em: https://criancaeconsumo.org.br/noticias/tempo-diario-de-criancas-e-
adolescentes-em-frente-a-tv-aumenta-em-10-anos/ .Data de Acesso:20/02/2020.

SITE Menthes. Crianças sofrem com excesso de informação. Disponível em:


hhttps://menthes.com.br/criancas-sofrem-com-excesso-de-informacao/.Data de
Acesso:20/02/2020.

SITE Mediação. Consumismo infantil: causas, consequências e prevenção. Disponível em:


http://psicopedagogiacuritiba.com.br/consumismo-infantil-causas-consequencias-e-
prevencao/.Data de Acesso:20/02/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL


Thatiana de Camargo Riqueto Rodrigues Brasil1

RESUMO: No presente artigo, busca-se realizar uma breve reflexão sobre a identidade dos
profissionais da Educação Infantil numa perspectiva histórica, a respeito da formação docente e
sua valorização, ao mesmo tempo em que procura assegurar os direitos das crianças por meio de
um trabalho docente de qualidade, utilizando de práticas como: organização de espaço e tempo,
desenvolvimento do letramento e alfabetização. Objetivamos subsidiar os profissionais que se
encontram ou irão ingressar no exercício da docência nessa modalidade de ensino, por meio de
uma dimensão histórica e legal acerca da Educação Infantil e do ponto de vista da prática
pedagógica cotidiana deste profissional. Trata-se de um estudo teórico documental com base nas
principais Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, documentos oficiais e livros e artigos
acerca do tema, o qual aponta para algumas práticas desenvolvidas na Educação Infantil referente
a aquisição do letramento e da alfabetização. Dessa maneira, enfatiza o contexto histórico,
teórico e prático que esse profissional precisa ter para desempenhar um trabalho com êxito e
conquistas frente a um novo olhar que a Educação Infantil possui desde 1996 até os dias atuais,
inclusive em sua formação em nível de pós-graduação em acordo com o Plano Nacional de
Educação.

Palavras-Chave: Formação docente; Legislação; Prática pedagógica; Desenvolvimento;


Letramento.

1Professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental na Rede Municipal de São Paulo.


Graduação:Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Alfabetização.
E-mail: thatiriq@gmail.com

1677
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO determinam garantias para a qualidade do


ensino e o desenvolvimento do país. Tais
O trabalho contextualiza a Educação Infantil diretrizes são norteadas por diversas normas,
em uma perspectiva histórica dando ênfase aos leis, decretos, resoluções e pareceres.
documentos oficiais nem sempre “visitados” Em 20 de dezembro de 1961, o Presidente da
pelos profissionais, bem como trazer propostas República, João Goulart, sanciona a primeira Lei
de práticas desenvolvidas no processo de que estabelece as Diretrizes e Bases da
aquisição de conhecimento da criança no que Educação Nacional, a LDB nº 4.024, em todos os
se refere à alfabetização e a formação docente. níveis de ensino, ou seja, do ensino pré-escolar
Para isso, abordaremos as quatro versões ao ensino superior a fim de “definir, estruturar,
publicadas das Leis de Diretrizes e Bases da regularizar e organizar o sistema de educação
Educação Nacional, a LDB nº 4.024/61, nº brasileiro”, tendo como propósito tornar mais
5.692/71, nº 9.394/96 e a emenda nº igualitária a educação aos cidadãos do país. Em
12.796/13. relação ao ensino infantil, esta foi a primeira
O objetivo do presente artigo é subsidiar os vez que foi citado em uma lei, porém sem
profissionais que se encontram ou irão qualquer obrigatoriedade.
ingressar no exercício da docência nessa No final do século XIX, instituições
modalidade de ensino, por meio da dimensão filantrópicas já haviam criado as primeiras
histórica e legal acerca da Educação Infantil e creches brasileiras com a intenção de proteger
ainda do ponto de vista da prática pedagógica a infância e minimizar o elevado índice de
cotidiana desse profissional. mortalidade infantil. Essas entidades não
A Educação Infantil tem sido alvo de muitas recebiam nenhuma contribuição do poder
discussões entre a academia, tanto no que se público e somente a partir a partir da década de
refere à conceitos, finalidades e definições 1970 que foram criadas as instituições públicas
como por suas práticas e formação de de atendimento infantil, em decorrência da
professores, assuntos os quais trataremos nos reivindicação pelo movimento liderado pela
capítulos seguintes. Este artigo tem por classe operária feminina, que exigiam creches e
objetivo dar subsídios aos profissionais que irão pré-escolas para seus filhos e também para os
ingressar no exercício do magistério a um pequenos de maneira geral, independente de
contexto histórico dessa modalidade de ensino classe social (ANDRADE, apud, PASCHOAL;
e apontar para algumas práticas desenvolvidas MACHADO, 2009).
na Educação Infantil. Na LDB 4.024, o ensino é divido em pré-
primário, primário e grau médio (ginasial e
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA colegial). O Artigo 2º assegura que, “[...] a
educação é direito de todos e será dada no lar
EDUCAÇÃO NACIONAL Nº 4.024 e na escola”. Instituindo-se que tanto o poder
DE 1961 público quanto a iniciativa privada podem
Saviani (1997), afirma que as diretrizes das ministrar o ensino, no entanto, a obrigação da
ações políticas nacionais da educação do Brasil oferta será do Estado (BRASIL, 1961).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Segundo o Artigo 23º “[...] a educação pré- propiciar a instalação e funcionamento de


primária é destinada aos menores de sete anos, escolas públicas em suas propriedades (BRASIL,
e será ministrada em escolas maternais ou 1961, s.p).
jardim de infância”, por profissionais que Pode-se observar que apesar desta ser a
possuam o ensino normal e tenham adquirido primeira Lei de Diretrizes e Base a falar da
conhecimentos técnicos relativos à infância, Educação Infantil, essa é tratada como
conforme Artigo 52º, (BRASIL, 1961). assistencialista, a qual as crianças são tratadas
Nota-se que em relação à formação de e cuidadas, e não como uma escola para a
professores, essa lei aponta para formação integral das mesmas.
conhecimentos técnicos relacionados aos
cuidados com infância, assistência e amparo. A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA
escola é o lugar onde a criança dorme, come e
brinca, enquanto a mãe trabalha (FERNANDES, EDUCAÇÃO NACIONAL Nº 5.692
2014). DE 1971
Um dos principais objetivos da época era o Depois do golpe ocorrido em 1965, quando
assistencialismo e os cuidados médicos com os militares assumiram o poder e passaram a
vista à redução da mortalidade infantil. Não eleger os presidentes indiretamente, a
eram priorizados o bem-estar e o chamada ditadura militar, surgiu a necessidade
desenvolvimento infantil. Já o objetivo do de adequar nosso sistema educacional de
ensino primário conforme o Artigo 25º “[...] o ensino e, com isso, surge a primeira LDB 5.692
desenvolvimento do raciocínio e das atividades de 1971. Esta lei veio para se encaixar ao novo
de expressão da criança, e a sua integração no quadro político e servir de instrumento para
meio físico e social”. Em vista disso verifica-se, manter a ordem socioeconômica do país
nos Artigos 26º e 27º da referida Lei, que o (FERNANDES, apud, SAVIANI, 1997).
ensino primário deverá ser ministrado em no Em 11 de Agosto de 1971, o Presidente da
mínimo quatro séries anuais, devendo ser República, Emílio Médici, decretou a Lei de
obrigatório a partir dos sete anos de idade Diretrizes e Bases da Educação nº 5.692, a qual
(BRASIL, 1961). alterou a estrutura dos ensinos primário e
A lei garantiu também que “[...] as empresas médio, os quais, a partir da publicação da
industriais, comerciais e agrícolas, em que referida Lei, ficaram conhecidos como ensino
trabalham mais de 100 pessoas, fossem de 1º e 2º grau, distinguindo da nomenclatura
obrigadas a manter ensino primário gratuito de ensino dada na LDB de 1961.
para os seus servidores e os filhos desse”, como Na nova Lei, nota-se uma modificação nos
dispõe o Artigo 31. E ainda, conforme o Artigo ensinos de 1º e 2º grau, definindo como
32º fica estabelecido que: objetivo geral “[...] proporcionar ao educando a
Os proprietários rurais que não puderem formação necessária ao desenvolvimento de
manter escolas primárias para as crianças suas potencialidades como elemento de auto
residentes em suas glebas deverão facilitar-lhes realização, qualificação para o trabalho e
a frequência às escolas mais próximas, ou preparo para o exercício consciente da

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

cidadania”, conforme Artigo 1º. Já em LEI DE DIRETRIZES E BASES DA


comparação ao ensino pré-primário da LDB de
1961 com a de 1971, poucas alterações foram EDUCAÇÃO NACIONAL Nº 9.394
feitas. No Artigo 19 “os sistemas de ensino DE 1996
velarão para que as crianças de idade inferior a É de suma importância ressaltar que a
sete anos recebam conveniente educação em Constituição da República Federativa do Brasil
escolas maternais, jardins de infância e de 1988 teve grande relevância para a
instituições equivalentes”, (BRASIL, 1971). O educação, em principal para a Educação
que predominou nas duas é de que não havia Infantil.
nenhuma garantia de obrigatoriedade para Saviani (1997, p. 189) afirma que, “[...] fixar
essa modalidade de ensino. as diretrizes e bases da educação nacional não
O cenário se repete quanto a é outra coisa senão estabelecer os parâmetros,
responsabilidade e obrigação das empresas em os 12 princípios, os rumos que se deve imprimir
manter o ensino para os filhos dos seus à educação no país”. Com isto, a Educação
funcionários, como aponta o Artigo 47º: Infantil foi privilegiada com garantias às quais
As empresas comerciais, industriais e distanciava as esferas exclusivamente
agrícolas são obrigadas a manter o ensino de 1º assistencialistas, as quais foram reafirmadas
grau para seus empregados e o ensino dos pela LDB nº 9.394 de 1996.
filhos destes entre os sete e os quatorze anos De acordo com Constituição de (1988):
ou a concorrer para esse fim mediante a São direitos sociais a educação, a saúde, a
contribuição do salário-educação, na forma alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a
estabelecida por Lei (BRASIL, 1971). segurança, a previdência social, a proteção à
Quanto à formação dos profissionais, a Lei maternidade e à infância, a assistência aos
diz, conforme Artigo 30, que os profissionais desamparados, na forma desta Constituição
que atendem os quatro primeiros anos do (BRASIL, 1988).
ensino de 1º grau, da 1ª às 4ª séries, têm que A nova Constituição (1998), foi decretada
ter como formação mínima para o exercício do no Governo de José Sarney, em 05 de outubro
magistério, a habilitação específica de 2º grau do ano de 1988, apontando relevantes
(BRASIL, 1971), ou seja, entende-se para efeito alterações para a história da educação
desta lei que para lecionar bastava ter o 2º brasileira. Esta apresentou um capítulo
grau, deixando assim um caráter de exclusivo sobre a educação, o Artigo 205, o qual
inferioridade quanto à formação do professor, relata os direitos, deveres e objetivos
principalmente o de Educação Infantil. Mesmo referentes à educação brasileira em todos os
com algumas modificações, essa lei ainda níveis de ensino:
permanece com os objetivos de ensino como A educação é direito de todos e dever do
assistência e amparo. Estado e da família, e será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,

1680
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

seu preparo para o exercício da cidadania e sua especializado aos educandos com necessidades
qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). especiais (BRASIL, 1996).
De acordo com o Artigo 208 da Constituição O Artigo 22º estabelece como finalidade da
Federal(1988), o atendimento em creches e Educação Básica “[...] desenvolver o educando,
pré-esc olas passou a ser direito das crianças de assegurar-lhe a formação comum indispensável
0 a 6 anos, designando um dever para família, para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
Estado e Poder Público. Devendo ser gratuita meios para progredir no trabalho e em estudos
nos estabelecimentos oficiais e não obrigatório posteriores” (BRASIL, 1996). A oferta e o
a esta faixa etária. desenvolvimento da etapa educacional
As discussões a respeito da nova legislação mencionada serão de responsabilidade dos
situavam-se em um contexto histórico e Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
político nacional inovador. Em 20 de dezembro com a colaboração financeira da União,
de 1996, no governo do Presidente Fernando segundo o Artigo 5. (BRASIL, 1996).
Henrique Cardoso, é sancionada a Lei nº 9.394. A carga horária da Educação Básica conforme
A Educação Infantil foi incluída como primeira o Artigo 24º “[...] será de oitocentas horas,
etapa da Educação Básica, trazendo grande distribuídas por um mínimo de duzentos dias de
avanço à educação brasileira. Além de outras efetivo trabalho escolar, excluído o tempo
garantias como a extensão da obrigatoriedade reservado aos exames finais, quando houver”.
do ensino básico abrangendo a faixa etária de De acordo com o Artigo 30, incisos I e II, a
quatro a dezessete anos de idade. Os dois oferta da Educação Infantil será feita “[...] em
primeiros Artigos que disciplina a educação no creches, ou entidades equivalentes, para
país trazem em seu conteúdo referência aos crianças de até três anos de idade e, em pré-
Princípios e Fins da Educação: escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5
A educação abrange os processos formativos (cinco) anos de idade”.
que se desenvolvem na vida familiar, na Quanto à formação profissional, o Artigo 62
convivência humana, no trabalho, nas foi pioneiro ao estabelecer a necessidade de
instituições de ensino e pesquisa, nos que os profissionais que irão atender desde a
movimentos sociais e organizações da Educação Infantil aos 5 primeiros anos do
sociedade civil e nas manifestações culturais. A ensino fundamental deverão ser formados em
educação, dever da família e do Estado, nível superior, em curso de licenciatura, de
inspirada nos princípios de liberdade e nos graduação plena, em universidades e institutos
ideais de solidariedade humana, tem por superiores de educação (BRASIL, 1996).
finalidade o pleno desenvolvimento do Percebe-se uma valorização do papel do
educando, seu preparo para o exercício da professor em sua formação, uma vez que a
cidadania e sua qualificação para o trabalho Educação Infantil passa a fazer parte da
(BRASIL, 1996). Educação Básica. O Artigo 88º relata: “[...] A
O Artigo 4º estabelece que é dever do Estado União, os Estados, o Distrito Federal e os
a garantia da Educação Infantil gratuita as Municípios adaptarão sua legislação
crianças de até 5 anos de idade e atendimento educacional e de ensino às disposições desta Lei

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

no prazo máximo de um ano, a partir da data de O Artigo 29º, afirma a finalidade da Educação
sua publicação”. As creches e pré-escolas Infantil e decreta que:
existentes ou que venham a ser criadas, terão o A Educação Infantil, primeira etapa da
prazo de três anos, a contar da data de Educação Básica, tem como finalidade o
publicação desta Lei. Embora passe a vigorar a desenvolvimento integral da criança de até 5
partir de sua data de publicação, a LDB nº (cinco) anos, em seus aspectos físico,
9394/96 disponibiliza um tempo de adequação psicológico, intelectual e social,
às instituições para se readequarem às complementando a ação da família e da
propostas previstas na Lei. comunidade (BRASIL, 2013, s.p).
A carga horária também será reorganizada,
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA de acordo com o Artigo 31º, “mínima anual de
800 horas, distribuída por no mínimo 200 dias
EDUCAÇÃO NACIONAL Nº 12.796 letivos. O atendimento à criança deve ser, no
DE 2013 mínimo, de quatro horas diárias para o turno
Em 4 de Abril de 2013, no governo da parcial e de sete para a jornada integral”.
Presidenta Dilma Rousseff, é sancionada a Quanto à formação profissional para os
emenda da LDB a lei 12.796. Essa ajusta a Lei nº docentes o Artigo 62º, dispõe:
9.394, de 20 de dezembro de 1996, reorganiza A formação de docentes para atuar na
a Educação Básica como Pré-escola, Ensino Educação Básica far-se-á em nível superior, em
Fundamental e Ensino Médio e torna curso de licenciatura, de graduação plena, em
obrigatória a oferta gratuita de Educação Básica universidades e institutos superiores de
a partir dos 4 anos de idade, pois a Lei anterior educação, admitida, como formação mínima
aponta a Educação Infantil como primeira etapa para o exercício do magistério na Educação
da Educação Básica, porém não fala sobre a Infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino
obrigatoriedade da entrada da criança na fundamental, a oferecida em nível médio na
escola nessa faixa etária. A nova Lei estabelece modalidade normal(BRASIL, 2013,s.p).
no Artigo 4º que a Educação Infantil Nota-se a permanência da formação em
contemplará crianças de 4 e 5 anos na pré- Ensino Superior para os profissionais desta
escola e que o fornecimento de transporte, modalidade de ensino. O Artigo 3º, dispõe que
alimentação e material didático também será “[...] esta Lei entra em vigor na data de sua
estendido a todas as etapas da Educação publicação”, porém as instituições e o poder
Básica. As ofertas do desenvolvimento desta público terão o prazo de até três anos, a contar
etapa serão de responsabilidade dos Estados, da data de publicação desta Lei, para se
do Distrito Federal e dos Municípios, porém a adequar às novas exigências previstas.
responsabilidade de matricular as crianças a
partir de 4 anos na Educação Básica é dos pais
ou responsáveis, segundo o Artigo 6º (BRASIL,
2013).

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O DESENVOLVIMENTO sua capacidade de mostrar a direção e escolher


e tomar decisões próprias considerando os
INTEGRAL E ÁREAS DO valores e regras. O vínculo é muito importante
CONHECIMENTO para esse desenvolvimento visto que desde
Uma vez revisitada a questão legal que pequena ela tem habilidades afetivas e
envolve a Educação Infantil, se faz necessário cognitivas. O brincar é importante para o
um trabalho com seus aspectos pedagógicos no desenvolvimento da identidade e da
que diz respeito sobre a finalidade da Educação autonomia, pois é na brincadeira que a criança
Infantil e algumas práticas a serem abordadas. se expressa. Na brincadeira de faz de conta
Para tratar do desenvolvimento integral e das aprimoram a sua identidade podendo
áreas do conhecimento, cabe mencionar que experimentar e imitar várias situações e
são embasadas pelos volumes 2 e 3 do personagens, desenvolvendo a sua imaginação
Referencial Curricular Nacional para a Educação e dando soluções a determinadas situações.
Infantil, RCNEI (1998). Estes documentos foram O professor da Educação Infantil deve criar
elaborados em 1998, ou seja, após a situações em que a criança desenvolva sua
promulgação da LDB nº 9394/96 foi criado um autoconfiança, possibilitando que confie e
grupo de estudiosos para que elaborassem acredite nela, promovendo sua autoestima.
Parâmetros e Referenciais para a Educação Brincadeiras de faz de conta, atividades
Infantil que estava prevista na Lei. O volume 2 individuais e em grupo. O desenvolvimento
em especial traz reflexões e orientações sobre integral diz respeito não só a formação
a formação pessoal e social. cognitiva, mas sim a social, afetiva, emocional e
A identidade e a autonomia vão sendo física entendendo assim que a criança precisa
construídas por meio de interações. A criança se desenvolver em todas essas dimensões para
vai se descobrindo e entre diferenças e se constituir como cidadão e um ser social. A
semelhanças com o outro vai adquirindo sua avaliação nessa fase é feita em forma de
própria identidade, começando por seu nome e observação, registro e avaliação formativa para
suas características sejam elas físicas formas de acompanhar e replanejar o trabalho educativo
agir e de pensar e a partir da sua história, assim do professor.
se diferenciam do outro criando a sua Para tratar das áreas do conhecimento, cabe
identidade. A construção da identidade se dá mencionar que são embasadas pelo volume 3
com as pessoas que as crianças convivem desde do Referencial Curricular Nacional para a
o início de sua vida, nesse caso a família. Elas Educação Infantil RCNEI (1998). Este volume em
também interagem em outros meios sociais especial, traz reflexões e orientações acerca das
como igrejas e festas, que trazem também áreas do conhecimento desenvolvidas na
valores e conhecimentos. Quando a criança se Educação Infantil com as principais
insere na escola ela acrescenta a esse universo características de cada área para que se possa
mais conhecimentos por conviver com outras compreender um pouco mais a dimensão do
crianças e outros adultos com hábitos trabalho do professor dessa modalidade.
diferenciados. A autonomia é determinada pela

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O TRABALHO COM O trazem muitas contribuições para a fala, já que


a fala dos personagens é algo fundamental,
LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO durante os desenhos animados, programas
INFANTIL educativos ou até mesmo as novelas”. A tevê
Ao falar em práticas pedagógicas, uma das tem um papel muito importante na vida da
ações mais relevantes no trabalho como a criança durante esse processo de letramento,
Educação Infantil é o desenvolvimento do pois por meio dos anúncios de propagandas,
letramento. pois mesmo sem saber ler, a criança sabe o que
Para Ostetto (2002), parte-se do princípio aquela logomarca quer dizer. Após a
que o desenvolvimento da linguagem oral já concretização da linguagem oral, estratégias
detalhada acima a partir do RCNEI(1998), se dá pedagógicas ou não, passam a fazer parte das
pela interação entre adultos com crianças e fases do processo de letramento na vida da
crianças com crianças e que o estímulo da fala criança. Sendo assim, os processos de
é importantíssimo na Educação Infantil, pois é a aquisições se iniciam com a fala, mas a próxima
partir da fala que as crianças começam a etapa de sua vida será a apropriação da
expressar seus desejos e vontades. Não se pode linguagem escrita.
permitir que durante esse processo de O letramento chega ao Brasil em 1980,
aquisição da fala o estímulo fique de lado, pois Soares (1998), o conceitua da seguinte
trata-se aqui de um estímulo consciente, de maneira: “Letramento é o conjunto de práticas
acordo Junqueira Filho (2001), o de leitura e produção de textos escritos que as
desenvolvimento da linguagem oral, portanto, pessoas realizam em nossa sociedade, nas
não se dá nem natural, nem magicamente, mas diferentes situações cotidianas formais ou
por meio da qualidade da interação do adulto informais”. O letramento passa então a ser o
com a criança’’. ‘’ler sem saber ler’’, antes mesmo que a criança
Com a vida cotidiana tão conturbada e seja inserida nos anos iniciais do ensino
atarefada dos pais, infelizmente após esta fundamental esta criança já tem contato com
aquisição da linguagem oral, os diálogos entre livros, imagens e rótulos e os reconhece mesmo
pais e filhos acontecem muito pouco, é o que sem saber ler, ou seja, que a criança possa ter
nos relata Filho (2001): contato com práticas sociais reais de um
Na qual as conversas sobre como foi o dia das universo letrado, há a compreensão do sentido,
crianças, as brincadeiras com os filhos, os do contexto. Ex. uma criança sabe diferenciar a
momentos de contar histórias, cantar juntos, os tampa do “Toddy” e a do “Nescau”.
carinhos, acabam excluídos, sem tempo, sem Antigamente o aluno era visto como uma
lugar na rotina. É nessas horas, geralmente que “tábula rasa”, este aluno para o professor não
entra a televisão (FILHO, 2001 p.139). possuía conhecimento prévio algum. Dessa
Muitos acreditam que a televisão apenas traz forma, iniciava-se o processo de alfabetização
malefícios na vida das crianças, porém Filho do aluno, sem levar em consideração quais os
(2001), se contrapõe dizendo “que as horas de conhecimentos que este aluno já possuía. Com
companhia que a tevê faz as crianças, essas os métodos de alfabetização utilizados

1684
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

anteriormente denominados analíticos e pressuposto que o professor deve iniciar o


sintéticos, o aluno precisava apenas memorizar letramento-alfabetização a partir de textos, o
o conteúdo que já estava posto em uma cartilha aluno deve ser desafiado a refletir sobre o som
e por meio da memorização de sílabas e das letras. Este aluno necessita escrever como
palavras, fazendo uma leitura repetitiva e assim ele sabe para que o professor consiga
o aluno aprendia a ler, ou seja, uma identificar em que hipótese este aluno
decodificação das letras sem qualquer encontra-se e assim criar situações de
compreensão do que está escrito. aprendizagem para eles.
É o que afirma Morais e Leite (2012): Souto-Maior (2002), complementa ainda
É por isso que, de acordo com aqueles mais esta ideia: “O planejamento não como
métodos, os professores esperavam que o uma mera formalidade, mas como um
aluno fosse ser alfabetizando, na medida em instrumento para ‘ouvir outras linguagens’,
que era treinado a repetir as correspondências para conhecer as crianças”. O professor precisa
som-grafia que a cartilha lhes apresentava. Seja planejar antecipadamente suas atividades para
memorização das famílias silábicas (BA-BE-BI- que assim consiga obter um melhor resultado
BO-BU; LA-LE-LI-LO-LU) seja pela leitura com os alunos. Ele deve realizar registros para
repetitiva das palavras que começam com uma conseguir analisar sua prática.
mesma relação fonema-grafema (MORAIS, Esses registros podem ser realizados em
LEITE, 2012 p.06). portfólios, fotos realizadas durante as
Barbosa (1990), concorda com Morais e Leite atividades ou até mesmo registros escritos em
(2012), na medida em que nesta metodologia, seu diário de classe. Para Souto-Maior (2002):
o aluno “alfabetizado é aquele que foi ensinado No registro não apenas se descrevem os
e convencido pelo processo escolar de fatos, mas se reveem encaminhamentos,
alfabetização que, para ler, basta seguir com os levantamentos de hipóteses, enfim, reflete se
olhos, linha por linha, o texto escrito tentando sobre a realidade! Aquela atividade que ‘’ não
transformar cada letra, sílaba e palavra numa deu certo’’ tem uma função informativa para o
oralidade de que, o mais das vezes, lhe soa educador, que pode, por meio do registro
estranho”. escrito, perceber as razões do ‘’fracasso’’ de
Nos dias atuais é necessário “alfabetizar uma situação planejada (SOUTO-MAIOR, 2002
letrando e letrar alfabetizando”, o professor p. 64).
atual já consegue realizar a quebra do O planejamento precisa ser flexível para que
paradigma de que o aluno seja uma “tábula as atividades possam ser interessantes e
rasa”. Ele sabe que este aluno possui diversos significativas aos alunos. Observar, registrar e
conhecimentos, porém esses conhecimentos refletir também são processos de construção
prévios devem ser estruturados de forma para se avaliar e planejar o dia seguinte.
correta. Atualmente, com o letramento, a
alfabetização inicia se do todo, de um texto o
aluno vai criando suas hipóteses tanto de
leitura quanto de escrita. Partindo deste

1685
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nota-se que a ideia de identidade profissional de docentes para a Educação Infantil é algo
novo e extremamente necessário.
Exercer a função de professor dessa etapa não é tarefa fácil, conforme apontamentos
teóricos utilizados ao longo deste trabalho.
No processo de construção de identidade se faz necessário que este profissional possa
ressignificar suas práticas a partir de suas experiências, vivências com o meio e com outros
profissionais.
É preciso que haja ação-reflexão-ação, para que assim este possa evoluir e melhorar sua
atuação em sala e superar a visão assistencialista construída historicamente, construindo
habilidades para o seu autodesenvolvimento profissional. Sua formação precisa ser muito
consistente e significativa para que assim esse profissional consiga desempenhar um bom
trabalho e fundamentalmente conheça o percurso histórico pelo qual sua formação acadêmica
passou para que luz da teoria ele possa construir e reconstruir sua prática.

1686
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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educacional brasileira. Maringá, 2013. 45 f. Monografia (Especialização em Pesquisa
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA:


POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÕES
EDUCACIONAIS
Amanda Felix de Carvalho1

RESUMO: Quando nos deparamos com o diferente, a primeira reação é voltarmos para nossas
ideias pré-concebidas sobre o que vemos. Com o autismo não é diferente. Por ser um tema
relativamente recente, pois sua primeira citação ocorreu em 1943 pelo psiquiatra austríaco Leo
Kanner, ainda gera muita dúvida sobre como devemos lidar com estas pessoas e principalmente,
como deve ser o ato de ensino aprendizagem destinado a elas. De lá para cá, muitas pesquisas
propulsionaram grandes descobertas e, com elas, possibilidades de intervenções educacionais
foram criadas para melhor atender esta população. Este artigo tem por fundamental objetivo
esclarecer, mediante revisão bibliográfica, as principais características do autismo e mostrar
algumas possibilidades de intervenções educacionais que deram certo, como o TEACCH – cuja
principal meta é que o aluno com autismo se adeque o melhor possível à nossa sociedade quando
adulto, aumentando sua compreensão e tornando o ambiente mais compreensível – e o Currículo
Funcional Natural – que prioriza ensinar o que o aluno realmente precisa aprender, desde noções
básicas de higiene a ler e escrever. Considera-se ressaltando que a educação é vista como a
principal forma de tratamento para autistas, assim como, a importância de a escola proporcionar
um ensino na qual a atuação do professor possibilite o desenvolvimento do aluno com autismo,
ressaltadas às potencialidades em detrimento à suas limitações.

Palavras-Chave: Educação Especial; Metodologias; Transtorno do Espectro Autista.

1Professora de Educação Básica I na Rede Municipal de Presidente Prudente.


Graduação: Licenciatura em Pedagogia; Especialização em Atendimento Educacional Especializado;
Especialização em Autismo.
E-mail: amandafelixca@gmail.com

1689
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO intervenção” relata que 50 professores


participaram de uma qualificação para
O autismo, que é um Transtorno Global do educação especial, e que, destes,
Desenvolvimento (TGD), causa muitas dúvidas, aproximadamente 30% “acreditavam que um
tanto entre os pais quanto entre os indivíduo com autismo fosse incapaz de falar,
profissionais que trabalham com esta parcela sorrir, ou mostrar carinho pelos outros (no
tão diferenciada da nossa humanidade. início do curso)” (p. 22), o que nos mostra como
Diferenciada, pois em cada um o transtorno se a falta de informação acerca deste assunto é
desenvolve de uma maneira única e é este o seu alarmante e como os cursos de formação em
mistério. pedagogia, por terem que tratar de uma gama
Foi citado pela primeira vez por Leo Kanner, muito grande de assuntos em pouco tempo,
em 1943. Com seu artigo “Alterações autistas estão deixando de lado a educação especial.
do contato afetivo”, Kanner descreve casos de Neste estudo recorreremos a obras literárias
crianças que não se encaixam em nenhuma e artigos científicos para realizar a consulta de
outra síndrome ou doença mental. Na mesma material já existente sobre o assunto para
época, em 1944, Hans Asperger descreve trazer um panorâmico do que já foi descoberto
pacientes com “Psicopatia autística”, que se sobre o Transtorno do Espetro Autista e como é
assemelhavam em muito com o que Kanner possível educá-los dentro de suas
descrevia, porém com diferenças significativas possibilidades emocionais e cognitivas.
no grau de comprometimento cognitivo e Abordaremos também fundamentos de dois
comunicativo de seus estudados (BOSA, 2002, métodos que se destacam dentre as
Rivière 1995). possibilidades de intervenções bem sucedidas:
Quando nos deparamos com pessoas com o TEACCH (Treatment and Education of Autistic
uma síndrome ou transtorno que não and related Communication Handicapped
conhecemos direito, nos agarramos a ideias Children ou Tratamento e educação para
pré-concebidas de como nós podemos nos pessoas com autismo e problemas correlatos
relacionar com eles e como eles reagirão a nós. na comunicação) e o Currículo Funcional
Ensinar autistas é em primeiro lugar, nos dar Natural. O primeiro foi criado na década de
a oportunidade de aprender a ensinar de outra 1960 no Departamento de Psiquiatria da
maneira. Com desafios e questionamentos Faculdade de Medicina da Carolina do Norte
diferentes a cada dia. É um grande exercício (AMA, 2013). Já o segundo teve sua origem em
entre o que ensinar e o que pode ser ensinado. 1990 com a Dra. LeBlanc, em Lima, Peru
A motivação para escrever este artigo é poder (SUPLINO, 2010).
analisar qual é o cenário que pessoas com Objetivamos compreender, mediante
Transtorno do Espectro Autista (TEA) e suas revisão bibliográfica, o que é o Transtorno do
famílias enfrentam perante a educação no Espectro Autista, para que assim, de maneira
Brasil, e como ela é possível. sucinta, possamos caracterizar as metodologias
Baptista, Bosa & Cols (2002), em seu livro mais utilizadas para estes alunos, respeitando
“Autismo e educação: reflexões e proposta de sempre os limites impostos pelo transtorno,

1690
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

bem como descrever o que é Transtorno do relacionadas ao distúrbio cognitivo


Espectro Autista, suas principais características, caracterizam-se pela diminuição na aptidão
como é feito o diagnóstico; Evidenciar os intelectual e verbal; diminuição na capacidade
principais déficits educacionais; Indicar as de raciocínio verbal abstrato; diminuição na
metodologias mais utilizadas para o trabalho criatividade e na capacidade imaginativa;
pedagógico com estes alunos. dificuldade na linguagem abstrata, para estocar
Por ser um tema recente e com poucos e codificar novas informações, para codificar
estudos realizados, torna-se de grande palavras separadamente e estruturar
relevância para a comunidade. Quanto mais experiências; além de apresentar inaptidão
informações pudermos, como pesquisadores, para brincar em grupo, não compreender
disseminar, mais estas crianças e suas famílias ordens complexas e realizar jogos sem função.
terão oportunidade de tratamento adequado Na mesma época, em 1944, Hans Asperger
para desenvolver todas as potencialidades e ter descreve pacientes com “Psicopatia autística”,
o apoio necessário. que apresentava sintomas parecidos com os
Como questão norteadora elencamos: Qual que Kanner citou, porém Asperger acreditava
o papel da educação no Transtorno do Espectro que a síndrome por ele descrita se diferia da de
Autista e suas implicações para uma vida o mais Kanner por terem preservados aspectos
independente possível para essas crianças e relacionados à linguagem e ao nível intelectual.
jovens? Os principais sintomas desta síndrome são:
déficit na socialização, linguagem sem atraso –
TRANSTORNO DO ESPECTRO porém repetitiva, pedante, formal demais em
muitos casos – e as habilidades intelectuais
AUTISTA preservadas – as capacidades são normais de
O Transtorno do Espectro Autista, que é um “inteligência impessoal fria”, e frequentemente
Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), extraordinária em campos restritos (RIVIÈRE,
foi citado pela primeira vez pelo psiquiatra 2004, BOSA, 2002).
austríaco Leo Kanner, em 1943, em seu artigo Para Bosa (2002):
“Alterações autistas do contato afetivo”, no Tanto Kanner quanto Asperger empregam o
qual cita onze casos de crianças que termo (autismo) para chamar a atenção sobre a
apresentavam o mesmo tipo de sintomas: qualidade do comportamento social que
dificuldades na comunicação, socialização, perpassa a simples questão de isolamento
comportamento adequado ao ambiente, uso físico, timidez ou rejeição do contato humano,
do mundo simbólico e imaginativo, e atraso mas se caracteriza, sobretudo, pela dificuldade
intelectual (BOSA, 2002, RIVIÈRE 1995). em manter contato afetivo, com os outros, de
Segundo Gauderer (1993), Schwartzman modo espontâneo e recíproco. Em nosso ponto
(1994) e Leboyer (2002), no autismo clássico, de vista, é a questão da reciprocidade – ou
que é o descrito por Kanner cujas melhor, a falta de – que permanece com um
características do transtorno são mais dos marcadores significativos no autismo
evidentes e severas, as manifestações clínicas (BOSA,2002, p.26).

1691
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As alterações comportamentais e relacionais medos; hiperatividade; impulsividade e


compreendem principalmente: resistência à ansiedade; labilidade de humor e indiferença
mudança, ao contato físico e visual; ao outro (SCHWARTZMAN, 1994).
manipulação do outro e inaptidão para brincar De acordo com DSM-5 (2014), o TEA é
em grupo; movimentação estereotipada; dividido em graus, e sua gravidade pode ser
agressividade e autoagressividade; manias e percebida no quadro abaixo:

Quadro 1: Graus e Gravidade do TEA de acordo com o DSM-5

Fonte: Disponível em <http://www.ama.org.br/site/diagnostico.html>. Acesso em: 09/03/2020.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

E para ser dado um Diagnóstico de paciente preenche a alguns critérios


transtorno do Espectro Autista, primeiro o específicos (DSM-5, 2014), sendo estes
médico deve solicitar exames para descartar elencados no quadro 2.
outras patologias e, só depois ver se seu

Rivière (1995), salienta que as pessoas com várias funções (...) e 2) porque o
Transtorno do Espectro Autista apresentam desenvolvimento não é somente retardado,
dificuldades em condutas propriamente mas também alterado qualitativamente, de
comunicativas proto-imperativas (pedir algo) e forma que os moldes funcionais e de conduta
protodeclarativas (comunicar, compartilhar o da criança não correspondem a nenhum
interesse pelo objeto). estágio concreto de desenvolvimento
A ausência ou escassez de protodeclarativos, (RIVIÈRE,1995, p.274).
talvez, seja a característica mais clara e Em 1979, Lorna Wing e Judit Gould nos
universal das crianças autistas sem linguagem, trouxeram o conceito de “Espectro autista”,
e a parcimônia ou pobreza comunicativa de que nos remete a ideia de que “apesar de
declarativos verbais é um traço importante da importantes diferenças que existem entre
linguagem dos que a possuem (RIVIÈRE, 1995, diferentes pessoas, todas elas apresentam
p.284). alterações em maior ou menor grau, em uma
E ainda acrescenta que “A partir dos anos série de aspectos ou ‘dimensões’ (RIVIÈRE,
sessenta (...), o autismo começou a ser 2004, p.241).
compreendido como um ‘distúrbio profundo do O autismo ainda pode estar associado com
desenvolvimento’” (idem, p.274), e que outras patologias, tais como: deficiência visual,
segundo as definições do DSM-III (American paralisia cerebral, deficiência auditiva, retardo
Psychiatric Association, 1980) 1) afetam: mental, epilepsia, síndrome do X-frágil,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

síndrome de Rett entre outras (ROTTA, 2002; PRINCIPAIS DÉFICITS


SOUZA, et al, 2005).
ainda não há marcadores biológicos e EDUCACIONAIS
exames específicos para autismo, mas alguns Para entendermos melhor como as
exames, tais como cariótipo (com pesquisa de X metodologias são estruturas, antes precisamos
frágil, EEG, RNM e erros inatos do entender quais os principais déficits
metabolismo), teste do pezinho, sorologias educacionais que as pessoas com o TEA
para sífilis, rubéola e toxoplasmose, apresentam.
audiometria e testes neuropsicológicos são Schwartzman (1994), relata que a pessoa
necessários para investigar causas e outras com autismo pode apresentar vários
doenças associadas. comprometimentos em intensidades
diferentes.
Em 70% dos casos, o autismo está associado
MÉTODOS EDUCACIONAIS E à deficiência mental. Os distúrbios cognitivos
AÇÕES PEDAGÓGICAS VOLTADAS englobam alterações relacionadas à forma
PARA ALUNOS COM TEA como este aluno interage com o meio, em como
as informações são organizadas durante essa
Alunos com autismo possuem várias
interação e como são assimiladas no processo
particularidades que devem ser respeitadas no
de aprendizagem (LEBOYER, 2002).
decorrer do processo educacional.
Vários estudos, como os desenvolvidos por
Antes de querer ensinar uma criança autista
Lira et al. (2009), Gomes (2007), Schwartzman
a ler e escrever, o professor deve entender que
(1994), Leboyer (2002), Mesibov e Shea (1998),
é primordial que seu aluno seja independente
mostram que os alunos com espectro autistas
em ações como comer, ir ao banheiro, se
possuem vários déficits educacionais que
trocar, se comunicar, conseguir se concentrar,
devem ser respeitados pelos educadores na
ficar sentado quando solicitado, entender
hora de montar suas aulas, planejamentos e
regras simples. A educação tem o papel de
avaliações. Iremos listá-los em tópicos, a fins
traduzir para o aluno com autismo a cultura e
didáticos.
os procedimentos não autísticos. (MESIBOV E
SHEA, 1998). • Déficits relacionados à memória no
aluno com autismo são decorrentes da
Existe um consenso geral que a educação é o
dificuldade para organizar informações que
“tratamento mais eficaz e universal do
exigem uma compreensão semântica, pois
autismo” (RIVIÈRE, 1995, p.286). Assim, torna-
apresentam falhas em relação à formação de
se indispensável que a educação a estes seja de
conceitos abrangentes durante o processo de
qualidade e com métodos voltados para que o
assimilação das informações (LIRA, et al., 2009)
ensino seja traduzido em aprendizagem
concreta. • Pode haver uma dificuldade na
integração das informações sensoriais, assim
pode existir uma hiposensibilidade ou
hipersensibilidade a estímulos auditivos, táteis,

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

olfativos e visuais (LEBOYER, 2002 e GOMES, Estimular o desenvolvimento social e


2007). comunicativo; aprimorar o aprendizado e a
• Por possuírem um pensamento capacidade de solucionar problemas; diminuir
concreto, têm dificuldade em relação às comportamentos que interferem com o
diferenças entre o raciocínio lógico e abstrato, aprendizado e com o acesso às oportunidades
à imaginação e criatividade. (MESIBOV E SHEA, de experiências do cotidiano; e ajudar as
1998). famílias a lidarem com o autismo (p.48)
• Dificuldade para discriminar mais de dois
estímulos (por exemplo: estímulo auditivo e METODOLOGIAS E AÇÕES
visual) durante uma mesma atividade
(LEBOYER, 2002 e GOMES, 2007). PEDAGÓGICAS
• Dificuldade na compreensão da Segundo o documento MOAB (2009), uma
linguagem verbal e de realizar generalizações cartilha feita pelo Movimento Orgulho Autista
(MESIBOV E SHEA, 1998). Brasil, os métodos mais utilizados para o ensino
• Dificuldade em relacionar a parte com o de autistas são: ABA - Aplied Behavior Annalysis
todo, sendo que estes geralmente se (Análise do Comportamento Aplicada), Floor
concentram em detalhes ao eleger uma parte Time, Son Rise, Higash, TEACCH (Treatment and
em detrimento do todo. (GOMES, 2007). Education for Autistic and Communication
• Organizar e sequenciar ações. (MESIBOV handicapped Children), Reorganização
E SHEA, 1998). Neurofuncional (Método Doman e Método
• Dificuldade para codificar palavras Padovan), Hanen, SCERTS (Social
separadamente, para reconhecer objetos, para Communication Emotional Regulation
iniciar ou mesmo participar de brincadeiras e Transactional Support).
jogos, pois sua atenção é temporária Dentre estes, o TEACCH é um dos mais
(SCHWARTZMAN, 1994; LEBOYER, 2002). utilizados no mundo. É fundamentado na teoria
• Dificuldade em combinar ou integrar Behaviorista e na Psicolinguística.
ideias, quando estas a parecem contraditórias. A meta a longo prazo do Programa TEACCH é
(MESIBOV E SHEA, 1998). que o aluno com autismo se adeque o melhor
Kwee, et al (2009), considera que o autismo possível à nossa sociedade quando adulto (...)
funciona como uma cultura. Sendo assim, o Trabalhamos para expandir as habilidades e
papel do profissional que atua com esse aluno: entender os alunos, enquanto adaptamos os
é semelhante ao de um intérprete ou guia ambientes às suas necessidades especiais e
transcultural: alguém que entende ambas as limitações (...) Os Serviços educacionais para
culturas e é capaz de traduzir e orientar as pessoas com autismo deveriam ter 2 metas: 1)
expectativas e procedimentos de um ambiente aumentar sua compreensão; 2) tornar o
não-autístico para o indivíduo com alterações ambiente mais compreensível (MESIBOV E
complexas e abrangentes (p.218). SHEA, 1998).
E para Bosa (2006), o atendimento a pessoa
com autismo deve

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

A Associação de Amigos dos Autistas (AMA), pais, professores e outras pessoas em contato
e é referência do trabalho do autismo no Brasil, regular com a criança);
utiliza e desenvolve cursos e apostilas de 4. Conhecer os sistemas teóricos, as teorias
capacitação para profissionais de instituições cognitivistas e behavioristas que guiam tanto a
sobre este método. pesquisa quanto os procedimentos
Kwee et al (2009), aponta como princípios desenvolvidos pelo TEACCH;
norteadores do método TEACCH: 5. Atuar dentro de um modelo generalista e
1. Promover a adaptação de cada indivíduo transdisciplinar, no qual os profissionais de
de duas formas trans atuantes: a primeira é qualquer disciplina interessados em trabalhar
melhorar todas as habilidades para o viver com esta população são capacitados como
através das melhores técnicas educacionais Generalistas. Isto significa que se espera que
disponíveis; a segunda, na medida em que eles tenham uma habilidade funcional de lidar
existe um déficit envolvido, entender e aceitar com toda a ampla gama de problemas
esta deficiência, planejando estruturas provocados pelo autismo, independentemente
ambientais que possam compensá-la; de suas áreas de especialização. Isto permite
2. Colaboração mútua em nível de trabalho que estes assumam a responsabilidade pelo
ativo onde os profissionais aprendem com os indivíduo como um todo, assim como de
pais e usam suas experiências particulares consultar especialistas quando necessário, no
relativas a seu próprio filho e, em entanto é à equipe que cabe a decisão (p.220).
contrapartida, os profissionais oferecem aos Outro método muito utilizado é o Currículo
pais seu conhecimento na área e sua Funcional Natural que foi criado no Peru por
experiência. Juntos definem as prioridades dos meio de uma parceria entre Le Blanc e Mayo,
programas, na Instituição, em casa e na em 1990. Para este método, ensinar o que o
comunidade. Esta união é politicamente a mais aluno precisa aprender é o importante, sendo
potente, tanto para o tratamento quanto para estas habilidades elegidas de acordo com que
a pesquisa; pais, profissionais e os próprios alunos
3. Favorecer uma avaliação que permita a consideram essenciais, em conjunto. Deve ter
compreensão de quais são as habilidades atuais sentido para todos os envolvidos no ato
da criança, as habilidades emergentes e o que educacional, pois só assim a prática fará com
ajuda a desenvolvê-las. Os programas que o aprendizado seja mais rápido (SUPLINO,
específicos de ensino e tratamento são 2010).
individualizados e baseados em uma Currículo Funcional Natural: seu nome já traz
compreensão personalizada de cada indivíduo. em si a explicação se seus princípios. Segundo
A avaliação cuidadosa de cada um envolve Suplino (2010), “Habilidades funcionais seriam,
tanto um processo de avaliação formal (os portanto, todas as habilidades necessárias para
melhores e mais adequados testes disponíveis, viver a vida de uma forma exitosa. Incluem-se
quando possível), quanto informal neste conjunto desde as habilidades básicas até
(observações melhores e mais perspicazes dos as acadêmicas, como ler e escrever” (p.6). E o
Natural “está relacionado ao ato de ensinar. (...)

1696
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O professor deveria encontrar oportunidades A MOAB (Movimento de Orgulho Autista),


de ensino que sejam naturais, evitando em 2009 disponibilizou a cartilha “Ele é
situações artificiais” (idem, p.8). Autista... O que faço?”. Nela se encontram
O ensino, em todas as situações escolares, várias estratégias que também podem ser
deve ser algo prazeroso. O aluno tem que ter utilizadas no ensino de alunos autistas. Dentre
prazer em aprender e se sentir incluído no elas, se destacamos as seguintes:
processo. • Estabelecer vínculo com os educandos:
A autora ainda destaca que o método privilegiar a aproximação e o contato visual;
Currículo Funcional Natural apresenta os • Utilizar uma comunicação que favoreça
seguintes princípios norteadores: a interação e a aprendizagem: evitar o uso de
a) a pessoa como centro: [...] tratar a pessoa ordens complexas e repetir as ordens
portadora de qualquer tipo de deficiência como solicitadas sempre que for preciso;
pessoa, se resume em olhá-la para além da • Organizar e estruturar o ambiente e a
deficiência. Ser capaz de enxergar o ser atividade proposta: mantê-los informados
humano que existe apesar das limitações sobre mudanças no cotidiano escolar, evitar a
verbais, motoras ou comportamentais. associação de vários estímulos durante uma
b) concentração nas habilidades: [...] mesma atividade, priorizar atividades com
concentre sua ação/atenção naquilo que a sentido concreto;
pessoa portadora de deficiência pode fazer, • Priorizar o desenvolvimento da
naquilo que ela faz bem. Que os autonomia e independência, estabelecer regras
comportamentos inapropriados passem a ser o e limites, valorizar as conquistas e minimizar as
fundo e as habilidades passem a ser figura que possibilidades de erro;
detém nossa atenção. • Respeitar o ritmo individual e a idade
c) todos podem aprender: as maiores cronológica dos educandos,
dificuldades não estão na aprendizagem, mas Sobre as estratégias no atendimento ao
no ensino. [...] as pessoas portadoras de aluno com autismo, Barbosa (2009), destaca a
deficiência podem aprender muitas coisas, importância da demonstração, da necessidade
porém, o professor necessita analisar qual a de:
melhor forma de ensinar, quais os melhores Mostrar como fazer, por vezes
procedimentos, os melhores materiais. repetitivamente e não ordenar que o faça. As
d) participação da família no processo de repetições, ao longo dos exercícios, aliados com
aprendizagem: [...] a participação das famílias é representações visuais, são uma constante
fator decisivo nos desenvolvimento das pessoas necessidade neste tipo de crianças sendo uma
portadoras de deficiências. Trata-se de encarar estratégia que permite uma melhor aquisição
os familiares como parceiros numa tarefa do conhecimento (p.13).
comum. Tal tarefa se dá em dois aspectos: Enfim, entendemos que tanto no ensino
potencializando os pais [...] e redimensionando regular, como na educação especial, todo aluno
a postura profissional [...] (p.39;42). deve ser visto em seu todo: com suas
potencialidades e limites. Cabe ao professor

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

saber delimitar estratégias que permitam que o


melhor de cada um seja desenvolvido,
mediante muito conhecimento teórico e
prático, mas principalmente, sendo disponível
para aprender a ensinar a cada instante e em
todas as situações.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo, trouxemos uma breve revisão bibliográfica sobre o Transtorno do Espectro
Autista. Suas definições e as implicâncias da condição de autista para o processo de ensino
aprendizagem deste aluno.
Por ser um tema relativamente novo, seu primeiro relato consta em 1943, com Leo Kanner,
ainda há muito que ser descoberto. Porém, estudos cada vez mais criteriosos estão sendo feitos
para que se entenda mais sobre esse transtorno.
No que tange às políticas públicas relacionadas à educação especial em geral, Mendes
(2006), sintetiza bem o período que vivemos:
Em resumo, ao longo dos últimos trinta anos, tem-se assistido a um grande debate acerca
das vantagens e desvantagens, antes, da integração escolar, e, mais recentemente, da inclusão
escolar. A questão sobre qual e a melhor forma de educar as crianças e jovens com necessidades
educacionais especiais não tem resposta ou ideia pronta. Na atualidade, as propostas variam
desde a ideia da inclusão total – posição que defende que todos os alunos devem ser educados
apenas e só na classe da escola regular – até a ideia de que a diversidade de características implica
a existência de um contínuo de serviços e de uma diversidade de opções (MENDES, 2006, p.396).
Métodos educacionais vêm sendo aprimorados e difundidos para que autistas possam ter
acesso a um ensino de qualidade. O TEACCH e Funcional Natural se firmaram como os principais
em ensino de pessoas com TEA no Brasil, para que crianças e adultos com diferentes graus de
comprometimentos tenham o direito de aprender dentro de suas potencialidades e limites, como
qualquer pessoa.
O presente estudo demonstra que a educação é a intervenção mais eficaz e universal do
autismo. Não como uma atitude apenas de ensinar a ler e escrever, mas sim como um ato de
orientação e amor a estes alunos que tanto precisam de nós, para guiá-los em um mundo tão
confuso e inesperado, como o não autístico.

1699
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

UM OLHAR SOBRE A IMPORTÂNCIA DA


RELAÇAO ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA NO
PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM
Maria Izidoria Pereira Silva1

RESUMO: O artigo propõe como discussão central refletir sobre a importância da participação da
família na escola, como forma de colaborar no processo de ensino aprendizagem na Escola
Municipal Dr. Euvaldo Tomaz de Souza, no município de Porto Nacional – Tocantins. Sobre a
metodologia usou-se embasamento teórico em artigos científicos, livros, teses e dissertações.
Realizou-se ainda entrevistas com os pais dos alunos da referida escola e com os professores.
Sabe-se que a relação professor e aluno, o planejamento, pratica educacional e o uso de
metodologia diferenciadas são fatores importantes no processo de ensino aprendizagem dos
alunos, todavia, é necessário ressaltar ainda, que a família desenvolve um papel importante nesse
desenvolvimento da criança, e, infelizmente, nem todos os pais acompanham seus filhos na
escola, o que acaba prejudicando e dificultando o trabalho do educador.

Palavras-Chave: Família e escola; Ensino aprendizagem; Recursos didáticos.

1Professora de. Ensino Fundamental. na Rede Municipal de Porto Nacional – TO.


Graduação: Normal Superior, Pedagogia, Especialização em Gestão Escolar; Mestranda em Ciência da
Educação.
E-mail: dorinha3319@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO maior desenvolvimento econômico e à


população, uma melhor inserção social,
A escola desempenha um importante papel atingindo objetivos comuns humanos enquanto
na formação dos cidadãos, ela é responsável sociedade de reduzir a pobreza, eliminar a
pelo contato da criança com a vida acadêmica e miséria, acabar com o analfabetismo, reduzir os
fundamentos básicos para seu índices de violência e preconceito.
desenvolvimento social e profissional, porém, o De forma mais específica, defendendo a
papel da família, se faz tão importante quanto, hipótese de que os indivíduos, ao serem
para o desenvolvimento eficaz do indivíduo. O estimulados por suas famílias e grupos sociais
ideal é que haja engajamento dos pais na vida inseridos, podem conseguir um melhor
escolar de seus filhos, para que a busca pela desenvolvimento acadêmico, há a melhoria
educação e conhecimento seja incentivada e os qualidade de vida dos alunos, já que estes
subsídios necessários sejam fornecidos. desenvolverão habilidades e conhecimentos
Sabe-se que a educação básica é necessários para seus sucessos profissionais e
fundamental para o desempenho estudantil pessoais; maior desenvolvimento do país já que
dos indivíduos na escola. Serve como base para o índice de qualidade da educação se elevará,
o desenvolvimento do conhecimento e fazendo com que nosso país finalmente alcance
aprimoramento de habilidades necessárias o status de “país desenvolvido”; uma melhor
para que o indivíduo possa contribuir inserção social do indivíduo considerando que a
ativamente em seu meio. qualidade de vida está diretamente ligada à
A hipótese levantada nesse artigo defende adequação social; redução da pobreza já que a
que o envolvimento dos pais nas atividades mão de obra do país pode aumentar
escolares e seu incentivo na busca por significativamente, gerando mais empregos,
conhecimento, tem afeto direto na qualidade oportunidades e capital; quanto aos benefícios
de aprendizagem de seus filhos. para redução de violência e preconceito, a
Diante da necessidade de melhoria da resposta é simples: a partir do desenvolvimento
educação para o desenvolvimento do país, qual intelectual do indivíduo, seu bem-estar social,
a influência da família e escola no processo de ele fica menos propício a praticar tais atos.
ensino e aprendizagem, capaz de elevar o Objetivamos analisar a importância de uma
índice médio de educação do Brasil? relação entre escola e família para o melhor
O artigo pretende analisar a importância de desenvolvimento acadêmico da criança,
uma relação entre escola e família para o principalmente nas séries iniciais que
melhor desenvolvimento acadêmico da criança, constituem a base para uma boa qualidade de
principalmente nas séries iniciais que ensino, na Escola Municipal Dr. Euvaldo Tomaz
constituem a base para uma boa qualidade de de Souza no município de Porto Nacional, bem
ensino. como: medir a qualidade da relação escola-
A relação entre família e a escola, quando família por meio da aplicação de questionários
efetivada, é capaz de proporcionar ao aluno aos pais; realizar entrevistas com os pais dos
uma melhor qualidade de vida, ao país um alunos para constatar a importância dada pela

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

família em relação ao desenvolvimento De acordo com Braga (2016), tão importante


acadêmico de seus filhos; verificar a quanto o papel do professor na educação das
participação dos pais em eventos escolares, crianças é o papel dos pais, afinal, são eles que
reuniões com professores e atividades para estabelecem os primeiros ciclos de
casa, por meio de formulários a serem aprendizagem em casa. Por isso, é muito
preenchidos pelos professores. importante que exista essa consciência por
A metodologia do trabalho é dividida em três parte dos responsáveis e que eles saibam qual
partes: a primeira consiste em medir a é o dever da escola e o que compete a eles.
qualidade da relação escola-família por meio da A educação básica é a porta de entrada da
aplicação de questionários aos pais; A segunda criança para o ambiente escolar. Nesse
pretende realizar entrevistas com os pais dos momento faz-se necessário de empenho da
alunos para constatar a importância dada pela escola e da família para que a criança, desde
família em relação ao desenvolvimento cedo, saiba a importância dos estudos para sua
acadêmico de seus filhos. A terceira e última qualidade de vida.
parte busca verificar a participação dos pais em Segundo Braga(2016), a cada dia que passa,
eventos escolares, reuniões com professores e é possível perceber uma certa inversão de
atividades para casa, por meio de formulários a papéis: as famílias confiam à educação formal
serem preenchidos pelos professores. de seus filhos desde muito cedo à escola, ou
Este trabalho é dividido em itens, o primeiro seja, os pais tem consciência do seu papel, mas
por meio da introdução, na qual o tema, nem sempre acabam colocando isso em prática,
hipótese, justificativa, problemática e objetivos muitas vezes por questão de tempo e a vida
são apresentados, o segundo por meio de um agitada que o ser humano vem levando. Essa
referencial teórico, abordando as falas de lacuna pode acarretar problemas futuros na
alguns autores sobre a importância da relação educação daquela criança, e, se não foram
entre a escola e a família para a qualidade de tratados com a devida atenção podem evoluir
aprendizagem, o terceiro apresenta a com o tempo, Braga (2016).
metodologia a ser utilizada, e, por último, as A escola deve estar atenta também à
considerações e referências. realidade do aluno e o meio em que ele está
inserido. Muitas crianças de baixa renda, não se
REFERENCIAL TEÓRICO dedicam inteiramente ao estudo por ajudar em
casa, ou não possuem pais presentes, pois estes
A escola é responsável por desenvolver
trabalham em múltiplos empregos para
habilidades, promover o conhecimento e
sustentar a família.
enriquecer as experiências do aluno. Sua
Crianças são crianças, elas precisam
importância é tão grande, que o maior
estabelecer com seus pais, professores e outros
indicador de desenvolvimento dos países trata-
adultos, relações equilibradas para o seu
se de seu nível médio de desenvolvimento
desenvolvimento. Elas precisam de um espaço
educacional, ou seja, a qualidade de ensino, a
adequado, no qual as aprendizagens primárias
capacidade intelectual e prática no
sejam vividas e ensinadas. E cabe aos pais ou
desenvolvimento de tarefas dos seus cidadãos.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

responsável estabelecer os primeiros limites, os mentalidade saudável de um cidadão


“sins” e “nãos” que essa criança deve obedecer. capacitado para contribuir em seu meio.
Esse limite não é papel da escola, e sim da A Constituição Federal (1988), aponta o
família. A escola cabe educar essas crianças papel que a família deve desempenhar na
para que elas tenham maturidade para pensar criação e educação de seus membros,
em alternativas, nos problemas que as gerações Art. 205. A educação, direito de todos e
anteriores deixam como herança e nos novos dever do Estado e da família, será promovida e
desafios que serão enfrentados e para que isso incentivada com a colaboração da sociedade,
aconteça, é preciso que família e escola visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
caminhem juntas, cumprindo cada uma o seu seu preparo para o exercício da cidadania e sua
papel tendo em vista que pais e professores qualificação para o trabalho. [...] Art. 227. É
têm que reconhecer seus papéis na educação dever da família, da sociedade e do Estado
das crianças, para que nenhuma instância assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
esteja ausente de seus deveres como tem com absoluta prioridade, o direito à vida, à
acontecido atualmente, Braga (2016). saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
Sendo assim, não cabe a escola estabelecer profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
limites e prover princípios que as crianças respeito, à liberdade e à convivência familiar e
devem seguir, essa tarefa é pertinente à família. comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
O papel da escola é garantir que a criança tenha forma de negligência, discriminação,
embasamento intelectual perante às situações exploração, violência, crueldade e opressão.
cotidianas, sendo esta capaz de tomar decisões [...] Art. 229. Os pais têm o dever de assistir,
pertinentes a sua vida de acordo com seus criar e educar os filhos menores, e os filhos
valores e princípios familiares. maiores têm o dever de ajudar e amparar os
A sociedade precisa ter consciência de que o pais na velhice, carência ou enfermidade
papel da escola não é transmitir conhecimentos (BRASIL, 2015, s.p.).
da educação básica vinda da educação recebida Para dar mais sustentação às incumbências
em casa, isso é responsabilidade dos pais e da da instituição familiar, o Estatuto da Criança e
família. A instituição de ensino deve ensinar a do Adolescente – ECA (1990), reafirma tais
criança detalhes relacionados à cidadania e os compromissos:
valores éticos, além de ajudar a criança a Art. 53. A criança e o adolescente têm direito
formar opinião e filosofias de vida. Na à educação, visando ao pleno desenvolvimento
instituição se aprende o mundo e suas múltiplas de sua pessoa, preparo para o exercício da
linguagens. Nesta realiza-se uma caminhada cidadania e qualificação para o trabalho [...]
acadêmica, a qual media novos caminhos para Parágrafo único. É direito dos pais ou
uma vida profissional, Braga (2016). responsáveis ter ciência do processo
A escola é aquela que permite à criança seu pedagógico, bem como participar da definição
desenvolvimento intelectual por meio de das propostas educacionais. [...] Art. 55. Os pais
estudos e práticas que consolidam uma ou responsável têm a obrigação de matricular
seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

[...] Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou focadas no cumprimento dele, sem que haja
responsável: V - obrigação de matricular o filho culpabilização de uma parte à outra.
ou pupilo e acompanhar sua frequência e Caetano (2003), elenca que a relação entre
aproveitamento escolar (BRASIL, 2002, sp.). escola e família precisa ser de parceria, cada
Sobre o papel da escola na educação dos papel precisa ser percebido por ambas as
cidadãos, Içami Tiba aponta que: instituições. Segundo o autor, um dos motivos
A escola precisa alertar os pais sobre a que tem prejudicado o relacionamento entre as
importância de sua participação: o interesse em duas instituições, sendo este o de atribuir o
acompanhar os estudos dos filhos é um dos fracasso escolar do aluno ao contexto familiar,
principais estímulos para que eles – alunos – como se as dificuldades que o aluno enfrenta
estudem. É importante a participação dos pais no ambiente escolar fosse exclusivamente
nas reuniões escolares que todos os meios para relacionada ao que ele enfrenta no ambiente
convocá-los são válidos: recados na agenda, familiar. É necessário estabelecer entre ambas
correspondência, telefonemas, e-mails ou as funções, e, colocar sempre, em primeiro
mesmo o sistema “boca a boca”. Cada escola lugar o sujeito que é o fator principal da
pode utilizar o meio que julgar mais suficiente educação, o aluno, estabelecendo diálogos que
(TIBA, 2006, p.152). contribuam para a efetivação de
Na relação família e escola podem ser responsabilidades exercidas pelas duas
destacados, segundo Oliveira (2002), dois instituições.
aspectos principais: 1) a incapacidade da família A relação escola e família têm despertado
para a tarefa de educar os filhos e 2) a entrada interesses de pesquisadores, entre esses
da escola para subsidiar essa tarefa, destacaremos o estudo de Polinia e Dessen
principalmente quando se trata do campo (2005).
moral. Logo, pode-se perceber que: Para as pesquisadoras a instituição escola
A partir destas colocações, vê-se que a deve reconhecer a importância da família no
relação família-escola está permeada por um ambiente escolar, estabelecendo uma
movimento de culpabilização e não de interação, auxiliando a instituição família a
responsabilização compartilhada, além de estar exercerem o seu papel na educação e na busca
marcada pela existência de uma forte atenção de orientações no sucesso profissional dos
da escola dirigida à instrumentalização dos pais filhos. A interação entre as duas instituições
para a ação educacional, por se acreditar que a traz benefícios que contribuem para “possíveis
participação da família é condição necessária transformações evolutivas nos níveis
para o sucesso escolar (OLIVEIRA, 2002, p.107). cognitivos, afetivos, sociais e de personalidade
A escola e a família devem estar cientes de dos alunos” (POLINIA; DESSESN, 2005, p. 305).
seu papel na vida da criança e do adolescente, O desenvolvimento do indivíduo que possui
de forma a desempenhar sua função da melhor apoio familiar acerca de suas atividades
forma possível para garantir o sucesso do escolares é bem mais satisfatório. É
indivíduo. Deve ser uma ação conjunta, na qual extremamente necessário que as famílias
ambas as partes estejam cientes de seu papel e

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

estejam cientes da importância que o incentivo familiar no contexto escolar, isso não tem sido
à educação provoca na vida das crianças. suficiente para superar o grande atraso do
Ribeiro e Andrade (2006), abordam a sistema educacional – uma das questões
intervenção das políticas públicas na relação cruciais de educação de sociedades
escola e família. Trazendo discussões sobre a contemporâneas – que perseguem um sistema
preocupação das políticas públicas em apontar que assegure a otimização de uma tarefa
fundamentos na relação entre essas essencial em suas destinações históricas
instituições para uma escolarização bem- (NOGUEIRA, 2002).
sucedida. A otimização da educação é e sempre será
A escola precisa criar interações entre as uma tarefa de extrema importância para todos
partes família/escola, não como uma forma de os países se desenvolverem. É a partir do
troca de favores, mas como um complemente conhecimento de sua população que se
do que se estabelece no ambiente familiar. As aumenta a qualidade de vida e reduz os índices
proximidades entre ambas as partes não é uma de pobreza, violência e preconceitos, dentre
tarefa fácil, exige confiança e criar estratégias outros fatores negativos que permeiam a
para atrair a família. Embora, seja uma realidade da vida do brasileiro.
obrigação matricular seu filho na instituição Marchesi (2004), afirma que a educação não
escolar, a família precisa compreender que essa é uma tarefa que a escola possa realizar sozinha
obrigação não a faz outra instituição, a não ser sem a cooperação de outras instituições e, a
a família, aquela que cuida, que ensina valores, nosso ver, a família é a instituição que mais
amor, carinho, atenção (BRASIL, 2002). perto se encontra da escola.
Piaget (2007), ao falar sobre a relação entre Sendo assim se levarmos em consideração
a escola e a família aponta: que Família e Escola buscam atingir os mesmos
Uma ligação estreita e continuada entre os objetivos, devem elas comungar os mesmos
professores e os pais leva, pois a muita coisa ideais para que possam vir a superar
que a uma informação mútua: este intercâmbio dificuldades e conflitos que diariamente
acaba resultando em ajuda recíproca e, angustiam os profissionais da escola e também
frequentemente, em aperfeiçoamento real dos os próprios alunos e suas famílias.
métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das A escola nunca educará sozinha, de modo
preocupações profissionais dos pais, e ao que a responsabilidade educacional da família
proporcionar, reciprocamente, aos pais um jamais cessará. Uma vez escolhida a escola, a
interesse pelas coisas da escola chega-se até relação com ela apenas começa. É preciso o
mesmo a uma divisão de responsabilidades diálogo entre escola, pais e filhos (REIS, 2007, p.
(2007, p.50). 6).
Quando a escola e as famílias trabalham Esse diálogo entre a escola e os membros da
juntas, a educação aumenta sua qualidade e família, é essencial para o alinhamento de
transformam as vidas que dependem delas. metodologias efetivas para o ensino. “[...] se
Embora a legislação seja clara e forneça todo toda pessoa tem direito à educação, é evidente
o embasamento legal no que tange à inclusão que os pais também possuem o direito de

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

serem, senão educados, ao menos, informados Por isso é necessário que a escola
no tocante à melhor educação a ser individualize seus alunos oferecendo um
proporcionada a seus filhos” (PIAGET, 2007, p. tratamento personalizado de acordo com as
50). necessidades que a criança ou adolescente
A família pode e deve se envolver na apresenta de tratamento, reforço e afeto.
educação de seus filhos, de forma a elevar a A família é o primeiro e principal contexto de
qualidade da instituição em que seu membro socialização dos seres humanos, é um entorno
da família está matriculado. constante na vida das pessoas; mesmo que ao
Lembrando Corrêa, (2001), as diferenças no longo do ciclo vital se cruze com outros
aprender dizem respeito à hereditariedade, ao contextos como a escola e o trabalho.
gênero, à cultura e ao ritmo no processo de (EVANGELISTA; GOMES, 2003, p.203)
aprendizagem. Percebe-se então, que [...] tanto a família quanto a escola desejam
experiências familiares aliadas ao trabalho a mesma coisa: preparar as crianças para o
escolar resultam numa melhora eficaz em mundo; no entanto, a família tem suas
relação ao nível de aprendizagem e particularidades que a diferenciam da escola, e
consequentemente do rendimento escolar, suas necessidades que a aproximam dessa
pois, fica claro no discurso diário dos mesma instituição. A escola tem sua
professores que os alunos que recebem metodologia e filosofia para educar uma
atenção significativa por parte da família, criança, no entanto ela necessita da família
tendem a apresentar um melhor rendimento para concretizar o seu projeto educativo
escolar, ao passo que aqueles que não recebem (PAROLIM, 2003, p. 99).
atenção adequada apresentam quase sempre O importante a ser entendido é que a relação
desempenho escolar abaixo do esperado. Foi o entre família e a escola, quando efetivada, é
que se observou nesta 5ª série. Quando a capaz de proporcionar ao aluno uma melhor
família passou a frequentar a escola e qualidade de vida, ao país um maior
relacionar-se melhor com seus filhos e com os desenvolvimento econômico e à população,
professores, estes mostraram uma melhora uma melhor inserção social, atingindo objetivos
sensível em seus rendimentos. comuns humanos enquanto sociedade de
Delors (2005), observa: reduzir a pobreza, eliminar a miséria, acabar
Os meios de vida, de estudos, por onde com o analfabetismo, reduzir os índices de
circulam os aprendizes são tão importantes violência e preconceito.
quanto às atividades educacionais que abrigam.
Sua influência deve-se ao fato de que eles são METODOLOGIA
desigualmente motivadores, diferentemente
Objetivando medir a qualidade da relação
estimulantes e mais ou menos propícios a
escola-família por meio da aplicação de
aprendizagens significativas. A cultura da
questionários aos pais dos alunos da educação
instituição, da família e da sociedade é
infantil e fundamental I, com questões
igualmente um fator de ensino (DELORS, 2005,
pertinentes.
p. 196).

1708
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

O próximo passo foi a realização de


entrevistas com os pais dos alunos para
constatar a importância dada pela família em
relação ao desenvolvimento acadêmico de seus
filhos. Durante essa entrevista, a ser realizada
pelo coordenador ou gestor escolar, as
perguntas devem ser abertas e sem roteiros,
com o objetivo de desenvolver um
relacionamento com os pais dos alunos, para
que eles possam se abrir e contar sobre sua
realidade, livremente, sem receios. O foco da
conversa deve ser na importância dada pela
família aos estudos de seus filhos, analisando
indicadores como condição financeira, nível
intelectual, formação dos pais etc.
O último passo foi a verificação a
participação dos pais em eventos escolares,
reuniões com professores e atividades para
casa, por meio de formulários a serem
preenchidos pelos professores. Checar lista de
presença em eventos da instituição e comparar
o envolvimento dos pais com o
desenvolvimento escolar dos seus filhos,
buscando confirmar a hipótese de que alunos
com pais presentes em atividades escolares,
são mais participativos e possuem um melhor
desenvolvimento escolar.

1709
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola é responsável por desenvolver habilidades, promover o conhecimento e
enriquecer as experiências do aluno. Sua importância é tão grande, que o maior indicador de
desenvolvimento dos países trata-se de seu nível médio de desenvolvimento educacional, ou seja,
a qualidade de ensino, a capacidade intelectual e prática no desenvolvimento de tarefas dos seus
cidadãos.
A educação básica é a porta de entrada da criança para o ambiente escolar. Nesse
momento faz-se necessário de empenho da escola e da família para que a criança, desde cedo,
saiba a importância dos estudos para sua qualidade de vida. Sendo assim, não cabe a escola
estabelecer limites e prover princípios que as crianças devem seguir, essa tarefa é pertinente à
família. O papel da escola é garantir que a criança tenha embasamento intelectual perante às
situações cotidianas, sendo esta capaz de tomar decisões pertinentes a sua vida de acordo com
seus valores e princípios familiares.

1710
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REIS, Risolene Pereira. In. Mundo Jovem, nº. 373. Fev. 2007, p.6.

RIBEIRO, D. F.; ANDRADE, A. S. A assimetria na relação entre família e escola pública.


Paidéia, v. 16, n. 35, p. 385-394, 2006. Disponível em:
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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

ROMANELLI, G. Autoridade e poder na família. IN: Carvalho, M. C.B.A. Família


contemporânea em debate. São Paulo: EDUC/Cortez, 2005.

TIBA, I. Ensinar aprendendo: novos paradigmas da educação. 18 ed. São Paulo: Integrare
Editora, 2006.

1712
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

UM OLHAR SOBRE O PROCESSO DE ENSINO


APRENDIZAGEM NA ESCOLA INDÍGENA TORO
HACHÔ ALDEIA PEDRA BRANCA EM
GOIATINS-TO
Joana D’arc Gomes Cardoso Vanderley 1
Maria Cecília Florêncio da Silva 2

RESUMO: O presente artigo discute o processo de ensino aprendizagem indígena na Escola Toro
Hacrô, localizada na Aldeia Pedra Branca, no município de Goiatins/TO. E tem como objetivo
conhecer mais as dificuldades de aprendizagem dos alunos da referida escola e também investigar
as metodologias mais utilizadas na sala de aula. No que se refere a metodologia realizou-se um
embasamento teórico, em livros, teses, dissertações e artigos científicos em diferentes autores.
Realizou-se visita a campo, entrevistas com alunos e professores. A Educação Indígena no Brasil
é garantida pela Constituição Federal (CF) de 1988, e nesse ensino busca respeitar a vivência e a
cultura do aluno indígena, valorizando a mesma. Na escola indígena o professor também precisa

1 Professora de Educação Básica na Escola Indígena Toro Hacô na Aldeia Pedra Branca/Goiatins-TO.
Graduação: Mestranda em Ciências da Educação; Licenciatura em Letras: Português/ Inglês; Especialização em
Culturas e História dos Povos Indígenas; Especialização em Gestão, Supervisão e Orientação Educacional;
Especialização em Supervisão e Orientação Educacional
E-mail: procop19@yahoo.com.br
2 Coordenadora Pedagógica na Rede Municipal de Tupirama – TO.

Graduação: Mestranda em Ciências da Educação; Normal Superior; Especialização em Gestão Educacional;


Especialização em Metodologia do Ensino de Ciências Humanas: História e Geografia.
E-mail: ceciliaflorsilva@hotmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

está se organizando e planejando suas aulas, com diferentes recursos didáticos como forma de
facilitar o processo de ensino aprendizagem.

Palavras-Chave: Educação Indígena; Escola Toro Hacrô; Ensino-aprendizagem; Recursos


Didáticos.

ABSTRACT: This article discusses the process of teaching indigenous learning at the Toro Hacrô
School, located in Pedra Branca Village, in Goiatins / TO. And it aims to know more about the
learning difficulties of the students of that school and also to investigate the methodologies most
used in the classroom. Regarding the methodology, a theoretical basis was made in books, theses,
dissertations and scientific articles by different authors. Field visits, interviews with students and
teachers were conducted. Indigenous Education in Brazil is guaranteed by the Federal
Constitution (CF) of 1988, and in this teaching seeks to respect the experience and culture of
indigenous students, valuing it. At the indigenous school the teacher also needs to be organizing
and planning their classes, with different didactic resources as a way of facilitating the teaching-
learning process.

Keywords: Indigenous Education; Toro Hacrô school; Teaching-Learning; Didactic Resources.

KRAHÔ: A Escola Toro Hacrô, ita mã Aldeia Pedra Branca, kãm município de Goiatins/TO. Ita kre
kãm, wa ipê mã aluno mã ihhôc to ihêmpej catêjê mã ajpãn to ihêmpej. Pom, ampojahkre kêt
itajê caxuw wa mã ajpên mã icakôc, wa mã to aluno mã ihêmpej xàh caxuw, pom livro kám
itajê.Wa ityj hanéan, pom põ, cô nã ikre kãm ampo itajê to mã apê sala kre kám, que professor
mã alunos ihtyj entrevista mã visita to apê nê escola kám mã hahkre pej.Pom, 1988 Brasil kre kãm
mehi jã educação ita jakràj xwàhnã ampo itajê to ite mã cúmã mã ihêmpej caxuw, wa mam pê
professor catêjê mã ijô planejamento to nã xo livro kãm ampo itajê mã ihêmpej nare, wa ityj cute
mã amji ton xàh to mã to ihêmpej, quê hamr cupaa te.

HARKWA - CJÊJ: Mẽhῖ te amji jahkre; Escola Toro Hacrô; Ihhêmpêj – hahkrepej xá;ampo itajê pape
kãm.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO não indígena aprendendo o português, por


meio do professor não indígena, sendo que o
Esse artigo traz parte dos resultados de um material didático oferecido nessas aulas, não
estudo de caso sobre o processo de ensino condiz com a realidade desses alunos. Durante
aprendizagem indígena na Escola Indígena Toro o processo e ensino e aprendizagem na escola,
Hacrô, no município de Goiatins/TO. Uma vez essas crianças passam a ter contato com
que o objeto do estudo é identificar as outras(s) língua(s) com o decorrer do tempo a
dificuldades de ensino-aprendizagem dos aquisição do português como segunda língua a
alunos da referida escola. Para isso faz ser adquirida como oralmente, a língua
necessário entender como é feito o processo portuguesa passa a fazer parte do cotidiano
educacional e as prática pedagógica trabalhada dessas crianças. Dessa forma e inserida o uso do
por esses professores que atua na sala de aula. português pelos indígenas para se
Sendo assim, buscamos indagar a atuação do comunicarem com os professores não
professor com o processo e ensino indígenas e com a sociedade envolvente.
aprendizagem desses alunos. Esse trabalho faz Sabemos que desde muito cedo os
parte de um projeto da dissertação de indígenas Krahô convivem com duas culturas,
mestrado com a temática ensino de língua deixando claro, a interculturalidade em suas
portuguesa como língua adicional no Ensino vivências e práticas pedagógicas. É de suma
Fundamental: Um estudo de caso na escola relevância dizer ressaltar que esse trabalho tem
Indígena Toro Hacrô. Portanto, parte-se de uma como foco discutir o ensino da língua
vivência e pesquisa de campo adquiridas com portuguesa como segunda língua, objetivando
vista a contribuir com as reflexões aqui a construção de pensar uma educação indígena
abordadas. As experiências e reflexões diferenciada, além do espaço escolar,
apresentadas neste trabalho são resultados de comtemplando uma melhor qualidade de
estudos e práticas pedagógicas realizadas na ensino e aprendizagens desses alunos.
aldeia Pedra Branca. Experiências que levam à O povo Krahô é considerado bilingue, pois
aprender um pouco sobre a cultutura desse ele tem contato com as linguas materna e
povo e perceber o processo de ensino portuguesa. Os Krahô usam a língua portuguesa
aprendizagem. quando precisam se comunicar com os não
Como professora da Língua Portuguesa, indigenas e entre eles uzam somente a língua
tenho preocupando com alguns aspectos que materna. As crianças Krahô são todas
envolvem a prática dessa disciplina no currículo alfabetizadas na lingua materna, é apartir do 6º
na Escola Indígena Toro Hacrô como segunda ano que será inserida a segunda língua, a
língua, sendo que a língua materna mẽhῖ jarkwa portuguesa. Na Escola Indigena Toro Hacrô
e a primeira. somente os professores indígenas ministram
Com relação as crianças indígenas quando a aulas do 1º ao 5º anos.
mesma chega na escola todos são monolíngue Este artigo é o resultado de um estudo de
em Krahô. Más no momento que elas chegam à caso, etnográfico e qualitativa do processo de
escola, as crianças passam a ter contato com ensino aprendizagem indígena na Escola

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Indígena Toro Hacrô, realizada no período de Assim sendo, possui outros meios de
01/05/2019 a 31/09/2019, na aldeia Pedra comunicação que está inserido no cotidiano do
Branca, no município de Goiatins no Estado do indígena para aquisição do português que se
Tocantins. torna presente em todas as aldeias há muito
Nesta pesquisa utilizamos a metodologia tempo. Com o surgimento da tecnologia nas
qualitativa exploratória e etnográfica, sendo o aldeias como: celular, televisão, computador,
principal objeto do estudo é identificar as notebook etc. contribui para disseminação da
dificuldades de ensino-aprendizagem dos língua portuguesa entre os indígenas Krahô.
alunos da Escola Indígena Toro Hacrô, na qual No cenário nacional, o português não é a
atuei como professora, coordenadora única língua falada. Aqui existem várias outras
pedagógica, supervisora indígena na Diretoria línguas faladas por imigrantes, que trouxeram
Regional de Ensino de Pedro Afonso, sendo que para cá e seus descendentes a usam no dia-a-
atualmente estou exercendo a função de dia, passando de geração a geração (RCNEI,
professora na referida escola. Nos últimos anos 1998, p. 115). Essas diferentes línguas são
desenvolvi projeto de pesquisa com a temática aprendidas em diferentes contextos podendo
Escola Indígena Toro Hacrô: Um estudo sobre a ser na escola, nas brincadeiras com os colegas,
educação escolar indígena na aldeia Pedra sendo que o primeiro contato se dá com a
Branca. família em casa.
É importante frisar, que segundos dados de Desse modo, a escola Toro Hacrô, situada na
Abreu (2012), a maioria dos Krahô é bilíngue em Aldeia Pedra Branca está inserida num
língua materna e em português, dentre estes, programa que atende às prerrogativas da
todos os jovens, adultos e velhos; enquanto Constituição Brasileira de 1988, que é um
que as crianças são monolíngue em língua sistema de educação escolar bilíngue,
materna, mas em contato com falantes do intercultural e especifica. E no seu artigo 210
português e, na escola, vão, paulatinamente, assegura às comunidades indígenas o uso de
adquirindo o português como segunda língua. suas línguas maternas.
Este processo de aquisição do português ocorre Em nosso pais são faladas mais duzentas
entre esses indígenas nas relações intergrupos, línguas, dentre estas, estão as línguas
no Posto de Saúde, com funcionários da FUNAI, indígenas, que segundo Rodrigues (1986), cerca
da SEDUC, Políticos além de órgãos com IBAMA, de 180 são faladas por diferentes povos e de
Professores não indígenas, pesquisadores, diversas maneiras, divergindo assim umas das
professores Universitários, religiosos e na outras nos campos semântico, morfológico e
própria escola, visto que muitos professores sintático. No que se refere a essas línguas,
não indígenas não dominam os conhecimentos temos uma especificidade, pois elas foram
da língua indígena. Atrelados a esses aspectos, estigmatizadas, durante muito tempo, por
vale ressaltar que muitas aldeias Krahô estão parte da sociedade não indígena. Contudo
próximas das cidades e estes indígenas mantêm atualmente, observamos mudanças nesse
um contato direto com essas cidades. cenário, e a construção de escolas indígenas
dentro das aldeias é parte desse processo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Em nosso país temos português como língua falante-ouvinte usando competências que se
oficial, então, todas as outras línguas aqui completam, por meio de uma língua ou outra
existentes são consideradas minoritárias, o que ou as duas juntas [...]’’, ou seja, uma única
gera, de certo modo, estigmas. Além disso, um pessoa que usa as regras gramaticais de uma
fator mais agravante, conforme afirma língua, que a regula, separadas ou interligadas.
Albuquerque (2011), “línguas minoritárias A autora ainda afirma que segundo Grosjean
podem existir restritas à condição oral”, ou (1982):
seja, existindo somente na fala, dificultando O termo bilíngue se refere ao uso de duas ou
assim a sua promulgação. mais línguas pelo individuo, de acordo com suas
As Diretrizes para a Política Nacional de necessidades de comunicação, que nasce como
Educação Escolar Indígena do MEC (1993), em consequência do contato entre dois grupos
consonância com a nova Constituição linguísticos distintos econômica e
Brasileira, afirma que Educação Escolar politicamente (p.26).
Indígena deve ser intercultural, bilíngue e Destaca-se a importância dessa abordagem,
diferenciada; levando em consideração a visto que, como assegura a antropóloga Ingrid
situação sociolinguística, assim como o Weber apud Silveira e Barros (2006), ao afirmar
momento histórico e as atuais implicações de que, atualmente, apesar de a sociedade
caráter psicolinguístico que fazem com que a indígena estar aumentando em quantidade, as
educação escolar indígena seja línguas, em número, estão diminuindo, devido
necessariamente bilíngue. a muitos povos falarem só o português e suas
Segundo Albuquerque (2007), apesar disso, línguas caírem em desuso, fenômeno este que
de forma geral, a Educação Escolar Indígena em se agrava com o passar dos tempos, podendo
nosso pais, ao longo do período de contato com ser observado atualmente o desaparecimento
a sociedade envolvente, ainda vem de uma língua a cada três gerações.
acontecendo de modo contrário aos anseios e De modo geral, para Grupioni (2003), os
interesses das comunidades indígenas, processos de formação têm por objetivo
pregando uma prática pedagógica opressora possibilitar aos professores indígenas o
como forma de domínio e submissão cultural desenvolvimento de um conjunto de
dos povos indígenas, com ênfase tanto na competências profissionais que lhes permita
religião como na economia. atuar, de forma responsável e crítica, nos
Segundo os PCN (2005, P. 21), a atual LDB contextos interculturais e sociolinguísticos nos
(9394/96), deixa bem claro que a educação quais as escolas indígenas estão inseridas. Em
escolar indígena deverá ter um tratamento muitas situações, cabe ao professor indígena
diferenciado das demais escolas do sistema de atuar como mediador e interlocutor nas
ensino, o que é enfatizado pela prática do relações de sua comunidade com
bilinguismo e da interculturalidade. representantes do mundo de fora da aldeia, e
Com base nessa premissa, Vieira (s/d) afirma com a sistematização e organização de novos
que “o bilíngue não é a soma de dois saberes e práticas (GRUPIONI, 2003).
monolíngues em uma pessoa, mas um único

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

As experiencias e reflexões apresentadas Como meio de subsistência os Krahô plantam


nesta monografia são resultado também de mandioca, milho, banana, criam porcos,
nossa experiência docente, com 15 anos de galinhas, e ainda utilizam a caça para
estudos e práticas pedagógicas realizadas na complementar a alimentação. Os Krahô
aldeia Pedra Branca, primeiro como professora também produzem objetos para uso cotidiano
e depois como coordenadora e supervisora de forma artesanal, como cestas, bolsas,
indígena. Experiências que nos levaram à colares, brincos, pulseiras, arcos e flechas e
aprender um pouco sobre a cultutura desse bordunas. E para isso utilizam fibras de
povo. palmeiras, madeira e sementes de espécies
variadas do cerrado. Contudo, Souza (2011),
CONTEXTUALIZAÇÃO DA informa que, em um contexto de contato
constante com a sociedade não indígena, os
PESQUISA povos indígenas brasileiros reduziram o manejo
Os Krahô são um povo indígena que habita o de suas atividades primárias necessárias para se
território entre os rios Manoel Alves Grande e auto sustentarem e passaram a depender
Manoel Alves Pequeno, afluentes da margem também de instituições federais, estaduais,
direita do rio Tocantins, na Terra Indígena municipais, religiosas ou de organizações não
Kraholândia, localizada nos municípios de governamentais para sobreviverem.
Goiatins e Itacajá, no nordeste do Estado do Os Krahô integram o complexo Timbira,
Tocantins. Segundo dados da FUNASA (2010), a pertencente à família Linguística Jê e ao Tronco
população Krahô é constituída de 2463 linguístico Macrô-Jê, falantes da língua Krahô. O
indígenas. A vegetação predominante da região complexo linguístico Timbira é formado
é o cerrado, há estreitas florestas que também pelas línguas Canela Apãnjekra, Canela
acompanham os cursos d’água. A “figura 01” Ramkokamekrá, Apinajé, Gavião Pykobyê,
abaixo ilustra a localização da Terra Indígena Gavião Paarkatejê, Krinkati e Krejê
Kraholândia (Krahô em Krahô). (RODRIGUES, 1986). De acordo com Melatti
(1993), esses grupos se subdividem em
Timbiras Orientais (situados a leste do rio do
Tocantins) e Timbiras Ocidentais (situados a
oeste do rio Tocantins).
É imprescindível destacarmos que
atualmente mais de 180 línguas e dialetos são
falados pelos os povos indígenas no Brasil. Elas
integram o acervo de quase sete mil línguas
faladas no mundo contemporâneo (ISA, 2009).
Acreditamos que a língua é o principal
elemento cultural que sustenta a identidade de
Fig. 01. Localização da Terra Indígena Krahô Fonte:
Centro de Trabalho Indigenista (2009).
um povo e, portanto, consegue representar ou
expressar a cultura de um determinado povo.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Mattoso Câmara (1979), assevera que a língua A comunidade da Aldeia Pedra Branca é
é a demonstração em miniatura de toda a composta por 76 famílias e possui um prédio do
cultura de um povo. Esse autor fala da Armazém Centro Cultural Kajré (Figura 03),
importância da preservação da língua de um posto de saúde (Figura 04), motor para
povo, pois ela mostra as suas raízes étnicas. produção de energia, escola, motor para
Embora a população Krahô tenha adotado a bombear água, caixa d’água, poço artesiano,
língua portuguesa como segunda língua na fala casa de reunião (Figura 5).
e na escrita, esta língua só é falada quando eles
se comunicam com a população não indígena.
Esse contato se dá quando eles realizam
compras ou vendas, no trabalho, ao se
relacionarem com técnicos agrícolas e também
na escola. Geralmente as aulas são dadas em
língua portuguesa quando o professor da
disciplina é não indígena e, normalmente, Fig. 03 - Armazém Centro Cultural Kajré. Foto: Joana Darc
quando o professor é indígena as aulas são G. C. Vanderley.
ministradas em língua portuguesa e na língua
materna (SOUZA, 2011).
A comunidade indígena da aldeia Pedra
Branca (Figura 02), estabelecida na parte do
território que se localiza no município de
Goiatins-TO, possui atualmente uma população
de 501 indígenas, entre crianças, adultos e
velhos. Fica no Norte do Estado do Tocantins,
Fig. 4 - Posto de saúde. Foto: Joana Darc G. C. Vanderley.
tem aproximadamente 57 anos de existência
nesse mesmo local. Essa comunidade não tem
deixado de praticar sua cultura tradicional
como: festas, pinturas corporais, roças,
produção de objetos de uso cotidianos de
forma artesanal, caça e pesca e corrida de tora.

Fig. 05 - Casa de reunião. Foto: Joana Darc G. C.


Vanderley.

Fig. 02 - Aldeia Pedra Branca. Foto: Joana Darc G. C.


Vanderley.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo, procuramos descrever sobre o processo de ensino aprendizagem indígena na
escola Toro Hacrô, assim, a partir das análises realizadas no decorrer desta pesquisa, concluímos
que a educação escolar indígena na aldeia Pedra Branca necessita tomar outro rumo e, para isso,
é fundamental percebermos como ela tem atuado na prática e quais são as percepções e os
papéis que os Krahô e os professores não indígenas atribuem a ela, tendo em vista que a escola
deve, criar novas metodologias. Portanto, e de grande relevância que os professores indígenas e
não indígenas se envolva com espaço indígena da criança, para que essa abertura aconteça.
Verifica-se nas entrevistas o desejo de construir o Projeto Político Pedagógico da escola
Indígena Toro Hacrô para organizar aos trabalhos da escola na comunidade, demonstrando que
os Krahô da Aldeia Pedra Branca têm consciência da importância da educação escolar para sua
comunidade, pois contribui para melhor entender o mundo do não indígena. No entanto, sabem
que a escola necessita modificar seu calendário, currículo e seu processo de ensino-aprendizagem
para se transformar efetivamente em uma escola específica e intercultural, na qual a cultura da
sociedade envolvente não seja imposta, mas sim incorporada à cultura Krahô, conforme seus
próprios interesses.
E, assim, a partir das análises realizadas no decorrer desta pesquisa, concluímos que a
educação escolar indígena na aldeia Pedra Branca necessita tomar outro rumo e, para isso, é
fundamental percebermos como ela tem atuado na prática e quais são as percepções e os papéis
que os Krahô atribuem a ela, tendo em vista que a escola deve, antes de tudo, servir aos
fortalecimento dos projetos educacionais e políticos desses indígenas. E nessa busca por uma
educação diferenciada, específica e intercultural, a Escola Indigena Toro Hacrô deve se envolver
mais com as atividades culturais desses indígenas, trazendo a comunidade para dentro da escola,
e a escola para dentro da comunidade, pois a escola que Krahô da aldeia Pedra Branca querem é
aquela que valoriza a cultura da comunidade, os conhecimentos Krahô, o aprendizado da língua
materna e do português, o intercâmbio entre as culturas, respeitando o calendário e os processos
de ensino e aprendizagem Krahô.
Compreendemos que a pesquisa é, antes de mais nada, um agente imprescindivel para se
construir um estudo. Entendi que não há conhecimentos mais importante que outros, existem
conhecimentos diferentes. Segundo Paulo Freire, “Não há saber mais ou saber menos: Há saberes
diferentes”. Percebi que a escola indigena e a comunidade são parte de um mesmo corpo. São
inerente. Foram estes os novos conceitos e indagações que adicionei ao meu desenvolvimento
de formação. Espero que eu tenha sido útil para essa comunidade e afirmo ainda que estas
concepções irão contribuir muito mais para um bom desenvolvimento social e cultural dos povos
indigenas Krahô e não indigena.

1720
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
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Alves e Pedra Branca: Uma Contribuição Para Educação Escolar. Araguaina 2012. P.180.
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do Tocantins. Orientador: Francisco Edvirges Albuquerque. Araguaina, 2012.

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Bilíngue Intercultural, Palestra proferida em Palmas, na TV Anhanguera, dia 10 de junho de
2011. Texto cedido pelo autor, 2011.

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contribuição Para o Registro e Manutenção do Mito de Tyrkrê. 2013. Dissertação (Mestrado
em Ensino de Línguas e Literatura) Universidade Federal Tocantins - Araguaína.

1721
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

UMA PERCEPÇÃO CIENTÍFICA SOBRE GESTÃO


DEMOCRÁTICA NA GESTÃO ESCOLAR
José Fernando da Silva Alves1
Graziela de Queiroz Arruda2
Diógenes José Gusmão Coutinho3

RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar e discutir sobre a democratização da gestão
escolar, seus conceitos e as implicações que dificultam sua efetivação na educação brasileira.
Além disso, foram abordadas as barreiras e como a escola deve ter autonomia diante das
dificuldades apresentadas. Para isso foram analisados artigos recentes que falam sobre o tema
bem como autores conceituados que abordam esta temática. Este trabalho não buscou fazer uma
linha história, mas discorrer sobre algumas implicações que dificultam a inserção efetiva da
gestão escolar democrática. Nesse contexto este trabalho qualifica-se enquanto sua natureza
como uma pesquisa qualitativa e no que concerne ao seu objetivo como exploratória. Sobre a
fundamentação teórica, esta foi dividia em três tópicos que destacam como a democratização da
gestão escolar é interpretada pelo poder público e os seus diferentes significados; os empecilhos

1 Professor da Educação Básica na Rede Municipal de Limoeiro e Vitória de Santo Antão-PE; Professor no Ensino
Superior na Rede Privada.
Graduação: Doutorando em Ciências da Educação, Mestre em Ciências da Educação e Multidisciplinaridade,
Especialista em Psicopedagogia Institucional, Licenciatura em Pedagogia
E-mail: jfernandinho2.2@hotmail.com
2 Professora de Educação Básica na Rede Municipal de Limoeiro-PE; Rede Municipal de Nazaré da Mata – PE.

Graduação: Mestranda em Ciências da Educação; Especialista em Psicopedagogia; Licenciatura em Pedagogia.


E-mail: Graziela.qz@hotmail.com
3 Professor Doutor, Professor de Ensino Superior na Rede Privada.

E-mail: gusmão. dogenes@gmail.com


Graduação: Ciências Biológicas.
E-mail: gusmão. dogenes@gmail.com

1722
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

e as condições para que essa gestão esteja presente nas salas de aula; e por último as dificuldades
da escola em possuir autonomia.

Palavras-Chave: Democratização; Gestão escolar; Autonomia, Poder público; Autoritarismo.

1723
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO procedimento e na reflexão. Do ponto de vista


objetivo caracteriza-se como exploratória por
Apesar das evoluções nos diversos campos, proporcionar mais informações sobre o tema,
ainda assim continuamos no esforço de facilitando sua delimitação, bem como, a
solucionar diversos problemas da nossa fixação dos objetivos (PRODANOV e FREITAS,
sociedade. A educação brasileira que ao longo 2013). Assim a pesquisa exploratória abrange
do tempo sofreu mudanças ainda possui diversos aspectos, sendo seu planejamento
dificuldades em viver uma gestão efetivamente bastante flexível. Quanto aos seus
democrática. procedimentos de estudo classifica-se como
Esbarrando em ideias capitalistas e em um bibliográfica, ao propor a análise de vários
plano de governo neoliberal, nossa educação arranjos acerca do problema estudado
foi pensada em prol do mercado de trabalho, permitindo ao pesquisador uma cobertura mais
em rodar as engrenagens de máquinas ampla (GIL, 2002).
industriais para gerarem renda aos cofres
públicos, assim como para os grandes
DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO
empresários. Isso fez com que a formação de
cidadãos críticos e preparados para enfrentar ESCOLAR
as adversidades da vida fossem deixadas de Democratização da gestão escolar é um
lado. Assim a problemática deste artigo visa termo amplo que pode e é interpretado de
discutir e refletir como atitudes políticas diversas formas e maneiras, por isso antes de
interferem na formação democrática da falar sobre o todo, é interessante discutirmos
educação brasileira e as dificuldades das sobre o significado do termo gestão. Segundo o
instituições para que isso seja efetivado. O dicionário gestão se refere ao ato de gerir e
universo desta análise será artigos e livros administrar uma gerencia, uma empresa, algo
publicados na área e que apresentam esta que se tenha uma entidade de pessoas.
problemática. Segundo Garay (2011), a gestão é um
O artigo está divido em três tópicos, no processo de dirigir uma instituição e tomar
primeiro diz respeito ao conceito e decisões a partir das demandas e dos recursos
interpretação do poder público sobre gestão que estarão disponíveis. Perceba que a palavra
democrática e de que forma as escolas as tem um significado voltado para a parte
praticam. No segundo tópico é abordado as administrativa que ainda segundo o autor está
dificuldades e condições para que a gestão relacionada a uma definição de Fayol, em 1916,
democrática seja efetivada na educação. E por como um ato de planejar, controlar e organizar
fim, como a autonomia da gestão escolar é recursos.
importante para esse processo. Para autores Bordignon e Gracindo (2000),
No que concerne ao processo metodológico gerenciar uma escola é diferente de gerenciar
esta pesquisa possui uma abordagem uma organização e, que, portanto, suas
qualitativa e se caracteriza por uma finalidades e estruturas pedagógicas não são
investigação subjetiva atenta com foco no iguais. Já para Santos Filho (1998), a

1724
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

administração traz uma concepção técnica, algo comum no meio educacional. As escolas
hierarquizada e fragmentada para a educação, não são preparadas para formar cidadãos, mas
por isso o autor prefere o termo gestão para formar pessoas capacitadas para o
democrática. Assim também prefere Libâneo mercado de trabalho. Lima (2018), em sua
(2007), que trabalha com a concepção pesquisa ressalta pontos em que a escola tem
sociocrítica da gestão. Na sua visão a gestão dificuldade em efetivar e viver uma gestão
escolar é um sistema que agrega pessoas escolar democrática. Um dos pontos diz a
considerando a intenção de suas ações sociais respeito:
na forma democrática em que toma suas A dificuldade que advém da circunstância
decisões. histórica e política de a gestão democrática das
No que concerne ao termo gestão escolar escolas exigir tempo suficiente para a sua
seu significado expressa algo que está consoli¬dação, também em termos de uma
relacionado a promover a articulação e ruptura cultural e educativa com práticas
organização de condições materiais e humanas autoritárias e heterônomas, requerendo
que garantam o desenvolvimento dos políticas públicas avançadas, coerentes e com
processos socioeducacionais das instituições de continuidade, exatamente num momento que
ensino. Neste caso é interessante observar que é marcado por políticas educacionais de
quando restringimos a pesquisa há um tipo de inspiração neoliberal em várias áreas e por
gestão encontramos em seu significado algo práticas de gestão de teor gerencialista e
voltado às características do termo democracia. tecnocrático que lhe são claramente adversas
É interessante também porque se volta a (LIMA, 2018, p.5).
destacar aspectos humanos desse tipo de Outro ponto interessante diz respeito sobre
gestão. a cultura e a carga política e social. Países, como
Assim ao juntarmos todas as palavras o Brasil, viveram tempos ditatoriais e que
percebemos que os seus significados devem carregaram consigo formas e modelos de
fazer sentido quando aplicados no dia-a-dia, educação duros e rígidos. Sabemos que a
assim como faz sentido em seu estudo teórico. ruptura é algo lento gradual e que transporta
Porque apesar de estar inserida em nosso diversos resquícios do tempo. Ainda nesse
cotidiano ainda é algo que possui barreiras a meio existe a visão política- ideológica de cada
serem quebradas. Lima (2018), em artigo governo. É interessante ressaltar que no Brasil
recente, nos fala que “Na educação, por cargos como presidente, governador e prefeito,
exemplo, diversas práticas de gestão duram no máximo oito anos com a reeleição. As
democrática tornaram-se ideologica¬mente mudanças, por vezes, de um para o outro muda
incompatíveis e foram afastadas em vários todo o regime já estruturado e que por
países por força da adoção do princípio da adversidades políticas um governo não dá
empresarialização e privatização” (LIMA, 2018, continuidade ao anterior, isso acaba afetando o
p.4). progresso da educação, que em alguns casos
É interessante o que ele destaca em sua fala sofre retrocessos.
sobre empresarialização e privatização, pois é

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Assim também causa efeito na própria Por isso é tão difícil distinguir uma da outra,
gestão democrática, que a depender do não pela falta de significado, mas pelas
governo tem um tipo de visão e conceito concepções que as pessoas carregam. É relativo
diferentes. para alguns o que significa a democracia, a
Mas o modelo organizacional adotado na depender pode caracterizar-se com restrições.
escola moderna, as suas estruturas e regras É o que acontece dentro das próprias escolas,
mais características, os seus processos de algumas são mais conservadores e carregam
gestão, revelaram-se muito influenciados pelas estruturas pedagógicas mais antigas, outras se
organizações militares, religiosas e industriais, modernizaram e acompanharam as mudanças
seja em termos de racionalização, formalização pedagógicas. Entretanto ainda há as que se
e hierarquização, seja também em termos de atualizam, mas ainda carregam pensamentos e
processos de produção em grande escala estruturas antigas. Dessa forma há vários tipos
(LIMA, 2018, p.7) de caso, sendo um campo vasto para se
Como afirma Bordeau (1975), vivemos uma entender de que forma as escolas realmente
democracia governada, em que cada governo devem se democratizar.
impõe sua forma de “democratizar”. E isto fica
mais intenso quando paramos para analisar o AS CONDIÇÕES DE
todo, desde a gestão dentro do ambiente
escolar em que há uma hierarquia de poderes DEMOCRATIZAÇÃO DA GESTÃO
sem uma gestão que alinhe a participação e a ESCOLAR
dialogicidade. Assim há naturalmente um A democracia vai mudando ao longo do
respeito entre os profissionais, mas não há tempo. Em cada época ela possui um
espaço para que professores, alunos e demais significado e isso faz com que seja tão
funcionários tenham espaço para propor heterogênea, por isso suas mudanças e
outros tipos de atividades. O gestor nesse caso condições para que seja realmente efetiva é
acaba sendo figura central e autoritária. dependente da época a qual está inserida. Um
Weffort (1984), apud, Nardi (2018) que: dos empecilhos para que a democratização seja
Uma concepção de democracia como realmente efetivada é justamente os governos
instrumento, que decorre diretamente de um autoritários em que políticas públicas na área
privatismo conservador típico em nossa parecem um retrocesso e que só seria
sociedade, sustenta a enorme distância entre o realmente possível se houvesse uma
que as intenções proclamam e o que as ações democratização política.
fazem. Isso, segundo o autor, é mesmo o maior Atrelado a isso, temos a legislação e sua falta
mal de uma tradição política que traz a marca de concretização efetiva, ficando apenas no
da ambiguidade entre democracia e plano teórico. Tem se observado como é difícil
autoritarismo (WEFFORT, apud, NARDI, 2018 entre os parlamentares um consenso em sua
p.4). constituição nos planos sociais, culturais e
educacionais. Tornando-se assim um caminho
maior a ser percorrido. Além disso, há a própria

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

legislação da escola, que mesmo sendo processo que não precisa ser moldado, mas sim
formalmente mantida, não é praticada, tendo construído. Coutinho (2003), nos fala que é
suas limitações no nível organizacional o que preciso conciliar a socialização da participação
acaba forçando mudanças estruturais. Um política com a socialização do poder e isso está
ponto citado por Lima (2018), é que um dos atrelado justamente à participação da
fatores que causam esse tipo de problema é população na política, constituindo-se como
justamente a influência de organizações sujeitos ativos. Entretanto há o choque com o
militares, industriais, culturais e religiosas. grupo de pessoas que estão no poder, gerando
Veja que o setor público não trabalha só, conflitos que de um lado pode prejudicar, mas
tanto internamente quanto externamente ele que de outro pode trazer benefícios, a
vai receber e exercer algum tipo de influência depender dos seus desdobramentos.
que de forma direta ou/e indireta recai na Completando os pensamentos de Coutinho
legislação educacional. Isso acaba interferindo (2003), Neves (2003), nos lembra que esse
no próprio ensino da sala de aula, que em choque também se deu entre as décadas de 90
muitos casos tem o professor como figura e 80. Em que a primeira resplandeceu uma ideia
central e autoritária, assim como acontece neoliberal e que na segunda teve como
também com o gestor, transformando-se em principal bandeira a garantia do ensino público
um ciclo que se pensado em escala maior chega e universal. E que foi justamente nos anos 90
até o poder público como um todo. que houve mais apelo para a participação da
O currí¬culo foi socialmente hierarquizado e população na vida pública.
fragmentado, os tempos e espaços foram “[...] a participação popular circunscreve-se à
racionalizados e controlados, os corpos e as defesa de interesses específicos, o que acaba
mentes de discentes e docentes foram por despolitizar a política, ao impedir o
disciplinados. A organização das escolas estabelecimento de relações entre as questões
modernas e a sua gestão foram objeto de um de natureza específica com os graves
processo de institucionalização, na longa problemas estruturais da nossa sociedade”
duração, que se revelou bastante próximo das (NEVES, 2003, p. 171).
organizações produtivas do capitalismo e das Nesse sentido é interessante destacar o
teorias da gestão empresarial, sendo visíveis as artigo 3º da lei de educação nacional.
influências historicamente exercidas pelo O artigo 3º, da lei da educação nacional, fixa
taylorismo e pelo fayolismo, por exemplo, nas que o ensino público será ministrado, dentre
teorias e nas práticas da gestão escolar, tal outros princípios, com base na “VIII – gestão
como continua a suceder com as mais recentes democrática do ensino público, na forma desta
teorias da gestão da qualidade total, do “just in Lei e da legislação dos sistemas de ensino”. À
time”, da direção por incentivos e das noção de democracia vinculam-se, portanto, as
lideranças empreendedoras, a título de de autonomia e descentralização (OLIVEIRA,
exemplo (LIMA, 2018, p.7) 2009, apud, NARD, 2018, p.6).
Com tudo isso, é interessante destacar que a
democratização não é algo pronto, mas um

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

Nossa educação se acostumou a ser forma cidadãos, portanto deve ser vista de tal
homogênea e, portanto, centralizada, assim maneira.
tornou-se estranho para a gestão escolar Assim para que uma gestão democrática seja
descentralizar o poder, por exemplo. O realmente efetivada no ambiente escolar,
estabelecimento de hierarquias fez com que a torna-se necessário que as hierarquias sejam
educação seguisse um manual de regras em quebradas, que a escola se abra a um plano
que é preciso ter uma figura autoritária pedagógico em que prevaleça o diálogo e
mostrando quais caminhos seguir e o que fazer, participação e que a educação não se prenda ao
o que acaba prejudicando o desenvolvimento sistema capitalista. Seja algo aberto para antes
da própria escola que fica parada na geração de de tudo formar seres humanos capazes de lidar
novas ideias. com as mais diversas adversidades da vida.
Dessa forma a gestão democrática inclui a
participação dos professores e da comunidade AUTONOMIA DA GESTÃO
escolar como um todo fazendo com que se
tenha uma dinâmica de trabalho em que aja ESCOLAR
articulação das diretrizes e políticas No que foi discutido no decorrer deste
educacionais públicas, assim como ações para artigo, faz-se necessário discorrer sobre a
implementação dessas políticas e de projetos autonomia escolar. Por tudo que já foi citado
pedagógicos que venham a melhorar o referente à descentralização do poder, destaca-
desenvolvimento do ensino e da escola como se reformas educacionais no mundo inteiro
um todo (LÜCK, 2007). justamente com o objetivo das escolas
Completando esta ideia, Paro (2008), afirma possuírem autonomia administrativa por meio
que precisamos sair das amarras capitalistas e da participação da comunidade nos colegiados.
propor uma gestão mais cooperativa em que se O pesquisador Borges (2004), relata que na
possa alcançar todos os objetivos. O América Latina o Banco Mundial teve papel
pesquisador também fala que para isso ocorrer importante nesse processo por meio do
é necessário que o gestor tome a frente das desenvolvimento de programas que cobravam
tarefas, mas que não corra o risco de se prender ajustes no âmbito educacional. Em outros
a uma e que não seja figura central de todos os países como cita Whitty e Power (2000), houve
processos. por parte do governo e principalmente por
Outro ponto a ser ressaltado é que por vezes partes dos partidos conservadores formas de
o diretor é confundido como um administrador. reduzir os custos do governo com a educação e
Nesse caso é preciso entender que ele também transferindo as responsabilidades para
deve estar a par desse setor, mas não é figura professores e gestores.
central. A escola para além de organização, que No entanto como ressalta Cunha (1991), essa
apesar das controvérsias torna-se uma autonomia vem disfarça. O governo que
empresa, nos aspectos de ser gerida, é antes de propaga uma descentralização pedagógica e
mais nada um local que gera conhecimento e financeira, na prática retira sua
responsabilidade e a joga nas escolas com a

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

finalidade de garantir a redução dos seus custos estabelecimento de uma gestão colegiada,
e não abrindo mão do seu regime controlador. onde os planejamentos e decisões surjam das
Por isso é importante redefinir conceitos e discussões coletivas e democráticas, em que
formas democráticas, visto que, principalmente todos os segmentos da escola estejam
estas, estão ganhando outros significados ao envolvidos e ativos no processo democrático
longo do tempo. Assim é preciso que se discuta participativo (SILVA, 2014, p.33).
o conceito de democracia e autonomia e que
essa descentralização promovida pelo governo
deixe de ser usada para oportunização do
governo e isenção de seus deveres.
Outro ponto importante ao se falar em
autonomia é a sensibilização. Pois quando há
participação há o empenho e empatia pelo
próximo no desenvolvimento das atividades.
Assim como cita Veiga (2006), é preciso para
que aja essa sensibilização a participação de
todos e o envolvimento da comunidade no
ambiente escolar. É preciso também que as
diferenças sejam entendidas e respeitadas.
Além disso, é preciso que a escola conheça os
aspectos sociais e culturais da comunidade.
O envolvimento da comunidade na escola se
dá de diversas formas inclusive propondo
dinâmicas diferentes para eventos que já são
corriqueiros, como a entrega dos boletins ou
reuniões de pais e mestres. Nesse caso a escola
precisa ser criativa e envolver a comunidade e
seus líderes para que possa realmente propor e
efetivar uma gestão democrática bem como ter
e dá autonomia para aqueles que são e estão
envolvidos nas atividades escolares.
A participação da comunidade escolar
adquire peso fundamental em contraposição a
uma gestão centralizada, em que os
mecanismos de participação atuam em
conjunto com a comunidade, observando as
trocas de ideias e informações. Pois a
democratização da educação implica na
ruptura de uma gestão centralizadora e no

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabemos as dificuldades para que a democratização esteja presente nas escolas e,
principalmente, na gestão e seu funcionamento. Sabemos também que atrelado a isso está a
própria interpretação do que é democracia pelos nossos governantes. A escola possui barreiras
hierárquicas que impedem que a mesma saiba caminhar de maneira independente. Estamos
falando de uma gestão autoritária e centralizada em que não há abertura para dialogicidade. Isso
faz com que ideias não sejam compartilhadas, que a escola se feche e não crie elos com sua
comunidade. Isso faz também com que não aja uma participação efetiva dos discentes e docentes.
Nesses termos e em tudo que foi discutido ao longo deste artigo, se faz necessário
substituir a ideia mercadológica que o poder público construiu ao longo dos anos para a educação.
A escola não deve ser local de preparação para o ensino de engrenagens de máquinas, deve ser
local, primeiro, do ensino cidadão, do ensino humanizado, das relações individuais e em
sociedade. Contudo quebrar esse paradigma requer uma longa batalha pela frente, que não
devemos enxergar como impossível. A mudança começa nas estruturas da gestão escolar. Deixar
com que professores, alunos e comunidade passem ter voz ativa no ambiente escolar produz uma
gestão mais participativa, dialógica e principalmente democrática. E é isto que deve ser buscado.
Os pilares da nossa educação estão nas escolas e não poderes públicos. Por isso as mudanças
devem começar de baixo. A escola precisa criar laços com a sua comunidade, o autoritarismo do
gestor escolar deve ser quebrado. Caminhos que não precisam de passos largos, mas lentos e
efetivos.

1730
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

UTILIZAÇÃO DE JOGOS MATEMÁTICOS COMO


METODOLOGIA DE ENSINO EM AULAS DO
ENSINO MÉDIO
Silvana Aparecida CamolesI1

RESUMO: O artigo apresenta o relato da utilização de atividades diferenciadas na sala de aula,


entre elas a de jogos matemáticos com alunos do Ensino Médio Etim, que é o Ensino Médio
Integrado ao Técnico, como estratégia de apoio a aprendizagem escolar. A utilização de jogos
matemáticos tem como objetivos identificar, analisar e investigar as potencialidades e
fragilidades de sua utilização no processo de ensino e aprendizagem da disciplina de matemática,
em parceria com os conteúdos abordados em sala de aula. A proposta utilizada foi a criação e
confecção de jogos matemáticos utilizando conceitos vistos no ensino fundamental II e ensino
médio. Por meio da pesquisa pode-se observar a autonomia dos alunos que escolheram os
grupos, os jogos a serem confeccionados, criaram e desenvolveram as regras. O projeto leva os
alunos a aprimorar as habilidades quanto a trabalho em equipe, raciocínio lógico,
aprofundamento dos conceitos vistos, interação professor-aluno. Observa-se com a realização do
projeto a aprendizagem significativa, a busca de informação pelo aluno para compor seu
conhecimento. É uma metodologia valida que torna as aulas mais dinâmicas e diferenciadas.

Palavras-Chave: Atividades diferenciadas; Jogos Matemáticos; Aprendizagem Significativa.

1Professora de Matemática e Física, na Rede do Centro Paula Souza, Etec Dep. Ary de Camargo Pedroso.
Graduação: Licenciatura em Matemática; Bacharel em Ciências da Computação; Especialização em Metodologia
do Ensino de Matemática e Física; Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Especialização em
Orientação Educacional.
E-mail: silvana.camolesi@gmail.com

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO do ensino médio; desenvolver atividades


pedagógicas em consonância com os conteúdos
O ensino da matemática passou por matemáticos que são abordados no ensino
inúmeras mudanças no decorrer dos anos. Na fundamental II; utilizar recursos diferenciados
prática docente pode-se observar que muitos como ferramenta de investigação da pratica
alunos apresentam dificuldades desde o ensino docente, de pesquisa, de instrumento de
fundamental, ensino médio e muitas vezes em construção e aprendizagem colaborativa dos
cursos superiores e isso se dá por inúmeros estudantes do ensino médio; inovar a forma de
fatores, o que apresenta um baixo rendimento lecionar, buscando tornar as aulas mais
dos alunos perante a disciplina. atrativas, mais dinâmicas, desafiadoras e
Esse artigo busca demostrar os possíveis menos cansativa para os discentes e docentes;
benefícios que a utilização de didática entre outros.
diferenciada em sala de aula pode O desenvolvimento do projeto tem como
proporcionar. Entre as didáticas diferenciadas, instrumento de verificação a pesquisa, a
o da inclusão de jogos matemáticos com alunos construção da aprendizagem, as
do Ensino Médio Etim, que é o Ensino Médio potencialidades que o uso de jogos
Integrado ao Técnico, visto que os alunos matemáticos tem como um instrumento de
permanecem uma boa parte do período na apoio a aprendizagem escolar, mediante a
escola e que em muitas situações o método insatisfação dos alunos perante a disciplina e os
tradicional fica monótono. O uso dos jogos métodos tradicionais de ensino.
pode agregar conhecimento e aprendizagem Inovar a forma de lecionar, buscando tornar
mais significativa nas aulas de matemática. as aulas mais dinâmicas, atrativas e
De acordo com as Orientações Curriculares desafiadoras é motivar o aprendizado e
(2006), espera-se que os alunos ao concluírem desenvolvimento cognitivo do estudante,
o Ensino Médio, adquiram a capacidade de tendo em vista a melhoria da qualidade de
resolver problemas do cotidiano, associando-os ensino.
a outras áreas do conhecimento. Dentro da O projeto demonstra que com situações
matemática, desenvolvam a compreensão, práticas, bem elaboradas, desperta-se o
comunicação e investigação. interesse do aluno em querer aprender mais, a
A utilização de jogos matemáticos dentro do buscar situações diferenciadas, entre elas, a
ambiente escolar requer planejamento, pois o utilização de conceitos em diversas situações. É
aluno passa a ser um elemento ativo no importante que o aluno consiga associar o
processo de ensino e aprendizagem. O uso dos conteúdo com algo que faça sentido para ele.
jogos não pode representar um passatempo. Esse projeto pretende responder aos
Os objetivos a serem verificados com o seguintes problemas levantados: Quais os
desenvolvimento do projeto, são: identificar e benefícios que a utilização de atividade
analisar potencialidades e fragilidades da diferenciada traz para os alunos? Se a utilização
utilização de tecnologias diferenciadas no de jogos matemáticos produz uma
processo de ensino e aprendizagem de alunos aprendizagem significativa? Se o trabalho em

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

grupo passa a ser satisfatório no processo de Curricular Nacional (1998), o ensino da


ensino e aprendizagem? A escolha do tema e matemática no Brasil passa a ter novos
sua eficácia na utilização em educação objetivos educacionais.
matemática? Segundo o PCN (1998):
Hoje em dia as informações chegam de (...) a disciplina Matemática é considerada
forma rápida aos alunos, o ensino não é mais um meio para o desenvolvimento de
linear, diversificar a forma de trabalhar competências tais como a capacidade de
determinados conteúdos em sala de aula torna- expressão pessoal, de compreensão de
se imprescindível. É fundamental que o fenômenos, de argumentação consistente, de
professor esteja a frente de seus alunos, tomada de decisões conscientes e refletidas, de
buscando alternativas que apresentem problematização e enraizamento dos
resultados favoráveis. conteúdos estudados em diferentes contextos
e da imaginação de situações novas (BRASIL,
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 1998,s.p).
No panorama atual, reflexões são feitas
pelos profissionais da área, busca-se a
2.1 O Ensino da Matemática no Brasil
utilização de métodos e materiais diferenciados
A forma que se ensina e aprende matemática
em sala de aula para que o processo de ensino
não é única, ela vem sofrendo alterações ao
e aprendizagem escolar seja satisfatório. O uso
longo dos tempos. Reformas no modo de
de tecnologias, de jogos, de recursos
ensinar e aprender matemática foram
multimídias, de pesquisas, entre outros torna-
introduzidas no contexto escolar, tivemos entre
se um instrumento a mais a ser utilizado pelo
elas a Reforma Francisco Campos, implantada
professor como recurso educacional na
na década de 1930 pelo professor Euclides
aprendizagem.
Roxo, fazendo uma fusão nos diversos ramos da
A matemática presente no cotidiano das
matemática, em seguida tivemos a Reforma
pessoas é componente fundamental para o
Capanema, que vigorou na década de 1940,
desenvolvimento lógico dedutivo, dos
desmembrava as aulas de matemática em
conhecimentos científicos. Sua aprendizagem
aritmética, álgebra e geometria e retirava
está ligada a compreensão, associada à vida do
alguns conteúdos entre eles o estudo de
homem. No cotidiano das pessoas está
funções. Na década de 1960 tivemos o
presente desde as pequenas situações como
Movimento da Matemática Moderna, que
olhar a hora e até os cálculos mais precisos,
segundo alguns autores apresentava um
como um financiamento, um empréstimo.
método arcaico, fundamentada na simples
A dificuldade de aprendizagem da
transmissão de conhecimento, foi um marco
matemática na sala de aula é grande, desde o
para o início de uma nova fase do ensino da
ensino fundamental, ensino médio e muitas
matemática no Brasil.
vezes no ensino superior. Inúmeros fatores
Na década de 1980 temos a reforma do
podem ser elencados, dentre os quais podemos
programa Nacional do Livro Didático, e
citar: salas lotadas, fator sócio econômico, falta
juntamente com a utilização do Parâmetro

1735
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

de preparo, desmotivação, dificuldade de de recursos didáticos diferenciados podem


interpretação de textos. Os desafios perante a proporcionar no desenvolvimento de
disciplina são constantes. No panorama atual, atividades em sala de aula no processo de
comparando os resultados apresentados pelo ensino e aprendizagem da matemática com os
IDEB, nota-se que a disciplina de matemática alunos do Ensino Médio, tendo em vista a
apresenta resultados não satisfatórios, entre os melhoria da qualidade de ensino, a motivação,
alunos do Ensino Médio. o aprendizado e a ampliação do
Os métodos de ensino tradicionais ainda se desenvolvimento cognitivo do estudante.
fazem presentes em muitas salas de aula, o uso Trabalhar com materiais diferenciados em
do giz, lousa e livro didático por inúmeras vezes salas de aulas requer do professor um bom
desmotiva o aluno e o professor, torna a aula planejamento. O professor precisa ter o
cansativa. Os educadores devem estar domínio mínimo dos conhecimentos didáticos,
preparados para essa nova geração que detém caso contrário, utilizasse da mesma para
o conhecimento de forma cada vez mais rápida. somente transmitir informações. Utilizar o jogo
O processo de formação continuada, permite em sala de aula é saber avaliar o objetivo que
que cada professor se auto avalie em relação ser quer atingir perante os conteúdos.
aos seus objetivos, suas expectativas e esteja Essas didáticas diferenciadas devem
apto a mudanças. O uso de recursos enriquecer o ambiente educacional. Acredita-
diferenciados deve ser constante em muitas se que uma educação inovadora está além de
oportunidades. salas de aulas, é necessária alteração na prática
Segundo os PCN (1997): do professor, que não pode ser mais apenas um
O aprendizado não deve ser centrado na transmissor de conhecimento. Ele deve ajudar
interação individual de alunos com materiais o aluno na organização da informação e no
instrucionais, nem se resumir à exposição de gerenciamento das contradições dos valores e
alunos ao discurso professoral, mas se realizar visões do mundo. O professor deve provocar o
pela participação ativa de cada um e do coletivo aluno, o estimular a mudanças e a não
educacional numa prática de elaboração permanecer acomodado.
cultural (BRASIL, 1997, p. 6). O recurso do uso de atividades diferenciadas,
O aluno como protagonista de seu entre elas, mídias, jornais, TV/DVD, lousa
conhecimento por meio da utilização de digital, calculadoras, computador, ambiente
recursos diferenciados, desenvolve o processo virtual de aprendizagem, jogos, entre outras,
de investigação matemática, resolução de são consideradas ferramentas que visam a
problemas, comparação de resultados, melhorar o método tradicional utilizado por
situações de cooperação, entre outros. muitos, em todos os níveis, diferenciando as
O desenvolvimento do projeto visa ensinar aulas, trazendo inovações e despertando nos
matemática de forma agradável, proporcionar alunos o interesse em aprender.
maior interação por parte dos alunos,
incentiva-los a querer aprender, a buscar algo
novo. Verificar as potencialidades que os uso

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

2.2 O Jogo e a Aprendizagem realinhamento de conceitos, associando a


A utilização de brincadeiras e jogos data de exemplos, para que o conteúdo tenha
épocas atrás, estudos revelam que civilizações significado para o aluno.
como antiga Roma e Grécia utilizavam Para Smole, et al (2008), “a utilização de
brinquedos apoiadas nas ideias de Platão e jogos está relacionada com a aprendizagem,
Aristóteles, com o propósito de ensinar letras, com a própria construção de seu conhecimento
no período medieval, a questão do brincar matemático e resolução de problemas
passa a ser valorizada e essencial para a vida apresentados”. Os alunos têm a oportunidade
humana. No período da época crista, os jogos de mostrar de forma descontraída, espontânea
foram colocados de lado e foi imposto aos e criativa, conceitos matemáticos.
mestres uma educação mais disciplinadora. Fazer experimentos, criar estratégias,
Somente na Idade Moderna com o argumentar e deduzir propriedades são
Renascimento, os jogos passam a ser utilizados objetivos em qualquer nível para o processo de
por alguns professores, ganhando o significado ensino e aprendizagem. Dentro da sala de aula
de diversão. No Brasil, com a influência da o aluno adquiri não somente informações como
cultura português, africana e indígena os jogos conhecimentos, é convidado a integrar a
foram incluídos nas brincadeiras de crianças. matemática. O professor deve estar atento aos
Atualmente, apesar de ser previsto nos conhecimentos prévios dos alunos, despertar
Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), a seu potencial, o interesse e motivação.
utilizações de jogos nas salas de aulas ficam Durante o jogo, os alunos podem trazer, para
restritas a algumas unidades de ensino, a sala de aula, maneiras de pensar e agir que
predominando no ensino fundamental I e II. muitas vezes eles já possuíam fora de sala de
Por meio dos jogos as crianças não apenas aula, mas nunca tinham tido a oportunidade de
vivenciam situações que se repetem, mas demonstrar nas aulas tradicionais (STRAPASON,
aprendem a lidar com símbolos e a pensar por 2011 p. 33).
analogia (jogos simbólicos): os significados das Reflexões são feitas pelos profissionais da
coisas passam a ser imaginados por elas. Ao área com a ajuda do PCN (1997), acerca do
criarem essas analogias, tornam-se produtoras currículo da matéria, como se trabalhar
de linguagens, criadoras de convenções, determinados conteúdos para despertar o
capacitando-se para se submeterem a regras e interesse dos alunos. O que se propõe é que
dar explicações (BRASIL,1997, p.35). façamos uma análise crítica do que pode ser
A inserção dos jogos nos Ensino Médio é melhorado e de como fazê-lo, do que precisa
menor do que no Ensino Fundamental. Deixar ser mudado.
de lado essa resistência por parte do professor Muitos alunos não apresentam
é importante. O aluno no Ensino Médio contextualização de situações cotidianas, nas
trabalha com conteúdo vistos no Ensino quais possa fazer a relação do conteúdo com a
Fundamental, que são completados no realidade e se perguntar para que serve. O
decorrer dos ciclos. Em muitas situações aluno traz consigo um conceito pré-formado
cotidianas há necessidade de fazer pela sociedade de que a matemática é difícil,

1737
REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

chata e hoje é absorvida por aqueles que tem A certa altura, as concepções que os alunos
mentes privilegiadas. Esse cenário precisa de formam acerca do que é a Matemática e como
mudanças. se estuda esta disciplina constituem-se
Combinar a utilização de jogos em sala de também como grandes barreiras à
aula como uma didática diferenciada estimula o aprendizagem. Como resultado de anos de
aprendizado. experiência de memorização e de resolução de
Considera-se que o jogo, em seu aspecto exercícios repetitivos, os alunos encaram a
pedagógico, se apresenta produtivo ao Matemática como um simples amontoado de
professor que busca nele um aspecto regras sem qualquer relação entre si” (PONTE,
instrumentador e, portanto, facilitador na 1994, p. 4).
aprendizagem de estruturas matemáticas
(GRANO, 2000, p. 28). 2.3 METODOLOGIA
Com a finalidade de se obter melhores
A pesquisa que se trata esse artigo se propõe
resultados nas aulas de matemática, o projeto a verificar se a utilização de jogos matemáticos
contribui para que os alunos estejam em com alunos do Ensino Médio Etim, Ensino
constante contato com conceito e conteúdos Médio Integrado ao Ensino Técnico, resulta ou
vistos anteriormente. não em aprendizagem significativa, deixando
Segundo as Orientações Curriculares para o um pouco de lado a lousa, o giz, a aula
Ensino Médio (2006): expositiva, na qual o aluno escuta, mas em
As ideias sócias construtivistas da muitas situações não consegue absorver o
aprendizagem partem do princípio de que a conteúdo de imediato.
aprendizagem se realiza pela construção dos Antes do início do projeto, foi feito um
conceitos pelo próprio aluno, quando ele é planejamento das aulas colocado no PTD, plano
colocado em situação de resolução de de trabalho docente anual do professor com a
problemas. Essa ideia tem como premissa que escola, com os objetivos específicos, com a
a aprendizagem se realiza quando o aluno, ao metodologia a ser adotada em cada etapa e
confrontar suas concepções, constrói os com os critérios de avaliação. O trabalho foi
conceitos pretendidos pelo professor (BRASIL, desenvolvido com alunos do 1os anos do Ensino
2006, p.81). Médio Etim, que é o Ensino Médio Integrado ao
A atitude de ensinar deve produzir no aluno Técnico de Automação, Informática e Logística,
o máximo de aprendizagem, produzindo ações da unidade escolar Etec. Deputado Ary de
que o levem a pensar, a elaborar possíveis Camargo Pedroso, na cidade de Piracicaba/SP.
soluções, ser o sujeito ativo no processo de A unidade escolar possui em média 360 alunos
aprendizagem, ser crítico. que são distribuídos entre os 1os, 2os, e 3os
Essa intervenção pedagógica, essa prática anos do ensino Médio Técnico. As classes dos
diferenciada passa a ser importante para o cursos envolvidos no projeto são dos cursos de
aluno que consegue explorar os conteúdos por Informática e Logística, compostas de 40 alunos
meio de atividades lúdicas. cada, na distribuição aproximada de 50% de
homens e 50% de mulheres. A classe do curso

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de Automação é composta de 40 alunos, sendo regras, nível de dificuldade, números de


na distribuição de 90% de homens e 10% de participantes.
mulheres. Os grupos utilizaram em média 5 aulas com
Os recursos disponíveis na escola para uso duração de 50 minutos cada para a realização
foram as salas de aula, nas quais os alunos têm do projeto, durante todo o processo foram
espaço adequado para aprendizagem, para avaliados individualmente e em grupo. A
formar grupos de trabalho, contendo 40 diversidade de jogos construídos foi
carteiras e 40 cadeiras, mesa e cadeira de importante, pois ressaltou diversos conceitos.
professor, quadro branco e pinceis. A unidade Dentro os jogos confeccionados, pode-se citar:
escolar apresenta bom espaço físico para o bingo, envolvendo as operações de adição,
desenvolver projetos educacionais. subtração, multiplicação, divisão, raiz quadrada
O projeto teve início por meio da exposição e potência, na qual os alunos utilizam cartelas
aos alunos da proposta de construção de jogos numeradas com os resultados das possíveis
matemáticos, como sendo um dos objetivos expressões apresentadas, os alunos têm um
principais o reforço de alguns conceitos tempo para calcular a resposta e anotar na
matemáticos. A ideia é a construção de jogos e cartela caso tenha o número correspondente;
não a utilização de jogos prontos, ressaltando batalha naval, envolvendo o estudo das
deste modo a importância do trabalho em coordenadas, dois painéis foram perfurados e
equipe, da sociabilidade, da construção de algo trabalhos coordenadas de linha e coluna, com a
concreto utilizando conceitos matemáticos. Os utilização de peças os navios, submarinos, hidro
trabalhos serão feitos em grupos de 5 ou 6 aviões são colocados; trilha do resto,
alunos no máximo, ficou a cargo dos alunos a envolvendo operações com expressões
escolha dos grupos. Todo o projeto será matemáticas, se o aluno acertar ele anda casas,
desenvolvido dentro do ambiente escolar, em caso erre ele volta; jogo de tabuleiro
algumas aulas de matemática, e todo o envolvendo conceito de funções de 1º e 2º
processo será avaliado. graus, são sorteadas as funções, resolvidas e se
A construção dos jogos deve ser clara, pois corretas os alunos prosseguem, caso contrário,
serão utilizados posteriormente por eles fica parado na mesma posição, entre outros.
mesmos e pelos demais alunos da unidade Após o término dos trabalhos, foram
escolar, portanto serão doados para a realizadas as apresentações em duas etapas: a
biblioteca da escola. primeira foi feita para a própria sala de aula
O conteúdo matemático para a realização do deles, em grupo os alunos demonstraram as
projeto consiste em utilizar conceitos vistos no ideias, o material utilizado para confecção, os
ensino fundamental II e ensino médio até o modos de jogar e as regras. Num momento
presente momento. A escolha do tipo de jogo, seguinte houve a segunda apresentação com
do material a ser usado, dos conceitos data marcada para os demais alunos e
matemáticos, ficou por conta dos grupos, que professores da escola por meio de uma
passaram pela observação da professora para culminância, houve participação positiva dos
alguns acertos. Todos os jogos apresentam alunos de outros anos acompanhados de seus

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professores da base comum e da parte técnica. Dados levantados por questionário


Alunos e professores participaram respondido pelos alunos e pelos professores
positivamente interagindo com os jogos feitos, envolvidos após a execução do projeto leva a
jogaram com os alunos, houve questionamento enfatizar a importância de se trabalhar
sobre as ideias e sua possível aplicação na parte métodos diferenciados em sala de aulas. Fazer
técnica. uso de alguns recursos como os que são
Com a finalidade de se obter melhores mostrados no nosso estudo, pode auxiliar nesse
resultados nas aulas de matemática, a pesquisa processo, deixando de lado esse mal olhar
contribui para que os alunos desenvolvam sobre a matemática. Essa intervenção
conhecimentos e aprofundamentos em pedagógica, essa prática diferenciada passa a
conceitos envolvendo a disciplina, entre eles ser importante para o aluno que consegue
pode-se ressaltar, as operações básicas, o explorar os conteúdos por meio de outras
estudo de funções, de coordenadas, técnicas.
expressões. Os resultados obtidos pelos alunos com a
Percebe-se que com o desenvolvimento do utilização desse projeto podem ser analisados
trabalho que os resultados referentes as nos gráficos apresentados abaixo, nos quais
pesquisas e levantamento de informações para relatam itens importantes a serem
as construções dos jogos, foi importante a considerados.
medida que deixou de ser somente teórica, Construção dos jogos - itens
houve participação de todos os envolvidos no importantes
desenvolvimento dos conceitos e aplicações. A
partir do momento que os alunos passam a ter 40

participação no conteúdo estudado o 20


significado de aprendizagem passa a ser maior,
envolvendo o aluno num contexto social mais 0
Escolha dos Escolha das Descrição Construir os Regra dos
abrangente. jogos operações dos jogos jogos jogos

A análise dos dados de observação durante


todo o processo, mostra que experimentar Fonte:A autora

atividades e didáticas diferenciadas na sala


A grande maioria dos alunos não
apresenta resultados positivos, possibilita o
apresentaram dificuldades em criar os jogos,
aprofundamento de conceitos, o incentivo a
construir e usar os conceitos, durante a
pesquisa, o desenvolvimento da criatividade.
realização do projeto, levando em conta que
Observa-se que o aluno busca aprender mais,
foram realizados em grupo e houve
tem um interesse maior. Contribui para o
participação significativa de todos os alunos
desenvolvimento das habilidades relacionadas
envolvidos.
à compreensão, comunicação e investigação.
Os alunos precisam ter conhecimento e saber
contextualiza-los e não somente informações.

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Os resultados obtidos pelos professores da


Dificuldade na construção dos
base comum e da parte técnica que fizeram
jogos
parte da visita podem ser vistos nos gráficos
abaixo, no qual deram grande enfoque a ideia
150 do projeto.
100
50
O uso de jogos trouxe
0
aprofundamento de conceitos
Não Sim matematicos?
Fonte:A autora
200
O uso da confecção de jogos matemáticos 100
trouxe um aprendizado significativo para os 0
alunos, reforçou o uso de conceitos vistos Não Sim

anteriormente? Fonte:A autora

Como pontos fortes destacados pelos


O uso de jogos trouxe
professores, predominam a clareza de ideias e
aprofundamento de conceitos
a criatividade dos grupos.
matematicos?
Pontos Fortes na apresentação
200
100
6
0 4
Não Sim
2
Fonte:A autora 0
Careza de Critividade Apresentação e
ideias designer
Podemos identificar por meio dos gráficos
obtidos, que o uso dos jogos trouxe o resultado Fonte:A autora
esperado quanto a aprendizagem e reforço dos
conteúdos. Demonstra que fazer uso de
didáticas e práticas diferenciadas torna-se
importante quando planejada. Que o trabalho
em grupo, qualificam os alunos para os
obstáculos da vida e trabalhos em sociedade.
De acordo com o PCN (2006), “cabe a todas
as áreas do Ensino Médio auxiliar no
desenvolvimento da autonomia e da
capacidade de pesquisa, para que cada aluno
possa confiar em seu próprio conhecimento”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de atividades diferenciadas em sala de aula permiti visualizar diferentes práticas
pedagógicas que podem ser utilizadas pelos professores, nas diversas disciplinas que compõem o
currículo escolar. O projeto mostra que com plano de aula e com os objetivos bem definidos o
processo de ensino e de aprendizagem torna-se significativo tanto para o professor como para o
aluno.
A pesquisa realizada teve como finalidade a inclusão de jogos matemáticos nas aulas de
Ensino Médio Etim dos cursos de Automação, Informática e Logística direcionada a princípio a
disciplina da base comum, e observar se sua utilização apresenta ou não resultado positivo. Pode-
se observar que favoreceu pontos importantes dentro da aprendizagem, dentre eles: o trabalho
em grupo, o relacionamento entre os alunos, o relacionamento de ideias, compreensão mutua
dos diferentes perfis, aceleração de resultados em curto espaço de tempo.
O uso dos jogos desperta o interesse do aluno, apresenta sentidos, traz novas descobertas,
desenvolve sua personalidade, motiva o progresso do aluno dentro do ambiente escolar e fora
dele, deve ter sempre um caráter desafiador.
A facilidade com que os alunos absorveram os conteúdos ficou clara. No desenvolvimento
dos jogos aprofundaram conceitos vistos, a técnica de pesquisa, montagem e apresentação dos
resultados, por meio da exposição. A equipe de docentes da escola ficou satisfeita, fazendo
associações de alguns jogos desenvolvidos pelos alunos em suas disciplinas técnicas.
Atividades diferenciadas em sala de aula motivam os alunos, principalmente alunos de
Ensino Médio Etim, que permanecem parte do dia na unidade escolar e que demostram um
interesse maior em querer um desafio. O professor é um agente mediador de aprendizagem e o
aluno torna-se o principal nesse processo. Estar apto a mudanças em sala de aula é fundamental.
O uso de atividades diferenciadas, como no projeto executado, o uso dos jogos, representa
uma mudança de postura do professor em relação ao que é ensinar matemática ou outras
disciplinas. A forma como se coloca as situações de aprendizagem é um fator importante para
que a aprendizagem significativa aconteça.

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REVISTA MAIS EDUCAÇÃO

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