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16/11/2015 Enquanto 

a União Europeia comemora sua nova política regional refugiados batem à sua porta

Confins
Revue franco­brésilienne de géographie / Revista franco­brasilera de geografia

25 | 2015 :
Número 25
Crónica de campo

Enquanto a União Europeia comemora
sua nova política regional refugiados
batem à sua porta
Pendant que l'Union européenne célèbre sa nouvelle politique régionale, les réfugiés frappent à sa porte
As the European Union celebrates its new regional politicy refugees knock at its door

ALDOMAR A. RÜCKERT

Texto integral
Apoio: FAPERGS e CNPq. Com a colaboração de Eduarda F. Scheibe

1 A União Europeia, oficialmente, não tem uma cidade capital mas Bruxelas na Bélgica é considerada sua
capital de facto com uma longa história como sede de suas instituições no central Distrito Europeu. Trata­
se de uma cidade que se assemelha a uma Torre de Babel ultra moderna, uma espécie de encruzilhada do
mundo global, ao mesmo tempo coração e caixa de ressonância do bloco europeu, onde se falam, além do
francês e do holandês, inúmeras línguas de povos oriundos não apenas dos representantes dos vinte e oito
países dos Estados Membros da UE, dos inúmeros corpos diplomáticos na Bélgica, da OTAN, dos corpos
de  imprensa,  de  lobistas  e,  em  grande  número,  de  imigrantes  do  antigo  Império  Colonial  Belga  (Congo
Belga, Ruanda e Burundi), do leste europeu, do norte da África e do Oriente Médio.
2 No mês de outubro a Comissão Europeia comemora, todos os anos, a sua Política de Coesão Territorial,
mais conhecida como política regional, durante a Open Days Week for Cities and Regions. Mais de uma
centena  de  sessões  são  destinadas  a  mostrar  os  melhores  trabalhos  e  abordagens  bem  sucedidas  em
promover  empregos  e  atrair  negócios  para  o  território  da  União  Europeia.  Enquanto  isto  milhares  de
refugiados  batem  às  portas  da  União  pedindo  asilo  e  colocando  imensa  pressão  sobre  as  prioridades  a
serem atendidas pela burocracia europeia.

Bruxelas e o momento político da União Europeia
3 O  momento  político  que  vive  a  União  Europeia  em  face  de  sua  vizinhança  e  de  sua  Política  de  Coesão
Territorial  é  de  uma  grande  instabilidade  frente  aos  problemas  urgentes  que  a  estão  acometendo.  A  EU
encontra­se em uma encruzilhada das diversas crises: alto desemprego desde 2008, migrações constantes e
chegada de milhares de refugiados principalmente vindos da Síria, Afeganistão, Eritreia, Iraque, etc após
saírem da Turquia. Ao mesmo tempo em que ocorrem protestos pela morte de curdos em Ancara milhares
de sírios, iraquianos, afegãos, eritreus batem às portas dos países europeus pedindo asilo.
4 No  dia  5  de  Outubro  próximo  passado  o  presidente  do  Conselho  Europeu  Donald  Tusk  recebeu  o
presidente  da  Turquia  Recep  Tayyip  Erdogan  para  tratar  de  um  plano  turco  para  criar  uma  zona  de
segurança no norte da Síria livre dos guerrilheiros do Estado Islâmico, uma zona onde refugiados poderiam
se abrigar dos conflitos. Para Erdogan, um forte opositor de Bashar el­Assad, a raiz da crise dos refugiados
está no terrorismo de Estado empregado pelo próprio Assad.
5 Já no sábado dia 10 de Outubro, em Ancara, num atentado durante manifestação do povo Curdo mais de
cem  pessoas  morreram  e  centenas  ficaram  feridas  em  duas  explosões  no  mais  mortal  dos  ataques  na
história  da  Turquia  a  um  protesto  pacífico  contra  a  violência  entre  o  governo  turco  e  o  grupo  militante
curdo, o PKK Partido dos Trabalhadores do Curdistão. Na tarde do dia seguinte, domingo 11 de Outubro,
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em  Bruxelas,  centenas  de  curdos  protestavam  na  Praça  Luxemburgo  em  frente  ao  Parlamento  Europeu,
acusando o governo de Recep Tayyip Erdogan pelo atentado de Ancara pelas mortes e feridos. Nas faixas os
curdos responsabilizavam Erdogan pela morte dos pacifistas.

Foto 1. “Erdogan é o responsável do massacre de Ancara”

Foto: Aldomar A. Rückert, 2015

Foto 2. “Sejam 400 deputados, seja massacre. Erdogan assassino”

Foto: Aldomar A. Rückert, 2015

Foto 3. Os protestos dos curdos na Praça Luxemburgo em frente ao Parlamento Europeu

Foto: Aldomar A. Rückert, 2015

A 13ª semana aberta das cidades e regiões nos
prédios imponentes e securitizados da eu
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6 Enquanto o cenário geopolítico em que está inserida a União Europeia é complexo e não se pode prever
exatamente todos os seus desdobramentos, em seu território interior o Espaço Schengen, aparentemente,
as  ações  da  Política  de  Coesão  Territorial  que  visam  apoiar  os  Estados­Membros  a  administrar  seus
territórios atraem os olhares dos gestores públicos e dos lobistas que visam atrair recursos europeus para os
territórios nacionais.

Foto 4. Fila de espera para adentrar as sessões da Open Days Week no European Economic and Social
Committee

Foto: Eduarda F. Scheibe, 2015
7 Em clima de festividade, já no dia 12 de Outubro, logo após o atentado em Ancara, quase 6.000 pessoas
falando  dezenas  de  línguas  diferentes  começavam  a  ocupar  as  dependências  dos  prédios  arrojados  e
securitizados da União Europeia no Distrito Europeu de Bruxelas. Tinha início a Open Days Week, reunião
anual  dos  representantes  das  274  unidades  regionais  nos  28  Estados  Membros  para  expor  os  trabalhos
práticos  e  os  resultados  da  política  regional  europeia  denominada,  genericamente,  de  Política  de  Coesão
Territorial. Uma delegação do governo brasileiro costuma se fazer presente para celebrar a cooperação com
os técnicos da União Europeia a fim de implementar no Brasil metodologias de desenvolvimento regional
europeu  na  Política  Nacional  de  Desenvolvimento  Regional.  Durante  a  semana  as  best  practices  são
premiadas em uma concorrida sessão de prêmios. Mas, em Bruxelas é impossível não se ouvir, ao mesmo
tempo, os ecos da crise europeia face aos eventos dramáticos do desemprego com a crise que se aprofundou
a partir de 2008 e da crise humanitária dos refugiados.

As mudanças recentes na política de coesão
territorial
8 A Política Regional da União Europeia vinha, desde 1970, dando suporte às regiões em desequilíbrio –
através de critérios de convergência para regiões com menos de 75% do PIB médio europeu. Entretanto,
desde  a  Estratégia  de  Lisboa  (2000)  e  da  atual  Estratégica  Europa  2020  as  diretrizes  voltadas  ao
desenvolvimento regional estão centradas sobre a inovação tecnológica, o aumento da competitividade das
regiões, o crescimento da economia e uma verdadeira obsessão com a criação de empregos, principalmente
para  jovens  no  contexto  da  crise  e  do  desemprego  principalmente  em  países  como  os  PIIGS  (Portugal,
Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).
9 A crise econômica internacional, que iniciou nos Estados Unidos em 2008, teve seu impacto efetivo na
União Europeia a partir de 2011, levando ao aumento das taxas de desemprego, quedas consideráveis nas
taxas de crescimento e um sentimento de pessimismo quanto à efetividade da integração regional. Além
disto,  a  Comissão  Europeia  passou  a  aplicar  condicionalidades  econômicas  isto  é  a  comprovação  do
equilíbrio das contas públicas e a boa aplicação dos fundos europeus como condição para a concessão de
novos investimentos ­ o que tem tido um efeito de reduzir a capacidade dos Estados Membros obter apoios
dos fundos estruturais.
10 Destaca  a  imprensa  em  Bruxelas,  como  o  jornal  New  Europe,  que  a  disciplina  fiscal  dos  Estados
Membros vinha sendo a principal preocupação nos últimos anos. Agora, no entanto, a principal ameaça
para  a  coesão  europeia  vem  de  um  perigo  ainda  não  muito  bem  avaliado:  “as  ondas  de  refugiados  e
migrantes são a ameaça real da própria existência da União Europeia”. (p. 2). Efetivamente, Ramón Siso,
vice­presidente  do  Parlamento  Europeu,  concorda  que  os  desafios  atuais  que  exigem  respostas  são  a
geração de empregos e a crise dos refugiados.
11 No  plano  interno  para  os  principais  expoentes  da  atual  política  de  coesão  territorial  reformada  para  a
geração  de  empregos  o  foco  principal  reside  no  apoio  às  pequenas  e  médias  empresas  (PIMES)  e  na
inovação tecnológica. Para Corina Cretu, atual Comissária da Política Regional é necessário simplificar o
uso dos fundos europeus (453,18 bilhões de Euros para o período 2014­2020) e incentivar as best practices.
12 A  opção  estratégica  da  política  de  coesão  territorial  tem  sido  a  aposta  na  Smart  Specialization  –  um

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lema que procura combinar palavras­chave como “economia inteligente, sustentável e inclusiva” visando
alcançar  objetivos  até  2020  como  “emprego,  inovação,  educação,  inclusão  social  e  mudanças  climáticas”
através  de  “estratégias  de  especialização  inteligente  e  processos  de  descoberta  de  empreendedorismos”.
Para  os  principais  assessores  da  atual  política  regional,  como  Phillip  Mccann  da  Universidade  de
Groningen  (Países  Baixos),  Roberta  Capello  do  Instituto  Politécnico  de  Milão  e  Slavo  Radosevicc  da
University College London a Smart Specialization não se destina a indústrias, especificamente, mas para o
desenvolvimento  territorial  unindo  instituições  de  vários  Estados  Membros,  cidades  e  regiões,  diferentes
áreas do conhecimento e construindo­se plataformas de conhecimento de gerenciamento de estratégias de
pesquisa e inovação.

O espetáculo das premiações: as Regio stars
2015
13 As best practices são premiadas, anualmente, em uma concorrida e descontraída sessão de prêmios, a
Regio  Stars  no  Bozar  Center  for  Fine  Arts    de  Bruxelas.  As  premiações  deste  ano  de  2015  foram  para
Portugal,  Espanha,  Itália,  Dinamarca  e  Suécia.  Talvez,  não  por  acaso,  dos  cinco  países  vencedores,  três
dentre eles estão entre os países onde estão os mais graves problemas de desemprego, sobretudo de jovens:
Portugal, Espanha e Itália. Estes países tem tido dificuldades para tomar recursos dos fundos da União
Europeia  tendo  em  vista  a  incapacidade  dos  governos  nacionais  cumprirem  com  as  cláusulas  das
condicionalidades econômicas para a obtenção de novos fundos europeus: trata­se do condicionante de que
o déficit público dos países não ultrapasse 3% do PIB, inviabilizando novos projetos – sendo que todos os
países PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) apresentaram problemas com a dívida pública.
14 Para  o  ano  de  2015  inscreveram­se  143  projetos  concorrentes,  sendo  dezessete  finalistas  e  quatro
premiados  que  foram  caracterizados  por  Corina  Cretu  como  projetos  exemplares  em  apoio  a  Pequenas  e
Médias  Empresas,  eficiência  energética,  inclusão  social  e  desenvolvimento  urbano.  Na  Dinamarca  foi
premiada na categoria Crescimento Inteligente uma incubadora de jogos eletrônicos localizada em Grenaa
com  criação  de  vinte  e  duas  empresas  no  oeste  da  Suécia  (Västsverige)  e  na  região  da  Jutlândia  Central
(Dinamarca).  Na  Categoria  Crescimento  Sustentável  foi  premiado  o  projeto  Programa  de  Construção
Sustentável na Andaluzia (PICSA) – investimentos na renovação de energia em prédios e reabilitação de
áreas urbanas. Observe­se que no sul da Espanha a Comunidad Autônoma da Andaluzia é a região com
maior  desemprego  na  Espanha  com  fraco  tecido  industrial  e  baixa  capacidade  competitiva  da  estrutura
produtiva, estando a construção civil em crise desde e 2008. Na categoria Crescimento Inclusivo, no, na
região de Puglia (sul da Itália) foi contemplado o projeto Direito à Escola, uma abordagem de educação e
serviço social destinado a reduzir o abandono precoce da escola por jovens até 15 anos tendo atingido mais
de 50.000 estudantes e 10.000 famíias. Na categoria Cidade Destaque foi premiada a experiência de duas
cidades  gêmeas  transfronteiriças  (denominadas  de  Cidades  Europeias)  ­  Chaves  no  norte  de  Portugal  e
Verín  na  Comunidade  Autônoma  da  Galícia  (Espanha).  As  municipalidades  uniram­se  para  ofereces
serviços  e  facilidades,  incluindo  eventos  culturais  conjuntos,  comércio,  esportes,  lazer  e  atividades
turísticas juntamente com a promoção do empreendedorismo.

Refugiados batem ás portas da UE
15 Enquanto  as  festividades  das  premiações  das  Best  Practices  aconteciam  no  Bozar  Center  milhares  de
refugiados sírios continuavam a bater às portas da União Europeia. Segundo dados da FRONTEX (Agência
Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados­Membros da União
Europeia) mais de 710.000 imigrantes entraram na UE nos primeiros nove meses de 2015 sendo as ilhas
gregas  do  Mar  Egeu  as  regiões  mais  afetadas.  O  Parlamento  Europeu  em  Sessão  sobre  Migrações,
promovida pela parlamentar grega Eliza Vozemberg com o apoio do Grupo do Partido Popular Europeu do
Parlamento – EPP Group passou a atribuir um papel ativo às regiões e cidades no problema das migrações
e  refugiados,  principalmente  no  caso  do  acolhimento  dos  milhares  de  refugiados  que  partem  dos
acampamentos  da  Turquia.  Como  co­organizadores  estiveram  as  regiões  que  tem  mais  recebido
diretamente  os  refugiados,  isto  é  as  regiões  Sul  e  Norte  do  Mar  Egeu  na  Grécia  e  as  regiões  da  Sicília  e
Calábria no sul da Itália.
16 O  Governador  Regional  da  Região  Sul  do  Mar  Egeu  (EGEAN),  Giorgios  Hatzimarkos  informou  que
vinham recebendo refugiados em 60 ilhas. Disse sentir­se desconfortável quando todos vinham falando em
solidariedade quando ele e seu governo regional vinha cumprindo com o seu dever enquanto a Europa não
vinha sendo muito rápida. “Passei tempo com os refugiados, com a polícia, com os técnicos... crianças são
abandonadas nos campos... crianças mortas; procuramos pelos pais.... não é fácil controlar...sabemos... há
muitos  detalhes;  ...  não  podemos  esquecer  que  o  Iluminismo  nasceu  na  Europa  e  precisamos  protegê­lo
(sic).”  Já  Giorgios  Patoulis,  Prefeito  de  Maroussi,  presidente  da  União  Central  das  Municipalidades  da
Grécia  afirmou  que  “os  fluxos  vem  da  Turquia  por  traficantes  ligados  a  políticos.  A  UE  deveria  ter  um
tratado  com  a  Turquia.  A  Grécia  não  vai  suportar  no  mar  Egeu  ser  a  porta  da  EU.  A  EU  precisa  atuar.
Haverão mais fluxos se não houver paz”.
17 As  manifestações  de  representantes  da  UE  para  o  problema  dos  refugiados,  de  presidentes  e
representantes  das  regiões  da  Sicilia,  Calabria,  Sul  e  Norte  do  Mar  Egeu  e  da  União  Central  das
Municipalidades (Grécia), Catalunha e Valencia (Espanha), Prefeitura Municipal de Viena e parlamentares
da  Itália,  Alemanha,  Holanda  foram  unânimes  em  enviar  mensagens  às  autoridades  pedindo  mais

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16/11/2015 Enquanto a União Europeia comemora sua nova política regional refugiados batem à sua porta
recursos para o atendimento aos refugiados entendendo que imigração, além da questão humanitária, pode
ser uma força impulsionadora no desenvolvimento dos países que venham a acolhe­los sendo necessários
procedimentos mais eficientes para as integrações, empregos e benefícios dos novos países. Martha Cygan,
diretora encarregada dos Assuntos Estratégicos da Diretoria de Migrações e Assuntos Internos da UE frisou
que  a  Agenda  da  Imigração  é  uma  das  prioridades  da  Comissão  Europeia  que  incluiu  a  adoção  de  dois
esquemas emergenciais para realocar 160.000 pessoas em estado de proteção internacional pelos Estados
Membros mais afetados. A primeira realocação aconteceu da Itália para a Suécia no dia 9 de Outubro e a
segunda está em curso.

A Turquia de Erdogan vai conter os refugiados
fora da fortaleza europeia ?
18 A visita de Erdogan a Bruxelas no dia 5 de Outubro começa a dar os seus primeiros resultados práticos. A
Turquia agora passou a ser vista como um parceiro estratégico necessário para conter os refugiados em seu
território  impedindo­os  de  caminharem  para  o  território  do  Espaço  Schengen.  Os  chefes  de  Estado  e  de
governo  decidiram  no  dia  15  de  outubro  no  Conselho  Europeu  em  Bruxelas  (no  dia  do  encerramento  do
Semana  Open  Days),  acelerar  as  discussões  com  a  Turquia  que  já  conta  com  dois  milhões  de  refugiados
sírios.
19 Para os mais críticos das decisões do Conselho Europeu esta negociação demonstra o caráter conservador
das  políticas  da  EU  ao  estender  o  tapete  vermelho  para  persuadir  Erdogan  para  selar  as  suas  fronteiras
externas e parar o fluxo de refugiados da Síria e demais países através da rota dos Balkans. Além de uma já
aventada  ajuda  financeira  de  3  bilhões  de  Euros  à  Turquia  para  prevenir  que  refugiados,  principalmente
sírios,  saiam  de  seu  território  em  busca  dos  países  europeus,  os  dirigentes  europeus  vem  retomando  a
proposta  de  aceitar  a  Turquia  como  membro  pleno  da  União  provocando  assim  não  apenas  grande  mal
estar entre os parlamentares europeus como críticas dos defensores dos direitos humanos tendo em vista as
práticas autoritárias do regime de Ancara principalmente em relação aos curdos e a ocupação de parte da
ilha de Chipre que é um membro da União Europeia.
20 A recente retomada da proposta para acolher a Turquia na União Europeia no difícil cenário para tentar
deter o fluxo de refugiados aponta para o fato que o território da União Europeia começa a dar sinais de que
está  em  vias  de  mudanças  como:  i)  o  surgimento  de  um  vasto  cinturão  do  desemprego  na  região  do
Mediterrâneo (principalmente nos países PIIGS – Portugal, Itália, Grécia e Espanha); ii) recebimento de
enormes contingentes de refugiados e imigrantes ilegais em suas fronteiras; iii) o provável aumento de seu
território com a provável futura incorporação da Turquia à União enquanto outros seis países da região dos
Balcans esperam sua vez de adentrar este território europeu: Albania, Bosnia­Herzegonia, Kosovo (mesmo
que muitos países membros da EU não reconheçam sua proclamada independência da Servia); Macedonia,
Monenegro e Sérvia.
21 A  visita  de  Angela  Merkel  a  Erdogan  em  Istambul  no  dia  18  de  Outubro  próximo  passado  causou
perplexidades  na  Alemanha  e  na  Turquia.  A  esquerda  e  a  oposição  verde  alemãs  acusaram  Merkel  de
interferir nas eleições legislativas que ocorreriam no dia 01 de Novembro próximo passado – data em que o
partido de Erdogan, o Justiça e Desenvolvimento saiu­se majoritário em meio a atos truculentos da polícia
turca contra a imprensa de oposição. Já na própria Turquia mais de cem acadêmicos turcos enviaram uma
carta aberta a Merkel declarando­se perplexos com sua visita logo após o mais violento ataque a civis na
história turca.
22 Bruxelas  e  alguns  Estados­Membros  estão  inquietos  e  temerosos  quanto  às  opções  que  terão  que  fazer
para manter os refugiados da guerra da Síria fora do Espaço Schengen. Continuar recebendo milhares de
refugiados a título de ajuda humanitária encontra seus próprios limites em seus territórios nacionais onde
vicejam as mais diversas xenofobias e aversões a imigrantes. Quando o drama do desemprego continua a
assolar as economias europeias e não há política regional eficiente o suficiente para retomar a economia o
novo impasse do drama dos refugiados ofuscou o brilho da Semana Open Days.
23 Uma síntese foi expressa por uma voz da Finlândia no dia da abertura dos festejos: “...que tipo de diálogo
vamos ter com o resto do mundo? Os migrantes estão vindo para a Europa, vamos dividir valores? Tivemos
e estabilidade por anos mas vamos ter daqui em diante? Será que teremos que fugir dos nossos lares?”

Bibliografia
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TROIS  jours  de  deuil  national  en  Turquie  après  l’attentat  le  plus  meurtrier  de  son  histoire.  Le  Monde  Europe.
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http://www.todayszaman.com/anasayfa_100­turkish­academics­criticize­merkels­turkey­visit­in­open­
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710 000 migrants entered EU in first nine months of 2015. Frontex. http://frontex.europa.eu/news/710­000­migrants­
entered­eu­in­first­nine­months­of­2015­NUiBkk. Acesso em 20.out.2015.

Índice das ilustrações
Título Foto 1. “Erdogan é o responsável do massacre de Ancara”
Créditos Foto: Aldomar A. Rückert, 2015
URL http://confins.revues.org/docannexe/image/10596/img­1.jpg
Ficheiro image/jpeg, 104k
Título Foto 2. “Sejam 400 deputados, seja massacre. Erdogan assassino”
Créditos Foto: Aldomar A. Rückert, 2015
URL http://confins.revues.org/docannexe/image/10596/img­2.jpg
Ficheiro image/jpeg, 108k
Título Foto 3. Os protestos dos curdos na Praça Luxemburgo em frente ao Parlamento Europeu
Créditos Foto: Aldomar A. Rückert, 2015
URL http://confins.revues.org/docannexe/image/10596/img­3.jpg
Ficheiro image/jpeg, 216k
Foto 4. Fila de espera para adentrar as sessões da Open Days Week no European
Título
Economic and Social Committee
Créditos Foto: Eduarda F. Scheibe, 2015
URL http://confins.revues.org/docannexe/image/10596/img­4.jpg
Ficheiro image/jpeg, 136k

Para citar este artigo
Referência eletrónica
Aldomar A. Rückert, « Enquanto a União Europeia comemora sua nova política regional refugiados batem à sua
porta », Confins [Online], 25 | 2015, posto online no dia 13 Novembro 2015, consultado o 16 Novembro 2015. URL :
http://confins.revues.org/10596

Autor
Aldomar A. Rückert
Professor Doutor do programa de pós­graduação em Geografia e em Planejamento Urbano e Regional da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Pesquisador CNPq, aldomar.ruckert@gmail.com

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