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1. Introdução
Este trabalho explora a aplicabilidade de plasmas térmico para fins de conversão de
insumos e valorização de resíduos com foco na produção em larga escala de produtos de
elevado valor agregado. Neste contexto, o presente trabalho visa avaliar a performance no
processo de gaseificação e pirólise de um reator de conversão térmica a plasma capaz de
realizar operações de processamento do piche de alcatrão de hulha (PAH) em negro de
fumo.
Quanto à rota de conversão térmica de resíduos da indústria siderúrgica com elevado teor
de carbono em carbono sólido nanoestruturado, destaca-se tecnologicamente a obtenção de
negro de fumo, este de elevado interesse de diversos setores da indústria automobilística e
aeroespacial. Negro de fumo possui ampla aplicação na indústria como insumo de reforço
de propriedade mecânica para borracha, principalmente na fabricação de pneus,
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componentes automotivos, diversos polímeros, tintas, inclusive aquelas de alto
desempenho como as utilizadas em jato de tinta e toners para impressoras a lasers. Negros
de fumo produzidos em processos térmicos a plasma possuem características que os
classificam para aplicações especiais, como na indústria aeroespacial, e, por conseguinte,
possuem alto valor comercial (Zucolotto, 2006) e (Da Costa Labanca, 2020). Estas
propriedades elegem muitas aplicações como na área de catálise, obtenção de compósitos
condutores ou de alta resistência mecânica, dispositivos para armazenamento e conversão
de energia, sensores, dispositivos semicondutores em escala nanométrica, aplicações em
biotecnológicas, uso como adsorventes de metais pesados em efluentes, dentre outras
(Herbst et al., 2004), (Mohsenian et al., 2016) e (Okoye et al., 2021).
Este trabalho realizou estudos experimentais e teóricos do processamento de PAH com
uma tocha de plasma de arco não transferido acoplado a um reator a plasma. Os negros de
fumo produzido e o rendimento do gás de síntese foram analisados. Os resultados
permitem a previsão da composição do gás de síntese produzido, propriedades do negro de
fumo e características do processo. As propriedades físico-químicas do negro de fumo e do
gás de síntese mostram a alta eficiência do sistema na conversão de PAH em produtos de
alto valor agregado.
2. Metodologia
Piche de Alcatrão de Hulha (PAH)
O PAH foi obtido da coqueria da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com ponto de
amolecimento entre 107-113ºC como matéria-prima para processamento por plasma
térmico. As características físico-químicas da amostra de PAH usada estão listados na
Tabela 1; os testes foram realizados seguindo as normas da ASTM International (American
Society for Testing and Materials).
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Tabela 1. Características físico-químicas da amostra de PAH.
Configuração Experimental
A tocha de plasma de arco não transferido proposta para a realização dos experimentos está
representada na Figura 1. (Prado et al., 2021) e consiste principalmente em duas partes
principais: uma seção de cátodo e uma seção de ânodo. Estes são isolados eletricamente
um do outro por materiais dielétricos (politetrafluoretileno e Celeron isolante). Um
eletrodo de cobre cilíndrico com inserção de háfnio (o cátodo) é projetado para trabalhar
até 150 A de corrente elétrica e montado em um tubo de latão que permite ajustar a
distância ao ânodo. O ânodo é uma peça tubular de cobre contendo duas câmaras de
vórtice. A primeira é a câmara de vórtice principal colocada no topo do ânodo e serve para
proteção do cátodo. A segunda câmara de vórtice (a auxiliar) é posicionada remotamente (a
jusante) no ânodo. Esta configuração permite o uso de diferentes gases de trabalho de
plasma.
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Figura 1. Montagem experimental e diagrama esquemático (Prado et al., 2021).
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Cálculos termodinâmicos
3. Resultados e Discussão
Simulação termodinâmica
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no gás produzido atinge valor de 98 vol.% (H2 - 81 vol.%, CO - 17 vol.%). As variações da
concentração do componente da fase gasosa (acima de 0,1 vol %) versus a temperatura do
sistema para a pirólise e gaseificação a plasma são mostradas na Figura 2. Para
gaseificação, com um aumento na temperatura, a concentração do gás de síntese aumenta
para seu valor máximo em uma faixa de temperatura de 1000 – 1100 K. Mantém seu valor
até temperaturas mais altas quando o hidrogênio molecular e o monóxido de carbono
começam a se dissociar.
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Intensidade (u.a.)
NF-P
NF-G
NF-P
NF-G
1637 1095
O espectro obtido para a amostra NF-P não apresenta nenhuma banda significante, o que
reflete um elevado grau de pureza e integridade da estrutura carbonosa (Pacheco et al.,
2015). A presença de grupos funcionais oxigenados na superfície do NF-G pôde ser
confirmada devido ao surgimento de uma banda em 1637 cm-1, a qual está relacionada a
vibrações de estiramento do grupo C=O e uma banda em 1095 cm-1, relacionada a
vibrações de estiramento C–O (Vuković et al., 2009).
O estudo da dispersão dos NFs em solventes é muito importante, pois traz informações de
como os tratamentos superficiais de funcionalização modificam a estrutura e propriedades
dos NFs. A dispersão correta é necessária em inúmeras aplicações dos NFs, especialmente
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na fabricação de nanocompósitos de alta performance. Em geral, a dispersão ocorre quando
tanto o soluto quanto o solvente apresentam polaridade similares. O grau de dispersão em
uma solução coloidal não pode ser definido de forma precisa, devido às variações no
estado de dispersão em função do tempo. Portanto, um método qualitativo foi utilizado
para descrever a dispersão dos NFs analisados, a qual foi dividida em quatro estados:
“disperso”, “agregado”, “sedimentado” e “sobrenadante”. O estado “disperso” ocorre
quando o líquido mantém uma cor preta uniforme após as 240 horas, sem a formação de
agregados ou precipitados. Já o estado “agregado” indica que um sistema com duas fases é
observado, devido à aglomeração dos NFs. Se ocorrer a precipitação de todos os NFs no
fundo do frasco, tem-se o estado “sedimentado”. Se os NFs ficarem flutuando na superfície
do líquido, tem-se o estado “sobrenadante” (Ham et al., 2005) e (Reichardt, 2007). A
Figura 5 apresenta o ensaio de dispersão realizado em água. Na Tabela 2 está indicado o
valor do parâmetro de polaridade normalizado (𝐸𝑇𝑁 ) para o solvente em estudo. A escala de
(𝐸𝑇𝑁 ) varia desde 0,000 para o tetrametilsilano (o solvente menos polar) até 1,000 para a
água (o solvente mais polar) (Reichardt, 2007).
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Após o processamento na presença de ar, funcionalização com oxigênio, a dispersão
passou a ser classificada como “disperso” em água. A ionização dos grupos funcionais
oxigenados (C=O e C-O) na superfície do NF-G, favorece que suas cargas negativas e
estabilidade eletrostática liberam os aglomerados de NFs, permitindo uma interação de
cada NF individualmente com o solvente polar (Zhao et al., 2013) e (Shieh et al., 2007).
Portanto, a modificação superficial através do processo de gaseificação garante o controle
da dispersão dos NFs de carbono em água. Dessa forma, é possível fazer uma correlação
entre a polaridade dos grupos funcionais ancorados ao NF e a polaridade do solvente.
4. Conclusão
Esta modelagem termodinâmica de pirólise e gaseificação demonstra a viabilidade de
produção de gás combustível e negro de fumo a partir de PAH. Verificou-se que os
principais compostos gasosos (obtidos por processos de pirólise e gaseificação) são
hidrogênio (H2), monóxido de carbono (CO) e, muitas vezes, dióxido de carbono (CO2).
Para o caso da pirólise, o valor médio da concentração do gás de síntese atinge o valor
maior de 98 vol.% de todo o gás produzido, dividindo-se entre H2 (81 vol.%) e CO (17
vol.%). No entanto, apenas uma pequena parte do PAH inicial é transformada em fase
gasosa e aproximadamente 70% é convertida em negro de fumo.
O processo de gaseificação permite converter praticamente todo o PAH bruto em fase
gasosa. Para o caso de gaseificação com ar, a quantidade de gás de síntese na produção de
gás é um pouco menor do que para o caso de pirólise e atinge 91,6 vol.% (H2 - 21,5 vol.%,
CO - 70,1 vol.%) para temperaturas acima de 1100 K.
Em relação aos negros de fumo obtidos, foi possível concluir a partir da análise de FT-IR
que a funcionalização de grupos oxigenados na superfície do material para o processo de
gaseificação com ar, refletiu significativamente na dispersão em água.
A disponibilidade de acima de 80% de gás de síntese em produtos gasosos, bem como a
obtenção de negros de fumo de alta pureza como produto sólido, confirma que a pirólise e
gaseificação via plasma térmico tem grande potencial para aplicação e desenvolvimento
em instalações de disposição de resíduos da indústria siderúrgica para produzir carbonos
sólidos nanoestruturados de uma forma ambientalmente amigável.
Agradecimentos: Os autores agradecem a bolsa concedida pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a Eduardo Sant'Ana Petraconi Prado
[bolsa nº 141130/2021-0]. Agradecemos também o apoio do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) e do Laboratório de Plasma e Processos do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (LPP-ITA).
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Referências
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