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ANALISE TEÓRICA E AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DE UM REFRIGERADOR

TERMOACUSTICO GUIADA POR UM ALGORITMO DE OTIMIZAÇÃO

Rafael Sartori e João Pimenta


Universidade de Brasília, Faculdade de Tecnologia, Dep. de Engenharia
Mecânica, LaAR - Laboratório de Refrigeração e Ar Condicionado, Asa Norte,
Brasília, DF, CEP 70910-900, Brasil, pimenta@unb.br

Resumo. O estudo do processo de refrigeração por efeito termo-acústico tem sido objeto de
diversas pesquisas recentes entre as quais, certos estudos, têm dado ênfase a otimização dos
refrigeradores termo-acústico através de uma análise teórica do problema aliada a
experimentação em laboratório. O presente trabalho realiza o estudo teórico do fenômeno de
refrigeração por efeito termo-acústico empregando um algoritmo de projeto otimizado proposto
na literatura. Um primeiro ensaio é realizado para um refrigerador experimental, permitindo
constatar a viabilidade técnica do processo.

Palavras-chave: refrigerador, termo-acústico, performance, otimização.

1. INTRODUÇÃO

Observações da ocorrência natural do fenômeno termo-acústico foram feitas pela primeira vez
por volta de 150 anos atrás, quando se verificou que um tubo de vidro frio emitiria som após um
pulso de ar quente ser promovido no interior do mesmo. Esse fato observado foi um exemplo de
um sistema que converte calor em potência acústica. Por outro lado, pesquisas desenvolvidas nas
duas últimas décadas têm mostrado ser possível realizar o processo inverso, ou seja, converter
potência acústica de ondas sonoras em potência térmica útil.
As pesquisas começaram a ser desenvolvida quando se observou que a iteração entre as
partículas de gás, de uma onda sonora, em contato com a superfície de um sólido ocasionaram
uma transferência de calor oscilatória entre o gás e a superfície. Tal efeito é muito pequeno para
se ter uma percepção clara do ponto de vista macroscópico. No entanto, se a emissão de uma
onda sonora for propositadamente ocasionada em tubos com gases pressurizados, o fenômeno
termo-acústico pode produzir poderosas máquinas, combustões pulsantes, refrigeradores,
bombas de calor e separadores de misturas.
A refrigeração é uma tecnologia essencial para a manutenção do nosso modo de vida, sendo
largamente empregada na produção de bens e geração de conforto. No entanto, a utilização
intensa dessa tecnologia vem prejudicando o meio ambiente de forma a alterar profundamente as
condições necessárias para uma qualidade de vida adequada. Isto ocorre pois os sistemas de
refrigeração e ar condicionado modernos, e alguns outros processos industriais, utilizam
substâncias depletoras da camada de ozônio que quando emitidos na atmosfera provocam a
depleção da camada de ozônio. Por outro lado, no processo termo-acústico, essas substâncias não
são utilizadas e os gases de trabalho são, geralmente, o ar ou o hélio, sendo assim um processo
inofensivo ao meio ambiente. Além disso, a operação de um equipamento termo-acústico é de
baixo custo e apresenta grande simplicidade construtiva pois não possui partes móveis e assim
requer-se pouca manutenção. Isso faz com que o equipamento tenha um grande potencial de
aplicação em muitas áreas tecnológicas as quais incluem os campos aeroespacial, industrial entre
outros. Tendo em vista as grandes vantagens citadas, o fenômeno termo-acústico tem sido alvo
de muitas pesquisas no campo da refrigeração.
Numa recente revisão bibliográfica (Sartori e Pimenta, 2004), observa-se que os estudos
atuais (Braun et al, 2000, Tijani et al 2002 a, b) têm dado ênfase à otimização dos refrigeradores
termo-acústico por intermédio tanto da análise teórica do problema quanto pela experimentação
em laboratório.

2. ESTADO DA ARTE

O surgimento do estudo de um refrigerador termo-acústico propriamente dito é relativamente


novo. Os primeiros trabalhos surgiram com Root (1980) que desenvolveu a descrição
matemática da oscilação acústica de um gás entre placas adjacentes de sólido com gradiente de
temperatura axial, e cuja distância estava na ordem da profundidade de penetração térmica do
gás.
Guiado pelos trabalhos de Root, Hofler (1986) investigou um refrigerador termo-acústico de
onda estacionária e demonstrou que as formulações matemáticas de Root se aplicavam bem ao
fenômeno da refrigeração por efeito termo-acústico entre pilhas de placas planas com pequenos
espaçamentos. Neste tipo de refrigerador o movimento oscilatório do gás, a temperatura do
mesmo e a existência de uma transferência de calor no sistema, devido a onda sonora, estão em
fase no tempo de forma que o calor é absorvido de uma fonte a baixa temperatura e dissipado
para uma fonte a alta temperatura.
Propostas como a de Tominga (1995), propõem a discussão dos aspectos termodinâmicos da
teoria termo-acústica. Seu artigo introduziu o fluxo de trabalho, a transferência de calor e a
conversão da energia relacionada ao fenômeno termo-acústico de uma forma mais analítica. O
autor considera um sólido e um fluido oscilante como catalisadores da propagação de calor e da
conversão da energia. Algumas equações básicas da mecânica dos fluidos relacionadas a essa
conversão, a transferência de calor, a corrente acústica e a velocidade de um elemento de fluido
são relatadas no estudo. Dessa forma consegue-se expressar o fluxo de calor e a conversão da
energia em termos da pressão oscilante e deslocamento (ou velocidade) do elemento de fluido.
Artigos como o de Garret et al (2000), publicado na revista American Scientist, apresentam
uma breve visão histórica a respeito do desenvolvimento de máquinas térmicas no século XX,
bem como as conseqüências que estas trazem ao meio ambiente. Com isso, sugere-se no artigo o
sistema de refrigeração termo-acústico como uma nova tecnologia sujeita a várias metas de
pesquisas dado a sua capacidade de não afetar o meio ambiente ao contrário de outras máquinas
modernas. É feito um relato geral do funcionamento deste sistema levando em consideração a
teoria aplicada e sua construção.
Para o desenvolvimento do presente trabalho é essencial citar os trabalhos mais focados na
construção e desenvolvimento de um sistema de refrigeração termo-acústico propriamente dito,
como o de Tijani et al (2002 a, b) que apresentam dois relevantes trabalhos relacionados ao
projeto, construção e ensaio de um refrigerador termo-acústico experimental. No primeiro
trabalho (Tijani et al 2002 a) os autores descrevem o projeto de um refrigerador termo-acústico.
Considerando o grande número de parâmetros a serem analisados, algumas variáveis
dimensionais independentes são introduzidas para facilitar a análise do refrigerador. Tal
estratégia é usada como guia para a definição de parâmetros construtivos significativos, tais
como: pressão média, frequência da onda sonora, propriedades do gás de trabalho, pressão
dinâmica, material e geometria do regenerador. Além disso, é discutida a otimização de
diferentes partes do refrigerador. Nesse aspecto Wetzel et al (1996) consideraram a aplicação de
um modelo linear termo-acústico simplificado que permite providenciar boas estimativas do
funcionamento de um refrigerador. Seu principal objetivo consiste em realizar uma simplificação
da teoria termo-acústica que, em conseqüência, apresenta esse modelo como uma forma de
descrever o desenvolvimento de um refrigerador termo-acústico em simples passos. Assim a
estratégia estabelecida pelo trabalho consiste em introduzir uma metodologia de
desenvolvimento sistemática para refrigeradores termo-acústico baseada na aplicação da
primeira lei da termodinâmica. Feito isso, desenvolve-se um algoritmo para o projeto do
refrigerador baseado no desenvolvimento e otimização do núcleo termo-acústico (pilha). Dessa
forma, para estimar e otimizar a performance do regenerador é aplicado o modelo linear
simplificado proposto pelos autores. Este modelo é denominado no artigo como “aproximação de
camada limite para a pilha regeneradora curta”. No segundo trabalho de (Tijani et al 2002 b) são
apresentados os procedimentos e detalhes para a construção das diferentes partes do refrigerador
termo-acústico projetado, seguida de uma análise relacionada à eficiência do equipamento
dependendo do gás que está contido no ressonador. Foram feitas as primeiras medidas da
performance, as quais mostraram que o refrigerador se comportou muito bem conforme o
esperado pelos autores, atingindo uma temperatura de -65°C. Ainda tem-se o trabalho de Russel
e Weibull (2002), onde um aparato experimental simples, o qual pôde demonstrar os
fundamentos básicos de um sistema de refrigeração termo-acústico, é desenvolvido. De fácil
construção e baixo custo, a construção do aparato requer apenas um tubo de acrílico, um alto-
falante, um plugue de alumínio, dois medidores de temperatura, linha de pescar, um rolo de filme
de máquina fotográfica e uma caixa para o alto-falante na sua construção. Com tal aparato de
demonstração os autores obtiveram uma redução de temperatura de até 25,6 °C após 10 minutos
de operação. Tal resultado foi julgado satisfatório pelos autores, dadas as características de
“experimento demonstrativo” para fins didáticos, contudo, o conceito geral de projeto permite
introduzir modificações no intuito de melhorar o seu desempenho como refrigerador.
No trabalho de Lucas et al. (2001), o projeto e construção de um equipamento termo-acústico
também é feito. O objetivo principal foi a desenvolvimento de um equipamento que convertesse
a energia térmica em potência acústica com sucesso e vice versa. Por razões que se tornaram
claras durante toda a pesquisa concluiu-se que é melhor manter a freqüência de ressonância a
mais baixa possível. Uma onda de alta freqüência de ressonância requer uma taxa de
transferência de calor mais rápida, trazendo conseqüências na complexidade e no custo dos
trocadores de calor. Uma análise da condutividade térmica de diferentes gases foi feita e pôde se
observar que moléculas de tamanho pequeno são providas de uma melhor condutividade térmica.
Dessa forma, considerando que o Hidrogênio é inflamável, ao contrário do Hélio, escolheu-se o
Hélio como fluido de trabalho após alguns testes com o ar. Uma eficiência não muito alta (23%
no ciclo de Carnot) foi obtida, o que era esperado devido ao fato de ser a primeira tentativa na
construção de um refrigerador termo-acústico e de ter sido utilizado equipamentos de baixa
tecnologia em conseqüência do baixo orçamento feito.
Um terceiro trabalho de Tijani et al, (2002 c), preocupa-se com a análise de um parâmetro
específico e sua influência no coeficiente de performance. Neste trabalho Tijani realiza uma
análise quantitativa da influência do número de Prandtl na eficiência de refrigeradores termo-
acústico. A análise é feita no mesmo refrigerador utilizado em Tijani et (2002 a,b). Este
parâmetro dimensional caracteriza a razão entre a viscosidade cinemática e a difusividade
térmica entre a placa e as moléculas do gás. Resultados experimentais da influência do número
de Prandtl na performance de refrigeradores termo-acústico são apresentados para misturas de
hélio com argônio, criptônio e xenônio, tão como o hélio puro. Essas misturas providenciam
fluidos de trabalho com um número de Prandtl variando entre 0.2 a 0.67. Os resultados teóricos
e experimentais mostram que o coeficiente de performance aumenta à medida que se diminui o
número de Prandtl. No entanto, é verificado que a potência de refrigeração diminui quando a
fração molar do componente mais pesado do gás nobre é aumentada. Isso acontece porque há um
aumento da densidade do fluido de trabalho. Dessa forma, faz-se necessário estabelecer um
acordo entre a performance e a potência de refrigeração no desenvolvimento de refrigeradores
termo-acústico.
3. ANÁLISE TEÓRICA

Um refrigerador termo-acústico deve conter, essencialmente, um tubo ressonante, um alto


falante acoplado em uma de suas extremidades, uma pilha de placas paralelas (regenerador)
instaladas com dois trocadores de calor nas suas extremidades e um fluido de trabalho que
preenche o tubo ressonante (Fig. 1).
Quando excitado por uma onda acústica o fluido de trabalho se desloca através da pilha
regeneradora, pressão, temperatura e posição todas variam com o tempo. Se o gás está confinado
dentro de um tubo fechado, a onda sonora se choca com as paredes do tubo e volta novamente
(reflexão), criando assim uma onda acústica estável. Neste caso, a pressão estará em fase com o
deslocamento, ou seja, a pressão alcançará o seu valor máximo ou mínimo quando o gás estiver
em um dos extremos do seu movimento oscilatório (Fig. 1).

2yo
Pilha
Regeneradora

Alto-Falante
Q& H Q& L

W&

Trocadores Tubo ressonante


p,u LP de calor

Distribuição de
velocidades

0 λ/4 λ/2
Distribuição de
pressões

T
TH

TH

x
Figura 1. Representação esquemática de um refrigerador termo-acústico

Dessa forma é possível descrever o ciclo termo-acústico (Fig.2), considerando que uma
parcela de gás se move para um lado, por exemplo, para a esquerda. Seu calor aumenta com o
aumento da pressão e depois perde velocidade e para momentaneamente antes de reverter a
direção do seu movimento. Próximo do final deste movimento o gás aquecido libera calor dentro
da pilha que se encontra mais fria. Durante a próxima metade do ciclo, a parcela de gás se move
para a direita e se expande. Quando essa parcela alcançar sua posição mais extrema à direita, ela
vai estar mais fria que a parcela adjacente da pilha e vai “captar” calor da mesma. O resultado é
que a parcela de gás transfere calor da direita para a esquerda podendo fazer isso mesmo quando
o lado esquerdo da pilha está mais quente que o direito.
Placa da pilha

2y0 Parcela
de gás

1º Passo: Movimento para esquerda 2º Passo: Transferência de calor do


enquanto a onda imprime o gás gás para a placa.

4º Passo: Absorção de calor que 3º Passo: Movimento para a direita


o gás realiza através da placa enquanto a onda expande o gás

Figura 2. Representação dos processos do ciclo de refrigeração por efeito termo-acústico

Dessa forma, podemos separar o ciclo termo-acústico em quatro processos distintos, como
ilustrado na Fig. 2: dois processos de compressão e expansão adiabáticas e dois processos de
transferência de calor à pressão constante descritos abaixo:

1ª processo: O alto-falante emitindo a onda sonora no tubo ressonante realiza trabalho no gás
na região do regenerador, movendo-o da parte fria da placa da pilha para a parte quente. Dessa
forma, sua pressão e temperatura iniciais sofrem um aumento para uma pressão e temperatura
finais.

2ª processo: Neste momento a parcela de gás está a uma temperatura maior que a da placa
adjacente promovendo uma transferência de calor do gás para a pilha. Nesse processo acontece
uma diminuição da temperatura de uma quantidade ∆T e aumento do volume da parcela de gás.

3ª processo: A parcela de gás agora se move para a parte fria da placa, devido ao movimento
oscilatório do gás causado pela onda. Sua pressão diminui pois desloca-se para uma parte do tubo
a baixa pressão.

4ª processo: Nesta última fase calor é transferido da placa para a parcela de gás pois está mais
fria que a placa. A pressão do gás diminui e seu volume aumenta com o trabalho realizado pela
onda. Dessa forma o gás retorna ao seu estado inicial fechando o ciclo. Este processo acaba por
fim transferindo calor da parte mais fria para a parte mais quente do refrigerador promovendo
assim o ciclo de refrigeração.
Para esse ciclo termo-acústico e observando-se a Fig. 1, é possível descrever dois parâmetros
de fundamental importância no cálculo e otimização do desempenho de um refrigerador termo-
acústico. Estes são a profundidade de penetração térmica e a profundidade de penetração viscosa.
A profundidade de penetração térmica mede a espessura da camada de fluido que deve ser
suficiente para haver difusão de calor através do fluido de trabalho durante o intervalo de tempo
de um ciclo ( 1 ω ). Essa medida é definida como:


δκ = (1)
ω
onde,
ω freqüência angular da oscilação do gás
κ difusividade térmica do gás

Da mesma forma tem-se a profundidade de penetração viscosa δv, que descreve a faixa de
fluido junto a placa que é restringida em seu movimento pela influência de forças viscosas. As
dissipações viscosas são responsáveis pelas perdas de energia cinética, de tal forma que a
camada de fluido de espessura δv junto a placa contribuem para a perda na eficiência do
refrigerador. Essa medida é definida como:


δv = (2)
ω

onde ν é a viscosidade cinemática do gás.


As profundidades de penetração térmica e viscosa podem ser relacionadas pelo número de
Prandtl, o qual é aproximadamente igual à unidade para gases típicos. Esse número é
representado Pr e pode-se chegar a ele calculando o quadrado da razão entre essas duas
profundidades de penetração,

2
 δν  µc
  = p = σ ≤ 1 (3)
 δκ  k

O número de Prandtl é um parâmetro dimensional que caracteriza a razão entre a viscosidade


cinemática e difusividade térmica. Os efeitos viscosos exercem um efeito negativo sobre a
eficiência de sistemas termo-acústico e pela Eq. (3), observa-se que para um número de Prandtl
menor os efeitos da difusividade térmica são muito maiores que os efeitos viscosos. Assim,
diminuindo-se o número de Prandtl, geralmente, obtêm-se um aumento na eficiência do sistema
termo-acústico. Na prática, baixos números de Prandtl podem ser obtidos através da utilização de
misturas de gases nobres leve e pesados, por exemplo, Hélio-Argônio, Hélio-Xenônio e Hélio-
Criptônio.
Para o cálculo do desempenho usa-se o COP (coeficiente de “performance”) que descreve o
desempenho energético do refrigerador termo-acústico através da razão entre o efeito útil obtido
(Qit) e ação necessária (Eel). Este é definido por:

Qit
COP = (4)
E el
O efeito útil obtido está relacionado com a quantidade de calor transferida do reservatório de
baixa temperatura pelo trocador de calor frio e a ação necessária com a potência elétrica
introduzida no alto-falante.
Em uma análise, realizada por Wetzel et al (1996), pela aplicação de 1ª Lei da Termodinâmica
ao sistema de refrigeração por efeito termo-acústico, verificamos que a potência elétrica (Eel)
introduzida no sistema é convertida em potência acústica pelo autofalante (Wac) no qual ocorre
uma perda relativa de energia que pode ser determinada pela definição de eficiência
eletroacústica (ηel), como,

Wac Wrg + Wdis Wrg + Wtc + Wres


η el = = = (5)
E el E el E el

A equação acima mostra que nem toda potência acústica é convertida em processo de
transferência de calor pelo regenerador (Wrg). Ocorrem também perdas dissipativas na superfície
do tubo ressonante (Wres) e nos trocadores de calor (Wtc). No entanto, as perdas ocorridas na
parte quente do tubo ressonante e no trocador de calor do lado quente contribuem com uma
quantidade calor que é transferida a esse trocador de calor. Este calor se soma ao calor extraído
da parte fria do tubo pelo regenerador. As perdas dissipativas na parte fria do tubo e no trocador
de calor a baixa temperatura atuam, também, como quantidades de calor transferidos para o
trocador de calor frio que deve ser transmitido através do regenerador e transferido para o lado
quente do mesmo.
Assim, sabendo que o desempenho do refrigerador estará intimamente ligado aquele do
regenerador, o limite máximo do desempenho do refrigerador termo-acústico é determinado em
termos do regenerador como:

Qc
COPrg = (6)
Wrg

O termo no numerador Qc diz respeito ao calor extraído do lado frio do tubo mais as perdas
dissipativas que ocorrem no trocador de calor frio e no tubo ressonante nesta região do
refrigerador, e, o denominador, Wrg, indica o trabalho realizado sobre o regenerador. Dessa
forma determina-se o coeficiente de performance do regenera
Para o tubo ressonante, a freqüência, tão como as dimensões básicas do mesmo, são obtidas
através da equação básica da propagação de uma onda sonora no ar, i.e.,

v
v = λf ∴ f = (7)
λ

Sendo que a velocidade de propagação de uma onda sonora no ar pode ser calculada por,

a = γRTK (8)

onde,
γ relação entre calores específicos: cp / cv
R constante do gás
TK temperatura do gás no qual a onda se propaga
Sabendo, então, que o comprimento do tubo ressonante usado neste trabalho é ¼ do
comprimento de onda da onda propagada no tubo temos que:

λ
L= ∴ λ = 4L (9)
4

Substituindo as Eq’s. (8) e (9) em (7) obtemos a relação entre a freqüência da onda com as
condições iniciais do gás e o comprimento do tubo como,

γRTK
f = (10)
4L

4. RESULTADOS E CONCLUSÕES

O primeiro protótipo desenvolvido para o refrigerador termo-acústico experimental é


mostrado na Fig. 3. O mesmo consiste basicamente de um alto falante comercial, instalado
apropriadamente em uma caixa, que é responsável pela emissão da onda de pressão (onda
sonora) através de um tubo ressonante. Este tubo ressonante encontra-se montado numa tampa
de acrílico que esta devidamente encaixada na caixa do alto-falante.

Tampa

Prensa cabos
para a inserção
de termopares
Regenerador:
Posição = 6mm abaixo da tampa
Espaç. entre placas = 0.5mm Caixa do alto-
Baixa condutividade térmica falante

Alto-falante:
Frequência (f = 288,4 Hz)
Impedância (4Ω)

Figura 3. Detalhes e aspecto construtivo do refrigerador termo-acústico

O tamanho do tubo está relacionado com a freqüência do sistema e a velocidade do som no


fluido de trabalho. Uma pilha de placas paralelas (regenerador) é colocada, então, em uma região
do tubo. Tal pilha é confeccionada a partir de um filme fotográfico enrolado de forma espiral
mantendo-se um espaçamento eqüidistante entre as placas pelo uso de espaçadores formados por
pequenos pedaços de linha de pesca com 0.5mm de diâmetro, que atravessa toda a largura do
filme (35mm).
A instrumentação utilizada para o ensaio experimental é mostrada na Fig. 4 e consiste
basicamente de recursos para a excitação do alto falante e para a medição das temperaturas nas
extremidades da pilha regeneradora. Um gerador de sinais foi utilizado para gerar a forma de
onda senoidal com a freqüência desejada, cujo sinal tinha sua potencia aumentada por um
amplificador de áudio de forma a permitir o acionamento do alto-falante. Para a medição de
temperatura foram empregados dois termopares tipo T (TC) inseridos no tubo ressonante através
de prensa-cabos montados no mesmo nas extremidades da pilha regeneradora. O
condicionamento do sinal dos termopares e sua conversão em temperatura foi efetuada por um
medidor digital de temperatura (Temp).

TC

Temp

TC

GS

AMPL.

Figura 4. Aspecto básico do esquema empregado no experimento.

O ensaio foi realizado para diferentes freqüências usando o ar a pressão atmosférica como
fluido de trabalho. A Fig. 5 ilustra as variações de temperatura obtidas para a operação sob
freqüência de 288,4 Hz, sendo possível avaliar a variação de temperaturas em cada lado do
regenerador.

29
Temperatura (ºC)

28

27
Temp. superior
26

25 Temp. Inferior

24

23
0 100 200 300 400

Tempo (s)
Figura 5. Evolução de temperaturas obtida para o refrigerador termo-acústico experimental.

Tendo em vista o caráter preliminar do estudo, a construção do aparato não teve como
objetivo principal alcançar uma alta eficiência. Pode-se verificar a validade do processo da
refrigeração por efeito termo-acústico por meio deste aparato experimental. Simples mudanças
na estrutura podem aumentar a eficiência do refrigerador. O estudo do fenômeno termo-acústico
se mostra importante dentro do ponto de vista ambiental pois não utiliza gases nocivos ao meio
ambiente. É uma inovação tecnológica tendo em vista o fato de não usar partes mecânicas
móveis no processo de refrigeração.

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