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Resumo. O estudo do processo de refrigeração por efeito termo-acústico tem sido objeto de
diversas pesquisas recentes entre as quais, certos estudos, têm dado ênfase a otimização dos
refrigeradores termo-acústico através de uma análise teórica do problema aliada a
experimentação em laboratório. O presente trabalho realiza o estudo teórico do fenômeno de
refrigeração por efeito termo-acústico empregando um algoritmo de projeto otimizado proposto
na literatura. Um primeiro ensaio é realizado para um refrigerador experimental, permitindo
constatar a viabilidade técnica do processo.
1. INTRODUÇÃO
Observações da ocorrência natural do fenômeno termo-acústico foram feitas pela primeira vez
por volta de 150 anos atrás, quando se verificou que um tubo de vidro frio emitiria som após um
pulso de ar quente ser promovido no interior do mesmo. Esse fato observado foi um exemplo de
um sistema que converte calor em potência acústica. Por outro lado, pesquisas desenvolvidas nas
duas últimas décadas têm mostrado ser possível realizar o processo inverso, ou seja, converter
potência acústica de ondas sonoras em potência térmica útil.
As pesquisas começaram a ser desenvolvida quando se observou que a iteração entre as
partículas de gás, de uma onda sonora, em contato com a superfície de um sólido ocasionaram
uma transferência de calor oscilatória entre o gás e a superfície. Tal efeito é muito pequeno para
se ter uma percepção clara do ponto de vista macroscópico. No entanto, se a emissão de uma
onda sonora for propositadamente ocasionada em tubos com gases pressurizados, o fenômeno
termo-acústico pode produzir poderosas máquinas, combustões pulsantes, refrigeradores,
bombas de calor e separadores de misturas.
A refrigeração é uma tecnologia essencial para a manutenção do nosso modo de vida, sendo
largamente empregada na produção de bens e geração de conforto. No entanto, a utilização
intensa dessa tecnologia vem prejudicando o meio ambiente de forma a alterar profundamente as
condições necessárias para uma qualidade de vida adequada. Isto ocorre pois os sistemas de
refrigeração e ar condicionado modernos, e alguns outros processos industriais, utilizam
substâncias depletoras da camada de ozônio que quando emitidos na atmosfera provocam a
depleção da camada de ozônio. Por outro lado, no processo termo-acústico, essas substâncias não
são utilizadas e os gases de trabalho são, geralmente, o ar ou o hélio, sendo assim um processo
inofensivo ao meio ambiente. Além disso, a operação de um equipamento termo-acústico é de
baixo custo e apresenta grande simplicidade construtiva pois não possui partes móveis e assim
requer-se pouca manutenção. Isso faz com que o equipamento tenha um grande potencial de
aplicação em muitas áreas tecnológicas as quais incluem os campos aeroespacial, industrial entre
outros. Tendo em vista as grandes vantagens citadas, o fenômeno termo-acústico tem sido alvo
de muitas pesquisas no campo da refrigeração.
Numa recente revisão bibliográfica (Sartori e Pimenta, 2004), observa-se que os estudos
atuais (Braun et al, 2000, Tijani et al 2002 a, b) têm dado ênfase à otimização dos refrigeradores
termo-acústico por intermédio tanto da análise teórica do problema quanto pela experimentação
em laboratório.
2. ESTADO DA ARTE
2yo
Pilha
Regeneradora
Alto-Falante
Q& H Q& L
W&
Distribuição de
velocidades
0 λ/4 λ/2
Distribuição de
pressões
T
TH
TH
x
Figura 1. Representação esquemática de um refrigerador termo-acústico
Dessa forma é possível descrever o ciclo termo-acústico (Fig.2), considerando que uma
parcela de gás se move para um lado, por exemplo, para a esquerda. Seu calor aumenta com o
aumento da pressão e depois perde velocidade e para momentaneamente antes de reverter a
direção do seu movimento. Próximo do final deste movimento o gás aquecido libera calor dentro
da pilha que se encontra mais fria. Durante a próxima metade do ciclo, a parcela de gás se move
para a direita e se expande. Quando essa parcela alcançar sua posição mais extrema à direita, ela
vai estar mais fria que a parcela adjacente da pilha e vai “captar” calor da mesma. O resultado é
que a parcela de gás transfere calor da direita para a esquerda podendo fazer isso mesmo quando
o lado esquerdo da pilha está mais quente que o direito.
Placa da pilha
2y0 Parcela
de gás
Dessa forma, podemos separar o ciclo termo-acústico em quatro processos distintos, como
ilustrado na Fig. 2: dois processos de compressão e expansão adiabáticas e dois processos de
transferência de calor à pressão constante descritos abaixo:
1ª processo: O alto-falante emitindo a onda sonora no tubo ressonante realiza trabalho no gás
na região do regenerador, movendo-o da parte fria da placa da pilha para a parte quente. Dessa
forma, sua pressão e temperatura iniciais sofrem um aumento para uma pressão e temperatura
finais.
2ª processo: Neste momento a parcela de gás está a uma temperatura maior que a da placa
adjacente promovendo uma transferência de calor do gás para a pilha. Nesse processo acontece
uma diminuição da temperatura de uma quantidade ∆T e aumento do volume da parcela de gás.
3ª processo: A parcela de gás agora se move para a parte fria da placa, devido ao movimento
oscilatório do gás causado pela onda. Sua pressão diminui pois desloca-se para uma parte do tubo
a baixa pressão.
4ª processo: Nesta última fase calor é transferido da placa para a parcela de gás pois está mais
fria que a placa. A pressão do gás diminui e seu volume aumenta com o trabalho realizado pela
onda. Dessa forma o gás retorna ao seu estado inicial fechando o ciclo. Este processo acaba por
fim transferindo calor da parte mais fria para a parte mais quente do refrigerador promovendo
assim o ciclo de refrigeração.
Para esse ciclo termo-acústico e observando-se a Fig. 1, é possível descrever dois parâmetros
de fundamental importância no cálculo e otimização do desempenho de um refrigerador termo-
acústico. Estes são a profundidade de penetração térmica e a profundidade de penetração viscosa.
A profundidade de penetração térmica mede a espessura da camada de fluido que deve ser
suficiente para haver difusão de calor através do fluido de trabalho durante o intervalo de tempo
de um ciclo ( 1 ω ). Essa medida é definida como:
2κ
δκ = (1)
ω
onde,
ω freqüência angular da oscilação do gás
κ difusividade térmica do gás
Da mesma forma tem-se a profundidade de penetração viscosa δv, que descreve a faixa de
fluido junto a placa que é restringida em seu movimento pela influência de forças viscosas. As
dissipações viscosas são responsáveis pelas perdas de energia cinética, de tal forma que a
camada de fluido de espessura δv junto a placa contribuem para a perda na eficiência do
refrigerador. Essa medida é definida como:
2ν
δv = (2)
ω
2
δν µc
= p = σ ≤ 1 (3)
δκ k
Qit
COP = (4)
E el
O efeito útil obtido está relacionado com a quantidade de calor transferida do reservatório de
baixa temperatura pelo trocador de calor frio e a ação necessária com a potência elétrica
introduzida no alto-falante.
Em uma análise, realizada por Wetzel et al (1996), pela aplicação de 1ª Lei da Termodinâmica
ao sistema de refrigeração por efeito termo-acústico, verificamos que a potência elétrica (Eel)
introduzida no sistema é convertida em potência acústica pelo autofalante (Wac) no qual ocorre
uma perda relativa de energia que pode ser determinada pela definição de eficiência
eletroacústica (ηel), como,
A equação acima mostra que nem toda potência acústica é convertida em processo de
transferência de calor pelo regenerador (Wrg). Ocorrem também perdas dissipativas na superfície
do tubo ressonante (Wres) e nos trocadores de calor (Wtc). No entanto, as perdas ocorridas na
parte quente do tubo ressonante e no trocador de calor do lado quente contribuem com uma
quantidade calor que é transferida a esse trocador de calor. Este calor se soma ao calor extraído
da parte fria do tubo pelo regenerador. As perdas dissipativas na parte fria do tubo e no trocador
de calor a baixa temperatura atuam, também, como quantidades de calor transferidos para o
trocador de calor frio que deve ser transmitido através do regenerador e transferido para o lado
quente do mesmo.
Assim, sabendo que o desempenho do refrigerador estará intimamente ligado aquele do
regenerador, o limite máximo do desempenho do refrigerador termo-acústico é determinado em
termos do regenerador como:
Qc
COPrg = (6)
Wrg
O termo no numerador Qc diz respeito ao calor extraído do lado frio do tubo mais as perdas
dissipativas que ocorrem no trocador de calor frio e no tubo ressonante nesta região do
refrigerador, e, o denominador, Wrg, indica o trabalho realizado sobre o regenerador. Dessa
forma determina-se o coeficiente de performance do regenera
Para o tubo ressonante, a freqüência, tão como as dimensões básicas do mesmo, são obtidas
através da equação básica da propagação de uma onda sonora no ar, i.e.,
v
v = λf ∴ f = (7)
λ
Sendo que a velocidade de propagação de uma onda sonora no ar pode ser calculada por,
a = γRTK (8)
onde,
γ relação entre calores específicos: cp / cv
R constante do gás
TK temperatura do gás no qual a onda se propaga
Sabendo, então, que o comprimento do tubo ressonante usado neste trabalho é ¼ do
comprimento de onda da onda propagada no tubo temos que:
λ
L= ∴ λ = 4L (9)
4
Substituindo as Eq’s. (8) e (9) em (7) obtemos a relação entre a freqüência da onda com as
condições iniciais do gás e o comprimento do tubo como,
γRTK
f = (10)
4L
4. RESULTADOS E CONCLUSÕES
Tampa
Prensa cabos
para a inserção
de termopares
Regenerador:
Posição = 6mm abaixo da tampa
Espaç. entre placas = 0.5mm Caixa do alto-
Baixa condutividade térmica falante
Alto-falante:
Frequência (f = 288,4 Hz)
Impedância (4Ω)
TC
Temp
TC
GS
AMPL.
O ensaio foi realizado para diferentes freqüências usando o ar a pressão atmosférica como
fluido de trabalho. A Fig. 5 ilustra as variações de temperatura obtidas para a operação sob
freqüência de 288,4 Hz, sendo possível avaliar a variação de temperaturas em cada lado do
regenerador.
29
Temperatura (ºC)
28
27
Temp. superior
26
25 Temp. Inferior
24
23
0 100 200 300 400
Tempo (s)
Figura 5. Evolução de temperaturas obtida para o refrigerador termo-acústico experimental.
Tendo em vista o caráter preliminar do estudo, a construção do aparato não teve como
objetivo principal alcançar uma alta eficiência. Pode-se verificar a validade do processo da
refrigeração por efeito termo-acústico por meio deste aparato experimental. Simples mudanças
na estrutura podem aumentar a eficiência do refrigerador. O estudo do fenômeno termo-acústico
se mostra importante dentro do ponto de vista ambiental pois não utiliza gases nocivos ao meio
ambiente. É uma inovação tecnológica tendo em vista o fato de não usar partes mecânicas
móveis no processo de refrigeração.
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