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Revista Tecnológica 16: 113 - 123, 2007 113

SIMULAÇÃO DE SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO UTILIZANDO


PROGRAMAÇÃO ESTRUTURADA

SIMULATION OF A REFRIGERATION SYSTEM BY ABSORPTION BY USING


STRUCTURAL PROGRAMMING

Marcio Renato Mirapalheta Menna, Aparecido Nivaldo Módenes27*, Marco Aurélio


Praxedes, Mauro Antonio da Silva Sá Ravagnani

Resumo: Neste trabalho foi realizada a simulação e o projeto de um sistema de


refrigeração por absorção, com capacidade de refrigeração de 1 kW, operando com
evaporação a -10°C e condensação a 35°C. Foi realiz ado um estudo completo de todos
os componentes do sistema, especificando-se suas capacidades. Feito isto, realizou-se
o projeto do absorvedor do sistema, utilizando a metodologia de projeto de Tinker para
trocadores de calor. O absorvedor projetado foi um trocador de calor tipo casco e tubos,
vertical, com fluxo do vapor de amônia e da solução aquosa no lado do casco e água de
resfriamento nos tubos. Na verificação da geometria proposta, utilizou-se a correlação
de Wilke, desenvolvida para configurações de condensação em película sobre tubos
verticais. O programa computacional utilizado para a simulação foi desenvolvido
utilizando programação estruturada em linguagem FORTRAN. Os resultados obtidos
mostraram que o sistema de refrigeração por absorção projetado possui, além de boa
capacidade de refrigeração, um baixo custo operacional quando comparado aos
sistemas por compressão convencionais.

Palavras-chave: Refrigeração. Absorção. Amônia. Modelagem.

Abstract: A cooling system by absorption was simulated and designed. The system was
operating under the following conditions-1 kW cooling capacity, -10oC evaporation and
35°C condensation temperatures. A complete study of the system components and their
influence on the system behavior was performed. In this project, the heat exchanger
“Thinker” methodology was used as a tool. The vertical absorber was designed as
follows –the flows of ammonia vapor and aqueous solution were from the hull side, and
the water was flowing into the cooling pipes. The proposed geometry was verified by
using Wilke’s correlation which described the phenomena of film condensation in vertical
tubes. The computer program was coded in FORTRAN. The results showed that the
designed cooling system by absorption has a good cooling capacity, as well as low
operational cost when compared to conventional systems by compression.

Keywords: Refrigeration. Absorption. Ammonia. Modeling.

27
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química – NBQ – CECE – Unioeste/Toledo – Rua da Faculdade,
645, Jardim Santa Maria. Toledo – PR. *Autor correspondente:modenes@unioeste.br
114 Simulação de sistemas de refrigeração por absorção utilizando programação estruturada
Nomenclatura

ATROCA = área de transferência de calor Símbolos gregos:


[W/mK] ∆h = diferença de entalpia entre dois
C = comprimento [m] pontos [kJ/kg]
d = diâmetro [m] δ = espessura de filme da solução [m]
g = aceleração da gravidade [m/s²] µ = viscosidade [Pa s]
h = entalpia [kJ/kg]
hS = coeficiente de película externo aos Γ = fluxo de massa por perímetro
tubos [W/m²K] molhado de tubo [kg/m s]
hT = coeficiente de película interno aos ρ = massa específica [kg/m³]
tubos [W/m²K]
k = condutividade térmica [W/m K] Subscritos:
kT = condutividade térmica do material 2 = relativo ao ponto 2 (Figura 1)
dos tubos [W/mK] 3 = relativo ao ponto 3 (Figura 1)
m& = vazão mássica [kg/s] 7 = relativo ao ponto 7 (Figura 1)
MLDT = média logarítmica das M = relativo ao ponto ‘M’
diferenças de temperatura [K] ABS = no absorvedor
Nu = número de Nusselt S = relativo ao lado da solução (externo
Pr = número de Prandlt aos tubos)
Q = quantidade de calor trocado [W] T = relativo ao lado interno dos tubos
r = raio [m] int,T = interno dos tubos
R = resistência térmica [m²K/W] ext,T = externo dos tubos
Re = número de Reynolds T, TP = propriedade relativa aos tubos,
U = coeficiente global de transferência na temperatura da parede
de calor [W/m²K]

1. Introdução

Com a crescente competição e a necessidade de maior produção na indústria, aliada ao


uso cada vez maior de acessórios e aparelhos elétricos nas residências, a demanda por
energia só tende a aumentar ao longo do tempo. Neste cenário, é de vital importância que se
faça uso coerente da energia, optando-se, sempre que possível e economicamente viável, pela
sua recuperação ou reutilização de todas as formas possíveis.
As instalações de refrigeração e climatização são parte importante no consumo
energético, tanto de empresas quanto de residências onde estejam presentes. Em indústrias
alimentícias os sistemas de refrigeração podem ser responsáveis por até 60% da energia
consumida (Mühle, 2003). Em prédios comerciais e residenciais as instalações de climatização
podem consumir até 30% de toda a energia gasta pela estrutura.
Neste cenário, a redução do consumo de energia elétrica despendido pelas instalações
de refrigeração e climatização é de vital importância. Assim, os sistemas de refrigeração por
absorção podem se tornar uma alternativa importante, visto que em alguns processos
industriais existem fontes de energia térmica sub-utilizadas, como por exemplo: correntes
quentes ou até mesmo a queima de sub produtos. Em estabelecimentos nos quais não se tem
a disponibilidade de fontes térmicas, podem ser utilizados coletores solares como fontes de
energia auxiliar.
Os sistemas de refrigeração por absorção são um dos mais antigos métodos de
refrigeração. Esses sistemas utilizam pares de fluidos na sua operação, geralmente amônia-
água ou água-brometo de lítio, um como refrigerante e outro como absorvente. Os ciclos mais
estudados na engenharia, são os baseados nos processos de absorção e dissociação da
mistura água-amônia (Threlkeld, 1970; Perry, 1997 e Grossman , 2001).
Os trabalhos de análise de ciclos de absorção agrupam-se entre aqueles que fazem
uma análise baseada na Primeira Lei e os que abordam a Segunda Lei da Termodinâmica.
Estes dois grandes grupos subdividem-se em modelos fundamentais, empíricos e semi-
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empíricos. Alguns trabalhos mais antigos baseiam-se em soluções gráficas, enquanto que,
dado o avanço da tecnologia da computação, os modelos atuais baseiam-se na simulação
numérica computacional aliada às equações de estado para obtenção das propriedades dos
fluidos. No primeiro grupo, para sistemas de diferentes configurações e graus de
complexidade, destacam-se Patnaik e Perez-Blanco (1993) e Fernández-Seara e Sieres
(2006), os quais apresentam análises da transferência de calor e massa nos processos de
destilação dos sistemas de refrigeração por absorção.
Um grupo importante de trabalhos está relacionado com os processos de transferência
de massa e de calor que ocorrem nos ciclos de absorção (Medrano et al., 2002; Raisul et al.,
2003, Pohl e Grossman, 1998; Joudi e Lafta, 2001; Pereira et al., 2006 e Garimella, 2007).
Outros trabalhos, ainda, utilizam os conceitos apresentados nas publicações anteriormente
destacadas, entre outras, para projeto e análise de sistemas de absorção, por vezes
correlacionando dados teóricos com dados empíricos (Talbi e Agnew, 2002; Arun et al., 2001;
Martinez e Pinazo, 2002; Martinez e Pinazo, 2003 e Akasaka, 2008).
Tendo em vista a potencial economia gerada pelo uso dos sistemas de absorção, neste
trabalho, apresenta-se o estudo e a simulação de um sistema de refrigeração por absorção. O
programa computacional utilizado foi desenvolvido com programação estruturada em
linguagem FORTRAN.

2. Desenvolvimento

A modelagem matemática do sistema de refrigeração por absorção realizada no


presente trabalho faz uso de diagramas (Qabs x Ntubos, Qger x Tevap, dentre outros) juntamente
com balanços de massa e energia. O modelo matemático apresentado utiliza equações de
balanços de massa e energia para cada componente do sistema, levando em consideração as
propriedades dos fluidos refrigerante e absorvente (equações de estado) e as equações
relacionadas às taxas de transferência de calor e de massa.
Após concluída a modelagem, um programa computacional capaz de simular sistemas
de refrigeração água-amônia foi desenvolvido em linguagem FORTRAN. Utilizando as
equações de balanço do modelo matemático e equações de estado, para a determinação das
propriedades dos fluidos e das soluções nos diversos pontos do sistema, pode-se estimar as
diversas configurações para o sistema de refrigeração, obtendo-se assim, a configuração ótima
de funcionamento.
Durante a modelagem matemática, assumiram-se algumas hipóteses simplificadoras,
que, no entanto, não apresentam erros significativos e simplificam sensivelmente algumas das
análises, quando tomadas como verdadeiras. Tal tomada de decisão é também encontrada nos
trabalhos de Fernández-Seara et al. (2007); Carvalho (2005) e Florides et al. (2003). As
hipóteses assumidas são:
1. Somente amônia pura flui no condensador e evaporador;
2. A perda de carga devida ao fluxo nas tubulações e recipientes é nula;
3. Não há superaquecimento na saída do evaporador (o estado da amônia na saída do
evaporador é o de vapor saturado, na temperatura de evaporação);
4. Os dispositivos de expansão operam adiabaticamente;
5. A bomba opera isentropicamente;
6. Há um sub-resfriamento médio de 5 K na saída do condensador;
7. As pressões dentro dos elementos do sistema são constantes;
8. O sistema opera em regime permanente.
Como condições iniciais, têm-se: carga térmica de 1kW de refrigeração, temperatura de
evaporação de -10°C e temperatura de condensação de 35°C. Essas condições são muito
próximas a de refrigeradores domésticos de médio porte.
Nos sistemas de refrigeração por absorção, os processos de transferência de calor e de
massa que ocorrem no absorvedor constituem um gargalo para o efeito de refrigeração gerado,
visto que, sem uma correta operação do absorvedor, não haverá o retorno de amônia para o
evaporador. Por essa razão, o estudo do sistema deve iniciar-se neste equipamento.
116 Simulação de sistemas de refrigeração por absorção utilizando programação estruturada
Considerando o absorvedor como um elemento de duplo efeito, determina-se um ponto
‘M’, que indica o fim do processo de absorção do vapor de amônia pela solução e o início do
processo de transferência de calor. Para o projeto do trocador, se faz necessário que se
conheçam as propriedades neste ponto ‘M’, bem como as propriedades e estados dos fluidos
nos pontos 2, 3 e 7 da Figura 1, para a resolução do balanço de energia da Equação 2.

‘M’

Figura 1. Fluxograma básico de um sistema de refrigeração por absorção de simples efeito.

O balanço de massa no absorvedor, no ponto ‘M’, é apresentado na Equação 1:

&2 +m
m &7 = m
&3 = m
&M (1)

em que:
m& 2 = vazão mássica no ponto 2 [kg/s]
m& 3 = vazão mássica no ponto 3 [kg/s]
m& 7 = vazão mássica no ponto 7 [kg/s]
m& M = vazão mássica no ponto M [kg/s]

A entalpia no ponto ‘M’ pode ser determinada a partir de um balanço de energia,


conforme Equação 2:

& 2 h2 + m
m & 7 h7 = m
& M hM (2)

em que:
h2 = entalpia no ponto 2 [kJ/kg]
h7 = entalpia no ponto 7 [kJ/kg]
hM = entalpia no ponto ‘M’ [kJ/kg]
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O trocador de calor deve ser capaz de causar uma variação de entalpia na solução
amônia-água, conforme Equação 3, resultando em uma capacidade de transferência de calor
dada pela Equação 4.

∆h ABS = h3 − hM (3)

Q ABS = m
& 3 ∆hABS (4)

Com as condições nos pontos de entrada e saída e a capacidade do trocador de calor,


utiliza-se, então, a metodologia de Tinker para projeto de trocadores de calor sem mudança de
fase. Optou-se pela passagem da solução no interior dos tubos e da água de resfriamento no
lado do casco.
Após o projeto do trocador, verificou-se a geometria proposta. Florides (2003) sugere
que a correlação de Wilke (Equação 5), válida para fluxo constante de calor através de uma
parede, pode ser utilizada com pequena margem de erro para o coeficiente de película da
solução. Assume-se, para isso, que o fluxo de solução é totalmente desenvolvido, em regime
laminar.

hS =
kS
δ
(
0,29 ReS0 ,53 Pr 0 ,344 ) (5)

em que:
hS = coeficiente de película da solução [W/m² K]
kS = condutividade térmica da solução [W/m K]
δ = espessura de filme da solução descendente [m]
ReS = número de Reynolds no exterior dos tubos
PrS = número de Prandlt da solução

A espessura do filme, δ, é dada pela Equação 6, enquanto que o número de Reynolds


da solução é dado pela Equação 7.

1
 3 µΓ  3
δ =  2
 (6)
 ρg 

em que:
µ = viscosidade da solução [Pa s]
Γ = fluxo de massa por perímetro molhado de tubo [kg/m s]
ρ = massa específica da solução [kg/m³]
g = aceleração da gravidade [m/s²]


ReS = (7)
µ

O coeficiente de película no interior dos tubos é determinado utilizando a Equação 8,


apresentada por ASHRAE (2005), que define o número de Nusselt como:

 Re Pr d 
1
3  
0 ,14

NuT = 1,86  T T int,T   µT  (8)


 CT   µT ,TP 

 
118 Simulação de sistemas de refrigeração por absorção utilizando programação estruturada
em que:
NuT = número de Nusselt no interior dos tubos
ReT = número de Reynolds no interior dos tubos
PrT = número de Prandlt no interior dos tubos
dint,T = diâmetro interno dos tubos [m]
CT = comprimento dos tubos [m]
µT = viscosidade da água no interior dos tubos [Pa s]
µT,TP = viscosidade da água nos tubos, na temperatura da parede [Pa s]

A relação entre o número de Nusselt e o coeficiente de película no interior dos tubos é


dada pela Equação 9:

hT d int,T
NuT = (9)
CT

em que:
hT = coeficiente de película no interior dos tubos [W/m²K]

Com a obtenção dos coeficientes de película interno e externo aos tubos, utilizando a
Equação 10, determina-se o coeficiente global de transferência de calor, para uma parede
circular.

1
UT = (10)
RT

em que:
UT = coeficiente global de transferência de calor no absorvedor [W/m²K]
RT = resistência térmica no absorvedor [m²k/W]

Sendo:

1 rint,T  rext ,T  rext ,T 1


+
RT = + ln  r (11)
hT kT  rint,T  int,T hS

em que:
kT = condutividade térmica do material dos tubos [W/mK]
rint,T = raio interno dos tubos do absorvedor [m]
rext,T = raio externo dos tubos do absorvedor [m]

Determinado o coeficiente global de transferência de calor, obtém-se a área de troca


por meio da Equação 12:

Q ABS = UT ATROCA MLDT (12)

em que:
ATROCA = área de transferência de calor [m2]
MLDT = média logarítmica das diferenças de temperatura entre os fluidos [K]

Utilizando as equações descritas foi desenvolvido um programa computacional em


linguagem FORTRAN, cuja estrutura é apresentada na Figura 2. Inicialmente é realizada a
entrada de dados e definido a capacidade do sistema, a leitura dos valores de entrada do
sistema podem ser feitos tanto pelo teclado como por meio de um arquivo de texto. Após
definido o regime do sistema e os estados nos diversos pontos-chave (ver Figura 1), são
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determinadas as pressões e entalpias nestes pontos. Assim, é possível realizar os balanços de
massa e energia, que resultam na capacidade de cada um dos componentes do sistema. Em
seguida, é realizado o projeto térmico do absorvedor. Os valores obtidos durante a simulação
podem ser apresentados em tela ou em um arquivo, de acordo com a escolha do usuário.

Determinação da
capacidade do sistema

Condições de entrada e
estados

Determinação das
pressões e entalpias

Determinação da capacidade
dos componentes do sistema

Projeto térmico do
absorvedor

Apresentação dos
resultados

Figura 2. Estrutura do programa principal

O programa desenvolvido em programação estruturada permite a realização de


diversas simulações do sistema de refrigeração. Com isto, é possível obter as configurações e
condições ótimas de funcionamento do sistema.

3. Resultados e Discussão

Utilizou-se o programa desenvolvido para o projeto e a simulação de um sistema de


refrigeração com capacidade de 1kW e uma temperatura de -10°C, correspondendo a um
refrigerador de pequeno porte.
Realizaram-se simulações para avaliar a influência dos parâmetros de projeto e
condições de operação na eficiência deste sistema. A Figura 3 apresenta os resultados das
simulações para estes parâmetros
Quanto maior o coeficiente de performance (COP), definido como sendo a razão entre o
calor retirado no evaporador e o calor fornecido no gerador, melhor é a relação entre a
capacidade de refrigeração e a energia fornecida neste tipo de processo. A capacidade
refrigeração é conseqüência da quantidade de calor retirada no absorvedor, e o custo com
energia se deve ao aquecimento do gerador. De acordo com a Figura 3(a), o COP do sistema
aumenta em função da temperatura de evaporação. Este resultado é o esperado, obtido
também, em instalações por compressão, já que a vazão gerada por uma bomba, ou
compressor, aumenta se o diferencial de pressões do sistema diminui, causando assim, um
aumento na quantidade de calor removido.
No diagrama da Figura 3(b), verifica-se que, quanto maior o sub-resfriamento na saída
do condensador maior o COP. Da mesma forma, este comportamento é esperado e encontrado
em instalações por compressão, visto que, à medida que aumenta o sub-resfriamento, menor
120 Simulação de sistemas de refrigeração por absorção utilizando programação estruturada
parcela de fluido necessita evaporar no dispositivo de expansão para resfriar a massa fluida até
a temperatura de evaporação, e, portanto, menor o título na entrada no evaporador. Essa
configuração permite a entrada de uma massa com menor entalpia no evaporador, que, até
chegar à condição de vapor saturado seco, removerá mais energia do meio do que uma com
título maior.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 3. (a) COP em função da temperatura de evaporação (b) COP em função do sub-resfriamento na
saída do condensador (c) QABS em função do número de tubos do absorvedor (comprimento = 600 mm)
(d) QGER em função da temperatura de evaporação.

Na Figura 3(c), verifica-se que, para todas as outras condições constantes, a


capacidade de arrefecimento do absorvedor é proporcional ao número de tubos, em uma
relação praticamente linear. Visto que a quantidade de calor é linearmente proporcional à área
de troca, e a área de troca térmica é diretamente proporcional ao número de tubos, esse
comportamento é natural. O desvio encontrado atribui-se à geometria na determinação de
outros fatores, como por exemplo, o fluxo de massa por perímetro molhado (Γ), que influi no
coeficiente de película no lado da solução.
Pela Figura 3(d), verifica-se que, quanto menor a temperatura exigida no evaporador,
maior é a temperatura necessária no gerador. Assim, quanto menor a temperatura do
compartimento de refrigeração, maior é a necessidade de fornecimento de energia no gerador
e, consequentemente, maior o custo energético.
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Com o programa computacional desenvolvido, além da obtenção dos dados já
mencionados, dimensiona-se o absorvedor e os demais elementos do sistema.
Para um sistema de 1 kW, operando no regime -10/+35 °C, os resultados obtidos são
apresentados no Quadro 1.

QEV = 1 kW
QABS = 2,69 kW
QGER = 2,72 kW
T1 = T2 = -10°C
T3 = T4 = 40°C
T5 = T6 = 115°C
T7 =74 °C
T8 = 30°C
m & 2 = 8,98.10 −4 kg/s s
&1 = m
m&3 = m& 4 = 6,29.10 −3 kg/s
m&5 = m & 8 = 8,98.10 −4 kg/s
m&6 =m & 7 = 5,38.10 −3 kg/s
TE água, abs = 22°C
Tfonte, ger = 128°C
Ctubos, abs = 0,6m
ntubos, abs = 30
ATROCA = 0,582 m²
dint,t = 10,3 mm
dext,t = 12,7 mm
Quadro 1. Dados da simulação para um sistema de 1 kW operando no regime -10/+35 °C.

A operação do sistema apresentado no Quadro 1 consome 2,72 kW na forma de calor.


Logo, a operação do sistema ao longo de um mês consume, para operação em 80% do tempo
(Mühle, 2003), 1566,72 kWh, na forma de calor.
Para o sistema por compressão, operando a 1 kW com um COP de 2,5, seriam
necessários 230,4 kWh, na forma de energia elétrica, com um custo energético mensal,
considerando o valor da energia de R$ 0,40 o kWh, de R$ 92,16.
No sistema por absorção utilizando gás natural como fonte de energia, com custo US$
8,70 por MBTU (EIA, 2008) ou R$ 0,0519 por kWh, o custo energético mensal é de R$ 81,31.
Comparando os dois sistemas, verifica-se que o sistema por absorção pode levar a uma
redução no custo mensal de aproximadamente 12%.
Em processos industriais, a economia energética pode se tornar mais significativa se o
sistema de refrigeração por absorção fizer parte da integração energética do processo,
utilizando fontes de calor existentes ou queima de subprodutos de baixo custo. Em instalações
comerciais, coletores solares podem ser utilizados como fontes de calor alternativas para a
redução do custo energético.
Neste trabalho, não foi realizada a comparação entre o custo de capital para os dois
sistemas, em função da grande disparidade entre o custo de um protótipo e o custo da
produção de um produto fabricado em larga escala.

4. Conclusão

A utilização de programação estruturada leva a um programa computacional de fácil


utilização e boa interação com o usuário, pois a separação de suas unidades lógicas em sub-
rotinas independentes permite ao usuário modificar uma parte do programa de forma isolada,
gerando flexibilidade e organização.
122 Simulação de sistemas de refrigeração por absorção utilizando programação estruturada
A partir das simulações utilizando o programa desenvolvido, foi possível dimensionar
todos os equipamentos que integram o sistema, de modo a prever seu comportamento
operacional.
A análise econômica mostrou a viabilidade da aplicação de sistemas de refrigeração por
absorção, verificada a partir da redução dos custos energéticos, quando comparados aos
sistemas por compressão.

Referências

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