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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

Laboratório de Engenharia Química I (216/02)


COEFICIENTE DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM DUTOS CIRCULARES

Giovana Beatriz Frigato Barbosa, RA 123780


Guilherme Castanho de Andrade, RA 124047
Guilherme Piovesan Pereira, RA 125109
Juan Garcia Binatti, RA 124816
Pedro Henrique Schmoeller Bacurau, RA 123812
Rodrigo Norio Ito, RA 125508

Professora: Bruna Gonçalves de Souza

Outubro de 2023
Maringá – PR
1. Introdução

O processo de troca de calor entre dois fluidos com diferentes temperaturas e


separados por uma parede sólida que impede a mistura dos fluidos ocorre em
muitas aplicações na engenharia. O dispositivo usado para efetuar esta troca é
denominado trocador de calor, e aplicações específicas podem ser encontradas em,
por exemplo, condicionamento de ambientes (aquecimento/resfriamento), produção
de energia, recuperação de calor residual e processamento químico [1]. A troca
térmica está relacionada com o tipo de trocador, material de contato, as
propriedades dos fluidos e o tipo de escoamento. [1]
O trocador classificado como trocador bitubular é o tipo mais simples de
trocador de calor por ser constituído por dois tubos concêntricos de diâmetros
diferentes. Observa-se que a figura 1 mostra a forma desse tipo de trocador bem
como uma das possibilidades de escoamento dos fluidos, no caso, a apresentada é
a corrente paralela. A outra possibilidade é a contracorrente. [1]

Figura 1 - Trocador bitubular e operação em corrente paralela.

Fonte: [1]

O trocador de calor mais comum e o utilizado no experimento é o trocador de


casco e tubo. A troca térmica se dá entre o fluido do casco e os fluidos dos tubos.
Esse modelo é mais comum devido à sua facilidade de fabricação e o domínio de
temperaturas e pressões. Neste tipo, as diversas formas se diferenciam de acordo
com o número de passagens do casco e tubo. É comum encontrar neste tipo de
trocador as chicanas (Baffles) que dão suporte físico ao equipamento evitando
vibrações causadas por turbilhões durante o escoamento e também contribuem
para o aumento de turbulência, velocidade e coeficiente de troca térmica
(convectivo). [1]
Figura 2 - Trocador de casco e tubo com chicanas em contracorrente.

Fonte: [1]

Outro ponto a se destacar de extrema importância é que a troca de calor


pode se dar em diferentes tipos de escoamento, por exemplo, corrente paralela,
contracorrente, corrente cruzada, multipasse/híbrida. Na corrente paralela, os fluidos
quente e frio entram no trocador de calor na mesma extremidade e se movem na
mesma direção. Em contracorrente, por outro lado, os fluidos entram por
extremidades opostas e seguem em sentidos contrários. [2]

Figura 3 – Regimes de escoamentos diferentes associados com o perfil de temperatura em um


trocador de calor tubo duplo.

Fonte: [2]
Ao analisar o perfil de cada modo de escoamento é possível observar a
diferença de comportamento da diferença de temperatura (∆𝑇) ao longo do trocador
de calor. Com base nisso, é possível estudar as diversas formas de emprego
desses tipos de escoamento no trocador de calor para os mais variados objetivos.
[2]

2. Objetivos

O objetivo deste trabalho é estimar o fator de atrito em várias vazões e


comparar os resultados com as previsões presentes nas literaturas, e assim,
determinar o quão fidedignos serão os resultados obtidos.

3. Fundamentação Teórica

Para dimensionar um equipamento como um trocador de calor, deve ser feita


uma análise profunda de várias grandezas como a área de troca térmica e o
coeficiente de troca térmica. Para determinar esse coeficiente, utilizamos
correlações semi-empíricas obtidas da literatura ou através de medidas
experimentais. A taxa de calor trocada pode ser expressa pela equação (1): Sendo:

(
𝑄 = 𝑤. 𝐶𝑝. 𝑡2 − 𝑡1 ) = 𝑊. ℎ𝑙𝑣
(1)

- 𝑤 a vazão de água;

- 𝐶𝑝 o calor específico da água;

- 𝑡1 e 𝑡2 as temperaturasde entrada e saída da


água no trocador

respectivamente;
- 𝑊 a vazão de vapor;

- ℎ𝑙𝑣 o calor latente de vaporização.

Deste modo, a determinação do coeficiente de troca térmica pode ser escrita


pela equação (2):
(2)
ℎ = 𝑄
𝑖𝑜𝐴𝑇(𝐿𝑀𝐷𝑇 )

Com representando a área de troca térmica do trocador. Como estamos

trabalhando com um trocador de único tubo circular, essa área é calculada pela

equação (3).

𝐴𝑇

Sendo R o raio da seção da seção𝐴𝑇 =transversal2π𝑅𝐿 e L o comprimento do


tubo. Já (3)
o 𝐿𝑀𝐷𝑇, escrito na equação (3), é a média logarítmica de temperatura, dada pela

equação (4):

Nesse caso, e são𝐿𝑀𝐷𝑇as temperaturas= (𝑇1−𝑙𝑛𝑡2)(( 𝑇−


𝑇 12−− (𝑡𝑡𝑇21))2−𝑡de1)

(4)
entrada e saída do vapor 𝑇1 𝑇2

respectivamente.
Além do método experimental, podemos também calcular o coeficiente de
transferência de calor pela equação de Sieder e Tate, uma equação semi-empírica
expressa pela equação (5):

Nessa equação, temos:𝑁𝑢𝑁𝑢= 0, 027. 𝑅𝑒 45 . 𝑃𝑟 13 . ( )


µµ𝑤 0 (5)
● Número de Nusselt ( ) expresso pela equação (6):

𝑁𝑢 = ℎ𝐷𝐻 (6)

Sendo: 𝑘𝑓

- ℎ o coeficiente de transferência de calor;

- o diâmetro hidráulico;

- 𝐷𝐻a condutividade térmica do líquido.


𝑘𝑓

𝑅𝑒
● Número de Reynolds ( ) expresso pela equação (7):

𝑅𝑒 = ρ𝑣𝐷µ (7)

Os parâmetros são:
- ρ é a densidade do fluido;

- 𝑣 é a velocidade do fluido;

- 𝐷 é o diâmetro do tubo;

- µ é a viscosidade do fluido.
● Número de Prandtl (𝑃𝑟) expresso𝑃𝑟 =pelaα𝑣 equação (8):

(8) Sendo:
- 𝑣 a difusividade impulso; - α a difusividade térmica.
● µ e µ𝑤 são respectivamente as viscosidades no interior do tubo e na

parede do tubo.

Vale ressaltar que os parâmetros como a densidade, viscosidade, Número de


Prandtl, calor específico e condutividade térmica do líquido são valores retirados da
literatura.

4. Parte Experimental
4.1. Materiais

● Módulo experimental disponível no laboratório composto por:


- trocadores de calor;
- bomba;
- reservatório de água. ● Cronômetro; ● Balde.
4.2. Métodos

Figura 4 - Diagrama do módulo experimental.

Fonte: [3]
Primeiramente, foi anotado as temperaturas dos termômetros antes de iniciar
o experimento para compará-las com a temperatura ambiente para diminuir os erros
de medição dos termômetros. Após isso, abriu-se a válvula de água para determinar
a vazão, coletando a água no balde e pesando em seguida. Depois de estabelecido
o fluxo de água, abriu-se a válvula de vapor e aguardou-se até a estabilização da
temperatura do sistema. Este procedimento foi repetido para 3 vazões diferentes,
uma menor, uma intermediária e outra maior. Para cada tipo de vazão, o
procedimento foi realizado em triplicata. Também, para cada vazão, foram anotadas
as temperaturas de entrada e saída, tanto da água quanto do vapor.

Depois de determinar as vazões e obter as temperaturas, foi realizada a


permuta dos trocadores de calor. Para isso, resfriou-se o trocador fechando a
válvula de vapor e deixando a água passar pelo sistema até que a temperatura de
entrada da água fosse igual à temperatura de saída. O mesmo procedimento foi
realizado para o trocador A e B.
5. Resultados e discussões

Inicialmente, mediu-se as temperaturas apontadas nos termopares dos


trocadores de calor A e B antes de se iniciar o processo a fim de se calibrar o
equipamento. A temperatura de referência é T amb = 24°C e as temperaturas de
calibração foram registradas na Tabela 1:

Tabela 1 – Temperaturas de calibração.

T1(°C) T2(°C) T3(°C) T4(°C) T5(°C)

Trocador A 23 27 30 24 24
Trocador
25 22 30 25 -
B
Fonte: Os autores.

Os procedimentos experimentais descritos previamente foram conduzidos em


dois trocadores de calor, denominados de A e B. Ambos os equipamentos possuem
o mesmo comprimento, de L = 1 m; o trocador A possui diâmetros interno d i =
0,00622 m e externo de = 0,00953 m, e o trocador B, di = 0,00940 m e de = 0,0127 m,
respectivamente.

A aferição dos dados experimentais foi realizada em regime permanente,


sendo, para cada trocador, medida em 3 vazões diferentes em triplicata. Foram
determinados os valores de tempo e temperaturas de entradas e saídas do vapor
d’água – com t1 representando a temperatura de entrada d’água; t 2, a sua
temperatura de saída; T1, a temperatura de entrada de vapor e T2, a temperatura
de saída do vapor. Tais dados para os trocadores de calor A e B constam nas
Tabelas 2 e 3, respectivamente.
Tabela 2 – Dados obtidos de massa, tempo e temperatura para o trocador de calor A.

Massa de
Vazão Tempo (s) t1(°C) t2(°C) T1(°C) T2(°C)
água (kg)

4,3127 29,54

Vazão 1 4,1662 28,50 23 41 97 89

4,3382 29,36

1,5392 29,68

Vazão 2 1,4010 29,71 23 57 98 90

1,3561 29,72

2,4405 29,77

Vazão 3 2,4227 30,07 24 49 98 90

2,4005 29,33
Fonte: Os autores.

Tabela 3 – Dados obtidos de massa, tempo e temperatura para o trocador de calor B.

Massa de
Vazão Tempo (s) t1(°C) t2(°C) T1(°C) T2(°C)
água (kg)

4,0870 29,85

Vazão 1 3,8353 29,74 22 46 99 95

3,7852 29,69

0,9837 29,78
Vazão 2 22 58,5 100 96
0,9404 29,62
0,8896 29,89

2,2926 30,2

Vazão 3 2,5935 29,6 26 52 100 95,5

2,5261 29,83
Fonte: Os autores.

A partir dos dados apresentados nas Tabelas 1 e 2, é possível determinar os


valores de tempo médio (tmédio), massa de água média (mmédia) e temperaturas
médias d’água (ta,média) e do vapor (Tv, média ) para cada vazão em cada trocador,
conforme registrado na Tabela 4:
Tabela 4 – Dados de massa média, tempo médio, vazão e temperatura média para cada vazão
em cada trocador.

Trocador de Calor A Trocador de Calor B

Vazão 1 Vazão 2 Vazão 3 Vazão 1 Vazão 2 Vazão 3

m média (kg) 4,2724 1,4321 2,4212 3,9025 0,9379 2,4707

t médio (s) 29,13 29,70 29,72 29,76 29,76 29,88

w (kg/s) 0,14665 0,04821 0,08146 0,13113 0,03151 0,08270


Fonte: Os autores.

Para obter as propriedades termo físicas da água líquida necessárias para os


cálculos, é necessário estimar uma média entre as temperaturas de entrada e saída
da água. A partir dos dados disponíveis em literatura para água saturada
(INCROPERA e DEWITT, 2008), foi possível obter os valores para a densidade,
viscosidade, calor específico e condutividade térmica, os quais estão apresentados
na Tabela 5, para o trocador A, na Tabela 6, para o trocador B.

Tabela 5 – Propriedades termofísicas da água avaliadas à temperatura média do trocador A.

Tm,água ρ μ x 106
k (W/m.K)
(K) (kg/m³) (N.s/m²) (kJ/kg.K)

1 319,65 989,26 580,78 4,17993 0,63958

2 317,65 990,04 602,38 4,17953 0,63718


3 308,65 993,58 714,98 4,17800 0,62584

Fonte: Os autores.

Tabela 6 – Propriedades termofísicas da água avaliadas à temperatura média do trocador B.


Tm,água μ x 106
Vazão ρ (kg/m³) (kJ/kg.K) k (W/m.K)
(K) (N.s/m²)

1 314,15 991,41 641,88 4,17883 0,63298

2 307,15 994,17 737,18 4,178 0,62344

3 303,40 995,66 796,52 4,17832 0,61776

Fonte: Os autores.
A determinação dos coeficientes de transferência de calor externos e internos
depende do coeficiente global de transferência de calor, que por sua vez, depende
da área de troca térmica, da média logarítmica da diferença de temperaturas e da
quantidade de calor trocada. Tais propriedades são determinadas a partir dos dados
já apresentados.

A relação da quantidade de calor trocada com as propriedades do fluido é

dada pela Equação (02): 𝑄 = 𝑚𝐶𝑝∆𝑡

Onde t representa a diferença de temperatura entre a entrada e saída de


água.

Para a primeira vazão do trocador A, têm-se:

𝑄 = 0, 14665 𝐾𝑔𝑠 × 4, 17993 𝐾𝑔𝑘𝐽.𝐾 × (41 − 23)𝐾

𝑄 = 11, 0313 𝑘𝑊

A média logarítmica da diferença de temperaturas é definida pela Equação 4

𝐿𝑀𝐷𝑇 forma,= (𝑇1aplicando−𝑙𝑛𝑡2)(𝑇− −(𝑡𝑇 )2−𝑡1) 1 2

Dessa (𝑇2−𝑡1)
a equação para a primeira vazão do trocador A,

têm-se:
𝐿𝑀𝐷𝑇 = (97−𝑙𝑛41(()9789−−−(412389))−23) = 60, 86𝐾

Da mesma maneira descrita, foram realizados os cálculos para as outras


vazões. A Tabela 6 e Tabela 7 apresenta os valores para as médias logarítmicas de
temperatura e para o calor transferido para cada vazão no trocador A e B,
respectivamente.
Tabela 6 – Médias logarítmicas de temperatura e calor transferido no trocador A.

Vazão LMDT(K) Q(kW)

1 11,0313 60,8631

2 6,8500 52,9402

3 8,5105 57,0787
Fonte: Os autores.

Tabela 7 – Médias logarítmicas de temperatura e calor transferido no trocador B.

Vazão LMDT(K) Q(kW)

1 13,1487 62,4673

2 4,8052 56,1922

3 8,9835 58,0884
Fonte: Os autores.

Os coeficientes de transferência de calor interno e externo podem ser


determinados a partir da quantidade de calor trocado, a média logarítmica das
temperaturas e a área de troca térmica (interna ou externa).

A área de troca térmica pode ser determinada, a partir do raio médio, uma
vez que o tubo não apresenta uma espessura significativa para os cálculos. Assim,
a partir da Equação (3), podem-se estimar as áreas de troca térmica externa e
interna.

𝐴𝑇 = 2π𝑅𝐿
Assim, no trocador A, para a superfície interna, têm-se:

𝐴𝑇 = 2π × (0,00622+20,00953) × 1𝑚 = 0, 04947𝑚2

Aplicando para a superfície externa:

𝐴𝑇 = 2π × (0, 0508 − (0,00622+20,00923) ) × 1𝑚 = 0, 26971𝑚2

No trocador B, para a superfície interna, obtêm-se:


𝐴𝑇 = 2π × (0,0093982+0,0127) × 1𝑚 = 0, 06942𝑚2

Na superfície externa:

𝐴𝑇 = 2π × (0, 0508 − (0,0093982+0,0127) ) × 1𝑚 = 0, 24976𝑚2

A partir desses valores podem-se determinar os coeficientes de transferência


de calor utilizando a Equação (2).

ℎ𝑖𝑜 = 𝐴𝑇(𝐿𝑀𝐷𝑇𝑄 )

Os valores para os coeficientes obtidos através da equação para cada vazão


no trocador A e B estão apresentados na Tabela 8 e na Tabela 9, respectivamente.

Tabela 8 – Coeficientes de transferência de calor interno e externo no trocador A.

ℎ𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑜(𝑊/𝑚2 · 𝐾) ℎ𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑛𝑜(𝑊/𝑚2 · 𝐾)
3663,791 672,0097

2615,539 479,7402

3013,984 552,8225
Fonte: Os autores.

Tabela 9 – Coeficientes de transferência de calor interno e externo no trocador B.

ℎ𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑜(𝑊/𝑚2 · 𝐾) ℎ𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑛𝑜(𝑊/𝑚2 · 𝐾)
3032,106 842,7643

1231,824 342,3816

2227,786 619,2061
Fonte: Os autores.

Através dos resultados, é possível notar que os coeficientes de transferência


de calor interno são maiores que os externos em cada vazão. Isso demonstra que a
convecção interna influencia mais na transferência de calor que a convecção do
vapor d’água.
6. Conclusão

Com a realização do experimento, foi possível determinar de maneira


experimental os valores de coeficientes de transferência de calor dos dois
trocadores de calor, cujos diâmetros eram diferentes. Os valores dos coeficientes
de transferência de calor por convecção também foram calculados. Portanto, pode-
se afirmar que os objetivos do experimento foram atingidos.
7. Referências

[1] ÇENGEL, Y.A. Transferência de Calor e Massa: Uma Abordagem Prática,


3ª Edição, Editora McGrawHill, 2009.

[2] INCROPERA, F.P.; DeWITT, D.P. Fundamentos da Transferência de Calor


e de Massa, 6ª. Edição, Editora LTC, 2008.

[3] Universidade Estadual de Maringá. Apostila de Laboratório de Engenharia


Química 1. 2023.

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