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Análise de Sistemas de Potência I

Aula 01 – Teoria de Grafos, Matriz de Incidência e


YBarra
Prof. André Guilherme Peixoto Alves
Motivação
Aplicar as Leis de Kirchhoff de forma manual em um circuito com poucas
malhas e nós é relativamente simples. Entretanto, redes elétricas de potência
podem possuir até milhares de barras, o que dificultaria o procedimento.

Um outro ponto importante é o fato de que os sistemas são reforçados e


ampliados periodicamente. Assim, uma estratégia de representação modular
e computacional é fundamental.

O intuito desta aula é mostrar a teoria de grafos para representação de


circuitos e utilizar tal conhecimento para chegar nas matrizes de incidência e
de admitância de barra (Ybarra).

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Teoria de Grafos
Nó (n): Todos os terminais dos elementos do sistema são denominados nós.

Elemento de um grafo (e): Todo componente do sistema é substituído por


um segmento. Em seguida, os chamaremos de ramos para as árvores.

Grau de um nó: Quantidade de ramos conectados a um determinado nó.

Fonte: P.S.R. Murty. Power System Analysis. BS Publications, 2007


3
Teoria de Grafos
Malha ou Laço: Conjunto de elementos sendo percorridos partindo de um nó
e retornando a este mesmo nó

Grafo orientado: Grafo cujos elementos são representados com uma


direção e sentido especificados, indo de um nó para outro.

4 2 5
1 3

2
1 3

4
Teoria de Grafos
Árvore: Subgrafo de um determinado grafo orientado contendo todos os
seus nós, porém não contendo nenhuma malha. Uma árvore possui (n-1)
ramos, onde n é o número de nós do grafo.

Co-Árvore: Complemento de uma árvore, contendo os chamados de elos ou


links. Existe uma co-árvore para toda árvore.
4 2 5
1 3
O número de nós n e o número de
2
ramos b de uma determinada árvore
1 3
são relacionados: Ex de árvore
𝑏=𝑛−1 Ex de co-árvore ou elos 0

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Teoria de Grafos
Considerando as definições apresentadas anteriormente, pode-se perceber
que, ao juntar uma árvore com um elo, forma-se uma malha.

É chamada de malha independente toda malha que possui apenas um elo.

Pode-se notar que o número de malhas independentes é dado por:


4 2 5
𝑙 =𝑒−𝑛+1 1 3
𝑒=5
2
3 𝑛=4
1
𝑙 =5−4+1=2
0

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Exercício para Fixação
Represente o sistema elétrico abaixo em um grafo orientado e, em seguida:
a) encontre o número de nós e o número de elementos.
b) Indique uma árvore possível, destacando os respectivos elos com um
tracejado.
c) Destaque as malhas independentes e verifique a quantidade encontrada
com a expressão 𝑙 = 𝑒 − 𝑛 + 1

𝑧12
𝑧14 𝑧23
𝑧34

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Matrizes de Incidência
Existem diversas matrizes de incidência que podem ser aplicadas para
análises de circuitos. Porém, focaremos aqui nas matrizes de incidência
nodal e de incidência de barra, com o objetivo de chegarmos nas matrizes
Ybarra e Zbarra.

Exemplo de sistema:
𝑧13
𝑧12 𝑧23

1 3
2

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Matriz de Incidência Nodal
ഥ é uma matriz 𝑒 × 𝑛, onde 𝑒 é o número de
A matriz de incidência nodal 𝑨
elementos do sistema e 𝑛 é o número de nós. Seus elementos são:

𝛼𝑝𝑞 = 1, se a orientação do elemento p é para fora do nó q


𝛼𝑝𝑞 = −1, se a orientação do elemento p é para dentro do nó q
𝛼𝑝𝑞 = 0, se o elemento p não incide no nó q

Fonte: P.S.R. Murty. Power System Analysis. BS Publications, 2007


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Matriz de Incidência Nodal
ഥ é uma matriz 𝑒 × 𝑛, onde 𝑒 é o número de
A matriz de incidência nodal 𝑨
elementos do sistema e 𝑛 é o número de nós. Seus elementos são:

𝛼𝑝𝑞 = 1, se a orientação do elemento p é para fora do nó q


𝛼𝑝𝑞 = −1, se a orientação do elemento p é para dentro do nó q
𝛼𝑝𝑞 = 0, se o elemento p não incide no nó q

Notar que:
3

෍ 𝛼𝑝𝑞 = 0 para 𝑝 = {1, 2, 3, 4, 5, 6}


𝑞=0 (todos os elementos)
Fonte: P.S.R. Murty. Power System Analysis. BS Publications, 2007
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Matriz de Incidência de Barra
A matriz de incidência de barra 𝑨 é uma matriz 𝑒 × (𝑛 − 1), obtida a partir da
matriz de incidência nodal ao ser eliminada a coluna referente ao nó de
referência.

−1 0 0
0 −1 0
0 1 −1
𝑨=
0 0 −1
−1 0 1
1 −1 0

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Matriz de Incidência de Barra
É importante perceber as seguintes propriedades da matriz incidência de
barra:
𝑨𝑻 𝐼 ሶ = 0 (1) Consequência imediata da Lei das Correntes de Kirchhoff,
uma vez que a somatória de todas as correntes em uma
determinada barra é zero.

Vetor contendo as correntes injetadas em cada uma das


𝑨𝑻 𝐽 ሶ = 𝐼𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎
ሶ (2) barras do sistema.

𝑨𝑉ሶ𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 = 𝑉ሶ (3) Vetor contendo as tensões em cada elemento do sistema

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Matriz de Incidência de Barra
KCL em cada um dos nós:
𝐼𝑒ሶ
−𝐼𝑎ሶ − 𝐼𝑒ሶ + 𝐼𝑓ሶ = 0 (𝑛ó 1)

−𝐼𝑏ሶ − 𝐼𝑓ሶ + 𝐼𝑐ሶ = 0 (𝑛ó 2)


𝐼𝑓ሶ 𝐼𝑐ሶ
−𝐼𝑐ሶ − 𝐼𝑑ሶ + 𝐼𝑒ሶ = 0 (𝑛ó 3)
𝐼𝑎ሶ 𝐼𝑏ሶ
𝐼𝑑ሶ

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Matriz de Incidência de Barra
𝐼𝑎ሶ
𝐼𝑏ሶ
−1 0 0 0 −1 1 𝐼𝑐ሶ
𝑨𝑻 = 0 −1 1 0 0 −1 𝐼ሶ =
𝐼𝑑ሶ
0 0 −1 −1 1 0 𝐼𝑒ሶ
𝐼𝑓ሶ

−𝐼𝑎ሶ − 𝐼𝑒ሶ + 𝐼𝑓ሶ 0


𝑨𝑻 𝐼 ሶ = −𝐼𝑏ሶ + 𝐼𝑐ሶ − 𝐼𝑓ሶ = 0
−𝐼𝑐ሶ − 𝐼𝑑ሶ + 𝐼𝑒ሶ 0

Soma de correntes em cada barra igual a 0


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Matriz de Incidência de Barra
𝐽𝑎ሶ ሶ
−𝐼𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎1
𝐽𝑏ሶ ሶ
−𝐼𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎2
−1 0 0 0 −1 1 𝐽𝑐ሶ 0
𝑨𝑻 = 0 −1 1 0 0 −1 𝐽ሶ = =
𝐽𝑑ሶ ሶ
−𝐼𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎3
0 0 −1 −1 1 0 𝐽𝑒ሶ 0
𝐽𝑓ሶ 0


𝐼𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎1
𝑨𝑻 𝐽 ሶ = 𝐼𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎2
ሶ ሶ
= 𝐼𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎

𝐼𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎3

Correntes injetadas nas barras


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Matriz de Incidência de Barra
−1 0 0
0 −1 0 𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎1
0 1 −1 𝑉ሶ𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 = 𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎2
𝑨=
0 0 −1
𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎3
−1 0 1
1 −1 0
0 − 𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎1
0 − 𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎2
𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎2 − 𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎3
𝑨𝑉ሶ𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 = = 𝑉ሶ
0 − 𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎3
𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎3 − 𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎1 Tensões nos elementos
𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎1 − 𝑉ሶ𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎2
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Representação como Admitância
O circuito pode ser modelado tomando como base a representação de
admitância. Os elementos que não estejam associados a fontes e sejam
unicamente admitâncias tem seus termos de corrente injetada zerados.
ሶ ሶ + 𝐽𝑎𝑏
𝐼𝑎𝑏 ሶ = 𝑦𝑎𝑏 𝑉ሶ𝑎𝑏
𝐽𝑎𝑏


𝐼𝑎𝑏 𝑏 Considerando todos os elementos do
𝑎
sistema, pode-se escrever na forma
𝑦𝑎𝑏 matricial:
𝑉𝑎ሶ 𝑉ሶ𝑏 𝐼 ሶ + 𝐽 ሶ = 𝒚𝑉ሶ
𝑉ሶ𝑎𝑏 = 𝑉𝑎ሶ − 𝑉ሶ𝑏 𝐼 ሶ → Vetor de correntes transmitidas entre as barras
𝐽 ሶ → Vetor de fontes de corrente dos elementos
𝑉ሶ → Vetor de tensões nos elementos
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Matriz de Admitância Primitiva do Circuito
Definição: Matriz de ordem 𝑒 × 𝑒 que possui em sua diagonal principal as
admitâncias de cada respectivo elemento do sistema.

𝑦1 0 0 0 0 0
0 𝑦2 0 0 0 0
0 0 𝑦3 0 0 0
𝒚=
0 0 0 𝑦4 0 0
0 0 0 0 𝑦5 0
0 0 0 0 0 𝑦6

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Matriz Admitância de Barra
Utilizando a modelagem de admitância para o circuito:
𝐼 ሶ + 𝐽 ሶ = 𝒚𝑉ሶ
Multiplicando-se por 𝑨𝑻 em ambos os membros:
𝑨𝑻 𝐼 ሶ + 𝑨𝑻 𝐽 ሶ = 𝑨𝑻 𝒚𝑉ሶ

Utilizando-se das propriedades contidas em (1), (2) e (3):



0 + 𝐼𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 = 𝑨𝑻 𝒚𝑨𝑉ሶ𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎

𝐼𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 = 𝑨𝑻 𝒚𝑨𝑉ሶ𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎

𝐼𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 = 𝒀𝑩𝒂𝒓𝒓𝒂 𝑉ሶ𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 𝒀𝑩𝒂𝒓𝒓𝒂 = 𝑨𝑻 𝒚𝑨

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Matriz Admitância de Barra
𝒀𝑩𝒂𝒓𝒓𝒂 = 𝑨𝑻 𝒚𝑨

𝒚 𝑨
𝑦1 0 0 0 0 0 −1 0 0
𝑨𝑻
0 𝑦2 0 0 0 0 0 −1 0
−1 0 0 0 −1 1 0 0 𝑦3 0 0 0 0 1 −1
0 −1 1 0 0 −1 0 0 0 𝑦4 0 0 0 0 −1
0 0 −1 −1 1 0
0 0 0 0 𝑦5 0 −1 0 1
0 0 0 0 0 𝑦6 1 −1 0

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Matriz Admitância de Barra

−1 0 0
−𝑦1 0 0 0 −𝑦5 𝑦6 0 −1 0
0 −𝑦2 𝑦3 0 0 −𝑦6 0 1 −1
𝒀𝑩𝒂𝒓𝒓𝒂 =
0 0 −1
0 0 −𝑦3 −𝑦4 𝑦5 0
−1 0 1
1 −1 0

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Matriz Admitância de Barra
𝑦1 + 𝑦5 + 𝑦6 −𝑦6 −𝑦5
𝒀𝑩𝒂𝒓𝒓𝒂 = −𝑦6 𝑦2 + 𝑦3 + 𝑦6 −𝑦3
−𝑦5 −𝑦3 𝑦3 + 𝑦4 + 𝑦5

𝑌𝑘𝑘 = ෍ 𝑦𝑘𝑗
𝒀𝑩𝒂𝒓𝒓𝒂 𝑗
𝑌𝑘𝑗 = −𝑦𝑘𝑗

Apesar da demonstração feita utilizando a matriz de incidência, a matriz YBarra pode


ser montada por inspeção, seguindo as expressões acima para seus elementos 𝑌𝑘𝑘 e
𝑌𝑘𝑗
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Matriz Admitância de Barra

𝑦1 + 𝑦5 + 𝑦6 −𝑦6 −𝑦5
𝒀𝑩𝒂𝒓𝒓𝒂 = −𝑦6 𝑦2 + 𝑦3 + 𝑦6 −𝑦3
−𝑦5 −𝑦3 𝑦3 + 𝑦4 + 𝑦5


𝐼𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 = 𝒀𝑩𝒂𝒓𝒓𝒂 𝑉ሶ𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎


𝐼𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 - Vetor de Injeção de Corrente na rede por fontes independentes
𝒀𝑩𝒂𝒓𝒓𝒂 - Matriz admitância de barra ou admitância nodal.
𝑉ሶ𝐵𝑎𝑟𝑟𝑎 - Vetor das tensões em cada barra do sistema
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Exemplo
Escrever a matriz YBarra para o sistema através da inspeção e lei de
formação. Todos os dados já estão na mesma base em por unidade.

𝑋 = 20%
3
1
𝑗0,4

𝑗0,4 𝑗0,25

4 𝑗0,25 2

𝑋 = 20%
24
Solução
Matriz YBarra:

−10 0,0 2,5 2,5


0,0 −13 4,0 4,0
𝒀𝑩𝒂𝒓𝒓𝒂 =𝑗
2,5 4,0 −6,5 0
2,5 4,0 0 −6,5

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Exercício para Casa
Representar o sistema elétrico abaixo como um grafo orientado, obter a
matriz de incidência de barra e, em seguida, calcular a matriz YBarra pela
transformação. Compare o resultado obtido com a solução anterior.
𝑋 = 20%
3
1
𝑗0,4

𝑗0,4 𝑗0,25

4 𝑗0,25 2

𝑋 = 20%
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Referências
[1] J. J. Grainger, W. D. Stevenson Jr, Power System Analysis, Mc Graw Hill,
2016.

[2] P. S. R. Murty. Power System Analysis, BS Publications, 2007. (Cap. 2 e 3)

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Contato

Prof. André Guilherme Peixoto Alves


andre.alves@eng.uerj.br

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