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Capa:
Imagem: André Valentim/Banco de Imagens Petrobras
Projeto: Thallys Bezerra
Processamento de petróleo e gás : petróleo e seus derivados, processamento primário, processos de refino, petroquímica, meio ambiente /
André Domingues Quelhas...
[et al.]; organizadores Nilo Indio do Brasil, Maria Adelina Santos Araújo e Elisabeth Cristina Molina de Sousa. - 2. ed. - Rio de
Janeiro : LTC, 2014.
il.; 28 cm.
1. Indústria petrolífera - Brasil. 2. Gás natural - Indústria - Brasil. 3. Petróleo -Refinação. I. Brasil, Nilo Indio. II. Araújo, Maria
Adelina Santos. III. Sousa, Elisabeth Cristina Molina de. IV. Quelhas, André Domingues.
A Petrobras sempre se notabilizou pela importância que dá ao treinamento de seu quadro de empregados, ao longo de todos
estes anos, desde sua fundação. Os benefícios obtidos, muitas vezes difíceis de serem mensurados, são sentidos e reconhecidos
pelas comunidades da Companhia e pelo público externo que interage com a Petrobras em muitas áreas de conhecimento.
Uma das faces da política da empresa para a capacitação vem a ser a produção de livros didáticos que, não só são
aproveitados no nosso ambiente de trabalho, como também fora da Petrobras.
Esta obra, resultante da soma de experiências práticas e didáticas de vários engenheiros, professores, lotados na área de
Recursos Humanos/Universidade Petrobras/Escola de Ciências e Tecnologias de Abastecimento, vem a ser uma grande
contribuição da Companhia para o país, pela sua abrangência e por lançar no Brasil, um conteúdo não muito presente no nosso
mercado editorial.
A Petrobras sente-se honrada e gratificada em coeditar a publicação deste trabalho através do seu Programa de Editoração de
Livros Didáticos, numa iniciativa que busca estabelecer uma bibliografia de consulta permanente para seus profissionais, bem
como de retorno para a sociedade da confiança depositada em suas atividades.
Quando foi tomada a decisão de escrever este livro, havia muitas dúvidas e uma única certeza: por mais cuidado que fosse
tomado, cada texto seria ainda passível de melhoria. A diferença de estilo entre os autores dos capítulos faria com que os
organizadores tivessem que fazer adaptações do texto, visando sempre à maior clareza, enxergando e descrevendo os temas de
outra forma. Além disso, por mais que o texto fosse revisado, equívocos de redação e impressão passariam despercebidos.
Nesta segunda edição não foram feitas grandes modificações de conteúdo nem acréscimos de novos capítulos. Além de
correções e pequenas melhorias nos textos, a preocupação dos organizadores esteve relacionada com dois temas: a atualização
de dados ligados ao cenário nacional de produção de petróleo e derivados, a atualização do Sistema Internacional de Unidades
(SI) e as alterações ocorridas na qualidade dos derivados do petróleo.
Os dados do mercado brasileiro foram atualizados com base no Balanço Energético Nacional (BEN) e nos Dados
Estatísticos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Em relação ao SI, a principal alteração foi o reconhecimento do símbolo “%” para representar o número 0,01 associado a
grandezas adimensionais, o que significa que a regra de deixar um espaço entre o valor numérico e o símbolo da grandeza deve
ser aplicada.
Quanto às alterações de qualidade dos derivados, as principais modificações ocorreram na gasolina e no óleo diesel, com a
adoção pela ANP de especificações semelhantes às mais rígidas adotadas no mundo inteiro. Tais modificações tiveram como
vetor o atendimento às necessidades estabelecidas no programa de controle de poluição do ar por veículos automotores
(PROCONVE), no que tange à contribuição da qualidade dos combustíveis para tal fim.
Aproveitamos a oportunidade para agradecer aos leitores que adquiriram o exemplar do livro e o recomendaram aos seus
pares.
Os Organizadores
Prefácio à 1a Edição
A crise financeira global e o caminho rumo à recuperação recolocaram o core business das empresas sob um olhar mais atento,
com a busca de novos modelos no gerenciamento de seus negócios e processos de produção.
As grandes companhias do futuro terão um olhar no negócio, na lucratividade, na produtividade e outro nos seus ativos
intangíveis: capital humano, sistemas de gestão, relacionamento com as partes interessadas e domínio tecnológico.
No que toca à Petrobras, nossa empresa sempre se caracterizou por dar respostas objetivas e abrangentes, colocando toda a
sua potencialidade na produção de conteúdos e desenvolvimento técnico-gerencial para a superação dos desafios nas suas áreas
de atuação.
Neste contexto, surge esta obra da Equipe da Universidade Petrobras, que tenho o privilégio de apresentar, resultado da
experiência didática da Universidade Petrobras associada aos anos de operação e projetos de engenharia básica em nossas
refinarias e no Cenpes. Nela são explorados os diversos aspectos do refino e da qualidade dos derivados, devendo-se tornar
certamente uma referência no estudo das disciplinas do processamento de petróleo e gás natural.
A Petrobras trabalha para ser, até 2020, uma das cinco maiores companhias integrada de energia do mundo e a preferida
entre todos os seus públicos de interesse. Neste viés de atuação a companhia busca minimizar os impactos de suas operações e
de seus produtos no meio ambiente.
Essa preocupação está expressa tanto no Plano de Negócios quanto na Estratégia Corporativa da companhia. A gestão dos
potenciais riscos ambientais inerentes à indústria do petróleo e gás – tais como consumo de recursos naturais, emissões para a
atmosfera, interferência nos territórios, impactos na biodiversidade e poluição por resíduos – requer ações integradas na área
ambiental, envolvendo todas as áreas, unidades e empresas do Sistema Petrobras, desde o nível estratégico ao operacional.
Com utilização média de 93 % da capacidade nominal, as 12 refinarias da Petrobras no Brasil produziram 291 000 m 3/d de
derivados em 2010. Do volume total de petróleo processado, 82 % vieram de campos brasileiros, três pontos percentuais a mais
que o registrado um ano antes.
Quando se compara a capacidade original de nosso parque de refino, isto é, o projeto original com o atual, temos uma
diferença de cerca de 96 000 m3/d (600 000 barris por dia), que justamente foram as intervenções e os REVAMPS que
realizamos neste período de aproximadamente 25 anos. O número é gratificante, pois incorporamos ao processamento nacional
o equivalente a uma refinaria de 600 000 barris por dia. Esse resultado somente foi conseguido graças à integração da
Engenharia de Processamento que se encontra no Cenpes, nas refinarias e na Universidade Petrobras.
Todo esse histórico e o futuro que o país está construindo e planejando, bem como as perspectivas de crescimento da
Petrobras e de toda a indústria de processamento de petróleo e gás natural, sob a ótica de especialistas na área que capitalizaram
toda sua experiência nesta publicação, nos permitem ver o quanto esta obra é bem-vinda.
Concluindo, poder-se-ia imaginar que este livro se destina apenas aos engenheiros, estudantes e estudiosos dos fundamentos
do refino de petróleo – o que é verdadeiro –, contudo seria um desperdício se este livro não merecesse a atenção do público em
geral, de profissionais e estudiosos de outras áreas, preocupados com os problemas de nosso desenvolvimento econômico, até
porque a elegância e a fluidez com que foi escrito o tornam acessível, interessante e proveitoso mesmo aos não iniciados nesta
área técnica.
Este livro é fruto de um sonho de muitos profissionais que atuam na área de processamento de petróleo e gás natural. Para que a
sua construção fosse possível, foi indispensável a participação de muitos colegas que, ao longo de seu tempo de trabalho na
Petrobras, contribuíram com seus conhecimentos técnicos e sua experiência, com a elaboração de materiais didáticos, tomados
como base neste livro, ou ainda com suas revisões deste texto.
Agradecemos também aos colegas da Universidade Petrobras: Adriana Fores Porto Rezende, Ana Carlota Belizário dos
Santos, Enildo Alves Bernardes e Jorge Navaes Caldas, que contribuíram com sugestões e/ou revisões de textos.
Com o risco de esquecer alguém, não podemos deixar de agradecer aos colegas de diversos órgãos da Petrobras: André
Gustavo Reuse, André Luis Gismonti Guimarães, Carlos Alberto Ribeiro da Rosa, Francisco da Costa Barros, José Luiz Zotin,
Juarez Barbosa Perissé, Leonardo Juan Mignaco, Luciano Villanova de Oliveira, Luis Fernando de Freitas, Marcel Vasconcelos
Melo, Mário Fernando Porto, Montserrat Motas Carbonell, Neyde Alexandra Fraga Marques, Raíssa Maria Cotta Ferreira da
Silva, Roberto Carlos Pontes Bittencourt, Rogério Oddone, Sandra Shirley Ximeno Chiaro, Vivian Passos de Souza, Wilson
Tsuyoshi Ogino e Wlamir Soares Nogueira. Enfim, uma vez que este livro reflete uma parte da cultura da Petrobras na área de
processamento de petróleo e gás, seria impossível listarmos cada uma das contribuições recebidas.
Como não poderia deixar de ser, o maior agradecimento é à Petrobras pela oportunidade de capacitação que ela oferece a
todo profissional admitido por processo seletivo nacional, para quem o material contido neste livro foi inicialmente
desenvolvido. Agradecemos também a Lúcia Emília de Azevedo, condutora do Programa de Editoração de Livros Didáticos da
Universidade Petrobras, que, em tempo hábil, viabilizou o contrato da editoração do livro.
Nossos agradecimentos finais vão para o gerente da Escola de Ciências e Tecnologias de Abastecimento, Humberto
Matrangolo de Oliveira, e para o coordenador da área de processamento, Francisco José Mattoso Paiva, que autorizaram os
organizadores a se dedicarem quase exclusivamente à adaptação e revisão dos textos originais ao formato de livro por
aproximadamente seis meses de trabalho intensivo.
Nilo Indio do
Brasil Maria Adelina Santos
Araújo Elisabeth Cristina Molina
de Sousa
Organizadores do livro
Material Suplementar
O acesso ao material suplementar é gratuito, bastando que o leitor se cadastre em: http://gen-io.grupogen.com.br.
Sobre os Autores
■ Elie Abadie
Engenheiro Químico formado em 1974 pela UFRJ. M.Sc. em Engenharia de Produção pela UFSC em 2003. Atua nas áreas de
Geopolítica do Petróleo e Processos de Refino, especialmente em Processos Catalíticos.
Capítulo 2 – O Petróleo
2.1 Composição e Propriedades do Petróleo
2.2 Hidrocarbonetos
2.2.1 Alcanos ou hidrocarbonetos parafínicos
2.2.2 Cicloalcanos ou hidrocarbonetos naftênicos
2.2.3 Hidrocarbonetos olefínicos
2.2.4 Hidrocarbonetos aromáticos
2.2.5 Propriedades das frações de petróleo em função dos hidrocarbonetos presentes
2.3 Não Hidrocarbonetos
2.3.1 Compostos sulfurados
2.3.2 Compostos nitrogenados
2.3.3 Compostos oxigenados
2.3.4 Compostos metálicos
2.3.5 Resinas e asfaltenos
2.3.6 Influência dos contaminantes sobre a qualidade dos derivados
2.4 Qualificação do Petróleo
2.4.1 Propriedades físicas
2.4.2 Caracterização química
2.4.3 A qualificação do petróleo pela volatilidade – a curva PEV
Referências
Capítulo 7 – Desasfaltação
7.1 Introdução
7.2 Carga do Processo
7.3 Fundamentos do Processo
7.4 Descrição da Unidade
7.4.1 Seção de extração
7.4.2 Seção de recuperação de solvente
7.5 Produtos da Desasfaltação
7.6 Variáveis de Processo
7.6.1 Composição da carga
7.6.2 Composição do solvente
7.6.3 Razão solvente/óleo (solvente/carga)
7.6.4 Temperatura de extração
7.6.5 Gradiente de temperatura
7.6.6 Pressão
7.6.7 Rotação dos discos – RDC
Referências
Capítulo 10 –Hidrorrefino
10.1 Introdução
10.2 Fundamentos
10.2.1 Reações químicas no HDR
10.2.2 Catalisadores de hidrorrefino
10.3 Tipos de Carga
10.4 Esquema Básico de Hidrorrefino
10.4.1 Seção de reação
10.4.2 Separação e purificação dos produtos
10.5 Esquemas Alternativos de Hidrorrefino
10.5.1 Processos brandos: hidrodessulfurização de nafta, querosene e óleo diesel e hidroacabamento de lubrificantes
10.5.2 Processos severos: hidrotratamento de instáveis e hidrodesaromatização de parafinas e óleos básicos
lubrificantes
10.5.3 Processos que demandam pré-tratamento
10.5.4 Hidrocraqueamento catalítico
10.6 Variáveis de Processo
10.6.1 Temperatura de reação
10.6.2 Velocidade espacial
10.6.3 Pressão parcial de hidrogênio
10.6.4 Carga da unidade
Referências
11.6.1 Pressão
11.6.2 Temperatura
11.6.3 Velocidade espacial
11.6.4 Razão hidrogênio/carga
Referências
Índice
Processamento de Petróleo e Gás
Petróleo e Seus
Derivados Processamento
Primário Processos de
Refino Petroquímica
Meio Ambiente
O petróleo já era conhecido na antiguidade, mas a sua exploração e refino somente se tornaram expressivos no final do século
XIX, primeiramente com a produção do querosene, que substituiria o óleo de baleia, utilizado para iluminação, e,
definitivamente, com o advento dos motores de combustão interna, operando segundo o ciclo Otto, que deram origem à
demanda de gasolina.
Ao se produzir o querosene, se descobriu o valor da fração mais pesada, então residual, como combustível para uso em
caldeiras e no aquecimento, em substituição ao carvão, e assim surgiu o óleo combustível, que foi usado primeiramente na
indústria e, mais adiante, no comércio e em residências.
O óleo diesel só veio a encontrar um mercado consumidor a partir de 1919, quando o empresário Clessie Cummins, em
Columbia, nos Estados Unidos, melhorou os motores que operavam no ciclo Diesel e fundou a Cummins Engine Co. [1] e, em
1929, viabilizou o uso desse combustível em veículos automotores.
Finalmente, para citar os derivados de petróleo mais importantes nos dias atuais, em termos de definição dos chamados
esquemas de refino, em 1939, Hans von Ohain desenvolveu na Alemanha a primeira turbina de aviação bem-sucedida, que
usava a gasolina como combustível. No entanto, em 1941, em vista da escassez desse derivado, em função da Segunda Guerra
mundial, o inglês Frank Whittle desenvolveu uma turbina de aviação que utilizava o querosene iluminante como combustível. [2]
Nasceu assim o querosene de aviação, que mais tarde teria que atender a rígidas especificações, em vista da sua importância
para a segurança de voo.
No século XIX e nos primeiros anos do século XX, o refino do petróleo consistia apenas no processo de destilação à pressão
atmosférica, no qual o petróleo cru era separado em frações com diferentes faixas de ebulição. No entanto, com a descoberta de
maiores reservas de óleo e com o crescimento do mercado já visualizado para os combustíveis automotivos, essa configuração
de refino não era economicamente atrativa, e, por isso, muitos pesquisadores trabalharam na melhoria dos processos de refino,
visando a um maior aproveitamento da matéria-prima, traduzido pela redução da produção de óleo combustível.
Dessa busca, nasceram os chamados processos de fundo de barril, sendo o pioneiro, e de grande importância até os nossos
dias, o craqueamento catalítico, desenvolvido em sua primeira versão em 1915[3] e melhorado continuamente ao longo do
século, o que tornou possível aumentar a produção de gasolina e melhorar o seu desempenho nos motores.
Ao longo do século XX foram sendo introduzidos outros processos de refino, importantes tanto para a adequação dos
volumes de derivados produzidos ao mercado consumidor como para o atendimento aos requisitos de desempenho que foram
sendo estabelecidos com o avanço tecnológico dos equipamentos, principalmente os motores automotivos. Enquanto os
processos de craqueamento contribuíram para o aumento da produção de gasolina e de diesel, os processos de reforma e
alquilação catalítica auxiliaram na melhoria da qualidade de combustão da gasolina, e os processos de tratamento foram
importantes para o ajuste final das características de todos os derivados. Nos dias de hoje, os processos de hidrorrefino estão
entre os de maior importância, porque conferem grande flexibilidade ao refino, permitindo o processamento de petróleos mais
baratos e viabilizando o atendimento às crescentes exigências ambientais e de saúde ocupacional. Finalmente, as unidades de
tratamento de efluentes líquidos, sólidos ou gases assumem hoje posições de destaque por viabilizarem o desenvolvimento
sustentável do refino. Dessa forma, a indústria do petróleo e gás natural conquistou o primeiro lugar como fonte energética
mundial (Figura 1.1).
Figura 1.1 Participação do petróleo na oferta energética mundial (2012).[4]
No Brasil, os primeiros automóveis chegaram logo no início do século XX e a distribuição de derivados de petróleo teve
início em 1912, com a chegada da Standard Oil, seguida de outras empresas multinacionais, Shell, Texaco e Atlantic, que se
implantaram até 1922, inicialmente distribuindo o combustível em latas de 20 L e, a partir de 1921, em bombas, diretamente no
veículo. Essas empresas comercializavam também o querosene iluminante e o óleo combustível industrial. [5]
A década de 1930 viveu alguns avanços da indústria do petróleo, podendo-se destacar: o início da formulação de
lubrificantes pela Esso, em 1930; a fundação da Companhia Brasileira de Petróleo, por Monteiro Lobato, em 1931, empresa
pioneira na exploração de petróleo, que viria a ter sua primeira produção somente em 1941; o início de operação da Destilaria
Riograndense, em 1934, e de sua sucessora a Refinaria Ipiranga, em 1937, com capacidade de refinar 240 m 3/d de petróleo; a
partida da refinaria Matarazzo em São Caetano do Sul, em 1936, com capacidade de processamento de 80 m 3/d; e a criação do
Conselho Nacional do Petróleo (CNP), em 1938.[5,6]
Na década de 1940, duas pequenas unidades em Aratu e Candeias produziam gasolina, óleo diesel e querosene de
iluminação a partir de petróleos produzidos na Bahia, em volumes destinados basicamente ao consumo local. Em 1945 e 1946,
respectivamente, foram dadas concessões para a construção de duas refinarias, uma com capacidade de 1600 m 3/d, no Rio de
Janeiro (Refinaria de Manguinhos), e outra em Capuava-SP (Refinaria União), de 3200 m 3/d, que só entraram em operação em
1954. Durante a gestão do CNP, iniciou-se a construção da refinaria de Mataripe, com capacidade de 416 m 3/d, que entrou em
operação em 1950, e foi concedida, em 1952, a licença para a construção de uma refinaria de 830 m3/d em Manaus.
Foi na década de 1950 que a indústria do refino experimentou o maior impulso, com os seguintes eventos: [5,6] — ampliação
da refinaria de Mataripe;
— construção da primeira refinaria nacional de grande porte para a época, em Cubatão, que entrou em operação em 1955;
— instituição da Superintendência da Industrialização do Xisto em 1954;
— estabelecimento do monopólio da União Federal sobre as atividades integrantes da indústria do petróleo, em 3 de outubro
de 1953, sancionado pela Lei Federal n o 2.004, já com a previsão de criação de uma empresa estatal para execução desse
monopólio;
— nascimento da Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, em 1954, que, ao ser constituída, recebeu do CNP os campos de
petróleo do recôncavo baiano, as refinarias de Mataripe-BA e de Cubatão-SP (em fase de construção) e a Frota Nacional
de Petroleiros, além dos bens da Superintendência de Industrialização do Xisto.
A partir de então, foram implantadas as demais refinarias, que operam ainda hoje no Brasil, conforme a cronologia e
respectiva capacidade, apresentadas na Tabela 1.1.
a
Ex-Ipiranga; bIncorporadas à Petrobras em 1974; cAté 1998, produzia somente asfalto e óleos combustíveis, e era denominada ASFOR;
d
Implantação da refinaria no Rio Grande do Norte.
Outros marcos importantes para a história do refino no Brasil foram a criação, em 1966, do Centro de Pesquisas e
Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES), atualmente o maior centro de pesquisas da América Latina,
e das empresas subsidiárias: Petrobras Química S.A. (Petroquisa), em 1967, Petrobras Distribuidora (BR), em 1971, e Petrobras
Transporte S.A. (Transpetro), em 1998.
Desde 1980, com o crescimento do mercado, o aumento das exigências em relação à qualidade de produtos e as descobertas
de petróleos nacionais, as refinarias sofreram ampliações de capacidade e cresceram em complexidade, de forma que:
— como no restante do mundo, o petróleo, o gás natural e seus derivados representam hoje no Brasil a maior fonte primária
de energia (50,6 %), como mostrado na Figura 1.2;
— os petróleos importados foram sendo substituídos por petróleos nacionais, tendo o Brasil atingido a autossuficiência na
produção em 2005, tornando-se, desde então, exportador (Figura 1.3);
Figura 1.2 Histórico das fontes primárias de energia no Brasil[8] (adaptado).
— o aumento da complexidade das unidades de refino teve como resultado a redução do percentual de produção de óleo
combustível em relação ao petróleo, por ser um derivado de menor valor agregado e de maior potencial poluidor (Figura
1.4);
Figura 1.4 Evolução da complexidade do refino (% óleo combustível)[8] (adaptado).
— no setor de transporte, o óleo diesel se fixou como o principal combustível, em decorrência principalmente da
importância do transporte rodoviário e da redução do consumo percentual de gasolina, que se deveu à sua substituição
parcial por combustíveis alternativos, álcool e gás natural veicular (GNV), como ilustrado na Figura 1.5;
— o gás liquefeito de petróleo (GLP) substituiu em grande parte a lenha como combustível doméstico e acompanhou o
crescimento da população brasileira (Figura 1.6).
Ao longo deste livro, serão discutidos o petróleo e seus derivados, assim como os processos mais expressivos nos atuais
esquemas de refino.
Figura 1.5 Evolução do mercado de combustíveis automotivos[8] (adaptado).
REFERÊNCIAS
[1] CUMMINS CAL PACIFIC, LLC. Cummins History. Disponível em:
http://www.cumminscalpacific.com/about_us/Cummins_History.asp. Acesso em: 7 jun. 2011.
[2] AIR BP LIMITED. The history of the jet fuel. Disponível em: http://www.bp.com/sectiongenericarticle.do?
categoryId=4503664&contentId=57733. Acesso em: 5 maio 2011.
[3] DECROOCQ, D. Catalytic cracking of heavy petroleum fractions. France: TECHNIP, 1984.
[4] ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA). World Energy Demand and Economic Outlook, International Energy
Outlook 2013. Report #:DOE/EIA-0484, 2013.
[5] NOEL, F. L. História da distribuição dos combustíveis no Brasil. Rio de Janeiro: SINDICOM, 2010.
[6] PERISSÉ, J. B. Evolução do refino do petróleo no Brasil. Rio de Janeiro: UERJ, 2007. 149 p. Dissertação de Mestrado. Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Química, Instituto de Química, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
[7] PETROBRAS. Destaques operacionais Petrobras 2009. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/ri/Show.aspx?
id_materia=GfDsO5Ob6L+gpXGg7g6+cw==&id_canal=JjrBUhYqLOnEjp8TEG579A==&id_canalpai=BCfjUWXpdumojDWoXjzKag.
Acesso em: 06 maio 2011.
[8] EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE). Balanço energético nacional 2013: ano-base 2012. Rio de Janeiro: EPE, 2013.
A American Society for Testing and Materials (ASTM) define o petróleo como “uma mistura de hidrocarbonetos, de ocorrência
natural, geralmente no estado líquido, contendo ainda compostos de enxofre, nitrogênio, oxigênio, metais e outros elementos”. [1]
O petróleo bruto está comumente acompanhado por quantidades variáveis de outras substâncias, tais como água, matéria
inorgânica e gases dissolvidos. Uma vez que os constituintes do petróleo, hidrocarbonetos e os demais compostos presentes,
podem ocorrer nos estados gasoso, líquido e sólido em proporções variáveis, forma-se uma dispersão coloidal.
O petróleo, em seu estado natural, não pode ser aproveitado de forma prática para outros fins que não o de fornecimento de
energia via combustão, porém sua composição química, baseada em hidrocarbonetos de grande heterogeneidade molecular, abre
caminhos para usos industriais especializados e sofisticados, como o requerido pelas modernas máquinas de combustão interna.
Assim, o petróleo, também chamado de óleo cru, é a principal matériaprima empregada para produzir os derivados utilizados
como combustíveis, lubrificantes e produtos petroquímicos.
As características dos petróleos variam grandemente de acordo com a região produtora, sendo o petróleo processado uma
mistura de vários campos. Na bacia de Campos, nomes de peixes e de outros animais marinhos foram dados aos campos de
petróleo. É importante frisar que esses nomes não designam características do petróleo, embora, sob o ponto de vista de suas
propriedades físico-químicas, o fato de conhecermos a sua origem gera expectativas sobre sua composição e propriedades.
2.2 Hidrocarbonetos
As famílias de hidrocarbonetos são divididas conforme a Figura 2.1.
À medida que aumenta o ponto de ebulição, aumenta também a ocorrência de compostos com estruturas mais complexas, ou
seja, os hidrocarbonetos naftenoaromáticos, poliaromáticos e compostos contendo heteroátomos.
O comportamento dos derivados de petróleo é traduzido por suas propriedades físicas e químicas, as quais são fortemente
influenciadas pela proporção de cada um dos tipos de hidrocarbonetos presentes no petróleo. Dentre essas propriedades
destacam-se:
— a densidade, propriedade importante desde a classificação do petróleo até a comercialização dos derivados;
— a temperatura mínima de escoamento, que depende do teor de compostos parafínicos pouco ramificados, e a viscosidade,
ambas relacionadas com a facilidade de movimentação do petróleo e de seus derivados;
— a qualidade de queima (ignição) dos derivados combustíveis;
— a estabilidade termo-oxidativa de todos os derivados (durabilidade);
— a faixa de ebulição, utilizada nos cálculos ligados ao projeto de unidades de processamento. A variação da densidade e do
ponto de ebulição com o tipo de hidrocarboneto está ilustrada na Tabela 2.5 para diversos compostos contendo 7 átomos
de carbono.
Na Tabela 2.6 estão listadas algumas das características importantes dos diversos derivados, identificando-se a família de
hidrocarboneto que as favorece. Os compostos naftênicos apresentam sempre características intermediárias aos parafínicos e
aromáticos e, assim, representam uma solução de compromisso entre a qualidade e a quantidade produzida do derivado.
Tabela 2.6 Características importantes dos derivados e famílias de hidrocarbonetos que as favorecem
O gás sulfídrico (H2S), composto mais leve de enxofre presente no petróleo, tende a se concentrar nas frações mais leves, em
especial no gás combustível e no gás liquefeito do petróleo (GLP), embora possa estar presente em outras frações. Os petróleos
que contêm mais do que 0,02 % (em volume) de H2S dissolvido são chamados de “azedos” (sour em inglês).
Os compostos leves de enxofre mais importantes, no que diz respeito à corrosividade dos derivados, são os alquil*-
mercaptanos, que se concentram nos derivados da faixa do GLP ao querosene. Nas frações mais pesadas, o enxofre
normalmente se apresenta na forma de aril**-mercaptanos, tiofenos e benzotiofenos, os quais afetam negativamente a
estabilidade à oxidação dos produtos.
Todos os compostos de enxofre presentes nos combustíveis dão origem, no processo de queima, aos óxidos de enxofre (SO 2
e SO3, genericamente SOx), que são importantes poluentes atmosféricos, por formarem H 2SO3 e H2SO4 quando em contato com
a água na troposfera. Eles são causadores da chuva ácida, modificadores da acidez do solo e responsáveis por problemas
pulmonares na população, além de serem venenos para os catalisadores de diversos processos de refino e para os catalisadores
automotivos, existentes nos escapamentos dos veículos. Por esse motivo, a redução do teor de enxofre é um dos pontos mais
importantes na evolução das especificações dos derivados de petróleo em geral.
Figura 2.8 Compostos representativos das famílias de nitrogenados básicos e não básicos.
Da mesma forma que os sulfurados, os nitrogenados tendem a se concentrar nas frações mais pesadas do cru, como ilustrado
na Figura 2.9. Cerca de 90 % dos crus apresentam teores em massa de nitrogênio menores do que 0,2 %, situando-se o valor
médio em 0,1 %.[6] Consideram-se altos os teores em massa acima de 0,25 %.
Figura 2.9 Teor de nitrogênio em frações de diferentes petróleos.
Toxicidade +++
Poluição +++ +
Corrosão +++ ++ +
Acidez ++ +++
Formação de + +++ + ++
depósitos
Instabilidade ++ +++ +
Danos a ++ + +++
catalisadores
Intrínsecos ao petróleo
■ quanto ao seu transporte e armazenamento – avaliando as características de escoamento, acidez e estabilidade à
estocagem;
■ quanto ao seu processamento – avaliando-os quanto aos contaminantes que interferem negativamente nos processos de
refino.
Qualitativos
■ Indicam a adequação do petróleo à produção dos diversos derivados, com base na sua composição em termos de
hidrocarbonetos (p. ex.: um alto teor de saturados indica a adequação à produção de óleo diesel e de querosene de
aviação).
Quantitativos
■ De acordo com os rendimentos dos derivados a serem produzidos, e considerando-se as unidades disponíveis no esquema
de refino.
Para qualificar um petróleo utiliza-se um procedimento analítico denominado “Avaliação do Petróleo”, que se inicia pela
determinação das suas características físicas, indicativas do potencial de produção dos derivados pretendidos e das possíveis
dificuldades de transporte, armazenamento e refino. Essa avaliação prossegue com a determinação da composição do petróleo,
em termos dos hidrocarbonetos, teores de heteroátomos e contaminantes inorgânicos.
Finalmente, faz-se a destilação do petróleo em laboratório para a sua separação em frações, de acordo com seus pontos de
ebulição, buscando-se compor as chamadas frações básicas de refino (p. ex.: nafta, querosene, gasóleos e resíduos), de forma a:
2.4.1.1 Densidade
A densidade é definida como a relação entre a massa específica a uma dada temperatura e a massa específica de um padrão a
uma temperatura de referência, por exemplo, a água a 4 °C ou a 15,6 °C (60 °F). Existem diversos métodos utilizados na
indústria do petróleo para determinação da densidade, entre os quais destacam-se, por sua utilização, o densímetro API e o
densímetro digital (Norma ISO 12185 – Método do Tubo-U Oscilatório). O densímetro API é uma alternativa para
representação da densidade numa faixa ampliada de valores. O resultado da determinação é o grau API, definido pela Equação
(2.1):
na qual:
d15,6/15,6 – densidade relativa do petróleo a 15,6 °C referido à água a 15,6 °C.
A densidade é um excelente indicador do teor de frações leves do petróleo, mas não existe uma classificação geral adotada.
A Tabela 2.8 foi proposta a partir da comparação de propriedades de um conjunto de cerca de 500 petróleos de todos os tipos.
Na Tabela 2.9 estão apresentados valores de densidade de alguns petróleos nacionais e suas respectivas classificações.
Urucu 2,408
Baiano 32,58
RGN 20,83
Barracuda 32,47
Jubarte 575,6
2.4.1.4 Viscosidade
A viscosidade representa a resistência ao escoamento de uma substância, e, portanto, é uma propriedade que influencia no
transporte do petróleo, além de ser muito utilizada na estimativa de propriedades e em cálculos de engenharia. Na Tabela 2.10
estão apresentados valores de viscosidade de alguns petróleos nacionais.
O procedimento de destilação PEV é iniciado pela desbutanização do petróleo, em que se separam os hidrocarbonetos leves,
do metano ao butano, que é conduzida mantendo-se a temperatura no condensador a aproximadamente –20 °C, recolhendo-se os
gases em recipientes refrigerados com gelo-seco. O material recolhido é pesado e posteriormente analisado por cromatografia.
A seguir, procede-se à destilação propriamente dita, pelo aquecimento paulatino do balão e da coluna. As frações destiladas
vão sendo recolhidas em volumes definidos de acordo com o tipo de petróleo avaliado e com o nível de detalhamento desejado
para a análise. Quanto à pressão empregada, a destilação pode ser subdividida em duas ou três etapas:
— na primeira etapa, emprega-se a pressão atmosférica e faz-se o aquecimento do petróleo até a temperatura máxima de 220
°C (método ASTM D2892 atmosférico);
— na(s) etapa(s) subsequente(s), o procedimento é repetido a pressões subatmosféricas, sendo o resíduo da etapa anterior
novamente aquecido até 220 °C (método ASTM D2892 a vácuo e ASTM D5236).
O limite de temperatura de 220 °C evita a ocorrência de craqueamento térmico do petróleo, e o emprego de pressões
subatmosféricas permite vaporizar a máxima quantidade possível do mesmo e facilitar o seu fracionamento. Ao final de todo o
processo, as temperaturas subatmosféricas são convertidas em temperaturas equivalentes à pressão atmosférica por meio de
cálculos. Em seguida, é gerada a curva de destilação PEV, plotandose os volumes destilados, no eixo x, e as temperaturas no
topo da coluna de destilação (observadas ou calculadas), no eixo y, como ilustrado na Figura 2.19.
O princípio do procedimento indica que cada ponto da curva PEV representa o percentual volumétrico de compostos
existentes no petróleo com temperaturas de ebulição iguais ou inferiores à temperatura desse ponto. Adicionalmente, cada
fração recolhida é pesada, determinando-se sua densidade, o que permite obter a curva de destilação PEV em massa.
Tabela 2.11 Exemplos de diferentes temperaturas de corte das chamadas frações básicas do refino
A caracterização do petróleo por meio da curva PEV fornece uma informação valiosa para a definição da alocação dos
diferentes petróleos, de acordo com as unidades de refino disponíveis nas refinarias, porque, conforme ilustrado na Figura 2.21,
os rendimentos de frações básicas de refino podem variar muito entre diferentes petróleos.
Figura 2.21 Rendimentos das frações básicas para diferentes tipos de petróleo.
REFERÊNCIAS
[1] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (ASTM). Annual Book of ASTM Standards: section 05 – Petroleum
products, lubricants, and fossil fuels. Pennsylvania: ASTM, 2011.
[2] SPEIGHT, J. G. The chemistry and technology of petroleum. New York: Marcel Dekker, 1991.
[3] U.S. DEPARTMENT OF COMMERCE. National Institute of Standards and Technology (NIST). Livro de química na web. Maryland,
traduzido por Rui Pinto. Disponível em: http://webbook. nist.gov/chemistry/.
[4] CHEVRON PRODUCTS COMPANY. Diesel fuel technical review. Disponível em:
http://www.chevron.com/products/prodserv/fuels/technical_safety_bulletins/. Acesso em: 02 jun. 2011.
[5] AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE (API). Technical Data Book: Petroleum refining. Washington: Metric, 1977.
[6] TISSOT, B. P.; WELTE, D. H. Petroleum formation and occurrence. A new approach to oil and gas exploration. New York:
Berlin- Heidelberg, 1978.
[7] BURKE, N.; HOBBS, R.; KASHOU, S. Measurement and modeling of asphaltene precipitation from live reservoir fluid systems. SPE
Paper n. 18273, 1990.
[8] JAMALUDDIN, A. K. M.; CREEK, J.; KABIR, C. S.; MCFADDEN, J. D.; D’CRUZ, D.; JOSEPH, M. T.; JOSHI, N.; ROSS, B.
A comparison of various laboratory techniques to measure thermodynamic asphaltene instability. SPE Asia Pacific Improved Oil
Recovery Conference. Malaysia, 2001.
[9] YEN, T. F. Structure of petroleum asphaltenes and its significance. Energy Sources, v. 1, n. 4, p. 447-463, 1974.
[10] ROGEL, E. Studies on asphaltene aggregation via computational chemistry. Colloids and Surfaces A: Physicochemical and
Engineering Aspects. v. 104, n. 1, p. 85-93, 1995.
[11] WIEHE, I. A.; KENNEDY, R. J. Application of the oil compatibility model to refinery streams. Energy & Fuels. v. 14, n. 1, p.
60- 63, 2000.
[12] KARAMI, A.; GRAY, M.; QIAN, K.; FREUND, H.; OLMSTEAD, W. Thin film pyrolysis of oil sand asphalthenes for structural
analysis. Disponível em: http://petrophase2010.com/O37.pdf. Acesso em: 14 jun. 2011.
[13] FARAH, M. A. Caracterização de frações de petróleo pela viscosidade. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006. Tese de Doutorado.
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos. Escola de Química da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006.
[14] RUSCHAU, G. R.; AL-ANEZI, M. A. Petroleum refining:Appendix U. Disponível em: http://www.corrosioncost.com/pdf/petro.pdf.
Acesso em: 10 jun. 2011.
*O termo mercaptano (derivado do inglês mercaptan) foi
abandonado a partir da revisão de 1965 das regras da IUPAC.
No entanto, será utilizado no livro, por ser ainda encontrado na
área de petróleo e gás.
*Radical alquil ou alcoil: nome dado ao radical derivado de um
alcano.
**Radical aril: nome dado ao radical derivado de um anel
aromático.
*O número de acidez total (NAT) é também chamado de índice
de acidez total (IAT).
O refino do petróleo se inicia com a separação física das frações básicas pelo processo de destilação, de acordo com as suas
faixas de temperaturas de ebulição, que a seguir são encaminhadas para tanques de estocagem, onde irão compor os derivados
finais, depois de misturadas ou não a outras frações, oriundas de outros processos de refino. As frações básicas podem ainda ser
enviadas a tanques intermediários, de onde seguem para outros processos de separação, transformação ou acabamento, antes de
seguir para os tanques de produtos acabados (Figura 3.1).
Assim, a diferença entre uma fração e um derivado do petróleo é que uma fração pode não apresentar todas as características
necessárias a um derivado de petróleo, de acordo com as especificações vigentes, enquanto o derivado é composto por frações
que, depois de misturadas apresentam, obrigatoriamente, todas essas características.
3.2.1 Volatilidade
Medida da facilidade de vaporização do combustível, que pode ser representada pela faixa de temperaturas de ebulição ou por
ensaios que meçam indiretamente os teores de compostos leves ou pesados. Os ensaios de volatilidade mais importantes são:
■ faixa de temperatura de ebulição ASTM (curva de fração vaporizada × temperatura): temperaturas correspondentes a toda
a faixa de vaporização do produto, desde o ponto inicial até o ponto final de ebulição;
■ pressão de vapor Reid (PVR): pressão de equilíbrio entre a fase líquida e a fase vapor formadas à temperatura de 37,8 °C,
representando uma medida indireta do percentual de frações leves no GLP (etano e mais leves) e na gasolina (butano e
mais leves);
■ ponto de fulgor: menor temperatura na qual as frações mais leves do produto se vaporizam em quantidade suficiente para
formar com o ar uma mistura capaz de se inflamar momentaneamente, quando se incide uma centelha sobre a amostra.
Ensaio empregado na avaliação da segurança de armazenamento e manuseio de todos os derivados, a partir do querosene;
■ intemperismo: temperatura na qual 95 % em volume do produto está vaporizado à pressão atmosférica. A fração não
vaporizada até 2,2 °C representa a parte mais pesada do GLP.
3.2.2 Combustão
A qualidade de queima dos derivados energéticos é definida de acordo com o processo de utilização, e é traduzida pelo número
de octano no caso da gasolina, pelo número de cetano para o óleo diesel e pelo ponto de fuligem para o querosene, com as
seguintes definições:
■ número de octano (NO): qualidade de ignição da gasolina, medida pela sua resistência à detonação na câmara de
combustão do motor que opera segundo o ciclo Otto;
■ número de cetano (NC): relacionado à qualidade de combustão do óleo diesel, medida pela sua facilidade de autoignição,
na câmara de combustão, segundo o ciclo Diesel;
■ ponto de fuligem: corresponde à altura máxima da chama, medida em milímetros, durante a combustão da amostra de
querosene em uma lamparina, sem que haja produção de fuligem.
Outra propriedade dos derivados combustíveis está relacionada à energia que pode ser aproveitada no processo de
combustão, definida pelo poder calorífico, que é a quantidade de calor liberada quando uma unidade de massa de combustível é
queimada completamente, à pressão constante de 0,1 MPa (1 atm), estando os reagentes à temperatura inicial de 25 °C e os
produtos à temperatura final de 25 °C. Embora seja desejável um alto poder calorífico para todos os derivados combustíveis, um
limite mínimo para essa característica só é estabelecido como especificação para o querosene de aviação e para o gás natural.
3.2.3 Escoamento
A viscosidade é uma propriedade que representa a resistência do fluido ao escoamento. Esta é útil na avaliação da facilidade de
nebulização do óleo diesel e dos óleos combustíveis na câmara de combustão e da capacidade de formação e manutenção do
filme lubrificante. Além da viscosidade, estão nesse grupo as propriedades ligadas à facilidade de escoamento a baixa
temperatura, que diferem entre si de acordo com o tipo de derivado e com a sua utilização. Essas propriedades são:
■ ponto de congelamento: temperatura em que desaparece o último cristal quando a amostra é aquecida, sob agitação
constante, depois de ter ocorrido a cristalização após resfriamento. Aplicável ao querosene de aviação (QAV);
■ ponto de entupimento: temperatura em que ocorre a formação de cristais em quantidade tal que cesse o fluxo ou impeça o
enchimento de uma pipeta de volume padronizado em menos de 60 segundos. Usado no controle de qualidade do óleo
diesel;
■ ponto de fluidez: menor temperatura em que o produto deixa de escoar por gravidade. Usado para avaliar o petróleo, os
óleos lubrificantes e os óleos combustíveis.
P. fuligem e
Número de Número de
Combustão - poder cetano - - -
octano
calorífico
Ponto de
Características Ponto de Viscosidade e Viscosidade e Viscosidade e
amolecimento,
de - - congelamento ponto de ponto de ponto de
penetração e
escoamento e viscosidade entupimento fluidez fluidez
viscosidade
Goma atual,
período de
Estabilidade - indução, JFTOT Estabilidade Estabilidade e
à oxidação - compatibilidade Estabilidade
goma
potencial
3.2.6 Corrosividade
Os derivados de petróleo devem contribuir para a manutenção da integridade dos equipamentos que os utilizam, sem os corroer.
Os ensaios mais empregados na avaliação da tendência a causar corrosão do derivado são:
■ corrosividade ao cobre ou à prata: identificado em uma lâmina de cobre (ou prata) em comparação com padrões
estabelecidos pelas normas. Influenciada pela presença de H2S, mercaptanos e enxofre elementar;
■ número de acidez total (NAT): definido para o petróleo na Seção
2.4.2.3. Na Tabela 3.1 estão resumidas as especificações dos derivados de
petróleo.
3.3.2.2 Intemperismo
O intemperismo representa a dificuldade de vaporização do GLP à pressão atmosférica, e o seu valor é tão maior quanto maior o
teor de componentes pesados (pentanos) presentes. O valor máximo dessa temperatura tem como objetivo evitar que esses
componentes fiquem como resíduo líquido no botijão sem se vaporizarem.
Um motor de combustão interna, que funciona sob o ciclo Otto, apresenta quatro fases de operação, representadas na Figura
3.5. Inicialmente, a gasolina é enviada do tanque para o sistema de injeção, pela bomba de combustível. Após a mistura com o
ar, a gasolina, parcialmente vaporizada, penetra no cilindro através da válvula de admissão, iniciando-se a primeira das quatro
fases, denominada admissão. Nessa fase, o pistão no interior do cilindro efetua um movimento descendente até que alcance o
ponto morto inferior (PMI), instante em que a válvula de admissão se fecha. Em seguida, ocorre a chamada fase de
compressão,
efetuada pelo movimento ascendente do pistão até o ponto morto superior (PMS), com as válvulas de admissão e de descarga
fechadas. A pressão e a temperatura no interior da câmara se elevam, mas a mistura não deve entrar em combustão espontânea.
Para o funcionamento adequado do motor, a combustão só deve se iniciar após a emissão de uma centelha pelo sistema de
ignição, o que ocorre um pouco antes de o pistão atingir o PMS. Nesse momento, se inicia a terceira fase, a combustão,
gerando gases a alta temperatura e pressão que, ao se expandirem, forçam o pistão para baixo até alcançar o PMI, transformando
a energia térmica liberada em energia mecânica. Essa fase é também chamada de fase de potência. Finalmente, quando o pistão
atinge o PMI, abre-se a válvula de descarga para que os gases da combustão sejam removidos da câmara. Após a fase de
descarga, o processo se reinicia, com a admissão de nova quantidade de mistura ar-gasolina.
A função do sistema de injeção é nebulizar a gasolina em quantidade suficiente, de acordo com a potência solicitada pelo
veículo. Atualmente, essa função é realizada por um sistema eletrônico, que permite dosar a quantidade de gasolina, com a
máxima precisão.
3.4.3.2 Volatilidade
A volatilidade da gasolina é representada por sua curva de destilação ASTM e por sua PVR, sendo a primeira um dos principais
responsáveis pelo que se chama de dirigibilidade do veículo, a quente e a frio. O balanceamento entre os constituintes da
gasolina, representados na Figura 3.6 (leves, intermediários e pesados), é importante nas etapas de partida a frio, aceleração do
veículo e operação a plena carga.
O teor mínimo de constituintes leves é importante para facilitar a partida a frio do veículo, e é controlado pela temperatura
dos 10 % evaporados da curva de destilação ASTM (T 10 % ASTM). No entanto, um excesso de leves aumenta os riscos de
manuseio do produto e as emissões evaporativas e pode prejudicar o funcionamento das bombas de gasolina, no caso de
motores com carburador. O teor máximo de leves é controlado pela PVR. Já os pesados conferem à gasolina um elevado poder
calorífico, levando a um menor consumo de combustível para uma mesma potência. No entanto, eles tendem a formar depósitos,
além de provocarem a diluição do óleo lubrificante. Seu teor máximo é limitado pela T90 % ASTM. Por fim, a presença dos
intermediários, controlada pela T50 % ASTM, favorece o aquecimento rápido do motor e facilita o desenvolvimento de
velocidade (aceleração) do veículo.
Qualidade
Tipo Aditivos antidetonante
No Brasil, também é comercializado um produto de qualidade superior à gasolina Premium, a gasolina Podium (Petrobras),
com IAD de 95 e baixo teor de olefinas.
As diferentes correntes de nafta são misturadas na área final da refinaria, onde é ainda colocado o aditivo antioxidante,
produzindo-se a chamada gasolina A, como é denominada a gasolina sem o etanol. Na refinaria e na base distribuidora são
adicionados os corantes, os demais aditivos e o etanol, na proporção definida de acordo com a legislação vigente, gerando a
gasolina C.
3.5.2.1 Combustão
A combustão do QAV é avaliada por meio do ponto de fuligem, do poder calorífico, da presença de compostos aromáticos
polinucleados e da densidade, sendo que:
— a densidade assegura o fornecimento da quantidade adequada de combustível para
— combustão; a densidade e o poder calorífico asseguram a autonomia de voo;
— o ponto de fuligem, o teor de aromáticos e a faixa de destilação garantem uma chama limpa. Os hidrocarbonetos
derivados do naftaleno (dois núcleos aromáticos), como o metilnaftaleno, são os que conferem as piores características de
combustão ao QAV.
3.5.2.2 Escoamento a baixa temperatura
Essa característica é avaliada pelos ensaios de ponto de congelamento e viscosidade. A importância dessas características está
ligada ao fato de que a temperatura de cerca de –50 °C pode ser atingida pelo combustível, após menos de 1 h de voo, em
elevadas altitudes. Além da cristalização do combustível, baixas temperaturas promovem a separação da água dispersa no QAV
e a sua posterior solidificação, com riscos de obstrução de filtros e tubulações. A presença de compostos aromáticos e de
emulsificantes favorece a solubilização da água no QAV. A tolerância à água no QAV é avaliada pelo ensaio denominado
índice de separação de água, que representa a facilidade de solubilização da água pelo QAV.
3.5.2.5 Segurança
A segurança na utilização do QAV é avaliada pelo ponto de fulgor, para limitar o risco de inflamabilidade, e pela sua
condutividade elétrica, que facilita a dissipação da eletricidade estática, evitando o seu acúmulo.
■ potência: o combustível finamente nebulizado termina de queimar, aumentando, ainda mais, a pressão e a temperatura
dos gases na câmara de combustão e movimentando o pistão para o PMI, devido à expansão dos gases;
■ descarga: conceitualmente igual ao ciclo Otto.
3.6.3.2 Volatilidade
A volatilidade do óleo diesel é controlada de forma a garantir o atendimento aos seguintes requisitos:
— segurança no transporte e manuseio do produto, pelo controle do ponto de fulgor;
— vaporização total do combustível na câmara de combustão, evitando a formação de resíduos e favorecendo a combustão
completa. As temperaturas da curva de destilação correspondentes aos 50 % e 85 % ou 95 % recuperados são usadas
para avaliar esse requisito.
3.6.3.3 Queima completa e emissões
A queima completa do combustível e o baixo nível de emissões atmosféricas no motor Diesel dependem, além do projeto da
máquina, das seguintes características do óleo diesel:
■ número de cetano: quanto maior o número de cetano, mais rapidamente se inicia a combustão e, portanto, mais completa é
a queima, com menor emissão de hidrocarbonetos, de CO, de aldeídos e de particulados;
■ massa específica: para garantir a queima completa, deve haver o controle da massa específica em um valor abaixo de um
limite, pois valores mais elevados levam à injeção de maior massa de combustível, podendo resultar em combustão
incompleta (fumaça preta), por deficiência de ar. Por outro lado, valores muito baixos causam perda de potência pela
injeção de menor massa de combustível;
■ composição: os hidrocarbonetos aromáticos, principalmente os policondensados, além de possuírem baixo número de
cetano, apresentam dificuldade de queima completa, levando a uma maior emissão de hidrocarbonetos e particulados;
■ teor de enxofre: os compostos sulfurados levam à emissão de SOx, como nos demais derivados.
3.6.3.6 Corrosividade
Além das emissões atmosféricas, os óxidos de enxofre (SO x) influem negativamente no desgaste por corrosão de anéis de
segmento e cilindros e na formação de depósitos nos pistões e na câmara de combustão. Menores teores de enxofre no
combustível levam a maior durabilidade e melhor funcionamento do motor.
Característica S 500 S 10
Destilação
O óleo diesel marítimo possui diferenças em relação ao automotivo, e é comercializado nas subclasses: comum e aditivado.
Os produtos utilizados em motores marítimos de maior porte têm requisitos comuns aos óleos combustíveis marítimos, e ambos
serão tratados em seção específica.
Todo o óleo diesel comercializado no Brasil é uma mistura do óleo diesel tipo A, produzido nas refinarias, com o biodiesel,
constituindo o óleo diesel tipo B. Além disso, na distribuidora, o produto pode receber aditivos tais como: biocida,
antiespumante, melhorador de NC, melhorador de lubricidade e dissipador de cargas elétricas.
O cenário futuro de qualidade do óleo diesel mostra tendências de: aumento da quantidade de biodiesel adicionada, redução
do teor de enxofre, aumento do número de cetano, aumento do ponto de fulgor e redução da faixa de ebulição e da densidade.
Esse cenário implica redução da quantidade de óleo diesel produzida, com maiores restrições aos tipos de petróleos, o que
deverá ser compensado por processos de hidroconversão.
3.7.2.5 Segurança
A segurança de utilização dos óleos combustíveis é garantida pelo controle do ponto de fulgor, cujo valor depende da proporção
do diluente empregado. O limite mínimo de ponto de fulgor de todos os óleos combustíveis é de 66 °C.
Os requisitos de qualidade dos óleos tipo bunker são mais amplos e restritivos do que os dos óleos combustíveis, em vista do
seu uso, tais como teores de água, sedimentos e metais. A viscosidade dos óleos tipo bunker é sempre menor do que a dos óleos
combustíveis industriais, para maior facilidade de sua nebulização e consequente queima.
O principal requisito diferenciado é a qualidade de ignição, que, apesar de não ser controlada diretamente no óleo bunker, é
um item fundamental de qualidade do produto, devido ao seu uso no motor Diesel. Tradicionalmente, tal característica é
indiretamente controlada pela aromaticidade do óleo, que, por sua vez, é indicada pelo CCAI ( calculated carbon aromaticity
index), que é função da viscosidade e da densidade, sendo essas duas propriedades controladas no óleo bunker.
Para uma mesma faixa de ebulição, os compostos aromáticos apresentam maiores valores de densidade, maiores valores de
CCAI e pior qualidade de ignição. Atualmente, um ensaio que determina o retardo de ignição numa câmara de combustão que
opera conforme o ciclo Diesel, o FIA (Fuel Ignition Analyser), vem substituindo o CCAI na qualificação do óleo bunker,
embora nenhum deles conste nas especificações do produto.
3.9.2.3 Tipos
Os solventes derivados do petróleo são classificados segundo o tipo de hidrocarboneto preponderante, sejam alifáticos ou
aromáticos. Entre os solventes predominantemente alifáticos comercializados no Brasil, destacam-se:
■ hexano comercial: mistura de hidrocarbonetos parafínicos e naftênicos, entre 5 e 7 átomos de carbono, com faixa de
ebulição de 62 °C a 74 °C. As aplicações desse solvente são: na extração de óleos vegetais e na formulação de tintas e
adesivos. As especificações do hexano comercial são estabelecidas pela ANP;[18]
■ aguarrás mineral: solvente com faixa de destilação entre 150 °C e 216 °C, utilizado para limpeza, lavagem a seco e
fabricação de tintas e ceras. As especificações da aguarrás são estabelecidas pela ANP;[19]
■ outros solventes com baixos teores de benzeno e com faixas de destilação variadas são comercializados para diversas
aplicações e especificados pela ANP;[20]
■ querosene: utilizado na limpeza em geral, na indústria têxtil e na formulação de ceras.
Os aromáticos são os de maior poder de solvência, odor mais intenso e de maior impacto à saúde humana.
Entre os solventes aromáticos destacam-se: o tolueno, os xilenos e os aromáticos mistos, utilizados nas indústrias de tintas,
vernizes e defensivos agrícolas.
*O IV indica a tendência de variação da viscosidade com a temperatura, e quanto maior o seu valor, menor é essa variação.
Os óleos básicos parafínicos representam cerca de 90 % da produção mundial de óleos básicos por encontrarem aplicação na
formulação da maior parte dos lubrificantes automotivos e industriais: motores, engrenagens, transmissões, sistemas
hidráulicos, turbinas, mancais e compressores.
Os básicos naftênicos, por apresentarem baixos pontos de fluidez e melhores características de solvência, são usados
principalmente: em aplicações especiais a baixas temperaturas (óleos de refrigeração); como óleos para processamento de
borracha (extensores); como fluidos de trabalho com metais (ferramentas de corte e laminação); e na formulação de graxas,
fluidos para amortecedores e óleos isolantes elétricos.
Os óleos básicos lubrificantes são ainda classificados pelo API, de acordo com a sua composição e rota de produção, como
mostrado na Tabela 3.5.[21] Essa classificação se aplica principalmente aos óleos básicos parafínicos, e é particularmente
importante na aplicação de critérios de intercambiabilidade de óleos básicos lubrificantes como componentes de óleos de
motores aprovados de acordo com o API.
3.9.4 Parafinas
3.9.4.1 Definição e uso
Parafinas são derivados majoritariamente constituídos por alcanos de cadeias lineares (n-alcanos ou n-parafínicos) ou pouco
ramificadas, com mais de 18 átomos de carbono, os quais são sólidos à temperatura ambiente. As parafinas podem ser
classificadas, quanto à forma de cristalização, em macro e microcristalinas:
— as parafinas macrocristalinas apresentam predominância de cadeias n-parafínicas que possuem de 18 a 40 átomos de
carbono, aproximadamente, massa molar entre 250 kg/kmol e 500 kg/kmol e ponto de fusão entre 43 °C e 68 °C. Como
o próprio nome sugere, apresentam cristais de tamanhos relativamente grandes, em função de suas estruturas uniformes
(muitas cadeias lineares);
— as parafinas microcristalinas são de massa molar mais elevada, com número de átomos de carbono variando de 40 a 55,
massa molar entre 580 kg/kmol e 800 kg/kmol e ponto de fusão entre 60 °C e 95 °C. Ao se cristalizarem, formam
cristais pequenos e pouco uniformes, e a maior parte do material é amorfa, em vista do alto teor de cadeias parafínicas
ramificadas presentes.
São diversos os usos industriais das parafinas, dentre os quais podem ser destacados os segmentos de velas e ceras, as
indústrias de fósforo, de papel e de cosméticos, a agricultura e até mesmo a construção civil. Cada uma dessas aplicações pode
apresentar requisitos particulares de qualidade. Algumas vezes, para complementar uma propriedade desejada para uma
determinada aplicação, é necessário agregar diferentes tipos de parafinas ou outros tipos de compostos compatíveis, como
parafinas sintéticas, ácidos esteáricos e resinas.
As parafinas produzidas e comercializadas no Brasil e suas aplicações mais comuns estão listadas a seguir:
■ parafina 120/125-3*** (macrocristalina): fabricação de fósforos, ceras, papel e tecidos;
■ parafina 130/135-1 e 140/145-3 (macrocristalina): composição de velas e ceras, indústrias de papéis, lonas, artefatos de
borracha, pilhas e baterias;
■ parafina 150/155-2 (macrocristalina): indústrias de velas, papéis, lonas, encerados e pneumáticos;
■ parafina 130/135-0-FG**** (macrocristalina): indústrias de alimentos, cosméticos, laticínios, frigoríficos, e produtos
farmacêuticos e odontológicos;
■ parafina 170/190-1 e parafina 170/190-1-FG (microcristalina): fabricação de ceras, principalmente.
REFERÊNCIAS
[1] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS (ASTM). Annual Book of ASTM Standards: section 05 – Petroleum
products, lubricants, and fossil fuels. Pennsylvania: ASTM, 2011.
[2] BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Especificações dos
gases liquefeitos de petróleo. Resolução ANP n. 18 de 02/09/2004 (DOU de 06/09/2004). Brasília, 2004.
4.3.1.1 Destilação
É o processo básico de separação do petróleo. Consiste na separação de frações de hidrocarbonetos presentes no petróleo com
base na diferença de suas temperaturas de ebulição. Por ser extremamente versátil, a destilação é usada em larga escala em uma
refinaria, assim como em toda a indústria química. Outros processos de separação, de conversão e de tratamento utilizam-na
como uma etapa intermediária ou final de suas operações. As operações de destilação são realizadas em equipamentos
específicos designados por torres (ou colunas) de destilação.
O termo “unidade de destilação” designa um conjunto de operações unitárias que pode englobar diversas operações
individuais de destilação, assim como empregar diversos equipamentos (fornos, redes de trocadores de calor etc.) que, vistos
globalmente, como um sistema, fracionam uma carga em diversas correntes de saída. Merecem ser destacados os dois tipos
principais de unidades de destilação mais comumente encontrados em refinarias de petróleo:
■ unidade de destilação atmosférica: fraciona o petróleo em correntes de GLP, naftas, querosene, gasóleos atmosféricos e
resíduo atmosférico (RAT). Estas correntes, na maior parte das vezes, necessitam passar por processos adicionais antes de
serem enviadas para tanques de armazenamento;
■ unidade de destilação a vácuo: fraciona a corrente menos volátil oriunda da unidade de destilação atmosférica, o resíduo
atmosférico, em correntes de gasóleos de vácuo e resíduo de vácuo. Essas correntes são matérias-primas para outras
unidades de processo da refinaria, ou, no caso do resíduo de vácuo, este, após acerto de viscosidade, pode ser enviado
para tanque de armazenamento de óleo combustível.
A maioria das configurações de esquemas de refino contempla ambas as unidades de destilação descritas. Embora não
existam refinarias sem unidade de destilação, existem algumas que, devido às características do petróleo processado, possuem
apenas uma das duas unidades, quer a unidade de destilação atmosférica, quer a de destilação a vácuo.
4.3.1.2 Desasfaltação
Esse processo tem por objetivo extrair, por ação de um solvente, um gasóleo de alta viscosidade contido no resíduo de
destilação a vácuo. A produção desse gasóleo (chamado de óleo desasfaltado) torna-se viável por meio da utilização de um
solvente apropriado, no caso: propano, butano, pentano ou misturas desses solventes, no estado líquido sob alta pressão.
O óleo desasfaltado (ODES) pode ter três destinos, conforme o objetivo do esquema de refino:
— incorporar-se ao gasóleo de vácuo e ambos seguirem para a unidade de craqueamento catalítico fluido (UFCC) para sua
conversão em gasolina e GLP;
— ser a matéria-prima para a obtenção dos óleos básicos lubrificantes bright stock ou cilindro, na unidade de lubrificantes;
ou
— compor a carga de uma unidade de hidrocraqueamento catalítico (HCC), que possui flexibilidade para produzir
combustíveis, lubrificantes ou ambos.
O outro produto do processo de desasfaltação é o resíduo asfáltico (RASF), que pode ser destinado à produção de cimento
asfáltico de petróleo (CAP) ou de óleo combustível, ou ainda servir como carga complementar para unidades de coqueamento
retardado (UCR).
■ Desaromatização
Unidade típica da rota convencional de produção de lubrificantes, a desaromatização emprega como solventes: o furfural, a n-
metilpirrolidona (NMP) ou o fenol, esse último em desuso.
Nesse caso, o produto principal do processo é o óleo desaromatizado, sujeito ainda a posterior processamento. O subproduto
é o extrato aromático, um material viscoso que pode ser utilizado como óleo extensor de borracha sintética, ser adicionado ao
óleo combustível, ou ainda ser componente da carga da unidade de coqueamento retardado.
4.3.1.4 Desparafinação
À semelhança do processo de desaromatização, esse processo é também usado na rota convencional de produção de óleos
básicos lubrificantes. Seu objetivo é reduzir o teor de hidrocarbonetos parafínicos de cadeia linear (n-parafinas) ou pouco
ramificada e de alta massa molar, que conferem ao óleo lubrificante alto ponto de fluidez.
A remoção das parafinas é feita com o auxílio de um solvente que solubiliza seletivamente a fração oleosa e, em baixas
temperaturas (menores que 0 °C), permite a cristalização das parafinas, e a separação destas, em fase sólida, por filtração. O
solvente mais utilizado, em nível mundial, é constituído de uma mistura de metiletilcetona (MEC) e tolueno, mas, atualmente,
no Brasil se utiliza um solvente puro, a metilisobutilcetona (MIBC). O óleo desparafinado passa por um processo de
recuperação do solvente e é enviado ao processo de hidroacabamento, enquanto a parafina, ainda oleosa, poderá ter dois
destinos:
— sofrer posterior processamento, com o propósito de produzir parafinas comerciais com alto ponto de fusão (maior que 30
°C). Nesse caso, deve existir no conjunto de lubrificantes uma unidade de desoleificação de parafinas;
— ser adicionada ao gasóleo que será processado no craqueamento catalítico ou no hidrocraqueamento.
A desparafinação é, certamente, a unidade de maior custo operacional de um conjunto convencional de produção de óleos
básicos lubrificantes, em função do grande número de equipamentos existentes no processo, do uso de baixas temperaturas e do
custo de manutenção de filtros e trocadores de calor.[1]
4.3.1.5 Desoleificação
O mesmo processo de cristalização e separação de parafinas é empregado para a purificação da parafina oleosa, que consiste na
remoção de:
— compostos parafínicos com pontos de fusão entre –3 °C e 30 °C (tipicamente), os quais não se enquadram nem como óleo
lubrificante nem como parafina dura;
— fração oleosa ocluída nos cristais de parafinas.
O processo de desoleificação é idêntico ao de desparafinação, apenas realizado em temperaturas positivas (em torno de 20
°C), visando a especificar a parafina quanto ao ponto de fusão, penetração e teor de óleo.
Os produtos obtidos na desoleificação são:
— a parafina dura, que, depois dessa operação, é processada na unidade de hidrotratamento, onde, por fim, é especificada
nos requisitos de cor e teores de contaminantes, principalmente de compostos aromáticos;
— a parafina mole, que, por se tratar de um gasóleo, normalmente é enviada à unidade de craqueamento catalítico depois da
remoção do solvente (MIBC). Esta pode ainda ser aproveitada para a produção de óleos, vaselinas e outros produtos
farmacêuticos, embora esses mercados sejam restritos.
4.3.1.6 Adsorção de n-parafinas
A unidade de adsorção de n-parafinas é própria para a remoção de hidrocarbonetos parafínicos lineares contidos na fração do
querosene. Tais hidrocarbonetos, embora confiram excelente qualidade ao querosene de iluminação, são prejudiciais ao
querosene de aviação, por elevarem seu ponto de congelamento, quando presentes em teores elevados. [1]
Em contraponto, as n-parafinas removidas são valiosas matérias-primas para a indústria petroquímica, especificamente para
a produção de detergentes biodegradáveis. Essas parafinas são hidrocarbonetos de 10 a 13 átomos de carbono que entram na
fabricação do produto conhecido como LAB (linear alquilbenzeno), que, por sua vez, é o intermediário petroquímico básico
para a produção do LAS (linear alquilbenzenossulfonado), o precursor do tensoativo mais utilizado na formulação de
detergentes, o LASNa (linear alquilbenzenossulfonato de sódio). Assim, a adsorção de n-parafinas do querosene é um processo
bastante interessante, porque não só especifica adequadamente o QAV como também produz n-parafinas, um produto de alto
valor comercial.
O processo se baseia na adsorção das cadeias lineares presentes no querosene pela sua passagem em fase gasosa por um leito
de peneira molecular que captura as n-parafinas, permitindo a passagem dos demais compostos presentes no querosene. Em
seguida, os hidrocarbonetos adsorvidos são removidos do leito com o auxílio de um diluente e passam pelas seguintes etapas:
separação do diluente, hidrotratamento (para redução dos teores de aromáticos e de enxofre) e fracionamento em uma coluna de
destilação, para a obtenção da fração de interesse.
Em face do grande número de equipamentos, a unidade de adsorção de n-parafinas é uma unidade de alta complexidade
tecnológica e operacional.
■ Coqueamento retardado
O coqueamento retardado é também um processo de craqueamento térmico, que surgiu em 1929, com a implantação da primeira
unidade industrial da Standard Oil (Indiana), mas só teve um crescimento importante a partir de 1955, depois de terem sido
implantadas melhorias que permitiam a operação contínua da unidade.[3]
A unidade de coqueamento retardado (UCR) tem como carga principal um resíduo, normalmente de vácuo, que, submetido a
alta temperatura (485 °C) por um pequeno intervalo de tempo, é craqueado, ou seja, sofre uma intensiva quebra de moléculas de
alta massa molar, produzindo gases, nafta, gasóleos e coque. Inicialmente vendido a preço de carvão mineral, o coque de
petróleo passou a ser visto como um produto de maior interesse, com a produção do coque agulha.[3] Atualmente, dependendo
da sua qualidade, que está associada ao teor de asfaltenos ou ao teor de aromáticos da carga, esse produto encontra aplicações
como combustível e matéria-prima para a obtenção de eletrodos.
A crise do petróleo na década de 1970 trouxe consigo uma crescente importância para esse processo, uma vez que ele
transforma uma fração de baixo valor agregado, o resíduo de vácuo, em outras, de maiores valores comerciais, como o GLP, a
nafta e o óleo diesel. Isso fez com que o coqueamento retardado passasse a ser um processo sempre cogitado em qualquer
estudo relativo a ampliações, modernizações ou implantações de novas refinarias que contemplam em seu projeto a
maximização da produção de diesel. Além disso, a refinaria que conta com esse processo se habilita a processar petróleos mais
pesados e de menor valor comercial. Existem hoje várias unidades de médio e grande portes instaladas nas refinarias brasileiras.
No investimento em unidades de coqueamento retardado devem estar sempre contempladas as unidades de hidrotratamento
para melhoria da qualidade dos produtos, uma vez que estes possuem baixa estabilidade, em função do elevado teor de olefinas
conjugadas, o que encarece o empreendimento.
■ Pirólise
A pirólise é um processo de craqueamento térmico de alta severidade que, por meio de temperaturas elevadas e da presença de
vapor d’água (steam-cracking), tem o objetivo específico de gerar hidrocarbonetos olefínicos para a indústria petroquímica,
como o eteno, o propeno, os butenos e os butadienos. A pirólise emprega como carga: um gás rico em etano;[4] ou GLP
(propano e butanos); ou nafta.
■ Hidrocraqueamento catalítico
O hidrocraqueamento catalítico, também conhecido como HCC (hydrocatalytic cracking), é um processo que consiste na
quebra de moléculas existentes na carga, em presença de hidrogênio, por ação conjugada do catalisador, em altas temperaturas e
pressões. Ao mesmo tempo que ocorrem as quebras, acontecem também reações de hidrogenação das moléculas. O HCC é um
processo que concorre com o FCC pela carga de gasóleo de vácuo.
Como tecnologia estudada e desenvolvida, o HCC é ainda mais antigo do que os processos de craqueamento térmico e
catalítico, tendo sido implantada na Alemanha (Refinaria de Leuna) em 1920 como um processo de produção de derivados leves
(gasolina) de boa qualidade a partir do carvão mineral. [2] No entanto, o elevado custo do hidrogênio inviabilizava a aplicação
desse processo no refino de petróleo. Assim, somente após a implantação da primeira grande unidade de HCC, em 1960, na
refinaria de Richmond pela Chevron, o processo cresceu em importância, nos anos 1970 e 1980.
A grande vantagem do hidrocraqueamento é sua alta versatilidade, podendo operar com cargas que variam desde naftas [5] até
gasóleos pesados, maximizando a fração que se deseja (nafta petroquímica, QAV, óleo diesel ou lubrificantes), obviamente em
função da carga e da severidade reacional. Outra grande vantagem é a qualidade das frações no que diz respeito a
contaminantes, uma vez que, em face das severas condições em que ocorrem as reações e da presença do hidrogênio, é possível
especificar os produtos formados com teores muito baixos de compostos aromáticos, olefínicos e de contaminantes, como o
enxofre, o nitrogênio, o oxigênio e os metais.
As grandes desvantagens do processo consistem no elevado investimento de implantação, devido às altas pressões e
temperaturas reacionais, que obrigam que os equipamentos sejam de grande porte e de metalurgia dispendiosa, e no alto custo
operacional decorrente do alto consumo de hidrogênio.[1] Apesar disso, já existem muitas unidades de HCC implantadas no
mundo, sendo quase impossível, nos dias atuais, se conceber uma refinaria sem considerar uma unidade de HCC.
■ Alquilação catalítica
A alquilação catalítica é um processo que se baseia na junção de duas moléculas leves para a formação de uma terceira de maior
cadeia. Na indústria do petróleo, essa rota é usada desde 1932 [2] para a produção de gasolina de elevado número de octano, a
partir de componentes presentes no GLP. O tipo de catalisador utilizado depende da tecnologia empregada, e os mais utilizados
são catalisadores de caráter ácido, como o ácido fluorídrico (HF) ou o ácido sulfúrico (H 2SO4).
O produto principal (alquilado) é encaminhado para a formulação de gasolina de aviação ou de gasolina automotiva de
elevado número de octano. A unidade também produz, em menor quantidade, propano e n-butano de alta pureza, que podem ser
vendidos separadamente para usos especiais ou incorporados ao GLP.
Na indústria petroquímica, a alquilação é largamente utilizada para a geração de intermediários de grande importância, tais
como o etilbenzeno (matéria-prima para a produção de estireno), o isopropilbenzeno (produção de fenol e acetona) e o
dodecilbenzeno (produção de detergentes).
No que se refere à produção de gasolina de elevado número de octano, pode-se dizer que este é um processo largamente
utilizado em países cuja demanda por gasolina é elevada e, é claro, onde se tem disponibilidade do GLP, matéria-prima
essencial ao processo.
■ Reforma catalítica
A reforma catalítica tem por objetivo principal transformar uma nafta rica em hidrocarbonetos parafínicos ou naftênicos em
outra, rica em hidrocarbonetos aromáticos. O processo, desenvolvido em 1940 pela empresa UOP, [2] emprega alta temperatura
(de 500 °C a 540 °C), pressões que variam dependendo da tecnologia empregada e um catalisador à base de metais nobres (ex.,
platina e rênio). O processo pode ter dois objetivos: a produção de gasolina de elevado número de octano ou a produção de
hidrocarbonetos aromáticos leves (benzeno, tolueno e xilenos).
O principal produto do processo é a nafta rica em hidrocarbonetos aromáticos (reformado), mas o processo gera também, em
menores quantidades, gás combustível, GLP e uma corrente rica em hidrogênio. Essa corrente é, em alguns países europeus, a
principal fonte de hidrogênio, insumo para as unidades de hidrotratamento.
Com a melhora da qualidade da gasolina em termos de teores de enxofre e de olefinas, resultante da mudança da
especificação ANP em 2014, o reformado é uma excelente opção de corrente a ser considerada na formulação de gasolina, já
que possui elevado número de octano, baixo teor de olefinas e é isento de enxofre. Além do reformado, as naftas disponíveis
para a formulação de gasolina são:
— as naftas destiladas, dessulfurizadas, de baixo número de octano e baixo teor de olefinas;
— a nafta oriunda da UFCC (nafta craqueada), que passa por um processo de hidrodessulfurização seletiva, de forma a ter
baixo teor de enxofre e elevado número de octano (alto teor de olefinas);
— a nafta produzida na unidade de coqueamento retardado (nafta de coqueamento) que, depois de hidrotratada, possui
baixos teores de enxofre e olefinas e baixo número de octano.
Apresenta-se a seguir, na Tabela 4.1, uma comparação das diferentes unidades de refino discutidas até o momento, em
termos do capital necessário para um novo empreendimento.
*Dados básicos: unidade de referência – destilação atmosférica; capacidades: 10 000 m3/d; cálculo feito com base em publicação do
Oil and Gas Journal.[6]
■ Tratamento cáustico
O objetivo desse tratamento é a eliminação de compostos ácidos de enxofre, tais como o H 2S e os mercaptanos (RSH) de baixa
massa molar, presentes principalmente no gás combustível e no GLP, utilizando uma solução aquosa de soda cáustica (NaOH).
Compostos sulfurados diferentes desses mencionados não podem ser removidos por essa rota. Em alguns casos, o tratamento
cáustico pode ser usado para o tratamento de nafta, mas com baixa eficiência.
Uma das desvantagens do processo é o elevado consumo de soda cáustica, que, embora seja um insumo de baixo custo, a
depender do teor de contaminantes e da vazão de carga processada, pode se constituir num fator de elevado custo operacional.
Além disso, a alta geração de efluentes (soda gasta) também conta como mais um fator negativo. Devido a isso, esse processo é
utilizado apenas para frações leves pouco contaminadas ou como pré-tratamento de outros processos.
Para reduzir o consumo de soda e a geração de soda gasta, o tratamento cáustico regenerativo é usado quando o teor de
mercaptanos na carga é elevado. Nessa versão do tratamento, aplicada ao GLP, à nafta e ao querosene, os mercaptanos (RSH)
são transformados em dissulfetos, compostos não corrosivos, regenerando a soda cáustica, que, então, é reutilizada no
tratamento.
4.3.3.2 Hidrotratamento
Além da redução do teor de enxofre, o hidrotratamento (HDT) pode ser utilizado para a saturação de hidrocarbonetos olefínicos
(estabilização) e aromáticos (aumento do número de cetano) e para a remoção de outros contaminantes como o nitrogênio, o
oxigênio e os metais, dependendo do tipo de carga e do objetivo do tratamento.
Assim como o HCC, o HDT foi inicialmente desenvolvido e empregado industrialmente na refinaria de Leuna (Alemanha,
1927) para o tratamento de frações combustíveis obtidas a partir do carvão mineral. Sua viabilidade industrial para o tratamento
de derivados do petróleo se tornou mais expressiva a partir de 1950, com a disponibilidade de hidrogênio, subproduto da
reforma catalítica.[2]
O uso intensivo de processos de hidrotratamento foi fortemente impulsionado nos últimos anos devido a três fatores
importantes, a saber:
— o primeiro deles é a pressão da sociedade para a melhoria da qualidade do ar, exigindo derivados, principalmente gasolina
e óleo diesel, com menores teores de enxofre, para menor emissão de poluentes (SO x);
— o segundo fator importante é a constatação da descoberta de petróleos cada vez mais pesados, com teores mais elevados
de contaminantes, que estão sendo processados nas refinarias mundiais;
— o terceiro fator, que viabiliza economicamente o uso do hidrotratamento, é o custo da geração de hidrogênio, que se
tornou menor nos dias de hoje devido à maior escala das atuais plantas de geração de hidrogênio e ao uso do gás natural
como matéria-prima, em substituição à nafta.
O hidrotratamento pode ser aplicado a quase todas as frações de petróleo, desde a nafta até as frações residuais. Em 2003 já
existiam 1 316 unidades implantadas no mundo inteiro, [7] e até 2009 a capacidade instalada dessas unidades aumentou 60,7 %,
um crescimento que não encontra correspondente em outros processos de refino.[8] No Brasil, desde 1998, vêm sendo
implantadas muitas unidades de HDT de gasóleos leves oriundos da destilação, da UFCC e do coqueamento retardado, HDT de
nafta de coqueamento retardado e hidrodessulfurização (HDS) de nafta de FCC, com capacidades que variam de 2 000 m3/d a
12 000 m3/d.
Além dessas, existem unidades de hidrotratamento, de menor porte, para outras frações e produtos, tais como solventes, n-
parafinas, lubrificantes e parafinas.
■ Recuperação de enxofre
O objetivo da unidade de recuperação de enxofre (URE) é produzir enxofre na sua forma elementar (S) a partir de uma corrente
de gás ácido rica em gás sulfídrico (H 2S). O processo consiste na oxidação parcial do gás sulfídrico com ar, gerando enxofre e
água. A reação é feita em duas etapas: uma térmica (T > 850 °C) e outra catalítica (T < 350 °C).
O gás ácido, carga da URE, é oriundo de diversas fontes, como descrito a seguir:
— o gás combustível e o GLP oriundos do craqueamento catalítico e do coqueamento retardado possuem altos teores de
H2S, o qual será removido pelos tratamentos com aminas existentes naquelas unidades, gerando gás ácido;
— as demais frações de petróleo, ao passarem pelo HDT, geram gás de refinaria (por craqueamento), também rico em H2S,
que, depois de tratado com aminas, gera o gás ácido;
— a unidade de tratamento de águas ácidas gera como subproduto o gás ácido, nesse caso contaminado com amônia.
■ Unidade de águas ácidas
Numa refinaria de petróleo, basicamente, a água é denominada “água ácida” quando está contaminada com ácidos tais como
H2S e HCl. No entanto, diversos efluentes solúveis em água, quando produzidos continuamente, podem ter como destino a
unidade de águas ácidas. Assim, a água ácida pode também conter amônia, fenol, cianeto, entre outros contaminantes, e as
concentrações de amônia e H2S são as mais representativas nesse efluente.[9] A carga dessa unidade pode ser proveniente de
qualquer unidade de refino que utilize água ou vapor d’água injetado diretamente no processo. São exemplos de unidades
geradoras de água ácida: a destilação, o hidrotratamento, o FCC e o coqueamento retardado.
Na unidade de águas ácidas, faz-se a retificação da água com o uso de vapor d’água em diferentes níveis de pressão,
produzindo duas correntes gasosas: uma rica em amônia, que deve ser queimada num incinerador de amônia; outra rica em H 2S,
mas que normalmente contém uma significativa contaminação de amônia (até 10 % vol.), que é encaminhada diretamente à
unidade de recuperação de enxofre (URE). A água tratada pode ser reutilizada nos processos.
A análise da Figura 4.1 permite que se façam algumas afirmações a respeito do funcionamento da refinaria A:
— o escopo dessa refinaria é a produção de combustíveis, embora ela possa fornecer nafta de destilação direta para uma
indústria petroquímica e solventes (nafta e querosene) para o mercado;
— em vista da ausência de unidades de hidrotratamento, pelo menos uma das três afirmações seguintes é verdadeira: o
elenco de petróleos possui teores de enxofre muito baixos; o mercado de derivados apresenta baixa restrição de
qualidade em termos de teor de enxofre do óleo diesel e da gasolina; a refinaria fornece derivados apenas para empresas
que fazem formulação de combustíveis;
— a refinaria processa os gases ricos em H2S, efluentes de unidades de processo, recuperando o enxofre e evitando a
emissão local de gases poluentes, ricos em SOx;
— o elenco de petróleos usados como matéria-prima está restringido pela qualidade do resíduo atmosférico gerado. Caso
contrário, isso colocaria em risco a eficiência da unidade de craqueamento catalítico.
Analisando-se a refinaria B, cujo esquema está apresentado na Figura 4.2, notam-se evidências de que esta possui menos
restrições quanto ao tipo de petróleo do que a refinaria A e maior capacidade de atender a requisitos mais restritos de qualidade
de produtos. Essas evidências estão listadas a seguir.
— existem unidades de HDS de nafta craqueada e de HDT de nafta de coqueamento retardado, de QAV e de gasóleos
(cargas para a produção de óleo diesel). Dessa forma, petróleos que apresentam teores de enxofre elevados podem ser
utilizados, uma vez que essas unidades se encarregam de corrigir os teores desse elemento para níveis condizentes com
as especificações dos produtos. Note-se que a presença de unidades de HDT fez surgir a necessidade da unidade de
geração de hidrogênio que usa como matéria-prima gás natural ou nafta;
— em virtude da existência da unidade de destilação a vácuo, a UFCC recebe como carga gasóleos de vácuo com menores
teores de contaminantes que o resíduo atmosférico. Isso quer dizer que petróleos inadequados para a refinaria A, devido
à qualidade da corrente de RAT produzida, podem ser processados na refinaria B sem comprometer o desempenho da
UFCC;
— na refinaria A, petróleos mais pesados, cuja qualidade do RAT não seja adequada para processamento na UFCC,
resultarão em elevado rendimento de óleo combustível. Na refinaria B, a unidade de coqueamento retardado recebe
como carga o resíduo de vácuo (RV), gerando mais derivados leves, que deverão ser tratados para redução dos teores de
contaminantes e estabilização química;
— a refinaria B não possui, no entanto, alta flexibilidade para a produção de gasolina de alto número de octano. Tal
flexibilidade poderia ser conseguida pela implantação de unidades de alquilação catalítica e/ou de reforma catalítica,
como será visto na refinaria C.
A configuração craqueamento-coqueamento da refinaria B, incluindo as unidades de hidrotratamento, representa a evolução
do esquema clássico visando: ao atendimento às especificações dos derivados quanto à estabilidade química e emissão de
poluentes; à adequação da refinaria ao processamento de petróleos pesados; e à flexibilização para a produção dos derivados, de
acordo com a rentabilidade desejada.
A refinaria C, apresentada na Figura 4.3, representa um esquema de refino já concebido para uma alta flexibilidade para o
processamento de petróleos pesados e para o atendimento de cenários de qualidade dos derivados que tendem a ser ainda mais
restritivos, até mesmo para os derivados mais pesados, como o óleo combustível. Pode-se afirmar que a refinaria C:
— visa a um mercado de combustíveis mais diversificado e exigente;
— produz gasolina automotiva de elevado número de octano, com o uso das unidades de reforma catalítica e de alquilação.
A hidrodessulfurização (HDS) da nafta de FCC e o HDT de nafta de coqueamento contribuem para a elevada produção
de gasolina estável e de baixo teor de enxofre;
— produz querosene de aviação de boa qualidade (hidrotratado);
— devido às unidades de HCC e de HDT de instáveis, pode maximizar a produção de óleo diesel de baixos teores de enxofre
e de aromáticos, de baixa densidade, de alto número de cetano e de excelente estabilidade à oxidação;
— necessita de unidades de geração de hidrogênio e de recuperação de enxofre de grande porte, para atender,
respectivamente, às demandas de hidrogênio e de tratamento de gases residuais das unidades de hidrorrefino presentes
no esquema.
Figura 4.2 Refinaria B – Esquema de refino.
Em paralelo à crescente complexidade dos esquemas de refino das refinarias A, B e C, é apresentado, na Figura 4.4, o
esquema da refinaria D, voltado à produção de óleos básicos lubrificantes. É importante ressaltar que:
— a refinaria D, embora se diferencie das anteriores por se destinar a produzir óleos básicos lubrificantes, também produz
combustíveis da mesma forma vista anteriormente, necessitando dos mesmos tratamentos citados;
— tendo em vista as especificações de índice de viscosidade e de ponto de fluidez dos óleos básicos lubrificantes, é
necessário reduzir o teor de hidrocarbonetos aromáticos (desaromatização) e de parafinas (desparafinação) das correntes
destiladas e desasfaltadas, exigindo para isso duas novas unidades de processo. Em contrapartida, essa refinaria produz
diversos tipos de parafina, assim como de extrato aromático.
As gradativas diferenças entre os esquemas de processamento das refinarias A, B e C mostram que a flexibilidade
operacional aumentou no mesmo sentido da complexidade do arranjo das unidades de processamento. As análises comparativas
formuladas anteriormente mostram que houve aumento do número de produtos, assim como progressiva diminuição das
restrições impostas ao elenco de petróleos admitidos (comparando as configurações A, B e C). Apesar de ilustrativa, deve-se
notar, porém, que esta é uma abordagem didática e de caráter introdutório. Deve-se lembrar de que a qualidade do petróleo não
se resume ao fato de ele ser leve ou pesado, ou de possuir baixo ou alto teor de enxofre. Mesmo um petróleo leve e de baixo teor
de enxofre poderia ser inadequado para ser processado nas refinarias A, B e C, caso possuísse níveis de acidez naftênica
incompatíveis com a metalurgia de alguns equipamentos dessas refinarias, o que poderia causar sérios problemas de corrosão.
A menor restrição aos petróleos processados é um dos aspectos positivos da flexibilidade operacional. Sob o ponto de vista
dos produtos, a flexibilidade se apresenta pelo maior grau de liberdade do refinador em compor as correntes dos produtos a
serem destinadas ao mercado. Esse é um problema muito importante na prática operacional do refino, pois cada produto deve
atender ao rol das propriedades físico-químicas que configuram a sua especificação, regida por órgãos governamentais ou por
contrato com o cliente. Uma vez que diversas correntes podem ser misturadas de forma a atender às especificações de um
produto, quanto maior o número de correntes disponíveis potencialmente candidatas a compor esse produto, maior é a
flexibilidade para fazer ajustes, caso as condições de demanda ou de preço mudem ao longo do tempo.
REFERÊNCIAS
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http://www.tecnicodepetroleo.ufpr.br/apostilas/processosderefino.pdf.
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Translated from Khimiya, I. Tekhnologiya, Topliv i Masel, n. 6, p. 53-55, Jun., 1979. New York: Springer, 1979.
[5] DEL ROSSI, K. J.; PAPPAL, D. A.; ROSE, H. R. Low pressure naphtha hydrocracking process. US patent 6,709,571 B1, 2004.
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Commercial Hydrotreating and Hydrocracking. Chapter 10. CRC Press, 2007.
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[9] ARMSTRONG, T.; SCOTT, B.; TAYLOR, K.; GARDNER, A. Sour water stripping. Today’s Refinery. Jun, 1996. Disponível em:
http://www.insightengineers.com/articles/SourWaterStripping.pdf. Acesso em: 26 dez. 2010.
[10] Disponível em http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/60/RefineryFlow.png. Acesso em: 08 jun. 2011.
Entende-se por processamento primário de petróleo a primeira etapa, ainda na fase de produção, pela qual o petróleo passa
depois que sai do reservatório e alcança a superfície. O termo primário é usado para distingui-lo do processamento mais
complexo, que o petróleo sofre na refinaria.
5.1 Introdução
No reservatório de um campo produtor, o petróleo encontra-se em uma fase líquida conhecida como fase oleosa ou
simplesmente óleo. No entanto, ao alcançar a superfície, os hidrocarbonetos mais leves e alguns outros gases, como o gás
sulfídrico (H2S) e o dióxido de carbono (CO 2), aparecem também na fase vapor, em equilíbrio termodinâmico com a fase
líquida (óleo). Isso ocorre devido à queda de pressão durante a elevação do petróleo à superfície e às quedas de pressão
localizadas em válvulas de controle nas instalações de produção.
Além das fases oleosa e gasosa, um campo de petróleo normalmente produz água, após um certo período de operação do
campo, seja por estar presente inicialmente no reservatório ou pela sua injeção, em um processo que visa ao aumento da
recuperação do petróleo. Como será visto adiante, na realidade, trata-se de salmoura, uma solução aquosa rica em sais.
O processamento primário de petróleo pode ter como objetivos:
— promover a separação das três fases mencionadas anteriormente: oleosa, gasosa e aquosa, nos equipamentos conhecidos
como separadores;
— tratar a fase oleosa para redução do teor da água emulsionada e dos sais nela dissolvidos;
— tratar a fase gasosa para redução do teor de água (vapor) e de outros contaminantes, se necessário;
— tratar a água separada do petróleo, para descarte e/ou para reinjeção em poços produtores.
Na Figura 5.1 está representado um esquema com as principais etapas do processamento primário que ocorre na região
produtora de petróleo, em instalações de superfície localizadas na terra ou no mar, denominadas instalações de produção. [1]
Dependendo da previsão da quantidade de fluidos produzidos e de um estudo de viabilidade técnico-econômica, a instalação de
superfície pode variar em complexidade, sendo que: as mais simples consistem apenas em vasos separadores bifásicos gás/óleo
ou trifásicos gás/óleo/água, enquanto as mais complexas, além dos separadores, podem incluir o tratamento e a compressão do
gás, o tratamento do óleo e o tratamento da água, tanto para descarte como para reinjeção nos poços.
Todo o sistema de produção de petróleo começa na cabeça do poço, por meio de um equipamento constituído por um
conjunto de válvulas, denominado árvore de natal, cujo objetivo é controlar a produção dos fluidos. Nesse equipamento, ocorre
a maior queda de pressão entre o reservatório e o primeiro vaso separador. Quando dois ou mais poços são alinhados para a
mesma instalação de superfície é indicado o uso de um equipamento, conhecido como “manifold de produção”, que reúne todos
os fluidos e equaliza a pressão de alimentação da instalação de processamento primário.
O sistema de separação utilizado no processamento primário do petróleo é constituído de um conjunto de vasos separadores
(bifásicos ou trifásicos) em série, que pode ter várias configurações, que diferem entre si pelo número de estágios utilizados,
dependendo da qualidade da separação desejada entre o gás e o óleo e da densidade do petróleo produzido. Tipicamente,
petróleos pesados são separados em um ou dois vasos com níveis de pressão diferentes, enquanto os leves podem passar por
vasos separadores que operam com até três níveis de pressão: alta, intermediária e baixa, o que permite a maximização da
produção de óleo e o processamento, na mesma instalação de produção, de óleos de poços com diferentes níveis de pressão.
Mesmo para petróleos muito leves, normalmente não há justificativa econômica para mais de três estágios.
Figura 5.1 Esquema de uma instalação de produção complexa.
As correntes gasosas obtidas nos níveis de pressão, baixo e intermediário, precisam ser comprimidas para serem exportadas
da instalação, ou para serem levadas às unidades de tratamento do gás. A corrente gasosa final é conhecida como gás natural
úmido,* que normalmente é encaminhada a uma unidade de processamento de gás natural, em terra, para reduzir o teor de
hidrocarbonetos mais pesados do que o etano, gerando então o gás natural para o uso final como combustível. Uma parcela do
gás é usada como gas lift, no processo de elevação artificial do petróleo, e como gás combustível na própria plataforma.
O petróleo efluente do último estágio de separação possui, em sua composição, uma parcela de água, dispersa no óleo em
forma de gotículas com diâmetro entre 1 µm e 10 µm, ou seja, emulsionada, a qual deve ser removida do óleo no equipamento
denominado tratador de óleo, em que uma combinação de vários métodos é empregada: adição de compostos químicos
desemulsificantes; aquecimento e aplicação de um campo elétrico; e separação por gravidade em um vaso de grande diâmetro.
A água produzida nos separadores trifásicos e no tratador de óleo, por sua vez, ainda necessita sofrer um tratamento para
redução do teor de óleo emulsionado e do óleo arrastado com a água.
Todo esse processamento na instalação de produção visa a atender aos requisitos de exportação do gás e do óleo, bem como
aos requisitos de descarte da água produzida, de forma que:
— o gás natural úmido deve estar disponível em uma pressão especificada para exportação e não deve conter teores
excessivos de H2S, CO2 e H2O (vapor);
— o petróleo não pode conter mais do que 1 % (em volume) de água emulsionada e de sedimentos (BS&W**) e a
concentração de sais dissolvidos na água deve ser de, no máximo, 285 mg/L de óleo;[1]
— a água produzida deve ser tratada antes de ser descartada para atender às regulamentações ambientais. Por exemplo, no
Brasil, de acordo com a Resolução CONAMA 393/07, a concentração média mensal de óleos e graxas *** é limitada ao
valor máximo de 29 mg/L, com valor máximo diário de 42 mg/L, para descarte no mar. [2]
Outros sistemas empregam um separador trifásico (Figura 5.3), a partir do qual o petróleo produzido, praticamente isento de
água livre, é encaminhado a outra instalação que disponha do sistema de tratamento de óleo para remoção da água emulsionada.
Finalmente, no sistema mais completo, representado na Figura 5.4, a separação trifásica é feita em dois estágios, e, além
disso, estão presentes a etapa de desidratação, para remoção da água emulsionada, e a etapa final, de ajuste da pressão de vapor
do petróleo, para evitar problemas de segurança no transporte e no armazenamento nos terminais.
A decisão de se projetar uma separação bifásica ou trifásica, ou mesmo um sistema completo, é econômica, sendo o sistema
da Figura 5.4 o mais comum nas plataformas de grande capacidade de produção.
Cabe ressaltar que nos sistemas das figuras anteriores não estão representados os trocadores de calor, em que água quente é
usada como meio de aquecimento do petróleo. O objetivo desse aquecimento é facilitar a separação água-óleo, principalmente
pela redução da viscosidade do óleo, o que facilita a decantação da água oleosa, que tem maior densidade.
Nessa equação, v é a velocidade de sedimentação das gotas, |ρa – ρo| é o valor absoluto da diferença entre as massas
específicas da água e do óleo, µ é a viscosidade da fase contínua, d é o diâmetro das gotículas que sedimentarão ou flotarão, e g
é a aceleração devido à força de campo (gravitacional ou centrífuga).
Para garantir a melhor separação possível entre as fases, os vasos separadores são normalmente dotados de dispositivos
especiais, como, por exemplo, uma placa defletora na entrada e um eliminador de névoa na saída do gás.
Os vasos separadores são normalmente classificados em horizontais e verticais, e a seleção da configuração se baseia na
proporção líquido/gás da carga e na sua tendência à formação de espuma, de forma que:
— os vasos horizontais (Figura 5.5) são normalmente mais eficientes quando é alta a razão gás/óleo ou quando há formação
de espuma, pois permitem uma melhor separação das bolhas de gás, devido à maior área interfacial óleo-gás, bem como
facilitam a decantação das gotas de óleo arrastadas na fase gasosa, pois elas caem perpendicularmente à direção do
escoamento do gás;[1,3,4]
— os verticais (Figura 5.6) requerem uma menor área para instalação, e a sua geometria facilita a remoção de sedimentos
porventura depositados no fundo. Devido à sua altura, os vasos verticais não são normalmente usados em plataformas,
sendo mais usuais em instalações terrestres.[3]
No caso do vaso vertical, a parte líquida, efluente do defletor de entrada, é conduzida para a seção de fundo do vaso por um
tubo condutor de líquido e distribuída na fase aquosa em baixa velocidade, para não provocar turbulência na região e não
prejudicar a separação água-óleo.
Em princípio, o dimensionamento dos vasos separadores bifásicos ou trifásicos não é uma tarefa difícil, depois de
estabelecidas as vazões previstas de gás, óleo e água. O problema é que esses valores vão sendo alterados ao longo do tempo,
pois dependem da curva de produção do campo produtor. De maneira geral, a produção de água vai aumentando com o tempo,
enquanto a produção de óleo e gás vai diminuindo, e, por conseguinte, os tempos de residência para os diversos fluidos vão se
alterando, com a consequente perda de eficiência dos equipamentos de separação.
Figura 5.9 Dispositivos internos usuais nos vasos separadores.[1]
Alguns dispositivos empregados para melhorar a eficiência dos vasos separadores estão esquematizados na Figura 5.9. As
chicanas “quebra-onda” são utilizadas nos separadores de plataformas, devido à movimentação natural destas.
Essas substâncias de caráter hidrofílico-lipofílico são, na maioria, moléculas de elevada massa molar, de ocorrência natural
nos petróleos, contendo heteroátomos como o nitrogênio, o enxofre, o oxigênio e metais. Muitas delas fazem parte de grupos de
substâncias classificadas como asfaltenos e resinas. Além delas, alguns compostos inorgânicos sólidos, de diâmetros da ordem
de grandeza das gotículas, como argila, óxidos e sais (principalmente o sulfeto de ferro), também contribuem para a estabilidade
da emulsão.
Figura 5.12 Repulsão estérica entre gotas adjacentes.
A maioria dos fabricantes de tratadores eletrostáticos usa a tecnologia de campo elétrico de corrente alternada, onde ocorre
uma inversão de polaridade nas gotículas, a cada meio ciclo da frequência de suprimento, uma vez que a tensão tem
comportamento senoidal (Figura 5.16). Nesses casos, o mecanismo de coalescência predominante é o do dipolo induzido.
Devido à alternância do campo elétrico, em cada ponto do espaço entre eletrodos, as gotículas sofrem distorções periódicas
na forma, provocadas pelo total deslocamento das partículas carregadas eletricamente, para extremos opostos. Essas distorções
na forma das gotículas agem como uma vibração longitudinal devida à rápida alternância entre as formas esférica e elíptica, que
ajuda a enfraquecer a película de emulsificante. A energia cinética facilita a coalescência devido à possível colisão entre as
gotículas vizinhas.
Além da tecnologia convencional de corrente alternada, está disponível a tecnologia de polaridade dupla (dual polarity), em
que dois campos elétricos são obtidos, um contínuo de alta intensidade entre os eletrodos e outro alternado, entre os eletrodos e
o nível da interface.
A força de atração entre as gotículas polarizadas, em um meio pouco (ou não) condutor de eletricidade, pode ser expressa
pela Equação (5.2), considerando duas gotículas de mesmo raio r (sem campo elétrico), cuja distância entre centros seja l e
sujeitas a um gradiente de tensão aplicado E.
Uma característica desse tratador é que, ao atingir a região entre os eletrodos, a quantidade de água presente na emulsão é
menor do que quando ela entra no tratador. É importante salientar que, ao longo da vida do poço, a produção de água aumenta e
os separadores trifásicos podem não conseguir remover toda a água que chega aos tratadores de óleo, e esta é então removida na
parte inferior do vaso.
Existem algumas variações de arranjos quanto aos eletrodos, dependendo da tecnologia empregada pelos fabricantes. Os
eletrodos podem ser de grades, formadas por varetas de aço dispostas em planos horizontais, ou podem ser placas de aço-
carbono ou de materiais do tipo compósitos para evitar a corrosão eletrolítica. No caso de grades, a energização pode ocorrer em
apenas um eletrodo (o inferior) ou nos dois eletrodos, dependendo do gradiente de tensão desejado, conforme mostrado na
Figura 5.18.
Os eletrodos do tipo placas são usados na tecnologia dual polarity, em que a emulsão, após passar por um campo alternado
(CA), é dirigida a um campo contínuo (CC), onde as gotículas atraídas por um eletrodo se carregam com a mesma carga e são
repelidas para o eletrodo adjacente de carga oposta, criando uma condição para o coalescimento devido ao choque de gotículas
de cargas opostas. O campo contínuo é gerado por diodos retificadores situados após a saída do transformador (Figura 5.19),
formando pulsos, de corrente contínua e de polaridade oposta, aplicados às placas adjacentes, ou seja, uma placa recebe metade
da onda senoidal de tensão de carga positiva, enquanto a placa adjacente recebe a metade negativa remanescente um instante
depois, obtendo-se um campo de alta intensidade, necessário para coalescer as gotas de pequeno diâmetro, presentes em menor
quantidade, situação em que o campo contínuo de maior intensidade é mais eficaz.[5]
Figura 5.19 Tecnologia dual polarity.
Cabe ressaltar que nas refinarias esses tipos de tratadores são denominados dessalgadoras, em face da necessidade de
redução do teor de sais na água emulsionada, e, portanto, torna-se necessária a injeção de água de diluição para atingir esse
objetivo.
Basicamente, o tratamento ou o condicionamento do gás visa a remover os gases ácidos (H2S e CO2) e a água (desidratação)
presentes em sua composição. O nitrogênio presente inicialmente no gás permanecerá inalterado.
A desidratação do gás natural pode ser feita por um processo de absorção, com o uso de um solvente líquido; ou de adsorção,
em que se usa um sólido como a sílica-gel, alumina ou peneira molecular; ou ainda de permeação através de membranas
poliméricas.[6] Somente o processo de absorção será analisado neste texto por ser o mais comum nas plataformas brasileiras.
O processo de absorção, visando à desidratação, consiste no contato do gás com um solvente líquido higroscópico, isto é,
capaz de solubilizar seletivamente a água, e de fácil regeneração. Embora a família dos monoalcoóis tenha afinidade com a
água, a família dos dialcoóis (glicóis) é mais utilizada, por questões econômicas. Entre os glicóis, o trietilenoglicol (TEG) é
normalmente escolhido porque:[7]
— é mais facilmente regenerável, alcançando teores maiores do que 98 %, devido ao seu maior ponto de ebulição e à sua
maior temperatura de degradação térmica (206 ºC);
— possui menor pressão de vapor, causando menor perda por evaporação;
— o processo exige menores custos de investimento e de operação.
Conforme representado na Figura 5.22, o processo ocorre em uma torre de absorção, normalmente recheada, onde o gás,
após passar por uma seção de remoção de hidrocarbonetos líquidos, sobe em contracorrente com a solução de TEG proveniente
do sistema de regeneração (chamada de TEG pobre). No topo da torre, o gás passa por um eliminador de névoa para a remoção
de gotículas de TEG arrastadas.
A solução de TEG, efluente do fundo da torre de absorção (TEG rica), é encaminhada para a torre regeneradora a fim de
reduzir o seu teor de água, sendo antes aquecida em uma serpentina instalada no topo, ao mesmo tempo que condensa os
vapores de TEG que sobem pela torre regeneradora, e em um trocador de calor, que resfria a corrente de TEG já regenerada
(TEG pobre). Após o aquecimento, a solução rica passa por um separador trifásico, em que o gás dissolvido nessa solução é
separado da fase líquida de hidrocarbonetos e da solução aquosa de TEG, e esta alimenta a torre regeneradora.
A solução de TEG, acumulada no fundo do separador, passa por um sistema de filtração para remoção de partículas sólidas e
de contaminantes químicos (produtos de corrosão, por exemplo), sendo a seguir aquecida novamente pela solução de TEG
pobre e encaminhada à torre regeneradora. Essa torre é dotada de um aquecedor elétrico que eleva a temperatura do fundo a 204
ºC, atuando como refervedor, promovendo a vaporização e, consequentemente, a redução do teor de água na solução. A solução
de TEG pobre efluente do fundo da regeneradora passa nos trocadores de calor já citados, sendo resfriada a 40 ºC, e é então
enviada para a torre absorvedora, fechando o ciclo. É possível a utilização de um gás de esgotamento (por exemplo, um gás
natural seco) como um auxiliar do aquecedor elétrico, com o objetivo de aumentar a eficiência da regeneração e a concentração
de TEG na solução.
Nem sempre a desidratação é a maneira mais econômica de solucionar os problemas causados pela presença da água no gás.
Uma alternativa bastante usada é a aplicação de produtos químicos inibidores, que se combinam com a água livre, diminuindo a
temperatura em que ocorre a formação dos hidratos. Os mais utilizados são os álcoóis (metanol, etanol anidro, MEG, DEG* e
TEG), que, posteriormente, são removidos do gás. O inibidor deve ser disperso na corrente gasosa por meio de bicos
nebulizadores, em um ponto onde a temperatura de formação de hidrato ainda não foi atingida.
■ Temperatura de desidratação
Quanto maior for a temperatura do gás a ser tratado, maior é o teor de umidade do gás e menor a capacidade higroscópica do
TEG, o que reduz a eficiência da unidade. A temperatura da solução de TEG pobre deve ser 3 ºC a 8 ºC superior à temperatura
do gás úmido. Valores maiores de temperatura aumentam o ponto de orvalho do gás e as perdas de TEG por evaporação, e, por
outro lado, se a temperatura for menor do que o valor mínimo recomendado, aumenta a formação de espuma, pela condensação
[6,7]
de hidrocarbonetos.
■ Temperatura do refervedor
A faixa de temperatura de operação é de 200 ºC a 204 ºC, para se conseguir alto teor de TEG na solução; deve-se ficar atento à
degradação térmica do TEG, que ocorre em 206 ºC.[6]
Dependendo do fabricante e do modelo, os hidrociclones são dimensionados para uma vazão na faixa típica de 2 m 3/h a 6
m3/h, e, por essa razão, para processar as altas vazões de água oleosa deve-se instalar uma bateria de hidrociclones em paralelo,
dispostos de forma independente (Figura 5.25) ou montados no interior de um vaso de pressão (Figura 5.26).
Nos flotadores são produzidas microbolhas na câmara de flotação, que se prendem às partículas oleosas, formando
aglomerados que são carreados para a superfície. O processo convencional consiste basicamente nas seguintes etapas: geração
das bolhas gasosas, que podem ser de ar ou de gás (hidrocarbonetos); colisão e adesão entre essas bolhas e as gotículas de óleo
dispersas na água; e ascensão dos agregados bolha-partícula até a superfície. A separação é mais eficiente na medida em que se
diminui o tamanho das bolhas e se aumenta o tamanho das gotículas.
No uso da flotação para o tratamento de águas oleosas, destacam-se como processos clássicos: a flotação natural (ou
gravitacional), por ar dissolvido (FAD) ou gás dissolvido (FGD); e a flotação por ar induzido (FAI) ou gás induzido (FGI). A
flotação natural, por ser realizada em tanques e necessitar de maior área, é usada em instalações terrestres. Embora a FGD seja
mais eficiente do que a FGI, por gerar bolhas menores, a FGI necessita de menor tempo de residência, o que leva a um menor
custo de instalação e de operação. Em plataformas marítimas, vem sendo utilizada uma bomba multifásica especial que dissolve
o gás reciclado do topo do flotador na corrente líquida (Figura 5.27), embora haja uma tendência de se utilizar a FGI de terceira
geração, em que a indução é feita por um edutor gás-líquido, ilustrado na Figura 5.28, que resulta em unidades mais compactas,
embora não sejam tão eficientes como a FGD.
Figura 5.28 Flotador de gás induzido.
A corrente resfriada entra então em um vaso trifásico no qual são separados o gás seco, os hidrocarbonetos condensados e o
glicol injetado. O gás seco troca calor com o gás rico na entrada da unidade até atingir a temperatura de 38 ºC; o glicol é
enviado para regeneração; e o líquido sofre uma expansão em uma válvula, e, consequentemente, sua temperatura é reduzida até
aproximadamente 260 ºC. Após a expansão, a mistura líquido-vapor formada segue para uma torre desetanizadora, onde o
produto de topo é ainda uma corrente de gás natural seco, e o produto de fundo segue para a torre desbutanizadora, onde é
separado em GLP e C5+ (gasolina natural).
Neste processo e também no processo Joule-Thomson, o gás natural úmido deve ser previamente desidratado, devido às
baixas temperaturas de trabalho empregadas.
A desetanizadora também recebe no topo uma corrente de óleo de absorção, que entra em contato com a corrente de gás,
absorvendo os hidrocarbonetos mais pesados. Dessa maneira, no topo, a corrente de gás produzida é constituída basicamente
por etano, enquanto o produto de fundo é o óleo de absorção rico em hidrocarbonetos C3 + (óleo desetanizado), que segue então
para uma etapa de regeneração, em uma torre de destilação convencional, designada por torre de fracionamento. O óleo de
absorção regenerado, pobre em hidrocarbonetos leves, sai pelo fundo da torre e é injetado nos topos das torres de absorção e
desetanizadora. O produto de topo é fracionado posteriormente em uma torre desbutanizadora em GLP e C 5+ (gasolina natural).
As recuperações geralmente obtidas com esse processo são de, no máximo, 50 % para o etano, de 90 % a 95 % para o
propano e de aproximadamente 100 % para o butano e mais pesados.
5.6.1.4 Turboexpansão
Esse processo é mais eficiente, por gerar temperaturas mais baixas que os demais (abaixo de 295 °C), sendo usado quando se
deseja obter alta recuperação de propano no GLP e etano especificado para a indústria petroquímica.
É especialmente indicado para gases disponíveis a alta pressão, embora também possa ser viável para pressões moderadas
ou até mesmo baixas. Geralmente, essas unidades possuem capacidade superior a 2 500 000 m 3/d, e as recuperações típicas com
esse processo podem chegar a: 85 % do etano, 99 % do propano e 100 % de butano e mais pesados. [6]
Diferentemente do processo Joule-Thomson, que é isoentálpico, o processo de turboexpansão permite o aproveitamento da
energia liberada na expansão do gás natural em uma turbina, disponibilizando trabalho, que pode ser utilizado nos compressores
da própria unidade ou para geração de energia elétrica. A maior inovação desse processo foi o projeto de turboexpansores que
são capazes de aceitar condensação dentro do expansor, onde a fração condensada pode chegar a 50 % (em massa).
Na Figura 5.34 está apresentado um corte de um turboexpansor, com o expansor localizado à direita e o compressor, à
esquerda. O princípio de funcionamento consiste em se utilizar gás a alta pressão para acionar um expansor e gerar trabalho, que
será transmitido por meio de um eixo comum para um compressor, que poderá comprimir o próprio gás. Quanto maior a
velocidade do gás que sai do compressor e entra no expansor, maior será a eficiência geral do turboexpansor.
Um esquema simplificado do processo está representado na Figura 5.35, onde as etapas do processo, de uma forma geral,
são as seguintes:
■ compressão inicial: necessária para garantir a pressão exigida pelo turboexpansor;
■ pré-tratamento: dessulfurização e desidratação;
Figura 5.34 Corte de um turboexpansor típico (Mafi-Trench Corp).[8]
■ refrigeração: realizada pelo aproveitamento energético das correntes frias e pelo propano disponível do ciclo de
refrigeração;
■ expansão: realizada no turboexpansor, onde se aproveita o trabalho realizado para acionar o compressor de carga ou o
compressor do gás enviado para venda;
■ desmetanização: separação entre o gás e a corrente líquida de gás natural saturada de C 2+; e
■ fracionamento do produto de fundo da desmetanizadora: separação da corrente líquida nos produtos previstos,
podendo, no caso mais amplo, conter as seguintes torres: desetanizadora, despropanizadora, desbutanizadora e
deisopentanizadora.
REFERÊNCIAS
[1] ARNOLD, K. E.Separation of produced fluids and oil treatment. IHRDC, PE 122 – Petroleum Engineering, 1986.
[2] CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (CONAMA). “Descarte contínuo de água de processo ou de produção em
plataformas marítimas de petróleo e gás natural”, Resolução CONAMA n. 393, Seção 1, p. 72-73, de 09/08/2007, DOU n. 153.
[3] THOMAS, J. E. Fundamentos da engenharia do petróleo. Rio de Janeiro: Interciência, 2001.
[4] MANNING, F. S.; THOMPSON, R. E., Oilfield processing. v. 2 -Crude Oil, Tulsa. Oklahoma: PenWell, 1995.
[5] BANSBACH, P. L. The how and why of emulsion. Oil and Gas Journal, v. 68, n. 36, p. 87-93, 1970.
[6] VAZ, C. E. M.; MAIA, J. L. P.; SANTOS, W. G. Tecnologia da indústria do gás natural. São Paulo: Edgar Blücher, 2008.
[7] MANNING, F. S.; THOMPSON, R. E. Oilfield processing, v. 1 - natural gas, Tulsa. Oklahoma: PenWell, 1995.
[8] KIDNAY, A. J.; PARRISH, W. L. Fundamentals of natural gas processing. Florida: CRC Press, 2006.
*O termo úmido aqui se refere ao teor relevante de
hidrocarbonetos mais pesados (C3+) que podem se condensar.
**BS&W – Basic Sediments and Water: % em volume de água e
sedimentos em relação ao volume total da emulsão.
***O teor de óleos e graxas na água produzida é conhecido como
TOG.
*Quebra-vórtice: dispositivo colocado no fundo de um vaso para
evitar a formação de um vórtice, na saída de um líquido,
evitando o arraste de gotículas de óleo pela água ou de gás pelo
óleo.
**Água livre é a que sedimenta em 5 minutos pela ação da
gravidade, em função do elevado número de gotas de grande
diâmetro.[4]
***Fragmento de mineral ou rocha menor do que areia fina e
maior do que argila.
*MEG = monoetilenoglicol; DEG = dietilenoglicol.
6.1 Introdução
O petróleo bruto oriundo do processamento primário é transportado por navios, por oleodutos ou por ambos, até chegar aos
terminais regionais, de onde é transferido para a refinaria e armazenado em tanques.
Na refinaria, a unidade de destilação é a primeira etapa do processamento, onde o petróleo é separado em misturas
complexas de componentes, chamadas de “cortes” ou “frações”.
A destilação é um processo físico de separação e, portanto, não ocorre alteração química dos hidrocarbonetos constituintes
do petróleo processado. Por esse motivo, as propriedades físicas dos componentes separados não são modificadas, embora possa
ocorrer craqueamento térmico de alguns componentes das frações mais pesadas, devido a elevadas temperaturas de operação, o
que é indesejável, mesmo em pequena escala.
A capacidade de refino de uma refinaria é medida pela capacidade da unidade ou das unidades de destilação do petróleo.
Dependendo da capacidade de processamento para a qual foi projetada a unidade e do esquema de refino previsto, uma unidade
de destilação de petróleo pode apresentar várias etapas de fracionamento, ou seja, várias colunas ou torres de destilação. Os
tipos de torres possíveis de se encontrar em uma refinaria de petróleo serão apresentados adiante.
As frações obtidas no processo de destilação necessitam passar por processos de tratamento para atender aos requisitos de
qualidade, ou por processos de transformação (ou conversão) química para gerar os produtos finais desejados. Quando a fração
for carga de outro processo de refino, ela será considerada produto intermediário. Apenas em algumas poucas situações a fração
obtida na destilação será um produto final.
As frações que podem ser obtidas na destilação do petróleo são as seguintes:
■ Nafta
Nafta é um termo genérico usado para frações líquidas leves do petróleo, com faixa de destilação ASTM entre 30 oC e 220 oC.
A nafta obtida pela destilação do petróleo é conhecida como nafta DD (destilação direta) e pode ser fracionada em duas (leve e
pesada) ou três (leve, intermediária e pesada) naftas, dependendo do mercado a ser atendido pela refinaria ou dos processos para
os quais essas naftas serão encaminhadas.
A nafta DD é usada na formulação da gasolina automotiva, em baixa proporção, devido ao seu baixo número de octano, uma
vez que é elevado o seu teor de hidrocarbonetos parafínicos de cadeias lineares. Ela pode também ser utilizada como matéria-
prima para a indústria petroquímica, ou como carga para o processo de reforma catalítica, ou ainda na produção de solventes
industriais, como, por exemplo, aguarrás e n-hexano.
■ Querosene
O querosene é normalmente constituído de hidrocarbonetos predominantemente parafínicos de 9 a 14 átomos de carbono e com
faixa de destilação ASTM que se situa normalmente entre 150 ºC e 255 ºC. [1] A primeira utilização do querosene foi como óleo
de iluminação ou de aquecimento, daí ser conhecido como querosene lampante ou de iluminação (QI). Hoje, a demanda de
querosene como QI é bastante reduzida, e, dependendo da qualidade do petróleo, essa corrente é misturada a outras correntes
que vão constituir o óleo diesel.
Atualmente, a utilização como querosene de aviação (QAV) é a mais importante em termos de mercado, mas somente
alguns petróleos e/ou esquemas de refino são adequados a essa produção, de forma rentável e com a qualidade desejada. Outras
aplicações para o querosene, porém em escala bastante reduzida, podem ser citadas: matéria-prima para produção de detergentes
biodegradáveis, solventes, agente pesticida e combustível para empilhadeiras.
■ Gasóleos atmosféricos
Os gasóleos atmosféricos constituem frações compostas por hidrocarbonetos, com faixa de ebulição entre 150 ºC e 400 oC.
Devido à sua ampla faixa de destilação, eles são obtidos separadamente na coluna de destilação atmosférica em dois cortes e,
por isso, são identificados pelos complementos: leve e pesado. O maior uso dos gasóleos atmosféricos é como combustível dos
motores diesel, daí essas frações serem conhecidas na refinaria como diesel leve (DL) e diesel pesado (DP).
■ Gasóleos de vácuo
Os gasóleos de vácuo só passaram a ser obtidos na UDAV (unidade de destilação atmosférica e a vácuo) quando a indústria
automobilística passou a exigir combustíveis com melhor qualidade, o que deu origem a vários processos, entre os quais se
inclui o FCC, que precisava de uma fração mais leve do que o resíduo da destilação atmosférica do petróleo, como matéria-
prima.
Por questão de flexibilidade operacional, os gasóleos são obtidos em dois cortes, chamados gasóleos leve (GOL ou GLV) e
pesado (GOP ou GPV) de vácuo, que, normalmente, são misturados e encaminhados à UFCC. Os gasóleos de vácuo podem ser
produzidos em maior número quando a unidade de destilação for projetada para obtenção de quatro cortes que darão origem aos
óleos básicos lubrificantes, os quais serão separados por faixa especificada de viscosidade, sendo denominados: spindle, neutro
leve, neutro médio e neutro pesado, e passarão por processos especiais de tratamento, para constituírem os óleos básicos
lubrificantes.
■ Resíduo de vácuo
O resíduo da última etapa de destilação do petróleo é conhecido como resíduo de vácuo (RV), e poderá ter diferentes aplicações,
sendo as mais comuns: carga da UCR, produção de óleo combustível ou de cimento asfáltico de petróleo (CAP), ou ainda carga
da unidade de desasfaltação (UDASF), gerando o óleo desasfaltado, que, por sua vez, será utilizado como carga da UFCC ou na
produção de óleos básicos lubrificantes bright stock e cilindro.
A carga do processo pode ser preaquecida, gerando uma mistura líquido-vapor que, ao entrar na coluna de destilação, se
separa nas duas fases, sendo que o vapor ascende na coluna, enquanto o líquido desce. O líquido efluente da coluna, que sai pelo
fundo, é encaminhado ao refervedor, onde ocorrerá a vaporização de parte desse líquido, utilizando como fonte de calor um
produto quente ou mesmo vapor d’água. O vapor formado é a fonte de calor para a coluna, permitindo a revaporização dos
componentes de menor ponto de ebulição (mais leves) do líquido descendente e a condensação preferencial dos componentes de
maior ponto de ebulição (mais pesados) do vapor ascendente. A parte não vaporizada do líquido efluente da coluna constitui o
produto de fundo, também chamado de resíduo. O vapor efluente da coluna sai pelo topo, passa pelo condensador, onde ocorre
a sua condensação total ou parcial, e segue para o vaso de topo, que permite a separação mecânica entre o líquido e o vapor não
condensado e garante um nível de líquido suficiente para evitar problema de cavitação nas bombas. O líquido frio se divide em
duas correntes: uma que retorna à torre, chamada de refluxo, e outra que constitui o produto de topo.
No interior da torre são colocados dispositivos de contato líquido-vapor, mais comumente “pratos” ou “bandejas”, onde o
vapor ascendente entra em contato com o líquido descendente, ocorrendo troca de calor e massa, uma vez que estão a
temperaturas e composições diferentes. Os componentes mais pesados se condensam, se acumulam no prato, e o excedente
desce para o prato inferior, de tal forma que no fundo da coluna a mistura fica concentrada nesses componentes. De forma
oposta, os componentes mais leves sobem para os pratos superiores, alcançando o topo da coluna, e são removidos na forma de
vapor.
O líquido descendente de prato a prato no interior da coluna, chamado de refluxo interno, é gerado a partir do refluxo de
topo, que retorna à torre no primeiro prato, sendo o responsável pelo fracionamento que se obtém na torre. Esse refluxo, à
medida que desce na coluna, vai ficando cada vez mais concentrado em pesados e com maior temperatura, e, ao mesmo tempo,
os vapores se tornam cada vez mais leves e mais frios, ao subirem pela torre.
Nas colunas de destilação de petróleo, algumas bandejas permitem a retirada do líquido coletado e o seu envio para fora da
coluna, para posterior processamento ou para armazenamento; são as chamadas panelas de retirada lateral, que dispõem de
calhas para acúmulo de líquido.
Uma unidade de destilação de petróleo pode ser concebida para produzir todos os cortes ou frações anteriormente descritos,
mas nem sempre esse é o objetivo da refinaria, em vista dos petróleos processados, dos produtos pretendidos e do esquema de
refino adotado. O número de frações a serem obtidas influencia no número de etapas ou de torres de destilação empregadas para
gerá-las. Nas refinarias brasileiras, são encontradas unidades com uma ou até cinco torres de fracionamento.
Sob o ponto de vista da melhor separação das frações desejadas, a unidade deveria possuir n-1 torres de fracionamento, para
produzir n frações. Assim, para produzir 9 frações, a unidade deveria ter 8 torres de fracionamento. Esse tipo de arranjo é o que
se convenciona chamar de destilação progressiva do petróleo. No entanto, isso normalmente não é praticado, simplesmente por
questões econômicas. Reduzindo-se o número de torres, conseguese diminuir o custo de investimento, pelo menor número de
equipamentos necessários.
Os esquemas mais usuais, com três ou quatro torres principais de fracionamento, estão apresentados nas Figuras 6.2 e 6.3.
Nesses esquemas, para obter nove cortes, algumas torres terão que obter mais de dois cortes, utilizando as retiradas laterais.
Em todas as unidades de destilação de petróleo existem as torres de retificação,* não sendo consideradas torres de
fracionamento e sim torres acessórias, acopladas à torre principal, com a finalidade de remover os hidrocarbonetos mais leves
dos cortes laterais e, assim, acertar a sua qualidade, em termos de ponto inicial de ebulição (PIE) ou de ponto de fulgor. Devido
ao pequeno rendimento de gás combustível na UDAV, essa fração não foi considerada nos esquemas.
Devido ao número de produtos com especificações definidas, podem-se projetar duas torres a vácuo, com o objetivo de se
conseguir o fracionamento desejado. O gasóleo leve de vácuo (GLV) obtido na seção de topo da torre não é enquadrado como
óleo lubrificante, e é normalmente encaminhado para a corrente de óleo diesel, carga do HDT, ou incorporado à mistura de
gasóleos, carga da UFCC.
Além das torres de vácuo tradicionais mencionadas anteriormente, algumas refinarias possuem uma torre de destilação a
vácuo com pressão absoluta intermediária (entre a torre a vácuo e a torre atmosférica), para separar melhor a fração diesel
pesado, uma vez que o fracionamento entre o diesel pesado e o gasóleo leve de vácuo é muito ruim e, numa pressão mais baixa,
se consegue um melhor fracionamento. Essa torre é denominada prévácuo e tem como produto de topo o GLV, que será
incorporado ao diesel, e como produto de fundo um gasóleo com baixo teor de componentes da faixa do óleo diesel.
6.3.1 Dessalgadora
Em algum ponto da bateria de preaquecimento, onde a temperatura alcança valores na faixa de 120 ºC a 160 ºC, [4] e antes de
entrar nas torres de fracionamento, o petróleo deve passar por uma etapa de dessalgação, como representado na Figura 6.5. O
conjunto de trocadores de calor que se localiza antes da dessalgadora constitui a primeira bateria de trocadores de calor.
O objetivo da dessalgadora é a remoção de água, sais e sólidos em suspensão (sedimentos). A água que chega à refinaria
junto com o petróleo está emulsionada, ou seja, está dispersa em forma de gotículas finamente divididas e envolvidas por uma
película de compostos presentes no próprio petróleo que atuam como agentes emulsificantes, que oferecem grande resistência à
coalescência das gotículas. Os contaminantes inorgânicos (sais e sedimentos), por sua vez, causam sérios danos à unidade de
destilação se não forem removidos do petróleo, limitando o tempo de campanha e provocando operação ineficiente da unidade.
A dessalgação consiste na aplicação de um campo elétrico de alta intensidade, da ordem de 2 kV/cm, que promove a
desestabilização da emulsão, por enfraquecimento da película de agentes emulsificantes, promovendo a separação de duas fases:
petróleo dessalgado e salmoura, de forma semelhante à realizada no processamento primário (Seção 5.3 – Tratamento do óleo).
Para se conseguir a dessalgação é necessária, além da temperatura adequada e do campo elétrico, a injeção de água de diluição
(aquecida) antes da introdução do petróleo na dessalgadora. É comum injetar cerca de um terço da vazão de água necessária nos
primeiros trocadores de calor de cada ramal da primeira bateria de preaquecimento e o restante antes da válvula misturadora
existente na entrada da dessalgadora. A água de diluição utilizada é normalmente proveniente da unidade de retificação de
águas ácidas (URAA), depois de preaquecida com a própria salmoura, efluente da dessalgadora. Em casos especiais,
principalmente quando resíduos oleosos da refinaria (slop) são reprocessados com o petróleo, um agente desemulsificante pode
ser injetado na linha de sucção da bomba de óleo cru e/ou antes da válvula misturadora, para melhorar o desempenho da
dessalgadora.
A intensidade da mistura da água de diluição com o óleo cru é controlada pela perda de carga (DP) na válvula misturadora,
que é uma variável operacional importante no desempenho da dessalgadora. Para se conseguir uma maior redução do teor de sal
no petróleo, é comum utilizar duplo estágio de dessalgação, o que permite reduzir o teor de sal do cru de valores tão altos
quanto 570 mg/L para valores menores do que 3 mg/L, dependendo da qualidade do petróleo, em termos de ºAPI e da maior ou
menor presença de agentes emulsificantes.
O petróleo que deixa a dessalgadora trocará calor com correntes de produtos e refluxos circulantes que apresentem uma
carga térmica disponível maior do que as correntes quentes da primeira bateria, ou seja, um nível maior de temperatura e/ou alta
vazão. O conjunto de trocadores de calor situado após a dessalgadora constitui a segunda bateria de trocadores de calor. O
gasóleo pesado de vácuo e o resíduo de vácuo são os maiores contribuintes para o aquecimento do petróleo nessa segunda
bateria. O petróleo segue então para a torre de pré-fracionamento ou para o forno que antecede a torre de pré-fracionamento ou
a torre atmosférica, conforme o esquema da unidade.
Nesses pratos, o vapor proveniente de um prato inferior é borbulhado no líquido, através de dispositivos que proporcionam
um contato mais íntimo entre o vapor e o líquido, para permitir a troca de calor e massa entre essas correntes. Os pratos são
classificados de acordo com o tipo de dispositivo, e podem ser: perfurados (Figura 6.10), com borbulhadores (Figura 6.11) ou
valvulados (Figura 6.12).
Além desses tipos de dispositivos de contato líquido-vapor, os recheios (ou enchimentos) podem ser utilizados no lugar dos
pratos em algumas seções. Os recheios mais comumente usados podem ser classificados em dois tipos: randômicos e
estruturados. Os recheios randômicos mais conhecidos são mostrados na Figura 6.13 e descritos a seguir:
— os anéis de Raschig (a) e as selas de Berl (b) são os mais antigos recheios e vêm sendo gradualmente substituídos por
outros mais eficientes;
— a sela Intalox (c) é considerada a nova versão da sela de Berl (b);
— os anéis de Pall (d) são recheios randômicos bastante usados, principalmente na destilação a vácuo; e
— o IMTP (Intalox Metal Tower Packing) (e) vem sendo mais usado nas torres atmosféricas.
Os recheios randômicos são lançados de forma desordenada dentro da torre, sem preocupação com o arranjo resultante,
como ilustrado na Figura 6.14.
Os recheios estruturados (Figura 6.15), também chamados de ordenados ou arrumados, são instalados dentro da torre de
forma organizada. Em geral, possuem maior eficiência do que os randômicos.
Figura 6.14 Torre recheada com anéis de Pall.
O número de seções recheadas é função da eficiência do recheio, o que obriga a uma redistribuição do líquido depois de
certo comprimento de torre preenchido com recheio, para garantir que estes estejam sempre adequadamente molhados pelo
líquido que desce.
■ Refluxo de topo
O refluxo de topo, ou refluxo externo de topo, é aquela corrente líquida produzida pela condensação de parte dos vapores de
topo, que retorna fria à torre no primeiro prato, onde será parcialmente revaporizada, saindo de novo pelo topo. Ao mesmo
tempo, o refluxo de topo resfria os vapores ascendentes, causando a condensação de compostos mais pesados e, com isso,
gerando uma corrente líquida que desce para o prato inferior, constituindo a corrente de refluxo interno que será responsável
pelo fracionamento da torre. Normalmente a vazão do refluxo interno, ou de líquido, tende a cair à medida que ele desce na
seção de absorção da torre.
■ Refluxo circulante
O refluxo circulante difere do refluxo de topo e do refluxo interno pelo fato de não sofrer vaporização à medida que desce na
região onde é introduzido. Ele é retirado da torre como líquido saturado (no ponto de bolha) a alta temperatura e retorna ao
sistema após ter sido resfriado pelo petróleo na bateria de preaquecimento, sendo essa economia de energia a sua principal
vantagem. Além disso, reduz a vazão do refluxo de topo e, portanto, a vazão de vapores que sobem pela torre, levando a um
projeto com menor diâmetro de torre e com menores cargas térmicas dos condensadores de topo.
Por outro lado, apresenta como desvantagens:
— aumenta o número de pratos na torre, pois a sua introdução implica ter uma região para se conseguir a troca de calor
interna, que levará o refluxo da condição de sub-resfriado à de líquido saturado, no prato de retirada;
— piora o grau de fracionamento, na região acima do prato em que é introduzido, pela diminuição da vazão do refluxo de
topo e, consequentemente, do refluxo interno que desce até o prato onde o refluxo circulante retorna à torre.
É na seção que fica entre as retiradas de GOP e de RV onde realmente se procura um fracionamento entre dois cortes
produzidos a vácuo. Leitos recheados vêm sendo largamente empregados, principalmente em face da baixa perda de carga
produzida e da melhor eficiência, comparativamente aos pratos.
O gasóleo residual (GOR) é constituído de uma mistura de componentes do RV e do GOP, e a sua separação visa manter a
qualidade do gasóleo pesado compatível com o processamento na UFCC ou no HCC. A panela de retirada do GOR também é
projetada para apresentar baixo tempo de residência, a fim de evitar a formação de coque, devido à ocorrência de elevadas
temperaturas nessa região, da ordem de 385 oC. O GOR retirado da panela, como não tem uso direto como produto, pode ser
encaminhado para o fundo da torre, se misturando ao RV ou é bombeado diretamente para tanque de óleo combustível.
Ao deixar a seção de fracionamento entre GOP e RV, os vapores de GOP entram na seção de troca térmica, em que são
condensados pelo próprio refluxo circulante de GOP, que retorna mais frio à torre. Depois de condensado, o GOP é retirado
através de sua panela de retirada, se resfria, aquecendo o petróleo na bateria, e se divide em duas correntes, GOP produto e GOP
refluxo circulante; esse último é resfriado e retorna para a torre no topo da seção de troca térmica.
Os vapores mais leves, não condensados na seção de troca térmica do GOP, seguem para a seção de troca térmica do GOL,
onde essa fração é condensada e totalmente retirada da torre através de uma panela de retirada. Da mesma forma que foi visto
para o GOP, a corrente de saída se divide em GOL produto e GOL refluxo circulante.
Os vapores de hidrocarbonetos que não são condensados na seção de GOL seguem para o topo da torre em direção ao
sistema de vácuo. É importante notar que não há líquido (refluxo interno) escoando internamente da seção de GOL para a de
GOP, portanto não existe fracionamento entre esses cortes. Isso porque, em geral, essas duas correntes são misturadas e
encaminhadas à UFCC. Apesar disso, elas são removidas separadamente por uma questão de economia de energia e também de
flexibilidade. Se existisse apenas uma seção de condensação, a temperatura de retirada desse produto seria bem mais baixa, uma
vez que o produto fica mais leve, e, portanto, menos carga térmica seria recuperada na bateria de preaquecimento.
Na necessidade de aumento da produção de diesel, o GOL pode ser utilizado como componente do diesel, desde que exista
um leito de fracionamento GOL-GOP, com refluxo interno de GOL fluindo para a seção de GOP.
Para se conseguir uma menor perda de carga na torre a vácuo e, consequentemente, menor pressão na zona de flash da torre,
os internos (pratos ou recheios) nas seções de troca térmica (GOL e GOP) vêm sendo eliminados, ou seja, apenas são utilizados
os borrifadores dos refluxos circulantes no topo de cada seção.
Ambas as correntes de GOL e GOP são enviadas para armazenamento sob controle de nível das panelas de retirada total,
onde são acumulados. Devido a medidas de economia de energia, o GOP e possivelmente o GOL podem ser enviados ainda
quentes diretamente para a UFCC, após fornecerem carga térmica ao petróleo na bateria de preaquecimento.
A pressão na zona de flash da torre, que determinará a maior ou menor vaporização dos cortes a serem produzidos, depende
basicamente: da pressão ótima estabelecida para o sistema de vácuo, que por sua vez depende do tipo de vácuo; da perda de
carga no sistema de topo e ao longo da torre, a qual depende da vazão de vapores ascendentes e do tipo de internos utilizados na
torre. O sistema de geração de vácuo é normalmente constituído de três estágios de ejetores com: intercondensadores, pós-
condensadores e pré-condensadores (no caso de vácuo úmido). Por questão de economia de energia, o último estágio de ejetores
vem sendo substituído por uma bomba de vácuo.
Os vapores condensáveis normalmente dão origem a duas fases: uma aquosa, em maior quantidade, e uma fase oleosa. A
fase oleosa, conhecida como gasóleo residual de topo (GORT), é formada por produtos de craqueamento térmico. Dependendo
da sua composição, pode ser incorporada a uma corrente específica, como o diesel, desde que não esteja contaminada com água
ou outras substâncias estranhas ao diesel. Quando contaminada com água, ela deve ser encaminhada ao separador de água-óleo
(S.A.O.). O óleo recuperado, por sua vez, constituirá o slop da refinaria, que deverá ser reprocessado.
Adiante serão discutidas as variáveis que podem ser manipuladas durante a operação de uma torre de destilação e como
estas influenciam o perfil de temperatura, a pressão e o refluxo interno da coluna, e, consequentemente, a qualidade do
fracionamento e/ou a qualidade dos produtos.
6.4.1.2 Pressão
A pressão na torre não é uma variável utilizada para os ajustes normais, devendo ser mantida constante para se ter uma operação
estável. Uma redução na pressão aumenta as volatilidades relativas dos componentes e aumenta a porcentagem vaporizada na
zona de introdução da carga, o que acarreta uma redução na produção de resíduo atmosférico e um aumento na produção das
frações destiladas, que apresentarão um PFE mais alto, ou seja, todos os produtos da torre ficarão mais pesados.
Assim, quanto menor a pressão utilizada na torre, maior o rendimento obtido em correntes destiladas e melhor o
fracionamento. Entretanto, a redução da pressão pode não ser viável em unidades que não possuem a torre pré-fracionadora,
porque a condensação de componentes leves (faixa do GLP) presentes no produto de topo seria prejudicada.
Para aumentar a retirada do último produto lateral da torre (normalmente o diesel pesado) e, consequentemente, a
temperatura do seu prato, mantendo-se as demais condições, a atuação não pode ser feita na sua vazão de retirada, em vista da
crítica redução do refluxo interno, anteriormente mencionado. A medida correta para se obter o efeito desejado, sem prejuízo da
cor do DP, é o aumento da temperatura de entrada de petróleo na torre, se o forno de carga não estiver sobrecarregado e/ou se a
temperatura do mesmo não estiver próxima do valor em que ocorreria o craqueamento térmico (~370 °C). Outra possibilidade
seria aumentar a vazão de vapor d’água no fundo da torre, desde que esta não ultrapasse os valores limites.
6.4.2.1 Temperatura
Diferentemente da torre atmosférica, o controle de temperatura é feito apenas na temperatura de saída do forno, cujo valor
deverá ser elevado para aumentar a produção de gasóleos de vácuo e/ou acertar a penetração desejada no CAP produzido no
fundo da coluna, sendo que valores de 420 ºC a 425 ºC [5] são praticados em algumas unidades. Deve-se lembrar, no entanto, que
uma temperatura muito alta (ou baixa vazão de carga), dependendo do petróleo processado e de limitações do forno, poderá
acarretar o craqueamento de alguns componentes e o coqueamento dos asfaltenos no interior dos tubos.
A panela coletora de GOR, situada acima da zona de separação, idealmente deveria ser capaz de reter qualquer componente
do RV arrastado para esse ponto da coluna, por absorção pelo sobrevaporizado que desce da seção de fracionamento. A
temperatura da panela de GOR é um bom indicador do arraste, pois uma baixa diferença de temperatura entre a zona de
separação e a panela de GOR indica uma baixa vazão de sobrevaporizado e um alto arraste de RV, com maiores riscos de
formação de coque nessa região da torre. Desde que a vazão de líquido esteja adequada para os internos da seção, e que não
ocorra entupimento dos bicos nebulizadores, essa temperatura poderá alcançar valores da ordem de 385 ºC.
A temperatura da panela de GOP será função da temperatura de saída do forno e da vazão de refluxo interno de GOP para a
seção inferior. Quanto maior essa temperatura, maior será a recuperação de calor pelo petróleo, por meio dos refluxos
circulantes.
O controle da temperatura de topo da torre é feito indiretamente pelo controle da circulação de GOL, visando a evitar a
passagem de hidrocarbonetos da faixa do gasóleo para o sistema de geração de vácuo. Quanto menor a temperatura do topo,
menor será a vazão de hidrocarbonetos para os ejetores, além da redução do volume específico da carga dos ejetores, o que é
benéfico para o sistema de vácuo. Em geral, a temperatura de topo não deve ultrapassar 80 ºC.
6.4.2.2 Pressão
A pressão de operação da torre deve ser a menor possível, de forma a necessitar de menor carga térmica nos fornos de carga da
torre a vácuo, além de beneficiar o fracionamento dos cortes.
Como discutido anteriormente, a pressão na zona de separação da torre, que determinará a maior ou menor vaporização dos
cortes a serem produzidos, depende basicamente: do tipo de vácuo empregado (seco ou úmido), da pressão estabelecida na
sucção dos ejetores, da perda de carga no sistema de topo e ao longo da torre, a qual depende da vazão de vapores ascendentes e
dos tipos de internos utilizados na torre.
Qualquer aumento na perda de carga ao longo da coluna que não possa ser atribuído a mudanças operacionais poderá indicar
que o eliminador de neblina situado abaixo da seção de GOP e/ou os recheios da seção de GOR estão obstruídos, provavelmente
por coque.
6.4.3.2 Pressão
Um aumento da pressão acarreta um pior fracionamento na torre, devido à diminuição da volatilidade relativa dos componentes;
como consequência, todos os produtos ficarão mais leves. O abaixamento da pressão é normalmente limitado pela dificuldade
de condensação do GLP no condensador de topo.
Quando a PVR do GLP está elevada, isso indica que a pressão de operação do sistema está alta e/ou a temperatura do topo
está baixa. Nesse caso, deve-se atuar no sentido de reduzir a pressão e/ou reduzir a vazão de refluxo de topo.
A vazão de refluxo deve ser mantida no mínimo compatível com o fracionamento desejado, para não esfriar inutilmente a
coluna e necessitar de uma maior carga térmica no refervedor.
REFERÊNCIAS
[1] RIAZI, M. R., Characterization and Properties of Petroleum Fractions, ASTM Stock Number: MNL50, 1. ed., USA, 2005.
[2] GARY, J. H.; HANDWERK & KAISER, M. J. Petroleum Refining: Technology and Economics. 5. ed. Florida: CRC Press, 2007.
[3] PTAK, C.; BONFILS, P.; MARTY, C. Distillation, absorption and stripping in the petroleum industry. In Wauquier, J.P. Petroleum
Refining, Separation Processes. v. 2, Ed Technip Paris: Technip, 2000.
[4] FAHIM, M.; AL-SAHHAF, T.; ELKILANI, A. Fundamentals of Petroleum Refining. Elsevier, Oxford, 2010.
[5] SPEIGHT, J. Z.; ÖZUM, B. Petroleum Refining Processes. New York, Marcel Dekker Inc., 2002.
*Embora conhecida como torre de retificação, o termo correto é
torre de esgotamento.
7.1 Introdução
A separação inicial do petróleo, feita nas unidades de destilação atmosférica e a vácuo, tem um limite, na medida em que as
frações de petróleo são suscetíveis à degradação térmica, a temperaturas superiores a 370 ºC. Assim, após a destilação a vácuo,
resta uma fração do petróleo, denominada resíduo de vácuo (RV), rica em compostos asfaltênicos, na qual ainda existem frações
oleosas que podem ter utilização mais nobre do que o simples emprego como óleo combustível, e que podem ser recuperadas na
unidade de desasfaltação a solvente (UDASF).
Portanto, a UDASF tem como objetivo recuperar do RV uma fração mais leve e com menor teor de contaminantes, o óleo
desasfaltado (ODES), rejeitando uma fração mais pesada, o resíduo asfáltico (RASF), conforme esquematizado na Figura 7.1.
O ODES pode ser carga da unidade de craqueamento catalítico fluido (FCC) ou do hidrocraqueamento (HCC), elevando a
geração de combustíveis, ou da unidade de lubrificantes, dando origem aos óleos básicos lubrificantes, elevando assim a
rentabilidade do refino. O RASF pode ser usado na formulação do cimento asfáltico de petróleo (CAP) ou diluído com
correntes mais leves para compor o óleo combustível.
A desasfaltação é um processo de extração líquido-líquido, baseado na diferença de solubilidade entre as frações de ODES e
RASF em um hidrocarboneto de baixo ponto de ebulição (solvente). Na sua primeira aplicação, o objetivo era a recuperação do
óleo básico bright stock, utilizando o propano como solvente. Posteriormente, o processo começou a ser empregado em maior
escala para aumentar a disponibilidade de carga para a unidade de FCC, e solventes de maior massa molar, tais como o butano e
mesmo o pentano, começaram a ser usados. A primeira planta de extração de óleo residual com propano líquido foi construída
em 1935. O processo foi desenvolvido com um esforço conjunto das empresas norte-americanas Pullmann Kellogg Co.,
Standard Oil Co. e Union Oil Co[1] e originalmente, eram empregados decantadores em múltiplos estágios, que depois foram
substituídos por colunas de extração em contracorrente.
Figura 7.2 Evolução da composição das frações residuais, de acordo com a análise SARA.
A qualidade da extração no processo de desasfaltação depende não só da formação das fases extrato e rafinado, mas também
da facilidade de decantação da fase precipitada, que, em última análise, depende principalmente da diferença de densidade entre
essas fases e da viscosidade da fase contínua (extrato).
Praticamente todo o solvente presente na fase asfáltica é vaporizado e deixa o topo do vaso VS4, seguindo para os
condensadores de solvente de ODES de média pressão. O RASF, contendo ainda um baixo teor de solvente, passa por uma
coluna retificadora (C2) que opera a baixa pressão, e, a seguir, é enviado para tanque de armazenamento após ser resfriado.
As correntes de “vapor d’água + solvente” que saem das retificadoras de ODES e de RASF são resfriadas e misturadas para
condensar e separar a água, que vai para o sistema de águas ácidas. O solvente é recomprimido e resfriado antes de ser enviado
ao vaso acumulador de média pressão.
O uso de múltiplos efeitos permite uma redução de consumo de energia na unidade, conforme mostrado na Tabela 7.1.
Tabela 7.1 Consumo relativo de energia em função do número de efeitos do sistema de recuperação de solvente do ODES[6]
Um estágio 100
Dois estágios 60
Três estágios 50
Ganhos adicionais de energia podem ser obtidos com a adoção da recuperação supercrítica ou da própria extração
supercrítica, descritas resumidamente a seguir.
■ Extração supercrítica
Uma redução no consumo de energia, e do número de equipamentos necessários para o processo, pode ser obtida, fazendo-se a
própria extração em condições supercríticas do solvente. A desasfaltação supercrítica foi estudada desde a década de 1950, mas
a primeira unidade em escala comercial foi implantada em 1979, numa refinaria da Pennzoil com a tecnologia da Kerr McGee
Co.[8,9] Nesse processo, a UDASF é projetada com duas etapas de decantação: na primeira ocorre apenas a rejeição da fase rica
em asfaltenos (RASF), substituindo a extração convencional, e na segunda ocorre a rejeição do ODES. A recuperação de
solvente do ODES e do RASF, por decantação, é complementada por uma simples retificação, gerando uma economia de
energia de cerca de 36 % em relação a uma UDASF com recuperação de solvente em dois efeitos. [9] Essa tecnologia tem sido
recomendada como uma opção de desengargalamento de unidades de fundo de barril (destilação a vácuo e coqueamento
retardado), podendo ser empregada na extração de frações pesadas do RAT [10,11] ou até mesmo de petróleos ultrapesados como
as areias betuminosas da região de Utah. [12] Outras empresas licenciadoras da tecnologia de extração supercrítica são a UOP
(processo UOP-Demex) e o IFP (processo IFP Solvahl).[13]
Penetração a 25 °C, mm - - 11 - - 0
a
% Em relação ao petróleo carga da destilação atmosférica;b e c % Em relação à carga da desasfaltação;
d
% Em relação à carga.
O resíduo de carbono (RC) e os teores de contaminantes são importantes quando o ODES é empregado como carga do FCC,
uma vez que uma carga mais parafínica (de menor RC) é mais facilmente craqueada, produzindo menos coque e mais nafta
durante o craqueamento catalítico. No caso da utilização do ODES para a produção de óleos básicos lubrificantes, todas as
propriedades mencionadas são importantes, porque influenciam a qualidade final do óleo básico e/ou suas condições de
processamento.
Uma vez que o RASF é a fração residual do processo, este não é produzido para atender a uma especificação particular, e
sua qualidade pode, de fato, ser limitante apenas por problemas de manuseio, controlados pelo ponto de amolecimento (< 150
ºC) e pela penetração (> zero).
Com relação ao efeito da solubilidade da carga no rendimento e na qualidade dos produtos, a primeira condição a ser
atendida é que a carga seja parcialmente imiscível com o solvente. A solubilidade depende da composição do RV e das
condições operacionais, sendo importante a obtenção de dados experimentais em laboratório para a seleção do solvente.
A qualidade do ODES em função do seu rendimento está ilustrada na Figura 7.13 e representada pelo parâmetro de
remoção, cujo valor é dado pela Equação (7.1). Quanto menor o parâmetro de remoção, melhor a qualidade do ODES.
Observa-se que:
— quanto maior o rendimento de ODES, maiores a sua quantidade de contaminantes e seu resíduo de carbono;
— a quantidade de metais no ODES se eleva acentuadamente para rendimentos acima de 70 %;
— a redução das quantidades de nitrogênio e de enxofre do RV para o ODES é menor do que para os metais.
■ Propano
O propano é o solvente mais utilizado quando o objetivo da unidade é a geração de cargas para a produção dos óleos básicos
lubrificantes bright stock e cilindro, porque quantidades maiores de asfaltenos e de resinas devem ser removidas para produzir
um óleo básico de boa qualidade.
Uma desvantagem do propano é que, como a sua temperatura crítica é de 96,8 ºC, a temperatura máxima de operação da
torre extratora fica limitada a aproximadamente 82 ºC. Assim, propano puro é inadequado para cargas muito viscosas, que
necessitam de temperaturas elevadas para uma boa dispersão na torre e uma transferência de massa adequada.
■ Butano
O solvente butano* é mais adequado para o preparo de cargas da UFCC ou da UHCC, quando a exigência de remoção de metais
e precursores de coque é menor, comparativamente às cargas para lubrificantes. O butano tem maior interesse no processamento
de cargas mais viscosas, porque, como a temperatura crítica do butano é alta ( Tabela 7.3), temperaturas de extração mais
elevadas podem ser utilizadas para reduzir a viscosidade da carga.
A maior desvantagem do uso do solvente butano é a sua menor seletividade para tratar cargas leves. Nesse caso, outras
variáveis podem ser usadas para se obter a qualidade desejada para o ODES.
■ N-pentano
Apesar de ser menos seletivo para a solubilização do óleo com baixos teores de contaminantes (S e N), o n-pentano produz um
rendimento elevado de ODES com baixos teores de metais. O ODES obtido pode ser empregado diretamente como carga para a
UFCC, ou, em alguns casos, pode ser hidrotratado e misturado com gasóleo de vácuo para diluição dos contaminantes.
O uso de um solvente mais pesado que o pentano (o hexano) resulta na produção de um cimento asfáltico muito duro
(denominado “Rock Asphalt”), de baixo interesse de produção.
No tocante ao RASF, a sua vazão no fundo da torre extratora aumenta com a temperatura e ele fica cada vez mais mole, por
ficar mais diluído pela maior parte da carga insolúvel no solvente, na temperatura de operação.
A temperatura máxima operacional deve ser estabelecida de forma que esteja abaixo da temperatura crítica do solvente, para
evitar instabilidade na operação da torre extratora. A temperatura mínima de extração, por outro lado, é definida para se obter
um bom contato na extratora e permitir um escoamento adequado da corrente de fundo (RASF + solvente). Valores típicos de
temperaturas praticadas para diferentes tipos de solventes são mostrados na Tabela 7.5.
O gradiente de temperatura assim estabelecido é então responsável pela geração de um refluxo interno, que leva a uma
melhor qualidade da separação de ODES e RASF, com a mínima perda de rendimento de ODES. Observa-se na Figura 7.15
que, a partir da condição isotérmica T 1, para se aumentar o rendimento, seria necessário reduzir a temperatura para T 2 (operação
isotérmica), mas essa redução resultaria em perda de qualidade. A adoção do gradiente de temperatura permite ganho de
rendimento com mínima perda da qualidade.
7.6.6 Pressão
A pressão não é considerada uma variável operacional e sim uma variável de projeto, sendo fixada num valor acima da pressão
de vapor do solvente, na temperatura máxima operacional, de forma a se manter o solvente na fase líquida. Valores típicos de
pressão na extratora para diferentes tipos de solventes são mostrados na Tabela 7.6.
Tabela 7.6 Pressão na torre extratora para os solventes: propano, butano e pentano[13]
REFERÊNCIAS
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[10] IQBAL, R.; KHAN, A.; ENG, O.; FLOYD, R. Unlocking current refinery constraints. PTQ Q2, 2008.
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[12] SUBRAMANIAN, M.; HANSON, F. V. Supercritical fluid extraction of bitumen’s from Utah oil sands. Fuel Processing
Technology, v. 55, p. 35-53, April, 1998.
[13] WAUQUIER, J. P. Petroleum refining: vol 2: separation processes, France: Technip, 2000.
[14] National Institute of Standards and Technology (NIST). Livro de química na web. Traduzido por Rui Pinto. Disponível em:
http://webbook.nist.gov/chemistry/. Acesso em: 12 abr. 2011.
*RCR – Resíduo de Carbono Ramsbottom.
*Entende-se solvente butano como uma mistura de “butano +
isobutano”.
8.1 Introdução
A unidade de coqueamento retardado (UCR) tem o objetivo de converter termicamente resíduos de petróleo em correntes
líquidas de maior valor agregado, com destaque para aquelas que irão compor a produção de óleo diesel. Nesse processo,
também é formado coque, cujo rendimento e qualidade dependem da qualidade da carga processada e das variáveis de processo
da unidade. O coque, apesar de ter menor valor de mercado em comparação com outros produtos da unidade, encontra mercado
no Brasil e no exterior em uma série de aplicações, dependendo da sua qualidade: combustível para a indústria cimenteira;
produção de anodo para indústrias de fabricação de alumínio e de produção de eletrodos de grafite para a siderurgia. [1]
As principais vantagens desse processo são:
— aumento da conversão dos petróleos pesados, agregando valor a petróleos nacionais;
— aumento da produção de óleo diesel;
— consumo de resíduo de vácuo, base para a formulação do óleo combustível, cuja demanda tende a se reduzir cada vez
mais;
— aumento da margem de refino das refinarias;
— tecnologia madura, por estar em constante evolução, desde 1920.
Os produtos da unidade são: gás combustível, GLP, naftas, gasóleos e coque. O coque produzido na UCR é denominado
coque verde de petróleo, e será denominado coque pelo mercado consumidor somente após ser calcinado em indústrias de
segunda geração. Por ser originário de resíduo de vácuo, o coque produzido apresenta altos teores de contaminantes: enxofre,
nitrogênio, oxigênio e metais.
Na Figura 8.1 estão mostradas as possíveis correntes de entrada e as correntes de saída típicas de uma unidade de
coqueamento, com seus rendimentos mássicos médios.
■ Iniciação
Esta etapa consiste no choque e na quebra, cisão homolítica, das moléculas, gerando radicais livres (espécies reativas com
elétrons desemparelhados), conforme a Equação (8.1).
■ Propagação
Os radicais formados na etapa de iniciação podem continuar reagindo com outras moléculas, gerando moléculas menores, por
meio da reação de abstração de um átomo de hidrogênio, Equação (8.2), ou pela decomposição do radical, Equação (8.3),
formando um hidrocarboneto olefínico e um novo radical (cisão da cadeia na posição b). Enquanto a abstração de hidrogênio é
favorecida por altas pressões, a decomposição do radical é beneficiada por baixas pressões.
■ Terminação
Os radicais podem também se combinar formando moléculas de maior tamanho de cadeia, Equação (8.4), ou formando duas
outras moléculas, uma olefínica e uma parafínica, Equação (8.5), na reação conhecida como desproporcionalização. [4]
As reações representadas pelas Equações (8.3) e (8.5) geram compostos olefínicos que conferem grande instabilidade
química aos produtos, já que esses hidrocarbonetos tendem a reagir com oxigênio, formando goma.
■ Decomposição homolítica
A simples quebra de hidrocarbonetos parafínicos resulta em dois novos compostos: um parafínico e um olefínico, Equação
(8.6).
■ Desidrogenação
A desidrogenação de parafínicos produz moléculas olefínicas com o mesmo comprimento de cadeia original, Equação (8.7). A
probabilidade de ocorrerem reações de desidrogenação de parafínicos diminui à medida que a massa molar do composto
aumenta.
Pode-se esperar a formação de coque devido às reações secundárias (polimerização) envolvendo os olefínicos formados no
craqueamento primário (Equações (8.6) e (8.7)). É pouco provável que ocorra isomerização de parafínicos.
Quando as condições de craqueamento são muito severas (pressão e temperatura altas), pode-se esperar:
— a formação de dienos pela desidrogenação e decomposição de olefínicos;
— a reação secundária entre dienos e olefínicos, produzindo ciclo-olefínicos ou, em pressões mais altas, naftênicos ou
aromáticos, como exemplificado na Equação (8.9);
— reações de alquilação de olefínicos com parafínicos.
■ Desalquilação
As cadeias laterais dos anéis são quebradas (desalquilação), formando hidrocarbonetos olefínicos e pequenos radicais alquilas,
Equação (8.10), ligados ao anel naftênico (grupos etila e metila).
■ Desidrogenação
Remoção de hidrogênio, formando compostos aromáticos, Equação (8.11).
■ Decomposição homolítica
Consiste no rompimento de anéis naftênicos em temperaturas na faixa de 520 °C a 650 °C, formando moléculas olefínicas com
cadeias curtas, tais como eteno, propeno e butadieno, com liberação de hidrogênio.
Após o preaquecimento, a carga fresca (CF) é normalmente enviada à região de fundo da torre fracionadora, conhecida
como torre combinada, por ter as funções de fracionamento dos produtos do craqueamento e de vaso de acúmulo de carga
(Figura 8.4), onde ocorre a incorporação do reciclo natural à carga fresca. O reciclo natural é a parte mais pesada dos produtos
do craqueamento térmico da carga que, em vez de ser retirado da torre, desce até o fundo, se misturando à carga fresca e dando
origem à carga combinada (CC). A razão de reciclo (RR) é uma variável importante no processo, expressa como:
A carga combinada, após passar por um filtro existente no fundo da fracionadora, é bombeada para o fornoreator (Figura
8.5), onde se iniciam as reações de craqueamento térmico. O projeto do forno é feito visando a retardar a formação de coque,
que deve ocorrer apenas no interior do tambor de coque, minimizando depósitos no interior dos tubos. Esse fato dá o nome ao
processo: coqueamento retardado.
Um procedimento para reduzir a formação de coque no interior dos tubos do forno é a injeção de vapor d’água, cujo efeito é
aumentar a turbulência e a velocidade de escoamento da mistura. Seu uso, portanto, é fundamental para aumentar a vida útil do
equipamento e aumentar a confiabilidade da unidade.
A despeito do projeto do forno e da prática de injeção de vapor, devido às variações na qualidade da carga e à operação em
condições severas, no intervalo de seis meses a um ano, a operação do forno deve ser interrompida para a remoção de coque e
de eventuais depósitos inorgânicos, provenientes dos contaminantes da carga.
O efluente do forno, a aproximadamente 500 oC e parcialmente vaporizado (~25 % em massa), segue para o tambor de
coque, também chamado de reator, através da linha de transferência (LT). O forno alimenta sempre dois tambores de coque,
alternadamente, de forma que em unidades com quatro tambores são necessários obrigatoriamente dois fornos. Para cada par de
tambores, enquanto o primeiro recebe a carga combinada, o segundo passa por etapas de remoção do coque (descoqueamento),
limpeza e recolocação em operação.
A formação do coque dentro do tambor ocorre de baixo para cima (Figura 8.6), da seguinte forma: a parte líquida da carga
se acumula no tambor, e a maior parte dos vapores se condensa nas suas paredes mais frias, escorrendo e se juntando à massa
líquida. Com o tempo e o aquecimento do tambor, as reações de craqueamento formam produtos mais leves do que a carga,
enquanto as reações secundárias dão origem ao coque. O fluxo contínuo da carga gera um canal principal, através do coque,
similar ao tronco de uma árvore, que depois se ramifica. O líquido vai, progressivamente, sofrendo craqueamento, os vapores
formados vão subindo através dos canais na massa de coque e o nível de coque vai aumentando em direção ao topo do tambor
até que seja necessário interromper a operação para a remoção do coque. O acompanhamento do nível de coque é feito por
sensores radioativos, usualmente localizados a 50 %, 75 % e 90 % do nível do tambor.
Figura 8.6 Esquematização do enchimento do tambor de coque.
Uma característica do enchimento do tambor é a formação de espuma na interface líquido-vapor. Como o nível de espuma
pode crescer muito e arrastar finos de coque para a fracionadora, é necessário iniciar a injeção de um produto antiespumante à
base de silicone, quando o nível de coque chega a aproximadamente 50 % do tambor, mantendo-a até o fim do enchimento.
Para que a troca de tambores não provoque a parada da unidade ou do forno, existe uma válvula na linha de transferência
forno-tambor, conhecida por switch valve, para desviar o fluxo do primeiro para o segundo tambor, que se encontra limpo, vazio
e aquecido à temperatura aproximada de 315 ºC, ou seja, pronto para entrar em operação.
A temperatura do topo do tambor de coque se situa em torno de 440 ºC, em função das reações endotérmicas de
craqueamento. Na tubulação de saída do tambor, ocorre o resfriamento dos vapores de hidrocarbonetos, pela injeção de uma
corrente mais fria, por exemplo, GOMK ou GOPK a 50 ºC, com o objetivo de interromper imediatamente as reações e evitar a
formação de coque na tubulação que liga o tambor à torre fracionadora.
A pressão manométrica no topo do tambor varia de 100 kPa a 340 kPa em função do projeto da unidade, da qualidade
desejada para o coque e da vazão de carga combinada, relativa ao valor de projeto. Essa pressão é controlada na sucção do
compressor, localizado a jusante do vaso de topo da torre combinada.
Os vapores, provenientes do tambor de coqueamento, são admitidos na região de fundo da torre combinada, sendo
inicialmente dessuperaquecidos por contato direto com o reciclo interno de GOPK. A parte mais pesada dos vapores condensa,
gerando assim o reciclo natural, que se incorpora à carga fresca para formar a carga combinada.
Como mostrado na Figura 8.7, a torre intercala regiões de fracionamento e de troca térmica entre as retiradas dos produtos.
Tipicamente, os internos da torre são: pratos perfurados na seção de fracionamento de topo (NLK × NPK) e na seção de
fracionamento de fundo, chicanas na região de dessuperaquecimento e pratos de alto desempenho ou recheios, nas demais
seções de fracionamento e de troca térmica.
As correntes de produtos laterais da torre podem trocar calor com a carga e são resfriadas, antes de serem enviadas para
armazenamento ou processamento em outras unidades. Os refluxos circulantes da torre servem como fluidos quentes para
preaquecimento da carga da unidade e para os refervedores das torres da seção de recuperação de gases. A nafta pesada
circulante atua como fluido de absorção na seção de recuperação de gases.
A nafta efluente da torre retificadora é separada em GLP e nafta leve (estabilizada) na torre desbutanizadora, que possui um
refervedor que utiliza GOMK ou GOPK, como fluido de aquecimento, que, à semelhança da torre retificadora, pode contar
ainda com outro refervedor utilizando vapor de média pressão. O GLP e a nafta leve produzidos estão prontos para ser enviados
para as unidades de tratamento.
Etapa Tempo
2. Switch 0,5 h
5. Drenagem da água 2h
6. Abertura do tambor 1h
7. Descoqueamento 4h
8. Fechamento do tambor 1h
Alguns autores relatam ciclos de até 12 h;[8,9] no entanto, um ciclo reduzido provoca maior estresse térmico dos tambores nas
etapas de aquecimento e resfriamento, o que leva à redução do seu tempo de vida útil.
As principais características das etapas do ciclo de operação do tambor são:
■ switch: é a operação de abertura e fechamento das válvulas que comandam a admissão de carga para o tambor vazio ou
corte de carga do tambor cheio;
■ purga do leito de coque com vapor d’água: o objetivo da purga é recuperar os hidrocarbonetos que ficaram retidos no
leito de coque, por retificação com vapor d’água, reduzindo assim o teor de matéria volátil (VCM) do coque produto. A
purga é iniciada antes mesmo do corte de carga, evitando o fechamento dos canais na massa de coque, o que levaria à
formação de pontos quentes (hot spots), na etapa de resfriamento do leito. Durante a purga, o efluente do tambor,
constituído de uma mistura de vapor d’água e hidrocarbonetos, é direcionado inicialmente para a torre fracionadora e,
depois de certo tempo, com a queda do teor de hidrocarbonetos, é desviada para o vaso de blowdown;
■ resfriamento: antes da abertura do tambor é necessário o resfriamento do leito de coque, pois a sua temperatura encontra-
se acima de 400 ºC. A água de resfriamento introduzida no tambor se vaporiza, provocando uma purga adicional dos
compostos voláteis para o sistema de blowdown e resfriando o leito. Essa etapa é delicada, pois um resfriamento muito
rápido pode provocar deformações no tambor devido à diferença entre os coeficientes de expansão térmica do coque e do
aço;
■ drenagem: concluído o resfriamento, o tambor é despressurizado e a água é drenada para o decantador de finos de coque e
então recuperada e armazenada no tanque de água clarificada, para reutilização;
■ abertura do tambor de coque: esta etapa pode ser realizada de duas maneiras: manualmente, com a remoção dos flanges
de fundo e de topo; ou de forma automática, utilizando-se uma válvula corrediça no fundo e no topo, que traz como
vantagens maior agilidade e segurança operacional;
■ descoqueamento: após a abertura dos flanges de topo e de fundo do tambor, inicia- se a remoção do coque, por meio de
uma operação de perfuração, normalmente em duas etapas. Primeiramente, faz-se um furo central no leito de coque,
utilizando-se uma lança perfuratriz e água a alta pressão (24,5 MPa). Em seguida, troca-se a ponta da lança por outra
apropriada ao corte e, também com água a alta pressão, se realiza a remoção completa do coque (Figura 8.9), podendo a
remoção ser feita por camadas de 3 m, aproximadamente. Atualmente, podese também utilizar uma ferramenta
combinada, que possui as duas funções: furo central e corte da massa de coque, não sendo necessária a troca da
ferramenta. Esse procedimento pode ser responsável pela geração excessiva de finos de coque;
Figura 8.9 Esquematização do descoqueamento: furo central e remoção do coque por camadas.
■ purga com vapor e teste de estanqueidade: terminado o corte do coque, e após a recolocação dos flanges, o reator deve
ser purgado com vapor d’água para expulsão do ar e pressurizado para verificação de possíveis vazamentos;
■ aquecimento: o aquecimento é importante para aproximar as temperaturas do tambor e da carga, evitando um resfriamento
excessivo da massa reacional e a interrupção das reações em cadeia. O aquecimento ocorre pelo desvio de parte do
efluente do tambor que se encontra no fim da etapa de enchimento para aquele que entrará em operação. A temperatura do
tambor ao final desta etapa é em torno de 315 ºC.
De acordo com a etapa do ciclo do tambor, o seu efluente sofre alterações significativas de vazão, composição e
temperatura. Os principais sistemas que atuam como amortecedores dessas flutuações são a torre combinada, que recebe os
vapores de hidrocarbonetos efluentes dos tambores, e o sistema de blowdown, que recebe o vapor d’água nas etapas de purga e
resfriamento.
Para manter a continuidade operacional, os tambores trabalham em pares: enquanto um tambor está na etapa de enchimento,
o outro está passando pelas demais etapas do ciclo de operação. Caso haja algum atraso numa das etapas do ciclo, deve-se
reduzir a carga da unidade, de forma a manter o tempo de enchimento de um tambor igual ao tempo de descoqueamento do
outro.
Os principais equipamentos do sistema de blowdown são: vaso de blowdown, resfriador a ar, vaso de separação água-óleo e
vaso de resíduo.
■ Vaso de blowdown
Este é o primeiro equipamento da seção a receber os vapores efluentes dos tambores, com temperatura inicial em torno de 400
ºC, e que diminui à medida que ocorre o resfriamento do tambor. Antes de entrarem no vaso de blowdown, os vapores são
resfriados por contato direto com água industrial ou com outras correntes, como a água ácida ou o próprio resíduo do
blowdown.
A maior preocupação no projeto e operação desse sistema é a presença de água líquida no interior do vaso de blowdown.
Para evitar essa ocorrência e, consequentemente, a formação de emulsão na fase líquida do vaso, a temperatura deve ser mantida
acima do valor em que ocorre condensação de água (em torno de 180 ºC).
A fase oleosa do vaso pode ser direcionada diretamente para a torre combinada, se estiver isenta de água, ou usada como
quench do próprio vaso de blowdown. Em alguns projetos, a fase oleosa é aquecida antes do envio para a torre combinada, de
forma a garantir a vaporização de toda a água, evitando sua expansão brusca ao entrar na torre.
Quando não existir o recurso de aquecimento e quando a temperatura do efluente do tambor de coque estiver baixa (< 180
ºC), os vapores efluentes do tambor de coque serão resfriados e enviados diretamente para o separador água-óleo, sem passar
pelo vaso de blowdown.
■ Condensador
Este resfriador tem a finalidade de condensar os vapores de topo do vaso de blowdown, que contêm vapor d’água e
hidrocarbonetos leves, antes de enviá-los para o separador água-óleo.
■ Separador água-óleo
O separador água-óleo é, na verdade, um separador trifásico, cujos efluentes são: frações leves, que são enviadas para o vaso de
topo da torre combinada ou para tocha; água, que é enviada para o tratamento de águas ácidas; e óleo, que segue para o vaso de
resíduo ou para reprocessamento direto. Uma característica desse vaso, assim como do vaso de blowdown, é a tendência à
formação de emulsão no seu interior, o que prejudica a separação das fases, por isso algumas refinarias adicionam agentes
desemulsificantes antes desse vaso.
■ Vaso de resíduo
A introdução deste vaso, específico para o recebimento de resíduo, se justifica pela necessidade prática de recebimento da
descarga de válvulas de segurança de determinados pontos da UCR, o que, consequentemente, eleva muito o volume de
hidrocarbonetos recebidos no sistema de blowdown.
8.5 Produtos
Os produtos da UCR possuem em geral teores elevados de hidrocarbonetos olefínicos, além dos contaminantes provenientes da
carga que são distribuídos nos produtos. Por isso, todas as correntes de saída, com exceção do coque, devem passar por algum
tratamento ou processamento adicional visando a sua estabilização (remoção de compostos diolefínicos) e redução dos teores de
contaminantes, antes de sua utilização final. Uma descrição dos produtos, suas características e usos são apresentados a seguir.
8.5.2 GLP
O GLP é constituído principalmente por: propano, propeno, butanos e butenos. Após o tratamento para a remoção de H2S com
aminas, seguida da remoção dos mercaptanos, pelo tratamento cáustico regenerativo (TCR), o GLP é enviado para
armazenamento e comercialização.
8.5.6 Coque
O tipo de coque produzido é função principalmente da qualidade da carga, embora outras variáveis de processo também
influenciem a sua qualidade, como a razão de reciclo, a pressão e a temperatura no topo do tambor de coque. Um breve resumo
dos tipos de coque, das cargas empregadas e do seu mecanismo de formação está apresentado na Tabela 8.2.
Coque esponja grau anodo Baixos teores de asfaltenos e contaminantesa Mecanismo misto de formação
— elevação da temperatura da carga combinada, por estar a uma temperatura mais elevada (~ 400 ºC) do que a da carga
fresca;
— melhora da qualidade do GOPK e redução da sua produção;
— aumento da produção de leves: GC, GLP, NPK e GOLK, pelo craqueamento do GOPK, e aumento da formação de
coque, via reações de condensação;
— melhora da qualidade do coque, sendo que o aumento da razão de reciclo, quando se processa uma carga com alto teor de
asfaltenos, diminui a tendência de formação de shot coke;
— aumento do tempo de campanha do forno, pela redução da tendência de coqueamento dos tubos do forno, uma vez que o
reciclo atua como diluente de asfaltenos, reduzindo a sua precipitação.
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[10] JAKOB, R. R. Coke Quality and how to make it. Hydrocarbon Processing. p. 132-136, Sept. 1971.
[11] LIEBERMAN, N. P. Troubleshooting process operations. Oklahoma: PennWell, 1985.
[12] ADAMS, H. A. Basic principles of delayed coking. USA, Adams Consulting Enterprises, 1994.
*A fim de diferenciar os produtos da UFCC dos originários da
UCR, as siglas dos produtos da UCR levam a letra K.
*UHCC: Unidades de Hidrocraqueamento Catalítico.
*VCM: Volatile combustible matter.
9.1 Introdução
O craqueamento catalítico é o mais utilizado processo de refino para converter frações pesadas em derivados mais nobres, como
a gasolina e o GLP. Processos em leito móvel de catalisador, como o Thermafor Catalytic Cracking (TCC), foram utilizados até
recentemente, no entanto, o Fluid Catalytic Cracking (FCC) predomina nas refinarias atuais.[1] Essa denominação é decorrente
do emprego de um catalisador, na forma de um pó muito fino, que se comporta como um fluido quando “aerado” por uma
corrente na fase vapor.
Ao entrar em contato com o catalisador em temperatura elevada, a carga do processo, constituída de frações pesadas do
petróleo, se vaporiza e sofre decomposição, gerando uma mistura de faixa de destilação muito mais ampla do que a carga
original e, portanto, mais rica em componentes leves. Paralelamente à produção de nafta e GLP, são também formados gás
combustível e produtos mais pesados do que a nafta, que são o óleo leve de reciclo (LCO) e o óleo decantado (OD), como
mostrado na Figura 9.1. Além disso, em decorrência das reações de craqueamento, ocorrem também a formação e a deposição
de coque sobre o catalisador, o que torna necessária a sua remoção, por combustão, para que a ação catalítica seja restaurada a
cada passagem do catalisador pela etapa de reação.
Para permitir a alternância das etapas de reação e de regeneração do catalisador, o esquema de processo é concebido de tal
forma que o catalisador, após passar pelo equipamento onde ocorre a reação, conhecido como riser, é separado dos produtos da
reação, no vaso separador, é regenerado no regenerador e, finalmente, retorna ao riser para iniciar um novo ciclo de reação-
regeneração. Além de retornar ao riser com atividade catalítica recuperada, o catalisador regenerado atua como um veículo de
transferência de calor do regenerador para a carga e o riser.
Figura 9.1 Entradas e saídas do FCC e rendimentos mássicos aproximados das correntes.
9.2 Fundamentos
Enquanto no craqueamento térmico o mecanismo de quebra de moléculas envolve a formação de radicais livres, no
craqueamento catalítico o composto intermediário formado no sítio ativo do catalisador é um íon positivamente carregado,
conhecido como carbocátion (Figura 9.2), que é muito reativo. Os sítios ativos do catalisador são chamados de ácidos, pois são
ávidos por compartilhar prótons H+, e estão espalhados na superfície interna dos poros do catalisador.
A facilidade de formação dos carbocátions é função do tamanho das moléculas de hidrocarboneto presentes e da sua forma
estrutural; quanto maior o tamanho da cadeia, mais fácil é a formação do carbocátion. Portanto, moléculas de cadeia longa como
as que estão presentes na carga do FCC reagem mais facilmente do que as de cadeia curta.
As principais reações químicas do processo de FCC, assim como as características mais importantes do catalisador, são
discutidas a seguir.
Conforme as reações primárias avançam, a temperatura do meio reacional diminui e se iniciam as reações mais lentas e de
caráter exotérmico, conhecidas como reações secundárias, resumidas na Figura 9.4, que são: a isomerização, a transferência de
hidrogênio,[4] a hidrogenação, a alquilação, a ciclização e a condensação molecular, que dá origem ao coque.
Figura 9.4 Reações secundárias de olefinas.[3]
Além das reações catalíticas, inevitavelmente ocorre também o craqueamento térmico, somente pela disponibilidade de
energia térmica no meio reacional, e, nesse caso, o catalisador não participa diretamente das reações.
Embora o mecanismo básico de craqueamento catalítico seja essencialmente o mesmo, isto é, via carbocátion, o caminho e a
intensidade de quebra variam dependendo dos hidrocarbonetos presentes: parafínicos, olefínicos, naftênicos e aromáticos,
conforme discutido a seguir.
■ Parafínicos
A velocidade e os produtos das reações de craqueamento dos hidrocarbonetos parafínicos dependem do tamanho e da estrutura
das parafinas originais. Essas reações são caracterizadas pela alta geração de olefinas com 3 e 4 átomos de carbono (propeno e
butenos). Reações secundárias, de isomerização e formação de compostos aromáticos envolvem moléculas de olefinas,
formadas nas reações primárias.
■ Naftênicos
A reação mais frequente dos hidrocarbonetos naftênicos é a desidrogenação formando anéis aromáticos (aromatização). [1]
Ocorrem também as reações de quebra do anel, o craqueamento da cadeia lateral (desalquilação) e a isomerização. Essa última
pode ocorrer pela redução do tamanho do anel e do aumento da cadeia lateral ou por meio da migração dos radicais pelas
posições do anel.
Devido à estabilidade do carbocátion gerado, os hidrocarbonetos naftênicos e os parafínicos ramificados reagem mais
rapidamente do que os parafínicos lineares.
■ Aromáticos
As moléculas aromáticas sofrem desalquilações e outras reações na cadeia lateral, mas o anel aromático não é quebrado nas
condições de operação do craqueamento catalítico.[5] Aromáticos polinucleares produzem coque via condensação de anéis,
tendendo a desativar os sítios do catalisador rapidamente.
■ Olefínicos
Os hidrocarbonetos olefínicos não estão presentes nos gasóleos oriundos da destilação a vácuo e da desasfaltação, mas, quando
o FCC processa nafta ou gasóleo oriundo da UCR, as olefinas vêm com essas frações.
Os olefínicos reagem mais rapidamente do que os parafínicos, pois a formação do carbocátion requer uma menor energia.
As reações de isomerização de olefinas, seguidas por reações de saturação e aromatização, são responsáveis pelo alto número de
octano da nafta de craqueamento. Uma reação secundária importante é a transferência de hidrogênio de um anel naftênico para
uma olefina, com a consequente formação de compostos aromáticos que, por reações em cadeia com olefinas cíclicas, geram
compostos policíclicos condensados, que são os precursores de coque. O alto teor de hidrocarbonetos aromáticos nos produtos
mostra a significância dessa reação e explica o menor teor de olefínicos do que o gerado por craqueamento térmico.
Quando o objetivo do processo é a produção de hidrocarbonetos olefínicos, considerando-se a sua alta reatividade, a
produção desses compostos poderá ser preservada, trabalhando-se com baixa pressão parcial de hidrocarbonetos e com
catalisadores específicos, que desfavoreçam as reações de transferência de hidrogênio.
Um resumo das principais reações em função da família de hidrocarbonetos, considerando as reações primárias e
secundárias, está apresentado na Tabela 9.1.
9.2.2 Conversão
No processo de FCC, a conversão é definida como a fração mássica da carga fresca que é convertida em produtos mais leves do
que a carga (gás combustível, GLP e nafta) e em coque, podendo ser calculada conforme a Equação (9.1). Os valores de
conversão variam de 65 % a 80 %, dependendo da qualidade da carga, do tipo de catalisador e das condições de processamento.
Olefínicos
Craqueamento
Ciclo-olefínicos, aromáticos
Desidrogenação
Naftênicos
Isomerização e transalquilação
Naftênicos com diferentes tamanhos
(transferências de radicais alquilos)
de anéis
■ Zeólita
A zeólita, cuja representação está mostrada na Figura 9.5, é o componente ativo do catalisador, onde se encontram os sítios
ativos, que são os principais responsáveis pelas reações. A zeólita é um aluminossilicato microcristalino, ou seja, possui um
arranjo tridimensional bem definido, que confere ao catalisador zeolítico alta porosidade e área superficial e, devido à
homogeneidade do tamanho de poros, permite um melhor acesso das moléculas aos sítios ativos, que, por sua vez, estão
também muito expostos. Em consequência, a atividade catalítica é extremamente alta.
■ Matriz
A matriz pode ser dividida em: inerte (caulim), ativa (alumina) e sintética (sílica).
■ A matriz inerte (caulim) é usada como um suporte, para conferir resistência mecânica e dureza ao catalisador, sem
interferir nas reações de craqueamento. Além disso, devido ao seu menor valor comercial, diminui o custo do catalisador.
■ A matriz ativa (alumina) tem como objetivo promover a quebra de moléculas grandes, facilitando o acesso de moléculas
menores às zeólitas, e é um componente do catalisador especialmente importante quando se está interessado em craquear
resíduos. Por ter ação catalítica, sua incorporação ao catalisador promove também o aumento da formação de coque.
■ A matriz sintética (sílica) é o agente responsável pela incorporação da zeólita à matriz, agindo como elemento aglutinador.
Por não possuir ação catalítica, serve apenas como elemento de constituição do suporte da matriz.
■ Ingredientes funcionais
Ingredientes funcionais são aditivos anexados ao catalisador com objetivos específicos e predefinidos. Nessa situação podemos
citar: promotor de combustão, armadilha para metais, redutor de emissão de SO x e NOx, melhorador do número de octano da
nafta (zeólita do tipo ZSM-5), entre outros. Esses aditivos são normalmente de custo sensivelmente mais alto do que o
catalisador sem aditivos.
As proporções entre os componentes do catalisador podem ser alteradas em função do objetivo da unidade: maximização da
produção de nafta, maximização de hidrocarbonetos olefínicos leves ou LCO, processamento de cargas pesadas etc. A alteração
da composição do catalisador modifica a sua atividade e seletividade.
Antes de entrar na unidade, o catalisador é chamado de virgem. Após entrar no processo, o catalisador tem sua estrutura e
propriedades modificadas pela exposição a alta temperatura e pelo contato com vapor d’água, além da contaminação pelos
metais presentes na carga e pelo coque gerado pelas reações químicas, e passa a ser chamado de catalisador de equilíbrio ou
regenerado. O catalisador virgem é muito mais ativo que o de equilíbrio, e, por esse motivo, uma substituição parcial do
inventário de catalisador precisa ser feita continuamente na UFCC. Pela sua reposição contínua, o catalisador do FCC torna-se
um dos insumos mais caros de uma refinaria.
No circuito de reação-regeneração da UFCC, o catalisador pode ser ainda classificado como:
■ catalisador gasto: é aquele que tomou parte nas reações de craqueamento, estando impregnado de coque. Seu teor em
massa de carbono é de 1,0 % a 1,2 %, e a sua cor é preta;
■ catalisador regenerado: é aquele que tomou parte nas reações de craqueamento, porém parte do coque a ele agregado já foi
queimada no regenerador, estando apto a promover novas reações. Seu teor em massa de coque é de 0,1 % a 0,5 % e sua
cor é cinza-claro.
Os principais fabricantes mundiais de catalisadores para craqueamento são a Albemarle (ex-Akzo Nobel), a Engelhard e a
Grace. Há no Brasil a Fábrica Carioca de Catalisadores S.A. (FCC S.A.), que utiliza tecnologia desenvolvida em conjunto pela
Albemarle e a Petrobras, e é a responsável pelo abastecimento das refinarias brasileiras.
A temperatura de reação usualmente considerada é a temperatura no final do riser, e situa-se entre 520ºC e 545ºC, conforme
o tipo de carga, o catalisador e o interesse na maximização de um determinado produto (nafta, GLP ou LCO). Os
hidrocarbonetos ascendem pelos ciclones secundários para finalmente sair pelo duto superior, em direção à câmara plena, de
onde são direcionados à fracionadora principal. O catalisador gasto se acumula no fundo do vaso separador ainda contendo
vapores de hidrocarbonetos em seus poros e nos espaços entre as partículas de catalisador. De modo a recuperar parte desses
hidrocarbonetos, o catalisador gasto é retificado com vapor d’água num retificador posicionado imediatamente abaixo do vaso
separador e dotado de chicanas ou recheios para promover o contato do catalisador com o vapor d’água.
Figura 9.8 Funcionamento esquemático de um ciclone.
Além da recuperação de gases, o vapor d’água mantém a fluidização do catalisador, facilitando o seu escoamento e a
transferência para o vaso regenerador através da tubulação de catalisador gasto, conhecida como standpipe de catalisador gasto.
Nessa tubulação existe uma válvula corrediça que controla o nível de catalisador no retificador.
A função do regenerador é queimar o coque depositado no catalisador, transformando-o em gases de combustão. Com a
queima do coque, não somente ocorre a regeneração do catalisador como também, paralelamente, há uma intensa liberação de
energia, elevando a temperatura do catalisador regenerado para valores entre 680 ºC e 720 ºC. Cabe ressaltar que a energia
proveniente da combustão do coque é a maior fonte de energia para o processo de FCC, uma vez que, devido à contínua
remoção do catalisador regenerado levado à base do riser, a energia transportada é suficiente para aquecer e vaporizar a carga,
além de suprir a necessidade térmica das reações de craqueamento.
O ar requerido para a queima é suprido por um compressor de ar (soprador) de grande capacidade e injetado no regenerador
através de um distribuidor de formato tubular ou circular, localizado no fundo. Uma distribuição eficaz do ar melhora
substancialmente a eficiência da regeneração do catalisador, e é um aspecto relevante no projeto do conjunto conversor. Um
aquecedor de ar é parte integrante do sistema, mas só é utilizado na partida da unidade, fornecendo a energia necessária para
elevar a temperatura do regenerador ao ponto em que se inicia a combustão do coque.
O íntimo contato entre o catalisador e o ar e, posteriormente, os gases de combustão formados, permite a manutenção da
fluidização do leito, podendo-se distinguir, dentro do regenerador, duas regiões, de acordo com a densidade de partículas
sólidas:
■ fase densa: região onde predomina a massa de sólidos e onde o catalisador absorve a carga térmica gerada pela combustão;
■ fase diluída: região acima da fase densa onde predominam os gases de combustão mas ainda existe uma grande quantidade
de finos de catalisador, que são quase totalmente recuperados pelo conjunto de ciclones do regenerador, normalmente de
duplo estágio (dois ciclones em série).
Na fase diluída ocorre também liberação de calor devido à reação de CO e O2, gerando CO2, mas nessa região o catalisador
é escasso e não absorve uma parcela tão significativa de energia como na fase densa. É comum as temperaturas se elevarem 10
ºC a 20 ºC acima da fase densa, mas a ocorrência de disparos da temperatura é um problema operacional grave, pois causa
danos aos materiais dos equipamentos, além de desativação do catalisador.
Os gases de combustão, os inertes e os finos de catalisador não recuperados deixam o segundo estágio de cada conjunto de
ciclones e alcançam a câmara plena do regenerador, que serve não só como câmara coletora dos gases, mas também como ponto
de sustentação dos ciclones.
O catalisador acumulado na fase densa retorna ao riser pelo standpipe de catalisador regenerado, onde há uma válvula
corrediça que faz o controle da temperatura no topo do riser, de forma que, quanto maior o valor fixado para essa temperatura,
maior a circulação de catalisador pelo standpipe e pelo riser.
O regenerador pode ser classificado, conforme o avanço da queima, como:
■ regenerador de combustão parcial: nesse caso o volume de ar alimentado para a combustão do coque no catalisador é
insuficiente para a queima completa, Equações (9.2) e (9.3), ou seja, parte do CO não é convertida a CO 2;
A energia dos gases de combustão é recuperada na forma de energia elétrica e na forma de vapor d’água de alta pressão.
Para a primeira, utiliza-se um turboexpansor e, para a segunda forma, utiliza-se uma caldeira que, no caso da combustão parcial,
é a própria caldeira de CO e, no caso da combustão total, é uma caldeira recuperadora de energia. Um esquema da seção de
gases de combustão é apresentado na Figura 9.11.
Figura 9.11 Desenho esquemático típico da seção de gases de combustão.
Os gases efluentes do regenerador são enviados para o terceiro estágio de ciclones e, depois, direcionados ao turboexpansor,
onde o gás atua como fluido motor de um gerador de eletricidade. Antes de ser enviado para a caldeira recuperadora ou para a
caldeira de CO, o gás passa por uma grande válvula chamada de diverter valve, que direciona os gases diretamente para a
chaminé, caso a caldeira esteja inoperante.
No caso da caldeira de CO, os gases recebem uma quantidade adicional de ar e, por meio de um conjunto auxiliar de
queimadores a gás combustível, são transformados em CO 2. Na caldeira recuperadora, não há a necessidade de queima do CO
residual, o que torna o equipamento mais barato e mais fácil de ser operado.
No caso da inexistência do turboexpansor ou de essa máquina estar fora de operação, os gases de combustão devem passar
por um sistema redutor de pressão, de forma a compatibilizar a pressão de trabalho do regenerador (200 kPa a 400 kPa) com a
da caldeira, próxima à pressão atmosférica. Esse sistema é constituído de um par de válvulas corrediças paralelas (slide valves)
e de uma torre provida de vários pratos perfurados, conhecida como câmara de orifícios ou câmara de expansão. As válvulas
corrediças têm por função causar uma perda de carga na corrente de gases de combustão, ao mesmo tempo que fazem o controle
da pressão do regenerador e, indiretamente, do diferencial de pressão entre o reator e o regenerador. Esse controle é feito pelo
turboexpansor, quando ele está em operação. O turboexpansor não pode operar sem o terceiro estágio de ciclones, pois as
partículas de catalisador erodem rapidamente o rotor da máquina, que tem um custo elevado.
Devido ao seu caráter exportador de energia, na forma de vapor d’água de alta pressão e energia elétrica, a unidade de
craqueamento catalítico tem vital importância no balanço termoelétrico da refinaria.
O GLP segue para o tratamento com aminas, a fim de remover o H 2S, e para o tratamento cáustico regenerativo, visando à
remoção de mercaptanos. Parte da nafta é recirculada para compor o solvente da absorvedora primária junto com a nafta
instabilizada do vaso de topo da fracionadora. O restante segue para a unidade de tratamento cáustico regenerativo ou de
hidrodessulfurização (HDS).
A água do vaso de alta pressão é enviada para a unidade de águas ácidas, onde é feita a remoção de H 2S e NH3, antes de ser
descartada ou reutilizada.
9.5 Produtos
9.5.2 GLP
O FCC é também um grande produtor de GLP, utilizado principalmente como combustível doméstico. Outros possíveis usos do
produto são como carga da unidade de alquilação ou matéria-prima para a indústria petroquímica. Para essa aplicação, o GLP é
fracionado nas correntes de C3 e C4, e a corrente mais aproveitada é o propeno, matéria-prima para o polipropileno e as fibras
acrílicas, cujo preço pode chegar a ser três vezes maior do que o do GLP.
9.5.3 Nafta de craqueamento
A nafta de craqueamento possui altos teores de hidrocarbonetos olefínicos, parafínicos ramificados e aromáticos, que lhe
conferem um alto número de octano motor (em torno de 85). No entanto, apresenta alta tendência à formação de gomas, devido
ao alto teor de compostos diolefínicos e ao alto teor de enxofre, em decorrência das cargas pesadas processadas na UFCC. O
tratamento dessa nafta na unidade de hidrodessulfurização (HDS) seletiva tem como objetivos o seu enquadramento na
especificação de teor de enxofre da gasolina automotiva e a melhoria da sua estabilidade pela saturação das diolefinas.
A nafta de craqueamento representa a maior parcela da gasolina produzida nas refinarias, alcançando de 70 % a 75 % do
total.
REFERÊNCIAS
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[4] MARTENS, J. A.; JACOBS, P. A. Coke formation on zeolites. In: van BEKKUN, H. et al. Studies in surface science and catalysis:
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[5] FOWLER, R. W.; HU, R. New catalyst may provide insights into role of nonframework alumina in catalytic cracking catalysis. In:
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[10] WILSON, J. W. Fluid catalytic cracking: technology and operations. Oklahoma: PennWell Books, 1997.
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[12] UPSON, L. L.; DALIN, I.; WICHERS, R. Heat balance: the key to cat cracking. 3rd Katalistiks Fluid Catalytic Cracking
Symposium. Amsterdam, 1982.
*Os termos LCO (light cycle oil) e HCO (heavy cycle oil)
oriundos do inglês são devidos aos projetos antigos em que essas
correntes eram recicladas para o riser, o que não ocorre mais. A
corrente de HCO, no passado, também era retirada como
produto.
10.1 Introdução
O processo de hidrorrefino (HDR), também conhecido como hidroprocessamento, consiste no tratamento de frações de petróleo
com hidrogênio, na presença de um catalisador, sob condições operacionais definidas em função do objetivo dessa etapa do
refino.
As unidades de hidrorrefino podem ser classificadas
■ em:
unidades de hidrotratamento (HDT): possuem o objetivo de melhorar as propriedades de um produto sem alterar
fortemente a sua faixa de destilação original;
■ hidroconversão (HC): possuem o objetivo de produzir frações mais leves e de melhor qualidade do que a carga e podem
ser subdivididas em:
— hidrocraqueamento moderado (Mild HydroCracking – MHC) – empregado no preparo de cargas para o FCC, reduzindo
os teores de enxofre, nitrogênio e metais, saturando aromáticos e olefinas, e gerando uma carga mais suscetível ao
craqueamento;
— hidrocraqueamento severo (HCC) – usado na produção de derivados mais leves a partir de gasóleos de vácuo ou mesmo
de frações residuais (HCC de Resíduos). As condições de operação do HCC são mais severas do que as do MHC.
Considerando como carga do processo um destilado a vácuo, a diferenciação entre os processos de HDT, MHC ou HCC
pode ser feita pela conversão do processo, definida como o percentual da carga com ponto de ebulição verdadeiro (PEV) acima
de 380 °C (fração 380+) que é transformada em frações mais leves, conforme a Equação (10.1):
Aplicando esse conceito de conversão, considera-se que as unidades são classificadas como: de HDT, quando a conversão é
inferior a 20 %; de MHC, se a conversão está entre 20 % e 50 %; ou de HCC, quando a conversão é maior do que 50 %.
Atualmente, os processos de HDT são empregados no tratamento de naftas, querosene, solventes, óleo diesel, gasóleos,
óleos básicos lubrificantes e parafinas, com o objetivo de melhorar suas características.
Em suas diferentes modalidades, o HDR vem crescendo em importância no Brasil, como no mundo inteiro, pois:
— viabiliza o atendimento às crescentes exigências ambientais e de saúde ocupacional, pela redução de emissões e de
toxicidade dos produtos;
— melhora a qualidade dos produtos, pela saturação de olefinas, remoção de enxofre e nitrogênio e, em alguns casos,
saturação de aromáticos;
— promove a redução da geração de derivados pesados, cuja demanda é decrescente, e de LCO, corrente de baixa qualidade
para a formulação de óleo diesel;[1]
— permite o processamento de petróleos pesados, elevando o rendimento em produtos de alto valor agregado.
Na Tabela 10.1 são apresentadas as principais famílias de compostos que reagem com o hidrogênio, assim como os aspectos
negativos que a presença delas confere à qualidade dos produtos.
Tabela 10.1 Compostos presentes no petróleo que reagem com o hidrogênio nos processos de HDR
Compostos Efeitos negativos
Dentre os compostos listados, vale destacar os compostos de enxofre, heteroátomo mais abundante no petróleo, que
precisam ser reduzidos em quase todas as frações, principalmente pela questão ambiental de redução das emissões de SO x.
10.2 Fundamentos
10.2.1 Reações químicas no HDR
As reações mais importantes nos processos de hidrorrefino, apresentadas de forma simplificada na Tabela 10.2, são:
hidrogenação de aromáticos (HDA), hidrodessulfurização (HDS), hidrodesnitrogenação (HDN), hidrodesoxigenação (HDO),
hidrogenação de olefinas e diolefinas (HO), hidrocraqueamento (HC) e hidrodesmetalização (HDM). Os aromáticos altamente
condensados, assim como os asfaltenos, levam à formação de coque sobre os catalisadores de HDR. Em alguns casos, a unidade
recebe a denominação da reação de maior interesse, como é o caso das unidades de HDS.
■ Hidrogenação de olefinas
Compostos alifáticos:
Compostos cíclicos:
Etapa 2:
10.2.1.2 Hidrodesaromatização
As reações de hidrogenação dos compostos aromáticos (HDA) consistem na saturação parcial ou total dos anéis aromáticos.
Com os catalisadores comumente empregados, são necessárias pressões parciais de H 2 muito elevadas (acima de 9 MPa) e altas
temperaturas (320 °C a 380 °C) para a ocorrência significativa dessas reações.
Figura 10.1 Influência da temperatura, velocidade espacial e pressão parcial de hidrogênio sobre a conversão de aromáticos.[2]
Assim, a conversão dos compostos poliaromáticos não requer temperaturas muito elevadas no interior do reator (320 °C),
mas a hidrogenação dos monoaromáticos praticamente não ocorre com os catalisadores comerciais comuns se não forem
adotadas temperaturas superiores a 350 °C e pressões elevadas.
10.2.1.3 Hidrodessulfurização
Nas condições típicas empregadas industrialmente, as reações de hidrodessulfurização (HDS) são irreversíveis e exotérmicas.
Compostos como mercaptanos, sulfetos, dissulfetos e tiofenos, comumente presentes nas frações de nafta e querosene, reagem
com o hidrogênio segundo as reações exemplificadas pelas Equações (10.6) e (10.7), em temperaturas e pressões relativamente
baixas (2 MPa a 3 MPa).
■ Mercaptanos
■ Dissulfetos
Tabela 10.3 Taxa relativa de HDS de compostos de enxofre com estruturas cíclicas[3]
Benzotiofeno (BT) 13
Dibenzotiofeno (DBT) 1
*O DBT foi tomado como referência, e as taxas de reação foram determinadas a 300 °C, 7,1 MPa, em catalisador de Co-Mo/Al2O3.
Nos gasóleos atmosféricos e a vácuo, os compostos sulfurados presentes são predominantemente constituídos por tiofenos,
benzotiofenos (BT) e dibenzotiofenos (DBT), cuja ordem de reatividade está ilustrada na Tabela 10.3, e pelos correspondentes
produtos alquilados e polialquilados. A reatividade dos compostos sulfurados de cadeia aberta (mercaptanos, sulfetos e
dissulfetos) é maior do que a dos compostos de cadeia fechada.[5]
As Equações (10.8) e (10.9) ilustram os dois possíveis caminhos de hidrodessulfurização do DBT. Pode-se observar que no
caminho 1, em que ocorre apenas a remoção do átomo de enxofre (hidrogenólise), o consumo de hidrogênio é muito menor do
que no caminho 2,[3] em que ocorre a hidrogenação do anel aromático, antes da remoção do enxofre.
O estudo do mecanismo de hidrogenação do DBT e de seus derivados é importante porque os grupamentos ligados ao anel
aromático (grupos substituintes) impedem estericamente a remoção do átomo de enxofre pelo caminho 1, levando a um maior
consumo de hidrogênio no processo (caminho 2) e dificultando o atendimento a especificações muito rígidas de teor de enxofre
(por exemplo, 10 mg/kg). Na Tabela 10.4 está mostrada a influência da posição dos substituintes metílicos sobre a reatividade
do DBT. Observa-se que:
— os grupos metílicos nas posições 2 e 7 não têm praticamente nenhum efeito sobre a reatividade;
— os substituintes metílicos nas posições 3 e 6 têm um leve efeito sobre a reatividade;
— os grupos metílicos nas posições 4 e 5 reduzem muito a reatividade da molécula.
10.2.1.4 Hidrodesnitrogenação
Para os compostos nitrogenados de cadeia aberta (aminas alifáticas e nitrilas), a rota de hidrogenação usual é aquela em que
ocorre a hidrogenólise do grupamento nitrogenado, como mostra a reação de hidrodesnitrogenação (HDN) 10.10. Uma vez que
esses compostos estão comumente presentes em concentrações bem modestas e que sua capacidade de reagir com o hidrogênio
é superior à dos compostos heterocíclicos, estes recebem, em geral, pouca atenção dos estudiosos em HDR.
Tabela 10.4 Taxa relativa de HDS da molécula de DBT em função da posição do grupo substituinte[3]
Dibenzotiofeno (DBT) 1
2,7-dimetildibenzotiofeno 0,91
3,6-dimetildibenzotiofeno 0,48
4,5-dimetildibenzotiofeno 0,07
*O DBT foi tomado como referência, e as taxas de reação foram determinadas a 300 °C, 7,1 MPa, em catalisador de Co-Mo/Al2O3.
Por outro lado, as reações de desnitrogenação dos compostos aromáticos heterocíclicos, predominantemente presentes nos
gasóleos, são muito estudadas. Sua hidrogenação requer primeiramente a hidrogenação do anel aromático, para posterior
remoção do átomo de nitrogênio (10.11). Isso porque, após a hidrogenação do anel, a energia de ligação entre o átomo de
carbono e o de nitrogênio diminui, e a cisão C-N é mais fácil. Similarmente à hidrogenação de compostos aromáticos, o estágio
de hidrogenação do anel sofre limitações termodinâmicas, e, assim, a obtenção de altas conversões depende do uso de altas
pressões.
10.2.1.5 Hidrodesoxigenação
O interesse pelas reações de hidrodesoxigenação (HDO), exemplificadas na Equação (10.12), é, em geral, inferior ao das outras
reações de hidroprocessamento, devido à baixa concentração de compostos oxigenados comumente presentes no petróleo bruto
e nos diversos derivados. Por essa razão, a hidrodesoxigenação não será discutida em detalhes neste capítulo.
10.2.1.6 Hidrodesmetalização
A hidrodesmetalização (HDM) consiste na hidrogenação de compostos de alto ponto de ebulição (> 550 °C) e elevada massa
molar (> 450 kg/kmol) contendo metais em suas estruturas, e na deposição do metal na superfície do catalisador (10.13). Os
catalisadores de HDM são empregados nos leitos catalíticos em quantidades tais que, ao final de sua vida útil, contenham de 1
% a 2 % de metais depositados.[6]
10.2.1.7 Formação de coque
Como nos processos de FCC, a formação de coque sobre os catalisadores de HDT decorre da condensação de radicais
polinucleados ou da interação de hidrocarbonetos insaturados (olefinas e aromáticos) com estruturas aromáticas adsorvidas nos
sítios ativos do catalisador. No caso do HDT, a formação de coque é limitada pelo uso de elevada pressão parcial de hidrogênio,
cujo valor deve ser mais alto para cargas com maior tendência à formação de coque.[6]
10.2.1.8 Hidrocraqueamento
Nos processos convencionais de hidrotratamento também se observa a ocorrência de reações de hidrocraqueamento. Estas são,
em geral, indesejáveis, e sua intensidade é crescente com o aumento da temperatura. Por exemplo, em unidades de HDT de
derivados médios (querosene e óleo diesel), a formação de leves por craqueamento torna-se mais intensa acima da 350 °C. O
mecanismo das reações de craqueamento é similar ao do processo de FCC, sendo que as olefinas formadas são imediatamente
hidrogenadas.[5]
Por outro lado, nos processos de hidroconversão (HCC e MHC), as reações de hidrocraqueamento ocorrem de forma intensa
e são desejáveis. Esses processos empregam temperaturas de início de campanha usualmente superiores às de HDT (> 370 °C) e
catalisadores à base de sílica-alumina ou de zeólitas, contendo sítios ácidos que promovem tal craqueamento.
Os processos de HDA em dois estágios podem empregar um catalisador convencional no primeiro estágio, para a remoção
de enxofre e nitrogênio, e de metais nobres (Pt/Pd) no segundo estágio, para maior conversão de aromáticos e obtenção de óleo
diesel com maior número de cetano, por exemplo.
Na Figura 10.2, são apresentados alguns formatos de catalisadores de HDT.
■ Carregamento
No carregamento, que pode ser manual ou automático, deve-se prever a colocação das diversas camadas que auxiliarão o
funcionamento do reator como um todo, quais sejam:
— inertes, no topo e no fundo do reator, com a finalidade de promover a distribuição homogênea da carga sobre o leito
catalítico e de impedir a saída do catalisador pelo fundo do reator, respectivamente;
— leito de guarda, constituído de um suporte com elevado volume de vazios, contendo catalisadores indicados para a
retenção de particulados de vários tipos e dimensões e, no caso de cargas pesadas, para a hidrogenação de compostos
organometálicos, com retenção dos respectivos metais (Ni, V etc.), e para a deposição de asfaltenos (coque);
— camadas de catalisador com atividade crescente, para o tratamento controlado de cargas muito reativas, tais como as
cargas olefínicas, controlando o aumento de temperatura ao longo do leito, assim como a formação de gomas e o
aumento da queda de pressão (DP) no leito catalítico;
— o leito catalítico em si, que pode ser constituído de um ou mais tipos de catalisador, de acordo com as funções desejadas,
por exemplo: uma camada de NiMo, para promover o HDN, e uma camada de CoMo, para promover seletivamente o
HDS.
■ Sulfetação
A fase ativa utilizada na maior parte dos processos é obtida pela transformação dos óxidos metálicos em seus respectivos
sulfetos, pela reação de sulfetação. Utiliza-se como fonte de enxofre uma carga com teor de enxofre relativamente alto ou uma
mistura de compostos sulfurados, chamada de agente sulfetante, à base de dimetildissulfeto (DMDS) ou de polissulfetos. Nas
temperaturas empregadas para a sulfetação, o agente sulfetante sofre decomposição em presença de hidrogênio, gerando H 2S,
que então participa das reações de sulfetação, Equações 10.14 a 10.16.[7]
■ Desativação de catalisadores
Com o tempo de uso, os catalisadores vão sofrendo importantes modificações e perdendo a sua atividade. Essa perda pode
ocorrer pelo envenenamento por metais e ametais, pela formação de coque, por deposição de impurezas da própria carga, por
decomposição ou por sinterização da fase ativa. Além da desativação, pode ocorrer ainda a obstrução do leito catalítico pela
deposição de materiais na parte externa das partículas do catalisador (produtos de corrosão, principalmente).
A taxa de desativação do catalisador depende da severidade da operação, da qualidade da carga (PFE), da presença de
contaminantes, do volume de carga tratada por massa de catalisador e dos eventos operacionais que expõem o catalisador a
condições anormais (altas temperaturas, despressurização do reator, ausência de carga ou de hidrogênio, com o reator a alta
temperatura, introdução de correntes pesadas etc.). Para compensar a desativação do catalisador, é necessário o aumento da
temperatura do reator para se obter o mesmo efeito sobre a qualidade do produto, até que se atinja o limite superior da faixa de
trabalho e seja necessário efetuar a troca do leito, no término do ciclo de vida do catalisador. A taxa de aumento da temperatura,
em °C/mês, é utilizada para expressar a taxa de desativação do catalisador.
■ Regeneração
A regeneração é o processo de recuperação da atividade do catalisador exausto que tem como objetivo a recuperação de sua
atividade catalítica, consistindo na remoção do coque depositado e na reconstituição dos óxidos metálicos, pela queima
controlada, na faixa de temperatura de 400 °C a 500 °C. Além de ser uma solução ambientalmente correta, por gerar menos
resíduos, o processo de regeneração traz uma economia significativa na troca de um inventário de catalisador e, dependendo do
nível de contaminação do catalisador gasto, permite recuperar até 95 % da atividade original. [7] O catalisador regenerado deverá
ser novamente sulfetado após o carregamento na unidade, uma vez que no processo de queima do coque depositado sobre o
catalisador ocorre também a remoção do enxofre dos sítios ativos, que retornam à sua forma original (óxidos metálicos).
[8]
Figura 10.4 Desenho esquemático de um reator trickle bed e detalhe do prato de quench (adaptado).
Descrição e importância
Difusor de carga Alimenta a mistura “carga + hidrogênio” ao reator a fim de molhar uniformemente o prato
distribuidor.
Prato distribuidor de líquido Complementa a distribuição radial uniforme de líquido sobre o leito catalítico, promovendo
o contato máximo entre os reagentes e o catalisador.
Prato misturador ou de quench Tem a função de promover a mistura do agente de resfriamento com o efluente de uma
seção do reator e de redistribuir a mistura na seção seguinte.
Coletor de produto Deve suportar todo o peso de catalisador sem se deformar. É revestido de uma tela para
conter a saída de partículas de catalisador juntamente com o produto.
Coletor de catalisador Usado somente na parada da unidade para descarregar o catalisador gasto.
Uma vez resfriado, o efluente do reator passa pelo sistema de separação de hidrogênio a alta pressão, onde ocorrerá a
separação do produto tratado do gás de reciclo e da água de injeção, existindo vários esquemas possíveis para essa etapa do
processo. Os mais comuns são:
— para cargas mais leves, quando a pressão de reação é relativamente baixa, é comum a utilização de um sistema com
apenas um vaso trifásico, com pressão de operação próxima à do reator, como esquematizado na Figura 10.5. Desse
vaso, saem duas fases líquidas (hidrocarbonetos e água) e uma gasosa (gás de reciclo);
— em unidades de alta pressão de reação, utilizam-se dois vasos separadores com um condensador intermediário: um vaso
de alta pressão e temperatura, onde ocorre a separação entre o gás de reciclo e a mistura líquida, seguido de um vaso de
menor pressão (separador de baixa pressão – 1,5 MPa). Os efluentes do vaso de baixa pressão são: o produto
hidrotratado, carga da retificadora; a maior parte da água injetada no efluente do reator; e os gases constituídos de H 2S e
hidrocarbonetos leves.
O gás de reciclo, rico em hidrogênio, é succionado pelo compressor de reciclo e adicionado à carga, juntamente com o gás
de reposição. Uma pequena parte do H2S gerado no processo tende a se acumular na corrente gasosa de hidrogênio que fica
recirculando na unidade de HDT, e essa contaminação inibe a atividade do catalisador para as reações de HDS. Uma purga,
constante ou intermitente, de gás de reciclo é um mecanismo empregado para se manter o teor de H 2S no gás de reciclo no nível
recomendado de acordo com o processo. No entanto, em vista da crescente exigência de redução do teor de enxofre dos
derivados e, portanto, da exigência de maior conversão nas unidades de HDT, é comum que o teor de H 2S no gás de reciclo
tenha que ser mantido em níveis tão baixos como 50 mg/kg. Nesses casos, o mecanismo de remoção do H2S da corrente de H2
de reciclo, para aumento da pureza, pode ser a utilização de uma unidade de amina (metildietanolamina – MDEA), em alta
pressão.
A mistura líquida efluente do separador trifásico ou do separador de baixa pressão é então enviada para a torre retificadora,
onde ocorre a remoção final do H2S e dos produtos leves, por meio de uma corrente de vapor de água de retificação ou pelo uso
de um refervedor. Na retificadora, será feito o ajuste do produto quanto às especificações de corrosividade e de ponto de fulgor
(diesel) ou da PVR (nafta). No caso da retificação a vapor d´água, tem-se ainda uma torre secadora (a vácuo) do produto, antes
do seu envio para armazenamento.
Tabela 10.7 Características de cargas tipicamente processadas em unidades de HDT de instáveis e do produto hidrotratado
Querosene 1400 40 25 40
Enxofre, mg/kg Nitrogênio, mg/kg Aromáticos, %vol. No de cetano
Gasóleo leve (GOL) 3200 600 30 50
O HDT de instáveis é, portanto, uma unidade que trabalha com alta severidade: alta pressão (6 MPa a 14 MPa), alta
temperatura (tipicamente 350 °C), baixa velocidade espacial (≤ 1 h −1) e catalisadores especiais em múltiplos leitos com
diferentes funções.[8]
Saturados, %volume 82 37 47
Aromáticos, %volume 18 40 8
O tempo de campanha do HDT de nafta de coqueamento é limitado pela reatividade da carga e pelo alto teor de silício que
vem com a nafta da UCR.
As tecnologias de HDS seletivo são concebidas de forma a aumentar a seletividade do processo, ou seja, aumentar a relação
dessulfurização/saturação de olefinas. As naftas hidrotratadas produzidas possuem baixos teores de enxofre e boa estabilidade,
com preservação do número de octano.
O processo de HDS seletivo combinado com fracionamento, representado de forma simplificada na Figura 10.8, foi
desenvolvido pelo Instituto Francês do Petróleo (IFP) junto com a AXENS, e é comercializado com o nome de Prime G +. Esse
processo é o mais empregado atualmente para hidrodessulfurização seletiva de nafta de FCC. [12] Trata-se de um processo em
duas etapas, em que:
— na primeira etapa, o objetivo é deslocar a maior parte do enxofre para a fração que destila na faixa da nafta pesada e
transformar as diolefinas em mono-olefinas;
— o efluente do primeiro estágio é fracionado para produzir uma corrente de nafta leve, rica em olefinas, e uma corrente de
nafta pesada, rica em enxofre, que segue para a segunda etapa de reação;
— na segunda etapa, a nafta pesada é hidrotratada em condições especiais que favorecem a remoção da maior parte dos
compostos de enxofre, minimizando a saturação de olefinas. Após essa etapa, a nafta pesada hidrotratada é misturada
com a nafta leve, oriunda da fracionadora.
Como ilustrado na Tabela 10.10, os destilados médios gerados no HCC possuem excelente qualidade de combustão,
revelada pelo número de cetano do óleo diesel e pelo ponto de fuligem do querosene. Quanto à nafta, apesar do seu baixo
número de octano, tem como vantagem a excelente estabilidade e os baixos teores de olefinas (~ zero) e de aromáticos, que
permitem a sua utilização na composição de gasolinas, entre outros usos.
Destilados a vácuo e óleos desasfaltados, quando processados no HCC em modo de conversão parcial, podem ser utilizados
para a produção de óleos básicos lubrificantes, para o preparo de carga para o FCC ou para a produção de etileno e propileno
pelo processo de craqueamento com vapor d’água (steam cracker).[12]
Propriedades Valores
*PNA: parafínicos/naftênico/aromáticos.
T (°C) de início de
Carga PH2 (MPa) VE (h-1) Razão H2/carga*
campanha
*Razão volumétrica de H2 na CNTP (0 °C e 101 325 Pa) e a carga a 20 °C e 101 325 Pa.
A temperatura de reação, a pureza do hidrogênio, a vazão e a qualidade da carga são variáveis diretamente manipuladas
durante a operação de uma unidade de HDR. As variáveis indiretamente manipuladas são: a pressão parcial de hidrogênio, a
velocidade espacial e a razão H2/carga.
Existe um terceiro grupo de variáveis que não são manipuladas durante a campanha da unidade, quais sejam: a pressão total,
o tipo e o volume de catalisador carregado no reator.
Na Tabela 10.12 estão resumidos os efeitos das variáveis: temperatura, pressão parcial de H2 e velocidade espacial, em cada
tipo de reação.
Tabela 10.12 Efeito das variáveis de processo sobre as funções HDS, HDN, HDA e HCC sobre a conversão
EFEITO
Reação
Temperatura ⇧ VE ⇩ Pressão Parcial H2 ⇧
HDS +++ ++ +
HCC +++ ++ +
+ ⇨ Fracamente positivo + + ⇨ Positivo + + + ⇨ Fortemente positivo – – ⇨ Negativo + +/– – ⇨ Inicialmente positivo e depois negativo
As cargas típicas dessa unidade são a nafta de destilação direta (nafta DD) e a nafta de coqueamento hidrotratada (NKH). Os
produtos são: hidrogênio, gás combustível (GC), gás liquefeito de petróleo (GLP) e nafta reformada, conforme esquematizado
na Figura 11.1.
11.2 Fundamentos
11.2.1 Catalisadores
Os primeiros catalisadores utilizados nas unidades Hydroforming eram catalisadores à base de óxido de molibdênio suportado
em alumina. Já no período de 1953 a 1967, foram desenvolvidos e utilizados catalisadores que continham platina em um suporte
de alumina clorada e que eram cerca de dez vezes mais ativos do que os catalisadores à base de óxido de molibdênio. Em 1967,
houve um grande avanço com o surgimento dos primeiros catalisadores bimetálicos, contendo platina e rênio, este último como
metal promotor, e, a partir daí, uma variedade de catalisadores bimetálicos e multimetálicos tem sido patenteada. Além da
platina, presente em todos os catalisadores de reforma catalítica, os metais mais comumente encontrados são o rênio, o estanho
e o irídio, que conferem ao catalisador maior estabilidade e, em alguns casos, maior seletividade. [1,2]
Atualmente, o suporte utilizado é a g-alumina, que recebe adição de cloreto, para aumento de sua acidez. O teor em massa
de cloreto no catalisador encontra-se na faixa de 0,8 % a 1,3 % e o de platina varia entre 0,2 % e 0,6 %. [3] Por isso, os
catalisadores de reforma catalítica são classificados como bifuncionais, ou seja, desempenham duas funções na catálise das
reações químicas: a função ácida, em reações que envolvem alterações da estrutura da cadeia, como quebra ou ciclização, e a
função metálica, em reações de hidrogenação e desidrogenação. Desse modo, como será discutido no próximo item, há reações
que são catalisadas por apenas uma das funções e outras catalisadas por ambas. Portanto, é necessário que o catalisador tenha
um balanço apropriado entre essas funções, o que é alcançado com três medidas: manutenção do balanço adequado água/cloreto
no meio reacional, para regular a força ácida; adequada dispersão do metal sobre a superfície no preparo do catalisador; e
adequada redispersão durante sua regeneração.
As reações desejáveis são, em sua maioria, endotérmicas, e, por isso, múltiplos reatores em série são utilizados (de três a
quatro). Tais reatores são intercalados com fornos para suprir a carga térmica necessária às reações e para manter a mistura
reacional em temperaturas suficientemente altas para se obter a conversão desejada.
As reações de desidrociclização de parafínicos, Equação (11.1), catalisadas pelas funções metálica e ácida, e as de
desidrogenação de naftênicos, Equação (11.2), catalisadas pela função metálica, são altamente endotérmicas, e, além de
gerarem, respectivamente, hidrocarbonetos naftênicos e aromáticos, são as principais responsáveis pela geração de hidrogênio.
A isomerização de um alquilciclopentano a ciclo-hexano ou alquilciclo-hexano, Equação (11.3), é endotérmica, catalisada
pela função ácida, sendo o primeiro passo na conversão dos alquilciclopentanos em aromáticos. No entanto, durante o rearranjo,
há a probabilidade de abertura do anel, com consequente formação de hidrocarbonetos parafínicos leves, de modo que essa
reação não é totalmente seletiva para ciclo-hexanos.
A reação de desidrogenação de hidrocarbonetos parafínicos, gerando olefinas, Equação (11.4), catalisada pela função
metálica, é pouco expressiva comparativamente às reações (11.1) a (11.3) e ocorre em maior intensidade em baixa pressão
parcial de hidrogênio. Desse modo, a contribuição dos hidrocarbonetos olefínicos para a elevação do número de octano é baixa.
A reação de isomerização de hidrocarbonetos parafínicos, Equação (11.5), catalisada pela função ácida do catalisador, é
independente da pressão e levemente favorecida por baixa temperatura, por ser exotérmica. O papel desempenhado por essa
reação no aumento do número de octano também é pouco significativo.
No caso da reforma para fins petroquímicos, apenas as reações que produzem hidrocarbonetos aromáticos, Equações (11.1)
a (11.3) são desejáveis.
■ Reações indesejadas
Além das reações desejáveis, algumas reações paralelas ocorrem, em menor intensidade, em um reator de reforma catalítica.
São elas:[4]
■ hidrocraqueamento
11.3.2 Densidade
A densidade da carga depende da sua faixa de destilação e está associada à sua natureza química: uma carga rica em
hidrocarbonetos parafínicos terá uma densidade mais baixa do que uma rica em hidrocarbonetos naftênicos. A densidade da
carga a 20 ºC pode variar entre 0,71 e 0,78.
Figura 11.2 Exemplo de conversão de uma nafta rica e de uma pobre em hidrocarbonetos naftênicos[7] (adaptado).
Em função das diferenças entre as velocidades (taxas) das reações do processo, o volume total de catalisadores não é
dividido igualmente entre os reatores. As reações mais rápidas ocorrem no primeiro e no segundo reator, com alta conversão, e
por isso necessitam de um baixo tempo de residência (alta VE) e, consequentemente, de um baixo volume de catalisador. Além
disso, por serem endotérmicas, promovem rápida queda de temperatura no leito. As reações mais lentas ocorrem nos últimos
reatores, com menor conversão e menor queda de temperatura, e necessitam de maior tempo de residência (baixa VE). Em vista
disso, os volumes dos leitos catalíticos e dos reatores aumentam do primeiro para o último reator. Por outro lado, conforme
pode ser observado na Figura 11.4, a queda de temperatura diminui do primeiro para o último reator, e, deste modo, a carga
térmica fornecida no reaquecimento diminui do primeiro forno de reaquecimento para o último. Cabe ressaltar que as reações
exotérmicas, principalmente de hidrocraqueamento, ocorrem mais significativamente nos últimos reatores, contribuindo para
um menor decréscimo de temperatura nos mesmos.
Um exemplo de composições molares das correntes de saída de cada um dos reatores, em um sistema com três reatores,
usando como carga uma nafta com faixa de destilação de 80ºC a 190ºC, pressão de operação nos reatores de 1,1 MPa e número
de octano pesquisa (RON) da nafta reformada de 99, está apresentado na Tabela 11.2.[6]
Figura 11.4 Perfis de temperaturas dos reatores de reforma catalítica.
Tabela 11.2 Distribuição de hidrocarbonetos na carga e nas correntes de saída dos reatores de reforma[6]
Parafínicos 60 59 50 29
Naftênicos 29 8 6 5
Aromáticos 11 33 40 53
A curva apresentada na Figura 11.5 ilustra um perfil de teores de hidrocarbonetos parafínicos, naftênicos e aromáticos, ao
longo dos reatores da unidade, a partir de uma carga com um teor de parafínicos de 40 %.
Figura 11.5 Perfis de hidrocarbonetos parafínicos, naftênicos e aromáticos ao longo dos reatores[7] (adaptado).
11.4.2 Processo com regeneração contínua de catalisador (CCR)
Em termos de preparo da carga e descrição de fluxos das etapas reacionais e de purificação (separação de hidrogênio e
estabilização do reformado), os processos CCR e SR são semelhantes. No entanto, como no processo CCR ocorre a regeneração
contínua do catalisador durante a operação, esse processo possui as seguintes diferenças principais de configuração com relação
ao SR: presença de equipamentos onde ocorre a regeneração; presença de equipamentos e sistemas para a circulação do
catalisador pelos reatores e regenerador; e reatores com internos diferenciados para tornar exequível a circulação de catalisador.
Na tecnologia CCR há dois tipos de configuração, em termos da disposição dos reatores: reatores lado a lado ( side by side) e
reatores empilhados (stacked), conforme mostrado nas Figuras 11.6 e 11.7, respectivamente.
Na configuração lado a lado (Figura 11.6), o catalisador se move sempre por gravidade no interior do regenerador e nos
reatores. Do último reator para o regenerador, e do regenerador para o primeiro reator, o transporte de catalisador é feito via
elevação com N2 (gas lift). Entre os reatores, o catalisador é transportado com H2.
Na configuração de reatores empilhados (Figura 11.7), a elevação com H2 é usada para transportar o catalisador regenerado
da base do regenerador para o topo da pilha de reatores e a elevação com N 2 é usada para transportar o catalisador gasto do
último reator para o regenerador. A movimentação de catalisador dentro dos reatores e de um reator para o outro ocorre por
gravidade.
Em ambas as configurações, o escoamento radial da carga através do leito catalítico é preferido, por resultar em menor perda
de carga quando comparado ao escoamento axial. Uma possível configuração de escoamento radial da carga através do leito
está ilustrada na Figura 11.8.
No regenerador, ocorre a queima controlada do coque depositado na superfície do catalisador em uma atmosfera pobre em
oxigênio, para limitar a elevação da temperatura, evitando danos ao catalisador e aos internos do regenerador. A água formada
nas reações de combustão afetará o balanço água/cloreto do catalisador, assim a etapa seguinte é a oxicloração do catalisador,
onde se faz a injeção de ar e cloretos orgânicos, com o objetivo de repor o cloreto perdido na seção de reforma e na etapa de
queima do coque. Além disso, nessa etapa ocorre também a redispersão dos metais na superfície do catalisador. Depois da
oxicloração, o catalisador segue para a etapa de secagem, onde entra em contato com uma corrente de ar quente para redução do
seu teor de umidade, que intefere no balanço água-cloreto no catalisador. Devido à queima, os metais encontram-se na forma
oxidada, mas, como a forma reduzida é a forma ativa para as reações de reforma catalítica, o catalisador passa ainda por uma
etapa de redução, na presença de hidrogênio, antes de retornar ao primeiro reator de reforma.[9]
Figura 11.6 Esquema simplificado de um processo CCR, tecnologia Aromizing (Axens), com configuração lado a lado[9] (adaptado).
Figura 11.7 Esquema simplificado de um processo CCR, tecnologia Platforming (UOP), com reatores empilhados[10] (adaptado).
Em algumas tecnologias, existe uma seção de contato adicional, a seção de recuperação, como indicado nas Figuras 11.6 e
11.7, na qual a corrente de reformado efluente do vaso de separação é novamente misturada ao gás rico em hidrogênio, em
maior pressão e menor temperatura, com o objetivo de aumentar a recuperação de reformado e a pureza do gás hidrogênio
(produto).
Para uma dada qualidade do reformado (NO), a utilização de condições operacionais mais severas (temperatura e pressão), e
a maior atividade do sistema catalítico da tecnologia CCR, permite que se atinja maior rendimento de reformado e de
hidrogênio, como ilustrado na Tabela 11.3, onde os rendimentos obtidos a partir de uma mesma carga são comparados. O maior
fator de utilização da unidade se deve à regeneração contínua do catalisador (CCR).
SR CCR
11.5 Produtos
Nas Tabelas 11.4 e 11.5 apresentam-se exemplos de rendimentos dos produtos de uma unidade de reforma catalítica
semirregenerativa e com regeneração contínua de catalisador. Vale comentar que não se pode fazer uma comparação direta
entre as duas tabelas, pelo fato de que os testes foram conduzidos com diferentes cargas e condições de operação.
Tabela 11.4 Exemplos de desempenho de uma reforma catalítica SR para duas diferentes cargas[3]
Produtos
RON 103
*Volume de H2 referenciado na CNTP (0 ºC e 101 325 Pa) em relação à carga a 20 ºC e 101 325 Pa.
11.5.3 Reformado
A nafta reformada é o produto principal da unidade, e o seu rendimento varia de 65 % a 90 %, dependendo da origem da carga e
das condições do processo.[12] As condições operacionais são definidas de modo a fixar a severidade do tratamento para que seja
atingida uma dada qualidade da nafta reformada, em termos do número de octano ou da composição (fração de hidrocarbonetos
aromáticos).
A nafta reformada não possui enxofre, apresenta elevado número de octano, o que torna essa corrente excelente para a
formulação da gasolina. Esse produto pode também ser vendido para complexos petroquímicos para a produção de BTX
(benzeno, tolueno e xilenos). Em refinarias que dispõem de unidades de extração de aromáticos, os compostos aromáticos
podem ser separados e fracionados, obtendo-se então cada um dos produtos: benzeno, tolueno e xilenos, em correntes
segregadas. Na Tabela 11.6 está apresentado um exemplo de rendimentos dos aromáticos de uma unidade de reforma catalítica
CCR voltada à produção de BTX.
Tabela 11.6 Rendimentos de unidade de reforma catalítica CCR voltada à produção de BTX[3]
Carga Produtos
Xilenos 26,1 %
11.6.1 Pressão
A pressão da reação não é uma variável que pode ser modificada durante a operação da unidade, sendo considerada apenas na
etapa de projeto, dependendo da tecnologia escolhida. Assim, os valores encontrados podem variar de 345 kPa a 4830 kPa. [7]
A redução da pressão de reação permite um aumento dos rendimentos de hidrogênio e de reformado, reduz o rendimento de
leves e reduz a temperatura necessária para se obter uma certa qualidade de reformado. No entanto, o ciclo de vida do
catalisador é reduzido, devido ao aumento da taxa de deposição de coque. Desse modo, operações a pressões muito baixas
exigem um sistema de regeneração contínua de catalisador.
11.6.2 Temperatura
A temperatura é a variável mais usada para ajuste da qualidade da nafta reformada, sendo os parâmetros empregados para medir
a severidade, em termos de temperatura, a média ponderada das temperaturas de entrada em cada reator (WAIT*) e a média
ponderada das temperaturas médias dos leitos (WABT**), em que a ponderação é feita com base na massa de catalisador em
cada reator. Essas temperaturas médias dependem dos valores de temperaturas de saída dos fornos que podem ser facilmente
modificados, e dependem da queda de temperatura nos reatores, devido às reações químicas endotérmicas que lá ocorrem.
Um aumento de temperatura (mantendo-se constantes todos os demais parâmetros) tem as seguintes consequências: aumento
do teor de aromáticos e do número de octano da nafta reformada; redução do rendimento da nafta reformada (depois de um
certo limite de temperatura); aumento da produção de gás e GLP; diminuição da pureza do gás de reciclo; aumento da deposição
de coque no catalisador e consequente redução do ciclo de vida do catalisador (em caso de unidades tipo SR).
Não há nenhuma regra geral para a predição do teor de aromáticos da nafta reformada em função da temperatura de
operação, uma vez que a conversão depende do índice “N+2A”, no entanto, uma regra prática, aproximada, para estimar o
efeito da temperatura no número de octano é que o NO aumenta em uma unidade para um aumento de 2,8 ºC na temperatura.[3]
Tipicamente, unidades SR têm uma faixa de WAIT de 490 ºC a 525 ºC e unidades CCR de 525 ºC a 540 ºC. [7] No início da
campanha do catalisador em unidades tipo SR, se opera com valores mais baixos de temperatura do que os praticados nas
unidades CCR. No entanto, ao longo da campanha, a temperatura na entrada do reator SR pode ser aumentada para compensar a
desativação do catalisador. Esse aumento de temperatura pode ser limitado pela carga térmica máxima dos fornos, pelo limite
metalúrgico dos equipamentos no circuito da carga ou pela própria perda de rendimento dos produtos.
REFERÊNCIAS
[1] HEINEMANN, H. The dynamics of innovations and development in catalyst based technologies. Catalytic reforming, Cracking
and ammonia production. Catalysis Letters. v. 1, p. 413-422, 1988.
[2] REGALBUTO, J. R.; ANTOS, G. J. Preparation of reforming catalysts. In: ANTOS, G. J.; AITANI, A. M. Catalytic naphtha
reforming. 2. ed. Chapter 5. New York: Marcel Dekker, 2004.
[3] RASEEV, S. Thermal and catalytic processes in petroleum refining. New York: CRC Press, 2003.
[4] PUJADÓ, P. R.; MOSER, M. Catalytic reforming. In: JONES, D. S. J.; PUJADÓ, P. R. Handbook of petroleum processing. Chapter
5. Dordrecht: Springer, 2006.
[5] PARERA, J. M.; FÍGOLI, N. S. Chemistry of bifunctional metal acid catalysis. In: ANTOS, G. J.; AITANI, A. M. Catalytic
naphtha reforming. 2. ed. New York: Marcel Dekker, 2004.
[6] GARY, J. H.; HANDWERK, G. E. Petroleum refining: technology and economics. New York: Marcel Dekker, 2001.
[7] MEYERS, R. A. Handbook of petroleum refining processes. 3. ed. McGraw-Hill, 2004.
[8] AITANI, A. M. Licensed reforming processes. In: ANTOS, G. J.; AITANI, A. M. Catalytic naphtha reforming. 2. ed. New York:
Marcel Dekker, 2004.
[9] DOOLIN. P. K.; ZALEWSKI, D. J.; OYEKAN, S. O. Catalyst regeneration and continuous reforming issues. In: ANTOS, G. J.;
AITANI, A. M. Catalytic naphtha reforming. 2. ed. New York: Marcel Dekker, 2004.
[10] UOP LLC; UOP CCR Platforming™ Process. Chicago. Disponível em: http://www.uop.com/reforming-ccr-platforming/. Acesso em:
19 maio 2011.
[11] COSTACURTA S.p.A.-VICO. Itália. Disponível em: http://www.costacurta.it/EN/prodotto.asp?
Tipo=1&Div=3&Macro=16&Fam=16&Prod=69. Acesso em: 19 maio 2011.
[12] PRESTVIK. R. et al. Compositional analysis of naphtha and reformate. In: ANTOS, G. J.; AITANI, A. M. Catalytic naphtha
reforming. 2. ed. Chapter 1. New York: Marcel Dekker, 2004.
*WAIT = weighted average inlet temperature.
**WABT = weighted average bed temperature.
***VHSV = volumetric hourly space velocity; LHSV = liquid
hourly space velocity.
****WHSV = weight hourly space velocity = vazão mássica da
carga dividida pela massa total de catalisador.
12.1 Introdução
Em todo o mundo, mudanças na especificação da gasolina estão sendo conduzidas para acompanhar os avanços das tecnologias
de motores e as legislações ambientais mais restritivas quanto às emissões de gases poluentes provenientes da combustão da
gasolina. Entre essas mudanças estão o aumento do número de octano e a redução dos teores de enxofre e de hidrocarbonetos
aromáticos e olefínicos no combustível. Para a melhoria da qualidade da gasolina, os processos de alquilação e isomerização
ganham destaque, por produzirem naftas ricas em hidrocarbonetos parafínicos altamente ramificados, que atendem aos
requisitos demandados.
No Brasil, o processo de alquilação catalítica faz parte do esquema de refino de apenas uma refinaria, a Refinaria Presidente
Bernardes Cubatão (RPBC), enquanto o processo de isomerização ainda não foi contemplado no parque de refino brasileiro.
12.2 Alquilação
O termo alquilação é usado para denominar o processo no qual ocorre a reação de hidrocarbonetos olefínicos contendo de 3 a 5
átomos de carbono com hidrocarbonetos isoparafínicos como o isobutano, na presença de um catalisador, formando uma
mistura complexa de alcanos ramificados de maior massa molar, com até 12 átomos de carbono e com elevado número de
octano, denominada alquilado. Esse produto é um componente altamente interessante para a composição das gasolinas
automotivas e de aviação, uma vez que: é praticamente isento de contaminantes, enxofre principalmente; é estável, por possuir
baixo teor de olefinas; apresenta queima limpa, pois é isento de aromáticos; e tem baixa volatilidade (baixa PVR), além de
possuir elevado número de octano.
12.2.1 Fundamentos
O processo de alquilação se baseia na reação de isobutanos com olefinas, catalisada por um ácido forte, sendo empregado
industrialmente o ácido sulfúrico (H 2SO4) ou o ácido fluorídrico (HF), em temperaturas baixas e em pressões suficientemente
altas para manter os reagentes na fase líquida.[1]
As reações principais que ocorrem no processo são as de combinação de olefinas (isobuteno, buteno-1 ou buteno-2) com o
isobutano, exemplificadas nas Equações (12.2) (isobuteno + isobutano) e (12.3) (1-buteno + isobutano).
As reações de isomerização são desejáveis porque levam à formação de compostos de elevado número de octano. Assim, as
frações C8 da alquilação contêm, além do 2,2,4-TMP, que é majoritário, outros isômeros, como: 2,3,4-TMP, 2,3,3-TMP, 2,2,3-
TMP e dimetil-hexanos.[3]
Já as reações de polimerização de butenos são indesejáveis, por produzirem hidrocarbonetos de maior massa molar, que
reduzem o número de octano e aumentam o ponto final de ebulição do alquilado. A ocorrência dessas reações pode levar à
formação de compostos com 12 ou mais átomos de carbono (alquilado pesado), conforme exemplificado pela Equação (12.4). [2]
O conjunto de polímeros formados é chamado de “óleo solúvel em ácido” (acid soluble oil – ASO), responsável pela
desativação dos catalisadores empregados no processo.
Outras reações indesejáveis são as de craqueamento de carbocátions de cadeia longa, que levam ao aparecimento de
compostos mais leves do que a carga. Quanto maior a cadeia do carbocátion formado, maior a probabilidade de craqueamento, e
as cadeias menores formadas podem participar de novas reações de alquilação, gerando hidrocarbonetos de menos de 7 átomos
de carbono (alquilado leve) ou de mais de 9 átomos de carbono (alquilado pesado).[3]
12.2.1.2 Catalisadores
A tecnologia de alquilação foi descoberta nos anos 1930, e os primeiros catalisadores estudados eram combinações de ácidos
fortes de Lewis, tais como AlCl 3 e BF3, com uma fonte de prótons, como HCl, HF ou água. Entretanto, as duas rotas que
dominaram o mercado e que são utilizadas até os dias de hoje são as que empregam unicamente o ácido sulfúrico (H 2SO4) ou o
ácido fluorídrico (HF) como catalisadores homogêneos (fase líquida). [4] A facilidade de manutenção da atividade catalítica e o
baixo custo desses ácidos contribuíram para o sucesso dessas tecnologias, cujos principais licenciadores são as companhias
UOP LLC (HF e H2SO4), Phillips (HF), Exxon Mobil e MW Kellogg (H2SO4) e Stratco Engineering (H2SO4).[3]
Ambos os catalisadores, HF e H 2SO4, são altamente corrosivos e tóxicos, sendo o HF especialmente perigoso para o meio
ambiente e para a força de trabalho das unidades de alquilação. Em caso de vazamento acidental, o HF pode provocar as
seguintes consequências: formar aerossóis tóxicos, que se deslocam com o vento próximo ao nível do solo; em teores acima de
50 %, causar queimaduras químicas graves e imediatas, destruindo as camadas interiores da pele e os ossos, além de provocar
edema pulmonar, podendo levar à morte.[5,6]
Esses aspectos motivam a busca de novos catalisadores para o processo de alquilação. Vários estudos têm sido feitos, e as
novas tecnologias desenvolvidas em escala piloto utilizam catalisadores sólidos que são, na verdade, modificações do
catalisador tipo HCl-AlCl3 originalmente empregado.[4]
Uma vez que o único processo de alquilação existente no Brasil adota a tecnologia que usa HF como catalisador, somente
esse tipo de processo será abordado neste capítulo.
Tabela 12.1 Número de octano dos alquilados produzidos a partir de olefinas leves[1]
RON MON
HF H2SO4 HF H2SO4
Os principais contaminantes usualmente presentes nas cargas da unidade de alquilação são: água, compostos de enxofre e
nitrogênio, dienos/acetilenos, etano/eteno (leves) e ciclopentanos/benzeno (pesados), que serão discutidos a seguir.
■ Água: altos teores de água nas correntes da unidade aceleram o processo corrosivo de linhas e equipamentos e exigem
maior regeneração e reposição de HF, devido ao aumento da formação de azeótropo HF/H 2O. Assim, a secagem é uma
etapa importante no preparo da carga.
■ Compostos de enxofre: os sulfurados mais comumente encontrados nas cargas olefínicas da UFCC ou da UCR são H 2S,
mercaptanos e pequenas quantidades de sulfeto de carbonila (COS), além de causarem problemas de incrustação e de
corrosão em equipamentos, aceleram a formação de compostos indesejáveis solúveis em água (ASO). O tratamento da
carga olefínica no TCR (tratamento cáustico regenerativo) é feito na unidade de origem.
■ Compostos de nitrogênio: os nitrogenados, eventualmente presentes na carga, podem acarretar a formação de polímeros e
o tamponamento de linhas com fluoreto de amônio, resultando em problemas mecânicos e em maior necessidade de
regeneração do ácido.
■ Diolefinas e acetilenos: estes compostos participam de reações de polimerização, formando compostos de alta massa
molar, que aumentam o ponto final de ebulição do alquilado e podem contaminar a solução aquosa de ácido circulante
com ASO. A redução dos teores desses compostos pode ser feita por hidrogenação seletiva.
■ Ciclopentanos, ciclopentadienos e benzeno: os compostos pesados aumentam o consumo de ácido e participam da
formação de ASO. O controle da presença desses componentes é feito no fracionamento da carga (desbutanizadora da
UFCC ou da UCR).
■ Hidrocarbonetos leves: os compostos leves, como o etano e o eteno, se comportam como inertes, interferindo na operação
das torres fracionadoras. O controle da presença destes também é feito no fracionamento da carga (desetanizadora da
UFCC ou da UCR).
■ Tratamento da carga
As correntes de hidrocarbonetos isoparafínicos e olefínicos passam por torres de adsorção em leito de alumina ativada ou de
peneiras moleculares, onde a água e outras moléculas polares são removidas.
A corrente olefínica pode passar também por um processo de hidrotratamento seletivo, para saturação das diolefinas (p. ex.,
butadieno), Equação (12.5), e isomerização de 1-buteno a 2-buteno.
■ Seção de reação
Após o pré-tratamento, a carga, com elevada razão volumétrica isobutano/olefina (tipicamente 13:1), entra em contato com o
ácido fluorídrico em um reator tubular vertical (denominado riser), onde ocorrem as reações de alquilação (tempo de residência
na faixa de 20 s a 40 s). [1] A mistura íntima da carga com o ácido é promovida por meio de dispersores, localizados na base do
riser, para se obter uma alta conversão.
Ao longo do riser, a temperatura da mistura é elevada porque as reações são exotérmicas. O riser termina em um
decantador, Figura 12.2, onde ocorre a separação por diferença de densidade da fase aquosa (ácida), mais densa, no fundo, da
fase oleosa (hidrocarbonetos), menos densa, no topo. Esta última segue para o sistema de fracionamento, enquanto a fase aquosa
(o ácido) é recirculada para o riser, sendo antes resfriada em um trocador de calor. A circulação do ácido pode ser realizada por
uma bomba ou por efeito sifão, dependendo da tecnologia licenciada. [7] Na Figura 12.2 é apresentado um exemplo de circulação
sem bomba.
Figura 12.2 Representação esquemática do vaso decantador, riser e resfriador.
■ Regeneração de HF
Uma pequena parte da corrente de ácido fluorídrico é retirada do sistema decantador-resfriador e é alimentada em uma coluna
retificadora de HF, onde o fluido de retificação é o isobutano (i-C4). O produto de topo é o HF + i-C4, que retornam ao sistema,
e o produto de fundo é uma mistura de ASO com um azeotrópo HF-H 2O (63 % de H2O e 37 % de HF) de ponto de ebulição
igual a 120 °C.[1,3] Essa operação é de grande importância para a manutenção da pureza do HF, já que reduz o teor de água
dissolvida no ácido e remove o ASO do ácido circulante. A corrente de fundo do regenerador, após passar por uma etapa de
neutralização com solução cáustica, é enviada para queima em um forno da seção de fracionamento da própria unidade.
■ Fracionamento
Os hidrocarbonetos efluentes do topo do decantador, consistindo em uma mistura de propano, isobutano, n-butano e alquilado, e
ainda contendo HF, passam por um conjunto de quatro ou cinco torres de fracionamento.
Na fracionadora principal, ocorre a separação do efluente hidrocarbônico do decantador nas seguintes correntes: uma de
topo contendo propano, isobutano e HF; uma retirada lateral de isobutano que é reciclada para compor a carga; e um produto de
fundo contendo alquilado, produto principal da unidade, e n-butano.
A corrente de topo da fracionadora principal passa por uma torre despropanizadora, onde o isobutano é removido no fundo e
reciclado para compor a carga. A corrente de topo, constituída de propano e HF, é separada na torre seguinte, gerando a corrente
de HF, que é reciclada para o decantador, e a corrente de propano, que, após tratamento, pode ser encaminhada para as esferas
de GLP da refinaria.
A corrente de fundo da fracionadora principal é separada em uma torre desbutanizadora em n-butano e alquilado. O n-
butano, após tratamento, pode ser enviado também às esferas de GLP. O alquilado pode ser usado diretamente na formulação de
gasolinas ou fracionado em correntes de alquilado leve (C 7-) e pesado (C 8+), para a produção de gasolinas especiais.
Propriedade Resultados
PVR, kPa 31
Destilação ASTM, °C
PIE 43
10 % 78
50 % 103
90 % 119
PFE 188
Sensitividade 2
Tabela 12.3 Valores típicos de MON e RON de correntes de nafta de diferentes processos[10]
Processo de
Destilação FCC Reforma Alquilação Isomerização
produção
RON 68 91 94 95 85
MON 67 80 85 92 82
12.2.5.6 Pressão
A pressão é controlada com o objetivo de se manter os hidrocarbonetos e ácidos na fase líquida, utilizando-se normalmente um
valor inferior a 3 MPa.[1]
12.3 Isomerização
A isomerização é um processo de conversão de cadeias parafínicas normais em cadeias ramificadas, permanecendo o mesmo
número de átomos de carbono. As reações ocorrem em presença de hidrogênio, em condições relativamente brandas de
temperatura e pressão, utilizando-se um catalisador de elevada atividade.
Considerando-se a carga da unidade, existem dois processos de isomerização de interesse para a indústria do petróleo:[2,3]
— isomerização do n-butano a isobutano, para uso como carga da unidade de alquilação; e
— conversão de parafinas normais contendo de 5 e 6 átomos de carbono, da nafta leve da destilação direta (fração C5-80
°C), em hidrocarbonetos ramificados, produzindo a nafta isomerizada.
Os principais licenciadores de tecnologia de isomerização são a UOP e a Axens. [14,15] Esta tecnologia é adequada para
melhorar a qualidade antidetonante da nafta de destilação direta, gerando uma nafta praticamente isenta de contaminantes e
hidrocarbonetos aromáticos e olefínicos. No entanto, dependendo da tecnologia utilizada, a nafta isomerizada pode não atender
sozinha à especificação de número de octano da gasolina, devendo ser misturada a outras correntes. [16,17,18]
12.3.1 Fundamentos
A principal reação desse processo, a isomerização, consiste na transformação de n-parafinas em parafinas ramificadas,
conforme exemplificado pela Equação (12.6):
A reação de isomerização é mais efetivamente promovida por catalisadores bifuncionais que apresentam as funções metálica
e ácida, e o mecanismo mais aceito indica que essa reação se inicia pela formação de uma olefina intermediária resultante da
ação desidrogenante do sítio metálico. O sítio ácido é então responsável pela formação de um carbocátion, que sofre um
rearranjo estrutural, gerando uma olefina ramificada, que finalmente reage com o hidrogênio presente no meio reacional,
gerando a isoparafina. Todas as etapas citadas são reações de equilíbrio, conforme ilustrado na Figura 12.3.
O deslocamento da reação em direção ao produto isomerizado (equilíbrio termodinâmico) é favorecido por baixas
temperaturas, como mostra a Figura 12.4.
Figura 12.4 Equilíbrio da isomerização do n-pentano/isopentano em função da temperatura.[3]
A elevada atividade do catalisador é então muito importante para compatibilizar a velocidade das reações com um equilíbrio
termodinâmico favorável, que demanda o emprego de baixas temperaturas. Dependendo do catalisador, as temperaturas de
reação utilizadas variam em uma faixa de 120 °C a 270 °C. [2] Uma vez que não há mudança no número de moléculas nesse
processo, a reação não é afetada pela pressão, situada na faixa de 1,5 MPa a 3,0 MPa. [1,2,3]
Os catalisadores utilizados na isomerização de parafinas se subdividem em três grupos: catalisadores de platina suportados
em alumina clorada, catalisadores zeolíticos impregnados com platina e catalisadores de platina suportada em óxidos de metais
sulfatados.[16,17,18] Na Tabela 12.4 estão resumidas as principais características desses três tipos de catalisadores e a sua
influência na temperatura de reação.[2]
Sensibilidade a venenos
(água e enxofre) Maior Intermediária Menor
Necessidade de pré-
tratamento da carga Sim Não Não
Aumento do NO (produto –
carga, em única passagem) 15 10 13
Por concepção, o catalisador de isomerização promove a conversão das normais parafinas (C 5 e C6) em isopentano e 2,2- e
2,3-dimetilbutano. No entanto, devido à natureza do processo e às condições empregadas, ocorrem também as reações de
hidrogenação de benzeno e de abertura de anéis naftênicos, que fazem desse processo uma rota economicamente vantajosa para
a redução do teor de benzeno na gasolina. As reações de isomerização e as reações de abertura de anéis naftênicos são
levemente exotérmicas, mas a saturação do benzeno é altamente exotérmica. Assim, a temperatura aumenta ao longo do reator,
e esse aumento é tão maior quanto maior for o teor de benzeno na carga da unidade.
Ocorrem ainda reações indesejáveis de hidrocraqueamento de parafinas. O hidrogênio presente no meio participa das
reações de isomerização, de abertura de anéis naftênicos e de saturação de anéis aromáticos.[2,16,18]
No tipo de configuração apresentado na Figura 12.5, se a reação de isomerização alcançar o equilíbrio termodinâmico, o
RON do isomerizado poderá chegar a 84, considerando-se o catalisador de alumina clorada e a operação em baixa temperatura.
Novas configurações do processo podem viabilizar a produção de isomerizados com números de octano mais altos, podendo o
RON chegar até 93.[3] As principais inovações envolvem:
— a separação e o reciclo dos hidrocarbonetos parafínicos normais (n-pentano e n-hexano) presentes no efluente. A
separação pode ser efetuada por fracionamento ou adsorção dos compostos lineares em fase vapor em um leito de
peneira molecular;[2,16-18] e
— a utilização de dois reatores em série, um operando em temperatura mais alta, beneficiando a cinética da reação, e outro
operando em temperatura mais baixa, beneficiando a termodinâmica.
12.3.3 Produtos
Na Tabela 12.5 são apresentadas as composições típicas da carga e do produto para uma unidade de passagem única (tecnologia
PENEX, UOP). As composições (em massa) das frações C 5 e C6 no produto correspondem a valores próximos ao previsto pela
conversão de equilíbrio termodinâmico, na temperatura do reator.
[3]
Tabela 12.5 Composições típicas da carga e produto de uma unidade de passagem única (carga C5-C6)
Carga Produto
As variantes do processo, empregando os catalisadores mais resistentes a venenos e mais facilmente regeneráveis, conduzem
à geração de isomerizados com menores elevações de números de octano em relação à carga e com maior geração de frações
leves (C1-C3) do que a rota tradicional, como ilustrado na Tabela 12.6. O reciclo de hidrocarbonetos não convertidos ajuda a
aumentar a conversão, bem como melhora o desempenho da unidade.
Tabela 12.6 Comparação dos produtos de unidades de isomerização C5-C6 com diferentes catalisadores[3]
REFERÊNCIAS
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[2] PUJADÓ, P. R. Gasoline components. In: JONES, D. S.; PUJADÓ, P. R. Handbook of petroleum processing. 1. ed. Dordrecht:
Springer, 2006.
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[4] HOMMELTOFT, S. I. Isobutane alkylation: recent developments and future perspectives. Applied Catalysis A: General, v. 221, p.
421–428, 2001.
[5] MINNESOTA POISON CONTROL SYSTEM. Hydrofluoridric Acid (HF). Disponível em: http://www.mnpoison.org/index.asp?
pageID=151. Acesso em: 04 abr. 2011.
[6] DUPONT. H2SO4 vs. HF: a process comparison of H2SO4 and HF alkylation processes. Disponível em:
http://www2.dupont.com/Sustainable_Solutions/en_US/assets/downloads/stratco/H 2SO4_vs._HF.pdf. Acesso em: 04 abr. 2011.
[7] GARY, J. H.; HANDWERK, G. E. Petroleum refining: technology and economics. CRC Press, 2007.
[8] PROHASKA, B. New development of alkylation process. Naphta Journal. v. 46, n. 2, 1995.
[9] PRYOR, P. S. Approaches to alkylation: a world review. Petroleum Technology Quaterly. v. 9, n. 1, 2004.
[10] WAUQUIER, J. P. Petroleum refining crude oil. France: Technip, 1995.
[11] ALBRIGHT, L. F. Alkylation will be key process in reformulated gasoline era. Oil and Gas Journal, v. 88, n. 46, Nov. 1990.
[12] HOPKINSON, B. E.; HERNANDES, F. O. Corrosion problems in HF alkylation units. In: Phillips worldwide symposium on HF
alkylation. 1994.
[13] DOBIS, J. D.; WILLIAMS, D. G.; BRYAN JR, D. L. Understanding corrosion in HF. In: Hydrocarbon Engineering, 2004.
[14] DEAK, V. G.; ROSIN, R. R.; VASSILAKIS, J. G. Discuss advances in light naphtha isomerisation catalysts to optimize precious
metal investment. Hydrocarbon Engineering. p. 37-40, Mar. 2007.
[15] DOMERGUE, B.; WATRIPONT, L. Paraffins isomerization options. Petroleum Technology Quarterly. v. 10, n. 3, p. 21-25, 2005.
[16] CUSHER, N. A. Isomerization: UOP Penex process. In: MEYERS, R. A. Handbook of petroleum refining processes. 3. ed. New
York: McGraw-Hill, 2003.
[17] CORMA, A.; MARTINÉZ, A. The chemistry of catalytic processes. In: GILSON, J. P.; GUISNET, M. Zeolites for cleaner
technologies. Londres: Imperial College Press, 2002.
[18] ANDERSON, G. C.; ROSIN, R. R.; STINE, M. A. New solutions for light paraffin isomerization. UOP LLC, M. J. Hunter UOP
Limited, 2004.
[19] LAMPRECHT, D.; De KLERK, A. Hydroisomerization of 1-pentene to iso-pentane in a single reactor. Chemical Engineering
Communications. v. 196, p. 1206–1216, 2009.
13.1 Introdução
Os tratamentos convencionais são aplicados aos derivados de petróleo com o objetivo de reduzir o teor de impurezas de caráter
ácido, que possam ser removidas por substâncias químicas de caráter básico. As impurezas mais importantes são os compostos
contendo enxofre, como o H 2S e os mercaptanos; no entanto, outras substâncias de caráter ácido, como o CO 2 e os ácidos
orgânicos, também são removidas nesses tratamentos.
No passado, muitos processos foram utilizados com o mesmo objetivo, porém se tornaram obsoletos. Entre esses processos
se encontram os tratamentos doctor e bender.
Há uma tendência de se manter a utilização dos tratamentos, ditos convencionais, para as frações mais leves como o gás
natural, o gás combustível, o GLP e a nafta leve, obtida na destilação. No entanto, para as naftas oriundas de processos de
conversão, o querosene e o óleo diesel, o HDT vem sendo cada vez mais usado.
Os tratamentos convencionais podem ser classificados, de acordo com o seu objetivo, como de dessulfurização e
adoçamento. Nos processos de dessulfurização, ocorre a remoção dos compostos sulfurados da carga, e nos de adoçamento, os
compostos sulfurados são convertidos em outras formas não corrosivas, que permanecem no derivado tratado. Nos dois casos,
ocorre a remoção do caráter ácido da carga, por isso, nas unidades de tratamento do gás natural, o termo adoçamento é aplicado
à remoção tanto do H2S quanto do CO2 presentes no gás.
Nos tratamentos convencionais se utiliza uma solução aquosa de um composto básico que consiga se ligar ao contaminante
ácido e o extrair ou modificar. Entre os processos disponíveis estão os tratamentos com aminas e com soda cáustica, que serão
apresentados neste capítulo.
13.2.1 Fundamentos
O objetivo desse processo é a remoção de H 2S e CO2 das correntes a serem tratadas, usando-se uma solução amínica possível de
ser regenerada, e obtendo-se como subproduto um gás rico em H 2S e CO2. As especificações do GN são as mais rígidas quanto
ao teor de H2S, sendo definidas, por resolução da ANP,[1] em valores máximos equivalentes a 7 mol/Mmol a 9 mol/Mmol.
Quanto ao GLP e ao gás combustível, as especificações são menos restritivas, e os teores típicos de H2S são da ordem de 100
mol/Mmol.
Conforme se pode observar na Figura 13.2, o processo se divide em duas etapas: na primeira, denominada extração (GLP)
ou absorção (GN ou GC), ocorre a passagem dos contaminantes da carga para a solução de amina; na segunda etapa, a
regeneração, ocorre a liberação dos contaminantes, e a solução de amina regenerada retorna à primeira etapa. A amina que
circula entre as duas etapas é chamada de rica quando está concentrada em contaminantes e de pobre depois de regenerada. Em
função da degradação térmica e química da amina, são necessários o acompanhamento contínuo da sua concentração e a
renovação periódica do seu inventário.
■ Monoetanolamina (MEA)
A MEA é uma amina muito eficiente na remoção tanto do H 2S como do CO2. A MEA reage de forma irreversível com outros
compostos de caráter ácido, como o COS e o CS 2, presentes nas correntes geradas no refino, GC e GLP, não sendo, portanto,
recomendada para tratar cargas com teores elevados desses compostos. Uma aplicação típica da MEA é no tratamento de gás
natural, que não contém esses contaminantes.
Essa amina costuma ter menor custo do que as demais, sendo usada em soluções aquosas com teores em massa de 15 % a 20
%. Por outro lado, gasta-se mais energia para a sua regeneração, porque os sais produzidos são mais estáveis e, portanto, de
mais difícil dissociação.[5]
■ Dietanolamina (DEA)
À semelhança da MEA, a DEA tem elevada eficiência de remoção de H 2S e CO2. Quanto ao caráter corrosivo, a DEA é menos
ativa do que a MEA, sendo utilizada na maior parte das aplicações em refinarias. Os teores em massa típicos utilizados variam
de 20 % a 30 %.[5]
■ Metildietanolamina (MDEA)
A MDEA é a amina mais fraca, utilizada apenas para remoção do H 2S, já que a remoção de CO2 é baixa por ocorrer apenas pela
Equação (13.3), que é lenta. A MDEA sofre menor degradação química do que as demais aminas, por ser menos reativa. Sua
regeneração é mais fácil, pois menos energia é despendida na dissociação da amina rica. Como pontos negativos, devem-se citar
o seu maior custo e a sua maior solubilidade em hidrocarbonetos, que leva a perdas e dificuldades operacionais. Devido à sua
menor reatividade, a MDEA é utilizada em teores em massa de 40 % a 50 %.[2]
■ Formação de espuma
A espuma é um problema persistente e de difícil solução, causada por substâncias que elevam a viscosidade e reduzem a tensão
superficial da amina, tais como: hidrocarbonetos pesados presentes no gás combustível, que condensam na torre absorvedora;
sólidos em suspensão; produtos de degradação da amina; e inibidores de corrosão. No processo, as consequências da presença
de espuma são: arraste de amina pelo produto; operação instável e aumento da perda de carga nas torres regeneradora e
absorvedora/extratora; regeneração deficiente da amina; e elevação do teor de H 2S do produto tratado. Para minimizar a
formação de espuma, deve-se manter a solução de amina limpa, pela operação contínua dos filtros de carvão ativado e de
partículas. Como medida emergencial, pode-se usar um produto antiespumante. [6,12]
■ Corrosão
No tratamento com aminas, os pontos com maior tendência à corrosão são as regiões de altas temperaturas em que está presente
o H2S, por exemplo: a torre regeneradora, o seu refervedor e o trocador de calor amina pobre × amina rica. Além disso, outras
causas de corrosão são: concentração de amina acima do valor recomendado; alto teor de H 2S na amina rica; altos teores de sais
termicamente estáveis; altas velocidades da solução, provocando erosão da camada protetora de sulfeto de ferro; e
contaminantes da carga – o ácido cianídrico, por exemplo, destrói por ataque químico a camada protetora de sulfeto de ferro,
contribuindo para aumentar a corrosão na unidade.[4,6,9]
13.3.1.1 Fundamentos
O processo se baseia na extração de compostos de caráter ácido, presentes na carga, pela solução aquosa de soda cáustica, onde
ocorrem as seguintes reações principais:
Os mercaptanos pouco solúveis em água não são extraídos pela solução aquosa, e, nesse caso, a reação ocorre na interface
óleo-água, de modo que o mercaptídeo de sódio (NaSR) formado permanece na fase oleosa. A solubilidade dos mercaptanos na
água varia com os seguintes fatores:
■ tamanho do radical orgânico: a solubilidade diminui à medida que o número de átomos de carbono aumenta, de modo que
a remoção de mercaptanos é mais difícil para os produtos mais pesados (Teb > 120 °C[14]). Assim, os metil e
etilmercaptanos presentes no GLP podem ser removidos quase totalmente; no entanto, os propil e butilmercaptanos e mais
pesados, presentes na nafta e no querosene, são removidos em uma proporção bem menor, dificultando o atendimento às
especificações desses produtos;
■ presença de substâncias solubilizantes: metanol, ácido isobutírico, fenóis e ácidos naftênicos aumentam a solubilidade dos
mercaptanos na fase aquosa.
A solução cáustica que circula no primeiro vaso é descartada quando sua concentração atinge o valor mínimo estabelecido,
fazendo-se a reposição do inventário com a soda efluente do segundo vaso. A reposição de soda fresca é então feita no circuito
do segundo vaso.
■ Temperatura
A redução da temperatura auxilia o processo de remoção dos mercaptanos; no entanto, quanto menor a temperatura mais difícil
será a separação das fases aquosa e oleosa.
Os valores típicos das variáveis de processo descritas estão apresentados na Tabela 13.1.
13.3.2.1 Fundamentos
No TCR, ocorre primeiramente a formação do mercaptídeo de sódio (NaSR), a partir da reação dos mercaptanos com a soda, da
mesma forma que no processo convencional. No entanto, em seguida, tem-se a oxidação dos mercaptídeos a dissulfetos, em
temperatura próxima à ambiente e na presença de um catalisador solúvel na fase aquosa (cáustica), usando-se o oxigênio do ar
como agente oxidante, conforme as Equações (13.7) e (13.9).
em que R representa os radicais de hidrocarbonetos presentes, que podem ser diferentes entre si, e podem ser de cadeia aberta
(linear ou ramificada, saturada ou insaturada) ou cíclica (saturada ou insaturada).
O catalisador deste processo é normalmente um quelato de cobalto, sendo muito utilizada a ftalocianina de cobalto,
C32H12N8Co(SO3Na)4, normalmente usada em teores de 200 mg/kg de solução cáustica.
No caso do TCR do GLP, ocorre a real dessulfurização, pois os dissulfetos formados na regeneração da soda passam para a
fase aquosa. Por outro lado, no caso da nafta e do querosene, os dissulfetos permanecem com o derivado, caso em que o
tratamento é classificado como adoçamento, pois, embora o teor total de enxofre não seja reduzido, o produto deixa de ser
corrosivo.
Nesse processo, o GLP, normalmente oriundo de um tratamento com aminas, é recebido no vaso de pré-lavagem cáustica,
que contém um inventário de solução de baixa concentração de soda e visa à remoção do H 2S remanescente na corrente. A
remoção preferencial do H2S pela soda diluída se deve à elevada seletividade da soda por esse composto, em detrimento do
mercaptanos.[15] Tal remoção é importante, pois, na presença de O 2 e NaOH, o H2S leva à formação de compostos não
regeneráveis como o tiossulfato de sódio, consumindo a solução cáustica, de acordo com as Equações (13.11) e (13.12). Além
disso, os sais formados podem se depositar nos equipamentos, caso se atinja o seu limite de solubilidade. A solução cáustica é
trocada periodicamente, quando se apresenta saturada.
O GLP efluente do vaso de pré-lavagem cáustica segue para a torre extratora de mercaptanos, onde entra em contracorrente
com a solução cáustica contendo o catalisador e já devidamente regenerada. O GLP, praticamente isento de mercaptanos, deixa
o topo da torre e segue para um vaso separador, onde algum arraste de soda é coletado. Do vaso separador, o GLP tratado segue
para armazenamento ou processamento em outra unidade.
A solução de soda contendo os mercaptídeos de sódio deixa o fundo da extratora e, depois de aquecida por vapor d’água,
recebe a corrente de ar, seguindo para o reator de oxidação, que contém anéis de carbono que melhoram o contato entre
reagentes completando-se as reações de oxidação dos mercaptídeos, Equação (13.9).
A solução cáustica, contendo agora os dissulfetos formados, deixa o topo do oxidador e segue para o vaso separador de
dissulfetos. Nesse vaso, ocorre a separação de três fases: uma fase aquosa (solução cáustica), uma fase oleosa (dissulfetos) e
uma fase gasosa, constituída basicamente do excesso de ar utilizado no processo. A fase gasosa é encaminhada para o forno ou
a tocha, e o dissulfeto é enviado a outro vaso para eliminar algum arraste de soda. A solução cáustica isenta de mercaptanos é
bombeada de volta para a torre extratora, fechando o circuito. Sua concentração cai lentamente, ao longo do tempo, sendo
necessários o descarte e a reposição com solução virgem.
13.3.2.2.2 Variáveis de processo
■ Temperatura da torre extratora
Deve-se trabalhar com a menor temperatura possível, pois temperaturas baixas favorecem a remoção dos mercaptanos, pelo
aumento da sua solubilidade na solução cáustica. No entanto, temperaturas abaixo de 43 °C podem favorecer o arraste de
solução cáustica com o GLP.[16]
■ Pressão
A pressão deve ser controlada para que não ocorra vaporização do GLP na torre extratora, e deve ser tal que assegure que o ar
usado na regeneração esteja solubilizado na carga, na temperatura de operação. A faixa usual é de 12,5 kgf/cm 2 a 13,5 kgf/cm2.
[2]
■ Vazão de ar
A vazão de ar deve contemplar um excesso de 100 % em relação ao teor de enxofre mercaptídico da carga. Como essa análise
não é feita normalmente na refinaria, o que se controla é o teor de O 2 no gás efluente do separador de dissulfetos, que deve estar
na faixa de 8 % a 13 %.
A carga e a solução cáustica são misturadas em linha e, apenas depois dessa mistura, recebem a injeção de ar. Essa ordem é
importante, pois em um meio de baixa alcalinidade, o H 2S reage com o O2, formando enxofre elementar no TCR, e tornando a
nafta corrosiva. Uma vez que os mercaptanos presentes na nafta são pouco solúveis na solução cáustica, para que as reações
ocorram, o radical SH deve estar em contato com o ar e o catalisador, na interface óleo-água, por tempo suficiente para reagir.
Para superar essa dificuldade, utiliza-se um dispositivo que promove o contato íntimo entre os reagentes (contator), como uma
torre de pratos perfurados ou um misturador de orifícios, gerando então os dissulfetos, que permanecem na fase oleosa. A
separação final é feita em um vaso de decantação, e a soda retorna ao ponto de mistura com a carga. Uma pequena quantidade
de catalisador é adicionada periodicamente, a fim de manter a atividade catalítica.
Para se eliminar um eventual arraste de soda com a nafta, instala-se um sistema de pós-tratamento, que consiste em um filtro
coalescedor de areia ou uma etapa de lavagem com água.
Caso a nafta contenha um teor de H2S superior a 5 mg/kg, é necessário um pré-tratamento cáustico convencional, usando
uma solução cáustica diluída, a fim de evitar o consumo de soda no TCR, pela formação de sulfeto de sódio, Equação (13.6), e
limitar a geração de soda gasta.
13.3.2.3.2 Descrição do adoçamento em leito fixo
No esquema do processo em leito fixo, mostrado na Figura 13.7, o catalisador não é solúvel na fase aquosa, mas está
impregnado em um leito de carvão ativado, carregado em um reator. A mistura de nafta, soda cáustica e ar é enviada para esse
reator, onde os mercaptanos são adsorvidos pelo leito de carvão ativado por um tempo suficiente para que as reações ocorram.
A sequência do processo é similar ao líquido-líquido: após o reator, a mistura é enviada para um vaso de decantação e a nafta
separada passa ainda por um pós-tratamento para a remoção de gotículas de soda arrastadas.
Nesse tratamento, pode ou não ocorrer, a circulação de soda cáustica. No caso de não haver circulação, mantémse uma
pequena vazão contínua ou intermitente de solução cáustica fresca para manter o leito alcalinizado. No caso de circulação
intermitente, o vaso decantador funciona como um reservatório de soda.[14]
O processo em leito fixo leva a uma maior conversão e permite um adoçamento mais efetivo do que o processo líquido-
líquido, no entanto, o projeto e a operação são mais complexos.
13.3.2.3.3 Variáveis de processo
Nos processos de TCR de naftas, existem muito poucas variáveis disponíveis para manipulação. Além da temperatura, as
consideradas mais relevantes são:
— a circulação de solução cáustica, que, enquanto no processo líquido-líquido a faixa tipicamente praticada é de 20 % a 25
% da vazão de nafta, no processo em leito fixo esta faixa pode ser bem menor, podendo inclusive não haver circulação
contínua;
— a pressão, que deve ser suficientemente alta para garantir a absorção e solubilização do oxigênio na solução;
— densidade da solução cáustica no pré-tratamento, que, se for muito baixa, reduzirá a retenção de H 2S, aumentando a
geração de soda gasta no TCR. O valor típico empregado é de 1,036;
— a vazão de ar, importante para garantir a quantidade de O 2 necessária às reações sem que se forme uma fase gasosa que
possa levar a caminhos preferenciais no leito e, em um caso extremo, bolsões de ar no reator ou no contactor. À
semelhança do GLP, o valor típico é de 1,9 m3 de ar (CNTP) por quilograma de enxofre mercaptídico, contemplando
um excesso de 100 % (mínimo).
REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. Ministério de Minas e Energias. Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Especificação do
gás natural, de origem nacional ou importada, a ser comercializada em todo o território nacional. Resolução ANP no 16, de 17.6.2008
- DOU 18.6.2008.
[2] FAHIM, M.; AL-SAHHAF, T.; ELKILANI A. Fundamentals of petroleum refining. Oxford: Elsevier, 2009.
[3] ABDI, M. A.; GOLKAR, M. M.; MEISEN, A. Improve contaminant control in amine systems. Hydrocarbon Processing, 2001.
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[6] WAUQUIER, J. P. Petroleum refining crude oil. France: Technip, 1995.
[7] AMARIS, J. et al. Improve amine absorber operations: follow these three easy steps to find more flexibility in absorber systems.
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[8] KELLER, A. E.; CUMMINGS, A. L. Grime doesn’t pay. In: Brimstone sulfur recovery symposium. Vail Colorado, 2004.
[9] DUPART, M. S.; BACON, T. R.; EDWARDS, D. J. Understanding corrosion in alkanolamine gas treating plants. Parts 1 e 2.
Hydrocarbon Processing, v. 72, n. 4, p. 75-80, 1993.
[10] SHEILAN, M. H.; SPOONER, B. H.; van HOOM, E. Amine treating and sour water stripping, 3. Canada: Amine Experts, 2007.
[11] STEWART, E. J.; LANNING, R. A. Reduce amine plant solvent losses. Parts 1 e 2. Hydrocarbon Processing, v. 73, n. 5, p. 67-
81, 1994.
[12] PAULEY, C. R.; HASHEMI, R. Analysis of foaming mechanisms in amine plants. In: American Institute of Chemical Engineer’s
Summer Meeting. Colorado, 1988.
[13] HOBSON, D. G.; POHL, W. Institute of petroleum modern petroleum technology. 4. ed. Applied Science, 1973.
[14] MEYERS. R. A. Handbook of petroleum refining processes, 3. ed. New York: McGraw-Hill, 2003.
[15] GHANBARI, K.; RAZMKHAH, K.; TAJERIAN, M. Design of caustic wash system for light hydrocarbons such as LPG, LNG
and naphtha. Petroleum & Coal. v. 45, n. 3-4, p. 131-134, 2003.
[16] BLAND, W. F.; DAVIDSON, R. L. Petroleum processing handbook. New York: McGraw-Hill, 1967.
14.1 Introdução
Muitas previsões indicam que o hidrogênio poderá se tornar o maior recurso energético no futuro, como apontado pelos
elevados investimentos reportados pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos.[1] Nos últimos anos cresceu o interesse
na produção do hidrogênio, seja para uso em células de combustível, ou ainda, associado ao monóxido de carbono, como gás de
síntese, para obtenção de combustíveis sintéticos, que possuem um alto valor agregado e são livres de enxofre. [2] No Brasil, a
demanda por hidrogênio tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, devido à necessidade de implantação de
processos de hidrorrefino (HDR) para atender às novas legislações ambientais de combustíveis.
Apresentam-se, na Tabela 14.1, alguns dos principais requisitos de qualidade da nafta DD, quando usada como carga da
UGH.
Tabela 14.1 Especificações da nafta como carga do processo de reforma a vapor para a geração de hidrogênio[6]
Requisitos de Limites
Justificativa
composição adotados
Teor de olefinas* 1 % máx. As olefinas possuem alta tendência à formação de coque no forno
e/ou nos permutadores de preaquecimento da carga. Podem causar
superaquecimento do leito catalítico do reator de pré-tratamento e
queda na eficiência de remoção de enxofre.
Ponto final de ebulição Compostos com pontos de ebulição (ou massa molar) elevados
220 °C máx. aumentam a tendência à formação de coque na superfície
(PFE)
do catalisador da reforma, reduzindo a sua atividade
catalítica.
O teor de enxofre não é propriamente uma especificação da carga da unidade; no entanto, teores elevados desse elemento (>
200 mg/kg), assim como dos demais compostos listados na Tabela 14.1, tendem a aumentar a complexidade e o custo do
sistema de pré-tratamento.
■ reforma a vapor: etapa mais importante do processo, feita no forno reformador. Nela o hidrogênio é gerado pela reação do
vapor d’água com a corrente de hidrocarbonetos, em alta temperatura, na presença de um catalisador, gerando o gás de
síntese (CO + H2). Grande parte desse CO reage com vapor d’água, ainda no forno reformador, gerando CO 2 e uma
quantidade adicional de H2;
■ conversão do CO a CO2: o CO remanescente no efluente do reformador reage com vapor d’água em temperatura mais
baixa do que a do reformador, também em presença de catalisador, gerando mais CO 2 e H2. Essa etapa pode ocorrer em
um ou dois conversores (reatores de deslocamento ou shift);
■ purificação do hidrogênio: separação do hidrogênio produzido dos demais componentes (gás residual: CO, CO2,
hidrocarbonetos não convertidos e água).
Alguns projetistas de unidades de geração de hidrogênio incluem uma etapa adicional ao esquema citado após o pré-
tratamento, que é a pré-reforma. O pré-reformador opera a uma temperatura mais baixa do que a reforma (500 °C) e permite a
produção de hidrogênio e a utilização de catalisadores mais ativos do que os empregados no forno reformador. A composição
típica de uma carga, e do respectivo produto, de um pré-reformador está apresentada na Tabela 14.2.[7]
Tabela 14.2 Composições típicas de uma carga (gás natural) e respectivo produto de um reator de pré-reforma[7]
Entrada Saída
Composição volumétrica, %
Etano 2,1 0
Propano 1,0 0
CO 0 0,1
CO2 0 6,3
O ZnO não é um catalisador, já que é consumido com o tempo, sendo necessária sua troca, em um intervalo de tempo que
depende do teor de enxofre da carga processada. O inventário é dimensionado para o tempo de campanha em função da carga
prevista para ser processada.
Um esquema simplificado da seção de pré-tratamento está apresentado na Figura 14.2.
A eficiência de operação da unidade de geração de hidrogênio será fortemente beneficiada pela máxima remoção de enxofre
no pré-tratamento, devendo esse sistema ser dimensionado para a remoção praticamente total do enxofre da carga. A operação
eficiente da unidade de reforma a vapor demanda um teor máximo de enxofre de 0,1 mg/kg na carga do reformador, mas
algumas unidades mais modernas são projetadas considerando o teor máximo de enxofre de 0,02 mg/kg. [6]
■ Remoção de cloro
O cloro é um sério veneno para o processo de reforma a vapor, pois o íon cloreto tem alta mobilidade e pode migrar através da
planta com o gás de processo, causando corrosão de equipamentos e desativação dos catalisadores de reforma e de conversão. O
cloreto pode ser encontrado na carga da unidade, no caso de nafta, em teores de até 15 mg/kg. No caso do gás natural,
praticamente não há compostos clorados, mas eventualmente podem ser observados teores de até 0,5 mg/kg. O cloreto, assim
como H2S, pode ser um contaminante de água de caldeira, utilizada para gerar o próprio vapor d’água de processo, reagente das
reações de reforma a vapor.
No reator de HDS, os cloretos produzem HCl, que reage com o óxido de zinco gerando o cloreto de zinco (ZnCl 2). Uma vez
que o ponto de fusão do ZnCl 2 é de 285 ºC e as unidades de pré-tratamento operam acima de 350 ºC, a formação de ZnCl 2
levaria à destruição do leito de ZnO. Por isso, nas unidades projetadas para a utilização de nafta como carga da reforma, utiliza-
se um leito de alumina ativada, também chamado de leito de guarda, onde ocorre a adsorção do HCl, evitando-se que este
chegue ao leito de ZnO. Alternativamente, os cloretos podem ser removidos diretamente por adsorção em leito de carvão ativo.
O limite geralmente aceito para o teor de cloro na carga tratada é de 5 mg/kg. [6]
Essa reação ocorre na faixa de pressões entre 2 MPa e 2,5 MPa, em temperaturas entre 820 °C e 880 °C, e é fortemente
endotérmica. Ainda nesse forno ocorre a reação de deslocamento, Equação (14.3), em nível significativo, embora essa reação
seja exotérmica. A reação de deslocamento será complementada na etapa de conversão, que será descrita mais adiante.[8]
As temperaturas de entrada típicas do forno reformador estão na faixa de 540 °C a 580 °C, e a temperatura de saída é
limitada pelos materiais dos tubos do reformador, que são tubos centrifugados, confeccionados em ligas especiais de alto
desempenho, como as ligas HP (High Performance Alloy), que contêm cromo, níquel e nióbio.
Além das reações de reforma e deslocamento, ocorrem paralelamente no reformador as reações de craqueamento catalítico e
térmico da carga, gerando os seguintes produtos: metano, que subsequentemente sofre a reação de reforma, hidrogênio e coque.
[8]
Um exemplo de composição do efluente do forno reformador, operando a 850 °C, 2,4 MPa e razão vapor/carbono (RVC) de
4, está apresentado na Tabela 14.3.
Tabela 14.3 Composição volumétrica (%) de saída do forno reformador para as cargas gás natural e nafta[8]
CO 12,62 14,17
CO2 10,40 14,19
H2 73,98 69,52
N2 0,38 -
Devido às elevadas temperaturas, o gás efluente do forno é aproveitado para gerar vapor d’água em uma caldeira
recuperadora de calor.
Catalisadores comerciais podem conter aditivos, tais como os promotores alcalinos que reduzem a formação de coque na
região superior dos tubos do forno reformador, onde se iniciam as reações. O carregamento do catalisador nos tubos deve ser
feito de forma a garantir uma perfeita distribuição e a melhor uniformidade de compactação possível entre os diversos tubos do
forno.
■ Formação de coque
A formação de coque sobre o catalisador de níquel leva à sua desativação e, consequentemente, à redução da conversão das
reações, e é um dos problemas mais críticos de operação da UGH. Diminuindo as reações (endotérmicas), ocorre também uma
queda do consumo de energia pelo meio reacional, e um consequente superaquecimento dos tubos, o que reduz em muito a sua
vida útil.
Os hidrocarbonetos podem se decompor termicamente, gerando carbono e hidrogênio, como representado para o metano
pela Equação (14.4).
Além da Equação (14.4), as três reações apresentadas a seguir são importantes na formação de coque, Equações (14.5) a
(14.7), e na análise das medidas mais efetivas para controlar essa formação:[9]
As reações (14.4) e (14.5) são consideradas as principais responsáveis pela deposição do carbono e desativação do
catalisador. As reações (14.4), (14.5) e (14.6) são reversíveis e permitem que, durante a reação de reforma a vapor, se alcance
um equilíbrio entre a taxa de produção e a taxa de remoção de coque por influência dos agentes gaseificantes, tais como H2,
CO2 e H2O, já presentes no meio reacional, que removem o coque na forma de CH 4, Equação (14.4), e CO, Equações (14.5) e
(14.6).
A reação (14.7) é irreversível e ocorre quando existem na carga hidrocarbonetos de cadeia longa (na faixa final da nafta),
assim como hidrocarbonetos aromáticos e olefínicos. Com o objetivo de maximizar a reação de reforma e deslocar o equilíbrio
da reação (14.6) no sentido dos reagentes, minimizando a formação de coque, deve-se operar com uma alta razão “vapor
d’água/carbono” (RVC), principalmente quando se emprega a nafta como carga.
No caso da nafta, a decomposição é mais complexa do que para o gás natural e está representada na Figura 14.5, juntamente
com as reações de reforma a vapor. Observa-se que a RVC é a variável operacional de maior importância no controle da
formação de coque sobre o catalisador.
A formação de coque, de modo geral, tende a ficar restrita à região inicial do tubo reformador, entre 20 % e 40 % do seu
comprimento e pode variar significativamente com as características do catalisador e com a qualidade da carga.
14.3.3 Conversão de CO
O efluente do forno reformador passa à etapa de conversão de CO, com o intuito de produzir mais hidrogênio, por meio da
reação de deslocamento, Equação (14.3).
No primeiro conversor, de alta temperatura (CAT), a carga é alimentada ao reator a uma temperatura de 340 °C a 360 °C, e
o catalisador empregado é fornecido na forma de óxido de ferro, Fe 2O3 (90 % a 95 %), estabilizado por 5 % a 10 % de óxido de
cromo (CrO3). O teor em volume de CO no efluente desse estágio é de 2 % a 4 %.[6]
No conversor de baixa temperatura (CBT), a temperatura de entrada é de 210 °C a 230 °C, e o catalisador empregado é
composto de óxidos de cobre (CuO), zinco (ZnO) e alumínio (Al 2O3), em proporções aproximadamente iguais. O teor em
volume de CO é menor do que 0,5 %,[6] na saída do CBT.
Assim como no reator de reforma, no início da operação dos conversores também é necessária a realização de uma etapa de
redução dos catalisadores. Assim, Fe 2O3 é reduzido a Fe3O4, CrO3 a Cr2O3 e CuO a cobre metálico. Essa redução é feita com o
próprio hidrogênio gerado na reforma.[6]
Uma das desvantagens do esquema de processo com dois estágios de conversão é que o catalisador de cobre no CBT,
embora viabilize uma elevada conversão de CO, é de maior custo e mais instável do que o catalisador de ferro, sinterizando-se
com facilidade, além de ser extremamente sensível a contaminantes. O principal fator de desativação é o envenenamento por
contaminantes, tais como cloro e enxofre.[6]
Depois dessa unidade, pode haver um reator de metanação, onde o CO residual é reconvertido em CH4, visto que teores
altos de CO no hidrogênio produzido podem causar a desativação dos catalisadores de HDT. A reação de metanação, Equação
(14.8), nada mais é do que a reação de reforma a vapor invertida, utilizando-se catalisadores à base de níquel e alumina em
temperaturas na faixa de 280 °C a 320 ºC.
14.3.4 Purificação do H2
O hidrogênio efluente do conversor contém o excesso de vapor d’água utilizado no processo, elevados teores em volume de
CO2 (16 % a 20 %), além de outros contaminantes,[8] e precisa passar por etapas de purificação. A primeira etapa é a simples
remoção de água por resfriamento. Para a separação dos demais contaminantes, o esquema adotado pode ser:
— tratamento com aminas: adotado geralmente quando se faz a conversão em dois estágios catalíticos e/ou quando a
exigência de pureza do hidrogênio não é muito alta; ou
— adsorção em peneiras moleculares: esquema mais utilizado atualmente em unidades que operam com apenas um estágio
de conversão e que produzem hidrogênio de altíssima pureza (> 99 %).
A solução de amina saturada em CO2 (MEA rica) segue para uma torre de regeneração, onde a reação (14.9) é revertida a
alta temperatura e a MEA pobre retorna à absorvedora para um novo ciclo de operação.
O CO2 produzido tem elevada pureza (97 %) e apresenta um teor muito baixo de CO, em vista da conversão em dois
estágios, viabilizando a sua comercialização para indústrias que o purificam e o comercializam para uso alimentício, o que pode
representar uma redução dos custos de produção de hidrogênio.
A desvantagem desse esquema é a pureza do hidrogênio relativamente baixa (~ 98 %), quando comparada à pureza obtida
no esquema com peneiras moleculares.
■ adsorção a alta pressão (etapa 1): para adsorver as impurezas (CO, CO 2, N2 e CH4) e produzir hidrogênio de elevada
pureza, a carga é admitida em fluxo ascendente no vaso a alta pressão (p. ex., 2,0 MPa) contendo o leito adsorvente.[10] Ao
escoar pelo leito, o hidrogênio não é adsorvido e sai pelo topo do vaso, pronto para ser enviado à unidade consumidora
(HDT). Após um tempo predeterminado, com a parte inferior do leito parcialmente saturada com impurezas e a parte
superior rica em hidrogênio, a válvula de admissão é automaticamente fechada, e a carga é alinhada para outro vaso a fim
de continuar a adsorção;
■ despressurização cocorrente (etapa 2): para recuperar o hidrogênio retido nos espaços vazios da parte superior do leito, faz-
se uma despressurização cocorrente, ou seja, no mesmo sentido do fluxo em que ocorreu a adsorção. O topo do vaso em
despressurização é alinhado com o topo de outro vaso que está sendo pressurizado (na etapa 5) e está a baixa pressão (p.
ex., 200 kPa), e, ao final dessa etapa, ambos os vasos estarão equalizados, ou seja, à mesma pressão (p. ex., 1 MPa);
■ despressurização contracorrente (etapa 3): a despressurização final é feita geralmente em contracorrente, e as impurezas
são enviadas para um vaso de armazenamento da corrente de gás residual a uma pressão menor (p. ex., 170 kPa);
■ purga (etapa 4): a fim de completar a regeneração do adsorvente e remover os contaminantes do leito, o vaso é purgado
com uma corrente de hidrogênio de alta pureza. O gás produzido nessa etapa constituirá também uma corrente de gás
residual;
■ pressurização contracorrente (etapa 5): a fim de preparar o leito para uma nova adsorção, o vaso é pressurizado em duas
subetapas: a primeira é feita com hidrogênio puro oriundo de outro vaso em despressurização cocorrente (etapa 2), e a
segunda é feita com hidrogênio que está sendo produzido na etapa 1 (a alta pressão). Ao final da pressurização, o ciclo se
reinicia então pela etapa de adsorção (etapa 1).
O parâmetro chave de especificação de uma PSA é a recuperação desejada (razão “H 2 produzido/H2 carga da PSA”). Tal
recuperação é controlada na unidade por meio dos tempos empregados em cada etapa, representados pelo fator de operação da
PSA. Um aumento na recuperação de H2 permite uma redução da razão “carga da UGH/H2 produzido” e um melhor
aproveitamento da unidade.
Uma desvantagem desse esquema de purificação é que o rendimento em hidrogênio obtido é reduzido em até 20 % em
relação ao esquema de purificação com a amina (MEA), devido à geração do gás de purga, inerente ao sistema PSA e à menor
conversão de CO a H2, por se utilizar apenas um estágio de conversão. A alta pureza do hidrogênio atingida por essa
configuração pode significar reduções nos custos fixos (menor pressão de operação) e variáveis (menor consumo de hidrogênio
de reposição) nos processos de hidrotratamento.
Quanto maior o número de vasos empregados na planta de recuperação (PSA), menor a geração de gás residual e maior a
recuperação de hidrogênio alcançada. Assim, plantas de alta eficiência, com grande número de vasos adsorvedores (até 10-12),
podem chegar a 90 % de recuperação, enquanto plantas mais simples são projetadas com um número menor de vasos (4-5) e
possuem recuperação da ordem de 80 %.[11]
14.4.3 Pressão
A redução da pressão favorece a reação de reforma, pois essa reação leva a um aumento de cerca de 50 % na vazão molar de
gases nos tubos do reformador. No entanto, não se realiza a reação a pressões muito baixas devido à necessidade de maior
investimento em equipamentos com maiores dimensões (reatores) e em compressores para envio do gás reformado para o
sistema PSA. Em operação normal, a pressão do reformador não é uma variável alterada pelo operador.
REFERÊNCIAS
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http://www.hydrogen.energy.gov/production.html. Acesso em: 13 abr. 2011.
[2] AASBERG-PETERSEN, K. et al. Technologies for large-scale gas conversion. Applied Catalysis A: General, v. 221, p. 379-387,
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[4] ALMEIDA, A. T. Hidrogênio: células de combustível. Departamento de Engenharia Eletrotécnica, Universidade de Coimbra.
Disponível em: http://www.cfn.ist.utl.pt/conf_energia/files/22_2_Apresentacao.pdf. Acesso em: 15 abr. 2011.
[5] FOSTER, M. G. S. Estruturação da economia do hidrogênio no Brasil. Brasília: Ministério de Minas e Energia, 2005. Disponível em:
http://cncti3.cgee.org.br/Documentos/Seminariosartigos/Areasintnacional/DraMaria%20das%20Gracas%20Silva%20Foster.pdf. Acesso
em: 15 abr. 2011.
[6] TWIGG, M. V. Catalyst handbook. 2. ed. Londres: Wolfe Publishing, 1989.
[7] ARMOR, J. N. The multiple roles for catalysis in the production of H2. Applied Catalysis A: General. v. 176, p. 159-176, 1999.
[8] FAHIM, M.; AL-SAHHAF, T.; ELKILANI, A. Fundamentals of petroleum refining. Oxford: Elsevier, Nov., 2009.
[9] BARTHOLOMEW, C. H. Mechanisms of catalyst deactivation. Applied Catalysis A: General. v. 212, p. 17-60, 2001.
[10] SIRIWARDANE, R. V. et al. Adsorption of CO 2 on molecular sieves and activated carbon. Energy Fuels. v. 15, 2, p. 279–284,
2001.
[11] FOSTER WHEELER. Hydrogen plants for the new millennium. Middle East PETROTECH 2001: Conference and Exhibition.
Bahrain, 29-31. Oct., 2001. Disponível em: http://www.fwc.com/publications/tech_papers/files/WARD1109.pdf. Acesso em: 15 abr.
2011.
* As reações de saturação de olefinas e remoção de enxofre já
foram apresentadas no Capítulo 10.
15.1 Introdução
As unidades de recuperação de enxofre (URE) têm o objetivo de produzir enxofre elementar a partir de correntes gasosas ricas
em H2S, denominadas gás ácido. Este, por sua vez, é originário das unidades de tratamento com aminas, que tratam frações
leves (gás combustível e GLP) efluentes das unidades de FCC, coqueamento retardado e HDT, que processam frações de
petróleo contendo compostos sulfurados. Além dessa fonte, a unidade de tratamento de águas ácidas (UTAA) também gera uma
corrente de gás ácido que completa a carga da URE.
Além da produção de enxofre, importante matéria-prima para a indústria de fertilizantes e para a indústria química em geral,
a URE traz como benefício ambiental a redução das emissões de óxidos de enxofre (SOx), que seriam produzidas pela queima
do H2S, caso fosse incinerado.
A produção brasileira de enxofre provém do xisto, dos gases sulfurosos do refino do petróleo e dos sulfetos das minas de
cobre, zinco e ouro, no processo pirometalúrgico (ustulação), e atende a menos do que 20 % da demanda interna. [1]
Com relação à produção de enxofre a partir de gases efluentes do refino, o processo Claus modificado é hoje utilizado na
URE. A versão original desse processo, patenteado na Inglaterra, em 1883, por Carl Friedrich Claus, transformava o H 2S em
enxofre elementar com o auxílio de um catalisador, em temperaturas na faixa de 400 °C a 600 °C, mas tinha limitações devido à
dificuldade de controle da temperatura e ao baixo rendimento de enxofre em relação aos padrões atuais. Modificações em
relação ao processo original foram introduzidas visando ao aumento do rendimento e à sua adaptação à faixa de concentração de
H2S dos gases processados. O processo Claus se aplica hoje ao tratamento de gases com teores de H2S que vão desde 5 % até 99
%. Na Tabela 15.1 estão apresentadas algumas características típicas de correntes que podem compor a carga de uma URE.[2]
Componentes %
H2S 40-90
CO2 10-40
H2O 0-6
Hidrocarbonetos 0,1-2
NH3 0,5-10
A reação que caracteriza o processo Claus (15.3) completo é a soma da Equação (15.1) com a Equação (15.2).
A fase térmica do processo Claus, responsável por 60 % a 70 % da conversão de H 2S, ocorre numa fornalha, que opera com
temperatura acima de 850 °C. Os gases efluentes da fornalha passam por uma caldeira recuperadora de calor, que gera vapor
d’água, sendo, portanto, resfriados antes de alimentar a etapa catalítica.
Na etapa catalítica, os gases oriundos da caldeira passam por reatores ou estágios catalíticos sucessivos (2 ou 3), que
promovem a reação do restante do H2S com o SO2, reação (15.2).
A necessidade de uma etapa térmica e uma etapa catalítica pode ser explicada pela análise da Figura 15.1.[2] Observase que
na região térmica, onde as temperaturas estão acima de 850 °C, a reação de Claus, Equação (15.2), tem a sua conversão de
equilíbrio favorecida pelo aumento da temperatura. [3] Isto é consequência do fato que, em temperaturas altas (> 500 °C), o
enxofre é encontrado predominantemente na forma S2 gerada a partir da forma S8, via processo endotérmico, envolvendo a
quebra de ligações. No entanto, a conversão máxima é inferior a 80 %, mesmo a altas temperaturas.
Na região catalítica (T < 350 °C), a reação de Claus, Equação (15.2), é exotérmica e sua conversão de equilíbrio químico é
aumentada, aproximando-se de 100 % com a redução da temperatura. A utilização de múltiplos reatores, intercalados de
condensadores com separação do enxofre produzido, favorece o deslocamento da reação em direção aos produtos,
possibilitando a obtenção de valores de recuperação de enxofre de 96 % (dois estágios catalíticos) a 98 % (três estágios
catalíticos).
A câmara de combustão (ou fornalha) é o reator térmico propriamente dito e tem a função de promover a mistura íntima do
gás ácido com o ar, no queimador principal, e prover o tempo necessário para que as reações (15.1) e (15.2) atinjam o
equilíbrio.
O oxigênio necessário à reação é fornecido pelo soprador de ar, em vazão suficiente para a oxidação de 1/3 do H2S da carga
e para a queima dos contaminantes eventualmente presentes. A exata razão “ar/gás ácido” na câmara de combustão é, sem
dúvida, a variável mais importante da URE. A temperatura alcançada durante a operação normal dependerá da composição do
gás, que, por sua vez, definirá a razão “ar/gás ácido”. Assim, um gás ácido pobre (baixo teor de H2S e alto teor de inertes como
o CO2) exigirá uma baixa vazão de ar, sua combustão gerará pouca energia e a temperatura de chama será baixa.
Diversos contaminantes, como amônia e hidrocarbonetos, estão frequentemente presentes na carga e devem ser
completamente destruídos na combustão, Equações (15.4) e (15.5), a fim de evitar a obstrução dos equipamentos com sais de
amônio (polissulfeto, sulfato, bissulfito e bicarbonato) nas partes frias da unidade,[5] e/ou deposição de coque sobre o
catalisador, que leva à sua desativação e ainda ao escurecimento do enxofre produzido. Em unidades não adaptadas para a
destruição de amônia, a quantidade desse contaminante deve ser controlada para não ultrapassar o teor limite de 0,5 %.
Unidades modernas, projetadas para a destruição da amônia, com teores em volume de até 10 % da carga, possuem
temperatura de projeto da câmara de combustão acima de 1200 °C. Para se alcançar essa temperatura, é necessário o uso de
queimadores especiais e de outros recursos como o preaquecimento da carga e/ou do ar de combustão.
A presença de compostos de carbono levará ainda à ocorrência de um grande número de reações paralelas, como as
representadas a seguir, nas Equações (15.6) a (15.11):[6]
Finalmente, ainda pode ocorrer a decomposição direta de H 2S em enxofre elementar e H2, sem consumo de O2, conforme a
Equação (15.12), o que afeta o balanço estequiométrico da fornalha, que prevê a demanda de 1 mol de O2 para 2 mol de H2S.
Substâncias como H2O, H2, CO e CO2, formadas na câmara de combustão, tornam-se inertes nos estágios seguintes do
processo. Os compostos COS (sulfeto de carbonila) e CS 2 (dissulfeto de carbono), por possuírem enxofre nas suas moléculas,
deverão sofrer hidrólise na etapa catalítica do processo Claus, gerando H 2S, ou serão queimados no incinerador da unidade,
reduzindo a recuperação de enxofre e aumentando o nível de emissões atmosféricas (SO x).
Acoplada à câmara de combustão está a caldeira recuperadora de calor, que gera vapor de média ou alta pressão, resfriando
os gases de combustão até cerca de 300 °C. O aproveitamento energético da URE permite a geração de cerca de 2,6 kg de vapor
d’água por 1 kg de enxofre produzido.[7] Mesmo que a condensação de enxofre não ocorra na temperatura normal de operação
da caldeira, é previsto um escoamento de enxofre líquido através de um bocal de drenagem, que o encaminha para o primeiro
pote de selagem, que, por sua vez, o envia para o tanque de enxofre. A função dos potes de selagem é impedir a passagem do
gás ácido para o tanque de armazenamento de enxofre, e evitar a contaminação da área.
— os reaquecedores indiretos são trocadores de calor gás-gás ou gás-vapor ou aquecedores elétricos. Embora sejam mais
fáceis de operar e não interfiram no controle da razão “ar/gás ácido”, estes são mais limitados em relação à temperatura
máxima de reaquecimento.
Assim, a configuração mais empregada em termos de reaquecedores é a representada anteriormente na Figura 15.2 , ou
seja, o primeiro reaquecedor é direto (queimador em linha) e os demais são indiretos, porque a temperatura requerida no
primeiro reator é maior do que a requerida nos demais.
b. um reator, onde ocorre a reação do H2S com o SO2, gerando o enxofre elementar. A temperatura do gás entrando no
primeiro reator é controlada numa faixa de valores mais altos (230 °C até 250 °C) do que nos reatores subsequentes.
Além da necessidade de se aumentar a temperatura acima do ponto de orvalho do enxofre, essa temperatura mais
elevada favorece as reações de hidrólise do COS e CS 2, representadas nas Equações (15.13) e (15.14), e permite ainda a
execução do processo de rejuvenescimento do leito catalítico, pela vaporização de enxofre depositado, quando
necessário.[8]
O catalisador mais tradicionalmente empregado nos reatores da URE é a alumina ativada. Além da temperatura mais
elevada, a utilização de um leito catalítico de dióxido de titânio (TiO 2) no primeiro reator é uma medida adicional
importante para favorecer as reações de hidrólise. A temperatura do gás ácido na entrada do segundo e terceiro reatores
é controlada em valores mais baixos do que no primeiro, de forma a favorecer o deslocamento do equilíbrio da reação
em direção aos produtos, por ser a reação exotérmica. Valores típicos de temperatura de entrada/saída no segundo e no
terceiro reatores são, respectivamente: 200 °C/220 °C e 190 °C /205 °C.
c. um condensador, no qual os gases efluentes do reator correspondente são resfriados, para aproveitamento da energia
gerada nas reações e também para a condensação e remoção do enxofre elementar formado, favorecendo o
deslocamento do equilíbrio da Equação (15.2). O enxofre líquido é enviado para o tanque de armazenamento, através de
potes de selagem. As temperaturas de saída do primeiro e do segundo condensadores são controladas na faixa de 150 °C
a 170 °C, o que é suficiente para a condensação da maior parte do enxofre produzido. No terceiro e no quarto
condensadores, as temperaturas de saída devem ser mais baixas (130 °C – 160 °C), para minimizar o envio de enxofre
vapor para o incinerador, juntamente com o gás residual, desde que se tenha uma margem de segurança acima da
temperatura de solidificação do enxofre (119 °C).
A URE é uma unidade projetada para se trabalhar com a máxima recuperação do enxofre contido na carga e a máxima
recuperação de energia. No tocante à energia, além da geração de vapor de média ou alta pressão na caldeira, todo o
resfriamento de gases é feito com aproveitamento de energia para geração de vapor de baixa pressão ou para preaquecimento de
água de caldeira.
Quanto à recuperação do enxofre contido na carga da URE, a Resolução No 436 (22/12/2011) do Conselho Nacional de
Meio Ambiente (CONAMA) estabelece um valor mínimo de 96 %, durante todo o ciclo de vida da unidade. [9] Essa legislação
tende a se tornar mais rígida nos próximos anos, e, para se conseguir maiores valores de eficiência, pode-se utilizar um processo
modificado que inclui uma etapa catalítica a baixa temperatura (abaixo do ponto de orvalho do enxofre), ou pode ser instalada
uma unidade de tratamento de gás residual (UTGR).
Em uma das rotas mais empregadas na UTGR, os compostos de enxofre ainda remanescentes no gás residual da URE são
hidrogenados à temperatura de 250 °C a 300 °C, gerando novamente o H 2S (gás ácido), que é absorvido em solução de amina
(MDEA) e reciclado à URE, aumentando a recuperação global, conforme ilustrado na Figura 15.4[10]onde os valores
representam o percentual de enxofre da corrente em relação à carga da URE.
15.3.4 Incinerador
O efluente gasoso do quarto condensador é enviado para um vaso coalescedor, onde traços de enxofre líquido ainda podem ser
coletados e drenados para o tanque de armazenagem, através do sexto pote de selagem. O vaso coalescedor possui um
eliminador de névoa e uma serpentina de vapor d’água, para evitar a solidificação do enxofre no coalescedor e aumentar a
eficiência de remoção de resíduo líquido do vaso.
O gás que sai pelo topo do vaso coalescedor, e que ainda contém traços de enxofre elementar e compostos sulfurados (H 2S,
SO2, COS e CS2), é alinhado para o incinerador ou para a UTGR. A temperatura adequada à combustão (até 1090 °C) é mantida
pela queima contínua de gás combustível.[4]
O enxofre sólido pode ser armazenado a céu aberto e comercializado nas seguintes formas: granulada, em escamas (ou
flocos) ou em pastilhas. O enxofre sólido deve atender a especificações de aparência (pó amarelo), além dos critérios de pureza
anteriormente apresentados na Tabela 15.2.
A análise da carga da URE é importante para se estimar a vazão estequiométrica de ar. No entanto, o cálculo anterior não
leva em conta o grande número de reações paralelas que acontecem na câmara de combustão, exemplificadas nas Equações
(15.6) a (15.12), que dependem de fatores como a composição da carga, a temperatura e o tempo de residência dos gases na
câmara de combustão. Por essa razão, é importante a análise do gás residual da unidade (antes do incinerador ou da UTGR), que
dá a indicação real do desvio da razão molar H2S/SO2 em relação ao valor estequiométrico de 2:1, para a reação de Claus.[12]
Na Figura 15.5, ilustra-se a influência da razão ar/gás ácido sobre a conversão de H2S a S. Observa-se que uma quantidade
de ar menor do que a estequiométrica afeta mais a conversão do que o excesso de ar. Por exemplo, considerando-se uma
conversão teórica (ou estequiométrica) de 98 % de uma dada unidade, um excesso de 4 % de ar resultaria numa queda de 1,5 %
na conversão, enquanto uma falta de ar de 4 % com relação à estequiométrica resultaria numa queda de 3 % na conversão da
URE.
[2]
Figura 15.5 Conversão de H2S a S em função do excesso ou falta de ar (adaptado).
15.5.2 Temperatura
Para maximizar a recuperação de enxofre e assegurar uma operação segura, é preciso que sejam mantidos os valores corretos de
temperatura ao longo da unidade.
■ Temperatura da câmara de combustão: usualmente, trabalha-se com a temperatura em níveis altos, que favorecem a
reação de Claus e a destruição de contaminantes do gás ácido. No entanto, temperaturas excessivamente altas (> 1350 °C)
podem danificar os queimadores e os tijolos refratários. Por isso, apenas as unidades projetadas para a destruição de
amônia trabalham com temperaturas acima de 1200 °C, enquanto as demais operam a temperaturas mais baixas (900 °C a
1000 °C), desde que estas sejam suficientes para manter a estabilidade da chama.
■ Temperatura dos reatores: as temperaturas nos reatores devem ser baixas, desde que estejam acima do ponto de orvalho
da mistura.
■ Temperatura dos condensadores: as temperaturas de saída dos condensadores devem ser baixas, respeitando-se as
recomendações da Seção 15.3.3, para minimizar o envio de enxofre vapor para o incinerador, desde que não se tenha o
risco de solidificação do enxofre, que ocorreria a 119 °C.
O enxofre, na forma líquida, solubiliza pequenas quantidades de H 2S, na ordem de 250 mg/kg, porém a agitação natural que
ocorre no transporte é suficiente para liberar o H 2S. Assim, por questão de segurança de manuseio do enxofre líquido, a
desgaseificação (remoção do H2S dissolvido) desse produto no tanque deve ser uma prática adotada.
O dióxido de enxofre (SO2), mesmo em pequenas concentrações, tem ação irritativa aos olhos e às vias respiratórias. Baixos
teores são detectados facilmente pelo olfato. A inalação de SO 2 pode causar a morte, por isso o teor máximo de SO 2 no ar,
permitido por um período de 8 h de trabalho, é de 5 cm 3/m3. Um teor de 10 cm3/m3 é aceitável durante um período de até 15
[13]
min.
O fogo e a explosão são os principais riscos no manuseio de enxofre sólido.
REFERÊNCIAS
[1] FONSECA, D. S. Sumário mineral 2012: Enxofre. Departamento Nacional de Produção Mineral. Disponível em:
https://sistemas.dnpm.gov.br/publicacao/mostra_imagem.asp?IDBancoArquivoArquivo=7387. Acesso em: 12 mar. 2014.
[2] PASKALL, H. G.; SAMES, J. A. Sulphur recovery. Copyright Sulphur Experts, 2003.
[3] PASKALL, H. G. Capability of the modified-Claus process. Copyright Sulphur Experts, 1998.
[4] FENDERSON, S. Improving Claus sulfur recovery unit reliability through engineering design. Preprint de Paper for the Brimstone
Engineering Sulfur Recovery Symposium. September 15-18, 1998. Disponível em:
http://www.goarallison.com/Improving%20SRU%20Reliability%20through%20Engineering%20Design.pdf. Acesso em: 22 maio 2008.
[5] KILIAN, M.; WOZNY, G. Maximizing Claus plant efficiency. Hydrocarbon Engineering, Sept. 2002.
[6] CLARK, P. D. et al. Mechanisms of CO and COS Formation in the Claus Furnace. Industrial & Engineering Chemistry Research.
v. 40, 2, p. 497-508, 2001.
[7] FAHIM, M.; AL-SAHHAF, T.; ELKILANI, A. Fundamentals of petroleum refining. Oxford: Elsevier, Nov. 2009.
[8] CLARK, P. D.; DOWLING, N. I.; D HUANG, M. Conversion of CS2 and COS Over Alumina and Titania Under Claus Process
Conditions: reaction with H2O and SO2. Applied catalysis B: environmental. v. 31, 2, p. 107-112, 2001.
[9] BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Limites máximos de emissão de
poluentes atmosféricos para fontes fixas. Resolução CONAMA n. 382, de 26 de dezembro de 2006.
[10] GARY, J. H.; HANDWERK, G. E. Petroleum refining: technologies and economics. Marcel Dekker, 2001.
[11] PETROBRAS. MEP: Manual de especificação de produtos da Petrobras: Enxofre Sólido – Códigos dos Produtos 990 e 992
(Revisão 20/05/2013).
[12] Taking control of your sulphur plant. Sulphur, Jan.-Feb., p. 39-46, 2006.
[13] JOHNSON, E. J. Hazards of sulphur storage, forming and handling: part one: molten sulphur. Sulphur, Mar.-Apr., p. 41-53, 2006.
16.1 Introdução
A petroquímica é o setor industrial responsável pela transformação de produtos do processamento do petróleo e do gás
natural em bens de consumo e industriais para diversas finalidades, como, por exemplo, filmes, potes, fibras e embalagens.
De forma geral, a indústria petroquímica é dividida em primeira, segunda e terceira gerações, como representado na Figura
16.1.[1]
Devido à grande importância da redução dos resíduos sólidos gerados, a reciclagem de plásticos é considerada a quarta
geração da indústria petroquímica.
■ Primeira geração
Indústria em que ocorre a transformação das matérias-primas, que podem ser frações do refino de petróleo (principalmente a
nafta petroquímica) ou componentes do gás natural, em produtos petroquímicos básicos. Esses petroquímicos básicos podem ser
entendidos como os blocos de construção da cadeia dos produtos petroquímicos, e os principais são: as olefinas e diolefinas
leves, como eteno, propeno, butenos e butadienos; os hidrocarbonetos aromáticos, benzeno, tolueno e xilenos; o metanol; e a
amônia. Na Figura 16.2, está esquematizada a geração dos produtos petroquímicos básicos mais importantes.
■ Segunda geração
Os produtos petroquímicos básicos são convertidos em petroquímicos intermediários e finais. Os produtos petroquímicos
intermediários são matérias-primas para a obtenção dos petroquímicos finais, que podem ser polímeros ou não, como
exemplificado nas Equações (16.1) e (16.2).
Figura 16.2 Esquema de produção de petroquímicos básicos.
Na Tabela 16.1, estão mostrados alguns exemplos de petroquímicos básicos e seus respectivos finais.
Com relação aos demais petroquímicos básicos, o metanol é utilizado na produção de resinas fenólicas, ureicas e
melamínicas e de polimetacrilatos de metila (conhecidos como “acrílicos”). Já a amônia é utilizada na produção de produtos
petroquímicos finais nitrogenados como as poliamidas, as resinas ureicas e melamínicas e os explosivos; entretanto, seu
principal uso é a produção de fertilizantes nitrogenados.
■ Terceira geração
Os petroquímicos finais são quimicamente modificados ou conformados nos mais diversos produtos de consumo.
Deve ser destacado que, enquanto o refino trabalha com misturas de compostos cujas propriedades médias definem o
produto, a indústria petroquímica lida com substâncias de alta pureza. A escala de produção das indústrias também é diferente:
enquanto uma refinaria pode ter capacidade de produção da ordem de dezenas de milhões de toneladas por ano, a maior parte
das indústrias petroquímicas apresenta capacidade de produção de apenas centenas de milhares de toneladas anuais.
Essa diferença de escala de produção se reflete na rentabilidade das duas indústrias, podendo-se observar que os produtos
petroquímicos possuem, em geral, preços de comercialização e margens de lucro superiores aos dos derivados de petróleo. Para
que as indústrias petroquímicas se mantenham competitivas, é importante que estejam fisicamente interligadas em polos
petroquímicos, com os fornecedores de nafta ou de gás natural a montante (upstream) e com as empresas que irão utilizar os
petroquímicos básicos a jusante (downstream). Enquanto as plantas de primeira e segunda gerações ficam, frequentemente,
localizadas nos polos, a maioria das indústrias de terceira geração está distribuída em regiões mais próximas dos centros
consumidores. Em geral, a competitividade da indústria petroquímica está criticamente associada a fatores como: grau de
verticalização empresarial, escala de produção, disponibilidade e garantia de fornecimento de matéria-prima, investimentos em
tecnologia e opções logísticas de distribuição de produtos.
16.2 Matérias-Primas
16.2.1 Gás natural
O papel dos constituintes do gás natural na indústria petroquímica pode ser descrito da seguinte maneira:
— o metano, principal constituinte do gás natural, é matéria-prima para a produção de metanol e de amônia, que também são
produtos petroquímicos básicos importantes;
— o etano é a matéria-prima mais valorizada quando se deseja produzir eteno com uma mínima geração de coprodutos;
— o propano e o butano também podem ser craqueados a olefinas, e o butano pode ser também desidrogenado para
produção de butadieno. Nesses usos, o valor final dos produtos é muito superior ao do GLP;
— a fração correspondente à nafta, denominada líquido de gás natural (LGN), tem alto teor de compostos parafínicos e
baixo teor de enxofre, o que a torna excelente carga para a produção de olefinas.
Quando existe uma grande disponibilidade local de gás natural, a indústria petroquímica se desenvolve em torno dessa fonte
de matéria-prima, como ocorre nos Estados Unidos e no Oriente Médio.
Tabela 16.1 Exemplos de petroquímicos básicos (olefínicos e aromáticos) e seus respectivos finais
Básicos Finais
polietileno
Eteno PVC
poliestireno
polipropileno
poliacrilato de sódio
Propeno glicerol
acetona
propileno glicol
SBR
Butadieno
borracha nitrílica
poliestireno
Benzeno policarbonato
LASNa*
poliuretano
Tolueno tolueno (solvente)
Paraxileno PET
Ortoxileno anidrido ftálico
■ GLP
O propeno presente no GLP gerado na UFCC pode ser encaminhado a uma unidade de recuperação de propeno, onde se obtém
um produto de alta pureza (> 99,5 %), de alto valor agregado e de elevada demanda de mercado.
■ Nafta
A maior parte da nafta utilizada como matéria-prima petroquímica no Brasil é produzida na unidade de destilação atmosférica.
Essa corrente pode ser carga do processo de pirólise para a produção de olefinas leves ou pode ser usada para a produção de
compostos aromáticos por reforma catalítica. Quanto mais parafínica for a nafta, melhor será para a pirólise, e quanto mais
naftênica, melhor para a reforma catalítica.
Outras possíveis correntes de nafta petroquímica para uso na unidade de pirólise são: o rafinado da unidade de recuperação
de aromáticos (URA) e as correntes de nafta produzidas em unidades de hidrocraqueamento (HCC) e GTL* (gas to liquid).
Essas são correntes de ótima qualidade com relação ao teor de contaminantes, e a nafta de GTL é considerada a carga ideal, pelo
seu elevadíssimo teor de compostos parafínicos.
■ Querosene
As parafinas lineares presentes no querosene (C 10 a C13) são matérias-primas para a produção do LAB (linear alquilbenzeno),
intermediário para a fabricação do LASNa (linear alquilbenzeno sulfonato de sódio), principal constituinte dos detergentes
biodegradáveis.
■ Gasóleos
Cargas mais pesadas, como os gasóleos, também podem ser usadas nas unidades de pirólise, mas a excessiva formação de
coque e a presença de compostos poliaromáticos limitam essa utilização, exigindo tecnologias desenvolvidas para esse tipo de
carga.
■ Matérias-primas alternativas
Como matérias-primas alternativas de origem vegetal, pode-se citar: o etanol para geração de eteno; a glicerina, subproduto da
produção de biodiesel, para a produção de propeno; e os açúcares para a produção de ácidos ou alcoóis.
Existem ainda diversos processos desenvolvidos para a produção de petroquímicos a partir do acetileno, gerado em grande
quantidade na indústria do carvão.
A oferta e a qualidade de nafta para a indústria petroquímica dependem da disponibilidade de petróleos. No Brasil, ocorreu
uma significativa diminuição da disponibilidade de nafta com a substituição dos petróleos importados por petróleos pesados
nacionais a partir de 1980. Assim, a compatibilização do crescimento da indústria petroquímica com o processamento de
petróleos pesados demanda: investimentos em unidades de HCC ou GTL para aumento da produção de nafta; investimento na
tecnologia de FCC petroquímico para o craqueamento de gasóleos a olefinas leves; e busca por matérias-primas de outras fontes
como gás natural, gás de refinaria e matérias-primas renováveis. Um aspecto favorável à indústria petroquímica é o aumento da
disponibilidade de nafta com a participação de petróleos mais leves oriundos da região do pré-sal.
Na desidrogenação, são gerados olefinas, diolefinas, alcinos e compostos aromáticos, além do hidrogênio, enquanto no
craqueamento são formados compostos com menores tamanhos de cadeia do que a carga, o que é importante, por exemplo,
quando se processam naftas.
Outras reações relevantes são as de condensação, que geram compostos naftênicos e aromáticos, que podem ser constituintes
da nafta de pirólise, e as de polimerização, indesejáveis pela tendência à formação de coque.
O número de produtos formados e a proporção relativa entre eles dependem principalmente da carga utilizada, sendo que a
complexidade da composição do produto cresce com a massa molar da carga. O etano é a carga ideal para a produção de eteno,
por ser a carga que maximiza o seu rendimento. Quando a carga é propano, as reações principais darão origem a moléculas de 1
a 3 átomos de carbono, como ilustrado nas Equações (16.5) a (16.8), e o eteno será gerado com rendimento de apenas 40 %
(teórico), sem considerar as reações de condensação e polimerização. Para o butano, o resultado seria análogo, com rendimento
ainda menor em eteno.
Quanto às demais cargas, além da massa molar, a composição em termos da natureza dos hidrocarbonetos influencia
significativamente as reações, sendo válida a ordem decrescente de facilidade de craqueamento, indicada a seguir:
Cabe ressaltar que os hidrocarbonetos aromáticos não sofrem craqueamento, e são os principais responsáveis pela formação
de coque. Por essa razão, existe um teor mínimo requerido de compostos parafínicos na nafta petroquímica, em geral em torno
de 55 %. Na Tabela 16.2, está mostrada a geração de coprodutos da pirólise, considerando como base de projeto da unidade
uma produção de 1000 t de eteno, a partir de diferentes cargas.
Tabela 16.2 Produtos da pirólise de diferentes cargas (base de projeto 1000 t de eteno)[2]
CargaEtanoPropanoButanoNaftaGasóleo
GC 161 655 663 521 416
À semelhança de outros processos que operam a alta temperatura, como a UGH, por exemplo, a unidade de pirólise também
gera grande quantidade de vapor d’água de alta pressão no TLE, que pode ser utilizado para a geração de energia elétrica.
A seguir, o efluente do TLE sofre um resfriamento rápido (quench) em linha, que, no caso da pirólise de cargas gasosas, é
feito com água, e o gás resfriado segue diretamente para o sistema de compressão. No caso da nafta, o resfriamento (quench) é
feito inicialmente com óleo combustível até uma temperatura mais elevada do que no caso da carga gasosa, uma vez que o
efluente resfriado alimenta uma torre fracionadora, gerando duas correntes: a corrente de topo (fase vapor), que sofre outro
resfriamento com água e é encaminhada aos compressores; e a corrente de fundo, óleo combustível, que é parcialmente utilizada
no próprio resfriamento rápido (quench).
Após o resfriamento, a corrente vapor é comprimida e tratada para remoção de gás ácido (H 2S, RSH e CO2, principalmente),
utilizando-se os processos de tratamentos convencionais (tratamento com aminas e cáustico) e remoção da água presente
(desidratação com peneira molecular), antes de seguir para a área fria.
■ Área fria
Após a desidratação, os vapores contendo as olefinas desejadas são enviados para a área conhecida como área fria, onde ocorre
a separação dos produtos de interesse. A primeira etapa é a separação criogênica do hidrogênio, que será utilizado nos processos
de hidrogenação de propadieno e de compostos acetilênicos, sendo o excesso exportado para outras unidades de processo (após
purificação).
Em seguida, a corrente de produtos segue para o fracionamento. No esquema tradicional, apresentado nas Figuras 16.4 e
16.5, serão sucessivamente separados os hidrocarbonetos mais leves em uma série de torres fracionadoras. Esse esquema,
chamado de front-end demethanizer, é empregado atualmente apenas para unidades que utilizam cargas gasosas (etano e
propano). No caso de utilização de nafta petroquímica como carga, existe a produção de grande quantidade de produtos mais
+ – +
pesados (corrente C3 ), e a separação é iniciada pela divisão da corrente de produtos em uma corrente C 3 e outra C4 . Os
componentes individuais dessas correntes serão separados posteriormente por destilação. Esse esquema de separação é chamado
de front-end depropanizer.[4]
■ Desmetanizadora
A corrente de topo, rica em metano, poderá ser usada como combustível em fornos ou para a produção de gás de síntese e
metanol.
■ Desetanizadora
A corrente C2 é separada no topo e, após hidrogenação controlada do acetileno, sofre novo fracionamento para separação entre
eteno produto e etano, que é reciclado ao forno de pirólise de cargas gasosas (Pirólise II).
■ Despropanizadora
A corrente C3, separada no topo, é hidrotratada para saturação do propadieno e do propino, sendo depois fracionada em propeno
produto e propano, que também é reciclado ao forno de pirólise de cargas gasosas (Pirólise II).
■ Desbutanizadora
No caso da pirólise de nafta, a corrente C 4 retirada no topo, contendo butenos e butadieno, passa por uma torre extratora, onde
são usados solventes nitrogenados, como NMP ou DMF,* para a remoção do butadieno. Após passar por uma hidrogenação
seletiva de compostos acetilênicos, o butadieno extraído é enviado para armazenamento. O rafinado da extração, rico em
butenos e isobuteno, pode ser matéria-prima de um processo em que o isobuteno reage com metanol ou etanol para a produção
de MTBE ou ETBE,** que são melhoradores do número de octano da gasolina. O buteno-1 pode ser empregado como
comonômero na produção de polietileno.
■ Fracionamento de nafta
A corrente C5 +, produto de fundo da desbutanizadora, passa por uma etapa de hidrogenação dos compostos acetilênicos
remanescentes, devido à sua alta reatividade. Em seguida, a fração C 5 é separada dos compostos mais pesados na seção de
fracionamento de nafta, podendo ser enviada para a extração de isopreno, usando-se como solvente a acetonitrila, a NMP ou a
DMF. O restante da fração C5 (rafinado do processo de extração) pode ser empregado na formulação de gasolina.
Na área de fracionamento, é produzido ainda um corte C 6–C8, que sofre um hidrotratamento para, em seguida, ser enviado
para a área de extração de aromáticos do complexo aromático da central petroquímica. O produto mais pesado da seção de
fracionamento, composto por hidrocarbonetos C9+, pode ser enviado para óleo combustível.
■ Tempo de residência
O tempo de residência é o tempo que a carga permanece dentro da serpentina do forno e depende da escolha do tipo de
serpentina e do seu comprimento. Com a redução do tempo de residência, aumenta o rendimento de olefinas leves e diminui o
rendimento de metano, de aromáticos e de óleo combustível. Por essa razão, o avanço tecnológico do forno que vem ocorrendo
consiste, principalmente, em modificações na configuração da serpentina, que resultam na redução do tempo de residência da
faixa de 0,5 s a 1 s para a faixa de 0,08 s a 0,25 s.[5]
A redução do tempo de residência influencia mais no rendimento de eteno e demais produtos em unidades de pirólise de
cargas líquidas do que de cargas gasosas. Cabe ressaltar também que a escolha do tempo de residência está associada à escolha
das demais variáveis de processo. Na Tabela 16.3, está ilustrado o efeito do tempo de residência sobre o rendimento dos
produtos do craqueamento de nafta leve.
Tabela 16.3 Efeito do tempo de residência sobre o rendimento mássico dos produtos do craqueamento de nafta leve[5]
■ Pressão
A pirólise é favorecida por baixas pressões. Em geral, um aumento da pressão resulta em uma redução do rendimento de eteno e
propeno e em um aumento da nafta de pirólise, já que pressões muito elevadas favorecem as reações de condensação e,
consequentemente, a formação de compostos aromáticos. A condensação também leva à formação de coque, que pode ser
reduzida pela redução da pressão parcial dos hidrocarbonetos, por meio da injeção de vapor d’água. As unidades mais modernas
operam com pressões totais na faixa de 175 kPa a 250 kPa.[5]
■ Razão Vapor/Carga
O vapor d’água é usado para reduzir a pressão parcial dos hidrocarbonetos por efeito de diluição, aumentando a seletividade do
processo para a produção de propeno e eteno e reduzindo a produção de nafta de pirólise e a formação de coque. A razão
vapor/carga (ou razão de diluição) utilizada tende a ser maior para cargas mais pesadas, que apresentam maior tendência à
formação de coque.[6]
Tabela 16.4 Razão vapor/carga e pressão parcial dos hidrocarbonetos e para diferentes cargas[7]
É importante ressaltar que uma alta razão de diluição acarreta maior necessidade de geração e superaquecimento de vapor
d’água e um maior consumo de água no resfriamento dos efluentes do forno. Faixas de valores de razão vapor/carga e valores
de pressão parcial dos hidrocarbonetos na saída do forno para diferentes cargas são mostrados na Tabela 16.4.[7]
A corrente rica em compostos aromáticos proveniente da reforma pode se juntar ao corte C 6–C8 de nafta de pirólise
hidrotratada. A corrente resultante passa então por um fracionamento, em que o corte C 6–C7 (topo) segue para a seção de
+ +
extração de aromáticos e o corte C 8 (fundo) é direcionado para uma fracionadora de C 8 , que, por sua vez, separa o corte C 8
+
(topo) do corte que contém o ortoxileno e a fração C9 (fundo).
Na extração de aromáticos, a fração aromática, denominada extrato, é separada da fração não aromática, denominada
rafinado, usando-se um processo de extração líquido-líquido ou de destilação extrativa. O rafinado pode ser utilizado como
solvente parafínico ou como corrente para formulação de gasolina, ou pode ainda ser carga de uma unidade de pirólise. O
extrato é fracionado em colunas de destilação simples, nas quais é possível a separação de benzeno, tolueno e mais pesados.
Esses últimos são direcionados para a fracionadora de C8+.
A fração mais leve da fracionadora da corrente C8 +, constituída de uma mistura de xilenos, é direcionada para uma unidade
de recuperação do paraxileno, por meio de cristalização ou adsorção. Após essa etapa, a corrente pobre em paraxileno, efluente
da etapa anterior, alimenta uma unidade de isomerização catalítica, em presença de hidrogênio, onde ocorre um enriquecimento
da carga nos isômeros paraxileno e ortoxileno. Adicionalmente, o etilbenzeno presente pode ser decomposto em benzeno e
etano, ou pode ser convertido em xilenos, de acordo com o catalisador utilizado. Após a unidade de isomerização, a corrente
volta para a fracionadora de C8+, de modo que o paraxileno e o ortoxileno formados sejam recuperados.
A fração mais pesada da fracionadora de C8+ segue para outra coluna, onde o ortoxileno é separado no topo. O fundo dessa
fracionadora, constituído pela corrente C9 +, pode ter dois direcionamentos: caso exista uma unidade de transalquilação, ela é
enviada para mais uma fracionadora, onde os seguintes cortes são obtidos: C 9–C10 (topo) e aromáticos pesados (fundo); caso
contrário, ela pode ser utilizada na formulação de óleo combustível.[8]
Quanto ao tolueno, em caso de baixa demanda de mercado desse produto, ele pode ser utilizado como reagente em
processos de conversão, como a desproporção ou transalquilação. Na transalquilação, o objetivo é aumentar a produção de
benzeno e de xilenos, a partir do tolueno e do corte C 9–C10. Na desproporção, também ocorre a produção de benzeno e de
xilenos, porém apenas o tolueno é carga desse processo. O processo de transalquilação gera um produto com maior razão
xilenos/benzeno, comparativamente à desproporção. A corrente efluente dessas unidades de conversão é direcionada para as
fracionadoras de aromáticos, e a mistura de xilenos é recuperada no fundo da fracionadora de tolueno e então direcionada para a
fracionadora de C8+.
Quando o objetivo do complexo for aumentar a produção de benzeno, uma opção é usar a hidrodesalquilação térmica de
tolueno (THDA*), que remove o radical metil do tolueno e produz benzeno e metano, a partir de um craqueamento térmico na
presença de hidrogênio.[8]
Embora o vapor d’água seja um produto da reação, ele deve estar presente já na entrada do reator, para reduzir a formação
de coque e de subprodutos. Para garantir uma conversão global mínima de 98 %, podem ser utilizados diversos reatores em
série, gerando, após secagem, eteno com pureza de 99,7 %.
REFERÊNCIAS
[1] HAHN, A. V. G. The petrochemical industry. New York: McGraw-Hill, 1970.
[2] RASEEV, S. Thermal and catalytic processes in petroleum refining. New York: CCR Press, 2003.
[3] MEYERS, R. A. Handbook of petrochemicals production processes. New York: McGraw-Hill, 2004.
[4] WELLS, G. M. Handbook of petrochemicals and processes. England: Gower Publishing, 1997.
[5] THAM, C. M. Pyrolisis furnace. 2009. Disponível em: http://kolmetz.com/Technical-articles.html. Acesso em: 13 jun. 2009.
[6] MATAR, S.; HATCH, L. F. Chemistry of petrochemical processes. 2. ed. Texas: Gulf Publishing, 2000.
[7] ROSS, L. L. Pyrolysis furnace design: conventional and novel. In: ALBRIGHT, L. F.; CRYNES, B. L.; CORCORAN, W. H.
Pyrolysis: theory and industrial practice. New York: Academic Press, 1983.
[8] JOHNSON, J. A. Aromatics Complexes. In: MEYERS, R. A. Handbook of petroleum refining processes. 3. ed. New York:
McGraw- Hill, 2004.
*GTL: Processo que transforma correntes de gases em
hidrocarbonetos líquidos, através do processo Fischer Tropsch.
*NMP: n-metilpirrolidona; DMF: dimetilformamida.
**MTBE: metil-terc-butil éter; ETBE: etil-terc-butil éter.
*THDA – Thermal hydro dealkylation.
17.1 Introdução
Conforme discutido no Capítulo 3, os óleos básicos lubrificantes são os componentes mais importantes de qualquer fluido
lubrificante, representando em geral mais de 90 % do seu volume. Os óleos básicos minerais, derivados do petróleo,
denominados simplesmente óleos básicos a partir deste ponto, são constituídos de hidrocarbonetos que contêm 15 ou mais
átomos de carbono, produzidos a partir de gasóleos destilados a vácuo ou óleos desasfaltados de petróleos especiais, que são
submetidos a processos adequados ao seu enquadramento nas especificações.
Os óleos básicos são classificados como parafínicos e naftênicos, dependendo da distribuição de hidrocarbonetos
parafínicos/naftênicos em sua composição, que, por sua vez, é decorrente do petróleo que lhes dá origem. As características
principais desses óleos básicos são apresentadas a seguir:
— óleos básicos parafínicos: são preferencialmente usados para formular a maioria dos lubrificantes automotivos e
industriais, devido ao seu alto índice de viscosidade (IV), boa estabilidade à oxidação e baixa volatilidade,
comparativamente aos básicos naftênicos. Seu processo de produção envolve as etapas de: remoção ou transformação
química de compostos aromáticos, para aumento do índice de viscosidade; remoção ou isomerização de n-parafinas,
visando à redução do ponto de fluidez; e hidroacabamento, para remoção adicional de contaminantes e estabilização do
óleo básico;
— óleos básicos naftênicos: são produzidos a partir de petróleos cujos destilados a vácuo já apresentam pontos de fluidez
muito baixos. Dessa forma, os óleos básicos produzidos não precisam ser submetidos ao processo de desparafinação.
Outras características típicas de básicos naftênicos são o alto poder de solvência e o baixo índice de viscosidade,
comparativamente aos parafínicos. Essas propriedades são decorrentes da distribuição de hidrocarbonetos nos óleos
naftênicos: teor de carbono naftênico mais alto (~ 40 %) do que nos óleos básicos parafínicos (~ 20 %).
Conforme apresentado no Capítulo 3, os óleos básicos são também classificados de acordo com a sua composição, em
termos dos teores de saturados e de enxofre e do IV. Como mostrado na Tabela 17.1, essa classificação, quando aplicada aos
óleos básicos parafínicos, pode ser associada à rota de processo que os gerou, sendo que:
— os óleos básicos do grupo I são obtidos pela rota solvente;
— os óleos básicos do grupo II passam por pelo menos uma etapa de HDT;
Enxofre, Saturados,
Categoria Rota de produção teor em teor em Índice de viscosidade
massa massa
A primeira etapa é a destilação atmosférica do petróleo, gerando destilados combustíveis (GLP, nafta, querosene e óleo
diesel) e o resíduo atmosférico (RAT), carga da destilação a vácuo, onde são separadas as frações que serão utilizadas na
produção de óleos básicos e parafinas. O resíduo da destilação a vácuo (RV) é processado na unidade de desasfaltação a
propano, gerando o óleo desasfaltado (ODES), que também é destinado à produção de óleos básicos e parafinas. Os óleos
destilados e o desasfaltado são produzidos continuamente e armazenados para posterior processamento, de acordo com a rota de
processo selecionada.
Como preparo para a destilação a vácuo, o RAT é bombeado, a uma temperatura da ordem de 360 oC, para o forno primário,
recebendo a carga térmica necessária à vaporização de parte dos cortes de vácuo, alimentando a primeira torre, onde são
separados os cortes spindle, neutro leve e neutro médio, que, depois de resfriados, são enviados para seus respectivos tanques. O
produto de fundo da primeira torre a vácuo, o resíduo de vácuo primário, é bombeado para o forno secundário e enviado à torre
a vácuo secundária, onde é separado o destilado neutro pesado. O produto de fundo dessa torre é o resíduo de vácuo (RV), o
qual, após resfriamento, é recebido no tanque de carga da unidade de desasfaltação.
A faixa de destilação dos cortes de vácuo é ajustada de modo que, após o processamento posterior, os óleos básicos atendam
às especificações exigidas para o ponto de fulgor e a viscosidade. O controle da qualidade do fracionamento é crítico, sendo
realizado pela observação (visual) da cor e pela determinação da viscosidade e da curva de destilação de cada corte. A
observação da cor tem o objetivo de detectar a ocorrência de arraste na torre e, assim, evitar contaminações prejudiciais aos
demais processos pelos quais passam os óleos, bem como à qualidade final dos produtos.
Em termos de qualidade dos produtos, o fracionamento entre o corte neutro leve e o spindle é o mais crítico, pois a
incorporação de frações do spindle ao neutro leve aumenta a perda por evaporação desse último, que deve atender ao limite
máximo de 16 % (ensaio Noack) para que possa ser empregado na formulação de óleos multiviscosos para motores. A
incorporação de pesados em cada fração, ou seja, a deficiência no fracionamento (faixa final do corte), afeta negativamente o
resíduo de carbono dos óleos básicos finais. Além disso, para uma mesma viscosidade, quanto maior a faixa de destilação do
destilado, maior a dificuldade do seu processamento nas unidades de desaromatização e desparafinação da rota convencional.
■ hidroacabamento: é a etapa final do processamento dos óleos básicos e tem por finalidade a redução ou remoção de
compostos sulfurados e oxigenados e uma leve saturação de poliaromáticos, que, se presentes, conferem ao óleo
instabilidade à oxidação.
Nas plantas atuais de óleos básicos lubrificantes e parafinas são gerados os seguintes subprodutos:
a. resíduo asfáltico (RASF): subproduto da desasfaltação que, após diluição, gera óleo combustível ou cimento asfáltico de
petróleo (CAP);
b. extratos aromáticos: subprodutos da desaromatização, utilizados como: diluente do resíduo asfáltico (produção de CAP ou
de óleo combustível); agente rejuvenescedor de asfaltos (recuperação de pavimentos); carga do coqueamento retardado;
ou óleo extensor para a indústria de borrachas;
c. parafinas moles: subprodutos da desoleificação, usados como carga de craqueamento catalítico.
A rota solvente é composta principalmente por processos de separação física, o que a torna bastante restritiva em termos do
tipo de petróleo processado, já que é necessário que este contenha as frações destiladas a vácuo, em quantidade e em qualidade
que permitam alcançar um rendimento global do processo (fração de óleos básicos em relação ao petróleo) que assegure a
rentabilidade da produção.
Na seleção de petróleos para a produção de óleos básicos parafínicos considera-se que, se o índice de viscosidade (IV) dos
cortes desparafinados for superior a 50, [2] o petróleo poderá ser utilizado na produção de óleos básicos de forma econômica. O
IV 50 do corte desparafinado está usualmente associado a um rendimento em óleos básicos na faixa de 10 % a 15 % do
petróleo.
Outra característica da rota solvente é que as unidades são dimensionadas para um dado petróleo, considerando os
rendimentos de extrato aromático e de parafina oleosa nas etapas de desaromatização e desparafinação, não sendo possível a
substituição por outro cru, cujos rendimentos nesses processos sejam muito diferentes do caso base. Por exemplo, uma unidade
dimensionada para um petróleo com baixo teor de parafinas não seria adequada para o processamento de um petróleo altamente
parafínico, pois a unidade de desparafinação estaria subdimensionada para esse novo cru. Qualquer mudança de petróleo para a
produção de óleos básicos exige a realização de testes em escala de bancada ou piloto para a seleção de condições operacionais
nas etapas de processamento. Cada uma das etapas da rota solvente será detalhada a seguir.
17.2.2.1 Desaromatização
Similarmente à desasfaltação e à extração de aromáticos da nafta reformada, a desaromatização dos óleos básicos consiste na
criação de duas fases imiscíveis, adicionando-se à carga um solvente apropriado para a solubilização seletiva de aromáticos. O
processo separa a carga em duas fases: a fase extrato, rica em solvente (85 % a 95 %), contendo a fração aromática extraída, e a
fase rafinado, pobre em solvente (10 % a 20 %), contendo o óleo desaromatizado.
Cada uma das fases terá que ser separada do solvente que ela contém. Portanto, a unidade consiste na seção de extração e em
duas ou três seções, nas quais o solvente tem que ser purificado antes de ser reciclado ao processo, quais sejam: purificação do
extrato, purificação do rafinado e secagem do solvente.
O processo de desaromatização é o que mais altera a composição e as características de desempenho dos óleos básicos. São
removidos prioritariamente os compostos de menor índice de viscosidade, ou seja, os que possuem mais de um anel
condensado, apresentados a seguir em ordem crescente de interesse de remoção:
Além de compostos aromáticos são removidos compostos sulfurados (~50 %) e nitrogenados (~90 %), presentes na carga do
processo na forma de anéis condensados contendo heteroátomos.
Os solventes clássicos utilizados na desaromatização são: o furfural, o fenol e a n-metilpirrolidona (NMP), cujas
propriedades estão apresentadas na Tabela 17.2.
O furfural é um dos solventes mais utilizados nesse processo, porque pode ser utilizado para uma ampla faixa de óleos
(cargas), já que não reage quimicamente com estes. Por outro lado, apresenta uma grande tendência a se polimerizar em
temperaturas superiores a 240 °C, em presença de oxigênio, formando coque, o que requer cuidados especiais no seu uso, como
a desaeração da carga do processo. O fenol é atualmente pouco usado no mundo, em função de sua elevada toxidez, e a NMP é
muito utilizada, por apresentar as diversas vantagens listadas na Tabela 17.2, mas tem como desvantagem o maior custo.
Estrutura
Massa molar, kg/kmol 96 94 99
Os equipamentos de extração mais utilizados na desaromatização são as torres extratoras de discos rotativos (torres RDC),
mas extratores centrífugos também são utilizados. Na torre extratora da unidade de desaromatização, a carga é a corrente de
menor densidade, sendo admitida pelo fundo da torre, enquanto o solvente, de maior densidade, entra pelo topo. Descendo na
torre sob a ação da gravidade, o solvente é continuamente posto em contato com a carga, ascendente, solubilizando as frações
aromáticas e polares. A fase que deixa o topo da torre é o rafinado, enquanto a fase extrato sai pelo fundo da torre.
Os extratores centrífugos utilizam a ação da força centrífuga para promover a dispersão e a separação das fases, sendo
particularmente interessantes quando se usa o fenol como solvente, em função da menor diferença de densidade entre o fenol
(1,07 a 25 °C) e a fase óleo (0,80 a 0,95 a 20 °C), o que torna mais difícil a separação por gravidade (torre extratora). O
equipamento comercialmente disponível para essa aplicação é o Podbielniak Centrifugal Contactor, também conhecido como
POD.[4] Como ilustrado na Figura 17.4, esse extrator é constituído de um tambor cilíndrico cuja central rotativa é composta de
cilindros concêntricos perfurados, através dos quais os dois líquidos (fase dispersa e fase contínua) escoam em contracorrente,
sob a ação da força centrífuga, que promove íntimo contato entre as fases e alta taxa de coalescência das gotas, em pequeno
tempo de residência. Os aspectos positivos desses extratores em relação às torres RDC são: a necessidade de baixo inventário de
solvente; menor área ocupada; maior flexibilidade operacional, permitindo que se trabalhe em amplas faixas de vazão e rotação;
maior facilidade de estabilização da unidade, favorecendo rápidas trocas de campanha. As desvantagens são a construção
complexa, necessitando de uma manutenção criteriosa e especializada, e o alto custo operacional, devido ao elevado consumo
de energia para mover o rotor em altas rotações.
Ao deixar o equipamento de extração, as duas fases, rafinado (pobre em aromáticos) e extrato (rica em aromáticos), seguem
para os seus respectivos sistemas de recuperação de solvente (Figura 17.5), que visam à máxima recuperação do solvente, para
reutilização no processo. Cada sistema consiste em separações atmosférica e/ou a vácuo e retificação com vapor d’água,
podendo existir uma etapa adicional de purificação do solvente, quando este formar azeótropo com a água gerada na
condensação do vapor de água de retificação. Na etapa de recuperação do solvente da fase extrato, em que a mistura passa por
um forno, deve-se tomar cuidado para que a temperatura não chegue a 240 °C, no caso de unidades em que o solvente é o
furfural.
■ Temperatura de extração
O poder de solvência do solvente sobre os componentes aromáticos cresce com a temperatura. Assim, quanto maior for a
temperatura, maior será a remoção de aromáticos, menor será o rendimento e melhor será a qualidade do óleo desaromatizado.
A temperatura na qual há completa miscibilidade da carga no solvente deve estar bem acima da temperatura usada na extração,
porque, se aquela temperatura for atingida, ocorrerá a inundação na torre extratora, o que poderá ser notado pelo acúmulo de
solvente na torre, seguindo-se um aumento do teor de solvente na fase rafinado e de óleo na fase extrato. O efeito da
temperatura e da RSO está ilustrado na Figura 17.6.
Para cada tipo de carga, existe um par ótimo de RSO e temperatura, que proporcionará o rendimento máximo do óleo com a
qualidade desejada, sendo preferível, em termos de rendimento do produto, o ajuste da RSO e não da temperatura para se atingir
uma mesma qualidade de produto (mesmo IV).
Figura 17.6 Influência das variáveis de processo (T e RSO) sobre o IV e o rendimento do rafinado.
■ Natureza da carga
Quanto mais viscosa for a carga, mais severa deverá ser a condição de extração, isto é, maiores deverão ser a temperatura e a
RSO. Assim, do spindle para o bright stock, crescem os valores da RSO e da temperatura de topo, para que se obtenham
rafinados com o mesmo valor de IV.
O gradiente de temperatura e a qualidade de contato na torre são variáveis adicionais quando se usa uma torre extratora
como equipamento de extração, e a existência de um gradiente de temperatura na torre (T topo > Tfundo) dá origem a um refluxo
interno, melhorando a eficiência da extração. Um melhor contato entre as fases, provido pela rotação dos discos (torre RDC),
produz o mesmo efeito sobre a eficiência da extração e a qualidade do produto.
Para controle da qualidade do óleo desaromatizado, utiliza-se o ensaio de índice de refração, por ser um ensaio rápido,
preciso e de excelente correlação com o IV do produto e, ainda, pelo fato de poder ser realizado mesmo para a amostra sólida de
rafinado, quando a etapa de desparafinação é a que sucede a desaromatização.
17.2.2.2 Desparafinação
A desparafinação é o processo no qual as parafinas de alto ponto de fluidez são removidas dos óleos básicos por cristalização e
filtração. Para isso, é feita a diluição da carga com solvente e um resfriamento controlado, de forma a se ter um crescimento
paulatino e uniforme das parafinas antes da filtração. O solvente solubiliza o óleo, reduzindo a sua viscosidade, e rejeita as
parafinas cristalizadas, que são separadas do meio por filtração. O solvente empregado pode ser a metilisobutilcetona (MIBC)
ou uma mistura de metiletilcetona e tolueno (MEC-tolueno).
A operação de filtração é realizada em tambores rotativos, como ilustrado na Figura 17.7, revestidos por panos especiais,
que são os elementos filtrantes, onde ficam retidas as parafinas, formando uma “torta”. Após a filtração, são obtidas duas
correntes: o filtrado, constituído de óleo + solvente, e a parafina oleosa (torta), também impregnada com solvente, que seguem
para as respectivas seções de recuperação do solvente. Finalmente, o óleo desparafinado segue para a etapa subsequente do
processo, normalmente o hidroacabamento, e a parafina oleosa segue para a unidade de desoleificação.
A unidade de desparafinação consiste nas seguintes seções: resfriamento e cristalização das parafinas, filtração, recuperação
de solvente da parafina e do óleo desparafinado (filtrado), e secagem do solvente, quando este forma uma mistura azeotrópica
com água. Apresenta-se na Figura 17.8 um diagrama de blocos simplificado do processo de desparafinação.
Figura 17.7 Filtro rotativo – representação esquemática[3] (adaptado).
Para ilustrar a importância do processo de desparafinação, são apresentadas, na Tabela 17.3, as propriedades ligadas ao
escoamento de diversas moléculas com 26 átomos de carbono, ou seja, de mesma massa molar, mas com estruturas distintas.
Essa tabela permite observar que tipo de composto estará contido no óleo desparafinado, na parafina dura e na parafina mole,
subproduto da desoleificação.
Viscosidade, Ponto de
2
Estrutura mm /s a 100 IV fluidez, “Produto”
°C °C
■ Qualidade da carga
A composição da carga influi da seguinte maneira na forma dos cristais:
— as parafinas lineares se apresentam em maiores teores nas cargas destiladas e, por formarem cristais de tamanho
relativamente grande (macrocristalinas), a torta produzida é porosa e não impõe dificuldades na etapa de filtração;
— as parafinas microcristalinas, provenientes de cargas residuais (resíduo de vácuo), formam cristais menores
(microcristais), e, por conseguinte, a torta formada é menos porosa e de filtração mais lenta.
Cargas com faixa de destilação muito ampla originam cristais pouco uniformes e tortas menos porosas, impondo, portanto,
maior dificuldade à filtração.
■ Razão solvente/óleo
Para uma dada carga, uma RSO mais alta resulta em maior taxa de filtração, devido ao maior volume de líquido. O aumento
dessa razão é limitado pelo teor de solvente no filtrado, que, se elevado, sobrecarrega o sistema de recuperação de solvente e/ou
obriga a uma redução na vazão de carga da unidade.
Para diferentes cargas, considerando-se a mesma faixa de destilação, quanto maior o seu teor de parafinas, maior a RSO
necessária para se atingir um dado ponto de fluidez. Para diferentes cortes destilados, quanto mais pesada for a carga, maior será
a RSO necessária para que se tenha a viscosidade apropriada do filtrado e uma boa taxa de filtração.
■ Velocidade de resfriamento
A velocidade de resfriamento da mistura solvente/carga influi na formação dos cristais. Resfriamentos lentos conduzem à
formação de cristais grandes, e, por isso, cargas mais leves, que dão origem a parafinas com melhor estrutura macrocristalina,
podem ser resfriadas mais rapidamente do que cargas pesadas, cuja cristalização uniforme é mais difícil. Assim, do spindle para
o bright stock, usam-se velocidades de resfriamento decrescentes entre 14 °C e 5 °C por minuto.
■ Temperatura de filtração
Em geral, a temperatura de filtração é menor do que o ponto de fluidez desejado. A diferença entre esses valores é chamada de
diferencial de temperatura de desparafinação, e varia em função do tipo de carga.
Esse processo é análogo ao processo de desparafinação, com a diferença básica de que, na desoleificação, o produto de
interesse é a parafina dura (torta), e o subproduto é a parafina mole, enquanto na desparafinação o produto de interesse é o
filtrado (óleo desparafinado).
Após a recuperação do solvente, a parafina dura é enviada para o tanque intermediário, que alimenta o processo final de
hidrotratamento, enquanto a parafina mole é utilizada, em geral, para composição de cargas para a UFCC.
Na parafina desoleificada são controlados o teor de óleo e a penetração.
REFERÊNCIAS
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for passenger car motor oils and diesel engine oils. Disponível em: http://www.api.org/certifications/engineoil/pubs/index.cfm. Acesso
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[3] WAUQUIER, J. P. Petroleum refining: v. 2, Separation processes. France: Technip, 2000.
[4] DUBAL, G. Podbielniak Contactor: a unique liquid-liquid extractor – Part 1. Pharmaceutical Online, Janeiro 7, 2000. Disponível em:
http://www.pharmaceuticalonline.com/article.mvc/Podbielniak-Contactor-A-Unique-Liquid-Liquid-0003. Acesso em: 11 jul. 2010.
[5] MORTIER, R. M.; FOX, M. F.; ORSZULIK, S. T. Chemistry and technology of lubricants. 3. ed. Springer, 2010.
[6] KRISHNA, K. R. et al. Next generation Isodewaxing® and hydrofinishing technology for production of high quality base oils,
2002 NPRA - Lubricants and Waxes Meeting. Houston, Texas, 14-15 Nov. 2002.
18.1 Introdução
Os contaminantes gerados no refino do petróleo tipicamente incluem compostos orgânicos voláteis (COV), monóxido de
carbono (CO), dióxido de carbono (CO 2), óxidos de enxofre (SO x), óxidos de nitrogênio (NOx), materiais particulados, amônia
(NH3), sulfeto de hidrogênio (H 2S), metais, borras e numerosos compostos orgânicos tóxicos como os BTEX (benzeno, tolueno,
etilbenzeno e xilenos). As refinarias também podem liberar hidrocarbonetos menos tóxicos, tais como metano e outros gases
combustíveis leves. Outros contaminantes são subprodutos gerados ou resultantes de perdas no processo, no armazenamento e
no transporte dos produtos finais (emissões fugitivas), ou ainda derivados de substâncias químicas utilizadas no refino.
Os contaminantes podem estar presentes nos efluentes gasosos, líquidos ou sólidos, mesmo após os tratamentos realizados.
Uma vez que as emissões gasosas são mais difíceis de capturar e tratar do que os efluentes líquidos e os resíduos sólidos, e
ainda que a maior parte dessas emissões seja tratada, elas são a maior fonte de lançamento de contaminantes no ambiente.
As emissões relacionadas com as refinarias de petróleo são regulamentadas por leis ambientais referentes a impactos nos
meios físicos, as quais exigem a instalação de sistemas para o rígido controle do lançamento de substâncias potencialmente
perigosas no ambiente. Estima-se que os custos adicionais relativos ao controle ambiental variem de 15 % a 20 % do
investimento total de uma refinaria nova.[1]
A gestão cuidadosa dos impactos ambientais da operação das unidades de refino assumiu importância central, visando à
preservação do próprio meio ambiente e da imagem pública das empresas e à valorização de seus ativos acionários, o que leva à
incorporação dessa gestão à estratégia global das empresas. Por isso, programas de abatimento da poluição vêm sendo
executados em diferentes extensões há vários anos, e, como resultado, os rejeitos gerados pela indústria têm declinado, declínio
este que tende a se acentuar.
Tabela 18.1 Impactos ambientais dos processos existentes nas refinarias de petróleo
EmissõesÁgua Resíduos
Ruído
gasosasresidual sólidos
Áreas funcionais
Unidades de mistura XX XX X 0
Estocagem XX X XX 0
Carregamento XX 0 0 XX
Expedição 0 0 0 X
Processos de separação
Destilação atmosférica XX XX X X
Destilação a vácuo XX XX X X
Extração líquido-líquido XX X X 0
Processos de conversão
Coqueamento retardado XX XX XX XX
FCC XX XX XX X
Hidrocraqueamento XX XX XX X
Reforma XX XX XX X
Isomerização XX XX XX X
Alquilação XX X XX X
Processos de acabamento
HDT XX XX XX X
Adoçamento XX XX XX X
Processos auxiliares
Outros processos
Tocha XX XX X XX
Torre de resfriamento X XX X X
■ Monóxido de carbono
O CO sempre aparece como um produto da combustão dos hidrocarbonetos, ocorrendo em maiores teores em condições de
combustão subestequiométricas. Apesar de ser emitido pelas refinarias em quantidade inferior à do CO 2, a emissão de CO é
controlada porque o CO é um poluente altamente tóxico que afeta a capacidade do sangue de transportar oxigênio.
■ Óxidos de nitrogênio
Os óxidos de nitrogênio, quando emitidos para o ar, podem se combinar com a água e formar um componente da chuva ácida
(ácido nítrico). Além disso, o NOx, em combinação com compostos orgânicos voláteis e sob a ação da luz solar, pode levar à
formação de ozônio por reações com hidrocarbonetos em altitudes mais baixas (troposfera), onde é considerado um poluente
por causar problemas respiratórios. Na maioria dos processos de combustão, o NO contribui com mais de 90 % da emissão total
de NOx, sendo rapidamente oxidado a NO2 na atmosfera. Daí, em geral, as emissões de NO são expressas como NO2.
■ Óxidos de enxofre
A emissão de enxofre para a atmosfera na forma de SO x sempre foi uma questão importante nas refinarias, porque o enxofre é o
terceiro elemento de maior teor em massa no petróleo. A própria refinaria, como consumidora de combustível, transforma o
enxofre presente no combustível numa mistura de SO2 e SO3, havendo uma relação direta entre o teor de enxofre da carga de
um processo de combustão e a concentração de SO x nos gases efluentes. Tais compostos, quando emitidos para a atmosfera,
podem se combinar com a água e formar o ácido sulfúrico, que é o principal componente da chuva ácida.
O enxofre não extraído na refinaria permanece nos produtos e será queimado a SO x pelos consumidores finais. O teor de
enxofre nos combustíveis é controlado pelas especificações vigentes.
■ Material particulado
As emissões de particulados resultantes da queima de hidrocarbonetos pesados e da emissão de partículas finas (coque)
tornaram-se um foco de atenção devido aos seus potenciais efeitos adversos à saúde da população, quais sejam, problemas
respiratórios e infecções, pois atuam como veículos para micro-organismos.
■ Odor
O odor está entre os tipos de poluição mais fácil e rapidamente perceptíveis pelos indivíduos afetados. Seu impacto se torna
mais crítico em regiões densamente industrializadas localizadas nas proximidades de núcleos residenciais. Mais de 50 % das
denúncias ambientais encaminhadas pela população aos órgãos de controle ambiental em nível mundial são reclamações a
respeito de odor.
Odores industriais têm origem em uma variedade complexa de compostos orgânicos voláteis (metilsulfeto, dimetilsulfeto,
aminas, aldeídos, ácidos orgânicos e mercaptanos) e inorgânicos (amônia, sulfeto de hidrogênio e dióxido de enxofre).
Na Tabela 18.2 mostra-se um resumo dos principais poluentes atmosféricos emitidos por uma refinaria, com suas principais
fontes.
Tabela 18.2 Principais poluentes atmosféricos gerados em refinarias e suas principais fontes
— redução catalítica seletiva: as reações ocorrem em um leito catalítico à base de dióxido de titânio (TiO 2), trióxidos de
tungstênio (WO3), pentóxido de vanádio (V2O5) e trióxido de molibdênio (MoO 3). O V2O5 num teor de 5 % a 10 % é
denominado componente ativo, enquanto o TiO 2 é denominado portador. Esta é uma técnica especialmente aplicável em
situações em que os padrões de emissão são muito rígidos, por permitir eficiências na faixa de 80 % a 95 %. [3]
18.3.2.4
Técnicas de abatimento de emissões de particulados
As técnicas de remoção disponíveis podem ser subdivididas em técnicas secas, úmidas ou combinações dos dois tipos. Entre as
técnicas secas encontram-se os ciclones, os filtros e os eletrofiltros, e entre as técnicas úmidas estão os coletores úmidos e os
lavadores.[2]
18.3.2.5
Controle e abatimento de emissão de compostos de enxofre
Além das medidas associadas à otimização do uso da energia, já citadas para redução das emissões de CO 2, as emissões de SOx
da refinaria podem ser minimizadas por meio do tratamento com aminas do gás combustível para redução do teor de H 2S e
aumento da eficiência da unidade de recuperação de enxofre (URE).
Além dessas medidas, também podem ser aplicadas técnicas de abatimento para dessulfurizar os gases de combustão, que
consistem na remoção do SOx, precedida ou não de oxidação do SO 2 a SO3. Entre essas técnicas, o processo SNOX promove a
remoção combinada de SOx e NOx, este último por meio da SCR. A remoção de SO x é feita pela oxidação do SO 2 a SO3, que é
capturado por absorção com água, por exemplo. Alternativamente, o SO 3 pode ser removido da corrente gasosa com o uso de
um produto alcalino que o transforma num produto sólido. Dentre os produtos alcalinos que podem ser utilizados destacam-se:
o calcário ou cal hidratada, os óxidos de magnésio, o sulfeto de sódio e o bissulfeto de amônio. [3] No processo com calcário,
podem ser obtidas eficiências de remoção de SOx de até 98 %.
18.3.2.6
Controle de emissões de COV
O controle de emissões fugitivas envolve a minimização de vazamentos, a adoção de boas práticas de operação e manutenção, a
cobertura de áreas abertas contendo óleo, como os separadores água-óleo, e o controle de emissões através de respiros de
tanques, pelo controle da temperatura de armazenamento dos produtos.
No caso de liberações fugitivas de componentes do processo, a única opção real é a implementação de um programa
permanente de detecção e reparo de vazamentos.
Tabela 18.3 Concentrações representativas de contaminantes em efluentes aquosos típicos de alguns processos de refino ou correntes da
refinaria
DBO DQO
Efluentes aquosos das H2 S (ou NH3 CN-
Óleo Fenóis COTa SSTc
unidades de RSH) (NH4+ ) (CNS−)b
– Destilação XX XX XX X XX - XX
– Coqueamento retardado XX XX XX XX XX X X
A representação (X) indica que o valor pode se situar na faixa imediatamente superior.
aDBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio; DQO: Demanda Química de Oxigênio; COT: Carbono Orgânico Total.
b
CN–: Cianetos; CNS–: Sulfocianetos.
SST: Sólidos suspensos totais.
c
As correntes aquosas residuais de refinarias que normalmente requerem purificação antes da descarga são: a água de
processo gerada em consequência da injeção de vapor de retificação e/ou água de lavagem de correntes hidrocarbônicas; a água
de chuva contaminada; e a água de lastro dos tanques de petróleo.
Outras correntes aquosas residuais de ocorrência intermitente em uma refinaria são: a água de lastro de navios; a soda gasta,
resultante das unidades de tratamento cáustico; e a água de drenagem do vaso da tocha, que é de pequena vazão, porém de alta
concentração de contaminantes.
O objetivo do tratamento de águas residuais é remover óleo livre (flotável) e hidrocarbonetos dispersos ou dissolvidos,
sólidos suspensos, BTEX, fenol e outros compostos específicos, como sulfetos, cianetos, metais, fosfatos, compostos de
nitrogênio e outros compostos que aumentam a DQO.
A purificação da água residual é baseada em técnicas de separação dedicadas à separação do óleo e dos sólidos suspensos e
na remoção dos compostos dissolvidos por tratamento biológico e tratamentos posteriores.
Os tratamentos de água empregados podem ser classificados como: primários, secundários e terciários.
Tabela 18.4 Principais etapas do tratamento primário das águas residuais de refinarias
Etapa Objetivo
Neutralização Neutralização
Polimento, filtro de cascas de nozes (deep bed filter) Remoção do óleo (teor de óleo ≈ zero )
Equalização (mistura com agitação e tempo de residência) Equalização dos contaminantes presentes
Emissões de COV e de outros componentes que geram odor (H 2S e mercaptanos) não são incomuns nas diversas etapas do
tratamento de água. Por isso, os equipamentos empregados podem receber coberturas para redução de emissões, algumas vezes
com tratamento do gás (uso de biofiltro ou reinjeção na bacia de aeração).
Entulhos de Fragmentos de metais, concreto, asfalto, solo, amianto, fibras minerais, plástico,
construção/demolição madeira.
Resíduos de produtos químicos Resíduos de laboratório e de tratamentos industriais (soda e aminas, por exemplo).
■ Emissões atmosféricas
A legislação brasileira prevê o controle da poluição do ar pelo estabelecimento de padrões de emissão por fonte e de padrões de
qualidade do ar. Uma nova instalação industrial não deve fazer com que os padrões de qualidade do ar sejam ultrapassados para
nenhum dos contaminantes, considerando a soma das contribuições das várias fontes locais. Segue uma lista de resoluções e
normas federais que regulam as emissões para o ar:
—
Resolução Conama no 5/89, de 15/6/1989: institui o Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar – Pronar, que
tem por objetivo conciliar o desenvolvimento econômico e social com a proteção ambiental;
—
Resolução Conama no 3/90, de 28/6/1990: dispõe sobre padrões de qualidade do ar, previstos no Pronar;
—
Resolução Conama no 8/90, de 6/12/1990: estabelece limites de emissão de SOx e material particulado de carvão e de
processos de combustão externa;
—
Resolução Conama no 386/06, de 27/12/2006: estabelece procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de
tratamento térmico de resíduos;
—
Resolução Conama no 436/11, de 22/12/2011: estabelece os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para
fontes de combustão e outras fontes fixas industriais. Altera alguns critérios e limites estabelecidos na Resolução
Conama no 8/90;
—
Norma regulamentadora do Ministério do Trabalho NR-15. Regula o manuseio de produtos insalubres aos quais a força
de trabalho pode estar exposta.
■ Efluentes líquidos
A legislação brasileira prevê o controle da poluição da água pelo estabelecimento de limites de contaminantes no efluente e pela
classificação dos corpos hídricos de acordo com sua qualidade e uso previsto. Uma nova instalação industrial com lançamento
de efluentes não deve fazer com que um corpo de água ultrapasse os padrões estabelecidos na classe de água, considerando a
soma das contribuições das várias fontes. Também não é permitido que o lançamento desse efluente cause ecotoxicidade ao
corpo receptor, com base nos testes de toxicidade aguda e crônica. Seguem as principais resoluções e normas federais que
regulam o uso dos recursos hídricos e o lançamento de efluentes:
—
Lei no 9443/97 de 8/1/97: institui a Política Nacional de Recursos Hídricos;
—
Resolução Conama no 357 de 17/3/2005: dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e as diretrizes ambientais para o
seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências;
—
Resolução Conama no 430 de 16/5/2011: dispõe sobre condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e
altera a resolução Conama no 357;
—
Decreto Legislativo 204 de 7/5/2004: estabelece que os efluentes não podem conter os compostos orgânicos persistentes
listados na Convenção de Estocolmo.
■ Resíduos sólidos
Os principais documentos técnicos que regulam o destino de resíduos sólidos são:
■ Norma ABNT NBR 10004: classifica os resíduos sólidos considerando os impactos ambientais potenciais e o risco à
saúde, definindo normas para transporte e disposição final;
■ Norma ABNT NBR 11.174: define procedimentos de estocagem para resíduos não perigosos;
■ Norma ABNT NBR 12.235: define procedimentos de estocagem para resíduos perigosos;
■ Resolução Conama no 264 de 26/8/1999: aplica-se ao licenciamento de atividades de reaproveitamento de resíduos
sólidos em fornos rotativos de produção de clínquer;
■ Resolução Conama no 313 de 29/10/2002: dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais;
■ Resolução Conama no 450 de 06/03/2012: estabelece diretrizes para o recolhimento, coleta e destinação de óleo
lubrificante usado ou contaminado.
■ Poluição sonora
Os principais documentos técnicos e legais que devem ser consultados para o estudo e acompanhamento do ruído ambiental
são:
■ Resolução CONAMA 001 e 002, de 17/8/90 (Programa de Silêncio): determina a competência da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios na proteção do meio ambiente e no combate à poluição em qualquer uma de suas formas, inclusive
conforto acústico em comunidade;
■ Norma ABNT NBR 10151: avalia o ruído em áreas habitadas visando ao conforto da comunidade;
■ Norma ABNT NBR 10152: estabelece níveis de ruído para conforto acústico;
■ Norma ISO/R 1996/1971: assessment of noise with respect to community response.
REFERÊNCIAS
[1] GARY, J. H.; GLENN, E. H. Petroleum refining: technology and economics. 1. ed. New York: Marcel Dekker, 1975.
[2] EUROPEAN COMMISSION, Integrated pollution prevention and control reference document on best available techniques for
mineral oil and gas refineries, 2003.
[3] LORA, E. E. S. Prevenção e controle da poluição nos setores energético, industrial e de transporte. Brasília, Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel), 2000.
*PSV: Pressure Safety Valve.
*LNB: Low NOx Burners.
**SNCR: Selective Non-Catalytic Reduction.
***SCR: Selective Catalytic Reduction.
Índice
Abatimento
de CO, técnicas de, 259
de emissão de compostos de enxofre, 260
Absorção, 76, 81, 93, 146, 201
óleo de, 82
por TEG, 76
refrigerada, 80, 82
torre de, 82
Acetilenos, 189
Acetonitrila, 237
Ácido(s)
carboxílico, 12, 18, 204
fluorídrico, 54, 190, 191
naftênico, 12, 18
orgânicos, 258
sulfídrico, 70
sulfúrico, 54, 70, 190, 191
Acrílicos, 231
Aditivos, 30, 36, 41, 148, 215
Adoçamento, 198, 206, 208
em leito fixo, 208
líquido-líquido, 208
Adsorção, 49, 51, 76, 179, 196, 218, 240
de n-parafinas, 51
por peneiras moleculares, 76
Agência Nacional do Petróleo (ANP), 24, 27
Agente(s)
emulsionantes, 91
pesticida, 86
rejuvenescedor de asfaltos, 247
Água(s), 189
ácida, 57, 94, 100, 112, 127, 130, 149, 221
de lastro, 261
de processo, 261
e sedimentos, 65
emulsionada, 18, 65
livre, 66, 70
residuais, 261
Aguarrás, 82
Alcalinidade, 208
Alcanos, 7
Alcenos, 7
Alcinos, 7
Álcool, 4
-amina, 198
Aldeídos, 258
Alquilação, 27, 53, 121, 136, 147, 187
carga do processo,
189 catalítica, 54
descrição do processo, 190
fundamentos, 187
produto da unidade, 192
variáveis do processo, 192
Alquilado, 54
características típicas, 192
Alquilciclo-hexanos, 175
Alquil-mercaptanos, 11
Alumina, 76, 138,
174 Amina(s)
alifáticas, 155
fixa, 202
livre, 202
perdas excessivas de, 203
pobre, 202
rica, 203
tratamento com, 56
Amônia, 57, 91, 162, 165, 201, 223, 230, 232, 256, 258, 261
Anel(éis)
aromáticos, 9
benzênicos, 9
de Pall, 96
de Raschig, 95
naftênicos, 13
ANP (Agência Nacional do Petróleo), 24, 27
Antiespumante, 203
APF (alto ponto de fluidez),
16 API, grau, 14
Aquecimento, 129, 130
Areia e sedimentos, 69
Aril-mercaptanos, 11
Aromáticos, 137
complexo de produção de, 239
extração de, 50
recuperação de, 50
Arraste, 70
de amina, 203
de gotículas, 102
Asfaltenos, 7, 13, 37, 44, 53, 72, 102, 122, 133, 149, 152, 168
Asfalto, 24, 44
ASO (acid soluble oil), 188
ASTM (American Society for Testing and Materials), 6, 24
ATE (alto teor de enxofre), 17
Autoignição, 34
Avaliação do petróleo, 14, 16
Bandeja, 87, 93
Bário, 70
Batida diesel, 34
Bender, 198
Benzeno, 8, 189
Benzopireno, 8
Benzotiofenos, 10, 155
Berl, selas de, 95
Bicarbonato, 223
Biodiesel, 35
Biomassa, gaseificação de, 210
Bissulfeto de amônia, 162
Blowdown, 128
sistema de, 129, 130
vaso de, 130
BPF (baixo ponto de fluidez), 16
BS&W (Basic Sediments and Water), 18, 65
BTE (baixo teor de enxofre), 17
BTX (benzeno, tolueno e xilenos), 177, 189
Bunker, 23, 38, 39
Butadieno, 230, 232
Butano, 85, 116
Butenos, 230, 233, 237
Cálcio, 19
Caldeira
de CO, 259
de recuperação de calor,
222 Câmara
de combustão, 222
de orifícios, 145
Campo
alternado, 74
contínuo, 74
Caráter aromático, 123
Carbocátions, 187
Carbonato de cálcio, 70
Carga(s)
aromáticas, 149
difusor de, 162
Carvão, gaseificação de, 210
Catalisador(es)
de craqueamento catalítico, 138
de hidrorrefino, 157
de isomerização, 195
de níquel, 220
de platina, 195
desativação do, 159
homogêneos, 188
regenerado, 139
zeolíticos, 195
Caulim, 138
Centrífuga, 67
Chicanas, 142
“quebra-ondas”, 69
Chuva ácida, 258
Cianeto, 261
Ciclo
de reação-regeneração, 135
Diesel, 1, 25
do tambor de coque, 128
-hexano, 8, 175
Otto, 25
Cicloalcanos, 8
Ciclone, 141
Ciclopentadienos, 189
Ciclopentano, 8, 189
Cimento asfáltico de petróleo (CAP), 44, 49, 86, 107, 247
Cinza, 31, 226
Cloreto de zinco,
213 Cloro, 40, 213
CO2. Veja Dióxido de carbono Coagulação, 262
Cobalto, quelato de, 206
Coke pit, 129
Coletor de produto, 162
Colunas. Veja Torre 86
Combustão, 25, 29, 32
Combustível(eis)
alternativos, 4
automotivos, 23
de aviação, 23
de uso doméstico,
23 industriais, 2, 23
marítimos, 23
para tratores, 86
Complexo de produção de aromáticos, 239
Composto(s)
asfaltênicos, moléculas típicas de, 13
de enxofre, 189
de nitrogênio, 189
diolefínicos, 131
metálicos, 12
nitrogenados, 11, 12
orgânicos voláteis (COV), 26, 256, 258,
259 controle de emissão de, 261
oxigenados, 12
sulfurados, 10
Congeladores, 253
Conjunto conversor, 141, 142
Contator, 208
de discos rotativos, 109, 118
Contaminantes, 140
em efluentes aquosos, 261
inorgânicos, 10, 91
teor de, 179
Conversão, 151
de aromáticos, 154
de CO, 212, 216
processos de, 52
Conversor
catalítico, 220
de alta temperatura (CAT), 216
de baixa temperatura (CBT), 216
de CO, 217
Coque, 10, 24, 35, 45, 50, 97, 122, 124, 132, 138, 157, 158, 215
agulha, 46
esponja, 46
formação de, 45, 89, 102, 119, 126, 134, 157, 159, 168, 176, 215
grau anodo, 123
matéria volátil do, 133
sistema de manuseio do, 129
tambor de, 125, 128, 129,
132 verde de petróleo, 45
Coqueamento, 97
retardado, 45, 53, 112, 119-134
carga do processo, 123
descrição do processo, 123
fundamentos do processo, 119
produtos, 131
variáveis de processo, 132
Corrosão, 13, 91, 92
produtos de, 76
Corrosividade, 11, 26, 27, 42, 55, 163, 244,
252 Cortes de petróleo, 85
Craqueamento, 133
catalítico, 37, 45, 51, 135-150, 164, 208, 247
carga do processo, 139
descrição do processo, 140
fluido (FCC), 52
fundamentos, 136
produtos, 147
reações primárias do, 138
variáveis do processo, 148
térmico, 20, 52, 85, 89, 97, 119, 133, 137
Cristalização, 240, 250
Curva
de destilação, 20, 123
ASTM, 30, 177
PEV, 19, 20
de vaporização dos efluentes do tambor de coque, 133
D
Fase
densa, 142
diluída, 142
FCC (Fluid Catalytic Cracking), 53, 135, 208, 240, 257
Fenol, 262
Fertilizantes, 24, 221, 231
Filtração, 250, 262
Filtro rotativo, 250
Floculação, 262
Flotação, 262
Flotadores, 78
de gás
dissolvido, 79
induzido, 79
Fluidez, ponto de,
16
Fluoretos orgânicos, 191, 193
Força de atração, 72
Fornalha, 222
Forno
de pirólise, 235
reformador, 213, 214
Fracionamento atmosférico, 94
Frações
básicas do refino,
21 de petróleo, 85
Front-end demethanizer, 236
Front-end depropanizer, 237
Ftalocianina de cobalto, 206
Fuga ácida, 193
Fuligem, 25
Função
ácida, 194
metálica, 194
Fundo de barril, processos de,
1 Furfural, 247
características, 248
Gap, 99
Gás(Gases)
ácidos, 56, 60, 202, 223, 225
remoção de, 76
combustível, 85, 131, 147
de esgotamento, 77
de reciclo, 162
de refinaria, 211, 212, 232, 240
de síntese, 237
lift, 56, 181
liquefeito de petróleo, 4, 85
definição, 27
intemperismo, 27
pressão de vapor Reid, 27
requisitos de qualidade, 27
teor de enxofre e corrosividade, 28
uso, 27
natural, 7, 24, 39, 65, 80, 198, 219, 224, 232
comprimido, 80
líquido de, 81, 82
seco, 81
úmido, 65, 81, 82
unidade de processamento, 80
veicular, 4, 80
poluentes, emissão de, 26
recuperação de, 240
residuais, tratamentos de, 259
rico em hidrogênio, 183
sistema de compressão e
recuperação de, 127, 146
sulfídrico, 11, 64, 75, 162
no ambiente, efeitos, 228
tratamento do, 75
úmido, 77
Gaseificação
de biomassa, 210
de carvão, 210
de resíduos, 210
Gasóleo(s), 8, 20, 52, 97, 116, 132, 148, 164, 233, 239, 243
atmosféricos, 86
de vácuo, 52, 86
das unidades lubrificantes, 140
leve
de coqueamento, 132
de vácuo, 90
médio, 124
de coqueamento, 132
pesado, 124
de coqueamento, 132
residual, 98
Gasolina, 23, 28, 31, 174, 184, 187
aditivada, 31
automotiva, 28
definição, 28
motor ciclo Otto, 28
requisitos de qualidade, 29
tipos, 31
uso, 28
comum, 31
de aviação, 55, 174
Premium, 31
Geração de hidrogênio, 54, 57, 175, 210-
220 Gestão
de catalisadores desativados, 264
de manutenção de válvulas de segurança, 259
de resíduos, 263
tratamento de borras e,
264 Glicóis, 76
GLP (gás liquefeito de petróleo), 7, 25, 49, 81, 85, 119, 126, 131,
184 maximização da produção, 103
GNV (gás natural veicular), 4,
80 GOL. Veja Gasóleo leve
Goma, 12, 25, 30, 132, 147, 161, 192
atual, 25
potencial, 26
teor de, 25
GOP. Veja Gasóleo pesado
Gradiente de temperatura, 117
Grupos substituintes, 155
GTL (gas to liquid), 255
processo, 255
HCC (hydrocatalytic cracking), 50, 63, 132, 163, 168, 239, 254
propriedades típicas, 169
HCO (heavy cycle oil),
145
HDR (processo de hidrorrefino), 151, 152, 158, 160, 253
reações de, 152, 157
HDS (hidrodessulfurização), 30, 57, 60, 147, 152, 154, 164, 167,
212 de nafta craqueada, 167
seletivo, 147, 160
HDT, 35, 57, 60, 132, 145, 151, 164, 243, 254, 257, 264
catalisadores de, 157
condições operacionais típicas, 170
de instáveis, 60, 164
de lubrificantes, 165
de nafta de coqueamento retardado, 166
de parafinas, 165
Heptano, 114
Heteroátomos, 10
Hexano, 40
Hidrato, 75, 82
Hidroacabamento de óleo, 51, 62, 165, 252
Hidrocarboneto(s), 79, 82
aromáticos, 8, 122
classificação, 7
derivados, características, 10
em petróleo, ocorrência, 9
insaturados, 8, 157
leves, 30, 189
naftênicos, 8, 121
desidrociclização de, 175
olefínicos, 8, 85, 121, 147
parafínicos, 7, 120
desidrociclização de, 175
Hidrociclones, 78, 79
Hidroconversão, 36, 151, 157
Hidrocraqueamento, 50, 63, 152, 157, 168, 244, 254
catalítico, 54, 168
severo, 151
Hidrodesalquilação térmica de tolueno (THDA), 240
Hidrodesaromatização (HDA), 153, 164, 244
Hidrodesmetalização (HDM), 152, 156
Hidrodesnitrogenação (HDN), 152, 155
Hidrodesoxigenação (HDO), 152, 156
Hidrodessulfurização (HDS), 30, 55, 59, 147, 154, 158, 163
Hidrogenação
de olefinas, 153
conjugadas, 153
de parafinas, 253
Hidrogênio
de reciclo, 161
de reposição, 161
geração de, 57, 76, 210-220
descrição do processo, 211
tipos de carga, 211
variáveis do processo, 219
transferência de, 136, 137
Hidrogenólise, 155
Hidroisodesparafinação, 160, 244, 254
Hidroprocessamento, 57
Hidrorrefino, 151-173
esquema(s)
alternativos, 160
básico, 163
fundamentos, 153
principais reações, 152
rota, 244, 253
tipos de carga,
159
variáveis de processo, 169
Hidrossulfurização (HDS), 30, 60, 145, 149, 151
seletiva, 55, 64
Hidrotratamento, 151, 165, 167, 172, 253, 254, 261, 264
de óleos básicos lubrificantes
e parafinas, 164
unidades de, 165
Hydroforming, 174
Nafta(s), 86
craqueada, 55
HDS de, 167
DD (destilação direta), 86
de coqueamento, 132
de craqueamento, 147
destiladas, 55
intermediária, 86
leve, 86
estabilizada, 92
maximização da produção de, 104
pesada, 86
petroquímica, 39, 54, 60, 230, 233, 236, 240
pirólise, 53
propriedades típicas, 166
reformada, 174
torre de fracionamento de,
90 Naftaleno, 8
Naftenoaromáticos, 247
n-A lcanos, 7
Não hidrocarbonetos, 10
n-B utano, 7
n-Dodecano, 7
n-Formilmorfolina, 50
n-Hexadecano, 7
Níquel, 12
Nitrogênio, 10, 75
n-M etilpirrolidona, 50
n-N onilciclo-hexano, 8
NOx. Veja Óxido de nitrogênio Noack, ensaio, 246
n-Parafinas, 7
adsorção de, 51
n-Pentano, 116
n-Pentilciclopentano, 8
n-Tetradecilciclopentano, 8
n-Tricontano, 7
Número
de acidez total, 18, 27
de cetano, 25, 34, 39, 56, 148, 152, 169
de octano. Veja também RON, 25, 54, 60, 86, 137, 139, 159, 184, 237
Quebra
da emulsão, 71
-vórtice, 70
Queima, qualidade de, 9
Quelato de cobalto, 206
Quench, 97, 161, 236
Querosene, 1, 86
de aviação (QAV), 14, 25, 31, 51, 60, 86
definição, 31
requisitos de qualidade, 31
uso, 31
lampante/de iluminação, 1, 2, 85
Sal(is)
de amônio, 223
sedimentos e, 91
solúveis, 70
teor na água do mar,
70 Salinidade, 19
Salmoura, 68, 70, 78, 91
SARA, 16
Saturação
de compostos aromáticos, 164
de olefinas, 152, 153
Saybolt, escala, 165
Sedimentos, 90, 91
Segunda geração petroquímica, 230
Sela(s)
de Berl, 95, 96
de Intalox, 96
Seletividade, 40, 113, 114, 168, 238,
248 Separação
água-óleo, 69
bifásica, sistema com, 66
em frações, 14
gás-óleo, 66
líquido
-gás controlada, 67
-vapor, 92
processos de, 49
trifásica, sistema com, 66
Separador(es), 64
água-óleo, 78, 130
API, 262
atmosférico, 66
bifásico, 66, 68
trifásico, 68
Shift, 207
Shot coke, 46, 132-134
Side by side, 143, 181
Sílica, 138
-alumina, 157, 158, 168
-gel, 76
Silte, 70
Sistema(s)
com separação
bifásica, 66
trifásica, 66
de blowdown, 130
de compressão e recuperação de gases, 127, 146
de controle de
temperatura de topo, usual, 100
vazão de uma retirada lateral, típico, 101
de Gestão Ambiental, 263
de manipulação de sólidos e clarificação da água, 130
de manuseio do coque, 129
de reação, configuração do, 143
de recebimento de carga, 123
de separação líquido-vapor, 65
Slide valves, 145
Slop, 78, 91
SOx. Veja Óxido de
enxofre Soda
cáustica, 56, 203
fresca, 203
gasta, 56, 203
Solução cáustica, 204
Solvente(s), 86, 107
hidrocarbônicos, 40
líquido, 76
recuperação de, 108-110
Soprador, 142
Spindle, 42, 86
Stacked, modelo, 143
Standpipe, 142, 143
Steam Cracking, 233
Stokes, lei de, 67
Substituintes, grupos, 155
Sulfato(s), 223
de cálcio, 70
Sulfetação, 157, 159
Sulfeto(s), 154
de carbonila, 189, 203, 224
de ferro, 70, 71
de hidrogênio, 10, 228, 256
de sódio, 208
Sulfurados, 152
Suscetibilidades térmica, 45
Switch valve, 126
Tambor
de coque
abertura do, 129
ciclo de, 128
efluentes do, curva de vaporização dos, 133
enchimento de, 125
tempo de enchimento do, 134
Técnicas de abatimento
de NOx, 260
do CO, 259
TEG (trietilenoglicol), 76
Temperatura de ebulição dos principais derivados, faixas de, 20
Teor
de água e sais, 16, 18
de asfaltenos, 123
de contaminantes, 179
de goma, 25
de hidrocarbonetos
aromáticos, 137
leves, 89
de impurezas, 198, 210
de matéria volátil, 128,
133 de olefinas na
gasolina, 189 de óleo e
graxas, 65, 78
Terceira geração petroquímica, 230, 231
Teste
da garrafa, 71
de estanqueidade e purga
com vapor, 129
Tetraetilenoglicol, 50
THDA (Hidrodesalquilação
térmica de tolueno), 240
Tiofeno, 10, 154
Tióis, 10
TLE (transfer line exchanger), 235
TOG, 65, 78
Tolueno, 230
Torre
absorvedora, 127
combinada, 126
esquema típico, simplificado da, 126
região de fundo típica da, 124
de absorção, 82
de destilação
a vácuo, 89, 97
atmosférica, 89, 92
convencional, 86, 87
de discos rotativos,
118 de esgotamento,
88
de fracionamento, 86, 87
de nafta, 90
de pratos
borbulhadores, 95
perfurados, 95
valvulados, 95
de pré-fracionamento, 88, 91
de pré-flash, 88
de recheios estruturados, 96
deisopentanizadora, 83
desbutanizadora, 83, 90, 92, 103
desetanizadora, 83
despropanizadora, 83
estabilizadora, 103
extratora, 109, 115, 118, 201, 207
fracionadora, 124, 126
RDC, 248
recheada, 76
regeneradora, temperatura de topo, 78, 202
Torta de filtração, 253
Transferência de hidrogênio, 137, 138
Tratador(es)
biletric, 75
cyletric, 75
de alta velocidade, 75
de baixa velocidade,
73
de óleo em plataforma,
73 eletrostáticos, 73
Tratamento
cáustico, 56, 60, 131, 147, 203, 205, 262
convencional, 203, 204
regenerativo, 205
com aminas, 56, 198, 199, 203, 217, 236
de água produzida,
78 de efluentes, 257
de gás(gases), 75
residuais, 259
de óleo, 66, 70
eletrostático, 72
primário da água residual, 262
secundário da água residual, 263
terciário da água residual, 263
termoquímico, 71
Trickle bed reactor (TBR), 161
Trietilenoglicol (TEG), 76
desidratação com, 77
Trióxido de molibdênio, 260
Trocador da linha de
transferência, 235
Tungstênio, 260
Turboexpansão, 80, 83
Turbo-hélice, 31
Turbojato, 31
Vanádio, 12
pentóxido de, 260
Vapor(es)
de aceleração, 97
de hidrocarbonetos, 92, 99
Vaso(s)
de pressão, 79
de resíduo, 131
de topo, 87
desgaseificador, 78
separadores, 65, 67, 140, 143
dispositivos internos nos, 69
problemas operacionais, 69
VCM (volatile combustible matter), 133
Vela de ignição, 28
Velocidade
de sedimentação, 67
espacial, 170, 171, 179, 185, 192, 193
VHSV (volumetric hourly space velocity), 185
Viscosidade, 16
Volatilidade, 19, 24, 30, 35, 101, 185, 255
dos derivados, 24