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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA

Análise do uso e desaparecimento de Objetos Empíricos no sul da Bahia

CC: Laboratório Interdisciplinar em Linguagens:


Diversidade e variação Linguística
Orientador: Dr. Gabriel Nascimento Dos Santos
Discentes: Adriana França Bomfim, Islândia
Ferreira Del Rei, Jamile Vieira dos Santos,
Rogerio da Silva Araújo e Talita Solidade Santos.

Itabuna
2021
OBJETIVO
Esse projeto teve como finalidade, analisar a partir de cinco termos: “objeto
empírico”(Empírico é aquele conhecimento adquirido durante toda a vida, no dia-a-dia,que
não tem comprovação científica ), (tabarel; pra semana; por obséquio, zignow e Pirão
perdido) no sul da Bahia para verificar se esses objetos empíricos analisados estão sendo
usados no cotidiano, se foram substituídos por outros e o surgimento dos novos objetos
empíricos. E obter dados sobre o uso desses objetos na linguagem e o seu desaparecimento.

METODOLOGIA

● Através de um formulário do Google, coletamos esses objetos empíricos na


comunicação de pessoas no dia a dia;

● Perguntamos o nome, a idade, o sexo, escolaridade, a etnia e uma pergunta sobre a


satisfação em realizar a pesquisa;

● Elaboramos 12 perguntas com os objetos empíricos selecionados e pedimos para 44


pessoas responderem pensando no diálogo do seu cotidiano;

Informações sobre os participantes:

● Foram 44 pessoas:(31 Mulheres e 13 Homens)6 Homens pardos


● 6 Homens negros
● 1 Homem se considera misturado
● 17 Mulheres pardas
● 9 mulheres negras
● 3 Mulheres brancas
● 1 Mulher Indígena
● 1 Mulher não identificou a etnia
● Idade entre 18 a 55 anos
● Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior .
Questionário do Formulário - Perguntas Indiretas sobre Objetos Empíricos

1. Quando uma pessoa tem vergonha de falar com as outras, de aparecer e se esconde
quando chega uma visita, você a considera como? ( Tabarel)
2. Se você estivesse assistindo aula de álgebra e não estivesse entendendo nada. Então,
você pensaria: Vou aproveitar que a aula está ruim para dar um…( Zig now)
3. Ao pedir um favor, normalmente alguém pediria assim: por gentileza você poderia
fazer um favor para mim? Porém a sua forma de se expressar é antiga e chique, então
você diz?(Por Obséquio)
4. Como você se refere quando a festa de formatura não acontecerá mais essa semana e
sim na próxima?( Pra Semana)
5. Quando uma pessoa não faz nada e só acorda meio dia como você se refere a ela.
( Pirão Perdido)

DESENVOLVIMENTO
Analisando as respostas dos 44 participantes na pesquisa sobre o uso dos objetos empíricos
constatamos que Tabarel ainda é usado, foi citado por pessoas na faixa etária de 22 a 39,
Dentre elas 4 pessoas informaram que já ouviram esse objeto empírico no cotidiano, 7
disseram que usam e quando perguntamos aos participantes se usariam esse termo tabarel, 20
responderam que sim e 24 não usariam. Percebemos um público um pouco dividido. A
maioria considerou a pessoa sendo tímida, outros como: envergonhada, discreta, reservada e
outros termos utilizados seriam: Bicho do mato, broco, chucra, tapada, estranha

O objeto empírico Zig now ainda é usado por pessoas na faixa etária de 18 a 55 anos.
Somente 3 participantes informaram ter ouvido esse objeto empírico no no seu cotidiano, 4
disseram que usam e quando perguntamos aos participantes se usariam esse termo zig now,
20 responderam que sim e 24 não usariam. Percebe-se um público um pouco dividido. Outros
termos utilizados seriam: cair fora, sair fora, dar migué, dar uma viajada, dar um tempo, dar
um pulo ali, rolê foi o mais citado.
Por obséquio ainda é usado por pessoas na faixa etária de 21 a 50 anos, Somente um
participante informou ter ouvido esse objeto empírico no no seu cotidiano, 3 disseram que
utilizam no dia a dia e quando perguntamos aos participantes se usariam esse termo 33
responderam que não e 11 responderam que sim. Percebe-se um público não dividido, que
esse objeto empírico está desaparecendo da comunidade e que a maioria não quer usá-lo
mais. Outros termos utilizados seriam: por gentileza, por favor, faz um favor na moral,se não
for abuso faz um favor, tem como fazer um negocinho pra mim? faz uma parada pra mim na
moral e help.

Pra Semana ainda é usado por pessoas na faixa etária de 22 a 39 anos, 1 participante citou
ter ouvido esse objeto empírico no no seu cotidiano, 8 disseram que utilizam e quando
perguntamos aos participantes se usariam esse termo 31 responderam que sim e 13
responderam que não. Percebemos que apesar desse objeto empírico ser citado por poucos
participantes na pesquisa ele é bem aceito na comunidade. Outros termos utilizados para
substituir seriam: semana que vem, de hoje a oito, próxima semana e foi adiada.

Pirão Perdido: Esse objeto empírico está praticamente desaparecido, apenas dois jovens na
faixa etária de 20 anos informaram que já ouviram no cotidiano, 1 participante disse que
utiliza e quando perguntamos aos participantes se usariam esse termo 35 responderam que
não e 9 responderam que sim. Percebemos que esse objeto empírico está em desuso e não é
mais aceito na comunidade. Outros termos utilizados para substituir seriam: zé ruela, todo
mole, vida boa,sem iniciativa,parasita e maresia.

DADOS LEVANTADOS

Quais dessas expressões você não ouviu mais no cotidiano :Tabarel, Zig now, Por obséquio,
Pra semana e Pirão perdido?
Quais dessas expressões empíricas você utiliza? Tabarel, Zig now, Por obséquio, Pra semana
e Pirão perdido?

CONCLUSÃO

Concluímos que, os objetos empíricos são correntes na fala das pessoas e que são usados
tanto nas comunidades mais carentes quanto nas classes mais privilegiadas. a diferença no
uso está no ambiente da fala como por exemplo: “zignow” que é mais usado nas escolas
enquanto “deu um pinote” que é mais ouvido pelos jovens na periferia.
Assim, os objetos empíricos são assemelhados às gírias populares e dependendo do tempo
e da disseminação, uns perduram enquanto outros desaparecem rápido. podemos citar a gíria
“cabeça de gelo” que muito foi usada e hoje não se vê mais, talvez fora substituído por
“relaxe”. Existem muitas outras gírias que se perderam no tempo assim como também muitos
objetos empíricos que quase não se veem.

Avaliação de satisfação da pesquisa realizada.


MEMORIAL

Adriana França Bomfim

Meu nome é Adriana França Bomfim, 38 anos, casada e tenho um filho de 8 anos,
nasci em Ilhéus, Ba, numa família humilde, sou a terceira filha de cinco irmãos. Após a
conclusão do Ensino Médio em 2002, fiz cursos profissionalizantes de informática, inglês básico,
secretariado e contabilidade. E depois trabalhei na escola que estudei na infância, Colégio
Pequeno Davi na função de auxiliar de coordenação durante um ano e três meses, também
trabalhei numa escola da rede estadual, Colégio Estadual do Iguape durante quatro anos na
secretaria. Ingressei em 2018 na Universidade Federal do Sul da Bahia através da seleção para
as Licenciaturas Interdisciplinares e na UNIJORGE EAD- Centro Universitário Jorge
Amado, esse ano(2021) concluirei o curso de Pedagogia na Unijorge Ead e próximo ano o
curso Interdisciplinar de Linguagens e Códigos na UFSB. Tenho orgulho de estudar numa
universidade pública de qualidade com professores qualificados e humanos, que proporcionam
educação contemporânea, com uma estrutura e metodologia inovadora. E investe na pesquisa e
projetos que possibilitam o desenvolvimento teórico prático possibilitando o aprimoramento do
conhecimento e prática docente aos estudantes. Participei do Pibid e atualmente estou
participando da Residência Pedagógica em Linguagens.
A minha vivência com os objetos empíricos é constante, pois meu esposo ultimamente
está falando muito o objeto empírico vei, meu filho também está imitando o pai. Ele começou a
falar com mais frequência por causa de um primo dele que veio de São São Paulo recentemente e
usa bastante o termo vei. Dos objetos empíricos selecionados para a pesquisa, ouço pra semana,
tem um colega de trabalho do meu esposo que usa por obséquio, os demais: tabarel, pirão perdido
e zig now não estou ouvindo no cotidiano. Convivo os finais de semana com pessoas da zona
rural e as mesmas só utilizam desses objetos empíricos pra semana e tabarel. Ao estudar sobre a
variação e realizar a pesquisa percebi que os objetos empíricos varia muito de região e segundo o
pastor Izaias Amâncio( Doutorando- Letras/ UFRGS) disse que a variação linguística pode
ocorrer até por bairros, quando perguntamos sobre os objetos empíricos conhecidos pelos
participantes a maioria responderam: oxe e oxente, típico da região nordestina. Percebo também
que esses objetos analisados estão sendo substituídos por outros mais atuais, tabarel por:
esquisito, estranho, pirão perdido por: vida boa, zig now por: rolé, pra semana por semana que
vem, por obséquio por: faz um favor.

Islândia F. Rel Rei

Meu nome é Islândia Ferreira Del Rei, 43 anos, nasci no bairro São Caetano em
Itabuna Bahia. Tive um convívio social um pouco diversificado, mais os objetos empíricos
que me fizeram lembrar da minha infância e do convívio com minha família foi tabarel e por
obséquio porque, até completar os 10 anos eu e minha família morávamos na casa dos meus
avós paternos e durante o tempo que passamos com eles sempre ouvia os meus tios
chamarem as pessoas tímidas de tabarel, meus avós quando estavam conversando com os
parentes e os amigos sempre diziam que pra semana iriam a roça pra ver a plantação e buscar
frutas. E em 1987 um dos meus tios convidou meu pai a ir morar no Interior do Estado do
Pará os 7 anos que passei lá com eles sempre ouvia a minha mãe pedir que organizássemos
nossas atividades por obséquio, em 1994 após retornar a Bahia e passar a morar com meus
avós maternos comecei a ouvir meus familiares e amigos a falar que daria um zig now
quando não estavam disposto a participar de algum evento, e pirão perdido aquelas que se
esquivava de realizar qualquer atividade que exigisse algum esforço.
O ano de 2000 passei 7 meses em Itamaraju e lá os objetos empíricos que mais ouvi
foram, assunta, avia menino, retornei pra Itabuna e os 3 meses que passei lá voltei a ouvir
meu tio usar o termo tabarel, depois passei 3 meses em São João do Paraíso e lá os termos
que ouvi foi fanfarrão e espantado, e logo que retornei para o Salobrinho voltei a ouvir os
objetos empíricos, zig now e pirão perdido, minha prima também chamava todo mundo de
paracé. Meu avô usava muito o doravante, recentemente minhas colegas disseram que “pra
semana virão ao posto de saúde marcar os exames do pai e da irmã delas”. Os termos que já
faz muito tempo que não ouço as pessoas pronunciarem são: pirão perdido e por obséquio,
tabarel só ouço quando vou a casa do meu tio em Buerarema, os termos que ainda ouço as
pessoas pronunciarem com muita frequência são “pra semana e zig now”, dentre outros que
são mais comuns entre as pessoas mais jovens.

Jamile vieira dos santos

Meu nome é Jamile vieira dos santos, tenho 31 anos, nasci na fazenda no município de
Coaraci-Ba, em 09-01-1990. Minha filha Isabela tem 10 anos. Morava com meus avós e
minha bisa na fazenda, em 2001 viajei para São Paulo fui morar com a minha mãe e voltei
para casa dos meus avós no ano 2017. Fiz Curso profissionalizantes de preparação para o
trabalho, participei do CEU- Alvarenga fiz um curso básico de informática, Já aqui em
Coaraci fiz vários Enem só que não conseguir entrar na faculdade depois de tanto tentar em
2018 conseguir uma vaga na Faculdade UFSB e estou cursando linguagens e suas tecnologias
estou no quinto quadrimestre, apesar de estar a 10 meses cuidado do problema de saúde
sendo acompanhada pelos médicos em nenhum momento eu desistir, tive todo apoio da
coordenadora do curso, amigos, colegas me ajudam eu ao ver minha nota em cada
quadrimestre sinto muito feliz em seguir em frente, em meios as lutas creio que isso que
estou passando é uma experiência muito grande pra eu continuar minha jornada.

Nossa, quando professor apresentou esses objetos empíricos amei, lembrei logo dos
meus avós e minha bisa, porque como nós morávamos na fazenda sempre eu ouvia tanto por
eles como pelos vizinhos, e até porque meus avós não tiveram a oportunidade de estudar, só a
minha avó que estudou um pouco, mas a minha bisa não e meu avô não. E eu falava muito
desses objetos quando comecei a estudar fui observando o modo como se falava
corretamente, mas até hoje eu falo alguns deles como pirão perdido, meu, vei, zig now, em
conversas com amigos. Nas pesquisas realizadas pude perceber que tem pessoas que ainda
falam esses objetos empíricos e que eles ainda não saíram totalmente do nosso cotidiano.

Rogério da Silva Araújo

Meu nome é Rogério da Silva Araújo, nasci e cresci em um bairro periférico na


cidade de Itabuna e os objetos empíricos fizeram parte do meu convívio social. Já ouvi e já
falei muitos deles e hoje ainda uso pelos menos dois deles (pra semana e essa nega), dos
objetos empíricos os quais estudamos, surgidos e desaparecidos na comunidade, desde a
minha época de criança até os dias atuais, muitos deles passaram pela minha infância, como:
pirão perdido e tabarel - que eu ouvia dos meus tios da zona rural e de pessoas mais velhas;
enrabar - todos os meus vizinhos crianças falavam e eu também falei muito. Percebo que
muitos caíram no desuso e volta e meia quando aparece é mais fácil ouvir de pessoas mais
velhas e também na comunidade rural que é mais comum. Isso estou falando dos objetos mais
tradicionais, porque existem alguns objetos que surgiram a um pouco mais de uma década e
que ainda estão presentes nas falas.
Citei poucos aqui, mas 90 % dos objetos empíricos que vimos como objetos de estudo
e pesquisa eu conhecia, já ouvi de pessoas próximas e de pessoas estranhas também, alguns
eu não tenho lembrança de ter falado mas sim de ter ouvido de alguém.

Talita Solidade Santos

Eu sou Talita Solidade Santos Fagundes, 31 anos, casada.Nasci em Coaraci-ba onde fui criada e moro
atualmente.Boa parte de minha vida foi de trabalho e estudo.Quando terminei o ensino médio em
2010 busquei logo um trabalho aqui em Coaraci mesmo,em que trabalhei por nove anos.Em 2010
prestei vestibular para curso de letras na UESC, mas não fui aprovada, então decidi seguir a vida
trabalhando.Somente depois que fiz meus 25 anos procurei entrar na Universidade por incentivo de
uma amiga que me falou da UFSB.
Em 2016 cheguei na UFSB, e como trabalhava ficou difícil conciliar trabalho com estudo, foi quando
decidi deixar de trabalhar para me dedicar ao estudo,e hoje estou aqui aprendendo e superando os
desafios desta vida acadêmica.
Minha família sempre foi humilde, e de gente trabalhadora,sou filha de um pedreiro,e minha mãe era
doméstica, hoje, aposentada e meu pai também. A forma de dialogar de minha casa é aquela
linguagem mesmo do cotidiano, e aquelas palavras consideradas informal, e da nossa cultura
nordestina, e baiana, pois aqui vivemos e crescemos ouvindo e reproduzindo estas falas.
Dentre os objetos empíricos que constam no nosso trabalho de pesquisa,as palavras: pirão perdido, de
hoje a oito,e tabarel sempre foi usado dentro de minha casa, e têm sido usadas até hoje.Minha avó
chamava-nos de tabarel quando chegava um parente de São Paulo e tínhamos vergonha de aparecer.
As demais palavras como ZigNow, Obséquio, ouvi poucas vezes, e hoje nem se fala mais,sendo
possível perceber isso na pesquisa feita, a mais são falas muito antiga.Existem também outros objetos
empíricos que falamos e não está na pesquisa como exemplo: paracé, pantumia, abestalhado,são
objetos que as pessoas usam muito hoje no dia a dia.

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