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10/17/2015 Naming: classificação de nomes para marcas • LOGOBR
Aloha!
Há alguns anos tive o prazer de conhecer o prof. Delano Rodrigues, muito por seu
excelente trabalho de pesquisa sobre dar nomes a marcas (produtos e serviços também),
ofício conhecido como naming.
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a possibilidade de publicar essa parte da pesquisa no LOGOBR e mais que rapidamente ele
nos permitiu.
Deixo aqui registrado o meu agradecimento ao prof. Delano pela honra de poder publicar
parte de sua pesquisa. Todos os diretos e créditos do texto abaixo pertencem ao prof.
Delano Rodrigues. Indico a leitura do livro completo que já está em sua segunda edição,
clique na imagem abaixo para comprar. Vale CADA centavo meu querido.
(http://www.2ab.com.br/pd-928bd-naming-o-nome-da-marca.html)
Introdução
O processo de desenvolvimento de nomes de marcas é conhecido dentro do
Branding* como Naming e vem sendo executado por empresas de design, comunicação e
consultorias especializadas com o intuito de criar nomes signi cativos para empresas e
produtos. Envolve equipes interdisciplinares que buscam desenvolver nomes com
personalidade, de fácil memorização e que sejam passíveis de registro legal.
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É notório que cada vez mais os designers – principalmente aqueles que lidam com as
áreas de Identidade Corporativa e embalagem – são confrontados com a necessidade de
inclusão de projetos de Naming em seus portfolios de serviços. Entender como outros
nomes foram desenvolvidos, através do estabelecimento de uma taxonomia, pode facilitar
a construção de métodos de pesquisa e desenvolvimento de nomes de marca por
designers.
Este artigo é fruto de pesquisa bibliográ ca desenvolvida entre os anos de 2003 e 2005, no
Mestrado em Design da PUC-Rio, e evoluída nos anos subsequentes a partir de minha
atuação como docente nesta mesma IES e atualmente na Universidade Federal do
Maranhão. Para estabelecer uma classi cação de nomes de marca, o trabalho se baseia
na análise de estudos de dois autores da área de Design e um autor da área de Linguística.
Para Mollerup (1998: 111-121), os nomes de marcas são divididos em seis classes:
Próprios, Descritivos, Metafóricos, Encontrados, Arti ciais e Abreviações. Norberto Chaves
(1990: 43) classi ca os nomes de marca em cinco categorias: Descritivos, Simbólicos,
Patronímicos, Toponímicos e Contrações. Já Adrian Room (1987: 14-17) utiliza sete
categorias para classi car nomes de marca: nomes baseados em nome de pessoa, nomes
baseados em nome de lugar, nomes cienti camente inventados, nomes de status, nomes
de associação positiva, nomes arti ciais e nomes descritivos.
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1. Nomes patronímicos
A terminologia “patronímico” utilizada por Chaves faz alusão aos nomes de marca
baseados em nomes de pessoas, seja do fundador, inventor ou dono da patente, do lojista
ou de alguma outra pessoa associada com o produto. Mollerup chama essa categoria de
“nomes próprios” e Adrian Room de “nomes baseados em um nome de pessoa”.
O uso de nomes patronímicos para nomear marcas foi uma prática fortemente empregada
durante o século XIX e parte do século XX. Nomes como:
São alguns exemplos de marcas ainda atuantes no mercado, que levam os nomes de seus
fundadores.
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Wheeler (2003:41) descreve que, embora esta classi cação de nome possa ser de fácil
registro em boa parte dos casos, exige, por outro lado, um maior esforço no processo de
comunicação e, consequentemente, maior investimento nanceiro na construção das
associações da marca, por não descrever diretamente a natureza do negócio. Outro ponto
importante é que esse tipo de nome é intrinsecamente ligado a uma pessoa ou família e
esta relação pode transferir tanto aspectos positivos como negativos de personalidade.
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A particularidade neste tipo de caso é que o nome da marca funciona como elemento de
transferência direta de aspectos de personalidade do personagem para o produto. Não que
isso não acontecesse de alguma forma no passado, mas o que os antigos
empreendedores do século XIX e XX buscavam era preencher de orgulho e
responsabilidade a marca registrada, uma forma de dizer: “Nós garantimos este produto.
Nós temos orgulho deste produto”. (Mollerup, 1998: 112). Já na prática do licenciamento,
esta forma de “garantia” para o consumidor é geralmente responsabilidade de terceiros –
os detentores da licença de uso e os donos das marcas apenas cam responsáveis pelo
gerenciamento de sua própria imagem.
2. Nomes descritivos
Os três autores usam a mesma denominação para os nomes de marca de natureza
descritiva. Diferentemente dos nomes próprios, os nomes descritivos descrevem a
natureza do negócio ou do produto de forma direta. Chaves (1990: 43) a rma que “é a
enunciação sintética dos atributos da identidade da instituição”.
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Porém Mollerup (1998:113) pondera que os criadores de nomes estão tão ansiosos para
encontrar o nome descritivo correto que se esquecem de que o nome pode se tornar
demasiado longo para ser prático, o que na maioria das vezes exige que seja adotado o
uso de uma abreviatura que acabará por não explicar a natureza do negócio. Tais
abreviaturas muitas vezes estão na própria representação visual da marca, como os
exemplos supracitados MASP e EMBRATEL, ou são oriundas de adoções vernaculares que
podem ou não ser usadas na comunicação da marca. Nos outros dois exemplos
supracitados isso acabou sendo incorporado com os já conhecidos BB e BNB.
* Segundo o dicionário Houaiss On-line: diz-se de ou palavra formada pela inicial ou por
mais de uma letra de cada um dos segmentos sucessivos de uma locução, ou pela maioria
destas partes (Sudam = Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia); acrossílabo.
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O principal problema desta categoria de nomes segundo Graham e Peroff (1987:36) é que
as marcas com nomes descritivos são as mais problemáticas para questões de registro
legal. Wheeler (2004:41) aponta, ainda, que este tipo de nome pode causar limitações
quando houver a necessidade de uma expansão geográ ca ou uma diversi cação da linha
de atuação da empresa ou produto. Isto porque, às vezes, é impossível visualizar quais
serão os rumos que o negócio da empresa irá tomar daqui a dez, vinte ou trinta anos, e um
nome descritivo pode vir a “engessar” a percepção do consumidor a respeito do ramo de
atividade da marca. Um caso bastante conhecido é o da antiga rede carioca de
supermercados fundada com o nome de Casas da Banha, que originalmente fornecia
banha e que se viu forçada a mudar seu nome para a abreviatura CB, quando passou a
vender outros produtos e não somente a gordura animal que deu origem ao seu nome.
(Strunck, 1989:46).
3. Nomes toponímicos
Chaves (1990:42) propõe o termo “toponímico” para referir-se a todos os nomes de marca
que remetem ao lugar de origem ou de atuação inicial da instituição. Room (1987:14) os
denomina de “nomes baseados em um nome de lugar”, quase sempre aquele do lugar
original onde o produto foi inventado, vendido ou desenvolvido. Mollerup não faz qualquer
menção especí ca a este tipo de nomes.
Atualmente, é comum que cidades e países utilizem seus nomes como marca para
explorar potencialidades econômicas por meio de sua imagem. Essas marcas são usadas
em programas de promoção, divulgação e apoio à comercialização de produtos, serviços e
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Dois exemplos recentes desse tipo de abordagem são os casos dos programas Marca
Brasil e Estrada Real, lançados respectivamente pelo Ministério do Turismo do Governo
Brasileiro e Governo Estadual de Minas Gerais para divulgar o turismo, produtos e belezas
naturais.
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Graham e Peroff (1987: 35) alertam para algumas situações em que essa classe de nomes
deva ser evitada, particularmente aqueles que têm associação, direta ou indireta, com um
produto exclusivo, por exemplo, “Detroit” para carros e “Aspen” para equipamentos de
esqui. Para eles, o uso deste artifício di cultaria o registro legal de marca.
4. Nomes metafóricos
Para Mollerup (1998:114), “nomes metafóricos” revelam a natureza dos negócios
indiretamente. Referem-se a seu objeto através de uma qualidade comum, que provoca
associações. Essa categoria é chamada por Chaves (1990:42) de “nomes simbólicos”, para
quem são aqueles que fazem alusão à empresa por meio de uma imagem literária. Já na
classi cação de Room (1987:14), a que mais se assemelha é a categoria “nomes de boa
associação”, que são baseados em uma história verdadeira ou objetiva da origem.
O nome da QUAKER, famosa marca de aveia fundada em 1877, foi tirado de uma
enciclopédia por um dos fundadores da empresa, Henry Seymour. Faz referência a uma
seita protestante do mesmo nome originada na Inglaterra no século XVII e muito difundida
nos EUA, que cultivava pureza, honestidade, força e coragem. A adoção do nome QUAKER
trazia essas associações positivas para a farinha de aveia (Room, 1982: 97 e 143).
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5. Nomes encontrados
Para Mollerup (1998:115) um “nome encontrado” é uma palavra já conhecida, que não
possui uma relação natural com o que a companhia ou produto representa. Adrian Room e
Norberto Chaves não fazem referência a esta categoria. Esses nomes não trazem de
imediato qualquer signi cado para a marca e dependem de grandes investimentos em
comunicação para serem associados aos seus produtos ou empresas.
O nome da empresa de telefonia móvel franco-britânica ORANGE (Fig. 05), que atua na
Europa, iniciou uma forte tendência na área de telefonia móvel ao uso de nomes
encontrados. O conceito deste nome surgiu da parceria entre a consultoria de marca, Wolff
Olins, e da agência de propaganda WCRS, ambas sediadas em Londres, na Inglaterra.
Graças a um grande esforço de comunicação da marca, grande parte das pessoas na
Europa já associa o nome à empresa e não mais somente à fruta e à cor de mesmo nome
(Pringle e Gordon, 2001: 77-80).
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6. Nomes artificiais
O termo “nomes arti ciais”, utilizado tanto por Room quanto por Mollerup, engloba os
neologismos, oriundos de palavras completamente novas que geralmente não fazem parte
do léxico – podem ser onomatopéias, pedaços de palavras ou junção destas.
Um caso bastante interessante de nomes arti ciais, sem dúvida, é o da KODAK. Apesar do
mito construído em torno do nome divulgado por diversos autores que dizem se tratar de
uma onomatopéia do som das máquinas de fotogra a, Room (1987:16) a rma que este
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nome foi criado pelo fundador da companhia, George Eastman, que o registrou em 4 de
setembro de 1888 e buscou usar a sonoridade da letra “K”. Para comprovar esta versão,
Room (1987:16) cita a explicação da criação dada pelo próprio Eastman:
Eu soube que um nome comercial deveria ser curto, vigoroso, incapaz de ser
soletrado incorretamente para uma extensão que possa destruir sua
identidade e, em ordem para satisfazer as leis de registro de marca, não deve
signi car nada. A letra ‘K’ era favorita para mim – parecia forte, um tipo
incisivo de letra. Portanto, eu desejei começar a palavra com a letra K. Então
se tornou em uma questão experimentar um grande número de combinações
de letras que produzissem palavras começadas e terminadas com o K. A
palavra Kodak é o resultado.
O nome da família de óleos lubri cantes LUBRAX surgiu em 1970 da parceria do poeta,
estudioso da área de comunicação e semiótica e professor Décio Pignatari com o
escritório carioca de design PVDI, na época comandado pelo notório Aluisio Magalhães.
Curiosamente, o nome proposto inicialmente para a marca foi o de LUBROL, que era a
junção de pedaços das palavras Lubri cante, somado ao BR que já era parte da identidade
da marca PETROBRAS (empresa fabricante do produto) e à palavra Óleo. Porém, a ideia foi
abandonada porque a direção da empresa achou que o nome possuía uma conotação de
“remédio”. O nome LUBRAX era originalmente utilizado para nomear as graxas fabricadas
pela empresa, resultante da soma de pedaços das palavras Lubri cante, Graxa e acréscimo
do BR. A utilização do BR fazia parte do projeto de construção da identidade gerenciado,
naquela ocasião, pela PVDI (Rodrigues, 2004: entrevista gravada).
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A vantagem deste tipo de abordagem é que o nome pode adquirir praticamente qualquer
tipo de acepção, porque as palavras não têm nenhum signi cado intrínseco. A
desvantagem é que, para que isso aconteça, é preciso dispor de um grande orçamento de
propaganda para comunicar o nome entre os usuários.
7. Abreviações
Para Mollerup (1998:117), quando nomes de empresas se tornam muito longos e
di cultam a comunicação da marca, sempre há a opção de introduzir abreviações. Elas
ocorrem em uma suspensão*, em que a última parte de uma palavra ou nome é retirada, ou
podem ocorrer em uma contração, em que a primeira e a última parte são mantidas,
enquanto alguma parte do meio é retirada: jr., por exemplo, é uma contração de júnior.
Chaves (1990:42) denomina esses nomes de “contrações”, que são construções de nomes
arti ciais mediante o uso de iniciais e fragmentos de palavras.
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8. Nomes de Status
Essa categoria é utilizada por Room (1987:14) para designar nomes que, através de sua
sonoridade e signi cado, remetem a condições de status, como:
Crown Pianos
Diamante Negro
Minister
Consul
Entretanto, essa categoria também pode ser considerada metafórica, porque trabalha por
associação, ligada diretamente ou ao signi cado da palavra ou ao universo simbólico
remetido pelo país de origem da língua. Diversas vezes o uso de empréstimos linguísticos
de outras línguas, chamados de estrangeirismos, é a forma para buscar referências
culturais de “qualidade” ou de “status” compreendidos por membros de uma determinada
comunidade linguística.
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A designer Evelyn Grumach (2004: entrevista gravada) acredita que existe uma forte
tendência no mercado brasileiro à adoção de palavras estrangeiras, principalmente de
origem inglesa, em busca de referências de status. Ela cita exemplos de projetos que
coordenou como o da loja de roupas femininas OH BOY e dos restaurantes Delight e The
bakers, do Rio de Janeiro. Ela diz que é bastante comum no setor do comércio a
necessidade de se estar na “média”, “de serem confundidos entre si”, por receio de
adotarem uma estratégia errada, e critica essa posição dizendo que poderia ser um forte
diferencial de marca a utilização de expressões em português.
Conclusões
O caráter interdisciplinar do design permite ao pro ssional da área participar efetivamente
de ações ligadas ao processo de gestão e construção de identidade de marca, mesmo que
transcendam ao escopo original das atividades do designer.
O design exerce uma ação direta na construção de signi cados. O nome de uma marca é
um dos elementos de expressão mais importantes para a construção de sua identidade.
Mesmo que a atividade do Naming faça parte de portfolios de serviços de alguns
escritórios de design brasileiros, muitos pro ssionais aprenderam a lidar com o processo
através de “erros” e “acertos” durante sua atuação no mercado, pois são poucos os cursos
e pesquisas desenvolvidos nesta área no Brasil.
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Daniel Campos
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